Espirito Positivo Comte

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    DISCURSO PRELIMINAR SOBRE O ESPRITOPOSITIVO

    Augusto Comte

    NDICE

    OGRAFIA DO AUTOR

    SCURSO SOBRE O ESPRITO POSITIVO

    BJETO DESTE DISCURSO

    ARTE I SUPERIORIDADE MENTAL DO ESPRITO POSITIVO

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    aptulo I Lei da Evoluo Intelectual da Humanidade ou Lei dos Trs Estados.

    aptulo II Destino do Esprito Positivo.

    aptulo III Atributos Correlatos do Esprito Positivo e do Bom Senso

    ARTE II SUPERIORIDADE SOCIAL DO ESPRITO POSITIVO

    aptulo I Organizao da Revoluo

    aptulo II Sistematizao da Moral Humana

    aptulo III Surto do Sentimento Social

    ARTE III CONDIES DO ADVENTO DA ESCOLA POSITIVAAliana dos Proletrios e dos Filsofos)

    aptulo I Instituio de um Ensino Popular Superior

    aptulo II Instituio de uma Poltica Especialmente Popular

    aptulo III Ordem Necessria dos Estudos Positivos

    ONCLUSO APLICAO AO ENSINO DA ASTRONOMIA

    OTAS

    IOGRAFIA DO AUTOR

    omte, cujo nome completo era Isidore-Auguste-Marie-Franois-Xavier Comte, nasceu em 19 de 1798, em Montpellier, e faleceu em 5 de setembro de 1857, em Paris. Filsofo e auto-proclamder religioso, deu cincia da Sociologia seu nome e estabeleceu a nova disciplina em uma forstemtica.

    oi aluno da clebre cole Polytechnique, uma escola em Paris fundada em 1794 onde se ensinancia e o pensamento mais avanados da poca. De famlia pobre, sustentou seus estudos com

    casional da matemtica e oportunidades no jornalismo.

    m de seus primeiros empregos foi o de secretrio do Conde Henri de Saint-Simon, o primeiro er claramente a importncia da organizao econmica na sociedade moderna, e cujas idias Cbsorveu, sistematizou com um estilo pessoal e difundiu.

    omte foi apresentado ao filsofo, ento diretor do peridico Industrie, no vero de 1817. Saint-m homem de frtil, mas tumultuada e desordenada criatividade, ento quase sessenta anos maisue Comte, foi atrado pelo jovem brilhante que possuia a capacidade treinada e metdica para o

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    ue lhe faltava. Comte tornou-se seu secretrio e colaborador prximo, na preparao de seus labalhos. Quando Saint-Simon experimentou problemas financeiros, Comte permaneceu sem panto por razes intelectuais como pela esperanas da recompensa futura.

    s esboos e os ensaios que Comte escreveu durante os anos da associao prxima com Saint-Specialmente entre 1819 e 1824, mostram inequivocamente a influncia do mestre. Esses primeabalhos j contm o ncleo de todas suas idias principais, mesmo as mais tardias. Em 1824 Cesentendeu-se com Saint-Simon por questes de autoria legtima de ensaios que Comte devia psoluo, que Comte considerou injusta, foi que cem cpias do trabalho saram sob o nome de

    nquanto mil cpias, intituladas Catechisme des industriels indicavam a autoria de Henri de Sainutra causa do rompimento foi, ironicamente, Comte desdenhar a idia de um paradigma religioojeto de Saint Simon, ele, Comte, que depois haveria de adotar essa idia proclamando a si me

    omo sumo sacerdote da Humanidade.

    m fevereiro 1825 Comte se casou com Caroline Massin, proprietria de uma pequena livraria, oa que ele j conhecia. Comte a achava forte e inteligente, mas depois taxou-a de ambiciosa e

    esprovida de afetividade. O casamento foi sempre tumultuado por motivos financeiros, uma veomte no conseguia uma posio com salrio fixo e contava apenas com os rendimentos das auarticulares e alguma renda adicional por colaboraes a jornais, mais freqentemente para o Pr

    m jornal fundado pelos filhos espirituais de Saint-Simon aps a morte do mestre.epois de se afastar de Saint Simon, a principal preocupao de Comte tornou-se a elaborao dosofia positiva. No tendo nenhuma cadeira oficial da qual expor suas teorias, decidiu oferece

    urso particular que os interessados subscreveriam adiantado, e onde divulgaria sua Summa doonhecimento positivo. O curso abriu em abril, 1826, com a presena de alguns curiosos ilustreslexander von Humboldt, diversos membros da academia das cincias, o economista Charles Duque Napoleon de Montebello, e Hippolyte Carnot, filho do organizador dos exrcitos revolucimo do cientista Sadi Carnot, e vrios estudantes da cole Polytechnique.

    omte deu apenas trs aulas e foi obrigado a interromper o curso devido a um colapso nervoso. i diagnosticado como " mania " no hospital do famoso Dr. Esquirol, autor de um tratado sobreoena. Ele prprio submeteu Comte a um tratamento com banhos de gua fria e sangrias. Apesceber alta, Comte foi levado para casa por Caroline

    ps o retorno para casa, Comte caiu em um estado melanclico profundo, e tentou mesmo o sugando-se no rio Sena. Somente em agosto 1828 logrou sair de sua letargia. O curso das confercomeado em 1829, e Comte ficou satisfeito outra vez por encontrar na audincia diversos nomandes das cincias e das letras.

    urante os anos 1830-1842, quando escreveu sua obra prima, Cours de philosophie positive, Coontinuou a viver miseravelmente margem do mundo acadmico. Todas as tentativas de ser ape para uma cadeira no cole Polytechnique ou para uma posio na Academia das cincias ou nculdade de Frana foram infrutferas. Controlou somente em 1832 a ser apontado assistente dede mecanique" no cole; cinco anos mais tarde foi dado tambm as posies do examinador e

    ara a mesma escola. A primeira posio trouxe valiosos dois mil francos e o segundo um poucoas era pouco para as despesas que tinha com a esposa e por isso continuou com as aulas partic

    ara escapar da faixa de pobreza.

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    urante os anos da concentrao intensa quando escreveu o Cours, Comte foi incomodado no sor dificuldades financeiras e as frustradas tentativas de emprego acadmico. Tambm sofreu crundo cientfico por parte de importantes figuras que o ridicularizavam pela sua pretenso de su

    o seu sistema todas as cincias. A mgoa agravou seu estado psicolgico. Por razes "de higienrebral", decidiu-se, em 1838, a no ler mais uma linha de qualquer trabalho cientfico, limitanitura de fico e poesia. Em seus ltimos anos o nico livro que haveria de ler repetidamente smitao de Cristo". Sua vida matrimonial, que sempre fora tempestuosa, tambm se desfez. Corias separaes de Caroline, que no suportava os seus fracassos e terminou por deix-loefinitivamente em 1842.

    e isolado, continuou a atacar os cientistas que se recusaram a reconhec-lo. Queixou-se de seimigos aos ministros do Rei, escreveu cartas delirantes imprensa e atormentou a pacincia de

    oucos restantes amigos. Criando demasiado inimigos na cole Polytechnique, sua nomeao coxaminador no foi renovada em 1844. Perdeu com isto a metade de sua renda. (iria perder tambosio de assistente na cole em 1851.)

    ontudo apesar de todos estas adversidades, Comte comeou lentamente a adquirir discpulos. Emportante para ele foi que, alm de encontrar alguns discpulos franceses notveis, tais como o

    telectual Emile Littre, era o fato de que sua doutrina positiva havia atravessado o Canal e receb

    onsidervel ateno na Inglaterra. David Brewster, um fsico eminente, saudou-o nas pginas ddinburgh Review em 1838 e, o mais gratificante de tudo, John Stuart Mill transformou-se em sdmirador, citando-o em seu System of Logic (1843) como um dos principais pensadores europeomte e Mill se corresponderam regularmente, e serviu a Comte no somente para refinar seusensamentos como tambm para desabafar com o filsofo ingls as tribulaes de sua vida conjuficuldades de sua existncia material. Mill arrecadou entre admiradores britnicos de Comte u

    onsidervel em dinheiro e lhe enviou como socorro para suas dificuldades financeiras.

    o mesmo ano de 1844, Comte conheceu Clotilde de Vaux, por quem se apaixonou. Ela era ume trinta anos abandonada pelo marido, um funcionrio pblico do baixo escalo, que havia fugi

    as depois de se apropriar de fundos do governo. Um irmo de Clotilde que havia sido aluno dea Escola Politcnica, e o convidou a ir casa de seus pais, onde lhe apresentou a irm.

    omte ficou inteiramente seduzido por ela. Sua paixo teve, porm, um desdobramento inusitadlotilde estva impedida pela lei de casar-se achando-se o seu marido foragido. Auguste Comte tnto quarenta e sete anos, e havia se separado trs anos antes de sua mulher. Acabara de concluonumental Cours de philosophie positive, e se preparava para escrever o que pretendia que serincipal obra, o Systme de politique positive, da qual ele considerava o Cours de philosophie c

    penas uma introduo. Entusiasmado com a prpria paixo, Auguste Comte afirma que nada poais eficaz para o bem pensar que o bem querer, e se tornou um abrasado feminista. Afirmava q

    ulher encarnava o sentimento e portanto, em ltima anlise, a prpria Humanidade. Buscou enriamente associar o sexo feminino, na pessoa de Clotilde, obra de renovao social e moral q

    mps completar. Clotilde tentou colaborar, atravs de um romance filosfico, Wilhelmine, que s febrilmente a escrever. Mas adoeceu de tuberculose e veio a falecer em 1846.

    omte devotou o resto de sua vida memria do "seu anjo". O Systme de politique positive, quomeado a esboar em 1844 e no qual completou sua formulao da sociologia, iria transformam memorial a sua amada. Cinco anos mais tarde, em 1851, ao publicar essa obra, dedicou-a a C

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    zendo esperar que a humanidade, reconhecida, haveria de lembrar sempre seu nome junto ao d

    o Systme de politique positive, Comte, voltando-se contra a doutrina do mestre Saint-Simon, primazia da emoo sobre o intelecto, do sentimento sobre a racionalidade; e proclamou repetipoder curativo do calor feminino para a humanidade dominada por tempo demasiado pela aspetelecto masculino. Por outro lado, maquiou a proposta de disciplina eclesistica de Saint-SimoReligio da Humanidade.

