Riqueta a grande amiga versao final

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Riqueta é uma estória sobre uma cachorra que ocupa uma posição singular na vida de uma milionária.

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RIQUETA A GRANDE AMIGA

1

Registro na Fundação Biblioteca Nacional

N.o 389018

02/10/2006

PAULO FRANCISCO DOS SANTOS

2

Índice

Introdução.....pág.04

Capitulo 01 .... pág.05

Capitulo 02 .... pág.08

Capitulo 03 .... pág.10

Capitulo 04 .... pág.11

Capitulo 05 .... pág.12

Capitulo 06 .... pág.14

Capitulo 07 .... pág.16

Capitulo 08 .... pág.18

Capitulo 09 .... pág.20

Capitulo 10 .... pág.21

Capitulo 11 .... pág.22

Capitulo 12 .... pág.24

RIQUETA A GRANDE AMIGA

3

Capitulo 13 .... pág.26

Capitulo 14 .... pág.28

Capitulo 15 .... pág.29

Capitulo 16 .... pág.30

Capitulo 17 .... pág.32

Capitulo 18 .... pág.35

Capitulo 19 .... pág.36

Capitulo 20 .... pág.37

Capitulo 21 .... pág.38

Capitulo 22 .... pág.39

Capitulo 23 .... pág.40

Capitulo 24 .... pág.41

Capitulo 25 .... pág.42

PAULO FRANCISCO DOS SANTOS

4

Introdução

Talvez você tenha a impressão que sou um tanto polêmico caro amigo, todavia

escritores têm suas manias e como não sou diferente dos demais, espero que me suporte,

pelo menos até o final desta história que promete despertar nossa curiosidade. Neste

momento o que mais me preocupa é escolher que tipo de linguagem usarei, pois estas

folhas passarão por muitas mãos. Linguagem dos poucos ou a dos milhares e milhares?

Quem nesse dualismo poderia estabelecer uma miscigenação lingüística? Não, não

quero propor algo que não me foi incumbido, mas vou procurar agradar a todos. Espere

ai. Estou longe de nosso principio histórico e preocupado com detalhes, desculpe-me.

Aposto que tu estás querendo saber o que estou também querendo relatar. Então preste

atenção no que vou dizer.

Já ouvistes falar da família Scaporetto? Não!? Como tu não a conheces? Vejo

que estás um tanto desinformado, mas não irei condenar-te, afinal de contas nem todos

têm um instinto de Araponga.

A família Scaporetto veio juntamente com o Imperador de Portugal quando este

fugia das guerras Napoleônicas e se instalou em nossa pátria. Família de condes que

trouxeram grandes inovações, pois como possuíam muitas posses instalaram indústrias

(talvez uma duas ou três) e expandiram o mercado nacional. Sabe como é! Apesar dos

empecilhos das potências de fora eles foram um dos primeiros pinos que derrubam uma

fileira de dominós.

Dessa tão ilustre família temos a descendente que é a protagonista de nossa

história a Condessa Esmilhoneira Esnobina Scaporetto, uma personagem singular na

alta sociedade brasileira. Conservou o titulo de nobreza... Claro que foi motivado mais

por orgulho do que por necessidade, algo comum no solo nacional. Grande consumidora

de tudo que diz respeito à estética é também uma pessoa totalmente carente, que tem

como companheira Riqueta, uma amiga que rivaliza seu preeminente título de

protagonista.

Para poder matar, ou pelo menos tranqüilizar sua curiosidade Riqueta a segunda

nesta história pertence ao outro reino animal. O quê? Não entendeste? (risos... Meus é

claro) Aconselho-te a voltar às salas de aula e consultar algum livro de ciências. Espero

que não te irrites comigo, pois decidi ir adiante a nossa viagem literária e deixar os

porquês serem respondidos com seus devidos acontecimentos.

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Certo dia estava à condessa Esmilhoneira um tanto atribulada com planos de

participar de uma grande festa. Vamos a informações: aqueles que quase não pisam no

chão pela alta posição que usufruem devido seu gran estatus fazem o que nomearemos

de gastos desnecessários... Acho que estou sendo radical!? O importante é saber que as

festas acontecem e são incontestavelmente cheias de glamour. Outro exagero!? Espere

ai, onde nós estávamos? Ah! Já me lembrei. Estávamos falando da condessa. Ela estava

se arrumando e isto não é uma tarefa fácil, pois afinal de contas ela é uma condessa e ...

Veja só, ela enfrentou uma verdadeira maratona para conseguir se arrumar para a tal

festa. Veste um traje aqui, outro acolá, tira, põe, deixa ou não e lá se vai ela. Nossa

celebre afortunada como de costume está assessorada de sua fiel escudeira e que de

ouvidos atentos presta uma incansável reverência no discurso que você irá concluir que

não vem do mundo dos simples mortais:

- Riqueta querida faz três horas que estou me arrumando e você não me diz nada,

sua opinião é muito importante.

- * (o travessão sem palavras indica silêncio).

- Você está triste comigo porque logo cedo tive de sair e não te levei?

-

- Minha querida, a momentos que nós temos que enfrentar as lutas sozinhas, eu

sei que você queria me ajudar, mas deixa pra próxima.

-

- Este casarão ficou tão chato e vazio este fim de semana.

-

- O buffet me ligou dizendo que já tinha preparo antecipadamente os arranjos para

o que eles apelidaram de noite a la Europa.

-

- Eu amei! Pra mim eles procuram fazer o impossível e é por isso que eu votei em

Jacques Gournetones na revista ―O Melhor da Cozinha dos Granfinos‖, para ser

eleito o melhor cozinheiro do Ano.

-

- Lógico querida! O meu voto foi decisivo para que ele ganhasse o troféu e seu

nome estivesse brilhando em nosso majestoso meio.

-

- Oh, sim. Ele é muito grato pelo que fiz, tanto é que ele tem sido excepcional

quando o convoco para fazer meu Buffet. Pena que a última viajem atrapalhou

tudo.

-

- É verdade. Você tem razão águas que passaram não podem mover o moinho.

-

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- Que cara é essa? Você esta pensando que não iremos fazer mais aquela festa de

dar inveja as nossas opositoras?

-

- Ora, sua bobinha, disse para eles que na semana que vem iremos realizar três

dias de Glamour e Resplendor em nossa mansão para compensar essa semana

que passou em branco, pois, quero ver a Cidinha morrendo de inveja até mesmo

de nosso entusiasmo!

-

- Não, você não gostou desse vestido?

-

- Hoje você está muito exigente.

-

- Sabe de uma coisa, eu não gosto de desprezar seus conselhos, porque sempre me

dou mal.

-

- Amigas como você são difíceis de encontrar.

-

- Olha, eu percebi que a Cidinha se mordeu de inveja e ficou enraivecida, soltando

fogo pelo nariz quando nós duas chegamos arrasando na festa do Barão Teodoro

em Copacabana e também no lançamento da coleção de verão do Estilista

Jacqueless Pierre Amoure no Esperia.

-

- Quem poderia imaginar que você estaria hoje aqui comigo, graças a Deus,

cheguei na frente daquela perua aguada e conquistei sua amizade.

-

- Não estou te entendendo fale alguma coisa menina.

-

- Riqueta veja como a mamãe está linda! O que você acha minha querida?

-

- Você está tão calada hoje, porque não quer conversar com a mamãe?

-

- Você está querendo brincar não é sua danadinha ?

-

- Vem aqui para o colo da mamãe, vem.

- Au...Au...Auuu.....

- Eu sabia que era puro charme seu.

- Au...Au...Auuu.....

Ao responder amorosamente de uma forma caninil, Esmilhoneira nota que sua

amiguinha está faminta e por isso chama seu fiel mordomo:

- Josééééé.......!

- Pois não Sra. Esmilhoneira, o que deseja?

- Faça um suculento bife à la carte, acebolado para Riqueta.

- Com molho inglês ou português Sra.?

- Lógico que o inglês Joselito! E ande depressa.

- Sim, senhora.

Voltando a conversa das duas almas gêmeas:

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- Onde nós paramos a conversa querida?

-

- Oh... Lembrei! Linda e exuberante nos duas vamos arrasar na mais badalada

festa dos magnatas Paulistanos e novamente a Cidinha vai ficar pra trás e ainda

se curvar ao nosso desfilar sem igual.

-

- Isso mesmo meu bem, eles ficarão de queixo caído. Você vai ver que todos vão

ficar boquiabertos.

De repente a conversa tão acalorada das duas esnobes peças de nosso xadrez

historiatal é interrompida pela camareira Clarice, que em breve iremos descrever em

detalhes para vossa excelência, caro leitor.

- Sra. Esmilhoneira.

- O que você quer Clarice? Não vê que estou ocupada.

- Perdoe-me Sra. Esmilhoneira, mas o Sr. Franque lhe aguarda no Saguão?

- Diga à ele para esperar mais uns minutinhos que já vou e, por favor, saia logo,

estou ocupadíssima e sua presença me atrapalha.

- Sim. Estarei lhe dizendo que aguarde.

- Isso mesmo. Por favor, saia logo. Chô... Chô... Depressa...

