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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” EM PSICOPEDAGOGIA
CRIATIVIDADE E PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL ESCOLAR
REJANE FELIPPE HERCOWITZ
ORIENTADOR: Prof. Vilson Sérgio
Rio de Janeiro Janeiro/ 2007
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” EM PSICOPEDAGOGIA
CRIATIVIDADE E PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL ESCOLAR
REJANE FELIPPE HERCOWITZ
OBJETIVO:
Enfocar o processo criativo como instrumento condutor
de transformações e mudanças nas Organizações Escolares
com enfoque da Psicopedagogia Institucional.
Rio de Janeiro Janeiro/ 2007
Agradeço em primeiro lugar a Deus, ao meu pai José Carlos pela força e pelo carinho, as minhas amigas de turma, pela dedicação e amizade. Muitas outras pessoas a mais estiveram presentes na confecção deste trabalho. Impossível nomear todos, mas minha gratidão se estende igualmente a cada um que, em seu momento, contribuiu com uma parcela de seu trabalho e expressividade na consolidação desta monografia.
Dedico o presente trabalho a duas pessoas que foram essenciais na consolidação do mesmo, ao meu orientador Vilson Sérgio e à minha tia Clementina Felippe por todo o carinho, atenção, força e dedicação.
RESUMO
Este trabalho busca estimular a reflexão de como o processo criativo pode ser
utilizado como instrumento condutor de transformação e mudanças nas Instituições
Escolares, pautadas a visão multidisciplinar de outros conhecimentos aliados a
Psicopedagogia. Para tanto, recorreu-se a métodos e técnicas de pesquisa
bibliográfica, seleção, localização e aprofundamento de fonte de informações. As
referências a seguir são as bases de estudo sobre a criatividade e suas múltiplas
manifestações foram baseadas em Silva (2003), Zanella (2003), Ferreira (1999),
Mesquita (2001), Predebon (1999), Ribeiro (1992), Alencar (1996), Gonzalez (1987),
Novaes (1971), Goleman (1992); A contribuição sobre a revisão histórica da
Psicopedagogia foi embasada pelo pensamento de Mery (1985), Montessori (1954),
Mauco (1968), Paín (1986), Scoz (1992), Macedo (1992), Fernández (1990), Bossa
(1994), Lefèvre (1975), Grünspun (1990), Dorneles (1986), Moraes (1987), Scoz e
Mendes (1987); Já Bonfin (1995), Campos e Weber (1987), Boog (1999), estão
fundamentados na utilização da criatividade no âmbito Psicopedagógico. Sobre este
estudo, procurou investigar de que forma a criatividade pode vir a ser um elemento
diferencial nas Organizações Escolares, a partir de uma nova visão multidisciplinar
com atuação Psicopedagógica. Assim, decodificando os Processos Criativos
emergentes nos seres humanos e nas Instituições, tornamo-nos capazes de
descobrir novos reinos e possibilidades interiores e exteriores, bem como revelar o
desenvolvimento de parte dos mistérios da natureza humana, o que nos possibilita a
abertura de portas que nos conduzam a uma nova forma de ser e ver o mundo.
Palavras-chaves: Criatividade, Psicopedagogia, Transformação, Visão
Multidisciplinar, Instituições Escolares.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................................
07
CAPÍTULO I – A CRIATIVIDADE: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE O ESPÍRITO CRIATIVO E SUAS MANIFESTAÇÕES..........................................
10
CAPÍTULO II – A PSICOPEDAGOGIA: HISTÓRICO E SUAS MÚLTIPLAS APLICAÇÕES..................................................................................
18
CAPÍTULO III – A UTILIZAÇÃO DA CRIATIVIDADE NO AMBITO PSICOPEDAGÓGICO.....................................................................
26
CONCLUSÃO...........................................................................................................
31
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................
32
INTRODUÇÃO
A idéia inicial para a realização do presente trabalho se deu a partir da
percepção da ênfase que vem sendo dada à criatividade dentro das Instituições
Escolares. Os sistemas educacionais estão passando por processos de mudanças
profundas, basicamente caracterizadas como decorrentes de uma transição de
modelo tradicional, onde o ensino é visto como uma mera transmissão de
informações.
Desta forma, surgiu a necessidade de estimular uma nova abordagem para
que mudanças pudessem ocorrer dentro das Instituições Escolares. Mudanças
essas, que enfatizassem outros conhecimentos que viessem colaborar junto as
Instituições no sentido de uma nova alavanca para minimizar os conflitos existentes
na Educação.
Hoje vemos surgir uma nova área a qual chamamos de Psicopedagogia que
traz uma grande contribuição no sentido de minimizar os problemas de
aprendizagem nas escolas, já que é um ramo do conhecimento que se alia a outras
disciplinas para ampliar sua área de atuação. Para tanto, a Psicopedagogia recorre
à Psicologia, Psicanálise, Lingüística, Fonoaudiologia, Medicina, Pedagogia, etc.
como aliadas no combate às grandes problemáticas da aprendizagem.
“A Psicopedagogia enfoca o ato de aprender e ensinar, levando sempre em conta as realidades internas e externas da aprendizagem, tomadas em conjunto. E, mais, procurando estudar a construção do conhecimento em toda a sua complexidade, procurando colocar em pé de igualdade os aspectos cognitivos, afetivos e sociais que lhe estão implícitos” (NEVES, 1991, p. 12)
A Psicopedagogia vem caminhando no sentido de contribuir para uma melhor
compreensão do processo de aprendizagem. Enquanto prática clínica, tem-se
transformado em campo de estudos para investigadores interessados no processo
de construção do conhecimento e nas dificuldades que se apresenta nessa
construção. Como prática preventiva, busca construir uma relação saudável com o
conhecimento, de modo a facilitar a sua construção (BOSSA, 1994).
Historicamente, a Psicopedagogia nasceu para atender a patologia da
aprendizagem, mas ela se tem voltado cada vez mais para uma ação preventiva,
acreditando que muitas dificuldades de aprendizagem se devem à inadequada
Pedagogia Institucional e familiar. “A proposta da Psicopedagogia, numa ação
preventiva, é adotar uma postura crítica frente ao fracasso escolar, numa concepção
mais totalizante, visando propor novas alternativas de ação voltadas para a melhoria
da prática pedagógica nas escolas” (BOSSA, 1994, p. 24).
