Suetholz Tese Pedagogia Do Violoncelo Aspectos de Reeducacao Corporal Revisado

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    UNIVERSIDADE DE SO PAULOESCOLA DE COMUNICAES E ARTES

    DEPARTAMENTO DE MSICA

    ROBERT JOHN SUETHOLZ

    A pedagogia do violonceloe aspectos de tcnicas de reeducao corporal

    So Paulo2011

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    ROBERT JOHN SUETHOLZ

    A pedagogia do violonceloe aspectos de tcnicas de reeducao corporal

    Tese apresentada ao Departamento deMsica da Escola de Comunicaes e Artesda Universidade de So Paulo para obtenodo ttulo Doutor em Artes

    rea de Concentrao: MusicologiaLinha de Pesquisa: Tcnicas Composicionaise Questes Interpretativas

    Verso corrigida a verso original encontra-se na Unidade que aloja o Programa

    Orientador: Prof. Dr. Eduardo Seincman

    So Paulo2011

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    Autorizo a reproduo e divulgao total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio

    convencional ou eletrnico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

    Catalogao na publicaoServio de Biblioteca e Documentao

    Escola de Comunicaes e Artes da Universidade de So Paulo

    Suetholz, Robert JohnA pedagogia do violoncelo e aspectos de tcnicas de reeducao

    corporal / Robert John SuetholzSo Paulo : R. J. Suetholz, 2011.141 p. : il.

    Tese (Doutorado)Escola de Comunicaes e Artes / Universidade

    de So Paulo.Orientador: Prof. Dr. Eduardo Seincman

    1. Violoncelo 2. Pedagogia musical 3. Conscincia corporal4. Reeducao corporal I. Seincman, Eduardo II. Ttulo.

    CDD 21.ed.787.3

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    Para Raquel, pelo carinho,

    incenti vo e presena marcante na mi nha vida.

    Para Al exandre, minha extenso de vida.

    Para meus pais, que me deram vida.

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    AGRADECIMENTOS

    Ao Prof. Dr. Eduardo Seincman, que gentilmente me acolheu, acatando meu projeto,

    orientando-me, passo a passo, para concluir este trabalho com xito.

    A Meryelle Maciente, ex-aluna de violoncelo, que atenciosamente disponibilizou seu tempo

    para realizar inmeras revises deste trabalho. Muito obrigado pela pacincia e pelas

    sugestes sempre pertinentes.

    A Araide Sanches, pela cuidadosa reviso final.

    Aos profissionais de reeducao corporal, Hlio Ramos de Oliveira Jnior (Tcnica de

    Alexander), Ricardo Osse (Mtodo Feldenkrais), Josivnia Rodrigues da Costa (Mtodo

    Pilates), Fernanda Fusco Barbour (RPG), Alfeu Ruggi (Mtodo Rolfing) e Andr De Rose

    (Yoga), pela dedicao e profissionalismo durante as aulas/sesses e pela gentileza ao

    concederem as entrevistas.

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    RESUMO

    SUETHOLZ, Robert John.A pedagogia do violoncelo e aspectos de tcnicas de reeducao corporal . 2011.

    141f. Tese (Doutorado) Departamento de Msica, Escola de Comunicaes e Artes,Universidade de So PauloSo Paulo, 2011.

    O objetivo desta pesquisa esclarecer as vrias possibilidades de chegar a um modo mais

    natural e equilibrado de tocar o violoncelo. Inicialmente, o panorama geral da pedagogia e

    tcnica violoncelstica foi analisado com a finalidade de determinar concluses e opinies a

    respeito de recursos pedaggicos atuais, somados aos conhecimentos prprios do autor. Emseguida, houve uma pesquisa bibliogrfica e dos meios eletrnicos sobre seis tcnicas de

    reeducao corporal, sendo que, em mdia, dez aulas particulares para cada tcnica foram

    realizadas pelo autor. Foram tambm analisadas informaes sobre o aumento da ocorrncia

    de danos fsicos no meio musical, bem como sobre o corpo dos atletas e seus cuidados. Todas

    as informaes colhidas serviram de base para uma discusso, visando construo e a

    elaborao de uma proposta de uma nova pedagogia para os violoncelistas, buscando um

    funcionamento mais natural do corpo e auxiliando no combate das posturas viciosas, a fim de

    evitar danos fsicos futuros aos executantes deste instrumento.

    Palavras-chave: Pedagogia do violoncelo, Conscincia corporal, Yoga, Tcnica de Alexander,Mtodo Feldenkrais, Mtodo Pilates, Rolfing, Reeducao postural global (RPG).

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    ABSTRACT

    SUETHOLZ, Robert John.Violoncello pedagogy and aspects of corporal reeducation techniques. 2011. 141p.

    Thesis (Doctoral)Departamento de Msica, Escola de Comunicaes e Artes, Universidadede So PauloSo Paulo, 2011.

    The object of this work is to suggest various possibilities to arrive at a more natural and

    balanced mode of playing the violoncello. Initially, the general panorama of violoncello

    pedagogy and technique was analyzed in order to determine conclusions and opinions with

    regard to pedagogical resources today, together with the personal knowledge of the author.Next, six methods of corporal reeducation were researched, through bibliographic and

    electronic means, with the author participating in an average of ten private lessons in each

    technique. Information with regard to the increasing occurrence of physical injuries in the

    musical class was also analyzed, as well as that pertaining to athletes bodies and their care.

    All information garnered served as the basis for a discussion aimed at the construction and

    elaboration of a proposal of a new violoncello pedagogy that strives for a more natural

    functioning of the body and helps combat detrimental postures, so that future injuries tovioloncellists may be avoided.

    Keywords: Violoncello pedagogy, Somatic conscience, Yoga, Alexander technique,Feldenkrais method, Pilates method, Rolfing, Global postural reeducation (GPR).

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    Sumrio

    INTRODUO ............................................................................................................... 11

    PARTE IA PEDAGOGIA DO VIOLONCELO ...................................................... 13

    1. FUNDAMENTOS ....................................................................................................... 13

    1.1.RELAO ENTRE O INSTRUMENTO E O CORPO ................................ 13

    1.1.1. Postura Inicial .................................................................................. 13

    1.1.2. Posio do Instrumento ................................................................... 14

    2. CONSOLIDANDO A POSIO DO BRAO DIREITO ..................................... 18

    2.1. COMO SEGURAR O ARCO ........................................................................ 18

    2.1.1. Posio e Movimento de Brao e Pulso .......................................... 18

    2.1.2. Posio e Movimento de Mo e Dedos ........................................... 20

    2.2.MOVIMENTANDO O ARCO ...................................................................... 22

    2.2.1. Mudando a Direo do Arco ........................................................... 22

    2.2.2. A Importncia dos Crculos ............................................................. 232.2.3. Mudanas de Corda ......................................................................... 25

    2.2.4. Relao entre as Cordas Agudas e Graves ...................................... 26

    3. PRINCPIOS DA PRODUO DE SOM NO VIOLONCELO ............................ 27

    3.1. DINMICAS ................................................................................................. 27

    3.1.1. Ponto de contato, Presso e Velocidade .......................................... 27

    3.1.2. Opes de Timbre ........................................................................... 28

    3.2. TIPOS DE ARTICULAO ......................................................................... 29

    3.2.1.Legato.............................................................................................. 29

    3.2.2.Detach............................................................................................ 30

    3.2.3.Martellato........................................................................................ 30

    3.2.4. Staccato........................................................................................... 313.2.5. Tcnicas de Arco (Golpes) Fora da Corda ...................................... 31

    3.3. RELAO ENTRE PONTO DE CONTATO E POSIO

    DA MO ESQUERDA ......................................................................... 33

    4. CONSOLIDANDO A POSIO DA MO ESQUERDA ..................................... 34

    4.1. POSIO E MOVIMENTO DE: .................................................................. 34

    4.1.1. Mo e Dedos .................................................................................... 34

    4.1.2. Brao e Pulso ................................................................................... 384.2. AS POSIES ............................................................................................... 39

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    4.2.1. A Organizao do Espelho .............................................................. 39

    4.2.2. Posies Inferiores .......................................................................... 40

    4.2.3. Posies de Transio ..................................................................... 41

    4.2.4. Posies Superiores ......................................................................... 44

    4.3. UMA NOVA ABORDAGEM DO ESPELHO .............................................. 45

    5. TOCANDO O VIOLONCELO ................................................................................ 47

    5.1. MOVIMENTAO EM TODA A EXTENSO DO ESPELHO ................ 47

    5.1.1. Mudanas de Posio ...................................................................... 47

    5.1.2. Dedilhados ....................................................................................... 49

    5.2. VIBRATO ...................................................................................................... 50

    PARTE IISEIS TCNICAS DE REEDUCAO CORPORAL .......................... 53

    1. A TCNICA DE ALEXANDER ............................................................................... 53

    1.1. Descrio ........................................................................................................ 53

    1.2. Entrevista ....................................................................................................... 57

    1.3. Aspectos Relevantes ...................................................................................... 58

    2. A TCNICA DE FELDENKRAIS ............................................................................ 60

    2.1. Descrio ........................................................................................................ 60

    2.2. Entrevista ....................................................................................................... 64

    2.3. Aspectos Relevantes ...................................................................................... 65

    3. O MTODO PILATES .............................................................................................. 69

    3.1. Descrio ........................................................................................................ 69

    3.2. Entrevista ....................................................................................................... 73

    3.3. Aspectos Relevantes ...................................................................................... 74

    4. REEDUCAO POSTURAL GLOBAL (RPG) ..................................................... 76

    4.1. Descrio ........................................................................................................ 76

    4.2. Entrevista ....................................................................................................... 78

    4.3. Aspectos Relevantes ...................................................................................... 79

    5. O MTODO ROLFING DE INTEGRAO ESTRUTURAL ........................... 81

    5.1. Descrio ........................................................................................................ 81

    5.2. Entrevista ....................................................................................................... 83

    5.3. Aspectos Relevantes ...................................................................................... 85

    6. YOGA .......................................................................................................................... 866.1. Descrio ........................................................................................................ 86

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    6.2. Entrevista ....................................................................................................... 89

    6.3. Aspectos Relevantes ...................................................................................... 90

    CONCLUSES ............................................................................................................... 98

    REFERNCIAS .............................................................................................................. 103

    APNDICE ...................................................................................................................... 114

    ANEXOS .......................................................................................................................... 116

