Daniel Sampaio - Terapia Familiar

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    APIA FAMILIARIEL SAMPAIO E JOS GAMEIRO

    aborao de: Helena Silva Arajo

    stiana Bastos Maria Isabel Fazenda Manuela Fazenda Martins

    edio

    es Afrontamento

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    arl Whitaker

    edio: Maio 1985edio: Fevereiro 1992edio: Maro 1997edio: Setembro 1998

    ulo: Terapia Familiarores: Daniel Sampaio e Jos Gameiro

    aborao: Cristiana Bastos, Helena Silva Arajo, Manuela Fazendatins e Maria Isabel Fazenda985, Autores e Edies Afrontamento Edio: Edies Afrontamento / Rua deta Cabral, 859 / 4200 Porto Coleco: Biblioteca das Cincias do Homem.cologia, Psicanlise, Psiquiatria/8 N2 de edio: 233 ISBN: 972-36-0136-2

    sito legal: 53413/92 Impresso e acabamento: Rainho & Neves, Lda. / Santa

    ia da Feira

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    FCIO 2 EDIO

    co anos aps a publicao do nosso livro Terapia Familiar, a suaedio encontra-se esgotada.

    om satisfao que prefaciamos agora a 2 @*edio da obra, no s por nosecer de realar o facto, no habitual, de um livro partida mais destinado apblico especfico se ter vendido bem, mas tambm por neste momento a terapiailiar adquirir grande desenvolvimento entre ns, o que s por si justificanova edio.

    prefcio da edio original definamos como objectivos para esta obra aulgao da terapia familiar em Portugal e a possibilidade de oferecer aosapeutas em treino um texto que servisse de base para o

    estudo. Consideramos que estes dois propsitos se mantm actuais, sendo detacar os crescentes pedidos deformao que tm chegado Sociedade Portuguesa

    Terapia Familiar. No momento actual existem ncleos de terapeutas j commao completa ou em vias de concluso, em Lisboa, Porto e Coimbra, sendoscente o nmero de instituies que solicitam sensibilizao ou formaota rea.

    ndo em 1979 fundamos a Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar, em conjuntooutros tcnicos de Sade Mental, a nossa linha de actuao clnica estavatrada na terapia familiar numa

    ica sistmica. No decurso do nosso trabalho fomos verificando que estaspectiva poderia ser alargada a outros contextos, diferentes do familiar.

    ssim que nos ltimos anos temos desenvolvido novas reas de trabalho no campoinvestigao sistmica, de que destacaremos:

    a rea da Sade Mental, a investigao e actuao clnica no

    po do suicdio juvenil e perturbaes do comportamento alimentar, bem como aestigao epistemolgica na Psiquiatria.

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    no terreno da Clnica Geral Medicina Familiar, temos procurado desenvolver oino sistmico e a metodologia de interveno junto das famlias que acorremCentros de Sade.

    campo judicirio estamos a incentivar a interveno sistmica junto dobunal de Famlia de Lisboa, atravs de um nmero crescente

    tcnicos que solicita a formao na SPTF e do desenvolvimento do

    cesso de mediao familiar.

    a interveno na toxicomania, atravs de aces deformao e

    erviso nos centros de tratamento, nas perspectivas de terapia familiar comlias com doente toxicmano e de compreenso do sistema familiar nompanhamento individual do toxicodependente.

    livro posterior daremos detalhada informao sobre estes desenvolvimentos,ao prefaciarmos esta 2edio no queremos deixarde notar a evoluo e

    enso do conceito de terapia familiar.

    atar as famlias, modific-las de fora para dentro no actualmente oectivo fundamental. Cada agregado familiar possui um

    cionamento prprio e o papel do terapeuta o de construir com a famlia umtexto onde surja uma nova auto-organizao no disfuncional.

    novos desenvolvimentos da teoria geral dos sistemas em que as noes de

    do, aleatrio, nveis hierrquicos e complexidade permitiram dar um novotido a esta conceptualizao, trouxeram para a

    apia familiar a possibilidade de corrigir um certo determinismo

    que as famlias tinham cado enquanto nova causa de disfuno psicolgica.amlia passou a ser encarada como um dos nveis de anlise do indivduo, ade outros nveis, que vo do molecular at ao social.

    erapia familiar iniciou assim um movimento que a aproximou de uma viso dalidade em que mais facilmente se complexifica com

    ras formas de abordagem em que o indivduo o principal objecto.

    iscusso que trazemos para este prefcio pretende despertar o

    tor para uma perspectiva no redutora face terapia familiar, que por vezesdepreende do nosso livro. Em investigao cientfica cinco anos so muitopo e felizmente que muito mudou desde 1985.

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    cremos que o nosso livro continua a ter lugar junto das famlias que o leremos tcnicos que o estudarem.

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    AMLIAS E TERAPIA FAMILIAR

    tal ninho, tal passarinho

    ado popular portugus

    bel torcia as mos, num desespero:o sei o que hei-de fazer ( ... ) sinto que no vou aguentar ( ... )o meuido est pior da lcera, dizem que dos nervos ( ... ) o meu pai estormado e veio viver connosco, depois da minha me morrer ( ... ) sinto-

    esgotada, fui ao mdico e deu-me calmantes ( ... ) e agora o meu

    ho que no quer estudar e raramente est em casa! No sei o que hei-de fazer,qualquer coisa com ns todos que no est a correr bem!

    bel veio pedir ajuda para o seu filho Ricardo, de 15 anos, agora com

    iculdades escolares e problemas de relacionamento com a sua famlia.

    ser s isto?

    fcil fazer notar a Isabel que o problema do seu filho adolescente, emboraecedor de toda a ateno, estava interligado com um determinado momento daa da famlia Gonalves. Todo o grupo tinha deixado de ser capaz de resolverinho as dificuldades e pedia ajuda ao exterior.

    sa-se o mesmo com muitas outras famlias. Quando qualquer terapeuta pretende

    ervir num dado problema psicolgico a primeira coisa a fazer situar em queto estamos do ciclo vital da famlia em

    sto. Este ciclo constitudo pelos momentos mais significativos da vidailiar, considerada no seu conjunto, no qual existem zonas de

    ticular instabilidade, correspondentes a mudanas na organizao

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    famlia, por si ss geradoras de desequilbrios momentneos a que a famliade dar resposta, de modo a atingir uma nova organizao.

    amlia de Isabel Gonalves tinha at ao momento sido capaz de ultrapassar ass zonas problemticas: agora, a morte da me de Isabel, a reforma do pai, alescncia de Ricardo criaram um conjunto de novas dificuldades a que foicil dar resposta.

    famlias esto organizadas de um certo modo, mediante regras de funcionamentono podem ser mantidas rigidamente: por exemplo, a hora de deitar dos filhoser ser sucessivamente dilatada medida que eles crescem - que sentido terdar para a cama s 21 horas adolescentes de dezassete anos?

    as famlias passam tambm por crises regulares no seu processo deenvolvimento, progredindo por mudanas descontnuas (Hoffman, 1980),suindo em maior ou menor grau a capacidade de gerar novas estruturasanizativas e novos modos de funcionamento relacionados com as fases do seu

    lo vital.

    famlia tradicional ocidental, considera-se que as fases do ciclo vital defamlia so essencialmente as seguintes:

    nio de dois elementos para constituir uma nova famlia;ascimento dos filhos;ducao e crescimento dos filhos;dolescncia e sada de casa dos filhos;casal est de novo s;elhice e morte.

    stem muitas variaes, como evidente: h pessoas solteiras, casais semhos, famlias em que todos continuam a viver em conjunto. Mas no interessao que se passa agora, muitas vezes temos que ver como se processaram oslos vitais dos antepassados, ou se uma pessoa solteira o quer continuar a. E nesse sentido que a questo da famlia tem sempre um grande significadovida de cada um e em qualquer interveno teraputica.

    ey (1973) considera que o stress sobre a famlia mximo nos pontos densio de uma fase do ciclo vital para outra, justamente no momento em que opo familiar tenta uma mudana nos seus comportamentos para fazer face sas solicitaes. ento que o

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    portamento sintomtico pode emergir - nesta perspectiva o sintoma umatativa mal sucedida para atingir um novo equilbrio. A intervenoaputica a realizar deve conter em si suficiente intensidade para provocar umequilbrio transitrio que permita uma posterior organizao, geradora de umaa estrutura no disfuncional, apta a fazer face s novas situaes da vida. captulo V).

    pginas que se seguem o termofamlia designa um conjunto de elementoscionalmente ligados, compreendendo pelo menos trs geraes, mas no s: deto modo consideramos que fazem parte da famlia elementos no ligados poros biolgicos, mas que so significativos no contexto relacional doivduo, ou indivduos, que solicitam a nossa interveno. Assim, falaremos dalia nuclear tradicional (pais e filhos), da famlia extensa (famliargada com

    ias geraes) e de elementos significativos (amigos, professores, vizinhos,.).

    erapia familiar um mtodo psicoteraputico que utiliza como

    o de interveno sesses conjuntas com os elementos de uma famlia, entendidasentido lato atrs definido.

    vm desde j esclarecer o que procuraremos deixar claro ao longo deste livro:erapia familiar no uma terapia da famlia, mas com a

    lia, isto , diz respeito sobretudo a um modelo de trabalho familiar, noando nos seus propsitos adaptar famlias a uma definio pr-estabelecida.

    amlia em terapia familiar sistmica considerada um sistema, isto , umjunto de elementos ligados por um conjunto de relaes, em contnua relaoo exterior e mantendo o seu equilbrio ao longo de um processo deenvolvimento, percorrido atravs de estdios de evoluo diversificadosmpaio, 1984).

    erapeuta no pode considerar a famlia isoladamente. 0 grupo familiar deverelacionado com a comunidade que o rodeia, visto que uma famlia est emtnua relao com o meio ambiente. Escolhemos a famlia como unidade deerveno por ser mais fcil intervir junto dela do que numa comunidade ebm porque a famlia sem dvida uma unidade de vital e duradoura

    ortncia para o indivduo.

    erapia familiar processa-se atravs de encontros regulares de um

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    dois terapeutas com uma famlia que aceite este tipo de interveno, comoalharemos no captulo 111.

    famlia que procura a terapia um grupo familiar que de algum modo bloqueoueu processo de desenvolvimento, isto , que no consegue, por si prprio,ar alternativas que lhe possibilitem dar respostas s dificuldades do seutidiano. 0 terapeuta familiar um

    nte catalisador que atravs da sua aco vai provocar um desequilbrionsitrio na vida familiar, de modo a que o grupo familiar possa criar umaa estrutura de funcionamento e um novo modelo relacional.

