HUGH-JONES, Christine - Pele e Alma - O Cíclico e o Linear

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    PELE   E   ALMA:   0   Cf CLI CO E 0 LI NEAR.

     TEMPO SOCI AL E ESPACO SOCI AL NA SOCI EDADE PI RA- PARANAENSE

    Dese j o   agr adecer a St ephen   Hugh- J ones, por sua par t i ci pa~i o   na   col et a

    dos dados usados nest e ar t i go e por s ua cont r i bui ~i o na   el abor a~i o   das

    i dei as nel e ~ont i das,   e a Ter ence Tur ner ,   pel o di scer ni ment o de   seus

    i mpr esci ndi vei s coment ar i os . Gos t ar i a t ambem de agr adecer ao   Fundo

    Meyer For t es, que me possi bi l i t ou escrever est e ar t i go e compar ecer   ao

    si mposi o   em que f oi apr esent ado.

    Vou t ent ar most r ar   como a es t r ut ur a e as i nt er r el a~oes   dos   gr upos

    de descendenci a est i o   i nt egr adas e sac engl obadas   pel os   si st emas   es~

    ~o- t empor ai s dos i ndi os do Pi r a- Par ana. Os Bar asana, ent r e os   quai s

    t r abal hei , sao ur n dos mui t os gr upos exogami cos de descendenci a   pat r i -

    l i near   que vi vem no Pi r a- Par ana, mas   0si st ema de i nt er casament o   ent r e

    t ai s gr upos ext ende- se mui t o al em dest e r i o, envol vendo t odos os povos

    f al ant es de l i nguas Tukano Oci dent ai s que vi vem   no Vaupes . 0 ar t i go d~

    vi de- s e em   ( 1)   uma di scussi o   do t empo   soci al , ( 2)   uma di scussao: da   or -

    gani z a~ao   concei t ual   de ur n con j unt o   de   si s t emas espa~o- t empor ai s , e

    ( 3)   ur na si nt ese,   onde   ar gur nent o   que   os si s t emas dest e conj unt o apr e-

    sent am a mesma   est r ut ur a, baseando- me nos pr i nci pi os el uci dados em ( 1) .

    Concl ui - se   da ar gur nent a~i o que   ser i a poss i vel t r a~ar cor r espondenci as

    ent r e os pr oces sos f undament ai s   que   e s t r ut ur am   ess es   si st emas   £spa~o-

    t empor ai s ,   mas,   as exi genci as   quant o   ao   t amanho do ar t i go i mpedem a   i n-

    cl usao dest e t ema.

     A

    I deal ment e cada gr upo   exog&T. i co ( como os Bar as ana, os Tat uyo, os

    Kar apana, et c   . •• ) t er n uma l i ngua pr opr i a e di st i  nt a, f al ada por seus

    membr os i ndependent ement e do l ugar onde   resi dem e das l I nguas f al adas

    por aquel es que os   cercar n.   Os gr upos exogami cos s ac i guai s , por em   se

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    di f er enci am no sent i do de que cada ur n del es descende de uma sucur i an

    cest r al especi f i ca, com nome pr opr i o. Do pont o de vi st a de qual quer

    gr upo, os out r os sac uma ser i e de uni dades separ adas, at uando si mul t a

    neament e como doador es e r ecept or es de mul her es.   0casament o com mu-

    l her es de uma cat egor i a que i ncl ui a pr i ma cr uzada bi l at er al r eal e

    pr escri t o, e i deal ment e assume a f or ma de t r oca de i r mas. Dent r o da

    cat egor i a de mul her es desposavei s exi s t e pr ef er enci a pel a f i l ha da i r -

    ma do pai , em det r i ment o da f i l ha do i r mao da mae. Est a pr ef er enci a

    har Qoni za- se com a enf ase na r eci pr oci dade ent r e os gr upos exogami cos,

    poi s quando a t r oca de mul her es nao f or compensada numa ger a9ao, 0 e-

    qui l i br i o ser a r est abel eci do na ger a9ao segui nt e.

    A i gual dade e a r eci pr oci dade si met r i ca t i pi cas das r el a90es ex-

    t er nas ent r e os gr upos exogami cos cont r ast am com a estr ut ur a hi er ar -

    qui ca ext er na que l hes e pecul i ar . Uma hi er ar qui a baseada na or dem de

    nasci ment o e t i pi ca de t odos os ni vei s de or gani za9ao dos gr upos de

    descendenci a, e nas l i nguas do Pi r a- Par ana t odos ost er nos   que denot am

    r el a90es de i r mandade especi f i cam quem e " mai s vel ho" ou " mai s m090"

    em r el a9ao a ego. Todas as subdi vi soes i nt er nas do gr upo exogami co c£

    l ocam os pr i mei r os a nas cer na f r ent e dos ul t i mos , e e i s t o, mai s do

    que a memor i a geneal ogi ca, que si t ua cada gr upo ou i ndi vi duo em r el a-

    9ao aos out r os.

    As pr i nci pai s subuni dades do gr upo exogami co, que denomi nei " si bs"

    segui ndo 0 exempl o de Gol dman, sac or denadas de acor do com 0 model o

    de ci nco i r maos agnat i cos, di f er enci ados t ant o pel a or dem de nasci men

    t o quant o pel a especi al i za9ao f unci onal . Os si bs r epr esent am as   di f e

    r ent es par t es da sucur i ancest r al , come9ando pel a cabe9a, com 0 si  b

    dos "che: f es" pri mogeni t os, e cont i nuando da segui nt e f or ma:

    cabe9achef es

     Tai s at r i bui 90es, com sua enf ase no pr est i gi o decr escent e que   vai   d

    pr i mei r o/ cabe9a ao ul t i mo/ r abo, conver t em a si mpl es or dem de nasci  men

    t o num conj unt o f unci onal ment e i nt er dependent e, t endo seu f oco or ganl

    zador no mei o, e nao nas ext r emi dades:

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    uni dades est a baseada no papel que l hes compet e nas di r er ent es   esf er as

    da vi da soci al . Chef e e ser vo sac papei s compl ement ar es na esf er a   po-

    f."" •• - ,

    l l t l co- economi ca, cant or es e xamas sac papei s compl ement ar es na esf e r a

    r i t ual ,   e guer r ei r o e ur n papel s i ngul ar , vol t ado par a a ext er i or i dade

    DOS out r os gr upos exogami cos, f ont es de mul her es desposavei s. Devo l e~

    br ar que mi nha pr eocu~aao aqui   e com a es t r ut ur a i deol ogi ca   DOS   gr upos

    de descendenci a. At ual ment e, a bem da ver dade, a as soci a~ao ent r e   0p~

    pel   de cada s i b e a es peci al i za~ao i ndi vi dual de seus membr os   e   a mai s

    t enue possi vel .

    A composi ~ao de cada si b pode var i ar de ur n a cer n i ndi vi duos. Con-

    f or me   0numer o de membr os, ocupa ur na ou mai s mal ocas. At ual ment e e   r a-

    r o   encont r ar mai s de   t r i nt a i ndi vi duos r es i di ndo na   mesma   cas a, mas ~

    t i gament e   0gr upo domest i co   er a bem mai s nur ner oso.   0   gr upo   que r esi de

    na   mesma mal oca e compost o   por i r maos ou pr i mos paral el os   pat r i l at e-

    r ai s   e s eus des cendent es , exc et uando- s e, e c l ar o, as mul her es   adul t as,

    que f or am   subst i t ui das por espos as pr oveni ent es de out r os gr upos . A o~

    gani za~ao do gr upo est a baseada er n   f ami l i as nucl ear es;   cada   casament o

    de ur n membr o mascul i no   const i t ui   ur na nova uni dade f ami l  i ar .

