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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS Vagner Bendo Demétrio DESENVOLVIMENTO DE AÇOS AUTOLUBRIFICANTES VIA COMPACTAÇÃO DE PÓS GRANULADOS Dissertação de mestrado apresentado ao Programa de Pós- graduação em Ciência e Engenharia de Materiais da Universidade Federal de Santa Catarina. Orientador: Aloisio Nelmo Klein Co-orientador: Cristiano Binder Florianópolis 2012

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I

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E

ENGENHARIA DE MATERIAIS

Vagner Bendo Demétrio

DESENVOLVIMENTO DE AÇOS AUTOLUBRIFICANTES VIA

COMPACTAÇÃO DE PÓS GRANULADOS

Dissertação de mestrado

apresentado ao Programa de Pós-

graduação em Ciência e

Engenharia de Materiais da

Universidade Federal de Santa

Catarina.

Orientador: Aloisio Nelmo Klein

Co-orientador: Cristiano Binder

Florianópolis 2012

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III

TÍTULO:

DESENVOLVIMENTO DE AÇOS AUTOLUBRIFICANTES VIA

COMPACTAÇÃO DE PÓS GRANULADOS

Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de

“Mestre em Ciência e Engenharia de Materiais” e aprovado em sua

forma final pelo Programa de Pós-graduação em Ciência e Engenharia

de Materiais.

Florianópolis, 10 de outubro de 2012.

________________________

Prof. Dr. Antônio Pedro Novaes de Oliveira

Coordenador do Curso

BANCA EXAMINADORA:

________________________

Prof. Dr. Ing. Aloisio Nelmo Klein

Orientador

Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC

________________________

Dr. Eng. Cristiano Binder

Co-Orientador

Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

________________________

Dr. Eng. Gisele Hammes

Universidade Federal de Santa

Catarina UFSC

________________________ Prof. Dr. Eng. Henrique Cezar

Pavanati

Instituto Federal de Santa Catarina

IFSC

________________________

Prof. Dr. Eng. Ana Maria Maliska

Universidade Federal de Santa

Catarina UFSC

________________________ Prof Dr. Cesar Edil da Costa

Universidade Estadual de Santa

Catarina - UDESC

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IV

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V

Aos meus pais Valmir e Maria do Carmo,

a minha mulher Klyceia,

as minhas irmãs Denise e Kétner,

e ao meu afilhado Giovanni.

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VI

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VII

AGRADECIMENTOS

A Deus por sempre estar presente iluminando minha vida.

À minha amada mulher, Klyceia Rafy Duarte, por sempre estar

ao meu lado me dando força em todos os momentos da minha vida, me

dando forças e incentivos para sempre continuar e seguir em frente,

buscando sempre ser melhor. Por todo carinho, amor, e compreensão em

todos os momentos.

Aos meus pais, Valmir Demétrio e Maria do Carmo Bendo

Demétrio, pelo incentivo, apoio, amor e carinho durante toda a minha

vida. Sempre me dando apoio para tomar decisões e seguir meu

caminho da melhor maneira possível.

Às minhas queridas irmãs, Denise Bendo Demétrio Bastos e

Kétner Bendo Demétrio, pelo companheirismo, compreensão e ajuda em

todos os momentos da minha vida.

Ao meu coorientador e amigo, Cristiano Binder, por todo o apoio

durante minha formação, tanto graduação quanto pós graduação.

Ensinamento que eu levarei para sempre.

Ao meu professor e orientador Aloísio Nelmo Klein, pela

formidável orientação e apoio para a realização deste e outros trabalhos,

bem como pela oportunidade oferecida.

Aos meus amigos e colegas de laboratório, Mateus Hermann,

Paulo Orsi, Vinicius, Itamar, Gelain, Renan Jung, Renan Schroeder,

Darabas, Rodrigo, Frederico, Vinicius, Henrique e a tantos outros

amigos que por ventura eu não tenha lembrado, que durante todos estes

anos me ajudaram e fizeram com que o ambiente do laboratório fosse

sempre bom. Obrigado por ter feito parte desta competente equipe.

Ao Laboratório de Materiais – LABMAT pela oportunidade e

pela infraestrutura que possibilitou a realização deste trabalho.

A CAPES, que forneceu o incentivo financeiro para a realização

do mestrado. À empresa EMBRACO S.A. e à FINEP, pelo

financiamento do projeto, que proporcionou a realização deste trabalho.

À Universidade Federal de Santa Catarina e ao Programa de Pós-

Graduação em Ciência e Engenharia dos Materiais, instrumentos da

minha formação acadêmica. E a todos que, de maneira direta ou indireta,

auxiliaram na execução deste trabalho.

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VIII

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IX

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi o desenvolvimento de aços com

baixo coeficiente de atrito via metalurgia do pó através de uma rota de

processamento que unisse as características metalúrgicas próximas aos

aços produzidos por metalurgia do pó via injeção (MPI) com a

facilidade e o custo do processo de fabricação via compactação de pós.

Assim neste trabalho estudou-se uma rota de granulação de pós,

utilizando a matéria prima empregada na MPI e um aglomerante

orgânico para formar os grânulos. Os ligantes orgânicos estudados

foram a parafina (PW) e o Etileno-Acetato de Vinila (EVA), e devido as

características dos polímeros e dos pós empregados, o ligante que

apresentou melhores resultados foi o EVA, que manteve os grânulos

formados durante o manuseio dos pós granulados. A composição da liga

estudada foi Fe+0,6C+3SiC, devido aos melhores resultados

encontrados em trabalhos anteriores realizados no Laboratório de

Materiais da UFSC. No presente trabalho, foi avaliada a influência do

tamanho médio das partículas de ferro e de carboneto de silício (SiC), e

as diferenças estruturais do material ao adicionar o polímero como

agente formador de grânulos. Os pós inicialmente misturados em um

misturador do tipo “Y” foram granulados via granulação a tambor,

devido a escala laboratorial em que foi feito o trabalho. Assim que os

processos de preparação dos pós foi concluído, partiu-se para a etapa de

compactação e sinterização em ciclo único de extração de aglomerante e

sinterização dos componentes. As peças foram submetidas a análises

materiolográficas, mecânicas e tribológicos onde pode ser verificado

que o objetivo do trabalho foi alcançado, as peças produzidas via

compactação de pós granulados alcançaram resultados próximos aos

resultados da liga de mesma composição produzida via MPI, com um

tempo de processamento e custo próximo ao da metalurgia do pó via

compactação.

Palavras Chave: metalurgia do pó, lubrificante sólido, granulação de pós.

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XI

ABSTRACT

The aim of this work was the development of powder metallurgy steels

with low friction coefficient made by a new route. It is join

metallurgical characteristics of steels produced by powder injection

molding (MPI) with facilities and cost of the manufacturing process for

compaction powders. In this work, it was studied the granulation of

powders using the raw material used in the MPI and organic binder to

form the granules. The organic binders studied were Paraffin Wax (PW)

and Ethylene-Vinyl Acetate (EVA), and due to the characteristics of the

polymers and the powder employed, the binder which presented better

results was EVA, which retained the granules formed during the

handling until the forming.

The alloy composition studied was Fe +0.6 C +3 SiC, due to better

results found in previous studies conducted in the Laboratory of

Materials of UFSC. In the present study, we evaluated the influence of

the average particle size of iron and silicon carbide (SiC), structural

differences and with polymer as granulate agent. The powders were

initially mixed in a Y-type mixer and they were granulated by tumbling

granulation. Once the process has completed, it started the preparation

of the compaction powders and sintering in a single cycle of binder

removal and sintering of the components. The pieces were metallurgical,

mechanical and tribologically analyzed and the aim of the work was

achieved. The parts produced via granulated powders compaction

achieved similar results to the results of the same alloy composition

produced via MPI, with a processing time and cost close to the powder

metallurgy via compaction.

Keywords: powder metallurgy, powder granulated, self lubrificating.

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XII

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XIII

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Densificação de pós durante a compactação [10]. ................. 29 Figura 2: Etapas principais da Moldagem de Pós por Injeção [12]. ...... 31

Figura 3: Granulação por tambor .......................................................... 32

Figura 4: Granulação por “Spray Dryer”, onde a solução é pulverizada

para produzir grânulos. .......................................................................... 33

Figura 5: Processo de granulação por tratamento térmico, o pó é pré

sinterizado, formando os primeiros contatos [10]. ................................ 34

Figura 6: Granulação mecânica, o pó é compactado com baixa pressão

formando grânulos devido a ancoragem mecânica [10]. ....................... 34

Figura 7: Microestrutura de um aço sinterizado autolubrificante, obtido

por dissociação do SiC em matriz ferrosa (2% de SiC) [9]. .................. 38 Figura 8: Folhas de grafite empilhadas que compõem os nódulos de

grafita dos aços sinterizados autolubrificantes [13]. ............................. 39

Figura 9: Aço contendo SiC não totalmente dissociado,

Fe(100µm)+3SiC(50µm) [13]. .............................................................. 39

Figura 10 – Forma de obtenção do material autolubrificante com alta

resistência mecânica .............................................................................. 41

Figura 11: Influência do tamanho das partículas do aditivo insolúvel

sobre o grau de continuidade da matriz. a) modelo ideal; b) modelo

indesejável. Sendo L o livre caminho médio, d o diâmetro médio da

partícula de lubrificante sólido e C a concentração de lubrificante sólido

[13]. ....................................................................................................... 43

Figura 12: Modelo idealizado da microestrutura de um compósito

autolubrificante a seco [12]. .................................................................. 44

Figura 13: Fluxograma da rota de processamento que será utilizada

neste trabalho. ....................................................................................... 47

Figura 14: Fotos dos pós de SiC e Fe que serão utilizados neste trabalho.

(a) SiC com tamanho médio de 10 µm, (b) SiC com tamanho médio de

25 µm, (c) ASC100.29 com tamanho médio de 120 µm, (d) ASC100.29

peneirado, <45µm, (e) OM-CL pó de injeção com tamanho médio de 5

µm. ........................................................................................................ 49

Figura 15: Análises da influência do percentual de SiC nas propriedades

mecânicas das ligas produzidas por metalurgia do pó por injeção (MPI)

[13]. ....................................................................................................... 50

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XIV

Figura 16: Microestrutura da liga produzida por PIM. Liga composta por

FeOM + 0,6C + 3SiC [13]. ................................................................... 51

Figura 17: Pó granulado com 2% de EVA. ........................................... 53

Figura 18: Ciclo térmico para sinterização e extração de polímero

realizado neste trabalho. ........................................................................ 54

Figura 19: Ilustração do pó granulado através do método de granulação

em tambor utilizando EVA como ligante. ............................................. 60 Figura 20: Densidades relativas dos aços produzidos. Tomando com

referência a densidade do ferro puro sem porosidade. .......................... 62

Figura 21: Gráfico com os valores de retração linear das peças

sinterizadas. ........................................................................................... 62 Figura 22: Gráfico com os valores percentuais de perdas de massa dos

granulados após a sinterização. ............................................................. 63

Figura 23: FeOM granulado com 1,5% EVA sinterizado. .................... 64 Figura 24: FeOM granulado com 2,0% EVA sinterizado. .................... 64

Figura 25: ASC100.29<45µm granulado com 1,5% EVA sinterizado. 64

Figura 26: ASC100.29<45µm granulado com 2,0% EVA sinterizado. 64

Figura 27: LSCA-1 FeOM + 3 SiC(<10µm), revelação de microestrutura

com Nital 2%. ....................................................................................... 66

Figura 28: LSCA-2 Fe ASC100.29(<45µm )+ 3 SiC(<10µm) + 0,6 C 67

Figura 29: LCSA-3 Fe ASC100.29 + 3 SiC(<10µm) + 0,6 C............... 67

Figura 30: LSCA-4 FeOM + 3 SiC(<25µm) ......................................... 67

Figura 31: LSCA-5 Fe ASC100.29(˂45µm )+ 3 SiC(<25µm) + 0,6 C 68

Figura 32: LSCA-6 Fe ASC100.29 + 3 SiC(<25µm) + 0,6 C............... 68

Figura 33: LCSA-7 Fe OM + 3 SiC(<10µm), pó granulado com 2%

EVA. ..................................................................................................... 69

Figura 34: LCSA-8 Fe ASC100.29˂45 µm + 3 SiC(<10µm), pó

granulado com 2% EVA. ...................................................................... 69 Figura 35: LCSA-9 Fe OM + 3 SiC(<25µm), pó granulado com 2%

EVA. ..................................................................................................... 70

Figura 36: LCSA-10 Fe ASC100.29˂45 µm + 3 SiC(<25µm), pó

granulado com 2% EVA. ...................................................................... 70

Figura 37: Percentual de poros + nódulos de grafite presente no interior

do material. ........................................................................................... 71

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XV

Figura 38: Dureza das peças produzidas, ferro puro, ferro com SiC

10µm, SiC 25 µm e com os pós granulados. ......................................... 73

Figura 39: Efeito endurecedor de elementos de liga na ferrita [34]. .... 73

Figura 40: Gráfico com as tensões máximas e de escoamento e o

alongamento máximo das ligas que foram possíveis a fabricação de

corpos de prova. Como referência foi utilizado a liga produzida por MPI

[13] com a mesma quantidade de elementos de liga utilizada neste

trabalho. ................................................................................................. 75

Figura 41: Curva típica de durabilidade e coeficiente de atrito. Liga

LSCA9................................................................................................... 77

Figura 42: Durabilidade e coeficiente de atrito para as diferentes ligas

estudadas. .............................................................................................. 78

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XVI

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XVII

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Ligantes orgânicos e inorgânicos para granulação de pós [13].

