::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

92

description

business magazine

Transcript of ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

Page 3: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

PERSPECTIVA

JUNHO 2008 3

8

Sumário# 12 | Junho 2008

Perspectiva 1 Ano Grandes Temas

Doze números de publicação constituem o primeiro marco histórico de qualquer órgão de comunicação social.

Regiões: Do Local ao Global60 Secretário de Estado do Turismo

62 “O Douro é apaixonante e imperdível”64 Solar do século XVII convertido em Hotel

66 Vinho traduz qualidade e singularidade das vinhas68 Vinho Verde comemora centenário

70 “Alcobaça é um concelho de e com futuro”72 Almodôvar – Entre a planície alentejana e a serra

Vila Nova de Famalicão 74 “A Cultura é factor de desenvolvimento económico”

76 A internacionalização de uma empresa familiar78 Qualidade: Uma filosofia omnipresente num negócio

80 Praia Saudável!82 Cascais: Um concelho à beira-mar

Propriedade: Escala de Ideias – Edições e Publicações, Lda - R. D. João I, 109, RC - 4450-164 Matosinhos NIF 507 996 429 Tel. 229 399 120 Fax. 229 399 128 Site. www.escaladeideias.pt E-mail. [email protected] Directora-Geral: Alice Sousa - [email protected] Director Editorial: Pedro Laranjeira - [email protected] Redacção: Alexandra Carvalho Vieira - [email protected] Colaboraram neste número: Jorge Castro, Luís Antó-nio Patraquim, Pedro Mota Opinião: Isabel do Carmo, José Maia, Ten. Cor. Brandão Ferreira Director de Marketing e Projectos Especiais: Luís Ribeiro - [email protected] Design e Produção Gráfica: Teresa Bento - [email protected] Webmaster: Pedro Abreu - [email protected] Edição: Alexandra Vieira Contactos: Redacção 229 399 120 [email protected] Departamento Comercial: 229 399 120 - [email protected] Tiragem: 70 000 exem-plares Periodicidade: Mensal Distribuição: Gratuita, com o jornal “Público” Impressão: COBRHI – Arvato Madrid Depósito Legal: 257120/07 Internet: www.revistaperspectiva.info Interdita a reprodução, mesmo parcial, de textos, fotografias ou ilustrações sob quaisquer meios, e para quaisquer fins, inclusive comerciais.

Reportagem 6 Latitude do Olhar – Madagáscar, a Pulsão do Exotismo30 Latitude do Olhar – Um Ano Viajando nas Asas do Vento

16Perspectiva: 1º AniversárioComo está e para onde caminha Portugal?

A resposta de quem tem um papel relevante no aumento da competitividade do país e na melhoria da qualidade de vida.

Opinião25 Padre José Maia26 Ten. Cor. Brandão Ferreira 28 Isabel do Carmo

Moçambique36 Terra de Encanto e Progresso38 Tecnologia portuguesa em Moçambique

Ensino Superior41 A Boa Decisão42 Qualidade no Ensino Superior43 Desenvolver a criatividade e o gosto pela inovação45 ISEC, onde o saber é “Saber Fazer”

Ambiente48 Responsabilidade Social e Políticas de Ambiente50 “Situação mineira actual é globalmente positiva”52 EcoMania: Uma visão verde do futuro!53 “Cogeração é uma medida de eficiência energética”55 O Futuro da Cogeração56 Desenvolvimento de projectos de cogeração

Cultura88 Música89 Literatura90 Ao Vivo

4 Manoel de Oliveira: 80 Anos de Carreira46 Formação e Prática lado a lado58 Colmeia: Uma Cooperativa de Habitação dedicada às pessoas84 Colombo Português – Conferência Internacional no Alentejo86 Inspecção-Geral das Actividades Culturais e o Direito de Autor87 O Adejar da Mariposa – Uma poalha dourada em dias de sol

Gestão EmpresarialResponsabilidade Social

2 Em prol do desenvolvimento sustentável4 Info-exclusão e Necessidades Especiais

6 Tecnologia ao serviço da medicina Novas Tecnologias

8 UCoIP substitui VoIP nas comunicações empresariais10 Leilões: A importância das tecnologias de informação

12 Gestão por Categorias14 Inovação e Qualidade na limpeza de edifícios

DOSSIÊ

Page 4: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

HOMENAGEM

4 JUNHO 2008

"Cristóvão Colombo, o Enigma", estre-ado há três meses.

Ao todo, realizou 14 "curtas" e 26 filmes de fundo. As suas principais interpretações como actor - que foi a sua primeira paixão no cinema - incluí-ram "A Canção de Lisboa", "Conversa Acabada", "Lisbon Story" e, final-mente, o filme sobre o descobridor da América, onde desempenha, com a esposa, ao papeis de Manuel Luciano da Silva e Sílvia Jorge da Silva, autores do último livro sobre a portugalidade do Almirante do Mar Oceano.

A homenagem dos americanos começou em Nova Iorque, na Acade-mia de Música de Brooklyn, com "Ani-ki-Bobó", o filme de 1942 que o lançou como realizador de ficção.

Nesta primeira fase, foram exibi-dos 22 filmes de Oliveira em Brooklyn, Nova Iorque, e 18 em Harvard, perto de Boston. De 17 de Maio a 27 de Junho a ciclo visita Cleveland, de 5 a 31 de Julho estará em Chicago e entre 1 de Julho e 31 de Agosto vai até à costa oeste, a São Francisco.

Na Meca do cinema, em Los Ange-les, a homenagem vai ser enriquecida

com o lançamento de um livro sobre o realizador, escrito por Randall John-son, professor na UCLA (Universidade da Califórnia).

Dos 28 filmes que preenchem a digressão, 24 são distribuídos por Por-tugal e 4 têm distribuição norte-ameri-cana. Todos estão legendados em inglês e a maioria são cópias novas.

Desde 1990, Manoel de Oliveira faz em média um filme por ano e está a tra-balhar em novos projectos.

O realizador português é o único cineasta dos tempos do cinema mudo ainda no activo.

Os ciclos a decorrer nos Esta-dos Unidos têm o apoio do Instituto Camões, Instituto do Cinema e Audio-visual, Fundação Gulbenkian e Cine-mateca Portuguesa, representando a maior divulgação de cinema português feita até agora do outro lado do Atlân-tico.

Há quem comente quão justo e oportuno seria que a Academia de Hollywood consagrasse o centenário Manoel de Oliveira com o Prémio de Carreira, na cerimónia dos Óscares em 2009.

Depois da cerimónia no Grand Théâtre Lumière, onde Oli-veira se confes-sou muito emocio-nado, foi exibido o seu primeiro filme, "Douro, Faina Flu-

vial", de 1931, e uma curta-metra-gem realizada pelo presidente do Fes-tival, Gilles Jacob, intitulada "Um dia na vida de Manoel de Oliveira", que no fim leu publicamente uma longa carta de apreço ao realizador português.

Entretanto, decorre desde 7 de Março nos Estados Unidos o "Manoel de Oli-veira Centenniel Tour" uma home-nagem ao mais antigo realizador de cinema no mundo, que se estende a todo o país durante mais de seis meses.

Manoel de Oliveira nasceu no Porto a 12 de Dezembro de 1908, fará um século de idade antes do fim do ano.

Estreou-se como actor em 1928, no filme "Fátima Milagrosa", de Rino Lupo, e como realizador na curta-me-tragem "Douro, Faina Fluvial", em 1931. A sua primeira longa-metragem foi "Aniki-Bobó", há 66 anos, a última

Maio trouxe a Manoel de Oliveira a Palma de Ouro do Festival de Cannes, na presença de Durão Barroso, Clint Eastwood, Michel Piccoli, Sean Penn (Presidente do Júri), João Bénard da Costa (Presidente da Cinemateca Portuguesa), e da Ministra Francesa da Cultura, Christine Albanel.

Manoel de Oliveira80 Anos de Carreira

Palma de Ouro em Cannes Homenagem nos Estados Unidos

Festejados os cem anos de idade do mais antigo cineasta do mundoPedro Laranjeira

Page 6: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

REPORTAGEM

6 JUNHO 2008

Latitude do Olhar

Madagáscar,

Descemos o rio Tsiribihina, em pirogas escavadas em longos troncos de árvore, de vez em quando vamos acostando nas aldeias ribeirinhas, para nos abastecer-mos de mantimentos e de histórias mági-cas que nos façam sonhar nos longos períodos de pasmaceira a descer o rio.

Cruzámo-nos em câmara lenta com outra canoa, parece que o tempo desacelerou, marcado no compasso lento das pagaias “cavando” a água barrenta do rio. Ao entar-decer, flutuávamos languidamente entre os meandros do rio, passou uma nuvem negra, escurecendo o Sol poente, atónito não quis acreditar que a nuvem voltava para trás, evoluindo a uma velocidade surpreendente. Quando se aproximou de nós, pudemos divisar que afinal era uma formação cerrada de enormes morcegos, de facto eram raposas voadoras de imensas asas negras. Deviam habi-tar nas cavidades da rocha sobranceira ao leito do rio, nas fissuras e anfractuosidades do paredão que canalizava o Tsiribihina.

A monotonia da lenta progressão era compensada pela diversa fauna que avistávamos: tartarugas de água doce, de focinho pontiagudo; camaleões de olhos assíncro-nos e que apesar disso acertavam em cheio nos insectos do almoço com a sua língua gomosa; boas constritoras, lémures felpudos de olhos meigos, borboletas e maripo-sas de fábula, tudo isso aliado a uma profusão inesgotável de escaravelhos, escorpiões entre muitos outros bichos mais ou menos peganhentos que levariam às lágrimas o mais empedernido dos entomologistas. Entre estes figura o lendário: Trachelophorus giraffa, um verdadeiro dinos-sáurio do mundo dos insectos.

No que respeita à flora, encontrei dezenas de espécies de embondeiros, elevando aos céus os seus ramos digitalizados, reticulares, talvez implorando cle-mência ao Deus que os condenou a viverem invertidos, de raízes para o céu e ramos enterrados na terra, isto devido ao seu anterior e desmedido orgulho e soberba pela beleza da sua frondosa copa (para mim foi pior a emenda que o soneto, pois os Baobabs são de uma beleza mística).

Page 7: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

REPORTAGEM

JUNHO 2008 7

a Pulsão do Exotismo

Sem dúvida estas majestosas árvores são um dos símbo-los mais proeminentes de Madagáscar.

Mas o mais surpreendente, quanto a mim, é a popu-lação desta enorme ilha. Apesar de alguns grupos serem de origem africana (como os Sakalava), a predominân-cia étnica é a dos Merina, povo de origem malaio poliné-sia. Numa epopeia de navegação marítima chegaram há cerca de dois milénios, seguindo rotas de ventos e cor-rentes dominantes. Este povo deve ter achado em Mada-gáscar muitas semelhanças com a sua terra ancestral, aca-bando por aqui se estabelecer, fundando colónias nesta terra, talvez fruto dalguma reminiscência platónica da sua própria pátria no sudeste asiático.

Fui encontrar nas minhas deambulações étnico poéti-cas, entre o povo Vezo na costa Ocidental de Madagás-car, uma lenda sobre tubarões que auxiliam a navegação, orientando os marinheiros que cantam para eles, exacta-mente igual a outra que recolhi no Pacífico Sul, corrobo-rando de certa forma a migração alucinada dos Merina através de meio mundo.

Atravessámos território Sakalava. Cruzámos túmulos elaborados, com trabalhos de cantaria refinada. Ouvíamos zunzuns sobre tabus (fady) intrincados, ditos por aldeãos que nos miravam com olhares resvalantes de soslaio. Pernoitámos em povoados desolados, fantas-magóricos, onde se começaram a ouvir relatos surpreen-dentes, ditos a meia voz, sobre magias e rituais com os mortos, de pôr os cabelos em pé: formas de mumificação, em que os corpos eram expostos em cima de um palanque para secarem ao Sol, sendo os fluidos corporais drenados para cabaças com o auxílio de lascas de bambu. Falava-se de etnias que ingeriam os fluidos corporais dos mortos de forma a absorverem alguma qualidade do defunto.

Falava-se, mas em voz baixa, dos poderes sobrenatu-rais dos Vazima (pigmeus) e como conseguiam transmi-grar a consciência. Também no maciço central da ilha, os Merina têm uma tétrica tradição, a famadihana (ou vira-gem dos corpos): alguns anos após serem sepultados, os entes queridos desenterram os corpos dos seus falecidos, para os envolverem numa nova mortalha, de forma a pro-piciarem os Razana (espíritos) dos antepassados.

Durante muitos anos, Madagáscar foi um entreposto do tráfico de escravos para o Novo Mundo, muitos malgaches acabaram no Haiti, havendo muitas ligações com as crenças Voodoo. Calcorreei a ilha em busca de possíveis relações. Aos poucos, fui entrando num segredo intemporal, o ritual da lambamena (veste vermelha). De sete em sete anos, corre palavra através de todo o território Sakalava, num murmúrio em sur-dina é feita a secreta convocação. Os antigos reis e rai-nhas, que estão mumificados e repousam há séculos em sepulcros de pedra, em cavernas ou mausoléus, são reti-rados em segredo e são transportados pelos ínvios cami-nhos da ilha, tudo no maior secretismo. Os nobres cadá-veres são conduzidos até certo terreiro em torno de um embondeiro sagrado. Na data aprazada reúnem-se sob a luz da Lua cheia, fazendo uma roda em torno de uma imensa fogueira. Depois começam as danças e as libações de álcool e sangue – agora o sangue é de zebu, mas antes era sangue proveniente de sacrifícios humanos – No paro-xismo das frenéticas danças, os restos mortais de anti-gos reis e rainhas são vestidos com uma vestimenta ritual vermelha (lambamena), por entre ovações dos convivas. Segue a festa até ao amanhecer, com todos sentados em roda, num estranho círculo em que, em geral, os mais sor-ridentes… são os mais imóveis…

Pedro Mota

Page 8: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

PERSPECTIVA

8 JUNHO 2008

Perspectiva 1 Ano

Doze números de publicação constituem o primeiro marco histórico de qualquer órgão de comunicação social. A Perspectiva alcan-ça-o hoje! Mês após mês, procurámos focar o nosso interesse em temas que mereçam uma atenção especial por parte da opinião pública, ou porque sejam pouco conhecidos ou por que se revistam de uma importância que contribua para alternativas de futuro.

Da grande reportagem à pequena notí-cia, fizemos ponto de situações que no quotidiano desenham o destino da socie-dade que somos e da que legaremos aos nossos filhos, espreitando para vivências

e personagens que mudam o status portu-guês, tanto por grandes actos como mesmo por pequenos nadas com insuspeito signi-ficado.

Da cultura à política, do desporto à litera-tura, da economia ao lazer, dos negócios à religião, da história às artes, da tradição à saúde, do turismo à ciência, nada nos pare-ceu para além do virar da esquina da vida, tudo coube nas páginas com que olhámos para um ano de Portugal.

Desse esforço, das nossas escolhas e do modo como as desfolhámos, aqui fica um breve resumo…

Page 9: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

1 2Pedro Laranjeira, Director Editorial

PERSPECTIVA

JUNHO 2008 9

- Grandes Temas

Na nossa edição inaugural quisemos fazer uma antevi-são, a ano e meio de distância, do que seria a grande festa olímpica de 2008 na China e da importância que Portu-gal poderia ter no expoente máximo do desporto mun-dial. Uma Grande Entrevista com o Comandante Vicente Moura, presidente do Comité Olímpico de Portugal, revelou expectativas e apontou metas. Um primeiro olhar sobre os planos da cidade olímpica em Pequim mostrou o que se podia esperar e ficaram actualizadas todas as esta-tísticas da alta competição nacional.

Até um oportuno artigo de opinião sobre o que os jogos poderiam trazer de negativo se revelou profético em rela-ção aos acontecimentos que entretanto fizeram as notí-cias do aproximar dos jogos, de que o melhor exemplo foi o atribulado percurso da chama olímpica pelos quatro cantos do mundo.

Mas muita coisa fez esse primeiro número: anunciá-mos o regresso iminente de Santana Lopes à arena polí-tica, recordámos Zeca Afonso, apontámos o dedo ao milho transgénico, discutimos futebol, falámos de desen-volvimento sustentável, revelámos a violação de direi-tos humanos do outro lado do mundo, alertámos para os perigos a que a Internet expõe as crianças, visitámos a Feira da Ladra, um certame de moda e uma exposição de pintura, antevimos um projecto de luxo em Angola, publicámos pintura de um alemão residente em Portu-gal, mostrámos a alta tecnologia e a capacidade de ino-vação da nossa ciência, fizemos uma introdução ao Yoga, incluímos um original literário, falámos de vinhos, lei, livros e informática, aprendemos com o Dr. Fernando de Pádua os malefícios do tabaco e revelámos porque é que o "Grândola" foi a canção de Abril.

Foi também nessa pri-meira Perspectiva que des-cobrimos um mundo pouco conhecido, que viria a ser tema de grande reportagem e capa, meio ano depois, e revelou um campo de tra-balho humanitário em que Portugal é líder: o do acesso de deficientes ao mundo dos computadores e à sociedade de informação.

No segundo número, fizemos uma longa e impressionante viagem pela nossa escolha dos dez maiores erros da civilização humana. Visitámos a tradição ancestral das "Endoen-ças" no norte religioso com espectacularidade merecedora de Guinness e inaugurámos uma grande rota de visitas aos locais mais remotos do planeta, suas gentes e costumes, com uma rubrica de literatura de viagens que se tornou regular, a "Latitude do Olhar", do escritor e aventureiro Pedro Mota.

O desporto continuou presente e mantive-mo-nos atentos à protecção do meio ambiente e à violação de direitos humanos. Descreve-mos uma praga de internet, o "spam", inau-gurámos uma rubrica de poesia e falámos de animais, moda, educação e saúde. A política e a ciência estiveram nas notícias, falou-se de lei.

Vários artigos de opinião reproduziram a pluralidade de ideias de um lote crescente de colaboradores, incluindo um editorial a questionar os abusos crescentes de atrope-los à "democracia" americana do regime Bush.

Como não poderia deixar de ser, tivemos a vaidade de publicar uma pequena reportagem da cerimónia de apre-sentação pública da revista na Sociedade Portuguesa de Autores, um mês antes…

Page 10: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

3 4 PERSPECTIVA

10 JUNHO 2008

No terceiro número, fizemos uma detalhada visita a um destino turístico "aqui à mão", Londres, a cidade-centro-do-mundo onde se pode encontrar um pouco de tudo o que há espalhado pelo planeta, um destino económico para umas mini-férias inesquecíveis para o resto da vida.Estavam então na ordem do dia as eleições em Lisboa: fizemos o retrato dos candidatos (e também dos que não quiseram sê-lo) e acertámos em todas as previsões.

Acompanhámos Cavaco Silva na visita a um estabele-cimento de ensino modelo e estudámos a fundo quanto de facto custou o Euro aos portugueses. Olhámos para os 50 anos de carreira de Larry King, tentámos perceber se de facto ainda havia esquadrões da morte em Moçambi-que e publicámos vários artigos de opinião, sem esque-cer a lei, a ecologia, o desporto e a medicina. Falou-se de Jogo, de indústria, de tecnologias de informação e esprei-tou-se para o Salão Internacional Erótico de Lisboa.

O Plano Tecnológico e a invulgar Exposição que trouxe cadáveres em poses de vida até à nossa capital, merece-ram uma atenção de destaque. Também as novas apos-tas em educação superior e a política estrangeira estive-ram nas nossas páginas. Falou-se de Madeleine McCann, ensinou-se como partilhar viagens e dividir custos, pon-derou-se na modernização das técnicas de concentra-ção de poder por ditaduras encapotadas e a “Latitude do Olhar” visitou a Ilha de Páscoa.

O quarto número deu-nos o desassombro de não temer a polémica e entrevistámos o activista angolano Luiz Araújo, um homem com muitas e documentadas críticas ao regime no poder em Luanda.

Revelámos o mundo discreto de Aga Khan e o seu não publicitado trabalho humanitário, publicámos fotografias de todas as "Maravilhas" então eleitas, do Mundo e de Portugal, acompanhámos o braço na Boavista do Cam-peonato do Mundo de Carros de Turismo e fizemos uma visita às Catacumbas de Paris e Palermo.

Um trabalho aturado de pesquisa mostrou as muitas faces de um homem que viria a ter muito que ver com algum do nosso futuro relacional, o controverso líder sul-americano Hugo Chavez, que quer "Socialismo ó Muerte!"

A moda, a lei, o desporto e a política estiveram presen-tes, incluindo o anúncio desde logo do que viria ser o per-curso seguinte de Luís Filipe Menezes. Passeámos pelo interior do país, interessamo-nos por medicina e apren-demos as propostas humanitárias de um Prémio Nobel da Paz sobre microcrédito.

Crónicas e artigos de opinião, tradições e certames cul-turais, de tudo um pouco foi feita essa nossa primeira edição de Verão.

Page 12: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

5 6

PERSPECTIVA

12 JUNHO 2008

Bem no seio do estio, mergulhámos no mundo do Natu-rismo, uma filosofia de vida que não é feita apenas de nudistas, mas de preocupações com o meio ambiente, alimentação saudável, medicina natural e princípios que conduzam a uma mente sã num corpo são. É claro que publicámos também, em paralelo, um completo Roteiro das praias portuguesas onde se pratica nudismo.

Foram dois artigos que quase "entupiram" a nossa página na Internet! Isto porque um roteiro dessa natureza e com esse pormenor nunca tinha sido publicado até hoje em Portugal e passou a ser uma espécie de "guia-turís-tico" de milhares de naturistas que o imprimiram e con-servam. De resto, quase um ano depois, o interesse tra-duzido no número de visitas à página Web mantém-se inalterado.

Angola voltou a ser tema, com uma entrevista a um homem que muitos acreditam poder um dia vir a sen-tar-se na cadeira do poder em Luanda, Pedro Romão. Os nossos repórteres visitaram duas Feiras Medievais, passearam pelo Marão e pelo Alqueva e apreenderam os segredos de sexo, droga e cultura que se vivem em Amesterdão. Entre Vela e Futebol, falámos de desporto, mas também de professores, de meio ambiente, tecnolo-gia, impostos, lei, poesia e política. Espreitámos para o mundo dos góticos e vimos essa curiosa iniciativa que é organizar concertos para bebés.

Mantivemos a tradição de acompanhar os ciclos de debates do Clube dos Pensadores e fizemos uma visita ao Tibete.

A entrada no segundo semestre de publicação voltou a trazer à Perspectiva a Grande Entrevista, na figura de um homem extraordinário e muito polémico da nossa socie-dade, o Padre Maia, empenhado em trabalho humanitá-rio e profundamente entrosado num mundo de marginais e excluídos.

Estivemos em Marrocos com Elisabete Jacinto e apren-demos a andar de bicicleta em Paris.

Uma extensa e difícil pesquisa revelou-nos os segre-dos de uma comunidade "gay" subterrânea que proposi-tadamente se inter-contamina de SIDA, em rituais deno-minados "Bareback". Assistimos ao lançamento de dois livros, um dos quais do nosso colaborador Pedro Mota, com textos já publicados na Perspectiva e outros que foram saindo entretanto.

Voltamos ao tema dos animais, da poesia e da lei, desta vez na óptica das mulheres grávidas. Fizemos mais uma viagem pelo interior do país e outra ao mundo do "Hip-Hop". Falámos de medicina e poesia, de política e dos encantos de Lisboa, de Che Guevara, da extrema-direita na Europa, de armas de destruição massiva, de pedofilia e automóveis.

Divulgámos uma proposta terapêutica para uma doença incurável e até escrevemos uma carta ao primeiro-minis-tro.

Fotografámos uma "árvore eléctrica" que a EDP fez nascer em terreno alheio, estivemos numa Conferência que reuniu África e Europa e fomos saber como é que uma estátua de um ditador africano apareceu no cimo de megalitos pré-históricos, lá para os lados de Pero-Pi-nheiro, sem esquecer uma breve paragem num monu-mento fálico, também pré-histórico, remanescente dos ritos de fertilidade dos nossos antepassados.

Page 13: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

78

PERSPECTIVA

JUNHO 2008 13

A sétima edição levou-nos a um mundo paralelo e quase invisível para quem o não quer ver, o das pessoas porta-doras de deficiência. Aprendemos o que não sabíamos, divulgámos o que é preciso.

Aí encontrámos também Célia Sousa, uma pioneira que colocou Portugal na linha da frente das técnicas de acesso à sociedade de informação por parte dos deficien-tes, que descobríramos na edição inaugural e nos fez o ponto da situação sobre o evoluir deste tipo de iniciati-vas.

Descobrimos também muitos dos segredos bem escon-didos por entre os "lobbies" da segurança privada. Visitá-mos um recinto megalítico mais antigo que Stonehenge, perto de Évora, "metemos uma cunha" ao menino Jesus e visitámos os monstros marinhos do Oceanário. Falou-se do QREN, do ambiente e de gestão empresarial. Paulo Portas falou de "Oposição" no Clube dos Pensadores e demos um salto a uma Ilha grega (onde foi filmado "The Big Blue"), para visitar o Mosteiro Bizantino que ali se encaixa numa colina. Houve, claro, artigos de opinião e crónicas, incluindo a "Carta de trás da Serra", que men-salmente Paulo Moura dirigia a um "amigo em Lisboa" que toda gente percebia quem era…

Nesta edição, Pedro Mota mostrou o exotismo dos mares do Sul e Isabel Serra deu uma lição de Yoga, a partir do coração da Índia.

Antes mesmo da oitava edição, a Perspectiva envolveu-se naquele que terá sido seu tema mais polémico e também o mais mediático: a alegada portugalidade de Cristó-vão Colombo, o "Alentejano que descobriu a América", segundo extensas investigações de autores cujos livros e respectivos conteúdos inspiraram o trabalho.

Fizemos uma "Edição Especial" para acompanhar a ante-estreia do filme de Manoel de Oliveira sobre o tema, na vila alentejana de Cuba, onde terá nascido o navega-dor, e publicámos um vasto trabalho, produto de muita investigação e inúmeros testemunhos, na nossa edição regular de Janeiro, depois já de a comunicação social ter reagido, em poucos dias, com mais de cinquenta noticias relacionadas e de ter sido organizado um debate na tele-visão.

O resultado de todo esse trabalho foi recentemente edi-tado num livro que condensa, em 40 páginas, tudo quanto se sabe sobre o assunto. Mas nem só de Descobrimentos se falou nessa edição: comentámos a recente Lei sobre tabaco, estivemos num debate sobre jornalismo, antevi-mos o Carnaval de Ovar, falámos de energias positivas, fomos perceber porque é que Ana Anes teve "7 anos de mau sexo", abordámos a segurança rodoviária e fizemos uma visita à Suíça.

A propósito de Colombo, entrevistámos o presidente da Câmara de Cuba e também o do "Núcleo dos Amigos da Cuba", r e s p e c t i v a m e n t e Francisco Orelha e Carlos Calado, publi-cámos um artigo e uma entrevista com o Dr. Manuel Luciano da Silva, o investiga-dor sobre cuja vida Manoel de Oliveira fez o filme e, claro, o próprio realizador.

Page 14: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

9

10

PERSPECTIVA

14 JUNHO 2008

A nona edição levou-nos ao mundo Jogo e aos dramas em que o vício envolve quem cai nele.

Estivemos com Manuel Alegre no Clube dos Pensado-res e entrevistámos o mentor do Clube, Joaquim Jorge, também nosso colaborador. Falámos de ambiente e publi-cámos um Dossier sobre Gestão Empresarial, outro sobre Novas Oportunidades.

Ao nosso leque de colaboradores, como Jorge de Castro ("O Adejar da Mariposa"), Isabel Serra (Yoga), Pedro Mota ("A Latitude do Olhar"), Paulo Moura ("Carta de trás da Serra"), Débora Lopes (Lei), Maria José Peres (Literatura), Suzana Mendes (Angola), Sara Santos (Deficientes), Alexandra Macedo (Moda), João Malheiro, Eduardo Madeira e Manuel Serrão (Futebol), Faustino Igreja Luís (Moçambique), José Fanha Poesia), Pedro Mariano (Paris), António Massa (Medicina), Luís Patraquim (Reportagem), Susana Fonseca (Ambiente) e aos autores de artigos de opinião, como Yves Turquin, Mafalda Ribeiro, Joaquim Jorge, Vítor Rodrigues, Padre Maia, Carlos Sinogas, Ana Anes, Miguel Costa, Luís Saboga Nunes e Fernanda Feitas, juntou-se uma nova colaboradora de prestígio, a Dra. Isabel do Carmo.

Como foi sendo habitual, também neste número falá-mos de saúde, lazer, animais, desporto e tecnologia.

Iniciámos ainda uma rubrica sobre cinema, com agenda e apontamentos de crítica.