    Vol t ando ao cont r ast e ent r e a es t r ut ur a hi er ar qui ca   e   a r e ci pr oci -

    Dade si  met r i ca quev. ~gor aent r e el es , podemos i dent i f i car ur na s i t ua~ao

    anal oga no i nt er i or   da mal oca. As r el a~oesdos membr os do gr upo   de des-

    cendenci a r esi dent e sac   est r ut ur adas pel os   mesmos pr i nci pi os   que est r ~

    t ur am   0gr upo exogami c o   enquant o t al : ni vel   ger aci onal e   or dem col at e-

    r al de nasci ment o; as   esposas , ent r et ant o,   sac i ndi vi dual ment e anexa-

    das   a   est r ut ur a   pat r i l i near   nos pont os de s eu   cr esci ment o.   Da per spec-

    t i va   de u r n gr upo   l ocal   de descendenci a, as esposas   sac di f er ent es por em

    equi val ent es , por es t ar em   r el aci onadas   ao gr upo   at r aves da af i ni dade,

    exat ament e da mesma f or ma que,   da   per spect i va de   ur n gr upo exogami c o,

    t odos os out r os gr upos exogani c os   sac di f er ent es por em equi val ent es,

    por est ar em r el aci onados   por af i ni dade.   Em  ambos os casos a di st i n~ao

    nant e e cent r al , e ur na mul t i pl i ci dade   de uni dades equi val ent es e r epe-

    t i t i vas , que I he   sac opost as   e se   or i gi nam f or a Del ao

    As esposas, r epr es ent ant es DOS gr upos exogami cos do ext er i or , per -

    manecem sempr e como est r angei r as   dent r o da comuni dade.   A di ver si dade

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    das   l i nguas f al adas na mal oca at est a const ant ement e a   or i gem ext er na

    das mul her es. El as sac   i ndi spensavei s   a   cont i nui dade do gr upo pat r i l !near , embor a j amai s sej am   i ncor por adas a el e. A cont i nui dade do   gr upo

    l ocal de descendenci a t er n seu cor ol ar i o na f r agment a~ao de conj unt os

    coesos de i r maos em uni dades   f ami l i ar es separ adas e,   event ual ment e, em

    mal oc as di st i nt as. Assi m,   0cas ament o   di vi de os gr upos de   i r maos de u-

    ma ger a~ao par a poder   recr i a- l os enquant o novas uni dades na   ger a~ao

    segui nt e.

    Vi st as sob esse pr i sma,   as mUl her es~ao ao mesmo t empo   cr i ador as e

    dest r ui dor as das ger a~oes que mar cam a passagem   da c ont i nui dade pat r i

    l i near at r aves do t empo mas, como ent r am e saem a   cada   ger a~ao, el asnao   apar ecem como   mar cos dessa passagem. As mul her es vao e   vem,   enqua~

    t o   as   ger a~oes de homens se somam: e a i nt er r el a~ao ent r e es t es   dois

    pr ocessos   que ger a   os i ndi vi duos e os gr upos da soci edade Pi r a- par an~

    ense.

    De cer t o modo os pr ocessos de ci r cul a~ao f emi ni na   e de   acumul a~ao

    mascul i na coi nci dem em cada ger a~ao, quando os homens at i ngem a mat ur i -

    dade s exual   e   t rocam   as i r mas por es pos as . Mas t ai s pr o~es sos sac di -

    vergent es par a a ger a~ao   que doa i r mas, so coi nci di ndo pl enament e quan-

    do   as   f i l has dessas i r mas r et or nam ( casament o com a FZD) , na   ger a~ao

    segui nt e.   Na   pr i mei r a   ger a~ao,   0gr upo de descendenci a r ecebe como es-

    posa   ur na mul her   equi val ent e   a   i r ma t r ocada, que I he   e   opost a por per -

    t encer   a out r o gr upo de descendenci a;   j a   na ger a~ao   segui nt e, r ec ebe ~

    ma mul her que, al em de   ser   equi val ent e e opost a pel a descendenci a, r e-

    l aci ona- se   pel a l i nha f emi ni na   a   i r ma   anteri orment e t r ocada.   Assi m   osr esul t ados pl enos da t r oca or i gi nal   so sao obt i dos na segunda ger a~ao,

    est abel ecendo- se ur na al i n~a cont i nua. De   acor do c om esse model o bi - di -

    mensi onal , a soci edade   e   i nt ei r ament e r ecr i ada no dec or r er de duas   ge-r a~oes, mas de acor do com   a sucessao   uni ger aci onal a s oci edade   e   r ecr i -ada   a   cada ger a~ao. Est es model os al t er nat i vos est ao   r epr esent ados na

    f i gur a   1,   col unas   1   e 2.

    Acho   que   os doi s model os   sac r econheci dos pel os i ndi os , e est ao ex

    pr essos nas   cr en~as r el aci onadas   a   t r ansmi s sao pat r i l i nes r da s ubst i l l  1-

    ci a que   const i t ui a al ma   (~J .   Se por ur n l ado a cr i an~a r ecebe a al Qa

     j unt o com 0semem   do   pai , por   outro   l ado a al ma vem j unt o com 0nome

    da c ri an~a. 0   semem   pas s a de pai par a f i l ho quando ur na nova ger a~ao a-

    t i nge a mat ur i dade sexual e pode casar .   Os nomes   dos mor t os passam   pa-

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    ~"   ) : mul her es de gr upos exogami cos opost os,~

    ,   -r a   os par ent es pat r i l i near es mai s pr oxi mos da segunda   ger a9ao descen-

    dent e,   de modo que i deal ment e   ur nmeni no r ecebe   0nome de seu FF   ou de

    seu   FFB, e uma   meni na   0nome de   sua FFZ, t odos j a   f al ec i dos . Os no~es

    per t encem a um   es t o que f i xo, que deve ser cont i nuament e   r eci cl ado en-

    t r e os vi vos. Como di sse   ur n i ndi o: " Se   nao   r ecebessemos   0nome de nos,   ,

    sos avos, mor r er i amos como   ur n cadaver apodr ecendo" . Sendo assi m   a   con

    t i nui dade depende dos doi s   t i pos de t r a nsmi s sao. Al em   di sso,   a j ust a-

    posi 9ao de ambos most r a   que, em   t er mos i deai s, exi st em apenas duas g~

    r a90es de vi vent es,   poi s   quando   os homens at i nge~ a ~at ur i dade sexual

    t or nam- se pai s de cr i an9as que   subst i t ue~   0   pr opr i o pai   de   t ai s   110-

    Qens. Est as r el a90es   podem   ser mel hor ent endi das at r aves   da f i gur a   1.

    At e agor a a c ont r i bui 9ao da mul her par a   a   cont i nui d, : : , d"soci,l1   .1;>.

    receu   apenas co~o compl ement ar   a   dos ho~ens, est ando a   t r oca dos po-

    der es   r epr odut i vos f emi ni nos as s oci ada aos ci cl os r epet i t i vos do de-

    -senvol vi  ment o   cUQul at i vo   dos   gr upos pat r i l i near es.   Embor a nao scj a

    geneal ogi cament e comput ada,   ~   Ll ovi ment a9ao das mul her es   e per mancnt ~

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    ment e t est emunhada pel a separ a9ao espaci al das mal ocas e dos t er r i t o

    r i os dos gr upos exogami cos. Apos a mat ur i dade sexual   as mul her es   mu-

    dar n par a mal ocas si t uadas er n t er r i t or i os de out r os gr upos exogami cos,

    onde se t or nar ao esposas. Essa mudan9a di vi de seu ci cI o de vi da er n

    duas f ases bem di st i nt as: na pr i mei r a el as sao pot enci al ment e   cr i at i

    vas, enquant o i r mas, e na segunda sac ef et i var nent e cri at i vas,   enqu~

    t o esposas. Par a a comuni dade l ocal as mul her es r esi dent es per t encem

    a doi s gr upos, que se di st i nguem   de acor do cor n a f as e de vi da   da   mu-

    I her .

    Est e aspect o bi f asi c o do c i c I o de vi da f emi ni no e r epr oduzi do a

    ni vel   f i s i ol ogi co dur ant e   0per i odo de f er t i l i dade   na vi da da muI her ,

    ent r e   a menar ca   e a   menopausa, coi nci di ndo grossei r ar nent e cor n a s e -

    gunda posi 9ao soc i al   no   ci  c I o de vi da. A menst r ua9ao   e vi s t a como ur n

    pr ocess o   de mudan9a de   pel e, e   a   capaci dade   de   mudar de pel e e a f on

    t e de cr i at i vi dade   f emi ni na na   gest a9ao. Dent r o   dest a per spect i va,   0

    ci cI o menst r ual e compost o   por duas f ases i nt er dependentes:   a per da

    do   sangue vel ho, da " pel e" , e   0f l ui r do novo. A   per da   e pot enci al -

    ment e   cr i at i va, associ ando- se ao desenvol vi ment o do   f et o.   As f ases

    menst r uai s opost as, pr oduzi das nat ur al ment e pel as mul her es, podem

    ser cl assi f i cadas como pot enci al e ef et i var nent e cri at i vas,   da mes -

    ma f or ma   que as f ases soc i ai s opost as que   mar car n 0ci cI o de   vi da. A

    per i di oci dade nat ur al das muI her es e t r ans f or mada   er n per i odi c i dade

    soci al   pel as r egr as de   exogar ni a.

