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É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em
parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico,
mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na Web e outros), sem
permissãoexpressa da Editora.
Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária Ana Cristina de Vasconcellos CRB / 6 - 505
Manual clínico do transtorno de déficit de atenção / hiperatividade[recurso eletrônico] / Walter Camargos Júnior, Ana Gabriela Hounie,(organizadores). Belo Horizonte : Editora Info Ltda., 2005.1 CD-ROM
Inclui referências.
ISBN: 8599516019.
1. Distúrbio da falta de atenção com hiperatividade. 2. Criançashiperativas. 3. Transtorno bipolar. 4. Psicoterapia. 5. Prognóstico.6. Neuropsicologia. 7. Psicofarmacologia. I. Camargos Júnior, Walter.II. Hounie, Ana Gabriela.
LM : WS 350.8.A8
M294
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© Editora Info Ltda., 2005
CapaWagner Luiz de Oliveira Alves Jr
Preparação do originalWalter Camargos Jr
Leitura FinalWalter Camargos Jr
Supervisão editorialWalter Camargos Jr
Projeto e editoraçãoStrategia Comunicação Integrada Ltda
Reservados todos os direitos de publicação em língua portuguesa, àEditora Info Ltda®
Al. Terra 39834.000-000 Nova Lima MG
É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na
Web e outros), sem permissão expressa da Editora
IMPRESSO NO BRASILPRlNTED IN BRAZIL
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AUTORES
MANUAL CLÍNICO DO TRANSTORNO DE DEFICIT DE ATENÇÃO / HIPERATIVIDADE
AUTORES
Alexandre Guimarães de Almeida Barros
AlineSampaio
Ana Gabriela Hounie
AnaMaria DuarteCarvalho
Acadêmico de Medicina - UFMG
Psiquiatra pela USP, Membro do PROTOC e do Ambulatório de
Traqnstorno de Hiperatividade e Déficit de Atenção do Hospital
das Clínicas da Universiddae Federal da Bahia
Psiquiatra. Doutora em Ciências pela Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo-FMUSP. Vice-coordenadora do
Projeto dos Transtornos do Espectro Obsessivo-compulsivo
(PROTOC-FMUSP)
Pedagoga; Pós - graduada em Supervisão/ Coordenação;
Supervisora Pedagógica do Ensino Fundamental.
Ana ReginaCastillo
AngelaAlfano
CarlosDalton Machado
CarlosEduardo Leal Vidal
Psiquiatra Infantil. Doutora em Medicina pela Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo-FMUSP. Colaboradora
do Projeto dos Transtornos do Espectro Obsessivo-compulsivo(PROTOC-FMUSP).
Mestre e Doutoranda em Psicologia Universidade Federal do Rio
de Janeiro; Vice-presidente da CIPIA (Centro Integrado de
Psiquiatriada Infância eAdolescência).
Neuropediatra, Mestre em Epidemiologia pela Universidade
Federal de Minas Gerais - UFMG; Professor Assistente do
Departamento de Pediatria da Faculdadde de Medicina da
UFMG.
Psiquiatra; Professor de Psiquiatria da Faculdade de Medicina de
Barbacena; Especialista em Psicopedagogia; Preceptor da
Residência Médica do Centro Hospitalar Psiquiátrico de
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AUTORES
Barbacena- FHEMIG.
Neurologista Infantil do Hospital Governador Israel Pinheiro,Centro Geral de Pediatria e Hospital Felício Rocho Belo
Horizonte,MG.
Pedagoga; Pós graduada em Psicopedagogia; Supervisora
Pedagógica da EducaçãoInfantil.
Neuro-pediatra; Especialista em Pediatria e Neurologia pela
SociedadeBrasileira de Pediatria e Neurologia.
Psiquiatra da Universidade Federal Fluminense; Especialista em
Psiquiatria pelo IPUB (UFRJ), pelo CFM e pela ABP, Mestre em
Antropologiapela Universidade Federal Fluminense.
Christovãode Castro Xavier
CibeleMarinaRochaMelo Moreira
CláudiaCarvalhoSiqueira
ClaudioLyraBastos
EislerCristianeViegas
EloísaSaboya
EloiseTorresRaad
EugênioGrevet
FranciscoB AssumpçãoJr.
Residente de Neurologia Infantil do Hospital Centro Geral de
Pediatria/FundaçãoHospitalar de MinasGerais.
Mestre em Psicologia Universidade Federal do Rio de Janeiro;
Doutora em Saúde Mental UFRJ.
Graduação em Letras; Pós-graduação em Psicopedagogia
(1996) e Língua Portuguesa (1998); Mestrado em Linguística(2002); atendimento psicopedagógico e coaching de crianças,
adolescentes e adultos portadores de TDA/H e outros
transtornos. Consultoria a escolas e famílias.
Médico Psiquiatra, doutorando pela UFRGS, Ambulatório de
TDAHemAdultosdo HCPA.
Professor Livre Docente do Departamento de Psiquiatria da
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AUTORES
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Doutor
em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo. Professor visitante do Programa de Pós Graduação em
Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP.Professor do programa de Pós Graduação da Faculdade de
Ciências da Saúde de São Paulo (FASCIS).
Psicóloga, Mestranda em Neurociências, Departamento da
Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo.
Psiquiatra, Professor associado do Departamento de Psiquiatria
da Faculdadede Medicina da Universidade de São Paulo.
Médico psiquiatraem BeloHorizonte.
Psiquiatra. Aluno do Doutorado em Ciências pela Faculdade de
HelenadaSilvaPrado
HomeroPinto Vallada Filho
Heron Lima
José CarlosCastillo
Medicina da Universidade de São Paulo-FMUSP. Colaborador do
Projeto dos Transtornos do Espectro Obsessivo-compulsivo
(PROTOC-FMUSP). Membro da Comissão de Bioética do HC e
da FMUSP.
Psiquiatra; Mestre em Farmacologia Bioquímica e Molecular
UFMG.
Neurologista Infantil do Centro Geral de Pediatria - FHEMIG e doHospital Regional de Betim - MG. Mestranda em ciências da
saúde, área de concentração medicina da infância e
adolescência, Faculdade de Medicina da Universidade Federal
de MinasGerais.
Preceptor-Coordenador da Residência Médica de Neurologia
Infantil do Hospital Centro Geral de Pediatria/Fundação
Hospitalar de Minas Gerais; Preceptor de Pediatria do
CGP/FHEMIG.
KleberPinto Rodrigues Neto
Luciana Dolabela Velloso Gauzzi
Luiz Fernando Fonseca
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AUTORES
MariaAntônia Serra-Pinheiro
MariaAparecidada SilvaMonteiro
MariaConceição do Rosário-Campos
MariaCristina Bromberg
Mestre e Doutoranda em Psiquiatria/ Universidade Federal do
Rio de Janeiro; Presidente da CIPIA(Centro Integrado de
Psiquiatria da Infânciae Adolescência).
Psiquiatra e pós graduanda (mestrado), PRODATH (Projeto de
Déficit deAtençãoe Hiperatividade) e investigo o polimorfismode
genes dopaminérgicos e noradrenérgicos numa população
adulta comTDAH.
Psiquiatra, Doutora em ciências pela USP, Pesquisadora do
PROTOC e coordenadora do ambulatório de transtornos do
espectro obsessivo-compulsivo(SERTOC).
Pedagoga, Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela
Universidade Presbiteriana Mackenzie, Coordenadora do Grupo
d e O r ie nt aç ão s ob re o T ra ns to rn o d e D éf ic it d e
Atenção/Hi per at iv id ade (G OTAH ), Memb ro da Equipe
Multidisciplinar do Ambulatório de Transtorno de Déficit de
Atenção/Hiperatividade do Centro de Neuropediatria do Hospital
de Clínicas da Universidade Federal do Paraná.
Psicóloga, especialista em psicopedagogia, mestranda em
educação especial na Universidade Federal de São Carlos São
Paulo.
Psicóloga Clínica, psicanalista.
Médico Psiquiatra, mestrando pela UFRGS, Ambulatório de
TDAHemAdultosdo HCPA.
