Re is Democracia

14

description

Arquivo para upload

Transcript of Re is Democracia

  • P o l t i c a e x t e r n a , d e m o c r a c i a e r e l e v n c i a

    F b i o W a n d e r l e y R e i s

    T h i s p o i n t i n h i s t o r y , w h e n B r a z i J ' s r o l e i n t h e i n t e r n a t i o n a l s c e n e i s m o r e a c u t e t h a n e v e r , a l l o w s q u e s t i o n i n g m o r e

    d e e p l y t h e m e a n i n g a n d t h e r e l e v a n c e o f i n t e r n a t i o n a J r e J a t i o n s a n d f o r e i g n p o l i c y v i s v i s t h e c o u n t r y i t s e l f

    a n d i t s c i t i z e n s . A m o n g t h e s e p r o b l e m s , o n e h a s t o d o w i t h h o w t h e a c a d e m i c c o m m u n i t y t h a t d e a l s w i t h t h e s e

    i s s u e s h a s b e e n f a d n g t h e m . T h e r e i s n o t i n B r a z i l a t r a d i t i o n o f r i g o r o u s r e s e a r c h a n d r e f l e c t i o n s , n u t t h i s h a s

    b e e n c h a n g i n g l a t e l y w i t h t h e a p p e a r a n c e o f a g r o w i n g n u m b e r o f u n i v e r s i t y u n i t i e s c o n c e r n e d w i t h i n t e r n a

    t i o n a l a f f a i r s . T h e a c a d e m i c p r o d u c t i o n c a n n o t b e h o s t a g e o r a m e r e m i r r o r o f t h e j o u r n a l i s t i c c o v e r a g e o f t h e s e

    i s s u e s , a s i t o f t e n h a p p e n s . T h e r e a r e v e r y i m p o r t a n t c o n c e p t u a l a n d q u e s t i o n s , w i t h m o r a l i m p l i c a t i o n s , t h a t

    h a v e t o b e d e a l t w i t h .

    A e x p e r i n c i a b r a s i l e i r a a t u a I d e v e r

    e l e v a r - s e o s t a t u s d o B r a s i l n a c e n a m u n

    d i a l d s a l i n c i a a o s p r o b l e m a s d e r e l a

    e s i n t e r n a c i o n a i s e p o l t i c a e x t e r n a e

    p e r m i t e i n d a g a e s s o b r e r e l e v n c i a e m

    d i f e r e n t e s s e n t i d o s c o m r e s p e i t o a e l e s .

    E m p r i m e i r o l u g a r , a r e l e v n c i a o u i m

    p o r t n c i a I I o b j e t i v a " d a s r e l a e s i n t e r n a

    c i o n a i s e d a p o l t i c a e x t e r n a p a r a o p a s ,

    o s b e n e f c i o s o u d a n o s q u e p o d e m a d v i r

    d e l a s . E m s e g u n d o l u g a r , a r e l e v n c i a q u e

    o s p r o b l e m a s c o r r e s p o n d e n t e s a d q u i r e m

    a o s o l h o s d o s c i d a d o s , q u e p o d e m n o

    s e r c o n s c i e n t e s d e s u a i m p o r t n c i a p r t i

    c a m e s m o q u a n d o e l a d e f a t o e x i s t e . F i

    n a l m e n t e , h a q u e s t o d a s r e l a e s d e s

    s e s d o i s s e n t i d o s i n i c i a i s c o m a q u a l i d a d e

    d o s e s t u d o s e a n l i s e s r e a l i z a d o s p e l o s

    q u e s e d e d i c a m p r o f i s s i o n a l m e n t e a o a s

    s u n t o , e m p a r t i c u l a r , n a t u r a l m e n t e n o

    m b i t o a c a d m i c o : a t q u e p o n t o e s s a

    q u a l i d a d e s e e n c o n t r a a l t u r a d o s d e s a

    f i o s p r t i c o s e n v o l v i d o s , e c o m o c a b e v

    l a e m c o r r e s p o n d n c i a c o m o i n t e r e s s e

    d o s c i d a d o s p o r t a i s d e s a f i o s - e e v e n t u

    a l m e n t e e m r e l a o c o m o c o n d i c i o n a

    m e n t o m a i s o u m e n o s d e m o c r t i c o d a s

    d e c i s e s g o v e r n a m e n t a i s s o b r e e l e s ?

    1

    T o m e m o s o t e m a d a s r e l a e s d a p o l

    t i c a e x t e r n a c o m a d e m o c r a c i a p a r a t e n t a r

    p u x a r o f i o d o n o v e l o d e i n t e r c o n e x e s

    q u a n t o a o t e m a g e r a l . A q u e s t o s a l i e n t e

    a q u i d i z r e s p e i t o c o r r e l a o e x i s t e n t e

    e n t r e a p o s i o s o c i o e c o n m i c a d a s p e s

    s o a s , d e u m l a d o , e , d e o u t r o , s u a i n f o r m a

    o s o b r e a s s u n t o s d e r e l a e s i n t e r n a c i o

    n a i s e d e p o l t i c a e x t e r n a e a d i s p o s i o a

    e n v o l v e r - s e c o m e l e s .

    N a v e r d a d e , e s s a c o r r e l a o o c o r r e

    q u a n t o p o l t i c a e m g e r a l . O s e s t u d o s p e r

    t i n e n t e s c o n d u z i d o s e m d i f e r e n t e s p a s e s

    m o s t r a m h m u i t o q u e o i n t e r e s s e p e l a

    p o l t i c a e o n i m o d e p a r t i c i p a r p o l i t i c a

    m e n t e d e c r e s c e m e d i d a q u e d e s c e m o s

    n o s n v e i s s o c i o e c o n m c o s e e d u c a c i o n a i s .

    M a s h a l g o m a i s a s e r s a l i e n t a d o a

    r e s p e i t o d e s s a c o r r e l a o g e r a l e q u e s e

    a p l i c a t a l v e z e s p e c i a l m e n t e a o c a m p o d a

    p o l t i c a e x t e r n a , a s a b e r I o f a t o d e q u e a

    F b i o W a n d e r l e y R e i s d o u t o r e m C i n c i a P o l t i c a p e l a

    U n i v e r s i d a d e H a r v a r d e p r o f e s s o r e m r i t o d a F a c u l d a d e

    d e F i l o s o f i a e C i n c i a s H u m a n a s d a U n i v e r s i d a d e

    F e d e r a l d e M i n a s G e r a i s .

    5 5 V O L I . N ' 2 S E T / O L J T m O V 2 0 1 0

  • ARTIGOS

    hierarquia social continua a condicionar as chances de que as opinies dos cidados tenham influncia nas decises governamentais mesmo quando tais opinies chegam a existir nos estratos menos favorecidos e quando h a envolvimento e participao.

    Em texto recente, Larry M. Bartels remete ao trabalho de diversos autores sobre o caso dos Estados Unidos, onde se constatou que "as opinies sobre poltica externa dos cidados comuns tinham reduzido impacto aparente sobre as opinies dos funcionrios governamentais", as quais se mostravam muito mais influenciadas pelas opinies de homens de negcios e de peritos - com a agravante de que tal disparidade continua a ocorrer mesmo em circunstncias em que se encontra ativismo poltico e empenho em exercer influncia por parte dos menos favorecidos socioeconomicamente. Na pobreza, como formulou Robert Weissberg, citado por Bartels, adquirir "voz" ou "gritar mais alto" tende a ser intil.1

    Seja como for, se a correlao descrita existe nos Estados Unidos, s se pode esperar, no Brasil, a ocorrncia do mesmo fenmeno, e certamente com mais intensidade, dadas as dimenses do nosso fosso social e seus correlatos nos planos educacional e de acesso a recursos intelectuais. Numerosas pesquisas de opinio mostram que a informao poltica e o interesse ou envolvimento com assuntos polticos variam aqui em forte articulao com a posio socioeconmica.2

    Embora as pesquisas que tenho em mente no costumem ressaltar especificamente as relaes internacionais ou a poltica externa, as circunstncias brasileiras, conjugando desigualdade a meitor salincia, em geral, dos problemas de poltica externa, no podem seno levar a que o efeito da desigualdade social na desateno para com elas seja tambm maior.

    H, porm, um meandro importante do assunto a considerar. Trata-se de que a correlao que se traduz nesse efeito socialmente enviesado, e que possvel apreender por meio de pesquisas baseadas em amostras da populao em geral, no incompatvel com a existncia de uma "opinio pblica" atenta aos problemas internacionais e de poltica externa e capaz de exercer influncia sobre as decises a respeito. Mas o problema , ento, o de at que ponto a opinio pblica ser ela prpria socialmente enviesada e, poli.uto, problemtica em suas relaes com a democracia como desiderato.

    Algumas observaes de interesse decorrem da. A primeira que o reconhecimento desse carter problemtico contrasta com a "santificao" de que a opinio pblica usualmente objeto em conexo com a democracia. Um dos sentidos em que a expresso "opinio pblica" tomada em seu uso corrente certamente remete a parte das condies que definem a sociedade democrtica: o sentido em que se trata dos mecanismos que asseguram o livre fluxo das ideias e opinies, ou a existncia e o livre funcionamento do que Jfugen Habermas designou como a "esfera pblica".3 Mas a esfera pblica e suas virtudes esto longe de justificar por si mesmas a santificao da opinio pblica.

    A dificuldade inicial a de que acabamos tendo uma opinio pblica que, como assunto de elite que a correlao indicada faz dela, tender a ser minoritria. No Brasil do perodo recente, especialmente o do segundo mandato do presidente Lula e de sua extraordinria popularidade, toma-se patente a possibilidade de divergncia entre aquilo que ressoa mais amplamente como equivalendo opinio pblica e aquilo que revelam as pesquisas sistemticas de opinio - ou entre a opinio pblica e o eleitorado, com a primeira surgindo como mani

    56 POLTICA EXTERNA

  • P O L T I C A E X T E R N A , D E M O C R A C I A E R E L E V N C I A

    f e s t a o d e c e r t a p a r t e m i n o r i t r i a e i n f o r

    m a d a d o l t i m o .

