Anestesicos odontologicos

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    Publ. UEPG Ci. Biol. Sade, Ponta Grossa, 11 (2): 35-42, jun.2005

    CDD: 617.9676

    ANESTSICOS LOCAIS EM ODONTOLOGIA:

    UMA REVISO DE LITERATURA

    LOCAL ANESTHETICS IN DENTISTRY:A LITERATURE REVIEW

    Leonardo Costa de Almeida Paiva1, Alessandro Leite Cavalcanti2

    1 Universidade Estadual da Paraba - UEPB, Curso de Odontologia, Campina Grande, PB,Brasil; (83) 3321-2971; e-mail: [email protected]

    2 Universidade Estadual da Paraba - UEPB, Departamento de Odontologia,

    Campina Grande, PB

    Recebido para publicao em 24/10/2005

    Aceito para publicao em 03/11/2005

    RESUMO

    A farmacologia dos anestsicos locais complexa e novas drogas surgemdiariamente. Logo, a compreenso dos aspectos farmacolgicos dos anestsicos

    locais importante para a seleo da droga a ser utilizada em cirurgia. As pro-priedades fsico-qumicas de cada anestsico local determinam a ao, po-tencialidade e durao da anestesia. Como orientao ao clnico-geral, este artigofornece informaes importantes sobre os anestsicos locais.

    Palavras-chave: anestesia dentria, anestsicos locais, farmacologia

    ABSTRACT

    The pharmacology of local anesthetics is complex, and new drugs emerge

    every day. The understanding of the pharmacology of local anesthesia is importantfor the selection of a local anesthetic for use in surgery. The physicochemicalproperties of each local anesthetic determine the onset of action, potency, andduration. Clinically oriented, this paper provides detailed information for thosepractitioners who use local anesthetics.

    Key words: dental anesthesia, local anesthetics, pharmacology

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    Introduo

    A anestesia local definida como um bloqueioreversvel da conduo nervosa, determinando perda

    das sensaes sem alterao do nvel de conscincia(Ferreira, 1999).

    A procura por substncias que pudessem a-menizar a sensao dolorosa vem desde a antiguidade,onde j se conhecia o pio (suco da papoula). Antes dadescoberta dos anestsicos, tambm eram utilizados,asfixia temporria do paciente na qual se provocavauma isquemia cerebral e um desmaio momentneo (senecessrio dava-se uma pancada na cabea do pa-ciente, atordoando-o). Nessa ltima opo, caso este

    procedimento no resolvesse, o paciente era vigorosa-mente imobilizado pelos membros por quatro auxiliarese o cirurgio poderia realizar o seu esperado trabalho(Faria; Marzola, 2001).

    Nieman, em 1860, utilizou o primeiro anestsicolocal na Medicina e Odontologia que foi a cocana,isolada da Erytroxycolon coca. No ano de 1880, VonSrep desenvolveu um estudo de suas propriedades far-macolgicas. Os benefcios da cocana foram bastanteapreciados e logo passou a ser administrada com efic-cia em vrios procedimentos mdicos e odontolgicos.Vrias pesquisas tiveram incio procura de substitu-tos sintticos para a cocana, tendo Ein Horn, em 1905,sintetizado a procana, que deu incio descobertados anestsicos locais utilizados at hoje (Tortamano;Armonia, 2003).

    Atualmente, os anestsicos locais mais utilizadosem Odontologia so aminas tercirias com proprie-dades hidroflicas e lipoflicas, sintetizados na dca-da de 40. Constituem-se em uma alternativa menostxica, mais efetiva e com potencial alergnico me-

    nor que os anestsicos tipo ster. (Vieira; Gonalves;Agra, 2000).

    Este trabalho tem por objetivo, por meio de umareviso de literatura, tecer consideraes sobre os a-nestsicos locais, enfocando os aspectos relativos farmacologia, s principais reaes adversas, ao usodos vasoconstrictores, s indicaes e contra-indica-es e o uso durante a gravidez.