Sendo assim, o tema abordado para o desenvolvimento desta pesquisa é: A
Criatividade e a Psicopedagogia Institucional Escolar.
Sobre este tema, buscou-se investigar, em primeira instância; Em que medida
a Criatividade pode vir a ser um fator diferencial nas Organizações Escolares,
através da Psicopedagogia Institucional?
Nesta investigação, pretende-se analisar a criatividade como ferramenta
fundamental para auxiliar o crescimento e desenvolvimento das Organizações
Escolares, procurando caracterizar de que forma a criatividade pode vir a ser um
fator diferencial com o auxílio da Psicopedagogia Institucional.
Desta forma, este trabalho tem como objetivo enfocar o processo criativo
como instrumento condutor de transformações e mudanças nas Organizações
Escolares com enfoque da Psicopedagogia Institucional.
Para orientar melhor a investigação desta pesquisa, foram construídos alguns
objetivos específicos, que possibilitarão refletir melhor sobre a criatividade nas
Instituições Escolares junto a Psicopedagogia:
1-Descrever a lógica e o processo do ato criador e seus efeitos para os
indivíduos e Instituições Escolares;
2-Caracterizar as manifestações da Psicopedagogia com as diversas
áreas do conhecimento.
Para efeito de organização, este estudo está apresentado em capítulos,
segundo os temas investigados. O capítulo I apresenta os resultados do
estudo sobre o tema Criatividade. Dos conceitos de diferentes autores, à
anatomia do Ato Criador, passando pelas características e efeitos desse
atributo para indivíduos e Instituições Escolares.
Para tanto, recorreu-se aos seguintes autores: Silva (2003), Zanella
(2003), Ferreira (1999), Mesquita (2001), Predebon (1999), Ribeiro (1992),
Alencar (1996), Gonzalez (1987), Novaes (1971), Goleman (1992).
O capítulo II aborda a Psicopedagogia dentro de um enfoque histórico,
sua aplicabilidade e interface com outras áreas de conhecimento. Para tanto,
destacamos os seguintes autores: Mery (1985), Montessori (1954), Mauco
(1968), Paín (1986), Scoz (1992), Macedo (1992), Fernández (1990), Bossa
(1994), Lefèvre (1975), Grünspun (1990), Dorneles (1986), Moraes (1987), Scoz e
Mendes (1987).
O capítulo III destaca a utilização da criatividade no âmbito
psicopedagógico e seus investimentos na relação ensino-aprendizagem. Para
tanto utilizamos os seguintes autores: Bonfin (1995), Campos e Weber (1987),
Boog (1999). Quanto às considerações finais deste trabalho estarão na parte
reservada à conclusão, seguindo-se as referências bibliográficas consultadas,
bem como, as devidas citações.
Acredita-se que este trabalho pode vir a trazer significativa contribuição
a todos os que lidam com pessoas, nas mais diversas situações: na sala de
aula escolar, nos programas de treinamento e desenvolvimento de
organizações, bem como, nas próprias situações da vida cotidiana.
Espera-se com esta pesquisa apresentar elementos que levem as pessoas a
se conscientizarem da importância da criatividade aliada ao grande conhecimento da
Psicopedagogia nas instituições escolares como mola propulsora ao
desenvolvimento e crescimento pessoal de cada indivíduo envolvido nesse
processo.
CAPÍTULO I
A CRIATIVIDADE: MÚLTIPLOS OLHARES
SOBRE O ESPÍRITO CRIATIVO E SUAS MANIFESTAÇÕES
Uma das idéias básicas deste capítulo é o enfoque dado aos processos
criativos interligados aos níveis da existência humana: o nível individual e o nível
cultural. Para tanto, se faz mister destacar os conceitos básicos dos diferentes
autores sobre a criatividade nos seus múltiplos aspectos, tais como: sua origem,
suas características e efeitos nos indivíduos e nas Instituições Escolares,
expandindo-se até a anatomia do ato criativo.
A criatividade acompanha a trajetória do homem na história, sendo, portanto,
tão antiga quanto a sua presença na Terra. Na Antigüidade, duas teorias da
criatividade se destacaram: a criatividade como origem divina e a criatividade como
loucura. Os antigos gregos acreditavam que a criatividade era concedida somente a
alguns seres humanos “que eram escolhidos por Deus”, principalmente aqueles que
trabalhavam com as artes. Já a criatividade relacionada com a loucura era vista
pelos antigos gregos como característica de alguns traços especiais de
personalidade. Podemos citar como exemplo, Platão, que não via diferença entre o
frenesi da “visitação divina” e o da “visitação da loucura”, explicando que o momento
da criação era fruto de um acesso de loucura (ZANELLA apud ANGELONI, 2003, p.
121).
Mesmo que tenha constituído tópico de interesse no decorrer da história da
humanidade, foi no final do século XIX que o tema começou a ser observado e
estudado segundo os preceitos da metodologia científica. Até a primeira metade do
século XX, são raros os artigos sobre o tema que constam na literatura científica.
Somente a partir da segunda metade do século XX é que alguns psicólogos
pesquisadores iniciaram estudos em campos específicos da Psicologia, como:
personalidade, cognição, comportamento e psicometria, e criaram teorias buscando
compreender o significado maior da criatividade.
A criatividade é uma capacidade inerente ao ser humano; uma capacidade da qual somos fisicamente dotados, pois nosso cérebro tem até mesmo um setor específico para isso (SILVA, 2003, p. 109).
A palavra criatividade, considerada em sua significação e uso, é apresentada
de diferentes maneiras em função da complexidade, das abordagens e das
dimensões dadas ao tema.
Para Zanella (apud ANGELONI, 2003, p.122), o vocábulo criatividade vem do
latim “creare”, com a conotação de criar, fazer, elaborar, e do grego “kraine”,
significando realizar, desempenhar, preencher. No novo Dicionário da Língua
Portuguesa (FERREIRA,1992,p.578), criar significa: dar existência a, dar origem a,
gerar, formar, dar princípio a, produzir, inventar, imaginar.