Professor Adjunto da UFMG; Doutor em Bioquímica
(Neuroquímica) UFMG; Livre-Docente em Psiquiatria- FMUSP.
MariaIsabelSantos Pinheiro
MariaSuelyRodriguesdeFaria
MarceloVictor
MarcoAurélio Romano-Silva
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AUTORES
Mari IvoneLanfredi Misorelli
MariaAparecidaS Monteiro
Maria Cristina Jacob PessoaAbasse
Margareth PradoGregório
Fonoaudióloga Clíncia, mestre em Fonoaudiologia pela PUC/SP;
professora do CEFAC (Curso de Especialização em
FonoaudiologiaClínica.
Psiquiatra, pós-graduanda do Departamento de Psiquiatria da
FMUSP, colaboradora do PRODATH (Projeto de Déficit de
Atenção e Hiperatividade); Assistente do Hospital do Servidor
Público Estadual.
Professora da 4ª série do Ensino Fundamental; Pedagoga; Pós
graduada em Metodologia do Ensino e em Psicopedagogia;
PsicopedagogaClínica.
Professora da 2ª série do Ensino Fundamental I; Pedagoga;
Pós-graduação em Curso “Construtivismo e Educação”
FaculdadeFIASCO Madri.
Margarida M. S. Guimarães
OrestesDiniz Neto
Patrícia Martins de Freitas
Paulo Belmonte deAbreu
Psicóloga, psicomotricista.
Professor Assistente do Departamento de Psicologia Faculdade
de Filosofiada Universidade Federal de Minas Gerais; Mestreem
Psicologia Social pela Universidade Federal de Minas Gerais;
Doutorando em PsicologiaClínica pelaPUC-Rio.
Psicóloga, mestre em psicologia do desenvolvimento,
doutoranda em saúde da criança e do adolescente na
Universidade Federal de MinasGerais.
Médico Psiquiatra, Master of Health Sciences, PhD, Professor do
Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da
UFRGS, Coordenador do Programa de TDAH de Adultos do
HCPA.
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AUTORES
RaquelGontijo
RaquelWandereleyGonçalves
Roberta Costa Lucas Ferreira
Rogério Beato
SandraPasquali Pacheco
Pedagoga; Pós-graduação em Dificuldade de Aprendizagem
pela Universidade Estadual de Minas Gerais; Pós-graduação em
Psico-Pedagogia pela Escuela Psico-pedagogia de Buenos Ayres.
Psicóloga; Especializaçãoem Terapia ComportamentalCognitiva
e Construtivista.
Fonoaudióloga Clínica, especialista em Audiologia (CEFAC),
Motricidade Oral (CFFA) e gagueira (Northwestern University).
Neurologista Clínico, Coordenador do Ambulatório de Neurologia
Cognitiva do Hospital das Clínicas Universidade Federal de
MinasGerais.
Psicóloga clínica formada pela Puc-SP, em 1978, especialização
em Psicopedagogia pela PUC-SP e em neuropsicologia pela
Divisão de Psicologiado IC-HCFMUSP.
Prática em atendimento psiquiátrico ambulatorial e hospitalar
desde 1967 com dedicação ao estudo do TDA/H desde 1997;
Membro do Chadd (Children and Adults with Attention-Deficit
Disorders) desde 1997; Autor do site www.adhd.com.br;
Coordenador do grupo de estudosADHD.
ProfessoraTitulare Coordenadora de Pos-graduação e Pesquisa
do Departamento de Psicologia da PUC-Rio; Doutora em
Psicologia Clinica pela PUC-São Paulo com Pós-doutorado em
Psicologia de Família e Casal pela Univeridade de Paris V
Sorbonne; Bolsista 1Ade Produtividade em Pesquisa CNPQ.
Especialista em Psiquiatria pelo IPUB/ Universidade Federal do
Rio de Janeiro; Diretora Científica da CIPIA(Centro Integrado de
Psiquiatriada Infância eAdolescência).
Sérgio Bourbon Cabral
TerezinhaFéres-Carneiro
VanessaAyrão Franco
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AUTORES
Vera Joffe
Victor SoaresLima
Vitor Geraldi Haase
Walter Camargos Junior
Ph.D. em Psicologia. Professional Member of the CHADD
(Children and Adults with Attention Deficit Hyperactivity Disorder)
Boardem Broward, Florida, USA.
Acadêmico do 5º ano de medicina da UFMG.
Médico neurologista, mestre em lingüística aplicada, doutor em
psicologia médica, professor adjunto no Departamento de
Psicologiada UFMG.
Especialista em Psiquiatria Geral e da Infância pela ABP;
PsiquiatraInfantil do Centro Geralde Pediatria/FHEMIG.
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PREFÁCIO
PREFÁCIO
O mundo, como um todo, tem sua porta de entrada em nosso
psiquismo por meio dos órgãos dos sentidos. Entre as nossasfunções psíquicas superiores, a Atenção executa um papel de
destaque, permitindo-nos agrupar nossas cognições em bancos
de memórias, assim como diferenciar a parte do todo e manter
nossa integridade.
A fisiopatologia da Atenção e de seus correlatos clínicos tem sido
objeto de estudo constante da Neuropsiquiatria e da
Neuropsicologia de crianças e de adolescentes, rivalizando em
qualidade e em quantidade com os artigos científicos publicados
sobre os transtornos do desenvolvimento como, por exemplo, o
Autismo Infantil.
O livro quevocê temem mãos apresentauma compreensão clara
e compartilhada do progresso do conhecimento do fenômeno da
Atenção. Não se trata de um livro para diletantes e não se destina
a intelectuais e curiosos, mas, sim, é um marco orientador nessa
área.
Ele é um fio condutor na trama do entendimento e na busca de
novas perspectivas para os profissionais que, diretamente, estão
envolvidos no cuidado de seres humanos, em suas diferentes
faixas etárias, para os pais, parentes e indivíduos que, de formadireta ou indireta, estejam no convívio com pessoas que
apresentam uma alteração em seu processo de atenção, bem
como para os formadores depolíticaeducacional e desaúde.
Os últimos trinta anos apresentaram um crescimento fascinante
no estudo do binômio saúde-doença, no campo do psiquismo.
Colaboraram para isso as diferentes áreas do conhecimento que
se dedicam ao estudo desse binômio, tendo como início a base
neuroanatômica, enveredando pela neuroquímica, pelos
aspectos neuropsicológicos, genéticos e clínico-sócio-
epidemiológicos e, desta forma, contribuindo substancialmente
parauma melhor compreensão da riqueza clínica do quadro.
O reflexo da contribuição dessas especificidades está expresso
em procedimentos diagnósticos mais adequados como os
instrumentos de medida, exemplificados através de testes
neuropsicométricos e de questionários de identificação
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PREFÁCIO
populacionalparapais e paraprofessores.
Observamos que, progressivamente, houve um abandono do
estudo isolado da patologia, dando lugar ao estudo da fisiologiados sistemas e de sua importância para o indivíduo e para as
espécies, sendo a perspectiva etológica a principal inovadora
desse fenômeno cognitivo. Os processos da evolução cognitiva e
nosológica compõem os capítulos que discorrem sobre os
“Fundamentos do Transtorno do Déficit de Atenção /
Hiperatividade”(TDA/H).
Em sua miríade fenomenológica, as manifestações clínicas do
TDH/A expressam-se como conseqüência das faixas etárias, do
meio ambiente familiar, escolar e de trabalho e da capacidade
da personalidade de se adaptar entre as determinantes
genéticas, neuroquímicase o meio ambiente.
Observamos que a evolução do conhecimento sobre o TDA/H
permitiu a identificação das diferentes apresentações clínicas,
lembrando, porém, que sua fenomenologia cl ínica,
necessariamente, não implica a presença, em proporções
exatas, dos sintomas cardeais: prejuízo da atenção, a
impulsividade e a hiperatividade.
