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    Carlos Henrique Fernandes1 

    1 Professor Afiliado, Chefe do Grupo de Cirurgia da Mão da Universidade Federal de São Paulo

    SÍNDROME DO TÚNEL DO CARPO

    INTRODUÇÃO 

    O túnel do carpo é a região anatômica do pu-

    nho. Seu teto é formado pelo ligamento trans-

    verso do carpo (LTC), uma banda fibrosa de 3 a

    4 cm de largura com inserção do lado ulnal, no

    osso pisiforme e hâmulo do hamato e do lado

    radial, no tubérculo do osso escafóide e no osso

    trapézio. No seu interior encontramos o nervo

    mediano, os flexores superficiais e profundos dos

    dedos e o flexor longo do polegar. O ramo tenar

    do nervo mediano é, frequentemente, extra liga-

    mentar e radial aos músculos tenares. (1) 

     A síndrome do túnel do carpo (STC) caracte-

    riza-se pela compressão do nervo mediano nesta

    região. A compressão ocorre por diminuição do

    espaço no interior do canal ou por aumento do

    volume das estruturas dentro dele.

    Clinicamente a síndrome do túnel do carpo

    (STC) é definida como um conjunto de sinto-

    mas causados pela compressão do nervo media-

    no dentro do túnel do carpo. (2)

    O acometimento bilateral ocorre na maioria

    dos pacientes. Existe uma ampla predominân-cia no sexo feminino. A maior incidência ocorre

    entre os 40 e 60 anos, é rara na infância e ado-

    lescência, estando associada nestes casos a sín-

    dromes congênitas como a mucopolissacaridose

    ou presença de músculos anômalos.

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     A associação da STC com fibromialgia, hi-

    potireoidismo, artrite reumatóide e gravidez são

    bem conhecidos e devem ser pesquisados duran-

    te a avaliação clínica. (3)

     A STC pode ser dividida em aguda e crôni-

    ca. A STC aguda é aquela em que rapidamenteocorre um aumento da pressão dentro do túnel

    do carpo. A causa mais comum é a fratura distal

    do rádio. Outras causas são as fraturas-luxações

    do carpo, hemorragias por uso de anticoagulan-

    tes, hemofilia, queimaduras, infecções e tumo-

    res. Na STC crônica os sintomas são de longa

    duração, muitas vezes o paciente tem dificulda-

    de de precisar.

    Quanto a etiologia, podemos dividir em idio-

    pática ou secundária. A STC secundaria pode

    ser pós-traumática, sendo mais comum após fra-tura da extremidade distal do rádio viciosamente

    consolidada e luxação do semilunar.

    O diagnóstico da Síndrome do túnel do car-

    po nem sempre é fácil devido ao fato do quadro

    clínico poder variar muito quanto a duração e

    intensidade dos sintomas. Em 2009, a “ Ameri- 

    can Academy of Orthopaedic Surgeons ” publi-

    cou as recomendações para realização do diag-

    nóstico da STC. (4) O médico deve obter uma

    detalhada história clinica, deve realizar o exame

    físico que deve incluir as características pessoais,

    testes provocativos, exame da sensibilidade, exa-

    me muscular e/ou testes discriminatórios para

    diagnósticos diferenciais. A eletroneuromio-

    grafia deve ser realizada para realizar diagnós-

    tico diferencial, na presença de atrofia tenar e/

    ou dormência persistente, nos casos de suspeita

    clínica e que o tratamento cirúrgico está sendo

    considerado. Outros exames como o ultra som,a ressonância magnética, tomografia axial com-

    putadorizada ou potencial evocado devem ser

    solicitados nos casos de dúvidas diagnósticas.

    O diagnóstico ultrasonográfico tem nos últi-

    mos anos se desenvolvido por ser não-invasivo,

    de baixo custo, mas é operador-dependente.

    Pode-se observar o abaulamento do LTC e men-

    surar o nervo mediano. (5)

    Na história clínica, a queixa mais comum

    do paciente é a de “formigamentos” e dor na

    mão, comprometendo principalmente o pole-

    gar, indicador e dedo médio, mas não é rara a

    referência de parestesias em todos dedos da mão.

