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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ
INSTITUTO DE SISTEMAS ELÉTRICOS E ENERGIA
Estudo do Efeito Corona em Geradores Síncronos e Métodos de
Monitoramento
Técio Cardoso Gonçalves
Itajubá, outubro de 2017
UNIFEI – ISEE Trabalho Final de Graduação
ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ
INSTITUTO DE SISTEMAS ELÉTRICOS E ENERGIA
Técio Cardoso Gonçalves
Estudo do Efeito Corona em Geradores Síncronos e Métodos de
Monitoramento
Monografia apresentada ao Instituto de
Sistemas Elétricos e Energia, da
Universidade Federal de Itajubá, como parte
dos requisitos para obtenção do título de
Engenheiro Eletricista.
Orientador: Prof. Dr. Ricardo Elias
Caetano
Itajubá, outubro de 2017
UNIFEI – ISEE Trabalho Final de Graduação
iii
Dedicatória
Aos meus pais, sempre tão dedicados e
amorosos, e que sem eles eu não poderia obter
o conhecimento, força e caráter que hoje
possuo.
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iv
Agradecimentos
Agradeço do modo mais sincero possível a todos que de alguma maneira me ajudaram nessa
caminhada nem sempre trivial do sonho de me tornar engenheiro eletricista. Dentre amigos,
familiares e colegas, gostaria de mencionar o meu profundo carinho e gratidão.
Deus, sou grato:
Ao meu orientador e professor, Ricardo Elias Caetano, que acreditou em meu potencial e me
deu suporte desde o primeiro dia de projeto, nunca deixando de cobrar e me incentivar a extrair
o melhor que eu poderia oferecer de mim mesmo para minha formação.
Aos meus amigos de república, que nas dificuldades pessoais que enfrentei sempre me
lembraram que com ânimo, esforço e empenho os problemas podem e serão superados.
Ao meu amigo, Vinícius L. Almeida, presidente do Centro Acadêmico de Engenharia Elétrica,
que me orientou e deu suporte para a difícil tarefa de conciliar todos os meus projetos até o
último momento, incluindo este trabalho.
Por fim, e mais importante, aos meus familiares. Se hoje eu estou concluindo essa nova etapa
em minha vida é pelo insistente apoio, educação e amor da minha família. Ao meu pai, sempre
tão pleno e sensato, à minha mãe, sempre tão serena e corajosa, à minha irmã, sempre tão forte
e persistente e à minha amada namorada, pelo seu contínuo apoio, amor, paciência e carinho.
A todos vocês, o meu muito obrigado.
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Resumo
Muitos são os estudos referentes ao comportamento funcional das chamadas máquinas
síncronas, sobretudo aos diversos tipos de falhas inerentes ao seu funcionamento pleno em
campo. Conforme será abordado neste trabalho, distúrbios térmicos, mecânicos e
eletromagnéticos estão sempre presentes durante a vida útil de uma máquina síncrona, apesar
do contínuo esforço em sanar ou amenizar tais características prejudiciais à mesma. Essa
problemática possui um vasto campo de estudo, no que diz respeito a cada tipo de distúrbio e
qual a melhor escolha de manutenção, seja ela corretiva, preventiva ou preditiva. Fatores como
custos, eficácia, facilidade de execução e complexidade têm sido continuamente indexados e,
de certa forma, para cada problema funcional de uma máquina síncrona existe hoje um
protocolo consolidado de solução do mesmo. Porém, algo muito pouco abordado em literatura
específica e trabalhos anteriores é aquele que remete aos problemas de origem eletrostática nas
bobinas estatóricas de um gerador síncrono, de modo mais preciso os efeitos das descargas
parciais e corona sobre as bobinas do estator. De início, já existe um confusão geral até mesmo
entre os profissionais da área quando questionados sobre a definição das chamadas descargas
parciais e do efeito corona (termos usados sob o mesmo contexto, erroneamente). Este trabalho
tem como objetivo central catalogar a eficácia do monitoramento de tais efeitos, inclusive o
corona, no interior de um gerador síncrono, visto que esses efeitos podem ser amenizados mas
nunca sanados. A motivação do monitoramento contínuo é justificada pelo conhecimento
antecipado dos efeitos prejudiciais que as descargas parciais proporcionam ao isolamento das
bobinas da máquina, que de modo geral acabam danificadas e posteriormente acarretam danos
irreparáveis à mesma. Existem diversos meios hoje disponíveis para monitorar esse efeito e a
maior vantagem destes é conhecer de antemão como o isolamento da máquina está se
comportando sem que para isso necessite a sua parada de operação ou manutenções corretivas.
Apesar do antigo conhecimento já consolidado sobre as definições a respeito das descargas
parciais, a sua correlação com a progressiva deterioração do isolamento e como prever uma
futura falha ainda carecem de maiores estudos. Muito se sabe à respeito deste tipo de descarga
em linhas de transmissão por exemplo, ou dos testes de descargas parciais em máquinas para
checagem de plenitude de isolamento. Porém este trabalho se dedica em abordar os meios hoje
existentes para o monitoramento e sensoriamento desses efeitos em geradores síncronos.
Palavras chave: Descargas parciais, efeito corona, monitoramento.
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vi
Abstract
There are many studies about the functional behavior of the so-called synchronous
machines, including the various types of failures inherent to their operation in the field. As
discussed in this paper, thermal, mechanical and electromagnetic disturbances are always
present during the life of a synchronous machine, in spite of the continuous effort to heal or
soften those characteristics detrimental to it. This problematic theme has a wide field of
research, according to each type of disorder and the best choice of maintenance, whether
corrective, preventive or predictive. Factors such as costs, effectiveness, ease of execution and
complexity have been continuously indexed and, to a certain point of view, for each functional
problem of a synchronous machine there is now a consolidated solution protocol for the same.
However, something poorly discussed in specific literature and previous works is that which
refers to the problems of electrostatic origin in the stator coils of a synchronous generator, more
precisely the effects of partial discharges and corona on the stator coils. At first, there is already
a general confusion even among professionals in the area when asked about the definition of
so-called partial discharges and the corona effect (terms used under the same context,
erroneously). The objective of this work is to catalog the effectiveness of the monitoring of
such effects, including the corona, inside a synchronous generator, since these effects can be
softened but never healed. The motivation of continuous monitoring is justified by the
anticipated knowledge of the damaging effects that partial discharges give to the insulation of
the coils of the machine, which in general results in damages and subsequently lead to
irreparable deterioration of the same. There are several ways available today to monitoring this
effect and the biggest advantage of these is to know in advance how the insulation of the
machine is behaving without requiring its stop or corrective maintenance. Despite the long-
standing knowledge about the definitions of partial discharges, their correlation with the
progressive deterioration of isolation and how to predict future failure still require further study.
There’s a rich knowledge about this type of discharge in transmission lines for example, or of
the tests of partial discharges in machines for check of isolation fullness. However, this work
is dedicated to addressing the existing means of monitoring and sensing these effects in
synchronous generators.
Key-words: Corona effect, monitoring, partial discharges.
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Índice de Figuras
Figura 1-Distribuição de Potência Elétrica Nacional ............................................................... 10
Figura 2-Falhas usuais segundo IEEE e EPRI ......................................................................... 13
Figura 3- Avalanche de elétrons ............................................................................................... 19
Figura 4-Descarga superficial ................................................................................................... 21
Figura 5-Descargas internas ..................................................................................................... 21
Figura 6-Descargas externas ..................................................................................................... 22
Figura 7-Aspecto de um polo saliente ...................................................................................... 23
Figura 8-Bobina pré-formada ................................................................................................... 24
Figura 9-Barra Roebel .............................................................................................................. 24
Figura 10-Terminações elétricas em barras Roebel ................................................................. 25
Figura 11-Detalhe das ranhuras ................................................................................................ 25
Figura 12-Detalhe das bobinas e seus encaixes ........................................................................ 26
Figura 13-Isolamento separado (esq.) e conjunto (dir.)............................................................ 27
Figura 14-Camadas de isolamento ........................................................................................... 28
Figura 15-Cavidades internas e sua aproximação .................................................................... 29
Figura 16-Espaçamento lateral e sua aproximação .................................................................. 30
Figura 17-Proteção contra DP (em cinza) ................................................................................ 31
Figura 18-Tubos de análise....................................................................................................... 34
Figura 19-Medição off-line ...................................................................................................... 36
Figura 20-Ligação detalhada HFCT ......................................................................................... 38
Figura 21-Esquemático simplificado HFCT ............................................................................ 39
Figura 22-PDA Aplicado .......................................................................................................... 41
Figura 23-Sistemas dedicados para análise .............................................................................. 42
Figura 24-SSC .......................................................................................................................... 44
Figura 25-Localização da SSC ................................................................................................. 44
Figura 26-Antena Patch ............................................................................................................ 45
Figura 27-Sistema de aquisição experimental .......................................................................... 46
Figura 28-Espectro de ondas eletromagnéticas ........................................................................ 48
Figura 29-Faixa Anulada .......................................................................................................... 48
Figura 30-Diagrama de Funcionamento ................................................................................... 50
Figura 31-Aspecto Construtivo ................................................................................................ 50
Figura 32-Imagem + UV (esq.), Infravermelho (dir.) .............................................................. 51
Figura 33-Lógica de danos do efeito corona ............................................................................ 55
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viii
Índice de Tabelas
Tabela 1-Distribuição por Tipo de Empreendimento ............................................................... 11
Tabela 2-Relação entre Tipo de Máquina e Aproveitamento ................................................... 11
Tabela 3-Falhas usuais em máquinas ....................................................................................... 12
Tabela 4- Tipos de manutenção ................................................................................................ 16
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ix
Sumário
1 Introdução ......................................................................................................................... 10
2 Efeito Corona em Máquinas Síncronas ............................................................................ 15
2.1 Definições de Manutenção ......................................................................................... 15
2.2 Descargas Parciais e o Efeito Corona ........................................................................ 17
2.2.1 Origem do Efeito ................................................................................................ 18
2.2.2 Tipos de Descargas Parciais ............................................................................... 20
2.3 Sistemas de Isolamento em Máquinas Rotativas ....................................................... 22
2.4 Descargas Parciais nas Bobinas Estatóricas .............................................................. 28
3 Técnicas de Monitoramento e Sensoriamento .................................................................. 32
3.1 Monitoramento de Ozônio ......................................................................................... 33
3.2 Monitoramento de Pulsos Elétricos – EPS (Electrical Pulse Sensing) ...................... 36
3.2.1 Sensoriamento .................................................................................................... 38
3.2.2 Tratamento de Ruídos ......................................................................................... 40
3.3 Radiofrequência ......................................................................................................... 43
3.4 Monitoramento Óptico ............................................................................................... 46
3.4.1 Funcionamento da Câmera UV .......................................................................... 47
4 Avaliação dos Métodos .................................................................................................... 52
4.1 Efeito Corona como Fator Diferencial de Monitoramento Óptico ............................ 53
5 Conclusões e Trabalhos Futuros ....................................................................................... 57
6 Referências Bibliográficas ................................................................................................ 58
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10
1 Introdução
A sociedade moderna se encontra em um patamar de desenvolvimento onde quase toda
a sua estrutura e organização cotidiana são dependentes de energia elétrica. Essa dependência
pode ser facilmente observada pelo simples imaginário de um dia singular sem a presença da
mesma, onde uma gama enorme de serviços e necessidades básicas seriam impossíveis de serem
realizados. A continuidade do serviço, juntamente com a qualidade, é algo de extrema
preocupação quando se trata do fornecimento de energia elétrica.
