MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA VALÉRIA QUEMEL ANDRADE MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO DA CIDADE DE BELÉM: um estudo a partir do sistema particular de ensino MATHEMATICS AND PEDAGOGY IN THE URBAN ENVIRONMENT OF THE CITY OF BELÉM: A study from the private school system Belém 2012

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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA

VALÉRIA QUEMEL ANDRADE

MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO DA CIDADE DE BELÉM: um estudo a partir do sistema particular de ensino MATHEMATICS AND PEDAGOGY IN THE URBAN ENVIRONMENT OF

THE CITY OF BELÉM: A study from the private school system

Belém 2012

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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA

VALÉRIA QUEMEL ANDRADE

MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO DA CIDADE DE BELÉM: um estudo a partir do sistema particular de ensino

MATHEMATICS AND PEDAGOGY IN THE URBAN ENVIRONMENT OF THE CITY OF BELÉM: A study from the private school system

Dissertação apresentada ao Programa de

Mestrado em Desenvolvimento e Meio

Urbano, da Universidade da Amazônia

para a obtenção do título de Mestre.

Orientador: Profº. Dr. Carlos Jorge Paixão

Belém 2012

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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO DA CIDADE DE BELÉM: um estudo a partir do sistema particular de ensino

MATHEMATICS AND PEDAGOGY IN THE URBAN ENVIRONMENT OF THE CITY OF BELÉM: A study from the private school system

VALÉRIA QUEMEL ANDRADE

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Universidade da

Amazônia como requisito para a obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e

Meio Ambiente Urbano.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________ Profº. Dr. Carlos Jorge Paixão - Orientador

Universidade da Amazônia

_____________________________________________ Profº. Dr. Marco Aurélio Arbage Lobo - Examinador Interno

Universidade da Amazônia

_____________________________________________ Profº. Dr. Karl Heinz Arenz – Examinador Externo

Universidade Federal do Pará

Aprovado: _________________________

Belém, ____de _________________2012.

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AGRADECIMENTOS

À Deus, por mais uma conquista em minha vida. Ao Professor Dr. Carlos Jorge Paixão, por sua grande contribuição e atenção. Aos demais professores do Programa de Mestrado em Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano. Aos meus pais (in memoriam), Badiha Quemel e João B. Quemel, que souberam me conduzir nos princípios educacionais, morais e éticos. Ao meu esposo, Fabrício Almeida de Andrade, pelos momentos de descontração e companhia. Às minhas filhas, Haila Quemel Andrade e Sálua Quemel, pela compreensão nos momentos de ausência. A todos, que de alguma forma contribuíram para a conclusão dessa dissertação.

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SUMÁRIO

RESUMO ABSTRACT 1 INTRODUÇÃO........................................................................................................07 1.1 APRESENTAÇÃO.................................................................................................07 1.2 JUSTIFICATIVA....................................................................................................08 1.3 OBJETIVOS.........................................................................................................10 1.4 PROBLEMA E OBJETO DE ESTUDO................................................................10 1.5 HIPÓTESE...........................................................................................................11 2 REVISÃO DA LITERATURA..................................................................................12

2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS SOBRE O ENSINO DA MATEMÁTICA E EDUCAÇÃO

AMBIENTAL..........................................................................................................12 2.1.1 Origens da Matemática..................................................................................12 2.1.2 Trajetória no Brasil.........................................................................................20 2.1.3 No Pará...........................................................................................................23 2.1.4 Perspectivas atuais.......................................................................................28 2.2 BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL............................................39 2.3 A MATEMÁTICA NO ÂMBITO DA PEDAGOGIA AMBIENTAL...........................41 2.3.1 Aspectos gerais sobre a Pedagogia Ambiental............................................41 2.3.2 Pedagogia Ambiental e meio ambiente urbano............................................54 2.3.3 A Matemática e sua utilidade no cotidiano urbano......................................62 3 PERCURSO METODOLÓGICO..............................................................................68 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO..............................................................................74 4.1 CARACTERIZAÇÃO DO MEIO AMBIENTE URBANO DE BELÉM......................74 4.2 O ENSINO-APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA NO GRUPO IMPACTO..........80 4.2.1 Análise dos dados empíricos.........................................................................80 4.2.1.1 A visão dos professores...................................................................................81 4.2.1.2 A visão dos alunos...........................................................................................91 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................98 REFERÊNCIAS..........................................................................................................103 APÊNDICE

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RESUMO

A pesquisa objetiva analisar o ensino da Matemática ministrado em sistema de

ensino particular da cidade de Belém, no âmbito da Pedagogia Ambiental.

Particularmente, a pesquisa examina a contextualização do ensino da Matemática

no âmbito da Pedagogia Ambiental do espaço urbano; identifica como se encontra o

ensino da Matemática em sistema particular de ensino situado em Belém; verifica a

motivação dos discentes em relação ao ensino da Matemática e sua aplicabilidade

na vivência do meio urbano. A questão central que norteia a pesquisa é: Como o

ensino da Matemática vem sendo realizado no âmbito da Pedagogia Ambiental em

um sistema particular de ensino situado na cidade de Belém?

O arcabouço teórico é delineado sob as literaturas de Educação Matemática,

Educação Ambiental e Pedagogia Ambiental. Entretanto, outros conceitos e

categorias também são considerados, tais como: espaço urbano, dinâmica espacial,

ensino de matemática, sistema particular de ensino, meio ambiente,

desenvolvimento econômico e social, urbanização, eutrofização, transversalidade,

interdisciplinaridade, cultura. O estudo tem como objeto de análise o ensino da

matemática no sistema de ensino particular da cidade de Belém e as possíveis

conexões com as questões ambientais. A definição por este campo de estudo e

investigação, entre outras questões, é motivada pela história e cultura profissional

relacionada a nossa atuação como docente nesse Sistema de Ensino, o qual tem

marcado significativa presença no cenário urbano da cidade de Belém, sendo a

pesquisa uma oportunidade de verificar como o ensino particular vem sendo

articulado com a realidade do processo de desenvolvimento do meio ambiente

urbano. Parte-se da seguinte hipótese: O ensino da matemática no Sistema de

Ensino Particular de Belém ainda se pauta por uma visão tradicional sem se orientar

pela linha da Pedagogia Ambiental. Portanto, encontra-se pouco articulado com a

vivência dos alunos no sentido de permitir a inclusão do saber matemático na

reflexão atinente às questões relacionadas ao desenvolvimento e meio ambiente

urbano de Belém.

PALAVRAS-CHAVE: Pedagogia Ambiental. Matemática. Espaço Urbano. Cidade de

Belém.

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MATHEMATICS AND PEDAGOGY IN THE URBAN ENVIRONMENT OF THE CITY

OF BELÉM: A study from the private school system

ABSTRACT

The research aims to analyze the teaching of mathematics taught in private

educational system of the city of Bethlehem, in the context of Environmental

Education. Particularly, the research will examine the context of mathematics

teaching in the Environmental Education of urban space, identify it as is the teaching

of mathematics in private school system located in Bethlehem, check the motivation

of students regarding the teaching of mathematics and its applicability in the urban

experience. The central question that guides the research is: How does the teaching

of mathematics is being carried out under the Environmental Education system in a

private school located in Bethlehem?

The theoretical framework is outlined in the literature of Mathematics Education,

Environmental Education and Environmental Education. However, other concepts

and categories will also be considered, such as: urban space, spatial dynamics,

mathematics education, particularly education system, environment, economic and

social development, urbanization, eutrophication, cross-cutting, interdisciplinary,

culture. The study aims to review the teaching of mathematics in the education

system especially the city of Bethlehem articulated development and urban

environment.The definition for this field of study and research, among other issues, is

motivated by the history and culture related to our professional role as teachers in

these school systems, which has marked a significant presence in the city of

Bethlehem, being a research opportunity to see how private education has been

articulated with the reality of the development process of the urban environment. It

starts with the following hypothesis: The teaching of mathematics in the Educational

System Private Bethlehem is still awash in a traditional view without the direct line of

Environmental Education. So little is linked with the experience of students in order to

allow the inclusion of mathematical knowledge in reflection regards issues related to

development and urban environment of Bethlehem.

KEYWORDS: Environmental Education. Mathematics. Urban Space. City of Belém.

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INTRODUÇÃO

1.1. APRESENTAÇÃO

O meio ambiente e desenvolvimento urbano abrange uma constelação de

questões a serem abordadas em razão da complexidade existente no cotidiano das

áreas urbanas, constituídas de fatores construídos historicamente. As relações, a

maneira como as pessoas interagem com a natureza, os tipos de atividades, a

mentalidade, os costumes, valores, ideias, atitudes, condutas; tudo está vinculado à

formação social e econômica predominante.

Nesse cenário encontra-se o uso da Matemática nas suas distintas matizes e

utilidades. No cotidiano urbano as pessoas utilizam esse saber para fazer compras,

conferir o tempo, mensurar medidas, volumes, práticas estas nem sempre

relacionadas com o ensino da referida disciplina. Por essa razão, atualmente a

formação de professores no Brasil está em processo de reformulação, e tem sido

respaldada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação, requerendo uma reflexão

teórico-metodológica atinente à atualização do ensino da disciplina.

Mito ou realidade, a Matemática apresenta histórica e culturalmente uma

reputação e um conceito um tanto “negativo” para a classe estudantil, exatamente

por ser considerada uma ciência altamente complexa. Porém, estudos e pesquisas

vêm demonstrando que a prática do ensino da Matemática necessita de

reformulações do ponto de vista teórico-metodológico, além do empenho, da

capacidade e do compromisso do educador em tornar o ensino mais eficaz,

interessante e atualizado quanto às conexões com temáticas contemporâneas, no

caso específico deste estudo, com a temática do meio ambiente.

A reflexão acerca das dificuldades no seu ensino da Matemática, dos

métodos que facilitam os educandos a conhecer as finalidades da disciplina em suas

vidas no meio ambiente urbano, entre outras, são questões abordadas nesta

dissertação e merecem destaque por contribuir para aperfeiçoar o ensino e

aprendizagem da Matemática.

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Os conhecimentos e entendimentos decorrentes dessa reflexão, certamente,

abrem perspectivas para uma maior competência do professor em relacionar a

Matemática com a vida prática, proporcionando, assim, sentido ao ensino dessa

disciplina, a qual tem sido tradicionalmente ministrada de modo descritivo, sem se

priorizar a relação dos conteúdos com a realidade vivenciada pelos educandos.

A orientação do ensino nos moldes anteriormente explicitados não acontece

apenas nas escolas públicas, mas também nas particulares por falta de preparo dos

docentes ou das equipes pedagógicas em promover aulas e projetos com foco no

vinculo entre saber matemático e realidade prática. Nesta dissertação, a proposta é

investigar essa questão no Sistema de Ensino Privado no contexto do

desenvolvimento e meio ambiente urbano de Belém do Pará.

1.2 JUSTIFICATIVA

A importância em discutir o tema reside na possibilidade de elucidar como o

ensino da Matemática ainda é realizado por práticas pedagógicas distanciadas do

contexto social, cultural, ambiental e espacial de vivência do aluno. É preciso refletir

sobre essa situação porque é dever da escola formar para a vida, e essa formação

não se consolida simplesmente com a transmissão de conteúdos, ou seja, é direito

do aluno aprender conhecimentos úteis à sua vida em sociedade e para a

compreensão da realidade.

O estudo do tema traz a especificidade de abordar o ensino da Matemática no

Sistema de Ensino Particular, vinculado ao ambiente urbano da cidade de Belém,

tendo por foco a utilidade do conhecimento matemático na vivência urbana. Trata-se

de um enfoque importante porque a vida urbana na atualidade exige múltiplos usos

do conhecimento matemática, não só para cálculos, mas também como meio para

se compreender as dimensões dos problemas urbanos, suas causas e

consequências. Nisso reside à relevância educativa da Matemática. Por outro lado,

em Belém já existe um contingente significativo de estudantes no Sistema Particular

de Ensino, sem, contudo, haver expressiva produção acadêmica acerca do assunto

proposto.

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O contexto científico do problema de pesquisa parte da visão de que a

construção histórica da Matemática ocorreu em razão das necessidades humanas

surgidas da relação homem versus natureza, mas com a complexidade da

sociedade e o surgimento do capitalismo a situação mudou. Segundo D‟Ambrósio

(2005) a aplicação e o ensino-aprendizagem da Matemática se orientaram

tradicionalmente pela ênfase na racionalidade e na primazia da técnica, reflexo da

visão de mundo da sociedade industrial, a qual utilizou a ciência para fins de

dominação, fragmentando o conhecimento em áreas, entre as quais as chamadas

Ciências Exatas. Estas foram inclusas no projeto de modernização e

desenvolvimento tecnológico, sem, contudo, haver uma preocupação com as

finalidades educacionais dos conteúdos, os quais passaram a ser selecionados para

fins práticos e quantitativos, eximidos de qualquer reflexão critica.

No Brasil, o ensino da Matemática nos moldes modernos passou a ser

realizado com uso de princípios, teoremas e axiomas formulados em outros países,

ensinados mecanicamente, relegando o educando a condição de mero espectador,

sem saber a utilidade dos conhecimentos adquiridos para a prática de sua

convivência no meio ambiente urbano.

Todavia, a Matemática está relacionada à história do homem, desde os

primórdios ela foi empregada por este na relação com o meio ambiente e passou a

fazer parte da vida em sociedade. O ser humano começou a praticar os cálculos

matemáticos pela necessidade de conferir animais, frutas, de mensurar espaços, de

registrar os dias. Dessas práticas iniciais foi se desenvolvimento durante séculos um

conjunto de conhecimentos abstratos, mas sempre referenciados com o meio

ambiente.

Segundo Cunha (2009), a contextualização dos conhecimentos abstratos à

realidade é a proposta da Pedagogia Ambiental, a qual defende o fim da

fragmentação do conhecimento e o diálogo entre os saberes para se compreender

as múltiplas dimensões do ambiente, as quais estão inter-relacionadas, apresentam

interdependência e não podem ser entendidas de maneira crítica sem a contribuição

dos vários saberes humanos, entre eles a Matemática.

Na perspectiva da Pedagogia Ambiental, o ambiente urbano envolve um

mosaico de elementos, fatos e questões pertencentes ao cotidiano de quem vive na

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cidade. A compreensão dessa complexidade e de sua dinamicidade não exime a

contribuição da Matemática, presente nas relações comerciais, na quantidade de lixo

gerado pela população, nos valores da temperatura, nos índices pluviométricos, na

velocidade dos automóveis. Mas, cada parâmetro tem uma razão de ser, possui

causa e efeito, é determinado por condições naturais, históricas, sociais, culturais e

econômicas.

O estudo tem o mérito de vir somar com informações atualizadas acerca de

um tema pouco tratado no âmbito do Sistema Particular de Ensino, mas cujo teor

tem possibilidade de contribuir com a linha de pesquisa relacionada à dinâmica

sócio-ambiental urbana, haja vista ter por referência o contexto da cidade de Belém,

abrangendo educação, cultura e meio ambiente urbano.

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo Geral - Analisar o ensino da Matemática ministrado em sistema de

ensino particular da cidade de Belém, no âmbito da Pedagogia Ambiental.

1.3.2 Objetivos Específicos - Elucidar a contextualização do ensino da Matemática

no âmbito da Pedagogia Ambiental do espaço urbano; Identificar como se encontra

o ensino da Matemática em sistema particular de ensino situado em Belém; Verificar

a motivação dos discentes em relação ao ensino da Matemática e sua aplicabilidade

na vivência do meio urbano; Propor estratégias de ensino da Matemática vinculadas

à Pedagogia Ambiental.

1.4 PROBLEMA E OBJETO DE ESTUDO

Ao reconhecer a multiplicidade de dimensões do ambiente urbano, o

problema de pesquisa levou em conta a necessidade do aluno, enquanto cidadão

urbano, em aprender a Matemática como parte da constelação dos saberes

necessários à sua vivência em sociedade, não só para fins práticos e técnicos, mas

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também como meio educativo em relação às questões ambientais. Em consonância,

o objeto de análise é o ensino da Matemática nas escolas do sistema particular de

Belém.

O contexto empírico do objeto de análise abrange a investigação sobre a

maneira como o saber matemático vem sendo ensinado nas escolas particulares de

Belém, tendo em vista sua importância para a compreensão e vivência do aluno na

realidade urbana contemporânea, marcada pela globalização, o avanço tecnológico,

os problemas ambientais, sociais e econômicos. Portanto, a questão-problema deste

estudo é a seguinte: Até que ponto o ensino da Matemática vem sendo realizado no

âmbito da Pedagogia Ambiental em um Sistema Particular de Ensino situado na

Cidade de Belém?

1.5 HIPÓTESE

A hipótese levantada supõe que o ensino da Matemática no sistema de

ensino particular de Belém ainda se pauta por uma visão tradicional sem se orientar

pela linha da Pedagogia Ambiental. Portanto, encontra-se pouco articulado com a

vivência dos alunos no sentido de permitir a inclusão do saber matemático na

reflexão atinente às questões relacionadas ao desenvolvimento e meio ambiente

urbano de Belém.

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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS SOBRE O ENSINO DA MATEMÁTICA E

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

2.1.1 Origens da Matemática

A história da Matemática começa com o desenvolvimento da numeração

escrita, quando o homem necessitou fazer seus primeiros registros quantitativos em

relação a animais, troncos de árvores, feixes de palha, tijolos, entre outros recursos.

Conforme Iezzi (2007), os registros mais antigos datam de 3.500 a.C, quando

surgiram três tipos de escrita: hieroglífica, usada pelos sacerdotes egípcios nas

inscrições de tumbas e monumentos. Desta, surgiu a escrita hierática, utilizada nos

papiros, mais tarde aperfeiçoada para a escrita demótica, de emprego geral.

Há dois papiros que representam fontes de informações acerca das origens

da Matemática: o papiro Golonishev ou de Moscou com data de 1.850 a.C., no qual

consta texto matemático produzido pelos egípcios com 25 problemas e o papiro

Rhind (ou Ahmes) datado de aproximadamente 1.650 a.C, cujo conteúdo apresenta

um texto em forma de manual prático contendo 85 problemas registrados em escrita

hierática de autoria do escriba Ahmes.

É importante ressaltar que no papiro Rhind se constatou a descrição dos

métodos de multiplicação e divisão utilizados pelos egípcios, os quais usavam as

frações unitárias, a regra da falsa posição, a solução para o problema da

determinação da área de um círculo e outras aplicações matemáticas. Segundo Iezzi

(2007), neste papiro constam questões atinentes à trigonometria e menciona por

quatro vezes o seqt do ângulo em conexão com problemas métricos sobre

pirâmides, utilizado em edificações urbanas até os dias atuais.

Nos papiros de Moscou e Rhind estão registrados 110 problemas de ordem

numérica, a maioria tem aparência prática e se refere a questões cotidianas de

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trabalho e realização de tarefas, como distribuição de pães de cerveja,

balanceamento de rações para gado e aves, armazenamento de grãos. Tudo indica

o uso desses problemas para servirem de exercício de aprendizagem a estudantes.

Geralmente, a solução exigia uma equação linear simples. Alguns desses problemas

tratavam de progressões aritméticas e geométricas.

De acordo com Silva (2003), os papiros Moscou e Rhind também

apresentaram 26 problemas geométricos para o emprego de fórmulas de

mensuração para cálculo de áreas de terras e volumes de grãos. A área de um

círculo era considerada igual a um quadrado de lado igual a 8/9 do diâmetro, o que

equivale a aproximadamente a notação para π igual a 3.14. Os egípcios conheciam

também as fórmulas para calcular a área de triângulos, retângulos, bem como do

volume do cilindro e do tronco das pirâmides de bases quadradas.

Segundo Boyer (2010), no Egito antigo destacou-se a numeração de base

hieroglífica, a qual constituía um sistema de escala numérica de 10, utilizada a cerca

de 5.000 anos atrás. Empregava um esquema interativo simples e símbolos

diferentes para a primeira e meia dúzia de potência de dez, números acima de um

milhão foram descritos em pedra, madeira e outros materiais.

Nesse sistema já se observava a relação da Matemática com a natureza.

Enquanto um traço vertical representava a unidade, um osso de calcanhar invertido

indicava 10, um laço com a letra C maiúscula valia 100, uma flor de lótus 1.000, um

dedo dobrado 10.000, um peixe representava 100.000 e uma figura ajoelhada

1.000.000. Havia, portanto, nessas inscrições a representação da natureza, a intima

relação entre Matemática e meio ambiente, a qual se fazia presente na paisagem e

comunicação urbana egípcia.

A Matemática no Egito também se desenvolveu a partir do interesse dessa

civilização pela astronomia. Segundo Boyer (2010), os egípcios observaram que a

inundação anual do rio Nilo tinha lugar pouco depois que a estrela Sirius se

levantava a leste logo antes do Sol. A partir dessa constatação, estabeleceram um

calendário lunar, utilizado para planejar as atividades agrícolas às margens do Nilo,

com implicações na vida urbana, marcada por momentos de fartura e escassez.

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No Papiro Ahmes, segundo Boyer (2010), constam inscrição de numeração

continua decimal. Neste documento ocorreu a substituição da numeração hieroglífica

por sinais especiais com o intuito de representar dígitos e múltiplos de potenciais de

dez. O sistema usado contribuiu para simplificar a linguagem Matemática, por

exemplo, o número sete não está escrito por sete riscos, mas por um único símbolo

semelhante a uma foice. O uso do princípio da ciferização, o qual já vinha sido

introduzido pelos gregos há cerca de 4.000 anos, representou um avanço, inclusive

para as inscrições usadas no cenário urbano.

As inscrições hieroglíficas egípcias também contribuíram com uso das frações

unitárias, isto é, com o numerador 1. O uso dessas frações se fazia presente nas

transações comerciais no âmbito das cidades egípcias, na contagem de elementos

fracionados da natureza e objetos, pratica que perdura até os dias atuais.

Os egípcios exerciam suas atividades econômicas, culturais e religiosas

intimamente relacionadas ao Nilo. Boyer (2010) destaca em seu estudo que: as

inundações apagavam as demarcações do rio, requerendo a atuação dos

mensuradores, os quais eram conhecidos como “esticadores de corda”. Essa

situação impulsionou algumas iniciativas na Geometria, como a transformação dos

triângulos e trapézios isósceles em retângulos, originando uma teoria de

congruência e da ideia de prova em Geometria.

Outro feito importante dos egípcios, segundo Boyer (2010), foi o

desenvolvimento de rudimentos em trigonometria e uma teoria de triângulos

semelhantes, estruturada a partir da construção das Pirâmides, pois na arquitetura

das mesmas se preocupava em manter uma inclinação constante das faces, o que

pode ter levado os egípcios a introduzir o conceito equivalente ao de cotangente de

um ângulo. Essa situação é verificada na arquitetura urbana moderna, quando se

procura medir o grau de inclinação de uma reta por uma razão entre os segmentos

verticais e horizontais, em especial nos monumentos, canais e declives diversos.

No quarto milênio entes da era atual, havia uma civilização de alto nível na

Mesopotâmia, também conhecida como Babilônia, onde sumérios construíram casas

e templos decorados com cerâmica e mosaicos artísticos ornamentados por

desenhos geométricos. De acordo com Boyer (2010), também foram realizadas

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obras públicas como canais para irrigação e controle de inundações nas cidades,

elaborados a partir de cálculos matemáticos.

A contribuição dos mesopotâmicos, segundo Boyer (2010), foi importante no

desenvolvimento de algorítmicos, álgebra, equações quadráticas e cúbicas. Eles

também usaram as medidas com ponto central na geometria algebrizada,

principalmente na construção de monumentos e outros elementos urbanos. Também

usaram o teorema de Pitágoras na arquitetura e para resolver problemas referentes

a situações de moradias.

Boyer (2010) destaca a importância dos filósofos gregos. Tales de Mileto

realizou a organização dedutiva da geometria. A ele são atribuídas as primeiras

descobertas matemáticas específicas. Pitágoras de Samos foi importante

organizador de formas geométricas, a exemplo do pentagrama ou pentágono

estrelado, que marca presença na religiosidade de diversos povos e constitui

elemento simbólico do meio ambiente urbano até hoje em variadas culturas,

inclusive no Brasil. As formas geométricas são utilizadas nas fachadas de prédios,

em telhados, nos monumentos e outros elementos do ambiente urbano.

Boyer (2010) assinala que durante a segunda metade do quinto século a.C.

ocorreu o período denominado de “Idade Heróica da Matemática”, quando se

destacou Anaxágoras como o filósofo da natureza, o qual relacionou questões

matemáticas com o ambiente natural. Nesse período, Hipócrates compôs a obra

“Elementos de Geometria” e utilizou o conceito de proporção, antecipando-se a

Euclides.

Em 306 a.C. o governante Ptolomeu I se dedicou a construções relevantes no

império grego, entre elas o Museu de Alexandria, sendo assessorado por Euclides,

que foi autor do texto matemático denominado de “Os elementos” e outras obras: Os

Dados, Divisão de figuras, Os fenômenos e Óptica. Desenvolveu a resolução de

soluções quadráticas e explicações de figuras planas, utilizadas na arquitetura

urbana e na análise das planícies, da superfície dos rios e outros aspectos do meio

ambiente. Segundo Boyer (2010), Euclídes era hábil em expor suas ideias e

ensinar, elaborou a teoria das proporções e dos números. Antes dele os gregos

consideravam apenas os números naturais, mas ele diversificou o conceito de

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números, classificando-os como impares, pares, primos, compostos, planos, sólidos

e perfeitos.

No período da filosofia grega clássica, conforme Boyer (2010), Platão se

destacou em relacionar a Matemática com a natureza, buscou representar

geometricamente os movimentos do Sol, da Lua e dos planetas. Já Aristóteles tratou

de estimar a circunferência da Terra em 400.000 estádios ou 60.000 quilômetros.

