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O ESTUDO DE ÁRVORES DA CAATINGA COMO ESTRATÉGIA PEDAGÓGICA NO ENSINO DE CIÊNCIAS EM ESCOLA DA ZONA RURAL THE STUDY ON TREES FROM CAATINGA AS PEDAGOGICAL STRATEGY IN SCIENCE TEACHING IN RURAL AREA SCHOOL Maria Alcântara dos Santos¹, Rosana Ferreira de Alencar, Francisco Carlos Pinheiro da Costa 1. [email protected] Resumo O espaço escolar da zona rural constitui um campo fértil para a realização das aulas de Ciências Naturais, uma vez que o meio ambiente, com sua composição natural, pode ser um instrumento pedagógico nas atividades curriculares. Desta forma, é possível vislumbrar a dinamização do processo ensino-aprendizagem, tornando o fazer educativo mais participativo. O estudo teve como objetivo utilizar as espécies vegetais disponíveis para facilitar o aprendizado de conteúdos de Ciências, valorizando assim o ambiente e estimulando a curiosidade do aluno sobre a diversidade da vegetação local. A estratégia metodológica constou de aulas teóricas abordando os temas: Caatinga e morfologia vegetal e normas para estudo de campo. Durante a aula de campo, foi realizada uma atividade lúdica buscando a percepção dos alunos acerca do ambiente, mediante a identificação dos sons da Caatinga. Também foi desenvolvido estudo sobre as árvores da Caatinga com a utilização de diferentes instrumentos e estratégias como: desenhos, decalque e medida do diâmetro e altura da espécie escolhida; identificação da espécie estudada e compartilhamento dos resultados obtidos em sala de aula. Essa atividade contribuiu para o desenvolvimento de competências como: percepção compartilhada, execução de trabalho em grupo e valorização do meio, necessárias para o desenvolvimento de habilidades que facilitarão a produção de conhecimentos, bem como uma melhor relação homem-natureza. Entendemos que a implementação de estratégias metodológicas dinâmicas e contextualizadas fazem com que o Ensino de Ciências Naturais se torne mais interativo, voltado à formação de cidadãos críticos e conscientes do seu papel enquanto sujeito, inseridos no meio onde vivem. Palavras-chave: Ensino de Ciências Naturais; Meio Ambiente; Instrumento Pedagógico. Abstract

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O ESTUDO DE ÁRVORES DA CAATINGA COMO ESTRATÉGIA

PEDAGÓGICA NO ENSINO DE CIÊNCIAS EM ESCOLA DA ZONA

RURAL

THE STUDY ON TREES FROM CAATINGA AS PEDAGOGICAL STRATEGY IN SCIENCE

TEACHING IN RURAL AREA SCHOOL

Maria Alcântara dos Santos¹, Rosana Ferreira de Alencar, Francisco Carlos Pinheiro da Costa

1. [email protected]

Resumo

O espaço escolar da zona rural constitui um campo fértil para a realização das aulas de Ciências

Naturais, uma vez que o meio ambiente, com sua composição natural, pode ser um instrumento

pedagógico nas atividades curriculares. Desta forma, é possível vislumbrar a dinamização do

processo ensino-aprendizagem, tornando o fazer educativo mais participativo. O estudo teve

como objetivo utilizar as espécies vegetais disponíveis para facilitar o aprendizado de

conteúdos de Ciências, valorizando assim o ambiente e estimulando a curiosidade do aluno

sobre a diversidade da vegetação local. A estratégia metodológica constou de aulas teóricas

abordando os temas: Caatinga e morfologia vegetal e normas para estudo de campo. Durante a

aula de campo, foi realizada uma atividade lúdica buscando a percepção dos alunos acerca do

ambiente, mediante a identificação dos sons da Caatinga. Também foi desenvolvido estudo

sobre as árvores da Caatinga com a utilização de diferentes instrumentos e estratégias como:

desenhos, decalque e medida do diâmetro e altura da espécie escolhida; identificação da espécie

estudada e compartilhamento dos resultados obtidos em sala de aula. Essa atividade contribuiu

para o desenvolvimento de competências como: percepção compartilhada, execução de trabalho

em grupo e valorização do meio, necessárias para o desenvolvimento de habilidades que

facilitarão a produção de conhecimentos, bem como uma melhor relação homem-natureza.

