Parasitologia e Patologia

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    CENTRO INTEGRADO DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL - CIEP COORDENAÇÃO DO CURSO TÉCNICO EM ENFERMAGEM

    PARASITOLOGIA E PATOLOGIA

    EMENTA: Introdução à Patologia, conceitos básicos; Infecções parasitárias, mecanismos detransmissão dos agentes infeccioso; Agente infecciosos e ectoparasitos e suas doençastransmissíveis; Citar as principais doenças causadas por bactérias, vírus, fungos e protozoários,seus meios de transmissão e sua profilaxia; Definir e classificar helmintos; citar as principaisdoenças causadas por helmintos e zoonoses, seu ciclo evolutivo, seus meios de transmissão e suaprofilaxia. Meio ambiente e as formas de controle dos agentes infecciosos.

    Conteúdo Programático

    UNIDADE I – Introdução à Parasitologia e Patologia1.1- Conceitos básicos1.2- Conceito de saúde1.3- Conceito de doença1.4- Processo saúde-doença

    UNIDADE II- Infecções parasitárias e a transmissão dos agentes infecciosos2.1 Cadeia de transmissão dos agentes infecciosos2.2 Doenças transmissíveis e não transmissíveis2.3 Parasitoses e doenças transmissíveis

    2.3.1- Fatores que influenciam o parasitismo como causa das doenças

    infecciosas2.3.2- Dinâmica da transmissão das infecções parasitárias e doenças

    transmissíveis2.3.3- Principais portas de entrada ou vias de penetração dos agentes infecciosos2.3.4- Principais portas de saída ou vias de eliminação dos agentes infecciosos2.3.5- Ações nocivas dos agentes infecciosos ectoparasitos sobre os seres vivos.

    UNIDADE III- Agentes infecciosos e ectoparasitos e suas doenças transmissíveis4.1- Principais doenças causadas por vírus4.2- Principais doenças causadas por bactérias4.3- Principais doenças causadas por fungos4.4- Principais doenças causadas por vírus protozoários4.5- Principais doenças causadas por helmintos (vermes)

    4.6- Principais doenças causadas por artrópodes (ectoparasitos)

    UNIDADE 1V – ANATOMIA PATOLÓGICA 3.1 – Definição de Patologia.3.2 – Noção de lesão.3.4 – Agentes patogênicos.3.5 – Biópsia3.6 – Necrose.3.7 – Etiologia.3.8 – Alterações morfológicas básicas

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    UNIDADE I - INTRODUÇÃO À PARASITOLOGIA

    Observando as inter-relações entre os animais, a ecologia criou conceitos. Ficando oconceito de parasitologia como sendo a parte da ciência que estuda o parasitismo.

    Parasitismo é definido, por COELHO (1995), como uma relação direta e indireta entre dois

    organismos geralmente bem determinados, o hospedeiro e o parasito. Nessa relação o parasito vivea custa do hospedeiro, caracterizando uma relação desarmônica, em que sé ha benefício para umdos organismos envolvidos. Assim o hospedeiro é indispensável para o parasito, separado dele,morrerá por falta de nutrientes.

    Existem outros papeis a serem ocupados na relação parasito-hospedeiro. Dentre elespodemos destacar:

    Hospedeiro definitivo: é o ser que aloja o parasito por um período maior de tempo, é também, ondeobservamos o desenvolvimento e a reprodução do parasita.

    Hospedeiro intermediário: é o ser onde o parasita se desenvolve parcialmente, passando para oestágio adulto só no hospedeiro definitivo.

    Vetor:  também conhecido como hospedeiro de transporte, pode ser um artrópode, molusco, ondenão ocorre crescimento da larva: permanecendo no seu estado infestante. Nesse estado a larvapode ser transmitida de um hospedeiro para outro até o hospedeiro definitivo.

    Existem dois tipos de vetores:

    -BioIógico: onde as larvas se reproduzem dentro do vetor.

    -Mecânico: onde o vetor só serve como meio de transporte.

    CONCEITOS BÁSICOS UTILIZADOS EM PARASITOLOGIA

    AGENTE ETIOLÓGICO –  é o agente causador ou o responsável pela origem da doença.

    Pode ser um vírus, bactéria, fungo, protozoário ou um helminto.ENDEMIA - quando o número esperado de casos de uma doença é efetivamente observadoem uma população em um determinado espaço de tempo.

    DOENCA ENDÊMICA - aquela cuja incidência permanece constante par vários anos, dandouma idéia de equilíbrio entre a população e a doença.

    EPIDEMIA -  é a ocorrência, numa região, de casos que ultrapassam a incidêncianormalmente esperada de uma doença.

    INFECÇÃO - é a invasão do organismo por agentes patogênicos microscópicos.INFESTAÇÃO - é a invasão do organismo por agentes patogênicos macroscópicos.VETOR -  organismo capaz de transmitir agentes infecciosos. O parasita pode ou não

    desenvolver-se enquanto encontra-se no vetor.HOSPEDEIRO - organismo que serve de habitat para outro que nele se instala encontrando

    as condições de sobrevivência. O hospedeiro pode ou não servir como fonte de alimento para o

    parasito.PROFILAXIA - é o conjunto de medidas que visam a prevenção, erradicação ou controle dasdoenças ou de fatos prejudiciais aos seres vivos.

    PARA QUE HAJA SAÚDE

    Podemos conceituar SAÚDE como um estado caracterizado pelo bom e normaldesenvolvimento físico e psíquico do individuo, alem de um perfeito equilíbrio funcional dos seusórgãos e sistemas. Mas a Organização Mundial de Saúde (OMS), entidade integrante da ONU(Organização das Nações Unidas), vai mais além nesse conceito, inserindo como fator de saúde asituação do individuo no contexto social em que vive. Assim, tornou-se oficialmente aceito em todo omundo o seguinte conceito de saúde: SAÚDE não e se a ausência da doença, mas o completo bem-estar físico, mental, moral e social do individuo.

    Para que haja saúde, são necessárias certas condições que se reúnem em 3 itens:

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    CONDICOES GERAIS DE SAÚDE:

    As condições gerais de saúde são aquelas que dizem respeito a toda uma comunidade.Compreendem as características topográficas da região em que se vive, com suas variações

    climáticas e sazonais, a natureza do solo, a pureza da água e do ar, além de levar em consideração

    a salubridade das residências, o tipo de indumentária habitualmente usada, a qualidade daalimentação, a existência ou não de saneamento básico na área, de serviços assistenciais de saúde,como postos de atendimento médico e de vacinação, ambulatórios, hospitais, sanatórios, bem comode creches e escolas, além de locais de recreação e lazer.

    É muito fácil compreender essas condições gerais de saúde quando se comparam certosaglomerados populacionais. Basta comparar as favelas e logradouros da periferia das grandesmetrópoles, ou os conglomerados de palafitas e os pequenos povoados a beira de alguns rios, ouainda aqueles situados no agreste, em meio a caatinga, ou no centro do pantanal mato-grossense,com os bairros ricos e de classe média-alta da maioria das cidades brasileiras.

    A pobreza, a subnutrição, a carência de conhecimentos básicos de higiene, a promiscuidadee a marginalização social conduzem, quase sempre, a delinqüência, ao vício e a improdutividade.Esses são, de resto, caminhos seguros que quebram o vinculo do individuo com a saúde.

    CONDIÇÕES ESPECIAIS DE SAÚDE:

    As condições especiais de saúde são as que se aplicam diretamente a cada indivíduo.Abrangem o asseio corporal, a boa alimentação, a prática habitual de esportes. O estudo orientado eo trabalho equilibrado não exaustivo. Mas é muito importante que a criatura, criança, jovem ouadulto, mantenha uma boa integração com a família e a sociedade. Isso representa relevante fatorpara a construção e preservação de um verdadeiro estado de equilíbrio emocional, indispensável nocontexto da saúde psicossomática.

    MEIOS PROFILÁTICOS E TERAPÊUTICOS

    Os meios profiláticos e terapêuticos constituem todos as cuidados, aconselhamentos erecursos, como substâncias ou medicamentos, que se destinam, respectivamente, a prevenir e a

    curar as doenças.A profilaxia ou prevenção das doenças tem, em muitos casos, o seu grande elemento deapoio na utilização de vacinas. As vacinas mais conhecidas e difundidas são a BCG (contra atuberculose), a antitetânica, a antivariólica, a Sabin (contra a poliomielite ou paralisia infantil), atríplice (contra a difteria, o tétano e a coqueluche), a dupla (contra a difteria e o tétano), a anti-rábica(contra a raiva ou hidrofobia, que e usada mais comumente em animais domésticos, como cães egatos) além de outras vacinas menos comuns, como as que protegem contra a meningite, a cólera, afebre amarela, o carbúnculo, o dengue etc.

    A vacinação consiste em se inocular no indivíduo o agente causal da doença emconcentração ou forma que seja incapaz de provocar sua manifestação. O agente inoculado podeser uma substância (uma toxina bacteriana, um veneno de natureza vegetal ou uma peçonha deanimal perigoso) ou uma certa quantidade de microrganismos (bactérias ou vírus) que, emborapatogênicos, tenham perdido, por meio de artifícios laboratoriais, o seu poder de morbidez.

    Após a vacinação, o organismo inoculado reage a presença do antígeno que nele foiintroduzido, indiferente a natureza ou eficiência patogênica desse antígeno, criando anticorpos, quesão lançados na circulação e vão inativá-lo, desnaturá-Io ou, por outra qualquer forma, destruí-lo. Apartir de então, quando ocorrer, a qualquer época, nova invasão do organismo por aquele mesmoantígeno (ainda que ele esteja plenamente eficiente ou em quantidade suficiente para produzir seusefeitos), ele será prontamente destruído pelos anticorpos presentes.

    O sistema linfocitário, constituído pelos chamados órgãos linfóides, como o baço, o timo, osgânglios linfáticos ou linfonodos e outros, em notável desempenho nessa função e algumas células,marcantemente os linfócitos, trabalham intensamente na produção de anticorpos.

    Mas a profilaxia não é feita apenas com o uso de vacinas. Muitos cuidados fáceis e práticostem o caráter profilático de evitar doenças. É o caso do uso de calçados na prevenção de certasverminoses, como a ancilostomose, por exemplo, ou o cuidado de não comer carne mal cozida, paraevitar a teníase. A profilaxia da esquistossomose consiste em não se expor ao contato com a água

    de rios, ribeirões e córregos onde existam caramujos e a doença esteja presente endemicamente.

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    Entende-se por terapêutica o emprego de medicamentos ou outros recursos que se destinama combater uma doença já instalada no indivíduo. A terapêutica difere da profilaxia porque já nãotem o caráter preventivo das vacinas, mas sim o objetivo de curar.

