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A Natureza da Justificao
Ttulo original: The Nature of Justification, and the Nature and Concern of Faith in it
Por Samuel Davies (1724-1761)
Traduzido, Adaptado e
Editado por Silvio Dutra
Abr/2017
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D255
Davies, Samuel 1785 -1859 A natureza da justificao / Samuel Davies Traduo , adaptao e edio por Silvio Dutra Rio de Janeiro, 2017. 62p.; 14,8 x 21cm Ttulo original: The Nature of Justification, and the Nature and Concern of Faith in it 1. Teologia. 2. Vida Crist 2. Graa 3. F. 4. Alves, Silvio Dutra I. Ttulo CDD 230
3
"Porque no me envergonho do evangelho, pois o
poder de Deus para salvao de todo aquele que cr;
primeiro do judeu, e tambm do grego. Porque no
evangelho revelada, de f em f, a justia de Deus,
como est escrito: Mas o justo viver da f."
(Romanos 1: 16-17)
Por pouco que o evangelho de Cristo seja estimado no mundo, certamente a mais graciosa e
importante dispensao de Deus para com os
pecadores, ou ento nossa Bblia mera fantasia e
fbula; pois a Bblia fala disso com os mais altos
elogios, e os escritores sagrados esto
frequentemente em transportes quando o
mencionam. chamado:
O evangelho da graa de Deus, Atos 20:24;
O evangelho da salvao, Efsios 1:13;
O evangelho glorioso, ou o evangelho da glria de
Cristo, 2 Corntios 4: 4;
O evangelho da paz, Efsios 6:15.
Seu prprio nome tem algo de cativante no som,
"boas novas", "notcias alegres". a sabedoria de
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Deus em um mistrio, 1 Corntios 2: 7; o mistrio que
estava escondido dos sculos e das geraes, Col
1:26; o ministrio do Esprito e da justia, que excede
em muito todas as antigas dispensaes em glria. (2
Corntios 3: 8, 9).
E representado como o nico plano para a salvao
dos pecadores. Quando a sabedoria do mundo havia
empregado seus esforos em vo, agradou a Deus,
pela pregao desprezada deste humilde evangelho,
salvar aqueles que creem. (1 Corntios 1:21).
No meu texto chamado "o poder de Deus para a
salvao, para todo aquele que cr, seja judeu ou
gentio". Paulo, embora o homem mais humilde que
j viveu, declara que no se envergonharia de
professar e pregar o evangelho de Cristo, mesmo em
Roma - a metrpole do mundo, a sede da educao,
da cortesia e da grandeza. Ele o representa como um
remdio universal, igualmente adaptado para judeus
e gregos, para a posteridade de Abrao, e para as
numerosas naes gentias, e igualmente necessitado
por todos eles.
Agora, isto deveria ser uma extravagncia e desfile
ostensivo, a menos que haja algo peculiarmente
glorioso e cativante no evangelho. Deve certamente
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dar a exibio mais ilustre das perfeies divinas;
deve ser o mais grandioso artifcio da sabedoria
infinita; o mais rico e surpreendente esforo de
bondade ilimitada; e particularmente, deve ter o
aspecto mais favorvel sobre os homens culpados, e
ser o melhor, o nico plano para a sua salvao. E
quais so as gloriosas peculiaridades, quais so as
recomendaes afetuosas deste evangelho? Uma
delas, na qual estamos muito interessados, chama
nossos olhos ao meu texto: "Pois no evangelho
revelada a justia de Deus, a justia que pela f do
princpio ao fim". Aqui vamos investigar o
significado das expresses, e apontar a conexo.
A justia de Deus tem geralmente uma significao
uniforme nos escritos de Paulo; e por ela quer se
referir justia, pela qual um pecador justificado;
aquela justia pela qual os seus pecados so
perdoados, e ele restaurado ao favor divino: em
suma, a nossa nica justia justificadora. Pode ser
chamada a justia de Deus, para distingui-la de nossa
prpria justia pessoal. a justia de Deus, uma
justia completa, perfeita, divina e semelhante a
Deus; e no a justia baixa, imperfeita, escassa de
homens pecadores e culpados. Assim parece ser
tomada, como se v em Romanos 10: 3. "Porquanto,
no conhecendo a justia de Deus, e procurando
6
estabelecer a sua prpria, no se sujeitaram justia
de Deus."; onde a justia de Deus diretamente
oposta e distinta da sua prpria justia.
As vrias descries desta justia e da justificao por
ela, que encontramos nos escritos apostlicos,
podem ajudar-nos a compreender a sua natureza; e,
portanto, pode ser bom para mim coloc-los diante
de voc em um ponto de vista.
frequentemente chamada de justia de Cristo; e se
diz que consiste em sua obedincia; "Pela obedincia
de um, muitos sero feitos justos", Romanos 5:19.
Ora, a obedincia consiste na estrita observncia de
uma lei; e, consequentemente, a obedincia de
Cristo, que nossa justia justificadora, consiste em
sua obedincia lei de Deus. Por isso, diz-se que ele
"o fim da lei para a justia de todo aquele que cr".
Romanos 10: 4, 5. Ser justificado pela sua justia o
mesmo que ser justificado pelo seu sangue, Romanos
5: 9; para ser reconciliados com Deus pela sua morte,
etc, verso 10. De onde podemos aprender, que os
sofrimentos de Cristo so uma parte principal desta
justia; ou que ele no apenas obedeceu ao preceito,
mas tambm suportou a penalidade da lei divina em
nosso lugar; e que somente por isso podemos ser
justificados.
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Esta justia chamada justia de Deus sem a lei,
Romanos 3:21; uma justia imputada sem obras,
Romanos 4: 6. E claro, de todo o contedo desta
epstola, em relao epstola aos Glatas, que a
justia pela qual somos justificados completamente
diferente da nossa prpria obedincia lei; e,
portanto, podemos aprender que nosso prprio
mrito ou as boas obras no constituem, no todo ou
em parte, nossa justia justificadora; mas que
inteira e exclusivamente o mrito da obedincia e dos
sofrimentos de Cristo.
Esta justia muitas vezes chamada justia da f.
Assim, segundo alguns, denominada no meu texto,
que pode ser assim traduzido, "porque nele se revela
pela f a justia de Deus"; e isto mais agradvel
fraseologia desta epstola. Outros, seguindo nossa
traduo - ou a ordem aparente do original,
compreendem-na em outro sentido; contudo ainda
atribuem f um concerto peculiar no caso. "A justia
de Deus revelada de f em f"; isto , de acordo com
alguns, inteiramente e completamente pela f; ou,
de um grau de f para outro; ou de f em f, de crente
em crente, em todo o mundo, entre os judeus e
gentios; ou da fidelidade de Deus na Palavra, graa
da f no corao.
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Voc v que qualquer que seja o sentido que voc
coloque sobre esta frase difcil, ainda coincide com
ou aceita a traduo, que eu preferiria escolher. "A
justia da f revelada pela f". Assim,
expressamente chamado em Romanos 3:22: "A
justia de Deus, que pela f em Cristo". Ver
Romanos 4:11, 13, 10: 6; Filipenses 3: 9. "e seja
achado nele, no tendo como minha justia a que
vem da lei, mas a que vem pela f em Cristo, a saber,
a justia que vem de Deus pela f ". De onde podemos
inferir, que a f tem um concerto peculiar de
instrumentalidade em nossa justificao pela justia
de Cristo.
Meu texto observa ainda que no evangelho esta
justia justificadora revelada pela f; isto , no
evangelho claramente revelado, proposto e
oferecido como um objeto de f. A luz da natureza
toda escurido e incerteza neste ponto importante;
ela s pode oferecer conjecturas obscuras e
equivocadas sobre o mtodo de perdo e aceitao de
um pecador culpado; deixa a ansiosa conscincia
ainda insatisfeita e perplexa com a grande indagao:
"Com que me apresentarei perante o Senhor, como
uma criatura to culpada como eu poder obter o
favor de meu Soberano provocado?" Pode sugerir
algumas coisas plausveis em favor do
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arrependimento, como o nico mtodo de perdo;
pode lisonjear o pecador, que um Deus de bondade
infinita no executar rigorosamente a sua lei; e pode
trazer um vu sobre o atributo de sua justia; e assim
pode construir as esperanas do pecador sobre a
runa do governo divino e a desonra das perfeies
divinas.
Mas, um mtodo de justificao pela justia de outro,
pela obedincia e morte de um Deus encarnado; pela
sua perfeita obedincia lei e completa satisfao
justia, em vez do pecador; um mtodo pelo qual o
pecado pode ser perdoado e, entretanto, as honras do
governo divino avanam, e as perfeies divinas so
ilustradas gloriosamente; este um mistrio, que foi
escondido de eras e geraes. Este era um grande
segredo que todos os sbios e filsofos e todos os
filhos dos homens, que no tinham seno a luz da
natureza para ser o seu guia, no podiam descobrir
nem mesmo adivinhar! Este plano estava to acima
de seus pensamentos, como os cus esto acima da
terra. Nada, seno a sabedoria infinita poderia
invent-lo: nada, seno a oniscincia poderia revel-
lo.