    Gener al i zando,   mudan9a   de   pel e   conf er e   i mor t al i dade,   e menst r u~

    9ao   conf er e   i mor t al i dade   er n doi s ni vei s . Pr i mei r o dur ant e   0ci c I o de

    vi da i ndi vi dual , poi s os   i ndi os   di z em   que a menst r ua9ao   f az com   que

    as mul her es   possar n  vi ver   mai s que os   hor nens e   r esi s t i r mel hor as do-

    en9as.   Segundo   por que a i mor t al i dade t r anspar ec e, a ni vel mai s ger al ,

    na cadei a i ni nt er r upt a de cont i nui dade   r i si c a at r aves das   ger a90es.

    As Qul her es menst r uam, dao   a   l uz, e assi m por di ant e.   t   ver dade   queas   mul her es pr eci sam ser   I  t enchi das l t de   semem,   como di zem   os i ndi os ,

    mas do   pont o de vi s t a da cont i nui dade   r i s i c a   da l i nha f emi ni na,   i s t o

    nao pass a de uma   i nt er ven9aO per i odi ca e   neces sar i a, do mesmo modo

    que as   esposas vi ndas do ext er i or sac necessar i as   a   cont i ~u1dadc   so-ci al   do gr upo pat r i l i near .

     Ter nos doi s t i pos opost os de   cont i nui dade: a cont i nui dade   r {si ca,

    associ ada   a   capaci dade   nat ur al da mul her de menst r uar , e   a   cont i nui -

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    dade soci al , associ ada   a   capaci dade r i t ual do homem de   transmi t i r asUbst anci a- al ma. Ambos dependem da cont r i bui 9ao do sexo opost o,   e   as

    si m 0papel mascui no na cont i nui dade t er n ur n as pec t o nat ur al r epr ese~

    t ado pel o semem, e   0papel   f emi ni ne na cont i nui dade t er n ur n aspect o

    soci al   r epr esent ado pel a posi 9ao de esposa.   Mas at e es t es as pect os

    s ac i nf l uenci ados pel a di vi s ao r adi cal que exi s t e ent r e os   sexos.   No

    caso dos homens,   0semem   est a r el aci onado com os ossos   ( em oposi 9ao

    a   car ne, r el aci onada ao   sangue mesnt r ual ) ;   0osso   e   ur na s ubst anci af l s i ca com   pr opr i edades espi r i t uai s , poi s sobr evi ve   a   mor te,   e e   0cont at o com   os os s os dos ances t r ai s , r epr es ent ados pel as f  l aut as   J u-

    r upar i , aqui l o   que per mi t e   aos   homens mudar r i t ual ment e de al ma.   Amudan9a de al ma ocor r e dur ant e os r i t os de i ni ci a9ao mascul i na,   r ep~

    t i ndo- s e em  out r as oc asi oes.   No caso das mul her es,   0papel   de   esposa

    - embor a ni t i dament e soci al   - t er n pr opr i edades nat ur ai s.   0   casament o

    nao   envol ve r i t uai s ; as   mul her es sac si mpl esment e pegas ou   capt ur a-

    I   - ,das pel o gr upo do mar i dqpot enci al , e a obt en9ao de   ur na esposa   e met a

    Apesar   dos   doi s modos de c ont i nui dade s er em opos t os e compl emen-

    tar es,   el es nao   s ac i guai s em  t odos os s ent i dos , poi s   a cont i nui dade

    f emi ni na e domi nada pel a mascul i na. As r egr as de pat r i l i near i dade   e

    de   pat r i l ocal i dade   har moni zam- s e com a cont i nui dade da   subst anci a- al

    ma, s er vi ndo   par a r omper a   cont i nui dade f l s i c a da l i nha f emi ni na ao

    col ocar mae   e f i l ha   em gr upos   opos t os , e ao f azer   com   que   a f i l ha mu

    de   de   r esi denci a   apos   0casament o. Cor r obor ando t ai s f at os,   descobr i

    mos que a   capaci dade de menst r uar e de pr ocr i ar   das mul her es sac r i -

    t ual ment e cont r ol adas pel os homens. Ocor r e   0mes~o com a capac1dadc

    de cul t i var e de   cozi nhar as al i ment os , vi s t as   como   as cont r apar t i das

    economi cas de   seus poder es pr ocri at i vos.   As mul her es menst r uadas e os

    r ecem   nasci dos e suas   maes pr eci sam de t r at ament o xamanl st i co.   Est e

    t i po de xamani s mo   vi sa pr i nci pal ment e a pur i f  i ca9ao   dos al i ment os   c£

    zi dos que, se nao f or em adequadament e t r at ados,   podem   mat ar   ao   i nvcs

    de f or t i f i c ar .

    Se por ur n l ado   a cont i nui dade f emi ni na e domi nada   pel a cont i nui -

    dade Ll ascul i na, por out r o par ece mot i va- l a.   A vi i  .  >  pat r i l i near que

    conduz   do   pr es ent e ao pas   ado   ancest r al ,   por exempl o, e descr i t a   co-

    mo   un   f l uxo de l ei t e   e   ur n cor dao umbi l i cal .   0   desenvol vi nent o   da   cr i

    an9a no   ut er o,   0cor dao   umbi l i cal e a nut r i 9ao at r aves do l ei t e c   dos

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    al i ment os cul t i vados e cozi nhados pel as mul her es sac i magens   poder o-

    sas de cont i nui dade. A concret ude da cont i nui dade f emi ni na pode   ser

    compar ada ao cont r ol e- r emot o exer ci do pel os homens at r aves da   mani p~

    l a9ao da sUbst anci a- al ma. Est a r eal i dade i medi at ament e pal pavel da

    cont i nui dade f emi ni na e ur n dos mot i vos que I he per mi t e ser vi r   de s ubs

    t r at o met af or i co par a a expr essao de seu opost o compl ement ar   -   a con-

    t i nui dade mascul i na.

    Vi mos que os modos mascul i no e f emi ni no de cont i nui dade s ao,   r es

    pect i vament e, soci al /  es pi r i t ual e nat ur al /  f i si co, e que 0 modo mas-

    das   e   r epet i t i vas, consi st ent es   com   a t r oca de mul her es ent r e os gr ~

    - r ' pos.   0modo mas cul i no r epr esent a uma ext ensao cont 1nua at r aves   do t er n

    po, e 0 modo   f emi ni ne   uma   cont i nua r enova9ao. I st o suger e mai s   uma su

    per i or i dade i ner ent e ao modo   f emi ni no. A pr opr i a const i t ui 9ao   da vi -

    a   pat r i l i near vai   pr ogr essi vament e af as t a ndo os vi vos   da f ont e   de   P£

    der no passado anc es t r al , ao pas so que os c i c l os r epet i t i vos   das mu-

    I her es per mi t em   uma const ant e r egener a9ao. Par a sor ver 0 poder ances-

    t r al   os homens pr eci sam vol t ar   pertotl1camente   no   tempo   ou, c omo   el es

    di zem, " t or nar - s e al guem   da ger a9ao ancest r al ". A vi agem e empr eendi -

    da   at r aves da i ncor por a9ao dos pr ocessos de mudan9a de   pel e,   essen-

    ci  al ment e f emi ni nos, aos r i t uai s mascul i nos. Assi m   a mudan9a r i t ual

    de al ma depende do   ci cI o   cr i at i vo   f emi ni no, do   mesmo modo que a t r ans

    mi ss ao da   subst anci a- al ma at r aves   das ger a90es   depende   ~~   t r oca   c1-

    cl i ca dos poder es r epr odut i vos f  emi ni nos.

    Na anal i s e dos s i s t emas espa90- t empor ai s, quer o most r ar como   a

    r el a9ao   ent r e a est r ut ur a pat r i  l i  near   hi er ar qui ca   e   os l a90s af i ns   i -

    gual i t ar i os, t ant o quant o a   r el a9ao   ent r e   0 t empo pat r i l i near i r r ever

    si vel ,   cumul at i vo, e 0 t empo f emi ni no c1cl i co,   es t ao i nt egr adas numa

    e s t r u t ur a que f or nec e a base or gani zaci onal par a   uma   s er i e de   si s t   -

    mas espa90- t empor ai s .