............................................................................................................... 32 Tabela 2: Situações onde lubrificantes líquidos são indesejados

(adaptado de [1]). .................................................................................. 35

Tabela 3: Classificação de revestimentos tribológicos [20]. ................. 36 Tabela 4: Características do pó. Informações cedidas pelo fabricante .. 48

Tabela 5: Tabela com as misturas que serão utilizadas neste trabalho. . 48

Tabela 6: Solução de polímeros e solventes para a granulação dos pós da

mistura. .................................................................................................. 52

Tabela 7: Tabela com os percentuais de polímero utilizado para a

formação dos grânulos. ......................................................................... 60

Tabela 8: Tabela com os valores de escoabilidade e densidade aparente

dos pós granulados ................................................................................ 61

Tabela 9: Percentual de poros encontrados. .......................................... 63

Tabela 10: Valores de polímero utilizado para a produção dos grânulos

da mistura de Fe+SiC+C. ...................................................................... 65

Tabela 11: Tabela com as ligas estudadas, misturas granuladas e não

granuladas para efeitos de comparação para os aços produzidos.

Percentuais de elementos de liga em massa. ......................................... 65 Tabela 12 – Coeficiente de atrito de diferentes materiais. .................... 79

Tabela 13: Tabela com as propriedades da liga LSCA7 comparadas

com a liga de referência produzida por MPI. ........................................ 82

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XVIII

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XIX

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

- µ: Coeficiente de atrito;

- PTFE: Politetrafluoretileno;

- MPI: Moldagem de Pós por Injeção;

- S: área média;

- L: livre caminho médio;

- d: diâmetro médio da partícula de lubrificante sólido;

- C: concentração de lubrificante sólido;

- SiC: Carboneto de Silício;

- M/P: Metalurgia do Pó;

- ρth: Densidade teórica;

- ρa: Densidade aparente;

- MIM: Metal Injection Molding;

- CIM: Ceramic Injection Molding;

- PVA: Álcool Polivinílico;

- PW: Parafina;

- EVA: Etileno-Acetato de Vinila (Ethylene Vinyl Acetate);

- DLC: Diamond like Carbon (carbono tipo diamante);

- PVD: Deposição Física de Vapores (Physical Vapor Deposition);

- CVD: Deposição Química de Vapores (Chemical Vapor Deposition);

- RPM: Rotações por minuto;

- LSCA: Lubrificante Sólido Compactado Aglomerado;

- HV: Dureza Vickers;

- σesc: Tensão de escoamento;

- σmáx: Tensão de máxima para a ruptura;

- al%: Alongamento;

- α: Ferrita;

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XX

- MPIF: Metal Powder Industries Federation;

- torr: Pressão Torricelli;

- sccm: Standars Centimeter Cubic per Minute (Centímetros Cúbicos

por Minuto);

- PA: Pró Análise;

- MO: Microscópio Óptico;

- MoS2 : dissulfeto de Molibdênio.

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XXI

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................ 23

1.1. INTRODUÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO .......................................... 23

1.2. OBJETIVOS E JUSTIFICATIVAS ...................................................... 25

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................... 27

2.1. METALURGIA DO PÓ .................................................................... 27

2.1.1. O PROCESSO BÁSICO ................................................................ 28

2.1.2. MOLDAGEM DE PÓS POR INJEÇÃO (MPI) .................................. 29

2.2. GRANULAÇÃO ............................................................................. 31

2.2.1. GRANULAÇÃO EM TAMBOR ...................................................... 32

2.2.2. GRANULAÇÃO POR “SPRAY DRYER” .......................................... 33

2.2.3. GRANULAÇÃO TÉRMICA ........................................................... 33

2.2.4. GRANULAÇÃO MECÂNICA ........................................................ 34

2.3. LUBRIFICAÇÃO SÓLIDA ............................................................... 34

2.3.1. COMPÓSITO AUTOLUBRIFICANTE ............................................. 36

3. METODOLOGIA DE DESENVOLVIMENTO DO NOVO

PROCESSO ......................................................................................... 41

4. MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................ 47

4.1. MATERIAIS .................................................................................. 47 4.2. MISTURAS .................................................................................... 48

4.3. GRANULAÇÃO DOS PÓS ............................................................... 51

4.4. COMPACTAÇÃO ........................................................................... 53 4.5. SINTERIZAÇÃO ............................................................................. 53

4.6. CARACTERIZAÇÃO ....................................................................... 54

4.6.1. PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS DOS GRÂNULOS ..................... 54 4.6.2. DENSIDADE ............................................................................... 55

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XXII

4.6.3. MICRODUREZA ......................................................................... 55

4.6.4. MICROESTRUTURA ................................................................... 55

4.6.5. ENSAIOS DE TRAÇÃO ................................................................ 56

4.6.6. TRIBOLOGIA ............................................................................. 56

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................... 59

5.1. GRANULAÇÃO PRELIMINAR ........................................................ 59

5.1.1. PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS DOS GRANULADOS ................ 60 5.1.2. COMPACTABILIDADE E SINTERIZAÇÃO PRELIMINAR ................ 61

5.1.3. MICROGRAFIA DOS SINTERIZADOS PRELIMINARES ............. 64

5.2. COMPACTAÇÃO E SINTERIZAÇÃO DAS LIGAS CONTENDO SIC ..... 65

5.3. CARACTERIZAÇÃO ...................................................................... 66 5.3.1. MATERIALOGRAFIA .................................................................. 66

5.3.2. DENSIDADE .............................................................................. 70

5.3.3. PROPRIEDADES MECÂNICAS .................................................... 72 5.3.4. TRIBOLOGIA ............................................................................. 76

6. CONCLUSÕES ............................................................................ 81

7. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ...................... 83

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................... 85

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23

1. INTRODUÇÃO

1.1. INTRODUÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO

Hoje o mercado busca novos meios para reduzir custos e diminuir

o consumo de energia, gerando um diferencial em seus produtos. Os

meios para se alcançar estes diferenciais podem ser a utilização de novas

tecnologias, utilização de energias renováveis, redução de emissão de

poluentes no seu funcionamento ou na sua produção, na redução de

custos ou no aumento da durabilidade de seus produtos. Uma das formas

de aumentar a vida de produtos é pela diminuição do desgaste relativo

entre superfícies através da redução de atrito [1][2].

Uma forma de reduzir o atrito e o desgaste entre as superfícies

que possuem movimento relativo é mantê-las separadas, introduzindo

entre elas uma camada de lubrificante. Uma das possíveis soluções, e a

mais utilizada atualmente, é a lubrificação utilizando lubrificantes

líquidos. Neste tipo de lubrificação o fluído forma uma película

que separa as superfícies em movimento relativo. No entanto, em muitas

situações práticas, o lubrificante fluido não pode ser utilizado, como por

exemplo, onde há baixa pressão ou em intervalos de temperatura onde

os fluidos não apresentam mais eficiência. Este fato ocorre tanto em

temperaturas mais altas (acima de 200C) quanto mais baixas, onde os

fluidos não possuem mais fluidez adequada. Além disso, este tipo de

lubrificação pode trazer problemas de contaminação ambiental ou agir

como contaminante no processamento de outros produtos (indústria de

alimentos, por exemplo).

O uso de lubrificantes fluidos também torna ineficiente em

situações de lubrificação limite decorrentes de paradas de ciclo, não

conformidade entre as superfícies ou a impossibilidade de formação do

filme do fluido, causam o contato entre as superfícies das peças e o

desgaste das mesmas [3].

Uma alternativa à lubrificação com lubrificantes líquidos é o uso

de lubrificantes sólidos, que atuam de forma semelhante que a líquida,

formando uma camada que impede o contato entre superfícies em

movimento relativo. Isso, porém, é possível devido a características do

sólido, que possui baixo coeficiente de atrito (µ) [1].

Este lubrificante pode ser aplicado aos componentes em contato na forma de filmes ou camadas depositadas, geradas nas superfícies em

contato ou dispersos no volume do material na forma de partículas. No

caso da aplicação de lubrificantes como filmes ou camadas existe a

possibilidade de haver desgaste dos mesmos, ocorrendo o contato metal-

metal e o consequente desgaste das superfícies, associado à dificuldade

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24

de reposição do lubrificante, oxidação e degradação. Uma forma de

aumentar o tempo de vida de materiais é incorporar lubrificante sólido

no seu volume na forma de partículas dispersadas ou precipitadas de

segunda fase, gerando um material compósito de baixo coeficiente de

atrito.

As peças produzidas hoje contendo lubrificante sólido dispersos

na matriz são buchas de materiais compósitos geralmente produzidos

por metalurgia do pó, incluindo bissulfeto de molibdênio (MoS2), prata

(Ag), politetrafluoretileno (PTFE), diseleneto de molibdênio (MoSe2)

com prata ou cobre (Cu), e MoS2 com matriz ferrosa e platina (Pt) [4].

Buchas autolubrificantes a base de bronze contendo fase de lubrificante

sólido vem sendo produzidas e utilizadas há décadas em diversas

aplicações de engenharia. No entanto, estas buchas não apresentam

elevada resistência mecânica devido ao elevado percentual volumétrico

(da ordem de 15 a 40 %) de partículas de lubrificante sólido.

Este elevado percentual é necessário para se alcançar o

coeficiente de atrito desejado, porém compromete o grau de

continuidade da matriz, diminuindo demasiadamente a sua resistência

mecânica. Também, as matrizes utilizadas atualmente não apresentam a

dureza necessária para evitar que as partículas da fase lubrificante sólido

sejam encobertas rapidamente pela fase matriz por micro-deformação

plástica, dificultando a manutenção de uma tribo camada de lubrificante

sólido na superfície de trabalho.

Para haver uma distribuição homogênea destas partículas de

lubrificante no interior da matriz, a metalurgia do pó (materiais

sinterizados) apresenta fáceis formas para a adição de lubrificantes, que

podem ser adicionados durante a mistura dos pós ou, em determinados

casos, gerados por precipitação durante a etapa de sinterização. Quando

este material possui contato com outra superfície e apresenta movimento

relativo, o lubrificante forma uma fina camada que impede o contato

direto entre as peças.

As técnicas de metalurgia do pó, tanto compactação como a

moldagem de pós por injeção apresentam alternativas viáveis e de baixo

custo para a fabricação seriada de componentes com elevada precisão

dimensional. Sendo assim utilizada em todos os setores da indústria e

estas rotas são estudadas para resolver problemas e desenvolvimentos de

novos materiais para diversas aplicações.

Porém as rotas convencionais de produção de peças

autolubrificantes a partir do pó, a moldagem de pós por injeção (MPI) e

a compactação, trazem algumas limitações. A moldagem de pós por

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25

injeção necessita de um maior tempo de processamento e um maior

custo de matéria prima.

Já a metalurgia do pó via compactação possui uma resistência

mecânica (resistência à tração, por exemplo) inferior a MPI devido à

característica de matéria prima e microestrutura (tamanho de pó e poros,

por exemplo). Apresenta uma redução na continuidade da matriz (em

comparação a MPI) e por consequência uma diminuição da resistência

mecânica quando é adicionado partículas de segunda fase, como as

partículas que apresentam características de lubrificante solido.

1.2. OBJETIVOS E JUSTIFICATIVAS

Conforme as características de aço autolubrificante sinterizado e

questões de suas rotas de moldagens abordadas no item anterior, o

presente trabalho procura encontrar uma rota de processamento que

permita aliar as características tribológicas adequadas (baixo atrito e

resistência ao desgaste) com propriedades mecânicas adequadas, tendo

uma rota de produção de baixo custo. Uma forma de resolver este

problema é aliar as características das duas principais rotas de

processamento de materiais particulados, moldagem de pós por injeção

e compactação de pós. Ou seja, obter as características microestruturais

avançadas da MPI com a simplicidade de processamento e baixo custo

da rota de compactação de pós.

Assim, o objetivo do presente trabalho, na prática, se constitui no

desenvolvimento de um aço autolubrificante “in situ” que seja

produzido pelo processo de compactação, com sua facilidade de

processamento e custos de fabricação, e que possua características

microestruturais próximas dos aços produzidos por metalurgia do pó por

injeção (MPI).

Para atingir o objetivo proposto, os seguintes objetivos

específicos devem ser desenvolvidos:

1. Obtenção de um material autolubrificante;

2. Análise da influência dos diferentes pós, relação tamanho de

partícula entre pó da matriz e fase precursora de lubrificante sólido (SiC);

3. Estudo das propriedades tecnológicas dos pós, densidade

aparente, escoabilidade e compressibilidade, com e sem

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26

granulação. Estes parâmetros são fundamentais para seu

processamento.

4. Avaliação das propriedades microestruturais, fases formadas e

nódulos de lubrificantes, propriedades mecânicas, dureza e

resistência à tração e tribológicas (atrito e desgaste).

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27

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. METALURGIA DO PÓ

Na atualidade a metalurgia do pó (M/P) possui grande aplicação

em toda a indústria metal mecânica. Presente em todos os setores da

indústria, produzindo peças para diferentes aplicações e dimensões.

A metalurgia do pó tradicional é desenvolvida em quatro etapas:

produção dos pós;

mistura de pós e aditivos;

compactação/moldagem (conformação/obtenção da forma);

sinterização [5].