Nos escritos de Moiss e dos profetas, na verdade,
encontramos alguns vislumbres dele; alguns poucos
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raios de luz do evangelho foram refletidos de volta do
Sol da Justia, atravs do escuro meio de trs ou
quatro mil anos, e brilharam sobre as mentes dos
judeus, nos sacrifcios e outros tipos significativos da
lei e nas profecias dos escritores do Antigo
Testamento; e da o apstolo dizer que "a justia de
Deus testemunhada pela lei e pelos profetas"
(Romanos 3:21); mas somente no evangelho que
explcita e plenamente revelado: somente no
evangelho proposto em plena glria, como objeto
prprio de uma f distinta, particular e explcita.
E, portanto, podemos facilmente ver a forte e
impressionante conexo do texto. Voc pode
conectar esta frase: "Pois nele, a justia de Deus
revelada de f em f", com a primeira parte de um
texto precedente: "No me envergonho do evangelho
de Cristo"; e ento o sentido ser: "No de admirar
que eu no tenha vergonha do evangelho de Cristo
entre os judeus ou gentios, e mesmo na prpria
Roma, pois faz uma revelao gloriosa e importante,
em que todos eles esto envolvidos, uma descoberta
que os judeus, com todas as vantagens da lei e dos
profetas, no poderiam claramente cumprir: uma
descoberta que os gregos com todo o seu aprendizado
e filosofia, e os romanos com todo o seu poder e
melhorias, no poderiam adivinhar! E essa a
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descoberta de uma completa justia de Deus, pela
qual os culpados, de todas as naes debaixo do cu,
podem obter justificao de todos os seus pecados!
Uma justia que um fundamento suficiente para as
esperanas dos pecadores e d a mais majestosa e
amvel viso do grande Deus; justia sem a qual
judeus e gentios, e at mesmo os romanos, no auge
de seu imprio, devem inevitvel, irreparvel,
universal e eternamente perecer, em runa total.
Essa gloriosa e divina justia revela o evangelho
negligenciado e desprezado; uma descoberta to
benevolente, graciosa e revitalizante; e quem se
envergonharia de tal evangelho? "Por minha parte",
diz Paulo, "no me envergonho disso, mas o
publicaria corajosamente aos reis e aos imperadores,
aos sbios e aos filsofos, e qualquer que seja o
sofrimento que eu sofra por causa dele, ainda assim
me glorio em to boa causa, e gastaria e seria gasto
em seu servio!"
Ou podemos juntar-nos a esta frase: "Porque nele a
justia de Deus revelada de f em f", com a ltima
parte do versculo precedente, "Porque o poder de
Deus para a salvao", etc, e ento a conexo: "O
evangelho de Cristo, to destitudo de todas as
recomendaes carnais e seculares,
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suficientemente recomendado para a aceitao
universal, por que o nico expediente poderoso e
eficaz para a salvao de todos os que creem, sejam
eles judeus ou gentios. E no de admirar que seja
atendido com este poder e eficcia divina, pois nele,
e somente nele, a justia de Deus revelada pela f e
aceitao de um mundo culpado. Nenhuma religio,
exceto a de um Mediador pode fornecer ou propor tal
justia, e ainda sem tal justia, nenhum pecador, seja
judeu ou gentio, pode ser salvo! E, por outro lado, a
revelao de tal justia tende diretamente a
promover a importante obra de salvao, como
incentiva o desesperanado pecador, inspirando-o
vigorosamente, e como fundamento da honrosa
comunicao das influncias do Esprito Santo, sem
a qual esta obra jamais poder ser realizada."
Espero que estas coisas sejam suficientes para lhe dar
uma viso do sentido e da conexo do texto. E s h
uma coisa que eu repetiria e ilustraria antes de
proceder a um processo metdico do meu assunto; e
isto que a justia de Deus, ou a justia de Cristo, por
causa da qual somos justificados, significa tanto a
obedincia e sofrimentos de Jesus Cristo - por
responder s exigncias da lei, que havamos
quebrado. Ou, como geralmente expressado, "sua
obedincia ativa e passiva". Ele obedeceu lei e
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suportou o seu castigo, como fiador ou substituto dos
pecadores; isto , fez tudo isso, no por si mesmo,
mas por eles, ou em seu lugar. Esta uma questo de
tanta importncia, que voc deve por todos os meios
entender corretamente; e espero que seja agora
suficientemente claro sem ampli-lo, embora eu
achasse necessrio repeti-lo. Meus pensamentos
sobre este assunto interessante, eu pretendo dispor
na seguinte ordem:
I. Explicarei brevemente a natureza da f
justificadora e mostrar-lhe-ei o lugar que ela tem em
nossa justificao.
II. Eu mostrarei, que nenhuma justia, seno aquela
que o evangelho revela suficiente para a justificao
de um pecador.
III. Vou demonstrar que somente o evangelho que
revela tal justia.
I. Eu vou para explicar-lhe a natureza da justifica que
pela f, e mostrar-lhe o lugar que tem em nossa
justificao.
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Voc v que eu no proponho explicar a natureza
geral da f, como tem para o seu objeto a Palavra de
Deus em geral; mas apenas sob essa noo formal,
pois tem uma instrumentalidade peculiar em nossa
justificao. Quando eu mencionei o termo
justificao, ocorre-me em minha mente que alguns
de vocs no podem compreend-lo; e ento eu o
explicarei. Voc no pode deixar de saber o que ser
perdoado, depois de ter ofendido. E deve ser
igualmente claro para voc o que ser amado e
recebido em favor, por uma pessoa que voc tenha
ofendido, E estas duas coisas so significadas pela
justificao.
Quando voc justificado, Deus perdoa todos os seus
pecados; e ele o recebe novamente em seu amor e
favor, e d-lhe um ttulo para a felicidade eterna.
Espero que este ponto importante esteja agora
suficientemente claro para todos vocs; e volto a
observar, que pretendo considerar a f no presente,
somente sob essa noo formal, como somos
justificados por ela; e nessa viso evidente que o
Senhor Jesus, como um Salvador que morreu pelos
pecadores, seu objeto peculiar. Portanto, uma f
justificadora to frequentemente descrita na
Escritura em termos como estes: "Crer em Cristo, f
em seu sangue", etc; e a justia de Cristo, pela qual
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somos justificados, chamada "a justia da f, a
justia que de Deus pela f", etc. Portanto, uma f
justificadora em Cristo inclui estas duas coisas:
1. Uma persuaso completa da verdade desse mtodo
de salvao atravs da justia de Jesus Cristo, que o
evangelho revela.
2. Uma aprovao cordial e consentimento para com
o mtodo de salvao.
1. Uma f justificadora inclui uma persuaso
completa da verdade desse mtodo de salvao
atravs da justia de Jesus Cristo que o evangelho
revela.
A f, em sua natureza geral, a crena de uma coisa
sobre o testemunho de outro. A f divina a crena
de uma coisa sobre o testemunho de Deus; e
consequentemente a f em Cristo deve ser a crena
do testemunho de Deus concernente a ele no
evangelho. Da da f dito ser um receber o
testemunho de Deus, que ele tem dado de seu Filho;
e a incredulidade, por outro lado, a no crena no
testemunho que Deus deu de seu Filho. (1 Joo 5: 9,
10). Agora Joo nos diz que a substncia do
testemunho, que Deus deu de seu Filho, este: Que
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Deus nos deu a vida eterna; e esta vida est em seu
Filho, versculo 11; isto , Deus no evangelho testifica,
que ele estabeleceu e revelou um mtodo de conceder
a vida imortal e bem-aventurana aos pecadores
culpados, que foram justamente condenados morte
eterna. E ele mais adiante testifica que somente
atravs de seu Filho Jesus Cristo que esta vida e bem-
aventurana pode ser obtida, s atravs dele que se
pode esperar, e nada aparece seno horror e
desespero de todos os outros quadrantes. Agora a f
uma persuaso da verdade deste gracioso e
importante testemunho, e como o fundamento de
tudo que Jesus Cristo o Filho de Deus, o
verdadeiro Messias, prometido como o Salvador dos
pecadores, da que acreditar que Jesus o Cristo, o
Filho de Deus, etc., to frequentemente a definio
de f.
O plano de salvao atravs de Jesus Cristo
pressupe que todos so pecadores, expostos
condenao e incapazes de satisfazer suas ofensas ou
merecer o favor divino por qualquer coisa que
possam fazer ou sofrer; e representa o Senhor Jesus
como substituindo o lugar do culpado, levando o
castigo devido ao seu pecado, e obedecendo a lei de
Deus em seu lugar; e representa nosso Soberano
ferido como disposto a ser reconciliado com tais de
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suas criaturas culpadas, por causa disto; mas ento
que, para desfrutarem as bnos da justia, devem,
como culpados, impotentes pecadores, colocar toda a
sua dependncia sobre ela, e aleg-la como o nico
fundamento de sua justificao; e que, embora
abundem em boas obras - contudo, essas boas obras
no devem fazer delas, no mnimo, o fundamento de
suas esperanas de perdo e aceitao.
Esta a substncia do testemunho de Deus no
evangelho; este testemunho tem sido repetidamente
publicado em seus ouvidos; e se voc tem acreditado
com uma f justificadora, voc deu um assentimento
completo a este testemunho; voc est
completamente convencido, e profundamente
sensvel que estas coisas so verdadeiras, e voc pode
alegremente aventurar seu eterno tudo sobre a
verdade delas. Voc est convencido de que este
Jesus de fato o nico Salvador; que s a sua justia
suficiente, e para a total excluso de qualquer outra
justia em termos de justificao.