    uando o Systme apareceu entre 1851 e 1854, Comte escandalizou e perdeu a maioria dos segucionalistas que ele havia conquistado com tanta dificuldade nos ltimos quinze anos. John Stumile Littre no aceitaram que o amor universal fosse a soluo para todas as dificuldades da pouco aceitariam a Religio da Humanidade da qual Comte se proclamou agora o sumo sacerdobservao dos rituais mltiplos segundo o calendrio anual, os detalhes da elaborada liturgia inue o antigo profeta do estgio positivo havia regressado s trevas do estgio teolgico. Comte psinar suas circulares - aos novos discpulos que conseguiu reunir - como "fundador da religio

    niversal e sumo sacerdote da humanidade". Tentou converter o Superior Geral dos Jesutas noomparou suas circulares aos discpulos com as epstolas de So Paulo. Fundou a Societ Positiv

    transformou no centro principal de seu ensino. Os membros se cotizaram para assegurar a subo mestre e fizeram os votos de espalhar sua mensagem. As misses se instalaram, na Espanha,

    glaterra, Estados Unidos, e na Holanda. Cada noite, das sete s nove, exceto nas quartas-feirasSociet Positiviste tinha sua reunio regular, Comte recebia seus discpulos em sua casa em Paolticos, intelectuais e operrios, que lhe votavam grande respeito e venerao. Comte estava lontusiasmo republicano e libertrio de sua juventude. O moto da Igreja Positiva era amor, ordemogresso. O jovem estudante de passeata agora pregava as virtudes do amor, da submisso e a

    ecessidade da ordem para o progresso social.

    m 1857, Comte, aps alguns meses de enfermidade, faleceu a cinco de setembro. Um grupo pescpulos, de amigos, e de vizinhos seguiu seu esquife ao cemitrio de Pere Lachaise. Seu tmuansformou-se no centro de um pequeno cemitrio positivista onde esto sepultados, perto do m

    us discpulos mais fiis.ensamento. A contribuio principal de Comte filosofia do positivismo foi sua adoo do mentfico como base para a organizao poltica da sociedade industrial moderna, de modo maisue na abordagem de Saint Simon. Em sua Lei dos trs estados ou estgios do desenvolvimentotelectual, Comte teorizou que o desenvolvimento intelectual humano havia passado historicamimeiro por um estgio teolgico, em que o mundo e a humanidade foram explicados nos termo

    euses e dos espritos; depois atravs de um estgio metafsico transitrio, em que as explanaetavam nos termos das essncias, de causas finais, e de outras abstraes; e finalmente para o e

    ositivo moderno. Este ltimo estgio se distinguia por uma conscincia das limitaes do conh

    umano. As explanaes absolutas consequentemente foram abandonadas, buscando-se a descobis baseadas nas relaes sensveis observveis entre os fenmenos naturais.

    omte tentou tambm uma classificao das cincias; baseada na hiptese que as cincias tinhamesenvolvido da compreenso de princpios simples e abstratos compreenso de fenmenos coconcretos. Assim as cincias haviam se desenvolvido a partir da matemtica, da astronomia, daa qumica para a biologia e finalmente a sociologia. De acordo com Comte, esta ltima disciplimente fechava a srie mas tambm reduziria os fatos sociais s leis cientficas e sintetizaria to

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    onhecimento humano.

    mbora no fosse de Comte o conceito de sociologia ou da sua rea de estudo, ele ampliou seu cstematizou seu contedo. Dividiu a Sociologia em dois campos principais: Esttica social, ou oas foras que mantm unida a sociedade; e Dinmica social, ou o estudo das causas das mudanciais.

    ando nova roupagem s idias de Hobbes e Adam Smith, afirmou que os princpios subjacenteciedade so o egosmo individual, que incentivado pela diviso de trabalho, e a coeso sociaantm por meio de um governo e um estado fortes.

    omo Saint Simon, queria a administrao real do governo e da economia nas mos dos homensegcios e dos banqueiros, porm deu um toque pessoal seu, com origem em sua paixo por Clozendo que a manuteno da moralidade privada seria competncia das mulheres como esposas

    ando nfase hierarquia e obedincia, rejeitou a democracia, sustentando que o governo ideal onstitudo por uma elite intelectual. Seu conceito de uma sociedade positiva est no seu Systmolitique positive ("Sistema de Poltica Positiva").

    omo Saint-Simon, ele veio a adotar a idia de que a organizao da igreja catlica romana, div

    a teologia crist, podia fornecer um modelo estrutural e simblico para a sociedade nova, idia ntanto, fora uma das causas alegadas para seu rompimento com o mestre. Comte substituiu a adeus por uma "religio da humanidade"; um sacerdcio espiritual de socilogos seculares guiariciedade e controlaria a instruo e a moralidade pblica. Comte viveu para ver sua obra come

    xtensamente em toda a Europa. Muitos intelectuais ingleses foram influenciados por ele, e tradomulgaram seu trabalho. Seus devotos franceses tinham aumentado tambm, e mantinha uma

    orrespondncia volumosa com sociedades positivistas em todo o mundo.

    habilidade particular de Comte era como um sintetizador das correntes intelectuais as mais divomou idias principalmente dos filsofos modernos do sculo XVIII. De Saint-Simon e outros

    formadores franceses menores Comte tomou a noo de uma estrutura hipottica para a organicial que imitaria a hierarquia e a disciplina existente na igreja catlica romana. De vrios filsuminismo adotou a noo do progresso histrico e particularmente de David Hume e Immanuemou sua concepo de positivismo, ou seja, a teoria de que o Teologia e a Metafsica so modimrias imperfeitas do conhecimento e que o conhecimento positivo baseado em fenmenossuas propriedades e relaes como verificado pelas cincias empricas, tese Kantiana por excel

    mais importante realmente provm de Saint-Simon, que havia enfatizado originalmente a impescente da cincia moderna e o potencial da aplicao de mtodos cientficos ao estudo e meciedade.

    e Saint-Simon originalmente a idia de que a finalidade da anlise cientfica nova da sociedar amelhorativa e que o resultado final de toda a inovao e sistematizao na nova cincia devientao do planeamento social. Comte tambm pensou que era necessrio implantar uma ordepiritual nova e secularizada a fim de suplantar o sobrenaturalismo ultrapassado da teologia cri

    omte seguiu Saint-Simon quando considerou a necessidade de uma cincia social bsica e unifue explicasse as organizaes sociais existentes e guiasse o planeamento social para um futuro a sua hbil sistematizao Comte chamou esta nova cincia "Sociologia", pela primeira vez.

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    emerariamente, porm, foi mais adiante que seu mestre quando afirmou que os fenmenos socoderiam ser reduzidos a leis da mesma maneira que as rbitas dos corpos celestes haviam sidoxplicadas pela teoria gravitacional quase trezentos anos antes.

    ISCURSO SOBRE O ESPRITO POSITIVO

    BJETO DESTE DISCURSO

    O conjunto dos conhecimentos astronmicos no deve mais ser considerado isoladamente, co

    qui, mas constituir de ora avante apenas um dos elementos indispensveis do novo sistema indie filosofia geral que hoje atingiu finalmente sua verdadeira maturidade abstrata, depois de ter sadualmente preparado pelo concurso espontneo dos grandes trabalhos cientficos dos trs lticulos. Em virtude desta ntima conexidade, ainda pouco compreendida, a natureza e o destino ratado no podero ser devidamente apreciados se este prembulo imprescindvel no for consbretudo definio conveniente do verdadeiro e fundamental esprito desta filosofia, cuja inst

    niversal deve ser, no fundo, o objetivo precpuo de semelhante ensino. Como ela se distingueincipalmente pela continua preponderncia, a um tempo lgica e cientfica, do ponto de vista h

    u social, devo antes de tudo, para melhor caracteriz-la, lembrar de modo sumrio a grande lei

    tabeleci, em meu Sistema de Filosofia Positiva, sobre a evoluo total da Humanidade, lei quossos estudos astronmicos ho de recorrer com freqncia.

    PARTEUPERIORIDADE MENTAL DO ESPRITO POSITIVO

    APTULO IEI DA EVOLUO INTELECTUAL DA HUMANIDADE OU LEI DOS TRS ESTADO

    De acordo com esta doutrina fundamental, todas as nossas especulaes esto inevitavelmente

    sim no indivduo como na espcie, a passar por trs estados tericos diferentes e sucessivos, qodem ser qualificados pelas denominaes habituais de teolgico, metafsico e positivo, pelo mara aqueles que tiverem compreendido bem o seu verdadeiro sentido geral. O primeiro estado, ja, a princpio, a todos os respeitos, indispensvel deve ser concebido sempre, de ora em diant

    uramente provisrio e preparatrio; o segundo, que , na realidade, apenas a modificao dissonterior, no comporta mais que um simples destino transitrio, para conduzir gradualmente ao tneste, nico plenamente normal, que consiste, em todos os. gneros, o regime definitivo da razumana.

    Estado teolgico ou fictcio

    No seu primeiro surto, necessariamente teolgico, todas nossas especulaes manifestam de mpontneo uma predileo caracterstica pelas mais insolveis questes, pelos assuntos maisdicalmente inacessveis a qualquer investigao decisiva. O esprito humano, numa poca em nda abaixo dos mais simples problemas cientficos, por um contraste, que em nossos dias devearecer-nos primeira vista inexplicvel, mas que, no fundo, se acha ento em plena harmonia cerdadeira situao inicial da nossa inteligncia, procura avidamente, e de maneira quase exclusigem de todas as coisas, as causas essenciais, quer primrias, quer finais, dos diversos fenme

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    mpressionam, e seu modo fundamental de produo, em uma palavra, os conhecimentos absoluecessidade primitiva se acha naturalmente satisfeita tanto quanto o exige tal situao mesmo,nto quanto o possa jamais ser, por nossa tendncia inicial a transportar por toda a parte o tipo hsimilando quaisquer fenmenos aos que ns mesmos produzimos, os quais, por esta razo, com

    arecer-nos bastante conhecidos, em virtude da intuio imediata que os acompanha. Para compem o esprito puramente teolgico, proveniente do desenvolvimento, cada vez mais sistemticotado primordial, cumpre no nos limitarmos a consider-lo na sua ltima fase que se consumasta, nas populaes mais adiantadas, mas que est longe de ser a mais caracterstica: torna-sedispensvel lanarmos uma vista de olhos verdadeiramente filosfica sobre o conjunto de sua

    atural, a fim de apreciarmos sua identidade fundamental sob as trs formas principais que lhe scessivamente prprias.

    A mais imediata e a mais pronunciada destas formas constitui o fetichismo propriamente ditoonsiste sobretudo em atribuir a todos os corpos exteriores uma vida essencialmente anloga nuase sempre, porm mais enrgica, em virtude de sua ao, de ordinrio, mais poderosa. A adotros caracteriza o grau mais elevado desta primeira fase teolgica que, no comeo, quase no dtado mental a que atingem os animais superiores. Ainda que esta primeira forma de filosofia temanifeste com evidncia na histria intelectual de todas as nossas sociedades, ela j no domi

    retamente hoje seno na menos numerosa das trs grandes raas que compem a nossa espcie

    Na sua segunda fase essencial, que constitui o verdadeiro politesmo, muitas vezes confundidodernos com o estado precedente, o esprito teolgico representa claramente o livre predomnipeculativo da imaginao, ao passo que at ento o instinto e o sentimento tinham sobretudoevalecido nas teorias humanas. A filosofia inicial sofre nessa poca a mais profunda transform

    ue o conjunto do seu destino real pode comportar, por isso que nela a vida enfim retirada dos ateriais, para ser misteriosamente transportada a diversos seres fictcios, habitualmente invisvterveno ativa e contnua se torna da por diante a origem direta de todos os fenmenos exteriesmo em seguida dos fenmenos humanos. E durante esta fase caracterstica, mal apreciada ho

    onvm principalmente estudar o esprito teolgico, que nele se desenvolve com uma plenitude omogeneidade impossvel ulteriormente: esta poca , a todos os respeitos, a do seu maior asceo mesmo tempo mental e social. A maioria de nossa espcie no saiu ainda de semelhante estadersiste hoje na mais numerosa das trs raas humanas, no escol da raa negra e na parte menos a branca.