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    Freqüentemente estes sintomas pioram durante

    o sono e provocam o despertar do paciente du-

    rante a noite e que melhoram com o movimen-

    to dos dedos da mão. Esta parestesia noturna é

    causada por uma postura habitual de dormir à

    noite  mantendo o punho flexionado. Outras

    vezes ocorrem durante atividades realizadas com

    flexão ou extensão extrema do punho. Algumas

    vezes os sintomas dolorosos são mais proximais,

    às vezes atingindo até o ombro.

    Podem haver queixas de quedas de objetos

    da mão ou dificuldade de manipular objetos

    pequenos, devido à diminuição da sensibili-

    dade. Mais tardiamente podemos observar le-

    sões tróficas nas pontas dos dedos e alterações

    dos fâneros como queda dos pelos dorsais dos

    dedos e fragilidade ungueal.

    Devemos ter cuidado, pois nem sempre es-

    ses sintomas são específicos de STC.

    Com a progressão da doença pode ocorrer

    fraqueza e atrofia dos músculos da eminência

    tenar. A presença da atrofia tenar é uma in-

    dicação absoluta para cirurgia e a simples des-

    compressão promove, a partir do sexto mes de

    cirurgia, início da recuperação da força mus-

    cular. (6)

    Os testes provocativos dos sintomas são mui-

    to úteis.

    O sinal de Tinel deve ser pesquisado pelo exa-

    minador, realizando um toque com a ponta deseu dedo indicador na prega de flexão do punho.

    Se o paciente referir a sensação de choque ou

    formigamento irradiado para a palma da mão e

    dedos radiais, o sinal deve ser considerado posi-

    tivo. Caso o paciente nada referir o sinal deve ser

    considerado negativo.

    O teste de Phalen deve ser realizado solicitan-

    do-se ao paciente apoie na mesa de exame, os

    cotovelos em 90 graus de flexão e que faça flexão

    do punho. Considera-se o sinal positivo quando

    o paciente relatas aparecimento ou exacerbaçãode parestesias na área inervada pelo nervo me-

    diano após 30 até 60 segundos e apresenta me-

    lhora com o retorno do punho à posição neutra.

    É considerado negativo quando o paciente nada

    sente.

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     A avaliação da sensibilidade da mão pode

    ser feita por diferentes métodos. Utilizamos

    um conjunto de sete tubos, cada um contendo

    um par de monofilamentos. A cor de cada fio

    indica com precisão a força axial, em gramas,

    necessária para envergar o filamento.

    Verde- 0,05 g; azul - 0,20 g; violeta - 2,00 g;

    vermelho escuro - 4,00 g; laranja - 10,00 g; ver-

    melho magenta - 300,00 g.

    Para realizarmos o exame, a mão do paci-

    ente é posicionada com a palma virada para

    cima. O exame é demonstrado em uma área de

    pele com sensibilidade normal e solicita-se ao

    paciente mexer o dedo quando sentir o toque.

    O exame é realizado sem observação visual do

    paciente, de modo que o monofilamento de

    náilon fique perpendicular à superfície da pele

    da polpa digital. A força exercida é suficiente

    para curvar o monofilamento, mantendo-o

    aproximadamente durante 1,5 segundos. O

    teste é iniciado com o monofilamento maisleve, 0,05 g (verde). Caso não haja resposta do

    paciente, prossegue-se o exame com o filamen-

    to imediatamente mais pesado (0,20 g - azul),

    e assim progressivamente. Os filamentos de

    0,05g e 0,20 g (verde e azul) são aplicados até

    três vezes em cada local, sendo suficiente ape-

    nas uma única resposta positiva para confirmar

    a sensibilidade. Os outros são testados apenas

    uma vez.

     A força da mão é avaliada por meio de

    mensuração das forças de preensão palmar,polpa-polpa, lateral e tridigital. Utiliza-se um

    dinanômetro de preensão palmar hidráulico,

    Fig.1 - Teste de Phalen.

    Fig. 2 - Material utilizado para o teste de monofilamentos.

     

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    ajustado na segunda posição e um dinanômet-

    ro de preensão digital hidráulico. Para realizar a

    mensuração, os indivíduos ficam sentados com

    o braço aduzido paralelo ao tronco, cotovelo

    fletido em 90 graus, antebraço e punho em

    posição neutra. São efetuadas três mensurações,

    com o máximo de força possível. A média das

    mensurações são anotadas em kgf. A mão con-

    tralateral não deve ser usada como parâmetro

    por haver uma alta incidência de bilateralidade.

