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Percepções do médico-chefe a respeito de atividades educativas em Postos de Assistência Médica. Perceptions of head doctors regarding the educational activities undertaken in Municipal Health Services Isabel Maria Teixeira Bicudo Pereira *, Márcia Faria Westphal *, Glacilda Telles Menezes Stewien * PEREIRA, I.M.T.B. et al. Percepções do médico chefe a respeito de atividades educativas em Postos de Assistência Médica. Rev. Saúde públ., S. Paulo, 25: 306-14, 1991. Realizou-se pesquisa com médicos-chefe dos Postos de Assistência Médica (PAMs) da Prefeitura Municipal de São Paulo, Brasil, com o objetivo de investigar seus conhecimentos, expectativas e predisposições em participar e incentivar as programações educativas nos PAMs. Utilizou-se questionário, com questões abertas e fechadas que foi respondido por 88,6% dos médicos-chefe dos PAMs. Os resultados demonstraram que o conceito de saúde da maioria dos médicos-chefe dos PAMS (66,3%) coincide com o emitido pela Organização Mundial da Saúde. Apenas 2,9% consideram que saúde está relacionada a qualidade de vida. Educação em saúde foi considerada por 70,0% como transmissão de informação; somente 6,7% reconheceram sua responsabilidade no processo de transformação social e de saúde. Na visão de 68,2% as ações educativas são reconhecidas como úteis para conscientizar o usuário sobre a importância do tratamento de doenças. Essas ações, seu planejamento, execução e avaliação são reconhecidas como responsabilidade de todos que trabalham nos PAMs mas, especialmente, das enfermeiras, assistentes sociais e educadores de saúde pública. Dificuldades foram mencionadas na execução de atividades educativas, referentes à falta de material suficiente e local adequado para sua realização, falta do educador de saúde pública e, principalmente, falta de motivação de funcionários e da própria população. A maioria dos médicos-chefe reconhece a importância das ações educativas, reconhece que são desenvolvidas por pelo menos parte de sua equipe embora, muitas vezes, precariamente, com dificuldades técnicas e administrativas. Descritores: Médicos. Conhecimentos, atitudes e prática. Educação em saúde. Introdução Dados os compromissos políticos ocorridos re- centemente, no país, de resgate da dívida social, foi assinado, no dia 20 de julho de 1987, decreto que criou o Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde-SUDS 7 , visando a consolidar ou permitir o desenvolvimento qualitativo das experiências de integração de serviços e racionalização de recursos de acordo com o ideário da Reforma Sanitária 6 . Nesta nova forma de organização são criados mecanismos de concretização dos princípios esta- belecidos para reger o nosso Sistema Nacional de Saúde: integração das ações para superar a dicoto- mia preventiva-curativa; descentralização na * Departamento de Prática de Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública da Universidade São Paulo. São Paulo, SP Brasil. Separatas/Reprints:I.M.T.B. Pereira - Av. Dr. Arnaldo, 715 - 01255 - São Paulo, SP - Brasil. Publicação financiada pela FAPESP. Processo 90/4602-1. gestão de ações e serviços, permitindo uma adap- tação contínua à realidade em transformação; re- gionalização e hierarquização de ações e serviços para permitir o atendimento das necessidades de diferente complexidade em diferentes níveis com referência e contra-referência; fortalecimento do papel do município; atendimento de acordo com as necessidades da população; qualidade do atendi- mento compatível com o estágio de desenvolvi- mento do conhecimento e com os recursos dis- poníveis, formação de profissionais de saúde integrada ao sistema. Destes princípios e sua ope- racionalização consideramos importante comentar dois deles, a integração e descentralização que fornecem elementos para definição de nosso pro- blema de estudo. A necessidade de integração de serviço era há muito tempo sentida em função da multiplicidade de instituições envolvidas no mesmo tipo de ações: Ministério da Saúde, Previdência Social, Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, além de instituições privadas que operacionalizam essa integração.

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Percepções do médico-chefe a respeito de atividades educativas emPostos de Assistência Médica.

Perceptions of head doctors regarding the educational activities undertaken inMunicipal Health Services

Isabel Maria Teixeira Bicudo Pereira *, Márcia Faria Westphal *, Glacilda Telles Menezes Stewien *

