Cliff McNish - Trilogia da Magia 2 - O Aroma da Magia

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Cliff McNish

 Tradução ANGELA MELIM

ROCCO

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 JOVENS LEITORES

 Título original: THE SCENT OF MAGICBook Two of the Doomspell TrilogyCliff McNish, 2001O direito moral de Cliff McNish foi assegurado.Printed in Brazil/Impresso no BrasilPreparação de originais: ANA MARTINS BERGIN

Ilustrações: JULIO CARVALHOCIP-Brasil. Catalogação-na-fonte.Sindicato Nacional dos Editores de Livros — RJ.M429a

McNish, Cliff O aroma da magia / Cliff McNish; tradução deAngela Melim — Rio de Janeiro: Rocco, 2006.— (Da magia; 2) Tradução de: The scent of magic: book two of the doom spell trilogyContinuação de: O sortilégioISBN 85-325-1948-21. Literatura infanto-juvenil.I. Melim, Angela.II. Título.III. Série 1a edição05-3068 CDD 028.5 CDU 087.5

Para Ciara, por tudo

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— Rachel, acorde, saia do sonho!Morpeth a sacudiu de leve, depois

com mais força, pois a menina não semexeu.

— Ande, ande, acorde!— O quê?Os olhos de Rachel se entreabriram.Por um instante Morpeth viu os

resquícios do pesadelo dela. Afundada no

rosto da menina, grande como um cão: agarra preta e arreganhada de uma Bruxa.Enquanto Morpeth observava, as unhasverdes grossas se apagaram na facepálida de Rachel.

— Está tudo bem — ele disse

apressadamente, agarrando-a pelosombros. — Não tenha medo. Você estáem segurança, em casa, no seu quarto.

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Não tem Bruxa.Rachel se sacudiu, despertando, e

sentou, respirando em golfadas rápidas.

— Oh, Morpeth — murmurou —,nunca me acorde assim. Quando estousonhando... eu poderia... ter machucadovocê.

E afundou a cara num travesseiro,esperando a sensação fria, cortante, das

unhas ir embora.— Você já devia saber — disse elapor fim. — Um encantamento poderiaescapulir...

— Você preferiria que a sua mãedesse de cara com essas garras? —

perguntou ele. — Eu, pelo menos, soucapaz de identificá-las.Rachel concordou friamente.— Mas é perigoso, até mesmo para

você. Sempre me deixe despertarnaturalmente, quando eu estiver pronta.

Morpeth grunhiu, apontando a luzdo sol que as cortinas filtravam.— Esperei o mais que pude. Metade

do dia já se foi, e a sua mãe estava aponto de vir acordá-la.

Ele tirou uns fiapos de capim do

cabelo dela.— Eles têm um aroma interessante.— Ai não — gemeu Rachel, notando

o cheiro pela primeira vez. — Estive outra

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vez no lago a noite passada, não é?— Temo que sim.Rachel mordeu o lábio.

— É a segunda vez esta semana.— Terceira.— Suponho que estava de guelras?— Sim, como sempre, escarlate, no

pescoço. — Eca!Rachel apalpou a parte de baixo das

orelhas com repulsa.— Por quanto tempo fiquei embaixod’água desta vez?

— Cerca de uma hora.— Uma hora!Rachel sacudiu a cabeça, sombria.

— Então, está piorando. Tudo bem,levantei.Ela se pôs à escuta um segundo.— Você pode ver se há alguém no

corredor ou no banheiro?Morpeth saiu em seguida, e voltou

um momento depois.— Ninguém em volta, e aqui estãoumas toalhas limpas. Eu vou botar oslençóis de ontem à noite para lavar,posso?

Rachel sorriu, apanhando as

toalhas.— Morpeth, você é o meu anjo daguarda.

Silenciosamente, ela deslizou até o

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banheiro, e com uma longa chuveiradaquente removeu o fedor do lago.Voltando ao quarto, sentou-se junto ao

espelho da penteadeira, escovando umtanto ausente os cabelos negros ecompridos.

De repente parou. Pôs a escova delado. Voltou-se lentamente para oespelho e examinou o rosto fino,

ligeiramente sardento.Os olhos que olhavam de lá já nãoeram bem humanos. Seus velhos olhoscastanhos esverdeados, como os do pai,tinham desaparecido. Substituíram-nosnovos olhos mágicos. Encantamentos

agrupavam-se nos cantos, por trás daspálpebras. Gostavam dali, de ondepodiam olhar para o mundo lá fora. Pelodia afora acotovelavam-se, derramando-se, ansiosos pela atenção dela. Cadaencantamento possuía sua própria e

única cor. As cores dos encantamentosde ontem tinham começado escarlate eouro, em torno da pupila preta. Estamanhã não havia pupila alguma. Haviaapenas um profundo e amplo azul emambos os olhos, no tom de um céu de

verão. Rachel tinha visto aquela cormuitas vezes recentemente. Era a cor deum encantamento em vôo, ardendo paraser usado.

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Mirando seu reflexo no espelho,Rachel disse:

— Não. Eu não vou voar. Eu fiz uma

promessa, vou cumprir. Eu não vou cederpara vocês!

— Ceder para quem? — perguntouuma voz. Rachel virou-se, assustada. Suamãe se encontrava atrás dela, olhandoansiosamente para o espelho.

— Mãe, de onde você veio?— Estou aqui já há algum tempo, sóobservando você. E eles.

Mamãe estudou os olhos de Rachel,encharcados de encantamentos. Sua cortinha agora mudado para um cinza triste.

— Esses encantamentos! — dissemamãe, zangada. — O que estãoesperando de você? Por quesimplesmente não a deixam em paz pelomenos uma vez?

— Está tudo bem, mãe — murmurou

Rachel vagamente. — Eu... eu ainda osestou controlando.Mamãe abraçou Rachel. Apertando-

a, disse na mais suave das vozes:— Então me conte por que está

tremendo? Você acha que depois de doze

anos não sou capaz de dizer quandominha própria filha está sentindo dor?Uma única lágrima rolou pelo rosto

de Rachel. Ela tentou enxugar.

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— Então nós duas contamos!E virou-se para sair.— Desça logo, sim? Já estou quase

por aqui com Eric e os prapsis por hoje.Amo seu irmão, mas parece que tem seisanos em vez de nove, a metade dotempo... As coisas que ensina àquelascrianças-aves!

E desceu, resmungando pelo

caminho.Rachel terminou de se vestir e seencaminhou à cozinha. Assim que entrou,os prapsis cobriram as caras.

— Feche esses olhos brilhantes! —guinchou um deles, ao vê-la.

Epa!, pensou Rachel, rapidamentedesligando as cores cintilantes dosencantamentos.

O outro prapsi bateu as asasirritantemente, diante do rosto damenina.

— Eric poderia ter ficado cego! —guinchou ele. — Seu belo rosto poderiater buracos queimados no lugar dosolhos!

Rachel não se deu o trabalho dereagir. Botou pão na grelha e o observou

ficar marrom, como se tostar pão afascinasse.Os prapsis pairaram diante do seu

nariz, fazendo caretas. Eram estranhos,

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coisas misturadas, uma brincadeiracriada por uma Bruxa que um dia os usoucomo mensageiros. De corpo, eram

idênticos a corvos, com as típicas penaslustrosas, preto azul. Mas em vez debicos eles tinham narizes; e em vez decaras de aves, as deles eram gordinhas,com covinhas, bochechas róseas e lábiosmacios. Todo prapsi tinha o rosto de

bebê.Mamãe espantava as crianças-avesde seu caminho. Elas iam, depoisvoltavam juntas, pairando exatamenteem cima da cabeça de Rachel. Umaderrubou uma framboesa; a outra,

acidentalmente, babou em sua torrada.— Que delícia! — disse Rachel, jogando a fatia na lata de lixo.

Ambos os prapsis soltavamguinchos selvagens.

— Olhe para nós, cara de chipanzé!

— arrulhavam. — Somos tãomaravilhosos! Nós somos tão lindos!Pergunte a Eric.

Eric, sentado ali perto, à mesa dacozinha, virava casualmente as páginasde uma revista em quadrinhos.

— Tudo bem com você, mana? —perguntou ele, erguendo a vista. —Curtindo a companhia dos meninos?

— Tudo ótimo — disse ela

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secamente. — Mas preferiria não estar aoalcance de beijos. Você acha que podechamar os meninos para longe por tempo

suficiente para eu passar manteiga naminha torrada?

— Com certeza.Ele assobiou.Instantaneamente os dois prapsis

voaram para os ombros do menino.

Empoleiraram-se ali, fazendo carrancapara Rachel.— E cale-os por dez minutos —

determinou mamãe, com sua voz maismortal. — Ou teremos ensopado de corvono jantar.

Eric fingiu não escutar, mas fez umzíper na boca com o dedo. Os prapsischuparam os lábios para evitar que maisalgum insulto escapasse.

Eric era um menino baixo, troncudo,com uma expressão dura — que sempre

treinava. Seu traço mais surpreendenteera o cabelo — uma massa de cachoslouros. Eric odiava aquele cabelo. Asmães gostavam de tocar seu ondeadomacio. Dali a alguns anos ia mudar ocorte, tirar fora os cachos. Virar um

skinhead. Por enquanto tinha que aturara zona que os prapsis faziam nele,sempre que podiam, com as garras.

— Suponho que os prapsis

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dormiram com você de novo ontem —disse Rachel, desanimada.

— É claro — sorriu Eric, mostrando

os dentes, sendo logo imitado pelosprapsis com tímida precisão.

— Eu os observei — continuouRachel. — Ficam sentados na sua cama,com aqueles olhos grandes de bebê. Éfantasmagórico. Copiam tudo o que você

faz. Quando você se vira, eles se viram.Imitam até você roncando.— Ah, é verdade — Eric deu um riso

abafado. — Eles me adoram.Ele estalou os dedos. Um prapsi

imediatamente tocou com o narizinho

arrebitado a página da revista.— Patético — resmungou Rachel. — Três imbecis. Onde está Morpeth?

— Eu poderia lhe dizer — respondeuEric. — Mas o que vou ganhar com isso?

— Está no jardim — afirmou mamãe,

puxando a orelha de Eric.E deu a Rachel uma torrada recém-amanteigada.

— Não vai comer antes de sair?Depois do café-da-manhã, Rachel

vagou pelo quintal. Era um dia de julho,

quente de assar, com quase todas asférias de verão ainda pela frente.Morpeth estava deitado junto ao lago.Era um menino magro, com olhos

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surpreendentemente azuis e cabelo corde areia grosso espetado em todas asdireções. Uma bebida gelada se

encontrava ao alcance de seu braçobronzeado.

Rachel sorriu afetuosamente.— Pelo que estou vendo, já se

instalou para o verão!— Graças a Dragwena, eu perdi

várias centenas de verões — Morpethdisse. — Estou compensando ao máximo.  Tirou do lago uma lata de Coca-

Cola, dando-a a Rachel.— Estou guardando esta. Como se

sente?

— Bem horrível — disse ela,acomodando-se na rede do jardim.— Sem dúvida, seu cheiro está bem

melhor. Imagino que tenha se esfregadobastante com sabão?

— Sim, Morpeth, me esfreguei —

disse Rachel rindo. — Por quê? Você não?— Não consigo suportar a sensaçãode limo — admitiu ele. — Aquele cheirodoce engraçado também, tem algumacoisa errada com ele. É claro, nãotínhamos sabão quando eu era menino.

  Todo mundo fedia e ninguém dava amínima.Rachel não se acostumava direito

com aquele novo Morpeth-criança. Ela o

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tinha conhecido há um ano num outromundo: Ithrea. Até agora Rachelestremecia de pensar naquele mundo

desolado de neve escura. Uma Bruxaodiada, Dragwena, reinara lá. Morpethfora seu servo relutante.

Durante séculos fora forçado aobservar Dragwena abduzir crianças denosso mundo. Rachel e Eric foram os

últimos seqüestrados. Quando chegou,Rachel descobriu que todas as criançaspossuem mágica, que não podem usar na

 Terra. Por isso a Bruxa as queria: paraservir a seus próprios propósitos.Morpeth foi o tutor de Rachel. Ela

desabrochou, descobrindo que tinhamaior dom para a mágica que todas asoutras crianças vindas anteriormente — aprimeira forte o suficiente pararealmente resistir a Dragwena. Erictambém tinha um dom que nenhuma

outra criança possuía. De uma maneiraúnica, era capaz de desfazerencantamentos. Ele conseguia destruí-los. Numa aterrorizadora batalha final,Rachel e Eric lutaram contra o Sortilégioda Bruxa e assistiram à morte de

Dragwena nas mãos do grande Mago,Larpskendya.Enquanto olhava para Morpeth,

neste momento, era difícil para Rachel

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lembrar que durante centenas de anosele tinha sido um homem velho eenrugado, só mantido vivo pela mágica

da Bruxa. De algum modo, ele desafiarao pior da influência de Dragwena e,quando Rachel e Eric chegaram, arriscoua vida repetidas vezes por eles. Emgratidão, o Mago Larpskendya devolveu aMorpeth todos os anos perdidos de

infância que Dragwena lhe tinha tirado.Voltou, como menino, para casa — masnão para a própria casa. Sua famíliaoriginal morrera há muito, é claro. Então,os pais de Rachel secretamente oadotaram — ali estava ele, um ano

depois, um rapaz num jardim veranil.Umas poucas outras criaturas tinhamoptado por voltar de Ithrea com Rachel eEric. Só os prapsis permaneceram. A lobaScorpa, Ronoccoden, a águia, e algumasminhocas logo desapareceram, tendo

decidido fazer vida nova em meio aosseus pares na Terra.— O que aconteceu? — perguntou

Rachel, notando Morpeth ligeiramenteperturbado.

— É este short — respondeu,

amuado. — Sua mãe esquece que tenhoquinhentos e trinta e sete anos de idade.Eu não gosto de calça listada.

— Não dava para você usar as suas

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antigas calças de couro de Ithrea parasempre. Você cresceu.

— Mas eram confortáveis — ele

disse. — Este short é ridículo. E não cabedireito. Sua mãe sempre acha que sou domesmo tamanho que Eric.

— Está muito apertado?— Muito largo — disse Morpeth,

enfaticamente.

— Hum... Perigoso... — Rachelsorriu. — Tenho que falar com mamãesobre isso... é claro, você poderia ir à lojae comprar você mesmo.

Morpeth deu de ombros, mal-humorado. Compras significavam botar o

pé fora de casa e atravessar a ruaterrível. O trânsito o deixava nervoso.Não havia carros quando era menino,nem aviões. Só o barulho da vidamoderna o deixava constantementeirritável, e ele evitava as ruas sempre

que possível.Durante uns minutos Rachel ficoudeitada na rede, ao lado, simplesmentedesfrutando do sol e da leve brisa quesoprava por sobre suas pernas.

— Morpeth — disse ela por fim —,

fiquei na cama quinze horas esta noite.Não consigo acordar. Essas coisas quemeus encantamentos fazem enquantoestou dormindo... O que está

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acontecendo?— Você sabe a resposta — disse ele

rudemente. Rachel sacudiu a cabeça.

— Eu sei que meus encantamentosquerem ser usados — ela disse. — Masaté agora se comportaram. O que foi quemudou? Por que estão de repentetomando conta assim?

— Estão desafiando-a — ele

respondeu. — Estão inquietos,impacientes. A mágica não é coisa quese possa domesticar como um animal deestimação, Rachel. Especialmente a suamágica.

Ele se inclinou e deu um tapinha na

cabeça dela.— Os seus encantamentos sãointensos demais, ambiciosos demais,para lhe deixar em paz muito tempo. Evocê parou de escutar as solicitaçõesdeles há meses, não foi? Você os excluiu

completamente.— Fui obrigada — protestou Rachel.— Eles estavam tentadores demais.Larpskendya me fez prometer não usarmeus encantamentos...

— Eu sei — disse Morpeth. — Mas os

seus encantamentos não ligam parapromessas feitas a um Mago. Eles nãogostam de ser ignorados. Você não querouvir quando está acordada, então eles

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saem em ação à noite, quando sãocapazes de dominar os seus sonhos.

Rachel curvou-se, turvando a

superfície do lago.— Mas por que me enfiam debaixo

d’água?— Por que não? — disse Morpeth. —

A água deve ser um lugar interessantepara encantamentos entediados

experimentarem. Há o desafio de comocapacitar você a respirar sem pulmões. Ecomo capacitar você a inalar água semprejudicar o organismo. Essas coisas sãodifíceis. Exigem muitos encantamentosintrincados, cooperando estreitamente.

Rachel pensou nas guelras.— Sou capaz de controlá-los —insistiu ela. — Larpskendya me avisou deum grupo de Bruxas capaz de detectarmeus encantamentos, até mesmo doespaço. Isso poderia fazer com que as

Bruxas alcançassem todas as crianças.Não vou quebrar minha promessa!—  Já quebrou — ironizou Morpeth.

Ele se levantou.— Você precisa retomar o controle,

Rachel. Dê aos seus encantamentos

alguma coisa para fazer, pelo menosespaço para respirar. E faça-o enquantoestá acordada, e poderá restringi-los.

— Ainda não aconteceu nada de

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terrível...O olhar de Morpeth cruzou o dela.— Você vai esperar até que

aconteça? Sei que você não iria atacardeliberadamente, Rachel. Mas e ospesadelos? E se sua mãe tentardespertar você na hora errada? Hoje demanhã, por exemplo. Qualquer coisapoderia acontecer. Eu vi a garra.

Ele a olhou com firmeza.— É o seu pior pesadelo, não é? Emeu também: nos meus sonhos maissombrios eu estou enfrentandoDragwena outra vez. Sou perseguido poruma Bruxa.

Rachel estremeceu. Ela procuravanunca pensar em Dragwena.Levando aos lábios a bebida,

reparou numa vespa. Esta zumbia emtorno da beira da lata. Enfiou-se embaixoda argola e afinal caiu dentro da coca.

Rachel soltou um suspiro e, ausente,pescou com a ponta do dedo a vespa e alançou no capim.

— Quais os encantamentos que lhevieram à mente agora mesmo? —perguntou Morpeth, direto.

— Só os de sempre.— Tais como?— Quatro encantamentos: um para

matar a vespa; o segundo, para salvá-la;

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um terceiro, para desinfetar a lata.Ela observou a abelha, as asas

batendo, cambalear através da relva, e

sorriu.— E um encantamento de

aquecimento, para secar as asas doinseto.

— Qual encantamento veio emprimeiro lugar?

O encantamento de matar, pensouRachel, e Morpeth leu a resposta em seurosto.

— Eu não conseguiria machucá-la —admitiu ela.

— Eu sei — disse Morpeth. — Mas é

interessante que os encantamentos maisperigosos se ofereçam em primeiro lugar.Eles sempre dominam os outros.

Rachel inclinou-se por cima do lagoe mirou seu reflexo. Os olhos tornaram-seum castanho profundo, como areia

úmida. Ela procurou cores maisvibrantes, mas seus encantamentosestavam incomumente reticentes —como se não a quisessem a espioná-los.Por que aquilo?

Pela primeira vez em meses, Rachel

voltou a atenção para dentro. O queestão tramando?, quis saber. Diversosencantamentos ficaram em silêncio,disfarçadamente empurrando um ao

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debaixo dela, as mais elevadasmontanhas de Ool há muito tinham sidoengolidas por seus amargos flocos

lúgubres.Somente as torres das Bruxas se

erguiam acima das neves.Enquanto Heebra olhava pela

  janela, sua filha mais nova, Calen,emergiu das sombras da câmara.

— Vamos ver as aprendizes lutar? —perguntou Calen, ansiosa.— Tão cedo assim? Era para se

prepararem para uma disputa noturna.— Vamos surpreendê-las, mãe.

Faça-as lutar agora! Heebra sorriu,

indulgente, e fez sinal às contendorasque se preparassem.Enquanto esperava, Heebra

supervisionava a fria magnificência deOol. As torres salientes das Bruxas seapinhavam contra o céu. Cada torre era

encimada por uma janela em forma deolho esmeralda, sua altura marcando ostatus da Bruxa que morava ali dentro.Havia milhões de torres, mas a deHeebra se sobrepunha a todas. Erguia-se,grossa e negra, das neves sem fim,

decorada pelas incontáveis cabeças deBruxas que tinha derrotado em batalhas.No início do reinado de Heebra muitasBruxas desafiaram seu domínio sobre a

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Grande Torre. Ninguém mais ousava.Uma pena: fazia muito tempo que nãotinha o prazer de esculpir uma nova cara

na pedra.Calen aproximou-se dela junto à

 janela.— Lembra de quando ganhou o seu

primeiro olho, mãe? Uma batalhalendária!

Heebra deu de ombros.— Não era nada. Uma torrepequena. Um monte de pedra. Apenasumas poucas centenas de metros, elamentavelmente fina.

— Que importância tem o tamanho!

Você derrotou outras doze aprendizespara ganhá-lo.Calen olhou com admiração para a

mãe.— Ninguém jamais tinha feito isso

antes. Você era incrível, já naquela

época.Heebra estudou Calen. Doía-lhe vero quanto ficara parecida com a filhafabulosa que tinha perdido, Dragwena.Com menos de quatrocentos anos deidade, Calen era uma Alta Bruxa em seu

apogeu. Sua pele ainda estava vermelho-sangue, sem nada ter perdido do frescor.A visão também era perfeita — os olhostatuados brilhavam embaixo das

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sobrancelhas sulcadas por ossos. Atémesmo o olfato permanecia intacto; assensíveis narinas, em forma de pétalas

de tulipa cortadas, conseguiam farejarcarne viva oculta embaixo da maisprofunda neve. Mas, os melhores traçosde Calen talvez fossem as mandíbulas.Estavam as quatro em ótimas condições.Apesar de inúmeras batalhas, nem um de

seus triangulares dentes pretos e curvostinha sido perdido ou arranhado.Cintilavam nas gengivas prateadas bemlubrificadas, limpas por aranhas dearmadura, supremamente saudáveis, apular, alertas, entre as mandíbulas em

busca de restos de comida.Heebra voltou a atenção para Nylo,a cobra-alma de Calen. Era inquieta,como a dona — um corpo mole, amarelo,sempre em movimento em torno dopescoço da filha.

Heebra sabia que a cobra-alma erapreciosa para todas as Bruxas jovens:como conselheira, amiga, escudo e arma.Um segundo conjunto de olhos vigilantes.A maioria das Bruxas precisava dascobras-almas para ser ativa vida afora.

Heebra há muito dispensara Mak, suaprópria cobra. De ouro, sólida, agorapendia sem vida de encontro a seu peito.Isto, mais que qualquer outra coisa, dava

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a dimensão do poder de Heebra.Ela dirigiu os pensamentos de novo

à janela-olho.

— Bem? — perguntou. — Conheçoalguma das lutadoras de hoje?

— Acho que não — disse Calen. —São apenas algumas aprendizes dosníveis Avançados.

Heebra sorriu.

— Por que você sempre insiste emacompanhar essas batalhas juvenis? Sãoencantamentos tão pouco interessantes.

— É o entusiasmo delas que aprecio— respondeu Calen. — Não lembra comoera emocionante ganhar uma disputa de

sangue, mãe?Heebra deixou a mente vagar emretrospectiva. Uma vez, tinha sido comoas aprendizes de hoje — ardia por umachance de lutar por seu primeiro olho. Ecomo tinha saboreado aquela vitória!

Esmagando a oponente, dispensando osservos da Bruxa morta e indo viver natorre dela, ainda quente de sua presença,com tantas disputas futuras e torres maiselegantes acenando...

As três aprendizes Avançadas

estavam prontas. Erguendo braços nuscompridos, voaram para as posições departida, os vestidos de batalha cor desafira tremulando nos ventos.

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— Quem você acha que vai ganhar?— perguntou Calen, esperando acompetição começar.

— Não importa — disse Heebra. —Nenhuma tem talento suficiente parachegar ao nível seguinte de magia.

— Como sabe?Assim que Calen disse isso, Heebra

arrancou Nylo de seu pescoço. Ela

esticou a mandíbula até quase estalar.Calen esperou, temerosa, sabendo quenão possuía encantamento poderoso obastante para ameaçar a mãe.

Com desdém, Heebra disse:— Como sei? Espero juízo melhor de

quem deve vir a reinar depois de mim!Você deveria ser capaz de saberimediatamente! A qualidade medíocre dovôo das aprendizes, por si só, mostra quenenhuma dará uma Alta Bruxa.

Calen baixou o olhar.

— É claro. Eu devia ter notado isso.Heebra jogou Nylo com desprezoatravés da câmara.

Calen a apanhou, embora semousar confortá-la diante da mãe.

  Juntas, num silêncio carregado,

voltaram-se para a batalha.A noite tinha se instalado, de modoque ambas ligaram a visão noturna.Lentamente, os olhos tatuados se

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esticaram ao longo dos ossos das maçãsdo rosto, encontrando-se na parte de trásdas esburacadas caveiras carecas.

Heebra e Calen agora podiamacompanhar a disputa com facilidade. Asaprendizes começaram, escondendo-senos densos furacões da atmosferasuperior, lançando encantamentos,atacando e defendendo-se sem

descanso.Heebra não dava bola. Aborrecidacom Calen, sua mente voltou-se, comofazia freqüentemente, para a filha maisvelha, Dragwena. Onde estava ela?Dragwena se aventurara sozinha nos

domínios do espaço remoto paraconquistar novos mundos. Duranteséculos, Heebra esperou com ansiedadesua volta. Mais tarde, enviou grupos deinvestigadores que nunca a encontraram.Ali, de pé, observando em cima as jovens

aprendizes, lutando para sobreviver nocéu granulado de carvão, o peito deHeebra de repente apertou. Estava

a sua soberba, selvagem Dragwena aindaviva em algum lugar? Ou jazia morta emalgum mundo odioso, sem neve para

ungir seu túmulo?— Quer que eu interrompa acontenda? — perguntou Calen, sentindoo humor da mãe.

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— Não — suspirou Heebra. — Deixeque terminem.

— Não vai demorar muito. Todas as

três aprendizes estão começando acometer erros.

Heebra aquiesceu, perdendo ointeresse. Qual a finalidade de aguçar epraticar a mágica delas, pensou, numafrustração súbita, sem Magos para

combater? Há milênios suas Bruxaslentamente perdiam a guerra infindávelcontra os Magos. Durante o tempo devida da própria Heebra, a Irmandadeperdera sete mundos previamenteconquistados. Sete! Toda vez os Magos

se retiravam antes que suas mais rápidasguerreiras fossem capazes de alcançá-los. Se apenas as Bruxas conseguissemencontrar Orin Fen, o mundo-lar dosMagos! Mas a localização eradesconhecida. Larpskendya, o líder dos

Magos, os mudara de seu planetaoriginal, obscurecendo o caminho para onovo. Gradualmente, quase sem sangue,ele ganhava a guerra — deixando paratrás suas melhores Bruxas, empurrando-as para trás, mais para perto de Ool. O

domínio das Bruxas nunca estivera tãoprecário.— Uma derrota — riu Calen. — Até

que enfim!

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Uma das aprendizes, com o rostovermelho de excitação, flutuou emdireção à torre de Heebra. Nas garras,

carregava as cobras-almas sem vida dasoutras aprendizes, como troféus. Mas,seu momento de glória foi estragado.

Alto no céu uma bola minúscula deluz verde vagava entre as nuvens.Brilhando intermitentemente, ela

cambaleou pelo ar, como se ela seencontrasse em infortúnio.Heebra e Calen imediatamente

esqueceram a aprendiz vitoriosa evoaram da torre-olho ao encontro dabola.

Calen abriu a boca.— Não pode ser!— E! — maravilhou-se Heebra.

  Todas as Bruxas que tinhamacompanhado a disputa das aprendizesficaram em silêncio. Nenhuma delas

  jamais tinha visto aquilo antes: umaBruxa morta, a sua força de vidaretornando. Só duas vezes na históriaantiga de Ool tal jornada longa tinha sidofeita do espaço. Que Bruxa viva teria aforça de viajar tão longe?

— Dragwena! — gritou Heebra.O coração tendo espasmos dealegria, ela colocou a luz verdeamorosamente numa de suas línguas.

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Ainda respirando, Heebra deu-se conta.Ainda viva.

A força de vida ferida tremia dentro,

frágil demais para falar.— Esteja bem, minha filha —

confortou-a Heebra. — Agora está emcasa.

No interior da Grande Torre, Heebradesenrolou a língua cuidadosamente no

chão duro.Logo a bola verde começou a seesticar e crescer numa rapidezfantástica. As coxas de Dragwenaavolumaram-se, forçando caminho parafora, os músculos moles, tentando

endurecer.— Como luta! — maravilhou-seCalen. — Olhe como quer viver!

Finalmente a transformaçãoterminou — mas Dragwena ficouincompleta.

— Veio longe demais parasobreviver — deu-se conta Heebra. —Está fraca demais!

A metade superior do corpo deDragwena estava só meio formada. Tinhaapenas um braço. A garra inútil, na

extremidade, batia fracamente no ar. Osolhos cobertos de pele jamais seabririam. Pulmões inúteis jaziam emcolapso no interior de seu corpo. Mas o

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cérebro — a coisa que a tinha conduzidotodo o caminho até ali — já estavacompletamente desenvolvido. Dragwena

era capaz de pensar. Não se sabe como,ergueu-se e ficou na posição sentada.Levantou a cabeça malformada, tentandorespirar. Quando Dragwena se deu contade que não conseguia fazê-lo, começou ase sacudir, penosamente.

Heebra correu ao outro lado doquarto e apoiou a cabeça de Dragwena,enquanto Calen disparavaencantamentos de renovação. MasDragwena estava tão fraca que osencantamentos meramente a feriam

mais.Deitada nos braços da mãe,aguardava a morte.

— Como pôde ficar nestascondições? — lamentou Calen. — Deveter viajado mais que qualquer Bruxa! Ai,

irmã!— Sim. Deve haver alguma razãoextraordinária para tanto esforço.

Heebra agarrou a cabeça deDragwena e fez uma conexão de mentes.

— O que aconteceu? — perguntou.

— Quem fez isto com você?Dragwena lutava através do pânico.Formou diversas imagens: Rachel, Eric,Larpskendya e seus padrões de magia.

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Formou uma imagem do mundo de Ithreae mostrou à mãe a amargura de seusmomentos finais ali. As imagens

balançavam à medida que o cérebrofaminto de oxigênio de Dragwenacomeçava a morrer.

— Ainda não! — gritou Heebra. —Ainda não! Onde fica esse mundo?Mostre-nos!

Dragwena agarrou a cobra-alma damãe, o corpo tremendo. Uma nubladarepresentação se formou na mente deHeebra, marcando o caminho entreconstelações alienígenas — de Ool aIthrea, e de Ithrea adiante, a um planeta

azul maior com nuvens a girar e cheio decrianças — a Terra.Então, as quatro mandíbulas de

Dragwena abriram-se num estalo. Heebraa segurava junto a si, quase esmagandoo corpo da filha de amor e raiva. A mente

de Dragwena ficou escura, masconseguiu acender uma imagem final.Era um retrato antigo de Dragwena, noápice de seus poderes, de pé, confiante,ao lado da mãe. As duas olhavam decima o vasto horizonte das torres-olho. O

vento soprava através de seus vestidospretos, que tremulavam, e suas cobras-almas de diamante e de ouro brincavamentrelaçadas. Elas eram invencíveis.

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A imagem se apagou e Dragwenamorreu.

Heebra ficou sentada inteiramente

sem movimento durante vários minutos.Ficou apenas segurando a filha. Nadadisse. Mal respirava. Quando Calen selevantou, ela própria quase cega de dor,recuou para o extremo do quarto,conhecendo a força do frenesi que se

seguiria.E como veio! Heebra precipitou-sepela janela da torre-olho afora, levandosua raiva. Feito um raio através dos céusnegros de Ool, dirigiu-se a todos oslugares e a nenhum lugar, fora de

controle, lamentando em meio ànevasca. Nenhuma outra Bruxa ousouvoar toda aquela noite e, pela primeiravez em mais de mil anos, Mak se mexeu,abraçando-a em suas escamas.

Calen passou a noite enterrando o

coração da irmã morta.Como pedia a tradição, o guardounuma das bocas e usou somente asgarras para cavar até o gelo maisprofundo sob a neve. Ali, nem mesmo osmaiores animais seriam capazes de

escavar e alcançar o corpo de Dragwena.Calen então voou de volta à Grande  Torre, curtindo angústia e ódio, aimaginar que humor deveria esperar da

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mãe.Pouco depois do dia romper, Heebra

retornou. Seu rosto estava agora

inteiramente calmo, quase semexpressão. Ela contou a Calen tudo o queDragwena lhe tinha mostrado.

— Então podemos encontrar essaRachel e esse Eric e vingar a morte dela!— exultou Calen. — Deixe-me ir. Deve ser

bem fácil encontrar a menina. Todo ocorpo de Dragwena estava envolvido emseu vapor.

Heebra arranhou Mak com asgarras, pensativamente.

— Vamos desfrutar deste prazer

logo, logo. Dragwena viajou umadistância notável para nos alcançar.Duvido que somente o desejo devingança a tenha conduzido tão longe.Acredito em que ela queria nos falardesse lugar chamado Terra. Só um Mago

 já desafiou uma Alta Bruxa em combatepessoal, no entanto essa criatura criança,Rachel, encontrou uma maneira deatravessar as defesas de Dragwena.Imagine! Temos que descobrir maiscoisas a respeito dessas crianças

intrigantes.— Se elas são talentosas,Larpskendya vai protegê-las.

— Sem dúvida — riu Heebra. —

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Larpskendya vai protegê-las de todomodo, mesmo que sejam inúteis. Ascriaturas fracas sempre atraem sua

simpatia.— Você acha que Dragwena deixou

Ithrea sem ser notada?— Deve ter deixado. Larpskendya

 jamais colocaria suas crianças em perigopermitindo que Dragwena escapasse.

— Nesse caso — disse Calen —, osMagos não estarão esperando por nós.— Estarão sim — afirmou Heebra,

absorta. — Larpskendya planeja tudo.Meditativa, enrolou uma aranha na

língua.

— Ithrea, porém, é o mundo maispróximo. Larpskendya esperaria que nóschegássemos lá primeiro. Parasurpreendê-lo, vamos passar por cima deIthrea, deixá-lo em paz por enquanto.

— Mesmo assim, ele provavelmente

vai deixar algumas defesas na própria Terra — Calen disse.— É verdade. Como podemos

afastá-lo de lá? — os olhos de Heebrabrilharam. — O que mais aterrorizariaLarpskendya?

O olhar de Calen ficou ausente.— As Griddas — respondeu Heebra.À menção desse nome, Nylo se

contraiu, transformando-se numa rosca

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apertada e trêmula em torno do pescoçode Calen. As Bruxas Gridda eramconsideradas quase demoníacas, até

mesmo pela mais dura das outras Bruxasde Ool. Elas eram as maiores e maisselvagens de toda a Irmandade, com osinconfundíveis rostos cor de laranja evolumosos corpos marrons. Criadas empequenos números, eram encerradas

embaixo do solo; somente existiam comoúltima trincheira de defesa, no caso dopróprio Ool ser cercado — ou para liderarum ataque a Orin Fen, se as Altas Bruxasum dia descobrissem o mundo-lar dosMagos.

Calen acariciou Nylo, parareconfortá-la.— Nós não podemos liberar as

Griddas — protestou ela. — Elas sãoimprevisíveis. Até mesmo umas poucas...vão criar confusão.

— Exatamente — disse Heebra. — Aí é que está. Vamos espalhá-las por aí afora e deixar que levem o medo atantos mundos quantos puderemalcançar rapidamente.

— Mãe, depois que a raiva das

Griddas se instala, é impossível controlá-las. Elas podem matar milhares.— Eu não quero saber quantos elas

vão matar — disse Heebra. — Nenhum

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dos outros mundos tem criaturas assimcomo Rachel. A questão é queLarpskendya vai se importar. Será

forçado a usar o maior número possíveldos Magos para fazer frente às Griddas.Isso vai deixar a Terra vulnerável.

Ela olhou Nylo e em seguidaencarou a filha.

— Qual caminho tomaremos para o

mundo de Rachel? Se você mandasse, oque aconselharia?Calen hesitou.— Devíamos ir com calma —

sugeriu. — Fazer movimentosclandestinos, evitando nossos pontos de

encontro e santuários de repousohabituais no espaço. Seria melhor umgrupo de batedoras — somente cinco ouseis Bruxas — difícil de detectar. Equando chegarmos a esse mundo —

  Terra —, eu aconselharia que não

matássemos Rachel nem Ericimediatamente. Eles são alvos óbvios denossa vingança. Larpskendya pode osestar vigiando de perto. Deveríamoscomeçar observando as outras crianças.Vamos ver o que têm para oferecer.

Podemos cuidar de Rachel, Eric e doterceiro, Morpeth, quando estivermospreparadas.

Heebra sorriu.

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— Bom. Quem deveria liderar ogrupo de batedoras? Mais uma vez Calenhesitou.

— Outra surpresa paraLarpskendya! — exclamou Heebra. — Euvou liderá-lo. Ele jamais esperaria porisso. Eu mesma liderarei a jornada até à

 Terra. Vá. Informe a Irmandade de nossosplanos.

Heebra sabia que seria uma longaviagem. Selecionou apenas as AltasBruxas mais resistentes, firmes e leaispara acompanhá-la. Dentro de poucosdias estavam concluídos os preparativosda partida e as Bruxas escolhidas,

alimentadas e prontas, reuniram-se aosventos uivantes e relâmpagos de umaenorme tempestade que tocava a pontado espaço. Impacientemente, esperaramo sinal de partir.