    Os protocolos de auto-avaliação podem ser

    utilizados para avaliar a gravidade dos sintomase a função da mão nos pacientes com STC. O

    protocolo criado por Levine, abaixo descrito,

    tem sido usado com freqüência em vários tra-

    balhos internacionais e foi validado para o por-

    tuguês. O protocolo é de fácil preenchimento

    e recomendamos que o paciente seja explicado

    quanto a ultima parte do protocolo quanto a

    graduação de 0 a 5.

    PROTOCOLO DE AUTO-AVALIAÇÃO -

    PROTOCOLO DE BOSTON 

    Nome:.............................................................

    RGHSP: .........................................................

    Mão: ( ) Direita ( ) Esquerda

    Data da Avaliação: ....../....../......

    Data da Cirurgia: ....../....../......

     As questões a seguir referem - se aos seus sin-

    tomas num período típico de 24 horas, duran-

    te as últimas duas semanas.

    (assinale uma resposta para cada pergunta)1) Qual a intensidade da dor na mão ou

    punho que você tem à noite?

    1- eu não tenho dor na mão ou no punho à noi-

    te.

    2- pouca dor

    3- dor moderada 

    4- dor intensa 

    5- dor muito intensa 

    2) Quantas vezes a dor na mão ou punho

    acordou você durante uma noite típica nas

    duas últimas semanas?

    1- nenhuma 

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    2- uma 

    3- duas a três vezes

    4- quatro a cinco vezes

    5- mais que cinco vezes

    3) Você usualmente tem dor na mão oupunho durante o dia?

    1- eu nunca tenho dor durante o dia 

    2- eu tenho pouca dor durante o dia 

    3- eu tenho dor moderada durante o dia 

    4- eu tenho dor intensa durante o dia 

    5- eu tenho dor muito intensa durante o dia 

    4) Com que freqüência você tem dor na

    mão ou punho durante o dia?

    1- nunca 

    2- uma ou duas vezes por dia 

    3- três a cinco vezes por dia 

    4- mais que cinco vezes por dia 

    5- a dor é constante

    5) Quanto tempo, em média, duram os

    episódios de dor durante o dia?

    1- eu nunca tenho dor durante o dia 

    2- menos que 10 minutos

    3- de 10 a 60 minutos

    4- mais que 60 minutos

    5- a dor é constante durante o dia 

    6) Você tem adormecimento (perda da sen-

    sibilidade) em sua mão?

    1- não

    2- eu tenho pouco adormecimento

    3- eu tenho adormecimento moderado

    4- eu tenho adormecimento intenso

    5- eu tenho adormecimento muito intenso

    7) Você tem fraqueza na sua mão ou punho?

    1- sem fraqueza 

    2- pouca fraqueza 

    3- fraqueza moderada 

    4- fraqueza intensa 

    5- fraqueza muito intensa 

    8) Você tem sensação de formigamento em

    sua mão?

    1- sem formigamento

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    2- pouco formigamento

    3- formigamento moderado

    4- formigamento intenso

    5- formigamento muito intenso

    9) Qual a intensidade do adormecimento

    (perda da sensibilidade) ou do formiga-

    mento à noite?

    1-eu não tenho adormecimento ou formiga-

    mento à noite

    2- pouca 

    3- moderada 

    4- intensa 

    5- muito intensa 

    10) Com que freqüência o adormecimento

    ou o formigamento acordaram você du-

    rante uma noite típica nas duas últimas

    semanas?

    1- nenhuma 

    2- uma 

    3- duas a três vezes

    4- quatro a cinco vezes

    5- muito intensa 

    11) Você tem dificuldade em pegar e usar

    pequenos objetos, tais como chaves ou ca-

    netas?

    1- sem dificuldade

    2- pouca dificuldade

    3- dificuldade moderada 

    4- dificuldade intensa 

    5- dificuldade muito intensa 

    Num dia típico, durante as duas últimas se-

    manas, os sintomas da sua mão ou punho têm

    causado a você alguma dificuldade em fazer as

    atividades listadas abaixo?

    Por favor circule o número que melhor des-

    creva sua habilidade para fazer atividade.