PEREIRA, I.M.T.B. et al. Percepções do médico chefe a respeito de atividades educativas em Postosde Assistência Médica. Rev. Saúde públ., S. Paulo, 25: 306-14, 1991. Realizou-se pesquisa commédicos-chefe dos Postos de Assistência Médica (PAMs) da Prefeitura Municipal de São Paulo,Brasil, com o objetivo de investigar seus conhecimentos, expectativas e predisposições em participar eincentivar as programações educativas nos PAMs. Utilizou-se questionário, com questões abertas efechadas que foi respondido por 88,6% dos médicos-chefe dos PAMs. Os resultados demonstraramque o conceito de saúde da maioria dos médicos-chefe dos PAMS (66,3%) coincide com o emitidopela Organização Mundial da Saúde. Apenas 2,9% consideram que saúde está relacionada a qualidadede vida. Educação em saúde foi considerada por 70,0% como transmissão de informação; somente6,7% reconheceram sua responsabilidade no processo de transformação social e de saúde. Na visãode 68,2% as ações educativas são reconhecidas como úteis para conscientizar o usuário sobre aimportância do tratamento de doenças. Essas ações, seu planejamento, execução e avaliação sãoreconhecidas como responsabilidade de todos que trabalham nos PAMs mas, especialmente, dasenfermeiras, assistentes sociais e educadores de saúde pública. Dificuldades foram mencionadas naexecução de atividades educativas, referentes à falta de material suficiente e local adequado para suarealização, falta do educador de saúde pública e, principalmente, falta de motivação de funcionários eda própria população. A maioria dos médicos-chefe reconhece a importância das ações educativas,reconhece que são desenvolvidas por pelo menos parte de sua equipe embora, muitas vezes,precariamente, com dificuldades técnicas e administrativas.

Descritores: Médicos. Conhecimentos, atitudes e prática. Educação em saúde.

Introdução

Dados os compromissos políticos ocorridos re-centemente, no país, de resgate da dívida social, foiassinado, no dia 20 de julho de 1987, decreto quecriou o Sistema Unificado e Descentralizado deSaúde-SUDS7, visando a consolidar ou permitir odesenvolvimento qualitativo das experiências deintegração de serviços e racionalização de recursosde acordo com o ideário da Reforma Sanitária 6.

Nesta nova forma de organização são criadosmecanismos de concretização dos princípios esta-belecidos para reger o nosso Sistema Nacional deSaúde: integração das ações para superar a dicoto-mia preventiva-curativa; descentralização na

* Departamento de Prática de Saúde Pública da Faculdadede Saúde Pública da Universidade São Paulo. São Paulo,SP — Brasil.

Separatas/Reprints:I.M.T.B. Pereira - Av. Dr. Arnaldo, 715 -01255 - São Paulo, SP - Brasil.

Publicação financiada pela FAPESP. Processo 90/4602-1.

gestão de ações e serviços, permitindo uma adap-tação contínua à realidade em transformação; re-gionalização e hierarquização de ações e serviçospara permitir o atendimento das necessidades dediferente complexidade em diferentes níveis comreferência e contra-referência; fortalecimento dopapel do município; atendimento de acordo com asnecessidades da população; qualidade do atendi-mento compatível com o estágio de desenvolvi-mento do conhecimento e com os recursos dis-poníveis, formação de profissionais de saúdeintegrada ao sistema. Destes princípios e sua ope-racionalização consideramos importante comentardois deles, a integração e descentralização quefornecem elementos para definição de nosso pro-blema de estudo.

A necessidade de integração de serviço era hámuito tempo sentida em função da multiplicidadede instituições envolvidas no mesmo tipo deações: Ministério da Saúde, Previdência Social,Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, alémde instituições privadas que operacionalizam essaintegração.

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Um dos intuitos das autoridades governamen-tais ao descentralizar a gestão desses serviços inte-grados foi deixar a gerência mais perto da ação. Opoder central já há muito vinha sentindo dificul-dades no desenvolvimento de ações de planejamen-to, organização, controle e direção que respondes-sem às necessidades da população, ao contrário dopoder local que convive diariamente com os mora-dores de suas cidades e conhece mais suas necessi-dades. A expectativa era de que, se o serviço nãodesenvolvesse suas atividades a contento, que a po-pulação denunciasse concretizando o que se de-nominou "controle social dos serviços de saúde".

A implantação da descentralização vem ocorren-do de acordo com a política de cada Estado. No casode São Paulo, a opção foi pela municipalizaçãoonde a assinatura do convênio SUDS determinou apassagem de recursos humanos e materiais de ori-gem federal para o gerenciamento do Estado, ca-minhando-se assim para a concretização do concei-to de "comando único". O Estado, por sua vez,repassou às Prefeituras, que com ele fizeram convê-nio, recursos financeiros, materiais e humanos vi-sando ao desenvolvimento das atividades de saúdede caráter preferencialmente primário, mas poden-do também aprofundar esse nível de atendimento.

Na realidade, em São Paulo a municipalizaçãovem ocorrendo gradativamente no interior do Esta-do não tendo ainda se concretizado no Municípiode São Paulo. Pensa-se que para tal estrutura fun-cionar, onde já ocorreu a municipalização e noMunicípio de São Paulo onde está para ocorrer, al-gumas mudanças mais profundas, especialmenteem nível dos funcionários, devem acontecer. Osprincípios básicos da Reforma Sanitária precisamser incorporados, para que se desenvolva umprocesso amadurecido entre serviços de saúde epopulação.