Portanto, a criatividade é a capacidade para criação, para auto-realização,
existente em todas as pessoas, mas que depende de condições ambientais para se
desenvolver. Criatividade, também, pode ser explicada como a habilidade de
encontrar novas soluções para um problema ou novos modos de expressão artística,
de trazer à existência um produto novo para o indivíduo.
Para Silva (2003), a criatividade é o potencial de gerar idéias para atrair
preferências, estabelecer estratégias inteligentes, modificar produtos, buscar novas
soluções para os problemas, fugir do convencional e, assim, diferenciar-se.
Já para Mesquita (2001), o conceito de criatividade se baseia na ruptura com
o que já existe, sendo o elemento transformador da realidade, reconhecido através
da satisfação pessoal.
Predebon (1999), por sua vez, define a criatividade como um processo de
mudança, de implementação de novas idéias, como agente renovador. Ela é uma
competência inata em todos os seres humanos, e seu exercício e desenvolvimento
se favorece por uma atitude mais aberta das pessoas perante o mundo.
Continuando a nossa investigação sobre o tema, vamos encontrar em Ribeiro
(1992), que a criatividade é um processo individual que pode ser desenvolvido e
transformado em novas habilidades.
Na concepção de Alencar (1996), por outro lado, a criatividade é um
fenômeno complexo e multifacetado, que envolve uma interação dinâmica entre os
elementos relativos à pessoa, como características de personalidade e habilidades
de pensamento, e que se expressa no ambiente segundo o clima psicológico, os
valores e normas da cultura e as oportunidades para proposição de novas idéias.
A criatividade ajuda você em seu trabalho, em sua vida pessoal, na solução dos mais variados problemas, no desenvolvimento de oportunidades. Com ela, você pode simplificar uma tarefa, um processo, um sistema. No nível pessoal, é preciso pensar na criatividade como uma estratégia para melhorar a qualidade de vida, aumentar a empregabilidade, enriquecer a carreira profissional. Criar
é saber pensar de novas maneiras, ser original, destacar-se da multidão (SILVA, 2003, p. 90).
Quanto às características da criatividade nos indivíduos, procuramos enfatizar
que as mesmas se pautam em: originalidade, flexibilidade, sensibilidade, dedicação,
bem como, curiosidade, observação, questionamento, força de vontade para superar
obstáculos, visão holística, e vislumbre de novas idéias.
Como exemplo, podemos destacar a trajetória criativa e inovadora de Santos
Dumont, que sonhou e vislumbrou fazer voar um objeto mais pesado do que o ar.
Ele observou os pássaros, e teve a curiosidade de entender o processo de voar,
questionou a possibilidade de fazer algo voar, e teve a força de vontade para
concretizar sua idéia (SILVA, 2003, p. 101). “Pessoas criativas sempre conseguem
transformar os próprios limites em vantagens”. (DE MASI apud SILVA 2003, p. 89).
“É através da criatividade que as pessoas quebram paradigmas, mudam conceitos e
comportamentos e repensam tudo” (SILVA, 2003, p. 89).
Para usarem seu potencial criativo as pessoas precisam de:
Liberdade para Estudar, Liberdade para Questionar Liberdade para se Expressar e Liberdade para serem elas Mesmas (STEIN apud SILVA, 2003, p. 89).
Já as características de uma Psicopedagogia Institucional Escolar que busca
desenvolver a criatividade, está baseada nos seguintes aspectos: ter objetivos claros
referentes ao tipo de educação que pretende oferecer; possuir uma filosofia que
esteja direcionada a todo o processo de ensino-aprendizagem; procurar envolver
todas as pessoas no processo educativo: alunos, pais, professores e comunidade;
proporcionar a atualização constante de seus profissionais envolvidos, através de
encontros e reflexões; estar adaptada à realidade em que se situa; buscar o
desenvolvimento de um diálogo franco e aberto; valorizar todas as pessoas que
estão no processo educacional e avaliar suas atividades constantemente
(GONZALEZ, 1987).
Uma educação criativa deve favorecer a mobilização do potencial criativo em toda as disciplinas e assuntos, dando valor ao pensamento produtivo, uma vez que a criatividade estará presente em várias situações e diversidade de assuntos (Novaes, 1971, p.69).
Para que possamos compreender mais profundamente o processo criativo,
precisamos, antes, conhecer a sua anatomia.
Goleman (1992) “enfatiza que o momento criativo pode ser considerado como
aquela fagulha de inspiração, aquele instante em que você resolve um problema que
o vinha torturando há semanas - é o ponto final de um processo assinalado por
etapas distintas”.
Um matemático francês do século XIX, Henri Poincaré (apud GOLEMAN,
1992, p.14) foi um dos primeiros a propor os passos básicos que antecedem o
momento criativo, dissecando a sua anatomia.
Segundo ele, a primeira etapa desse processo criador é a Preparação,
quando se mergulha no problema e investiga-se qualquer dado que possa ser
relevante.
As pessoas criativas estão sempre pensando na área em que atuam. Estão sempre investigando. E estão sempre dizendo: O que tem sentido aqui, o que não tem. Se não tiver, posso fazer algo a respeito? (GARDNER apud GOLEMAN, p.15).
“Então, sua imaginação voa livre e você se abre para tudo que, mesmo de
modo vago, diz respeito ao problema” (GOLEMAN, p.14).
Nesta fase, é fundamental ser receptivo e saber ouvir, diz Goleman (1992) “já
que a idéia básica é reunir uma ampla série de dados, de modo que os elementos
inusitados e improváveis comecem a justapor-se por si próprios”. Alguns obstáculos
podem ser fatais nessa fase de preparação.
O primeiro deles diz respeito ao nosso modelo tradicional de pensamento
racional e analítico. Observar, analisar, avaliar, julgar, tendo como eixo central a
lógica cartesiana, é o paradigma que conhecemos e utilizamos em nossos
processos de pensar. Já o segundo diz respeito ao que os Psicólogos chamam de
“fixidez funcional” ou “psicoesclerose”, ou seja, um endurecimento de atitudes que
pode paralisar o fluxo de idéias necessárias ao processo criador, limitando a
percepção ao óbvio, ao convencionalmente aceito e conhecido como sendo a
maneira correta e usual de dar respostas a determinadas situações (a autocensura).