     ATIVIDADE GRAU DE DIFICULDADE

    Escrever 1 2 3 4 5

     Abotoar as roupas 1 2 3 4 5

    Segurar um livro enquanto lê 1 2 3 4 5

    Segurar o telefone 1 2 3 4 5

    Trabalhos domésticos 1 2 3 4 5

     Abrir tampa de um vidro 1 2 3 4 5

    Carregar sacos de supermercados 1 2 3 4 5

    Tomar banho e vestir - se 1 2 3 4 5

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    Nenhuma dificuldade __________________1

    Pouca dificuldade _____________________2

    Dificuldade moderada_________________3

    Dificuldade intensa____________________4

    Não pode realizar atividade nehuma, por causa

    dos sintomas das mãos e punhos__________5

    TRATAMENTO 

    O tratamento deve ser individualizado para

    cada tipo de paciente. É diferente o tratamento

    de uma paciente com STC na gravidez e uma

    paciente que já apresenta atrofia tenar. O tra-

    tamento conservador deve ser sempre utilizado

    salvo na presença de atrofia ou negativa do pa-

    ciente por esta opção.

    Vários tipos de tratamento clínico são pro-postos, alguns com sua utilidade comprovada

    outros ainda discutidos.

     A correção dos distúrbios hormonais que

    existam e correção da postura inadequada do

    punho durante atividades diárias diárias são

    fundamentais

    O uso de órtese para o punho em posição

    neutra impedem a flexão do punho durante a

    noite. Promovem um alívio dos sintomas, ainda

    que de forma paliativa.

    O uso de corticosteróide intramuscular pro-

    voca melhora temporária na grande maioria dos

    pacientes. O uso da vitamina B6 não influi nahistória natural da STC.

     A injeção de corticosteróides no túnel do

    carpo mostra-se mais eficiente na melhora dso

    sintomas que o corticoide oral.

    De acordo com a Medicina Tradicional

    Chinesa (MTC) o principal fator de adoeci-

    mento envolvido na etiologia e fisiopatologia é

    o emocional.

     A remissão dos sintomas ocorre em 30 a 50%

    dos pacientes submetidos a tratamento conser-

    vador. (7) Este baixo índice de melhora clínicacom o tratamento conservador leva a grande

    maioria dos autores a optar pelo tratamento ci-

    rúrgico.

    TRATAMENTO CIRÚRGICO 

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     A técnica cirúrgica a ser utilizada depende

    da experiência do cirurgião.

     A cirurgia de descompressão do nervo me-

    diano deve ser realizada em centro cirúrgico e

    pode ocorrer em caráter ambulatorial. A téc-

    nica anestésica pode variar de acordo com apreferência do anestesista ou do cirurgião, po-

    dendo ser geral, bloqueio do plexo braquial,

    bloqueio regional intravenoso ou local com

    sedação. O uso de garrote é fundamental para

    perfeita identificação das estruturas, seguida

    de rigorosa assepssia e antissepsia. O membro

    superior é posto em abdução sobre a mesa de

    cirurgia, mantem-se o antebraço em supinação

    e o punho em posição neutra, evitando desvios

    radial ou ulnal da mão.

     A incisão “ideal” para realizar a descompres-

    são do canal do carpo é, sem dúvida, um dos

    pontos mais discutidos na literatura.

     Alguns pacientes operados com incisão lon-

    gitudinal permanecem com edema e dor na

    cicatriz ou região intertenar. Por este motivo,

    quando utilizamos a via aberta, damos prefe-

    rência à via de acesso ulnal(8).

     A via de acesso consiste de uma incisão lon-

    gitudinal de aproximadamente 4 cm e acom-

    panha a borda externa da eminência hipotênar.

    Caso seja necessário, a incisão é prolongada ul-

    nalmente, seguindo a prega do punho, numa

    extensão de 1 cm, com configuração em “L”.

    Incisa-se a pele e o tecido celular subcutâneo

    e visualiza-se o ligamento transverso do carpo,

    que é secionado na sua inserção ulnal (hâmulo

    do hamato e piramidal), em toda sua extensão.

     A fáscia ventral antebraquial distal é secionada

    longitudinalmente, com tesoura romba sob vi-

    são direta, depois de isolada dos tendões flexo-res e do tecido celular subcutâneo.