Sendo o TDA/H um quadro, que provavelmente existe a partir dafecundação, e a genética, com suas conseqüências
neuroquímicasum impulsor de todoo quadro clínico, fatalmente o
indivíduo portador da síndrome poderá com ela viver por todo o
seu ciclo de vida. Assim, encontramos adultos que apresentam o
quadro em sua forma crônica, pois a maioria não foi tratada, com
prejuízos qualitativos e quantitativos que repercutem em sua
personalidade, em seu ambiente familiar e em seu papel
profissional.
A leitura deste livro, nos capítulos que tratam das comorbidades e
diagnóstico diferencial, amplia a compreensão sobre as
vicissitudes que o profissional enfrenta no trabalho clínico para
alcançar um diagnóstico adequado e preciso. A apresentação de
um comportamento de intensa atividade em crianças, na faixa
pré-escolar, pode ser, muitas vezes, um indicador de um
Transtorno Bipolar, assim como o questionamento sistemático
por um adolescente pode ser uma expressão menor de
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APRESENTAÇÃO
APRESENTAÇÃO
É com imensa satisfação que apresento esse Manual Clínico de
Psiquiatria Infantil que versa sobre transtornos neurológicos emcrianças,em adolescentee em adultos, aosclínicosdo Brasil que
têm sobrevivido a duras penas ao modelo assistencial em vigor
no País que é, na maioria das vezes, perverso tanto para o
contratante quanto para o profissional. O "paciente particular"
praticamente inexiste e isso gera menos tempo disponível para
atualização técnica, refletindo maior possibilidade de funcionar
como massa de manobra do novo grupo de qualidade ouro da
áreaque são os profissionais de Laboratório e os pesquisadores.
A importância dessa obra é também social. O TDA/H é um tema
de abrangência de uma subespecialidade, como a Psiquiatria
Infantil, que não tem cadastrado na Associação Brasileira de
Psiquiatria mais que duascentenasde profissionais devidamente
capacitados, sem falar, que há necessidade constante de que as
informações técnicas estejam acessíveis numa formatação
clínica a todos os profissionais que lidam com crianças. Por isso,
os organizadores desta Coletânea inovaram, apresentando os
endereços dos autores dos ensaios para que os leitores possam
contatá-Ios em caso de necessidade e para que possam,
também, apresentar alguma sugestão, alguma crítica ou
proposição para ampliar o conhecimento e o crescimento dosestudos do assunto ( ).
Paralelamente a isso, vivemos contínuas transformações que
dificultamo posicionamentotécnicodos profissionais como:
a transformação doTDA/Hem doençada moda;
o excesso de informações técnicas e paratécnicas que a
população tem recebido através da mídia, em geral, e das
publicações parao público leigo;
a desatualização dos profissionais de base - pediatras,
clínicos, neurologistas, psicólogos, fonoaudiólogos,
professores e pedagogos, em identificar os portadores de
TDA/H - impossibilitando o adequado tratamento e,
conseqüentemente, uma melhor qualidade de vida dos
afetados;
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APRESENTAÇÃO
a velocidade da transformação de nossa sociedade local -
Brasil - para uma sociedade global, na qual o risco da perda
da identidade localé significativo;
a generalização dasregras sociais e familiares;
a nova organização das famílias de nossa sociedade local-
Brasil;
a imaturidade de algumas pessoas que exercem a função
de pais, entre outras.
No quediz respeito a Psiquiatria, vivemos o vazio instrumentaldo
"obsoletismo" da fenomenologia e da psicopatologia clássica.
Estamos sendo forçados ao reducionismo das classificações
categoriais como fundamentos de uma Psiquiatria, de eficácia
duvidosa. Ainda não conseguimos atingir a independência
através de exames complementares que realmente ajudam o
clínico em sua atividade diária. Do lado positivo, encontramos,
pela primeira vez, a partir do TDA/H, a Psiquiatria Geral adotando
um modelo nosológico da Psiquiatria Infantil que, por sua vez,
ainda não se desvinculou do modelo adultomorfo na grande
maioria das condições mórbidas.
No que se refere à subespecialidade Psiquiatria Infantil, éinteressante investirmos um breve espaço de nossa atenção e
tempo para pensar o motivoque a leva a manter-setão
pouco atrativa aos estudantes e aos profissionais. Quais fatos
resultam nessa afirmação? Quantas residências médicas,
reconhecidas pelo MEC, nessa área, há no Brasil? Quantas
residências havia entre 10 a 15 anos? Qual percentual de
atendimento de crianças os profissionais titulados em Psiquiatria
Infantil, após 5 anos de experiência,tem em suaprática clínica? É
mais, ou menos que 50%? Segundo pesquisa do autor, a maioria
desses profissionais não tem30% de clientelainfantil.
Nessa avaliação do cenário atual, as questões que se seguem
também devem ser motivos de reflexão, de estudo, mesmo que
não sejamobjetivode seremrespondidasno presente momento.
Aclínica da Psiquiatria Infantil é muito complexa?
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APRESENTAÇÃO
A prática exige conhecimento de muitas áreas como:
desenvolvimento infantil, psicologia do desenvolvimento,
psicodinâmica familiar, psicologia comportamental,
psicopatologia de adultos e de crianças,genética, otorrino efonoaudiologia, endocrinologia, clínica do sono, pedagogia,
terapia ocupacional e fisioterapia, sociologia, etc?
É dificil cuidar do filho-dos-outros? Exige-se mais cuidados
técnicos? Há necessidade de ser mais cauteloso/
conservador, embora, usualmente, as famílias só consigam
vislumbrar a melhora clínica como objetivo? Há mais riscos
a longo prazo?
É dificil lidar com a ansiedade e a pressão dos pais? É dificil
conduzir um tratamento multiprofissional, estando em
consultório?
O tempo padrão da consulta é pequeno para tanta
informação e perícia?
Há poucos profissionais de referência parasupervisão?
A área é pouco valorizada e depositária de pouca confiança
pelos profissionais e pelas famílias?
É pouco rentável?Ela compete com muitos profissionais?
Essas questões são as que devem estar no dia-a-dia do
profissional da área. Apesar deste incerto futuro da Psiquiatria
Infantil, este livro procura elucidar os problemas advindos dessa
clínica. Com este, os autores almejam suprir algumas lacunas
existentes e tentar buscar a certeza de um futuro melhor para
nossas crianças.
Organizador
Walter CamargosJunior
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SUMÁRIO
SUMÁRIO
SEÇÃO 1 - Fundamentos do TDA/H
CAPÍTULO 01 - Histórico e EpidemiologiaMarcelo Victor Eugênio Grevet Paulo Belmonte-de-Abreu; ;
CAPÍTULO 02 - AtençãoCláudio Lyra Bastos
CAPÍTULO 03 - MemóriaHeron Lima Victor Soares Lima Eloisa Saboya; ;
CAPÍTULO 04 - NeuropsicologiaSandra Pasquali Pacheco
CAPÍTULO 05 - NeuroquímicaMarco Aurélio Romano-Silva Kleber Pinto Rodrigues Neto Alexandre Guimarães de Almeida Barros; ;
CAPÍTULO 06 - Lobos Pré-FrontaisRogério Beato
CAPÍTULO 07 - GenéticaMaria Aparecida da S. Monteiro; Homero Pinto Vallada Filho
CAPÍTULO 08 - Escola
Ana Maria Duarte de Carvalho Cibele Marina Rocha Melo Moreira Margareth Prado Gregório Maria Cristina Jacob Pessoa Abasse; ; ;
CAPÍTULO 09 - O Perfil das Famílias Brasileiras nos Grandes CentrosCarlos Dalton Machado Maria Suely Rodrigues de Faria Margarida M. S. Guimarães; ;
MANUALCLÍNICO DO TRANSTORNO DE DEFICIT DE ATENÇÃO / HIPERATIVIDADE
_____________________________________________________ 21
103
128
262
____________________________________________________________________ 58
__________________________________________________________________
___________________________________________________________
______________________________________________________________ 239
_________________________________________________________
__________________________________________________________________ 285
____________________________________________________________________ 321
___________________________ 380
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SEÇÃO 2 - Aspectos Clínicos
CAPÍTULO 10 - O Exame Psiquiátrico da CriançaWalter Camargos Jr.