    seu trabalho o terapeuta tem presente a funo principal da famlia, que afornecer meios de subsistncia aos seus elementos (no sentido econmico ectivo do termo), ao mesmo tempo que deve fazer face s tarefas deenvolvimento acima referidas e tambm a outras zonas de instabilidade quesam porventura aparecer (separaes, doenas, crises econmicas, cataclismos,

    .).

    erapeuta trabalha fundamentalmente segundo dois eixos:

    eixo vertical, ou transgeracional, em que se trabalham na sesso os mitos,is e funes caractersticos da famlia em terapia, bem como o nvel deonomia e diferenciao de cada elemento face sua famlia de origem (Cf.itulo lV);

    eixo horizontal, ou eixo do aqui e agora, que inclui o estudo

    sesso dos padres de interaco da famlia em terapia, bem como o

    o como o grupo familiar lida com as dificuldades da sua vida.

    es dois eixos teraputicos correspondem a agentes de stress horizontais eticais, na acepo de Carter (1980). Esta autora considera a existncia decorrente de ansiedade vertical, resultante das expectativas, rtulos eldades familiares herdadas das famlias de origem e outra correnteizontal, incluindo a ansiedade provocada pelo quotidiano actual da famlia.ter considera que o nvel de ansiedade da famlia no ponto de confluncia dosos horizontal e vertical dever

    avaliado se quisermos ter uma ideia do modo como a famlia vai lidar com aana na sua vida.

    erapia familiar tal como a praticamos no mbito da Sociedade Portuguesa deapia Familiar representa um novo olhar sobre o modo de intervir em sadetal. No se trata de reunir numa mesma sala

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    ivduos de uma famlia para obter mais informaes sobre o elemento

    nte. Nesta perspectiva, quando existe um elemento portador de um

    toma psicolgico ele deve ser tratado em sesses conjuntas com a sua

    lia e/ou elementos significativos do seu universo relacional (Sampaio,4). No concordamos tambm com o procedimento frequentemente utilizado emtas instituies de sade mental, em que parte da famlia atendida por umnico enquanto outro terapeuta se ocupa dos restantes. Consideramos que alia deve, no seu conjunto, assumir desde o incio a sua parte activa naapia, sendo necessrio que a iniciativa de mudana seja apenas catalisadao terapeuta. A nossa

    erincia mostra bem como se no se consegue em terapia individual ou familiaromprometimento da famlia na terapia, se obtm uma

    ana de curta durao.

    erapia familiar sistmica muito diferente da psicoterapia individualdicional, por razes que detalharemos, mas que desde j enunciamos:

    pistemologia radicalmente distinta: abandonado o modelo

    sal, unifactorial, substitudo por um deterininismo multifactorial, regidouma ptica sistmica;

    definio da patologia deixa de ser centrada num conflito intrapsquico oueito na estrutura psicolgica, para ser considerada relacionada com afuno do sistema em causa;

    objectivo da terapia no o de promover discernimentos sobre a vida de cadamas sim o de conseguir modificaes nos processos de comunicao e modelos

    interaco de modo a haver correco na

    funo do sistema;

    terapeuta familiar necessita de um treino especfico e prolongado, do qualparte integrante o estudo da sua relao com a prpria famlia.

    erapia deve realizar-se sempre que houver um ou dois terapeutas treinadoste tipo de interveno e uma famlia solicitando ajuda psicolgica para umseus elementos ou para o seu conjunto.

    empreendemos terapia familiar sempre que existe oposio de toda a famliamesmo de um seu elemento significativo, ou se a interveno nos solicitadauma autoridade exterior ao grupo familiar (polcia, tribunal). A terapiailiar exige uma tica rigorosa, respei-

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    do totalmente as caractersticas de uma famlia e a sua capacidade deoluo da crise.

    o julgamos que a terapia familiar possa resolver os problemas das famliastuguesas nem dos nossos servios de sade mental. Apenas queremos dar ahecer um modelo de trabalho e um quadro conceptual que achamos til e que seimposto por si prprio.

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    HISTRIA DA TERAPIA FAMILIAR

    Nascimento e evoluo do movimento da terapia familiar

    ovimento da Terapia Familiar nasceu nos anos cinquenta em

    ersos pontos dos Estados Unidos, mas as suas razes datam de pocas maisuadas.

    derick e Schrader (1981) consideram que a terapia familiar se

    ruturou como resposta a necessidades sociais: o aconselhamento familiar, ostros comunitrios e os centros de sade mental infantil, os modelos decoterapia breve.

    talvez uma assistente social, a conhecida Mary Richmond, a autora dameira descrio de uma interaco familiar, num caso publicado em 1908 e que

    atava a histria de uma viva com os seus quatro filhos. De ento para cto se avanou e recuou na interveno junto das famlias, sendo sobretudo atir dos anos sessenta que a terapia familiar ganhou corpo como modelo deestigao e de interveno no campo da sade mental.

    sua evoluo, o movimento de terapia familiar foi influenciado por diversostores:

    Influncia da psicanlise

    ensamento psicanaltico dominava as discusses e tomadas de posiontficas no incio do sculo e at aos anos quarenta. conhecida a posioFreud sobre o no ser conveniente para o analista

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    par-se de vrios elementos da mesma famlia. Durante a sua vida, Freud pareceapenas analisado um casal, o casal Strachey, curiosamente os autores daduo das suas obras para ingls. Diz Freud (1912,5): Quando se atinge o tratamento das relaes devo confessar-me embaraadoenho alis pouca esperana numa terapia individual de qualquer deles eando a resistncia do marido se junta da mulher os esforos no so

    tuosos e a terapia interrompida. Tommos em

    s qualquer coisa que nas condies existentes era impossvel levar a cabo.

    canalistas posteriores no tiveram, contudo, posies to radicais. Jung eer elaboraram teorias psicodinmicas mais relacionadas com o tecido social;o Rank deu mais ateno ao que se passava na sesso entre analista eiente, preocupando-se em limitar o tempo de interveno e com aspectosecficos da sua personalidade; Erich Fronun e sobretudo Harry Stack Sullivan47) desenvolveram novas dimenses da psicanlise; Sullivan preocupou-se com acoterapia da esquizofrenia e com as relaes precoces me-criana.

    tos dos terapeutas pioneiros em terapia familiar ou tiveram treino

    canaltico (Lidz, Bowen, Ackerman) ou foram influenciados pela psicanlise.

    qualquer forma, algo comeou lentamente a mudar nos anos

    quenta. A publicao da obra de Bateson e Ruesch Conununication: The socialrix of psychiatry (195 1), a progressiva ateno sobre a

    o entre os indivduos (interaco), a forrnulao da Teoria Geral dostemas nos anos sessenta por Bertalanffy, levaram ao aparecimento de

    novo paradigma, o paradigma sisttnico. Esta evoluo no campo da sadetal estava relacionada com alteraes significativas noutros ramos dosamento cientfico. Na Biologia o conceito mecanicista do organismo e doportamento era substitudo pela descrio do organismo como uma organizaoratificada, hierarquizada, cujo comportamento determinado num campo densaco por determinantes independentes, que vo da informao gentica at rutura de organizao e ao modo de comunicao relacional entre o organismo embiente (Guntem, 1982). Evolues semelhantes se do na Fsica, com oudo das relaes entre as partculas subatmicas, e na Matemtica, com aria dos tipos lgicos de Whitehead e Russell.

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    Orientao comunitria dos Servios de Sade Mental

    Servios de Sade Mental, na mesma poca, surgiram propostas de ligao unidade, no sentido de a prtica psiquitrica poder estar mais ligada aosblemas reais. Tambm a formao de diversos Centros de Sade Mental Infantilild Guidance Clinics) traduziu a necessidade de se poder dar apoio sanas com problemas, no s numa perspectiva individual mas tambm como formaresolver dificuldades familiares.

    bm a comunidade comeou a organizar servios de apoio s suas dificuldades,exemplo criando estruturas de aconselhamento conjugal funcionandoependentemente dos servios oficiais.

    Trabalhos pioneiros em terapia familiar

    investigaes iniciais neste campo centraram-se essencialmente volta daunicao normal e patolgica na famlia e nas relaes existentes entre

    lia e esquizofrenia. Broderick e Sclrader (1981) consideram os anos de2-61 como a dcada de fundao da terapia familiar, que se consubstanciou em2 com a criao da revista Famly Process. Os pioneiros foram diversosestigadores trabalhando de incio isoladamente em vrios pontos dos Estadosdos, mas que no fim dos anos cinquenta se comearam a contactar, trocando ass

    erincias. De entre os trabalhos mais significativos deste perodo,tacaremos:

    athan Ackerman, psiquiatra infantil, autor, em 1958, do livro Psychodynamicsamily life e fundador do Instituto que tem hoje o

    nome;

    hn Bell, professor de Psiquiatria em Worcester;yman Wynne, Murray Bowen e Carl Whitaker, que se destacaram pelas suaservaes pioneiras com famlias com um elemento esquizofrnico;

    grupo de Palo Alto, com Bateson, Haley, Weakland, Jackson e Satir, unido atir da citada obra do primeiro sobre comunicao;

    zormenyi-Nagy e seus colaboradores em Filadlfia.

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    anos sessenta caracterizaram-se pela troca de experincias dos diversosores, ao mesmo tempo que se avanava na conceptualizao de aspectos tericosando atingir uma compreenso da famlia.

    cada de setenta a fase de grande implantao da terapia familiar, nosados Unidos e na Europa. Multiplicaram-se os trabalhos cientficos sobre oa, cresceu vertiginosamente o nmero de tcnicos em formao e de famlias emapia. Nos anos iniciais desta fase houve um certo fanatismo, com excessivoase em aspectos tcnicos, em parte prejudicial consolidao do modelo; masde h cerca de dez anos que se assiste a um aprofundamento de conceitos e averificao de resultados que conduzem a terapia familiar a uma posioeira nas

    mas de interveno em sade mental. Trata-se afinal de uma evoluoelhante realizada noutras cincias e que parece imparvel, para desgosto deuns tcnicos, esclerosados nas suas posies, que precipitadamente adenaram nascena, quer no estrangeiro quer em

    tugal. Como curioso vermos agoraesses arautos do passado vestirem pressafarpela nova e falarem de sistemas!

    erapia familiar imps-se internacionalmente porque se trata de um modelo deerveno bem ligado a uma vida quotidiana das pessoas -

    cabo e ao resto a sua vida familiar - e por ser um mtodo de terapiaativamente breve e eficaz.

    aminho a percorrer ainda longo; cada vez se toma mais necessrio aprofundarceitos, verificar resultados, precisar indicaes. E sobretudo caminhar comoaqui: com o entusiasmo das famlias e a criatividade e vigor dos tcnicoss jovens.