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    INTRODUO

    Os violoncelistas profissionais trabalham muitas horas por dia, por vezes de 8 a 10

    horas, sem se preocuparem com sua sade fsica e mental. Demasiadamente sedentrios,

    esquecem, por vezes, que seus corpos possuem limites. Normalmente consideram suficiente

    praticar algumas escalas, arpejos ou estudos ao aquecerem. Mas quando os comparamos aos

    atletas como, por exemplo, os de futebol ou basquete, que tambm lidam diariamente com

    seus corpos, constatamos um tratamento melhor por parte destes: praticam exerccios dirios

    de aquecimento de todo o corpo e, em seguida, os complementam com alongamentos

    especficos. Do mesmo modo, necessrio que os msicos conheam melhor seus corpos a

    fim de tomar os cuidados necessrios quanto sade fsica, emocional e profissional.Durante minha carreira como violoncelista e professor, tenho observado excelentes

    msicos sofrerem com problemas fsicos decorrentes da falta de um maior conhecimento de

    seus prprios corpos. Pessoalmente, tive problemas na coluna vertebral devido a esses

    mesmos motivos. Para solucion-los, foi necessrio buscar uma maneira mais natural e

    equilibrada de tocar, o que me levou a adotar duas abordagens principais com vistas a uma

    boa execuo musical: a anlise minuciosa da tcnica do violoncelo relacionando-a, por sua

    vez, a algumas das principais tcnicas de reeducao corporal adotadas nos dias de hoje.O objetivo desta pesquisa , portanto, esclarecer as vrias possibilidadesde se chegar a

    um modo natural e equilibrado de tocar o violoncelo, por meio de uma conscincia corporal

    mais apurada e um conhecimento maior da tcnica do instrumento. Minha prtica e

    experincia mostraram que quando o domnio da tcnica do violoncelo tem como substrato o

    estudo organizado e metdico do corpo humano, o resultado um desempenho musical com

    maior qualidade sonora e desenvoltura, valorizando-se assim os prprios contedos artsticos.

    As tcnicas de reeducao corporal aqui tratadas so: Alexander, Feldenkrais, Yoga,Reeducao Postural Global (RPG), Rolfing e Pilates. Nas referncias bibliogrficas, alm

    dos ttulos relativos a estas tcnicas, encontram-se outras obras e artigos pedaggicos de

    interesse quanto ao assunto em questo.

    O trabalho dividido em duas sees principais: na Parte I A PEDAGOGIA DO

    VIOLONCELO, so abordados tpicos importantes relativos tcnica de execuo no

    violoncelo; na Parte II TCNICAS DE REEDUCAO CORPORAL, traamos um

    panorama geral das seis tcnicas de reeducao e sua utilidade para o desempenho adequado

    do instrumentista, tendo em vista questes ergonmico como o funcionamento e a tomada de

    conscincia corporal.

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    Ao integrar as questes musicais e corporais, ou seja, a tcnica do violoncelo ao

    estudo da reeducao corporal, estaremos caminhando na direo de propostas tcnicas e

    pedaggicas inovadoras. Desta forma, este trabalho servir de guia no apenas para os

    instrumentistas de violoncelo, mas de cordas em geral, auxiliando-os no combate s posturas

    viciosas, promovendo a aquisio do conforto fsico durante a execuo musical e dando

    condies para que desenvolvam sua plena capacidade artstica e criativa.

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    PARTE IA PEDAGOGIA DO VIOLONCELO

    1. FUNDAMENTOS

    1.1. RELAO ENTRE O INSTRUMENTO E O CORPO

    1.1.1. Postura Inicial

    consenso geral, entre os violoncelistas, que a postura inicial o elemento mais

    importante para se conseguir um modo equilibrado de tocar. Em geral, sugere-se que o

    violoncelista se sente na beirada da cadeira, com as costas retas, em posio equilibrada, aspernas separadas, os ps bem apoiados no cho e colocados um pouco frente dos joelhos

    que, por sua vez, devem ficar ligeiramente abaixo do nvel dos quadris. A coluna no deve se

    curvar para frente ou para trs e os ombros devem se manter em posio neutra, deixando o

    trax livre para facilitar a respirao. essencial uma pequena curva lombar. Acima dos

    ombros, o pescoo deve manter a cabea equilibrada. Pode-se imaginar uma linha vertical

    ligando as orelhas, os ombros e os quadris, para se encontrar uma posio de equilbrio

    perfeito. Dessa posio, deve ser possvel ficar de p, sem esforo, tambm em posioequilibrada. Isso no quer dizer que se deva ficar esttico, pois o movimento o fator que

    mais alivia as tenses durante a execuo do violoncelo, que se amolda ao corpo no momento

    em que o instrumentista encontra sua posio ideal. importante notar que o violoncelo que

    vem ao encontro do violoncelista e o ideal que este no precise se adaptar ao instrumento,

    pois isso pode prejudicar a posio de equilbrio previamente alcanada.

    Dentre as propostas pedaggicas examinadas, notam-se ligeiras variaes. William

    Pleeth escreveu que o uso natural do corpo com relao ao instrumento algo que deve seranalisado por todos os violoncelistas.1 Para consegui-lo, recomenda que se incline o corpo

    ligeiramente para frente, encontrando e abraando o instrumento, o que parece, primeira

    vista, ser conflitante com o que foi dito a respeito de se adaptar o instrumento ao

    violoncelista. No entanto, ao se examinar esse conceito com maior cuidado, torna-se evidente

    que, adicionando-se qualquer peso a um conjunto perfeitamente balanceado, necessrio

    colocar alguma forma de contrapeso para que o equilbrio total seja mantido. Porm, esse

    movimento do violoncelista em direo ao instrumento deve ser bastante sutil.

    1PLEETH, William. Cello.comp. and ed. Nona Pyron. New York: Schirmer Books, 1982, p. 148. Traduo nossa, como sotodas as tradues deste trabalho.

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    Victor Sazer recomenda que se posicione os ps [e as pernas] um pouco mais

    afastados que de hbito,2alm de citar opinies mdicas sugerindo que se utilize uma cadeira

    suficientemente alta para que haja um ngulo de 60 graus entre os quadris e o tronco. Desse

    modo, os ossos sobre os quais nos sentamos (os squios) permanecero apontados diretamente

    para baixo e a plvis no se deslocar para trs, o que causaria um achatamento do diafragma

    e um colapso do peito, limitando a respirao completa. Ele sugere que uma das maneiras de

    se conseguir um ngulo maior entre as coxas e o tronco posicionar a parte posterior da

    cadeira com uma elevao de 15 ou 20 graus acima da parte frontal. Isso se consegue pelo uso

    de calos sob as pernas traseiras da cadeira ou pela utilizao de uma almofada dura, em

    forma de cunha, cerca de 5 centmetros mais alta na parte de trs.3 Essas sugestes so

    benficas, pois o peso do corpo fica melhor distribudo entre a cadeira e as pernas, aliviando apresso sobre as costas.

    A respirao igualmente um dos fatores mais importantes para eliminar o excesso de

    tenso, constituindo um aspecto essencial a todas as formas de meditao, artes marciais e

    esportes em geral. Msicos so como atletas, portanto a posio e a postura assumidas devem

    permitir respirao livre e liberdade de movimentos, eliminando grandes fontes de tenso.

    1.1.2. Posio do Instrumento

    Ivan Galamian escreveu: a relao do instrumento com o corpo, braos e mos deve

    ser tal que permita que todos os movimentos sejam confortveis e eficientes durante a

    execuo.4 Para se conseguir essa intimidade, necessrio considerar vrios fatores que

    permitem o posicionamento ideal do violoncelo em relao ao corpo.

    O primeiro o comprimento do espigo, que deve variar de acordo com a altura do

    violoncelista. Para encontrar a altura ideal pode ser til o auxlio de outra pessoa quanto aoposicionamento inicial do instrumento. Em geral, o fundo do violoncelo (no lado da corda

    D) deve descansar sobre o centro do peito, na poro mediana do esterno ou ligeiramente

    acima desse ponto. O brao do violoncelo deve ser colocado aproximadamente entre o ombro

    esquerdo e a linha do queixo. Assim, a voluta ficar atrs da cabea, com a cravelha da corda

    D em ligeiro contato com o pescoo (pouco abaixo da base do crnio). Os joelhos ficaro em

    2

    SAZER, Victor. New Directions in Cello Playing. Los Angeles: Ofnote, 1995, p. 54-58. Observaes baseadas no livro deNORRIS, Richard, M.D. The Musicians Survival Manual: A Guide to Preventing and Treating Injuries in Instrumentalists.St. Louis: MMB Music, 1993, p. 38-43.3Ibid., p. 54-58.4GALAMIAN, Ivan. Principles of Violin Teaching & Playing. Engelwood Cliffs, N.J.: Prentice Hall, 1962, p. 12.

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    contato com as laterais inferiores, com o esquerdo direcionado mais para o fundo do

    instrumento, fazendo contato com a quina do fundo do violoncelo (mas no atrs dele!).

    Desse modo, o violoncelo se inclinar um pouco para a direita, facilitando a execuo na

    corda L. O instrumentista poder modificar essa inclinao em sentido oposto para facilitar,

    por exemplo, o toque na corda D.

    Esse posicionamento far com que a rea do cavalete do violoncelo fique ligeiramente

    do lado esquerdo do centro do corpo, enquanto o instrumento se apoia sobre o meio do tronco.

    Note que, dependendo da estatura do violoncelista, essa posio sofrer ligeiras variaes. De

    qualquer modo, tanto o instrumento quanto o violoncelista no devem ficar em posio

    esttica durante a execuo. Tambm importante que se chegue a essa posio sem

    modificar a postura conseguida inicialmente, ou seja, no colocando o peito para dentro, neminclinando a cabea para frente. Dependendo da altura do espigo (mais alto = maior peso do

    violoncelo contra o peito), pode-se inclinar o tronco ligeiramente em direo ao instrumento

    para contrabalanar qualquer aumento de peso.

    Victor Sazer tem uma opinio diferente quanto a esse posicionamento, pois acredita

    que todo o violoncelo deveria ficar esquerda do centro do corpo, o que aumentaria a fora

    mecnica, permitindo o mecanismo de equilbrio de o corpo funcionar com maior

    liberdade.5

    Ao adotar essa posio, o brao direito no necessita se afastar tanto do corpopara alcanar a ponta do arco e toda a distncia percorrida, do talo ponta, tem o apoio das

    pernas. Sazer tambm sugere que essa posio permite melhor acesso do brao esquerdo ao

    instrumento. Para consegui-la, o violoncelo deve descansar em apenas trs pontos: o cho, o

    lado esquerdo do peito e o joelho esquerdo, sem que o joelho direito mantenha qualquer

    contato com o instrumento.

