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Fundaªo Getœlio Vargas Escola de Administraªo de Empresas de Sªo Paulo FlÆvia Galvªo Villani Um estudo sobre a relaªo varejo fornecedor com metodologia de Soft Systems Sªo Paulo Maro de 2006 FlÆvia Galvªo Villani

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Fundação Getúlio Vargas

Escola de Administração de Empresas de São Paulo

Flávia Galvão Villani

Um estudo sobre a relação varejo � fornecedor com

metodologia de Soft Systems

São Paulo

Março de 2006

Flávia Galvão Villani

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Um estudo sobre a relação varejo � fornecedor com

metodologia de Soft Systems

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. Como requisito para obtenção do título de mestre em Administração � opção MPA Campo de conhecimento: Operações Orientador: Prof. Dr. Henrique Luiz Correa

São Paulo

Março de 2006

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Villani, Flávia Galvão. Um estudo sobre a relação varejo � fornecedor com metodologia de Soft Systems / Flávia Galvão Villani. - 2006 94 p. Orientador: Prof. Dr. Henrique Luiz Correa Dissertação (mestrado): Escola de Administração de Empresas de São Paulo 1. Relacionamento colaborativo;2. varejo-fornecedor; 3. metodologia de Soft Systems; 4. programa de intervenção. I Correa, Henrique Luiz. II Dissertação (Mestrado) � Escola de Administração de Empresas de São Paulo. III. Título.

CDU

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Flávia Galvão Villani

Um estudo sobre a relação varejo � fornecedor com metodologia de Soft Systems

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. Como requisito para obtenção do título de mestre em Administração � opção MPA Campo de conhecimento: Operações Data de aprovação: ___/___/____ Banca examinadora: Prof. Dr. Henrique Luiz Correa (Orientador) FGV/EAESP _________________________________ _________________________________

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Dedico este trabalho a todos aqueles que contribuíram direta e indiretamente para sua realização como forma de agradecimento. Em especial,

Ao Prof. Dr. Henrique Luiz Correa, orientador deste trabalho pela sua dedicação,

paciência e aposta nas minhas competências de estudo durante a sua realização;

Aos colegas e amigos de trabalho por me apoiarem neste meu projeto;

A minha equipe de trabalho, Fabrícia, Vitor, Julio,Renata, e Marina, Luis, Guilherme e Rafael sem a qual a realização deste estudo não teria sido possível;

Aos meus pais e irmãos que sempre me inspiraram nas minhas caminhadas

incentivando-me sempre a superar dificuldades;

Ao meu querido Carlos Alberto Iwata. Marinelli companheiro de estudo e de vida.

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VILLANI, Flávia Galvão. Um estudo sobre a relação varejo � fornecedor com metodologia de Soft Systems. São Paulo: Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, 2006, 94 p. (Dissertação de Mestrado Profissional apresentada ao curso de pós-graduação da EAESP/FGV, Área de concentração: Operações). Resumo: O objetivo neste estudo foi propor um programa de mudança na relação empresa-fornecedores num momento em que técnicas sobre o tema são discutidas na vivência de um relacionamento ainda nada colaborativo. Para tanto se utilizou a metodologia do tipo Soft Systems adequada à natureza social do objeto de estudo: as relações entre empresa varejista e seus fornecedores. Esta metodologia permite o levantamento de dados em campo, a caracterização do modelo de relacionamento vigente na empresa, a comparação deste modelo com o modelo idealizado e a elaboração de um programa de intervenção para readequação do modelo vigente. Palavras-Chave: relacionamento colaborativo; varejo-fornecedor; metodologia de Soft Systems; programa de intervenção.

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Abstract: The main objective of this study was to create a program for change in a relationship retailer-suppliers which was not considered collaborative. The study used a Soft Systems approach. The use of a Soft Systems methodology allowed characterization of an ideal model for effective collaborative relationship; analisis of the company situation and the comparison of the retailer actual relationship with the idealized model and the creation of an intervetional program for a more effective and collaborative relationship Key-words: colllaborative relationship, retail-supplier, Soft Systems Methodology; interventional.

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SUMÁRIO

CAPITULO I - APRESENTAÇÃO............................................................................11 1.1 O problema e as justificativas do trabalho................................................11

1.2 O escopo da pesquisa e objetivos do trabalho.........................................15 1.3 A relevância do estudo................................................................................16 1.4 A metodologia de pesquisa.........................................................................18

1.4.1 O detalhamento da metodologia de análise de sistemas pouco

estruturados..................................................................................................20 1.4.2 O entendimento da situação problema e sua expressão..............24 1.4.3 A escolha de uma forma de ver o problema e definição das raízes do sistema.....................................................................................................24

1.4.4 A montagem e o teste do modelo conceitual.................................25 1.4.5 A comparação do modelo conceitual com o mundo real (observado)...................................................................................................26 1.4.6 A identificação das mudanças factíveis e desejáveis....................26

1.4.7 As recomendações para ações que possam melhorar a situação.........................................................................................................27

1.5 A apresentação da estrutura do trabalho..................................................29

CAPITULO II � REVISÃO DE IDÉIAS E CONCEITOS............................................31 2.1 Conceitos de base........................................................................................31 2.2 Análise crítica da literatura..........................................................................33

2.2.1 Elementos ou condições necessárias para o relacionamento

colaborativo..................................................................................................35 2.2.2 Práticas colaborativas.......................................................................51

CAPITULO III � ESTUDO EM CAMPO....................................................................55 3.1 Caracterização da situação encontrada em suas várias fases................55

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CAPITULO IV - AVALIAÇÃO DE LACUNAS ENTRE LITERATURA ESTUDADA E

MODELO DE RELACIONAMENTO ATUAL ...........................................................75 4.1 Apresentação................................................................................................75

CAPITULO V - PROPOSTAS DE ALTERAÇÕES NO MODELO DE RELACIONAMENTO ATUAL...................................................................................81 5.1 Apresentação................................................................................................81 5.2 Delineamento de uma proposta de programa de ação visando a

mudança no modelo de relacionamento da empresa estudada..............82 5.2.1 A conscientização da necessidade de mudar em suas etapas.....84 5.2.2 Definição da equipe para a elaboração do projeto de mudança........................................................................................................87

5.2.3 Avaliação dos sistemas e identificação dos ajustes necessários...................................................................................................90

CAITULO VI � CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................91

CAPITULO VI � BIBLIOGRAFIA..............................................................................93 Esquema 1: Esquematização das etapas da metodologia de Soft Systems.....23 Esquema 2: Esquema de aplicação da metodologia de Soft Systems no

Estudo realizado......................................................................................................28 Esquema 3: Esquematização do programa de mudança....................................83 Figura 1: Ciclo de pesquisa e aprendizado da metodologia de Soft

Systems....................................................................................................................22 Figura 2: Representação de três elementos que interagem entre si no uso da metodologia de Soft Systems................................................................................25 Figura 3: As estruturas de canal............................................................................32

Figura 4: A estrutura da cadeia de suprimentos..................................................34 Figura 5: Posicionamento de canal expandido....................................................48 Figura 6: Evolução da estrutura de relacionamento entre empresas................52

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Figura 7: Gráfico representativo das margens de lucro da indústria em

diferentes canais de distribuição..........................................................................56 Figura 8: Gráfico representativo de investimentos realizados nos diferentes canais de distribuição.............................................................................................57 Figura 9: Gráfico representativo de investimento nas redes varejistas versus

participação nos negócios.....................................................................................57 Figura 10: Gráfico representativo do histórico de promoções: lucros do varejo versus lucro da indústria........................................................................................58 Figura 11: Gráfico representativo da evolução da participação dos canais no

mercado alimentício................................................................................................59 Figura 12: Modelo de segmentação e relacionamento proposto por consultoria em varejo..................................................................................................................72 Figura 13: O desenho do sistema..........................................................................74

Quadro 1: Fatores de escolha do tipo de pesquisa a conduzir de acordo com seus objetivos.........................................................................................................19 Quadro 2: Poder e confiança.................................................................................44

Quadro 3:Contextualização dos elementos do posicionamento de canal em relação aos modelos revisados............................................................................46 Quadro 4:Elementos a serem adicionados ao posicionamento de canal.........47 Quadro 5: Revisão dos programas de resposta rápida......................................54 Quadro 6: Resumo comparativo de aspectos apontados pela literatura versus

aspectos identificados em campo.........................................................................80 Quadro 7: Exemplos de aspectos a serem avaliados pelos fornecedores na relação com varejista em pesquisa de satisfação dos fornecedores a luz de aspectos apontados pela literatura.......................................................................85

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CAPITULO I: APRESENTAÇÃO

1.1 O problema e as justificativas do trabalho

Um mundo cada vez mais internacionalizado e competitivo requer maior eficiência e

capacidade de resposta. Para tanto, a competência e agilidade de uma única

empresa nem sempre é suficiente, fazendo-se necessário transcender os limites da

própria empresa e buscar eficiência ao longo da cadeia de produção e

abastecimento. Neste contexto, na década de 80 nascem conceitos como o de

Supply Chain Management (Gestão da Cadeia de Abastecimento) como mostrado

na transcrição do trecho a seguir:

Nos meados dos anos 80 surge um desenvolvimento importante da área de gestão de operações � as chamadas redes de suprimentos... O racional deste desenvolvimento pode ser o fato que exatamente os quase 200 anos de desenvolvimento de técnicas de gestão dos nós (operações individuais das empresas) fizeram com que os custos marginais das melhorias atingissem patamares bastante elevados, devido ao efeito da "lei dos retornos decrescentes". (CORREA & CORREA, 2004, p. 40)

Como parte desta nova �filosofia de trabalho�, para estreitar o relacionamento entre

os diferentes elos da cadeia e fortalecê-la, nos anos 90 surgem técnicas para a

melhor gestão das redes de suprimentos suportadas pelo avanço tecnológico, em

especial no setor de comunicação.

Nesta mesma década de 90, surge, entre fabricantes e varejistas, o movimento

ECR, Efficient Consumer Response (Resposta Eficiente ao Consumidor). Alguns

anos mais tarde, esse movimento tornou-se o maior instrumento mundial de

colaboração entre varejistas e fornecedores. Segundo definição da própria ECR,

trata-se de

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...um movimento global, no qual empresas industriais e comerciais, juntamente com os demais integrantes da cadeia de abastecimento (operadores logísticos, bancos, fabricantes de equipamentos e veículos, empresas de informática, etc.) trabalham em conjunto na busca de padrões comuns e processos eficientes que permitam minimizar os custos e otimizar a produtividade em suas relações. (http://www.ecrbrasil.com.br/o_q_eh.asp, consultado em 10/08/2004)

Neste mesmo período, o potencial de ganhos esperado das aplicações de tais

práticas era grande. Um estudo da Kurt Salmon, empresa de consultoria

especializada no varejo, estimou que o ECR poderia reduzir custos na cadeia

varejista de 11%, o que equivaleria a uma redução na ordem de $30 bilhões nos

USA e a $33 bilhões Europa (CORSTEN, 2003).

No Brasil, os primeiros indícios denotativos de preocupação com a eficiência nas

cadeias surgem após a estabilização econômica em fevereiro de 19971, com o

movimento ECR criado formalmente; passa a ser consenso que a situação

econômica de elevada inflação não favorece processos de planejamento, e ainda,

mascara as ineficiências internas das empresas e as ineficiências na cadeia de

abastecimento (SILVA & ALCANTARA, 2001).

Nesse contexto, apesar de a associação ECR apresentar alguns casos de sucesso

na implantação de seus conceitos, a relação indústria e varejo alimentar continua a

ser marcada por uma guerra de forças, evidenciada nos mais diversos tipos de

publicações na área de negócios.

A pesquisa publicada na Revista de Administração de julho - setembro de 2001

ilustra o que foi afirmado a respeito, ou seja, mostra por unanimidade de opiniões

entre os pesquisados - executivos pares do atacado/indústria (6) e varejo/indústria

(3) - que a parceria varejo-fornecedor está mais no plano teórico do que no prático,

ou seja, fala-se muito em parceria, mas de fato ela não existe e ninguém sabe

efetivamente como torná-la concreta (SILVA & ALCANTARA, 2001).

1 Fonte: Estatuto Associação ECR Brasil. http://www.ecrbrasil.com.br/estatuto.asp

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Mais recentemente, em setembro de 2004, durante o Congresso ECR Brasil que

aconteceu simultaneamente à feira anual da Associação Brasileira de

Supermercados - ABRAS (www.abrasnet.com.br) -, são apresentados vários estudos

a respeito do tema e alguns exemplos de trabalhos colaborativos que demonstram

algumas práticas difundidas e amplamente aceitas, tanto no Brasil e como na

América Latina em geral. Estas apresentações elucidam conceitos e mostram

exemplos específicos de iniciativas de áreas e não de casos que efetivamente

praticados em empresas. Dos sete painéis apresentados, 4 se mostram conceituais

enquanto os outros 3 se mostram mais de natureza empírica, de cunho prático, ao

tratarem de temas como estoques co-gerenciados, disponibilidade de produtos em

loja e melhorias nos processos logísticos. Com efeito, foram os seguintes os temas

apresentados: Seu caminho te leva a melhores vendas ou ao desastre?;

Colaboração: soluções e modelos; A mais nova versão do Scorecard; Causas e

impactos da ruptura; Estoques co-gerenciados, Melhorias nos processos logísticos

entre CBD e Sadia; Disponibilidade de produtos em loja � caso FASA e Unilever.

Cabe ressaltar que, dentre os trabalhos apresentados, um em particular diz respeito

a uma pesquisa realizada pelo The Advantage Group, empresa de consultoria, e

tem como missão ajudar seus clientes a desenvolver relações de negócios bem

sucedidas, ou seja, mostra-se numa perspectiva colaborativa.

A falta de preocupação com esta nova forma de relacionamento entre varejo e

indústria faz-se notada entre executivos brasileiros, pois entre os meses outubro de

2003 e março de 2004, quando questionados sobre quais suas 10 maiores

prioridades de negócio para os anos seguintes, a idéia de ter um processo

colaborativo para ações importantes aparece como décima prioridade, enquanto na

mesma pesquisa nos Estados Unidos e no México já colocavam este tipo de

prioridade em segundo e primeiro lugar, respectivamente.

Muito embora num primeiro momento alguns indícios levem a idéia de que não há

preocupação com esta questão, e preciso ressaltar que no Brasil o Wal-Mart já vem

implantando uma filosofia de maior parceria com fornecedores, conforme mostra a

notícia publicada dia 10 de março de 2003 pela Agência Estado, transcrita a seguir:

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Assunto: Wal-Mart reúne melhores fornecedores de 2003 10 de março de 2004 - Ag. Estado São Paulo - O Wal-Mart Brasil premiou na semana passada com um jantar no clube Monte Líbano, em São Paulo, os fornecedores de diversos segmentos que se destacaram no ano de 2003. Os critérios adotados foram desde lançamentos de novos produtos, embalagens, atendimento e medidas de responsabilidade social até soluções para ganho de produtividade e aumento de vendas, ações nos pontos-de-venda e gerenciamento de estoque. ... O Wal-Mart escolheu também fornecedores da área de suporte ao negócio: Medabil, Machado & Meyer e Sodexho. O jantar, que é realizado todos os anos, reuniu cerca de 800 pessoas, entre representantes das empresas e compradores da rede. (MF)

Portanto, apesar de não se ter no Brasil estudos sobre este tipo de estratégia de

envolvimento entre empresa e fornecedores, há fatos que mostram a preocupação

nesta direção, tal como noticias de jornal e a ocorrência de seminários como o que

ocorreu na Fundação Getulio Vargas em 16/06/2005, cujo tema foi Relacionamento

Varejo e Indústria � Desenvolvendo parcerias ganha-ganha.

Neste seminário, a platéia esteve repleta de representantes da indústria e varejo e

os assuntos abordados focaram mais a questão teórica do que prática. As

apresentações versaram sobre: a) como a tecnologia pode facilitar relacionamentos;

b) a possibilidade de parcerias entre agentes de distribuição; c) poder, conflitos de

canal e distribuição; e d) como estabelecer confiança nos relacionamentos. Durante

a realização do painel de discussão neste seminário, tanto o debate quanto as

perguntas evidenciaram mais a dificuldade de se estabelecer um relacionamento

colaborativo do que soluções para superar este tipo de problema, de como criar

soluções e propostas concretas para o avanço neste campo.

Numa pesquisa interna realizada pela autora desse estudo com experientes

profissionais da área de varejo, constatou-se um certo consenso a respeito da

inadequação do modelo atual de relacionamento empresa-fornecedores, focado na

lógica da competição e do poder. Para esses profissionais, tanto o varejo como os

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fornecedores criam artifícios muitas vezes injustos para se protegerem dos riscos

causados pelo aumento na concorrência. Exemplo disso é a criação, pelo varejo, de

marcas próprias visando à diminuição do preço do produto, que aumenta ainda mais

o conflito com os fornecedores. Dentre as frases dos entrevistados representativas

da consciência do problema citam-se: �Estamos blindados para relacionamentos.

Não colocamos o conflito na mesa�; �Estamos colhendo o que plantamos há quinze

anos. Precisamos construir base de respeito�; �Construir seriedade e respeito leva

tempo. Primeiro deve haver justiça no contrato. Segundo, nas relações. Deve-se

ouvir e ser justo, pois a justiça é processual�; �A concorrência desleal mina a

confiança�.

Diante desse contexto, a autora deste estudo, funcionária de uma empresa de varejo

e aluna no curso de mestrado profissionalizante, propõe o presente estudo visando

assim contribuir para a melhor relação empresa-fornecedores num momento em que

técnicas sobre o tema são discutidas na vivência de um relacionamento ainda nada

colaborativo.

O objeto desse estudo é a construção de um modelo de avaliação de fornecedores

desenvolvido a partir de resultados de aprendizados para uma nova relação através

de um estudo teórico com base também empírica em torno do tema �Um estudo

sobre a relação varejo � fornecedor com metodologia de Soft Systems�. Colabora

para o desenvolvimento do presente estudo a experiência prática da autora, de

trabalho profissional, e reflexões realizadas ao longo de dois anos ao longo do curso

de mestrado profissionalizante realizado na Fundação Getulio Vargas.