    Histria da terapia familiar em portugal

    Portugal, o trabalho com famlias numa perspectiva teraputica remonta, tantonto sabemos, ao incio dos anos sessenta, em que um

    po de que faziam parte, entre outros, Eduardo Corteso e Guilherine Ferreirania as famlias dos doentes internados no Hospital Miguel

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    barda e trabalhava a famlia com o pressuposto de que o doente

    ia mais facilmentexeintegrado na comunidade se a famlia tambm participassetratamento.

    bm por essa altura Eduardo Corteso fez uma experincia de terapia de casalque a forma adoptada era a de grupos de casais.

    as experincias foram abandonadas no seu carcter regular e

    nos anos setenta se inicia a organizao da Terapia Familiar em Portugal.

    1977 Pina Prata programa para Portugal o 12 curso intensivo

    Terapia Familiar dirigido por Pierre Fontaine, da Faculdade de Medicina daversidade de Lovaina, a que se seguem mais dois cursos

    igidos por outros terapeutas belgas.

    Novembro de 1979 criada a Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar de quescios fundadores Daniel Sampaio, Helena Silva Ara jo, Emlia Ressanocia, Jos Gameiro, Jos Maria Neves Cardoso, Jos Manuel Almeida Costa, Mariabel Fazenda e Maria de Jesus Assis Camilo.

    a Sociedade tem por objectivo no s incentivar a terapia familiar entre nsos seus campos de investigao e de actuao psicolgicaas tambm contribuir para a definio dos padres de treino e de

    rccio profissional dos terapeutas familiares.

    ormao dos seus fundadores, todos com treino grupo-analtico, tem sido feitaestrangeiro e com a vinda regular at ns de terapeutas famliareserimentados que lhes fazem superviso. Assim, frequentmos cursos em Paloo, Califrnia, no Instituto de Terapia Familiar de Roma (Prof. Maurizioolfi) e trabalhmos com o Prof.

    l Whitaker em Madison, E.U.A.

    Abril de 1980 realizou~se entre ns o 1 Encontro de Terapia Familiarrdenado por Maurizio Andolfi.

    actividades formativas da Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar iniciaram-em Janeiro de 1981, com a realizao de dois workshops intensivos desibilizao Terapia Familiar.

    Janeiro de 1982 fundou-se o Instituto de Terapia Familiar, cons-

    udo pelos membros fundadores da Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar e

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    icado prtica da Terapia Familiar em privado e

    mao de tcnicos de sade mental em Terapia Familiar.

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    bm em Janeiro de 1982 se inicia o 12 Curso de Formao em

    apia Familiar, com a durao de 4 anos.

    vel institucional a Terapia Familiar foi-se alargando ao longo destesimos cinco anos.

    1979 criado o V Centro de Terapia Familiar estatal no mbito do Centro deudos e Profilaxia da Droga (Centro de Lisboa). dirigido desde o seu incioJos Manuel Almeida Costa.

    Hospital de Santa Maria desde 1977 que eram feitas abordagens familiares emlias com toxicmanos, sobre o que foi publicado, em

    ubro de 1978, o livro Droga, Pais e Filhos (Daniel Sampaio, Jos Gameiro,ia de Jesus Camilo e Maria Isabel Fazenda).

    artir de 1979 comeam terapias familiares quer de doentes internados empital de Dia (equipa do Dr. Joo Frana de Sousa) quer de doentes desulta, principalmente adolescentes.

    bm no Centro de Sade Mental Infantil de Lisboa foram iniciadas terapiasiliares em 1981, continuando o trabalho com famlias que existiu desde a suadao pelo Dr. Joo dos Santos, embora anteriormente mais numa perspectiva deda compreenso do caso clnico

    antil do que propriamente como mtodo teraputico.

    er dizer-se que hoje, em 1984, a Terapia Familiar est implantada emtugal como mtodo teraputico autnomo e reconhecido e estando j numa fasedilogo e troca com outras formas de terapia psicolgica que se tem reveladoto benfica, j que para ns a melhoria de

    lquer situao clnica passa pela existncia de vrias alternativasaputicas e a escolha da utilizada s poder ser adequadamente feita se

    tcnicos de sade mental mantiverem abertas as vias de comunicao e osentes no servirem de alvos de competies disfuncionantes.

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    ROCESSO TERAPUTICO EM TERAPIA FAMILIAR

    preciso encontrar outras formas de olhar para as coisas

    .

    rocesso teraputico em Terapia Familiar comea pelo pedido de terapia feitoa famlia ou por um dos seus membros. Esta fase inicial, que pode parecer deativa importncia, para ns fundamental, pelo que implica de recolha deormao e da forma de a tratar.

    itualmente o primeiro contacto feito telefonicamente. Para isto existe notituto de Terapia Familiar uma ficha de pedido de terapia que preenchidaa recepcionista na altura do telefonema. Para alm dos dados geogrficos dalia (nome, morada, telefone) registada a

    posio da famlia nuclear (entendida pelo grupo de pessoas que vivem emjunto), idades, situao escolar e profissional. Tambm para ns importantem envia a famlia, visto no ser indiferente, do ponto de vista relacional, ocuito que a famlia faz at chegar ao Centro.

    segunda parte do pedido perguntado ao membro que o faz: qual o problema?os ento uma descrio individual do sistema/problema que traz a famlia apia. Esta primeira descrio do problema indica-nos apenas o que o membrotelefona pensa dele e aproxima-se da apresentao habitual dos problemascolgicos em consulta individual.

    mplo: telefona-nos uma me de um adolescente dizendo-nos que o filho sega, chega a casa de madrugada, responde mal aos pais, at a sempre tinhao bom filho e bom estudante. -lhe perguntado qual

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    ua ideia sobre o problema e a me diz-nos que so as ms companhias que oviam, que no sabe o que h-de fazer, que j apanhou no quarto do jovem drogaartas da namorada a falar de fumos. E o pai o que pensa?, perguntamos. 0, coitado, trabalha muito, est pouco em ca-

    j falou com ele e no conseguiu nada, agora at nem lhe fala.

    a pequena descrio de um problema vai-nos permitir fornular algumasteses det. o, que na primeira sesso sero confirmadas oundonadas.,-*..

    ltima paliteo,@@ @*d'p -o de terapia inforina-nos de eventuais

    res e se tratamentos us res tados.

    s a ela @ra o do pedido, @assamos fase seguinte que consiste no seuudo, , tlha de te,rape-'tas e seu modo de trabalhar.

    nformao recolhida a partir da me Retomando o

    os por alg

    jovem permit umas hipteses relacionais sobre a famlia.omportamento toxicmano do jovem (de que no sabemos a gravi-

    e) insere-se numa dinmica familiar repetitiva nestas situaes: pai ausente,

    preocupada e contiroladora, filho em busca provvel de autonomia. Estercuito familiar, j por ns descrito anteriormente (Droga, Pais e Filhos -paio, Assis Camilo, Fazenda e Gameiro), leva-nos a pensar que o comportamentoviante do rapaz possa estar relacionado (mas no causado) por uma relaojugal disfuncionante. A me contou-nos que j se deu o corte de relaesre o pai e o

    ho, o que significa que toda a informao familiar passa por ela.

    struda esta primeira hiptese, elaborada a partir da inforrnao do pedido eexperincia anterior dos terapeutas, passa-se fase do projecto da primeiraso. A famlia ir ser recebida por um ou dois terapeutas? Neste ltimo caso

    s vo funcionar em co-terapia ou vai estar um com a famlia e o outro emerviso? Quem deve vir priimeira sesso?

    alelamente ao processo teraputico importante descrever o

    tting teraputico em Terapia Familiar.

    ala de terapia familiar deve ser ampla, com boa luz, mobilada sobriamente mas

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    ser assptica, cadeiras confortveis mas que no amoleam. Deve ter-seconta que muitas vezes vm crianas s sesses, pelo que deve ter objectosicos (no s brinquedos) que possam permitir brincar. A sala no deve terectos que se possam

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    tir facilmente, de fon-na apermitir famlia movimentar-se livremente, semeios. Aprendemos com Carl Whitaker a usar batacas. difcil descrev-las,so instrumentos que se assemelham aos que so

    dos para jogar basebalI, todas cobertas de espuma de modo que se

    sa bater sem magoar. Ao longo da descrio do processo teraputicomplificaremos a sua utilizao.

    ala de terapia est tambm provida de um espelho unidireccional. Trata-se devidro coberto de uma pelcula especial que permite observar a sesso de umara sala contgua sem que a famlia sinta e veja o observador. Podemos ou nomar e gravar a sesso em videotape para posteriormente podermos recordar aso e sobretudo partilh-la com colegas que possam ter uma nova viso damica familiar e da nossa actuao teraputica.

    egisto das sesses pode tambm ter objectivos de formao e

    ntualmente permitir famlia rever-se numa sesso anterior, se isso forsiderado importante pelos terapeutas.

    e setting teraputico descrito famlia no incio da primeira sesso,do pedida autorizao formal para poder filmar e comuni-

    a a utilizao posterior das fitas.

    quipa de terapeutas ter de pensar como ir agir com a famlia e de

    forma esta ir interagir. Habitualmente usamos a co-terapia com dois

    apeutas com igual nvel de experincia, o que nos vai permitir maiorerdade de actuao. A presena de dois terapeutas na sala ir possibilitar aca de papis perante a famlia e uma maior criatividade na sesso. Isto ticularmente importante em famlias com sintomas graves em que um dosapeutas pode ser como que uma rede do outro que se envolve

    s com a famlia. Napier e Whitaker (1980) falam da terapia familiar

    o uma interveno cirrgica com dois cirurgies: enquanto um abre

    az sangrar, o outro limpa o sangue e faz transfuses se for necessrio.

    escolha dos terapeutas, quando trabalhamos em equipa (Instituto de Terapiailiar), existem factores pessoais que tambm so ponderados. No iferente para nenhum terapeuta o tipo de famlia com

    vai trabalhar. Haver alguns que se sintam mais -vontade com

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    lias com adolescentes, outros com casais. No nos parece que um

    apeuta que no tenha filhos possa trabalhar com famlias em que os

    hos so parte importante ou em que os sintomas neles estejam locali-

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    os. Um terapeuta que viva uma relao conjugal que esteja a atravessar

    crise ter nessa altura maior dificuldade em fazer terapia de casal. Nestauao, por exemplo, ser de aconselhar a presena de um

    terapeuta que diminua os factores contratransferenciais negativos.

    bm na escolha do par teraputico os factores relacionais so influentes.terapeutas quando trabalham em equipa tm conflitos, paixes, dios, queem ser actuados na terapia. Se um determinado par pode estar bem numa poca,e atravessar uma crise noutra e

    e ter a coragem de discutir as dificuldades e eventualmente separar-seporariamente. A co-terapia uma relao de casal com a vantagem de, acabadaesso, cada um ir para sua casa, mas com a desvantagem de no dormiremtos.

    s todos estes passos preparatrios, marca-se a sesso. A marcao unicada telefonicamente, acompanhada da indicao de quem deve vir sesso.i podero surgir dificuldades. Retomemos o exemplo dado anteriormente. Quandoefonmos me e lhe pedimos que viessem os trs primeira sesso foi-noso que isso seria impossvel.ai no viria de certeza, no s porque est sempre muito atarefado, comote momento no fala com o filho e no quer saber dele para nada. Est a ver,Doutor, a minha situao, no posso obrig-lo, eu

    ro tratar o meu filho, mas acho que o pai tem toda a razo.

    ciamos aqui o que Whitaker chama a Batalha pela Estrutura, que tambmluta pelo poder dentro do sistema teraputico. Quem define as regras doo? A famlia ou ns? Deve ou no pr-se em causa o estereotipo do terapeutanzinho, disponvel, pronto a aceitar os

    blemas da forma como lhe so postos sem tentar redefini-los? Esta fase cial para o futuro da terapia, pois a experincia mostra-nos que mais valecomear um processo teraputico do que inici-lo coxo.

    o insistimos junto da me na importncia da presena do pai e podemosntualmente pedir para falar directamente com ele. Em

    nde parte destas situaes esta dificuldade inicial tem mais a ver com

    embro da famlia que est em contacto connosco do que com o suposto membroente. No exemplo que temos vindo a dar, a me queria por um

    o proteger o pai, mas por outro receava que a presena dele a fizesse perdereu papel de dar cartas na famlia.