    Em todas essas teorias, h, a meu ver, pontos positivos e negativos. Positivamente, h

    o fato de que, em todas as cordas, o brao direito realmente ter maior fora mecnica, pois aperna direita ficar mais afastada, mantendo-se abaixo do brao direito, inclusive quando

    estiver tocando na ponta do arco. O posicionamento da perna direita tambm poder

    beneficiar o som devido eliminao do leve abafamento causado pelo seu contato com a

    poro inferior (lateral) do violoncelo. Esse tipo de posicionamento talvez seja uma boa

    soluo para os problemas encontrados pelos indivduos de menor estatura. Por outro lado,

    para se tocar no talo, o brao direito ter que se estender, de modo pouco natural, para o lado

    esquerdo do corpo. O brao esquerdo alcanar mais facilmente toda a extenso do espelho

    5SAZER, New Directions, p. 72, 79.

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    (sobretudo nas pessoas com braos mais curtos), porm, ao mesmo tempo, a potncia parecer

    menor, pois ele estar mais afastado do centro do corpo. William Pleeth 6 observa que

    qualquer pessoa que tente abrir um vidro com a tampa muito presa instintivamente o trar

    para mais perto do diafragma para conseguir a fora extra necessria. Por fim, acredito que o

    fato de o peso do instrumento se apoiar sobre o lado esquerdo do corpo inibe nosso

    mecanismo de equilbrio, porque a necessria compensao, que ocorre de forma natural,

    acontece de modo unilateral, resultando em maior tenso.

    consenso geral que o ngulo do violoncelo em relao ao cho deve evitar extremos.

    Vrias escolas de violoncelo recomendam, por diversas razes, ngulos diferentes. Defende-

    se um ngulo mais horizontal, como o utilizado pelo consagrado violoncelista francs Paul

    Tortelier, devido s inquestionveis vantagens oferecidas pela gravidade com odirecionamento mais vertical das mos, resultando em maior presso (por meio do peso) com

    menor esforo. Teoricamente, necessrio aplicar menos fora fsica durante a execuo, em

    virtude do fator gravitacional. O lado negativo desse posicionamento a altura em que devem

    ser mantidos ambos os braos (bem mais altos e afastados do corpo). Um ngulo mais vertical

    do violoncelo deixa os braos mais prximos do corpo, ao mesmo tempo negando alguns dos

    efeitos positivos da gravidade, pois o peso aplicado pelas duas mos est direcionado para o

    corpo do violoncelista. No entanto, muitos acreditam que esse um problema insignificante,pois os braos tm a tendncia natural de se aproximar do corpo.

    Creio que h mais um fator a ser considerado nesse caso: o peso do instrumento.

    Quando o ngulo mais horizontal, o resultado o aumento no peso sustentado pelo

    violoncelista que, ento, usa ativamente os msculos inferiores lombares, ou se inclina mais

    para frente, fazendo com que os ombros e a cabea repitam esse movimento. Esse problema

    pode ser minimizado se a pessoa se sentar mais no fundo da cadeira, utilizando o encosto para

    apoiar parte desse peso sem ter de usar ativamente um nmero maior de msculos ativos a fimde manter uma boa postura. Outra opo seria o uso de um espigo torto, em vez de reto,

    como o utilizado por Tortelier. Ao se utilizar um espigo torto, a quantidade de peso que o

    msico tem de sustentar muito menor. Na posio mais vertical, o peso do violoncelo

    mnimo no local em que entra em contato com o peito, sendo, portanto, mais fcil manter o

    equilbrio entre o instrumento e o tronco.

    A altura do espigo e o ngulo do violoncelo so escolhas muito pessoais, que devero

    ser feitas aps muita reflexo, avaliando-se os prs e os contras para se atingir um modo de

    11 PLEETH, Cello, p. 149.

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    tocar mais natural e livre de tenses. Ao tomar essa deciso, tambm devem ser considerados

    com cuidado a posio relativa e o tamanho dos braos, mos e dedos.

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    2. CONSOLIDANDO A POSIO DO BRAO DIREITO

    2.1. COMO SEGURAR O ARCO

    2.1.1. Posio e Movimento de Brao e Pulso

    Como deve ser puxado e empurrado o arco? J se acreditou que a poro superior do

    brao no deveria se mover. Casals,7em seu livroJoys and Sorrows, afirma que na sua poca

    os alunos eram ensinados a tocar com o brao rgido. Colocava-se at um livro embaixo de

    sua poro superior a fim de assegurar movimentos independentes do antebrao. Porm, ele

    no adotava esta tcnica, preferindo utilizar livremente todo o brao. Qualquer violoncelista(instrumentistas de corda em geral) iniciante comea instintivamente puxando o arco com o

    brao inteiro, como uma unidade. Segundo Paul Rolland,8esse um movimento natural que

    deve servir de base para todos os movimentos subsequentes do brao direito.

    Sabe-se hoje que necessrio o uso do brao direito inteiro para puxar e empurrar o

    arco, e que este deve se manter to livre quanto o brao esquerdo. Porm, algumas escolas

    acreditam que o movimento dividido. A poro superior do brao se levanta at chegar ao

    meio do arco e o gesto tem continuidade at a ponta do arco apenas com o uso do antebrao.Contudo, h quem acredite que o movimento do brao deve ser contnuo, com ele abrindo e

    subindo o tempo todo at chegar ponta do arco. Em seguida, no retorno (o arco para cima) a

    movimentao do brao deve ser praticamente um espelho do gesto anterior. Segundo

    Maurice Eisenberg, ex-aluno de Casals:

    no possvel conseguir continuidade tonal a menos que o peso do braoseja distribudo por igual, e isso no pode ser feito quando as dobradiasso foradas a agir individualmente e quando as partes individuais do braoso tratadas como entidades separadas.9

    Creio que, dessa forma, o brao estar sempre pronto para transferir o seu peso para a corda,

    proporcionando mais apoio, equilbrio e liberdade.

    Para conseguir mais volume, necessria uma maior presso do arco sobre a corda,

    por meio da adio de mais peso do brao. Para isso, levantamos o cotovelo e giramos o brao

    (supinao) para que a unidade do brao funcione como uma espcie de alavanca. Com esse

    7CASALS, Pablo. Joys and Sorrows. New York, NY: Simon and Schuster, 1974, p. 40-41.8ROLLAND, Paul. The Teaching of Action in String Playing. Bloomington, IN: Tichenor Publishing, 2000, p. 90.9SMITH, Bret. Pedagogical Evolution: Evidence from the Cellist's Right Hand. 1996. Disponvel em:. Acesso em: 22 Nov. 2007.

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    movimento o polegar e o dedo indicador ficam significativamente mais solicitados,

    tensionando o suficiente para que o peso do brao seja transmitido para a corda em forma de

    presso. desnecessrio dizer que o pulso tambm deve tensionar um pouco para que esse

    peso seja transmitido corda. Alm disso, normal que seja mais difcil transmitir esse peso

    corda na parte superior do arco.

    De onde partem esses movimentos do brao? Por que mencionado peso em vez de

    presso, para se tocar mais forte?10Como tocar bem, com facilidade e sem esforo excessivo?

    Ao se lembrar que o brao inteiro deve ser empregado para se tocar o violoncelo, estas ideias

    ficam mais fceis de serem entendidas.

    Os movimentos ativos do brao tm origem nos msculos de sua parte superior e,

    principalmente, nas costas. Segundo Greenhouse (Tim Janof, Conversation with Bernard

    Greenhouse11), o peso do brao no o mais importante; o essencial manter esse peso

    ligado coluna, j que as costas tm grande influncia em nossa facilidade de tocar. Quando

    utilizamos mais as costas na hora de tocar, conseguimos uma sensao de liberdade e fora

    que no pode ser alcanada ao se tocar apenas com os braos, mos e dedos. Nesse caso os

    movimentos do antebrao, do pulso e da mo tornam-se relativamente passivos.

    O brao sempre utilizado por inteiro, pois cada movimento implica na cooperao

    dos msculos, das articulaes e dos tendes, como um todo. Esses movimentos so ajustesque devem acontecer, sobretudo, para manter o caminho do arco correto, formando um ngulo

    reto com a corda. Um fator importante, nesse gesto, o rolar do antebrao ao se utilizar o arco

    caminhando em direo ponta (pronao), e voltando para o talo (supinao). Deve-se

    sentir esse gesto como um movimento flexvel e, ao mesmo tempo, firme. O ombro no deve

    sair de seu lugar natural e equilibrado, movimentando-se para frente ou para trs, para cima

    ou para baixo.

    Utiliza-se apenas a fora muscular necessria para comunicar o peso do brao corda,mantendo o pulso no muito dobrado, o polegar como ponto de apoio (um fulcro ou eixo),

    suficientemente forte para contrariar a presso do dedo indicador, por cima do arco, por onde

    o peso do brao para a corda transmitido. Quando o antebrao se movimenta no sentido de

    pronao (cotovelo alto) para comunicar mais peso para a corda, as articulaes e msculos

    devem se contrair o suficiente para manter a unidade do brao.

    10Acredito que o violoncelista que pensa em presso, em vez de peso, automaticamente aumenta sua tenso, esforando-sedemasiadamente.11JANOF, Tim. Conversation with Bernard Greenhouse. Internet Cello Society - 11/28/1998. Disponvel em:. Acesso em: 22 Nov. 2007.

    http://www.cello.org/Newsletter/Articles/greenhouse.htmhttp://www.cello.org/Newsletter/Articles/greenhouse.htm
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    O pulso deve funcionar muito mais como mediador entre o resto do brao, a mo e o

    arco, apenas ajudando a manter o arco reto na corda. A mo no deve sofrer grande alterao

    em relao ao arco ao se passar este na corda do talo para a ponta. o pulso que torna isso

    possvel, elevando-se um pouco (relativamente) no talo e gradativamente curvando-se para

    baixo, ficando reto, ou at mesmo um pouco abaixo da linha formada pelo antebrao e pela

    mo, na medida em que se chega at a ponta do arco. Ao movimentar o arco da ponta ao

    talo, acontece o inverso. O pulso no deve ficar ativo demais e, ao mesmo tempo, deve se

    manter sempre flexvel, como uma mola.