    N a t u r a l m e n t e } n a d a h d e i n e r e n t e

    m e n t e s a c r o s s a n t o , p o r s u a v e z } n a i d e i a d e

    m a i o r i a . E m l t i m a a n l i s e , c a b e v e r a r e

    g r a d a m a i o r i a c o m o n o s e n d o s e n o u m

    e x p e d i e n t e r e a l i s t a ( b a s e a d o n a s u p o s i o

    d a e x i s t n c i a d e " g r a u s d e u n a n i m i d a d e " )

    p a r a t o r n a r v i v e l a d e l i b e r a o c o l e t i v a

    c u j o d e s f e c h o l e g t i m o s e r i a i d e a l m e n t e ,

    n a l i n h a d a s i d e i a s d e H a b e r m a s , a c o n

    c o r d n c i a l i v r e e u n n i m e d o s i n t e r e s s a d o s

    - o q u e n o i m p e d e d e r e c o n h e c e r q u e

    m a i o r i a s p o d e m s e r t i r n i c a s , e q u e p a r t e

    i m p o r t a n t e d o q u e s e e s p e r a d a d e m o

    c r a c i a c o n s t i t u c i o n a l m o d e r n a , e m c o n t r a s

    t e c o m a f l u i d e z p r o b l e m t i c a d a d e m o c r a

    c i a d i r e t a , c o n s i s t e j u s t a m e n t e n a p r o t e o

    t r a z i d a s m i n o r i a s e n a g a r a n t i a d e d i r e i

    t o s c i v i s c o n t r a m a i o r i a s i n s t v e i s . N o

    o b s t a n t e , o f a t o d e q u e a " o p i n i o p b l i c a "

    a c a b e s e n d o , e m g e r a l , a e x p r e s s o d a s

    i d e i a s e o p i n i e s d e u m a e l i t e d e f i n i d a e m

    t e r m o s s o c i o e c o n m i c o s c l a r a m e n t e d i f

    c i l d e c o n c i l i a r c o m o i d e a l d e m o c r t i c o .

    M a s h o u t r a s d i f i c u l d a d e s c o r r e l a t a s .

    P o r u m l a d o , h , n a s s o c i e d a d e s m o

    d e r n a s , o c r u c i a l p a p e l d a i m p r e n s a , o u

    d o s m e i o s d e c o m u n i c a o d e m a s s a e m

    g e r a l , c o m r e s p e i t o " o p i n i o p b l i c a " .

    E s t a p o d e n o s e r m u i t a s v e z e s , e m s e u

    c o n t e d o , s e n o a q u i l o q u e d i t o e p r o

    p a l a d o p o r j o r n a l i s t a s d e n v e i s d e i n f o r

    m a o e e n v o l v i m e n t o c o m a p o l t i c a s e m

    q u a l q u e r c o r r e s p o n d n c i a c o m o s d a p o

    p u l a o e m g e r a l , o s q u a i s , b e m p e n s a n

    t e s e t e n d e n t e s a c e r t a u n a n i m i d a d e d e

    p o s t u l a d o s e p e r s p e c t i v a s , c o m f r e q u n

    c i a p r o d u z i r o c o m s e u t r a b a l h o e f e i t o s

    n e g a t i v o s a f i n s a o s d o u n a n i m i s m o d o

    " p o l i t i c a m e n t e c o r r e t o " .

    H } a l m d i s s o , o c o n d i c i o n a m e n t o

    q u e p o d e o c o r r e r e m c o n e x o c o m i n t e r e s

    s e s d e v r i o s t i p o s l i g a d o s s r e l a e s d e

    p r o p r i e d a d e e l i n h a p o l t i c a g e r a l d e d i

    f e r e n t e s r g o s , q u e r e d u n d a n u m a f a c e

    e s p e c i a l ( " m e d i t i c a " ) d o t e m a g e r a l d o

    e l i t i s m o d a " o p i n i o p b l i c a " . M a s h

    t a m b m u m d e s d o b r a m e n t o q u e v a i , d e

    c e r t a f o r m a , n a d i r e o o p o s t a , m e s m o s e

    o s e f e i t o s t e n d e m a s e r t a m b m n e g a t i v o s :

    o d e q u e o s i n t e r e s s e s e m p r e s a r i a i s e c o

    m e r c i a i s e n v o l v i d o s n a a t i v i d a d e d o s

    m e i o s d e m a s s a o s l e v a m a c o m p e t i r p a r a

    o f e r e c e r g i l e p r o f u s a m e n t e o q u e i n t e r e s

    s a a o g r a n d e p b l i c o , c o m r e d u o d o e s

    p a o o u t e m p o d e d i c a d o a o d e b a t e r e a l o u

    m a i s a p r o p r i a d o d e t e m a s i m p o r t a n t e s .

    D e t o d a m a n e i r a , o s m a t i z e s q u e c a b e r i a

    t a l v e z s a l i e n t a r r e l a t i v a m e n t e t e n d n c i a

    e l i t i s t a d a " o p i n i o p b l i c a " n o f a z e m

    s e n o a s s o c i a r a e l a t r a o s q u e a p o n t a m

    s e j a p a r a c e r t a i n c o n s t n c i a o u f l u i d e z ,

    s e j a p a r a u m c o n v e n c i o n a l i s m o i n t e l e c t u a l

    e m o r a l m e n t e p o b r e e e m p o b r e c e d o r q u e

    p o d e , n a v e r d a d e , s e r c m p l i c e d o e l i t i s

    m o , o u s u a c o n t r a f a c e .

    4

    2

    O s p r o b l e m a s e s b o a d o s t r a z e m i n d a

    g a e s i m p o r t a n t e s q u a n t o f o r m a a s e r

    a s s u m i d a p e l o e s t u d o d e t e m a s d e r e l a

    e s i n t e r n a c i o n a i s e p o l t i c a e x t e r n a c o

    m o d i s c i p l i n a a c a d m i c a . N a t u r a l m e n t e ,

    s e a a t i v i d a d e j o r n a l s t i c a e d o s m e i o s d e

    m a s s a , a l m d e v e c u l o d e d i v u l g a o d e

    i n f o r m a e s s o b r e f a t o s e e v e n t o s p e r t i

    n e n t e s , t e n d e t a m b m a r e l a c i o n a r - s e d e

    m o d o e q u v o c o c o m a o p i n i o p b l i c a e

    s e u c a r t e r p r o b l e m t i c o , d a a t i v i d a d e

    d e p e s q u i s a a c a d m i c a q u e , c o m o r e g r a ,

    c a b e r i a e s p e r a r o e s f o r o d e o b j e t i v i d a d e e

    s o f i s t i c a o i n t e l e c t u a l - o u a p o s t u r a p r o

    p r i a m e n t e c i e n t f i c a , q u e m s a b e - a o t r a t a r

    c o m o s p r o b l e m a s q u e o a s s u n t o e n v o l v e .

    Q u e d i z e r a r e s p e i t o , e s p e c i a l m e n t e q u a n

    t o a o c a s o b r a s i l e i r o ?

    P a r a c o m e a r , t r a t a - s e d e r e a e m q u e ,

    n o o b s t a n t e a t r a d i o d o I t a m a r a t y n a

    d i p l o m a c i a , n o c h e g a m o s a d e s e n v o l v e r

    5 7 V O L l 9 N " 2 S E T / O U T / N O V 2 0 1 0

  • ARTIGOS

    tradio de pesquisa e reflexo acadmica mais rigorosa e profcua. Isso vem recentemente sofrendo mudanas significativas, com a criao de programas e mesmo departamentos universitrios voltados especificamente para as relaes internacionais. No geral, porm, a impresso que se colhe da exposio ao que produz a rea ainda a de acompanhamento e comentrio inteligente (s vezes mais, s vezes menos...) do noticirio a substituir-se pesquisa sistemtica e analiticamente mais ambiciosa, talvez de cunho nomolgico e de pretenses generalizantes, e no fundada apenas na aplicao do sentido comum ao relato Jlidiogrfico" dos eventos.

    No sendo eu mesmo um especialista em relaes internacionais, ainda que seja um profissional da cincia poltica (disciplina que, presumivelmente, deveria fornecer perspectivas e instrumental terico e metodolgico importante para aquele campo especfico), talvez de algum interesse mencionar a frustrante experincia pessoal de participar como convidado h poucos anos, em prestigiado centro brasileiro que reunia nomes de destaque num grupo de trabalho sobre relaes internacionais, de repetidas reunies em que o comentrio do noticirio, por agudo ou sugestivo que fosse s vezes, no se traduzia jamais em projetas de pesquisa sistemtica, ou em indagaes a que se pudesse buscar responder por meio de pesquisa em que dados de algum tipo recebessem tratamento sistemtico.

    Diante do que vimos acima, um perigo a que a rea se expe, em consequncia, o de colocar-se a reboque da discusso jornalstica ou "meditica", vale dizer, da discusso Jlleiga". Por certo, se no cabe pretender erigir a "torre de marfim", insensvel s preocupaes que os problemas justificariam para o pblico em geral, em modelo do trabalho acadmico (o que, ademais, dispensaria o trabalho acadmi

    co de cogitar dos desdobramentos dos problemas tratados relativamente democracia como desiderato), necessrio reconhecer a importncia de que os temas de relaes internacionais e poltica externa sejam objeto de discusso "leiga" - que resultaria ser a discusso entre os prprios cidados como tal - e que o trabalho acadmico a tenha em conta. Contudo, diante do carter socialmente estratificado do envolvimento da populao com tais temas e das conexes disso com o papel da opinio pblica e dos meios de comunicao de massa, pode-se ter a exacerbao negativa da necessria sensibilidade. Estar lia reboque" redundaria, ento, em orientar a definio e o tratamento dos problemas por supostos e perspectivas afins s distores gerais esboadas.