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    @*sesso

    rimeira sesso em Terapia Familiar pode ser comparada ao primeiro encontrore duas pessoas que se supe irem continuar uma relao.

    terapeutas recebem a famlia tal como acolhemos algum que pela primeira vezhecemos. Aps a apresentao mtua os terapeutas descrevem o settingaputico e iniciam aquilo a que Jay Haley (1976) denomina a fase social dameira entrevista. Trocam-se impresses, brinca-se com as crianas se elaso presentes, cria-se um ambiente

    fortvel e distendido.

    nosso modelo de interveno, na primeira entrevista deixada poucaciativa famlia. Assumimos claramente que quem dirige as

    raes somos ns, fazendo perguntas, provocando interaces, sugerindo

    ividades na sesso. Optamos normalmente por interpelar em primeiro lugar o. Em Portugal e na cultura ocidental usual a figura paterna ser a mais

    ortante socialmente e tentamos numa primeira fase respeitar essa

    ma.

    ergunta inicial pode ser colocada de mltiplas formas. Diga-nos * que pensasua famlia - a forna habitual. Quase invariavelmente * resposta dadatermos de sintomas ou- preocupaes que trazem a famlia terapia. ortante realar que no indiferente o modo de

    guntar em Terapia Familiar. Se queremos desde o incio redefinir oblema, nas nossas perguntas deve estar implcita a importncia da estruturafamlia e da sua relao com os problemas apresentados.

    timos do pressuposto de que todas as famlias que nos procuram j tentaramolver os problemas que nos trazem e que foi por essa

    acidade de transformao e resoluo ter sido bloqueada que recor-

    am aos tcnicos. No se trata pois de resolver sintomas, mas sim de devol-

    famlia a sua capacidade de evoluo e de ultrapassagem da crise.

    sar da resposta habitual da famlia ser em ternos de sintomas, insistimos naia que cada um tem da famlia - qual a estrutura e

    retudo qual a histria da famlia?

    uesto inicial posta sucessivamente a todos os membros presentes, sendo o

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    imo habitualmente a me. A colocao da me em ltimo

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    ar poder parecer estranha, mas pensamos que quase sempre o mem-

    mais poderoso e tambm aquele que mais informao nos ir dar. Por vezes cil respeitar esta ordem porque as pessoas tentam falar umas

    cima das outras, obrigando-nos a serfirmes naconduo da entrevista.

    omemos o exemplo que temos vindo a dar. No incio da primeira entrevistaormos deliberadamente a dificuldade que tinha sido posta pela me sobre asena do pai, notando-a apenas pela afirmao da importncia de que estejamos. 0 que que o pai pensa da famlia? uma famlia em que tudo corria bem altura em que soubemos que o

    lo se drogava, fumava e no quer deixar. Insistimos: diga-nos como a sualia. A esta segunda interpelao o pai conta-nos a histria

    uela famlia, a sua vida de militar sempre fora, de como a me sempre se

    rificou e do seu objectivo de educar o filho o melhor possvel e fazer delehomenzinho. Voltaremos a esta histria mais tarde, mas para j importantear que na primeira entrevista devemos ficar com uma

    tria do problema, mas, talvez mais importante, com a histria da famlia.

    ida de uma famlia um longo repertrio de acontecimentos, mortes,cimentos, sentimentos de dio e amor, que abrange trs ou

    tro geraes e vrios contextos histrico-scio-culturais. Do ponto de vistastemolgico diferente relacionar um deterninado problema com a histria doivduo que o apresenta ou inseri-lo num contexto

    s alargado em que esse problema adquire uma dimenso transgeracional e nospermitir uma compreenso de grande angular.

    das dificuldades da primeira entrevista a aprendizagem da linguagem dalia. No indiferente a origem e o estatuto scio-

    ltural do terapeuta, os seus valores e a sua forma de estar na vida. Jervmos terapeutas familiares experimentando grandes dificuldades emtrarem na famlia por barreiras culturais. 0 terapeuta deve captaridamente a forma existencial da famlia e procurar acompanh-la, sem perder

    iamente a sua cultura prpria. Recordamos uma primeira sesso de uma terapiacasal em que o marido tinha tido uma relao extra-conjugal, e de a terapeutaperguntado mulher o que que sentia do affaire do marido e ela terpondido: 0 que isso, Si'- Dr*?

    rizio Andolfi (198 1) diz: Um terapeuta familiar tem de aprender a entrar nodo da famlia, adaptando a sua linguagem, estilo pessoal

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    xperincias s pessoas com quem est a lidar. Ele tem tambm de

    peitar as regras familiares e ver a realidade e as necessidades da famliasua rede social alargada.

    nosso modelo, aps colhermos a histria da famlia, preocupan-io-nos em saberpouco mais da histria do problema. Quando comeou, qual a opinio que cadabro tem dele e o que j foi feito para resolv-lo.

    aulo tinha comeado a fumar marijuana e haxixe h cerca denos, mas os pais s descobriram h 2 meses. 0 Paulo no achava

    ativas essas experiencias, porque no lhe faziam mal e toda a malta fumava.ha havido urna quebra de rendimento escolar que o levou a

    regar-se e a estudar noite. Sentia isto como positivo pois tinha maisheiro e dependia menos dos pais. S queria era poder sair de casa e fazer uma

    a independente.

    ai do Paulo tinha ficado surpreendido com o que estava a acontecer. Tinhaido uma conversa entre os dois, mas o filho tinha-lhe dito que ele no sabiaa da vida e sentia que no havia mais nada a falar

    le cortou relaes com o filho.

    e tinha escondido ao pai a situao at poder, porque estava convencida queai poria o filho fora de casa e ela ia sofrer muito com isso.

    para ns evidente que a comunicao entre os membros da famlia estava,o cortada, pelo menos curto-circuitada. Atravs do comportamento do filho atinha reforado o seu poder na famlia, o pai estava cada vez maisifrico e o Paulo tudo fazia para manter a situa o.

    fim da primeira entrevista os terapeutas tm uma primeira viso da famlia efirrnam ou desconfirmam a hiptese inicial. A ltima fase da primeira sessoque poderemos chamar a fase do contrato. A famlia inquirida da suaponibilidade para voltar e pode mesmo ser feito um acordo para x sesses. bm a altura em que a famlia pe as

    guntas habituais em terapia psicolgica. Acham que ele se cura? 0 que que

    emos fazer? No seria melhor falar com ele sozinho?

    amlia tenta repor o problema do mesmo modo que inicialmente o

    . 0 sintoma o mais importante, tudo corria bem at ele aparecer.

    fecho da primeira sesso poder ser feito algum comentrio que

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    deixe a famlia desapoiada e desapontada. Por vezes as famlias

    estem uma enorme quantidade de energia na vinda primeira sesso e poderoar frustradas se os terapeutas no comentam nada do que foi dito ebalhado.

    tras situaes, logo na primeira sesso os terapeutas podem ser

    ivos no sentido de sugerirem tarefas prticas famlia. Fala-se ento descrio, tal como numa receita mdica. Esta prescrio pode ser

    itiva, isto , faam qualquer coisa, ou negativa, deixem tudo como

    , subentendendo que a mudana perigosa.

    todos os sistemas vivos e abertos como a famlia a tendncia homeosttica emuras de crise maior que a tendncia transforma-

    a, pelo que um af excessivo dos terapeutas em querer mudar tudo depressae levar a uma maior rigidificao da famlia. Nestas situa es pode serortante uma aliana temporria e estratgica com a componente homeosttica dotema familiar. um pouco como se comunicssemos famlia: no se assustemvamos operar, mas devagar e com pouca hemorragia.

    rescrio positiva, na maior parte dos casos de tarefas, tem um efeitoruturante na famlia. Por exemplo, na primeira sesso em que a histriaela aos filhos factos at a desconhecidos, poderemos sugerir famliaquetinue em casaafalardas geraes anteriores. Acreditamos que numa famlia ortante a lenda dela prpria, e que o papel que habitualmente tm os avs detadores de histrias pode ser retomado

    os pais na poca em que esto em crise.

    ssificao de prescries por Maurizio Andolfi (1981):

    Prescries reestruturantes

    Contra-sistmicas (usadas para contrastar directamente a homeos-

    ia do sistema familiar) h) Prescries de contexto (usadas para estabelecer

    manter um

    texto teraputico) c) Prescries de deslocamento (usadas para deslocarificialmente

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    roblema do doente identificado para outro membro da famlia, ou para uma novatomatologia) d) Prescries de reestruturao sistmica (usadas parastruturar

    res de interaco pr-existentes, utilizando elementos do sistema) e)scries de reforo (usadas para reforar tendncias que so

    ivas no sistema familiar, e que so capazes de promover mudanas) f)scries de utilizao do sistema (prescries de ataque e de

    ana)

    Prescries paradoxais

    Prescrio do sintoma (usada para descrever o comportamento

    turbado) b) Prescrio de regras (usadas para solicitar a participao de

    a

    amlia, atravs da prescrio de regras peculiares ao sistema familiar).

