UNICOM - SBPJor

16
unicom unicom JORNAL EXPERIMENTAL DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA UNISC SANTA CRUZ DO SUL - VOLUME 25 nº 4 NOV 2014 - EDIÇÃO ESPECIAL

description

Jornal-laboratório produzido pelo núcleo de Jornalismo da A4 - Agência Experimental de Comunicação para o 12º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor). Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) Curso de Comunicação Social Habilitação em Jornalismo Diagramação: Martina Scherer

Transcript of UNICOM - SBPJor

Page 1: UNICOM - SBPJor

1unicomJORNAL EXPERIMENTAL DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA UNISC

SANTA CRUZ DO SUL - VOLUME 25 nº 4 NOV 2014 - EDIÇÃO ESPECIAL

unicomJORNAL EXPERIMENTAL DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA UNISC

SANTA CRUZ DO SUL - VOLUME 25 nº 4 NOV 2014 - EDIÇÃO ESPECIAL

unicomJORNAL EXPERIMENTAL DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA UNISC

SANTA CRUZ DO SUL - VOLUME 25 nº 4 NOV 2014 - EDIÇÃO ESPECIAL

Page 2: UNICOM - SBPJor

2

Talvez a melhor imagem seja a de uma

prateleira cheia de óculos ao lado de um objeto

ainda não identificado (não, necessariamente,

voador). Marrons, rosas, vermelhas, pretas... as cores

das lentes variam e, conforme a que colocar diante

dos olhos, as cores do objeto variam também. Desde

sua origem, em meados do século XVII, o jornalismo

pode ser visto a partir de diferentes teorias.

Poderíamos imaginar “lentes teóricas” produzidas

por “fábricas” como Sociologia, Psicologia, História

e Literatura. Os teóricos seriam aqueles que se

dispõem a experimentá-las e observar, com a ajuda

delas, as práticas jornalísticas.

“O jornalismo é uma atividade individual, social

e cultural de produção de um tipo de conhecimento

específico sobre o mundo”, começa a descrever o

professor Jorge Pedro Sousa. Quem complementa

é a professora Fabiana Piccinin, para quem a prática

pode ser entendida como “captura, tratamento e

divulgação dessa informação”. Estudar as relações

que surgem nesse processo é buscar estas respostas

para inúmeras questões. Quando uma informação se

transforma em notícia? Como são definidos os critérios

para uma pauta? Qual é a melhor maneira de escrever

o texto de uma reportagem? Por que as pessoas

acessam ou ignoram determinada publicação? Esses

são exemplos de perguntas que impulsionam o

trabalho dos teóricos. É como se fossem pequenas

peças identificadas no interior do objeto.

Para observá-las, o que temos são “teorias

integradoras que visam a explicar os fenômenos

jornalísticos na sua articulação com outros fenômenos

pessoais, sociais, culturais, tecnológicos e históricos”,

Editora-chefe: Cristiane Lindemann

Subeditora: Luísa Ziemann

Diagramação: Martina Scherer

Ilustrações: A4 Agência Experimental de Comunicação - Núcleo Publicidade e Propaganda

Impressão: Lupagraf

Tiragem: 500 exemplares

Pesquisar é exercitar a curiosidade

EDITORIAL

Pesquisar é um exercício que aprendemos

logo cedo, involuntariamente, ao sanar nossas

dúvidas com pais, avôs e demais adultos que

nos cercam. Quando estes não conseguem dar

conta de nossas curiosidades, podemos até

deixar de lado temporariamente, mas em algum

momento refazemos as mesmas perguntas. As

crianças são, os pesquisadores mais ativos já

vistos, pois são inquietas, questionadoras e não

se satisfazem com respostas rasas.

Um pesquisador acadêmico não nasce

repentinamente, ele amadurece, sobretudo,

durante a passagem pelo ensino superior.

É quando aprende a desconfiar do óbvio,

questionar possibilidades e estar em constante

desenvolvimento. Na maioria das vezes, pessoas

inclinadas aos estudos deixam florescer

esse desejo de saber mais lendo, anotando e

buscando sempre um detalhe não explícito que

possa resultar em novas informações.

A pesquisa científica consiste em um

olhar minucioso, embasado em teorias. Os

resultados das investigações realizadas no

campo do jornalismo são compartilhadas pela

comunidade acadêmica em diferentes eventos

da área, dentre os quais o Encontro Nacional

da Associação Brasileira de Pesquisadores em

Jornalismo (SBPJor), que este ano acontece na

Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc).

A edição especial do Unicom que está

em suas mãos foi produzida para brindar a

realização da 12ª edição do evento. Nele, alunos

do Curso e voluntários da Agência A4 abordam

temas como a internacionalização do SBPJor,

a preparação do curso de Comunicação Social

para receber o encontro, as relações entre o

Jornalismo e outros campos de pesquisa e

muito mais.

Além disto, nas páginas deste jornal você

encontrará uma entrevista com o professor

espanhol Pere Masip, que fará a palestra

de abertura do seminário, e também com o

professor Elias Machado, primeiro presidente

da SBPJor. Mais do que um convite para

prestigiar o congresso, que ocorre de 6 a 8 de

novembro, a edição também é fruto do trabalho

daqueles que estão muito empolgados para

receber em casa o evento mais importante do

Brasil para a pesquisa em Jornalismo.

Este jornal foi produzido pelos alunos da disciplina de Estágio Supervisionado em Jornalismo, que estão atuando na Agência Experimental A4, e também por alunos voluntários do Curso.

UNISC - Universidade de Santa Cruz do SulAv. Independência, 2293 - Bairro UniversitárioSanta Cruz do Sul - CEP 96815-900

Curso de Comunicação Social Bloco 15 - Sala 1506Telefone: (51) 3717-7383Coordenador do Curso: Hélio Etges

Reportagem: Augusto Dalpiaz, Diana Azeredo, Frederico Silva, Isadora Trilha, João Junqueira, Jonatan Trindade, Luís Gustavo Finger, Luísa Ziemann, Isadora Trilha e Vania Soares.

EXPEDIENTE

Acompanhe o conteúdo produzido pela nossa equipe durante o 12° SBPJor através do site: hipermidia.unisc.br/sbpjor2014.

O melhor campo teórico do mundoPesquisa em jornalismo

oportuniza cruzamento de reflexões em diversas áreas,

como História, Literatura, Psicologia e Sociologia

DIANA DE AZEREDOE FREDERICO SILVA

REPORTAGEM

nas palavras de Sousa. Para o professor

da Universidade Fernando Pessoa, a teoria

do Jornalismo é “o conjunto integrado de

conhecimentos, que o diferenciam como

campo autônomo”. Ele cita nomes como José

Marques de Melo, Nelson Tranquina, Eduardo

Meditsch e Marialva Barbosa como exemplos de

teóricos que contribuíram de maneira fundamental

para a consolidação dos conceitos sobre a área. Ao

incentivar que alunos e professores sejam, também,

pesquisadores, concebendo formas de estudar

o Jornalismo, Fabiana lembra: “A teoria é uma

sistematização do conhecimento”.

Além de buscar ajuda em outros campos, uma

forma de se chegar à teoria própria do Jornalismo é

a observação. “Não se trata tanto de uma inspiração,

mas sim de uma questão de observação atenta e

pró-ativa da realidade”, alerta Sousa. Eventos com o

SBPJor, onde professores e estudantes apresentam

resultados de suas pesquisas, contribuem para a

construção desse “óculos”. “É o estado da arte da

pesquisa”, compara Fabiana. Para ela, a maturidade

desses momentos é capaz de “fazer com que nós

próprios ofereçamos as nossas próprias teorizações”.

Porém, a professora da Unisc ressalta as mudanças

que ocorrem no Jornalismo. “Por isso a teoria precisa

estar muito bem articulada e embasada para que ela

possa dar conta dessas complexidades”, avalia. O

escritor colombiano Gabriel García Marquez definiu

o Jornalismo como “a melhor profissão do mundo”. É

possível usar a frase como referência para pensar o

Jornalismo na perspectiva científica. Eis aí um campo

em construção, enriquecido por diferentes influências

teóricas e, talvez, por isso mesmo, o melhor.

Page 3: UNICOM - SBPJor

3

No jornalismo, trabalhos

desenvolvidos em sala de

aula podem resultar em

artigos científicos, monografias,

projetos experimentais e gerar

insights para dissertações e

teses. O resultado de algumas

destas produções serão apresen-

tados na 12ª edição do Encontro

da Associação Brasileira de

Pesquisadores em Jornalismo

(SBPJor), que acontece nos dias

6, 7 e 8 de novembro, na Univer-

sidade de Santa Cruz do Sul

(Unisc).