As propriedades necessárias na peça final dependem de todas as

etapas descritas. Na etapa de compactação ou moldagem é estabelecida

a geometria do componente quando da produção de peças. Na etapa de

sinterização estabelece-se a microestrutura e, consequentemente, as

propriedades mecânicas. Estas, além de dependerem da composição da

liga (elementos de liga presentes) dependem dos parâmetros de

processamento como: tipo e tamanho do pó utilizado, pressão de

compactação, temperatura e tempo de sinterização e atmosfera utilizada.

Na metalurgia do pó ferrosa os elementos de liga mais utilizados na

produção industrial são: Cu, Ni, C, P e Mo [5].

A metalurgia do pó ferrosa tem como principais vantagens:

• Perda mínima de matéria-prima;

• Fácil controle da composição química do material;

• Temperatura de sinterização baixa se comparada com a

fundição;

• Obtenção de componentes acabados com tolerâncias

dimensionais estreitas;

• Versatilidade: diferentes peças podem ser fabricadas com o

mesmo equipamento, trocando-se apenas o ferramental de

moldagem;

• Processo produtivo de fácil automação;

• Uso mais eficiente de matérias-primas e de energia;

• Processo mais econômico para a produção de peças em grandes

séries.

A metalurgia do pó tem o seu uso consolidado em algumas rotas

fabris por ser um processo alternativo mais econômico quando da

fabricação de grandes lotes de peças de alta precisão em série. E

também por ser para muitos materiais, o único processo de fabricação

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28

tecnologicamente viável em função da microestrutura exigida ou das

propriedades físicas e mecânicas do próprio material.

Nos últimos trinta anos a metalurgia do pó ferrosa evoluiu muito

em consequência, basicamente, de três fatores preponderantes:

• Melhor conhecimento tecnológico do processo como um todo, o

que proporciona um maior controle dos parâmetros do processo

e de sua automação;

• Gradativo aumento na densidade das peças obtidas, melhorando

consideravelmente as propriedades mecânicas das peças

resultantes;

• Possibilidade do uso de ligas, tratamentos térmicos e

termoquímicos, gerando materiais com um grau de

homogeneidade, propriedades e repetibilidade comparáveis e/ou

superiores àqueles apresentados pelos materiais fundidos, a um

custo inferior [6].

2.1.1. O PROCESSO BÁSICO

Inicialmente é necessário conhecer minuciosamente a aplicação

pretendida (função, tipo de solicitações mecânicas, térmicas,

tribológicas, químicas, etc). Isto permite uma clara especificação técnica

do produto que se deseja produzir.

Para atingir a estas especificações é necessária a correta escolha

da matéria prima, como composição e tamanho médio de partículas,

sendo que devem ser pós com as propriedades tecnológicas adequadas.

Estas definições, juntamente com a escolha dos parâmetros de

compactação e de sinterização, são essenciais para a obtenção da

microestrutura e das propriedades desejadas.

Na compactação de pós metálicos (dúcteis), além da definição da

forma, ocorre a densificação em função da deformação plástica. Em pós

duros e pós cerâmicos há somente um rearranjo das partículas (Figura 1).

Desta forma a etapa de densificação de materiais dúcteis ocorre durante

a compactação enquanto em materiais duros esta etapa ocorre na

sinterização.

Desta forma defeitos resultantes de enchimento desuniforme da

cavidade da matriz de compactação não são corrigíveis nas etapas

posteriores. Em resumo, nos metais, como se deseja obter elevada

densidade a verde, necessita-se de elevado transporte de massa por

rearranjo de partículas e por deformação plástica na etapa da

conformação do pó, mas necessita-se menos transporte de massa na

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29

sinterização se comparado com a cerâmica; apenas gerar continuidade

de matéria entre as já grandes superfícies de contato geradas na

compactação entre partículas [7][8][9].

Figura 1: Densificação de pós durante a compactação [10].

Durante a sinterização a união mecânica devido à compactação se

torna ligações físicas, fazendo com que o material adquira as

propriedades mecânicas requeridas no projeto. Esta etapa é afetada pelo

tamanho das partículas do pó e dos elementos de liga que podem

facilitar ou dificultar a sinterização.

Algumas peças necessitam de etapas posteriores devido a

tolerâncias pequenas, detalhes que não são possíveis de serem feitos

durante a etapa de compactação da peça ou tratamentos superficiais com

nitretação, ferroxidação, cementação, etc.

2.1.2. MOLDAGEM DE PÓS POR INJEÇÃO (MPI)

O processo de moldagem por injeção (MPI) é um processo

relativamente recente. Teve seu primeiro desenvolvimento em 1920 e

devido a dificuldades técnicas, foi industrialmente esquecido. A partir

de 1970, o campo de pesquisa do processo de moldagem de pós por

injeção começou a desenvolver-se consideravelmente. A partir de 1980

o processo de moldagem de pós por injeção foi consolidado para a

aplicação industrial [11]. A partir de 1987 esta técnica passou a ser

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30

reconhecida como um autêntico processo de fabricação, quando

efetivamente se iniciou a padronização industrial dos componentes.

A vantagem deste processo é a capacidade de produção de peças

que apresentam alta complexidade geométrica. Em contrapartida, a

limitação desta técnica está relacionada com as dimensões da peça a ser

produzida. Para viabilizar este processo é necessária a utilização de um

grande percentual de carga orgânica, e esta deve ser retirada antes da

sinterização. Desta forma, os componentes devem possuir pequenas

dimensões, sendo que as peças geralmente estão entre 0,003g a 200g de

massa. Segundo German [11], a maioria dos componentes produzidos

tem dimensão máxima de 100 mm ou menor do que 200 cm3 de volume.

As matérias mais utilizadas na MPI são as ligas de NiFe (2%Ni e

7%Ni), aços inoxidáveis (17-4PH, 316L, 410 e 440C), aços carbono

(SAE4140, 52100) e materiais para aplicações magnéticas (50%NiFe,

80%NiFe, 50%FeCo, 49CoFe2V). Novas aplicações no setor

automotivo, materiais a base de níquel, resistente a altas temperaturas,

têm sido desenvolvidas. Também, sistemas que necessitam suportar

desgaste de componentes, logo desenvolvimentos de materiais que

tenham baixo coeficiente de atrito e alta resistência ao desgaste aliado a

também uma alta resistência mecânica abrem novas perspectivas de

mercado para a MPI [11].

O princípio de moldagem de pós por injeção relaciona duas

técnicas industriais consolidadas, que são a injeção de polímeros e a

metalurgia do pó convencional. O que se faz é aproveitar a capacidade

reológica que os polímeros possuem para preencher uma cavidade, e

adicionar certa quantidade de pó, seja ele metálico, cerâmico ou

compósito.

Em termos de processo, a parte que trabalha com materiais

metálicos ficou universalmente conhecida como MIM (Metal Injection Molding), enquanto que aquela que trabalha com materiais cerâmicos

passou-se a chamar CIM (Ceramic Injection Molding) [11].

Este processo pode ser considerado a mais avançada técnica da

metalurgia do pó, sendo também, considerada uma técnica híbrida por

associar a moldagem por injeção de polímeros com a metalurgia do pó.

Ela se subdivide em quatro etapas principais: preparação da massa para

injeção, moldagem por injeção, extração do sistema ligante, sinterização

(figura 2). As duas primeiras etapas são similares às da injeção de

plástico, enquanto que as duas últimas são mais próprias da metalurgia

do pó [11].

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31

Figura 2: Etapas principais da Moldagem de Pós por Injeção [12].

2.2. GRANULAÇÃO

Pós que possuem pequeno tamanho de partícula tendem a ter

dificuldades para escoar para dentro da cavidade de matriz. Isto pode

provocar maior tempo para a produção de peças, necessitando de um

maior tempo para o preenchimento da matriz, vazios ou diferenças de

massa, podendo provocar distorções que não poderão ser eliminadas em

etapas posteriores. Para atenuar ou eliminar por completo este problema

existem técnicas para unir estas partículas formando aglomerados do pó,

melhorando a suas propriedades tecnológicas.

Para isso utiliza-se um ligante que manterá as partículas unidas até que seja realizada a etapa de compactação. O ligante é dissolvido em

um solvente adequado e ao evaporar ocorrerá a união das partículas do

pó. Estes pós podem ser orgânicos ou inorgânicos (tabela 1) [10].

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32

Tabela 1: Ligantes orgânicos e inorgânicos para granulação de pós [13].

Ligantes Orgânicos Ligantes Inorgânicos

Álcool polivinílico (PVA)

Cera (princ. parafina), PW

Celulose

Dextrinas

Resinas termoplásticas

Hidrocarbonetos clorados, etc.

Argilas plásticas

Betonitas

Silicatos de Mg-Al e

Silicatos solúveis

Fosfatos

Borofosfatos, etc.

Existem algumas formas distintas de se realizar a granulação de

pós com ou sem o uso de ligantes orgânicos, sendo que os principais

métodos para se realizar a granulação são em tambor, por “Spray Dryer”,

térmica e mecânica. Nos itens de 2.1.1 até 2.1.4 serão abordados uma

breve descrição de cada método. O método que foi utilizado neste

trabalho foi o de granulação a tambor devido a sua facilidade de

processamento para pequenos lotes de pós e controle de variáveis.

2.2.1. GRANULAÇÃO EM TAMBOR

Para a granulação em tambor é necessário a utilização de uma

massa formada pela mistura de pós que se deseja granular, do polímero

que será o responsável pela formação dos grânulos e pelo solvente

específico para este polímero. Neste método esta massa é colocada

dentro de um cilindro ou tambor e este inicia movimentos de rotação

causando a colisão e junção entre as partículas. Durante este processo

acontece o envolvimento das partículas de pó pelo polímero e a

evaporação do solvente, formando assim os grânulos.

O tamanho médio dos grânulos formados depende, dentre outros

fatores, do tempo de granulação e velocidade de rotação do tambor. Este

processo permite a utilização laboratorial, onde há a produção em baixa

escala de pós granulados [10].

Figura 3: Granulação por tambor

Mistura

Solvente + Ligante + Pó

Tambor

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33

2.2.2. GRANULAÇÃO POR “SPRAY DRYER”

Neste processo a massa resultante da mistura dos pós, ligantes e

solvente (massa) é pulverizada dentro de um atomizador e em contato

com as correntes de gases o solvente é evaporado formando um grânulo

de partículas do pó. Modificando os parâmetros pode se ter um controle

adequado do tamanho médio dos grânulos formados. Neste caso pode

não ser necessária a utilização de solvente como no caso da argila em

que a água faz a função de ligante (figura 4) [10][14][15][16].

Figura 4: Granulação por “Spray Dryer”, onde a solução é pulverizada para

produzir grânulos.

2.2.3. GRANULAÇÃO TÉRMICA

Neste processo é realizado um tratamento térmico, em baixa

temperatura (em torno de 50-70% da temperatura usual de sinterização

do material), em que as partículas criam pequenos contatos de

sinterização. O pó levemente sinterizado é moído durante curto tempo

formando grânulos (Figura 5) [10][17].

Mistura

Pó + Polímero + Solvente Pulverização da mistura

Pó granulado

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34

Figura 5: Processo de granulação por tratamento térmico, o pó é pré sinterizado,

formando os primeiros contatos [10].

2.2.4. GRANULAÇÃO MECÂNICA

Para realizar a granulação mecânica se faz uma compactação

leve dos pós e, em seguida, o compactado é desintegrado formando

grânulos devido à ancoragem mecânica das partículas (Figura 6) [10].

Figura 6: Granulação mecânica, o pó é compactado com baixa pressão

formando grânulos devido à ancoragem mecânica [10].

2.3. LUBRIFICAÇÃO SÓLIDA

Devido ao contato e movimento relativo entre duas superfícies,

surge a força de atrito e desgaste. Um dos meios para evitar ou

minimizar o desgaste é manter as superfícies separadas ou introduzindo

uma camada de lubrificante entre as superfícies.

Nos últimos anos, novos lubrificantes sólidos e novos conceitos

de lubrificação foram desenvolvidos para alcançar melhor lubricidade,

menor atrito e maior resistência ao desgaste em aplicações cada vez

mais severas. Uma das vantagens do uso de lubrificantes a seco é a

eliminação da lubrificação limite, causada em mancais com lubrificação

fluida.

No início do movimento entre as peças não há a formação da

camada de lubrificante, causando o contato entre as superfícies. No caso

de lubrificante sólido isto é atenuado, pois uma vez formada a camada

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35

de lubrificante, este sempre poderá estar presente entre as partes em

contato.

A definição de lubrificante sólido é um material que promove

lubrificação, essencialmente a seco, de duas superfícies em movimentos

relativos entre si. São materiais que possuem baixo coeficiente de atrito

e alta resistência ao desgaste. Podem ser aplicados na forma de filmes

finos ou em pó na superfície de trabalho, promovendo a proteção,

reduzindo o atrito e consequentemente o desgaste. Precisam ainda

possuir coeficiente de atrito menor que 0,2 e taxa de desgaste menor de

10-6

mm3N

-1m

-1 [1][18][19].

Estes lubrificantes são essenciais em situações que envolvem

aplicações críticas de operação como alto vácuo, elevadas temperaturas,

temperaturas criogênicas ou quando lubrificantes líquidos não são

efetivos ou indesejáveis (Tabela 2) [1][4][19].

Existem vários tipos de lubrificantes sólidos, e estes são divididos

em dois grupos: moles (dureza menor do que 10 GPa) e duros (dureza

maior do que 10 GPa) [20]. Os lubrificantes sólidos duros apresentam

um baixo coeficiente de atrito e maior resistência ao desgaste, quando

comparados aos lubrificantes sólidos moles. Estes podem apresentar

baixo coeficiente de atrito, mas nem sempre apresentam alta resistência

ao desgaste. A tabela 3 apresenta os principais lubrificantes sólidos

utilizados para cada uma das duas categorias.