    Os produtos usados em terapêutica constituem medicamentos e compreendem uma vastaescala de substâncias cujos efeitos são extremamente variáveis. Ainda que sejam numerosos os

    antiinflamatórios, os antidistônicos, os antidepressivos, os coagulantes e anticoagulantes, osantiespasmódicos, os analgésicos, os antidiarréicos, os antianêmicos e muitos outros, destacam-sepor sua ação antiinfecciosa os antibióticos e quimioterápicos, assim como sobressaem os soros, porsua ação contra microrganismos e toxinas que invadem o sangue ou os tecidos.

    Os antibióticos são substâncias bactericidas ou bacteriostáticas, isto é, que matam ousimplesmente impedem o desenvolvimento das bactérias. São naturalmente produzidos por muitosfungos e certas bactérias. A penicilina e a estreptomicina são produzidas por fungos dos gênerosPenicillium e Streptomyces. A tirotricina é produzida por bactérias. A lisozima é encontrada nalágrima, como produto de secreção glandular. Todos os antibióticos têm função antimicrobiana. Olargo consumo mundial de tais substâncias impôs a sua síntese artificial em laboratório, sendo hojepraticamente quase todo o consumo constituído, em larga escala, de produtos sintéticos. Osprincipais antibióticos, e também os mais conhecidos são a peniclina, a estreptomicina, astetraciclinas, a eritromicina, a bacitracina, a polimixina, a tirotricina, o cloranfenicol, as ampicilinas, as

    cefalosporinas, etc.Os soros são produzidos e atuam dentro do mesmo princípio da reação antígeno-anticorpoque vimos no comentário sobre vacinas. Sempre que se introduz num organismo por via parenteral(injetável) uma substância estranha a esse organismo e de natureza protéica, ele reage, elaborandooutra substância protéica capaz de inutilizar, inativar ou bloquear aquela primeira. A substânciainoculada é o antígeno, e a substância formada é o anticorpo. Algumas vezes, a reação antígeno-anticorpo pode se manifestar com consequências graves para o indivíduo, como reações alérgicasagudas e de elevada gravidade (reações de anafilaxia ou choque anafilático), com hemólise ou comaglutinação sanguínea. Todavia, em muitos casos, a reação antígeno-anticorpo não oferece perigoao indivíduo e, pelo contrario, Ihe confere um estado de imunização contra aquele antígeno. Atéaqui, essa explicação corresponde a um processo de vacinação. Mas se essa vacinação forpraticada num animal forte e resistente, como o cavalo, por exemplo, pode-se, após certo tempo,recolher o sangue desse animal, onde por certo já se encontram elevadas concentrações de

    anticorpos, e dele se separar o soro. O sangue colhido é desfibrinado, ou seja, dele é retirado ofibrinogênio, e, em seguida, submetido a centrifugação, para isolamento dos elementos figurados(hemácias, leucócitos e plaquetas). Resulta, por fim, unicamente o soro, que está rico em anticorpos.Ele é, então, embalado em ampolas e se mostra pronto para usa em casos de emergência. É assimque surgem os soros antiofídicos, antiescorpiônico, contra peçonhas diversas de aranhas, anti-rábico, antitetânico, antidiftérico etc.

    É muito importante não confundir os soros de origem animal usados no tratamento dedoenças graves provocadas pela ação de toxinas exógenas (venenos e peçonhas) ou causadas pormicrorganismos, com o soro fisiológico e o soro glicosado, que são soluções aquosas de sais (noprimeiro caso) e de glicose (no segundo), utilizadas para a recomposição do volume circulatório, nosdoentes operados e que perderam certo volume de sangue, ou com finalidade nutritiva e derestauração do equilíbrio hidrossalino ou eletrolítico do doente. Também se usam o soro fisiológico eo soro glicosado como veículos para a introdução no organismo de outros medicamentos.

    Como ficou dito anteriormente, a terapêutica não consiste unicamente no emprego demedicamentos. Outros recursos também são usados, conforme a natureza da doença. A radioterapiatem larga indicação na regressão de tumores. A fisioterapia se utiliza de raios ultravioleta,infravermelhos, ondas curtas, ultra-som, raios laser, hidromassagens, fornos e muitos outrosrecursos no tratamento das doenças.

    DOENÇA - CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO

    Nos dicionários é comum encontrar-se o termo DOENÇA conceituado simplesmente como afalta ou perturbação da saúde. Todavia, com vistas ao conceito de SAÚDE emitido pela OrganizaçãoMundial de Saúde, podemos ampliar essa idéia, alargando-a dentro dos espaços físico, psíquico,moral e social em que se desenvolve a personalidade do indivíduo e dentro dos quais ele define seupróprio destino.

    DOENÇA é qualquer perturbação ou anormalidade observada no funcionamento orgânico doindivíduo ou no seu comportamento, quer no seu aspecto intelectual, quer do ponto de vista moral e

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    social, de tal forma que Ihe afete notavelmente aquele estado de bem-estar geral sugestivo desaúde.

    Há, portanto, que se distinguir as doenças somáticas das doenças psíquicas, nas quais hánítido comprometimento do bem-estar mental, moral e social do indivíduo. Os tiques nervosos, asfobias, as neuroses, as psicoses e as toxicomanias se enquadram neste último caso. Algumas

    dessas doenças psíquicas tem fundo genético e, por isso, são transmissíveis de pais a filhos. Mas amaioria delas tem a sua origem no desajustamento social e nos conflitos íntimos do próprioindivíduo.

    Não podemos, contudo, deixar de lembrar, nessa oportunidade, que a Medicina moderna équalificada como psicossomática, pois admite que grande parte das doenças somáticas tem umcomponente psíquico desencadeador. Assim são a úlcera gástrica ou úlcera péptica, o enfarte domiocárdio, a colite ulcerativa, as crises hemorroidárias, os surtos herpéticos nos indivíduos jáinfectados pelo vírus do herpes e uma infinidade de outros distúrbios. E indiscutível, hoje, que osestados depressivos e os conflitos íntimos podem influir sensivelmente em outros setores doorganismo, provocando ciclos anovulatórios (nas mulheres) e depleção da atividade imunitária, justificando a eclosão de quadros infecciosos e os degenerativos, como o câncer.

    De uma forma geral, as doenças podem ser classificadas em:

    • Adquiridas

    • Congênitas

    • Hereditárias

    DOENÇAS ADQUIRIDAS

    As doenças adquiridas são aquelas que o indivíduo contrai no meio em que vive, sem quehouvesse nele qualquer fator constitucional transmitido por hereditariedade. A doença é contraídacomo conseqüência da ação de um agente físico (fogo, eletricidade, ultravioleta, radioatividade),químico (ácidos, detergentes, inseticidas, álcalis fortes, como a soda caustica, produtos químicos,

    como barbitúricos, cianetos, mercuriais), mecânico (qualquer objeto traumatizante, como pau, pedra,faca, arma de fogo) ou biológico (bactérias, vírus, fungos, vermes etc.).Pelo exposto, torna-se evidente que queimaduras, traumatismos e intoxicações agudas ou

    envenenamentos constituem agravos ao organismo, impondo-Ihe um estado incompatível com obem-estar geral definidor da saúde e, portanto, se enquadram nos limites da doença.

    As queimaduras por fogo ou eletricidade costumam ser classificadas em: a) queimaduras de1º grau, quando há eritema (vermelhidão da pele) com ou sem a formação de flictenas (bolhas); b)queimaduras de 2º grau, quando a destruição tecidual atinge os planos imediatamente inferiores àpele, como o tecido celular subcutâneo (tecido conjuntivo); c) queimaduras de 3º grau, quandoatingem os planos profundos, destruindo aponeuroses, tendões, músculos e, às vezes, até os ossos.

    Os ferimentos ou traumatismos podem ser classificados em: a) contusões, que são lesõesprovocadas por instrumentos não cortantes nem perfurantes e se definem apenas como "pancadas",com sucessiva ocorrência de edema (inchação), hematoma (coleção sanguínea abaixo da pele) e

    equimose (mancha roxa que, gradativamente, no passar dos dias, evolui para um tom verde, depoisamarelo, ate desaparecer); b) escoriações, que são pequenas lesões da pele, com arranhaduras eesfolamento; c) lacerações, nas quais ocorrem cortes irregulares da pele e tecidos subjacentes,provocados por instrumento cortante, como faca, navalha ou mesmo pedra; d) perfurações, que secaracterizam como lesões puntiformes ou de pequena extensão, mas profundas, determinadas pelaação de instrumento perfurante (estilete ou estoque) e por arma de fogo.

    Vale a pena, contudo, ressaltar que as doenças adquiridas mais comuns e que serão motivode maior atenção neste livro são aquelas provocadas por agentes biológicos (infecções bacterianas,viroses, micoses e outras), além das chamadas doenças metabólicas, resultantes de desviosalimentares e metabólicos, e das doenças degenerativas, como o câncer, por exemplo.

    DOENÇAS CONGÊNITAS

    Consideram-se congênitas as afecções decorrentes de desvios do desenvolvimentoembrionário e aquelas que se transmitem de mãe a filho por via placentária. É essencial não

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    confundir com doenças hereditárias, como veremos logo adiante. Alguns microrganismos, comovírus, bactérias e protozoários, tem a capacidade de atravessar a barreira placentária, migrando dosangue materno para o sangue embrionário ou fetal, contaminado, assim, o concepto. E o que seobserva com o Treponema pallidum (bactéria do tipo espiroqueta), causador da sífilis ou lues (pron.:lúes), com o protozoário Toxoplasma gondii, agente etiológico da toxoplasmose, e com os vírus da

    rubéola e da AIDS.Após a contaminação transplacentária, o agente infectante pode ou não provocar alteraçõesna histogênese e na organogênese do concepto, acarretando a ocorrência de malformaçõescongênitas (deformidades) ou lesões irrecuperáveis. Pode ocorrer, também, que a criança nasçasimplesmente com a doença, como se tem visto acontecer com a sífilis e a AIDS. O risco é maior narazão direta de precocidade da infecção durante a gravidez.

    Mas a maioria das doenças infecto-contagiosas não tem o caráter congênito, pois nãooferece o risco de contaminação intra-uterina, por via placentária. E, por isso mesmo, os filhos demulheres infectadas nascem sadios, exigindo, tão-somente, isolamento imediato da mãe. É o quesucede com a lepra, a tuberculose, a pneumonia, a febre tifóide e tantas outras.

    DOENÇAS HEREDITÁRIAS

    Classificam-se como hereditárias unicamente as doenças que se transmitem de umageração a outra, isto é, de pais a filhos, por meio de genes ou em decorrência de alteraçõescromossômicas. Como tal se enquadram a hemofilia, a ictiose, a idiotia amaurótica, o xeroderma, afenilcetonúria, a talassemia, a anemia falciforme, a diabete, a coréia, a epilóia etc.