    Na terceira fase teolgica, o monotesmo propriamente dito d comeo ao inevitvel declnio osofia inicial. Esta, embora conserve por dilatado tempo grande influncia social, contudo ma

    parente ainda do que real, sofre desde ento rpido decrscimo intelectual, como conseqnciapontnea desta simplificao caracterstica pela qual a razo, unificando os deuses, restringe cais o domnio anterior da imaginao e permite desenvolver gradualmente o sentimento univernda quase insignificante, da sujeio forosa de todos os fenmenos naturais a leis invariveisrmas mui diversas e at radicalmente inconciliveis, esta fase extrema do regime preliminar penda, com energia muito desigual, na imensa maioria da raa branca; mas ainda que seja assim cil de ser observada, as prprias preocupaes pessoais acarretam hoje um obstculo muito frea judiciosa observao, por falta de uma comparao suficientemente racional e justa com as dses precedentes.

    Por mais imperfeita que possa parecer agora semelhante maneira de filosofar, muito importa l

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    odo indissolvel o estado atual do esprito humano ao conjunto dos seus estados anteriores,conhecendo convenientemente que ela devia ter sido, por muito tempo, to indispensvel comevitvel. Limitando-nos aqui simples apreciao intelectual, seria por certo suprfluo insistirndncia involuntria que, mesmo hoje, nos arrasta todos s explicaes de pura essncia teolgue queremos penetrar diretamente o mistrio inacessvel do modo fundamental de produo donmenos, sobretudo daqueles cujas leis reais ainda ignoramos. Os mais eminentes pensadores

    nto verificar a sua prpria disposio natural para o mais ingnuo fetichismo, quando esta ignoacha combinada momentaneamente com alguma paixo pronunciada. Se, pois, todas as explic

    olgicas, experimentaram crescente e decisivo desuso entre os modernos ocidentais, isto acont

    orque as investigaes misteriosas que elas visavam foram cada vez mais afastadas como radicacessveis nossa inteligncia, que se habituou pouco a pouco a substitui-las de modo irrevogtudos mais eficazes e mais em harmonia com as nossas verdadeiras necessidades. Mesmo na

    ue o verdadeiro esprito filosfico j tinha prevalecido em relao aos mais simples fenmenossunto to fcil como a teoria elementar do choque, o memorvel exemplo de Malebranche lemmpre a necessidade de se recorrer interveno direta e constante dos agentes sobrenaturais, t

    ezes que se procure remontar causa primeira de qualquer acontecimento. Ora, por outro lado,ntativas, por mais pueris que paream justamente hoje, constituam sem dvida o incio meio pe provocar as especulaes humanas e determinar o seu progresso contnuo, libertando de mod

    pontneo nossa inteligncia do crculo vicioso em que a princpio se acha necessariamente envela oposio radical de duas condies por igual imperiosas. Se, de fato, os modernos tiveram doclamar a impossibilidade de fundar qualquer teoria slida a no ser sobre um concurso sufici

    bservaes adequadas, no menos incontestvel que o esprito humano no poderia jamais coem mesmo recolher, esses materiais indispensveis, sem ser continuamente dirigido por algumpeculativas previamente estabelecidas. Assim estas concepes primordiais s podiam, claro

    e uma filosofia que prescindisse, por sua natureza, de qualquer preparo prolongado, sendo capama palavra, de surgir espontaneamente, sob o impulso nico de um instinto direto, por mais quue devessem ser, alm disso, especulaes to desprovidas de todo fundamento real. Tal o felivilgio dos princpios teolgicos, sem os quais podemos assegurar que a nossa inteligncia n

    oderia nunca sair do seu torpor inicial; a eles permitiram, dirigindo sua atividade especulativa, adualmente um regime lgico melhor. Esta aptido fundamental foi, alm disto, poderosamencundada pela primitiva predileo do esprito humano pelas questes insolveis, que atraam ssa filosofia primitiva. No podamos avaliar nossas foras mentais, e, por conseguinte, circunsdiciosamente o seu destino, seno depois de exercit-las suficientemente. Ora, este exercciodispensvel no podia ser desde logo determinado, sobretudo nas mais dbeis faculdades da no

    atureza, sem o enrgico estmulo inerente a tais estudos, nos quais tantas inteligncias mal cultinda persistem em procurar a mais pronta e a mais completa soluo das questes diretamente uara vencer suficientemente nossa inrcia nativa, foi mesmo preciso durante muito tempo recorr

    oderosas iluses que tal filosofia suscitava espontaneamente sobre o poder quase indefinido doara modificar ao seu sabor um mundo ento concebido como feito para seu uso e que nenhumai podia ainda subtrair arbitrria supremacia das influncias sobrenaturais. H apenas trs scuo escol da Humanidade, as esperanas astrolgicas e alqumicas, ltimo vestgio cientfico dessprito primitivo, deixaram na realidade de servir para o acmulo dirio das observaes

    orrespondentes, como o indicaram respectivamente Kepler e Berthollet.

    O concurso decisivo destes diversos motivos intelectuais seria alm disso poderosamente forta natureza deste Tratado me permitisse assinalar aqui suficientemente a influncia irresistvel

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    ecessidades sociais, que apreciei como convinha na obra fundamental mencionada no incio deiscurso. Pode-se assim, desde logo, demonstrar em toda a sua plenitude como o esprito teolgor muito tempo indispensvel constante combinao das idias morais e polticas, ainda maispecialmente do que a de todas as outras, no s em virtude de sua complicao superior, mas t

    orque os fenmenos correspondentes, primitivamente muito pouco pronunciados, s podiam adm desenvolvimento caracterstico aps o avano muito prolongado da civilizao humana. umtranha inconseqncia, apenas desculpvel pela tendncia cegamente crtica do nosso tempo,conhecer a impossibilidade em que se achavam os antigos de filosofar sobre os assuntos mais

    o ser de maneira teolgica e, no obstante, desconhecer a insupervel necessidade que tinham

    bretudo os politestas de adotar um regime anlogo para as especulaes sociais Mas precisoompreender, alm disso, ainda que eu no o possa demonstrar aqui, que esta filosofia inicial nenos indispensvel ao desenvolvimento preliminar de nossa sociabilidade do que ao de nossateligncia, quer para constituir primitivamente algumas doutrinas comuns, sem as quais o lao

    o teria podido adquirir nem extenso, nem consistncia quer para suscitar espontaneamente a utoridade espiritual que poderia ento surgir.

    Estado metafsico ou abstrato

    Por mais sumrias que tenham sido aqui estas explicaes gerais sobre a natureza provisria e

    estino preparatrio da nica filosofia que convinha realmente infncia da Humanidade, elas pontudo perceber sem dificuldade que o regime teolgico difere muito profundamente, sob todopectos, do que veremos mais adiante corresponder sua virilidade mental. Para que passagem

    e um a outro pudesse operar-se originariamente, assim no indivduo, como na espcie tornou-sedispensvel o auxlio crescente de uma espcie de filosofia intermediria essencialmente limit

    fcio transitrio. Tal a participao especial do esprito metafsico propriamente dito na evolundamental da nossa inteligncia, que, antiptica a toda mudana repentina, pode elevar-se assisensivelmente, do estado puramente teolgico ao francamente positivo, se bem que, no fundo,tuao equvoca se aproxime muito mais do primeiro do que do ltimo. As especulaes domi

    onservaram no estado metafsico o mesmo carter essencial de tendncia ordinria para osonhecimentos absolutos: apenas a soluo sofreu nele notvel transformao, prpria a tornar msurto das concepes positivas. Como a Teologia, a Metafsica tenta de fato explicar sobretudoatureza ntima dos seres, a origem e o destino de todas as coisas, o modo essencial de produonmenos: mas, em vez de empregar para isso os agentes sobrenaturais propriamente ditos, sub

    ada vez mais por entidades ou abstraes personificadas, cujo uso, verdadeiramente caracterstimide permitiu design-la sob a denominao de Ontologia. faclimo observar hoje tal maneiosofar que, preponderante ainda em relao aos fenmenos mais complicados, oferece freqenesmo nas teorias mais simples e menos atrasadas, tantos traos apreciveis de seu longo domniccia histrica destas entidades resulta diretamente do seu carter equvoco; porque, em cada

    esses seres metafsicos, inerentes ao corpo correspondente, sem se confundir com ele, o espritoontade, conforme esteja mais prximo ao estado teolgico ou do positivo, ver uma verdadeira eo poder sobrenatural ou uma simples denominao abstrata da fenmeno considerado. No mpura imaginao que domina e no ainda a verdadeira observao; mas o raciocnio adquire nse grande extenso e prepara-se confusamente para o verdadeiro exerccio cientfico Deve-se a

    otar que sua parte especulativa se acha, a princpio, muito exagerada, em virtude desta obstinadndncia a argumentar em vez de observar que, em todos os gneros, caracteriza habitualmenteprito metafsico, mesmo em seus mais eminentes rgos. Uma ordem de concepes to flex

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    dispensvel, mas passageiro, a ao demasiado prolongada das concepes ontolgicas tendeuimpedir igualmente qualquer outra organizao real do sistema especulativo; de sorte que o maerigoso obstculo instalao final da genuna filosofia, resulta, com efeito, hoje desse mesmoue ainda se atribui muitas vezes o privilgio quase excluso das meditaes filosficas.