CAPÍTULO 11 - Exame Neurológico da CriançaLuiz Fernando Fonseca Eisler Cristiane Viegas;
CAPÍTULO 12 - AdolescenteHelena da Silva Prado Maria Cristina Bromberg;
CAPÍTULO 13 - TDA/H em AdultosSérgio Bourbon Cabral
CAPÍTULO 14 - Vida Conjugal Família e TrabalhoOrestes Diniz Neto Terezinha Féres-Carneiro;
SUMÁRIO
MANUALCLÍNICO DO TRANSTORNO DE DEFICIT DE ATENÇÃO / HIPERATIVIDADE
_____________________________________________ 418
1
484
0
552
_______________________________________________ 47
_______________________________________________________________
__________________________________________________________ 51
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SEÇÃO 3 - Comorbidades e Diagnóstico Diferencial
CAPÍTULO 15 - Transtornos Psiquiátricos da InfânciaFrancisco B. Assumpção Jr
CAPÍTULO 16 - Transtorno Desafiador Oposicionista e Transtorno de CondutaVanessa Ayrão Franco Ângela Alfano Maria Antônia Serra Pinheiro; ;
CAPÍTULO 17 - Transtorno do Humor Bipolar Dr. Walter Camargos Jr.
CAPÍTULO 18 - Transtorno Obsessivo Compulsivo e Transtorno de Tiques Ana Gabriela Hounie Ana Regina Castillo José Carlos Castillo; ;
CAPÍTULO 19 - Transtorno de Ansiedade Aline Sampaio Helena da Silva-Prado Maria Conceição do Rosario-Campos; ;
CAPÍTULO 20 - Transtornos Neurológicos da InfânciaChristovão de Castro Xavier Luciana Dolabela Velloso Gauzzi;
CAPÍTULO 21 - TDA/H e EpilepsiaCláudia Carvalho Siqueira
CAPÍTULO 22 - Transtorno do Aprendizado
Raquel Gontijo
CAPÍTULO 23 - Processamento Auditivo e Transtorno de LinguagemMari Ivone Lanfredi Misorelli Roberta Costa Lucas Ferreira;
SUMÁRIO
MANUALCLÍNICO DO TRANSTORNO DE DEFICIT DE ATENÇÃO / HIPERATIVIDADE
_________________________________________ 601
____________________ 624
_________________________________________________ 666
________________________ 739
____________________________________________________ 779
_________________________________________ 799
__________________________________________________________ 817
__________________________________________________ 834
____________________________ 861
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SEÇÃO 4 - Tratamentos
CAPÍTULO 24 - Psicoterapia de CriançasVitor Geraldi Haase Maria Isabel Santos Pinheiro Patrícia Martins de Freitas; ;
CAPÍTULO 25 - Psicoterapia de AdultoCarlos Eduardo Leal Vidal Raquel Gonçalves Wanderley;
CAPÍTULO 26 - Treinamento de PaisMaria Isabel S. Pinheiro Walter Camargos Jr. Vitor Geraldi Haase; ;
CAPÍTULO 27 - CoachEloise Torres Raad
CAPÍTULO 28 - PrognósticoVera Joffe, Ph.D.
CAPÍTULO 29 - PsicofarmacoterapiaDr. Walter Camargos Jr
SUMÁRIO
MANUALCLÍNICO DO TRANSTORNO DE DEFICIT DE ATENÇÃO / HIPERATIVIDADE
____________________________________________________ 880
1033
______________________________________________________ 926
________________________________________________________ 950
____________________________________________________________________ 995
______________________________________________________________
_______________________________________________________ 1074
Página 20
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CAPÍTULO I - HISTÓRICO E EPIDEMIOLOGIA DO TDA/H
Histórico e Epidemiologia do TDA/H
CAPÍTULO I
Marcelo Victor
Eugênio Grevet
Paulo Belmonte-de-Abreu
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1. INTRODUÇÃO
O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDA/H)
é uma síndrome com início na infância e reconhecida pela
Medicina desde o século XIX. Este capítulo descreve a
história e a epidemiologia deste Transtorno, examinando, de
maneira crítica, as principais evidências e questões
metodológicas. A conceituação do TDA/H variou ao longodos anos, devido às mudanças de leitura ou de visão da
teoria de causalidade predominante em cada período.
Devido a isso, os critérios de definição de caso variaram, e
em conseqüência, a sua prevalência. O TDA/H recebeu
muitos nomes ao longo deste período, mas permanece
como uma das condições mais comuns na infância e na
adolescência, estendendo-se numa proporção considerável
doscasosatéavidaadulta.
A hiperatividade, a desatenção e a impulsividade,
fundamentam a atual definição e classificação do TDA/H,mas os termos utilizados para nomeá-lo mudaram,
permanecendoaté hoje em discussão. A relação hierárquica
entre estes três elementos também variou ao longo do
tempo, devido às explicações causais e às evidências
acumuladas. Entretanto, a noção básica de alterações de
atenção, atividade motora e impulsividade, que causam
dificuldades para seus portadores, permaneceu
2. HISTÓRICODO TDA/H
2.1.Conceito
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relativamente constante.
Embora as características principais do TDA/H tenham
permanecido estáveis, ao longo de sua história, suas
fronteiras diagnósticas sofreram considerável variação. O
conceito básico de TDA/H está presente nas duas
classificações,maisem uso atualmente, a e o
. Entretanto, há uma diferença na abrangência desseconceito entre ambas, sendo a primeira (CID) mais restrita e
a segunda (DSM) mais ampla.
O desenvolvimento de manuais e critérios diagnósticos, no
final do século XX, contribuiu para o controle do problema da
confiabilidade, mas deixou em aberto a questão da validade
do diagnóstico psiquiátrico. Estando os sinais e sintomas
CID DSM(41)
(5)
dos transtornos mentais amplamente distribuídos na
população, porém, com freqüência, intensidade e impacto
maiores nos pacientes do que na população geral, a sua
simples ocorrência não define a presença de um transtorno
mental. Existea necessidade adicional de definir e de validar
um limiar para a presença ou ausência de um transtorno
. A tarefa se torna mais complexa quando se verifica que
a nosologia psiquiátrica atual utiliza critérios descritivos,como presença de sinais e de sintomas e observação de
curso e de resposta ao tratamento, sem levar em
consideração possíveis causas. Dentro desse processo
diagnóstico, existe a necessidade adicional de uso de
julgamento clínico sobre a relevância dos sinais e dos
sintomas, baseada em uma avaliação dos prejuízos
funcionaiscausados por eles .
(21)
(45)
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Mesmo após a conclusão do trabalho de formulação
diagnóstica, persiste, em aberto, a questão da validade
deste diagnóstico, uma vez que nãoexiste um padrão-áureo
para o diagnóstico psiquiátrico. Em conseqüência, a
definição de caso deve ser feita por meio de um julgamento
clínico, apoiado no uso de evidências de pesquisa e
consensos clínicos sobre os limites do normal e do
patológico.
A tendência contemporânea de Medicina Baseada em
Evidências (Evidence-Based Medicine) se aplica também à
revisão de critérios diagnósticos, mas, no caso do TDA/H,
ainda é necessário um referendo de comitês de peritos das
entidades envolvidas (Associação Americana de Psiquiatria
e Organização Mundial de Saúde). Assim, encontram-se
algumas discrepâncias quanto a freqüência, curso e
prognóstico do TDA/H. Apesar disso, os estudos
sistemáticos já definiram, de forma satisfatória, o quadro
clínico, os achados laboratoriais, a história familiar, as bases
genéticas, a resposta ao tratamento e o diagnóstico
diferencial , justificando a validade do diagnóstico de
TDA/H para a prática clínica. Os capítulos posteriores deste
manual descrevem de forma sistemática as evidências
disponíveis, em cada um destes aspectos. Apesar de haver
um consenso no meio clínico, este diagnóstico segue
controverso, no meio leigo, sendo freqüentemente atacado
por profissionais de outras áreas e pela mídia. Variadas
razões concorrempara essas críticas, entreelas:
a)a observação de que os critérios de definição do
transtornovariam ao longodos anos;
(47)
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b)o fato de que o diagnóstico deve ser formulado,
basicamente, a partir de observação clínica;
c)aausência de cura para o transtorno;
d)a exigência de tratamentos prolongados com
medicaçõescompotencial deabuso .