O carismático realizador português António-Pedro Vas-concelos, por muitos conhecido também pela sua partici-pação semanal num debate televisivo sobre futebol, fez a capa e foi Grande Entrevista na nossa décima edição.

Opiniões fortes e posições polémicas fizeram desta peça uma abordagem diferente a muitas das coisas que interessam a opinião pública e os portugueses. Falou-se também de moda e turismo, política, internet, saúde e tec-nologia. Provaram-se produtos regionais das nossa tradi-ções e fez-se crítica de cinema.

Vários artigos de opinião enriqueceram as páginas, com um Dossier especial a debruçar-se sobre Cidades e Mobilidade, e vários trabalhos, de novo, sobre Gestão Empresarial.

Page 15: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

1112

Visite-nos em

www.revistaperspectiva.info

PERSPECTIVA

JUNHO 2008 15

Finalmente, UM ANO!Um olhar de aprendizagem para trás, outro de motivação para a frente!

Homenagem aos 80 anos de carreira e 100 de idade de Manoel de Oliveira, a Conferência Internacional em Cuba para onde convergiu tudo quanto a Perspectiva divulgou sobre as novas descobertas históricas relaciona-das com Cristóvão Colombo, bem como os seus autores, incluindo os que vivem noutros países. Como é hábito, há mais crónicas e artigos de opinião.

Outra vez ainda, uma aquisição de prestígio nessa área, um novo colaborador: o Tenente-Coronel Brandão Fer-reira, homem de opiniões fortes e inabalável lucidez, que trará à Perspectiva muitos dos temas em que tanta gente tem medo de falar…

De resto, a vontade firme de honrar o público que nos lê com a verdade que merece: como ficou dito, com toda a simplicidade, "um olhar de aprendizagem para o passado, outro de motivação para o futuro!"

O último número falou de cães perigosos, que afinal parece que não são tão perigosos como os seus donos e a revista sofreu uma baixa: o repórter Leandro Santos visi-tou Macau, fez a reportagem, mostrou na capa como tudo aquilo é bonito… e ficou tão apaixonado pelo antigo ter-ritório português que se mudou de armas e bagagens e agora vive e trabalha lá!... (Boa sorte, Leandro!)

Neste número acompanhámos uma iniciativa da Câmara de Matosinhos que reuniu cerca de quarenta escritores de Literatura de Viagem e um deles (o nosso, Pedro Mota), mostrou-nos a Mongólia. Falou-se de urba-nismo, do 25 de Abril, de ensino superior, segurança ali-mentar e responsabilidade social. Isabel do Carmo pôs o dedo na crise dos alimentos e o desporto motorizado ocupou algumas páginas.

Ambiente e saúde foram temas tratados e a ASAE não escapou aos alfinetes da "opinião", tudo acondicionado com notícias frescas sobre música e literatura.

Page 16: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

Intervenção do Presidente da República na Sessão de Encerramento do V Encontro Nacional de Inovação COTEC 2008

“O reforço da inovação empresarial continua a ser um tema central a nível europeu e um objectivo comum a todos os países. De facto, no próprio centro da estraté-gia renovada de Lisboa coloca-se a questão de saber que medidas podem promo-ver o aumento da eficiência do processo de inovação, de modo a conseguir resulta-dos concretos e palpáveis em termos de novos produtos e serviços, menores custos operativos e mais emprego nos sectores de elevada intensidade tecnológica.

© 20

06-2

008 P

resid

ência

da R

epúb

lica P

ortu

gues

a 1º ANIVERSÁRIO

16 JUNHO 2008

(...) Em Portugal, e apesar dos progressos observados nos últimos anos, em alguns sectores, o desempenho da ino-vação empresarial continua a situar-se bastante aquém da média europeia. Esta constatação é manifestamente preo-cupante e contrasta, de resto, com o progresso do investi-mento público em actividades de investigação.

O desempenho recente da nossa economia e os acrescidos desafios que o futuro deixa antever não nos permitem outra alternativa que não seja a de aprofundar a transição para um novo modelo de crescimento económico, baseado na utilização do conhecimento e na inovação. Ora, isso exige, e com sentido de urgência, o reforço do investimento nestas áreas.

É sabido que a situação conjuntural da economia portu-guesa, assim como as limitações da procura, tendem a con-dicionar os níveis de investimento em inovação. Mas é também sabido que a melhor forma de suavizar o impacto de flutuações conjunturais e de assegurar o potencial de crescimento económico passa por uma aposta forte na reso-lução das debilidades estruturais das empresas e da econo-mia portuguesas.(...)

Nas últimas duas décadas, tem-se registado uma pro-funda evolução na maioria das instituições do sistema cien-tífico nacional, cujos resultados tenho acompanhado atra-vés dos Roteiros para a Ciência.

A par do desenvolvimento e do reforço das capacidades e competências dos centros de investigação, verifica-se um aumento significativo quer do número de investigadores qualificados quer da produção de conhecimento científico dirigido aos sectores produtivos.

As instituições científicas portuguesas passaram a dar resposta a muitos dos problemas que lhes são colocados pelas empresas.

Assiste-se, de resto, à progressiva internacionalização da investigação nacional, como reflexo da integração cres-cente dos nossos investigadores em redes científicas inter-nacionais.(...)

Parece, por isso, paradoxal que, apesar dos exemplos positivos, a cooperação entre as instituições dos siste-mas científico nacional e as empresas se tenha mantido, no geral, em níveis limitados, sobretudo tendo em conta o potencial de oferta de conhecimento do sistema científico hoje disponível e a necessidade de as empresas se mante-rem competitivas. Convido, por isso, os senhores empre-sários e gestores a tomar a iniciativa e a conhecer mais de perto o dinamismo e as capacidades das nossas instituições científicas.(...)”

Excerto da Intervenção do Presidente da República na Sessão de Encerramento do V Encontro Nacional de Inovação COTEC 2008

discurso na íntegra em www.presidencia.pt

Page 18: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

1º ANIVERSÁRIO

18 JUNHO 2008

Como está e para onde caminha Portugal?

Manuel Pinho, ministro da Economia e da Inovação, num curto depoimento à

Revista Perspectiva, deixa uma mensagem de tranquili-dade, grande optimismo e apela à inovação. Refere que o país deve centrar-se na angariação de grandes investi-mentos que se traduzam na criação de postos de trabalho e numa maior competitividade do país. Dá como exemplo a inauguração da fábrica da SWEDWOOD, do grupo indus-trial da IKEA, em Paços de Ferreira que, em seu enten-der, funciona como um “espanta espíritos” para o clima de

crise que se está a instalar. Esta é uma “empresa âncora”, conquistada pelo governo português, que além de dinami-zar economicamente a região onde está inserida, contri-bui de uma forma significativa para o aumento do volume de exportações. Está em causa um investimento de 135 milhões de euros.

Para Manuel Pinho “todas as empresas são importantes, desde as grandes, às médias e pequenas”, salvaguardando que as mesmas “têm sido muito apoiadas, aliás há cente-nas de projectos novos e alguns muito inovadores”.

Manuel Pinho deixa mensagem optimista

© ww

w.po

rtuga

l.gov

.pt

Page 19: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

1º ANIVERSÁRIO

JUNHO 2008 19

Tornar sustentável o desenvolvimento: Mais competitividade e mais justiça social

Por José António Vieira da Silva, ministro do Trabalho e da Solidariedade Social

Em décadas recentes, e numa tendência que se tem vindo a aprofundar, os modelos económicos e sociais dos países europeus têm vindo a ser confronta-dos com novos e mais exigentes desafios.

É comum apontar-se as mudanças induzidas pela globalização dos mer-cados e, no longo prazo, pelo envelhe-cimento da população como estando entre os principais factores de pressão. Certo é que, por diferentes vias, tornar sustentável, quer a protecção social, quer todo o modelo económico passou a estar entre as prioridades cimeiras nas agendas políticas dos diferentes países.

A nova agenda da sustentabilidade incorpora não apenas a questão da sus-tentabilidade financeira (equilíbrio das contas públicas), mas também uma dimensão económica (impactos sobre o emprego e a competitividade das empresas) e uma dimensão social (ade-quação das políticas às necessidades dos cidadãos e impactos na coesão). Nesta acepção, crescimento econó-mico e coesão social não são caminhos diferentes, são dois factores necessá-rios que se reforçam mutuamente para a produção de bem-estar sustentável. É este horizonte alargado que está na base de estratégias consequentes de desenvolvimento.

Em Portugal, não faltam exemplos desta agenda. Um dos mais estrutu-rantes é a aposta no potencial humano e nas qualificações, aprofundada em diferentes domínios - que vão do Pro-grama Novas Oportunidades ao reforço da formação de activos e à decisiva ambição de redução do abandono escolar precoce. A melhoria das qua-lificações será, seguramente, o mais

determinante progresso para reduzir estruturalmente as desigualdades.

Mas, ao mesmo tempo que se deram passos sólidos no plano da consolida-ção orçamental num cenário econó-mico complexo, estão também a ser produzidos avanços muito significa-tivos no plano das políticas sociais. Alguns exemplos marcantes: o com-bate à pobreza nos idosos, por via do Complemento Solidário para Idosos; o reforço das prestações familiares, especialmente intenso nos segmentos mais desfavorecidos; ou o Programa PARES (Programa de Alargamento da Rede de Equipamentos Sociais), que marca um forte investimento do Estado na melhoria generalizada, mas em função das necessidades, da rede de equipamentos sociais, aumentando a cobertura de creches, lares e outros serviços.

E porque é no mercado de trabalho que se materializa, em larga medida, o desempenho da economia e o acesso aos rendimentos e ao bem-es-tar por parte de milhões de pessoas, há também uma aposta forte na melhoria das suas condições de regulação.

Actualmente, a reforma das relações laborais, que está em fase de conclu-são, é mais um exemplo desta agenda de desenvolvimento em que competiti-vidade e coesão são prioridades equi-libradas. Por um lado, um dos grandes objectivos é reforçar a competitividade das empresas, promovendo a sua adap-tabilidade interna e um maior papel da negociação colectiva entre emprega-dores e trabalhadores na criação das condições adequadas para cada sector e empresa. Mas esta reforma não pode deixar de ter uma forte componente de combate à precariedade pela redu-ção das desigualdades: equilibrando as responsabilidades sociais entre contra-tos a termo e contratos sem termo e no recurso ao trabalho independente, ao mesmo tempo que é reforçado o com-bate aos recibos verdes ilegais e pro-movida a efectividade da legislação.No fundo, em diferentes domínios, é a sustentabilidade – financeira, econó-mica e social – que está no nosso hori-zonte. Em nome das necessidades prio-ritárias do país: mais competitividade, mais qualificação e mais justiça social.

Um bom exemplo foi o importante acordo entre todos os parceiros sociais sobre a elevação anual do salário mínimo nacional de modo a que este atinja os 500 euros em 2011, com impactos directos nos segmentos de trabalha-dores e famílias com rendimentos mais baixos.

Page 20: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

1º ANIVERSÁRIO

20 JUNHO 2008

Como está e para onde caminha Portugal? Solidariedade SocialPerspectivar o futuro não é tarefa fácil e a área da Solidariedade não constitui uma excepção.

Por Luís Barbosa, presidente nacional da Cruz Vermelha Portuguesa

Perante a crescente complexidade das situações a melhor metodologia é observar cada problema de diversos ângulos. Para cada área de estudo esta diversidade de perspectivas propicia-nos um espectro largo de observação gerador de convergências e também de contradições, o que estará certa-mente mais perto da realidade. Em muitos casos não chegaremos a con-clusões mas simplesmente a inquieta-ções, alertas e necessidades de inves-tigação.

Em Portugal, verifica-se uma pulve-rização de iniciativas de Solidariedade Social o que é um sintoma positivo de expansão de preocupações solidárias, mas também levanta diversas dúvidas sobre a eficácia das acções e das insti-tuições face às prioridades conhecidas ou pressentidas da sociedade.

Por outro lado, à medida que a evo-lução das comunidades nos coloca perante realidades em cada dia mais complexas, a fronteira entre as obri-gações do Estado Social e o volunta-rismo solidário é mais difícil de esta-belecer.

Um Estado Social, em teoria, garante aos cidadãos um conjunto definido de direitos. Neste contexto, não faz sentido que a solidariedade privada se substitua ao Estado Social.

Teoricamente, este princípio parece indiscutível mas, na prática, as carên-cias ou insuficiências são patentes.

Assim, consideramos que o Estado, isoladamente ou em colaboração com

as instituições privadas de solidarie-dade social, deverá actualizar per-manentemente um diagnóstico rea-lista das necessidades sociais e com o mesmo realismo aceitar os limites que os recursos financeiros disponí-veis e mobilizáveis lhe impõem. Face às incapacidades detectadas, o Estado deverá aceitar os limites da sua inter-venção e desafiar a solidariedade pri-vada e as suas instituições para pre-encher os vazios ou as insuficiências existentes.

No início do Século XXI, em Por-tugal, é desejável que o Estado Social esteja consciente das suas limitações e peça ajuda quando precisa. O que não é de todo aceitável, numa perspectiva humanitária, é que se viva a ilusão de que o modelo social do Estado vai chegar a todo o lado e resolver todas as situações.

Um outro ângulo de análise revela-nos que na última década as empre-sas começaram a tomar consciência

de que as suas responsabilidades eram económicas, financeiras, de formação e motivação dos seus recursos huma-nos e, também, de natureza social e ambiental.

Nesta área, estamos a dar os primei-ros passos e como é normal, ao ini-ciar um novo caminho, os resultados são de eficácia melhorável. A apren-dizagem tem que ser feita quer pelas empresas, quer pelas instituições de solidariedade social e, também, pelo próprio Estado.

Esta área é relevante embora, como não pode deixar de ser, proporcional à dimensão da nossa Economia e do nosso tecido empresarial.

Noutro ângulo de análise, consta-tamos que o Estado Social se serve das instituições privadas para pres-tar muitos dos serviços que garante. Esta é uma forma de reduzir custos. O voluntariado, próprio das institui-ções privadas, constitui uma preciosa ajuda, pela redução de custos que representa e também pela dedicação dos voluntários.

No que respeita à Acção Social, conseguiu-se uma clareza muito positiva nas relações entre o Estado e as Institui-ções, mas o mesmo não se poderá dizer na área da Saúde onde proliferam alternati-vas multivariadas à procura de um modelo global estável.

Para que as Instituições Privadas de Solidariedade possam produzir bom

Page 21: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

1º ANIVERSÁRIO

JUNHO 2008 21

trabalho na área da Saúde é necessá-rio que o Estado defina com estabili-dade o que lhe compete e o que pre-tende obter das Instituições.

A estabilidade de relacionamento que se preconiza entre o Estado Social e as Instituições não pode significar imobilismo nas soluções. Pelo con-trário, impõe-se um esforço conjunto de trocas de saberes e experiências, transparente em matéria de custos, realista nas exigências de qualidade e sobretudo em adaptação permanente a novos conceitos e a novas leituras das necessidades.

Em síntese podemos dizer que, ao longo das últimas quatro décadas, se fez um longo e positivo percurso em matéria de solidariedade social.

Também não há dúvida que as necessidades em matéria social vêm aumentando a um ritmo cada vez mais exigente: por razões demográfi-cas, pela explicitação de situações que viviam encobertas e que uma socie-dade moderna tem que combater (vio-lência doméstica, jovens em risco), pelo efeito de uma sociedade que se desestrutura e muda de valores provo-cando dificuldades de transição.

Sem pôr em causa os objectivos fundamentais do modelo social criado é um bom momento para repensar as tarefas e a sua distribuição pelos diversos agentes.

Impõe-se uma adaptação dos recur-sos às prioridades e também uma co-responsabilização dos cidadãos. A sociedade está desperta e activa em matéria de solidariedade social mas a gestão criteriosa dos recursos é cada vez mais uma obrigação imposta por uma visão humanitária da sociedade em que vivemos.

Não queremos deixar de refe-rir nestes breves apontamentos que a solidariedade é constantemente desafiada pelas notícias e pelas ima-gens dramáticas que nos chegam do Mundo.

A solidariedade entre os povos que habitam o planeta constitui em cada dia um mais forte apelo à ajuda que devemos a seres humanos confronta-dos com duras provações.

Não podemos ficar confinados a um egoísmo racional relativamente confortável, apesar de todas as carên-cias e dificuldades.

Como membro da grande organi-zação humanitária internacional que é a Cruz Vermelha não posso des-viar os olhos das imagens terríveis que me chegam e de crescentemente estender o esforço de Solidariedade a outros povos que só com a nossa ajuda poderão sobreviver e superar os dramas que os atingem.

Page 22: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

1º ANIVERSÁRIO

22 JUNHO 2008

Como está e para onde caminha Portugal? Igualdade entre Homens e Mulheres

Por Elza Pais, presidente da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género

A Igualdade entre Mulheres e Homens é um princípio da Constituição da República Portuguesa e uma das tarefas fundamentais do Estado Português, que deve, não só garantir o direito à Igualdade, mas, também, assumir a sua promoção. Trata-se de uma responsabilidade inequívoca de todos os poderes públicos e de todas as pessoas.

Constata-se que a subalternização das mulheres em muitas esferas da sociedade continua a impedir que a Igualdade consagrada na lei tenha os necessários reflexos práticos.Dados estatísticos recentes demonstraram a persistência de uma fraca representação feminina na tomada de decisão, bem como a intensificação de evidências de maus-tratos contra as mulheres, a sua maior vulnerabilidade à pobreza e exclusão social, a sua precariedade laboral e uma afectação não equitativa das responsabilidades familiares e domésti-cas.

Com efeito, se a participação de raparigas e de rapazes é igualitária em todos os graus de ensino, excepto no ensino superior, onde as raparigas constituem a maioria (65,9 % dos diplomados, em 2004), e se as portuguesas apresentam uma das mais elevadas taxas de actividade da União Euro-peia (68,1 % para as mulheres entre os 15 e os 64 anos, em 2005), continua, em contrapartida, a existir uma forte segregação horizontal e vertical do mercado de trabalho, com repercussões na diferenciação salarial, que é da ordem dos 20 %. Na família, a desigualdade de repartição das res-ponsabilidades familiares e domésticas traduz-se numa dife-rença de 3 horas que as mulheres gastam a mais, em relação aos homens, em trabalho doméstico e familiar.

Outro indicador da desigualdade de poder na família é expresso pelo número de ocorrências de violência domés-tica registadas nas diversas forças de segurança (22 063 em 20071), das quais mais de 80% são de violência conjugal.

Também os estereótipos de género continuam a ser deter-minantes na construção das desigualdades entre mulheres e homens, afectando todas as esferas da vida social, política, económica e cultural, condicionando os nossos valores, lin-guagem, expectativas, comportamentos e opções.

Urge, assim, para construir uma cidadania activa e res-ponsável, desenvolver um esforço concertado de combate aos estereótipos de género em todas as áreas e, em particu-lar, na educação e formação, na saúde, no mercado de traba-lho, no desporto e na cultura, na comunicação social, bem como em todos os domínios da vida política e pública.

Ao nível da tomada de decisão política, esperamos que a recente Lei da Paridade venha a combater, já nas próximas

eleições, os desequilibros de representatividade de homens e mulheres na política. Na Assembleia da República as mulhe-res eleitas em 2005 constituíam 21,3% do total de deputa-dos, e nas Câmaras Municipais a percentagem de mulheres eleitas como presidentes, em 2005, foi de 6,2%.

Quanto à tomada de decisão econó-mica, a situação de desigualdade é ainda mais expressiva: quando se analisam os conselhos de adminis-tração das 50 maiores empresas, a representação de mulheres é de apenas 3%.

Por outro lado, as situações de discriminação múltipla exigem uma particular atenção atendendo às situações de desigual-dade de oportunidades e discriminação que as mulheres enfrentam cumulativamente em função da raça, território de origem, religião, deficiência, idade ou orientação sexual.

As políticas de Igualdade entre Homens e Mulheres tor-nam-se cada vez mais fundamentais para uma vivência plena de uma cidadania que integra os Direitos Humanos e contribui para o aprofundamento da democracia. Neste sen-tido, o “III Plano Nacional para a Igualdade – Cidadania e Género” (III PNI), o “III Plano Nacional Contra a Violên-cia Doméstica” (III – PNCVD) e o “I Plano Nacional Contra o Tráfico de Seres Humanos correspondem a uma fase de consolidação das políticas nacionais no domínio da Igual-dade de Género.

Há ainda que salientar o esforço político que tem vindo a ser feito para afirmar a cidadania, a coesão social e a igual-dade de género, nomeadamente através da definição de um Eixo Prioritário para a Igualdade de Género no Quadro de Referência Estratégico Nacional, que permitirá reforçar de uma forma significativa a utilização dos fundos estruturais para a para a promoção da Igualdade de Género, através do reforço dos instrumentos de política e de uma maior partici-pação da sociedade civil neste domínio.

1 O registo da violência doméstica pelas forças de Segurança. Análise do período de 2000-2007, Direcção-Geral de Administração Interna, Fevereiro de 2008.

Page 23: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

1º ANIVERSÁRIO

JUNHO 2008 23

Como está e para onde caminha Portugal?

A mais recente evolução do país revela que chegaremos ao final da primeira década do Século XXI confrontados com as

mesmas fragilidades e os mesmos problemas que tínhamos quando do seu início. A persistência nas mesmas políticas, não só não resolve-ram os principais problemas do país, nomeadamente os seus crónicos défices estruturais (tecnológico, de qualifi-cações, energético, alimentar, entre outros), como estão a conduzir o país a mais desigualdade e mais injustiça e à insustentabilidade económica, ambiental e social.

Somos o país socialmente mais desigual da Europa.

Injustiça evidente na desnivelada distribuição da riqueza nacional e na sua contínua polarização, resultante de uma política que premeia a especulação financeira, bolsista e imobiliária em detrimento dos rendimentos do trabalho e das pequenas actividades empresariais.

Insustentabilidade económica decorrente de um mercado abandonado à predação dos grandes grupos monopolistas que condicionam de forma absoluta o desenvolvimento geral do país ao critério da maximização dos seus lucros.

Insustentabilidade ambiental de uma política energética presa aos combustíveis fósseis, na rodovia, no privado e na transformação dos bens ambientais em mercadoria.

Insustentabilidade social decorrente dos elevados níveis de pobreza, desemprego e precariedade.

Sem ruptura com as actuais políticas de direita, de matriz neoliberal e monetarista, não há solução duradoura para uma vida melhor.

Subscrevi há dias um apelo, em conjunto com cidadãs e cidadãos com vários percursos na esquerda - como Manuel Alegre e Isabel Allegro de Magalhães, entre muitos outros - que procu-rava responder à primeira pergunta que me faz a “Perspectiva”: afinal, 34 anos após a Revolução de Abril, como vai o país?

Por Francisco Louçã, Bloco de Esquerda

Por Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP

Esse apelo descreve o Portugal do presente, assinalando que “apesar do muito que Portugal mudou, o ambiente não é propriamente de festa. Novas e gritantes desigualdades, cerca de dois milhões de portugueses em risco de pobreza, aumento do desemprego e da precariedade, deficiências em serviços públicos essenciais, como na saúde e na educação. Os rendimentos dos 20 por cento que têm mais são sete vezes superiores aos dos 20 por cento que têm menos. A corrupção e a promiscuidade entre diferentes poderes cria-ram no país um clima de suspeição que mina a confiança no Estado democrático”. Assim vai o país em 2008.

Sabemos que o país está a ficar mais pobre, mais injusto e mais desigual a cada ano que passa. Este apelo diz-nos que há hoje na esquerda quem não se con-forme com este caminho que o pensamento único diz ser a única alternativa.

Esta é a nossa responsabilidade: juntar a força social trans-formadora para derrotar as políticas neoliberais e trazer os direitos sociais e o combate às desigualdades para o centro da política. Porque os que hoje mais sofrem não podem ficar na berma dos caminhos do futuro.

Page 24: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

Por Pedro Ribeiro, director Outlet Tui

1º ANIVERSÁRIO

24 JUNHO 2008

Como está e para onde caminha Portugal? Crescimento sustentado em todos os sectoresAinda a atravessar um período de crise económica, o nosso país sempre revelou capacidade de inverter situações idênticas no passado, assistindo-se poste-riormente a um crescimento sustentado em todos os sectores.

Actualmente vejo a situação econó-mica do país vizinho como uma grande oportunidade para as empresas Portu-guesas, não só ao nível da sua interna-cionalização, mas principalmente no potenciar do seu portfolio de negócios a nível nacional através de parcerias e exportação de novos conceitos.

A entrada na União Europeia e a libe-ralização das fronteiras foram marcos decisivos para o nosso mercado, prin-cipalmente o mercado ibérico, facili-tando as trocas económicas ente Por-tugal e Espanha, o intercâmbio de investimento e o know how existente em diversos sectores.

Ao longo de 2007, as saídas de resi-dentes do território português regista-ram um aumento de 14,2%, num total de 20,9 milhões. Esse aumento foi mais assinalável através das fronteiras rodoviárias, consequência directa dos preços mais apelativos do outro lado da fronteira, sobretudo nos combustíveis. No sentido oposto, nas entradas de não residentes, verificou-se um aumento de 5,1%, equivalendo a um movimento para Portugal de 23,7 milhões de pes-soas, sendo que Espanha foi o país que mais influência esta cifra.

Portugal não pode correr o risco de parar, a todos os níveis, e julgo que a primeira opção seria aumentar a nossa competitividade comparativa-mente com o país vizinho, adaptar a nossa legislação á realidade actual do mercado seria um primeiro passo de muitos.

No meu sector de actividade (indús-

tria dos Centros Comerciais), e à seme-lhança dos anos mais recentes, o mer-cado português de investimento em centros comerciais tem evidenciado um elevado dinamismo, com a reali-zação de vários negócios. Ao devolver retornos mais elevados do que os res-tantes sectores, este segmento é visto pelos investidores, nacionais e inter-nacionais, como um dos que apresenta as melhores oportunidades de investi-mento no mercado imobiliário nacio-nal.

A aposta futura terá de passar por novos formatos, projectos inovadores, adaptados á realidade onde se inserem aliando a componente comercial a uma variante de lazer, situação que se começa a verificar no resto da Europa.

A aposta na pequena e média dimensão e consequente dispersão geográfica é já uma realidade, o que proporciona a muitos portugueses, que anteriormente se tinham de deslocar aos grandes cen-tros urbanos, o acesso a comércio, ser-viços e lazer de qualidade, agora insta-lados localmente.

A evolução desta indústria passará igualmente pela reformulação de cen-tros já existentes, de forma a responder

às actuais exigências dos consumido-res, cada vez mais habituados á ele-vada qualidade do produto Shopping.

Um dos segmentos do imobiliário nacional que prevejo maior dinamismo no futuro é o segmento industrial e logístico, a criação de plataformas logísticas estrategicamente localiza-das relativamente aos principais pólos de consumo e produção, ás fronteiras marítima e terrestre, às infra-estruturas portuárias, acreditando que será uma das alavancas principais da nossa eco-nomia.

Considero que Portugal caminha na direcção certa, a maioria dos retalhis-tas que actuam no mercado português estão optimistas em relação á evolução do mercado, acreditando existir ainda espaço para a abertura de novos cen-tros comerciais, crescimento que será suportado pela evolução da rentabi-lidade do negócio, bem como pelas estratégias de expansão previstas.

(Fonte estatística: INE)

Page 25: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

OPINIÃO PERSPECTIVA

JUNHO 2008 25

“QREN”: Agora ou Nunca!Os últimos 15 dias têm trazido para a comunicação social e para o debate/combate político o recorrente tema da pobreza.

Foi constrangedora a forma como a classe política, no governo e nas opo-sições, abordou este drama humano que afasta tanta gente do acesso a uma vida compatível com a dignidade humana e com os mais elementares direitos de cidadania.

É uma vergonha a utilização já estafada das estatísticas, que servem sempre para todos os gostos! Como é possível que pessoas com respon-sabilidades políticas tenham de fazer grosseiras manipulações para expli-car aquilo que está à vista sem preci-sarmos de estatísticas nenhumas: há muito tempo que o país acusa as con-sequências de um projecto político de modelo de desenvolvimento que está errado.

Porquê? Porque promove desigual-dades sociais, é gerador de pobrezas em relação a pessoas, famílias, re-giões do país!

Em Abril foi-nos prometido um “D” que anunciava DESENVOLVI-MENTO. Fomos esperando por novos

ciclos políticos e económicos que conduzissem Portugal para um pata-mar de bem-estar económico e desen-volvimento social.

DESENVOLVIMENTO foi uma promessa não cumprida da revolução de Abril. E o povo agora pede contas a todos os que nos têm desgovernado!

Anda por aí uma nova esperança, a última oportunidade para acertar-mos o passo com a Europa: o QREN (Quadro de Referência Estratégica Nacional). Nome lindo! A Europa concedeu-nos o crédito de 307,9 mil milhões de euros uns largos milhões de milhões de euros para até 2013 mostrarmos o que valemos!

