A Viagem Maritima Da Familia Re - Kenneth Light

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    Kenneth Light

    A VIAGEM MARTIMA DA FAMLIA REALA transferncia da corte portuguesa

    para o Brasil

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    Sumri

    Apresentao: Entre a m elancolia e a obstinao,Lilia Moritz Schwarcz

    Prefcio

    CAPTULO UM

    CAPTULO DOIS

    CAPTULO TRS

    CAPTULO Q UATRO

    CAPTULO CINCOCAPTULO SEIS

    CAPTULO SETE

    CAPTULO OITO

    EPLOGO

    Apndice A:Principais personagensApndice B :Perfil da esquadra portuguesa e do esquadro britnico

    Apndice C :Tratados, decretos, ordens e cartas

    Glossrio de termos nuticos

    Notas

    Referncias bibliogrficas

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    ApresentaoEntre a melancolia e a obstina

    LILIA MORITZ SCHWARCZ

    odo historiador carrega uma certa melancolia e uma boa dose de obstinao. Melancolia, pa tarefa de rever a histria implica sempre a constatao de que o passado mesmo um

    tria distante, e de que no h com o dar conta de lacunas ou buracos que a docum entansiste em no tapar. Obstinao, pois a nica maneira de lidar com essa falha iniciastrutural supor, teimosamente, que sempre h uma pista a encontrar, uma nova faceta a rev

    Foi o historiador italiano Carlo Ginzburg quem chamou a ateno para a proximidade questabelece entre a prtica do historiador e a do detetive, e at mesmo entre os mtodos istoriador e os do inquisidor. De um lado, a vontade de recuperar a histria um exerccio qmbra a atividade de Sherlock Holmes, na sua busca por vestgios que s depois de descoberarecem elementares. Por outro, preciso perguntar ao docum ento, indagar, questionso se a pretenso que ele diga algo novo e muitas vezes inesperado.

    fato que Kenneth Light neste seu novo livro no exerce a tarefa de inquisidor e muito menesvenda qualquer assassinato. Obstinadam ente, procura por novos sinais para entender come deu essa aventuresca viagem da famlia real portuguesa rumo sua colnia tropical. Ro fogem e nem se mudam com facilidade. A est um bom mistrio, que custou mu

    esquisa e reflexo coletivas. Na verdade, de to pesados e assentados em suas instituies,monarcas movem-se apenas lentamente e, em geral, esperam que os outros sejam fatos

    essoas venham at eles.Mas no foi assim no caso dos Bragana, que, premidos pelos ingleses de um lado e

    anceses de outro, acabaram no tendo outra escapatria seno enfrentar o oceano. Aps mutubeio e desdito, d. Joo, instado em sua posio de prncipe regente por conta da demncia ua me, d. Maria I, finalmente decide finalizar os arranjos tantas vezes postergados parartida. A idia da mudana no era nova. Na verdade, fora acionada todas as vezes que

    monarquia se sentira fragilizada ou com receio de perder sua rica colnia americana. ntanto, a urgncia da partida que era inusitada, com as tropas do exrcito de Bonaparteruzar a fronteira de Portugal.

    J sabemos onde essa histria iria dar e como a famosa imparcialidade portuguesa e satro poltico iriam fazer literalmente gua. O que no sabemos, ou melhor, no sabamos

    omo se desenvolveria essa viagem e de que maneira, bem ou mal, se acomodariam tantempestades.

    A viagem martima da famlia real A transferncia da corte portuguesa para o Brasil, pom livro to esperado quanto anunciado. Vez por outra, sabia-se de uma nova descoberta

    enneth Light, esse pesquisador que fez dos arquivos uma forma privada de dedicao.

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    mpos em tempos, um novo artigo do autor expunha uma documentao recente ou pouabalhada. Generoso, Light sempre distribuiu documentos e dicas para que novas obudessem ser completadas. Num terreno pantanoso como esse, e que tanta polmica gera, Liestaca-se por oferecer interpretaes claras e pautadas em registros no s copiosos coorretos. Historiador de ofcio, Kenneth explica sem tecer j uzos fceis, exemplifica e resolveuestes. Muitas so as obras que debatem acerca do nmero de viajantes, ou comentamesorganizao da partida. No entanto, o leitor ver que, nesse caso, o achado documental

    elevante quanto o cuidado e a coerncia com que trabalhado.Como diz o prprio ttulo da obra, estamos diante do cenrio da partida da famlia real a fuga, para alguns. Light opta por transferncia, mas no sem motivos. Afinal, mosomo a Inglaterra se preparou para oferecer a proteo necessria, e como o tema fez paromo no podia deixar de ser, da agenda oficial da realeza portuguesa.

    Kenneth Light recorre, porm, a novos documentos e os usa de forma no s exaustiva, mmbm comparativa: contrasta depoimentos, cruza informaes isoladas. Mestre em temavais, o autor d um banho nessa rea, descrevendo com detalhes (tcnicos e no) aractersticas das naus que acompanharam d. Joo e d. Carlota, comprovando como regist

    materiais podem iluminar grandes tem as sociais. Alm do mais, recorre a relatrios dos capitos compara. No mesmo local, no exato momento, diferentes personagens ocultos e privad

    essa histria pblica saem do anonimato, opinam sobre o que vem e o que percebem. Seonhecamos os relatos bastante adjetivados e por vezes fantasiosos de Thomas ONeil, qcompanhou o comandante britnico William Sidney Smith durante a viagem ao Brasil, esequenos depoimentos restavam bastante desconhecidos, quando no inexplorados. Kennethtiliza tambm dos livros de quartos, descobertos nas embarcaes, que registraetalhadamente as diferentes intercorrncias que marcaram a viagem: desvios, vent

    almarias e piolhos. Cartas e relatrios ajudam a dar um quadro mais preciso do nmero essoas que vieram de Lisboa, assim como atestam o impacto na vida da cidade do Rio aneiro, a qual, quela altura, no passava de uma vila das mais pacatas. Por outro ladoistoriador demonstra como esse fluxo imigratrio no se prendeu ao momento exato da chegaa corte: durante dois meses foram registrados movimentos relevantes na entrada de imigrante

    Organizar um esquadro sem grande aviso prvio e fazer a realeza m udar de casa, levandouebra a pesada estrutura burocrtica portuguesa, no era tarefa fcil; ao contrrio, era sina d

    mais monumentais. O que se comeu, como era o dia-a-dia, como se m edia o tempo, qual ermero de m arinheiros empregados e o soldo correspondente, como se organizavam os navioodos esses detalhes saborosos aparecem no livro e aj udam a compor um quadro mais vivo deonga viagem. O historiador mostra, a partir dos relatos dos oficiais, como os navios portugueadeciam com a total falta de condies, como a proviso era pouca. Light revela, ainetalhes da maneira como se formou o esquadro britnico e o modo desastrado como ncontraram, pela primeira vez, navios ingleses e portugueses. Por muito pouco a guerra nomeou de maneira atrapalhada entre esses dois povos que teoricamente encontravammanados. O fato que o ambiente era dos mais tensos, e detalhes do cotidiano ajudam a abriesta dessa j anela documental que durante bom tempo permaneceu cerrada.

    Vale a pena contar uma ltima curiosidade acerca do livro que o leitor tem agora em moenneth Light no se limitou a levantar os dados de oficiais da Marinha. Identificar como artis

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    egistraram a viagem tambm fez parte da pesquisa. certo que, por conta do apressado tuao, muitas gravuras foram terminadas posteriormente ou mesmo de maneira mais ligeio obstante, existem certos documentos visuais que podem ser utilizados, se no comstemunhos certeiros, ao menos como pistas que, devidamente contrastadas, iluminam

    mbiente. Dentre esses registros destacam-se um quadro pintado por Nicolas Delerive sobrembarque no cais de Belm, que hoje se encontra no Museu Nacional dos Coches, bem comguns leques comemorativos com pequenas imagens mostrando a chegada das embarcaes

    io de Janeiro.No contente com isso, Kenneth Light resolveu juntar o conhecimento detalhado qcumulara sobre embarcaes e acerca do evento em si e encomendou ao artista Geoff HSMA a pintura que aparece agora como capa deste livro. Durante 18 meses, o historiad

    ealizou um estudo minucioso, e recomendou que o artista priorizasse, em sua tela, grandeequenos detalhes: a fora e a direo do vento, a luminosidade e as condies do mar. Tambra importante mostrar o ambiente de alegria que se instaurara com a chegada da cortessim foi feito. No centro da obra vem os a nauPrncipe Real, que comportava 104 passageiro50 tripulantes e que acabara de fundear, depois de entrar no vento, usando sua carangueja

    uadro tambm seleciona um momento particular: quando d. Joo anunciou que s iesembarcar no dia seguinte chegada, nobres e outros representantes que permaneciam erra partiram em pequenas embarcaes para prestar suas homenagens aos ilustres passageirPorm a tela apresenta ainda mais. Do lado esquerdo, a nauMarlborough, que se encontra

    a baa, dispara uma salva e sua guarnio colocada nas vergas. J do lado direito, podebservar aAfonso de Albuquerque, que comea a ferrar suas velas em preparao para entrarento e fundear. Atrs, aMedusa, com o futuro conde da Barca d. Antnio de Arajo Azevefamoso ministro afrancesado de d. Joo a bordo, e a fragata Urnia, que escoltou aPrnc

    ealdurante toda a viagem . Mais ao lado, vemosBedford, com suas responsabilidades de escogora no fim. O forte de Villegaignon, que no existe mais, tambm salva a chegada do prnco Brasil.

    No horizonte, destaca-se o litoral de Niteri, a entrada da baa e o Po de Acar, como noderia deixar de ser. A est o carto-postal do Rio de Janeiro, o ngulo mais reproduzido dedade que sempre maravilhou os viaj antes, encantados com uma paisagem to extica.Como se v, a obstinao do autor tal que vence a melancolia. Fico e realidade

    misturam nesta capa que apresenta um pouco de tudo: uma recriao cientfica em cima de umesquisa alentada. A histria no o exerccio bvio do se. Enquanto Light atua com o uetetive competente no interior da obra, j nesse caso faz uso das artes do cinema, o qual, freo desafio de rever o passado, acaba por recuper-lo: recria cenas como muito bem poderiar ocorrido.A viagem da famlia real mais parece tema de uma vida inteira, sobretudo nas mos des

    historiador de escolha e afeio. Kenneth optou por dedicar sua vida aos arquivos eecuperao desse episdio que ganha agora uma nova viso que vai alimentar e muito uebate j to acalorado.

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    Professora titular do Departamento de Antropologia da USP e autora, entre outros, donga viagem da biblioteca dos reis: do terremoto de Lisboa independncia do Brasil.

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    A

    Prefci

    importncia da jornada empreendida rumo ao Brasil, em 1807, pela famlia real portuguepela maioria de sua corte e por um grande nmero de cidados um total de 12 a 15 momens, mulheres e crianas, considerando as tripulaes , deriva da conseqncia que eo teve na histria.