    FarmacologiaPode-se dividir a molcula do anestsico local

    em trs partes: um grupamento amnico secundrio outercirio que confere s molculas hidrossolubilidade.Outro, aromtico que concede s molculas proprie-dades lipoflicas que so essenciais para a sua penetra-

    o nas fibras nervosas. Por ltimo, unindo essas duaspartes, uma cadeia intermediria que importante emdois aspectos. Primeiramente, fornece a separao es-pacial necessria entre as extremidades lipoflica e hi-droflica e tambm a ligao qumica entre os dois gru-pamentos, servindo como base para a classificao dosanestsicos locais em dois grupos: os steres (-COO)e as amidas (-NHCO-). A cadeia intermediria degrande relevncia, j que h grandes diferenas no graude alergenicidade, na potncia e no metabolismo, quan-

    do comparamos os dois grupos de frmacos (Tortamano;Armonia, 2001).A anestesia local determina abolio de funes

    autonmicas e sensitivomotoras. O comprometimentoda conduo em fibras perifricas obedece determi-nada seqncia, em que primeiramente se bloqueiamas autonmicas, depois as responsveis pelas sensibili-dades trmica, dolorosa e ttil, a seguir as relacionadas presso e vibrao e por ltimo, as proprioceptivase motoras. Essa seqncia depende do dimetro, por-o e da mielinizao das fibras nervosas. A recu-perao das funes nervosas se d na ordem inversa(Ferreira, 1999).

    Um bom agente anestsico deve apresentar bai-xa toxicidade sistmica; no ser irritante aos tecidos etambm no causar leso permanente s estruturasnervosas. O tempo para incio da anestesia deve ser omais curto possvel e a durao de ao suficiente paraa realizao do procedimento cirrgico, com aoreversvel (Faria; Marzola, 2001; Malamed, 2004).

    De acordo com Tortamano e Armonia (2001),

    os anestsicos locais alm de realizarem o bloqueio daconduo nervosa, tambm interferem na funo detodos os rgos nos quais ocorrem conduo ou trans-misso de impulsos nervosos. Assim sendo, exercemao sobre o sistema nervoso central (SNC), gngliosautonmicos, funo neuromuscular e em todos os ti-pos de fibras musculares. No SNC, o estmulo seguidode depresso idntica causada pelos anestsicos ge-rais, nos quais doses extremamente altas prejudicam afuno respiratria, podendo levar a bito por asfixia.

    A durao da anestesia determinada pelo graude ligao protica. Os anestsicos que apresentam

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    grande afinidade ao componente protico do nervo tmmenos probabilidade de se difundirem do local da in-

    jeo e serem absorvidos pela circulao sistmica(Ranali; Volpato, 1990). Apesar dessas drogas serem

    bases fracas, as preparaes farmacuticas (sais dehidrocloreto) so levemente cidas, com pH variandode 4,5 a 6,0 nos tubetes odontolgicos, sendo que estaacidez aumenta a estabilidade das solues anestsicas.Uma vez injetados nos tecidos, com pH mais alcalino(pH = 7,4), h tamponamento cido, liberando baseem forma no-ionizada, passvel de ser absorvida. De-vido instabilidade e reduzida solubilidade, quando emsoluo, so comercializados na forma de sais hi-drossolveis, geralmente cloridratos (Ferreira, 1999;

    Tortamano; Armonia, 2001).

    Farmacocintica de relevncia no que se refere absoro,

    que essas substncias, quando injetadas nos tecidosmoles exeram uma ao farmacolgica nos vasos san-guneos da rea. Todos apresentam algum grau de va-soatividade, sendo na maioria vasodilatadoras. A ex-ceo a cocana, que tambm a nica substnciaque tem uma significativa absoro pelo trato gastro-intestinal, quando administrada por via oral.

    Aps absorvidos pela corrente sangunea, os a-nestsicos locais so distribudos para todos os teci-dos do corpo, apresentando uma meia-vida que vai dealguns minutos a algumas horas, dependendo da drogaempregada. Os rgos e reas altamente perfundidos,como o crebro, fgado, rins, pulmes e bao, apresen-tam inicialmente maiores nveis sanguneos do anest-sico do que aqueles menos perfundidos.

