PROMOÇÃO DA SAÚDE E AMBIENTE SUSTENTÁVEL · O Mundo da Saúde, São Paulo - 2012;36(4):539-540...

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Editorial O Mundo da Saúde, São Paulo - 2012;36(4):539-540 540 * Doutor em Teologia/Bioética. Pós-graduado em Clinical Pastoral Education and Bioethics at St Luke’s Medical Center. Docente do Pro- grama Stricto sensu em bioética (Mestrado e Doutorado) do Centro Universitário São Camilo, São Paulo. E-mail: [email protected] PROMOÇÃO DA SAÚDE E AMBIENTE SUSTENTÁVEL Esta edição da revista O Mundo da Saúde aborda a temática atualíssima e urgente da promoção da saúde e sua relação com o ambiente sustentável, assim como a crise ambiental, com consequências diretas à saúde humana, provocada pelo atual modelo de desenvolvimento da nossa sociedade, que tem causado impactos sobre o meio ambiente e sobre a saúde da população, tanto nos países desenvolvidos como nos em desenvolvimento. Partimos da premissa de que tudo o que faz bem à Saúde faz bem ao meio ambiente e tudo que faz bem ao meio ambiente faz bem à saúde. A promoção da saúde e o de- senvolvimento sustentável com justiça social são as bases do único futuro possível para o planeta e seus habitantes. Está mais do que na hora de unirmos as pontas e começarmos a trabalhar ambos os campos de for- ma integrada. A convergência entre saúde e sustentabilidade ocorre em vários níveis, a saber: a) no nível científico: conexões epidemiológicas entre saúde humana e o meio ambiente, de infecções até diabetes e câncer, da água à mitigação dos desastres da mudança climática; o exemplo do vegetarianismo; b) no nível de interdisciplinaridade: por exemplo, a importância do urbanismo e design inteligente sustentá- vel para a saúde na cidade; e c) no nível cultural: a natureza é uma força poderosa que une pessoas e coletividades ao planeta; uma nova perspectiva emerge abraçada pelas gerações mais jovens, que une ecologia e justiça. Não podemos esquecer que a natureza é um recurso precioso para a saúde humana, mas, para al- cançar esse objetivo, temos que nos organizar e implementar: a) uma nova cidadania – as decisões funda- mentais que cada um de nós precisa tomar pela sua saúde e pela sustentabilidade, de nosso papel como cidadãos, pais, trabalhadores e consumidores; b) uma perspectiva global – estamos aprendendo a relacio- nar nossa saúde não apenas ao meio ambiente local, mas à ecologia global e às questões de governança e equidade ligadas a ela e que demanda c) a participação e compromisso de todos – a convergência exige a participação em assumir com responsabilidade, seja em nível individual ou coletivo, para que construamos um futuro de esperança para a vida em geral e humana, em especial em termos de futuro. Lembramos aqui a Carta da Terra, que, ao apontar “o caminho adiante”, aponta para a necessidade de “mudança na mente e no coração”. Busca-se “um novo sentido de interdependência global e de res- ponsabilidade universal. Devemos desenvolver e aplicar com imaginação um modo de vida sustentável em âmbito local, nacional, regional e global. Nossa diversidade cultural é uma herança preciosa, e dife- rentes culturas encontrarão suas próprias e distintas formas de realizar essa sustentabilidade”. Esta edição se completa com a seção Documenta com três documentos. O primeiro é a “Decla- ração final por justiça social e ambiental”, da Cúpula dos Povos, realizada por ocasião da Conferência Rio +20 (15-22 de junho de 2012); o segundo é a “Declaração final do Acampamento Terra Livre – bom viver”; e o terceiro é a “Mensagem da CNBB sobre a Conferência Rio+20”. Finalmente, agradecemos ao Prof. Dr. Edison Barbieri, coordenador científico desta edição, por sua dedicação e competência acadêmico-científica em planejar, desenhar e revisar com os colaboradores (Peer review) o conteúdo temático de nossa publicação. Estamos seguramente diante de um conteúdo que nos ajudará a despertar para uma nova reverência frente à vida no planeta, bem como para um compromisso de alcançar a tão sonhada promoção da saúde com sustentabilidade ambiental. Leo Pessini*