    É conveniente ressaltar que não devemos qualificar como doenças hereditárias o daltonismo,a hipertricose, o albinismo, o nanismo acondroplásico e outras alterações de caráter hereditário, umavez que tais anomalias nem sempre perturbam a vida do indivíduo a ponto de merecer aconsideração de doenças.

    EPIDEMIOLOGIA

    Dá-se o nome de Epidemiologia a parte da Higiene que estuda as doenças transmissíveis.As doenças contagiosas podem ser transmitidas por contágio direto ou indireto. Doença de contagio

    direto é aquele que se contrai pelo contato com um doente ou através do ar que se respira, da águaou de alimentos e objetos contaminados.Exemplos: Tuberculose, hanseníase (lepra), difteria, cólera, coqueluche, amebíase,

    tricomoníase, giardíase, sarampo, gripe, rubéola, sífilis, gonorréia, AIDS etc.As doenças de contágio indireto são aquelas que "não passam" diretamente de uma pessoa

    a outra. Elas requerem, para sua transmissão, a existência de um elemento intermediário, isto é, umvetor ou transmissor, na maioria das vezes representado por um inseto. O papel do transmissor ouvetor é o de se contaminar, sugando o sangue de um portador da moléstia, e, depois, transferir asformas infectantes para um indivíduo são, ao pica-Io também. Mosquitos (vulgarmente chamadospernilongos) como os dos gêneros Anopheles, Culex e Aedes (pron.: edes) transmitem,respectivamente, a malária, a wuquererose ou elefantíase e o dengue. Percevejos, como o barbeiro,são vetores da doença de Chagas ou tripanossomose Cruzi. Isso quer dizer que malaria, elefantíase,dengue e doença de Chagas não passam de pessoa a pessoa diretamente, mesmo no convívio mais

    íntimo entre elas.Exemplos: Leishmaniose, doença de Chagas, malária, febre amarela, wuquererose, doençado sono, tifo exantemático etc.

    Convém ressaltar a diferença entre produtor e transmissor. Produtor é o agente etiológico dadoença, ou seja, o causador ou agente causal dela. Transmissor ou vetor é, apenas, um organismoque se encarrega ativamente de fazer o contágio entre doentes e pessoas sadias.

    A atuação das moscas comuns (Musca doméstica), contaminando os alimentos sobre osquais pousam, não é suficiente para qualifica-Ias como transmissoras ou vetoras de doenças. Paraessa qualificação é necessária uma participação ativa sobre as pessoas, o que se observaefetivamente com os insetos hematófagos. Já as moscas do gênero Glossina, conhecidasvulgarmente como tsé-tsé, são hematófagas e procedem, de fato, como transmissores ou vetores dadoença do sono (tripanossomose gambiense ou rodesiense).

    Pode ocorrer que o elemento intermediário para a propagação de uma doença de contágioindireto não seja exatamente um vetor, mas sim um hospedeiro intermediário do parasita.

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    Cabe, então, a distinção que deve ser feita entre transmissor e hospedeiro intermediário.Este último é apenas um organismo de ação passiva, no qual certo parasita passa por um cicio deevolução, tornando-se apto, depois, para realizar o seu parasitismo, já como adulto, em outraespécie. O molusco gastrópode (caramujo) Biomphalaria glabrata, por exemplo, serve de hospedeirointermediário para o verme Schistosoma mansoni, causador da esquistossomose. Nele, o verme

    sofre a sua evolução, desde a fase de embrião ou miracídio ate a fase larvar, de cercárias, as quais,por morte do molusco, passam a água, de onde vão alcançar o hospedeiro definitivo, que é ohomem, penetrando-Ihe pela pele. E é neste último que as cercárias terminam seu desenvolvimento,transformando-se em vermes adultos. Portanto, a esquistossomose também não passa diretamentede uma pessoa a outra, em nenhuma circunstância.

    Há, também, que se atentar para a denominação de reservatório, dada aos animais que sãocapazes de conter em si agentes etiológicos de certas doenças, sem, contudo apresenta-Ias, masque atuam como focos de onde os vetores podem recolher esses parasitas e, depois, inoculá-los emseres suscetíveis de revelá-Ias. É o que ocorre, por exemplo, com os macacos, que procedem comoreservatórios silvestres do vírus da febre amarela, ou com o gambá, que se faz reservatório doprotozoário causador da leishmaniose.

    As doenças transmissíveis podem ser classificadas em:

    • Doenças de casos esporádicos

    • Endemias

    • Epidemias

    • Pandemias

    DOENÇAS DE CASOS ESPORÁDICOS

    Consideram-se doenças de casos esporádicos aquelas que ocorrem em pequeno número decasos, naturalmente, em certa região ou localidade. Assim são a tuberculose, a hanseníase, adifteria, o tétano, etc. A sua incidência não assume, dentro da população, caráter alarmante. E elas

    também não se constituem num problema grave ou emergencial para os serviços sanitários doGoverno. Devem ser combatidas com os recursos e orientações comuns de profilaxia, notadamentepela divulgação sistemática de aconselhamentos sobre os meios de evitá-Ias e oferecimento aspessoas afetadas de condições de tratamento.

    ENDEMIAS

    As endemias representam moléstias cuja ocorrência, numa região, afeta grande número depessoas rotineiramente. Por isso, já são encaradas sem espanto pela população. Todavia, merecemespecial atenção dos órgãos públicos, já que representam um flagelo social capaz de, lentamente,se propagar para outras regiões, alargando sua área de incidência. Isso vem ocorrendosensivelmente com a esquistossomose, que já se propagou do interior do Nordeste para as grandescidades e capitais do País. Também a doença de Chagas, endêmica de ha muito no Brasil Central,

    vem se alastrando para outros Estados da Federação.As principais endemias brasileiras são a malária (principalmente nas Regiões Norte eCentro-Oeste), a esquistossomose, a doença de Chagas (principalmente em São Paulo e MinasGerais), a leishmaniose, a ancilostomose, a teníase, o tracoma (infecção ocular grave, comconjuntivite granulosa, provocada pela bactéria Chlamvdia trachomatis, da Ordem Rickettsiales, adespeito de ser considerada, ainda, de natureza virótica por muitos livros) etc. Em algumas regiõesda África, a doença do sono ou tripanossomose gambiense também e endêmica.

    EPIDEMIAS

    As epidemias ou doenças epidêmicas se caracterizam pelo aparecimento súbito, com umagrande incidência, em determinada área, assumindo caráter alarmante dentro da população.

    Raras são as pessoas que nunca tiveram conhecimento de um surto epidêmico de

    poliomielite, de meningite, de febre amarela, de caxumba etc. No passado, a varíola provocouenorme mortandade no Brasil com seus surtos epidêmicos. Há 100 anos, a cólera, tal como a

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    varíola, estava extinta em nosso país. Todavia, em 1991 ela reapareceu, penetrando pela Amazônia,proveniente de outros países sul-americanos.

    PANDEMIAS

    As pandemias ou doenças pandêmicas são doenças contagiosas de caráter superalarmanteque se alastram rapidamente por todo um país, por todo um continente ou, até mesmo, por todo omundo. A História registra fatos dramáticos ocorridos com a propagação mundial da gripe espanhola,em 1919, quando morreram milhões de pessoas em todos os continentes, não havendo nemcondição de sepultamento dos cadáveres. Também famoso ficou o surto da peste negra,denominação que celebrizou uma propagação pandêmica de peste bubônica na Ásia e na Europa,em meados do século XIV, e que, desastradamente, dizimou cerca de 1/3 de toda a populaçãoeuropéia. Mais recentes e menos calamitosos foram os surtos pandêmicos de gripe (asiática, hong-kong, coreana) verificados dentro destes últimos 30 anos, quando a Medicina já contava comrecursos terapêuticos mais adiantados, notadamente os antibióticos, que, se não combatem osVírus, pelo menos destroem as bactérias que se aproveitam do enfraquecimento orgânico provocadopela atividade virótica.

    O quadro que segue procura mostrar um painel comparativo entre as principais doenças que

    ocorrem em nosso meio e cujo conhecimento deve ser necessário e compulsório para a formaçãoglobal dos nossos educandos quaisquer que sejam os rumos profissionais que venham a tomar. Sóassim, estaremos preparando o caminho para o desenvolvimento de uma nova geração mais capazde compreender os meios de se alcançar uma sociedade mais sadia e construtiva.

    UNIDADEII-INFECÇÕES PARASITÁRIAS E A TRANSMISSÃO DOS AGENTES INFECCIOSOS

    2.1 Cadeia de transmissão dos agentes infecciososPara que ocorram infecções parasitárias é fundamental que haja elementos básicos

    expostos e adaptados às condições do meio. Os elementos básicos da cadeia de transmissão dasinfecções parasitárias são o hospedeiro, o agente infeccioso e o meio ambiente.

    No entanto, em muitos casos, temos a presença de vetores, isto é, insetos que transportam

    os agentes infecciosos de um hospedeiro parasitado a outro, até então sadio (não-infectado). É ocaso da febre amarela, da leishmaniose e outras doenças.Infecção - é a penetração, desenvolvimento ou multiplicação de um agente infeccioso no interior docorpo humano ou de um outro animal.Parasito Meio Ambiente

    Hospedeiro

    Vetor

    Para cada infecção parasitária existe uma cadeia de transmissão própria. Por exemplo, oAscaris lumbricoides tem como hospedeiro somente o homem, mas precisa passar pelo meioambiente, em condições ideais de temperatura, umidade e oxigênio, para evoluir (amadurecer) atéencontrar m novo hospedeiro. Qual a importância de conhecermos a cadeia de transmissãodas principais infecções parasitárias? Sua importância está na possibilidade de agirmos, muitasvezes com medidas simples, no sentido de interromper um dos elos da cadeia, impedindo, assim, adisseminação e multiplicação do agente infeccioso. Conhecer onde e como vivem os parasitos, bemcomo sua forma de transmissão, facilita o controle das infecções tão indesejadas. Por exemplo, osimples gesto de lavar bem as mãos, após o contato com qualquer objeto contaminado, após usar ovaso sanitário e, obrigatoriamente, antes das refeições, pode representar grande ajuda nessecontrole.

    2.1.1 HospedeiroNa cadeia de transmissão, o hospedeiro pode ser o homem ou um animal, sempre exposto

    ao parasito ou ao vetor transmissor, quando for o caso. Na relação parasito-hospedeiro, este podecomportar-se como um portador são (sem sintomas aparentes) ou como um indivíduo doente (comsintomas), porém ambos são capazes de transmitir a parasitose. O hospedeiro pode ser chamado de

    intermediário quando os parasitos nele existentes se reproduzem de forma assexuada; e dedefinitivo quando os parasitos nele alojados se reproduzem de modo sexuado.

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    A Taenia solium , por exemplo, precisa, na sua cadeia de transmissão, de um hospedeirodefinitivo, o homem, e de um intermediário, o porco.