    Quanto biotransformao h uma relativa

    diferena entre os anestsicos do tipo ster e os do ti-po amida. Enquanto os primeiros so hidrolisados porcolinesterases plasmticas, os segundos por enzimasmicrossomais hepticas, tendo uma maior durao deefeito que aqueles. Faz-se exceo a tetracana (tiposter), cujo efeito mais prolongado. O metabolismodo anestsico local importante, pois a toxicidade geralda droga depende do equilbrio entre a velocidade deabsoro para a corrente sangunea no local da injeoe a velocidade em que ela removida do sangue, atra-

    vs dos processos de absoro tecidual e metabolismo.No tocante excreo, os rins so os rgos

    excretores primrios tanto para os anestsicos locaisquanto para seus metablitos. Doenas renais signifi-cativas representam uma contra-indicao relativa administrao de anestsicos locais, j que os rins po-

    dem ser incapazes de eliminar do sangue o anestsicooriginal ou seus principais metablitos, resultando emum ligeiro aumento dos nveis sanguneos desse compos-to e um aumento no potencial de toxicidade (Veering,2003; Malamed, 2004; Tortamano; Armonia, 2001).

    Anestsicos locais mais utilizados emOdontologiaDentre os anestsicos locais comercializados, os

    mais utilizados na Odontologia so a lidocana, a pri-locana, a mepivacana e a bupivacana. Incluem-se ain-da a articana, a ropivacana e a levobupivacana, sendoestas duas ltimas, alternativas mais seguras para abupivacana, por apresentar menos toxicidade sistmi-ca (Veering, 2003).

    Lidocana

    A lidocana considerada o anestsico padroem Odontologia, com o qual todos os outros anestsi-cos so comparados. Foi o primeiro agente anestsicodo grupo amida a ser sintetizado, em 1943 por NilsLofgren. Inicia sua ao por volta de 2 a 3 minutos etem eficcia em uma concentrao de 2%. Sua dosemxima recomendada de 7,0mg/Kg em adultos, noexcedendo 500mg ou 13 tubetes anestsicos. encon-trada comercialmente nas concentraes de 1% e 2%,com ou sem vasoconstrictor. Para aplicao tpica suaconcentrao pode ser de 5% (Vieira; Gonalvez; Agra,2000; Mariano; Santana; Coura, 2000; Malamed,2004; DEF, 2004).

    Prilocana

    Malamed (2004) reportou que foi sintetizada pelaprimeira vez em 1953 por Lofgren e Tegnr, tendo sidodescrita apenas em 1960. Apresenta uma potncia etoxicidade duas vezes maior que a lidocana e um inciode ao mais retardado, por volta de 2 a 4 minutos. Adose mxima recomendada de 6,0 mg/kg, noexcedendo 400mg ou 7 tubetes anestsicos na con-centrao de 4%, no paciente adulto. A concentrao

    odontolgica eficaz de 4%. Esse anestsico noapresenta formulao tpica. A tcnica infiltrativa

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    oferece pouco tempo de anestesia pulpar, enquanto obloqueio regional fornece uma anestesia pulpar de at60 minutos. Comercialmente, s encontrado na con-centrao 3% e tendo a felipressina como vasocons-

    trictor (DEF, 2004). Formulaes genricas podem serencontradas na concentrao de 4%, sendo estas asque provm melhores resultados.

