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    FUNDAMENTOS HISTRICOS

    E FILOSFICOS DA EDUCAO

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    CURSOS DE GRADUAO - EAD

    Fundamentos Histricos e Filoscos da Educao Prof. Dr. Stefan Vassilev Krastanov

    e Prof. Ms. Rubens Arantes Corra.

    Stefan Vassilev Krastanov autor do livro Nietzsche: pathosarscoversusconscincia moral. professor adjunto de losoada Universidade Federal de Mato Grosso do Sul UFMS. Possuidoutorado em Filosoa pela Universidade Federal de So Carlos

    UFSCar. Alm disso, graduado, ps-graduado e mestre emFilosoa pela Universidade de Soa, na Bulgria. Desde o ano de

    2002, atua como professor universitrio, principalmente nas reasda Histria da Filosoa, Estca e Metasica, alm de ser autorde vrios materiais para cursos de graduao na modalidade EaD.

    E-mail: [email protected]

    Meu nome Rubens Arantes Corra. Sou licenciado em Histriapela Universidade Estadual Paulista e mestre em Cincias Sociaispela Universidade Federal de So Carlos. Sou professor do CentroUniversitrio Clareano desde 2000 e autor da obra O pensamento

    polco de Raul Pompia(publicada pela editora E Libris, em 2008).

    E-mail: [email protected]

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    FUNDAMENTOS HISTRICOS

    E FILOSFICOS DA EDUCAO

    Prof. Dr. Stefan Vassilev Krastanov

    Prof. Ms. Rubens Arantes Corra

    Caderno de Referncia de Contedo

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    Ao Educacional Clareana, 2011 Batatais (SP)Trabalh realizad pel Centr Uniersitri Clarean de Batatais (SP)

    Cursos: GraduaoDisciplina: Fundamentos Histricos e Filoscos da Educao

    Verso: jul./2013

    Reitor: Prof. Dr. Pe. Srgio Ibanor Piva

    Vice-Reitor: Prof. Ms. Pe. Jos Paulo Ga

    Pr-Reitr Administra: Pe. Luiz Claudemir Boeon

    Pr-Reitor de Extenso e Ao Comunitria: Prof. Ms. Pe. Jos Paulo Ga

    Pr-Reitor Acadmico: Prof. Ms. Lus Cludio de Almeida

    Coordenador Geral de EAD: Prof. Ms. Areres Estevo Romeiro

    Crdenadr de Material Didc Mediacinal:J. Alves

    Corpo Tcnico Editorial do Material Didtico Mediacional

    Prepara

    Aline de Ftima Guedes

    Camila Maria Nardi Matos

    Carolina de Andrade Baviera

    Ca Aparecida Ribeiro

    Dandara Louise Vieira Matavelli

    Elaine Aparecida de Lima Moraes

    Josiane Marchiori Marns

    Lidiane Maria Magalini

    Luciana A. Mani Adami

    Luciana dos Santos Sanana de Melo

    Luis Henrique de Souza

    Patrcia Alves Veronez Montera

    Rita Cristina Bartolomeu

    Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli

    Simone Rodrigues de Oliveira

    Reviso

    Felipe Aleio

    Rodrigo Ferreira Daverni

    Talita Cristina Bartolomeu

    Vanessa Vergani Machado

    Pret grfic, diagrama e capa

    Eduardo de Oliveira Azevedo

    Joice Cristina Micai

    Lcia Maria de Sousa Ferro

    Luis Antnio Guimares Toloi

    Raphael Fantacini de Oliveira

    Tamires Botta Muraami de Souza

    Wagner Segato dos Santos

    Todos os direitos reservados. proibida a reproduo, a transmisso total ou parcial por qualquer

    forma e/ou qualquer meio (eletrnico ou mecnico, incluindo fotocpia, gravao e distribuio na

    web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permisso por escrito do

    autor e da Ao Educacional Claretiana.

    Centro Universitrio ClaretianoRua Dom Bosco, 466 - Bairro: Castelo Batatais SP CEP 14.300-000

    [email protected]

    Fone: (16) 3660-1777 Fa: (16) 3660-1780 0800 941 0006

    www.claretiano.edu.br

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    SUMRIO

    CADERNO DE REFERNCIA DE CONTEDO

    1 INTRODUO ................................................................................................... 72 ORIENTAES PARA O ESTUDO DA DISCIPLINA............................................ 93 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS...................................................................... 32

    UNIDADE 1 A EDUCAO NO MUNDO ANTIGO

    1 OBJETIVOS........................................................................................................ 332 CONTEDOS..................................................................................................... 333 ORIENTAES PARA O ESTUDO DA UNIDADE............................................... 344 INTRODUO UNIDADE............................................................................... 34

    5 EDUCAO NO EGITO ANTIGO ...................................................................... 356 EDUCAO NA GRCIA ANTIGA..................................................................... 387 EDUCAO NA POCA DO HELENISMO......................................................... 558 EDUCAO ROMANA....................................................................................... 579 QUESTES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 5910 CONSIDERAES.............................................................................................. 6111 EREFERNCIAS................................................................................................ 6212 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS...................................................................... 62

    UNIDADE 2 EDUCAO NA IDADE MDIA

    1 OBJETIVOS........................................................................................................ 632 CONTEDOS..................................................................................................... 633 ORIENTAES PARA O ESTUDO DA UNIDADE .............................................. 644 INTRODUO UNIDADE............................................................................... 655 CRISTIANISMO E O NOVO MODELO PEDAGGICO ...................................... 666 ALTA IDADE MDIA: EDUCAO NA SOCIEDADE FEUDAL............................ 777 BAIxA IDADE MDIA: EDUCAO NA ESCOLSTICA..................................... 798 QUESTES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 87

    9 CONSIDERAES.............................................................................................. 8810 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS...................................................................... 89

    UNIDADE 3 EDUCAO NA MODERNIDADE

    1 OBJETIVOS........................................................................................................ 912 CONTEDOS..................................................................................................... 913 ORIENTAES PARA O ESTUDO DA UNIDADE............................................... 924 INTRODUO UNIDADE............................................................................... 94

    5 POCA MODERNA: TRAOS GERAIS............................................................... 956 RENASCIMENTO............................................................................................... 977 REFORMISMO RELIGIOSO E EDUCAO........................................................ 101

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    8 A EDUCAO NA MODERNIDADE................................................................... 107

    9 PROPOSTAS PEDAGGICAS DO ILUMINISMO .............................................. 11410 EDUCAO PRUSSIANA: TENDNCIAS IDEOLGICAS.................................. 12811 QUESTES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 13212 CONSIDERAES.............................................................................................. 13413 EREFERNCIA.................................................................................................. 13414 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS...................................................................... 135

    UNIDADE 4 EDUCAO NA CONTEMPORANEIDADE

    1 OBJETIVOS........................................................................................................ 1372 CONTEDOS..................................................................................................... 1373 ORIENTAES PARA O ESTUDO DA UNIDADE............................................... 1384 INTRODUO UNIDADE............................................................................... 1405 CONTEMPORANEIDADE E REVOLUO FRANCESA ..................................... 1406 UTILITARISMO NA EDUCAO........................................................................ 1437 MARxISMO E EDUCAO ............................................................................... 1458 EDUCAO NO SCULO 19.............................................................................. 1469 EDUCAO DO INNIO DO SCULO 20 DCADA DE 1950 ......................... 14910 PEDAGOGIA E CINCIA: FREUD, PIAGET E VIGOTSkI.................................... 156

    11 OS CONFLITOS HISTRICOS CONTEMPORNEOS E SUA IFLUNCIA NOSPROCESSOS PEDAGGICOS............................................................................. 159

    12MASS MEDIAE EDUCAO............................................................................. 16113 QUESTES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 16214 CONSIDERAES.............................................................................................. 16415 EREFERNCIAS................................................................................................ 16416 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ..................................................................... 164

    UNIDADE 5 ASPECTOS HISTRICOS DA EDUCAO NO BRASIL

    1 OBJETIVOS........................................................................................................ 1672 CONTEDOS..................................................................................................... 1673 ORIENTAES PARA O ESTUDO DA UNIDADE............................................... 1684 INTRODUO UNIDADE.............................................................................. 1695 EDUCAO JESUTICA...................................................................................... 1696 ENSINO RGIO ................................................................................................. 1747 EDUCAO NA POCA DA MONARQUIA ....................................................... 1778 EDUCAO NA REPBLICA ............................................................................. 1829 QUESTES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 192

    10 CONSIDERAES FINAIS ................................................................................. 19411 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ..................................................................... 196

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    EAD

    CRC

    Caderno deReferncia de

    Contedo

    Ementa Origem da problemtica pedaggica e diferentes vertentes pedaggicas na Anti-guidade. Educao na Antiguidade: Egito e Grcia Antiga. A Educao na poca

    helenstica e romana. Idade Mdia e sua concepo educativa. A Educao naIdade Mdia: Perodo Patrstico e Perodo Escolstico. Problemas pedaggicosna Modernidade. Perodo Humanstico e Renascentista. A Educao na Era Mo-derna e Contempornea. Modelos contemporneos da Educao.

    1. INTRODUO

    Vamos iniciar nosso estudo de Fundamentos Histricos eFilosficos da Educao,por meio da qual voc ter a oportuni-dade de se familiarizar com as principais vertentes da educao,situadas em um percurso histrico-filosfico. Consideramos esseconhecimento, mesmo que prvio, indispensvel para a formaode docentes e para a posterior atuao profissional, pois ele con-tribui para ampli-la e complement-la.

    Para que voc compreenda com clareza nosso propsitocom este estudo, tentaremos epor nesta introduo, o mais breve

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    Fundamentos Histricos e Filosficos da Educao

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    possvel, os problemas fundamentais que se desenham diante daeducao e com quais deles ela deve lidar.

    Nesta disciplina, veremos que a formao, no sentido literal,indica um processo que auilia na realizao das potencialidades

    que o sujeito humano possui, isto , o processo de alargamentodos seus limites, com base no qual o homem desenvolve suas pos-sibilidades, transcendendo suas limitaes.