    Provavelmente a principal distoro e fonte de dificuldades tem a ver com a adeso "latente" e acrtica difundida imagem negativa da poltica (como reao inevitvel frustrao da imagem idealizada de que se parte, em que a poltica assimilada, sem mais, realizao do bem pblico) e com as consequncias para como relacion-la especificamente com a poltica externa.

    Assim, nas discusses brasileiras recentes, pode-se ver o empenho difuso e pouco claro em "separar" a poltica externa de eleio e ideologia (da poltica, portanto); ou em salientar o que pode haver de sacrossanto, em termos de "interesse nacional", na poltica externa (ou ao menos em algumas de suas dimenses mais importantes), fazendo dela o objeto de um necessrio "consenso suprapartidrio" e tornando problemtico para a oposio pretender trazer a poltica externa ao debate eleitoral,5

    Posies como essas envolvem afinidades com o autoritarismo de feio tecnocrtica que frequentemente prope a ideia de um "projeto nadonal", com o fatal com

    58 POLITICA EXTERNA

  • P O L I T I C A E X T E R N A , D E M O C R A C I A E R E L E V N C I A

    p o n e n t e d e f a n t a s i a c o n t i d o n a s u p o s i o

    d e u m a i d e n t i d a d e c o l e t i v a q u e , i n d o a l m

    d o m e r o c o m p a r t l h a m e n t o d e t r a o s d e

    p s i c o l o g i a c o l e t i v a o u c u l t u r a i s , s e r i a p o r

    t a d o r a i g u a l m e n t e d e u m a v o n t a d e c o m u m

    - a q u a l s e r i a , p o r s u a v e z , p a s s v e l d e

    a p r e e n s o e a d e q u a d a e x p r e s s o e m t e r

    m o s " a p o l t i c o s " p o r u m a e l i t e e s c l a r e c i d a ,

    d i s p e n s a n d o - s e o p r o c e s s o d e t r a t a r d e

    d e f i n i - l a p o r m e i o d e m e c a n i s m o s e l e i t o

    r a i s e d e d e l i b e r a o d e m o c r t i c a ,

    O p o s t u l a d o b s i c o a o r i e n t a r e s s a

    p e r s p e c t i v a t e c n o c r t i c a e s u p o s t a m e n t e

    a p o l t i c a , c o m o p r p r i o d o t e c n o c r a t i s

    m o , a d e q u e o s f i n s a s e r e m b u s c a d o s s o

    " d a d o s " e n o p r o b l e m t i c o s ( n o " i d e o

    l g i c o s " , o b j e t o d e " c o n s e n s o " ) , e o p r o

    b l e m a q u e r e s t a o p r o b l e m a " t c n i c o " d e

    c o m o l i d a r a d e q u a d a m e n t e c o m o s m e i o s

    d e f o r m a a a s s e g u r a r o s f i n s t o m a d o s c o

    m o d a d o s .

    I s s o s e c h o c a , n a t u r a l m e n t e , c o m o

    p o s t u l a d o b s i c o d a d e m o c r a c i a m e s m a : o

    d e q u e o s f i n s s o i n t r i n s e c a m e n t e p r o b l e

    m t i c o s , e d e q u e n a v e r d a d e o g r a n d e

    p r o b l e m a o p r o b l e m a p o l t i c o d a f i x a o

    d o s f i n s a s e r e m p e r s e g u i d o s p e l a c o l e t i v i

    d a d e , c o n c i l i a n d o o u h i e r a r q u i z a n d o o s

    f i n s v a r i a d o s e f r e q u e n t e m e n t e a n t a g n i

    c o s q u e c o r r e s p o n d e m a d i f e r e n t e s c a t e g o

    r i a s d e a t a r e s e d e i n t e r e s s e s o u v a l o r e s

    a f e t a d o s p e l a s d e c i s e s t o m a d a s e m n o m e

    d a c o l e t i v i d a d e .

    D e t o d o m o d o , a s p r p r i a s r e a e s n o s

    m e i o s d e m a s s a b r a s i l e i r o s a e v e n t o s

    r e c e n t e s d e p o l t i c a e x t e r n a d e i x a m v e r

    c o m c l a r e z a , c o m o f a t a l , a p o l t i c a a i n f i l

    t r a r - s e : e l a s u r g e n o c a r t e r f r e q u e n t e

    m e n t e " p r o j e t i v o " e s v e z e s i n c o n s i s t e n t e

    d a s t o m a d a s d e p o s i o , q u e t e n d e m a

    a j u s t a r - s e s i m p a t i a o u h o s t i l i d a d e d i a n t e

    d o g o v e r n o L u l a . A s s i m , s e s e t r a t a , p o r

    e x e m p l o , d a s a e s d o g o v e r n o d a B o l v i a

    c o m r e s p e i t o P e t r o b r a s , c o b r a - s e d o

    g o v e r n o L u l a , c o m " r e a l i s m o " , a f i r m e

    d e f e s a d o s i n t e r e s s e s n a c i o n a i s ; s e s e t r a t a ,

    p o r m , d e C u b a o u d o I r , a p o s i o q u e

    s e c o b r a a n t e s a d e f e s a i d e a l i s t a d o s d i

    r e i t o s h u m a n o s .

    M a s u m l i v r o r e c e n t e m e r e c e m e n o

    c o m o e x e m p l o i l u s t r a t i v o d e a l g u m a s d a s

    i m p o r t a n t e s d e f i c i n c i a s o u d i f i c u l d a d e s

    a p o n t a d a s . R e f i r o - m e a A A g e n d a I n t e r n a

    c i o n a l d o B r a s i l , d e A m a u r y d e S o u z a , d i s

    t i n g u i d o p e l o f a t o d e s e r p a t r o c i n a d o p e l o

    C e n t r o B r a s i l e i r o d e R e l a e s I n t e r n a c i o

    n a i s ( C E B R I ) , q u e s e a u t o d e f i n e c o m o u m

    t h i n k t a n k f u n d a d o p o r " u m g r u p o d e i n t e

    l e c t u a i s , e m p r e s r i o s , a u t o r i d a d e s g o v e r

    n a m e n t a i s e a c a d m i c o s " , e c o n c e b i d o c o

    m o " u m e s p a o d e e s t u d o e d e b a t e ( . . . ) n o

    m b i t o d a s r e l a e s i n t e r n a c i o n a i s e d a

    p o l t i c a e x t e r n a b r a s i l e i r a " . 6

    N o q u a d r o g e r a l d e p o u c a i n v e s t i g a o

    r i g o r o s a e s i s t e m t i c a , o l i v r o t e m o m r i t o

    d e e n v o l v e r p e s q u i s a e m p r i c a e d e t r a z e r

    d a d o s d e s u r v e y s e x e c u t a d o s c o m e m p e

    n h o d e s i s t e m a t i c i d a d e . M a s n o t v e l

    q u e , d i s p o n d o - s e a t r a b a l h a r c o m O l e v a n

    t a m e n t o d e o p i n i e s e i d e i a s s o b r e p o l t i c a

    e x t e r n a e a p r o c e s s - l a s e s t a t i s t i c a m e n t e ,

    n o o c o r r a a o a u t o r v a l e r - s e d e a m o s t r a s

    d a p o p u l a o o u d o e l e i t o r a d o b r a s i l e i r o s ,

    m a s s i m d e u m c o n j u n t o d e i n d i v d u o s

    e x t r a d o s d e u m a e n t i d a d e d e f i n i d a c o m o

    a " c o m u n i d a d e d e p o l t i c a e x t e r n a " , c o m

    p o s t a d e l d e r e s e m p r e s a r i a i s e s i n d i c a i s e

    d e m e m b r o s d o g o v e r n o , d a i m p r e n s a e

    d a a c a d e m i a ( e m a m p l a c o i n c i d n c i a c o m

    a s c a t e g o r i a s q u e e n t r a m n a c o m p o s i o

    d o p r p r i o C E B R I . . . ) - e q u e n o s e l e v a n

    t e q u a l q u e r i n d a g a o , s e j a d e u m p o n t o

    d e v i s t a m e t o d o l g i c o o u " s u b s t a n t i v o " , a

    r e s p e i t o d a n a t u r e z a d e s s a e n t i d a d e e d e

    c o m o a e s c o l h a d o s i n d i v d u o s a s e r e m

    e n t r e v i s t a d o s s e r e l a c i o n a c o m q u e s t e s

    t a n t o d e r e p r e s e n t a t i v i d a d e e s t a t s t i c a c o

    m o d e r e p r e s e n t a o d e m o c r t i c a .

