UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE DANÇA E … · universidade federal da bahia escola de...
Transcript of UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE DANÇA E … · universidade federal da bahia escola de...
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE DANÇA E ESCOLA DE TEATRO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES CÊNICAS
FÁTIMA DALTRO DE CASTRO CORREIA
O SENTIDO POÉTICO DA DANÇA ESPONTÂNEA ENTRE CORPOS DIFERENTES
Salvador 2004
FÁTIMA DALTRO DE CASTRO CORREIA
O SENTIDO POÉTICO DA DANÇA ESPONTÂNEA ENTRE CORPOS DIFERENTES
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrados em Artes Cênicas, Escola de Teatro, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre.
Orientador: Prof. Dr.Norberto Peña
Salvador
2004
Correia, Fátima Daltro de Castro
A biblioteca universitária no processo de “avaliação das condições de oferta”
dos cursos de graduação pelo MEC: O SENTIDO POÉTICO DA DANÇA
ESPONTÂNEA ENTRE CORPOS DIFERENTES / Fátima Daltro de Castro Correia.
– Salvador: F.D.C.Correia, 2005.
296f.
Orientador: Professor Dr. Norberto Peña.
Dissertação de mestrado – Universidade Federal da Bahia. Escola de Dança,
Escola de Teatro. 2005.
1. Bibliotecas universitárias - Avaliação. 2. Avaliação dos cursos.
3. Avaliação de graduação – Universidade Federal da Bahia. I. Universidade
Federal da Bahia. Escola de Dança, Escola de Teatro. II. Norberto Pena. III. Título
CDU: 027.7
CDD: 027.0
Ao Meu parceiro de dança Edu, pelos grandes momentos de emoção e risadas largas,
entrelaçando as nossas almas num sentido maior de viver o sensível.
AGRADECIMENTOS
Aos companheiros colaboradores
Alunos do CEPREDE, IBR e PESTALOZZI, por sua alegria e disponibilidade corporal
nos permitindo brincar com seus movimentos, descobrindo em cada esforço
realizado a emoção de vê-los dançar.
Aos seus familiares, possibilitando o nosso convívio com estes dançarinos.
Janaína Inhá, dançarina cadeirante pelo seu apoio e crença de que a dança é capaz
de transformar a vida das pessoas.
Paulo Silva e Victor Venas, amigos queridos, pelas imagens poéticas capturadas.
Eleonora Souza, Ariádine Souza e Flávia Castagnedo pelo apoio amoroso durante
as pesquisas. Vivemos juntas as experiências mais absorventes em dança.
Aiana Daltro, filha fofinha, sua sensibilidade na captura das imagens fotográficas.
Hugo Leonardo, sua colaboração no Power Point.
Caio Carvalho, pelo companheirismo e primorosa revisão.
Edu Oliveira, dançarino, fonte de inspiração.
Verônica Lima e Andréa Moraes, do Laboratório de Estatística da UFBA.
Norberto Peña, pelas críticas e sugestões.
Escola de Dança da UFBA pelo apoio na minha qualificação profissional.
A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho.
Quando amamos profundamente o que gostamos de fazer, somos impulsionados por uma força interna, nos arriscamos à descoberta. A experiência da abertura toma conta de nosso corpo, encorajando-nos a saborear intensamente as sensações que nos cercam. É como sentir a brisa suave que vem do mar acariciando o nosso rosto, trazendo junto o cheiro do frescor da manhã.
Fafá Daltro (2005)
RESUMO
O interesse deste estudo se definiu pela intervenção de um programa de treinamento técnico artístico fundamentado nos princípios da Dança de Contato Improvisação e sua viabilidade ao corpo portador de deficiência física. O desenho da pesquisa foi de um Ensaio Clínico Randomizado, onde as pessoas foram alocadas aleatoriamente em dois grupos chamados Grupo Experimental (G1) e Grupo Controle (G2). Investigamos a melhoria na qualidade de movimento em relação às seguintes variáveis: Andar com Pressa, Rolar na Areia da Praia, Descolar como Chicletes, Pular as Pedras do Rio. Foi feito o preenchimento do protocolo e aplicado um teste para avaliação das variáveis antes e depois de um período de intervenção. A duração do ensaio foi de duas horas, uma vez na semana e durante dez dias. Foi utilizada uma Escala Analógico Visual como instrumento de aferição. Os resultados mostraram que a comparação dos dados obtidos entre G1 e G2, no pré-teste não apresentaram diferenças significativas. Quando comparados os pré-testes e pós-testes dos dois grupos, eles apresentaram ganhos na qualidade dos movimentos, com o p<.05. Conclui-se que a educação do movimento através da dança, quando fundamentada em princípios onde o corpo é considerado como um organismo em construção, dando ênfase à conexão e às diversas inter-relações do comportamento do movimento, se mostra sensível para modificar a qualidade do movimento em pessoas portadoras de deficiência física.
Palavras – chave: Dança Inclusiva; Contato Improvisação.
ABSTRACT
The intention of this study was to investigate the effects of applying principals of Contact Improvisation in a program of artistic and technical movement training for physically challenged students. The design of the research was of a Randomized Clinical Rehearsal, where the subjects were placed randomly in two groups, the Experimental Group (G1) and the Control Group (G2). Improvements in the quality of movement were investigated in relation to the following variables: Hurried Walk, Rolling on the Beach, Lifting oneself like a bubble-gum, Jumping across Rocks in a River. A questionnaire was filled out and a test was given to evaluate the variables before and after the period of intervention.
The rehearsals were of two hours, once a week for ten weeks. A Visual Analogical Scale was used as assign tool. The results showed that a comparison of the data obtained from both groups before the intervention showed no significant differences. However, the tests given after the intervention showed gains in the quality of movement, with p<.05. The outcome of this research is that when dance is founded in principles where the body is considered an organism in construction, and it is given emphasis to the various interrelations and connections of movement behavior, it can modify the quality of movement in physically challenger person.
Key-words: Inclusive Dance; Contact Improvisation.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Exploração dos pontos de apoio do corpo para suporte de peso 79
Figura 1.1 - Pontos de apoio: cabeça e joelho
79
Figura 1.2 - Pontos de apoio: mão, joelho e pé 79
Figura 1.3 - Pontos de apoio entre dois corpos - Contato corporal
79
Figura 2 - Exploração do espaço do corpo em relação ao seu corpo próprio 80
Figura 2.1 - Jogo: Cada macaco em seu galho 80
Figura 2.2 - Jogo: Espaço no corpo alheio 80
Figura 2.3 - Jogo: Preenchimento de espaços corporais 80
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 13
2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS 23 2.1 O CORPO DEFICIENTE/ EFICIENTE 22 2.2 UM TOQUE NO CORAÇÃO... 32 2.3 NOS PASSOS DA DANÇA ESPONTÂNEA... 42 2.4 O PRAZER DE SER CORPO DIFERENTE 53
3 OBJETIVO 59
4 HIPÓTESE 59
5 HORIZONTE METODOLÓGICO 60
5.1 MATERIAIS 61 5.1.1 Questionário Epidemiológico 61 5.1.2 Termo de Consentimento 61 5.1.3 Teste de Avaliação da Qualidade de Movimento
- Tabela de Classificação 61 5.1.4 Critérios de Inclusão, Exclusão e Eliminação 62 5.1.5 Programa de Preparação Técnico-Artístico 62 5.1.6 Características da Amostra 63 5.2 MÉTODOS 63 5.2.1 Seleção da Amostra 64 5.2.2 Aplicação do Programa Técnico-Artístico 65 5.2.2.1 A Prática da Criação Espontânea 69 5.2.2.2 Variáveis do Movimento 70 5.2.2.3 Jogos Realizados 73 5.2.2.4 Aspectos do Programa 75 5.2.3 Quantificação e Análise Metodológica dos Dados 88
6 RESULTADOS 89
6.1 GRÁFICOS DO PRÉ-TESTE NOS GRUPOS G1 E G2 90 6.2 GRÁFICOS COMPARATIVOS PRÉ E PÓS-TESTE DO G1 92 6.3 GRÁFICOS COMPARATIVOS PRÉ E PÓS-TESTE DO G2 95 6.4 GRÁFICOS COMPERATIVOS PÓS-TESTE - G1 E G2 98
7 CONCLUSÃO 101
REFERÊNCIAS 103
ANEXO 1 - RELAÇÃO DE PARTICIPANTES 105
ANEXO 2 - QUESTIONÁRIO EPIDEMIOLÓGICO 106
ANEXO 3 - TERMO DE CONSENTIMENTO 107
ANEXO 4 - TABELA DE CLASSIFICAÇÃO PRÉ-TESTE 108
ANEXO 5 - TABELA DE CLASSIFICAÇÃO PÓS-TESTE 109
ANEXO 6 - TABELA COMPARATIVA PRÉ E PÓS G1 112
ANEXO 7 - TABELA COMPARATIVA PRÉ E PÓS G2 111
ANEXO 8 - CÁLCULOS ESTATÍSTICOS PRÉ E PÓS
ENTRE G1 E G2 112
13
1. INTRODUÇÃO
Isto de querer ser exatamente
que a gente é ainda vai nos levar
além. Paulo Leminski
O movimento é o caminho que o dançarino utiliza para traduzir
poeticamente um determinado sentimento ou intenção. A evolução da sua dança
depende do processo de treinamento corporal a que vai ser submetido, para que
possa ser contemplado de forma integral com atividades que utilizem todas as suas
capacidades de expressão. O alcance deste objetivo permitirá ao dançarino
responder às diversas possibilidades de construção dos contextos resultantes da
sua relação dialógica com o meio circundante e sua visão de mundo.
O interesse deste estudo se definiu pela intervenção de um programa
de treinamento técnico-artística, fundamentado nos princípios da Dança de Contato
14
Improvisação e sua viabilidade ao corpo portador de deficiências físicas. Foi um
trabalho voltado para estimular ações de organizações corporais diferentes das
experiências vividas por estes indivíduos na cotidianidade, possibilitando adaptações
corporais mais significativas, abrindo espaços à comunicação sensível, e ao vínculo
com o seu universo poético. Segundo alguns autores (NEGRINE, 1998; KOLB,
WISHAW, 2003; GHORAYEB, BARROS, 1999; SOUZA, 1994), entende-se como
pessoa portadora de deficiência física aquele que apresenta, em comparação à
maioria das pessoas, significativas diferenças físicas, sensoriais e/ou intelectuais,
decorrentes de fatores inatos ou adquiridos, que acarretam dificuldades em sua
interação com o meio ambiente.
Cada área de deficiência, por sua vez, comporta subdivisões, que os
reagrupam ou por características das seqüelas ou pelos equipamentos (órtese ou
prótese) utilizados. Apenas com um objetivo didático, visando somente
operacionalizar e instrumentalizar o entendimento e demais questões pertinentes, é
que se pode falar em “pessoas portadoras de deficiência”. Mesmo assim é
necessário que se faça uma especificação prática: a divisão por grandes áreas de
deficiência, agrupando desta forma lesões que, ou pela origem orgânica, ou pelo
equipamento utilizado, identificam situações semelhantes. As grandes áreas são:
Deficiência Física, Deficiência Sensorial (Visual ou Auditiva), Deficiência Mental e
Deficiência Orgânica ou Médica. Citam-se aqui, como exemplo, algumas das
deficiências físicas que englobam vários tipos de limitações motoras, sem a
pretensão de esgotar as possibilidades. As principais subdivisões são as seguintes:
15
PARAPLEGIA: paralisia total ou parcial da metade inferior do corpo,
comprometendo as funções das pernas. Geralmente causada por lesão de medula
espinhal ou seqüela de poliomielite;
TETRAPLEGIA: paralisia total ou parcial do corpo, comprometendo as
funções dos braços e pernas, possuindo as mesmas causa da paraplegia.
HEMIPLEGIA: paralisia total ou parcial das funções de um lado do
corpo, como conseqüência de lesões cerebrais causadas por enfermidades, golpe
ou trauma.
AMPUTAÇÃO: falta total ou parcial de um ou mais membros do corpo.
PARALISIA CEREBRAL: termo amplo para designar um grupo de
limitações psicomotoras resultantes de uma lesão do sistema nervoso central. A
paralisia cerebral oferece diferentes níveis de comprometimento, dependendo da
área da lesão cerebral. Segundo Souza (1994), a análise da ocorrência de
distúrbios deste porte predispõe estes indivíduos a fragilidades emocionais, onde a
depressão e a baixa auto-estima são passíveis de ocorrer.
Cada indivíduo tem um corpo histórico que reflete o percurso de sua
vida. O resultado das diversas experiências vivenciadas no mundo estabelece
soluções de sobrevivência que estimulam e orientam o corpo a desenvolver as
estratégias necessárias para viver contextualizado. Sobre essa capacidade inerente
do indivíduo em ter sua representação revelada no mundo subjetiva e objetivamente
como corpo atual, sensível e inteligente, pode-se considerar ser “um corpo cidadão”.
Não se deve discriminar o portador de deficiência física por suas diferenças, tendo
16
em vista que todas as pessoas são diferentes. Citando o Programa de Ação Mundial
para as Pessoas com Deficiência – ONU (apud SOUZA, 1994):
Capítulo I - art. 8º
1. Uma das características mais marcantes do ser humano é a diferença. Não existem duas pessoas iguais. É isso que torna cada indivíduo único.
2. As diferenças pessoais variam, em qualquer aspecto físico ou psicológico considerado, em uma graduação que vai de 0% a 100%. Esta variação faz com que haja diferenças mais visíveis, mais flagrantes do que outras.
3. Se, em um extremo desta graduação não há ninguém 100% perfeito, no outro extremo encontramos pessoas com déficits ou lesões físicas, sensoriais ou mentais mais ou menos acentuadas. Tais pessoas, portadoras de limitações em grau mais acentuado, encontram uma série de barreiras sociais, ambientais e comportamentais existentes na sociedade que lhes dificultam a vida cotidiana.
4. Estas pessoas portadoras de limitações em grau mais acentuado, são de uma maneira genérica e, imprecisamente designada, como pessoas portadoras de deficiência. Tal designação baseia-se em padrões tidos como "médios ou normais".
5. É importante frisar que, diferentemente de fatores como sexo e raça que se constituem em classificações humanas válidas do ponto de vista biológico, os padrões de "normalidade" são construídos socialmente e, portanto, variam no tempo e no espaço. O "normal", por conseguinte, é uma concepção sociocultural e histórica.
6. Encontramos dentre as pessoas portadoras de deficiência uma enorme heterogeneidade de diferenças advindas de vários tipos de déficits ou lesões físicas, sensoriais e mentais, que evidenciam o fato de não constituírem tais pessoas um grupo, segmento ou outra denominação similar, quer do ponto de vista biológico, psicológico ou sociológico.
E, de acordo com os autores Duarte (2003, p. 163), “movemo-nos entre
as qualidades do mundo, constituídas por cores, odores, gestos e formas,
interpretando-as e delas nos valendo para nossas ações, ainda que não cheguemos
a pensar sobre isto.”; Tavares (2003, p. 20), “cada estímulo existe para nós à medida
que corporalmente o vivenciamos. E cada um de nós o vivencia de acordo com
nossas possibilidades fisiológicas características pessoais e ambientais.”, e Damásio
(2003, apud DUARTE, p. 22), “[...] com essa perspectiva, os nossos mais refinados
pensamentos e as nossas melhores ações, as nossas maiores alegria e as nossas
mais profundas mágoas usam o corpo como instrumento de aferição.”.
17
Ao utilizar a dança como um projeto educacional abraçando Pessoas
Portadoras de Deficiência Física, está-se em certa medida contribuindo para o
desenvolvimento da sensibilidade desses indivíduos, ao mesmo tempo em que se
oportuniza a sua acessibilidade ao meio artístico, rompendo as barreiras dos
preconceitos que circulam no meio da dança, onde apenas corpos ditos “perfeitos”
podem ter acesso a essa forma de expressão. O enfoque da dança e sua
importância para estes indivíduos, bem como as maravilhas do ser diferente, são
questões abordadas neste estudo. A experiência e a vivência são fundamentais para
a implementação deste saber corporal. Nas palavras de Duarte (2003, p.22), “é
através da arte que o ser humano simboliza mais de perto”. Assim sendo, é preciso
estar com o corpo aberto disponível a novas idéias e realidades, alimentando a
capacidade interior de refletir e adaptar a ação a qualquer situação.
Acompanhar os desafios impostos pela vida exige do corpo
organizações emocionais e cognitivas em níveis de complexidades superiores,
traçando metas que precisam ser alcançadas. O mundo contemporâneo não
comporta a atitude acomodativa, é preciso exercitar a vida. Quando se acostuma a
alguma situação, está-se apenas mantendo um padrão, um conforto, não se sofre
nenhuma adaptação física ou intelectual. A sustentação do corpo atuante,
inteligente, se faz a partir da construção de redes de conexões com o mundo ao seu
redor, pois este trás experiência de relacionamento, forçando o aprendizado que
segue uma lógica de adaptação. Logo, pode-se inferir que indivíduos com práticas
corporais, intelectuais e emocionais desenvolvidas conscientemente com seus
próprios corpos, têm maiores possibilidades de se sentirem mais satisfeitos e serem
mais eficientes em suas escolhas. Esta satisfação interior pode vir como resposta ao
18
estar em sintonia com o corpo, com o mundo e a vida, com os verdadeiros
sentimentos, como enfatiza Rodrigues (1996, p. 44),
Ao se trabalhar um corpo que dança a partir de sua própria identidade não se tem como idealizar o que esse corpo irá produzir. A dança proposta está vinculada ao corpo real e, portanto não está compromissada com a dança representante da cultura oficial que está sedimentada no corpo ideal.
E em Marleau-Ponty (1999, p. 114), “Só posso compreender a função
do corpo vivo realizando-a eu mesmo e na medida em que sou um corpo que se
levanta em direção ao mundo”.
Nesta perspectiva, o programa de preparação artístico, fundamentado
nos princípios que norteiam a Dança de Contato Improvisação, se faz pertinente
pelas provocações que ela imprime ao corpo, enfatizando certos elementos que
utilizam a comunicação por contato, para despertar e aprimorar a consciência do
movimento sensível. A estruturação desta dança se organiza através de ações
dialógicas entre os parceiros de dança experimentando e explorando as diversas
possibilidades de toque, pressão e peso. Aqui, cada um é agente tendo o controle
sobre sua própria aprendizagem. Conforme Rodrigues (1996), são “intérpretes
construtores”, trazendo junto às suas dificuldades, estímulos para construções
significativas. Evidenciar o quanto é importante o se mover, o se comunicar,
independente de qualquer situação, são princípios adotados nesta pesquisa.
O Contato Improvisação é uma dança onde duas pessoas se
movimentam juntas, guiadas pela linguagem sensorial da pele como o calor, o peso,
o toque, a pressão, a direção e dinâmicas variadas. Tendo sua origem nos estudos
do movimento de Steve Paxton, que começam em 1972, na faculdade de Oberlin,
19
em Ohio, bastante difundida na Europa e nos EUA, esta técnica faz parte do atual
conceito da New Dance.
Para [Steve Paxton (www.kimpro.dk/historie_eng.htm)],
O desafio encontra-se ainda na exploração de algo mais natural na vida, que são os movimentos espontâneos e improvisados do corpo como uma condição de vida fundamental.