Tabela 2: Situações onde lubrificantes líquidos são indesejados (adaptado de

[1]).

REQUISITOS APLICAÇÕES

Evitar contaminação do

produto ou ambiente

Máquinas que processam alimentos,

equipamentos óticos, telescópios espaciais,

câmeras e microscópios, automóveis,

equipamentos médicos ou dentários.

Manter ou lubrificar áreas

inacessíveis ou indesejadas

Veículos espaciais, satélites, aeronaves,

reatores nucleares, mecanismos

aeroespaciais.

Resistência à abrasão em

ambientes de carregamento

contaminado

Aeronaves, automóveis, equipamentos de

mineração e agrícolas, veículos off-road,

máquinas testeis, equipamentos de

construção.

Promover estocagem

prolongada ou serviço

estacionário

Equipamentos para aeronaves, trilhos e

outros equipamentos ferroviários,

componentes de mísseis, reatores nucleares,

pontes, prédios, fornos.

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36

Uma das formas mais simples de obtenção de uma camada de

lubrificante sólido se dá através de uma suspensão de partículas. Por

exemplo, MoS2, contido em um portador (solvente) é aplicado na

superfície como um lubrificante fluido comum. Após a aplicação, o

solvente, evapora ou é eliminado para fora do sistema, restando apenas

uma camada lubrificante sólida entre as superfícies [1].

Tabela 3: Classificação de revestimentos tribológicos [20].

Lubrificantes sólidos duros

(dureza maior que 10 GPa)

Lubrificantes sólidos moles

(dureza menor que 10 GPa)

Nitretos

TiN, CrN, ZrN, BN, BaSO4

Carbetos TiC, WC, CrC

Óxidos

Al2O3, Cr2O3, TiO2, ZnO,

Boretos

TiB2

DLC e Diamante

a-C, ta-C, a-C:H, ta-C:H, CNx

a-C:X(:H), diamante nanocristalino

Metais moles

Ag, Pb, Au, In, Sn, Cr, Ni, Cu

Sólidos lamelares

MoS2, WS2, Grafite

H3BO3, HBN, GaS, GaSe

Haletos, sulfatos, sulfetos,

selenetos de Dicalcogênios

CaF2, BaF2, PbS, CaSO4, BaSO4

Polímeros

PTFE, PE, Poliamida

DLC hidrogenado

DLC = Carbono tipo diamante; a= amorfo; ta = amorfo tetraédrico;

X = metal; nc = nano cristalino; PTFE = politetrafluoretileno; PE = polietileno.

Lubrificantes também podem ser aplicados a peças na forma de

camadas de resinas, polímeros, deposição física, química de vapores

(PVD e CVD) ou através do bombardeamento de espécies ionizadas

(Plasma). Outra forma é o incorporar na matriz uma segunda fase

lubrificante, que durante o movimento entre as superfícies o lubrificante

sairá dos estoques e formará a camada lubrificante.

2.3.1. COMPÓSITO AUTOLUBRIFICANTE

O material que possui duas ou mais fases quimicamente distintas

e insolúveis (ou baixa solubilidade entre as fases), combinadas

tridimensionalmente e com uma interface definida pode ser chamado de

material compósito. Compósitos autolubrificantes são utilizados para

aumentar o tempo de serviço de máquinas e equipamentos onde óleos e

graxas não podem ser utilizados. Como exemplo, compósitos de matriz

metálica que contém lubrificantes sólidos para aplicações em altas

temperaturas e condições de vácuo, são produzidos por metalurgia do pó

[13].

A produção de materiais compósitos autolubrificantes com matriz

metálica não é nova na área de materiais. Estes componentes são

aplicados em diversos equipamentos como impressoras, barbeadores

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elétricos, furadeiras, liquidificadores, entre outros. Normalmente o metal

utilizado para a matriz estrutural para a fabricação destes compósitos é

ferro puro, bronze, cobre e prata. As fases lubrificantes mais utilizadas

são o grafite, o dissulfeto de molibdênio(MoS2), prata (Ag),

politetrafluoretileno (PTFE) e disseleneto de molibdênio (MoSe2) [20].

Buchas com estes materiais são fabricadas a décadas, utilizando metais

de baixo ponto de fusão e em diversas aplicações de engenharia.

Porém estes materiais possuem uma baixa resistência ao desgaste,

e não apresentam elevadas propriedades mecânicas, limitando

consideravelmente a sua aplicação. A maior parte destes materiais

requer um grande percentual de lubrificante sólido (15 a 40%) para

alcançar os valores de coeficiente de atrito a níveis aceitáveis para a

lubrificação sólida [21].

Outro ponto que inviabiliza a utilização deste tipo de material em

aplicações que requerem elevadas propriedades mecânicas é o seu

elevado grau de descontinuidade da matriz. Isto é causado durante as

etapas de mistura e moldagem do pó, onde ocorre o cisalhamento do

lubrificante entre as partículas de pó da matriz, gerando uma condição

que prejudica o processo de sinterização [21].

Uma das soluções para este problema é o desenvolvimento de

ligas ferrosas (aços) contendo lubrificante sólido em seu interior. Estes

compósitos podem ser facilmente obtidos por técnicas de processamento

a partir do pó. Tanto técnicas convencionais como compactação de pós

quanto técnicas mais avançadas como moldagem de pós por injeção são

técnicas bastante promissoras de moldagem de compósitos ferrosos

autolubrificantes.

Há alguns anos o desenvolvimento de ligas autolubrificantes

ferrosas e não ferrosas vem sendo desenvolvidas no LabMat, tanto ligas

produzidas por moldagem de pós por injeção como ligas produzidas por

compactação [13][22][23][24][25][26][27][28]. Para alcançar os

resultados propostos, foi necessário trabalhar com as propriedades

mecânicas das matrizes e alguns parâmetros como a continuidade da

matriz, tamanho e geometria de partículas de lubrificante entre outras.

Dentre as técnicas estudas, a que demonstrou melhores resultados

até o momento foram as que utilizaram como precursor da fase

lubrificante o carboneto de silício (SiC) [13]. Este componente dissocia-

se durante a sinterização da matriz ferrosa em dois estágios.

Inicialmente os átomos de carbono e silício são dissolvidos na matriz

metálica. Porém, a constante dissociação do SiC causa um aumento do

enriquecimento da matriz com átomos de silício em torno dos locais

onde há partículas de SiC.

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38

O silício causa a estabilização da fase ferrita (α) da matriz ferrosa,

onde a solubilidade do elemento carbono é muito baixa (0.02%m em

727ºC [29]). Isto faz com que a dissociação do carbono seja muito baixa,

enquanto a difusão do silício continua acontecendo. Como consequência,

tem-se a formação de anéis de ferrita ao redor das partículas iniciais de

carboneto.

Já o carbono, não podendo difundir na matriz, permanece

formando nódulos de grafita, apresentando uma forma de nanofolhas

empilhadas. A figura 7 apresenta uma microestrutura típica destes aços

sinterizados autolubrificantes. Pode se notar os anéis de ferrita em torno

dos nódulos de grafita. A figura 8 mostra os pacotes de folhas de grafite

que compõem os nódulos.

Estudos recentes apontam estas folhas de grafite como sendo as

responsáveis pelo baixo atrito apresentado por estes materiais

(coeficiente de atrito 0,1) [26]. Ao serem estudadas via microscopia

Raman, verificou-se que estas são constituídas por grafite turbostratíco

2D ao invés do grafite altamente orientado 3D. Desta forma, a força de

interação química entre os planos de grafite é menor que o encontrado

no grafite tradicional. Ou seja, ao utilizar este material em contato com

outro e com movimento relativo, as nano folhas facilmente cisalham

entre as superfícies de contato, formando um filme que evita o contato

metal-metal.

Figura 7: Microestrutura de um aço sinterizado autolubrificante, obtido por

dissociação do SiC em matriz ferrosa (2% de SiC) [9].

Nódulos

de

carbono

Poros

Matriz

Metálica

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39

Figura 8: Folhas de grafite empilhadas que compõem os nódulos de grafita dos

aços sinterizados autolubrificantes [13].

Figura 9: Aço contendo SiC não totalmente dissociado, Fe(100µm)+3SiC(50µm)

[13].

Importante lembrar que outros processos de fabricação e métodos

de alcançar materiais com baixo coeficiente de atrito estão em

desenvolvimento no LabMat - UFSC. Os resultados obtidos com as

pesquisas se mostram promissores, alcançando valores de coeficiente de

atrito muitas vezes abaixo da meta inicial utilizando diferentes matrizes,

lubrificantes e processos de fabricação. Isto abre portas para outras

aplicações específicas e solucionando problemas de desgaste excessivo

em componentes com movimento relativo [13][22][23][24][25][26][27]

[28].

Folhas

de

grafite

Matriz

metálica

SiC

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40

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41

3. METODOLOGIA DE DESENVOLVIMENTO DO NOVO

PROCESSO

Assim o objetivo do presente trabalho foi o desenvolvimento de

uma rota de processamento para a produção de um aço autolubrificante

por compactação. Um material que fique entre a metalurgia do pó por

compactação e a moldagem de pós por injeção (figura 9), unindo as

técnicas de composição de moldagem de pós por injeção, que são

pequenos poros e a formação de nódulos de lubrificantes de tamanho

próximo ao tamanho dos poros, e a velocidade e o custo da metalurgia

do pó via compactação.

Este trabalho faz parte de um projeto de pesquisa desenvolvida no

LabMat – UFSC [13][22][23][24][25][26][27][28] visando o

desenvolvimento de materiais autolubrificantes a seco com matriz

metálica e com elevada resistência mecânica, diferentemente dos

materiais autolubrificantes a seco atualmente em uso como buchas

autolubrificantes em equipamentos leves e eletrodomésticos, que

possuem baixa resistência mecânica. O material desenvolvido no

LabMat - UFSC é um aço com baixo coeficiente de atrito e elevada

resistência mecânica e dureza, produzidos por moldagem de pós por

injeção.

Figura 10 – Forma de obtenção do material autolubrificante com alta

resistência mecânica

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42

Para incorporar partículas de lubrificante sólido no volume de um

material, teoricamente existem duas possibilidades:

a) Produzir o material compósito a partir de matéria prima na

forma de pós (processamento a partir de pós) e misturar partículas

de lubrificantes sólidos não solúveis e não reativas com os pós

que formam a matriz do compósito;

b) Gerar as partículas de lubrificante sólido no interior do

material por precipitação ou por reação entre componentes,

mediante um tratamento térmico ou durante a sua fabricação

primária (processo de fabricação primária).

No presente trabalho optou-se pela segunda possibilidade, ou seja,

o desenvolvimento de material autolubrificante pela geração de

partículas de lubrificante sólido “in situ” durante a sua sinterização [13].

Foi utilizado carboneto de silício como precursor para a geração de

nódulos de carbono (grafita) no volume do aço sinterizado por

dissociação do carboneto durante a sinterização de componentes

produzidos via compactação de pós granulados.

Devido ao fato de que apenas partículas de SiC relativamente

finas (tipicamente menores que 15 m) se dissociam completamente

durante a sinterização, isto é, em temperaturas e tempos normais da

sinterização de aços. Partículas com tamanho maior necessitam de um

maior tempo para uma total dissociação e uma adequada difusão na

matriz. Desta forma, faz-se necessário a utilização pó de SiC com

tamanho de partícula muito fino, não adequado como aditivo de mistura

com os pós típicos da metalurgia do pó ferrosa tradicional.

É fato conhecido que quando um aditivo não solúvel com

tamanho de partícula muito pequeno é misturado ao pó da matriz com

tamanho de partícula bem maior (ver figura 11), o aditivo passa a formar

uma fase praticamente contínua entre as partículas da matriz. Mesmo

quando presente em menor quantidade, conforme é o caso nos presentes

aços sinterizados. Assim, para a otimização da microestrutura, é

necessário utilizar pó de ferro com tamanho de partícula compatível

com o do aditivo SiC utilizado para a geração dos nódulos de grafita por dissociação no presente trabalho.

Devido ao fato de que misturas de pós tão finos não apresentam

escoabilidade suficiente para haver um adequado preenchimento da

matriz, estes foram granulados a fim de que fosse possível a sua

conformação via compactação uniaxial em matriz. Este processo é mais

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43

produtivo e de menor custo e menor tempo de processamento quando

comparado ao processo de moldagem de pós por injeção (MPI).

Figura 11: Influência do tamanho das partículas do aditivo insolúvel sobre o

grau de continuidade da matriz. a) modelo ideal; b) modelo indesejável. Sendo

L o livre caminho médio, d o diâmetro médio da partícula de lubrificante sólido

e C a concentração de lubrificante sólido [13].

Para a otimização da microestrutura do compósito, os seguintes

aspectos devem ser considerados:

a) Livre caminho médio entre as partículas de lubrificante sólido;

b) Tamanho e distribuição das partículas de lubrificante sólido;

c) Teor de lubrificante sólido.

Certamente existe um tamanho ideal das partículas dispersas,

bem como, um livre caminho médio ideal entre elas que permita a

obtenção de uma matriz metálica completamente contínua. Resultando

na melhor combinação entre coeficiente de atrito e resistência mecânica

que irá depender das condições de processamento. Requisito

indispensável é que se forme uma tribo-camada na superfície do material capaz de evitar contato metal-metal e gerando com isto baixo

coeficiente de atrito. A figura 12 ilustra uma microestrutura

esquemática ideal com as partículas de lubrificante sólido dispersas de

forma homogênea em uma matriz.