    M e n o s m a l q u e h a j a a i n c l u s o d e

    m e m b r o s d o g o v e r n o , o q u e p o d e r i a s e r

    u m p o n t o d e p a r t i d a p a r a m a i o r a t e n o

    q u a n t o a o p a p e l d e r e p r e s e n t a n t e s e l e i t o s

    5 9 V O L 1 9 N ' 2 S E T I O U T I N O V 2 0 1 0

  • 3

    ARTIGOS

    - e da poltica (na verdade, h de passa~ gem o reconhecimento, nas concluses, da importncia potencial do Congresso na "definio dos interesses nacionais", ecoando a preocupao expressa por um dos entrevistados com que a poltica externa seja "negociada com toda a socieda~ de" e tenha em algum momento a "ratifi~ cao pelo Congresso'}

    Mas a suposio explcita de que se trata, com a "comunidade de poltica externa", de "elites", e das elites relevantes a respeito do assunto, leva a que se abdique inteiramente do que se poderia chamar uma IIsociologia poltica da poltica externa", e no temos seno a apresentao das maiorias e minorias que as entrevistas fazem surgir quanto a diferentes tpicos es~ pecficos, sem qualquer explorao dos possveis correlatas socioeconmicos, poltico-partidrios ou o que seja das posies adotadas pelos entrevistados. Alm de outro trao especial e revelador: como se trata de elites supostamente revestidas de autoridade a respeito da temtica geral, os entrevistados, em vez de proverem com suas declaraes (usadas fartamente na ilustrao de posies da "comunidade de poltica externa"), a matria-prima para as anlises do autor, acabam por tomar amplamente o lugar do analista, que jamais se confronta com esta ou aquela opinio que transcreve, ou a problematiza ou discute?

    No se pode pretender que o estudo das relaes internacionais e da poltica externa feito no Brasil seja muito especial em algumas de suas dificuldades ou deficincias mais importantes. Ao contrrio, vrias dificuldades parecem inerentes disciplina dedicada s relaes internacio~ nais em si mesma, forada a ter como referncia decisiva antes de tudo entidades

    coletivas nacionais que, apesar de sua enorme complexidade, so tomadas como atores singulares.

    A elaborao das perplexidades que da decorrem poderia partir de evocar certa sequncia de um desses filmes americanos sobre brancos vivendo entre ndios (Um homem chamado cavalo, se no me engano), em que o heri e narrador, a propsito da experincia de participar com seus hospedeiros, em duro combate, da resistncia ao ataque de outra tribo, comenta, em seus prprios termos, o sentimento produzido pelo fato de tratar-se de defender a fanu1ia e a comunidade, no sentido mais concreto e primordial, da ameaa imediata e dramtica do gnlpO estranho. Essa situao extrema talvez o caso mais simples de "poltica externa": trata-se quase da mera autodefesa pessoal, envolvendo em grau mnimo a dilatao ou expanso solidria do amor prprio de que fala Leopardi em algum de seus escritos.

    Em perspectiva analtica ampla, o problema central o que surge da tenso e do desafio de eventual equilbrio entre esse impulso solidrio, por um lado, como impulso autnomo e compatvel com interesses e anseios do indivduo, e, por outro lado, as demandas da coletividade que se toma mais e mais complexa e se transforma em foco potencial de coero. O problema pode ser considerado luz de importante reviso recente nos postulados fundamentais das cincias sociais.

    Refiro-me ao movimento que tem buscado a unificao das /Icincias do comportamento" e que inclui entre elas a biologia evolucionria. As cincias sociais vm presenciando h tempos a implantao da hegemonia do modelo correspondente economia neoclssica, em que o fundamento decisivo o clculo racional atribudo a agentes individuais egoisticamente motivados. A ontologia de que esse fundamento se vale contesta a propenso

    60 POLTICA EXTERNA

  • P O L I T I C A E X T E R N A , D E M O C R A C I A E R E L E V N C I A

    n a t u r a l s o l i d a r i e d a d e e a o c i v i s r n o , q u e

    a p e r s p e c t i v a s o c i o l g i c a o u a n t r o p o l g i c a

    t r a d i c i o n a l v i n c u l o u s e r n p r e o p e r a o

    d e n o r r n a s s o c i a i s q u e o p r o c e s s o c o n t i

    n u a d o d e s o c i a l i z a o p r e s e r v a r i a e r e n o

    v a r i a i n c e s s a n t e r n e n t e , i n c o r p o r a n d o c u l

    t u r a l r n e n t e c a d a n o v a g e r a o ,

    A p e r s p e c t i v a t r a z i d a p e l o r n o v i r n e n t o

    d e u n i f i c a o d a s c i n c i a s d o c o r n p o r t a

    r n e n t o a p r o x i r n a a i d e i a d e " r n a x i r n i z a o

    d a u t i l i d a d e " e d e c l c u l o r a c i o n a l d a d e

    a p t i d o e v o l u c i o n r i a , e a c o n c i l i a c o r n a

    a t e n o p a r a o p a p e l d a s n o r m a s p o r r n e i o

    d a i n t r o d u o d e r n a t i z e s i r n p o r t a n t e s

    q u a n t o a t u a o d e s t a s . A p r p r i a e v o l u

    o d a e s p c i e h u r n a n a p r o d u z i r i a a d i s

    p o s i o c o o p e r a o ( s e r a r n o s " a e s p c i e

    c o o p e r a t i v a " ) , r n a s n o s e t r a t a s i m p l e s

    r n e n t e d e s u b s t i t u i r a b u s c a e g o s t a d e u t i

    l i d a d e o u g a n h o p e l a d i s p o s i o a l t r u s t a ,

    n o r m a t i v a m e n t e i n s p i r a d a , d e c o o p e r a r .

    A " e v o l u o d o c o n t r a t o s o c i a l " ( p a r a

    u s a r o t t u l o d e u m p e q u e n o l i v r o q u e s i n

    t e t i z a d e r n o d o e x c e l e n t e , c o r n o s r e c u r s o s

    d e d i f e r e n t e s d i s c i p l i n a s , a l g u n s d o s p r i n

    c i p a i s p r o b l e r n a s e a v a n o s ) 8 e a g r a d u a l

    c o n s t i t u i o d a e s p c i e h u m a n a c o r n o e s

    p c i e c o o p e r a t i v a s u p o r i a m a n t e s q u e o s

    " e g o s t a s r a c i o n a i s " a o f e i t i o d a s s u p o s i

    e s d a e c o n o m i a n e o c l s s i c a s e j a r n g r a d u

    a l m e n t e s u p e r a d o s p o r g e n t e g u i a d a p o r

    u m a J l l g i c a d a r e c i p r o c i d a d e " , q u e r n a n i

    f e s t a r i a o q u e o s a u t o r e s c h a m a r n d e J l r e c i

    p r o c i d a d e f o r t e " : a d i s p o s i o , p o r u m l a

    d o , d e c o o p e r a r , m e s r n o a a l g u m c u s t o

    p e s s o a l , c o m o u t r o s q u e m o s t r e m d i s p o s i

    o a n l o g a , m a s t a m b m , p o r o u t r o l a d o ,

    a d i s p o s i o d e p u n i r o s q u e v i o l a r n a n o r

    r n a d e c o o p e r a o , i g u l a m e n t e r n e s m o s e a

    p u n i o e n v o l v e r c u s t o s p e s s o a i s .

    9

    P a r t e d e c i s i v a d o s p r o b l e m a s q u e r n e

    p a r e c e m a f e t a r a d i s c i p l i n a d a s r e l a e s

    i n t e r n a c i o n a i s t e r n a v e r c o r n o s i m p l i s m o

    c o r n q u e c o s t u m a a d e r i r a o r e a l i s r n o e g o s

    t a c o m o p o s t u l a d o - e c o r n a p a r t i c u l a r i

    d a d e d e u m e s p e c i a l 1 / c o l e t i v i s r n o m e t o

    d o l g i c o " , e m q u e o c l c u l o r a c i o n a l

    a t r i b u d o n o a o s i n d i v d u o s , m a s c o l e

    t i v i d a d e p o r t a d o r a d o " i n t e r e s s e n a c i o

    n a l " e p e r s o n i f i c a d a n o E s t a d o .

    I s s o p o d e s e r l i g a d o i r n p o r t n c i a a s

    s u r n i d a , n o p l a n o d a s r e l a e s i n t e r n a c i o

    n a i s , p o r q u e s t e s d e i d e n t i d a d e c o l e t i v a ,

    c o m s u a r e l e v n c i a p a r a a d e f i n i o d a

    p r p r i a i d e n t i d a d e p e s s o a L G e n e r i c a m e n

    t e , q u e s t e s d e i d e n t i d a d e r e m e t e m a r e l a

    e s d e i g u a l d a d e e d i f e r e n a , q u e d i z e m

    r e s p e i t o d i v e r s i d a d e d e e t n i a s , c u l t u r a s e

    n a c i o n a l i d a d e s , e m s e n t i d o a m p l o , a s s i m

    c o r n o t e m a v e r c o m o c a s o e s p e c f i c o d e

    r e l a e s h i e r r q u i c a s e n t r e c l a s s e s s o c i a i s

    o u c a t e g o r i a s s o c i a i s e s t r a t i f i c a d a s d e

    q u a l q u e r t i p o q u e c o r r e s p o n d e m a n t e s a

    r e l a e s d e i g u a l d a d e e d e s i g u a l d a d e .

    E m o u t r a s p a l a v r a s , a r e l a o i g u a l

    - d e s i g u a l u m c a s o p a r t i c u l a r d a r e l a o

    i g u a l - d i f e r e n t e . D o p o n t o d e v i s t a d a d e

    m o c r a c i a c o m o t e m a c e n t r a l a i m p o r - s e

    c i n c i a p o l t i c a , s o a s r e l a e s d e i g u a l d a

    d e e d e s i g u a l d a d e , o u d e p o d e r s o c i a l d e s i

    g u a l , q u e s e r e v e l a m c r u c i a l m e n t e i m p o r

    t a n t e s , e a s d i f e r e n a s t n i c a s o u c u l t u r a i s

    s i n t e r e s s a m , d e s s e p o n t o d e v i s t a , n a

    m e d i d a e m q u e t e n d e r n a a s s o c i a r - s e c o r n

    d o m n i o e s u b o r d i n a o .