Basicamente a obtenção de energia elétrica pode ser feita através de variados meios,
cada qual explorando uma reserva energética que seja suficiente para suprir as necessidades de
cada região em questão. O Brasil é um país agraciado por suas riquezas naturais, sobretudo pela
sua abundante reserva hídrica, portanto é trivial imaginar que boa parte da energia que se
consome no país tenha sua origem graças ao potencial hídrico que possibilita sua exploração
em usinas hidrelétricas (independentemente de sua capacidade de geração).
A matriz energética brasileira se mostra peculiar quando comparada ao restante do
mundo. De fato uma rápida consulta do BIG (Banco de Informações de Geração),
disponibilizada periodicamente pela ANEEL em seu site revela que em abril de 2017 o cenário
energético nacional pode ser descrito através dos seguintes gráfico e tabela:
Figura 1-Distribuição de Potência Elétrica Nacional
Fonte: ANEEL (2017)
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Tabela 1-Distribuição por Tipo de Empreendimento
Fonte: ANEEL (2017)
Conforme pode se observar, de toda a matriz de geração de energia elétrica no Brasil
quase 65% provem de usinas que utilizam de potencial hídrico para o seu funcionamento (sejam
elas PCHs, CGHs ou UHEs). A primeira conclusão a ser tirada desses números é que se de fato
mais da metade da geração se encaixa nesse perfil, então ao menos algo próximo a este número
deve se assemelhar ao tipo de máquina responsável pela conversão de energia mecânica
provinda do potencial hídrico em energia elétrica. De fato, isso pode ser exemplificado pela
seguinte tabela:
Tabela 2-Relação entre Tipo de Máquina e Aproveitamento
Fonte: Almeida (2015)
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É de conhecimento geral que em hidrogeradores com alta inércia a velocidade de
funcionamento da máquina costuma ser reduzida (salvo em situações que utilizem de
multiplicador de velocidade acoplado anteriormente ao eixo da mesma, como em algumas
PCHs por exemplo), devido ao seu elevado número de polos. Dessa forma, por inferência
lógica, é possível afirmar que na matriz de geração de energia elétrica brasileira a máquina
síncrona de polos salientes seja fundamental visto que em UHEs (que hoje é responsável por
61,27% da energia gerada) o seu uso é indispensável.
A motivação maior deste trabalho surge do princípio de que apesar da máquina síncrona
ter um papel essencial na geração de energia, essa extrema dependência da mesma no Sistema
Interligado Nacional é algo que demanda um olhar especial no que se refere à plenitude de
funcionamento dos geradores síncronos. Existe uma situação conflitante onde a própria solução
da problemática de suprimento de energia elétrica em um país de escala continental, gera por
consequência uma extrema dependência do cenário energético perante um mesmo tipo de
equipamento.
Tendo em vista este primeiro fator motivador, posteriormente deve-se levar em conta
que dentre as causas responsáveis por falhas em máquinas rotativas um considerável percentual
é atribuído a problemas inerentes ao estator, conforme Stone (2004, p.131) estabelece na
seguinte tabela:
Tabela 3-Falhas usuais em máquinas
Fonte: Stone (2004)
Conforme pode se observar 37% das ocorrências de falhas em máquinas rotativas se
devem a problemas ocasionados no estator, perdendo apenas para as falhas em
mancais/rolamentos. Seguindo a mesma tendência, em 1987 o IEEE e EPRI realizaram testes
de confiabilidade e chegaram em conclusões semelhantes, onde em modo de operação os
enrolamentos estatóricos mais uma vez aparecem em segundo lugar em causas primárias de
falhas em máquinas rotativas de grande porte.
Acessórios 12%
Componente Percentual de Falhas
Rolamento/Mancal
Estator
Rotor
41%
37%
10%
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Figura 2-Falhas usuais segundo IEEE e EPRI
Fonte: Duarte (2007)
A maior justificativa deste trabalho porém não se baseia somente nos pilares
anteriormente citados (a extrema dependência que existe sobre a máquina síncrona, sobretudo
de polos salientes, e o alto índice de falhas provenientes do estator). De fato o estudo de falhas
no estator de uma máquina rotativa qualquer não é algo novo, tão quanto pouco estudado, mas
naquilo que diz respeito às ocorrências de descargas parciais, efeito corona e suas
consequências existe uma dificuldade consideravelmente alta em se catalogar o seu estudo de
causas/efeitos, sobretudo o seu monitoramento.
O objetivo central deste trabalho é expor os meios que hoje são utilizados para o
constante monitoramento de tais efeitos nas bobinas estatóricas de geradores síncronos. Ainda
que o escopo do estudo seja direcionado a geradores de polos salientes, dados relativos a
isolação e comportamento do gerador perante tal efeito pode ser estendido a outros tipos de
máquinas rotativas. Conforme será abordado, o monitoramento/sensoriamento é peça
fundamental para a realização das chamadas manutenções preditivas, as quais oferecem
soluções que antecipam a ocorrência de uma possível falha, resultando em economia de custos
relativos à perdas ou parada abrupta da máquina em questão.
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Para organizar o estudo sequencial e simplificar o seu entendimento, este trabalho foi
estruturado da seguinte maneira:
O capítulo 1 – Oferece uma breve introdução sobre o cenário energético brasileiro, expõe a
grande dependência sobre a máquina síncrona e suas causas primárias de falha, justifica o
estudo das descargas parciais, e seu monitoramento e explicita os objetivos, motivações e
organização do trabalho.
O capítulo 2 – “O Efeito Corona em Máquinas Síncronas”, apresenta todo o embasamento
teórico pertinente ao trabalho, primeiramente com enfoque teórico do próprio efeito em si, sua
diferenciação perante as demais, em seguida estendendo seu foco para máquinas rotativas. Para
isso, estudos relativos ao isolamento das mesmas também serão expostos afim de uma maior
compreensão do trabalho.
O capítulo 3 – “Técnicas de Monitoramento e Sensoriamento”, serão apresentados os mais
diversos meios empregados para o monitoramento das descargas parciais e do efeito corona
com suas respectivas metodologias.
O capítulo 4 – “Avaliação dos Métodos”, logo após descrever da forma mais detalhada possível
cada método de monitoramento, uma análise comparativa será feita com base no material
catalogado no decorrer do trabalho.
O capítulo 5 – “Conclusões e trabalhos futuros”, tendo em mãos todo a pesquisa executada,
serão feitas análises críticas inerente aos resultados teóricos obtidos, avaliando a utilidade real
do trabalho. Finalmente, sugestões serão feitas para futuros trabalhos que tenham por meta dar
continuidade ao assunto aqui tratado.
Novamente, trata-se de um assunto pouco abordado, estudado de forma pontual e
esporádica, o que justifica o caráter teórico deste trabalho o qual se propõe a oferecer um meio
de “centralizar” e avaliar todos os estudos inerentes ao projeto em si.
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15
2 Efeito Corona em Máquinas Síncronas
Esse capítulo compreende todo o embasamento teórico e revisão bibliográfica referente às
relações existentes entre as máquinas síncronas e as descargas parciais, além de justificar o
estudo de monitoramento contínuo pela premissa de manutenção preditiva.
2.1 Definições de Manutenção
Conforme já fora anteriormente citado, um dos motivos pelo qual este trabalho foi
elaborado é a redução da prática denominada manutenção corretiva. Antes de mais nada, faz-
se necessário balizar o leitor com as definições relativas às formas de manutenções que são
empregadas no campo industrial em geral. Existe uma certa confusão em torno das definições
usuais, por conta disso uma breve explicação será aqui abordada de modo mais claro possível.
Há uma extensa literatura disponível para o estudo da manutenção e suas vertentes, aliás tal
assunto é explorado exaustivamente no campo de otimização de processos industriais. Porém
com o intuito de não fugir do escopo do projeto preferiu-se uma definição clássica (SOUSA,
2009) bastante utilizada e de fácil entendimento, além de ser amplamente recorrida pela sua
simplicidade.
Levando em conta tal definição existem a priori dois tipos principais de manutenção:
- Manutenção Corretiva: A operação de um equipamento qualquer é sustentada até o ponto em
que uma falha qualquer interrompa o seu funcionamento, ou ocasione perda parcial ou total de
sua função primária, justificando assim uma intervenção qualquer.
-Manutenção Preventiva: A intervenção é realizada anteriormente à ocorrência de falhas,
levando em conta diversos fatores avaliativos (que serão explicitados à seguir). Dessa forma a
necessidade de interromper ou não o funcionamento do equipamento é analisada anteriormente.
Levando em conta que existam somente dois tipos de manutenção e excluindo operações
de cunho corretivo, sobrariam apenas situações onde a análise de fatores técnicos e o
acompanhamento de diversos parâmetros seriam relevantes para a manutenção em si. De fato,
com essa premissa verdadeira pode-se dividir a manutenção preventiva de acordo com a tabela
seguinte:
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Tabela 4- Tipos de manutenção
Fonte: Sousa (2009)
O foco do trabalho é o monitoramento do efeito corona e descargas parciais em
máquinas síncronas, e conforme já citado a manutenção preditiva se encaixa perfeitamente
nesse contexto. Em geral o objetivo maior da manutenção preditiva não é excluir todos os outros
meios de manutenção (preventiva ou corretiva) mas reduzir as suas ocorrências, minimizando
custos com perdas, paradas não esperadas do equipamento, e “situações surpresa” indesejáveis,
oferecendo a possibilidade de parada no momento mais oportuno, estudos de prevenção, etc.
Talvez hoje o maior motivo de existir um receio por parte da indústria em implementar
a manutenção preditiva seja o seu alto custo inicial, visto que para o constante monitoramento
dos parâmetros de um processo qualquer seja necessário um gasto relativamente alto com
equipamentos específicos e de uso restrito, ou de novas tecnologias ainda pouco empregadas
em escala industrial. Tais fatores podem levar a conclusão prematura que tal técnica de
manutenção seja onerosa demais para compensar sua implementação, porém, é parte do
objetivo deste trabalho demonstrar que as vantagens da manutenção preditiva justificam o seu
uso, além de avaliar alguns custos de reparo em situações onde diferentes técnicas de
manutenção poderiam ser utilizadas.