1.2 O escopo da pesquisa e objetivos do trabalho

Quanto aos aspectos teóricos e bibliográficos deste trabalho, a autora utiliza material

qualificado disponível sobre varejo e indústria, sem qualquer tipo de restrição quanto

a sua proveniência. O aspecto prático se restringe a estudo de campo, ou seja, à

reflexão analítica sobre o relacionamento entre um varejista alimentar brasileiro e

alguns de seus fornecedores de bens de consumo. Entende-se que a escolha de um

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único varejista não inviabiliza inferências como as aqui apresentadas e

generalizações de aplicação de seus resultados para casos semelhantes, uma vez

que o estudo assenta-se na idéia da avaliação qualitativa de aspectos bastante

comuns entre os setores envolvidos, varejos e indústrias.

Os objetivos específicos deste trabalho são:

• Identificar quais são os elementos do relacionamento essenciais e/ou

restritivos para estabelecer práticas colaborativas, bem como os possíveis

benefícios e os meios de uma relação colaborativa como a proposta na

literatura;

• Identificar a real situação da empresa varejista objeto do estudo no que se

refere ao relacionamento com seus fornecedores no momento em que decide

criar uma área especificamente responsável para motivar o desenvolvimento

de um relacionamento mais colaborativo com os seus fornecedores;

• Comparar o modelo de relacionamento vigente com o apresentado na

literatura e identificar possíveis lacunas;

• Refletir sobre os desafios atuais e futuros no setor e a necessidade de

evolução do modelo de relacionamento atual no sentido de torná-lo adequado

ao enfrentamento desses desafios;

• Propor alterações no modelo de relacionamento atual, oferecer sugestões a

partir dos dados obtidos neste estudo, de diretrizes e regras para sua

aplicação em outros casos.

1.3 Relevância do estudo

De maneira mais ampla, e como foi colocado na introdução desse texto, acredita-se

que uma proposta de estudo como a que ora se apresenta - que identifica e valida,

na prática, os modos pelos quais uma relação colaborativa entre varejo e indústria

pode trazer grandes contribuições para ambos os setores, a compreensão de como

tais modos podem incorporar os ganhos de uma relação mais efetiva, como mostram

alguns estudos presentes na literatura - seja uma contribuição importante para a

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comunidade de negócios no varejo e indústria de bens de consumo

(STJERNSTROM & BENGTSSON, 2004), ainda que essa relação colaborativa não

venha a ser operacionalizada a contento.

A literatura mostra que a �mecânica� de como fazer relacionamentos complexos

funcionarem no dia-a-dia das empresas ainda não é bem compreendida. Um estudo

recente da Michigan State University nos Estados Unidos averiguou que menos de

uma em cada cinco empresas engajadas em relacionamentos colaborativos tem

desenvolvido e aprovado políticas para guiar seus gerentes na estrutura e condução

de tais acordos (BOWERSOX ET AL., 2002).

De encontro às conclusões ao estudo da Michigan State University, em Correa &

Correa (2004) constatou-se que a gestão em rede ocorre quando agentes externos

colocam em risco os elos fortes da cadeia, ou seja, em situações onde nem sempre

há consciência do uso desta lógica como caráter preventivo, conforme se verifica do

trecho do estudo abaixo transcrito:

Iniciativas dos elos fortes para desenvolver uma lógica de gestão de redes de suprimentos são mais prováveis de ocorrer quando uma externalidade relevante põe em risco a rede como um todo e, por conseguinte, a até então segura posição dos elos fortes. (CORREA & CORREA, 2004, p. 111).

Pelo que se constata, as iniciativas dos elos fortes para desenvolver uma lógica de

gestão de redes de suprimentos são mais prováveis de ocorrer quando agentes

externos põem em risco a rede como um todo e, por conseguinte, a posição dos elos

fortes (CORREA & CORREA, 2004).

Contudo, independentemente de quem seja o elo mais forte na cadeia, qualquer

intervenção de caráter prático e colaborativo, ao favorecer a identificação de

problemas e ao envolver os elos em situações de reflexão e comunicação, contribui

para diminuir os riscos causados por agentes externos desconhecidos. Ou seja, o

trabalho colaborativo numa perspectiva teórica Soft Systems fortalece a cadeia e

previne eventuais riscos.

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Em relação especificamente à empresa objeto deste estudo, as reflexões aqui

presentes são parte do caminho de evolução do modelo de relacionamento

atualmente implementado.

1.4 Metodologia de pesquisa

A metodologia utilizada no presente estudo é a de Soft Systems, com todos os

cuidados necessários, contemplando as questões de validade e confiabilidade dos

resultados e conclusões alcançados.

Para que se possa compreender a essência da metodologia utilizada e,

conseqüentemente, a sua adequação ao presente estudo, faz-se necessário

primeiro identificar as características próprias do objeto da dissertação, elucidadas

no trecho de Correa & Correa (2004), abaixo transcrito:

Apesar da gestão da cadeia de suprimentos estar fortemente suportada por tecnologias de informação, por mais que evoluções sejam importantes, estes sistemas de informação ficam restritos à questão de sistematização de processos decisórios e de gestão e automatização de fluxos de informação (CORREA & CORREA, 2004, p. 95)

Conforme evidenciado no trecho acima, verifica-se que o objeto do presente estudo

está inserido num sistema social, que se diferencia do sistema físico nos seguintes

aspectos (CHECKLAND ,1999):

1. a generalização das conclusões é mais imprecisa quando comparada às possibilidades das ciências naturais; 2. o objeto de estudo é o elemento humano, de comportamento muito mais complexo, por exemplo, que um elemento químico e 3. a previsão dos acontecimentos sociais é mais difícil de se realizar.

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Como se vê, sendo certo que o objeto da dissertação está intrinsecamente

relacionado à estratégia de negócios das empresas, e, assim, aos aspectos

comportamentais dos envolvidos nas tomadas de decisão e no processo de

relacionamento, tem-se que o subjetivismo que permeia o presente estudo o torna

mais complexo e mais intuitivo, dificultando a adoção de medidas quantitativas na

metodologia.

A esse respeito, Correa (1994), ao se referir a objetivos, critérios, requisitos e tipo de

abordagem em relação a estudos de natureza social, enfatiza a importância da

adequação do objeto ao tipo de abordagem metodológica, conforme mostra o

quadro 1.

Quadro 1 - Fatores de escolha do tipo de pesquisa a conduzir como função de

seus objetivos Abordagem

Critério Principais requisitos da pesquisa Qualitativa Quantitativa

Presença do pesquisador durante os levantamentos Usual Não-usual

Amostra pequena Possível Insuficiente Variáveis difíceis de se quantificar Possível Inadequada

Adequação dos conceitos

Medições por percepções Possível Difícil Limites não pré-definidos Preferível Impossível Causalidade é o mais importante Preferível Possível

Necessidades de construir uma teoria Adequada Inadequada

Adequação aos objetivos

Conhecimento profundo do processo decisório da empresa Adequada Inadequada

Fonte: adaptado de Correa, 1994, p. 114

Relacionando alguns dos pontos do quadro acima com o presente trabalho, tem-se

que as características do objeto de estudo que reforçam a necessidade da

abordagem qualitativa são:

• Presença usual do pesquisador durante os levantamentos, uma vez que a

autora realizou pessoalmente a maioria dos levantamentos;

• Amostra pequena, que se restringe a um único varejista alimentar brasileiro

em relação a alguns de seus fornecedores, justamente porque é praticamente

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inviável se ter uma amostra estatisticamente representativa da população do

estudo � varejista e fornecedor;

• Variáveis difíceis de quantificar, tendo em vista que, conforme restará melhor

elucidado na revisão bibliográfica e na apresentação do caso, a quantificação

de relacionamentos se afigura extremamente complexa;

• Medições por percepções, na medida em que, por se tratar de relacionamento

humano, o objeto do estudo alcança suas percepções. Exemplos ilustrarão

como os fatos são, por vezes, percebidos de forma distinta nas duas pontas

das relações;

• Conhecimento profundo do processo decisório da empresa, uma vez que a

autora, como funcionária da empresa de varejo utilizada como amostra do

estudo, participa diretamente da construção de sua estratégia de negócio.

Uma vez compreendida a característica qualitativa do estudo em questão, e

considerando-se o cunho prático da pesquisa, passa-se à conceituação e

detalhamento da metodologia escolhida, de forma a evidenciar sua adequação ao

objeto proposto.

1.4.1 Detalhamento da metodologia de análise de sistemas pouco estruturados

(metodologia de Soft Systems)

A metodologia de análise de sistemas pouco estruturados � metodologia de Soft

Systems - foi desenvolvida na década de 60 pelo professor Peter Checkland na

Universidade de Lancaster.

O Soft Systems surgiu como uma alternativa para lidar com situações de problemas

compostos em grande parte por fatores sociais, políticos e humanos que, dada a sua

complexidade e subjetivismo, dificultam a visualização de uma alternativa de solução

antes do início da aplicação da metodologia. Assim, a metodologia objetiva encontrar

se existe algo que possa ser feito para mudar as situações analisadas, e como o

esse resultado pode ser atingido.

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21

Conforme anteriormente exposto, pesquisas demonstram que, de forma geral, as

relações entre varejo e indústria alimentar no Brasil não podem ser classificadas

como colaborativas (SILVA & ALCANTARA, 2001; BOWERSOX, 2002). Entretanto,

não há evidências claras que apontem quais são os fatores que conduzem a esse

resultado, muito menos o que pode ser feito para mudar tal situação.

Utilizando-se da experiência no setor e analisando-se a bibliografia sobre o assunto,

especula-se que os seguintes fatores contribuem para a relação não colaborativa

entre varejo-fornecedor: (a) os sistemas de avaliação de desempenho das diferentes

áreas nas empresas (BOWERSOX, 2002); (b) a falta de confiança na relação

(KUMAR, 1999); (c) a falta de conhecimento técnico sobre as vantagens da

colaboração (CORSTEN & KUMAR, 2003); (d) o peso político das áreas de negócios

(BOWERSOX, 2002) e sua possível miopia em relação aos ganhos de eficiência

(BOWERSOX, 2002); (e) a cultura da negociação ganha-perde (BLECHER, 2002);

(f) a cultura dos fechamentos de final de mês fruto de anos de inflação (SILVA &

ALCANTARA, 2001), entre outros. Entretanto, não se tem conhecimento se

realmente são esses os fatores responsáveis pela situação atual do relacionamento

varejista-fornecedores, muito menos quais os pesos de cada um desses possíveis

fatores-chave.

Compreendida a metodologia de Soft Systems de forma mais ampla e

contextualizada ao presente trabalho, apresenta-se de seguida um maior

detalhamento dos passos da referida metodologia que deixará mais clara sua

adequação à pesquisa.

A figura 1 ilustra os ciclos de pesquisa e aprendizado propostos na metodologia de

Soft Systems.

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22

Figura 1 � Ciclo de pesquisa e aprendizado da metodologia de Soft Systems

Fonte: Checkland, 1999, p. A9 (traduzido pela autora)

Para alcançar os objetivos propostos na metodologia de análise de sistemas pouco

estruturados, são propostos sete estágios distintos de trabalho. São eles:

1. entendimento da situação problema � compreender quem são os agentes

principais, os processos da relação, etc.;

2. expressão do problema � comunicar visualmente o problema;

3. escolha de uma forma de ver o problema e definição das raízes do sistema �

quais são as diferentes formas de olhar para o problema;

4. montagem e teste do modelo conceitual � a partir dos possíveis o quês do

problema, inicia-se a definição dos comos, utilizando:

a) conceitos formais aplicáveis;

b) outras experiências e proposições;

5. comparação do modelo conceitual com o mundo real � comparar os

resultados dos passos 2 e 4 e analisar onde eles são similares e onde são

diferentes;

Mundo real percebido � Situação do

problema

�Comparação� (questionar a

situação usando os modelos)

Encontrar

Acomodações que permitam

Ações para melhorar

Modelos relevantes

baseados numa visão do mundo

Leva a seleção e busca de

Debate estruturado sobre a mudança alcançável e desejável

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23

6. identificação das mudanças factíveis e desejáveis � aprovar com quem

participa do problema e tem interesse de resolvê-lo;

7. recomendações para ações que possam melhorar a situação � encontrar o

como implementar as mudanças propostas no passo anterior;

(adaptado de Soft Systems Methodology: A report by Dale Couprie, Alan Goodbrand,

Bin Li, David Zhu, Department of Computer Science - University of Calgary -

http://sern.ucalgary.ca/courses/seng/613/F97/grp4/ssmfinal.html#Introduction)

O esquema 1 agrega os 2 pontos anteriormente descritos e deixa mais clara a

metodologia e sua navegação entre o mundo teórico e o mundo prático.

Esquema 1: Esquematização das etapas da metodologia de Soft Systems Fonte: Figura traduzida de Soft Systems Methodology: A report by Dale Couprie, Alan Goodbrand, Bin Li, David Zhu, Department of Computer Science - University of Calgary - http://sern.ucalgary.ca/courses/seng/613/F97/grp4/ssmfinal.html#Introduction)

1 A situação do problema não estruturado

2Expressão da situação do problema

Definição preliminar dos sistemas relevantes

34

Modelo Conceitual

MUNDO REAL

METODOLOGIA DE SISTEMAS

7 Ação para melhoria da situação do problema

5 Comparação de

4 com 2

6Lista de mudanças

factíveis e desejáveis

4 b.Outras

experiências

4 a.Conceitos formais

de sistemas

1 A situação do problema não estruturado

2Expressão da situação do problema

Definição preliminar dos sistemas relevantes

34

Modelo Conceitual

MUNDO REAL

METODOLOGIA DE SISTEMAS

7 Ação para melhoria da situação do problema

5 Comparação de

4 com 2

6Lista de mudanças

factíveis e desejáveis

4 b.Outras

experiências

4 a.Conceitos formais

de sistemas

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24

Detalhada a metodologia, segue o aprofundamento de cada uma das etapas com

exemplos de como serão trabalhadas na pesquisa:

1.4.2. O entendimento da situação problema e a sua expressão

O primeiro passo do presente trabalho é identificar como o relacionamento indústria

e varejo é avaliado, bem como se existe uma oportunidade na melhoria do

relacionamento com a indústria.

O segundo passo consistirá na coleta de informações que possam descrever a

situação do problema. O problema será analisado no que se refere a:

• estruturas � identificar as estruturas da organização relativamente à

hierarquia de poderes, canais de comunicação, etc.

• processos � processos que fazem parte da relação no canal de

abastecimento indústria e varejo

• relacionamentos entre estrutura e os processos � entender como as relações

com os fornecedores estão funcionando na perspectiva dos envolvidos

Algumas das técnicas que serão usadas nestas etapas são: observação do trabalho

e entrevistas informais. Cabe ressaltar que a coleta desses dados será interativa e

não exaustiva, uma vez que as etapas posteriores podem nos remeter a novas

análises desses pontos.

1.4.3. A escolha de uma forma de ver o problema e a definição das raízes do sistema

Nesse momento, o trabalho objetiva caracterizar os sistemas mais relevantes para o

problema em questão. Para tanto, serão utilizados os seis elementos que a

metodologia propõe para a definição das raízes do problema. São eles:

C = (clients) clientes do sistema;

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A = (actors) atores, participantes do sistema;

T = (transformation) o processo de transformação do input em output

W = (weltanschauung) a razão de ser do sistema

O = (owner) o dono do sistema ou o principal interessado

E = (enviroment) meio no qual se insere e se opera o sistema.

Essa etapa é fundamental para a compreensão profunda da situação e sua

organização para as próximas etapas.

1.4.4. A montagem e teste do modelo conceitual

Entendida a situação do objeto de estudo no mundo real, busca-se na literatura

modelos conceituais para que se possa construir o novo modelo conceitual. Nessa

etapa 3, são elementos que interagem no uso da metodologia:

Figura 2: Representação de três elementos que interagem entre si no uso da

metodologia de Soft Systems

Fonte: Checkland, 1999, p. A33 (traduzido pela autora)

• Situação estudada: cada um tem sua visão da situação

• Usuário da metodologia: percebe a situação segundo um framework de idéias

internas a ele

Situação estudada Metodologia

(palavras no papel)

Usuário da Metodologia

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26

• Metodologia: a metodologia de Soft Systems é uma das formas de

sistematizar o pensamento.

Vale ressaltar, por oportuno, que a montagem de um modelo conceitual de um

sistema não é uma tarefa fácil, em especial quando se está diretamente envolvido

nesse sistema. Por essa razão, deve-se ter muito cuidado neste ponto para que seja

montado um modelo que efetivamente possa conduzir à mudança desejada.

1.4.5. A comparação do modelo conceitual com o mundo real (observado)

Neste ponto, compara-se o modelo proposto com o que acontece na realidade,

tendo por objetivo de compreender as diferenças, mapear os pontos críticos e propor

formas de melhorar o processo de relacionamento.

São quatro métodos sugeridos por Checkland (1999) para esta comparação. São

eles:

1. Usar o modelo conceitual como base de questionamento

2. Comparar a história com um modelo de predição

3. Fazer uma comparação geral

4. Fazer um segundo modelo

No presente trabalho, propõe-se a realizar uma comparação geral com os elementos

encontrados na literatura, tendo em vista que, conforme mais adiante restará

demonstrado, não existem modelos prontos para se alcançar à solução almejada.

1.4.6. A identificação das mudanças factíveis e desejáveis

Por fim, e como grande diferenciador da metodologia adotada, as melhorias geradas

serão apresentadas e discutidas com as pessoas que efetivamente participam do

problema e que têm evidente interesse em resolvê-lo.

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27

Existem três tipos de mudanças possíveis: mudanças na estrutura organizacional,

mudanças nos processos, mudanças nas �atitudes� das pessoas (CHECKLAND,

1999, p. 180).

1.4.7. Recomendações para ações que possam melhorar a situação

Uma vez identificadas as mudanças desejáveis, os agentes poderão colocá-las em

prática.

Segue esquema 2 que exemplifica como a metodologia de Soft Systems será

utilizada no problema em questão.

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Esquema 2: Esquema de aplicação da metodologia de Soft Systems no estudo

realizado.