Um posicionamento em defesa da entidade TDA/H pelos
médicos não os deve impedir o reconhecimento de que as
divergências são saudáveis para o progresso da ciência.
Algumas questões permanecem sem consenso e existem
diferenças importantes no diagnóstico e na conduta entre
alguns países .
(28)
(30;46;54;58;62)
2.2 “Der Struwwelpeter”
A história do TDA/H, na Psiquiatria, geralmente é descrita
comotendo começadocom Heinrich Hoffmann (1809-1894),
psiquiatra alemão, famoso por escrever contos e poemas
para crianças. Em 1845, ele publicou um livro que logo se
tornou um best-seller, “Der Struwwelpeter”, equivalendo em
português a “Pedro, o agitado” . Numa série de textos,
ele descreve as péssimas maneiras de um garoto que
apresenta muitas características do que hoje é descrito
como TDA/H. Seus textoseram didáticos e baseados no que
se denominava “pedagogia negra”, ou seja, educar pelo
medo, já que as punições para comportamentos
inadequados eram muito rigorosas e suas conseqüências,
freqüentemente, trágicas. Brincar com fogo, por exemplo,
(46)
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resulta em morte por queimadura em um dos poemas do
autor. Os textos de Hoffmann obtiveram ampla aceitação
como literatura infantil pedagógica, mas seus personagens
“travessos” não contribuíram para o interesse médico
naquelas crianças, que permaneceram consideradas mal-
educadas, em vezde portadoras de um transtorno mental.
GeorgeStill e Alfred Tredgold sãoconsiderados os primeiros
pesquisadores a abordar, cientificamente, um conjunto de
43 casos cuja descrição se aproxima da definição atual do
TDA/H, numa série de três textos de aulas publicados em
1902 na revista Lancet . Essas crianças apresentavam
um quadro de agressões, desafio, indisciplina, crueldade,
2.3StilleaAbordagemClínica
(55)
delinqüência, insensibilidade à punição, hiperatividade e
sérias dificuldades para manter a atenção nas tarefas que
realizavam. Cerca de metade delas tinha retardo mental
associado, e algumas também apresentavam tiques. O
quadro era supostamentesecundário a lesões cerebraisque
causavam defeitos na consciência moral, na relação
cognitiva ao ambiente e na inibição volitiva. O termo
degeneração, em voga na época, se aplicava ao que hoje
seriam crianças diagnosticadas, provavelmente como
TDA/H, Retardo Mental (RM), Transtorno Desafiador
Opositivo (TDO), Síndrome de Tourette (TS) e Transtorno de
Conduta (TC). Naquela época, já havia a idéia de que o
transtorno se iniciava precocemente, antes dos oito anos,
sendo a maioria dos casos, do sexo masculino (3:1) e uma
noção de que tinha uma origem hereditária ou adquirida. Um
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méritode foi o deter sido o primeiroa chamar a atenção
para a síndrome, numa revista científica, delimitando de
forma ampla o conceito de TDA/H, embora incluindo, naépoca, sintomas atualmente descritos em outras categorias
diagnósticas. Além disso, lançou idéias ainda hoje
inspiradoras, como a de falta de “inibição volitiva”, na
explicação do diagnóstico.
Uma epidemia de encefalite letárgica, também chamada de
doença de Von Ecônomo, assolou a Europa e América do
Norte, a partir de 1917, até metade da década de 20 .
Muitas crianças sobreviventes desta doença apresentaram
s e qü e la s c o mp o rt a me n t ais d e d e sa t en ç ão , d e
2.4.VonEcônomoe a Etiologia Infecciosa
Still
(11)
hiperatividade motora, de impulsividade, dificuldades
cognitivas e sociais, delinqüência e agressividade. Algumas
das características descritas nestas crianças foramincorporadas ao conceito de TDA/H, hoje utilizado. A relação
entre infecção cerebral e desatenção-hiperatividade
confirmava a idéia inicial de Still de que haveria uma lesão
cerebral, responsável pela síndrome. Logo a seguir, outras
causas foram sendo associadas ao transtorno: trauma de
nascimento, sarampo, intoxicação por chumbo e epilepsia.
Não demorou muito para que o diagnóstico da síndrome de
lesão cerebralpassassea ser aplicado a qualquerproblema,
psicológico envolvendo aqueles sintomas, houvesse ou não
evidências de lesão ou de seqüela cerebral.
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2.5BradleyeasAnfetaminas
A modificação diagnóstica subseqüente ocorreu na décadade 30, nos E.U.A., a partir do trabalho de um psiquiatra,
Charles Bradley, que estudava crianças institucionalizadas
com o uso de pneumoencefalografia . Como muitas das
crianças estudadas apresentavam uma forte dor de cabeça,
após o procedimento, ele experimentou benzedrina, um
derivado anfetamínico, no intuito de aumentar a produçãode
líquor mais rapidamente e aliviar este sintoma. Notou, com
surpresa, que houve grande melhora comportamental em
a lg um as c ri an ça s e p as so u a e st ud ar m ai s
sistematicamente o assunto . Nascia aqui um dos
tratamentos mais importantes na psicofarmacologia infantil:
o uso de derivados anfetamínicos para o TDA/H. Tal fato
(17)
(15)
também ajudou a validar a utilidade dessa entidade
nosológica, na prática médica.
A idéia da presença de uma lesão cerebral entrou em
declínio no final dos anos 60 , pela constatação de que
nem sempre havia evidência de dano cerebral nos casos
estudados. O conceito de lesãofoi gradualmente substituído
pelo de disfunção cerebral, e posteriormente, pelo de
hiperatividade. O DSM-II , de 1968, já descreve uma
categoriadiagnóstica de “Reação Hipercinética da Infância”.
2.6AFasedaHiperatividade
(51)
(2)
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2.7Wender, Douglase a Nova Fase de Desatenção
Ao longo dos anos 70, vários pesquisadores começaram acriticar a centralidade concedida à hiperatividade na
síndrome. Wender desenvolveu uma descrição de
várias características dos pacientes com TDA/H, desviando
o foco da hiperatividade para outros aspectos tais como:
dificuldades no controle motor, dificuldades no aprendizado,
desatenção persistente, descontrole de impulsos,
dificuldades no relacionamento interpessoal e descontrole
na regulação das emoções. Duas novidades foram
apresentadasaqui.Em primeiro lugar, a idéia de que poderia
existir um quadro apenas com desatenção, sugestão que
rapidamente ganhou terreno entre os especialistas. Em
segundo lugar, a noção de que estes descontroles
(64)
emocionais - fúrias repentinas, explosões, irritações,
reatividade emocional acentuada, etc. - também pudessem
figurar como critério integrante do diagnóstico. Estasegunda sugestão foi recebida com mais reservas e acabou
não prevalecendo como critério diagnóstico formal do
TDA/H, apesar de ter sido incluída nos chamados Critérios
de Utah p ara a síndrome . Outra important e
pesquisadora a desafiar a primazia da clínica de
hiperatividade neste transtorno foi Virginia Douglas . Ela
também desenvolveu a idéia da existência de um quadro de
desatenção na ausência de hiperatividade. Por meio de
testes objetivos, concluiu que a dificuldade na atenção
sustentada e no controle dos impulsos eram mais
importantes na formação dos prejuízos encontrados nestas
criançasde queo aumento da atividademotora.