    . Estado positivo ou real

    o.- Seu principal carter: a lei da subordinao constante da imaginao observao

    2. Esta longa sucesso de prembulos necessrios conduz enfim nossa inteligncia, gradualmenmancipada, ao seu estado definitivo de positividade racional, que deve ser caracterizado aqui deodo mais especial do que os dois estados preliminares. Tendo tais exercidos preparatrios mospontaneamente a inanidade radical das explicaes vagas e arbitrrias prprias filosofia iniciolgica, quer metafsica, o esprito humano renuncia de ora em diante s pesquisas absolutas, q

    onvinham sua infncia, e circunscreve os seus esforos ao domnio desde ento rapidamenteogressivo, da verdadeira observao, nica base possvel dos conhecimentos realmente acessviteriosamente adaptados s nossas necessidades efetivas. A lgica especulativa tinha at ento

    onsistido em raciocinar, de modo mais ou menos sutil, segundo princpios confusos, que, noomportando nenhuma prova suficiente, suscitavam sempre debates sem resultado. Ela reconhec

    m diante, como regra fundamental, que toda proposio que no estritamente redutvel simpnunciao de um fato, particular ou geral, no nos pode oferecer nenhum sentido real e inteligvincpios que ela emprega no passam em si mesmos de verdadeiros fatos, apenas mais gerais e

    bstratos do que aqueles cuja ligao devem formar. Qualquer que seja, alis, o modo racional oxperimental, de os descobrir, sempre da sua conformidade, direta ou indireta, com os fenmebservados que resulta exclusivamente sua eficcia cientfica. A pura imaginao perde ento derevogvel a sua antiga supremacia mental e subordina-se necessariamente observao, de maonstituir um estado lgico plenamente normal, sem deixar contudo de exercer, nas especulaeositivas, um papel to capital como inesgotvel, para criar ou aperfeioar os meios de ligao, qefinitiva, quer provisria. Em uma palavra, a revoluo fundamental que caracteriza o estado vossa inteligncia consiste em substituir por toda a parte a inacessvel determinao das causasopriamente ditas, pela simples pesquisa das leis, isto , das relaes constantes que existem ennmenos observados. Quer se trate dos menores ou dos mais sublimes efeitos, do choque e daavidade, quer do pensamento e da moralidade, deles no podemos conhecer realmente seno aversas ligaes mtuas prprias sua realizao, sem nunca penetrar o mistrio da sua produ

    o. Natureza relativa do esprito positivo

    3. Nossas especulaes positivas devem no s confinar-se essencialmente, sob todos os aspect

    preciao sistemtica dos fatos existentes, renunciando a descobrir sua primeira origem e o seunal, mas importa tambm ainda compreender que este estudo dos fenmenos no deve tornar-sualquer modo absoluto, mas permanecer sempre relativo nossa organizao e nossa situaoeconhecendo sob este duplo aspecto, como so imperfeitos os nossos meios especulativos, vemnge de podermos estudar completamente qualquer existncia efetiva, no poderemos sequer ga

    ossibilidade de conhecer, mesmo de modo muito superficial, todas as existncias reais, das quaaior parte talvez nos deva escapar totalmente. Se a perda de um sentido importante basta para

    cultar uma ordem inteira de fenmenos naturais, perfeitamente razovel pensar-se, reciprocamue a aquisio de um novo sentido nos descobriria uma classe de fatos dos quais no temos ago

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    enhuma idia, a no ser que acreditemos que a acuidade dos sentidos, to diferente entre os prinpos de animalidade, se acha elevada em nosso organismo no mais alto grau que possa exigir axplorao total do mundo exterior, hiptese evidentemente gratuita e quase ridcula. Nenhuma ode manifestar melhor do que a Astronomia a natureza necessariamente relativa de todos os noonhecimentos reais, pois no podendo realizar-se nela a investigao dos fenmenos seno atram nico sentido, muito fcil serem a apreciadas as conseqncias especulativas de sua supree sua simples alterao. Nenhuma astronomia poderia existir numa espcie cega, por mais intelue a supusssemos, nem mesmo se somente a atmosfera atravs da qual observamos os corpos ermanecesse sempre e por toda a parte nebulosa. Todo este Tratado h de oferecer-nos freqen

    casies de apreciarmos espontaneamente, da maneira menos equvoca, esta ntima dependnciaconjunto de nossas condies prprias, tanto interiores, quanto externas, mantm inevitavelmem dos nossos estudos positivos.

    4. Para bem caracterizar a natureza necessariamente relativa de todos os nossos conhecimentosmporta reconhecer, alm disso, do ponto de vista mais filosfico, que, se quaisquer de nossasoncepes devem ser consideradas como outros tantos fenmenos humanos, tais fenmenos nmplesmente individuais, mas tambm e sobretudo, sociais, pois resultam, com efeito, de uma eoletiva e contnua, cujos elementos e fases essencialmente se entrelaam. Se, pois, sob o primeipecto, reconhecemos que nossas especulaes devem depender sempre das diversas condies

    senciais de nossa existncia individual, cumpre igualmente admitir, sob o segundo, que no seenos subordinadas ao conjunto da progresso social de modo a no poderem comportar jamais

    bsoluta que os metafsicos supuseram. Ora, a lei geral do movimento fundamental da Humanidonsiste, a este respeito, em que nossas teorias tendem cada vez mais a representar exatamente oxteriores de nossas constantes investigaes, sem que, contudo, a verdadeira constituio de caeles possa, em caso algum, ser plenamente apreciada, pois a perfeio cientfica deve restringirproximar-se desse limite ideal, tanto quanto o exijam nossas diversas necessidades reais. Este snero de dependncia, peculiar s especulaes positivas, manifesta-se to claramente como o m todo o curso dos estudos astronmicos, quando consideramos, por exemplo, a srie de noe

    ez mais satisfatrias, obtidas desde a origem da geometria celeste, sobre a figura da Terra, sobras rbitas planetrias, etc. Assim, posto que, de um lado, as doutrinas cientficas sejam necessae natureza bastante mvel de modo a evitar qualquer pretenso ao absoluto, suas variaes gradpresentam, por outro lado, nenhum carter arbitrrio que possa motivar um ceticismo ainda maerigoso. Cada mudana sucessiva conserva, alis, espontaneamente, nas teorias correspondenteptido indefinida para representar os fenmenos que lhes serviram de base, pelo menos enquanaja necessidade de nelas ultrapassar o grau primitivo de preciso real.

    o. Destino das leis positivas: previso racional

    5. Depois que se reconheceu unanimemente que a primeira condio fundamental de toda espeentfica consiste em subordinar constantemente a imaginao observao, uma viciosa interpduziu amide a exagerado abuso desse grande princpio lgico, para fazer a cincia real degen

    ma espcie de acmulo estril de fatos incoerentes, sem oferecer essencialmente outro mrito sa exatido parcial. Importa, pois, bem compreender que o genuno esprito positivo se acha too fundo, do empirismo como do misticismo; entre estas duas aberraes, igualmente funestaseve caminhar: a necessidade de semelhante reserva contnua, to difcil como importante, bastasso, para verificar, de acordo com as nossas explicaes iniciais, quanto a verdadeira positivid

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    r maduramente preparada, e no pode, de forma alguma, convir ao estado nascente da Humanias leis dos fenmenos que consiste realmente a cincia, qual os fatos propriamente ditos, por xatos e numerosos que sejam, s fornecem os materiais indispensveis. Ora, considerando o deonstante dessas leis, podemos dizer, sem nenhum exagero, que a verdadeira cincia, muito longrmada por simples observaes, tende sempre a dispensar, tanto quanto possvel, a exploraobstituindo-a pela previso racional, que constitui, a todos os respeitos, o principal carter do e

    ositivo, como o conjunto dos estudos astronmicos no-lo mostrar claramente semelhante prevonseqncia necessria das relaes constantes descobertas entre os fenmenos, jamais permitionfundir a cincia real com a v erudio que acumula maquinalmente fatos sem aspirar a dedu

    ns dos outros. Este grande atributo de todas as nossas ss especulaes importa tanto sua utilietiva como sua prpria dignidade; porque a explorao direta dos fenmenos ocorridos no sficiente para permitir-nos modificar-lhes a realizao, se no nos conduzisse a convenientemeev-la. Assim, o genuno esprito positivo consiste em ver para prever, em estudar o que , a fi

    oncluir o que ser, segundo o dogma geral da invariabilidade das leis naturais. (2)

    o. Extenso universal do dogma fundamental da invariabilidade das leis naturais.

    6. Este princpio fundamental de toda a filosofia positiva, que ainda est longe de ser suficientetendido ao conjunto dos fenmenos, vai-se tornando, felizmente, desde trs sculos, por tal formiliar, que, em virtude de hbitos absolutos anteriormente enraizados, se tem quase sempre

    esconhecido at aqui a sua verdadeira origem, tentando-se pelo emprego de uma v e confusagumentao metafsica represent-lo como uma espcie de noo inata, ou pelo menos primiti

    uando certamente resultou de gradual e lenta induo, ao mesmo tempo coletiva e individual. Notivo racional, independente de qualquer explorao exterior, nos sugere de antemo a invaria

    as relaes fsicas; pelo contrrio, incontestvel que o esprito humano experimenta, durante fncia, um pendor muito vivo para desconhec-la, mesmo nos seres onde uma observao imp

    averia de manifest-la, se ele no fosse ento arrastado por sua tendncia necessria a referir toontecimentos, especialmente os mais importantes, a vontades arbitrrias. Existem, sem dvida

    ada ordem de fenmenos, alguns bastante simples e bastante familiares para que a sua observapontnea tenha sugerido sempre o sentimento confuso e incoerente de uma certa regularidadecundria de sorte que o ponto de vista teolgico no pde nunca ser rigorosamente universal. M

    onvico parcial e precria limita-se por muito tempo aos fenmenos menos numerosos e maisbalternos, que ela no pode mesmo, de nenhum modo, preservar ento das freqentes perturbaribudas interferncia preponderante dos agentes sobrenaturais. O princpio da invariabilidadaturais s comeou realmente a adquirir certa consistncia filosfica quando os primeiros trabaerdadeiramente cientficos puderam manifestar a sua exatido essencial relativamente a uma orteira de grandes fenmenos, o que no podia resultar, de maneira satisfatria, seno da fundatronomia matemtica, durante os ltimos sculos do politesmo. Em virtude desta introduostemtica, este dogma fundamental tendeu, sem dvida, a estender-se, por analogia, a fenmenomplicados, antes mesmo de poderem suas leis prprias ser de qualquer modo conhecidas. Masa esterilidade efetiva, esta vaga antecipao lgica tinha ento muito pouca energia para resist

    onvenientemente ativa supremacia mental que as iluses teolgico-metafsicas ainda conservm primeiro esboo especial do estabelecimento das leis naturais em relao a cada ordem prinnmenos tornou-se em seguida indispensvel para proporcionar a semelhante noo a fora in

    ue comea a apresentar nas cincias mais avanadas. Esta convico no poderia tornar-se mesastante firme, enquanto tal elaborao no fosse de fato estendida a todas as especulaes fund

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    ois a incerteza deixada pelas mais complexas devia afetar, ento, mais ou menos, cada uma daso se pode desconhecer esta tenebrosa reao, mesmo hoje, quando, em virtude da ignorncia abitual relativa s leis sociolgicas, o princpio da invariabilidade das relaes fsicas se acha aezes sujeito a graves aliteraes at nos estudos puramente matemticos, nos quais vemos, por econizar-se diariamente um pretenso clculo das probabilidades, que supe implicitamente a a

    e toda lei real a respeito de certos acontecimentos, sobretudo quando o homem neles intervm. uando essa universal extenso se acha convenientemente esboada, condio agora preenchida pritos mais avanados, este grande principio filosfico adquire logo uma plenitude decisiva, aleis efetivas da maior parte dos casos particulares devam ficar sempre ignoradas; porque uma

    resistvel analogia aplica ento previamente a todos os fenmenos de cada ordem o que no foierificado seno para alguns dentre eles, contanto que tenham uma importncia conveniente.

    APTULO IIESTINO DO ESPRITO POSITIVO

    7. Depois de haver considerado o esprito positivo relativamente aos objetos exteriores de nosspeculaes, cumpre acabar de caracteriz-lo, apreciando tambm seu destino interior, para a sa

    ontnua de nossas prprias necessidades, quer sejam concernentes vida contemplativa, quer iva.