Clarice sai em direção ao local onde Franque a aguarda para uma magistral missão.

E enquanto ele espera, as duas amiguíssimas voltam ao seu descontraído diálogo.

Diálogo!?

- Au...au...au...

- Queridinha já é hora de arrumar meus lindos cabelos. Oh, já são 13h40 e

Franque chegou, bom já que a nossa festa vai começar as 22h00, ele pode

esperar mais uns 50 minutinhos.

- Au...au...au...

- Olha de novo pra mamãe, estou ou não estou Linda!?

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Em meio a tantas preocupações em vésperas de uma costumeira festa entre ricos,

vemos na cozinha da grande mansão o desabafo daquela camareira que não agüenta

mais ser humilhada, mas que precisa de seu pequeníssimo salário.

- Eu não agüento mais, eu vou pedir a conta.

- Não faça isso Clarice emprego esta muito difícil.

- Essa rabugenta só sabe humilhar agente Joselito.

- Trabalhar para madame é isso ai, elas acham que são donas do mundo e podem

fazer o que quiser com as pessoas. (Claro que nem todas... apesar da fala no

momento não ser minha – ―el narrador!‖–, tenho que evitar certos processos e

espero que você me compreenda caro leitor.)

- Eu não posso mais suportar.

- Quantos filhos você tem?

- Quatro. E são tão lindos, agora mesmo dois estão na creche e os outros dois

estão com minha mãe.

- Por eles você pode suportar isso e muito mais.

- Tem razão, o que a necessidade não faz, maldita hora que larguei a escola, que

não dei ouvido a papai e fugi com aquele safado do Gilberto que no final das

contas me abandonou.

- Quando você começou trabalhar aqui me disse que passou quase um ano

desempregada e muito sofreu, não foi?

- Nem quero pensar nisso, estou no céu mesmo sendo pisada por essa esnobe.

- Em uma época da minha vida eu também dei minhas cabeças e com isso

aprendi, a vida em si é uma escola, e que escola! Vale a pena sofrer quando a

gente amadurece e se torna uma pessoa de responsabilidade.

- Gosto de conversar com você Joselito, sempre tem algo bom, algo pra confortar

o coração desta esquecida do subúrbio Paulistano.

- Dá onde?

- É a vila onde Moro, a Vila Paulistano, lugar de gente sofrida, mas de pessoas de

bem.

- Ai... Ai... Quase me esqueci.

- Do quê?

- De levar o bife pra Riqueta.

- Você está levando neste bandejão um bife pra Riqueta?

- Ordens são ordens garota.

- Esta cachorra é mais bem tratada que um rei.

- Nem um rei é tratado assim, infelizmente há um lugar melhor pra um animal do

que para uma pessoa.

- Escuta uma coisa, quem é aquele no saguão?

- Ele é o cabeleireiro da patroa.

- Que galã! Pensei que fosse um artista de novela.

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- É o cabeleireiro mais requisitado da alta sociedade que conheço. Só pra vir aqui

ele cobra uma fortuna, joga o cabelo pra lá e pra cá e sai com o bolso cheio, mas

cheio mesmo.

- Já faz uma hora que ele esta esperando.

- Ela sempre faz isso com ele, já está acostumado; o que ele quer é mesmo as

verdinhas, quanto mais tempo à horta fica mais cheia.

- Vou levar mais um café pra ele.

- Isso mesmo Clarice, aproveite e converse um pouco com ele.

- Já tentei, mas ele não me deu a mínima.

- É por que você não falou do quê ele gosta ora, fale sobre cabelos que o barco vai

longe.

- Vou tentar, quem não arrisca não petisca.

- Vai, mas procura não ultrapassar os limites, ela pode se contrariar e como você

já conhece a peça quando está nervosa cospe fogo pela boca.

- Fique tranqüilo eu sei me cuidar, como você disse a experiência faz a diferença.

- Eu preciso ir o bife está esfriando. Tchau.

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Acredito que você gostaria de saber um pouco mais sobre Clarice, Joselito, Lílian e

Franque não é mesmo?

Aquilo que sei irei te relatar, mas espero sua compreensão. Não sou nenhum

fofoqueiro, então não quero piadinhas, entendeu? Quero te lembrar que sou escritor e

nesse mundo da lua... Nestes parágrafos podemos fazer tudo aquilo que esta ao alcance

de nossa fértil mente. Assim irei descrever estes outros personagens:

Clarice tem 25 anos de idade e é a camareira da Mansão Scaporetto, mãe solteira,

tem quatro filhos, mora no subúrbio, precisamente no bairro de Vila Paulistana. É

Romântica e sonhadora como toda mulher desiludida afetivamente.

Joselito tem 55 anos de idade. Ele trabalha a mais de 20 anos como mordomo da

família Scaporetto, solteirão convicto, não tem filhos, mora na própria mansão. É

confidente da condessa e um servidor prestativo, sem ele, talvez a Sra. Esnobina não

conseguiria viver.

Lílian tem seus 58 anos de idade. Trabalha para os Scaporettos a mais ou menos uns

10 anos, separada, tem uma filha que não vê a anos devido alguns tristes acontecimentos

do passado. Excelente cozinheira, porém, possui um pequeno defeito: a língua –

ninguém é perfeito.

Francisco Chiquerrímo, ou simplesmente Franque é um cabeleireiro altamente

requisitado na alta sociedade. Tem seus 32 anos de idade, solteiro, não tem filhos e

também não pretende ter. Sua masculinidade é duvidosa, porém, não iremos adentrar

nesta área pelo menos por enquanto. Seus serviços são requisitados regularmente pela

nossa anfitriã que o considera como um verdadeiro artista da área estética capilar.

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- Au...Au...Au...

- Menina sapeca você me deixa muito alegre.

- Au...Au...Au...

- Esta não.... Esta também não... Esta muito menos... Quer saber de uma coisa vou

mandar o Franque subir e começar a sua obra prima deixando meus fios de ouro

resplandecendo, pois assim posso colocar o vestuário que mais combine com

minha beleza.

Mais uma vez a conversa das duas milionárias é interrompida. Desta vez é o bife

que não as deixa continuar a sessão nostalgia.

- Sra. Esmilhonaria.

- Oh... Joselito pensei que ia deixar minha queridinha morrer de fome. Por que

demorou? Já não basta a lerdeza da Clarice você também se contagiou com isso.

- Segundo a Lílian havia terminado o molho inglês e tive de pedir para o

Felisberto buscar na Granfines.

- Vocês deixam tudo pra última hora, não vou tolerar essas coisas mais, todo dia

aparecem uns dez procurando emprego, acho que tenho de mudar o quadro de

funcionários para melhorar o ambiente deste local, gente mais qualificada, mais

dinâmica... Haja paciência.

- Sim, Sra. Os currículos estão com a Lílian gostaria que fosse busca-los?

- Agora não, estou atarefadíssima e não tenho tempo para isso, deixe aqui o

lanche de Riqueta. Não sei nem se a minha menina ainda vai querer! Mande o

Franque vir aqui e vê se não vai andando como uma ema. Vai...vai...vai... Logo e

como um cometa.

Como excelente escravo... Ops! Quis dizer, mordomo eficiente que é Joselito foi

depressa, mais depressa mesmo falar ao cabeleireiro Franque que o seu acesso aos

aposentos da condessa Esnobina estava liberado. E a conversa entre as duas madames

continua solta...

- Riqueta essa vida de beleza me estressa, ainda bem que daqui a seis meses

decidi que vamos entrar de férias. E nossas maravilhosas férias serão no Caribe

como te prometi.

- Au...Au...Au...

- Eu também não vejo a hora de estar lá, só de pensar no hotel Estella Rubia...

Sinto me nas nuvens. Pena que na última vez que estive lá nós não tínhamos essa

esplêndida amizade.

- Au... Au... Au...

- Quem dera você tivesse antecipado sua existência queridinha.

- Au... Au... Au...

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Enquanto o recado não chega ao seu destinatário a sonhadora Clarice dá uma

investida naquele que para ela é um galã de novela.

- Sr. Franque posso lhe servir mais um cafezinho?

- Sim.

- Disseram-me que o Sr. é um excelente cabeleireiro.

- Todos dizem isto.

- Você não é nada convencido, hein?

- Você acha?

- Convencido, lindo e um ótimo cabeleireiro.

- Obrigado, você até me impressionou, não pensei que seria uma pessoa tão

agradável.

- Eu sempre quis ser uma cabeleireira.

- Serio? Isso é para quem tem vocação. Se você tem poderá chegar pelo menos

aos pés da Unix Perfect Cabeleireiros.

- Eles são bons?

- Só perdem para o papai aqui.

- Gostaria de ter a oportunidade de ingressar nessa área.

- Quem sabe posso dar umas aulas a você?

- Eu adoraria quando começo?

- Eu disse quem sabe e não vou dá-las. Você entendeu moça?

- Perdoe-me eu não queria ser atrevida.

- Que nada, gosto do seu jeito, vou até deixar meu cartão com você. Me ligue,

pois minha equipe pode receber mais uma boa cabeleireira.

- Não sei o que dizer!

- É lógico que diante do melhor cabeleireiro do mundo qualquer um ficaria assim,

todavia sobre trabalhar para mim, saiba que se tiver de ser, será.