Entendemos que a implementação de estratégias metodológicas dinâmicas e contextualizadas

fazem com que o Ensino de Ciências Naturais se torne mais interativo, voltado à formação de

cidadãos críticos e conscientes do seu papel enquanto sujeito, inseridos no meio onde vivem.

Palavras-chave: Ensino de Ciências Naturais; Meio Ambiente; Instrumento Pedagógico.

Abstract

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The school scenario of the rural area constitutes a fertile field for the accomplishment of natural

sciences classes, once the environment, with its natural composition, can be a pedagogical tool

in the curricular activities. Hence, it is possible to see the dynamics of the teaching-learning

process, making thus the educational practice more participative. The study aimed to use the

plant species available in order to make easy the learning of sciences contents, enhancing thus

the environment and boosting the student´s curiosity about the diversity of local vegetation.

The methodological strategy encompassed theoretical classes focusing on the themes: Caatinga

and plant morphology and rules for field study. During the field class, a playful activity was

carried out seeking the students´ perception about the environment through the identification of

Caatinga sounds. A study on the Caatinga trees was also developed with the use of different

instruments and strategies, such as: drawing, decal and the diameter and height measure of the

chosen species; identification of the studied species and sharing of the obtained results in the

classroom. This activity contributed to the development of competencies such as: shared

perception, fulfillment of group work and appreciation of the environment; these are necessary

for the development of skills that will facilitate knowledge production as well as a better man-

nature relationship. We understand that the establishment of dynamic and contextualized

methodological strategies aid natural sciences teaching so as to become more interactive,

concerning the formation of critical and conscious citizens of their role as individuals in the

environment where they live.

Keywords: Natural Sciences Teaching; Environment; Pedagogical Instrument.

Introdução

A utilização de instrumentos pedagógicos diferenciados como os recursos oferecidos pelo meio

ambiente no entorno da escola consiste em uma importante estratégia pedagógica para

dinamizar o processo ensino-aprendizagem, tornando-o mais efetivo, no que diz respeito à

formação de pessoas conscientes e capazes de conhecer a importância da conservação do meio

em que vivem, além de auxiliar na construção do conhecimento e na formação de pessoas

críticas em relação aos problemas ambientais comuns em comunidades rurais da Caatinga,

como a escassez de água, queimadas e o êxodo rural. Dessa forma, os alunos poderão apreender

novos saberes e passar a ter outra leitura sobre o ambiente, descobrindo e vivenciando novas

experiências na forma de aprender.

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Assim, a aplicação de atividades pedagógicas mais dinâmicas e contextualizadas faz com que

o processo educativo adquira um papel importante na formação do educando, uma vez que

viabiliza uma maior interação entre as experiências vividas pelos alunos e os conteúdos

didáticos, diminuindo as barreiras entre o saber acadêmico e o saber popular, tornando a

aprendizagem mais significativa e incentivando o prazer na busca do conhecimento. Como

sugere Feitosa (2011, p. 185):

Os processos educativos deverão funcionar como mecanismos capazes de

desenvolver a humanização dos sujeitos, de promover a consciência ecológica e

mostrar que a educação é o canal para a construção de saberes e de orientação para

o desenvolvimento humano e de novas maneiras de agir, perceber e refletir acerca

da relação homem natureza.

Os alunos trazem consigo uma riqueza de conhecimentos baseada na cultura e na sociedade

presente no meio onde vivem e, por isto, deve ser explorado. Segundo Carvalho (2009, p. 5),

eles trazem para a sala de aula noções já estruturadas, com uma lógica própria e coerente

baseada em explicações causais frutos de seu conhecimento relacionado às atividades

cotidianas, mas diferentes da estrutura conceitual e lógica usada na definição científica desses

conceitos trabalhados em sala de aula.