    Para se conseguir um pulso flexvel necessrio que a mo e os dedos tambm

    estejam flexveis. Se os dedos estiverem rgidos, o pulso ficar tenso. Para que se mantenha a

    passividade relativa da mo e dos dedos, necessrio segurar o arco com leveza.

    2.1.2. Posio e Movimento de Mo e Dedos

    Para achar a posio dos dedos no arco, pode-se comear esticando o antebrao direito

    para frente, deixando a mo relaxada, como que pendurada pelo pulso, com o cotovelo

    igualmente relaxado, como se estivesse pendurado pelo brao. No livro de Paul Rolland 12

    sugerido manter o brao relaxado ao lado do corpo, com a mo e os dedos pendurados deforma natural. Nessa posio, os dedos praticamente no se separam e o polegar fica do lado

    de fora da palma da mo (ao lado do dedo indicador). Segundo Rolland, a mo e os dedos

    ficam levemente arredondados, como se estivessem segurando uma bola. Em seguida, deve-se

    pegar o arco com a mo esquerda e coloc-lo na mo direita relaxada, ajustando os dedos da

    seguinte maneira: o dedo mdio deve ter sua ponta sobre o anel do talo; a ponta interna

    direita do polegar ao lado do dedo indicador deve ser colocada do lado oposto do arco, no

    espao entre o final do talo e o incio do couro, encaixado na junta da baqueta com o talo.Deve-se mant-lo sempre levemente dobrado.

    A funo do dedo indicador levantar o arco e transmitir o peso do brao, por isso ele

    deve se curvar levemente em volta da baqueta.Seu contato com a parte superior da baqueta

    deve se dar na segunda falange, mais perto da articulao central, porm sem ultrapass-la. Os

    dedos anular e mnimo devem ficar ao lado do dedo mdio, com a ponta da ltima falange do

    dedo mnimo em contato com a lateral do talo. As pontas do dedo mdio e anular devem

    estar niveladas com o final do talo e todos os dedos devem estar curvos. importante sentir

    12ROLLAND, The Teaching of Action, p. 81.

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    os dedos levemente separados e em contato com a lateral do talo (com exceo do dedo

    indicador). Os dedos indicador e mnimo, juntamente com o polegar, trabalham para

    equilibrar as foras de supinao (dedo mnimo) e pronao (dedo indicador), com o polegar e

    os dedos mdio e anular agindo como uma espcie de apoio (eixo). Nenhum dos dedos deve

    estar reto ou rgido, pois isso prejudicaria o senso de tato e, portanto, a comunicao das

    vibraes das cordas para os dedos. Com a mo e os dedos flexveis, os movimentos do brao

    so economizados nas trocas de cordas.

    Ao esticar demais o polegar, como ensinam algumas escolas, creio que os

    violoncelistas prejudicam a flexibilidade da mo. verdade que esse dedo ficar naturalmente

    menos dobrado ao se tocar na ponta do arco. Porm, acredito ser melhor no estic-lo ao

    ponto de travar a articulao do meio, a menos que se queira utilizar mais peso do brao parase conseguir mais som. Do mesmo modo, o dedo indicador no deve estar tenso demais ao

    transmitir o peso do brao para a corda, a ponto de ficar reto e/ou rgido. Os dedos devem

    buscar imitar pequenas molas.

    claro que no existe uma nica maneira de se segurar o arco. Cada escola recomenda

    seu modo preferido, s vezes colocando toda a mo mais frente, por exemplo, com a ponta

    do dedo anular em contato com o anel do talo, como sugerido por Bunting.13Outras escolas

    avanam somente o dedo indicador, mantendo a mo um pouco inclinada na direo destededo, com o polegar estendido.

    Em minha opinio, desejando maior volume de som, em detrimento da flexibilidade

    dos dedos, melhor separar um pouco mais todos os dedos da mo, em vez de avanar

    somente o dedo indicador. Ao mesmo tempo, o polegar poderia ser utilizado de forma mais

    reta. Essa prtica comunica melhor o peso, com maior facilidade e segurana.

    Para obter maior flexibilidade adotei, para segurar o arco, a forma descrita no primeiro

    pargrafo deste subitem. Um meio termo tambm pode ser adotado, a fim de se obter maispeso, sem perder muita flexibilidade nos dedos. Nesse caso, a ponta do dedo mdio deve ficar

    em contato com a crina e o anel, ou mesmo somente em contato com a baqueta, ajudando o

    dedo indicador na hora de levantar o arco. O dedo anular fica no anel e o dedo mnimo ir

    cobrir o olho de madreprola na lateral do talo. A mo e todos os dedos devem continuar

    curvos. Nesta posio, o polegar ficar mais para dentro da mo, entre o dedo mdio e anular,

    facilitando o trabalho no momento de transmitir mais peso ao arco e evitando cansao

    excessivo.

    13BUNTING, Christopher. Essay on the Craft of Cello Playing, vol. 1. London: Cambridge University Press, 1982, p. 17.

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    Acredito que esta tcnica seja vivel e pode dar bons resultados, mantendo a maior

    parte das vantagens que se tm com a mo mais para trs, como a flexibilidade, e oferecendo

    ainda outras, como maior facilidade de se aplicar peso corda. Essa posio pode ser

    especialmente indicada para pessoas com brao mais curto, pois elas no tero de estender

    tanto o brao quando estiverem tocando na ponta do arco.

    2.2. MOVIMENTANDO O ARCO

    2.2.1. Mudando a Direo do Arco

    Victor Sazer14sugere usar o arco enviesado, mantendo a ponta voltada para cima ao

    puxar o arco para baixo, e a ponta voltada para baixo ao lev-lo para cima.15Segundo ele, isso

    causa maior frico e, portanto, cria um maior volume de som do que ao puxar o arco sempre

    colocado a 90 graus em relao s cordas. Para ele, esses movimentos so naturalmente

    curvos, portanto mais confortveis e sem tenso, e o instrumento responde mais rapidamente,

    com um timbre mais focado e mais facilmente controlvel.

    Bunting16

    no concorda com seu colega (na verdade, so muito poucos os que oapoiam), escrevendo que esse tipo de angulao somente til para levar o arco mais para

    perto ou mais para longe do cavalete. Ao puxar o arco em direo ponta, do modo sugerido

    por Sazer, ele naturalmente se afasta do cavalete, e ao lev-lo em direo ao talo (mantendo

    a ponta voltada para baixo), o fenmeno se repete.

    Para aproximar o arco do cavalete quando ele estiver sendo puxado em direo ponta

    (arco para baixo), esta deve ser mantida voltada para baixo. Se quiser afastar o arco do

    cavalete no arco para baixo, a ponta deve ser voltada para cima. Na direo contrria (arcopara cima), a ponta deve ser mantida para cima para aproximar o arco do cavalete e vice-

    versa.

    Portanto, ao adotar a maneira sugerida por Sazer, o instrumentista despender mais

    esforo apenas para manter o mesmo ponto de contato do arco com a corda. Talvez a frico

    14SAZER, New Directions, p. 94.15

    Tenho reparado no uso desta tcnica por muitos contrabaixistas, especialmente os que utilizam o arco alemo, peloencurtamento do brao resultante. Neste caso, a ponta do arco poderia subir no incio do arco para baixo, sempre descendoem direo ao cavalete no final da arcada. Normalmente a ponta continua para baixo durante todo o retorno, no arco paracima.16BUNTING, Essay on the Craft, vol. 1, p. 25.

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    realmente seja maior, mas creio que isso no resultar em maior volume de som, muito menos

    em um som mais focado.

    2.2.2. A Importncia dos Crculos

    Dentre os autores pesquisados, Victor Sazer, Emil Krall e Cristopher Bunting (seo

    de looping), enfatizam a necessidade da execuo de curvas no vaivm do arco. Segundo eles,

    sempre necessrio um movimento preparatrio antes de iniciar qualquer movimento. Victor

    Sazer17 oferece o exemplo de pessoas jogando bola com as mos, lembrando que, antes de

    arremess-la, o brao vai naturalmente para trs.

    Pode-se notar que, ao movimentarmos o brao direito rapidamente em linha reta,gastamos muita energia na hora de mudar sua direo. Mas quando esse movimento

    realizado em forma de pequenos crculos, a mudana de direo ocorre com maior facilidade.

    Parar totalmente um movimento em uma direo (frear) mais difcil do que realizar um

    movimento contnuo em crculos. O executante pode observar que movimentos naturais so

    sempre curvos e contnuos. No movimento de vaivm do arco, a volta no precisa ser

    necessariamente o espelho da ida, pois talvez seja desejvel a mudana da altura do pulso.

    Outra tcnica circular, sugerida por Emil Krall18

    e Victor Sazer,19

    pode ser til paraminimizar interrupes ao mudar a direo do arco. Deve haver duas alturas de brao e/ou

    pulso em cada corda. Por exemplo, ao puxar o arco em direo ponta, o brao deve ficar

    mais alto, resultando no contato da crina do lado esquerdo da corda, mais perto da corda

    superior e, na direo contrria, o brao deve ficar mais baixo (ou apenas a mo ou antebrao

    poderiam ficar mais baixos), com o contato da crina do lado contrrio da corda, mais perto da

    corda inferior. Isso facilitaria as mudanas de direo, resultando em trocas de arco

    conectadas, realizadas sem rudos indesejveis e sem interrupo do som. Dessa forma osgestos das mudanas de direo do arco descrevem o nmero 8 na vertical. A explicao

    bastante plausvel de Krall que, dessa forma, na mudana de direo do arco possvel

    achar um ponto morto do lado da corda em que a crina no esteja em contato e, com isso,

    facilitar a retomada da vibrao da corda aps a troca de direo, diminuindo assim a

    interrupo do som.

    17SAZER, New Directions, p. 99.18KRALL, Emil. The Art of Tone-Production on the Violoncello. 2nded.New York: Charles Scribners Sons, 1917, p. 34-36.19SAZER, New Directions, p. 97.

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    Realizei testes nos quais ficou provado que essa tcnica realmente ajuda a minimizar

    os rudos nas trocas de direo do arco, facilitando o reincio das vibraes da corda na nova

    arcada. A tcnica funciona igualmente bem se for realizada ao contrrio, iniciando-se do lado

    direito da corda no arco para baixo e do lado esquerdo da corda no arco para cima. Ao

    executar esta tcnica prefiro utilizar a altura de brao, junto com o seu respectivo rolar, para

    subir ou descer o antebrao. Creio que algumas das escolas de arco que pregam uma tcnica

    com um pulso baixo, quando o arco for puxado em direo ponta, e um pulso alto quando

    empurrado em direo ao talo, podem ter se baseado nesta ideia.