    Prescries metafricas

    egunda sesso habitualmente marcada para 15 dias depois. Pensamos que esteervalo permite famlia elaborar a primeira entrevista e decidirmamente se quer voltar.

    este intervalo entre o primeiro e o segundo encontros que a maior

    te dos abandonos em Terapia Familiar se do. Salvador Minuchin (1974 ) falaoining - fase de reunio com a famlia - para descrever o processo maisortante da primeira sesso. Quando o terapeuta falha esta fase, sendoasiado invasivo ou ficando muito distante, a famlia no volta. Mas, como emas as terapias, os factores contra-transf-

    ciais do terapeuta so importantes. Quantas vezes tivemos aexpenencia de noejarmos que uma determinada famlia volte porque Chata, agressiva,sinteressante e depois de uma reflexo mais profunda chegamos conclusonos tocou em qualquer coisa de pessoal.

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    lhes permite sentirem-se ligados uns aos outros, ficando por satisfazer ass necessidades fusionais.

    ta fase da terapia importante fazer aparecer luz as alianas e

    igaes que eventualmente existam. Estas disfunes criam conflitos ereiras compreenso e ao conhecimento de cada membro da famlia.

    exemplo da famlia Silva existe uma ntida aliana entre a me e

    ilho, no permitindo o acesso deste ao pai e vice-versa.

    possvel, durante a fase de recolha da histria da famlia, ficarmos a sabero pai, na sua vida de militar, tinha sido mobilizado vrias vezes paraica e tinha conhecido o Paulo s quando este tinha 2 anos. A me

    ara o filho sozinha e provavelmente estabelecera uma relao altamente

    ional com ele na infncia, em que o pai no foi capaz ou no quis introduzir-Ele nunca aceitou o pai, diz a me, em pequenino fugia dele e tinha medondo ele chegava a casa.

    ta fase da sesso o pai emocionara-se discretamente, o que era contraditrioa aparente frieza no relacionamento com o filho, o que nos levou a pensaro desejo de se entenderem existia, ainda que latente. A me provavelmenteha posto na relao com o filho um

    estimento demasiado, como compensao da sua frustrao na rela-

    conjugal, precocemente amputada com a mobilizao do marido.

    terapeutas na sua tcnica de reestiruturao desta famlia tentaram nocio, sem xito, pr o pai e o filho a falarem na sesso. Cada vez que o paiinterpelado para falar do filho a me interrompia, acrescentandoormaes, como que a dizer-nos que ela que sabia da vida do filho e tinha ovilgio da relao com ele.

    a interaco familiar repetitiva levou-nos a decidir activar a fam-

    provocando comportamentos. Face interrupo constante da me, um dosapeutas convidou-a a ir para trs do espelho acompanhando-a, enquanto outro

    ou com o pai e o filho e convidou-os a conversar.

    ilogo estabeleceu-se e as posies radicalizaram~se: o pai dizendo que eleha de abandonar a droga e o Paulo retorquindo que os fumos

    faziam mal e afirmando que continuaria. 0 terapeuta presente constatou queposies eram irredutveis e provocou-os, dizendo que a nica hiptese eraarem ao brao de ferro para verem quem tinha mais fora. Colocou uma mesa

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    meio dos dois e ficou a observar. Foi

    dente a tenso e simultaneamente o prazer do jogo. Depois deu uma

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    taca a cada um e afastou-se. Assistiu ento com emoo a uma luta

    roz entre um pai e um filho que h anos se degladiavam, sem nunca

    em tido a coragem de brincar luta.

    ntroduo do jogo nesta fase da terapia pode ser decisiva para desbloquearses que o verbal no consegue.

    gamos que um dos erros em que os terapeutas caem frequentemente acreditarema palavra resolve tudo, no sendo eles prprios capazes de brincar,

    roduzindo o simblico atravs da aco.

    ante o jogo, que se passava na sala de terapia, o outro terapeuta continuavaesso com a me, atrs do espelho unidireccional. A senhora, na fase inicial,viu que pai e filho iriam comear a discutir

    lentamente, para depois, quando observava a brincadeira, a desqualificar,endo que era sporque o terapeuta os forara a fazer aquilo que o faziam. Lcasa iria continuar tudo na mesma e o Paulo drogar-se-ia cada vez mais.

    hegamos com este exemplo a outra regra importante da fase intermdia daapia que o suporte afectivo aos membros que so mais postos em causa pelocesso teraputico. evidente neste exemplo que a me sentiu o seu poder nalia ameaado pela fantasia que fez do futuro entendimento entre pai e filho.ela famlia tinha-se estruturado de modo que o poder da me estava em ntimaao com o no

    endimento pai-filho. A sua ansiedade atrs do espelho mostrava-nos o seueio. 0 terapeuta apoiou-a, vincando a importncia da sua

    sena ali e reforando o seu papel na famlia.

    ra das tcnicas utilizadas nesta fase da terapia a utilizao do humor.ndo o conhecimento com a famliaj existe e est estruturado

    s terapeutas se sentem vontade e tm humor, podem e devem utiliz-

    . 0 humor pode ajudar a lidar com situaes de tenso e permitir famliaar um contexto mais aberto na sesso, que pode depois ser

    nsportado para o seu ambiente natural. A utilizao do humor prende-

    com a utilizao das metforas, que em Terapia Familiar so extremamenteis. Se por exemplo na famlia o futebol um assunto de interesse frequente,erapeuta pode exemplificar algumas interaces habituais do adolescente compais, quando estes no conseguem chegar a acordo na forma de lidar com oshos, utilizando um exemplo futebolstico,

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    mplo: numa famlia com os pais separados, com um filho adoles-

    te de 17 anos que vivia com a me, o rapaz explorava sistematicamente oentendimento dos pais para conseguir o que queria. Pedia me para sair te, esta no autorizava e ele telefonava ao pai, que sem

    guntar a opinio da me dizia que sim.

    ta famlia, aos domingos, pai e filho iam ao futebol e interessa-

    -se muito por todos os aspectos relacionados com este desporto.

    erapeuta para mostrar o conflito disse que o filho e os pais, nesta poca daa (adolescncia), eram como duas equipas de futebol num

    o de campeonato a tentarem desesperadamente ganhar, mas que no fim do jogojantar juntas. E continuando a explorar a metfora

    parou o adolescente a um avanado que tenta explorar o desentendi-

    to dos defesas centrais da equipa adversria para penetrar na grande rea ecar golos. Os pais estavam a actuar como defesas que no coordenam o jogo exam penetrar o avanado contrrio.

    amlia percebe a metfora e pode continuar a explor~la durante toda a sessoando dos defesas laterais, de passes em profundidade, offisides, intervalosjogo, estgios antes do jogo, etc.

    vez introduzida na sesso a metfora pode ser utilizada e

    lorada indefinidamente.

    erapeuta familiar nas sesses

    Terapia Familiar, tal como a concebemos, o papel do terapeuta e o seu modo dear com as famlias adquire uma importncia que provavelmente idntica aos os outros modelos de terapia, mas que habitualmente estranho para quemest familiarizado com esta

    ma de interveno.

    samos que todos estamos mais ou menos impregnados de ideais teraputicos quechegam do modo de pensar psicanaltico em que a distncia, o controlo datra-transferncia, a camuflagem das fantasias pessoais do terapeuta soores que esto directamente relacionados com a eficcia da terapia.

    ndo se trabalha com famlias a tcnica fica muitas vezes em

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    undo plano, isto , o terapeuta parte para a sesso disponvel para o

    acontea e liberta a sua criatividade e a sua loucura, tentando contagiar alia. Acreditamos que as famlias disfuncionantes so famlias poucoativas, em que as partes loucas esto camufladas ou

    tradas num s membro.

    erapeuta, ao utilizar o seu self de uma forma filtrada, partilha com alia fantasias que teve ou tem e que podem actuar como

    alisadoras de fantasias da famlia.

    a um de ns tem uma famlia e um modelo de famlia que, quer queiramos ou, est sempre presente nas sesses. Pensamos que este modelo familiar muitos intenso que o modelo individual de cada

    soa e que nas terapias individuais os aspectos tcnicos aparecem como maisortantes porque a modelizao menor.

    mplo: numa terapia de casal em que o problema era uma crise

    impotncia do marido a que a mulher tinha reagido muito negativamentelongando as dificuldades sexuais do casal, o terapeuta, na

    unda sesso, eraque o casal discutia aberta e agressivamente acusando-seuamente, interrompeu o dilogo e disse que tinha desligado do que se estavaa passar e imaginara-se com a sua mulher no meio de

    ilha deserta em que a regra fosse proibido fazer amor - quem transgredirta para a cidade.

    a fantasia que comunicada ao casal muda o contexto de uma

    so. 0 absurdo da imaginao aparece em contraponto ao absurdo da interacojugal, em que a energia sexual tinha sido canalizada da cama para a sala. 0apeuta oferece-se como catalisador e provocador e partilha a sua experinciaencial com os clientes.

    e trabalho teraputico evidentemente muito mais arriscado do que na

    erveno mais tcnica, mais codificada, mais estereotipada. Tal

    o no trapzio, em que o trabalho deve ser feito com rede, a nossa seguranae ser um co-terapeuta que aparea como mais seguro, menos louco e queteja a famlia quando ela est a ser provocada.

    retomemos o exemplo que temos vindo a dar da famlia do Paulo.

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    fim da sesso em que o pai e o filho se envolveram decidimos

    tar que o jogo continuasse em casa. Prescrevemos famlia que duas vezes porana, antes de jantar, lutassem com as batacas (que

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    aram para casa) com a assistncia da me, que a seguir deveria preparar umtisco para o jantar.

    terapeutas tentaram prolongar o contexto da sesso fora dela, contrariandoim a previso da me. 0 papel desta reforado atravs da funo nutrientenaquela famlia era a dela. Era como se sim-

    icamente pai e filho tivessem um espao prprio, mas depois se

    ontrassem os trs novamente.

    amlia volta na sesso seguinte, com a me mais triste e comeando por noser que tudo estava na mesma, o Paulo continuava a chegar a

    a de madrugada e a drogar-se. Olhamos um para o outro como se dissssemos:re me, est a passar um mau bocado, preciso estar pr ximo dela. 0 pai e olo evidenciavam boa disposio. Ento, divertiram-se?, perguntamos. No era

    ciso esperar a resposta.

    s depressa do que supnhamos tnhamos chegado a uma fase

    cial da terapia. A me tinha perdido poder e no o queria admitir. Eraessrio intervir rapidamente seno a famlia no suportaria a crise.

    istema estava a balanar. ramos uma ameaa. A patologia tinha-se deslocadoa a me. 0 pai e o Paulo estavam apaixonados. Porque que naquela famliaelao entre dois exclua sempre o terceiro?

    preciso ir gerao atrs para compreender. Retomamos a

    lorao das famlias de origem da primeira sesso. Primeiro a me.

    ha nascido numa famlia rural do centro do pas, quatro filhos, pobres.balhadores rurais, pai e me mal ganhavam para dar de comer s crianas, masm muito unidos. noite juntavam-se volta do fogo de cho e rezavam emjunto. A me tinha uma bondade que era recor-

    a agora pela D. Irene com lgrimas nos olhos. 0 Sr. Joo nunca tinha bebido,o tantos homens da aldeia faziam, e chegava sempre a casa

    oras. Um dia a D. Irene veio para a cidade procura de melhor trabalho e foivir para uma casa de Lisboa, onde comeou a namorar com o Alfredo.

    amlia de origem da me era muito aglutinada, uma famlia em que os conflitoseram importantes. A D. Irene tinha vivido num banho

    amor, sem experincia de separaes.