Baseando-se em alguns preceitos e recomendações dos PCNs para o ensino de Ciências

Naturais, que propõem um ensino de caráter mais formativo que informativo, privilegiando os

conhecimentos prévios do aluno e o seu ambiente, a utilização do espaço existente no entorno

da escola ou ligado ao cotidiano do aluno como um lago, as margens de um rio, no caso de

escolas da zona rural, ou mesmo uma praça quando a escola situa-se na zona urbana, pode

oferecer ao estudo das Ciências Naturais paisagens e situações diferentes das apresentadas no

livro didático facilitando a realização de atividades de campo. Segundo Abílio et al. (2011, p.

12):

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[...] o ensino de Ciências Naturais deve resgatar do aluno conhecimento e

condições que venham a ajudá-lo a desenvolver a capacidade de observar, pois

a observação leva os alunos a conhecer os diversos componentes do seu meio

e amplia os seus horizontes.

Assim, a utilização de árvores da Caatinga como instrumento de trabalho de campo facilita a

aprendizagem dos conteúdos de Botânica, além de aproximar o aluno do ambiente no qual está

inserido, não se restringindo apenas ao livro didático e às aulas teóricas exibidas de forma,

muitas vezes, mecânica visando apenas cumprir a grade curricular referente à série em questão.

Dessa forma, baseando-se em descobertas e trabalho em equipe com a participação conjunta de

professores e alunos, o ensino se torna mais dinâmico e a aprendizagem de termos científicos,

razão para muitos alunos não gostarem de Ciências, se torna mais fácil.

Nesse sentido, o presente trabalho discorre sobre a elaboração, desenvolvimento e execução de

uma das atividades propostas pelo Projeto “RECURSOS NATURAIS DA CAATINGA COMO

INSTRUMENTO DIDÁTICO PARA O ENSINO FUNDAMENTAL”, em uma escola da zona

rural do município de Cajazeiras-PB, tendo como objetivo maior utilizar as espécies vegetais

disponíveis para facilitar o aprendizado dos conteúdos de Ciências abordados no Ensino

Fundamental, valorizando, assim, o ambiente do entorno da escola, estimulando a curiosidade

do aluno sobre a diversidade da vegetação local, bem como destacando a importância da

preservação e do equilíbrio ambiental do Bioma Caatinga.

Referencial Teórico

A Caatinga é um bioma característico do semiárido nordestino. Apesar da riqueza de sua fauna

e flora, formada por árvores e arbustos que, em geral, perdem as folhas na estação das secas

(espécies caducifólias), além de muitas espécies de cactáceas, é pouco explorada como fonte

de trabalho nas escolas.

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Muitas vezes o educador opta por um ensino tradicionalista baseado no livro didático cujos

conteúdos e ilustrações, em sua maioria, não estão relacionados à realidade do sertão

nordestino.

Para Berna (2001), o professor não deve ser apenas um condutor de novos conhecimentos, mas

um estimulador, um motivador, um mediador, levando os alunos a elaborar o seu próprio

conhecimento com relação ao meio ambiente. A partir desta concepção, o papel da escola é

fornecer ao aluno, através de suas atividades, a capacidade de desenvolver suas potencialidades

e o direito de expressar livremente seus interesses, sentimentos, preocupações e ideias e não

apenas moldá-lo segundo regras e conceitos pré-estabelecidos. Para tanto, os processos

educativos deverão funcionar como mecanismos capazes de desenvolver a humanização dos

sujeitos, de promover a consciência ecológica e mostrar que a educação é o canal para a

construção de saberes e de orientação para o desenvolvimento humano e de novas maneiras de

agir, perceber e refletir acerca da relação homem natureza (FEITOSA, 2011).

A utilização do ambiente externo à escola deve funcionar como uma extensão da sala de aula,

um recurso indispensável para o processo ensino-aprendizagem, favorecendo o

desenvolvimento de uma nova consciência ecológica através de uma interação com o meio.

Segundo Busquets et al. (2000) quando um determinado conceito é aprendido através da

aplicação, sua utilidade torna-se mais evidente para os alunos. A pessoa que aprende um

determinado conceito deve conhecer a sua utilidade e ser capaz de reconstruí-lo em seu

pensamento no momento em que necessitar dele.