(64)
(20)
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2.8AEradosManuaisDiagnósticos
O desenvolvimento seguinte aconteceu com a publicaçãode novas edições de critérios diagnósticos. Em 1978, a
Organização Mundial da Saúde publicou a 9 Edição do CID
na qual manteve a hiperatividade como aspecto central
na definição e mesmo no nome do transtorno. Em 1980, a
Associação Americana de Psiquiatria publicou a 3 edição
do seu Manual Diagnóstico (DSM-III) . Esse manual
representou um grande avanço para a pesquisa em
Psiquiatria por descrever de forma objetiva e mensurável, os
critérios dos transtornos mentais, permitindo uma maior
confiabilidade diagnóstica. Os critérios da 3 edição do DSM
foram formulados num momento de críticas à primazia da
hiperatividade e consagraram a síndrome infantil do
ª
ª
ª
(67)
(3)
Transtorno de Déficit de Atenção, descrevendo a
desatenção e a impulsividade como elementos centrais na
síndrome. A revisão do DSM (DSM-III-R) , de 1987,incorpora a validação empírica para os 14 critérios utilizados
para o diagnóstico e ponto de corte para a consideração da
síndrome . A quarta Edição (DSM-IV) vai além,
reorganizando 18 critérios diagnósticos em dois blocos: (a)
desatenção e (b) hiperatividade/impulsividade, requerendo,
para o diagnóstico, um mínimo de seis de uma lista de nove
sintomas . Dessa forma, resolveu-se a disputa histórica
entre a desatenção e a hiperatividade/impulsividade,
retirando qualquer hierarquia entre essas dimensões. O
DSM-IV estabelece três subtipos:
predominantemente desatento
predominantemente hiperativo/impulsivo
(4)
(55) (5)
(31)
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combinado.
A revisão do texto do DSM-IV, publicada sob a rubrica deDSM-IV-TR, em 2000, não alterou esses três critérios de
forma significativa.Já a décimaEdiçãoda CID (CID-10) ,
de 1992, por sua vez, manteve a definição de TDA/H com o
nome de Transtorno Hipercinético. Essas diferenças na
definiçãoe na abrangência permanecem atéhoje e resultam
em diferenças importantes, nas estimativas de prevalência e
na conduta terapêutica entrediversospaíses.
A síndrome do TDA/H foi, em princípio, considerada como
um quadro ocorrendo basicamente em crianças, regredindo
2.9A Persistência nosAdultos
(41)
gradualmente com a idade. Wender foi um dos
primeiros a considerar a possibilidade de permanência da
síndrome, no adulto. Hoje em dia, já está bem estabelecidoque uma proporção substancial das crianças se mantêm
comtranstorno após a adolescência, o quejá foi incluído nos
critérios da CID e DSM. |
O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDA/H)
ocorre em todas as faixas etárias da população, sendo
considerado um dos transtornos mais comuns na infância,
com uma prevalência, segundo o DSM-IV-TR, de cerca de 3
3.1 Introdução
(64)
Tabela n.1 Tabela n.2
3. EPIDEMIOLOGIA
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a 7% nas crianças,em idade escolar.A literatura, nessa faixa
etária, é bastante desigual e sujeita a inúmeras influências.
Existe evidência de alta variabilidade entre diferentespopulações, com taxas de prevalência-ponto entre 0,78%
em escolares de Hong Kong e 26% em estudantes
americanos . Uma revisão de19 estudos encontrou uma
variabilidade nas taxas de prevalência-ponto entre 2 e 17%
. Outra revisão de 50 estudos, utilizando diversas
versões do DSM, encontrouprevalências semelhantes entre
diversos países, mas excluiu sistematicamente os estudos,
utilizando a CID, impedindoa comparação entre os sistemas
diagnósticos . Uma meta-análise rigorosa de amostras
escolares e comunitárias selecionou 85 estudos, entre 1978
e 2004, identificando idade escolar, gênero masculino, fonte
de informação e critério diagnóstico como os principais
(32)
(39)
(52)
(23)
responsáveis pela variação na prevalência nos estudos de
TDA/H . O mesmo estudo identificou que a variabilidade
dos resultados refletia, essencialmente, diferençasmetodológicas. Quando os mesmos critérios foram
aplicados, uma proporção considerável da variabilidade na
prevalência desapareceu , apesar de permanecer ainda,
sem resolução, a questão de validade do diagnóstico (CID
versus DSM). Diversos fatores podem influenciar os
resultados dos estudos epidemiológicos, tais como
diferenças reais entre as populações, sexo, idade e classe
social, critérios diagnósticos, tipo de amostras clínicas,
escolares ou comunitárias definição de prejuízo no
desempenho e tipos de contextos atingidos pelo transtorno,
tipos de instrumentos de screening utilizados, ponto de corte
(“cut-off”) empregado, fontes de informação familiares,
(43)
(6)
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professores e/ou pacientes forma de combinação de
informações, instrumentos adicionais escalas ou
entrevistas clínicas entre outros. A heterogeneidade demétodos de diagnóstico dificulta a interpretação das
discrepâncias na literatura e acabam tendo conseqüências
na prática clínica , devido à variação no número de
indivíduos que serão tratados . Uma conseqüência foi o
aumento de quatro vezes no número de crianças tratadas
nos EUA., entre1987 e 1997 .
Os estudos epidemiológicos, em relação ao diagnóstico da
síndrome, apresentam as mesmas d i f icu ldades
encontradas no diagnóstico psiquiátrico, em geral. O
diagnóstico do TDA/H é baseado em comportamentos que
também são observados em populações normais. Há pelo
(60)
(46)
(40)
menos três apresentações e não possui um grupo central de
sintomas específicos. A seguir, são comentados os
principais problemas metodológicos existentes em relaçãoao diagnóstico, com o objetivo de habilitar o leitor a percorrer
e se orientar na literatura existente sobre a epidemiologia do
transtorno.
Embora freqüentemente desconsiderados e difíceis de
medir, os fatores culturais podem influenciar a percepção e a
tolerância aos sintomas por parte dos pesquisadores, dos
p ro f is si o na i s e d a s oc i ed ad e, e m g er al , e ,
conseqüentemente, a chamada prevalência administrativa
grau de reconhecimento institucional da condição
3.2Aspectos Culturais
(30; 57;
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34/1135
58)
(50)
(9)
. Os professores são muito importantes na detecção do
transtorno e são influenciados por fatores ambientais, como
o número de alunos dentro da classe, treinamento prévio,experiência e atitudes frente ao comportamento admissível
socialmente e preferências sobre práticas disciplinares para
osdesviantes das normasculturaise sociais .
Os critérios diagnósticos do TDA/H sofreram numerosas
mudanças, ao longo dos últimos 100 anos. Embora as
diversas definições refiram-se grosseiramente à mesma
síndrome, elas refletem interesses particulares e
concepções etiológicas que resultam em diferentes
estimativas de prevalência . Seus critérios diagnósticos
3.3 Tendências Históricas dos Critérios Diagnósticos
representam a operacionalização do conceito do transtorno
predominante no momento. Apesar de já existirem dois
maiores sistemas classificatórios atuais (DSM e a CID)teremtentado uniformizar suasdefinições, não conseguiram
eliminar todas as diferenças.
A primeira explicação para a diferença nas estimativas de
prevalência reside nas diferenças de critérios entre a versão
DSM-IV-TR e a CID-10 . Estas duas edições
apresentam critérios e categorias clínicas diferentes para
definir o TDA/H. A CID-10 possui uma única categoria, de
Transtorno Hipercinético, que não existe no DSM-IV-TR e
que é caracterizada por sintomas de desatenção,
hiperatividade e impulsividade, em várias áreas de relação
da criança, com prejuízo difuso e início, antes dos seis anos
(41)
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de idade. No DSM-IV-TR, esses comportamentos são
descritos dentro do subtipo combinado. A CID-10 também
r es tr in ge m ais o d ia gn ós tico , e m p re se nç a d ecomorbidades. Estas diferenças têm conseqüências nas
taxas de prevalência, com cerca de 1-2% das crianças,
recebendo o diagnóstico quando os critérios da CID-10 são
aplicados. Por exemplo, um grande estudo epidemiológico,
no Reino Unido, encontrou taxas de prevalência do
Transtorno Hipercinético de 1,4% . Já o DSM-IV-TR
requer idade de início antes dos sete anos e é mais flexível
em relação ao diagnóstico na presença de comorbidades,
resultando, em médias, mais altas de prevalência, entre 4 e
8 % . Alémdisso, o DSM-IV-TR é mais abrangente que a
CID-10. A idade de início dos sintomas foi arbitrariamente
estipulada em 7 anos no DSM-IV-TR. Alguns peritos
(35)
(30)
sugerem que este critério seja abrandado uma vez que
os sintomas do subtipo desatento podem ser notados, após
osseteanos deidade. Umestudo, emescolas nos EUA, queincluiu casos com início de sintomas após os sete anos de
idade,resultouem aumento deprevalênciade 22% .