    Constituio completa e estvel da harmonia mental, individual e coletiva: sendo tudo referidumanidade

    8. Ainda que as necessidades puramente mentais sejam, sem dvida, as menos enrgicas de toderentes nossa natureza, sua existncia direta e permanente contudo incontestvel em todas teligncias: elas constituem o primeiro estimulo indispensvel aos nossos diversos esforos filuitas vezes atribudos especialmente aos impulsos prticos, que, na verdade, os desenvolvem mas no os poderiam fazer surgir Estas exigncias intelectuais, relativas, como todas as outras, a

    xerccio regular das funes correspondentes, reclamam sempre uma feliz combinao de estabe atividade, de onde resultam as necessidades simultneas de ordem e de progresso, ou de ligaxtenso. Durante a longa infncia da Humanidade, s as concepes teolgico-metafsicas podionforme nossas explicaes anteriores, satisfazer provisoriamente a esta dupla condio fundamnda que de modo extremamente imperfeito. Mas quando a razo humana se acha bastante amaara renunciar francamente s especulaes inacessveis e circunscrever com sabedoria sua ativiomnio verdadeiramente aprecivel por nossas faculdades, a filosofia positiva proporciona-lhe,rto, uma satisfao muito mais completa, a todos os respeitos, e tambm mais real, destas dua

    ecessidades elementares. Tal evidentemente, com efeito, sob este novo aspecto, o destino direis que ela descobre sobre os diversos fenmenos e da previso racional delas inseparvel. Em r

    ada ordem de fenmenos, tais leis devem, a este respeito, ser distinguidas em duas modalidadeonforme ligam por semelhana os que coexistem, ou por filiao os que se sucedem. Esta indisstino corresponde essencialmente, para o mundo exterior, , que ele sempre nos oferecepontaneamente entre os dois estados correlatos de existncia e de movimento; donde resulta, encia real, uma diferena fundamental entre a apreciao esttica e a apreciao dinmica de qsunto. Os dois gneros de relaes contribuem igualmente para explicar os fenmenos, e condodo semelhante a prev-los, ainda que s leis de harmonia paream a princpio destinadas sobr

    xplicao e as leis de sucesso previso. Quer se trate, com efeito, de explicar ou de prever, tu

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    duz sempre a ligar: toda ligao real, esttica ou dinmica, descoberta entre dois fenmenos quermite ao mesmo tempo explic-las e prever um pelo outro, porque a previso cientfica, convvidentemente ao presente, e mesmo ao passado, assim como ao futuro, pois consiste sempre emonhecer um fato independentemente de sua explorao direta, em virtude de suas relaes comonhecidos. Assim, por exemplo, a assimilao demonstrada, entre a gravitao celeste e a gravirrestre conduziu, em virtude das variaes pronunciadas da primeira, a prever as fracas variagunda, que a observao imediata no podia descobrir suficientemente, ainda que as tenha em

    onfirmado; assim tambm em sentido inverso, a correspondncia observada antigamente entre ementar das mars e o dia lunar ficou explicada logo que se reconheceu ser em cada ponto a el

    as guas resultante da passagem da lua pelo meridiano local. As nossas verdadeiras necessidadgicas convergem, pois, essencialmente para este comum destino: consolidar, tanto quanto poss

    ossas especulaes sistemticas, a unidade espontnea do nosso entendimento, estabelecendo aontinuidade e a homogeneidade de nossas diversas concepes e fazendo-nos achar de novo aonstncia no meio da variedade, de modo a satisfazer igualmente s exigncias simultneas da o progresso. Ora, evidente que, sob este aspecto fundamental, a filosofia positiva possuiecessariamente, para os espritos bem preparados, uma aptido muito superior que jamais pdferecer a filosofia teolgico-metafsica. Considerando esta mesmo nos tempos do seu maior ascnto mental como social, isto , no estado politico, a unidade intelectual achava-se ento certam

    onstituda de maneira muito menos completa e menos estvel do que h de permitir em breve aniversal preponderncia do esprito positivo, quando for habitualmente estendido s mais eminpeculaes. Ento, com efeito, reinar por toda a parte, sob diversos modos e em diferentes gr

    dmirvel constituio lgica, da qual s os estudos mais simples nos podem dar hoje justa idialigao e a extenso, ambas plenamente garantidas, se acham, ademais, espontaneamente solidste grande resultado filosfico no exige, alis, outra condio necessria a no ser a obrigaoermanente de restringir todas as nossas especulaes aos casos verdadeiramente acessveis,onsiderando estas relaes reais, quer de semelhana, quer de sucesso, como capazes apenas donstituir, para ns simples fatos gerais, que cumpre procurar reduzir ao menor nmero possvelue o mistrio de sua produo jamais possa ser penetrado de modo algum, conforme o carter

    ndamental do esprito positivo. Mas se somente esta constncia efetiva das ligaes naturais alidade, aprecivel por ns, tambm s ela basta plenamente s nossas verdadeiras necessidade

    e contemplao, quer de direo.

    9. Importa, contudo, reconhecer, em principio, que, sob o regime positivo, a harmonia de nossaoncepes se acha necessariamente limitada, at certo ponto, pela obrigao fundamental de sualidade, isto , de uma suficiente conformidade com tipos independentes de ns. Em seu cego

    e ligao, nossa inteligncia aspira a poder quase sempre ligar entre si dois fenmenos quaisqumultneos ou sucessivos; mas o estudo do mundo exterior demonstra, ao contrrio, que muitassociaes seriam puramente quimricas, e que uma multido de acontecimentos se realiza

    ontinuamente sem nenhuma real dependncia mtua; de sorte que este pendor indispensvel promo nenhum outro, ser regulado por s apreciao geral. Habituado, durante muito tempo, a umpcie de unidade de doutrina, por mais vaga e ilusria que devesse ser, sob o imprio das ficolgicas e das entidades metafsicas, o esprito humano, passando para o estado positivo, tentoduzir as diversas ordens de fenmenos a uma lei comum. Mas todos os ensaios realizados dura

    ois ltimos sculos, para obter unia explicao universal da natureza, apenas conseguiram desadicalmente tal empreendimento, de ora em diante abandonado s inteligncias mal cultivadas. diciosa explicao do mundo exterior o representou como sendo muito menos ligado do que o

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    deseja o nosso entendimento, predisposto, por sua prpria fraqueza, a multiplicar relaes favosua marcha, e, sobretudo, ao seu repouso. No somente as seis categorias fundamentais questinguiremos mais adiante entre os fenmenos naturais, no poderiam ser todas certamente subuma nica lei universal, como tambm podemos assegurar agora que a unidade de expl1cao,ocurada por tantos espritos srios em relao a cada uma delas, tomada parte, nos finalmeterdita, mesmo neste domnio muito mais restrito. A Astronomia fez nascer, sob este aspecto,peranas demasiado empricas, que nunca se poderiam realizar para os fenmenos mais compl

    em mesmo quanto Fsica propriamente dita, cujos cinco ramos principais ficaro sempre distintre si, apesar de suas incontestveis relaes. Freqentemente nos achamos dispostos a exager

    convenientes lgicos dessa disperso necessria, porque apreciamos mal as vantagens reais qupresenta a transformao das indues em dedues. Todavia cumpre reconhecer francamente mpossibilidade direta de reduzir tudo a uma nica lei positiva como grave imperfeio, conseq

    evitvel da condio humana, que nos fora a aplicar uma inteligncia muito fraca a um univeomplicadssimo.

    0. Mas esta incontestvel necessidade, que importa reconhecer, a fim de evitar vo desperdcioentais, no impede de modo algum a cincia real de comportar, sob outro aspecto, suficiente uosfica, equivalente s que a Teologia ou Metafsica constituram passageiramente, e, alis, mperior, tanto em estabilidade como em plenitude. Para perceber-lhe a possibilidade e apreciar-

    atureza, preciso recorrer, em primeiro lugar, luminosa distino geral esboada por Kant enois pontos de vista objetivo e subjetivo, peculiares a qualquer estudo. Considerada sob o primepecto, isto , quanto ao destino exterior das nossas teorias, como exata representao do mund

    ossa cincia no , certamente, suscetvel de plena sistematizao, em virtude da inevitvel divntre os fenmenos fundamentais. Neste sentido no devemos procurar outra unidade seno a doositivo encarado em seu conjunto, sem pretender verdadeira unidade cientfica, mas somente aomogeneidade e a convergncia das diversas doutrinas. O mesmo no acontece sob o outro aspquanto origem interior das teorias humanas, encaradas como resultados naturais de nossa evental, ao mesmo tempo individual e coletiva, destinadas satisfao normal de nossas prprias

    ecessidades, sejam fsicas, intelectuais ou morais. Referidos assim, no ao universo, mas ao hontes Humanidade, nossos conhecimentos reais tendem, ao revs, com evidente espontaneidadma completa sistematizao, tanto cientfica como lgica. No devemos mais ento conceber, nno uma nica cincia, a cincia humana, ou mais exatamente, social, da qual nossa existncia

    onstitui ao mesmo tempo o princpio e o fim, e na qual vem naturalmente fundir-se o estudo racundo exterior, sob o duplo titulo de elemento necessrio e de prembulo fundamental, igualmedispensvel quanto ao mtodo e quanto doutrina, como explicarei mais adiante. s assim q

    ossos conhecimentos positivos podem formar um verdadeiro sistema, de modo a oferecerem umenamente satisfatrio. A prpria Astronomia, ainda que objetivamente mais perfeita do que osmos da filosofia natural, em razo da sua simplicidade superior, no verdadeiramente tal sen

    te aspecto humano, porque o conjunto deste Tratado far sentir com clareza que ela deveria, peontrrio, ser julgada muito imperfeita se a referssemos ao universo e no ao homem; pois todoossos estudos reais so ai por fora limitados ao nosso mundo, que, entretanto, constitui apenasemento mnimo do universo, cuja explorao nos essencialmente interdita, Tal , pois, a disperal que deve enfim. prevalecer na genuna filosofia positiva, no s quanto s teorias diretamelativas ao homem e sociedade, mas tambm em relao s que concernem aos mais simplesnmenos, os mais afastados, em aparncia desta comum apreciao: conceber todas as nossaspeculaes como produtos de nossa inteligncia, destinados a satisfazer s nossas diversas

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    ecessidades essenciais, sem se afastarem nunca do homem seno para melhor voltarem a ele, daver sido feito o estudo dos outros fenmenos na medida em que o seu conhecimento se tornadispensvel, quer para desenvolver nossas foras, quer para apreciar nossa natureza e nossa coode-se desde ento perceber como a noo preponderante da Humanidade deve necessariamenonstituir, no estado positivo, uma plena sistematizao mental, pelo menos equivalente que afomportar a idade teolgica com a grande concepo de Deus, to fracamente substituda em sete respeito, durante a transio metafsica, pelo vago pensamento da Natureza.