    O responsvel pela deciso que levou a essa jornada audaciosa foi o prncipe regente,

    oo.1

    Como muitas vezes acontece, o passar do tempo ilumina e esclarece. Os primeiros crticlvez por estarem prximos demais dos acontecimentos, interpretaram-nos de forma negati

    o enxergaram a grandeza e a coragem da deciso tomada por d. Joo, comprovada peventos subseqentes.Oliveira Martins escreveu: Tudo o mais era vergonha calada, passiva inpcia, confessa

    aqueza. O prncipe decidira que o embarque se fizesse de noite, por ter a conscincia

    ergonha da fuga.2

    O capito-tenente Lucas Boiteaux foi ainda mais expressivo:

    Ao ver as foras inimigas talando o territrio ptrio, o lendrio patriotismo luso no mexplodiu como nos hericos tempos de NunAlves; mas, entorpecido por letal e criminoindiferena, degenerou em terror vergonhoso. A fam lia real, compartilhando desta fraquefoi a primeira a dar o exemplo, embarcando para o Brasil a 27 de novembro, no madesespero e confuso e levando na sua cauda um exrcito de poltres, enfatuados, fidalgo

    parasitas de toda a casta, degenerada prognie de um passado herico3

    Outros acreditaram que a ao de d. Joo, considerada por monarcas portugueses anterioomo estratgia alternativa desde quando o Brasil foi descoberto, foi de fato uma jogarilhante. Oliveira Lima escreveu:

    Retirando-se para a Amrica, o prncipe regente, sem afinal perder mais do que o qpossua na Europa, escapava a todas as humilhaes sofridas por seus parentes castelhandepostos fora, e, alm de dispor de todas as probabilidades para arredondar custa Frana e da Espanha inimigas o seu territrio ultramarino, mantinha-se na plenitude dos sdireitos, pretenses e esperanas. Era como que uma ameaa viva e constante manutenda integridade do sistema napolenico. Qualquer negligncia, qualquer desagregao selogo aproveitada. Por isto muito mais justo considerar a trasladao da corte para o Rio

    Janeiro como uma inteligente e feliz manobra poltica do que como uma desero cobarde

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    Afonso Zquete tambm elogia a estratgia de d. Joo: A retirada para o Brasil com quergumentou nesse sentido, com total inpcia, foi um ato habilssimo, que salvou a realeza

    arantiu a independncia de Portugal.5

    Dos quatro pases envolvidos Portugal, Brasil, Gr-Bretanha e Frana , apenas o ltimentaria o evento.Ao contrrio de outros pases invadidos por Bonaparte, a prpria essncia da nao portugue

    a famlia real e a corte sobreviveu inclume, manteve o seu reino e at mesmo prosperou e

    ua rica colnia. A presena da m onarquia no Brasil acelerou o desenvolvimento do pas, combertura dos portos em 1808, e, uma vez criado o Reino Unido de Portugal e Brasil em 18ornou inevitvel a independncia.

    A longa e duradoura relao de interesses estratgicos e amizade com a Gr-Bretanha, qatava do sculo XIV, manifestou-se em uma conveno que garantiria a segurana da viage Gr-Bretanha, aps as revoltas populares em Espanha e Portugal em 1808, ao desembarc

    uas tropas em Portugal, abriria a primeira frente no continente contra Napoleo. Aomeava a luta que iria derrotar Napoleo em terra, embora isso ainda fosse levar vrios an

    iversos historiadores registram que, j no exlio, Bonaparte declarou que a sua queda comeauando ele invadiu Portugal e tentou acabar com a dinastia de Bragana.A jornada martima empreendida pela famlia real portuguesa h 200 anos tem sido, assi

    escrita de modo fragmentrio pelos historiadores; principalmente, acredito, devido falta ocumentos originais sobre os quais os eventos do dia-a-dia pudessem ser construdos e descrit

    inevitvel desorganizao na chegada dos navios e o clima tropical, um dos piores inimigos apel, no devem ter ajudado na preservao desses docum entos.

    Os navios de Sua Majestade britnica bloqueando o Tejo e aqueles destacados para escoltasquadra portuguesa para o Brasil estavam em servio normal, para uma nau de guerra daqu

    poca. Livros de quartos (dirios de bordo) eram mantidos pelo capito, pelo mestre avegao (arrais) e pelo oficial de quarto. No retorno base, talvez aps anos de ausncia

    mar, esses documentos eram enviados ao Almirantado. So importantes registros de viageervindo para auditorias, evidncias para conselhos de guerra e outras finalidades. Os origin

    o mantidos na Repartio de Arquivos Pblicos da Inglaterra.6

    O trabalho realizado recentemente no sentido de tornar legveis os livros de quar

    descobertos dessas naus, assim como os relatrios dos capites,7 permitiu-nos desenvolvma narrativa precisa do que estava acontecendo dia a dia, at mesmo hora a hora. A narratintretanto, est restrita quele navio em particular. A fim de alargar esse ponto de vista, vrvros de quartos registrando o mesmo evento foram tomados como complementares uns autros; descries contidas em cartas e relatrios tambm foram levadas em conta. Mesmssim, os relatos desses dirios de bordo so inevitavelmente orientados para evenntimamente associados aos navios britnicos. So, porm, as principais fontes de informaetalhadas sobre a jornada martima que sobreviveram.

    Em acrscimo aos livros de quartos e aos relatrios dos capites, largos extratos depoimentos de duas testem unhas oculares, o conde Thomas ONeil e Luiz Gonalves dos Sant

    mbm foram includos. Sua contribuio nos oferece um retrato pitoresco dos sentimentejam eles ansiedade, perigo, alvio ou alegria, com a autoridade de quem estava presente

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    momento em que ocorreram.A grande maioria dos leitores provavelmente no deve ter conhecimento acerca da opera

    e uma nau de guerra do incio do sculo XIX, seja ela portuguesa ou britnica. Tambm noossvel se obter esse conhecimento de modo prtico. Comparar um a misso em navio de gue

    moderno com uma expedio em nau de guerra da primeira dcada do sculo XIX assemelhe a contrapor uma viagem em automvel moderno a uma excurso em tlburi! Para melhompreender e apreciar a rotina diria, os perigos, a necessidade e as carncias experimentad

    elos passageiros portugueses a bordo de seus navios, inclu explicaes detalhadas em maioria, antes de iniciar o relato da viagem.Em novembro de 1807, as naus de linha das duas potncias tinham um passado de mui

    itrias; seus capites, em muitos casos, eram heris nacionais por terem participado de batalhue lhes trouxeram a glria. Os principais detalhes sobre os navios, e as rotas seguidas atrasil, podem ser encontrados no apndice.

    Os eventos seguem, dentro do possvel, uma ordem cronolgica. As principais fontes nformao dos eventos que ocorreram no mar, conforme j mencionamos, so os livros uartos de bordo mantidos pelos capites, em que cada dia ocupa uma pgina, pautada e anota

    ara cada uma das 24 horas.O nmero de pessoas que vieram de Lisboa e o impacto sobre a cidade do Rio de Janeiro

    m assunto que foi debatido, no passado, por inmeros historiadores. Alguns fatos, acreditamo importantes como contribuio para esse debate. Em primeiro lugar, calculamos que uarnies dos navios de guerra e da marinha mercante, mesmo incompletas, coabitualmente acontecia, deveriam somar entre 7.000 e 7.500 homens. A guarnio daPrnceal, por exemplo, era de 950 homens. Em segundo lugar, a chegada dos navios ao Rio aneiro ocorreu durante um perodo de quase dois meses. Em terceiro, muitos passagei

    ouxeram um grande nmero de criados. E, por ltimo, muitos navios mercantis pertenciamutros portos, e assim no aportaram no Rio de Janeiro.

    Sou especialmente grato a todos aqueles que ofereceram sugestes e revisaram o texspecialmente a Graham Salt, por seu trabalho diligente junto ao Museu Nacional Martimo reenwich e ao Arquivo-Geral da Inglaterra.

    Embora os acontecimentos aqui descritos paream, aps 200 anos, longe de nossa realidambramos que, baseando-nos numa mdia geralmente aceita de que entre uma gerao e oucorrem 30 anos, uma pessoa que conheceu o seu bisav e o seu bisneto completou um ciclo

    ete geraes!8

    KRio de Janeiro, maro de 20

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    CAPTULO U

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    O

    Depois de esmagar a ustria e a Prssia, o sucesso total de Bonaparte no domnio daEuropa s era impedido pela Rssia e pela Gr-Bretanha. Em Trafalgar, em 1805, a

    Inglaterra consolidou seu domnio dos mares, e assim evitou a invaso do seu territrio. OTratado de Tilsit com a Rssia, em junho de 1807, permitiu que Bonaparte voltasse suaateno para a pennsula Ibrica. Portugal, sob presso para ingressar no BloqueioContinental, tentou manter a neutralidade, ainda que a um alto preo. medida que otempo passava, a situao se deteriorava gradualmente, enquanto os representantes

    francs e espanhol abandonavam Lisboa, no incio de outubro de 1807.

    Tratado de Paz de Amiens, assinado entre a Gr-Bretanha e a Frana em 27 de maro 1802, ps fim a uma guerra em que Napoleo tentava dominar grande parte da Euro

    ontinental.Entretanto, a sua durao foi limitada, pois, um ano mais tarde, em 16 de maio 803, a Gr-Bretanha deu incio a uma guerra que envolveria toda a Europa durante mais de nos.

    Durante o perodo que precedeu crise final de novembro de 1807, Portugal parecia esonsumido pela indeciso. O Conselho de Estado estava dividido, a maioria de seus integranra a favor da neutralidade; todavia, se fosse necessrio aliar-se a uma das naes beligerantes

    mesma maioria preferiria a Frana. Esta escolha vinha da convico, defendida pelo influenonselheiro Antnio de Arajo de Azevedo1 ministro encarregado dos Negcios Estrangeia Guerra e do Interior , de que a atitude da Frana em relao a Portugal devia-segressividade daquela nao e, ao mesmo tempo, sua frustrao quanto a no ter conseguinvadir a Inglaterra em 1805; e Portugal era o mais antigo aliado dos britnicos. De modo que,

    situao chegasse ao enfrentamento direto, a Frana poderia ser persuadida a no invaortugal.

    A segurana de suas colnias era, para Portugal, outra fonte de preocupao. Em particula

    rasil, principal fonte contnua de riqueza e, at mesmo, de sobrevivncia financeira da nam 19 de maro de 1804, as negociaes de neutralidade culminaram com a Conveno eutralidade e Subsdios entre o Prncipe Regente d. Joo e a Repblica Francesa, assinada plenipotencirio portugus Jos Manuel Pinto de Sousa, ministro de Portugal em Estocolmoelo plenipotencirio francs, general Jean Lannes. Estipulava o pagamento e o preo pa

    manter a paz, equivalente a 40 mil libras por ms.2

    Tal anlise dos eventos ocorridos em Portugal, que levaram crise de novembro de 180ressupe que o prncipe regente e seu grupo de assessores m ais prximos estavam distantes

    ealidade, cambaleando de uma crise para outra, sem uma noo clara do destino a que sues os levariam. Uma administrao ingnua, pouco inteligente e ineficiente, de uma situa

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    elicada, difcil e potencialmente perigosa, que resultaria na ao final descrita como uma fuovarde e o abandono de uma nao, cujo resultado inegavelmente vitorioso foi atribudo sou ao destino.