A palavra preditiva remete ao termo “predizer”, ou seja, é característico desse método
prever, predizer ou prevenir futuros acontecimentos maléficos a um equipamento qualquer por
meio de acompanhamento de seus parâmetros específicos, os quais acusam de modo direto ou
indireto o seu estado e condição de funcionamento. Conforme será discutido, variáveis como
análise visual, vibração e análise de gases são alguns exemplos de parâmetros que podem ser
utilizados para a detecção do comportamento do efeito corona, que por sua vez acusa uma
possível e futura falha no isolamento das bobinas estatóricas de geradores síncronos.
Rotina Inspeção Sistemática Preditiva Seletiva
Estatístico ou
Monitoramento.
Programável ou
Não.
Preventiva Corretiva
Manutenção
Efetuada com o
equipamento em
operação.
Acompanhamento do
estado do
equipamento usando
sentidos humanos.
Baseada na
duração do
funcionamento.
Efetuada após o
término da vida
útil.
Efetuada em
função do estado
do material.
Efetuada após
defeito e/ou falha
do equipamento ou
componente.
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17
2.2 Descargas Parciais e o Efeito Corona
Outro conceito que necessita ser abordado especificamente é o de efeito corona.
Conceitualmente, esse termo vem sendo utilizado de maneira genérica quando se quer
denominar uma descarga parcial qualquer, independentemente das características do material
em estudo e do meio que circunda tal material. Essa prática apesar de comum, está errada. De
fato, o próprio IEEE define o conceito de descargas parciais sem para isso delimitar as demais
características do efeito em si (IEEE, 2000):
“Descarga parcial é uma descarga elétrica incompleta, ou parcial, que ocorre entre camadas
diferentes de isolamento, ou ainda, entre uma camada de isolamento e um condutor.”
Talvez pela simplicidade do conceito acima, ou apenas pelo costume dos profissionais
do ramo, não existe uma preocupação em separar os efeitos por suas características específicas,
o que gera a ideia que de fato são a mesma coisa. Por isso é importante que fiquem claras suas
definições de maneira sólida para evitar interpretações errôneas durante a leitura do trabalho,
que desde a sua concepção atenta para tais diferenças com intuito de abordar todos os
tipos de descargas, inclusive as do tipo corona. Existe uma vasta literatura que pôde sustentar
satisfatoriamente a teoria acerca das descargas parciais, e uma breve revisão das mesmas foi
realizada de forma a elucidar as características mais importantes presentes em cada material
consultado.
Inicialmente deve-se definir cada conceito à seguir:
- Ionização: Qualquer processo onde ocorre uma modificação da carga atômica e que obtém
íons como resultado dessa modificação. Dessa forma, esse processo é capaz de transformar um
átomo de carga neutra em um átomo eletricamente carregado positivamente ou negativamente.
- Descarga Parcial: Descarga elétrica incompleta que não chega a curto-circuitar dois
condutores completamente, mas de forma parcial. Esse processo é delimitado pela ionização
gasosa, podendo gerar formas de faíscas delgadas ou de brilho difuso (conhecidas como glows).
Ocorrem em diversos tipos de superfícies e tem sua origem quando o gradiente de tensão através
de um meio ultrapassa o limite de tensão de ruptura do meio em questão (BARTNIKAS, 2002).
- Efeito Corona: Tipo especial de descarga parcial, caracterizada pela sua visibilidade em torno
do gás que envolve o condutor. Por ser visível, é costumeiro classifica-la como uma descarga
externa visto que em diferentes tipos de superfície a descarga pode ocorrer internamente, na
superfície ou externamente a um condutor.
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Em um boletim periódico, a renomada Hubbell Power Systems define o efeito corona
de modo simples e conciso:
“Corona é uma descarga causada por sobrecarga elétrica. De fato, o efeito corona pode ocorrer
em materiais isolantes sólidos, líquidos e gasosos, e a sua ocorrência normalmente é associada
a fases iniciais de falha no isolamento elétrico de um equipamento qualquer. Porém, enquanto
que em líquidos e gases a retirada da sobrecarga elétrica resulte em recuperação das
propriedades isolantes originais, em materiais sólidos ocorre a permanente deterioração do
mesmo”.
Portanto, conforme será visto adiante, o efeito corona é apenas um tipo de descarga
parcial caracterizado pela sua visibilidade ao se propagar em meios exteriores. De fato o escopo
deste trabalho é abordar tal efeito de maneira conceitual com a finalidade de separar os meios
de monitoramento com relação aos outros tipos de descarga parcial, que apesar de se enquadrar
na definição de descarga parcial, não deixa de ser apenas um caso específico.
2.2.1 Origem do Efeito
O surgimento do efeito corona decorre inicialmente pelo incremento excessivo do
gradiente de potencial em certa região do material, que assume um valor superior ao gradiente
crítico disruptivo do gás circundante (geralmente o ar). Conforme é de conhecimento geral
existem elétrons livres espalhados pelo ar, inclusive nas proximidades do material energizado.
Se esse material condutor (com superfície isolante ou não) é alimentado com tensão alternada,
um fenômeno interessante tem início logo após sua alimentação. Conforme o condutor é
energizado de forma alternada, em cada semiciclo os elétrons próximos à superfície vão
adquirindo uma certa aceleração resultante da interação com o campo eletrostático.
Como os elétrons tem carga negativa, durante o semiciclo positivo eles são acelerados
em direção ao material energizado e naturalmente o oposto ocorre durante o semiciclo negativo.
Essa aceleração e subsequente velocidade dos elétrons livres é proporcional ao campo aplicado
ao material energizado. Dessa forma se o campo possuir um potencial relativamente baixo, as
colisões entre os elétrons livres com o gás circundante serão elásticas (não ocorrerá
transferência de energia). Porém ao ultrapassar o gradiente crítico anteriormente citado as
colisões passam a ser inelásticas, e desse modo, o elétron acelerado passa a ter velocidade
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19
suficiente para “bombardear” os átomos do gás a ponto de “empurrarem” os elétrons do mesmo
para fora de suas próprias órbitas. Esse fenômeno, já anteriormente citado, é conhecido como
ionização. O mais importante desse fenômeno é reconhecer que esse processo cresce de uma
maneira que a cada colisão o número de elétrons acelerados é duplicado, de modo que em um
curto espaço de tempo o número de elétrons cresce de maneira espantosa. A esse crescimento
robusto e rápido atribui-se o termo avalanche de elétrons.
Figura 3- Avalanche de elétrons
Fonte: NPTEL (2009)
Para cada semiciclo positivo esse crescente grupo de elétrons é acelerado em direção ao
material energizado, até atingir a sua superfície, e para cada semiciclo negativo ele é repelido
até uma região onde sua aceleração se torna muito fraca para dar continuidade ao processo de
ionização. Após esse movimento inicial da avalanche de elétrons alguns íons positivos são
deixados para trás, visto que sua massa é muito maior que dos elétrons livres (cerca de 50000
vezes superior) e atraem elétrons que estejam vagando livremente pela região. Posteriormente
o íon positivo acaba capturando tal elétron e se torna novamente uma molécula neutra do gás
circundante.
O fato é que o nível de energia dessa molécula neutra é inferior ao nível do íon
anteriormente à sua neutralização, e portanto, é de se esperar que tal molécula deve ter liberado
boa parte dessa energia no processo (que em magnitude é exatamente igual à quantidade de
energia anterior que foi despendida para tirar o elétron de sua órbita original). Essa energia se
manifesta em formas de ondas eletromagnéticas, e para o caso de moléculas de oxigênio e
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nitrogênio (principais componentes do ar) essa radiação é visível, normalmente por uma cor
violeta extremamente suavizada (cor resultante do processo de ionização do nitrogênio,
principalmente).
2.2.2 Tipos de Descargas Parciais
Durante o estudo bibliográfico foi notável a quantidade de fontes que disponibilizavam
uma boa sustentação sobre descargas parciais, sobretudo em linhas de transmissão. Por conta
disso, estudos em condutores nus em linhas de transmissão ou de isoladores, por exemplo,
foram consultados com o intuito de diferenciar alguns conceitos que podem ser facilmente
confundidos durante a leitura deste trabalho.
Primeiramente é necessário deixar claro o efeito que o efeito corona estabelece em
materiais dielétricos ou em materiais condutores isolados externamente. Para tanto, recorre-se
à norma IEC 60270 a qual define a descarga parcial como um “curto-circuito incompleto” do
material isolante entre os condutores revestidos pelo mesmo, em sua adjacência ou não. De fato,
esse fenômeno denota um alto gradiente de potencial elétrico no isolante ou em sua superfície
e ocorre de forma pulsante com duração inferior a 1µs (B S, 2001).
Uma maneira usual de classificar as descargas parciais é pelo modo em que ela ocorre
e pela região de ocorrência. Tendo em vista que a avalanche de elétrons é sustentada em meio
gasoso, é necessário que para a sua ocorrência exista então gás circundando o material
energizado. Levando em conta essa premissa inicial, pode-se dividir a classificação das
descargas parciais em três tipos básicos (KREUGER, 1989).
-Descargas Superficiais: Pode ocorrer em diversos meios dielétricos, de modo que o gradiente
de potencial oferecido pelo material condutor seja superior ao valor crítico suportado pelo
material isolante. À partir daí começa um processo muito comum denominado trilhamento do
material isolante, que leva a sua gradual degradação.
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21
Figura 4-Descarga superficial
Fonte: Kreuger, modificado (1989)
-Descargas Internas: A avalanche autossustentada somente ocorre em meio gasoso, dessa forma
se um material qualquer possuir imperfeições internas, ou rachaduras em seu interior, as
descargas irão ocorrer a partir do momento em que o processo de energização tiver início e seu
gradiente de potencial adquirir valor superior ao crítico.
Figura 5-Descargas internas
Fonte: Kreuger, modificado (1989)
- Descargas Externas: Finalmente, esse é o tipo de descarga que é citado de forma tão
generalizada. A descarga parcial externa geralmente é conhecida como descarga corona, e
somente esse tipo específico de descarga deve receber tal denominação. Sua ocorrência se dá
pelos motivos anteriores, porém se manifesta principalmente em superfícies irregulares,
pontiagudas, ou com raio de curvatura reduzido. O fator que torna tais descargas indesejáveis
em materiais com revestimento isolante reside no processo de degradação na superfície
dielétrica do material energizado. Por exemplo, as descargas corona em meio a ar ambiente
produz ozônio, e tal gás é causador de fissuras em material baseado em polímeros. O nitrogênio
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22
(principal componente do ar) também contribui pela formação de óxidos que combinados com
vapor d’água provocam trilhamento do material.