    Dessa forma, utilizando-se do vocabulrio aristotlico, a forma-o seria o processo que leva da potncia ao ato, designado pela noode entelquia, que, segundo o dicionrio Houaiss (2009), a realizaoplena e completa de uma tendncia, potencialidade ou finalidade natu-

    ral, com a concluso de um processo transformativo at ento em cursoem qualquer um dos seres animados e inanimados do universo.

    Vejamos, agora, um eemplo para facilitar o entendimento sobrea formao: vamos pensar no processo que leva a pedra de mrmorea uma bela esttua. A educao isso, a realizao dos possveis atosdo sujeito. Em contrapartida, esse sujeito est inserido em um contetosocial, em uma convivncia com outros sujeitos, com os quais ele tem

    de interagir. Essa situao complica o problema da formao, visto que,alm de uma formao pessoal, ele deve receber, tambm, uma forma-o social, pela qual possa se relacionar com os outros.

    Note que, na situao anterior, no se trata de uma formaosubjetiva que visa apenas ao desenvolvimento das faculdades subjeti-vas, mas tambm da capacidade de se relacionar com os outros. Assim,emergem dois aspectos fundamentais com os quais a educao se de-

    para: o aspecto subjetivo, que requer o desenvolvimento dos dons na-turais do sujeito, e o aspecto social, que requer que o desenvolvimentopessoal do indivduo esteja de acordo com as tendncias sociais.

    Dessa forma, se tomarmos como referncia o foco social, corre-mos o risco de instaurar uma educao de formao e de no formao,ou seja, uma educao que impe limites em prol de uma convivnciapadronizada e no conflituosa. Em contrapartida, se tomarmos, estrei-

    tamente, a posio da formao pessoal, corremos o risco de desaguarno subjetivismo puro que ameaa a convivncia social.

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    Essa a problemtica que est na base de nossa refleo fi-losfica sobre o desenvolvimento histrico da educao. O conhe-cimento profundo de tais problemas possibilitar a voc, futurodocente, trabalhar, de forma mais adequada com os desafios queo processo de formao humana nos coloca.

    2. oRIENTAES PARA o ESTUDo DA DISCIPLINA

    Abrdagem Geral da DisciplinaProf. Dr. Stefan Vassilev Krastanov

    Neste tpico, apresenta-se uma viso geral do que ser estu-dado nesta disciplina. Aqui, voc entrar em contato com os assun-tos principais deste contedo de forma breve e geral e ter a opor-tunidade de aprofundar essas questes no estudo de cada unidade.

    Desse modo, esta Abordagem Geral visa fornecer-lhe o co-nhecimento bsico necessrio a partir do qual voc poder cons-truir um referencial terico com base slida cientfica e cultural

    para que, no futuro eerccio de sua profisso, voc a eera comcompetncia cognitiva, tica e responsabilidade social. Com essaperspectiva, vamos comear nossa aventura pela apresentao dasideias e dos princpios bsicos que fundamentam esta disciplina.

    A problemtica filosfica da educao

    Vamos, ento, falar um pouco sobre o contedo de Funda-

    mentos Histricos e Filosficos da Educao. Nesta disciplina, vocter a oportunidade de se familiarizar com as principais vertentesda educao situadas em um percurso histrico-filosfico.

    Inicialmente, introduziremos o tema, ressaltando sua res-pectiva proposta e enfocarremos os principais problemas do fe-nmeno da educao durante a Antiguidade e a Idade Mdia.Posteriormente, daremos continuidade ao percurso histrico da

    educao com a modernidade e a contemporaneidade.Vamos l?

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    Como j foi dito no Tpico Introduo,a formao, no senti-do literal, o processo que leva a ato as potencialidades da pessoahumana, isto , a ampliao de seus limites, a partir dos quais ohomem desenvolve suas possibilidades. Aristteles em sua Meta-

    fsica, ensinava que a formao o processo que traz tona aquiloque era potncia, a realizao do ser.

    Observe, a seguir, a metfora comunicada pelas Figuras 1 e 2.

    Figura 1 Mrmore bruto.

    Figura 2 Esttua de mrmore.

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    Imaginemos o processo que leva a pedra de mrmore a umabela esttua. Eis o processo de formao. Assim como a pedra bru-ta, pelo processo de formao, pode virar esttua, o sujeito huma-no, pela mesma formao, pode realizar suas potencialidades. Aeducao isto: o meio para o desenvolvimento da pessoa huma-na e para a realizao de suas potencialidades.

    O homem um ser de relao, portanto, vive em uma socie-

    dade, na qual interage com outros seres humanos,. Essa situaoeige que o homem desenvolva competncias em dois aspectos: asua formao pessoal, para desenvolver suas potencialidades pr-prias, e uma formao social, a partir da qual ele possa se relacio-

    nar com as outras pessoas.

    Neste sentido, o homem deve desenvolver duas tendncias:

    subjetiva, que requer o desenvolvimento dos dons natu-rais do sujeito;

    e social, que requer que o o indivduo desenvolva as capa-cidades eigidas pela sociedade.

    Desse modo, se nossa ao educativa for orientada apenaspelas tendncias sociais, ento, corremos o risco de uma prticaeducativa incompleta, ou seja, de se instaurar uma educao queimponha limites s capacidades subjetivas de cada pessoa huma-na singular em prol de uma convivncia padronizada e no confli-tuosa. Todavia, se tomarmos estreitamente a posio da formaopessoal subjetiva, corremos o risco de impedir que esta pessoa

    humana possa se inserir de maneira positiva na sociedade. Nestesentido, iremos refletir, de maneira crtica, como essas tendnciasforam tratadas ao longo do desenvolvimento histrico da educa-o.

    No tpico a seguir, faremos a anlise filosfica do desenvol-vimento histrico da educao, iniciando pela Antiguidade. Vamosrastrear historicamente, como os filsofos procuraram solucionar

    o problema da educao do homem?

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    A educao no Antigo Egito e na Grcia Antiga

    Iniciaremos nossa refleo histrico-filosfica sobre a educa-o pela civilizao do Antigo Egito.

    O Antigo Egito revela-se como uma civilizao avanada.

    possvel dizer que o avano de uma civilizao depende, estreita-mente, de vrios saberes que do sustentao e condio para odesenvolvimento da sociedade. Tais saberes devem ser dissemina-dos e transmitidos e aprimorados de gerao para gerao.

    O processo de transmisso, por sua vez, requer instituiespedaggicas organizadas. Todavia, no se encontra, nesse perodo,

    um sistema educacional organizado, mesmo porque a pedagogiadava seus primeiros passos. O saber era transmitido por meio daoralidade e destinado, sobretudo, s classes dominantes, reduzin-do-se ao eerccio de poder poltico. Aos poucos, surgiu, por assimdizer, a educao para os plebeus, que visava, antes de tudo, ao

    ensino das normas estabelecidas pelo fara e dos saberes prticos.

    Surgiram, portanto, dois modelos de educao: um intelec-

    tual e blico, destinado classe nobre, e outro, tcnico e normati-vo, destinado aos plebeus. Esse modelo dual ser a marca registra-da da educao antiga, desde a civilizao do Egito at a revoluocultural do cristianismo.

    J os gregos antigos, no processo educacional, se revelarammais progressivos do que os egpcios ao elevarem o homem co-

    mum como principal protagonista do cenrio histrico. Trata-se do

    ideal democrtico. O homem torna-se cidado e requer um com-pleto desenvolvimento dos seus dons naturais e das suas poten-cialidades. Juntamente com essa nova forma poltico-social, surge,tambm, um novo ideal de homem e a necessidade de uma novaforma de educao, uma Paideia.

    Pensando nesse novo statushumano, temos de destacar opapel dos sofistas, mestres profissionais que pretendiam respon-der aos novos desafios do homem livre. Eles prometiam, em troca

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    de dinheiro, tornar apta qualquer pessoa que quisesse se dedicar vida pblica. Esse comportamento propiciou a criao de escolasnas quais se preparava o discpulo para o ingresso na vida social ese dedicava especial importncia para a oratria, conhecida comoa arte do bem falar e da disputa.

    Scrates, diferentemente dos sofistas, que acentuam o rela-tivismo humano, se interrogava sobre a natureza comum aos ho-

    mens, sua essncia. Esta, segundo afirmava o velho mestre, era amoral. No uma moral dos costumes, mas a moral interna, o dever,que a prpria conscincia dita. Para Scrates: o conhecimento eravirtude, pois a falta de virtude deve-se falta de saber. Se esse

    for o caso, devemos imaginar que a formao humana pressupeaquisio do conhecimento e que este imprescindvel para o al-cance da virtude, que conduzir o homem felicidade.

    O processo de instruo do homem pelo qual este se tornaapto para ingressar no caminho das virtudes, Scrates designou

    maiutica, aludindo arte de parteira. E foi justamente Scratesesse parteiro intelectual, que, por meio do seu mtodo de pergun-

    tas e respostas, ajudava os jovens atenienses a descobrirem, por simesmos, as verdadeiras virtudes que habitavam suas almas.

    Scrates introduziu um novo modelo de educao, baseadona dinmica entre mestre e discpulo, e Plato foi aquele que, utili-zando-se do mtodo dialtico, criou uma base sistemtica da educa-o para vigorar numa sociedade perfeita. O modelo pedaggico dePlato deve ser abordado em dois aspectos: o aspecto moral, que

    visa formao pessoal do indivduo, e o aspecto social, que visa participao harmoniosa e do indivduo na sociedade. Esses dois as-pectos devem convergir para que haja a formao humana perfeita.

    Semelhante ao seu mestre Plato, Aristteles tambm consi-derava o processo da formao humana em dois aspectos:

    Individual: segundo a sua forma humana e seus dons na-

    turais, uma vez que ele defende a posio de uma desi-gualdade natural entre os homens;

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    Social: uma formao para o cidado, sendo este umaparte integrante da sociedade. Todavia, o modelo de Aris-tteles apresenta, diferentemente de Plato, um cartermais pragmtico e realista.

    Nossa prima parada nesta abordagem histrico-filosficada educao ser na poca do helenismo. Vamos l?