Mesmo entre as diferentes edições da DSM, há diferenças
importantes nas taxas de prevalência. Uma revisão
sistemática de amostras comunitárias, entre crianças de 6 a
12 anos, resultou em uma prevalência de 6,8% para o DSM-
III e 10,3% parao DSM-III-R . O DSM-IVe o DSM-IV-TR,
atualmente em uso, possuem critérios mais abrangentes
que o DSM-III-R. A simples comparação dos critérios do
DSM-IV com o DSM-III-R, em uma mesma amostra de
crianças, aumentou a prevalência em até 60% em alguns
(8)
(49)
(26)
,
CAPÍTULO I - HISTÓRICO E EPIDEMIOLOGIA DO TDA/H
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estudos .
A prevalência do TDA/H varia de acordo com a idade
estudada, sofrendo um decréscimo na adolescência e na
idade adulta. Uma coorte de 1.420 crianças, avaliadas,
seqüencialmente, demonstrou uma queda na prevalência
doTDA/H, de2,2% aos 9 anos,para 0,3% aos 16anos .
Meninas são, comumente, menos afetadas e menos
tratadas que meninos, com taxas de 1,6%, comparado a
5,1%, em um estudo de 8.771 indivíduos de 3 a 18 anos, nos
EUA . Algumas amostras clínicas encontraram
proporções entre meninos e meninas, de até 9 para 1,
emboraa maioria dos estudos situe-seentre 2 a 3 para 1
3.4SexoeIdade
(65)
(18)
(40)
(36;
42; 59)
(49)
. Uma maior proporção de casos do subtipo
desatento, entre as meninas, poderia ser a responsável pela
menor prevalência neste sexo, refletindo, na verdade, umbaixo reconhecimento dosubtiponestegênero .
A maioria dos estudos em TDA/H é realizada com amostras
clínicas de crianças. Estes trabalhos têm a vantagem de
envolverem avaliações extensas para cada indivíduo e a
desvantagem de que estas crianças não representam a
maioria dascriançasna comunidade, umavez que amostras
clínicas tendem a incluir casos mais graves e complicados.
Amostras comunitárias, freqüentemente, levam em conta
apenas informações fornecidas pelos pais ou pelos
3.5OrigemdaAmostra
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responsáveis, sem a opinião dos professores, enquanto
amostras de escolas tendem a contabilizar apenas a
informação dos professores. Assim, o desafio da pesquisaepidemiológica, na população geral, é o de avaliar um
grande número de pessoas com uma metodologia que dê
acesso adequadoà psicopatologia de interesse.
Os estudos epidemiológicos de base populacional,
geralmente, utilizam um primeiro instrumento, como uma
escala de sintomas, para rastreamento da população
estudada, seguido de uma avaliação mais extensa dos
casos considerados positivos paraconfirmação diagnóstica.
A utilização de instrumentos de rastreamento, baseados na
3.6 Tipo de Rastreamento (Screening)
CID-10 ou no DSM-IV, pode alterar a prevalência
encontrada. A Escala de Conners para pais e professores
e o C hi ld B eh avi or C he ck li st ( CB CL ) ,freqüentemente, são utilizadas para rastreamento de
TDA/H. Estas escalas definem dimensões cujos extremos
são considerados de importância clínica. As estimativas de
prevalência estão relacionadas com o ponto de corte,
estabelecido nessas escalas de sintomas, e podem variar
amplamente dependendo do ponto de corte utilizado . O
uso de escalas para pais e professores ou entrevistas sobre
o comportamento da criança, nos últimos 6 meses,
continuam a ser os mais importantes procedimentos
diagnósticos disponíveis . Mas o uso apenas de
entrevistas clínicas pode subestimar a prevalência real do
transtorno. As taxas de prevalência encontradas são
(16) (1)
(14)
(50)
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maiores quando o diagnóstico é feito por escalas e menores
quando por entrevistas clínicas estruturadas . Por outro
lado, o uso de escalas ou entrevistas diagnósticasestruturadas, ao invés de entrevistas clínicas semi-
estruturadas, pode não permitir o julgamento clínico
necessário à avaliação de casos mais complexos,
provavelmente aumentando as taxas de prevalência, com
inclusão de pacientes que apresentam outros diagnósticos.
Além disso, alguns instrumentos utilizam escalas com
quatro possibilidades de resposta, de acordo com a
freqüência,e a escolha do ponto de corte da freqüência pode
alterar significativamente a prevalência quando se define
"freqüentemente" e "muito freqüentemente" como item
positivo, obtém-se taxas mais altas de prevalência do que
quandoseinclui somente o “muitofreqüentemente” .
(33)
(49; 66)
3.7 PerdasAmostrais
A maneira com que os estudos lidam com as perdasamostrais também influencia a prevalência. Pais que se
recusam a responder sobre casos selecionados pelos
professores podem corresponder a falsos negativos. Os
paispodem não aceitar diagnósticos psiquiátricos, por temor
a estigmatização ou rotulagem, ou por serem contra
medicações, por princípio. Um estudo americano obteve
uma prevalência de TDA/H de 12,7% baseado em dados
completos, e estimou 16,1% com a suposição, sem
confirmação, de que as perdas que ocorreram por recusa de
participação dospais envolviamcasospositivos .(49)
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3.8TipodeFontedeInformação
O DSM-IV-TR não especifica exatamente como deve ser combinada a informação de diferentes fontes. A ausência de
padronização, neste processo, influencia quem vai ser
considerado um caso e em quesubtipo será enquadrado.As
estimativas de prevalência são particularmente sensíveis a
quem vai ser perguntado, ao que vai ser perguntado e a
como a informação vai ser combinada . Alguns estudos
exigem algum grau de concordância entre pais e
professores, pelo menos, por exemplo, três sintomas em
outro contexto, além dos seis sintomas em algum contexto
principal (escola ou família) . Outros estudos requerem,
pelo menos, quatro sintomas no contexto adicional , e
outros utilizam uma simples combinação de informações de
(50)
(49)
(37)
diferentes fontes para cada sintoma ou então seis
sintomas em cada um dos dois contextos diferentes .
Cada uma destas abordagens produz diferente estimativade prevalência. Jensen et al demonstraram que há
aumento na prevalência de TDA/H quando a informação é
obtida de pais e das crianças (15,1%), comparada à
informação coletadaapenas dospaissem a criança (11,9%).
Alguns estudos excluíram pacientes que já tinham o
diagnóstico e que estavam medicados, com menos de seis
sintomas, diminuindo a prevalência real do transtorno ,
enquanto outros incluíram estas crianças se elas
estivessem sintomáticas, durante o ano anterior à pesquisa
3.9UsodeMedicação
(31)
(25)
(29)
(65)
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Dessa forma, um sujeito pode apresentar 10 sintomas cinco
em cada dimensão além de prejuízo funcional em vários
contextos e, mesmo assim, não recebe o diagnóstico. Alguns estudos sugerem o uso de escalas como a
Escala deAvaliação Global de Funcionamento, a CGAS
para a determinação de prejuízo funcional. Professores
muito exigidos podem ser pouco tolerantes com os alunos e
t en de re m a c on si de rá -l os “ em p re ju íz o” e ,
conseqüentemente, casos mais facilmente. Nos EUA,
portadores de TDA/H são considerados elegíveis para
serviços especiais de educação que lhes dão algumas
vantagens escolares, o que pode ter aumentado a entrada
de crianças em tratamento . Por outro lado, sendo estes
recursos limitados, os professores também podem evitar
sugerir o diagnóstico, caso os serviços especiais estejam
(48)
(53)
(40)
lotados.