Figura 6-Descargas externas
Fonte: Kreuger, modificado (1989)
Fica evidente que existe uma correlação entre a ocorrência de descargas parciais e o
processo contínuo de degradação de materiais isolantes em geral. Em máquinas rotativas isso
não é diferente e ocorre em todas as formas anteriormente citadas, e esse é o motivo do
termo corona ser generalizado de maneira equivocada. De fato todos resultam em descargas
parciais, porém o efeito corona, mais uma vez, se manifesta exteriormente, em meio gasoso, em
superfícies irregulares ou pontiagudas e geralmente são visíveis. Conforme este trabalho
abordará mais adiante, sempre existirá uma consequência imediata anterior ao processo de
deterioração do dielétrico, ou seja, sempre que a descarga parcial ocorre ela se manifesta por
mais de uma maneira, o que possibilita o seu monitoramento de forma direta ou indireta.
2.3 Sistemas de Isolamento em Máquinas Rotativas
As máquinas rotativas já estão no cotidiano industrial há mais de um século, e desde a
sua concepção inicial diversos incrementos foram feitos de modo a reduzir inconsistências de
projeto, aumentar sua eficiência, diminuir gastos com material, prolongar sua vida útil, etc. Esse
trabalho não abordará as diversas configurações máquinas que existem, nem o conceito de
funcionamento das mesmas pois isso seria uma fuga do escopo inicial do projeto visto que o
número de equipamentos rotativos é alto, cada qual possuindo diversas particularidades. De
fato aqui serão abordados alguns conceitos dos chamados geradores síncronos, suas formas de
construção (sobretudo do estator) e problemas inerentes ao isolamento estatórico do mesmo.
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23
Conforme anteriormente comentado, em casos de geração de energia elétrica por
aproveitamento de potencial hídrico os geradores síncronos costumam ser do tipo polos
salientes. Tais geradores síncronos recebem esse nome devido ao formato de seu rotor, que
possui uma descontinuidade ao longo de sua periferia de modo que a região de entreferro varia
com grande amplitude.
Figura 7-Aspecto de um polo saliente
Fonte: WEG (2012)
Tais máquinas geralmente operam em baixa velocidade devido à alta inércia
característica e possuem um número elevado de polos, e por conta disso, é comum o uso em
aproveitamentos onde o potencial hídrico seja consideravelmente intenso a ponto de ter energia
suficiente para fazer o gerador operar em condição nominal.
Em termos de aspectos construtivos tal distinção da máquina é referente somente ao seu
rotor, portanto apesar dos estudos deste trabalho serem voltados a geradores com rotor de polos
salientes, nada impede da aplicação dos sistemas de monitoramento em máquinas de polos lisos
(salvo em situações onde a rotação seja extremamente superior, ou em casos em que
particularidades construtivas impeçam a aplicação de sensoriamento).
Para a compreensão dos sistemas de isolamento em geradores síncronos, primeiro é
necessário abordar algumas particularidades referentes à construção do estator, mais
especificamente a disposição das bobinas no mesmo. Em máquinas de porte consideravelmente
grande, que operem com tensão superior a 1000 V as bobinas estatóricas precisam ter sua seção
transversal retangular (seções circulares seriam péssimas em termos de espaço). Para tanto,
existem dois meios das bobinas serem modeladas (STONE, 2004):
- Pré-formadas: Esse tipo de bobina é formado por diversos condutores de cobre de seção
retangular e isolados entre si. O termo pré-formado é para denotar o seu formato peculiar, onde
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cada extremidade da mesma que extrapola a acomodação nas ranhuras do estator assumem
forma característica.
Figura 8-Bobina pré-formada
Fonte: Western Coil (2015)
-Bobinas tipo Roebel: Possuem o mesmo princípio da anterior porém em máquinas onde a
potência seja muito alta existe a necessidade das bobinas serem de maior porte. Isso dificulta a
sua fixação nas ranhuras do estator, pois devido ao seu elevado porte existe um risco maior de
danificar a estrutura da bobina. Por conta disso, fabricá-las de modo que já assumam o pré-
formato anterior torna-se inviável. A solução desse problema é fabricar cada metade da bobina
através de barras denominadas Roebel, inserir cada metade nas ranhuras desejadas e conectá-
las eletricamente em suas extremidades.
Figura 9-Barra Roebel
Fonte: Genermex (2014)
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Figura 10-Terminações elétricas em barras Roebel
Fonte: Stone (2004)
Outra característica importante do estator é a disposição de montagem das bobinas nas
ranhuras do mesmo, que podem ser do tipo camada simples ou dupla camada. Na camada
simples apenas um lado de bobina ocupa a ranhura em questão, enquanto que em camada dupla
cada ranhura abriga dois lados de bobinas diferentes.
Figura 11-Detalhe das ranhuras
Fonte: VA-Tech (2015)
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Figura 12-Detalhe das bobinas e seus encaixes
Fonte: VA-Tech (2015)
Existem basicamente três tipos fundamentais de isolamento no estator de uma máquina
síncrona (STONE, 2004):
-Isolamento dos condutores internos de cada espira;
-Isolamento entre espiras da bobina;
-Isolamento final (groundwall);
Em máquinas de grande porte cada espira não é formada por um condutor de única seção
retangular, mas por um conjunto de fios de seção inferior que somados suprem a necessidade
do projeto. Isso resulta em uma maior facilidade mecânica para manejar a bobina final, que
“aceita” com maior flexibilidade as curvaturas necessárias para o seu uso e, além disso, o uso
de condutores de seção reduzida evita maiores perdas por correntes superficiais. Portanto, cada
condutor recebe uma fina camada de isolante para evitar seu contato direto.
Posteriormente, existe a necessidade de isolamento entre cada volta de espira que resulta
na formação da bobina final. Esse isolamento precisa ser extremamente bem-feito, pois o
aparecimento de curto entre espiras pode ser desastroso. Por exemplo, se uma bobina possuir
100 voltas “saudáveis” e apresentar um curto-circuito de uma espira posterior, essa bobina se
comportará como um autotransformador (e a espira curto-circuitada se comportaria como o
enrolamento secundário do mesmo).
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27
Np∙Ip=Ns∙Is (Esp∙ A ) (1)
Respeitando a relação acima, uma corrente de magnitude 100 vezes superior circularia
pela espira em curto. De fato, isso acarretaria numa rápida falta fase-terra pelo derretimento do
cobre e posterior contato com o estator ou carcaça da máquina.
Finalmente, existe o isolamento final que separa os condutores da bobina do contato
físico com as ranhuras do estator, evitando assim faltas fase-terra (daí o termo groundwall
insulation). Com o intuito de simplificar o processo produtivo, vale salientar que existe a
possibilidade dos isolamentos entre espiras e entre condutores serem reduzidos a um único
isolamento (porém de espessura maior).
Figura 13-Isolamento separado (esq.) e conjunto (dir.)
Fonte: Stone, modificado (2004)
Outro modelo de isolamento que pode ser ilustrado é da fabricante WEG, onde um
modelo esquemático mais elaborado foi utilizado para melhor compreensão (WEG, 2015):
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28
Figura 14-Camadas de isolamento
Fonte: WEG, modificado (2015)
2.4 Descargas Parciais nas Bobinas Estatóricas
O isolamento final (ou principal segundo alguns fabricantes), sugere a ideia de ser o
último isolante que cada bobina possui. De fato, para máquinas com tensão nominal de até 4
kV isso pode ser verdade (STONE, 2004). Porém à medida que esse nível de tensão é
incrementado começam a surgir efeitos referentes à descarga parcial. Naturalmente, elas
ocorrem nas três maneiras anteriormente descritas (internamente, superficialmente e
externamente/corona).
O primeiro caso, e muito comum, é ocasionado devido a “buracos” internos que podem
surgir ao longo do isolamento final, ou seja, pequenas alocações gasosas que possibilitam o
surgimento de descargas internas. Conforme se sabe, esse meio gasoso é suficiente para
autossustentar o processo de avalanche de elétrons, que por sua vez irá danificar gradualmente
o isolamento até o ponto em que ele será rompido.
Fisicamente, uma falha elétrica de um material isolante não é produto apenas do nível
de tensão que o material está exposto. De fato, ele também depende do campo elétrico aplicado.
Portanto, tomando E como campo elétrico ou estresse elétrico num capacitor de placas
paralelas:
𝐸 =𝑉
𝑑 (𝑘𝑉/𝑚𝑚) (2)
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29
Conforme pode-se imaginar, o nível de tensão é fundamental para se calcular a
suportabilidade dielétrica de um isolante qualquer, assim como as dimensões físicas de uma
anormalidade do material (nesse caso, pequenos “buracos internos”). Além disso vale salientar
que tal suportabilidade também depende da pressão em que esse gás se encontra, conforme
enunciado pela lei de Paschen, e isso influencia diretamente em casos onde o sistema de
refrigeração do estator produz pressões superiores à atmosférica. Por fim existe também a
característica própria de cada material usado como isolante, que dependendo de sua composição
oferece maior ou menor suportabilidade de isolamento antes de apresentar indícios do processo
de ionização e posterior descarga parcial.
A presença de ar ou hidrogênio (geralmente utilizados como refrigerantes da máquina)
no interior das bobinas pode ser modelado através do seguinte circuito capacitivo (STONE,
2004):
Figura 15-Cavidades internas e sua aproximação
Fonte: Stone, modificado (2004)
O modelo acima divide o problema em um simples divisor de tensão capacitivo,
considerando Ca a capacitância do “buraco” e Cin a capacitância do isolante. Assumindo o
buraco como um capacitor de placas paralelas, pode-se por aproximação dizer que:
𝐶𝑎 =𝜀.𝐴
𝑑𝑎 (F) (3)
Onde 𝜀 é permissividade do material isolante, em (F/m) (produto da permissividade relativa e
a permissividade do vácuo), A é a área da seção transversal do buraco, em (m²) e da a espessura
do mesmo, em (m).
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30
Desse modo, a capacitância cavidade interna pode ser calculada, e além disso por
simples teoria de circuitos a tensão através do buraco pode ser obtida por:
𝑉𝑎 =𝐶𝑖𝑛.𝑉0
𝐶𝑎+𝐶𝑖𝑛 (V) (4)
Onde V0 é a tensão aplicada em (V) e Cin é a capacitância do material isolante em (F). Ao aplicar
valores típicos de alguns materiais nas equações acima, sempre é possível observar que
dependendo do nível de tensão e formato da seção reta da cavidade, o gradiente de potencial
elétrico na mesma pode ser superior aquele suportado pelo ar, e desse modo, ocorrerão
descargas parciais em seu interior. De fato, a suportabilidade do material isolante é sempre
superior àquela aplicada em situações diversas de operação da máquina, portanto o que
realmente contribui para sua degradação é a presença dos pacotes internos contendo gás, que
possibilitam o processo de ionização.