    Mas ant es de ent r ar nes t e assunt o apr esent o um s umar i o dest a   se-

    9ao,   corr el aci onando   as pr i nci pai s   i dei as.   Vma   l i s t agem assi m   e   en£~nos a, por or ni t i r os f at os r nai s i mpor t ant es   -   as   r el a90es   di nami cas

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    r el ac; oes soci ai s

    padr oes de r esi denci a

    aspect o   do   i ndi vi duo

    r el ac; oes pat r i l i near es

    pat r i l ocal i dade

    al ma

    gr upo   do   pai /  gr uPOddomal  " J .   0

    r enovacao   do. i odi v{duodur an~e   0cl c~O vl t a~

    i deol ogi a de r enovac; ao

    mei os de r enovac; ao

    cr i at i vi dade f i si c a   sangue menst r ual

    par t e

    I nt r odU

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    di vi duos e os pr odut os que nec essi t am par a vi ver c onf or me suas t r adi -

    90es cul t ur ai s.   as si s t emas espa90- t eopor ai s que you   descr ever podem

    ser   or denados numa escal a hi er ar qui c a em   que cada ni vel cont em   a uni da

    de   menor , como as cai xas chi nesas. Exi st e uma cor r espondenci a gener i ca

    ent r e est a hi er ar qui a e a hi er ar qui a da   or dem   de cr i a9aO dos gr upos s£

    ci ai s . Por " hi er ar qui a de   cr i a9ao" r ef i r o- me   a   or dem at r aves da qual   ar epr odu9ao soci al engendr a i ndi vi duos or gani zados em gr upos de mal ocas,

    que por sua vez est ao or gani zados em uma ser i e de gr upos exogami c os

    t - ~

    que r epr esent am   a t ot al i dade da soci edade i nd1gena. A pr odu9ao   economi -

    c a e uma f or 9a c r i at i va em   t odos os ni vei s da hi er ar qui a, e nao pode

    ser   i nt er r ompi da em nenhum pont o.   Na hi er ar qui a dos si st emas espa90- t c~por ai s   a   pr odu9ao economi ca est a mel hor r epr esent ada   pel o   si s t ema am-

    bi ent al   ( 0 uni co   que nao   f oi   i ncl ui do   no   con j unt o de   cor r espondenci as

    assi nal adas pel os   pr opr i os   i ndi os) . I st o por que   a   mal oca e   uma uni dade

    economi ca   vi r t ual ment e aut osuf i ci ent e,   e a   cl assi f i ca9ao de seu espa90

    c i r cundant e   coi nci de com as   pr i nci pai s cat egor i as de   pr odu9ao ( agr i c u~

    t ur a, pes ca, ca9a   e col et a   na f l orest a) . A cor r espondenci a   ent r e as   0E 

    dens de c r i a9ao e os s i s t emas   espa90- t empor ai s podem   s er r epr esent adas

    r epr odu9aosexual

    pr odu9ao economi ca

    gr upo   r esi dent e   •   gr upo   exogami c o

    ge par a 0   Ri o de Lei t e, i dent i l i cado ao pr opr i o   r i o Amazonas.   As e3b~-

    eei r as dos r i os des t e si s t coa s i t uao- se a oest e, e el es cor r eo em di r~

    9aO   a   Por t a da Agua,   a   l es t e; par a os i ndi os,   U~l a vi agem   r i o   aei r na c   £r esponde   a   j or nada di ur n~   do sol .

    Vamos i magi nar , por enquant o, que   a t e r r a   e   cor t ada por um  uni c ~r i o. Em pri r nei r o l ugar 0 r i o   f or neee ur na passageD   cont i nua ent r e   f l ~

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    r est a vi r gem   e a embocadur a, s endo que   0pr opr i o r i o vai   se   t or nando

    mai s l ar go e r nai s cl ar ament e di f er enci ado da f l or est a a   medi da   eo   que

    se apr oxi ma da f oz. Os gr upos Tukano do Vaupes sac povos f l uvi ai s,   em

    t er mos i deol ogi cos e economi c os. As mal oc as sac c onst r ui das ao l ongo

    dos r i os;   as vi agens s ac f ei t as pr i nc i pal ment e pel os r i os; os pei xes

    s ac a pr i nci pal f ont e de pr ot ei nas e Al em   di sso sac povos hor t i cul t or es,

    que f i z er am   da mandi oca a base de sua al i ment a~ao, mas cul t i v~~   t ambem

    uma   gr ande   var i edade de out r os al i ment os e de "dr ogas" .   As r el a~oes p. £

    l i t i cas ent r e as   comuni dades que habi t ar n di f er ent es   mal oc as sac pr o-

    f undament e i nf l uenci adas pel as t r ocas de convi t es par a   r i t uai s   que de-

    pendem   do   excedent e de   duas c ul t ur as em par t i cul ar : mandi oca e coca.

    Assi m,   0cul t i vo   t er n una i nf l uenci a   di r et a   na   pol i t i ca.

    Em   di r e~ao as cabecei r as a di sponi bi l  i dade   de pei xe e as   l aci l i  da-

    des de l ocomo~ao   pel o   r i o VaG di mi nui ndo, de   modo que   as comuni dades

    dos   al t os   r i os dependem mai s da ca~a e   da   col et a na   f l or est a como f on-

    t es de pr ot ei na,   vi a j f f i 1dopr i nci pal eent e   por t er r a.   Al em di ss o exi s t e

    ur n vi ncul o i deol ogi co   ent r e as comuni dades dos bai xos r i os   e   0cul t i vo,

    ur na vez que as espec i es domest i c adas f or ar n t r az i das r i o   aci  ma, a par t i r

    do l es t e , por   uma   sucur i ancest r al . Embor a est a   ass oci a~ao   nao   t enha

    si do   conf i r mada   ( nem desment i da) er n r el a~ao aos   padr oes de pr odu~ao de

    mandi oca no Pi ra- Par ana, el a   pode ser apl i cada a uma   r egi ao bem mai s

    vast a, j a que nos   bai xos   r i os da baci a   amazoni ca   ger al oent e   a   t e r r a e

    de   qual i dade super i or .   Os gr upos dos   al t os r i os est ao   eo   oposi 9aO   ao

    gr upos dos bai xos r i os pel o f at o de   suas econooi as pr i vi l egi ar er . l  , r e~-

    pect i vament e, a c aga e a c ol et a, e a pesca e  0

    cul t i vo.   Al em dest a  0-

    posi gao quant o ao   t i po,   a   economi a dos al t os   r i os e vi st a   como   sendo

    qual i t at i vament e i nl er i or , e a   dos al t os   r i os e Dai  s val or i z ada -   a-

    l eo   de f or necer uma   di et a mai s r i c a e a base da dooi na9ao   pol i t i c ~.

    Resguar dando   es t es cont r ast es econooi cos   ent r e   os   gr upos,   exi s t c

    uma ass oci a9ao   i deal ent r e   super i or i dade   de   st a~us e   r esi denci n   nos

    bai xos   r i os .   Os   ci nco   s i bs de   ue   gr upo exogaoi co   estao   i deal ment e   di s-

    pos t os ao l ongo de un   r i o, de   t al f or oa que   os   mai s vel hos f  i cac l i  o

    abai xo   ( os "c hef es" ) e   os   Dai s mo~os f i cam   r i o aci ma ( os   " ser vos") .

    Eobor a   os " s er vos"   seJ aD Dodel ados nos I - 1aku,eo   r el a~ao a est es i ndi os

    sac   vercadei r os ' : '  ul - ano.Os   r ' : aku( gr upos que   vi veo   no vaupes   C11;0   1

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    exogami a, seQ   pl ant a

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    ver sao dupl i cada e bi l  at er al ment e s i met r i ca do out r o ( f i gur as 3a e

    3b) .   J a   vi mos que exi st em   aspectos de si met r i a bi l at er al nos papei sat r i bui dos aos segment os, uma vez que el es devem se empar el har a par

    t i r do papel c ent r al de "guer r ei r o" ( pg. 2) , podendo ent ao expr essar -

    se si mul t aneament e em model os al t er nat i ves.

    f'loresta

    A  .--MAi(u

    -   _  _ ::----   Servos   Xamas   I   Guer eir os   I   Cantor es   Chef es   .= --   - - - - - - - . . , .

    }1aiU.~ - -:. - f  ~ ~ ; E ~ 1; . : T ; . - i : . ; "  ; ~ :I;;:~~':;:':I----~   At----~~~Sl":,'   __ -:_ ":S~~_ ~~~"=   IXA.-,As~   nces   rm

    I   --   -,   .-------- --------.