Associado ao evento, ocorre

a 4ª edição do encontro de Jovens

Pesquisadores em Jornalismo

(JPJor), criado a pedido de

associados da SBPJor e de

orientadores de iniciação cien-

tífica e trabalhos de conclusão,

visando estimular estudantes

a divulgar suas pesquisas. A

intenção é mostrar trabalhos

desenvolvidos por graduandos

e recém-graduados, como

incentivo ao trabalho científico,

permitindo que jovens pesqui-

sadores construam uma trajetória

acadêmica, dando sequência em

programas de mestrado e

doutorado.

Conforme a presidente da

SBPJor, Cláudia Lago, “a missão

da Assossiação é consolidar o

campo da pesquisa em Jornalismo

e isso exige que se trabalhe na

formação dos pesquisadores,

principalmente no início”. Ela

ressalta a expectativa de que o

JPJor se consolide como encontro

de estudantes de graduação que

têm interesse em caminhar rumo

à pesquisa.

A organizadora do JPJor deste

ano, professora Ângela Felippi,

acrescenta que o evento motiva

os alunos à pesquisa, permite a

vivência e a troca de experiências

com profissionais com mais

tempo de trabalho. “A pesquisa

é uma oportunidade de se fazer

literatura, testar uma realidade

e não só absorver, mas também

produzir conhecimento”, diz ela.

Recém-formada em jornalismo,

Daiana Carpes sempre gostou de

pesquisar, o que a levou a integrar

um grupo de pesquisa no período

da graduação. Segundo ela, isto

foi de extrema importância para a

conclusão do curso e representa

um caminho para o ingresso no

mestrado. Daiana apresentou tra-

balho no JPJor de Brasília em

2013 e, em 2014, teve outro aceito,

resultado de sua monografia.

Sobre a experiência vivida,

a jornalista destaca o momento

em que os participantes puderam

dar sugestões, críticas e elogios

ao seu trabalho, que abordava a

acessibilidade nos meios de comu-

nicação. “Foi maravilhoso, tive a

oportunidade de conhecer diversos

pesquisadores da área, participar

de debates e entender um pouco

mais do universo do jornalismo”.

Já professora universitária

e jornalista Rozana Ellwanger

ressalta que a pesquisa é funda-

mental na formação. Para ela,

jornalismo vai além de decorar

técnicas, é um exercício diário

de análise crítica. “No meu caso,

mais do que auxiliar na formação

para a prática jornalística, a

pesquisa sempre representou

uma meta de vida, pois tinha

o objetivo de seguir a carreira

acadêmica”. Rozana iniciou o

exercício de pesquisar desde cedo,

passando pelo mestrado, até chegar

à docência, em 2014.

Em 2010, sua monografia

recebeu o Prêmio Adelmo Genro

Filho de Iniciação Científica. “Ter

o trabalho reconhecido como o

melhor do Brasil me mostrou que as

dúvidas eram infundadas, me deu

motivação a mais e maior segurança

para seguir na vida acadêmica”.

A pesquisa sempre foi objeto de

desejo para Rozana, mas devido a

alguns empecilhos, só conseguiu

se dedicar depois da metade

da graduação. Mesmo assim,

obteve resultados importantes. A

jornalista lembra que este período

foi essencial para a produção e

publicação de artigos científicos, o

que possibilitou participações em

grandes eventos e a construção de

um currículo consistente.

Cada vez mais, estudantes e

recém-formados, como Daiana e

Rozana, estão se dando conta do

valor da pesquisa. A presidente

da SBPJor salienta que o número

de trabalhos inscritos tende a

crescer a cada ano em função

da divulgação e do incentivo por

parte dos professores. “Temos

observado isso a cada encontro”,

salienta Cláudia. Este ano foram

52 trabalhos inscritos no JPJor, o

maior número de todas as edições.

Cada vez mais, estudantes e recém-

formados se dão conta da importância

da pesquisa

JONATAN TRINDADEREPORTAGEM

Desde cedo, investigar

Daiana Capes: recém-formada, participará pela segunda vez do JPJor

DIV

ULG

AÇÃO

/AC

ERVO

PES

SO

AL

DIV

ULG

AÇÃO

/AC

ERVO

PES

SO

AL

Rozana Ellwagner: professora teve a monografia premiada em 2010

O diferencial de quem pratica a pesquisa

Page 4: UNICOM - SBPJor

4

União para receber o encontro da SBPJorPlanejamentos

iniciaram em 2011 para que pesquisa

e produção de conhecimento fossem o centro das atenções

AUGUSTO DALPIAZ E LUÍS GUSTAVO FINGER

REPORTAGEM

Desde o final de 2011 a

Universidade de Santa Cruz

do Sul (Unisc) se prepara

de maneira efetiva para receber

em suas dependências o 12º

Encontro da Associação Brasileira

de Pesquisadores em Jornalismo

(SBPJor) e IV Encontro de Jovens

Pesquisadores em Jornalismo

(JPJor). Tudo começou há três

congressos, na edição realizada

no Rio de Janeiro, quando a vinda

do evento para Santa Cruz do Sul

passou a ser planejada.

Duas instâncias se envolvem

diretamente com a organização

do encontro: a nacional, que é a

SBPJor – a essência do congresso

–, e a local, formada no âmbito da

instituição que recebe e realiza o

encontro. A Unisc está dentro desta

segunda instância, responsabili-

zando-se pela organização do espaço

físico, distribuição de salas, marketing,

criação e atualização do site e pela

efetiva realização do congresso.

Segundo o diretor administrativo

da SBPJor e chefe do Departamento

de Comunicação Social da Unisc,

Demétrio de Azeredo Soster, realizar

um congresso como este é um longo

processos. “Podemos dizer com

muita tranquilidade que aprendemos

a fazer congresso. O Intercom [etapa

região Sul, 2013] foi o maior. No

entanto, antes dele, teve o Colóquio

das Agências Experimentais e,

anteriormente, o Fórum Sul Brasileiro

de Professores de Jornalismo e o 1º

Encontro Gaúcho de Professores de

Jornalismo (Egej). Ou seja, há quatro

anos estamos fazendo congressos

anuais e, durante esse período, a

gente vem aprendendo. O Intercom

foi fundamental para isso, pois ali

a instituição soube como fazer um

grande congresso”, pontua.

Para dar conta do encontro de

jornalismo, o curso de Comunicação

Social da universidade optou por

um processo diferente daquele

realizada em 2013, quando a regional

do Intercom ocorreu em Santa Cruz

do Sul. Ao invés de três pessoas se

responsabilizarem pela organização

de todo o congresso, foi criada uma

comissão executiva e os envolvidos

foram divididos em grandes áreas:

Relações Públicas, Publicidade e

Propaganda, Jornalismo e Produção

em Mídia Audiovisual. Já o setor

administrativo cuidou dos primeiros

contatos.

Tim-tim por tim-tim: a organização ao pé da letra

Cerca de 110 voluntários e 50

pessoas do Grupo Executivo – que

inclui professores, coordenadores

da A4 - Agência Experimental do

Curso de Comunicação e monitores

– vão participar da organização

do evento. Para preparar essas

pessoas, no dia 30 de setembro

aconteceu a primeira reunião e

próximo ao congresso ocorreram

outros encontros, a fim de treinar as

equipes para a recepção e execução

do encontro. Além disso, camisetas

e kits sobre o congresso foram

distribuídos a todos os envolvidos.

O envolvimento da A4 - Agência

Experimental, por meio dos quatro

núcleos, foi fundamental na etapa

pré-evento e assim se manterá

durante a realização do mesmo.

O núcleo de Relações Públicas

cuida da parte organizacional, do

protocolo e da arregimentação

dos voluntários. A Publicidade fica

encarregada pela parte de criação

de peças, camisetas e banners.

O Jornalismo faz a divulgação e Próximo ao Curso de Comunicação Social, banner destaca a realização do SBPJor

FÁBI

O G

OU

LART

Page 5: UNICOM - SBPJor

5

“Muito mais que um congresso de Jornalismo, estamos fazendo um congresso de pesquisa, focados no conhecimento”

Angela Felippi

União para receber o encontro da SBPJorcobertura, enquanto a Produção em

Mídia Audiovisual é responsável por

criar vídeos e spots que auxiliem na

divulgação do evento.

A estudante do 8º semestre

de Jornalismo e monitora da

Agência A4, Andressa Bandeira,

está com boas expectativas para

o evento. Para ela, a oportunidade

de conhecer gente nova na área de

pesquisa é muito interessante. “Além

disso, teremos contato tanto com

os alunos que estão pesquisando,

quanto com professores e autores

que a gente usa como referência.”