Escreveu o tratado sobre retas individuais, fundou a lógica e definiu conceitos e

teoremas até hoje usados por diversos profissionais para resolver problemas de

desenvolvimento e meio ambiente urbano.

Iezzi (2007) afirma que, a trigonometria foi usada para auxiliar a astronomia

no século II a.C. pelo grego Hiparco de Nicéia. Este mensurou a duração do ano,

calculou o ângulo de inclinação da eclíptica (circulo aparente descrito pelo Sol em

torno da Terra no período anual) com o plano do equador terrestre e empregou pela

primeira vez o círculo de 360º, utilizado nos cálculos das edificações urbanas.

No transcurso do século VI, segundo Iezzi (2007), os mulçumanos herdaram,

preservaram a tradição e fizeram uma releitura do conhecimento científico da

Antiguidade. Foi nessa época que a dinastia Omíada interessou-se pela ciência.

Representou o século das luzes para os árabes, enquanto a Europa estava

mergulhada na “Idade das Trevas”. Eles assimilaram o conhecimento persa e a

herança clássica dos gregos, adaptando-as às próprias necessidades e formas de

pensamento.

De acordo com Iezzi (2007), no século VII, o Profeta e matemático

mulçumano Muhammad desenvolveu o símbolo zero, revolucionando o estudo da

Matemática. Palavras como álgebra e algoritmo foram extraídas do vernáculo

arábico e traduzidas para o latim.

Silva (2003) afirma que no século IX, Al-Khwãrizmi elaborou tabelas de senos

e cosenos e a primeira tabela de tangentes. Esses elementos passaram a ser

empregados no planejamento de obras urbanas para diversas finalidades, como

mensurar a largura de canais. Até os dias atuais, o uso do seno e coseno pode ser

empregado para calcular a distância entre margens e parte de rios, altura de

montanhas e outras situações relacionadas ao meio ambiente de modo geral.

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Al-Khwãrizmi escreveu o mais antigo livro sobre Matemática, apresentando

800 exemplos de cálculo de integração e equação. Também substituiu letras por

números exponenciais, incluindo o zero. Nesse mesmo período, cálculos

matemáticos estimularam o desejo de resposta para o movimento celeste,

introduzindo o campo da Astronomia, que passou a fazer parte da cultura árabe e de

estudos em várias cidades do mundo, estreitando a relação entre matemática e o

movimento natural dos astros. Para Silva (2003), essa contribuição foi relevante no

planejamento das colheitas, dos estoques de alimentos nas cidades, entre outras

utilidades.

Skovsmose (2005) explica que na Idade Média, a evolução da Matemática

grega sofreu interrupção com a tomada de Roma pelos bárbaros a partir de 476 d.C.

O domínio da Igreja Católica, embora passasse a impor um ensino como culto

doutrinário em detrimento da formação intelectual no período medieval, chegou a

preservar documentos com registros dos conhecimentos matemáticos clássicos,

porque criou as escolas das cátedras, destinadas a preparar jovens para a vida

monástica.

Na Baixa Idade Média, período compreendido entre a queda do Império

Romano (meados do século V) e o século XI, a cópia de manuscritos era praticada

pelos monges, o que ajudou, segundo Skovsmose (2005), a preservar o

conhecimento matemático produzido pelos gregos. Além disso, entre os séculos XI e

XV predominou a escolástica, que buscou demonstrar e ensinar as relações entre

razão e fé utilizando o método de análise lógica baseado em Aristóteles.

Skovsmose (2005) afirma que Boécio se destacou como o fundador da

escolástica e se interessou pela geometria e aritmética, resgatando enunciados dos

livros I e III dos Elementos de Euclides. Entre 950 e 1500 começou o período de

transição ou transmissão do conhecimento matemático, quando o saber e a cultura

preservados pelos árabes começaram a se difundir através de várias traduções de

trabalhos clássicos. Um dos expoentes foi Gerbert, o qual tinha recebido formação

nas escolas mulçumanas da Espanha e introduziu os números indo-arábicos (sem

zero) na Europa, bem como impulsionou a pesquisa científico-matemática.

No século XI, a Europa mergulhou em mudanças econômicas, culturais e

sociais, as quais contribuíram para o estabelecimento da hegemonia da classe

Page 19: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

18

burguesa. Nesse contexto, conforme as explicações de Skovsmose (2005), as

escolas urbanas evoluíram e se distinguiram da escola religiosa. Algumas delas

passaram a se chamar Studia e, depois, Studia Generalia.

Com receio de perder influência social, o clero, por meio de bulas papais,

passou a controlar a Studia Generalia, mas esse controle entrou em crise com o

surgimento do movimento corporativista, que se empenhou em instaurar um

monopólio comercial e/ou intelectual. Segundo Silva (2003), as corporações urbanas

no século XII começaram pesquisas e a usar livros manuscritos acerca da

Matemática. Essas entidades possuíam alguns estudiosos, e no século XIII se

transformaram em Universidades.

De acordo com Silva (2003), as Cruzadas no século XIII contribuíram para o

fortalecimento urbano porque muitos camponeses abandonaram os domínios

senhoriais e foram morar na cidade. Nesse contexto, novos produtos foram criados

para atender a demanda. Também possibilitaram o estabelecimento de relações

mercantis entre Europa e o mundo árabe, contribuindo para o surgimento do

movimento de renovação intelectual e artístico na Europa Ocidental, denominado de

Renascimento, cujo apogeu ocorreu no século XVII e fez renascer as formas e

ideias da Antiguidade Clássica, inclusive referentes ao conhecimento matemático.

Iezzi (2007) assinala que ainda no contexto do Renascimento, Gutenberg

iniciou a difusão do saber matemático através de obras escritas, inclusive livros-

textos, os quais objetivaram tornar o saber matemático acessível ao público em

geral. O primeiro desses livros foi disponibilizado em 1478, intitulado Aritmética de

Trenio.

Segundo Boyer (2010), entre os séculos XIV e XVI emergiu no norte da Itália

o Renascimento, movimento artístico, científico e cultural que fez renascer a

antiguidade clássica, reflexo das transformações pelas quais passava a Europa

ocidental desde o final da Idade Média. Nesse contexto, mais precisamente entre os

séculos XV e XVI, o conhecimento matemático estruturou-se a partir de relevantes

contribuições. Ocorreu o desenvolvimento de conceitos de aritmética, álgebra e

trigonometria. Nicolas Cusa (1401-1464) reformulou o calendário, tentou quadrar o

circulo e trisseccionar o ângulo; George Von Peaurbach escreveu um tratado sobre

aritmética, astronomia e tábua de senos; Johann Muller (1436-1476) publicou “De

Page 20: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

19

Triangulis Ommimodis”, primeira sistemática de trigonometria plana e esférica;

Nicolas Chuquet editou “Triparty em la sciense des nombres”, apresentando cálculo

com números racionais e irracionais e a teoria das equações; Luca Pacioli, publicou

a “Summa de aritmética, geometria, proportioni et proportionalita”, contendo

operações de raízes quadradas, equações quadráticas, escrituração mercantil e

álgebra sincopada; Johann Widman pela primeira vez usou os sinais + e -; Michel

Stielfi escreveu sobre álgebra, números racionais e irracionais.

As realizações anteriormente citada, segundo Boyer (2010), constituíram a

base para a grande expansão do saber matemático a partir do século XVII até o

século XIX, quando novos conhecimentos marcaram a história da Matemática. John

Niper criou os logaritmos visando transformar as operações de multiplicação e

divisão em adições e subtrações; Willian Ougthred empregou 150 símbolos

matemáticos; Galileu Galilei fundou a mecânica dos corpos e a dinâmica; Johann

Kepler formulou leis dos movimentos planetários e foi o precursor do cálculo; Blaise

Pascal e Gerard Desarges desenvolveu a geometria projetiva, enquanto René

Descartes e Pierre Fernat, a geometria analítica.

Iezzi (2007) assinala que o desenvolvimento do cálculo por Isaac Newton

(1643-1727) e Gottfried Leibniz (1646 - 1716) marcou o encerramento da

Matemática elementar e o início da história da Matemática em um plano superior. O

último matemático do século XVIII foi Pierre Simon Laplace. Em sua obra intitulada

“Theor analytique des probabilités” apresentou conceitos atinentes ao cálculo das

probabilidades.

É importante ressaltar que a partir do Renascimento, mais especificamente

nos séculos XVI e XVII, iniciou-se na Europa, segundo Buzzanella (2011), a

tendência de inspiração das teorias científicas na mecânica da natureza, marcando

o começo da ciência moderna, a qual buscou as causas e os princípios explicativos

para os fenômenos naturais. Os pressupostos iniciais eram de quantificação e

mensuração, de natureza e de corpos. O científico passou a ser aquilo que

possuísse uma relação de objetividade. Nesse contexto, a Matemática e a Física se

tornaram referência para a ciência moderna. O próprio Galileu Galilei afirmava que a

natureza poderia ser entendida a partir de uma linguagem escrita em caracteres

matemáticos, representados pelos triângulos, círculos e outras formas geométricas.

Page 21: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

20

Esse modelo interpretativo criou as bases para o surgimento da física mecânica,

cujo maior expoente foi Isaac Newton.

De acordo com Buzzanella (2011), a física mecânica serviu de primazia

científica ao estabelecer os parâmetros e as condições de cientificidade para as

demais áreas do conhecimento humano. Enquanto na Idade Antiga e Idade Média a

ciência era uma atividade contemplativa e interpretava a natureza como sendo

regida por leis de origem divina, a ciência moderna passou a entender os fenômenos

naturais como sendo regidos por leis objetivas de ordem matemática. Todavia, até o

século XIX, a ciência moderna manteve-se vinculada à herança judaico-cristã,

proclamando que as leis da natureza possuíam um caráter universal, mas eram

regidas pela força divina. Isaac Newton intitulou Deus de o “Relojoeiro do Mundo”,

responsável por manter inalteradas as leis gerais do universo, uma visão

determinista.

Segundo Buzzanella (2011), a ciência moderna se desenvolveu a partir do

rigor matemático, ou seja, as ciências deveriam investigar objetos pelos critérios de

exatidão e quantidade. A Matemática serviu como modelo de cientificidade,

inclusive, para ciências humanas, a exemplo da Sociologia e a Psicologia, que se

orientaram por investigar dados objetivos, ou seja, estatístico-quantitativo.

De acordo com Silva (2003), a partir do século XIX foram implantados nas

universidades alemães cursos para formação profissional de Matemática. Todavia, a

primeira ideia de Educação Matemática, cujo teor visou vincular o ensino da

Matemática ao cotidiano vivencial dos educandos, foi difundida pelo alemão Felix

Klein em 1872, o qual propôs a formação de professores relacionada aos diferentes

ramos do conhecimento. Essa concepção só veio a ser incorporada no Brasil no

início do século XX, com o movimento da Escola Nova.

2.1.2 Trajetória no Brasil

A História da Matemática no Brasil foi influenciada pela transmissão dos

conhecimentos dos colonizadores. Mas, tardou em ocorrer uma difusão em termos

Page 22: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

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acadêmicos. Enquanto na Europa a Matemática teve um grande avanço após o

Renascimento, D‟ Ambrosio (2000) assinala que o Brasil e demais países da

América Latina não participaram dos avanços nos estudos matemáticos antes do

final do século XIX. Os marcos decisivos na trajetória histórica da Matemática no

Brasil, segundo Skovsmose (2005), foram a fundação da Universidade de São

Paulo (1933) e o Primeiro Colóquio Brasileiro de Matemática, realizado em Poços de

Caldas (MG) em 1957. Durante o Império (1822-1889) ocorreu a chegada da Família

Real (1808), o que requereu estabelecer uma infra-estrutura destinada a viabilizar os

negócios do reino, sediado, a partir de então, no Rio de Janeiro (1816). O

estabelecimento da sede do reino na Colônia, como refúgio de proteção da Família

Real diante da perseguição napoleônica na Europa, incentivou a modernização do

Brasil, em especial do Rio de Janeiro. Por isso, em 1808 foram criadas as primeiras

escolas superiores, as Escolas de Cirurgia do Rio de Janeiro e da Bahia, e se

desenvolveu a imprensa, por meio da qual os intelectuais publicavam seus artigos.

Nesse cenário merece registro a revista O Patriota, na qual José Saturnino da Costa

Pereira publicou um artigo sobre Matemática Avançada. Em 1811 foi criada a

Academia Real Militar, implantando-se um curso de Ciências Físicas, Matemáticas e

Naturais.

Em 1839, a Academia Militar foi transformada em Escola Militar da Corte.

Após três anos, em 1842, criou-se o primeiro doutorado em Ciências Matemáticas

do Brasil. Segundo D‟ Ambrosio (2000), o primeiro doutor matemático foi Joaquim

Gomes de Souza, cuja tese tratava da estabilidade de sistemas diferenciais. Nos

últimos anos do Império tiveram importância para o avanço científico e tecnológico

do Brasil, as experiências e inventos de Júlio Cezar Ribeiro de Souza e Alberto

Santos Dumont, os quais empregaram o conhecimento matemático em suas

atividades e experimentos.

Na Primeira República (1889-1916) e entrada na Modernidade (1916-1933),

segundo Skovsmose (2005), verificou-se a influência do positivismo se consolidar

nas Escolas de Engenharia. Mas, no início do século XX alguns jovens intelectuais,

como Otto de Alencar Silva e Manuel de Amoroso Cardoso lideraram a tendência de

se afastar da corrente positivista, a qual só foi superada com a atitude de Theodoro

Ramos que, ao assumir uma cátedra na Escola Politécnica de São Paulo, em 1919,

introduziu novos temas no currículo, como o cálculo vetorial.

Page 23: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

22

De acordo com Skovsmose (2005), a visita de Albert Einstein ao Rio de

Janeiro em 1925, quando pronunciou uma conferência e foi ridicularizado pelos

defensores do positivismo, provocou uma reação dos adeptos da corrente

modernizadora, causando a derrocada do paradigma positivista e o início de uma

nova era na ciência brasileira, inclusive quanto aos estudos matemáticos. Na década

de 1930, o Brasil entrou na modernidade política e cultural, implicando na

modernização da Matemática brasileira. Em 1933 criou-se a Universidade de São

Paulo, onde foi criado um grupo de pesquisa na área da Matemática. Em 1934 foi

criada a Universidade do Distrito Federal do Rio de Janeiro, mas durou até 1938. No

pós-guerra, mas precisamente em 1946, foi fundada a Sociedade de Matemática de

São Paulo, quando se iniciou a publicação de um Boletim. Neste mesmo ano,

segundo Silva (2003), Jean Dieudonné ministrou na Universidade de São Paulo

(USP) um curso de extensão em Álgebra, sob o título Teoria dos Corpos

Comunicativos, do qual participaram vários professores de todo o Brasil.

De acordo com Silva (2003), a partir da década de 1950, as atividades

científicas destinadas a compor quadros docentes de matemáticos começaram a ser

desenvolvidas em São Paulo e no Rio de Janeiro. Foram criados, no Instituto

Tecnológico de Aeronáutica (ITA), programas de pós-graduação stricto sensu, onde

as aulas eram ministradas por professores brasileiros e estrangeiros. Em 1959,

passou a funcionar, na cidade de Rio Claro (São Paulo), começou a funcionar o

Departamento de Matemática da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, por meio

do qual foram realizados cursos de formação, porém, com ênfase na Matemática

Pura, sem preocupação de aplicabilidade para a resolução e análise de problemas

ambientais urbanos, nem integração com outras áreas do conhecimento.

Na década de 1960, período do ”Milagre Brasileiro”, ocorreu uma considerável

ampliação na oferta e demanda de cursos de graduação, licenciatura e bacharelado

em Matemática no Brasil. Em 1962, segundo Silva (2003), destacou-se a publicação

da coleção Textos de Matemática, por iniciativa dos professores Ruy L. Gomes e

José Cardoso Morgado Jr., os quais criaram, em 1967, o Programa de Mestrado em

Matemática na Universidade Federal de Pernambuco, porém a ênfase era na

Matemática Pura. Dois anos antes, em 1965, foi aprovado o Parecer 977/65 (CESu)

que reconheceu legalmente os programas de pós-graduação, stricto sensu,

mestrado e doutorado. No final da década de 1960 e início de 1970, o governo

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23

federal iniciou um programa de incentivo financeiro para alunos de pós-graduação,

contribuindo para ampliar o número de professores matriculados nos cursos de

mestrado e doutorado em Matemática no Brasil, principalmente nas regiões Sul e

Sudeste. O I Seminário sobre o Ensino da Matemática ocorreu de 12 a 16 de abril de

1976, patrocinado pela Academia Brasileira de Ciências e organizado pelo Grupo de

Estudos de Ensino de Matemática (GEEM) de São Paulo.

De acordo com Silva (2003), a década de 80 foi marcada pelo crescimento do

movimento em prol da Educação Matemática que, desde a época das primeiras

discussões em prol da Escola Nova (década de 30), visava mudar o ensino para

uma visão menos abstrata e mais vinculada à realidade cotidiana. Nesse contexto, o

primeiro curso de Mestrado em Educação Matemática foi implantado no Rio de

Janeiro em 1989. Um ano antes tinha sido criada a Sociedade Brasileira de

Educação Matemática (SBEM). Durante a década de 1990 aprofundaram-se as

discussões sobre a Modelagem Matemática, as quais já tinham sido iniciadas nas

décadas de 60 e 70. Segundo Barbosa (2001), a Modelagem Matemática se

caracteriza pela criação de ambientes de aprendizagem que incentivam os alunos a

investigar e/ou indagar, por meio da Matemática, situações do cotidiano, inclusive o

urbano, e de outras áreas do conhecimento. Por isso, em 1999 ocorreu a I

Conferência Nacional sobre Modelagem e Educação Matemática no Brasil,

promovida pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Estadual Paulista

(USP) de Rio Claro. Os reflexos vieram a partir de 2000, quando os livros didáticos

começaram a contemplar a utilização de problemas matemáticos relacionados à

realidade cotidiana. Todavia, um significativo número de professores ainda carece

de especialização no assunto.

2.1.3 No Pará

Em 1948 foi criada a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Belém

(FFCLB), a qual era presidida por Moreira Júnior e se destinava a formar

profissionais para a área da educação. Segundo Gonçalves (2006), o citado senhor

fez um grande esforço para alcançar a autorização de funcionamento da instituição

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24

junto ao Conselho Federal de Educação, mas só em 1954 o então Presidente da

República, Getúlio Vargas, assinou e concedeu a autorização pelo decreto-lei nº

35.546. Neste mesmo ano, a faculdade foi oficialmente instalada. Inicialmente,

começou com cinco cursos, entre eles o de Matemática, o qual tinha uma

defasagem de vinte e quatro anos em relação ao curso de Matemática da USP,

criada em 1934.

O primeiro vestibular da FFCLB ocorreu em 1955, com um número de 67

candidatos, sendo 7 aprovados para o curso de Matemática. Permitia a categoria do

estudante especial, ou seja, quem já estudava outro curso superior oferecido pela

instituição e era obrigado a deixar de fazer duas disciplinas do bloco oferecido

anualmente. Isso fazia que tal aluno ficasse em dependência para o ano posterior,

inviabilizando que terminasse o curso em 4 anos, isto é, finalizava em 5 anos.

Todavia, a FFCLB era significativamente controlada pelo governo federal, pois

o inspetor federal preparava um relatório anual minucioso sobre as atividades

realizadas no âmbito da referida instituição de ensino superior. O primeiro relatório

justificou, segundo Gonçalves (2006, p.93), a relevância da FFCLB para a formação

de bacharéis e licenciados na Amazônia:

Em seu 1º relatório, o inspetor federal manifestou-se dizendo que, o

primeiro ano de funcionamento da Faculdade de Filosofia veio demonstrar

que tal instituição era uma necessidade da região amazônica e que sua

influência, no progresso cultural, se acentuaria em um futuro próximo,

quando formasse a primeira turma de bacharéis e de licenciados.

Em 1955, a Faculdade de Filosofia teve uma iniciativa importante para o curso

de Matemática no Pará, criou como organização extra-curricular, o Instituto

Paraense de Matemática e Física. Outra ação relevante ocorreu em 1957 com o

estabelecimento de uma comissão especial para buscar o reconhecimento dos

cursos, inclusive de Matemática. Nesse mesmo período, segundo Gonçalves (2006),

solicitou-se a autorização do curso de Didática, importante disciplina que

possibilitaria por fim ao improviso na formação de profissionais de licenciatura.

Assim, após completar os três anos de bacharel em Matemática, os alunos da

FFCLB poderiam complementar com o curso de Didática, caso quisessem exercer o

magistério no ensino secundário. Referindo-se ao assunto, Gonçalves (2006, p.95)

Page 26: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

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analisou a importância do estágio nas escolas para o cursista conhecer a realidade

do ensino, argumentando a necessidade de se identificar os desafios pelos quais os

futuros educadores de Matemática são levados a conviver na prática docente.

Em 1958, segundo Gonçalves (2006), após a incorporação da FFCLB à

Universidade Federal do Pará, o vestibular para o curso de Matemática sofreu

algumas alterações, entre elas: a) A realização de 4 provas escritas: Álgebra

elementar e superior, Geometria Métrica e Euclidiana, Trigonometria Retilínea e

Geometria Analítica; b) O exame oral que fazia parte do exame de habilitação dos

anos anteriores foi abolido.

Gonçalves (2006) destaca em sua explanação que no vestibular de 1959 para

Matemática já se praticava o emprego de temas diversificados, condição que, no seu

entender, precisa ser mantida nos dias atuais, haja vista a necessidade de

contextualizar o ensino da disciplina com as demais dimensões da vida social,

política, econômica e cultural dos educandos. Inclui-se neste caso, a importância

dessa disciplina para o entendimento de questões relacionadas ao meio ambiente e

desenvolvimento urbano, como os percentuais de poluição atmosférica, a taxa

geométrica de crescimento do lixo, a relação entre crescimento urbano e número de

assentamentos precários, entre outras.

De acordo com Gonçalves (2006), os primeiros bacharéis em Matemática

formados pela Faculdade de Filosofia foram contratados no período de 1959 a 1960,

na categoria de auxiliar de ensino, mas não recebiam salário em cumprimento do

art. 89 do regulamento da FFCLB.

A primeira alteração do currículo de Matemática aconteceu em fevereiro de

1962. Ocorreu a fusão da Geometria Descritiva com a Perspectiva e Sombra,

criando-se a disciplina Desenho. Nesse mesmo ano, o Instituto de Matemática e

Física ofereceu o curso de Análise Vetorial e Matemática Aplicada à Física. No ano

seguinte, os alunos do 3º ano foram obrigados a cursar a disciplina Metodologia das

Ciências.

Por volta de 1964 foi criado o Núcleo de Física e Matemática, o qual mantinha

cursos de Matemática em nível médio visando facilitar o acesso aos cursos de

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graduação. Essa foi a saída para minorar as deficiências do ensino da Matemática

no nível médio e que acarretavam no reduzido ingresso para o nível superior.

Gonçalves (2006) afirma que uma das carências curriculares do curso de

Matemática era a falta do conteúdo de Matemática Moderna, a qual foi suprida em

1969 mediante a cooperação entre o Núcleo de Física e Matemática com a Diretoria

de Ensino Secundário do Ministério da Educação e Cultura (MEC). Mas, nesse

mesmo ano, a Faculdade de Filosofia foi extinta, sem, contudo, afetar o curso de

Matemática que já tinha autonomia e coordenação própria. Com a extinção da

Faculdade de Filosofia, passaram a predominar os Centros Básicos e Profissionais

com seus respectivos Departamentos. O último vestibular em regime seriado

aconteceu em 1970, e no ano seguinte, 1971, o curso de Matemática adotou o

sistema de crédito. O exame passou a ser prestado para a área de Ciências Exatas

e Naturais, sendo obrigado o aluno a cursar o 1º ciclo da área, com o mínimo de 45

créditos.

Em 1971 foram definidas as disciplinas para o currículo mínimo e criados os

Colegiados de Curso. No ano posterior, o Conselho do Centro, com base no Art. 4º,

parágrafo único, da Resolução 108 do CONSEP, permitiu que alunos das

engenharias cursassem simultaneamente a Licenciatura em Matemática, medida

esta que, segundo Gonçalves (2006), representou uma desvalorização do curso de

Licenciatura de Matemática, pois os alunos poderiam usar o curso de Matemática

para acelerar a graduação em Engenharia, ou ingressar na Universidade e, depois

migrar para o curso de Engenharia. A partir de 1973, o vestibular sofreu nova

alteração. O ingresso passou a ser pelo curso e não mais por área, o que também

resultou em deficiências. Por exemplo, alguns professores assumiam um

compromisso sério, ministravam todas as aulas, mas outros não, porém, no final

todos faziam a mesma prova. Por outro lado, alguns alunos tomavam conhecimento

da prova e conseguiam uma classificação. Tais circunstâncias tornavam a avaliação

do curso injusta. Em 1975, o MEC impôs o curso de Licenciatura em Ciências do 1º

grau. Assim, os alunos que prestavam vestibular para os cursos de Química, Física,

Biologia ou Matemática eram obrigados a fazer inicialmente o curso de Ciências. Daí

poderiam lecionar de 5ª a 8ª série do ensino fundamental, ou seja, para lecionar o

ensino médio, o cursista tinha que fazer a Licenciatura Plena.

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Gonçalves (2006) ao explicar sua contribuição na reformulação do curso de

Matemática da UFPA em fins da década de 70 e início de 80, afirma que incentivou

a criação do Grupo Cultural de Ciências e Matemática (G.C.C.M), o qual colaborou

para elevar a auto-estima dos cursistas. Esse grupo chegou a participar do I, II e II

Seminário de Ensino de Ciências e Matemática do Estado do Pará, em 1981, 1982 e

1983, respectivamente.