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    ndo conheceu o Alfredo este estava a cumprir o servio militar num quartel deboa. Verem-se e amarem-se foi obra de um momento .

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    sados seis meses casaram e arranjaram uma casa. 0 Alfredo no quis que ane continuasse atrabalhare arranjou um biscate para aumentar o magroenado de soldado. A Irene ficou grvida, mas trs meses antes de o Paulocer o marido foi mobilizado e partiu para Angola. E a Irene ficou com um bbm-nascido e sem apoio da sua famlia. Pensou em voltar para a terra com olo espera do Alfredo, mas l a vida tambm era difcil. Ficou. 0 marido s

    tou dois anos depois, no arranjou dinheiro para vir nas frias conhecer oho, que tudo era

    co para mandar para c e as passagens eram caras e ele no era sr. oficial.

    rene e o Paulo habituaram-se um ao outro e fizeram um casal. Era um bebito, brincalho, que dormia com a me. Mas um dia o barco chegou e trouxe oredo so e salvo. 0 Paulo fugia do pai, no o queria em casa, chorava de cadaque ele aparecia, protestava noite quando o punham na sua cama.

    lfredo, temendo no arranjar emprego, meteu o chico e continuou na tropa,

    o fazer o curso de sargentos para Lamego. Foram mais trs meses difceis, maslfredo, no sabe bem porqu, sentiu-se aliviado. 0 ambiente em casa eraado. Ele tinha-se habituado vida ao ar livre, selva, ao convvio com osens e at s saudades. E aquele mido que no o aceitava criava-lhe umgosto que o roa por dentro. Mas continuava a amar a Irene, que dizia - deixaque o mido h-de habituar-se.

    lfredo tinha uma histria muito diferente da Irene. Nascera numa famlia deboa. 0 pai era artfice de vidro e tinha uma pequena oficina onde gravavaos com nomes e emblemas de clubes de futebol. Era um homem austero, rspido,nunca tinha permitido a aproximao dos filhos. 0 Alfredo era o mais novo des irmos, todos rapazes. Mal conhecera a me, que morrera tinha ele seis

    s. 0 pai entregou-os a uma

    e mais tarde casou novamente. 0 Alfredo no fala ao pai h dez anos.

    sa-o de alcolico e de sempre ter desprezado os filhos. Quando conheceu ane, o Alfredo deve ter sonhado com uma relao que lhe desse novo alento. Masuerra e outras coisas que ele no entendia cortaram-lhe esse projecto.

    rimeira comisso nas colnias outras se tinham seguido, com

    ncias prolongadas e um cada vez maior afastamento do Paulo. 0

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    -estar foi-se instalando, mas a relao do casal continuava aparentementeservada.

    tamos saber mais do que se tinha passado naquelas duas sema-

    em casa. 0 pai conta-nos que a vida tinha continuado como dantes, mas quetia a me mais triste e o Paulo mais comunicativo. A me interrompe-o e diz-: Ele continua a drogar-se, s que agora o pai parece que j no seorta. Claro que me importo, mas ns estamos aqui para resolver isso. E euedito que talvez se consiga.

    vamos j longe da fase inicial em que a me, pelo telefone, nos

    ia que o pai no queria vir terapia e no acreditava que algo pudesse serto pelo Paulo.

    dos terapeutas dirige-se me e diz-lhe: Acho que a sua posio na famlia

    ada vez mais difcil. Se pudesse falar com algum da sua

    lia de origem, quem que escolhia neste momento?. A me olhou-nos,plexa, e retorquiu: A minha me. E o que que lhe dizia se

    estivesse aqui connosco?. A Irene comeou a chorar e falou

    gamente de ter casado sem saber nada da vida e como a vida era diferente doela tinha imaginado que fosse. A me sempre lhe tinha ensinado que a mulheria estar sempre ao lado do marido, mas ela no

    ha podido estar porque o Alfredo tinha ido para a guerra. Tinha sido umaher abandonada e sempre com receio que ele morresse. Habituou-

    a criar o Paulo sozinha.

    aulo comentou que estranhava a me, sempre tinha sido uma

    soa bem disposta, comunicativa, nunca a tinha visto triste.

    . Alfredo, como que pode ajudar a sua mulher neste momento?, perguntamos.

    lfredo no sabia o que fazer, mas estava aflito. Habituado a uma mulher

    mbeiro no conseguia comunicar com ela naquele estado.

    mos para conversar, como fazemos nalgumas sesses particularmente tensas e em preciso planear com mais cuidado o trabalho seguinte.

    ela famlia tocava-nos muito. Qualquer de ns tinha muitos pontos dentificao com o que ali se vivia.

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    aniel estava prximo daquela me controladora do filho, que lhe recordavaas da sua vida passada. 0 Z revivia naquele grupo de pessoas o seu longostamento do pai e as dificuldades da sua adolescncia por ele no estarximo.

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    mos os dois, fora da famlia, daquilo que se passava em ns prprios.

    odermos partilhar os nossos sentimentos contra-transferenciais diminui a suauao no terreno teraputico e aumenta o sentimento de intimidade dosterapeutas que, canalizado para a famlia, extremamente positivo.

    idimos que seria bom que a fantasia da av materna presente se

    asse realidade, voltando sala com essa proposta. A me hesitou, dizendo quee estava muito velha, vivia muito longe, no estava a par do que se passavaria sentir-se mal. Dissemos-lhe para dizer me, em

    so nome, que a av seria a pessoa que conhecia melhor a Irene e nos

    eria ajudar. Acedeu em tentar. Marcmos a sesso seguinte para da a quinzes.

    dia da sesso estvamos ansiosos por saber at que ponto seria possvelilizar aquela famlia e trazer uma velhinha alde, pacatamente sossegada navelhice tranquila.

    amlia chegou a horas e a av tambm vinha. Era uma senhora j de idade, olhol vivo, xaile pelas costas, que nos cumprimentou res-

    tosamente, agradecendo-nos o trabalho que estvamos a ter com o neto.

    emos a sesso agradecendo a presena da D. Elvira e comu-

    ando-lhe que tnhamos pedido a sua comparncia para nos poder ajudar. Quala opinio dela sobre a famlia da Irene?

    em, Srs. Drs., a Irene teve muita sorte, casou com um bom homem, muitobalhador e que sempre foi amigo dela e do filho. Coitada, agora est muitoocupada com o Paulo, mas eu acredito que isto so coisas da idade e que eleh-de fazer um homem. L na Ribeira (aldeia on-

    nasceu e vive) tambm h uns rapazolas que parece que se drogam, mas no sos. No fundo os homens tambm vo para a taberna, embebedam-se e depois dos tratos s mulheres.

    vamos na presena de uma daquelas avs da nossa infncia, compreensivas euma viso alargada da realidade de quem j viveu muito e sabe porerincia prpria que a tempestade e a bonana an-

    sempre a par.

    o nosso plano para a sesso era voltar sesso anterior e trabalhar asteza da me. A presena da av era importante para que a me no

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    sentisse sozinha na sua tristeza.

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    Elvira, a sua filha esteve aqui connosco h duas semanas e estava

    to triste. Perguntmos-lhe com quem gostaria de falar naquele momento e elase-nos que seria consigo. Podem conversar agora.

    e aproximou-se da filha e falou-lhe das alturas em que ela tambm se tinhatido deprimida. Tu precisas de ir passar uns dias terra comigo e issosa. A vida l mais calma, o Alfredo e o Paulo

    entam-se bem sozinhos.

    v oferecia-se para recarregar as baterias da Irene. Tinha voltado atir-se me e estava contente por isso.

    ormos esta ideia, comentando a importncia de por vezes fazermos um banhoerno para retomar foras. Dissemos famlia que eles eram corajosos evavelmente quereriam mudar qualquer coisa. A nossa disponibilidade para

    tinuar era evidente.

    uns dias depois recebemos um telefonema do pai dizendo-nos que tudo tinharado. A me tinha partido com a av, mas ele e o Paulo no se estavam aender. 0 Paulo chegava cada vez mais tarde e tinha comeado a faltar aorego. Tinham tido uma discusso violenta em que o Paulo lhe voltara a dizerele no percebia nada da vida e que j era maior e vacinado. 0 paiefonara me e pedira-lhe para voltar mais cedo.

    telefone dissemos ao pai que nos encontraramos no dia marcado. A famliagiu-nos na mesma situao do incio: me bem disposta, pai e filho zangados.

    hamos querido ir depressa demais. Aquela proposta comovente da D. Elviraha-nos convencido e ingenuamente pensmos que uma

    lia muda no seu sistema de relaes s porque surge uma pequena mudana. 0so desejo tinha interferido na capacidade de mudana do sistema.

    pela primeira vez o pai e o Paulo tinham ficado sozinhos e esta situao queca tinham vivido iria de certeza ter implicaes na

    ao futura entre ambos. Alis, numa das primeiras noites, o Paulo

    ha levado l para casa a sua nova namorada e passaram o sero a vereviso.

    e comeou por afirmar que, como se provava, ela no podia largar aquela casaque eles no se entendiam.

    fessmos famlia o nosso erro. De facto, ela era indispensvel

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    ra cada vez mais importante a sua presena junto dos dois. Mas perguntmos-como se tinha sentido na terra. Muito bem, disse-nos, mas sempre muitouieta. Telefonava todos os dias a saber o que se

    sava e ficava preocupada cada vez que no encontrava ningum em

    a. Tinha reencontrado velhas amizades e familiares, toda a gente a

    ha ido visitar. A av tinha falado muito com ela. Tinha-a aconselhado aocupar-se mais com o marido e menos com o Paulo. Este qualquer dia saa dea e depois haviam de aparecer netos para ela cuidar.