Já no núcleo de Relações

Públicas, a acadêmica e monitora

da agência, Jusiane Quoos, acredita

que ter sediado o Intercom foi um

grande aprendizado para saber

como organizar um evento desta

magnitude. Para o trabalho o

SBPJor, os preparativos começaram

em maio deste ano e a expectativa,

segundo ela, é de que haja muito

engajamento. “O evento tem 110

voluntários inscritos, o que nos

surpreendeu. Espero que cada

um se comprometa para fazer

deste um excelente

congresso.”

A Unisc TV também

está engajada, cobrindo

o que está sendo

preparado produzindo

reportagens espe-

ciais que serão exibidas

no Unisc Notícias. O

programa costuma

ser exibido nas sextas-feiras, mas

na semana do evento vai ao ar na

segunda-feira, 10 de novembro,

com toda a cobertura do SBPJor. A

estagiária da Unisc TV e acadêmica

de Jornalismo, Maria Regina Ei-

chenberg, acredita que o Intercom

sediado na universidade em 2013

foi importante para ter uma base

de como cobrir o congresso nesse

ano. Para ela, essas circunstâncias

são boas. “O jornalista acaba

entrevistando pessoas que não

conhece, sai do ciclo da Unisc, em

que estamos muito envolvidos”.

Cenário para estreias - A 12ª

edição do Encontro de Jornalismo

será marcada por muitas estreias,

como a primeira cobertura em

eventos deste porte realizada

por acadêmicos que há pouco

ingressaram no curso, e a primeira

apresentação de um trabalho no

JPJor. Este é o caso da recém-

formada jornalista Vanessa Costa,

que apresentará o artigo “O que

disseram os jornais Zero Hora e

Diário de Santa Maria aos seus

leitores na cobertura do incêndio

da Boate Kiss”. Vanessa conta

que seu objetivo é compartilhar

os resultados de sua pesquisa e

também aprender com o resultado

dos outros trabalhos. Sobre a

presença de jovens pesquisadores

no evento, a jornalista afirma:

“A participação nesses eventos

certamente abre horizontes. Saber

o que se pesquisa na área em

outras universidades e até mesmo

a maneira como se pesquisa, faz

com que surjam

novas ideias e

motivações.”

A professora do

curso de Comunica-

ção Social da Unisc

e organizadora do

JPJor, Angela Felippi,

explica os trabalhos

recebidos, de estu-

dantes ou recém-formados, foram

enviados para pareceristas de outras

instituições, que os avaliaram. Além

disso, a organização focalizou as

atenções na composição das mesas,

ou seja, em como os trabalhos

aceitos iriam ser apresentados.

Cada mesa terá em torno de cinco

pesquisas, distribuídas nas salas de

aula e marcadas para o primeiro

dia, seis de novembro, no turno da

tarde. Angela lembra, ainda, que

na manhã de quinta-feira ocorrerá

a abertura do IV Encontro de Jovens

Pesquisadores e mesa temática sobre

Incentivo à pesquisa em Jornalismo.

Segundo a professora, a principal

dificuldade em organizar algo

grandioso como o evento da SBPJor

está na mobilização das pessoas,

especialmente no que se refere à

questão da logística. “O desafio dos

meses que antecederam o evento

foi mobilizar nossos estudantes,

nossos professores, a instituição.

Fazer com que todos abraçassem

o evento, que trabalhassem em

prol do objetivo e, sobretudo, que

viessem ao encontro do SBPJor

para assisti-lo, porque é uma

oportunidade ímpar”, acrescenta.

Estímulo à pesquisa - São es-

perados cerca de 400 congressistas

no 12º Encontro da SBPJor, que

recebeu em torno de 300 trabalhos

inscritos. De acordo com Soster, a

vinda do evento deve estimular os

alunos para apresentar trabalhos

e se envolver mais com a pesquisa

acadêmica. Para o professor, este é

um fator benéfico, já que por muito

tempo a pesquisa foi periférica

nas atividades do Departamento

de Comunicação Social. “Estamos

muito preocupados com a prática

e queremos não só ensino, mas

sim pesquisa de qualidade. Muito

mais que um congresso de

Jornalismo, estamos fazendo um

congresso de pesquisa, focados no

conhecimento”, enfatiza.

Em 2015 um colóquio sobre

midiatização vai ser realizado na

Unisc. Tendo em vista a amplitude

do tema, Soster deseja que Relações

Públicas, Mídia Audiovisual, Publi-

cidade e Fotografia também parti-

cipem. De acordo com o chefe de

departamento, a visão do congresso

é nacional. “A imagem da Unisc hoje

está, literalmente, do tamanho do

Brasil. Isso é bacana de se perceber,

afinal, é fruto de um trabalho que vem

sendo realizado há longo prazo e que

nos últimos anos ganhou intensidade.

A gente, ao fim de tudo isso, quer que

a qualidade do diploma se fortaleça”,

justifica Soster.

CARO

LIN

E FA

GU

ND

ES/A

GÊN

CIA

A4

CARO

LIN

E FA

GU

ND

ES/A

GÊN

CIA

A4

Encontros foram marcados por presença maciça dos participantes

Diversas reuniões foram realizadas para organizar o SBPJOR

Page 6: UNICOM - SBPJor

6

Para o estudioso, os meios impressos

têm um futuro complicado ante seus

homólogos digitais

AUGUSTO DALPIAZ E JONATAN TRINDADE

ENTREVISTA

Você pensa que o jorna-lismo pode ser prejudicado pelas novas transmissões de informação através da internet?

Apesar dos discursos catas-tróficos que estão sendo proli-ferados desde a aparição da internet, a realidade nos demonstra que os cidadãos querem informação. E essa informação, na maioria dos casos, segue facilitando a atuação dos jorna- listas. A invasão de novas formas de comunicar, como as redes sociais, não só não prejudica o jornalismo e os meios como também pode converter-se em aliada, oferecendo novas vias de acesso às informações elaboradas pelos jornalistas profissionais.

Democracia ou falta de bom senso na hora de compartilhar informações na rede?

Deixar de tomar decisões por causa do bom senso pode ser perigoso, visto que se sabe que este é o menos comum dos sentidos. Os cidadãos compartilham aquelas informações que lhes parecem interessantes, úteis ou simplesmente divertidas e engraçadas. É perfeitamente compreensível. Encontramos o problema quando, ao invés de se contribuir para a criação de um espaço comum para o debate e o fortalecimento da democracia, o lugar onde se pode compartilhar ou comentar informações se transforma em um ambiente utilizado para menosprezar aos que oferecem pontos de vista distintos, renunciando ao diálogo e o debate baseado em argumentos.

No dia 6 de novembro, a

abertura do 12º Encontro

da Associação Brasileira

de Pesquisadores em Jornalismo

(SBPJor), o maior congresso

jornalístico do país, ficará a

cargo não de um brasileiro, mas

de um espanhol: Pere Masip. O

tema abordado pelo professor

da Universidade Ramon Llull, na

Espanha, será Audiencias activas y periodismo: ¿Ciudadanos implicados o consumidores motivados?. Na

palestra, juntamente com outra

atração estrangeira, Palomo Torres,

da Universidade de Málaga, ele

debaterá o papel das tecnologias

interativas e sua aplicação na produ-

ção de conteúdo midiático e na

promoção dos valores da democracia.

Masip é coordenador do projeto

‘Audiencias activas y periodismo’ e

concedeu uma entrevista exclusiva

ao jornal Unicom. Ele aponta que

“é legítimo que os meios tenham

uma determinada ideologia, mas

uma tendência política não justifica

a manipulação e a distorção da

realidade”. Para o professor, “o

pecado original dos meios de

comunicação tradicionais é ter que

buscar, gratuitamente na internet,

a mesma informação que era paga

no meio impresso. Talvez ali tenha

começado o princípio do fim”.

O pesquisador possui uma ex-

tensa lista de artigos, monografias e

participações em congressos, dentre

eles: Presencia y OSU de internet en las redacciones Catalanas (2002),

Internet uma les redaccions: Informació Diaria i rutines periodístiques (2008),

Modelos de convergência de negócios na indústria da informação: Um mapeamento de casos em Espanha e no Brasil (2009). Confira na íntegra

as reflexões de Masip sobre as novas

mídias dentro do jornalismo.

As novas tecnologias, por Pere Masip

Page 7: UNICOM - SBPJor

7

Você acredita que o avanço tecnológico pode acabar com as mídias tradicionais?

Como apontávamos anterior-mente, os cidadãos querem informação e essa informação provém fundamentalmente dos meios tradicionais. Natural-mente, os meios impressos têm um futuro complicado ante seus homólogos digitais. Especialmente se não são capazes de oferecer informação de qualidade, diferenciada da que aparece nas versões digitais de maneira gratuita. Assim sendo, além das inovações tec- nológicas, o futuro dos meios de informação depende da capacidade de oferecer infor-mação de qualidade, pela qual os cidadãos estejam dispostos a pagar.