Em primeiro lugar, Heebra soltou as

Bruxas Gridda. Mandou-as a todas asdireções, simultaneamente. Levadas porsua líder, Gultrathaca, as Griddaspartiram em equipes de busca,guinchando, alegres, os músculos doscorpos pesados tensos de energia.

Quando desapareceram, Heebra fezum gesto para o grupo de batedorasavançarem na escuridão do espaço. Versuas melhores Bruxas juntas daquele

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  jeito lembrou a Heebra as guerrasgloriosas do passado. Sentindo-se jovem,saiu na frente e, à medida que o grupo se

movimentava numa linha graciosa,afastando-se de Ool, Heebra considerouo que sabia da criança, Rachel.

Dragwena lhe tinha informado opadrão da mágica de Rachel. Quandochegassem à Terra seria fácil encontrar a

menina. E no caminho para lá haveriatempo sem fim para decidir a maneiramais adequada de matá-la.

Morpeth estava deitado na cama, deroupa, alerta, à espera. Mesmo assim,

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não ouviu o ruído, fraco. Era o roçar deum cabelo de encontro a um teto.

Abriu a porta, que rangeu, e espiou

lá fora.Rachel flutuava no corredor. O alto

de sua cabeça parecia estar ancorado aoteto. Embaixo, seu corpo envolvido numacamisola amarela clara, pendia,indolente. Era como se os ossos

estivessem sem peso: o menormovimento do ar podia curvá-los oudobrá-los. Os braços e pernas flutuavamno mesmo embalo relaxado, como algasbalançando sob as ondas.

Morpeth pisou no corredor com o

cuidado de não fazer barulho. Racheltinha os olhos fechados, mas a pele daspálpebras se sacudia violentamente paraum lado e para o outro: um sonho. Maisde perto, Morpeth viu o cabelo de Rachelerguer-se, mexendo-se. Fios dele tinham

se agrupado e subiam da cabeça,apalpando o trajeto em direção àlâmpada do corredor do mesmo modolento e proposital das anêmonas no mar.

Então, aparentemente perdendo ointeresse na lâmpada, o cabelo arrastou

Rachel aos trancos pelo corredor.Ocasionalmente, ela permanecia nomesmo lugar tempo suficiente para umtufo explorar complexos espirais no teto.

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Quando ela passou pelo quarto deEric, Morpeth bateu com as pontas dasunhas, sem esperar resposta — mas a

porta logo se escancarou. De pé, depijama, lá estava Eric, tapando com asmãos as bocas dos prapsis. Presos eexcitados, esticavam os pescoços,tentando ver Rachel.

— Você estava acordado? —

sussurrou Morpeth.— Não, até que estes doiscomeçaram a se bater nas paredes.

Eric piscou, ajustando os olhos à luzda madrugada.

— O que está acontecendo?

— Fique quieto e me acompanhe —determinou Morpeth. — Deixe osmeninos aqui.

— Ai, Morpeth...— Não. Venha sozinho.Relutante, Eric tornou a enfiar os

prapsis debaixo do cobertor,descansando suas cabeças numtravesseiro. Os olhos deles oacompanharam tristemente.

— Por favor, Eric — um implorou. —Deixe-nos ir. Somos tão silenciosos. Olhe.

Ele abriu e fechou a bocasilenciosamente. O outro prapsi soltouum riso abafado.

— Você parece um peixe de aquário!

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— Cale a boca. Eric estavaacreditando em mim!

— Desculpem meninos — disse Eric,

fazendo carinho nas penas de seuspescoços. — Quem sabe da próxima vez.

Rapidamente ele fechou a porta doquarto. Momentos depois, com a boca nafenda, embaixo, os prapsis se puseram amiar baixinho, como filhotes

abandonados.Eric reuniu-se a Morpeth junto àescada.

— Puxa vida! — disse ele,localizando Rachel. — Que visão! Ocabelo dela está vivo, ou o quê? E onde

ela está indo?Ele deu um meio-sorriso quando elapassou pelo banheiro.

— Ao toalete?— Psiu. Você vai ver — disse

Morpeth. — Fique bem de olho nela. Eu

posso precisar da sua ajuda se as coisasderem errado.Rachel entrou na cozinha, abrindo

caminho até à porta do pátio, que davano jardim.

— Está trancada — constatou Eric.

— Ela nunca vai conseguir sair.— Ela tem mais recursos do quevocê imagina — avisou Morpeth.

Eric ouviu um clique sutil: os

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cadeados do pátio eram abertos sem ouso de uma chave.

— Impressionante — disse ele.

— Nem tanto — retrucou Morpeth.— Os cadeados são projetados de modoa serem abertos. Para Rachel, este nívelde mágica não é sequer um desafio.

É claro, a porta para o pátio se abriucom um estalo e Rachel saiu para o

  jardim, a deslizar. Seus olhospermaneciam fechados quando fez umpouso, de pé, no meio do gramado. Aí,mexendo a cabeça, aspirou o ar da altanoite — e um aroma repentino, distinto,de muitas flores, envolveu Eric. Era um

cheiro rico, impossivelmente,poderosamente, forte.— O que ela está fazendo? —

perguntou Eric boquiaberto.Morpeth riu.— Eu não sei. Aqui não há regras, ou

há somente aquelas que osencantamentos dela inventam. O que vaiacontecer em seguida depende de quemé a vez.

— Você está brincando — disse Eric.— Os encantamentos têm vez?

— Você vai ver.Rachel, com os olhos aindatotalmente cerrados, começou a voar emcírculos rápidos em torno do jardim. Com

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os braços abertos, suas mãos tudotocavam: capim, folhas, o veio da cercade madeira, a seda das pétalas, os

espinhos duros das rosas. Parava,ajoelhava-se saboreando a umidade darelva e o solo acre embaixo. Suspiravaencostando o rosto às rochas mais durasno jardim de pedras. Apanhando umamariposa, acariciou terna e longamente

suas asas frágeis.— Já a vi fazendo isto antes — disseMorpeth. — Os encantamentos delaaparentemente apreciam os contrastes.Agudo e macio, azedo e doce. Tira umprazer deles que não consigo entender.

— Eu não gostaria de ser aquelamariposa — disse Eric.— Ela não vai machucá-la —

assegurou Morpeth. — Se a mariposa sedebater, Rachel é capaz de segurar asasas delicadas sem danificá-las.

Rachel abriu a mão e, ileso, o insetoconfuso bateu as asas e afastou-se. Ela operseguiu um instante, batendo asorelhas, a imitá-lo. Mas o inseto eraobviamente muito sem graça parainteressar por longo tempo aos

encantamentos dela. Ela o esqueceu.Erguendo o queixo e os braços, elevou-segraciosamente nos ares em direção à lua.Em segundos era apenas um ponto

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trêmulo de camisola amarela de encontroao disco branco com cicatrizes.

— Caramba! — disse Eric. — Você

está me dizendo que ela ainda seencontra adormecida?

— Não só adormecida — Morpethdisse a ele. — É bem mais profundo queisso; é um sono compelido pelosencantamentos. A própria Rachel não

tem controle sobre nada disto.— Isso soa perigoso — alertou Eric,olhando para cima com preocupação. —Devíamos acordá-la? Eu poderia destruiros encantamentos mantendo-aadormecida.

Morpeth aparentou surpresa.— Você consegue mesmo seguir orasto dos encantamentos?

Eric fez que sim.— Consigo. Todos eles têm seus

aromas próprios, especiais. Aprendi isso

em Ithrea. Os que ela está usando maisesta noite, como os encantamentos devôo, são fáceis de reconhecer depois deum tempo. Os mais raros, fica maisdifícil. Mas geralmente acaboconseguindo decifrá-los.

Eric lambeu o dedo e sorriu.— É claro, depois que destruo umencantamento, a pessoa não pode usá-looutra vez, de modo que tenho que ter

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cuidado.Apertou os olhos para enxergar o

ponto minúsculo que era o corpo de

Rachel.— Não consigo alcançá-la daqui.

Está longe demais. Uma esfera deamarelo brilhante casualmente caiu docéu. À medida que Rachel aterrava nagrama, a camisola subiu e se acomodou

suavemente sobre seus joelhos.— Qual será a próxima magia? —quis saber Eric.

— Quem sabe? — respondeuMorpeth, parecendo preocupado. — Ésempre uma coisa inesperada, mas seus

encantamentos estão especialmenteativos esta noite.Rachel mudou de forma. A coisa

aconteceu instantaneamente, não foigradual. De início, Eric pensou que elahavia desaparecido; em seguida, notou

bigodes na grama, remexendo-se, numpequeno nariz preto: um rato.— Ela mudou de forma! —

maravilhou-se Eric. — Já a vi fazer issoem Ithrea, mas nunca a tinha visto fazeraqui. Não é arriscado?

— Os encantamentos de Rachelnada fariam que a prejudicasse — disseMorpeth. — No entanto, o gato podeprecisar ter cuidado.

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Ouvindo atrás um farfalhar, virou-se, esperando que fosse Rachel.

— Ai, não... — murmurou. — Agora

vamos ter... Mamãe andava pelo jardim,determinada, de chinelo e robe.

— E aí? — perguntou ela, olhandopara Morpeth.

— Quase sempre o padrão habitual— respondeu ele. — Mas o truque do rato

é novo. E raramente Rachel foi tão longeda casa antes. Seus encantamentos devôo estão ativos de verdade.

Mamãe concordou, sombria.— Há dois dias, só dar a volta ao

quarteirão parecia deixá-los contentes.

Agora não mais, é óbvio. Tenho estado aobservá-la da janela. Nunca vi essasacrobacias malucas. Não sei a quevelocidade está voando. Não conseguiacompanhá-la. Eric ficou pasmo.

— Mamãe, você a tem observado?

— É claro — respondeu ela, em tomcasual. — Desde que isso tudo começou.Você acha que qualquer um de vocêsconseguiria sair de casa sem eu notar?Decifrei o significado daquele cheiro delago muito antes de Morpeth. Desde

então nos revezamos, para ficar de olhonela.Ela abotoou o botão de cima do

pijama de Eric.

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— Está frio aqui fora. Imagine comodeve estar Rachel lá em cima... — elasoltou os braços — seja lá onde for que

ela se encontre por aí...— Ela não sente — disse Morpeth. —

Seus encantamentos a mantémaquecida.

— Voltou! — disse Eric. — Com umacoisa esquisita no cabelo.

Uma planta exótica, com a hastecomprida, aninhava-se na franja deRachel. No céu relampejante, eles sóconseguiam distinguir o verde incomume flores vermelhas amarronzadas.

O olhar de mamãe envesgou.

— Isso é uma orquídea. Estoureconhecendo... Chama-se OrquídeaSapo. Não existe dela neste país. É daEspanha, acho. Rachel não pode ter idotão longe, sem dúvida. Pode?

— Se mudar de forma, pode ir a

qualquer lugar — disse Morpeth.Rachel arrancou a orquídea docabelo e, desejosa, saboreou as pétalasdelicadas.

A voz de mamãe ficou exasperadade repente.

— Odeio o que aquele Mago fez comela — disse. — Que tipo de dom é esseque permite a Rachel manter sua magiamas não usá-la? Esses encantamentos

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fez a Larpskendya, não experimentou suamagia desde que voltou.

Pensativo, ele observou Rachel

respirar sobre um botão de rosa fechado.Este abriu as pétalas para sua boca comose oferecesse uma dádiva de luz do sol.

— Sem dúvida ela é a criança maisdotada, naturalmente, que jamaisconheci — prosseguiu Morpeth. — Em

Ithrea, Rachel aprendeu a fazerencantamentos que outros levaramséculos até descobrir ou nuncaalcançaram. Ela os fez sem ser ensinada,instintivamente alterando formas,transferindo-se sem esforço de um local

a outro ou comandando o tempo.Nenhuma criança jamais tinha feito essascoisas; só a Bruxa, Dragwena.

— Você também era bemimpressionante em Ithrea — apontouEric.

— Nem tanto — disse Morpeth. —Eu era capaz de curar ferimentossimples. Com dificuldade, mudava aforma de alguns materiais, mandavasinais. É claro, mesmo esse nível simplesde magia está além de um monte de

crianças.— Você não sente falta dela? —perguntou Eric, hesitante. — Quer dizer,você deve odiar Larpskendya por ter

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tirado a sua magia.— Não, Eric, você está errado —

respondeu Morpeth. — Eu  pedi a

Larpskendya que a tirasse.— O quê? — espantou-se Eric. — Por

quê?— Não ousamos atrair a atenção

das Bruxas. Eu usei mágica tanto tempoque um encantamento poderia escapar

acidentalmente numa altura qualquer. Demodo que pedi a Larpskendya que atirasse de mim logo após a volta à Terra.E ele tirou.

— Eu não sabia disso — dissemamãe, baixinho. — Você nunca nos

contou.— Não foi um sacrifício tão grandecomo vocês podem pensar — assegurouMorpeth, sorrindo de viés. — Eu sou umvelho. Diferentemente da de Rachel, aminha mágica, nos últimos anos, ficava

mais satisfeita tirando uma soneca.— Isso não é verdade — mamãedeu-se conta, analisando a expressãodele. — Você simplesmente não queriaRachel preocupada com você; foi por issoque não nos contou.

Rachel estava sentada de pernascruzadas perto do lago, os olhos aindafechados. Eles a observaram inflar orosto com o ar frio da manhã. Quando

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exalou, o jardim imediatamente tornou-se tropical, e eles aspiravam os diversosaromas úmidos de uma floresta dos

trópicos.De repente, sem aviso, Rachel

mergulhou no lago.— Protejam os olhos! — gritou

Morpeth. Eric, ausente, levantou umbraço.

— O que está havendo? Eu não...— Protejam!Mamãe só teve tempo para cobrir o

rosto com uma das mãos. Uma luzextremamente brilhante inundou o

 jardim. Não era a luz da aurora. Vinha de

Rachel. Tinha, afinal, aberto seus olhosnoturnos. À luz do sol as cores dosencantamentos variavam, mas, noescuro, cintilavam numa única coratordoante — pura prata. Opalas de luzpassaram rapidamente em torno de

mamãe, Eric e Morpeth, iluminando suasroupas. Então, Rachel se reacomodou nolago e pôs o olhar no céu. Nuvens, amilhares de metros no ar, iluminaram-se,furadas pelos holofotes em miniatura. Olago aumentou ligeiramente para dar-lhe

boas-vindas. Deitada na parte maisprofunda, guelras vermelhas surgiramem seu pescoço.

— Isso é novidade — disse Morpeth,

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espiando cautelosamente por entre osdedos.

Uma terceira guelra se

materializara, desta vez na garganta.Rachel estava deitada no lago, a

boca aberta debaixo d’água. Enquanto osoutros observavam ansiosamente, seushabilidosos olhos mágicosesquadrinhavam os céus em busca de

visões que eles jamais poderiamdetectar. Em poucos minutos, sua luz deprata queimante atraíra legiões demariposas e moscas dos jardins vizinhose de além.

Eventualmente, Rachel emergiu

serenamente do lago. Flutuou de volta aseu quarto, sem em nenhum momentodemonstrar qualquer reconhecimento dafamília. Eric foi mandado de volta para acama. Por um tempo, ouviram-se gritosde excitação no quarto, enquanto ele

contava aos prapsis o que tinhaacontecido. Lá embaixo, um suavemurmúrio apenas: Morpeth e mamãediscutiam, sentados, o que devia serfeito.

Mais tarde, naquela manhã, Morpeth

teve que sacudir Rachel repetidamentepara acordá-la. Seus olhos, quando afinalse abriram, estavam cinza turvo, comoum resumo do inverno.

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— Eu estou tão cansada — disse,olhando-se no espelho. Esfregando orosto, sentiu o contentamento de seus

encantamentos. A maioria se ocultava deseus olhos, aparentemente satisfeita, nãoa perturbando para brincar.

— As brincadeiras de ontem à noiteforam barra-pesada — disse Morpeth,explicando o que tinha ocorrido.

Ouvindo os acontecimentos, Rachelmurmurou, zangada:— Parece que meus encantamentos

me odeiam, fazem cada coisa...Morpeth segurou-a pelos ombros.— Não é isso. Simplesmente são

determinados. A sua magia tem umaforça que só vi em Dragwena. Ela implorapara ser usada.

Rachel olhou desconfortavelmenteos lençóis encharcados.

— Mamãe não deve ter perdido. Ela

sabe, não sabe?— Sim, sua mãe sabe de tudo.— Ai, que maravilhai— Não, é bom — disse Morpeth com

firmeza. — Nós agora precisamos daforça de todos.

Rachel tomou uma chuveirada,vestiu-se e desceu à cozinha,estranhamente silenciosa. Até os prapsisestavam quietos.

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captaram sinais de magia. Não eraminha. A magia pertencia a outrascrianças. Milhares delas.

Os prapsis pararam de cabriolar noradiador.

— Eu achei que Larpskendya não iapermitir isso — disse Eric. — Ele nãodisse que era perigoso demais deixar amagia das crianças solta?

— Sim, ele disse. Normalmente elenão interfere na maneira natural damagia querer se desenvolver, mas na

 Terra é diferente. Larpskendya me disseque é um caso especial, por causa deDragwena. Ela esteve aqui durante

séculos antes dos Magos nosdescobrirem, fazendo nascer o tipo demagia dela própria nas crianças. Devidoa ela, Larpskendya diz, há um vestígio deBruxa em todos nós.

— Eca! — disse Eric. Rachel

concordou.— Larpskendya queria mantervigilância sobre nós, não liberando nossamagia até ter certeza de que era seguro.

Ela olhou para Morpeth.— Larpskendya não está por perto

— disse ela, com certeza. — Não podeestar; se estivesse, teria nos avisadosobre essa coisa tão importante.

— Eu concordo — disse Morpeth. —

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 Tente mandar a ele uma mensagem.Rachel transmitiu um chamado de

perigo em todas as direções da maneira

como Larpskendya lhe tinha ensinado.— Não tem resposta — disse, alguns

minutos depois.— O que significa isso? — perguntou

Eric. — Larpskendya não está... ferido,está?

— Não seja burro — Rachel deixouescapar, sendo essa idéia insuportável.— Significa apenas que... ele não estánada perto, só isso.

Ela alojou o encantamento dechamado na mente, assegurando-se de

que seria devidamente enviado bemlonge no espaço profundo, estivesse elaacordada ou dormindo.

— Larpskendya disse que nãopoderia estar aqui o tempo todo —lembrou ela a Eric. — Não somos o único

mundo de que ele tem que cuidar.Mas o que, ela imaginava, poderiaser tão urgente que Larpskendya nãotivesse tido tempo para nos avisar queestava partindo?

— Bem — falou Morpeth —, no

momento temos de decidir o que nósvamos fazer. Diga-me, Rachel, algumadas crianças que os seus encantamentosdetectaram já está ativamente usando

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magia?— Acho que não — respondeu. —

Mas, nas mais dotadas, ela está quase

explodindo para sair.— Até que distância você

investigou?— Até à metade do mundo. É o

mesmo padrão em toda parte. E houveuma coisa realmente esquisita, Morpeth.

Um traço em cima da África. Tão longe...Mas nunca senti algo agudo assim.— E agora, então? — perguntou

Eric.— Nós nos preparamos o melhor

que pudemos — disse Morpeth,

casualmente. — Se os níveis de magiaestão tão elevados, qualquer coisapoderia estar por acontecer.

Ele se voltou para Rachel.— Esse recente desabrochar da

mágica poderia explicar por que os seus

encantamentos ficaram tão obstinadosultimamente. Eu vi algo semelhante umavez em Ithrea: a magia de certascrianças extremamente bem-dotadasquerendo sair, querendo se reunir. Talvezseja por isso que os seus encantamentos

tenham estado tão ativos recentemente.Pressentem amigos aí fora, quasepreparados para receber boas-vindas. Osencantamentos também apreciam

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companhia.Ele sustentou o olhar dela.— Nós deveríamos começar com

uma vigorosa rotina de prática diáriapara a sua mágica. Isso deveriasatisfazer esses seus encantamentosativos. Poderia até mesmo botar um fimàs suas aventuras noturnas.

Rachel concordou com ardor — e no

momento em que o fez, no momento emque aceitou se abrir totalmente para todaa riqueza da sua mágica, umaabundância de cores frescas explodiu emseus olhos. As cores vinham de dúzias deencantamentos novos para ela. Eram

encantamentos pequenos,encantamentos menores, úteis paraocasiões particulares. Tinham vozesbaixas, quase envergonhadas, queraramente desafiavam o domínio dosencantamentos maiores como os de vôo

e mudança. Agora que os tinha notado,afinal, Rachel convidou osencantamentos para virem à frente.Respeitosamente, pediu a cada um quese identificasse pela primeira vez e eles,com seus modos suaves, reservados,

andaram nas pontas dos pés em suamente.— Tem certeza de que sabe o que

está fazendo, Rachel? — perguntou

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mamãe, ansiosa, vendo os suaves novostons pastel.

— Não — respondeu Rachel. — Eu

não estou certa de nada. Mas Morpethtem razão: deixei alguns de meusencantamentos fazerem o que queriampor tempo demais.

Ela sorriu.— Primeiro a segurança. Não

queremos olhos nos espionando, certo?Para evitar qualquer vazamento demágica, ela colocou um encantamentode coberta em torno da casa.

Depois, olhou o jardim. Olhou olago, cuja água engolira tantas noites.

Olhou a cerca do jardim, retalhada nospontos em que esfregou as bochechas. Epensou na Nigéria, na África, e naabundância de mágica que seusencantamentos de informação tinhamsentido lá.

— Está na hora de ter meu corpo devolta — ela disse a mamãe. — Chega demergulhos no lago. E daqui para a frentese eu voar para algum lugar é porqueescolhi ir lá. Vamos começar a treinaragora mesmo.

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Aurora e pássaros africanos sonolentos

despertavam quando Fola abriu caminhoao longo do atalho de Fiditi para o rio.

Com uma das mãos equilibrava nacabeça o peso do cesto de roupa paralavar. Com a outra, arrumou o oja. Faziapouca diferença: Yemi, seu irmão bebê,

compunha um desajeitado montinho emsuas costas, não importava como ocarregasse — não parava de se mexer eespernear!

— Fique quieto! Pare de se mexer!— ela disse, irritada. As coisas mais

mínimas o excitavam: um pássaro semfazer nada numa árvore, um cachorroparvo no atalho, até as pequenas plumasde poeira que seus pés levantavam.

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— Só um bebê para apreciarcaminhada tão entediante — pensouFola.

Ausente, olhava para a frente.Adiante, limpo e murmurante, o rioOdooba cortava a floresta. Fola sabia, docolégio, como ele fazia seu percurso,entre aldeias, pelo sul da Nigéria, era suadescida para o mar, mas tais detalhes

não a interessavam. Via suas águas comtanta freqüência que mal prestavaatenção. Ao alcançar a margem,descarregou Yemi e a trouxa, aliviada, eesticou os músculos doloridos dopescoço.

Era cedo e ainda fresco, mas ela jáestava cansada. Tinha acordado antes doamanhecer para preparar o inhame e ofeijão fradinho da refeição da noite; aindahavia trabalho para terminar quandovoltasse e Yemi para cuidar o dia todo.

Fola não reclamava. Com Baba caçandona floresta tropical, ficava feliz de poderajudar. Era mais fácil que o dia de Mamanos campos — longas horas de trabalhoárduo.

Algumas outras meninas da aldeia

  já tinham chegado ao rio. Fola ascumprimentou calorosamente, molhandoo sabão de soda e as roupas.

Enquanto trabalhava, Yemi ficou

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sentado numa espécie de pilha,confortável, junto a seus pés. Eleesquadrinhou a terra. Com os mosquitos

em torno de seu cabelo cortado rente,piscou. Viu um falcão Asa marrom epreto. Quando este sacudiu as grandesasas, o menino retribuiu com um aceno.

Fola certificou-se de que ele nãoestava perto demais da beira do rio, e se

envolveu no mexerico habitual com asoutras meninas. Pouco depois, ouviu umruído profundo, um aspirar. Virou-se eencontrou Yemi sentado, anormalmentequieto.

— O que é? — perguntou. — Que

maravilha incrível você descobriu destavez?Era uma mosca, e tinha pousado no

antebraço despido de Yemi.Ele olhava extasiado, de boca

aberta, enquanto a mosca andava rumo

ao cotovelo.Aí, sem qualquer sinal dedespedida, a mosca saiu voando.

 Yemi se pôs a chorar. Cobriu o rostoe as lágrimas correram.

— Ai, não seja bobo — disse Fola.

Deixando de lado a saia que torcia,pegou-o no colo.— É só uma mosca. Não dá para

obrigá-las a ficar, você sabe!

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Como Yemi continuouchoramingando, ela procurou seu livroespecial. Um livro cheio de figuras de

borboletas que saltavam. Yemiimediatamente esqueceu a mosca, paroude chorar e esticou-se para alcançá-lo,ansioso. Fola ficou uns minutos sentada

 junto dele, ajudando-o a virar as páginas.Ele a deteve, como sempre, na página

que continha sua borboleta favorita.Era uma borboleta chamada Mantode Luto, também conhecida como Belade Camberwell. De acordo com o livro,existia em muitas cores. A ilustraçãomostrava uma linda variedade amarelo

vivo, com pequenas manchas de poeiramarrom claro nas asas.— Quer — Yemi disse a ela.— Você quer, é? — perguntou Fola,

divertida.Ele beijou a imagem da Bela de

Camberwell com ardor.— Não temos desse tipo na África —informou. — Ela vem de muito longe.Nunca veremos uma aqui.

O rosto de Yemi murchou detristeza. Demonstrava tanta infelicidade

que Fola gastou mais tempo lendo comele do que deveria. Quando voltou àlavagem, Yemi virou as páginas eretornou à sua Bela de Camberwell. Com

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o rosto franzido, estudou-a.Fola levou mais de uma hora para

terminar, batendo os lençóis e

estendendo ao sol, que se levantava.Quando a última peça de roupa estavaquase seca, procurou Yemi ali em volta.Sentado perto, lia seu livro.

E tinha uma nova companheira —uma borboleta amarela.

Pousada no antebraço de Yemi,precisamente onde a mosca tinha estado.Fola piscou. Não havia dúvida de

que era uma Bela de Camberwell.  Yemi sorria de orelha a orelha.

Soprou o braço e a borboleta abriu as

asas. Torceu o nariz e ela pulou para aponta. Aí, devagar, como uma bailarina,girou nas pernas pretas até ficar defrente para Fola — e fez uma reverência.

Fola largou a roupa.Sentou-se e notou outras asas

batendo em toda a volta. Muitas maisBelas de Camberwell desciam do céu donorte para o capim e o chão que cercava

 Yemi. Fola as observou baterem asas atéo ombro direito dele. Umas por sobre asoutras, formaram, então, uma pirâmide

perfeita. Yemi folheava o livro de figuras.A luz do sol matinal refletida nas páginastornava a leitura difícil. Yemi apertou osolhos, depois riu. Olhou suas borboletas.

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As Bruxas de Heebra estavam famintasquando alcançaram a Terra. A viagemtinha durado muito mais tempo do queela esperava. Exaustas, suas cobras-almas com fome encolhiam-se deencontro aos peitos. O grupo de

batedoras só suportou o estirão finalporque ela as conduzia.No entanto, lá estava enfim o

grande prêmio: o planeta lar de Rachel.Apesar da ânsia que sentiam por

comida, Heebra conseguiu segurar as

Bruxas — ela precisava ter certeza deque não havia Magos ali.Cautelosamente, cercou o planeta comduas batedoras. O fedor inconfundível de

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Larpskendya estava em toda parte —mas era aroma antigo, e não havia outrosMagos presentes.

Excelente. Isso queria dizer que emlocais distantes as guerreiras Gridda osdistraíam bem.

Com gritos agudos de antecipação,as Bruxas mergulharam em direção àmetade do mundo iluminada pelo sol.

Uns poucos satélites de defesa giravam,registrando a presença delas. Heebradesarmou com facilidade as mensagenseletrônicas primitivas e, sem seremdetectadas, as Bruxas passaramimpetuosamente pela termosfera. Por um

momento, sua camada quente assegurou; depois elas ajustaram as formasde seus corpos de modo que o calor secoremoveu as inúteis camadas mortas depele espacial. Alegremente, elassurgiram na parte superior da atmosfera,

tremendo de arrebatamento à medidaque o frio salpicava sua nova carne crua.— Banqueteiem-se! Banqueteiem-

se! — Heebra ordenou às suas Bruxasfamintas.

Através da nuvem azul e branca que

passava rapidamente em redemoinho,mergulharam fundo no Oceano Pacífico,alimentando-se dos atuns saltadores edos grandes tubarões brancos que os

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perseguiam.Esse oceano, porém, era quente

demais para o agrado das Bruxas, de

modo que se deslocaram para o norte.Nadando em meio ao gelo flutuante doÁrtico, engoliram vastos cardumes dearenques.

— Sem armas — Calen maravilhava-se, analisando os peixes. — Diferentes

dos de Ool. Só fazem andar juntos emtolos cardumes, aparentementeesperando serem comidos. Onde está aarmadura e o veneno deles? Tomara logoencontrarmos algo mais interessantepara nos testar.

Mas as maiores criaturas queconseguiram encontrar foram baleiasassassinas. Estas fugiram quando asBruxas tentaram estimular uma luta.Heebra apressadamente conduziu asBruxas em direção à terra antes que

ficassem por demais entediadas. Fezuma base perto do PóloNorte. Ali havia em abundância a

carne de urso polar e a rica carne oleosade foca. Para esconderem-se seriamnecessários apenas os encantamentos

mais simples. A temperatura eramoderada demais, mas as ocasionaisnevascas sopravam frescas e claras: umalembrança de casa. Em horas, as Bruxas

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  já estavam com as garras nas rochascongeladas embaixo das neves,construindo energicamente as fundações

de novas torres-olhos.Uma vez acomodadas, Heebra

despachou as cinco batedoras. Atravésdo globo as Bruxas fizeram sondagens,disfarçadas de muitas formas,dominando a estrutura simples das

línguas — e estudando as crianças portoda a parte. Os relatórios das batedorasdeixavam Heebra fascinada.

Calen foi a última a voltar. Muitashoras depois das outras terem chegado,Heebra viu seu vestido preto ondulando

na distância. Calen voava da maneiraextravagante que lhe era típica, a cabeçacareca cortando o vento, em carreirarápida e rasteira através da neve.Apertando os braços de encontro aoslados do corpo, usava somente as pontas

das garras para mudar de direção.— E aí? — perguntou Heebra,impacientemente, assim que elaapareceu.

Calen transformou sua cara na deum menino novo que tinha conhecido

recentemente, mostrando os dentes deleite minúsculos.— Essas crianças nada têm que

possa nos amedrontar!

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— Obviamente — disse Heebra. —As outras Bruxas estão cheias dedesdém. O que você achou?

— Por onde começo? Elas são tãofracas. Olhos líquidos frágeis, sem visãonoturna nem visão de raios X. Sangramcom o menor corte.

Calen riu.— A pele delas se rasga, dá para

acreditar? E órgãos internos moles, semproteção. Isso as torna vulneráveis. Também estão sujeitas a um sem fim dedoenças e infecções. E lentas, mãe.Lentas para reagir, pensar, movimentar-se ou sentir o perigo. Nada as

recomenda.Ela bateu na cabeça.— Em cima do cérebro delas há uma

extensão fibrosa, um couro cabeludo.Pega fogo com o menor toque, umaevolução ridícula!

— Você esperava alguma coisa maisimpressionante? — perguntou Heebra. —Você não? Heebra arranhou as escamasde Mak.

— Abra os olhos. Seus corpospodem ser débeis, mas essa espécie é de

predadores naturais. Há guerras entreeles acontecendo em toda parte nesteplaneta. Raramente conhecemos raça tãopromissora. Vejo por todo lado sinais da

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saudável influência de Dragwena.— Que pena não podermos usar os

adultos — suspirou Calen. — A magia que

têm quando crianças decai cedo.— O que acha da tecnologia deles?— Não constitui perigo para nós —

escarneceu Calen. — Um substitutopobre da magia. Eles sequer são capazesde detectar a nossa presença.

— Concordo. Temos que nosconcentrar nas crianças. Avaliar suamágica.

— Há uma clara interferência deLarpskendya, embaraçando-as — disseCalen. — Sua influência levou a algumas

características peculiares, tais como aescola para crianças. Em vez de ficaremlivres para praticar seus encantamentos,os jovens sentam-se atrás de carteiras, aobedecer adultos. Que desperdício!

— De um modo geral, Larpskendya

nunca influencia o percurso dedesenvolvimento da magia em mundoalgum — cismou Heebra. — Diga-me porque este planeta é diferente?

E lançou um olhar ameaçador aNylo que, lembrando-se da última vez em

que Heebra a tinha segurado, escondeu acabeça arredondada dentro do vestido deCalen.

— Essas crianças têm pouca

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disciplina — respondeu Calencautelosamente. — Os mais jovenscomportam-se instintivamente, pegando

o que podem, notavelmente parecidoscom os da nossa própria espécie.Larpskendya deve temer que, liberandosua magia, as crianças possam tomar umcaminho destrutivo.

— A começar pela remoção dos

adultos inferiores — concordou Heebra.— E, a seguir, uma batalha entre aspróprias crianças, à medida que asmelhores aprendam a dominar.

Calen sorriu.— Como Larpskendya odiaria isso!

Seria bom de ver.— As crianças podem ser usadascontra os próprios Magos?

— Sim, elas lutarão por nós —respondeu Calen, confiante. — A mágicadelas está transbordando. Basta o mais

simples dos encantamentos para liberá-la. Podemos treiná-las como faríamoscom nossas bruxas-aprendizes. Ela riu.

— Logo as teremos desprezando osadultos. Larpskendya mantém ascrianças tão confusas. Você acredita que

quando ferem um adversáriofreqüentemente se sentem culpadas?— Por melhor que as treinemos,

criança alguma jamais seria capaz de

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derrotar um Mago — disse Heebra.— Verdade. Mas essas crianças

gostam de estar juntas, mãe. Poderíamos

alinhá-las em grandes grupos, dar-lhesum propósito. Iam gostar. Umas cem,talvez, seriam capazes de distrair umMago por tempo suficiente para nósterminarmos com ele. E existem tantasdessas coisinhas! Poderíamos

desperdiçar milhões que mesmo assimnão iam faltar!— Será? — disse Heebra, pensativa.

— Estudei essas crianças pessoalmente:elas a contrariam, são teimosas muitasvezes e menos previsíveis do que você

pensa. Algumas nos farão forteresistência; outras serão difíceis dedominar. A criança Rachel é provasuficiente. É óbvio que Dragwena tentoutreiná-la, mas de alguma maneira amenina pulou fora. Notável! Resistir a

uma Alta Bruxa! Criatura alguma, excetoMagos, jamais fez isso.Calen deu de ombros.— Rachel provavelmente é única.

Uma única criança extraordinária.— É possível — disse Heebra. — Eu

duvido. Num mundo tão grande, podehaver muitas crianças extraordinárias. Ea magia neste mundo é crua. Quem sabecomo vai evoluir?

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Calen disse, desafiadora:— Em toda a nossa história de

conquista, esta é a primeira vez que

descobrimos uma espécie assim. O quenos resta para combater os Magos?Larpskendya nos devolve a Ool,humilhadas, todo ano. É isto o que vocêquer, mãe? Uma morte indignadefendendo de Larpskendya a sua

própria torre-olho? Será que teremos quepronunciar seu nome aos sussurros,temerosas, entre nós, para sempre?

— Eu decidirei o que terá de serfeito — grunhiu Heebra.

Levantando os musculosos braços

nus, ela deslizou para o interior de umbanco de altas nuvens. Por um tempo,Heebra simplesmente flutuou em meioaos ventos polares, achando seu toqueagradavelmente frio. Um ninho dearanhas rastejou para a parte da frente

de suas mandíbulas a fim de sentir o geloe olhar as recém-construídas torres-olhosdas Bruxas. A visão familiar deixou asaranhas exaltadas, e Heebra lambeu-as,indulgentemente.

— Eis minhas instruções — disse

ela, voando de volta para junto de Calen.— Concentre o treinamento nos mais jovens. São mais facilmente convencidos.Ignore todos exceto as crianças melhor

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dotadas ou mais cruéis. Onde for capazde botar crianças contra adultos, comopais, professores ou quaisquer outros que

regulem comportamentos, faça isso. Acoisa mais importante é trabalhardepressa. Descubra líderes, Calen. Nãopodemos treinar todas as crianças.Encontre as capazes de dar um empurrãona própria espécie, punindo-a.

As tatuagens de Calen brilhavam deexcitação. Já ia embora, mas virou-se.— Você nada mencionou sobre

Rachel ou Eric. Quer mesmo vingança?— Não os esqueci — disse Heebra.

— Resumindo: eu mesma fui procurar

Rachel. Não foi difícil encontrá-la. Apesarde seus esforços para esconder seusdons, a qualidade de sua magia brilhafeito um sinal luminoso neste pequenomundo.

— O que achou dela? — perguntou

Calen interessada.— Um membro surpreendente daespécie. Deu para ver por queLarpskendya está tão interessado nela.

  Tem um dom incomum, que podemosusar.

— Um dom?— Tem uma conexão direta com opróprio Larpskendya.

Calen ficou boquiaberta. Sabia há

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tempos que as Bruxas buscavam talacesso a Larpskendya.

— Podemos usá-lo e localizá-lo

diretamente? — perguntou.— Não. Larspendya obscurece o

retorno até ele. Mas, se usarmos o elocuidadosamente, podemos ser capazesde trazê-lo até nós.