    Chegada da   Sucur i   Ancestr al).   "

    ®e®   HODELOSALTERNATIVOSDO RIO   PRI NCIPAL CORRENDOATRAVESDA TERR A

    ~   Sistema Fluvial q ue

    R ecorta a Terra

      ~

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    -Col ocadas as associ acoes do ei xo l est e- oes t e, f al t a adapt ar   0mo-del o   par a que possa dar c ont a do f or mat o nat ur al de ur n s i st ema f l uvi al

    ( at e aqui negl i genci ado) . As cabecei r as do si st ema f l uvi al encont r am-

    se espal hadas, mas t odas conver gem par a   0mesmo f l uxo.   I st o si gni f i ca

    que a embocadur a t er n ur na uni ca l ocal i zacao,   no l est e, ao passo que   as

    cabecei r as f or mam ur n ar co na per i f er i a oci dent al . De acor do com este

    model o ( f i gur a   4) a vi agem   r i o aci ma, em qual quer di r ecao, apr esent a

    as   car act er i st i cas do ei xo domi nant e,   0ei xo   l es t e- oest e aci ma descr i

    t o. Como   se pode not ar , nest e si st ema f l uvi al   em f or ma de l eque nao se

    at r i bui nenhur n  s i gni f i cado aos quadr ant es   NE e SE da t er r a ci r c ul ar ,

    que podem   ser c hamado   de " t e r r a   de ni nguem", poi s os i ndi os nada t em

    a di z er s obr e es sas r egi oes que mar gei am   0r i o de   Lei t e   ( f i gur a 3c) .

    ' B J   AHBIEHTE DA   I.I1ALOCA

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    -As r nal ocas sao const r ui das per t o dos r i os . Cada cas a t er n uma   por -t a pr i nci pal que e usada pel os hor nens, i deal r nent e vol t ada par a   0l es-

    t e e p a r a   0cami nho do por t o, onde f i cam as canoas e as pessoas se b~

    nham.   Na di r e~ao opost a   a   por t a   dos hor nens f i ca a por t a das r nul her es,com   cami nhos segui ndo   par a   os cul t i vos e, f r equent er nent e, par a ur n pOE

    t o   secundar i o em un   r i acho, onde as mul her es vao banhar - se, buscar a-

    gua, l avar panel as , et c •••   0   por t o das mul her es ser ve par a af ast ar co

    ni da,   det r i t os e   mul her es do por t o   dos hor nens . A cas a f i ca si t uada nu

    ma cl ar ei r a   ar enosa, que s e ext ende como ur n l eque f or a   da por t a dos h£

    mens. Est a cer c ada   por chagr as ( r o~as, no   espanhol l ocal )   r ecent er nen-

    t e   pl ant adas ou   em di f er ent es est agi os de r egressao   a   f l or est a, depe~dendo   dos anos de assent ament o l ocal . As r o~as se espal ham   de acordo

    com   as c ar ac t er i st i c as   da t er r a,   mas no pl ano   concei t ual   f or mam ur n con

    t i nuo   que   cerca a   casa   at e s er   i nt errompi dapel a bar r ei r a do   r i o.   Al em

    das   chagr as ext ende- se   a   f l or est a, que nas pr oxi mi dades da casa e f a-

    mi l  i  ar   e   r nai s ao   l onge   vai   se   t or nando es t r anha. A cas a, as r o~as   e   0,

    por t o pr i nc i pal c onst i t uem   una ar ea di f er enc i ada, c ri ada e c ont r ol ada

    pel a   soci edade l ocal , opondo- se por ur n l ado   a   f l or es t a e por out r o,   aor i o   ( f i gur a 4a) .

    o   r i o   e descri  t o   como ( a)   " cami nho   aquat i co ancest r al "   ( he oko ma) ,

    ( b)   cor dao   unbi l i c al que   l i ga   as al mas ( a p r opr i a   cor nuni dade) , ( c)   cau

    I e r ami f i c ado de kana   ( Sabi cea amazonensi s ) ,   pl ant a   cu j os f r ut i nhos

    cor - de- r osa sac   usados   par a   r epr esent ar as al r nas no xamani s mo do   r e-

    cem- nasci do   e ( d)   vi nho   de yage ( Bani s t er i opsi scaapi ) ,   bebi do pel os

    homens quando cant am   nos   r i t uai s.   Oa   i ndi os di z em   que   0~   l hes mo~

    t r a os cant i c os, que ver sam   sobr e a   vi agem   ancest r al i ni c i ada   no   l esLc.

    gando a comuni dade   l ocal aos poder es ancest r ai s   do l es t e.   Da per spcct ~

    va i nt er na   a   comuni dade   f az sent i do   di zer que   0r i o par a   em   seu por l u,

    da   mal oca ( f i gur a 4a) f or al t er ado   par a acoQodar   a   no~ao   de   UD   r i o   nu-

    t r i ent e, chegamos   a   f i gur a   4b. Est e   ul t i oo   model o   r es ol ve a apar ent cdi scr epanci a ent r e a di r e~ao   do   ei xo pr i nci pal da   casa   e a c o r r ent c=~

    do   r i o.   11a r eal :  ; '  dadc aIliOOS   cos t umam   f or mar   illl   anbul o   r et o, oas os   In-

    r i os cor r er n par a   0I e t e.   I st o nos l eva as c ar ac t er i s t i cas   mui t o esp~-

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    ci ai s das r epr es ent a90es met af or i cas dos r i os : 0 ci po ~' t odo   r et or

    ci do; 0 caul e r ami f i cado da   kana, e 0 cor dao umbi l i cal , concebi dos co-

    mo " t r i l has " ( ~) . A car act er i s t i ca mai s mar cant e das t r i l has   e   0 f at o

    del as chegar em ao l ugar det er r ni nado, apesar das vol t as e dos desvi os -

    nest e caso,   a   pr opr i a f ont e da vi da e do _ . cr esci ment o. Est as met af or as

    da t r i l ha conseguem   consi l i ar as posi 90es concebi das   a   l es t e com   0   verdadei r o l est e, onde 0 sol se l evant a.

    Se 0 si st ema concei t ual r el at i vo ao ambi ent e em que se si t ua   a   ma-

    l oc a f or c ompar ado ao si st ema f l uvi al que r ec or t a a t er r a, vemos que

    os doi s t er n a mesma est r ut ur a, poi s a mal oc a, c omo 0 r i o, e ur n pont o

    si ngul ar em oposi 9ao   a   f l or es t a, que e ur n ar c o. A vi da soc i al   i nser e- .

    A mal oca t er n ur n i menso t et o de duas aguas sust ent ado   por f i l ei r as

    de pos t es ver t i c ai s que es t r ut ur am   0 espa90 i nt er no.   No l ade f emi ni ne

    exi st em compar t i r nent os f emi l i ar es di spost os ao l ongo das par edes   l at e-

    r ai s , cada qual c om duas por t as , a pr i nci pal dando par a 0 c ent r o da ma

    l oc a, e a por t a das mul her es abr i ndo par a a "pl az a". De c er t o   modo es-

    t es cor npar t i ment os t er n por model o a r nal oca como ur n t odo ( f i gur a Sa) .