    Uma anlise mais profunda e completa, porm, indicaria que um plano paralelo, desenvolvadministrado com competncia, bem-sucedido politicamente e na administrao de recurs

    stava ativo e em operao durante esse mesmo perodo. Sob a liderana do prncipe regenrajo de Azevedo certamente teria tomado parte e, talvez, outros membros do Conselho

    stado e homens da confiana pessoal do prncipe.3De acordo com Angelo Pereira, esse grunclua: Jos Egdio Alvares de Almeida, encarregado do Gabinete; Joo Diogo de Barrecretrio do Infantado; Thomas Antnio Vilanova Portugal, fiscal do Errio; Manoel Vieira ilva, mdico; e os dois guarda-roupas, Francisco Jos de Souza Lobato e Mathias Antnio ouza Lobato.

    H evidncias abundantes de que Arajo de Azevedo era extremamente atuante, criativonteligente; como solteiro, tinha poucas coisas para lhe tirar a ateno do seu trabalho. Passa

    muitos anos se preparando para esse cargo de responsabilidade. Durante esse tempo, hav

    ervido como diplomata em vrias cortes, lidando diariamente com os lderes polticos dos pam que servira e com embaixadores de outras naes. Em 1804 fora chamado de voltaomeado membro do Conselho de Estado. Apesar de estar exaurido pelas muitas tarefas dirue desempenhava e com a sade abalada, encontrou tempo para empacotar e embarcar a smensa biblioteca, a qual posteriormente iria legar Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. A sersatilidade, outro sinal de inteligncia, foi demonstrada quando j no exercia o cargo, poumpo aps a sua chegada ao Rio de Janeiro. Desenvolveu em seu jardim uma coleo cientfe 1.500 espcimes de rvores frutferas e plantas de especiarias algumas nativas e outazidas das possesses portuguesas do Extremo Oriente para serem aqui aclimatadas q

    erviriam para condimentar iguarias. Mais tarde, essa coleo formaria o ncleo inicial ardim Botnico, fundado por d. Joo no Rio de Janeiro. Outra faceta do seu carteremonstrada pela aprovao do decreto de 1816, proposto por ele, que criava a Academia elas-Artes no Brasil.

    Portugal estava bem informado, pois possua embaixadores e espies nas principais corteso tinha iluses quanto sua capacidade de defender as suas fronteiras terrestres. reparativos para transferir a famlia real e a corte para o Brasil, como ser visto, tiveram inem antes que os representantes francs e espanhol junto corte portuguesa entregassem

    ltimatos de seus pases. O plano teria seguido vrias fases: chamar de volta vrias esquadras uas tarefas normais para o porto de origem em Lisboa, a fim de serem aprestadas para a lonornada; suspender o transporte de m ercadorias e riquezas do Brasil; e o recolhimento, em tere tudo que fosse transportvel e pudesse ser levado, inclusive o arquivo do Estado, biblioteca

    metade do errio. E por ltimo, mas no menos importante, assegurar uma jornada a salvo eus inimigos e tambm dos perigos naturais, por meio de uma escolta fornecida pela Gretanha, a nao que dominava os mares, posto que as naus da armada estavam transformadm navios de transporte.

    A parte m ais difcil e delicada do plano era executar essas medidas prticas e necessrias seespertar suspeitas indesejveis nas cortes francesa e espanhola, nem tampouco nas pesso

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    omuns das ruas de Lisboa e de outros lugares em Portugal, at que uma razovel aceitaudesse ser garantida. Assim, d. Joo fez circular que tencionava enviar o seu filho mais velhoedro, para o Brasil, donde os preparativos visveis.

    Lorde Strangford,4 ministro interino junto corte de Lisboa, um amigo e admirador rajo, reuniu-se com ele meses antes de o evento ocorrer e obteve confirmao quanto s re

    ntenes do prncipe regente. No era possvel manter em total segredo os preparativos qstavam sendo executados, mas tambm no era possvel que o embarque de tantos documen

    bens do Estado fosse fe ito com poucos dias de preparao.Nenhum registro formal sobreviveu, se que existiu a lgum, de tal plano. Mas no h dvi

    uanto existncia do mesmo, de acordo com a observao atenta das muitas decises tomadesse perodo, indicando que tal estratgia alternativa estava disponvel como medida egurana, em caso de necessidade. Alm disso, numa fase inicial do desenvolvimento,

    omingos,5em Londres, foi autorizado a negociar uma conveno que possibilitasse a obtena escolta necessria famlia real em sua jornada rumo ao Brasil. Finalmente, aps a decisomada na histrica reunio do Conselho de Estado, na noite de 24 de novembro de 1807, o pla

    oi revelado. A esta altura j era tarde demais para que Bonaparte tomasse qualquer medara impedi-lo. D. Joo e a esquadra partiram de Lisboa em 29 de novem bro, e Junot chegouia seguinte.

    1802

    isto em retrospectiva a partir da assinatura do Tratado de Amiens, Portugal, beira da granuerra que estava para consumir a Europa, era permanentemente forado a recorrer a um jo

    oltico bem orquestrado a fim de manter a Frana a distncia e, ao mesmo tempo, conservoas relaes com seu aliado tradicional, a Gr-Bretanha.

    Em abril de 1802, chegou a Lisboa o recm-nomeado representante francs junto co

    ortuguesa, o ministro plenipotencirio general Jean Lannes.6 Graas sua naturempestuosa, no tardou at que ele entrasse em choque com d. Joo de Almeida de Melo

    astro, 5 conde das Galveias,7 ento ministro dos Estrangeiros e da Guerra, um anglfilo qstava determinado a impedir suas tentativas de impor a Portugal as polticas de Bonaparte. Coe tambm estava d. Rodrigo de Sousa Coutinho, outro secretrio de Estado.

    O intendente-geral da polcia, Pina Manique,8tambm resistiu a ele:

    A Lannes apenas se lhe disparou um portugus na sua frente Pina Manique. Ningumintimidava. A hombridade e a dedicao do intendente insurgia-se contra o desprezo absolude Lannes pela etiqueta e desrespeito pela famlia real. Pedia contnuas audincias ao regesem ser por intermdio do respectivo ministro; trata-o nelas como de igual para igual. Lanne todo o pessoal da legao contrabandeava s escncaras. No s o ministro da Frannegociava com os artigos vindos daquele pas, e que no pagavam nada ao fisco, mas ain

    todos os em pregados que o rodeavam participavam do mesmo lucrativo exerccio.9

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    Sua ameaa de pedir de volta seu passaporte foi enfrentada por d. Joo dAlmeida, qrontamente lhe enviou o docum ento. Em 25 de agosto de 1802, Lannes deixou Portugal, snviar qualquer aviso a seu governo. Este ato desagradou a Bonaparte, que ordenou o smediato retorno, mas no antes de exigir que o prncipe regente substitusse seu ministro dstrangeiros. Isto realmente ocorreu, um ano depois, quando d. Joo dAlmeida foi enviadoustria como embaixador. Lannes regressou por mar em fevereiro de 1803. Outra vtima resso da Frana foi Pina Manique: d. Joo foi forado a dem iti-lo, assim como d. Rodrigo

    ousa Coutinho, todos considerados chefes do partido ingls.

    1803

    poltica de comprar a sua neutralidade continuou, j que Portugal vivia um perodo ureo eu comrcio martimo, mas o preo era alto. Em 7 de maio de 1803, d. Joo concordou comxigncia do general Lannes, de um milho de libras em prestaes de 40 mil libras por ms. E

    unho, o general passou a exigir, alm disso, 200 mil cruzados para si mesmo.10 As exignc

    uperaram qualquer expectativa de pagamento. O conselheiro d. Rodrigo de Sousa Coutinhoscreveu ao prncipe regente, em 20 de j unho daquele ano:

    Obedecendo com o devido acatamento s reais ordens de V.A.R., e lembrando s a fraquedos meus talentos, e a estreiteza do tempo em que devo responder sobre matria importante, e to difcil para no deixar de cumprir com o que V.A.R. ordena, direi msucintamente que as proposies da Frana no podem de modo algum ser aceitas e

    primeiro lugar porque nenhum a potncia poderia atualmente dar 36 milhes de libras s

    recorrer a emprstimos; em segundo lugar porque, mesmo fazendo um emprstimo, esgotaria o numerrio circulante; e em terceiro lugar porque sempre seria melhor unir es36 milhes de libras aos rendimentos ordinrios, e fazer um grande esforo com que havetoda a probabilidade de defender-se, e sustentar assim a prpria independncia do que sujeitar a um sistema de escravido perptuo, e que constituiriam V.A.R. a feudatrio

    governo francs.12

    Por meio de uma poltica imposta com rigor, Portugal sempre insistira em que todo

    omrcio com o Brasil passasse exclusivamente por seus portos e fosse transportado a bordo eus navios.

    Mais recentemente, essa poltica tinha sido, at certo ponto, relaxada. Embora os portos ainstivessem fechados ao comrcio estrangeiro, os navios de guerra, e aqueles navios mercanstrangeiros que no tivessem outro porto onde fazer reparos, estariam, no futuro, livres p

    tilizar portos brasileiros.13Isto aconteceu, por exemplo, com o esquadro sob o comando de ome Popham na expedio de sir David Baird ao cabo da Boa Esperana, em 1805, e na mirante francs Guillaumez, em 1806.

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    1804

    perodo do general Lannes no cargo terminou em 1804. Bonaparte, tendo coroado a si mesmmperador em 2 de dezembro daquele ano, agora necessitava do general em Paris e nomeou

    marechal do imprio. Como substituto, nomeou Jean Andoche Junot;14mas este no tomou pontes de abril de 1805, e, ainda assim, no permaneceria em Portugal por muito tempo. Comuerra na Europa recomeou quase imediatamente, antes do fim do ano, Bonaparte, confor

    rometera, chamou-o de volta. Ele partiu em outubro daquele ano, sendo substitudo por Franrard,15encarregado de Negcios.Enquanto isso, na Frana, medida que um sucesso militar aps o outro coroava as ambi

    e Bonaparte, ficava cada vez mais claro para ele que seu desejo de dominar toda a Euroornara-se uma possibilidade distinta.

    1805

    o ano de 1805 parecia que apenas duas naes, a Rssia e a Gr-Bretanha, poderiam ofereesistncia sria aos planos de Bonaparte. A Rssia, com sua imensa populao, era capaz rganizar uma considervel fora de combate, ainda que mal equipada e treinada, e um

    Marinha substancial operando no mar Negro e no Bltico. As condies do tempo adversas eraeu principal aliado, uma vez que as longas linhas de comunicao necessrias ao inimornavam-se impossveis de serem mantidas, sob as condies do inverno.

    As vantagens da Gr-Bretanha eram a sua Marinha e a sua condio geogrfica de ilha. Eoi a principal razo de ter sido invadida apenas trs vezes nos ltimos 20 sculos: pelos roman

    m 43, pelos dinamarqueses (vikings) e pelos normandos em 1066.O imperador francs teria de invadir a ilha e, com foras superiores em nmero

    xperincia, destruir o inimigo. Com tal finalidade, j a repblica tinha reunido, no litoral norterana, Blgica e Holanda, uma flotilha de 2 mil embarcaes para transportar seu exrcito 50 mil homens e 10 mil cavalos atravs do canal da Mancha, num trecho cuja largura era

    penas 30 milhas martimas.16

    Tambm era claro para Napoleo que, para atravessar esse canal, mesmo sendo to estreie precisava ter o completo controle dos mares. As embarcaes da flotilha anfbia era

    ulnerveis; alvos fceis para qualquer navio de guerra .A oportunidade para a Royal Navy veio em 22 de outubro de 1805, em Trafalgar (prxim

    diz, no sul da Espanha), aps a esquadra britnica, no incio do ano, ter sofrido uma frustranerseguio de ida e volta do mar Mediterrneo s ndias Ocidentais. Naquela data, a esquadombinada franco-espanhola de 33 navios de linha enfrentou os 27 navios da Gr-Bretanha. Eatalha naval, uma das mais famosas de todos os tempos, teve um resultado definitivo. Os davios franceses e espanhis que no foram capturados, destrudos por fogo de artilharia ou qo explodiram ou naufragaram na costa buscaram refgio em Cdiz, a permanecen

    nquanto o porto estava sob bloqueio. Embora muito danificada, a esquadra inglesa no perdequer uma nau.