É agora ou nunca que Portugal pode reverter o seu modelo de desenvolvi-mento, preparando para as novas gera-ções um futuro que lhes faça esque-cer a memória de um passado que não honra quem tem dirigido o País!

É bom que os governantes saibam que nós sabemos o que eles não sabem: por mais “engenharia legislativa” que inventem para dar um ar de legalidade aos regulamentos dos vários Eixos do QREN, paira no ar uma justificada suspeita de pouca transparência na distribuição destas verbas comunitá-rias para aproximar Portugal e os por-tugueses de patamares de bem-estar social e desenvolvimento económico

que, por um lado, crie mais riqueza, e, por outro, crie condições para uma repartição mais justa da riqueza pro-duzida.

No âmbito do princípio da “sub-sidiariedade”, que se mantém e até saiu reforçado na nova versão do Tra-tado de Lisboa, é pressuposto que os Estado promovam um sério diá-logo em ordem ao estabelecimento de uma cooperação estratégica e partici-pada por parte de todos os parceiros sociais!

É bom que os governantes saibam que nós sabemos e estamos de olho neles para ver até que ponto estas verbas se dirigem para os objectivos apresentados no momento da sua justificação em Bru-xelas, a saber:

- aumento da capacidade de adap-tação dos trabalhadores e das empre-sas;

- reforço ao acesso ao emprego, prolongando a vida activa;

- promoção da integração de pes-soas em situação de desvantagem no mercado do trabalho;

- estímulo de parcerias para refor-mas nos domínios do emprego e da inclusão social.

Para já, há um incompreensível atraso no arranque de projectos com-participados pelo QREN: Já deveriam estar em andamento a partir de Janeiro de 2007! Estamos em Junho de 2008 e…com um bocadinho de sorte, só lá para 2009 (ano em que, por acaso, há eleições) é que o País começará a receber os apoios que a Europa lhe prometeu!

» Padre José Maia

Page 26: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

OPINIÃO

De quando em vez soa o alarme na opinião publicada (pois na opinião pública o alarme já se sente, faz tempo…), porque há um surto de criminalidade, nomeada-mente crimes de sangue. Estamos novamente num momento destes. Tenham espe-rança: a situação vai piorar!

» Ten. Cor. Brandão Ferreira

PERSPECTIVA

26 JUNHO 2008

A Criminalidade … Faz-nos Sorrir!

O retrato é este:Consumo de droga à rédea solta,

apesar das apreensões serem às tone-ladas; roubos e burlas em crescendo e cada vez mais inventivos; raptos e lenocínio um pouco por todo o lado; exploração sub humana de emigran-tes; assaltos, os mais variados a toda a hora e lugar; guerras de gangs; fuga aos impostos; lavagem de dinheiro e engenharias financeiras fraudulentas, fora de controlo adequado; violência doméstica, q.b. Etc.. Daqui passou-se, obviamente para os crimes violentos e até para o aumento dos assassinatos por encomenda.

Ora toda esta situação, que não pára de se degradar, põe em causa não só a nossa integridade física e moral, como nos coarta a liberdade da exis-tência nas suas múltiplas facetas.

Não entendemos, porém, a admira-ção e o espanto que por aí lavram por as coisas se estarem a passar assim. E por isso nós sorrimos …

Então há já mais de três décadas que tudo se tem feito para tornar as coisas ainda piores do que o que estão e os cidadãos admiram-se? Então não nos entretivemos a criar uma socie-dade indisciplinada, abandalhada e mal educada? Não facturámos com o relativismo moral? Não deixámos desaparecer a censura social? Não se desautorizaram as polícias, a ponto de as termos desmoralizadas? Não miná-mos a cadeia hierárquica das Forças de Segurança ao passo que as inundá-mos de sindicatos e associações? Não criámos um sistema de justiça inope-rante com um emaranhado de leis per-feitamente desajustadas da realidade em que se aplicam e que protegem objectivamente quem se porta mal em detrimento de quem cumpre os seus deveres e é honesto? Não se criou uma organização judiciária altamente dispendiosa e ineficaz em que procu-radores e magistrados se guerreiam por sistema? Não se impôs uma filo-sofia social em que os indivíduos são bons e a “sociedade” é que os estraga, originando uma cultura de irrespon-sabilidade? Não se criou um clima de tolerância face ao consumo e até ao tráfico de droga que chega ao ponto

João José Brandão Ferreira, 55 anos, Tenente-Coronel Piloto Aviador, Mestre em Estratégia, piloto de caça, instrutor de voo, Comandante de Linha Aérea, acumulou experiência ao longo de uma vasta carreira como oficial do Estado Maior da Força Aérea, Direcção Geral de Política de Defesa Nacional, assuntos internacionais, logística e planeamento estratégico. Foi Coman-dante da Base Aérea de Beja e Adido de Defesa na Guiné-Bissau, Senegal e Guiné-Conakri.

Possui o Curso Geral de Guerra Aérea e é membro da Sociedade Histórica para a Independência de Portugal, Sociedade de Geografia, Amigos de Olivença, Liga dos Combatentes, Associação da Força Aérea Portuguesa, Comis-são Científica da História Militar e colaborador da Revista Militar. Publicou mais de 500 artigos, fez meia centena de Conferências e é autor dos livros "Evolução do Conceito Ultramarino Por-tuguês", "Da Conquista de Ceuta à Conferência de Berlim", "Da Conferência de Berlim à Descolonização", "As Forças Armadas e a sua inserção na Sociedade" e "À Frente do Tempo". Homem temido, de opiniões fortes e cronista de grande prestígio, é Cavaleiro da Ordem Militar de S. Miguel da Ala.

Page 27: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

OPINIÃO PERSPECTIVA

JUNHO 2008 27

de se destribuir seringas nas prisões e fechar-se os olhos a que os presos se droguem? Então cada vez se limita mais, o uso e porte de armas à gene-ralidade dos cidadãos, enquanto o acesso a todo o tipo de armamento por parte dos marginais não deixa de aumentar? Por acaso não campeia a especulação imobiliària e financeira em detri-mento do trabalho sério, rigoroso e produtivo? E não se tem transformado o país num imenso casino onde não param de se inventar jogatanas onde a população se ilude à espera da sua sorte? E não abundam as discotecas e antros de vício onde a juventude se perde, em vez de se entreter no desporto, nas artes, em actividades de cariz cívico, religioso, ou outro a que corresponda uma mais valia? Por caso os órgãos de comunicação social sobrepõem a pedagogia social, a elevação dos programas, o rigor da informação, etc., aos seus interesses lucrativos, à concorrência desen-freada e ao aproveitamento dos baixos instintos humanas e, no âmbito que estamos a tratar, não se têm comportado como gasolina no meio de uma fogueira? Não se tem deixado entrar catadupas de emigrantes, sem qualquer critério ou crivo? Não se têm inventado as mais amplas amnistias e artifícios vários, para aliviar as cadeias superlota-das? Não se tem deixado criar e crescer pustúlas suburbanas, nas barbas de todos, cujos problemas são enfrentados apenas de forma eleiçoeira? Não se tem deixado o campo livre para que máfias internacionais se instalem? Não passámos anos e anos a discutir os pruridos de um sistema de informações em vez de montarmos uma máquina que funcione?

Ora perante tudo isto, e muito mais que não foi dito, que fazem os governantes? Fazem isto: manipulam as estatísticas; prometem mais meios, enco-mendam estudos, promovem reuniões e contratam asses-sores de imagem. De substância, nada!

E no éter regougam as opiniões dos tolos adeptos da teoria de “Bom Selvagem”, dos demagogos a falarem da pobreza e dos inocentes úteis que se lastimam da falta de “sensibilização”.No fim a gente atura, paga e sofre na carne e no espírito as consequências de tantos erros acumu-

lados, com uma passividade bovina que nos envergonha!Não, não temos razões para nos admirarmos de termos chegado a

este ponto, temos é de nos admirar de não estarmos pior.

Page 28: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

PERSPECTIVA

28 JUNHO 2008

Alerta. Há quem queira acabar com o Serviço Nacional de SaúdeÉ com muita preocupação que tenho ouvido e lido o que dizem sobre o Serviço Nacional de Saúde (SNS) algumas personalidades que se perspectivam na gover-nação do país. O que dizem e escrevem é simples – projectam acabar com o SNS e consideram a área da saúde uma das privatizáveis. É assustador. Mas pelos vistos não tão assustador que seja claro para a maioria das pessoas.

Os vários sistemasUm sistema de saúde pode assentar em várias fórmulas. Uma delas é a dos seguros de saúde, defendida pelos res-pectivos e poderosos lobbies. É o sis-tema que existe nos EUA. Neste país são desenvolvidas das melhores técni-cas e estudos do mundo, mas um terço da população fica de fora. Quem for pobre, não tiver seguro e tiver o azar de fazer uma fractura numa perna, ou não é operado ou fica empenhado até ao fim da vida. Mas também há os seguros com prémios baixos, próprios para pessoas modestas; só quando adoecem é que percebem que afinal o plaffond daquele seguro é muito baixo e não paga quase nada.

Há o sistema francês, em que a Sécurité paga os serviços privados (consultas, operações), para além da rede de serviços públicos. É cómodo, mas tem defeitos ao nível do controlo da quantidade e da qualidade dos ser-viços privados, que agem isolada-mente. Depende dos descontos e está a ser insustentável.E há os países com SNS – Portu-gal, Espanha, Reino Unido e países nórdicos. Neste sistema, o orça-mento da saúde depende do Orça-mento Geral do Estado e vive, por-tanto, essencialmente do bolo geral, dependendo da entrada de impostos, tal como a Educação. Ninguém des-conta para a saúde, excepto alguns sub-sistemas que ainda existem. Há no entanto muitas pessoas (provavel-mente a maioria) das que usufruem do SNS, que não pagam impostos porque ficam aquém do nível da taxação, que não descontam para a saúde como

ninguém desconta, mas que pensam e dizem que descontam... Trata-se de confusão com o desconto para a Segu-rança Social. Nós médicos ouvimos todos os dias pessoas que nos dizem “andei a descontar toda a vida”. O SNS é realmente universal e tenden-cialmente gratuito. Os grandes meios de diagnóstico e terapêutica, as TAC, as Ressonâncias Magnéticas, os tra-tamentos com radioterapia, os novos medicamentos biológicos, a hemodi-álise, as hospitalizações, as cirurgias. Tudo isso é gratuito e sai do Orça-mento Geral do Estado. É isso que as pessoas podem perder. Desde a orga-nização do SNS em Portugal passámos a ter dos melhores índices de saúde da Europa. Plano Nacional de Vacinação com rigoroso cumprimento. A morta-lidade infantil, que era das maiores da Europa passou em 30 anos de 52 por mil (o triplo da França no mesmo ano) para 4 por mil actualmente (o mesmo

OPINIÃO

» Isabel do Carmo

Há o sistema dos seguros obrigatórios, como a Suíça, país rico e estruturado, onde esta obrigação e o nível da prestação de serviços se mantêm com características especiais.

Page 29: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

PERSPECTIVA

JUNHO 2008 29

de França). A mortalidade materna passou de 54 (por 100.000) para 6 (em França é de 7). Isto é o resultado de melhores condições sociais, mas também dum SNS que pode ter defi-ciências, mas que funciona. É isto que podemos perder.

Contrapõem aqueles que querem acabar com o SNS uni-versal e gratuito que não é justo que os ricos tenham tudo isto ao mesmo preço dos pobres, isto é de graça. Até parece um ar-gumento socialmente justo. Mas não é. O outro lado desta proposta é que restringindo a gratuidade dos servi-ços aos pobres, o Estado pode “ema-grecer” em funcionários e custos. E portanto os impostos podem baixar...Logo a fracção social do bolo do or-çamento, isto é, a Saúde e a Educação são as primeiras prejudicadas. Assim teremos de facto uma saúde para os ricos, os que podem pagar, mas que pagarão menos impostos e uma saú-de para os pobres, a que fica reduzi-da aos mínimos. E, atenção, os ricos em Portugal quantos são? Pode haver uma classe média capaz de pagar uma consulta no consultório. Mas não es-tamos a falar disso, estamos a falar de altos custos de milhares e milhares

de euros. Repito: TACs, Ressonân-cias, radioterapias, medicamentos de alto custo. Até onde vai aquilo que se designa por “ uma vertente social do Estado” e que não passa dum conceito de caridade, agora apelidado de “soli-dariedade”, ou seja, ir dando qualquer coisa aos pobrezinhos para que não haja conflitualidade? Vai até ao me-dicamento para a diabetes ou também paga a Ressonância? Decidir que o sistema de saúde fica dependente des-tes critérios é um enorme retrocesso.

Afinal o Estado ao serviço de quem?Na esperança de que os serviços públicos caiam, têm-se construído os hospitais privados. Não se imagine que vivem ou vão viver dos paga-mentos das classes altas. Vão viver dos seguros e das contratualizações com o Estado. Ou seja, se o Estado não tiver hemodiálise eles vendem o serviço, se não tiver radioterapia eles vendem, se não fizer a cirurgia vão fazê-la. Aqueles que têm o pen-samento estratégico destas empresas de saúde são exactamente aqueles que na televisão e na imprensa falam contra o Estado e apelam ao seu “emagrecimento”. Mas nunca conse-

guiriam sobreviver sem ele.Tal como foi do Estado, parasi-

tando o dinheiro do Estado, que viveu a empresa que explorou o Hos-pital Fernando da Fonseca (Amado-ra-Sintra). Afinal com que dinheiro é que foi construído e equipado e de onde vinha o dinheiro para o seu orçamento anual? Um negócio de muito lucro e que foi pago por todos nós. As parcerias publico-pri-vadas custam-nos caro. Aquilo que se deve procurar é a boa gestão dos serviços públicos, tal como acontece nas EPEs, empresas públicas em que não há lucros privados, nem interes-ses privados, tal como acontece nos Hospitais de São João no Porto e Santa Maria em Lisboa, e em outros hospitais que têm demonstrado a sua boa evolução com este modelo. Demonstrado o seu bom fun-cionamento, está na altura de valorizar o seu pessoal, acabar de vez com o trabalho precário (foi o que já aconteceu no Hos-pital de Santa Maria) e encon-trar forma de reconstituir as carreiras médicas, as quais foram uma parte integrante da organização do SNS no nosso país.

OPINIÃO

Page 30: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

Pedro Mota

PERSPECTIVA

30 JUNHO 2008

Ed. 2

Lembrando… Viagem ao Alto Árctico

Latitude do Olhar

Ed.3

Lembrando… Viagem à Ilha da Páscoa

Estamos acima do Círculo Polar Árctico, agora o dia tem todas as horas e o Sol é uma girândola de fogo, sempre acima do horizonte. Não há noite, não há estrelas…

Esta expedição pelo Alto Árctico, tinha como missão recolher lendas e rituais do povo Inuit (Esquimós). De Nunavut, no Canadá, ao Alasca e à Gronelândia, este péri-plo pelas imensidões geladas brindou-me com o calor da hospitalidade dos Inuit.

Regresso de uma semana de pesca com o meu amigo Natar, a conversa está animada, ele é um excelente con-tador de histórias. Conta-me antigas tradições Esquimós. Ainda é cedo para voltar, diz-me ele a sorrir. Aproxima o barco de um icebergue que descia indolente o mar esta-nhado. Atracámos, subindo para a nossa ilha de gelo. Der-retemos no fogareiro um pouco de neve, como verdadeiros esquimós, ficámos a comer peixe cru em pequenos peda-ços e a beber chá. Ele conta-me histórias de trenós e iglus …eu conto-lhe a história de Dom Pedro e Inês de Castro, canta numa voz gutural provindo do fundo da garganta …eu canto o fado do embuçado. A partilha e a comunhão fazem renascer a esperança, nesse dia dourado, glorioso. Enquanto a nossa imensa jangada de gelo desliza, lenta-mente, em direcção a Sul.

Longe de tudo, a ilha da Páscoa, representa o paroxismo da solidão. Depois da imensidão solitária do Pacifico Sul, aportámos à Ilha da Páscoa, último ba-luarte de vida humana antes de alcançar os mares inóspi-tos da Antártida.

Na ilha da Páscoa foi encontrada a única escrita do Paci-fico. As pinturas encontradas em grutas, os trabalhos de cantaria e os altos-relevos, revelam tradições elaboradas e impares na história mundial. É o caso da fabulosa lenda do homem pássaro, em que cada clã disputava a suprema-cia sobre os demais. Os seus representantes reuniam-se na aldeia cerimonial de Orongo, sobranceira a um pequeno ilhéu onde nidificavam aves migratórias. Quando os sacer-dotes davam a largada, iniciava-se uma espécie de triatlo, com corrida até à beira-mar, natação até ao rochedo vizi-nho, e regresso pelo mesmo caminho com um ovo intacto, terminando a porfia com uma difícil escalada pela vertente mais íngreme de Orongo. O líder de clã que recebesse o ovo primeiro seria o chefe supremo no ano seguinte (Ariki).

Uma civilização elaborada e rica como a de Rapa Nui, possuidora de uma forte componente cultural, caiu em desgraça pela falta de cuidado sistemática com o meio ambiente. A loucura, a fome e o desespero conduziram-nos à disrupção total da sua sociedade e ao canibalismo. Mais tarde, aquando dos primeiros contactos com ociden-tais, não eram mais do que um povo disperso e esquálido, esquecidos das suas próprias lendas e história.

Um Ano Viajando

Page 31: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

PERSPECTIVA

JUNHO 2008 31

Ed.4

Lembrando… Timor Revisitado

Ed.5

Lembrando… Tibete, o Crime do Silêncio

Timor ficou muito tempo coberto pelo brumoso manto do esquecimento. Mas uma relação de quinhentos anos, deixa marcas viscerais, não se apaga com uma esponja.

A Terra ainda grita pelo horror que perpassou por aqui. Estou nas montanhas a norte de Los Palos. É um antigo campo de guerrilheiros, mas parece o jardim do Éden, com uma vegetação luxuriante e renques de fetos arbóreos a descer as encostas das montanhas, a água correndo a gor-golejar por todo o lado.

Até há pouco tempo havia cuidados marciais, com o perigo de denúncia a espreitar a cada passo. Ensinam-me a cozinhar sem fumo, com arroz colocado dentro de um bambu, e depois enterrando-o com brasas na terra. Os anti-gos guerrilheiros têm um ar hirsuto, mas gentil…ainda têm os olhos magoados. Muita morte aconteceu até nascer o país mais jovem do mundo. O troar dos canhões já se calou, as crianças já sorriem, mas é um sorriso triste, misto de desolação e esperança. De qualquer modo, já é um sus-piro de alívio da vida no seu eterno retorno.

Estamos no Tibete, os picos nevados da cordilheira dos Himalaias circundam o mosteiro de Tashilumpo. Há meses que um grupo de atarefados monges constrói uma enorme mandala no chão do mosteiro. São utilizados pós colo-ridos, colocados no sítio, num trabalho de alta precisão, pelos experientes monges, que usam delicados pincéis e uma cânula de vidro para assoprar cada pó de cor diferente para o seu lugar exacto, no intrincado padrão da mandala.

Por fim, a enorme mandala está pronta. Os motivos entrecruzam-se, num colorido lindo. Transpira serenidade. Quando ficamos algum tempo a olhar para ela, é como se o nosso espírito fosse sugado, numa tridimensionalidade inesperada. Convida à meditação.

Chegou o dia do festival, o grande lama (rinpoche) apro-xima-se da mandala e com um largo gesto de mão desfaz aquela maravilha… Nem queria acreditar! Que malvadez destruir tanta beleza e perfeição num único instante Apete-cia-me gritar! Depois, aos poucos, comecei a entender que o despojamento para a disponibilidade não é fácil, que é dura a via da impermanência.

nas Asas do Vento

Page 32: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

PERSPECTIVA

32 JUNHO 2008

Ed.6

Lembrando… Nas Pegadas de Roberto Ivens

Ed.7

Lembrando… Viagem aos Mares do Sul

Iniciei um périplo africano, com o cunho de uma verda-deira expedição! Por um lado, um certo ideal romântico de refazer a viagem de Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens na saga do malogrado «mapa cor-de-rosa», mas em percurso inverso, ou seja, da oriental Costa Swahili à oci-dental Costa dos Esqueletos. Por outro, o fito de sempre: «caçar» lendas e outros contos tradicionais ao longo de toda a rota.

A latitude do nosso olhar manteve ao longo de todo o trajecto uma perspectiva constante, de ângulo quase fixo, enquanto a longitude da viagem abarcou todos os meridia-nos que abraçam a África Austral.Comecei a rota da viagem depois do estuário do rio Rovuma, entrando em Moçambique. Primeira paragem: a ilha do Ibo, no arquipélago das Quirimbas.O tempo cristalizou. Parece que olhamos a realidade atra-vés do fundo espesso de uma garrafa de vidro. Aqui, as sombras alongam-se a ponto de parecerem passear sozi-nhas pelas ruas. Cheguei na maré-alta, navegando através de um labirinto de mangais. À chegada, um duplo arco-íris orlava o forte na ponta da ilha. A ilha estava estática como na capa de uma revista de turismo. Parecia cosida ao mar por uma fina linha branca de espuma, como se fora a fímbria de um vestido rodado, verde de mangais. Ao chegar a terra, dei por mim a sussur-rar, como que para não quebrar o encanto daquele silên-cio ecoante. A vida parecia suspensa e a única respiração o fluxo e refluxo das marés. Depois, veio a vaza da maré e toda aquela terra se transfigurou, ganhando extensões, bri-lhos e reflexos que fizeram saltar imediatamente a minha câmara fotográfica.

Estamos no Pacífico Sul, viajando por entre a miríade de ilhas que polvilham como aljôfar estes mares austrais. Aproximava-se da praia, em leque aberto, um grupo de canoas compassado no andamento e na canção que ajudava os remadores a estarem em sintonia com a ondulação do entardecer. As linhas esguias das canoas convergiam para a entrada da laguna, onde se duplicavam, uma a uma, ao entrar na sua superfície espelhada.

Um objectivo determinado trouxe-nos às ilhas da Mela-nésia: encontrar um ritual insólito da religião animista local: o do chamador de tubarões.

Finalmente, descobrimos o rasto do famoso xamane dos mares do Sul, o grande chamador de tubarões, alto e magro, de aspecto nodoso. O xamane era todo olhos, olhos grandes num luzeiro que despedia lume. A nossa amizade levantou voo como um albatroz, lenta e com a necessidade de uma pequena queda, mas depois pronta a atravessar oce-anos.Em pouco tempo, o encontro com o exotismo é como uma máscara que fenece, ficando só um deslumbramento pleno de humanidade. Da terra de que os homens são feitos brota numa singular alquimia, o fulgor do brilho dos olhos, que gera a arte e a poesia. Olhos iluminados pelos mesmos anseios ou turvados pelos mesmos medos que nós…por um instante é como se fôssemos nós do outro lado do espe-lho.

Page 33: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

PERSPECTIVA

JUNHO 2008 33

Ed.8

Lembrando… Índia o Encontro de Culturas

Ed.9

Lembrando… Viagem com os Romeiros de São Miguel

Segundo a religião hindu, Brama bateu com um pau na superfície calma de um oceano de leite e a oscilação pro-duzida propagou-se em todas as direcções, criando assim o universo. É impressionante como é uma metáfora quase directa da teoria do big bang da astrofísica moderna, segundo a qual de uma disrupção inicial surge um universo em expansão…

À semelhança das especiarias na culinária, os livros fun-cionam como intensificadores de «sabor» nas viagens. Assim, apesar de viajar leve, somente com o necessário e imprescindível, carrego sempre algum «lastro» de livros. Como se pode alguma vez estar só, se tivermos connosco Tagore e Kipling, se cabe no bolso do casaco o mundo maravilhoso do grande épico indiano Mahabharata ou o onírico Ramayana?

Vultos difusos, aproximavam-se esboçados na bruma, imersos no nevoeiro, avançavam em linha compacta, mal se conseguindo lobrigar onde acabava um e começava outro. O tilintar dos cajados, dos bordões ferrados ao bate-rem no empedrado, dava consistência telúrica ao rancho de romeiros que chegava.

Os vultos iam saindo da névoa, um a um, ao bater com-passado do pau ferrado nas lajes do adro; os xailes pela cabeça mal deixavam divisar a barba rala de dias. Vinham num regougar cavo, salmodiando o terço em voz roufe-nha, que mal conseguia cortar a neblina da madrugada. Enquanto o terço era dito na cantilena, o de facto ia depen-durado oscilando suavemente ao ritmo dos andarilhos.Por uma estrada de luz, caminhavam em direcção ao Sol poente, a passada era larga pois a noite já espreitava. Recor-tavam-se em silhueta contra o fogo do ocaso e foi já com o pôr-do-sol a faiscar na ponteira metálica dos bordões, que a fila dupla de romeiros se aproximou da vila.As galochas chapinhavam no adro empoçado, os bordões iam-se juntando em molho espraiado à porta da igreja, enquanto a ladainha esmorecia, uns tiravam os lenços que os cingiam pelas costas para limpar o suor da testa.Um petiz assomou a uma janela próxima, fitando-os des-grenhado e de olhos esbugalhados, a portada bateu ainda ouvindo-se de dentro: “- Chegaram os romeiros!...chega-ram os romeiros!...”

Page 34: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

PERSPECTIVA

34 JUNHO 2008

Ed.10

Lembrando… Viagem ao Equador – São Tomé

Ed.11

Lembrando… Mongólia – A Cidade Subterrânea das Crianças

Equador, zona de calmarias, a vida aqui é lenta, pausada…Dá-se tempo ao tempo…a vida corre de acordo com a expressão local, corre: leve!...leve!...

Perto da localidade de Diogo Vaz, na costa ocidental de São Tomé, o Sol começava a descer, lentamente, alongando as sombras. Um velho olhava-me...os seus olhos brilhantes como tições, ressaltavam das baforadas de fumo azul que puxava, insistentemente, do seu requeimado cachimbo.O velho disse-me: “Anda ver!...”, dirigiu-se vagarosa-mente para a praia, sentou-se num cepo e ficou a olhar para o mar, esperando… Eu interrogava-me sobre o que preten-dia mostrar-me. Sentado a seu lado, remexia-me inquieto, sem saber o que olhar. Só se ouvia o compassado puxar do seu cachimbo, quase em sintonia perfeita com o leve maru-lhar do mar. Varados na areia a curta distância, descansa-vam da faina, várias embarcações, deviam ter regressado há bem pouco, pois ainda escorria água dos aprestos e artes de pesca.Foi então que a poesia aconteceu…mas dessa poesia lenta…sem pressas, de São Tomé. O sol descia ganhando laivos de carmim, incendiando o ar. As redes que secavam estendidas sobre as canoas escorriam uma fina película de água. De repente, toda a rede ganhou vida, numa explosão de cor irisada, parecia um arco-íris tridimensional. O mila-gre durou um breve momento, depois feneceu…mas este breve instante irá durar toda a minha vida. É verdade que há momentos eternos!

É madrugada, uma claridade parda banha a cidade adorme-cida. Um vento silvante levanta nuvens de areia das estra-das poeirentas, arrastando detritos e provocando pequenos remoinhos na confluência das ruas. A meio de uma larga avenida, uma tampa circular é desviada com um arrasta-mento metálico.

Das profundezas escapa-se uma nuvem de vapor como se o mundo subterrâneo albergasse um dragão adormecido. Até certo ponto, isso não deixa de ser verdade, pois aquilo que parecia uma vulgar tampa de esgoto, era afinal uma entrada de verificação do sistema de aquecimento central da cidade. O calor gerado nas centrais a carvão é distribu-ído sob a forma de água aquecida, que percorre a urbe de Ulan Bator através de uma extensa rede de tubagens sub-terrâneas até aos prédios de habitação comunitária.Da abertura no solo emergiu, cautelosa, uma cabeça des-grenhada. Olhou em todas as direcções com o seu olhar vivo e só depois de se certificar de que não havia vivalma é que se alçou das profundezas. O rapaz era magro, quase raquítico, estava coberto de andrajos rotos e encardidos de fuligem. Os olhos pareciam enormes, sobressaindo na face encovada. O cabelo era uma guedelha revolta, crespa de sujidade.

Page 36: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

MOÇAMBIQUE

36 JUNHO 2008

MoçambiqueTerra de Encanto e ProgressoMoçambique tornou-se independente em 25 de Junho de 1975, na sequência da Revolução dos Cravos, a seguir à qual o governo Português assinou com a Frelimo o acordo de Lusaka.

Após a independência, com a deno-minação de República Popular de Moçambique, o país seguiu uma polí-tica socialista, a qual teve que aban-donar em 1987, quando foram assina-dos acordos com o Banco Mundial e o FMI. Esta mudança foi em parte resul-tado da guerra de desestabilisação que o país sofreu entre 1976 e 1992.