Tal f pode parecer uma coisa muito fcil para um
pecador descuidado e impenitente, que absorveu
essa crena desde seus primeiros dias, e no
encontrou mais dificuldade nela, do que em aprender
seu credo, ou concordar com uma parte da histria.
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Mas uma pessoa deste carter no de modo algum
o sujeito de uma f salvadora. SOMENTE o pobre
penitente autocondenado, o pecador quebrantado de
corao, que capaz de tal f; e verdadeiramente no
fcil para ele; porque acreditar no uma questo
fcil para aquele que v seus pecados em todos os
seus agravamentos, a lei divina e a justia severidade
da justia divina ; aquele que encontra as
concupiscncias e preconceitos de seu corao
levantando-se contra este mtodo de salvao como
sendo tolice, e como dando uma mortificao
intolervel ao seu orgulho e vaidade. Isto deve ser
ento a obra do poderoso poder de Deus. (Efsios
1:19).
2. Mas, uma f justificadora inclui mais
particularmente uma aprovao cordial e
consentimento para este mtodo de salvao pela
justia de Jesus Cristo.
Crer no evangelho como uma verdadeira histria;
acreditar nele como uma verdadeira teoria ou
especulao, com uma languidez, uma indiferena ou
um desamor de corao - essa de fato a f popular
comum de nosso pas, e geralmente prevalece onde a
profisso do cristianismo se tornou moda; mas,
infelizmente! No essa f pela qual podemos ser
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justificados e salvos! Uma aprovao cordial do
caminho da salvao atravs de Cristo; uma
dependncia voluntria e encantadora de toda a alma
em sua justia; uma escolha livre e vigorosa, e um
alegre consentimento a todos os termos do
evangelho; isso essencial para tal f.
a maior incongruncia supor que suficiente crer
no evangelho com uma indiferena morna, ou um
assentimento descuidado e no afetivo; ou que nossa
f em Cristo deve ser meramente o ato de uma alma
constrangida e necessitada. Ele o Filho amado de
Deus, em quem ele se compraz; e devemos estar bem
satisfeitos com ele tambm, antes que possamos
esperar a salvao por ele. Receber um plano que
Deus tem tanto no corao, um plano para cuja
realizao Jesus sangrou e morreu; um esquema de
que depende a nossa vida eterna, e sem o qual somos
destrudos para sempre; por receber tal plano com
um consenso lnguido e profano! Que impiedade!
Se vocs realmente creram verdadeiramente em
Jesus Cristo, meus amigos, no foi o ato lnguido de
um corao frio, impenitente, involuntrio - mas
todas as suas almas exerceram seu mximo vigor
nisso, e foi o mais alegre, animado ato de toda a sua
vida! verdade, a necessidade no teve pouca
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influncia no caso. Vocs viram, sentiram-se
perdidos para sempre sem esta justia; voc no viu
outro caminho de fuga ou segurana; voc se achou
fechado f; e foi este sentimento de sua necessidade
que primeiro o colocou em busca de Cristo, e voltou
seus pensamentos para este mtodo de salvao. Mas
quando Deus brilhou nos seus coraes, para lhes dar
a luz do conhecimento da sua glria na face de Jesus
Cristo, quando receberam os primeiros olhares da
sua gloriosa justia, e ouviram, como com novos
ouvidos, o evangelho - e se lembraram de quais foram
seus sentimentos e o temperamento de seu corao
naquela hora importante e memorvel?
No era a sua linguagem: "Bem-aventurado Jesus,
at agora tenho estado cegamente procurando por
um princpio servil, no pela agradvel restrio do
amor, mas pela dolorosa compulso do medo, do
horror e da necessidade, no porque eu te desejei
Mas porque desejava ser salvo do inferno, ainda que
fosse por uma mo inaceitvel. Esforcei-me por
levantar o meu corao relutante para cumprir o teu
evangelho, no porque eu vi a tua glria - mas apenas
porque devo perecer para sempre se eu rejeit-lo.
Mas agora, quando vejo a sua glria, amvel
Salvador, eu mais alegremente consinto com o
mtodo de salvao revelado no evangelho, no s
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porque devo - mas porque eu escolho. Eu vejo que
um plano bem ordenado em todas as coisas, e com
certeza, e portanto toda a minha salvao e todo o
meu desejo. Eu no seria apenas salvo - mas eu seria
salvo por voc, Jesus bendito! Estou disposto e
desejoso de que voc, e no eu, tenha a glria. O
perdo doce para um criminoso culpado, a salvao
doce para uma alma que perece; mas oh! Perdo
pela tua justia, salvao pela tua graa, isto
duplamente doce!"
Tal, meus amigos, tem sido, e ainda a linguagem de
seus coraes, se vocs j receberam a justia de
Cristo por meio da f.
E da decorre que a f supe a iluminao
sobrenatural da mente e a renovao do corao, pelo
poder da graa divina. Infelizmente! Enquanto a
natureza deixada em sua escurido e depravao
originais, ela no tem tais vises do caminho da
salvao atravs de Cristo, nem qualquer deleite nele.
Temo que muitos se perguntem, em segredo, que
sabedoria e graa peculiares devem existir no
evangelho, e por que Deus deve recomend-lo to
alto, e os santos devem estar em xtase quando falam
dele; pois, quanto sua parte, no podem descobrir
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coisas to grandes nele. Seus coraes so frios e
descuidados, ou se insurgem contra ele. O caminho
da salvao atravs da justia de Cristo algo
completamente antinatural e mortificante para os
homens pecadores; eles no tm nenhum gosto por
isso, nem aptido ou inclinao para buscar a
salvao, desta forma; muito mais natural para eles
escolherem outro caminho, embora deva ser muito
mais doloroso. Eles se submetero s penitncias
mais pesadas e s austeridades corporais; eles se
afligiro com o jejum; eles iro atacar os deveres da
religio, a fim de elaborar uma justia prpria; e eles
gostam tanto da aliana das obras para obter a vida
eterna, como se nunca tivesse sido quebrada! Mas
fale-lhes de uma salvao livre, comprada por Jesus
Cristo, e oferecida no evangelho; diga-lhes que
somente por causa de sua justia que podem ser
perdoados, e que todas as suas boas obras pessoais,
por mais necessrias que sejam para outros fins,
devem contar para nada neste caso; eles ficam
espantados, e indagam o que isto significa! uma
doutrina estranha, ininteligvel para eles, e seus
coraes se levantam contra ela!
Por isso muitos crentes descobriram que era mais
fcil para eles trabalharem o seu corao para
qualquer coisa - em vez de crer em Jesus Cristo; e que
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s Deus poderia capacit-los para fazer isso. Mas,
quando Deus opera neles a obra da f com poder,
abre seu entendimento para ver uma glria
surpreendente no plano mediador da salvao e lhe
d um corao para sabore-lo; e sem isso, nenhuma
recomendao externa desse plano, nenhuma
convico especulativa em seu favor, pode ganhar a
aprovao cordial do pecador!
Vou agora tentar, em poucas palavras, mostrar-lhe o
lugar peculiar que a F tem em nossa justificao.
Voc pode observar, ento, que como a justia de
Cristo o fundamento peculiar de nossa justificao,
assim tambm a graa da f tem uma referncia
peculiar a essa justia; , por assim dizer, a
inclinao da alma em direo a esse objeto
particular. O arrependimento tem o pecado para seu
objetivo.
O amor tem a glria intrnseca e comunica a bondade
da natureza divina para seu objeto.
O amor e a justia tm uma referncia ao homem; e
nenhum desses objetos o fundamento adequado de
nossa justificao; e consequentemente nenhuma
destas benevolncias que terminam sobre eles pode
ter qualquer concorrncia direta nela.
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Mas, nossa justia justificadora o objeto imediato e
direto da f; e portanto a f deve ter uma
instrumentalidade especial em nossa justificao.
E se nos lembrarmos do que foi dito sobre a natureza
da f, aparecer uma propriedade peculiar em
conferir-lhe esta honra. certo que devemos crer
naquele que nosso Salvador; e seria absurdo
aplicar-se a ele nesse carter, enquanto suspeitamos
dele como se fosse um impostor. oportuno que
aprovemos a justia pela qual somos justificados e,
de todo corao, concordemos com o plano pelo qual
somos salvos. E, por outro lado, seria altamente
absurdo que fssemos justificados e salvos por um
Salvador, e de uma maneira que desprezamos ou nos
desgostamos. Estas consideraes mostram no s a
sabedoria, mas a graa da constituio.
Aprova o Salvador, e sers salvo;
Confia na sua justia, e sers justificado;
Consinta com o pacto da graa, e voc deve herdar
todas as suas bnos.
E voc poderia desejar termos mais baixos ou mais
fceis? Esta aprovao, esta confiana, este
consentimento, f; e agora, espero, voc v o lugar
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peculiar que tem em nossa justificao. Vamos agora
prosseguir,
II. Para mostrar-lhe que nenhuma justia, seno
aquela que o evangelho revela, suficiente para a
justificao de um pecador.