    2.1.2 Agente infecciosoO agente infeccioso é um ser vivo capaz de reconhecer seu hospedeiro, nele penetrar, desenvolver-

    se, multiplicar-se e, mais tarde, sair para alcançar novos hospedeiros. Os agentes infecciosos sãotambém conhecidos pela designação de micróbios ou germes, como as bactérias, protozoários,vírus, ácaros e alguns fungos. Existem, porém, os helmintos e alguns artrópodes, que são parasitosmaiores e facilmente identificados sem a ajuda de microscópios. Só para termos uma idéia, a Taeniasaginata, que parasita os bovinos e também os homens, pode medir de quatro a dez metros decomprimento. Os parasitos são também classificados em endoparasitos e ectoparasitos.Endoparasitos são aqueles que penetram no corpo do hospedeiro e aí passam a viver. Portanto, ocorreto é dizer que o ambiente está contaminado, e não infectado.Ectoparasitos são aqueles que não penetram no hospedeiro, mas vivem externamente, nasuperfície de seu corpo, como os artrópodes - dentre os quais destacam-se as pulgas, piolhos ecarrapatos.

    2.1.3 Meio ambiente

    Meio ambiente é o espaço constituído pelos fatores físicos, químicos e biológicos, por cujointermédio são influenciados o parasito e o hospedeiro.Como exemplos, podemos apontar:• físicos : temperatura, umidade, clima, luminosidade (luz solar);• químicos : gases atmosféricos (ar), pH, teor de oxigênio, agentes tóxicos, presença de matériaorgânica;• biológicos : água, nutrientes, seres vivos (plantas, animais).

    Anteriormente, vimos que as relações que se estabelecem a todo momento entre os seresvivos e os agentes infecciosos (parasitos) não são estáticas, definitivas; pelo contrário, são muitodinâmicas e exigem constantes adaptações de ambos os lados, tendendo sempre, para o bem daspartes envolvidas, a aproximar-se do equilíbrio. Entretanto, sabemos que tanto o parasito quanto ohospedeiro sofrem influência direta do ambiente, o qual, por sua vez, também sofre constantesalterações, de ordem natural ou artificial, como as causadas pelo próprio homem.

    2.2 Doenças transmissíveis e não transmissíveisNem todas as doenças que ocorrem em uma comunidade são transmitidas, ou passadas, de

    pessoa a pessoa (as “que se pega”). Existem também as que não se transmitem desse modo (as“que não se pega”). Após termos aprendido a diferenciar os seres vivos dos seres não-vivos, econhecido o fenômeno parasitismo, podemos afirmar que todas as doenças transmissíveis, ou todasas infecções parasitárias (gerando ou não doenças), são causadas somente por seres vivos,chamados de agentes infecciosos ou parasitos. O sarampo, a caxumba, a sífilis e a tuberculoseexemplificam tal fato.Quais seriam, então, as doenças não-transmissíveis?

    As doenças não-transmissíveis podem ter várias causas, tais como deficiências metabólicas(algum órgão que não funcione bem), acidentes, traumatismos, origem genética (a pessoa nascecom o problema). Como exemplos, temos o diabetes, o câncer e o bócio tireoidiano.

    Existem, ainda, doenças que possuem mais de uma causa, podendo, portanto, ser tantotransmissíveis como não-transmissíveis. Como exemplos, a hepatite e a pneumonia.A Ecologia, ramo derivado da Biologia, aborda a significativa influência que os fatores físicos,

    químicos e biológicos exercem sobre os seres vivos.

    2.3 Parasitoses e doenças transmissíveisNão podemos confundir infecção parasitária com doença. O parasito bem sucedido é aquele

    que consegue obter tudo de que precisa para sobreviver causando o mínimo de prejuízo aohospedeiro. Somente em alguns casos, a relação poderá ser nociva, em maior ou menor grau.Desse modo, surgem os hospedeiros parasitados, sem doença e sem sintomas, conhecidos comoportadores assintomáticos. Será que os portadores assintomáticos oferecem algum tipo de riscopara a comunidade?

    Realmente, sua presença é um sério problema. Como não percebem estar parasitados, não

    procuram tratamento, contribuindo, assim, para a contaminação do ambiente, espalhando aparasitose para outros indivíduos e, o que é pior, muitas vezes contaminando-se ainda mais.

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    Entretanto, em outros casos, a curto ou longo prazo, o parasito pode causar prejuízos,enfermidades ou doença aos hospedeiros, tornando-os patogênicos. Desse modo, surgem asdoenças transmissíveis.

    2.3.2- Fatores que influenciam o parasitismo como causa das doenças infecciosas

    Existem fatores que acabam conduzindo à parasitose e definindo seu destino. Eles podeminfluenciar o fenômeno do parasitismo, contribuindo tanto para o equilíbrio entre parasito ehospedeiro, gerando, assim, o hospedeiro portador são, como para a quebra do equilíbrio - e ainfecção resultante acaba causando doenças.

    Os fatores mais importantes do parasitismo são os relacionados ao:a) parasito : a quantidade de parasitos que entram no hospedeiro (carga parasitária), sua localizaçãoe capacidade de provocar doenças;b) hospedeiro : idade, estado nutricional, grau de resistência, órgão do hospedeiro atingido peloparasito, hábitos e nível socioeconômico e cultural, presença simultânea de outras doenças, fatoresgenéticos e uso de medicamentos;c) meio ambiente : temperatura, umidade, clima, água, ar, luz solar, tipos de solo, teor de oxigênio eoutros. Muitos agentes infecciosos morrem quando mantidos em temperatura mais baixa ou maiselevada por determinado tempo. É o caso dos cisticercos (larvas de Taenia solium ) em carnes

    suínas, que morrem quando estas são congeladas a 10ºC negativos, por dez dias, ou cozidas emtemperatura acima de 60ºC, por alguns minutos.Patogênico (pathos = doença;geno = gerar) - é o agente infeccioso capaz de causar doença.

    2.3.2- Dinâmica da transmissão das infecções parasitárias e doenças transmissíveisAs infecções e doenças transmissíveis podem ser transmitidas de forma direta ou indireta.

    Transmissão direta de pessoa a pessoaÉ a transmissão causada pelos agentes infecciosos que saem do corpo de um hospedeiroparasitado (homem ou animal) e passam diretamente para outro hospedeiro são, ou para si mesmo – caso em que recebe o nome de auto-infecção. Nesse modo de transmissão os agentes infecciosossão eliminados dos seus hospedeiros já prontos, evoluídos ou com capacidade de infectar outroshospedeiros. As vias de transmissão direta de pessoa a pessoa podem ser, dentre outras, fecal-oral,

    gotículas, respiratória, sexual.

    Transmissão indireta com presença de hospedeiros intermediários ou vetoresOcorre quando o agente infeccioso passa por outro hospedeiro (intermediário) antes de alcançar onovo hospedeiro (definitivo) – caso da esquistossomose e da teníase (solitária). A ingestão de carnebovina ou suína, crua ou mal cozida, contendo as larvas da tênia, faz com que o indivíduo venha ater solitária – a qual, ressalte-se, não é passada diretamente de pessoa a pessoa. A forma indiretatambém ocorre quando o agente infeccioso é transportado através da picada de um vetor (inseto) elevado até o novo hospedeiro – caso da malária, filariose (elefantíase) e leishmaniose.

    Transmissão indireta com presença do meio ambiente Nesse tipo de transmissão, ao sair do hospedeiro o agente infeccioso já tem uma forma

    resistente que o habilita a manter-se vivo por algum tempo no ambiente, contaminando o ar, a água,

    o solo, alimentos e objetos (fômites) à espera de novo hospedeiro. Nesse caso, incluem-se osprotozoários que, expelidos através das fezes e sob a forma de cistos, assumem a forma deresistência denominada esporos.Fômites  - são utensílios como roupas, seringas, espéculos, etc., que podem veicular o parasito entrehospedeiros. Os cistos e os esporos são formas resistentes não visíveis a olho nu. Como não aspercebemos, podem estar em qualquer lugar – daí a importância de sempre mantermos a corretahigiene das mãos e realizarmos a adequada limpeza de nossas casas. 

    Por que devemos proteger os alimentos, mantendo-os sempre cobertos e bem embalados, elavar muito bem as frutas e alimentos ingeridos crus antes de consumi-los?

    Uma das razões deve-se à existência dos vetores mecânicos, como as moscas, baratas eoutros insetos, bons colaboradores dos parasitos, pois transportam os agentes (cistos, ovos,bactérias) de um lugar para outro, contaminando os alimentos e o ambiente.

    Transmissão vertical e horizontal

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    A transmissão vertical é aquela que ocorre diretamente dos pais para seus descendentesatravés da placenta, esperma, óvulo, sangue, leite materno - por exemplo, a transmissão da mãepara o feto ou para o recém-nascido. Podemos ainda citar como exemplos a rubéola, a AIDS infantil,a sífilis congênita, a hepatite B, a toxoplasmose e outras.Percebem o perigo e com que facilidade a transmissão pode ocorrer?

    T r a n s m i s s ã o h o r i z o n t a l

    T r a n s m i s s ã o v e r t i c a lAgora, podemos elaborar o conceito de fonte de infecção.

    Fonte de infecção é o foco, local onde se origina o agente infeccioso, permitindo-lhe passardiretamente para um hospedeiro, podendo localizar-se em pessoas, animais, objetos, alimentos,água, etc.

    Se os agentes infecciosos passam de um hospedeiro para outro é porque encontram umaporta de saída, ou seja, uma via de eliminação ideal. Da mesma forma, também encontram no futurohospedeiro as portas de entrada ideais, podendo penetrar de forma passiva ou ativa:- penetração passiva - ocorre com a penetração de formas evolutivas de parasitos, como ovos deEnterobius , cistos de protozoários intestinais e demais agentes infecciosos como bactériasou vírus. Ocorre por via oral, mediante a ingestão de alimentos (com bactérias e toxinas) ou água,bem como por inalação ou picadas de insetos (vetores) - caso da Leishmania e do Plasmodium,causador da malária- penetração ativa  - ocorre com a participação de larvas de helmintos que penetram ativamenteatravés da pele ou mucosa do hospedeiro, como o Schistosoma mansoni, Ancilostomídeos e

    oStrongyloides stercoralis .