    O t e m a d a s i n s t i t u i e s e d o d e s a f i o d e

    c o n s t r u o i n s t i t u c i o n a l e n o r m a t i v a g a n h a

    e m c e n t r a l i d a d e e m c o n e x o f o r o s a c o r n

    o i m p u l s o i g u a l i t r i o d a d e m o c r a c i a c o r n o

    m e t a o u i d e a l : p a r t i n d o d a a f i r m a o d a

    i g u a l d a d e d a c o n d i o d e t o d o s c o r n o

    m e m b r o s d e u m a c o m u n i d a d e n a c i o n a l e d o

    s u b s t r a t o p s i c o s s o c i o l g i c o q u e e l a r e p r e

    s e n t a p a r a a e d i f i c a o d o E s t a d o , e s s e i m

    p u l s o , q u e s e d e s d o b r a i n i c i a l r n e n t e , n a

    p o c a m o d e m a , e r n r e c l a m o s d e c u n h o l i

    b e r a l e I I c i v i l " , a c a b a p o r r a d i c a l i z a r - s e n u m

    c o m p l e x o i d e a l r n o d e m o d e c i d a d a n i a , e m

    q u e a o s d i r e i t o s c i v i s e p o l t i c o s v r n j u n t a r

    s e t a m b m o s d i r e i t o s s o c i a i s d o c i d a d o . 1 0

    N o c a s o d a s r e l a e s i n t e r n a c i o n a i s c o

    m o d i s c i p l i n a , p o r m , o s u b s t r a t o d e c i s i v o

    6 1 V 0 L 1 9 N " 2 S E T I O U T I N O V 2 0 1 0

  • ARTIGOS

    a identidade tomada em termos de igual-diferente, com base no qual a coexistncia de comunidades por definio excludentes e ao menos virtualmente antagnicas favorece disposies em que consideraes igualitrias so largamente irrelevantes.

    As cidades-Estado clssicas da Grcia antiga e a Roma republicana j haviam transformado os sentimentos relativos comunidade primordial na virtude "cvica" e "republicana" do cidado solidrio e disposto, no limite, a dar a vida pela coletividade. Mesmo a j estava presente, contudo, a mescla em que a coero difusa ou direta exercida pela coletividade se mistura com os sentimentos de solidariedade e patriotismo vistos como virtudes do cidado individualY O nacionalismo moderno exacerbou tragicamente essa mescla e seus efeitos, produzindo guerras em que as vidas de milhes foram solidariamente, ou ao menos disciplinadamente diante da presso psicolgica e da coero, dadas em nome de desgnios definidos como sendo os da coletividade nacional como tal.

    Provavelmente o aspecto crucial do iderio a envolvido, de importantes consequncias no plano moral, tem a ver com o deslocamento da ideia de autonomia, componente central do ideal democrtico, para o nvel coletivo, de maneira que sua afirmao pode resultar, no limite, na negao da autonomia real (pessoal) dos indivduos ou cidados. Destaca-se aqui, naturalmente, o mundo de Vestflia e da "soberania" nacional, em que, consagrada a no interveno como princpio, ignora-se a questo de at que ponto o exerccio domstico do poder do Estado se faz de maneira autoritria ou democrtica, ou em que medida se garantem os direitos humanos.

    Casos recentes de genocdio e "limpeza tnica" vo aos poucos impondo revises potencialmente importantes a respeito, que no podem seno sensibilizar, se a au

    tonomia um valor, para o absurdo de se pretender assegurar a autonomia coletiva (de um pas ou entidade coletiva qualquer) em circunstncias em que ela se toma a garantia de que ser possvel justamente privar os membros individuais da coletividade em questo, ou parte deles, da autonomia e dos direitos correspondentes. Ainda que seja preciso lembrar que a postura supostamente atenta aos direitos humanos com frequncia envolve ela mesma a responsabilizao de uma entidade coletiva como tal pelos crimes dos ditadores, com novos danos de todo tipo para seus membros inocentes que a ditadura vitima.

    De todo modo, condicionadas pelo jogo peculiar entre identidade e igualdade, as perspectivas analticas bsicas das relaes internacionais como disciplina incorporam certo infantilismo moral que sempre tendeu a caracterizar as relaes entre grupos tnicos e "nacionais" distintos e no qual, no melhor dos casos, uma tica que se pretende "republicana", mas que marcada pelo nimo autoritrio, se substitui a uma tica de inspirao liberal e igualitria.12

    conhecido o trabalho de Jean Piaget sobre temas correia tos, em que desenvolvimento intelectual e desenvolvimento moral no so seno faces da mesma moeda. Pois o desenvolvimento intelectual se caracteriza pela crescente capacidade de superar o egocentrismo prprio da infncia e das fases iniciais do processo, de "descentrar-se" e adotar o ponto de vista dos outros - o que condio para que se viabilizem as operaes da razo sobre objetos passveis de serem manipulados atual ou virtualmente, num mundo que deixa de ser a mera extenso ilusria do eu infantil justamente pelo reconhecimento da "objetividade" trazida pelos mltiplos pontos de vista.13

    Naturalmente, podemos ter "egocentrismo" em escalas mais amplas: o etno

    62 POLITICA EXTERNA

  • P O L I T I C A E X T E R N A , D E M O C R A C I A E R E l E V N C I A

    c e n t r i s m o , n a d e s i g n a o g e n r i c a u s u a l ,

    o u o " s o c i o c e n t r i s m o " , n a l i n g u a g e m d o

    p r p r i o P i a g e t . O e g o s m o , o u a d i l a t a o

    d o " a m o r p r p r i o " l e m b r a d a a c i m a e m

    a l u s o a L e o p a r d i , p o d e v i r a r e f e r i r - s e a

    " m i n h a " f a m l i a , " m i n h a " t r i b o , " m i n h a "

    c i d a d e , " m e u " p a s - e o e s f o r o i n t e l e c

    t u a l d e r e f l e x o " d e s c e n t r a d a " e x i g e a d i

    f c i l t r a n s p o s i o d e s s a s d i v e r s a s b a r r e i r a s

    d e i d e n t i f i c a o s o c i o c n t r i c a q u e t e n d e m

    a a p r e s e n t a r - s e c o m o p o n t o s d e r e f e r n c i a ,

    p a r a o i n d i v d u o , d o c o m p o r t a m e n t o v i r

    t u o s o , s o l i d r i o e p a t r i t i c o .

    E r i g i d o e m " r e a l i s m o " t o s c o e m s u a

    i n c o r p o r a o a o e s t u d o d a s r e l a e s i n t e r

    n a c i o n a i s , e s s e i n f a n t i l i s m o i n c a p a z d e

    " d e s c e n t r a o " e m r e l a o a o i n - g r o u p o u

    c o l e t i v i d a d e a q u e s e p e r t e n c e t e n d e a

    e x c l u i r d e s e u h o r i z o n t e a t o l e r n c i a c o m o

    v i r t u d e c v i c a c r u c i a l q u e u m i d e a l d e p l u

    r a l i s m o d e m o c r t i c o e u n i v e r s a l i s t a p o d e

    f e s t e j a r n o p l a n o n a c i o n a l o u d o m s t i c o ,

    e m b o a m e d i d a p r e c i s a m e n t e e m r a z o d a

    i d e n t i f i c a o c o m u m a c o m u n i d a d e n a c i o

    n a l a b r a n g e n t e .

    T r a n s f o r m a r e m s u p o s i o c e n t r a l a

    i d e i a d e q u e o s i n t e r e s s e s n a c i o n a i s s e r o

    s e m p r e p e r s e g u i d o s ( " r a c i o n a l m e n t e " ) , a

    m e n o s q u e s e d e f r o n t e m c o m u m p o d e r

    c o n t r r i o q u e i n t e r f i r a c o m o c l c u l o , t o r

    n a - s e n a t u r a l p a r a a s r e l a e s i n t e r n a c i o

    n a i s c o m o d i s c i p l i n a . N o a d m i r a q u e ,

    n u m m u n d o r e p l e t o d e d e l i c a d o s p r o b l e

    m a s n o p l a n o t r a n s n a c i o n a l , o s p o s t u l a

    d o s d a d i s c i p l i n a e n c o n t r e m e x p r e s s o

    a p t a n o d i s c u r s o e n a s d e c i s e s a o e s t i l o

    d e c h e f e s d e g a n g u e s d e a d o l e s c e n t e s a

    q u e v e m o s a d e r i r c o m f r e q u n c i a , e m

    n o m e d o s a g r a d o i n t e r e s s e n a c i o n a t s u

    p o s t o s e s t a d i s t a s ( o u , p i o r , e s t a d i s t a s v e r

    d a d e i r o s ) . E o e s p a o t r a n s n a c i o n a l p e r

    m a n e c e e m l a r g a m e d i d a , m e s m o p a r a

    E s t a d o s n a c i o n a i s o r g a n i z a d o s i n t e r n a

    m e n t e d e f o r m a d e m o c r t i c a e s o b o i m

    p r i o d a l e i , c o m o o t e r r e n o b a l d i o e m

    q u e v a l e t u d o .

    4

    N a c o n c e p o d e p o l t i c a f o r m u l a d a

    p o r C a r l S c h m i t t , c o m o s e s a b e , e l a s e d i s

    t i n g u e p e l a c o n t r a p o s i o e n t r e a m i g o e

    i n i m i g o e p e l a p o s s i b i l i d a d e p e r m a n e n t e

    d a g u e r r a a b e r t a o u e f e t i v a . c l a r o q u e

    e s s a c o n c e p o , e m s u a c r u e z a , a j u s t a - s e

    m u i t o m e l h o r , e m n o s s o s d i a s , a o p l a n o

    d a s r e l a e s i n t e r n a c i o n a i s d o q u e p o l

    t i c a d o m s t i c a , a o m e n o s n o s p a s e s d e

    o r g a n i z a o d e m o c r t i c a , e m q u e i n s t i t u i

    e s m a i s o u m e n o s c o n s o l i d a d a s c o n s e

    g u i r a m d a r s o l u o a o p r o b l e m a I I c o n s t i

    t u c i o n a l " d a c o n v i v n c i a d e m l t i p l o s

    i n t e r e s s e s e i d e n t i d a d e s .