Essa grande participação dos cidadãos nas redes sociais faz com que as pessoas Wrecebam uma informação de qualidade?

Os estudos que estamos realizando na Espanha nos mostram que a informação que os cidadãos recebem através das redes sociais procede na última instância dos meios de comunicação tradicionais - através de suas edições digitais. Assim, as versões web dos meios tradicionais, basicamente periódicos, são a principal fonte de informação de atualidade dos cidadãos espanhóis. O que muda é a maneira de acessar a essa informação. Os leitores acessam a informação através de buscadores, RSS e redes sociais. Na maioria dos casos são os amigos que facilitam e compartilham ligações às

notícias, mas essas ligações acabam conduzindo a notícias elaboradas por jornalistas profissionais e publicadas em meios tradicionais. É também destacável observar como mais da metade dos usuários do Twitter seguem algum meio de informação nesta rede social, e quase 30% a jornalistas.

A publicidade pode ser maléfica para o jornalismo?

A informação gratuita não existe. Os meios se financiam fundamentalmente pela contri-buição dos leitores que compram os periódicos e a publicidade. É bem conhecido que só através da venda de exemplares os periódicos não são economicamente viá-veis, por isso a publicidade é imprescindível para a sobrevivência dos meios de comunicação. Assim, por si só, a publicidade não é ruim. O problema é quando os anunciantes, especialmente os grandes, são absolutos ou majoritários. Nesses casos, essa dependência resulta pouco compatível com uma informação, como quando as entidades financeiras e redes de poder se instauram nesses conselhos de administração dos grupos midiáticos ou da dependência política desses grupos.

Como você vê a entrada do entretenimento no jornalismo?

A irrupção do entretenimento no jornalismo não é nova nem própria da internet. Na televisão, está plenamente consolidada faz muitas décadas. A questão fundamental é a necessidade que têm os meios de captar a atenção dos leitores. Nessa luta pela audiência, graças à informação disponível através da web, os

meios sabem perfeitamente que seus conteúdos são do gosto e atraem as pessoas. Nessa circunstância, os meios enfrentam um dilema entre a lógica jornalística e a lógica empresarial. Um equilíbrio ins-tável entre oferecer aqueles conteúdos que acreditam que são importantes para os cida-

As novas tecnologias, por Pere Masip

DIV

ULG

AÇÃO

/AC

ERVO

PES

SO

AL

Pere Masip: “o futuro dos meios depende da capacidade de oferecer informação de qualidade”

dãos e aqueles que sabem que satisfazem os interesses da audiência, ainda que não sejam relevantes. Em outras palavras, um equilíbrio entre o interesse público e o interesse do público. Quando esse equilíbrio significa optar pela segunda função, o jornalismo de serviço público é dilacerado.

Page 8: UNICOM - SBPJor

8

Durante o nono encontro realizado

pela Associação Brasileira de

Pesquisadores em Jornalismo

(SBPJor), no Rio de Janeiro, Marcia

Veiga recebeu a placa alusiva à melhor

dissertação de mestrado. Marcia con-

quistou o Prêmio Adelmo Genro Filho

(PAGF) em sua categoria no ano de

2011. Para a aluna do Programa de

Pós-Graduação em Comunicação e

Informação (PPGCOM/UFRGS) a

distinção com o PAGF foi decorrência

do esforço de pesquisar. “O PAGF da

SBPJor representa, por si só, uma

importante iniciativa de reconhecimento

das pesquisas desenvolvidas no campo

do Jornalismo em nosso país”, salienta.

A autora da dissertação com o título

Masculino, o gênero do jornalismo: um

estudo sobre o modo de produção das

notícias classifica como incentivadora a

premiação.

Em entrevista ao jornal Unicom,

Marcia revela suas motivações para

imersão na pesquisa. Na 12ª edição

do encontro da SBPJor, lança o livro

Masculino, o gênero do jornalismo:

modos de produção das notícias

(Insular, 2014). A publicação é

resultante do trabalho premiado, que

trata das relações entre os valores

dos jornalistas, a escolha das pautas

e a construção das notícias a partir

da concepção de gênero. “Costumo

pensar que um ingrediente importante

para a pesquisa é ter uma curiosidade

genuína, questões que se queira

realmente compreender”. Esta é uma

das ideias que o leitor encontra na

entrevista com a autora da obra.

Doutoranda na UFRGS, Marcia

Veiga, vencedora da categoria dissertação

do PAGF em 2011, lança livro de sua

pesquisa no mestrado

JOÃO JUNQUEIRAENTREVISTA

Vencedora de prêmio detalha trajetória na pesquisaO que despertou sua aten-

ção em pesquisar?As inquietações que me levam

à pesquisa originaram-se em meu percurso de vida pessoal e profissional que, a partir de uma visão de mundo e de vivências empíricas, transformaram-se no intento de compreender algumas facetas da sociedade através da ciência. Desde muito cedo, empiricamente, tomei contato com algumas violações de direto que, quando já adulta, serviram como mola motora de meus valores, minha ideologia e, por certo, das escolhas militantes, profissionais e educacionais que se sucederam a partir delas. No ano 2000, tive a oportunidade de exercitar minha militância social, concomitante com minha dupla formação, universitária e política. Essa dupla formação, a incursão nesses dois lugares, transformou meu olhar sobre o mundo. Mais do que isso, impulsionou-me a seguir adiante, buscando na pesquisa um lugar para continuar pensando e compartilhando minhas inquietações.

Como entrou na área de pesquisa?

Oriunda de escolas públicas, experiência da qual resultaram algumas de minhas grandes inquie-tações sobre ensino e aprendizagem, em 1993 iniciei minha graduação em Comunicação Social na Univer-sidade Luterana do Brasil. Era eu a primeira, de minha família de origem, a ingressar no ensino superior. Entretanto, por ocasião da gravidez de minha única filha, cursei apenas um semestre e tive que adiar por sete anos esta experiência tão ansiada. Somente em 2000 retomei meus estudos no curso de Jornalismo naquela universidade. Juntamente com minha formação na universidade, atuei na assessoria de imprensa de ONGs e de Grupos de Pesquisa. Nessas experiências de trabalho, como uma das práticas da profissão, encontrei caminhos

para pensar não só jornalismo, mas também novos conceitos e formas de enxergar a realidade. Para propor aos jornalistas ideias não usualmente circulantes no senso comum, como as que eram pautadas pelas instituições assessoradas, precisei estudá-las e melhor conhecê-las, traduzi-las e mediá-las.

Jornalismo sempre foi seu objetivo na graduação?

Não. Meu primeiro ingresso na universidade, em 1993, foi para cursar Publicidade e Propaganda. Quando retornei à universidade, 7 anos depois, já estava decidida a mudar de curso para o Jornalismo. Mais amadurecida, encontrei tam-bém no regresso à universidade uma nova forma de pensar não apenas minha vida profissional, mas também a pensar sobre as formas como podemos conhecer aspectos da realidade que nos envolvem direta ou indiretamente. E o Jornalismo passou a me instigar ainda mais, em função de suas características peculiares, pela “vontade de verdade” com que partilha conhecimentos acerca da sociedade.

Qual sua atuação profis-sional hoje em dia?

Estou no último ano do doutora-do, escrevendo minha tese. Nesses quatro anos de doutoramento, me dediquei exclusivamente à pesquisa e à docência, esta última ainda que em forma de estágio dentro da própria UFRGS, foi uma experiência muito desejada e enriquecedora. Tive a oportunidade de aprender um pouco sobre essa profissão – a docência – através da orientação e co-orientação de alunos, minis-trando disciplinas. Inclusive uma destas disciplinas sobre Comu-nicação, gênero e sexualidade, meus temas de pesquisa, que com muita alegria pude perceber que são de grande interesse por

Page 9: UNICOM - SBPJor

9

Vencedora de prêmio detalha trajetória na pesquisaparte dos alunos e que sem dúvida fazem parte dos temas cotidianos que tanto se discute e pauta no jornalismo. Nesses anos, também fui convidada a participar das aulas de professores de comunicação de outras universidades, como a Unisc, oferecendo atividades de sensibilização sobre as temáticas a que me dedico a estudar (comunicação, jornalismo, gênero, cultura, sexualidade, diferença) numa interlocução que foi de extrema aprendizagem pra mim.

Na sua avaliação, qual a importância de pesquisar?