Aquela voz interior de julgamento que confina o nosso espírito criativo, aos limites
que consideramos aceitáveis. É essa voz, que nos sussurra: “Vão pensar que sou
louco”, “Isso nunca vai funcionar” ou “É óbvio demais” (GOLEMAN, 1992, p.14).
Se a fase de preparação é ativa e mobiliza todas as energias para uma ampla
coleta de dados, quando superados os obstáculos que se contrapõem, segue-se a
ela uma etapa incômoda, natural e previsível no processo criador - a Frustração.
“A frustração surge quando a mente racional, analítica, buscando
laboriosamente uma resposta, atinge o limite de sua capacidade” (Id, 1992, p.14).
Se você conversar com pessoas que realmente fizeram coisas criativas, elas lhe falarão sobre as longas horas, a angústia, a frustração, toda a preparação antes que algo acontecesse e se desse um grande salto para frente. Não poderiam dar grandes saltos sem esquentar os miolos. (COLLINS apud GOLEMAN, 1992, p. 14-15).
Este período aparentemente estéril é comparado belamente, por Goleman, ao
reconhecimento da existência de “uma escuridão inevitável antes da aurora”, a exigir
paciência e persistência para não mobilizar desistência.
Quando vemos a escuridão como o prelúdio necessário à luz criativa, provavelmente não atribuímos a frustração à incapacidade pessoal, nem a classificamos de má. Essa visão mais positiva da ansiedade pode alimentar uma maior boa vontade a continuar tentando resolver um problema, a respeito da frustração (GOLEMAN, 1992, p.15).
Em lugar de deixar que a mente racional ansiosa renda-se diante dos seus
próprios limites momentâneos, o processo criador passa a ser alimentado por uma
nova fase de fundamental importância - a Incubação, cuja tarefa é permitir que se
possa “dormir” sobre o problema. Relatos interessantes são citados por Goleman
(1992) sobre esta fase, entre elas:
Todas as idéias realmente boas que tive me vieram quando eu estava
ordenhando uma vaca (GRANT Wood, pintor).
As únicas grandes idéias que tive me ocorreram nos momentos de devaneio,
mas parece que a vida moderna tenta impedir o homem de devanear (Mac
CREADY).
A fórmula para resolver problemas: pense muito sobre o assunto, depois
relaxe e deixe a mente entregue aos devaneios (Friedrech KEKULÉ, químico).
A grande metáfora da fase da Incubação é o ato do “cozinhar em fogo
brando”, deixando o problema numa zona mental crepuscular fora da consciência
atenta. Em sonhos, devaneios, com a mente vagando à toa, na hora do banho, em
atividades mecânicas, as idéias se tornam mais livres para combinarem-se umas as
outras, em associações imprevisíveis e típicas da ação da mente inconsciente.
Neste sentido, a mente inconsciente é intelectualmente mais rica do que a consciente, pois dispõe de mais dados. Além disso, o inconsciente nos fala de um modo além das palavras. O que a mente inconsciente conhece inclui os sentimentos profundos e as ricas fantasias que constituem a inteligência dos sentidos. O que a mente inconsciente conhece lembra, não raro, uma experiência de adequação-um pressentimento. A esse tipo de conhecimento damos o nome de intuição. (GOLEMAN, 1992, p. 15-16).
O conhecimento intuitivo tem sido considerado por vários pensadores e
filósofos como uma forma superior de conhecimento, justamente por sua pureza e
segurança, sem precisar recorrer a regras, explicações ou intermediações. A pessoa
intuitiva vai além dos fatos, sentimentos e idéias para construir modelos elaborados
da realidade.
“A intuição permite apreender a essência da realidade” (JUNG, apud
MOSCOVICI, 1998, p. 82).
Portanto, segue Goleman, após o trabalho árduo da fase de preparação, das
possíveis frustrações impostas pelos limites da mente consciente, é no período da
incubação, em meio às manifestações da mente inconsciente, que surge uma nova
etapa da anatomia do espírito criativo - o momento da Iluminação, quando, de
repente, a resposta surge, como se viesse do nada... É a “eureka”! É a luz! É quando
dizemos: “É isto”! No entanto, o momento da iluminação, apesar de fundamental,
ainda não pode ser considerado o ato criador.
O pensamento iluminado, mesmo que seja por uma constatação decisiva,
solicita em uma etapa final - a Tradução, simbolizada pela Transformação da idéia
em ação. “Traduzir a iluminação em realidade torna a idéia muito mais que um
pensamento fugaz: torna-a útil para nós e para os outros” (GOLEMAN, 1992, p. 19).
Desta forma, podemos encerrar este capítulo com as palavras, segundo o
qual, “o ato criativo é uma longa seqüência de passos, com múltiplas e encadeadas
preparações, frustrações, incubações, iluminações e traduções em ação” (Id, 1992,
p.19).
CAPÍTULO II
A PSICOPEDAGOGIA: HISTÓRICO E SUAS
múltiplas Aplicações
O movimento da psicopedagogia no Brasil remete ao seu histórico na
Argentina, devido à proximidade geográfica, o acesso fácil à literatura e a facilidade
da língua, por isso as idéias dos argentinos têm influenciado muito em nossa prática.
Ao pesquisar a origem do pensamento argentino acerca da Psicopedagogia,
verificamos que a sua literatura está fortemente marcada pela literatura Francesa e
alguns autores são freqüentemente citados, tais como, Jacques Lacan, Maud
Mannoni, Françoise Dolto, Julián de Ajuriaguerra, dentre outros.
A Psicopedagogia não nasceu nem aqui nem na Argentina, investigando a
literatura sobre o tema, podemos verificar que a preocupação com os problemas de
aprendizagem teve origem na Europa, ainda no séc. XIX, e inicialmente pensaram
sobre este problema os filósofos, os médicos e os educadores. Ainda no final do séc.
XIX foi formada uma equipe médico-pedagógica pelo educador Seguin e pelo
médico psiquiatra Esquirol. A partir daí a neuropsiquiatria infantil passou a se ocupar
dos problemas neurológicos que afetam a aprendizagem (MERY, 1985).