Já para [Ernie Adams (www.contactimprov.net/about.html)],
É uma dança que em sintonia com os sentidos e de acordo com a habilidade de escutar e responder ao que está acontecendo naquele momento. Se você poderia fazer Aikido, surf, wrestle e dançar ao mesmo tempo, você teria uma idéia do que é improvisação do contato. O que faz esta dança diferente da outras é que os parceiros estão se movendo continuamente dentro e fora do contato físico.
E, para [Ken Martini, (www.nurturedance.org/contactimprov.htm)],
É um fórum para descobrir quem nós somos abaixo de nossas peles. É um lugar onde nosso conceito do self é questionado. [...] Eu estou assim como que despido neste assoalho de dança.
Esta forma de expressão artística é um veículo que possibilita o
conhecimento e a comunicação espontânea um com o outro. Ao entrar em contato
corporal, aceitando os estímulos propostos, possibilita a cada praticante o
reconhecimento mais profundo e autêntico com aspectos sutis do seu próprio
universo corporal. A meta é recompor a unidade do movimento, a totalidade. É
importante que o gesto possa ser visto como resultado de uma ação verdadeira e
que estes tenham valores individuais humanistas, nascidos a partir de impulsos
internos, espontâneos, da maneira como o corpo pode realizar. As conquistas
20
decorrentes desta intervenção podem representar a visibilidade e a aceitação
desses corpos, de forma incondicional no universo da dança.
A idéia que norteia esta pesquisa sugere que, ao proporcionar às
Pessoas Portadoras de Deficiência Física um estudo direcionado à educação do
movimento sensível, aplicando princípios que valorizem a natureza dos seus
movimentos, estará em certa medida proporcionando a melhoria da coordenação
motora, tornado o alcance de seus movimentos mais abrangentes e mais
conscientes. “O sensível, dizendo respeito à sabedoria detida pelo corpo humano e
manifesta em situações mais variadas, tais como o equilíbrio que nos permite andar de
bicicleta, o movimento harmônico das mãos ao fazerem soar diferentes ritmos no pandeiro”
(DUARTE, 2003, p. 127), no intricado das relações dos movimentos corporais na
realização dos giros desafiando a força gravitacional, as possibilidades de
organizações internas que o corpo articula para executar os grandes saltos com
leveza e fluidez, bem como a maciez no retorno ao chão, ou quando o corpo se
prepara internamente para suportar o peso do parceiro de dança durante uma
carrega, mantendo a atitude, enfim, todas essas diversas inter-relações sutis se
estabelecem intuitivamente durante a dança propriamente dita.
O corpo do dançarino precisa ser estimulado a confrontar-se para
descobrir suas potencialidades e quebrar com as fragmentações decorrentes dos
processos de formação que não valorizam o conhecimento no âmbito do sensível.
O enfoque unilateral no aprimoramento técnico distancia o dançarino de aspectos
mais importantes e sutis do seu corpo. Nas palavras de Rodrigues (1996, p. 23),
“Situamos a dança como atividades em que vários corpos se integram para gerar
conhecimentos no âmbito do sensível, do perceptível e das relações humanas a
partir de um contato direto com a realidade circundante”.
21
Neste cenário, o proposto aqui é uma intervenção de programa de
preparação técnico-artística, pautado em fundamentos que levam em consideração
o corpo como uma entidade integral, valorizando assim as diferenças e as
construções espontâneas com características individuais.
Este campo de estudo é desafiador, exigindo propostas de soluções
para os problemas que surgem, ao mesmo tempo em que imprime transformações a
longo e médio prazo nos participantes.
O alcance deste objetivo se confirma pela prática sistemática de
atividades físicas, orientadas com a finalidade de valorizar as capacidades
individuais desses corpos, suas competências, elevando suas capacidades
funcionais (motoras, cardiovasculares, psíquicas e sociais), atuando
preventivamente contra o sedentarismo e o ócio, que são obstáculos a serem
vencidos.
22
2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS
2.1 O CORPO EFICIENTE____________________________________
A atenção à vida é a consciência
que tomamos de movimentos em
nosso tempo.
Marleau-Ponty
Apesar de todas as implicações de mobilidade proveniente das
restrições físicas que acompanham os corpos desses indivíduos, ao direcionar o
olhar sobre eles defronta-se com um potencial muitas vezes não explorado e rico em
expressão do movimento, que são revelados pelas possibilidades de intervenção da
dança. Constata-se desta forma, o nascimento de um novo corpo, munido de
sensibilidade, ampliado o seu estado de ser, que vem gradativamente se impondo,
23
abrindo e apropriando-se de espaços onde possa intervir, mostrando o seu valor
como um ser criador. Esse nascimento muitas vezes é provocado por um
sentimento que tem aqui o seu valor primeiro inviolável, que é o se sentir vivo e de
acontecer no mundo como todos gostariam.
Nesta perspectiva, pode-se dizer que se está diante de um “corpo
eficiente” como uma “realidade existencial” (TAVARES, 2003), original, que pensa,
age e produz impulsionado por seus desejos, revelado sutilmente nos movimentos
corporais. Este corpo dotado de sensibilidade, uma entidade inteligente, ao
ultrapassar as suas próprias dificuldades de mobilidade física, contribui diretamente
para a transformação de pessoas e do mundo ao seu redor, como bem escreve
Tavares (2003, p. 23):
A nossa ação no mundo se reflete em nós pelas conseqüências de nosso ato de agir que provoca em nós novas percepções e também pelas transformações que provocamos no mundo, fazendo-o diferente para nós, ampliando-o assim como fonte de novos estímulos. E dessa comunhão emerge a individualidade do ser humano e a singularidade de cada instante da vida.
Presencia-se a inversão de valores, de “corpo deficiente” para o “corpo
eficiente”, traduzindo eficazmente o sentimento de mudança, tanto pessoal quanto
corporal, na medida em que são estimulados e influenciados por circunstâncias que
valorizam e exploram positivamente as suas potencialidades. Também se pode
inferir que, ao categorizar como “corpo deficiente”, está-se de certo modo
contribuindo para a valorização do sentimento de rejeição (exclusão) e a ampliação
dos entraves. Dando-se continuidade à sua condição de “não-sujeito”, que para
atuar e se situar no meio social depende, entre outras instâncias, de terceiros para
sua locomoção e circulação. Desta forma, perde-se o seu direito de ir e vir, suas
24
vontades e desejos, agora na dependência de familiares, pessoas mais próximas,
vizinhos etc. O circular livremente passa a ser um obstáculo muitas vezes
intransponível, não apenas por portar a deficiência, mas também por se defrontar
com barreiras estruturais espaciais e a incapacidade de diversos setores em lidar
com a diversidade. Este estado pode levar a uma insatisfação pela vida social e
profissional, ao descuido da própria saúde e segurança, à apatia e demais
alterações comportamentais face à própria situação. Aqui se diz também de um
corpo desintegrado do social, visto como “corpo diferente”, por representar uma
estrutura corporal que está em desacordo com os padrões estabelecidos como
produtivos, eficientes, funcionais e estéticos. Cada pessoa que é aceita em sua
comunidade, encontra o seu lugar, de acordo com o seu talento e habilidade, e não
se sente envergonhado de seu próprio corpo. Como observa Miranda (apud
CALAZANS, CASTILHO, 2003, p. 218).
A cultura do “corpo ideal” ainda permeia o imaginário de grande parte da população e, até mesmo no meio da dança, a prática tradicional e a inércia do hábito continuam privilegiando o “corpo treinado” e o ”corpo vigoroso”. Continuam também a tentar moldar o corpo numa forma que não lhe é próprio sem respeitar ou mesmo observar suas tendências, por meios de exercícios que conceitualmente impõem um modelo corporal único, que visam a um padrão de beleza único, oposto às desconcertantes e maravilhosas ordens da diversidade.
Este “corpo diferente” é inteligente, cidadão, pensa, age, sente e reflete
em seus gestos a descontinuidade do viver dissociado de si e da sua sensibilidade
cotidiana. Tal aspecto de diferenciação se faz importante, porque revela a
complexidade do que é ser e ter “corpo deficiente”, o que implica nas dificuldades
encontradas por estes indivíduos para ter acesso a uma educação integral, que
respeite às suas especificidades. Essa necessidade e urgência de disponibilidade de
ser, neste mundo controverso, exigem do corpo respostas imediatas para atender à
25
demanda desses novos espaços, que por sua vez, dependem de experiências que
envolvem a prática da conscientização de ações e atitudes corporais educacionais,
onde o corpo nem sempre é visto em primeira instância como um organismo vivo e
sensível. Essas exigências têm provocado desconfortos em todos os âmbitos da
vida, abraçando a todos nessa conspiração de desumanização e de fragmentação
do ser humano. Na condição de “corpo deficiente”, a abrangência se torna mais
evidente porque soma fatores intervenientes relacionados à questão de
acessibilidade (preconceitos, espaços inadequados, corpos deformados, ritmo lento,
cadeira de rodas, acompanhante, despesas, pouca produtividade, etc.). O deficiente
torna-se um “estrangeiro”, diante da impossibilidade de identificar-se como sujeito
típico da sociedade de consumo, ocupando uma posição atípica diante das mídias:
“o seu corpo não é modelo”. Os padrões que lhe são oferecidos como os eleitos não
são viáveis para o seu corpo como modelo de semelhança. O império da técnica que
potencializa o corpo perfeito, dotando-o de possibilidades que por muitas vezes não
respeita os seus limites, desencadeia uma série de desconfortos corporais.
A visibilidade midiática, via publicização, como também o nomadismo
da contemporaneidade, impõem a possibilidade de ser vários em um só tempo. O
corre-corre e o imediatismo forçam o corpo a adaptações que estão em desacordo
com o sentido da vida, o ver, o sentir, o saber e o saborear o que o corpo faz. Entre
as pessoas existem diferenças naturais, individuais. Vê-se em Duarte (2003, p.19):
É de se notar, pois, que o próprio corpo humano vem sendo objeto da intervenção de um mercado que visa a produzir padrões idealizados de saúde e beleza, a fim de que se consumam produtos e mercadorias, os quais,, pretensamente, consistiriam no caminho para se atingir este “corpo prefeito” incessantemente propalado entre outros. São fenômenos que só reforçam o sentimento de exclusão e de não pertencimento do deficiente em relação à sociabilidade contemporânea.
26
Essa situação encontra-se tanto no âmbito familiar como no âmbito
escolar, profissional, e em outros setores de sua vida, todas elas acompanhadas das
complexidades que são impostas pelas diversas situações do viver, que delimitam o
seu espaço de atuação. Basta lançar um olhar mais cuidadoso ao redor, que
imediatamente somos transportados a espaços de deslocamentos e acessibilidades
inviáveis. É providencial a tomada de medidas preativas se quisermos que a
sociedade seja acessível, que dela todas as pessoas com deficiência possam
participar em igualdade de oportunidades. A educação é direito de todos. Reporta-se
à Constituição Brasileira, artigo 227:
É dever da família, da sociedade e do estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar, comunitária, além de colocá-las a salvo de toda a forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
Dessa forma, a expressão “corpo eficiente” mais do que justo, traduz e
pontua a luta desses indivíduos, que já remonta há quase três décadas e que, em
que pese terem obtido significativos avanços recentes, mesmo tendo apoio dos
meios de comunicação e das associações organizadas por eles, ainda não é
suficiente para modificar as condições de acessibilidade. São eficientes sim, pois
diante de tantas dificuldades, continuam buscando meios para sua identificação e
valorização de seus ideais, frutos de muita vontade de viver e de acontecer neste
mundo. Nas palavras de Imbassaí, (apud CALAZANS, CASTILHO, 2003, p. 49),
“A dessensibilização – perda gradual da capacidade de sentir, de ter sensações – é
um fenômeno que vem atingindo de forma significativa os indivíduos nas sociedades
contemporâneas urbanas”.
27
Refletindo sobre os hábitos comportamentais e sobre os trabalhos de
dança implementados a esses indivíduos, observou-se que a questão do
preconceito decorrente da falta de informação e intolerância a modelos mais flexíveis
são as condições que dificultam o desenvolvimento integral bem como o seu acesso
a atividades que irão contribuir na melhoria de sua condição física. Para modificar
este quadro precisa-se de ações de sensibilização da sociedade e, em seguida,
mediante a convivência na diversidade humana dentro das escolas inclusivas, das
empresas inclusivas e dos programas de lazer inclusivo, buscar a valorização das
diferenças individuais e aceitação das contribuições pequenas e grandes de todas
as pessoas envolvidas no processo de ensino-aprendizagem.
Mesmo assim, na atual conjuntura, começam a alargar as chances
de proporcionar momentos participativos e de significância, onde os estados
psicológicos e afetivos são despertados. Essa iniciativa motiva o crescimento da
pessoa deficiente em áreas artísticas, possibilitando definitivamente a sua
revelação diante da sociedade, provando assim que espaços psicológicos e
sociais, quando conquistados, tornam possível fazer prevalecer os direitos de
inclusão, dignidade, participação e cidadania. Como indica Silva (apud
GHORAYEB, BARROS, 1999, p.321), o movimento paraolímpico que se iniciou no
Brasil, na década de 50, com a criação de equipes de basquetebol sobre rodas no
Rio de Janeiro e São Paulo, culminou com a participação do Brasil na
paraolimpíada de 1972, na Alemanha. Desde então, a delegação brasileira vem
conquistando medalhas e o reconhecimento da sociedade, como um esporte de
alto nível, com a participação da mídia, patrocinadores, além da atenção
crescente de profissionais da área de fisiologia de exercício. Mas, apesar das
conquistas do movimento paraolímpico internacional, a participação dos
28
deficientes físicos em atividade física regular ainda é mais baixa do que a da
população geral. Este movimento nasceu objetivando a melhoria das condições
de reabilitação e reinserção social das pessoas com deficiência, que hoje somam
um contingente em número crescente. Nas palavras de Silva (apud GHORAYEB,
BARROS, 1999, p. 332),
Em estudos recentes sobre a atividade física para pessoas com deficiência física, observou-se que as causas de morte em lesados medulares estão se aproximando daquelas da população geral, com o aumento na prevalência de doenças cardiovasculares e outras associadas ao sedentarismo. Os efeitos do sedentarismo, tais como a diminuição da resistência aeróbia, da força e flexibilidade muscular, somados à deficiência, levam a uma perda de capacidade funcional e independência que poderia ser parcialmente evitado.
Por outro lado, Pitanga (2003) afirma que a falta de atividade física
regular é apontada como um dos motivos responsáveis pelo índice de agravo à
saúde. Entende-se que a atividade da dança também pode intervir positivamente
diminuindo os riscos de doenças e conseqüentemente melhorando a qualidade de
vida, contribuindo como um dos meios para que os indivíduos fiquem mais
próximos do pólo positivo da saúde. No que se refere à saúde, Souza (1995,
p.73), diz:
Sabe-se hoje que portadores de deficiência física, mental, auditiva, visual e múltipla, salvo restrições raras, são capazes de participar de aulas de educação física assim como atividade de lazer, bem como do desporto, seja ele competitivo ou não. Nestes casos citam-se inclusive os efeitos positivos para a saúde física e mental e o bem estar social destes indivíduos, tais como: reversão do estigma representado pelos rótulos de “incapaz”, “doente”, “inválido”, ao se adotarem denominações como cliente, aluno ou até mesmo atleta.
De qualquer forma, políticas públicas devem ser desenvolvidas para
identificar os principais determinantes para a adoção e a manutenção de um estilo
29
de vida ativa fisicamente. Ainda nesta mesma perspectiva, Pitanga (2003) aponta
que, ao estabelecer espaços apropriados para a prática da atividade, seja ela qual
for, estaremos desenvolvendo e adequando espaços para que um maior número
de pessoas tenha acesso à atividade física.
Na condição de Portador de Deficiência Física, eles não formam um
grupo homogêneo e as dificuldades se tornam mais abrangentes. Todos eles se
defrontam com barreiras diferentes, e que devem ser superadas de maneiras
diferentes. Muitos, por não conhecerem o próprio potencial, continuam
representando um ônus para a família e para os sistemas de saúde e de
previdência social do país.
A busca de um trabalho de corpo voltada para a especificidade de
cada indivíduo, utilizando a dança como suporte, vem definir novos parâmetros
onde as suas representações são percebidas em sentido e significado, e não de
forma gregária. A resultante desta intervenção se reflete nas modificações do
comportamento do indivíduo e conseqüentemente em sua saúde. Segundo Silva
(apud GHORAYEB, BARROS, 1999, p.32), “a prática desportiva neste grupo tem
um impacto positivo mais evidente e crítico que em indivíduos normais”.
O corpo, como uma “realidade existencial”, responde com
sensibilidade de acordo com o que vivencia e com o que experimenta em seu
espaço de atuação. Esta experiência individual e subjetiva, com origem no
momento perceptivo, pode ser iniciada ou impulsionada em determinados
momentos por estímulos internos e, em outros, por estímulos externos. Esta
dinâmica de atuação faz parte do processo de desenvolvimento do ser humano
que vai reforçando valores e eliminado outros, criando uma estrutura de hierarquia
e autonomia, que define a maneira como cada um se organiza no mundo.
30
Estimular o treinamento corporal centrado na percepção das
sensações individuais, na intuição, nos valores, fará com que, gradativamente,
surja uma modificação, tanto nos indivíduos que são submetidos a esta
experiência, como nos sistemas sociais, políticos e nas instituições, pois elas
refletem a maneira como se organiza o corpo, como se vê o mundo ao seu redor.
A busca da autonomia do corpo exige, pois, um aprendizado onde a
“educação do sensível” (DUARTE, 2003), seja a meta a ser alcançada e onde se
possam estabelecer laços em que o indivíduo compreenda aspectos do seu
corpo, conhecendo suas possibilidades e aceitando suas limitações, como
observa Duarte (2003, p. 202):
Um indivíduo que tenha a sua sensibilidade desenvolvida, os seus sentidos despertos e educados para captar as nuanças qualitativas do cotidiano, por certo se recusará a compreender o mundo e a vida tão só no modo de uma especialidade cientifica ou mesma filosófica. Procurará, ao contrário, integrar em seu viver as diferentes modalidades do conhecer humano, tanto convocados para o seu dia-a-dia o conhecimento obtido em tratados e laboratórios, quanto emprestados a este as colorações captadas sensivelmente em seu cotidiano.
Cabe aqui a urgência de ações de sensibilização aos órgãos
competentes, universidades, escolas, instituições, em repensar as formas de
obtenção do conhecimento para alargamento das fronteiras do saber. Criar
programas educacionais onde, “o fundamental é que se aprenda a aprender. [...] Uma
educação mais voltada ao desenvolvimento da sensibilidade do corpo, para que ele
possa se relacionar de uma maneira mais íntegra e plena com o mundo ao seu redor”
(DUARTE 2003, p.203).
31
A divulgação e a implementação de atividades valorativas na área da
dança, imbuídas do desejo de expansão e acessibilidade de corpos deficientes, têm
possibilitado à sociedade quebrar as barreiras dos preconceitos, embora a sua
representatividade ainda não tenha alcançado o patamar desejado por esses
dançarinos.