    2.3.3- Principais portas de entrada ou vias de penetração dos agentes infecciososAs portas de entrada de um hospedeiro são os locais de seu corpo por onde os agentes

    infecciosos penetram. A seguir, listamos as principais vias de penetração:a) boca (via digestiva)  - os agentes infecciosos penetram pela boca, junto com os alimentos, aágua, ou pelo contato das mãos e objetos contaminados levados diretamente à boca. Isto acontececom os ovos de alguns vermes (lombriga), cistos de protozoários (amebas,giárdias), bactérias (cólera), vírus (hepatite A, poliomielite) e fungos;b) nariz e boca (via respiratória)  - os agentes são inalados juntamente com o ar, penetrando nocorpo através do nariz e ou boca, pelo processo respiratório. Como exemplos, temos: vírus dagripe,do sarampo e da catapora; bactérias responsáveis pela meningite, tuberculose e difteria(crupe);

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    c) pele e mucosa (via transcutânea)  – geralmente, os agentes infecciosos penetram na pele oumucosa dos hospedeiros através de feridas, picadas de insetos, arranhões e queimaduras,raramente em pele íntegra. Como exemplos, temos:dengue, doença de Chagas e malária;d) vagina e uretra (via urogenital) - os agentes infecciosos penetram nos hospedeiros pelos órgãosgenitais, por meio de secreções e do sêmen, nos contatos e relações sexuais. Assim ocorre a

    transmissão da sífilis, gonorréia, AIDS, tricomoníase, herpes genital e o papilomavírus humano.As larvas de helmintos penetram ativamente na pele de pés descalços de pessoas que pisam emsolo contaminado por fezes. Por sua vez, muitos protozoários sangüíneos penetram através depicadas de vetores hematófagos, como exemplo: o barbeiro – transmissor da doença deChagas.Tomar banho em água contaminada com fezes (rios, lagos, córregos, etc.) pode favorecer atransmissão da esquistossomose (barriga d’água), através da pele.Hematófagos  - insetos que se alimentam de sangue.

    2.3.4- Principais portas de saída ou vias de eliminação dos agentes infecciososOs agentes infecciosos, após penetrarem no hospedeiro, instalam-se nos tecidos, cavidades

    ou órgãos que mais os beneficiam, multiplicam-se e, depois, saem ou eliminam formas evolutivas(larvas, ovos ou cistos).Para tal, utilizam-se das seguintes portas de saída ou vias de eliminação:

    a) ânus e boca (via digestiva) - os agentes infecciosos saem, juntamente com as fezes, pelavia digestiva, através do ânus.Estes são normalmente aqueles agentes que penetram por via oral (boca), localizando-se,geralmente, na faringe e órgãos do aparelho digestivo (principalmente nos intestinos). Comoexemplos: os vírus da hepatite A e as bactérias causadoras de diarréias (Entamoeba coli,Salmonella, Shigella), febre amarela, febre tifóide, cólera, toxoplasmose, cisticerco de Taenias sp.,ovos de S. mansoni , A. lumbricoides, Enterobius (oxíuros) e Trichuris , cistos de amebas e Giardias elarvas de Strongyloides.São eliminados pela saliva, dentre outros, os vírus (herpes, raiva, poliomielite) e bactérias (difteria);b) nariz e boca (via respiratória) - os agentes infecciosos são expelidos por intermédio de gotículasproduzidas pelos mecanismos da tosse, do espirro, de escarros, secreções nasais e expectoração.Geralmente, esses agentes infectam os pulmões e a parte superior das vias respiratórias. Temoscomo exemplos as seguintes doenças transmissíveis: sarampo, caxumba, rubéola, catapora,

    meningite, pneumonia e tuberculose. Muitas vezes, os agentes que se utilizam das vias respiratóriasvão para outros locais, causando diferentes manifestações clínicas. É o caso do Streptococospneumoniae, causador da pneumonia, que também pode provocar sinusite e otite;c) pele e mucosa (via transcutânea) – normalmente, a pele se descama como resultado da açãodo meio ambiente, em função de atividades físicas - como exercícios - e no ato de vestir-se e despir-se. Os agentes infecciosos eliminados pela pele são os que se encontravam alojadosnela e que geralmente são transmitidos por contato direto, e não pela liberação no meio ambiente.Através da pele ocorre a saída de vírus (herpes, varicela, verrugas) e bactérias, como as quecausam furúnculos, carbúnculos, sífilis e impetigo. Leishmanias responsáveis por úlceras cutâneas eo Sarcoptes scabiei , pela sarna, também utilizam a pele como porta de saída;d) vagina e uretras (via urogenital)  - os agentes infecciosos são geralmente eliminados por viavaginal e ou uretral – durante a relação sexual ou contato com líquidos corpóreos contaminados -,pelo sêmen (HIV, herpes, sífilis, gonorréia e Trichomonas vaginalis ), pelas mucosas (fungos) ou

    urina (febre tifóide e febres hemorrágicas; e a leptospirose, transmitida pela urina de ratos e cãesinfectados.Adicionalmente, existem ainda as seguintes vias de eliminação:• Eliminação pelo leite

    Como o leite é produzido por uma glândula da pele, podemos aqui considerar osmicrorganismos eliminados através dele. O leite humano raramente elimina agentes infecciosos, masisto pode vir a acontecer com os seguintes (dentre outros): vírus da caxumba, da hepatite B, HIV e oHTLV1. Com o leite de cabra e de vaca a eliminação é mais freqüente, principalmente nos casos debrucelose, tuberculose, mononucleose, Staphylococcus sp., Salmonellas sp . e outro sagentescapazes de causar diarréias no homem.• Eliminação pelo sangue

    Existem muitos agentes infecciosos que têm preferência por viver no sangue e, assim,acabam saindo por seu intermédio quando de um sangramento (acidentes, ferimentos) ou realização

    de punção com agulhas de injeção, transfusões ou, ainda, picadas de vetores (insetos). Ressalte-se

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    que ao picarem o homem para se alimentar os mosquitos adquirem adicionalmente muitos agentesinfecciosos que serão posteriormente levados para outros indivíduos quando voltarem a se nutrir.

    2.3.5- Ações nocivas dos agentes infecciosos e ectoparasitos sobre os seres vivosEmbora grande parte das infecções não apresente sintomas, muitas delas podem

    manifestar-se logo após a penetração do agente infeccioso (fase aguda). Outras, porém, vêm a semanifestar bem mais tarde, permanecendo em estado de latência à espera de uma oportunidade,como a baixa de resistência do hospedeiro. Como exemplo, temos o herpes, a varicela, atuberculose e a doença de Chagas. Em muitos casos, após a penetração do agente infeccioso háum período de incubação que perdura desde a penetração do microrganismo até o aparecimentodos primeiros sinais e sintomas. É uma fase ‘silenciosa’, ou seja, sem manifestações clínicas. Podevariar de um agente infeccioso para outro, mas, geralmente, é bem menor que o período de latência.Por exemplo, a incubação da rubéola é de duas a três semanas; a da febre aftosa, de 2 a 5 dias; já operíodo de latência da toxoplasmose pode durar muitos anos.Sinal  - o que pode ser visto, medido.Sintoma  - são as queixas que a pessoa refere, não podendo ser medidas ou vistas por outra.

    Após o período de incubação ou logo após a fase aguda (quando há muitos sintomas), a

    infecção pode acabar ou, em muitos casos, evoluir para um período chamado de fase crônica, noqual há uma diminuição dos sintomas.Citamos a seguir alguns exemplos de agentes responsáveis ou de doenças por eles

    provocadas, juntamente com os sinais e sintomas:- prurido (coceira) - ex.: oxiúros;- feridas, lesões e úlceras - ex.: leishmaniose, bactérias, ectoparasitos (miíase);- manchas, edemas (inchaço), descamações, tumorações - ex.: fungos, sarampo, escarlatina,meningite e doença de Chagas;- vesículas (bolhas) - ex.: herpes e catapora;- nódulos - ex.: carbúnculos;- lesões papulosas, elevadas, avermelhadas e com intensa coceira- ex.: ectoparasitos (piolhos,carrapatos) e larvas migrans (bicho geográfico).

    Principais sinais e sintomas geraisNo mais das vezes, os sinais e sintomas gerais surgem após o período de incubação. Assim,podemos citar: febre (sarampo, meningite), tosse (tuberculose), dores de cabeça (cefaléia), queda daimunidade (queda da resistência – no caso da AIDS), mal-estar, desidratação (cólera), enjôos,vômitos e cólicas (amebas), diarréia (infecção bacteriana), dores musculares(mialgia) e insuficiência cardíaca (doença de Chagas), lesões e necrose no fígado e icterícia (peleamarelada – no caso da hepatite), anemia (ancilostomose), hemorragia (dengue), convulsão ecegueira (toxoplasmose), ascite (barriga d‘água - no caso da esquistossomose),alergias respiratórias (fungos, ácaros), etc.

    3- AGENTES INFECCIOSOS E ECTOPARASITOS E SUAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS

    3.1 Os vírus: características gerais

    Os vírus são considerados partículas ou fragmentos celulares capazes de se cristalizar atéalcançar o novo hospedeiro. Por serem tão pequenos, só podem ser vistos com o auxílio demicroscópios eletrônicos. São formados apenas pelo material genético (DNA ou RNA) e umrevestimento (membrana) de proteína. Não dispõem de metabolismo próprio e são incapazes de sereproduzir fora de uma célula. Podem causar doenças no homem, animais e plantas. Outracaracterística importante é que são filtráveis, isto é, capazes de ultrapassar filtros que retêmbactérias.

    3.1.1 Principais doenças transmitidas pelos vírusOs vírus são responsáveis por várias doenças infecciosas, tais como AIDS, gripes, raiva, poliomielite(paralisia infantil), meningite, febre amarela, dengue, hepatite, caxumba, sarampo, rubéola,mononucleose, herpes, catapora, etc.Sua transmissão ocorre de várias formas:

    a) pela picada de mosquitos (vetores), como o Aedes aegypti infectado, responsável pela dengue efebre amarela;

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    b) pela mordida de cães infectados, ocasionando a raiva;c) pela saliva e pelo trato respiratório, podendo gerar herpes, catapora, hepatite, sarampo, etc.;d) pelo sangue contaminado: provocando a AIDS e a hepatite B;e) há ainda a transmissão de vírus pelo leite materno, por via oral-fecal, pela urina, placenta,relações sexuais e lesões de pele (rubéola, HIV, vírus da hepatite B).

    Algumas doenças transmitidas por vírus são facilmente controláveis por meio de vacinas,como sarampo, rubéola, caxumba, raiva, poliomielite, febre amarela, hepatite e alguns tipos demeningite. Mesmo que não haja vacina e tratamento específico para muitas viroses, é importante,para se evitar a disseminação ou propagação da doença, que se faça o diagnóstico definitivo comacompanhamento de um profissional de saúde.

    As formas de diagnóstico (descobrir qual é o microrganismo) mais comuns são realizadaspor intermédio do exame de escarro, sangue, líquor (da medula) e secreções.