Quando a conversa ia de vento a polpa chegou a noticia que Franque estava

aguardando.

- Sr. Franque.

- Pois não, Joselito a madame se lembrou de mim?

- Lembrou. E disse que o Sr. pode subir.

- Em qual quarto ela está desta vez? No outro dia você mandou subir e fiquei

procurando onde ela estava muito tempo, gastei uma hora, hoje estou apressado

tenho que fazer outra visita de negócios.

- Desculpe Sr. Franque às vezes eu esqueço que nem todos conhecem esse

labirinto de quartos. Subindo as escadas vire a direita, depois do primeiro

corredor vire à esquerda, caminhe no terceiro corredor e depois de passar pelas

dez portas de Nivier vire a esquerda novamente que você verá uma porta que é

uma relíquia do século XVIII, nela você poderá ver o brasão da família Esnobina

e o retrato de um velho sentado numa cadeira de balanço com seu nome escrito

em letras romanas: Gilfredo Esterovaldo Esnobina é o lugar onde ela está.

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- Esqueci meu gravador, da pra repetir?

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Depois de muito procurar, Franque encontra o lugar onde as duas conferencistas o

esperam. Ele veio determinado a modelar suas fisionomias e com entusiasmo que

antecipado o toque das queridas notinhas verdes ele bate na porta. Elas ouvem o som

das batidas: Toque... Toque...

- Sim.

- Sra. Esmilhoneira, sou eu, o Franque.

- Oi querido. Como você está lindo, sempre charmoso.

- Obrigado madame.

- Eu já te disse que esse seu perfume é um show?

- Se disse eu não estou lembrado. Mas agradeço por ter reparado em meu simples

Parisier.

- Gosto de sua delicadeza e simplicidade Franque.

- Sempre jovial. Tu és especial e amável condessa; feliz daquele que esta sobre

seus cuidados.

- Eu tenho falado pra minhas amigas que não existe um cabeleireiro como você

neste mundo.

- Au...Au..Au...

- Veja só Franque, Riqueta está confirmando minhas palavras, ela é testemunha

ocular de meu apreço por você.

- Oi menina linda, deixa o Franquizinho te dar um beijinho, você está a cada dia

mais bela Riqueta, só perdendo para sua linda amiga.

E como qualquer sujeito doido por dinheiro e que faz tudo para obter-lo, Franque

não fica só nas palavras, mas realmente beija a cachorrinha, apesar de sua ojeriza por

cães. A condessa Esmilhoneira acha o máximo ser bajulada, mas quando também

bajulam sua especial amiga é capaz de doar até sua própria fortuna. Feliz pelas

adulações ela continuou a conversa com seu requisitado cabeleireiro assim:

- Franque você é adorável.

- Condessa Esmilhoneira estou aqui para servir e pra fazer arte, apesar de que eu

vou colocar apenas uns pequenos detalhes nesta obra de arte viva que é você

mesma, meu jasmim dourado.

- Que pena que você é muito ocupado, senão o contrataria pra ser meu secretário.

- Para mim seria uma honra, mas escolhi a vida de artista e não poderia abandonar

esta tão exuberante vocação.

- Infelizmente sei disso.

- Queridinha tenho duas grandes novidades que irão te encher de alegria.

- Sério!? Qual? Você me deixa em suspense quando fala em novidades.

- Queridinha... Queridinha, adotei um novo perfil profissional.

- Não me diga!?

- Não sou mais um cabeleireiro, sou um produtor!

- Produtor!?

- Sim, produtor de divas!

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- Oh! Que chique! Que maravilhoso. Quer dizer que agora eu tenho de dizer que

tenho um formidável produtor.

- Sim, é mais light e vai abafar na alta e estrelada sociedad paulist.

- Adorei, mas estou preocupadíssima hoje e quero ver se você realmente vai

conseguir fazer que os meus fios de ouro brilhem como o sol em seu ponto

máximo de força e vigor.

- Como Sol e com ajuda das demais estrelas ao seu redor!

- E qual é a outra?

- Formei uma equipe que também cuida da estética animal.

- Isso é brincadeira!?

- Não minha queridíssima Esnobina, tenho em mãos todo o catalogo. Dê uma

olhadinha e veja que até Riqueta irá brilhar ao seu lado, lógico que em

proporção menor, pois sua beleza é inimitável.

- Eu já levei a Riqueta hoje no salum da Marieta Espul.

- Imagine meu estilo Society ligado também nesta nova área.

- Lógico que vai arrasar. A Riqueta vai tomar outro banho de beleza hoje!

- Minha equipe está lá no furgão posso chamá-los?

- Oh, sim, pensei que já estivessem aqui. Quanto mais rápido melhor, mande-os

correr, pois as horas não esperam.

- Eles virão a jato condessa.

- Franque que eles venham com toda rapidez, mas lógico que também com o

maior cuidado, pois o piso importado da Itália não pode ser danificado.

O produtor de divas tentar discar de seu celular, mas não consegue e por diz a

condessa:

- Meu celular está descarregado, veja só peguei a bateria errada, foi uma pequena

falha de sincronia, será que posso usar seu telefone?

- Rápido Franque, já deveria ter usado.

Franque faz a ligação e fala com sua equipe que já estava a postos para essa

lucrativa missão.

- Deise entre com a equipe, temos urgência no serviço.

- Depois de duas horas esperando ainda existe urgência?

- Bobinha, parece que não esta acostumada com estas situações, venha depressa e

traga as amostras dos cremes Franceses.

- Já estamos indo.

- Queridinha, por favor, venha voando!

- Tudo bem Franque. Até já.

Ao desligar o telefone Franque se dirige novamente a Condessa.

- Eles já estão a caminho e enquanto eles chegam estou aqui com meu novo álbum

de especialidades nacionais e internacionais, são o que tem de mais gran em

estilo de produção capilar do momento.

- Deixe-me ver.

- O que vossa excelência esta achando?

- Que lindo, venha ver também Riqueta, não dá para deixar de não ter dúvidas de

que jeito quero meus fios de ouro hoje.

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Na cozinha da mansão, além das labutas culinárias se desenvolve uma reunião extra

funcional para falar de assuntos pendentes ou pretendentes entre Clarice e Lílian.

- O que você acha?

- Acha o quê?

- Estou bonita?

- Sua beleza é bem própria de garotas sem juízo.

- Mas sou bonita, não sou?

- Não é nenhuma Luiza Brunet, mas dá pra ser cortejada.

- Você acha?

- Claro, qualquer pé de chinelo quer uma garota bobinha como você.

- Ainda bem que não levo a sério suas piadinhas.

- Devia levar, pois eu procuro tirar você do mundo da Lua.

- Você acha que eu sou uma adolescente?

- Não, sua cara já é bem velhinha pra está faze, mas age como se fosse uma.

- Quantas amigas como você alguém como eu pode ter?

- Eu sei lá.

- Pelo menos você se preocupa comigo.

- Claro você se parece muito com minha filha.

- Você não me disse que tinha uma filha.

- É porque procuro esquecer.

- Esquecer por quê? Se os filhos são as coisas mais importantes desse mundo.

- Quando não tem gratidão por aqueles que lhe deram a vida eles passam a ser o

alvo da borracha que apaga o que é indesejável da memória.

- O que ela fez?

- Fugiu com um cafajeste riquinho de um lugar onde trabalhei.

- Você não a viu mais?

- Depois que ele a largou eu a vi.

- E ai?

- E ai! Que não criou juízo mesmo, com três ursinhos nos seus pés ela não

endireitou, seu desejo por macho a fez ficar mais doida do que nunca.

- Vocês não se conversam?

- Claro que sim, felizmente quando ela foi embora da última vez nós estávamos

bem amigas, só que ela se foi e não me deu mais notícias.

- E ficou por isso mesmo?

- Depois já trabalhei em pelos menos cinco lugares: Porto Alegre, Florianópolis,

Cascavel e duas vezes em Curitiba e depois vim pra cá, ser escrava da Condessa.

- Você não tem saudades dela?

- Sim e ao mesmo tempo não, ela me deixava muito preocupada, agora pelo

menos minha preocupação é só com a comida e pra minha tristeza com você

também.

- Lílian acho que estou apaixonada.

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- O cupido te deu uma flechada Clarice?

- Você conhece aquele bonitão que vem arrumar o cabelo da condessa?

- O Franque? Sei não, cabeleireiro tem uma tendência meio estranha.

- Como assim?

- Cabeleireiro gosta de braços fortes, pela áspera e voz grossa minha filha.

- Você está sendo preconceituosa Lílian.

- Quisera eu ser o que você diz.

- Ele é diferente Lílian, amável, galanteador e se mostrou atencioso comigo.

- Todas as mulheres carentes como você caem facilmente na rede desses

pescadores, não podem ouvir um gracejinho que já se derretem mais rápido do

que sorvete de palito.

- Eu não sou tão fácil assim.

- Não parece, será que as pancadas que você tomou na vida não te deram uma

couraça que agüente as provações cotidianas?

- Você mal o conhece.

- Quando agente vive muito sobre essa terra começamos a ter faro mais sensível

do que um cão de caça, vai por mim minha filha esquece esse sujeito.