— Rachel está chamando

Larpskendya agora? — perguntou Calen.— Não é bom que ele chegue antes deestarmos preparadas.

— Ela o está chamando, é claro queestá! — riu Heebra. — Atônita, confusa,Rachel está freneticamente mandando

sinais. No entanto, Larpskendya nadaescuta. Eu coloquei em volta dela umencantamento de desarme que a meninanunca encontrará.

— Quando vai tirá-lo?— Quando tivermos treinado um

número suficiente de crianças. Quandoestivermos estabelecidas e eu tiverdecidido como montar uma armadilhapara Larpskendya. Até então ele nãoreceberá avisos de Rachel. Ele viráquando nós estivermos prontas para

recebê-lo.Calen concordou.— Quando for a hora, você,

pessoalmente, pretende matar Rachel?

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— Ela sequer merece minha atenção— respondeu Heebra. — Ando pensandonuma maneira mais interessante de

liquidá-la.Ela esticou uma garra na direção de

Calen.— Você bota muita fé nos jovens

deste mundo, então vou lhe dar aseguinte tarefa: encontre para mim outra

criança capaz de desafiar Rachel.Encontre e treine um carrasco da própriaespécie dela. Desse jeito, a morte deRachel trará muito mais satisfação.

— Talvez eu já tenha encontradoessa criança — disse Calen, animada. —

Ela é incomum em tudo. Logo voumostrá-la a você. Uma surpresa!Enquanto Calen saía para dar

instruções às outras Bruxas, Heebraflutuou por mais alguns minutos nascorrentes de ventos polares, abrindo as

mandíbulas. As aranhas lá dentrorolavam, deliciando-se com o toquedireto dos flocos de neve.

Heebra caiu no chão. Um urso polarque se encontrava por perto ergueu ofocinho da neve e veio vagando lamber-

lhe os pés. Heebra rolou com ele,brincando. Rolou várias vezes, comcuidado para não machucar o couro finodo urso com as garras.

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Bem, pensou; muito bem,Larpskendya. Este mundo é o seu piorpesadelo, não é? Como estas crianças

devem enchê-lo de terror! Entendo porque você escravizou a magia delas eguardou este mundo com tanto segredo,cauteloso. Você está com medo, não?Está com medo porque, mais quequalquer outra espécie, essas crianças

são como nós!

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Mamãe despejou aveia de mingau natigela de café-da-manhã de Eric.

— Mais, por favor — pediu.

Ela abarrotou a tigela com mais ummonte.

— Chega?— Só mais um pouquinho...Morpeth descansava por perto.— Já está transbordando do prato —

murmurou ele. — Como é que você vaicomer tudo isso?

Eric levantou a colher.— Eu estou crescendo. Eu  preciso

dessa comida, ao contrário de certaspessoas que têm apetite — fez uma

careta para Rachel — de formiga.— Você quer para os prapsis —disse Rachel, casualmente. — Já os vicomendo do seu prato.

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Ela riu e lambeu os beiços.— Ficam com a cara toda

lambuzada.

Mamãe suspirou fundo.— Eric, é verdade isso?— Er...— Não, não me conte — disse

mamãe. — Prefiro não saber...Ela apanhou a bolsa e um casaco

leve.— Vou dar uma saída de cerca deuma hora. O celular está ligado, seprecisarem de mim.

Ela olhou para Eric.— É melhor não ter mingau nenhum

em lugar impróprio da minha cozinhaquando eu voltar. Entendeu?Eric concordou e ela saiu de casa.

Poucos minutos depois, Rachel notouuma comoção junto à janela da cozinha.

— O que está incomodando os

meninos? — perguntou.Ambos os prapsis faziam umaalgaravia louca, voando em espiraisfechados, excitados demais para falar.Quando todos correram para lá, umdeles, afinal, conseguiu dizer:

— Uma grande maravilha felpuda!— gritou, espiando através das cortinasde renda.

— Uma gritona voadora! — o outro

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disse.— Bobagem! Uma mosca peluda!

Eric piscou os olhos no sol.

— Meu Deus!Alto no céu azul puro, voando por

sobre os telhados, uma forma preta faziacírculos suaves.

— Parece um cachorro — arriscouEric. — Aquilo é ridículo. Deve ser uma

pipa.— Não tem barbante — observouMorpeth. — E está latindo!

— Um labrador — sussurrou Rachel.Eric a tocou com o cotovelo.

— O que está acontecendo? Você

está fazendo isso?— É claro que não.— Então, quem é?O labrador estava suspenso no meio

do ar, sobre o centro de uma quadra de jogo. Estava deitado de costas, as patas

grandes remando no céu. De repente,ganiu, girou e disparou diretamente paracima. Os meninos que jogavam futebolna quadra não sabiam se olhavam oucorriam.

— Minha nossa! — exclamou Eric. —

Ele é controlado por um encantamento.Magia, Rachel!Ela concordou, estremecendo e

tentando localizar a fonte. Chamou à

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mente os encantamentos de defesapraticados nas últimas duas ou trêssemanas.

Os prapsis ofegavam nos ouvidos deEric.

— Eu posso destruir oencantamento se você quiser — disseele.

— Não — respondeu Rachel. — O

cão está alto demais. Iríamos machucá-lo.— Por que não usar a sua própria

mágica, Rach?— Ainda não — aconselhou Morpeth.

— Não se revele enquanto nós não

entendermos diante de que nosencontramos. Vamos até à quadra.Saíram da casa correndo. Os prapsis

se espremeram e passaram pelo ombrode Eric antes de este poder fechar aporta.

— Ei, voltem, rapazes! — gritou ele.— Vocês não têm autorização para sair!Os prapsis voavam, em júbilo, por

cima das casas e logo alcançaram ocachorro. Tagarelando excitados,imitavam seus movimentos

tempestuosos através do céu.— Ei, volte! — um dos prapsisgemeu no ouvido do labrador.

— Cachorro feio! — o outro gritou.

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— Quieto, sua maravilha felpuda!Rachel liderava a caminhada

subindo as ruas que iam ficando mais

íngremes em direção à quadra. Conformese aproximavam, o corpo do cachorrocomeçou a fazer novos padrões no ar —longas formas rítmicas — uma mistura delinhas curvas e retas.

Eric se esforçou para acompanhar

as longas passadas de Rachel.— Está danado, possuído!— Não — disse Morpeth, rastreando

os movimentos do cachorro. — É umnome.

— O que é um nome?

Eles chegaram à beira do campo.— Aquilo — Morpeth apontou para océu. — PAULO. Não está vendo? Ocachorro está escrevendo o mesmo nomerepetidamente.

Correram campo acima, até ficarem

bem embaixo do frenético labrador. Osmeninos do futebol tinham debandado,deixando para trás a bola.

— Estamos bem perto — disseRachel. — Faça-o descer, Eric.

Eric apontou o dedo para o labrador,

acabando com o encantamento e ocachorro caiu do céu. Bem antes dealcançar o chão, Rachel espalhou umencantamento de acolchoado na grama.

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O cachorro aterrissou em segurança nasquatro patas e fugiu, descendo o morro,latindo no máximo volume. Os prapsis o

acompanharam alegres oferecendoconselhos inúteis.

— Paulo — Eric ficou cismado. —Não parece nome de cachorro.

— Não — disse Rachel. — Acho quepertence a ele.

E apontou para o fundo do campo.Ali, meio escondido na grama espessa,estava deitado um menino gordo decabelo espetado mais ou menos damesma idade de Eric. Apoiado noscotovelos, concentrava-se furiosamente

no cachorro, mexendo os dedos como sequisesse mandar o labrador de volta paraos ares.

Eric fez uma careta.— Ele não consegue. Não entende

que, depois que destruo um

encantamento, jamais conseguirá fazê-lofuncionar outra vez.— Para trás — determinou Morpeth.

— Deixe-o fazer a próxima jogada.Eric olhou de esguelha.— O que é que ele está fazendo

agora? Está olhando para aquela bola.A bola de couro ergueu-se algunscentímetros no ar, depois deslizou baixa,cruzando o gramado. Movia-se muito

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mais depressa do que jamais o faria setivesse sido chutada.

— Está vindo em nossa direção —

notou Morpeth.— Na verdade — disse Rachel —,

está dirigida a mim.A bola ganhou velocidade,

erguendo-se ao nível de sua cabeça —uma mancha veloz.

Eric apontou o dedo, destruindo oencantamento, mas o ímpeto da bola eratanto que Rachel permaneceu como alvo.Ela a fez se desviar inofensivamente emtorno de seus ombros.

— Ele fez isso de propósito. — Eric

encolerizou-se. — Vamos pegá-lo!Rachel sacudiu a cabeça.— Não. Vamos ver o que ele vai

fazer em seguida.O menino de cabelo espetado

fechou a cara. No momento seguinte,

Rachel sentiu um novo encantamento,desta vez, trabalhando nela.— Não posso acreditar — disse. —

Está tentando enfiar minha cara na lama.— Deixe-me esmagar o

encantamento — grunhiu Eric.

Rachel fez um gesto querendo dizerque não, enquanto tentava compreenderuma coisa qualquer referente à magia domenino.

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— Ele parece inexperiente —Morpeth disse a ela. — Você senteautoridade de verdade ou sutileza nos

encantamentos dele?— Não — ela respondeu,

observando o menino a repetiransiosamente o mesmo encantamentooutra vez. — Só habilidade crua, recém-despertada... e poderosa.

— Mas por que tenta ferir você eaquele cão? — perguntou Eric.Rachel não tinha certeza. O menino

tinha mesmo tentado feri-la e aolabrador? Ou estava simplesmentetestando a própria magia, e a dela,

curioso a respeito do que ambos podiamfazer?Eles tentaram se aproximar de

Paulo. Quando Morpeth estava perto osuficiente para ver seu rosto, notou oquanto o menino parecia assustado.

Espantado, vacilava, o corpo primeirovindo em direção a Rachel e depoisafastando-se. Finalmente, saiu zunindocaminho abaixo.

— Venham — disse Eric. — Ele nãopode escapar por aqui. Ei, Rach, você

poderia ir atrás dele voando.— Não — ela disse. — Eu ainda nãoquero mostrar a ele o que sou capaz defazer.

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Acompanharam o caminho até o pédo morro, onde fazia uma curva fechadaentrando numa grande campina plana. A

campina estava vazia.— Onde está ele? — espantou-se

Eric. — Não há onde se esconder. Comopôde correr tão depressa?

— Ele não correu de nós — disseMorpeth. — Deve ter esperado até ficar

fora de vista e então encontrou outrocaminho para fora da campina. Será quevoou?

— Não — disse Rachel, com o rostopálido. — Não é isso. Alguém ou algumaoutra coisa espanou Paulo daqui. Eu senti

um leve rastro de mágica diferente da domenino. Era incrivelmente forte.Ela enviou encantamentos de

informação para além de um quilômetroe meio. Todos os sinais de Paulo tinhamdesaparecido.

— Não consigo detectar nada. Orastro termina aqui. Ela caiu de joelhosno ponto onde uma única pegada degrama amassada marcava o último lugarem que Paulo tinha estado de pé. Já ocapim voltava ao lugar, como se ele

nunca tivesse existido.— Você acha que o próprio Paulopoderia ter realizado esse ato dedesaparecimento? — ela perguntou a

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Morpeth.— Eu acho que não — disse

Morpeth, pensativo. — Não com tal

perfeição. É preciso muita habilidadepara ocultar vestígios de encantamentosrecentes... e aquele menino estavaaturdido. Ele deve ter recebido ajuda... Ede alguém bem mais experiente.

Enquanto caminhavam de volta

para casa, Eric rosnou:— Seja o que for que estejaacontecendo, não gostei desse Paulo.Vocês viram o que ele fez.Deliberadamente assustando aquelecachorro, e se divertindo.

Morpeth esfregou o queixo.— Ele estava se divertindo? Não foiisso o que eu reparei. Eu vi um meninopouco à vontade, ou consigo mesmo oucom um companheiro invisível. Algumacoisa o estava amedrontando.

Quando chegaram ao portão dafrente, os prapsis pousaram nos ombrosde Eric. Ruidosamente, cuspiram pêlos decachorro.

Rachel melindrou-se.— Eles não morderam o labrador,

morderam?— Neca — Eric fez uma careta. —Provavelmente ficaram assim tentandobeijá-lo.

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E enfiou os prapsis dentro da camisaantes que alguém na rua visse suascaras vermelhas e satisfeitas.

Morpeth os conduziu à sala de estar,aliviado por mamãe ainda não tervoltado. Durante uns poucos minutos,eles esquadrinharam as portas e janelas,meio esperando um Paulo cheio de raivaabrindo caminho à força.

— Você não nos tinha dito quenenhuma criança era ainda capaz deusar mágica? — perguntou Eric a Rachel.— O que está acontecendo?

Rachel estremeceu, virando-se paraMorpeth.

— Você está entendendo isto?Ele deu de ombros.— Alguma coisa deve ter

desencadeado a mágica de Paulo.Qualquer coisa quase a pode terengatilhado. Uma emoção, talvez raiva

ou medo.Pensou em Ithrea: uma táticafavorita de Dragwena — lembrou — erafazer as crianças entrarem em pânicopara liberar os encantamentos delas.

— Você acha que Paulo é o único

menino aí fora usando magia? — quissaber Eric.— É possível que não — disse

Morpeth. — Ou não por muito tempo.

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Seja lá o que for que tenha provocadoisto, deveríamos pressupor que Paulo ésomente o início. Centenas de crianças

logo poderão fazer encantamentos.Ele olhou para Rachel.— Larpskendya nunca teve essa

intenção ou esse desejo, tenho certeza.Isso confirma que ele não deve estar porperto.

Nós estamos sozinhos, Rachel sedeu conta. Lutou contra essa idéia, ereparou em seus encantamentosretirando-se para as profundezas de seuinterior.

— Não aprecio muito a idéia de

crianças com magia — murmurou Eric. —Imaginem um valentão capaz de usar umencantamento que provoque cegueira!

— Se um número suficiente decrianças usar mágica podemos nospreparar para coisa pior — disse

Morpeth, grave. — Em Ithrea, vi todo tipode criança chegar ao longo de séculos.As que tinham cabeças mais fortesresistiam à influência de Dragwena porum tempo, mas algumas — ele fez umapausa — bem, digamos que algumas não

faziam muito esforço. Elasvoluntariamente dirigiam sua magiacontra outras crianças. Umas poucassequer necessitavam do estímulo de

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Dragwena. Elas gostavam.Rachel tremeu.— Imaginem o prejuízo que uma

Bruxa seria capaz de fazer aqui agora.À menção da palavra Bruxa, Eric

respirou fundo.— É nisso que estivemos pensando,

não é? — disse ela, bruscamente. — Sejao que for que tenha levado aquele

menino, Paulo, para longe, pode ter sidouma Bruxa. Vamos parar de fingir queisso não nos passou pela cabeça. Não hádúvida de que havia alguma coisapoderosa com ele.

— Dragwena está morta — disse

Morpeth. Ele se aproximou e sustentou oolhar dela.— Ela não pode mais fazer mal a

você. E ainda não vejo evidência de quehá outras Bruxas aqui.

Rachel fez que sim, ausente,

querendo desesperadamente acreditarnaquilo.— Precisamos de mais informação

— disse Morpeth. — Rachel, você poderiasintonizar os seus encantamentos deinformação para descobrir somente

aquelas crianças que estão usando amagia delas?— Sim — disse ela. — Acho que isso

nos dirá quantas são e onde estão. Mas

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nós precisamos saber como estão usandoa magia delas também. Existem outrostorturadores de cães como Paulo por aí?

Quero chegar mais perto deles.— Boa idéia — disse Eric. — E eu e

os meninos iremos com você.Ele lançou aos prapsis um olhar

especial.— Proteção extra.

— Não, terei que viajar longasdistâncias — Rachel disse a ele. — Édifícil demais para mim fazê-lo comvocês pendurados.

Olhando para Morpeth, ela viu queeste estava prestes a fazer objeção.

— Eu vou sozinha — insistiu. —Assim é mais seguro.— É? — perguntou ele, notando nos

olhos dela um brilho azul quase dolorosode tão puro. — Ou esse é o conselho queos seus encantamentos de vôo estão

sussurrando?Rachel hesitou, questionando-se.— Nós temos que ser cuidadosos —

disse Morpeth. — Alguma coisa atraiuPaulo para cá. O que mais poderia sersenão a sua mágica, Rachel? Ele

provavelmente sabe onde você mora, e,querendo ou não, ele atacou você.Morpeth olhou para fora da janela.— Talvez esteja esperando por uma

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segunda chance, quando Eric e eu nãoestivermos perto o suficiente paraprotegê-la.

Rachel suspirou fundo.— Eu não posso deixar mamãe aqui

sozinha com ele aí fora — disse. —Preciso de vocês dois para ficarem comela. Por favor, Morpeth. Ao primeiro sinalde perigo, eu volto. Prometo.

Morpeth ficou imaginando o quefazer. Estaria o menino Paulopacientemente à espreita em algumlugar lá fora, preparando um ataquemelhor? E quem era seu companheiroinvisível? Uma Bruxa, querendo a morte

de Rachel? No entanto, eles de fatoprecisavam saber mais a respeitodaquele repentino uso de magia — epura rapidez, rapidez desimpedida,talvez fosse a melhor defesa de Rachelcontra um oponente desconhecido.

Finalmente, ele assentiu.Eric sacudiu a cabeça.— O que dizemos à mamãe? Ela vai

ficar doida.— Deixe isso comigo — Morpeth

disse a ele, sabendo que mamãe jamais

aceitaria sua decisão de permitir queRachel saísse de casa.Rachel deu um beijo rápido em Eric,

abraçou Morpeth e esgueirou-se, para

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passar por ele. Desaferrolhando a portada frente, saiu correndo para o jardim,sem querer pensar muito no que poderia

a estar aguardando. Do lado de fora, océu estava limpo e ensolarado.

Uma Bruxa seria capaz de me ver aquilômetros, Rachel pensou.

Sentindo-se um alvo, de pé noalpendre, rapidamente considerou que

forma tomar. Mudar de forma era um deseus dons mágicos especiais. Ela o tinhadescoberto em Ithrea, aprimorado nasbatalhas contra Dragwena e praticadorepetidamente nas últimas duassemanas. Não queria cometer um erro

agora. Que forma escolher? Qual seria oobjeto menos notável naquele amplo céuaberto?

Algumas andorinhas em cimafizeram uma descida veloz atrás deinsetos. Cautelosa, cuidando que

ninguém visse, Rachel se transformounuma delas. Desdobrando as penaslustrosas, fugiu pelos céus subitamenteameaçadores.

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Rachel elevou-se no ar da manhã quentedo verão. Por um momento viu Morpeth,Eric e os prapsis olhando para cima pela

  janela da sala. Os rostos ansiosos

desapareceram quando bateu as asas deandorinha rumo às alturas.À medida que casas e ruas

familiares diminuíam, a figura de Paulo,

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de cabelo espetado, voltou à sua mente.— Pratique sua magia — disse a si

mesma, tentando livrar-se do medo.

Recolhendo as garras em miniatura,Rachel deliberadamente lançou seucorpo emplumado pelos céus. Apesar daprática recente em casa, parte da criaçãode encantamentos, em especial os devôo, ainda estava enferrujada.

Vamos, pensou, convidando aprópria mágica a se apresentar, mesurpreenda!

Incontáveis encantamentos demanobra ansiosamente se ofereceram.Prometiam maravilhas. Rachel selecionou

dois, traçando um arcomaravilhosamente extenso pelo céu —truque que andorinha alguma jamaistentara. Permanecer numa só forma pormuito tempo a deixou nervosa.

— Com que rapidez sou capaz de

mudar de forma, se realmente meesforçar? — imaginou.Escolheu ao acaso outra forma de

ave: a de um falcão. Encompridando asasas, Rachel pairou no ar; era o terrordos camundongos!

— Alguma outra coisa — pensou. —Não pare de pensar.No meio do vôo, durante a flexão da

asa, se fez alterar várias vezes. Um

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pombo. Um Colibri, rápido como um raio.Um glorioso cisne, batendo as asaspesadas. Rachel voava através do céu e

subia, subia às vastas extensões,testando-se, transformando-se em todosos pássaros que conhecia.

E aí um encantamento diferentesugeriu um morcego.

Instantaneamente, os olhos de ave

encolheram. Soltando tinidos sonares, acabeça enrugada de Rachel testemunhouum lugar mais bonito que qualquer outracoisa já vista — com os próprios olhos ouolhos de pássaro. Era um fabuloso mundonovo, um mundo de morcego, sem cor,

mas onde cada lâmina de capim, cadagolpe de ar, tinha textura tão exótica quenão achava palavras para descrever.

— Você não precisa destas asasprimitivas para voar — disseram osencantamentos. — Basta botar pés em

ponta! Tonta de excitação, Rachel tornou ase transformar em menina esimplesmente chutou o ar com ossapatos.

O rastro turbulento de um jato

supersônico capturou seu olho.— Alcance-o! — comandou Rachel.Um encantamento de mudança

obedeceu com disposição. O ar deu uma

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melhor dotadas? A mágica tem umaroma distinto, lembraram-lhe seusencantamentos. Cace esse aroma.

Para tanto, seu próprio nariz erainútil. Rachel deixou os encantamentosse encarregarem: eles fizeram crescersuas narinas até cada uma se abrir emaba mole, carnuda, parecendo pétalafrágil, balançando na brisa.

Aspirando, imediatamente notoutênues aromas da mágica de crianças.Alguns agudos, pungentes. Outros,

almiscarados, fragrantes, maduros — ouuma mistura dessas coisas. E todosdeixavam rastros tênues. Para encontrar

crianças como Paulo, que de fatoestivessem usando mágica, ela precisavainvestigar uma área maior e se deslocarmais depressa.

Rachel se obrigou a relaxar,permitindo à magia fluir através de suas

veias. A sensação era eletrizante:enervante, enlouquecedora, comorespirar o ar imaculadamente limpodepois de toda uma vida de umidade. Elasentira relâmpagos assim ao lutar contraDragwena em Ithrea, mas o medo então

estragara qualquer prazer que pudessedesfrutar. Agora, confiante, transformou-se em vento. Fechando os olhos,esqueceu as nuvens. Procurou com o

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olfato mínimos vestígios de mágica — elançou-se sobre eles.

Deslocava-se a grandes saltos na

distância, deixando sua casa para trás.As cidades passavam como borrões. Osmares erguiam-se para ir a seu encontroe recuavam, como sonhos de mares.Abraçando uma linha costeira, seu corpotocou rochedos molhados onde uma

criança recém-experimentara seuprimeiro encantamento. Esta já tinha idoembora, de modo que Rachel tornou a sedeslocar. Seguindo um aroma forte,entrou numa região diferente, de arquente e cheiros novos.

O deslocamento a levara ao sul daFrança.Sentindo-se exposta, escondeu-se

na forma de mosca e alojou-se na folha-agulha de um pinheiro de Aleppo.Encontrava-se nas montanhas da

Provença. Naquela época do ano — iníciodo verão — o ar já estava seco enublado. O calor evaporava das ardentesGorges de Ia Nesque cortadas nas altasmontanhas. Quase invisível, em meio aoselegantes pinheiros das encostas

íngremes, Rachel encontrou um menino.Poderia ter quatro anos, talvez menos.Num céu azul impecável, ele tinha

criado um arco-íris.

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Era uma torre acima das montanhas— listas violeta, vermelhas e amarelas,pingando como tinta na terra embaixo.

— Plus grand, plus haut! —  elegritava, rindo para o sol. Rachel traduziuo melhor que pôde no seu francêshesitante: “Maior! Mais alto!” Sentiu-seorgulhosa.

Aqui não há perigo, pensou. É só um

menino aprendendo a usar sua magiarecém-desperta.  Tornando a transformar-se em

menina, aproximou-se, de braçosabertos.

— Não tenha medo — disse. Ele

recuou, surpreso. — Je suis Rachel. Qui es tu?O menino a olhou com atenção,

depois soltou um xingamento, dando-seconta de que tinha esquecido o arco-íris.Apertando os olhos, olhou para cima e

viu todas as cores sumirem. Esperneou,zangou-se, e desceu a montanha acorrer, as sandálias batendo no chãoduro.

Rachel considerou segui-lo — masum cheiro mais forte já atraía sua

atenção. Apressadamente tornou amudar de forma. Desta vez, disfarçadade vespa, desceu em Dortmund, naAlemanha.

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Ali, uma menina, tão nova que aindausava fraldas volumosas, trepava numamacieira do jardim.

O espanto imobilizara a mãe dacriança, perto. Do alto da árvore, o bebêabria os braços e chamava:

— Bar! Bar!De início Rachel pensou que a

menininha queria a mãe. Depois, viu o

ursinho de pelúcia jogado no gramado.Rachel viu os olhos do ursinho — botõescosturados — piscarem. De um pulo, esteergueu-se nas patas de feltro, pulou pelagrama e subiu o tronco da árvore,enlaçando a menina com os braços

felpudos.Ambos, bebê e urso, viraram-se, aomesmo tempo, para olhar a mãe.

Rachel sacudiu a cabeça, tentandodar sentido àquilo. Talvez não fosse tãoestranho. Se criança nova fosse fazer

experiências, não iria começar com ospróprios brinquedos?— Não há nada de sinistro

acontecendo aqui — decidiu. — É só umacriança brincando.

Enquanto Rachel imaginava como

consolar a mãe perturbada, um novoaroma a atingiu. Era diferente dos outros.Profundamente rico, vasto, como se umbando de crianças tivesse se reunido

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para produzi-lo. Pela primeira vez, Rachelsentiu-se realmente assustada. Poderiaaquilo ser magia de uma única criança?

— Investigue! — aconselharamalguns de seus encantamentos.

— Fuja! — ordenaram outros.Rachel se deslocou em direção ao

aroma. Velozmente tornou a atravessar aFrança, contornando a Espanha e

viajando rumo ao sul, até alcançar umnovo continente: África.O calor de tostar do deserto do

Saara queimava embaixo. Numavelocidade tremenda, por sobre as dunasde areia, de repente tomou consciência

de que seus próprios dons, por si sós,  jamais seriam capazes de deslocá-lanaquele ritmo. Alguma outra coisaregistrara a sua presença. Sabia que elaestava ali e a atraía para si, uma forçacolossal, incansável, puxando-a para seu

próprio domínio.Quando atingiu seu destino, Rachelse viu quase que arrebatada do céu.

Cambaleou, ofuscada, por uminstante confusa demais para pensar emse ocultar.

Encontrava-se numa aldeia daNigéria, junto a uma oca. Era feita detijolos de barro misturados com palha e,à sombra de uma das paredes, estava

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sentado um bebê, no chão cozido.Cobriam-no lindas borboletas amarelas.Dúzias delas descansavam, contentes,

sobre seus dedos, pés descalços, cabelo.Alojavam-se como jóias nos lóbulos dasorelhas e pálpebras. A visão de tantosinsetos poderia ser grotesca, mas Rachelinstintivamente se deu conta de queeram comandados pelo menino. O bebê

era a fonte de toda a espantosa magiaque a carregara para lá. Assim que viuRachel, o bebê sorriu. Um sorrisosimples, genuíno — como são os sorrisosde boas-vindas das crianças.

— Yemi — ele disse, apontando com

orgulho para si. — Yemi.Rachel gritou de felicidade. Umasensação surpreendente a tomou. Vinhade Yemi. Ele só conseguia falar algumaspalavras. Seus encantamentos, porém, jáconheciam um cumprimento pleno. A

mágica fluía dele livremente, instintiva,generosa, grata por saber que nãoestava sozinha no mundo.

Sem pensar, Rachel correu, pegou Yemi nos braços e jogou-o no ar.

Por um momento, o bebê pairou

acima da cabeça dela, sem cair.Chutando com os pés descalços,esforçou-se por se manter no ar. Quandocaiu, foi do modo impotente como

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qualquer outro bebê cairia. Rachel osegurou e apertou-o junto a si,sussurrando seu nome nos ouvidos

apinhados de borboletas. Ele soprou paracima dela as Belas de Camberwell que,como leques, vieram adornar seu cabelo,com graça amarela.

De repente, um barulho da choçafez Rachel virar-se.

 Yemi riu abafado.— Fola — anunciou.Rachel viu uma menina dentro da

oca, pendurada ao umbral. De cabelotrançado e sujo de farinha, olhavafixamente para Rachel, aparentemente

temerosa.— Oi — disse Rachel, retirando ascores dos encantamentos dos olhos, paraevitar assustá-la. — Desculpe se aassustei. Você me viu chegar agoramesmo?

A menina teve dificuldade paraentender a língua de Rachel. Finalmente,concordou.

— Quem é você? — perguntou, comforte sotaque, em inglês. — O que querconosco?

Falava suavemente, examinandocom grande curiosidade as roupas, a pelee o cabelo de Rachel.

Outra voz, muito mais áspera, vinda

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do interior da oca, gritou uma coisaqualquer — e puxaram Fola pela gola. Elaresistiu, desejando, claramente, ficar com

Rachel.— É sua mãe, lá dentro? —

perguntou Rachel. — Está com medo? Elanão precisa ter medo. Eu não farei mal a

 Yemi. Por favor, se...A voz da casa trovejou

ameaçadoramente.— Você assusta Mama — disse Fola.— Sim, vocês dois. Você veio para levar

 Yemi?— É claro que não — respondeu

Rachel. — Você é irmã dele?

— Nós o escondemos com muitasegurança — murmurou Fola. — Yemi nãodeve sair. Mama o guarda lá dentro, masele escapa.

Ela olhou para Rachel, investigando.— Ele sabia que você ia vir, não

sabia? Ela foi agarrada outra vez.— Yemi, venha! — insistiu Fola.Estendeu um braço, mas Yemi não

quis deixar Rachel. Apertava-a e chutavaa irmã.

— Não. Faça o que ela está pedindo

— disse Rachel. — Eu vou voltar. Logo.Sua magia enviou ondas deconfiança através dele. Depois de umcurto acesso de mau humor, Yemi

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deslizou, relutante, para o abraço deFola.

— Ela não quer que você volte —

Fola disse com tristeza. — Mama disseisso. Não volte. Deixe-nos em paz.

Mas deu um ligeiro sorriso paraRachel antes de levar Yemi para dentro.Fechada a porta, começou lá dentro umabriga dura. Rachel deslocou-se para

longe da casa, ainda latejando com oprazer de apenas estar com Yemi. Por umtempo deslizou pelo céu alto pensandonele. Sua magia era tão apaixonada, tãoalegre. Era ele único?

Antes de poder sequer começar a

responder tais perguntas, outro rastro demagia demandou sua atenção. Desejavadescansar, voltar para casa e discutircom Morpeth o que tinha aprendido.Entretanto, não queria ignorar aroma tãoforte — e, desta vez, familiar. Deslocou-

se. E desceu em Alexandria, no Egito.No amplo cais onde o Nilo dá no

Mediterrâneo, havia caos entre ospescadores. Eram homens duros,morenos, acostumados aos azares do

mar, mas nada em suas bravas vidas ostinha preparado para aquilo.Resvalando dos convés molhados

dos barcos, os peixes apanhados naquele

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dia atacavam-nos.

Rachel logo identificou a causa: numcais, próximo à margem, estava de péum menino gordo de cabelo para cima.

— Paulo!Ela deslocou-se para o lado dele.— O que está fazendo? Pare!

Desesperado, ele voltou-se para ela.— Eu não con... consigo! Eu não

ouso!  Tremendo, aparentemente lutando

contra as próprias mãos — quedançavam no ar, seus dedos continuaramorquestrando as mordidas dos peixes.

— Afaste-se de mim! — implorou. —

Eu seria capaz de... Não! Não!De repente, puxou com toda a força

os dois braços. Todos os peixes saltaram

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pretos só podiam significar uma coisa:outra Bruxa estava aqui.

As primeiras três crianças — deu-se

conta — usavam a magia de maneirainofensiva. Já o padrão de Paulo era omesmo que vira no caso do labrador —um uso deliberadamente cruel dosencantamentos. Mas agora tinha certeza:não era Paulo o responsável.

  Tudo o que Rachel desejava eraafastar-se dos peixes, que ainda sedebatiam no cais. Deslocando-serapidamente em direção à sua casa, amais da metade do caminho de volta,novo cheiro a alcançou como um soco.

Vinha do lado oposto do mundo. Elacambaleou no céu, querendo tantoignorá-lo e voltar, mais que nuncapreocupada com deixar Morpeth, Eric emamãe sem proteção. Mas alguma coisanaquele cheiro não podia ser deixada de

lado.Acompanhando o rastro da mágica,Rachel fluiu rumo ao sul. Passou oEquador e aprofundou-se pelo hemisfériosul adentro, deixando lá atrás o calor dosol.

E pousou num cemitério chileno.Era noite nesta parte do mundo — einverno. Tinha recém-caído neve. Rachelapressadamente transformou-se no

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primeiro pássaro que associou com oclima frio — um pintarroxo — esperandose misturar à paisagem. Estufando as

penas do peito, olhou em torno. Ocemitério era enorme. Lápidesabandonadas jaziam pelo chão; outraserguiam-se em ângulos estranhos, comose até mesmo as almas mortas embaixotivessem tentado empurrá-las para abrir

caminho a um lugar mais aconchegante.Uma lua meio cheia se agachava junto aohorizonte. Em toda a volta de Rachelconcentrava-se, quase insuportável, oaroma de magia. Com certeza não eraoutra criança, pensou. Deve ser Bruxa.

Uma armadilha?Saltou cautelosamente em meio àslápides cobertas de limo. Nada se mexiano cemitério. Não havia gente cuidandonem andando entre o ermo de túmulos.

 Também não havia atalhos óbvios que

indicassem os caminhos. Rachel voounervosamente por entre umas poucasárvores dispersas. Os galhos pesavamcom a neve, estalando debaixo de suaspatas. Subitamente, ela desejou um sinalde vida humana — qualquer sinal — uma

voz, ou até uma pegada, a indicar quepessoas queridas de fato visitavamaquele lugar. Não havia tais sinaisreconfortantes. A neve abraçava a terra

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como se tivesse feito isso sempre, e a luaobservava Rachel nos espaços entre ostúmulos. Era tudo silêncio e gelo.

Eventualmente Rachel se viu atraídaa uma bela e notável estátua no centrodo cemitério.

Era um anjo de pedra.Havia outros anjos aqui e ali, mas

este anjo em particular era diferente.

Parecia novo — recém-feito — e otrabalho da escultura era tão fino que aslinhas suaves do rosto pareciampraticamente humanas. Curiosa, Rachelvoou com cautela em sua direção.

A estátua era de um anjo mulher —

uma menina — ajoelhada exatamentecomo uma menina viva se ajoelharia nochão. Rachel notou, então, que ela nãotinha asas. E, no lugar de mãos postasem sinal de oração, aquela menina depedra estava de braços cruzados.

A figura dava a impressão, segundoRachel pensou, de estar entediada.Ela deu uma olhada à sua volta. Não

havia crianças ali, ou Bruxas, nada óbvioque temer; só havia uma grande mágica,centrada na estátua incomum. Rachel

sacudiu a forma de pintarroxo, deslocou-se até ficar a poucos centímetros dorosto da estátua e estendeu a mão.

— Não me toque — sussurrou o

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anjo.Rachel ficou gelada — e viu as

pestanas de pedra abrirem-se

lentamente. O restante do rosto damenina permaneceu fixo. Por um instanteas duas meninas simplesmente seolharam: pedra diante de carne. Então,Rachel sentiu uma coisa qualquertestando sua mente. Um cumprimento,

boas-vindas como de Yemi? Não, ela sedeu conta. Era infinitamente mais sinistro— um encantamento de medição,tentando avaliar a força de sua magia.Rachel o repeliu — e viu a meninaarregalar os olhos.

— Como você fez isso? — a meninaperguntou, tentando ocultar a surpresa.Sua voz era monocórdia — brusca,

nada amigável — e não temia os donsmágicos de Rachel.

— Conte-me como bloqueou meu

encantamento — insistiu. — Diga,desembuche.— E se eu recusar?— Eu vou machucar você. É sério.A menina acompanhava de perto a

reação de Rachel.

— Me machucar? — Rachel tentoudemonstrar indiferença. — Por que vocêhaveria de fazê-lo?

— Você poderia me atacar, por isso.

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— Eu nem sei quem você é.— Prática no alvo, talvez — disse a

menina, dando de ombros. — Não se

pode ter cuidado demais. Você é forte,como eu, dá para ver. Já experimentouseus encantamentos em outras crianças?Sabe, já fez experiências com elas?

— Experiências? — Rachel sentiu ocoração disparar.

— Ai, não seja do contra — suspiroua menina. — Não me diga que você émelindrosa quando se trata de outrascrianças. Que boa menina você deve ser.Que desapontador!

Dissolvendo seu corpo de pedra, ela

se levantou, girando na neve,aparentemente querendo se mostrar.Rachel agora podia dizer que elas

eram mais ou menos da mesma idade ealtura. Em todos os outros aspectos eramdiferentes. De compleição pálida e

angular, os dedos e punhos finos damenina saíam do pulôver cinza. Seucabelo fino era perfeitamente branco —quase transparente — e caía, liso, porsobre seus ombros estreitos. Assobrancelhas brancas, quase sem cabelo,

brilhavam à luz da lua. Mas o traço maisespantoso da menina eram os seusolhos. Eram de um azul lavado, de cormais clara do que todos os que Rachel

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havia visto.— Eu sou Heiki — apresentou-se a

menina. — O que você acha de mim,

Rachel?Rachel espantou-se.— Como você sabe meu nome?— Um segredo. Está com medo?— Você espera que eu esteja com

medo?