Nessa mesma época, Maria Montessori, psiquiatra italiana, criou um método
de aprendizagem destinado inicialmente às crianças retardadas. Posteriormente o
método foi estendido a todas as crianças, sendo hoje utilizado em muitas escolas.
Sua principal preocupação está na educação da vontade e na alfabetização, via
estimulação dos órgãos dos sentidos - sendo por isso classificado como sensorial
(MONTESSORI, 1954).
Na segunda década do século XX surgem nos Estados Unidos e na Europa
os primeiros centros de reeducação para delinqüentes infantis, devido o crescente
número de escolas particulares e de ensino individualizado para crianças
consideradas com aprendizagem lenta. Por volta de 1930, surgem na França os
primeiros centros de orientação educacional infantil, com equipes formadas por
médicos, psicólogos, educadores e assistentes sociais (MERY, 1985).
Segundo Mery (1985) em 1946 foram fundados por J. Boutonier e George
Mauco os primeiros centros psicopedagógicos, onde se buscava unir conhecimentos
da Psicologia, da Psicanálise e da Pedagogia para tratar comportamentos
socialmente inadequados de crianças, tanto na escola como no lar, objetivando a
sua readaptação.
Para Mauco (1968) os fundadores do primeiro centro procuravam seguir o
que Mery falou acima, onde sua readaptação seria feita através de um
acompanhamento psicopedagógicos, melhorando assim a convivência da criança
com o seu meio familiar e escolar. Através dessa cooperação Psicologia-
Psicanálise-Pedagogia, esperavam adquirir um conhecimento total da criança e do
seu meio, o que tornaria possível a compreensão do caso. Assim, a ação
reeducadora poderia ser determinada e prevista de acordo com a orientação e a
gravidade dos distúrbios da criança.
Verificamos portanto, que devido ao seu objetivo, o centro psicopedagógico,
aberto em Paris em 1946, teve desde o inicio uma dupla direção: médica e
pedagógica. O mesmo ocorreu em outros centros criados posteriormente, visto esse
duplo direcionamento estar assegurado, desde o começo por J. Boutonier e George
Mauco, que reunia à sua volta uma equipe de médicos, psicólogos, psicanalistas e
pedagogos (MERY, 1985).
A partir de 1948, o termo Pedagogia Curativa passa a ser definido, por
Debesse, como terapêutica para atender crianças e adolescentes desadaptados
que, embora inteligentes, tinham maus resultados escolares. A Pedagogia Curativa
introduzida no centro de Psicopedagogia de Estrasburgo, na França, poderia ser
conduzida individualmente ou em grupos, sendo entendida como “método que
favorecia a readaptação pedagógica do aluno”, uma vez que pretendia tanto auxiliar
o sujeito a adquirir conhecimentos, como também desenvolver a sua personalidade.
A Pedagogia Curativa “situa-se no interior daquilo que hoje chamam de
Psicopedagogia”. (DEBESSE, 1954 apud MERY, 1985, p.31).
Em relação ao sentido conferido à Psicopedagogia, podemos observar
algumas variações em relação aos diversos profissionais da área. Segundo Paín
(1986) a já referida psicopedagoga Argentina, o objetivo do tratamento
psicopegagógico é o desaparecimento do sintoma e a possibilidade do sujeito
aprender normalmente em condições melhores, enfatizando a relação que ele possa
ter com a aprendizagem, ou seja, que o sujeito seja o agente da sua própria
aprendizagem e que se aproprie do conhecimento. Já a psicopedagogia como “área
que estuda e lida com o processo de aprendizagem e suas dificuldades e que, numa
ação profissional, deve englobar vários campos do conhecimento, integrando-os e
sistematizando-os” (SCOZ, 1992, p.02).
Para o professor Lino de Macedo, “a Psicopedagogia é uma nova área de
atuação profissional que tem, ou melhor, busca uma identidade q que requer uma
formação de nível interdisciplinar (o que já é sugerido no próprio termo
psicopedagogia)” (1992, p.VIII). Esses diversos sentidos conferidos a
Psicopedagogia falam-nos de um novo todo que está se estruturando, cuja
identidade se encontra ainda em processo de maturação.
Na seqüência desse rastreamento do histórico da Psicopedagogia, não
podemos deixar de falar em duas profissionais argentinas que estão diretamente
envolvidas com a prática e a produção teórica, em constante intercâmbio com os
brasileiros. São elas as professoras, Alicia Fernández e Carmen Alicia Montti.
Alicia Frenández coordena, no Brasil, dois grupos formados por
psicopedagogos do Rio de janeiro e de São Paulo, com vistas a uma “formação
didática em Psicopedagogia”. Segundo ela: “um espaço importante de gestação do
saber psicopedagógico é o trabalho de auto-análise das próprias dificuldades e
possibilidades no aprende, pois a formação do psicopedagogo, assim como requer a
transmissão de conhecimentos e teorias, também requer um espaço para a
construção de um olhar e uma escuta psicopedagógicos a partir de uma análise de
seu próprio aprender” (FERNÁNDEZ, 1990, p.130).
Segundo Alicia Fernández, a graduação em psicopedagogia surgiu há mais
de trinta anos na Argentina, sendo quase tão antiga quanto à carreira de Psicologia,
criada na universidade de Buenos Aires. Os Profissionais que possuíam outra
formação viram a necessidade de ocupar um espaço que não podia ser preenchido
pelo psicólogo nem pelo pedagogo. Desta maneira, começaram fazendo
reeducação, com o objetivo de resolver fracassos escolares, trabalhava-se as
funções egóicas, tais como, memória, percepção, atenção, motricidade e
pensamento, medindo-se os déficits e elaborando planos de tratamento que
objetivavam vencer essas faltas.
Conforme Sérgio A.da Silva (apud BOSSA, 1994, p.32) “a proposta da
Psicopedagogia veio da Argentina. Como nas primeiras décadas (deste século) os
psicólogos argentinos não tinham permissão de clinicar, a educação surgiu para eles
como uma área efetiva de trabalho. Esta dedicação, quase exclusiva, os levou a
produzir toda uma metodologia sobre a chamada dificuldade de aprendizagem,
dando origem à atual Psicopedagogia”.