Em 1983, Gonçalves (2006, p.112) assevera que iniciou uma luta contra o Art.

45 do regulamento geral da Universidade. Considerava esse artigo discriminador por

permitir ao aluno cursar simultaneamente graduação e licenciatura pertencente ao

mesmo campo de conhecimento. Na verdade, o referido artigo transmitia a idéia de

que a licenciatura não é um curso de graduação. Em 1987, com a aprovação da

Câmara do Ensino Superior, o artigo foi alterado, ficando a nova redação da

seguinte forma: “É vedada a realização simultânea de dois cursos de graduação na

Universidade”. Em 1987 ocorreu uma alteração na grade curricular, retirando da

anterior todas as disciplinas constantes na grade do curso de Licenciatura em

Ciências que fora extinto neste ano. A partir dessa data até idos de 1995 várias

mudanças foram realizadas no currículo ou substituição de disciplinas e alterações

no nome. Ainda em 1988, a resolução 357/76 foi revogada e a disciplina Desenho

passou a ser inclusa novamente no currículo do curso de Matemática.

Em 1992, devido à entrada em vigor de uma nova política acadêmica da

UFPA com a implantação de turnos e blocos semestrais, o colegiado colocou em

discussão uma nova alteração na grade curricular, já que havia descontentamento

por parte da comunidade universitária de não ter participado das alterações

curriculares ocorridas em 1987. Segundo Gonçalves (2006), participaram do debate

o Departamento de Matemática, o Centro Acadêmico de Matemática, a Secretaria

de Educação e Pró-reitoria de Ensino e Graduação. Uma das pautas foi definir o

perfil do professor de Matemática que pretendiam formar para o ensino fundamental

e médio. Após as discussões a proposta definida era de um profissional que tivesse

condições de atuar de forma competente em seu contexto social. Para o alcance

dessa finalidade foi alterada a carga horária de algumas disciplinas e criadas outras,

entre as quais se destacaram o Cálculo Diferencial e Integral, Desenho Geométrico

e Geometria Descritiva, Geometria Analítica, Cálculo Numérico, Álgebra e Física

Geral. Também foram introduzidas disciplinas pedagógicas: Introdução à Educação

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28

e Metodologia do Ensino da Matemática, Prática de Ensino, Psicologia da Educação,

Estrutura Funcionamento do 1º e 2º graus.

Além das disciplinas do currículo mínimo, anteriormente descritas, o aluno era

obrigado a cursar as disciplinas da instituição, tais como Lógica Matemática, Teoria

dos Números, Português Instrumental, Introdução à Programação Linear, Evolução

da Matemática e Matemática Financeira. De acordo com Gonçalves (2006), a

resolução do CONSEP que aprovara essas alterações curriculares permitia que o

aluno optasse pela habilitação em Licenciatura em Desenho. Caso fizessem essa

opção teriam que cursar algumas disciplinas específicas, além das disciplinas

específicas de Licenciatura em Matemática. Tais alterações só valiam para os

alunos que tinham ingressado a partir de 1992 na Universidade Federal do Pará

(UFPA). A partir da década de 1990, a Universidade Federal do Pará começou a

implantar mudanças curriculares no sentido de introduzir a Modelagem Matemática,

seguindo a tendência nacional, mas a produção de pesquisas sobre o assunto ainda

é limitada, assim como o ingresso de professores nos cursos de especialização

atinentes a essa forma de ensinar a disciplina, caracterizada pelo vínculo com o

cotidiano.

No entendimento de Gonçalves (2006), as mudanças curriculares por si só

não garantem qualidade no ensino da Matemática, por isso é imprescindível a

participação e o envolvimento dos docentes e pesquisadores nas alterações

curriculares de modo a viabilizar um ensino-aprendizagem vinculado à vivência dos

educandos. Por outro lado, ainda há carência de profissionais e investimentos na

área, requerendo maior sensibilidade das autoridades governamentais em resolver

essa demanda.

2.1.4 Perspectivas atuais

A lógica do professor e do aluno, segundo Powell (1999), nem sempre ocorre

da mesma maneira, por isso, é necessário haver articulação entre ambas,

envolvendo a integração de significados e conceitos, por meio do emprego de

Page 30: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

29

metodologias fundamentadas do diálogo entre as partes para superar dúvidas e

tornar a compreensão acessível acerca do assunto explanado.

Shlomo Vinner (1997 apud POWELL, 1999) denomina de "pseudo

conhecimento" quando o educando opera de maneira mecânica os significados. Isso

geralmente acontece se o mesmo não constrói um significado coerente com a

Matemática para os diferentes significados dos termos utilizados em determinado

assunto. O resultado será apenas decorar algoritmos, fórmulas, a maneira de fazer

os cálculos sem precisamente conseguir fazer um vínculo com a realidade vivencial

do meio ambiente urbano, tornando a matéria algo alheio aos interesses pessoais do

educando.

O fenômeno do “pseudo conhecimento” geralmente ocorre com aplicações de

métodos de resolução de problemas por analogia. O problema é que o

conhecimento pode ser confundido com "verdadeiro conhecimento" quando a

resposta está de acordo com o resultado desejado.

Um dos caminhos mais indicados para evitar essa atitude incoerente é variar

as abordagens das ideias matemáticas a serem construídas pelo aluno, para se ter

certeza que ele está construindo, visando possibilitá-lo a compreensão das noções

trabalhadas em sala de aula. O meio ambiente urbano é um campo fértil na

aplicação dessa estratégia. Segundo Barros (2010), a cidade apresenta diversas

circunstâncias, vias sem arborização, quantidade de lixo, população, mas tais

assuntos ainda são pouco trabalhados no âmbito de questões mais amplas, a

exemplo da Educação Ambiental.

Segundo o autor, em qualquer problema matemático é fundamental que as

hipóteses dos alunos, seus métodos e táticas de aprendizagem sejam considerados,

mas se estas apresentam falhas, o professor precisa mostrar aos mesmos os

"caminhos" corretos por meio de outras aplicações, a fim de criar um significado

coerente.

Para os estudantes de Matemática essa é uma alternativa vantajosa, pois

eles possuem a oportunidade de rever os erros que tiveram no ano anterior. Ao

depararem com novos exemplos sobre os assuntos estudados, suprimem dúvidas e

exercitam a reflexão.

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30

Esse posicionamento é compartilhado por Pereira (1995). Após realizar uma

experiência com alunos do Ensino Fundamental, através de um folheto de

supermercado, por meio do qual trabalhou o significado, a representatividade das

siglas de medidas de capacidade e peso, compreendeu a importância de oportunizar

ao aluno a possibilidade de experimentar diferentes maneiras de comparar os

resultados, relacionar categorias e grandezas, mediante atividades práticas que

transformam o abstrato em prático.

Essas considerações manifestam a união entre realidade e ação que,

segundo D'Ambrosio (1986, p. 38), distingue o homem dos demais animais: "É no

processo de unir a realidade à ação que se insere o indivíduo, claramente

distinguindo das demais espécies animais pelo fato de sua ação ser sempre o

resultado de uma relação dialética entre o teórico-prático".

A ação, na visão do autor, é um mecanismo específico posto em prática pelo

ser humano, possibilitando-se intervir na realidade. Há uma relação dialética

permanente entre as ações puramente cognitivas, como aprender e pensar, e

aquelas de caráter modificador da realidade, manifestadas no comportamento e na

realização de tarefas.

Diante dos fatos, a prática docente atual vem requerendo a revisão dos

conteúdos empregados nas aulas, bem como dos objetivos propostos. Para Silva

(2003), essa é a tendência da chamada Matemática Moderna, que implica a

necessidade de uma constante "vigilância" epistemológica dos professores que

atuam nessa área. Por isso, ensinar geometria passa a ser um processo de

construção, vinculando a parte teórica com situações da vida cotidiana.

D'Ambrosio (1986) analisa a questão enfatizando a necessidade do professor

de se aperfeiçoar constantemente e adquirir rigor científico em sua profissão com a

finalidade de atuar de maneira competência, atendendo às principais necessidades

dos alunos. Esse aprimoramento é fundamental, pois, na maioria dos casos os

alunos ingressam no ano letivo desgastados pelo fato de estarem repetindo a

disciplina da série anterior. Quanto mais qualificado for o professor, maiores serão

as perspectivas de sensibilidade e competência para incentivar e facilitar o ensino

dos mesmos.

Page 32: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

31

Durante as aulas de Matemática, inclusive de geometria, é fundamental que o

professor converse com seus alunos, visando compreender as perspectivas que os

mesmos possuem em relação ao assunto e quais os métodos e conteúdos mais

indicados para a situação dessa demanda, como ressalta D'Ambrosio (1986, p. 46):

Em termos bem simples, o professor deve ouvir mais, o aluno tem muito a

dizer sobre suas expectativas, que no fundo refletem as expectativas de

toda uma geração e traduzem as expectativas de seus pais. Embora haja

dificuldade do aluno em se expressar com relação a essas expectativas,

cabe ao professor reconhecer os grandes motivadores da presença do

aluno na escola. Escolher conteúdos que satisfaçam essas expectativas e

naturalmente utilizar métodos mais convenientes para conduzir a prática

com relação a esses objetivos e os conteúdos adequados é o grande

desafio do professor.

Essas considerações deixam evidente uma nova visão da relação professor-

aluno, norteada pela necessidade de maior integração, diálogo e comunicação. É

conversando que o professor pode entender melhor as necessidades dos alunos,

detectar o que dificulta sua aprendizagem, que noções possui sobre geometria e

outros assuntos, bem como identificar suas inquietações relacionadas ao

desenvolvimento e meio ambiente urbano.

Portanto, os professores possuem o dever profissional de ajudar os

educandos a aprenderem, o sucesso ou fracasso desse objetivo depende da relação

com os alunos, como explica Morales (2000, p. 13).

Como somos profissionais do ensino, nossa tarefa é ajudar os alunos em seu aprendizado; buscamos seu êxito e não seu fracasso, e a qualidade de nossa relação com os mesmos pode ser determinante para conseguir nosso objetivo profissional.

Nessa relação os aspectos informais possuem grande importância, pois

envolvem a própria vida do aluno. Segundo Morales (2000), o professor pode ter a

habilidade de ensinar a disciplina, mas dependendo de sua relação com os alunos

levá-los a gostar ou odiá-la, o que constitui um efeito não-intencional do

relacionamento. Geralmente, a disciplina ainda é trabalhada de maneira tradicional,

o professor se limita a abordar os conteúdos teóricos sem mostrar aos alunos como

eles podem ser usados na vida prática.

Page 33: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

32

Desse modo, quando os professores conseguem prestígio, tornam-se

queridos e aceitos por seus alunos, há possibilidades de maior aprendizagem, uma

vez que a educação inclui a dimensão afetiva e a simpatia ou antipatia entre os

sujeitos é um fato de grande relevância. Essa prerrogativa é facilitada, segundo

Morales (2000), quando o educador consegue tornar a aprendizagem significativa,

ou seja, tem a capacidade de demonstrar o sentido dos conteúdos estudados, a

utilidade deles na vida prática e interpretação da realidade.

Dentre as possibilidades negativas de aprendizagem apontadas por Morales

(2000) está o fato do aluno chegar à conclusão que a matéria é inútil e não vale a

pena, não contribui para nada, nem para a vida, considerando importante o simples

fato de passar de ano. Outro caso é quando o aluno não gosta do professor,

considera que os seus valores não valem à pena. A essas situações o autor

denomina de "aprendizagens afetivas negativas" que dizem respeito, sobretudo, à

área das atitudes e valores.

Todo ser humano possui valores, eles fazem parte da dimensão política e

social, por isso, na relação professor-aluno é fundamental que eles sejam

trabalhados, não no sentido de se imitar o educador, mas na perspectiva de

demonstrar que a Matemática é útil para todos e sua aprendizagem representa um

meio de participar da sociedade, intervir nela e crescer pessoalmente. Essa ideia

possui vinculação com Sá e Makiuchi (2003, p.101), ao defenderem a abordagem

complexa da Educação Ambiental, na qual se integram diversas formas de

conhecimento.

Nessa ótica, o ambiente humano está inserido, ou é ele mesmo o lócus das ações preferências, no processo de gestão ambiental. Isso reforça a necessidade de transcender a visão da educação ambiental como simples abordagem de conteúdos biológicos ou das ciências naturais, para uma abordagem complexa, onde todo conhecimento organizado, seja científico ou local, articula-se em direção a uma práxis responsável em relação ao ambiente, humano e natural. Dessa forma, a integração do político na dimensão educativa é condição de um efetivo surgimento de alternativas

viáveis às questões ambientais concretas.

Um bom aprendizado nessa área também está em dependência dos métodos

utilizados em sala de aula, dos exercícios, das práticas empregadas, como explica

Morales (2000, p.25):

Page 34: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

33

[...] quer se pretenda conscientemente quer não, os métodos utilizados na sala de aula, os exercícios, as práticas etc. podem influenciar notavelmente não só no aprendizado dos conteúdos ou habilidades dos alunos, mas também em suas atitudes com relação à matéria, ao estudo e ao trabalho, assim como a respeito de si mesmo.

É importante ressaltar que a percepção dos alunos em relação à "figura" do

professor também varia conforme a faixa etária. Segundo o autor supramencionado,

os menores valorizam consideravelmente os aspectos físicos do educador, já os

maiores, por volta dos 12 anos, insistem na capacidade do mesmo em manter a

ordem da classe.

Compreender essas diferentes visões é um passo valioso para que os

professores direcionem sua relação com os alunos, criem vínculos estreitos e

agradáveis para um relacionamento interpessoal favorável ao ensino-aprendizagem.

Na visão do autor, as situações e necessidades dos alunos se alteram

conforme a faixa etária. Todavia, considera fundamental que o professor reflita sobre

si mesmo e seu papel.

Considero necessário sublinhar a importância de como vemos a nós mesmos, como concebemos nosso papel de professores (funções, condutas esperadas). Isso é importante para nós e é importante como algo sobre o que podemos fazer os outros refletir (MORALES, 2000, p. 41).

Essa necessidade ocorre porque quem inicia a relação é o professor e ela se

caracteriza como multidimensional, mas o autor considera dois tipos básicos de

relação:

- O tipo de relação-comunicação mais pessoal, na qual se reconhece o êxito,

reforça-se a autoconfiança dos alunos, matem-se uma atitude de

cordialidade e respeito.

- A orientação apropriada para o estudo e o aprendizado, que diz respeito à

prioridade de criar e comunicar uma estrutura capaz de facilitar o

aprendizado.

O autor explica que a qualidade da relação professor-aluno não se confunde

com a dimensão relacional de ser boa pessoa amável. Sua essência está em ajudar

os alunos na sua tarefa de aprender, especialmente no ensino da Matemática, que

requer atenção, concentração, raciocínio e exercício. A eficácia dos professores

Page 35: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

34

nessa tarefa está em identificar as necessidades que os alunos possuem, pois isso

contribuirá para motivá-los, todavia, nem sempre os alunos possuem consciência de

suas necessidades.

Para Morales (2000) existem três áreas básicas de atuação do professor:

relações interpessoais, estrutura de aprendizado e apoio da autonomia e do

desenvolvimento integral do aluno. Nessa perspectiva, o ensino da Matemática

integrado à análise do desenvolvimento e meio ambiente urbano, representa uma

contribuição relevante para a formação mais ampla e relacionada ao espaço de

vivência do educando, onde este mantém contato direto com a diversidade de

situações cuja compreensão envolve o saber matemático, a exemplo da noção de

tempo, distância, velocidade, densidade demográfica, entre outras.

O ensino da Matemática integrado à vivência é favorecido pela qualidade das

relações interpessoais positivas entre professor e aluno, as quais se

instrumentalizam de diversas maneiras, tais como: dedicar tempo à comunicação

com os alunos, manifestar afeto e interesse, fazer elogios sinceros, interagir de

maneira prazerosa com os mesmos. No âmbito dessa qualidade é indispensável que

o aluno sinta-se livre para errar, como explica Morales (2000, p. 56):

Os alunos devem sentir-se livres para criar e aprender com seus erros. O sentir-se livre se traduz aqui por ausência de medo, de angústia (...). Aprender com os próprios erros é importante para o crescimento pessoal, seja emocional, social ou cognitivo.

Isso demonstra que o aluno precisa ter confiança no professor, o medo e a

desconfiança dificultam a aprendizagem. Portanto, o estudante pode até ser

aprovado em dada disciplina, mas isso não significa aprendizagem efetiva.

Geralmente, essa situação acontece com o ensino da Matemática; determinados

alunos conseguem bons êxitos nas provas e trabalhos, mas encontram dificuldade

em usar o conhecimento adquirido e aplicá-lo em problemas atinentes ao

desenvolvimento e meio ambiente urbano, a exemplo das análises sobre as formas

geométricas da arquitetura urbana, o cálculo do volume de água precipitada pela

chuva e a capacidade de absorção dos canais urbanos, a reflexão da relação entre

pobreza e crescimento econômico da cidade, entre outras questões.

É importante ressaltar que, as relações interpessoais motivadoras de novos

comportamentos, atitudes, são indispensáveis para a promoção da Educação

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35

Ambiental, caracterizada como transformadora, conforme as explicações de Sá e

Makiuchi (2003, p.91):

Neste sentido o papel de uma educação transformadora é basicamente o de atuar sobre o imprinting cultural que organiza os princípios modeladores do paradigma, propiciando a emergência de novas interações, ou seja, relações interpessoais, que permitam reorganizar novos comportamentos, novas premissas de compreensão do mundo, e a organização de novas ideias, gerando um efeito turbilhão na consciência coletiva e pessoal.

Quanto a dar estrutura ao aprendizado, refere-se à quantidade e qualidade de

informações viabilizadas aos alunos em favor da eficácia da aprendizagem,

envolvendo respostas consistentes, informações de ajuda, ajuste ao ritmo dos

estudantes e fazê-los compreender situações experimentadas na vida real.

O autor ressalta que, existem disciplinas dificilmente compreendidas porque

há falta de informação adequada e de uma ênfase apropriada sobre o que e como

estudar. Por isso, o professor precisa ser flexível, adaptando-se ao que acontece na

sala de aula e buscando relacionar os conteúdos com o desenvolvimento e meio

ambiente urbano, pois o educando vivencia distintas situações no cotidiano urbano.

Essa flexibilidade perpassa pela necessidade de uma avaliação que respeite

o ritmo de aprendizagem do aluno, suas condições socioeconômicas e culturais e

outras questões que não o classifiquem como incapaz, mas o ajudem a desenvolver

as habilidades do conhecimento matemático.

Quando se trata da avaliação, é importante levar em conta que os alunos não

possuem um único modo de aprender, nem todos os pré-requisitos teóricos para

uma efetiva aprendizagem, sendo o papel do professor, descobrir as diversidades e

aplicar estratégias de ensino adequadas. Por isso, não cabe a avaliação de caráter

autoritário, como evidencia Grosbaum (2001, p.93):

O Professor que faz dos resultados da avaliação uma ameaça, uma punição ou um castigo banaliza a avaliação, prejudica a relação com seus alunos, que deve ser pautada pela serenidade, e não pela ansiedade ou pelo medo. Por outro lado é importante levar em conta a história de vida estudantil, pois muitos alunos não possuem o embasamento adequado para compreender certos assuntos. É comum encontrar alunos que nem sequer tiveram acesso aos pré-requisitos para o ingresso no conteúdo do ano que estão cursando.

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36

Na concepção de Freire (1999), o professor, além de criar possibilidades para

o ensino, possui entre suas tarefas básicas desafiar o educando, ajudando-o a

buscar o conhecimento. Esse desafio não significa impor barreiras difíceis de serem

atingidas, mas que permitam ao educando encontrar caminhos próprios através do

questionamento da realidade.

Do ponto de vista da avaliação, o educador não pode considerar apenas o

papel do educando, mas também como esta desenvolvendo seu trabalho, quais

suas falhas, dentre outros questionamentos.

Todavia, como explica Hoffmann (1991), a avaliação tem sido feita com base

em critérios definidos pelo professor, esperando do educando resultados e

comportamentos padronizados, ou seja, a prática avaliativa não se destina a refletir

sobre as possibilidades de ação do educando. Esse tipo de avaliação é denominada

de classificatória.

Outro aspecto para uma avaliação não autoritária é considerar que a

aprendizagem ocorre com o desenvolvimento da curiosidade. Além desta, fazer

parte da experiência vital do ser humano, constitui um passo inicial para a

construção do conhecimento.

O autor explica que é preciso ajudar o aluno a superar a curiosidade ingênua

ligada ao senso comum, elevando-o ao grau da curiosidade crítica, a fim de que o

mesmo obtenha uma “curiosidade epistemológica”, e passe do “saber de pura

experiência feita” ao saber que “resulta dos procedimentos metodicamente

rigorosos”.

Passar do senso comum para uma visão crítica é indispensável para que o

educando não seja enganado pelas falsas ideologias, pelas visões parciais que

enganam a consciência social e impedem o verdadeiro conhecimento.

Segundo Freire (1999), a curiosidade é indispensável para o desenvolvimento

da criatividade, pois ela impulsiona o ser humano a indagar sobre a realidade, a

desvelar o desconhecido, a procurar esclarecimentos, e na aprendizagem da

Matemática isso representa um fator de grande importância, para que o educando

não fique limitado à mera memorização ou ao mecanicismo. Nesse aspecto, o

desenvolvimento e meio ambiente urbano representa um campo fértil de temas e

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37

assuntos para serem explorados pela curiosidade do educando, por exemplo,

quanto à Prefeitura de Belém investe em saneamento básico e qual o impacto desse

investimento na redução do número de óbitos por doenças decorrentes de

condições sanitárias.

O autor considera que a avaliação precisa ser constantemente revista, a fim

de melhorá-la, verificando se ela está correspondendo à necessidade do

entendimento e do diálogo.

A revisão da prática é uma condição necessária para que o professor perceba

seus erros, melhore sua atuação, e ajude o aluno a passar da curiosidade ingênua à

curiosidade epistemológica. Essa estratégia é favorecida quando se envolve os

estudantes em pesquisas sobre situações vivenciadas no meio urbano.

Essa postura encontra relação com as considerações de Freire (1999), de

que o educando é um ser inacabado, seu conhecimento está em constante

construção e reconstrução, e seu destino é traçado através de possibilidades, sem

determinismo. Por essas razões, a avaliação faz parte de uma ação mediadora e

aberta aos interesses e necessidades do aluno. No caso da Matemática, é

importante avaliar como o aluno está conseguindo relacionar os conteúdos teóricos

com a realidade urbana, quais habilidades e competências adquiriu ou terá que

adquirir para desenvolver análises e reflexões acerca das questões referentes ao

desenvolvimento e meio ambiente urbano.

Todavia, como assinala Luckesi (1995, p.24), nosso sistema tem se

preocupado prioritariamente com resultados gerais. Aparentemente, valorizando as

notas, vistas como verdadeiras "relíquias sacralizadas", tanto pelos professores

quanto pelos alunos:

[...] as notas se tornam a divindade adorada tanto pelos professores como pelos alunos. O professor adora-as quando são baixas, por mostrar sua 'lisura' ('não aprovo de graça; sou durão'); por mostrar o seu 'poder' (não aprovo qualquer aluno e de qualquer jeito'). O aluno, por outro lado, está à procura do 'santo graal'- a nota.

A questão é mais grave, uma vez que as provas nem sempre são elaboradas

com a preocupação de conduzir o aluno a uma aprendizagem efetiva, ocorrem

Page 39: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

38

distorções quando à cobrança daquilo que é dado em sala de aula, como explica

Luckesi (1995, p. 21).

Os professores elaboram suas provas para 'provar' os alunos e não para auxiliá-los na sua aprendizagem; por vezes, ou até em muitos casos, elaboram provas para 'reprovar' seus alunos. Esse fato possibilita distorções, as mais variadas, tais como: elaboração de itens das provas deslocados dos conteúdos ensinados em sala de aula, construção de questões sobre assuntos trabalhados com os alunos, porém com um nível de complexidade maior do que aquele que foi trabalhado; uso de uma linguagem incompreensível para os alunos, etc.

Esse é um problema que se visualiza empiricamente em qualquer escola, é

facilmente ouvir entre os alunos em épocas de provas reclamações como "aquilo

que eu estudei não caiu", "o professor não ensinou daquela maneira", são distorções

nitidamente claras em um tipo de avaliação incapaz de ajudar a aprendizagem,

podendo provocar verdadeiros "traumas".

A ênfase nas notas e provas caracteriza o que o autor denomina de

Pedagogia do Exame, a qual não se limita aos aspectos didáticos e pedagógicos,

mas gera um efeito psicológico por contribuir que aluno desenvolva uma

personalidade submissa. Além disso, facilita a seletividade social, como ressalta

Luckesi (1995, p.26):

[...] a sociedade é estruturada em classes e, portanto, de modo desigual, a avaliação da aprendizagem, então por ser posta, sem a menor dificuldade, a favor do processo de seletividade, desde que utilizada independentemente da construção da própria aprendizagem. No caso, a avaliação está muito mais articulada com a reprodução do que com a aprovação e daí vem a sua contribuição para a seletividade social.

A explicação do autor deixa bem clara a função que o tipo de avaliação

classificatória e do exame tem em nossa sociedade, caracterizada pela

estratificação social que não oferece oportunidade de empregos para todos,

hierarquiza os segmentos e tem na competição um de seus fundamentos básicos.

É uma forma de autoritarismo que para o autor ainda é um elemento

necessário à garantia de interesses ideológicos, uma vez que toda avaliação escolar

está a serviço de uma concepção teórica de educação que na verdade traduz uma

visão de sociedade.