CuriosidadesLíngua oficial: PortuguêsMoeda local: Metical, mas o dólar e o rand também são aceites em muitos locaisPopulação: ronda os 20 milhões de habitantes, dos quais cerca de 30 por cento vivem nos principais centros urbanos, nomeadamente: Maputo, Beira e Nampula.Aeroportos internacionais: Maputo, Beira e NampulaSaúde: É necessário apresentar o certificado de vacinação contra a febre-amarela. Durante a estadia evite as picadas de mosquitos e tenha em atenção os alimentos e a água que consome. Visto: Emitido pelo Consulado ou pela Embaixada de Moçambique.

Fonte: www.turismomocambique.co.mz

Na sequência do Acordo Geral de Paz, assinado entre os presidentes de Moçambique e da Renamo, o país assumiu o pluripartidarismo, tendo tido as últimas eleições com a partici-pação de vários partidos em 1994.

Além de membro da ONU, da União Africana e da Commonwealth, Moçambique é igualmente membro

fundador da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral e, desde 1996, da Organização da Con-ferência Islâmica.

Page 37: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

MOÇAMBIQUE

JUNHO 2008 37

Tendo a reconstrução da sua eco-nomia dificultada pela existência de minas terrestres não desactivadas, o seu governo procura outras poten-cialidades - a indústria, os minérios e fundamentalmente, o Turismo.

País de belezas paradisíacas - ilhas Quirimbas, Bazaruto, Pemba, Ilha de Moçambique-, parques e reservas de animais no interior do país. Moçam-bique posiciona-se em lugar de des-taque no que concerne à procura de novos destinos turísticos.

Moçambique conjuntamente com a sua beleza, encanto e o seu progresso, cria vontade de voltar a quem lá viveu e sonhos a quem o deseja conhecer..

Moçambique é assim um país para visitar e investir!

Page 38: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

MOÇAMBIQUE

38 JUNHO 2008

Tecnologia portuguesa é utilizada no desenvolvimento das infraestruturas energéticas de Moçambique

1. IntroduçãoMoçambique e Portugal convergem em diversas vertentes, naturalmente reforçadas pela adopção do mesmo idioma oficial, o português, e por uma história comum, reciproca-mente influenciada, de cuja memória e aprendizagem resul-tou a independência desse grande país, Moçambique, imensa praia oriental banhada ao Índico.

Ambos os países, à semelhança de todos quantos se afir-maram nesta mãe Terra, revêem-se na esperança e vontade de dotarem de qualidade e perspectiva o futuro dos povos que acolhem.

Quais filhos responsáveis, dessa mãe, deverão obter, gerir,

utilizar e renovar os recursos considerados necessários, numa óptica de desenvolvimento, sem descurar as neces-sidades básicas dos respectivos povos, fazendo-o de forma sustentada, em prol do ambiente, numa atitude coerente de longo prazo.

Nesses termos, Portugal tem vindo a modernizar-se, e nos últimos anos, fruto também da sua adesão à União Euro-peia, assiste-se a uma efectiva renovação das infrastruturas de suporte e desenvolvimento da sua economia.

Portugal, na sua missão empreendedora, tem vindo a afir-mar-se como país exportador de soluções e tecnologia, na circunstância, com impacto directo em Moçambique. Neste enquadramento, a Efacec desempenha um importante papel, uma vez que tem vindo, desde os anos 90, a exportar tec-nologia essencial para o desenvolvimento dos activos ener-géticos desse país, contributo indispensável para a reestru-turação dos diferentes vectores que sustentam a sociedade, indústria e economia de Moçambique.

A Efacec é o maior grupo português na área da electrónica e electromecânica, com um volume de negócios na ordem dos 600 milhões de euros, tendo, presentemente, mais de 3.000 colaboradores. Está presente em Moçambique desde 19 de Julho de 1999, data na qual foi constituída a empresa Efacec Moçambique, Lda., em Maputo. Actualmente, esta empresa emprega cerca de 100 colaboradores, cuja marca e experiência são apreciadas neste país da África Austral.

A Efacec está presente em Moçambique desde 19 de Julho de 1999, data na qual foi constituída a empresa Efacec Moçambique, Lda., em Maputo, não obstante manter negócios neste país, na área da energia, desde a década de 90.

Por Alberto Jorge Bernardo, Efacec, Unidade de Negócios Automação, [email protected]

» Vista exterior do edifício do futuro Centro de Comando da Rede Nacional

de Transporte de Energia da Electricidade de Moçambique (EDM)

» Exemplo de zona de intervenção do plano de electrificação rural

Page 39: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

MOÇAMBIQUE

JUNHO 2008 39

A empresa portuguesa é um fornecedor reconhecido mundialmente, que actua em três vectores de negócio, estando focado em Portugal e em seis regiões estratégi-cas do globo, sem descurar outras oportunidades, à escala mundial. Esses vectores englobam dez Unidades de Negó-cio distintas:

As seis regiões estratégicas internacionais que cativam o foco da Efacec são: Espanha, Europa Central, Magrebe, África Austral, Estados Unidos da América e América Latina.

2. Actividade da Efacec em MoçambiqueNo âmbito do seu foco na região estratégica da África

Austral, a Efacec desenvolve importantes actividades em Moçambique, em diversas vertentes, nomeadamente na área da energia, sendo que muitas delas têm origem e resul-tam da actividade da Efacec Moçambique, enquanto outras são consequência directa da iniciativa de cada Unidade de Negócio, a partir de Portugal, ainda que para a sua con-cretização a delegação moçambicana tenha um papel não menos importante.

Para se dar uma panorâmica do que, nos anos mais recentes, a Efacec tem vindo a realizar em Moçambique, importa destacar o desempenho financeiro e o âmbito de negócios que a Efacec Moçambique tem vindo a desen-volver. Assim, a tabela seguinte ilustra as encomendas e o volume de negócios efectuado por esta empresa de direito moçambicano, nos dois últimos anos:

De forma complementar às Unidades de Negócio espe-cíficas da Efacec, o leque de actividades da sua delegação moçambicana insere-se na área das Linhas Aéreas (alta, média e baixa tensão), Transformadores (de potência e de distribuição), Subestações, Automação (de redes de ener-gia), Energias Renováveis, Servicing de Energia, Teleco-municações e Transportes (caminhos de ferro e aeropor-tos).

Através dos recursos locais, a Efacec Moçambique está habilitada a prestar serviços de engenharia, instalação e

ensaio de linhas aéreas (alta, média e baixa tensão), sendo que, actualmente, estão a decorrer projectos de electrifica-ção rural (33 kV), nas províncias de Sofala, Manica e Tete, numa extensão total de cerca de 400 km.

Alguns destes projectos contemplam também postos de transformação MT/BT, que incorporam tecnologia Efacec, nomeadamente celas e transformadores de distribuição, e que culminam em redes de baixa tensão, as quais fornecem directamente as populações servidas com energia eléctrica. A Efacec Moçambique presta também serviços de instala-ção de iluminação pública, para além de efectuar a cone-xão dos consumidores finais à rede rural de distribuição de energia eléctrica de baixa tensão.

Actualmente, a Efacec desenvolve um projecto de elec-trificação rural (33 kV) numa extensão de 264 km, para as regiões de Chibabava e Búzi, na província de Sofala. Este projecto contempla também a reabilitação e colocação em serviço da subestação de Lamego, nomeadamente do res-pectivo transformador de 6,3 MVA (22/66 kV), já existente, bem como da renovação e colocação em serviço da subes-tação de Guaraguara, cujo âmbito de fornecimento inclui um novo transformador de 16 MVA (66/33 kV), bem como nova aparelhagem de média tensão. A execução destas tarefas é realizada em estreita colaboração com a Uni-dade de Negócios Engenharia da Efacec.

Como se pôde constatar neste último exemplo, a par da actividade local da Efacec Moçambique, a Efacec exporta para Moçambique diversos tipos de tecnologia e serviços a partir das suas unidades fabris e de engenharia, situadas em Portugal. Outro exemplo de prestação, é o de Servicing de Energia na área de transformadores e máquinas rotativas, que actualmente decorre na central de Cahora Bassa.

Neste contexto de exportação, merece destaque o forne-cimento e instalação de transformadores de potência, bem como de aparelhagem de alta tensão (275 kV) para a subes-tação de Matola, da Empresa de Electricidade de Moçam-bique (EDM), cuja colocação em serviço se efectuou em 2006, a cargo da Unidade de Negócios Engenharia da Efacec. As características dos transformadores de potên-cia são as seguintes:

- Um transformador de 275/110 kV, de 50 MVA- Um transformador de 275/66/33 kV, de 160 MVA

EnergiaEngenharia,

Ambiente e Serviços

Transportes e Logística

Transformadores Engenharia TransportesAparelhagem

de Média e Alta Tensão

Automação Logística

Servicing de Energia Manutenção

AmbienteEnergias

Renováveis

(milhões EUR) 2006 2007

Encomendas 5,53 6,79Vendas 1,37 5,8

» Pormenor da subestação de Matola

Page 40: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

MOÇAMBIQUE

40 JUNHO 2008

Outro projecto muito importante para a Efacec foi a adjudicação, por parte da EDM, de um sistema e respectiva infraestrutura, para a implementação do Despacho Nacio-nal da Rede de Transporte de Moçambique. Trata-se de um projecto muito importante para a EDM e para a Efacec, cuja conclusão está iminente, estando prevista a respectiva entrada em serviço no final de Junho de 2008.

Este projecto, que esteve a cargo da Unidade de Negó-cios Automação da Efacec, em estreita colaboração com a sua delegação de Moçambique, correspondeu a um for-necimento do tipo “chave-na-mão”, no valor de cerca de 4,3 milhões EUR, o qual compreendeu as seguintes pres-tações:

- Fornecimento de um sistema SCADA/EMS para gestão e telecomando da rede de transporte de energia da região sul da EDM (linhas AT e subestações AT/MT)

- Fornecimento de Unidades Remotas Terminais para tele-comando das Subestações de Transporte dessa região

- Serviço de adaptação das Subestações para telecomando, bem como de instalação de equipamentos

- Fornecimento de um sistema de comunicações por PLC (Power Line Carrier), rádio e fibra óptica

- Construção do Edifício do Centro de Comando da Rede Nacional de Transporte de Energia da empresa Electrici-dade de Moçambique (EDM)

O conjunto de sistemas fornecidos permitirá efectuar a gestão remota da rede de transporte de energia eléctrica da EDM, a partir do Centro de Comando localizado em Maputo. Este Centro de Comando é dotado de modernos equipamentos, quer do ponto de vista informático, quer na óptica da ergonomia e conforto, para que os operadores e gestores da rede eléctrica da EDM possam exercer as suas funções de forma segura, eficiente e responsável.

3. Novos DesafiosA tendência actual, resultante de uma consciência

global independente da localização geográfica, aponta para a racionalização e optimização dos activos energéti-cos, numa óptica de sustentabilidade e respeito ambien-tal. Nesta missão, na qual se revêem os diferentes actores, sejam as empresas de serviço público de energia, sejam os fornecedores e prestadores de serviços nesta área, também a Efacec se enquadra e se projecta.

Desta imagem, e no que toca a Moçambique, é desejá-vel que num futuro próximo se possa assistir a um incre-mento das boas práticas de exploração da rede eléctrica, a par das de gestão da componente de geração de energia. Havendo ainda muito a fazer neste país, a começar pela captação de financiamentos e pela calendarização das ini-ciativas, podem apontar-se diversas áreas cujo potencial de aplicação não se esgota nos investimentos que actualmente decorrem na modernização da infraestrutura eléctrica de Moçambique, tarefa meritória, que dignifica o seu povo, bem como os decisores e governantes que o representam.

Assim, outras áreas com elevado potencial poderão pers-pectivar-se num futuro próximo, nas quais a Efacec se revê e se apresenta como um sério fornecedor de soluções e ser-viços, com o suporte local da sua delegação, bem como

com a capacidade que a sua engenharia, nos diversos sec-tores de actividade, tem vindo a demonstrar, não só em Moçambique, mas também noutras paragens, em merca-dos de elevada exigência e maturidade.

A tabela seguinte, que não é exaustiva, aponta para uma série de potenciais aplicações da tecnologia Efacec, já pro-vadas na indústria, cuja aplicação em Moçambique, num futuro próximo, trará certamente um impacto positivo para a dinamização dos seus activos energéticos, o que se tradu-zirá certamente no desenvolvimento do país, em benefício das populações e da economia em geral.

Para a Efacec, os projectos descritos e os novos desafios que se avizinham são muito importantes, não apenas pelo contributo que tem dado e pretende continuar a dar no que toca à exportação de tecnologia nacional, mas também pela participação directa em tão estratégica e dignifi-cante missão, em prol da eficiência, segurança e qualidade do serviço público de energia eléctrica que serve o povo moçambicano. As realizações efectuadas ou as que estão em curso representam a confiança que as empresas de ser-viço público de Moçambique lhe depositam.

Gestão e Automação da Rede de Distribuição

- Dotar a rede eléctrica de distribuição de mecanismos de reconfiguração, através do reforço da sua estrutura emalhada, considerando as seguintes soluções:

- Aparelhagem de Média Tensão para corte e reconfiguração, adaptada ao telecomando (postos urbanos compactos, inter-ruptores aéreos telecomandados e celas de média tensão)- Unidades Remotas Terminais para telecomando dos orgãos de corte, a partir de centros de comando, incluindo funções de supervisão, controlo remoto e automação, bem como de detecção e localização de defeitos

- Criação de Centros de Comando Regionais, capazes de gerir a respectiva rede emalhada de distribuição, na perspectiva de a reconfigurar quando necessário, com tecnologia SCADA/DMS- Criação da infraestrutura de comunicações de suporte ao telecomando da rede, através da implementação de sistemas de telecomunicações com recurso a diferentes tecnologias(GSM/GPRS, PLC, rádio, fibra óptica, etc.)

Energias Renováveis

- Criação de novos activos de geração de energia eléctrica, de fonte renovável, com componente distribuída, tais como:

- Centrais hidroeléctricas ou mini-hídricas- Centrais de energia fotovoltaica, integradas na rede ou iso-ladas (por exemplo, para iluminação pública)- Parques eólicos (com capacidade de fabrico do gerador, conversor, posto de transformação elevador para injecção na rede interna do parque)

Neste âmbito, a Efacec tem soluções e experiência no forne-cimento, instalação e colocação em serviço de todos os equi-pamentos e sistemas eléctricos complementares, incluindo a subestação de interface à rede de serviço público e sistemas de automação.

Page 41: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

ENSINO SUPERIOR

JUNHO 2008 41

A Boa Decisão

Por Fernando Seabra Santos, reitor da Universidade de Coimbra, presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas

Não vivemos num País rico: o nosso rendimento médio continua a ser dos mais baixos da Europa. E se existem outros países com menos recursos que há muito nos ultrapassaram em bem-estar, não podemos senão identificar como causa desse insucesso relativo as decisões erradas que todos os dias tomamos. O problema é, pois, dos decisores.

No sentido que aqui lhe dou, deci-sores somos todos nós, cidadãos de um Pais democrático, desde o mais modesto trabalhador até ao Presidente da República. Todos nós, com efeito, temos que tomar diariamente as mais variadas decisões profissionais, de cuja bondade depende o êxito do que fazemos e, juntando tudo isto, igual-mente depende a eficiência global do nosso trabalho. Não somos ricos porque fomos pobres, mas porque não somos, como nação, eficientes.

Ocorre-me perguntar porquê. Não tem a ver com um governo em par-ticular, nem sequer com um regime, porque esta situação já vem de muito longe. A resposta que me surge repar-to-a, em percentagem que não sei definir, entre a falta de competência profissional e aquilo a que chamarei, por pudor de linguagem, de excesso de competência relacional. Tanto num caso como no outro, só na formação, na cultura e na educação dos cidadãos se encontrará a resposta adequada para o problema.

Argumenta-se, por vezes, que só poderemos aproximar-nos do esforço de investimento no Ensino Supe-rior dos países mais desenvolvidos, quando atingirmos PIBs comparáveis aos deles. Mas como os resultados não podem preceder o investimento, parece-me, ao contrário, que o PIB só subirá de forma sustentada quando se investir decididamente em educação superior.

É hoje aceite sem contestação que a riqueza de um País depende do nível habilitacional médio da sua popula-ção activa. Por isso, é preciso dizer uma e outra vez que a coerência das nossas decisões em matéria de desen-volvimento nacional exige o aumento urgente do esforço público de investi-mento na educação superior em per-centagem do PIB, e não a sua dimi-nuição, como tem vindo a acontecer pelo menos desde 2004. É crucial que nos aproximemos rapidamente da média europeia neste indicador, que o ultrapassemos mesmo, atendendo ao atraso com que partimos.

O Conselho de Reitores das Uni-versidades Portuguesas tem mostrado abertura para que possamos encarar este problema de frente e, sobretudo, para que possamos partir para a sua resolução. E esta é, por isso mesmo, a altura de o governo concretizar os compromissos internacionais assumi-dos na sequência da Agenda de Lisboa e, no âmbito da criação do Espaço Europeu do Ensino Superior, de dar às Universidades portuguesas condi-ções para que possam cumprir ainda melhor a sua missão.

Se as habilitações de cada um deter-minam a sensatez do juízo que faz sobre as situações e sobre as coisas, se da formação, da cultura e da edu-cação dependem a faculdade do bom gesto e da boa decisão profissionais e se nestes residem o êxito do nosso sucesso enquanto nação, então forta-lecer as Universidades é o passo indis-pensável para começar a desatar o nó. É, sem dúvida, a boa decisão.

Combater o défice orçamental, a crise da economia, o atraso tecnológico, o endividamento excessivo ou a fraca produtividade, bem como os níveis preocupantes de corrupção e outras inquietações sociais que minam a qualidade da nossa democracia, enquanto se desinveste na educação, é a maior de todas as contradições porque esta política só pode agravar a causa comum de todos aqueles males: os baixos níveis culturais e educacionais dos cidadãos.

Page 42: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

ENSINO SUPERIOR

42 JUNHO 2008

Qualidade no Ensino Superior

Por José Manuel Moreira, vice-presidente do ISPGaya

O recente Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES – Diário da República nº 174, Iª Série de 10 de Setembro de 2007) prevê um sistema nacional de acreditação e avaliação ao qual se submeterão todas as actividades pedagógicas e científicas das instituições de ensino superior. Não estão ainda, contudo, especifica-dos critérios ou parâmetros de avaliação, que são remetidos para a futura agência a criar. Para além disso, as instituições devem ter mecanismos de auto-avaliação inter-nos regulares que validem o seu desempenho.

Por outro lado, no Guia Interpretativo para aplicação da norma NP EN ISO 9001 a Instituições de Ensino e Forma-ção, editado pelo Instituto Português da Qualidade (2000), refere-se que “Um dos aspectos mais fascinantes (mas por vezes algo incómodo) da Gestão pela Qualidade é que não existem receitas mágicas ou únicas relativamente ao modo como deve ser implementada, sendo cada caso um caso em que é pre-ciso definir o trajecto a seguir, único e feito à medida das especificidades de cada organização.”. Assim, pretendo aqui identificar alguns dos possíveis parâmetros de avaliação da Qualidade a serem considerados no âmbito das instituições de ensino superior.

Duma forma geral, todas as institui-ções apresentam especificidades muito próprias que indiciam a aplicação de

diferentes modelos de Gestão pela Qua-lidade. Ao contrário das empresas, as instituições de ensino têm como prin-cipal objecto a formação de recursos humanos especializados que associam ao saber fazer o saber ser. Está, pois, aqui a dimensão humana que, natural-mente, exige outros tipos de cuidados e de análise. Torna-se assim evidente que a aplicação dum modelo de Gestão pela Qualidade Total (modelo de excelên-cia), terá de englobar necessariamente esta dimensão de uma forma integrada.

De facto, nas instituições de ensino superior deve haver uma atenção parti-cular para a dimensão pessoal e comu-nitária do indivíduo, para a sua forma-ção técnica e científica e para a sua formação sócio-cultural. Os projec-tos educativos das instituições são, por isso, orientados com uma preocupação

de gerar Qualidade* através da satisfa-ção daqueles objectivos. Todo o pro-cesso de ensino/aprendizagem é condu-zido por valências que inter-relacionam os vários intervenientes no processo – alunos, professores, funcionários e direcção, com os elementos intrínsecos – programas de estudo e métodos de ensino. Ao nível da investigação deve haver uma preocupação especial com a associação à comunidade envolvente, em geral, e com as empresas, em par-ticular, como parceiros privilegiados da instituição.

As dimensões humana, científica e técnica em que devem consistir os pro-jectos educativos das instituições de ensino superior são, por isso, o melhor caminho em direcção à gestão pela qualidade. Contudo, é preciso sensibi-lizar os vários actores do processo de ensino/aprendizagem para a implemen-tação dum sistema da qualidade tendo como objectivo o enfoque nas empresas que recebem os diplomados. Em sen-tido contrário, “a satisfação do cliente” (neste caso a empresa que acolhe o diplomado) permitirá medir a quali-dade da instituição de origem do diplo-mado e, dentro desta, dos seus profes-sores e corpo de gestão, envolvidos no processo ensino/aprendizagem. Esta será, com certeza, uma forma de valori-zar a cadeia de valor humano intrínseca e de parametrizar a qualidade do ensino superior.

Page 43: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

ENSINO SUPERIOR

JUNHO 2008 43

Desenvolver a criatividade e o gosto pela inovação

Por Cristina Azevedo Gomes e Belmiro Rego, TIC-ESEV

A Escola Superior de Educação de Viseu (ESEV), tem acompanhado as dinâmicas criadas em torno das Tecnologias da Informação e Comunicação, desenvolvendo novos olhares e abordagens em torno desta problemática no contexto educativo. Podemos equacionar três áreas de investimento da ESEV neste domínio: cursos de licenciatura (1º ciclo) e de mestrados (2º ciclo); formação contínua de professo-res e outros agentes educativos; desenvolvimento de projectos e investigação nesta área.

A ESEV tem aderido aos grandes pro-jectos lançados a nível nacional para a dinamização e utilização das TIC em contexto educativo. Foi pólo do Pro-jecto Minerva, foi Centro de Com-petência Nónio séc. XXI e é Centro de Competência CRIE, coordenou a nível distrital o programa internet@EB1 e CBTIC. Estes programas abri-ram oportunidades de aproximação ao meio em que se inscreve a actuação da ESEV, nomeadamente as escolas do ensino básico e secundário do dis-trito, e permitiram construção e apro-fundamento de conhecimento sobre as potencialidades pedagógicas das TIC. Ao nível da formação contínua, des-taca-se o volume de acções de forma-ção oferecidas nesta área, bem como a responsabilidade de formação de for-madores no contexto do quadro de referência da formação contínua no domínio das TIC.

Em resposta ao processo de Bolo-nha, e ao novo paradigma de ensino aprendizagem que encerra, a ESEV intensificou a utilização das TIC enquanto potenciadoras da sua concre-tização. Esta nova abordagem, de um

ensino centrado sobretudo no aluno, e em que se valoriza o seu trabalho autó-nomo pode ser valorizada e harmoni-zada através da integração das TIC no contexto escola e nas práticas peda-gógica. É neste sentido que a ESEV explora os vários sistemas de infor-mação disponíveis, através da inicia-tiva e-U campus virtual e também, seguindo recomendações nacionais e europeias, software livre e de código aberto. Destaca-se a utilização do for-mato “blended-learning” nos cursos da ESEV, que desenvolve, para além do tradicional modelo de transmissão de conteúdos e recursos, modelos de interacção, onde os alunos passam a assumir um papel mais activo, desen-volvendo a criatividade, o pensamento crítico, o trabalho colaborativo e com-petências de auto e heteroavaliação.

Os currículos de todos os cursos da ESEV integram créditos da área das Ciências da Tecnologia da Infor-mação e Comunicação. Esta aborda-gem permite garantir uma formação sólida de base em competências tec-nológicas, e aprofundar competências, que permitam a mobilização das TIC

para os vários contextos profissionais que enquadram a oferta formativa da ESEV. É o caso do curso de Educa-ção Básica que, para além de desen-volver competências tecnológicas, desenvolve competências pedagógi-cas, no sentido de apetrechar os futu-ros professores para desenvolverem a integração curricular das TIC centrada na aprendizagem e na avaliação, inte-grando criticamente questões de ética e cidadania e para mobilizarem as TIC ao nível da comunicação profissio-nal, gestão e aprendizagem ao longo da vida.

Na exploração de intersecções entre as TIC e outras áreas, a ESEV oferece desde 2004 a licenciatura de Artes Plásticas e Multimédia. O curso pre-tende proporcionar uma formação superior que permita aos futuros pro-fissionais desenvolver competências integradas ao nível das artes e das TIC e desenvolver a criatividade e o gosto pela inovação. Estes profissionais esta-rão aptos para conceber e desenvolver produtos multimédia para vários con-textos de utilização e experiências de interacção.

Page 44: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

ENSINO SUPERIOR

44 JUNHO 2008

Investigadora portuguesa premiada nos EUAMargarida Isabel Cabrita Marques Coelho, professora do Departamento de Engenharia Mecâ-nica da Universidade de Aveiro e investigadora do Centro de Tecnologia Mecânica e Automa-ção, recebeu o «Best Overall Poster» Award da 17th International Emission Inventory Confe-rence, atribuído pelo painel científico da United States Environmental Agency para o seu poster intitulado «Integration of Vehicle Activity into Emissions Estimation based on On-board Mea-surements for Diesel Light-Duty Vehicles». O Prémio foi atribuído na 17th International Emis-sion Inventory Conference «Inventory Evolution – Portal to Improved Air Quality», que se rea-lizou em Portland, Oregon, EUA, de 2 a 5 de Junho.

O principal objectivo foi desenvolver uma metodologia que correlaciona a actividade dos veí-culos ligeiros a gasóleo (ao nível da velocidade e acelerações/desacelerações) com as suas emis-sões, baseada no conceito de "Potência Específica do Veículo" ("Vehicle Specific Power – VSP). O segundo objectivo foi quantificar numericamente (através dessa metodologia) as emissões de poluentes de veículos a gasóleo tendo em conta monitorizações experimentais de perfis de velocidade e factores de emissão em estrada de veícu-los a gasóleo com diferentes idades e tamanho do motor. Finalmente, comparou-se o desempenho de veículos a gasóleo e veículos a gasolina, distinguindo a análise ao nível dos poluentes globais (CO2) e dos locais (CO, NOx, HC, e PM).

Esta investigação teve o financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia e da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (Programa de Bolsas FLAD/NSF – “Portugal-EUA: Parcerias e Redes para Investigação 2007").

Investigação de doutorando da UA reconhecida internacional-menteMarco António Baptista Peres, doutorando da Universidade de Aveiro e a desenvolver inves-tigação no Pólo de Aveiro do recém-criado Laboratório Associado I3N (Instituto de Nanoes-tructuras, Nanomodelação e Nanofabricação), foi distinguido com o «Best Poster Award», no Simpósio G «Wide band gap semiconductor nanostructures for optoelectronic applications»

da prestigiada Conferência E-MRS 2008 Spring Meeting of the Materials Research Society (MRS), que se realizou entre 26 e 30 de Maio, em Estrasburgo, França.

Coimbra iParque e o Ensino SuperiorO relatório final da Comissão Europeia (Direcção-Geral de Indústria e Empresas) sobre “Empreendedorismo no Ensino Superior, especialmente em cursos da área não-económica”, revela que o Coimbra iParque é um exemplo de uma institui-ção que fomenta o empreendedorismo em Portugal em conexão com as Universidades.

Concurso de Fotografia sobre o Porto devoluto“Registos de um Porto a Recuperar” é o mote desta iniciativa, que pretende premiar a melhor fotografia na vertente artística, estético/plástica, de edifícios a recuperar, localizados na área classificada como “Porto Património Mundial da Humanidade”. As inscrições arrancam no dia 12 de Junho e terminam no dia 8 de Agosto, às 19h.

NOTÍCIAS

Page 45: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

ENSINO SUPERIOR

JUNHO 2008 45

ISEC, onde saber é “Saber Fazer”O ISEC - Instituto Superior de Engenharia de Coimbra afirma-se como uma escola de referência a nível nacional e internacional, nas áreas de engenharia.

Por Jorge Fernandes Rodrigues Bernardino, presidente do Conselho Directivo do ISEC

O ISEC tem em funcionamento 9 Licenciaturas – Engenharia Civil, Engenharia Electromecânica, Enge-nharia Electrotécnica, Engenharia Informática, Engenharia Mecânica, Engenharia Biológica, Engenha-ria Biomédica, Engenharia e Gestão Industrial e o Curso Europeu de Enge-nharia Informática e tem já quatro mestrados aprovados, em Instalações e Equipamentos em Edifícios; Cons-trução Urbana; Automação e Comu-nicações em Sistemas de Energia e Informática e Sistemas.