    A educao durante o helenismo

    Com as conquistas de Aleandre, o Grande a inevitvel misturaentre diferentes povos, culturas e tradies eigiu um novo ideal dehomem, bem diferente daquele dominante na antiguidade clssica,

    com a quebra dessas fronteiras o homem tornou-se cosmopolita.Todas essas mudanas polticas e sociais impuseram novos de-

    safios para a educao. No mbito dessa viso cosmopolita, a educa-o no visava, preferivelmente, formao do bom cidado, como

    era na poca anterior, mas, sobremaneira, ao seu desenvolvimen-to pessoal, visto que o homem no mais participava das decisespolticas de sua ptria. O homem torna-se "cidado do mundo", o

    que significa que ele no se identifica mais com povo algum. Quantomais globalizada uma sociedade, menos autntica ela se torna.

    Aleandria, principal centro cultural do novo imprio funda-do por Aleandre, emergiu como bero da civilizao aleandrina.Surgiram novas escolas, que tiveram papel fundamental para atransmisso desse novo ideal. Justamente ali, em Aleandria, nas-

    ceu a maior instituio educativa do mundo antigo o Mouseion.Esta, alm de possuir o maior acervo de manuscritos, que contacom mais de 700.000 dos maiores pensadores e cientistas atento conhecidos, foi, tambm, um ambiente de encontros e deconvvio entre mestres, sbios e discpulos, onde estes moravam etrocavam saberes e conhecimentos.

    Seguindo o percurso histrico, chegamos ao perodo roma-

    no, assim designado pelo domnio absoluto e soberano do ImprioRomano.

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    A educao no Imprio Romano

    Em sua primeira verso, a educao romana teve por objeti-vo a formao de virtudes cvicas. Foi uma educao inteiramentevoltada s necessidades do Estado Romano, baseada nos manda-

    mentos sagrados das Doze Tbuas. Esta dispensava a formaointelectual do indivduo. O ideal promovido por essas tbuas con-templava um cdigo civil inspirador da fidelidade, da tradio, da

    dignidade, da firmeza, da coragem e da piedade. Nesse sentido,estamos diante de uma educao inteiramente voltada para a so-ciedade e para a sua conservao.

    A formao romana, basicamente moral e cvica, foi-se alte-

    rando aos poucos, em virtude da poltica conquistadora e imperia-lista do Imprio Romano. Porm, medida que Roma conquistavaoutros povos, a cultura destes, conquistava Roma e transforma-vam-na por dentro. Em consequncia disso, a pedagogia tradicio-nal tambm mudava, rompendo, gradualmente, com os costumes.

    Nesta perspectiva, pode-se dizer que o poderoso Imprio Romanofoi profundamente alterado pela gloriosa e ainda mais poderosa

    cultura grega.

    Ao mesmo tempo em que o Imprio Romano entrava em de-clnio, uma nova civilizao estava prestes a nascer base de umanova religio. Estamos falando do cristianismo.

    Com a proliferao do cristianismo, iniciou-se uma profun-da alterao de paradigmas, em virtude dos quais se impuseram

    novas necessidades e desafios para a educao: as ideias de amore de fraternidade entre os homens, de solidariedade, de humil-dade etc. romperam com o modelo esttico bipolar da pedagogiaantiga; o fator religioso veio tona como aspecto integrante dasociedade; as novas ideias crists dissolveram as relaes antigasde classes e o modelo principal, sobre o qual se moldava a novaPaideia Crist, era a figura do Cristo e seus ensinamentos.

    Nos primeiros sculos da nova religio, a prtica educativaconsistia na imitao da pessoa de Cristo. Mas, como cada insti-

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    tuio devia fiar seus cdigos morais para depois moldar os fiisconforme seus fins, a religio crist precisava de fundamentos te-ricos e, curiosamente, encontrou-os na Filosofia Clssica. Vamosconhecer um pouco sobre o que os filsofos mais importantespensavam sobre a educao do homem?

    A educao na Idade Mdia

    A herana helnica entrou na religio crist via Patrstica perodo em que comea a teorizao do cristianismo. Nessa em-preitada, um papel de destaque coube a Santo Agostinho. Emquase todos os seus escritos, a questo da formao humana bastante atual e presente, pois tal formao parte integrante darenovao.

    Em sua concepo pedaggica, Agostinho insiste em umaformao enciclopdica baseada nos diversos conhecimentos e sa-

    beres que devem iluminar e fazer consciente a viagem do homemcristo ao encontro de Deus.

    Obviamente, no podemos deiar de mencionar o grande

    pensador e mestre da tradio escolstica, So Toms de Aquino(1225-1274). Em sua elaborao intelectual, Toms no deia desublinhar o importante papel da educao; na sua obra De Ma-gistro, ele destaca o papel fundamental do mestre no processode despertar, cultivar e guiar o discpulo na aquisio do conheci-mento. Assim como o agricultor no cria a rvore, mas cultiva-a,

    o mestre no poder ensinar, mas poder, muito bem, despertar

    e guiar o discpulo.

    O declnio da poca medieval comea por volta do sculo 15.A crise na Igreja Catlica, as corrupes e os abusos do clero aba-laram ainda mais seus fundamentos. Guerras, conflitos polticose econmicos completam o quadro geral dessa poca decadente.Todavia, tais crises certamente despertam novos ideais, anseios edesejos que circunscrevem os primeiros traos da modernidade.

    Vamos conhecer um pouco dessa nova pedagogia?

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    17 Caderno de Referncia de Contedo

    Modernidade

    Na transio do Medievo para o Renascimento uma questose colocava ao homem europeu:

    Como instaurar uma nova situao histrica, como funda-

    mentar um mundo novo e cheio de esperana?

    Na verdade, trata-se da reinveno de um modelo que vemdo mundo greco-romano. A essa reinveno, Francesco Petrarcadeu o nome Re-nascimento.

    Os primeiros passos da modernidade, na verso renascen-tista, manifestam progressivo rompimento dos paradigmas econ-

    micos e polticos vigentes no modelo esttico da poca medieval.Cabe dizer que a modernidade fruto de uma revoluo multifa-cetal: econmica, poltica, social, ideolgica, geogrfica e, no porltimo, pedaggica.

    As profundas alteraes no Velho Continente colocam umgrande desafio diante da educao, qual se atribui a misso deproduzir o homem novo, apto a compreender, a aceitar e a atuar

    nos novos modelos e paradigmas.

    O papel de vanguarda desses novos ideais cabe educao.Basicamente, os humanistas do Renascimento voltam-se para omodelo clssico de educao. Encabeado por Francesco Petrarcae seus discpulos, o processo de renascimento tem seu pleno vigorcom Leonardo Bruni e seu ideal de Studias Humanitatis.

    Temos de ressaltar que as escolas humanistas, centradas nasStudias Humanitatis, elaboravam um currculo baseado na Litera-tura, nas Artes, na Cincia, na Ginstica e na tica. Nota-se, tam-bm, uma forte preocupao com a prtica didtica.

    A partir do humanismo do sculo 15, abrem-se novas pers-pectivas e necessidades diante do processo pedaggico, inspiradaspelo novo modelo de homem, mais livre e mundano, que, no entan-

    to, deve adotar, em sua educao, os valores cristos. Os grandesprotagonistas dessa nfase crist na educao so Erasmo e Lutero.

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    Erasmo foi considerado o representante mais ilustre do hu-manismo do sculo 16. No mbito pedaggico, ele prope o de-safio de renovar o sistema educacional. Seu ponto de partida soas crticas que ele dirige ao modelo escolstico de educao e suaesterilidade, que ele prprio teria sofrido.

    A boa educao, na viso de Erasmo, requer mestres capa-citados e aptos a lidar com as diferenas entre os alunos. Cabe ao

    Estado o dever de contratar e promover bons mestres, aptos paraa realizao da formao integral do novo homem.

    Por sua vez, Lutero outra grande figura no processo de reno-vao crist , fiel sua frmula protestante, preparou o solo para

    um novo entendimento de educao: a torna-se o instrumento dasalvao humana, e ela inspirada pelos tetos sagrados, ento, oindivduo, para alcanar a salvao pela f, necessita compreendertais tetos, o que faz por meio de sua leitura. Da a proposta luteranade alfabetizao do povo. Com isso, veio tona a importncia das

    escolas pblicas, nas quais Lutero apostava a salvao humana.

    A proposta educativa de Lutero contempla dois desafios, asaber: a formao do homem cristo, por um lado, e a formaodo cidado, por outro.

    A diviso do mundo cristo, operada por Lutero e sua pro-posta protestante, causou a reao da Igreja catlica em termosde uma volta para trs aos ensinamentos doutrinais da Idade M-dia e, sobretudo, da Escolstica. Em virtude disso, a Igreja Catlica

    travou uma luta desesperada contra o Estado Moderno, contra aReforma Protestante e contra todas as instituies novas, frutosdo pensamento moderno. Essa reao foi conhecida como o movi-mento da Contrarreforma.

    A cruzada contra o mundo protestante assume uma face es-sencialmente educativa. Assim, o modelo contrarreformista crianovas unidades escolares: o colgio e o internato, cogitando as

    classes menos privilegiadas, revelando, assim, seu perfil tico, so-cial e religioso.

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    Todas as profundas alteraes que a modernidade realiza nodecorrer histrico, comeando pelo Renascimento e pela ReformaProtestante, culminam, naturalmente, no Iluminismo. O grandeprotagonista no mbito educacional, desta poca, Rousseau.

    Influenciado pelas ideias de Loce, Rousseau, em sua obra deteor pedaggico Emlio, esboa a sua original doutrina educativa.O tratado sobre a educao eposto em Emlio, definitivamente

    rompe com o tradicional entendimento de educao, mostrando--se de acordo com o esprito iluminista.

    Em Emlio Rousseau mostra-se ciente de que a transforma-o social s ser possvel se for anteriormente amparada por uma

    educao que reflita o esprito da poca. A possibilidade de umamudana social passa pelo retorno natureza ou, pelo menos, aoesprito da natureza. E nisso consiste a razo da constatao deque o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe. Esse pen-samento ser o critrio que ir permear o novo ideal de educao

    proposto por ele. Para o pensador suo, a formao do homemdetermina-se por trs aspectos fundamentais, a saber:

    a natureza;

    os outros homens;

    e as coisas.