    . Irene aceitara estes conselhos, mas continuava muito preocupada com o filhoicara indignada com o marido por ter aceite l em casa

    eresa (namorada do Paulo), se calhar tambm uma drogada. Alis os

    inhos j lhe tinham falado nela e disseram-lhe que ela andava sempre comtos rapazes.

    e protestava contra aquele sero em que ela no estivera presente, mas o paiestava de acordo. A Teresa era muito simptica e

    ecia gostar muito do Paulo.

    a primeira vez que pai e me no estavam de acordo. Era um sinal de alertaa ns. Sentamos que no seria ainda a altura de trabalhar a relao doal.

    ferimos assumir que tnhamos errado e que de facto ainda no era possvel paiilho entenderem-se, mas dissemos-lhes que tambm a

    adia dos dois juntos teria servido para ajustar contas antigas.

    r. Alfredo estava novamente ausente durante a sesso, o que permitiu mea a iniciativa; mas alguma coisa tinha entretanto mudado. 0 Paulo, nobalmente, mostrava-se enfadado quando a

    falava e olhava para o pai de urna forma diferente. E quando a me

    falava da sua preocupao enquanto estava na terra o Paulo explodiu e disse-: Pois , a me nasceu preocupada, nunca me deixou vontade, quando eu erado e queria ir para a rua brincar no me

    xava e eu bem ouvia o pai a dizer - deixa l ir o rapaz -, mas quem acabavapre por decidir era a me. 0 pai tenta explicar me que um

    az precisa de liberdade a partir de certa altura.

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    i o Paulo tocou um ponto quente do pai. Ele tinha feito toda a sualescncia sozinho, uma relao distante e difcil com o seu pai. A suaegrao na vida militar tinha-lhe dado apesar de tudo uma estrutura

    ele no teria dentro de si. Mas no tinha sido possvel transmitir ao

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    ho o que ser um homem e as dificuldades que se passam antes de se

    adulto.

    erviemos para dizer ao pai que o Paulo lhe estava a pedir qualquer coisa deto importante e de que ele talvez no tivesse respostas seguras, mas quegum teria. Diga-lhe qual foi a sua experincia! .

    forme se pode ver pelo relato parcial que temos vindo a fazer desta

    apia familiar, o processo teraputico feito de avanos e recuos em que alia, imaginada como sistema, vai balanando medida que as intervenesaputicas surgem. 0 que se pretende flexibilizar a

    rutura de fon-ria a que ela possa suportar embates e tenses sem se

    agregar. Numa famlia com adolescentes a flexibilidade tem de ser

    ima, porque a energia que eles pem no sistema de tal modo grande que podebentar os laos tnues que unem os elementos entre si.

    das confuses habitualmente feitas a propsito da Terapia Familiar de quetenderia unir a famlia. Nenhuma interveno teraputica deve ter comossuposto influenciar as decises das pessoas. Mas tambm todos sabemos que aogo dos processos psicoteraputicos muitas vezes os clientes tomam decisesalteram profunda mente a sua vida.

    Terapia Familiar a famlia durante a terapia pode ou no alterar-

    na sua composio, mas o fim do processo teraputico criar espaos deonomia individual e de relao com os outros em que o prazer se sobreponha so.

    e final da terapia

    erapia aproxima-se do fim quando a famlia capaz de falar das suas relaesmenos tenso e sobretudo com a capacidade individual de olhar para o outro epeitar a sua autonomia sem se sentir agredido por isso.

    terapia familiar o fim do processo no rgido. Por vezes a

    lia que diz que no quer voltar, porque j no necessrio. Respeitamose desejo porque acreditamos nas capacidades do sistema para se

    ogerir. Se algum dos seus membros quer ir mais longe em trabalho

    ividual aconselhamos uma psicoterapia individual.

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    erapia Familiar um processo que envolve muita energia que nem

    pre fcil criar. Haver sempre membros da famlia mais disponveis queros. Como diz Whitaker, a fase final da terapia como o fim da adolescncia.podem ficar sozinhos que no acontece nenhuma desgraa.

    rocesso teraputico em Terapia Familiar nunca muito longo. Por vezes podengir os dois anos com sesses quinzenais, mas habitualmente termina entre aima e a vigsima sesso. Consideramo-lo como

    processo de desbloqueamento do ciclo vital da famlia, visando uma novaanizao familiar. Atingida esta, poder ser contraproducente continuar aapia.

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    MODELOS DE INTERVENO EM TERAPIA FAMILIAR

    stem diversos modelos de interveno em terapia familiar, baseados emerentes concepes da famlia e do modo de intervir tera~

    ticamente. Neste captulo descreveremos com mais pormenor aqueles que maisluenciaram o nosso modo de trabalhar, fazendo breves referncias aostantes.

    ssificao dos modelos de interveno em terapia familiar

    Perspectivas relacionadas com o modelo psicanaltico

    Perspectivas transgeracionais

    erspectiva transgeracional de Boszormenyi Nagyerspectiva simblico-vivencial de Carl V.,fhitaker

    erspectiva de Murray Bowen

    Perspectiva estrutural (Salvador Minuchin)

    Perspectivas estratgicas

    erspectiva do Mental Research Institute (Palo Alto)erspectiva de Jay Haleyscola de Milo

    Perspectivas comportamentalistas.

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    spectivas transgeracionais

    roduo

    undo este ponto de vista a perturbao de uma famlia que procura a terapiareside essencialmente no problema apresentado e que constitui o pedidodiato da famlia, mas tem a sua raiz em factos

    sados que constituem a histria natural da famlia e que so transmitidos deao em gerao. A perspectiva transgeracional uma an-

    e de transmisso da cultura familiar no seu sentido lato, de uma gerao parara, englobando os padres, estilos, costumes, segredos, mitos e

    blemas que determinam o carcter nico de uma famlia (Lieberman,9).

    ta ptica no se valoriza especialmente o comportamento sintomtico que trazamlia terapia, tentando-se pelo contrrio integrar o

    sente, atravs do uso do passado, de modo a definir padres repetitivosfuncionais que urge alterar se se pretende construir um futuro diferente.

    o processo teraputico, utilizado o estudo das relaes familiares em peloos trs geraes (avs, pais e filhos), idealmente quatro ou mesmo cincoaes. 0 actual aumento da longevidade dos indivduos leva a uma crescenteortncia das geraes mais velhas na vida

    iliar e na sociedade, e se bem que na prtica seja por vezes difcil juntarias geraes numa sala de terapia, j exequvel estud-las atravs daquisa sistemtica das relaes intrafamiliares ao longo dos anos.

    terapeutas familiares que seguem a perspectiva generacional procuram definir,conjunto com a famlia, os padres de relao bsicos dos diversos sistemasiliares que se entrecruzaram ao longo de muitos anos. Alguns utilizam mesmo oograma, um diagrama visual da rvore genealgica familiar, construdo emjunto com a famlia na sesso teraputica. As lacunas detectadas soenchidas mais tarde, aps reflexo e pesquisa efectuadas pelos familiares,intervalos das

    ses. A partir deste procedimento tcnico toma-se mais patente o

    tema relacional da famlia, ao mesmo tempo que os principais acon-

    imentos biogrficos so destacados (nascimentos, casamentos, divrcios,tes, etc).

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    mplo:

    ograma da famlia Santos, obtido a partir de duas sesses de terapia familiar

    ce

    A

    n

    nio

    garid

    Mariana

    Pedro

    Indivduo do sexo masculino o~ indivduo do sexo feminino

    ao duradoura ligao efmera ou morte X - aborto

    enograma toma muitas vezes evidente uma verdadeira passagem transgeneracionaltradies relacionadas com a famlia, bem como uma srie de crenas eportamentos especficos. deste modo que so veiculadas ideias sobre a vidamorte, a sexualidade, atitudes face poltica, ao dinheiro ou a outraslias, papis familiares e muitas

    ras caractersticas que definem a unidade do corpo familiar.

    todas as perspectivas intergeracionais da terapia familiar tm claraividualizao. Muitos dos trabalhos nesta rea resultam de

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    oros para adaptar o ponto de vista da psicanlise terapia familiar, comotativa de lutar contra o aparecimento de um novo paradigma, o paradigmatmico (Guntem, 1979). Alguns autores consideram a

    apia familiar uma variante da terapia analtica com o objectivo depreender e tratar a neurose familiar. Stierlin (1977) tenta reconciliar doisadigmas que considera em conflito - a psicanlise e a terapia familiar - masba por colocar maior nfase na dinmica intrapsquica como factor causal emcopatologia. Em Portugal alguns psicanalistas seguem esta linha, talvez comoma de resistn1a

    scente implantao da terapia familiar. Queremos deixar bem claro que osceitos da psicanlise, postulados para uma relao dual paciente-canalista, dificilmente podem ser aplicados situao familiar,respondendo tais adaptaes a erros epistemolgicos.

    mo (1965) tenta combinar o ponto de vista intrapsquico com o transpessoal na

    terapia conjugal com as famlias de origem, mas o seu

    ceito de transferncia familiar como fenmeno reactivo do conjunto familiarresena do terapeuta parece-nos a persistncia do modo de pensarcanaltico aplicado a uma situao no apropriada. Assim no parece possvelbalhar com este conceito quando se fala que cada membro da famlia transferea outro membro a sua oposio de filho ou de pai derivada da sua posioiliar passada. Basta assistir a uma

    so de Terapia Familiar para identificar episdios transferenciais em

    tido lato, mas ao mesmo tempo toma-se patente que erro grave utiliz-losapeuticamente.

    ro autor fortemente influenciado pela psicanlise Boszormenyi-Nagy (1973).seu livro Invisible loyalties, escrito em colaborao com G. Spark, Nagyroduz o conceito de carta de legadosfamiliar, um conjunto multigeracionalobrigaes e dvidas a serem cumpridas ao longo dos tempos. Sempre que umaustia ocorreu vai haver mais

    de um movimento para a reparar, embora no necessariamente pelo devedorginal. Os problemas surgem quando a justia vem muito

    tamente ou insuficiente, dando-se aquilo que Nagy chama uma

    eia deslocada de retribuies. Um sintoma familiar pode ser um

    al de que est a haver uma grande acumulao de injustias, pelo que a acoaputica s pode ser empreendida aps anlise da histria familiar emrios desses problemas emocionais.