    O d e s a f i o p o r e x c e l n c i a q u e o p l a n o

    i n t e r n a c i o n a l c o n t i n u a a s i t u a r , e q u e d e

    c e r t a f o r m a s e a g r a v a n o m u n d o g l o b a l i

    z a d o d e h o j e , o d e c r i a r o e q u i v a l e n t e

    f u n c i o n a l e f e t i v o d a s i n s t i t u i e s d e g o

    v e r n o d e m o c r t i c o - d o E s t a d o d e m o c r

    t i c o - n o p l a n o t r a n s n a c i o n a l e , a o c a b o ,

    p l a n e t r i o . A d i f i c u l d a d e p r i n c i p a l a d e

    c o n s t i t u i r n e s s e p l a n o a c o m u n i d a d e q u e

    s e r v i u d e s u b s t r a t o a o p r o c e s s o d e i n t e

    g r a o n o n v e l n a c i o n a l : c o m o v i m o s ,

    c o m u n i d a d e s u p e i d e n t i d a d e , q u e s e d e

    f i n e j u s t a m e n t e p e l a r e f e r n c i a c o n t r a s

    t a n t e a o s o u t r o s .

    E , a i n d a q u e e s f o r o s d e i n t e g r a o a o

    e s t i l o d a U n i o E u r o p e i a o u a p r p r i a g l o

    b a l i z a o t e n h a m m i t i g a d o a i n t e n s i d a d e

    d o s e f e i t o s n e g a t i v o s d a i d e n t i d a d e e m

    c e r t o s c a s o s , t e m o s t a m b m a i n t e n s i

    f i c a o d e s s e s e f e i t o s n o s n a q u i l o q u e

    S a m u e l H u n t i n g t o n d e s i g n o u c o m o o

    " c h o q u e d a s c i v i l i z a e s " 1 4 ( c e n t r a d o , e s

    p e c i a l m e n t e d o p o n t o d e v i s t a d o I s l , e m

    t r a d i e s r e l i g i o s a s q u e t e n d e m a i r a l m

    d e f r o n t e i r a s c o n v e n c i o n a l m e n t e n a c i o

    n a i s , a p e s a r d a t e n s o d o e t n o c e n t r i s m o

    i s l m i c o c o m c e r t o s n a c i o n a l i s m o s r a b e s ) ,

    m a s t a m b m e m i r r e d e n t i s m o s b 1 i . c o s q u e

    s e r e a f i r m a m n o c o n t i n e n t e e u r o p e u ( e n o

    s l ) : c o m a d e r r o c a d a d o c o m u n i s m o , a

    6 3 V O L 1 9 N " 2 S E T / O U T / N O V 2 0 1 0

  • ARTIGOS

    fragmentao ocorrida na Europa Oriental reeditou e intensificou, s vezes de forma trgica, o processo de "balcanizao", enquanto os prprios avanos integrantes da Unio Europeia (e da globalizao, mais amplamente) favoreceram, em vrios pases da Europa Ocidental, movimentos de autonomia regional que envolviam ou envolvem diferenas tnico-linguisticas e especificidades culturais, ou "nacionalidades" menos ou mais reais.

    Mas, se a psicologia prpria das relaes internacionais envolve clara prevalncia de questes de identidade sobre questes de igualdade, aspectos caractersticos destas ltimas no deixam de afirmar-se e de prover apoio para avanos graduais mas significativos no esforo de construo institucional transnacional.

    O caso da Unio Europeia singular por vrios aspectos, mas um deles certamente o fato de que redunda no xito inequvoco de um esforo de construir instituies visando superao de velhas hostilidades ligadas a identidades nacionais, repetidamente afirmadas em guerras calamitosas. Na perspectiva aqui sugerida, porm, algo de significado talvez maior que as assimetrias e desigualdades no plano internacional, como ocorreu em torno da "questo social" no mbito domstico, podem elas mesmas servir de fundamento e estmulo a redefinies de solidariedade (possivelmente, em algum grau, de identidade) potencialmente relevantes para o processo de construo institucional.

    Esse fato est subjacente a estratgias que, superadas as condies de conflito e alinhamento que tiveram seu paroxismo na Guerra Fria, privilegiam as relaes SulSul na poltica externa de um pas como o nosso, ou nas circunstncias que de repente permitem ao Brasil- parte questes de afinidade tnica, cultural ou religiosa - reclamar protagonismo e pretender atuar como intermedirio relevante nos intrinca

    dos problemas do Oriente Mdio e nos desdobramentos internacionais da poltica nuclear iraniana; ou, mais amplamente, na realidade e peso que (bem ou mal, isto , no obstante a limitada capacidade de imposio coercitiva de suas decises) vem a adquirir a prpria ONU ou, recentemente e de modo talvez especial, a Organizao Mundial do Comrcio (OMC).

    Por certo, tambm a encontramos um foroso substrato "realista". A possibilidade de que opere a "reciprocidade forte" de que se falou antes depende de que v;:> atores envolvidos disponham, em algum grau, da capacidade de impor sanes, mesmo se a algum custo, capacidade esta que um mundo demasiado assimtrico tende, naturalmente, a comprometer.

    Mas at na cena mundial anterior multipolaridade que agora se anuncia - e marcada, na verdade, diante da derrocada recente do socialismo e da Unio Sovitica, pela afirmao de uma renovada hegemonia dos Estados Unidos -, a possibilidade de combinao de realismo com construo institucional ficou clara na guerra do Golfo Prsico de 1991. Velhas anlises de Karl Deutsch, salientando o papel da hegemonia com frequncia exercida por "reas nucleares" no plano domstico ou nacional, j salientavam esse elemento de realismo e poder na constituio e desenvolvimento do espao "comunitrio" de legalidade correspondente aos prprios Estados nacionais modernos. IS

    Antes que as coisas desandassem com o 11 de Setembro de 2001 e George W. Bush, a Guerra do Golfo, que merece talvez ser descrita como a guerra mais legal jamais ocorrida, envolveu igualmente a conjuno favorvel de fatores de Realpolitik e fatores de legitimidade e legalidade internacionais, com a fora militar dos Estados Unidos sendo empregada, em nome de uma comunidade internacional que de fato se afirmou com tal sob o man

    64 POLITICA EXTERNA

  • P O l i T I C A E X T E R N A , D E M O C R A C I A E R E L E V N C I A

    t o d e e s p e c i a l l e g i t i m i d a d e d o s t r a t a d o s

    e m q u e s e b a s e i a a O N U , p a r a e x e r c e r

    a o d e p o l c i a d i a n t e d a f l a g r a n t e v i o l a

    o d e r e g r a s i n t e r n a c i o n a i s p e l o I r a q u e

    d e S a d d a m H u s s e i n .

    A g o r a , o p r o c e s s o q u e p r e s e n c i a m o s

    n a c e n a i n t e r n a c i o n a l t e m j u s t a m e n t e f a

    v o r e c i d o a r e d u o d a i n t e n s i d a d e d a s

    a s s i m e t r i a s e a e m e r g n c i a d e c o n d i e s

    d e m u l t i p o l a r i d a d e , a s q u a i s , c a b e p r e s u

    m i r , t e n d e m a a b r i r , m e s m o c o m f a t a i s

    d i f i c u l d a d e s e a t r i t o s n a s n o v a s c i r c u n s

    t n c i a s , m e l h o r e s p e r s p e c t i v a s d e e f i c c i a

    n a a o d e c o n s t r u o i n s t i t u c i o n a l . D e

    f o r m a c o m p a t v e l c o m o r e c o n h e c i m e n t o

    d a i m p o r t n c i a d o i n g r e d i e n t e r e a l i s t a

    q u a n t o q u e s t o g e r a l , e s s a p e r s p e c t i v a

    e s p e r a n o s a v a l e , e m p a r t i c u l a r , d i a n t e d o

    p r o v v e l p a p e l d o s " m a i s i g u a i s " e n t r e

    o s i n t e r n a c i o n a l m e n t e " m e n o s i g u a i s " , o u

    s e j a , o s c h a m a d o s " e m e r g e n t e s " , q u e p a s

    s a m a c o n s t i t u i r p o l o s d e p o d e r d e i n f l u n

    c i a c r e s c e n t e n a d i n m i c a d e u m p l a n e t a

    g l o b a l i z a d o e a t r a v e s s a d o p o r f a t o r e s e n

    t r e c r u z a d o s d e a p r o x i m a o , a n i m o s i d a

    d e e c o m p e t i o .