Conforme depoimento de Fernández e Montti, a dinâmica histórico-social
determinou a necessidade de um profissional que respondesse aos graves
problemas que a Pedagogia enfrentava: crise na escola, métodos inadequados,
aumento de matrículas diante da expansão demográfica do pós-guerra, evasão
escolar, repetência e sérias dificuldades na aprendizagem sistemática. Desta forma,
a Psicopedagogia inscreve-se no âmbito pedagógico, dado a necessidade de
orientar o processo educativo, oferecendo um conhecimento mais profundo dos
processos de desenvolvimento, maturidade e aprendizagem humana.
Já no Brasil, por muito tempo se explicou o problema de aprendizagem como
produto de fatores orgânicos (Lefèvre, 1975 e Grünspun, 1990). Nessa trilha, na
década de 70 foi amplamente difundida a idéia de que tais problemas teriam como
causa uma disfunção neurológica não-detectável em exame clínico chamada
disfunção cerebral mínima (DCM).
Portanto, podemos dizer que essa perspectiva patologizante dos problemas
de aprendizagem não é “invenção de brasileiro”, mas foi rapidamente por este
incorporada, principalmente porque proporciona uma explicação mais ingênua para
a situação do nosso sistema de ensino. “A semelhante explicação para fenômenos
de evasão e repetência desempenhava uma importante função ideológica, pois”
dissimulava a verdadeira natureza do problema e, ao mesmo tempo, legitimava as
situações de desigualdades de oportunidades educacionais e seletividade escolar”
(DORNELES, 1986, p.44).
Na prática do psicopedagogo, anda hoje é comum receber no consultório
crianças que já foram examinadas por um médico, por indicação da escola ou
mesmo por iniciativa da família, devido aos problemas que está apresentando na
escola. É importante termos em mente que é dentro dessa concepção de problemas
de aprendizagem na escola que, ainda no final da década de 70, surgiram os
primeiros cursos de especialização em psicopedagogia no Brasil, idealizados para
complementar a formação dos psicólogos e de educadores que buscavam soluções
para esses problemas.
Sendo assim, no princípio da década de 70, surgiram em nível institucional,
cursos com enfoque psicopedagógico, antecedendo a criação dos cursos formais de
especialização e aperfeiçoamento. Esses cursos tratavam de temas como “a
criança-problema numa classe comum”, “dificuldades escolares”, “pedagogia
terapêutica”, “problemas de aprendizagem escolar”. Tais cursos eram oferecidos a
psicólogos, pedagogos e profissionais de áreas afins, em busca de subsídios para
atuar junto às crianças que não respondiam às solicitações das escolas.
Neste breve histórico da Psicopedagogia no Brasil, não podemos deixar de
mencionar o trabalho da professora Genny Golubi de Moraes (1987), coordenadora
dos cursos da PUC-SP, foi responsável pela formação de um grande número de
profissionais da Psicopedagogia que hoje desenvolvem importantes trabalhos na
área. Buscou sempre contribuir para compreensão e tratamento dos problemas de
aprendizagem, priorizando sempre o trabalho preventivo, deixando clara a sua
preocupação no sentido de fazer com que cada vez menos crianças cheguem a
clinica por problemas escolares.
Por outro lado, em 1979 é criado o primeiro curso regular de psicopedagogia,
no Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo, iniciativa de Maria Alice Vassimon,
pedagoga e psicodramatista, e Madre Cristina Sodré Dória, diretora do Instituto.
“Maria Alice Vassimon, preocupada com a perspectiva de um homem global,
percebido a partir de referências intelectuais, afetivas e corporais, faz uma proposta
para que o Instituto, até então literalmente ocupado por psicólogos e psicanalistas,
abrisse o seu espaço para um curso que valorizasse a ação do educador” (SCOZ e
MENDES, 1987, p.45).
A expectativa dos que procuravam o curso voltava-se para uma atuação em
nível clínico. Posteriormente, com os novos conhecimentos das áreas de Lingüística,
Psicolingüística e teorias do desenvolvimento, inclusive as contribuições de Emilia
Ferreiro, os problemas de aprendizagem são ressignificados e os próprios cursos
passam a ter outro direcionamento. Assim, inclui-se o atendimento grupal no modelo
clínico e inicia-se uma linha de trabalho em nível preventivo.
Portanto, vemos, por este esboço histórico da Psicopedagogia no Brasil, que
os cursos do Instituto Sedes Sapientiae e da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo merecem destaque, pois se constituíram na primeira iniciativa institucional de
formação em Psicopedagogia em São Paulo. Entretanto, outro estado que deve ser
mencionado pelo pioneirismo na formação institucional é o Rio Grande do Sul. Além
das iniciativas de grupos informais de formação, a Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul (PUC-RS) passa a desenvolver, a partir de 1972, cursos em
nível de especialização e mestrado no programa de Educação com área de
concentração em Aconselhamento Psicopedagógico. Também na Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), vem sendo desenvolvido, desde 1984, um
curso de especialização em Aconselhamento Psicopedagógico no programa de Pós-
graduação da Faculdade de Educação (Bossa, 1994).
Mais recentemente, a partir do início da década de 90, os cursos de
especialização em Psicopedagogia, lato sensu, multiplicaram-se. A maioria das
faculdades de Educação em São Paulo, contam hoje com eles. Em outros estados a
demanda também é grande, e vários cursos estão surgindo, tanto nas instituições
estatais quanto nas particulares. No IV Encontro de Psicopedagogos, ocorrido em
São Paulo em 1990, já contávamos com profissionais do Rio de janeiro, Rio Grande
do sul, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul,
Goiás, Bahia, Pernambuco, Ceará e Brasília.
Ao falarmos um pouco da história da Psicopedagogia no Brasil, portanto, além
de referirmos o movimento de certos grupos, antecessores dos cursos formais, que
tinham como objetivo o aprofundamento nos estudos sobre os problemas de
aprendizagem, e os cursos na perspectiva dinâmica em que aconteceram, é
importante mencionarmos a Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp), com
treze anos de existência. Enquanto elemento de organização formal de uma
categoria profissional não reconhecida legalmente, não deixa de dar contornos à
prática psicopedagógica em nosso país, pois tem sido responsável pela organização
de eventos de dimensão nacional, bem como, por publicações cujos temas retratam
as preocupações e tendências na área (Bossa 1994).