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44

Figura 12: Modelo idealizado da microestrutura de um compósito

autolubrificante a seco [12].

Teoricamente, uma distribuição do lubrificante sólido com um

livre caminho médio o mais regular possível é desejável. Isto implica na

utilização de partículas de lubrificante sólido, a medida do possível com

uma distribuição de tamanho de partícula mono modal e relativamente

estreita. Cada partícula de lubrificante sólido deve fornecer o

lubrificante necessário para a lubrificação de uma área bem definida da

interface a ser lubrificada. A quantidade relativa (% volume) da fase

lubrificante sólido deve ser mantida tão baixo quanto possível a fim de

minimizar a interrupção da matriz metálica, que possui a função de

prover a resistência mecânica do compósito.

Adicionalmente um compósito autolubrificante a seco deve

atender no mínimo, as seguintes propriedades [1]:

a) Coeficiente de atrito menor que 0,2;

b) Taxa de desgaste com valor máximo de 10-6

mm3N

-1m

-1.

Para isto, os pós que possuem tamanho médio de partículas

menores que 45µm, serão granulados utilizando polímeros como ligante

para possibilitar o enchimento da matriz e a compactação dos pós. Estes

pós granulados serão produzidos utilizando diferentes polímeros e diferentes percentuais em massa. Isto será de grande importância para a

fabricação em série de peças a partir destes pós. Desta forma serão feitos

os seguintes estudos:

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45

1. Análise da influência dos diferentes pós, relação tamanho de

partícula entre pó da matriz e fase precursora de lubrificante

sólido (SiC);

2. Estudo das propriedades tecnológicas dos pós, densidade

aparente, escoabilidade e compressibilidade, com e sem

granulação. Estes parâmetros são fundamentais para seu

processamento.

3. Avaliação das propriedades microestruturais, fases formadas e

nódulos de lubrificantes, propriedades mecânicas, dureza e

resistência à tração e tribológicas (atrito e desgaste).

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47

4. MATERIAIS E MÉTODOS

Nos próximos itens serão descritos os materiais e métodos

utilizados para o desenvolvimento do presente trabalho. O fluxo de

trabalho segue conforme a Figura 12.

Figura 13: Fluxograma da rota de processamento que será utilizada

neste trabalho.

4.1. MATERIAIS

Para alcançar os objetivos conforme descrito no capítulo 2 os pós

precisam possuir tamanho de partículas similares. Tendo este ponto em

vista foram utilizadas diferentes matérias primas conforme detalhadas

na tabela 4.

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48

Tabela 4: Características do pó. Informações cedidas pelo fabricante

Tipo Código do

pó Fabricante

Granulometria

(µm) Tipo de pó

Ferro de

compactação

ASC

100.29

Höganäs

Brasil LTDA 20 a 200 Atomizado

Ferro de

compactação

ASC

100.29

<45µm

Höganäs

Brasil LTDA <45µm Atomizado

Ferro de

Injeção OM-CL BASF ~5 µm Carbonila

- SiC 800 Cobral

LTDA ~10 µm Moagem

- SiC 400 Cobral

LTDA ~25 µm Moagem

- Carbono

(C)

Nacional

Grafite Ltda 8,50 μm Moagem

4.2. MISTURAS

Os pós foram misturados em misturador “Y” durante 45 minutos,

rotacionando a 35 rpm para garantir a homogeneidade do pó e a

consequente homogeneidade da peça depois de compactada e

sinterizada. As misturas e seus componentes estão na tabela 5.

Tabela 5: Tabela com as misturas que serão utilizadas neste trabalho.

Pó de ferro (em

balanço) Código C (%)

SiC (%)

10 µm

SiC (%)

25 µm

Fe OM LSCA-1 - 3 -

ASC100.29 (>45 µm) LSCA-2 0,6 3 -

AHC100.29 LSCA-3 0,6 3 -

Fe OM LSCA-4 - - 3

ASC100.29 (>45 µm) LSCA-5 0,6 - 3

AHC100.29 LSCA-6 0,6 - 3

Além dos elementos para a produção das ligas que são objetivo

deste trabalho, também foi adicionado 0,8% em massa de estereato de

zinco que possui a finalidade de diminuir o atrito entre as partículas e

entre as mesmas e as paredes da matriz. As morfologias dos pós

utilizados podem ser observadas na Figura 14, onde nota-se a forma das

partículas de SiC, a irregularidade dos pós de ferro ASC100.29 e

ASC100.29<45 µm e a esfericidade das partículas do pó de ferro OM.

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49

(a) (b)

(c)

(d)

(e)

Figura 14: Fotos dos pós de SiC e Fe que serão utilizados neste trabalho. (a) SiC

com tamanho médio de 10 µm, (b) SiC com tamanho médio de 25 µm, (c)

ASC100.29 com tamanho médio de 120 µm, (d) ASC100.29 peneirado, <45µm,

(e) OM-CL pó de injeção com tamanho médio de 5 µm.

As misturas para a obtenção do aço autolubrificante estão

descritas na tabela 5. Nesta tabela pode-se notar que há a adição de

carbono (grafite) apenas nas ligas onde não foi utilizado o pó de ferro

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50

OM. Pois este ferro já contém aproximadamente 0,6% de C em sua

composição.

Este carbono é decorrente do processo de fabricação do pó, o

processo carbonila, este processo produz um pó com regiões ricas em

carbono. Desta forma para ser possível ter ligas equivalentes entre todas

as misturas é necessária a adição de 0,6% de grafite (C) em massa. Este

grafite, além de compor a estrutura do aço, também será utilizado para a

formação dos nódulos de grafite durante a sinterização do material.

O percentual de SiC utilizado neste trabalho foi selecionado a

partir de trabalhos já realizados pelo LabMat – UFSC. Estas pesquisas

mostram que ao se adicionar 1% de SiC as propriedades mecânicas

aumentam em relação ao aço sem o Si como elemento de liga. Porém,

estes valores diminuem até atingir o percentual de 3% em massa de SiC,

quando voltam a aumentar (figura 15) [13].

Figura 15: Análises da influência do percentual de SiC nas propriedades

mecânicas das ligas produzidas por metalurgia do pó por injeção (MPI) [13].

A utilização de SiC foi responsável pela modificação nas

propriedades mecânicas da liga. Durante a sinterização o SiC é

dissociado e os elementos Si e C difundem na matriz metálica.

Primeiramente pode ser descrito o endurecimento da matriz metálica

pela dissociação do SiC e dissolução do silício (Si) na matriz ferrosa.

Há também o efeito da dissolução do carbono (C) na matriz,

porém isto ocorre principalmente no início do processo de sinterização e

dissociação do SiC. Após, a difusão do C é limitada devido à

estabilização da ferrita (fase α) pelo Si e deste ponto em diante se obtém

uma matriz ferrosa com nódulos de carbono formado por laminas de

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carbono nanométricas [13]. Ao se adicionar Si na matriz ferrosa ocorre a

estabilização da ferrita, que possui uma solubilidade muito baixa de C.

Ao alcançar o teor de 3% de SiC a matriz ferrosa é quase totalmente

ferrita (Figura 16) [13].

Figura 16: Microestrutura da liga produzida por PIM. Liga composta por FeOM

+ 0,6C + 3SiC [13].

A quantidade dos nódulos de grafite é proporcional a diminuição

do coeficiente de atrito, característica que é uma das metas deste

trabalho. Ao não possuir perlita, o material possui todo seu percentual

de C formando nódulos de grafite, diminuindo assim o coeficiente de

atrito do material.

Devido aos melhores resultados apresentados por trabalhos

anteriores das ligas que contenham 3% em massa de SiC [13], este

percentual de precursor de grafite foi escolhido para realizar este

trabalho.

4.3. GRANULAÇÃO DOS PÓS

Anteriormente foi explicado que pós com granulometria menor

que 45µm necessitam melhorar suas propriedades tecnológicas. Assim

estes pós passaram por um processo de granulação, em que foi feito uma

solução com polímero e um solvente.

Este polímero tem a finalidade de envolver todas as partículas de

pó e de agrupar estas partículas formando grânulos que melhoram as propriedades tecnológicas dos pós sem afetar a sinterabilidade do

material.

Estas propriedades são três características do pó. A escoabilidade,

que é o tempo necessário para que 50g de pó escoe por um funil

calibrado. Isto indica o tempo necessário para o preenchimento da

Nódulos

de carbono

Matriz

Ferrítica

Poros

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matriz de compactação, sendo diretamente ligado à produtividade da

empresa.

A segunda característica é a densidade aparente. Esta

característica indica o volume de pó para se atingir a densidade final da

peça. Sendo essencial para o projeto das ferramentas de compactação.

A última propriedade tecnológica é a compactabilidade. Ou seja,

a capacidade do pó em ganhar forma e adquirir densidade desejada do

componente. Também, a peça compactada precisa possuir resistência

mecânica suficiente para não se romper até que tenha sofrido a

sinterização.

As peças produzidas com pós granulados devem ser sinterizadas

com rampas de aquecimento menores que o utilizado normalmente na

indústria. Isto se faz necessário para que o ligante formador dos

grânulos possa sair por completo do componente, sem que haja

deformação ou trincas.

Para haver uma boa resistência dos grânulos foi utilizado como

ligante o Etileno-Acetato de Vinila (EVA) ou a parafina (PW) e como

solvente para este polímero o tolueno para EVA e o hexano para PW.

Esta solução forma uma pasta com a mistura de pós e o solvente

evaporará naturalmente. Durante a secagem a massa é colocada dentro

de um tambor ou cilindro e irá girar, e devido aos choques e giros os

grânulos são formados.

Estes polímeros foram adicionados em diferentes percentuais

com relação à massa de pó utilizado (tabela 6), e dissolvido em 100 mL

de solvente para 100 g de pó.

Tabela 6: Solução de polímeros e solventes para a granulação dos pós da

mistura.

Solução de

granulação

EVA (%

em massa)

Tolueno

(mL)

PW(% em

massa) Hexano (mL)

1 0,5 100 - -

2 1 100 - -

3 1,5 100 - -

4 2 100 - -

5 - - 0,5 100

6 - - 1 100

7 - - 1,5 100

8 - - 2 100

Após a granulação as novas partículas foram peneiradas e as

menores que 250µm foram utilizadas para a produção das peças e

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53

avaliado as propriedades tecnológicas dos grânulos e das peças após a

sinterização de acordo com as normas MPIF Standard 03 e MPIF (Metal

Powder Industries Federation) [30] (figura 17).

Figura 17: Pó granulado com 2% de EVA.

4.4. COMPACTAÇÃO

As misturas prontas e granuladas foram compactadas em uma

prensa hidráulica em uma matriz com duplo efeito para diminuir os

gradientes de densidade na peça devido as perdas de carga por atrito

entre as partículas e entre as partículas e as paredes da matriz.

Foram produzidos corpos cilíndricos com 20 mm de diâmetro e 5

mm de altura, com uma pressão de 500 MPa onde foi avaliada a

densidade a verde das peças.

Também foram produzidas peças para realização de ensaios de

tração produzidas de acordo com a norma MPIF Standard 10 [30].

4.5. SINTERIZAÇÃO

Um dos objetivos deste trabalho é a produção de pecas utilizado

pós granulados que se aproximem das características mecânicas das peças produzidas MPI. Também, para garantir a extração completa dos

polímeros utilizados para a produção dos pós, optou-se pela sinterização

em forno a plasma.

As peças foram colocadas em placas e posicionadas em potencial

flutuante sobre o ânodo do reator com plasma a baixa potência. A

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atmosfera utilizada foi com 95% de argônio (Ar) e 5% de hidrogênio

(H2) a uma pressão de 1 torr e com fluxo de 500 sccm (centímetros

cúbicos por minuto).

A temperatura foi alcançada ajustando a potência do forno. Para o

ciclo térmico foi utilizada uma taxa de aquecimento de 5°C/min, com

patamar a 350 °C de 30 minutos para extração dos ligantes orgânicos, e

um patamar de sinterização a 1150 °C durante uma hora (figura 19).

Figura 18: Ciclo térmico para sinterização e extração de polímero realizado

neste trabalho.

4.6. CARACTERIZAÇÃO

4.6.1. PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS DOS GRÂNULOS

Após a produção de pós granulados foram analisadas as suas

propriedades tecnológicas. Estas avaliações compreendem as medições

de densidade aparente, escoabilidade, compactabilidade dos pós.

Escoabilidade é um ensaio normalizado em que uma massa de

50g de pó escoa em um funil com rugosidade e dimensões controladas.

Deste teste deve ser medido o tempo necessário para que todo o pó

escoe do funil. Este teste é importante tecnologicamente, pois com ele

pode-se conhecer o tempo de enchimento da matriz de compactação, ou

seja, o tempo necessário para a fabricação de peças, quanto menor o

tempo de escoamento melhor o enchimento da matriz, menor a

possibilidade de falhas no componente produzido e maior a sua

produtividade.

Densidade aparente é a quantidade de massa de pó em repouso

que ocupa uma unidade de volume. A importância desta medida é para

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

1100

1200

0 25 50 75 100 125 150 175 200 225 250 275 300

Ciclo de sinterização e estração dos polímeros

Tempo (minutos)

Tem

per

atu

ra (

°C)

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55

saber qual o volume é necessário de pó para que a densidade final possa

ser alcançada.

Compactabilidade é a capacidade do pó de aumentar a sua

densidade durante a compactação. Com estes dados dos pós, a indústria

que produz peças a partir de pós dimensiona e projeta suas ferramentas e

matrizes.