- Ele me deu seu telefone.

- Jogue fora, na sua vila deve ter alguém que possa se compadecer e se ajuntar

contigo.

- Ficar naquele lugar para o resto da vida? Cansei de ser pobretona, estou disposta

a tudo pra sair dela e vencer na vida.

- Vencer na vida se enroscando a um camarada efeminado? Você vai é pegar uma

doença ou parar na terra do pé junto.

- Nunca pensei que você fosse tão pessimista Lílian.

- Já vi mocinhas que nem você e seus contos de fadas virarem pesadelos do

tamanho desta mansão, sua bobinha.

- Que horas são?

- A mesma de ontem! São exatamente 21h50.

- Nossa até agora a Sra. Esmilhoneira não chamou, o que será que ela tanto faz no

cabelo? Dizem que o Franque é um artista neste ramo, mas não pensei que pra

fazer um penteado demorasse mais do que pra fazer uma cirurgia complicada,

mamãe teve de operar de um câncer e ficou 5 cinco horas na mesa da cirurgia e

agora fazem 6 horas que estão lá em cima, desse jeito eles estão criando cabelo e

não modelando.

- E daí, que fiquem uma semana lá, só assim a Condessa não torra nossa

paciência.

- Queria estar lá!

- Sua bobinha lugar de pobre é aqui onde nós estamos. Além disso não esqueça

que você tem obrigações. Chame os leões de chácara para jantar.

- Todos eles?

- Não, somente avise o Aguiar ele sabe quem mandar primeiro.

- Tudo bem, já estou indo.

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Depois de tanto bajular, mexer e remexer, desarrumar e arrumar o penteado da

condessa Esnobina ficou pronto e sua querida Riqueta também não ficou para trás, as

duas pareciam figuras do cinema, estrelas de uma peça teatral. Mas uma vez Franque

fez jus a sua reputação e com isso iria sair com o bolso forrado de verdinhas, ou melhor

com a conta bancaria mais um pouco rechonchuda.

- Não acredito Franque! Você fez um milagre. Eu e minha Riqueta estamos mais

lindas que a princesa Daiane.

- A minha felicidade é ver seu prazer, querida.

- Desta vez você se superou!

- Quando você não conseguiu escolher um modelo do meu álbum resolvi criar um

penteado que ninguém jamais usou. Isto é pra você ver que eu realmente sou um

produtor de deusas, de ninfas da alta sociedade e que não é por acaso que tenho

um grande e respeitável nome .

- Vou te dar uma gratificação extra por este fabuloso feito Franque.

- Agora também adotamos o cartão e o cheque eletrônico Sra. Esmilhoneira e

podemos parcelar em até cinco vezes.

- Espere um pouquinho deixe-me ligar para o Téo, ele é meu novo secretário e vai

acertar tudo.

Ela ligou para o secretário.

- Pois não.

- Téo o Sr. Franque realizou um serviço maravilhoso pra mim e ele vai ai

acompanhado de Joselito e da mesma maneira que deste a Xavier aquela

gratificação, dê também a Ele. E se apronte, pois estamos atrasados para a festa

que vai ser abalada pelo meu resplendor. Tchau.

- É isto ai Franque, o que eu estava querendo vai acontecer, vou arrasar hoje.

- Precisando é só me ligar ou enviar um e-mail.

- Vou precisar de você na semana que vem.

- Dependendo do dia.

- Na próxima sexta-feira.

- Sexta-feira que vem não vai dar, eu tenho já agendada a Sra. Aparecida

Montargue.

- O quê você vai me desprezar em troca desta perua?

- Ela me agendou há cinco meses atrás Sra. Esmilhoneira.

- Eu pago o dobro que ela.

- Não tenho o costume de desmarcar e nem colocar alguém na frente de quem esta

agendada, meus compromissos com minhas clientes são pra mim honra e nem

por ouro ou por prata eu poderia deixa-la a espera do produtor de divas e dar

ocasião de falar uma unha se quer de minha reputação que é conhecida até na

outra América, isso é uma questão de ética.

- Ninguém diz não pra mim Franque.

08

RIQUETA A GRANDE AMIGA

19

- Eu não disse não, disse que não tenho costume, mas Sra. pode me ligar na terça

e podemos conversar. Com sua permissão tenho que ir.

Nesta hora o telefone tocou: Trim... Trim... Trim...

- Chamou Sra. Esmilhoneira?

- Sim, Joselito leve Franque até o Téo, eles tem algo que tratar.

- O levarei imediatamente Sra. Esnobina.

- Vá depressa, por favor.

- Adeus Sra. Esnobina.

- Até mais Franque.

- Agora que me lembrei que semana que vem temos a entrega do prêmio dos

Friisp´s do ano ( Famosos, ricos, importantes e inimitáveis da sociedade

paulistana) e a Cidinha vai estar lá com o penteado do meu cabeleireiro e só falta

ganhar o prêmio que por direito é meu.

- Au...au...

- Obrigada, Riqueta por suas palavras encorajadoras, elas me animam muito.

- Au...Au...

- Não acredito. Aquela... Aquela... Espere não posso ficar nervosa, me produzi

deste jeito para dar um show daqui a pouco, realmente não posso ficar nervosa, a

testa se contrai, a feição fica horrível, eu li uma reportagem que diz que quanto

mais sorrimos mais joviais ficamos, quanto mais mau humor mais a velhice se

aproxima.

- Au... Au...

- Apesar que já marquei a cirurgia plástica com Dr. Madureira pro mês que vem

antes de nossas férias... Nossa como estou atrasada...

Joselito chegou e disse:

- Sra. Esmilhoneira.

- Pois não Joselito?

- Felisberto e Téo estão aguardando a Sra. em sua Mercedes.

- Já estou indo, não se esqueça Joselito de ligar pra Tânia me trazer os modelitos

de verão pra minha viagem ao Caribe.

- Sim Sra. assim que a vossa Alteza se direcionar ao seu compromisso eu ligarei.

Deixe-me acompanha-la até a varanda.

- Obrigada Joselito estou pensando em leva-lo em minha viagem, pois não sei

fazer nada sem você.

- Estou ao seu Dispor Sra. Esmilhoneira.

PAULO FRANCISCO DOS SANTOS

20

Aguiar e Leonardo conversam e jantam na cozinha com a paroleira Lílian.

- Veja jogou uma fortuna fora com aquele cabelo que mais parece um ninho de

urubu!

- Pare com isso. Já pensou se ela sabe desse seu comentário, você vai para o olho

da rua.

- Não tenho medo.

- A última pessoa que falou isso, veio à semana passada ver se volta a trabalhar

aqui de novo.

- O que você acha Aguiar ?

- Você está certa Lílian, quem espera com paciência pode colher frutos maduros

agora o impaciente come tudo verde.

- É verdade Aguiar.

- Aprenda isso Leonardo.

- Não me conformo, ela prefere gastar uma fortuna com essa cachorra tola e com

esse cabelo feio, e com um bocado de baboseiras.

- Pouco ou muito você ganha alguma coisa, pior será não ter o que ganhar. Tenha

paciência e aguarde que daqui uns três meses eu peço novamente um aumento

salarial para nós todos e quem sabe ela não se comove com nossos esforços e...

- Aquele coração de pedra, se ela pudesse nós trabalharíamos de graça.

- Acho que você já desabafou demais volte para seu posto e não fique comentando

isso, digo para o seu bem.

- Sim, Capitão. Não tocarei mais no assunto.

Leonardo termina o jantar e volta para o seu posto, mas Lílian e Aguiar continuam a

conversa.

- Ele é bom segurança, somente é um pouco afoito, sem aquela experiência que

vem com o passar do tempo Lílian.

- No mundo o que existe mais é meninos com corpo de homem e meninas com

corpo de mulher e juízo que é bom nada.

- A condessa disse que vai viajar o mês que vem Lílian para o Caribe?

- Sim, e vai levar o Joselito.

- Isto não é de se admirar. Acho que ela não vive sem ele, não existe um serviçal

igual em nenhuma parte do mundo.

- Você é muito piadista Aguiar, Joselito apenas faz a parte dele.

- Não me diga que virou defensora do Joselito. Isto não está me cheirando bem.

- O que você quer dizer seu sem graça.

- Nada, nada. Sabe como é... Dois cinquentenários carentes...

- Saia daqui seu... Seu...

Aguiar sai rindo da cozinha com sua visão biônica e Lílian ao fechar a porta olha para o

teto e suspira: - Até que não seria uma má idéia!

09

RIQUETA A GRANDE AMIGA

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Parece que a vida reserva surpresas e os meninos e meninas se encontram:

- Oi, qual é o seu nome?

- Por que você quer saber meu nome?

- Porque gostaria de te conhecer melhor.

- Meu nome é Clarice e o seu?

- Leonardo, ao seu dispor.

- Não sabia que os seguranças eram cavalheiros.

- Se você me der uma chance posso te mostrar ainda mais do que você pensa.

- Não estou a fim de você.

- Que fora! Talvez nós possamos ser bons amigos, não precisa falar dessa

maneira.

- Eu conheço esse tipo de cantada.