Outra possibilidade existente é a de ocorrerem descargas entre a superfície das barras
do estator e as ranhuras do mesmo, e por conta disso, para máquinas acima de 6 kV (STONE,
2004) é de costume um isolamento semicondutivo (não no sentido semicondutivo de
transistores e diodos) ser adicionado na superfície de contado direto com o estator.
Mais uma vez, um esquemático e seu correspondente circuito equivalente pode ser útil
para a compreensão do fenômeno:
Figura 16-Espaçamento lateral e sua aproximação
Fonte: Stone, modificado (2004)
A problemática tem início no próprio processo de fabricação das bobinas estatóricas
pois como elas precisam ser encaixadas nas ranhuras com certa facilidade, é de se esperar que
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31
sua espessura seja inferior com relação à própria ranhura (caso contrário o encaixe seria
impossível ou realizado com extrema pressão lateral). Por conta disso, espaços vazios são
inevitáveis conforme denota a figura anterior, e portanto, em certos níveis de tensão e
dependendo da espessura de tal “gap”, ocorrerão descargas parciais superficiais. A diferença
é que em máquinas refrigeradas a ar o processo agora criará ozônio, que combinado com o
nitrogênio presente no ar irá produzir ácidos (STONE, 2004) que além de nocivos à saúde
humana, acabam corroendo alguns tipos de metais, materiais de origem polimérica, etc.
Para evitar tais acontecimentos é comum então o acréscimo de um revestimento
semicondutivo (normalmente carboneto de silício), que é conectado eletricamente em vários
pontos do estator (este aterrado). Conforme o circuito anterior, esse revestimento fica com
praticamente um potencial nulo devido a sua baixíssima resistência (Rs), e por conta disso o
potencial do intervalo também é nulo, evitando o surgimento de qualquer descarga.
Esse revestimento porém deve ser feito com uma cautela especial no que diz respeito ao
seu comprimento. Geralmente os fabricantes estendem o seu uso apenas alguns centímetros
além da terminação da ranhura, ao invés de preencher toda a extensão da bobina. Isso faz
sentido por três motivos principais: primeiramente existe a questão do custo, posteriormente
existe um perigo em se isolar todo o exterior de uma bobina com um material de resistividade
baixa sendo que cada bobina fica próxima com bobinas vizinhas, e por último existe o fato que
o próprio revestimento das cabeças de bobina com esse material pode facilitar o surgimento de
cavidades internas pela dificuldade da perfeita compressão do material. Com isso, a própria
solução do problema inicial passa a oferecer riscos adicionais.
Figura 17-Proteção contra DP (em cinza)
Fonte: Fogaça (2003)
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32
3 Técnicas de Monitoramento e Sensoriamento
Conforme anteriormente dito, existe uma gama considerável de estudos pertinentes às
falhas de bobinas estatóricas de máquinas síncronas. De fato, tal assunto é abordado por extensa
literatura específica, manuais de testes de descargas parciais, artigos, temas de pesquisa, etc. A
título de conhecimento, existem hoje cerca de 40 tipos diferentes de testes e meios de
monitoramentos diferentes que podem ser usados para diagnosticar o estado de uma máquina
síncrona e ou sua causa primária de falha (STONE, 2004). Tal número à primeira instância
pode parecer grande, porém ele aborda todos os tipos de testes existentes inclusive aqueles que
fogem do escopo deste trabalho, ou seja, aqueles que utilizam da máquina fora de operação
(desligada, desmontada, etc.). Somente nessa primeira diferenciação o número de testes já
decai consideravelmente, e além disso, testes e meios de monitoramento on-line, objetivo
central deste trabalho, ainda são classificados não somente pelo mecanismo de funcionamento
dos mesmos mas naturalmente também pela parte construtiva da máquina que será monitorada
(estator, mancal, rotor, etc.).
No geral, o monitoramento on-line é desejado porque (STONE, 2004):
- Nenhuma interrupção no funcionamento da máquina é necessária para determinar a condição
dos enrolamentos;
- Normalmente, o custo de aquisição de dados de diagnóstico é mais barato que os testes off-
line, dado que apenas um profissional pode coletar dados de monitoramento (o que leva cerca
de minutos, quando não se tratam de monitoramentos contínuos);
- Possibilita a manutenção preditiva;
- É o único meio de verificar irregularidades que ocorrem quando a máquina está em plena
operação.
Por outro lado, eis algumas desvantagens (IEEE Standard 1434, 2005):
- Normalmente o custo inicial de implementação costuma ser relativamente alto, uma vez que
sensores e instrumentos de monitoramento devem ser instalados em cada máquina. É um
contraste considerável com relação aos testes off-line que demandam um instrumento para um
grupo inteiro de máquinas;
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33
- Nem todos os processos de falha podem ser detectados com as técnicas existentes de
monitoramento contínuo;
- A aparição de ruídos é algo sempre presente, pois as máquinas rotativas nunca operam em um
ambiente ideal do ponto de vista dos sistemas de monitoramento. Dessa forma, acompanhados
de cada sistema de aquisição de dados (diretos ou indiretos) sempre deve-se ter em mente que
medidas de atenuação de ruídos deverão ser juntamente implementadas para reduzir-se ao
máximo a influência de sinais intrusivos, já que sua eliminação total é algo utópico.
Conforme em IEEE Standard 1434 (2005):
“O estado da arte é tal que a medida obtida on-line deve prover a condição em que se encontra
o objeto em estudo, mas não deve de maneira alguma ser considerada conclusiva por si só.”
Ou seja, o monitoramento contínuo é desejável por possibilitar uma maior
previsibilidade de futuras falhas mas demanda de análise técnica, crítica e sempre que possível
vir acompanhada de outros dados complementares relativos ao funcionamento da máquina
monitorada, possibilitando uma conclusão sólida à respeito do estado do objeto de estudo.
Adiante serão apresentados alguns métodos de monitoramento mais usuais e
logicamente existem outros disponíveis para uso em máquinas síncronas, porém este trabalho
se ateve a representar aqueles mais encontrados no meio industrial (BLOKHINTSEV, 1999).
3.1 Monitoramento de Ozônio
O ozônio é um gás produzido pela ação de descargas parciais (independentemente de
seu tipo) no ar. Como já fora discutido anteriormente, tais descargas ocorrem por gaps oriundos
de má colocação das bobinas suas ranhuras, deterioração do isolamento, ou insuficiência de
espaço entre as cabeças de bobina (STONE, 2004).
Existem dois métodos disponíveis para se medir a concentração de ozônio. O método
mais barato faz uso de tubos para análise de gás, tubos estes sensíveis especificamente ao
ozônio. Quando o tubo é aberto para uso, o agente químico presente em seu interior muda de
cor de acordo com a concentração de ozônio no ambiente de análise. Tal método apesar de
simples e barato, não é muito interessante pois apesar de ser classificado como monitoramento
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34
(por não demandar parada da máquina ou o seu desmonte total ou parcial) deve ser realizado
de maneira discreta, ou seja, em intervalos de tempos regulares, normalmente de 6 meses
(STONE, 2004). Além disso para o caso de máquinas que tenham sua exaustão feita de maneira
completamente selada, seu uso fica comprometido uma vez que o operador de testes necessita
ter acesso à saída de exaustão da máquina. Outra desvantagem é o risco em sua realização, pois
nenhum indivíduo deve ser exposto a um ambiente com concentrações de ozônio superiores à
1 parte por milhão (STONE, 2004).
Figura 18-Tubos de análise
Fonte: Draeger (2017)
A segunda técnica, mais apropriada, utiliza um dispositivo eletrônico capaz de detectar
continuamente a concentração de ozônio. Um sensor é colocado no interior da máquina ou em
sua saída exaustiva. Como o dispositivo eletrônico pode ser usado remotamente, não importa
se a máquina é do tipo ventilação aberta ou fechada.
O ozônio produzido pelas bobinas estatóricas é afetado por alguns fatores, entre eles
(STONE, 2004):
-Tensão de operação da máquina;
-Umidade do ar;
-Fator de potência, uma vez que as descargas das bobinas em suas ranhuras são diretamente
afetadas pela razão potência reativa/ativa.
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35
Dessa forma, para uma medição de valores consistentes é necessário que os parâmetros
acima estejam os mais constantes possíveis.
O monitoramento consiste em mensurar a concentração de ozônio através do tempo.
Dessa forma fica fácil visualizar qualquer aumento abrupto ou persistente da concentração do
gás na máquina síncrona. Basicamente a concentração é incrementada se:
- O número de pontos com descargas parciais é também incrementado;
- A superfície contendo uma descarga parcial é expandida com o tempo.
Primeiramente, deve-se ter em mente que não existe um limite inferior para estabelecer
um nível de concentração de ozônio que garanta que uma máquina esteja livre de descargas
parciais. Isso ocorre por diversos fatores, dentre eles:
-A máquina pode ter ventilação aberta ou selada, logicamente tornando os valores muito mais
concentrados na segunda opção;
-O operador deve se certificar que agentes externos não estejam contribuindo para a medição,
como descargas atmosféricas, aparelhos de fax, copiadoras, uma vez que o ambiente mensurado
é impregnado pelo gás, independentemente de seu elemento gerador;
- Como anteriormente dito o ozônio é “consumido” pelos elementos isolantes da máquina,
proporcionando sua gradual degradação. E a taxa de consumo varia para cada tipo de material
isolante.
Fica evidente que o ponto central dessa técnica de avaliação de descargas parciais não
é a existência de ozônio no ambiente ou a concentração do gás em questão, mas sim a taxa em
que sua concentração se comporta através do tempo. Como existe uma variação grande de sua
concentração em regime permanente, dependente de fatores construtivos e do ambiente, a única
lógica plausível é verificar variações bruscas ou persistentes da concentração deste gás.
Apesar de simples e intuitivo esse método é pouco palpável uma vez que ele apenas
acusa a presença ou não do aumento das descargas parciais (superficial ou corona), mas não
possibilita mensurar a quantidade, localização ou extensão de superfícies com componentes
problemáticos como isolamento degradado, espaçamento comprometido entre bobinas ou
bobinas e ranhuras estatóricas.
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36
3.2 Monitoramento de Pulsos Elétricos – EPS (Electrical Pulse Sensing)
Para a compreensão desse método, inicialmente deve-se ter em mente o funcionamento
do teste de descargas parciais que é executado de maneira off-line. Basicamente nesse tipo de
teste são feitas medições diretas das correntes pulsantes provenientes de uma descarga parcial
que ocorre em uma bobina alimentada com sua tensão de fase padrão.
Sabe-se de antemão que uma descarga parcial gera um fluxo de elétrons com rapidez
extrema, uma vez que os mesmos locomovem-se próximos à velocidade da luz, e percorrem
uma distância muito pequena. Assim sendo, os pulsos gerados são de duração muito pequena
(da ordem de nanossegundos) e uma vez que cada elétron carrega consigo uma carga elementar,
cada descarga produz uma corrente pulsante.