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    1806

    ps essa derrota, Bonaparte desenvolveu tticas diferentes. Percebeu que a Gr-Bretanha tine comercializar com outras naes e com suas colnias, a fim de preservar a sade econme sua crescente industrializao. Baseado neste julgamento, ele decidiu fechar todos os portosontinente europeu ao comrcio britnico.

    Em 21 de novembro de 1806, aps a aniquilao do Exrcito prussiano, Bonaparte emitiu

    ecreto de Berlim: nenhum navio, produto ou mesmo cidado britnico poderia entrar eualquer parte do Imprio francs ou qualquer territrio governado pela Frana ou aliado desBloqueio Continental tinha sido institudo.A Gr-Bretanha, agora com o completo domnio dos mares, retaliou, instituindo um bloqu

    os portos que abrigavam navios de guerra, interceptando e capturando quaisquer navios inimigat mesmo, abordando navios neutros que poderiam estar comercializando com a Frana.Enquanto isso, Portugal continuava defendendo a sua neutralidade, apostando que a posio

    rana no passava de uma ameaa que esta no tinha inteno de cumprir. Esta, porm, n

    ra a viso de Charles Fox,

    17

    ento ministro do Exterior da Gr-Bretanha.A vigilncia da Gr-Bretanha sobre Portugal vinha da importncia de mant-lo comrritrio neutro mas comerciante, e, caso a Frana invadisse a Espanha, ento destruir a fr

    ortuguesa ou faz-la seguir para o Brasil. Para qualquer eventualidade, um esquadro refora

    ra sempre mantido ao largo da costa.18 Esta era, alis, a mesma postura que a Royal Nadotava com a neutra Dinamarca.

    As ameaas feitas por Talleyrand a lorde Landerdale, sobre a invaso e o desmembramen

    e Portugal, foram cuidadosamente avaliadas pela corte em Londres.19

    Em 1806, as demonstraes de hostilidade contra Portugal por parte da Frana eram evidentes que lorde Rosslyn foi enviado para l em misso especial, qual se agregaralorde S.Vincent e o general Simcoe. As instrues que lhe foram dadas consistiam em expao gabinete de Lisboa, o perigo eminente que ameaava o pas, assim como oferecer auxem homens, dinheiro e vveres da Inglaterra, a fim de pr Portugal na defensiva, isto segoverno se decidisse a uma resistncia vigorosa e afetiva. Se, por outro lado, Portugal

    julgasse fraco dem ais para lutar com a Frana, deveria ser retomada a idia de emigrar pao Brasil, estabelecendo ali a capital do Imprio. Prometer-se-iam ento assistncia e prote

    para esse plano. Se, contudo, Portugal insistisse em rejeitar o auxlio ingls em qualquer caas tropas do general Simcoe deveriam desembarcar e ocupar as fortalezas do Tejo. esquadro entraria pelo rio e apossar-se-ia dos navios e vasos portugueses, tomando o cuidade convencer o governo e o povo de que isto fazia para o bem da nao e nunca com o fegosta de engrandecimento por parte da Inglaterra. Parece, entretanto, que os preparativde invaso por parte da Frana no estavam no momento to adiantados como se supunha

    vista dos instantes pedidos da corte de Lisboa, as tropas e a frota retiraram-se do Tejo. 20

    A preocupao de Portugal em manter sua neutralidade era evidente. Nessa ocasio,

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    apaz de demonstrar que os rumores de que um exrcito de 30 mil homens havia sido reunim Bayonne, pronto para atravessar a Espanha e invadi-la, no passavam mesmo de rumor

    e fato, tratava-se de um pequeno destacamento de 1.700 italianos.21

    O em baixador portugus junto corte francesa, d. Loureno de Lima,22tam pouco acreditaue as intenes de Bonaparte em relao a Portugal poderiam conduzir hostilidade. Em 2 ezembro de 1806, escreveu ao prncipe regente um relatrio detalhado de sua audincia coonaparte. Aps se queixar de que Portugal havia permitido que um esquadro comandado p

    orde S. Vincent, transportando tropas, entrasse no Tejo, e de assegurar-se de que o nmero avios estava dentro dos tratados estabelecidos, Bonaparte declarou que Portugal nada tinhmer, desde que continuasse neutro. Talleyrand, o ministro todo-poderoso, expressou a mesm

    pinio.23

    Em Portugal, no final de 1805 e incio de 1806, d. Joo, que passava por uma sria depress

    ermanecia em Mafra. Em sua ausncia, sua esposa, d. Carlota Joaquina,24 tentou tomar ugar e assumir o controle do Estado, alegando que, assim como sua me, o prncipe regennha enlouquecido e no poderia mais reinar. Seus planos, de acordo com o historiador Octv

    arqno de Sousa,25eram apoiados pelos marqueses dAlorna26e de Ponte do Lima,27e pe

    ondes de Sarzedas28 e de Sabugal.29 Suas tentativas de induzir seu pai, d. Carlos IV

    spanha,30a pegar em armas contra Portugal, a fim de fazer valer seus direitos, no tiveraxito.

    A descoberta da trama serviu para pr fim a qualquer esperana de melhoria em suelaes com o marido. D. Carlota expressava a sua insatisfao por meio de sua lngua ferina

    oo o fazia com o seu silncio e o isolamento em Mafra.31

    O casamento de d. Joo com d. Carlota Joaquina tinha sido negociado, por razes de Estaudaria a consolidar o relacionamento entre Portugal e Espanha. Era mais um dos mui

    asamentos arranjados entre os infantes das duas naes. Foi celebrado em 8 de maro de 17uando d. Joo tinha 18 anos e d. Carlota Joaquina, dez. Entretanto, s foram morar j untos quana completou 16 anos.

    1807

    guerra de Napoleo contra a Prssia e a Rssia, ocorrida no final de 1806, permanecndecisa, mas em meados de junho havia ficado claro que, mais uma vez, Bonaparte tinha siitorioso, com a Prssia destruda e os exrcitos russos em retirada. Napoleo e Alexandrrocuraram um entendimento.

    O bom senso prevaleceu e a deciso de dialogar encontrou amplo respaldo naquelas forexaustas. Como o protocolo mandava que o encontro tinha que ser em campo neutro, o mdo rio Niemen foi escolhido, numa balsa construda para este propsito. Aps este prime

    encontro, decidiu-se continuar as discusses em local mais cmodo: a cidade de Tilsit.O tratado assinado deixou ambos satisfeitos; as possesses da Rssia continuariam intact

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    mas ela no mais cooperaria com a Gr-Bretanha; se j untaria Frana para m anter a pazcontinente. A Rssia tentaria conciliar uma paz entre a Frana e a Inglaterra e, caso ntivesse sucesso, se aliaria Frana. Um outro tratado secreto permitiria Rssia

    apoderar da Finlndia (pertencia Sucia), enquanto Bonaparte tomaria Portugal.32

    O tratado foi assinado em 25 de junho de 1807.A Espanha, como Portugal, tambm estava passando por momentos difceis. Seu fraco rei

    arlos IV, o que havia sido coroado com a idade de 40 anos em 1788, tinha, em 1807, entregeu poder a d. Maria Lusa, sua esposa, e ao amante desta, d. Manuel de Godoy. 33 Este fromovido de oficial da Guarda Real para ministro de Estado e capito-general dos exrcitorande almirante da Espanha e das ndias; na esperana de vir a governar seu prprio territ

    o futuro, ele buscava ativamente a aj uda de Bonaparte. O Tratado de Fontainebleau,34 assinaelo general Miguel Duroc, por parte da Frana, e d. Eugenio Isquierdo de Ribeira e Lezaun, parte da Espanha, estava em consonncia com tais idias. Napoleo ratificou-o em 29 de outube 1807.

    O tratado previa a invaso de Portugal e a sua diviso em trs partes: Entre-Douro e Mineriam dados rainha da Etrria, em troca da Toscana; Alentejo e Algarves pertenceriamodoy; e Beira, Trs-os-Montes e Estremadura seriam mantidos pelos Bragana, se cer

    ondies fossem cumpridas (inclusive a improvvel devoluo de Gibraltar Espanha), seneverteria para a soberania da Frana. As colnias portuguesas seriam divididas entre a FranEspanha.

    Era o instrumento necessrio para o acordo sobre a passagem atravs da Espanha de uxrcito francs, agora reunido em Bayonne. A marcha por terra, embora mais difcil

    emorada, era necessria, pois no havia a possibilidade de transportar o Exrcito por mar semsco de perd-lo, diante da superior Marinha britnica. A Espanha forneceria 8 mil homens nfantaria e 3 mil de cavalaria como reforo; alm disso, invadiria Entre-Douro com uma fore 10 mil e tomaria o Porto; outra fora, com um efetivo de 6 mil homens, tomaria Alentejolgarves.

    Apesar desse tratado, Bonaparte no renunciou duplicidade de negociaes;35 durante rximos dois meses, enquanto estava na Itlia, repetidam ente ofereceu o reino de Portugal a

    mo Lucien.36Nenhum dos irmos de Napoleo, porm, estava interessado em Portugal, p

    ato de que o Brasil no estava sendo oferecido.Com o passar do tempo, o Decreto de Berlim foi gradualmente sendo imposto ou aceito

    uropa, at que apenas a Dinamarca e Portugal perm aneciam fora do sistema.Estabelecida a paz com a Rssia, Bonaparte voltou-se em primeiro lugar para a Dinamarca

    m de que esta aderisse ao Bloqueio Continental. A reao da Gr-Bretanha foi imediatarutal. Muitos historiadores acreditam que a reao da Gr-Bretanha foi prematura e que ela xcessivamente severa com a Dinamarca. Um esquadro comandado pelo almirante Gambiansportando 27 mil homens, rumou para guas dinamarquesas em 26 de julho de 1807 e em

    m ultimato ao prncipe real: a Dinamarca deveria aliar-se Gr-Bretanha e colocar a sMarinha disposio desta. Com a recusa do prncipe, Copenhague foi bombardeada por terr

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    or mar, mas no por muito tempo; no quinto dia, a Dinam arca entregou sua esquadra.37Uotal de 13 naus de linha, 14 fragatas e 42 navios menores foram capturados.

    Bonaparte no perdeu tempo: passou a concentrar sua ateno em Portugal.A posio de Portugal era, no mnimo, muito delicada; se este se aliasse Gr-Bretanha o

    rana, esta aliana lhe traria conseqncias imediatas. Com a Gr-Bretanha dominando mares, Portugal perderia suas colnias; 70% da sua riqueza era o seu comrcio martimo com

    rasil, Oriente, frica e Norte da Europa.