    1. Depois de haver caracterizado a aptido espontnea do esprito positivo para estabelecer a un

    nal do nosso entendimento, torna-se fcil completar esta explicao fundamental, estendendo-adivduo espcie. Esta indispensvel extenso era, at agora, essencialmente impossvel aos fiodernos, que, no tendo podido libertar-se assaz do estado metafsico, nunca se colocaram no psta social, nico suscetvel contudo de uma plena realidade, tanto cientfica como lgica, pois

    o se desenvolve isoladamente, mas coletivamente. Afastando, como radicalmente estril, ou auitssimo prejudicial, esta viciosa abstrao de nossos psiclogos ou idelogos, a tendncia sis

    ue acabamos de apreciar no esprito positivo adquire enfim toda a sua importncia, porque mosverdadeiro fundamento filosfico da sociabilidade humana, tanto pelo menos quanto esta depeteligncia, cuja capital influncia, ainda que de nenhum modo exclusiva, no poderia ser ai conde fato, o mesmo problema humano, com diversos graus de dificuldade, quer se trate de const

    nidade lgica de cada entendimento isolado ou de estabelecer uma convergncia duradoura entntendimentos distintos, cujo nmero no poderia essencialmente influir seno sobre a rapidez dperao. Tambm, em qualquer tempo, aquele que pde tornar-se bastante conseqente adquiriso mesmo, a faculdade de reunir gradualmente os outros, em virtude da semelhana fundamenossa espcie. A filosofia teolgica no foi, durante a infncia da Humanidade, a nica prpria pstematizar a sociedade seno por ser ento a fonte exclusiva de certa harmonia mental. Se, poisprito positivo passou irrevogavelmente, de ora avante, o privilgio da coerncia lgica, o que

    ode, a srio, ser contestado, cumpre desde ento nele reconhecer tambm o nico princpio efetande comunho intelectual que se torna a base necessria de toda verdadeira associao huma

    uando convenientemente ligada s duas outras condies fundamentais uma suficiente conformntimentos e uma certa convergncia de interesses. A deplorvel situao filosfica do escol daumanidade bastaria hoje para dispensar, a este respeito, qualquer discusso, pois nele no se obais verdadeira comunidade de opinies seno sobre assuntos j reduzidos a teorias positivas, ofelizmente, no so, antes muito pelo contrrio, os mais importantes. Uma apreciao direta e

    ue seria deslocada aqui, faz, alis, perceber facilmente que s a filosofia positiva pode realizar ouco este nobre projeto de associao universal, que o catolicismo esboou prematuramente nadia, mas que era, no fundo, necessariamente incompatvel, como a experincia plenamente o

    emonstra, com a natureza teolgica da sua filosofia, a qual institua uma coerncia lgica muitoodo a comportar semelhante eficcia social.

    Harmonia entre a cincia e a arte, entre a teoria positiva e a prtica.

    2. Achando-se assaz e definitivamente caracterizada a aptido fundamental do esprito positivolao vida especulativa, s nos resta apreci-la tambm em relao vida ativa, que, sem poostrar nele nenhuma propriedade verdadeiramente nova, manifesta, de maneira muito mais combretudo mais decisiva, o conjunto dos atributos que lhe temos reconhecido. Ainda que as concolgicas tenham sido, mesmo sob este aspecto, por muito tempo necessrias a fim de despertar

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    stentar o ardor do homem pela esperana indireta de uma espcie de imprio ilimitado, foi, eneste respeito que o esprito humano testemunhou primeiro sua predileo final pelos conhecimais. E, com efeito, sobretudo como base racional da ao da Humanidade sobre o mundo extertudo positivo da natureza comea hoje a ser universalmente estimado, Nada mais criterioso, ndo, do que este julgamento vulgar e espontneo; porque tal destino, quando convenientement

    preciado, lembra necessariamente, num resumo muito feliz, todos os grandes caracteres do verdprito filosfico, no s quanto racionalidade, mas tambm quanto positividade. A ordem n

    ue resulta, em cada prtico, do conjunto das leis dos fenmenos correspondentes, deve evidenter-nos primeiro bem conhecida para que possamos ou modific-la para nossa vantagem, ou, pel

    daptar-lhe nossa conduta, se for de todo impossvel intervirmos nela, como se d em relao aoontecimentos celestes. Tal aplicao especialmente prpria para tornar familiarmente aprecieviso racional que vimos constituir, sob todos os aspectos, o principal carter da verdadeira c

    orque a pura erudio, onde os conhecimentos, reais mas incoerentes, consistem em fatos e noo podia evidentemente, bastar para dirigir nossa atividade: seria suprfluo insistir aqui sobre uxplicao to pouco contestvel. verdade que a exorbitante preponderncia concedida agora ateresses materiais conduziu demasiadas vezes o homem a compreender esta ligao necessriacomprometer gravemente o futuro da cincia, pois tendeu a reduzir as especulaes positivas spesquisas de utilidade imediata. Mas esta cega disposio resulta apenas da maneira falsa e es

    onceber a grande relao entre a cincia e a arte, por no terem uma e outra sido apreciadas comastante profundeza. O estudo da Astronomia o mais prprio de todos para corrigir semelhantendncia, seja porque sua simplicidade superior permite perceber melhor seu conjunto, seja em a espontaneidade mais ntima das aplicaes correspondentes que, h vinte sculos, se acham avidentemente ligadas s mais sublimes especulaes, como este Tratado o far claramente comas importa sobretudo reconhecer bem, a este respeito, que a relao fundamental entre a cinc

    o pde at agora ser convenientemente concebida, mesmo pelos melhores espritos, o que umonseqncia necessria da extenso insuficiente da filosofia natural, que permanece ainda estraesquisas mais importantes e mais difceis, as que concernem diretamente sociedade humana. eito, a concepo racional da ao do homem sobre a natureza ficou assim essencialmente lim

    undo inorgnico, de onde resultaria uma excitao cientfica demasiado imperfeita. Quando esmensa lacuna tiver sido suficientemente preenchida, como comea a s-lo hoje, poder-se- sentmportncia fundamental deste grande destino prtico para estimular habitualmente, e muitas veesmo para dirigir melhor as mais eminentes especulaes, sob a nica condio normal de uma

    onstante positividade. E, de fato, a arte no ser mais ento unicamente geomtrica, mecnica oumica, etc., mas tambm, e sobretudo, poltica e moral, devendo a principal ao exercida pelaumanidade consistir, sob todos os aspectos, no melhoramento contnuo da sua prpria naturezadividual ou coletiva, entre os limites que o conjunto das leis reais indica, como em qualquer ouuando esta solidariedade espontnea da cincia com a arte puder ser assim convenientemente

    ganizada, no se pode duvidar que, muito longe de tender a restringir de qualquer modo as sspeculaes filosficas, ela lhes designar, ao contrrio, um destino final muito superior ao seuetivo, se se no tivesse reconhecido previamente, como princpio geral, a impossibilidade de jarnar a arte puramente racional, isto , de elevar nossas previses tericas ao verdadeiro nvel d

    ecessidades prticas. Mesmo nas artes mais simples e mais perfeitas, torna-se constantementedispensvel um desenvolvimento direto e espontneo, sem que as indicaes cientficas o poss

    aso algum, substituir completamente. Por mais satisfatrias, por exemplo, que se tenham tornadevises astronmicas, sua previso ainda, e ser provavelmente sempre, inferior s nossas ju

    xigncias prticas, como terei amide ocasio de indicar.

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    3. Esta tendncia espontnea para constituir diretamente uma inteira harmonia entre a vida ativpeculativa deve ser considerada finalmente como o privilgio mais feliz do espirito positivo, p

    enhuma outra das suas propriedades pode manifestar-lhe to bem o verdadeiro carter e facilitacendente real. Nosso ardor especulativo acha-se assim sustentado, e mesmo dirigido, por podetmulo contnuo, sem o qual a inrcia natural de nossa inteligncia a disporia muitas vezes a saas fracas necessidades tericas por explicaes fceis, mas insuficientes, ao passo que o pensao final lembra sempre a condio de conveniente previso. Ao mesmo tempo este grande destico completa e circunscreve, em cada caso, o preceito fundamental relativo ao descobriment

    aturais, tendendo a determinar, de acordo com as exigncias da aplicao, o grau de preciso e

    xtenso de nossa previdncia racional, cuja exata medida no poderia, em geral, ser fixada de oodo. Se, por um lado, a perfeio cientfica no pode ultrapassar esse limite, abaixo do qual, ao

    ontrrio, h de realmente ficar sempre, por outro lado, se o transpusesse, cairia logo numa apreemasiado minuciosa, no menos quimrica do que estril, que finalmente comprometeria mesm fundamentos da verdadeira cincia, pois nossas leis no podem nunca representar os fenmen

    om uma certa aproximao, alm da qual seria to perigoso como intil levar nossas pesquisas.ta relao fundamental da cincia com a arte for convenientemente sistematizada, ela tender a

    ezes, sem dvida, a desacreditar tentativas tericas cuja esterilidade radical seria incontestvel;nge de oferecer qualquer inconveniente real, essa inevitvel disposio se tomar desde ento

    vorvel aos nossos verdadeiros interesses especulativos, impedindo o vo desperdcio de nossaras mentais que resulta muito freqentemente hoje de cega especializao. Em sua evoluoeliminar o esprito positivo teve de apegar-se por toda a parte a quaisquer questes que se lhe tessveis, sem indagar muito de sua importncia final, que resultava de sua relao prpria com

    onjunto que, a princpio, no podia ser percebido. Mas este instinto provisrio sem o qual teria uitas vezes o alimento conveniente cincia, deve acabar por subordinar-se habitualmente a u

    preciao sistemtica, logo que a plena madureza do estado positivo tiver permitido perceber aerdadeiras relaes de cada parte com o todo, de modo a oferecer constantemente um largo desais eminentes pesquisas, evitando, entretanto, toda especulao pueril.

    4. A propsito desta ntima harmonia entre a cincia e a arte, importa enfim notar especialmentndncia que dela resulta para desenvolver e consolidar o ascendente social da s filosofia, comonseqncia espontnea da preponderncia crescente que a vida industrial obtm evidentementvilizao moderna. A filosofia teolgica s podia realmente convir a essa fase necessria deciabilidade preliminar, em que a atividade humana deve ser essencialmente militar, a fim de padualmente uma associao normal e completa, a princpio impossvel, conforme a teoria histhures estabeleci. O politesmo adaptava-se especialmente ao sistema de conquista da antigidaonotesmo organizao defensiva da Idade Mdia. Fazendo prevalecer cada vez mais a vidadustrial, a sociabilidade moderna deve, pois, secundar poderosamente a grande evoluo menteva hoje definitivamente nossa inteligncia do regime teolgico ao positivo. Esta tendncia di

    iva ao melhoramento prtico da condio humana necessariamente pouco compatvel com aseocupaes religiosas, sempre relativas, sobretudo no monotesmo, a um destino muito diferenm disso, semelhante atividade de natureza a suscitar finalmente uma oposio universal, toofunda como espontnea, a toda filosofia teolgica. Por um lado, com efeito, a vida industrial ndo, diretamente contrria a todo otimismo providencial, pois supe necessariamente que a or

    atural to imperfeita, que exige sempre a contnua interveno humana, ao passo que a Teolodmite logicamente outro meio de modific-la a no ser apelando para o apoio sobrenatural. Emgar, esta oposio, inerente ao conjunto de nossas concepes industriais, se reproduz, continu

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    b formas muito variadas, na realizao especial de nossas operaes, nas quais devemos encarundo exterior, no como dirigido por quaisquer vontades, mas como submetido a leis, suscetv

    os permitir uma suficiente previso, sem a qual nossa atividade prtica no comportaria nenhumcional. Assim, a mesma correlao bsica, que torna a vida industrial to favorvel ao ascendeosfico do esprito positivo, lhe imprime, sob outro aspecto, uma tendncia antiteolgica, maienos pronunciada, mas cedo ou tarde inevitvel, quaisquer que tenham sido os esforos contnbedoria do sacerdcio para conter ou temperar o carter antiindustrial da primitiva filosofia, covida guerreira era a nica suficientemente concilivel. Tal a ntima solidariedade que faz todpritos modernos, mesmo os mais grosseiros e os mais rebeldes, participarem involuntariamen

    uito tempo, da substituio gradativa da antiga filosofia teolgica por uma filosofia plenamentositiva, nica suscetvel, de ora em diante, de verdadeiro ascendente social.