A fim de formar um julgamento correto sobre este
assunto, devemos nos colocar em uma situao
adequada e v-lo em um ponto vantajoso de luz. um
pecador cego e adulador, aquele que no v o rigor da
lei e da justia de Deus, ou que secretamente
murmura contra ela como sendo muito precisa e
rgida, e que no v o mal infinito do pecado - mas o
ama, e perito em desculpar-se dele, e diminuir seus
agravamentos - que forma suas mximas do governo
divino do procedimento dos mortais fracos e parciais
nos governos humanos; que se compara com os seus
pecaminosos, e no com a pureza divina, e a santa lei
de Deus; cuja conscincia segura, que coloca o
tribunal de seu juiz supremo longe de vista; e que
forma suas noes de seu governo no da Palavra de
Deus, mas das sugestes lisonjeiras de seu prprio
corao enganoso!
Eu digo, um pecador to cego, parcial e descuidado
um juiz competente nesta matria? Mas que ele seja
26
despertado para ver a si mesmo e seus pecados em
uma luz adequada; e que ele veja a pureza e a
extenso da lei divina, e faa disso a nica prova de
suas boas obras; que ele perceba o tribunal divino, e
se coloque na presena imediata de seu juiz - e ento
a controvrsia em breve estar no fim! Ento todos
os seus altos pensamentos de sua prpria justia so
mortificados; todas as suas desculpas por seus
pecados so silenciadas; e ento ele v a sua
necessidade absoluta de uma justia perfeita e divina,
e a absoluta insuficincia da sua prpria!
Aqui eu peo permisso para traduzir uma passagem
muito animada e marcante, escrita h cerca de
duzentos anos, por aquele grande e bom homem,
Joo Calvino, que h muito tempo procurou a
salvao entre as doutrinas de mrito na igreja de
Roma - mas no pde encontrar nenhum alvio, at
que o evangelho lhe revelou esta justia:
" uma coisa muito fcil", diz ele, "divertir-se com
argumentos para a suficincia de boas obras para a
justificao, enquanto estamos engenhosamente
insignificantes nas escolas e faculdades de
aprendizagem, mas quando chegamos presena de
Deus, porque isso se trata de um assunto muito srio,
e no de uma disputa ociosa sobre as palavras, onde
27
devemos nos colocar, se quisermos investigar
proveitosamente a verdadeira justia, e como
responderemos ao nosso juiz celestial quando ele nos
chamar para uma conta?
Vamos representar a este Juiz para ns mesmos, e
no como as nossas fantasias iria imagin-lo ser -
mas como ele realmente representado nas
Escrituras, como algum cujo brilho as estrelas so
transformadas em escurido, por cujo poder as
montanhas se fundem, em cuja ira a terra treme, por
cuja sabedoria os sbios so apanhados em sua
prpria astcia, diante de cuja pureza todas as coisas
se transformam em poluio, cuja justia mesmo os
anjos no so suficientes para suportar, no vai de
modo algum inocentar o culpado; cuja vingana,
quando se acende, queima e penetra at o inferno!
Que ele, eu digo, sente-se como juiz sobre as aes
dos homens, e quem pode seguramente colocar-se
diante de seu trono de julgamento? Senhor, se tu
marcas a iniquidade, quem, Senhor, subsistir!
Todos devem ser condenados, e inevitavelmente
perecer. O homem mortal ser justificado diante de
Deus? Ou ser puro aos olhos do seu Criador? Eis que
no confia nos seus servos; e os seus anjos ele cobra
com insensatez - quanto menos nos que habitam em
casas de barro, cujo fundamento est no p, que so
28
esmagados diante da traa! Eis que no confia nos
seus santos; sim, os cus no so limpos aos seus
olhos; quanto mais abominvel e imundo o homem
que bebe a iniquidade como gua!
Elifaz ficou em silncio; porque ele viu que Deus no
pode ser apaziguado mesmo com a santidade
anglica, se suas obras devem ser levadas escala
imparcial da justia - e certamente se nossa vida deve
ser comparada com o padro da lei divina, devemos
ser estpidos de fato, a menos que sejamos atingidos
com o terror de suas maldies, e particularmente
com esta: Maldito todo aquele que no continua em
todas as coisas que esto escritas no livro da lei para
faz-las! E todas as disputas que podemos ter sobre
o mtodo da justificao, so vs e inspidas, a menos
que nos coloquemos como culpados diante de nosso
juiz celestial, e, solcitos para um perdo,
voluntariamente prostrados e esvaziando-se diante
dele!
A este grande tribunal, pecadores, levantem os seus
olhos, para que, em vez de se exaltarem vmente,
aprendam a tremer diante dele. Enquanto a
comparao entre homem e homem - fcil para
cada homem pensar que tem algo que os outros no
devem desprezar; mas quando nos colocamos diante
29
de Deus, ento toda essa confiana cai e perece em
um instante!"
Posso continuar com a citao deste excelente autor;
mas isso suficiente para mostrar-lhe um grande
pr-requisito para a determinao imparcial deste
ponto. E agora, com uma profunda impresso disso,
com um profundo senso de nossos pecados, e do
rigor da lei e da justia, e colocando-nos, como na
presena de nosso Justo Juiz - vamos perguntar qual
justia suficiente para a nossa justificao diante
dele?
Pode ser til observar que h algo de singular na
fraseologia das Escrituras sobre este ponto, e
diferente do que usado em outros casos da mesma
natureza geral. Receber um perdo algo muito
diferente, em linguagem comum, de ser justificado.
Quando um homem PERDOADO, supe-se que
violou a lei - seno que a lei dispensada, e a pena
ameaada no executada. Mas quando
JUSTIFICADO, supe-se que ele tem uma justia
igual s exigncias da lei, e portanto que ele pode ser
absolvido de acordo com a justia. Estas, voc v, so
coisas muito diferentes; mas no caso diante de ns,
elas esto felizmente unidas.
30
Do pecador dito ser perdoado e justificado
imediatamente; e a razo desta combinao
incomum esta: o pecador quebrou a lei divina, e no
tem obedincia para responder s suas exigncias; e,
portanto, sua libertao da culpa do pecado e da
punio ameaada, , neste aspecto, um perdo
gracioso e imerecido. Mas, pela f recebeu a justia
de Cristo; e Deus a atribui a ele, como se fosse a sua
prpria; e esta justia responde a todas as exigncias
da lei, e no tem acusao contra ele: de modo que, a
este respeito, ele justificado, ou pronunciado justo
de acordo com a lei e a justia.
Da resulta, do prprio significado dos termos usados
neste caso, que nenhuma justia pode nos justificar
diante de Deus, seno aquela que igual a todas as
exigncias da lei divina. Deve ser perfeita, e
conformada a todo esse padro; pois se no for, no
podemos ser considerados justos aos olhos da lei;
mas a lei nos cobra e nos condena como
transgressores, e sua sentena est em plena fora
contra ns!
E agora, se algum de vocs tem tal justia perfeita,
por produzirem-na, e se gloriarem nela, levem-na
consigo ao tribunal divino, e exijam a quitao ali!
Mas, se no a tiverem (como, se espera que
31
reconheam que no a possuem), ento caiam como
pecadores culpados perante o seu Justo Juiz,
confessem que no se atrevem a aparecer na Sua
presena com a sua prpria justia - e pleiteiem a
justia de Jesus somente; caso contrrio a lei
trovejar os seus terrores contra vocs, e a justia
tomar vocs como criminosos detestveis!
Foi a partir de tais premissas, que o apstolo
raciocinou, quando chegou a esta concluso, que
pelas obras da lei, nenhuma carne ser justificada,
(Romanos 3:20, 28); e que somos justificados pela f,
sem as obras da lei. Ele concebe que, se algum pode
produzir uma perfeita justia prpria - ele obter
vida pela lei; pois a justia que pela lei, e que no
pela f; diz que o homem que faz estas coisas, viver
por elas. (Glatas 3:12). Mas, ento ele prova que
todos os homens, judeus e gentios, pecaram e,
consequentemente, no tm justia agradvel lei.
Ela fecha cada boca, e traz o mundo inteiro, como
culpado, diante de Deus. E, portanto, infere a
impossibilidade de justificao pelas obras da lei. E
ento ele naturalmente introduz outra justia igual a
todas as exigncias da lei. "Mas agora", diz ele, "a
justia de Deus, sem a lei, foi revelada, da qual a Lei
e os Profetas testificam." Esta justia de Deus vem
pela f em Jesus Cristo para todos os que creem.
32
Porquanto todos pecaram e esto destitudos da
glria de Deus, e so justificados gratuitamente pela
sua graa, mediante a redeno que veio por Cristo
Jesus. Deus o apresentou como um sacrifcio de
expiao, pela f em seu sangue. Sua justia ... ele fez
isso para demonstrar sua justia no momento
presente, para ser justo e quem justifica aqueles que
tm f em Jesus!" (Romanos 3: 21-26).
glorioso plano de salvao! completa, justia
divina! Uma justia pela qual judeus e gentios, o
maior pecador, assim como os menores, podem ser
feitos divinamente justos e completamente
justificados, mesmo no tribunal de um Deus santo e
justo. Aqui, pecadores culpados, criminosos
condenados, conscincias sangrando, aqui est a
nica justia para vocs! Estenda a mo da f, e
humildemente segure-a!
Seria fcil reunir uma grande variedade de
argumentos para sustentar esta importante verdade;
mas se voc ler atentamente os escritos apostlicos,
particularmente esta epstola aos romanos, e a
dirigida aos glatas, voc no pode deixar de ser
satisfeito para si mesmo.