    Esses aspectos determinantes, segundo Rousseau se devemcontemplar na sua relao mtua para o alcance da plena e inte-

    gral formao humana, uma vez que,

    antes do Iluminismo todo processo educativo foi ineficaz, porquederivava de duas fontes apenas, ou seja, os homens e as coisas.Ignorava aquela base que primeirssima, a saber, a natureza (apudGILES, 1987, p. 177).

    No final do sculo 18 e incio do sculo 19, no cenrio peda-ggico, aparece a figura de Pestalozzi e seu projeto de reformula-o da educao. Pestalozzi sofreu enorme influncia do pensa-

    mento de Rousseau. A sua inteno inicial foi de aplicar, na prtica,a teoria de Rousseau, eposta em Emlio.

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    Para que possamos compreender as ideias de Pestalozzi esuas tentativas de introduzi-las na prtica, temos de analisar asituao social que engendra tais ideias. Basicamente, a atenopedaggica de Pestalozzi est voltada ao povo carente, profun-damente imerso na misria e ignorncia. Adepto ao Iluminismoe suas ideias progressistas, ele acredita que seja possvel umaformao mais plena e mais digna tambm para o povo carente.

    Nisto, consiste a mensagem de Pestalozzi: na criao de mtodossimples e eficientes que podem renovar a sociedade e garantir aosseus membros, sobretudo, s crianas, um desenvolvimento emtermos morais e intelectuais. Temos de frisar que Pestalozzi foi oeducador mais famoso da sua poca.

    Vamos, agora, mergulhar na poca contempornea e anali-s-la brevemente.

    A educao contempornea

    Cronologicamente, a contemporaneidade vem luz, oficial-mente, com a Revoluo Francesa, o evento que enunciou, defini-

    tivamente, as transvaloraes sociais, econmicas e polticas. Demodo geral, podemos descrev-la como a poca de revolues po-lticas e sociais, condicionando, por um lado, a gnese da socieda-de contempornea e a Revoluo Industrial delineando, por outro,a nova ordem econmica. No mbito desse novo cenrio econ-mico, social e poltico, o problema pedaggico assume o papel desuporte indispensvel vida social, promovendo a integrao dos

    indivduos. Apenas agora, a Pedagogia est diante do desafio dese tornar uma cincia estruturada, capaz de criar e aplicar os seusmodelos tericos.

    Vale dizer que, no incio, a educao contempornea revelauma face acentuadamente ideolgica. As diferenas ideolgicas,todavia, cruzam o mbito pedaggico, tecendo o seu carter dial-tico, sempre aberto para novas propostas, mudando, assim, o de-

    senho social e intensificando as tenses polticas. Temos de notarque o modelo contemporneo pedaggico oscila entre o ideal con-

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    formista de educao base ideolgica e o projeto emancipadorda formao pessoal do sujeito humano.

    No sculo 20, aps a polarizao do mundo, a relao entrea educao e a poltica torna-se ainda mais estreita. Mais acentua-

    damente, nota-se esse processo de ideologizao educacional nosmodelos socialistas, ao passo que, no capitalismo, a educao re-vela um carter mais liberal. Todavia, o modelo socialista mostra-

    -se mais progressivo do que o modelo capitalista. A ideia de umhomem universal est na base da pedagogia socialista. Em con-sequncia, a eigncia de uma educao forte e igual para todosassume carter de lei.

    Aps a ruptura do modelo bipolar na dcada de 1990, omundo entra, definitivamente, em processo de globalizao. Comisso, a educao ideolgica torna-se inatual. O cenrio globalizadocoloca o sujeito humano diante de novos desafios, que no con-templam, os aspectos nacionais, patriticos ou ideolgicos, mas,

    antes, valores cosmopolitas. Se o mundo assume traos de "gran-de aldeia", o sujeito humano, independentemente da sua origem,

    religio e costumes, tem de aprender a conviver com as diferenassociais, regionais, econmicas e polticas num ambiente globali-zado. Aspectos importantes dessa nova viso so os meios de co-municao e informao, espalhando-se, com incrvel rapidez, viainternet, satlite e por outras mdias.

    Na contemporaneidade, o principal foco da educao dirige--se ao trabalho. Muitos filsofos e socilogos viam, na instruoprofissional, o pice do processo educativo. Esse foco, especifica-mente contemporneo, comea a rejeitar os modelos humanistasde educao, baseados na formao livresca e erudita, isto , naeducao formal e terica. A nfase industrial, por sua vez, requerda educao uma formao humana em termos de homo faber.

    Na descrio da educao atual, no podemos deiar sem

    nota, obviamente, um fenmeno tipicamente contemporneo.Trata-se de mass medias e meios virtuais de comunicao, que

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    promovem, por si, um verdadeiro processo de formao, paraleloe alternativo aos tradicionais, independentemente da hora e dolugar, isto , independentemente da sala de aula.

    Com a difuso desses meios alternativos e com seu acesso

    amplo e fcil, informaes e conhecimentos chegam a dominar,por completo, o espao social em todos os seus aspectos. Masessa nova forma de aprendizagem, paralela s formas tradicionais

    (escolas, universidades), cria condio de padronizao e mani-pulao dos indivduos. Nesse novo cenrio social, aparece comogrande protagonista a indstria cultural, que facilita o acesso e po-pulariza a cultura.

    Em contrapartida, a democratizao dos valores culturaisimplica a sua banalizao, pois, ao interagir com a cultura, o gostodo pblico comea a predominar de tal maneira que se torna crit-rio da produo cultural, uma vez que o que vale a venda, e estadepende do pblico. A cultura, ento, passa a ser dirigida pelas

    massas. Com outras palavras, a indstria cultural ameaa vulgari-zar os valores da cultura, pois ela dita, por intermdio das massas,

    o gosto e as regras.

    Esse processo de industrializao da cultura observado,com olhos bastante crticos, por muitos filsofos e socilogos, as-sumindo a dimenso de principal problema da cultura e da edu-cao contemporneas. Assim, a escola de Franfurt, encabeadapor Adorno e Horheimer, ressalta o efeito devastador dessa in-dustrializao, levando a cultura pobreza, vulgarizao, limi-

    tao e banalizao. A massa inautntica precisa de dolos, e elaos escolhe por seu gosto.

    A indstria cultural propaga modelos, ideias e paradigmasque so incorporados pela massa. O homem-massa no tem suaprpria cara, mas, em compensao disso, tem a oportunidadede escolher uma daquelas caras que, na indstria cultural, se

    propaga. O eu impessoal, como bem nota Heidegger em Ser etempo, domina plenamente o espao cultural.

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    Todavia, h quem veja, na indstria cultural, um meio pre-cioso para a formao do homem, na medida em que esse ho-mem, pela mesma indstria, tem acesso aos valores culturais queantes foram inacessveis para ele.

    De qualquer maneira, temos de deiar bem claro que, como surgimento da mass mediase da indstria cultural, o mbito pe-daggico mudou, de vez, a sua cara. As novas ferramentas entram,

    definitivamente, no cenrio escolar. A figura do docente diante doquadro-negro cede lugar aos projetores multimdia (data show),com imagens e efeitos visuais e virtuais.

    Com essas mudanas, as questes sobre o incerto futuro pe-

    daggico esto em pauta:

    Seria uma desqualificao do professor e de seus ensina-mentos clssicos?

    Seria uma questo de reeducao do mestre a partir de

    ensinamentos tecnolgicos mais eficientes para a forma-o humana?

    Hoje em dia, no preciso muito esforo para se conseguira informao que se deseja; basta teclar no computador, e isso timo! Mas e quanto ao caminho que deve ser percorrido para aaquisio do conhecimento, que , ao mesmo tempo, o processode aprendizagem? Ser que no testemunhamos a era em que osujeito humano aprende sem aprendizagem? Essas so as pergun-tas mais frequentes que se colocam diante da educao do sculo

    21, as quais ela deve enfrentar, analisar e tentar responder.Em concluso, podemos dizer que, desde a aurora da forma-

    o humana, perdendo-se nos hierglifos orientais, at o softwaredehoje, a resposta clara e definitiva sobre o modelo perfeito de educa-o, sobre a verdadeira Paideia humana no foi dada. Nem poderias-la, pois a sociedade transforma, incessantemente, a sua face,sob as necessidades emergentes em cada instante, no decorrer

    histrico, poltico, social e cultural. Todavia, ao longo deste estu-do, vemos delineando-se duas vertentes principais que se realizam

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    num jogo dialtico entre si: a Paideia individual, que promove aformao integral do homem, e a Paideia social, isto , a formaodo bom cidado.

    Com vistas a razes polticas e sociais, nem sempre essas

    duas vertentes andam juntas, como deveria ser, isto , conjugar aplena formao individual com a sua aplicao na vida social, nainterao com os outros. Eis o que dever amparar o ideal da edu-

    cao humana ideal que mais oscila ao utpico do que ao real.

    Podemos, no entanto, opinar, modestamente, que investirna formao individual do homem indiretamente implicaria nasua formao social. No se pode querer uma convivncia social

    no conflituosa por meio de indivduos manipulados, mas pode-sepode muito bem realizar uma sociedade harmoniosa com indiv-duos esclarecidos. "Harmoniosa" aqui no quer dizer sem tenses,mas, ao contrrio, tenses epressas por meio de sujeitos crticosque mantm, no decurso histrico, o equilbrio do ser eistencial e

    do ser social, realizando, assim, a harmonia.

    Nossa vida biolgica composta por tenses, , mas mantmo equilbrio. O equilbrio manifesta-se na presena de foras opos-tas, pois no eiste fora singular; esta s se manifesta na presen-a de outra. Portanto, a paralisao de uma das foras implicaria,de imediato, no desequilbrio. Portanto a educao deve instaurare estimular a tenso entre a formao individual (subjetiva) e aformao social (objetiva) para alcanar a harmonia.

    Agora hora de voc aprofundar seus estudos. Vamos emfrente!