    No i nt er i or   da casa, as conot a90es soci ai s   do   espa90   podem   ser me-

    -   "I hor ent endi das c omo   obr a da a9ao   con j unt a de duas ser i es de pr i nci -pi os :   (1)   ur n ei xo mascul i no/ l emi ni no   opondo di agonal ment e as duas por -

    t as, e ( 2) ur n padr ao   concent r i co, de   acor do com 0   qual   a per i f er i a cs-

    t a associ ada   a   vi da pr i vada,   f ar : - l i l i ar ,e   0   cent r o   a   vi da publ i  c a, COI. .U-ni   t ar i a.   Est es   pr i nci pi os podem   ser   deduzi dos do Dodo   CODO a' " "di l cr Cl 1-

    t es par t e s   da   casa sac   usaCa5,   conf or me   os   exempl os abai xo.   El cs nuc

    sac   i ndependent es   un   do   out r o,   ur na vez   que nas   si t ua90es concr ct as vc-

    r i f i ca- se   ur na associ a93. 0 ent r e as   at i vi dades r aascul i nas   e 0 c or . J un. .  •l i s-

    me, e ent r e as at i vi dades   f emi ni nas e a   pr i vaci dade   domest i c a.   ~1bor 0

    est as   associ a90es   sej am   car act er i st i cas obj et i vas da or £ani zo9d   ri-

    t ual   e soci o- economi ca,   poi s ger al ment e   os homens   agem em   conj unt o

    as mul her es   i sol adanent e,   el as l :  ambe; ; 1sac   car act er i s t i cas   da   est r ut uI ~. .

    s oci al do Pi r a- Par an~, consi der ando- se   a s l i dar i edade dos   ~r u' o   de

    descendenci a e   a   sol i dao das esposqs   ~ver   Pb. 3) . Em   t er mos espJ c i ai s

    essas   associ  a90es   l azec   com que 0   cent r o aa   casa   scj  a   i dent i l i cado ~~

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    PORTA DAS

    MULHERES

    ALl MEN TA

     I -   A l i men t o di st r i bu: L

    :   do   pel o' " Corpo _ ....--.   -   .- - - - - -

    I/

    Al i ment o   di s t r i bui do pelCor po

    -   Ver ni t o

    Al i ment o

    - <   -   A- - - - -   Fol ego

    -:..  DisC'ur  0

    Fel ego

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    l ado mascul i  no, e a per i f i er i a da c as a ao l ado f emi ni no. I s t o   se   mani

    f est a na di sposi gao dos compar t i ment os f  ami l i ar es, e ai nda mai s ni t i -

    mascul i nas t r anscor r em no   cent r o e na   f r ent e   da casa, num espago i so~

    l ade das mul her es por uma di vi s or i a c ol ocada no,   mei o da par t e   post e-

    r i or . As mul her es e as cr i angas , c onf i nadas nos   compar t i ment os f ami l i  ~

    r es e na pequena ar ea comuni t ar i a onde se cozi nha, comuni cam- se apenas

    at r aves do pat i o.,

    Cada   sexo us a a s ua pr opr i a por t a.   Mar i do, mul her , f i l has   e   f i l hos

    nao i ni ci ados dor mem no compar t i ment o f ami l i ar , ao pas s o que os j a i n1

    ci ados dor mem no   cent r o da casa at e   0cas ament o, quando passam a   t er   0

    seu   pr opr i o compar t i ment o. Fi ca evi dent e que   0cas ament o   separ a espa-

    ci al ment e ( e de out r as manei r as) os homens do gr upo de descendenci a.

    Os pr i nci pai s   cul t i vos   - a mandi oca e a coca   -   t ambem sac   t r at ados

    de modo a sat i sf azer os doi s conj unt os de pr i nci pi os.   A mandi  oca, cul -,

    t i vo f emi ni no, e pr oduzi da e pr oces sada no s ei o de cada   uni dade de f a-

    mi l i a nucl ear , e t odo   0pr oc essament o e f ei t o ao r edor do l ado f emi ni -

    no, na   per i f er i a da c asa. 0 bei j u de mandi oc a e   ser vi do c om ou t r os   pr ~t os, que as mul her es cozi nham nos compar t i ment os f ami l i ar es par a   ser em

    ser vi dos   no cent r o da cas a, par a t oda a comuni dade.   A   coca e pr oduzi da

    pel a comuni dade   mascul i na, pr ocessada no cent r o da par t e f r ont al   da   ca

    s a, e c ons umi da   pel a comuni dade mascul i na nest e mesmo l ocal .   Quando os

    homens s e r eunem   em ci r cul o   par a c onver sar e   mascar   coca, as   mul her es

    anal oga   a   da   " t er r a de   ni nguem" , que   se ext ende de ambos os l ados de

    Ri o   de   Lei t e,   no   l est e.   Ls t es   l ocai s   sac apr opr i adament e   r eser vodos p~

    r a a s   f ami l i as pr ovi ndas de ou t r as mal ocas , pr ovi sor i a e i nadcqu3. dJ I  ;  }C' ! . : .

    t e i nt egr adas   a   vi da s oci o- ec onooi c a da   comuni dadc   -   e   0   l  ur ; ar   dc   Ctll-

    o   si st ema   cor   or : .  ; .  lc   0   si st ema ut er i no nel e   cont i do   IlClO   apr cs cl l  t . ~:. .

    Ur.l   ei xo   hor i zont al f i xo,   seocl hant e ao dcs si s t eoas j a exaoi l l ado~,   poi ~

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    o cor po pode f i car na hor i z ont al e na ver t i cal . I s t o s uger e que a or -

    gani za~ao ver t i cal do espa~o- t eQpo e, em var i os aspect os, si mi l ar a

    or gani za~ao dos pl anos hor i zont ai s vi st os at e agor a. Li mi t ar - me- ei ,

    ent r et ant o, a abor dar ocor po e 0ut er o segui ndo as obser va~oes f ei t as

    pel os i ndi os a r espei t o da c asa. Pr i Qei r o, que a c asa e ur n homem c om

    a cabe~a na por t a Qascul i na e   0anus na por t a f emi ni na e, segundo, que

    e ur n ut er o.

    A associ a~ao do ei xo r . l ascul i no/ f eQi ni no da casa ao apar el ho di ges-

    t i vo e f ei t a por anal ogi a   a   af i r Qa~ao de que   0r i o pr i nci pal e   0i nt es

    t i no do uni ver so. Ref l et e- se t aQbem   no uso do espa~o. Pr i mei r o, a f r en

    t e da c as a e pi nt ada e l i Qpa como   0r os t o. 0 di s cur s o - f un~ao   da   boca

    r el aci onada   a   r espi r a~ao   e   a   sUbst anci a- al Qa t r ansmi t i da   pat r i l i near Qent e - est a c l ar ament e assoc i ado ao l ado masc ul i no da c asa. 0 c i r c ul o de

    conver sa cer i moni al dos homens f or ma- se   mai s par a   0l ado   mascul i no da

    cas a, e s u ver s ao r i t ual i z ada,   0gr upo de c nt ador es, r eune- se   j unt c

    a   por t a mascul i na; t odas as sauda~oes aos vi si t ant es sac   f ei t as   sob c/,..   -,

    por t aLmascul i no. 0 VOQi t o, pr ovocado   pel a i ngest ao de ~ e de   cerve-

     j a   dur ant e os cant i cos, t ambem e der r amado no l ade mascul i no da casa( ver f i gur a 5c) .

    Beber yage e vomi t ar , ouvi r UQa f al a e r esponder , i nspi r ar e expl

    r ar - t odos s ac pr oc es s os de vi a dupl a, envol vendo ent r adas e sai das

    at r aves da boca ( ou dos ouvi dos) , apr opr i adament e associ ados   as   i das   e

    vi ndas at r aves   da por t a dos homens   e ao pr oces so r i t ual de   r egel l er a~ao,

    pat r i l i near . COQer   e di ger i r   al i nent os , por out r o l ado,   e   u~ pr ocess o

    i r r ever si vel ,   que   pr oduz t ant o   os   nut r i ent es absor vi dos at r aves   do i l ~

    t est i no   quant o os dej et os   el i mi nados at r aves   do   anus . Cor r obor ando

    i s t ~   0 pi t i o em   f r ent e ; por t a das r nul her es , es t r ei t o e   chei o de de-

    t r i t os, e usado par a at i vi dades   f aQi l i ar es   i nt i Qas ou par e   at i vi dadc~

    f emi ni nas.

    COQO vi Qos,   os   cOQpar t i ment os   cont em   f ami l i as nucl ear es quc   sc   r eu

    nem   no   cent r o   par a   r eceber   cOQi da dur ant e   as   r ef ei ~oes   col et i vt i s   c   dc-

    poi s   se   di sper sam   novament e.   Lst as f ~~i l i as r epr esent am   0 c or po   d~ co-

    Quni dade, cu j a   nut r i ~; o,   como nes ou~r os   si st emas,   pr oven   do   l est c.

    do   gr upos de   out r as r . 1

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    de pr ovedor a de cer vej a   ( f ei t a   pel as   mul her es ) em   t r oca de car ne ( c a-

    9ada e def unada pel os   homens) ,   r ecebendo t ai s pr esent es   no l ado   f e~i ni

    no da casa.