- Não pensei que você fosse tão brava.

- Não sou só mordo quando me tiram do sério.

- Até que eu ia gostar de uma mordidinha!

- Ah... Ah... Você é bastante insistente.

- Ouvi dizer que quem não arrisca não petisca, e que se não derruba uma arvore na

primeira machada.

- Posso pensar!

- E que dia tenho a resposta?

- Quando eu quiser dar é lógico!

- Assim meu coração vai desfalecer.

- Quero ver se você é insiste ou não.

- Espere... Deixa eu...

- Tenho que ir arrumar o quarto da Sra. Esmilhoneira antes que ela volte. Tchau.

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PAULO FRANCISCO DOS SANTOS

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Por volta das quatro horas da madrugada a condessa Esmilhoneira sem sono estava a

caminhar pela varanda pensativa, quando notou que Clarice vinha da cozinha, pois

havia ido tomar um copo com água e o remédio antiestresse que foi receitado há apenas

dois dias atrás. Logo ela a chamou autoritariamente como sempre. Pobres... Pobres que

quando não trabalham se estressam e quando trabalham também se estressam... Que

vida hein!?

- Chame o Joselito urgente Clarice.

- Sim, Sra. Esmilhoneira vou correndo.

- Espero que não chegue depois de amanhã.

Alguns minutos depois aparece o eficaz mordomo.

- Pois não Condessa.

- Esta de pijama Joselito?

- Quando soube que a Sra. estava me chamando há essa hora levantei as pressas e

nem tive tempo de me vestir, pensei que estivesse tendo aquelas crises de

depressão.

- Quase isso, traga-me um anador a jato.

- Já passei na mini-farmacia e trouxe os remédios de depressão, inclusive o anador

está na maletinha de primeiros socorros, só falta à água.

- Obrigada Joselito, sem você não sei o que eu faria desta vida.

- Minha obrigação é servir condessa. Espere um pouquinho que vamos

providenciar as água.

- Por favor, Clarise vá buscar uma água sem gás.

Quando Clarice saiu tornou-se claro a questão da chamada urgente de Joselito – o

ombro amigo precisava entrar em ação.

- O que aconteceu? A sua apresentação não deu certo condessa.

- Não, foi maravilhosa, mas ela não estava lá pra se morder de inveja de mim! Isto

me deixou arrasada.

- Na próxima vez ela vai ver seu esplendor, não se preocupe.

- Ainda bem que a Riqueta vinha me consolando no caminho.

- Claro que Riqueta é uma amiga fenomenal, somente uma pessoa como ela

poderia dar o apoio que vossa excelência necessita.

- Lógico Joselito, mas mesmo assim sinto que a Cidinha vai me superar na

próxima festa.

- Deixe disso Condessa.

- Não, da outra vez quem vai arrasar na festa será ela.

- O que é isso, você sabe que não existe uma Friisp mais elegante e glamoriosa do

que a Condessa Esnobina.

- Oh! As tuas palavras me consolam Joselito, estou me sentindo melhor!

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RIQUETA A GRANDE AMIGA

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- Erga a cabeça! Princesas como você não podem curvar-se ao ridículo ponto de

se humilhar para qualquer peruazinha com as penas caídas.

- Vá até a garagem e converse com o Felisberto e Téo, pois na minha ira acabei

dispensado eles dois, mas vejo que estava somente com a cabeça quente e eles

ainda me são muito úteis, diga que eu os readmiti e amanhã o Felisberto tem que

buscar a tia Marieta as 09:00 hs no aeroporto internacional.

- Tudo bem condessa.

- Estou exausta, vou descansar.

Mal findou a conversa quando Clarice chega com uma noticia que multiplicou o

estresse da Sra. Esnobina.

- Sra. Esmilhoneira o Conde Aranha esta no telefone.

- Às cinco horas da manhã?

- Sim Sra. e parece que é urgente.

- Esse idiota só liga em horas inoportunas, diga pra ele que eu morri, sendo ele

meu ex, fica sem importância pra mim.

- Ele disse que é caso de vida ou morte.

- Olha aqui sua empregadinha de última categoria, se você não é surde ou tem

algum problema mental diga a ele que meu advogado tem tempo pra ouvir eu

não. E tem mais Clarice, se você voltar a me falar desse idiota eu vou te mandar

embora.

- Sim, Sra.

- Suma da minha frente agora.

- E você Joselito, traga meu tapa olho e uns dois calmantes.

PAULO FRANCISCO DOS SANTOS

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Você sabe quem foi escolhida como a Friip do ano? Não, não foi a Esmilhoneira.

Também não, não foi a Cidinha. Para deixar a nossa protagonista louca de raiva as duas

foram escolhidas como as Friip´s do ano e foram homenageadas com toda sorte de

cumprimentos e fotos e mais fotos foram tiradas das duas divas da sociedade paulistana.

Imagine o estado de nervos da Friip do ano.

- Joselitooo!

- Pois não condessa.

- Depois de ontem não estou pra ninguém. E se alguém aparecer para me

cumprimentar pela escolha do Friip´s do ano diga que morri.

- Essa mulher morre mais que tudo. Pensou ele.

Depois de uma semana de mau humor a condessa levantou em uma bela manhã e

disse ao telefone:

- Felisberto prepare o carro, nós vamos as compras.

- Sim Sra.

- Dois segundos para ele estar parado diante da varanda.

Em dez segundos e três milésimos ele estaciona a BMW blindada a espera da

condessa.

- Quando você irá adivinhar meus pensamentos Felisberto e chegar no horário que

proponho? Dez segundos e três milésimos é muito devagar. E falando em

devagar Téo também está demorando hoje.

- Ele já está vindo Sra.

- Não o defenda Felisberto. Vocês sempre encobrem os erros um do outro. Se não

fosse tão difícil encontrar funcionários de confiança vocês estariam trabalhando

em outro lugar.

- A Sra. tem completa razão.

- Cale-se. Riqueta está incomodada com sua voz. Você ganha para dirigir e não

para falar.

Antes de terminar a frase chegou Téo que ao entrar no carro pediu suas costumeiras

desculpas a Condessa que apenas ignorou dizendo que também se calasse e fossem

rapidamente ao centro Esnobe de compras, os quatro na BMW e o os dois seguranças no

celta atrás. Depois de horas andando e comprando os quatro homens estavam cheios de

pacotes a carregar obedecendo às implicâncias de Esnobina que recordara que iria

participar de uma festa na casa do barão do café na cidade de Ribeirão Preto e como

costume observou que já estava atrasada. Dessa vez para chegar a tempo teria que ir de

helicóptero e por isso apressou seus servos a irem mais depressa aos automóveis.

Quando eles chegavam aos seus carros algo terrível veio a acontecer, os quatro

carregadores de pacotes foram abordados por homens encapuzados e foram dominados.

Os cinco elementos mostraram que vieram fazer um serviço especial—seqüestrar. Você

pode dizer bem feito, a ricona chata merecia ser seqüestrada. Ou também pode ficar

com dó e dizer pobre Esmilhoneira, apesar de ser tão esnobe e bruta não merecia essa

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RIQUETA A GRANDE AMIGA

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tão terrível atrocidade. Espere um pouco. Quem lhe disse que ela foi seqüestrada? Os

seqüestradores levaram Riqueta. Você pode então imaginar o desespero da Condessa.

Tocaram no ponto fraco da milionária, levaram sua melhor amiga. E agora?

PAULO FRANCISCO DOS SANTOS

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Ao chegar à mansão a Condessa Esnobina aos prantos se refugia nos ombros de seu

fiel escudeiro.

- Joselito eles levaram Riqueta.

- Quem levou?

- Não sei. Quando nós voltávamos das compras e as mãos de Téo, Felisberto,

Geraldo e Ricardo estavam ocupadas com os pacotes cinco encapuzados nos

abordaram e levaram Riqueta.

- Mas Geraldo e Ricardo não fizeram nada?

- Estes incompetentes não fizeram nada. Também pudera as mãos estavam

ocupadas.

- O que a policia disse?

- Eles disseram que se a policia fosse informada desse seqüestro eles iriam matar

Riqueta. Depois destas palavras Esmilhoneira desabou a chorar

desesperadamente.

- Não fique assim Condessa, Riqueta há de voltar.

- Sim, Joselito. Eu pagarei o que for necessário — Mal terminou de falar o

telefone tocou. E quando Joselito atende o telefone ouve a voz de um dos

seqüestradores que pede para falar com a Condessa que tremula fala:

- Sou eu mesma. Pode falar.

- Não entre em contato com a policia. Siga nossas instruções e sua amiguinha logo

estará de volta ao seu lar.

- Por favor, não façam nada com minha princesinha.

- Faça o que mandamos e nada irá acontecer com ela.

- O que vocês querem?

- Calma Condessa. A pressa para rever sua amiguinha é tão grande assim?

- Claro! Ela nunca ficou tanto tempo longe de mim.

- Que coisa terrível! Brincou o seqüestrador. Faz apenas três horas que ela está

sobe nosso poder.

- Diga logo o você quer?

- Você tem quarenta e oito horas para colocar uma mochila escolar com cento e

cinqüenta mil reais na lata de lixo dentro do cine quatro no Shoppim Alfanobre.