Diferentes condições clínicas como Transtorno de Conduta,
transtornos cognitivos, Transtorno Desafiador Opositor,
depressão, Transtorno do Humor Bipolar e ansiedade,
podem mimetizar e confundir o diagnóstico, alterando as
taxas de prevalência se não forem especificamente
abordados e discriminados . Esse problema pode ser
mais evidente quando escalas estruturadas são aplicadas
por entrevistadores sem treinamento clínico, sem avaliar as
c o mo r bid ad e s e s pe c i fic a s. A s e s tim a tiv a s d a s
comorbidades também variam com o tipo de instrumento de
medida utilizadoparasuadeterminação.
3.11AvaliaçãodeComorbidades
(50)
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3.12 Variações Culturais: Cultura Latino-Americana
Pinedaet al avaliaram a prevalência deTDA/H, emumaamostra de 341, escolares entre 4 e 17 anos, na Colômbia.
Foram encontrados 17,1% de indivíduos com o transtorno,
sendo 9,4%combinados, 6,7%desatentos e 1% hiperativos.
Crianças dos estratos sócio-econômicos inferiores foram
duas vezes mais afetadas que as dos mais altos. Outro
estudo venezuelano apresentou uma estimativa de 10,15%
de prevalência, com394 escolares, entre 3 e 13 anos, sendo
7,61% do subtipo combinado, 0,51% desatentos e 2,03%
hiperativos . Em ambos os estudos, as taxas em
meninos foram mais altas do que em meninas (21,8% para
10,9% e 7,1%para3,05%, respectivamente).
(42)
(36)
No Brasil, Guardiola et al, avaliaram 484 indivíduos em
escolas públicas e privadas de Porto Alegre, encontrando
uma prevalência de 18% utilizando o DSM-IV, mas seminformaçõesdos pais. Cerca de 25% dos meninos e 11% das
meninas foram considerados positivos para o transtorno. A
estimativa foi reduzida para 3,5% quando se associou
critério neuropsicológico ao DSM-IV entretanto, este critério
não faz parte da definição psiquiátrica atual do transtorno.
Também em Porto Alegre, Rohde et al avaliaram, em
escolas públicas, 1.013 adolescentes, entre12 a 14 anos,
utilizando o DSM-IV e um ponto de corte de 70 ou menos na
escala CGAS como definidor de prejuízo. Cerca de
5,8% dos adolescentes apresentaram o transtorno, com
uma comorbidade de 47,8% para Transtorno de Conduta e
Desafiador-Opositor. Dos casos identificados, 52,2% foram
(27)
(48)
(53)
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do subtipo combinado, 34,8% do desatento e 13% de
hiperativo/impulsivo. Vasconcelos et al avaliaram 403
crianças de baixa renda, entre 6 a 15 anos, em uma únicaescola pública de Niterói (RJ), sem avaliar de forma
sistemática as comorbidades. Encontraram uma
prevalência total de 17,1%, distribuídos em 39,1% do
subtipo desatento, 37,7% de combinado e 23,2% de
hiperativo/impulsivo. Dias et alli . validaram o
Questionário Abreviado de Conners para professores
em uma amostra de 979 crianças, em escolas públicas de
João Pessoa, encontrando uma prevalência de 4,1% para
meninos e 1,8% para meninas, naquele grupo. Em outro
estudo de Andrade et alli. em uma amostra de 116
adolescentes infratores, entre 12 e 19 anos, os achados de
TDA/H foram muito mais expressivos: 54% apresentaram o
(59)
(19)
(16)
(7)
transtorno, além de diversas outras comorbidades. Merece
destaque o fato de que 93% destes infratores nunca foram
tratados paraqualquertranstorno psiquiátrico.
A prevalência do TDA/H em adultos está na dependência
dos critérios diagnósticos e da definição de remissão
utilizada para esta faixa etária. A definição de remissão tem
todas as complexidades da definição de início de transtorno,
ou seja, quando o limiar de sintomas é atingido, em
intensidade ou quantidade. Como regra, uma certa
proporção dos pacientes com TDA/H apresenta uma
atenuação dos seus sintomas com a idade. Alguns estudos
de longa duração são baseados em amostras clínicas
3.13Critériospara Adultos
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altamente selecionadas, que, provavelmente, incluem
pacientes com mais comorbidades e prejuízo no
desempenho do que casos de TDA/H, na população geral. Em uma amostra, acompanhada por quatro anos ,
120 pacientes com TDA/H pelo DSM-III-R obtiveram uma
redução dos seus sintomas, mas raramente alcançaram
remissão funcional satisfatória, definida pelos autores como
pontuação abaixo de um terço do máximo de sintomas
possível e escores acima de 60 na escala GAF. Existem três
estudos longitudinais que seguiram crianças até a fase
adulta. Weiss et al acompanharam por 15 anos 63
crianças hiperativas, sem utilizar critérios diagnósticos
formais nosadultos, e evidenciaramque cerca de metade se
manteve na vida adulta com sintomas de intensidade leve a
severa e com prejuízo funcional. Manuzza et al
(50) (13)
(63)
(34)
acompanharam 207 crianças, em duas amostras. Aos 25
anos, cerca de 11% em uma das amostras e 4% noutra
tinham permanecido com o diagnóstico de TDA/H.Rasmussen e Gillberg acompanharam 61 crianças, por
cerca de 15 anos. Aos 22 anos de idade, 49% da amostra
apresentavam "marcados" sintomas de TDA/H. Murphy e
Bark ley aval iaram 720 motor istas buscando
revalidação para suas licenças de direção e encontraram
4,7% de casos de acordo com os critérios da DSM-IV.
Populações mais específicas, embora com resultados
pouco generalizáveis, podem apresentar índices bem mais
significativos do transtorno. Assim, Eyestone e Howell
avaliaram 102 presidiários masculinos pelo DSM-III-R e
critérios de Utah e encontraram uma prevalência de
25,5% de TDA/H, nesta amostra. Em um recente estudo de
(44)
(38)
(22)
(64)
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1000 adultos de amostra representativa da população
americana, avaliada por telefone, determinou prevalência
de cerca de 3% de acordo com o DSM-IV para TDA/H. Adicionalmente, um terço dos mesmos recebeu o
diagnóstico,apósos18 anos .
Os desenvolvimentos do d iagnóst ico do TDA/H
acompanharam a história da Psiquiatria ao longo do último
século. Muito esforço foi despendido na busca de um
esclarecimento deste quadro. A situação evoluiu de uma
nosologia inicial confusa para a era atual dos manuais
diagnósticos e dos estudos sistemáticos com amostras
representativas. Mesmo assim, a pesquisa epidemiológica
4. CONCLUSÃO
(24)
do TDA/H segue enfrentando dificuldades substanciais. A
determinação da distribuição do transtorno na população
permanece em discussão e está na dependência dediversos fatores, entre eles, o modo como a condição é
definida e de como os estudos de prevalência são
delineados e implementados. Em diversos momentos da
pesquisa epidemiológica sobre o TDA/H. São necessárias
decisões entre variadas opções metodológicas que vão
influenciar significativamente as estimativas finais obtidas.
Essas opções expõem a sensibilidade dos critérios
diagnósticos e instrumentos de pesquisa a mudanças
relativamente pequenas de conteúdo ou método de
pesquisa. Essas escolhas, idealmente, devem ser clara e
consensualmente definidas, além de baseadas na melhor
evidência empírica disponível, para que as taxas de
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prevalência encontradas possam ser mais comparáveis e
menos discrepantes do que são atualmente. Mesmo assim,
esse transtorno é considerado um dos mais freqüentes na
infância e na adolescência, permanecendo em um número
considerável de adultos sob a forma de um problema que
requer atenção e tratamento continuados.
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