1. O relacionamento entre indústria e o

varejista em questão é ruim

MODELO CONCEITUAL COMPROVAÇÃO PRÁTICA

Relacionamentos colaborativos

minimizam custos e otimizam a

produtividade das partes

Literatura especializada

do setor

A visão da indústria sobre o

relacionamento com o varejo e como a

empresa em questão era percebida pelos seus fornecedores

Visão da situação interna da empresa e

aspectos organizacionais

encontrados para elaboração de

trabalhos colaborativos

Avaliação de lacunas entre literatura estudada

e modelo analisado

Análise crítica da literatura encontrada

Propostas de alterações no modelo

Encontro para gerar mudanças desejáveis e viáveis culturalmente

Literatura: Elementos ou

condições necessárias

para o relacionamento

Literatura: Praticas de

relacionamento colaborativo

Comparação

Modelo de relacionamento

construido internamente

Exemplo de aplicação do modelo e resultados

obtidos

Outras aplicações, resultados,

aprendizados e desafios futuros

Recomendações, critérios sugeridos para extrapolação e

sugestões para próximas pesquisas

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29

1.5 A apresentação da estrutura do trabalho

Visando facilitar o entendimento do leitor sobre o assunto estudado, estrutura-se o

presente texto caracterizando inicialmente o problema investigado, na consideração

do contexto social atual e da necessidade de se adequar o modelo de

relacionamento entre empresas e fornecedores. Justifica-se assim a luz da literatura

pertinente e de dados levantados sobre o problema da necessidade de um

Programa de Mudança. Assim, após a revisão de conceitos e de elementos e

condições necessárias para a mudança pretendida, apresenta-se como o estudo de

campo foi realizado, o diagnóstico da situação, tendo em vista as lacunas

identificadas, para enfim proporem-se ações para melhorar a situação estudada.

CAPITULO II � REVISÃO DE IDÉIAS E CONCEITOS

Trata de uma análise crítica da literatura, onde são abordados (i) os modelos

conceituais encontrados sobre o problema da pesquisa (esta parte corresponde ao

estágio 4 da metodologia de Soft Systems - SSM); (ii) a montagem e teste do

modelo conceitual e os seguintes passos do esquema 2 - literatura especializada do

setor, literatura, elementos ou condições necessárias para o relacionamento e

Literatura: Praticas de relacionamento colaborativo.

CAPITULO III � ESTUDO EM CAMPO

Neste capitulo apresenta-se a situação real da pesquisa realizada segundo os

estágios da metodologia de Soft Systems: 1. Entendimento da situação problema; 2.

Expressão do problema e 3. Escolha de uma forma de ver o problema e definição

das raízes do sistema.

CAPITULO IV - AVALIAÇÃO DE LACUNAS ENTRE LITERATURA ESTUDADA E MODELO DE RELACIONAMENTO ATUAL

Refere-se ao estágio 5 da metodologia: análise comparativa dos dados levantados

com o modelo conceitual idealizado.

CAPITULO V - PROPOSTAS DE ALTERAÇÕES NO MODELO DE RELACIONAMENTO ATUAL

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30

Refere-se ao estágio 6 e 7 da metodologia de Soft Systems: identificação das

mudanças factíveis e desejáveis; e recomendações para ações que possam

melhorar a situação. CAITULO VI � CONSIDERAÇÕES FINAIS

Faz-se uma análise da importância do estudo realizado tendo em vista a

possibilidade de sua aplicação em situações similares e a sua contribuição para

a capacitação profissional da própria autora

CAPITULO VI � BIBLIOGRAFIA

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31

CAPITULO II � REVISÃO DE IDÉIAS E CONCEITOS

2.1 Conceitos de base

Antes de se entrar em profundidade na literatura estudada a respeito de

relacionamentos e processos colaborativos, vale a pena especificar a natureza das

empresas abordas de varejo e indústria neste estudo e também os conceitos de

canais de distribuição e suas estruturas, relacionamento e colaboração (e seus

benefícios) entre os elos da cadeia de abastecimento, que (i) �varejo é o conjunto de

atividades de negócios que agrega valor para produtos e serviços vendidos aos

consumidores para seu uso pessoal ou de sua família.� (LEVY & WEITZ, 2004), (ii)

que, no caso em questão, está-se abordando especificamente empresas do varejo

alimentício, super e hipermercados, estabelecimentos onde se expõem, para venda,

gêneros alimentícios e outros produtos de consumo corrente, que o consumidor

escolhe, pagando à saída (http://www.priberam.pt/dlpo/definir_resultados.aspx,

consultado em 25/03200).; (iii) que indústria de bens de consumo não-duráveis é

empresa que realiza atividades relativas à transformação de matérias-primas em

bens de consumo, servindo-se de técnicas, instrumentos e maquinarias adequados

a cada fim; engloba as atividades de produção e transformação por oposição ao

primário (atividade agrícola) e ao terciário (prestação de serviços).

(http://www.priberam.pt/dlpo/definir_resultados.aspx, consultado em 25/03200); (iv)

canal de distribuição é sistema de relacionamentos entre empresas que participam

do processo de compra e venda de bens e/ou serviços (BOWERSOX ET AL., 1987

APUD LABAN NETO, 2004). �Em outras palavras, o canal deve ser visto como uma

rede de empresas independentes que agem em sintonia de forma a criar valor para

o usuário final através da distribuição de produtos�. (SILVA & ALCÂNTARA, 2001, p.

50); (iv) que estrutura de canal refere-se à forma como as funções distributivas estão

alocadas entre a empresa produtora e seus intermediários e tem três dimensões:

número de níveis, a intensidade e os tipos de intermediários (ROSENBLOON, 1999,

p. 38 APUD DURAND, 2003), sendo que o número de níveis representa o número

de participantes envolvidos no processo de distribuição; a intensidade o número de

intermediários e os tipos de intermediários as funções executadas pelos mesmos

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32

(LABAN NETO, 2004); e (v) e como se está explorando a relação entre empresas

produtoras e um de seus intermediários varejista, é importante dizer que esta

relação se dá de forma direta, sendo que, neste caso, está-se falando de uma

relação de três níveis no canal de distribuição que pode variar de dois até 5 níveis,

sendo o de dois o caminho mais curto entre as empresas produtoras e o usuário

final. Figura 3: As estruturas de canal

Fonte: LABAN NETO, 2004, P. 28

(vi) que colaboração é a integração e coordenação de processos entre elos da

cadeia visando a satisfação do consumidor, a redução dos riscos gerais e o aumento

de maneira considerável da eficiência. Contudo, sua implementação é difícil e requer

novas práticas (BOWERSOX ET AL., 2002); (vii) que quando se trata dos benefícios

de relações colaborativas, dentre os benefícios da colaboração apontados na

literatura estão:

• Aumento de vendas para varejistas e industria, eliminação de estoques

supérfluos, eliminação de funções duplicadas e de intermediários (KUMAR,

1999)

• Redução dos riscos e melhoria da eficiência de todo o processo logístico.

(SILVA & ALCANTARA, 2001)

• Transferência de conhecimento e aprendizado organizacional (HOGARTH-

SCOTT, 1999)

FABRICANTE FABRICANTE FABRICANTE FABRICANTE

CONSUMIDOR CONSUMIDOR CONSUMIDOR CONSUMIDOR

VAREJISTA VAREJISTA VAREJISTA

ATACADISTA ATACADISTA

AGENTE

2 NÍVEIS 3 NÍVEIS 4 NÍVEIS 5 NÍVEIS

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33

• Aumento qualidade, conhecimento, velocidade e soluções mais inovativas,

reduções de custos, potencial de divisão dos riscos/ compartilhamento de

riscos (STJERNSTROM & BENGTSSON, 2004).

Enfim, tratar-se-á de como tornar possível a colaboração uma vez que a literatura

aponta a possibilidade de ganhos e benefícios interessantes.

2.2 Análise crítica da literatura

Este capítulo se refere à montagem do modelo conceitual proposto na metodologia

de Soft Systems. Entendida a situação real, buscam-se na literatura modelos

conceituais, baseados numa visão do mundo, para que se possa sistematizar o

pensamento. Para fins didáticos e de melhor compreensão do tema abordado a

sistematização do pensamento no trabalho escrito será apresentada a seguir antes

da situação analisada.

Conforme o leitor poderá verificar quando se analisa de forma ampla a literatura

estudada, percebe-se que não existem modelos de relacionamentos prontos, nem

explicações de maneiras como construí-los. O que se encontram são abordagens de

elementos importantes na construção de relacionamentos colaborativos e exemplos

de técnicas e práticas colaborativas, principalmente no campo da logística.

A figura 4 é referência nesse sentido, e se considerarmos a estrutura da cadeia de

suprimentos com seus fluxos e contextos, pode-se dizer que a literatura revisada

foca de forma distinta os temas relacionamento, métricas e contexto operacional.

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34

Figura 4: A estrutura da cadeia de suprimentos

Fonte: Adaptado de BOWERSOX, 2002, p. 175

Entretanto, questiona-se o tipo de abordagem apresentado na literatura, pois se

acredita na necessidade aplicar as práticas encontradas levando em consideração

os elementos fundamentais para o relacionamento, assim como a necessidade de se

evoluir no relacionamento para que, através de ações e práticas colaborativas,

sejam capturados os ganhos apresentados. Acredita-se que o fato de não se ter

encontrado abordagens sistêmicas e integradas do tema seja mais um indício uma

inadequação metodológica à natureza do objeto, cuja complexidade é própria da

natureza social, o que reforça a necessidade do uso da metodologia de Soft

Systems escolhida para este estudo, e a necessidade de se construir a ponte entre

teoria e prática como apresentado anteriormente.

Por essa razão opta-se pela classificação do tema da colaboração na cadeia de

suprimentos em dois eixos apenas. São eles:

2.2.1 Elementos ou condições necessárias para o relacionamento e

BASE

DE

RECURSOS

CLIENTE

FINAL

FLUXO FINANCEIRO

FLUXO DE INFORMAÇÃO

FLUXO DE PRODUTOS E SERVIÇOS

CONTEXTO COMPORTAMENTAL

RELACIONAMENTO

CONTEXTO DE PLANEJAMENTO E CONTROLE

MÉTRICAS

CONTEXTO OPERACIONAL

TECNOLOGIA E PLANEJAMENTO

Integração com

fornecedor

Operações internas

Integração com cliente

FLUXO DE ACOMODAÇÃO DE MERCADOBASE

DE

RECURSOS

CLIENTE

FINAL

FLUXO FINANCEIRO

FLUXO DE INFORMAÇÃO

FLUXO DE PRODUTOS E SERVIÇOS

CONTEXTO COMPORTAMENTAL

RELACIONAMENTO

CONTEXTO DE PLANEJAMENTO E CONTROLE

MÉTRICAS

CONTEXTO OPERACIONAL

TECNOLOGIA E PLANEJAMENTO

Integração com

fornecedor

Operações internas

Integração com cliente

FLUXO DE ACOMODAÇÃO DE MERCADO

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35

2.2.2 Praticas de relacionamento colaborativo

Abordam-se então os aspectos considerados relevantes nos dois eixos, para

posteriormente analisar-se o modelo prático, suas lacunas para enfim sugerir

melhorias a partir das conclusões do estudo realizado.

2.2.1 Elementos ou condições necessárias para o relacionamento colaborativo

Na literatura pertinente nenhuma classificação especifica de elementos ou condições

necessárias para o relacionamento colaborativo é identificada e uma série de fatores

e abordagens serviu na construção da classificação que será utilizada. Nesse

sentido, dentre elas citam-se:

• Condições que favorecem o relacionamento colaborativo: governança

corporativa apropriada, confiança, reciprocidade e racionalidade. Condições

que desfavorecem o desenvolvimento de relações colaborativas: relações

históricas de adversários e tensões criadas por mudanças na balança de

poder (GALIZZI & VENTURINI, 1999)

• Barreiras para desenvolver relacionamento: briga por preços/ custos, falta de

interesse em cooperar, poder/ condições desiguais, restrições de

relacionamento por relacionamento com competidores, desconfiança nas

informações vindas de outros, cultura do não inventado aqui, dificuldade em

abrir mão/ compartilhar do controle e decisões, falta de comprometimento do

top management, dificuldade em estabelecer acordo comum nas medições de

desempenho, falta de confiança na capacidade do fornecedor, dificuldade em

formalizar compartilhamento de riscos e recompensas, ambigüidade do

discurso versus pratica de colaboração, falta de um coordenador da atividade,

dificuldade de ajustar expectativas de curto versus de longo prazo

(STJERNSTROM & BENGTSSON, 2004)

• Desafios operacionais a serem resolvidos para tornar realidade a prática da

gestão integrada da cadeia de abastecimento: liderança, lealdade e

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36

confidencialidade, mensurações, divisão de ganhos e riscos (BOWERSOX,

2002)

• Aspectos relevantes para a colaboração: correta distribuição de riscos, custos

e recompensas; dificuldade em se definir papeis e responsabilidades para

coisas não gerenciáveis diretamente; dificuldade de alinhar incentivos sem

conhecimento da cadeia e necessidade de reescrever os contratos

(NARAYANAN & RAMAN, 2004).

Assim, a partir do que é encontrado na literatura é possível classificar os fatores e

abordagens envolvidos no relacionamento colaborativo da seguinte forma:

a) Potencial de ganho das partes

b) Entendimento e uso da situação de poder

c) Estabelecimento de confiança

d) Presença de elementos essenciais para a sobrevivência econômica

e) Presença de elementos de suporte a relação

f) Políticas de Relacionamento

g) Comunicação

h) Métricas

i) Coordenação e liderança

A seguir apresentam-se seus detalhamentos e fontes:

a) Potencial de ganho das partes

Este tipo de abordagem apesar de parecer obvia, vale a pena explicitá-lo, pois

muitas vezes aspectos óbvios são desconsiderados em nossas avaliações e acabam

sendo os motivos de iniciativas frustradas.

Estudos mais recentes (NARAYANAN & RAMAN, 2004) já revelam que nem sempre

ganhos na cadeia de distribuição são capturados de forma eqüitativa entre os elos.

Ou seja, há casos em que os ganhos na cadeia devem vir primeiramente de uma

redistribuição dos ganhos para então um crescimento dos mesmos (BOWERSOX,

2002). Ou seja,

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37

A maioria das empresas não se preocupa com o comportamento das partes quando estão construindo cadeias de abastecimento para a entrega de bens e serviços a seus clientes. Engenheiros e não psicólogos constroem redes de abastecimento. Toda a empresa se comporta para maximizar seus próprios interesses, mas as empresas assumem erroneamente que em fazendo isso também maximizarão os interesses das cadeias em que participam... Encontramos, em mais de 50 cadeias de abastecimento pesquisadas, empresas que normalmente não agiam para maximizar os lucros da cadeia, conseqüentemente, as cadeias não desempenhavam bem (NARAYANAN & RAMAN, 2004).

Este estudioso conclui que, �uma cadeia de abastecimento funciona bem se os

incentivos estiverem alinhados, ou seja, se os riscos, os custos e as recompensas

do negócio estiverem distribuídas de forma justa na rede� (NARAYANAN & RAMAN,

2004).

Portanto, antes de se iniciar um processo colaborativo é importante fazer uma

avaliação de onde estão tais ganhos e se obtê-los implica numa redistribuição de

ganhos na cadeia e se os elos estão dispostos a fazê-lo. Pois, como visto, funções

com bom desempenho individual não necessariamente combinam ou agregam para

a obtenção do menor custo total ou o processo mais eficiente (BOWERSOX, 2002).

O exemplo a seguir de Corsten & Kumar (2003) ilustra bem a importância e

necessidade de um melhor entendimento de onde estão os ganhos.

Este autor coloca que, depois do presidente de uma das maiores empresas de bens

de consumo do mundo ter dito que se havia um dólar a ser obtido através das

práticas do ECR, de que ele não havia visto nenhum, um estudo foi realizado para

se aprofundar na relação entre a adoção de práticas do ECR e o desempenho entre

os fornecedores da rede de supermercado Sainsbury´s. Averiguou que quanto mais

praticas ECR eram adotados na relação com a Sainsbury´s, melhores os

desempenhos econômicos dos fornecedores na relação com o varejista. Ao mesmo

tempo, quanto mais os fornecedores colaboravam, mais se sentiam tratados de

forma injusta. As conclusões foram que apesar de terem feito menos investimentos

que os fornecedores, os varejistas também se beneficiavam substancialmente das

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38

praticas do ECR. Desta forma, os fornecedores sentiam que enquanto faziam os

altos investimentos, os varejistas recebiam todo o benefício.

Ou seja, existem percepções diferentes sobre a relação retorno sobre investimento

das praticas colaborativas e a falta de clareza dos ganhos e da forma como será

distribuído pode comprometer o processo de colaboração e a maneira como é

percebido.

Desta forma, apesar de não se ter encontrado explicitamente na literatura a

necessidade de avaliar o potencial de ganho das partes e a necessidade ou não de

redistribuição dos ganhos na cadeia, antes de se iniciar um processo de

relacionamento colaborativo, pelo que foi estudado, parece valer a pena uma

avaliação pelas partes envolvidas dos ganhos e custos dessa escolha a fim de que

as escolhas sejam mais conscientes e o trabalho mais produtivo.

b) Entendimento e uso da situação de poder

Quanto a este fator pode ser definido como a habilidade que tem um agente da

relação influenciar seu parceiro a ter uma atitude que o mesmo normalmente não

teria se não houvesse uma relação de poder e dependência desfavorável. O poder

influencia quem ganha, �o que� e �como� (HOGARTH-SCOTT, 1999).

Para Hogarth-Scott (1999) a dinâmica de poder e dependência é fundamental para o

relacionamento entre organizações, pois oferecem uma explicação parcial de como

a estrutura do canal pode afetar o desempenho do relacionamento.

A percepção e o uso do poder podem ser um empecilho no estabelecimento de

relações colaborativas na medida em que podem afetar diretamente dois dos

elementos essenciais para o estabelecimento da mesma, os quais serão abordados

posteriormente neste estudo, os incentivos e a confiança (HOGARTH-SCOTT, 1999

e KUMAR, 1999).