A pesquisa é uma das formas com que se pode ter a oportunidade de conhecer, a partir de uma mirada diferente, questões que muitas vezes nos afligem ou nos tocam diretamente, seja na profissão, seja no assujeitamento social a que estamos colocados pelas normas e comportamentos sociais exigidos, seja no cotidiano das práticas (profissionais ou sociais) que, via de regra, não nos debruçamos a refletir. Seja qual for a motivação de pesquisar, entendo como um processo de aprendizagem e de construção do conhecimento extre- mamente importante, e que pode nos ajudar a compreender e a melhor contribuir com a sociedade na qual vivemos, seja porque nossas pesquisas podem ajudar nessas compreensões (e até mes- mo transformações), seja porque nós, como pesquisadores e pesqui- sadoras, sempre saímos trans-formados depois de imersões tão grandiosas nestas formas de conhecer.

Como chegou ao assunto da sua dissertação?

As experiências de quase uma década atuando como jornalista e envolvida com as temáticas de gênero, sexualidade, classe, raça e educação deram os contornos do interesse de pesquisar as

relações entre Jornalismo e Cultura, em especial nos processos de normalização social. Minha pesquisa no mestrado foi o primeiro exercício de reflexão metódica, cujo objetivo era investigar quais seriam as concepções de gênero dos jornalistas, a fim de entender em que medida participavam dos processos de produção das notícias e na reprodução ou ressignificação da heteronormatividade. Assim desenvolvi um estudo de news-making, ao longo de três meses junto a redação de um programa tele jornalístico em uma grande emissora, inspirada no método etnográfico, com observação participante e descrição densa, no acompanhamento das rotinas produtivas. Observando a atuação dos jornalistas no âmbito do mercado, entendi que os valores culturais hegemônicos eram constitutivos das lentes pelas quais esses profissionais apreendiam

a realidade e narravam o Outro. Tratava-se daqueles conhecimentos tidos como não questionáveis, tomados de antemão a partir daquilo que mais predominantemente se compreende na cultura sobre as normas que nos assujeitam. Esse processo ocorria sem que os próprios jornalistas parecessem ter consciência de que acionavam esses valores em suas escolhas.

Quais foram as respostas após o período de observação?

Compreendi que não apenas as concepções hegemônicas de gênero, mas os demais marcadores sociais, se imiscuíam nas relações de poder, de produção do saber sobre a realidade, em sintonia com as hierarquias, valores e relações sociais dominantes que eram parte das visões de mundo dos jornalistas, acionadas na cultura profissional e em tomadas de decisão. O jornalismo foi entendido como

masculino, com práticas e saberes masculinistas, em intersecção com outros marcadores de diferença que perpassam as relações e os modos de compreender a realidade e o Outro. A pesquisa resultou na dissertação “Masculino, o gênero do jornalismo: um estudo sobre o modo de produção das notícias”, que recebeu o Prêmio Adelmo Genro Filho da SBPJor, na categoria melhor dissertação de mestrado, no ano 2011. E com muita alegria, essa dissertação está sendo publicada pela Editora Insular como 8º Volume da Série Jornalismo a rigor, e será lançada na próxima SBPJor, na Unisc, em Santa Cruz do Sul. Tanto o prêmio quanto a publicação da dissertação em livro significam a possibilidade de seguir dialogando, refletindo, um processo que não se encerra com o término de uma pesquisa, mas precisa ser constantemente discutido, refletido e repensado.

Marcia Veiga reproduz, em livro a ser lançado no 12º SBPJor, o trabalho premiado em 2011

DIV

ULG

AÇÃO

/BER

NA

RD

O J

AR

DIM

RIB

EIR

O

Page 10: UNICOM - SBPJor

10

A facilidade de acesso às infor-

mações vivenciada nos últimos

tempos tornou obsoleto o ensino

tradicional fundamentado apenas

na comunicação oral. Além disso, é

inviável, em muitas disciplinas, o

professor conseguir apresentar todo

o conteúdo no tempo que lhe é dispo-

nível. Porém, o conhecimento não se

configura como um processo com

ponto final. É justamente por meio

da necessidade de descobrimento

que o aluno vai buscar alicerces para

solidificar suas ideias. Isto é, além

daquilo que recebe em sala de aula,

o estudante deve procurar se inserir

nas áreas de seu interesse, mesmo

que desconhecidas. A partir do

estranhamento, o acadêmico precisa

buscar, por meio da investigação, as

respostas para suas indagações.

Conforme a professora do Curso

de Comunicação Social da Univer-

sidade de Santa Cruz do Sul (Unisc)

e também organizadora deste ano

do Encontro Nacional de Jovens

Pesquisadores em Jornalismo (JPJor)

deste ano, Angela Felippi, uma for-

mação universitária não se limita

apenas à sala de aula, ela é composta

por ensino, pesquisa e extensão. A

iniciação científica pode ser incentivada

dentro das próprias disciplinas mais

teóricas que demandem uma produção

mais densa, acredita Angela, e a

realização do congresso na Unisc já se

caracteriza como fator motivador para

o estudante se inserir na área. “Essa

é a ideia do congresso, oportunizar

essa experiência para o nosso aluno

e para os demais, de poderem ver

as discussões de ideias e produções

científicas, esse momento rico tem que

fazer parte de um estudante de ensino

superior”, afirma.

Sediar um evento do nível do

SBPJor na universidade santa-

cruzense, segundo a professora,

vai colaborar para a criação de

uma cultura comportamental

nos estudantes em se inte-

ressarem pela investigação

científica e pelos eventos,

para que eles conheçam e

se motivem a participar em

outras instituições.

Formar alunos como sim-

ples receptores de informação

não é a maneira mais eficaz

de promover a pesquisa,

nem mesmo a sociedade em

que estamos inseridos. A

universidade tem o objetivo

de fornecer o conhecimento

e preparar profissionais

qualificados a fazerem

uso efetivo dele. Por

isso, a participação em

atividades científicas ex-

traclasse se torna forte

aliada no processo de

formação destes acadê-

micos. Dessa forma, a

inserção do graduando

em grupos e projetos de

pesquisa ao longo de seus

estudos irá colaborar para aperfeiçoar

as habilidades mais exigidas em

profissionais com nível superior

completo, bem como instigar e auxiliar

outros jovens estudantes que querem

se inserir na área.

Para Angela, a formação intelectual

teórica do estudante vai fazer com

que ele seja um profissional muito

mais crítico, maduro, reflexivo e bem

preparado para fazer o que deve fazer.

“A pesquisa se torna algo não apenas

essencial para o ambiente científico,

ela colabora para formar profissionais

de mercado com muito mais

embasamento intelectual para poder

trabalhar, ainda mais no jornalismo que

a matéria é o conhecimento”, garante.

A professora do Curso de

Comunicação Social da Unisc, Fabiana

Piccinin confirma que não existe outra

maneira de pensar na qualificação do

jornalismo, que não seja através da

reflexão oportunizada pela investigação

científica. “A reflexão sobre o ‘fazer’

permite avançar o processo que

qualifica a prática jornalística.” A

iniciação científica oportuniza ao aluno

de graduação manifestar a vontade

para a área e, assim, aprimorar seu

espírito crítico e questionador, além de

servir como ferramenta de aprendizado

e agente de fomento à influência mútua

entre o estudante, a universidade e a

comunidade.

A pesquisa potencializa as

oportunidades do estudante de

graduação se adentrar no âmbito da

ciência e é durante essa iniciação

que o mesmo pode avaliar técnicas e

investigar teorias estudadas em sala

de aula, expandir e experimentar seu

leque de conhecimentos. Através dela,

o jovem investigador pode descobrir

fatos que anteriormente estavam

obscuros, assim como aperfeiçoar

suas aptidões intelectuais e facilitar seu

seguimento nos passos posteriores à

graduação.

Diversas modalidades já inseridas

em eventos jornalísticos propiciam

que o jovem pesquisador inicie as

atividades rotineiras da busca pelo

saber. Fabiana, que coordena o

grupo Narrativas Audiovisuais e a

Investigação permite ao estudante

descobrir perspectivas teóricas e expandir o

conhecimento

LUÍS GUSTAVO FINGER E LUÍSA ZIEMANN

REPORTAGEM

Desenvolvimento intelectual já na academia

Page 11: UNICOM - SBPJor

11

Autenticação do Real no Mestrado

em Letras da Unisc, admite perceber

diferença de rendimento e qualidade no

acadêmico após inserir-se no ambiente

cientifico. “A gente vê nitidamente um

olhar muito mais maduro dos alunos

que estão dentro da iniciação científica

no que se refere a olhar para as teorias,

para as técnicas, de refletir sobre os

conteúdos e na própria redação, que

se torna muito mais densa, muito mais

aprofundada pelo fato de conhecer a

largura das perspectivas teóricas e de

saber mais sobre as escolas teóricas.”