33
III. E, finalmente, mostraremos que somente o
evangelho que revela tal justia suficiente para a
justificao de um pecador.
A religio judaica, como observei antes, deu vrios
indcios desse mtodo de justificao pela justia de
outro. Havia muitas profecias e tipos dessa
importao; e este foi sem dvida o desgnio original
dos sacrifcios; pois absolutamente inexplicvel que
os homens jamais imaginem que poderiam apaziguar
a ira de Deus e obter o perdo do pecado, oferecendo-
lhe sacrifcios de animais em seu lugar, a menos que
suponhamos que Deus tivesse institudo primeiro
este mtodo para denotar a maneira pela qual ele
seria reconciliado com os pecadores, isto , pelo
sofrimento e morte de outro, como um sacrifcio
substitutivo em seu lugar.
Esta instituio parece ter sido imediatamente aps
a queda do homem, quando o primeiro feixe de luz
do evangelho abenoou o nosso mundo nessa
promessa, a semente da mulher, etc; pois nos dito
que Deus fez tnicas de peles, e com elas cobriu
nossos primeiros pais. (Gnesis 3:21). Ora, a comida
animal no era permitida ao homem at depois do
dilvio e, por conseguinte, os animais, cujas peles
eram usadas para esse fim, no foram mortos para
34
esse uso; e no podemos supor que eles morreram
to naturalmente logo aps a sua criao. Portanto,
muito provvel que Ado os tivesse matado por
sacrifcios; e que Deus lhe ordenara que fizesse isso,
imediatamente aps a promulgao dessa promessa,
para tipificar o modo de sua realizao, ou seja, pelo
sacrifcio de Cristo na plenitude dos tempos. Esta
prtica encontramos continuada por Caim e Abel; e
assim No consagrou o novo mundo depois do
dilvio. (Gnesis 8:20).
Mas, embora os patriarcas e os judeus tivessem essas
insinuaes do mtodo do perdo e da aceitao, eles
eram muito obscuros e desconcertantes para eles, e
tanto quanto eles tinham dessa luz, tanto eles tinham
do evangelho; e, portanto, o evangelho, levando a
palavra em toda sua extenso, reivindica a honra
desta descoberta.
Agora, se ns, exceto a religio patriarcal e judaica,
que tinha uma mistura do evangelho nela, no h
nenhuma que pretenda revelar uma completa e
perfeita justia e expiao para a justificao de um
pecador. A religio de Maom silenciosa nesta
parte; e os socrticos e plantonistas da antiguidade
pag, que tinham apenas a luz da natureza para seu
guia - nada sabiam disso; muito menos a populao
35
ignorante, que so sempre a maior parte da
humanidade. O costume do sacrifcio era, de fato,
universal: mas, como foi recebido por uma tradio
muito remota, a humanidade tinha perdido
completamente seu desgnio original; e eles o
corromperam na superstio mais absurda e cruel.
Eles ofereceram seus sacrifcios a divindades
imaginrias, ou (como o apstolo nos diz) a
demnios! (1 Corntios 10:20). Eles eram to
antinaturais e brbaros, que ofereciam sacrifcios
humanos e at mesmo seus prprios filhos - para
propiciar seus deuses irados! E, se pudermos
acreditar em alguns de seus melhores autores, isso
foi muitas vezes praticado pelo comando expresso de
seus orculos - uma prova suficiente de que no foi o
verdadeiro Deus que deu respostas por eles.
(Nota do tradutor: A lei do Velho Testamento
bastante detalhista e clara quanto ao objetivo da
apresentao dos sacrifcios. Eles estavam
associados expiao do pecado e reconciliao com
Deus. Somente teriam validade se apresentados na
presena de um sacerdote designado e ungido por
Deus para tal propsito. Os animais deveriam ser
sem defeito, e havia imposio de mos sobre a
cabea da vtima, significando a transferncia para
ela dos pecados e da culpa do ofertante. Tudo isso
36
apontava em figura para o sacrifcio de Jesus; de
modo a fixar muito firmemente que no h
justificao a no ser pela f no Seu sacrifcio, e por
se receber os benefcios espirituais que so dele
decorrentes.)
Infelizmente! Como as pobres criaturas estavam
perplexas quanto ao mtodo de expiar os seus
pecados! Eles no sabiam nada da grande expiao
que seria feita pelo Sumo Sacerdote da profisso
crist, que o evangelho nos revela. No, os prprios
judeus so frequentemente repreendidos pelos
profetas por sua confiana autojusta em seus
sacrifcios, negligenciando sua moral e a grande
expiao que prefiguraram. A luz da natureza
poderia ensinar ao mundo pago que, se
perfeitamente obedecessem lei de Deus, poderiam
ter certeza de seu favor, ou pelo menos no ser
punidos; mas lhes informou que no o haviam feito -
mas, por outro lado, haviam violado repetidamente a
lei de Deus; e eles no tinham nenhuma noo de
toda a possibilidade de serem justificados pela justia
de outro.
Isso sozinho determina o ponto que estou provando
agora. J mostrei que um pecador no pode ser
justificado, seno por uma perfeita justia; e
37
evidente que nenhum dos filhos dos homens pode
fingir tal justia. Onde, ento, pode ser encontrado?
Consulte a luz da natureza; pea multido no
mundo pago; no, pergunte aos seus sbios e
filsofos mais aprimorados, e voc encontrar tudo
em silncio, todos aturdidos e perplexos! Nada
estava mais longe de seus pensamentos do que uma
expiao completa pelo pecado pela morte de uma
pessoa inocente e divina! Apelo aos pagos, como os
melhores juzes neste caso. Voc j ouviu, em seu
prprio pas, uma justia igual a todas as exigncias
da lei de Deus, pela qual voc poderia ser justificado?
No havia entre vocs algum pensativo, cuja
conscincia estivesse inquieta quanto aos seus
pecados contra um Deus santo, e que estava
preocupado em obter o perdo? E que maneira ele
tomou para aliviar sua mente? Infelizmente! Ele no
sabia nada da justia de Deus pela f. Esta feliz
descoberta, pobres criaturas, que vocs encontraram
na terra de sua escravido; e oh! Se voc fizer um uso
apropriado dela, far sua escravido a maior bno
para voc!
A luz da natureza pode supor muitas coisas sobre esta
verdade; mas, infelizmente! Tudo era incerto.
Poderia indicar, "que Deus o Pai compassivo da
humanidade e, portanto, dispensaria as ameaas de
38
sua lei, e no execut-las rigorosamente sobre suas
prprias criaturas". Isso frequentemente ouvido
pelos pecadores entre ns, que, no obstante sua
profisso de cristandade, formaram um sistema de
religio e um esquema de reconciliao com Deus, de
acordo com seus prprios preconceitos egostas e
lisonjeiros; e lhes parece incrvel que Deus deve
infligir castigo eterno sobre suas prprias criaturas -
pelos pecados de alguns anos. Mas a isto pode-se
responder que, como Deus o Pai da humanidade,
uma maldade mais antinatural e agravada pecar
contra ele; porque ele no apenas o Pai - mas
tambm o Legislador e Juiz do mundo, e que Ele deve
sustentar ambos os caracteres com honra. Ele deve
manter a honra de sua lei, e preservar seu governo de
desprezo; e portanto as comunicaes de sua
bondade - devem ser consistentes com a justia. Ele
tambm deve executar suas leis sobre os pecadores,
a fim de alertar e deter os outros; e, portanto, todo
pecador deve tremer de medo da execuo das
ameaas divinas sobre ele. A tudo isto posso
acrescentar que as misrias infligidas pela divina
Providncia neste mundo, e que muitas vezes sobre o
melhor dos homens, devem deixar o pecador em um
suspense terrvel.
39
Se Deus no permitir que os pecados dos melhores
dos homens escapem sempre impunes neste mundo
- mas afligi-los com dores, enfermidades e uma
infinidade de calamidades, como nossa razo, que
sabe to pouco dos conselhos do cu , nos assegura
que ele no os punir tambm, e isso com maior
severidade, no mundo vindouro? Nada alm de uma
revelao de si mesmo poderia aliviar uma mente
ansiosa dessa suspeita terrvel.
A luz da natureza tambm pode talvez conjecturar:
"Que seu prprio arrependimento e reforma so
suficientes para obter o perdo do pecado", e a
humanidade parece naturalmente inclinada a buscar
o perdo dessa maneira. Por isso os pecadores entre
ns, no obstante as descobertas mais claras do
evangelho, voam para seu prprio arrependimento e
reforma, no apenas como um pr-requisito para sua
salvao - mas como base suficiente de aceitao; e
eles olham e perguntam a um homem se ele intima o
contrrio. Deve ser concedido que o arrependimento
e a reforma so necessrios; mas a questo :
somente o arrependimento e a reforma so
suficientes?