4.6.2. DENSIDADE

A densidade dos componentes foi medida pelo método de

Arquimedes (imersão em água), utilizando uma balança METTLER

TOLEDO XS 203 Dual Range, de acordo com a norma MPIF Standart

42 [30]. Este método utiliza a medição de massa do corpo de provas ao

ar e imerso, e com a diferença de valores medidos é calculada a

densidade do material.

Uma das técnicas de medição da densidade de materiais porosos é

o selamento externo das peças. Este processo consiste no recobrimento

das peças a serem medidas utilizando uma fina camada de óleo ou

polímero que impede a entrada de líquido através dos poros presentes

nas superfícies dos componentes.

Para haver uma maior confiabilidade nos valores encontrados

utiliza-se mais de um corpo de prova. Assim para cada aço produzido

foram medidos cinco corpos de prova de cada composição.

4.6.3. MICRODUREZA

Os ensaios de microdureza Vikers foram realizados em um

microdurômetro modelo LECO LM100AT, seguindo a norma ASTM E-

384 [31].

Para haver um valor de dureza mais preciso foi realizado dez

endentações com carga de 100g para cada variação de aço produzido.

Estes medições foram feitas em regiões onde não havia poros e nódulos

de grafite aparentes. O objetivo desta análise é a verificação da dureza

alcançada pela matriz do material produzido.

4.6.4. MICROESTRUTURA

Todas as ligas foram submetidas à caracterização da

microestrutura resultante do seu processo de fabricação. Para isso, as

peças foram cortadas, embutidas, lixadas e polidas até a granulometria de 0,3 µm. Após, foram atacadas com 2% ácido nítrico diluído em

álcool PA (nital 2%) para revelação da microestrutura.

A avaliação da microestrutura foi realizada em um microscópio

óptico (MO) Olympus modelo BX60M com ampliação de 500 vezes e

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56

200 vezes, onde foi avaliado a distribuição dos poros e dos estoques de

lubrificantes. A quantidade de poros e grânulos de grafite na

microestrutura foi medido através de um programa de análise de

imagens.

4.6.5. ENSAIOS DE TRAÇÃO

Foram realizados ensaios de tração em uma máquina MTS

seguindo a norma MPIF standard 10 [30] de ensaios tração em materiais

sinterizados compactados, visando a obtenção do alongamento, tensão

de escoamento e tensão máxima.

O ensaio de tração consiste na aplicação de uma carga uniaxial

em um corpo de provas padronizado. Deste ensaio foram retirados os

valores de tensão de escoamento, tensão máxima e alongamento

máximo suportado pelo material.

4.6.6. TRIBOLOGIA

Para a avaliação tribológica dos compósitos desenvolvidos é

necessário primeiro se definir qual o ensaio mais adequado. Além do

tipo de ensaio, as condições nas quais serão realizados estes ensaios

também são fundamentais. Várias configurações tribológicas são de uso

comum para a avaliação de atrito e desgaste. Como exemplos de ensaios

rotativos têm-se as configurações pino sobre disco, bloco sobre anel e

quatro esferas. Esses testes podem ser utilizados em condições de

movimento unidirecional ou rotativo e, em geral, as principais

desvantagens destes testes rotativos são que os componentes reais não

podem ser testados, pode ocorrer um contato não conforme e as

características superficiais dos componentes podem ser afetadas.

Com isto a configuração que proporciona um movimento

alternativo se mostra mais promissora para estas análises. A principal

vantagem destes ensaios são que componentes reais podem ser avaliados

e principalmente as características superficiais podem ser preservadas

[32]. Como configuração destes ensaios a geometria esfera sobre plano

ou cilindro são as mais utilizadas, pois essas configurações facilitam a

montagem e a avaliação do desgaste do corpo e contra corpo [33]. Por

estas considerações optou-se por um ensaio com movimento alternativo

na configuração esfera sobre plano, sendo o compósito sinterizado o plano.

Foram realizados ensaios de durabilidade conforme modelo

proposto e certificado por De Mello [34]. A durabilidade da superfície

foi definida como o trabalho (Nm = força aplicada x distância de

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57

deslizamento) em que o valor do coeficiente de atrito não ultrapasse os

valores limites para a lubricidade a seco (coef. de atrito < 0,2).

O método de avaliação da durabilidade desenvolvido por De

Mello [34], consiste em um método de carregamento incremental. A

durabilidade da superfície foi determinada aumentando a carga normal

em um valor e definido em cada intervalo de tempo constante. Com esta

metodologia de ensaio pode-se determinar a carga máxima que os

materiais suportam para este sistema tribológico, além de se ter um

ensaio de tempo reduzido [34].

Estes ensaios foram realizados no LabMat-UFSC, em um

tribômetro universal CETR MI Universal, utilizando como contracorpo

uma esfera aço 52100 de 3 mm de diâmetro. Os parâmetros medidos e

monitorados ao longo do teste foram à frequência, a força tangencial

(em consequência, o coeficiente de atrito) e o potencial de contato.

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58

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59

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste capítulo são apresentados os resultados obtidos no estudo

de compactação de pós granulados, visando obter materiais com

características mecânicas próximos aos materiais produzidos por MPI,

com os custos de fabricação do processamento por compactação.

Inicialmente o item 5.1 apresentará o estudo de granulação, onde o

objetivo foi selecionar um polímero e um percentual ideal para a

produção de grânulos de pó de ferro. Já o item 5.2 apresentará os

resultados obtidos com a utilização da mistura granulada.

5.1. GRANULAÇÃO PRELIMINAR

Para os ensaios preliminares para avaliar o percentual ideal de

ligante a ser adicionado para a formação ideal dos grânulos foram

utilizados inicialmente dois tipos de polímeros, o EVA e a parafina. Esta

última, porém, não apresentou resistência mecânica suficiente para unir

as partículas da mistura, fazendo com que os grânulos desintegrassem

logo após o término do processo de granulação, não resistindo ao

manuseio. Este fato impossibilitou o uso deste polímero para a produção

dos grânulos a serem estudados. Desta forma, para a mistura utilizada, o

PW não foi o polímero ideal para a formação de grânulos.

Diferentemente, o EVA apresentou boa resistência mecânica,

sendo este o utilizado em todas as misturas para a formação de grânulos.

Porém, este polímero necessita de aquecimento para que seja totalmente

dissolvido, sendo necessário aquecer a uma temperatura de

aproximadamente 70 ºC em tolueno (figura 19).

Após a etapa de dissolução do EVA e posterior mistura com os

pós de ferro, utilizou-se do método de granulação em tambor. Este

método foi escolhido por ser de fácil manuseio e ser em escala

laboratorial. Este processo produziu grânulos arredondados que foram

fracionados de acordo com o tamanho médio de partícula desejado.

Assim este pó está pronto para as etapas posteriores de compactação e

ensaios de caracterização.

Devido às diferenças de tamanhos dos pós utilizados, da sua

geometria e forma das partículas de pó, poderia haver uma diferença no

percentual de ligante a ser adicionado para a formação de grânulos.

Desta forma, foram utilizados os percentuais de ligantes conforme a

tabela 7. A utilização de menor quantidade de polímeros mostrou-se

inadequada. Pois, não foi suficiente para a formação de grânulos.

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60

Figura 19: Ilustração do pó granulado através do método de granulação em

tambor utilizando EVA como ligante.

Os percentuais que apresentaram melhor formação de grânulos

para cada um dos pós utilizados foi o mesmo para ambos os tipos de pó

de ferro utilizados, sendo de 2% de EVA para o pó de injeção OM e

para o ASC 100.29 <45 µm.

Tabela 7: Tabela com os percentuais de polímero utilizado para a formação dos

grânulos.

Pó de ferro utilizado Percentual de EVA utilizado

OM 1,5% e 2%

ASC 100.29 <45 µm 1,5% e 2%

5.1.1. PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS DOS

GRANULADOS

Os pós que foram avaliados as propriedades tecnológicas foram

apenas os pós granulados, pois o pó ASC 100.29 já é normalmente

utilizado na indústria.

Os grânulos formados com EVA como aglomerante apresentaram

grânulos esféricos, que facilitam a escoabilidade. Devido à forma de

produção destes grânulos, estes foram fracionados com tamanho menor

de 250 µm. Porém devido a este tamanho não foi possível a utilização do funil de Hall com o tamanho de orifício de 0,10” (2,54mm) devido a

trancamentos causados pelos grânulos. Desta forma foi utilizado o funil

com diâmetro do orifício de 0,20” (5,08mm), MPIF Industries, Standard

03 [30].

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61

Como referência para os valores encontrados, foi utilizado o pó

de ferro elementar atomizado produzido pela Höganäs, com designação

comercial ASC 100.29. Segundo o fabricante, a densidade aparente de

2,92 g/cm3 e a escoabilidade para o funil com orifício de 0,20” de

aproximadamente 7,50 s/50g (escoabilidade para o funil com orifício de

0,10” é de aproximadamente 26 s/50g).

A tabela 8 mostra os valores de escoabilidade e densidade

encontrados nos diferentes granulados produzidos.

Tabela 8: Tabela com os valores de escoabilidade e densidade aparente dos pós

granulados

Pó/Granulado Escoabilidade(s/50g) Densidade Aparente

(g/cm³)

OM 1,5%EVA 7,67 ± 0,14 2,657 ± 0,033

OM 2%EVA 7,72 ± 0,08 2,572 ± 0,034

ASC100.29<45µm

1,5%EVA 8,03 ± 0,04 2,176 ± 0,0402

ASC100.29<45µm

2%EVA 9,07 ± 0,23 2,272 ± 0,0143

Os resultados dos pós granulados foram próximos aos resultados

do pó de referência. Sendo que ao utilizar os pós granulados, proposto

neste trabalho, a escoabilidade e a densidade aparente alcançaram

valores satisfatórios quando comparados com o pó de referência. Desta

forma, não haverá diferenças significativas nos tempos de enchimento

das matrizes para a produção de peças.

5.1.2. COMPACTABILIDADE E SINTERIZAÇÃO

PRELIMINAR

Após os testes de escoabilidade e densidade aparente, os grânulos

foram compactados e analisadas as densidades a verde das peças. Estas

peças foram sinterizadas e verificadas suas densidades e a sua

microestrutura, avaliando assim variações de densidade e vazios em seu

interior.

As peças sinterizadas e a verde apresentaram uma densidade

normal para peças sinterizadas, tomando os valores de ferro puro como

referencia 7,87 g/cm3. A figura 20 apresenta as densidades relativas dos

pós granulados com relação à referência.

Durante a sinterização houve uma variação de densidade, sendo

que os pós que possuem um tamanho médio de partículas menor

apresentaram um aumento nos valores de densidade.

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62

Figura 20: Densidades relativas dos aços produzidos. Tomando com referência

a densidade do ferro puro sem porosidade.

Destes valores também pode ser considerado a retração

dimensional (figura 21), que é diretamente proporcional à variação de

densidade. Desta forma, pode ser visto que as peças produzidas com o

pó ASC 100.29 com 1,5% de EVA apresentaram retração próximos a

zero.

Figura 21: Gráfico com os valores de retração linear das peças sinterizadas.

Também foi avaliado a porosidade residual com auxílio do

software de análise de imagens (tabela 9). Isto está diretamente

relacionado com a resistência mecânica da peça, pois, mostra a

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

OM 1,5% EVA OM 2% EVA ASC 100.29 1,5% EVA ASC 100.29 2% EVA

Densidades Relativas

Verde Sinterizados

Per

cen

tual

-2

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

OM 1,5%EVA OM 2%EVA ASC100.29 1,5EVA ASC100.29 2%EVA

Retração dos pós granulados sinterizados

Ret

raçã

o L

inea

r

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63

descontinuidade do material, sendo possíveis concentradores de tensão.

Observa-se que há uma maior percentual de poros quando há uma maior

quantidade de ligante orgânico, como era esperado. Também há uma

menor porosidade nas peças produzidas com o pó de menor tamanho

médio de partícula.

Tabela 9: Percentual de poros encontrados.

Pó/Granulado Porosidade (%)

FeOM 1,5% EVA 5,27

FeOM 2% EVA 5,53

ASC 100.29 1,5% EVA 13,99

ASC 100.29 2% EVA 18,95

Após a sinterização pode ser observado que a perda de massa em

todas as misturas foi conforme o percentual de massa de ligante

adicionado (figura 22), sendo a variação para cima destes valores

provavelmente devido ao estereato de zinco adicionado na mistura de

pós, à redução dos óxidos e outros resíduos orgânicos presentes nos pós.

Figura 22: Gráfico com os valores percentuais de perdas de massa dos

granulados após a sinterização.

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

FeOM 1,5% EVA FeOM 2% EVA ASC 100.29 1,5%

EVA

ASC 100.29 2%

EVA

Perda de massa durante a sinterização

Per

da

de

mas

sa (

%)

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64

5.1.3. MICROGRAFIA DOS SINTERIZADOS

PRELIMINARES

As peças sinterizadas apresentaram boa qualidade após a

sinterização, ou seja, inexistência de fissuras e gradientes de porosidade

em todos os tipos de pó de ferro utilizado e em todos os percentuais de

EVA utilizado. Pode ser visto que o tamanho dos poros resultantes são

maiores quando se utiliza pós com maiores tamanhos médio de

partículas, como pode ser observado nas figuras 23 a 26.

Figura 23: FeOM granulado com 1,5%

EVA sinterizado.