    A i magem   da   casa como ut er o equi par a a por t a dos homens   a   vagi nae, por t ant o,   a   ~a   passager n   par a 0 mundo ext er i or ( f i gur a 5b) . I st o   emui t o   mar cado, poi s   as   vi agens de par t i da ou a vol t a de out r as co-

    muni dades sac seopr e f ei t as pel a por t a dos hor nens. A por t a   das   mul he-

    r es, por out r o l ado,   e   a passageo   usada par a   i r e vol t ar   das   chagr t i s,de onde as   mul her es t r azer n ot i ndi oca. I s t o f  az   com   que   0   movi ~ent o   sc j a

    anal ogo ao cami nho per cor r i do pel os nut r i ent es   do f et o,   que   penet r ar n

    no   utero   a   par t i r do cor po   da   mul her   gr avi da, consol i dando   ur n par t i l  c -

    l i smo f undament al ent r e a   capaci dade da   oul her   pr oduzi r   mandi oca e   i

    sua   capaci dade r epr odut i va.   A pr i nci pal passagem   f emi ni na   da mal oca   e

    mul t i pl i cada em menor   escal a pel as pequenas por t as   que   l i gam   os   compa£

    t i ment os f ami l i ar es ao   pat i o,   de modo que   a   conexao f emi ni na   ent r e   0

    cor po e 0 ut er o, ou ent r e   a   r 09a   e a casa, e di f usa, em  oposi 9aO   amascul i na, onde ~a uni ca passagem   da acess o   ao mundo ext er i or e   ao

    ut er o, ou   ao   r i a   e a casa.

     Tendo   em vi st a a anal ogi a destes   si st emas,   ent r ar   e s ai r pcl a   por -

    t a dos   homens r epr esent a,   ao que   par ece, i nsemi nar ,   e na   ver dade exi s -

    t eD   eVi denci  as que   cor r obor ao   cs t a   i dei a.   Por   exempl o,   os   i ndi os do

    Pi r a- Par ana   compar am   expl i ci t a. . - : l  ent ea   f i l a   dc   convi dados   t r azend   car -

    ne   de pr esent e   COD   0 peni s ent r ando   na   va~i na   ( coDuni c a9aO pessoal   de

    Os   ci  nco   si s t eoas aci  w8   ci scut i dos   ~or ao   esque [ ] a~i z ados   n'   : i  0ur ~C, const r ui da de acor do   COG a   hi pot ese de   que   cada   si s t eoa   e coopos~o

    pel as or dena9~es   conc~nt r i ca c   l i  near do   t enpo- espa90,   oper i l l l  doCOIW.

    - ca' " . 1ent e.I s t o   : i ' i  c acvi dent e   no   sist e   ..a   da   casa,   Ot i S as   si r . .  i l ar i C: adc~

    de ~or ma e   de   anal obi a ent r e: posi 9~es e pr ocessos que   per t encco   ao~.   Ci

    ver sos   si st eoas per oi   t eo   supor que 0 r . l eSr J Oacont e98 eo   t OGOS os si s t cl  .  .  

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    ORDEM CONC~TRI CA   ORDEM   LI NEAR   "

    .'

    ( @ ) C '- -   - \- -@   ( <

    ,   I   C   e o   A

    '--J/

    ,   c'

    C'   C " ' - - - " , - _ _" - - - - -= = =

    c-·-------A,~----

    C'   C~-~-~-.I~-·-

    c'

    .b~'do r i o pr i nci pal   . ~, '   - ' "

    I~~-,'-,'--...,'---"   -~--'--. \

    o   ~ - -./''':'----' ---~;   E .

    rio prin- ' \ :1 / TERRA

    Di st r i bui

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    Obser vando   as   f or mas   ger adas pel a combi na9ao das or dens concent r i

    ca   e   l i near , ccnst r ui mos ur n model o basi co que   descr eve   adequadament e

    a or gani za9ao concent r i c   a da   met ade "oest e" dos si st emas most r ados   e

    a es t r ut ur a   l i near   da   met ade " l es t e" .   0di agr ama pr ocur a dei xar cl ar o

    que   0model e   basi c o depende da exi s t enci a de   uma cor r espondenci a ent r e

    a met ade   "oest e"   do ei xo l i near e   0r ai o da or dem   concent r i ca.   A coo-

    par a9ao   dos val or es ass oci ados a E e C' , e t aQbem a B e   B' ,   most r a que

    t ai s cor r espondenci as   exi st em. Por vezes exi st e uma   i dent i dade per f  ei -

    t a,   mas em   cer t os casos, como no model o da casa e do cor po,   0oest e   do

    ei xo l i  near e di f er enci ado da per i f er i a, a des pei t o   das s emel han9as em

    out r os   aspect os.   Na   casa,   por exempl o,   a por t a   f emi ni na   e r epr oduzi da

    nas por t as dos   compar t i ment os per i f er i c os, exi st i ndo   uma   f or t e as soci ~

    -9ao   ent r e as   mul her es   e a vi da   f ami l i ar , embor a a por t a f emi ni na s ej aespeci al ment e   r el evant e na   di vi s ao   sexual   da   comuni dade, e nao   no   di vi

    sac   f ami l i ar .   No cor po, t ant o   as   f ez es quant o   os nut r i ent es absor vi dof 

    em   de j et os   podr es e c ar ne vi va.

    A   cOmpar a9aO   ent r e   os si st emas suger e   que   0l est e   i nvar i avel ment e,e   0pont o   de par t i da. Os el ement os   as soc i ados ao l es t e - or i gem dos

    gr upos pat r i l i near es, por t a dos hor nens e peni s, sac suf i ci ent es   par a

    l i ga- l o t ambem   ao pont o   de   par t i da da cont i nui dade   pat r i l i near / mascu-

    l i na.   0o~t e   per i f er i c o   est a as s oci ado   aos   el ement os   f emi ni nos OPOS-

    t os   -   mul her es, uni dades   f ami l  i ar es, sangue menst r ual e   car ne,   de   mo-

    do que e bas t a nt e r azoavel as s oci ar a per i f er i a da or dem   concent r i eo

    a   cont i nui dade f emi ni na. ED   t er mos est at i eos est e model e   serve mui t e

    bem   par a   r epr esent ar   a   r el a9ao ent r e   0nuel eo par i l i near   eoeso e   3Su-

    ni dades per i f er i eas f  emi ni nas ,   separ adas.   Es t e ar r an j o   pode   ser   i i J edi £

    t aQent e per eebi do   no   si st eoa   da   easa   ( par t i eul ar ment e   quando el u   C   r c-

    par t i da por   uma   di vi sor i a, dur ant e os   r i t uai s ) e no s i s t eoa   do   ut cr   .

    I ~a Se9aO   1   mostr ei que os   el ement os   mascul i no/ pat r i l i neor   e r em: . ! . '  :  '

    que os movi ment os   r ever s i vei s ent r e   0 cent r o e   a per i f er i  a da or der . .

    concent r i ea r epr esent ao   os ei el os   bi f as i cos f eoi ni nos,   e que   0cix 

    l i near l est e- oest e r epr esent a   a pr ogr es sao i r r ever si vel da eont i nui d. : . =.

    de   mas eul i na.   A par t i r c as as soc i a90es ent r e a   per i f er i a da or den c   ~

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    cent r i ca e   0movi ment o cr i at i vo   que vai da per i f er i a par a   0entro   ( m£

    l hor del i neado no si st ema ut er i no) , segue- se que   0movi ment o da per i -

    f er i a par a   0cent r o cor r esponde   a   f ase "cr i at i va" do ci cI o f emi ni no,enquant o   0movi ment o do cent r o par a a per i f er i a cor r esponde   a   f ase   0-post a, associ ada   a   per da de   mul her es   e   aper da de sangue   menstrual( ver pg. 6) . Par a   ser   mai s cl ar a, YOU chamar de   " dest r ut i va"   est a   se-

    gunda f ase, mas e i mportant e   ressal t ar que est a " des t r ui 

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    Ent r e out r as c oi s as , es t es oodel os mo s t r am   ( a) que a c r i at i vi dade mas

    cul i na come9ada no l est e e a cri at i vi dade f emi ni na come9ada no oest e

    per i f er i co   podem   se encont r ar no cent r o, ( b) que a pr i oei r a met ade   do

    mi ni no, enquant o   a segunda   met ade coi nci de com   a f as e des t r ut i va,   e

    ( c)   que a f ase dest r ut i va do ci cI o f emi ni no t ambem e equi val ent e   a   i  nver sao da pr i mei r a oet ade do movi ment o   cr i ador mascul i no.   Se a hi po-

    t ese   f or cor r et a, es t as r el a90es de   car at er f or mal dever n exi s t i r nos

    si st emas descr i t os.   H a   i nl i mer as evi denci a compr ovador as, mas   aqui soposso of er ecer umas poucas   i l ust r a90es.