    Desde 1995, temos utilizado com muito

    sucesso, o tratamento cirúrgico com uso de reti-

     

    Fig. 3

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    naculótomo de Paine por via de acesso palmar(9).

    Realizamos uma incisão longitudinal feita

    no eixo da borda radial do 4º dedo, com 1,5 a

    2,0 cm de comprimento, iniciando aproxima-

    damente a 1,0 cm do sulco palmar médio em

    direção proximal, incluindo pele e tecido celular

    subcutâneo. São colocadas duas garras e a apo-

    neurose palmar é visibilizada. Abre-se a aponeu-

    rose no sentido de suas fibras e a artéria ulnar e

    o arco palmar superficial são identificados. Há

    sempre um coxim gorduroso que cobre os ra-

    mos do nervo mediano que deve ser dissecado deforma cuidadosa, para identificar o ramo digital

    comum ao 3º e 4º dedos. O lado ulnal da mar-

    gem distal do retináculo dos flexores é a última

    estrutura a ser identificada. Os contornos destas

    três estruturas formam um triângulo, constitu-

    indo a “Zona de Segurança de AGEE”(1992).

     Através desta zona de segurança, é introduzido

    cuidadosamente, o mais ulnal possível, uma

    tesoura de ponta romba, curva e fechada para

    identificação do canal do carpo e liberação das

    aderências ao retináculo. A ponta desta tesoura

    deve estar sempre voltada para cima de modo a

    ser sentido o término do retináculo. A ponta da

    tesoura é palpada percutaneamente com a outra

    mão, proximal ao sulco de flexão do punho.

     A tesoura é retirada do canal e realiza-se uma

    pequena incisão na margem distal do retináculo

    dos flexores a 2 mm aproximadamente da in-

    serção no hamato. Em seguida, o instrumento

    de Paine® é posicionado no local incisado, com

    a base paralela ao eixo do nervo mediano e com

    força contínua, controlada, o instrumento é

    empurrado em sentido proximal até acabar a re-

    sistência provocada pela consistência do retiná-

    culo. Neste momento, o fim da base do instru-mento é palpado percutaneamente a 1,0 cm do

    sulco de flexão do punho.

    O instrumento é retirado e um afastador

    pequeno é colocado na parte proximal da incisão.

    Fig. 4

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    Dessa maneira observam-se a abertura do canal, o

    nervo mediano e o retináculo seccionado.

    Se restar ainda alguma estrutura compri-

    mindo o nervo, uma segunda passagem do

    instrumento é realizada. No caso de dúvida,

    devido a qualquer dificuldade técnica ou ne-

    cessidade de uma exploração do canal, a incisão

    deve ser prolongada proximalmente.

    Os resultados pós-operatórios quanto à re-

    missão dos sintomas, retorno ao trabalho e as-pecto estético se mostraram excelentes na gran-

    de maioria dos pacientes.

    Pode-se destacar nos últimos anos a crescen-

    te utilização dos métodos endoscópicos para a

    liberação do canal do carpo, com o intuito de

    diminuir a morbidade e agilizar o retorno dos

    pacientes ao trabalho.

     A indicação para utilização de descompres-

    são endoscópica do túnel do carpo é para pa-

    cientes com STC idiopática. Pacientes com

    STC secundária, por trauma ou doenças reu-

    máticas tem contra-indicação relativa. Nos ca-

    sos de recidiva dos sintomas após uma primeira

    descompressão, uma descompressão endoscó-pica pode ser realizada.

     As desvantagens dessa técnica são a demo-

    rada curva de aprendizagem e o alto custo do

    treinamento do cirurgião e do instrumental.

    Não importa qual o tipo equipamento en-

    doscópico que voce utilizará, mas é fundamen-

    tal conhecer as peças que compõe o Kit, sua

    montagem e seu funcionamento. Quanto a

    técnica endoscópica temos experiência com a

    de um portal na região do punho. O conjun-

    to que utilizamos é composto de uma cânulafendida (A) com medidor de comprimento do

    canal (B), 2 palpadores do hamato, sendo um

    Fig. 5

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    grosso (C1) e um fino (C2), um descolador de

    sinóvia (cureta) (D), peça de mão (E), ótica (F)

    e a lâmina descartável com lâmina de corte (G).