Para isso é necessário, entre outras coisas, quese desenvolvam projetos de educação continuada,que permitam aos trabalhadores de saúde "buscarinformações científicas e tecnológicas necessáriasà interpretação de situações vigentes na sociedade,tornando transparentes seus objetivos e seus com-prometimentos ideológicos"; "comprometer-secom a causa popular", "compreender o processoensino-aprendizagem que ocorre entre as pessoas,grupos e classes sociais"12.

Sendo os médicos-chefe das Unidades Básicasde Saúde (UBS) locais, os representantes oficiaisdo sistema municipal de saúde junto à população eos responsáveis pela implantação de um novo sis-tema com novas idéias, e considerando que cabeàs Unidades sob sua responsabilidade não só ofe-recer atendimento médico, mas o preparo dos aten-didos, ou melhor, da coletividade, na luta pelo seudireito à saúde, a partir do entendimento das con-

dições de vida que interferem no processo saúde-doença, resolvemos realizar o presente estudo. Afinalidade é questionar a forma como os médicos-chefe percebem o trabalho de saúde com a popu-lação e a educação em saúde, atualmente conside-rada instrumento acionador da participação do pes-soal de saúde na gestão dos serviços e dapopulação no equacionamento e solução dos pro-blemas de saúde da coletividade. Os dados obtidospoderão subsidiar o poder municipal no reconheci-mento dos problemas e necessidades do nível locale contribuir para a solução dos mesmos, especial-mente no que se refere ao preparo do pessoal queestará liderando a implantação do novo sistema: oschefes de Postos de Assistência Médica (PAMs).

Metodologia

A população de estudo foi constituída pelosmédicos-chefe de todos os PAMs da Secretaria deHigiene e Saúde da Prefeitura Municipal de SãoPaulo (PMSP), que em 1989 perfaziam um totalde 115 Unidades*.

O instrumento de pesquisa foi um questionáriosemi-estruturado, que pressupunha autopreenchi-mento, composto por 24 questões, das quais algu-mas fechadas, complementadas por questões aber-tas, e outras somente abertas. A introdução dequestões abertas segue a recomendação de Wind-sor e col.14, que reafirmam serem as mesmas im-prescindíveis para se penetrar mais profundamentena essência e subjetividade do objeto de estudo.

A população foi caracterizada pelas seguintesvariáveis: sexo, idade, tempo de serviço na prefei-tura, ter feito Curso de Saúde Pública, e/ou cursode chefia, ser ou ter sido médico consultante.

Os conceitos de saúde e educação em saúde fo-ram obtidos através de questões abertas. Categoriasde respostas, ou melhor, eixos temáticos de concei-tos emitidos pelos respondentes foram categoriza-dos pelas técnicas de análise de conteúdo2. Para tan-to, reportou-se aos conceitos clássicos de saúde,encontrados na literatura1,4,10. Incluiu-se neste re-ferencial teórico de análise o conceito difundido apartir da 8a Conferência Nacional de Saúde6 e refe-rendado na nova Constituição Federal do Brasil 3.

Os parâmetros para análise do conceito de edu-cação em saúde foram baseados na literatura8,9,11,12,onde se identificou um gradiente entre dois tipos

* Nessa época os PAMs pertenciam ao Departamento deSaúde da Comunidade e pretendiam atuar como "porta deentrada" da população no Sistema Municipal de Saúde. Apartir de 1989 a Secretaria passa por mudanças em sua es-trutura com o objetivo de preparar-se para a implantaçãodo Sistema Único de Saúde, na cidade de São Paulo.

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de visões. A mais tradicional, configura a edu-cação em saúde como meio, complemento e su-porte das ações médico-sanitárias visando à suamaior eficiência, através da regulamentação e nor-matização de atividades, hábitos e comportamen-tos da população dentro dos padrões de normali-dade sanitária11. A mais inovadora, e maiscoerente com os ideais da Reforma Sanitária, de-fine como finalidade da ação educativa o "desen-volvimento no indivíduo e no grupo da capacidadede anilisar criticamente a sua realidade, de decidirações conjuntas para resolver problemas e modifi-car situações, de se organizar e realizar a ação eanalisá-la com espírito crítico"8.

O valor e importância atribuídos à educação emsaúde pelos médicos-chefe foram avaliados não sóa partir de uma questão fechada e direta, que veri-ficou a prioridade atribuída a esta última emrelação a outras atividades desenvolvidas pelaUnidade, mas principalmente através da justificati-va solicitada para esta priorização.

A forma como a educação em saúde vem sendodesenvolvida foi identificada a partir de questõessobre a inserção das ações educativas assis-temáticas na prática diária do pessoal de saúde eatividades sistematizadas por processos clássicosde planejamento, supervisão e avaliação.