Os grupos de dança que desenvolvem trabalhos com a dança inclusiva
são poucos diante do interesse e do contingente de Pessoas Portadoras de
Deficiência Física que procuram esta forma de expressão. Citam-se aqui algumas
companhias como: Grupo Candoco (Inglês), Grupo X (BA-BR), Sobre Rodas (BA-
BR), Rodart (BA-BR), Ninfa Cunha - Cia., Roda Viva (BA-BR), Natalia Anjori – (RN-
BR), Pulsar Cia. de Dança (RJ – BR), Rodas em Movimento (RJ – BR), Corpo em
Movimento (RJ – BR), Ekilíbrio (MG – BR), Crepúsculo (MG – BR), Opaxorô (BA –
BR) e outros.
De qualquer forma a inclusão é um processo relativamente novo e que
ainda causa muitos medos e resistências entre os pais, educadores e educandos. É
importante á orientação no sentido de levantar os aspectos positivos e negativos,
permitindo que os pais se responsabilizem pelo processo.
A inclusão nunca poderá ser de maneira impositiva porque se cairia
nos modelos de tirania desrespeitando o momento de cada um. Ainda não se
dispõe de uma política efetiva e consistente voltada para a valorização dessas
companhias de dança, como também não se dispõe efetivamente de projetos
educacionais que possam dar assistência a essas comunidades, o que se reflete no
aumento da sua dependência. É preciso investir numa sociedade livre de barreiras e
mais democrática.
32
Deve-se observar que criar situações especiais contribui para a
segregação e a discriminação. Este é o fator interveniente que normalmente
acontece com certas soluções de adaptabilidade. Um ambiente acessível a todos
possibilita maior liberdade, mais independência, é melhor e mais seguro, liberando
assim para o mercado de trabalho, além do deficiente físico, mais uma pessoa que
ficava presa à atividade de assisti-la.
2.2 UM TOQUE NO CORAÇÃO... _____________________________
Minha pele me protege e se cobre de orifícios
pelos quais me sustento, percebo sons e a luz, o frio e os odores, excreto e me agasalho. Sem essa
primeira comunicação nenhum ser humano sobreviveria.
Michel Serres
Pensando o corpo em sua globalidade, a escolha do programa de
treinamento fundamentado em princípios, que aborda o corpo considerando-o
como um organismo em autoconstrução, indissociável do indivíduo, terá
repercussão positiva no aprendizado. O fio condutor desse programa é a troca de
experiências corporais através do contato físico. Esse contato físico amplia a
percepção e desenvolve a “escuta corporal”. Com essa prática, o corpo é
estimulado a responder, refletir e a se comunicar, expondo sua sensibilidade, ao
mesmo tempo em que permite e aceita o outro, como uma extensão da sua
própria existência. Todas essas comunicações sensíveis são singulares e
33
marcadas por percepções concretizadas a cada instante do viver, a cada instante
de sua comunicação, refletindo como o corpo vivencia o mundo naquele instante,
como ele a incorpora fisicamente e como se identifica com as coisas de sua
própria natureza e da natureza exterior. Como enfatiza Negrine (1987, p. 14),
A elaboração motora está diretamente ligada às experiências vivenciadas anteriormente pelo corpo. [...]. A freqüência com que os gestos motores são realizados é determinante para a eliminação paulatina dos movimentos parasitas, passando a coordenação e domínio do movimento proposto. [...]. É um processo de encadeamento de aprendizagem que são computadorizadas a nível cerebral, e que cada nova aprendizagem serve de pré-requisito para outras similares e mais complexo.
O corpo praticante/atuante/dançarino é aqui considerado um
pesquisador e respeitado em sua singularidade. Essa dança se constrói através de
ações dialógicas entre os parceiros de dança, abordando o corpo a partir de um
estudo mais profundo dos movimentos, estimulando ações baseadas em princípios
de organizações reais, criadas no momento e na ação de atuar. Essa prática expõe
o corpo repetidamente a novos modelos perceptuais e desafiadores, exercitando a
“escuta corporal” por meio da experiência direta do contato. O que significa saber
escutar seu próprio corpo e o corpo do outro, permitindo a comunicação sensível.
A “escuta corporal” se dá diretamente no contato com a pele, este
órgão sensível e estimulante, é o primeiro meio de comunicação e maior órgão
sensorial. É através da pele que se percebe e se sente o mundo externo, o
crescimento e o desenvolvimento pessoal prosseguirem vida a fora. Este órgão, que
cobre e protege o corpo, reage a todo tipo de estímulo, tanto àqueles produzidos na
própria pele, quanto àqueles que se originam internamente e externamente.
34
A experiência do toque no corpo destas pessoas revelou uma
complexa fragmentação das ações no momento do contato corporal.
As atitudes acomodativas e reconhecedoras de ambientes e de
espaços estranhos ao seu universo revelaram um déficit na qualidade de criar novos
relacionamentos que, segundo Montagu (1998), são apreendidas no seio da família.
Sente-se o amor ou faz-se carinho no outro porque foi construído no corpo esta
representação através da experiência afetiva. Essas são experiências iniciadas na
cotidianidade de todos, dentro do ambiente familiar, a princípio com a mãe, o pai,
amigos, avós e companheiros.
O contato corporal é uma necessidade básica que deve ser satisfeita
para que os indivíduos possam desenvolver seus movimentos, gestos e vinculações
corporais, que fazem parte do desenvolvimento normal ao longo das ampliações das
experiências pessoais em relação ao próprio corpo e ao corpo do outro. No
deficiente físico, muitas vezes não se encontra representado em seu corpo a
experiência do contato corporal afetuoso, como o calor de um abraço, do afago no
cabelo, das experiências sensitivas que são decorrentes da própria complexidade
que envolve as suas deficiências.
Os sentimentos de insegurança e a ansiedade são fatores
intervenientes e estes devem ser levados em consideração, pois se trata de uma
situação nova que foge aos seus conhecimentos e que precisa adaptações para
saber lidar com elas. A atitude flexível, compreensiva e firme contribuirá para
dissolver as ansiedades de onde quer que elas se originem. O diálogo e as
informações sobre o assunto favorecem sensivelmente o apoio e a aproximação
saudável entre pai e filhos, evitando os conflitos desgastantes.
35
A exploração da consciência corporal a partir da sensação do toque,
que é examinada quando se entra em contato com o chão, com o próprio corpo, ou
quando se sente o peso e o toque do parceiro de dança, despertam áreas de
sensibilidades latentes, aspectos desconhecidos do corpo. Os estímulos que agem
na superfície da peIe, vindos de fora, do contato corporal, fazem com que surjam
sensações no organismo, que provocam respostas positivas ou negativas,
dependentes da intensidade e do efeito produzido por este estímulo sobre a
superfície do corpo. Inicialmente este treinamento é dedicado a capacitar o corpo
para perceber os reflexos vindos do movimento, de forma que, a cada ação
realizada, ele se sinta seguro, o que implica em aprender a dar e receber o peso,
testar a gravidade e criar soluções de segurança para cair, rolar e relaxar. O
estímulo é físico, e é a partir deste estímulo toque-pele-contato que o indivíduo é
convidado a colocar o seu universo de conhecimento corporal no momento em que
está em contato com outra pessoa.
No corpo portador de deficiência física, a coordenação motora
encontra-se com o ritmo interno em dissonância, oriundos das tensões musculares e
ou bloqueios emocionais próprios das disfunções. Apesar de seus ritmos serem mais
lentos e seus interesses curtos, na medida em que os bloqueios musculares e
emocionais são dissolvidos, observa-se que eles apresentam uma inteligência
corporal que gradativamente e sutilmente vai expondo movimentos mais leves,
conscientes, o ritmo mais coordenado e carregado de sentimento.
A ausência de representações sensitivas no corpo para dar respostas
significativas e efetivas ao toque percebido/sentido dificulta o senso de
discernimento que nasce com a própria pessoa. O corpo se mostra inacessível,
36
impenetrável, não se constroem os espaços à comunicação sensível, não há um
senso de preferência. E, de acordo com Negrine (1987, p.30):
A estimulação tátil desempenha um papel importante como agente de influência sobre a tonalidade emocional e o período de atenção. A capacidade do cérebro em conceber, organizar e executar as ações e seqüências de ações e acontecimentos depende da grande extensão de estimulação tátil que o organismo recebe. Através do tato, do toque, somos capazes de descriminar as imagens (internalizadas) de nossos segmentos corporais.
Quando o corpo apresenta tensões corporais e bloqueios que impedem
a espontaneidade, a simples ação do toque leve pode fornecer uma experiência na
qual eles estão distanciados no decorrer de suas vidas. Este é um fator
preponderante no dia a dia que se apresenta como uma crise existencial que,
segundo Duarte (2003), vem desestimulando qualquer refinamento dos sentidos
humanos. Todos presenciam e vivenciam o corre-corre do dia–a–dia, os diálogos
fragmentados, os contatos estritamente profissionais, a alimentação mediada pela
TV, enfim, uma série de informações que se atolam e se multiplicam sem deixar
espaço para o encontro entre as pessoas. O que se captura do mundo externo
causa um distanciamento do corpo, da moradia, do sentido da vida.
Quando duas pessoas estão experimentando um treinamento através
do contato, do toque, da exploração dos pontos de suporte de peso, a atenção está
voltada para o que está acontecendo naquele momento, para impressões que o
corpo está recebendo. Nas palavras de Lowen (1970), “A auto-percepção é uma
função do sentir. É a soma de todas as sensações do corpo de uma só vez”. Entra
em ação uma série de estímulos e de intenções, estabelecendo jogos que se
organizam intuitivamente entre os parceiros. Esses jogos implicam no aprendizado
motor de ações voltadas para a manutenção constante do equilíbrio entre os
37
parceiros, no momento de dar e receber peso, solidificando dessa maneira
conhecimentos sobre os seus próprios movimentos e sobre a suas estruturas
corporais.
Os toques suaves e as pressões de variadas intensidades que o corpo
recebe desta troca simultânea e espontânea, estimulam as terminações nervosas
que, segundo Montagu (1998), agem de modo regulador sobre as atividades
rítmicas, preparando o corpo, diminuindo as tensões e o stress.
Todas essas ações proporcionam o relaxamento global, criando o
campo de energia que permite a integração dos parceiros que dançam, facilitando a
comunicação, levando o corpo a dar uma resposta adequada ao estímulo recebido.
De acordo com Lowen (1970), “um músculo relaxado é um músculo carregado de
energia”.
Neste estado de ser relaxado, a capacidade de captar, modular e
aproveitar as sensações vindas dos estímulos aumenta consideravelmente,
desencadeando o fluxo de energia, tão importante nesta forma de expressão.
Quando o corpo que dança percebe o toque do parceiro, este se traduz em forma de
estímulo que imediatamente provoca uma resposta espontânea.
Com a continuidade desta prática, o corpo, pouco a pouco, vai se
apropriando do sabor de vivenciar o seu universo sensível. Ao fazer o movimento,
sentindo e percebendo sua transformação de gesto motor a gesto espontâneo,
carregado de sensibilidade, observa-se um diferencial que se revela no
refinamento do gestual comunicativo desses “corpos diferentes”; corpos que
trazem de sua experiência de vida situações extremas de desconfortos e
discriminação. Aqui, cada um é agente, ou seja, é o corpo agindo em um tempo
específico e num espaço específico, tendo o controle sobre sua própria
38
aprendizagem. São “intérpretes construtores” (RODRIGUES, 1998), trazendo
junto às suas dificuldades estímulos para construções poéticas em dança. Isto
tem sido uma fonte de informação sobre novos desenvolvimentos da dança no
seu entendimento físico. Nesse sentido, busca-se evidenciar o quanto é
importante mover-se, comunicar-se, independente de qualquer situação,
estimulando-os a descobrir naturalmente a sua própria linguagem, encorajando-os
a procurar seu movimento natural. Steve Paxton enfatiza que um ponto principal
desse sistema é simplesmente o prazer de se movimentar, de dançar com alguém
de um modo não planejado, espontaneamente, em que cada pessoa está livre
para inventar. É uma forma de dançar social prazerosa que de acordo com Lowen
(1970), vem como resultado de se ter satisfeitos os desejos.
Importante apontar que, com este treinamento, a contextualização
temática vai surgir da experiência e das estratégias que o corpo pode estabelecer
consigo mesmo e com o parceiro de dança, onde a comunicação passa a ser o
reflexo da averiguação das sensações internas de cada dançarino articulando os
meios para a comunicação. O mundo interior torna-se cúmplice do mundo
sensível. Essa riqueza de comunicação faz com que as concepções mais antigas
sejam transformadas, para acomodar as mais novas e as mais poderosas, todas
elas advindas da troca de experiência com o parceiro de dança e da história de
vida de cada um.
Essa característica peculiar de sociabilidade, deste tipo de dança,
permite que as pessoas improvisem juntas, não importando o nível de
conhecimento técnico corporal. Assim sendo, esta forma de expressão pode ser
praticada por todos, independentes do sexo, da cor, da idade ou do tipo físico. O
lidar com as diferenças e a diversidade é ponto fundamental.
39
Quanto maiores forem as experiências vividas pelo corpo com
consciência e sensibilidade, maiores serão as suas capacidades de escolha.
Duarte (2003, p.13), mostra com suas palavras que
O mundo vivido através da nossa sensibilidade e nossa percepção, que permite que nos alimentemos dessas espantosas qualidades do real que nos cerca: sons, sabores, texturas e odores, numa miríade de impressões que o corpo ordena, na construção do sentido primeiro.
Tal liberdade de ação é um meio que pode facilitar e criar os vínculos
que abrem espaço à comunicação sensível. É bom para a saúde do corpo, uma vez
que estimula a atividade física, a percepção do corpo como um todo e o prazer de
dançar a dois. A instrumentalização corporal oferece a condição para que o corpo
possa ser visto como um organismo vivo, pronto para responder ao conteúdo
emergente da realidade pessoal que o cerca.
Um trabalho de corpo que amplie esta representação, através de
treinamentos específicos, possibilita o confrontamento em relação ao que é
aprendido e desenvolvido segundo aspectos do ambiente em que está inserido.
O treinamento consciente visa a aprimorar as potencialidades dos
indivíduos, favorecendo o intercâmbio, uma ponte entre a compreensão de sua
mobilidade, o planejamento e a expressão criativa de seu próprio movimento. Nessa
ação de planejamento em seu próprio processo criativo, ele atinge aspectos
educacionais que envolvem, ao mesmo tempo, o desenvolvimento motor, afetivo e
emocional. Todo o processo pautado no desenvolvimento integral do ser humano
favorece a reestruturação do corpo, ampliando sua auto-estima, servindo de
facilitador na melhoria da qualidade de vida e, quando for o caso, na reintegração
40
social. Como bem fala Lowen (1996), “Quem não sabe o que sente não pode ser
objetivo consigo mesmo, sendo muito pouco provável que possa ser objetivo em
relação aos outros”. O que se pretende é adotar medidas que possibilitem a
conscientização corporal, facilitando o uso da energia do pensamento a conectar
áreas internas e externas do ser, para que a disposição inata de sentir e interpretar
possa ser ativada.
Uma idéia de entendimento mais amplo da vida e do mundo em
direção de uma razão mais alargada e mais plena de sensibilidade. Alcançar esta
maturidade a nível de crescimento pessoal e do fazer artístico significa que o pensar
está em sintonia com o sentir e o fazer, que os órgãos dos sentidos estão ajustados
às questões do corpo, suas limitações, suas facilidades e às possibilidades de
superação das deficiências, oportunizadas pela prática artística e pelo trabalho
corporal sistemático. Desta forma alcança-se a autenticidade do movimento. A
convivência com esta diversidade irá permitir adaptações corporais significativas.
Como pontua Damásio (2002, p. 20):
A consciência, de fato, é a chave para que se coloque em escrutínio uma vida, seja isso bom ou mau, é o bilhete de ingresso, nossa iniciação em saber tudo de fome, sede, sexo, lágrimas, riso, prazer, intuição, o fluxo de imagens que denominamos pensamento, os sentimentos, as palavras, as histórias, as crenças, a música e a poesia, a felicidade e o êxtase. Em seu nível mais simples e elementar, a consciência permite conhecermos um impulso irresistível para permanecer vivo e cultivar o interesse no self, em seu nível mais complexo e elaborado, a consciência ajuda-nos a cultivar um interesse por outras pessoas e a aperfeiçoar a arte de viver.
Diante das possibilidades que se delineiam, um programa de
preparação técnico-artística fundamentado na conscientização do movimento pode
vir a ser o caminho apropriado para a educação da espontaneidade. Ao expandir
41
este campo de energia, a coordenação do corpo torna-se evidente, eliminando
gestos pessoais e idiossincrônicos que não têm relação com o que se quer dizer.
Nesse sentido, praticar é estabelecer relacionamentos diretos,
pessoais e interativos com o próprio corpo. A pessoa se sente viva, seus
movimentos definem e orientam os meios pelos quais as sua ações façam sentido
com o que se quer significar. A memória corporal encontra suporte para dar resposta
adequada á exigência imediata. A objetividade comportamental é fruto do
conhecimento adquirido pela prática, o movimento tecendo os laços que constroem
a dança. É a ligação entre conhecimento interior e a ação. Nas palavras de
Nachmanovicth (1993, p. 38), “a perícia nasce da prática: a prática nasce da
experimentação compulsiva mais prazerosa e de uma sensação de
deslumbramento”. E Lowen (1970, p. 109), “O indivíduo existe, simplesmente isto.
[...] Se o fizer a partir do corpo, perceberá que o prazer é o estado de harmonia com
o ambiente natural e humano”.
2.3 NOS PASSOS DA DANÇA ESPONTÂNEA... __________________
Não há outro lugarNão há o antes
Não há o depoisExiste apenas o instante
Paulo Lemisky
A questão da técnica.
O processo de ensino aprendizagem, a partir de um programa de
preparação técnico-artística, fundamentado nos princípios do Contato Improvisação,
é centrado no corpo do dançarino, voltado para uma aprendizagem dotada de
42
significação, oportunizando a liberdade e a criatividade na busca de maior
autenticidade e autonomia no movimento. Tem como característica provocar novos
questionamentos, consolidar um conhecimento e comunicá-lo. A sistemática desse
ensino envolve dois aspectos: um voltado para a criação do movimento espontâneo
e outro para o desenvolvimento de habilidades corporais especificas.
A ação está diretamente relacionada à investigação ativa de
circunstâncias e contextos, definidos pelo movimento do dançarino com
envolvimento de áreas complexas da experiência humana, a fim de descobrir
questões e assuntos relevantes à sua necessidade enquanto ser criador.
Tais ações comportam elementos expressivos que são reveladas
através de movimentos que precisam ser conscientizados, dominados e entendidos
em seus significados. Esta consciência envolve cinestesia músculo-esquelética e
experiência corporal relacionadas ao próprio corpo, ao contexto em que está
inserido e a situações diversas que se relacionam com o tempo de realização da
ação, que podem ser procedimentos perceptivos extremamente simples ou
sofisticados. O alcance deste equilíbrio envolve a aquisição do domínio corporal, do
controle da coordenação motora global. De acordo com Negrine (1987, p. 38),
O termo coordenação pode ser abordado no sentido lato ou estrito. No sentido lato, refere-se a todo sincronismo de movimentos realizados pelo corpo com o objetivo de manter o indivíduo num estado de ajustamento funcional. No sentido estrito, a coordenação é vista como uma valência física e, neste caso, representa uma multiplicidade das mais variadas habilidades.