    Por outro lado, se Portugal se aliasse Gr-Bretanha, o Exrcito de Bonaparte logo estaria eua fronteira terrestre e seu interior seria transformado num campo de batalha, com a aju

    militar espanhola e a impossvel ajuda do Exrcito britnico. Alm disso, Portugal temia, quaom a mesma intensidade, a nova filosofia introduzida pela revoluo.

    Desde a invaso do territrio portugus pela Espanha em 1801, com a perda muito sentida livena, a poltica de d. Joo tinha sido a de j ogar para ganhar tempo. Era sua esperana queotncias em guerra chegassem a um acordo; at mesmo que, de algum modo milagrosoenrio se modificasse, fazendo cessar a presso sobre o pas e, entretanto, permitir

    ontinuao da bonana econmica e mercantil de Portugal. Se tudo o mais falhasse, e comltimo recurso, ele poderia transferir a capital de seu reino para o Brasil.Essa idia tinha amadurecido ao longo dos sculos, sempre em pocas em que cri

    xtremas afetavam Portugal.38A discusso havia ocorrido na poca em que o Prior do Cro teve sucesso em defender Portugal contra o Exrcito, comandado pelo duque de Alba e580, e resultou em que Filipe II, III e IV tambm fossem reis de Portugal durante os 60 anubseqentes. D. Joo IV (1604-56), o primeiro dos reis da dinastia bragantina, ento duque ragana, aceitou chefiar uma rebelio em 1640 e liderou Portugal independncia

    monarquia espanhola.Mais recentemente, d. Pedro, 3 marqus dAlorna, tinha escrito ao prncipe regente (maio

    801):

    Em todo o caso, o que preciso que V.A.R. continue a reinar, e que no suceda sua coro que sucedeu de Sardenha, de Npoles e o que talvez entre no projeto das grand

    potncias que suceda a todas as coroas de segunda ordem na Europa. V.A.R. tem um granimprio no Brasil, e o mesmo inimigo que ataca agora com vantagem, talvez que tremamude de projeto, se V.A.R. o ameaar de que dispe a ir ser imperador naquele va

    territrio adonde pode facilmente conquistar as colnias espanholas e aterrar em poutempo as de todas as potncias da Europa. Portanto preciso que V.A.R. mande armar cotoda a pressa todos os seus navios de guerra, e todos os transportes que se acharem na pra

    de Lisboa.39

    Naquele mesmo ano, d. Rodrigo de Sousa Coutinho tambm tinha escrito ao prncipe regente novo em 1803:

    Quando se considera que Portugal por si mesmo muito defensvel, no a melhor, e messencial parte da monarquia; que depois de devastado por uma longa e sanguinolenta guer

  • 7/13/2019 A Viagem Maritima Da Familia Re - Kenneth Light

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    ainda resta ao seu soberano, e aos seus povos, o irem criar um poderoso imprio no Bradonde se volte a conquistar o que se possa ter perdido na Europa, e donde se continue umguerra eterna contra o fero inimigo, que recusa reconhecer a neutralidade de uma potncque mostra desejar conserv-la. Quaisquer que sejam os perigos, que acompanhem uma nobre, e resoluta determinao, os mesmos so sempre muito inferiores aos que certameho de seguir-se da entrada dos franceses nos portos do reino, e que ou ho de traze

    abdicao de V.A.R. sua real coroa, a abolio da monarquia, ou uma opresso fatal.40

    Julhoagosto de 1807

    em 25 de julho, lorde Strangford informava Londres de que havia fortes rumores, vindos spanha, de que Beauharnais, o embaixador francs, estava negociando a passagem de tropancesas atravs da Espanha, a caminho de Portugal; o fechamento dos portos aos nav

    ritnicos tam bm poderia estar dentro dos planos de Bonaparte.41

    Em 29 de julho de 1807, dois dias aps o regresso de Bonaparte a Paris, vindo de Tilsit,oureno de Lima foi chamado por Hauterive que tinha substitudo Talleyrand como minis

    nterino dos Negcios Estrangeiros e informado sobre as exigncias da Frana. Esta informa

    oi transmitida corte de Lisboa, a chegando em 10 de agosto.42 Uma nota, com a mesm

    nformao, foi recebida do conde da Ega, embaixador portugus na Espanha.43

    Os representantes francs e espanhol44 junto corte de Lisboa teriam recebido instrumultneas, pois, em 12 de agosto, uma nota assinada por ambos foi entregue a Antnio rajo.

    Mesmo antes que a Frana tivesse declarado suas intenes, ordens tinham sido dadas rsenal de Lisboa para aprestar para o mar os navios que j se encontravam no rio.45 Inclua

    e as nausAfonso de Albuquerque,Medusae Conde D. Henrique, as fragatasMinerva,Princesaarlota, e outros navios menores.

    A Frana exigia que Portugal ingressasse no Bloqueio Continental, de acordo com o Decre Berlim: que fechasse seus portos aos navios britnicos, expulsasse o ministro britnico isboa, chamasse de volta o ministro portugus na corte de S. James, declarasse guerprisionasse os sditos britnicos e confiscasse suas propriedades; e que sua Marinha se reunis

    s da Frana e da Espanha.46 Alm disso, Portugal deveria fornecer uma quantia nspecificada em dinheiro, a fim de ajudar a financiar a guerra, e 4 mil homens. Estas medideveriam ser adotadas at 1 de setembro. Se as mesmas no fossem cumpridas, a Fran

    eclararia guerra a Portugal.47

    Uma das primeiras reaes ao recebimento desse ultimato foi informar o governo britni

    ntnio de Arajo escreveu, num despacho a Jos Egdio lvares de Almeida,48 secretrio rncipe regente:

    do meu dever participar ao Prncipe Regente Nosso Senhor, que ontem discuti muito com

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    embaixador de Espanha e com o encarregado de Frana sobre o grande negcio Tenhosatisfao de acrescentar que Strang-ford est muito bem disposto a nosso favor Convmuito mandar dizer Inglaterra que se conserve aqui este ministro, porque se mandasse

    extraordinariamente lorde Fitzgerald seria terrvel.49

    Lorde Robert Fitzgerald era oficialmente o ministro plenipotencirio; durante este perorucial, encontrava-se ausente de Portugal.

    O embaixador portugus em Londres j tinha ento recebido esta notcia. A mesma havhegado de Paris, via Holanda, por intermdio do agente secreto Brito, residente naqu

    dade.50 Este agente seria utilizado, durante o ms de agosto, para distribuir uma gran

    uantidade de diamantes em Paris, a certos indivduos com poder.51 Entretanto, no obteucesso.

    Uma matria de importncia nacional to grande devia ser discutida e decidida pelo Consee Estado; por tal razo, uma reunio foi marcada para 19 de agosto.

    O Conselho, criado quando Portugal era governado pelo cardeal infante d. Henrique, tutor

    ovem rei d. Sebastio, existia desde 1562. Agora, em 1807, era presidido pelo prncipe regentenclua d. Jos Xavier de Noronha Cam es dAlbuquerque de Sousa Moniz;52d. Henrique Jos

    arvalho e Melo;53d. Jos Lus de Vasconcelos e Sousa, regedor das Justias do Reino;54d. Joodrigues de S e Melo, secretrio de Estado para os Negcios da Marinha e Domn

    ltramarinos;55d. Rodrigo Domingos de Sousa Coutinho; d. Joo de Almeida de Melo e Castntnio de Arajo de Azevedo; e d. Fernando Jos de Portugal e Castro, presidente do Consel

    ltramarino.56

    Neste m omento, o prncipe regente, indisposto, estava residindo no palcio barroco de Mafistante cerca de 50km a noroeste de Lisboa.

    Do longo parecer escrito por d. Joo de Almeida,57ficamos sabendo que o Conselho, em e agosto, acordou que deveriam ser enviadas cartas a Paris e a Madri rejeitando as respectivotas. A Gr-Bretanha deveria ser oficialmente informada e instrues enviadas ao minisunto a S. Majestade Britnica habilita a tratar da importante comisso de que V.A.R.

    ervido incumbi-lo.58 Estas eram, mais provavelmente, as instrues para iniciar

    egociaes que resultaram na Conveno, assinada em 22 de outubro,59entre Portugal e Gretanha.

    D. Joo de Almeida sugeriu que, a fim de aplacar Bonaparte e com a prvia concordncia

    r-Bretanha, os portos deveriam ser fechados.60 Ele lembrou ao prncipe regente que erdil, que tivera um alto custo para a nao, havia sido usado antes:

    Em tempos menos perigosos, ainda que mui difceis (1797) prestou-se a corte de Londreconvir em que V.A.R. fechasse os seus portos Marinha britnica assim naval commercante, e ajustasse a sua paz com a Frana ainda quando sofresse os Tratados existen

    entre Portugal e a Gr-Bretanha. Incumbiu-me V.A.R. desta escabrosa comisso no ano

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    1801, ltimo de minha residncia em Londres, e nas Augustas Mos de V.A.R. deve achar-a carta original escrita do prprio punho de lorde Hankesburgh, ento secretrio de Estado d

    Negcios Estrangeiros Mas sero bastantes, Augustssimo Senhor, os terrveis golpes qvamos dar ao nosso comrcio pela clausura dos portos, e escassez de gneros de primenecessidade que vamos experimentar; o retardo da correspondncia com nossas colnias, qvamos sofrer; a baixa de que ressentir-se- o nosso papel-moeda e as conseqncias qdisso devem necessariamente resultar ainda quando a guerra com a Inglaterra no seja m

    do que de aparncia; sero bastantes, Augustssimo Senhor, este e outros danos que pbrevidade e por serem bvios deixo de enum erar, para saciar a am bio e animosidade

    Frana?61

    Havia rumores de que um embaixador extraordinrio seria enviado a Londres para negocssa estratgia aparentemente guerreira da parte de Portugal, em troca de vantagens comerci

    uando a paz retornasse.62Posteriormente, foi acordado que d. Domingos de Sousa Coutinho e

    erfeitamente capaz de conduzir esta negociao.63 Lorde Strangford reportou-se a um

    onversa recente:

    Tudo que necessitamos, disse M. de Arajo em nossa ltima conferncia, que a Inglateno destrua nossas colnias e comrcio. do seu interesse que sejamos independentes Frana, mesmo s expensas de algum sacrifcio temporrio. A mesma no tem nada a tem

    da guerra simulada em que possamos vir a nos envolver.64

    Em princpio, o Conselho acordou que Portugal deveria fechar seus portos Gr-Bretanha

    ngressar no Bloqueio Continental, mas no aceitou o confisco de propriedade ouprisionamento de sditos britnicos. D. Rodrigo de Sousa Coutinho deu o nico voto contrrm sua opinio, Portugal deveria reunir um exrcito de 70 mil homens e 40 milhes de cruzaddeclarar guerra Frana e Espanha. Caso o pas no fosse capaz de se defender, a fam

    eal deveria transferir-se para o Brasil.65

    Outras medidas acordadas incluam fortalecer as defesas do porto de Lisboa, mandar avis colnias e chamar de volta o esquadro que estava patrulhando o estreito de Gibraltar

    rocura de piratas.66Em 3 de outubro, oRainha de Portugal largou para Lisboa (de Gibralt

    om o Vasco da Gama, as fragatasMinervae Golfinhoe o brigue Vingana. Fundearam no Tem 8 de outubro de 1807.