O autor ressalta ainda que, a avaliação encontra-se ao livre arbítrio do

professor, é ele quem define a nota e determina os critérios, ou seja, o processo é

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39

vulnerável aos estados psicológicos e de humor do mesmo. Todavia, mesmo

havendo grande subjetividade, pois a avaliação envolve juízos de valor, ela precisa

estar fundamentada em caracteres objetivos, por exemplo, avaliar o desempenho na

Matemática requer a consideração de indicadores específicos desse saber, como o

raciocínio lógico. Nessa perspectiva, é importante, segundo Duvoisin (2002, p.97),

não considerar o ensino mecânico da disciplina:

A educação hoje está centrada em algoritmos prontos e acabados e exercícios do tipo „faça assim‟, „siga o modelo‟, e os educandos estão memorizando regras em vez de desenvolver o raciocínio lógico, tornando-se incapazes de utilizar os conteúdos aprendidos em outros contextos. É necessário romper com essa educação e desenvolver metodologias que atentem para o fato de que o aluno é o agente da construção do conhecimento (DUVOISIN, 2002, p.97).

Assim, o tempo contemporâneo apresenta novas exigências aos estudiosos

e docentes que lidam com o conhecimento matemático, de que a Matemática

estabeleça uma relação clara com a vida, integrando os seus conceitos e suas

metodologias de forma interdisciplinar com outros conhecimentos e saberes,

incluindo as questões sobre o meio ambiente nas dinâmicas de ensino de seus

planos e programas, resgatando a “boa tradição” da relação com os fenômenos

reais, presentes no desenvolvimento e meio ambiente urbano.

2.2 BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Os primeiros debates em torno das questões ambientais fundamentaram-se

na Ecologia, cujo foco era direcionado para a preservação dos ecossistemas,

defendendo-se a criação de parques e reservas legais para manter intactos os

espaços naturais. Nesse primeiro momento se destacaram os movimentos

ambientalistas no final da década de 1960 nos Estados Unidos e Europa, os quais

criaram influência na América Latina, inclusive no Brasil, sobretudo, nas décadas de

1970 e 1980. De acordo com Carvalho (2004), esses movimentos denunciavam os

riscos e impactos ambientais gerados em decorrência das atividades econômicas

predatórias.

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40

Nesse contexto, ganhou força a organização de eventos nacionais e

internacionais para debater a questão ambiental. Em 1977, ocorreu a I Conferência

Intergovernamental sobre Educação Ambiental, em Tibilisi na ex-URSS, por meio da

qual foi realizado o convite aos Estados Membros a incorporar conteúdos, diretrizes

e atividades ambientais nos sistemas educacionais com a finalidade de promover

reflexões, pesquisas e inovações em relação à Educação Ambiental.

A Conferência gerou reflexos no Brasil, pois a partir de 1973 foi criada a

primeira Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), mas a garantia da

Educação Ambiental foi oficializada com a promulgação da Constituição de 1988,

quando se firmou como exigência aos governos federais, estaduais e municipais,

conforme o Art. 225, § 1º, VI da CF:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente;

Um dos eventos de destaque no Brasil em relação à Educação Ambiental foi

a Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Desenvolvimento e Meio

Ambiente/Rio-92, durante a qual foram aprovados documentos que fizeram

referência à relevância da Educação Ambiental, entre eles a Declaração do Rio de

Janeiro, a Agenda 21, o Programa de Ações Preservadoras do MA, o Tratado de

Biodiversidade e a Convenção sobre o Clima.

Na Conferência Rio-92, os movimentos sociais tiveram a oportunidade de

organizar o Fórum Global e elaboraram o Tratado de Educação Ambiental para as

sociedades sustentáveis, cujo objetivo foi definir o marco político do projeto

pedagógico da Educação Ambiental.

Segundo Carvalho (2004), em 1994 foi editada a versão preliminar do

Programa Nacional da Educação Ambiental (PRONEA), visando ampliar a atuação

em prol da “Educação Ambiental formal”, disseminando-a em todos os níveis de

ensino. Três anos após, o Ministério da Educação desenvolveu várias atividades e

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41

eventos locais, regionais e nacionais nesse sentido. Ainda em 1997 ocorreu a

publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais, nos quais consta a proposta de

trabalhar nas escolas como tema transversal o Meio Ambiente. Em 2002 o ministério

lançou a publicação Políticas de Melhoria de Qualidade da Educação – Um Balanço

Institucional – MEC – 2002, reafirmando a importância da Educação Ambiental nas

escolas.

2.3 A MATEMÁTICA NO ÂMBITO DA PEDAGOGIA AMBIENTAL

2.3.1 Aspectos gerais sobre a Pedagogia Ambiental

De acordo com Cunha (2009), a Pedagogia Ambiental depara-se com o

desafio de superar a dicotomia entre teoria e prática na realização da Educação

Ambiental. Parte do princípio de articular as várias ciências de maneira

interdisciplinar ou transdisciplinar. Nessa mesma linha de pensamento, defende a

ruptura com a ideia de ciência como conhecimento dominante, imposta pela

sociedade moderna, e demonstra-se favorável ao diálogo entre as diversas formas

de saber.

No entendimento de Fazenda (2001, p.23):

A interdisciplinaridade se constitui como uma categoria de ação e não de conhecimento; a interdisciplinaridade conduz a um exercício do conhecimento através do perguntar, da dúvida e de se desenvolver a partir do desenvolvimento das próprias disciplinas.

A ação pedagógica de efetivação da interdisciplinaridade se dá pelo

desenvolvimento da sensibilidade, de uma formação adequada e necessária na arte

de entender e de esperar, e no desenvolvimento da criação e imaginação. Nessa

ação a relevância metodológica é indiscutível, segundo Fazenda (2001, p.34) “[...]

porém, é necessário não se fazer dela um fim, pois interdisciplinaridade não se

ensina nem se aprende, apenas vive-se, exerce-se e por isso exige uma nova

pedagogia [...].”

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42

A Matemática é empregada em várias disciplinas e constitui um instrumento

relevante de Educação Ambiental, por exemplo, Belém é considerada a cidade das

mangueiras, mas diversas áreas da cidade ainda carecem de arborização. Durante

uma aula o professor pode focalizar o problema elucidando as vantagens da

cobertura vegetal, explicando que a sobra das árvores contribui para reduzir em 5º a

temperatura ambiental das vias públicas asfaltadas, bem como, por meio de

imagens e mapas, instruir os alunos a calcular a área territorial da cidade e a

porcentagem da porção carente de arborização.

Entretanto, Souza (2005) explica que os professores de Matemática ainda

encontram dificuldade em aplicar a interdisciplinaridade, seja pela falta de

qualificação para tal, seja pela carência de projetos desenvolvidos pela coordenação

pedagógica das escolas e a padronização das grades curriculares e conteúdos.

Além disso, muitos dos professores atuantes contemporaneamente nas escolas não

tiveram contemplado em seus currículos de formação a relação do saber matemático

com questões específicas do desenvolvimento e meio ambiente urbano.

Portanto, é necessário haver integração de conhecimentos; superar a

dicotomia entre ensino e pesquisa a partir da contribuição das várias ciências, como

a Matemática com a Geografia, História, Biologia e outras na busca pelo

envolvimento do aluno e de sua busca pelo saber. Esse intercâmbio, no entanto, foi

prejudicado pela racionalidade objetiva da Matemática, a qual, segundo Souza

(2005) se tornou o paradigma referência da sociedade moderna, na qual o racional

passou a ser visto como sinônimo de competência. Essa lógica ganhou força no

século XVIII, quando as leis da natureza foram explicadas a partir de uma visão

matematizada, como pondera Moreira (1993, p.16):

Do Renascimento (surgimento da teoria heliocêntrica) ao Iluminismo (síntese newtoriana da Física Clássica) a visão de mundo revirou-se por completo no ocidente: o mundo-Deus cede lugar ao mundo-máquina; o mundo dos acidentes esporádicos por meio dos quais Deus saía da esfera supralunar para interferir no andamento da vida dos homens na esfera sublunar dá lugar ao mundo regido pelas leis constantes e regulares da razão matemática; o mundo encantado do corpo divino cede lugar ao mundo das formas racionalmente geometrizadas; o mundo dos fenômenos casuais cede lugar ao mundo casualmente explicado pela razão experimental-matemática.

Essa visão permeou as bases epistemológicas e filosóficas da sociedade

industrial difundindo a ideia de existir um meio ambiente onde o homem está

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43

separado da natureza, uma dicotomia negada pela Pedagogia Ambiental. Na

verdade, embora o Renascimento tenha posto em curso a interrogação sobre o

mundo, a natureza, a vida, o homem, Deus, a dicotomia entre humanos e natureza

prevaleceu e foi utilizada para justificar o domínio sobre os recursos naturais e

outras questões, como a condição de existir “naturalmente” dominadores e

dominados, a exemplo do mundo animal.

A matematização da natureza e a visão mecanicista que a acompanhou se

tornou evidente na fragmentação do conhecimento, como se o meio ambiente

pudesse ser estudado em partes sem relação alguma. Sá e Makiuchi (2003)

ressaltam a tendência atual de uma crise de racionalidade do livre mercado e da

democracia liberal, porque os estudos e debates no campo ambiental vêm

demonstrando a ineficácia histórica da predominância da lógica mercantil do lucro.

Uma das justificativas plausíveis é o fato da realidade envolver diversas dimensões

e a solução dos problemas ambientais exigir a co-responsabilidade de todos.

Nesse contexto, a educação representa um processo de agenciamento de

vontades, interesses e conflitos manifestados em práticas coletivas. A Matemática

não está exclusa desse processo, pois ela faz parte das práticas culturais do homem

desde seus primeiros contatos com a natureza e pode ser envolvida na proposta de

uma racionalidade não mais pautada exclusivamente no aspecto econômico, mas na

articulação de várias dimensões e conhecimentos.

Jacobi (2003) assinala que, a produção do conhecimento deve contemplar a

inter-relação do meio natural com o social, incluindo a análise dos determinantes do

processo, o papel dos diversos atores envolvidos e as formas de organização social

que aumentam o poder das ações alternativas de um novo desenvolvimento, com

ênfase na sustentabilidade ambiental.

Como exemplo, o problema da dengue em Belém é de responsabilidade de

todos. Embora o poder público municipal pouco faça em termos de saneamento

básico, tratamento do lixo e investimento no combate aos focos de proliferação do

mosquito Aedes Aegypti, a sociedade local tem um papel importante em previnir a

expansão da contaminação. Nesse caso, dados númericos, quantificados e

apresentados em quadros, constituem instrumento de grande utilidade para

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44

esclarecer a população e demonstrar que não só o poder público tem o dever de

combater a situação, mas toda sociedade é co-responsável.

A partir de recortes de jornal é possível apresentar que em março de 2011,

Belém apresentou 810 casos de dengue, quantidade que saltou para 1.208, um

crescimento de 49%. No mesmo período, em Santarém os casos aumentaram de

482 para 1.015, Altamira de 227 para 760; Parauapebas, 356 para743; Marabá, 248

para 666; Marituba, 253 para 420; Tucuruí263 para 414; São Félix do Xingu, de 240

para 343 e Castanhal, de 221 para 314 (Quadro 1).

Quadro 1 – Casos de dengue notificados em municípios paraenses entre

março e abril de 2011

Casos notificados

Municípios Março Abril

Belém 810 1.208

Santarém 482 1.015

Altamira 227 760

Parauapebas 356 743

Marabá 248 666

Marituba 253 420

Tucuruí 263 414

São Félix do Xingu 240 343

Castanhal 221 314

Fonte: Dengue não para de crescer no Pará. O Liberal, Belém, 7 abr. 2011. Atualidades, p.5.

A análise quantitativa pode ser complementada com outros dados e

explicações, especialmente quanto ao descaso do poder público, os níveis

insuficientes de investimento governamental para resolver o problema, o

comportamento da população de Belém em relação aos cuidados com a prevenção,

os tipos de estruturas urbanas que propiciam os focos de proliferação do mosquito;

enfim, a complexidade de informações permite dimensionar a co-responsabilidade

de todos.

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45

O emprego da Matemática na análise do desenvolvimento e meio ambiente

urbano faz parte de uma nova visão sobre o caráter educativo dessa disciplina, que

tradicionalmente tem sido usada pedagogicamente para mensurar, calcular,

quantificar a natureza sem estabelecer um diálogo com outras áreas do

conhecimento. Essa falta de integração com outras áreas do saber e a realidade

esteve atrelada ao projeto da sociedade industrial de fragmentação do conhecimento

em áreas, o qual quebrou os elos com a reflexão política acerca dos problemas

socioambientais.

No entender de Souza (2005), a Matemática ao servir de fundamento para

explicar a natureza de modo acrítico, sem estabelecer diálogo com outras áreas do

saber, ficou alijada da sensibilidade de identificar o visível e o invisível presente na

totalidade concreta do meio ambiente. Ao comungar dessa visão, Jacobi (2003, p.

191) esclarece:

A necessidade de abordar o tema da complexidade ambiental decorre da percepção sobre o incipiente processo de reflexão acerca das práticas existentes e das múltiplas possibilidades de, ao pensar a realidade de modo complexo, defini-la como uma nova racionalidade e um espaço onde se articulam natureza, técnica e cultura. Refletir sobre a complexidade ambiental abre uma estimulante oportunidade para compreender a gestação de novos atores sociais que se mobilizam para a apropriação da natureza, para um processo educativo articulado e compromissado com a sustentabilidade e a participação, apoiado numa lógica que privilegia o diálogo e a interdependência de diferentes áreas de saber. Mas também questiona valores e premissas que norteiam as práticas sociais prevalecentes, implicando mudança na forma de pensar e transformação no conhecimento e nas práticas educativas.

Diante da necessidade anteriormente explicitada, a Pedagogia Ambiental

parte de um “novo olhar”; critica o conservadorismo pedagógico que condicionou o

sistema de ensino aos interesses industriais em perpetuar a dicotomia entre homem

e natureza e ter empregado o saber matemático só para fins de quantificação e

racionalização dos recursos naturais, sem realizar a reflexão crítica sobre o uso,

consumo e a exploração desses recursos.

O “novo olhar” da Pedagogia Ambiental se expressa no papel da Matemática

no âmbito da Educação Ambiental, a qual se posiciona contrária à lógica de

exploração dos recursos naturais posta em marcha pela sociedade industrial. Assim

comenta Souza (2005, p.128-129):

Page 47: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

46

Assim, apresentamos a segunda visão em Educação que indica que a escola está a serviço de uma ideologia de classe dominante e, portanto, reproduz as relações vigentes de classe social. Há um predomínio sociológico nas análises que demonstram essa segunda visão. Ela nos traz que o conservadorismo pedagógico, social e político são inerentes à escala capitalista e, assim, que a Educação Ambiental deve apontar que as decisões contra a exploração desenfreada do planeta, pelo modo de produção atual, passam, sim, pela Educação que deve separar conservar (estruturas sociais e políticas) de preservar (o planeta).

Como se compreende, a Matemática, por ser parte do conhecimento humano

pode ser instrumento de Educação Ambiental, a partir de uma nova orientação

pedagógica, materializada em atividades educativas de cunho esclarecedor e

fundamentadas no diálogo entre os diversos saberes, com foco crítico, político e

preocupado em interpretar a complexidade ambiental. Por exemplo, os problemas

de ordem sociológica também fazem parte do desenvolvimento e meio ambiente

urbano, eles podem ser tratados por uma análise matemática com o uso das

funções lineares, correlacionando dados e proporções.

Supondo-se que, na área urbana de uma determinada cidade brasileira, no

ano de 2010, o investimento em projetos sociais tenha se ampliado de 3 para 4,5

milhões de reais, e o impacto no número de crimes por roubo tenha se reduzido de

2.500 para 1.800 casos. Tais dados podem ser envolvidos numa análise crítica com

o emprego de gráfico comparativo entre as variáveis (Figura 1), por meio da qual se

possa compreender que a ampliação do investimento social na ordem de 50%

produziu um efeito positivo de 28% na redução dos casos de roubo, contribuindo

assim, para melhorar a segurança no ambiente urbano. Nesse particular, é possível

utilizar os conteúdos da função linear e percentagem, complementados com

informações sociais, econômicas e políticas, ressaltando inclusive a

responsabilidade do poder público em proporcionar bem-estar à sociedade.

Page 48: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

47

Figura 1 – Gráfico comparativo entre casos de roubo e investimento social

De acordo com Leff (2002), apreender a complexidade ambiental significa

desconstruir o pensamento arraigado na racionalidade científica e visão de mundo

da sociedade industrial para pensar o ainda não pensado. O ambiente passa a ser

visto como uma construção social, e não mais como algo separado do homem e

que pode ser explorado conforme interesses particulares.

Todavia, a compreensão do mundo como totalidade ainda encontra limites,

perpassa pelo problema epistemológico de como integrar os diferentes níveis de

materialidade do ambiente (matéria física, sistemas vivos e elementos simbólicos).

Mas, há uma certeza: não se pode conceber o ambiente desconsiderando sua

heterogeneidade. É nessa perspectiva que se insere a Educação Ambiental, a qual

inaugura uma nova pedagogia, ancorada no ser do mundo, na identidade cultural e

desconstrução dos princípios epistemológicos da ciência moderna, como enfatiza

Leff (2002, p.218-219):

A educação ambiental é um processo no qual todos somos aprendizes e mestres. Os bons mestres sempre foram aprendizes até alcançarem a maestria de artes e ofícios. Mas esse processo de transmissão de saberes sempre se deu no âmbito de relações de poder daquele que detém um saber; de relações de dominação professor-aluno; de relações de autoridade e de prestígio exercidas na busca de apropriação de um saber codificado, certificado [...] A complexidade ambiental implica não só o aprendizado de fatos novos; além disso, inaugura um saber que desconstrói os princípios epistemológicos da ciência moderna e funda uma nova pedagogia, por meio de uma nova racionalidade que significa a reapropriação do conhecimento a partir do ser do mundo e do ser no mundo; a partir do saber e da identidade que se forjam e se incorporam ao ser de cada indivíduo e de cada cultura.

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Page 49: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

48

A reapropriação do conhecimento a partir do ser do mundo e no mundo,

como explicitado na citação anterior, pressupõe a condição da Educação Ambiental

ser um processo participativo, por meio qual o educando assuma o papel de

elemento central no ensino e na aprendizagem. Ao adquirir informações sobre a

preservação da natureza, tem melhores condições de atuar ativamente no

diagnóstico dos problemas ambientais e na busca de soluções, agindo como sujeito

transformador, mediante o desenvolvimento de habilidades e a formação de

atitudes, relevantes ao cumprimento de uma conduta ética e condizente com o

exercício da cidadania. Para tanto, quanto mais cedo adquirir o contato com a

questão ambiental, melhor será o seu entendimento futuro sobre o assunto. Em

consonância com essa visão, Dias (2004, p.23) afirma:

A Educação Ambiental deve buscar valores que conduzam a uma convivência harmoniosa com o ambiente e as demais espécies que habitam o planeta, auxiliando o aluno a analisar criticamente o princípio antropocêntrico, que tem levado à destruição inconsequente dos recursos naturais e de várias espécies. É preciso considerar que: a) a natureza não é fonte inesgotável de recursos, suas reservas são finitas e devem ser utilizadas de maneira racional, evitando o desperdício e considerando a reciclagem como processo vital; b) as demais espécies que existem no planeta merecem nosso respeito. Além disso, a manutenção da biodiversidade é fundamental para a nossa sobrevivência; c) é necessário planejar o uso e ocupação do solo nas áreas urbanas e rurais, considerando que é necessário ter condições dignas de moradia, trabalho, transporte e lazer, áreas destinadas à produção de alimentos e proteção dos recursos naturais.

Ao considerar a importância da temática ambiental e a visão integrada do

mundo, no tempo e no espaço, observa-se que as instituições de ensino têm a

função de oferecer meios efetivos para cada sujeito compreender os fenômenos

naturais, as ações humanas e sua consequência para consigo, sua própria espécie,

os demais seres vivos, e o ambiente. É fundamental que eles desenvolvam as suas

competências e habilidades educacionais ainda na infância e adotem posturas

pessoais e comportamentos sociais construtivos. Dessa maneira poderão ser

agentes e colaboradores do projeto de construção de uma sociedade socialmente

justa, em um ambiente saudável.

Jacobi (2003) esclarece que o fato da maior parte da população brasileira

viver em cidades, constata-se uma crescente degradação das condições de vida,

refletindo a crise ambiental. Esse cenário evidencia a importância da Educação

Page 50: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

49

Ambiental como eixo norteador da formação de valores e comportamentos

comprometidos com a preservação ambiental. Nesse âmbito, os problemas urbanos

são os mais diversos nas áreas de saúde, educação, criminalidade, expansão

urbana, degradação. Em todas as situações o conhecimento matemático pode ser

trabalhado de modo interdisciplinar para esclarecer e conscientizar a sociedade,

bem como no planejamento das cidades.

Uma das situações é o crescimento das ilhas de calor nas cidades,

fenômeno caracterizado pela elevação da temperatura das áreas urbanas em

decorrência da concentração de asfalto e concreto. Segundo Hermes (2010), esse

problema pode ser evitado ou minimizado pela arborização das avenidas. Nesse

caso, a aplicação da trigonometria é de grande utilidade para calcular a projeção

das árvores nas vias públicas, praças, canteiros e definir a distância entre as mudas

e a quantidade necessária na amenização do microclima urbano (Figura 2).

Figura 2 – Projeção de sobra arbórea

Fonte: Hermes (2010, p.56).

A figura anterior demonstra que para uma árvore de 5 metros de altura

quando o Sol está 30º acima do horizonte, projeta o comprimento de sombra na

ordem de 8,67 metros, conforme cálculo a seguir:

Page 51: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

50

Como se constata, o saber matemático possui diversas aplicações. O

exemplo anterior, além de revelar sua importância para o planejamento urbano,

pode ser empregado em aulas referentes aos problemas urbanos, trabalhados de

maneira interdisciplinar com a geografia e outras disciplinas.

A interdisciplinaridade é contemplada nos Parâmetros Curriculares Nacionais

como a possibilidade de proporcionar uma visão ampla do conhecimento a partir da

relação entre as distintas disciplinas, entre as quais a matemática. É fundamental

para conduzir o aprendizado de modo que os saberes disciplinares não se separem

do domínio da linguagem de utilidade mais geral, nem dos saberes práticos e da

proposta de resolver problemas reais.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), o meio

ambiente é um tema relevante porque o ser humano faz parte dele e interfere nele,

está inserido e contextualizado em seu cotidiano. Todavia, a realidade ambiental só

pode ser compreendida a partir de uma perspectiva holística, envolvendo diversos

campos do conhecimento.

O uso da do conhecimento matemático de maneira interdisciplinar pode ser

empregado nas questões especificas de meio ambiente e desenvolvimento urbano.

Por exemplo, na relação com a geografia, biologia e ecologia é de grande utilidade a

escala logarítmica, a qual pode ser usada na definição do PH de substâncias

despejadas pelos esgotos industriais nos mananciais da cidade, oferecendo o

coeficiente que caracteriza as condições de acidez e poluição.

Portanto, Tavares (2008) enfatiza a necessidade de se analisar como os

conteúdos estão sendo ensinados nas escolas, pois o saber educativo contribui para

construção de uma sociedade sustentável e requer a instrumentalização de uma

visão interdisciplinar capaz de proporcionar um trabalho de qualidade no âmbito da

Educação Ambiental.

A Educação Ambiental pressupõe modificar os esquemas cognitivos dos

participantes envolvidos no processo educacional e construir novos conhecimentos

para o desenvolvimento de uma visão mais ampla sobre recursos naturais e o

emprego dos mesmos no processo de produção e consumo.

Page 52: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

51

No entender de Tavares (2008), pensar em Educação Ambiental nos dias

atuais é pensar numa educação voltada para aprendizagens significativas ao mundo

globalizado, especialmente nas cidades, onde se concentra a maior parte da

população. É proporcionar perspectivas capazes de estimular ideias inovadoras e a

formação de um cidadão crítico, reflexivo e participativo, apto a tomar decisões e

contribuir para o desenvolvimento das ações humanas.

A Educação Ambiental promove a transformação dos conhecimentos teóricos

e práticos, contribuindo para a construção de um espaço inovador. Portanto,

segundo Tavares (2008), a incorporação do Meio Ambiente à educação formal,

possibilita o contato direto dos educadores e educandos com a realidade complexa

de relações sociais, econômicas, culturais, políticas e ecológicas, ensejando uma

compreensão do mundo por meio de diferentes dimensões e olhares, desde a

formação nível básico até a formação superior. Prepara o indivíduo para a vida

enquanto membro da biosfera, fazendo-o compreender e saber lidar com sistemas

ambientais de maneira global.

Em consonância, Jacobi (2003) assinala que a Educação Ambiental se situa

num contexto mais amplo, o da educação para a cidadania. Nesse sentido, os

educadores se deparam com o desafio de fortalecer a cidadania para a população

como um todo, representada pela instrumentalização de direitos e deveres,

contribuindo para transformar as pessoas em atores co-responsáveis na defesa da

qualidade de vida.

O papel da Educação Ambiental em transformar atores co-responsáveis é

pressuposto para a resolução dos problemas de desenvolvimento e meio ambiente

urbano, porque eles são complexos nas grandes metrópoles e não dependem

apenas de atitudes governamentais, mas de toda a sociedade, a qual necessita de

informações e indicadores matemáticos, fundamentais na compreensão das

dimensões quantitativas e qualitativas dos problemas ambientais.