    Segundo Sazer, se o brao estiver na mesma altura em cada direo do arco ou se o

    arco estiver no mesmo ponto da corda (por exemplo, sem mudar de lado para procurar o ponto

    morto), uma das notas soar mais fraca do que a outra. Assim, ao se puxar o arco em direo ponta, o som resultante seria mais forte do que ao empurr-lo em direo ao talo. Em minha

    opinio, se o peso e velocidade forem iguais para cada arcada, independente da direo do

    arco, o volume no deve se alterar.

    Nesse mesmo contexto, Ida Roettinger20 sugere mudar o ngulo de contato da crina

    com a corda. Inicia-se o gesto no talo com toda a crina em contato com a corda. Ao chegar

    ponta, o arco deve estar levemente deitado para que o contato da crina acontea do lado do

    polegar (lado de dentro). Concomitantemente mudana de direo do arco, coloca-se toda acrina em contato com a corda. Chegando ao talo, o contato da crina ser com o lado dos

    dedos (lado de fora). Novamente, ao mudar a direo do arco, coloca-se toda a crina em

    contato com a corda. Dessa forma, os gestos das mudanas de direo do arco descrevem o

    nmero 8 na horizontal.

    Bunting descreve um procedimento bastante parecido, que ajuda manter o contato

    sensvel dos dedos, sem interromper o peso do brao por cima do arco, ao se mudar a direo

    do arco. DenominadaLooping,

    21

    uma tcnica na qual se usa o arco levemente inclinado emdireo ao espelho (com a baqueta voltada para a corda) ao puxar o arco em direo ponta,

    mas mantendo toda a crina em contato com a corda, com a ajuda do peso do brao. Ao chegar

    perto da ponta, o arco rolado para fora com o uso dos dedos (sem pulso), utilizando o

    polegar como a base do rolamento, de modo que a baqueta fique relativamente acima da crina

    enquanto o arco estiver sendo movimentado na direo do talo.

    Segundo ele, a angulao no sofre grande alterao, sendo de aproximadamente 85

    graus quando se puxa o arco em direo ponta, e de 90 graus no sentido contrrio. Afirma

    20ROETTINGER, Ida. Head Hand and Heart. Ann Arbor, MI: CushingMalloy, 2000, p. 24-28.21BUNTING, Essay on the Craft, vol. 1, p. 26-29.

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    que o valor dessa tcnica sobretudo psicolgico, devendo ser aplicada ao puxar o arco mais

    devagar em sons mais longos, e no nos rpidos em detach. Acredito que essa tcnica possa

    ser valiosa devido resultante movimentao circular (por menor que seja), porm deve-se

    concordar com sua afirmao de que a tcnica tem mais importncia psicolgica do que fsica.

    Em minha experincia, pode ser utilizada outra tcnica para amortecer as mudanas de

    direo do arco: enquanto os movimentos do arco, da mo e dos dedos continuam na mesma

    direo, o brao j deve comear a mudar de direo. Esse tipo de movimentao do pulso e

    dos dedos pode ser til na execuo de dinmicas mais fortes, pois, desse modo, fica mais

    fcil amenizar os rudos que normalmente ocorrem nas mudanas de direo do arco. Ao se

    tocar suavemente, em piano, no h tanta necessidade desse movimento circular, podendo-se

    apenas mudar a direo do arco.Outra tcnica vlida, que tambm pode ajudar na eliminao das interrupes nas

    mudanas de direo do arco, tambm envolve crculos. Ao trocar a direo do arco no talo,

    estica-se o dedo anular para que a ponta do arco desa, voltando posio e ngulo normal

    logo aps a realizao da mudana de direo. Ao mudar a direo na ponta do arco, empurra-

    se o talo para frente, ou puxa-se a ponta do arco para cima, com o mesmo dedo anular,

    voltando posio normal logo aps. Creio que nenhuma dessas tcnicas dever virar hbito,

    devendo ser utilizadas apenas quando necessrio.

    2.2.3. Mudanas de Corda

    Quando se troca de corda importante aproximar o arco da nova corda um pouco

    antes de toc-la,22 para que essa mudana seja o menos perceptvel possvel. Durante uma

    escala, recomendvel que o movimento seja contnuo, levantando o brao direito aos

    poucos, at chegar prxima corda. Por exemplo, em uma escala ascendente de D Maior,durante as notas D, R, Mi e F na corda D, sugiro aproximar o arco cada vez mais da

    corda Sol. Ao tocar na corda Sol, durante as notas Sol, L, Si e D, repete-se o processo

    anterior, aproximando-se aos poucos o arco da corda R, e assim por diante. Esse

    procedimento deve ser utilizado tanto nas notas destacadas quanto nas notas ligadas.

    Em uma execuo em que seja necessrio tocar em duas cordas alternadamente e com

    rapidez, deve-se manter a altura do brao estvel, na altura da corda superior ou na altura

    usada para tocar as duas cordas juntas. Se o andamento for mais lento, muda-se apenas a

    22No seu livro Essay on the Craft, vol.1, Bunting sugere que se inicie a aproximao por volta de 10 cm. antes da mudanade corda.

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    altura do brao, ou emprega-se a mistura das duas tcnicas. O brao, antebrao e a mo

    ajudam, assim, o arco a trocar de corda. Um bom exerccio para se observar e refletir sobre a

    troca de cordas encontra-se na pgina 30 do livro de Bunting (vol. 1).

    No ser diferente a maneira de tocar alternando-se entre duas, trs ou quatro cordas.

    O modo de execuo depende de alguns fatores, como a dinmica e principalmente o

    andamento. Se o andamento for rpido, requerendo movimentos rpidos e bruscos do brao

    para cima e para baixo, ou mudanas rpidas de direo do arco, ser necessrio diminuir o

    tamanho dos movimentos do brao. Em minha opinio, mais fcil utilizar o antebrao em

    movimentos e golpes rpidos do que o brao, devido ao seu peso e dificuldade resultante das

    mudanas de direo. mais fcil frear o antebrao do que o brao todo. Por isso, melhor

    manter a altura do brao mais estvel, permitindo sua rotao e pequenas diferenas de alturaquando necessrio, para que o antebrao possa subir ou descer para outras cordas.

    2.2.4. Relao entre as Cordas Agudas e Graves

    A relao entre as cordas agudas e graves depende da direo do arco. Como

    mencionado anteriormente, geralmente melhor manter o arco em ngulo reto com a corda

    (alinhado com o cavalete). Assim, o brao obrigado a fazer vrias combinaes demovimentos: para cima e para baixo, ou para o lado direito e esquerdo, a fim de tocar em

    todas as cordas de maneira coerente.

    Ao se tocar na corda D, o brao fica posicionado mais perto do corpo, mais baixo e

    mais para trs em relao sua posio ao tocar na corda L. Nesta ltima, a posio do brao

    fica mais alta, frente do corpo. Ao colocar a ponta do arco na corda D e levantar o brao

    em direo corda l, necessrio descrever uma espcie de meia lua, levantando e abrindo o

    brao, colocando a mo mais afastada e frente do corpo.Como normalmente seguramos o violoncelo para ter fcil acesso s duas cordas do

    meio, necessrio virar o tronco para a esquerda para facilitar a execuo na corda L e, da

    mesma forma, vir-lo para a direita a fim de facilitar o acesso corda D. Pode ser prefervel

    virar o violoncelo em vez do tronco como, por exemplo, quando se toca durante muito tempo

    nas cordas L e R, ou nas cordas Sol e D.

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    3. PRINCPIOS DA PRODUO DE SOM NO VIOLONCELO

    3.1. DINMICAS

    3.1.1. Ponto de Contato, Presso e Velocidade

    Todas as escolas ensinam que o arco deve ser colocado e movimentado, em geral, em

    ngulo reto com relao corda ou paralelamente ao cavalete. Se o arco estiver muito torto, o

    som produzido no ser limpo, puro ou bonito, contendo sujeiras ou rudos indesejveis

    decorrentes da vibrao instvel da corda. O ngulo do arco relativo ao cavalete pode e deve

    mudar a fim de aproxim-lo ou distanci-lo do cavalete.Muitas escolas tambm recomendam que a crina toda (na sua largura) esteja em

    contato com a corda. Desse modo, a baqueta nunca entrar em contato direto com a corda,

    pois sempre haver a crina entre ambos, evitando-se, assim, outros rudos, tais como o col

    legno(com a madeira), que no esto especificados na partitura. Por outro lado, na Stockholm

    Music Acoustics Conference (SMAC03),23realizada em 2003, foram apresentados dados de

    pesquisa comprovando que, quando o arco estiver levemente angulado, com a baqueta deitada

    em direo corda, consequentemente diminuindo a largura da crina em contato com esta, osom produzido torna-se mais livre e amplo, facilitando os ataques, especialmente no talo.

    Esse estudo foi realizado com violinos, e possvel que a diferena no seja muito

    significativa quando realizado no violoncelo.

    Como ponto de partida, considero prefervel a utilizao de toda a crina em contato

    com a corda, tanto na dinmica fortequantopiano, pois o som se torna mais encorpado. Por

    outro lado, preciso no nos limitarmos a tocar somente de uma nica maneira o tempo todo.

    Por exemplo, ao buscar uma dinmica pianoou pianssimo, podemos conseguir cores maisvariadas e bonitas colocando menos crina em contato com a corda, conjuntamente com a

    mudana da posio do arco para mais perto do espelho. Na hora de realizar um spiccato,

    tambm pode ser til virar levemente o arco para diminuir a quantidade de crina em contato

    com a corda, facilitando assim o seu controle.

    Quando se deseja um som com menor projeo, o arco deve ser colocado mais

    afastado do cavalete, ou seja, mais prximo do espelho. Do mesmo modo, o volume de som

    maior alcanado com o arco mais prximo do cavalete. Obviamente, no basta apenas

    23SCHOONDERWALDT, E.; GUETTLER, K.; ASKENFELT, A. Effect of the width of the bow hair on the violin stringspectrum. In: Proceedings of the Stockholm Music Acoustics Conference (SMAC03), Stockholm, 2003, p. 91-94.

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    mudar o lugar do arco relativo ao cavalete para obter dinmicas e cores diversificadas.