Esses são processos interligados, desempenhando papéis
fundamentais na integração do individuo em sua realidade e na organização
percepto - motora. Como enfatiza Damásio (2002, p.38), “na atividade de relacionar
43
da consciência o organismo é representado no cérebro de maneira abundante e
variada, e esta representação está vinculada à manipulação do processo da vida”.
Nas pesquisas realizadas sobre o processo evolutivo da formação do
ser humano, identificam-se duas fases de implementação do saber. Na primeira
fase, a aprendizagem fica na dependência dos aspectos internos, isto é, na
maturação neurológica. Na segunda fase, depende das informações que vamos
armazenando oriundas do meio ambiente em que se vive e que são captadas pelos
órgãos sensoriais. Ambas se baseiam em experiências perceptivas sentidas e
vivenciadas que estão a todo momento se modificando em função das diversas
representações e acontecimentos externos por meios dos órgãos dos sentidos, a
visão, a audição,o tato e o paladar. A experiência, a vivência, são fundamentais para
implementação do saber corporal. É preciso estar com o corpo aberto e disponível a
novas idéias e realidades, alimentando a capacidade interior de refletir e adaptar a
ação a qualquer situação interveniente. Qualquer tensão muscular resultante do que
foi visto e/ou vivenciado, é fator significativo que pode ou não limitar, criando
bloqueios que dificultam a percepção do corpo em toda sua totalidade. E, na
condição de corpo deficiente, os efeitos podem tomar dimensões difíceis de serem
resolvidas, considerando sua estrutura física e o grau de comprometimento. Como
enfatiza Tavares (2003, p. 86):
Quanto mais familiarizados estamos com nossas sensações corporais, mais estaremos aptos em nos preservarmos como identidade no processo de adaptação ao meio externo, podemos assim contribuir e desfrutar de uma construção social humanizada.
Pode-se entender que a facilidade motora, o funcionamento
harmonioso do corpo, seu equilíbrio, sua unidade e concentração, fazem parte de
um processo de construção psicossocial, no qual é preciso tempo, vivências,
44
práticas corporais, desafio de melhorar, somado por sua vez a fatores de ordem
hereditários, hábitos posturais, nutrição, etc. De acordo com Duarte (2003), começa,
portanto, a vida, nesse corpo-a-corpo primeiro mantido com o mundo.
Ao fazer Contato Improvisação, lida-se com o sentido de percepção e
interpretação de uma situação imaginária, o dançarino é introduzido no contexto da
ficção. A aprendizagem decorrente desta organização de sentidos se confirma do
fato de que eles têm que interpretar, desenvolver novas habilidades e criar
perspectivas para resolver e dar soluções aos problemas que surgem no decorrer
das ações. Essas ações são construídas tendo como o fio condutor o contato
corporal, que por sua vez pode resultar em estímulos que favorecem respostas com
ímpeto forte, suave, contínuo, interrompido. Essas nuanças de intensidade é que
vão dar o colorido à dança propriamente dita. De acordo com Damásio (2002, p. 85),
Quando o organismo se ocupa de um objeto, intensifica-se sua capacidade de processar sensorialmente este objeto, aumentando a possibilidade de ele vir a se ocupar de outros objetos – o organismo está mais preparado para mais encontros e interações mais detalhadas.
O dançarino coloca em alerta seu próprio corpo, estimulando a
propriocepção, e prepara-o antecipadamente para a ação que estar por vir.
Presencia-se esta ação física quando, durante a transferência de peso entre
parceiros que dançam, o corpo é a todo tempo solicitado para manter o equilíbrio
sob determinados pontos de apoios corporais, que podem ser leves ou pesados,
variando entre as bases de sustentação de grande amplitude ou em base
diminuídas, acomodando o corpo para evitar a queda. E, se por ventura o corpo não
dispor em algum momento de sua dança de subsídios para a harmonia de seus
movimentos, ele deve achar os meios para resolver o desconforto entre eles indo ao
45
chão ou utilizando pausas dançantes. Todas essas ações de acomodação corporal
são regidas por solicitações que põem em jogo diversas valências do movimento
(força, flexibilidade, velocidade, atitude, equilíbrio, postura, etc.), para que o corpo
possa responder com sensibilidade às miríades de ações.
O corpo habilidoso e treinado prepara-se interna e externamente para
dar peso, receber apoio, se desviar de obstáculos, responder ao toque
espontaneamente, com delicadeza, com rapidez, com energia, ou simplesmente
responder com o silêncio. Todas as ações acontecendo ao mesmo tempo exigem do
corpo controle e consciência em níveis superiores. Segundo Negrine (1987, p. 29),
[..] o esquema corporal se estabelece através do recebimento de estímulos proprioceptivos, exteroceptivos e interoceptivos. Os estímulos proprioceptivos dizem respeito às sensações cinestésicas que nascem do corpo; [...] os estímulos exteroceptivos referem-se aos estímulos exteriores do organismo e que agem sobre eles; [..] (contato, pressão, e sensibilidade térmica), sensoriais (principalmente visão e audição). Os estímulos interoceptivos concernem aos estímulos vindo das vísceras.
A organização perceptual das respostas positivas e desafiadoras entre
os parceiros de dança cria um contexto que estimula respostas ampliadas. Nessa
troca de sentidos, o desempenho de cada dançarino vai se modificando,
acrescentado outro estímulo-resposta que vai pouco a pouco concretizando a troca
e a fluência do movimento que estabelecem os laços da dança. Nesta troca de
ações, cada momento particular não define o que virá a seguir, mas a mente capta o
que foi feito anteriormente e que deixou vestígio na memória. Como enfatiza Tavares
(2003, p. 134), “Se descobrimos nossas potencialidades, nos expandimos e também
estamos nos conhecendo”. Cada nova percepção internalizada encontra o seu lugar
na estrutura da memória. É preciso repetição com poucas mudanças para que
ocorram as acomodações e as adaptações. Quanto maior o número de impressões
46
registradas mais fácil será o processo de assimilação. Todas essas ações são
criadas dentro de um contexto de imaginação e de realidade, uma vez que os
parceiros devem estar com a atenção em estado de alerta, ou seja, o olhar interno
(percepção interna do próprio corpo) e o olhar externo (percepção do corpo no
espaço) ativados para não se machucar durante a dança. Segundo Stemberg (2002,
p. 87),
A habituação sustenta o nosso sistema de atenção que tem quatro funções principais: (1) Atenção Seletiva: na qual escolhemos prestar atenção a alguns estímulos e ignorar outros; (2) Vigilância: no qual esperamos atentamente detectar o aparecimento de um estímulo específico; (3) Sondagem: na qual procuramos ativamente estímulos particulares; (4) Atenção Dividida: na qual distribuímos nossos recursos de atenção disponíveis para coordenar nosso desempenho de mais de uma tarefa ao mesmo tempo.
É o treinamento que estimula a construção da memória corporal. O
corpo inteligente se apropria deste conhecimento, adaptando-se, criando estratégias
ao que lhe é proposto, para assim responder com o movimento adequado diante do
inesperado. São fatores cinestésicos que entram em jogo produzindo sob certas
condições a sensação do movimento. É a partir dessas sensações sentidas em seus
músculos, tendões e articulações, que o dançarino cria as relações de tensão,
relaxamento e sentido de equilíbrio durante as ações que o corpo faz. A natureza
dinâmica desta experiência cinestésica é a chave da correspondência
surpreendente, onde o dançarino articula seus movimentos e cria os significados que
são visíveis, nas trajetórias dos seus movimentos quando dança. Aqui se entende a
dinâmica como a responsável pela expressividade e significações na dança, vindas
pela articulação do espaço, pela mudança na variação da velocidade, do tempo e
força vigorosa ou leve, impressa ao movimento.
47
Parte-se do pressuposto de que cada técnica tem em si mesmo um
objetivo específico para o que se quer aprimorar e que o seu aprendizado implica
num confronto entre a técnica pessoal já assimilada e a aquisição de uma nova. No
propósito da dança, todo comportamento deve ser aprendido de novo, até que o
corpo se aproprie daquela nova informação, respondendo espontaneamente a um
nível mais elevado de controle. Essa construção e o domínio dessa linguagem se
dão através de atuação analítica e prática, na conscientização dos seus princípios,
para que o dançarino desenvolva em seu corpo o treinamento sistemático ao seu
fazer artístico. O controle da sensação cinestésica e da dinâmica de imagem, se
adquire com treinamento e faz parte do processo de aprendizagem.
O sistema nervoso humano modela continuamente o mundo que
percebe, gerando fluxo de previsões em todos os níveis de percepção, ação e
entendimento. Cada estímulo é julgado de acordo com o nível estabelecido na
memória corporal da pessoa. O desequilíbrio ocorre sempre que em qualquer grau,
a realidade se choca com as previsões (ansiedade, stress, imaturidade na dança,
fraqueza muscular, doenças, etc.), fazendo o cérebro lutar para reavaliar o mundo
de uma forma que faça sentido. O corpo do dançarino, como “agente”, é o produto
de sua arte. Ele deve procurar o preparo corporal e isto irá interferir no resultado de
seu trabalho. Conforme Damásio (2002, p. 195):
A sobrevivência depende de ações eficazes, o que exige imagens eficazes. Um mecanismo capaz de maximizar a manipulação eficaz de imagens a serviço do interesse de um organismo específico conferiria uma enorme vantagem aos organismos que a possuem.
Possibilitar ao corpo o prazer de partilhar uma experiência organizada
através de uma percepção hábil, de forma que as previsões sejam totalmente
satisfeitas, exige muito trabalho. A dança que surge de um treinamento bem
48
elaborado é instigante, sugerindo diversas modulações, não tem pressa de dar
soluções, ao contrário, cria diversas expectativas diante das satisfações das
previsões em níveis extraordinários. Esta disponibilidade de ser requer elaboração,
dedicação e muita paixão. O prazer em uma dança surge de um contorno
harmônico do movimento, quando vivenciam-se variações de dinâmica naturalmente
de maneira que se possa prever. O cérebro registra o prazer, mas quando o inverso
acontece, quando o cérebro luta para entender os padrões que estão sendo
elaborados, o corpo experimenta sensação de stress por não ser capaz de realizar
aquele movimento harmonicamente. Nas palavras de Damásio (2002): “Na atividade
de relacionar da consciência o organismo é representado no cérebro, de maneira abundante
e variado, e estas representações estão vinculadas à manipulação do processo da vida”.
A experiência do viver a dança faz com que o corpo possa realizar
movimentos com uma estrutura particular. Faz isto sem perceber, sem pensar a
respeito na abrangência do gesto. A capacidade que o indivíduo tem de visualizar a
imagem corporal é limitada. Ele pode julgar a dimensão e intensidade do movimento
em relação ao outro, mas tem pouca noção do seu impacto como imagem visual
sobre o campo circundante.
Deve-se trabalhar o movimento para alcançar o efeito desejado, e que
este venha preenchido de sentimentos inovadores, do prazer em estar sintonizado
com seu corpo. Fica-se feliz e surpreso quando o corpo se expande, quando as
habilidades adquiridas propõem movimentos coordenados, identificados com
sentimento que se quer comunicar.
A viabilidade do treinamento específico vem revelar a capacidade e a
disponibilidade dos indivíduos (dançarinos) quando são estimulados em sua
curiosidade, num fazer sentir, que se identifica com o que se propõe. Entende-se
que o treinamento deve proporcionar vivência corporal, a mais diversificada possível,
49
partindo inicialmente de movimentos mais simples e amplos, para os mais
complexos e específicos. A experiência vivenciada em uma situação de
espontaneidade, garante aos movimentos o seu valor e importância na significação
do gesto. Ao fazer o indivíduo pensar no que ele se propõe a realizar, estimulando o
seu raciocínio, intuitivamente, ele estará canalizando os meios para que o
movimento expressivo possa atingir os seus propósitos, que é a plena sintonia com
o corpo e o mundo, pelo seu prazer em dançar.
A tentativa do fazer e a repetição sistemática, respeitando as
capacidades individuais, são estimulantes quando as pessoas podem se expressar
da maneira como gostam. Com o correr do tempo, as impressões corporais vão se
estabelecendo, as habilidades corporais se ajustam aos propósitos específicos e à
natureza do individuo.
Dar chances ao praticante para levantar questões, discordar, propor
alternativas de trabalho, criar o clima onde haja o desejo de arriscar, valorizar suas
descobertas corporais, são procedimentos que podem levar ao êxito no domínio da
dinâmica de seus movimentos.
A hierarquia sinestésica possibilita a percepção de novos padrões de
movimento. Os elos entre as lembranças são alterados, formam-se bases para
novos tipos de imagens, novas idéias se identificam, a inspiração torna-se mais
freqüente. Sem sombra de dúvidas, a hierarquia da memória corporal é necessária
ao improvisador. Além disso, a disponibilidade à inspiração intuitiva, que é
estimulada pelo prazer de fazer as coisas, pela coragem em quebrar as regras, pela
alegria que permeia uma atividade torna-se, em si mesma, uma recompensa.
50
A interação e a identificação com o que se propõe são as forças
propulsoras para a demanda da construção do movimento espontâneo. Segundo
Goleman (1995, p.103):
A capacidade de entrar em fluxo é a inteligência emocional no ponto mais alto; o fluxo representa, talvez, a última palavra da canalização das emoções a serviço do desempenho e aprendizado. No fluxo, as emoções são, não apenas contidas e dirigidas, mas positivas, energizadas e alinhadas com a tarefa que está sendo realizada. [...]. É um estado em que as pessoas ficam absolutamente absortas no que estão fazendo, dando atenção exclusiva à tarefa, à consciência em fusão com os atos.
A prática da dança espontânea, os sentimentos e os pensamentos
estão interligados a faculdades emocionais que guiam as decisões a cada momento,
trabalhando de mãos dadas com a cognição, capacitando o praticante a decidir e dar
soluções imediatas. É a dança do encontro. Os dançarinos se identificam pela
empatia afetiva. A sincronicidade da percepção interna com a realidade externa é
mútua entre os parceiros. A força inter-relacional define a realidade do engajamento
dos dançarinos, seguindo um processo evolutivo ou um aperfeiçoamento
progressivo da dança que são expostos nos movimentos. Cada movimento realizado
é um pretexto, é um estímulo para uma nova sensação de descobertas. As imagens,
a movimentação dos dançarinos, funcionam como geradores, renovando
constantemente o material e novos momentos belos surgem desta onda de energia.
O movimento é percebido e recebido como mensagem afetiva, além do significado
intencional simbólico do gesto.
Os jogos corporais conduzem a uma comunicação mais profunda, a
partir das coincidências e sincronicidades de ações um com o outro, potencializando
e desencadeando o fluxo onde, sucessivamente, o movimento sensível gera o
51
seguinte, estabelecendo os laços de inter-relacionamentos que definem a dança
propriamente dita. Um passo para a completa espontaneidade é descondicionar o
dançarino, quebrar a sua resistência que está enraizada na soma dos seus próprios
padrões, sejam estes sociais, culturais ou somáticos e de identidade. Para
Nachmanovicth (1993, p.43),
A improvisação tem suas regras, mesmo que estas regras não sejam fixadas a priori. Quando somos totalmente fiéis à nossa individualidade, estamos na verdade seguindo um esquema bastante intricado. Nós nos conduzimos de acordo com regras inerentes a nossa natureza.
O Contato Improvisação é concebido como um sistema estrutural que
só existe uma vez. Este sistema tem princípios que se desenvolvem em ações
interdependentes e individuais dos parceiros, quando se encontram numa situação
de disponibilidade corporal, animados pelo espírito criativo. Este estado de ser que
renova, dá margem para a exploração de novas possibilidades, instigando formas
diferentes de lidar com o movimento. A ousadia, o desejo de melhorar, o prazer
revelado pelo treinamento estimulante, torna-se freqüente entre os praticantes.
Neste esquema de casualidade e sincronicidade se estabelece a rede de
intercomunicação que dá corpo à composição, organizando espontaneamente um
sentido, uma estrutura de pensamento. De acordo com Moreno (1987, p.132):
A espontaneidade precisa ser treinada e desenvolvida para que este estado faça parte da vida normal, ser espontâneo é fazer o oportuno no momento necessário, é uma resposta boa a uma situação geralmente nova, e por isso mesmo difícil. Deve ser uma resposta pessoal integrada, e não uma repetição ou uma citação inerte, separada da sua origem, do seu contexto.
Um treinamento que permita a liberdade de criar e de interpretar, de
acordo com a sensibilidade individual, é um convite à escolha. Traz em si mesmo
52
uma mobilidade, a capacidade de reproduzir-se, de se multiplicar aos olhos do
intérprete como eternamente nova, criando nas relações espaciais temporais,
suas próprias dimensões afetivas (internas e externas), incorporando a
profundidade e o âmago do movimento emocional. Tem como eixo principal a
exploração da consciência corporal, a partir da sensação do toque, que é
examinada quando entramos em contato com o próprio corpo ou quando sente-se
o peso e o toque do parceiro de dança.
O treinamento inicial é dedicado a capacitar o corpo para perceber
os estímulos vindos do movimento, de forma que, a cada ação organizada e
realizada pelo corpo, ele se sinta seguro, o que implica em aprender a dar e
receber o peso, testar a gravidade e criar soluções de segurança para cair, rolar e
relaxar sem se machucar.
2.4 O PRAZER DE SER CORPO DIFERENTE... ___________________
A espacialidade do corpo é o
desdobramento de seu ser de corpo, a
maneira pela qual ele se realiza como
corpo.Merleau Ponty
Através da dança e dos movimentos, as pessoas aprendem a se
comunicar com o mundo. Uma vez conscientes dos seus limites, o potencial criativo
se amplia e o corpo se transforma num poderoso veículo de comunicação, tão ou
mais forte que sons ou palavras.
53
Ao acompanhar o corpo que dança com desprendimento, observando
a interação de seus movimentos, fica evidente a importância do trabalho sistemático,
pautado em princípios, onde a organicidade do movimento sensível é ponto
fundamental. A vivência de uma experiência voltada para a conscientização corporal,
fundamentada em ações, adequando-se às necessidades imediatas, respeitando
suas particularidades, compreende uma visão holística sobre o corpo. Tal visão leva
em consideração a importância e o valor do corpo trabalhado uniformemente, sem
ações isoladas. Ela busca a organização integral, dentro de uma ótica não
mecanicista, ativando e harmonizando o corpo que se move.
Organizar e difundir um determinado conhecimento sobre o corpo
deficiente e as possibilidades dos movimentos existentes em potencial, impulsiona a
quebrar as barreiras do ensino da dança que são fundamentados em normas
rígidas, tanto no que se relaciona ao ensino propriamente dito, quanto às exigências
dos “corpos ideais” para suas representações. Encontra-se aporte em Freire (2001,
p. 40, in citação de Ann Cooper Albright), quando diz:
A relação da dança com a deficiência é um extraordinário campo, por meio do qual podem ser exploradas as construções sobrepostas da habilidade física do corpo, subjetividade e visibilidade cultural. Um modo de examinar as pré-concepções das habilidades do mundo da dança profissional é confrontar tanto os significados simbólicos e ideológicos que o corpo deficiente detém em nossa cultura como também as condições práticas da deficiência. Uma vez mais, estamos numa posição de negociar entre a representação teatral do corpo dançante e a atualidade de suas experiências físicas. Assistir a um corpo deficiente dançando nos força a ver com uma dupla visão e ajuda-nos a reconhecer que, enquanto uma performance de dança é calcada nas capacidades físicas de um dançarino, essa não é limitada por ele.