    Enquanto agosto se aproximava do final, os representantes francs e espanhol ameaavomper relaes diplomticas e partir de Portugal.

    Arajo escreveu ao secretrio do prncipe regente, Jos Egdio, de Belm:

    Escrevo em casa do S. Visconde de Anadia Hoje veio falar-me o embaixador e Raynevdepois de mandarem as secas notas; disse-lhes foram muito mal em partir porque era m

    que provvel que Bonaparte assentisse a proposio que S.A.R. lhe fizesse; que eu respondes notas depois de tomar as ordens do meu amo, e que definitivamente eles julgassem q

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    deviam partir S.A.R. lhes no avia de negar os passaportes.67

    Na reunio do Conselho de 26 de agosto, realizada no palcio de Mafra, o envio de d. Pedroo Brasil foi debatido e aprovado, mais uma vez com o voto contrrio de d. Rodrigo. Foi decidi

    ue uma das senhoras infantas, d. Maria Benedita,69 irm da rainha, deveria acompanhaovem prncipe. Ela era viva do seu sobrinho e herdeiro do trono de Portugal, prncipe da Be

    Jos, irmo de d. Joo e filho primognito de d. Maria I.

    Setembro de 1807

    m 1 de setembro, o prazo estipulado foi ultrapassado, sem qualquer resposta s notas; em 4

    etembro, Rayneval solicitou seu passaporte.70 Como Rayneval e Campo-Alange estavaentes de que cartas haviam sido enviadas aos respectivos governos, e como ainda nenhum

    esposta havia sido recebida, Antnio de Arajo conseguiu persuadi-los a retirar seus pedid

    or sua prpria conta, eles decidiram prorrogar o prazo at 1 de outubro. Esta foi uma vitara Antnio de Arajo, responsvel pela poltica de procrastinao.

    Parecia improvvel que o plano de enviar d. Pedro ao Brasil fosse executado, em virtude feio que d. Joo sentia por sua famlia. O plano, porm, foi til a d. Joo; a preparao uatro naus de linha para a viagem, ficando os demais prontos para defender o porto, podia xecutada com pressa, mas sem comentrios inoportunos. Os navios serviriam tanto paansportar o prncipe da Beira como para transportar toda a famlia real.

    Antnio de Arajo, repetindo sentimentos do chamado partido francs ou aristocrtico, e

    a opinio que as exigncias de Bonaparte, se no fossem atendidas, no resultariam numnvaso de Portugal; que o perigo mais provvel e imediato de ataque vinha da Gr-Bretanhpreensiva ao ver as frotas portuguesas de guerra e mercante, voluntariamente ou foradnirem-se s da Frana e s da Espanha. Apesar disso, ele apoiou a estratgia de recuo, de envprncipe da Beira ao Brasil; ele sabia que o prncipe regente dificilmente deixaria seu filho

    em segui-lo logo depois. Na reunio seguinte do Conselho, em 2 de setembro, foi discutido s

    nfante d. Miguel71deveria ir em lugar de d. Pedro, o herdeiro presuntivo; o Conselho confirmprncipe da Beira. Nesta reunio, uma proposta foi apresentada por Antnio de Arajo: qu

    rncipe deveria receber o ttulo de Condestvel do Brasil e que a colnia deveria dministrada por um Conselho, presidido pelo prncipe, e constitudo pelo vice-rei e por um mais generais. Isto foi rejeitado, em continuao do sistema de administrao ento em vig

    a reunio foi tambm acordada a rejeio de eventuais propostas para receber tropancesas ou espanholas em territrio portugus, por qualquer razo.

    Lorde Strangford escreveu que nesta reunio:

    Ficou resolvido em Conselho que, caso o inimigo entrasse em Portugal, Sua Alteza Reacompanhado por sua famlia e corte, se retiraria para a fortaleza do Peniche, um lugar n

    muito distante de Lisboa, o qual quase inacessvel exceto por mar. 72

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    A situao tinha agora se agravado a tal ponto que, em 7 de setembro, o Gavio, uergantim de 22 peas e tripulao de 118 homens, comandado pelo primeiro-tenente Desid

    Manuel da Costa, foi enviado ao Rio de Janeiro com ordens ao vice-rei para suspender a partie todos os navios mercantes at notificao posterior. Este foi avisado da possibilidade de qu

    amlia real poderia, em futuro prximo, partir para o Brasil.73

    Durante o ms de setembro, as esperadas respostas de Paris, Madri e Londres chegaraonaparte insistia em suas exigncias, ao mesmo tempo em que tornava claro que no tolerar

    or muito mais tempo, a indeciso de Portugal. De Madri, d. Manuel de Godoy, o Prncipe az, respondia que Portugal deveria se unir Frana e Espanha e, de modo algum, considera

    dia da transferncia da corte para o Brasil. Dizia ter um grande apreo por Portugal, pois, utro modo, durante a guerra de 1801, ele o teria invadido e conquistado. A resposta da Espanefletia sua apreenso em relao s suas colnias americanas. Se a corte se transferisse parrasil, qualquer invaso de Portugal pela Espanha seria respondida por ato semelhante da pa

    e Portugal, no rio da Prata espanhol.74

    Jorge III estava agradecido pela considerao com que seus sditos sempre tinham si

    atados, e recomendava com urgncia que d. Joo transferisse sua corte para o Braferecendo-se para prover, se necessrio, uma escolta.75 Jorge III, nesta poca, era o rei r-Bretanha, o duque de Portland era o seu primeiro-ministro e lorde Mulgrave era o prime

    orde do Almirantado.O marqus dAngeja, conhecendo bem os sentimentos do prncipe regente por seu fil

    ersuadiu o marqus de Belas e o marqus dAguiar a mudarem seus votos. Na reunio seguinealizada em 23 de setembro, os oito conselheiros presentes estavam divididos igualmente sob

    e o prncipe da Beira deveria ou no ser enviado ao Brasil.76O quarto voto era provavelmen

    e d. Rodrigo, que desde o incio era a favor de declarar guerra contra a Frana e a Espanhaaso fosse necessrio, a famlia real teria sempre a opo de se transferir para o Brasil. Neeunio ficou decidido tambm que Antnio de Arajo deveria continuar a negociar comrana.

    Lorde Strangford percebeu que o membro mais influente do Conselho era Antnio de Araembora o conselheiro d. Rodrigo fosse sabidamente um anglfilo e talvez a sua principal fo

    e informao confidencial, informou corte que d. Rodrigo tinha passado informaetalhadas sobre assuntos do Conselho a seu irmo d. Domingos, em Londres, e acusara Antn

    e Arajo de ser francfilo.77A reao do prncipe regente foi excluir d. Rodrigo de quaisqueunies posteriores do Conselho. Lorde Strangford agora tinha confirmado o que de h muuspeitava: a estratgia encenada pelo Conselho tinha por objetivo a transferncia da famlia rara o Brasil. Ele discutiu isso com Antnio de Arajo, o qual concordou que este era tambmeu ponto de vista; acreditava-se que Rayneval e Campo-Alange, embora tivessem senformantes, haviam am bos sido informados to categoricamente de que no existiam quaisqulanos de viagem para a famlia real, que acreditavam firm emente que o prncipe regente

    enhuma circunstncia deixaria o pas.78No dia 20 de setembro e, de novo no dia 24, Ray ne

    mostrou-se preocupado com a possvel partida da famlia real; d. Arajo insistiu que reparativos eram para a viagem do prncipe da Beira, sobre a qual ele j tinha se comunica

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    om as cortes de Londres, Paris e Madri. Esta crena baseava-se tambm, em parte, no perigo desconforto que tal jornada causaria.No final do ms de setembro, com a aproximao do limite do prazo, ficou cada vez maro que a poltica de negociar para ganhar tempo estava para sofrer um revs;

    epresentantes da Frana e da Espanha declararam que, como as medidas exigidas contra a Gretanha no haviam sido tomadas, eles romperiam relaes diplomticas e deixariam o pas.

    Em Mafra, ainda se recuperando de sua doena, d. Joo estava sendo aconselhad

    specialmente por Thomas Antnio Vilanova Portugal, a regressar a Lisboa para mostraropulao que estava atuando para salvaguardar os interesses desta e receber em audinciaepresentantes da Frana e da Espanha, antes que eles deixassem o pas.

    A reunio seguinte do Conselho, aquela de 30 de setembro, acordou em fechar os porortugueses aos navios britnicos, mas no foi alm em ceder s exigncias de Bonaparte. Umas razes dadas para no tomar medidas contra os cidados e as propriedades britnicas eortugal foi o temor da retaliao contra as propriedades e os cidados portugueses que viviaa Gr-Bretanha.

    Antnio de Arajo julgava que as meias-medidas na verdade desagradariam a Bonapar

    lm disso, as exigncias contra os cidados britnicos, um segredo cuidadosamente mantigora se tornariam de conhecimento pblico. Por outro lado, a Gr Bretanha poderia muito beonsiderar o fechamento dos portos como indicao da adeso ao Bloqueio Continental e bandono da idia de transferir o herdeiro e a corte para o Brasil, com duas conseqncmediatas: a captura de quaisquer navios de guerra portugueses que ainda cruzassem o oceam busca de piratas berberes no estreito de Gibraltar; e a invaso do porto de Lisboa papreender ou destruir as frotas de guerra e mercante. O exemplo do que tinha acontecido eopenhague era ainda recente.

    D. Joo de Almeida de Melo e Castro temia que Bonaparte no ficasse satisfeito comesposta, nem tampouco a Gr-Bretanha, de modo que Portugal corria o risco de encontrar-se

    mesmo tempo em guerra contra dois inimigos. Alm disso, sob a influncia da Gr-Bretanuas colnias, em pouco tempo, se tornariam independentes, ficando com isto abertas omrcio. Ele propunha que deviam ser feitos, com a mxima urgncia, os preparativos paansferir a corte e aqueles que quisessem seguir, juntamente com as propriedades pblica

    rivadas, para o Brasil.79

    De fato, o prncipe regente j tinha tomado vrias decises, como informa lorde Strangfo

    m 25 de setembro, este fora a Mafra, a fim de entregar a resposta que havia chegado de SMajestade Jorge III. O prncipe regente concede-lhe uma longa audincia:

    O prncipe, em resposta, disse que todos os sentimentos de religio e dever proibiam-no abandonar seu povo at o ltimo momento, e at que alguns esforos tivessem sido feitos psalv-los e para justificar-se perante Deus e o mundo; que em caso extremo ele tin

    decidido retirar-se para seus domnios transatlnticos.80

    Lorde Strangford tentou persuadir o prncipe a adotar a estratgia sugerida pela Gr-Bretanh

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    Durante uma audincia de aproximadamente uma hora e meia, utilizei todos os argumenque possua para induzir Sua Alteza Real a consentir na nica medida que agora lhe ofere

    uma chance de continuar a existir como soberano independente.81

    Ele alegaria, mais tarde, quando criticado, que seus atos tinham sido decisivos para persuadirncipe regente a partir rumo ao Brasil.