Como já foi dito, a interpretação das questõesfechadas foi subsidiada pelas questões abertas quequalificaram os eventos. Foi buscada a coerência erelação entre as respostas a diferentes questões,como sugerem Wetherell e Potter13 para análise dodiscurso, a partir de respostas a questionários.

Os questionários distribuídos tiveram alta per-centagem de retorno - (88,7% = 102 questionários)ficando a diferença justificada por férias, licençase inexistência de chefia em alguns PAMs.

Resultados

Características Gerais dos Médicos-Chefe dosPAMs da PMSP

Os dados obtidos permitiram caracterizar a popu-lação de estudo como um grupo heterogêneo quantoà faixa etária, que varia de 25 a 60 anos, porém amaioria dela pode ser considerada jovem (46,2% en-tre 25 e 35 anos e 72, 1 % entre 25 a 40 anos). Mais dametade (56,2%) é do sexo feminino e a grandemaioria (80,8%) trabalha a menos de 10 anos naPMSP, Departamento de Saúde da Comunidade.

Apesar de prestarem serviço em Unidades deSaúde, que tem como objetivo a assistência àsaúde da coletividade, somente 33,6% deles pre-pararam-se formalmente para lidar com as questõesde saúde coletiva, especializando-se em saúde

pública em diferentes instituições: UNAERP(29,7%), USP (27%), São Camilo (24,0%) eFCMSC (10,8%) *. A PMSP, entretanto, atravésda Secretaria de Higiene e Saúde, preocupa-secom o preparo das chefias para o exercício de suafunção, pois a maioria dos médicos-chefe (82,7%)foi indicada e freqüentou o Curso de Chefia, pro-movido pela mesma.

Embora seja intenção das estruturas hierárqui-cas superiores que os médicos-chefe dos PAMsexerçam somente funções administrativas, entreelas o planejamento e supervisão de ações, grandeparte deles (58,7%) acumula à primeira a de Mé-dico consultante. Os que não exercem função nomomento (38,3%) já exerceram no passado, mos-trando que a maior parte já conhece, por experiên-cias anteriores, os problemas práticos que o aten-dimento apresenta.

Percepção dos médicos-chefe sobre o conceito desaúde e educação em saúde

Na Tabela 1 estão sintetizadas as concepções desaúde emitidas pelos médicos-chefe. Mais da me-tade (66,4%) fez sua a definição estabelecida naconstituição da OMS10. Com pequenas diferenças,22,3% atribuíram o significado de "adaptação eequilíbrio" ao processo saúde-doença. Somente dois(1,9%) definiram saúde conforme a 8a Conferência

* UNAERP - Universidade de Ribeirão Preto; USP -Universidade de São Paulo; São Camilo - Faculdade deCiências de Saúde São Camilo; FCMS - Faculdade deCiências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

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Nacional de Saúde realizada, em 19866, comoresultante da qualidade de vida dos diferentes gruposda sociedade.

Na Tabela 2 estão sumarizadas as percepçõessobre educação em saúde dos médicos-chefe. Oque pode ser visto é que a maior parte (43,2%)entende "Educação em Saúde" como "trans-missão de informações" que deverá se traduzirem comportamentos definidos "a priori" comoadequados à saúde.

Somente uma pequena parcela dos médicos-chefe (12,5%) aproximou-se da vertente inovado-ra da educação8,9,11,12, definindo-a como um tra-balho crítico, de integração, de troca, um instru-mento de transformação social, que permitirá aconscientização da população a respeito doprocesso saúde-doença e sua organização para aconquista de melhores condições de saúde3. Nestegrupo estão os que enfatizaram o desenvolvimen-to de aptidões (5,7%) e no outro os que enfatiza-ram o processo de troca e a finalidade transforma-dora conforme definido no parágrafo acima(6,7%). Uma maior percentagem de médicos-chefe mostra ter incorporado elementos de uma

"nova" concepção de educação12, o que não ocor-reu com incorporação de uma "nova" concepçãode saúde6.

Percepção dos médicos-chefe sobre as açõeseducativas desenvolvidas nos PAMs da PMSP.

A grande maioria dos médicos-chefe dos PMAs(92,3%) afirma que nas Unidades são desenvolvi-das ações educativas. Quando questionados sobrea importância que essas ações têm em termos deprioridade, descobre-se que 68,2% as considerammuito importantes e prioritárias, enquanto 22,1%as julgam importantes, mas não prioritárias.

Para ilustrar o que caracteriza a opinião doschefes quanto à prioridade ou não dessas ações, re-lacionamos a seguir alguns depoimentos.

As Ações Educativas são prioritárias porque:- "só o médico não resolve a questão da saúde";- "educar é fundamental na prevenção, diagnós-

tico e tratamento precoce";- "é preciso esclarecer a população que é igno-

rante";- "cria nas pessoas uma consciência crítica da

causa de seus problemas".

