Parque da Devesa na revista Parques e Vida Selvagem

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Portfolio ZONAS HÚMIDAS Retratos Naturais VAMOS DESENHAR Entrevista ENTRE A ARQUEOLOGIA E A BOTÂNICA Ano XIII • N.º 45 • 22 de dezembro a 21 de março de 2014 Portfolio World Wetlands Day Interview Between Archaeology and Botany 3 euros IVA incluído ACIDENTES RODOVIÁRIOS + FOTONOTÍCIAS + PARQUES DE GAIA QUINTEIRO + ESTAÇÃO LITORAL DA AGUDA + O VOO DAS AVES Natural Portraits Let's Draw

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PortfolioZONAS HÚMIDAS

Retratos NaturaisVAMOS DESENHAR

EntrevistaENTRE A ARQUEOLOGIA E A BOTÂNICA

Ano XIII • N.º 45 • 22 de dezembro a 21 de março de 2014

PortfolioWorld Wetlands Day

InterviewBetween Archaeology and Botany

3 euros IVA incluído

ACIDENTES RODOVIÁRIOS + FOTONOTÍCIAS + PARQUES DE GAIA QUINTEIRO + ESTAÇÃO LITORAL DA AGUDA + O VOO DAS AVES

Natural PortraitsLet's Draw

Parques e Vida Selvagem inverno 2014 • 57

IMPAR 57

FamalicãoParque da Devesa

Tufos de plantas aquáticas, emergem

do espelho de água e sinalizam-no.

São as âncoras visuais que

cativam o olhar de quem passeia

no mais recente e maior parque público de

Famalicão, o Parque da Devesa.

«Tem havido muita chuva, a terra está

encharcada», refere Manuela Araújo, a

arquiteta coordenadora de uma equipa

multidisciplinar que tem a seu cargo a gestão

deste espaço verde.

De facto, a superfície líquida do lago rasteja

sobre o prado quando nos abeiramos da

margem. Um teste às botas: aguentar-se-

ão?

O lago «é uma atração enorme para os

visitantes, sobretudo no verão».

Do céu atulhado de nuvens vêm agora a

voar meia dúzia de patos-bravos que rodam

e aterram no lago: «Tudo o que aqui está

veio cá parar», aves, coelhos e, atenção, no

rio Pelhe que atravessa o parque «há lontra»,

claro, difícil de ver.

O rio Pelhe, depois de nascer no próprio

concelho famalicense, em Portela, atravessa

o parque, e depois há de desaguar no Ave.

«A parte da biodiversidade vai ter de ser

cuidada», adianta Manuela Araújo. «Vamos

ter de criar nichos e pequenos abrigos»,

isolados dos visitantes para melhorar essa

mais-valia.

A chuva miúda não afasta toda a gente da

Devesa, há quem ali corra.

Em país habituado a muito sol, parece

estranho ir a um parque com chuva molha-

tolos, como se dizia quando era pequenito,

mas no Norte da Europa isso é habitual.

De qualquer das maneiras, o certo é que

«as pessoas apropriaram-se do parque,

adotaram-no imediatamente, e nós

queremos que a população faça parte dele,

é necessário envolver as coletividades e

desenvolver voluntariado», diz.

Quem projetou este espaço foi o arquiteto

Noé Diniz, sob a égide do Município

famalicense.

O trilho junto do rio aproxima o visitante de

uma estrutura transparente, que poderia

ser confundida ao longe com uma pequena

estufa: «Aqui no rio havia um moinho de água

que entretanto já estava muito degradado».

Noutro tempo, o engenho servia a população

que ia ali moer milho e centeio. Com base

nisso, «o arquiteto Noé Diniz fez um moinho

pedagógico, transparente».

Reunidas diversas quintas que já não

estavam a ser exploradas, foi necessário

arrancar vegetação infestante: «Havia muitas

Com pouco mais

de um ano de idade,

o Parque da Devesa

conta 27 hectares

e fi ca em plena

cidade de Vila Nova

de Famalicão

C

d

REPORTAGEM 57

Moinho transparente

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58 • Parques e Vida Selvagem inverno 2014

acácias e outras espécies sem interesse»

que foram retiradas.