E isto facilmente respondido, se o que foi provado
antes for verdadeiro, isto : que nenhuma justia,
40
seno aquela que perfeita e totalmente conformada
lei divina, pode ser suficiente para a nossa
justificao. Ora, o arrependimento, na melhor das
hipteses, no passa de uma reforma de um curso
errado, e um retorno obedincia; que nunca deveria
ter sido interrompida. Se a reforma fosse perfeita,
seria apenas para fazer o que somos obrigados a fazer
no tempo presente; e consequentemente no pode
ser nenhuma expiao ou satisfao lei para ofensas
anteriores; mas, infelizmente! O pecador, no meio de
todo o seu arrependimento e reforma, est pecando
ainda; h imperfeies culpadas em seus melhores
deveres; e podem estes expiar seus pecados
passados? De modo que o arrependimento e a
reforma no podem ser uma justia justificativa
suficiente
Novamente, que tipo de governo seria aquele entre os
homens - em que todos os crimes foram perdoados
por arrependimento? Que incentivo isso daria aos
infratores! Quo cedo um tal governo cair no
desprezo! E que ideia baixa daria da sabedoria e
justia do governante, e do mal do pecado! E o Rei
Supremo imitar uma conduta to fraca, e assim:
Obscurecer suas perfeies,
41
Depreciar suas leis,
E incentivar o vcio?
uma virtude em um homem particular perdoar
uma ofensa; e pode ser uma parte de generosidade
em tal pessoa desistir de alguns de seus direitos; mas,
como j lhe disse, Deus no deve ser considerado,
neste caso, como um indivduo - mas como um
soberano supremo e governador do universo; e o
pecado uma ofensa contra ele nessa condio; e
portanto, por razes de Estado, no lhe convm
remitir apenas ao arrependimento do pecador. Ele
deve manter a dignidade da lei e do governo, e
consultar o bem pblico; no o bem deste homem e
daquele, nem mesmo de toda a raa dos homens -
mas dos homens por todas as suas geraes; dos
anjos atravs de todas as suas diversas fileiras e
ordens, e em suma, de todo o universo de criaturas
razoveis!
E o interesse dos indivduos deve estar subordinado
ao bem geral do todo. Um erro em um governo to
extenso, por meio de uma excessiva indulgncia para
com os infratores, teria uma influncia muito extensa
e prejudicaria mais mundos do que sabemos. Se o
magistrado em um determinado governo for
42
negligente na execuo das leis, pode ferir toda uma
nao. Mas qual seria a consequncia, se o
Governante do cu e da terra e toda a criao,
relaxasse sua lei e permitisse que o pecado
permanecesse impune, num pagamento to barato
como o arrependimento? Nenhum governo humano
poderia ser apoiado sobre este princpio, muito
menos o governo divino!
Alm disso, deve-se considerar que, para encorajar
os infratores a se arrependerem, necessrio que se
faa uma constituio fixa, e publicamente
anunciada, que quem quer que venha em qualquer
momento a ser achado culpado de qualquer ofensa
contra as leis de Deus - que ele ser perdoado se fizer,
seno arrepender-se. Agora, que encorajamento tal
declarao daria ao pecado! Tambm no teria
precedentes nos governos humanos. verdade, os
governantes civis perdoam alguns ofensores: mas
ento eles no declaram de antemo que o faro, ou
que sero os objetos de sua clemncia. Fazer uma
declarao prvia disto, seria dar a licena aos
homens para violarem a lei.
Considere-se tambm que, quando os governantes
civis perdoam criminosos, no h necessidade de
receb-los em especial favor; mas no governo divino
43
essas duas coisas so inseparveis: no h meio
termo entre o favor e a misria. Quando Deus perdoa,
ele recebe o pecador em plena felicidade e intimidade
consigo mesmo, assim como o resgata do castigo. E
ser que ele deve fazer isso apenas com o seu
arrependimento? Como seria essa conduta nos
governos humanos?
Finalmente, o perdo de um crime, uma questo de
soberania, e s tem lugar em governos onde a
prerrogativa real excelente e tem o poder de
dispens-la. Se tal prerrogativa pertence ao governo
divino (isto , se seria uma perfeio no todo em tal
governo) no contenderei agora: mas suponha que
seja, ainda uma questo de soberania; isto , ele
est inteiramente no peito do Supremo Governante,
se ele vai perdoar penitentes ou no; e no podem
conhecer seu prazer seno por sua declarao. Esta
considerao mostra a necessidade de uma revelao
de Deus, para dar uma garantia ao pecador que ele
vai perdo-lo em quaisquer termos. A luz da natureza
deixa um pecador muito inseguro se jamais poder
obter o favor de seu soberano ofendido. Agora, esta
revelao que temos no evangelho, com a descoberta
adicional da maneira pela qual o perdo e a aceitao
podem ser obtidos. E parece, a partir desta breve
44
pesquisa, que somente no evangelho que podemos
encontrar essa descoberta.
I. Concluo agora com duas reflexes:
1. Que este assunto nos leve a um exame estrito do
fundamento de nossas esperanas, se elas so
fundados na justia de Deus somente - ou em parte
pelo menos sobre a nosso prpria. Para falar
livremente, receio que alguns de vocs, meus
queridos, tenham construdo sobre este fundamento
arenoso. Este pode ser o caso de alguns de vocs que
tm caracteres muito justos; pois esse tipo de
pessoas, e no aquelas que fazem pouca ou nenhuma
pretenso s boas obras - que esto mais em perigo
do extremo da autojustia. Peo-lhes, pois, que
perguntem por esta maliciosa e espreitadora iluso;
uma iluso que perverte as melhores coisas - nas
piores coisas - e torna suas boas obras a ocasio de
sua destruio, em vez de meios de salvao!
Peo-lhe que investigue se voc j se sentiu
profundamente consciente do mal agravado do
pecado, da perfeio da lei de Deus, do rigor da sua
justia e das imperfeies culpadas das suas
melhores obras; se j viu a glria de Deus no
evangelho, e a excelncia e suficincia da justia de
45
Cristo? Voc a abraou alegremente com toda a sua
alma? E voc coloca toda a dependncia de sua
salvao sobre ela? Voc acha que o nico alvio
para sua conscincia ferida, o nico consolo para seu
corao afundando? Toda a sua alma a abraa com o
mais terno afeto, e tenazmente se agarra a ele como
a nica prancha para guarda-lo de afundar, depois do
naufrgio geral da natureza humana? Voc aprecia
suas doutrinas, mesmo aquelas que so as mais
mortificantes para seu orgulho e vaidade, e tem amor
para ouvi-las honestamente pregadas? As humildes e
desprezadas doutrinas da cruz so gentis para voc e
a prpria vida de sua alma? Se voc pode dar uma
resposta confortvel para essas perguntas, ento,
2. Este assunto lhe d abundante encorajamento e
forte consolo. verdade, voc nunca pode pensar
humildemente de si mesmo. Voc to pecaminoso
como voc pode imaginar ser; sua justia
insuficiente e imperfeita, e voc to indigno do
favor de Deus, quanto possa imaginar! Mas no
para si mesmo que procura a justia que lhe
sustentar no tribunal do vosso Juiz; voc foi
obrigado a abandonar esse ponto para sempre? Voc
tentou se manter em p o quanto tempo podia - mas
achou que no conseguiria. E agora o seu nico
refgio a justia de Cristo pela f; aqui voc
46
descansa, e voc no procura a salvao de nenhuma
outra maneira.
Meus amigos, eu faria de bom grado honra a esta
justia; mas, infelizmente! A coisa mais alta que
posso dizer muito baixa. de fato uma justia
suficiente para todos os propsitos para os quais voc
precisa; uma certeza, uma fundao
experimentada. Milhares construram suas
esperanas sobre ela, e nunca falhou um deles ainda;
voc pode fazer o experimento com a mesma
segurana. No h uma acusao que a lei ou justia,
a sua prpria conscincia, ou Satans, o acusador dos
irmos, possam trazer contra voc. Aqui, ento, est
uma base segura - um fundamento seguro! No deixe
que nada o afaste dele; e oh, d glria a Deus por uma
bno to grande!
(Nota do tradutor: sentimo-nos inspirados luz
desta leitura a tecer algumas consideraes sobre
esta firmeza que temos por estarmos fundados na
justia de Cristo.
Desde a mais remota antiguidade, antes mesmo da
criao do mundo, Deus, segundo as Escrituras,
determinou ter muitos filhos semelhantes a Cristo,
47
para habitarem a Terra, que seria por ele criada para
este principal propsito.
S podemos concluir ento, que o plano da salvao
por meio da justificao pela f, foi elaborado desde
toda a eternidade nos conselhos de Deus porque,
como poderia realizar o propsito de povoar a terra
com pessoas santas, quando sabemos que o pecado
entrou no mundo desde o princpio da criao?
Como Deus poderia ter estes filhos santos,
semelhantes a Cristo, seno somente por justific-los
pela graa mediante a f, uma vez que eles no tm
em si mesmos, inerentemente em suas prprias
naturezas a referida santidade absoluta, conforme
ela existe na divindade.
maravilhoso ento, que Deus tenha revelado nas
Escrituras no somente o afastamento que nossa
condio pecaminosa operou em relao a ele, como
tambm o meio da restaurao necessria, e o modo
pelo qual isto seria feito.
Ao prprio Ado, revelou que levantaria no futuro
um descendente da mulher que esmagaria a cabea
da Serpente. Cobriu a nudez de Ado e Eva com peles
de animais sacrificados, indicando que o caminho de
48
volta seria feito por Algum mais poderoso que o
diabo e que cobriria o pecado do homem pelo
sacrifcio de Si mesmo.
Cerca de dois mil anos se passaram, e a promessa do
Salvador Redentor foi reafirmada a Abrao, de que
ele descenderia dele segundo a carne para serem
abenoadas nEle todas as naes da terra, a saber, os
que nEle cressem e o bendissessem.