    Mepivacana

    amplamente utilizada no campo odontolgi-co, sendo classificada como um anestsico de duraointermediria. Foi preparada por A. F. Ekenstam, em1957 e introduzida na odontologia em 1960. Apresentapotncia e toxicidade duas vezes maior que a lidocana,

    tendo o seu incio da ao por volta de 1 a 2 minutos.A dose mxima de 6,6 mg/kg, no devendo ultrapassar400mg ou 11 tubetes anestsicos. A concentrao o-dontolgica eficaz de 2% (com vasoconstritor) e de3% (sem vasoconstritor). Uma de suas vantagens que esta substncia consegue ter um tempo maior deanestesia do que os outros anestsicos sem o uso dovasoconstrictor. sintetizada apenas por laboratri-os especializados em artigos odontolgicos (Ponzoni;Sanches; Okamoto, 2003; Malamed, 2004; DEF, 2004).

    Cloridrato de Bupivacana

    No Brasil, dentre os anestsicos de longa dura-o, somente o cloridrato de bupivacana est dispo-nvel comercialmente. Apresenta potncia quatro vezesmaior que a lidocana e uma toxicidade quatro vezesmenor. Inicia sua ao por volta de 6 a 10 minutos. A-presenta uma dose mxima recomendada de 1,3mg/kg, no devendo ultrapassar 90mg ou 10 tubetes.

    Quanto ao tempo de durao, a anestesia mandi-bular pode persistir de 5 a 9 horas. Os estudos sobre

    sua toxicidade mostram que ocorrem devido superdo-sagem ou por injeo acidental do anestsico nos vasossanguneos, no sendo essas reaes diferentes das queocorrem com os outros anestsicos locais. Em tubetesanestsicos encontrado na concentrao de 0,5%,porm em ampolas de 20ml podem ser encontradosnas concentraes de 0,25%, 0,50% e 0,75% (comou sem vasoconstritor). o anestsico mais utilizadoem recintos hospitalares (DEF, 2004; Ranali; Volpato,1990; Malamed, 2004).

    Articana

    A articana foi aprovada para uso nos EstadosUnidos em abril de 2000, tendo como nome comercialSteptocaine 4% com 1:100.000 de epinefrina. Sua dose

    mxima recomendada de 6,6mg/kg, no ultrapas-sando 500mg ou 6 tubetes (Mikesell et al., 2005; DEF,2004).

    VasoconstritoresOs vasoconstritores so importantes componen-

    tes das solues anestsicas. No passado, atribuam-se vrias desvantagens a eles, porm muitas delas de-corriam em funo do uso inadequado: injees intra-

    vasculares, concentraes elevadas, aplicaes rpidase grandes volumes, levando intoxicao relativa. Hoje,sabe-se que quase nenhuma soluo anestsica teriaefeito sem o emprego dos vasoconstrictores, tendo co-mo principal vantagem a absoro lenta do sal anes-tsico, que reduz a toxicidade deste, aumenta a dura-o da anestesia, possibilita o uso de quantidades me-nores de soluo, alm de aumentar o efeito anestsico(Mariano; Santana; Coura, 2000).

    As substncias vasoconstritoras podem perten-cer a dois grupos farmacolgicos: aminas simpatomim-ticas e anlogos da vasopressina. As mais comuns soa adrenalina/epinefrina, a noradrenalina/noraepinefrina,a fenilefrina e o octapressin/ felipressina.

    A adrenalina tambm uma substncia endge-na, produzida pelas supra-renais quando o SNC ati-vado. Essa substncia tem a capacidade de se ligaraos receptorese e dos rgos inervados pelo sim-ptico e de produzir a clebre reao de alarme, des-crita por Cnon, na dcada de 40, que prepara o animalpara a luta ou fuga (Faria; Marzola, 2001; Ferreira,

    1999).Normalmente, os vasoconstritores associados

    aos anestsicos locais no produzem efeitos farmacol-gicos, alm da constrio arteriolar localizada. Umadas maiores polmicas que existe em relao aos vaso-constritores, o de us-los ou no em pacientes cardio-patas, uma vez que a adrenalina eleva a presso sistlicae a freqncia cardaca, causando palpitaes e dortorcica. A felinefrina no provoca estmulo cardacodireto, mas pode elevar de forma significativa as pres-

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    ses sistlica e diastlica. Como conseqncia destasalteraes, atravs do reflexo vagal, provoca-se a que-da da freqncia cardaca.