54
Esta perspectiva revela que as potencialidades do corpo humano são
ínfimas e surpreendentes e que é preciso acreditar e ousar promovendo
oportunidades para a viabilização dos meios de acessibilidade à expressão do
movimento sensível. A educação do movimento sensível aceita e absorve a todos
os corpos indiscriminadamente, dando de forma espontânea, ênfase à conexão,
observando as diversas inter-relações e intenções no comportamento do movimento.
Busca centralizar e ajustar os corpos a partir do equilíbrio nos diversos segmentos
corporais a fim de achar suportes satisfatórios a seu deslocamento na construção da
dança. A atenção é voltada para a ação que está sendo realizada naquele momento,
trazendo e devolvendo ao cotidiano elementos constitutivos apreendidos com a
prática. Aqui, importa viver o corpo, seja ele qual for, de outra maneira,
desenvolvendo a autopercepção, o diálogo pessoal, consolidando uma estrutura
construída com bases de segurança e consciente dos limites.
A clareza e a objetividade dos movimentos permeados pela técnica
cristalina e transparente fazem a beleza do movimento. Esta beleza emana do
movimento sensitivo, que vem do subjacente equilíbrio invisível do corpo. O gesto
torna-se presente, as ações sentidas e percebidas em todos os seus aspectos, físico
e mental. Essas condições especiais de experiência e conscientização das
particularidades de cada ação corporal fazem-se pertinente a todo e qualquer ser
humano, indiferente de cor, credo, sexo, lugar, sabores, gostos, desejos. Este é um
aprendizado universal que facilita aos indivíduos a compreensão do movimento em
níveis superiores. A pessoa aprende a movimentar-se como uma unidade,
compreendendo suas dificuldades físicas e ou estruturais. Aprende também a
expressar-se e a comunicar-se com qualidade e presença de espírito autêntico,
contextualizado em seu ambiente. Seu contato com o mundo alcança outros
55
patamares de sociabilização e de prazer. O “ser diferente” pontua e chama a
atenção para os meios que foram articulados pelo indivíduo para desenvolver e
aprimorar seus conhecimentos. Essa capacidade de adaptação, da sua competência
sensitiva corporal de apreender a realidade e dar um sentido, um valor a ela, em seu
próprio corpo organizando-o, é uma característica peculiar do ser humano. Com
essas bases, ele constrói os meios de sua sobrevivência. Segundo Souza (1994), a
adaptação orgânica se efetiva na medida em que as pessoas têm ou estimulada sua
neuromotricidade, sua função circulatória e sua função respiratória orgânica.
O treinamento orientado através da dança permite extravasar ou
canalizar as tensões, angústias, frustrações e agressividades. Os medos,
insegurança e incertezas são minorados, à medida que os indivíduos vão se auto-
afirmando, se conhecendo e se desenvolvendo. A tendência ao ócio, à apatia, é
revertida num maior dinamismo, acentuando o prazer pelo movimento, à auto-
imagem mais positiva e a uma maior disposição para a vida.
Pensar um processo de aprendizagem para educação do movimento,
abraçando corpos deficientes, sem dúvida alguma, é uma tarefa instigante e
desafiadora diante do estigma que carregam os corpos dessas pessoas. Corpos
diferentes, que trazem imagens que fogem aos discursos estéticos, políticos e
sociais, que norteiam as fronteiras da dança e o imaginário da sociedade em geral.
Este é um universo povoado por corpos ditos “perfeitos”. Perfeitos tanto no que se
refere à ausência de deficiência física, como na possibilidade do desempenho
virtuoso. O preconceito e a falta de conhecimento ditando regras injustas, que
eliminam os direitos de expressão e o desejo de vir a ser algum dia, um dançarino.
Todos vivem em meio à diversidade corporal. Saber lidar com ela exige
o exercício da democracia para aceitação das peculiaridades que acompanham
56
cada corpo com os quais se relaciona. Todos eles anseiam pelo seu reconhecimento
e, à medida que aumenta a complexidade da vida, este anseio de ser reconhecido
imprime estímulos que irão, por sua vez, impulsionar as pessoas para frente,
emprestando variedade aos relacionamentos sociais que vão emergindo,
adaptando-os às características mais imediatas que definem o destino de cada um.
As pessoas são diferentes não apenas pelo seu contingente genético, mas também
por todos os aspectos relacionados ao seu modo de viver, ao seu dia-a-dia, o que
conduz a Duarte (2004, p. 189), quando este afirma que:
A descoberta do mundo natural e a consciência do quão ligados a ele estão, por mais urbana que seja a nossa vida, começa pelo aguçar de nossos sentidos, pelo seu desenvolvimento e sua apuração no dia-a-dia em que se vive, do qual faz parte, primordialmente, os espaços compreendidos entre os muros da escola e os de nossa casa, bem como toda a paisagem da cidade a qual vivemos.
A multiplicidade e a riqueza de leituras corporais que se tem de
organizar internamente, provocadas pela variedade de informações sentidas e
vividas no ambiente no qual se está inserido, impulsiona e exige de cada pessoa
uma dinâmica de interpretações, que se define no modo de ver e de viver nesse
mundo. As diferenças impõem desafios que irão refletir na competência de viver a
vida com segurança e dignidade. Como pontua Souza (1995, p.40):
A vivência de sucessos visaria proporcionar uma compensação às frustrações e influir positivamente no psiquismo do indivíduo, tornando-o mais motivado. A percepção de uma menor dificuldade de execução de um exercício, a capacidade de realizar um maior número de repetições e a descoberta do que ele próprio é capaz de realizar, apesar da deficiência, podem ser vista como vivência de sucesso, sejam eles motores, profissionais, afetivos ou sociais.
57
A relação da dança com o corpo deficiente revelou um campo
extraordinário de acessibilidade e aceitação destes corpos ditos diferentes,
considerando os resultados encontrados neste estudo. A forma como o corpo
deficiente constrói seus movimentos, desafiam as pessoas a ver mais de perto, “uma
estética da própria existência” TAVARES (2004). Aqueles corpos diferentes, que se
apresentaram disponíveis, amorosos e carentes de leitura corporal, revelaram-se e
firmaram a sua presença como pessoas singulares durante os laboratórios
vivenciados. As variáveis utilizadas como estratégias de aprendizado, objetivaram a
valorização do movimento singular, dando-lhes o direito e estimulando-os a
participar e a expressar-se como melhor poderiam, explorando todas as suas
articulações e segmentos corporais.
A tentativa era a de possibilitar a aquisição de uma forma de
aprendizado corporal, que devolvesse ao praticante a sua capacidade de
representação corporal e o reconhecimento da sua presença como um corpo capaz
de dançar, a partir de suas sensações e experiências com o movimento. Tal
integração entre a vida humana e o mundo natural do qual faz parte contribui para o
processo de organização, integração e desenvolvimento da sua identidade, como
indivíduo em sua comunidade.
Como pontua Tavares (2003 p.114), “A possibilidade de um indivíduo
reconhecer pela vida a fora sua presença real e sentir que é reconhecido e
valorizado por sua singularidade é o ponto chave para o desenvolvimento de uma
identidade corporal integrada e positiva”.
O corpo visto como um sistema integrado “pensamento-ação”,
dinâmico e mutável, precisa da experiência de sentir, vivenciar, saborear as
sensações do movimento no corpo e das coisas do mundo ao seu redor, para se
58
constituir como um ser integrado sem fragmentação. É uma dinâmica de troca entre
a ação do fazer para perceber, sentir, responder sensível, e apreender tudo num
fluxo contínuo de troca de energia. Essas possibilidades de ações são determinadas
pela variação de estímulos que o corpo pode receber em seu dia a dia e da sua
possibilidade de se relacionar com o mundo e com as coisas ao seu redor.
A vivência com experiências corporais diversificada promoverá
diferenças significativas para a construção da memória corporal em qualquer
indivíduo. A aceitação e valorização do corpo próprio podem propiciar ao
participante um novo sentido para sua vida, demonstrando de forma concreta que,
apesar das limitações impostas pela deficiência, muitas são ainda as potencialidades
a serem desenvolvidas. De acordo com as palavras de Tavares (2003, p.126), “Ao
reconhecermos nossas sensações corporais (continência) poderemos alcançar a
compreensão de seus significados (consciência)”.
Neste contexto, valoriza-se a pessoa humana, a sua competência,
contribuindo positivamente para uma alteração dos objetivos de vida dessas
pessoas, em seu bem-estar físico, psíquico e social, tornando-os mais
independentes, mais confiantes nas suas capacidades, participativos como membros
atuantes na sociedade em que vivem. Ao mesmo tempo em que, nas palavras de
SOUZA (1998, p. 33), eles estarão “indo de encontro a fatores de ordem estética e
cultural sob os quais os portadores de deficiência física seriam subvalorizados”.
Essas considerações levam ao objetivo aqui proposto, de como a
prática da atividade física pode aumentar a predisposição desses corpos para níveis
de rendimento mais elevado de domínio motor, maior tolerância às frustrações para
reverter possíveis tendências ao ócio, à apatia e ao isolamento.
59
3 OBJETIVO_______________________________________________
Verificar através de ensaio clínico randomizado a eficácia de um
programa de preparação técnico-artística para a melhoria da qualidade de
movimento de Pessoas Portadoras de Deficiências Físicas, na cidade de Salvador.
4 HIPÓTESE ____________________________________________________
Um programa de preparação técnico-artística proporciona mudanças
na qualidade de movimentos em um grupo de Pessoas Portadoras de Deficiências
Físicas, de forma estatisticamente significativa (p<.05), em relação à qualidade de
movimento de um Grupo Controle.
60
5 HORIZONTE METODOLÓGICO______________________________
5.1 MATERIAIS:
Com o objetivo de recolher informação para configurar a amostra para
o estudo experimental, durante os meses de maio e junho de 2004 foram
consultadas três instituições de apoio a Pessoas Portadoras de Deficiência Física,
com sede na cidade de Salvador: o Instituto Baiano de Reabilitação (IBR), o Centro
Estadual de Prevenção e Reabilitação das Deficiências (CEPREDE) e o Instituto
Pestalozzi.
Com o fim de controlar os fatores e atributos a serem considerados
para a detenção dos elementos que constituíram a amostra e para a
operacionalização do trabalho, foram utilizados: um questionário epidemiológico; um
termo de consentimento; um Teste de Avaliação da Qualidade de Movimento e uma
Tabela de Classificação. Foram estabelecidos critérios de inclusão, exclusão e
eliminação e foi aplicado um Programa de Preparação Técnico-artística. Também
foram utilizadas uma filmadora, uma máquina fotográfica e um aparelho de som
eletrônico.
61
5.1.1 Questionário Epidemiológico:
Foi construído um questionário epidemiológico e distribuído entre os
participantes com o objetivo de registrar dados, tais como: Nome, Sexo, Idade,
Endereço, Telefone, Tipo de Deficiência e Grau de Instrução, (Anexo 2).
5.1.2 Termo de Consentimento:
Os familiares deram o seu consentimento por escrito, aceitando as
condições impostas pela pesquisa, incluindo seus eventuais inconvenientes e seus
benefícios, bem como o direito de abandonar a experiência em qualquer momento
(Anexo 3).
5.1.3 Teste de Avaliação da Qualidade de Movimento e Tabela de Classificação
Para este estudo, foi criado um instrumento de aferição; este consistiu
num teste que foi considerado sensível para reconhecer modificações na qualidade
de movimento e que foi acompanhado por uma tabela de classificação. Na
construção do teste incluíram-se as seguintes ações: Andar com Pressa; Rolar na
Areia da Praia; Descolar como Chicletes; Fotografia de Festa e Pular as Pedras do
Rio. Cada uma das variáveis foi associada a uma célula musical com pulsações
rítmicas diferenciadas, em espaços de tempos definidos como longo, médio e curto.
62
Para registrar modificações nas variáveis foi criada uma tabela que utilizou como
instrumento uma escala analógico-visual. A qualidade de movimento foi classificada
em Regular, Boa e Ótima, a partir de uma pontuação obtida dentro da Escala
Analógica: 1, 2 e 3 para Regular, 4, 5, 6 e 7 para Bom e 8, 9 e 10 para Ótimo.
5.1.4 Critérios de Inclusão, Exclusão e Eliminação:
A população desta pesquisa foi constituída em sua totalidade por
Pessoas Portadoras de Deficiência Física. Porém, foram estabelecidos critérios de
inclusão/ exclusão / eliminação para melhor identificar a amostra. Os critérios
estabelecidos foram os seguintes:
• Critérios de inclusão: homens e mulheres portadoras de
deficiências físicas, com um nível de independência que permitia
sua locomoção até o local da pesquisa.
• Critérios de exclusão: não cumprir com os critérios de inclusão.
• Critérios de eliminação: foram eliminados aqueles que não
cumpriram com a assistência de 75% das atividades.
5.1.5 Programa de Preparação Técnico-Artística:
O Programa de Preparação Técnico-Artística foi elaborado
contemplando os princípios que norteiam a Dança de Contato Improvisação.
63
5.1.6 Características da Amostra:
Constituíram a população Pessoas Portadoras de Deficiências Físicas
residentes na cidade de Salvador. Todos estavam cadastrados no CEPREDE, no
IBR e no Instituto Pestalozzi e engajados em programas de assistência promovidos
por estas instituições (natação, terapia educacional, inclusão social fisioterapia, etc.).
As amostras de n=28, que cumpriram com os critérios de inclusão /
exclusão / eliminação e aceitaram participar voluntariamente da pesquisa
apresentaram as seguintes medidas de posição: em relação ao sexo foram 36%
(n=9) homens e 64% (n=19) mulheres; em relação a grau de instrução foram 21%
(n=6) analfabetos e 71% (n=20) com o primeiro grau incompleto e 8% (n=2) com
segundo grau incompleto. A média de Idade x= 21anos e 8 meses. As patologias
prevalentes foram: Paralisia Cerebral, 25% (n=7), Deficiente Mental 67% (n=19) e
8% (n=2) outras.
5.2 MÉTODOS:
O desenho da pesquisa foi o de um Ensaio Clínico Randomizado, que
é um tipo de experimento onde os indivíduos são alocados aleatoriamente para
grupos de chamados Grupo Experimental e Grupo Controle, de modo a serem
submetidos a um procedimento e assim terem seus efeitos avaliados por condições
controladas de observações.
64
A sistemática operacional do projeto se caracterizou por três etapas:
1) Seleção da Amostra,
2) Aplicação de um Programa de Preparação Técnico-Artística,
3) Quantificação e Análise Metodológica dos Dados.
5.2.1 Seleção da Amostra:
Com a finalidade de selecionar a amostra para o Ensaio Clínico
Randomizado foram:
• Enviados ofícios às Instituições já citadas para conhecerem o
projeto, solicitando reunião para explicação dos objetivos da
pesquisa;
• Realizadas reuniões nos dias 10, 12, 17 e 19 de maio, com
familiares e clientes das Instituições interessadas;
• Aplicado o questionário epidemiológico;
• Selecionados e convidados a participar uma amostra de n = 28
participantes que cumpriam com os critérios de inclusão;
• Treinadas ações do Programa de Preparação Técnico-Artística
durante quatro aulas nos dias 09, 16, 19 e 26 julho, com o propósito
de familiarização com as ações ou variáveis a serem testadas.
Nessas aulas foram aplicados jogos utilizando-se os princípios de
transferência de peso, exploração dos pontos de apoio do corpo e
65
deslocamento espacial utilizando as variáveis: andar, rolar, levantar,
sustentar e pular.
• Aplicados os testes de qualidade de movimento em toda a amostra,
com todas as ações sendo filmadas.
• Randomizada a amostra em dois grupos, da seguinte forma: seus
nomes foram anotados em papéis e estes colocados dentro de uma
caixa, de onde foram respectivamente retirados um a um e
distribuídos por ordem, alternado em dois grupos G1 ou Grupo
Experimental (n=14), e G2 ou Grupo Controle (n= 14).
5.2.2 Aplicação do Programa de Preparação Técnico-artística:
O programa de Preparação Técnico-Artística foi aplicado na Escola de
Dança da UFBA, durando dois meses e meio, iniciando a intervenção em 09 de
Julho e finalizando em 11 de outubro de 2004, com uma aula semanal, de duas
horas cada.
O programa seguiu os princípios que norteiam a Dança de Contato
Improvisação:
1. A Transferência de Peso – avalia a dinâmica de organização
corporal na manutenção de atitudes corporais.
2. Orientação Espacial - que se define pela disponibilidade corporal e
sua inter-relação entre o espaço físico disponível, o próprio corpo e
o corpo do outro;
66
3. A Escuta Sensível - observa as possibilidades de atenção o que
implica a expansão do olhar periférico e do olhar interno;
Vê-se a seguir como foram desenvolvidas as atividades para cada um
dos princípios:
1 Transferência de peso implica em: aprender a dar e receber peso:
Os exercícios aqui aplicados tinham como finalidade o contato com o
próprio corpo, explorando as possibilidades de pontos de apoio para suporte de
peso. Era o primeiro contato com a exploração das possibilidades corporais, com a
atenção voltada para o universo pessoal. A dinâmica dos exercícios obedeceu
sempre a estímulos sonoros externos (música, palmas, indicações verbais etc.). Ex:
ao som do pandeiro deve se locomover livremente pelo espaço, quando silenciar
(pausa), ir ao chão e se apoiar em pontos do corpo, procurando o equilíbrio corporal
(uma mão e um pé no chão, a cabeça e um pé, os dois joelhos, etc.) e permanecer
na posição até ouvir um novo estímulo. Os exercícios foram feitos em movimentação
constante, buscando sempre o máximo possível de dinamismo e espontaneidade. A
fluência era um ponto de importância fundamental.
1.1 Transferência de Peso entre um ou dois Corpos:
Nesta oportunidade aplicaram-se jogos onde os praticantes foram
estimulados a aprender a dar e a receber o peso com o corpo do outro, utilizando e
identificando os pontos de apoio de suporte de peso entre eles, acrescido ao
estímulo do contato corporal. Ex: Iniciou-se o jogo com a música para que todos se
locomovessem no espaço livremente. No silêncio da música, encontrar um parceiro
o mais rápido possível e se apoiar procurando um ponto de equilíbrio entre os dois e
67
se sustentar. Num segundo momento, se apoiar e deslocar no espaço, sem que
ambos percam o contato com o ponto de apoio corporal. Vários estímulos foram
dados ampliando os desafios e possibilitando a troca de parceiros, uma vez que se
tinha como regra que, a cada estímulo recebido, se deveria trocar a parceria. Muitas
variações surgiram desses exercícios, todos voltados para a experiência do contato
corporal e a transferência de peso entre dois corpos. Ex: encostar a cabeça nas
costas do parceiro e deslocar, rolar no chão dois a dois sem soltar as mãos, costas
com costas apoiadas, puxar o parceiro pelo braço, pela perna, empurrar o parceiro,
arrastar o corpo no chão imitando cobra, caranguejo, cachorro, nadando, etc. As
ações de empurrar, puxar, encostar foram trabalhadas com intensidade.