A cadeia estudada tem longo histórico de relacionamento conflituoso, pois o poder

tem sido historicamente utilizado como elemento-chave no estabelecimento das

relações, o que agrava a situação no contexto de um mundo competitivo como o

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39

atual. Na última década tem-se vivenciado um significativo aumento do poder dos

varejistas (BOWERSOX, 2002), que pode influenciar negativamente o

desenvolvimento de padrões de comportamentos cooperativos uma vez que reforça

relações historicamente adversariais e cria novas tensões causadas por mudanças

na balança de poder (GALIZZI & VENTURINI, 1999).

Desta forma, o que se observa hoje é que se por um lado a indústria concentra-se

em criar marcas fortes das quais os varejistas dependem, por outro, o varejo se

esforça para se consolidar, aumentar seu poder de barganha e desenvolver suas

próprias marcas para reduzir sua dependência das marcas da indústria

(BOWERSOX, 2002). Exemplo dessa balança de forças até mesmo a recente

aquisição da Gillette pela Procter & Gamble. Apesar da perceptível

complementaridade da linha de produtos indicada como fator primordial da

aquisição, nos bastidores do varejo e indústria, o comentário dos executivos dessas

indústrias é que estrategicamente o que se buscou foi o aumento do poder face ao

varejo, em especial ao gigante americano Wal-Mart.

Galizzi & Venturini (1999) colocam que num relacionamento adversarial a única

forma de aumentar a rentabilidade é jogando um jogo de soma zero e que

comportamentos não cooperativos continuam devido à história passada de

relacionamentos adversariais mesmo quando novas tecnologias e modelos

organizacionais precisam e permitem relevantes ganhos da cooperação. Assim,

quanto mais alta e continua a concentração no varejo e a mudança na balança de

poder da relação varejo-indústria maiores as chances das tensões, conflitos e

relações adversariais se perpetuarem.

Como solução para tal dilema, se uma relação assimétrica pode se tornar mais

estável, a empresa com mais poder deve dar o primeiro passo não usando o poder

de forma coercitiva e em benefício próprio, mas ao contrário, utilizar-se dele para

tratar o seu parceiro de forma justa e investir na construção de um melhor

relacionamento. (KUMAR, 1999), para que haja ganho mutuo.

Além disso, como afirma Harland (1996), se as empresas desejarem desenvolver

relações mais próximas, deverão primeiramente identificar e fechar as dissonâncias

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40

de percepção, para então conjuntamente acordarem e desenvolverem um programa

de melhoria de desempenho.

Finalmente, num estudo feito com quase 3000 executivos norte americanos e

europeus, sobre mais de 1500 relações entre varejo e indústria Kumar (1999)

chegou à conclusão que apesar da possibilidade da exploração do poder ser

vantajosa a curto prazo, ela tende a ser autodestruidora no longo prazo por 3 razões:

1. a exploração de poder para extrair concessões injustas pode voltar-se contra a

empresa caso a posição de poder mude

2. quando as empresas sistematicamente exploram sua posição de vantagem, suas

vitimas procuram formas de se defender

3. trabalhando conjuntamente como parceiros, industria e varejo podem prover mais

valor a seus consumidores a um custo possivelmente mais baixo.

Em resumo vê-se que a forma como o poder é percebido e usado pode contribuir

para que relacionamentos colaborativos sejam, ou não, praticados.

c) Estabelecimento de confiança

Quanto a este fator, confiança, ajuda a preservar a relação e cria um reservatório de

boas intenções (goodwill), mesmo quando, como inevitavelmente acontece, na

relação uma das partes se engaja em atos que seu parceiro considera destrutivo

(KUMAR, 1999).

Além de preservar a relação, modelos de teorias de jogos mostram que a confiança

é uma força chave para sustentar a cooperação e que previsões de teoria de jogos

tendem a confirmar que sem confiança é difícil haver cooperação numa relação

vertical (GALIZZI & VENTURINI, 1999).

Mas o que é confiança para os elos da cadeia? De acordo com Kumar (1999) que

pesquisou o tema em diversas indústrias, confiança é a habilidade que cada uma

das partes da relação demonstra em relação ao bem-estar da outra e ao fato de não

agirem sem levar em consideração o impacto que causarão em seus parceiros de

negócios.

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41

Porém também como pesquisou Kumar (1999), muitas vezes as partes tendem a

acreditar na confiança recíproca, o que nem sempre é um fato.

Como colocam Narayanan & Raman (2004) de maneira geral as empresas agem em

benefício apenas próprio e não da cadeia. Então, se confiança é entender a outra

parte e os impactos das ações individuais, quais são os indícios de benefícios e

mesmo os limites da confiança? Que benefício direto pode-se obter de uma relação

de confiança?

Numa pesquisa entre a relação de um fabricante de peças de reposição e 429 de

seus varejistas, Kumar (1999) mostrou que os varejistas que confiavam no

fornecedor eram 12% mais comprometidos com o relacionamento e estavam 22%

menos dispostos a desenvolver fornecedores alternativos, e ainda tinham

desempenho melhor para o fornecedor que varejistas que não confiavam na relação.

A pesquisa mostrou também que varejistas que tinham níveis mais altos de

confiança em seu fornecedor vendiam 78% a mais que aqueles que tinham um baixo

nível de confiança, e para os varejistas com maior confiança, os resultados de

desempenho eram 11% acima dos com menor confiança. Já com varejistas tais

como Wal-Mart, Circuit City, Sears e Roebuck mostrou que para os fornecedores,

varejistas que confiavam na relação tendiam a retaliarem menos seus fornecedores

do que varejistas com um menor nível de confiança. Por fim este estudioso conclui

que:

A confiança ajuda as relações entre varejistas e fornecedores a atingir seu pleno potencial. Quando ambas as partes confiam uma na outra, eles estão prontos a trocar informações confidenciais, a investir em entender o negócio um do outro, e a customizar seus sistemas de informação ou dedicar pessoas e recursos para se servirem melhor. Quem confia não sente necessidade de monitorar o comportamento alheio; o que pode reduzir custos de monitoramento. Por último, mas não menos importante, a confiança permite a empresa capturar as mentes e corações de seus parceiros de canal para que eles não procurem outras relações (KUMAR, 1999, p. 97, tradução da autora).

Para além desses benefícios encontra-se na literatura o que segue:

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42

• �A confiança é mais forte que o medo. Parceiros que confiam uns nos outros

obtém maiores lucros, servem melhor seus clientes e são mais adaptáveis�

(KUMAR 1999).

• a confiança economiza informação, pesquisa e custos de transação (GALIZZI

& VENTURINI, 1999).

• em um estudo que investigava os efeitos da confiança nas relações

comprador � fornecedor Johnston et al. (2004 APUD STJERNSTROM &

BENGTSSON, 2004), chegaram à conclusão que não havia nenhuma

evidência direta das diferenças entre percepção da relação por parte do

comprador dependendo do nível que o fornecedor confiava no comprador.

Porém, que responsabilidades conjuntas, planejamento compartilhado e

flexibilidade nos negócios eram facilitadas pela confiança do fornecedor e

afetavam positivamente os resultados.

• a confiança habilita a tomada de decisões mais rápidas, as quais permitem

inovações e a superação do trabalho improdutivo. A confiança é uma

vantagem competitiva, a base da agilidade e flexibilidade. (BETH ET AL.,

2003).

Ainda sob este assunto, os limites da confiança, Kumar (1999) coloca que:

A estratégia de confiança funciona somente se nossos parceiros estão dispostos a entrar no mesmo jogo. Além disso, independentemente de quanto dois parceiros confiam um no outro, sempre haverá áreas de diferença, pois as duas partes terão alguns objetivos divergentes. O limite da confiança é ainda mais obvio quando a indústria e o varejista não têm uma relação mutuamente exclusiva (KUMAR, 1999, p. 97, tradução da autora).

Têm-se, portanto, exemplos de que a confiança é importante para o relacionamento,

porém, em dois dos exemplos citados que nem sempre é recíproca (KUMAR 1999 e

JOHNSTON ET AL. 2004 APUD STJERNSTROM & BENGTSSON, 2004). O que

remete a questão de como se constrói a relação de confiança.

De acordo com Kumar (1999) a chave para se criar confiança numa relação de

poder desigual é tratando o parceiro de forma justa. Ou seja, o elo com maior poder

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43

deve ser justo e essa justiça deve ser de dois tipos: justiça distributiva e justiça

processual (KUMAR, 1999).

A justiça distributiva se refere à maneira que os ganhos da relação são

compartilhados entre os parceiros. Neste caso, o parceiro de maior poder deve usá-

lo não para maximizar seus próprios ganhos, mas sim para compreender sua

responsabilidade sobre o resultado de seus parceiros e agir, mesmo que por vezes

em �prejuízo� próprio, para manter a relação como um todo rentável (KUMAR 1999).

A justiça processual se refere aos processos pelos quais a relação é gerenciada e

tem até um efeito maior que a justiça distributiva nos relacionamentos (KUMAR,

1999). Ou seja,

Os resultados de um relacionamento são influenciados por vários fatores (inclusive competitivos), sendo que apenas alguns deles estão sob controle do parceiro com maior poder. Entretanto, o mais poderoso é sempre considerado no controle das políticas e procedimentos. O parceiro mais fraco vê então o sistema de justiça processual do parceiro mais poderoso como um reflexo mais apurado das reais atitudes do mesmo (KUMAR, 1999, p. 100, tradução da autora).

Pelo que colocam os estudiosos aqui citados é então através do sistema de justiça

processual que se forma a imagem do parceiro com maior poder na cadeia.

De acordo com Kumar (1999) os sistemas processuais são construídos seguindo

seis princípios. São eles:

• Comunicação bilateral � comunicação de duas vias entre os parceiros

• Imparcialidade � tratamento eqüitativo entre os elos da cadeia

• Refutabilidade � existência de mecanismos na relação para que se possa

recorrer caso alguma atitude considerada injusta por uma das partes venha a

ocorrer

• Explicação � os parceiros, em especial de maior poder, provém às partes com

explicações racionais e coerentes

• Familiaridade � conhecimento que as partes tem uma das outras sobre as

condições e operações locais

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44

• Cortesia � as pessoas envolvidas tratam e são tratadas com cortesia e

respeito

Finalmente resume-se as diferenças entre relações baseadas em poder e confiança

no quadro 2.

Quadro 2: Poder e Confiança Poder Confiança

Modus operandi Criar medo Criar confiança

Princípios de negócios Busca de interesses próprios Busca do que é justo

Estratégia de negociação Evita dependência jogando

parceiros uns contra os

outros

Cria interdependência,

limitando o número de

parceiros

Comunicação Unilateral Bilateral

Influência Através de coerção Através de conhecimento e

expertise

Contratos Formais, detalhados e de

curto prazo

Informais ou abertos e de

longo prazo

Gerenciamento de conflitos

Resolve conflitos através de

sistemas legais

Resolve conflitos através de

procedimentos como

mediação e arbitragem

Fonte: Adaptado de KUMAR, 1999, p. 105, tradução da autora

Desta forma, concluí-se que o estabelecimento de relações baseadas em confiança,

criadas através de justiça distributiva e processual, é fundamental para o sucesso de

relações colaborativas.

A seguir, para que este trabalho também contasse com uma perspectiva de

marketing de relacionamento, abordam-se os itens d), e), f) e g) citados

anteriormente referentes a: presença de elementos essenciais para a sobrevivência econômica, elementos de Suporte, políticas de relacionamento, e comunicação

Segundo Durand (2003, p. 12) o importante é �descrever como fabricantes de bens

de consumo no mercado brasileiro constroem relacionamento com seus

distribuidores, investigando os fatores que determinam os diferentes graus desse

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45

relacionamento�. No seu estudo refere o relacionamento entre fornecedores e seus

distribuidores, com um tipo de abordagem que é fonte de elementos importantes

para um trabalho como o da autora deste ora apresentado, uma vez que também se

refere a relacionamentos diretos e entre elos da mesma cadeia.

Em seu trabalho Durand (2003), investiga como os fabricantes relacionaram-se com

distribuidores propondo uma matriz semelhante à matriz de Fontenot & Wilson

(1997). A metodologia utilizada por esta estudiosa esta comentada a seguir.

Essa autora identifica os elementos do posicionamento de canal de Anderson &

Narus (1988) como ponto de partida para a definição de atividades que caracterizam

relacionamentos de parceria. Faz uma revisão de modelos de marketing de

relacionamento a partir da leitura dos modelos utilizados por autores como:

Fontenot e Wilson (1997) - Dwyer, Schurr e Oh (1987), Anderson e Narus (1990),

Mohr e Spekman (1994), e Morgan e Hunt (1994). Os modelos propostos por estes

autores foram considerados como modelos consistentes em relação ao marketing de

relacionamento.

A esses modelos, Durand (2003) agregou os modelos de Anderson e Weitz (1992),

Fein e Anderson (1997) e Viana, Cunha e Slongo (1999), também considerados

consistentes para explicar a natureza de relacionamentos de parceria

interorganizacionais;

A seguir apresentam-se os quadros 3, 4 e 5 que tratam a questão da

contextualização dos elementos do posicionamento de canal em relação aos

modelos revisados, os elementos a serem adicionados ao posicionamento de canal

e o posicionamento de canal expandido.

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46

Quadro 3: Contextualização dos elementos do posicionamento de canal em

relação aos modelos revisados

Fonte: Durand (2003, p. 109)

O quadro acima mostra a identificação de elementos que poderiam ser adicionados

aos elementos do posicionamento de canal: quais variáveis antecedentes a

constructos que caracterizam marketing de relacionamento - cooperação,

comprometimento e satisfação � são relevantes para serem transformados em

atividades e agregados aos elementos do posicionamento de canal, criando o

conceito de posicionamento de canal expandido.

POSICIONA-MENTO DE CANAL

SATISFAÇÃO

ELEMENTOS ESSENCIAIS

Retornos Financeiros

Qualidade dos produtos

Preços Competitivos

Entrega Confiável

Reputação

PROGRAMAS DE SUPORTE

PROGRAMAS DE INCENTIVO

VAR

IÁV

EIS

IND

EPEN

DE

NTES

ANDERSON e NARUS (1990)

DEPENDÊNCIA RELATIVA

COMUNICAÇÃO

RESULTADOS EM COMPARAÇÃO COM ALTERNATIVAS

EXCLUSIVIDADE

INVESTIMEN-TOS IDIOS-SINCRÁTICOS

COMUNICAÇÃO

REPUTAÇÃO

EXTENSÃO VENDA DIRETA

HISTÓRICO DE CONFLITO

CONTRATO

ANDERSON e WEITZ (1992)

MOHR E SPEKMAN (1994)

COMPROME-TIMENTO

ATRIBUTOS DA PARCERIA

COMPORTAMENTO DE COMUNICAÇÃO

TÉCNICAS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS

SATISFAÇÃO

MORGAN E HUNT (1994)

CUSTOS DE TERMINAR O RELACIONAMENTO

BENEFÍCIOS DO RELACIONAMENTO

VALORES COMPARTILHA-DOS

COMUNICAÇÃO

COMPORTAMENTO OPORTUNISTA

INVESTIMENTOS NO RELACIONAMENTO

NÍVEL DE COMPARAÇÃO DE ALTERNATIVAS

TROCA DE INFORMAÇÕES

AQUIESCÊNCIAPROPENSÃO A DEIXARCOOPERAÇÃOCONFLITO FUNCIONALINCERTEZA

VIANNA AT ALL (1999)

SATISFAÇÃO

VAR

IÁVE

IS

DEP

END

ENTE

S (1

)

Análise da autora(1) Não foram consideradas as variáveis mediadoras do modelo por simplificação

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47

Quadro 4: Elementos a serem adicionados ao posicionamento de canal

Fonte: Durand (2003, p. 111)

Neste quadro mostra as atividades que refletem os elementos do posicionamento de

canal. Tendo identificado todos os elementos do posicionamento de canal

expandido, a sua autora definiu atividades que refletem esses elementos através de

seus conhecimentos e experiência em relacionamentos entre fabricantes e

distribuidores.

POSICIONA-MENTO DE CANAL

SATISFAÇÃO

ELEMENTOS ESSENCIAIS

Retornos Financeiros

Qualidade dos produtos

Preços Competitivos

Entrega Confiável

Reputação

PROGRAMAS DE SUPORTE

PROGRAMAS DE INCENTIVO

VAR

IÁVE

IS

IND

EPEN

DEN

TES

ANDERSON e NARUS (1990)

DEPENDÊNCIA RELATIVA

COMUNICAÇÃO

RESULTADOS EM COMPARAÇÃO COM ALTERNATIVAS

EXCLUSIVIDADE

INVESTIMEN-TOS IDIOS-SINCRÁTICOS

COMUNICAÇÃO

REPUTAÇÃO

EXTENSÃO VENDA DIRETA

HISTÓRICO DE CONFLITO

CONTRATO

ANDERSON e WEITZ (1992)

MOHR E SPEKMAN (1994)

COMPROME-TIMENTO

ATRIBUTOS DA PARCERIA

COMPORTAMENTO DE COMUNICAÇÃO

TÉCNICAS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS

SATISFAÇÃO

MORGAN E HUNT (1994)

CUSTOS DE TERMINAR O RELACIONAMENTO

BENEFÍCIOS DO RELACIONAMENTO

VALORES COMPARTILHA-DOS

COMUNICAÇÃO

COMPORTAMENTO OPORTUNISTA

INVESTIMENTOS NO RELACIONAMENTO

NÍVEL DE COMPARAÇÃO DE ALTERNATIVAS

TROCA DE INFORMAÇÕES

AQUIESCÊNCIAPROPENSÃO A DEIXARCOOPERAÇÃOCONFLITO FUNCIONALINCERTEZA

VIANNA AT ALL (1999)

SATISFAÇÃO

VARI

ÁVEI

S D

EPEN

DENT

ES (1

)

Análise da autora(1) Não foram consideradas as variáveis mediadoras do modelo por simplificação

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48

Figura 5: Posicionamento de canal expandido

Fonte: Durand (2003, p. 113)

Este esquema representa a síntese do trabalho de Durand (2003) que se valendo

dos dez anos de observação do mercado constrói uma matriz para a avaliação do

relacionamento entre os elos da cadeia (indústria/ distribuidores e indústria/

atacadistas) para investigação da natureza do relacionamento nos casos que

escolheu no mercado brasileiro.