O ISEC pretende assegurar um ensino que não se limite a uma mera transferência de conhecimento, atento à preocupação de estimular nos jovens o espírito crítico, o empreendedorismo e as capacidades de pesquisar, inovar e “saber fazer”, apostando num ensino com uma forte componente prática.

Neste sentido, o ISEC oferece um conjunto de actividades de comple-mento curricular para o enriqueci-mento da formação: participação dos alunos em actividades de I&D (Fór-mula Student, Veículo Eléctrico, Pro-jecto Céu Azul, etc), nos Cursos Livres de Línguas (Inglês, Francês, Alemão e Língua e Cultura Chinesa), os ciclos de seminários que poten-ciam o desenvolvimento de soft-skills

e complementam a forma-ção técnica em áreas muito específicas e a formação cultural: Coro do ISEC e Escola de Guitarra.

O ISEC incentiva ainda a mobilidade dos seus alunos e docentes. Todos os anos, o número de alunos a participarem em programas Erasmus, Leonardo e em projectos de investigação é maior.

O ISEC é uma das instituições de ensino superior com maior cresci-mento nos últimos anos, tendo o número de alunos colocados na 1ª e 2ª fase do Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior, referentes ao ano lectivo 2007/2008, correspondido a uma taxa de ocupação de 100%. O que é explicado pela empregabilidade dos cursos do ISEC, demonstrada num estudo efectuado pelo GAASP - Gabinete de Apoio ao Aluno e Saídas Profissionais, aos Bacharéis e Licen-ciados pelo ISEC que concluíram o curso em 2004/2005.

De acordo com o estudo, esses diplomados pelo ISEC não tiveram problemas de integração no mercado de trabalho, não existindo nenhum bacharel ou licenciado em situação de desemprego.

A maioria destes diplomados ini-

ciou a sua acti-vidade profissional durante

o curso e nenhum dos inquiridos esteve à espera do 1º emprego mais do que um ano.

No que respeita à adequação dos cursos ao contexto real de trabalho, 84% dos inquiridos encontram-se a trabalhar na sua área de formação, e 92,5 % considera que o curriculum do curso se encontra adequado ao mer-cado de trabalho, sendo a componente prática e laboratorial dos cursos e as parcerias/protocolos estabelecidos com empresas e outras instituições os principais factores apresentados para essa adequação.

O futuro do ISEC não descansa no conformismo, mas sim funda-se em apostas inovadoras, num decidido impulso renovador. Nesse sentido pretendemos transformar os desa-fios em oportunidades, contribuindo para a construção do ISEC do futuro e, principalmente, para um ISEC com futuro.

Page 46: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

Formação e prática lado a lado

FORMAÇÃO

46 JUNHO 2008

A Cenatex é um grupo de empresas privado, fundada em 1987, líder em formação profissional e dirigida a diferentes públicos. É uma das maiores empresas nacionais e privadas na área da formação.

A sua actividade formativa abrange várias modalidades de formação, nomeadamente a formação inter-empresas, intra-empresas e forma-ção inicial e contínua. As áreas de formação incidem nos sectores do comércio, prestação de serviços de consultoria nos domínios dos recur-sos humanos, gestão e reorganização de empresas.

Numa perspectiva de internacio-nalização e de intercâmbio, a Cena-tex promove parcerias internacionais com 11 escolas de formação profis-sional noutros países europeus. A troca de experiências e a promoção de estágios profissionais, através de protocolos de colaboração, são alguns dos desígnios que a Cenatex

preconiza. Existe também nesta ins-tituição uma vasta experiência em Projectos Comunitários, entre eles podemos realçar o programa Leo-nardo Da Vinci e o STEP- Stage within European Programmes

Assegurar uma formação elevada, promover a prosperidade e cons-truir carreiras para os formandos, são as máximas da Cenatex. A qua-lidade é um factor de competitivi-dade de cariz universal que se aplica a empresas, instituições, a produ-tos e a serviços. A competitividade implica a inovação, por isso este ins-tituto aposta na produção de novos conteúdos de natureza pedagógica.

Na definição dos objectivos decor-rentes do desenvolvimento do seu projecto educativo, a Escola Profis-sional Cenatex tem vindo a estabe-lecer parcerias com outras escolas e entidades, entre as quais se desta-cam a Câmara Municipal de Guima-rães; a AMAVE- Associação Nacio-nal das Industrias do Vale do Ave; a ANIVEC/ APIV- Associação Nacio-nal das Indústrias de Vestuário e Confecção; a Associação Comer-cial e Industrial de Guimarães ; a AIMINHO- Associação Industrial do Minho, entre outras.

No espírito do programa Ciência Viva, que visa a criação de um con-junto de equipas do Curso Técnico de Electrónica, Automação e Instru-mentação para a construção de robôs, movidos a energia solar e células de hidrogénio, são os próprios alunos que projectam, constroem e testam os seus robôs e equipas de robôs.

Outro programa é o Hands-on-Science, no âmbito da acção Come-

nius 3, do programa Sócrates da Comissão Europeia, onde 28 insti-tuições de 10 países europeus e um consórcio internacional (Colos), promove o ensino experimental da ciência de modo a fomentar o desen-volvimento e uso das práticas expe-rimentais nas salas de aulas. Através desta parceria, alunos e professores podem divulgar os trabalhos desen-volvidos e participar nas conferên-cias promovidas pela rede.

Desde 2003, há também a Parti-cipação nos Festivais Nacionais e Mundiais de Futebol Robótico, os alunos do Curso Técnico de Electró-nica, Automação e Instrumentação da Escola Profissional Cenatex, par-ticipam nas provas de Futebol Robó-tico Júnior, sendo a única escola do País que ano após ano, coloca a equipa nos lugares vencedores no pódio.

O Cenatex participa também no programa “Viver com Energia” pro-movido pela Fundação de Serralves. Este programa tem por objectivo promover o conhecimento em maté-rias de energia, na óptica de estimu-lar comportamentos responsáveis e informados de acordo com os temas dos combustíveis fósseis e energia, electricidade e eficiência energética e sustentabilidade. Alunos já desen-volveram um projecto de investiga-ção à volta do tema da Eficiência Energética, realizaram uma audi-toria energética à escola, fizeram o tratamento dos dados e registaram formas de intervenção prática. Os resultados obtidos foram apresenta-dos e partilhados por todas as turmas no final do ano, na Fundação de Ser-

Page 47: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

FORMAÇÃO

JUNHO 2008 47

ralves no “Dia da Energia”.Existe também um protocolo com o

Museu Alberto Sampaio que visa igual-mente a colaboração dos alunos em pro-jectos relacionados com a área têxtil e vestuário para serem divulgados em expo-sições a realizar no Modtissimo, no Edi-fício da Alfandega do Porto. A 30ª edição contou com a participação de quatro alunos da Escola Profissional Cenatex, dois dos quais pertencentes do Curso Técnico de Estilismo. Outros dos concursos em que a Cenatex participa são: V Concurso Nacio-nal de Criadores de Moda de Vila Verde, Concurso Jovens Criadores Exponoivos 2008, Concurso Design de Moda Acroba-tic, XIV Concurso de Jovens Desenhadores de Moda, entre outros.

O investimento na formação dos recursos humanos é muito importante para a compe-titividade das organizações. A competitivi-dade traduz-se na qualificação dos trabalha-dores, no aumento de vendas, no aumento da produção e no aumento dos ganhos.

A aposta formativa do Cenatex vai de encontro às preocupações nacionais, ou seja, promover a qualificação dos Por-tugueses, elevar os níveis de habilitação e qualificação dos jovens e adultos para assim impulsionar a empregabilidade e a adequação das qualificações, às necessi-dades do desenvolvimento. Isto traduz-se na aposta em novos cursos, no desenvol-vimento dos Cursos EFA- Educação e For-mação de Adultos; dos cursos de Especia-lização Tecnológica (CET) e a aposta na expansão do Centro das Novas Oportuni-dades.

Page 48: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

AMBIENTE

48 JUNHO 2008

A Responsabilidade Social das Empresas e as Políticas de AmbienteA aplicação e o desenvolvimento das políticas de ambiente tem vindo a exigir, de forma crescente, o envolvimento do Estado, das empresas e dos cidadãos, seja atra-vés de parcerias estratégicas nem sempre formalizadas, seja pela simples mobiliza-ção voluntária das empresas e dos cidadãos correspondendo a imperativos éticos.

Por António Gonçalves Henriques, director-geral da Agência Portuguesa do Ambiente

Assim, um número crescente de organizações tem apostado em estra-tégias de responsabilidade social, como um factor diferenciador aos desafios sociais, ambientais e econó-micos que hoje se colocam, preten-dendo assim enviar um sinal claro às diferentes partes interessadas com as quais interagem. Com esta prática as organizações pretendem preparar-se melhor para o futuro e esperam que o compromisso que assumiram volun-tariamente possa funcionar como uma mais valia.

O desenvolvimento deste tipo de instrumentos reflecte as expectati-vas dos cidadãos e outras partes inte-ressadas no papel das organizações na sociedade actual. Ao assumir este compromisso, que vai para além do cumprimento legal, as organizações procuram aumentar os padrões de qualidade a nível social, ambiental e de respeito pelos direitos fundamen-tais, no sentido de atingir mais quali-dade e sustentabilidade.

Geralmente associa-se o conceito de responsabilidade social às gran-des organizações. Contudo este con-ceito pode ser aplicado por qualquer tipo de organizações, públicas ou pri-vadas, independentemente das suas dimensões.

As próprias organizações, em vir-tude dos desafios do mercado e da globalização, estão cada vez mais conscientes para a importância da Responsabilidade Social como van-tagem económica. Muito embora o

principal objectivo de uma organiza-ção seja o lucro, podem, ao mesmo tempo, estabelecer objectivos aos níveis social e ambiental, conside-rando a responsabilidade social como um investimento estratégico.

Neste sentido foi desenvolvida uma Norma Portuguesa “Sistema de Gestão da Responsabilidade Social – Parte 1 – Requisitos e linhas de orientação para a sua utilização (NP 4469-1: 2008)”, que irá ajudar as empresas portu-guesas a construírem mais factores de diferenciação e valor acrescentado.

O texto da Norma foi elaborado pela CT 164 “Responsabilidade Social”, que funciona no âmbito do Orga-nismo de Normalização Sectorial para a Ética e Responsabilidade Social – Associação Portuguesa de Ética Empresarial. A Agência Por-tuguesa do Ambiente participa como vogal nos trabalhos desta CT.

Tal como os outros Sistemas de Gestão, o Sistema de Gestão da Res-ponsabilidade Social, baseia-se no ciclo PDCA, que ajuda a organização a criar e manter a sua política e práti-

cas de Responsabilidade Social.Existem várias definições para a

Responsabilidade Social, mas na norma é definida como a “responsa-bilidade de uma organização pelos impactes das suas decisões, activi-dades e produtos na sociedade e no ambiente, através de um comporta-mento ético e transparente que seja consistente com o desenvolvimento sustentável e o bem-estar da socie-dade, que tenha em conta as expec-tativas das partes interessadas, esteja em conformidade com a legisla-ção aplicável e seja consistente com normas de conduta internacionais e esteja integrado em toda a organiza-ção”.

A certificação de uma organiza-ção, de acordo com os requisitos desta norma possibilitará evidenciar as boas práticas definidas para atin-gir a melhoria contínua dos seus pro-cessos e da gestão dos seus impac-tes.

Page 50: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

AMBIENTE

50 JUNHO 2008

“Situação mineira actual é globalmente positiva”Delfim Carvalho, presidente da Empresa de Desenvolvimento Mineiro (EDM), faz um balanço do trabalho desenvolvido na recuperação ambiental das áreas mineiras degradadas e confessa-se optimista em relação a uma retoma da indústria mineira portuguesa.

Em tempos, a indústria de extracção mineira tinha uma expressão muito grande em Portugal. Hoje, como a caracteriza e quais as perspectivas de futuro?A situação mineira actual é globalmente positiva e ofe-rece perspectivas muito promissoras para o futuro. Muito embora várias explorações tenham acabado, por exaustão, insuficiência de reservas, ou outro motivo, tal não signi-fica que a importância da indústria extractiva nacional, na economia, no emprego e nas exportações tenha diminu-ído. Pelo contrário. No que às exportações diz respeito o seu valor já está próximo do bilião de euros. Valor pratica-mente líquido, gerado do “nada”, ao que haverá a adicionar a poupança que representa o abastecimento de matérias-pri-mas nacionais à construção civil e indústria transformadora. O aumento da procura e a acentuada subida das cotações vieram criar boas perspectivas para uma retoma da indús-tria mineira e a evidenciar o papel fundamental que os recur-sos não renováveis irão desempenhar no presente século. Entrámos já no super-ciclo das matérias-primas. Repare que mesmo os recursos renováveis são cada vez mais dependen-tes dos não renováveis, traduzidos em fertilizantes, combus-tíveis, maquinaria, etc. O que se está a passar com o petróleo poderá, em boa medida, vir também a acontecer com outras commodities de natureza geológica. Por volta de 2050, ou seja, “amanhã”, o nosso planeta deverá ter mais três biliões de habitantes. Por desnecessário, nem refiro os consumos per capita actuais e os recursos conhecidos a nível global para evidenciar que “o bolo” a repartir está a ficar cada vez mais pequeno a ritmo preocupante.

Da actual actividade mineira podem resultar novas descobertas?Além da realidade mineira conhecida, há a considerar que da actividade regular da prospecção mineira podem, de um momento para o outro, resultar novas descobertas, em face das boas potencialidades geológicas ainda existentes no território nacional, em especial para maiores profundidades do que as até agora prospectadas. Imagine-se o que representaria para o país a descoberta de um novo Neves-

Corvo? Pois fique sabendo que isso dependerá mais da clarividência, perseverança, determinação e do investimento, do que, porventura, da dotação geológica.

O Programa de Reabilitação de Áreas Mineiras Abandonadas (2007-2013) aponta um objectivo claro: no fim de 2013, do total das 175 áreas mineiras inventariadas ficarão resolvidos cerca de 100 casos. Que balanço faz até esta altura?O balanço é francamente positivo. O programa desenvolvido e a qualidade das intervenções são já referidos, a nível inter-nacional, como exemplo a seguir por outros países. Apesar dos morosos trâmites processuais, envolvendo a formulação de candidaturas dos projectos a apoios dos fundos estruturais (POE/PRIME, POA), análise do impacto ambiental e aber-tura de concursos, foi já possível concretizar várias obras de reabilitação ambiental um pouco por todo o país, com destaque para Jales, Argosêlo, Montesinho, Covas, Ribeira, Fonte Santa, Freixeda e Murçós, todas na Região Norte e as das minas de urânio de Espinho (Mangualde) e da Barra-gem Velha da Urgeiriça e Vale da Abrutiga (em fase final), na Região Centro e nas de S. Domingos e Aljustrel no Alen-tejo. Além dessas obras já finalizadas diversas outras estão em curso. As áreas mineiras abandonadas a recuperar até 2013, agora no âmbito do QREN, somam cerca de 70. Este número poderá ser superior, caso, entretanto, haja disponibi-lização orçamental..

Quais são as principais linhas a ter em conta quando se procede à reabilitação de uma mina ou barragem de resíduos? Há interesse em que seja preservada a memória mineira, como testemunho do passado histórico?Os principais objectivos visam anular, ou mitigar, riscos para a saúde e segurança física, reabilitar e valorizar o ambiente degradado. Nesta perspectiva, quando se procede à reabili-tação de uma área mineira, barragem ou escombreira nela integradas, torna-se fundamental, em primeiro lugar, estudar e compreender devidamente os fenómenos causadores dos

Texto: Alexandra Carvalho Vieira

Page 51: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

AMBIENTE

JUNHO 2008 51

maiores impactos, em particular na segurança e saúde das pessoas e na contaminação de aquíferos. Depois há que apli-car as melhores práticas para resolução dos problemas em presença. Em todas as intervenções está sempre implícita a preocupação de valorização sócio-económica das áreas rea-bilitadas. Exemplos concretos podem já ver-se, entre outros, em Argosêlo, Jales, Montesinho, Covas e Espinho. Daí que a preservação da memória mineira seja fundamental. Pese embora os transtornos sofridos dos impactes ambientais, são mesmo as populações que não esquecem terem sido as minas a sua principal fonte de emprego, riqueza e progresso regional e, por isso, pretendem que tal testemunho perdure para o futuro. Embora muitas vezes esquecido, ou igno-rado, a verdade é que os recursos minerais foram dos facto-res mais condicionantes da nossa evolução histórica. Se eles não existissem cá a História de Portugal seria, certamente, outra bem diferente. Foi a existência de ouro, cobre e esta-nho que cedo nos colocou em contacto directo com as civili-zações mais avançadas dos períodos pré-Romano e Romano. Sempre que possível, a preservação da memória da história mineira, do passado remoto ao recente, é uma responsabili-dade que de modo algum se pode esquecer.

Uma das últimas intervenções da EDM foi a obra de Reabilitação Ambiental da Barragem Velha da Urgeiriça... As principais preocupações associadas ao desenvolvimento do projecto da Reabilitação Ambiental da Barragem Velha da Urgeiriça foram as da criação de condições adequadas para a sua concretização em tempo oportuno e com resul-tados finais dentro dos parâmetros internacionalmente acei-tes. Dada a sua importância e urgência, esta obra teve de ser totalmente financiada por meios próprios da EDM, impor-tando em 6 milhões de Euros. Sob o ponto de vista técnico, a modelação e selagem de 2,5 milhões de toneladas de mate-rial radioactivo, em condições eficazes, constituiu-se como principal desafio e objectivo a atingir. Os valores de radio-metria de superfície conseguidos pós-obra, inferiores a 300 choques por segundo (cps), contra os 15.000 cps inicial-mente registados, revelam que aquele objectivo foi plena-mente alcançado. Graças a este projecto e ao cuidadoso plano de reabilitação das minas de urânio oportunamente apresen-tado pela EDM, foi possível inverter a imagem desfavorável que havia quanto a esta matéria sobre o nosso país e ganhar a necessária credibilidade e aprovação pelas qualificadas enti-dades do EURATOM. Importa sublinhar que Portugal corria o risco da aplicação de pesadíssimas coimas. Com a conclu-

são desta obra eliminou-se a principal génese de impactos ambientais radioactivos da área Mineira da Urgeiriça. Esta era, na verdade, a principal etapa e a obra-chave do plano de reabilitação ambiental da Urgeiriça, o qual está a pros-seguir com as fases seguintes de intervenção programadas. Prevê-se que a vasta e complexa reabilitação da área mineira da Urgeiriça fique concluída em 2012.

Minas: “A legislação actual é muito exigente e defende o desenvolvimento sustentável”

De futuro, não haverá mais nenhuma mina a deixar impactos negativos?Impactos negativos significativos nas minas reabilitadas não haverá certamente. Para prevenir qualquer risco, estas minas vão ficar sob monitorização e controlo ao longo do tempo. Quanto aos casos restantes, também não deve existir perigo dado o seu reduzido impacto ambiental. No que se refere às minas activas, actuais e futuras, tal problema não se coloca porque a legislação actual é muito exigente e defende o desenvolvimento sustentável, onde a componente ambiental é determinante. As empresas mineiras são obrigadas a cons-tituir um fundo para a reabilitação ambiental das áreas afec-tadas pela exploração.

Além do cumprimento do Programa de Reabilitação de Áreas Mineiras Abandonadas, quais vão ser os próximos passos da EDM?A EDM está a realizar sondagens e estudos complemen-tares sobre o jazigo de cobre, zinco, chumbo e prata do Gavião (Aljustrel), de cuja concessão é titular, tendo em vista confirmar a viabilidade e preparar o projecto mineiro. Para este efeito constituiu um consórcio com a Somin-cor. Este jazigo foi descoberto em 1970 pela Sociedade Mineira de Santiago, antecessora da EDM. Este é, actual-mente, o seu principal projecto na área mineira produtiva, mas outros poderão emergir no futuro próximo. O papel da EDM foi também crucial, com trabalhos de manuten-ção ao longo de vários anos, para a recente retoma da lavra nas minas de Aljustrel por Pirites Alentejanas. Além disso, a EDM participa, como silent partner, em projectos de prospecção e pesquisa na Faixa Piritosa Alentejana com a Somincor, onde detém direitos de 15 por cento nas desco-bertas que possam vir a acontecer.

Page 52: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

AMBIENTE

52 JUNHO 2008

EcoMania:Uma visão verde do futuro!Cada dia que passa, a consciência ambiental está a ocupar um lugar de relevo na tabela das prioridades do ser humano.

Assuntos como a deposição de resí-duos urbanos e industriais, excesso de consumo de água e energia ou a polui-ção que eram considerados sem impor-tância há poucas décadas atrás, estão actualmente na primeira linha das pre-ocupações da população a nível mun-dial. Nunca no passado se admitia que o comportamento humano pudesse ter qualquer impacto em determinados fenómenos como alterações climáti-cas, escassez de água potável, erosão acentuada na costa, subida do nível médio do mar (e suas consequências), ou a criação de preocupantes desequi-líbrios nos ecossistemas.

Luta-se agora contra o tempo para mudar hábitos e mentalidades da população.

A EcoMania nasce numa altura em que a estratégia da sociedade, no que respeita aos problemas ambien-tais, passa já pela criação de empresas específicas com dedicação exclusiva à resolução de problemas concretos em diversas áreas, através da cria-ção de sistemas e da prestação dos

mais variados tipos de serviços com o objectivo de dar andamento às políti-cas que, inevitavelmente, têm e terão de ser implementadas a nível regional e a nível local.

E foi assim, porque ainda há a fazer pelo meio ambiente que Margarida Fernandes decidiu aventurar-se pelo empreendorismo e criar a EcoMania. Já com um lugar no nicho de mercado que se tem vindo a desenvolver a Eco-Mania tem tido um papel activo ligado à sensibilização ambiental, levada a cabo pelos governantes e organismos estatais, e junto da própria popula-ção curiosa, pró-activa, sensível a ser-viços ligados à preservação do meio ambiente, e produtos da loja on-line (http://www.ecomania.pt/ecomania_loja_online.html).

O lema da EcoMania é “aprender, brincando”, sem nunca esquecer o velho provérbio índio que nos diz que “A Natureza não é uma herança dos nossos pais, mas um empréstimo dos nossos filhos".

A EcoMania tem noção de que o

desenvolvimento sustentável não irá surgir sem que se façam opções claras nesse sentido, e que para o alcançar é necessário ter uma visão de futuro, planear, decidir e actuar segundo prin-cípios e objectivos específicos.

É com grande orgulho que a Eco-Mania afirma que não se deixa vencer pelas barreiras geográficas nem olha a idades no momento de transmitir os conceitos e dicas tão necessários que contribuem para o desenvolvimento da consciência ambiental da popula-ção.

Para mais informações visite o site desta empresa: www.ecomania.pt

Ecomania

Page 53: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

COGERAÇÃO E EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

JUNHO 2008 53

“Cogeração é uma medida de eficiência energética”As palavras são de Brandão Pinto, presidente executivo da COGEN Portugal, que explica ser possível através deste método produzir electricidade com maior eficiên-cia e combater a dependência de Portugal à importação de combustíveis fósseis.

Para dinamizar este sector, o Governo está a preparar a publicação de um novo Pacote Legislativo regulamen-tador da actividade de cogeração. O objectivo é não só transpor a Direc-tiva Comunitária para a Promoção da Cogeração – Directiva 2004/8/CE, de 11 de Fevereiro de 2004 –, como também e ao mesmo tempo, avançar com uma nova Política Energética, interferindo no quadro vigente e no papel que há mais de uma década e meia têm representado no todo do Sis-tema Energético Nacional as Centrais de Cogeração.

Em países como a Finlândia ou a Holanda, a cogeração representa 40 por cento da potência instalada, enquanto na Dinamarca metade da electricidade é produzida através deste método, fazendo deste país o mais eficiente a nível energético da União Europeia. Em Portugal estão instalados 1.200 MWe, o que corres-ponde a apenas 12 por cento do con-sumo anual de electricidade no país, mas as perspectivas são para que se “possa vir a duplicar a capacidade

actual até 2015”.

Quais são as principais vantagens da utilização da cogeração? A cogeração é um processo de produ-ção e utilização combinada de calor e electricidade que proporciona o apro-veitamento de mais de 70 por cento da energia térmica proveniente dos com-bustíveis utilizados nesse processo.

Dado Portugal ser um país muito dependente de importações de com-bustíveis fósseis, a cogeração permite que com a mesma energia útil seja possível consumir menos energia pri-mária. O grande problema é que nem sempre as regras são totalmente trans-parentes, nomeadamente em relação à energia eléctrica. Sabemos que, por vezes, os preços da electricidade não reflectem, naquele momento, o verda-deiro custo de produção. Um factor que complica a sua competitividade.

Como é possível ultrapassar esta barreira que, na sua opinião, tem regras pouco transparentes?É possível integrando a cogeração num regime especial que tem regras específicas que permitem diminuir o efeito negativo dessa falta de transpa-rência em cada momento, designada-mente no sector eléctrico. Com estas regras, no âmbito do regime especial, é possível ultrapassar as limitações. Na prática, do ponto de vista eco-nómico, isto consegue-se através de uma tarifa, uma remuneração da ener-

Brandão Pinto, presidente executivo da COGEN Portugal

Texto: Alexandra Carvalho Vieira

Page 54: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

COGERAÇÃO E EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

54 JUNHO 2008

gia eléctrica produzida pelas centrais de cogeração que faça uma indexa-ção adequada e permanente do preço da energia eléctrica ao preço dos com-bustíveis.

Por outro lado, o Plano Nacional de Acção para a Eficiência Energética (PNEE) pode ser indutor do aumento da utilização da cogeração em Portugal?Não é o PNAEE que será o indutor de mais cogeração em Portugal. Até porque se olharmos para o Plano a medida que está como sendo de pro-moção da cogeração, diz que aquilo que se vai fazer é uma actualização do quadro legal e um ajustamento das condições de remuneração, tendo em conta o aumento da potência instalada em cogeração. Aqui o mecanismo indutor será o novo quadro legal que está em fase de aprovação e que, com as condições que vier a consignar, pode induzir e fomentar a cogeração em Portugal.

Que condições são essas?Sempre defendemos que para que os agentes económicos invistam neste sector, devem ter o mínimo de estabi-lidade nas condições económicas para desenvolver esses projectos. Repito que estas condições não podem viver sem a indexação da tarifa da electrici-dade que produzem ao preço do com-bustível. Achamos fundamental que qualquer quadro incorpore este prin-cípio. E pelas notícias que temos, o quadro legal que vai ser publicado incorpora este ponto. Por outro lado, não nos podemos esquecer que, até este momento, tínhamos em Portugal um quadro que já incorporava estas regras, mas nos últimos anos não assistimos a um desenvolvimento sig-nificativo da cogeração. Há uns anos dizia-se que a melhor lei que podia existir na União Europeia para pro-mover a cogeração era obrigar qual-quer investidor de uma central con-vencional que utilizasse combustíveis fósseis a demonstrar que não o podia fazer através da cogeração. Considero que isto teria alguma racionalidade.

Mas se já temos um quadro legal que confere estabilidade aos agentes porque é que não aparecem os projectos? Aqui refiro que a grande dificuldade que tem existido é a falta de disponibi-lidade da rede pública para acomodar novos projectos. O que tem acontecido nos últimos anos é que a rede eléctrica não tem disponibilizado nova capaci-dade de interligação para projectos de cogeração, uma vez que tem utilizado preferencialmente a capacidade que aparece noutras tecnologias, nomea-damente as renováveis. Portanto, este tem sido o factor que inibe o desen-volvimento que seria natural esperar tendo em conta o quadro legislativo. Sob o ponto de vista económico pen-samos que este novo quadro deveria acautelar uma mudança nos procedi-mentos de atribuição da nova potência sob pena de repetirmos os problemas que temos hoje. Pelas informações que temos, vão existir alterações.

Uma vez que fala nas energias renováveis, a promoção da coge-ração é incompatível? Penso que não, nomeadamente em Portugal. Se temos um país que produz electricidade com combus-tíveis fósseis, nomeadamente com carvão, enquanto isso acontecer deve-mos procurar produzir electricidade utilizando todas as soluções que exis-tam sem recorrer a combustíveis fós-seis, nomeadamente a cogeração.

“Portugal produz 12 por cento da electricidade que é consumida no país, um valor que está alinhado com a média Europeia.”

Quem faz cogeração em Portugal?A indústria portuguesa que é aquela que, efectivamente, tem condições para desenvolver projectos de cogera-ção. Os industriais portuguese sempre

foram sensíveis à ideia de cogera-ção e desde que houve legislação que enquadrou esta tecnologia, os empre-sários disponibilizaram-se a fazer investimentos e instalaram no país uma potência que hoje ronda os 1200 MWe. Com isto produzem cerca de 12 por cento da electricidade que é con-sumida no país, um valor que está ali-nhado com a média Europeia.

