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S.I.M O enigma entre conhecimento e compreensão

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O livro, através de uma estória simples, mostra a contínua e intrigante diferença entre o “Conhecer” e o “Compreender” das coisas do mundo atual com o intuito de despertar o senso critico do leitor, seja criança ou adulto, em relação ao mundo em que vive. Mostra, através de situações simples.

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S.I.MO e n i gma e n t r ec o n h e c im e n to ec omp r e e n s ã o

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São Paulo – 2015

K l a u s M a e r t e n s

S.I.MO e n i gma e n t r ec o n h e c im e n to ec omp r e e n s ã o

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Copyright © 2015 by Editora Baraúna SE Ltda.

Capa Jacilene Moraes

Ilustração Walison Cardoso

Diagramação Camila C. Morais

Revisão Natália Silveira

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

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Maertens, Klaus S.I.M.: o enigma entre conhecimento e compreensão/Klaus Maertens; [ilustração Walison Cardoso]. - 1. ed. - São Paulo: Baraúna, 2015. il.

ISBN 978-85-437-0444-9

1. Romance brasileiro. I. Cardoso, Walison. II. Título.

15-26187 CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3________________________________________________________________04/09/2015 08/09/2015

Impresso no BrasilPrinted in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTAEDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

Rua da Quitanda, 139 – 3º andarCEP 01012-010 – Centro – São Paulo – SPTel.: 11 3167.4261www.EditoraBarauna.com.br

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A CHEGADA

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Certa noite, lá pelas onze e meia, apareceu no céu de Itaguamirim, uma coisa luminosa. Parecia voar, acendia e apagava muitas luzes, ia de um lado a outro e, de repente, desapareceu.

Seu Manuel do Rego Seco viu, e ficou preocupado, pois que desapareceu perto da rocinha dele. E seu cachor-ro Rasgado latiu, latiu, e depois sumiu em direção à sua rocinha. Lá depois daquela quebrada, perto dos dois pés de manga que todo ano andavam carregados. Manga boa de chupar, quase que não tinha linha.

Como era madrugada alta, e seu Manuel também não era dos mais corajosos para ir lá de noite, para ver o que podia ser, entrou na sua casinha, rosnou alguma coi-sa como que “cachorro danado, que não parava de latir”, deu boa noite a Josefina, sua mulher, apagou o lampião e se deitou. Ainda comentou com a Josefina:

— “Muiê, parece que caiu alguma coisa estranha lá pelas bandas da nossa rocinha. Rasgado tá lá latindo que nem doido. Mas deixa pra lá, minhã vou espiar pra ver o que foi”.

Seu Manuel ainda deu uma espiada nos seus “mini-no”. O mais velho, o Zeca, e o mais novinho, chamado de Antônio, em homenagem ao seu pai, mas que todos chamavam mesmo era de Tiquinho, de tão pequenininho que era. Magrinho que nem vara de bambu e altura que também não tinha. Mesmo assim era valente, criador de caso e inteligente. Tava no segundo ano e já sabia ler e escrever direitinho. Já o Zeca, com cinco anos de escola não sabia direito ainda.

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E todo mundo dormiu. Os roncos do seu Manuel e da velha Josefina aos poucos encheram toda a casa de música e de sonhos.

Logo também o Rasgado voltou, se aninhou perto do fogão de lenha da cozinha e tentou dormir e esquecer a coisa estranha que tinha visto lá perto da rocinha. Que animal esquisito! Será que era cria da vaca Pintada? Ela tava pra parir a qualquer hora. Devia ser dela, pois tam-bém era todo pintado! E com umas luzinhas pelo corpo, talvez vaga-lumes?!

Com o manto de sua luz, que não é sua, pois é em-prestada do sol, a lua olhou todos e abençoou os seus sonhos. Até ela também olhou cabreira para aquela coisa, com umas luzinhas pequenas piscando pelo corpo que estava indo em direção à casinha do seu Manuel.

Assim apareceu este animal esquisito. Era uma S.I.M. (Ser Interplanetário Mutante). Era pequeno que nem menino de seis anos, e estava cansado, pois tinha feito uma viagem de dois anos luz desde sua morada, no planeta chamado FURZ, até a Terra. Não queria ir até lá, mas seu interplanetomóvel deu defeito logo perto dali e assim ele teve que descer no planeta Terra para verificar se podia consertar o seu veículo para poder voltar para casa.