    3.2 As bactérias: características geraisComo vimos anteriormente, as bactérias são organismos muito pequenos, porém maiores que osvírus, mas visíveis somente ao microscópio. Apresentam formas variadas e pertencem ao reinoMonera, sendo, portanto, seres unicelulares – procariontes.Cocos

    Bacilos

    Vibriões

    Espirilos 

    As que têm formas arredondadas são chamadas de cocos, como oStreptococcuspneumoniae , capaz de causar a pneumonia no homem; as alongadassão denominadas bacilos,como o Clostridium tetani, responsável pelo tétano; as de forma espiralada recebem o nome deespirilos, como a Treponema pallidum , que causa a sífilis; as que se parecem com uma vírgula sãoconhecidas como vibriões, como o Vibrio cholerae, causador da cólera. Grande parte das bactérias,bem como os fungos, são organismos decompositores, portanto vivem no meio ambiente, fazendo areciclagem da matéria orgânica. Outras, atuam como parasitas, causando doenças - são aspatogênicas; existem ainda aquelas que, embora vivam no organismo de outro ser vivo, não causam

    doenças - são as comensais. Quem poderia imaginar que existem bactérias na pele e nas mucosasde pessoas sadias? E mais, participando da manutenção dasaúde e de atividades normais dos indivíduos? Muitas bactérias fazem parte da flora normalhumana, colonizando a pele, as mucosas do trato respiratório (boca, nariz) e o intestino.

    Sua presença tem importante papel na defesa do organismo, impedindo, por competição, aentrada de agentes infecciosos capazes de causar doenças. Quantos de nós, após o uso prolongadode antibióticos, já não tomamos iogurtes e compostos ricos em lactobacilos (bactérias comensais)?O objetivo é recuperar a flora bacteriana para a proteção de nossa mucosa e, assim, facilitar adigestão. Comparando-se com as bactérias de vida livre, são poucas as que causam doenças, masdentre elas há algumas bastante agressivas.

    3.2.1 Principais doenças transmitidas por bactériasAs infecções cutâneas mais comuns no homem são causadas por bactérias do grupo dos

    estafilococos - caso dos furúnculos ou abscessos, carbúnculo, foliculite (infecção na base dos pêlos)e acne. Podemos ainda citar as doenças causadas por estreptococos, tais como erisipelas, celulite eimpetigo. A hanseníase é causada por um bacilo chamado Mycobacterium leprae, que afeta a pele eo sistema nervoso, causando deformações e falta de sensibilidade. O contágio ocorre pelo contatoíntimo e prolongado com o indivíduo infectado. A pneumonia pode ser causada pelo S. pneumoniaeou por fungos. O S. pneumoniae é um habitante comum da garganta e nasofaringe de indivíduossaudáveis. A doença surge com a disseminação desse agente para outros locais: pulmões, seiosparanasais (sinusite), ouvido (otite), faringe (faringite) e meninges (meningite). A infecção é causadapela aspiração do agente infeccioso ou por sua presença em fômites contaminados por secreções,principalmente devido à baixa resistência do indivíduo. A meningite é doença grave, caracterizadapela inflamação das meninges - membranas que envolvem a medula espinhal, o cérebro e osdemais órgãos do sistema nervoso, protegendo-os. Pode ser causada por bactérias (e também porvírus) chamadas de meningococos, liberadas no ar pelas pessoas infectadas e, posteriormente,

    inspiradas por outras. A tuberculose é causada pelo Mycobacterium tuberculosis ou bacilo de Koch,designação dada em homenagem a seu descobridor. Afeta o pulmão mas pode atingir os rins, ossos

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    e intestino. A transmissão ocorre pela aspiração e ou deglutinação da bactéria. Outra doençacausada por bactéria transmitida pelo ar e ou saliva é a difteria. Conhecida por crupe, caracteriza-sepela inflamação na faringe (garganta), laringe e brônquios, podendo causar asfixia e morte. Aprincipal proteção é a vacina. O tétano é uma doença muito grave, que pode até matar. É causadapelo bacilo Clostridium tetani, encontrado principalmente em solos contaminados com fezes de

    animais e do próprio homem infectado. Esse bacilo tem a capacidade de sobreviver, sob a formaresistente de esporo, por muitos anos no solo, penetrando no corpo quando há uma lesão(machucado) ou queimadura(s) na pele. Após penetrar, multiplica-se e libera toxinas que afetam osistema nervoso, provocando fortes contrações musculares. O botulismo é outra doençaimportante, causado pelas toxinas do Clostridium botulinum , que também formam esporos. É umaintoxicação resultante da ingesta de alimentos condimentados, defumados, embalados a vácuo ouenlatados contaminados. Nesse tipo de alimento, em condições de anaerobiose, isto é, semoxigênio, os esporos germinam, crescem e produzem a toxina. A pessoa intoxicada, após cerca de18 horas de ingestão do alimento contaminado, sente distúrbios visuais, dificuldade em falar eincapacidade de deglutir. A morte ocorre por paralisia respiratória ou parada cardíaca. Por isso,devemos sempre cozinhar os alimentos, mesmo os enlatados, durante, no mínimo, 20 minutos antesde comê-los. As diarréias bacterianas são causadas por diversas bactérias (enterobactérias), taiscomo Salmonella , Shigella , Enterobacter , Klebsiella , Proteus e a Escherichia coli , transmitidas

    através de alimentos, água, leite, mãos sujas, saliva, fezes, etc. Algumas só provocam infecçãoquando a flora bacteriana não está normal, podendo inclusive causar infecção urinária. Sãoresponsáveis por infecções hospitalares e consideradas oportunistas em indivíduos debilitados. Acólera é causada pelo Vibrio cholerae, que coloniza o intestino. Pela ação das toxinas há grandeperda de água e de sais minerais dos tecidos para a luz intestinal, levando o indivíduo a ter fortesdiarréias (“fezes em água de arroz”), vômitos e, conseqüentemente, desidratação. Se não houvertratamento a pessoa morre rapidamente, devido à paralisação dos rins. O socorro deve ser rápido eo tratamento é simples, bastando repor os líquidos e sais através de soro por via oral, nos casosmais simples, ou por via venosa, nos mais graves. A transmissão se dá por alimentos e águacontaminados com fezes de indivíduos doentes. As doenças sexualmente transmissíveis causadaspor bactérias são a sífilis e a gonorréia, as quais transmitem-se pelo contato sexual e ou por viacongênita. A realização de exames de sangue, urina, secreções, escarros, líquor (da medula), etc.permite a identificação das bactérias responsáveis pelas doenças – das quais algumas podem ser

    evitadas com vacinas, por exemplo, a tuberculose, o tétano e a difteria.3.3 Os fungos: características geraisOs fungos - estudados no ramo da parasitologia chamado de micologia - são seres vivos que

    possuem organização rudimentar, sendo constituídos por talos, formados por uma ou mais células.São encontrados nos meios terrestre e aquático. Muitos, juntamente com as bactérias, sãodecompositores; alguns, são parasitos e outros são utilizados como alimento (cogumelos), embora,nesse caso, haja alguns tóxicos e venenosos. Existem espécies de fungos utilizados na produção dequeijos, fermentação de pães, preparo de bebidas (vinho, cerveja, rum, whisky, gim), fabricação demedicamentos (antibióticos), produtos químicos (etanol, glicerol), etc.

    3.3.1 Principais doenças transmitidas por fungosOs fungos que vivem como parasitas são capazes de provocar doenças chamadas de

    micoses, que podem ser de dois tipos:

    a) as superficiais, geralmente brandas, ocorrem com a disseminação e o crescimento dos fungosna pele, unha e cabelos. Assim, temos a dermatofise (tínea), esporotricose, candidíase (sapinho naboca), ptiríase, pé-de-atleta, etc.b) as profundas são menos freqüentes e envolvem órgãos internos, podendo representar risco devida - como a histoplasmose, que afeta o pulmão e o baço. As micoses profundas ocorremprincipalmente em indivíduos com baixa resistência, como os aidéticos.

    Os fungos propagam-se pelo ar na forma de esporos, podendo ser inalados, deglutidos oudepositados na pele ou mucosas. Quem não conhece o mofo, as leveduras e os bolores de pães?

    A transmissão se dá pessoa a pessoa ou por meio de objetos, peças de vestuário, calçados,assoalhos ou pisos de clubes esportivos, sempre em lugares onde não há vigilância sanitária. Atransmissão também pode ocorrer diretamente de animais - como o cão, gato e cavalo - para ohomem. As espécies do gênero Candida podem ser encontradas nas condições de comensais, napele, nas mucosas, no intestino e nos órgãos cavitários (boca, vagina e ânus). Em condições de

    baixa resistência do hospedeiro, podem causar doenças. Por isso, o ideal é que estejamos semprecom boa saúde e elevada resistência.

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    3.4 Os protozoários: características geraisOs protozoários são seres unicelulares cuja maioria é extremamente pequena, ou seja,

    microscópica. A maior parte vive de forma livre em ambientes úmidos ou aquáticos, mas existemprotozoários comensais (Entamoeba coli) e os que são parasitos do homem e capazes de causar

    doenças graves, como a malária e a doença de Chagas.Possuem formatos variados - esférico, oval e alongado - e alguns se locomovem através deflagelos, cílios ou projeções do próprio corpo (pseudópodes), mas também há aqueles que não semovimentam. Apresentam-se de duas formas distintas:• forma de trofozoíto (também conhecida como vegetativa) – é a forma ativa, que se reproduz,alimenta-se e vive no interior do hospedeiro;• forma de cisto e oocisto – são formas inativas e de resistência dos protozoários, encontradas nasfezes do hospedeiro. Para facilitar nosso estudo, separaremos os protozoários em grupos menores,em função da presença de estruturas por eles utilizadas na locomoção:• protozoários que se locomovem por meio de projeções celulares, denominadas pseudópodes: ossarcodíneos (amebas);• protozoários que se locomovem por meio de flagelos, denominados mastigóforos ou flagelados:Trypanosoma cruzi, Trichomonas e Giardia;

    • protozoários que se locomovem utilizando cílios, denominados ciliophoros ou ciliados: Balantidiumcoli ;• protozoários que não possuem estruturas locomotoras: sporozoários (Plasmodium e Toxoplasmagondïi ). Os protozoários parasitos do homem podem habitar os tecidos,incluindo o sangue (Tripanosoma cruzi), as cavidades genitais e urinárias (Trichomonas) e o intestino(giardia e amebas).

    3.4.1 Principais doenças transmitidas por protozoários

    • Doença de ChagasUma das doenças mais importantes no Brasil, tem seu nome dado em homenagem a Carlos

    Chagas, seu descobridor. Causada por um protozoário flagelado chamado Trypanosoma cruzi , éuma doença grave e ainda não tem cura quando diagnosticada na fase crônica. A transmissão se faz

    através de insetos vetores, sendo os mais comuns do gênero Triatoma, os chamados triatomíneos.Esses insetos são popularmente conhecidos por “barbeiro” ou “chupança”. São hematófagos, isto é,só se alimentam de sangue, o que costumam fazer à noite. Durante o dia, escondem-se em fendas efrestas no chão ou nas paredes de casas muito simples, construídas de pau-a-pique, barro cru ouentre as palhas da cobertura dessas casas.