    O encarregado de Negcios da Frana havia, no dia anterior, entregue a resposta

    onaparte, mas tinha sido recebido por apenas alguns momentos: Em conseqncia da timidea dificuldade experimentadas pelo prncipe quando obrigado a expressar-se em qualquer lng

    ue no a sua.82

    Em setembro havia ficado claro para d. Carlota Joaquina que seu marido planejava transfecorte para o Brasil. Suas relaes com o prncipe regente pareciam seguir o mesmo padr

    aqueles existentes entre seus pases. Como a Espanha agora se preparava para ir guerra conortugal, o relacionamento do casal deteriorou-se ainda mais. A ltima coisa que ela queria eer levada para outro continente, onde a influncia de seu pas natal seria virtualmen

    nexistente. Desesperadamente, escreveu numerosas cartas a seus pais, pedindo-lhes qnventassem qualquer desculpa a fim de cham-la de volta a Madri.83

    Em 29 de setembro, o visconde dAnadia informou ao prncipe regente que as naus de linfonso de AlbuquerqueeD. Joo de Castro, assim como a fragata Urniae o bergantim Voad

    stavam prontos, e levantariam vela to logo ele desse a ordem.84

    Prevendo que a situao se encaminhava rapidamente para o confronto, o prncipe regen

    m 30 de setembro, transferiu-se para o palcio de N.S. da Ajuda em Lisboa.85

    Em 1 de outubro, o encarregado de Negcios da Frana, Franois Maximilien Grard, cone Rayneval, e o embaixador espanhol, d. Manuel Jos Antnio Hilrio, 2 conde de Camplange, deixaram Portugal aps receberem seus passaportes.

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    CAPTULO DOI

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    A situao em Portugal torna-se mais crtica medida que a tenso aumenta. A contnuainsistncia de Bonaparte fora o Conselho de Estado a tomar as medidas exigidas contra a

    Gr-Bretanha, ainda que para adiar a inevitvel invaso. A situao torna-seinsustentvel quando Junot invade Portugal e, ao mesmo tempo, sir Sidney Smith bloqueiao porto de Lisboa. O tempo se esgota, e leva d. Joo a tomar a deciso de partir com acorte em viagem rumo ao Brasil. Preparativos finais e embarque.

    Outubro de 1807

    partida dos representantes francs e espanhol teve o efeito de tornar pblico o que at ennha se mantido em segredo: a seriedade da situao.

    A populao estava agora comeando a m ostrar sinais de desespero diante das perspectivas

    Houve uma procisso no domingo, para afastar os perigos que rondavam Portugal, e informado de que m uitas senhoras de classe caminharam descalas na m esma que de

    esperar de um povo que recorre a tais meios em tal momento.1

    Os conselheiros de Estado iriam se reunir em 12 de outubro, na residncia de d. Arajo eelm, e novamente em 14 de outubro; em ambas as ocasies sem a presena do prnci

    egente. A deciso de enviar d. Pedro foi mais uma vez discutida e acordada, com o voontrrio do marqus de Belas. Sua opinio era que esta deciso apenas servia para apressar umnvaso francesa. A revelao gradual, ao pblico geral, da jornada do jovem prncipe po

    muito bem ter sido a maneira de fazer com que o povo se acostumasse idia da partida

    amlia real de Portugal.2

    Mercadores britnicos em Portugal, esperando pelo pior, tambm estavam reagindo

    otcias:

    Ento se principiaro a retirar os negociantes ingleses; e o povo de Lisboa viu com sentimee mgoa esta despedida; foi o primeiro movimento geral de dio contra a injustia francee deu de si grande louvor ao monarca que com tanto perigo seu, no quisera violar os direi

    da hospitalidade para com eles.3

    Em Histria do imprio, Tobias Monteiro descreve a situao:

    Procurando iludir a situao e querendo deixar compreender aos ingleses a inconsistncia d

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    garantias que lhes dava, o prncipe regente punha quatro comboios disposio dos q

    quisessem abandonar Portugal, levando os seus bens.4

    De acordo com Monteiro, o ministro dos Estados Unidos calculava que cerca de 2 mil ingleceitaram o transporte. O embarque foi marcado para o dia 12 e a partida definitiva para 15 7. Ficaram alguns irlandeses. Era imenso o valor dos bens que levavam. O cnsul da Dinam areportou que o comboio s saiu dia 20 e era composto mais ou menos de 30 navios inglese

    orte-americanos.No sbado, 17 de outubro, um com boio de 64 velas, sob o encargo da fragata de S.M.Live

    artiu para a Inglaterra.5

    Os preparativos para a jornada prosseguiram, com a nomeao dos que acompanhariam

    rncipe. O aio principal e a cam areira-m or seriam o conde e a condessa de Belmonte.6Ficecidido que no seriam enviadas tropas do Exrcito, a Brigada da Marinha seria suficiente

    ue o Rio de Janeiro, e no So Paulo, seria seu domiclio.7 Ordens foram dadas ao conde

    edondo8para embarcar os vveres necessrios j ornada.

    9

    De acordo com um certo H. Chamberlim, escrevendo de Lisboa em 20 de outubro, os nav

    ortugueses, exceto por suas guarnies, estavam agora prontos para partir.10

    O visconde dAnadia, como secretrio de Estado para os Negcios da Marinha, eraesponsvel pelos preparativos. Diariamente visitava o Arsenal da Ribeira para se assegurar ue suas ordens estavam sendo executadas. A nauAfonso de Albuquerqueestava sendo aprontaara transportar o prncipe da Beira. Durante o ms de outubro, o prncipe regente fez uma vi

    o navio para ver as acomodaes, que ento estavam prontas.11

    Quando, em 22 de outubro, o prncipe regente assinou o decreto fechando todos os portos aavios britnicos,12 deciso aprovada pelo Conselho de Estado em 30 de setembro, tornoutamente improvvel que a Gr-Bretanha permitisse a partida dos navios portugueses sem q

    stes fossem molestados. Algum arranjo prvio teria de ser feito ou a j ornada do herdeiro j nra uma proposta vivel.

    Precaues tambm tinham de ser tomadas a respeito da ilha da Madeira. O fechamento dortos no se aplicava a ela. Tropas britnicas seriam autorizadas a desembarcar l comondio de que, ao serem reabertos os portos do continente, estas partiriam; alm disso,

    ropriedades privadas e pblicas, o culto religioso e as autoridades civil e eclesistica deveriaer respeitados.13

    Foi enorme a repercusso dessas medidas tomadas em Lisboa. Um brigue que havia parte Lisboa em 1 de novembro levava uma cpia da proclamao que fechava os portos a navritnicos. De Funchal, um certo Hartford Jones escreveu ao hon. Robert Dundas dando eotcia, acrescentando que ele a comunicaria aos governadores no cabo da Boa Esperana e

    ombaim.14

    As comunicaes eram relativamente lentas no comeo do sculo XIX. Os comissrios d

    ssuntos da ndia s reagiram notcia em 10 de dezembro, quando um despacho foi enviadoovernador-geral em Conselho, em Bengala, por intermdio do Comit Secreto. Ordens for

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    adas para capturar os assentamentos e as possesses portuguesas na ndia, de preferncia pmeio de arranjos prvios com o capito-geral em Goa. Entretanto, caso se tornasse necessr

    elo uso da fora.15

    Macau era politicamente mais delicada. Nenhum passo devia ser dado sem antes consultaomit Selecionado, em Canto. Era importante que o governo chins estivesse totalmente

    cordo com qualquer ao em preendida.16

    Essas ordens foram revogadas em 21 de dezembro, com o recebimento da notcia de qu

    rncipe regente havia partido para o Brasil com uma escolta de navios de guerra britnicosoreign Office enviou ordens ao governador em Conselho, em Bombaim, para cancelar

    nstrues anteriormente enviadas com relao s possesses portuguesas em Goa e Macau.17

    Em Lisboa, a apreenso de que a Gr-Bretanha pudesse desferir um ataque estava evidena nota de d. Arajo ao secretrio do prncipe regente: Toda acelerao no preparo para

    efesa do Porto pouca, e receio a vizinhana da esquadra de Collingwood.18Aps a morteorde Nelson, em Trafalgar, o comando da frota do Mediterrneo passou para lorde Collingwoo dia 18, o prncipe regente tinha novamente solicitado a presena de lorde Strangford juda. Ao receb-lo, mostrava muita apreenso com a notcia recebida na Inglaterra, paquete recm-chegado, de que uma expedio tinha-se feito ao mar da Inglaterra destinadapturar o porto de Lisboa e os navios de guerra portugueses. Argumentando que necessitava davios, a fim de remover sua famlia e seus tesouros para o Brasil, ele sugeriu que a Inglateloqueasse o porto:

    Desse modo, a Inglaterra efetivamente impedir que nossa Marinha caia nas mos Frana; o modo que empregar com tal finalidade ser justo e honrado, enquanto que um

    tentativa de capturar nossa esquadra pela fora certamente macularia a reputao ilibada que a Inglaterra tem desfrutado entre as naes.19

    Mesmo enquanto se preocupava por um lado com uma possvel invaso pela Frana e, putro, com a resposta da Inglaterra, o prncipe regente pedia a interveno daquela para obteevoluo de Olivena, tomada pela Espanha em 1801, se uma paz geral pudesse ser negociasta preocupao com a perda de territrio voltaria a se manifestar anos depois, quandorncipe regente, j ento d. Joo VI, insistiria em manter por toda a vida o ttulo de Im perad

    itular do Brasil, quando a independncia deste pas foi finalmente reconhecida em 1825. ato, o Brasil teve trs indivduos com o ttulo de imperador (d. Joo, d. Pedro I e d. Pedro IIuatro imperatrizes (d. Carlota Joaquina, d. Leopoldina, d. Am lia e d. Teresa Cristina).

    D. Arajo continuava a se preocupar com as reaes provocadas pelas decises tomadas ponselho de Estado; uma semana depois, no dia 27, ele escrevia novamente: necessrio

    muito necessrio, acelerar a defesa do porto, porque h notcias da Inglaterra de que vem co

    feito uma esquadra.20

    Apesar da probabilidade muito reduzida de vir a conduzir o prncipe da Beira ao Brasil

    squadra portuguesa fundeada no Tejo estava sendo desembaraada, continuando a aumentm nmero de navios; em conseqncia, crescia o desconforto sentido pela Gr-Bretanha dia

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    a possibilidade de que a esquadra viesse a se unir com a da Frana.Maior evidncia dos preparativos consta da seguinte nota: A proclamao est impressa

    mando o caixo com os impressos para o S. Visconde; preciso que ele d ordem para

    istribuio.21Tobias Monteiro escreveu que a notcia se refere jornada da famlia real

    mais provvel que se refira viagem do herdeiro d. Pedro,22 a qual estava destinada a ncorrer.

    Um dos problemas causados pela partida dos representantes francs e espanhol foi

    nterrupo das comunicaes, que se agravou ainda m ais pela inevitvel expulso, em seguios representantes portugueses naqueles pases.

    Enquanto isso, em 15 de outubro, numa reunio diplomtica em Fontainebleau, e distna audio de d. Loureno de Lima, Bonaparte tinha dito: Se Portugal no fizer o que eu que

    Casa de Bragana no reinar mais dentro de dois meses.23

    D. Loureno relatou esta conversa numa nota escrita no dia 17 e, sem consultar seu govermediatamente partiu para Lisboa a fim de relatar pessoalmente o que estava acontecendo.

    meio de viagem terrestre era, naquela poca, por carruagem particular acompanhada de criad

    guardas pessoais. D. Loureno escolheu a posta regular.24 Ele levaria cerca de 15 dihegando em 1 de novem bro.