— É claro — disse Heiki. — As outrascrianças ficaram com medo.— Você fez mal a elas?— A algumas. Ela riu.— Não muito. A maioria das crianças

é patética, não vale a pena. Você é como

elas, Rachel? Ou tem capacidade paralutar?Rachel fez uma pausa. O que

deveria achar daquela menina? Seusotaque era estranho, não inglês, emborafalasse fluentemente.

— De onde você é, Heiki?— Não importa. Você nem sequeraprendeu isso ainda? Nós já nãopertencemos mais a lugar nenhum,Rachel. Especiais como somos podemosir onde quisermos. E podemos fazer o

que quisermos. Você já usou a suamágica contra algum adulto?— E você? — eriçou-se Rachel.— Melhorou! Zangue-se! — sorriu

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Heiki, afetada. — Você soa maisinteressante quando fala com raiva.Continue. Solte uns grunhidos. Grrr. Eu

prefiro você mais malvada.— Você machucou algum adulto? —

perguntou Rachel. Heiki não respondeu,mas ampliou o sorriso — e

Rachel, de repente, tomouconsciência de que havia uma terceira

presença com elas no cemitério. Estavaao lado de Heiki, observando Rachel.Rachel não podia vê-la, mas sentiu-aobservando-a, casual, e logo reconheceuo padrão — de seu tempo com Dragwena— de uma Bruxa. Rachel deu um passo

atrás, tentando controlar o tremor. Heikisabia, ou estava sendo secretamenteseguida?

— Quem disse a você que as outrascrianças são patéticas? Uma Bruxa?

A voz de Heiki faltou.

— Como assim...?— Acho que você sabe muito bem —disse Rachel. — Uma criatura com quatroconjuntos de dentes pretos e uma cobra.

Ela se obrigou a olhar para o espaçovazio à direita de Heiki.

— Elas são feias. É bem fácillocalizá-las. Analisando a expressãocontida de Heiki, deu-se conta,horrorizada, de que Heiki reconheceu a

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descrição. Heiki e a Bruxa estavamtrabalhando juntas.

— Fuja! Fuja! — gritaram os

encantamentos de Rachel.— Quantas Bruxas estão aí? —

perguntou Rachel, incapaz de impedir umtremular na voz.

  Já não conseguia suportar olharpara o espaço ao lado de Heiki. Saltando

para trás, berrou:— Mostre-se! Heiki sorriu.— O que é, Rachel? Está com medo

de umas sepulturas?— Acho melhor você me dizer o que

sabe — falou Rachel, obrigando-se a dar

um passo à frente e aproximar-se obastante para agarrar o braço de Heiki.— De onde você é? Seja o que for, não édesta parte do mundo. Está muito longede casa, não está? Muito longe dasegurança. É melhor me contar tudo.

— E se eu não contar?— Eu vou obrigar a história a sair devocê.

— Vá em frente — gritou Heiki, coma cara excitada. — Simplesmente tente.

Rachel lançou um encantamento de

paralisia. Sem ferir Heiki, ele desarmousuas defesas e imobilizou seu corpo,permitindo que apenas os lábios e laringese movessem.

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— Conte! — pressionou Rachel,tentando desesperadamente ignorar apresença da Bruxa.

— O que está fazendo? — A meninasoltou um grito agudo e usou os própriosencantamentos tentando arrancar.

Naquele momento, Rachel sentiu asgrandes habilidades de Heiki. Felizmente,até ali, ela só era capaz de controlar sua

magia parcialmente.— Conte-me quantas Bruxas estãoaí — pressionou Rachel. — E onde elasestão.

— Você não vai forçar nada a sair demim!

Rachel mandou um encantamentode informação para dentro do ouvido damenina, buscando acesso às memóriasdela.

Heiki começou a tremer.— O que há de errado? — perguntou

Rachel, alarmada. — O encantamento deinformação não poderia tê-la machucado.— Não! Por favor — guinchou Heiki.— Eu não estou... — Rachel

começou a dizer.Mas aí se deu conta de que Heiki

não estava falando com ela. Estava secomunicando com a Bruxa.— Não, não faça isso! — implorou

Heiki. — Ainda não! Deixe-me lutar

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contra ela. Eu sou capaz de enfrentá-lasozinha. Eu não preciso da sua ajuda.Deixe-me...

De súbito Rachel estava agarrandoo nada. Com um grunhido final deconsternação, a voz de Heiki foi sumindo,deixando apenas as sepulturas desertas.Durante alguns minutos Rachel ficou alide pé sozinha, sentindo a neve pousar e

se derreter em sua pele quente.De repente, uma nova voz respirouem seu ouvido.

— Oi — ela disse. — Eu sou Calen.Rachel não conseguia ver rosto

algum, mas a respiração movia os flocos

de neve acima de sua cabeça.— Eu sou a coisa que mais lhe dámedo, criança — disse a voz. — Vocêestá preparada para o que virá aacontecer?

Rachel não conseguia se mexer nem

respirar.— Pratique sua magia, menina —disse a voz. — Da próxima vez que vocêse encontrar com Heiki ela não vaisolicitar a minha ajuda.

A voz se apagou na brisa, mas Calen

deixou um sinal — neve; não a nevebranca, mas neve cinza, caindo comgosto sobre Rachel e os túmulos dosmortos.

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Do cemitério, Rachel deslocou-se

freneticamente para casa. Quandochegou ao jardim, Eric, Morpeth emamãe correram em sua direção.

— Qual o problema? — gritou

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mamãe, ao ver a expressão cansada deRachel. — O que aconteceu?

Ela segurou Rachel apertado,

sentindo-a tremer.— Ai, até que enfim você está a

salvo... Rachel piscou, tentando secontrolar.

— Quanto tempo fiquei longe?— Horas — disse Eric. — O que

encontrou? Mais meninos que odeiamcachorros?— Pior que isso — murmurou ela.Morpeth segurou seu longo cabelo

preto. Uns poucos flocos de neve cinzaque não tinham derretido na viagem

fluíram feito óleo de encontro a seusdedos.— Ai, não... — sussurrou ele. — Por

favor, me diga que estou errado.Rachel recostou-se no ombro de

mamãe — e contou tudo a eles.

Quando Rachel terminou, mamãe hámuito os tinha arrastado para dentro decasa e fechado as janelas. Ela sentou-seperto de Rachel na sala, segurando-a nasemi-escuridão, e ninguém falou por umtempo.

Afinal Eric perguntou a Rachel:— Você acha que a Bruxa e essamenina, Heiki, poderão vir para buscarvocê, então?

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— Sim, acho.— Logo?— Provavelmente.

— Hoje à noite?— Ou antes. Não tenho idéia de

quando.Rachel olhou para a parede, as

cores dos olhos de um cinzadesencantado salpicado de preto.

Morpeth imediatamente colocou osprapsis de sentinela. Diante do humorsombrio de Eric, estes levaram a tarefa asério, voando rapidamente entre oscantos de luz que penetrava através das

 janelas do andar de baixo.

— Esses dois não vão impedir aentrada de uma Bruxa — afirmou mamãe— ou dessa horrível Heiki.

— Mas vão tentar — respondeu Eric.— E também vão logo nos avisar, nãovão, meninos?

Ambos os prapsis menearam ascabeças enquanto voavam parainspecionar uma rachadura no teto.Olharam-na com grande suspeita.

Morpeth coçou o queixo.— Quando Paulo e Heiki foram

subitamente levados — ele perguntou aRachel —, você notou o mesmo padrãode magia nas duas vezes, o padrão deCalen?

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sobre o que Calen está tramando.Ambos, Paulo e Heiki, parecem estar sobinstruções pessoais dela. Por quê?

Estarão sendo treinados para atacar você juntos? Ou Calen escolhe a dedo criançastalentosas por alguma outra razão?

— Aposto que essa nova Bruxa éexatamente como Dragwena, ou pior —falou Eric.

E, com súbito ardor, acrescentou.— Onde está Larpskendya?Prometeu que estaria aqui, por nós. Eleprometeu!

— Eu não sei — disse Rachel,ausente. — Eu não parei de chamá-lo. Ele

não responde.— Larpskendya não nosabandonaria — disse Morpeth comfirmeza. — Mas por agora temos queencontrar uma maneira de sobreviversem os Magos. Tem de haver uma

maneira de contra-atacar.E, atentamente observado pelosprapsis, andou para lá e para cá pelasala.

— Se pudéssemos escutar Calenquando interage com crianças, seríamos

capazes de compreender isto melhor.Paulo ainda está tentando resistir, todosvimos isso. Calen ainda não o dobrou.

— Talvez seja duro — disse Eric.

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— Se Calen é como Dragwena, nãoimporta o quanto Paulo é duro —respondeu Morpeth. — Não conseguirá

resistir por muito tempo. Precisamosajudá-lo e as crianças como ele,depressa.

— Não será fácil encontrar criançascomo ele — disse Rachel. — Asrealmente dotadas estão dispersas pelo

mundo.Eric riu asperamente.— Vamos encontrá-las sim. Amanhã

acabam as férias de verão, lembre-se.Quaisquer crianças treinadas pelasBruxas mal poderão esperar!

— Para quê? — perguntou Morpeth.— Para entrar nas salas de aula, éclaro — disse Eric. — Aposto quequalquer criança treinada por Calen estálouca para usar magia com osprofessores!

Antes de irem para a cama, aquelanoite, Eric deu aos prapsis ordens estritaspara ficarem de vigília em todas as

 janelas e portas.— Não poderão estar em todos os

lugares ao mesmo tempo — argumentou

Rachel.— Ah, não? Esqueceu como eramrápidos em Ithrea?

Ele estalou os dedos.

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Instantaneamente, feito relâmpago, osprapsis entraram pelas portas abertas dacasa. Moviam-se a grande velocidade,

tanta que Rachel entendeu que deviamestar em outro cômodo um momentodepois de deixarem o último.

Eric dormiu com dificuldade no sofá.Rachel, Morpeth e mamãe não dormiram.Passaram toda a noite juntos,

amontoados nas almofadas no escuro dasala de estar, planejando e observando:observando as janelas escuras, à esperade um ataque. Não houve ataque algum.Quando chegou a aurora, o sol surgiuanimador como de hábito, como se nada

estivesse errado no mundo.Mamãe fez sem ruído um café-da-manhã de torrada e ovos, que elescomeram praticamente em silêncio.Mamãe estava perturbada demais paranotar os prapsis chupando molho de

tomate do prato de Eric.— Mudei de idéia — ela explodiurepentinamente. — Não importa o que eutenha dito ontem à noite. Vocês não vãosair de casa. Nenhum de vocês. Eu deviaestar maluca quando pensei em deixar

vocês saírem.Rachel sentou-se perto dela.— Mamãe, você concordou. Estarei

com Eric e com Morpeth dessa vez. Nós

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só vamos ficar nos bastidores, edescobrir o que pudermos. Só isso.

— Mas você não tem idéia do que

pode estar aí fora! Eu sou sua mãe — eladisse apenas, as lágrimas correndo. —Como vou deixar você sair por essaporta? Como vou fazer isso? Não posso.

Morpeth disse a ela delicadamente:— Todas as opções agora são

difíceis, mas sabemos que com certezahá uma Bruxa aí fora. Se esperarmostimidamente dentro destas quatroparedes, Rachel e Eric serão alvos fáceis.

Ele viu mamãe tentando formularuma objeção, e disse, com dificuldade:

— Calen indicou claramente suasintenções no cemitério. Em Ithrea o medoimpedia a maioria das crianças de agircontra a Bruxa. Deixe-me dizer-lhe:Dragwena não tinha mais misericórdiapara com elas em função disso. Na

verdade, desprezava sua fraqueza e asmatava mais cedo.Mamãe afundou o rosto no colo de

Rachel, e Rachel fez um sinal silenciosopara que deixassem as duas a sós umtempo. Morpeth e Eric subiram e fizeram

os preparativos finais para partirem.— Não podemos levar os prapsis —disse Morpeth. — São ruidosos demais.

 Jamais os calaremos.

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— Sim, está bem — resmungou Eric.— Eu sei. Se um gato boceja eles piram.

Conduzindo os prapsis de volta a

seu quarto de dormir, sussurrou umaspalavras de estímulo. Assim que sederam conta de terem sido trancadas,ambas as crianças-avesdesamparadamente puseram-se a batercom as patas na porta.

 Tornando a descer, Morpeth e Ericencontraram Rachel ainda meio abraçadaà mamãe.

— Vamos — disse Rachel,libertando-se com dificuldade. — Mamãeconcordou com nos deixar sair se ela vier

 junto.— Não — disse Morpeth. — Issoseria um erro. Ele enfrentou o olharatacado de mamãe.

— Rachel terá muito com que sepreocupar. Se ainda tiver que protegê-la,

será uma preocupação a mais, umadistração a mais. Se Calen é comoDragwena, é provável que tentemachucá-la simplesmente para atingirRachel.

Fazendo uma pausa, virou-se para

Rachel.— O mesmo em relação a seu pai.Agora que conhecemos alguma coisasobre os propósitos de Calen, ele

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também deve ser mantido o maisdistante possível.

— Tarde demais — disse mamãe. —

  Telefonei para ele ontem. Já está acaminho de volta.

Morpeth suspirou.— Eu sei o quanto isto é difícil —

implorou a ela —, mas ele não deve virpara casa. Diga-lhe que vá para um lugar

que você não conheça, nem Rachel, nemEric... um lugar jamais mencionado nestacasa.

Mamãe olhava furiosa para Morpeth.— Se nós representamos tamanho

risco para Rachel, e você? Você agora é

somente um homem comum. Semmágica, não está jogando com a vida deRachel acompanhando-a?

Morpeth nada disse sobre isso, e foiRachel quem falou.

— Mamãe, eu preciso de Morpeth

comigo. Eu preciso dele.Ela encontrou o olhar intenso demamãe.

— Morpeth cuidou de si mesmo emIthrea, e de mim e de Eric. Se vocêestiver comigo, eu vou simplesmente

ficar preocupada. O tempo todo.Mamãe lentamente fez que sim, eos quatro atravessaram o saguão. Por uminstante, mamãe ficou de pé

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parcialmente bloqueando a porta dafrente. Afinal, todo o seu corpo pareceuse curvar e ela abraçou cada um de uma

vez, dizendo umas palavras que eles malconseguiram ouvir em meio aos soluços.Em seguida, abriu a porta, as mãos sedemoraram nas cabeças dos filhos,quando passavam por ela.

— Feche, mamãe — disse Rachel

baixinho.Mamãe não fechou a porta.Simplesmente ficou onde estava,agarrada ao umbral como se mantendo aporta aberta e mantendo o olhar sobre ascrianças pudesse preservá-las em

segurança.— Eu vou protegê-los — prometeuMorpeth, ele mesmo empurrando efechando a porta.

Rachel olhou ansiosamente emvolta. Do lado de fora da casa um carro

de leite rodava rua acima, acompanhadopor um cachorro vadio. Ainda estavamuito cedo para as crianças irem para aescola.

Os três arrastaram-se timidamentepelo caminho até o portão,

esquadrinhando o pálido céu nublado.— Parece seguro — disse Morpeth.— Consegue detectar alguma mágica,Rachel?

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— Não — ela disse. — Mas nãoquero que fiquemos aqui de pé comobobos. Preparem-se.

Morpeth apertou os olhos até doer.Eric fez careta.

Como combinado na noite anterior,Rachel transformou todos os três empardais comuns. Tinha aprendido a usarencantamentos de transformação em

Ithrea, mas a coisa era complexa e exigiatoda a sua concentração. Ela os deslocoupara um ponto alto, acima da casa.Morpeth parecia desconfortável e quasetrombou numa árvore. Eric, por outrolado, voava velozmente, com a facilidade

de quem sempre desse uma voada porali depois do café-da-manhã.— Vamos — disse Rachel. — Não

posso manter os três escondidos assimpor muito tempo. Precisamos andardepressa.

Ela os conduziu por sobre as ruaspróximas. Voavam baixo, próximos aochão, mais depressa que qualquerpássaro, embora não tão depressa queRachel pudesse perder quaisquer aromasque denunciassem magia. Suas abas de

cheirar balançavam delicadamente nosventos ligeiros dos dois lados do bico.— Ih, que estranho! — disse Eric,

observando as abas tremerem.

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E espiou debaixo da asa.— Que escola deveríamos tentar em

primeiro lugar? A nossa?

— Não, mais adiante — ela disse. —Por aqui não há nada.

Desceram rapidamente através dacidade, rodeando diversas escolasinfantis e juvenis. O dia de aula estavacomeçando naquela hora, com crianças

sendo chamadas dos pátios de recreiopara se reunir ou para as primeiras aulas.Rachel não detectou nada de incomum,de modo que foram procurar em outrascidades.

Eric pôs-se a trinar, um chilro

bizarro que nenhum pardal jamais tinhafeito.— Fique perto de mim — disse

Rachel. — Achei uma coisa.Rastreando um estilo de mágica

familiar por mais de oitenta quilômetros,

ela os deslocou naquela direção. Ericfechou o bico quando sobrevoaram umginásio grande, de quatro andares. Seusedifícios de tijolo vermelho pareciamsilenciosos e em ordem. Baixando mais,Rachel nivelou-se às janelas do terceiro

andar.Eric trombou na asa dela.— O que é?Dentro de uma sala de aula todas as

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crianças estavam sentadas, atentas.— Não estou vendo nada estranho

aqui — disse Morpeth.

— Verifique outra vez — Racheldisse a ele. Voando mais perto, Morpethse deu conta de que reconheceu um dosalunos.

— Paulo!Morpeth firmou os agudos olhos de

ave. Paulo e o resto da turma estavam defrente para a professora. A própriaprofessora, de pé, rígida, se encontravade costas para os alunos. Num quadrobranco ela tinha desenhado um retratodetalhado de si mesma dos pés à cabeça.

Numa das mãos, segurava tensamenteuma caneta; os dedos estavam brancoscom a firmeza da pegada. Na outra mão,segurava um apagador, suspenso paraser usado. Atrás, sobre a escrivaninha, aprofessora tinha colocado seus sapatos.

  Junto aos sapatos estavam também seupulôver, dobrado cuidadosamente,diversos grampos de cabelo, umapulseira, brincos e um lenço de pescoço.

Morpeth olhou para o desenho quea professora tinha feito de si mesma. Os

brincos e outros itens sobre a mesatinham sido apagados do desenho,toscamente removidos.

— O que está acontecendo? —

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sussurrou Eric.— Vamos ver.Rachel usou um encantamento para

se deslocar às escondidas através dovidro e carregá-los aos fundos da sala deaula.

— Resposta errada outra vez,senhorita — eles ouviram Paulo dizer. —A senhora diz que é professora de

matemática? Sem dúvida é capaz decoisa melhor que isso.Ele piscou o olho para alguns

amigos.— O que vamos remover agora,

hein?

  Todos os estudantes estavamobservando a professora com umamistura de horror e fascinação. Amaioria, de boca aberta, incerta do quepensar ou fazer. Uns poucos, dos maiscorajosos, interromperam Paulo.

— Não — disse uma menina nafrente da sala. — Já chega, Paulo.— Não, ainda não — murmurou ele,

defendendo-se. — Qual o problema? É sóuma diversãozinha. Não vou machucá-la.

Olhou para a professora.

— Agora, os óculos, senhorita, porfavor. Tremendo ligeiramente, a professora

apagou os óculos no quadro branco. Aí,

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com um floreio, tirou os óculos deverdade, colocando-os na escrivaninha

 junto com os outros objetos.

— Você vai permitir que ele façaisso, Rach? — grunhiu Eric. — Não fiqueaí sentada! Faça alguma coisa, senão euvou fazer!

— Espere — disse Morpeth.— Esperar o quê? — perguntou Eric,

zangado.— Por coisa pior que está por vir.Rachel, você está detectando umaBruxa?

Ela fez que sim, sombriamente.— É Calen, mantendo-se fora de

vista.— Fiquem calmos, vocês dois —aconselhou Morpeth.

— Ficar calmo? — protestou Eric. —O que Paulo está fazendo com aquelaprofessora?

— Está apenas arranhando adignidade dela — disse Morpeth. —Duvido que Calen se satisfaça com isso.Continue observando.

Paulo acomodou-se de volta nacadeira.

— Tente este, senhorita. Quarenta esete vezes trezentos e cinqüenta e cinco.Não é tão difícil.

— Eu não... tenho certeza — disse

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ela, sempre de frente para o quadro. —Paulo, por favor, não me force a fazeristo. Eu...

— Só responda a pergunta —determinou Paulo, a voz tremulandoligeiramente.

Os outros alunos estavam emsilêncio. Olhavam, nervosos, para aprofessora.

— É... É... dezessete mil seiscentose quarenta e dois. Ela se retraiu, dando-se conta de que a resposta estavaerrada.

Paulo parecia sem jeito. Olhou paraos colegas em busca de apoio, mas não

recebeu. No silêncio, ouvia-se aprofessora soluçando baixinho.— Ei, tudo bem, entendi o recado —

disse Paulo, consciente do que estavafazendo e querendo se livrar dos olharesacusadores dos colegas. — Então vou

parar.O braço da professora, aindasegurando o apagador, caiu ao lado.

De súbito, voltou a se erguerrapidamente. Num frenesi, bateu com oapagador no quadro e apagou todo o seu

corpo.Paulo, pela primeira vez ele próprioparecendo assustado, olhou em torno dasala de aula, hesitando.

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— Não, Calen — disse ele. — Issonão tem graça nenhuma. Uma vozgelada trovejou, explodindo em todas as

direções da sala.— É mesmo? Eu acho que tem.

Continue a brincadeira. Paulo sacudiu acabeça.

— Não. Para mim chega, Calen. Deverdade, eu...

— Chega? — riu a voz.Os óculos, os sapatos e os outrosobjetos de cima da escrivaninha foramlançados de encontro às paredes.

— Você acha que isto basta?Subitamente, uma cobra amarela

grossa enrolou-se em torno da cintura daprofessora. Ela tentou se esquivar, masnão tinha controle sobre o próprio corpo.

— O que está esperando? —enraiveceu-se Eric.

E Rachel também olhou, incerta,

para Morpeth.— Não perca a calma — ponderouMorpeth. — Isso é só para assustar. ABruxa quer que Paulo continue. Prepare-se para só intervir se tivermos queintervir.

Paulo olhava incrédulo para a cobra.— Ei, o que está acontecendo,Calen? Isto não fazia parte da brincadeiraque combinamos fazer.

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— Você parou de brincar — disse avoz. — Portanto, eu mudei as regras.

A cobra subiu pelas costas da

professora. Deslizou pescoço abaixo edesceu pelo peito e pelas pernas. Aotocar o chão, inflou o corpo à moda dascobras, erguendo completamente suaamarelidão esguia — e olhou diretamentepara Paulo.

— Continue a brincadeira — sibiloua cobra, macia.— Não — objetou Paulo. — Você

disse que eu podia fazer o que euquisesse. Isto é só castigo. Quero parar.

— Mas eu não quero que você pare

— disse a cobra. — E isto não é castigo,Paulo. O castigo de verdade é o medo,levado ao máximo grau. Leve aprofessora a esse lugar.

A cobra moveu-se lentamente atésua cabeça se posicionar a poucos

centímetros do nariz de Paulo.— Você escutou? Ou estou perdendomeu tempo com você? Talvez eu devessecastigar você, em vez disso!

— Não, por favor — implorou Paulo.— Por favor, não. Farei qualquer coisa

que você quiser.— Fará?A cobra sussurrou uma ordem.— Não vou fazer isso —

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choramingou ele. — Não, não posso. Nãome force.

— Você quer fazer — disse a cobra,

sedutora. — Você me disse que não gostadessa professora. Agora me mostre oquanto!

Paulo recuou para longe da cobra.Ela o seguiu até o fundo da sala de aula,para perto de onde Rachel, Eric e

Morpeth estavam escondidos.— Não me faça perder tempo. — Acobra insistiu com ele. — Simplesmentefaça o que eu estou pedindo!

A voz dela tornou-se impaciente.— Por que você não é capaz de

apreciar isto? O que é que o impede?Você tem um adulto inútil à sua mercê.Não hesite, Paulo. Você quase terminou.Só mais um pequeno passo. É tão fácil.

— Eu... não posso — disse Paulo, aexpressão agoniada. Mal conseguia ficar

de cabeça erguida.— É o que... Eu não estou...E começou a chorar, sem se

importar com o que pensassem oscolegas de turma.

— Pare com isso! — enraiveceu-se a

cobra.Paulo não conseguia esconder aslágrimas. Elas pulavam para fora dele.

— Seu inútil!

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Um tremor perpassou as curvas dacobra. No momento seguinte, Calen,erguendo-se mais de três metros de

altura, supervisionou a sala de aula comdesdém. Nylo deslizou num espiralamarelo fechado em torno de seupescoço. As crianças ficaram em diversasposições, incapazes de se mexer. Calenas ignorou, andando zangada pela sala,

derrubando carteiras e cadeiras vazias.Lançou-se sobre a professora, soltandoos encantamentos que a obrigavam aficar olhando para o quadro. Tremendodescontroladamente, a professora virou-se. Quando viu Calen, suas pernas

entraram em colapso. Divertida, Calenesperou a professora erguer-se de novona cadeira.

— Eu a desprezo — disse Calen. —Você só ensinou essas crianças arespeitarem a fraqueza.

Sem equilíbrio, a professora sentou-se. Durante uns poucos segundosapenas, olhou aterrorizada para acriatura, em cima. Então, reunindo suamáxima coragem, pôs as pontas dosdedos sobre a escrivaninha para limitar o

tremor e olhou diretamente nos olhostatuados de Calen.— Saia. Ninguém a quer aqui.Calen avaliou-a. Foi até o quadro

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branco e nele arrastou as garras,rasgando em frangalhos a superfície.

— Sabe o que eu poderia fazer com

você?— Já vi o bastante para adivinhar —

disse a professora. Sua blusa estavaamarrotada, os olhos ainda vermelhosdas lágrimas, mas a voz se mantevefirme.

— Paulo não quer obedecê-la. Nemas outras crianças aqui, nãovoluntariamente. Seja você o que for,volte para o lugar de onde veio.

Frustrada, Calen deu um soco com agarra na parede.

— É o que eu mais desejo! Olhou,zangada, para Paulo.— Mas, primeiro este aqui tem de

aprender a fazer o que lhe mandam,quando lhe mandam, sem discutir.

Ela girou de volta para a professora.

— Está na hora de ensinar a toda asua preciosa turma um novo tipo delição.

— O que vai fazer?— Nada complicado — disse Calen.

— As crianças só entendem ameaças

simples. Levante-se.A professora não tinha magia comque combatê-la. Logo se levantou.

— Ande até à janela — ordenou a

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Bruxa.Sem hesitação, a professora puxou

a cadeira para trás e caminhou em

direção à vidraça.— Deixe-a em paz, Calen! — avisou

Paulo.— Ah, um desafio! — gritou ela. —

Até que enfim! Impeça-me, então, se forcapaz.

Para a professora, ela disse:— Abra a janela e fique na borda.A professora obedeceu. Liberando

as trancas, ela escancarou a janela,olhando fixamente o pátio da escola, queficava abaixo, a mais de dezoito metros.

— O que você está esperando? —Calen perguntou à professora.A bruxa acenou impacientemente

com uma das garras.— Eu não quero mais a sua

presença nessa sala de aula.

— Não, professora! — Paulo deu umsalto para a frente. — Saia da janela!Fechando os olhos, ele usou um

encantamento para fechar a janela comforça.

— Bom — disse Calen. — Resista a

mim. E assim que devo lhe ensinar?Arrastando-o por cada etapa docaminho? Muito bem. Venha competircom meus encantamentos.

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A professora, com um gritosufocado, abriu a janela novamente. Elapisou na estreita borda.

— Rachel! — explodiu Eric. — O quevocê está fazendo? Temos que ajudá-la.

— Prepare-se — disse Morpeth.A professora dobrou os joelhos e

inclinou-se para a frente, na ponta dospés, pronta para se atirar.

— Pule — disse a Bruxa.— Não! — berrou Paulo, agarrando aprofessora pelas pernas.

Ele a alcançou a tempo, mas aprofessora, com lágrimas nos olhos,chutou-o. E pulou.

Quando a professora sumiu de vista,as crianças fecharam os olhos, esperandoo ruído do impacto. Como não houve,algumas das que se encontravam maisdistantes de Calen viraram os pescoçospara olhar pela janela.

E a professora olhava para elas. Sãe salva. De pé no pátio, apalpando,trêmula, seus braços e pernas, incapazde acreditar que não tinham sidopulverizados.

Paulo piscou os olhos num torpor.

— Eu tentei... será... será que eu fizisso?— Não — disse Calen, com

desprezo. — Seria esperar demais.

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preparou para o combate. O sangue fluiupara a pele, clareando sua caravermelha. As garras ficaram mais

compridas. Os ligamentos de seus braçose pernas incharam e endureceram-se. Osolhos, a única parte vulnerável da cabeçade Calen, tornaram-se uma espécie defenda, recuando para dentro de suascobertas de osso. E as quatro bocas

escancararam-se, os dentes pretosardendo por provar a carne de Rachel.Mas ela se controlou.— Quantos vocês são? — perguntou

Morpeth. — Quantas Bruxas?— Uma é demais para vocês — riu

Calen. Ela olhou fixamente para Rachel.— Desta vez não tem Mago para virem seu auxílio, criança. E enquanto vocêperdia tempo por aqui, seu amigo bebêencontrou um novo lar.

Passando os ombros largos através

da moldura da janela, desapareceu,levando Paulo consigo.— Yemi — murmurou Rachel.Deixando Eric e Morpeth na sala de

aula, ela deslocou-se em grandes saltosaté à casa dele. Chegou e, sem fôlego,

olhou por uma das janelas quadradasabertas da oca. Metade do cômodo seencontrava em total escuridão. Soluçosvinham do escuro, de uma figura no

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De atalhos e estradas, dos umbrais desuas casas, de suas camas e de todos oslugares do mundo em que moravamcrianças, as Bruxas as roubaram. Cadacontinente contribuiu com seu número.

As Bruxas carregavam algumas dascrianças diretamente nos braçosmusculosos; outras, capazes de aprenderrapidamente um vôo rudimentar, voavam

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coisa de interação entre adultos ecrianças e, para as mais novas, eraestabelecido um tempo suficiente para

brincar e descansar, até mesmo comtentativas de estímulo e comandos dadosem voz suave.

As Bruxas estavam aprendendo.Finalmente, Heebra em pessoa

inspecionava as setenta e oito crianças

escolhidas e preparadas por suas Bruxas.As crianças estavam todas em fila,completamente imóveis. Atentas,passavam por um teste de resistêncianas neves polares. No meio do verãoacima do Círculo Ártico, o sol nunca se

põe completamente. Brilha dia e noite, eas crianças tinham estado a acompanharsua jornada em arco para o alto e meiocéu abaixo por muito tempo. Batiamventos frios o suficiente para congelarsangue humano, mas cuidavam de não

tremer nem demonstrar o mínimo traçode desconforto.— Essas são as superiores? —

perguntou Heebra.— Sim — respondeu Calen. — As

melhor dotadas de cada país. As

melhores crianças.Heebra voou por entre as fileirascuidadosamente alinhadas, procurandofragilidades.

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— Há quanto tempo estão em pé?— Mais de dezessete horas.— Sem comer nem descansar?

— Em muitos casos sem nem semover — assegurou Calen.

— E esta aqui? — Heebra apontouum bebê de pele escura.

— Ah, é Yemi. Pelo menos achamosque é. Seja como for, Yemi é a palavra

que ele mais usa. É o mais novo detodos. Yemi estava sentado, feliz, juntando

neve em torno dos pés. Enquanto Heebrao observava, pousadas nos dedos deseus pés, diversas borboletas amarelas

grandes também a observavam. Tinhamasas do tamanho do rosto dele.— Trouxe os insetos consigo da

África — explicou Calen. — Estãocrescendo, se modificando. À medida que

  Yemi aprende a usar mágica, elas

também se desenvolvem. Ontem,estavam com menos da metade dessetamanho.

 Yemi estendeu os braços para serapanhado por Heebra.

— O que ele quer? — perguntou.

— É a maneira peculiar deles debuscar atenção — disse Calen.Ela se inclinou e ergueu Yemi, a

balançar, numa garra. Segurou-o à

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distância de um braço das mandíbulas.  Todos os quatro conjuntos de dentesfizeram força para a frente, para alcançá-

lo.Heebra abriu um sorriso.— Você é uma péssima mãe

humana.— A maciez dele é apetitosa —

admitiu Calen, retraindo os dentes.

Heebra cheirou o ar, analisando Yemi de perto.— Há em torno dele uma

magnificência. Ele poderia ser perigoso.— Ainda é muito novo para

constituir ameaça — disse Calen.

E lançou sobre Yemi aranhas damandíbula, que lhe caíram entre aspernas. Admirado, ele apanhou asmaiores e mostrou às borboletas Belasde Camberwell.

— Nossa aparência verdadeira não o

abala — disse Calen. — Na verdade,diferentemente das outras crianças, nadaparece assustá-lo.

Heebra examinou a cara confiantede Yemi.

— É a intensidade de nossa mágica

que o fascina. Ele é atraído por ela. Temos que mantê-lo por perto, treiná-loseparadamente das outras crianças, nãopermitir que elas influenciem o menino.

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Ele sente falta da mãe?— É claro.— Mantenha-o perto de você —

disse Heebra. — Aprenda como se tornarum substituto convincente.

— Acha mesmo que ele é tãoespecial?

— Não tenho dúvida — disseHeebra, enfática. Yemi fez cócegas no

tornozelo de Calen.— Mais tarde — disse ela, fazendopsiu. Heebra parecia divertida.

— O que é que ele quer?— Quer jogar um jogo. É como eles

aprendem.

— Mostre-me.Calen permitiu que Yemi agarrasseuma pata com garra retorcida.Segurando firme com as duas mãos, eleapertou os olhos com muita força,fechando-os, na expectativa de que

Calen alçasse vôo. Depois de uma subidalenta a uns poucos metros de altura, elao chutou e soltou. Sem experiência, Yemidesceu, mais como um avião de papelperdido nos ventos do que num vôo deverdade. Mas aterrissou bastante

suavemente. Assim que tocou o chão,esticou os braços, querendo mais umavolta.

— Ontem não conseguia voar nada

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— disse Calen. — Progresso notável.Heebra concordou e voltou a

atenção às crianças mais velhas.

— Suponho que todas já tenhampassado pelo primeiro estágio dotreinamento?

— Algumas já são voadorasavançadas — disse Calen.

— E, como você está vendo, o frio já

não é problema.— Sim. Estão um bocadodisciplinadas — notou Heebra.

— Como podemos conseguir sualealdade?

— Seja como for, elas nos temem —

respondeu Calen. — Por enquantopodemos usar isso para controlá-las. Ésurpreendente como algumas não sedispõem a ferir os adultos, nem mesmoquando castigadas.

Ela olhou para Paulo. Estava na fila,

com os outros, os ombros caídos e ocabelo espetado — única marca que odistinguia das outras crianças mais altas.

— Algumas podem ser enfeitiçadas— disse Calen. — Algumas tiveramdeterminadas experiências que podemos

explorar.Ela sorriu, apontando Heiki, queolhou altivamente para trás.

— Aquela menina, por exemplo.

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Dediquei-lhe um cuidado especial. Oresto precisa de mais trabalho, mas Heikié totalmente confiável. Seria capaz de

passar na maioria dos testesintermediários em Ool.

— Tão confiante? — disse Heebra. —Então, vou testá-la. E se ela falhar, évocê que vou punir.

De seu lugar na fila de crianças

Heiki tentava acompanhar a conversaentre Calen e Heebra. Aparentemente,estavam discutindo sobre ela. Bom. Aocontrário das outras crianças, eladesejava ser notada. De início, tinhaachado a aparência das Bruxas todas

repulsiva; mas quanto mais ficava comCalen, mais ficava cativada. Sem fazeresforço Calen exalava poder, impondosua autoridade de um modo impetuoso,súbito. E, apesar disso, Heiki via, aomesmo tempo, que seus gestos eram de

uma objetividade flexível e suave —quase graciosos. E mais ninguém parecianotar com que ternura Calen falava comsua cobra-alma, Nylo. Esta a idolatrava,vagando livremente por seu dorso,espelhando seus muitos humores.

Desde os primeiros dias, Calen deua Heiki atenção especial. Às vezes,ficavam juntas horas, conversando comoirmãs, quase como se fossem iguais,

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discutindo os méritos dos outros meninose meninas. Heiki já tinha aprendido osnomes das crianças mais notáveis —

Siobhan, Paulo, Veena, Xiao-hong,Marshall e, é claro, aquela esquisitice,

 Yemi. Ela não se importava com o resto,e ainda estava tentando decidir se algumdeles podia ser confiável.

Calen deixou Heebra e deslizou em

direção a ela.— Justifique minha fé em você —disse, secamente. — Prove que você é amelhor, e terá a recompensa queprometi.

— Eu não vou falhar — disse Heiki.

— Vou ser testada? O que...— Você vai ver. Prepare-se.Sem aviso, o corpo de Heiki de

repente foi arrebatado do chão.Ela se viu sozinha num grande

campo de neve virgem perto das torres-

olhos. Todas as Bruxas gradualmente sereuniram no final do campo, os vestidospretos varridos para trás pelo vento. Amaioria acariciava ursos polares — osúnicos animais de estimação duros osuficiente para agüentar o arranhão de

garra de Bruxa. O resto das criançasestava amontoado aos pés das Bruxasresponsáveis por seu treinamento.

— Os ursos virão pegar você — lhe

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disse Heebra. — O teste será passar poreles. Se você cometer um erro, não terásegunda chance. Está entendendo?