    A noradrenalina eleva as presses sistlica e

    diastlica e praticamente no interfere com a freqnciacardaca. Por induzir vasoconstrio mais acentuada,o dano tecidual maior, o que leva alguns autoresdesaconselharem o uso deste vasoconstrictor.

    A felipressina ou octapressin, uma anloga sin-ttica da vasopressina, hormnio produzido pela neuro-hipfise e tambm conhecida como hormnio antidiu-rtico ou ADH. No apresenta efeitos diretos sobre omiocrdio, mas um potente vasoconstritor coronaria-no o que pode levar a crises de angina com isquemia

    miocrdica, em pacientes com alguma deficincia nacirculao coronariana (Faria; Marzola, 2001; Ferreira,1999; Tortamano; Armonia, 2001).

    Segundo Faria e Marzola (2001), caso aconteaalguma complicao com o paciente no ser pelo va-soconstrictor do anestsico, mas sim pelas catecola-minas endgenas liberadas na circulao, j que a quan-tidade liberada, em uma situao de estresse, muitoacima da contida em um tubete odontolgico, tornando-se irrisria a quantidade ali presente.

    Como contra-indicaes no uso de vasocontri-tores, a literatura cita angina pectris instvel, infartodo miocrdio recente (at 6 meses), acidente vascularcerebral recente, cirurgia de revascularizao miocr-dica recente, arritmias refratrias, insuficincia cardacacongestiva intratvel ou no-controlada, hipertensograve no-tratada ou no-controlada, hipertireoidismono-controlado, diabete mellitus no-controlado, feo-cromocitoma e hipersensibilidade a sulfitos (Ferreira,1999; Mariano; Santana; Coura, 2000; De Castro etal., 2002).

    Reaes AdversasAs complicaes quando ocorrem, podem ser

    divididas em psicognicas e no-psicognicas. As pri-meiras independem do anestsico e esto relaciona-das ao estado de estresse do paciente. As ocorrnciasmais comuns so a lipotmia e a hiperventilao. Asno-psicognicas so raras, estando relacionadas tcnica de administrao inadequada, superdosagem

    ou a uma reao alrgica ao anestsico (Vieira; Gonalves;Agra, 2000).

    Grande parte dos eventos considerados alrgi-cos decorre de reaes txicas aos anestsicos locaisdiretamente no SNC e cardiovascular. Os anestsicoslocais podem desencadear reaes alrgicas dos tipos

    I (hipersensibilidade imediata) e IV (dermatite decontato). Os do tipo ster causam reaes do tipo IV,enquanto os do tipo amida podem causar ambos os ti-pos de hipersensibilidade.

    As manifestaes clnicas sugestivas de hiper-sensibilidade mediada por IgE incluem prurido, urticria,broncoespasmo e angioedema. Na maioria dos casos,esses eventos ocorrem at uma hora aps a exposio.Outras ocorrncias tais como dispnia, hipertenso ar-terial ou sncope, poderiam ser eventualmente media-

    das por IgE, entretanto, podem envolver outros meca-nismos. Deve-se ter cuidado com os pacientes asm-ticos alrgicos, principalmente, os dependente de corti-csterides, pois geralmente apresentam alergia aossulfitos encontrados nas solues contendo aminas sim-patomimticas, sendo nesse caso indicado soluescom felipressina (Arajo; Amaral, 2004; Berkun et al.,2003; Mariano; Santana; Coura, 2000).