Perceber a história do ambiente e suas fontes de satisfação e insatisfação é

de fundamental importância, pois só assim será possível a realização de um trabalho

com bases locais, partindo da realidade para ação. Na visão de Tavares (2008), o

objetivo é promover a sensibilização, bem como desenvolver o sistema de

percepção e compreensão do ambiente. Portanto, a Educação Ambiental é um

Page 53: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

52

processo pelo qual se busca por em prática uma filosofia de vida, exercendo-a como

parte da cidadania, como enfatiza Pelicioni (2004, p.462-463):

[...] Cabe ao educador criar condições para que a educação ambiental seja incorporada como filosofia de vida e se expresse por meio de uma ação transformadora. Não existe educação ambiental apenas na teoria, o processo de ensino-aprendizagem na área ambiental implica exercício de cidadania pró-ativa.

Interpretando a citação mencionada anteriormente, compreende-se que a

Educação Ambiental não se efetiva meramente na aquisição de conhecimentos

teóricos, mas a partir da experiência e viabilização de uma ação transformadora,

criadora de nova situação. Esta ação se apoia na ética, na justiça social e na

equidade, valores a serem adquiridos ainda na infância.

O discurso de uma educação para a vida constitui o fundamento norteador da

Educação Ambiental, pois esta possui um caráter político, implica em tomada de

decisão, e adoção de postura e ação diante dos fatos. Para ser significativa,

segundo a abordagem sociocultural, precisa ser promovida a partir de condições

favoráveis, como esclarece Pelicioni (2004, p.468):

Não é o educador que educa, mas o educador é aquele que cria condições para que as ideias e o conhecimento sejam incorporados pelo educando. Esse conhecimento, para fazer parte da vida do educando, precisa ser aceito como verdade, precisa ser valorizado e corresponder às necessidades sentidas. O educador estimula o educando que, motivado, valoriza as ideias, de modo a ter certeza que elas serão significativas para a sua vida.

As considerações anteriores permitem aludir que o estímulo, a inovação no

modo de ensinar e transmitir as ideias, a criatividade, o despertar de interesses, o

envolvimento do educando nas práticas educacionais, o esclarecimento sobre os

benefícios coletivos e individuais fazem parte das ações desenvolvidas pela

Pedagogia Ambiental, as quais são necessárias à promoção da Educação Ambiental

como filosofia de vida.

Sensibilizar e convencer os educandos a cumprir o que ensina a Educação

Ambiental, embora seja um papel difícil, pois nem sempre os indivíduos estão

dispostos a aceitar e valorizar determinadas ideias, é no entendimento de Pelicioni

Page 54: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

53

(2004), um passo indispensável rumo à formação de uma mentalidade

compromissada com a questão ambiental.

As dificuldades são muitas, porque poucas pessoas ainda têm acesso e base

teórica para compreender conceitos científicos, como desenvolvimento sustentável,

ecossistema, erosão do solo, entre outros. Os desafios são grandiosos,

principalmente quando se leva em conta que a cultura egoísta do consumismo

influencia a vivência cotidiana e os sonhos de milhões de cidadãos. Diante dos fatos,

a efetivação da Educação Ambiental implica a valorização da humanização, como

evidencia Pelicioni (2004, p.469):

Trata-se de uma transformação cultural, de valores, de uma revolução de ideias, isto é, de mudanças urgentes e contundentes no ideário vigente nesse sistema capitalista, baseadas no humanismo moderno, em que deve prevalecer o bem da coletividade sobre o bem individual, egoísta dessa sociedade consumista em que predominam os interesses de poucos sobre a pobreza da maioria. O ser humano deve ser valorizado pelo que ele é e não pelo que ele tem, por seus bens e acesso a recursos.

Segundo Cunha (2009), a Pedagogia Ambiental está em consonância com a

visão de se levar em conta novos paradigmas na constituição de uma racionalidade

ambiental. Na concepção de Leff (2001, p.203):

O significado de uma racionalidade ambiental que integre os potenciais da natureza, os valores humanos e as identidades culturais em práticas produtivas sustentáveis inclui as inter-relações complexas de processo ideológicos e materiais diferenciados. Os fundamentos epistemológicos e ontológicos do saber ambiental adquirem assim sentido para conceber uma estratégia capaz de construir uma nova ordem social.

A mensagem presente na citação anterior evidencia a defesa de uma nova

racionalidade pela qual deve se orientar a Pedagogia Ambiental. Isso não significa

desprezar o conhecimento científico, haja vista seu grande valor na vida prática, mas

estabelecer um diálogo entre ciência e outras formas de conhecimento presentes no

ambiente. Por exemplo, os indígenas dispõem de saberes relevantes acerca das

relações e peculiaridades presentes nas florestas, vinculados à sua cultura, tradição,

religiosidade e experiência cotidiana. Esses conhecimentos estão imbuídos de uma

racionalidade que não é a mesma difundida pela sociedade industrial.

Page 55: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

54

Para entender melhor como há diferenças de racionalidades, vale ressaltar o

sentido de valor. Quando os portugueses e espanhóis chegaram à América

conceberam as florestas como fontes de riqueza, utilizaram a Matemática para

calcular o quanto poderiam fazer fortuna explorando madeira, minerais, drogas do

sertão e outros recursos. Mas, na concepção dos índios cada árvore tem

importância para a vida, possui espíritos, ou seja, quanto mais espécies forem

preservadas, maiores serão os benefícios. Nota-se uma grande diferença entre

ambas as formas de pensar e interpretar elementos do meio ambiente.

2.3.2 Pedagogia Ambiental e meio ambiente urbano

A reflexão sobre Pedagogia Ambiental e meio ambiente urbano abrange a

referência de distintos conceitos, entre eles a urbanização que, na concepção de

Castells (2011) é um processo cuja compreensão precisa levar em conta as forças

produtivas, classes sociais e formas culturais.

A urbanização no Brasil iniciou-se desde a época colonial, porém, como

explica Maricato (2001), o modelo agroexportador da economia brasileira

predominante até 1930, pouco impulsionou a urbanização. Não havia um mercado

de trabalho formado e as atividades econômicas se concentravam basicamente nas

grandes fazendas.

Ainda por idos de 1920 começou a ser disseminada no Brasil a ideia de

planos urbanos pelos urbanistas franceses Alfred Agache e Le Courbusier. Segundo

Santos Junior (1995), tais planos buscavam adotar o planejamento como um novo

padrão de gestão das cidades. As primeiras intervenções urbanistas realizadas

nesse período tiveram como preocupação central a questão da higiene pública, a

modernização física e o embelezamento das cidades, quando o conhecimento

matemático foi amplamente utilizado na definição das formas geométricas, na

construção de monumentos e outros aspectos, mas sem avaliar as questões

relacionadas aos problemas ambientais.

Page 56: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

55

De acordo com Rolnik e Somekh (2004), o processo de urbanização começou

a se intensificar no Brasil a partir da década de 1950, quando se verificou a

intensificação dos fluxos migratórios campo-cidade e da industrialização. O resultado

foi o crescimento da ocupação urbana sem o estabelecimento de infra-estrutura

adequada para atender as demandas sociais e econômicas, fazendo-se presente

nos espaços urbanos uma série de problemas, como déficit habitacional, falta de

saneamento básico, problemas de transporte, marginalidade, gerando impactos

ambientais negativos, especialmente nas áreas periferias, processo denominado por

Motta (2004, p. 140) de periferização:

O aumento da ocupação de áreas periféricas pela população, em especial de baixa renda, em centros urbanos de grande e médio porte vem acentuando o surgimento de áreas urbanas informais. Essa situação é agravada pelas dificuldades de acesso à terra e por deficiências legais, o que vem favorecendo a ocupação informal dos centros urbanos, notadamente nas áreas centrais e nas periferias das aglomerações urbanas metropolitanas e não-metropolitanas.

Nesse contexto, o uso da análise matemática se tornou fundamental, porque

a evolução dos indicadores urbanísticos, os quais possuem relação com a ocupação

do território apresentou dados negativos do ponto de vista ambiental, como

crescimento exponencial das favelas e das ocupações ilegais, comprometimento das

linhas de drenagem, ampliação do volume de lixo produzido pela população urbana

entre outros. No âmbito da Pedagogia Ambiental, tais indicadores não podem passar

despercebidos, mas inclusos na critica acerca de uma urbanização que, segundo

Leff (2011), tem se caracterizado pela falta de sustentabilidade, cenário presente em

Belém, onde a urbanização se amplia acompanhada por diversas deficiências.

Entre as várias deficiências, Leão, Alencar e Veríssimo (2007) ressaltam que,

em 2001 apenas 13% dos domicílios da capital paraense tinha acesso à rede de

esgoto, esse percentual se reduziu para 9% em 2006. Trata-se de um indicador

esclarecedor a partir da percentagem, permitindo comparar no tempo uma questão

importante no âmbito da sustentabilidade urbana de Belém.

Nos dias atuais, a urbanização brasileira ainda contempla grandes periferias,

todavia, elas não comportam apenas áreas pobres e sem saneamento, mas também

Page 57: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

56

condomínios de luxo, grandes empreendimentos, manifestando a segregação

espacial. Para Spósito (2004), o conceito de periferia urbana no Brasil precisa ser

revisto, tendo em vista que esses espaços vêm passando por profundas

transformações no seu conteúdo socioespacial, tais como, os conjuntos

habitacionais implantados pelo poder público para grupos de menor poder aquisitivo,

loteamentos clandestinos produzidos pelas práticas de auto-construção, e

condomínios fechados para grupos de maior renda e a implantação de shopping

centers. Entretanto, os déficits habitacionais constituem uma das faces

preocupantes da questão urbana no Brasil e impulsionam o crescimento das áreas

pobres nas periferias. O déficit habitacional no País corresponde a 5,8 milhões de

moradias, dos quais 83% se referem às áreas urbanas.1

Ainda em relação à década de 50, com a expansão da industrialização, o

governo Juscelino Kubitschek (1956-1960) enfatizou a implantação de uma indústria

pesada, com destaque para a indústria automobilística. Nesse contexto, a habitação

popular foi relegada a segundo plano, priorizando a infra-estrutura para os

complexos industriais, como evidencia Villaça (2004, p.199):

As grandes obras urbanas saem do consumo conspícuo para privilegiar a constituição das condições gerais de produção e reprodução do capital (a cidade como força de produção). Assim, por exemplo, as obras de infra-estrutura são priorizadas enquanto as de habitação são relegadas ao esquecimento.

O período do regime militar brasileiro foi marcado por uma forte centralização

política e financeira na esfera federal. Os Estados e Municípios assumiram o papel

de executar as políticas formuladas pelo Estado-Nação. Nesse contexto, os militares

adotaram um planejamento tecnocrático e centralizador, o qual se apoiava na ideia

de que os conhecimentos científicos seriam suficientes para superar e resolver os

problemas urbanos. Segundo Santos Junior (1995), o referido modelo entrou em

colapso por se mostrar incapaz de resolver os problemas urbanos, os quais tinham

raízes nas desigualdades sociais crescentes e, cuja governança era baseada na

ditadura a serviço dos interesses capitalistas.

Ao longo do regime militar as agitações populares se tornaram crescentes no

Brasil, revidadas por meio da repressão, cassações de mandatos de parlamentares,

1 Déficit habitacional no Brasil. Disponível em:<www.cidades.gov.br>acesso em:3 set. 2011.

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57

de direitos políticos e perseguição aos sindicatos, associações de bairros e

organizações estudantis. Nesse contexto, os movimentos sociais urbanos, presentes

nas maiores cidades brasileiras, em razão dos graves problemas de inchaço,

periferização e precarização das condições de moradia e habitação, passaram a

reivindicar por melhores condições de vida e meio ambiente, ampliando o debate

sobre a política urbana, como evidencia Gomes (2005, p.16):

Em âmbito nacional inicia-se uma mobilização articulando os diferentes movimentos sociais cujas lutas ocorreram na esfera do espaço urbano. Em verdade, a raiz desse movimento encontra-se no período antecedente à ditadura militar no contexto da luta pelas reformas de base [...].

O Movimento Nacional pela Reforma Urbana (MNRU) surgiu e se

desenvolveu no bojo das lutas pela democratização da sociedade, o qual tinha por

objetivo o enfrentamento da problemática urbana, a partir da articulação dos

diversos movimentos sociais. Realizava debates a favor da reforma urbana visando

incluir na Constituição Federal de 1988, as questões pertinentes à gestão municipal,

ao planejamento e à política urbana, inclusive de ordem ambiental.

Segundo Cardoso e Lima (2006), Constituição Federal representou um

importante avanço na luta dos movimentos sociais por incorporar reivindicações

para a gestão democrática da cidade na agenda política do Brasil. Um dos aspectos

relevantes é encontrado no § 2° do art. 182 da CF, o qual determina que a

propriedade urbana cumprirá sua função social quando atender às exigências

fundamentais de ordenação da cidade expressas no Plano Diretor. Portanto, caso a

política de desenvolvimento urbano municipal, estabelecida no Plano Diretor não

tenha como prioridade “atender às necessidades essenciais da população

marginalizada e excluída das cidades”, incorrerá em pleno conflito com as normas

constitucionais norteadoras da política urbana e definidas no sistema internacional

de proteção dos direitos humanos, em especial com o princípio internacional do

desenvolvimento sustentável. Até a promulgação da Carta Magna, as atribuições

administrativas municipais eram restritas ao universo urbano, mas com o

estabelecimento de novas leis municipais a extensão das responsabilidades

administrativas foi reconhecida para todo o território municipal.

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58

Na década de 1990, a urbanização no Brasil continuou a sofrer grandes

mudanças, decorrentes da política neoliberal, caracterizada pelas privatizações e

redução da ação estatal na área social, bem como do processo de globalização,

impulsionado e acompanhado por um intenso avanço nas tecnologias em

telecomunicações, gerando mudança nas paisagens e relações do espaço urbano.

Ainda na década de 1990 verificou-se uma nova tendência da urbanização no

Brasil, denominada de desmetropolização, caracterizada pela reversão no

crescimento de grandes conglomerados urbanos em favor das cidades médias. Um

fenômeno impulsionado pelos investimentos privados em cidades menos

congestionadas e/ou próximas das reservas de matérias-primas.

Na década atual, ainda existem metrópoles em expansão, porém a

urbanização sem planejamento adequado criou uma situação caótica, com elevados

níveis de pobreza, falta de infra-estrutura urbana adequada, violência,

marginalidade. A própria modernização tem aprofundado as desigualdades sociais e

os impactos ambientais, comprometendo a qualidade de vida das pessoas em

decorrência do aumento da emissão dos gases tóxicos na atmosfera, poluição e

outros problemas relacionados ao desenvolvimento e meio ambiente urbano, os

quais precisam ser dimensionados numa perspectiva matemática para melhor

compreensão de suas causas e impactos.

Em relação ao planejamento urbano, Souza (2006) o conceitua como um

processo que abrange um conjunto de conhecimentos interdisciplinares, cuja

construção é realizada a partir da colaboração de profissionais de distintas áreas,

inclusive da Matemática, e, não apenas arquitetos, como na visão tradicional tem se

suposto. Daí a equivocada ideia de que os termos planejamento e urbanismo sejam

sinônimos, quando, de fato, apenas o último termo designa uma área de atuação

exclusiva do arquiteto.

O conceito de planejamento urbano contempla a ideia de futuro, pois visa

prever a evolução do fenômeno ao qual se refere. Nesse caso, o uso de projeções,

estimativas, modelos matemáticos são fundamentais. Um exemplo é o modelo de

Lourenço (2003), o qual procura mensurar o quanto cresceu a área urbanizável e

suas mudanças em termos de ocupação do solo, acessibilidade, verticalização,

Page 60: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

59

favelização, metropolização, redução ou ampliação da cobertura florestal,

segregação socioespacial, circulação de veículos e pedestres, entre outras coisas.

O modelo utiliza curvas exponenciais (Figura 3), considerando o ciclo de

expansão urbana de aproximadamente 70 anos. Lourenço (2003) divide a variável

tempo de 10 em 10 anos e o ciclo de intensidade do planejamento em três níveis (I,

II e III),

Figura 3 – Modelo idealizado por Lourenço (2003)

Fonte: ALVARES (2008, p.69).

O nível I, apresentado na figura anterior ocorre durante o período transcorrido

de 20 anos, quando se tem a produção do planejamento. Ao final dos primeiros 10

anos, essa produção começa a diminuir significativamente. O nível II é constituído

de 20 anos, quando a curva de ações apresenta o início de sua ascensão. A curva

de vivência, também, aumenta no nível II, porém, mais lentamente que a curva das

ações. Já o nível III representa o período no qual o modelo de comportamento ideal

ocorre na área urbana. A curva das ações alcança seu máximo depois de

transcorridos 20 anos e, começa a declinar. É no nível III que a curva de vivência

atinge seu ápice e se mantém estável entre 40 aos 70 anos do plano processo,

sofrendo depois desse período nova queda.

Para Castells (2011), o planejamento urbano consiste na intervenção política

nas demais instâncias de uma formação social, com a finalidade de garantir o

processo de dominação de uma classe sobre a outra, na seara de reorganização do

sistema urbano. Essa compreensão crítica sobre o planejamento, enquanto

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60

instrumento de poder é útil à reflexão da Pedagogia Ambiental, no sentido de tornar

visível o caráter político do planejamento e fortalecer a ideia de que é preciso

conceber o meio ambiente urbano numa perspectiva mais ampla, inclusive sua

dimensão política, na qual se deve contemplar, para fins de gestão e planejamento,

a importância da participação dos diversos atores sociais nos processos decisórios,

a transparência administrativa e a orientação pela racionalidade ambiental, expressa

por Leff (2011, p.85):

[...] a racionalidade ambiental se funda numa nova ética que se manifesta em comportamentos humanos em harmonia com a natureza; em princípios de uma vida democrática e em valores culturais que dão sentido a existência humana. Estes se traduzem num conjunto de práticas sociais que transformam as estruturas de poder associados à ordem econômica estabelecida, mobilizando um potencial ambiental para a construção de uma racionalidade social alternativa.

Na Amazônia, a questão urbana apresentou peculiaridades, seja pelas

especificidades da região, seja pelas políticas públicas praticadas em relação ao

desenvolvimento econômico e social. A partir da década de 70, os militares incluíram

a Amazônia no projeto desenvolvimentista nacional, patrocinando abertura de

estradas, a construção da hidrelétrica de Tucuruí, a implantação de grandes projetos

de mineração, entre outros, implantando bases para o fortalecimento do modo de

produção capitalista na região. Porém, como explicam Cardoso e Lima (2006), a

crise nos anos de 1980 não possibilitou manter o mesmo fluxo de investimentos,

haja vista a alta de juros no mercado internacional, ampliando a dívida externa

brasileira. Além disso, o espaço intra-urbano não era considerado como dimensão

de desenvolvimento local.

Os projetos implantados na região amazônica provocaram mudanças no

espaço urbano, sobretudo, na década de 80, quando adveio a crise econômica

mundial. Segundo Cardoso e Lima (2006), tais projetos expropriaram contingentes

das comunidades tradicionais, os quais foram ocupar espaços nas periferias das

cidades, obrigados a realizar atividades informais, pois se dedicavam a cultivos e

outras atividades tradicionais típicas da floresta.

A expropriação criou conflitos e provocou mudanças expressivas no espaço

urbano da Amazônia, como esclarecem Cardoso e Lima (2006, p.64):

As tensões no campo desencadeiam uma dinâmica de transformação que rapidamente alcança o perímetro urbano das sedes municipais e provoca

Page 62: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

61

processos de favelização ou de ampla especulação imobiliária, quando fazendas anteriormente localizadas nas bordas das sedes municipais constituem-se em terrenos para organização de loteamentos [...].

A questão urbana na Amazônia, portanto, tem sido fortemente influenciada e

determinada pelo modelo de desenvolvimento adotado, em especial a partir da

implantação de grandes empreendimentos, os quais não interagem com a economia

local no sentido de dinamizá-la e criar uma base de sustentabilidade às

comunidades.

Vale ressaltar que o ambiente urbano constitui, por excelência, o cenário da

vida moderna, pois nas cidades se concentra a maior parte da população mundial e

onde se verifica o conjunto de impactos ambientais negativos provocados pelo

homem, como a poluição atmosférica, aquática, devastação da cobertura florestal,

lixo, entre outros.

Face aos problemas ambientais existentes no ambiente urbano, a Pedagogia

Ambiental, segundo entendimento de Loureiro, Azazel e França (2008), considera a

conexão entre a dimensão natural e social. Dedica-se, em resgatar por meio da

Educação Ambiental, as dimensões esquecidas pelo fazer educativo no aspecto do

entendimento da vida e da natureza ou denunciar as dicotomias da modernidade e

da ciência em termos da dimensão econômica, social, da sociedade-natureza,

mente-corpo, e matéria-espírito.

A Pedagogia Ambiental, diante dos dilemas existentes no ambiente urbano,

depara-se com o desafio de trabalhar o ensino e a aprendizagem das múltiplas inter-

relações e dimensões da realidade. Por isso, como esclarece Pimenta e Anastasiou

(2002), a Educação Ambiental contemplada nessa empreitada precisa ser

considerada numa perspectiva de inserção social e crítica.

De acordo com Loureiro, Azazel e França (2008), a Pedagogia Ambiental,

antes de traçar estratégias educativas no âmbito do ambiente e desenvolvimento

urbano, necessita ter um entendimento crítico do significado de categorias-chave,

entre elas: conscientizar, transformar, emancipar e exercer a cidadania.

A Pedagogia Ambiental abrange estudos variados, inclusive os destinados a

compreender as constantes transformações do ambiente urbano e suas implicâncias

Page 63: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

62

de ordem ambiental e educacional, considerando as diversas inter-relações e

dimensões manifestadas nesse contexto. Por exemplo, estudos sobre as

desigualdades sociais nas cidades e suas relações com a educação. Portanto,

Loureiro, Azazel e França (2008) destacam o papel da Educação Ambiental como

práxis favorável à formação de uma sociedade baseada em princípios societários

(solidariedade, participação, responsabilidade, paz), na sustentabilidade da vida,

atuação política consciente e construção de uma ética comprometida com o respeito

às limitações e especificidades ambientais.

Com tais finalidades, é possível um fazer educativo coerente com a tradição

teórica crítica da Educação Ambiental, mediante a adoção de procedimentos

participativos e dialógicos, ensejando um processo de sistematização-ação e

apreensão da realidade a partir do contexto no qual se enuncia. Uma Educação

Ambiental emancipatória e transformadora que tenha por referência de análise a

crise sobre a coisificação de tudo e de todos, a banalização da vida, a alienação do

ser humano, as relações de dominação e a exclusão social.

Os fatos anteriormente citados passaram a fazer parte da agenda de estudos

socioambientais, os quais ganharam força na segunda metade do século XX, haja

vista o cenário de crises e mudanças que desafiaram a sociedade em geral a refletir

sobre a questão ambiental e a evolução do conceito de meio ambiente, afetado pela

ação das atividades humanas. Como resultado, a concepção de meio ambiente

incorporou a sociedade e o ser humano como agente/fator.

2.3.3 A Matemática e sua utilidade no cotidiano urbano

Os Parâmetros Curriculares Nacionais-PCNs (1997) são categóricos em

afirmar que a Matemática desempenha um papel decisivo, pois permite resolver

problemas da vida cotidiana, possuindo implicações no mundo do trabalho e

funciona como instrumento essencial para a construção de conhecimentos em

outras áreas curriculares.

Page 64: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

63

Uma das considerações acerca da importância que a Matemática possui na

vida cotidiana diz respeito ao fato dela interferir amplamente na formação de

capacidades intelectuais, na estruturação do pensamento e no desenvolvimento do

raciocínio dedutivo das pessoas. Por exemplo, nas escolas de Belém, inclusive as

particulares, e mesmo na mídia é comum se falar que o número de carros aumenta

a poluição atmosférica, portanto, esse tipo de informação presente no cotidiano dos

estudantes pode ser trabalhado em problemas matemáticos do seguinte tipo:

Em uma determinada cidade, os moradores de 30% das residências

existentes possuem carro, 15% possuem moto e 8% possuem carro e moto. Em

nenhuma das residências há mais de um veículo da mesma espécie e em 630

residências não existe nenhum desses veículos. O consumo médio diário de um

carro nessa cidade é de 4 litros e o de uma moto, 2 litros. Sabe-se que, para cada

litro de gasolina consumida por um veículo, é lançado na atmosfera

aproximadamente 3 kg de dióxido de carbono (CO2). Em um determinado dia, nessa

cidade, todos os veículos foram utilizados. A emissão de CO2 na atmosfera,

resultante do consumo desses veículos nesse dia foi de?

a) 1.500 kg b) 2.260 kg c) 3.000 kg d) 4.500 kg * (Esta é a resposta correta) e) 6.780 kg Segundo Silva (2001), essas prerrogativas fazem da Matemática uma

disciplina de grande importância na construção da cidadania, pois a sociedade está

cada vez mais necessitando desse conhecimento no atual contexto da chamada “era

da informação”. A sua apropriação contribui para que as pessoas tenham inserção

na realidade atual, que se caracteriza pela forte presença da informatização, das

inovações, do emprego de códigos e dos problemas ambientais no meio urbano.

A capacidade de abstração passa a ser um requisito basilar nessa sociedade,

mas tem se questionado se a escola vem conseguindo cumprir a tarefa de garantir

esse benefício educacional, como evidencia Freitas (1992 apud RESENDE,1995,

p.66):

A qualidade da escola passa a interessar mais na medida em que a estrutura social necessita de mais habilidades do trabalhador, como capacidade de abstração para certas operações, raciocínio matemático e

Page 65: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

64

outros. Todas essas habilidades são típicas de ser desenvolvidas na escola, mas não no modelo que está aí. Por outro lado, a educação gera conscientização e torna as pessoas mais esclarecidas de seus direitos e deveres. Por isso, historicamente tem sido controlada pelos poderosos.