Cumpridos outros cerca de dois mil anos, o Salvador
se manifestou ao mundo para morrer na cruz e
inaugurar a dispensao do Evangelho, na qual se
intensificaria em muito o provimento de Deus de
filhos amados por meio do dom do Espirito Santo,
regenerando-os e santificando-os, pois isto seria
possvel de ser feito agora, uma vez que o Sangue no
qual so perdoados e por meio do qual so declarados
justificados por Deus, foi oferecido por Jesus.
Desde que o Senhor morreu e ressuscitou so
passados tambm cerca de dois mil anos, e
aguardamos o cumprimento da promessa da Sua
volta para ser glorificado nos Seus santos.
Estes cerca de seis mil anos devem ser seguidos por
um ano milenar no qual Deus continuar ainda se
49
provendo de filhos e filhas, por meio da mesma f em
Jesus Cristo, para aqueles que permanecerem na
terra depois da Sua volta, e que continuaro se
reproduzindo por no terem participado do
arrebatamento da Igreja.
E finalmente, ao ser fechado o citado perodo, viro
os novos cus e a nova terra. Deus cumprir
cabalmente o seu propsito de encher a terra
somente com um povo santo, e a glria ser exclusiva
do Cordeiro porque foi por meio dele que todos
foram justificados e santificados.
Sem Cristo no haveria justificao, e sem
justificao no haveria santificao. Nenhuma terra
habitada por santos justificados. Mas Deus decidiu
que o teria e certamente o ter, pois desde Abel, o
primeiro santo a penetrar o cu, at agora, milhes
tm l entrado, e tm estado no aguardo da
manifestao final de todos os filhos de Deus, depois
de ter sido completado o nmero de todos aqueles
que foram marcados para a salvao.
To devedores somos justificao, que sentimo-nos
ainda movidos a tecer a seguir mais alguns
comentrios sobre este importante assunto.
50
Os que Deus chama eficazmente, tambm livremente
justifica. Esta justificao no consiste em Deus
infundir neles a justia, mas em perdoar os seus
pecados e em considerar e aceitar as suas pessoas
como justas. Deus no os justifica em razo de
qualquer coisa neles operada ou por eles feita, mas
somente em considerao da obra de Cristo; no lhes
imputando como justia a prpria f, o ato de crer ou
qualquer outro ato de obedincia evanglica, mas
imputando-lhes a obedincia e a satisfao de Cristo,
quando eles o recebem e se firmam nele pela f, que
no tm de si mesmos, mas que dom de Deus.
Ref. Rom. 8:30 e 3:24, 27-28; II Cor. 5:19, 21; Tito
3:5-7; Ef. 1:7; Jer. 23:6; Joo 1:12 e 6:44-45; At.
10:43-44; Fil. 1:20; Ef. 2:8.
A f, assim recebendo e assim se firmando em Cristo
e na justia dele, o nico instrumento de
justificao; ela, contudo no est sozinha na pessoa
justificada, mas sempre anda acompanhada de todas
as outras graas salvadoras (fruto do Esprito paz,
alegria, bondade, mansido, domnio prprio, amor
etc); no uma f morta, mas opera pelo amor.
Ref. Joo 3:16, 18, 36; Rom. 3:28, e 5: I; Tiago 2:17,
22, 26; Gal. 5:6.
51
Cristo, pela sua obedincia e morte, pagou
plenamente a dvida de todos os que so justificados,
e, em lugar deles, fez a seu Pai uma satisfao
prpria, real e plena. Contudo, como Cristo foi pelo
Pai dado em favor deles e como a obedincia e
satisfao dele foram aceitas em lugar deles, ambas
livremente e no por qualquer coisa neles existente,
a justificao deles s da livre graa, a fim de que
tanto a justia restrita como a abundante graa de
Deus sejam glorificadas na justificao dos
pecadores.
Ref. Rom. 5:8, 9, 18; II Tim. 2:5-6; Heb. 10:10, 14;
Rom. 8:32; II Cor. 5:21; Mat. 3:17; Ef. 5:2; Rom. 3:26;
Ef. 2:7.
Deus, desde toda a eternidade, decretou justificar
todos os eleitos, e Cristo, no cumprimento do tempo,
morreu pelos pecados deles e ressuscitou para a
justificao deles; contudo eles no so justificados
enquanto o Esprito Santo, no tempo prprio, no
lhes aplica de fato os mritos de Cristo.
Ref. Gal. 3:8; I Ped. 1:2, 19-20; Gal. 4:4; I Tim. 2:6;
Rom. 4:25; I Ped. 1:21; Col. 1:21-22; Tito 3:4-7.
52
Deus continua a perdoar os pecados dos que so
justificados. Embora eles nunca podero decair do
estado de justificao, podero, contudo, incorrer no
paternal desagrado de Deus e ficar privados da luz do
seu rosto, at que se humilhem, confessem os seus
pecados, peam perdo e renovem a sua f e o seu
arrependimento.
Ref. Mat. 6:12; I Joo 1:7, 9, e 2:1-2; Luc. 22:32; Joo
10:28; Sal. 89:31-33; e 32:5.
A justificao dos crentes sob o Velho Testamento
era, em todos estes respeitos. a mesma justificao
dos crentes sob o Novo Testamento.
Ref. Gal. 3:9, 13-14; Rom. 4:22, 24.
No poderamos ser justificados se no tivssemos
antes, sido redimidos.
A redeno o preo pago como resgate para libertar
prisioneiros da priso. Jesus pagou com o seu
sangue, de forma completa e definitiva, o preo
exigido pela justia divina, para livrar os pecadores
da condenao eterna. Este resgate no tinha preo
pois se refere libertao de vidas. Quanto vale uma
s vida?
53
O pagamento de Cristo cobriu completa e
perfeitamente, todos os dbitos de todos os crentes
para com Deus. Todas as exigncias da lei foram
pagas na cruz. O recibo do cancelamento total da
dvida foi encravado na cruz (Col 2.13,14). Agora,
no h nenhuma condenao para quem est em
Cristo (Rom 8.1), nenhuma chama do inferno
destinada a eles. O trabalho foi realizado
completamente pelo prprio Cristo, sem o auxlio de
qualquer pessoa.
A justificao o efeito ou resultado da aplicao dos
benefcios decorrentes da redeno. Como o dbito
foi pago por outro em nosso lugar, ento somos
declarados justos e sem culpa por Deus. Cristo
se apresentou na presena do Pai, no lugar dos
pecadores, para receber a sentena e a execuo da
mesma, que eram destinadas a eles. Quando Deus
disse em relao aos que seriam redimidos por
Cristo, que deveria conden-los e puni-los, Cristo se
declarou culpado no lugar deles. Quando a execuo
da sentena foi determinada, Cristo declarou que
deveria ser punido no lugar deles, e o fez morrendo
na cruz. Isto o que se chama de doutrina da
substituio ou sacrifcio vicrio. Cristo ficou no
lugar do pecador, e ns ficamos no lugar de Cristo
diante de Deus. Ele nos olha como se fssemos
54
Cristo, e somos aceitos por Ele com o mesmo amor
que ama a Cristo. E somos considerados herdeiros,
inclusive de uma coroa no cu, juntamente com
Cristo. To logo que o pecador se arrepende ele
justificado de todos os seus pecados. Ele est sem
culpa diante de Deus, inteiramente aceito pelo seu
amor. Alm disso, ele passa a ter mritos porque
tomou a justia de Cristo para si. Os trapos do
pecador (seus pecados) foram lanados sobre Cristo
(Is 53.11b), e as vestes de Cristo foram colocadas no
pecador arrependido.
A justificao irreversvel. To logo que o pecador
toma o lugar de Cristo, e Cristo toma o lugar do
pecador, no h mais o temor de uma segunda troca.
Cristo pagou o dbito e este no ser exigido
novamente (Jo 3.14,18). O castigo que ele sofreu na
cruz em nosso lugar no ter que ser sofrido por ns
novamente. Ele no cancelou o escrito de dvida para
que ele fosse reescrito outra vez (Col 2.13,14). Deus
no d o perdo gratuito para voltar a condenar
depois. Da no mais haver condenao para quem
est em Cristo Jesus (Rom 8.1). Ningum pode
condenar a quem Deus justificou (Rom 8.33,34).
Tudo isto obtido gratuitamente sem as nossas obras
(Ef 2.8,9). Nunca ser obtido com base nos nossos
55
merecimentos. obtido por nada, sem que nada
faamos, alm de crer. O ladro que foi salvo na cruz,
e as pessoas que aceitam a Cristo em seus leitos de
morte, bem ilustram o fato de que a
salvao/justificao por meio da f somente, e no
das obras.
O evangelho de Cristo to imensamente precioso
que no poderia ser comprado por qualquer valor
deste mundo ou do universo. por isso que Deus nos
concede a salvao por graa, mediante o preo
altssimo e incalculvel, que Jesus pagou com sua
prpria vida e ao dispor-se a levar sobre Si a culpa de
todos os nossos pecados.
Primeiro devemos ser justificados simplesmente
pedindo para sermos salvos, e faremos as boas obras
depois (Ef 2.10), pois que somos justificados, para
sermos regenerados e santificados, porque a
santidade a essncia mesma da natureza de Deus.