    Uma enfermidade, que pode acometer o pacientequando do uso dos anestsicos locais e que os cirur-gies-dentistas no esto habituados a lidar a observarcomo rotina, a metahemoglobinemia. Trata-se de umacianose que ocorre na ausncia de anormalidades car-dacas e/ou respiratrias, podendo ser congnita ouadquirida. Os anestsicos que mais causam a metahe-moglobinemia so a prilocana, a articana e a benzo-cana (uso tpico), os quais devem ser evitados emgrandes cirurgias, portadores de insuficincia cardaca,respiratria ou doenas metablicas e em gestantes,por causa do risco do feto vir a contrair a doena. Opaciente se apresenta letrgico, com os leitos ungueais

    e as mucosas cianticas, dificuldades respiratrias e apele em tom cinza plido. O seu tratamento se d atra-vs da administrao intravenosa de azul-de-metilenoa 1% (1,5mg/Kg), podendo a dose ser repetida a cada4 horas at a cianose ser debelada (De Castro et al.,2002; Malamed, 2004; Ferreira, 1999; Souza; Faria,1991).

    Uso em gestantes

    Alguns aspectos devem ser observados quandoda utilizao de anestsicos locais em gestantes, dentre

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    eles: tcnica anestsica, quantidade da droga adminis-trada, ausncia/presena de vasoconstritor e os efeitoscitotxicos (Scavuzzi; Rocha, 1999).

    O anestsico local pode afetar o feto de duas

    maneiras: diretamente (quando ocorrem altas concen-traes na circulao fetal) e indiretamente (alterandoo tnus muscular uterino ou deprimindo os sistemascardiovascular e respiratrio da me) (Oliveira, 1990).

    A lidocana o anestsico mais apropriado paraas gestantes, segundo a literatura pesquisada. Prilocanae articana no devem ser usadas por poderem levar metahemoglobinemia, tanto na me quanto no feto(Malamed, 2004). A bupivacana apresenta a maiorcardiotoxicidade, maior penetrabilidade nas membra-

    nas do corao e maior resistncia aps eventual paradacardaca. Em relao mepivacana, mais pesquisasdevem ser realizadas j que seus riscos para o feto noso bem detalhados, portanto, seu uso desacon-selhado.

    Quanto ao uso dos vasoconstrictores em ges-tantes, quando os benefcios superarem os riscos, osmesmos devem ser utilizados. Sem vasoconstrictor, oanestsico pode no ser eficaz, alm de seu efeito passarmais rapidamente. A dor resultante pode levar o pa-ciente ao estresse, fazendo com que haja liberao decatecolaminas endgenas em quantidades muito su-periores quelas contidas em tubetes anestsicos e,consequentemente, mais prejudiciais.

    A felipressina deve ser evitada em pacientesgrvidas por ser derivada da vasopressina e, teorica-mente, ter capacidade de levar contrao uterina.Noradrenalina na concentrao 1:25.000 e 1:30.000no devem ser usadas, tendo em vista o grande nme-ro de complicaes cardiovasculares e neurolgicoscausados por essa substncia, sendo a concentrao

    1:50.000 a mais indicada (De Castro et al., 2002).

    Discusso

    A anestesia em Odontologia, apesar da se-gurana atualmente garantida pelos anestsicos, merecereceber cuidados especiais na observao do estadode sade do paciente, da correta seleo do agente

    anestsico, do manuseio e conservao dos tubetesanestsicos e, principalmente conhecimento adequado

    das tcnicas anestsicas disponveis e suas variaes(Vieira; Gonalves; Agra, 2000). O cirurgio-dentistadeve estar sempre atento dosagem do anestsico localutilizado e aos sinais e sintomas apresentados pelo pa-

    ciente durante a realizao da anestesia (Souza; Faria,1991).

    O grau de toxicidade de um anestsico vai de-pender do tipo de droga utilizada e do estado de sadedo paciente. A ocorrncia de reao alrgica por anes-tsicos locais bastante rara, mas o paciente poderelatar histria pregressa de alguma reao interpretadacomo hipersensibilidade. Apenas 1% das reaes ad-versas que ocorrem em funo de uma anestesia repre-sentam este tipo de reao (Vieira; Gonalves; Agra,

    2000).A articana juntamente com a prilocana so osanestsicos que mais apresentam casos de parestesiasmandibulares, sendo os nicos comercializados na con-centrao de 4%. Tambm apresentam um risco 5xmaior de causar neuropatias e podem levar tambm metahemoglobinemia. A articana consegue prover umefeito semelhante, estatisticamente, quando comparadaaos outros anestsicos locais (Malamed, 2004; Mikesellet al., 2005).