As Ações Educativas não são prioritárias porque:- "mais importantes que essas ações são as refe-

rentes a tratamento e vacinação",- "elas não existem, como processo contínuo",-"médicos e dentistas têm que atender a uma

outra prioridade: são as consultas agendadas,(além das emergências do dia)", cujo número épré-estabelecido pela Administração Central;

- "a população é displicente";- "alta demanda e falta de espaço físico prejudi-

cam ou impedem a sua realização".

Ações educativas informais

Segundo os médicos-chefe, ações educativasinformais são executadas, multiprofissionalmente,por todo o pessoal da unidade (técnico, auxiliar eou administrativo), sendo que o pessoal de níveluniversitário participa com muito mais ênfasenessas atividades. Entre esses, os mais citados, emordem decrescente, foram: médicos, enfermeiras,assistentes sociais, educadores. Dentistas e psicó-logos aparecem em último lugar com percentagensiguais (Tabela 3).

A participação do pessoal auxiliar de enferma-gem e/ou administrativo, nesse processo, ainda nãoé reconhecida pela maioria dos chefes, embora osdados coletados demonstrem que, de certa forma(Tabela 3), alguns já os percebem como educadores.

Cerca de 2/3 dos chefes afirmam que, na reali-dade, todos os profissionais educam.

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Ações educativas formaisQuem propõe o desenvolvimento de açõeseducativas

A opinião sobre quem deve ter a iniciativa depropor o desenvolvimento das ações educativasconcentra-se nos profissionais universitários quetrabalham nos PAMs, especialmente o médico,educador e assistente social (Tabela 4). Apenasum considera que elas devam ser propostas pelosníveis superiores e implantados por decisão daschefias dos PAMs. Alguns (16,3%) acharam quepode ser de iniciativa de qualquer funcionário.

Quem participa

Os profissionais dentista, psicólogo e médicosão os que, na prática, têm mais dificuldade emparticipar de ações educativas formais (aqui enten-didas como atividades planejadas tais como gru-pos de discussão e/ou de informação) em con-seqüência da sobrecarga de demanda jáprogramada para consulta e da qual têm que darconta, e da cobrança de produção. Grande parte(15,3%) atribui à "equipe multiprofissional" aexecução de atividades educativas formais. Educa-dor, assistente social e enfermeira e "até" aten-dente e auxiliares de enfermagem são os elemen-tos que mais freqüentemente compõem estas"equipes".

Quem planeja

De acordo com a concepção de saúde predomi-nante no grupo de estudo, a maioria dos médicos-chefe (80,7%) considera que as atividades educati-vas formais dos PAMs são planejadas e que doplanejamento só participa a equipe envolvida noproblema ou em uma determinada área de atuação.Na maior parte das vezes as equipes, sem a partici-pação dos usuários, buscam identificar as necessi-dades da população local e programam ações paraatendê-las.

Existência de avaliação

Da mesma forma que o planejamento, a ava-liação também é considerada como realizada nosPAMs por 69,2% dos chefes. Esta atividade temsido responsabilidade da equipe que a planejou e aexecutou, segundo a opinião de 40,3% dos médi-cos-chefe; 6,7% deles consideram que esta respon-sabilidade é unicamente da chefia da unidade. Orestante divide a sua opinião entre as afirmaçõesde que avaliar é responsabilidade do chefe maisequipe; do profissional encarregado daquela ativi-dade; de profissionais como enfermeira, assistentesocial e educador. Apenas um declarou que estaatividade pode ser responsabilidade de auxiliares eatendentes de enfermagem.

As ações educativas são avaliadas através dereuniões, em que se discutem os resultados obti-dos (33,6%). Consideram que os efeitos da açãodesenvolvida são também verificados pelas per-centagens de retornos a consultas agendadas ououtras atividades marcadas (6,0%), seguimentodas orientações (11,5%) e comparação dos resul-tados obtidos com os objetivos propostos(6,7%)*.

* % resultantes de respostas múltiplas.

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Características das açõeseducativas desenvolvidas em geral

Coerentemente com as concepções de saúde ede educação em saúde, a maioria dos chefes(88,4%) definiu as ações educativas tanto formaiscomo informais, como o ato de transmitir infor-mações sobre pré-natal, hipertensão, aleitamento,vacinação, entre outros.

Apenas 5,7% consideraram o ato de educar emsaúde como algo contínuo, um processo, presenteem todas as atividades, objetivando o desenvolvi-mento da crítica, iniciativa, criatividade e sensoparticipativo em todos os níveis.

Mais da metade dos chefes (59,6%) afirma que odesenvolvimento das ações educativas, planejadasou não, é supervisionado pela equipe, pela chefia,ou pelos profissionais responsáveis pela área.