2. Orientação Espacial:
Aqui foram exploradas as relações espaciais referentes às dinâmicas
de preenchimento espacial pelos corpos, observando a velocidade, a força e a
extensão, quanto ao movimento do corpo em locomoção. Pesquisou-se as diversas
possibilidades de locomoção do corpo através do contato com o chão (engatinhar,
deslizar, rolar, nadar, esfregar, e outros), bem como a liberação do contato com o
chão, movendo-se em várias direções (para frente, para trás, para baixo, para cima,
para os lados), valorizando a projeção e amplitude do movimento, as atitudes do
corpo, as extensões dos passos, as mudanças de frentes, e a localização do corpo
no espaço. O treino do “olhar periférico”, que implica a observação da visão
perspectiva sobre o espaço circundante, definindo o que está perto, longe, o que
está à frente ou atrás, em baixo e em cima. O “olhar interno”, que se define pela
posição, localização do próprio corpo no espaço e suas relações espaciais. A
68
percepção da dinâmica de preenchimento do espaço por todos os corpos, evitando
espaços vazios e impactos corporais.
3. A Escuta Sensível:
Em todos os exercícios realizados, esse é um componente explorado
permanentemente. A escuta sensível está na capacidade do indivíduo perceber e
compreender todas as ações realizadas pelo seu corpo, seus limites e
possibilidades, organizando-o para dar respostas adequadas, compreendendo,
percebendo e interpretando os estímulos recebidos. A escuta sensível se revela no
senso firme de respostas positivas, que são as bases para a conscientização do
movimento e das relações corporais entre os parceiros de dança. A concretização do
“fazer sensível” tem como fio condutor o contato corporal.
O sentir, o perceber, o diferenciar e dar importância a cada parte
movente do corpo é fundamental para desencadear o processo de construção do
movimento poético. O prazer em se movimentar, estimulados pela riqueza do
contato físico, prende a atenção e a imaginação. Dessas experiências o corpo cria
os meios para as construções de danças improvisadas. Encontra-se aporte em
Castilho (2003, p. 156):
À medida que for se tornando mais suscetível ao ambiente externo e interno em que está imerso, em que sua percepção do espaço de seus estados corporais e da qualidade de contato que estabelece com eles for sendo aguçada, o indivíduo tem sua capacidade de reflexão e decisão apuradas.
69
5.2.2.1 A prática da criação espontânea____________________________________
A criatividade aumenta na medida da consciência que se tem dos próprios atos criativos. Quanto mais exercermos nossa originalidade, mais confiança adquirimos e maiores são as probabilidades de nos mostramos criativos no futuro. (GOLEMAN, KAUFAM, RAY, 1992, p. 22).
O programa aqui desenvolvido estabeleceu metas a serem alcançadas,
tendo como objetivo proporcionar uma situação onde cada pessoa pudesse fazer
descobertas pessoais e desenvolver a confiança em suas próprias habilidades.
Os exercícios realizados tinham a finalidade de quebrar as
resistências, estimulando os participantes a pensar com o corpo, dando subsídios
para que pudessem interagir com simplicidade. Os jogos realizados possibilitaram o
convívio social prazeroso, facilitando a operacionalização e a organização. As
distintas fases se misturaram e se repetiram criando pouco a pouco o ambiente
favorável para a comunicação sensível, revelando gradativamente a essência do
movimento espontâneo, sentido no fazer daquele momento. Dessa forma, foram
assim construídas as bases que consolidaram as diversas interações e
complexidades dos movimentos, onde a precisão e a clareza de ação são
fundamentais na significação de uma intenção.
70
5.2.2.2 Variáveis do movimento __________________________________________
Pela imaginação abandonamos
o curso ordinário das coisas.
Gaston Bachelard
Curiosamente , a consciência começa como o sentimento do que acontece quando vemos, ouvimos ou tocamos. Em termos um tanto mais precisos, é um sentimento que acompanha a produção de qualquer tipo de imagem – visual, auditiva, tátil, visceral, dentro do nosso organismo. DAMÀSIO (2002, p.46).
As variáveis aqui aplicadas foram associadas a imagens, no intuito de
estimular ao praticante a recepção das informações verbais e sua realização no
corpo de maneira simplificada e sem distorção. As variáveis aplicadas se ajustavam
a imagens de experiências já vivenciadas, o que tornavam mais simples a execução
dos movimentos, mesmo imbuídos de toda a complexidade que é o fazer e significar
o movimento com simplicidade. Além disto, o prazer e o desafio do fazer
espontaneamente, se apresentaram como poderosos estimuladores do movimento.
Não se deve esquecer que o corpo é um núcleo de inteligência e, como tal, deve ser
provocado com atividades que explorem todas as suas possibilidades de expressão.
Com o fim de ampliar a percepção, foram acrescentados às variáveis
estímulos sonoros específicos, em intervalos de tempo definidos como curto, médio
e longo. Todos os exercícios solicitavam uma participação ativa de diversos
sistemas do corpo, como um estado constante de alerta, antecipando os eventos,
preparando-o para a ação que ainda estava por vir. Para isto, fundamenta-se em
Kolb e Wishal (2002, pg.380) quando falam:
71
O sistema somatosensorial nos diz o que se passa com o nosso corpo, fornecendo informações sobre as sensações corporais, como o tato, temperatura, a dor, a posição no espaço, o movimento das articulações, e assim por diante, além de nos ajudar a compreender o mundo, permitindo distinguir o que o mundo faz por nós e o que nós fazemos por ele.
Quando o praticante percebe um determinado estímulo sonoro e
responde eficientemente com o movimento adequado, sem se deixar influenciar por
outros sons ou estímulos que estão no mesmo contexto, indica um nível de
adaptação superior. Dissociar o movimento requer um controle mental mais
apurado, representando um estágio mais avançado da coordenação motora.
Para maior compreensão dos recursos metodológicos aplicados neste
estudo, serão descritas a seguir as características das variáveis com seus
respectivos objetivos:
1. Andar com Pressa: significa se locomover no espaço com
determinação (precisão), com uma energia (forte) e em tempo rápido
(velocidade). O ponto observado foi a capacidade de organização
corporal para a realização de movimentos rápidos, dinâmicos, fortes e
sua correspondência aos estímulos sonoros.
2. Rolar na Areia da Praia: compreende o acesso do corpo ao chão
para a exploração dos diversos pontos de suporte de peso, e a
qualidade do movimento contínuo sem fragmentação. A imagem
utilizada é um estimulo que facilita o relaxamento do corpo permitindo a
observação da fluência na realização do movimento.
72
3. Descolar como Chicletes: exploração do controle do movimento
quanto à densidade. A qualidade de movimento denso, forte, contínuo
foi o aspecto observado.
4. Fotografia de Festa: sustentação do movimento significa a
capacidade do corpo em manter determinada postura, atitude em
determinada duração de tempo, sem perder o equilíbrio e não se deixar
influenciar por outros elementos ao seu redor (dissociação). Exige a
capacidade de concentração, atenção e controle do posicionamento do
corpo.
5. Pular as Pedras do Rio: projeção do movimento acima do chão.
Exige do corpo um esforço físico mais apurado onde se entrelaçam
dinâmicas variadas de deslocamento, que compreendem o impulso
para pular de um pé para o outro e de dois pés para dois pés. Esse
deslocamento implica um esforço físico para projeção do corpo no
espaço (pular, saltar, saltitar) explorando a velocidade de ação em
espaços construídos pelo próprio corpo e o corpo do outro, bem como
a expansão do olhar periférico e do olhar interno na investigação do
espaço a ser preenchido organicamente. Aqui as regras definem que
não pode haver contato corporal durante o deslocamento e que os
pulos têm que ser uma constante, explorando o espaço em diversas
direções, (para frente, para trás, para os lados).
O estreitamento do tempo e o seu prolongamento em todas as ações
realizadas no teste tiveram como objetivo imprimir ao corpo considerável nível de
73
desafio na organização do movimento. Aqui foi averiguada a habilidade motora
quanto ao movimento, observando a capacidade do corpo em distribuir o peso,
mudar rapidamente de postura, estabilizar seus diversos segmentos mantendo a
atitude e controlando o movimento, bem como a resposta corporal ao elemento
imagético. A construção de imagens foi uma estratégia utilizada para possibilitar a
consciência do movimento e facilitar a qualidade das ações solicitadas, dar o sentido
poético, a significância diferenciada da cotidianidade.
Todas as ações exigiram do corpo respostas rápidas e mudanças de
padrões de comportamento em tempo hábil. Nesta brincadeira entra em jogo
componentes que envolvem a coordenação motora global. Isto significa a utilização
da atenção seletiva, o controle de habilidades motoras relacionadas à força e
flexibilidade, a manutenção do equilíbrio e de atitudes, a percepção de espaço e a
exploração do mesmo em deslocamento. Avalia-se a capacidade de agilidade na
resposta atentiva e motora e na qualidade do movimento realizado.
5.2.2.3 Jogos realizados________________________________________________
Os jogos são os melhores veículos de comunicação entre as espécies (cão e macaco, homem e delfim), assim como entre as pessoas de gerações, classes sociais ou culturas diferentes. Quem não se lembra dos jogos e brincadeiras da infância? (YOZO, 1995, p.11)
• O PAPAGAIO DE REPETIÇÃO: experimentando o movimento
alheio no próprio corpo. Aprendizagem através da cópia, repetição.
74
• PEGANDO CARONA: explorando o espaço, a capacidade de
atenção e a elaboração do movimento a partir do corpo do outro.
• DURO-DURO: aprendendo a dar e receber peso. Treino do controle
do movimento com suporte de apoio corporal em ponto fixo.
• TÚNEL DO TEMPO: exploração das dinâmicas em deslocamento
espacial em espaços restritos e amplos.
• BATATINHA FRITA 1, 2 e 3: treino da capacidade de atenção
seletiva, controle do movimento.
• CADA MACACO NO SEU GALHO: exploração dos encaixes
corporais em espaços alheios.
A metodologia utilizada permitiu a acessibilidade de todos,
independente das condições físicas ou do conhecimento técnico corporal,
favorecendo o desenvolvimento percepto-motor. Considerando que a dança se
constrói baseada na vivência das sensações corporais experimentadas como
dançarino, a estimulação da percepção corporal foi o ponto fundamental neste
processo de aprendizagem. Os vínculos com a realidade interna e externa em cada
ação realizada, foram gradativamente se estabelecendo na medida em que seus
corpos se adaptavam aos estímulos propostos. Inicialmente, os praticantes tinham
muitas informações para serem assimiladas: o estímulo sonoro, a execução do
movimento em tempos específicos e a qualidade do movimento. Com a continuidade
dos trabalhos, as adaptações corporais foram articulando os meios para a
concretização das ações. O clima de descontração favorecido pelos jogos e a
cumplicidade implementada pela parceria, foram sustentadas pela riqueza de
estímulos entre eles. A construção de danças que surgiram destas experiências, foi
75
centrada basicamente na busca de movimentos espontâneos, explorando as
modalidades auditivas, visuais e proprioceptivas. Inicialmente o aprendizado
aconteceu pela imitação do movimento alheio. Aos poucos e na medida em que iam
ficando mais hábeis com seus próprios movimentos, as respostas corporais eram
mais controladas. A transferência de ação entre os parceiros tornou-se mais eficaz.
5.2.2.4 Aspectos do programa ___________________________________________
È por meu corpo que compreendo o outro, assim como é por meu corpo que percebo
coisas.
Meleau Ponty
Da necessidade do movimento surgiu a possibilidade da dança. Da possibilidade da dança estabeleceu-se a necessidade de dançar como um ciclo de complexidade humana que insiste em desafiar todas as questões que a lógica procura clarear. Tão necessário como respirar e mover, intencionar o movimento dá-lhe significado. Único, preciso, emocionado. MANSUR (apud CALAZANS, CASTILHO, 2003, p. 211).
A percepção do movimento sensível______________________________________
Primeiro Momento: O corpo do dançarino tem necessidade de
relacionar-se com o espaço e de concretizar o tempo, apropriando-se destes, de
acordo consigo mesmo, movimentando-se livremente sem nenhum propósito em
mente, simplesmente mexer e articular como num despertar de energia para se
sentir vivo e tão somente perceber como está o seu corpo. Nesse momento
particular era respeitado o ritmo individual, deixando que cada um aos poucos
fosse chegando para dar a sua contribuição. Os estímulos dados provinham de
qualquer fonte de inspiração. Objetivavam a prática e a repetição para a
76
conscientização dos movimentos corporais, clarificando e dando precisão na
forma do movimento. Nestes jogos, imagina-se e sensibiliza-se para alguma
coisa, enfeita-se a vida, diferencia-se do cotidiano, influenciando e
compreendendo o mundo em que se vive. As atividades eram fundamentalmente
livres, alegres e divertidas para proporcionar o prazer, liberando os desconfortos
que os acompanhavam. A essência estava na capacidade do praticante em
descobrir formas novas, reencontrar sua liberdade, a fascinante energia do ir e
vir, do tocar, do transformar e do encontro com o universo que se quer alcançar.
Nas palavras de Schuller (apud CALAZANS, CASTILHO, 2003, p.228), “O
sistema também é possível de sofrer transformações, reformulações e
subversões operadas pelas formas de percepções do homem sobre as
realidades”.
O corpo do outro que me transforma______________________________________
Segundo Momento: Nesta etapa, foram implementados exercícios
simples que possibilitassem o relaxamento, a entrega, a troca de experiência, a
participação ativa e voluntária. As práticas realizadas tinham o objetivo de levar ao
praticante/dançarino o entendimento de que o seu corpo, como agente e produto de
sua dança, implica, entre outras instâncias, na necessidade de uma preparação
técnica corporal voltada para a conscientização dos princípios do movimento. Essa
prática realizada todos os dias nutre o corpo, levanta questões, leva o artista a
expressar a sua busca infinita de respostas, a confrontar-se consigo mesmo. O
exercício da dança mexe com o corpo fisicamente, com o indivíduo, com o todo. Foi
77
muito comum ver o movimento se organizando de forma que as fases seguiam-se
umas às outras, sem ordem significativa, configurando acontecimentos
desorganizados ou incompreensíveis, interrompendo conseqüentemente a fluência
do movimento. Encontra-se em Negrine (1987, p. 14),
A elaboração da resposta motora está diretamente ligada às experiências vivenciadas anteriormente pelo corpo. É muito comum ao se realizar o movimento pela primeira vez o corpo responder de forma inadequada por não ter ainda definido em sua memória corporal a leitura deste movimento. À freqüência com que os gestos, os movimentos, vão sendo realizados, o corpo vai se organizado e eliminando paulatinamente os movimentos indesejados. (apraxias: incapacidade de realizar movimentos determinados. Ex: amarrar o sapato, escovar os dentes, pentear o cabelo, movimentos funcionais). A elaboração da resposta motora está diretamente ligada às experiências vivenciadas anteriormente pelo corpo.
Deve-se trabalhar para alcançar o efeito desejado na dança. Todo
treinamento de habilidades motoras envolve a repetição. Perceber é se habituar faz
parte dos esquemas sensórios motores. A expansão do olhar interno, perceber o
contato recebido pelo corpo com sensibilidade, está diretamente relacionado à
capacidade de atenção que o corpo pode dispor. A sua deficiência implica
dificuldade de aprendizagem. Encontra-se aporte em Serres (2003, p. 42):
Não existe mais lugar nenhum do mundo sem que uma infinidade de caminhos saia dele e chegue a ele, e sem que a extensão de suas estradas a anule. Se a mensagem não passa por lá, nós a encaminharemos de outro lugar.
78
O corpo sensível______________________________________________________
Terceiro Momento: Nesta etapa foram introduzidos princípios de
criações que chamassem a atenção dos participantes e que despertassem o
interesse deles dando-lhes responsabilidade no seu fazer artístico. Todos os jogos
foram realizados com prazer e facilitados pela liberdade de escolha e do desejo de
ser de cada dançarino. Desta entrega pessoal começavam a surgir as idéias que
dariam sentido à composição. O programa aplicado estabeleceu jogos de
relacionamento, onde o corpo vai dar respostas sensíveis a partir do toque
percebido. Essa ação envolve a discriminação, a atenção seletiva, para decidir qual
a atitude mais adequada para aquele “instante”, que possibilite a continuidade de
seu pensamento/ação, através do corpo do parceiro de dança.
Como Stemberg (2002, p. 90) sinaliza: “As pessoas utilizam a atenção
seletiva para seguir pistas de uma mensagem e simultaneamente ignorar outras”.
O corpo inteligente, quando treinado, responde aos estímulos
percebidos e sentidos em tempo hábil. Ele elabora as resposta onde o alcance e a
projeção do movimento sensível atingem a todos de maneira arrebatadora, deixando
no ambiente um estado de ser em suspensão. Cabe a cada um apenas o
aproveitamento desta sensação de prazer. A vivência corporal múltipla, sem se
preocupar com o desempenho, propiciando uma atmosfera de aceitação da própria
natureza, valorizando e respeitando tudo o que cada um faz, dando oportunidade de
criarem seus próprios movimentos foi a estratégia utilizada nesse estudo.
79
Figura 1. Exploração dos pontos de apoio do corpo para suporte de peso
1.1 Pontos de apoio: cabeça e joelho
1.2 Pontos de apoio: mão, joelho e pé
1.3 Pontos de apoio entre dois corpos - Contato corporal
80
Figura 2. Exploração do espaço do corpo em relação ao seu corpo próprio
2.1 Jogo: Cada macaco em seu galho
2.2 Jogo: Espaço no corpo alheio
2.3 Jogo: Preenchimento de espaços corporais
81
Nesta perspectiva, acredita-se que, no desenvolvimento de habilidades
corporais, deve-se praticar uma ação pedagógica desinibidora, que proporcione
situações receptivas, seguras e gratificantes, sem o julgamento de certo ou errado.
Assim, pode-se permitir que a criatividade seja constantemente ativada. E, segundo
Negrine (1987), não existe o movimento errado, o que acontece é que o corpo ainda
não tem assimilado as impressões específicas sobre aquele movimento em questão.
Um Mundo Surpreendente e Desconhecido_________________________________
Quando tomamos a direção de nossos sonhos, encontramos o sucesso nos momentos mais inesperados. Henry David Thoreau.
Ao definir o problema que motivou este estudo, pretendeu-se verificar
alguns aspectos obscuros na literatura pertinente ao ensino da dança com pessoas
portadoras de deficiência física e obter dados para que pudessem fornecer maiores
informações nessa área de conhecimento. As pesquisas realizadas revelaram
carência de estudos nesta área específica, embora já se tenha um número
considerável de trabalhos em saúde e desportos, voltados para a reabilitação e
retorno à vida cotidiana mais cedo que o previsto, utilizando a dança como um meio.
Cita-se aqui Peres, Gonçalves, Barata, (2001), “O incremento do equilíbrio do tronco
após treinamento por dança sugere que esta abordagem pode oferecer uma valiosa
contribuição na recuperação de pessoas com lesão medular”.
82
As experiências em projetos de extensão, implementadas a
comunidades que não tinham acesso à dança e com GRUPO X DE
IMPROVISAÇÃO, foram os suportes iniciais para o desenvolvimento desta pesquisa.
Os trabalhos coreográficos realizados com estes projetos resultaram
em convites de organizações nacionais e internacionais para apresentação de
espetáculos, realização de workshops e debates sobre treinamento técnico-artístico
e processos de criação coreográfica com pessoas portadoras de deficiência física.