    A mepivacana 3% sem vasoconstritor reco-mendada em pacientes nos quais no se indicam umvasocontritor e tambm em procedimentos que norequeiram anestesia pulpar de longa durao ou comgrande profundidade (Malamed, 2004). Mendona etal. (2003) verificaram que a mepivacana foi a drogamais utilizada nos procedimentos realizados na ClnicaIntegrada da Universidade de Feira de Santana-BA. Amaioria dos casos ficou dentro da dose mxima reco-mendada pela literatura e apenas dois pacientes apre-sentaram reaes adversas.

    Os agentes anestsicos novos (ropivacana elevobupivacana) podem ser considerados mais segurosque a bupivacana, lembrando que essa segurana no de 100%. A ropivacana apresenta menos reaesneurotxicas e cardiotxicas que a levobupivacana(Veering, 2003).

    A American Dental Asssociation e a AmericanHeart Association (1964) recomendam que ao pacientecardaco se d anestesia adequada ao ato cirrgico quedever ser realizado, pois os benefcios de uma boa

    anestesia superam em muito os riscos causados pelaanestesia sem vasoconstritor, onde a absoro da base

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    anestsica rpida e nem sempre consegue-se um per-feito bloqueio nervoso (Tortamano; Armonia, 2001).

    Em cardiopatas, consideram-se 54g de adre-nalina como dose limite por sesso (3 a 6 tubetes com

    concentraes respectivas de 1:100.000 e 1:200.000)(Ferreira, 1999). Uma vez associado o vasoconstrictor,a toxicidade sistmica desaparece. Brkovic, Torodovice Stojic (2005) sugeriram o uso da clonidina como alter-nativa mais segura para a adrenalina, uma vez que clo-nidina apresenta vantagens hemodinmicas em relao adrenalina.

    A felipressina sendo uma anloga sinttica davasopressina torna-se um potente vasoconstrictor coro-nariano, mesmo sem apresentar efeitos sobre a mus-

    culatura miocrdica. Em indivduos normais, isso nocausaria problema nenhum, mas em pacientes que a-presentam alguma deficincia da circulao corona-riana, a literatura tem mostrado que, mesmo em peque-nas doses, a vasopressina pode desencadear uma crisede angina neste paciente, com isquemia miocrdica.Poucos estudos foram realizados at o presente mo-mento para avaliar a sua dose crtica, o que deixa aindadvidas sobre seus reais efeitos no corao. Pacientesportadores de diabetes mellitus, esclerose mltipla eque fazem tratamento quimioterpico, apresentam umrisco mais alto de toxicidade sistmica causada pelosanestsicos locais (Faria; Marzola, 2001; Tortamano;Armonia, 2001; Ferreira, 1999; Al-Nasser, 2002).

    No tocante ao uso dos anestsicos locais emgestantes, conforme a literatura, a substncia maisapropriada a lidocana a 2% (De Castro et al., 2002).Todavia, segundo Malamed (2004) deve-se estar sem-pre atento dose mxima de drogas administradas,quer sejam bases anestsicas, quer sejam vasocons-tritores. Nos casos de tratamento invasivo no-emer-

    gencial deve-se postergar para aps o nascimento dacriana. Caso no seja possvel adiar, dever ser reali-zado, preferencialmente no segundo trimestre da gra-videz (De Castro et al., 2002).

    Concluso

    Com base no exposto, conclui-se que impor-

    tante ao cirurgio-dentista conhecimentos dos aspectosfarmacolgicos dos anestsicos locais, suas principais

    indicaes e contra-indicaes, alm das possveis rea-es locais e sistmicas advindas do seu uso. Impres-cindvel se faz tambm a realizao de uma completaanamnese e do manejo adequado da tcnica escolhida,

    com a finalidade de oferecer ao paciente o melhoratendimento.

    REFERNCIAS

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