As últimas considerações do autor colocam em xeque a contradição que

envolve a sociedade contemporânea. Ainda que o controle do saber seja uma

prática antiga para impedir esclarecimentos políticos, o desenvolvimento econômico

"solicita" cada vez mais a apropriação de conhecimentos críticos sobre as

verdadeiras causas dos problemas, os quais têm na maioria dos casos raízes na

estrutura social e se fazem presente no meio ambiente urbano.

Nesse contexto, a Matemática é um recurso indispensável para solucionar e

refletir sobre mazelas presentes na vida cotidiana. Por isso, seu emprego não se

limita ao cálculo e ao raciocínio lógico, mas pode ser colocado a serviço do bem-

estar social e na melhoria da qualidade de vida da sociedade.

A reflexão nos PCNs esclarece que, o estabelecimento de conexões entre a

Matemática e a vida cotidiana dos alunos faz parte do significado dessa disciplina

para os educandos. Por exemplo, a urbanização nas cidades brasileiras está se

caracterizando pela dispersão urbana, porém, no caso de metrópoles como Belém, o

emprego e as principais atividades econômicas ainda estão concentrados na área

central e próximo dela, concorrendo para aumentar o fluxo de veículos provenientes

das áreas mais distantes, onde se localizam os condomínios fechados. Uma das

consequências para o comprometimento da qualidade ambiental é o aumento da

poluição atmosférica devido às descargas de dióxido de carbono dos automóveis, os

quais passam a realizar longos percursos diários entre centro e periferia. Com base

nessa situação, o professor pode realizar problemas demonstrando a relação entre a

quantidade de carros e o volume de gás venenoso jogado no ar urbano, em

percurso de menor escala nos bairros próximos ao centro urbano, comparando com

escalas maiores de áreas dispersas da malha urbana. Trata-se de uma análise

crítica sobre o estilo de vida adotado na urbanização dispersa e seu impacto no

ambiente urbano, tendo por pano de fundo o saber matemático.

As necessidades de aplicação da Matemática são as mais diversas, conforme

as circunstâncias culturais, sociais e momentâneas. Por exemplo, um dos maiores

problemas nas cidades, inclusive em Belém, é o lixo gerado diariamente, cujo

Page 66: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

65

crescimento pode ser estimado a partir do cálculo da taxa geométrica, e comparado

à taxa de ampliação da reciclagem que é de ordem aritmética. Essa comparação

pode ser usada na reflexão sobre a necessidade de ampliar as formas de tratamento

do lixo e diminuir seus impactos ambientais. Na escola também pode se utilizar o

seguinte problema de modelagem matemática: Supondo que a produção diária de

lixo de uma pessoa é, em média, de 500 gramas. Se essa pessoa produzir 20% de

lixo a menos por dia, durante 30 dias, a redução na atmosfera de dióxido de

carbono, resultante dessa mudança de hábito, será de aproximadamente 900

gramas. Desse modo, a emissão diária de dióxido de carbono pelo lixo produzido

por essa pessoa passaria a ser de? A resposta será de 120 gramas conforme a

resolução apresentada a seguir:

Produção de lixo diário por pessoa = 500g (ao mês = 1500g de lixo)

Redução de 20% de prod. de lixo = 500.(1 - 0,2) = 400g ao dia (1200g ao mês)

Quantidade de CO2 AO MÊS = x

Portanto:

1500g ................ x

1200g ................ (x – 900)

1200x = 1500x – 1350000

1500x -1200x = 1350000

300x = 1350000

x = 1350000 : 300

x = 4500g (ao mês)

Empregando-se a regra de três, equação e porcentagem, é possível encontrar

o resultado. O valor de x representa a quantidade de CO2 ao final de um mês, com a

mudança de hábito houve uma redução nesse valor de aproximadamente 900g, logo

a quantidade de Dióxido de Carbono será de 3600g ao mês (4500g – 900g). Para

sabermos quanto uma pessoa produzirá de CO2 ao dia, basta dividir 3600 por 30,

cujo resultado é 120g.

Page 67: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

66

Durante as brincadeiras e momentos de lazer na vida urbana, as crianças, os

jovens e mesmo as pessoas adultas necessitam da Matemática para conferir

bandeirinhas, bolas de gude, controlar os pontos de um jogo, dividir tarefas, definir

táticas; enfim, são as mais diversas ações que nem sempre estão previstas, mas

que exigem o mínimo do saber matemático. No campo profissional, até nas

profissões que não requerem alto nível de instrução, o conhecimento matemático se

faz indispensável, a exemplo dos cálculos de área utilizados pelos pedreiros para

definir a quantidade de lajota, ladrilho e outros materiais empregados nas obras de

construção civil.

Nos afazeres diários, a Matemática também é fundamental, as pessoas

precisam elaborar combinações para determinadas finalidades, calcular

intuitivamente quanto será necessário de ingredientes para fazer uma refeição,

estipular metas de gastos, dentre outras necessidades.

A Matemática também possui grande relevância para informar dados sobre os

fenômenos atuais da urbanização que fazem parte do cotidiano de milhares de

pessoas. Por exemplo, Davis (2006), ao utilizar a porcentagem, demonstra uma

característica essencial da urbanização na Amazônia. Afirma que 80% do

crescimento das cidades na região ocorre nas favelas. Esse é um dado

esclarecedor, porque permite aos estudantes compreender, a partir de uma

realidade regional e local que o crescimento urbano é precário e não atende às

necessidades de moradia da maioria social. Evidentemente, esse tipo de informação

precisa ser complementado com outras explicações referentes aos fenômenos

urbanos, entre elas o conceito de planejamento urbano, favelização, saneamento e

qualidade de vida.

No âmbito do cotidiano urbano, a questão habitacional é um dos problemas

cruciais das cidades brasileiras, ela envolve uma série de situações como carência

de moradia, transporte deficitário, falta de infra-estrutura urbana, entre outras

condições possíveis de análise e reflexão a partir do conhecimento matemático. O

professor, segundo Skovosmose (2005), além de apresentar dados e ensinar os

alunos a construir gráficos, tem a possibilidade de aprofundar a reflexão. Por

exemplo, comparar as projeções anuais do déficit habitacional com a evolução real

do nível de renda por segmentos sociais. Outra alternativa seria propor pesquisas

Page 68: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

67

aos alunos sobre os gastos com alugueis e a participação percentual destes no

orçamento familiar. Enfim, são várias opções de estudos relacionados ao

desenvolvimento e meio ambiente urbano empregando a interação da Matemática

com a Economia, Sociologia, Geografia, entre outras disciplinas.

A taxa de urbanização, segundo Onuchic e Allevato (2005), pode ser

trabalhada em problemas matemáticos relacionados à questão ambiental das

cidades, pois expressa a percentagem da população de uma cidade em relação à

população total do território ou região (T.U = População Urbana/População Absoluta

x 100). Como o comportamento dessa taxa tem sido de crescimento, o papel do

professor, enquanto agente esclarecedor é analisar os efeitos dessa ampliação no

desenvolvimento e meio ambiente urbano, avaliando os efeitos na cobertura vegetal,

no volume de esgoto e dióxido de carbono jogado na atmosfera urbana, entre outras

questões.

A densidade demográfica, concebida por Sene (2011), como o quociente

entre a população de um país, região ou cidade e a área geográfica correspondente,

representada pelo número médio de habitantes por Km2, pode ser trabalhada na

temática ambiental urbana como indicador da dispersão urbana, para demonstrar os

impactos na cobertura vegetal e intensificação do uso solo e, consequentemente,

evidenciar a maior probabilidade de redução da ventilação, principalmente quando a

densidade é acompanhada de verticalização acentuada.

O conceito de densidade demográfica na reflexão do meio ambiente urbano

pode ser empregado para revelar peculiaridades da ocupação urbana. Por exemplo,

Cardoso (2007) explica que a partir de 1950 as baixadas de Belém foram ocupadas

pelas populações menos favorecidas, provocando maior densidade demográfica

nessas áreas, justificada pela proximidade da oferta de emprego, acessibilidade

financeira dos terrenos, custos elevados e dificuldade transporte para locais mais

distantes da malha metropolitana. Contextualizada desta forma, a noção de

densidade demográfica não se limita ao cálculo de uma percentagem, mas passa a

fazer parte de uma visão mais ampla sobre o desenvolvimento e meio ambiente

urbano.

Page 69: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

68

3 PERCURSO METODOLÓGICO

A pesquisa é um processo complexo que não possui uma única definição,

várias são as concepções que os estudiosos têm elaborado para expressar o

significado da mesma, uma vez que ela existe em diferentes modalidades. Para

Silveira et al. (2004), a pesquisa científica constitui uma atividade de investigação de

caráter rigoroso que adota um método científico, buscando a solução de problemas,

produzindo um conhecimento novo ou complementar ao estudo de um determinado

tema ou assunto.

A abordagem metodológica utilizada foi a quali-quantitativa que, Segundo

May (2004), procura superar a polarização imposta pela ideologia positivista, a qual

conduziu o campo científico a uma visão reducionista. Portanto, demonstra-se mais

abrangente por envolver informações qualitativas (ideias, convicções e sentimentos)

e quantitativas, como o número de respostas a determinado questionamento.

Quanto aos procedimentos metodológicos foram realizadas: pesquisa bibliográfica e

documental para subsidiar a construção do aporte teórico, o qual serviu de suporte

na análise dos dados da pesquisa de campo coletados em escola do Sistema

Particular de Ensino em Belém-PA.

1ª ETAPA

1.1. PESQUISA BIBLIOGRÁFICA/DOCUMENTAL

Quanto aos meios a pesquisa é bibliográfica. Esse tipo, segundo Martins

(2002), procura explicar e discutir o tema ou o problema com base em referências

teóricas publicadas em livros, revistas, periódicos entre outras obras literárias. Na

interpretação de Vergara (2006), a pesquisa bibliográfica é estudo sistematizado

desenvolvido com base em material publicado em livros, revistas, jornais, redes

eletrônicas, isto é, material acessível ao público em geral. Fornece instrumental

Page 70: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

69

analítico para qualquer outro tipo de pesquisa, mas também pode esgotar-se em si

mesma. Em razão do tema envolver o ensino da Matemática, Educação, Pedagogia

Ambiental, Meio Ambiente Urbano, fez-se imprescindível realizar uma significativa

revisão bibliográfica no acervo atinente à temática, por isso a escolha desse tipo de

pesquisa.

Enquanto a Pesquisa Bibliográfica constitui-se em fonte secundária, a

Pesquisa Documental é de fonte primária e compreende o levantamento de

documentos existentes em arquivos públicos, empresas particulares, entidades

educacionais e/ou científicas, instituições religiosas, dentre outras. O levantamento

de documentos foi realizado em site do Ministério da Educação e na escola

pesquisada, especialmente nos Parâmetros Curriculares Nacionais do MEC, Projeto

Político Pedagógico e demais Documentos Oficiais.

2ª ETAPA

2.1. PESQUISA DE CAMPO E INSTRUMENTOS DE PESQUISA

Com a intenção de obter informações sobre o ensino da Matemática nas

escolas particulares de Belém e sua relação com a Pedagogia Ambiental, foi

realizada uma pesquisa de campo que, segundo Vergara (2006), procura investigar

empiricamente a realidade local onde ocorre ou ocorreu um determinado fenômeno

ou que dispõe de elementos para explicá-lo.

Os procedimentos de coleta de dados foram: a) entrevista que, segundo

Goode e Hatt (1969, apud MARCONI, LAKATOS, 2002, p 92), “consiste no

desenvolvimento de precisão, focalização, fidedignidade e validade de certo ato

social como a conversação”. Será empregada a modalidade padronizada para obter

dos entrevistados respostas às mesmas perguntas; b) questionário aberto e

fechado. Segundo Vergara (2006, p.54) se “caracteriza por uma série de questões

apresentadas ao respondente por escrito [...]”. É aberto quando permite respostas

livres, e fechado no caso de apresentar alternativas de escolha.

Page 71: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

70

Como o tema envolve a compreensão sobre o uso e ensino do saber

matemático e sua relação com a Pedagogia Ambiental, tais assuntos pressupõe o

acesso a informações históricas e referentes à sociedade industrial.

3ª ETAPA

3.1. SELEÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA: PROFESSORES E ALUNOS

O universo da pesquisa foi constituído por escolas do sistema particular de

ensino localizada em Belém. A razão para tal delimitação fundamentou-se na

facilidade de acesso a estas instituições e no conhecimento prévio de que existe

nessas organizações um número significativo de docentes ministrando a disciplina

Matemática. A amostra constituiu-se de professores e alunos do ensino médio.

Os critérios da escolha da amostragem compreenderam:

3.1.1 As Escolas

As escolas foram selecionadas por reunir características importantes para o

estudo. Trata-se do Grupo Impacto, abrangendo três unidades de ensino: 1) Av.

Padre Eutíquio; 2) Av. Alcindo Cacela e 3) Av. Almirante Barroso. Estas fazem parte

da rede particular de ensino e apresentam turma de cursinho preparatório para o

vestibular, bem como séries do ensino fundamental.

3.1.2 Professores e alunos

Os professores que fizeram parte da pesquisa já atuam há mais de 5 anos no

ensino da Matemática, alguns com pós-graduação em Educação Matemática e

Page 72: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

71

outras modalidades. Entre os profissionais selecionados há aqueles atuantes

também na escola pública e universidades, com experiência para prestar as

informações necessárias a presente pesquisa. Os alunos são do ensino médio, por

se considerar estes mais aptos para responder ao questionário.

3.2. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO/ EXCLUSÃO

Foram excluídos do estudo gestores e professores de outras disciplinas

porque a intenção é trabalhar uma pesquisa quali-quantitativa com as categorias

específicas de professores que ministram a disciplina Matemática e alunos do

ensino médio, uma vez que estes possuem melhores condições de expressar como

esse ensino vem sendo realizado e se ele apresenta conexão com a Pedagogia

Ambiental.

3.3. UNIVERSO E AMOSTRAGEM

O universo da pesquisa foi constituído por três escolas do sistema particular

de ensino localizada em Belém. A razão para tal delimitação fundamentou-se na

facilidade de acesso a estas instituições e no conhecimento prévio de que existe

nessas organizações um número significativo de docentes ministrando a disciplina

Matemática. A amostra foi constituída de 10 (dez) professores selecionados

aleatoriamente e 100 (cem) alunos.

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72

3.4. RISCOS E BENEFÍCIOS

Em consonância com o disposto na Resolução 196/96 do Conselho Nacional

de Saúde, esta pesquisa não apresentou nenhum tipo de risco eventual para os

participantes ou para a comunidade, nem de natureza física e/ou moral.

Como benefício, a pesquisa busca produzir conhecimentos e resultados que

contribuam para a comunidade acadêmica e para sociedade em geral, no sentido de

demonstrar como o ensino da Matemática na perspectiva da Pedagogia Ambiental é

útil na interpretação dos problemas ambientais atinentes à realidade urbana de

Belém.

3.5. ANÁLISE DOS DADOS

Os dados foram coletados mediante a utilização de entrevista, com base no

seguinte roteiro:

1 A Matemática ensinada é vinculada à realidade de vivência dos alunos no

contexto urbano de Belém?

2 Como se encontra o ensino da Matemática nessa escola?

3 Os docentes estão motivados em ensinar Matemática vinculada à vivência

do meio urbano?

4 Que importância a Matemática tem para o desenvolvimento urbano de

quem mora no espaço urbano de Belém?

5 A Matemática é útil na analise ambiental da cidade, em que sentido?

6. Como a Matemática se relaciona com as outras disciplinas do currículo?

Os conteúdos de entrevistas foram analisados à luz da revisão literária em

caráter complementar, extraindo eixos que reforcem ou neguem a hipótese.

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73

O questionário aplicado aos alunos contemplou as seguintes questões:

1) Durante as aulas o seu professor relaciona o conteúdo da Matemática com

questões presentes no ambiente urbano de Belém?

( ) sim ( ) não

2) No seu entendimento qual a importância da Matemática para o desenvolvimento

urbano de quem mora no espaço urbano de Belém?

( ) Favorece dimensionar quantitativamente os problemas relacionados ao meio

ambiente e desenvolvimento urbano, despertando a visão crítica acerca de questões

ambientais, como o crescimento do lixo, a falta de saneamento básico, a amplitude

da população pobre, entre outras.

( ) Possibilita apenas descrever variáveis quantitativas

( ) Ajuda a compreender os problemas ambientais, a realizar operações da vida

prática, presentes no meio urbano, a interpretar quantidades e projeções sobre

questões atinentes ao desenvolvimento e meio ambiente urbano.

3) Na sua opinião, o ensino da Matemática ainda é ministrado de maneira

tradicional, ou seja, empregado apenas para fazer cálculos sem ser vinculado a sua

vivência?

( ) Sim ( ) Não

4) O que você entende por ensino significativo da Matemática?

5) Você compreende a utilidade prática de todos os conteúdos de Matemática

ensinados na sala de aula?

( ) Sim ( ) Não

6) No seu entendimento como a Matemática pode ser útil para contribuir em

reflexões sobre o meio ambiente e desenvolvimento urbano da cidade de Belém?

Page 75: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

74

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 CARACTERIZAÇÃO DO MEIO AMBIENTE URBANO DE BELÉM

Belém, a atual capital do Estado do Pará, fica na planície amazônica

quaternária (7 a 14m de altitude), localizada às margens da Baía do Guajará, tendo

como limites ao Sul o rio Guamá e a Oeste a baía de Guajará. Sua posição

geográfica é de baixa latitude, situa-se nas proximidades da linha do Equador (- 01º

27‟ 21”), na Região Norte do Brasil. Seu clima é quente e úmido, apresentando

índices pluviométricos elevados (2.600 a 3.300 mm ano).

De acordo com Paranaguá et al (2003), o relevo onde está situada Belém é

caracterizado por terras baixas, com boa parte do sítio urbano composto de várzeas

e igapós, onde a população denomina vulgarmente de “baixadas”, áreas geralmente

habitadas por setores sociais de baixa renda, que convivem com a insuficiência de

coleta de lixo, escassez de sistema de esgoto sanitário e uma reduzida proporção de

água tratada.

Belém é um entreposto comercial de importância na Região Norte do Brasil,

porém ainda é considerada uma metrópole relativamente pobre. A sua Região

Metropolitana compreendendo os Municípios de Ananindeua, Marituba, Santa

Bárbara, Benevides e a capital Belém (Figura 4), com área territorial de 2.536,888

km2 e a população atual acima de dois milhões de habitantes, caracteriza-se por

apresentar vários problemas de infra-estrutura.2

É importante ressaltar que no sistema de Região Metropolitana cada

município é autônomo em relação ao outro, e os gestores dos municípios de Belém,

Ananindeua, Marituba, Santa Bárbara e Benevides ainda relutam em realizar ações

conjugadas mediante parcerias, programas e projetos no âmbito do planejamento

regional, por meio do Plano Plurianual – PPA e o Plano Diretor Urbano – PDU. Este

2 Portal Cá Estamos Nós. Disponível em: <http://www.portalcen.org/viagem/belem/006.htm> Acesso

em 03 out 2011.

Page 76: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

75

último é regido pelo Ministério das Cidades e se torna obrigatório para cidades a

partir de 20.000 habitantes. No novo modelo, o Estatuto da Cidade obriga a inclusão

das demandas da área rural do município.

Figura 4 – Mapa da Região Metropolitana de Belém

Fonte: Secretaria Municipal de Coordenação Geral de Planejamento e Gestão – SEGEP

Santa Maria de Belém do Grão Pará foi fundada em 1616, pelo

capitão português Francisco Caldeira Castelo Branco, e sua localização estratégica,

na foz do Amazonas, permitiu a defesa da região contra a ação dos invasores de

inúmeras nacionalidades, principalmente franceses e holandeses, que rondavam

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76

pela calha do rio Amazonas em busca do "Eldorado", ou seja, de metais preciosos

como ouro e prata3.

Além das belezas naturais, Belém do Pará tem várias ruas ornamentadas por

um verdadeiro túnel formado por centenárias mangueiras, o que dá um toque

poético e original, bem como contribui para amenizar as altas temperaturas

decorrentes do clima quente e da urbanização, especialmente ruas asfaltadas e

verticalização. A arborização de Belém, com mangueiras importadas da Índia, foi

uma decisão tomada no início do século XX pelo intendente Antônio Lemos,

responsável por obras de grande impacto na capital paraense, nos áureos tempos

da borracha.

Belém floresceu com pau-brasil e o ciclo das drogas do sertão. Experimentou

seu primeiro impulso urbano com a expansão da exploração da borracha. Uma de

suas vantagens geográficas é fazer parte do território da floresta amazônica,

considerada a maior reserva de biodiversidade do mundo, agraciada pela beleza

natural e uma vasta gama de recursos naturais.

Entre os principais pontos turísticos destacam-se Igrejas mais famosas como

a Basílica de Nazaré, construída a partir de 1774; a Catedral Metropolitana – Igreja

da Sé, arquitetada em 1755 por Antonio Landi em estilo barroco-colonial e

neoclássico, a qual possui formas que podem ser analisadas do ponto de vista

matemático.

Entre os museus de Belém estão o Museu do Círio, que expõe peças e

documentos do maior evento religioso do Brasil, o Círio de Nazaré; o Museu de

Artes de Belém, com acervo eclético de móveis e adornos, na sua maioria do século

XIX e princípios do século XX; o Museu do Estado, criado em 1994, um dos mais

importantes exemplares da arquitetura de Antônio Landi; o Museu Paraense Emílio

Goeldi, reconhecido mundialmente como um dos mais importantes institutos de

investigação científica da Amazônia; o Museu de Arte Sacra, instalado no antigo

Palácio Episcopal, patrimônio tombado pelo Governo Federal. Este último faz parte

do Projeto Feliz Lusitânia, juntamente com a Igreja de Santo Alexandre, construída

no século XVII.

3 Portal Cá Estamos Nós. Disponível em: <http://www.portalcen.org/viagem/belem/006.htm> Acesso em 03

out 2011.

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O Forte do Presépio é o marco de fundação da cidade de Belém do Pará. Foi

a primeira construção realizada na cidade, em 1616. O Teatro da Paz é um dos mais

belos do Brasil, tombado pelo Patrimônio Nacional. Sua construção foi iniciada em

1868 em estilo neoclássico e já recebeu grandes companhias de ópera européias

como a imortal Ana Pavlova, Carlos Gomes, que regeu sua ópera "O Guarany ".

Hoje sedia festivais internacionais de música e dança.

O mercado do Ver-o-Peso, um dos principais cartões postais de Belém,

abriga uma grande feira livre e outros dois mercados. Um deles, todo de ferro, é o do

peixe, construído com material importado da Europa e dos Estados Unidos.

A Estação das Docas, situada às margens da Baía do Guajará, é um

moderno complexo turístico e gastronômico, construído a partir de três antigos

galpões das docas de Belém. Nesse complexo se encontram cinco restaurantes,

uma míni-fábrica de cerveja, bares, lanchonetes, sorveteria, espaço para eventos,

um teatro, outros estabelecimentos comerciais, empresas de turismo, um museu e

um terminal fluvial.

A Região Metropolitana de Belém apresenta uma série de problemas

ambientais que requerem iniciativas de Educação Ambiental, entre eles o lixo. O lixo

produzido é calculado em 400 milhões de toneladas por ano em toda a Terra. No

Brasil, são geradas 100 mil toneladas diárias de lixo, o que equivale a dizer que

cada brasileiro produz 500 gramas de lixo por dia. Desse lixo diário, somente 1% é

destinado a programas sustentáveis como a reciclagem; os outros 99% são

destinados aos aterros e despejados em lixões a céu aberto, constituindo uma

verdadeira calamidade sanitária. A reciclagem de materiais provenientes do lixo

ainda é reduzidamente praticada. Em Belém, segundo Paranaguá et al (2003), a

produção de lixo domiciliar aumentou em 32%, passando de 317 mil toneladas

anuais, ou 201 quilos por habitante/ano, para 420 mil toneladas por ano, ou 233

quilos por habitante/ano.

O problema do crescimento do lixo se mostra mais agravante quando é

relacionado à ampliação de áreas urbanas informais no contexto de Belém, onde se

verifica a falta de saneamento básico, insuficiência dos serviços básicos, inclusive

de coleta regular de lixo, déficit habitacional, entre outros (MOTTA, 2004). Neste

particular, o ensino da Matemática pode ser útil para dimensionar e relacionar as

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causas da degradação ambiental com os fatores sociais, políticos, culturais e

econômicos. Por exemplo, os alunos podem analisar o crescimento dos índices

percentuais da quantidade do lixo com o nível de renda da população urbana das

áreas informais de Belém, associando degradação ambiental urbana com a pobreza.

Outra reflexão relevante seria avaliar os valores de investimento em saneamento

com os números ascendentes dos volumes de lixo na capital paraense.

Na perspectiva de uma Educação Ambiental interdisciplinar e de Pedagogia

Ambiental, entende-se que o conhecimento matemático pode ser integrado a

Antropologia Ecológica, a qual se define, segundo Neves (1996, p.56), “[...] como o

estudo das relações entre dinâmica populacional, organização social e cultura das

sociedades humanas e o meio ambiente no quais elas estão inseridas.”

A reciclagem vem sendo apontada por especialistas como uma alternativa

para reduzir o volume de lixo no mundo, que cresce a números espantosos em

decorrência do crescimento da população e do estilo de sociedade vigente,

caracterizado pelo elevado consumo de objetos, cuja maioria não é biodegradável,

permanecendo anos no meio ambiente, a exemplo do plástico, que demora 60 anos

para desaparecer. Por outro lado, a produção da maioria das mercadorias exige

explorar recursos naturais, como é o caso do papel que depende das árvores,

contribuindo para a devastação das florestas.