Entendeu?

- Sim.

- Faça isso e verá novamente sua amiga.

- Mas tudo isso?

- Você deveria dizer só isso. Nós sabemos que você tem muito dinheiro. Como

somos seqüestradores de classe vou aumentar o resgate.

- Mas...

- Cale-se condessa. (dá pra imaginar a ira que este cidadão provocou na condessa

Esnobina ordenando-lhe que se cala-se).

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RIQUETA A GRANDE AMIGA

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- Silêncio.

- Além do dinheiro coloque dois vinhos franceses da safra de 1890 que você

possui na sua adega particular e numa caixinha embrulhada para presente sua

tiara florida datada de 1800, lembrança do ducado português e Castelhano.

- Como você sabe?

- Não se deve relatar o paradeiro dos pássaros para que eles não sejam

engaiolados baronesa... ops, duqueza... quão difícil é conversar com nobres.

Perdoe meus erros.

- Se acontecer alguma coisa com minha princesa você...

- Calminha. Lembre-se que o dinheiro compra tudo.

- Tudo bem.

- Acho que seu amor por Riqueta é maior do que o amor por seu dinheiro

Condessa. Ao terminar essa frase o seqüestrador soltou uma gargalhada e

desligou o telefone.

PAULO FRANCISCO DOS SANTOS

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Com apenas um telefonema o dinheiro já estava na mansão dos Scaporetto em

menos de uma hora. A Condessa tinha um amor singular por sua cachorra e se sentiu

aliviada pela quantia não ter sido maior, pois com toda certeza ela a desembolsaria. As

quarenta e oito horas foram as mais longas que vossa alteza passaram durante estes

últimos tempos. O esplendor do condado Esnobil estava abalada e a frase que mais se

ouvia era: Foi-se o brilho deste lugar! Esmilhoneira não cansava de repetir esta frase

que encheu o ar daquele lugar de uma melancolia fantasmagórica. Na última tentativa

de repousar e viajar nos braços do sono os gritos por Riqueta invadiram cada centímetro

da mansão saindo inclusive na direção dos seguranças nos seus respectivos postos junto

ao muro que separava os Scaporetto do mundo paupérrimo dos menos ricos (visinhos).

A beira da loucura se encontrava nossa protagonista. Não é pra menos, ela estava

vivendo um amor platônico! Ou plutônico!? Muito bem. Só um psiquiatra poderá dizer

e como não estamos com um disponível no momento deixemos estas conclusões para o

dia e hora da verdade. Verdade?

Quando o relógio dizia que faltavam duas horas para o termino das quarenta e oito

horas Clarice foi enviada a missão de levar o resgate ao Shopping Alfanobre. Como a

ordem do seqüestrador era para a mochila ser colocada no minuto exato que completava

as quarenta e oito horas Clarice ficou quase que uma hora e quinze minutos de olho no

relógio de mochila no colo e se tremendo de medo. O minuto chegou. Clarice depositou

a mochila na lata de lixo dentro do cine quatro cinco minutos antes do inicio da sessão

da nova produção Hollywoodiana: Os explorados do Sul. Ela saiu antes do filme ser

exibido. Entrou na Mercedes da patroa e juntamente com Felisberto voltou para mansão.

E Riqueta(?), você irá me perguntar. Eles cumpriram a parte do trato. Três horas mais

tarde ela apareceu em uma clinica veterinária nas proximidades do Shopping Alfanobre.

Acredito que você irá despejar uma serie de perguntas como: Depois disso a policia não

foi contatada? Foi. E prenderão os ladrões, salafrários e seqüestradores? Não. Mas por

quê? Meu caro leitor quantos casos você já leu que não tiveram solução? Tenho

absoluta certeza que tu dirás: vários! Acrescente mais um e fim de papo. E como nossa

anfitriã já um tanto problemática não quero ir muito adiante neste contexto sequestral.

Acredito que você já ouviu dizer que detalhes de certos crimes ajudam outros e etc.

como deves ter percebido estou saindo de fininho. Tchau. Vamos para o outro capitulo.

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RIQUETA A GRANDE AMIGA

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Com Riqueta em casa e quase feliz Esmilhoneira preparou uma festa daquelas. Sua

intenção era mostrar que não ficou abalada com esse seqüestro relâmpago e a exigência

desse resgate que levou uma querida jóia de família. Pelo menos esse seqüestro faz

parte do passado da Condessa e disso ela faz questão de falar:

- Joselito esse acontecimento horrível não deve ser mais mencionado neste lugar.

- Não falarei mais nisso.

- Tenho certeza que não.

O telefone toca neste instante e Joselito o atende.

- Joselito mordomo da família Scaporetto a seu dispor. Sim. Espere um momento.

- É da segurança condessa e eles informam que acabou de chegar o Sr. Franque

com sua comitiva.

- Mande-o entrar, pois quero estar brilhando hoje com minha descomunal festa.

Antes da viagem para o Caribe que será realizada sem falta depois deste sufrágio

doloroso... Lágrimas começam a correr dos olhos de Esmilhoneira. Clarice

querendo agradar chega oferecendo um copo com água e é posta pra correr aos

berros, pois em vez de água com gás trouxe água mineral. Pobre Clarice. Alguns

minutos depois Franque entra e gasta um tempo colossal para poder cobrar mais

e assim satisfazer os efêmeros desejos de Esnobina. A festa iria ser de uma

repercussão sem igual no meio da sociedade paulista.

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PAULO FRANCISCO DOS SANTOS

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Apesar de trabalhar a algum tempo com a esnobe Esmilhoneira Clarice não se

acostumou com o jeito explosivo e mandão de sua patroa, que nasceu em berço de ouro,

mas nos seus excessos demonstra menos educação do que quem nasceu em berço de

papelão. Neste momento nossa audaz camareira afoga suas angustias e sonhos com o

candidato a mordomo do ano, Joselito.

- Diga com quem tu andas que te direi quem tu és!

- Meu pai sempre me dizia isto, eu só quero saber quem ensinou essa bruxa dar

coices.

- Aprenda comigo Clarice, já te disse varias vezes que o segredo da mordomia é

ter paciência.

- Tenho um compromisso serio hoje à noite.

- Não vai me dizer que vai namorar o Leonardo.

- Como você sabe.

- Olhares derretidos são facilmente detectados.

- Ele é legal, estou até indecisa.

- Não sabe se escolhe ele ou o Franque.

- Você é uma espécie de Adivinho?

- Quando vi o cartão do Franque sobre sua cabeceira manchado de batom tive

uma revelação.

- Você é muito observador.

- Nessa profissão temos quer pensar na velocidade da luz e saber o que a patroa

quer antes dela pedir.

- O quê você acha?

- Garota, Garota vê se não vai se decepcionar de novo.

- Eu não quero, mas como eu posso saber quem vai ser meu herói se não escolher.

- Às vezes o tempo é a melhor escolha.

- E se eu ficar pra titia.

- Melhor ser titia do que uma creche ambulante.

- Estou confusa, você e Lílian me dão muitos conselhos, mas às vezes acho que se

não encarar a situação vou ficar doida.

- Com a viagem da Sra. Esmilhoneira você vai esfriar a cabeça.

- O quê quer dizer com isso?

- Que ela escolheu você pra acompanha-la no roteiro do Caribe.

- Não acredito!

- Pode acreditar, tem dois meses pra pensar.

- Vou conhecer o lugar que nunca sonhei em ir.

- Faz dois dias que ela me mandou falar pra você, só estava esperando a

oportunidade para ver você fazer esta festa, gosto de te ver sorrindo.

- Obrigada. Isso tem seu dedinho!

- Estou já velho e não gosto de andar de avião, como sei que sua juventude e

energia podem ser mais aproveitáveis do que minhas constantes dores de coluna

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RIQUETA A GRANDE AMIGA

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e de cabeça causada pela sinusite, achei por bem oferecer minha vaga a você. E

como o seqüestro de Riqueta ajudou a decisão da Condessa não se alterar, espero

ver suas fotos estampando está sua maravilhosa felicidade Clarice.

- Não esperava tanto.

- Você tem duas semanas pra se preparar.

Depois desta tão formidável noticia Clarice se lança aos braços de Joselito e

descarrega uma dúzia de beijos. Ela irá realizar uma viagem inesquecível.

Inesquecível por dois motivos: irá conhecer um dos lugares turísticos mais

requisitados do mundo e por que também irá suportar sozinha as crises da sua

boazinha patroa.

PAULO FRANCISCO DOS SANTOS

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A festa da Sra. Esnobina foi um show como de costume. Ela não a realizou em casa,

mas no salão de convenções do Palacetus Luxuosus na paulista. Gente famosa foi vista

a todo instante nesta deslumbrante festa que serviu de capa para revista Afortunadas

Celebridades. O que não faltou neste dia foram também os jornalistas desta área tão

restrita. Ao ser entrevista pela revista sobre a causa desta tão esplendorosa festa a

Condessa respondeu: A festa é uma homenagem a minha maravilhosa amiga Riqueta. O

que para os famosos foi um show e a capa da revista estampava o seguinte título: O que

a amizade não faz! Esmilhoneira e Riqueta as duas musas na capa a sorrir. A única coisa

que incomodou a Sr. Esmilhoneira foi o fato de Cidinha não ter comparecido a sua festa

para se morder de inveja. Ao terminar a festa de gala todos se foram. Cumprimentaram

a Condessa e Riqueta não podendo ver a frustração que faz a falta de uma inimiga em

horas de exaltação. Ao chegar na mansão Esmilhoneira recebeu seu tapa olho para

desfrutar de um repouso que iria lhe servir de consolo para decepção da noite anterior.