Papel do profissional educador de saúdenos PAMs

Embora somente um médico-chefe tenha seposicionado de forma a reconhecer que a respon-sabilidade de educar é do educador, quando ques-tionados diretamente sobre o papel desse profis-sional quase metade (44,3%) deles reconheceucomo função do mesmo "desenvolver ações edu-cativas com funcionários e comunidade". Entre-tanto, outros, reconhecendo que cabe a todos de-senvolver atividades educativas, vêem o papel doeducador como de "coordenador das ações educa-tivas desenvolvidas na unidade" (27,8%), "elo deligação entre o serviço de saúde e a população"(20,1%), "o que promove a integração da equipemultiprofissional, visando ao planejamento deprogramas" (16,3%), "o que assessora a equipequanto aos aspectos educativos do trabalho"(7,6%), "o que supervisiona esta ações" (6,7%),ou "as avalia" (3,8%).

Dificuldades no desenvolvimento de açõeseducativas em geral

Segundo os médicos-chefe, algumas dificul-dades vêm obstaculizando a implementação deações educativas em nível de PAM (Tabela 5).

A maioria das dificuldades se refere a problemasligados a equipe que trabalha em seu próprio PAM,formação do pessoal, interesse e integração. Umaparcela de 14,4% desloca o problema para a popu-lação mostrando a dificuldade de alguns profissio-nais relacionarem-se com a mesma. Outros ainda sãode opinião que os níveis central e regional do Depar-tamento de Saúde da Comunidade não provém recur-sos humanos (educador de saúde pública) e materiaisque viabilizem a execução dessas tarefas.

O espaço de discussão no PAMs

De acordo com informações dos médicos-chefedos PAMs, 92,3% têm incluído no seu agenda-mento reuniões de funcionários realizadas com se-guinte periodicidade: mensais (55,7%), bimestrais(3,8%) e semanais (2,8%).

A discussão conjunta dos problemas dos PAMsé o principal motivo de sua convocação (82,6%).Dentro desse tema maior, são trazidos problemasrelacionados ao funcionamento, deficiências doserviço, insatisfação salarial, problemas adminis-trativos e outros. Uma segunda motivação para en-contros são as reciclagens informais, leitura dedocumentos e criação de novas atividades(28,8%). São ainda utilizadas para avaliação dosprogramas em andamento (11,5%) e análise dasações educativas planejadas para atender necessi-dades da população (3,8%).

Sugestões dos médicos-chefe para oincremento das atividades educativasa nível local

De acordo com as dificuldades apontadas peloschefes dos PAMs para o desenvolvimento de ativi-dades educativas, foram feitas sugestões de modi-ficação, que foram sintetizadas por temas:

1. provimento de recursos materiais e humanosnecessários ao desenvolvimento de atividades edu-cativas;

2. preparo do pessoal sobre importância dasações educativas, seus métodos e técnicas;

3. organização de atividades formais desde lo-cal, planejamento, esquema de supervisão e ou-tros.

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A existência de sugestões mostra que, apesardas dificuldades, existe interesse das chefias emque as ações educativas ocorram e que se desen-volvam como outras atividades de assistência.

Comentários

O equacionamento da questão da saúde no nos-so país está passando por um processo de revisãode suas bases conceituais e de sua prática.

A proposta do SUDS, que se baseia na con-cepção ampla de saúde e pressupõe a valorizaçãodo Município, como responsável pela integraçãopolítica e financeira das instituições que partici-parão do equacionamento dos problemas de saúdelocais, aponta para alguns caminhos, entre elesformação da consciência coletiva do direito àsaúde, impulsionadora de transformação das con-dições de vida e melhoria dos níveis de saúde.

Os dados do presente trabalho mostram que ofuturo (o convênio de municipalização ainda nãofoi efetivado) representante oficial do novo siste-ma de saúde, os médicos-chefe dos PAMs daPMSP, estão distantes do novo ideário propostotanto em termos de saúde, quanto de educação. Aanálise desta questão é de importância fundamen-tal, especialmente porque acreditamos que a per-cepção das práticas educativas em saúde e o dire-cionamento dado às mesmas pelas chefias sãoreflexos das concepções dos médicos-chefe, medi-adas pela realidade local. Identificando os concei-tos de saúde e educação em saúde emitidos, verifi-camos que representam diferentes maneiras decompromisso consciente e inconsciente com dife-rentes concepções de saúde e/ou diferentes tendên-cias educacionais.

A grande maioria adotou uma visão idealizadada saúde, que encontra muito dos seus fundamen-tos na moralidade social, que é a concepção desaúde de Organização Mundial da Saúde (OMS).

