Post on 11-Mar-2016
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PortfolioZONAS HÚMIDAS
Retratos NaturaisVAMOS DESENHAR
EntrevistaENTRE A ARQUEOLOGIA E A BOTÂNICA
Ano XIII • N.º 45 • 22 de dezembro a 21 de março de 2014
PortfolioWorld Wetlands Day
InterviewBetween Archaeology and Botany
3 euros IVA incluído
ACIDENTES RODOVIÁRIOS + FOTONOTÍCIAS + PARQUES DE GAIA QUINTEIRO + ESTAÇÃO LITORAL DA AGUDA + O VOO DAS AVES
Natural PortraitsLet's Draw
Parques e Vida Selvagem inverno 2014 • 57
IMPAR 57
FamalicãoParque da Devesa
Tufos de plantas aquáticas, emergem
do espelho de água e sinalizam-no.
São as âncoras visuais que
cativam o olhar de quem passeia
no mais recente e maior parque público de
Famalicão, o Parque da Devesa.
«Tem havido muita chuva, a terra está
encharcada», refere Manuela Araújo, a
arquiteta coordenadora de uma equipa
multidisciplinar que tem a seu cargo a gestão
deste espaço verde.
De facto, a superfície líquida do lago rasteja
sobre o prado quando nos abeiramos da
margem. Um teste às botas: aguentar-se-
ão?
O lago «é uma atração enorme para os
visitantes, sobretudo no verão».
Do céu atulhado de nuvens vêm agora a
voar meia dúzia de patos-bravos que rodam
e aterram no lago: «Tudo o que aqui está
veio cá parar», aves, coelhos e, atenção, no
rio Pelhe que atravessa o parque «há lontra»,
claro, difícil de ver.
O rio Pelhe, depois de nascer no próprio
concelho famalicense, em Portela, atravessa
o parque, e depois há de desaguar no Ave.
«A parte da biodiversidade vai ter de ser
cuidada», adianta Manuela Araújo. «Vamos
ter de criar nichos e pequenos abrigos»,
isolados dos visitantes para melhorar essa
mais-valia.
A chuva miúda não afasta toda a gente da
Devesa, há quem ali corra.
Em país habituado a muito sol, parece
estranho ir a um parque com chuva molha-
tolos, como se dizia quando era pequenito,
mas no Norte da Europa isso é habitual.
De qualquer das maneiras, o certo é que
«as pessoas apropriaram-se do parque,
adotaram-no imediatamente, e nós
queremos que a população faça parte dele,
é necessário envolver as coletividades e
desenvolver voluntariado», diz.
Quem projetou este espaço foi o arquiteto
Noé Diniz, sob a égide do Município
famalicense.
O trilho junto do rio aproxima o visitante de
uma estrutura transparente, que poderia
ser confundida ao longe com uma pequena
estufa: «Aqui no rio havia um moinho de água
que entretanto já estava muito degradado».
Noutro tempo, o engenho servia a população
que ia ali moer milho e centeio. Com base
nisso, «o arquiteto Noé Diniz fez um moinho
pedagógico, transparente».
Reunidas diversas quintas que já não
estavam a ser exploradas, foi necessário
arrancar vegetação infestante: «Havia muitas
Com pouco mais
de um ano de idade,
o Parque da Devesa
conta 27 hectares
e fi ca em plena
cidade de Vila Nova
de Famalicão
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REPORTAGEM 57
Moinho transparente
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58 • Parques e Vida Selvagem inverno 2014
acácias e outras espécies sem interesse»
que foram retiradas.
Aproveitada a fl ora útil, incluindo arvoredo
ornamental e espécies autóctones, como o
carvalho-alvarinho, uns poucos sobreiros,
amieiros, freixos e salgueiros, plantaram
outros tantos. Agora, estão a crescer.
Ao longo do passeio que ali der vai
encontrar várias obras de Gonçalo
Mabunda, um escultor moçambicano.
Granítico, um velho arco faz uma tangente
ao caminho calcetado: era «a porta de
entrada da quinta de Vilar», onde hoje
existem vários edifícios com funções
variadas, nomeadamente um restaurante.
Na verdade, são a «reconstrução de casas
rurais que já existiam».
Acolhem no seu interior desde exposições
a, no setor da educação ambiental, ateliers
pensados para todo o ano letivo.
A maior procura chega das escolas, do
ensino pré-escolar, sem esquecer também
o ensino especial e a participação de
grupos de idosos.
Passo a passo, um estorninho traça uma
trajetória no céu plúmbeo enquanto se ouve
ao longe um tordo a cantar.
Já antes um rabirruivo tinha pousado a
poucos metros, perto de um tentilhão.
No parque há também um anfi teatro ao ar
livre, que no verão tem muito movimento
na área cultural: «Chegam-se a juntar ali
cerca de três mil pessoas, uma parte delas
fi ca de pé, claro», diz Manuela Araújo
que confi dencia ter uma «grande paixão
pela área ambiental», porém, «mais dos
meus tempos livres do que por vínculo
profi ssional».
Num vidoeiro próximo há uma mão-cheia
de chapins. No relvado, apesar da chuva
miúda, um melro está de olho nas minhocas
mais descuidadas.
Um cenário destes já deveria ser antigo
nas redondezas, até mesmo na época
pré-romana: «Temos aqui serviços de
arqueologia: entre outros motivos de
interesse, existe uma reconstrução do
balneário de origem castreja».
Noutro ponto do passeio passa-se por
pequenos talhões de cultivo: «Temos as
hortas biológicas também». Deseja-se «dar
a conhecer métodos amigos do ambiente.
Estas hortas são cultivadas por famílias,
embora também haja as hortas solidárias».
Nas últimas, o produto é oferecido a
instituições de solidariedade social.
A curto prazo, o Parque da Devesa vai
lançar a Semana das Camélias. Orgulha-se
também de abrigar no seu recinto algumas
camélias centenárias.
No programa preveem-se iniciativas
variadas, desde um concurso de fotografi a
O anfi teatro serve a vertente cultural e chega a juntar cerca de três mil pessoas
58 REPORTAGEM
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Parques e Vida Selvagem inverno 2014 • 59
Rua Fernando Mesquita-Antas, n.º 2685
4760-034 Vila Nova de Famalicão
Horário
Verão (22 de Março - 31 de Outubro) 6h00 - 24h00Inverno (1 de Novembro - 21 de Março) 6h00 - 22h00
Telefone
(351) 252 374 184
Correio eletrónico
parquedadevesa@vilanovadefamalicao.org
www.parquedadevesa.comwww.facebook.com/parquedadevesa
Parque da Devesa
As casas rurais existentes foram adaptadas para espaços de exposição e trabalho
cujo prazo termina em 28 de fevereiro,
passando por uma competição entre
montras comerciais da cidade e arranjos
de camélias, até uma mostra de produtos
manufaturados à base de camélias.
Aberto ao público em 28 de setembro de
2012, verifi cou-se uma grande adesão».
Não admira, «este espaço verde responde
a expectativas antigas da população,
já com cerca de 50 anos». Além disso,
desempenha uma «função importante no
lazer das pessoas, quer para atividades
de passeio a pé ou de bicicleta, quer
unicamente para desfrutar da natureza» e
assim reduzir o stress tão premente nos dias
que correm.
Este espaço verde «veio valorizar a cidade,
apesar de ter outros jardins e parques
públicos, mas não tão grandes».
Por isso, quando for a Famalicão, já sabe: o
Parque da Devesa espera também por si.
Texto Jorge GomesFotos João Luís Teixeira
Antiga porta da Quinta de Vilar
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