Desta maneira, revelou-se o universo de ”rodas que dançam“, corpos que deslizam
no chão, pessoas que se autodenominam de “chumbados”, que brincam e se
divertem uns com os outros espontaneamente, desprendidos e assumindo seus
corpos diferentes. Pessoas humanas, dançarinos natos, dotados de sensibilidades
que demonstram, de uma maneira despojada e espontânea, uma realidade
emergente.
Foi surpreendente observar aqueles corpos deslizarem sobre o chão,
com agilidade física, demonstrando capacidades de movimentação superiores ao
que se é normalmente esperado. Ativos, comunicativos, trocando experiências,
aproveitando com prontidão tudo o que lhes era apresentado como novidades do
universo da dança. Havia encantamento por onde eles passavam.
Mais surpreendente foi vê-los dançar, pois se revelou outra realidade.
Aquela realidade que mostra o corpo subtraído de sua identidade, reproduzindo
danças que são alheias aos seus corpos, perdendo dessa forma a espontaneidade,
a beleza e a magia de seus movimentos singulares.
Esta é uma situação muito comum no ensino da dança. Considerar que
o corpo que dança é útil apenas quando responde a determinadas funções. Quando
atende a uma disciplina rigorosa, que atua no corpo com a intenção de prepará-lo
83
para atingir os melhores resultados, mesmo que sejam subutilizadas as
potencialidades do dançarino como um uma entidade capaz de significar, de
preencher todos os espaços disponíveis.
Vê-se aqui revelada a ausência de conhecimentos sobre aspectos
específicos do ensino da dança e do corpo que dança. A resultante deste
aprendizado vem acrescida de respostas corporais que distanciam o dançarino do
contato com o seu corpo e da sua realidade.
Embora as iniciativas das instituições que dão apoio a estas pessoas
tenham valores e significados importantes quanto à reabilitação e à reinserção
social, a questão do aproveitamento das potencialidades expressivas enquanto
corpo poético, sensível, deixa na escuridão aspectos comportamentais que são
fundamentais para a formação do dançarino. Estes aspectos dizem respeito a
pesquisas sobre suas próprias sensações, à percepção de movimentos
inconscientes, seus desejos como dançarinos, às descobertas de que o corpo
próprio se faz poético quando conscientes e ajustados harmonicamente às suas
singularidades e ao prazer sensorial recebido de estímulos que se harmoniza com
os ritmos e o tônus de seus corpos.
A aquisição do conhecimento e de habilidades concernentes ao ensino
da dança é importante para que o dançarino encontre seu ajustamento e descubra
as suas potencialidades. O prazer resultante desta expansão e do conhecimento de
seus limites se configura no corpo do dançarino através da entrega total aos
impulsos e às sensações do movimento. Estes, quando ajustado conscientemente,
expõem exteriormente a intenção, o significado poético desejado.
Possibilitar ao praticante os instrumentos necessários para que tome
posse das suas características como ser criador, de estar no comando de seus
84
movimentos, podendo escolher como se expressar, fará com que seus corpos
transcendam, vinculem-se a um contexto muito mais amplo. A trajetória de seus
movimentos deixa no espaço imagens de sonhos, o corpo físico perde sua função,
para dar lugar a algo muito mais amplo e significativo. De acordo com Lowen (1970,
p. 48),
A autopercepção é uma função do sentir. È a soma de todas as sensações do corpo de uma só vez. Através da sua autopercepção a pessoa descobre quem é. Está atenta ao que acontece a todas as partes do seu corpo. [...] Também está consciente das tensões musculares que limitam sua movimentação, pois também criam sensações. A pessoa que não tem autopercepção sofre constrangimento. Em vez da sensação de contato com o corpo, ela o vê de fora, o que a faz sentir constrangida com suas expressões e movimentações.
Durante os laboratórios realizados nesta pesquisa, observou-se que
todos se apresentavam disponíveis e interessados nas realizações das tarefas que
eram solicitadas. Havia em seus corpos um dispositivo, uma intenção, um impulso
latente, o desejo de realização da ação, mesmo com todas as limitações de
mobilidade. Entende-se que a intencionalidade do comportamento garante, em
certas medidas, formas de aprendizado. Basta a intenção de realizar alguma ação,
seja ela qual for, se estará intervindo em um processo de aprendizado mais sutil;
mesmo que a ação não venha nunca a ser realizada, o corpo vai achar outros meios
para expressar-se, para compensar aquela dificuldade. Encontra-se aporte nas
palavras de Damásio (2002, p. 124),
A permanência da intencionalidade e da adequação do comportamento requer a presença da consciência, mesmo que esta não garanta o comportamento intencional e adequado. [...] Uma coisa especialmente digna de nota nesse comportamento duradouro e adequado é o fato de os comportamentos específicos serem acompanhados de um fluxo de estados emocionais que fazem parte do desenvolvimento.
85
Este é um fator que vem desmascarar a crença de que o corpo
deficiente é o corpo preguiçoso, incapaz, indolente, ocioso. O que se presenciou nos
laboratórios foi um verdadeiro instante emocional preenchido de sentimentos de
alegria, prazer, curiosidade, desafios, expectativa, brincadeiras, enfim, muita emoção
envolvida em ações sensibilizadas pelo fazer não cotidiano, por ter acesso a uma
forma de expressão que lhe permitiam usar o corpo de acordo com as suas
singularidades.
O prazer de se mexer naturalmente sem se preocupar com o
movimento certo ou errado, seguindo seus próprios impulsos e desejos, facilitou o
surgimento do movimento espontâneo ao mesmo tempo em que imprimiu ao corpo
ações de adaptações necessárias para o aprimoramento da coordenação motora
global. No aprendizado motor não existe o movimento errado; o que se apresenta na
maioria dos indivíduos é a ausência de impressões na memória corporal para
identificar determinados tipos de movimentos que possam ser realizados
coordenadamente. De acordo com Damásio (2002, p. 359),
[...] e é só depois que um organismo que está reagindo primorosamente a seu meio começa a descobrir que ele está reagindo primorosamente ao seu meio. Mas todos esses processos – emoção, sentimentos e consciência dependem, para sua execução, de representação do organismo. Sua essência comum é o corpo.
Outro fator de importância fundamental para o surgimento do
movimento espontâneo é a questão do prazer, o desenvolver o gosto em se mover,
para “saborear”, segundo Duarte (2003), o movimento sensível no corpo. Para isso,
foram adotados alguns jogos, colocando os participantes em meio a situações
imaginárias a fim de que pudessem responder espontaneamente, sem interferências
das pressões externas. Nas palavras de Lowen (1987), “O estar livre de pressões e
86
responsabilidades a imaginação consegue transformar a realidade num mundo de
fadas com oportunidades ilimitadas para a expressão e o prazer”.
O acesso ao corpo sensível depende da disposição e da maneira do
indivíduo receber a impressão. O primeiro impacto perceptivo sempre causa
desconfortos. Com o tempo e a repetição, ele encontra prazer em estímulos, que
vão se ajustando, harmonizando os ritmos de seu corpo. Observa-se este fenômeno
nos movimentos ritmados dos corpos, em sua forma natural de comunicação, no riso
estampado no rosto, no surgimento dos momentos dançantes, na troca espontânea,
nos inter-relacionamentos estabelecidos entre os parceiros de dança.
Toda ação pedagógica desenvolvida neste estudo se direcionou para a
valorização do movimento, proporcionando ao corpo se colocar no mundo,
apropriando-se do seu tempo e espaço. Como pontua Duarte (2003, p. 28, 29),
A educação precisa ser suficientemente sensível para perceber os apelos que partem daqueles a ela submetidos, mais precisamente de seus corpos, com suas expressões de alegria, desejo, de dor e tristeza de prazer e desconforto [...]; uma educação do sensível só pode ser levada a efeito por meio de educadores cujas sensibilidades tenham sido desenvolvidas e cuidadas, tenham sido trabalhadas como fonte primeira dos saberes e conhecimento que se pode obter do mundo.
As várias codificações (regras) presentes nos exercícios foram
estratégias utilizadas para romper as respostas automáticas vindas nos movimentos,
para o advento de novas possibilidades. Como se está lidando com o contexto do
imaginário, todos os participantes ficam liberados de suas ações cotidianas,
assumindo atitudes e ações que eles normalmente não realizariam. Assim, a
liberdade de expressão, o envolvimento emocional e intelectual decorrentes das
escolhas pessoais foi valorizado nesta intervenção. Nas palavras de Goleman (1995,
p. 93),
87
Na medida em que nossas emoções atrapalham ou aumentam nossa capacidade de pensar e fazer planos, de seguir treinando para alcançar uma meta distante, solucionar problemas e coisas assim, elas definem os limites de nosso poder de usar as nossas capacidades mentais inatas e assim determinam como nos saímos na vida. E na medida em que somos motivados por sentimentos de entusiasmo e prazer no que fazemos ou mesmo por um grau ideal de ansiedade esses sentimentos nos levam ao êxito.
Durante as pesquisas realizadas, os ritmos individuais dos dançarinos
eram respeitados e eles foram estimulados a agirem de acordo com as suas
necessidades pessoais. A instigação na utilização de todas as articulações do corpo
e nas formas de se mexerem eram importantes enquanto forma de aquecimento, e
muitas vezes como gerador de idéias. A simplicidade de ação era fator
predominante.
Assim, defronta-se com o fazer artístico espontâneo, seguindo regras
particulares (individuais) que se construíam no fazer daquele momento, onde tudo o
que acontece é resposta a estímulos percebidos e sentidos. Segundo DUARTE
(2003, p.218), “o saber sensível mostra-se, primordialmente, um ato prazeroso e,
como tal, encarado com suspeição por todo aquele que pensa a educação como
uma atividade estóica, dura, áspera, cinzenta e desprazerosa”.
88
5.2.3 Quantificação e Análise Metodológica dos Dados:
Esta etapa teve as seguintes características:
• Aplicação de um pré-teste nos dois grupos, antes do início da
experiência (Anexo 4);
• Aplicação de um pós-teste nos dois grupos, depois de finalizada
a experiência (Anexo 5);
• Quantificação das diferenças de qualidade de movimento em G1
em relação às ações ou variáveis: Andar com Pressa; Rolar na
Areia da Praia; Descolar como Chicletes; Fotografia de Festa; Pular
as Pedras do Rio, no início e no final da experiência (Anexo 6);
• Quantificação das diferenças de qualidade de movimento em G2
em relação às ações ou variáveis: Andar com Pressa; Rolar na
Areia da Praia; Descolar como Chicletes; Fotografia de Festa; Pular
as Pedras do Rio, no início e no final da experiência (Anexo 7);
• Comparação estatística entre os resultados dos grupos G1 e G2 ao
início e ao final da experiência (Anexo 8).
89
6 RESULTADOS_________________________________________________
O MOMENTO PRIVILEGIADO... O PRAZER DE DANÇAR ___________
Estar emocionado é achar-se engajado em uma situação
que não se consegue enfrentar e que, todavia não se quer
abandonar.
Merleau Ponty
Para comparar o Grupo Experimental com o Grupo Controle, em
relação ao pré e pós-teste a cada ação e tempo, foi utilizado o teste Exato de Fisher
para pequenas amostras independentes. Para comparar o pré-teste com o pós-teste
em relação a cada grupo, experimental e controle, a cada ação e tempo, foi utilizado
o teste do Sinal de Wilcoxon, para duas pequenas amostras correlacionadas. Os
dados foram trabalhados no Laboratório de Estatística da UFBA.
Serão apresentados a seguir os gráficos que representam os
resultados obtidos com os testes aplicados nas fases pré-teste e pós-teste para os
dois grupos, com as cinco variáveis analisadas nos tempos longo, médio e curto,
90
bem como a comparação entre os dois grupos a partir dos cálculos estatísticos
obtidos:
6.1 GRÁFICOS DO PRÉ-TESTE NOS GRUPOS G1 E G2:
• Variável: Andar com Pressa
0
2
4
6
8
10
12
14
PRÉ-TESTE: ANDAR COM PRESSA
Longo 13 1 0 13 1 0
Médio 13 1 0 12 2 0
Curto 14 0 0 13 1 0
Regular Bom Otimo Regular Bom Otimo
Grupo Experimental Grupo Controle
• Variável: Rolar na Areia da Praia
0
2
4
6
8
10
12
14
PRÉ-TESTE: ROLAR NA AREIA DA PRAIA
Longo 12 2 0 11 3 0
Médio 13 1 0 12 2 0
Curto 12 2 0 11 3 0
Regular Bom Otimo Regular Bom Otimo
Grupo Experimental Grupo Controle
91
• Variável: Descolar como Chicletes
0
2
4
6
8
10
12
14
PRÉ-TESTE: DESCOLAR COMO CHICLETES
Longo 13 1 0 14 0 0
Médio 13 1 0 13 1 0
curto 11 3 0 13 1 0
Regular Bom Otimo Regular Bom Otimo
Grupo Experimental Grupo Controle
• Variável: Fotografia de Festas
0
2
4
6
8
10
12
14
PRÉ-TESTE: FOTOGRAFIA DE FESTAS
Longo 10 4 0 13 1 0
Médio 11 3 0 10 4 0
Curto 10 4 0 11 3 0
Regular Bom Otimo Regular Bom Otimo
Grupo Experimental Grupo Controle
92
• Variável: Pular as Pedras do Rio
0
2
4
6
8
10
12
14
PRÉ-TESTE: PULAR AS PEDRAS DO RIO
Longo 12 2 0 12 2 0
Médio 14 0 0 12 2 0
Curto 12 2 0 11 3 0
Regular Bom Otimo Regular Bom Otimo
Grupo Experimental Grupo Controle
Pode-se notar que não existem diferenças significativas entre os
Grupos G1 e G2, em relação às variáveis aplicadas e aos respectivos tempos de
execução.
6.2 GRÁFICOS COMPARATIVOS PRÉ E PÓS-TESTE NO GRUPO G1:
• Variável Andar com Pressa
0
2
4
6
8
10
12
14
GRUPO EXPERIMENTAL - ANDAR COM PRESSA
Longo 13 1 0 1 5 8
Médio 13 1 0 2 8 4
Curto 14 0 0 3 6 5
Regular Bom Otimo Regular Bom Otimo
Pré-Teste Pós-Teste
93
• Variável: Rolar na Areia da Praia
• Variável: Descolar como Chicletes
0
2
4
6
8
10
12
14
GRUPO EXPERIMENTAL - DESCOLAR COMO CHICLETES
Longo 13 1 0 1 6 7
Médio 13 1 0 0 9 5
Curto 11 3 0 6 4 4
Regular Bom Otimo Regular Bom Otimo
Pré-Teste Pós-Teste
0
2
4
6
8
10
12
14
GRUPO EXPERIMENTAL - ROLAR NA AREIA DA PRAIA
Longo 12 2 0 3 7 3
Médio 13 1 0 6 6 2
Curto 12 2 0 1 4 9
Regular Bom Otimo Regular Bom Otimo
Pré-Teste Pós-Teste
94
• Variável: Fotografia de Festas
0
2
4
6
8
10
12
14
GRUPO EXPERIMENTAL - FOTOGRAFIA DE FESTAS
Longo 10 4 0 0 0 14
Médio 11 3 0 0 5 9
Curto 10 4 0 5 1 8
Regular Bom Otimo Regular Bom Otimo
Pré-Teste Pós-Teste
• Variável: Pular as Pedras do Rio
0
2
4
6
8
10
12
14
GRUPO EXPERIMENTAL - PULAR AS PEDRAS DO RIO
Longo 12 2 0 1 4 9
Médio 14 0 0 5 0 9
Curto 12 2 0 3 2 9
Regular Bom Otimo Regular Bom Otimo
Pré-Teste Pós-Teste
95
6.3 GRÁFICOS COMPARATIVOS PRÉ E PÓS-TESTE NO GRUPO G2:
• Variável: Andar com Pressa
0
2
4
6
8
10
12
14
GRUPO CONTROLE - ANDAR COM PRESSA
Longo 13 1 0 1 7 6
Médio 12 2 0 2 9 3
Curto 13 1 0 2 7 5
Regular Bom Otimo Regular Bom Otimo
Pré-Teste Pós-Teste
• Variável: Rolar na Areia da Praia
0
2
4
6
8
10
12
GRUPO CONTROLE - ROLAR NA AREIA DA PRAIA
Longo 11 3 0 1 9 4
Médio 12 2 0 2 9 3
Curto 11 3 0 2 5 7
Regular Bom Otimo Regular Bom Otimo
Pré-Teste Pós-Teste
96
• Variável: Descolar como Chicletes
0
2
4
6
8
10
12
14
GRUPO CONTROLE - DESCOLAR COMO CHICLETES
Longo 14 0 0 2 6 5
Médio 13 1 0 2 2 10
Curto 13 1 0 6 3 5
Regular Bom Otimo Regular Bom Otimo
Pré-Teste Pós-Teste
• Variável: Fotografia de Festas
0
2
4
6
8
10
12
14
GRUPO CONTROLE - FOTOGRAFIA DE FESTA
Longo 13 1 0 1 0 13
Médio 10 4 0 1 6 7
Curto 11 3 0 3 1 10
Regular Bom Otimo Regular Bom Otimo
Pré-Teste Pós-Teste
97
• Variável: Pular as Pedras do Rio
0
2
4
6
8
10
12
GRUPO CONTROLE - PULAR AS PEDRAS DO RIO
Longo 12 2 0 1 4 9
Médio 12 2 0 2 3 9
Curto 11 3 0 2 2 10
Regular Bom Otimo Regular Bom Otimo
Pré-Teste Pós-Teste
No final da experiência, o Laboratório de Estatística da UFBA informou
que na aferição dos dados do pós-teste, nos Grupos G1 e G2, mostrou-se haver
ganhos significativos na modificação da qualidade dos movimentos, em relação às
cinco variáveis, nos respectivos tempos, quando comparados com o pré-teste,
apresentado em todas as avaliações p< .05.
98
6.4 GRÁFICOS COMPARATIVOS PÓS-TESTE NOS GRUPOS G1 E G2:
• Variável: Andar com Pressa
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
PÓS-TESTE: ANDAR COM PRESSA
Longo 1 5 8 1 7 6
Médio 2 8 4 2 9 3
Curto 3 6 5 2 7 5
Regular Bom Otimo Regular Bom Otimo
Grupo Experimental Grupo Controle
• Variável: Rolar na Areia da Praia
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
PÓS-TESTE: ROLAR NA AREIA DA PRAIA
Longo 3 7 3 1 9 4
Médio 6 6 2 2 9 3
Curto 1 4 9 2 5 7
Regular Bom Otimo Regular Bom Otimo
Grupo Experimental Grupo Controle
99
• Variável: Descolar como Chicletes
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
PÓS-TESTE: DESCOLAR COMO CHICLETES
Longo 1 6 7 2 6 5
Médio 0 9 5 2 2 10
Curto 6 4 4 6 3 5
Regular Bom Otimo Regular Bom Otimo
Grupo Experimental Grupo Controle
• Variável: Fotografia de Festas
0
2
4
6
8
10
12
14
PÓS-TESTE: FOTOGRAFIA DE FESTA
Longo 0 0 14 1 0 13
Médio 0 5 9 1 6 7
Curto 5 1 8 3 1 10
Regular Bom Otimo Regular Bom Otimo
Grupo Experimental Grupo Controle
100
• Variável: Pular as Pedras do Rio
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
PÓS-TESTE: PULAR AS PEDRAS DO RIO
Longo 1 4 9 1 4 9
Médio 5 0 9 2 3 9
Curto 3 2 9 2 2 10
Regular Bom Otimo Regular Bom Otimo
Grupo Experimental Grupo Controle
No final da experiência, o Laboratório de Estatística da UFBA informou
os seguintes resultados: os conceitos regular, bom e ótimo dependem do Grupo
Experimental ou Controle no pós-teste, na ação Descolar como Chicletes, no tempo
Médio e independem do Grupo Experimental ou Controle nas demais ações e
tempos, ao nível de significância de 5%.