    Segundo Mantel,24para se conseguir maior volume necessrio que a presso do arco sobre a

    corda e sua velocidade sejam simultaneamente aumentadas. Por outro lado, podemos

    conseguir maior volume aumentando o peso e diminuindo a velocidade do arco ao tocar mais

    perto do cavalete, devido maior tenso e, consequentemente, maior resistncia da corda.

    Contudo, nos agudos emforteo som poderia ficar amassado ou engasgado, como se estivesse

    sendo enforcado, necessitando mais velocidade de arco com um pouco menos de peso para

    melhorar a qualidade sonora. Opianssimo, acima mencionado, soa melhor quando se coloca

    o arco prximo, ou mesmo por cima, do espelho com menos presso e mais velocidade, alm

    de se utilizar menos crina em contato com a corda. a dosagem correta desses trs fatores

    peso do brao, velocidade e localizao do arcoque nos possibilita produzir sons variadosno violoncelo, tanto no timbre quanto no volume.

    Cristopher Bunting25 oferece outro conceito, que denomina estratgia do arco,

    elaborando exerccios para se conseguir o controle absoluto da quantidade de arco e da

    presso (peso) aplicadas, quando se tocam notas de diferentes valores. Sugere, por exemplo,

    estudar grupos de notas de valor rtmico diferente com igual quantidade de arco para cada

    nota, prestando ateno para manter sempre constante a dinmica e o lugar relativo do arco

    em relao ao cavalete. Desse modo podemos usar, por exemplo, meio arco para uma colcheiae, em seguida, usar a outra metade do arco para uma mnima. Isso exige menos peso para

    tocar a nota curta, e mais peso para a nota longa.

    Cita ainda outro exemplo de estudo: utilizar um tero do arco para uma semnima,

    outro tero para uma semnima pontuada e o ltimo tero para uma mnima e vice-versa. A

    seguir sugere estudar utilizando quantidades de arco diferentes para notas de igual valor. Por

    exemplo, trs quartos de arco para uma mnima e um quarto para a mnima seguinte e vice-

    versa. Com isso, ele pretende aumentar o arsenal de recursos tcnicos para que se alcance umgrande domnio na distribuio do arco e, assim, cores e timbres mais variados no violoncelo.

    3.1.2. Opes de Timbre

    Segundo Bernhard Greenhouse, tocar com o arco mais prximo do cavalete produz um

    som com carter mais forte, muito maior do que o som obtido quando o arco situado no

    24 MANTEL, Gerhard. Cello Technique Principles & Forms of Movement. Translation by Barbara Haimberger Thiem.Bloomington: Indiana University Press, 1975, p. 121.25BUNTING, Essay on the Craft, vol. 1, p. 75-78.

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    meio do espao entre o cavalete e o espelho. Quando se toca forte nessa posio, tem-se a

    sensao sonora de que o violoncelo est sendo forado a fazer algo que no quer, como se

    estivesse gritando com a mo sobre a boca. A prioridade, de acordo com ele, conseguir uma

    enorme gama de cores tonais. No possvel ser totalmente expressivo sem possuir a

    capacidade de produzir uma ampla paleta de cores sonoras. A velocidade do arco, sua posio

    e a quantidade de peso so as trs coisas principais a serem alteradas no violoncelo, quando a

    finalidade variar as cores tonais ou matizes sonoros. O pintor mistura as cores na sua paleta

    e ns misturamos as nossas com o arco.26

    Em sua opinio, quando se aproxima o arco do cavalete, alm do volume, a principal

    alterao na cor tonal. Para ele, isso impressiona mais do que uma simples alterao para

    um volume maior. Lembra ainda que o arco deve funcionar sempre em conjuno com obrao esquerdo: o crescendo depende tanto da mo esquerda quanto do brao direito, pois

    ambos os braos trabalham juntos para criar a sonoridade.

    3.2. TIPOS DE ARTICULAO

    3.2.1.Legato

    O legato um tipo de articulao que requer um movimento uniforme do arco,

    podendo ser realizado tocando-se vrias notas ligadas ou em arcadas separadas. O objetivo

    maior fazer com que o violoncelo cante expressivamente. Para tanto, as mudanas de arco

    devem ser suaves e contnuas, evitando-se movimentos bruscos. Para se conseguir um som

    mais legato, interessante utilizar tcnicas de mudana de arco que minimizem os rudos

    indesejveis, tendo algumas j sido mencionadas anteriormente. Dois exemplos: podem serempregados crculos ou movimentos suaves dos dedos e pulso nas trocas de direo do arco; o

    ponto de contato do arco pode ser mantido prximo da corda de cima, ao puxar o arco em

    direo ponta, e modificado para um ponto mais perto da corda de baixo, ao empurrar o arco

    em direo ao talo.

    As mudanas de corda devem ser suaves, evitando-se sempre o portato (pequenas

    interrupes entre as notas) dentro das ligaduras, a menos que este tipo de articulao seja

    requerido pela msica. Se o portato for involuntrio, possvel corrigir o problema

    26JANOF, Conversation with Bernard Greenhouse.

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    localizando e resolvendo questes da mo esquerda. Em geral, o portatoinvoluntrio ocorre

    para encobrir deficincias da mo esquerda como, por exemplo, quando no se consegue

    realizar um vibrato sem interrupes nas trocas de dedos. Por outro lado, quando desejar,

    pode tambm ser utilizado para disfarar osglissandos indesejveis em algumas mudanas de

    posio.

    3.2.2.Detach

    Esse golpe de arco utilizado para notas separadas ou destacadas. De acordo com

    Hernrique Autran Dourado,27Leopold Auer entende esse golpe como uma sequncia de notas

    executadas continuamente, com a mnima interrupo no vaivm do arco. Em seu artigo, BretSmith28 lembra que a tcnica de movimentar o antebrao de modo independente da parte

    superior do brao (de modo seccionado), comumente usada no passado, ainda pode ser til

    nos dias de hoje, por exemplo, ao se tocar detachna parte superior do arco (do meio at a

    ponta).

    Essa tcnica traz melhores resultados quando a dinmica no muito forte e/ou para

    ritmos mais rpidos. Em uma dinmica mais forte, conveniente tocar na parte inferior do

    arco, utilizando o pulso e os dedos, juntamente com o movimento do antebrao. Essesmovimentos devem ser bem menores para fazer com que os gestos do arco aconteam com o

    peso do brao sempre na corda. Deve-se dobrar um pouco o brao direito e lev-lo mais para

    frente.

    3.2.3.Martellato

    Segundo Dourado,

    29

    martellato, ou martel, que quer dizer martelado com vigor, deveser executado com movimentos rpidos e curtos sobre a corda. Esse um golpe percussivo,

    com o incio e o fim de cada nota bem definidos. Ele realizado por meio de dois elementos

    bsicos: o peso do brao na corda e o ataque enrgico. conveniente iniciar o golpe com o

    arco na corda e dar uma espcie de mordida (com o peso do brao) no incio de cada nota.

    Para deixar o arco se movimentar o peso deve ser logo aliviado, voltando ao peso inicial no

    final do golpe para conseguir um fim de nota bem definido.

    27DOURADO, Henrique Autran. O Arco dos Instrumentos de Cordas. So Paulo: Edicon, 1998, p. 95.28SMITH, Pedagogical Evolution, p. 4-5.29DOURADO, O Arco dos Instrumentos de Cordas, p. 101.

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    3.2.4. Staccato

    Essa tcnica pode ser realizada tocando-se uma srie de notas marteladas na mesma

    arcada, ou em arcadas separadas, sempre na corda. A maior diferena entre staccatoe martel

    em arcadas separadas encontra-se no final de cada nota. No staccato,o som no fim de cada

    nota no to definido quanto no incio. O incio das notas apresenta a mesma definio do

    martel, porm com menos vigor, menos percussivamente. Muitos alunos confundem esta

    tcnica (sempre com o arco na corda) com a de spiccato (com o arco pulando para fora da

    corda). Do mesmo modo, acreditam que as notas executadas em staccato, articulao

    geralmente indicada por pontos colocados logo acima das notas, devem ter metade da duraode som do valor escrito. Creio que essa regra no deve ser seguida cegamente em todos os

    casos, pois a durao das notas depende de vrios fatores, como, por exemplo, estilo musical,

    a velocidade e o carter da msica.

    3.2.5. Tcnicas de Arco (Golpes) Fora da Corda

    Os golpes fora da corda incluemstaccato volante,spiccato,spiccato volante,sautillericochet (jet) e exigem um conhecimento mais apurado do funcionamento do arco. Segundo

    Bunting,30 preciso entender como o arco se comporta no ricochet. Nesse golpe, joga-se o

    arco em cima da corda com o brao sustentado ligeiramente mais alto do que o normal, para

    que o arco salte naturalmente. O arco curvo e elstico, e se o executante permitir ele saltar.

    Alm da elasticidade do arco, ainda deve-se considerar a crina e as cordas, igualmente

    flexveis.

    Esses dois aspectos devem ser dominados, pois ao se utilizar mais crina, o arco saltamais e, portanto, fica mais difcil control-lo. Se o ngulo do arco for modificado, deitando-o

    no sentido do espelho, por exemplo, possvel diminuir a quantidade de crina que entra em

    contato com a corda, o que torna o arco menos propenso a pular e, portanto, mais fcil de ser

    controlado. Esse um importante fator de controle na hora de realizar golpes fora da corda;

    outro o ponto de contato do arco na corda. A elasticidade da corda, como j foi mencionado,

    se altera de acordo com seu comprimento, determinado pela posio dos dedos da mo

    esquerda, e sua espessura. Quanto mais prximo do cavalete, menos flexvel a corda, e

    30BUNTING, Essay on the Craft, vol. 1, p. 42-62.

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    quanto mais perto do centro, mais elstica e mole. Dessa forma, o arco saltar mais quando o

    ponto do contato estiver mais prximo do cavalete e, menos, quando estiver mais distante.

    Bunting prope uma tcnica para a aprendizagem de spiccato (via o ricochet), que

    consiste em jogar o arco radialmente na corda Sol de uma distncia relativa de 45 graus.