A pesquisa e a inserção do

estudante na iniciação científica fazem

parte da evolução e da valorização

da atividade. O compartilhamento do

conhecimento e a oportunidade de

apresentar o seu trabalho aos demais,

bem como a discussão do problema

expressa significante subsídio à

formação do acadêmico.

“Eu escolhi pesquisar”

Um dos deveres da academia é

mostrar as possibilidades profissionais

para os estudantes. Afora o mercado

jornalístico, que diz respeito às

redações de jornais, emissoras de

televisão e rádio e agências de notícias,

seguir estudando também é possível.

Para isso, o jornalista deve se dedicar

à pesquisa científica. Um trabalho que

envolve centenas de livros, muita leitura

e horas em frente ao computador ou na

biblioteca. Sem a pressão do deadline, mas com a pressão da descoberta,

foram nas monografias, teses e

dissertações que muitos jornalistas se

encontraram profissionalmente.

No caso de Maicon Elias Kroth,

que hoje é professor universitário, o

interesse pela investigação científica

se manifestou já no início da faculdade

de Jornalismo, cursada na Unisc. No

entanto, apenas nos últimos semestres

do curso ele começou a desenvolver

trabalhos na área. “Desde o primeiro

semestre eu atuei como repórter em

jornais e rádios da região. A experiência

radiofônica ganhou preferência quando

tive a oportunidade de produzir o meu

próprio programa”, lembra.

Desenvolvimento intelectual já na academiaO professor explica que foram

os modos de produção e suas

especificidades que o levaram a

observar com mais acuidade as rotinas

de trabalho de diversas emissoras e a

se dedicar à pesquisa. “Na emissora

onde trabalhei em Venâncio Aires, um

programa em especial me despertou

atenção. Tratava-se de uma proposta

de auditório itinerante. Foi então que

iniciei, ainda no sétimo semestre,

uma espécie de pré-observação do

programa. Este programa acabou se

tornando o objeto de estudos de meu

trabalho de conclusão de curso.”

Kroth, que concluiu a graduação

em 2002, realizou um estudo de

recepção orientado pelo professor

Hélio Afonso Etges, seu principal

incentivador durante a faculdade.

“Sua influência foi tão importante,

que despertou a vontade de continuar

investigando fenômenos midiáticos, em

especial os radiofônicos”, lembra. E,

por isso, foi também com o auxílio de

Etges que Kroth organizou mais uma

pesquisa para o mestrado na Pontifícia

Universidade Católica do Rio Grande

do Sul (PUC-RS), desta vez sobre as

práticas radiofônicas e as gramáticas

de produção. No doutorado, o rádio

continuou sendo seu objeto de estudo.

Estímulo - O apoio que recebeu

de seu orientador foi fundamental

para que o interesse em investigar

aumentasse. “Vejo que as univer-

sidades têm apoiado cada vez mais

a pesquisa. O interesse por parte

dos estudantes também aumentou.”

Kroth, que escolheu deixar de lado o

mercado jornalístico e seguir sua vida

profissional na academia, salienta que

as atividades se diferem na mesma

medida em que se complementam. “Os

avanços da pesquisa científica podem

apontar caminhos interessantes para

a otimização das práticas jornalísticas

desenvolvidas no mercado”, explica.

“E, no mercado, isto qualifica a

produção dos textos, respaldando todo

o processo de apuração, produção e

edição dos mesmos.”

A opinião é compartilhada por

Patrícia Regina Schuster, formada desde

2007, também pela Unisc. “Pesquisar é

ler, reler, vasculhar, revirar, procurar. É

entender porque as coisas são como

são. Foi graças à a este processo que

eu descobri coisas acerca da nossa

profissão que jamais o ritmo frenético

das redações, com suas obrigações

editoriais, me proporcionaria.” Segundo

a jornalista, ainda durante a realização

da monografia ela descobriu este

caminho como algo muito prazeroso.

“Fiquei empolgada com o processo de

“sujar as mãos” que a pesquisa naquele

momento já me proporcionou”, diz.

Isso porque Patrícia literalmente

sujou as mãos. Durante a monografia, a

jornalista estudou discurso jornalístico

e política. Ela analisou matérias das

editorias de política e economia

publicadas pelo jornal santa-cruzense,

Gazeta do Sul, durante o primeiro ano

de governo do general Médici, em

1969. Para realizar o trabalho, precisou

buscar o conteúdo nos arquivos físicos

do jornal – empoeirados, mas um prato

cheio para a análise.

Da mesma forma que Kroth, o

interesse cresceu e Patrícia decidiu

continuar no âmbito acadêmico.

“No mestrado em Desenvolvimento

Regional, desenvolvi uma pesquisa

exaustiva, já que o tema da dissertação

era movimento grevista da década de

1980”, recorda. “Novamente analisei

arquivos da Gazeta do Sul e, mesmo

em meio a dezenas de crises alérgicas

provocadas pela imensidão de ácaros

presentes naqueles documentos

velhos, eu segui motivada para ir

adiante.” Hoje, a jornalista cursa o

doutorado em Comunicação Midiática

na Universidade Federal de Santa

Maria (UFSM). “Descobri que isso

poderia ser a porta de entrada para

a sala de aula. Não deixaria de ser

jornalista, mas, assim, associaria o

ensinar a minha trajetória.”

Inspiração - Kroth e Patrícia são

exemplos para Bianca Cardoso que,

ainda na faculdade, já traçou alguns

planos. “A bolsa de iniciação científica,

da qual participo, revolucionou

completamente a minha escrita,

as minhas leituras e, sobretudo, as

minhas perspectivas em relação ao

futuro”, diz. “Nela, vi a possibilidade

de seguir estudando.” A acadêmica

de Jornalismo da Unisc, que se dedica

há cerca de um ano e meio à pesquisa

na área de narrativas e literatura,

garante que, hoje, suas observações

em relação à academia são outras. “O

que mais mudou foi meu olhar diante

da graduação e do que quero fazer

depois dela. Agora vejo como posso

ir longe. Pretendo fazer um mestrado

em Letras e depois, quem sabe, um

doutorado, algo que eu não pensava

antes, pois parecia estar muito longe

da minha realidade.”

Bianca, porém, acredita que deve

existir mais incentivo ao ambiente da

investigação no curso de Jornalismo.

“A culpa não é só dos professores, mas

sim do sistema, que forma o aluno para

sair da graduação e ir direto para o

mercado”, salienta. “Mas muito mais do

que incentivo, o estudante precisa ter

algum contato com o texto científico já

durante a graduação, uma vez que ele é

fortemente utilizado na monografia, por

exemplo.” Para a acadêmica, a solução

seria inserir disciplinas relativas à área

na grade curricular do curso. “Seria uma

ótima maneira de familiarizar o aluno

com a pesquisa e também de mostrar

que ele pode, sim, seguir estudando, que

isso não é algo inalcançável.”

VAN

IA S

OAR

ES/A

GÊN

CIA

A4

Angela acredita que a pesquisa pode ser incentivada dentro das próprias disciplinas teóricas

Page 12: UNICOM - SBPJor

12

As participações estrangeiras

no Encontro da Associação

Brasileira de Pesquisadores

em Jornalismo, (SBPJor) contabilizam

nomes de peso na pesquisa em

âmbito internacionail. Ainda assim, a

tendência internacional dava indícios

de que iria se fortificar. A segunda

edição do SBPJor, realizado em

Salvador, na Bahia, contou com a

aprovação de artigos de três países

do exterior para serem exibidos

no congresso: Portugal, França e

México. Já de início era possível

perceber a tendência do evento em

conciliar conhecimentos nativos a

novas ideias e linhas de pesquisa

estrangeiras.

A relação da entidade com

pesquisadores de fora do Brasil

acontece de duas formas. Uma é a

de congressistas que frequentam o

encontro, geralmente oriundos de

Portugal e da América Latina. Essa

participação é muito interessante para

perceber similaridades e diferenças

em relação às pesquisas produzidas

aqui e o que é feito em outros lugares,

por meio da apresentação dos

trabalhos destes pesquisadores em

nossos congressos. A segunda são

os pesquisadores que são convidados

pela SBPJor para proferir conferência

de abertura ou participar de mesas

temáticas. Isso é estimulado pela

direção da entidade, por entender

que, assim, os brasileiros conectam-

se com as tendências de temas

de pesquisa e abordagens que se

produzem no mundo.

Para os eventos, nomes

com destaque internacional são

procurados. Além do assunto da

pesquisa dos possíveis convidados

ser muito analisado pelo viés

metodológico que empregam, a

importância teórico-conceitual de

seus trabalhos também é considerada.

No caso de conferencistas, é

selecionado e convidado alguém que

tenha relação com o tema principal

do evento. Geralmente é a diretoria

quem os procura e confere a relação

que todos devem ter com o que se

pretende enfocar no encontro.