Heiki sacudiu a cabeçavigorosamente, temendo que se fizessealguma pergunta Heebra interpretassecomo fraqueza. Uma chance, ela pensou.Não posso estragá-la. Estremeceu e sedeu conta: a idéia é eu me sentir

assustada. Isso faz parte do testetambém.— A maioria dos encantamentos

que Calen lhe ensinou é inútil aqui —avisou Heebra. — Você não pode voar epassar pelos ursos. Encontre outra

maneira de atravessar a neve.Assim que Heebra parou de falar,levantando os traseiros felpudos os ursostomaram posições a distânciasmatematicamente iguais através docampo. Não havia vazios. Não havia

espaço através do qual Heiki pudessecorrer em direção às Bruxas. De todomodo, ela sabia que jamais conseguiriacorrer mais que um urso polar adulto.

— Sou capaz de fazê-lo — Heikidisse a si mesma. — Sou melhor que as

outras crianças.A primeira fileira de ursos galopou,por igual, em sua direção. Impedida devoar ou desaparecer, Heiki experimentou

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um encantamento de ferimento no maispróximo. O urso só fez se aproximar maisdepressa. Ela se abrigou numa dobra de

vento. Os ursos investiram à frente,ainda vendo-a. Depressa, Heiki escolheuem meio a seus outros encantamentosnovos: criou réplicas do próprio corpo emcentenas de lugares no campo. Estasimagens simplesmente se apagaram. Os

ursos mais próximos estavam quase emcima dela agora, tão perto que Heikisentiu em seu hálito cheiro de peixesemidigerido.

Ela começou a entrar em pânico.  Tinha de haver alguma coisa que lhe

fosse permitido fazer!Olhando desesperadamente paraCalen, em busca de conselho, encontrouna Bruxa olhos sem expressão.

Então Heiki notou Yemi que, sem tersido visto sequer pelas Bruxas, flutuava

pelo campo.Heebra e Calen se consultaram. Nãoesperavam por aquilo, mas não tentaramremovê-lo dali.

  Yemi vagou no ar, feito um balãoperdido, e pousou em meio aos ursos. O

animal mais próximo aproximou-se deledevagar. Dentes de fora, baixou acabeçorra e... parou. Incerto, cavandocom as patas o fundo da neve, para

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impedir-se de esmagar o menino, ocheirou. Yemi ergueu a mãozinha e o ursoternamente esfregou nela o focinho.

O aroma de uma Bruxa está nele —deu-se conta Heiki — o aroma de Calen.Era coincidência aquilo? Ou ele sabia queaquela era a maneira de se manter asalvo? Yemi tomou impulso da neve eflutuou serenamente em meio aos ursos,

dirigindo-se a Calen. Arrastando asborboletas todas nas pernas, aterrissoude qualquer maneira no pescoço grossoda Bruxa, sufocando com beijos seu rostoossudo e vermelho.

A atenção de Heebra reverteu para

Heiki.— Você não pode copiar o truque de Yemi — avisou ela. — Procure uma formadiferente para chegar até nós.

Os ursos de novo viraram-se, comdisposição, para Heiki que, desta vez,

estava preparada.Uma Bruxa ao lado de Heebra pulouquando a cobra-alma cor de laranjarepentinamente se desenrolou e voou deseu pescoço até Heiki. A Bruxa ultrajadarecuperou-se imediatamente, mas

Heebra a impediu de resgatar a cobra-alma.— Espere — ordenou Heebra. —

Vamos ver se a criança é capaz de

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controlá-la.A cobra aterrissou nas mãos suadas

de Heiki. Confusa e zangada, retorcia-se,

repudiando o toque e o cheiro nãofamiliares. Heiki tentou enrolar a cobraem torno da garganta, para acalmá-la, noestilo típico das Bruxas. Aquilo sóenfureceu ainda mais a cobra.

Inteligentes, especialistas, as curvas

começaram a sufocá-la.Heiki soltou um guincho, tentandoarrancar a cobra do pescoço — mas apegada era por demais tenaz. Sepudesse usar seus encantamentos!

As curvas apertaram com mais

precisão.Heiki tremia, perto de perder aconsciência. O que fazer?

Abruptamente, relaxou. Ignorou agarganta machucada e forçou o pescoçorígido a distensionar-se. Encheu o

cérebro de pensamentos agradáveis emrelação ao toque da cobra. Espantada, aserpente afrouxou um pouco o aperto.Heiki continuou pensando sentimentosquentes e delicadamente acariciou aparte de baixo da cabeça da cobra.

  Tateando na mente do réptil,compreendeu seu nome-alma: Dacon.Chamou aquele nome repetidamente.Dacon. Dacon. Eventualmente, conseguiu

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o respeito divertido da cobra-alma que,com os olhos cor de pêssego, encarou osdela.

— Caminhe adiante pelo campo —disse Dacon. — Os ursos suspeitam deque você é uma Bruxa agora. Eles nãovão atacar. E, se tentarem, eu adefenderei.

Heiki caminhou com cautela pelo

campo. Os ursos, grunhindo, recuaram ebaixaram as cabeças. Falando aossussurros com a cobra-alma durante todoo trajeto, Heiki caminhou diretamente atéHeebra e postou-se, desafiadora, à suafrente. Calen, perto, brilhava de orgulho.

A Bruxa de quem tinha roubadoDacon, arrebatou-a de volta e Heikisentiu um golpe — como se uma coisapreciosa lhe tivesse sido arrancada.

— Quer segurar a cobra de novo? —Heebra perguntou com suavidade.

Heiki ansiava justamente por isso.Era incrivelmente difícil não alcançarDacon.

— Você é de fato impressionante —admitiu Heebra. — Calen não asuperestimou. É hora de receber sua

recompensa.Heiki olhou a cobra-alma dourada,pesada, de Heebra. Exalava uma auramágica tão extrema que dava vontade de

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fugir. Mas estava determinada a receberseu prêmio.

— Eu quero...

— Eu sei o que você quer, criança.Heebra buscou dentro do vestido e

tirou uma cobra cinza fina. Eraminúscula, com olhos pálidos degengibre. Ela a arrumou decorativamenteem volta dos ombros de Heiki.

— Uma recém-nascida — explicouHeebra. — Veja se ela gosta de você.A cobra se contraiu de encontro à

pele dela, encontrando um lugarconfortável.

Heiki estava por demais aturdida

para falar. Permaneceu quieta; desejavamuito que a cobra se sentisse à vontadeem sua garganta que respirava comesforço.

— Ela agora pertence a você —disse-lhe Heebra. — Trate bem dela.

— Isso quer dizer... — emocionou-seHeiki. — Quer dizer que me tornei umaBruxa... como Calen prometeu?

Heebra riu.— Não. Ainda não, criança. E um

começo. Toque na sua cobra. Ela não

morde, pelo menos não morde você.Como a sente?A cobra apreciou o toque. Heiki

passou os dedos pelos olhos dela e a

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cobra não se mexeu.— Ai, ela é cega?— Sim. Todas as cobras-almas são

assim no início — respondeu Heebra. —Use a sua magia. À medida que o seutalento se aprimora, o mesmo se dá como da sua cobra.

— Posso dar um nome a ela?— É claro. Mas não é o costume

tradicional. À medida que sua magia sedesenvolve, a cobra aprende a falar. Aí,ela lhe revela o próprio nome. E tambémlhe dá um verdadeiro nome de Bruxa.Nossas cobras nos nomeiam a todas.Nenhuma criança humana jamais foi

honrada dessa forma.Heiki espantou-se.— Ai, quero crescer depressa —

disse. — O que preciso fazer?— Precisa derramar sangue, sem se

importar quanto.

— Estou preparada.Os olhos de Heiki brilhavam.— Não, criança. Eu duvido disso.

Você talvez esteja preparada para umatarefa menor.

— Faço qualquer coisa que você

quiser.— Bom. Eu quero que você mateuma da sua própria espécie.

— Uma da minha espécie?

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— Uma criança.Sem hesitação, Heiki disse:— Sim, eu o farei.

— Você quer saber por quê?— Se você a quiser morta, eu a

matarei — disse Heiki. — Qual é o nomeda criança?

— São três. A principal é...— Rachel! Heebra fez que sim.

— Eu sabia que era ela! — gritouHeiki, batendo palmas e dançando naneve. — Ai, que dia perfeito! Dia perfeito!

Heebra explicou o que tinhaacontecido em Ithrea. Contou também daguerra incessante contra os Magos. Heiki

ouviu avidamente. Quanto mais a históriase alongava, mais próxima se sentia dasBruxas. Elas eram magníficas! Fascinada,bebeu a descrição detalhada que Heebrafez de Ool. Heiki queria tanto voar nointerior de um furacão, batalhando pela

própria torre-olho! Heebra avisou-lhe dosdons de Eric de desfazer mágicas. Masquando descrevia os poderes de Rachel,Heiki a interrompeu.

— Por favor, não me conte. Eumesma vou descobrir. Não quero

quaisquer vantagens.— Bom — disse Heebra. — Essa é aresposta que uma verdadeira Bruxadaria. Diga-me como vai derrotar Rachel.

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Heiki pensou no que tinhaaprendido.

— Encontrá-la é fácil. Já conheço o

padrão de Rachel. Não vou atacar decara. Primeiro, vou conhecê-la, mudaraparência e cheiro para que não mereconheça do cemitério. Vou fazer comque se sinta segura, confiante; dessamaneira, ela vai revelar seus

encantamentos.— Rachel tem poucas fraquezas —disse Heebra.

— Eu vou descobri-las. Ela é capazde curar feridas? Feridas profundas emoutras pessoas?

— Sim. Em que está pensando?— Nada... Apenas uma idéia.Heiki notou que, terminado, afinal, o

entediante teste de resistência, o restodas crianças tinha sido disperso pelosgrupos habituais de treinamento.

— Posso levar algumas outrascomigo? — perguntou. — Preciso deajuda para lidar com Eric. Ainda nãotenho bem certeza de como tratá-lo...Vou pensar nisso durante a viagem.Levaremos umas horas para chegar, já

que, ao que parece, sou a única capaz deme transportar.— Leve quem você quiser — disse

Heebra. — Estou fazendo de você a líder

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das crianças.Heiki sorriu, orgulhosa, e saiu

voando, para escolher sua equipe.

Heebra chamou Calen.— Você escolheu Heiki bem. Uma

criança independente, apaixonada.Parece que passou a vida toda esperandopor nós, para lhe darmos um sentido. Elaacredita mesmo na sua promessa de

transformá-la numa Bruxa?— Acredita — disse Calen, sorrindo.— Quer muito acreditar nisso.

— Eu gostaria que as outrascrianças fossem igualmente tratáveis.

— Você confia em que Heiki

derrotará Rachel?— Não confio em nada — respondeuHeebra, desautorizando-a. — Rachel éformidável demais para ser subestimada.

— Deixe que Heiki escolha aspróprias táticas. Mas, quero aprová-las.

E, quando Heiki partir, faça sombra a ela.Fique fora de vista. Leve Yemi com você,mas mantenha-o por perto... e desconfiedele.

— Desconfiar de um bebê?— Não é uma criança humana

típica.As duas viraram-se e observaramHeiki a selecionar a equipe.

Heiki escolheu com cuidado,

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fazendo uma mistura dos mais talentososcom os que — acreditava — iam seguirsuas ordens sem discussão. Isso feito,

começou a formular um plano,gesticulando, confiante, e usando outrascrianças para traduzir para as que nãofalavam inglês.

— Vejo que não vamos mais precisarempurrá-las para a frente — riu Calen. —

A jovem Heiki sabe comandar tarefasexatamente como qualquer Bruxa.

Uma pequena dourada agitou asuperfície escura do lago.— Você escutou isso? — guinchou

um prapsi, tremendo de excitação.

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— Psiu — gritou o outro. — Você vaiacordar Eric, meninos.

— Mas você ouviu?

— Eu ouvi!Rápidos como manchas, voaram

 juntos do banheiro ao quarto de dormir,que dava para o jardim noturno.Pousados, as caras coladas,perscrutaram o lago.

— Ali! — gritou um, loucamente. —Um demônio submarino!— Um demônio pequenino.

Devemos ir contar a Eric?— Não seja estúpido, seu mutante

apressado!

— Você é que é estúpido! Psiu!Espere.— O quê?— Sombras.Os dois sentiram magia se

aproximar da casa.

— O que é isso? Estou com medo.— Não consigo ver. Não consigo vê-los. Devem estar nos fundos da casa.Vamos dar uma olhada.

— Atrás de você — disse ocompanheiro, curvando-se

graciosamente.— Não.   Atrás de você — disse ooutro, e ambos saíram voando juntos.

Da sala espiaram ansiosamente a

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Os olhos de Rachel imediatamentese arregalaram. Ouviu vidro sendoquebrado embaixo — uma coisa qualquer

invadindo a casa. Duas janelas forçadas— logo contaram-lhe os encantamentosde informação. Uma na sala de estar, aoutra na cozinha. E o que mais? Ouviu amadeira da janela cair no tapete —acompanhada da batida macia de

sapatos.Eric pulou da cama colocadapróxima à dela.

— O que está acontecendo?— Fique quieto — disse-lhe Rachel.Ela tentou adivinhar quem eram os

invasores. Os corpos das Bruxas sãograndes, pesados. Aquelas aterrissagenstinham sido leves.

— Acho que são crianças — disse.Os prapsis batiam na porta do

quarto. Eric deixou-os entrar e enfiou as

cabecinhas trêmulas embaixo doacolchoado.— Morpeth e mamãe estão lá

embaixo de guarda! — ele lembrou aRachel. — Venha!

— Espere! — Rachel agarrou o braço

dele.— Solte! Estou indo! Ela o puxou devolta.

— Escute, ande!

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Quatro outros corpos entraram nacasa, voando. Rachel ouviu-os aespremer-se pelas fendas e aterrissar.

Aterrissagens macias, Rachel pensou.Ambos os pés precisamente juntos.Crianças usando mágica — e já voadoresexperientes.

— É uma emboscada — disse ela. —Fique quieto. Eles podem não saber que

nós estamos aqui.— E Morpeth e mamãe? —enraiveceu-se Eric. — Não os escuto!

Lá embaixo, passos sobre o vidroquebrado fizeram ruído. Até mesmo osouvidos de Eric conseguiam agora

escutar com facilidade o som de muitospares de pés andando ruidosamente pelasala de estar. De sua cama, os prapsis sebeijavam um ao outro, para confortarem-se.

— Sejam quem forem, não estão

tentando nos pegar de surpresa — disseEric.E berrou a plenos pulmões pelo

corredor:— Morpeth! Onde você está?A voz áspera de Morpeth chamou.

— Estou bem! Sua mãe também.Venha à cozinha. Eric ajeitou oacolchoado delicadamente em torno dospescoços dos prapsis, acalmando-os.

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Mas desviou o rosto, sem jeito.— Não sou bom o suficiente,

entendem? Não era suficientemente

cruel.Abrindo os braços, indicou os que

estavam à sua volta.— Nenhum de nós aqui.Rachel reparou o quanto as crianças

pareciam aflitas. Heiki não se encontrava

entre elas.— São quantas as Bruxas? —perguntou. E pensou: uma, por favor, sóuma...

— Cinco — respondeu Paulo.Rachel tentou permanecer calma.

As notícias aparentemente nãoperturbaram Morpeth. Ela agarrou suamão.

— Por que vocês ficam olhando paraa janela? — perguntou ele.

— Estamos sendo perseguidos.

— Por Bruxas?Paulo riu amargamente.— Acha que Bruxas vão se

incomodar com gente como nós? Somosos rejeitados.

— Então, quem os está

perseguindo?— Crianças, é claro. Criançasmelhores. As favoritas. Mamãe espantou-se.

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— Por quê?— Vocês não fazem idéia do que

está acontecendo, não é? — disse Paulo.

— As Bruxas nos fazem lutar, para verquem é o melhor. E arrancam fora comoerva daninha os que se recusam a esfolaros outros.

Ele olhou para os companheiros.Alguns baixaram as cabeças.

— Nós perdemos batalhas demais.Fomos transformados em alvos parapraticar.

Eric perguntou:— Alvos para quem praticar?— Para as favoritas. Elas nos

pegaram uma vez. Nos deram umaspancadas e depois nos mandaram partircom uma distância de vantagem. Dapróxima vez, vão acabar conosco. Nãosomos capazes de correr mais que elas.A maioria voa mais depressa que nós. Ei,

não temos muito tempo. Elas estão...— Elas estão aqui — uma meninasussurrou. E recuou da janela.

Do lado de fora, um novo grupo decrianças estava suspenso em fileira deencontro aos telhados. Não tentaram

esconder-se. Ajoelhadas ou sentadas comtranqüilidade no ar, todas olhavam comaudácia para Rachel.

Morpeth estudou Paulo de perto.

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— Como nos encontraram?— Todas as crianças conhecem este

endereço — revelou Paulo. — E o aroma

da magia de Rachel é muito fácil deachar.

Ele olhou para ela.— Você deixou rastros por toda

parte.Da escuridão lá fora uma criança

chamou o nome dele, e ele se encolheu,saindo da janela.— Olhe, você vai nos ajudar ou não?Morpeth notou que os ferimentos de

Paulo e das outras crianças não eramgraves — uns poucos machucados e

cortes superficiais.— Não vejo prova de que vocêsestiveram envolvidos em verdadeiroscombates — ele disse.

— Isso foi porque Ciara osdespistou! — berrou Paulo.

— Eu estou ouvindo — disseMorpeth, no mesmo tom de voz.— Ciara é uma menina bastante boa

para lutar contra as melhores crianças,mas ela não quer. Ajudou-nos a conseguiruma boa distância de vantagem. As

Bruxas foram atrás dela por causa disso.Provavelmente já a mataram.— Devíamos tirar todo mundo de

perto dessas janelas — sugeriu mamãe.

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— Não — respondeu Morpethfirmemente. — Podemos nos defendermelhor se os mantivermos todos à vista.

Os que estão dentro e os que estão forada casa.

Mamãe olhou curiosa para Morpeth.— Você não acredita na história

desse menino? Paulo não é o que andouresistindo a Calen?

— Ainda não estou certo de em queacreditar — respondeu Morpeth.E voltou-se para Rachel.— Despache encantamentos de

informação. Se as Bruxas estão atacandoou recentemente atacaram alguém deve

haver alguma evidência clara.Rachel obedeceu. Na distânciasentiu encantamentos poderosos sendoutilizados. Alguns, de uma criança —erguendo todos os seus encantamentosdefensivos contra grandes forças.

— Duas Bruxas — Rachel tomoufôlego. — Duas Bruxas contra umacriança. Estão lutando agora. Ela não tema menor chance de agüentar.

— A que distância? — Ericperguntou.

— Centenas de quilômetros. Ericbateu na mesa.— Se pudesse me aproximar,

conseguiria destruir os encantamentos.

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Ele olhou para Rachel.— Você consegue chegar lá a tempo

de ajudá-la?

— Estou sendo necessária aqui. Nãoposso deixá-los!

— Por favor — implorou uma dasmeninas. — Você não pode deixar Ciaralutando sozinha!

Lá longe Rachel conseguia sentir a

dor de Ciara. Estava dividida: deixavauma pobre menina desconhecida acombater sozinha ou deixava mamãe sócom Eric e Morpeth para defenderem-seda mágica das favoritas.

— Morpeth — disse ela,

bruscamente —, diga-me, o que devofazer?— Vá — disse-lhe ele. — Ciara não

poderá sobreviver por muito tempo. Nós podemos defender esta casa por umtempo, tenho certeza. Acredite em mim:

se são cinco Bruxas, lá fora, que nosquerem mortos, mesmo com você aqui,não seremos capazes de detê-las. Vá atéa menina antes que seja tarde demais.

Rachel olhou para mamãe queassentiu e sacudiu a cabeça aterrorizada.

— Espere! — sussurrou Morpeth noouvido de Rachel. — Você pode colocarem mim um aroma? Um rastro que vocêpossa localizar?

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— Sim.— Faça-o.Rachel rapidamente completou o

encantamento, tornando o aroma difícilde detectar.

Então, a uma grande distância,sentiu as defesas de uma criançaabalarem-se de repente.

Com um olhar final agoniado a

todos, ela partiu.Assim que Rachel partiu, Pauloafundou o rosto nas mãos.

— Lamento tanto — disse ele. — Tanto.

— Bastante bem feito — disse outro

menino, mais velho, de pele clara, dandoum tapa nas costas de Paulo.Até ali aquele menino tinha ficado

em completo silêncio.— Heiki reconheceu que você seria

o melhor para convencê-los — disse ele.

— Ela tinha razão. Eu, na verdade,achava que você ia estragar tudo.Paulo ergueu um pouco a cabeça.— Marshall, ninguém aqui vai ser

machucado. Foi esse o nosso acordo.— Seja lá o que for... — disse

Marshall, deixando-o de lado.Acenou para as crianças do lado defora que, com esse sinal, vieram para acasa feito um enxame, algumas

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chamando pelos nomes os amigos ládentro.

— Como foi capaz de fazer isso? —

Eric zangou-se com Paulo. — Como foicapaz?

As lágrimas desceram pelo rosto dePaulo.

— Eu não fui capaz... Eu...— Ai, cale-se — disse Marshall,

empurrando-o. Morpeth aproximou Eric emamãe, furiosamente tentando decidircomo poderia protegê-los.

— Suponho que aquela Bruxa,Calen, esteja com vocês — Eric rosnoupara Marshall. — Vocês não têm coragem

de fazer isto por conta própria.— Sem Rachel por perto, nãoprecisamos da ajuda dela — afirmouMarshall.

Eric levantou as mãos.— Acha que eu simplesmente vou

deixar vocês fazerem tudo o quequerem? Eu vou dissolver todos osencantamentos de vocês.

— Vai mesmo?Duas crianças, impulsionadas pela

força de sua mágica, agarraram as

pernas e os braços de mamãe.— Já nos falaram sobre o seu domestranho — Marshall disse a Eric. — Demodo que o que vai acontecer é o

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seguinte: você e Morpeth vêm conosco.Mamãe fica aqui. Se você interferir comqualquer um de nossos encantamentos,

temos ordens para matar Morpeth naviagem. E no caso de um de vocês doistentar alguma coisa, deixamos aqui umascrianças com o fim de cuidar demamãezinha...

— Não ouse feri-la — enraiveceu-se

Eric. — Faremos o que quisermos.— O seu comportamento não é

muito educado — disse Morpeth, fixandoMarshall de igual para igual. — Estáobedecendo ordens, não é? Ordens de

quem? O que lhe disseram para fazercom a mãe de Eric?— O que lhe importa? — questionou

Marshall. — Heiki não está muitopreocupada com o que vai acontecer aela ou a você, a propósito. Ela tem planos

especiais para Eric.Paulo ergueu a vista.— A mãe deles não fazia parte do

trato. E que planos são esses para Eric?Não me lembro deles.

— Heiki não tinha confiança em

você para contar tudo — disse Marshall.— Marshall — mamãe tentou dizer,com olhos suplicantes. — Olhe, eu sei...eu... os adultos em geral... não são nada

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para você. Sem magia, acho queparecemos somente...

— Um estorvo — terminou Marshall.

— Isso mesmo. Pais agora não valemnada.

— Quem disse? — perguntou Eric,zangado.

— Heiki.— Quem é essa? Uma Bruxa?

— Uma menina. Você vai descobrir.— Parece que ela amedronta você— atiçou Eric, com desprezo.

— Talvez amedronte — murmurouMarshall. De trás vieram soprosofegantes.

Uma menina debruçou-se paraolhar.— Ei, quem são esses?Os prapsis tiritavam no umbral da

porta. Saíram sem serem notados dacama de Eric e observavam, temerosos,

prontos para voar em cima de quemtentasse tocar nele.— Nós mordemos! — um gritou,

abrindo a boca de gengivas sem dentes.— Ai, eles falam! — a menina se

espantou. — Eu quero um!

Houve uma algazarra: muitas dascrianças tentaram agarrar os prapsis,que, rápidos demais, esquivavam-se.

— Deixe-os em paz! — Eric explodiu

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com Marshall. — Lute comigo, seucovarde. Ou está com medo?

— Eu não tenho medo de você —

grunhiu Marshall.— Você tem — instigou Morpeth,

numa voz que tinha certeza de que todasas crianças ouviriam. — Todo esse papode valente. Não tem nada por trás excetoo medo das Bruxas e do que elas vão

fazer. Você também está sendo julgado,Marshall?E viu os olhos de Marshall meio

arregalados.— Esta tarefa é uma prova que lhe

deram, não é? — perguntou Morpeth. —

O seu comportamento está sendoobservado.Marshall olhou nervoso para fora de

uma das janelas, depois retomou acompostura. Cheirou o ar em torno deMorpeth.

— Não tem mágica — disse,sarcástico. — E, pelo que ouvi dizer, vocêé um velho num corpo de menino. É umacoisa curiosa.

— Talvez — disse Morpeth. — Maseu sou o que eu sou. O que é você,

Marshall?Marshall encolheu os ombros. A umsinal seu, as duas crianças queseguravam mamãe agarraram-na com

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força, enquanto o resto começou a puxarEric e Morpeth em direção às janelasquebradas.

Eric espiou as chaminés da rua.— Para onde estão nos levando?— Para uma bela viagem — disse

Marshall, como se estivesse anunciandoo início de um piquenique.

— Onde?

— Você não quer ouvir. Uma longa,fria viagem.— Então é melhor nos vestir melhor

— disse Morpeth, indicando os pijamasde Eric e as próprias roupas leves.

Sem esperar resposta de Marshall,

entrou no quarto extra. Mamãe oacompanhou, as mãos tremendo, eajudou a procurar calças e sapatos.Encontrou um casaco que servia emMorpeth e passou, empurrando, porumas crianças, para subir e arranjar um

grosso o bastante para Eric.— Você já teve tempo suficiente —disse-lhe Marshall, quando ela voltou, demãos vazias.

— Mas não consigo encontrar nada!— ela gritou. — Como ousa... não, olhe,

deixe-me verificar embaixo da escada,por favor... eu acho...— Ande logo com isso — silvou

Marshall. Morpeth demorou a se vestir, o

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duas que estavam com mamãe lutavampara contê-la.

Morpeth captou o olhar aterrorizado

dela. Desta vez sentiu que não podiafazer promessas.

— Não vou deixar que machuquemEric — disse, mesmo assim. — Podeconfiar.

As crianças acabaram de arrastar

Eric e Morpeth até à janela. Ao sinal deMarshall, subiram voando pelas paredesda casa e sobre o telhado pontudo deencontro ao ar frio da noite. Os prapsisforam atrás, a uma curta distância.Queriam ficar junto de Eric, mas as

crianças os enxotavam sempre quepairavam perto demais. Da distância queousavam ficar, berravam insultos àscrianças que seguravam os braços epernas do menino.

Enquanto Eric ainda podia ser

ouvido por mamãe, virou o pescoço egritou, rouco:— Espere por Rachel! Ela logo

estará de volta. Marshall passou ao ladodele.

— Eu acho que não — disse. — Heiki

está com ela agora.Rachel chegou sem fôlego ao topode uma densa floresta de carvalhos.

Sentindo que duas Bruxas partiam,

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desceu, pesquisando a vegetaçãoembaixo. Teria chegado tarde demais?

Uma menina estava deitada de

rosto para baixo, em meio às raízes deuma árvore. Seu cabelo cor de gengibree enrolado estava manchado de sangue— no entanto, estava viva. Rachelajoelhou-se ao lado dela. Lançando-lheencantamentos de cura, costurou a pele

das costas, cortada pelas Bruxas.Consertou o fêmur da perna quebrada.Desinchou o ponto onde uma garraapertara o pescoço da menina. Olamentável estado dos ferimentos tirouquaisquer dúvidas que Rachel pudesse

ter a respeito de ter sido atraída parauma armadilha. Eventualmente, amenina sentou-se.

Oscilou, aparentando tontura.— Você está em segurança — disse

suavemente Rachel. — Não tenha medo,

Ciara.— Para onde foram as Bruxas?— Não tenho certeza. Mas não estão

por perto. Não estou detectando apresença delas.

Ela sorriu.

— Eu sou Rachel.— Sabemos tudo de você. A meninaque derrotou uma Bruxa! Puxa!

— Eu recebi ajuda — disse Rachel,

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casa — avisou Rachel, com urgência,explicando o que tinha acontecido. —Você consegue voar?

— É claro.A menina se levantou, rígida.— Eu sou a sua maior admiradora, a

propósito. Você vai matar essa tal deHeiki!

Rachel mandou os encantamentos

de informação atrás do cheiro deixadoem Morpeth. Por um motivo qualquer,este se deslocara da casa.

— Algo está errado — ela disse. —Vamos depressa.

— No caminho vou lhe ensinar todos

os meus encantamentos — a meninadisse, ansiosa. — E você?— Vamos ver.A menina bateu palmas, deleitada.— Amigas! Somos amigas!Rachel voou depressa em direção à

casa. A menina acompanhou avelocidade dela.— Você é muito boa — elogiou

Rachel.— Eu sou inútil. Não consigo mudar

de forma, como você, nem nada.

Quando Rachel se preparou para setransferir de um local para o outro, amenina gritou.

— Desculpe, isso dói tanto. Não

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faça, por favor.— Mas temos que voltar. Vai levar

mais de uma hora se apenas voarmos!

— Não, por favor — implorou amenina, caindo nos braços dela. —Segure-me! Ainda me sinto tão fraca.

Rachel a abraçou apertado e voou omais depressa que pôde, esperando quea menina se recuperasse.

Heiki sorriu para si mesma. Talvezfosse tudo simples demais. Rachel eraimpressionante, mas facilmenteenganada, como todas as outras.Confiante demais. É claro, tinha arriscadomuito para chegar a convencê-la.

Confiando na capacidade de Rachel decurar feridas, permitiu que as Bruxasrealmente a machucassem antes departir.

Esta é a diferença entre mim e você,Rachel, pensou Heiki. Sofro qualquer dor

para conseguir o que quero. Quanta dorvocê é capaz de suportar?— Por favor, vá mais devagar — ela

implorou a Rachel, numa voz fraca,enquanto cortavam um punhado denuvens esparsas. — Estou com tanto

medo.

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Morpeth contou uma trupe de vinte esete crianças.

Dez o carregavam e a Eric pelos

braços e pernas, mantendo-osseparados. O resto formava um círculo deguarda. Marshall ia no alto, à frente,

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obviamente o líder. Paulo voava ao ladodele, ocasionalmente olhando apreensivopara Eric, atrás. Não havia sinal de Bruxa

alguma, nem de Rachel.Por um tempo viajaram na direção

Leste, sobrevoando plantaçõesiluminadas pelas estrelas e a luaminguante. Então, Marshall desviou obando rumo ao Ártico. Deixando para

trás a terra, sobrevoaram as ondasagitadas do Mar do Norte. Intensamentefrio, o vento ruidoso agora trinchava ascrianças. A trupe tinha mágica para sedefender dos ares severos, mas a únicaproteção de Eric e Morpeth era

macacões, luvas e casacos. Morpethsabia, de Ithrea, como manter osmembros em movimento constante parase proteger do congelamento, mas Ericnão tinha esse conhecimento. Deencontro ao vento cru, o casacão pesado

de papai não era suficiente. Em algunsminutos, Morpeth sentiu que Ericcomeçava a apagar. Teria sido esse odestino que Heiki havia planejado paraEric, ficou a imaginar: matá-lolentamente durante o vôo?

Não enquanto eu viver, pensouMorpeth.— Eric precisa de mais proteção! —

ele rugiu através dos ventos.

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Marshall o ouviu, mas nada disse.— Imagino que Heiki queira que a

carga chegue viva — gritou Morpeth. —

Se você falhar, Marshall, se nósmorrermos de frio na viagem, ela não vaificar satisfeita.

— Eu vou aquecê-los — ele ouviuPaulo dizer a Marshall. — Deixe comigo.

Marshall acenou, depois disse,

zangado:— O mínimo de calor para Eric. Só obastante para que não congele. Quanto aMorpeth, nada. Está ouvindo? Nada.

Paulo estendeu um fino lençol de arquente em torno do rosto e do pescoço

de Eric. Seu olhar pousou em Morpeth,mas, visivelmente, estava nervosodemais para ignorar o aviso de Marshall.

Deixado completamente exposto,Morpeth cerrou os dentes e suportou ador o melhor que pôde. Flexionava e

desflexionava os dedos tentando manterna mente a imagem de Rachel. Voltou aatenção para as crianças que ocarregavam. Elas sentiam desconforto.Estava óbvio que Heiki e as Bruxashaviam descaradamente apresentado

aquela tarefa como uma espécie de jogoou aventura. A maioria não se deixouenganar. Morpeth falou com elas.Enquanto voavam mais alto pelo ar ainda

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mais frio, ele perguntou sobre suasfamílias e amigos, para lembrá-las doque tinham deixado para trás. Sem

dúvida, tinham recebido ordens de nãoresponder, mas afrouxaram o aperto eaproximaram-se ligeiramente para queseus corpos o protegessem dos ventosuivantes. Logo, curvadas para baixo,ouviam sua voz rouca.

A camada de calor de Paulomanteve Eric vivo, mas seu corpo seguiacortado pelas rajadas. Conforme o tempose passava, ele perdia e retomava aconsciência. Os prapsis permaneciam porperto, tentando convencer-se de que Eric

estava bem, as lágrimas congeladas.— Acorde, ó maravilha preciosa!— Ai, acorde, ande!— Estou com medo, meninos. Eric

está doente.— Não, está dormindo.

— Está? Está só dormindo?  Tentavam envolver com as asas orosto exposto de Eric, mas as criançasque o transportavam queriam agarrá-los.Os prapsis jamais conseguiam aproximar-se o suficiente para tocá-lo.

A certa altura Eric despertou por umbreve instante.— Vão embora, meninos! — disse

com voz áspera. — Vocês são capazes de

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voar mais depressa que estas crianças.Escondam-se. Não vão encontrá-los.

Os prapsis sacudiram as cabeças

teimosamente e continuaram aacompanhá-lo com disposição,pestanejando, contorcendo-se, voandono vento e tentando com os próprioscorpos acolchoar Eric de sua parte pior.

A maior parte do tempo Morpeth e

Eric foram mantidos longe demais um dooutro para poderem se falar. Uma vez, osgrupos que os carregavam aproximaram-se para que pudessem trocar algumasbreves palavras.

— Para onde estão nos levando? —

Eric conseguiu sussurrar.— Eu não sei.— Onde está Rachel?— Não muito longe, tenho certeza.

Ela virá. Fique alerta, e mantenha asmãos em movimento.

Eric olhou para cima com firmeza.— Morpeth, não permita que elesmachuquem os prapsis! Prometa!

— Eu...Morpeth não pôde encontrar

palavras. Sabia que, se aquelas crianças

quisessem machucar os prapsis, ele nãoseria capaz de impedir.Diante de uma ordem grunhida por

Marshall, os grupos voltaram a se dividir.

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sal e ouviu o grito frio, persistente, dasgaivotas. Uma brancura cegante cortouseus olhos.

Atravessavam terra.Adiante, um continente gigante de

neve se estendia até onde a vistaalcançava.

Onde estavam? Na Groenlândia? NoÁrtico? Morpeth forçou os músculos

enrijecidos de seu pescoço a semovimentarem. Viu o grupo de criançasque carregava Eric soltá-lo sobre a nevedensa. Deitado de bruços, Eric não semexia. Os prapsis, eles própriostremendo de frio, pousaram sobre sua

cabeça, mordiscando-lhe as orelhas comas gengivas para acordá-lo. Momentosdepois, o próprio Morpeth erasuavemente depositado ali perto.Arrastando as pernas na neve, tomou opulso de Eric. Havia batida — só isso. O

gelo acumulava-se severamente sobre oslábios e mãos de Eric — as luvas demamãe não tinham bastado. Morpethsegurou o rosto de Eric longe da neve earrancou-lhe as luvas, esfregando asarticulações e tendões dos dedos.

— Acorde! — berrou, batendo emEric com força. — Você tem que acordar!Os prapsis batiam as asas em torno

da cabeça de Eric, apressando Morpeth.

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— Eric já dormiu demais!— Está mais frio que esqueleto!

  Todas as crianças que tinham

transportado Eric e Morpeth ascenderama um ponto elevado no céu. Ali ficaramsuspensas, observando, solenes,enquanto o vento sem relento do Árticocortava seus rostos. Finalmente, saiuuma discussão entre Marshall, Paulo e as

crianças que carregaram Morpeth.— Desçam e venham nos ver! —Morpeth gritou para o alto, semprelutando para despertar Eric. — Venhamver o que fizeram! Ou você está commedo, Marshall?

— Eu não estou com medo.Hesitante, Marshall e Paulodesceram e pousaram. Quando Marshallviu a pele empolada de Eric, os lábiospartidos e inchados, os dedosdeformados, virou-se.

— Não é tão fácil deixar alguémmorrer, não é? — disse Morpeth. — Levamuito tempo para uma Bruxa convenceruma criança a apreciar isto.

Paulo não conseguia suportar avisão de Eric. Adiantou-se para ajudá-lo.

— Não toque, idiota! — gritouMarshall. — Você vai nos botar a todosem apuros.

— Não podemos simplesmente

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largá-lo deste jeito. Olhe os dedos dele!— Não temos permissão para ajudá-

lo.

— Você controla o grupo — disseMorpeth a Marshall. — O que é que oimpede?

Marshall olhou nervosamente paracima.