    Glossrio de Conceitos

    O Glossrio de Conceitos permite a voc uma consulta r-pida e precisa das definies conceituais, possibilitando-lhe umbom domnio dos termos tcnico-cientficos utilizados na rea de

    conhecimento dos temas tratados na disciplina Fundamentos His-tricos e Filosficos da Educao. Por uma opo pedaggica do

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    autor, os termos do Glossrio no seguem uma ordem alfabtica,mas uma ordem cronolgica da importncia que cada um dos con-ceitos adquire ao longo do estudo deste material. Veja, a seguir, adefinio dos principais conceitos desta disciplina:

    1) Academia: a escola que Plato fundou, em 387 a.C., nosjardins localizados em Atenas, os quais pertenciam, con-forme a lenda, ao heri Academo.

    2) Paradigma: modelo.

    3) Paideia: pode-se aludir ao termo formao. o pro-cesso em que algo que no tem forma a adquire grada-tivamente.

    4) Ostracismo: estratgia pedaggica baseada na compe-

    tio. Os antigos acreditavam que, somente por meioda disputa e da concorrncia, o indivduo humano podealcanar a ecelncia. O ostracismo era, pois, o modelopedaggico mais significativo da educao homrica.

    5) Plis: Cidade-Estado com sua prpria organizao social,econmica, cultural e militar. Essa forma de vida estatalera preconizada, sobretudo, na Grcia Clssica.

    6) Demnio: conforme os gregos, o ser que possua umanatureza dupla, divina e humana, se associava ao dem-nio. O demnio era o resultado do acasalamento formi-dvel entre o homem e o deus.

    7) Maiutica: mtodo dialtico de educao introduzidopor Scrates. Consiste na interrogao que o mestresubmete o discpulo, a fim de for-lo a pensar e a refle-tir. Literalmente, significa arte de parteira. Assim comoa parteira ajuda a dar a luz a criana, o mestre ajuda odiscpulo a engendrar de si mesmo as ideias.

    8) Dialtica: um mtodo de dilogo cujo foco a con-traposio e contradio de ideias que levam a outrasideias e que tem sido um tema central na Filosofia Oci-dental e Oriental desde os tempos antigos.

    9) Mouseion: a maior biblioteca e centro cultural domundo antigo, localizada em Aleandria.

    10) Teoria da iluminao: trata-se da concepo epistemolgi-ca de Santo Agostinho, conforme a qual o intelecto huma-

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    no, sendo finito e limitado, no ser capaz, por si mesmo,de chegar s verdades eternas sem que Deus o elevasse e oiluminasse. Assim com a luz a condio de viso, a teoriada iluminao eplica o processo em que o intelecto huma-no iluminado para "ver" as verdades eternas.

    11) De Magistro: sua traduo literal seria Do mestre. Tra-ta-se, nesse caso, de tratados sobre a educao.

    12) Alta Idade Mdia: o termo faz referncia ao primeiro pe-rodo da poca Medieval.

    13) Baixa Idade Mdia: o termo faz referncia ao ltimo pe-rodo da poca Medieval.

    14) Quadrivium: mtodo escolstico de ensino que inclua

    Aritmtica, Geometria, Astronomia e Msica.15) Trivium: mtodo escolstico de ensino que inclua Gra-mtica, Retrica e Dialtica.

    16) Studia humanitatis: Cincias Humanas (Gramtica, Re-trica, Poesia, Histria e tica).

    17) Humanismo: denota a viso do mundo a partir do ho-mem. O humanismo o trao fundamental da viso cul-tural do Renascimento.

    18) Refrma Prtestante: movimento reformista cristo ini-ciado no sculo 16 por Martinho Lutero, que, por meioda publicao de suas 95 teses, protestou contra diver-sos pontos da doutrina da Igreja catlica, propondo umareforma no catolicismo.

    19) Prtestantism: refere-se ao conjunto de igrejas cristse doutrinas que se identificam com as teologias desen-

    volvidas no sculo 16, na Europa Ocidental, na tentati-va de reforma da Igreja catlica apostlica romanaporparte de um importante grupo de telogos e clrigos,no qual o e-monge agostiniano Martinho Lutero tevedestaque.

    20) Contrarreforma: o nome dado ao movimento criadono seio da Igreja catlica em resposta Reforma Protes-tante, iniciada com Lutero em 1517.

    21) Bildung: termo alemo que pode-se traduzir como for-mao..

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    22) Si-natural:o termo faz referncia ao estado natural do in-divduo antes de seu contato com a sociedade organizada.

    23) Si-social: o termo faz referncia ao indivduo que, pormeio do processo pedaggico, se torna apto a integrara sociedade.

    24) Homo faber: ser humano que maneja a tcnica e pro-duz artefatos (coisas produzidas pelo homem e que pos-suem sentido apenas para ele).

    25) Utilitarismo:concepo tica que avalia a ao moral deacordo com o bem-estar da sociedade, ou seja, avalia aao conforme suas consequncias.

    26) Princpi da maxima: princpio utilitarista que re-

    quer maior bem para maior nmero de pessoas.27) Transvalorao de todos os valores: o termo foi utilizadopor Nietzsche para designar a transvalorao dos valoresmorais que perderam seu eio norteador bem e mal.

    28) Homem-massa: o terno designa o homem que perdeu asua pessoalidade e suas possibilidades prprias, tornan-do-se impessoal. O homem-massa perdeu, ento, suaidentidade prpria, identificando-se com a multido.

    29) Tupi-guarani: tronco lingustico que compreende, noBrasil, dez famlias vivas, distribudas por 14 estados;estende-se tb. pelos seguintes pases: Guiana Francesa,Venezuela, Colmbia, Peru, Bolvia, Paraguai e Argentina(HOUAISS, 2009).

    Esquema dos Conceitos-chave

    Para que voc tenha uma viso geral dos conceitos mais im-portantes deste estudo, apresentamos, a seguir (Figura 1), um Es-

    quema dos Conceitos-chave da disciplina. O mais aconselhvel que voc mesmo faa o seu esquema de conceitos-chave ou atmesmo o seu mapa mental. Esse eerccio uma forma de vocconstruir o seu conhecimento, ressignificando as informaes apartir de suas prprias percepes.

    importante ressaltar que o propsito desse Esquema dosConceitos-chave representar, de maneira grfica, as relaes en-

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    tre os conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos maiscompleos para os mais simples. Esse recurso pode auiliar vocna ordenao e na sequenciao hierarquizada dos contedos deensino.

    Com base na teoria da aprendizagem significativa, entende--se que, por meio da organizao das ideias e dos princpios em es-quemas e mapas mentais, o indivduo pode construir o seu conhe-

    cimento de maneira mais produtiva e obter, assim, ganhos peda-ggicos significativos no seu processo de ensino e aprendizagem.

    Aplicado a diversas reas do ensino e da aprendizagem es-colar (tais como planejamentos de currculo, sistemas e pesquisas

    em Educao), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda,na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que es-tabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilao de novosconceitos e de proposies na estrutura cognitiva do aluno. Assim,novas ideias e informaes so aprendidas, uma vez que eistem

    pontos de ancoragem.

    Tem-se de destacar que aprendizagem" no significa, ape-nas, realizar acrscimos na estrutura cognitiva do aluno; preci-so, sobretudo, estabelecer modificaes para que ela se configurecomo uma aprendizagem significativa. Para isso, importante con-siderar as entradas de conhecimento e organizar bem os materiaisde aprendizagem. Alm disso, as novas ideias e os novos concei-tos devem ser potencialmente significativos para o aluno, uma vezque, ao fiar esses conceitos nas suas j eistentes estruturas cog-

    nitivas, outros sero tambm relembrados.

    Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que voc o principal agente da construo do prprio conhecimento,por meio de sua predisposio afetiva e de suas motivaes inter-nas e eternas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por objetivotornar significativa a sua aprendizagem, transformando o seu co-

    nhecimento sistematizado em contedo curricular, ou seja, esta-belecendo uma relao entre aquilo que voc acabou de conhecer

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    com o que j fazia parte do seu conhecimento de mundo (adap-tado do site disponvel em: . Acesso em: 11mar. 2010).

    Figura 1 Esquema dos Conceitos-chave da disciplina Fundamentos Histricos e Filosficosda Educao.

    Como voc pode observar, esse Esquema d a voc, como

    dissemos anteriormente, uma viso geral dos conceitos mais im-portantes deste estudo. Ao segui-lo, voc poder transitar entre

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    um e outro conceito desta disciplina e descobrir o caminho paraconstruir o seu processo de ensino-aprendizagem. Por eemplo, osconceitos compleidade e educao implicam conhecer as etapasda formao do pensamento ps-moderno de kant a Morin; sem odomnio conceitual desse processo eplicitado pelo Esquema, po-de-se ter uma viso confusa do tratamento da temtica do ensinode Filosofia proposto pelos autores deste CRC.

    O Esquema dos Conceitos-chave mais um dos recursos deaprendizagem que vem se somar queles disponveis no ambientevirtual, por meio de suas ferramentas interativas, bem como quelesrelacionados s atividades didtico-pedaggicas realizadas presen-

    cialmente no polo. Lembre-se de que voc, aluno EaD, deve valer-seda sua autonomia na construo de seu prprio conhecimento.

    Questes Autoavaliativas

    No final de cada unidade, voc encontrar algumas questes

    autoavaliativas sobre os contedos ali tratados, as quais podem ser

    de mltipla escolha, abertas betiasou abertas dissertativas.

    Responder, discutir e comentar essas questes, bem como

    relacion-las com a prtica do ensino pode ser uma forma de voc

    avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a resoluo de ques-

    tes pertinentes ao assunto tratado, voc estar se preparando

    para a avaliao final, que ser dissertativa. Alm disso, essa uma

    maneira privilegiada de voc testar seus conhecimentos e adquirir

    uma formao slida para a sua prtica profissional.

    Voc encontrar, ainda, no final de cada unidade, um gabari-to, que lhe permitir conferir as suas respostas sobre as questesautoavaliativas de mltipla escolha.

    ATENO!As questes demltipla escolhaso as que tm como respostaapenas uma alternativa correta. Por sua vez, entendem-se por ques-tes abertas objetivasas que se referem aos contedos matem-

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    ticos ou queles que exigem uma resposta determinada, inalterada.J as questes abertas dissertativasobtm por resposta uma in-terpretao pessoal sobre o tema tratado; por isso, normalmente, noh nada relacionado a elas no tpico Gabarito. Voc pode comentarsuas respostas com o seu tutor ou com seus colegas de turma.