    N o p l a n o d o s p r i n c p i o s , n a t u r a l m e n

    t e , m e s m o a G u e r r a d o G o l f o m e r e c e a

    g r a n d e r e s s a l v a d e q u e a l g i c a e m j o g o

    n o s i s t e m a i n t e r n a c i o n a l , c o m o s E s t a d o s

    n a c i o n a i s c o m o a t o r e s d e c i s i v o s , r e s u l t a

    f a t a l m e n t e e m c o n s a g r a r o p r i n c p i o d a

    r e s p o n s a b i l i d a d e c o l e t i v a m e n c i o n a d o a n

    t e r i o r m e n t e . C o n t o r n a r e s s a d i f i c u l d a d e

    s u p o r i a q u e s e p u d e s s e a l c a n a r u m a f o r

    m a d e o r g a n i z a o n o a p e n a s i n t e r n a c i o

    n a l , m a s p r o p r i a m e n t e t r a n s n a c i o n a l , n a

    q u a l s e s u p e r a s s e m , e m a s p e c t o s i m

    p o r t a n t e s , o s E s t a d o s n a c i o n a i s c o m o t a l

    c o m s u a " s o b e r a n i a " , e s e i n s t i t u s s e n o

    p l a n o g l o b a l o p r i n c p i o i n d i v i d u a l i s t a

    q u e a o r g a n i z a o d e m o c r t i c a n a c i o n a l

    t e n d e a c o n s a g r a r .

    p a t e n t e a i n v i a b i l i d a d e d a p r e t e n s o

    d e r e a l i z a r d e m o d o c o n s e q u e n t e e s s a m u

    d a n a n o f u t u r o v i s v e l . M a s a c o m b i n a

    o d o n e c e s s r i o r e a l i s m o c o m a d i s p o s i

    o i g u a l m e n t e n e c e s s r i a d e n o a b d i c a r ,

    e m n o m e d e l e , d o a n s e i o n o r m a t i v o e d o

    o b j e t i v o d e c o n s t r u o i n s t i t u c i o n a l l e v a

    q u a n d o n a d a a c o n c e b e r c o m o m e t a a l g u

    m a f o r m a t e n d e n c i a l m e n t e f e d e r a t i v a d e

    o r g a n i z a o , e m q u e p r o b l e m a s d e n a t u r e

    z a d i v e r s a , d e a c o r d o c o m o p r i n c p i o d e

    s u b s i d i a r i e d a d e , p u d e s s e m s e r t r a t a d o s

    c o m e f i c c i a e m n v e i s a p r o p r i a d o s : d o

    n v e l d o c i d a d o a u t n o m o a o n v e l t r a n s

    n a c i o n a l , p a s s a n d o p e l o s n v e i s l o c a l , r e

    g i o n a l e n a c i o n a l e m q u e s u r g e m c o m u n i

    d a d e s m e n o s o u m a i s r e a i s o u e f e t i v a s .

    A g r a n d e c r i s e q u e v i v e n o m o m e n t o a

    U n i o E u r o p e i a , s i n g u l a r m e n t e b e m - s u c e

    d i d a m a s i n c a p a z a t a q u i d e i n s t a u r a r

    a d e q u a d a d i s t r i b u i o d e p o d e r e n t r e 0 8

    d i v e r s o s n v e i s , d r a m a t i z a a s d i f i c u l d a d e s

    d o a s s u n t o . N o p a r e c e h a v e r c o m o e s c a

    p a r , p o r m , n e c e s s i d a d e d e t r a t a r d e

    a v a n a r n e s s a d i r e o .

    O c a s o d a G u e r r a d o G o l f o p e r m i t e u m

    d e s d o b r a m e n t o f i n a l r u m o a o t e m a d a c o

    n e x o e n t r e p o l t i c a e x t e r n a e q u e s t e s d e

    d e m o c r a c i a e r e l e v n c i a , e m m a i s d e u m

    d o s s e n t i d o s s a l i e n t a d o s d e s t a l t i m a e x

    p r e s s o . P e s q u i s a s d e R i c h a r d E i c h e n b e r g

    c o n d u z i d a s e m 8 1 p a s e s s o b r e o a p o i o

    p b l i c o a o u s o d e f o r a m i l i t a r ( t o m a d o d e

    m a n e i r a q u e s u g e r e e m p a r t i c u l a r a a o

    m i l i t a r p o r p a r t e d o s E s t a d o s U n i d o s ) i n

    c l u r a m s u r v e y s d e o p i n i o e x e c u t a d o s d u

    r a n t e a G u e r r a d o G o l f o , a s g u e r r a s d a

    B s n i a e d o K o s o v o e a s g u e r r a s l i d e r a d a s

    p e l o s E U A n o A f e g a n i s t o e n o I r a q u e .

    1 6

    O p o n t o c r u c i a l d e i n t e r e s s e c o n s i s t e

    e m d u a s o b s e r v a e s p e r m i t i d a s p e l o s

    d a d o s . P o r u m l a d o , c o m o s e r i a d e e s p e

    r a r , c a r a c t e r s t i c a s n a c i o n a i s t a i s c o m o r i

    q u e z a o u p o d e r m i l i t a r r e l a t i v o } c o m p o

    s i o r e l i g i o s a d a p o p u l a o ( p r e s e n a

    m a i o r o u m e n o r d e m u u l m a n o s , e m p a r

    t i c u l a r ) e e n v o l v i m e n t o e m a l i a n a s ( e s p e

    c i a l m e n t e e s t a r d e n t r o o u f o r a d a " r b i t a

    d e a l i a n a s d a s p o t n c i a s d o m i n a n t e s d o

    6 5 V O L 1 9 N " Z S E T / O U T / N O V 2 0 1 0

  • ARTIGOS

    sistema internacional") acham-se fortemente correlacionadas ao apoio ou oposio ao militar.

    Mas outro aspecto dos dados mostra a importncia da percepo da legitimidade internacional, que ilustrada com clareza por padres encontrados em pases de populao muulmana majoritria (Barein, Oman, Arbia Saudita, Turquia e Emirados rabes Unidos): apesar de que, em geral, as sociedades com extensas populaes muulmanas sejam hostis ao uso da fora militar pelos Estados Unidos, durante a Guerra do Golfo o apoio ao militar contra o Iraque alcanou a mdia de 50% nos pases citados, aproximandose de 60% na Arbia Saudita e na Turquia, enquanto, nos outros conflitos, no ia alm de 25% a mdia de apoio nos pases de predominncia muulmana.

    A ptica do prprio Eichenberg a respeito tende a salientar em observaes como essas o carter "sensato", e mesmo "racional", das disposies dos cidados quanto poltica externa, que ele acredita, de fato, ocorrer de maneira mais geral. No obstante os matizes que o condicionamento das disposies e opinies pela estratificao social imponham a essa ptica, os resultados de Eichenberg ressaltam a fora com que o recurso a princpios defensveis em nome de uni-

    Notas 1. Vejam-se larry M. Bartels, "Voice, and Then What?", em G. King, K. L. Schlozman e N. H. Nie (eds.), , Nova York, Routledge, 2009, pp. 104-105, e as referncias a feitas ao trabalho de Martin Gilens e de Lawrence R. Jacobs e Benjamin I. Page, alm de R. Weissberg. 2. Um volume j antigo que apresenta dados eanlises pertinentes Fbio W. Reis (org.), Os partidos e o regime: A logica do processo eleitoral brasileiro. So Paulo, Edies Smbolo, 1978. Otema geral retomado com competncia no recentssimo trabalho de Frederico

    versalismo e legitimidade ou legalidade pode produzir "descentrao" e atitudes ou disposies razoveis na populao em geral, mesmo quando se trata de assuntos especialmente propensos a ferir sensibilidades relativas a identidades nacionais ou tnico-religiosas.

    Resultados como esses evidenciam a impropriedade do empenho de reservar a poltica externa s "elites" em nome da necessidade de dar-lhe tratamento "tcnico" ou /Iconsensual", ou da contraposio entre temas de poltica externa, de um lado, e a poltica como tal, especialmente a poltica democrtica, de outro. Pois os dados indicam a possibilidade de construir politicamente amplos consensos democrticos - de criar condies em que o pblico em geral perceba a relevncia de iniciativas de poltica externa e as aprove -, e de faz-lo justamente pelo apelo a valores e mecanismos institucionais que a democracia consagra. Naturalmente, seria importante que a disciplina acadmica dedicada ao estudo do tema geral no comeasse por cegar-se para as perspectivas que a se abrem. E que, no caso brasileiro, pudesse ser a fonte mais frequente de pesquisas de natureza semelhante em que a efetiva produo de conhecimento e a qualidade analtica fossem a garantia de sua real relevncia prtica.

    Batista Pereira, "Racior.lalidade, ambientes e sofisticao poltica na escolha do candidato a presidente", dissertao de mestrado apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Cincia Poltica da UFMG, Belo Horizonte, 2010. 3. Veja-se, por exemplo, Jrgen Habermas, Between Facts and Norms: Contributions to a Discourse Theory of Law and Democracy. Cambridge, Mass., The MIT Press, captulo 8, "Civil Society and the Politicai Public Sphere". Ponderao especialmente reveladora aqui

    e n is SI c(

    66 POLTICA EXTERNA

  • P O L I T I C A E X T E R N A , D E M O C R A C I A E R E L E V N C I A

    q u e a l i v r e c o m u n i c a o d a e s f e r a p b l i c a a g a r a n t i a

    p o r e x c e l n c i a c o n t r a a l g o q u e o s r e g i m e s p o l t i c o s

    a u t o r i t r i o s t e n d e m a i n s t r u m e n t a l i z a r ( a t r a v s d a

    c e n s u r a a o s m e i o s d e c o m u n i c a o d e m a s s a , p o r

    e x e m p l o ) e q u e a p s i c o l o g i a s o c i a l h m u i t o c h a m a d e

    " i g n o r n c i a p l u r a l s t i c a " : o f a t o d e q u e a s p e s s o a s i g

    n o r e m o g r a u e m q u e s u a s o p i n i e s s o b r e d e t e r m i n a d o

    a s s u n t o s o c o m p a r t i l h a d a s p e l o s d e m a i s e s e j a m l e v a

    d a s a c r e n a s f a l s a s a r e s p e i t o . S e m f a l a r d a p r e s s o d o

    " p o l i t i c a m e n t e c o r r e t o " m e s m o n o s p a s e s d e m o c r t i

    c o s , q u e t e n d e a c o i b i r a m a n i f e s t a o d a o p i n i o p r i

    v a d a e a u t n t i c a d a s p e s s o a s , u m e x e m p l o r e c e n t e

    i l u s t r a d r a m a t i c a m e n t e a i m p o r t n c i a q u e p o d e m a d

    q u i r i r o s m e c a n i s m o s e n v o l v i d o s : a d e r r o c a d a d o " s o

    c i a l i s m o r e a l " n o L e s t e E u r o p e u e m 1 9 8 9 , i n c l u i n d o

    e n t r e s u a s c a u s a s a p e r c e p o s b i t a d e q u e a h o s t i l i d a

    d e a o r e g i m e e r a d i f u n d i d a . V e j a - s e e s p e c i a l m e n t e

    T i m u r K u r a n , P r i v a t e T r u t h s , P u b t i c L i e s : T h e S o c i a l C o n

    s e q u e n c e s o f P r e f e r e n c e F a l s i f i c a t i o n , C a m b r i d g e ,

    M a s s . , H a r v a r d U n i v e r s i t y P r e s s , 1 9 9 5 .