    Utilizamos este sistema porque é fabricado

    no Brasil e com isso temos uma grande diminu-

    ição nos custos do procedimento. A montagem

    do equipamento é bastante simples. e antes de

    iniciar o procedimento cirúrgico, verifique o

    correto funcionamento da lâmina de corte.

     A incisão deve ser realizada em uma das pre-

    gas de flexão do punho que separa a pele da

    palma da mão da pele do antebraço. Deve ser

    transversa, de 2 a 3 cm entre os tendões do fle-xor ulnar do carpo e palmar longo. Em seguida

    uma incisão transversa na fáscia do antebraço

    na mesma direção da incisão de pele. Tome

    muito cuidado nesse momento, pois geralmen-

    te o nervo mediano está situado imediatamente

    abaixo da fáscia antebraquial. Uma vez identifi-

    cado a parte proximal do túnel do carpo, intro-

    duz-se o elevador de sinóvia em direção à base

    do dedo anular. Deve-se conseguir sentir com

    a ponta do elevador de sinóvia, a margem dis-

    tal do Ligamento Transverso do Carpo (LTC),

    onde termina o túnel do carpo. Utilize a polpa

    digital do indicador ou do polegar para palpar

    a ponta do elevador de sinóvia na pele da regiãopalmar, quando termina o túnel do carpo.

    Durante a curetagem da parte interna do

    LTC para retirada do tecido sinovial, deve-se

    sentir a aspereza de suas fibras transversas, sen-

    do possíveml também ouvir o ruído provocado.

    Retire o máximo possível de tecido sinovial si-

    tuado no LTC. Esse passo será importante para

    que, quando introduzirmos a ótica, possamos

    ter uma visão muito clara da direção das fibras

    transversas. Se quando fizer a curetagem não

    sentir aspereza do ligamento, atenção, prova-

    velmente voce, inadvertidamente, introduziu o

    descolador no canal de Guyon.

    Fig. 6

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    13/1713

    Em seguida, introduz-se o palpador fino

    com o objetivo de palpar o hâmulo do hamato,

    que é o limite mais ulnar do túnel do carpo.

    Palpe sua ponta percutaneamente com a polpa

    digital. Com intuito de se dilatar o caminho

    para a futura entrada do conjunto lâmina-ótica

    retira-se o palpador fino e passa-se o palpador

    grosso.

    Evite introduzir e retirar o palpador múlti-

    plas vezes, isso pode traumatizar o nervo me-

    diano. Após retirar o palpador de hamato, in-

    troduzimos no túnel do carpo a cânula com o

    medidor milimetrado, com a sua parte fendida

    situada para cima, de modo que fique em con-

    tato com a parte interna do LTC. Tenha paci-

    ência e cuidado para não traumatizar o nervo

    mediano. Em casos extremos, onde o túnel é

    muito apertado, utilize a lâmina sem a cânula.

    Palpe com a polpa digital, percutaneamente, a

    ponta da cânula e verifique no medidor, a pro-

    fundidade do túnel do carpo. Na imensa maio-

    ria dos pacientes a profundidade varia entre 3

    e 4 cm.

    Sem mexer na posição da cânula, retira-se o

    medidor e introduz-se a lâmina até o final da

    cânula. Mantenha a lâmina voltada para cima

    em contato com o LTC através da fenda exis-

    tente na cânula. Com o conjunto cânula-lâmi-

    na-ótica dentro do túnel do carpo, identifiquea direção das fibras transversas e a transição en-

    tre a gordura palmar e o bordo distal do LTC.

    Para ajudar a identificação da transição,

    pressione com a polpa de seu dedo a região

    Fig. 7

    Fig. 8

     

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    14/1714

    palmar e empurre a gordura palmar contra a

    ponta da lâmina. Se o nervo mediano aparece

    interposto entre a lâmina e o LTC, remova o

    conjunto constituído pela lâmina-ótica, reco-

    loque o medidor dentro da cânula, remova a

    cânula com o medidor em seu interior e repita

    o passo de curetagem e os passos seguintes, pre-

    viamente descritos.