    Bibligrafia Bsica

    fundamental que voc use a Bibliografia Bsica em seusestudos, mas no se prenda s a ela. Consulte, tambm, as biblio-grafias complementares.

    Figuras (ilustraes,quadros...)

    Neste material instrucional, as ilustraes fazem parte inte-grante dos contedos, ou seja, elas no so meramente ilustra-tivas, pois esquematizam e resumem contedos eplicitados noteto. No deie de observar a relao dessas figuras com os con-tedos da disciplina, pois relacionar aquilo que est no campo vi-sual com o conceitual faz parte de uma boa formao intelectual.

    Dicas (mtiacinais)

    O estudo desta disciplina convida voc a olhar de forma mais

    apurada a Educao como processo de emancipao do ser huma-

    no. importante que voc se atente s eplicaes tericas, pr-

    ticas e cientficas que esto presentes nos meios de comunicao,

    bem como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao

    compartilhar com outras pessoas aquilo que voc observa, permi-te-se descobrir algo que ainda no se conhece, aprendendo a ver e

    a notar o que no havia sido percebido antes. Observar , portan-

    to, uma capacidade que nos impele maturidade.

    Voc, como aluno dos cursos de Graduaona modalidadeEaD, necessita de uma formao conceitual slida e consistente.

    Para isso, voc contar com a ajuda do tutor a distncia, do tutorpresencial e, sobretudo, da interao com seus colegas. Sugeri-

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    mos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as atividadesnas datas estipuladas.

    importante, ainda, que voc anote as suas reflees emseu caderno ou no Bloco de Anotaes, pois, no futuro, elas pode-

    ro ser utilizadas na elaborao de sua monografia ou de produ-es cientficas.

    Leia os livros da bibliografia indicada para que voc amplieseus horizontes tericos. Coteje-os com o material didtico, discutaa unidade com seus colegas e com o tutor e assista s videoaulas.

    No final de cada unidade, voc encontrar algumas questes

    autoavaliativas, que so importantes para a sua anlise sobre oscontedos desenvolvidos e para saber se estes foram significativospara sua formao. Indague, reflita, conteste e construa resenhas,pois esses procedimentos sero importantes para o seu amadure-cimento intelectual.

    Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso namodalidade a distncia participar, ou seja, interagir, procurando

    sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores.Caso precise de aulio sobre algum assunto relacionado a

    esta disciplina, entre em contato com seu tutor. Ele estar prontopara ajudar voc.

    3. REFERNCIAS BIBLIoGRFICAS

    ARISTTELES. Metafsica. Bauru: Edipro, 2006. (Clssicos Edipro)

    CAMBI, F. Histria da pedagogia. Traduo de lvaro Lorencini. So Paulo: Unesp, 1999.

    GILES, T. R. Histria da educao. 3 ed. So Paulo: EPU, 1987.

    MANACORDA, M. A. Histria da educao: da antiguidade aos nossos dias. Traduo deGaetano lo Monaco. So Paulo: Cortez, 1989.

    JAEGER, W. W. Paidia: a formao do homem grego. 4. ed. So Paulo: Martins Fontes,2003.

    ROUSSEAU, J. Emlio ou da educao. Traduo de Roberto Leal Ferreira. 2. ed. So Paulo:

    Martins Fontes, 1999.

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    EAD

    A Educao no Mundo

    Antigo

    1. oBjETIvoS

    Compreender como se organiza a disciplina FundamentosHistricos e Filosficos da Educaoe discutir sobre o seu

    propsito.

    Analisar e conhecer determinados conceitos necessriosao estudo da disciplina.

    Compreender as estruturas pedaggicas do mundo anti-

    go, bem como as propostas dos principais filsofos sobrea Paideia dos cidados das civilizaes antigas.

    2. CONTEDOS

    Introduo disciplina Fundamentos Histricos e Filos-ficos da Educaoe formas de participao, interao e

    apropriao dos contedos. Programa para o desenvolvimento da disciplina.

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    3. oRIENTAES PARA o ESTUDo DA UNIDADE

    Antes de iniciar o estudo desta unidade, importante quevoc leia as orientaes a seguir:

    1) Durante o estudo desta unidade, procure realizar as re-flees sugeridas. Faa seu cronograma e no se apresseem prosseguir seus estudos. Afinal, as reflees so im-portantes para possibilitar que voc se envolva por intei-ro na aprendizagem. Pense nisso...

    2) Era chamadacidade-Estadouma regio controlada poruma grande cidade que fosse independente. As cidades--Estado eram comuns na Antiguidade, principalmente

    na Grcia Antiga.3) O papiro uma planta nativa do Egito, encontrada smargens do rio Nilo. Era utilizado na fabricao do papel. possvel encontrar plantaes de papiro em regies dosul da Itlia.

    4. INTRODUO UNIDADE

    O surgimento e o desenvolvimento da problemtica pedag-gica acompanham a gnese da sociedade desde seus primrdiosat os dias atuais. Assim, torna-se presente o questionamento so-bre os fundamentos da educao, isto , sobre as razes que tor-nam possvel esse fenmeno social e cultural. Tal questionamento

    se reduz pergunta sobre o fundamento no mbito da refleofilosfica.

    A educao encontra-se na base de qualquer sistema pol-tico e social, sendo suporte indispensvel para a realizao tan-to dos fins subjetivos (do indivduo) como dos fins objetivos (dasociedade). O grande desafio com o qual a educao sempre sedepara como reconciliar os fins subjetivos com os objetivos. Essaser a base da nossa refleo, tendo como norteadora a gnese

    histrica da educao.

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    Assim, nesta unidade, voc vai conhecer os primeiros pas-sos da Educao na sociedade arcaica, no Egito Antigo especifi-camente. Em seguida, ter a oportunidade de se familiarizar comos modelos gregos de educao e seus grandes representantes,como Homero, Scrates, Plato, Iscrates, Aristteles e outros,compreendendo as influncias que estes eerceram nas pocashelenstica e romana.

    Iniciaremos nosso estudo sobre os fundamentos histricos efilosfico da educao pelos vestgios mais remotos de uma ativi-dade pedaggica da antiguidade no Egito. Acompanhe!

    5. EDUCAO NO EGITO ANTIGO

    O primeiro rastro de uma atividade pedaggica, segundoManacorda (1989), encontra-se na civilizao do Antigo Egito. Essa a razo pela qual a nosso estudo histrico-filosfico da educaodeve comear por essa civilizao.

    Os povos que habitavam as margens do rio Nilo tinham per-feitas condies de desenvolvimento de uma civilizao avanada,

    pois o solo frtil nas margens do rio propiciava condies de umaagricultura avanada. Esta, por sua vez, necessitava de vrios sa-beres que, ao longo do tempo, foram desenvolvidos: matemtica,astronomia, engenharia, arquitetura etc.

    Como podemos entender, todos esses conhecimentos esto

    na base dessa civilizao hidrulica. Assim como de se esperarque tais conhecimentos tenham sido transmitidos de gerao agerao, a fim de manter intacta a civilizao, de se pensar comouma necessidade, a criao de escolas como veculos de transmis-

    so desses saberes, a partir dos quais se aprendem vrias habilida-des e competncias que atendam necessidade da prtica.

    Apesar dessas razes que justificam o surgimento de institui-

    es pedaggicas, no encontramos provas de uma clara tendn-cia pedaggica. E tudo isso porque a educao tinha um carter

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    restrito, acessvel somente a poucos, isto , s classes dominantes,embora esse fato reduzisse seu currculo de instruo poltica aoeerccio de poder.

    Foi no Egito que as crenas modernas e o conhecimento so-

    bre o homem tiveram origem. Foi seu povo quem produziu a artee a literatura epressivas, como tambm foi o pioneiro na arquite-tura de pedra, alm de desenvolver o primeiro material adequado

    para a escrita, o papiro (ver Figura 1).

    Figura 1 Papiro.

    Mesmo sem rastros de instituies pedaggicas organiza-das, como vestgios dessa atividade encontramos versos de cartermoral e comportamental. Pensemos nos Livros dos sbios. Essesensinamentos de cunho moral haviam sido transmitidos oralmen-te, de gerao a gerao, de pai para filho, de mestre para discpu-

    lo, pois a escrita no era, ainda, o veculo principal. A base desses

    ensinamentos era mnemnica, ou seja, repetio e memorizao.

    No perodo feudal, em torno de 2.200 a 2.000 a.C., com ainsero da ginstica e da arte de guerra, houve um avano con-sidervel no quadro curricular. Juntamente com estas, a arte dobem falar (oratria) veio contribuir para uma formao sistemati-camente organizada, ainda que acessvel apenas s classes domi-nantes, que mantinham o poder poltico.

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    Aos poucos, surgem escolas que no apenas contemplama formao de polticos e guerreiros como no caso das classesdominantes , mas tambm se destinavam a formar os que man-tinham certas relaes com o soberano e no possuam origemnobre. Essas escolas do origem figura do mestre rodeado porseus discpulos.

    O perodo de 2.100 a 1.800 a.C. marcou um avano notvel

    na educao. A memorizao dos versos cedeu lugar ao estudodas letras. O ofcio das letras, dirigido pelo mestre, criava condiopara os prprios alunos interagirem com as sabedorias transmiti-das pelos livros. A partir dessa poca, a transmisso oral foi sendo

    substituda pelo ofcio das letras; os livros tornam-se a principalfonte de sabedoria, e, para ter acesso a eles, era preciso que ohomem aprendesse a ler e escrever.

    Essa passagem da tradio oral para a escrita certamentemuda o rumo da educao. Agora, o protagonista no mais o s-

    bio, mas aquele que, ao dominar a arte de ler e escrever, apropria--se da sabedoria depositada nos livros. Na medida em que isso

    se tornou uma realidade, iniciou-se a criao de bibliotecas comouma espcie de "depsito do saber". Essa considervel mudanana educao ocorreu por volta de 1.800 a 1.600 a.C.