Numa concepção construtivista, o meio funciona como um indutor ou fornecedor de estímulos

para o aluno permitindo um processo interativo na construção do conhecimento. Na educação

contemporânea, o ensino de Ciências Naturais é uma das áreas em que se pode reconstruir a

relação ser humano/natureza em outros termos, contribuindo para o desenvolvimento de uma

consciência social e planetária (PCNs, 1998).

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As experiências vividas pelos alunos são importantes ferramentas pedagógicas que podem ser

utilizadas para o desenvolvimento de metodologias em sala de aula que transformam o processo

ensino-aprendizagem em algo mais dinâmico, participativo e significativo. Como, por exemplo,

a elaboração e execução de atividades práticas utilizando os recursos existentes no meio no qual

está inserida a comunidade escolar podem fazer com que os conteúdos trabalhados em sala de

aula sejam mais facilmente absorvidos e compreendidos. Nessa perspectiva, como afirma

Tristão (2008, p. 66),

O papel da escola é construir valores e estratégias que possibilitem

aos/às estudantes determinarem o que é melhor conservar em sua

herança cultural, natural e econômica para se alcançar um nível de

sustentabilidade na comunidade local que contribui, ao mesmo tempo,

com os objetivos em escala nacional e global.

Para Silva et al. (2010), o Ensino de Ciências Naturais deve resgatar os conhecimento e

experiências que os alunos adquiriram ao longo de suas vidas e que possam vir a ajudá-los no

desenvolvimento de uma capacidade de observação mais aprimorada. Deve estimular

habilidades que favoreçam a capacidade de inter-relação pessoal, inserção social e convivênvia

harmoniosa com o meio ambiente contribuindo, assim, para a melhoria da qualidade de vida.

Na zona rural, o contato com a natureza faz parte do cotidiano da comunidade escolar. Existem

muitos locais propícios para a realização de atividades que favorecem a integração dos alunos

com o meio, porém o enfoque dado ao Bioma Caatinga nas aulas de Ciências Naturais, como

também em outras disciplinas da grade curricular, é muito limitado e os alunos pouco conhecem

sobre sua biodiversidade e as riquezas oferecidas pelas diferentes paisagens existentes. Nesse

contexto, o professor passa a ter um papel significativo no desenvolvimento de uma consciência

ecológica voltada para a preservação ambiental através da aplicação de atividades mais

estimulantes e participativas, onde o ambiente externo à escola funcione como um importante

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recurso pedagógico, favorecendo uma interação entre os sujeitos envolvidos no processo

ensino/aprendizagem com o meio onde estão inseridos.

A utilização do meio como instrumento didático é uma excelente estratégia de trabalho no

Ensino de Ciências Naturais, pois, através da aplicação de atividades de campo, que despertem

no aluno o surgimento de novas atitudes e de um novo olhar sobre os problemas ambientais

existentes na região, abrindo oportunidades de reflexão sobre atitudes, valores e

comportamentos que poderão contribuir para a diminuição dos problemas ambientais e a

conservação dos recursos existentes.

Nesse cenário, a educação deve ser concebida como um processo de formação e

desenvolvimento do ser humano capaz de torná-lo sujeito de sua ação/condição de ser e estar

no mundo (ABÍLIO, 2011). Para isso, o processo educativo não deve se resumir aos conteúdos

escolares ou ações isoladas, mas, que esteja articulado com o cotidiano do aluno e da

comunidade onde vive, uma vez que a escola não detém o monopólio do saber. Assim, o

processo ensino/aprendizagem torna-se mais significativo

Nesta perspectiva podemos dizer que o ensino de Ciências Naturais deve ter um caráter mais

formativo que informativo, privilegiando os conhecimentos prévios do aluno, o seu ambiente

natural e sociocultural. Partindo do enfoque ecológico e de atividades de campo, os alunos

poderão apreender novos saberes e passar a ter outra leitura do ambiente, descobrindo e

vivenciando novas experiências numa nova forma de aprender.