Os itens avaliados pela pesquisadora foram:

1. Elementos essenciais: condições comerciais, linha de produtos e contrato

2. Programas de suporte: atendimento comercial, atividade da força de vendas,

logística, manufatura, assessoria em competência operacional, troca de experiências

com outras empresas

3. Programas de incentivo: atividade promocional, propaganda

4. Comunicação: avaliação de desempenho, envolvimento em processos internos,

comunicação, troca de informações, compartilhamento/ qualidade

h) Métricas

Retornos FinanceirosQualidade dos

Produtos Preços Competitivos

Entrega Confiável Reputação Contrato

Treinamento

Suporte Promocional

Assistência Técnica Políticas de

Relacionamento

Pesquisa de

mercado

Incentivos a equipe de vendas do

Incentivos a equipe de vendas do

Incentivos ao distribuidor

12

3

Qualidade

4

Comparti-lhamento

Participa-ção

1- Elementos Essenciais 2- Programas de Suporte 3- Programas de Incentivo4- Comunicação

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49

Quanto a este fator, as métricas, diz respeito ao alinhamento de interesses dos

grupos funcionais e seus múltiplos parceiros para que se possa caminhar adiante em

união (BETH ET AL. 2003) e, uma das formas de construir confiança e de

estabelecer uma relação harmoniosa é através de alinhamento. �Alinhe os interesses

de seus múltiplos parceiros para que eles tenham valores e objetivos em comum�

(BETH ET AL. 2003). Afinal �confiança só pode ser criada se considerarmos os

riscos e tivermos métricas com penalidades e incentivos� (BETH ET AL,. 2003).

Outro motivo pelo qual alinhar métricas é fundamental é o fato de normalmente os

executivos se preocuparem apenas com problemas em suas organizações e

abandonarem problemas entre empresas por acharem mais difíceis de se detectar e

resolver. Além disso, existe uma dificuldade em se definir papéis e

responsabilidades entre negócios que não são gerenciados diretamente, uma vez

que tendo as empresas culturas diferentes, não contam com as mesmas crenças e

lealdade. Esse é mais um dos motivos porque devem ser criados fatores incentivos

monetários segundo Narayanan & Raman (2004)

Porém, diferentemente dos negócios individuais, não existem medidas

convencionais para as cadeias de suprimento (BOWERSOX, 2002). E, a maioria dos

sistemas de avaliação tendem a falhar por 3 razões:

1. Incorporam em sua maioria medições duras e objetivas que não captam o

desempenho de elementos mais sociais de capacidade e desempenho

(ELLRAM, 1999; MACBETH & FERGUNSON, 1994 APUD HARLAND, 1996)

2. Geralmente são desenhados pela empresa compradora ou vendedora, ao

invés de serem desenhados pelos pares da relação (LAMMING, 1993 APUD

HARLAND, 1996)

3. São impostos pela parte mais forte na balança de poder (GREGORY, 1986

APUD HARLAND, 1996)

Assim, a união de várias empresas numa cadeia sincronizada requer métricas que

reflitam o desempenho coletivo enquanto também isolam e identificam a contribuição

individual (BOWERSOX, 2002). Algumas das métricas propostas por Bowersox

(2002) são:

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50

• Conversão caixa para caixa � medida do uso efetivo do caixa e que

avalia o tempo necessário para o que foi gasto em estoque voltar para

o caixa

• Dias de estoque na cadeia

• Tempo de interrupção � tempo que o estoque permanece na cadeia

sem possibilidade de uso

• Percentual de estoque na prateleira (não-ruptura) � disponibilidade de

produtos para o consumidor final

• Custo total da cadeia

• Tempo de resposta da cadeia � tempo gasto para se reconhecer uma

mudança nos padrões da curva de demanda, internalizar tal mudança,

se replanejar e se ajustar à nova situação

• Benchmarking � comparação de desempenho entre outras empresas

ou cadeias

Apesar das métricas propostas considerarem o desempenho coletivo, não

consideram fatores qualitativos, que como descrito anteriormente (ELLRAM, 1999;

MACBETH & FERGUNSON, 1994 APUD HARLAND, 1996) pode ser um fator de

falha no sistema de avaliação. Além disso, as métricas estão bastante focadas na

logística e a relação entre empresas se dá entre diversas funções.

i) Coordenação e liderança

Quanto a este aspecto assim, como organizações individuais necessitam de

coordenação e liderança, as cadeias de abastecimento também precisam

(BOWERSOX, 2002). O aprendizado entre empresas não acontece por acaso,

precisa ser coordenado. Uma das maiores causas falta de aprendizado nas relações

identificado na literatura (BESSANT ET AL. 2003, APUD STJERNSTROM &

BENGTSSON, 2004) é a falta de um coordenador da cadeia com a ambição de

desenvolver uma cooperação mais efetiva (STJERNSTROM & BENGTSSON, 2004).

Sendo assim, uma liderança construtiva é necessária para estimular e recompensar

o comportamento colaborativo (BOWERSOX, 2002).

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51

A essência da liderança do canal é então orquestrar as competências chave (core

competences) das empresas participantes e integrar seus desempenhos. Papel que

envolve dividir e absorver os acordos entre os negócios participantes do acordo e

negociar solução de problemas e mediar a divisão dos riscos e recompensas

(BOWERSOX, 2002).

Se se relaciona o tema da coordenação e liderança ao tema do poder, vê-se que faz

sentido que a liderança do processo colaborativo se concentre na empresa de maior

poder, além disso, a existência de uma coordenação e liderança pode ser elemento

fundamental para o estabelecimento das justiças distributivas e processuais.

Vistos os elementos essenciais e as condições necessárias para o relacionamento

colaborativo, passa-se para as práticas de relacionamento colaborativo.

2.2.2 Práticas Colaborativas

Tradicionalmente, a interação entre empresas da cadeia de distribuição se dá entre

as áreas de compras e de vendas (Figura 6). De acordo com a literatura uma das

primeiras práticas colaborativas é a troca eletrônica de dados, ou EDI (electronic

data interchange), que tanto pode ocorrer nos modelos tradicionais, não

colaborativos quanto nos modelos colaborativos. Dentre os tipos de informações

trocadas transmitidas, citam-se: requisitos e pedidos de compra, status do pedido e

rastreamento da informação. �O EDI é o maior componente de integração entre

compradores e vendedores� (BOWERSOX, 2002, p. 144).

Entretanto é na medida em que a estrutura de parceria traz novas inter-relações nas

cadeias, é que surgem novas e mais sofisticadas práticas de colaboração,

integrando não somente processos comerciais, mas também processos de negócios.

Configura-se assim um modelo de prática realmente colaborativa com benefícios

mútuos que surgem na cadeia.

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52

Figura 6: Esquema representativo da evolução da estrutura de relacionamento

entre empresas

Fonte: http://www.globalscorecard.net/guide_to_ECR/S01.asp consultado em

20/03/3006

Dentre essas áreas e práticas citam-se:

• Financeiro: EFT (electronic fund transfer/ transferência eletrônica de fundos):

transação contemplada pela tecnologia EDI, que administra e transmite, entre

duas empresas distintas, faturas, notas de crédito, notas de débito etc.

Também é conhecida como EDI financeiro.

(http://www.ecrbrasil.com.br/glossario.asp, consultado em 20/03/2006)

• Gestão de estoques: VMI (vendor managed inventory) - estoque gerenciado

pelo fornecedor (http://www.ecrbrasil.com.br/glossario_t_z.asp consultado em

20/03/2006)

• Transportes: backhaul - uso do caminhão que abastece as lojas do varejista

para fazer o transporte do fornecedor para o centro de distribuição do

varejista. É o uso do caminhão em seu caminho de volta para o centro de

distribuição.

• Marketing: gestão de categorias � processo de parceria entre varejista e

fornecedor que consiste em definir categorias de produtos conforme a

necessidade que atendam (ex: matinais, beleza, limpeza) e gerenciá-las como

se fossem unidades estratégicas de negócios

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53

(http://www.ecrbrasil.com.br/comite_coord_gerenc.asp, consultado em

20/03/2006)

• Planejamento: CPFR (collaborative planning, forecasting and replenishment) -

processo pelo qual múltiplas empresas coletivamente gerenciam previsão de

vendas, produção e reposição (http://www.ecrbrasil.com.br/glossario.asp,

consultado em 22/03/2006)

Finalmente, o quadro 5 acrescenta outras práticas com uma visão de seus objetivos

e suas origens.

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54

Quadro 5: Revisão dos Programas de Resposta Rápida Técnica O que é Objetivos Onde surgiu

QR � Quick response

Prática através da qual os fornecedores recebem os dados coletados nos pontos de venda do cliente e utilizam essa informação para sincronizar suas operações de produção e seus estoques com as vendas reais do cliente

Aprimorar a previsão e programação do fornecedor

No setor têxtil e de confecções nos EUA

Continuous Replenishment (CR)

Prática através da qual os fornecedores recebem os dados on-line do ponto de venda

Preparar carregamentos em intervalos regulares e assegurar a flutuação do estoque no cliente entre determinados níveis máximo e mínimo

Procter & Gamble e a Wal*Mart para o ressuprimento das fraldas Pampers

Efficient Consumer Response (ECR)

Pratica que propõe que varejo e fornecedor cooperem em cinco áreas principais: o compartilhamento de informações em tempo real, o gerenciamento de categorias, a reposição contínua, o custeio baseado em atividades e a padronização.

Minimizar custos e otimizar a produtividade da relação

Setor de alimentos nos EUA.

Collaborative Planning, Forecasting and Replenishment (CPFR)

Compartilhamento de sistemas e processos de previsão de vendas entre fabricantes e varejistas

Gerar previsões de vendas mais precisas

Nabisco (fabricante de alimentos)

Just in Time II (JIT II)

Presença de um funcionário do fornecedor trabalhando no seu cliente (in-plant) para tomar decisões relacionadas à programação de produção e aquisição de insumos, além de dedicar parte do seu tempo a projetos de engenharia simultânea.

Estreitar a comunicação entre comprador e vendedor, reduzindo desperdícios e esforços redundantes, além de melhorar a capacidade de resposta do fornecedor.

Bose Corporation

Adaptado de: Uma Revisão dos Programas de Resposta Rápida: ECR, CRP, VMI, CPFR, JIT II. Peter Wanke, D.Sc. Artigo CEL (http://www.coppead.ufrj.br/pesquisa/cel/new/fs-busca.htm?fr-ecr.htm)

Pelo exposto apesar das práticas colaborativas serem um guia no estabelecimento

de relações colaborativas, as condições e elementos necessários para que elas

aconteçam sendo fundamentais para o sucesso e uso das mesmas de forma

sistematizada definem o modelo como mais ou menos colaborativo.

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55

CAPITULO III � ESTUDO EM CAMPO

3.1 Caracterização da situação estudada em suas fases

FASE 1. Identificando as dimensões externas e internas da situação

Neste trabalho o primeiro passo foi identificar a relação indústria e varejo de forma

geral e, posteriormente, como a empresa, objeto deste estudo, era avaliadas pelos

seus fornecedores.

Esta fase do estudo constituiu o ponto de partida para a elaboração de um modelo

de relacionamento objeto. Os resultados levaram ao entendimento da situação

problema e à sua expressão.

Abordou-se a situação estudada em duas dimensões, uma externa e outra interna.

Na dimensão externa, valorizou-se a visão da indústria sobre o varejo,

especialmente como a empresa em questão era percebida por seus fornecedores.

Na dimensão interna, valorizou-se os aspectos organizacionais qualitativos e

quantitativos.

Dimensão Externa da situação estudada: Visão da Indústria sobre o varejo

Os primeiros insumos para o diagnóstico da relação entre o varejista e seus

fornecedores decorreram de um trabalho diagnóstico realizado internamente sobre

em diversos aspectos da situação da empresa, inclusive na sua relação com

fornecedores.

Na época, para a avaliação dessa dimensão externa, solicitou-se a empresa de

consultoria estratégica Booz Allen que levantasse os pontos relevantes da

perspectiva das indústrias fornecedoras na sua relação com a empresa varejista.

Dentre os principais pontos trazidos, alguns de seus exemplos estão descritos a

seguir.

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56

Segundo a Bozz Allen, o primeiro grande ponto de atenção na relação das indústrias

com os grandes varejistas era o fato dos mesmos serem tidos como menos

rentáveis, uma vez que os fabricantes consideravam �baixa margem de

lucratividade� junto aos mesmos. Como demonstra a Figura 7, os grandes varejistas

operavam com margens negativas enquanto o pequeno varejo e os distribuidores

operavam com margens positivas.

Figura 7: Gráfico representativo das margens de lucro da indústria em

diferentes canais de distribuição

Na conclusão da referida Consultoria, uma justificativa para essa realidade é que os

investimentos no grande varejo são superiores aos realizados no pequeno, ainda

que o grande varejo tenha um custo operacional menor e opere de forma mais

centralizada em sua distribuição.

A seguir, apresenta-se uma figura (Figura 8) que ilustra as diferenças de

investimentos realizados pelo grande e pequeno varejo em cada um dos canais,

quais sejam: (a) verbas de ações promocionais e no ponto de venda (Verba de

Trade) e (b) custo operacional. No primeiro caso, investimentos são feitos pela

indústria no canal para bonificações, contratos, espaço lojas, aniversários,

-10,9%

-6,2%

6,6%

11,7%

-10,7%

-5,5%

2,9%5,1%

Grande Varejista

1

Grande Varejista

2

Pequeno Varejo

Distribuidor

GrandeVarejista

1

GrandeVarejista

2

Pequeno Varejo

Distribuidor

Fabricante A Fabricante B

Fonte: Booz Allen & Hamilton, 2004

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57

inaugurações e (re)inaugurações, desconto incondicional, desconto de logística,

entre outras. No segundo caso, os custos da indústria com equipe de vendas

envolvem armazenagem e frete, entre outros.

Figura 8: Gráfico representativo dos investimentos realizados nos diferentes

canais de distribuição

Outro ponto apresentado neste estudo refere-se a investimentos em verbas para

ações promocionais e no ponto de venda (verba de trade) com resultados por vezes

díspares, ou seja, não proporcionais aos gastos, como mostrado na figura 9:

Figura 9: Gráfico representativo de investimentos nas redes varejistas versus

participação nos negócios

Fonte: Booz Allen & Hamilton (2004)

Comparativo de mesmo fabricante para diversos varejistas (varejista 1 = base 100)

Verba Investida/ unidade

100

73 6757

020406080

100120140160

Varejista 1 Varejista 2 Varejista 3 Varejista 4

Participação na rede - share da categoria

100

148136

82

020406080

100120140160

Varejista 1 Varejista 2 Varejista 3 Varejista 4

Fonte: Booz Allen & Hamilton (2004)

14

Gde varejista 1

23

Gde varejista 2

15

16

3731

20-

Pequeno Varejo

Verbas Trade

Custo Operacional

Entre 30% e 20%

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58

Finalmente, o último ponto da relação indústria�varejo apontado no estudo da

empresa Booz Allen se refere ao dilema das promoções: lucro do varejo versus lucro

da indústria. Neste caso, foi realizada uma plotagem de resultados de várias

promoções do varejo onde se relaciona, em cada promoção especificamente, o lucro

de cada uma das partes.

Da análise da figura 9, pode-se verificar que existem promoções em que tanto

indústria quanto varejo perdem, em que ambos ganham e em que apenas uma das

partes perde. O fato é que no exemplo apresentado existe uma grande dispersão de

resultados, como se as promoções acabassem sendo aleatórias e como se existisse

um grande potencial maximizador dos resultados ou minimizador das perdas.

Figura 10: Gráfico representativo do histórico de promoções: Lucro do Varejo versus Lucro da Indústria

Fonte: Booz Allen & Hamilton (2004)

Desta forma, verifica-se que a indústria, para além de considerar o grande varejo

mais caro, também questiona ou não confia no investimento feito nesse setor, uma

vez que as verbas de ações promocionais e no ponto de venda (Verba de Trade) � o

grande fator de diferença de custo em relação ao pequeno varejo é que não há

retornos considerados proporcionais ao investimento realizado, muito embora as

promoções pareçam ter um grande potencial de melhoria de eficiência.

$50

$40

$30

$20

$10

$0

-$10

-$20

-$30

-$40

-$50

-$50 -$40 -$30 -$20 -$10 $0 $10 $20 $30 $40 $50

Nota: Cada ponto corresponde a uma promoção

Área de oportunidade para o varejo

LUCRO DA INDÚSTRIA

LUCRO DO VARE JO

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Esta estudo da empresa Booz Allen foi submetido à apreciação de executivos (20)

que atuavam nas áreas de compras e operações da empresa. Os resultados

mostraram como conseqüência do cenário acima apresentado, uma estratégia que

poderia ser utilizada pela da indústria seria diminuir a �dependência� das grandes

redes, incentivando o pequeno e médio varejo, bem como investimento em canais

não tradicionais de distribuição, tais como farmácias, padarias, entre outros. De fato,

apesar de não haver elementos que comprovem essa relação de causalidade, fato é

que nos últimos anos, dados da ACNielsen (Figura 10) comprovam que os canais

que ganham participação de mercado são o varejo tradicional, os pequenos auto-

serviços e os bares.

Figura 11: Gráfico representativo da evolução da participação dos canais no

faturamento do mercado alimentício

Alguns dos executivos aos quais o estudo da Booz Allen foi submetido à apreciação

chegaram ainda a comentar como a indústria tem se organizado de forma

institucional �contra� o grande varejo � retórica da indústria sempre presente na

Mídia e em órgãos formadores de opinião, tais como SDE (Secretaria de Defesa

Econômica), SeAE (Secretaria de Acompanhamento Econômico), CADE (Conselho

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60

Administrativo de Defesa Econômica), CPIs (Comissão Parlamentar de Inquérito),

PROCON (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor), entre outros.

Finalmente, em entrevistas com diretores e gerentes de vendas das indústrias que

participaram do estudo, quando questionados a respeito da imagem tinham da área

de compras da empresa varejista e da forma como negociavam, obtiveram-se os

seguintes resultados: para a indústria, a varejista tem os negociadores mais �duros�

e as melhores condições comerciais, com melhor postura profissional; têm pouca

flexibilidade para negociação (postura impositiva); são inflexíveis na negociação de

promoções; são excessivamente rígidos para viabilizar modelos de atendimento

logístico; falta-lhes foco na identificação de oportunidades ganha-ganha.