Não tinha nome, pois isto na sua terra ninguém ti-nha, mas era muito sabido e inteligente e já tinha apren-dido até alguma coisa sobre a Terra. Já sabia que tinha muita gente brigando, que tinha muita gente destruindo sua saúde e sua terra com muita coisa ruim, que tinha muita gente que gostava de uma coisa chamada dinheiro;

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tanto que faziam qualquer coisa para ter cada dia mais. E outras coisas feias que ele aprendeu na enciclopédia digi-tal lá de FURZ. Também sabia que as pessoas pequenas não faziam estas coisas. Eram pessoas mais felizes e não tinham pensamentos ruins.

Sendo assim S.I.M chegou à casinha do seu Manuel e entrou pela porta fechada. Para ele não era problema, isto qualquer Furzeiro fazia desde pequeno. Atravessar paredes e pedras era coisa mais natural, tanto que todos habitavam no espaço aberto. Para que casas e paredes se todos as atravessam sem problemas? Assim como enxer-gavam através das coisas e podiam ler pensamentos de qualquer ser. Não falavam nem emitiam sons, somente pensavam. Se comunicavam por telepatia. Assim eles se falavam em completo silêncio.

S.I.M estava muito cansado e assim procurou logo um lugar bom e confortável para descansar. Encontrou o melhor de todos, na cama do Tiquinho. Além de tudo este não lhe fazia medo, pois era do seu tamanho e tinha pensamentos tão bons! Assim depois de dois anos luz ele também adormeceu, abraçado e apernado, pois ele tinha braços e pernas compridas, ao Tiquinho. O seu sono era embalado pelos roncos graves e agudos do seu Manuel e da velha Josefina. Ha muito tempo ele não se sentia tão bem.

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Pela porta deixada aberta na pressa do S.I.M sair, um vidrinho quebrado, lá de dentro do interplanetomóvel es-palhava um cheiro tão diferente, tão gostoso que tudo nas redondezas ficou em paz e que até o galo não se lembrou de cantar. Era um perfume usado pelos furzeiros para, “aman-sar” eventuais inimigos que pudessem atacar as suas naves.

Se o galo não cantar, na roça do seu Manuel ninguém acorda tão facilmente. Desta forma, quando o seu Ma-nuel acordou, já era quase nove horas da manhã. O sol batia forte, suas duas vaquinhas mugiam reclamando que ninguém tirou seu leite, pois já estavam com os ubres tão cheios que estavam começando a vazar pelas tetas.

Seu Manuel levantou assustado e apressado, acordou a Josefina para que ela pudesse fazer o café, e saiu direto para cuidar de suas vaquinhas. Nem prestou atenção nos seus meninos que continuavam dormindo. Só praguejou rapidamente contra o galo que não cantou:

— “Um dia este galo ainda vai virar ensopado!”.

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Tiquinho também acordou. Achou esquisito pernas e braços longos o abraçando, então se virou. Ainda com os olhos cheios de remela, viu aquela coisa estranha deitada do seu lado. Uma coisa toda pintada, com umas luzinhas fraquinhas piscando no seu corpo. Porém ele não assustou. Queria sentir medo, mas alguma coisa não deixava. Queria sair correndo, mas alguma coisa o segurava ali. Viu quando esta coisa se mexeu, se virou para ele, abriu um buraco es-tranho na parte que parecia a cabeça. Tiquinho sentiu nos seus pensamentos uma voz lhe dizendo:

— “Eu sou S.I. M. Sou seu amigo, não vou lhe fazer mal, só preciso descansar muito, pois vim de longe.”.

Assim Tiquinho não se assustou, se levantou bem devagar, jogou a coberta em cima dele e foi tomar seu café. Não disse nada para sua mãe, nem para seu irmão. Manteve segredo do S.I. M que estava debaixo das suas cobertas descansando.

Só mais tarde, na hora do café com rapadura, que sua mãe sempre servia, ele foi começar a conversar com sua mãe:

— “Mãe, eu tenho um segredo muito bom para lhe fa-lar: Eu tenho um S.I.M dormindo debaixo da minha cober-ta. Ele veio ontem de madrugada depois que o interplane-tomovel dele estragou e caiu aqui perto, na rocinha do pai”.