Ela sonhou humilhando Cidinha de uma forma tão maravilhosa que quase não acordou

mais. Sim ela fez esforço para não acordar, mas sonho é sonho, ele acaba. Às três horas

da tarde a condessa Esmilhoneira acordou mal humorada, pra variar... Ela percebeu que

tudo que havia acontecido foi um sonho. Ela tinha então de distrair a cuca, pois acordar

e ver que Cidinha ainda não tinha caído aos seus pés era terrível. Resolveu se arrumar e

saiu para comprar alguma besteirinha para distrair e fazer o tempo passar. Nesta tarde

preferiu de tão mal humorada que estava sair sem Riqueta e o chofer. Depois de

algumas horas no declinar do dia ela voltou e grandemente irada gritou com seu

mordomo:

- Chame o Aguiar Joselito.

- Estou chamando Sra. Esmilhoneira.

- Diga pra ele vir correndo.

Mais rápido que uma bala Joselito não somente deu o recado, mas o empurrou o

chefe da segurança em direção a dona do mundo... Particular é claro.

- O que aconteceu? Perguntou Aguiar.

- Quando estava preste a entrar um maltrapilho aproveitou pra me importunar.

- Ele fez alguma coisa com a Sra.?

- Claro que sim, com aquele fedor de gente podre suplicou por dinheiro ou um

prato com comida.

- Ele quebrou o vidro do carro?

- Não. Eu queria sentir o frescor da brisa e vinha com ele abaixado, mas isto não

importa. O que realmente importa que aquilo me incomodou.

- Este maltrapilho é um barbudo que se traja com um terno velho preto.

- Não sei como você identificou que aquele monte de trapo já foi um terno.

- Às vezes ele vem na porta da mansão e pede um pouco de comida.

- Pede o quê?

- Ele pede o mesmo que lhe pediu hoje, um prato com comida pelo amor de Deus.

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RIQUETA A GRANDE AMIGA

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- Esses sujeitos roubam, usam drogas, não querem trabalhar e ainda usam o nome

de Deus pra lhes favorecer nesse caminho errado.

- Disse a Lílian que preparasse algo pra ele com o que sobrou de ontem à noite.

- E quem deu autorização para lhe dar alguma coisa.

- Quando se pode fazer uma boa ação não é bom negar.

- Desde de quando Aguiar você foi nomeado a patrão aqui?

- Desculpe condessa, não quis ir além de minha função.

- Mas foi seu... seu...

- Eu só queria ajudar!

- Sem câmeras por perto? Sem poder ser descontado no imposto de renda ou sem

ser vista por alguém para me parabenizar por isso?

- É uma vida necessitada Sra. Esmilhoneira.

- Saiba de uma coisa eu não quero esse tipo de gente na minha porta e também

não quero ajudar ele a ficar pedindo, você dá hoje ele volta amanhã, e assim nós

somos culpados de manter vagabundos na ativa.

- Sra. ele está esperando...

- Eu já te disse que não! Mande esse vagabundo trabalhar.

- Sim, Sra.

- Depois de despachar esse pedaço de carne podre ambulante, traga-me a forbes,

ou melhor, diga a Joselito para me traze-la, eu a deixei dentro de minha

Mercedes.

O celular da condessa começa a tocar e ela o atende.

- Quem é?

- Sou eu condessa.

- Que bom que é você Joselito, pois havia mandado recado para me trazer a

Forbes (revista), que está na minha Mercedes.

- Sim, vou busca-la imediatamente.

- O que você quer, por que me ligou se já estou dentro da mansão?

- Seu segundo eis... Está na recepção e gostaria de uma audiência ainda hoje.

- Esses meus eis... Balançou a cabeça negativamente e completou a frase. Diga

pra ele que o banco fechou e que somente lá pra semana que vem eu posso ter

um tempinho pra ele.

- Mas ele diz que é urgente, madame.

- Você é surdo Joselito? Dê um jeito nele.

- Sim, condessa. Chamarei os seguranças, pois ele disse que não arredaria o pé

daqui se não conversasse contigo.

- Faça o necessário.

Com um ar de grande alegria por ter despachado mais um de seus ex-maridos ela fez

um gesto como se tivesse recordado de algo muito importante e disse:

- Já ia me esquecendo Joselito. Eu estava conversando com Riqueta e ela me disse

que estava com muita fome.

- A Sra. quer que eu faça o de sempre?

- Não, ela hoje quer um pouco mais. Faça uns três bifes bem acebolados.

- Em alguns minutos estarão em seus aposentos condessa.

- Joselito!?

- Sim, Sra.

PAULO FRANCISCO DOS SANTOS

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- Eu pensei que você diria em alguns milésimos de segundos, pois eu quero isso a

jato. Gritou com voz recalcitrante.

RIQUETA A GRANDE AMIGA

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Enquanto o membro da antiga e atual oligarquia paulistana brasileira dá seu show

por causa de um prato com comida, Clarice que já está envolvida amorosamente com

Leonardo um dos seguranças da mansão conta a ele as novidades:

- Vou ter que ir viajar Leonardo.

- Você vai me deixar?

- Isso faz parte de meu emprego.

- Que é isso, daqui a pouco vai ter que morar em outro país.

- Se for necessário eu irei.

- E nosso amor?

- Não seja infantil, temos bastante tempo pela frente e acho bom nós repensarmos.

Devemos analisar se nosso compromisso será oportuno para nossas vidas.

- Virou a cabeça, né!

- São apenas sessenta dias.

- Que vão me deixar arrasado.

- Desse jeito você comove meu coração.

- Com quem vão ficar suas crianças?

- Com minha mãe é lógico.

- Você é uma mãe desnaturada.

- E você um bobo de terno e revolver na cintura.

- Fique sabendo de uma coisa eu não quero mais saber de você.

- Procure então outra tola pra ficar rastejando aos seus pés, porque a mamãezinha

aqui já foi liberta do tempo da pedra.

- Pra mim você nunca foi uma escrava.

- Eu sei!

- Pra mim você sempre foi uma princesa.

- Não fale assim.

- A mulher mais linda do mundo.

- Oh! você está me magoando.

- E você não está me magoando também?

- Você não entende isso vai ser bom pra mim.

- Tudo bem, mas por favor me dê o último beijo.

- Por que o último? Eu vou voltar.

- Cale a boca e deixe eu te beijaaar.... Ele a segura em seus braços e com

determinação e ar apaixonado lhe dá um beijo tão acalorado que ela parecia mais

um sorvete ao sol de meio dia—derreteu-se toda.

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PAULO FRANCISCO DOS SANTOS

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O dia tão esperado chega e a viagem ao Caribe irá marcar a vida da condessa

Esmilhoneira e de sua querida amiga Riqueta.

- Chegou a hora da viagem e até agora não tive tempo de ir comprar os filmes e as

fitas pra filmar a viagem.

- Não se preocupe Condessa já providenciei tudo.

- Você não é deste mundo Joselito.

- Obrigado, mas vivo pra te servir e servir bem Condessa.

- Clarice vamos para a viagem dos sonhos de toda Cinderela.

- Estou ansiosa.

- Eu também ficaria, escute você não esqueceu seu passaporte?

- Não todos os documentos estão aqui.

- Está bem, podemos ir.

- Vamos Felisberto já estamos atrasados, temos que chegar no horário pra passar

no check-in a tempo e somente vamos conseguir se você ir voando.

- Aperte o sinto e veja como sua Mercedes corre Sra. Esnobina...

Felisberto com o espírito de piloto de formula 1 ativado sai a toda, desrespeitando

faróis, placas, radares e etc. quem pagará a conta não é ele mesmo. Que mau exemplo,

não?

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RIQUETA A GRANDE AMIGA

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Depois de duas horas dentro do silencio da ausência da condessa na mansão

Scaporetto o telefone toca: - Trimmm... Trimmm... Trimm...

- Alô, Joselito mordomo da Família Esnobina a seu dispor.

- Sou eu Joselito.

- Condessa o que aconteceu, pensei que a Sra. estivesse em pleno vôo.

- Não deixaram a Riqueta me acompanhar no vôo, estou nervosíssima.

- Mas animais não podem ficar juntos com os passageiros.

- Eu não me conformo Joselito com que fizeram com minha princesinha veja só

como ela esta triste. Ela coloca a cachorra para latir ao telefone:

- Au... Au... Au...

- Você a escutou dizendo que se sente humilhada.

- Sim Sra. Esmilhoneira seu latido parece triste

- Ela até chorou Joselito.

- Oh que coisa terrível.