Foi no terceiro encontro da SBPJor,

ocorrido na Universidade Federal de

Santa Catarina, em Florianópolis,

que as relações com os estudos

internacionais se consolidaram:

pesquisadores de fora do país

vieram ao Brasil para participar

das discussões pela segunda vez. A

conferência de abertura desta edição

contou com três nomes conceituados

no mundo da pesquisa em jornalismo:

Nelson Traquina, de Portugal,

Thomas Hanitszch, da Alemanha e

Javier Diaz Noci, do País Basco, na

Espanha.

Segundo a presidente da SBPJor

na gestão 2013-2015, Cláudia Lago,

esse intercâmbio é fundamental

em dois sentidos. Em um deles,

os pesquisadores brasileiros

têm a oportunidade de conhecer

ou aprofundar o conhecimento

sobre o que são as pesquisas e

os interesses de pesquisa que

existem mundialmente. Em outro,

os pesquisadores estrangeiros têm

a oportunidade de conhecer aquilo

que é pensado e pesquisado no

Brasil – “e isso com certeza, auxilia

na propagação da nossa pesquisa lá

fora”, assinala.

Após a primeira aparição

estrangeira nos encontros, tornou-

se tradicional abrir o evento – ou

contar com alguma participação

durante as mesas de discussão

– com pesquisadores de outros

países que pudessem contribuir

para os pensamentos enfatizados

no congresso. Na quarta edição,

realizada em Porto Alegre, na

Universidade Federal do Rio Grande

do Sul, o tema A Pesquisa em Jornalismo e o Interesse Público foi o

norteador da conferência de abertura,

que teve como principal palestrante

o professor Denis Ruellan, da

Universidade de Rennes, na França.

Com relação à língua, Cláudia

considera que “hoje, no mundo, a

língua por assim dizer ‘internacional’,

é o inglês. Mesmo que tenhamos uma

série de justas ressalvas quanto a isso,

o fato é que, se queremos falar com

pesquisadores no mundo, temos que

falar em inglês”. De acordo com

a diretora, um pesquisador

brasileiro que queira

Intercâmbio cultural: a internacionalização do SBPJorEncontro de

pesquisadores em Jornalismo

proporciona troca de estudo e

conhecimentos entre especialistas de diversos países

AUGUSTO DALPIAZE ISADORA TRILHA

REPORTAGEM Portugal

Alemanha

Espanha

Portugal

Alemanha

Page 13: UNICOM - SBPJor

13

Intercâmbio cultural: a internacionalização do SBPJorparticipar de congressos, eventos e

suce-dâneos internacionais, tem de

investir no aprendizado da língua. Mas,

para resolver essa questão, durante

os congressos da SBPJor, um sistema

de tradução simultânea é instalado,

para aqueles que não conseguem

acompanhar as palestras proferidas

em outras línguas.

Registro histórico - Ao longo dos

11 anos de eventos organizados

pela SBPJor, diversos nomes de

relevância no campo da pesquisa

em jornalismo vieram ao

Brasil para proferir

seus resultados e

aliá-los às descobertas brasileiras

em determinadas linhas de estudos.

Já estiveram pelo país professores

como Maxwell McCombs, da

Universidade do Texas (Estados

Unidos); Miquel Rodrigo Alsina,

da Universidad Pompeu Fabra

de Barcelona (Espanha); Silvio

Waisbord, da School of Media and

Public Affairs da George Washington

University; Stuart Allan, da Media

School da Bournemouth University

(Reino Unido); e Ramón Salaverría,

da Universidade de Navarra

(Espanha).

A respeito da qualidade dos

trabalhos conterrâneos, Cláudia

acredita que os artigos brasileiros

possuem o mesmo nível dos

produzidos no exterior. O único

problema que ela enxerga diz

respeito à divulgação das produções

brasileiras. “É preciso conseguir

furar o bloqueio da divulgação no

exterior. E, para isso, precisamos,

entre outras coisas, publicar em

inglês”. Silvio Waisbord, professor

americano que esteve no 6º encontro

nacional, realizado em São Bernardo

Com a consolidação da SBPJor, a associação se tornou apta

a extrapolar as fronteiras nacionais e, a partir disso, participar

da organização de eventos internacionais, que trouxeram à tona

discussões no campo do jornalismo em suas diversas formas de

expressão. Em 2004 foi realizado, nos dias 24 e 25 de novembro em

Salvador, na Bahia, o 5º Congreso Iberoamericano de Periodismo

en Internet, operacionalizado pela Sociedad Iberoamericana de

Acadêmicos, Investigadores y Profesionales del Periodismo en

Internet, com o apoio da SBPJor. Ao longo dos dois dias do congresso,

especialistas de cerca de 20 instituições diferentes participaram

dos debates e da apresentação de trabalhos. Em 2006, de 3 a 5 de

novembro, foi a vez da associação integrar o primeiro Journalism

Brazil Conference, com o tema central Thinking Journalism across

national boundaries que, em tradução livre, significa “Pensando o

jornalismo para além das fronteiras nacionais”.

do Campo, em São Paulo, acredita

que também é necessário estimular

os estudantes desde cedo para a

pesquisa na área do jornalismo.

Para tal, é essencial que eles tenham

contato com assuntos interessantes

e motivadores. “Curiosidade e pen-

samento crítico são a chave para o

sucesso. Isso deve ser usado para

encontrar tópicos que nos permitam

entender melhor a complexidade da

realidade”, define o especialista.

Neste ano, durante a 12ª edição do

Encontro, a tradição do intercâmbio

cultural se confirma ao ter-se, na

conferência de abertura o professor

Pere Masip, da Universidade Ramon

Llull, de Barcelona, na Espanha. O

tema da palestra será Audiencias

activas y periodismo: ¿Ciudadanos

implicados o consumidores moti-

vados?. Além de Masip, Bella

Palomo Torres, da Universidade

de Málaga, na Espanha, participa

do debate sobre o papel das tecno-

logias interativas e a aplicação na

produção de conteúdo midiático e

na promoção dos valores da

democracia.

Para além das fronteiras

Portugal

Alemanha

Espanha

Portugal

Alemanha

Page 14: UNICOM - SBPJor

14

Cada vez mais debatida, a

pesquisa científica jornalís-

tica será reforçada na 12ª

edição do Encontro Nacional da

Associação Brasileira de Pesqui-

sadores em Jornalismo (SBPJor).

Segundo o primeiro presidente da

entidade, Elias Machado, nestes

11 anos de evento, as pesquisas

registram significativos avanços.

Para ele, formado pela Universidade

Federal de Santa Maria (UFSM)

em 1989 e doutor em Jornalismo

pela Universidade Autônoma de

Barcelona (2000), a vinda de

pesquisadores estrangeiros amplia

a qualidade deste congresso e

reforça seu caráter científico.

A primeira edição do encontro da

SBPJor aconteceu na Universidade

de Brasília (UnB), em novembro

de 2003, com a participação de

94 pesquisadores. De acordo com

o Machado, o congresso só foi

realizado graças ao esforço de

professores da UnB, como Luiz

Gonzaga Motta, Dione Moura, Zelia

Adghirni, Kenia Maia, Luiz Martins,

e dos demais membros do Comitê

Organizador. “Cada um fez a sua

parte para que o evento fosse um

sucesso, com uma participação

muito acima da esperada, com tão

pouco tempo de organização e

divulgação”. Agora, o ex-presidente,

com mandatos entre 2003 e 2007,

considera ter chegado o momento

de definir projetos estratégicos

para os próximos 10 anos. Confira

a entrevista que Machado concedeu

ao jornal Unicom.

Elias Machado fala sobre o

desenvolvimento dos estudos de jornalismo

no Brasil e sua trajetória a partir da

SBPJor

VANIA SOARESENTREVISTA

Entidade constrói caminho da pesquisa no jornalismo Como foi o processo para

fundar a Sociedade Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo e de pensar o encontro anual?