Nesse sentido, considerando os resultados obtidos pela consultoria Booz Alllen, e

levando-se em consideração as reflexões dos executivos da empresa varejista bem

como de seus fornecedores, conclui-se que existe potencial de melhoria na relação

tanto varejistas como o objeto deste estudo como no grande varejo de forma geral,

uma vez que existem investimentos feitos no canal com retornos duvidosos e

potencial para flexibilizar acordos e negociações entre as partes.

Dimensões internas da situação estudada: aspectos organizacionais quantitativos e

qualitativos

Diante do cenário traçado de como o setor e a empresa são vistos pela indústria,

buscou-se avaliar as questões internas que contribuem ou não para que o

desenvolvimento de relacionamentos mais colaborativos com seus fornecedores.

Para este diagnóstico, a autora utilizou-se de indicadores quantitativos e qualitativos

extraídos de resultados de análises em documentos da própria empresa e de

entrevistas com funcionários. Entretanto, por questão de confidencialidade de

informações, os números não estão apresentados.

A seguir, apresenta-se uma síntese desse diagnóstico como indicadores internos

(quantitativos e qualitativos).

1. Indicadores internos quantitativos

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61

• Perda de rentabilidade em 10 dos 15 principais fornecedores;

• Perda de participação de mercado em grande parte das categorias;

• Alta variabilidade de rentabilidade entre fornecedores da mesma família de

produtos, o que é amplificado pelo fato de, em muitos casos, a empresa

favorecer os fornecedores menos rentáveis;

• Perda de competitividade de preços em relação ao mercado;

• Apenas 35% do tempo de um gerente de compras considerado gasto com os

maiores fornecedores, responsáveis em média por 50% das vendas.

Muito embora não se possa afirmar com precisão que os resultados acima

apresentados são causados pela atual estrutura interna da empresa e pela forma

como a mesma se relaciona com seus fornecedores, existem indícios de que uma

relação mais colaborativa pode ser um caminho para reverter tal situação, conforme

será melhor discutido adiante.

2. Indicadores internos qualitativos

Para o melhor entendimento dos indicadores internos de natureza qualitativa, foram

entrevistados, com o uso de um questionário com perguntas abertas, 5 funcionários

da empresa varejista (gerentes), equivalente a 100% dessa categoria, onde existe

uma relação importante com fornecedores.

Além dessas entrevistas, a autora realizou um outro estudo em conjunto com

empresa de consultoria externa, estudo esse que contribuiu para o diagnóstico dos

indicadores internos qualitativos.

Quanto aos resultados da análise das entrevistas, tem-se que os mesmos deixam

claro que todos os entrevistados sentem falta de uma visão mais ampla da relação

com os fornecedores e da construção de uma agenda mais estratégica, dando

suporte às convicções da autora quanto à necessidade da criação de uma área

voltada para a reflexão e o acompanhamento do trabalho qualitativo com os grandes

fornecedores.

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62

Seguem alguns dos aspectos apontados pelos funcionários como sendo as

dificuldades enfrentadas na sua relação com os fornecedores:

Gerente 1

O aspecto apontado por esse gerente é falta de uma área de suporte estratégico.

Chegou a sugerir a criação de um cargo de gerência de estratégia na estrutura, que

se reportaria ao diretor da categoria e que estivesse alinhado com os demais

gerentes comerciais. A proposta do gerente 1 seria de que os atuais gerentes

mantivessem a negociação com os fornecedores, ficando o gerente de estratégia

responsável pelo suporte e alinhamento das negociações de maneira mais global,

suportando, acompanhando e avaliando resultados objetivados.

Além da estratégia, o gerente 1 sente falta de melhores processos, ferramentas e,

principalmente, prospecção de mercado, concorrência, cenários de melhores

práticas.

Gerente 2

Por sua vez, o gerente 2 citou exemplo de negociação compartilhada entre ele e

outros gerentes, onde constatou que o ganho foi bastante maior. O gerente 2 parece

sentir falta de uma estruturação e planos de ação mais conjugados e alinhados com

a estratégia objetivada pela empresa.

Gerente 3

Este gerente 3 disse que possui pouco tempo para pensar em estratégia e planos de

ação; que costuma ter a agenda preenchida com as negociações internas e com

fornecedores, em escalas pontuais e que acredita que uma estrutura focada nos

grandes fornecedores possa trazer bons resultados para a empresa.

Também manifestou sentir falta de uma área de desenvolvimento, estratégia,

práticas de mercado e facilitação na integração com Regionais e, outras áreas.

Gerentes 4 e 5

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63

Ambos os gerentes 4 e 5, que foram entrevistados em conjunto, afirmaram que

muito tempo é perdido com negociações internas; acreditam que principal causa são

os indicadores não alinhados.

Quanto aos resultados do estudo realizado pela autora em conjunto com a

consultoria externa, obteve-se o que segue:

• Não existe uma visão integrada do desempenho da categoria/fornecedores

com uma identificação sistemática de oportunidades e planos de ação

compartilhados entre as áreas de negócios;

• Os gerentes comerciais possuem metas por categoria que não se traduzem

em objetivos de venda e margem por fornecedor;

• Não há uma agenda estruturada para negociação com fornecedores

estratégicos e um processo para desenvolvimento de pequenos/médios

fornecedores. Como conseqüência, em algumas categorias, fornecedores

altamente rentáveis acabam reduzindo seu nível de investimentos e migrando

volumes para canais alternativos;

• A falta de acesso à informação de uma forma estruturada faz com que as

diferentes áreas de negócios tomem decisões que não necessariamente

maximizam ao resultado da empresa;

• Existe um desalinhamento de métricas e incentivos entre áreas que faz com

que cada área trabalhe de forma independente e com agendas conflitantes,

muitas vezes beneficiando fornecedores menos rentáveis.

O que foi levantado internamente e aqui exposto demonstra a existência de

necessidade e oportunidade de melhoria de processos internos para que se possa

potencializar a relação da empresa com seus fornecedores, em especial os de

grande porte, que são os que mais demandam um relacionamento estratégico.

FASE 2. Processo de construção de um modelo de relacionamento

colaborativo

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64

Práticas e Procedimentos

Diante das constatações acima relatadas, e tendo em vista que a autora desse

estudo participava do processo de reestruturação interna da empresa, ambas

decidiram, de comum acordo, criar um novo modelo e processo de relacionamento

com alguns dos fornecedores, mediante a adoção dos seguintes procedimentos:

1º Procedimento: Criação de uma área de Inteligência de fornecedores, responsável

por construir ferramentas e processos de gestão de fornecedores;

2º Procedimento: Classificação de fornecedores, buscando clareza na sua relação

com cada tipo de fornecedor. O critério de classificação valeu-se da importância do

fornecedor para os negócios da empresa, seja no que se refere ao volume ou valor

de negócios, seja no que se refere a sua representatividade em determinadas

categorias e potencial de crescimento. O resultado da classificação dos

fornecedores é o que segue:

• Grandes fornecedores: referem-se 5 a 10 maiores fornecedores da empresa,

considerados críticos devido à alta importância estratégica e diversidade de

produtos, devendo, portanto ter um tratamento diferenciado e centralizado;

• Fornecedores estratégicos: referem-se àqueles com peso relativo em

categorias específicas, ou seja, àqueles poucos fornecedores que atuam em

nichos de mercado e que são responsáveis por boa parte do lucro da

empresa;

• Fornecedores diferenciados médio e pequeno porte: referem-se àqueles de

segundas e terceiras marcas com potencial de desenvolvimento,

representativos de oportunidades de melhoria nas margens das categorias,

seja por gerarem alta margem de rentabilidade, seja por possuírem produtos

estratégicos;

• Fornecedores médios e pequenos comuns: referem-se aos demais

fornecedores que devem ser tratados de forma padronizada, minimizando a

alocação de tempo dos gestores.

3º Procedimento: escolha dos fornecedores para desenvolvimento e teste do novo

modelo de relacionamento. Naquele momento, optou-se por trabalhar com

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65

fornecedores grandes e estratégicos dada a sua capacidade técnica e importância

que têm para o negócio;

4º Procedimento: elaboração de um modelo de relacionamento colaborativo com

fornecedores grandes e estratégicos baseado nas seguintes premissas: (a)

compartilhamento de objetivos; (b) criação conjunta de um plano de ação visando

atingir os objetivos compartilhados; e (c) realização de avaliações periódicas do

plano e de seus resultados.

No que se refere especificamente à primeira premissa em que se baseou o modelo

de relacionamento, cabe ressaltar que, num primeiro momento, foram identificados

os seguintes objetivos a serem compartilhados: vendas, rentabilidade,

competitividade e níveis de estoque. Entretanto, com exceção das vendas, todos os

demais objetivos são exclusivamente do varejista.

No decorrer do processo de elaboração de um modelo de relacionamento, os

objetivos compartilhados que foram preliminarmente identificados passaram a

externalizar o desejo da empresa varejista de estabelecer relacionamentos

colaborativos com fornecedores que: (a) desenvolvem as categorias, ou seja,

colaboram para o crescimento das categorias no mercado e na empresa varejista;

(b) são competitivos e rentáveis, ou seja, fornecem produtos a custos que permitem

à varejista praticar preços em linha com o mercado e obter margens iguais ou

superiores a média da categoria; (c) mantêm estoques saudáveis, ou seja, permitem

que a empresa varejista efetue o pagamento dos produtos fornecidos após os

mesmos terem sido pagos pelo consumidor final; (d) são considerados como

grandes parceiros de negócios por participar de ações promocionais e tratar o

varejista de forma diferenciada.

5º Procedimento: criação de ferramentas para avaliação dos fornecedores e

desenvolvimento de processos colaborativos.

Um pouco diferente do primeiro processo idealizado os processos que passaram a

reger o desenvolvimento de fornecedores foi:

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1. Balanço anual dos indicadores (cartão de métricas) relacionados a cada um

dos princípios anteriormente citados e identificação de pontos críticos para

melhoria

2. Compartilhamento das informações com diretores e gerentes responsáveis

pelos fornecedores avaliados

3. Ajustes no balanço e preparação de material para reunião entre alta diretoria

das empresas envolvidas

4. Compartilhamento do balanço e pontos críticos com fornecedores

5. Discussão com fornecedores sobre potenciais de crescimento para o ano

seguinte

6. Compartilhamento e ajustes de meta e desenvolvimento de planos de ação

para atingi-las

7. Acompanhamento mensal e troca de informações sobre os desvios

quantitativos e avaliação qualitativa da equipe operacional

8. Acompanhamento e avaliação de tarefas especificas estabelecidas no plano

de ação

Vale aqui ressaltar que os processos de 1 a 5 foram aplicados à maioria dos

fornecedores classificados como grandes e estratégicos, enquanto os processos de

6 a 8 seriam aplicados apenas aos fornecedores com quem se desejasse

estabelecer uma relação mais colaborativa.

Para suportar o processo também foram criadas ferramentas de análises, uma vez

que existiam poucos dados sobre as visões de fornecedor sobre a empresa; que as

áreas de tecnologia da informação e de pesquisa mercadológica foram fundamentais

para a criação de tais ferramentas.

Vale ainda dizer que ao mesmo tempo em que a área comercial desenvolvia seu

modelo de relacionamento, a área de logística passou a adotar um cartão de

métricas e metas com seus maiores fornecedores, tendo o fornecedor alguns

privilégios na relação enquanto mantivesse seus resultados dentro do acordo pré-

estabelecido.

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67

Antes de retomarmos a metodologia de análise da situação e identificarmos e definir

as raízes dos sistemas relevantes, exemplificaremos a mudança ocorrida na

organização.

FASE 3. Teste do modelo de relacionamento

A indicação do primeiro fornecedor para teste do novo relacionamento foi fruto de

uma reunião entre as diretorias comerciais. Nesse caso o fornecedor se propunha a:

• Alinhar o Plano de Negócios para o ano de 2004.

• Ampliar a colaboração entre as empresas para implementação das Melhores

Práticas.

• Fortalecer o seu relacionamento multifuncional com a empresa.

Além disso, os pontos apresentados pelo fornecedor nessa reunião reforçavam o

diagnóstico inicial. Um exemplo que ilustra tal afirmação foi:

�Em 2003 as vendas em R$ para o varejista cresceram 0.7% % enquanto os demais

clientes do varejo cresceram 7.8% �� e os níveis de investimento se mantiveram

competitivos em relação aos demais clientes�

Foi também apresentada nessa reunião a visão estratégica do fornecedor para suas

categorias levando em conta a conjuntura econômica, as expectativas de

crescimento e as barreiras encontradas. Sendo que, em relação às barreiras, o

fornecedor pontuava uma série de falhas na operação do varejista. Finalmente,

apresentava suas estratégias B2B (bussiness to bussiness) e B2C (bussiness to

consumer) e um plano de ação tático composto por com suas inovações e uma

proposta de plano promocional. Finalmente apresentava seu plano de vendas, ou

seja, seus objetivos de negócios e o que considerava fatores chave de sucesso.

Entre eles citam-se:

1. Focar investimentos previstos (orçamento 2004) em atividades que promovam

crescimento;

2. Garantir alinhamento entre plano e execução através de:

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68

a) Reuniões Operacionais semanais (Key-Account Management e

Gerência de Compras);

b) Revisões de Negócio trimestrais (Diretorias indústria e varejo);

c) Reuniões Top-to-Top semestrais (entre as presidências);

d) Comprometimento / Envolvimento do Top Management;

e) Garantir ao varejista a antecipação de informações sobre novos

produtos e eventos em prazos que permitam melhor planejamento e

execução.

Como na época a intenção do fornecedor estava totalmente alinhada aos interesses

da empresa, optou-se por quebrar paradigmas e testar o novo modelo. Para o

restante dos fornecedores, naquele ano a aplicação do modelo desenvolvido foi

apenas para avaliação de desempenho interna e identificação de oportunidades de

negócios. Vale também ressaltar que por se tratar de um fornecedor estratégico os

riscos de um fracasso nessa iniciativa eram menores.

Desta forma, em junho de 2004 estabeleceram-se metas de vendas para ambas

empresas e de rentabilidade esperada para o varejista e trabalhou-se e

acompanhou-se o restante do ano para alcançá-las. Assim, mensalmente faz-se o

acompanhamento dos números e os planos para os próximos meses caso os

resultados estivessem abaixo da meta.

Apesar de se ter alcançado os resultados naquele ano, o desgaste da relação foi

muito grande uma vez que principalmente as equipes gerenciais de ambos estavam

com um modelo mental mais posicional e baseado no poder e não na confiança, ao

final de cada período o fornecedor ainda cobrava os volumes de pedido e o

comprador as verbas de ações promocionais.

Entretanto, após a primeira reunião para a continuidade do trabalho em 2005, tanto a

diretoria de vendas do fornecedor quanto o responsável pelo atendimento da conta

foram trocados. Passado o tempo de ajuste nas equipes a relação passou a fluir de

maneira muito mais produtiva e mais uma vez o ano de 2005 alcançou as metas

estabelecidas.

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69

Acredita-se que para ambas as empresas a mudança do modelo de relacionamento,

com metas compartilhadas, elaboração conjunta de um plano de ação para alcançá-

las e acompanhamento e troca de informações mensal foram positivas. E ainda,

para o varejista os resultados quantitativos observados nesses dois anos foram:

crescimento de vendas acima do esperado, ganho de participação de mercado nas

maiores categorias que o fornecedor atua, aumento da rentabilidade em reais e

percentuais.

Hoje se acredita que haja uma grande mudança na relação comercial que passou do

confronto para a criação de soluções. Um exemplo disso foi ilustrado pela frase do

diretor da categoria por parte do varejista e de um gerente de negócios por parte do

fornecedor a qual se transcreve a seguir:

�Hoje trabalhamos com vocês (fornecedor) de olhos fechados, uma vez as metas

definidas temos é que trabalhar nos planos de ação para fazer os resultados

acontecerem�. � Dir. Varejo

�Vocês são hoje nosso benchmarking de relacionamento� � Ger. Indústria

FASE 4. Expansão do uso do modelo de relacionamento Outras aplicações, resultados e aprendizados

Atualmente apenas o fornecedor do caso descrito opera com comprometimento de

metas. Entretanto, para 2006 a empresa pretende expandir o relacionamento

chamado de colaborativo para pelo menos mais dois fornecedores. Sendo que com

um deles desde meados de 2005 já existe troca de informações de indicadores

definidos conjuntamente.

Apesar do modelo de relacionamento atual, com comprometimento de metas, e dos

acompanhamentos periódicos estarem longe de serem amplamente difundidos, os

princípios do desenvolvimento de fornecedores e as análises são aplicadas no

relacionamento com a maioria dos fornecedores grandes e estratégicos. Desta

forma, criou-se uma maior �inteligência� de fornecedor e observam-se que nos casos

onde existiu uma aplicação mais sistemática do modelo os resultados do negócio

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são muito melhores, com crescimento de vendas, aumento da participação de

mercado e da rentabilidade. Observa-se também que nos casos de maior utilização

do trabalho há uma negociação mais baseada em princípios e fatos e uma relação

transparente e menos conflituosa.

Assim, de forma sistemática, a área criada para desenvolver este trabalho passou a

ser requisitada para fazer avaliação grandes negociações, tais como sazonalidades,

simulações de resultados em caso de problemas de negociação e etc.

Por fim, vale ainda destacar que houve uma outra tentativa de compartilhamento de

objetivos com um fornecedor durante o ano de 2005, mas que não foi bem sucedida,

uma vez que acabou não se concretizando. Nesse caso, como as empresas não

conseguiram chegar a um comprometimento firme em relação às metas os negócios

acabaram sendo geridos no dia-a-dia, como habitual. O balanço final do ano foi de

que os resultados não foram satisfatórios para ambas as partes.

FASE 5. Avaliação do modelo e identificação dos desafios futuros e necessidade de evolução do modelo Desafios futuros e necessidade de evolução do modelo

Se por um lado hoje existe por parte da alta direção uma forte demanda para

expansão do modelo, por outro existe uma grande duvida: com quem aplicar esse

novo modelo de relacionamento com fornecedores. Existe apenas um caso

escolhido �ao azar� bem sucedido e outro caso de um fornecedor estratégico mal

sucedido.