— Você está cego? Não sou eu o

responsável aqui.Morpeth acompanhou seu olhar esentiu o que deveria estar oculto no céu:uma Bruxa, longe demais para se ver,mas mesmo assim ali, acompanhando ocomportamento de cada criança. Medo,

Morpeth pensou, sabendo a partir deuma longa experiência o que a merapresença de uma Bruxa era capaz deobrigar as crianças a fazer. De repente,lembrou-se dos velhos amigos eimaginou se as Bruxas também tinham

descoberto Ithrea. Não. Não agüentavaimaginar isso...— Só os mais fortes sobrevivem —

disse Paulo, vagamente. — Foi o queCalen disse.

— O que foi que mandaram você

fazer? — Morpeth perguntou a Marshall.— Deixar-nos aqui para morrer?— Não. Levá-los ao pólo, se

conseguissem sobreviver à viagem. É o

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que Heiki quer. Ela não se preocupouespecialmente se conseguiriam ou não.

Morpeth aproximou-se dele e,

inclinando-se, sussurrou:— É isto o que você quer, Marshall?

Acha que a Bruxa que o treinou ficarásatisfeita apenas com nossas duasmortezinhas? Pois não ficará. Isto ésomente o começo. Ela vai fazer você

matar mais uma vez, mais outra... Nãovai deixá-lo em paz. Nunca serãosuficientes as mortes para satisfazê-la.

Acima deles, uma menina gritou:— Ei, o que está acontecendo?— Eu tenho que ir — disse Marshall.

— Não posso ser visto conversando comvocê.— Dê-me tempo para reanimar Eric!

— exigiu Morpeth.— Perigoso demais. — Os olhos de

Marshall esvoaçaram pelo alto. — Ele

terá que viajar como está.— Eric está exatamente como você— suplicou Morpeth. — Assustado,lutando para sobreviver. Vaisimplesmente deixá-lo morrer no vento?

Sem responder, Marshall saltou,

tirando os pés da neve e puxando Paulo,em direção às outras crianças.— Vocês podem lutar e se defender

— gritou-lhes Morpeth. — Olhem uns

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para os outros. Não são capazes de ver aprópria força?

Se ouviram, nenhum menino

respondeu, e Morpeth tornou a voltar aatenção para Eric. Tentou cavar umburaco para escaparem do vento. Mas,depois de alguns centímetros, a neveestava compacta demais para sercavada. Ele então tirou o próprio casaco,

envolveu Eric com ele e aproximou oscorpos, para obter calor.Finalmente, Eric abriu os olhos pela

metade. Os prapsis soltaram gritosagudos de alegria, arrulhando comopombos em seus ouvidos. Morpeth

limpou o gelo de seus lábios.— Só os mais fortes sobrevivem —murmurou Eric. — Não foi isso o quePaulo disse?

— Nós somos os mais fortes —disse-lhe Morpeth. Eric perdera a

sensibilidade dos dedos dos pés. Semsaber por quê, isso o amedrontava maisque tudo.

— Fale comigo, velho.— Estou aqui — disse Morpeth. —

Não vou deixá-lo.

— Onde estão os prapsis?— Respirando nas suas mãos.Eric conseguiu sentar-se e olhou

afetuosamente para as crianças-aves.

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— Eu não conseguia sentir vocês,meninos. E tossiu.

— Ei, não estou me sentindo lá

essas coisas.— Tudo é luta — confortou-o

Morpeth. — Logo Rachel estará aqui.Eric fez que sim, tentando acreditar,

e atentou para os uniformes verdes dascrianças.

— O que estão esperando? Por quesimplesmente não acabam conosco?— Porque não querem — disse

Morpeth, com firmeza. — Querem parar.A discussão lá em cima

gradualmente se espalhara por toda a

trupe. Paulo e as crianças que escutaramMorpeth argumentavamapaixonadamente. Quando terminou,todas as crianças olharam para baixo eEric e Morpeth discerniram umencantamento em funcionamento.

Cessaram todos os ventos em tornoe uma brisa quente substituiu o arcortante.

— Não! — gritou uma vozenraivecida.

E, de seu esconderijo, Calen cruzou

o céu.Dirigiu-se diretamente à trupe, asgarras esticadas. Inicialmente Morpethpensou que tinha a intenção de rasgar os

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Da nuvem que ocultara Calen, eleflutuava serenamente em direção àscrianças. Estava cercado por suas

devotadas borboletas, agora enormes, dotamanho de gatos.

— Volte! — berrava Calen. — Volte!  Yemi hesitou, depois veio, atraído

pelos ruídos assustados na trupe. AsBelas de Camberwell à frente, como um

bando de imensos e lentos pássarosamarelos. Misturaram-se às crianças,roçando as que traziam o rostomanchado de lágrimas como se, demaneira instintiva, quisessem oferecerconforto. Desconcertantes, espantosas,

as borboletas no céu eram tão grandes etantas que a trupe ficou praticamenteperdida debaixo das asas em movimento.

Ao fim de muita luta, Calen abriucaminho de volta a Yemi, arrebatando-o.As borboletas o seguiram, relutantes, as

antenas curvadas.— Deve ser o bebê que Rachelmencionou — maravilhou-se Eric. —Sentiu a força dele?

Morpeth fez que sim, observando,reverente. Yemi se remexia nas garras

desconfortáveis de Calen, infeliz de sercarregado para longe.Com Yemi sob controle, Calen voltou

e pôs-se a gritar com as crianças. Desta

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vez, elas estavam por demaisaterrorizadas para argumentar.Agrupando-se, a trupe inteira formou um

punho compacto. As crianças desceram, juntas diretamente sobre Eric e Morpeth.

Eric fechou os olhos.— O que vamos fazer agora?— Sobreviver — respondeu Morpeth,

preparando-se para receber os primeiros

golpes.As crianças lhes caíram em cimacomo granizo.

Rachel voltou para casa com Heikianinhada nos braços.

No caminho de volta, Heiki

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deliberadamente a desacelerou. Sempreque Rachel tentava se transferir de umlocal a outro, ela fingia dor. Toda vez que

Rachel tentava voar depressa, choravaaté o delírio, fingindo que o choque doataque das Bruxas a tivessedesequilibrado. Rachel respondiasegurando-a próxima a si e voando comtoda a delicadeza nos ventos noturnos.

Durante a jornada, Heiki revelou unsencantamentos seus — nada importante,mas só o bastante para ganhar aconfiança de Rachel. Com cautela, Rachelfez o mesmo. Mas Heiki adivinhava queela não estava revelando suas armas e

defesas mais sutis.Ótimo, pensou, não desejando umcombate fácil demais.

Assegurou-se de que a viagemdurasse tempo suficiente para a trupe —com Morpeth e Eric — se escafeder em

segurança. Os quilômetros finais foramdifíceis —Heiki mal podia esperar pela reação

de Rachel à surpresa que lhe preparara.Um frio vento matutino soprava

pelas janelas quebradas da casa.

Mamãe, lá dentro, conversava coma menina e o menino que tinham ficado.— O que estão fazendo? — gritou

Heiki. — E os castigos? Tinham que

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aplicá-los assim que Eric e Morpethsaíssem!

— Eles mudaram de idéia — disse

mamãe, ríspida.Puxando as crianças para perto de

si, correu em direção a Rachel, sempremantendo o olhar firme em Heiki. Omenino e a menina tremeram, tentandose esconder atrás de mamãe.

— Esta obviamente é Heiki —mamãe logo disse. — Já sei tudo sobre amaldade dela. Tenha cuidado, Rachel.

Heiki sorriu — e o cabelo degengibre encaracolado, as sardas e ochoro incessante sumiram, sendo

substituídos apenas pelos olhos azuislavados.— A menina do cemitério! —

espantou-se Rachel. Ela virou-se paramamãe.

— Onde estão...

— Não tire os olhos dela! — mamãeavisou. — Morpeth e Eric foram levados.Estas pobres crianças — e agarrou omenino e a menina — não sabem paraonde, mas aquela sabe.

Lançou a Heiki um olhar feroz.

— Ela planejou tudo. Rachel trovejoucontra Heiki:— Se você os tiver machucado...— Eu os machuquei!

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Rachel aspirou. O aroma posto emMorpeth, da cozinha, terminavaabruptamente bem acima da casa.

— Diga para onde foram levados!— Acha que vou lhe dar  mais essa

informação? — disse Heiki, zombeteira.— Terá de lutar comigo por ela. Venha:uma batalha. Só nós, duas meninas. Asmelhores crianças. Sem Bruxas, prometo.

Rachel esquadrinhou a área. Nãohavia Bruxas ali; nesse ponto, Heiki diziaa verdade. E isso mostrava o quantoestava certa do sucesso. Estudando osolhos firmes de Heiki, treinados pelasBruxas, sentiu medo.

— Chega de brincadeiras — disseRachel. — Não acredito que você queiranada disso. São as Bruxas que fazemvocê se comportar dessa maneira.

— Não é verdade — respondeuHeiki. — Com certeza, as Bruxas querem

você morta. Mas, independentementedisso, eu estou ansiosa para lutar comvocê.

— Por quê? — Rachel fixou-a,incrédula. — O que foi que eu lhe fiz?

— Nada. Simplesmente quero saber

qual de nós duas é a melhor.Vendo Rachel confusa, Heiki sacudiua cabeça.

— É melhor você se adaptar,

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menina. O futuro é um mundo de magia.Esqueça os adultos. Mamães,professoras, vovós não têm mais

importância. Calen me disse que asBruxas vão fazer com que todas ascrianças lutem umas contra as outras, detodo modo. Só as melhores terãopermissão para combater os Magos.

Por um instante, diante daquele

excitado rosto anguloso, Rachel teve umavisão do futuro: os adultosprovavelmente todos mortos, as criançasmais frágeis descartadas, as talentosasnuma afiada elite de combate a Magos —conduzidas por um punhado das mais

cruéis, como Heiki.— Não — pensou Rachel, lembrandode papai. — Isto não pode acontecer.

— É melhor andar logo — disseHeiki. — Morpeth e Eric podem aindaestar vivos, mas não vão durar muito

mais.— Diga-me onde estão! — Não!— Você vai dizer!— Faça-me dizer!Instantaneamente encantamentos

de ataque ofereceram-se. Rachel

ignorou-os. Precisava afastar Heiki demamãe e encontrar o sinal de Morpeth!Quem sabe o cheiro estivesse por pertoda casa?

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Aflita, olhou mamãe de relance — edeslocou-se.

Nada aconteceu. Diante do espanto

de Rachel, Heiki riu. Rachel tentou outravez, de repente tomando consciência deum encantamento que nuncaexperimentara antes. Era umencantamento antideslocamento. Heiki adetinha.

Apelando para encantamentos maissimples de vôo, Rachel escapou pela  janela da cozinha. Voou no céu damanhãzinha, rápida, mas não tanto, atéter certeza de que Heiki a seguia. Depoisque se encontravam em segurança,

tendo passado as ruas da cidade eentrado pelo campo aberto, Racheldecidiu de fato testar a velocidade deHeiki. Seus encantamentos mais velozestomaram o controle. No entanto, pormais depressa que viajasse, Heiki a

acompanhava sem esforço.— Você não escapa com tantafacilidade — disse Heiki, sorrindo. — Eutenho um encantamento particularmentemalvado que quero testar. Seria umapena não usá-lo, Rachel, porque Calen e

eu criamos o encantamentoespecialmente para você. Nós ochamamos de bala-caçadora-multissinal.Veja o que acha.

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— Não. Não...Abrindo os lábios finos, Heiki soprou

a caçadora para Rachel.

Estava viva. Em forma de lesma, deum preto sarapintado, saiu se retorcendoda boca de Heiki. Rachel não precisoupedir proteção a seus encantamentos.Estes vieram à tona imediatamente, umacomplexa camada de defesas.

Freneticamente buscaram combinaçõespara deter a ameaça da caçadora.— Você não pode detê-la — disse

Heiki. — Não no tempo. O que vai fazer,Rachel?

Os encantamentos de informação

de Rachel investigaram a bala caçadora.Enquanto a arma vinha em direção à suacabeça, Rachel deu-se conta de que nãoseria capaz de desviá-la, nem recuar oudeslocar-se com velocidade suficientepara evitar o ataque.

— Só há uma opção — disseram-lheos encantamentos. — Transformar-se emnada. Um caçador precisa de vítima.

— Transformar-se em nada? —cismou Rachel. O que significava? Ela eracarne e músculo. Respirava, suava.

Como poderia virar nada?Meneando a cauda, lá vinha a caçadoraatrás dela. Estava perto agora.

Rachel — com Heiki ainda voando

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ao lado — parou abruptamente no céu.Heiki e a arma pararam também.Ancoradas às nuvens sarapintadas, as

três ficaram imóveis. Por um instante, acaçadora ficou confusa. Depois, investiuem direção ao coração de Rachel.

— Esconda-se — guincharam osencantamentos dela. Tentando não entrarem pânico, Rachel mascarou os sinais

óbvios. Espalhou seu aroma mágico.Disfarçou seu ofegante hálito branco degelo. Descorou o corpo todo e até aroupa, tornando-se praticamentetransparente — o pálido céu azul visívelatravés de seu rosto. Ainda assim a

caçadora veio atrás dela.— Como consegue me detectaragora? — perguntou-se Rachel.

E deu-se conta da quantidade depossíveis sinais entre os quais elapoderia escolher. Por exemplo, o seu

coração — o seu pobre coração, a bateracelerado! Rachel não podia impedir abatida, mas podia suprimir as mínimasvibrações que cada batida provocava.Fez isso. A brisa lhe abanava a roupa emexia o cabelo. Rachel continha todos os

fios como se fossem rígidos, até mesmoo pêlo fino dos braços. Os olhos abertos,secos, precisavam piscar — mas ela nãopiscou. Padrões fragmentados de luz

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refletiam em seus olhos as nuvens quepassavam. Rachel congelou-os.

Gradualmente, a caçadora

desacelerou. Abriu a boca quente juntoao olho esquerdo dela e ficou esperando.

Máxima quietude, sem movimentoou som.

A bala caçadora olhava da esquerdae da direita, espantada. Onde estavam

seus sinais? Sentindo calor, virou-se.Atrás havia pele pigmentada, respiraçãoúmida e movimento.

— Não! — gemeu Heiki,entendendo, de repente.

A caçadora, projetada com o fim de

atacar sem misericórdia, com o grito deHeiki só fez atacar mais depressa. Estanão teve tempo de desviar. A caçadorameteu-se no meio de suas pernas,mordeu fundo, queimou carne e osso, atéfundir seus tornozelos finos. No momento

em que Heiki conseguiu se livrar doataque da coisa, toda a metade inferiorde seu corpo, torrada, soltava fumaça nocéu frio.

Rachel observou, atônita: e viu que,incrivelmente, Heiki já controlava a pior

parte da queimadura! Logo em formasuficiente para continuar a fabricarencantamentos. Rachel deslocou-sedesatinada por sobre os mares do Ártico.

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rapidamente. Heiki parecia à vontade, ocabelo branco fino voando em todas asdireções no vento. Abriu as mãos e

Rachel viu novas armas ali aninhadas.Encantamentos de morte.

Heiki os segurava como se fossempreciosos animais de estimação.

— Está preparada para estes?Rachel contemplou Heiki. Seu rosto

estava contorcido de excitação. Era umrosto brutal — aterrorizador, quasedesumano. Mas ela é humana, Rachellembrou a si mesma. Sabia que, para teralguma chance de encontrar Eric vivo,precisava evitar os encantamentos de

morte. Mesmo se fosse capaz de vencê-los todos, aquilo tomaria tempo demais.Pensou:

— Antes da Bruxa dominá-la, Heiki,você com certeza se comportava deoutra maneira. Tem de haver um

caminho de chegar até você...Cautelosamente, Rachel deslizouem direção a Heiki, abrindo as mãos eboca para provar que não escondiaarmas óbvias.

— Desistindo, já? — inquiriu Heiki.

— Não, vim conversar. Heiki riu.— Então converse.— Qual o prêmio que as Bruxas lhe

ofereceram para você me derrotar?

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— Uma coisa especial.— Duvido — disse Rachel. — Aposto

que sou capaz de adivinhar. Prometeram

transformar você, não foi? Prometeramtransformar a simples e comum Heikinuma Bruxa.

Heiki ficou de boca aberta.— Co... como é que você sabe

disso?

— Ofereceram-me a mesma coisa,em um outro mundo.— E você não quis? Heiki ficou

admirada. — Você recusou?— Eu não gostava da matança que

teria que fazer em troca.

Heiki deu de ombros.— Só os melhores sobrevivem. Nãoleva a nada ser tacanha.

Rachel a analisou de perto.— Por que ordenou àquelas crianças

que castigassem minha mamãe? Ela não

fez oposição alguma. Onde está odesafio, então?— Os pais são lixo — disse Heiki,

veementemente.— Você não gosta deles, não é? —

Rachel aproximou-se ainda mais. — Por

que não? O que faz com que tantodeteste os pais?— Não têm magia. As Bruxas...

Rachel a interrompeu.

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— Não. Não é isso. É alguma outracoisa, não é? O que está escondendo?

Heiki subitamente pareceu

desconfortável.— Esse ódio dos adultos — disse

Rachel — não tem nada a ver comBruxas, não é?

Ela jogou verde.— Você odiava os seus pais antes de

as Bruxas chegarem!Heiki nada disse.— O que aconteceu? — pressionou

Rachel. — O que seus pais fizeram de tãohorrível?

— Não vou lhe contar nada.

— Machucaram você?Rachel deslizou mais para perto.Estavam quase se tocando.

— Não. Também não é isso. O queaconteceu? Não pode me dizer? Edoloroso demais?

— Cale a boca!— Você foi abandonada, não foi?Heiki vacilou, como se tivesse sido

golpeada.— Cale a boca! — gritou.— Foi isso que as Bruxas

prometeram? — perguntou Rachel. —Vingança dos adultos? É essa a questão?O rosto de Heiki ficou sombrio, os

lábios tremendo de emoção. Foi então

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que, pela primeira vez, Rachel viu Heikicomo verdadeiramente era: umaadolescente indesejada, estimulada por

Calen a agredir todo mundo.— Você não gosta de ninguém,

gosta? — sussurrou-lhe. — Porqueninguém gosta de você.

— Que ousadia! — Heiki começou adizer.

Mas as lágrimas pularam de suacara amarga, zangada. As lágrimasvieram tão repentinamente e com tantaenergia que Rachel instintivamenteestendeu uma das mãos para consolá-la.

Heiki a repeliu, mantendo o rosto

coberto para ocultar os sentimentos.— As Bruxas gostam de mim —murmurou, afinal. — Calen gosta de mim.

— Não — disse Rachel. — Nãogosta. Calen está só brincando com você.

Heiki cerrou os olhos, retendo o

resto das lágrimas.— Não quero sua piedade! —murmurou. — Eu sou especial. Melhorque as outras crianças. Calen me disseisso!

Rachel buscou esperança na

expressão ressentida de Heiki — mas obreve momento de fragilidadedesaparecera.

— Elas jamais transformarão você

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numa Bruxa de verdade — disse-lheRachel. — Calen está mentindo.

— Você está enganada. Eu  já sou

uma Bruxa!Heiki acariciou o pescoço, olhando

com orgulho a cobra cinza esguia alideitada.

— Olhe!Observando o filhote de cobra,

Rachel logo viu que era falsa. Malconseguia respirar ou manter abertos osolhos cor de gengibre — como se o poucode vida que possuía já estivesse seapagando. Levantou a cabeça mole dacobra, que sequer tentou impedir.

— Olhe com atenção — disseRachel. — Acha mesmo que a cobra-almade Calen alguma dia foi assim? Deram-lhe um brinquedo magricela para deixá-lacontente. Uma piada de Bruxa.

— Não é verdade — gritou Heiki,

com as bochechas em chamas. — Só é  jovem e frágil porque... porque é umbebê e minha magia ainda não é muitopoderosa.

— Não existe ligação entre a suamágica e esta coisa mecânica. Eu vou lhe

provar isso.Rachel deu um soco na cobra, queabriu frouxamente a mandíbula. Toda asua cor desbotou na hora. Branca, semi-

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qualquer diferença. Mesmo que o alcanceantes de mim, a trupe vai lhe pegar. Elesconhecem sua aparência e o cheiro da

sua mágica. Têm instruções minhas paramatá-la assim que a virem.

Ela sorriu com ferocidade.— E fazem exatamente o que eu

mando. — Você...— Não! Não estou escutando! Vou

lhe dar uns segundos de vantagem...Rachel disse:— Tem certeza de que quer lutar,

Heiki? Se é o caso, é melhor assegurar-sede não perder. Sem erro. Calen nãoaceitaria.

Heiki enrolou a cobra endurecida.Apertou-a com força de encontro aopescoço, emitindo umas palavras deconsolo à cara pálida. Diante daquilo,Rachel entendeu que não havia maisqualquer esperança de influenciar Heiki.

Se aprecia acariciar um corpo semvida, pensou Rachel, talvez jamais possaser convencida.

— Dois segundos — disse Heiki.Rachel puxou Heiki de encontro a si

e abriu-lhe os olhos. Luz cor de prata saiu

relampejando. Por um instante apenas,Heiki foi apanhada fora de guarda.Arrancando-a de seu pescoço, Rachel

  jogou a cobra no mar. Enquanto Heiki

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mergulhava atrás dela, Rachel deslocou-se para outro lugar.

Uns poucos segundos preciosos...

Sentiu, então, Morpethdolorosamente próximo. Onde estavaele?

De repente, um som solitário — ogrito de uma gaivota — seguido do baterde ondas de encontro à praia.

 Terra.Rachel atravessou rapidamente orestante do oceano. Uma praia estreitade cascalho se avistava. Havia boismarinhos aos montes e, além deles,erguiam-se rochedos de gelo puro.

Rachel voou por sobre os volumeselevados, e descobriu neve, o princípiode um vasto continente que se estendiaao norte. De início, nada conseguiu ver,exceto brancura implacável. Então, notoupontos verdes. À medida que se

aproximou, os pontos verdes seampliaram, ganharam membros,tornaram-se crianças, dúzias delas,apontando do céu para atacar duasoutras no chão.

— Morpeth! Eric! — gritou ela.

Arremessando-se na direção delas,Rachel desceu, através da nuvem fina.Heiki, atrás, alcançava-a rapidamente,acompanhando seus movimentos.

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Desceram juntas, tão depressa que umolho humano comum não seria capaz deacompanhar.

Rachel foi direto ao grupo decrianças.

Mas Heiki pousou primeiro.

Uma menina familiar, de cabelo compridopreto, andou, confiante, em direção aMorpeth.

— Rachel!Cambaleando, ele aproximou-se

dela, cheio de alegria.Outra menina pousou a certa

distância, mais atrás. Magra, de cabelobranco, idêntica à descrição

amedrontadora que Marshall fizera deHeiki. Morpeth gritou:— Rachel! Você não está vendo! Ela

está atrás de você!

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machucados.— Não se preocupe com os prapsis!

— gritou Morpeth. — Faça alguma coisa!

É sua irmã\Eric continuou a inspeção detalhada

dos pássaros-crianças. Enfiou para dentroumas penas fora de lugar, testou osmúsculos das asas para ver se haviamsido danificados, beliscou as bochechas

róseas.— Eric! O que está...— Não é Rachel — disse-lhe Eric,

baixinho. — Fique quieto, você!Para Morpeth, a menina se parecia

exatamente com Rachel. Até mesmo

possuía seu aroma mágico distinto.— Sem dúvida...— Confie em mim — murmurou Eric.De pernas cruzadas, a menina de

cabelo branco estava sentada na neve,longe da briga.

Pela primeira vez, Morpeth a olhoucom atenção. A menina de cabelo brancoretribuiu o olhar, forçando um meio-sorriso ligeiro. A cara estava errada, masMorpeth conhecia aquele sorriso. Voltou-se, atônito, para a menina de cabelo

escuro. Não era Rachel — deu-se conta.Era Heiki.Uma troca de aparências.Completamente enganada, a trupe

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lançou-se sobre Heiki. Morpeth observoua menina: por algum tempo conseguiumantê-los à distância. De maneira

extraordinária, arrastando-se elevantando-se, chutando as mãos que aagarravam, Heiki se levantou e tentoufugir pela neve. Mas antes que a menteatônita pudesse criar um encantamentode transferência ou mesmo entender o

que Rachel fizera, a trupe lhe saltououtra vez em cima e a jogou por terra.Eles não pararam para pensar no danoque provocavam. O terror os conduzia.Em algum lugar próximo, no céu, emcima, Calen observava. Ela puniria

qualquer hesitação. E Heiki tambémestava vigiando.Viam-na, a pouca distância,

calmamente esperando suas ordensserem obedecidas. Não os mandara serimplacáveis? Usando punhos, pés e

encantamentos as crianças obedeciam àrisca as suas ordens. No meio da neve,que virava lama cinzenta, batiam sempena, esperando que Heiki ou Calen asmandassem parar.

Morpeth pediu à menina de cabelo

branco:— Rachel, já basta!As lágrimas escorriam dos seus

olhos azul pálido. E era estranho ver

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aquelas lágrimas moles no rosto duro.— Quase. Não posso arriscar nada

— sussurrou ela. — Você não tem idéia

do quanto Heiki é forte. Tendo se passado diversos segundos

sem quaisquer ruídos além dos socos,Rachel desfez os encantamentos de trocae berrou:

— Parem!

A Rachel real, de cabelo escuroflutuando ao vento, estava sentada naneve. De início, a trupe não entendeu oque via. As mentes lutavam paraacreditar naquilo. Finalmente,entenderam a verdade e os braços

deixaram de subir e descer. Aos tropeços,de joelhos, desesperados, largaram Heiki,embaixo.

Rachel baixou o rosto — não queriaver o que tinham feito.

As crianças formaram um círculo

amplo em torno de Heiki. Não precisavatodo aquele espaço. Toda ferida, jazia —um montinho na neve, que seavermelhava.

— Está... viva? — perguntou Paulo.— Estou! — saiu a voz estrangulada

e áspera de Heiki. Não se sabe como elaencontrou forças para, com um cotovelo,escavar a lama e se erguer parcialmente.As crianças todas recuaram ainda mais.

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Apesar dos ferimentos terríveis, mesmoassim tinham medo de Heiki.

— Levantem-me — ordenou.

Incertas, elas estremeceram; muitasolhando para Rachel, à espera deorientação.

— Se vocês... não... — disse Heiki,entre golfos curtos de respiração — voumandar... as Bruxas... matarem... todos...

Eu... Sua cara escorregou no chão.— Ajudem-me — implorou, de

repente soando penalizante.Umas poucas crianças, lideradas por

Paulo, andaram em direção a Rachel.

Assim que viu isso, Calen irrompeudo céu. Com uma única garra, pescouMarshall e duas outras crianças pelopescoço, suspendendo-as no ar.

— Seus vermes tímidos! — gritou,dirigindo-se a todas as crianças. —

Sigam-me!Apontou para Heiki.— Com exceção dela. Deixem-na aí.Os membros mais velhos da trupe,

muitos olhando desesperadamente paraRachel, levantaram os braços e voaram

pelo ar. Lentamente, seguiram atrás deCalen em direção ao Norte.— Não podemos fazer nada para

mantê-las aqui? — gritou Eric para

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Rachel, do outro lado.— Deixe-os ir — respondeu ela,

desanimada. — Estou fraca demais para

fazer qualquer coisa agora. E vocêtambém.

— Eu não estou fraco demais.— Você mal consegue ficar de pé,

Eric.Ele tentou — e desmoronou, as

pernas congeladas se recusaram alevantá-lo. Os prapsis lhe cobriram asmãos, tentando aquecê-las com as penasmacias.

Em pequenos grupos, as criançasremanescentes ergueram-se das neves.

Pegaram as quatro crianças cujosencantamentos de vôo Eric tinhadestruído e formaram uma fileira tristeenlameando o céu. As mais novas eramas que mais relutavam em partir. Emgrupo, penduraram-se em Rachel,

apertando suas pernas com força.Finalmente, mesmo as mais novasperderam a coragem. De mãos dadas,deslizaram, juntas, dirigindo os olhoschorosos ao Pólo.

— Por que não ficam? — murmurou

Eric, frustrado. — Será que não se dãoconta de que nada de bom as espera láfora?

— É claro que sim — disse Rachel.

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— Mas sabem que não sou forte bastantepara desafiar todas as Bruxas. Que maispodem fazer senão seguir Calen

esperando não serem por demaiscastigadas?

Nenhuma criança ficou para darassistência a Heiki. Aos poucos, como umpássaro que tenta voltar ao ninho comuma só asa arruinada, ela conseguiu

desajeitadamente bater o braçoesquerdo. O direito estava deslocado,pendurado, sem movimento.

Uma vítima fácil — pensou Rachel.Um único encantamento seria suficientepara acabar com ela naquele momento.

— E agora? — perguntou Eric. — Vaideixar Heiki escapar, depois do que elafez?

A voz de Rachel tremeu de emoção.— Vai sempre haver uma outra Heiki

em algum lugar — sussurrou ela. — Devo

matar todo mundo que me perseguir? Eaquelas crianças que já estiveram emcontato com as Bruxas? Constituemperigo, não? Não é isso que Heiki faria?Persegui-las, caso representassemalguma ameaça?

Eric não respondeu.Arrastando-se para perto de Rachel,Morpeth abraçou-a. Juntos, observaramHeiki passar por sobre suas cabeças

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como uma sombra alquebrada.— Permita-me ajudá-la — Rachel

gritou para ela.

— Não — respondeu Heikiasperamente. — Não quero sua ajuda.Vou conseguir voltar por minha conta.

— Mesmo que consiga, acha queCalen vai lhe dar boas-vindas?

Heiki nada disse, tentando erguer o

corpo mais além no céu. A trupe já iabem adiante, diminuindo gradualmente,apagando-se de encontro à claridade damanhã no Ártico.

— Não acredito! Heiki está tentandovoltar com a trupe! — exclamou Eric. —

Depois que Calen nada fez para ajudá-la...— Ela nunca enfrentou os castigos

de uma Bruxa — Morpeth disse em vozbaixa. — Não tem idéia do que Calen vaifazer com ela.

Então, em cima da cabeça, ouviuum bater de asas.— Um bebê! — maravilhou-se um

prapsi. — A girar!Era Yemi, pendurado às suas

borboletas. Todo aquele tempo ficara

pacientemente à espera de Calen. Paraonde ia ela com as crianças gritonas? Obarulho o assustou, iam machucar Calen?Enquanto Calen voava, distanciando-se,

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ficou quieto, parado, como prometera.Mas sentiu-se assustado. Então, notoumagia familiar na terra, embaixo, o que o

encheu do mais feliz dos sentimentos. E,flutuando, desceu para recepcioná-la.

Rachel de pé na neve foi cercadapelas Belas de Camberwell de Yemi.Rodeavam-na, pousando em sua cabeçae deixando os prapsis nervosos. Duas das

maiores, as asas revolvendo comolâminas de helicóptero, carregaram opróprio Yemi para baixo delicadamente.

Rachel abriu os braços.Antes, porém, que Yemi a

alcançasse, um guincho de aviso fez as

borboletas da escolta cobrirem os olhosdele. Era Calen. Deixando as outrascrianças, disparou pelo céu, chamandorepetidamente o nome de Yemi. Algumasborboletas abanaram as antenasexcitadas para Calen; a maior parte

pairava mais próxima de Rachel.— Venha, Yemi! — chamou Calen. —Não me deixe zangada.

Ele estava suspenso, emdesconforto, por pouco fora do alcancedas mãos de Rachel. Algumas das Belas

puxavam seus dedos dos pés em direçãoa ela; outras, o empurravam na direçãode Calen. Yemi olhava com desejo paraambas.

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— Não lute por ele — avisouMorpeth a Rachel. — Você está esgotadademais para combater Calen.

— Eu sei — sussurrou Rachel.No entanto, não pôde evitar. Abriu

os braços ainda mais, convidando Yemi aentrar. Ele desceu um pouco mais, commais certeza, rindo para as borboletas.

Quando tocou os dedos estendidos

de Rachel, veio no vento, da direção deCalen, um cheiro. Era um cheiro defêmea — doce, ligeiramente almiscarado— e sensivelmente humano — o cheirode sua mãe.

Profundamente confuso, Yemi olhou

Rachel, depois Calen, as borboletasbatendo asas em desconforto pelo céu.— Yemi, venha — era a voz rouca de

sua mãe, saindo das quatro bocas deCalen.

— Essa não é a sua mãe — disse

Rachel.Calen deslocou-se. Ressurgiu umponto distante à frente da trupe,deixando o poderoso aroma de mãecomo rastro.

— Siga-me! — gritou.

— Mamãe! — gemeu Yemi. —Mamãe!— Não! — gritou Rachel.E projetou um novo cheiro — o

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cheiro de Fola, misturado com flor demilho e outros cheiros de sua terra natalde que ela se lembrava.

— Vá para a sua irmã — insistiu ela.— Lembre-se, Yemi! Vá para a sua casade verdade! Vá para casa!

Durante uns poucos segundos, osolhos castanhos suaves de Yemi piscarampara Rachel. Então, sem olhar para Calen

desta vez, sumiu. Foi um únicodeslocamento imenso queinstantaneamente o depositou a milharesde quilômetros ao sul. Rachel bateupalmas de alegria, sabendo para ondetinha ido — e olhou em desafio através

do céu para Calen.— Uma pequena vitória! —concedeu Calen. — Por quanto tempovocê acha que a família entediante de

  Yemi será capaz de mantê-lo ocupado?Logo, logo ele volta para mim!

Virando as costas para Rachel, elacontinuou à frente do bando rumo aoNorte.

Eric ainda estava tonto com amagnitude do encantamento detransferência de Yemi. Jamais sentira

força ou controle tão temível, nemmesmo em Dragwena.— Isso não foi um deslocamento

ordinário — disse. — Yemi não usou

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apenas a própria magia. Usou a magiadas crianças da trupe para ajudá-lo.

Rachel sacudiu a cabeça.

— Não, isso não é possível. Nemmesmo uma Bruxa é capaz de fazer isso.

— Mas ele fez — insistiu Eric. —Pegou o que queria, um pouco de cadacriança, não muito. Não é ambicioso. Sóo que precisava.

— Yemi tem um dom peculiar, nãotem? — perguntou Morpeth. — Suamagia parece completamente distinta, édiferente da das outras crianças.

— De todas as formas — disse Eric.— Os encantamentos dele são malucos.

Não são como os seus, ou os de Rachel.Nem são como os das Bruxas.Por um instante magnífico, Rachel

pensou em Larpskendya. Estremeceu,com uma possibilidade por demaismaravilhosa para se suportar.

— Mais como um Mago? —perguntou ela, mal ousando questionar.— A magia dele é como a deLarpskendya?

— Não — Eric soltou um suspiro. —Não é Larpskendya, Rachel. A magia

desse bebê não se parece com nada que já tenhamos visto antes.Quando a última criança sumiu no

horizonte, com Calen, Eric explorou o

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interior do seu casaco vivo, que mexia.— Aqui, meninos!Os prapsis saíram alegremente

pelos bolsos.As mãos de Eric estavam duras

demais para sentir o toque de suaspenas. Um prapsi esfregou a lateral dacabeça delicada de encontro a seusdedos.

— Caramba! — disse a criança-ave,lambendo-os, desgostoso.O outro prapsi rolou os olhos.— Ai, não reclame. Continua sendo

Eric.— Eu sei, mas parece cubo de gelo.

Você é tão mal-humorado!— Não enche, avezinha canora!— Lábios feios, cortados!— Meus lábios estão cortados?Um olhar triste dirigiu-se a Eric,

buscando conforto. O garoto esfregou

ambos os prapsis com a manga docasaco, sem querer tocá-los com osdedos frios.

— Estão cortados — disse —, mascom boa aparência, meninos. Naverdade, os dois estão com ótima

aparência. Vocês são maravilhosos:parecem águias.Os prapsis cantaram deliciados.— Hora de curar as feridas, cachos

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de ouro — disse Rachel.Eric sorriu.— Primeiro o velho. A idade antes

da beleza.— Não estão doendo?Ela examinou os dedos inchados

dele. Ele sorriu.— Não sinto nada.— Suponho que seja porque estão

endurecidos.— Acertou na mosca.Rachel tratou dos piores

machucados causados pelo gelo em Eric.Os encantamentos necessários erambastante básicos, mas ela estava

cansada, de modo que levou mais tempopara terminar. Depois, foi atenderMorpeth.

— Poupe a sua energia — eleobjetou.

— Para quê? — ela perguntou

secamente. — O que é mais importantedo que isto?As costas de Morpeth estavam

muito feridas no ponto onde tinhamrecebido a maior parte dos golpesdestinados a Eric. Rachel anestesiou a

dor e cuidou das veias em pior estado.Finalmente, envolveu a todos numa bolhade calor que nem os ventos do Árticoeram capazes de furar.

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Por algum tempo, ficaram apenas aolhar para o Norte, sentindo fome,exaustão e ansiedade.

— Que lugar miserável este! —disse Eric. Protegendo os olhos, tentoudescobrir detalhes na brancura que seestendia eternamente à frente.

— Aposto que as Bruxas adoramisto aqui. Rachel explicou o que tinha

acontecido em casa.— Se quiserem, posso levá-los devolta para casa — ela disse, séria. — Lá émais seguro.

Eric sacudiu a cabeça.— De jeito nenhum. Não quero dar

às Bruxas nem a mais ninguém motivopara perseguir mamãe outra vez.Frustrado, ele chutou a neve.— Droga! Onde está Larpskendya?— Ele virá — disse Rachel, com o

coração apertado. — Ele virá.

— Se quisermos encontrar a basedas Bruxas, temos que seguir as criançaslogo — Morpeth disse a eles. — Antesque os cheiros se apaguem ou sejamdisfarçados.