Mas não está centrada na indústria?A cogeração deve ser entendida como uma medida de eficiência energética. Para eu poder utilizar esta medida tem de existir um consumidor que, nor-malmente, perco nas centrais con-vencionais. Esta é a regra de ouro. Quando utilizo um combustível fóssil numa central convencional para pro-duzir electricidade, não tenho alterna-tiva porque existe uma grande parte de energia que se perde. O que a coge-ração faz é encontrar um consumidor. Estes consumidores podem existir nas indústrias, num hospital, num hotel, numa zona residencial. Na Europa do Norte, por exemplo, há aplicações de cogeração com potências significati-vas em zonas residenciais que, na prá-tica, o que fazem é aproveitar a ener-gia para aquecer as casas no período longo de Inverno. No entanto, muitas vezes as unidades têm uma dimensão pequena, mas em termos económicos é mais vantajoso ter unidades grandes por causa dos efeitos de escala que induzem.

“Reduz o nível de emissões de CO2 para a atmosfera.”

Page 55: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

Por Carlos Almeida Santos, SEVA SA – Grupo Têxtil Somelos

COGERAÇÃO E EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

JUNHO 2008 55

O Futuro da Cogeração: Suas Implicações na Competitividade EmpresarialActualmente, a actividade de cogeração é exercida ao abrigo do conceito de “Produção de Energia Eléctrica em Regime Especial”, associado ao reconhecimento das suas vantagens contributivas para a eficiência energética e ambiental, traduzidas na atribuição de uma mais-valia pela energia eléctrica produzida. Está estabe-lecida por confrontação com os Custos Evitados no Sistema Ener-gético Público em Central Produtora de Referência.

O quadro legal estabelecido na Comu-nidade Europeia com a Directiva para a Promoção da Cogeração 2004/08/EC considera a produção descentra-lizada de electricidade e a Cogeração como uma medida eficaz de eficiência energética. Apresenta como objectivo essencial o crescimento da eficiência energética e da segurança no abaste-cimento, mediante a criação de um quadro para a promoção e o desenvol-vimento da cogeração. No artigo 5.º da referida Directiva é estipulado que cada Estado-Membro “deve assegurar que possa ser garantida a origem da electricidade produzida em cogeração de Elevada Eficiência, de acordo com critérios objectivos, transparentes e não discriminatórios”.

Contrariamente ao que se verifica com outras fontes de energia, os cus-tos evitados pela Cogeração são de imediato induzidos no Sistema. Ao traduzir-se em: menores capacidades suplementares necessárias para reserva e reforço, menores consumos de com-bustíveis, menores emissões de gases de efeito de estufa, maior segurança no abastecimento; e, provocando no Siste-ma Energético Nacional um menor es-forço de gestão operacional e de inves-timento, reduzindo significativamente a dependência do exterior e evitando novos custos ambientais ao País.

As Empresas coligadas com projec-tos de cogeração vêem as suas facturas

energéticas significativamente reduzi-das o que contribui seriamente para a sua competitividade nacional e inter-nacional.

Tratando-se de Empresas das mais agressivas e das mais competitivas dos seus sectores, maioritariamente fortemente exporta-doras, são muitos os desequilíbrios evita-dos que contribuem para a manutenção de milhares de postos de trabalho e para o desenvolvimento futuro do tecido empresarial Nacional.

A eficiência energética está hoje consagrada como a primeira linha de força da estratégia global para o de-senvolvimento sustentável. É preciso reduzir o crescimento da procura e de-pois, satisfazê-la utilizando, de forma crescente, recursos renováveis. E é por isso que a eficiência energética é uma das prioridades estratégicas a nível da União Europeia visando uma redução nos consumos através da alteração do comportamento dos consumidores e

da utilização de tecnologias de elevada eficiência.

A produção descentralizada de ener-gia e designadamente a cogeração é, in-discutivelmente, reconhecida como uma medida eficaz de eficiência energética, com impactos positivos na competitivi-dade da economia e no ambiente.

Esperando-se dela, um contributo imprescindível para o cumprimento de objectivos Nacionais e Comunitários de ordem ambiental.

Porque: “… Quando a competitivi-dade dos Países se coloca à Dimensão Global e se mede pela forma como enfrentam os problemas energéticos e ambientais, não é possível esquecer o papel da Cogeração no suporte e no sucesso de uma qualquer estratégia de desenvolvimento sustentável para Por-tugal...”

Por tudo isso, o que se pretende e exi-ge é que o Novo Enquadramento Legal Português melhor defenda o que são as reais aspirações Nacionais: “… De redução na dependência energética do exterior, de um melhor aproveitamento nos recursos energéticos disponíveis e de uma maior sensibilização ambiental, através de mais significativa utilização de energias renováveis e de maior efi-ciência na produção de electricidade. Tomando-os como princípios básicos para conseguir um desenvolvimento sustentável do ponto de vista económi-co, social e ambiental…”

Page 56: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

COGERAÇÃO E EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

56 JUNHO 2008

Desenvolvimento de projectos de cogeraçãoO mercado de cogeração em Portugal situa-se na ordem dos 1.200 MWe, sendo mais de 25 por cento referente a centrais fornecidas pela Wärtsilä. Uma empresa da Finlândia, um país onde a cogeração representa aproximadamente 40 por cento da potência instalada.

Rui Val Ferreira, director-geral desta empresa em Portugal, em entrevista esclarece que a cogeração permite “uma poupança de combustível pri-mário com a consequente redução das emissões gasosas para a atmosfera, quando comparadas com outras alter-nativas”.

A Wärtsilä é líder mundial no mercado de motores de geração de energia e propulsão marítima, tem grupos geradores de energia em mais de 4 mil instalações industriais com capacidade superior a 30.000 MWe. Como caracteriza a presença da empresa em Portugal?A Wärtsilä tem uma potencia instalada no mercado nacional de mais de 750 MWe, dos quais 40 por cento em ins-talações de cogeração. De acordo com os indicadores que temos, o mercado de cogeração em Portugal situa-se na ordem dos 1.200 MWe, dos quais mais de 25 por cento são referentes a centrais fornecidas pela Wärtsilä. No entanto, se considerarmos apenas centrais equipadas com motores a 4 tempos, a Wärtsilä tem uma quota de mercado superior a 50 por cento, sen-do actualmente líder neste segmento de mercado de cogeração. A Wärtsilä Portugal foi constituída em 1993 ten-do em vista apoiar no mercado portu-guês o desenvolvimento do sector da cogeração. Actualmente, a estrutura organizativa tem mais de 40 colabo-radores, e um volume de negócios consolidado na ordem dos 10 milhões de Euros, sendo a única empresa do

sector que tem uma estrutura comple-ta para apoiar e desenvolver, de uma forma muito próxima e em parceria, o negócio dos nossos clientes.

Na Finlândia, país de origem da Wärtsilä, a cogeração representa 40 por cento da potência instalada. Em Portugal apenas 12 por cento, mas prevê-se que haja um crescimento nesta matéria, nomeadamente ao nível da utilização de biomassa. Neste sentido, quais são os grandes desafios tecnológicos para a utilização energeticamente eficiente da biomassa?Relativamente à tecnologia existente para a queima de biomassa poderemos dizer que actualmente existem solu-ções bastante avançadas nesta área, portanto não são materialmente rele-vantes neste sector os desafios tecno-

lógicos, apesar do rendimento energé-tico ser bastante inferior à cogeração com motores recíprocos. A questão determinante são os factores de ren-dibilidade económica ligados por um lado com a margem do negócio, em virtude dos países com melhores pre-ços de venda de energia contribuírem para o aumento do preço da matéria-prima podendo baixar a atractividade deste tipo de investimento noutros pa-íses como Portugal.

“… inexistência de perdas no transporte…”

A cogeração pode e deve ser entendida como uma medida de eficiência energética?Claramente. A Cogeração é a tecno-logia existente mais eficiente para a geração combinada de energia térmi-ca (calor e frio) e eléctrica, em virtu-de do nível de eficiência destas ins-talações ser extremamente elevado, podendo ultrapassar os 90 por cento de eficiência. Neste quadro podemos afirmar que as perdas da transfor-mação energética neste processo são mínimas quando existem condições e necessidade de energia térmica perto do ponto da operação da Central de Cogeração. Desta forma, obtém-se uma poupança de combustível primá-rio com a consequente redução das emissões gasosas para a atmosfera quando comparadas com outras alter-

Rui Val Ferreira, director-geral da Wärtsilä Portugal

Page 57: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

COGERAÇÃO E EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

JUNHO 2008 57

nativas. Há ainda a acrescentar que, em virtude desta forma de produção de energia ser descentralizada, tem ainda vantagens adicionais tais como a inexistência de perdas no transpor-te e distribuição de energia eléctrica, porque a instalação está sempre junto ao ponto de interligação com a rede eléctrica de distribuição.

Os sectores de actividade com condições mais propícias à ins-talação de unidades de cogeração são as indústrias ou serviços que consomem grandes quantidades de energia térmica, como a refinação, petroquímica e química, pasta e papel, cerâmica, têxtil e alimentar. Quais os principais projectos desenvolvidos pela Wärtsilä em Portugal?Os clientes Wärtsilä atravessam transversalmente todos os sectores de actividade desde o primário até ao terciário. Temos projectos ligados à produção agrícola onde a energia térmica e os gases resultantes da com-bustão do gás natural, após tratamento, são utilizados em estufas de produção hortícola. Na indústria transformado-ra é onde a Wärtsilä tem a maior base instalada de Centrais de Cogeração, onde se incluem as maiores empresas têxteis, indústria papeleira e também na indústria de transformação de ma-deiras. No sector terciário a Wärtsilä

tem como clientes os maiores Centros Comerciais no mercado nacional sen-do as nossas instalações responsáveis pela produção, além da energia eléc-trica da produção de energia térmica na forma de calor e frio.

Conjuntura legal e económica travam grandes investimentos na cogeração

Quais são as perspectivas de crescimento em Portugal?A Directiva Comunitária referente à eficiência energética onde se insere o regulamento da cogeração ainda não foi transposta para a legislação por-tuguesa. Neste quadro todas as partes interessadas neste sector estão na ex-pectativa relativamente à nova legisla-ção para promoção da cogeração, cujo projecto de lei se encontra em fase de apreciação para posterior publicação. Face a esta situação e à actual conjun-tura económica conjugada ainda com a limitação do tecido industrial, não têm existido novos projectos relevan-tes em Portugal no segmento onde a Wärtsilä desenvolve a sua actividade. Assim sendo as perspectivas de cres-cimento nesta área de negócio existem pelas vantagens de eficiência energé-tica, mas são limitadas.

Page 58: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

COOPERATIVISMO

58 JUNHO 2008

ColmeiaUma Cooperativa de Habitação dedicada às pessoasFundada em 17 de Junho de 1977 a Colmeia fez, nestes 30 anos, um percurso diver-sificado proporcionando à comunidade respostas na habitação (custos controlados; estatuto fiscal e regime livre), na educação e, agora, também, na assistência à 3ª idade.

No dia 15 de Maio – Dia Internacio-nal da Família – a Colmeia iniciou o funcionamento de um lar com capa-cidade para 23 camas. Situado no Edifício Colmeia VI, no Parque das Nações, este lar é parceiro do colé-gio já em funcionamento há três anos, com capacidade para 170 crianças, em creche e jardim de infância. Gerações distintas unidas no mesmo ambiente e no mesmo abraço de envolvimento dos Cooperadores numa Cooperativa que cultiva o relacionamento com os seus membros e com a comunidade em geral.

Para promoção do conhecimento e convívio entre colaboradores, Coope-radores, familiares e amigos, a Coo-perativa organiza regularmente even-tos de recreio e cultura, sendo o mais relevante o “ Encontro Anual da Famí-lia Colmeia”, como foi o do passado

dia 31 de Maio, com 200 pessoas a divertirem-se com jogos tradicionais, radicais, canoagem, entre outras.

Com os dois primeiros edifícios construídos nos finais da década de oitenta, 334 apartamentos no Parque das Nações – o maior promotor nacio-nal de habitação nesta zona – diversos empreendimentos em Lisboa, isola-damente ou em parceria, no Algarve, Torres Vedras e Sintra, a par dos equi-pamentos já colocam a Colmeia num lugar de referência do movimento Cooperativo Português.

Nos últimos dez anos, a Coopera-tiva criou um quadro de trabalhadores que passou de 1 para os actuais 50 e cerca de 60 a partir do próximo ano lectivo. O número de Cooperadores, em crescimento regular, ultrapassa os mil e cem. E como recordam os seus dirigentes qualquer cidadão se pode

tornar membro da Cooperativa.Mais de 400 fogos construídos e

entregues às famílias e cerca de 300 em construção e promoção são núme-ros que traduzem a energia da Col-meia que leva às suas obras um nível de preocupação com qualidade, o ambiente e a partilha de ideias que satisfaçam as necessidades dos futu-ros moradores e que levam ao reco-nhecimento de um trabalho diferen-ciador, humanizado, orientado pelos valores e princípios Cooperativos.

Colmeia

Page 59: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::
Page 60: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

PERSPECTIVA

60 JUNHO 2008

Como está e para onde caminha Portugal? Turismo Do ponto de vista do Turismo, creio que estão reunidas todas as condições para nos mantermos optimistas sobre o seu futuro em Portugal.

No Programa do XVII Governo Cons-titucional, o Turismo foi assumido como uma área decisiva para o desen-volvimento sustentável a nível am-biental, económico e social do país.

Em conformidade com este desíg-nio, temos vindo a desenvolver um conjunto de políticas conducentes à afirmação de um turismo de qualida-de, das quais é corolário o Plano Es-tratégico Nacional de Turismo. Com um trabalho sério de todos os interve-nientes – públicos e privados, Portu-gal tornar-se-á um dos destinos turís-ticos de maior crescimento na Europa, com o desenvolvimento do Turismo a sustentar-se na qualificação e compe-titividade da oferta, alavancando-se na excelência ambiental / urbanística, na formação dos recursos humanos e na dinâmica / modernização empresa-rial e das entidades públicas.

No âmbito deste Plano nacional, definimos, a par de dez produtos tu-rísticos estratégicos, seis novas cen-tralidades turísticas, que contribuirão também para uma maior coesão terri-torial e social.

Os dados estatísticos mais recentes demonstram que estamos no caminho certo: de acordo com a Conta Satélite do Turismo, a despesa em consumo turístico cresceu, em 2007, 11,4%. O valor acrescentado gerado pelo turis-mo, por outro lado, atingiu, no mesmo período, um crescimento nominal de 9,7% (crescimento que, em 2005, ti-nha sido de 2%).

Os primeiros dados de 2008, em todos os indicadores – receitas, dor-midas e hóspedes – mantêm o desem-penho positivo, com taxas de cresci-mento muito significativas.

Portugal tem condições naturais, pa-trimoniais e humanas excepcionais.

Quem nos visita, ao deparar-se com a multiplicidade de pro-postas que temos para oferecer, tenciona voltar e recomendar o destino a outros.

O Governo tem procurado criar as condições para que o Turismo conti-nue a crescer de forma sustentável e para que se afirme como uma fonte geradora de riqueza e de bem-estar para as populações e o investimento privado na requalificação da oferta tem respondido positivamente, cres-cendo a um bom ritmo.

Contudo, os bons resultados que

temos vindo a observar não nos per-mitem baixar os braços: o esforço de criação de condições objectivas para a manutenção da nossa competitividade deve ser contínuo, quer da parte do Governo e demais entidades públicas, quer da parte dos agentes privados.

É necessária a manutenção de uma postura atenta, antecipar problemas e desafios, conhecer efectivamente o com-portamento dos con-sumidores e adequar permanentemente a oferta às oscilações e vicissitudes sofridas pelos mercados.

A receita para a continuação do suces-so do turismo nacional passa, assim, por um investimento contínuo na qua-lidade das infra-estruturas e dos recur-sos humanos, por um conhecimento efectivo dos clientes e por uma pro-moção adequada da nossa proposta de valor e dos seus factores diferenciado-res nos mercados emissores.

Por Bernardo Trindade, secretário de Estado do Turismo

Page 62: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

DOURO VINHATEIRO E TURÍSTICO

62 JUNHO 2008

“O Douro é apaixonante e imperdível”

“O Douro é único no Mundo e nada é parecido com este recanto Romântico”. A descrição é de Luís Simões, proprietário da Quinta das Herédias, um marco importante na Região Vinhateira que faz parte da Rota das Vinhas de Cister, da Rota do Vinho do Porto, da Rota do Azeite e da Rota do Românico.

A Quinta das Herédias está integrada na Região Demarcada do Douro, em zona de declives acentuados, sobre o alcantilado vale do rio Távora. É esta paisagem que faz da Quinta um local especial para passar uns dias agradáveis?Socalcos pós-filoxérica manda-dos executar no último terço do séc. XIX pela família Cardoso de Lucena, então proprietária da Quinta e grande impulsionadora da sua exploração agrícola e vitivinícola, arrecadando prémios dos seus vinhos generosos e azeite, em feiras e certames nacionais e estrangeiros. O núcleo edificado é

composto pelos edifícios da Casa do Senhorio, Casa do Caseiro, Capela, Estábulo e Casa do Forno, e em plano superior, pela antiga Casa do Azeite e pela Oficina Vinária, composta pela Casa dos Lagares e pelo Armazém para o estágio dos vinhos. A Capela da Quinta das Herédias é um Templo Edificado no primeiro terço do séc. XX, em arquitectura algo eclética com sabor vernáculo. A oficina Viná-ria composta por dois corpos, a Casa dos Lagares e o Armazém, terá sido edificada em 1796 (gravação no lintel do pórtico da Casa dos Lagares). A Casa dos Lagares com três enormes

Lagares compostos por grandes lajes graníticas e duas prensas antigas. No armazém existem em funções quatro grandes Tonéis, em madeira de Car-valho e uma Mezanine onde funcio-nou o Laboratório de Enologia e hoje é a habitação do Feitor da Quinta. Neste local produziram-se os melho-

Quinta das Herédias

A unidade de Turismo Rural dispõe de 10 quartos de casal comple-tos, 4 salões dos quais 3 comuns e um de refeições, 4 cozinhas com-pletamente apetrechadas, sala de snooker, sala de leitura, sala de lazer, garrafeira com mais de 2.000 garrafas com vinhos de todo o mundo vinhateiro, e nos espaços exteriores extensas áreas relva-das, piscina com pérgolas onde se pode desfrutar de deliciosas refei-ções com vista para os vinhedos, olival, laranjal e Rio Távora com a encosta oposta a oferecer um con-junto de múltiplas espécies vege-tais e animais.

Page 63: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

DOURO VINHATEIRO E TURÍSTICO

JUNHO 2008 63

res Vinhos Generosos Premiados com as marcas Porto Herédias, Heré-dias e Quinta das Herédias em Porto e Docs.

Qual a sua história?A Quinta das Herédias é uma pro-priedade agrícola e vitivinícola criada pelo Mosteiro de São Pedro das Águias, dentro do espírito que pre-sidiu à Ordem de São Bernardo, de fazer povoar e cultivar áreas que apre-sentar-se-iam desertificadas nos pri-mórdios da Nacionalidade. Áreas que terão sido doadas ao cenóbio pelos descendentes dos Távoras, pelo Conde D. Henrique e sua Esposa D. Teresa bem como outros ilustres. A Quinta do Aranda começa a ser refe-rida com maior referência, pela deno-minação de Quinta das Herédias, como memória dos anteriores pro-prietários, as irmãs D. Leonor Amélia e D. Carlota Augusta Falcão Sar-mento, filhas de Dr. Francisco Heré-dia Falcão Sarmento. Hoje em dia, a Exploração dedica-se a Turismo no

Espaço Rural, Vitivinicultura, Explo-ração Florestal e Reserva de Caça Turística. Detentora das marcas Porto Herédias, Herédias e Quinta das Heré-dias entre outras, azeite extra virgem biológico, figos naturais e secos tra-dicionalmente, cerejas entre Abril e Maio, amêndoas e laranjas do Douro deliciosamente doces e únicas, produ-ção de cortiça, madeira de Castanho, Carvalho e Cerejeira.

Quem a visite o que é que vai encontrar?Paisagem cultural agrícola, de encosta. Quinta de produção vitivinícola, implantada em solos xistosos e gra-níticos de declives acentuados, numa região de clima seco, apresentando diversos tipos de armação do terreno vitícola, correspondentes a diferentes épocas: vinha pré e pós-filoxérica em socalcos, patamares, taludes de terra,

Qual a melhor forma de chegar à Quinta das Herédias?

A melhor forma de chegarmos à Quinta das Herédias é por estrada entre a Régua e o Pinhão e subindo o Rio Távora entre vinhedos plan-tados. A decisão é sempre sua, se desejar descobrir algo com que jamais sonhou. Venha e fique vários dias para contemplar os momentos mais deliciosos com que sempre sonhou ou em esca-padelas de fim-de-semana que se complementam ao longo das várias estações do ano.

vinha ao alto e em linha, com zona de bosque nos níveis superiores e junto ao Rio Távora e Ribeiro, e Oliveiras de Bordadura e em socalcos em algu-mas áreas. Na Quinta das Herédias encontra-se tudo aquilo de que neces-sitamos para relaxarmos, divertirmo-nos e na sua Casa Senhorial assistir-mos ás várias Estações do Ano com idêntica curiosidade e expectativa. O Outono é quando as suas cores rubras cobrem as encostas e os aromas a vinho novo generoso inflama o ar; o Inverno transporta-nos para a época Medieval e os aromas a azeite e lenha de oliveira no ar, da queima desta madeira nos fornos, fogões e sala-mandras; a Primavera surge com um colorido místico de flores de Amen-doeiras, Cerejeiras e Laranjeiras, muito aromático e que nos envolve de prazer; o Verão com uma cobertura verde entre os vinhedos, as Oliveiras em flor e os frutos a amadurecerem. É esta simbiose que nos fascina quando visitamos a Quinta das Herédias.

Quinta das Herédias

Telf./Fax.: +351 254 787 004

Luís Magalhães SimõesTlm.: 966 628 762

[email protected]

Maria Elisa ParenteTlm.: 961 355 323

[email protected]

www.quintadasheredias.com

Page 64: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

DOURO VINHATEIRO E TURÍSTICO

64 JUNHO 2008

Solar do século XVII convertido em Hotel

O verde das vinhas contrasta com o azul do rio. Uma paisagem inesquecível, muito apreciada por portugueses e estrangeiros, que inspirou inúmeros escritores. Esta-mos no Alto Douro Vinhateiro, elevado pela UNESCO a Património da Humanidade. É lá, mais precisamente no centro da vila de Sabrosa, que se encontra um Solar do século XVII, com um torreão do século XII, convertido no Hotel Solar dos Canavar-ros. Aliando uma arquitectura do século XVII com o contem-porâneo, o Solar dos Canavarros é um hotel de charme, com o interior em pedra totalmente renovado, que o pro-jecta a nível nacional e internacional. O sitio ideal para nos libertarmos do stress do dia-a-dia e desfrutarmos do que de melhor a região nos oferece: as paisagens, o artesanato, a deliciosa gastronomia e os vinhos da Região Demarcada do Douro.

Os 50 quartos, incluindo 2 suites e um quarto preparado para receber pessoas com deficiência, dispõem de varanda com vista para uma piscina desnivelada que, em dias mais quentes, permite momentos de grande tranquilidade. O ter-raço, a esplanada, o jardim florido e a frescura transmitida pelas piscinas proporcionam um ambiente calmo e agradá-

vel para famílias ou, simplesmente, para alguém que pro-cura paz e harmonia.

No restaurante Solar dos Canavarros, onde o primeiro-mi-nistro José Sócrates jantou recentemente, é possível sabo-rear um belo cabrito assado com arroz de forno, um naco de carne maronesa ou um delicioso cozido à portuguesa, acom-panhado por um bom vinho de mesa da região. O pão--de-ló, o leite-creme caseiro ou as cavacas, como sobremesa, podem ser acompanhados pelo vinho fino da região. O Hotel dispõe ainda de 2 bares, 2 salas para reuniões/conferências, banquetes e serviços de apoio a negócios (telefone, fax e Internet c/ linha Rdis). Espaços que permitem que este hotel tenha um elevado nível de conforto e se destine tanto a famí-lias como a eventos corporate.

Page 65: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

DOURO VINHATEIRO E TURÍSTICO

JUNHO 2008 65

Sabrosa: uma vila no coração do DouroNo Solar dos Canavarros é possível “estar no Douro com qualidade/preço”, refere Amélia Pinto, directora comer-cial, salientando que são muitos os motivos para se refugiar neste hotel: “é uma região quente no Verão, o que favo-rece o uso da piscina, e na Primavera podemos assistir à mudança da cor da folha”, além de que “durante quase todo o ano a subida ou descida de Sabrosa para o Pinhão oferece um misto de paisagens indescritíveis.”

Douro “Um Poema Geológico. A beleza absoluta.”

Miguel Torga, in Diario XII

Toda a região do Alto Douro Vinhateiro é motivo de visita, seja pelas vinhas ou pela vontade de conhecer um pouco mais a história de alguns escritores e navegadores portugueses. Foi na vila de Sabrosa que, em 1522, nasceu Fernão de Magalhães, navegador português que fez a pri-meira viagem à volta do Mundo em circum-navegação. Em S. Martinho nasceu Miguel Torga e em S. Leonardo da Galafura podemos ver e ler o verso deste escritor por-

tuguês. Do alto miradouro podemos também apreciar as vistas extraordinárias que inspiraram grandes escrito-res portugueses do século XX. A proximidade das aldeias vinhateiras e históricas faz do Hotel Solar dos Canavarros o refúgio ideal.

A Casa de Mateus, um magnífico palácio barroco do século XVIII, é outro espaço de visita obrigatória. Visite também as Quintas de Favaios, do Crasto, do Portal, entre outras, e participe nas provas de vinhos. Durante o mês de Setembro, é possível gozar o Douro e participar nas laga-radas. Os mais aventureiros podem também optar por acti-vidades de aventura e lazer no Vale do Douro, na Serra do Marão ou no Parque Natural do Alvão.

Hotel Solar Dos CanavarrosAv. dos Combatentes da Grande Guerra

5060-302 Sabrosa (perto de Vila Real)

Telf. (+351) 259 937 400 Fax. (+351) 259 930 260

Website: http://www.solardoscanavarros.ptE-mail: [email protected]

Page 66: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

DOURO VINHATEIRO E TURÍSTICO

66 JUNHO 2008

Vinho traduz qualidade e singA produção de vinhos é uma tradição familiar para Domingos Alves de Sousa, proprietário da Quinta da Gaivosa, em Santa Marta de Penaguião, Vila Real. Assumindo como “vocação natural a produção”, Alves de Sousa avança também “passo-a-passo” na área do enoturismo.

Quais são as principais parti-cularidades da Quinta da Gaivosa?A Gaivosa é uma Quinta com uma natureza extremamente agreste. Abundam as pequenas matas, os aflo-ramentos de xisto à superfície, com o Vale da Veiga e o Marão pela frente. Não sendo propriamente a típica “pai-sagem de postal”com o rio Douro a passar (paisagem que já tenho nas outras Quintas – Estação, Caldas, Oli-veirinha) é realmente bastante dife-rente e especial. E o facto de estar-mos numa zona mais alta permite-nos manter uma grande frescura e elegân-cia nos vinhos. Somando tudo, são

condições privilegiadas para produzir vinhos do Douro e Porto.

Como define os vinhos da Quinta da Gaivosa? Aliás, vinhos que já foram distinguidos com prémios nacionais e internacionais.É uma pergunta sempre complexa. A percepção do vinho varia sempre em parte de pessoa para pessoa. Tento que os meus vinhos expressem o melhor possível a qualidade e a singularidade das vinhas. O Douro é uma região cuja maior riqueza reside na diver-sidade natural de condições, castas, estilos… E na Gaivosa esta diversi-

dade é de tal forma marcante de vinha para vinha que nos fascina explorá-la em toda a sua magnitude. Sempre pro-curando a melhor harmonia, o melhor equilíbrio. Procuramos um Douro elegante, mas assumidamente Douro. Numa região assim, não faz sentido querer fazer um vinho ao estilo de modelos importa-dos. O Douro tem, sem dúvida, força para se afirmar pelo que é.

Estão previstas novidades para este ano, novos espaços para os amantes de enoturismo? Ao nível do enoturismo vamos avan-

Page 67: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

DOURO VINHATEIRO E TURÍSTICO

JUNHO 2008 67

ularidade das vinhas

çando passo-a-passo. A nossa vocação natural é a produção. São as vinhas e os vinhos. É aquilo que realmente me preenche e, como tal, preenche também todo o meu tempo. O enoturismo poderá surgir como um complemento. Por enquanto organizamos apenas algumas visitas totalmente informais à Quinta, sem qualquer tipo de guião ou esquema definido, mas em que tentamos trans-mitir a nossa filosofia como produtor do Douro. Com o projecto de remode-lação da actual adega em andamento teremos a possibilidade de explorar um pouco mais a vertente enoturística. Mas como referi, passo-a-passo e sem

esquecer prioridades.