    Em 22 de outubro, o diplomata francs Fernando Jos Antnio lvares, encarregado

    mbaixada na ausncia de d. Loureno, recebeu a seguinte carta:25

    Fontainebleau22 Octobre 1807

    Monsieur: La Lgation Franaise nest plus Lisbonne. Le Rgent Votre Souverain a mieuxaim la laisser partir que dadhrer aux justes propositions que lui faisoit LEmpereur et

    Roi. Ainsi il a rompu toutes ses relations avec lEmpereur, et les liens de Paix quilunissoient la France: ainsi il se met en guerre avec lEmpereur. Sa Majest na pu voirquavec regret cette dtermination quelle a cherch prvenir; mais elle nest pointaccoutume se laisser braver impunment. Le Portugal veut la guerre: Le Portugal aurala guerre. LEmpereur la lui dclare dans ce moment, et mordonne de vous faire connotreque son intention est que vous et toute la Lgation Portugoise, quittiez Paris dans les vingtquatre heures, et la France dans les quinze jours, qui suivront la date de la Lettre et des

    Passeports que jai l honneur de vous adresser.Mr. Le Chevalier Alvares. Champagny26 b

    Dois dias depois, Fernando Jos deixou Paris com destino a Bayonne, prximo fronte

    spanhola, onde ele receberia o seu passaporte.27

    O conde da Ega tambm chegava a Lisboa:

    Por este tempo tambm chegou inesperadamente o conde da Ega, embaixador de Portu

    na corte de Madri. Veio, como d. Loureno de Lima, sem ser chamado e sem permisso seu governo. Fez as maiores instncias, e rogativas, e mesmo empregou todos os me

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    persuasivos, a que de nenhum modo se viesse para o Brasil. Assegurava a boa vontade Prncipe da Paz, e a retido do general Bournouville (embaixador francs): empenh

    parentes, e amigos; fez promessas, e ameaas; mas nada disso fez mudar, nem alterarresolues j tomadas.

    Os ministros diplomticos de Portugal viam somente as cortes, onde estavam acreditadcuidavam mais dos interesses delas do que do seu pas, ou antes sacrificava, estes, queles

    prestgio de Napoleo podia deslumbrar a razo, e pr em perigo a fidelidade daque

    homens, e ser m elhor atribuir-lhes este erro, do que crimes mais nefandos.28

    Mesmo naquele momento, o Conselho no sabia que d. Loureno tinha sido expulso da Frana guerra declarada: J de Paris pela posta Ordin. Ou talvez pelo expresso que veio a Ma

    e avisou que d. Loureno partira, e a atribuam a fugir dos credores .29

    Na reunio seguinte do Conselho, que teve lugar em 30 de outubro na residncia do visconAnadia, decidiu-se que, em vista das notcias inquietantes contidas na nota de d. Loureno ia 17, recebida em Lisboa no dia 27, era importante para o prncipe regente reabrir o canal

    egociao com a Frana.Um embaixador extraordinrio, o marqus de Marialva, estribeiro-mor,30 foi nomea

    endo seu ato de nomeao pr-datado a fim de no ofender d. Loureno, e despachado paaris, Se d. Loureno vier, S.A.R. pode dizer-lhe que tinha h pouco tempo participado e

    mbaixada ao Im perador para o cumprimentar, e no para ser sucessor dele, d. Loureno.31

    Novembro de 1807

    marqus de Marialva, um dos homens mais ricos de Portugal, partiu pontualmente, em 16 ovembro, com uma quantidade no revelada de diamantes, que, de acordo com o minis

    orte-americano, valiam um milho de dlares,32 e uma espada de ouro guarnecida

    rilhantes.33 Alm disso, d. Joo deu-lhe instrues para negociar o casamento de d. Peduando este chegasse idade, com a sobrinha de Bonaparte, filha de sua irm Carolina com

    eneral Murat.34Sua misso era informar Bonaparte de que as exigncias feitas por ele tinhado cumpridas e que, portanto, no havia razo para agir contra Portugal.

    O marqus de Marialva era um singular na corte. O campo de seu braso de armas dividiam quatro partes, duas das quais ostentavam as armas reais de Portugal, o que mostrava sroximidade com o trono. William Beckford, que fizera amizade com a famlia de Mariauando visitou Portugal em 1787, escreveu:

    Os favores da coroa tm chovido sobre ele aos montes, no presente e nos anterioreinados, uma corrente de prosperidades no interrompidas mesmo durante o gro-viziatoPombal!Proceda como julgar mais acertado com o resto da minha nobreza costumava di

    o rei d. Jos ao seu temido ministro, mas guarde-se de intrometer com o marqus Marialva.35

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    O marqus teve uma jornada frustrante; sua primeira parada, no dia 21, foi em Elvas, a cere 10 milhas de Badaj oz, mas ainda em Portugal. De l, escreveu a d. Arajo:

    Cheguei ontem de tarde a esta Praa, e imediatamente pedi ao governador interino dela qescrevesse ao governador de Badajoz a fim de saber deste se o passaporte, que para mtinha sido solicitado, se achava em seu poder.

    Sua inteno, se no lhe fosse perm itido ir a Paris, era pelo menos informar o governo franos passos dados por Portugal contra Gr-Bretanha: Hoje ao meio de este dia conto de estar eadaj oz, e logo que ali chegue expedirei o correio com cartas para M. Champagny, Beauharn

    trognoff36&c. A resposta da Espanha no foi encorajadora: Companheiro e amigo. Ao han llegado pasaportes para S. Exa., el Caballeiro Mayor, Pero S. Ex. puede continuar

    marcha, como un Caballeiro particular, que viajava ala Corte Del Rey mi amo .37 Eceitou este conselho por estar creditado junto corte de Paris, mas foi malsucedido em s

    misso, pois no conseguiu ir alm de Madri.

    Os preparativos para uma possvel invaso e uma eventual viagem prosseguiram:O Geral dos Bentos hoje me falou dizendo que lhe faz violncia mandar a prata paCoimbra, e, como os Bentos tm muitos conventos no Minho, estimaram que o depsito fizesse no Porto, onde me parece mais conveniente. Porque dali se pode exportar, e no

    Coimbra.38

    Embora as polticas e as decises estivessem sendo concentradas em d. Arajo e coordenador este, na prtica o prncipe regente era o nico administrador de seu reino. Seu regress

    Mafra, por causa da sade abalada, criou problemas de comunicao para d. Arajo e adiecises importantes, como escreveu este ao prncipe regente:

    Estimarei muito por todos os princpios que S.A.R. se ache melhor, e um deles para qpossa voltar a Ajuda porque a todo o instante preciso receber as ordens para mdisposies; tudo afim o exige porque eu no posso considerar a situao mais perigosa qaquela em que estamos, se no entrarem os franceses na fronteira, ou os ingleses no Tejalgumas destas coisas podem suceder em pouco tempo. Em momento menos crtico partiu

    marqus de Pombal para Salvaterra a fim de representar ao rei d. Jos a necessidade voltar para Lisboa.39

    Um dos episdios mais estranhos que ocorreram durante este perodo turbulento foi a chegao Tejo, entre 10 e 12 de novembro, de vrios navios de guerra russos sob o comando mirante Siniavin. Este esquadro tinha recebido ordens de zarpar de Corfu (ao largo da corega), com direito ao seu porto de destino no Bltico. Os ventos fortes do oeste, mortais pualquer navio redondo velejando costa acima e a pouca distncia da terra, foraramsquadro a mudar de rumo e entrar no Tej o, o nico refgio naquela costa. O almirante Siniareferiu ignorar os tratados que limitavam a seis o nmero de belonaves estrangeiras q

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    oderiam entrar no porto de uma s vez. Alm disso, no desembarcou sua plvora. Mesmssim, o prncipe regente recebeu-o em audincia. O prncipe percebeu que os russos noderiam ser considerados amistosos, pelos efeitos do Tratado de Tilsit; por outro lado, ele nha problemas suficientes com a Gr-Bretanha e a Frana, para querer abrir mais uma fren esquadra russa, contrariando convites de Napoleo, no quis acolher-se em portos franceses

    spanhis, e invocara o Tratado de Amizade existente com Portugal. Mas no queria prosseguois receava o encontro com a Royal Navy .

    Ao chegar barra do Tejo, alguns dias depois, sir Sidney Smith iria encontrar rcunstncias igualmente confusas.40

    Entre as vrias linhas de ao em desenvolvimento, estava uma conveno com a Gretanha. No h m eno especfica, nas atas das reunies do Conselho de Estado, de delegae autoridade a d. Domingos para negociar em nome de seu pas. Embora d. Domingos pareo ter retornado a Portugal durante a crise de 1807, a conveno que serviria de base paraelacionamento entre os dois pases, durante e aps a crise chegou a d. Joo, que a assinou em

    e novembro com certas restries:41

    Sobre o mais que veio de Domingos, que deve existir no maior segredo, porque qualqucoisa que se souber nos seria funesto a resposta ao que veio da Inglaterra tambm

    urgente porque d. Domingos no vem sem ela.42

    A notcia trazida por d. Loureno, de que ele havia sido informado por Talleyrand qonaparte no tinha intenes maldosas em relao a Portugal e que, dentro de trs dias,

    etaliaes seriam suspensas, no foi aceita em Lisboa; particularmente porque d. Loureno navia trazido nada por escrito. O exrcito de 25 mil homens sob o comando de Junot, reunido eayonne, conhecido como o Exrcito de Portugal (LArme du Portugal), e a presena

    opas espanholas em Badaj oz eram claras indicaes das intenes de Bonaparte.43

    Os crculos governamentais em Lisboa acreditavam que a razo pela qual Junot havia sosto em comando no era o fato de conhecer Portugal, por ter estado l antes commbaixador, mas o de se ter envolvido num caso com a esposa do general Murat, duranteusncia deste de Paris. Ao regressar, Murat havia exigido que Bonaparte aprisionasse ou bani

    unot.44

    No final de outubro, chegou em Lisboa a inform ao de que o Exrcito espanhol haeixado a fronteira e retornado a Madri. Por um momento, d. Arajo acreditou que as medidomadas pelo Conselho tinham conseguido impedir a invaso; tudo em vo, porque, alguns d

    epois os Exrcitos francs e espanhol marchavam para a fronteira.45

    Em 1 de novembro foi recebida a notcia inquietante de que, na Espanha, o provvel herdei

    Ferdinando, prncipe de Astrias,46 tinha sido aprisionado por ordem de Godoy que, junom a rainha, sua amante, era quem de fato reinava quando se descobriu a existncia de uompl. A origem dessa conspirao estava no temor do prncipe de que Godoy no

    ermitisse suceder ao seu enfraquecido pai. Este fato pode explicar por que as tropas retornaramporariamente a Madri.

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    O passo seguinte do prncipe regente foi solicitar a cada um de seus conselheiros qreparasse um parecer escrito sobre o que deveria ser feito, particularmente em vista das ltim

    corrncias. Enas Martins Filho transcreve estas notas.47Eles concordam, sem exceo, qmbora tudo tenha sido feito para conciliar as exigncias da Frana com o mnimo de agressr-Bretanha, Bonaparte demonstrara que no estava preparad