Cada pulso de descarga parcial é originária de uma parte específica do enrolamento
estatórico e cada corrente gerada viajará através dos condutores da bobina, os quais possuem
uma impedância característica, que naturalmente resulta na aparição de sinais de tensão
pulsante. Tais sinais vão percorrer a bobina, e uma boa parte deles chegarão aos terminais da
mesma. Como os sinais são pulsantes, uma transformada de Fourier é explicitada na ordem de
centenas de mega-hertz e dessa forma qualquer dispositivo sensível à altas frequências pode
detectar pulsos de descargas parciais.
Conforme figura adiante, o jeito mais usual de detectar tais pulsos é através do uso de
capacitores de alta tensão conectados aos terminais do estator.
Figura 19-Medição off-line
Fonte: Stone, modificado (2004)
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37
Tendo em vista a seguinte relação:
𝑋𝑐 =1
2 ∗ 𝜋 ∗ 𝑓 ∗ 𝐶
(5)
Onde Xc é a reatância capacitiva, em (Ω), pode-se inferir que para a tensão alimentação das
bobinas estatóricas no teste de descarga parcial o capacitor se comporta como uma grande
impedância, ao passo que para os pulsos de descarga parcial o mesmo se comporta como uma
impedância de baixíssima magnitude (devido às frequências de magnitude extrema). Ou seja, a
disposição anteriormente mostrada se comporta simplesmente como um filtro de sinais, estes
podendo ser analisados em um osciloscópio, por exemplo. Nesse método, em contraste com o
detector de ozônio, cada pulso é criado por uma descarga parcial diferente, ou seja, além da
magnitude de tais pulsos pode se ter conhecimento da quantidade de descargas suficientemente
preocupantes que ocorrem na máquina testada.
Apresentada a lógica primária de detecção de sinais, pode-se agora estudar a abordagem
de monitoramento contínuo. Em geral, todos os métodos de medição direta dos pulsos gerados
possuem os seguintes elementos básicos (STONE, 2004):
-Sensores, capacitores de alta tensão conectados aos terminais da máquina, e ou TCs conectados
ao neutro da máquina. Tais sensores são extremamente sensíveis aos sinais provindos das
descargas parciais, e conforme visto, indiferentes aos sinais provindos da alimentação da
máquina;
-Dispositivos eletrônicos que convertem os sinais captados em formato analógico em sinais
digitais. O método mais comum atualmente consiste no uso de Analisadores de Amplitude e
Fase. Em sistemas mais antigos, era comum se limitar aos Analisadores de Espectro ou
Osciloscópios;
- Técnicas de processamento de sinais são utilizadas com intuito de reduzir toda informação
coletada em dados que possam ser utilizados de maneira confiável e que na melhor das
hipóteses possam discriminar indiretamente o tipo de falha que poderá ocorrer nas bobinas
estatóricas.
(Ω)
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38
Existe uma gama de equipamentos diferentes no mercado que se propõe a realizar a
tarefa de medir os pulsos de uma descarga parcial, porém todas elas se limitam a otimizar uma
ou mais das características anteriormente citadas.
3.2.1 Sensoriamento
O primeiro sensor utilizado em larga escala para esse tipo de monitoramento foi o
Transformador de Corrente para Altas Frequências, ou HFCT (High-Frequency Current
Transformer). Constituído por um núcleo de ferrite circundado por um número entre 10 à 100
espiras, tal sensor possui uma faixa de detecção que varia de 100 kHz até 30 MHz (STONE,
2004).
Inicialmente tal transformador era usado conforme o esquemático a seguir, onde o
mesmo era inserido ao redor de um condutor conectando o ponto neutro da máquina com o
ponto de aterramento do sistema. Cada descarga parcial gerada produz um pulso que percorre
o mesmo condutor em análise que por sua vez é sentido pelo HFCT. A desvantagem principal
desse tipo de medida reside no fato do HFCT não poder ser utilizado nos terminais de
alimentação das bobinas estatóricas (exceto para pequenas máquinas) uma vez que seu núcleo
não possui abertura suficientemente grande para comportar um condutor de tal proporção, além
do mesmo tender a saturar facilmente.
Figura 20-Ligação detalhada HFCT
Fonte: NCBI, modificado (2017)
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39
Sua modelagem para obtenção do sinal de tensão de saída obedece de forma direta a Lei
de Faraday, sendo M a indutância mútua entre o condutor e o secundário:
(6)
(7)
Figura 21-Esquemático simplificado HFCT
Fonte: Stone, modificado (2004)
Atualmente os sensores mais populares usados nesse tipo de monitoramento são
capacitores de alta tensão instalados em cada terminal de bobina estatórica, bastante similar ao
teste de descarga parcial off-line. Os valores de capacitância adotados variam de 80 pF (mais
utilizados), 375 pF até 1000 pF (STONE, 2004). Em geral cada capacitor é conectado em série
com uma carga ôhmica de 50 ohms, formando dessa forma um filtro passa-alta de largura de
banda definida pelo conjunto capacitor-resistor. Sendo fm a frequência medida:
𝑓𝑚 =1
2 ∗ 𝜋 ∗ 𝑅 ∗ 𝐶
(8)
Assumindo que não existam ruídos existentes no sistema de medição, e que os
capacitores estejam localizados o mais próximo possível dos terminais da máquina, pode-se
(V)
(V)
(Hz)
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40
afirmar que cada capacitor é capaz de detectar uma descarga parcial distinta (STONE, 2004).
Um fato interessante é que quanto menor o valor de capacitância utilizado, maior a espessura
do dielétrico empregado para um mesmo volume de sensor, reduzindo assim o risco de falha de
um capacitor (justificando assim o valor popular de 80 pF).
Um ponto de extrema atenção de tal método reside no fato que diferentemente do HFCT
o capacitor é conectado aos terminais de alta tensão da máquina, e a falha do mesmo ocasiona
uma falta fase-terra. Portanto, a confiabilidade do componente é algo crucial.
3.2.2 Tratamento de Ruídos
A maior dificuldade dos métodos citados é lidar com as interferências elétricas (ruídos)
que quase sempre estarão presentes. Dentre as fontes dos mesmos, pode-se citar:
- Efeito corona proveniente das linhas de transmissão;
-Conexão elétrica “pobre” entre componentes de monitoramento, gerando faiscamento;
-Faiscamento por efeito de comutação de máquinas vizinhas;
-Transitórios presentes na rede.
Monitores mais antigos de descargas parciais utilizavam de osciloscópios ou
analisadores de espectro para representação de descargas parciais. Tradicionalmente, um
operador experiente consegue discernir com facilidade sinais provenientes de ruídos daqueles
que de fato provém de descargas parciais. Porém, essa é uma análise subjetiva que apesar de
ainda muito presente no meio industrial não costuma ser efetiva quando se deseja um
monitoramento contínuo que não leve a falsas indicações de problemas na máquina. Além disso
o monitoramento não se empenha somente a expor uma iminente falha, mas fornecer ao usuário
dados mais substanciais possíveis, que ajudem o mesmo a tomar decisões baseadas naquilo que
fora medido.
Felizmente, existem dois métodos utilizados em larga escala para separar ruídos dos
sinais coletados.
O primeiro consiste no uso do chamado PDA (Partial Discharge Analyzer), que consiste
em um sistema de monitoramento desenvolvido em meados dos anos 70. Tal aparelho foi o
primeiro a possibilitar operadores que não fossem totalmente familiarizados com os conceitos
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técnicos e matemáticos de descargas parciais a ler e interpretar os resultados obtidos nesse
monitoramento.
Para exemplificação de aplicação pode-se citar um PDA aplicado a um hidrogerador
(caso mais comum e pertinente a este trabalho). Ao menos dois capacitores de 80 pF são
conectados por fase, através de um circuito de comunicação em anel que é ligado diretamente
aos terminais de da máquina. Seu funcionamento consiste na análise do tempo em que um sinal
qualquer chega aos terminais do PDA, conforme figura abaixo.
Figura 22-PDA Aplicado
Fonte: Stone, modificado (2004)
Conforme pode-se notar, considerando um pulso oriundo da rede de alimentação, este
deverá percorrer todo o circuito em anel, ser sensível a ambos os capacitores, e finalmente
chegar a praticamente no mesmo tempo em ambos os terminais do PDA. Caso seja este o caso,
o sistema interpreta digitalmente que tal sinal é um ruído e o anula (visto que o próprio sinal
espelhado matematicamente já cancela o outro).
Porém, caso ocorra um pulso no ponto “A” denotado na figura anterior, boa parte do
sinal será sensível imediatamente ao capacitor da esquerda, enquanto uma reduzida parte deste
mesmo sinal ainda terá de percorrer um caminho considerável para sensibilizar o outro
capacitor. Desta forma os sinais chegam com tempos diferentes, e o sistema digitalmente
considera tal sinal como um pulso provindo de descargas parciais. Visto que a diferença entre
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a chegada de um pulso e outro é da ordem de nanossegundos e a aparição de descargas parciais
é da ordem de microssegundos, o caso do sistema se confundir ou deixar de analisar um pulso
qualquer é impossível em termos práticos (STONE, 2004).
Outro método para separação de sinais consiste em instalar permanentemente os
sensores às máquinas (sendo necessária sua parada), e fazer uso de sistemas portáteis de
aquisição de dados para análise técnica. Caso o sistema seja feito de maneira mais simples
através de osciloscópios digitais ou analisadores de espectro, o sistema normalmente opera de
maneira contínua e ininterrupta. Para máquinas que operem acima de 6 kV, a experiência de
aplicação mostra que o teste se mostra eficaz em intervalos regulares de 6 meses, podendo
prever processos de deterioração de isolamento com antecedência de 2 anos (STONE, 2004),
já para valores menores de tensão o sistema contínuo ainda se mostra mais atrativo em termos
de custo-benefício.
Figura 23-Sistemas dedicados para análise
Fonte: Stone, modificado (2004)
Em sistemas modernos de aquisição de sinais, a interpretação dos mesmos não é
aconselhada a todos os tipos de usuários mas sim por equipe técnica dedicada e treinada, com
base nos padrões de interpretação de sinais disponibilizadas pelo IEEE Standard 1434.
Algo que chama atenção reside ao fato que sistemas de monitoramento on-line recém
instalados em bobinas relativamente novas tendem a produzir alta atividade de descargas
parciais. Isso acontece por dois motivos:
-A resina com base epoxy ou poliéster tende a ter uma cura desigual em sua extensão. Dessa
forma, máquinas recém fabricadas apresentam um isolamento com constantes dielétricas não-
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uniformes, gerando pontos de estresse elétrico maior em alguns pontos do revestimento.