— Brilhante — murmurou Eric,

resignadamente. — Estou ansioso paraencontrar todas as cinco Bruxas!Morpeth olhou para ambos.— Existe uma alternativa.

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— Ela acha que estamos indo atrásdela? — perguntou Eric.

— Não tem nada a ver conosco —

murmurou Rachel.— Ela continua tentando

impressionar as Bruxas. Heiki estáfazendo tudo o que pode para ocultar suafragilidade, especialmente de Calen.

Eric franziu as sobrancelhas.

— Para quê? Aquela Bruxa já nãodesistiu dela?Rachel trocou um olhar entendido

com Morpeth. Em Ithrea, tinha sidonecessária toda a sua força de vontadepara resistir à atração de Dragwena. E

ela só teve necessidade de resistir algunsdias. Heiki ficara muito mais tempo comas Bruxas, sendo instada a sentir-seespecial.

A coitada da Heiki estavaapaixonada pelo glamour de Calen.

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Heiki arrastava seu corpo frágil rumo aoPólo.

Estava fraca demais para sedeslocar. Enquanto teve forças, voou.Quando as forças a deixaram, saiumancando, os tornozelos ainda nãocompletamente recuperados da bala-caçadora. Por fim, engatinhou. Levoumais de uma hora para completar osúltimos metros varridos pelo vento echegar ao perímetro da base das Bruxas.

Calen foi a seu encontro. Olhou-acom desprezo.

— Por que voltou? Aqui só há maiscastigo para você. Heiki se ajoelhouenvergonhadamente na neve.

— Por favor, me ajude. Por favor.Estou sentindo dor...

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— Você falhou — disse Calen. — Nãoexistem segundas chances para umaBruxa que falha.

— Eu farei qualquer coisa —prometeu Heiki. — Eu ainda tenhodisposição. Não desista de mim.

— Eu lhe pedi para me deixarorgulhosa. Nem isso você conseguiufazer.

— Por favor. Dê-me mais umachance.— Não. Não tem mais chance para

você agora. Calen agarrou Heiki pelocabelo e a arrastou como um sacoindesejado por entre as torres.

— O que vai acontecer comigo?Calen não respondeu. Ao ver Heikibrincando com a cobra bebê, arrancou-ade seu pescoço e jogou seu corpoenrijecido por terra. Heiki começou achorar. Tentou não chorar, mas não

conseguiu impedir o jorro, além de estarcansada demais para enxugar aslágrimas...

Ergueu os olhos para Calen.— Vou... morrer?— Precisa perguntar?

Calen voou à sua torre-olho, jogando Heiki lá dentro.Mais tarde, Calen foi chamada pela

mãe.

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Nervosa, dirigiu-se à vasta torre deHeebra, esperando ser severamentepunida pelo fracasso de Heiki. Nylo

serpenteava em seu pescoço.Heebra de pé olhava pela janela-

olho. Durante vários minutos, ignorouCalen. Eventualmente, disse:

— Heiki, a sua favorita, a criançaque você treinou pessoalmente, foi

derrotada.Calen baixou a cabeça, humilhada.— Você também se enganou quanto

às outras crianças deste mundo — disseHeebra. — Elas podem ser treinadas, masmuitas são arrogantes ou imprevisíveis...

— Se eu tiver mais tempo...— Mais tempo! — berrou Heebra.Ela se virou de frente para a filha.

— Vai levar uma era para que essascrianças formem um exército leal obastante para desafiar os Magos!

— Então — hesitou Calen,segurando Nylo próxima —, vocêrecomenda... irmos embora?

As quatro mandíbulas de Heebra, deraiva, passaram a mostrar divertimento.

— Deixar este maravilhoso mundo

para os Magos? Eu acho que não. Não.Um novo plano: nós vamos arrastarLarpskendya para cá assim quepudermos!

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— Eu não compreendo.— Larpskendya sempre foi o grande

troféu — Heebra disse. — Eu sempre

soube que se conseguíssemos matá-lo,rapidamente esmagaríamos a Ordem dosMagos. Pela primeira vez eu tenho umavantagem. Enquanto as duas meninascombatiam, reabri o canal entre Rachel eLarpskendya. Ele não pode se comunicar,

mas vê tudo o que amedronta suacriança preferida, vê com os olhos dela.Heebra sorriu.— Heiki serviu ao seu propósito. Eu

sempre soube que Rachel iria derrotá-la.No entanto, até mesmo a pequena

escaramuça delas deve ter horrorizado ogentil Larpskendya.— Com certeza, ele não vai correr o

risco de vir.— Não — disse Heebra. — Ele virá

por sua Rachel, pode contar com isso. Já

me mandaram um relatório informandoque está a caminho, correndo para cácom o fim de proteger sua queridaassassina de Bruxa.

As bocas de Calen se abriram.— Nós estamos preparadas?

Larpskendya não estará sozinho.— Ele está sozinho! — alegrou-seHeebra. — As Griddas conseguiram muitomais do que eu esperava, Calen. Nós as

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mandamos cobrir uma área ampla. OsMagos precisaram se dispersar paraenfrentá-las. Larpskendya, no momento,

está isolado, sem companheiros que lhedêem a mão.

Lançando Mak de encontro à peledas narinas, aspirou sua fragrânciamadura.

— O melhor de tudo, Calen, é que

Larpskendya está ferido. Uma Gridda oatacou no mundo Leppos! Certifiquei-mede que as outras na área recebam ordenspara atormentá-lo e feri-lo durante toda aviagem à Terra. Nossas Griddas nãopermitirão que se recupere. Quando

Larpskendya chegar, estará exausto.— Estará? — perguntou Calen,incerta. — Seu poder é tão imenso.Mesmo contando com a sua capacidade,mais quatro Bruxas serão suficientes?

— Só mais quatro? — riu Heebra. —

Bem, então você não detectou a vinda doresto. Nesse caso, tenho certeza de queLarpskendya também não detectou.

— O resto? — Calen olhou em volta.— Convoquei-as assim que atinei

como montar a armadilha.

A um gesto de Heebra, centenas deAltas Bruxas apareceram de repente. Tomaram o céu com sua magnificência,as roupas negras balançando na brisa.

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Como?— Comece executando Heiki —

disse Heebra. — Quero fazer dela um

exemplo especial. Se sua morte nãotrouxer Larpskendya, passe adiante aoutra criança, qualquer criança, não meimporta qual.

Calen concordou.— Como quer que eu execute Heiki?

— Como quiser — disse Heebra. —Espere, tive uma idéia melhor. Escolhauma coisa qualquer, um dispositivo quetodas as crianças, não importa de ondevenham, identifiquem.

— Uma máquina de matar do tipo

delas próprias?— Ou alguma coisa ainda maissimples, talvez. Fale com as criançasmais novas. Descubra que tipos de jogoscompartilham ou apreciam e use algumacoisa delas para assustá-las. É medo o

que queremos agora, Calen. Construa-o.Aterrorize aquelas crianças e deixeRachel testemunhar. Faça com queLarpskendya se apresse na reta final.

— E depois? Como vamos fazer comRachel?

— Depois que eu a tiver usado paracapturar Larpskendya, nós duascuidaremos dela, cada uma a seu modo.

Calen deixou a torre-olho para

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Mas ele não seria capaz de impedi-lo. Não desta vez. Desta vez, ela ecentenas de suas mais soberbas Altas

Bruxas estavam à sua espera.

Dentro de um encantamento de abrigo,Rachel, Morpeth, Eric e os prapsisseguiam Heiki. Observaram seu encontro

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— Estamos vendo as fedorentas!Morpeth concordou, impaciente.

— Mas quantas? — Muitas!

— Demais para contar?Ambos os prapsis espiavam

astutamente em cima.— Está vendo ali? E cobriam o rosto.À frente, viam-se as torres das

Bruxas. Havia cinco delas, cada uma com

mais de 120 metros de altura, arrumadasnum círculo impecável. Uma luz dura, corde esmeralda, irradiava das janelas-olhose penetrava com facilidade a neveescassa que caía.

— Não temos cobertura aqui fora.

Não devemos chegar mais perto.— Para ver o que está acontecendo,temos que nos aproximar — insistiuRachel.

Cautelosamente Rachel conduziu-osà torre mais próxima. Seus

encantamentos imploravam que nãofosse. Queriam que ela sobrevivesse.Mandaram-na deslocar-se dali. Insistirampara que se disfarçasse, abandonasseEric e Morpeth, e simplesmente fugisse.Rachel fez pressão para continuar,

ignorando os avisos cada vez maisfrenéticos.Numa área de neve plana, intocada,

entre as torres, pararam.

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crianças usavam as mãos e magia paracompactar a neve em blocos de gelo.Movimentavam-se velozmente, dando

forma a paredes e tetos, enquanto asBruxas as insultavam, sem permitir

descanso. Morpeth, Eric e Rachelobservaram, assustados, o edifício ficarpronto em menos de uma hora.

— Para que é? — perguntou Eric.

Morpeth disse:— É óbvio que está sendoconstruído com um propósito, não parase morar lá dentro. Uma espécie de...prisão. Estão vendo como é apertado?Cada sala tem apenas espaço suficiente

para uma criança ficar de pé, e umaúnica janela. E notem: todas as janelasapontam apenas numa direção: a nossa.

Rachel tremeu. Seria umacoincidência? Tinha de ser...

— Eles terminaram — constatou

Eric. — E agora?— Espere — respondeu Rachel.As Bruxas conduziram as crianças

aos quartos indicados. De pé, nasmolduras vazias das janelas de gelo,olhavam tristemente para baixo.

De início Rachel achou que ascrianças estavam olhando diretamentepara ela. Então se deu conta de queespiavam embaixo das paredes. Na base

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da prisão de gelo, duas Bruxasesperavam de cada lado de umapequena porta. Uma era Calen. Ela abriu

a porta — e uma figura saiu.Era uma menina, ainda muito

machucada: Heiki. Tropeçou à frente, arrastando pela

neve numerosos pedaços de pau e umacorda comprida.

— O que é aquilo? — Eric tentoudiscernir as formas.— Eu não sei — Rachel se esforçava

para adivinhar um propósito. — As peçassão tão pesadas. Ela mal conseguecarregá-las, mesmo usando magia.

Morpeth olhou em volta, para osrostos tensos, nervosos, das crianças.— Disseram-lhes o que vai

acontecer — ele falou, compreendendosubitamente. — Cada criança tem a visãoperfeita.

Eric franziu as sobrancelhas.— Visão perfeita de quê?— Do espetáculo que vão

testemunhar... o que quer que seja quetenham planejado para Heiki.

Uma vez ou duas Heiki deixou cair a

carga ou tentou descansar. A cada vez,voando por cima, Calen lhe batia naspernas, forçando-a a prosseguir.Eventualmente, elevou-se a distância

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suficiente do pé da prisão para que todasas crianças tivessem uma visão clara.Calen sussurrou instruções em seu

ouvido.Concordando, Heiki, peça por peça,

montou um dispositivo.— Ai, não — disse Eric,

reconhecendo-o. — Não, por favor.Era uma forca.

Rachel estremeceu, quase caiu. Tinha se preparado para muitas coisas,mas não isso. Foi tomada de pena deHeiki — e medo. Ao mesmo tempo, seusencantamentos de transferênciaautomaticamente saltaram à frente,

aguardando um comando para partir.Heiki terminou de fazer a baseangular e a estrutura. Parou ummomento, ergueu a corda em todo o seucomprimento da neve e prendeu-a àforca. Calen testou a resistência da corda

fazendo Heiki sacudi-la várias vezes.Então, Calen dobrou a corda em formatode nó e ergueu

Heiki, usando sua cabeça paramedir o tamanho necessário. Rachelsurdamente tentou imaginar uma defesa,

mas contra cinco Altas Bruxas seusencantamentos nada ofereciam quefosse funcionar.

— Fuja! Fuja! — gritavam.

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A forca estava completa. Heikirecostou-se à base e, quando olhou acorda em nó, em cima, qualquer

determinação que ainda tivesse sumiu.Cobrindo o rosto, chorou. Aquele tempotodo ainda tentara impressionar Calen.Sabendo que as Bruxas jamais reagem àpiedade, manteve o queixo erguido,esperando que a atitude de desafio —

antes tão apreciada por Calen — pudessevaler de alguma coisa. Mas Calen não aencorajou e, agora que a forca aguardavapor ela, Heiki caiu de joelhos. Encostouos lábios na bainha preta do vestido deCalen e implorou.

— Por favor. Por favor, não...— Não tem segunda chance —Calen lembrou a ela. Levantando Heikipelos cabelos, exibiu-a às crianças noprédio de gelo. Quando Heiki se debateu,querendo escapar, Calen simplesmente

agarrou-a com mais força. Morpeth olhouo resto das crianças. Das janelas, todosos olhos assombrados estavam em Heiki,inclusive os das mais novas. Obviamenteestavam sendo forçadas a observar.Paulo e Marshall, de pé em quartos

adjacentes, exibiam expressõespetrificadas.— Pare com isto — murmurou

Morpeth. — Rachel, de alguma forma...

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nós precisamos...Rachel concordou vigorosamente.

Ela não tinha idéia de como.

Calen levantou o pescoço fino deHeiki na direção do nó.

— Escute-me — sussurrou Eric. —Calen está usando dois encantamentospara controlar a corda. Eu os descobri.Acho que sou capaz de destruir ambos.

Rachel, se você tentar...Morpeth deu um tapa no ombrodele.

— Rachel — continuou Eric —, sevocê atacar Calen ao mesmo tempo, euvou...

Morpeth deu outro tapa nele.— O que é?Eric sentiu os pêlos do pescoço

formigando. Acima deles, piscando nocéu, chegavam os Magos.

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Vinham em grande procissão solene:vinte Magos.Um de cada vez desdobrava-se das

nuvens em roupas majestosas carmesim,turquesa e ouro velho. E, à medida quechegavam, anunciavam seus nomes com

 júbilo:— Areglion! Tournallat! Hensult!Serpantha!

Os nomes nada significavam para ascrianças, mas as Bruxas se encolheram,recuando. Uma Calen estupefata deu umpasso para trás da forca.

— Mãe! — gritou para o céu. — Vocêprometeu que seria só Larpskendya!

Hensult e Serpantha tomaram

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posições no epicentro do céu. Tinham aforma de homens, mas eram mais altos— da mesma altura que as Bruxas.

Impassíveis, esperaram. Então, o arcantou de uma maneira tal que torturouos ouvidos escondidos das Bruxas.

 Tinha chegado um último Mago devestes cor de creme. Seus olhos demuitas cores eram selvagens.

— Larpskendya! — exclamouRachel, cheia de alegria, o coração aossaltos de o ver.

Por um instante, o Grande Mago acumprimentou com gravidade. Depois,com os outros Magos, deslocou-se no ar,

desenrolando-se na neve, junto a Heiki.Larpskendya tirou o corpo trêmuloda forca. Enxugou suas lágrimas.

Heiki esperava uma punição.Quando Larpskendya simplesmente apegou nos braços fortes, viu-se incapaz

de pensar com clareza. Sem palavras, elea segurou até ela parar de tremer. Tocando seu braço machucado, curou-o.Afinal, Heiki olhou para cima, mas nãoconseguiu ver os olhos dele. Ela malpodia falar.

— Por que... você está meajudando? Larpskendya pareceusurpreso.

— Por que não deveria?

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— Depois do que fiz...— Você já foi muito castigada, não?

Você quer mais castigo?

— Não — murmurou. — Ai... Mas fizumas coisas terríveis.

— E poderia ter feito pior —respondeu o Mago com firmeza. —Haverá uma prova mais dura adiante, porsua causa. Vai me ajudar, Heiki?

Antes dela poder dizer qualquercoisa, soou a voz de Calen. Recuperara-se da chegada dos Magos, embora Nylo,em seu pescoço, ainda estivesseintimidada.

— Vinte Magos! — berrou ela. —

Vinte não bastam. Qual é o maior númerode Bruxas que você pode derrotar emcombate pessoal, Larpskendya? Cinco?Cinqüenta?

Ela ergueu uma garra — e umacentena de torres-olhos recém-

construídas tremulou de encontro ao céu.Bruxas elevaram-se nos arespuxando pequenos punhais curvos dasvestes pretas.

Se os Magos de Larpskendyaestavam com medo, não demonstraram.

— Não estão impressionados? Maisalgumas, então. Exatamente seiscentas ecinqüenta e seis outras torres surgiram.

As Bruxas saíram como enxame das

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  janelas-olhos, tantas que seus corposentrelaçados puseram metade da nevena sombra. Morpeth esticou o pescoço.

Não conseguia ver além das Bruxas. Elasse amontoavam em toda a sua volta, eacima dele, banhadas numa luz verde.

Boquiaberto, Eric olhoudesesperadamente para o céu.

— Eu acho que nem Larpskendya é

capaz de vencer tantas — sussurrou,enfiando os prapsis bem no fundo docasaco. — Nós também teremos quelutar.

— Espere por um sinal — disseRachel, apertando a mão dele. —

Larpskendya vai nos mostrar o que fazer.As Bruxas tomaram posições decombate ensaiadas no céu, vindo juntas,em grupos, cercar os Magos. Cada gruposó continha irmãs de sangue — acombinação de guerra mais feroz.

Quando estavam em forma, a cobra-almade cada Bruxa lambeu seu rosto emdiagonal — o sinal tradicional deprontidão para a batalha.

Mas não atacaram.Larpskendya continuava calmo.

— Faça o pior, Bruxa — ele disse àCalen —, como a sua espécie semprefará. Nós estamos preparados.

Ele deu as mãos aos outros Magos,

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colocando Heiki no centro do círculo quefizeram.

— Talvez Rachel e seus amigos

queiram entrar também — disse Calen,esperta.

O encantamento de abrigo foidesnudado, expondo Rachel, Eric eMorpeth. As crianças no edifício olhavamadmiradas. As Bruxas pareciam apenas

se divertir.— Fiquem onde estão —Larpskendya avisou a Rachel. Tendoconsultado seus companheiros Magos,ele disse a Heiki umas poucas palavrasurgentes. Brevemente, Heiki argumentou

com ele. Então, lançando de esguelha umolhar perturbado a Rachel, ela começou acaminhar pela neve em sua direção.

— Eu não posso acreditar! —explodiu Eric. — Caramba! Larpskendyamandou Heiki para cá, junto de nós!

— Deixe-a vir — disse Rachel,encarando o olhar firme de Larpskendya.— Ele obviamente não pode protegê-la setem que lutar contra tantas Bruxas.

— Nós vamos protegê-la? —perguntou Eric, desafiador. — Depois do

que ela fez?Heiki se arrastou pela neve decabeça baixa. Incapaz de ficar ao lado deRachel, tomou posição, insegura, junto

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de Morpeth. Rachel a cumprimentoubrevemente de cabeça, mostrando quetolerava sua presença, nada mais.

Sentimentos conflitantes a inundaram.Larpskendya desejava aquilo, maspoderia ela confiar em Heiki?

Os Magos se aproximaram, de pé,costas contra costas.

— Tem certeza de que quer este

combate? — perguntou Larpskendya aCalen. — A maior parte das suas AltasBruxas está aqui. Mesmo que você nosderrote, quantas sobrarão para defenderOol das Griddas? Não posso acreditar emque Heebra foi tola a ponto de deixá-las

soltas.Calen riu.— Diga isso a ela você mesmo. Uma

surpresa final! Todas as Bruxas fizeramcoro a seu júbilo e dispersaram-se,deixando um vazio no ar.

Dentro dos bolsos do casaco de Eric,os prapsis começaram a choramingar.Aquele ruído eles nunca tinham feitoantes.

— O que é isso? — perguntouRachel, enquanto pensava em como

ajudar os Magos.Eric suspendeu a respiração.— Você não... não está sentindo?Os soluços dos prapsis subiram de

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tom, tornando-se guinchos.Rachel agora conseguia sentir a

razão daquilo com clareza — uma imensa

explosão de magia.— Aí vem ela — disse Eric, cerrando

os dentes.Num único movimento todo mundo

— Bruxas, Magos e crianças olharampara cima.

Através do céu aparecera novatorre. Era tão imensa que as criançastiveram que virar as cabeças para tráspara absorver sua estatura. Rachel viuseu olhar atraído para a janela-olho. Umasombra volumosa se movimentava por

trás do vidro. Por um instante, a sombrase voltou para ela. Mexeu-se — depoisparou — e aí olhou diretamente paraRachel. Sob sua inspeção meticulosa,Rachel não era capaz de respirar.Enfrentara os encantamentos de

Dragwena com mais tranqüilidade do queagora enfrentava essa sombra. Esta eracapaz de matá-la sem fazer esforço, deu-se conta. E era isso o que queria. Querialhe fazer mal!

A menina conseguiu virar a cabeça.

Ligeiramente, quaseimperceptivelmente, viu o corpo todo deLarpskendya tremer. Rachel ficousabendo então que fosse o que fosse o

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que possuía aquela sombra, ele não aesperava.

Heebra, a cabeça da Irmandade de

Ool, disparou da torre. Num único saltocobriu a distância até os Magos. Por unspoucos segundos, apenas ficou de pé aolado de Larpskendya, desfrutando de seumal-estar. Então fez uma reverência edisse, cortesmente:

— Meus cumprimentos,Larpskendya. Carne para carne, enfim.Como esperei por isto!

Examinou suas vestes cintilantes eos outros Magos.

— Devemos dispensar essas

ilusões?Quando ela tocou seu ombro, todosos outros Magos desapareceram.Larpskendya estava sozinho na neve, aroupa em frangalhos. Heebra farejou.

— Esse trapo confuso, esse farrapo,

é mesmo o célebre Larpskendya? Euesperava coisa melhor. Você imaginavaatordoar minhas Bruxas e dominá-lascom seu truque? Ou simplesmentedesviar seus ataques?

Larpskendya ficou em silêncio. Seus

ombros caíram e pela primeira vezRachel notou a natureza assustadora deseus ferimentos. Três cortes profundoslhe atravessavam o pescoço —

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claramente provocados por garra deBruxa, embora bem maior que as queRachel já vira. As feridas eram recentes,

ainda sangravam.— Vejo que minhas Griddas

cuidaram bem de você — ironizouHeebra. — Mas eu sabia que você iasobreviver. Sempre foi um adversário devalor, Larpskendya.

— Não sou seu inimigo.— Você matou Bruxas — disseHeebra. — Você nega isso?

— Só quando não me deram outraescolha. Não senti prazer nisso.

— Uma pena — disse Heebra, rindo.

— Devia ter sentido. Eu, com certeza,vou tirar prazer da sua morte.Ela espetou o ferimento em seu

pescoço.— Você tirou a vida da minha filha.

Por quanto tempo devo fazer você sofrer

por isso?Larpskendya nada disse, sabendoque as palavras não fariam diferença.

— Você não vai recuar para dentrodo seu silêncio — Heebra lhe disse. — Eu

  já perdi tempo bastante neste mundo.

Sinto desejo de cometer violência diantede você.— É a minha morte o que você quer

— Larpskendya respondeu com a voz

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calma. — Deixe as crianças.— Vai ser preciso mais que a sua

morte para me satisfazer. Acho que vou

matar estas crianças todas. Suas vidasnada significam para mim.

— Poupe-as — pediu Larpskendya.— Se as poupar, eu me entrego.

— Você se entregaria? Semcombate? Sua voz soou espantada.

— Se você prometer que não vaimachucar as crianças. Eric gritou.— Não acredite nela, Larpskendya!

O que está fazendo? Ela vai nos matar detodo jeito!

— Confie nele — sussurrou Rachel,

sem jamais tirar os olhos deLarpskendya.Heebra hesitou. Obviamente

Larpskendya estava protegendo ascrianças, ela sabia que ele faria isso, masnão esperava uma rendição tão simples.

Olhou-o com curiosidade. Mesmo em seuestado enfraquecido, ela sabia,Larpskendya provavelmente destruiriacentenas de suas melhores Bruxas antesdelas o vencerem. Os grupos de Bruxasestavam ansiosos para lutar, mas, para

Heebra, era conveniente evitar o conflito. Testar a determinação dele, ela pensou.Se isso for mais um truque, como o dosfalsos Magos, desmascare.

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— Muito bem — assentiu ela. —Concordo com os seus termos. Mas ahonra do sangue de Dragwena tem de

ser satisfeita em primeiro lugar, é claro.Então, vou poupar todas as crianças comexceção de duas. Dê-me Eric e Rachel.Esta é a minha condição.

Fez-se silêncio. A expressão deLarpskendya era indecifrável.

— Sim — murmurou ele afinal. —Faça o que quiser com Rachel e Eric.A maioria das crianças não

conseguia acreditar que ele tinha dadoessa resposta. Olhavam-no em estado dechoque. Diversas das que estavam

presas na torre de gelo choravam. Ericpôs-se a insultar Larpskendya aos bradose os prapsis o acompanharam. Morpeth,atônito, não engolia o que tinhaescutado. Até Heiki sacudiu a cabeça, asemoções profundamente abaladas. Pelo

menos, se Heebra cumprisse suapromessa, ela poderia então sobreviveràquilo...

Só Rachel mantinha o olhar emLarpskendya. Fixava-o com fé inabalávele ele devolvia o olhar, os olhos cheios de

determinação, pedindo a ela coragem.— Promete obedecer às minhasBruxas? — perguntou Heebra, uma unhaverde embaixo do queixo de

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— Ai, Larpskendya — disse Eric,passada a raiva, substituída por umsentimento de total desolação e vazio. —

O que foi que você fez?Calen subiu voando à janela do

Grande Mago e botou a ponta da adagacurva de encontro a seu pescoço. Elatremia de excitação.

— Deixe para mim! — gritou ela.

— Não — disse Heebra. — Deixe-over seus favoritos morrerem primeiro.Comece com a menina.

Morpeth procurava uma coisaqualquer com que defender Eric eRachel. Olhou para as crianças reunidas.

Um monte esfarrapado, elasacotovelavam-se desconsoladas na neve.Morpeth silenciosamente apelou paraPaulo e Marshall. Vendo-o, elesdesviaram os olhos. Envergonhados —Morpeth se deu conta —, assustados

demais para arriscar o castigo dasBruxas.— Temos uma assassina de Bruxas

entre nós — disse Heebra. — Quem querlutar com Rachel?

Centenas de Bruxas fizeram clamor

para serem notadas. Heebra escolheu aoacaso as primeiras dez. As escolhidas sereuniram num semicírculo, aguardando osinal de Heebra para começar.

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Morpeth imediatamente deslocou-separa a frente de Rachel. Eric tomouposição atrás, guardando a retaguarda.

  Tentou afugentar os prapsis, mas estespermaneceram em seus bolsos, fazendocaras e bocas para Heebra.

— Então venham, suas bruxas feias!— desafiou Eric. — Quantas quiserem!

— Esperem — disse uma voz.

Era Heiki. Seu rosto branco, fino,tremia de medo enquanto ela abriucaminho em meio aos corpos volumososdas Bruxas. Quando chegou ao lado deRachel, virou-se para confrontar Heebra.Não estava calma, mas confrontou.

Procurando a mão de Rachel, agarrou-a.Morpeth fez com que todos sedessem as mãos, aproximando-se: umfrágil escudo.

Heebra ergueu uma garra para darinício ao ataque, mas um ruído ligeiro na

brisa a distraiu. Era um som tão esquisitona atmosfera cheia de terror que todomundo reparou.

O som de riso.  Yemi chegara. Flutuando por entre

as torres das Bruxas, balançava para a

frente e para trás, como se nada pudesseser mais prazeroso. Quando seaproximou das crianças guardadas pelasBruxas, mostrou-lhes uma nova dança

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que tinha aprendido: ereto, nas pontasdos dedos dos pés, abanou os braços. AsBelas de Camberwell dançaram com ele.

— O que ele está fazendo aqui? —Heebra grunhiu para a filha.

— Eu... não estou entendendo —desculpou-se Calen. — Eu não chamei omenino. Ele deveria estar com suafamília. Deixei incontáveis

encantamentos para que ficasse segurolá.— Remova-o! — disse Heebra,

olhando com suspeita para Larpskendya.Calen voou da prisão para

interceptar Yemi, mas não conseguia

apanhá-lo. Cada vez que o alcançavacom as garras, ele se encolhia e fugia,irritando-a.

— Sem brincadeiras — insistiu. —Venha cá.

 Yemi continuou escapando de Calen.

Repetidamente fugia de seu alcance.Heebra sacudiu a cabeça,apreciando.

— O vôo dele chegou a um grau dehabilidade e precisão que nem você écapaz de dominar, Calen.

Rachel se apoiou em Morpeth. Malconseguia controlar seus sentimentos.Desde que Yemi chegara, o ignoraradeliberadamente. Enquanto seu

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cumprimento mágico a banhava com umfluxo de calor, ela o devolvia com fria edefinitiva rejeição. Como ansiava por

apenas segurá-lo! Mas, quando as Bruxassoltassem o ataque em cima dela, elenão podia estar por perto...

— Deixe-o — Heebra disse a Calenquando ficou óbvio que a filha jamaisconseguiria tornar a apanhar Yemi, a não

ser que ele o desejasse.— Simplesmente não antagonize omenino. Esticou-se, tomando sua alturatotal, e olhando de cima para Rachel.

— Está pronta para se defender?Rachel não respondeu. Olhava

fixamente para Larpskendya. E o GrandeMago retribuía o olhar. Ardia para que elao notasse.

— Não adianta esperar assistênciadali — regozijou-se Heebra. — Amarradocom fios de encantamento, ele é tão

impotente quanto um dos adultos devocês.Rachel olhava dentro dos olhos

multicoloridos de Larpskendya. Dentrodeles viu uma imagem: Yemi. Ummovimento mostrou a Rachel o que

Larpskendya queria que ela fizesse. Elapiscou. Não. Aquilo não poderia sercorreto. Ela deve ter entendido mal.Apertou os olhos, espiando mais de

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perto.— Não! — berrou Rachel. — Eu não

farei isso!

Os olhos de Larpskendyatransbordaram de lágrimas. Mas estavamtambém duros, insistentes, querendo queRachel acreditasse nele.

Ao sinal de Heebra, as Bruxasdesignadas para matar Rachel abriram as

mandíbulas. Encantamentos de mortecorreram de suas bocas conectadas.Eric teve tempo para destruir os

dois primeiros, mas a onda de choque doterceiro o lançou e a Heiki no ar. Elesaterrissaram a diversos metros de

distância e ficaram deitados na neve,imóveis. Momento depois, os prapsisatônitos caíram feito pedras dos bolsosde Eric.

Morpeth empurrou Rachel parabaixo, cobrindo-a com o próprio corpo.

Procurou receber o impacto do maiornúmero possível de golpes. Mas osencantamentos de morte o jogaramselvagemente de lado — e mergulharamsobre Rachel.

No instante em que o primeiro

encantamento bateu nela, Rachel chorou— mas não de dor. Não sentiu dor. Assimque o encantamento tocou seu corpo, eladesviou seu alvo.

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Sem tirar os olhos de Larpskendya,voltou todos os ataques das Bruxas —cada um dos ataques letais — para Yemi.

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pulmões perfurado.— Deixem-no, suas tolas! —

ordenou Heebra. — Não estão vendo o

que o menino está fazendo?Calen olhava admirada.— Está jogando os encantamentos

delas próprias de volta para elas!Os ataques terminaram e todo

mundo olhou para o espaço que continha

 Yemi.Por um tempo não se podia vê-lo.Vapor da neve fervida pelosencantamentos de morte se erguia emtoda a volta. Quando a neblina subiu,todos viram que ele não tinha

ferimentos. Os ataques sequer alteraramo humor de Yemi. Com simplescuriosidade, ele apanhava os fiapos de arquente que subiam. Seu escudo amarelotinha desaparecido, separado, mais umavez, nas muitas e delicadas borboletas.

Algumas tinham as asas chamuscadas,nada pior que isso.A maioria das Bruxas, ao ver as

duas irmãs feridas, esperava que Heebraaprovasse um novo assalto.

— Esperem! — ordenou. — Não

toquem o bebê! Nenhuma Bruxa tinhamorrido, ela se deu conta, com alívio.Somente uma Bruxa cega, humilhada,mas machucada demais para lançar mais

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ataques.— Nenhuma irmã morreu — gritou

Heebra. — Contenham-se. Eu destruirei

quem tentar lançar um encantamentocontra Yemi ou Rachel!

Suas Bruxas obedeceramimpacientemente, sussurrando em tomassassino.

— Que tipo de organismo ele é,

mãe? — perguntou Calen, voando para ooutro lado.Ela manteve distância de Yemi.— Ele é alguma coisa fabricada por

Larpskendya? Não é humano, comcerteza.

— É humano, sim — respondeuHeebra. — Uma evolução excepcional damagia. Deve ser único, um moleque, atémesmo nessa espécie.

Ela olhou com cautela paraLarpskendya, em cima. Mesmo amarrado

por encantamentos, ela sabia que ele dealguma maneira tinha conseguidoconvocar o menino. O que mais estariaplanejando? Ela viu um olhar passarentre ele e Rachel.

— Cubram os olhos do Mago! —

falou com raiva para as Bruxas maispróximas. — Amarrem-nocompletamente e pressionem sua carade encontro ao chão!

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Empurraram a cabeça deLarpskendya a um nível mais baixo que a

 janela. Rachel estremeceu, sem saber o

que fazer em seguida — ele não tinhatido tempo de mostrar. Ouvindo a própriarespiração forçada, ela se deu conta doquanto tudo estava silencioso. Podia-seouvir a voz de bebê de Yemiresmungando com Calen — um barulho

extraordinário naquele lugar tão cheio dedesespero. O único outro ruído era ofarfalhar de vestidos. Vinha de centenasde Bruxas num círculo quase silenciosopor sobre sua cabeça, observando-a.

Eric e Heiki, tontos, estavam

espalhados na neve. Os prapsis, elespróprios meio fora do ar, agitavam-se  junto ao pescoço de Eric, tentandoconsolá-lo com sua tagarelice. Morpethestava mais próximo. Instintivamente,Rachel se dirigiu a ele.

Heebra viu, mas estava maisinteressada em Yemi. As tentativas deCalen de atraí-lo a seus braços tinhamfalhado. A certa altura, ela conseguiuarrancar uma borboleta de seu nariz —mas Yemi agarrou-a de volta, zangado.

— Parece que não gosta mais demim — disse Calen.— Ele nunca gostou de você —

esclareceu Heebra. — Era a sua magia

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que o interessava. Aparentemente,desinteressou-se.

Calen espiou, desconfiada, as Belas

de Camberwell.— O que são esses estranhos

insetos, mãe?— Meras borboletas, nada além

disso — explicou Heebra. — A mágica de Yemi as transforma naquilo de que ele

gosta ou precisa.— Mas ele é apenas um bebê. Comopode fazer isso?

— Sua magia é muito maisavançada que sua compreensão humana— disse Heebra. — A mente bebê de

 Yemi não sente ameaça, mas sua mágicaa reconhece. Eu quero que você o levepara longe daqui, Calen. Há um elo entre

 Yemi e Rachel que pode ser perigoso, ealgumas irmãs continuam querendoatacá-lo. Vamos remover essa tentação.

Calen concordou, indo ao encalço de  Yemi. Calmamente, ele deslocou-se auma pequena distância.

— Pare de agarrá-lo — Heebra lhedisse. — Você sabe que ele adora gestosdo tipo humanos. Ofereça-lhe a simples

afeição que ele quer. Comporte-se maiscomo mãe. Acaricie-o. Ponha os lábios nabochecha dele.

— Um beijo?

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— Sim, o que de mais próximo vocêpuder fazer.

Foi um espetáculo doloroso. As

bocas de Calen não tinham sido feitaspara esses gestos ternos. Quando aspressionou mais perto do rosto de Yemi,as mandíbulas saltaram fora de maneiraalarmante — o cheiro e toque quentes domenino, misturados com os próprios

sucos delas, as levaram à loucura.— Ande com isso — determinouHeebra. — Eu quero acabar logo comRachel.

  Yemi empurrou os dentes paralonge, com repulsa. Num impulso

afastou-se de Calen e deslizou, hesitante,em direção a Rachel. Sorriu-lhe, mas elao ignorou. Por quê? Confuso, continuoumandando convites mágicosesperançosos, querendo a companhia eamizade dela.

Somente com a resolução de nãoolhar para Yemi é que Rachel conseguiumanter sua hostil rejeição. Tudo o quequeria era levá-lo para longe, longedaquele lugar horroroso — mas não erapossível.

Alcançando Morpeth, apalpou seusferimentos. Delicadamente, com o maiorcuidado, examinou as costas dele. Acoluna tinha sido afetada em diversos

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pontos, disseram-lhe os encantamentos.Eu seria capaz de curar as feridas,

ela pensou com amargura, mas as

Bruxas jamais me permitirão completar atarefa.

Ao dar-se conta disso, suas lágrimascaíram sobre, o rosto de Morpeth. Comisso, ele abriu os olhos brilhantes.

— Ainda não estamos liquidados —

ele disse, com a voz rouca. — Eu nãoestou liquidado e nem você. Ponha-mede pé.

— Eu não posso — murmurouRachel. — A sua espinha está quebrada.

Mantendo-se quieta, tentando não

atrair a atenção das Bruxas, ela usoumágica para fazer ele se sentirligeiramente mais confortável.

— Não faça isso — disse Morpeth. —Preciso permanecer consciente. A dorajuda. Conte-me o que aconteceu.

Ela explicou o modo como asborboletas de Yemi reagiram aosencantamentos de morte.

— É claro — ele disse, atordoado porum espasmo. Furiosamente lutou parapermanecer consciente, o corpo todo se

sacudindo com o esforço.— Mantenha os ataques das Bruxasem cima de Yemi — ele insistiu. — Façacom que continuem. É uma chance.