Desta forma podemos concluir este capítulo, destacando alguns pontos
comuns na história da Psicopedagogia no Brasil e na Argentina, são eles:
1-A atividade prática iniciou-se antes da criação dos cursos nos dois países;
2-Em ambos os países, a prática surgiu da necessidade de contribuir na
questão do “fracasso escolar”;
3-Inicialmente, o exercício psicopedagógico apresentava um caráter
reeducativo, assumindo ao longo do tempo um enfoque terapêutico;
4-A Psicopedagogia nasce com o objetivo de um trabalho na clínica e vai
ampliando a sua área de atuação até a instituição escolar, ou seja, vai da prioridade
curativa à preventiva;
5-Encontra terreno fértil nesses dois países, em função da demanda que lhe
deu origem.
Além dessa ótica, devemos considerar o fato de que as práticas, em ambos
países, assemelham-se em muitos pontos, visto que o referencial teórico adotado
pelos brasileiros está fortemente marcado por influências argentinas.
CAPÍTULO III
A UTILIZAÇÃO DA CRIATIVIDADE
NO AMBITO PSICOPEDAGÓGICO
A atuação do Psicopedagogo na instituição visa fortalhecer-lhe a identidade,
bem como, buscar o resgate das raízes dessa instituição, ao mesmo tempo em que
procura sintoniza-la com a realidade que está sendo vivenciada no momento
histórico atual, buscando adequar essa escola às reais demandas da sociedade.
Segundo Di Santo (2006) durante todo o processo educativo, procura investir
numa concepção de ensino-aprendizagem que:
• Fomente interações interpessoais;
• Incentive os sujeitos da ação educativa a atuarem considerando
integradamente as bagagens intelectual e moral;
• Estimule a postura transformadora de toda a comunidade educativa para, de
fato, inovar a prática escolar; contextualizando-a;
• Enfatize o essencial: conceitos e conteúdos estruturantes, com significado
relevante, de acordo com a demanda em questão;
• Oriente e interaja com o corpo docente no sentido de desenvolver mais o
raciocínio do aluno, ajudando-o a aprender a pensar e a estabelecer relações entre
os diversos conteúdos trabalhados;
• Reforce a parceria entre escola e família;
• Lance as bases para a orientação do aluno na construção de seu projeto de
vida, com clareza de raciocínio e equilíbrio;
• Incentive a implementação de projetos que estimulem a autonomia de
professores e alunos;
• Atue junto ao corpo docente para que se conscientize de sua posição de
“eterno aprendiz”, de sua importância e envolvimento no processo de
aprendizagem, com ênfase na avaliação do aluno, evitando mecanismos menores
de seleção, que dirigem apenas ao vestibular e não à vida.
Nesse sentido, o material didático adotado, deve ser utilizado como
orientador do trabalho do professor e nunca como único recurso de sua atuação
docente. Sendo assim, se almejamos contribuir para a evolução de um mundo que
melhore as condições de vida da maioria da humanidade, nossos alunos precisam
ser capazes de olhar esse mundo real em que vivemos, interpretá-lo, decifrá-lo e
nele ter condições de interferir com segurança e competência.
Para tanto, juntamente com toda a Equipe Escolar, o Psicopedagogo deverá
estar mobilizado na construção de um espaço concreto de ensino-aprendizagem,
espaço este orientado pela visão de processo, através do qual todos os participantes
se articulam e mobilizam na identificação dos pontos principais a serem
intensificados e hierarquizados, para que não haja ruptura da ação, e sim
continuidade crítica que impulsione a todos em direção ao saber que definem e
lutam por alcançar (DI SANTO, 2006).
Visando favorecer a apropriação do conhecimento pelo ser humano, ao longo
de sua evolução, a ação psicopedagógica consiste numa leitura e releitura do
processo de aprendizagem, bem como da aplicabilidade de conceitos teóricos que
lhe dêem novos contornos e significados, gerando práticas mais consistentes, que
respeitem a singularidade de cada um e consigam lidar com resistências.
A ação desse profissional jamais pode ser isolada, mas integrada à ação da
equipe escolar, buscando, em conjunto, vivenciar a escola, não só como espaço de
aprendizagem de conteúdos educacionais, mas de convívio, de cultura, de valores,
de pesquisa e experimentação, que possibilitem a flexibilização de atividades
docentes e discentes (DI SANTO, 2006).
Utilizando a situação específica de incorporação de novas dinâmicas em sala
de aula, contemplando a interdisciplinaridade, juntamente com outros profissionais
da escola, o psicopedagogo estimula o desenvolvimento de relações interpessoais,
o estabelecimento de vínculos, a utilização de métodos de ensino compatíveis com
as mais recentes concepções a respeito desse processo. Procura envolver a equipe
escolar, ajudando-a a ampliar o olhar em torno do aluno e das circunstâncias de
produção do conhecimento.
A prática psicopedagógica tem contribuído para a flexibilização da atuação
docente na medida em que coloca questões que estimulam a reflexão e a
confrontação com temáticas ainda insuficientemente discutidas, de manejo
delicado, que, na maioria das vezes, podem produzir conflito. Isto se deve, em geral,
ao quadro de comprometimento do aluno/instituição, que apresenta dificuldades
múltiplas, envolvendo as competências cognitivas, emocionais, atitudinais,
relacionais e comunicativas almejadas e necessárias à sociedade (DI SANTO,
2006).
Em decorrência, ações específicas, integradas e complementares de
diferentes profissionais a prática psicopedagógica deve compor um projeto de
escola coerente e impulsionador de valores e relações humanas vividos no
ambiente escolar. Projeto que envolva o recurso humano: professores, alunos,
comunidade para, através dele, transformar não só a cultura que se vive na escola,
mas na sociedade.