Adiciona-se a isso o fato de no final de 2005 a equipe responsável pela coordenação

do processo colaborativo ter avaliado o ano como sendo de muita dificuldade,

principalmente devido a:

• Dificuldade de concretização dos planos principalmente devido a muitos

alinhamentos internos

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• Muito tempo dedicado ao operacional por falta de sistemas estruturados e

demandas pontuais

• Estágios do trabalho muito diferentes entre as categorias, resultando em

pouco alinhamento nas decisões relativas aos fornecedores que em grande

parte trabalham com mais de uma categoria por serem grandes (existem

categorias que utilizam toda a expertise gerada em todas as reuniões com a

diretoria da indústria e categorias que não demandam nenhum trabalho a

área, mesmo tendo fornecedores entre os eleitos para desenvolvimento do

trabalho).

Como avaliação geral conclui-se que mesmo internamente percebe-se que as

diretorias de negócios não estão totalmente envolvidas na nova forma de operar

uma vez que acabam usando as análises desenvolvidas para atuações muito mais

pontuais que estruturais. Por parte da indústria observa-se também que existe uma

enorme desconfiança quando se propõe trabalhar de forma diferente, sendo que

algumas delas claramente se colocam como não preparadas para assumir

comprometimento por resultados além dos seus.

Uma outra tomada de atitude visando uma relação colaborativa mais efetiva foi a

escolha, em 2005, de uma empresa de consultoria de varejo que trabalhava para a

organização, chegou-se a propor um novo modelo de segmentação de fornecedor e

processo de trabalho (Figura 11). Nessa abordagem, deveriam ser considerados

para desenvolvimento, não só o tamanho e importância estratégica dos

fornecedores, mas também seu grau de maturidade. Para os fornecedores

considerados grandes e maduros propôs-se elaborar um plano de desenvolvimento

de negócios. Apesar da idéia ser interessante a empresa não foi capaz de definir

objetivamente, como classificar o grau de maturidade. De qualquer forma a empresa

também pontuou a existência de barreiras de modelo mental internos e externos

para o desenvolvimento de tais práticas.

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72

Figura 12: Modelo de segmentação e relacionamento proposto por consultoria

em varejo

FASE 6. Delineamento final do problema

Síntese da situação e definição das raízes do sistema

Entendida a situação atual e expressado o problema, a metodologia de Soft Systems

sugere que seja escolhida uma forma de ver o problema e definida as raízes do

sistema.

A literatura aponta que o relacionamento indústria e varejo hoje no Brasil não é

colaborativo, que existe um longo histórico do uso do poder na relação; que a

indústria tem dúvidas sobre o retorno de seus investimentos no grande varejo e falta

confiança na relação. Nesse contexto, a empresa estudada apresenta conflito

interno por falta de clareza nas métricas e avaliação dos fornecedores, uma relação

também baseada em poder e uma alta direção que também não confia em seus

Planos de Negócio

Capitão de CategoriaFornecedores Grandes mas ainda não Maduros para desenvolvimento de

Planos de Negócio Foco

Des. Fornecedores

Fornecedores Pequenos e Imaturo

Ñ-FocoMonitoramento

Fornecedores Grandes eMaduros para

desenvolvimento dePlanos de Negócio

FocoContratos -> PDN

MATURIDADE-

+

+

Fornecedores Pequenosmas maduros para

desenvolvimento dePlanos de Negócio

Ñ-FocoDes. Mix Fornecedor

Barreiras no Modelo Mental

Planos de Negócio

Capitão de Categoria

TA M A N H O ($)

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73

fornecedores uma vez que os julgam responsáveis pelo crescimento do pequeno

varejo e se articulam contra o grande varejo.

Apesar do cenário adverso, através do estudo de um exemplo, pode-se verificar que

iniciativas de colaboração, ainda que insipientes trazem resultados satisfatórios.

Parece, portanto, que a �Raiz do sistema� e como transformar iniciativas

colaborativas em práticas colaborativas e relações de conflito em ações

colaborativas.

A metodologia utilizada neste estudo propõe seis elementos de análise.

1. O cliente (C = (clients) clientes do sistema)

O principal cliente do sistema varejo-indústria é o consumidor, pois uma vez que a

relação do varejos com o cliente é melhorada podem se obter ganhos em uma

cadeia de abastecimento mais eficientes e com maior foco neles.

2. As pessoas que fazem parte da relação indústria e varejo. A = (actors) atores.

Esta pessoas são as pessoas que interagem e influenciam na relação Indústria e

varejo.

3. O processo de transformação do input em output T = (transformation

Diz respeito à utilização de recursos do varejo e indústria para através de relações

mais colaborativas, obterem-se melhores resultados de negócios

4. A razão de ser do sistema, T = (transformation)

Os dois elos da cadeia devem ter resultados melhores em seus negócios, o

beneficio deve ser mutuo.

5. O dono do sistema ou o principal interessado, O = (owner)

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O dono do sistema é a empresa estudada

6. O meio no qual se insere e se opera o sistema é de mudança, T = (transformation)

O meio hoje é adverso, dado o histórico de conflito no canal; a natureza competitiva

do mercado, a falta de clareza de que relações colaborativas são eficientes e a falta

de consciência de que sistemas e processos na empresa favorecem práticas

colaborativas ajudam a manter as mudanças neles operadas pouco previsíveis.

Figura 13: Esquema representativo do sistema

Modelo de formação das pessoas que compõem o

sistema (empresa) Consciência

�Interesse em mudar �Percepções internas e externas e

capacidade de agir

Processos vivenciados naempresa determinantes

da mudança: �Operacionais e comportamentais

Gestão dos processos que suportam e

motivam as mudanças Acompanhamento dos processos e

e controle de seus resultados

Ambiente interno

Fornecedores

Ambiente externo

Demais agentes

externos

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75

CAPITULO IV - AVALIAÇÃO DE LACUNAS ENTRE LITERATURA ESTUDADA E

MODELO DE RELACIONAMENTO ATUAL 4.1 Apresentação

Neste ponto comparou-se o que foi encontrado na literatura com dados extraídos da

realidade estudada com o objetivo de se entender as possíveis incongruências,

mapear os pontos críticos e propor formas de melhorar o processo de

relacionamento levando-se em consideração o que também coloca Bowersox

(2002):

A conclusão obvia é a de que acordos na cadeia de abastecimento estão ainda na sua infância. O cenário de hoje é que existem uma série de acordos de operação sofisticados que facilitam o desempenho entre empresas. Em poucos casos, estratégias da cadeia de abastecimento estão prontas para trazer ganhos sistemáticos. Menos óbvio é o entendimento de que esses ganhos estão totalmente divididos entre os participantes da cadeia ou de que estão sendo retidos pelos membros dominantes ou líderes do processo. Entretanto, além dos resultados publicados, parece existir uma grande falta de casos de sucesso de colaboração. Essa discussão nos sugere que existe uma lacuna significativa entre teoria e realidade dos resultados de colaboração na cadeia de abastecimento. (BOWERSOX, 2002, p. 27-28).

Na análise realizada entre as lacunas entre prática e teoria tendo em vista cada um

dos elementos ou condições necessárias para a colaboração e práticas

colaborativas, apreendeu-se que não existem estratégias prontas para trazer ganhos

sistemáticos e que ainda falta entendimento e clareza dos ganhos dos processos

colaborativos.

A seguir apresenta-se uma análise sucinta em torno de cada um dos fatores

analisados.

a) Potencial de ganho das partes

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O modelo �aleatório� utilizado para definir o �relacionamento teste� na empresa

deixou claro que não houve nenhuma avaliação do potencial de ganhos e riscos das

partes. Por essa razão (também), a expansão do uso do modelo deverá

necessariamente considerar este fator, pois caso contrário, quanto mais iniciativas

frustradas existirem, mais difícil será convencer a organização de que hoje não

existem técnicas de mudança.

Além disso, deve-se pensar e criar maneiras de avaliar esse potencial e suas

implicações, pois sem métricas apropriadas fica difícil compartilhar riscos e ganhos;

a distribuição adequada requer um planejamento e critérios para a implementação

de programas colaborativos (BOWERSOX, 2002); que para isso é necessário pensar

efetivamente na cadeia, pois atualmente o modelo não contempla a �divisão� dos

ganhos uma vez que não leva em conta, além das vendas, métricas importantes

para a cadeia. Esse passo será importante também para o entendimento e uso da

situação de poder, pois como descrito anteriormente, a falta de compreensão da

divisão dos riscos e ganhos gera percepções negativas sobre os processos

colaborativos.

b) Entendimento e uso da situação de poder

As análises das entrevistas com os executivos do varejista em questão deixaram

claro que existe o uso da situação de poder que exercem; que este uso ocorre seja

nas negociações, seja nas condições comerciais impostas ou nas cobranças não

acordadas;. Os resultados das análises apontam para a necessidade de um trabalho

árduo a ser feito: visando a mudança no modelo mental da negociação, pois mesmo

após várias mudanças organizacionais verificou-se que a cultura da área comercial é

fortemente baseada em relacionamentos adversariais. Este dado confirma o ponto

visto na literatura de que jogos de soma zero e comportamentos não cooperativos se

mantêm devido à história passada de relacionamentos adversariais mesmo quando

novas tecnologias e modelos organizacionais precisam e permitem relevantes

ganhos da cooperação (GALIZZI & VENTURINI, 1999). Assim, como a relação entre

empresas se dá através de pessoas é preciso motivá-las para mudanças também na

forma de atuarem, caso contrário, dificilmente se verificará avanços no campo de

colaboração. Conforme afirma Harland (1996), é importante identificar e fechar as

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dissonâncias de percepção, para que se possa conjuntamente chegar a um acordo e

ao desenvolvimento de programas de melhoria de desempenho.

Vale ressaltar que neste estudo observaram-se mudanças após o estabelecimento

de critérios objetivos para a avaliação dos fornecedores considerados como

passíveis de desenvolverem novas relações com a empresa., aumentando assim a

clareza e racionalidade nas relações tornando-as mais justas, mesmo que ainda sob

critérios unilaterais.

c) Estabelecimento de confiança

Também nesse quesito verificou-se que a empresa em questão estava longe de

estabelecer uma relação de confiança com seus parceiros conforme Kumar (1999);

que entre os elementos identificados na relação estavam os seguintes:

1. Princípios de negócios: busca de interesses próprios

2. Estratégia de negociação: evita dependência jogando parceiros uns contra os

outros

3. Influência: muitas vezes através de coerção

4. Contratos: formais, detalhados e de curto prazo (normalmente 1 ano)

5. Gerenciamento de conflitos: muitas vezes resolve conflitos através de

sistemas legais

Verificou-se também nas análises das entrevistas com as equipes de direção e

gerenciais que não existia consenso na empresa de que a estratégia de confiança é

importante e leva a melhores resultados. De acordo com a literatura, tal estratégia de

confiança ocorre somente quando os parceiros estão dispostos a entrar no mesmo

jogo (KUMAR, 1999); que se a as indústrias e varejistas não têm uma relação

mutuamente exclusiva, o grau da confiança fica ainda menor (KUMAR, 1999).

É freqüente encontrar na literatura autores que atribuem aos varejistas a maior

responsabilidade pela mudança na relação uma vez ser ele o elo mais forte na

cadeia. E que para isso devem ser criados mecanismos de justiça distributiva e

processual (BOWERSOX, 2002).

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Um outro dado levantado neste estudo diz respeito à ausência do uso de princípios

na relação da empresa com seus fornecedores como os apontados por Kumar

(1999):

1. Não havia imparcialidade uma vez a empresa levava em consideração

apenas seus próprios interesses na relação;

2. Não existiam mecanismos de refutabilidade para que os fornecedores

pudessem recorrer a outras instâncias de decisão que não legais;

3. A explicação não provinha do varejista na tomada de decisões as quais

ocorriam por vezes de forma impositiva;

4. Não havia o conhecimento que das partes para que o varejista pudesse

utilizar mecanismos de operação de seus parceiros evitando quebra de

confiança.

d) Presença de elementos essenciais para a sobrevivência econômica

Neste estudo foi possível identificar a existência de elementos essenciais à

sobrevivência econômica da empresa. Porém, tais elementos não se referem à

cadeia e sim a condições particulares do varejista na relação com seus

fornecedores. Assim, considerando-se o aumento na complexidade do meio externo,

será preciso refletir como manter a sustentação da empresa com a inclusão de

mecanismos outros uma vez que os atuais não permitem enfrentar os riscos

externos e a estabilização da cadeia.

e) Elementos de Suporte; f) Políticas de Relacionamento e g) Comunicação

A análise dos dados levantados neste estudo permitiu também verificar falhas nos

elementos de suporte, políticas de relacionamento e comunicação na relação

indústria varejo; que a empresa, diferentemente de seus fornecedores, não contava

com elementos de suporte; que as políticas de relacionamento não eram

consideradas efetivas tanto na indústria quanto no varejista e que a comunicação

era incipiente.

h) Métricas

O modelo de relacionamento estudado mostrou-se fortemente baseado em métricas,

mas insuficientes, uma vez que os três pontos considerados segundo a literatura

como razões de falha neste caso se mostraram presentes.

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1. A empresa utiliza-se em sua maioria medições duras e objetivas que não

captam o desempenho de elementos mais sociais de capacidade e

desempenho (ELLRAM, 1999; MACBETH e FERGUNSON, 1994 APUD

HARLAND, 1996) � apenas uma medida qualitativa é utilizada e mesmo

assim de forma unilateral;

2. As métricas são desenhados unicamente pela empresa compradora ao

invés de serem desenhados pelos pares da relação (LAMMING, 1993

APUD HARLAND, 1996);

3. As métricas são impostas pela parte mais forte na balança de poder, o

varejista (GREGORY, 1986 APUD HARLAND, 1996).

Além disso, e apesar das críticas anteriormente feitas, não se observou a existência

de nenhuma das métricas propostas por Bowersox (2002) que são: conversão caixa

para caixa, dias de estoque na cadeia, tempo de interrupção, percentual de estoque

na prateleira (não-ruptura), custo total da cadeia, tempo de resposta da cadeia e

benchmarking.

i) Coordenação e liderança

Apesar de existir uma equipe na empresa varejista responsável pela coordenação e

liderança do processo, acredita-se que a mesma não exerça seu pleno papel de

desenvolver uma cooperação mais efetiva (STJERNSTROM & BENGTSSON, 2004),

integrar os desempenhos das empresas participantes, de dividir e absorver os

acordos, de negociar solução de problemas e de mediar a divisão dos riscos e

recompensas (BOWERSOX 2002) uma vez que a mesma não possui total

autonomia para tal e que encontre grandes barreiras culturais internas e processuais

para alcançá-los.

j) Práticas colaborativas

Quanto a este fator, as práticas colaborativas, os únicos tipos utilizados pela

empresa de forma sistemática são o EDI (troca eletrônica de dados) e EFT

(transferência eletrônica de fundos). Entretanto, averiguou-se também a existência

de iniciativas não sistemáticas de práticas de colaboração tais como:VMI (estoque

gerenciado pelo fornecedor), Backhaul e Gerenciamento por categorias e indícios de

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que tais iniciativas são muito mais para testar novas práticas do que para

reestruturar a relação.

O quadro 6 apresentado a seguir resume as lacunas identificadas a partir da análise

comparativa entre referenciais teóricos e os dados levantados no estudo realizado

Quadro 6: Resumo comparativo aspectos apontados pela literatura versus aspectos identificados em campo

Realidade idealizada Realidade identificada Avaliação do potencial de ganho das partes Não existe

Entendimento e uso da situação de poder para

gerar confiança

Não existe. O poder é utilizado como força negocial

Estabelecimento de relações de confiança Não existe

Presença de elementos essenciais para a

sobrevivência econômica avaliados

bilateralmente

Os elementos essenciais são avaliados

unilateralmente

Elementos de Suporte, Políticas de

Relacionamento e Comunicação

Os mecanismos identificados não permitem

diagnóstico claro da relação da empresa e de como

melhorá-la

Métricas bilaterais e qualitativas Métricas unilaterais e mais freqüentemente

quantitativas

Coordenação e liderança potencializadas na

relação

Coordenação e liderança potencializada, porém na

relação de poder e não de colaboração

Práticas colaborativas sistêmicas Práticas colaborativas eventuais

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81

CAPITULO V � UMA PROPOSTA DE ALTERAÇÃO NO MODELO DE

RELACIONAMENTO ATUAL

5.1. Apresentação

Tendo em vista a realidade da situação estudada de um varejista, vide quadro 6, a

evidência de lacunas existentes entre a literatura e a prática teorizada, acredita-se

que será preciso implantar políticas e diretrizes claras na empresa e métricas mais

qualitativas visando clarear o tipo de relação com seus fornecedores a qual se

deseja mais de natureza colaborativa que competitiva, de poder; e que para tanto,

será necessário implementar um programa visando o alcance da mudança, o

desenvolvimento de mecanismos colaborativos.

A questão crítica é como os esforços internos e externos devem ser desenvolvidos,

organizados e gerenciados para se atingir os objetivos de desempenho desejados.

Conforme afirma Bowersox (2002), apesar das várias empresas estarem buscando

desenvolver relacionamentos, a maioria não tem políticas e diretrizes claras para

implementar e medir o desempenho de tais acordos. E, conforme foi mostrado na

introdução deste texto, não há receita para se alcançarem mudanças de natureza

qualitativa.