    ( a) Nos si st emas ut er i no, ambi ent al   e   r esi denci al , 0   movi ment o   cr i

    at i vo mascul i no do   l est e   encont r a- se no c ent r o com   0   movi ment o   cr i at i -

    v o f emi ni ne do oes t e per i f  er i co. Est e encont r o cr i a uma   uni dade de or -

    deo   super i or aos pr o pr i os el ement os   cr i at i vos.   0 seme m e 0   sangue   con~

    t i t uem   0 f et o, 0 pei xe pr oduzi do   pel o hooeo e a mandi oca pr odu=i d~ pe-

    l a   mul her const i t uem   uma   r ef ei 9ao,   e   os homens e as   mul her es   const i t u-

    em uma comuni dade het er ogenea que   i nger e   as   r ef ei 90es no c ent r o da   ca-

    sa.   As car acter i s t i cas de   A,   B,   B' , C e C' assi nal adas na f i ~ur ~   6,

    most r ao   cl ar ament e   que 0   cent r o   e   um pont o de   con j un9ao, opos t o as   ca-r ac t e r i s t i cas   el ement ar es   t ant o   do l es t e quant o do oest e   per i f er i co,

    em t odos os   si st emas.

    ( b)   A   vi agem do l est e par a   0 oes t e   per i f  er i co pode s er concebi dG

    cooo   uma   pr ogr ess ao   cont i nut l   do   posi t i vo   par a   0  neLat i vo,   eo   t er l . l OSda

    cont i nui dade oascul i na.   Es t a pr ogr ess ao   ocor r e   ent r e cl 1ef es   e scr vos,

    r J ai  s  vel hos   e mai s 0090s,   boca   e anus,   vi da   r i   t unl   r . J nscul i nL' .e pr i   va-

    ci  dade   dor ; l  est i caf eoi ni na.   r ·~ClS   a vi agen   t anbeo   deve scr   cOl , cebi ~"   co-

    00   sendo coopost a par   duas   : '  ases,   que de al GuLI   Ll  odo sao i J .  l  e' L en, ;(:C'   C'~

    pcl ho   ur . J  aC  B   out r &. .   A . i  maGcr . Jespecul nr   e   nai s   evi dent . : : :no l , o. . :  : cl. .  .  •l:"Eucur i dupl i cadCl   ( f i gur a   J b) ,   r ; l aSCl S vi agens C: eU::1 or i ~i ci o   t'Ld.,   llJ-

    r ed   par a   out r o   ( no anbi en t c)   -   t aI : 1ber : :apr csent e J 1   s1r . l £t r i c. .l   1.L.   t. ( ' r 

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    ver si vei s,   que l i gam   0   cent r o   a   per i f er i a.   I s t o expl i ca por que at emesmo a mai s i mpor t ant e das i nst i t ui 90es   pat r i l i near es,   a   or dena9ao

    et ar i a dos s i bs,   cont er n el ement os de si met r i a no   cent r o ( 0 papel de

    "guer r ei r o") ,   e por que   quando e vi s t a   de   t r az par a a f r ent e, do mai s

    m090 par a 0 mai s vel ho,   do oes t e per i f  er i c o~ar ao   l es t e, el a   r ef l et e

    a ordem de cr esci ment o   cont r ol ada pel as mul her es.

    A coexi s t enci a des t es as pectos da   i mager n especul ar e da pr ogr es -

    sac l i near na vi ager n   do l es t e par a   0 oest e t amber n r ef l et e a r el a9ao

    ent r e a cri at i vi dade r nascul i na   e   a f emi ni na.   J a vi mos que os poder es

    cr i at i vos das mul her es   sac posi t i vanent e val or i zados como compl emen-

    t os f i s i co- nat ur ai s da   cr i at i vi dade soci al - espi r i t ual dos homens, ai n

    da   que sej am negat i vament e val or i z ados por s er em   conf l i t ant es c om   a

    i deol ogi a pat r i l i near domi nant e   e   a   supr emaci a pol i t i c a dos homens.

    Consi der ando- se os val or es l i gados   a   estrutur a   soci al   do   Pi r a- Par ana,e   per f ei t ament e l i ci t o i dent i f i c ar a f ont e da cr i at i vi dade   f emi ni na

    com   0 pont o t er mi nal dos poder es cri at i vos mascul i nos. Er . 1out r os con-

    t ext os ocor r e exat ament e 0 mesmo. Por exempl o, 0 f ogo   domesti c o   e   um

    dos r ecur s os us ados pel a cri at i vi dade f emi ni na ao   cozi nhar , e est a

    f or t ement e associ ado   a   cr i at i vi dade f emi ni na na   pr ocr i a9ao. Os homensque   se   aquecer n   excessi vament e no f ogo ger am   apenas   f i l has , de   modo

    que col ocam   ur n pont o   f i nal na   cont i nui dade mascul i na,   ao   mesmo   t empe

    em   que cont r i buem par a   a cont i nui dade   f emi ni na.

    ( c)   0model o   most r a que a   f ase   dest r ut i va   do   ci  c l o   f eni ni no devc

    ser equi par ada   a   i  nver s~o   da pr ogr essao mascul i na,   a par t i r   ~o   l es t cer ; ,di r e9ao ao   cent r o. Como   Vi r : 10S. a   con t i nui dade   mascul   i na   C   cU T: l  u1d :'i.

    va   e   i r r ever si vel ,   l ; J asmeSI : 1Oassi D   os homens   consegueJ :  1sc   r e[ ; cncr : :  l r~

    t r aves de   una   vi ager J   r egr essi   Vo,   i nt egr ando- se   aos t er ; l  pOsi neL, or i dj ~.

    at r aves   des   r i t os. .   Ls t a   vi agen   de   vol   to.   so pode: s er   cmpr ecnc: i  dc '   c:..: '  r . - nc ~ ,

    da   f as e des t r ut i va   co   ci c I o   f el l i  l l i no. No   r i t ual   mascul i no do   J ur up. l r : i

    os homens   i r : 1it ar . ,a   per da   de s~m[:Jc menst r ual ,   como el es pr o j ) ! ' i o: :adr : -

    t er .. .   LI es   t ar : l  be; : - ,per der : , a   pel e,   ( -   " ; : l or r eD" ( apl i cando pi nt ur a   ~rcL""

    Quando   vol t an   par C J   0 pr esen   t c si nul al ,   0 cr es c i nent o de   u , 13I0,\"   V  - . . 1" ,

    ( apl i cancc pi n~ur a vcr r : 1el h&"   c   r enascem. I s t o   car r o or a as   concl s~esi n i c i ai s ( se9aa   1 J,   de   que   0  c  j c 10   r eve r si   ve 1   f er : l i ni nopr cci sd   sc r   il!-

    post a   a   cont i nui Lace nascul i r :   ~~~a evi t ar que   c:o.   degener e p~r   :J   t u

  • 8/15/2019 HUGH-JONES, Christine - Pele e Alma - O Cíclico e o Linear

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    -r a~ao dest es   s i st emas espa~o- t empor ai s. Tendo   af i r mado   que   el es se r e-duzem   a ur n model o   basi co, escol hi   ur n depas   do out r o par a most r ar como

    i st o   ocor r e.   0 met oda pode par ecer al t ament e duvi doso,   pai s os ar gu-

    ment os naoseapl i cam   i gual ment e   a   t odos   os   s i s t emas. Por exempl o,   0si ~

    t ema di gest i vo   nao   est a di r et ament e   associ ado   com   os t emas da   r epr odu-

    ~ao   soci al   e sexual ,   poi s as associ a~oes sexuai s   de or i f i ci os opos t os

    der i vam   da   anal ogi a ent r e   0corpo   e a   casa. Usei si s t emas di f er ent e~

    par a el uci dar   t emas di f er ent es por que os pr opr i os   si st eoas r el er eo- sc

    a   t emas   di f er ent es, cons t i t ui dos por di f er ent es t i pos de pr ocesso.   EIl-

    t r et ant o, as r el a~oes   ! i l t : t al or i casent r e os s i s t emas   si gni : f  i car : lque   sew::

    pr ocessos basi cos sac   t r ansponi vei  s .   Senao,   de   que out r a   f or ma   poder i a-

    nos   ent ender   a af i r na~ao de   que   quando   um homen   vai cagar es t a " expe-