    Com o posterior desenvolvimento da sociedade antiga e como crescente anseio poltico de uma convivncia social no confli-tuosa, emerge a necessidade de uma educao para os sditos,cujo objetivo era que estes aprendessem que a sua posio social

    era a de sditos, ou seja, tratava-se de uma educao que visava submisso e obedincia.

    Surgem, portanto, dois modelos de educao: a intelectuale blica, destinada classe nobre, e outra, destinada aos plebeus.Estes adquiriam conhecimentos profissionais para a produo de

    coisas teis, como era o caso, por eemplo, dos arteses. Esse mo-delo bivalente ser a marca registrada da educao antiga, desde

    a civilizao do Egito at a revoluo cultural do cristianismo. oque sublinha Franco Cambi (1999, p. 52):

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    Todo o mundo antigo, at a revoluo cultural do cristianismo, per-manecer ancorado a esse dualismo radical de modelos formati-vos, que refletem e se encerram naquele dualismo entre trabalhomanual e trabalho intelectual que, por sua vez, foi uma infra-estru-tura da cultura ocidental, pelo menos at o advento da modernida-de que tornou a pr em causa a ciso e a contraposio, ealtando

    aquele homo faberque ser o protagonista do mundo moderno.

    Feito essas indicaes importantes sobre o carter da educa-o do Antigo Egito, vamos agora conhecer os desafios que surgemdiante da educao na Grcia Antiga.

    6. EDUCAO NA GRCIA ANTIGA

    Seguindo as pesquisas histricas e filosficas, podemos re-

    conhecer, na Grcia, principalmente no perodo clssico, esboosde modelos tericos, cognitivos, ticos e estticos que do origema toda a cultura ocidental. Essa gloriosa civilizao grega e suasincomparveis contribuies no mbito cultural vo-se desenro-lando durante quatro perodos: homrico, clssico, helenstico eromano.

    Figura 2 Grcia.

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    Entre 2.500 e 1.400 a.C., eistiu, na Ilha de Creta, uma cul-tura avanada chamada minoica, que nos impressiona pela eu-berncia e vitalidade; uma cultura totalmente diferente daquelados melanclicos templos egpcios. A cultura minoica era martimacom perfil comercial. Por volta de 1.600 a.C., ela estendeu-se ata parte continental da Grcia e permaneceu vigorosa at 900 a.C.,fundando, assim, a cultura micnica, da qual no se conhece muito

    alm das lendas e dos testemunhos de Homero.

    Apesar de os gregos no serem um povo homogneo, a par-tir de um intenso intercmbio comercial e cultural, formam suaprpria unidade espiritual. Esse processo comeou por volta de

    1.800 a.C. quando povos itinerantes de origem indo-europeia inva-diram, inicialmente, a Ilha de Creta e, posteriormente, a parte con-tinental da Grcia. Esses povos chegaram Grcia em trs etapas:primeiro, vieram os jnios; depois, os elios; e, por fim, os drios.

    Os jnios apropriaram-se totalmente da cultura minoica.

    Apesar de ser um povo guerreiro, os jnios foram epulsos peloselios. Conforme pesquisas arqueolgicas, os elios constituram

    um forte imprio por volta de 1.400 a.C. Enfraquecida pelas guer-ras entre jnios e elios, a civilizao minoica foi praticamente e-tinta pelos ltimos invasores os drios. Enquanto os jnios e oselios aceitavam a religio minoica, os drios permaneciam emsua religio indo-europeia. Assim, a religio minoica conservou-seentre as classes baias, ao passo que a religio da Grcia Clssicaas incorporou.

    Diferentemente da viso oriental da civilizao do AntigoEgito, segundo a qual a educao intelectual cabia somente casta sacerdotal e a educao do povo se limitava ao ensino dasnormas, os gregos tornaram o homem comum o principal prota-gonista no cenrio histrico pelo ideal democrtico. A importnciado homem, nesse cenrio, requer um completo desenvolvimentodos seus dons naturais e potencialidades, o que eigia uma novaPaideia.

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    Para analisar essa nova mentalidade, faremos uma breve e-planao sobre Homero, intitulado por Plato como o maior detodos os mestres gregos. Vamos l?

    o perd hmric e a educaPara compreender melhor a educao homrica, temos de,

    em princpio, compreender a sua religio, pois desta que aquelatomar inspirao.

    A epopeia homrica, que origina a religio dos antigos gre-gos, parece no ter analogia com outra religio, pois no se baseia

    em uma relao de adorao, como qualquer outra, mas, antes de

    tudo, de rivalidade. Aos deuses gregos, so atribudos traos hu-manos, ou seja, antropomrficos. Eles so bons ou maus, justos ouinjustos, nobres ou covardes; enfim, so como os humanos. A ni-ca diferena que podemos ressaltar entre deuses e humanos ofato de os deuses serem imortais. No entanto, os homens tambmpoderiam s-lo; bastava agirem e comportarem-se como heris.

    Havia uma rivalidade entre os deuses e os heris humanos,o que, por sua vez, forava o homem a superar-se, a tornar-se um

    deus e a concorrer com eles. Era uma religio que necessitava dohomem-heri. base desse paradigma heroico da eistncia hu-mana, em que o heri preferia a morte aps uma luta sangrentacoroada pela glria do que a eistncia feliz, a educao tomainspirao.

    A educao homrica foi o primeiro modelo de formao emecelncia; a primeira verso da Paideia grega. Temos de notar queesse modelo propiciava a formao do lado subjetivo do homem,todavia, essa formao de ecelncia traria tambm para o Estado

    enorme benefcio, pois o heri quem, nos combates, glorificavae dava relevncia ao seu Estado.

    Nesse perodo, o povo grego ainda no dominava a arte de

    ler e escrever, e, por isso, a educao era transmitida oralmente. A

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    Iladae a Odisseiaeram a base dessa transmisso oral. Os herisdas epopeias serviram como modelo de imitao para os jovens.

    O processo de formao dos jovens gregos efetuava-se pormeio da disputa e da concorrncia, j que se acreditava que esse

    era o caminho para o homem se desenvolver. Com isso, a disputatornar-se um meio imprescindvel para o gnio se destacar e ficarreconhecido. Foi o ostracismoque revelou esse modelo agnico

    de educao. Segundo tal modelo, se, numa disputa, aparecessealgum que superasse, em muito, os outros competidores, esteteria de ser isolado e transferido para outro grau de disputa, paraque esta no cessasse. Pode-se reconhecer essa mentalidade em

    todas as manifestaes da cultura grega, como nos jogos olmpicose nas disputas sofsticas. Em suma, a educao homrica permea-va e fundamentava essa cultura fenomenal.

    No entanto, ao longo do tempo, rompeu na cultura gregauma fora racional que dominou toda a cultura ocidental. Este pe-

    rodo denominado "Perd Clssic, e tinha, na racionalidade,sua marca fundamental. Vamos estud-lo a seguir?

    Perd clssic

    Por volta dos sculos 5 a.C e 4 a.C., a cultura grega entra no pe-rodo clssico do seu desenvolvimento. Nesse perodo, entre asplisgregas, duas merecem destaque, revelando dois modelos diferentesde educao. Com efeito, trataremos de Esparta e Atenas.

    Esparta

    Por volta do ano 800 a.C., na estrutura social da Grcia, surgea cidade-Estado, chamadaplis. Havia vriaspolis, com estruturaspoltica e social prprias. Entre elas, frequentemente eplodiamconflitos seguidos por guerras. Essa a razo pela qual mantinhaos cidados em prontido constante para, se necessrio, travar lu-tas em sua defesa, pois o bem do Estado conferia o maior valor saes humanas. Talvez, a manifestao mais clara dessa mentali-

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    dade grega seja apresentada por Esparta e seu modelo educativo,o qual servir, em partes, de base a Plato, para descrever o seuEstado perfeito.

    Em Esparta, o ideal homrico de formao manteve-se mais

    intacto, pelo menos na sua verso blica. No entanto, o indivduono concebido na sua dimenso subjetiva, e, portanto, a sua for-mao tendia, sobremaneira, a beneficiar o Estado. O Estado atri-

    bua educao uma misso fundamental para a sua conservao,na medida em que ela deveria formar cidados compatveis com oprojeto poltico de Esparta.

    Foi por essa razo que o Estado espartano considerava as

    crianas e os jovens como sua propriedade, os quais deveriam sermoldados conforme seus fins. Como o Estado era considerado oBem supremo, o papel da formao individual reduzia-se ao m-nimo. Percebe-se como a educao, nessa verso, visa somentea moldar o indivduo conforme as necessidades estatais. Obser-

    vamos aqui que se trata de um homem "produzido" pelo e parao Estado. Esse modelo de educao nos mostra uma formao

    unilateral, que descarta o desenvolvimento subjetivo e pessoal doindivduo.

    Ao contrrio do modelo espartano, a educao atenienserevela-nos um ideal mais humano e liberal, ou seja, mais volta-do ao aperfeioamento pessoal e subjetivo. Vamos conhecer essemodelo educativo a seguir.

    Atenas

    Se o Estado espartano atestava a propriedade das crianas,em Atenas, tal propriedade cabia famlia e, antes, ao pai.

    O ideal educativo de Atenas visava a trs aspectos: ginstica,

    msicae escrita. A ginstica justificava-se, alm das necessidadesmilitares, pelo ideal humanista de harmonia entre corpo e mente.

    Ao estudo da msica, cabia o papel de formar o senso de tempe-rana e de moderao nos jovens, como, por eemplo, evitar falar

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    e agir com indecncia. Se, por um lado, escrita cabe o principalmeio de aquisio de conhecimentos e interao com estes, poroutro, a criao do alfabeto naturalmente impe a necessidade detal estudo. A esse respeito, Cambi (1999, p. 85) afirma: "Estamosno liminar da grande descoberta educativa ateniense e, tambm,de toda cultura grega: a Paidia".