Figura 24: FeOM granulado com

2,0% EVA sinterizado.

Figura 25: ASC100.29<45µm

granulado com 1,5% EVA sinterizado.

Figura 26: ASC100.29<45µm

granulado com 2,0% EVA sinterizado.

De acordo com as micrografias, pode ser visto que os diferentes

valores de porosidade para os diferentes pós de ferro estudados. Porém,

há diferença entre os percentuais de polímeros utilizados foi pequena. Contudo, os poros do pó FeOM apresentou uma melhor formação de

grânulos quando utilizado o percentual de 2% de EVA.

O pó de ferro ASC 100.29<45 µm apresentou também uma

melhor formação de grânulos quando utilizado 2% de EVA. Além de

Matriz

metálica

Matriz

metálica

Poros

Poros

Matriz

metálica

Poros

Matriz

metálica

Poros

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65

possuir uma melhor distribuição dos poros quando comparado com os

granulados de 1,5% de polímeros.

5.2. COMPACTAÇÃO E SINTERIZAÇÃO DAS LIGAS

CONTENDO SIC

Com os resultados encontrados no item 5.1 seguiu-se para a

mistura de pós e granulação das misturas utilizando os valores

percentuais de massa encontrados nos testes preliminares (tabela 11),

considerando somente os que apresentaram os melhores resultados para

cada tipo de pó de ferro utilizado na mistura.

Tabela 10: Valores de polímero utilizado para a produção dos grânulos da

mistura de Fe+SiC+C.

Pó de ferro utilizado na mistura Massa de EVA utilizado (%)

FeOM 2

ASC100.29<45µm 2

ASC100.29 0

Como citado anteriormente o objetivo deste trabalho é a produção

de aços com baixo coeficiente de atrito com pós granulados. Assim,

foram produzidos os aços segundo a tabela 11. Sendo que para efeito de

comparação, foram feitos misturas com pós granulados e pós não

granulados (os percentuais de elementos de liga estão conforme item 4.2.

Misturas).

Tabela 11: Tabela com as ligas estudadas, misturas granuladas e não granuladas

para efeitos de comparação para os aços produzidos. Percentuais de elementos

de liga em massa.

Pó de ferro (em balanço) Código C (%) SiC (%) 10

µm

SiC (%) 25

µm

Fe OM LSCA-1 - 3 -

ASC100.29 (<45 µm) LSCA-2 0,6 3 -

ASC100.29** LSCA-3 0,6 3 -

Fe OM LSCA-4 - - 3

ASC100.29 (<45 µm) LSCA-5 0,6 - 3

ASC100.29** LSCA-6 0,6 - 3

Fe OM* LSCA-7 - 3 -

ASC100.29 (<45 µm)* LSCA-8 0,6 3 -

Fe OM* LSCA-9 - - 3

ASC100.29 (<45 µm)* LSCA-10 0,6 - 3

*Pós granulados com EVA de acordo com a tabela 10.

**Não há a necessidade de granular este pó.

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66

Os aços produzidos receberam a nomenclatura “LSCA”

(Lubrificante sólido compactado aglomerado). De acordo com a tabela,

variando os tamanhos de pó de ferro, tamanho de SiC e pó granulado ou

não granulado.

Estes pós granulados foram compactados na forma de cilindros

com aproximadamente 5 mm de altura e 20 mm de diâmetro. Durante a

compactação foi possível observar que com a adição de polímeros para

granular facilitou a compactação de pós com pequeno tamanho médio

de partículas. Como os pós de injeção, que além de possuir um pequeno

tamanho de partícula também possui carbono em sua estrutura,

aumentando assim a dureza do pó.

Para a sinterização foi utilizada uma taxa de aquecimento de 1,5

ºC/min de 200 ºC a 500 ºC, 5 ºC/min de 500 ºC a 1150 ºC e patamar de

uma hora a esta temperatura. Estas taxas de aquecimento utilizadas

durante o aquecimento foram necessárias para possibilitar que todo o

EVA utilizado para a granulação seja extraído da peça sem gerar

deformação, danos (fissuras) ou que se tenham resíduos de polímero nas

peças após a sinterização.

5.3. CARACTERIZAÇÃO

A microestrutura das peças sinterizadas foi analisada via

microscopia ótica. Os pontos de maior atenção foram a porosidade

residual, devido ao polímero adicionado e aos poros inerentes do

processo de metalurgia do pó, e se ocorreu a formação de nódulos de

grafite devido a dissociação do SiC adicionado.

5.3.1. MATERIALOGRAFIA

As figuras 27 a 32 mostram a microestrutura das ligas contendo

SiC com diâmetro médio de 10 µm e 25 µm não granuladas.

Figura 27: LSCA-1 FeOM + 3 SiC(<10µm), revelação de microestrutura com Nital

2%.

Ferrita

Poros

Nódulos

de carbono

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67

Figura 28: LSCA-2 Fe ASC100.29(<45µm )+ 3 SiC(<10µm) + 0,6 C

Figura 29: LCSA-3 Fe ASC100.29 + 3 SiC(<10µm) + 0,6 C

Figura 30: LSCA-4 FeOM + 3 SiC(<25µm)

Ferrita

Poros

Nódulos

de carbono

Ferrita

Poros

Nódulos

de carbono

Ferrita

Poros

Nódulos

de carbono

Perlita

Perlita

Perlita

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68

Figura 31: LSCA-5 Fe ASC100.29(˂45µm )+ 3 SiC(<25µm) + 0,6 C

Figura 32: LSCA-6 Fe ASC100.29 + 3 SiC(<25µm) + 0,6 C

A liga LSCA1 que foi produzida utilizando pó de ferro fino e SiC

de diâmetro médio de 10 µm apresentou uma microestrutura muito

similar à liga de referência produzida por MPI (Figura 16). Ou seja,

pouca quantidade de poros sendo estes arredondados e partículas de

grafite (estruturas maiores e mais irregulares) originadas da dissociação

do SiC.

A matriz desta liga LSCA1 é praticamente toda ferrítica, pois a

utilização de 3% de SiC em massa (que apresenta aproximadamente 2%

de Si em massa) é suficiente para estabilizar a fase alfa do ferro. Este

fato indica que a liga apresenta composição química homogênea.

A liga LSCA 2 que utiliza partículas de SiC de 10µm, porém pó

de ferro de diâmetro menor de 45µm apresenta regiões na matriz

contendo ilhas de perlita. Este fato está correlacionado à utilização de pós de maior diâmetro o que dificulta a homogeneização química das

ligas. Este efeito se intensifica a medida que passamos a utilizar

combinações de pós com maior diâmetro do ferro e do SiC.

Ferrita

Poros

Nódulos

de carbono

Perlita

Ferrita

Poros

Nódulos

de carbono

Perlita

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69

Para o pó utilizado para compactação com diâmetro médio de 150

µm (LSCA 6) que utiliza SiC com tamanho médio de 25µm a liga

apresenta uma quantidade maior de perlita em relação às outras ligas,

indicando uma heterogeneidade química maior neste material. Este

material, por apresentar a maior diferença de tamanho entre pó da matriz

e SiC, apresenta porosidade mais partículas de grafite segregados,

formando estrutura alongadas e contínuas. Esta microestrutura foge do

modelo microestrutural projeto no capítulo 3 (figuras 11 e 12),

indicando a necessidade de se utilizar pós de tamanho o mais próximo

possível. Este material apresenta pouca continuidade da matriz, fato este

que deve prejudicar as propriedades mecânicas.

As figuras 33 a 36 apresentam as micrografias das peças com pós

granulado que contenham SiC com granulometria de 10 µm e 25 µm.

Figura 33: LCSA-7 Fe OM + 3 SiC(<10µm), pó granulado com 2% EVA.

Figura 34: LCSA-8 Fe ASC100.29˂45 µm + 3 SiC(<10µm), pó granulado com 2%

EVA.

Ferrita

Poros

Nódulos

de carbono

Ferrita

Poros

Nódulos

de carbono

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70

Figura 35: LCSA-9 Fe OM + 3 SiC(<25µm), pó granulado com 2% EVA.

Figura 36: LCSA-10 Fe ASC100.29˂45 µm + 3 SiC(<25µm), pó granulado com 2%

EVA.

As peças produzidas com pós granulados apresentaram um leve

aumento na porosidade (figura 36). Porém, observa-se que este aumento

foi de poros pequenos e esféricos, que são menos prejudiciais às

propriedades mecânicas quando comparados com poros irregulares. Este

aumento da porosidade é devido ao vazio causado pela retirada do

polímero utilizado na granulação do pó, que é extraído durante a

sinterização.

Também nota-se que não há poros grandes e sua distribuição está

homogênea. Novamente, as ligas que utilizam o SiC de 25µm em sua

composição, apresentaram poros alongados, da mesma forma das ligas

não granuladas. Isto pode ser um fator negativo para as propriedades

mecânicas do material.

5.3.2. DENSIDADE Uma técnica para a avaliação do percentual de vazios dentro do

material é a medição de densidade. Com o maior percentual de vazios há

um menor valor de densidade, assim, quando comparado com o material

sem vazios pode ser levantado o percentual poros.

Ferrita

Poros

Nódulos

de carbono

Perlita

Ferrita

Poros

Nódulos

de carbono

Perlita

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71

Uma das informações mais importantes neste trabalho é conhecer

o percentual de vazios no interior da matriz. Isto, juntamente com a

forma dos poros, afeta diretamente as características mecânicas do

material.

Como este trabalho visa alcançar as características mecânicas

próximas ao aço produzido via MPI. Desta forma, para avaliar o

percentual de poros e nódulos de grafite no interior do material, foi

utilizado a densidade do aço estudado, Fe + 0,6C + 3SiC produzida por

MPI, de acordo com trabalhos anteriores realizados no LabMat-UFSC

[9].

As medições da porosidade foi realizada via analisador de

imagens. Porém, com este método devido à grafite possuir uma cor

cinza escura e os poros também serem escuros, há dificuldade para fazer

a identificação. Assim, foi medido o valor de poros mais nódulos de

grafite, que em ambos os casos causam a descontinuidade da matriz

metálica.

Assim, a liga de referência possui um percentual de nódulos de

grafite somado à quantidade de poros de aproximadamente 8,5%. As

porosidades das ligas que utilizaram pós de ferro finos apresentaram

menores valores e ficaram mais próximas da densidade da liga injetada.

Também, quando utilizado o pó de carboneto de silício mais fino (10

µm) apresentara uma densidade próxima da liga produzida via MPI,

uma menor quantidade de poros (figura 37).

Figura 37: Percentual de poros + nódulos de grafite presente no interior do

material.

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

22

Percentual de Poros + Nódulos

Per

cen

tual

de

Po

ros

+N

ód

ulo

s (%

)

SiC 25µm SiC 10µm SiC 10µm SiC 25µm

Pós granulados

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72

Este maior percentual de poros é devido ao maior empacotamento

dos pós finos durante a compactação. Quando utilizado o processo de

granulação há um aumento no percentual de poros, pois após a retirada

do material responsável pela granulação restam os vazios onde estava o

polímero.

5.3.3. PROPRIEDADES MECÂNICAS

Como já mencionado anteriormente, este trabalho visa a

produção de aços por metalurgia do pó via processo de compactação que

possuam propriedades similares a de aços produzidos por metalurgia do

pó por injeção (MPI).

Desta forma, para as análises das propriedades mecânicas foi

utilizado como referência a liga produzida por MPI. Esta liga foi

utilizada por possuir os mesmos percentuais de elementos de liga que os

utilizados neste trabalho (Fe OM + 3 SiC + 0,6 C) [13].

5.3.3.1. DUREZA

As durezas Vickers das ligas produzidas foram determinadas com

carga de 100g e com 10 medidas em cada liga. De acordo com a figura

38, pode ser observado que há um relativo aumento na dureza da liga

com a adição de SiC, efeito que era esperado. Isto acontece devido a

dissociação do SiC e a dissolução do Si na matriz ferrosa, aumentando

assim a sua dureza e propriedades em função do efeito no

endurecimento da ferrita pelo Si. A Figura 39 apresenta a influência de

alguns elementos de liga e seu teor em solução sólida sobre a dureza da

ferrita, pode se observar que o Si é um dos elementos que promovem

maior endurecimento da matriz ferrítica por solução sólida

substitucional.

Como era esperado, ao adicionar o SiC há um aumento na

dureza do material. Também, pode ser observado que utilizando o SiC

com tamanho médio de partícula de 10 µm apresenta resultados

melhores que os alcançados quando utilizado o SiC de 25 µm. Isto

acontece devido ao maior tempo necessário para que a partícula do

carboneto se dissolva por completo na matriz, o que não acontece

quando utilizado partículas de carboneto mais finas no caso das ligas

que contenham partículas de 10 µm. O mesmo efeito é verificado para o tamanho de partícula do pó de ferro, ou seja, quando o tamanho de

partícula do pó de ferro é menor, melhores são as propriedades de

dureza do material.

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73

Figura 38: Dureza das peças produzidas, ferro puro, ferro com SiC 10µm, SiC

25 µm e com os pós granulados.

Figura 39: Efeito endurecedor de elementos de liga na ferrita [34].

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

220

Dureza Vickers HV 0,1 D

ure

za V

icke

rs H

V

SiC 25µm SiC 10µm

SiC 10µm SiC 25µm

Pós granulados

Pós sem SiC

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74

Os aços produzidos com pó de ferro OM granulado (LSCA7 e 9)

não apresentaram grande variação média da dureza em comparação com

os pós não granulados (LSCA 1 e 4). Já os pós granulados com ferro

ASC 100.29<45 µm (LSCA8 e 10), apresentaram um maior impacto na

diminuição da dureza quando comparado a mesma liga não granulada

(LSCA 2 e 5).