    Ao se alimentar, picam geralmente o rosto da pessoa e, enquanto se alimentam, defecam,eliminando os protozoários nas fezes. No local da picada surge uma irritação que provoca coceira efere a pele, por onde os parasitos penetram. Ao penetrarem, alcançam a circulação sangüínea e vãopara o esôfago, intestino, músculos e, principalmente, o coração. Nos músculos do coração,multiplicam-se e formam ninhos, prejudicando o funcionamento do órgão, levando à insuficiênciacardíaca e mesmo à morte. Outras formas de transmissão são por transfusão sangüínea,compartilhamento de seringas contaminadas e via congênita (vertical). Por sua vez, os insetoscontaminam-se ao se alimentar do sangue de pessoas ou de animais reservatórios (gambá, tatu,

    aves, morcegos, ratos, raposas e outros) parasitados. A forma ideal de evitar esse tipo de parasitoseé substituir o tipo de moradia por casas de alvenaria, impossibilitando a instalação dos barbeiros. Odiagnóstico para a identificação da parasitose é feito mediante exame de sangue, principalmente noinício da infecção (fase aguda).

    • LeishmanioseEsta doença é causada pelo protozoário, também flagelado, do gênero Leishmania . Existem

    espécies que causam lesões na pele (“úlcera de Bauru”), a leishmaniose tegumentar americana. Há,entretanto, outras espécies que causam lesões na mucosa e a leishmaniose visceral ou Calazar(muito grave) - provocada pela L. chagasi, que compromete principalmente o fígado e o baço. Aleishmaniose visceral caracteriza-se por um quadro de febre irregular, aumento do baço e do fígado,anemias e hemorragias. Como a doença de Chagas, a leishmaniose também é transmitida atravésde vetores, conhecidos por flebótomos (Lutzomyia ) e popularmente identificados por: cangalhinha,

    birigüi, mosquito palha, asa dura, asa branca, catuqui, catuquira, murutinga, etc. Os flebotomíneosfêmeas são hematófagos e também têm o hábito de se alimentar ao anoitecer. A presença de

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    animais reservatórios também representa significativo papel nessa doença, sendo os maisimportantes o cão e o cavalo. A melhor forma de se evitar a leishmaniose é o combate aosmosquitos (vetores). Como isso é praticamente impossível nas zonas rurais e florestas, a maneiramais correta é proteger-se usando repelentes, mosquiteiros e roupas adequadas. A identificação doparasito (diagnóstico) na leishmaniose cutânea é feita através da biópsia ou raspagem das bordas

    das úlceras ou feridas na pele. No caso da leishmaniose visceral, pelo exame do sangue (testessorológicos) ou através de punção de material aspirado do baço, medula ossea e gânglios linfáticos.Animais reservatórios – são aqueles que, embora infectados, não adoecem por causa da parasitose,mas transmitem a doença.

    • MaláriaA malária é causada por um esporozoário do gênero Plasmodium (P. falciparum, P. vivax e

    P. malariae ), que afeta milhares de pessoas em todo o mundo, principalmente em regiões tropicais.No Brasil, sua prevalência acontece nos estados da Amazônia, Pará, Acre, Roraima, Rondônia, MatoGrosso, Tocantins e Maranhão. A transmissão ocorre com a picada de um vetor fêmea parasitada,do gênero Anopheles , que só se alimenta de sangue. Ao se alimentar, o mosquito injeta, junto com asaliva, os parasitos - os quais caem na corrente sangüíneas e são levados até as células do fígado,invadindo a seguir as hemácias. Os mosquitos infectam-se quando sugam o sangue de uma pessoa

    doente, fechando o ciclo evolutivo da parasitose. Suas outras formas de transmissão são iguais àsda doença de Chagas, sendo a transmissão congênita muito rara. O estado clínico caracteriza-se poracessos febris cíclicos, por exemplo, de 48 em 48 horas (febre terçã benigna) ou de 72 em 72 horas(febre quartã), dependendo da espécie envolvida. O combate e as formas de evitar a doença sãosemelhantes às anteriores; para sua prevenção muitas vacinas estão sendo testadas. O exame paraa pesquisa do parasito é realizado no sangue e deve ser feito em todas as pessoas febris quemoram em área endêmica de malária, e em todos os que lá estiveram. Sua realização é muitoimportante para se evitar as formas graves e fatais da doença.Ciclo evolutivo - são características e funções apresentadas pelos seres vivos e que se modificamde forma cíclica no decurso do tempo.Área endêmica - é a preseça constante de determinada doença em relação a uma área geográfica .Alguns esporozoários, como o Pneumocystis carinii e o Cryptosporidium sp., assumiramrecentemente grande importância médica por serem parasitos oportunistas em pessoas com

    imunodepressão. Em pessoas saudáveis, a parasitose é completamente assintomática, mas emindivíduos com AIDS, por exemplo, o parasito pode causar graves problemas.O Pneumocystis carinii transmite-se pelas vias respiratórias e pode causar pneumonia. Já o

    Cryptosporidium sp . é transmitido através de carnes mal cozidas e água contaminada com fezes deindivíduos parasitados, podendo causar diarréias. Outro coccídio conhecido é a Isospora belli .

    A contaminação dos parasitos (com exceção do Pneumocystis carinii) ocorre por conta daeliminação de formas resistentes chamadas oocistos, que saem pelas fezes dos indivíduosparasitados. Esses oocistos são resistentesao cloro e a muitos desinfetantes preparados à base deiodo, mas morrem com água sanitária e formol a 10%. Como os aidéticos parasitados eliminamgrande quantidade de oocistos em suas fezes, devem ser atendidos com o maior cuidado: uso deluvas, lavagem e desinfecção das mãos, esterilização dos objetos e descontaminação dassuperfícies utilizadas. O exame dessas parasitoses é feito através das fezes do indivíduo infectado.No caso do Pneumocystis carinii, a pesquisa é feita através da lavagem brônquica ou no soro

    (sangue), pesquisando-se anticorpos ou antígenos circulantes.

    • ToxoplasmoseDoença causada pelo esporozoário Toxoplasma gondii , ocorre com muita freqüência na

    população humana sob a forma de infecção assintomática crônica. É também considerada infecçãooportunista que se manifesta com gravidade sempre que o hospedeiro sofra um processo deimunodeficiência (AIDS, câncer, etc.). O gato parasitado é o hospedeiro definitivo do esporozoário eelimina os oocistos pelas fezes, contaminando o ambiente. Os oocistos podem, em condições ideais,se manter vivos até um ano e meio. Os ratos, coelhos, bois, porcos, galinhas, carneiros, pombos,homem e outros animais são considerados hospedeiros intermediários e infectam-se das seguintesmaneiras:a) ao ingerir os oocistos eliminados pelos gatos, diretamente do ambiente. Esses hospedeiros vãodesenvolver pseudocistos ou cistos em seus tecidos (músculos, carnes);

    b) ao se alimentar de carne crua ou mal cozida (leite e saliva são menos comuns) dos animais,hospedeiros intermediários, que têm os cistos ou pseudocistos em seus tecidos (músculos). Por

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    exemplo, o boi ingere os oocistos no pasto e nós, ao comermos sua carne mal cozida, ingerimos oToxoplasma gondii. A toxoplasmose pode ser também transmitida por via congênita (vertical), e nosprimeiros três meses de gravidez pode causar aborto ou complicações graves para o feto. Acredita-se que mais de 60% da população já tenha mantido contato com o parasito, que é pouco patogênico,sendo a maioria dos portadores assintomáticos. Porém, dependendo do hospedeiro, a toxoplasmose

    pode tornar-se grave. Dentre outras formas, temos a toxoplasmose ocular - que causa lesões naretina, podendo levar à cegueira parcial ou total - e a toxoplasmose cerebral - que causa convulsões,confusão mental e quadros de epilepsia, confundindo o diagnóstico com o de um tumor. As formasde se evitar a doença são, principalmente, não se alimentar de carne crua ou mal cozida, e de seusderivados nas mesmas condições; manter boa higiene lavando as mãos após manipular osalimentos (carnes) ou após contato com o solo, tanques, caixas de areias (eventualmente poluídospor gatos) e com os próprios gatos, que retêm nos pêlos os oocistos. Os gatos domésticos devemalimentar-se de rações ou alimentos previamente cozidos, evitando-se carnes cruas e a caça deroedores. As fezes e forrações dos seus leitos devem ser eliminadas diariamente e as caixas deareia, lavadas duas vezes por semana, com água fervente. A pesquisa ou o diagnóstico datoxoplasmose é realizado pela análise do líquor ou, mais freqüentemente, por testes sorológicos.

    • Tricomoníase O responsável pela tricomoníase é o protozoário flagelado chamado Trichomonas vaginalis,

    que se aloja na vagina e na uretra e próstata do homem. Muitos portadores são assintomáticos, masna mulher a infecção pode causar corrimento abundante, coceira, dor e inflamação na mucosa do

    colo uterino e vagina (cervicites e vaginites). No homem, as infecções costumam ser benignas, maspodem provocar secreção pela manhã e coceiras.O diagnóstico é feito através da pesquisa doparasito em secreções vaginais, na mulher, e em secreção uretral ou prostática e sedimento urinário,no homem. A tricomoníase é considerada doença venérea pois é transmitida por meio de relaçõessexuais. Devido à falta de higiene, a transmissão também pode ocorrer por intermédio de instalaçõessanitárias (bidês, banheiras, privadas, etc.), roupas íntimas e de cama. O controle ou forma de seevitar a parasitose baseia-se na educação sanitária, no tratamento dos casos (tratando-se sempre ocasal), uso de camisinhas nas relações sexuais, boa higiene, etc.

    • GiardíaseA giardíase, existente no mundo inteiro, é causada pelo protozoário flagelado chamado

    Giardia lamblia . Sua forma vegetativa (trofozoito) é encontrada no intestino delgado, principalmenteno duodeno, e infecta com muita freqüência crianças menores de dez anos. Geralmente, a infecção

    é assintomática, mas quando o número de parasitos é grande e as condições do hospedeirofavorecem (idade, resistência etc.), pode causar diarréias (com fezes claras, acinzentadas, malcheirosas e muco) com cólicas, náuseas, digestão difícil, azia, etc.

    O indivíduo infectado elimina nas fezes, de forma não-constante, os cistos já maduros, quecontaminam a água e os alimentos (verduras, frutas e legumes). A transmissão ocorre pela ingestãodos cistos (pela água ou alimentos) que não morrem com o uso de cloro na água, sobrevivendo porcerca de dois meses no ambiente. Portanto, a água para beber deve ser sempre filtrada ou fervida.Contudo, a transmissão também acontece quando moscas e insetos, ao pousar em materiaiscontaminados (com fezes), espalham os cistos para os alimentos. Além disso, pode também podeocorrer através do sexo anal-oral. Para se evitar sua transmissão deve-se lavar muito bem osalimentos que serão ingeridos crus, bem como tomar água filtrada ou fervida, cultivar bons hábitosde higiene e somente defecar em privadas ou fossas. Sua comprovação é feita mediante exame nasfezes. Entretanto, o resultado pode ser, muitas vezes, negativo, devido a inconstância na eliminação

    dos cistos pela giardia. Sendo assim, o teste deverá ser repetido em intervalos menores de tempo,bem como após o tratamento, para o controle da cura.