Naturalmente a cura completa do material sana tal problema;
-Algumas máquinas, conforme anteriormente dito, possuem revestimento semicondutivo para
supressão de descargas parciais. Tal revestimento de baixa resistência pode às vezes não estar
totalmente em contato com as ranhuras (por impregnação de verniz ou oxidação natural),
resultando em faiscamento discreto em seus primeiros meses de operação. Novamente, o
próprio funcionamento da máquina impõe medidas, neste caso vibrações que acabam
“quebrando” tais imperfeições, que resultam no solução da problemática.
Por isso, é importante que tais mecanismos de análise de dados e monitoramento sejam
instalados após a máquina completar no mínimo seis meses de operação (STONE, 2004).
3.3 Radiofrequência
As descargas parciais (independentemente de sua origem) são propagadoras de ondas
eletromagnéticas proporcionais ao seu comportamento, ou seja, as ondas refletem fielmente o
sua dinâmica comportamental (pulsante e de altíssima frequência). Dessa forma, uma maneira
alternativa à anterior (mas que pode ser considerada um tipo especial de EPS) consiste em
mensurar tais ondas viajantes e direcioná-las para um sistema de aquisição de dados remoto
para análise da dados.
Existem algumas maneiras variadas de aplicação deste processo que incluem a escolha
de antenas utilizadas, sua localização no interior da máquina, o mecanismo de análise de dados,
etc.
A antena mais popular (STONE, 2004) é denominada Stator Slot Coupler – SSC (em
tradução livre (Acopladora de Ranhuras do Estator). Seu aspecto, presente na seguinte figura,
consiste em uma antena direcional com formato de tira, extremamente fina, que normalmente
é instalada no intervalo entre barras em cada ranhura ou diretamente abaixo de cada cunha de
fixação das barras do estator.
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Figura 24-SSC
Fonte: Iris Power (2017)
Tal antena capta diretamente a onda eletromagnética que viaja através das ranhuras e
como a mesma possui dois terminais de saídas direcionais distintas, é possível distinguir de
maneira direta sinais de descargas parciais provenientes das ranhuras, daquelas provenientes
das cabeças de bobinas. Sua faixa de operação varia de 10 MHz até 1000 MHz (STONE 2004).
Figura 25-Localização da SSC
Fonte: Stone, modificado (2004)
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Uma variante interessante desse tipo de antena pode ser denominada como uma antena
tipo patch (HIROTAKA, 2008), que consiste em uma antena impressa de placa de circuito
impresso, podendo ser introduzida no interior da máquina sem maiores problemas.
Figura 26-Antena Patch
Fonte: Hirotaka, (2008)
Uma vantagem deste método (independentemente do tipo de antena) consiste na faixa
de frequência em que as antenas captam as ondas eletromagnéticas, fazendo de maneira natural
um filtro para ruídos existentes com a máquina em operação. Porém, como consequência a
sensibilidade de cada sensor é reduzida provocando às vezes a ausência de sinais no sistema de
aquisição de dados simplesmente pelo elemento sensor “não enxergar” tal sinal.
A aquisição de dados varia muito entre um projeto e outro, e da mesma forma que o
método de medição de sinais convencional, pode ser feita com diversos analisadores diferentes
entre si, desde sistemas dedicados que incluem tratamento de sinal (o que requer novamente
usuários treinados para obter melhor interpretação possível dos resultados coletados) até meios
simplificados como por exemplo o uso de um simples osciloscópio, ou até mesmo tecnologias
próprias e experimentais de aquisição via PC, conforme o protótipo à seguir (HIROTAKA,
2008).
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Figura 27-Sistema de aquisição experimental
Fonte: Hirotaka, (2008)
Segundo os autores, o circuito de simples elaboração consiste em um filtro passa-faixa
(BPF), um amplificador logarítmico, função peak and hold, e um conversor analógico para
digital. Apesar de experimental, mostrou uma excelente correlação com o método tradicional
de análise de pulsos elétricos por capacitores ou HFCTs.
3.4 Monitoramento Óptico
O último método aqui abordado faz jus ao escopo inicial deste trabalho, onde houve a
preocupação e insistência em discernir de maneira clara a diferenciação de cada tipo de descarga
parcial e sua maneira de manifestação. Onde se lê “efeito corona”, deve-se ter em mente que
está ocorrendo uma descarga parcial que possibilita uma certa visibilidade da mesma, devido
ao seu meio de propagação (entre um condutor isolado ou nu e o fluido circundante do mesmo).
Ou seja, de maneira prática é necessária que tal descarga parcial possa “ser vista” de alguma
maneira.
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Em máquinas (rotativas ou não) operando em alta tensão, existe um teste chamado
black-out que consiste simplesmente observar em um cômodo sem qualquer tipo de iluminação
o comportamento das mesmas sob alimentação constante.
Naturalmente, tal teste só pode ser realizado de maneira off-line visto que fica
impossível ter uma visão direta do interior uma vez que a máquina não possui abertura para tal
procedimento. Além disso existe o fator de risco em tal procedimento, pois cada fase é
energizada em cerca de 115% de sua tensão nominal (MEREDITH, 2014). Tal teste apesar de
parecer trivial, acaba se tornando complicado pelos seguintes fatores:
- O cômodo para ensaio deve estar desprovido de qualquer fonte luminosa, por menor que seja;
-Os operadores que realizarão o teste deverão permanecer durante um tempo sob baixa ou
luminosidade nula, com intuito de otimizar a sensibilidade dos olhos;
-Logo após, ainda no escuro, os mesmo deverão se posicionar em frente à máquina para
inspeção (já energizada);
-Após a visualização os operadores deverão memorizar o ponto aproximado de cada emissão
luminosa para verificar quais os elementos da máquina apresentam defeitos, imediatamente
realizando os reparos necessários;
-Tal ciclo é repetido até o ponto em que não mais sejam vistos pontos luminosos.
Conforme pode-se observar este tipo de procedimento torna-se maçante, perigoso e
altamente impreciso. Por conta disso, uma alternativa que há pouco tempo passou a ser utilizada
em testes off-line consiste no uso de câmeras ultravioletas para a análise da condição das
bobinas estatóricas de máquinas rotativas. Com o uso desse equipamento torna-se dispensável
realizar tal teste sob ausência de luz, o que aumenta e muito a exatidão na localização de defeitos
construtivos ou isolamento da máquina.
3.4.1 Funcionamento da Câmera UV
Conforme já fora descrito anteriormente em sua dinâmica de aparição, o efeito corona
ocorre em frequências altíssimas e de maneira pulsante. Por conta disso, levando em conta o
espectro de radiação eletromagnética, suas emissões se encaixam na faixa ultravioleta variando
de 200 nm até 405 nm (KREUGER 1989).
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Figura 28-Espectro de ondas eletromagnéticas
Fonte: UV-Tools, modificado (2015)
Conforme a figura anterior, a faixa que compreende a radiação ultravioleta vai desde
100 nm até 400 nm de comprimento de onda, ou seja, praticamente a totalidade de ondas
eletromagnéticas geradas no processo de descarga corona pode ser visualizada com câmeras
UV. Porém a primeira característica que deve ser levada em conta é sua operação em locais de
iluminação natural, o que na maioria das vezes ocorre total ou parcialmente quando se deseja
realizar medidas sob a luz do dia. Como é de conhecimento geral a luz solar possui um amplo
espectro que vai além da luz visível, incluindo a faixa ultravioleta. Boa parte da radiação UV é
filtrada pela camada de ozônio mas uma parcela ainda é presente na radiação solar que chega a
superfície terrestre. Por isso, com intuito de não prejudicar a fidelidade das medidas, quando
realizadas sob a luz do dia, a faixa compreendida entre 240 nm até 280 nm costuma ser anulada
pela da percepção óptica da câmera.
Figura 29-Faixa Anulada
Fonte: Sonel Test, (2017)
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Basicamente o funcionamento de uma câmera de detecção corona é parecido com o de
uma câmera comum, a diferença reside em seus elementos sensores ópticos que operam com
sensibilidades diferentes no intuito de captar um tipo específico de informação. De moro geral,
quase todo modelo disponível no mercado possui a seguinte lógica:
- Existem 3 elementos sensores que operam simultaneamente ou não na câmera. Um canal de
sensibilidade infravermelha, um canal de sensibilidade óptica ultravioleta, e um canal de
sensibilidade óptica para luz visível;
- O elemento infravermelho é responsável por captar a radiação térmica e convertê-la em uma
imagem passível de interpretação através de sistema de aquisição de dados;
- O elemento ultravioleta é responsável pela captação visual da descarga corona em si, uma vez
que seu elemento sensor é adequado para o comprimento de onda UV, e o mesmo é excitado
pela energia liberada ao captar os fótons resultantes das descargas corona. Sendo h a Constante
de Planck, c a velocidade da luz no vácuo, e λ o comprimento de onda, a energia liberada por
cada fóton que bombardeia o elemento sensor é dada por:
𝐸 =ℎ∙𝑐
λ (J/fóton)
Independentemente da polaridade que a descarga ocorre, fótons são a maneira pela
qual a energia é irradiada. Tais partículas são liberadas pelos átomos ionizados através da
avalanche de elétrons, no momento em que os átomos voltam ao seu estado de energia inicial.
(9)
-O elemento visual naturalmente provê a sensibilidade da luz visível com intuito de formar
imagens concretas do objeto ou ambiente monitorado, sua tecnologia é a mesma de câmeras
digitais.
Tais elementos são unidos da seguinte maneira:
-Os canais visual e UV são sobrepostos pois para a formação de imagens que representem o
efeito corona, é necessária a imagem de fundo para dar sentido à imagem da descarga;
-O canal Infravermelho por si só não necessita de sobreposição para formação de imagens,
apesar dessa opção também ser possível.
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Figura 30-Diagrama de Funcionamento
Fonte: Stolper, (2005)
Em meios construtivos simplificados, o equivalente do diagrama anterior seria:
Figura 31-Aspecto Construtivo
Fonte: Stolper, (2005)
Conforme visto, a captação de imagem é feita pela mesma lente em ambos os casos
(UV/visível), com um espelho responsável por levar ao elemento sensor UV uma cópia
invertida da imagem captada, para posterior processamento. O único elemento que opera
isoladamente é o infravermelho.
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Em termos de imagem, eis um exemplo típico:
Figura 32-Imagem + UV (esq.), Infravermelho (dir.)
Fonte: Stolper, (2005)
Os pontos luminosos de cor branca em alto contraste representam descargas parciais
corona, e a imagem em escala de cinza representa o aspecto térmico. Interessante reparar a
correspondência entre o ponto de maior foco de descargas corona, e o ponto de maior
aquecimento.