De acordo com Normam (2002), a reciclagem representa um investimento

que pode ser muito rentável, conta com apoio da opinião pública, aumenta a

atividade econômica, gera empregos e melhora a qualidade de vida no planeta.

Também significa enorme economia de dinheiro. O Brasil, por exemplo, perde por

ano no mínimo R$ 4,6 bilhões quando deixa de reciclar o lixo que produz.

Por meio da reciclagem podem ser reduzidos novos gastos com energia

elétrica, água e matéria-prima. Todavia, o Brasil também perde quando não faz a

compostagem4 do material orgânico, que representa quase 65% do lixo produzido no

país, e poderia ser utilizado na fabricação de fertilizantes. Perde com a exploração

desnecessária de recursos naturais, a maioria esgotável e substituível por materiais

reciclados. O país sofre perdas ao precisar construir novos aterros sanitários ou

4 Compostagem é a transformação do lixo em adubo para utilização na agricultura.

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incineradores que consigam receber ou eliminar a quantidade crescente de lixo

produzida. O problema do lixo urbano amplia os gastos com a saúde pública, devido

à ampliação de doenças decorrentes da poluição causada pelos lixões a céu aberto

e queima dos resíduos sem o uso de filtros adequados.

No Brasil, 40 mil toneladas de lixo, ficam sem coleta, diariamente. A coleta

seletiva - em que a população separa o próprio lixo por tipo de material, facilitando o

processo de reciclagem e ampliando suas vantagens econômicas - é praticada em

pouco mais de 80 municípios brasileiros, a maior parte deles se localiza nas regiões

Sul e Sudeste do País, onde a população aparenta estar melhor informada e

conscientizada dos problemas ambientais e os governos locais disponibilizarem de

recursos financeiros maiores. Em Belém, no entanto, não há um projeto de

tratamento adequado ou reciclagem do lixo, o lixão do Aurá já revela sintomas de

esgotamento e o chorume5 contamina o solo e os recursos hídricos. A mudança

desse quadro requer a prática de uma nova cultura no âmbito da sociedade e das

classes políticas, fundamentada no emprego de tecnologias de reciclagem em prol

da sustentabilidade. Esse é o pensamento de Leslie White (apud NEVES, 1996,

p.27), ao considerar que “[...] existe um tipo de filosofia apropriada para cada tipo de

tecnologia.”

A construção e difusão social dessa nova filosofia tende a ser favorecida pela

Educação Ambiental em sua perspectiva interdisciplinar, abrangendo entre outras

disciplinas a Matemática, ensinada de maneira abrangente e mediante a

problematização de questões presentes no meio ambiente, a exemplo do lixo urbano

produzido em Belém, sem perder de foco as distintas dimensões: social, cultural,

econômica, política, social e ambiental.

O ambiente urbano de Belém também é marcado por um número crescente

de áreas favelizadas, pois 35% da população belenense vivem em favelas.6 Outro

problema é o abastecimento de água. Segundo Ferreira (2009)7, a água potável é

um problema para 1,5 milhão de habitantes de Belém. Cerca de 450 mil pessoas

que moram em áreas de expansão não têm acesso ao serviço e 750 mil moradores

5 Significa o líquido poluente, de cor escura e odor nauseante, originado de processos biológicos, químicos e

físicos da decomposição de resíduos orgânicos. 6 NÓVOA, Fábio. Livro retrata Belém “favela”. Belém. Diário do Pará, Cidades, 09/03/2008, p. A 13.

7 FERREIRA, Michele. Água é artigo de luxo para 1,5 milhão. O Liberal, Belém, 1 nov. 2009.

Cidades/Atualidades, p.13.

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da cidade são atendidos com precariedade pela Companhia de Saneamento do

Pará (COSANPA). Atualmente, apenas 20% da população, em torno de 300 mil

habitantes, encontra-se na zona de cobertura do Serviço Autônomo de Água e

Esgoto de Belém (SAAEB). Tais questões podem ser avaliadas mediante a

integração da Matemática nos projetos de Educação Ambiental.

De acordo com dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB)

de 2008, publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, em

termos de saneamento o estado do Pará continua entre os piores do Brasil. Apenas

1,7% de municípios paraenses possuem rede de esgoto sanitário, deixando o Pará

em segunda pior posição do país, ficando à frente apenas de Rondônia. Já entre os

municípios que fazem tratamento do esgoto, o Pará encontra-se no quarto pior

resultado, com 4,2% de cidades com a realização do serviço, inclusive Belém.8

A situação do saneamento básico em Belém não difere muito do resto do

Brasil. Menos de 50% dos domicílios brasileiros são ligados à rede de esgoto,

apenas 35% recebem esse tratamento. O restante é despejado nos rios, córregos e

lagos.9

4.2 O ENSINO-APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA NO GRUPO IMPACTO

4.2.1 Análise dos dados empíricos

Os dados foram coletados no Grupo Impacto, composto pela Unidade da Av.

Alcindo Cacela (Figura 5), onde se concentra o maior número de alunos, ou seja,

2.000, dos quais 1.500 estão matriculados no ensino médio e 500 no ensino

fundamental; Unidade Padre Eutíquio, com 1.000 alunos matriculados; e Impacto

Cidade Nova, composto pela clientela de 1.500 estudantes. No total, o Grupo possui

4.500 alunos.

8 Pará tem um dos piores índices de saneamento. O Liberal, Belém, 21 ago. 2010.

Cidades/Atualidades, p.6. 9 Um dia muito especial. Disponível em:<http://veja.abril.com.br>.Acesso em:13 set. 2011.

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Figura 5 – Impacto Estação

Fonte: Arquivo Pessoal em 03/11/2011

4.2.1.1 A visão dos professores

Ao se questionar dos professores se a Matemática ensinada é vinculada à

realidade de vivência dos alunos no contexto urbano de Belém, 70% dos

professores afirmou que não, enquanto 30% assinalaram que sim, como demonstra

a Tabela 1 e gráfico correspondente:

Tabela 1 – Ensino da Matemática vinculado à vivência dos alunos, segundo os professores

Alternativa Quantidade %

Sim 3 30

Não 7 70

Totais 10 100

Fonte: Pesquisa de Campo

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Gráfico 1 - Ensino da Matemática vinculado à vivência dos alunos, segundo os professores

Fonte: Pesquisa de campo

Como se constata por meio dos dados anteriormente expostos, a maioria dos

professores considera que o ensino da Matemática não está vinculado à vivência

dos alunos. Essa situação confirma o entendimento de D‟Ambrosio (2000) sobre o

fato do ensino dessa disciplina ainda se pautar pela pouca relação com a vida

cotidiana dos alunos, dificultando o reconhecimento do conhecimento matemático

para fins práticos. Por outro lado, cria obstáculos para usar esse saber numa

perspectiva de inserção social na proposta de Pimenta e Anastasiou (2002), porque

o aluno fica sem contextualizar seu conhecimento e compreender os problemas

relacionados ao meio urbano de Belém. Comumente, encontra dificuldade em

desenvolver a racionalidade ambiental explicada por Leff (2001) e Jacobi (2003).

Os dados numéricos são expressos nas posições dos professores que

responderam não, as mais comuns foram as seguintes:

O ensino ainda se pauta basicamente no conteúdo teórico, às vezes se tenta criar problemas envolvendo a vivência dos alunos, mas nem sempre isso acontece, pois estamos acostumados a seguir os modelos dos livros e questões padronizadas (Professor 1).

Basicamente não, o conteúdo fica concentrado no ensino comum, o que alguns têm chamado de tradicional. Primeiro, porque não tenho muito tempo para elaborar essa relação; segundo, ainda tenho dificuldade em fazer isso, pois durante anos meu trabalho foi ensinar uma Matemática direta, com fórmulas e cálculos abstratos (Professor 2).

30%

70%

Sim

Não

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Quando posso fazer eu faço, mas isso demanda tempo e pesquisa, o que para nós nem sempre é disponível. Acho interessante, mas relacionar conhecimento matemático e vivência dos alunos ainda é um desafio para muitos professores (Professor 3).

Não faço, porque nosso material de ensino possui um conteúdo de Matemática pouco aplicada à vivência de nossos alunos. A maioria das aulas é descritiva, baseada nos teoremas, fórmulas; enfim, na Matemática pura (Professor 4).

Os dizeres dos professores traduzem claramente as considerações de shlomo

Vinner (1997 apud POWELL, 1999) em relação ao pseudo conhecimento, isto é,

quando o aluno aprende de maneira mecânica e não sabe relacionar o conteúdo

com as situações presentes na realidade. Por consequência, disciplinas como a

Matemática ficam alijadas da reflexão sobre o meio ambiente e desenvolvimento

urbano.

Todavia, quanto aos 30% que responderam existir a vinculação do ensino da

Matemática com a realidade de vivência dos alunos no contexto urbano de Belém,

os argumentos revelam que a relação acontece esporadicamente, não é uma regra

constante:

Às vezes, quando posso, faço uma relação da Matemática com situações cotidianas de nossa cidade, por exemplo, ao ensinar a fórmula da área, explico que os pedreiros realizam tais cálculos para colocar lajotas, ladrinhos, nas residências e prédios de Belém (Professor 1).

Sim, procuro relacionar quando tenho tempo de planejar melhor minhas aulas, mas às vezes acabo caindo no tradicional, ensinando a teoria sem relacionar com a prática (Professor 2).

Faço um esforço, porque ensinar certos conteúdos matemáticos e vinculá-los à vivência de cada aluno não é tarefa fácil. Por exemplo, não é fácil você ensinar álgebra e veicular esse assunto de imediato com as circunstâncias vividas pelos alunos (Professor 3).

Essa situação confirma a visão de Barros (2010), ao elucidar a cidade como

um cenário de diversas circunstâncias que podem ser abordados usando o saber

matemático, porém, os assuntos ainda são pouco trabalhados no âmbito de

questões mais amplas, a exemplo da Educação Ambiental.

No transcurso da entrevista com os professores, questionou-se dos mesmos

como se encontra o ensino da Matemática na escola, as respostas mostraram que o

mesmo se orienta por uma visão pouco articulada com o meio ambiente. Alguns

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professores procuram inovar, mas essa tentativa não possui grande expressividade,

conforme explicitam os depoimentos:

Acho que o ensino está bom, mas precisa melhorar, principalmente quando a questão é relacionar teoria com prática. Não existe nenhum projeto no sentido de incentivar a vinculação do ensino da Matemática com outras disciplinas ou questões sociais e ambientais (Professor 1).

Trabalhamos no sentido de sempre melhorar, mas nem todos conseguem relacionar o conhecimento da Matemática com a vida prática dos alunos, inclusive a assuntos específicos de meio ambiente e desenvolvimento urbano. Eu considero isso importante, porque a Matemática está presente nas diversas situações da vida urbana, porém, essa tarefa ainda é limitada em nosso ensino por vários fatores: os materiais são padronizados, os concursos possuem problemas tradicionais, nem todos os professores possuem qualificação para ensinar nessa nova perspectiva (Professor 2).

O ensino na nossa escola segue o padrão da maioria, os alunos aprendem a Matemática ensinada há décadas. Mas, já procuramos aproximar o conteúdo e os problemas de questões presentes no cotidiano social, na realidade urbana (Professor 3).

As informações anteriores demonstram a clareza dos professores quanto à

importância de relacionar o saber matemático com outras disciplinas e o meio

ambiente urbano, todavia, as limitações apresentadas por eles confirmam as

explicações de Souza (2005) sobre a questão dos professores de Matemática ainda

encontrarem dificuldade em aplicar a interdisciplinaridade devido a falta de

qualificação para tal, a carência de projetos desenvolvidos pela coordenação

pedagógica das escolas e a padronização das grades curriculares e dos conteúdos.

Além disso, muitos dos professores atuantes contemporaneamente nas escolas não

tiveram em seus currículos a aplicação da Matemática na reflexão de problemas do

meio ambiente e desenvolvimento urbano.

Os argumentos também se relacionam com as proposições de Cunha (2009),

pois a Pedagogia Ambiental ainda se depara com o desafio de superar a dicotomia

entre teoria e prática, e articular os vários conhecimentos para viabilizar ao aluno

uma compreensão mais ampla dos problemas socioambientais urbanos.

A defesa dos professores em prol da interdisciplinaridade é contemplada por

Fazenda (2001), quando defende a realização do estudo interdisciplinar como

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alternativa de melhor entendimento da realidade. Esta posição também é defendida

por Jacobi (2003), ao se referir à necessidade de integrar as áreas de conhecimento

nas propostas de Educação Ambiental que relaciona o homem, a natureza e o

universo.

Vale ressaltar a contribuição de Novoa (2011), ao explicar que os sistemas de

ensino tem se organizado a partir de “cima” e com base em estruturas

burocratizadas, corporativas e disciplinares. Essa realidade é percebível no ensino

público e no privado. Em ambos ainda se constata a dificuldade em realizar práticas

relacionadas à Educação Ambiental a partir de disciplinas como a Matemática.

Todavia, os projetos nesse sentido têm avançado mais nas escolas públicas que nas

privadas.

Durante a entrevista, perguntou-se aos professores se os docentes estão

motivados em ensinar Matemática vinculada à vivência do meio urbano, alguns

responderam que sim, mas para outros falta mais estímulo, qualificação e mudanças

nos currículos de formação.

Eu me sinto motivado porque considero importante dinamizar o ensino da Matemática, mas minha própria formação na universidade não me permitiu trabalhar diferente do tradicional. Porém, ao ler novos livros e por estar buscando novos conhecimentos na área, entendo que é fundamental dar significado à aprendizagem, permitindo aos nossos alunos compreender que os conteúdos são úteis na vida prática (Professor 1).

Acho que falta mais estímulo. A própria formação de nossos professores é falha nesse sentido, se quisermos saber algo mais em vincular Matemática a assuntos ambientais, precisamos nos especializar. Por outro lado, o sistema de ensino, seja particular ou público, ainda possui um ensino pautado no tradicionalismo, sem exigir de professores e alunos a inserção da Matemática numa visão mais crítica da realidade urbana (Professor 2).

Falta motivação, porque não dispomos de rico material sobre o assunto e não somos cobrados nesse sentido, além disso, carecemos de maior preparo em ensinar de maneira inovada (Professor 3).

O problema de formação tradicional apontada como uma das dificuldades

para ensinar a Matemática relacionada à vivência dos alunos confirma as

proposições de Barros (2010), que, no âmbito da Educação Ambiental enfatiza a

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necessidade de uma mudança radical nos sistemas de conhecimento e ensino. Essa

ideia é compartilhada por Jacobi (2003).

Essa necessidade de mudança abrange a formação de professores capazes

de interagir com os temas transversais elucidados pelos Parâmetros Curriculares

Nacionais, entre os quais se destaca o Meio Ambiente, especialmente no contexto

urbano de maior concentração demográfica. Tal compreensão faz parte das ideias

defendida por Nunes (2003), ao evidenciar que a qualificação dos docentes não

pode ser garantida por cursos caracterizados como propedêuticos, ou seja,

orientados pela dicotomia entre prática e teoria.

Para Souza (2005), a mudança na formação dos professores é fundamental

para superar o conservadorismo das práticas pedagógicas e, consequentemente do

conservadorismo das práticas sociais, indispensável na construção de uma nova

relação entre as pessoas e o meio ambiente. Nesse particular, o saber matemático

enquanto parte da práxis educativa, segundo Sá e Makiuchi (2003, p.92), insere-se

na “intenção de forjar novos padrões de relação intersubjetiva10 que sustentam uma

nova ética, ou ecoética.”

Em entrevista com os professores, procurou-se saber deles que importância a

Matemática tem para o desenvolvimento urbano de quem mora no espaço urbano

de Belém, as respostas consideraram que o saber matemático está em todos os

campos da vida social, portanto, possui grande relevância.

Eu considero fundamental, porque qualquer discussão em relação ao desenvolvimento urbano, ao seu meio ambiente, é preciso apresentar e analisar números, por exemplo, a quantidade de lixo produzida, a percentagem de habitantes beneficiados pelo saneamento básico entre outras questões (Professor 1).

A Matemática é importante em tudo que esteja relacionado ao desenvolvimento urbano, porque sem ela não se pode calcular a necessidade de recursos, compreender a dimensão dos problemas ambientais e de pobreza, definir escalas territoriais etc. É claro que os dados precisam estar vinculados a informações qualitativas, como participação das pessoas na solução dos problemas (Professor 2).

Eu entendo que falar em desenvolvimento urbano sem usar a Matemática é impossível. Toda sociedade possui problemas sociais, econômicos e ambientais que possuem quantidades, variáveis,

10

É a relação entre sujeito e sujeito e/ou sujeito e objeto.

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parâmetros de comparação, índices, elementos de natureza matemática (Professor 3).

Embora eu não tenha especialização na área de meio ambiente, entendo que o conhecimento matemático é bastante útil, principalmente porque nas cidades é preciso estabelecer qualidade de vida e para compreender isso necessitamos ter indicadores quantitativos integrados a qualitativos, como educação, iniciativa política, saúde, entre outros (Professor 4).

Os trechos anteriormente descritos mostram que os professores

compreendem a importância do conhecimento matemático na análise e reflexão dos

problemas ambientais urbanos de Belém, enfatizando a relevância de integrar dados

quantitativos a qualitativos. Esse posicionamento é compartilhado por Leff (2011,

171) ao esclarecer que a leitura dos problemas ambientais urbanos segue ao

pressuposto de articular a Matemática aos demais saberes, mas sem privilegiar o

quantitativo:

[...] o saber ambiental privilegia o qualitativo frente ao quantificável da realidade social. O conceito de qualidade de vida, como propósito do processo de desenvolvimento, coloca a necessidade de elaborar novos indicadores interdisciplinares, onde os valores e significados sociais se integrem com as mediações sobre processos de ordem natural.

A ênfase na qualidade de vida remete à necessidade cada vez maior das

pessoas compreenderem as causas e consequências dos problemas presentes no

ambiente urbano. Em Belém, tais problemas são diversos e afetam de modo

negativo a qualidade de vida da população. Segundo Paranaguá et al (2003), a

capital paraense produz 233 quilos de lixo por habitante/ano, sem haver um

tratamento adequado dos dejetos. Cotidianamente é possível ver pessoas jogando

lixo nos canais, vias públicas, praças, facilitando a proliferação de animais e insetos,

colocando em risco a saúde pública, prejudicando a estética urbana, provocando

entupimento de esgotos. A reversão desse quadro não depende apenas do poder

público, mas da coletividade.

Observa-se, assim, que a qualidade de vida no meio ambiente urbano de

Belém requer a construção de uma consciência coletiva. Essa constatação confirma

as proposições de Jacobi (2003) acerca do desafio de mudar as formas de pensar e

agir em torno da questão ambiental, cabendo à Educação Ambiental a função

transformadora de sensibilizar os indivíduos na condição de co-responsáveis pelo

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desenvolvimento sustentável. Souza (2005) compartilha desses argumentos,

enfatizando a responsabilidade das gerações presentes com as gerações futuras

como um dos princípios da Educação Ambiental. Vale destacar nesse particular a

relevância do saber matemático em elaborar e demonstrar projeções pertinentes a

situações futuras, a exemplo do crescimento do consumo urbano e sua relação com

o esgotamento dos recursos naturais.

A qualidade de vida, segundo Leff (2011), não condiz com a deterioração do

ambiente, o empobrecimento e a falta de informação dos indivíduos. Por isso,

envolve os aspectos qualitativos das condições de existência, abrangendo

benefícios econômicos e sociais no contexto urbano. Ela se insere na luta das

comunidades pelo respeito à dignidade e faz parte do cotidiano que, na concepção

de Lefebvre (2006) se caracteriza por três elementos: necessidade, desejo e fruição,

ou seja, compreende o vivido, a subjetividade, as emoções, os hábitos e

comportamentos.

A busca da qualidade de vida como luta pela dignidade se desenvolve a

partir das relações estabelecidas pelas pessoas em contato com o ambiente onde

vivem. Em cidades como Belém se observa tal situação, confirmando as proposições

de Carlos (2004) sobre o fato do lugar ser produto de relações humanas, tecido no

plano vivido, onde se insere a construção de significados e sentidos, culminando

com a produção de identidade. É nessa seara que a Educação Ambiental fornece

informações e incentiva novos valores e comportamentos, incluindo o saber

matemático nessa empreitada, pois como esclarecem Wodewotzki e Jacobini (2005,

p.234):

Atualmente os Parâmetros Curriculares Nacionais são indicativos e norteadores para a elaboração de currículos de todas as disciplinas. Esses parâmetros, no que diz respeito à Matemática, realçam a importância da relação dos conteúdos matemáticos estudados na escola com questões intrínsecas à vida cotidiana dos estudantes.

Quanto à co-responsabilidade, ela não é simples ideia, mas uma condição

necessária para resolver os problemas do desenvolvimento e meio ambiente urbano

de Belém e outras cidades, e ganha visibilidade na proposta de instrumentalizar a

Educação Ambiental pela colaboração entre variados saberes. Neste particular,

Souza (2005) nomeia a importância da Matemática no estudo, discussão, análise e

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pesquisa dos lixões, doenças urbanas, expectativa média de vida, poluição das

terras, água e ar, entre outros assuntos de ordem sócio-ambiental.

Diante da reflexão até o momento desenvolvida, constata-se a confirmação

das ideias de Pelicioni (2004) quanto à necessidade de educar as pessoas para

torná-las co-responsáveis pela solução dos problemas sócio-ambientais presentes

no ambiente urbano, mediante a contribuição das distintas áreas do conhecimento,

inclusive o saber matemático e as experiências informais da coletividade. Nesse

sentido, conforme menciona Skovsmose (2005), o professor é um agente importante

para a mudança. Enquanto profissional da educação tem a possibilidade realizar

projetos inovadores, capazes de incentivar e instaurar práticas e atitudes favoráveis

à construção de uma sociedade comprometida com a causa ambiental. Um exemplo

ocorreu na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Frei Daniel no bairro do

Guamá, em Belém (Pa), onde os professores de distintas disciplinas foram liderados

pelos professores de Matemática a construir um projeto de Educação Ambiental

para reduzir as pichações na escola e a frequente sujeira, principalmente, durante o

intervalo do recreio. Esse projeto foi iniciado em 2010 e envolveu palestras, mostra

de vídeos, exposição de dados estatísticos, entre outras atividades. Cada disciplina

viabilizou uma forma de contribuição, mas todas incluíram informações matemáticas,

como porcentagens, projeções, gráficos, funções. Os resultados foram favoráveis,

no ano de 2011 o lixo e as pichações diminuíram em 90%, conforme informações da

direção da escola.

No setor privado, um importante projeto foi implementado em 2010 pelo

Grupo Ideal, no bairro da Batista Campos, em Belém (Pa). Os professores de cada

disciplina realizaram um trabalho interdisciplinar para trabalhar as informações

atinentes à educação ambiental. Os trabalhos envolveram pesquisas referentes ao

saneamento básico, lixo, inclusive na escola, a relevância da arborização, entre

outros assuntos. No final do ano foi realizada uma exposição durante a feira cultural

da escola, possibilitando à comunidade intra e extra escolar ter acesso às

informações. Os resultados foram favoráveis, pois o lixo diminuiu no espaço escolar

e a comunidade solicitou a continuidade do projeto.

Essas experiências comprovam a afirmativa de Skovsmose (2005), quando

assinala que a autonomia das escolas e a iniciativa dos professores tende a

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contribuir para mudar o quadro do ensino, seja no setor público ou privado. Assim, o

emprego de novos projetos relacionados ao meio ambiente urbano, especialmente

de Educação Ambiental, ainda encontra obstáculos, mas já começam a fazer parte

das atividades pedagógicas de algumas instituições escolares.

Outra questão abordada durante a entrevista com os professores foi entender

em que sentido a Matemática é útil na análise ambiental da cidade. As respostas

deles demonstram que o conhecimento matemático é de considerável utilidade para

se comparar, compreender, interpretar e analisar os problemas ambientais

existentes nas cidades:

Sim, a Matemática é imprescindível para se interpretar e apresentar dados da dimensão da questão ambiental, a qual se torna mais visível no espaço urbano, onde está concentrada a maior parte da população e os problemas de meio ambiente, como poluição, lixo, devastação das áreas verdes (Professor 1).

Sem dúvida, não podemos mensurar os impactos ambientais sem o uso da Matemática, ela é importante para estimar, comparar e analisar os dados atinentes ao meio ambiente. Na cidade, existe uma gama de problemas que fazem parte do nosso dia-a-dia e não podemos fechar os olhos, principalmente crescimento das invasões e com elas poluição das águas, sujeira, criminalidade, tudo faz parte da problemática ambiental (Professor 2).

A Matemática é a base para se interpretar, comparar, analisar, estimar, avaliar, quantificar os problemas de ordem ambiental nas cidades. Em Belém, por exemplo, convivemos com vários desses problemas, o lixo, a sujeira, a falta de educação das pessoas, poluição do ar e dos rios, ocupações na periferia. Eu fico pensando, a cada ano a população cresce e os problemas aumentam (Professor 3).

As considerações anteriores dos professores são contempladas por Leff

(2011). Segundo este autor, a cidade se converteu no lugar onde se aglomera a

produção, o consumo se congestiona e a população ocupa desordenadamente

áreas sem infra-estrutura adequada, mediante processos alimentadores da

superexploração de recursos naturais, saturação do ar e acumulo do lixo. Barros

(2010) elucida esse contexto, concebendo a cidade como um campo de pesquisa,

um verdadeiro laboratório de problemas ambientais, onde se observa uma variedade

de situações que podem ser analisadas com o auxílio do conhecimento matemático.