Se algum quiser ser justificado deve vir a Cristo
como est, com todos os seus pecados, no lhe
escondendo cousa alguma, porque isto o que nos
recomenda a Ele para sermos socorridos, a exposio
sincera do nosso estado de misria e o
reconhecimento da nossa culpa, em razo do pecado.
Mostrando-lhe o estado de sujeira e os trapos de
56
nossas roupas, ele as trocar pelas suas vestes de
justia alvas e limpas (Zac 3.1-5).
Precisamos de arrependimento e o desejo de deixar o
pecado para sermos justificados, mas no uma
coisa nem outra a causa da nossa justificao, ainda
que necessrias, mas Cristo, Cristo, Cristo, somente
Cristo.
Mas, para se arrepender, o pecador necessita do
convencimento e da obra do Esprito Santo. O
homem dirigido pelo Esprito para ser justificado. O
homem necessita ser justificado porque foi criado
para ser justo tanto para com os demais homens,
quanto para com Deus. Quando o homem trazido a
Cristo, pelo Esprito, ele descobre que sua vida tem
sido manchada por vrias ofensas contra a lei de
Deus.
O Esprito Santo nos convence do pecado antes que
possamos ser justificados, para compreendermos
que estamos cheios de pecados, tanto em nossas
aes exteriores, quanto em nossos pensamentos e
imaginao. O pensamento e a imaginao do nosso
corao so continuamente maus. Ningum pode
alegar inocncia diante do trono de Deus. A menos
que o homem seja derrubado do seu orgulho em no
57
se reconhecer pecador, Cristo nunca o levantar. Por
ser um transgressor da lei de Deus, o homem,
sem Cristo, nunca pode estar de p diante dele
baseado em sua prpria justia. A possibilidade de
ser justificado com base na justia prpria deve ser
considerada como um caso totalmente perdido. O
passado no poder ser apagado, e o futuro no ser
nada melhor, e assim a salvao pelas obras da lei
ser sempre uma impossibilidade (At 13.39; Rom
3.20,28; 4.1-8; 9.30-32; Gl 2.16; 3.11).
A lei amaldioa a todos os que no cumprem os
seus mandamentos (Dt 27.26; Gl 3.10,11) mas Jesus
se fez maldio no nosso lugar para nos resgatar da
maldio da lei (Gl 3.13,14). Os que no tm a Cristo
permanecem debaixo da referida maldio (Gl 3.10).
Mas o justificado resgatado dela.
Os que buscam ser justificados pela lei, e no pela f
em Cristo, deveriam se lembrar que quem quebra a
lei num s ponto se torna culpado de todos os demais
(Tg 2.10). Um s pecado sujeita o transgressor
condenao eterna no inferno (Mt 5.18,19,22). Isto
revela quo estrita a justia de Deus. E aponta para
a grandeza da ira de tal justia que foi despejada
sobre Jesus quando pagou pelos nossos pecados na
cruz, para satisfazer a exigncia da justia de Deus. O
58
que conclumos disto que qualquer pessoa que no
tenha sido justificada por Cristo est sob condenao
(Jo 3.36b), e ns, que temos sido justificados
devemos levar o pecado muito a srio, sabendo que a
ira de Deus contra o pecado est revelada no castigo
que Jesus sofreu na cruz.
O homem s pode ser justificado pelo caminho de
Deus (a graa que est em Cristo) que totalmente
diferente do caminho atravs do qual no podemos
ser justificados (o mrito das nossas boas obras).
No somos justificados pela nossa prpria
obedincia, mas pela obedincia de Cristo (Rom
5.19).
Como a justificao no pelo nosso merecimento, e
sim pelos mritos de Cristo, comum afirmar-se que
a salvao um dom (graa) imerecido. De fato no
porque a mereamos, que a recebemos, mas
porque fomos eleitos pelo amor de Deus para receb-
la. (Isto estudaremos pormenorizadamente no
assunto relativo eleio). E tudo o que se refere
nossa salvao (eleio, justificao, regenerao,
santificao e glorificao) est em Cristo.
Quando o crente abenoado com a bno da
justificao no por sua prpria causa, mas por
59
causa de Jesus. Deus apaga os seus pecados em razo
do que Jesus fez. O crente no tem mritos prprios
mas tem recebido os mritos ilimitados de Jesus, ao
ser vestido com a sua justia divina (Mt 22.11,12;
Rom 10.4; I Cor 1.30). Todos os mritos de Jesus
so imputados queles que so justificados pela sua
graa. Cristo se fez pecado por ns (II Cor 5.21) e ns
fomos feitos reis e sacerdotes para Deus (I Pe
2.9; Apo 5.9,10).
Estando vestido da justia de Cristo, o crente no ter
no cu uma justia maior ou melhor do que a que tem
na terra. por isso que no ser mais aceitvel a
Deus quando for para o cu, do que aqui na terra,
pois a mesma justia de Jesus a que os crentes
possuem tanto na terra quanto no cu. Uma justia
divina, melhor do que a que Ado tinha em seu
estado de inocncia no den, que era uma justia
humana, baseada na sua prpria justia. O caminho
de chegada a esta justificao a f. No por meio
de choros, oraes, humilhaes, trabalhos, leitura
da Bblia (ainda que tudo isso seja necessrio depois
que o crente justificado) ou quaisquer outros meios,
MAS PELA F. a graa quem justifica e salva,
mas sempre por meio da f, porque Deus prometeu
que seria apenas este o nico meio da justificao
(Hc 2.4; Rom 1.17; 5.1; Ef 2.8).
60
Mas, a f que conduz justificao uma f viva,
genuna, que vem de Deus, do alto, que se manifesta
em obras (I Tim 1.5; Tg 2.17-19). A f sem fingimento
que habitou na me e av de Timteo (II Tim 1.5). A
f que conduz ao arrependimento e entrega da vida
ao Senhor, para que seja por Ele transformada e
santificada (este um outro assunto que
estudaremos sob os temas de Regenerao e
Santificao). Uma f como esta no pode ser de ns
mesmos, uma f que tambm recebemos como um
dom de Deus.
O grande privilgio da justificao que passamos a
ter paz com Deus (Rom 5.1). O temor do mal e do
juzo vindouro terminam. O crente se sente seguro
nas mos de Deus e descansa quanto ao destino
eterno de sua alma, independentemente das
circunstncias adversas que possa sofrer neste
mundo. O corao justificado pode experimentar a
paz de Cristo em meio s aflies e tribulaes.
Permanecendo em Cristo, os crentes no podem mais
estar debaixo da maldio da lei, mesmo neste
mundo, porque no apenas Deus os perdoou em
Cristo quanto a todas as suas transgresses da lei,
como esto destinados a viverem em perfeita
harmonia com todas as exigncias da lei moral de
61
Deus, no porvir, pela capacitao recebida do poder
e graa de Deus, mediante a obra de redeno
realizada por Jesus, bem como pela regenerao e
santificao operadas pelo Esprito Santo, que o
selo e a garantia da salvao dos crentes. O Esprito
que tem lutado contra a carne e mortificado a
natureza terrena do crente, na batalha constante que
se travar permanentemente neste mundo, a
garantia que temos de Deus, de que Ele completar a
sua obra iniciada em ns na justificao e
regenerao, de purificao do pecado e do
revestimento de Cristo.
Como resultado ou consequncia da justificao,
somos regenerados e santificados pelo Esprito
Santo, em Cristo. Somos feitos filhos de Deus (Jo
1.12; I Jo 3.2), herdeiros de Deus, livrados da
condenao da lei e da morte, e temos vida eterna
(Mt 25.46; Lc 18.30; 20.35,36; Jo 3.15,16,18; 3.36;
4.14,36; 5.24,29; 6.27,37,39, 40,47,51,54,
57,58; 8.51; 10.10,28; 11.26; 12.25,50; 14.19; 17.2,3;
At 13.46,48; Rom 1.17; 2.7; 5.9,17,18,21; 6.22,23;
8.1,2,6,16,18,32-35; 10.9,13; 14.4; I Cor 1.8,9; 2.12;
6.3; 9.25; 11.32; 15.49, 54; II Cor 1.24; 3.18; 4.17;
5.17; 13.6; Gl 4.6; 6.8; Ef 2.1,4,5,8-10; Fp 1.6,21;
3,21; Col 1.12, 22,27; 2.13,14; I Tes 1.10; 4.14,17;
5.9,10,23? II Tes 2.13,16,17; I Tim 1.15,16; 6.12; II
62
Tim 1.9,10,12; 2.10; Tito 1.1,2; 3.4-7; Hb 1.14; 5.9;
6.17-20; 7.25; 8.12; 9.15; 10.14,39; 12.28; I Pe 1.3-
5,22,23; 5.10; II Pe 1.3,4; 3.7,13; I Jo 1.2; 2.25; 3.1-3;
5.11-13, 20; II Jo 1,2).
No podemos sentir a justificao, por ser um
decreto legal da parte de Deus que nos livra da
condenao e que nos imputa a justia de Cristo, mas
podemos sentir os seus efeitos sobre ns: o amor a
Deus e aos irmos em Cristo, o trabalho de
purificao dos nossos pecados e o novo nascimento
operados pelo Esprito Santo, a paz de Cristo
em nossos coraes e muitas outras evidncias que
comprovam que de fato fomos feitos filhos de Deus
por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.)