Sua mãe já ia xingar e ir até na cama para ver o que o Tiquinho tinha inventado. Tiquinho puxou sua saia e disse:

— “Mãe, por favor, não precisa ficar preocupada, ele veio para ser meu amigo. Ele não veio para nos fa-zer mal. E ele precisa da minha ajuda para consertar o seu interplanetomóvel para voltar para a casa dele que é muito, muito, longe.”.

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Nesta mesma hora veio o seu Manuel, lá da roça, com uma cara esquisita e os olhos bastante assustados:

— “Zefinha, lá na roça, aonde ontem vimos àquela luz, tem um treco estranho. Parece um pratão gigante cheio de vaga-lumes. Zeca e Rasgado ficaram lá olhando para ver se “mexe”, mas realmente estou apavorado com aquilo lá, acho que vou à cidade chamar a polícia, pode ser uma coisa perigosa.”

Nisso o Tiquinho, que escutou a conversa, veio para perto do seu pai e disse:

— “Não se preocupe pai, aquilo lá é o interplane-tomóvel do meu amigo S.I.M. Não vai fazer mal a nin-guém, só precisa ser consertado”.

Seu Manuel logo disse: — “Mas moleque, que conversa mais sem pé nem

cabeça é esta? Que amigo seu é este? E onde este danado se meteu?”.

O menino então disse: — “Está na minha cama dormindo pai, por favor, não

faça barulho, ele está muito cansado e precisa dormir muito”.O seu Manuel ficou mudo. Mas também que estória

mais maluca era esta? Um troço estranho no seu milha-ral, piscando um monte de luzes e o seu filho lhe dizendo que tem um tal de S.I.M, que é motorista deste treco, dormindo na sua cama. E ainda por cima não pode ser acordado, pois precisa descansar! Ele já tinha visto muita coisa na sua vida, seu pai morrendo de mordida de cobra, sua mãe morrendo de tanta saudade de seu pai, o Tonho da fazenda vizinha morrendo debaixo de uma boiada, o padre rezando missa na capela de Santo Antônio do

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Grotão quando as calças lhe caíram e todos na capela gri-taram: “JEEESUUUIIS!!!!!!!!”. Mas um ser estranho dor-mindo na cama de seu filho era demais para ele. Isto só podia ser coisa do diabo! E assim ele ficou furioso, apesar de estar com um danado de um medo, e foi direto para o quartinho do seu filho Tiquinho para ver o que tinha lá.

Tiquinho lhe tentava segurar pelas calças e assim, nesta confusão toda, o seu Manuel chegou na frente da cama do Tiquinho, na mesma situação do tal padre . E não sabia se subia as calças ou se tirava o cobertor para ver este tal de S.I.M., mas como a Zefinha tava ali perto, ele resolveu primeiro arribar as calças e amarrar direito com a embira que tinha soltado.

Quando levantou a coberta e viu aquela coisinha, menor que o seu Tiquinho, que já era bem pequenini-nho, sem roupa e com uma cara tão estranha, se sentiu esquisito, e mais que depressa colocou a coberta de volta. Virou para sua Zefinha e disse:

— “Vamos deixá-lo dormir. Depois vamos conver-sar com ele sobre este treco que ele deixou lá na roça, mas não tenho coragem de fazer mal a esta coisa tão pequeni-ninha. E pelado ainda por cima.”.

Manuel voltou para a cozinha, fechando a porta do quarto e disse para sua mulher:

— “Zefinha, quando ele acordar arruma uns pano para ele vestir e depois dá uma gemada bem feitinha para ele, senão o danado ainda vai gripar”.

Saiu para ir lá à roça para contar a novidade pro Zeca e pro Rasgado. Eles não iam acreditar e iriam chamá-lo de mentiroso e loroteiro, mas depois de verem aquele

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bichinho esquisito eles também iam entender. Principal-mente se eles escutassem aquela voz estranha que ele es-cutou quando levantou a coberta do S.I.M:

— “Não se preocupe meu bom velho, eu não vou fazer mal a ninguém, sou de paz”.

Tinha sido sim uma voz, mas não aquela de se escu-tar de fora, somente de se escutar por dentro, sem baru-lho, enfim, uma voz sem voz.