Explica que o mapa urbano se modifica continuamente e podem ser avaliados pelos

cálculos de escala e porcentagem.

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A pesquisa com os professores preocupou-se em saber a opinião deles sobre

como a Matemática se relaciona com as outras disciplinas do currículo. Os

argumentos evidenciam que a disciplina se relaciona com todas as disciplinas e

contribui para interpretar os fatos e as situações da problemática ambiental no

espaço urbano.

No meu entendimento a Matemática está em relação com todas as disciplinas, por exemplo, quando a Geografia aborda a população nas cidades usa a Matemática, quando fala sobre a questão do saneamento, do lixo, da poluição precisa de dados matemáticos. O mesmo acontece com a Biologia e outras (Professor 1).

Os outros professores também utilizam a Matemática para realizar suas aulas, por isso, a relação entre ela e as demais disciplinas é um fato verídico. A Geografia, a História, Ciências e outras precisam de conhecimentos matemáticos (Professor 2).

A interdisciplinaridade é praticada todos os dias durante as aulas, porque o conhecimento não pode ser abordado sem a interação entre as disciplinas, entre as quais a Matemática (Professor 3).

Duvoisin (2002) reporta a relevância da Matemática em todas as disciplinas.

Mas, explica que essa interação ainda se faz sem a preocupação de enfatizar o

saber matemático na reflexão crítica dos problemas ambientais urbanos.

Geralmente, limita-se a apresentar dados numéricos, requerendo uma interpretação

mais clara sobre o dimensionamento matemático dos fatores e causas dos

problemas ambientais. Sá e Makiuchi (2003) evidenciam a importância da integração

das disciplinas no âmbito da Educação Ambiental, a qual possui uma abordagem

ancorada na promoção da autopercepção crítica dos educandos acerca dos

problemas ambientais presentes no ambiente urbano. Nesse sentido, o saber

matemático é imprescindível na elaboração de indicadores, projeções, mensurações

e outros elementos facilitadores da autopercepção crítica, ideia presente na fala dos

professores.

4.2.1.2 A visão dos alunos

Na aplicação dos questionários com os alunos, procurou-se verificar se

durante as aulas o professor relaciona o conteúdo da Matemática com questões

presentes no ambiente urbano de Belém. A maioria, ou seja, 95% afirmaram que

Page 93: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

92

não, apenas 5% explicaram que sim, como mostra a Tabela 2 e gráfico

correspondente.

Tabela 2 – Conteúdo da Matemática relacionado às questões do meio ambiente urbano de Belém, segundo os alunos

Alternativa Quantidade %

Sim 5 5

Não 95 95

Totais 100 100

Fonte: Pesquisa de Campo

Gráfico 2 – Conteúdo da Matemática relacionado às questões do meio ambiente urbano de Belém, segundo os alunos

Fonte: Pesquisa de campo

As informações anteriores demonstram que o ensino da Matemática no

sistema particular de ensino ainda possui pouca vinculação com as questões

referentes ao meio ambiente urbano de Belém. A visão dos alunos não contradiz as

respostas dos professores apresentadas anteriormente e confirma novamente as

considerações teóricas de D‟Ambrosio (2000) quanto à reduzida vinculação da

disciplina com o contexto vivencial dos alunos, dificultando o reconhecimento do

conhecimento matemático para fins práticos.

5%

95%

Sim

Não

Page 94: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

93

Essa falta de vínculo com a realidade urbana, segundo Pimenta e Anastasiou

(2002), dificulta ao educando usar a Matemática na sua vida social, ou seja,

contextualizar o conhecimento adquirido na escola com as questões da vida prática

e do desenvolvimento e meio ambiente urbano em Belém. Sem ter essa

competência, o aluno compromete a capacidade de desenvolver a racionalidade

ambiental abordada por Leff (2001), Jacobi (2003) e outros estudiosos.

Sá e Makiuchi (2003) evidenciam a necessidade de mudar essa perspectiva

de ensino desvinculado da realidade, porque a crise ambiental exige mudanças no

campo educacional, pois as questões ambientais possuem implicações

interdisciplinares e multirreferenciais, e nesse contexto a Matemática não está

excluída, pois é parte do saber humano produzido historicamente na relação do

homem com o meio.

Ao se aplicar o questionário com os alunos, procurou-se saber destes qual a

importância da Matemática para o desenvolvimento urbano de quem mora no

espaço urbano de Belém. Os resultados obtidos foram os seguintes:

Tabela 3 – A importância da Matemática para o desenvolvimento urbano de quem mora no espaço urbano de Belém, segundo os alunos

Alternativa Nº alunos %

Favorece dimensionar quantitativamente os problemas relacionados ao meio ambiente e desenvolvimento urbano, despertando a visão crítica acerca de questões ambientais, como o crescimento do lixo, a falta de saneamento básico, a amplitude da população pobre, entre outras.

30 30

Possibilita apenas descrever variáveis quantitativas

15 15

Ajuda a compreender os problemas ambientais, a realizar operações da vida prática, presentes no meio urbano, a interpretar quantidades e projeções sobre questões atinentes ao desenvolvimento e meio ambiente urbano.

55 55

Totais 100 100

Fonte: Pesquisa de campo

A apresentação dos dados anteriores revela que a maioria dos alunos

considera a Matemática como uma disciplina importante e útil na compreensão do

desenvolvimento e meio ambiente urbano e seus problemas. Essa condição

confirma o pensamento de Skovsmose (2005), quando assinala o papel crucial da

Matemática na interpretação de uma vasta gama de fenômenos socioambientais.

Page 95: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

94

A importância atribuída pelos alunos à Matemática no âmbito da reflexão

sobre o desenvolvimento e meio ambiente urbano está em consonância com as

colocações de Silva (2001), o qual enfatiza a relevância da disciplina na construção

da cidadania, haja vista a crescente necessidade da sociedade em aprimorar seu

conhecimento na “era da informação” para encontrar soluções ambientais.

Nesse sentido, Sá e Makiuchi (2003) enfatizam o exercício de uma cidadania

pautada na complexidade do saber e caracterizada pela co-responsabilidade de

todos, reiterando-se a inclusão da Matemática no campo de reflexão da Pedagogia

Ambiental, como parte do processo de construção de uma consciência local e

global, a qual se depara com o desafio pontuado por Jacobi (2003): mudar o modo

de pensar e agir da população urbana brasileira com a contribuição de programas

educativos baseados em enfoques cada vez mais integrados e complexos.

Perguntou-se aos alunos se o ensino da Matemática ainda é ministrado de

maneira tradicional, ou seja, empregado apenas para fazer cálculos sem ser vinculo

com a vivência. A maioria respondeu que não, isto é 63%, enquanto 37% que sim,

como mostram os dados a seguir:

Tabela 4 – A Matemática é ensinada de modo tradicional

Alternativa Quantidade %

Sim 37 37

Não 63 63

Total 100 100

Fonte: Pesquisa de Campo

Page 96: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

95

Gráfico 3 – A Matemática é ensinada de modo tradicional Fonte: Pesquisa de campo

A afirmativa de alguns alunos considerarem o ensino da Matemática

tradicional confirma a visão de Morales (2000) quanto ao fato dos professores dessa

disciplina ainda se limitarem aos conteúdos teóricos sem relacioná-los ao contexto

da vida cotidiana e urbana, inclusive aos eventos de ordem ambiental, presentes no

meio urbano. Nessa perspectiva, Barros (2010) salienta a dificuldade de muitos

professores em relacionar o saber matemático com a vida urbana atual,

especialmente aqueles que são oriundos de uma formação universitária mais antiga,

ou seja, não tiveram uma grade curricular apropriada a esse fim.

Ao se buscar saber dos alunos sobre o que entendem por ensino significativo

da Matemática, verificou-se que a maioria não conhece o termo “significativo”, como

demonstram os dados apresentados a seguir:

Tabela 5 – Entendimento dos alunos sobre ensino significativo da Matemática

Alternativa Quantidade %

Não sei 85 85

Aprendemos relacionar a Matemática e meio ambiente

5 5

Uma matéria importante para compreender o cotidiano

10 10

Total 100 100

Fonte: Pesquisa de Campo

37%

63% Sim

Não

Page 97: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

96

A necessidade de um ensino significativo da Matemática é pressuposto de um

processo educativo articulado e compromissado com a sustentabilidade e

participação no entender de Jacobi (2003), pois o termo “significativo” diz respeito à

importância para a vida e compreensão da realidade. Como a educação tem

implicância política, seu sentido também se faz mediante a capacidade do educando

em questionar as práticas sociais e econômicas prevalecentes no desenvolvimento e

meio ambiente urbano. Em Belém, essas práticas, na maioria das situações, se

caracterizam pela poluição, degradação, desrespeito aos direitos dos cidadãos a

uma vida digna, falta de participação nas decisões, circunstâncias decorrentes de

fatores e causas possíveis de ser avaliadas mediante a inclusão do saber

matemático na perspectiva da Pedagogia Ambiental. Assim, os estudantes da escola

particular, enquanto habitantes da cidade, também possuem o direito a uma

formação ambiental crítica que, para Leff (2011, p.221), “[...] implica assumir com

paixão e compromisso a criação de novos saberes e recuperar a função crítica,

prospectiva e propositiva do conhecimento [...].

Ao se questionar dos alunos se eles compreendem a utilidade prática de

todos os conteúdos de Matemática ensinados na sala de aula, a maioria, ou seja,

70% afirmaram que não.

Tabela 6 – Compreensão dos conteúdos de Matemática ensinados em sala de aula pelos alunos

Alternativa Quantidade %

Sim 30 30

Não 70 70

Total 100 100

Fonte: Pesquisa de Campo

A dificuldade dos alunos em compreender os conteúdos de Matemática

ensinados em sala de aula confirma as colocações de D‟Ambrosio (2000), ao

assinalar os problemas existentes no ensino e aprendizagem dessa disciplina,

inclusive de vincular o saber matemático na interpretação dos problemas ambientais

existentes nas cidades. Diante dessa situação, Jacobi (2003) reconhece a

Page 98: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

97

necessidade de maior preparo dos professores na transmissão e codificação de

conhecimentos sobre o meio ambiente.

Ao se referir ao assunto, Loureiro (2008) assinala a relevância de

compreensão das constantes transformações do ambiente urbano a partir de dados

e informações matemáticas, porque eles são fundamentais para embasar uma

interpretação crítica da realidade existente nas cidades e esclarecer os cidadãos

acerca da questão ambiental no âmbito local e global.

Na realização da pesquisa, procurou-se saber dos alunos como a Matemática

pode ser útil para contribuir em reflexões sobre o meio ambiente e desenvolvimento

urbano da cidade de Belém. As respostas foram as seguintes:

Tabela 7 – Utilidade da Matemática nas reflexões sobre o meio ambiente e desenvolvimento urbano da cidade de Belém, segundo os alunos

Alternativa Quantidade %

Não sei 90 90

A Matemática pode ajudar de diversas formas poderemos entender detalhadamente as construções urbanas

3 3

Pode ser útil de várias formas 4 4

Mostrando problemas onde exploram o meio ambiente e o desenvolvimento urbano da cidade

3 3

Total 100 100

Fonte: Pesquisa de Campo

Observa-se que a maioria dos alunos não sabe a utilidade da Matemática na

reflexão sobre o meio ambiente e desenvolvimento urbano da cidade de Belém.

Evidentemente, os dados confirmam as demais questões focalizadas durante a

pesquisa e as considerações de Carvalho (2004) referentes à condição das

disciplinas ensinadas na escola, especialmente as das ciências exatas, carecerem

de um ensino vinculado às questões ambientais do contexto urbano. Barros (2010)

se posiciona afirmando a necessidade de se rever a prática docente e acentuar a

interdisciplinaridade no âmbito escolar para desenvolver a reflexão sobre os

problemas ambientais e, assim, contribuir na construção de uma cidadania co-

responsável.

Page 99: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

98

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A elaboração dessa dissertação foi um passo importante na formação

acadêmica e profissional no âmbito das experiências realizadas no Programa de

Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano, por ser constituída de

conhecimentos teóricos relacionados a dados e informações empíricas de uma das

dimensões fundamentais da vida em sociedade: a educação, mais especificamente

a Educação Ambiental.

A dissertação deixou evidente que é possível relacionar o saber matemático

com as questões atinentes ao desenvolvimento e meio ambiente urbano, porque a

compreensão da realidade social, econômica, política e cultural existente na cidade,

particularmente Belém, envolve dados e informações numéricas, estatísticas e

quantificáveis.

No início da História, o homem não tinha grande poder para dominar a

natureza, mas sua curiosidade, evolução e relações com o meio social e natural lhe

obrigaram a recorrer cada vez mais à Matemática. E como foi constatado no

transcurso desta dissertação, cada civilização contribuiu para a construção do

conhecimento matemático. Egípcios, gregos, romanos, europeus, todos participaram

com suas descobertas, modelos, princípios e pressupostos.

A Matemática faz parte da história do homem e não constitui um

conhecimento pronto e acabado, pois as necessidades, as relações, as mudanças

sociais, econômicas, culturais e ambientais precisam ser explicadas, analisadas e

avaliadas. Nessa dinâmica, o saber matemático se faz presente e precisa responder

aos novos desafios. Por exemplo, na Antiguidade as cidades não possuíam o grau

de poluição atmosférica existente nos dias atuais, e para dimensionar essa poluição

no âmbito urbano atual é preciso elaborar cálculos, comparar números e dispor de

conhecimentos variados nos campos da economia, sociologia, geografia,

climatologia e política.

Essas considerações evidenciam que a Matemática é útil na reflexão sobre os

problemas do desenvolvimento e meio ambiente urbano, por isso, ela não pode mais

ser ensinada como uma disciplina isolada em si, limitada em seus próprios modelos,

Page 100: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

99

porque seus conteúdos precisam ter significado, ou seja, ser compreendidos à luz

da realidade cotidiana e vivência de quem aprende.

O próprio desenvolvimento urbano impõe novos desafios para quem reside na

cidade, cada vez mais o tempo é limitado e precisa ser cronometrado, novas formas

de habitação e tendências de edificações requerem o uso da Matemática, a

diversificação da produção e transações comerciais exige das pessoas o contato

com o saber matemático. Na atualidade, as mercadorias possuem código de barras,

o acesso a contas bancárias, sites da internet e demais serviços só é permitido por

meio de senhas numéricas. Estes são exemplos da vida prática, especialmente no

ambiente urbano, caracterizado pela sua crescente matematização.

Nesse início de século, o ambiente urbano concentra a maior parte da

população, e no seu contexto crescem os problemas de ordem ambiental e

relacionados ao planejamento, principalmente em países que, historicamente foram

colonizados, a exemplo do Brasil. Este ainda não superou obstáculos estruturais

como concentração de renda, déficit habitacional, falta de saneamento básico para

parcelas consideráveis da demografia urbana, altos índices de poluição atmosférica,

hídrica e sonora.

O mosaico dos problemas urbanos, portanto, faz parte do cotidiano de

milhares de pessoas que, na sua maioria, não percebem a gravidade desses

problemas e a responsabilidade de todos na determinação e continuação dos

mesmos. A falta de esclarecimento e consciência agrava esse quadro. Quanto mais

os cidadãos desconhecem a dimensão matemática da poluição, degradação, do

descaso político e social, menores são as possibilidades de diminuir ou superar a

crise ambiental local e global.

O ensino da Matemática, por si só não garante a solução dos problemas

ambientais urbanos, mas pode contribuir com a Educação Ambiental de várias

maneiras. Por exemplo, revelar dados evolutivos sobre a relação entre investimento

público e redução da criminalidade; comparar o Índice de Desenvolvimento Humano

(IDH) de Belém com o de outras capitais; elucidar como o lixo cresce numa

prospecção geométrica, enquanto a reciclagem de forma aritmética; enfim, o saber

matemático tem a propriedade de embasar informações e sensibilizar as pessoas

sobre a questão ambiental.

Page 101: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

100

A quantificação de determinados elementos, variáveis e dados causam um

impacto esclarecedor maior do que simplesmente abordar superficialmente os

problemas ambientais urbanos. Por exemplo, quando se quantifica ou estima

quantas pessoas podem ser prejudicadas no ambiente urbano pelo lixo jogado que

obstrui os esgotos, essa informação é mais convincente que afirmar: “é preciso

evitar jogar lixo nas vias públicas”. Se os dados sobre a falta de saneamento básico

são quantificados e comparados com o volume de recursos gastos em obras

faraônicas ou de campanha eleitoral, evidentemente o sentimento de indignação

aflora com mais intensidade. Situações desse tipo demonstram o quanto a

Matemática pode servir de instrumento esclarecedor na Educação Ambiental.

Tradicionalmente, como se teve oportunidade de entender no transcurso

desta dissertação, a Matemática foi ensinada e usada para fins técnicos e aplicativos

desvinculados de uma visão crítica sobre a causa ambiental. O florescimento da

sociedade moderna foi marcado pela fragmentação do conhecimento. O ensino

ministrado nas escolas e universidades se orientou pela lógica do isolamento entre

as disciplinas, dificultando a construção de uma visão mais ampla sobre a realidade

urbana. Mas, o crescimento dos problemas sociais e ambientais colocou em debate

a racionalidade baseada no aspecto econômico e a necessidade de repensar o

papel da escola e das universidades.

Enquanto parte da vida urbana, responsável pela formação de várias

pessoas, compreende-se que a escola tem um papel relevante no esclarecimento e

desmistificação dos problemas de desenvolvimento e meio ambiente urbano,

principalmente, porque a complexidade desses problemas não depende apenas de

soluções governamentais, mas de toda a coletividade. Nesse contexto, o ensino da

Matemática precisa ser parte de um projeto maior: o da construção de uma

cidadania coletiva e co-responsável, porque, como já ressaltado nesta dissertação, o

saber matemático é resultado da interação do homem com o meio, não se trata de

algo alheio a essa relação.

Entretanto, sabe-se que a inclusão da Matemática em projetos de Educação

Ambiental com foco nos problemas urbanos precisa ser ampliada nas escolas. Essa

situação foi constatada por meio do estudo empírico em uma das instituições de

ensino particular de Belém, cujo ensino-aprendizagem se caracteriza pela

Page 102: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

101

viabilização de conteúdos formais sem uma expressiva vinculação com a vivência

cotidiana dos alunos, especialmente no que se refere aos elementos da

problemática ambiental da cidade.

Os problemas de desenvolvimento e meio ambiente da cidade de Belém,

como se teve oportunidade de ressaltar nessa dissertação são variados. Atualmente,

a cidade passa por grandes mudanças manifestadas pelo surgimento de novos

condomínios, alto índice de criminalidade, pela ampliação da frota de veículos,

expansão de assentamentos precários, verticalização e reestruturação urbana.

Entender essa dinâmica não é possível sem o diálogo de saberes. Por isso, a escola

precisa promover um ensino integrado, capaz de envolver diferentes disciplinas na

intenção de esclarecer sua clientela e contribuir na formação de uma cidadania

coletiva, co-responsável, solidária, esclarecendo as reais causas da problemática

ambiental urbana.

O papel do professor nesse contexto é crucial. Sua contribuição em viabilizar

um ensino voltado à Educação Ambiental faz parte de sua co-responsabilidade,

embora tenha que vencer vários desafios, pois muitos destes profissionais não

possuem a formação apropriada para cumprir esse papel. Além disso, os próprios

Parâmetros Curriculares Nacionais nomearam o tema Meio Ambiente como

transversal, isto é, sua abordagem se faz de maneira esporádica nas escolas,

geralmente de maneira superficial.

Compreende-se, assim, a necessidade dos professores de Matemática se

aprimorar acerca da interação entre o saber matemático e a Educação Ambiental,

pois é fundamental garantir um novo rumo ao ensino da disciplina, torná-la

significativa aos “olhos” dos alunos, os quais são atores sociais presentes na cidade,

cujas atitudes e comportamentos são afetados pela formação recebida na educação

formal.

A partir da reflexão teórica e das informações adquiridas por meio da

pesquisa empírica foi possível atingir o objetivo geral desta dissertação, ou seja,

analisar o ensino da Matemática ministrado em sistema de ensino particular da

cidade de Belém, no âmbito da Pedagogia Ambiental. Ficou evidente que este

ensino ainda se pauta por uma visão tradicional e não se orienta de modo

expressivo pela linha da Pedagogia Ambiental. Encontra-se pouco articulado com a

Page 103: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

102

vivência dos alunos e a proposta de incluir o saber matemático na reflexão atinente

às questões relacionadas ao desenvolvimento e meio ambiente urbano de Belém.

Nesse sentido, a hipótese levantada nesta dissertação é reiterada como verdadeira.

Os objetivos Específicos também foram alcançados. Foi possível elucidar a

contextualização do ensino da Matemática no âmbito da Pedagogia Ambiental do

espaço urbano, demonstrando que o saber matemático pode ser empregado na

reflexão dos problemas ambientais, mediante estimativas, comparações,

quantificações e sensibilizando os alunos com informações de impacto esclarecedor.

Quanto ao objetivo de identificar como se encontra o ensino da Matemática

em sistema particular de ensino em Belém, a pesquisa empírica revelou a ênfase na

prática tradicional, caracterizada pela reduzida aplicação do saber matemático na

resolução e análise de problemas e questões relacionadas ao desenvolvimento e

meio ambiente urbano da capital paraense.

Acerca do objetivo de verificar a motivação dos alunos em relação ao ensino

da Matemática e sua aplicabilidade na vivência do meio urbano, constatou-se que

alguns deles reconhecem a relevância da disciplina, mas a maioria não entende o

que é “ensino significativo”, tem dificuldade em compreender os conteúdos e não

sabe explicar a utilidade do saber matemático nas reflexões sobre o

desenvolvimento e meio ambiente urbano.

O objetivo de propor estratégias de ensino da Matemática vinculadas à

Pedagogia Ambiental foi alcançado com sucesso mediante a apresentação de

alguns exemplos práticos e informações teóricas.

Em suma, a contribuição e relevância do presente estudo está em demonstrar

a importância da Matemática na interpretação e reflexão crítica do desenvolvimento

e meio ambiente urbano, justificando seu papel esclarecedor no âmbito da Educação

Ambiental, a partir da realização de uma pesquisa teórica e empírica, tendo por

referência uma instituição de ensino particular situada no contexto urbano de Belém.

Page 104: MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO ...

103

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APÊNDICE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO URBANO DA CIDADE DE

BELÉM: um estudo a partir do sistema particular de ensino

Você está sendo convidado (a) a participar do projeto de pesquisa acima

citado. O documento abaixo contém todas as informações necessárias sobre a

pesquisa que estamos fazendo. Sua colaboração neste estudo será de muita

importância para nós, mas se desistir a qualquer momento, isso não causará

nenhum prejuízo a você.

Eu, ___________________________, residente e domiciliado na

______________________, portador da Cédula de identidade, RG ____________ ,

e inscrito no CPF_________________ nascido (a) em _____ / _____ /_______ ,

abaixo assinado (a), concordo de livre e espontânea vontade em participar como

voluntário (a) do estudo “MATEMÁTICA E PEDAGOGIA AMBIENTAL NO ESPAÇO

URBANO DA CIDADE DE BELÉM: um estudo a partir do sistema particular de ensino.”

Estou ciente que:

I) A pesquisa objetiva analisar o ensino da Matemática ministrado em sistema de

ensino particular da cidade de Belém, no âmbito da Pedagogia Ambiental.

Particularmente, a pesquisa examinará a contextualização do ensino da Matemática

no âmbito da Pedagogia Ambiental do espaço urbano; identificará como se encontra

o ensino da Matemática em sistema particular de ensino situado em Belém; verificará

a motivação dos discentes em relação ao ensino da Matemática e sua aplicabilidade

na vivência do meio urbano.

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II) A opção metodológica consiste na utilização de um caminho de caráter qualitativo

por meio da pesquisa bibliográfica, que facilite o pesquisador, a análise e

aprofundamento do estudo. Os primeiros passos de pesquisa de campo concentram-

se na leitura do ambiente físico das escolas;

III) Os dados serão coletados nas comunidades através de entrevista;

IV) Não sou obrigado a responder as perguntas realizadas no questionário de avaliação;

V) A participação neste projeto não tem objetivo econômico, bem como não me causará

nenhum gasto com relação ao estudo;

VI) Tenho a liberdade de desistir ou de interromper a colaboração neste estudo no

momento em que desejar, sem necessidade de qualquer explicação;

VII) A minha participação neste projeto contribuirá para acrescentar à literatura dados

referentes ao tema, direcionando as ações voltadas para a promoção da educação

ambiental da comunidade e não causará nenhum risco;

VIII) Não receberei remuneração e nenhum tipo de recompensa nesta pesquisa, sendo

minha participação voluntária;

IX) Os resultados obtidos durante este ensaio serão mantidos em sigilo;

X) Concordo que os resultados sejam divulgados em publicações científicas, desde que

meus dados pessoais não sejam mencionados;

XI) Caso eu desejar, poderei pessoalmente tomar conhecimento dos resultados parciais

e finais desta pesquisa.

( ) Desejo conhecer os resultados desta pesquisa.

( ) Não desejo conhecer os resultados desta pesquisa.

Belém, de de 2011

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Declaro que obtive todas as informações necessárias, bem como todos os eventuais

esclarecimentos quanto às dúvidas por mim apresentadas.

( ) nome / ( ) Responsável ...................................................................................................

Testemunha 1 : _______________________________________________

Nome / RG / Telefone

Testemunha 2 : ___________________________________________________

Nome / RG / Telefone

Responsável pelo Projeto:

Carlos Jorge Paixão

PESQUISADOR RESPONSÁVEL

Telefone para contato: 91- 91287283 / 091- 3248.8914