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— Não posso — protestou Rachel. —Não está entendendo, Morpeth? Heebramandou as Bruxas pararem. Agora não

tocarão nele.Morpeth olhou fixamente para o

céu. A principal força de Bruxas retribuiuo olhar, girando em torno de sua cabeçacomo bandos de aves colossais. A maiorparte ficou apenas a observá-lo, mas

algumas voaram mais baixo, gritandoinsultos e soltando as garras em seurosto.

— Estão impacientes para continuara luta — disse Morpeth, mal se ouvindosua voz agora. — Ótimo. É o que

queremos. Aproxime-se.Rachel botou o ouvido junto à bocadele. Momentos depois, quando tirou ocabelo de suas bochechas, ele estavainconsciente.

Rachel não tentou despertá-lo.

Levantou-se e dirigiu-se a Eric. Nocaminho, parou brevemente perto deHeiki e fez o que pôde para facilitar suarespiração — aquilo teria que bastar.

O corpo de Eric estava caído numpequeno buraco. Deveria estar coberto

de neve, mas os prapsis — que serecuperavam — mantiveram os flocoslonge. Quando Rachel se aproximou,estavam ocupados lambendo seu rosto,

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esfregando-o com os narizes e queixosgorduchos, para acordá-lo.

Com delicadeza, Rachel os puxou de

lado e usou um encantamento de curarápida para levantar Eric.

— O que está acontecendo? —perguntou ele, logo procurando pelosprapsis, para se assegurar de queestavam a salvo.

— Está tudo bem — sussurrou ela.— Escute, não temos muito tempo...Enquanto Eric se erguia, sentindo

dor, Rachel endureceu o coração emrelação a Yemi. Era a única maneira...

— Está pronto? — perguntou. Eric

fez que sim.Ali perto, Heebra observava a filhaque ainda tentava interessar Yemi. Ele jánão deixava Calen chegar perto.

A magia do menino crescera maisque a dela, deu-se conta Heebra. Dali

para a frente, ela própria teria que treinar Yemi, usando...Subitamente, atrás, sentiu um

encantamento de morte sendopreparado.

Virou-se. Era a Bruxa que ficara

cega. Cambaleando na neve, ela farejava Yemi, tentando identificar seu cheiro porsobre a catinga da própria pelequeimada. A cada momento sua força

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melhorava.Feito de Rachel, Heebra logo sentiu.

Rachel a está curando.

A Bruxa cega abriu as quatro bocasnum único ataque penetrante.

— Pare! — gritou Heebra, formandoum encantamento para matar suaprópria Bruxa.

— Agora! — chamou Rachel.

Eric levantou o dedo — e oencantamento de Heebra evaporou-se.Ela tentou refazê-lo e não conseguiu.Sem ter enfrentado antes tal situação,Heebra, por um momento apenas, ficouconfusa.

A Bruxa cega deslanchou seuencantamento.Ele jamais alcançou Yemi. Desta

vez, suas borboletas estavampreparadas. Uma engoliu oencantamento. Outra mandou-o de volta

à Bruxa cega. Esta caiu mortainstantaneamente.Seis irmãs de sangue da Bruxa

morta logo o perseguiram. Nenhuma dasoutras Bruxas interferiu. Era claramenteuma retaliação. Elas tinham todo o direito

de vingar aquela morte. As irmãsdesembainharam os dentes e juntasvoaram na vertical, céu abaixo.

Heebra às pressas colocou um

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escudo em volta de Yemi de tal modo queos encantamentos não pudessempenetrar.

Mais uma vez, Eric o destruiu.As irmãs desceram em cima de

  Yemi. À medida que se aproximavam,alteraram a formação. Dividindo o grupo,vieram em duplas — um ataquetriangular clássico. A irmã mais velha,

uma lutadora experiente, liderava,pacientemente guardando a decisãoacerca de qual encantamento de morteusar até o último momento possível.Finalmente, sua cobra-alma o nomeou —e as bocas de todas as irmãs

simultaneamente encheram-se dechamas.No mesmo instante, aquelas

chamas desceram, rasgando suaspróprias gargantas. Todas as outrasBruxas olhavam fixamente, descrentes,

enquanto a família inteira de irmãs caíado ar sem ruído, os vestidos negrosqueimando como trapos ao vento.

Fez-se silêncio, silêncio absoluto. E,então, dos ultrajados grupos de Bruxasremanescentes, a ira transbordou.

Heebra as viu todas a preparar-se para aguerra contra Yemi. Com tantas irmãsmortas agora, estendidas por sobre aneve, nada as poderia deter.

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— Fique de fora — ela disse a Calen,deslocando-se para o outro lado. — Yemié perigoso demais para ser deixado vivo.

Eu mesma vou acabar com ele.Emitiu todo o seu poder mágico

para atrair Yemi.— Venha, menino — chamou

Heebra, sorrindo. — Eu sei que você quer.— Não! — gritou uma voz.

Era Paulo. Com um grande berro, elevoou através da neve. Não vinha sozinho,mas com Marshall e todas as outrascrianças, numa tremenda fileira em vôorápido. As Bruxas de guarda retiveramalgumas, mas a maior parte completou o

curto percurso até Heebra.Paulo chegou primeiro. Lançou-sesobre a cara dela. Heebra interceptou-o,pondo-o de lado, mas não foi capaz dedeter todas as crianças. Estas aatropelaram, afastando-a de Yemi. Por

uns poucos momentos, Heebra ficou porbaixo de suas mãos pequenas, irritadacom os dedos sem garra eencantamentos simplórios.

Aí, num único movimento fácil,sacudiu todo mundo dali e deu uma

estocada final, respirando dentro da bocade Yemi.As palavras entraram no corpo dele.— Ai, não! — disse Eric.

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 Yemi soltou um berro. Um grito emtom alto, seguido de dúzias de outros:das suas Belas de Camberwell. Yemi

agarrou-se a elas em desespero. Tossiu,curvou-se, segurou a garganta. Algumacoisa doía lá dentro. Ele tentou alcançaro vestido de Heebra, sem entender queela era a causa daquilo. Heebra o chutoue afastou-se.

— Por que você não parou oencantamento? — Rachel ralhou comEric. — Yemi não é páreo para Heebra!Por que não o parou? Por quê, Eric?

— Eu não vi — murmurou ele. —Ela... ela escondeu o encantamento de

mim.  Yemi engatinhou uns metros atrásde Heebra. Aí, caiu de cara. Ao mesmotempo, as borboletas se encolheram evoltaram ao tamanho normal — em suador, Yemi se esquecera delas. As Belas de

Camberwell tinham perdido aspropriedades mágicas. Como uma nuvemamarela, subiram.

Abandonando-o.— Não! — gritou Rachel.E correu pela neve e pegou Yemi no

colo, aninhando-lhe a cabeça. Abriu suaboca com delicadeza, introduzindo nocorpo do bebê encantamentos deinformação para descobrir o tipo de arma

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utilizado por Heebra. Aí sentiu — nofundo de Yemi — um encantamentoextraordinário, dele próprio, querendo se

formar. Inclinou o rosto sobre o rostodele. Sua boca se abriu ainda mais.

Heebra viu o perigo.— Matem Rachel! — ordenou às

Bruxas. — O menino não pode fazer nadasem ela agora.

A respiração de Yemi era apenas ummurmúrio. Rachel pressionou os lábios deencontro aos dele. Com esforço, o novoencantamento subiu pela garganta domenino, tentando alcançá-la, para viver.Ela o aspirou e segurou na boca.

— Detenham-na! — guinchouHeebra.Quando Rachel soprou o

encantamento para fora, Heebra voouatravés da neve, tentando capturá-lo.Mas o encantamento escorregou através

de suas garras. Num círculo em ondaspela brisa vibrante, ele fluiu em todas asdireções para longe do Pólo.

Rachel olhou selvagemente paraEric.

— Que tipo de encantamento é?

— Uma espécie de despertar —gritou ele. — E acho que sei o que estáprocurando.

— O quê?

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Os olhos de Eric brilharam.— Crianças, Rachel. Está procurando

crianças!

O encantamento de Yemi deixou o Pólo,expandindo-se rapidamente através dogelo e da neve.

As primeiras crianças que alcançouviviam na cidade pesqueira norueguesa

de Hammerfest, no extremo norte domundo. Era tarde, depois da meia-noite,mas o sol de verão brilhava como semprenesta latitude sobre as crianças quentesadormecidas. Como um suspiro, oencantamento de despertar entrou pelas

 janelas abertas. Onde as janelas estavamfechadas, ele desceu pelas chaminés.Onde não havia chaminé, espremeu-se

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por entre as mais mínimas fendas namadeira ou nos tijolos. Nada conseguiadetê-lo.

Atravessou as camas; um toqueligeiro — só um sopro — mas as criançaslogo acordavam. Jovens em dúzias delares agarraram os brinquedos. Bebêsbateram os chocalhos juntos no mesmoritmo. Crianças mais velhas pularam dos

colchões e correram às janelas, à medidaque a magia que sempre tinhampossuído era liberada.

O encantamento ganhouvelocidade. Não havia tempo a perder.Espalhando-se num grande anel por

sobre os mares do Ártico, expandiu-se.Através da baía de Baffin no Canadá, porsobre o mar Kara, entrou na planícieoriental da Sibéria, desceu o norte daFinlândia, seguindo o cheiro das criançasaté Ivalo e além. E, de seus quartos, em

países a centenas de quilômetros dedistância, crianças que nunca seconheceram de repente sentiram umasàs outras.

O encantamento prosseguiu. Fluiucom o rio Mackenzie, descendo ao forte

Good Hope, no Alasca. Cortou, veloz, osgrandes lagos canadenses-norte-americanos: Michigan, Ontário, Erie. Mas

 Yemi precisava de mais. Então, mandou o

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encantamento para a parte escura dohemisfério norte. Em Nápoles, na Itália,encontrou dois meninos roubando pneus

de carros: eles mudaram de idéia. Soprouatravés de crianças sonhando em

 Tashkent e Toulouse. Quando seus olhosse abriram, brilhavam com cor de prata.

O encantamento cruzou o Equador.Fuçou sótãos, pátios de colégios, choças.

Seguiu crianças que matavam aula noPeru e as alcançou. Encontrou meninassaltando na Austrália e as fez tropeçar.Procurou por baixo da terra, em lojassujas de suor e lugares desumanos ondecrianças escravas perpetuamente vivem.

As crianças largaram as ferramentas e sederam as mãos, sabendo que nada jamais seria igual outra vez.

Nas profundezas da África, oencantamento viajou, para um destinoespecial: Fiditi. Lá descobriu Fola, e a

acordou. Na sua esteira, ela chorouquando reconheceu a voz do irmão.O encantamento brotou através do

globo inteiro. Não parou, não fez pausanem diminuiu a marcha enquanto todacriança em todo o vasto mundo dia e

noite não sentisse seu toque radiante.Mas — no pólo — ajoelhada naneve, Rachel segurava Yemi, que tremiaem seus braços.

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Mal estava vivo agora. Oencantamento de morte de Heebra ocontaminara, assim como a sua alegria

selvagem, e mesmo a magia de Rachelsó era capaz de desacelerar o ataque. Osolhos castanhos quentes de Yemi vagos,quase se fechavam.

No entanto, Yemi continuava nocomando do seu encantamento de

despertar. Modificou-o. Não maisgentileza. Yemi nunca tencionou apenasdespertar a magia nas crianças. Eleprecisava da magia delas. Era a únicamaneira que conhecia de combater oencantamento de morte de Heebra.

Seu encantamento de despertartornou-se um encantamento dealimentar.

Só as crianças no Pólo forampoupadas. Sem avisar, Yemi buscou amagia nova de todas as outras crianças

— e a tomou. Não havia tempo para serbom. Yemi só sabia da sua dor, da suaterrível necessidade. De modo quearrancou a magia de toda criança na

  Terra — não lhes deixou nada — esorveu-a como uma grande maré, em

direção a seu corpo dolorido.Um som, então, tirou toda atranqüilidade do mundo.

Era um berro. O som de todas as

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crianças do mundo, bilhões delas,gritando ao mesmo tempo. Nãoconseguiam suportar aquela perda. Por

alguns momentos, cada criança viu oquanto sua vida tinha sido vazia sem amagia; agora, que o vazio retornara, nãoo iam aceitar. Reagiram com zanga.Seguindo a mágica roubada, a raiva detodas as crianças fluiu para o Pólo.

Rachel aninhava a cabeça de Yemiquando os primeiros traços da magia dascrianças entraram. De início, a mágicaera uma gota pingando sob suaspálpebras. Então, ele arregalou os olhose ela se derramou para dentro, até o

corpinho parecer prestes a explodir combrilho insuportável. Ele suspirou, relaxou,respirou outra vez. Rachel sentiu amágica lhe descendo pela garganta,entrando nos pulmões, nas veiasenvenenadas e no coração quase morto

— atacando a malícia de Heebra.Curando-o.Mas, logo depois da magia, veio a

raiva. Estava quase alcançando o Pólo.Rachel não tinha idéia do que

significava. As Bruxas confusas a

sentiram, e olharam para Heebra,espantadas. Como queriam agora umaliderança!

Heebra identificou o que vinha.

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Sabia que nada era capaz de suportar araiva que Yemi sem saber desencadeara.Era vasta demais. Um impulso

pulverizador de angústia. Nenhuma coisaviva no Pólo sobreviveria a essa raiva:nem ela, nem Larpskendya, nemnenhuma de suas Bruxas; nenhuma dascrianças — até mesmo Yemi seriaesmagado. Ela obliteraria tudo.

Mal houve tempo para decidir o quefazer. Heebra olhou para Yemi. Comodetestava aquela criança alegre, incapazaté mesmo de tirar prazer das Bruxasque matara. Rachel — ela subestimara.Agora vejo, ela pensou, como pôde lutar

de maneira tão magnífica contraDragwena. Por Larpskendya, sentiaapenas o antigo ódio. Não havia tempoagora sequer para apreciar matá-lo. Dealgum modo, mesmo amarrado com osfios, permitiu que ele a superasse. Aquilo

doía mais que tudo.Heebra gostaria de observar aagonia da morte dos inimigos, mas sabiaque não poderia sequer ter esse prazer.Precisava salvar suas Altas Bruxas. Todasas melhores se encontravam aqui. Se

morressem, a majestade de Ool morreriacom elas. Ternamente, sussurrou a Mak umas

palavras. Esta ergueu a cabeça dourada

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pesada, pronta para protegê-la pelaúltima vez.

— O que é isso? — perguntou Calen,

voando até lá. — O que estáacontecendo?

— Não tenho tempo para explicar —disse Heebra. — Conduza as irmãs paralonge, todas elas. Voem próximas, namesma direção, e eu manterei um

caminho seguro aberto pelo tempo quepuder.Calen estremeceu.— Mãe, não, de jeito nenhum. Eu

não vou sem você. Vamos ficar e lutar juntas!

— Esta não é uma competição queeu possa vencer, com ou sem a suaajuda — disse Heebra. — Leve as minhasBruxas deste mundo infeliz. Você agora éa líder delas!

— Eu... não estou preparada para

governar — falou Calen, num tom desúplica. — Eu não...— Fuja! — gritou Heebra, fazendo

soar um alarme através do céu.Inseguras, em pequenos grupos

nervosos, as Bruxas ergueram-se das

neves. Calen as conduziu ao sul e Heebrabotou para fora as quatro mandíbulas.Um cone estreito de luz verde emergiude seus lábios. Compreendendo, as

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Bruxas entraram nele, juntas. Para o alto,voaram, penetrando as nuvens densas,continuamente olhando Heebra, atrás.

— Depressa! — rugiu Heebra. E, aí,soltou outro rugido.

A raiva das crianças tinha alcançadoo pólo.

Heebra se preparou. EnfrentaraAltas Bruxas do maior intelecto e

imaginação. Derrotara incontáveisencantamentos de maldição. Aquilo erapior: como mil maldições bárbaras.Levantou Mak, atraindo a raiva para si.

E a raiva, ávida, veio atrás dela.Mak engoliu o que pôde. Quando não

pôde mais absorver, Heebra abriu aspróprias mandíbulas. A raiva penetrouaos fluxos. Ela esticou os braços,curvada, tremendo, à medida que a fúriaa tomava.

As crianças no Pólo não olharam, ou

olharam, as que puderam suportar.Heebra conteve a raiva pelo tempoque pôde. Finalmente, na companhia deapenas umas poucas de suas Bruxas noPólo, cedeu. A raiva explodiu-lhe feitofogo das narinas, e depois das bocas e

olhos — não pequenas línguas de fogo,mas imensas torrentes, transbordandoem todas as direções. Heebra jogou acabeça em chamas de um lado ao outro,

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vomitando as aranhas limpadoras dasmandíbulas. Mak pesava de encontro aseu pescoço, ainda desesperadamente

tentando servir-lhe de escudo.Heebra não teve tempo para

considerações finais amargas. As Griddas— jamais deveria tê-las libertado.Somente Heebra tinha sido capaz deconter a ferocidade delas. Com ela

desaparecida, as Griddas tomariam ocontrole de Ool, e seu primeiro feito seriamatar Calen, a nova líder das Bruxas.Calen tentaria reunir as Bruxas numadefesa, mas Heebra sabia que a filha era

 jovem e inexperiente demais para liderar

as Altas Bruxas. Quando Calen maisprecisasse da Irmandade, esta adesertaria.

Em sua mente, que se apagava,quando as bocas se fecharam pela últimavez, Heebra viu a imagem do futuro:

Calen não se escondia. Esperava,desafiadora, na Grande Torre, as Griddasque escalavam, alegremente, as paredes.Calen terminava sozinha, sem mãe, semirmã — só com Nylo para defendê-la.

Heebra deitou a cabeça em chamas

sobre a neve e morreu.

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  Todas as crianças olhavam, imóveis, osresquícios fumacentos de Heebra.A raiva acabou com os últimos

vapores que subiam de seu corpo, masumas poucas Bruxas dispersas aindaqueimavam, deitadas na neve. Ninguém

falava. A cena era difícil de suportar, epor muito tempo as criançassimplesmente ficaram perto umas dasoutras, tentando dar um sentido ao quepresenciavam.

Rachel deixou Yemi aos cuidados de

Eric e, na ponta dos pés, rodeou asBruxas mortas até encontrar Morpeth.  Jazia de costas, exatamente na mesmaposição em que ela o tinha deixado, de

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olhos fechados. Com medo de que seutoque pudesse machucá-lo ainda mais,ela se ajoelhou junto dele, pedindo aos

encantamentos que determinassem ospontos em que era mais seguro trabalhar.Com uma sutileza e um cuidado queRachel não sabia que possuíam, osencantamentos principais e os menorescombinaram-se para emendar os ossos e

cauterizar a hemorragia interna.Eventualmente, os olhos de Morpethse abriram.

— Afinal, parece que não estoumorto — murmurou, conseguindo dar ummeio-sorriso.

Rachel beijou-o e aproximou-se deHeiki, do outro lado. Seus ferimentoseram menos graves; não tinha nada nopescoço. Mas, durante todo o processode cura, Heiki nada disse. Os olhos azuislavados, tensos, não conseguiam

enfrentar os de Rachel.Por fim, numa voz entrecortada, elaperguntou:

— Você pode...Ela interrompeu o que dizia. Rachel,

porém, foi capaz de ler as palavras que

Heiki tentava dizer: me perdoar.Como resposta, Rachelsimplesmente passou a mão no rostopálido de Heiki. Foi só um toque, a mais

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leve das pressões, mas Heiki reagiu comose tivesse sido atingida por umencantamento. Pôs-se a chorar e, diante

disso, Rachel se viu também chorando.Por mais motivos do que qualquer umadas duas era capaz de nomear,abraçaram-se e choraram repetidasvezes, as lágrimas quentes derretendoburacos mínimos na neve. Afinal, Rachel

virou-se para a prisão de gelo, que aindacontinha Larpskendya.— Vamos juntas até lá?— Vamos!Heiki deu a mão a Rachel. De braços

dados, voaram em direção ao Mago. No

meio do caminho, ao subir as paredesbrancas e brilhantes da prisão, Heikifraquejou. Contraída de dor, começou acair. Rachel a carregou pelos andares querestavam até o topo.

Larpskendya estava deitado de lado

no gelo duro. As Bruxas fugiram deixandoseus braços, pernas e cabeçagrotescamente atados com fios deencantamento. O fio era tão impermeávelà mágica que Rachel e Heiki trabalharamcom os dedos e unhas apenas.

Lentamente, tomando muito cuidado,gradualmente afrouxaram e removeramas cordas grossas, cortantes.

Assim que se libertou, Larpskendya

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voltou-se para Rachel e Heiki. Ficou depé, trêmulo — uma torre junto às duasmeninas — e apertou-as em seu vasto

abraço. Ali naquele espaço quentesentiram uma paz desconhecida.

— Bem — disse Larpskendya —,estamos apenas começando.

Deslizaram até à neve, embaixo.Rachel tornou a pegar Yemi, que estava

com Eric.Larpskendya foi diretamente aMorpeth. Acabou de curar suas feridas equando Morpeth se esforçou para ficar depé, Larpeskendya ajoelhou-se. Ajoelhou-se diante de Morpeth, apertou-lhe o

braço e, por um instante, quando seusolhos se encontraram, Morpeth viu  Trimak, Fenagel e os Sarren que tinhadeixado em Ithrea. Todos os velhosamigos lá estavam, nas clareiras,brincando com mágica.

— A salvo e bem — Larpskendya lhedisse baixinho. — Eles devem tanto avocê, mas fico imaginando se não devoainda mais. Agora são dois mundos quevocê guardou para mim. Como possoreparar essa dívida?

Encolhendo os ombros, Morpethpensou em si mesmo e disse:— Tem uma coisa de que sinto falta.

Eu...

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Larpskendya sabia o que ele queria.Morpeth espantou-se quando sentiu suamagia voltando aos poucos. Velhos

encantamentos familiares adentravamruidosamente em sua mente, buscandoos lugares habituais onde gostavam deficar. Morpeth tentou agradecer aLarpskendya, mas, emocionado demais,não pôde falar.

Larpskendya deixou-o e foi atenderao resto das crianças. Reunidas, exibiamos mais diversos estados de espírito —perturbação, alívio, susto e exaustão —depois de tão longo sofrimento e terror. Amaior parte olhava para o céu como se

não acreditasse de fato que as Bruxastivessem ido embora. Larpskendyacirculou entre elas, confortando cadacriança, em especial as mais novas. Atodas deu todo o tempo de quenecessitavam ou que queriam. Levando à

parte um menino de cabelo espetado,conversou finalmente com ele. Paulo nãoconseguia tirar os olhos do Mago.

Eric também queria se aproximar,mas os prapsis esticavam as cabeçaspara fora do casaco e botavam a língua

para Larpskendya.— Parem com isso, meninos —admoestou-os Eric. — Não estãoreconhecendo quem é aquele?

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Virando-se, abanaram o rabo depenas para o Mago na hora em que esteolhou para cima, pegando-os no ato.

Os prapsis engoliram em seco eesconderam-se atrás das asas.Larpskendya aproximou-se.

— Não vai adiantar nada — avisouEric. — Agora, vocês dois vão ver só! Eutambém, provavelmente. Comecem a

fazer reverência, rápido.Os dois prapsis fizeram umareverência para Eric.

— Não para mim — suspirou ele. —Puxa vida... Tentou virá-los de frente paraLarpskendya, que se aproximava. O

Mago, porém, já tinha vencido adistância. Pegando os dois prapsis,sacudiu-os perto do rosto. Um botou alíngua para fora, para sentir o gosto deseu ouvido.

— Eca! — disse.

Larpskendya riu e depositou ambosos prapsis nos ombros de Eric. E, aí,Larpskendya curvou-se diante de Eric.Eles trocaram palavras que Eric jamaisesqueceria nem contaria a ninguém.

Finalmente, Larpskendya reuniu

  Yemi, Rachel, Heiki, Eric e Morpeth.Rachel tinha Yemi no colo: ele era umacoisa de beleza estonteante. Coresinsuportavelmente vibrantes

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derramavam-se de seus olhos,transbordando as margens, sendo-lhedemais para segurar. O menino, no

entanto, tentava cobri-las com as duasmãozinhas, como se não quisesse deixá-las ir.

— Toda a magia das crianças domundo está dentro dele — Larpskendyadisse. — Nosso chefinho não quer

devolvê-la. Temos que ajudá-lo.— Deixe-me tentar — pediu Rachel.Ajoelhando-se ao lado de Yemi, tirou seusdedos das pálpebras e o beijou.

Com um gritinho, ele se pôs achorar, de repente.

Os braços em volta do pescoço deRachel — seus olhos se abriram. Osencantamentos no mesmo instantesaíram disparados — não um, masdúzias, depois milhares — todosquerendo ser o primeiro. Surgiam, de

todas as cores imagináveis, e deixavam opólo, rumando determinados de volta aosproprietários originais. Em poucosminutos, a transformação estavacompleta. Morpeth, atento — ouviu umsom.

Um som de surpresa — o aspiraralegre de todas as crianças.Com a liberação da magia, Yemi se

tornou ele próprio outra vez. Suas Belas

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de Camberwell voltaram. Cobriram ocorpo de Rachel, as pernas magricelaspretas tentando aproximá-la mais dele.

Cautelosos, Paulo e Marshallaproximaram-se, junto com as outrascrianças. As borboletas bateram asas porsobre eles todos, uma ou duas pousandoem cada criança.

— Para casa — suplicou Rachel a

Larpskendya. — Podemos levá-lo paracasa? Podemos?Imediatamente, Larpskendya os fez

deslocar-se. Tão suavemente quenenhuma criança sentiu nada.

Estava escuro; era noite em Fiditi.

Do lado de fora da casa de Yemi,normalmente, àquela hora, haveriasilêncio. Mas o vilarejo todo fervilhava devida. Todas as crianças estavamacordadas — e ocupadas. Uma meninanova deslizava feito uma lavadeira por

sobre o rio Odooba. Seus olhos de pratailuminavam a superfície, atraindomosquitos. Da densa floresta tropicalpróxima vinham os guinchos de umgrupo de macacos Colobus. Dois meninosos tinham acordado. Empoleirados nos

frágeis galhos superiores de uma árvore,riam e guinchavam de volta. Eric viu umbebê tentando sobrevoar uma sebe. Nãoconseguiu direito e pôs-se a esfregar

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tristemente as pernas arranhadas. Duasadolescentes, ajoelhadas de frente umapara a outra, do lado de fora de uma

choça, trocavam mutuamente ospenteados. Um menino meio sujinho,sentado a uma janela, ociosamentesoprava nuvens para lá e para cá pelocéu.

Morpeth olhou para Rachel,

pensativo.— Você consegue acreditar em tudoisto? E coisas assim devem estaracontecendo em todo lugar esta noite, nomundo todo. Em todo lugar!

— Eu sei.

Ela pensou no menininho francêsque, recentemente, tinha visto chorandoporque seu adorável arco-íris se derreteu.Estaria a subir, correndo, de volta àsmontanhas naquele momento? Ou játeria aprendido a voar?

Um pássaro disparou por Morpeth epousou como o mais manso dos falcõesno pulso de um menino franzino. Umamenina deitada de costas, sonhadora,observava um tufo de capim se erguer daterra e fazer cócegas no pescoço do

irmão.— Eu gostaria — disse Eric a Paulo— de poder estar em toda parte aomesmo tempo esta noite. Para ver tudo

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isso.— Você não está com inveja? —

perguntou Paulo. — Porque você é o

único menino no mundo que ficou semmágica.

— Ninguém mais é capaz de fazer oque eu faço — disse Eric.

Ambos os prapsis fizeram que sim,mas com tanta força que as cabeças

quase caíram.A porta da frente da casa de Yemi seabriu — só uma fenda. Lá dentro seouviam sussurros. Finalmente, Fola saiu.Seus olhos brilhavam com a cor da prata,como os dos outros, e quando ela viu

Larpskendya, fez repetidas reverências,sem bem certeza de como se comportar.— Está tudo bem — assegurou-lhe

Rachel. — Fique conosco. Qual oproblema?

Fola permaneceu à porta,

obviamente esperando por uma coisaqualquer. Aí, quase se arrastando,apareceu a mãe de Yemi. Pareciahorrorizada com os acontecimentos.

 Tinha medo até de olhar as crianças dovilarejo — como se os olhos delas

queimassem. Yemi jogou-se sobre ela,que se retraiu e recuou. Yemi insistiu,seguindo-a. Relutante, a mãe acaboupermitindo que se acomodasse em seu

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colo. Com o contato, relaxouligeiramente. Mas, mesmo assim,acariciou-lhe a cabeça como se fosse

quebrável, um objeto meio esquisito.Fola explicou a Rachel:— Mamãe ainda não está

preparada. Temos que ser delicados comela... e com eles todos.

Apontou uns adultos ali perto.

Até então Rachel não tinhapercebido o resto dos adultos. Emcomparação com as crianças, queestavam animadas e tinham os olhosbrilhantes, pareciam sombras, quasetodos de pé, à margem. Pareciam

inapelavelmente confusos; alguns,incertos sobre como abordar os própriosfilhos. Um pai agachou-se embaixo dafilha, que pairava, obviamente esperandoque ela fosse simplesmente cair do céu.Outros ficaram dentro das casas,

também com medo de sair.Rachel pensou em mamãe, e derepente a desejou por perto. Aí, pensouem papai — sentiu ansiedade. Falou comLarpskendya — e eles de novodeslocaram-se, para a casa de Rachel.

Mamãe e papai estavam navaranda, olhando para fora. Ao verRachel e Eric, suas expressões foramtomadas de alívio. Rachel olhou com

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alegria para o pai. Estava bem, e choroso— quase a esmagou com um braçoenquanto fazia o mesmo a Eric com o

outro. Então, ao ver Larpskendya, papaisoltou-os um instante e, quaseformalmente, apertou a mão dele.

Finalmente, todo mundo se viroupara olhar o mundo além da varanda.Havia tanta coisa a se ver! No alto,

meninas dançavam em cima de umtelhado em declive. Mais alto ainda, umgrupo de crianças que Eric reconheceuvoava em espiral, como mosquitos, emtorno de um bloco de edifícios. A risadadelas era levada a quilômetros de

distância no ar suave do verão. Meninos  jogavam críquete nas nuvens. Outrascrianças, longe, sozinhas,acompanhavam aviões, seguiampássaros ou centenas de outras coisasque tinham despertado durante a noite.

Um menino de cadeira de rodasperseguia um Sabujo. Uma meninapequena simplesmente lia um livro à luzdos próprios olhos, incandescentes. E emtoda a volta, de pé, correndo ou voando,as crianças deixavam rastros e contavam

histórias individuais: cheiros novos para a Terra — os aromas da magia.— Eu sabia que vocês estavam a

salvo — sussurrou mamãe aos filhos,

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observando aquilo tudo. — Assim que vitudo acontecer... — abriu os braços. — Eusabia.

Virando-se para Larpskendya, disse:— As coisas não vão voltar a ser

como eram, vão?Larpskendya sacudiu a cabeça.Morpeth se maravilhava com a

atividade em volta.

— Olhem a mágica que estãofazendo! — gritava. — Em Ithrea, vimoscoisas espantosas, no final. Mas o povo lápraticou séculos. Como estas criançasaprenderam técnicas semelhantes numperíodo de tempo tão curto!

— Nenhum mundo foi por tantotempo cerceado como o de vocês —explicou Larpskendya. — Nem teve amagia liberada tão depressa.

Sua voz se encheu de humildade.— Não tenho a menor idéia do que

mais poderá acontecer esta noite. Nuncaexistiu tamanho florescer! Isto...Ele mostrou o céu, a grama, a lua e

as crianças que se movimentavam,graciosas, entre eles.

— ...é o futuro de vocês, o início de

uma aventura indescritível para todas ascrianças. Logo, fazer mágica será tãofácil como respirar.

E sorriu.

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— E, então, é claro, ela não maisparecerá ser mágica.

 Todo mundo olhou rua abaixo, onde

um pai assustado gritava para o céu. Seu  jovem filho mergulhava, descuidado,através de aléias estreitas, excitadodemais para notar.

Rachel aproximou-se de Morpeth,em cima.

— Este novo mundo vai ser perigosopara os adultos, não é? Tudo serádiferente também para eles.

Morpeth concordou.— A maioria terá inveja dos filhos. E

as crianças também não vão

automaticamente fazer o que mandam.Se os pais tentarem obrigar... bem...— Qualquer coisa poderia acontecer

— sussurrou Rachel, chegando maisperto de mamãe e papai.

Uma imagem paralisante saltou

diante dela: das crianças tomandocontrole e os pais, inseguros de saíremsozinhos, tendo de ser conduzidos, ecuidados pelos próprios filhos.

Heiki, junto a Larpskendya,observava uma menina imitar uma folha

caindo no ar.— Quando tudo isso se acomodar osmeninos não vão formar grupos? —inquiriu ela. — Gangues mágicas,

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selecionadas por habilidade, com os maisfortes na cabeça? Foi isso o que asBruxas planejaram.

— Sim — disse Larpskendya. — Issovai acontecer em alguns lugares.

Ele olhou fixamente para ela.— Tudo o que você puder imaginar

pode acontecer agora.— Você não pode dizer como a

nossa magia vai se desenvolver? —Rachel perguntou a ele. — Você nãosabe?

— A magia evolui de maneiradiferente em cada mundo — disse ele. —Mas a Terra é generosa, tem uma

maneira única. Nunca existiu uma raçatão talentosa como a sua, tão cedo emsua história.

— É esse o motivo por que asBruxas estão interessadas em nós? —quis saber Heiki.

— Sim. Querem vocês tanto! Evocês já não são segredo para elas.Morpeth estremeceu.— Por quanto tempo estamos a

salvo?— Isso eu não posso responder —

disse Larpskendya. — Mas as Bruxas jamais deixarão vocês em paz agora. Vão juntar forças e voltar em grande número.A guerra sem fim contra nós é só o que

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conhecem, e viram o quanto vocêspodem ser úteis. Yemi, em especial, vaiatormentá-las. Quem sabe do que ele

será capaz em breve?Rachel tocou delicadamente nas

marcas profundas das garras ainda nopescoço de Larpskendya, mas estas nãose fecharam.

— Deixe-as. Como lembrete do que

desencadeei — pediu ele.Voltou-se tristemente e dirigiu-se aMorpeth, Eric e Rachel, mamãe e papai.

— Existe agora um novo inimigo. AsGriddas estão soltas. Eu sabia queHeebra estava se desesperando, mas

nunca pensei que fosse capaz de liberara fúria delas.Ele baixou a cabeça.— Eu a instiguei e ela foi longe

demais, depressa demais, nos últimosanos. Isto foi um erro terrível.

Por cima da casa de Rachelapareceram duas traves de golbrilhantes. Figuras iluminadas pela lua

 jogavam um futebol perfeito.— Ainda não temem a chegada das

Griddas — disse Morpeth, agradecido.

Fosse lá o que fosse, o que o futurocontinha, esta noite o coração estavaleve. Ele mal conseguia acompanhar asinvenções daquelas crianças em meio às

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nuvens noturnas. Queria se juntar a elas.— Isso é verdade — disse

Larpskendya solenemente. — Por que

deveriam temer?E aí, de repente, de modo

deliberado, contido, analisou as criançastodas, tão estreitamente ligadas a ele.Finalmente, olhou para Rachel, como sevisse nela um resumo de todo o seu

valor. Os olhos dela, que fixavam os dele,estavam da cor da felicidade.A expressão de Larpskendya tornou-

se desesperada, quase dolorosamente,esperançosa.

— Quero mostrar uma coisa a

vocês. Precisam compreender o grandedesafio à frente.— Mostrar o quê? — perguntou

papai, desconfiado.— Um outro mundo. Um mundo

precioso. Por muitas existências as

Bruxas quiseram esmagar sua beleza.Eric piscou, incerto.— Fica longe?— Longe e perto. Lugar algum é

remoto para vocês agora. Podemos voaraté lá.

— O quê? Esta noite? Larpskendyasorriu.— Por que não?— E os prapsis? Eu não vou sem

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estrondosa, que sacudiu quaisquerlágrimas que ainda tivesse.

— Isso, assim vai dar — ele disse.

Fazendo uma pausa, olhou paraRachel, Morpeth e Eric.

— Estão prontos?Eles concordaram com vigor.— Nossa! Meninos! — murmurou um

dos prapsis. — O que é que está

acontecendo?Mas não houve tempo para ocompanheiro responder. De lares, navios,aviões a trinta mil pés e minas aindamais profundas, e dos céus cheios decrianças, todos no mundo ergueram a

vista.E, um momento depois, só osanimais e as plantas respiravam nesta

 Terra.

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Elogios a O sortilégio, o primeiro livro da Trilogia da Magia:

“Alta fantasia, rica imaginação,refrescante e bem escrito... um excelenteromance.”

Sunday Times“Brilhante, de cortar o fôlego, cheio

de ação desde a página um.”Kids Out 

“Um mundo vivido de possibilidadesmágicas.” The Times

“Grande voz nova na escrita paracrianças.”

The Bookseller “Arrebatador... de raça... [ascrianças] andam brigando para tomá-loemprestado.”

The Guardian“Uma leitura mágica, cheia de

perigo, traição e emoção... O sortilégio jamais deixa de envolver e cativar.” Amazon.co.uk 

“Um novo romance de fantasiasensacional... um romance arrebatadorque vai deixar as crianças desesperadas

pelo próximo volume.” Express Parent 

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Digitalização/Revisão:  Yuna

 TOCA DIGITAL

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