Este efeito pode estar relacionado a maior porosidade deste

material quando granulado (conforme medido na figura 38), este

adicional de poros prejudica ainda mais a homogeneização química da

ligas, pois os poros são vazios que atuam como descontinuidade na

matriz. Adicionalmente a presença de um percentual maior de poros

reduz a dureza do compósito em relação a um compósito que possua

uma porosidade menor. Embora se tenha utilizado a técnica de

microdureza Vicker, ao utilizar uma carga de 100g gera uma marca de

endentação que acaba sendo aplicada em parte nos poros.

Outro ponto que deve ser observado é que ao se utilizar pós de

ferro com maior tamanho médio de partícula é alcançada uma menor

dureza quando comparado a mesma liga, porém com pós mais finos.

Esta limitação no aumento da dureza deve-se a heterogeneidade na liga.

Quando é utilizado pós de maior diâmetro estes, para uma mesma

temperatura, necessitam de um tempo maior para que a liga tenha

composição química mais homogênea em relação a ligas que foram

produzidas com pós mais finos. Outro indicativo que a liga que foi

produzida com pós de maior diâmetro ainda não possui composição

química homogênea é o valor de desvio padrão da dureza destas ligas

que sempre é superior ao das ligas produzidas com pós mais finos. Esta

dispersão maior nos valores de dureza indica heterogeneidade química

nas ligas.

As ligas compactadas ficaram próximas aos valores da liga de

referência. Principalmente os componentes produzidos com ferro OM e

com SiC com menor tamanho médio de partícula. Os pós de ferro com

granulometria mais grossa quando comparado com ferro OM, ficaram

próximos da referência.

Quando utilizado o método de granulação, as ligas LSCA7 e

LSCA9 também ficaram próximas à liga injetada. Já as ligas LSCA8 e

LSCA10 ficaram mais distantes, com a dureza aproximadamente a

metade dos valores da liga de referência injetada.

Assim, a meta de alcançar dureza próxima a dureza da liga

injetada foi alcançada.

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75

5.3.3.2. RESISTÊNCIA A TRAÇÃO

Para as análises de ensaio de tração foram utilizados valores da

liga de referência produzida por MPI, utilizando Ferro OM como matriz.

Devido ao pó de ferro OM ser um pó fino, tamanho médio de

partícula de aproximadamente 5 µm, estas características inviabilizam a

produção de peças por compactação. Este pó, devido aos pós menores

possuírem maior área livre, aumentando o atrito e causando maior a

perda de carga durante a compactação. Peças produzidas por este

método e sem a utilização de agentes aglomerantes apresentam trincas e

falhas que inviabilizam a sua utilização para ensaios de tração. Assim,

as ligas LSCA1 e LSCA4 não foram analisadas por ensaios de tração.

Como pode ser observado na figura 40, os materiais produzidos

com pós de ferro mais grossos suportaram uma menor tensão quando

comparado com o os pós mais finos. Isto pode ser creditado ao maior

percentual de vazios no seu interior e a presença de poros alongados,

que geram concentradores de tensão. Outro fator que contribui para a

menor resistência dos materiais estudados é o elemento de liga com

maior tamanho de partícula. Quando utilizado o SiC de 25 µm sua

dissolução não é completa. Isto são as possíveis causas para a ruptura e

escoamento do material com uma menor tensão aplicada.

Figura 40: Gráfico com as tensões máximas e de escoamento e o alongamento

máximo das ligas que foram possíveis a fabricação de corpos de prova. Como

referência foi utilizado a liga produzida por MPI [13] com a mesma quantidade

de elementos de liga utilizada neste trabalho.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

16

17

18

19

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

PIM -Referência

LSCA2 LSCA3 LSCA5 LSCA6 LSCA7 LSCA8 LSCA9 LSCA10

σmáx σesc Along %

Ten

são

(M

Pa)

Alo

nga

men

to

SiC 25µm SiC 10µm SiC 10µm SiC 25µm

Pós granulados

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76

A primeira causa pode ser o menor percentual de Si dissolvido na

matriz ferrosa, diminuindo assim sua resistência. A outra causa pode ser

a falta de homogeneidade ao longo do material, havendo desta forma,

regiões com menor resistência mecânica.

Como eram esperados, os resultados de tensão máxima (máx) e

tensão de escoamento (esc), apresentaram valores um pouco abaixo dos

valores da liga de referência. Esta diminuição pode ser creditada a forma

dos poros das ligas LSCA, devido ao processo utilizado para a

fabricação destas peças resultarem em uma quantidade maior de poros

remanescentes e poros mais alongados em comparação com peças

produzidas por PIM. Estes vazios agem como concentradores de tensão,

diminuindo assim os valores de σmáx e σesc.

A liga que se destacou foi a LSCA7, que alcançou valores de σmáx

e σesc praticamente similares ao da liga de referência. Esta liga é a que

mais se aproxima da liga MPI, pois utiliza os mesmos pós que compõem

a liga.

Já o alongamento máximo alcançaram valores próximos da terça

parte do alcançado pelo alongamento da liga de referência. Novamente,

os poros foram os responsáveis por esta diminuição do alongamento.

Inclusive na liga LSCA7, que apresentou valores de tensão elevados, a

porosidade remanescente da compactação e os vazios devido à retirada

do polímero utilizado pela granulação.

Os aços produzidos apresentaram resultados de alongamento

abaixo quando comparado com a liga injetada. Já as tensões máximas e

de escoamento alcançaram valores próximos aos encontrados na liga de

referência.

5.3.4. TRIBOLOGIA

Para estes ensaios se avaliou a durabilidade da superfície. Foram

realizados os incrementos de carga de 7 N a cada 10 minutos. Ao longo

do ensaio foram monitoradas as forças normais e tangenciais e, com isto,

determinado o coeficiente de atrito. Foi monitorado também o potencial

elétrico de contato, indicador da presença de compostos tribo químicos

isolantes no contato. Na Figura 41 é apresentada uma curva típica de

durabilidade e coeficiente de atrito dos aços estudados neste trabalho. A

liga representada é a LSCA 9.

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77

Figura 41: Curva típica de durabilidade e coeficiente de atrito. Liga LSCA9.

Nota-se que no início do ensaio o coeficiente de atrito se manteve

baixo, aproximadamente 0,06, até o incremento da primeira carga. Neste

momento há um gradual aumento do coeficiente de atrito até ultrapassar

o valor de atrito de 0,2, quando a carga alcança o valor de 28 N. A

durabilidade do ensaio já é similar ao da referência. Este material possui

valores de coeficiente de atrito que indicam que este material sinterizado

apresenta característica de ser um lubrificante sólido, no que se diz

respeito ao coeficiente de atrito, pois seu valor está abaixo de 0,2.

Analisando a curva de potencial de contato, percebe-se que os

valores iniciam bastante baixo, o que identifica que há o contato metal-

metal. Na sequência há a formação de uma camada que aumenta a

resistência do contato, e ao aumentar a carga esta camada é rompida,

voltando a existir o contato metal-metal.

Este comportamento mostra que ao ocorrer o aumento da carga

normal não ocorre mais a formação da tribo camada responsável por

manter o coeficiente de atrito baixo e este por sua vez inicia uma

elevação até ultrapassar o valor de 0,2 em torno de 80 metros e 28 N de

carga normal (durabilidade de 2240 Nm). A figura 42 apresenta os

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

0,3

0 20 40 60 80 100 120 140

Fo

rça N

orm

al (N

) / P

ote

ncia

l de c

onta

to (

mV

)

Coeficie

nte

de a

trito (

µ)

Deslizamento (m)

Coeficiente de atrito

Força Normal (N)

Resistência de contato (kΩ)

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78

valores de coeficiente de atrito e durabilidade dos materiais

desenvolvidos.

Figura 42: Durabilidade e coeficiente de atrito para as diferentes ligas estudadas.

De acordo com a figura 42, as ligas produzidas apresentaram

características autolubrificantes, tendo um coeficiente de atrito abaixo

de 0,2. Porém, as ligas apresentaram uma variação na durabilidade,

sendo necessário mais estudos para entender os fenômenos associados e

otimizações para aumentar estes valores.

Também, nota-se que as ligas que utilizam o pó de SiC com o

tamanho de partícula maior apresentaram uma maior durabilidade

quando comparado com os aços que foram produzidos a partir do SiC

com tamanho médio de partícula de 10µm, e com o pó de ferro de

menor granulometria, Fe OM. Neste segundo caso deve-se ao fato da

matriz possuir menor quantidade de poros onde a grafite pode ser

perdida, diminuindo assim sua durabilidade.

A Tabela 12 compara o coeficiente de atrito e durabilidade das

ligas sinterizadas com o de outros materiais. Todas as medidas foram

realizadas utilizando os mesmos parâmetros de análise, verifica-se que

os materiais desenvolvidos apresentam coeficiente de atrito e

durabilidade próximos a materiais comerciais como DLC e MoS2 ,

0

0,02

0,04

0,06

0,08

0,1

0,12

0,14

0,16

0,18

0,2

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

Durabilidade Coeficiente de atrito

Du

rab

ilid

ade

(Nm

)

Co

efic

ien

te d

e at

rito

)

Ensa

io n

ão r

ealiz

ado

.

Ensa

io n

ão r

ealiz

ado

.

Ensa

io n

ão r

ealiz

ado

.

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79

mostrando o potencial destes materiais para uso como lubrificantes

sólidos.

Tabela 12 – Coeficiente de atrito de diferentes materiais.

Material Tipo Coeficiente de

Atrito

Durabilidade

(Nm)

LSCA 7 Volumétrico 0,14 1100

LSCA 9 Volumétrico 0,11 2800

Liga referência

(Fe+0,6C+3SiC)

produzida por MPI

Volumétrico 0,12 2200

Ferro fundido

nodular Volumétrico 0,50 0

DLC Revestimento 0,15 3500

Filme de MoS2 Revestimento 0,05 650

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80

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81

6. CONCLUSÕES

O presente trabalho foi dividido em duas fases. A primeira foi o

estudo para avaliar a melhor forma de granulação para os pós avaliados.

A segunda fase foi a avaliação microestrutural, mecânica e tribológica

dos aços autolubrificantes produzidos a partir de pós granulados.

Fase 1: Granulação Preliminar:

A parafina (PW) não apresentou resistência suficiente

para manter a integridade grânulos. Estes se desfizeram

durante o manuseio;

O EVA como agende para formar os grânulos apresentou

melhores resultados para a produção de pós granulados

quando comparado com o PW;

As propriedades tecnológicas dos pós granulados foram

boas, ficando próximo das propriedades dos pós para

compactação;

Os pós apresentaram boa compactabilidade e boa

sinterização, não havendo falhas e vazios no interior das

peças analisadas. Também houve a total retirada do

polímero durante a sinterização.

Fase 2: Produção de amostras com pós granulados :

Os materiais que foram produzidos a partir de pós de Fe

OM apresentaram uma menor quantidade de vazios

quando comparados com as ligas produzidas com os

outros tipos de pó de ferro, ficando próximos a liga de

referência injetada;

Os componentes produzidos pela nova rota de

processamento apresentaram propriedades mecânicas

próximas da liga de referência produzida via MPI, principalmente quando utilizado o pó de injeção Fe OM

e o SiC de tamanho de partícula menor.

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82

As ligas produzidas apresentaram um baixo coeficiente

de atrito, comprovando desta forma as características

autolubrificantes das ligas produzidas.

Desta forma, o objetivo de produzir um aço autolubrificante por

compactação de pós granulados, com o objetivo de aliar as

características mecânicas dos aços produzidos por injeção e o tempo de

processamento da metalurgia do pó por compactação foi alcançado.

Como pode ser observado na tabela 13 os resultados alcançados pela

liga LSCA7 comparado com a liga de referência produzida por MPI.

Tabela 13: Tabela com as propriedades da liga LSCA7 comparadas

com a liga de referência produzida por MPI.

Propriedades Liga Granulada Liga Injetada

Dureza Vickers

(HV 0,1) 139,3 ± 7,1 163 ± 5

Tensão de

escoamento (MPa) 242,08 ± 8,39 300 ± 60

Tensão Máxima

(MPa) 365,90 ± 25,26 410 ± 30

Alongamento (%) 4,17 ± 1,54 15 ± 3

Coeficiente de atrito 0,14 0,12

Durabilidade (Nm) 1100/2800 2200

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83

7. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Para a continuidade deste trabalho se sugere os seguintes itens para

pesquisa:

Estudo mais detalhado sobre a formação dos nódulos de grafite

dos materiais produzidos com pós granulados;

Estudo detalhando a formação de granulos dos pós granulados e

a melhor forma de tamanho dos grânulos;

Estudo para a comparação da sinterização de materiais

produzidos com pós granulados em fornos a plasma e em fornos

convencionais;

Aprimorar as técnicas da compactação de pós granulados afim

de aproximar as características mecânicas às características dos

aços produzidos via MPI, utilizando, por exemplo, o processo

de dupla compactação e dupla sinterização;

Estudos do comportamento tribológico dos materiais

produzidos por esta nova rota de processamento de materiais de

baixo coeficiente de atrito, possibilitando a melhoria das

propriedades tribológicas.

Aprimorar as propriedades dos materiais autolubrificantes

produzidos pela utilização de elementos de ligas na matriz

ferrosa como, por exemplo, Mo, Mn, V, Cr.

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84

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