E novos vinhos?Bom… apesar de raramente estarmos sem novidades durante muito tempo, vamos ter efectivamente uns meses bas-tante preenchidos até ao final do ano. De 2005, depois do tempo que foi necessá-rio para trabalhar este grande ano, vamos lançar aquele que continua a ser a nossa prioridade absoluta, o Quinta Gaivosa tinto. Mas a qualidade do ano permitiu-nos explorar em pleno todas as capaci-dades das nossas vinhas. Sendo assim, será também apresentado o Alves de Sousa Reserva Pessoal tinto e, mesmo a

Quinta da Gaivosa

Pousada da Cumieira, Apartado 155030-055 Santa Marta de Penaguião, Portugal

Telf. (+351) 254 822 111Fax. (+351) 254 822 113

E-mail: [email protected]: www.alvesdesousa.com

finalizar o ano, o Abandonado. E nunca se sabe se poderá ainda surgir também alguma estreia absoluta, mas… será algo para desvendar mais tarde!

Page 68: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

VITIVINICULTURA

68 JUNHO 2008

Vinho Verde comemora centenárioProduzido exclusivamente na Região Demarcada do Vinho Verde que coincide com o Minho e Douro Litoral, a Denominação de Origem “Vinho Verde” celebra o seu centenário.

Origem, história e tipicidade são as grandes particularidades de um vinho que é uma referência a nível nacional, mas que está a atravessar um período complicado. Sequeira Braga, presi-dente da Direcção da Adega Coope-rativa de Guimarães, confessa que

a grande preocupação dos associados “é salvaguar-dar este património que pertence aos produtores/viticultores da Região, mediante o gerar das con-dições para que a activi-dade se possa desenvolver e criar mais-valia em todos os elos da cadeia, desde a produção até ao consumi-dor/apreciador”.

Na sua opinião, “a fileira só será viável se todos os elos da cadeia o forem. Na vinha, a raciona-lização dos custos é condição sinequa-nom para a sustenta-bilidade da produção. O aumento médio da produção por hec-tare é importantís--simo para essa racio-nalização de custos e o que acontece é que a região dos Vinhos Verdes tem uma média de produ-ção por hectare peri-gosamente baixa, o que condiciona for-

temente a rentabili-

dade das explorações”. Por exemplo, a Adega Cooperativa de Guimarães recebe e vinifica cerca de 1 milhão de kg de uva/ano, para uma produção anual de 750 mil litros de vinho, mas na vindima de 2007, fruto de um ano climatérico muito difícil, a produção foi substancialmente inferior.

Este presidente apresenta como prin-cipal solução: “a promoção de um forte investimento na vinha, com vista à sua reconversão e, assim, garantir não só a rentabilidade, mas também a adap-tação da produção às novas tendências de consumo”. A presença em feiras e outros eventos similares permite “dar notoriedade às ‘Marcas’, pois em última análise, são elas que produzem a diferenciação dos produtos, na pers-pectiva do consumidor”. No entanto, a internacionalização pressupõe “inves-timento nos mercados que se queiram trabalhar, um processo difícil e one-roso para o qual é importante a pro-fissionalização das empresas e a capa-cidade financeira adequada”. Sequeira Braga alerta: “Pior que não fazer nada é fazer mal”.

Vinhos comercializados pela Adega Cooperativa

de Guimarães

A Adega Cooperativa de Guimarães, fundada em 1962 e constituída por cerca de 100 associados, comercializa os seus vinhos sob a marca “Adega Cooperativa de Guimarães”, branco, tinto e rosé, vinhos jovens, leves e extremamente frutados. Os melhores lotes são comercializados sob a marca “Praça de S. Tiago”, branco Colheita Seleccionada, tinto Vinhão, rosé Espadeiro e ainda um Reserva branco Arinto, fermentado em barrica de carvalho Francês. Estes vinhos “Praça de S. Tiago” têm obtido diversos prémios em concursos, destacando-se a Medalha de Ouro, Melhor Vinho Verde da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes, no ano de 2006. Também têm sido mencionados por diversas revistas da especialidade como vinhos de elevada qualidade. Parte dos vinhos produzidos são ainda comercializados pela Vercoope, União das Adegas Cooperativas da Região dos Vinhos Verdes, de que somos sócios fundadores, sob a marca “Via Latina” ou outras.

Adega Cooperativa de Guimarães

Apartado 153. 4801-910 GMRTelf. 253 570 055 Fax. 253 570 057E-mail: [email protected]

Url: www.adegaguimaraes.pt.vu

Page 70: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

» José Gonçalves Sapinho,presidente da C. M. de Alcobaça

ALCOBAÇA

70 JUNHO 2008

“Alcobaça é um concelho de e com futuro”Em entrevista José Gonçalves Sapinho, presidente da Câmara Municipal de Alco-baça fala das grandes prioridades do executivo: “criar condições para a criação de riqueza, promover o bem-estar dos que vivem no Município e atrair novos públicos e investidores”.

Alcobaça é um concelho do centro do litoral composto por 7 vilas e uma cidade sede do concelho. Como o define?Alcobaça é um concelho Policêntrico. Podemos identifi-car quatro Áreas Naturais de Desenvolvimento que emer-giram, por si, sem intervenção directa do Estado. Há áreas que superam uma boa parte dos Municípios, quer do dis-trito de Leiria, quer do Oeste. Julgo que poderei ser mais explícito, individualizando cada uma dessas áreas natu-rais: zona central, em torno da cidade de Alcobaça; Interior Sul, sob a influência da Benedita; Norte litoral, polarizado em Pataias e ainda Litoral Sul com o eixo São Martinho do Porto – Alfeizerão. Cada um destes eixos tem sectores de actividade e dinâmicas muito próprias não transponí-veis para os outros três. É um concelho que apresenta uma dinâmica económica apreciável assente na diversidade: cerâmica, cristalaria, extracção e transformação de pedra, fabrico de cutelaria, de calçado, de compostos alimenta-res para animais, criação de gado (essencialmente suínos), marroquinaria, moldes metálicos, mobiliário, madeiras e derivados, construção civil e obras públicas, fruticultura, são alguns dos ramos de actividade mais representativos. Cerca de 50 por cento da mão-de-obra trabalha na indústria, mas o sector primário ainda tem uma dinâmica muito grande. Somos um concelho preparado para acolher investimentos

empresariais, com uma Zona Industrial de referência e com muitos motivos de inte-resse de natureza turística.

Quais são as grandes prioridades do executivo?Dotar a Benedita de uma Área de Loca-lização Empresarial, ocupar o Mos-teiro de Alcobaça e o Convento de Cós, com actividades relacionadas com o Turismo e a Cultura/Educação, requa-lificar o Convento de Cós, contribuir para que sejam instaladas no concelho três campos de golfe, melhorar a Rede Viária do Município, destacando-se o IC9 e a ligação da Benedita à Sede do concelho (Alco-baça) e às auto-estradas, bem como, fomentar a instalação de novas empresas, e responder às questões sociais, são algumas prioridades.

E os grandes investimentos?Os investimentos efectuados dirigem-se para a requalifi-cação de espaços e edifícios degradados, para as questões ambientais, reforço cultural, ajuda na criação da Escola Profissional do Turismo, a abertura de novas vias na Bene-dita e Alcobaça, para dotar as freguesias de Quartéis de Bombeiros, a elaboração de Planos arrojados para o pró-ximo QREN - Quadro de Referência Estratégico Nacional, valorização das zonas turísticas, aquisição de terrenos para quatro Parques Industriais e apostar na localização do Hos-pital Oeste Norte no concelho de Alcobaça.

No fundo, o objectivo é a melhoria da qualidade de vida dos munícipes, em consonância com o desenvolvimento sustentável?Obviamente, o objectivo é criar condições para a criação de riqueza e promover o bem-estar dos que vivem no Muni-cípio e atrair novos públicos e investidores, com a certeza de que o concelho de Alcobaça é um concelho de futuro e com futuro.

Page 71: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

“Dificilmente se encontra um Município com tantas respostas, de património, do mar, de campo, de serra que evidenciam o Potencial turístico.”

Um dos ex-libris é a Abadia de Alcobaça que foi eleito Património da Humanidade pela UNESCO em 1989 e que faz parte das 7 Maravilhas do Mundo. Que outros espaços turísticos destaca no concelho?Para além da JÓIA DA COROA que é o Mosteiro de Alco-baça, temos o Convento de Cós, uma maravilha do Barroco Nacional, os Túmulos de Pedro e Inês, no Mosteiro de Alco-baça, mas que se referem por serem peças únicas da Escul-tura Tumular. Os vestígios do Coutos de Alcobaça são visí-veis por todo o lado: pelourinhos, cruzeiros, igrejas, capelas, ermidas, muitas delas classificadas como monumento nacio-nal, granjas, a Vila de Aljubarrota, que por si só é um museu de história a céu aberto. Uma dezena de praias, das quais quatro douradas, campo, serra, matas e pinhais extensos, museus, … são diversos os atractivos.

De que forma Alcobaça contribui para o desen-volvimento do país?Pelo que ficou dito, o concelho de Alcobaça contribui para o desenvolvimento do País quer no plano Industrial diversifi-cado, quer no valor acrescentado, que se inclui nas matérias-primas autóctones, quer no elevado valor das exportações, na pecuária e produtos compostos para animais, quer no dina-mismo e espírito empreendedor das nossas gentes. Neste campo isolo a Agricultura que está a emergir com força e com gente nova e preparada, tecnicamente, para fazer evo-luir o sector. A grande aposta que serve de complemento e de segurança para a população é o sector do Turismo. Difi-cilmente se encontra um Município com tantas respos-tas, de património, do mar, de campo, de serra que eviden-ciam o Potencial turístico. Como tudo, também o Turismo está sujeito às variações e crises nacionais e internacionais. A apetência do mundo é a procura de lugares calmos de povos pacíficos e serenos, com sol e praia, com temperaturas inve-jáveis. A par do Turismo terá que haver, da parte da Socie-dade Civil, a aposta em equipamentos, Gastronomia, entre outros. Da parte da Câmara Municipal de Alcobaça, já existe uma forte envolvência na realização de eventos que promo-vem a cidade e o concelho. Exemplos disso são o Cister-música – Festival de Música de Alcobaça, a Feira Medieval de Aljubarrota e a Mostra Internacional de Doces e Licores Conventuais. Finalmente, depositamos grandes esperanças que Alcobaça evolua no Ensino Superior e na Investigação, quer de novas tecnologias, quer no plano da História.

Page 72: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

» António Sebastião, presidente da C. M. Almodôvar

ALMODÔVAR

72 JUNHO 2008

AlmodôvarEntre a planície alentejana e a serraEmpenhado no desenvolvimento do concelho de Almodôvar e do país, António Rosá-rio Sebastião, presidente da Câmara Municipal de Almodôvar, em entrevista aborda um dos eventos mais importantes para a região - a 14ª edição da Feira de Artes e Cultura de Almodôvar.

Entre os dias 19 e 22 de Junho vai realizar-se a 14ª edição da Feira de Artes e Cultura de Almodôvar. Quais são as grandes atracções?Além das atracções do seu vasto programa recreativo, recheado de artistas nacionais, também temos os artistas locais, que contribuem de forma decisiva para a forte iden-tidade cultural do evento. Depois existe uma mostra sig-nificativa do nosso artesanato e dos nossos produtos, dos quais realço o medronho, o pão, o mel, o queijo e enchidos de porco preto, bem como uma excelente doçaria. Poderá também saborear a nossa riquíssima gastronomia depois de assistir aos colóquios que versam sobre a Agenda 21 Local, Turismo que Futuro e Energias Renováveis.

Qual a importância do evento para o concelho e seus habitantes?A FACAL é um acontecimento muito importante para todos nós. Além de mostrar parte daquilo que de melhor temos e projectar o nome de Almodôvar como concelho de grandes

potencialidades futuras, com capa-cidade de organização e com estra-tégia, é também um ponto de encon-tro de todos os almodovarenses, dos nossos vizinhos desta região ao Alentejo, bem como de todos aque-les que, por diversas razões, tiveram de sair de Almodôvar e que aprovei-tam a FACAL para se encontrarem com familiares, amigos, enfim, para viver Almodôvar. Trata-se pois, de uma realização que as nossas gentes acolhem com grande carinho.

Como descreve Almodôvar?Almodôvar é um concelho riquíssimo nas suas diversas potencialidades. Em primeiro lugar Almodôvar é um muni-cípio de contrastes entre a planície alentejana, a norte, e a serra na zona de transição para o Algarve, a sul. É um ter-ritório com excelentes recursos e com uma biodiversidade fantástica, especialmente na zona serrana, que pode ser aproveitada para relançar um crescimento sustentável em torno dos produtos endógenos e do seu enorme patrimó-nio a todos os níveis. Almodôvar tem ainda futuro na agri-cultura, especialmente na floresta e pecuária, no turismo, nas energias renováveis e na economia social, tem exce-lentes acessibilidades as quais são, indubitavelmente, uma enorme vantagem.

Quais são as grandes necessidades do concelho?Precisamos, especialmente, de investimento que potencie a criação de emprego. Esses investimentos irão exigir ser-viços públicos de qualidade e, portanto, prosseguimos com as políticas seguidas até à presente data na área do ensino, saúde e saneamento básico. Temos desenvolvido politicas nestas três grandes áreas, estando, neste momento, com grande dinâmica a requalificação do nosso parque escolar e tendo entrado em funcionamento muito recentemente o novo centro de saúde. Em termos de saneamento já dispo-mos de uma boa cobertura geográfica.

Page 73: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

Em termos de investimentos, quais foram as gran-des apostas do executivo até agora?De facto, a grande aposta nos últimos anos foi um avul-tado investimento em infraestruturas, nomeadamente em acessibilidades, electrificações rurais, saneamento e abastecimento domiciliário de água, construção de equipamentos desportivos, sector cultural e requalifica-ção urbana, melhorando assim, de forma significativa, a qualidade de vida de todos os almodovarenses. Também fizemos grandes investimentos na área social, continu-ando no futuro, a ter essa preocupação somada a afecta-ção de mais recursos no desenvolvimento económico do concelho, na criação de riqueza e emprego.

Em que sentido Almodôvar contribui para o desen-volvimento do país?A definição clara de uma estratégia, o trabalho desen-volvido para a sua implementação, o rigor na gestão e afectação de recursos públicos e políticas reformistas e de grande preocupação social, são contributos para um desenvolvimento equilibrado do País.

1º ANIVERSÁRIO

JUNHO 2008 73

Page 74: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

VILA NOVA DE FAMALICÃO

74 JUNHO 2008

“A Cultura é factor de desenvolvimento económico”Armindo Costa, presidente da Câmara Municipal de V. N. Famalicão, em entrevista à Revista Perspectiva fala da estratégia do executivo para o desenvolvimento sus-tentado do concelho, que passa essencialmente por grandes investimentos em duas áreas-chave: cultura e ambiente.

A Associação Portuguesa de Museologia distinguiu a casa do escritor Camilo Castelo Branco com o prémio de “Melhor Museu Português”. Qual o significado deste prémio para o Município de Vila Nova de Famalicão?É um motivo de orgulho e também um estímulo para continuarmos a promover a figura de Camilo Cas-telo Branco e a língua portuguesa. Sobretudo tendo em conta os gran-des investimentos realizados pela Câmara Municipal não só na pre-servação da casa-museu de Seide como na construção do Centro de Estudos Camilianos, projectado por Siza Vieira, um espaço de estudo e de investigação literária que tem dado muita visibilidade a Famalicão no país e no Mundo. São muitos os turistas estrangeiros que visitam S. Miguel de Seide...

O investimento na Cultura é importante para o turismo e para a economia?Sem dúvida. Famalicão destaca-se pelo dinamismo da sua política cul-tural e assume a cultura como um pólo de atracção turística. Aposta-mos também na preservação e valo-

rização do património. Nos equipa-mentos, destaco a Casa das Artes, a Casa-Museu de Camilo, o Centro de Estudos do Surrealismo (obra que a Câmara Municipal está a promover em parceria com a Fundação Arthur Cupertino de Miranda e que irá aco-lher em Famalicão os espólios de Mário Cesariny e Cruzeiro Seixas), o Museu de Bernardino Machado, o Museu da Indústria Têxtil, o Museu Ferroviário de Famalicão, a Biblio-

teca Municipal, que recentemente foi enriquecida com dez mil títulos da biblioteca pessoal de Eduardo Prado Coelho. Estamos a falar de um patri-mónio que não tem preço e que merece continuar a ser promovido e estimu-lado, para que possamos marcar a diferença. A cultura enquanto trunfo turístico, mas também enquanto ele-mento integrante da qualidade de vida das pessoas que vivem e trabalham em Famalicão, é um instrumento de desenvolvimento económico e factor de competitividade e de sustentação económica do município.

“Famalicão é sinónimo de desenvolvimento sustentado e de qualidade de vida.”

Vila Nova de Famalicão, pertencente ao distrito de Braga, foi elevada a cidade em 1985. Quais são as principais necessidades sentidas pelos famalicenses?Famalicão é um concelho jovem, com uma população de 140 mil habi-tantes, mas é também um concelho dinâmico e com enormes potenciali-

» Armindo Costa, presidente da C. M. de V. N. de Famalicão

Page 75: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

VILA NOVA DE FAMALICÃO

JUNHO 2008 75

dades. Para quem vem do Sul, Fama-licão é a porta de entrada no Minho. Para quem vem do Norte e da Galiza, Famalicão é a última referência do Minho antes da Área Metropolitana do Porto. Famalicão é um municí-pio privilegiado em termos de aces-sibilidades, ao acolher um dos mais importantes cruzamentos de auto-es-tradas do País. Talvez por isso mesmo a forte dinâmica cultural, comercial e industrial que temos revelado nos últimos anos. Temos, portanto, exce-lentes condições para ultrapassarmos quaisquer dificuldades. Famalicão é sinónimo de desenvolvimento susten-tado e de qualidade de vida. Algumas das melhores marcas de vestuário que são vendidas em grandes cidades do mundo são produzidas em Fama-licão. É evidente que temos proble-mas, nomeadamente de desemprego, mas não devemos ser miserabilistas. Temos grandes potencialidades.

O que é que a Câmara tem feito para ultrapassar essas dificuldades?O bem-estar e a qualidade de vida dos famalicenses são a nossa prio-

ridade. É nesse sentido que temos procurado ultrapassar as diversas dificuldades, investindo em áreas como a acção social, a educação, o desporto e a habitação. Neste momento, temos em curso avulta-dos investimentos na recuperação da rede viária municipal, na reabilita-ção dos centros urbanos, na amplia-ção das redes de água e saneamento básico, na renovação e alargamento do parque escolar e criação de equi-pamentos desportivos, com desta-que para o Pavilhão Municipal de Vermoim e as Piscinas de Ribeirão.

Inclusive, recentemente a autarquia anunciou um investimento de 4 milhões de euros em Ambiente que está a permitir o alargamento e a requalificação da rede de abas-tecimento de água e saneamento básico.O Ambiente é uma das áreas em que mais temos investido e registámos grandes avanços nos últimos anos. O nosso objectivo é levar água e

saneamento às 49 freguesias do concelho até 2013. Em muitas fre-guesias, a cobertura já é quase total, o que muito nos satisfaz. Quais são as grandes prioridades do executivo a curto prazo?Estamos a trabalhar em grandes pro-jectos e em grandes obras em todas as áreas, desde o ambiente à cultura, pas-sando pela educação, pelo desporto e pela solidariedade. Temos em curso o projecto de construção do Centro de Estudos do Surrealismo, onde vamos investir quatro milhões de euros; a criação do Parque da Cidade, ava-liada em 10 milhões de euros; o plano de construção de centros escolares para servir uma população escolar de 7500 alunos; a ampliação das redes de água e saneamento a toda a bacia do rio Este; o projecto de construção da nova cidade desportiva; a construção do Museu de Arqueologia de Famali-cão, entre outros projectos e acções, que têm em vista fazer de Famalicão um concelho cada vez mais forte e competitivo.

Page 76: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

VILA NOVA DE FAMALICÃO

Vieira de Castro

A internacionalização de uma empresa familiarA comemorar 65 anos de existência, Vieira de Castro é uma empresa familiar do sector alimentar que nasceu como pastelaria, hoje é líder em alguns segmentos de mercado e está representada nos cinco continentes. Todos conhecemos as amên-doas cobertas de chocolate, as bolachas de água e sal e mesmo as tarteletes com geleia de diferentes sabores.

Tudo começou quando António Vieira de Castro, avô de Ana Raquel Vieira de Castro, actual membro da admi-nistração da empresa, abriu uma casa de chá de referência no concelho de Famalicão. Na altura dedicava-se à confecção de pastelaria tradicional e regional: pão-de-ló, bolo rei, entre outros. Atento ao mercado, António Vieira de Castro decidiu avançar e criar uma indústria vocacionada para a produção de pastelaria tradicional, rebuçados e drageias. Uns anos mais tarde, em 1963, com a evolução do mercado das bolachas e a diminuição da importância da pastelaria tradicio-

nal nas vendas da empresa, decide investir na área das bolachas.

Ana Raquel Vieira de Castro realça que uma das fases de maior impasse foi a adesão à União Europeia porque significou a exposição a um grande número de marcas “e não tínhamos grande dimensão, portanto era impor-tante estarmos na linha da frente em termos de qualidade, inovação e rela-ção qualidade/preço, para conquistar-mos o nosso espaço e não o perder-mos.” E foi nesse sentido que a Vieira de Castro se desenvolveu, cresceu e ganhou a dimensão que tem hoje: 200 trabalhadores, uma área de produ-

ção equipada com tecnologia de van-guarda e um volume de exportação para mais de 40 países.

“Transformar o tradicional em inovador”A Vieira de Castro produz os cha-mados produtos tradicionais: a bola-cha de água e sal, líder de mercado, a bolacha torrada, a bolacha Maria, os biscoitos de champagne (Boudoirs), entre outros”. Em simultâneo têm sido desenvolvidos uma série de pro-dutos novos, designados por funcio-nais, ou seja, “que se coadunam com o nosso estilo de vida de hoje que é

Page 77: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

VILA NOVA DE FAMALICÃO

JUNHO 2008 77

muito diferente do que quando se ini-ciou a água e sal ou uma Maria”. As pessoas têm menos tempo e existe também uma maior preocupação com a saúde e o bem-estar. Neste sentido, foram criadas as “embalagens funcio-nais para os nossos clientes poderem consumir, por exemplo, no escritório, e ao nível da receita do produto intro-duzimos as fibras e as vitaminas”.

As amêndoas Vieira de Castro, muito apreciadas por portugueses e estrangeiros, são confeccionadas a partir do mês de Setembro, com miolo de amêndoa calibrado. A sazonali-dade de outrora começa agora a dis-sipar-se dado este produto ser muito apreciado além fronteiras, nomeada-mente no Brasil, na Dinamarca e em França.

Do tradicional ao industrial, a qua-lidade das receitas não se perdeu. Algo que se deve às rígidas normas de qualidade, segurança e higiene que desde o início foram instituídas e que

já se encontram certificadas segundo as normas ISO 9001 e 22000. Actual-mente, e por uma questão estratégica, a Vieira de Castro encontra-se em fase de certificação segundo a norma BRC – British Retail Council, uma imposição de alguns mercados estra-tégicos, nomeadamente o inglês.

DiversificaçãoAlém da marca, na Vieira de Castro são também produzidos outros pro-dutos de marcas próprias. Uma inicia-tiva que decorre de uma oportunidade de negócio sentida pela administra-ção da empresa. Ana Raquel Vieira de Castro está atenta e refere: “é óbvio que o aparecimento das marcas pró-prias penaliza o desenvolvimento da marca Vieira de Castro, no entanto se não formos nós a produzir, serão outros.” O certo é que as marcas pró-prias são uma área cada vez mais forte, “mas com isso não podemos descu-rar o trabalho da Vieira de Castro que tem vindo a ser feito e que tem um crescimento acima da média nacio-nal, o que é muito interessante”.

“Acredito que é nos mo-mentos mais difíceis que se criam as maiores opor-

tunidades.”Ana Raquel Vieira de Castro está con-fiante: “Em 2007, ao contrário da evo-lução da indústria nacional, a empresa aumentou as suas vendas em 30 por cento, tendo a marca Vieira de Castro no mercado nacional obtido um cres-cimento de 8 por cento. Este ano con-tamos crescer bastante, essencial-mente, por força dos nossos mercados externos”.. Actualmente, a exporta-ção representa 20 por cento, sendo que Angola é o país com mais volume de vendas, seguido de Cabo Verde e França, e a perspectiva de cresci-mento é de 35 por cento, uma projec-ção que se baseia em todo um trabalho desenvolvido com potenciais parcei-ros de mercados-alvo e cujos negó-cios estão em vias de se realizar. Ana Raquel Vieira de Castro confessa que o segredo do crescimento é a aposta constante na inovação, o estar atento às necessidades do mercado e respon-der com o melhor produto ao melhor preço.

Números200 trabalhadores7 mil toneladas de bolachas por ano1000 toneladas de amêndoas

Page 78: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

VILA NOVA DE FAMALICÃO

78 JUNHO 2008

QualidadeUma filosofia omnipresente num negócioAntónio Braga, natural de Ponte de Lima, começou o seu ramo de negócio há 30 anos. O cariz aventureiro, a vontade de vencer, o empenho e enorme dedicação fizeram com que conseguisse singrar e avançar para a internacionalização.

Vila Nova de Famalicão foi o concelho escolhido para abrir uma pequena loja, um talho. Alguns anos depois, em 1989, dado o impacto positivo e a sua vontade de criar uma empresa com uma maior dimensão, levou-o a fundar uma sociedade com Alzira Dantas Gonçalves, e constituíu uma unidade industrial para o abate e transformação de carnes de suíno: a Bracar – Indústria de Carnes, Lda.

Em 1995 com o objectivo de modernizar e ampliar as instalações da empresa procedeu ao aumento de capital e requereu um Projecto de Investimento, o que permitiu evo-luir para aquilo que é hoje - uma “unidade industrial moder-na e cumpridora de todas as exigências técnico-funcionais e higio-sanitárias, impostas pelas disposições nacionais e comunitárias aplicáveis ao sector do abate e transformação de carnes”, refere António Braga.

Com o intuito de fazer mais e melhor, este empresário desde sempre que apostou na qualidade e diversificação dos produtos, “pois a satisfação dos clientes é o mais im-portante”. Outra preocupação é a implementação de equi-

pamentos tecnológicos que permitam a automatização de alguns processos, dado só assim “ser possível crescer de uma forma sustentada e competitiva”. As exigências actu-ais estabelecidas para estes negócios em nada preocupam António Braga, pelo contrário, “aqui acredita-se que elas valorizam os produtos e aumentam consequentemente as vendas”.

Hoje, a Bracar é uma empresa que tem uma importância grande para o concelho de Vila Nova de Famalicão, dado lá trabalharem aproximadamente 65 pessoas divididas pelos diferentes departamentos. Presentemente esta fábrica não só produz para consumo interno, como já se internacio-nalizou estando, neste momento, também a exportar para Angola.

A grande novidade de há 3 anos é a produção do chouri-ço crioulo que está a ter uma grande aceitação no mercado e é um produto único no país.

António Braga é uma pessoa feliz e realizada, sem medo do futuro e as suas aspirações passam por evoluir sempre quanto for possível.

Algumas especialidades produzidas na Bracar:

Chouriços: Chouriço crioulo, Chouriço de colorau, Chouriço de vinho, Linguiça, Salpicão, Morcela, Chou-rição, PaioCozidos: Fiambre da Perna ou Pá, Mortadela, Filete Afiambrado, Galantine, Salsicha tipo Bratwurst.Fumados: Pá fumada, Bacon, Pernil fumado, Cabeça fumada, Presunto.

Page 80: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

PRAIAS

80 JUNHO 2008

Próxima paragem será numa…

Praia Saudável!No dia 1 de Junho abriu a época balnear de 2008 e o programa “Praia Saudável”, desenvolvido pela Fundação Vodafone Portugal, abrange já 125 zonas balneares de Portugal Continental e Regiões Autónomas. Os seus principais objectivos são contribuir para o aumento da segurança e qualidade do ambiente nas praias, assim como disponibilizar equipamentos que permitam superar dificuldades de acesso aos areais e ao mar, por pessoas com mobilidade condicionada.