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4 Avaliação dos Métodos
Após toda a descrição técnica aqui catalogada, é chegada a hora de avaliar cada método
abordado. O que ficou muito claro durante a pesquisa, é que independentemente do elemento
sensor utilizado a tendência hoje é aprimorar a aquisição e processamento de dados, através de
tecnologias dedicadas que possam fazer comunicação global com as demais informações de
medição de uma máquina qualquer. No início da elaboração desse projeto, havia a falsa
impressão de que haveria um equipamento sensor capaz de avaliar da maneira mais fiel possível
o comportamento das bobinas estatóricas de um gerador síncrono, perante a ação de descargas
parciais. Acontece que existem dezenas, senão centenas de variáveis que tornam cada caso de
medição consideravelmente diferente do outro. Como exemplo, pode-se relembrar que:
-Tensão de operação da máquina;
-Tipo de máquina (Turbogeradores x Hidrogeradores);
-Material isolante utilizado;
-Ambiente de localização da máquina e seus componentes vizinhos (ruídos);
-Idade e tempo de operação;
-Comportamento da rede.
Estes são só um dos elementos que deixam cada caso específico com relação ao outro,
de modo que não é possível dizer qual a melhor maneira de realizar um sensoriamento contínuo
de descargas parciais. O método por ozônio, por exemplo tem uma excelente característica de
custo e simplicidade de operação, porém peca pela sua baixa exatidão e pela ausência de dizer
ao operador a quantidade e localização (mesmo que aproximada) da descarga parcial, aliás, nem
o tipo de descarga pode ser discernido, fazendo com que este método raramente seja usado de
forma desacompanhada de outros (BLOKHINTSEV, 1999).
O método de sensoriamento de pulsos elétricos por sua vez, foi o mais completo ao que
diz respeito de modalidades de obtenção de sinal, de maior facilidade de pesquisa em literatura,
e de certa forma o mais conhecido entre os profissionais do meio. Tal fato é justificado pela
semelhança dos testes de descarga parcial realizados de maneira off-line, onde poucos
elementos são modificados no sensoriamento contínuo, mudando muitas das vezes apenas o
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sistema de aquisição de dados e interpretação de sinais. Sua maior vantagem consiste na
possibilidade de mensurar a amplitude do sinal de descargas, seu formato e seu comportamento
através do tempo, dando ao operador ou profissionais habilitados um bom perfil
comportamental das descargas parciais. Sua maior limitação reside na sensibilidade de ruídos,
que demanda medidas prévias de atenuação, risco de uso de capacitores ligados diretamente em
alta tensão, e limitações construtivas dos transformadores de corrente utilizados. Porém, como
seu uso já é de longa data, maiores tecnologias de obtenção de sinais e processamento de dados
vêm sendo continuamente aplicados, sob o preço de apenas possibilitar usuários treinados para
o monitoramento em tempo real.
O método por radiofrequência também já é usado há um tempo considerável, porém o
que chamou a atenção foi a facilidade de implementação de sistemas experimentais e liberdade
de fixação das antenas. Conforme Hirotaka (2008), a antena pode detectar descargas parciais
quando localizadas no estator, entre barras, e até mesmo no mancal de um motor. A nível
acadêmico, talvez seja o método que esteja sob pouco estudo uma vez que normalmente o tipo
de antena seja normalmente um só (SSC) e sua localização seja bem definida na indústria (entre
barras ou sob cunhas), merecendo em pesquisas futuras maiores variações em seus parâmetros.
Além disso, seu custo benefício mostra-se relativamente atrativo em casos de implementação
de tecnologia própria para monitoramento contínuo.
4.1 Efeito Corona como Fator Diferencial de Monitoramento Óptico
Inicialmente pode parecer desinteressante o estudo do efeito corona em geradores
síncronos, uma vez que em tese ele é o tipo de descarga parcial com a pequena diferença de
ocorrer de maneira externa. Nenhum método, exceto o óptico, se preocupa em diferenciar a
forma de descarga parcial recorrente nas bobinas estatóricas, mas sim em mensurar a sua
persistência, intensidade e comportamento temporal. Além disso, a literatura afirma que tal tipo
de descarga é a que menos causa danos ao funcionamento pleno da máquina (MEREDITH,
2014). Do mais danoso para o menos danoso, têm-se:
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-Descargas internas, especialmente aquelas adjacentes aos condutores;
-Descargas internas entre uma camada de isolamento e outra;
-Descargas superficiais entre a superfície isolante e as ranhuras do estator;
-Descargas externas (corona) nas cabeças de bobina, entre bobinas e entre o revestimento
semicondutivo e as ranhuras do estator.
Se tal problemática é de fato a menos danosa, então porque estudá-la ou buscar
mensurar tal irregularidade mais a fundo?
De certa forma, tais dados apesar de verdadeiros podem ser interpretados de uma
maneira em que sua importância comece a fazer mais sentido pelos seguintes fatores que serão
descritos.
De acordo com o procedimento padrão de inspeção visual corona off-line (MEREDITH,
2014), o protocolo consiste em:
1) Verificar o espaçamento entre as cabeças de bobinas;
2) Verificar a integridade elétrica entre o isolamento semicondutivo e as ranhuras do
estator;
3) Verificar a integridade de conexões elétricas de dispositivos resistivos de temperatura
(RTD);
4) Verificar superfícies para averiguação da existência de contaminação ou danos durante
o processo de montagem (como por exemplo objetos intrusivos, má colocação das
bobinas em suas ranhuras, excesso de material isolante formando “pontes” entre uma
fase e outra, e riscos mecânicos no isolamento).
Além disso não deve se esquecer que a segunda causa mais danosa, a qual inicialmente
entende-se como interna entre isolamentos, pode acontecer na parte externa das bobinas com
relação ao estator (suas cabeças). Caso as degradações do material isolante progridam até o
isolamento final, se tornarão um efeito corona por algum tempo (por estarem fisicamente
externas agora), gradualmente evoluindo a tal ponto de deterioração onde não existirá um
isolamento externo qualquer (que pode levar a resultados catastróficos).
Por inferência lógica pode-se afirmar que o efeito corona é muito mais específico que as
outras descargas ao denotar as causas de sua aparição, ou seja, os elementos que podem estar
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danificados juntamente com o motivo pelo qual o dano existe, e indiretamente afirmar a
localização de tais distúrbios, conforme simplifica o esquemático a seguir:
Figura 33-Lógica de danos do efeito corona
Fonte: Autor, (2017)
O efeito corona ainda tem sua aplicação restrita para casos de monitoramento off-line,
em testes visuais apenas, através de câmeras que já são comercializadas com sistemas de
processamento de sinal embutido. Não existe, ao menos na literatura consultada, aplicação de
monitoramento óptico realizado de maneira on-line e isso pode ser justificado pela
impossibilidade técnica de alojar uma câmera o interior de uma máquina síncrona. Porém ao
analisar mais de perto tal impossibilidade têm-se alguns fatores que devem ser levados em
conta:
-Da mesma forma que para antenas SSC, o fator limitante espaço é fundamental para sua
implementação. Tratando especificamente de máquinas de polos salientes (escopo deste
trabalho), não é impossível a escolha de um local que acomode de maneira segura (ainda que
girante) de uma câmera UV e uma câmera comum, devido às suas dimensões mais avantajadas
que um turbogerador por exemplo;
-Conforme fora citado, os meios de medição UV normalmente são módulos all-in-one, ou seja,
em um mesmo aparelho existe a captação, aquisição de dados, processamento e representação
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gráfica. Dessa forma, tais aparelhos não costumam ser de medidas pequenas (ainda que
considerados portáteis);
-Hoje existem diversos módulos de filmagem UV e natural com pequenas proporções métricas,
com algumas unidades de centímetro apenas que podem ser conectadas à módulos de
microconroladores (como Arduino), e sua transmissão pode ser feita de maneira simples com
dispositivos bluetooth;
-Finalmente vale lembrar que como a captação de imagens seria para uma distância
consideravelmente pequena, seria dispensável o uso das potentes lentes de aumento que são
utilizadas em tais equipamentos, normalmente desejadas para inspeção de linhas de transmissão
à grandes distâncias.
De certa forma tal possibilidade é puramente hipotética e intuitiva, e esbarra em diversos
entraves mecânicos (referentes ao quesito construtivo da máquina), e de processamento (uma
vez que a imagem gerada estaria sob efeito de rotação nominal da máquina, dificultando sua
interpretação ou estabilização). Porém vale lembrar que trata-se de uma caso particular das
medições de descargas parciais, a qual não existe literatura que aborde tal assunto, fato que
chamou mais atenção durante a elaboração deste trabalho e justificou a abordagem repetitiva
desse tipo de descarga em si.
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5 Conclusões e Trabalhos Futuros
Esta pesquisa se propôs a abordar um assunto que passa muitas vezes despercebido pelos
alunos na graduação de engenharia elétrica, normalmente ouvindo falar de tais fenômenos
apenas nas disciplinas de eletromagnetismo talvez. Apesar de completamente teórico, o projeto
cumpriu seu papel ao catalogar de maneira prática e simples o funcionamento de alguns meios
de monitoramento de descargas parciais e efeito corona, justificando o uso de cada um destes,
sua lógica de sensoriamento, e a importância que cada tipo específico de medição tem perante
uma anomalia sempre comum em máquina elétricas. Conforme fora alertado até mesmo pelos
professores participantes da elaboração deste projeto, a pesquisa sobre descargas parciais torna-
se um caminho “espinhoso”, pois a divulgação de novas tecnologias empregadas continua
sendo mantida em sigilo ou possui pouca divulgação.
Porém, o fator considerado mais interessante e desafiador reside na aplicação de testes
visuais corona, os quais são realizados de maneira off-line apenas. Se cada tipo de
sensoriamento tem a sua qualidade, aquela que consegue visualizar o efeito corona traz consigo
a vantagem de saber exatamente onde se encontra um distúrbio e sua intensidade (de maneira
indireta). Apesar de ocorrer em uma parcela pequena das bobinas estatóricas, tal tipo de
descarga parcial diz muito mais ao usuário do que acusar a simples presença de um descarga.
Dados como imperfeições mecânicas, má conexão entre cabos internos, mal acoplamento
elétrico entre revestimentos, má concepção de fabricação ou armazenamento, são fatores de
conhecimento prévio quando depara-se com descargas corona. Além disso existe o fator de
risco de uma imperfeição interna estar se “externalizando” com o tempo, o que pode gerar faltas
graves na máquina.
O autor crê que uma aposta em maiores pesquisas nesse tipo específico de medição poderá
trazer um meio novo de medição contínua de descargas parciais, ainda que por enquanto não
exista material algum dando suporte a tal ideia hipotética. Portanto, como sugestão de trabalhos
futuros, que sejam aprimoradas às pesquisas acadêmicas utilizando de tecnologia aberta e de
baixo custo com intuito de colocar tal possibilidade em prática, a fim de comprovar sua
possibilidade ou impossibilidade de aplicação.
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