    4 . A s q u e s t e s e n v o l v i d a s s o d i s c u t i d a s e m F b i o W .

    R e i s , " P o l t i c a e t i c a n a a t u a l i d a d e b r a s i l e i r a " , e m M a r

    c l i o M . M o r e i r a e o u t r o s , , S o P a u l o , E T C O I i F H a E d i t o

    r a S a r a i v a , 2 0 0 9 .

    5 . D o i s a r t i g o s r e c e n t e s d e j o r n a l d e a u t o r i a d e a c a d

    m i c o s , i n c l u i n d o u m e s p e c i a l i s t a e m r e l a e s i n t e r n a c i o

    n a i s , p o d e m s e r c i t a d o s c o m o i l u s t r a o : " C u b a " , d e

    M a r c o s N o b r e ( F o l h a d e S . P a u l o , 1 6 d e m a r o d e 2 0 1 0 ,

    p . 2 ) e " A e n c r u z i l h a d a d a o p o s i o n o d e b a t e d a p o l

    t i c a e x t e r n a " , d e M a r i a R e g i n a S o a r e s d e l i m a e F a b i a

    n o S a n t o s ( V a l o r E c o n m i c o , 5 d e a b r i l d e 2 0 1 0 , p . A l O ) .

    A c a r a c t e r i z a o a q u i f e i t a n o p r e t e n d e f o r n e c e r u m a

    s n t e s e a d e q u a d a d o s a r t i g o s , c u j a s f o r m u l a e s c o n

    t m m a t i z e s r e l e v a n t e s . M a s o t r a o d e s t a c a d o e s t

    p r e s e n t e n e l e s d e m o d o n t i d o e e x p l c i t o .

    6 . A m a u r y d e S o u z a , A A g n c i a I n t e r n a c i o n a l d o B r a s i l :

    A P o l t i c a E x t e r n a B r a s i l e i r a d e F H C a L u l a , R i o d e J a n e i

    r o , E l s e v i e r / C E B R l , 2 0 0 9 . A s c i t a e s s o t o m a d a s d a

    H A p r e s e n t a o " d o l i v r o .

    7 . T a l v e z v a l h a a p e n a e v o c a r , a p r o p s i t o , u m a p a s

    s a g e m d e a r t i g o d e M a r y A n a s t a s i a O ' G r a d y n o j o r n a l

    V a l o r E c o n m i c o s o b r e a p o l t i c a e x t e r n a d o g o v e r n o

    L u l a ( " L u l a p r e j u d i c a a r e p u t a o d o B r a s i l " , 1 4 d e

    j u n h o d e 2 0 1 0 , p . A 1 5 ) : " C o n f o r m e a l e r t o u o e x - p r e

    s i d e n t e F e r n a n d o H e n r i q u e C a r d o s o , a p o l t i c a d e L u l a

    e s t f a z e n d o o B r a s i l ' m u d a r d e l a d o ' , m a s n o e s t

    n e m u m p o u c o c l a r o s e o s b r a s i l e i r o s c o n c o r d a m c o m

    i s s o " . N a t u r a l m e n t e , a a b o r d a g e m d e A m a u r y d e

    S o u z a d i f i c i l m e n t e p e r m i t i r i a d i z e r q u e " o s b r a s i l e i r o s

    c o n c o r d a m .

    8 . B r i a n S k y r m s . E v o l u t i o n o f t h e S o c i a l C o n t r a d , C a m

    b r i d g e , C a m b r i d g e U n i v e r s i t y P r e s s , 1 9 9 6 .

    9 . N a j e x t e n s a l i t e r a t u r a d a r e v i s o e m q u e s t o ( q u e

    i n c l u e m 0 5 t r a b a l h o s d e E l i n o r O s t r o m , c i e n t i s t a p o l t i c a

    a g r a c i a d a e m 2 0 0 9 c o m o P r m i o N o b e l d e E c o n o m i a ) ,

    v e j a m - s e , p o r e x e m p l o , E r n s t F e h r . U r s F i s c h b a c h e r e

    S i m o n G c h t e r , " 5 t r o n g R e c i p r o c i t y , H u m a n C o o p e r a t i o n

    a n d t h e E n f o r c e m e n t o f S o c i a l N o r m s " , H u m a n N a t u r e ,

    v . 1 3 , 2 0 0 2 , p p . 1 - 2 , b e m c o m o a l g u n s t r a b a l h o s r e c e n t e s

    d e H e r b e r t G i n t i s , e c o n o m i s t a d e p a p e l d e s t a c a d o n o

    m o v i m e n t o : " A F r a m e w o r k f o r t h e U n i f i c a t i o n o f t h e

    B e h a v i o r a l S c i e n c e s " , B e h a v i o r a l a n d B r a i n 5 c i e n c e s , v .

    3 0 , 2 0 0 7 , p p . 1 - 6 1 ; e , T h e B o u n d s o f R e a s o n : G a m e

    T h e o r y a n d t h e U n i f i c a t i o n o f t h e B e h a v i o r a l S c i e n c e s ,

    P r i n c e t o n , N . J . , P r i n c e t o n U n i v e r s i t y P r e s s , 2 0 0 9 .

    1 0 . A r e f e r n c i a c l s s i c a a r e s p e i t o T . H . M a r s h a l l ,

    " C i t i z e n s h i p a n d S o c i a l C l a s s " , i n c l u i d o e m T . H . M a r s

    h a l l , C l a s s , C i t i z e n s h i p , a n d S o c i a l D e v e l o p m e n t , N o v a

    Y o r k , D o u b l e d a y , 1 9 6 5 . N u m a p e r s p e c t i v a q u e i n c o r p o

    r a a s v i c i s s i t u d e s d o w e l f a r e s t a t e e m s e g u i d a i i r e a f i r

    m a o r e c e n t e d o l i b e r a l i s m o e g l o b a l i z a o , v e j a - s e .

    p o r e x e m p l o , P a u l P i e r s o n ( e d . ) , T h e N e w P o l i t i c s o f t h e

    W e l f a r e S t a t e , O x f o r d , O x f o r d U n i v e r s i t y P r e s s , 2 0 0 1 .

    1 1 . A c r t i c a d a i d e a l i z a o f r e q u e n t e d a d e m o c r a c i a d a

    " c i d a d e a n t i g a " d e G r c i a e d e R o m a p o d e s e r e n c o n

    t r a d a e m E r n e s t G e l l n e r , C o n d i e s d a L i b e r d a d e : A

    S o c i e d a d e C i v i l e S e u s C r t i c o s . R i o d e J a n e i r o , J o r g e

    Z a h a r E d i t o r e s , 1 9 9 6 .

    1 2 . E m " P o l t i c a e t i c a n a a t u a l i d a d e b r a s i l e i r a " , c i t a d o

    a c i m a , d i s c u t o a d i s t i n o e n t r e u m a t i c a d e i n s p i r a o

    " r e p u b l i c a n a " e o u t r a d e i n s p i r a o l i b e r a l .

    1 3 . V e j a m - s e , p o r e x e m p l o , o s e n s a i o s r e u n i d o s e m J e a n

    P i a g e t , E s t u d o s S o c i / g i c o s . R i o d e J a n e i r o , F o r e n s e , 1 9 7 3 .

    1 4 . S a m u e l P . H u n t i n g t o n , T h e C l a s h o f C i v i l i z a t i o n s a n d

    t h e R e m a k i n g o f t h e W o r l d O r d e t ; N o v a Y o r k , T o u c h

    s t o n e , 1 9 9 7 .

    1 5 . K a r l W . D e u t s c h , N a t i o n a l i s m a n d S o c i a l C o m m u n i

    c a t i o n : A n I n q u i r y i n t o t h e F o u n d a t i o n s o f N a t i o n a / i t y ,

    C a m b r i d g e , M a s s . , T h e M I T P r e s s , 1 9 6 6 .

    1 6 . R i c h a r d C . E i c h e n b e r g , " G l o b a l P u b l i c O p i n i o n t r o m

    t h e F i r s t G o l f W a r t o t h e I n v a s i o n a n d O c c u p a t i o n o f

    I r a q " , a p r e s e n t a d o n a c o n v e n o d a I n t e r n a t i o n a l

    S t u d i e s A s s o c i a t i o n , S a n D i e g o , C a l i f r n i a , 2 2 a 2 5 d e

    m a r o d e 2 0 0 6 . O s a c h a d o s r e l e v a n t e s s o r e s u m i d o s

    e m R i c h a r d C . E i c h e n b e r g , C i t i z e n O p i n i o n o n F o r e i g n

    P o l i c y a n d W o r l d P o l i t i c s " , c a p t u l o 2 9 d e R u s s e l l 1 .

    D a l t o n e H a n s - D i e t e r K l i n g e m a n n ( e d s . ) , T h e O x f o r d

    H a n d b o o k o f P o l i t i c a i B e h a v i o r , O x f o r d , O x f o r d U n i v e r

    s i t y P r e s s , 2 0 0 7 .

    6 7 V O L 1 9 N 2 5 E T I O U T I N O V 2 0 1 ( )