A iniciativa do programa remonta a 2005, em resultado dum protocolo estabelecido entre a Fundação Vodafone, a Marinha, o Instituto da Água, o Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, a Associação Bandeira Azul da Europa e o Instituto Nacional para a Reabilita-ção. Passados três anos, os resultados são muito positivos, razão pela qual, a renovação do Programa, firmada em 13 de Março de 2008, é motivo de satisfação por parte de todos os agentes envolvidos. Importa realçar os aspectos mais importantes, nomeadamente, aqueles que presidiram à sua criação, bem como todos os outros que a estatística se encarrega de divulgar. Assim, no domínio da campanha de sensibilização relativa à segurança, qualidade ambien-tal e saúde, o papel desempenhado por cerca de 50.000 jovens foi determinante para um conhecimento mais apro-fundado de todos aqueles que frequentam as praias. Nesta perspectiva, as acções de formação levadas a cabo junto dos jovens, são, já em si, esclarecedoras face aos objecti-vos propostos. Durante o mesmo período de tempo, foram distribuídos milhares de cinzeiros próprios para os areais, bem como cartazes informativos.

Com o recurso a uma rede de comunicações específica e a meios de salvamento complementares – como motos de água e torres de vigia -, o programa “Praia Saudável” regis-tou, nos últimos três anos, 90 mil chamadas de emergên-cia e 102 salvamentos com as motos de salvamento Fun-dação Vodafone.

A implementação de uma Virtual Private Network (VPN) veio facilitar a comunicação entre os nadadores-salvadores, as Capitanias de Porto, o Instituto de Socorros a Náufra-

Page 81: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

PRAIAS

JUNHO 2008 81

gos, os Bombeiros Municipais e Locais, números de emer-gência nacionais identificados como relevantes no suporte a situações de emergência.

“Contribuir para a segurança em zonas balneares não vigiadas.”

O SOS Praias, um sistema de alerta e apoio ao salvamento, foi concebido especialmente para zonas balneares não vigia-das que entrou em funcionamento em 2007 e continuará a ser alargado a novas praias.

No total, o programa implicou um investimento de cerca de dois milhões de euros, valor que deverá ascender a 5,7 milhões até 2010, de acordo com o novo plano de acção apresentado. Nas épocas balneares de 2006 e 2007, foram realizadas 82 campanhas de sensibilização que abrangeram directamente cerca de 50.000 crianças e jovens, e distribuí-dos 50.000 prémios de participação em acções didácticas.

Aos meios já doados acrescentar-se-ão, nos próximos três anos, 40 torres de vigia, motas de água e, em praias não vigiadas, 24 equipamentos de comunicação que permitem receber alertas dos banhistas.

Nos objectivos dos parceiros envolvidos estão também incluídos o reforço da prevenção das situações de risco e da sensibilização ambiental, com a realização de 120 acções dirigidas aos mais novos e a melhoria das acessibilidades ao areal e ao mar para portadores de deficiência.

Ao fim dos primeiros cinco anos do projecto, a organiza-ção espera concluir a inserção de 63 passadeiras de acesso, 45 painéis informativos em braille e 50 cadeiras anfíbias (espe-ciais para pessoas com mobilidade reduzida), um objectivo que é considerado um importante contributo para transfor-mar as zonas balneares em espaços de igualdade.

Page 82: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

Cascais: Um concelho à beira-mar com muito para oferecer

PRAIAS

82 JUNHO 2008

Com uma preocupação constante para com o meio ambiente, tendo em conta uma visão estratégica e uma sustentabilidade integrada, o conce-lho de Cascais dá uma nova dimensão à designação “Época Balnear”. Da dinamização económica, inovação e competitividade, à valorização e qualificação ambiental, sem esquecer a promoção sócio-cultural, são muitos os factores levados em conta para garantir a melhor oferta de um extenso litoral.

A verdade é que a época balnear na Costa do Estoril deveria ocorrer todo o ano sempre que a temperatura máxima esperada ultrapasse os 20 graus. Nestas circunstâncias, e principalmente ao fim-de-semana, as praias são literal-mente invadidas seja qual for o mês do ano. Tal situação ocorreu várias vezes em Outubro e mesmo Novem-bro do ano passado e até em Fevereiro deste ano! Mas não só banhistas quem procura o litoral de Cascais. Dos pra-ticantes de Windsurf, Surf e Bodybo-ard, aos que têm nas disciplinas de Vela ou Remo o seu desporto favorito, mas sem esquecer quem não dispensa o futebol de praia, um passeio à beira-mar no Paredão entre Cascais e o Esto-ril, ou momentos de leitura com vista para o mar, muitos são os que desfru-tam este cenário magnífico.

Esta intensa procura coloca à prova a capacidade que a Câmara de Cascais tem para responder a coisas tão sim-

ples, mas de fulcral importância, como a vigilância, a limpeza e desinfecção, os acessos viários. São preocupações que ocupam uma significativa fatia do seu orçamento, pese embora toda a gestão do litoral se encontrar sob tutela da Administração Central.

Desde 2004 que a Câmara Muni-cipal de Cascais, em conjunto com a Junta de Turismo da Costa do Estoril, tem criado a partir de 1 de Maio melho-res condições de vigilância e assegu-rado todos os pressupostos legais para a época balnear, como sejam a afixa-ção das análises feitas à qualidade das águas e areias e a presença de nadado-res-salvadores (encargo depois supor-tado pelos concessionários durante a época balnear). Ao avançar para a antecipação oficiosa da época balnear para Maio, conseguimos proporcio-nar uma melhor vigilância que segu-ramente tem contribuído para salvar vidas.

São muitos os projectos que Cas-cais mantém activos para que todos possam usufruir do Verão em pleno, complementado por um vasto leque de actividades culturais. Fica feito o convite: venha descobrir o litoral de Cascais!

Page 83: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

PRAIAS

JUNHO 2008 83

Programa “A Nossa Praia tem bom Ambiente”: actividades de Educação Ambiental conduzidas pela Agência Cascais Atlântico aos fins-de-semana da época balnear, no areal das praias de Carcavelos, Abano e Tamariz sobre quatro temas (uso do protector solar, chapéus, conservação das espécies marinhas e ameaças do mar).Projecto “Maré Viva”: cerca de 400 jovens por ano nas praias a aconselhar o respeito pelo ambiente e a praia, mas também sobre cuidados a ter na expo-sição ao sol e ida a banhos.Projecto “Praia Para Todos”: Praia de Carcavelos. Permite o usufruto de banhos de mar em segurança a pessoas com deficiência ou mobilidade con-dicionada através de cadeiras especiais (Tiralô), com o apoio dos Bombeiros Voluntários de Carcavelos-S. Domingos de Rana. Bandeira Azul: Praia Grande do Guincho, Crismina, Moitas e Tamariz.Bandeira de Centro Azul: Centro de Interpretação Ambiental da Ponta do Sal (S. Pedro do Estoril).Programa Vigilância Azul: Programa da ABAE e IPJ ao qual Cascais tem ade-rido para recrutar jovens para reforço da vigilância nas Praia com Bandeira Azul, os Vigilantes Azuis.Bandeira da Praia Acessível: Poça, Tamariz, Moitas (estreia) e Carcavelos (aguarda vistoria final). Praias que garantem a acessibilidade a pessoas com mobilidade condicionada. Projecto Praia Saudável/Fundação Vodafone: Guincho, Conceição, Moitas, Tamariz, Poça, Parede e Conceição. Praias que contam com dispensadores de cinzeiros de praia, comunicações móveis suportadas pela Vodafone e pai-néis informativos que, no Guincho e Tamariz, também são em Braille.Projecto “Praia de +”: visa dotar os apoios de praia, do Abano a Carcavelos, de equipamentos mais “amigos do ambiente”, porque feitos a partir de plásti-cos mistos reciclados, contribuindo ao mesmo tempo para uma imagem posi-tiva e mais atraente das concessões balneares (toldos, chapéus de sol, cadei-ras e passadeiras).Cuidados Médicos: de Maio a Setembro, a Praia de Carcavelos conta com um posto avançado de primeiro-socorros assegurado pelos Bombeiros Voluntá-rios de Carcavelos - S. Domingos de Rana em colaboração com a Câmara; no Guincho está estacionada uma ambulância medicalizada ao fim de semana para assistência, fruto de um protocolo entre a Câmara e os Bombeiros de Cascais.Análises à qualidade de águas e areias: painéis informativos nas praias e concessionários actualizados semanalmente.Limpeza e desinfecção das areias durante todo o ano: foram recentemente adquiridas duas novas máquinas que permitem limpar areais de mais difícil acesso. Duas novas varredoras mecânicas asseguram diariamente a limpeza do Paredão, entre Cascais e o Estoril, igualmente percorrido por Motocães (motos equipadas para recolher dejectos caninos). Sanitários públicos: abertos das 9H00 às 19H00 acrescentando a oferta dis-ponibilizada pelos apoios de praia.

Contactos úteis: www.cm-cascais.pt; www.cascaisatlantico.org.

Page 84: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

NOTÍCIA

Colombo PortuguêsConferência Internacional em Cuba, no Alentejo

O tema está lançado, a discussão é pública. A Câmara Municipal de Cuba, no Alen-tejo, onde terá nascido o descobridor da América, promoveu uma Conferência Inter-nacional em que participaram os principais investigadores que se debruçam sobre as novas descobertas relativas à portugalidade do navegador e que sobre o assunto têm desenvolvido estudos e publicado livros.

Na mesa estiveram Francisco Orelha, presidente da autarquia alente-jana, Carlos Calado, do Núcleo dos Amigos da Cuba, que organizou o evento, e Pedro Laranjeira, director editorial da Perspectiva, que divul-gou o tema junto da opinião pública nacional desde a ante-estreia do filme "Cristóvão Colombo, o Enigma", de Manoel de Oliveira, em 5 de Janeiro passado, e que foi o moderador da Conferência.

O evento começou com uma inte-ressante prelecção da investigadora Fernanda Frazão, que interessou e surpreendeu a plateia, com uma explicação sobre a importância deste

povo que somos, mesmo antes de se chamar "Portugal" e ter dado novos mundos ao mundo, contando como os sobreviventes da última glaciação, há quase 18.000 anos, se fixaram na zona alentejana da Península Ibérica e daqui se expandiram para o resto da Europa e médio oriente, sendo os pais das grandes civilizações da anti-guidade.

O primeiro grande divulgador da tese portuguesa de Colombo, Masca-renhas Barreto ("O Português Cris-tóvão Colombo - Agente Secreto de El Rei D. João II" e "Colombo Por-tuguês: Provas Documentais"), fez-se representar pelo autor da versão inglesa da sua obra, Reginald Brown. Num painel composto pelos escritores que se debruçaram sobre o tema, falou Manuel Luciano da Silva ("Cristóvão Colon era Português”), Manuel Rosa ("O Mistério Colombo Revelado"), Roiz do Quental (repre-sentado por Abel Cardoso - "Cris-tovam Colom - Cristóbal Colon, esse (des)conhecido"), Margarida Pedrosa ("A Paixão de Colombo") e Julieta Marques ("Cristovão Colom, um filho de D. Fernando Duque de Beja").

Carlos Calado dissertou sobre "A Cuba nos círculos de Cristóvão Colon" e foi projectada uma apresen-tação do Professor José António Llo-rente da Universidade de Granada sobre a vertente de vanguarda cien-tífica deste assunto: os resultados e conclusões de análises comparativas de ADN efectuadas em Espanha.

Seguiu-se um período de debate com a participação do público e con-vidados, como Brandão Ferreira, Paulo Loução, João Moniz e Henri-que Zarco.

Manuel Luciano da Silva e Manuel Rosa, os dois mais recentes autores de obras sobre o tema, deslocaram-se propositadamente dos Estados Unidos, onde vivem, para este evento.

Pela ausência, notaram-se Marcelo Rebelo de Sousa, que prometera estar presente como observador e acabou por não comparecer e José Rodrigues dos Santos, que escreveu "O Codex 632", com perto de 200.000 cópias vendidas, traduzido em várias línguas e com direitos cedidos a Hollywood, por compromissos profissionais nesse dia.

» Foto: João Espinho

Page 85: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

NOTÍCIA

JUNHO 2008 85

Durante o evento, foi feita a apresen-tação pública do último livro sobre o tema, pelo director editorial da Pers-pectiva, um resumo em formato jorna-lístico de tudo quanto tem sido escrito sobre a portugalidade de Colombo, que pretende ser uma forma conden-sada e acessível de abordagem ao tema para o público em geral e para estudan-tes interessados.

Foi também anunciada uma nova edição do livro de Manuel Luciano da Silva, em formato “de bolso”, apresen-tado na Feira do Livro a 10 de Junho.

A Perspectiva orgulha-se de ter estado na primeira linha de divulgação de todo este assunto, não para demons-trar seja o que for, mas para o trazer à luz da opinião pública e fomentar uma discussão saudável entre a comunidade científica e as descobertas dos investi-gadores, de modo a que a versão his-tórica que legamos às gerações futu-

» Foto João Espinho

Durante o evento, foi anun-ciada a constituição da nova Associação Cristó-vão Colon, em 20 de Maio, data simbólica por repre-sentar o 502º aniversário da morte do Almirante em Valladolid no ano de 1506. A eleição de corpos sociais

deu a Carlos Calado a pre-sidência e nomeou Hen-rique Zarco como vice--presidente. A Associação visa "defender, por todos os meios legítimos, a nível mundial, a portugalidade do navegador Cristóvão Colon,

promovendo a divulgação dos respectivos factos histó-ricos". Trata-se de uma ins-tituíção sem fins lucrati-vos e passará a funcionar na vila alentejana de Cuba, numa sede oferecida pela Câmara Municipal.

ras possa ser, sem margem para dúvidas, A VERDADE.

Page 86: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

DIREITO DE AUTOR

86 JUNHO 2008

Inspecção-Geral das Actividades Culturais e o Direito de Autor A Inspecção-Geral das Actividades Culturais (IGAC) é o ser-viço de suporte à governação e gestão do Ministério da Cultura (MC) que tem por missão, relativamente à propriedade intelec-tual, a protecção e a defesa do direito de autor e dos direitos conexos. No desenvolvimento da sua missão compete à IGAC asse-gurar o cumprimento da legislação relativa ao direito de autor e aos direitos conexos e:

- Promover a intervenção reguladora e adaptada à evo-lução do mercado nos sectores cinematográfico, videográ-fico, audiovisual, multimédia, do espectáculo e do entre-tenimento e ainda da música e do preço fixo do livro e de superintendência das actividades económicas com eles relacionadas.

- Promover acções de informação, fiscalização e de com-bate à pirataria, em especial, a pirataria fonográfica e vide-ográfica.

- Promover o registo e autenticação de obras e conteú-dos culturais com o objectivo de assegurar o respeito pelo direito de autor e direitos conexos nas relações contratu-ais.

- Com o mesmo objectivo, autorizar, através da licença de representação, a realização de espectáculos de natureza artística.

- Atribuir, através da Comissão de Classificação (CC), a classificação, nomeadamente, etária e de qualidade, de obras e conteúdos culturais, de entretenimento e de espec-táculos de natureza artística, com o objectivo de assegu-

rar o respeito pelos interesses fundamentais relativos ao desenvolvimento dos menores e dos interesses protegidos do consumidor.

- Assegurar o registo das entidades de gestão colectiva do direito de autor e dos direitos conexos e a tutela inspec-tiva relativamente à prossecução da actividade destas enti-dades. Com vista à segurança do comércio jurídico de obras, a IGAC efectua o registo:

- De obras literárias, artísticas, do software. - Das obras cinematográficas e audiovisuais nacionais. - Do nome artístico e literário. - Do título de obra não publicada. - Dos factos que importem a constituição, transmissão,

oneração, alienação, modificação ou extinção do direito de autor.

- Das acções judiciais que tenham por finalidade a cons-tituição, o reconhecimento, a modificação ou a extinção do direito de autor.

- Das acções judiciais que tenham por finalidade a decla-ração de nulidade ou a anulação de um registo ou do seu cancelamento. Ao serviço das Pessoas e da Cultura, a IGAC no desen-volvimento da sua missão, abre agora um espaço de infor-mação, consultoria e disponibilização de serviços online, exclusivamente, dedicado às questões relacionadas com a Propriedade Intelectual, destinado às empresas que actuam no mercado cinematográfico, videográfico, audiovisual, multimédia, música e do espectáculo e entretenimento e a todos os que desenvolvem a sua actividade profissional, de investigação e de estudo nas áreas da criação artística e das indústrias criativas.

Por Paula Andrade, Inspectora-Geral das Actividades Culturais

* A norma NP EN ISO 8402, define Qualidade como o conjunto de caracterís-ticas de uma entidade que lhe confere aptidão para satisfazer necessidades explícitas ou implícitas. Nota: este texto é uma adaptação dum artigo do mesmo autor que saiu na revista Qualidade em Outubro de 2004.

Page 87: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

CRÓNICA PERSPECTIVA

JUNHO 2008 87

» Jorge Castro

O Adejar da Mariposa

Uma poalha dourada em dias de solNo fundo do beco chegava apenas uma poalha dourada nos dias de sol e muito ao fim da tarde. Era a hora vespertina dos dois gatos aparecerem. Na outra, a matinal, a luz ainda não queria nada com eles. Estirados no meio metro de respeito mútuo, sorviam aqueles últimos ténues raios de sol no degrau da casa térrea da velha bai-larina.

Um, preto retinto, de gravata branca que lhe chegava ao focinho. O outro, castanho-claro-de-gato, velhos senho-res da rua, que partilhavam a desoras em infinitos combates de cio ou naque-las tréguas que o sol fazia apetecer.

Na casa em frente vivia o senhor António, olhos azuis entrevistos na fenda do olhar, luzindo na cara de rugas afundadas por infinitas maresias. Velho marinheiro das frotas bacalhoei-ras, espécie extinta, como dizia de si mesmo e dos companheiros de ganha--pão e aventuras passadas.

Ambos sós, pelas encruzilhadas da vida, cultivavam um respeitoso e muito distante convívio que não ia além dos cumprimentos de cerimónia entre vi-zinhos e no aconchego alimentar que ambos prodigalizavam aos dois gatos vadios. Tinham, no entanto, um tácito pudor que os levava a alimentar os bichos em horas desfasadas, como se houvesse vergonha no acto ou não pre-tendessem dar-se ares de rivalidade nem cumplicidade em gesto tão simples.

A menina Sara, eterna menina e bai-larina conceituada nos seus tempos de glória, era uma figura franzina, mas tensa. De uma elegância etérea que parecia, ao andar, deslocar-se em pontas nalgum palco de lagos e cisnes. Passo ligeiro, apertado, a que os seus

sessenta e muitos anos não roubavam graciosidade nem porte. Vivia mal de umas quantas aulas de ballet que ia dando a desajeitadas principiantes e que iam minorando a dureza da sobre-vivência da reforma nada digna.

O senhor António, esse perdia-se, horas a fio, na sua paixão secreta de esculpir o mundo recorrendo às conchas que lhe invadiam a casa e que resgatava ao mar nos seus intermináveis passeios pelas praias que o acolhiam. Tinha sucesso, o senhor António, colocando em meia-dúzia de estabelecimentos as suas obras, desaparecidas num abrir e fechar de olhos. Então os seus flamin-gos, de uma graciosidade sem adjec-tivo, fariam lembrar, a quem melhor atentasse, personagens de um bailado eterno que lhe povoava a cabeça e que ele nem sabia bem como lhe saíam assim das mãos encordoadas.

Mal se viam, para além de um muito leve afastar da cortina, dia a dia, confir-mando a hora a que o vizinho matava a fome aos dois bichanos, nessa obser-vação recatada mas cheia de certezas que nos baliza o viver. Pela manhã, ele. Pela tardinha, ela. Testemunhando-se mutuamente esse cuidado amável e discreto, sem uma troca de palavras. Talvez por trajectos tão diversos de vida, ajudados por maneiras de ser que assim os aconselhavam ou espartilha-vam.

E os dias arrastaram anos, de soli-dões não partilhadas.

Certo dia de invernoso sol e de trans-parências infinitas, numa das suas incursões praia fora, em busca de sos-

sego e de conchas, matéria-prima que o mar lhe dava e que faziam pesar o saco cheio sobre o ombro esquerdo em fim de caminhada, António entreviu, muito ao longe, percorrendo o passa-diço que se alongava paralelo ao mar, um vulto de andar inconfundível, que se afastava de si.

A sensação de irrealidade provocou-lhe um frémito estranho. Na verdade, aquela praia, uma das suas favoritas, só justificava visita propositada e não de passagem fortuita, a mais de cem qui-lómetros que distava de sua casa. Para mais, então, vê-la assim percorrida pela sua vizinha, tão próxima sempre e tão distante, metáfora do que ocor-ria nesse mesmo instante, em que cada passo mais os distanciava.

Sem saber confessar porquê, estu-gou o passo, enquanto Sara demorava na contemplação de um tufo de arme-rias.

Ao chegar perto, nada melhor ocor-reu ao António do que aquele óbvio e desajeitado “ – Olá, então, por aqui?...”

Genuinamente surpreendida, afas-tada por momentos e vontade do grupo de quase desconhecidos que acompanhara numa excursão de con-trariar tédios, Sara respondeu: “- Olha, o meu simpático vizinho… Não me diga que veio até tão longe para dar de comer aos gatos…”

O resto da tarde decorreu na constru-ção de um momento feliz, se calhar há muito tempo perseguido.

Também é, assim, a vida feita. Feliz-mente, há coincidências…

Page 88: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

Texto: Luís António Patraquim MÚSICA CULTURA

88 JUNHO 2008

Colectânea

As canções de Almodóvar

No European Fil Festival que decorreu no Casino Estoril, no ano passado, Pedro Almodóvar afirmou que a banda sonora nos seus filmes é mais um elemento de narração que faz parte do guião.

Agora, o cineasta espanhol materia-liza a ideia. No livrete que acompanha este duplo cd intitulado “BSO Almodó-var”, o realizador espanhol escreve: “As canções nas minhas películas são uma espécie de voz-off musical que explica, revela segredos e enriquece a acção em que aparece.”

São 29 canções que marcaram os seus filmes e que aqui aparecem numa selecção feita pelo próprio Almodóvar. “Nesta banda sonora, recompilatório das canções que apareceram nos meus filmes, há de tudo e, sobretudo, intér-pretes geniais (à excepção de um criado que berra desalmadamente e que dá pelo nome de Gran Ganga)”, continua a explicar Almodóvar para apresentar um álbum excepcional pela qualidade e diversidade dos artistas que empres-taram a sua voz e as suas canções aos

filmes do cineasta.Sobre o disco, o criador de “Volver”

afirma: “Impera o eclectismo, há muita afectação, mas também há pop ligeiro, inclusive disco music, ternura e emoção a rodos”.

» Caetano Veloso, Elis Regina, Jobim, Olga Guillot e Luz Casal, fazem parte do repertório

Pop

Regresso dos B’52’s a PortugalOs americanos B’52’s gravaram um novo disco e estão de regresso com o seu estilo inconfundível. “Funplex” é o primeiro disco de originais do quar-teto em 16 anos. Eléctrico e energé-tico, o disco reaviva a memória daque-les que dançavam ao som desta banda que marcou a New Wave, nos anos 80. O álbum foi inteiramente gravado na sua terra natal, Athens, Georgia e todas as 11 canções do álbum foram escri-tas por Kate Pierson, Fred Schneider, Keith Strickland e Cindy Wilson

Para gáudio dos fãs, o festival ‘Lisbon Calling’ vai contar com a estreia em Portugal dos B’52’s. É a 26 de Julho que a banda apelidada de ‘world’s greatest party band’ (a melhor banda de festas do mundo), sobem ao palco do Pavilhão Atlântico.

Nicholas Payton nasceu em 1973 na terra de Louis Armstrong e de Winton Marsalis, e para não fugir à regra de-cidiu ser também trompetista. Facto é que Payton escolheu este instrumento depois de ter ouvido Miles Davis, o qual, embora não sendo de Nova Or-leães, é uma referência global.

Hoje é um dos mais respeitados mú-sicos de jazz da actualidade. Em “Into the Blue”, todo o seu talento é revela-do num disco em que o músico se faz acompanhar pela sua banda habitual: Kevin Hays (piano), Vicente Archer (baixo), Marcus Gilmore (bateria) e Daniel Sadownick (percussão).

Jazz

ÉtnicaBuika é um dos nomes mais imponen-tes da cena musical espanhola actual. “Niña de Fuego” é o seu terceiro disco. Canções de amor e desamor compostas por Javier Limón (produ-tor do disco) e pela própria fazem as delícias de quem ouve, pela primeira vez, a sua voz arrebatadora. Buika faz a ponte entre o flamenco e África. Dona de uma voz versátil, por vezes terna, por vezes poderosa, a cantora propõe a renovação do flamenco e pinta este género musical com cores de tango, bolero, blues e jazz.

Page 89: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

LITERATURA Texto: Luís António Patraquim

CULTURA

JUNHO 2008 89

Estudo

A possibilidade do impossível

Durante séculos, o Ocidente estava convicto que só existiam cisnes bran-cos. A expressão “cisne negro” usa-va-se como metáfora para descre-ver algo que “não podia existir”, algo impossível. Ora existem cisnes negros e Nassim Nicholas Taleb parte desta metáfora para analisar o impacto de acontecimentos “impossíveis”. O incrível êxito do YouTube é um “Cisne Negro”, assim como o 11 de Se-tembro. A falta de consciência do fenó-meno dos “cisnes negros” antes da sua ocorrência, prende-se, segundo Taleb, com o facto de os seres humanos esta-rem absolutamente programados para aprender coisas específicas quando, pelo contrário, deveriam concentrar-se em generalidades.

Surpreendente e revolucionário nas suas aplicações, este livro revela um novo olhar sobre a forma de encarar a vida. O autor explica tudo aquilo que sabemos acerca do que não sabemos e indica alguns truques para lidar com os “cisnes negros” e beneficiar deles.

Nassim Nicholas Taleb dedicou a sua vida ao estudo aprofundado de questões de sorte, incerteza, proba-bilidade e conhecimento. Em parte ensaísta literário, em parte empírico, mas também sério analista quantita-tivo e professor de Ciências da Incer-teza, na Universidade de Massachu-setts.

» “Um estudo fascinante sobre como somos engo-lidos pelo inesperado”, in Financial Times

Biografia

O cientista “herético”Rezam as crónicas que, quando Galileu foi julgado por heresia, em 1633, e forçado a renegar a sua crença de que a Terra se movia à volta do Sol, Gali-leu terá murmurado: "Eppur si muove" (No entanto move-se). Michael White, conceituado biógrafo e investigador, revela nesta obra o homem e o seu tra-balho, integrando-os no contexto de uma época em que religião e ciência se cruzavam perigosamente. Tendo como pano de fundo a Contra-Reforma e a Guerra dos Trinta Anos, “Galileu – O Anticristo” apresenta os factos que levaram à denúncia do cien-tista como herético numa história de conspiração e encobrimento.Só em 1992 o Papa João Paulo II deu por encerrado o caso Galileu, reconhecendo que alguns elementos da Igreja haviam cometido erros neste processo.

Depois do filme, o livro. Baseado numa história real, “A Última Car-tada” marca a estreia de bem Mezrich na não ficção. Dotado de uma escrita objectiva, a autor conta a história de um grupo de estudantes que conseguiu vencer o sistema e em quatro anos arre-cadar milhões de dólares dos casinos de Las Vegas. A ambiência do jogo é habilmente conjugada com a atmosfera frenética dos casinos para criar uma obra em que a adrenalina toma conta do leitor. De leitura viciante, não fosse o tema abordado os jogos de azar.

Romance

EnsaioStendhal elabora uma teoria do espí-rito humano através do riso. Da definição rigorosa à forma de criar caracteres cómicos, passando pelas condições essenciais ao riso, Sten-dhal reflecte sobre os comediógrafos do seu tempo e propõe um verdadeiro manual sobre a arte de compor comé-dias. “Do Riso – Um Ensaio Filosó-fico Sobre um Tema Difícil e Outros Ensaios” é uma subtil análise psico-lógica.

Page 90: ::: Revista Perspectiva Nr. 12 :::

Texto: Luís António Patraquim

AO VIVO CULTURA

90 JUNHO 2008

Festival

Teatro

O projecto Parque Almourol, que visa transformar a área ribeirinha de cerca de 12 km, entre Constância, Chamusca e Vila Nova da Barquinha, no principal pólo de turismo activo e formação outdoor do país, vai promover durante o Verão vários espectáculos de música, dança, teatro, ópera e multimédia. Destaque para as reconstituições históricas no castelo de Almourol: “Torneio Medieval” (5 de Julho), “Assalto ao Castelo” (26 de Julho) e “Templo Almourol” (6 de Setembro).

À semelhança de Jano, a figura mitológica, Muna – o novo projecto teatral do colectivo Visões Úteis – tem duas faces: uma diurna, para crianças com idades com-preendidas entre os 4 e os 9 anos; outra nocturna, para maiores de 12. A peça, interpretada por Ana Vitorino, Carlos Costa e Catarina Martins, tem como ponto de par-tida: “O Rei dos Elfos”, um dos mais célebres poemas de J.W. Goethe.

Para ver, de 18 a 29 deste mês, no Teatro Carlos Alberto, Porto.