    . Incompatibilidade final da cincia com a Teologia

    5. Somos assim conduzidos a completar enfim a apreciao direta do genuno esprito filosficma ltima explicao que,. embora sendo sobretudo negativa, se torna, na realidade, indispensara acabar de caracterizar suficientemente a natureza e as condies da grande renovao mentecessria ao escol da Humanidade, manifestando diretamente a incompatibilidade final das conositivas com quaisquer opinies teolgicas, tanto monoticas como politicas ou fetchicas. As

    onsideraes indicadas neste Discurso j demonstraram implicitamente a impossibilidade de quonciliao duradoura entre as duas filosofias, seja quanto ao mtodo ou quanto doutrina;, de mda incerteza a este respeito pode ser, aqui facilmente dissipada. Sem dvida a cincia e a Teoloacham a princpio em oposio aberta, pois se no propem as mesmas questes; e foi isto qu

    ermitiu durante muito tempo o desenvolvimento parcial do esprito positivo, apesar do ascendeo esprito teolgico, e, mesmo, a muitos respeitos, sob a sua tutela preliminar. Mas quando aositividade racional, limitada a princpio, s humildes pesquisas ,matemticas, que a Teologia tesdenhado especialmente empreender, comeou a estender-se ao estudo direto da natureza, sobelas teorias astronmicas a coliso tornou-se inevitvel, ainda que latente, em virtude do contra

    ndamental, ao mesmo tempo cientfico e lgico, desde ento progressivamente desenvolvido euas ordens de idias. Os motivos lgicos em virtude dos quais a cincia se interdiz de modo radisteriosos problemas de que se ocupa essencialmente a Teologia, so de natureza a desacreditarde, entre os bons espritos, especulaes que no se evitam seno por serem necessariamenteacessveis razo humana. Alm disso, a prudente reserva com que o esprito positivo procedetudando pouco a pouco assuntos muito fceis, deve fazer apreciar indiretamente a louca temerprito teolgico a respeito das mais difceis questes. Todavia especialmente pelas doutrinascompatibilidade das duas filosofias deve manifestar-se na maior parte das inteligncias, muitoteressadas, de ordinrio, nas simples dissidncias de mtodo, ainda que estas sejam, no fundo, aves, por serem a fonte necessria de todas as outras. Ora, sob este novo aspecto, no se pode

    conhecer a oposio radical das duas ordens de concepes, onde os mesmos fenmenos so oribudos a vontades diretoras, ora reduzidos a leis invariveis. A imobilidade irregular, naturalpria a toda idia de vontade, no pode de modo algum concordar com a constncia das relaambm medida que as leis fsicas foram conhecidas, o imprio das vontades sobrenaturais acada vez mais restringido, sendo sempre consagrado sobretudo aos fenmenos cujas leis permannoradas. Tal incompatibilidade torna-se diretamente evidente, quando se ope a previso racio

    onstitui o principal carter da verdadeira cincia, adivinhao por meio da revelao especialeologia deve representar como o nico meio legtimo de conhecer o futuro. verdade que o es

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    ositivo, chegado sua completa madureza, tende tambm a subordinar a prpria vontade a verdis, cuja existncia , com efeito, tacitamente suposta pela razo vulgar, pois os esforos prticoodificar e prever as vontades humanas no poderiam ter sem isto nenhum fundamento razovemelhante noo no conduz de modo algum a conciliar as duas maneiras opostas segundo as qncia e a Teologia concebem necessariamente a direo efetiva dos diversos fenmenos. Tal pconduta que dela resulta exigem, de fato, evidentemente um profundo conhecimento real do seo qual as vontades se produzem. Ora, este fundamento preliminar s poderia provir de um ser penos igual, julgando assim por semelhana; no o podemos conceber da parte de um inferior, e

    ontradio aumenta com a desigualdade de natureza. Tambm a Teologia sempre repeliu a pret

    enetrar de qualquer modo os desgnios da Providncia, assim como seria absurdo supor aos aniferiores a faculdade de prever as vontades do homem ou dos outros animais superiores. , conta louca hiptese que seramos necessariamente conduzidos para afinal conciliar o esprito teo

    om o positivo.

    6. Historicamente considerada, a oposio radical destes dois espritos, existente em todas as fasenciais da filosofia inicial, em geral h muito admitida relativamente quelas fases que as

    opulaes mais avanadas transpuseram completamente. mesmo certo que, a respeito delas, sxagera muito tal incompatibilidade em conseqncia do desdm absoluto que nossos hbitosonoticos inspiram de modo cego para com os dois estados anteriores do regime teolgico. A

    osofia, sempre obrigada a apreciar a maneira necessria segundo a qual cada uma das grandescessivas da Humanidade efetivamente concorreu para a nossa evoluo fundamental, h de ret

    uidadosamente estes injustos preconceitos, que dificultam toda verdadeira teoria histrica. Maspolitesmo e mesmo o fetichismo, hajam, a princpio, secundado realmente o surto espontneoprito de observao, deve-se, entretanto, reconhecer que no podiam ser verdadeiramente com

    om o sentimento gradual da invariabilidade das relaes fsicas, logo que tal sentimento pde arta consistncia sistemtica. Devemos assim conceber essa inevitvel oposio como a principcreta das diversas transformaes que sucessivamente decompuseram a filosofia teolgica, red

    ada vez mais. aqui o lugar de completar, a este propsito, a indispensvel explicao indicad

    omeo deste Discurso, onde essa dissoluo gradual foi especialmente atribuda ao esprito metopriamente dito, que, no fundo, no podia ser seno o simples rgo de tal dissoluo e nuncaerdadeiro agente. Cumpre, com efeito, notar que o esprito positivo, em virtude da falta de geneue devia caracterizar-lhe a lenta evoluo parcial, no podia formular convenientemente suas pndncias filosficas, que apenas se tornaram sensveis durante nossos ltimos sculos. Dai resuecessidade especial da interveno metafsica, nica que podia sistematizar convenientemente posio espontnea da cincia nascente antiga Teologia. Mas, ainda que tal ofcio tenha feito uito a importncia efetiva deste esprito transitrio, , contudo, fcil reconhecer que s o progr

    atural dos conhecimentos reais dava sria consistncia sua ruidosa atividade. Esse progresso cue, no fundo, tinha determinado, antes, a transformao do fetichismo em politesmo, constitui

    guida, sobretudo a fonte essencial da reduo do politesmo ao monotesmo. Como a coliso sincipalmente pelas teorias astronmicas, este Tratado me fornecer a oportunidade de caracterau preciso de seu desenvolvimento, ao qual cumpre atribuir, na realidade, a irrevogvel decadental do regime politico, que havemos de reconhecer ento ser logicamente incompatvel comndao decisiva da Astronomia Matemtica pela escola de Tales.

    7. O estudo racional de semelhante oposio demonstra claramente que ela no podia limitar-seeologia antiga e que teve de estender-se depois ao prprio monotesmo, embora a sua energia d

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    arte, ingnua admirao pelo modo por que se realizavam os principais fenmenos constitutivodem real. Mas essa disposio inicial tende em seguida a desaparecer, no menos necessariamedida que o esprito positivo, adquirindo um carter cada vez mais sistemtico, substitui, pouc

    ouco, o dogma das causas finais pelo princpio das condies de existncia, que oferece num grto, todas as propriedades lgicas desse dogma, sem apresentar nenhum dos seus graves perigosentficos. Deixam, ento, os homens de admirar que a constituio dos seres naturais se ache, e

    aso, disposta de maneira a permitir a realizao de seus fenmenos efetivos. Ao estudar, com csa inevitvel harmonia, com o nico desgnio de a conhecer melhor, so logo notadas as profu

    mperfeies que apresenta, a todos os respeitos, a ordem real, quase sempre inferior em sabedo

    onomia artificial que a nossa fraca interveno humana estabelece em seu limitado campo. Cocios naturais devem ser tanto maiores quanto mais complicados so os fenmenos consideradodicaes irrecusveis que o conjunto da Astronomia nos h de oferecer, sob este aspecto, bastazer pressentir aqui como semelhante apreciao deve estender-se, com uma nova energia filosdas as outras partes essenciais da verdadeira cincia. Mas importa sobretudo compreender, emspeito de semelhante crtica, que ela no tem apenas um destino passageiro, a ttulo de meio

    ntiteolgico. Ela liga-se, de maneira mais ntima e mais durvel, ao esprito fundamental da filoositiva, na relao geral entre a especulao e a ao. Se, por um lado, nossa interveno ativa ermanente repousa, antes de tudo, sobre o exato conhecimento da economia natural, da qual no

    onomia artificial deve constituir apenas, sob todos os aspectos, o melhoramento progressivo, nenos certo, por outro lado, que supomos assim a imperfeio necessria dessa ordem espontnodificao gradual constitui o fim de todos os nossos esforos dirios, individuais ou coletivosbstraindo-se de qualquer crtica passageira, a justa apreciao dos diversos inconvenientes pr

    onstituio efetiva do mundo real deve, pois, ser concebida de ora avante como inerente ao conosofia positiva, mesmo em relao aos casos inacessveis aos nossos fracos meios de aperfeiofim de conhecer melhor, quer nossa condio fundamental, quer o destino essencial de nossa cividade.