O fato de a maioria estar assumindo esta con-cepção de saúde, indica em relação a concepçãobiologizante da saúde, uma mudança qualitativa,que tem tido reflexos positivos no exercício daspráticas de saúde e educação. Essa mudança reve-lou-se no presente trabalho pela demonstração, por70% dos médicos-chefe, da compreensão do papelrelevante da educação no processo de melhoria dasaúde da população e da responsabilidade de todose cada um dos que trabalha com a clientela nosucesso ou fracasso desse processo conforme jáassegurava Cleary5. Foi ainda expressa pelaadoção de um modelo de atendimento individualou multiprofissional, que integra o componenteeducativo tanto nos consultórios como fora deles.O questionamento que foi feito na apresentação de"dificuldades para realização de atividades educa-

tivas, a exigência quantitativa de número de aten-dimento de consultas competindo com atividadesgrupais, multiprofissionais, parece também reflexode um novo modo de pensar, que busca o tipoideal de saúde, através de ações racionais e plane-jadas de transmissão de informação e de normas.

Outra concepção, que foi expressa por umnúmero razoável de médicos-chefe, foi a dos quequalificaram saúde como adaptação e equilíbrio eque, provavelmente, consideram a causalidade dadoença, função de vários fatores - agente, hospe-deiro e ambiente - que se acham inter-relacionadose em constante equilíbrio. Ao utilizarem fatoresexternos naturais, como critério para analisar oequilíbrio/desequilíbrio na explicação de saúde,dão outro salto qualitativo, porém sem desvendar adeterminação econômico-social da doença. Sendoo equilíbrio colocado como "disfunção de órgãos",geralmente é de se esperar que a educação emsaúde seja concebida como uma intervenção, quedeve prevenir ou corrigir comportamentos queprovocam esta disfunção. Esta visão de saúde in-corpora a educação como uma prática necessáriapara criar e mudar comportamentos e atitudes queinterfiram no bom funcionamento do organismo epor extensão na saúde do grupo e da comunidade9.Na realidade, parte dos que mostraram assim pen-sar identificaram como função das ações educati-vas diminuir ou eliminar a "ignorância", pois estaé importante fator desencadeador de doença. Outraparcela ainda (31,7%) a considerou como umprocesso capaz de produzir nos indivíduos a assi-milação de padrões ou normas e corrigir desviosdas mesmas para evitar o "desequilíbrio" e a"doença". Geralmente os que pensam assim imagi-nam a, desordem, a desobediência às normas es-tabelecidas, também um fator de desequilíbrio queconduz à doença, e atribuem à educação o papelde controlar e de estabelecer normas.

Estas duas frações de médicos-chefe que se posi-cionaram a favor destas duas primeiras abordagensde educação, embora representem uma visão mais"moderna" de saúde, representam, também, umavisão da prática educativa mais próxima da vertentetradicional normatizadora e regulamentadora e quevem sendo assumida pelos serviços de saúde, isto é,"a diretriz que tem norteado a ação educativa estáconcentrada na dimensão comportamental, numavisão simplista de que conhecimentos e atitudesadequadas sobre saúde constituem fatores indicati-vos de condutas adequadas"7.

Na visão da maioria dos médicos-chefe a açãoeducativa é uma forma de influir sobre a popu-lação para que esta substitua suas práticas indivi-duais de saúde, reforçando a idéia de que a culpapela eventual perda da saúde é de responsabilidadeda pessoa e nada tem a ver com suas condições de

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vida. Nesse sentido, assume a função de instrumen-to de reprodução da situação vigente no campo dasaúde e de modo geral no país.

Em relação a "nova" concepção da saúde, defen-dida na 8a Conferência Nacional de Saúde, verifica-mos que a mesma não foi absorvida pelas chefiaslocais, apesar de tão discutida em nível de acade-mia e dos níveis hierárquicos mais altos das insti-tuições de saúde.

Tentando estabelecer uma relação entre a for-mação dos chefes em saúde pública e suas con-cepções de saúde/doença, observamos que mais dametade dos que fizeram Curso de Saúde Pública(18,3%), o fizeram após a 8a Conferência Nacionalde Saúde, entre os anos de 1986 e 1988. É de es-tranhar que somente 2 destes (1,9%) tivessem in-trojetado uma nova visão de saúde.

O comprometimento com a "nova" concepçãode saúde, veiculada a partir da 8a Conferência Na-cional de Saúde, significaria a incorporação dos de-terminantes econômico-sociais na explicação doprocesso saúde/doença e a adoção de uma visãoparticipativa de educação, que incorpora o pessoalauxiliar de saúde e a população no processo de-cisório de planejamento e avaliação. Isto não estáocorrendo nos PAMs, uma vez que os médicos-chefe nem mencionaram estes entre os que partici-param de planejamento e avaliação.