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* Doutor em Teologia/Bioética. Pós-graduado em Clinical Pastoral Education and Bioethics at St Luke’s Medical Center. Docente do Pro-grama Stricto sensu em bioética (Mestrado e Doutorado) do Centro Universitário São Camilo, São Paulo. E-mail: [email protected]

PROMOÇÃO DA SAÚDE E AMBIENTE SUSTENTÁVEL

Esta edição da revista O Mundo da Saúde aborda a temática atualíssima e urgente da promoção da saúde e sua relação com o ambiente sustentável, assim como a crise ambiental, com consequências diretas à saúde humana, provocada pelo atual modelo de desenvolvimento da nossa sociedade, que tem causado impactos sobre o meio ambiente e sobre a saúde da população, tanto nos países desenvolvidos como nos em desenvolvimento. Partimos da premissa de que tudo o que faz bem à Saúde faz bem ao meio ambiente e tudo que faz bem ao meio ambiente faz bem à saúde. A promoção da saúde e o de-senvolvimento sustentável com justiça social são as bases do único futuro possível para o planeta e seus habitantes.

Está mais do que na hora de unirmos as pontas e começarmos a trabalhar ambos os campos de for-ma integrada. A convergência entre saúde e sustentabilidade ocorre em vários níveis, a saber: a) no nível científico: conexões epidemiológicas entre saúde humana e o meio ambiente, de infecções até diabetes e câncer, da água à mitigação dos desastres da mudança climática; o exemplo do vegetarianismo; b) no nível de interdisciplinaridade: por exemplo, a importância do urbanismo e design inteligente sustentá-vel para a saúde na cidade; e c) no nível cultural: a natureza é uma força poderosa que une pessoas e coletividades ao planeta; uma nova perspectiva emerge abraçada pelas gerações mais jovens, que une ecologia e justiça.

Não podemos esquecer que a natureza é um recurso precioso para a saúde humana, mas, para al-cançar esse objetivo, temos que nos organizar e implementar: a) uma nova cidadania – as decisões funda-mentais que cada um de nós precisa tomar pela sua saúde e pela sustentabilidade, de nosso papel como cidadãos, pais, trabalhadores e consumidores; b) uma perspectiva global – estamos aprendendo a relacio-nar nossa saúde não apenas ao meio ambiente local, mas à ecologia global e às questões de governança e equidade ligadas a ela e que demanda c) a participação e compromisso de todos – a convergência exige a participação em assumir com responsabilidade, seja em nível individual ou coletivo, para que construamos um futuro de esperança para a vida em geral e humana, em especial em termos de futuro.

Lembramos aqui a Carta da Terra, que, ao apontar “o caminho adiante”, aponta para a necessidade de “mudança na mente e no coração”. Busca-se “um novo sentido de interdependência global e de res-ponsabilidade universal. Devemos desenvolver e aplicar com imaginação um modo de vida sustentável em âmbito local, nacional, regional e global. Nossa diversidade cultural é uma herança preciosa, e dife-rentes culturas encontrarão suas próprias e distintas formas de realizar essa sustentabilidade”.

Esta edição se completa com a seção Documenta com três documentos. O primeiro é a “Decla-ração final por justiça social e ambiental”, da Cúpula dos Povos, realizada por ocasião da Conferência Rio +20 (15-22 de junho de 2012); o segundo é a “Declaração final do Acampamento Terra Livre – bom viver”; e o terceiro é a “Mensagem da CNBB sobre a Conferência Rio+20”. Finalmente, agradecemos ao Prof. Dr. Edison Barbieri, coordenador científico desta edição, por sua dedicação e competência acadêmico-científica em planejar, desenhar e revisar com os colaboradores (Peer review) o conteúdo temático de nossa publicação. Estamos seguramente diante de um conteúdo que nos ajudará a despertar para uma nova reverência frente à vida no planeta, bem como para um compromisso de alcançar a tão sonhada promoção da saúde com sustentabilidade ambiental.

Leo Pessini*