    Deve-se levantar a ponta do arco com os dedos e jog-lo sobre a corda, permitindo que ele

    salte em direo ponta do arco at parar naturalmente, sem nenhum controle ou auxlio. O

    autor pede que se repita vrias vezes esse procedimento, at a dissipao dos saltos se tornar

    natural. Prope que se note como o arco salta menos quando se usa menos crina (com o arco

    segurado em ngulo). Quando o procedimento se tornar mais natural, deve-se permitir que o

    arco pule menos vezes, por exemplo, apenas cinco, e assim por diante. Em seguida, deve-se

    repetir tudo iniciando os saltos na ponta do arco em direo ao talo. Por ltimo ele sugeremudar a direo do arco enquanto o arco estiver saltando, sempre deixando que os saltos

    parem de maneira natural.

    Prope tambm exerccios que incluam arpejos, utilizando as quatro cordas. Para isso,

    deve-se imaginar dois grupos de cinco fusas em 4/8, com pausas de semicolcheia pontuada

    entre cada grupo. Depois de dominado o exerccio pela utilizao de variaes como escalas e

    arpejos, deve-se tocar tercinas de fusas e, mais adiante, trs fusas em 4/16 com um leve acento

    na terceira nota de cada grupo (arpejos, escalas). O exerccio seguinte dever ser realizadotocando-se apenas duas fusas e, por fim, uma nota para cada salto, que o incio dospiccato.

    Essa uma excelente forma de aprender esse golpe, pois necessrio saber como o arco

    funciona e conseguir acompanhar seus saltos, tanto passiva quanto ativamente, para se

    conseguir um bomspiccato.

    possvel iniciar o spiccatopartindo da corda ou fora desta, dependendo do tipo de

    articulao que se deseja. Deve-se salientar que, ao fazer msica em grupo, fica mais fcil

    quando o spiccato for iniciado a partir da corda. Staccato volante e spiccato volante sogolpes muito parecidos, porm as notas em staccato se iniciam partindo da corda e as em

    spiccatosaltam. Em ambos, as notas so executadas com o arco na mesma direo.

    Sautill uma articulao rpida, que se inicia na corda. De acordo com Henrique

    Autran Dourado,31 frequentemente considerado um spiccato ultrarrpido, pois so notas

    destacadas e leves, executadas no meio do arco. Entretanto, do meu ponto de vista no deve

    ser considerado um spiccato, pois a crina no perde contato com a corda e a articulao das

    31DOURADO, O Arco dos Instrumentos de Cordas, p. 105.

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    notas ocorre apenas por meio dos pequenos saltos da baqueta do arco, sem os movimentos

    ativos necessrios para a realizao despiccato.

    3.3. RELAO ENTRE PONTO DE CONTATO E POSIO DA MO ESQUERDA

    J foi esclarecido que a posio da mo esquerda importante para determinar a

    posio do arco com relao ao cavalete. Como vimos, a corda mais flexvel em sua parte

    central, entre o cavalete e a pestana. Ao pressionar a corda com os dedos da mo esquerda,

    altera-se seu ponto central, pois o dedo toma o lugar da pestana. Assim, a relao e o

    posicionamento do arco relativo ao cavalete tambm deve se alterar.Uma das dificuldades mais comuns no aprendizado do violoncelo retirar o arco de

    seu local ideal nas posies mais graves e lev-lo mais para perto do cavalete, nas posies

    mais agudas. Cada posio (por exemplo, 1, 2, 3) mais alta da mo esquerda necessita que o

    arco seja afastado dela, ou seja, ambos os braos movem-se na mesma direo. Podemos

    imaginar, nesse caso, as duas mos agindo como ms de igual polaridade, com o arco se

    aproximando do cavalete na medida em que a mo esquerda se desloca para as posies mais

    altas (mais perto do final do espelho). Naturalmente, sempre que esta mo voltar s posiesmais graves, o arco deve retornar posio inicial, mais afastada do cavalete.

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    4. CONSOLIDANDO A POSIO DA MO ESQUERDA

    4.1. POSIO E MOVIMENTOS DE:

    4.1.1. Mo e Dedos

    O posicionamento dos dedos bem mais controverso do que o do violoncelo em

    relao ao corpo. A maior parte dos estudiosos concorda que os dedos devem ser colocados

    sobre as cordas em toda a extenso do espelho, de modo que as articulaes fiquem mais

    prximas da pestana do que o ponto de contato dos dedos (os dedos so ligeiramente

    inclinados e o antebrao realiza o movimento de pronao).Certos profissionais recomendam um ngulo reto entre os dedos e as cordas em toda a

    extenso do espelho do violoncelo, enquanto outros preferem essa abordagem apenas para as

    posies inferiores, recomendando que os dedos se inclinem gradualmente medida que se

    dirigem s posies superiores. Os dedos devem entrar em contato com as cordas tanto na

    ponta (portanto mais curvos), quanto em sua poro mais carnuda, dependendo da situao.

    Tambm h opinies conflitantes quanto quantidade de dedos que devem estar em

    contato com as cordas ao mesmo tempo. Alguns especialistas afirmam que apenas um dosdedos deve ser colocado sobre a corda, com o peso sendo transferido suavemente para o dedo

    seguinte enquanto o anterior dela se afasta. Outros, como Jean Louis Duport32(1749-1819),

    recomendam que se divida a presso entre dois ou mais dedos, havendo ainda aqueles que

    adotam o ponto de vista lgico em que prefervel escolher uma atitude situada entre os dois

    extremos.

    Todos concordam que se deve exercer uma presso perpendicular corda. Porm,

    enquanto algumas pessoas descrevem esta presso como resultante do peso do brao, outras aconsideram uma espcie de presso digital, realizada por meio da aproximao dos dedos e do

    polegar. Para a maioria, o polegar geralmente colocado atrs do brao do instrumento,

    localizado entre o dedo indicador e mdio ou diretamente atrs do dedo mdio. Os dedos

    podem ser mantidos no ar sobre suas respectivas notas, em intervalos de meio tom ou em

    posio relaxada (prximos uns dos outros), at serem solicitados. H muitas opes vlidas

    que podem ser escolhidas pelos violoncelistas, pois essas opinies so de pedagogos e

    instrumentistas de sucesso. H vantagens inerentes a cada uma dessas posies e acredito que

    32DUPORT, J. L (1813). Essay on Fingering the Violoncello and on the Conduct of the Bow. Translation by John Bishop.London: Robert Cocks & Co., p. 9-10.

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    a utilizao de um composto delas, de acordo com consideraes tcnicas e musicais, seria

    uma boa opo.

    Talvez Janos Starker tenha sido quem melhor descreveu as diferenas entre a posio

    inclinada e a perpendicular. Segundo ele, o melhor usar ambos os mtodos, dependendo da

    necessidade da msica. Diz:

    H duas correntes de pensamento sobre a questo da posio inclinada ouperpendicular. Com a posio inclinada usa-se mais a ponta do dedo. Com aposio perpendicular a parte mais carnuda do dedo que entra em contatocom a corda, resultando em menor preciso. [...] A vantagem da posioinclinada da mo que no h necessidade de se alterar o ngulo da mopara tocar em qualquer rea do instrumento.33

    Mais uma vez prudente escolher entre os dois extremos. Acredito que os dedos,

    ligeiramente curvos, devem estar sempre dirigidos para o cavalete, com o quarto dedo mais

    reto e posicionado em ngulo ligeiramente menor que 90 graus com relao ao brao do

    violoncelo. Concordo com Rejto,34quando diz que o dedo deve pressionar cada corda com a

    parte mais carnuda, pois isso favorece um som mais robusto e um vibrato mais encorpado.

    medida que a mo se desloca em direo ao final do espelho, ela deve se tornar um pouco

    mais inclinada, com a mo e os dedos colocados de modo mais vertical com relao corda,

    sempre mantendo um ponto de contato na parte mais carnuda. A mo, curvada como se

    segurasse uma bola de tnis, deve se posicionar de modo a facilitar o uso do quarto dedo em

    todas as posies.

    As cordas so abaixadas sobre o espelho em uma combinao de peso de brao e

    presso digital. No se utiliza o peso total do brao, que amparado pelos msculos maiores

    situados nos ombros e nas costas. Na realidade, os msculos da mo, responsveis pelos

    movimentos dos dedos, so utilizados para auxiliar na manuteno do peso do brao,

    direcionado sobre as cordas. Deve-se sentir o peso do brao sobre as cordas e ter a resistncianecessria do pulso e dos dedos para manter estes ltimos no lugar apropriado. Essa

    afirmao vlida para toda a tessitura do violoncelo e, desse modo, o esforo para pressionar

    a corda sobre o espelho dividido igualmente entre a mo (e dedos), o brao e ombro.

    33GEETING, Joyce Ann Nordvik. A Comparative Study of Left Hand Technique in Cello Performance and PedagogyThrough Discussions with Artist-Teachers Gordon Epperson, Robert Hladky, Fritz Magg, Gabor Rejto, and JanosStarker. D.M.A. dissertation, University of Oregon, 1979, p. 9-10.34Ibid., p. 9.

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    H opinies conflitantes sobre como os dedos devem chegar corda. Alguns

    especialistas, como Jean Louis Duport,35Christopher Bunting,36Robert Hladky, Gabor Rejto

    e outros, acreditam que os dedos deveriam bater na corda por cima, como pequenos

    martelos.37 O emprego desse movimento percussivo descrito como a liberao da tenso

    causada pela manuteno dos dedos em posio esttica, suspensos acima da corda. Dessa

    forma, os dedos caem rapidamente sobre a corda e o excesso de peso liberado, resultado de

    uma tcnica denominada dedilhaopercussiva.Todos concordam que, se essa tcnica for

    empregada com velocidade e/ou presso excessiva, produzir muito rudo dos dedos batendo

    no espelho, possivelmente fazendo com que a ateno do ouvinte se desvie da msica.

    Janos Starker acredita que s se deve utilizar essa tcnica percussiva com bom senso:

    No dedilhado, deixe os dedos carem sobre a corda como os pianistas.Transfira o peso do brao para a parte requerida da mo, como um apoiopara o dedo que est tocando. Manter a mo em lugar fixo impede aflexibilidade e a articulao. Focalize a mo no dedo em atividade. Encontreum posicionamento para a mo que permita o vibrato dos dedos, cada qualna mesma intensidade dos outros.38

    Esta foi a melhor explicao que encontrei para a ao dos dedos. A elevao dos dedos se

    constitui em um movimento ativo, enquanto sua descida em direo corda de natureza

    mais passiva. Quase todos os violoncelistas tm a tendncia de aplicar excesso de peso e

    presso no uso de ambos os braos. O peso necessrio para manter a corda sobre o espelho

    mnimo e, portanto, a contrapresso fsica tambm deve ser pequena.