Aproveitada a fl ora útil, incluindo arvoredo

ornamental e espécies autóctones, como o

carvalho-alvarinho, uns poucos sobreiros,

amieiros, freixos e salgueiros, plantaram

outros tantos. Agora, estão a crescer.

Ao longo do passeio que ali der vai

encontrar várias obras de Gonçalo

Mabunda, um escultor moçambicano.

Granítico, um velho arco faz uma tangente

ao caminho calcetado: era «a porta de

entrada da quinta de Vilar», onde hoje

existem vários edifícios com funções

variadas, nomeadamente um restaurante.

Na verdade, são a «reconstrução de casas

rurais que já existiam».

Acolhem no seu interior desde exposições

a, no setor da educação ambiental, ateliers

pensados para todo o ano letivo.

A maior procura chega das escolas, do

ensino pré-escolar, sem esquecer também

o ensino especial e a participação de

grupos de idosos.

Passo a passo, um estorninho traça uma

trajetória no céu plúmbeo enquanto se ouve

ao longe um tordo a cantar.

Já antes um rabirruivo tinha pousado a

poucos metros, perto de um tentilhão.

No parque há também um anfi teatro ao ar

livre, que no verão tem muito movimento

na área cultural: «Chegam-se a juntar ali

cerca de três mil pessoas, uma parte delas

fi ca de pé, claro», diz Manuela Araújo

que confi dencia ter uma «grande paixão

pela área ambiental», porém, «mais dos

meus tempos livres do que por vínculo

profi ssional».

Num vidoeiro próximo há uma mão-cheia

de chapins. No relvado, apesar da chuva

miúda, um melro está de olho nas minhocas

mais descuidadas.

Um cenário destes já deveria ser antigo

nas redondezas, até mesmo na época

pré-romana: «Temos aqui serviços de

arqueologia: entre outros motivos de

interesse, existe uma reconstrução do

balneário de origem castreja».

Noutro ponto do passeio passa-se por

pequenos talhões de cultivo: «Temos as

hortas biológicas também». Deseja-se «dar

a conhecer métodos amigos do ambiente.

Estas hortas são cultivadas por famílias,

embora também haja as hortas solidárias».

Nas últimas, o produto é oferecido a

instituições de solidariedade social.

A curto prazo, o Parque da Devesa vai

lançar a Semana das Camélias. Orgulha-se

também de abrigar no seu recinto algumas

camélias centenárias.

No programa preveem-se iniciativas

variadas, desde um concurso de fotografi a

O anfi teatro serve a vertente cultural e chega a juntar cerca de três mil pessoas

58 REPORTAGEM

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Parques e Vida Selvagem inverno 2014 • 59

Rua Fernando Mesquita-Antas, n.º 2685

4760-034 Vila Nova de Famalicão

Horário

Verão (22 de Março - 31 de Outubro) 6h00 - 24h00Inverno (1 de Novembro - 21 de Março) 6h00 - 22h00

Telefone

(351) 252 374 184

Correio eletrónico

[email protected]

www.parquedadevesa.comwww.facebook.com/parquedadevesa

Parque da Devesa

As casas rurais existentes foram adaptadas para espaços de exposição e trabalho

cujo prazo termina em 28 de fevereiro,

passando por uma competição entre

montras comerciais da cidade e arranjos

de camélias, até uma mostra de produtos

manufaturados à base de camélias.

Aberto ao público em 28 de setembro de

2012, verifi cou-se uma grande adesão».

Não admira, «este espaço verde responde

a expectativas antigas da população,

já com cerca de 50 anos». Além disso,

desempenha uma «função importante no

lazer das pessoas, quer para atividades

de passeio a pé ou de bicicleta, quer

unicamente para desfrutar da natureza» e

assim reduzir o stress tão premente nos dias

que correm.

Este espaço verde «veio valorizar a cidade,

apesar de ter outros jardins e parques

públicos, mas não tão grandes».

Por isso, quando for a Famalicão, já sabe: o

Parque da Devesa espera também por si.

Texto Jorge GomesFotos João Luís Teixeira

Antiga porta da Quinta de Vilar

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