Quando voltou para casa, com Zeca e Rasgado, acompanhando ele que nem dois cachorrinhos, já veio perguntando pelo almoço. Josefina, cozinheira de mão cheia, apesar de que nem sempre de panela cheia, pois faltavam umas coisas de vez em quando, tinha preparado um almoço especial. Matou até um franguinho que há muito tempo estava no quintal esperando somente uma data especial para virar ensopado, junto com um angu e um quiabinho colhido naquele dia. Tão verde que parecia ter sido pintado. Para a sobremesa sacrificou aquela goia-bada que sua cumade Etelvina, doceira de mão cheia, lhe deu de presente no seu aniversário. Tudo isto porque ela, não se sabe o porquê, se sentia muito feliz neste dia. Feliz por ter acolhido este tal de S.I.M, que parecia um meni-no indefeso, mas que lhe falou com aquela voz sem voz, que agradecia muito a ela e ao Tiquinho por ter deixado ele dormir até cansar e que gostava muito deles.

Além disso, tinha arrumado para ele uma calça velha e uma camiseta, que ganhou lá na cidade na última vez que foi votar para um tal de presidente. Mas sapato ela não tinha, e a precata velha que ela achou, não servia no coitado do S.I.M porque este danado não tinha dedo.

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O pezinho dele era como se fosse uma prancha, quase que como aquele ferro de passar à brasa que ela usava. E nisto não cabia precata nenhuma. Assim o coitado ficou descalço, com uma calça surrada com rasgado no joelho e uma camiseta com uma careta com um grande sorriso estampado nela, escrito por baixo “51 – É o bom”, que lhe dava até no joelho. Realmente não era muito bonito, mas o que há de se fazer, roupa de domingo na casa deles era a mesma dos outros dias, só que era lavada no sábado. Assim no domingo ficava cheirosa para ir à missa lá na capela. E com certeza Deus gostava disso, mesmo tirando a poeira que assentava na roupa deles na estrada.

Nesta hora sentaram todos na cozinha para almoçar. Todos gostando, pois há muito não tinha aquela comida especial lá na roça. É claro que sabiam que o motivo desta comida especial era o tal de S.I.M, este serzinho esquisito que apareceu nesta madrugada, mas o que interessa o mo-tivo? Para que ter ciúme? A comida estava uma delícia, e isto era que interessava. É claro que o Rasgado também es-tava alegre, pois não era qualquer dia que sobravam tantos ossos para ele comer. E tinha até um, que o S.I.M lhe deu, que ainda tinha um pedação de carne! E como recompensa ele abanou o rabinho torto para ele, e ainda lhe deu uma bela lambida no pé poeirento em agradecimento. Rasgado pensou consigo: ”Este sim é um S.I.M bom.”

Só o Zeca ficou um pouquinho calado. Poxa, por-que será que o S.I.M foi para cama do Tiquinho e não para a cama dele? Mas sorriu de novo quando escutou aquela voz sem voz:

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— “Não se preocupe Zeca, é só porque a cama do Tiquinho era a primeira que vi. Não foi por mal, e eu gosto tanto de você como do Tiquinho, como de todos aqui, inclusive do Rasgado”.

Depois da goiabada, da qual sobrou um pedacinho até para o Rasgado, o Tiquinho então contou para todos o que tinha acontecido com o S.I.M, e que era um SER INTERPLANETÁRIO MUTANTE vindo lá de FURZ, que por isso era chamado de S.I.M , que não falava como a gente, mas que falava por uma tal de telepatia que era aquela voz sem voz que a gente não ouvia, mas que a gente escutava, que ele podia atravessar paredes, que o seu veicu-lo interplanetário deu defeito e acabou caindo lá na roça deles, que ele precisa ajuda para consertar o veiculo inter-planetário, que viajou muitos anos sozinho pelo espaço e que por isso chegou muito cansado e doido para dormir, que não queria fazer mal a ninguém, que eles conversaram muito ainda antes de ele dormir e que assim ele queria que S.I.M fosse seu amigo, amigo do Zeca, amigo dos seus pais, amigo do Rasgado e que ele pudesse ficar lá na casa deles até consertar o seu veiculo interplanetário.

Seu Manuel disse que S.I.M podia ficar sim, mas que teria que dormir com Tiquinho e que, além disso, deste tamanho não comia mesmo muito e talvez pudesse até ajudar nas coisas lá da fazenda. Para comemorar seu Manuel até tomou uma cachacinha, lá do alambique do seu Nerson, pinga boa, de cabeça e curada no barrilzão que o seu Nerson tinha comprado dum vendedor via-jante. E para Josefina, os meninos e o S.I.M apareceu, como que por milagre, uma jarra de groselha. Vermelhi-