O pós-teste apresenta melhores resultados que o pré-teste no Grupo
Experimental em relação a todas as ações e a todos os tempos, ao nível de
significância de 5%.
O pós-teste apresenta melhores resultados que o pré-teste no Grupo
Controle em relação a todas as ações e a todos os tempos, ao nível de significância
de 5%.
101
7 CONCLUSÃO__________________________________________________
Considerando que o presente estudo coletou dados pertinentes a uma
reduzida população-alvo, em determinado tempo e lugar, todo relato de opiniões e o
resultado estatístico referem-se somente aos sujeitos que, de forma voluntária,
participaram do experimento. Em vista da delimitação da pesquisa e dos resultados
obtidos estatisticamente conclui-se que:
Os resultados por comparação dos pré e pós-testes evidenciaram que
os programas aplicados possibilitaram melhoras significativas em todos os aspectos
avaliados, tanto no Grupo Experimental (G1), como no Grupo Controle (G2).
• melhoria da qualidade de execução de movimento na transferência de
peso;
• maior controle no posicionamento do corpo em relação ao espaço;
• maior capacidade de atenção;
• espontaneidade na construção do movimento;
Logo, conclui-se que a educação do movimento através da dança,
quando pautada em princípios onde o corpo é considerado como um organismo em
102
construção, dando ênfase à conexão e às diversas inter-relações do comportamento
do movimento, se mostra sensível para modificar a qualidade do movimento em
pessoas portadoras de deficiência física.
A finalidade deste trabalho não se esgota aqui, mas é aporte para
perspectivas futuras, dadas a significância e profundidade em encorajar o
desenvolvimento técnico-artístico de pessoas que não tem acesso a esta forma de
expressão. Esses achados podem ser enriquecidos num estudo futuro investigando
as possibilidades de criações em dança com múltiplos corpos e sua acessibilidade
ao meio artístico.
103
REFERÊNCIAS ADAMS, Ernie. What is Contact Improvisation, disponível em < http: contactimprov.net/about.html > acesso em 30 de junho de 2004. ANTONIO, C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Ed. Atlas, 1987. BARBIER, René. A Pesquisa Ação. Brasília: Ed. Plano, 2002. BARCHELARD, Gaston. O Ar e os Sonhos. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1990. COUPER,JL. Dance therapy: effects of motor performance of children with learning disabilities. PMID: 7454796 [PubMed-index for MEDLINE]. Phys Ther. 1981 Jan; (1):23-6 CRONE, John MC. Como Funciona o Cérebro. São Paulo: Ed. Publifolha, 2002. DAMÁSIO, Antonio. O Mistério da Consciência. São Paulo: Ed. Companhia das Letras, 1999. DUARTE, João Francisco. O Sentido dos Sentidos. A educação (do) sensível. Curitiba: Ed. Criar, 2ª. ed., 2001. FELDENKRAIS, Moshe. Consciência pelo Movimento. São Paulo: Ed.Summus, 1987. FERREIRA, E.L. ORLANDI, E.P. O discurso corporal atravessado pela dança em cadeira de rodas. In CIDADE ATRAVESSADA, Campinas: Ed. Pontes, 2001. __________, Os benefícios da dança em cadeira de rodas para as pessoas portadoras de deficiência física. In SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS DO ESPORTE. São Paulo: Anais CELAFISC: 2001. FREIRE, Ida Maria. Dança Educação e o Movimento no Espaço do Conhecimento. Cadernos Cedes, ano XX, n. 53, Abril de 2001. GERSTEN, JW. FOPPER, KB. MAXWELL,S. Effectiveness of aides in a perceptual motor training program for children with learning disabilities. ArchPhys Med Rehábil. 1975 Mar, 56, JL. (3): 104-10. GHORAYEB, Nabil. BARROS,Turíbio. O Exercício. Preparação Fisiológica, Avaliação Médica, Aspectos Especiais Preventivos. São Paulo: Ed. Atheneu, 1999GOLEMAM, D. KAUFMAN, P. RAY, MICHAEL. O Espírito Criativo. Sao Paulo: Ed. Cultrix. 1992. GONCALVES, C. BARATA, C. PERES, M. Dança e equilíbrio de tronco em pessoas com lesão medular: um estudo preliminar. Fisioterapia Brasil-V.2, N. 1. 2001. RODRIGUES, Graziela. Bailarino Pesquisador Intérprete.Rio de Janeiro: FUNARTE, 1997. HUMPHRIES T, WRIGHT M, SNIDER L. A comparison of the effectiveness of sensory integrative therapy and perceptual-motor training in the treating children with learning disabilities. Departament of Paediatrics, Hospital for Sick Children, Toronto, Ontario, Canada. 1998 FEB;13(1):31-40 KOLB, Bryan. Whishaw, Ian. Neurociência do Comportamento. São Paulo: Ed. Manole, 2002. LABAM, Rudolf. Domínio do Movimento.São Paulo: Ed. Summus, 1987. LOWEN, Alexander. Prazer. Uma Abordagem Criativa da Vida. São Paulo: Ed. Summus, 1970. MARTINI, Ken. Contact the Soul, disponível em < http:// www.nurturedance.org/contactimprov.htm > acesso em 30 de junho de 2004. MICHEL, Serres. O começo de outra humanidade.Rio de Janeiro: Ed. ABDR, 2003.
104
MONTAGU, Ashley. Tocar: o significado humano da pele. São Paulo: Ed. Summus, 1988. MORENO, JL. PSICODRAMA. São Paulo: Ed. Cultrix, 1993. MORRIS GS, SIFFT JM, KHALSA GK. Effects of educational Kinesiology on static balance of lrearning disable students. California state Polytecnic University, Pomona. PIMD: 3211692[ PunMed-index for MEDLINE]. 10988 Aug;67(1):51-4. NACHMANOVICH, Stephem. Ser Criativo. São Paulo: Ed. Summus, 1993. NEGRINE, A. A Coordenação Psicomotora. Porto Alegre: Ed. Pallotti, 1987. ___________Educação Psicomotora. Lateralidade e a orientação espacial. Porto Alegre: Ed. Pallotti, 1986. PAXTON, Steve. The potential of the body, disponível em < http:// www.kimpro.dk/historie_eng.htm > acesso em 30 de junho de 2004. PITANGA, F. Epidemiologia da Atividade Física. Salvador: Ed. do Autor, 2001. PRENTICE, Willian E. Técnicas de Reabilitação em Medicina Esportiva. São Paulo: Ed. Manole, 3ª ed., 2002. SOUZA. Pedro Américo. O esporte na paraplegia e tetrapelgia. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara,1994. SURFING with Steven Paxton, Dance Theatre Journal. London: Laban Centre, v. 14, n.1, p. 20-23, 1998. TAVARES, Maria Consolação G. Cunha. Imagem Corporal. Conceito e desenvolvimento. São Paulo: Ed. Manole, 2003. YOZO, Ronaldo. 100 Jogos para grupos. São Paulo: Ed. Agora, 13ª ed. 1996.
105
ANEXO 1
RELAÇÃO DE PARTICIPANTES
Grupo Experimental e Grupo Controle GE e GC Pseudônimo Sexo Idade Grau de Instrução Descapacitação Instituição
Edneide B4 F 10 1o.Grau 5a.Série D.M IBR Luciene A11 F 10 1o.Grau 2a.Série Encurtamento Miofacial IBR Alexandra B2 F 13 Alfabetização D.M IBR Gabriela B6 F 13 Alfabetização P.C. IBR Ana Paula B3 F 18 Alfa 1 D.M CEPRED Fernanda A6 F 18 Alfabetização P.C. IBR Ângela A1 F 19 Analfabeta D.M. IBR
Carine A3 F 19 2o.Grau 1o.Ano Má Formação
Congênita CEPRED Eliana A5 F 19 Alfabetização D.M. IBR Joanice B8 F 19 Alfabetização P.C. IBR Luciana A10 F 19 Analfabeta D.M. PESTALOZZI Manoela B11 F 19 Alfabetização D.M - Aline A2 F 20 Alfabetização P.C. CEPRED Josiane B9 F 20 Analfabeta D.M. CEPRED Cássia A4 F 21 1o.Grau 1a.Série D.M. CEPRED Girlene B7 F 21 Alfabetização P.C. IBR Ana Paula B12 F 24 Analfabeta D.M. CEPRED Marleide A16 F 25 1o.Grau 6a.Série Hemiplegia D.M CEPRED Mailsa A12 F 39 Alfabetização D.M. CEPRED Marilza A15 F 54 Alfabetização D.M. CEPRED Lucia A9 F 58 1o.Grau 7a.Série D.M. CEPRED Luciano B10 M 13 Alfabetização D.M. - Marcus A14 M 16 Alfabetização Seqüela Meningite CEPRED Robson A17 M 17 Alfabetização D.M. CEPRED Rafael B13 M 18 Alfabetização D.M IBR Anderson B1 M 19 Analfabeta P.C. CEPRED Eliomar B5 M 22 1o.Grau 5a.Série D.M. IBR Gustavo A7 M 24 Alfabetização Síndrome de Aspen CEPRED Joilson A8 M 26 Alfabetização D.M. CEPRED Rubens B14 M 26 - P.C. IBR
Marcio A13 M 34 Analfabeta Síndrome de Down CEPRED
DM – Deficiente Mental PC – Paralisia Cerebral
Pseudônimo: A – Grupo Experimental
B – Grupo Controle
106
ANEXO 2
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE DANÇA E ESCOLA DE TEATRO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES CÊNICAS
O SENTIDO POÉTICO DA DANÇA ESPONTÂNEA ENTRE CORPOS DIFERENTES
Questionário Epidemiológico
Local da Pesquisa: Escola de Dança da UFBA
Mestranda: Fátima Daltro
1. Nome: ________________________________________________
2. Idade: ______ 3. Sexo: M ( ) F ( ) 4. Instituição: ____________
5. Nascimento: ________________ 6. Telefone: _________________
7. Grau de Instrução: _______________________________________
8. Profissão Atual: ______________ 9. Local Trabalho: ____________
10. Sabe ler e escrever? Sim ( ) Não ( )
11. Faz as atividades diárias sem dificuldades? Sim ( ) Não ( )
12. Diagnóstico Clínico: _____________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
Período: 09 de Julho a 04 de Outubro de 2004 Dia: Segunda-Feira
Hora: das 13 às 16hs Local: Escola de Dança UFBA
107
ANEXO 3
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE DANÇA E ESCOLA DE TEATRO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES CÊNICAS
Consentimento de Aprovação
Eu,..........................................................................., abaixo assinado, fui
informado sobre o objetivo da presente intervenção, sobre os eventuais
inconvenientes e seus benefícios.
Pelo presente, dou meu consentimento para participar livremente e de
maneira espontânea. Fui informado sobre o direito que tenho de
abandonar a experiência em qualquer momento.
Salvador,
Assinatura
Confirmo que expliquei a natureza do presente estudo à pessoa citada
acima e de haver obtido seu consentimento.
Assinatura
108
ANEXO 4
TABELA DE CLASSIFICAÇÃO PRÉ-TESTE
Tabela I - Andar com Pressa Grupo Experimental Grupo Controle
Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Longo 13 1 0 Longo 13 1 0 Médio 13 1 0 Médio 12 2 0 Curto 14 0 0 Curto 13 1 0
Tabela II - Rolar na Areia da Praia Grupo Experimental Grupo Controle
Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Longo 12 2 0 Longo 11 3 0 Médio 13 1 0 Médio 12 2 0 Curto 12 2 0 Curto 11 3 0
Tabela III - Descolar como Chicletes Grupo Experimental Grupo Controle
Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Longo 13 1 0 Longo 14 0 0 Médio 13 1 0 Médio 13 1 0 Curto 11 3 0 Curto 13 1 0
Tabela IV - Fotografia de Festas Grupo Experimental Grupo Controle
Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Longo 10 4 0 Longo 13 1 0 Médio 11 3 0 Médio 10 4 0 Curto 10 4 0 Curto 11 3 0
Tabela V - Pular as Pedras do Rio Grupo Experimental Grupo Controle
Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Longo 12 2 0 Longo 12 2 0 Médio 14 0 0 Médio 12 2 0 Curto 12 2 0 Curto 11 3 0
109
ANEXO 5
TABELA DE CLASSIFICAÇÃO PÓS-TESTE
Tabela I - Andar com Pressa Grupo Experimental Grupo Controle
Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Longo 1 5 8 Longo 1 7 6 Médio 2 8 4 Médio 2 9 3 Curto 3 6 5 Curto 2 7 5
Tabela II - Rolar na Areia da Praia Grupo Experimental Grupo Controle
Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Longo 3 7 3 Longo 1 9 4 Médio 6 6 2 Médio 2 9 3 Curto 1 4 9 Curto 2 5 7
Tabela III - Descolar como Chicletes Grupo Experimental Grupo Controle
Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Longo 1 6 7 Longo 2 6 5 Médio 0 9 5 Médio 2 2 10 Curto 6 4 4 Curto 6 3 5
Tabela IV - Fotografia de Festas Grupo Experimental Grupo Controle
Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Longo 0 0 14 Longo 1 0 13 Médio 0 5 9 Médio 1 6 7 Curto 5 1 8 Curto 3 1 10
Tabela V - Pular as Pedras do Rio Grupo Experimental Grupo Controle
Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Longo 1 4 9 Longo 1 4 9 Médio 5 0 9 Médio 2 3 9 Curto 3 2 9 Curto 2 2 10
110
ANEXO 6
TABELA COMPARATIVA PRÉ E PÓS-TESTE G1
Tabela I - Ação Andar com Pressa Pré-Teste Pós-Teste
Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Longo 13 1 0 Longo 1 5 8 Médio 13 1 0 Médio 2 8 4 Curto 14 0 0 Curto 3 6 5
Tabela II - Ação de Rolar na Areia da Praia Pré-Teste Pós-Teste
Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Longo 12 2 0 Longo 3 7 3 Médio 13 1 0 Médio 6 6 2 Curto 12 2 0 Curto 1 4 9
Tabela III - Ação de Descolar como Chicletes Pré-Teste Pós-Teste
Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Longo 13 1 0 Longo 1 6 7 Médio 13 1 0 Médio 0 9 5 Curto 11 3 0 Curto 6 4 4
Tabela IV - Ação de Sustentar Pré-Teste Pós-Teste
Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Longo 10 4 0 Longo 0 0 14 Médio 11 3 0 Médio 0 5 9 Curto 10 4 0 Curto 5 1 8
Tabela V - Ação de Pular Pré-Teste Pós-Teste
Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Longo 12 2 0 Longo 1 4 9 Médio 14 0 0 Médio 5 0 9 Curto 12 2 0 Curto 3 2 9
111
ANEXO 7
TABELA COMPARATIVA PRÉ E PÓS-TESTE G2
Tabela I - Andar com Pressa Pré-Teste Pós-Teste Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Longo 13 1 0 Longo 1 7 6 Médio 12 2 0 Médio 2 9 3 Curto 13 1 0 Curto 2 7 5
Tabela II - Rolar na Areia da Praia Pré-Teste Pós-Teste Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Longo 11 3 0 Longo 1 9 4 Médio 12 2 0 Médio 2 9 3 Curto 11 3 0 Curto 2 5 7
Tabela III - Descolar como Chicletes Pré-Teste Pós-Teste Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Longo 14 0 0 Longo 2 6 5 Médio 13 1 0 Médio 2 2 10 Curto 13 1 0 Curto 6 3 5
Tabela IV - Fotografia de Festa Pré-Teste Pós-Teste Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Longo 13 1 0 Longo 1 0 13 Médio 10 4 0 Médio 1 6 7 Curto 11 3 0 Curto 3 1 10
Tabela V - Pular as Pedras do Rio Pré-Teste Pós-Teste Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Duração / Conceito
Regular Bom Ótimo
Longo 12 2 0 Longo 1 4 9 Médio 12 2 0 Médio 2 3 9 Curto 11 3 0 Curto 2 2 10
112
ANEXO 8
CÁLCULOS ESTATÍSTICOS PRÉ E PÓS-TESTE G1 E G2
Tabela I - Andar com Pressa Grupo Experimental Grupo Controle Duração / Cálc.Estatístico
p-valor
Duração / Cálc.Estatístico
p-valor
Longo 0,0005776 Longo 0,0005776 Médio 0,0007481 Médio 0,0006110 Curto 0,0012470 Curto 0,0008573
Tabela II - Rolar na Areia da Praia Grupo Experimental Grupo Controle Duração / Cálc.Estatístico
p-valor
Duração / Cálc.Estatístico
p-valor
Longo 0,0037060 Longo 0,0034630 Médio 0,0041670 Médio 0,0010370 Curto 0,0009274 Curto 0,0014820
Tabela III - Descolar como Chicletes Grupo Experimental Grupo Controle Duração / Cálc.Estatístico
p-valor
Duração / Cálc.Estatístico
p-valor
Longo 0,0008573 Longo 0,0009516 Médio 0,0003190 Médio 0,0007481 Curto 0,0041670 Curto 0,0059880
Tabela IV - Fotografia de Festas Grupo Experimental Grupo Controle Duração / Cálc.Estatístico
p-valor
Duração / Cálc.Estatístico
p-valor
Longo 0,0003583 Longo 0,0004606 Médio 0,0003834 Médio 0,0014820 Curto 0,0057700 Curto 0,0050320
Tabela V - Pular as Pedras do Rio Grupo Experimental Grupo Controle Duração / Cálc.Estatístico
p-valor
Duração / Cálc.Estatístico
p-valor
Longo 0,0006060 Longo 0,0006060 Médio 0,0016770 Médio 0,0009274 Curto 0,0014010 Curto 0,0009274
113
RESUMO CURRICULAR FAFÁ DALTRO, co-fundadora e diretora coreográfica do Grupo X de Improvisação
em Dança, graduou-se em Licenciatura em Dança em 1978 e concluiu os cursos de
Especialização em Coreografia e Cinesiologia da Dança em nível de pós-graduação
em 1986, Massagem Holística em 1998, todos oferecidos pela escola de Dança da
UFBA. Instrutora de Pilates “Sistema de Avaliação e Treinamento Corporal”. . Na
Escola de Dança da UFBA é professora do curso de graduação desenvolvendo
trabalhos em “Estudos do Corpo”. Coreógrafa, dançarina com performances no
Brasil e no exterior, junto ao grupo Tran-Chan, e ao Grupo X. Atualmente desenvolve
estudos interdisciplinares no âmbito de Contact Improvisation, buscando princípios
coreográficos para expressões improvisadas em cena que integram som, imagem e
movimento. Mestre em Artes cênicas.
Contato: [email protected]
(xx71) 235-9603 / (xx71) 9964-4272
FAX; (xx71) 237-5353 - Escola de Dança da UFBA.
Site: www.grupox.ufba.br www.corporepilates.com.br Endereço: Avenida Euclides da Cunha N.324, Apto. 304 - Graça.
CEP: 40.150-122, Salvador / Ba.