    Caso ocorra embaçamento da ótica e per-

    da da perfeita visão endoscópica do túnel do

    carpo, mantenha a cânula na mesma posição,

    remova a lâmina e enxugue a ótica com umagase seca e reintroduza a lâmina. Quando voce

    tiver certeza de estar vizualizando perfeitamen-

    te o bordo distal e as fibras transversas do LTC,

    realize o corte do LTC em duas etapas. Segure

    a cânula com a sua mão não dominante, e com

    a visão do bordo distal do LTC, pressione o ga-

    tilho que eleva a lâmina de corte com sua mão

    dominante. Com firmeza, puxe o aparelho em

    sentido proximal até a metade do ligamento,

    1,5 a 2 cm aproximadamente, lembre-se que

    a lâmina é milimetrada. Solte o gatilho para

    baixar a lâmina de corte e retorne o aparelho

    até a posição inicial para ver as fibras do LTC

    seccionadas.

    Repita o procedimento se houverem fibras

    remanescentes até observar a gordura superfi-

    cial. Este procedimento em dois tempos, evita

    que a gordura superficial prolapse para o inte-

    rior do túnel e voce perca a visão deste espaço.

    Nunca insira a lâmina e corte além do li-

    mite distal do LTC, isso evitará lesão vascu-

    lar do arco superficial ou artéria ulnar e lesão

    nervosa do nervo digital comum ou do ramo

    comunicante do nervo mediano para ulnar.

    Uma vez seccionado totalmente as fibrasdistais, acione novamente a lâmina de corte e

    seccione as fibras proximais até descomprimir

    Fig. 9

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    15/1715

    totalmente o túnel. Voce terá certeza de ter

    aberto o túnel completamente introduzindo

    dentro do túnel o descolador de sinóvia ou

    uma pinça Kelly curva com a ponta direcio-

    nada para a palma e puxando, de distal para

    proximal (palma para o punho), sentindo a

    ponta dos intrumentos no subcutâneo.

    Não esqueça de seccionar a fáscia antebra-

    quial proximal com uma tesoura romba.

    Nunca acione a lâmina corte sem ter certeza

    do que está cortando. Em qualquer momento

    da cirurgia, se houver qualquer mal funcio-

    namento do equipamento ou se as estruturas

    não puderem ser identificadas adequadamen-

    te, remova o equipamento e prolongue sua

    incisão para a região palmar. Transforme o

    procedimento endoscópico em uma liberação

    aberta.

    Lembre-se que muitos pacientes com STC

    também tem tenossinovite estenosante dos

    dedos que deverão ser liberados concomitan-

    temente.

    Independente da técnica utilizada, asetapas descritas a seguir devem ser realizadas

    em todos os pacientes. Os submetidos à anes-

    tesia tipo bloqueio venoso de Bier, são anes-

    tesiados na incisão, com Marcaína ® 0,5%, sem

    vasoconstritor. O fechamento da incisão é re-

    alizado com pontos simples, separados na pele

    com monofilamento de náilon 5-0. A mão é

    enfaixada em posição neutra do punho, de-

    ixando as articulações metacarpofalângicas

    livres. Não é colocada nenhuma imobilização

    gessada ou órtese. A paciente é orientada e

    estimulada a fazer movimentos de flexo-ex-

    tensão nas articulações metacarpofalângicas,

    interfalângicas proximais e interfalângicas dis-tais.Durante as primeiras vinte e quatro horas

    a mão submetida à intervenção cirúrgica deve

    ser mantida em posição elevada acima do nív-

    el do tronco. Os pontos serão retirados após o

    oitavo dia de cirurgia juntamente com o en-

    faixamento.

     As complicações per e pós-operatórias po-

    dem acontecer independente da técnica cirúr-

    gica utilizada. As complicações mais comuns

    são a diminuição de força de preensão, edema

    e dor residual, chamada de dor no pilar . Como uso da técnica tradicional, podem ocorrer

    descompressão inadequada, recorrência da

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    compressão por processo de fibrose, lesão ia-

    trogênica do nervo mediano, do ramo palmar,

    do ramo muscular tenar, hematoma pós-ope-

    ratório, cicatriz hipertrófica, deslocamento

    anterior do nervo mediano com aderência e

    distrofia simpático reflexa. As complicações

    com o uso da liberação endoscópica são lesões

    do nervo ulnal, do ramo muscular tenar, do

    nervo mediano e do arco palmar superficial,

    do nervo digital e do tendão flexor, liberação

    incompleta, hematoma, distrofia simpático

    reflexa, abertura acidental do canal de Guyon,infecção e neuropraxia também foram relata-

    das.

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