    Outro ponto de vista, este postulado por Gordon Epperson,39recomenda que os dedos

    devam ser mantidos perto das cordas do modo mais econmico possvel. Ele acredita que o

    martelamento, resultante da dedilhao percussiva, prejudica a qualidade cantante da

    execuo e considera esse tipo de articulao mais uma ameaa do que um auxlio.

    preciso mencionar que os dedos tambm podem ser usados de modo articuladoquando se levantam da corda. Isso efetuado por meio de um ligeiro puxo lateral da corda

    (uma espcie de pizzicato leve de mo esquerda). Analisando essas vrias tcnicas pode-se

    constatar que os dedos possuem alguns movimentos bsicos: para cima e para baixo,

    extenses, e movimentos laterais para diante e para trs para se tocar acordes, ou, por

    exemplo,pizzicato.

    35DUPORT, Essay on Fingering, p. 6.36

    BUNTING, Essay on the Craft, vol. 2, p. 1.37 GEETING, A Comparative Study, p. 15-19. Na verdade foi Duport (Essay) quem primeiro descreveu essa aosemelhante a martelos.38Ibid., p. 19.39Ibid., p. 15-16.

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    O polegar, como j mencionado anteriormente, costuma ficar atrs do brao do

    instrumento nas posies inferiores, em geral situado entre o 1oe 2odedos,40e colocado sobre

    o espelho na distncia de um tom atrs do 1odedo da oitava posio em diante, com o polegar

    sobre o harmnico central da corda, nesta posio. Em minha opinio, nem sempre

    necessria que o polegar cubra duas cordas nas posies superiores, ao se tocar em uma nica

    corda, como a maioria dos violoncelistas aprende.

    Alguns violoncelistas acreditam que nas posies inferiores o polegar no precisa estar

    sempre em contato com o brao do instrumento (por exemplo, durante o vibrato do 4 dedo);

    outros afirmam que o polegar deve estar sempre atrs do brao do violoncelo, posicionado em

    local mais alto que o 1 dedo. Esta ltima posio oferece vantagens importantes, pois relaxa

    a mo, facilitando movimentos mais livres e geis dos dedos. Isto se deve ao fato de os doisgrandes msculos da mo serem ligados e quando um tensionado o outro o acompanha.

    Experimente, por exemplo, um trinado entre o 3 e 4 dedos, com o polegar posicionado no

    lugar tradicional e, em seguida, o mesmo trinado com o polegar situado acima do 1 dedo.

    Esse movimento dever ser mais fcil de dedilhar quando empregado da segunda maneira,

    com a mo mais aberta. Sugiro novamente um meio termo quanto posio do polegar,

    normalmente colocando-o atrs do 1 dedo ou entre o 1 e 2 dedos, modificando essa posio

    de acordo com as necessidades da msica e da tcnica. preciso notar que o polegar pode mudar frequentemente de posio, mesmo dentro

    da primeira posio. Quando se utilizam dedos individuais, por exemplo, na hora de vibrar, o

    polegar pode (e deve) se movimentar para uma posio que sustente cada dedo. Assim, ele

    pode estar atrs do 1 dedo, ou um pouco mais perto da pestana (voluta), ao se tocar utilizando

    esse dedo. Ao usar o 2 dedo, o polegar se movimenta para mais prximo, permanecendo um

    pouco acima dele. Quando o 3 dedo est em ao, o polegar desloca-se para uma posio um

    pouco abaixo do 2 e, por exemplo, em se tratando do 4, pode alcanar uma posiodiretamente atrs do 3 dedo.

    A movimentao natural do polegar, decorrente de nosso esforo para contrabalanar

    os dedos, deve ser mantida livre e at encorajada. No entanto, isso raramente ocorre quando a

    msica mais rpida, pois no h tempo para alterar a posio do polegar. Deve ficar claro

    que o polegar pode ser usado, junto com os outros quatro dedos, para pressionar a corda at

    40A partir deste ponto, e para facilitar a leitura, utilizarei nmeros para indicar os dedos da mo esquerda (1, 2, ou 1, 2) emvez dos nomes prprios (dedo indicador, dedo mdio). O nome do dedo polegar no sofrer mudanas.

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    nas posies mais baixas, por exemplo, ao tocar oitavas e/ou dcimas, assim como em escalas

    executadas em uma nica posio.41

    4.1.2. Brao e Pulso

    Encontrei vrias opinies a respeito da posio e o ngulo do brao e do pulso. No

    entanto, basicamente todas as fontes concordam que o melhor ngulo para o brao, com

    relao ao violoncelo, aquele que facilita uma presso perpendicular sobre a corda, seja por

    meio do peso do brao (ou antebrao) ou pela real contrao dos dedos. Portanto, o ngulo do

    brao em conformidade com o corpo e com o violoncelo, assim como a altura do cotovelo em

    relao ao cho, varia dependendo da altura e do ngulo do violoncelo. Naturalmente, issopode afetar tambm o modo como os dedos so colocados sobre a corda. Um posicionamento

    mais horizontal do instrumento pode resultar em um ngulo mais perpendicular (mo mais

    plana) em relao corda, enquanto o posicionamento mais vertical talvez resulte em uma

    posio mais inclinada da mo.

    Em minha opinio, contrria de Starker,42 o ngulo dos dedos em relao corda

    (inclinada ou perpendicular) no tem qualquer relao com o fato de se tocar com a ponta ou a

    parte mais carnuda dos dedos, mas sim com a altura do brao em relao ao espelho/brao doinstrumento. Um brao mais alto, necessariamente apresenta como resultado os dedos

    encontrando as cordas superiores nas pontas, e vice-versa. O brao tambm deve permanecer

    flexvel para se manter sempre em uma posio mais benfica para a mo e os dedos.

    O pulso utilizado de vrias maneiras, mas em geral aconselhvel que seja mantido

    relativamente reto, mas ainda flexvel. Por exemplo, ao tocar nas cordas mais graves, o

    instrumentista deve manter o pulso em ngulo com o antebrao, enquanto o cotovelo se

    movimenta para cima e ligeiramente para frente (nivelado e em ngulo reto com o brao doinstrumento). Creio que o brao, o pulso, a mo e os dedos devem ser considerados um todo,

    como uma unidade.

    Mantel43 discorda e aconselha a flexo externa do pulso medida que se toca

    progressivamente nas cordas mais graves. Afirma que se algum levar a mo corda D

    apenas como o brao, o cotovelo ficar em posio to elevada que sacrificar o conforto

    fsico. Portanto, recomenda que o pulso se eleve mais na corda D e menos na corda L

    41JENSEN, Hans Jrgen. ed. The Ivan Galamian Scale System for Violoncello, vol. I. Boston: Schirmer Music Co., 1994,p. 68-84.42GEETING, A Comparative Study, p. 9-11.43MANTEL, Cello Technique, p. 83.

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    (ligeiramente dobrado para dentro), pois isso diminuir os movimentos exagerados do brao,

    para cima e para baixo. Esses argumentos no deixam de ter seus mritos, mas ainda prefiro

    que esse tipo de tcnica seja utilizada como uma exceo, e no como regra, porque, nesse

    caso, o violoncelista estar apenas substituindo uma ideia extrema por outra.

    O modo de tocar com a tonicidade muscular adequada e, ao mesmo tempo, livre de

    tenses indesejveis aquele que apresenta ngulos corretos e somente a presso necessria.

    preciso conseguir os melhores ngulos do brao, com relao ao violoncelo, para ampliar a

    flexibilidade, a fora das mos e dos dedos. As linhas retas so importantes porque, a exemplo

    de uma mangueira enrolada, o pulso excessivamente dobrado tambm impede que a energia

    flua para os dedos. Quando duas juntas se encontram forma -se um ngulo que interrompe

    uma linha. Quando o ngulo muito agudo, a fora do msculo impedida de fluir para onde necessria.44 Os ombros devem se manter em posio natural, jamais elevados, pois isso

    impede a livre movimentao dos braos e do pescoo.

    A tenso no causada pelo uso normal do corpo e de seus msculos e sim pelo seu

    uso excessivo ou anmalo, sem que haja desenvoltura. O relaxamento total no

    necessariamente desejvel, j que para qualquer msico tocar seu instrumento deve haver

    resistncia, caso contrrio o arco escapar da mo e os dedos no se mantero nas cordas. De

    fato, quanto mais o corpo se movimenta (sutilmente), mais flexvel ele se torna e menospropenso a um excesso de tenso. Deve-se respirar profundamente e lembrar que tocar

    violoncelo nada tem a ver com um corpo esttico e rgido.

    4.2. AS POSIES

    4.2.1. A Organizao do Espelho

    Para se ter uma ideia melhor a respeito de como colocar a mo sobre o espelho,

    conhecimento tambm til no momento de ensinar, deve-se considerar que o espelho de todos

    os instrumentos de cordas organizado em posies. Para os violinistas, ele est diretamente

    relacionado com os quatro dedos que abaixam as cordas. Por exemplo, enquanto se toca na

    corda R, os dedos de um violinista cobrem diatonicamente s notas Mi, F-sustenido, Sol e

    L, sendo que esta chamada de primeira posio. Para se chegar segunda posio, a mo

    44GEETING, A Comparative Study, p. 10. Por isso, Starker acredita que, fisicamente, mais fcil tocar com a moesquerda nas posies superiores (capotasto).

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    deslocada, de modo que o 1 dedo se posiciona no lugar anteriormente ocupado pelo 2 na

    primeira posio. Na terceira posio, o 1 dedo colocado onde se encontrava o 3 na

    primeira posio, e assim por diante.

    Para os violoncelistas, as posies so organizadas do mesmo modo e poder-se-ia

    supor que elas se devem tcnica de violino que, provavelmente, lhes serviu de base. De

    qualquer modo, a organizao das posies derivada da escala diatnica e, assim, cada

    intervalo seguinte corda solta corresponde a uma nova posio. Por exemplo, a colocao do

    1 dedo sobre uma segunda maior (ou menor) a partir da corda R (solta) corresponde

    primeira posio; uma tera maior (ou menor) leva a mo para a segunda posio; uma quarta

    justa corresponde terceira posio, e assim por diante. Mas isto no to simples, pois

    quando se trata de notas enarmonicamente equivalentes como, por exemplo, F-sustenido(segunda posio) e Sol-bemol(terceira posio), o nome da posio varia. Mesmo que a mo

    esteja no mesmo lugar, cobrindo