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    y conceptualiza a famlia como um grupo humano rodeado por uma rede complexaobrigaes e lealdades que exigem cumprimento, mas que protegem ao mesmopo o conjunto familiar. 0 terapeuta deve criar uma atmosfera que tomesvel a cada um encarar as suas

    idas emocionais e eventualmente corrigi-Ias, mostrando que muitas dasiculdades actuais correspondem tentativa de superao de erros

    caractersticas das geraes passadas.

    bem que este ponto de vista seja til na compreenso de muitas situaes,a perspectiva parece-nos de tom moralista e raramente a utilizamos.

    tro das perspectivas intergeracionais descreveremos a seguir com pormenor aspectiva multigeracional de Murray Boiven e a

    spectiva simblico-existencial de Carl Whitaker, no s pela sua

    ecificidade mas pela importncia que tm na nossa fonnao e na nossatica.

    spectiva multigeracional de Murray Bowen

    ray Bowen, actualmente professor na Georgetown University, de Washington,tence ao grupo de t cnicos de sade mental que nos anos cinquenta inicioubalho clnico com famlias de doentes internados em instituiesquitricas. Em 1954 trabalhou em Washington num projecto de investigaore a esquizofrenia, em que os jovens eram internados em conjunto com as suass numa rea do hospital reservada para o efeito. A equipa em breve verificoumuitos dos efeitos benficos do tratamento eram prejudicados pela constante

    erferncia dos elementos da famlia que permaneciam afastados do hospital,o que Bowen passou rapidamente a envolv-los nas sesses.

    rescente nmero de participantes, a no aceitao da esquizofrenia apenaso doena biolgica e o trabalho sobre as famlias de origem dos progenitoresdoentes com esquizofrenia lanaram as bases para a teoria que Bowen iria

    envolver nos anos seguintes.

    rocura e delimitao sistemtica de uma teoria sobre o funcio-

    ento emocional da famlia uma das preocupaes constantes de

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    ray Bowen. Na visita que em 1980 fizemos ao seu Centro em Washington, Bowenia-nos que nada se pode fazer sem uma teoria, colocando-se numa perspectivato crtica face s terapias de orientao estratgica, que no seu ponto deta correspondem ajogos de manipulao procurando a resoluo de problemas semecessria compreenso do funcionamento familiar. Diferenciando-se daspectiva estrat gica, Bowen no considera a terapia terminada quando o

    blema que trouxe a famlia consulta est sintomaticamente resolvido, peloa aco teraputica dever ser continuada at que cada elemento da famliauira um self com autonomia e maturidade.

    ora Bowen utilize alguns conceitos comuns teoria geral dos sistemas talo Bertalanffy a formulou, tem procurado diferenciar-se, falando de umaoria especfica sobre o funcionamento das relaes humanas, considerando alia um sistema emocional com caractersticas especficas. Bower definetema emocional como qualquer coisa que est em contacto com processosulares e somticos e

    tema de sentimentos como uma ponte em contacto com partes do sistemacional por um lado e com o sistema intelectual por outro (Bowen, 1978).

    ora tenha tido formao e prtica psicanaltica, Bowen distingue-se de outrosapeutas familiares de orientao psicodinmica em

    ersos aspectos, nomeadamente pela sua posio face ao conceito de

    nsferncia. Bowen trabalha fora do sistema emocional da famlia, funcionandoo um consultor e desencorajando movimentos transferenciais entre os elementosfamlia e o terapeuta. Costuma dizer-se assim que Bowen trabalha com baixaso, de modo a que a ansie-

    e diminua e os comportamentos de maior autonomia e maturidade

    sam emergir.

    tentativa de objectivar a sua teoria de modo a torn-la mais

    lizvel no ensino e treino de terapeutas familiares, Bowen delimitou oitoceitos fundamentais, que a seguir descrevemos.

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    Diferenciao do self

    tro deste conceito bsico para a compreenso da sua teoria, Bowen distingueprimeiro lugar dois tipos de pessoas:

    Indivduos com fuso emocional intensa - baixo nvel de diferenciao dof- em que a vida dominada pelo sistema emocional. Nestes casos o intelectonundado pelas emoes e a vida totalmente

    entada no sentido da procura relacional, sendo toda a energia investida emca de aprovao e amor. Muitos objectivos de ordem intelectual oufissional so assim prejudicados, j que estas pessoas esto emocionalmenteendentes daqueles que as rodeiam.

    Indivduos com baixafuso emocional- alto nvel de diferenciao do seIf- emo nvel emocional e o intelectual surgem distintos, o que faz com que emodos de stress o indivduo seja capaz de optar entre o funcionamento

    cional e o funcionamento racional.

    e B) correspondem aos extremos de uma escala hipottica de diferenciao dof de 0 a 100, em que o extremo 0-25 corresponde ao

    s baixo nvel de diferenciao do self e o outro extremo 75- 100 um

    amar dificilmente atingvel em que os nveis emocional e intelectual

    autnomos.

    en tambm utiliza o conceito de diferenciao do self no sentido

    fuso intergeracional entre pais e filhos. Em situaes de grande ansiedadefamlia os seus diversos membros podem chegar ao ponto de sentir as me@mases e ter os mesmos sonhos, progredindo o

    cesso por fases de menor fuso emocional. Bowen fala assim de massaiferenciada do eu na famlia para descrever situaes de menorerenciao, ao passo que nos diz que em famlias com maior maturidade osivduos tm autonomia emocional no se envolvendo

    fuso com os outros.

    erceira perspectiva, relacionada com o conceito de diferenciao do self, dizpeito noo de self slido e de pseudo self.

    elf slido constitudo por opinies, princpios gerais e convic-

    s que permitem ao indivduo dizer quem , naquilo que acredita e o

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    far, esteja em que relao estiver. Opseudo self o elemento consti-

    ivo do self que entra nas relaes e modificado por elas, agrupando

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    conjunto de princpios aceites pelo grupo exterior ou pelos elementosnificativos para o indivduo em causa.

    pessoas com menor diferenciao tero um maior pseudo self e

    menor self slido.

    0 conceito de tringulo

    ngulo corresponde configurao emocional que envolve trs pessoas e que siderada como base de qualquer sistema emocional, incluindo o familiar. Umtema de duas pessoas pode ser estvel numa situao calma, mas se a ansiedadeenta h tendncia para o envolvimento de uma terceira pessoa. As famlias sotas como consti-

    ndo uma srie de tringulos que se entrecruzam e cuja composio depende dou de ansiedade e tenso presente em cada momento. A triangulao leva a

    uaes disfuncionais na medida em que fornece estabilidade atravs de uma viaeral e no pela resoluo do conflito.

    considerarmos o tringulo clssico pai-me-filho, quando a tenso

    enta na relao conjugal o casal pode concentrar-se na criana, passando oportamento sintomtico do filho a ser motivo de

    ocupao para ambos os progenitores. Se esta situao se rigidifica,tendo-se ao longo de bastante tempo, provvel que impea a

    oluo da dada conjugal e leve um dos elementos do tringulo a ter

    blemas emocionais ou fsicos (muitas vezes o filho, por ser o elemento maisnervel).

    rocesso de triangulao pode continuar indefinidamente, dentro do sistema,atingir um ponto em que j no possvel envolver mais pessoas; nessaura que uma famlia pode triangular um tcnico

    sade mental, por exemplo.

    situao teraputica, e na perspectiva de Bowen, o terapeuta deve evitar ser

    iangulado. Se o comportamento sintomtico atinge o

    mento mais vulnervel do tringulo (no exemplo acima, o filho), o terapeutae trabalhar apenas com os pais. Evitando a triangulao, o

    apeuta mantm-se em contacto emocional com o pai e a me, o que leva estes anova situao: esto numa situao triangular mas a

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    da no consegue meter um terceiro elemento. Tomam-se assim

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    s ntidos para o casal os seus movimentos anteriores e possvel aumentar onvel de diferenciao.

    0 processo emocional da famt7ia nuclear

    rocesso emocional da famlia nuclear o postulado que descreve os padres decionamento emocional na gerao parental de uma

    lia nuclear. Refere-se s interaces entre os parceiros sexuais queabeleceram uma relao duradoura, a partir de uma escolha de dois indivduosnveis semelhantes de diferenciao. Quanto mais baixo for o nvel deerenciao colectivo, mais intensa e problemtica a

    o dos dois pseudo-self no casamento.

    e conceito diz-nos o modo como a indiferenciao dos pais, vivida

    suas experincias com a famlia de origem, expressa na sua prpria relaoiliar.

    0 processo de projeco familiar

    o o processo de indiferenciao na famlia tem que ser resolvido

    os dois elementos da dada conjugal, existem vrias maneiras de lidar coma ansiedade:

    istncia emocional entre o casal - que pode atingir um verda-

    ro divrcio emocional, em que o marido e a mulher vivem de costas

    adas um para o outro;

    onflito aberto entre o casal - em que nenhum dos elementos do casal cede nemcura adaptar-se;

    oena num dos elementos do casal - desempenhando o outro

    mento funes cuidadoras. 0 elemento doente, se a situao se

    asta, est cada vez em maior dificuldade e com maior dependncia do outro.e mecanismo, bastante frequente, pode levar a uma verdadeira

    reira psiquitrica do doente, em que o elemento so surge como transportadora clnicas para pseudo-tratamento de uma depresso crnica, quando a nicardagem eficaz seria a de lidar directamente

    o conflito conjugal;

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    rojeco familiar - define o modo como a indiferenciao parental lesa um ous filhos. Este processo no igual para todas as crianas numa dada famlia,ecendo ser especialmente vulnerveis aqueles que nasceram durante um perodogrande stress da me. Deste mecanismo resulta que cada gerao sucessiva vaiindivduos com

    nvel de diferenciao cada vez mais baixo. Bowen considera que um filhouizofrnico o produto de vrias geraes de crescente projeco familiar dea vez menores nveis de diferenciao, colocando-se aqui no nosso entendera perspectiva muito reducionista da compreenso da gnese da esquizofrenia.

    0 processo de transmisso multigeracional

    rocesso de transmisso multigeracional postula a passagem do processo dejeco familiar de gerao para gerao e aplica-se transmisso dos nveisdiferenciao. Toma-se necessrio este con-

    to para compreender a problemtica actual de uma famlia, que na

    spectiva de Bowen tem as suas razes nas geraes anteriores.

    Corte emocional

    orte emocional descreve o modo como uma pessoa se afasta dos

    s pais para comear uma nova vida com os indivduos da sua gerao. Esteceito diz respeito tambm a certas regras que governam a ligao entre osbros das diferentes geraes na famlia.

    a ligao emocional dos filhos para com os pais resolvida por um cortecional atravs de uma operao interna ou atravs de

    tncia geogrfica, a ligao fica por resolver e no existe processo deerenciao estruturado na vida do indivduo, levando transmisso de umxo nvel de diferenciao para os filhos. Deste modo, as dificuldadescionais so passadas s geraes seguintes e s a re-anlise desses

    blemas poder evitar dificuldades psicolgicas. Bowen encoraja os

    mentos da famlia a restabelecer laos com as suas famlias de origem, de

    o a alterar o processo de corte emocional e tentar uma nova

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    erenciao. A partir de experincias concretas com a sua prpria famliawen, 1974), Bowen conclui que uma terapia familiar s ter sucesso se cadaivduo fizer uma reavaliao pessoal da sua relao com os seus antepassados,modo a procur