    APTULO III

    TRIBUTOS CORRELATOS DO ESPRITO POSITIVO E DO BOM-SENSODa palavra positivo: suas diversas acepes resumem os atributos do verdadeiro esprito fil

    0. O concurso espontneo das diversas consideraes gerais indicadas neste Discurso basta pararacterizar aqui, sob todos os aspectos principais, o verdadeiro esprito filosfico, que, aps lenvoluo preliminar, atinge hoje o seu estado sistemtico. Tendo em vista a evidente obrigao eos colocamos de qualific-lo habitualmente, daqui por diante, por uma denominao curta e espve de preferir aquela a que esta universal preparao atribuiu cada vez mais, durante os trs ltculos, a preciosa propriedade de resumir o melhor possvel o conjunto dos seus atributos funda

    omo todos os termos vulgares elevados assim gradualmente dignidade filosfica, a palavra pferece, em nossas lnguas ocidentais, vrias acepes distintas, mesmo que se afaste o sentido gue lhe do os espritos mal cultivados. Importa, porm, notar aqui que todos esses diversos signonvm igualmente nova filosofia geral, cujas diferentes qualidades caractersticas indicamternadamente: assim essa aparente, ambigidade no oferecer de agora em diante nenhumconveniente real. Convir ver nisso, ao contrrio, um dos principais exemplos dessa admirvel

    ondensao de frmulas que, nas populaes avanadas, reuniu, sob uma nica expresso usuaributos distintos, quando a razo pblica chegou a reconhecer sua ligao permanente.

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    1. Considerada, em primeiro lugar, em sua acepo mais antiga e mais comum, a palavra positiesigna o real em oposio ao quimrico: neste sentido, convm plenamente ao novo esprito filue fica assim caracterizado pela sua constante consagrao s indagaes verdadeiramente aceossa inteligncia, com a excluso efetiva dos impenetrveis mistrios com que se ocupava sobra infncia. Num segundo sentido muito prximo do precedente, mas, entretanto, distinto, este ndamental indica o contraste entre o til e o ocioso: lembra ento, em Filosofia, que o destino

    ecessrio de todas as nossas ss especulaes o melhoramento contnuo de nossa verdadeira cdividual e coletiva, e no a v satisfao de uma curiosidade estril. Conforme um terceiro sigual, esta feliz expresso empregada freqentemente para qualificar a oposio entre a certezadeciso: ela indica, assim, a capacidade caracterstica de semelhante filosofia para constituirpontaneamente a harmonia lgica no indivduo e a comunho espiritual na espcie inteira, em

    essas dvidas indefinidas e desses debates interminveis que o antigo regime mental devia suscma quarta acepo ordinria, demasiadas vezes confundida com a precedente, consiste em opoeciso ao vago: este sentido lembra a tendncia constante do verdadeiro esprito filosfico parada a parte o grau de preciso compatvel com a natureza dos fenmenos e conforme exignci

    ossas reais necessidades; ao passo que a antiga maneira de filosofar conduzia necessariamente pinies vagas, por no comportar a indispensvel disciplina seno em virtude de contnua comppoiada na autoridade sobrenatural.

    2. Cumpre enfim notar especialmente uma quinta aplicao menos usada do que as outras, embualmente universal, quando se emprega o vocbulo positivo como o contrrio de negativo. Sobpecto ele indica uma das mais eminentes propriedades da genuna filosofia moderna, mostrand

    estinada, sobretudo por sua natureza, no a destruir, mas a organizar. Os quatro caracteres gerambrados distinguem-na, ao mesmo tempo, de todos os modos possveis, quer teolgicos, queretafsicos, peculiares filosofia inicial. Esta ltima significao, que indica, alm disso, a tend

    ontnua do novo esprito filosfico, oferece hoje especial importncia por caracterizar diretameas suas principais diferenas, no mais do esprito teolgico que foi durante muito tempo orgno esprito metafsico propriamente dito, que nunca pde deixar de ser crtico. Qualquer que haj

    om efeito, a ao dissolvente da cincia real, esta influncia foi sempre nela puramente indiretacundria: sua prpria falta de sistematizao impedia at aqui que fosse de outro modo, e o grafcio orgnico, que agora lhe cabe, se oporia, daqui por diante, a essa atribuio acessria, que is, a tornar suprflua. A s filosofia afasta radicalmente, verdade, todas as questes necessarsolveis; mas, motivando-lhes a rejeio, evita negar qualquer coisa a seu respeito, o que seria

    ontraditrio ao desuso sistemtico pelo qual devem extinguir-se todas as opinies que no soerdadeiramente suscetveis de discusso. Sendo igualmente indiferente a todas elas, e, por consais imparcial e tolerante em relao a cada uma do que os seus opostos partidrios, a s filosof

    plica-se a apreciar-lhes historicamente a influncia respectiva, as condies de sua durao e ose sua decadncia, sem jamais pronunciar qualquer negao absoluta, mesmo quando se trata daoutrinas mais antipticas ao estado presente da razo humana entre as populaes de escol. aesta escrupulosa justia, no somente aos diversos sistemas de monotesmo diferentes do que e

    oje entre ns, mas tambm s crenas politicas, ou mesmo fetchicas, referindo-as sempre s forrespondentes da evoluo fundamental. Sob o aspecto dogmtico, ela professa alm disso quoncepes de nossa imaginao, quando sua natureza as torna necessariamente inacessveis a tobservao, no so mais desde ento suscetveis de negativa ou de afirmao verdadeiramenteecisivas. Ningum, sem dvida, jamais demonstrou logicamente a inexistncia de Apolo, de Mc., nem a das fadas orientais ou das vrias criaes poticas; o que de nenhum modo impediu o

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    umano de abandonar irrevogavelmente os dogmas antigos, quando deixaram enfim de convir aonjunto de sua situao.

    3. O nico carter essencial do novo esprito filosfico que ainda no indicado pela palavra ponsiste na sua tendncia necessria a substituir por toda a parte o absoluto pelo relativo. Mas esributo, a um tempo cientfico e lgico, por tal forma inerente natureza fundamental dos

    onhecimentos reais, que sua considerao geral no tardar a ligar-se intimamente aos diversosue essa frmula j combina, quando o moderno regime intelectual, at aqui parcial e emprico, omumente ao estado sistemtico. A quinta acepo, que acabamos de apreciar, especialmente

    ara determinar esta ltima condensao da nova linguagem filosfica, desde ento plenamenteonstituda, conforme a afinidade evidente das duas propriedades. Concebe-se, com efeito, que aatureza absoluta das antigas doutrinas, quer teolgicas, quer metafsicas, determinasse necessarada uma delas a tornar-se negativa em relao a todas as outras, sob pena de degenerar em eclebsurdo. , pelo contrrio, em virtude de seu gnio relativo que a nova filosofia pode apreciar sealor prprio das teorias que lhes so mais opostas, sem todavia fazer nunca qualquer v concesscetvel de alterar a nitidez de suas vistas ou a firmeza de suas decises. H, pois, na verdade,

    ara presumir-se, de acordo com o conjunto de semelhante apreciao especial, que a frmula emqui para qualificar habitualmente esta filosofia definitiva lembrar de ora em diante, a todos os pritos, a inteira combinao efetiva de suas diversas propriedades caractersticas.

    Correlao espontnea, e depois sistemtica, entre o esprito positivo e o bom senso univer

    4. Quando se procura a origem fundamental de semelhante maneira de filosofar, no se tarda aconhecer que sua espontaneidade elementar coincide realmente com os primeiros exerccios przo humana, porque o conjunto das explicaes dadas neste Discurso demonstra claramente qu seus atributos principais so, no fundo, os mesmos que os do bom senso universal. Apesar docendente mental da mais grosseira Teologia, a conduta diria da vida ativa suscitou sempre, emcada ordem de fenmenos, certo esboo das leis naturais e das previses correspondentes, em asos particulares, que pareciam ento apenas secundrios ou excepcionais; ora, tais so, com efermes necessrios da positividade, que devia por muito tempo permanecer emprica antes de pornar-se racional. Muito importa compreender que, sob todos os aspectos essenciais, o verdadeiprito filosfico consiste sobretudo na extenso sistemtica do simples bom senso a todas aspeculaes verdadeiramente acessveis. Seu domnio radicalmente idntico, pois as maiores

    a s filosofia se referem por toda a parte aos fenmenos mais vulgares, em relao aos quais ostificiais constituem apenas uma preparao mais ou menos indispensvel. So, de um e outro lesmo ponto de partida experimental, o mesmo objetivo de ligar e prever, a mesma preocupa

    ontnua de realidade, a mesma inteno final de utilidade. Toda sua diferena essencial consisteeneralidade sistemtica de um, resultante de sua abstrao necessria, oposta incoerente espe

    o outro, sempre ocupado com o concreto.5. Encarada sob o aspecto dogmtico, esta conexidade fundamental representa a cincia propriata como um simples prolongamento metdico da sabedoria universal. Assim, muito longe de j

    m dvida o que esta verdadeiramente decidiu, as ss especulaes filosficas devem sempre tommprstimo razo comum suas noes iniciais para faz-las adquirir, por uma elaborao sistem grau de generalidade e de consistncia que no podiam espontaneamente obter. Durante o cuma tal elaborao o controle permanente da sabedoria vulgar conserva, alm disso, alta importm de evitar, tanto quanto possvel, as diversas aberraes, por negligncia ou por iluso, que m

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    ezes suscita o estado contnuo de abstrao indispensvel atividade filosfica. Apesar da sua ecessria, o bom senso propriamente dito deve preocupar-se sobretudo com a realidade e a utiliasso que o esprito filosfico tende a apreciar mais a generalidade e a ligao, de modo que suaao diria se torna por igual favorvel a ambos, consolidando em cada um as qualidades fund

    ue nele se alterariam naturalmente. Semelhante relao indica logo como so necessariamente treis as indagaes especulativas, dirigidas, em qualquer assunto, para os primeiros princpio

    evendo sempre emanar da sabedoria vulgar, no pertencem nunca ao verdadeiro domnio da ciual constituem, ao revs, os fundamentos espontneos e desde ento indiscutveis, o que corta pma imensidade de controvrsias ociosas ou perigosas, deixadas pelo antigo regime. Pode-se igu

    ntir assim a profunda inanidade final de todos os estudos preliminares relativos lgica abstratrata de apreciar o verdadeiro mtodo filosfico, sem nenhuma aplicao a qualquer ordem de

    nmenos. E, de fato, os nicos princpios realmente gerais que, a este respeito, possamos estabreduzem necessariamente, como fcil verificar nos mais clebres desses aforismos, a algum

    ximas incontestveis, mas evidentes, tiradas da razo comum e que verdadeiramente nada de rescentam s indicaes que resultam, em todos os bons espritos, de simples exerccio espontuanto maneira de adaptar essas regras universais s diversas ordens de nossas especulaes pque constituiria a verdadeira dificuldade e a utilidade real de tais preceitos lgicos, ela no pod

    omportar slida apreciao seno aps uma anlise especial dos estudos correspondentes, de

    onformidade com a natureza prpria dos fenmenos considerados. A s filosofia no separa, pounca a Lgica da cincia, pois o mtodo e a doutrina no podem ser bem julgados, em cada case acordo com as suas verdadeiras relaes mtuas: no mais possvel, no fundo, dar Lgicaomo cincia, um carter universal atravs de concepes puramente abstratas, independentes fenmenos determinados; as tentativas deste gnero indicam ainda a secreta influncia d esp

    bsoluto inerente ao regime teolgico-metafsico.

    6. Considerada agora sob o aspecto histrico, esta ntima solidariedade natural entre o gnio prerdadeira filosofia e o simples bom senso universal mostra a origem espontnea do esprito posue por toda a parte resultou, com efeito, de uma reao especial da razo prtica