O processo representou um acúmulo de relações de traba-lho de pesquisa e entre os pesquisadores que remonta à fundação da revista Cadernos de Jornalismo e Editoração no Departamento de Jornalismo da USP, em 1982 e a criação do GT de Jornalismo da Intercom em 1993, no congresso da Intercom em Vitória. No mesmo ano lançamos a revista especializada em Jornalismo Pauta Geral, na Universidade Federal da Bahia, editada por mim, que era pesquisador visitante junto ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação e pelo então mestrando Sergio Gadini. Nestes casos contamos com a presença de colegas muito experientes (com doutorado José Marques de Melo, Nilson Lage, Sergio Mattos, Custodio da Silva) e de pesquisadores em formação (mestres ou mestrandos), Elias Machado, Victor Gentilli, Sergio Gadini, Derval Golzio, Gerson Martins, entre outros. Naquele período ainda não contávamos com a quantidade suficiente de doutores para levar adiante a proposta de fundação de uma sociedade científica, tanto que a própria Pauta Geral sofreu descontinuidade entre 1996 e 2000, quando estive afastado do país para meu doutorado na Espanha. Somente dez anos depois conseguimos aglutinar doutores e mestres suficientes para o lançamento oficial da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo. Os contatos começaram no Congresso Luso-Brasileiro de Pesquisadores em Jornalismo, na cidade do Porto, em abril de 2002, organizado pelo professor Jorge Pedro Sousa, da Universidade Fernando Pessoa. Na volta ao

Brasil, três meses depois no congresso da Compós em Recife elegemos um comitê organizador do I Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, previsto para novembro de 2003 na UnB: Alfredo Vizeu (UFPE), Elias Machado (UFBA), Victor Gentilli (Ufes), Zelia Adghirni, Luiz Gonzaga Motta (Unb), Claudia Lago (Anhembi Morumbi), Eduardo Meditsch (UFSC) e Marcia Benetti (UFRGS).

Qual o balanço do primeiro encontro da SBPJor, em 2003?

Muito positivo. Conseguimos mobilizar a comunidade de pesquisadores e sair ao final do evento com uma associação criada e com uma primeira diretoria instituída. Antes do congresso precisamos elaborar estatutos e garantir a sua aprovação na assembleia fundacional da entidade. No começo houve certa resistência das associações mais antigas da área de comunicação, em particular da Compós, porque se tinha o receio de que o nosso movimento representava um perigo de fragmentação do campo comunicacional. A Intercom teve uma participação muito importante, através do apoio do seu presidente, José Marques de Melo, que esteve entre os entusiastas da criação da SBPJor. Dez anos depois conquistamos muitos avanços. Quando da fundação identificamos 48 doutores atuando como pesquisadores. Hoje temos mais de 150 e o número de associados está na casa dos 500. Na época faltava uma identidade nacional para os pesquisadores e um espaço concreto para a produção do conhecimento. Temos muitos desafios pela frente, mas avançamos para a criação de três programas de pós-graduação: dois acadêmicos, um completo na UFSC, com mestrado e doutorado e um de mestrado na UEPG e um

profissional da UFPb. Existem quatro revistas especializadas em funcionamento: Brazilian Journalism Research, da SBPJor, Pauta Geral, agora integrada ao Programa da UEPG, Jornalismo e Mídia, do Posjor da UFSC e Âncora, do Programa de Pós da UFPb, lançada neste ano.

Qual a importância dos encontros anuais da SBPJor para a academia?

Os encontros são importantes por vários motivos. Destaco cinco: 1) O principal é que possibilita dar mais visibilidade para a comunidade de pesquisadores. 2) O segundo aspecto importante é que garante um espaço para que a produção científica da área seja avaliada pelos próprios pares. 3) O terceiro ponto relevante é que estabelece condições para que a produção de livros e papers possa circular mais institucionalmente entre os pesquisadores. 4) O quarto aspecto que julgo decisivo é que permite o reconhecimento da Associação Brasileira de Pesquisadores pelas agências de fomento como Capes e CNPq e pelas entidades congêneres da área de Comunicação e 5) Um quinto ponto é a visibilidade internacional para as pesquisas em Jornalismo, através da participação de pesquisadores de outros países como palestrantes e apresentadores de trabalhos.

Como está a pesquisa em jornalismo nos dias atuais?

A pesquisa em Jornalismo está em fase de consolidação e afirmação de identidade própria. O grande desafio é estabelecer parâmetros institucionais para a pesquisa de alto nível, com-patíveis com o melhor da produção científica em nível internacional. A criação da Brazilian Journalism Research teve este propósito desde o início. Identifico duas fragilidades que

Page 15: UNICOM - SBPJor

15

Entidade constrói caminho da pesquisa no jornalismo precisamos avançar: 1) maior rigor formal e metodológico nas pesquisas, que muitas vezes deixam a desejar neste quesito, comprometendo os resultados finais dos trabalhos e 2) o desenvolvimento institucional da pesquisa aplicada.

O que mudou desde a primeira edição do SBPJor?

Muito. A principal mudança é que hoje temos uma sociedade científica afirmada e consolidada que já organizou 12 congressos nas principais universidades do país. A SBPJor é hoje reconhecida nacional e internacionalmente como uma das associações científicas que mais congrega pesquisadores em único país no mundo. Em dez anos avançamos muito. É, por um lado, motivo de satisfação e alegria. Por outro lado, é motivo para muita responsabilidade. Precisamos estar atentos para identificar nossas fragilidades e, como associação científica e comunidade, tomarmos ações no sentido de aperfeiçoar os níveis da pesquisa desenvolvida e para consolidar o Jornalismo como disciplina científica com status próprio. Como entidade, a participação da SBPJor como associada da SBPC é um passo decisivo nesta direção. O reconhecimento pela Capes e pelo CNPq aponta na mesma direção.

Desde quando existe o prêmio Adelmo Genro Filho?

O Prêmio Adelmo Genro Filho existe desde 2006, tendo sido criado no meu segundo mandato como presidente.

Por que foi criado o PAGF?Criamos o prêmio para

reconhecer os principais trabalhos de pesquisa produzidos pelos pesquisadores da área e para divulgar a produção científica da nossa comunidade científica.

Por que esta homenagem a Adelmo?

A homenagem para o professor Adelmo Genro Filho representa um reconhecimento ao trabalho original que produziu no sentido de legitimar a espe-cificidade do Jornalismo como disciplina científica. Na época foi o nome que conseguiu o maior apoio entre os pesquisadores, mas não foi um nome consensual. Houve pesquisadores que defen-deram nomes como Danton Jobim e Pompeu de Souza. Eu, particularmente, defendi o nome de Adelmo Genro Filho porque considero que, dos pesquisadores brasileiros, é o que contribuiu de forma mais original para definir a especificidade do conhecimento produzido pelo Jornalismo. Os outros tiveram uma contribuição importante seja para a institucio-nalização do ensino, seja para o resgate da história do Jorna-lismo. Mas, Adelmo Genro Filho foi além, apresentando elementos para uma definição do tipo de conhecimento produzido pela prática jornalística, sistematizando contribuições antes apenas in-tuídas por pesquisadores como Tobias Peucer, Octavio de la Suarée, Robert Park e Luiz Beltrão.

Desde a primeira edição houve preocupação e/ou inte- resse em trazer convidados pesquisadores estrangeiros?

Não. Na primeira edição o objetivo principal era fundar uma associação científica. No primeiro congresso – até porque carecíamos de recursos para este fim – não tivemos convidados estrangeiros, mas priorizamos a organização da nossa entidade. Somente a partir do segundo congresso em 2004, em Salvador, na Facom/UFBA é que passamos a contar com a participação de convidados estrangeiros como forma aumentar a internacionalização da pesquisa em Jornalismo.

Passados onze encontros, o senhor acredita que o evento está firmado no calendário da comunicação?

Não tenho a menor dúvida. O congresso da SBPJor é um dos mais importantes no país na área de comunicação. Tanto pela quantidade quanto pela qualidade dos trabalhos apresentados. É reconhecido pelas agências nacionais de fomento como Capes e CNPq e já foi organizado com o apoio das mais importantes universidades do país.

Qual a tendência do SBPJor

para os próximos anos?A tendência do congresso é

definida em termos gerais pela comunidade científica e pela ação indutora da direção da entidade. Passados dez anos, penso que está na hora da SBPJor traçar um projeto estratégico

para os próximos dez anos. Quando lançamos a entidade em 2003 tínhamos um projeto estratégico que incluía várias ações: 1) criação e consolidação da SBPJor, 2) lançamento de uma revista científica em inglês, 3) criação do Prêmio Adelmo Genro Filho, 4) realização dos congressos anuais, 5) divulgação internacional da pesquisa em Jornalismo, 5) legitimação peran-te as agências de fomento como Capes e CNPq, 6) fortalecimento da área de comunicação a partir do reconhecimento da sua diversidade, 7) criação da pós-graduação específica em Jornalismo, 8) contribuição para a melhor institucionalização da área de Comunicação com a criação da Socicom, 9) Criação de uma coleção de Livros e 10) criação de redes de pesquisa.

DIV

ULG

AÇÃO

/AC

ERVO

ENPJ

Elias Machado: “A SBPJor é hoje reconhecida nacional e internacionalmente como uma das associações científicas que mais congrega pesquisadores em único país no mundo”

Page 16: UNICOM - SBPJor

16