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    • Amebíase A amebíase é causada por um protozoário chamado Entamoeba histolytica , encontrado

    praticamente em todos os países, sendo mais comum nas regiões tropicais e subtropicais (incluindoo Brasil), devido não só às condições climáticas mas, principalmente, às precárias condiçõessanitárias e ao baixo nível socioeconômico das populações que nelas vivem.

    A forma trofozoítica habita no intestino grosso do hospedeiro infectado, mas pode parasitar,através da circulação sangüínea, o fígado, pulmão e cérebro. A maioria das infecções sãoassintomáticas, porém o equilíbrio entre parasito e hospedeiro pode ser quebrado - por váriosmotivos já comentados - e o parasito (trofozoíto) pode invadir a mucosa do intestino, causandolesões importantes (úlceras em “botão”). As diarréias amebianas provocam, em média, 10 ou maisevacuações diárias, líquidas, com muco e sangue, acompanhadas de cólicas abdominais. Atransmissão ocorre com a eliminação de cistos encontrados nas fezes de pessoas parasitadas, o

    que contamina o ambiente. Sua transmissão, diagnóstico e prevenção (maneiras de evitar a doença)são iguais aos da giardíase. Um comentário à parte com relação às amebas comensais (E. coli,Iodamoeba butschlii e outras): elas podem ser encontradas no intestino do homem, sem, porém,causar-lhe mal algum; tal fato, entretanto, deve servir de alerta para que o portador tome os cuidadosnecessários quanto a sua forma de transmissão - a mesma das amebas patogênicas (através defezes). Logo, as formas parasitarias podem não encontrar-se nas fezes naquele momento, maspodem aparecer em outra ocasião.

    3.5 Os helmintos (vermes)

    Helmintos são seres multicelulares; portanto, pertencem ao reino Animalia . Durante o cicloevolutivo apresentam-se sob três formas: ovo, larva e verme adulto.

    O termo “helminto” é utilizado para todos os grupos de vermes de interesse humano quevivem como parasitos. Para facilitar nossos estudos, vamos separá-los em dois grupos menores: ofilo platelminto e o filo nematelminto.

    3.5.1 Os platelmintos: características geraisO filo Platyhelminthes reúne os vermes de corpo achatado, alongado e de aspecto foliáceo,

    ou segmentados em anéis (tênias), com aparelho digestivo incompleto ou ausente e sem sistemacirculatório. São, contudo, os primeiros organismos a apresentar sistema excretor (ânus).Geralmente são hermafroditas, com exceção do Schistosoma , que apresenta sexos separados.Dentre outras classes, há duas de nosso interesse pois delas constam importantes parasitoshumanos capazes de causar doenças: a classe Trematoda (Schistosoma mansoni ) e a classeCestoda (Taenias e cisticercos).a) Principais doenças transmitidas pelos Trematodas:

    • EsquistossomoseTambém conhecida por “barriga d’água”, “xistosa” ou “doença do caramujo”, a

    esquistossomose é causada pelo Schistosoma mansoni que parasita, na fase adulta, os vasossangüíneos do sistema porta (no fígado) e os vasos da parede do intestino. Existem parasitosmachos e fêmeas (sexos separados). Na fase adulta, medem alguns milímetros, tornandose,

    portanto, passíveis de serem vistos a olho nu. Para completar seu ciclo biológico esse parasitoprecisa de dois hospedeiros: um intermediário (caramujo) e outro definitivo (homem).

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    - Ciclo biológico do parasitoNo acasalamento, o macho, que é achatado, abraça a fêmea, que é cilíndrica e alongada,

    nela enrolando-se. Após a fecundação, as fêmeas eliminam os ovos, que atravessam a parede dosvasos e saem com as fezes do indivíduo parasitado. Esses ovos apresentam em seu interior umalarva chamada miracídio. Quando lançados na água (rios, lagos, córregos), juntamente com as

    fezes, eclodem, liberando os miracídios que nadam ao encontro do caramujo (Biomphalariaglabrata ). No caramujo, essas larvas desenvolvem-se e multiplicam-se. Mais tarde, saem docaramujo (fase em que são chamadas de cercária) em busca de um hospedeiro humano. Penetramnas pessoas quando estas vão tomar banho ou lavar roupas em águas contaminadas com fezeshumanas de indivíduos parasitados. Após penetrar pela pele do hospedeiro, a larva evolui, sediferencia e cresce até alcançar os vasos do sistema porta, onde permanece já na fase adulta. Ainfecção costuma ser assintomática, dependendo sempre daqueles fatores, em relação aohospedeiro e ao parasito, anteriormente mencionados, mas poderá ocasionar manifestações clínicascomo alergias no local da penetração das cercárias, aumento do baço e do fígado, ascite (barrigad’água), etc.O diagnóstico é realizado através de exame de fezes

    • Fasciolíase

    Essa doença é causada pela Fasciola hepática , parasito de herbívoros (gado). Apresenta-seem forma de folha e raramente infecta o homem. Contudo, quando acontece, parasita o fígado, avesícula e canais biliares. Os ovos saem com as fezes. O ciclo é semelhante ao acima descrito, comuma diferença: as cercárias que saem dos moluscos (caramujos) assumem uma forma cística (formade resistência), aderem às vegetações aquáticas e infectam os indivíduos que se alimentam dasmesmas.Principais doenças transmitidas pelos Cestodas:

    • Teníase e cisticercoseA teníase é causada por um verme popularmente conhecido por “solitária”, o qual tem duas

    espécies: a Taenia saginata , que possui como hospedeiro intermediário o bovino, e a Taenia solium ,que tem o suíno como hospedeiro intermediário. São vermes alongados, achatados, em fita,segmentados em anéis (proglotes) e hermafroditas, ou seja, possuem órgãos sexuais separados,

    mas no mesmo indivíduo. Alguns, chegam a medir alguns metros de comprimento

    - Ciclo biológico do parasitoA infecção inicia-se com a ingestão da forma larvar (cisticerco) da tênia, através do consumo decarnes e derivados (lingüiça, salame, etc.) crus ou mal cozidos, do porco ou boi. Essas larvasatingem o intestino do hospedeiro, onde adquirem a forma adulta e, depois de certo tempo, liberamseus anéis (proglotes), repletos de ovos, juntamente com as fezes, contaminando assim o ambiente.O porco ou o boi, ao se alimentar em ambiente contaminado com fezes de indivíduos parasitados,ingerem os ovos contendo a larva. No interior dos seus organismos os ovos rompem-se, liberando aslarvas (oncosferas) que vão parasitar os músculos desses animais, dando origem aos cisticercos(larvas). Ao agir no lugar do intermediário, ou seja, ao ingerir os ovos do parasito através do alimentoou da água, e não as larvas através da carne, o homem - hospedeiro definitivo - desenvolverá umadoença chamada cisticercose. Contudo, isto só acontecerá se os ovos forem da Taenia solium, que

    parasita o porco. Portanto, podemos resumir dizendo: o indivíduo que ingere carne de porco ou deboi contaminada adquire teníase; aquele que ingere ovo de Taenia solium , a cisticercose.Tanto uma quanto outra podem apresentar-se de forma assintomática, mas na teníase pode

    haver sintomas como perda de peso, mesmo com apetite aumentado, dores de cabeça, coceira noânus, etc. Na cisticercose, a manifestação clínica dependerá do local onde as larvas (cisticercos) irãose alojar e desenvolver. Assim, podem causar graves distúrbios se forem parar no globo ocular, nosistema nervoso, no cérebro, etc. Há casos em que os médicos ficam pensando em tumores e,quando os retiram, têm a surpresa de encontrar os cisticercos já mortos e calcificados. Moluscos(caramujos) assumem uma forma cística (forma de resistência), aderem às vegetações aquáticas einfectam os indivíduos que se alimentam das mesmas. O diagnóstico é realizado através de examede fezes. Para a cisticercose, no líquor, no sangue ou através de exames radiológicos, ultra-sonografia e ressonância magnética.

    3.5.2 Os nematelmintos: características gerais

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    Os nematóides são vermes de tamanhos e formas variadas - alongados, cilíndricos,fusiformes, não-segmentados, com simetria bilateral. Possuem aparelho digestivo completo. Ossexos são separados, sendo os machos menores que as fêmeas. A reprodução é feita de formasexuada. A classe que nos interessa estudar é a Nematoda , na qual estão classificados os principaisparasitos do homem.

    a) Principais doenças transmitidas pelos Nematodas:• Ascaríase ou ascariose

    É o parasitismo causado pelo Ascaris lumbricoides , exclusivo do ser humano, tambémconhecido como “lombriga” ou “bicha”.- Ciclo biológico do parasitoA infecção ocorre pela ingestão de ovos maduros do parasito, juntamente com alimentos, água oupor intermédio de mãos sujas de terra contaminada pelas fezes do indivíduo parasitado. Esses ovossão eliminados juntamente com as fezes e, até amadurecerem, necessitarão permanecer no solo poralgum tempo (cerca de duas semanas). Esse tempo é necessário para que a larva em seu interior sedesenvolva e assim, quando o ovo for ingerido pelo novo hospedeiro, possa dar continuidade aodesenvolvimento da parasitose. Por isso, o Ascaris lumbricoides é classificado como geohelminto(ver ilustração na página seguinte). Como se pode ver, nesse caso não há transmissão direta fecal-

    oral. No corpo do hospedeiro, o ovo eclode e libera a larva, que percorre um caminho especial,passando por vários órgãos e desenvolvendo- se para, ao final, atingir o intestino delgado, ondepermanecerá na forma adulta eliminando seus ovos.

    A ascaridíase é, na maioria das vezes, assintomática. Quando apresenta sintomas, os maisfreqüentes são desconforto abdominal, cólicas, má digestão, perda de apetite, irritabilidade, coceirano nariz, ranger de dentes à noite, etc. Torna-se grave quando o número de parasitos é elevado eacaba formando um novelo, bloqueando a passagem no intestino.

    Há também casos em que os vermes adultos migram para outros órgãos e acabam saindopelos ouvidos, boca, olhos, etc. Os exames para pesquisa do parasito são realizados nas amostrasde fezes do hospedeiro.

    • TricuríaseEssa parasitose é causada pelo Trichuris trichiura que, como o áscaris, também é um

    geohelminto. Portanto, a transmissão e a infecção ocorrem do mesmo modo. O verme adulto tem