Para que a educação em saúde pública possa con-tribuir para os objetivos da saúde no Município, Esta-do e/ou País, de democratização do acesso a serviçosassistenciais de qualidade e a longo prazo em mu-danças de estrutura e organização social geradoras dedoença, de acordo com a nova visão de saúde e edu-cação, precisa se transformar ideológica e tecnica-mente. E necessário que se torne uma prática compro-metida, um instrumento para preparar a populaçãoatendida para desvendar não só os determinantes in-dividuais do processo saúde, mas também oseconômico-sociais. Assim se desenvolvendo setransformará num elemento acionador da luta políticada população pelo direito à saúde, colaborando para atransformação da realidade social. Ainda é ne-cessário, a par de ser percebida na sua nova feição,que seja acionada como uma prática de metodologiasespecíficas, que exigem um mínimo de preparo dequem oriente o processo e um máximo de recursospara sua efetivação. Esta visão parece estar sendo in-corporada por uma minoria de médicos-chefe.

Nas sugestões dos médicos-chefe o aspecto téc-nico é contemplado, lembrando a necessidade dapresença de um especialista de educação em nívellocal e solicitando recursos auxiliares para o desen-volvimento das ações educativas. O que mais umavez não aparece é o aspecto político que dá energiaao processo, e que poderia ser adquirido através deeducação continuada.

Se o poder decisório assumir que é necessáriorever as concepções de saúde, educação e aspráticas educativas vigentes, será necessário queseja oferecido, aos médicos-chefe, além da possi-bilidade de fazer Curso de Chefia, a oportunidadede atualização e/ou reciclagem sobre o tema saúdee suas formas de abordagem.

É necessário, também que seja estimulado o es-tabelecimento de um "espaço" de discussão nosPAMs. Considerando que o preparo do pessoal emfilosofia, métodos e técnicas educativas inovadasprecisam ser combinados e planejados em conjun-to, a existência de um espaço de reuniões torna-sede importância fundamental uma vez que o exis-tente é bastante precário.

Embora as ações educativas tenham sido lem-bradas por poucos, como tema de reuniões, pode-sedizer que em alguns serviços locais já existem ex-periências de utilização deste espaço para mudançade direcionamento e das práticas médicas e que es-tas podem ser recuperadas e transmitidas às outrasunidades se isto for considerado de importância.

Conforme foi apresentado, grande parte dos pro-blemas mencionados tem a ver com a falta de recur-sos que deveriam ser providos pela AdministraçãoRegional ou Central. Da forma como as situaçõesproblemas foram descritas, transparece que as che-fias dos PAMs têm possibilidades limitadas de so-lucionar estas dificuldades identificadas.

Por outro lado, a falta de participação daAdministração Central na resolução dos problemaspermite inferir que a importância atribuída a açõeseducativas pela mesma tem sido muito mais emnível de discurso do que de implementação. Comessa omissão do nível regional e/ou central os médi-cos-chefe têm ficado, como único responsável pelaoperacionalização das propostas, respaldadas naboa vontade, esforço, criatividade e competênciacircunstancial dos servidores que ali atuam. As con-seqüências dessa realidade são a descontinuidade, aimprovisação, o eterno recomeçar, a não avaliaçãodo impacto dessas ações, entre outras.

Se realmente há uma proposta de implantação deum novo sistema com um novo ideário é necessárioverificar, sobre quais concepções ele tentará se so-brepor e recomeçar a mudança pelo preparo de recur-sos humanos pela mudança de visão e mentalidade,sem se ater somente a programas de racionalização eorganização de serviços, tarefas e funções.

PEREIRA, I.M.T.B. et al. [Perceptions of head doctorsregarding the educational activities undertaken inMunicipal Health Services]. Rev. Saúde públ., S. Paulo,25: 306-14, 1991. The results of a research project car-ried out along with head-physicians of the MunicipalHealth Services (PAMs) of the city of S. Paulo in orderto survey their knowledge, expectations and willingness

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to participate in and incentivate educational programs inthe various PAMs, are reported on. An open-ended ques-tionnaire was answered by 88.6% of the head-physicians.Results showed that the concept of health of the majorityof the PAMs' head-physicians (66.3%) was coincidentalwith that adopted by the WHO. Only 2.9% consideredthat health is related to quality of life. Health educationwas seen as the provision of information by 70.0%; only6.7% recognized their responsibility for the process ofsocial and health change. According to 68.2% of them,health actions were acknowledged to be useful tools formaking the users aware of the importance of having thediseases treated. Health actions, their planing, implemen-tation and evaluation were considered to be the responsi-bility of all who work at the PAMs, but mainly of nurses,social workers and the health educator. Some difficultiesin implementing educational activities were indicated;among them being lack of sufficient material and ade-quate space for their implementation, lack of profession-al Public Health Educators and, mainly, a lack of motiva-tion on the part of both staff and population. Themajority of the head-physicians recognized that educa-tional activities are important, that they are carried out atleast by part of their staffs, although frequently ham-pered by technical and operational difficulties.

Keywords: Physicians. Knowledge, attitudes, practice.Health education.

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Recebido para publicação em 31/01/1991Aprovado para publicação em 07/06/1991

* Cópia disponível com o primeiro autor do presente artigo.