Metodologia

Seguindo o cronograma pré-estabelecido no projeto, a atividade foi realizada na Escola José

Martins de Oliveira, localizada zona rural do Município de Cajazeiras-PB, com alunos do 7º

ano. No entorno da referida escola existe um ambiente rico em diversidade de espécies vegetais

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da Caatinga que favorecem a realização de estudos de campo, porém este recurso é pouco

explorado como instrumento pedagógico no Ensino de Ciências.

Para a realização da atividade, primeiramente, foi feita uma visita prévia ao local escolhido para

observação e seleção das árvores a serem trabalhadas. Em sala de aula foram ministradas aulas

abordando as características do Bioma Caatinga com exibição de vídeo e leitura de textos, para

que o aluno pudesse ter outra visão mais científica sobre a região onde vive. Também foram

ministradas aulas referentes à morfologia vegetal que seria importante na execução da atividade

e instruções referentes ao estudo de campo onde os alunos foram orientados quanto a

vestimenta, comportamento, material necessário.

Em campo, a primeira atividade foi a observação do ambiente. Os alunos foram estimulados a

observarem a vegetação, solo e animais presentes no ambiente. Em silêncio ouviram os sons da

natureza.

Em seguida, os alunos foram divididos em equipes e orientados a escolher uma árvore que eles

podiam identificar como sendo característica da Caatinga. Dessa forma, pode-se verificar o

conhecimento dos alunos sobre a flora local.

Escolhida as árvores pelas equipes, iniciou-se o estudo das mesmas. Munidos de um roteiro

previamente elaborado, os alunos seguiram uma sequência de atividades que levaram a

exploração de características das árvores como folha, flor, fruto, semente e diâmetro,

contribuindo, assim, para um melhor conhecimento das espécies exploradas. As árvores

escolhidas foram juazeiro, cajazeira, mandacaru, aroeira.

As equipes foram direcionadas às árvores a serem trabalhadas. Diante do objeto de estudo

fizeram um desenho destacando os aspectos gerais. Depois recolheram folhas caídas da árvore

e fizeram um desenho e identificaram o tipo de folha. Caso a árvore possuísse fruto fizeram um

desenho do mesmo.

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Em seguida, com um pedaço de papel e giz de cera, os alunos fizeram um “decalque” do tronco

da árvore obtendo assim, o que muitos chamam a impressão digital da árvore. O decalque foi

colado no espaço reservado para o mesmo no roteiro de atividade.

Com uma fita métrica, os alunos fizeram a medição do diâmetro do tronco da árvore, a uma

altura de aproximadamente, um metro do solo. Para medir a altura da árvore foi utilizado um

procedimento alternativo onde um dos membros da equipe ficou em pé encostado ao tronco da

árvore. Um outro aluno, munido de dois lápis de mesmo tamanho formando um ângulo de 90°

posicionado a altura do olho, de acordo com seu ângulo de visão, enquadrou a árvore dentro do

espaço formado pelo ângulo dos dois lápis. Feito isso, o aluno que estava próximo da árvore se

aproximou do lápis e marcou o ponto de medida. A distância entre o aluno e a árvore

correspondia, aproximadamente, a altura da mesma.

Em sala de aula foi realizada a identificação científica das árvores trabalhadas em campo através

de pesquisa em literatura especializada. Em seguida, as equipes apresentaram para a turma os

resultados do estudo de campo.

Todas essas informações foram anotadas no roteiro de atividade de campo recebido pelo aluno.

Resultados

A observação do solo, vegetação e animais presentes na área de estudo serviu com introdução

do estudo de campo estimulando os alunos a desenvolverem as atividades planejadas.

Quando foram convidados a ouvir os sons da natureza, eles passaram a ter uma visão diferente

do cotidiano. Muitas vezes ouviram esses sons em seu dia a dia, mas a rotina faz com que as

pessoas não deem uma maior atenção a beleza da diversidade de vida do ambiente onde vivem.