Sobre como iniciar relações mais colaborativas, este estudioso recomenda o que

segue:

1. Inicie a relação pelo �cliente�, pois o �vendedor� normalmente implementa

mudanças que considera fazerem sentido para facilitar a troca entre as empresas

2. Avalie em profundidade as práticas, as políticas e cultura internas

3. Avalie a capacidade de realmente fazer a aliança valer na relação

4. Avalie a capacidade de integração

5. Escolha o parceiro correto: cultura compatível, visão estratégica comum, filosofia

de suporte a operação

6. Inicie em pequena escala para facilitar o sucesso e ganhos iniciais

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7. A continuidade do processo dependerá de: objetivos estratégicos e operacionais

mútuos, métricas de duas vias, mecanismos formais e informais de feedback

Tendo em vista as peculiaridades da empresa estudada e o que afirma o estudioso

acima citado, propõe-se um programa (Esquema 2: Aplicação da metodologia de

Soft Systems descrita neste estudo: propostas de alterações no modelo de

relacionamento atual). Vale dizer que este programa já foi apresentado a executivos

da empresa, àqueles que contribuem para a configuração do problema e que por

esse motivo têm interesse em resolvê-lo (Esquema 2: Aplicação da metodologia de

Soft Systems na dissertação proposta: Encontro para gerar mudanças desejáveis e

viáveis culturalmente e etapa 6 da metodologia de Soft Systems: Identificação das

mudanças factíveis e desejáveis).

Quatro diretores da área comercial e um analista que participa na coordenação e

liderança do processo validaram a proposta apresentada.

Os diretores escolhidos para avaliação do trabalho possuem todos mais de 20 anos

de carreira no varejo além de carreiras distintas e experiências em mais de uma área

do negócio. O resultado deste processo foi a elaboração de um programa muito mais

complexo e completo que o inicialmente previsto e será apresentado a seguir

seguindo a etapa 7 da metodologia de Soft Systems: recomendações para ações

que possam melhorar a situação.

5.2. Delineamento de uma proposta de programa de ação visando à mudança no modelo de relacionamento da empresa estudada

Alguns dos pressupostos subjacentes a um programa de mudança são que para que

a empresa possa mudar substancialmente a forma de se relacionar com seus

fornecedores ela deve implementar ações de natureza colaborativa. Acredita-se que

a mudança deva ser estrutural, nas atitudes das pessoas e nos processos, como

coloca Checkland (1999).

Para a autora deste estudo, a criação de consciência da mudança, na forma como a

empresa se relaciona com seus fornecedores e no comprometimento da alta direção

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com a necessidade de tal mudança (atitude), é condição necessária para a

mudança desejada.

Para se atingir este tipo de objetivo, propõe um programa de longo prazo para que

se possa criar, em primeiro lugar consciência da necessidade da mudança, e em

seguida sistemas de justiça distributiva e processual e maneiras de sistematizar

operacionalmente os processos colaborativos (processos e estrutura

organizacional).

O esquema 3 mostrado a seguir sintetiza o pensamento da autora quanto às

mudanças necessárias e pretendidas visando otimizar o sistema, torná-lo

sustentável diante de riscos externos nem sempre previsíveis.

Esquema 3: Esquematização do programa de mudança

Conforme mostram os dados do estudo realizado, foram identificadas barreiras

culturais que dificultam a colaboração entre a empresa estudada e os seus

fornecedores e para superá-las numa a primeira etapa de um programa de

mudanças será necessário avaliar o nível de consciência interna da alta direção e

diretores e gerentes das áreas de negócios sobre a necessidade de mudar a forma

de se relacionar com os fornecedores.

Conscientização da necessidade

de mudar

Criação de sistemas de justiça distributiva

e processual para estabelecimento de

confiança

Criação de sistemas operacionais para

viabilizar relacionamentos

colaborativos

Avaliação dos

sistemas

Retroalimentação do

Projeto de mudança

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84

Para tanto, propõe um programa de caráter educativo, onde estejam presentes

ações de conscientização da necessidade de mudança como as que seguem

descritas.

5.2.1. A conscientização da necessidade de mudar

Propõe que nesta fase sejam realizadas ações em 4 etapas. São elas:

1. Etapa da divulgação dos dados e conclusões desta pesquisa

2. Etapa da avaliação de satisfação dos fornecedores

3. Etapa de análise e divulgação dos resultados da pesquisa de

satisfação dos fornecedores

4. Etapa de avaliação do nível de consciência interna (esta etapa permeia

todas as demais)

Etapa 1: da divulgação dos dados

A primeira etapa do programa de conscientização sugerido é a divulgação dos

resultados desta pesquisa. Acredita-se que a avaliação da situação real vivida pela

empresa à luz da teoria elaborada com o estudo de campo realizado possa trazer

clareza para o fato de que o relacionamento atualmente existente é falho uma vez

que não contempla aspectos tidos como fundamentais para se estabelecer

relacionamentos colaborativos.

Etapa 2: da avaliação de satisfação dos fornecedores

Com o objetivo de aumentar o grau de consciência interno de como a empresa é

vista no mercado e quais os fatores importantes na construção da relação sugere-se

uma avaliação comparativa de satisfação dos fornecedores em relação ao varejista

em questão e caracterização do varejista considerado como sendo o que tem

relacionamento mais colaborativo atualmente. A fim de dar isenção e credibilidade a

esta pesquisa o ideal é que a mesma seja feita por um instituto de pesquisa que

tenham reconhecimento internacional.

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Dentre os exemplos de aspectos sugeridos para avaliação do relacionamento pelos

fornecedores deverão constar condições e aspectos fundamentais que compõem

uma �relação ideal� como mostrado no quadro 7

Quadro 7: Exemplos de aspectos a serem avaliados pelos fornecedores na

relação com o varejista em pesquisa de satisfação dos fornecedores a luz de aspectos apontados pela literatura

Aspectos encontrados na literatura

Exemplos de aspectos da relação a serem avaliados

Potencial de ganho das partes • Que potenciais de ganho vê na relação • Quais estão sendo capturados • Quais não estão sendo e porque

Entendimento e uso da situação de poder

• Considera a empresa com maior ou menor poder que a empresa fornecedora

• O poder é usado de que maneira, coercitiva ou construtiva

Estabelecimento de confiança • Cumprimento dos acordos • Confiabilidade das informações • Nível de justiça nas relações • Capacidade de execução dos acordos • Respeito às leis do país

Presença de elementos essenciais para a sobrevivência econômica

• Rentabilidade do fornecedor • Evolução de vendas • Exposição das marcas • Nível de presença em gôndola • Facilidade de introdução de lançamentos

Elementos de Suporte, Políticas de Relacionamento e Comunicação

• Nível de informação disponível • Qualidade das equipes (compras, logística, financeira,

etc) • Disponibilidade e cordialidade das equipes

Métricas • Métricas de medição existentes • Métricas que considera importante na avaliação da

relação Coordenação e liderança • Nível de coordenação da relação

• Qualidade dos processos de avaliação e feedback • Periodicidade dos processos de avaliação e feedback • Grau de envolvimento da direção na relação

Práticas colaborativas • Práticas atuais • Praticas que estaria pronto para implementar • Motivos de não estarem implementadas

A sugestão que aqui se faz proposta é que tal pesquisa seja aplicada em um número

estatisticamente representativo do universo dos fornecedores com os quais que a

empresa também se relaciona, uma vez que no presente estudo este tipo de

abordagem não foi praticada.

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Etapa 3: de análise e divulgação dos resultados da pesquisa sobre a satisfação

dos fornecedores

A próxima etapa proposta é a análise e divulgação dos resultados da pesquisa. Na

opinião dos executivos da empresa que avaliaram o programa, os resultados da

pesquisa a ser encomendada deverão ser divulgados, ainda que se mostrem

insatisfatórios, pois acreditam ser este tipo de divulgação de extrema importante na

sinalização de caminhos necessários a mudança.

Para a autora deste estudo, este tipo de pesquisa pode ser um guia para a

construção dos sistemas de justiça distributiva e processual e para um novo sistema

operacional de relacionamentos, que se deseja mais colaborativo.

Etapa 4: de avaliação do nível de consciência interna

Divulgados o resultado da avaliação dos fornecedores sobre o relacionamento com a

empresa em questão, a próxima etapa seria a avaliação do nível de consciência

interna sobre a necessidade da mudança, para que então se pudesse elaborar um

projeto de mudança �para a criação de sistemas de justiça distributiva e processual e

sistemas operacionais que viabilizem relacionamentos colaborativos

Para essa etapa do trabalho propõe-se o uso da metodologia de gestão da mudança

ADKAR (HIATT & CREASEY, 2003) que propõe 5 fases para que uma mudança

seja implementada: São elas:

a) Awareness (consciência da mudança): o entendimento da natureza da

mudança e o porque a mudança está sendo feita

b) Desire (desejo): desejo das pessoas em apoiarem e se engajarem na

mudança

c) Knowledge (conhecimento): são as informações, treinamentos, educação,

processos, ferramentas, técnicas, sistemas, etc. necessários para a mudança.

d) Ability (habilidade): capacidade das pessoas de transformarem os

conhecimentos em ações

e) Reinforcement (reforço): fatores internos e externos que sustentam a

mudança, são o reconhecimento e as recompensas relacionadas à

implementação da mudança.

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87

Avaliada a intenção de mudar o próximo passos sugerido seria definir a equipe a ser

engajada na elaboração de um projeto de mudança.:

5.2.2 Definição da equipe de trabalho selecionada segundo critérios de

competência para a implementação do projeto de mudança num futuro

Para que um programa de mudança organizacional seja bem sucedido, além da

avaliação da consciência interna, propõe-se, a exemplo de Hiatt & Creasey (2003)

que seja definida uma equipe de trabalho responsável pelo envolvimento dos demais

no processo de mudança. Esta equipe deve ser composta por:

• Patrocinadores do projeto: altos executivos que apóiam a equipe de projeto

de forma ativa e visível

• Equipe de trabalho: equipe responsável por elaborar e executar as mudanças

• Comitê de validação: equipe responsável por validar as propostas da equipe

de trabalho.

Etapa 1: de elaboração do Projeto de Mudança

O próximo passo para a mudança é a elaboração de um projeto da mudança

almejada. Leva-se em consideração os resultados obtidos nas etapas anteriores a

esta e que envolvem as percepções dos fornecedores em relação ao relacionamento

com o varejista e o grau de consciência interna da empresa.

Duas diretrizes deverão nortear a elaboração do Projeto de Mudança

• A criação de sistemas de justiça distributiva e processual para

estabelecimento de confiança;

• A criação de sistemas operacionais para viabilizar relacionamentos

colaborativos

Etapa 2: a criação de mecanismos voltados para a expressão de sistemas de justiça distributiva e processual e estabelecimento de confiança

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A autora deste estudo identificou ausência de mecanismos de sistemas de justiça

distributiva e processual, que dificulta o estabelecimento de relações de confiança.

Acredita que nesta fase devam ser criados mecanismos para que a confiança e

relações colaborativas sejam efetivados e que para tanto é importante criarem-se

sistemas de justiça distributiva e processual.

De acordo com Kumar (1999) a justiça distributiva se refere à maneira que os

ganhos da relação são compartilhados entre os parceiros. Assim, nesta parte do

projeto, sugere-se que sejam revistas as métricas de avaliação de resultado

internas, uma vez que se identificou que estão muito mais relacionadas a relações

de �extração� de ganhos, ou jogos de soma zero, do que a construção de negócios.

Por outro lado, a justiça processual, de processos pelos quais a relação é

gerenciada (KUMAR 1999) envolve aspectos tais como:

• Comunicação bilateral � comunicação de duas vias entre os parceiros

• Imparcialidade � tratamento eqüitativo entre os elos da cadeia

• Refutabilidade � à existência de mecanismos na relação para que se possa

recorrer caso alguma atitude considerada injusta por uma das partes venha a

ocorrer

• Explicação � os parceiros, em especial de maior poder, provém às partes com

explicações racionais e coerentes

• Familiaridade � o conhecimento que as partes tem uma das outras sobre as

condições e operações locais

• Cortesia � as pessoas envolvidas tratam e são tratadas com cortesia e

respeito

Propõe-se assim que na implementação de projeto de mudança como o proposto

sejam contempladas ações que dêem visibilidade às crenças e às atitudes dos

envolvidos, ou seja, que estabeleçam comunicação interna visando assim dar

organicidade aos processos dentro das diretrizes estabelecidas.

Etapa 3: a criação de sistemas operacionais para viabilizar relacionamentos colaborativos

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Apesar do modelo operacional atual de relacionamento contemplar alguns dos

aspectos estudados, avaliou-se que existem lacunas entre o modelo idealizado e o

operacionalizado atualmente, o que dificulta sustentá-lo. Sendo assim, levando-se

em consideração o que foi estudado, sugere-se que o modelo operacional de

relacionamento passe a contemplar as seguintes ações:

1. Avaliação geral do relacionamento com fornecedores (grandes e

estratégicos) com o objetivo de identificar os que detém maior potencial

de trabalho colaborativo

2. Escolha dos fornecedores para estabelecimento de relação colaborativa -

identificados os fornecedores com maior potencial de trabalho conjunto, a

empresa deverá eleger os parceiros para quem efetivamente apresentará

um trabalho de parceria, colaborativo.

3. Avaliação mútua (2 vias) dos elementos do relacionamento na parceria �

antes de se iniciar uma nova relação ambas empresas avaliam como está

a relação de acordo com elementos apontados neste estudo;

4. Identificação de dissonâncias de percepção sobre o relacionamento �

comparam-se os resultados das avaliações dos elementos do

relacionamento e identificam-se as dissonâncias de percepção

5. Plano de trabalho para eliminar dissonâncias de percepção � caso existam

graves divergências de percepção, antes de se iniciar um trabalho

colaborativo as mesmas devem ser sanadas por meio do envolvimento

dos participantes num trabalho de natureza colaborativa para que o

trabalho seja efetivo;

6. Identificação de potencial de ganho através de uma nova relação �

sanadas as divergências de percepção da relação, para cada fornecedor

escolhido deve-se identificar, conjuntamente, o potencial de ganho com a

vivência de uma nova relação de natureza colaborativa;

7. Alinhamento de objetivos estratégicos, operacionais e mecanismos de

compartilhamento de ganhos e riscos � antes de se iniciar o trabalho

conjunto propõe-se que sejam alinhados os objetivos e mecanismos de

compartilhamento de ganhos e riscos para que exista transparência e

coerência na forma de como a relação será conduzida e quais os

mecanismos de ganho da mesma;

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8. Estabelecimento de métricas e metas de duas vias � alinhados os

objetivos, as empresas estabelecem em conjunto as métricas

(quantitativas e qualitativas) e as metas a serem atingidas na avaliação da

relação;

9. Elaboração de plano de ação � As empresas parceiras devem elaborar

conjuntamente um plano para atingirem as metas previamente

estabelecidas;

10. Avaliação da execução do plano de ação e de seus resultados �

executam-se os planos e avaliam-se os seus resultados

11. Ajustes e continuidade do plano de ação � Os planos de ação devem ser

sistematicamente readequados durante a própria execução dando assim

continuidade ao trabalho e potencializando seus efeitos recursivos, retro-

alimentando a relação de forma sempre positiva.

5.2.3 Avaliação dos sistemas e identificação de ajustes necessários

Finalmente, uma vez instituídos os sistemas de justiça distributiva e processual e os

sistemas operacionais para viabilizar relacionamentos colaborativos, sugere-se que

de forma sistemática sejam as avaliadas as atitudes das pessoas envolvidas as

quais denotarão a mudança nos processos; que os resultados desta avaliação

norteiem o desenvolvimento do processo e a evolução do modelo de trabalho.

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CAPITULO VI. - CONSIDERAÇÕES FINAIS

O propósito do estudo realizado foi verificar a luz de dados da literatura, e de dados

levantados junto a uma empresa em particular, de que forma essa empresa se

enquadra, ou não, em padrões de funcionamento como o atualmente idealizado por

estudiosos do assunto.

Os dados do estudo mostraram que o padrão de funcionamento da empresa

estudada em relação ao o modelo idealizado (de relacionamento colaborativo com

seus fornecedores) é ainda o tradicional, pouco colaborativo.

Diante deste tipo de verificação a autora propõe um programa de mudanças na

empresa visando adequar o seu funcionamento, hoje entendido como necessário à

sustentação da própria empresa, ou seja, um modelo de funcionamento capaz de

ajudar a prevenir riscos externos à cadeia. Sugere que este programa deva ser

elaborado de forma participativa, entretanto motivado por ações de divulgação e

conscientização dos interessados em relação à presença de lacunas existentes,

identificadas através da análise comparativa entre um modelo idealizado e o

praticado pela empresa; que este programa deverá ser de natureza educativa e

implantado em etapas a serem avaliadas de forma continuada visando assim

garantir efeitos recursivos positivos capazes de potencializar a mudança das rotinas

e dos processos que hoje são tradicionais, mantidos em função de vários fatores,

inclusive da ausência de estudos como o realizado pela autora conforme bem

mostra a literatura. Estudos como o realizado ao mostrar a inadequação do modelo

vigente aponta caminhos para a mudança necessária e podem contribuir para

conscientizar a empresa a respeito da influencia das suas rotinas de trabalho e

cultura nos resultados da empresa.

Pelo que foi apresentado o maior trabalho ainda está por vir uma vez que a mudança

pretendida é de natureza qualitativa, altamente complexa e dependente de múltiplos

fatores, um deles a própria formação dos agentes da mudança, as pessoas que

participam nos processos da empresa.

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Apesar da complexidade podendo ser o modelo de funcionamento da empresa

estudada representativo da realidade de demais empresas no setor, acredita a

autora este estudo que os resultados obtidos neste estudo possam indicar caminhos

para outras empresas cujo modelo de relacionamento seja semelhante ao da

empresa estudada.

Contudo, diante da falta de referências na literatura decorrentes de estudo desta

natureza e ainda ser o presente estudo um trabalho de mestrado, que introduz pela

primeira vez a autora em reflexões desta natureza ele deve ser lido com as

precauções que sua própria condição de elaboração impõe. Não se trata, portanto

de defender uma tese em torno de uma questão complexa de mudança, mas tão

somente de dar maior visibilidade a um contexto de trabalho em particular através de

um levantamento de dados e de inferências quanto ao modelo de trabalho à luz

desses mesmos dados quando comparados com dados oferecidos pela literatura

pertinente.

Acredita a autora deste estudo que se os dados levantados neste estudo não forem

suficientemente consistentes para iluminar outras investigações de mesma natureza

fica a convicção de que serviram para melhor capacitá-la para um novo tipo de

interação profissional no seu ambiente de trabalho: a de ser capaz de ver,

reconhecer e intervir de forma mais investigativa na sua própria rotina trabalho.

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CAPITULO VII - BIBLIOGRAFIA

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