Desta forma, podemos afirmar que a presença do Psicopedagogo nos
processos educacionais é mais que uma oportunidade pedagógica – é um
desafio. Desafio este, que o instiga a valorizar a sua formação acadêmica
humanista no investimento em formação de novas pessoas, por meio da
educação e do desenvolvimento integral do indivíduo, superando as
tendências pedagógicas tecnicistas e enfatizando novas formas da utilização
da criatividade como meio de desenvolvimento do ser humano (BOMFIN,
1995).
Na visão holística de educação psicopedagógica, não se poderia deixar
de destacar a dimensão da criatividade, como atributo humano a ser
considerado, incentivado e valorizado nos projetos pedagógicos de uma
instituição.
Para Rogers (apud CAMPOS & WEBER, 1987, p.7) esta criatividade
significa:
• Estimular a abertura para novas experiências em que o indivíduo criador,
ao perceber os estímulos vindos do ambiente, aceita-os amplamente, deixa-se
penetrar pelos mesmos, não opondo barreiras de espécie alguma, numa total
abertura da consciência àquilo que existe num determinado momento;
• Considerar a necessidade de avaliação crítica, ou seja, existência de um
centro interior de apreciação, pois o valor do ato criador corresponde à
satisfação que a pessoa sente diante do seu produto, tanto quanto ao
interesse ou satisfação produzidos em outras pessoas;
• Respeitar e incentivar o desejo de comunicação e participação daquilo que
foi criado;
• Reconhecer que o ato criador atende à necessidade de extensão e
expansão da personalidade;
• Oferecer oportunidades para o desenvolvimento da capacidade criadora,
por meio de incentivos à flexibilidade e à expressão espontâneas de hipóteses,
elementos conceituais, cores, formas, relações, justaposição de elementos
impossíveis, através de jogos com as idéias e com a imaginação.
Essa criatividade Psicopedagógica “resulta da abertura do sujeito à
experiência do mundo exterior, motivada pela urgência do indivíduo para auto-
realizar-se”. O processo criador simboliza “uma emergência na ação de um
novo produto relacional que provém da natureza única do indivíduo, por um
lado, e dos materiais, acontecimentos, pessoas ou circunstâncias da sua vida,
por outro” (ROGERS apud CAMPOS & WEBER, 1987, p. 6, grifo nosso).
A psicopedagogia pode usar sua criatividade e gerar outras formas de
intervenção de acordo com suas necessidades e características. O importante
é não deixar de criar. Sendo este o seu grande destaque, a utilização constante
da criatividade na psicopedagogia moderna (KASSOY apud BOOG, 1999).
Nesse sentido, uma Psicopedagogia da Criatividade, quer se expresse
na escola, na família ou nas organizações do trabalho, precisa estar atenta às
condições externas que farão germinar as condições internas, básicas para a
emergência da criatividade. A interatividade entre esses dois fatores – mundo
interno X mundo externo – favorecerão a expansão da liberdade psicológica
para criar, permitindo ao indivíduo ser ele mesmo, possibilitando-lhe um vasto
horizonte para pensar, sentir, ser o que é em seu mundo mais íntimo, de modo
a favorecer a abertura, o jogo espontâneo de associar percepções, conceitos e
significações (CAMPOS & WEBER, 1987).
Daí, a nosso ver, a necessidade de uma Psicopedagogia da Criatividade,
reflexo da necessidade de que os psicopedagogos colaborem para a criação
de um clima favorável ao desenvolvimento cada vez maior da criatividade,
oferecendo condições para que os educandos - sejam eles crianças,
adolescentes, jovens ou adultos - em seus diferentes espaços de
aprendizagem, possam conhecer a si mesmos, testar suas possibilidades num
clima de liberdade e compreensão, desenvolvendo-se assim, através de uma
aprendizagem realmente significativa.
“Uma educação criativa deve favorecer o potencial em todas as disciplinas e assuntos, dando valor ao pensamento produtivo, uma vez que a criatividade está presente em várias situações. Os exercícios estimulam a criatividade para que a criança descubra tudo por si mesma, colocando em dúvida o já conhecido e ensinado, princípios que produzam o maior e melhor número de idéias possíveis. A medida que as crianças sentirem que podem expor suas idéias, sem qualquer tipo de barreira, elas se sentirão motivadas a ponto de superar obstáculos” http://kplus.cosmo.com.br/materia.asp?co=193&rv=literatura (Thomas Hohl).
CONCLUSÃO
Para escrever essa monografia, foi preciso urdir fios da memória das múltiplas
informações que foram sendo tecidas, dia a dia, mês a mês, ano a ano. Uma trama
feita de desejos, projetos, sucessos, insucessos, alegrias, tristezas, dias tranqüilos,
dias árduos...Mas, sobretudo, foi necessário integrar nesta urdidura a contribuição
de inúmeras pessoas, sem as quais, não seria possível escrever sobre este trabalho.
Desta forma, podemos ressaltar que a Psicopedagogia aliada a Criatividade é
o processo de alavancar novos modelos de paradigmas de Instituições Escolares,
bem como, sua inter-relação com os indivíduos dessas organizações. As constantes
mudanças que vêm ocorrendo em todos os segmentos da humanidade, tais como,
nos campos: bio, psíquico, espiritual e educacional, nos impulsionam, cada vez
mais, a colocar a Psicopedagogia junto a Criatividade no elenco de destaque, como
fator de mudança e sobrevivência do homem nesse novo milênio.
Podemos concluir então, enfocando um dos destaques mais importantes
utilizados neste trabalho, que a visão multidisciplinar de outros conhecimentos
aliados a Psicopedagogia representada por uma nova cosmovisão, que resgata os
valores essenciais da vida de todo os seres humanos, já que todos os indivíduos
estão em constante aprendizagem. Figura importante como o Psicopedagogo,
somada aos aspectos da Criatividade e visão multidisciplinar e uma constante
reeducação do ser humano, formam o corpo final desta monografia.
Para finalizar, compartilho minhas esperanças de que, cada vez mais, se
amplie e se fortaleça esta rede, formada por todos aqueles que acreditam que
a Criatividade como processo de desenvolvimento educacional do indivíduo
em todos os segmentos do conhecimento, possa ser, realmente, um fator
diferencial e determinante em nossas vidas.
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