- É verdade e isso não pode ficar assim procure o telefone do Comandante

Rodadim, eu terei que fretar um vôo só pra mim, pois não deixaria minha

Riqueta sozinha nem um segundo numa caixa no porão de algum avião.

- O Telefone é 7X79-A89T.

- Tchau já... Já retorno a ligar.

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PAULO FRANCISCO DOS SANTOS

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Trimmm... Trimmm... Trimmm...

- Alô, Condessa.

- Como sabe que sou eu Joselito?

- Li seus pensamentos.

- Consegui vou viajar as 22h00 e por enquanto estou aqui no hotel Vila do Ouro

ao lado do Aeroporto qualquer coisa me liga meu telefone é....

- Se alguém...

- Lembre-se do que lhe disse pra qualquer efeito eu morri e já fui enterrada.

- Sim, entendo.

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RIQUETA A GRANDE AMIGA

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Passados os três meses a Sra. Esmilhoneira Esnobina chega no aeroporto de preto,

magra e inconsolável.

- Oh! Joselito eu sou culpada.

- Não fique assim Condessa.

- Ela queria vir embora, mas eu disse que deveríamos ficar mais e curtir os

callientes tempos no Caribe.

- Mas e agora?

- Trouxe o seu caixão lacrado por que ela ficou muito feia.

- O que aconteceu ?

- Quando nos íamos no iate La Rica para a Ilha particular do Sr. Gasperito

Gonzáles... Oh! Minha querida como você me faz falta....depois de nos

afastarmos do porto uns 40 quilômetros ela caiu na água e não notei sua falta,

pois quando a vi pela ultima vez estava dormindo na suíte.

- Você estava aonde?

- Do lado do capitão observando a paisagem e conversando... Você sabe que sou

apaixonada por barcos... Oh! Joselito... Quando me dei conta foi tarde de mais.

- E o resgate não foi acionado.

- Sim, mas ela se perdeu, foi achada cinco dias depois.

- Por que não nos ligou condessa?

- Fiquei tão confusa que não me lembrei de ligar para você Joselito. Só lembrei de

ligar avisando que eu vinha com essa tão grande tristeza.

- Eu é que deveria estar lá no lugar dela! Eu sou culpado, pensei que essa viagem

iria fazer bem pra ela.

- Oh! Joselito você sempre tem palavras pra me confortar.

- Onde ela está!

- Já vem, tive muito trabalho pra traze-la tive de acionar o consulado e até abonar

uns oficiais pra me liberarem o corpo o mais rápido possível.

- Oh! Meu Deus ela tinha quatro filhos.

- O que disse Joselito?

- Que ela tinha...

- Ora você esta viva Clarice?

- Lógico que sim, quem disse que não estava?

- Eu pensei...

- Que tinha sido eu? Ora você já viu a Condessa ter amor por uma pessoa como

ela tinha por aquela cachorra?

- Foi Riqueta que morreu?

- Infelizmente sim...

- Que coisa terrível, o mundo acabou pra ela!

- Acho que acabou foi pra cachorra isso sim...

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PAULO FRANCISCO DOS SANTOS

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Ao chegar a Mansão Esnobina Clarice foi direto para sala de reuniões locais... A

cozinha contar e saber as novidades.

- Oi Lílian, como vai?

- Eu vou bem e com bastante saudades suas Clarice.

- O que aconteceu de bom?

- Muitas coisas?

- Conte pra mim.

- Depois de você contar as suas.

- Esta bem a viagem foi assim...

- Nossa você tem experiências pra contar até para seus tataranetos.

- E findou a nossa viagem com a morte da Riqueta.

- Que coisa, nunca pensei que a deusa da Condessa fosse morrer assim.

- Nem eu mas na vida pode acontecer de tudo.

- Onde está o Leonardo?

- Pediu a conta.

- Pediu o quê?

- Ele não está mais trabalhando aqui.

- Não acredito.

- Não é preciso de fé pra notar isso, pensa que não vi você o procurando em todo

o jardim e pedindo para o novato ir procura-lo.

- Minha nossa, hoje não é o meu dia. Liguei para o Franque e quem atendeu disse

que esse número não pertence mais a ele e o Leonardo não trabalha mais aqui.

- Essas não são as piores notícias.

- O quê você quer dizer com isso?

- Algo que vai te abalar.

- O quê aconteceu?

- Sente pra não cair de costa.

- Diga-me logo Lílian, por favor.

- O Franque e o Leonardo resolveram viver juntos e mudaram para Curitiba.

- Não creio. Como eles puderam fazer isso comigo.

- Não fique assim!

- Acho que vou ficar pra titia mesmo...

- Não chore você tem uma vida inteira pela frente...

- Confiar em quem? Se os homens estão competindo nesta luta pelo amor.

- Só o tempo pode ajudar...

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RIQUETA A GRANDE AMIGA

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No enterro da amiguíssima da Condessa Esnobina Clarice fica de boquiaberta vendo

o luxo e ao mesmo tempo reclamando do desperdício de tempo e dinheiro doado a um

animal.

- Veja só Joselito as pessoas vem dar seus pesares pela morte de uma cachorra.

- São amigos da Condessa e não poderiam deixar de comparecer a essa cerimônia

fúnebre.

- Se isso tivesse acontecido comigo ela talvez nem choraria e os únicos que

compareceriam ao meu enterro seriam minha família, você e Lílian.

- Também não é desta maneira Lílian você sabe que lá no fundo ela gosta de você,

e não é hora de especular, o importante é que você está bem e tem muito tempo

pela frente.

- Animais custam caro, pessoas estão brigando para poder trabalhar para eles, a

diferença é essa.

- Daqui a pouco termina está cerimônia e nos voltamos aos nossos afazeres.

- Esse é o enterro mais chato que já participei.

- Chato ou não nos temos que estar do lado dela nessa hora tão difícil.

- Eu não acredito, ela está querendo pular na cova Joselito.

- A dor da perda é muito grande.

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PAULO FRANCISCO DOS SANTOS

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Epílogo

Na mansão a conversa ainda gira em torno do velório e sepultamento da cachorra

mais privilegiada que essa nossa história já conheceu.

- Você viu aquele sujeito falando do último latido?

- Isso faz parte de qualquer enterro canino.

- Se todo cachorro fosse tratado assim, não haveria mais espaço pra gente nos

cemitérios.

- Já se Passaram três meses e isso ainda parece novidade Lílian!

- Vocês devem se preocupar com outras coisas.

- Como assim, não entendi?

- Parece que a Condessa vai vender a mansão e dispensar os funcionários.

- Estou tão velha como poderei arrumar mais algum emprego.

- Ela me disse que vai fazer uma seleção e você esta incluída.

- Fortaleza te Espera.

- Não me acostumo em lugares quentes.

- Acredito que vai ser apenas por uma temporada.

- Ainda bem que nós vamos juntos.

- Lílian acho que somos muito velhos para...

- Nunca é tarde para amar seu mordomozinho lindo!

Quando os dois começaram a se beijar, subitamente Lílian olhou para o lado e disse:

- Escute! A Sra. Esmilhoneira está te chamando.

- Joselitooooo!

- Sim condessaaaaa! Depois de uma corridinha básica, Joselito esta diante de sua

querida patroa recebendo ordens e mais ordens.

- Faça um filé de peixe à la Carte com molho inglês e leve pro meu quarto.

- Que alegria é essa? Onde estão as suas roupas de luto.

- Temos gente nova no pedaço.

- Não estou te entendendo.

- Quando estava visitando o tumulo de Riqueta você não sabe quem encontrei.

- Quem?

- A Cidinha.

- Aquela perua aguada foi lhe incomodar num momento tão sagrado?

- Calma Joselito não bem o que você esta pensando. A principio pensei que viesse

me destratar, mas para minha surpresa me deu um caloroso abraço, suas

condolências e ainda elogiou meu modelito de luto.

- Então fizeram as pazes?

- A nossa inimizade veio a surgir por um acaso, algo que não dá nem pra...

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RIQUETA A GRANDE AMIGA

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Antes da condessa concluir a frase outro ser do reino animal toma conta da atenção.

Veja só, ops! Quero dizer, leia só.

- Miau...miau...miau...

- Vem para o colo da mamãe Filó!

- A Cidinha me presenteou com este lindo gatinho. Imagine ela o comprou na sua

última viagem à França e me disse que aqui no Brasil eu sou uma das doze

únicas Friisp´s que tem esta gracinha como amiga.

- Que bom que você já está melhor Condessa.

- Sim, estou renovada. Agora, vai, vai, corre r traga logo o filé de peixe para Filó,

pois ela está morrendo de fome.

- Em cinco minutinhos estou de volta Sra. Esmilhoneira.

- Agora que Joselito saiu vamos nos arrumar pra grande festa na casa de nossa

amiguíssima Cidinha, não é Filó.

- Miau...miau...miau...

- Estava pensando em ir morar em Fortaleza, mas acho que vou ficar por aqui

mesmo o que você acha?

-

- Prefere ficar calada sobre este assunto. Vou deixar nossa casinha de fortaleza pra

algumas temporadas, só quando estiver inverno aqui. Está bem minha

queridinha?

-

- Estou ou não estou linda queridinha? Eu quero arrasar hoje ...