Alguns alunos conseguiram identificar sons de diferentes pássaros, o barulho da água do rio,

vozes de pessoas e os sons do trabalho no campo que passam despercebidos e que tem uma

beleza e uma magia diferente quando os ouvimos mais atentamente.

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Os alunos utilizaram diferentes técnicas e instrumentos na realização da atividade como o

desenho, decalque, medição com fita métrica que estimularam a participação de todos

demonstrada através do entusiasmo durante a execução do estudo de campo.

O estudo de campo proporciona um melhor contato com a natureza. Atitudes simples como não

retirar a folha da árvore para fazer o desenho, mas utilizar uma folha caída mostra ao aluno a

importância da conservação e do respeito a natureza.

Durante o compartilhamento das informações obtidas por cada equipe ocorreu uma troca de

conhecimento sobre as espécies estudadas, em que alguns alunos falaram que determinada

árvore não era mais encontrada no sítio onde moravam gerando um debate sobre a importância

da preservação das espécies.

Essa atividade contribuiu para o desenvolvimento de competências como: percepção,

desenvolvimento de trabalho em grupo e valorização do meio, necessárias para o

desenvolvimento de habilidades que facilitarão o aprendizado, bem como uma melhor relação

homem-natureza. Desta forma, os alunos foram levados a pensar, debater suas ideias e

conhecimentos, ampliando, assim, os horizontes dos saberes já adquiridos diante das novas

situações vividas.

Conclusões

A presente atividade mostrou que o Ensino de Ciências pode ser trabalhado de maneira

estimulante sem a necessidade de matérias, equipamentos ou laboratórios sofisticados, como

alguns professores alegam como justificativa para a aplicação de um ensino tradicionalista que

tem como recurso didático, apenas, quadro de giz e livro didático.

A utilização de árvores da Caatinga como estratégia didática no ensino de ciências em escolas

da zona rural é um recurso muito importante, uma vez que faz com que o educando conheça

melhor a riqueza da flora existente, contribuindo para a valorização da mesma.

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Com a realização de atividade de campo, o aluno é levado a observar os recursos naturais

existentes de maneira mais efetiva. Os conteúdos trabalhados em sala passam a ter mais

significado, uma vez que são utilizados meios e paisagens comuns ao cotidiano do aluno.

A atividade desenvolvida é uma pequena demonstração da importância da utilização dos

recursos do meio para promover uma melhor aproximação dos conteúdos apresentados nos

livros didáticos com a realidade na qual o aluno está inserido. Isso faz com que o Ensino de

Ciências Naturais se torne mais dinâmico e realmente voltado a formação de cidadãos críticos

e mais participativos, no que se refere à preservação do meio onde vivem.

Referências

ABILIO, F. J. P.. Educação Ambiental para o Semiárido. João Pessoa: Editora

Universitária/UFPB, 2011. 580p.

BERNA, V. S. D. Como Fazer Educação Ambiental. 3 ed. Paulus. São Paulo. 2001. 142p.

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais. Terceiro e Quarto Ciclos do Ensino Fundamental.

Ciências Naturais. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. 138p.

BUSQUETS, M. D. et al. Temas transversais em educação: bases para uma formação integral.

6 ed. São Paulo: Ática. 2000. 198p.

CARVALHO, Anna Maria Pessoa de (Org.). Ensino de Ciências - Unindo a pesquisa a prática.

Cengage Learning. 2009. 154p.

FEITOSA, A. A. F. M. A. Educação para Convivência no Contexto do Semiárido. In: ABÍLIO,

F. J. P. (Org.). Educação Ambiental para o Semiárido. João Pessoa: Editora Universitária, 2011.

p. 137-203.

SILVA, E. C. B. S. et al. Meio ambiente e Educação Ambiental: uma análise sobre o ensino de

ciências de uma escola pública de nível fundamental de João Pessoa –PB. In: ABÍLIO, F. J. P.

(Org.) Educação Ambiental e Ensino de Ciências. João Pessoa: Editora universitária da UFPB,

2010. P.39.

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TRISTÃO, M. A educação ambiental na formação de professores. 2. ed. São Paulo:

Annablume; Vitória: Fapitec, 2008.