    Por volta de 461 a.C. a 429 a.C., o grande protagonista polti-

    co Pricles. Inicia-se o sculo de ouro da cultura grega, o Classi-cismo. As principais ideias que a sociedade ateniense eleva comobandeira do seu humanismo epressam-se em termos de igual-dade, liberdade e individualidade. Lembremo-nos desta clebre

    frase de Protgoras: o homem a medida de todas as coisas".Esse legado deiado pelo clebre sofista milagrosamente resumetodos esses ideais.

    o antropologismo, instaurado por meio dos sofistas e deScrates, que constri a ptria do Classicismo. Comea uma nova

    era para o homem, tornando-se este o principal objeto da sua pr-pria investigao. A famosa frase do templo de delfos ilustra esse

    movimento espiritual: Conhece-te a ti mesmo!. Eis a nova mun-dividncia, em que o homem aparece como protagonista e na qualele se pergunta sobre si mesmo e por si mesmo responde, desper-tando a sua conscincia pessoal e, com ela, o gosto pela liberdade.A democracia est, pois, no seu apogeu.

    Pensando nesse novo status humano, temos de destacar opapel dos sofistas. Neste perodo surge a preocupao com umprocesso educativo que requer, antes de tudo, uma formao hu-mana no sentido amplo da palavra.

    Sofistas

    Com a ascenso dos comerciantes e o surgimento da classe

    burguesa, o anseio democrtico surgia cada vez mais manifestadoe, com ele, a vontade pelo poder social. Praticamente, todo ho-

    mem tinha direito de assumir cargos pblicos, ou at encabear o

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    Estado. Mas, para tal fim, era necessrio que ele convencesse osoutros das suas capacidades.

    Os sofistas, como mestres profissionais, prometiam, em tro-ca de dinheiro, tornar apta qualquer pessoa que quisesse dedicar-

    -se vida pblica. Estes fatores propiciaram o surgimento de es-colas, nas quais se dava muita importncia oratria (a arte debem falar e arte de disputa), e, por meio desses conhecimentos,

    preparava-se o discpulo para o ingresso na vida social.

    Todavia, essas intenes sofsticas de fazer que todo homempudesse participar na vida pblica foram vistas por Scrates e ou-tros como algo desonroso. Por um lado, porque vendiam o conhe-

    cimento como se fosse mercadoria, por outro, porque incitavam apossibilidade de os plebeus entrarem na vida pblica.

    Embora Scrates e outros contestassem o sucesso individual,a carreira na vida pblica e a vantagem pessoal, tal fato deveria

    ocorrer em detrimento da realizao plena do homem por meio dasvirtudes morais. Talvez essa seja a razo da forte repulsa de Scra-tes, o primeiro terico da tica, e de seu genuno discpulo, Plato,contra os sofistas. Vejamos o que Scrates pensava a esse respeito!

    Scrates

    Scrates, diferentemente dos sofistas que acentuam o relati-vismo humano, interrogava-se, permanentemente, sobre a naturezahumana, procurando a essncia comum entre os homens. Scrates,com a clebre frase conhece-te a ti mesmo, fazia com que o indi-vduo a procurasse em si mesmo a sua essncia humana, que co-mum entre os homens. Como afirmava o velho mestre, tal essnciaera a moral, mas uma moral no baseada na lei ineorvel dos costu-mes, mas sim na obrigao interna, no dever que ditado pela prpriaconscincia. O indivduo deveria consultar o seu prprio demnio"

    para achar os motivos do seu agir.

    Scrates tornou-se o pai da filosofia moral com base racio-nalista; assim, podemos entender sua frase marcante: O conheci-

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    mento virtude", pois a falta de virtude deve-se falta de saber.Se esse for o caso, ento devemos imaginar que a formao huma-na, que pressupe aquisio do conhecimento, imprescindvelpara o alcance da vida virtuosa, e esta, por sua vez, conduzir ohomem felicidade. Temos de notar aqui um argumento poderosoem prol da necessidade do ensino.

    Scrates designou como maiutica(aluso arte de parteira)

    o mtodo de instruo da alma humana, pelo qual esta se ascendee se torna apta a ingressar no caminho das virtudes. Por meio deperguntas e respostas, Scrates foi de fato esse parteiro intelec-tual que ajudava os jovens a descobrirem, por si mesmos, as ver-

    dadeiras virtudes que habitavam suas almas. Nessa empreitada,Scrates era insupervel. Sua maiutica, entendida como mtododialtico, criou um novo paradigma na educao, atribuindo a estamais dinmica e efetividade.

    Se a Scrates cabe o mrito de ter introduzido um novo mo-

    delo de educao baseado na dinmica entre o mestre e o discpulo,Plato foi quem, utilizando-se do mtodo dialtico, criou uma base

    sistemtica da educao para vigorar numa sociedade perfeita. Aseguir, voc ir conhecer as propostas pedaggicas de Plato.

    Plato

    No ser necessrio sublinhar que o modelo educativo dePlato acentuadamente utpico. Todavia, no deia de ser umateoria avanadssima que, ao longo dos sculos, tem sido uma das

    principais fontes de inspirao da literatura pedaggica.

    O modelo pedaggico platnico ressalta dois aspectos: o as-pecto moral, que visa formao pessoal do indivduo, e o aspec-to social, que visa participao do indivduo na sociedade. Essesdois aspectos devem convergir, para que haja formao perfeita.

    Plato v, na dialtica, o suporte imprescindvel para a formaoindividual, e esta deve realizar o caminho ascendente para a con-

    templao das ideias.

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    A esse respeito, Heidegger notar que a partir da paideiaque o olho educado aprende a contemplar as ideias. Na clebre

    Alegoria da caverna, contida no livro 7 de Arepblica, podemosobservar a primeira forma de educao, a individual: primeiro, nalibertao do prisioneiro curioso e dos grilhes; depois na tomadado caminho ascendente; e, por fim, no alcance do mundo ensola-rado das verdades eternas.

    Para compreender melhor essa verso platnica de educa-o, convidamos voc a observar, em detalhes, essa alegoria:

    Alegoria da caverna

    Imaginemos uma caverna subterrnea onde, desde a infncia, gerao aps ge-rao, seres humanos esto aprisionados. Suas pernas e seus pescoos estoalgemados de tal modo que so forados a permanecer sempre no mesmo lugare a olhar apenas para frente, no podendo girar a cabea nem para trs nempara os lados. A entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre,de modo que se possa, na semi-obscuridade, enxergar o que se passa no inte-rior.

    A luz que ali entra provm de uma imensa e alta fogueira externa. Entre ela e osprisioneiros no exterior portanto, - h um caminho ascendente ao longo doqual foi erguida uma mureta, como se fosse a parte fronteira de um palco de ma-rionetes. Ao longo dessa mureta-palco, homens transportam estatuetas de todo

    tipo, com guras de seres humanos, animais e todas as coisas.Por causa da luz da fogueira e da posio ocupada por ela, os prisioneiros enxer-gam na parede do fundo da caverna as sombras das estatuetas transportadas,mas sem poderem ver as prprias estatuetas, nem os homens que as transpor-tam.

    Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginam que as sombras vistasso as prprias coisas.

    Ou seja, no podem saber que so sombras, nem podem saber que so imagens(estatuetas de coisas), nem que h outros seres humanos reais fora da caverna.Tambm no podem saber que enxergam porque h a fogueira e a luz no exteriore imaginam que toda luminosidade possvel a que reina na caverna.

    Que aconteceria, indaga Plato, se algum libertasse os prisioneiros? Que fariaum prisioneiro libertado? Em primeiro lugar, olharia toda a caverna, veria os ou-tros seres humanos, a mureta, as estatuetas e a fogueira. Embora dolorido pelosanos de imobilidade, comearia a caminhar, dirigindo-se entrada da caverna e,deparando com o caminho ascendente, nele adentraria.

    Num primeiro momento, caria completamente cego, pois a fogueira na verdade a luz do sol e ele caria inteiramente ofuscado por ela. Depois, acostumando--se com a claridade, veria os homens que transportam as estatuetas e, pros-seguindo no caminho, enxergaria as prprias coisas, descobrindo que, durantetoda sua vida, no vira seno sombras de imagens (as sombras das estatuetas

    projetadas no fundo da caverna) e que somente agora est contemplando a pr-pria realidade.

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    Libertado e conhecedor do mundo, o prisioneiro regressaria caverna, cariadesnorteado pela escurido, contaria aos outros o que viu e tentaria libert-los.Que lhe aconteceria nesse retorno? Os demais prisioneiros zombariam dele, noacreditariam em suas palavras e, se no conseguissem silenci-lo com suascaoadas, tentariam faz-lo espancando-o e, se mesmo assim, ele teimasse emarmar o que viu e os convidasse a sair da caverna, certamente acabariam pormat-lo. Mas, quem sabe, alguns poderiam ouvi-lo e, contra a vontade dos de-

    mais, tambm decidissem sair da caverna rumo realidade.

    O que a caverna? O mundo em que vivemos. Que so as sombras das esta-tuetas? As coisas materiais e sensoriais que percebemos. Quem o prisioneiroque se liberta e sai da caverna? O lsofo. O que a luz exterior do sol? A luzda verdade. O que o mundo exterior? O mundo das idias verdadeiras ou daverdadeira realidade. Qual o instrumento que liberta o lsofo e com o qual eledeseja libertar os outros prisioneiros? A dialtica. O que a viso do mundo realiluminado? A Filosoa. Por que os prisioneiros zombam, espancam e matam olsofo (Plato est se referindo condenao de Scrates morte pela assem-blia ateniense)? Porque imaginam que o mundo sensvel o mundo real e o

    nico verdadeiro (CHAUI, 1997, p. 40).

    O mito leva-nos, pois, a imaginar prisioneiros acorrentadosnum mundo subterrneo, em que eles apenas podem observar osrefleos de tudo aquilo que uma fogueira lanava na parede dacaverna e acreditar que as imagens projetadas na caverna so ver-dadeiras. Imaginemos a seguinte situao: um dos prisioneiros, o

    mais curioso, liberta-se das correntes e comea a escalar as pare-des. Ele est ofuscado pela luz que a verdadeira realidade produz medida que ele se aproima dela. Por fim, alcana a verdadeirarealidade e, com ela, a felicidade por estar contemplando o mun-do verdadeiro.

    At aqui, possvel observar que a alegoria descreve o pro-cesso da formao individual. O prisioneiro, sozinho, rompe ascorrentes, escala as paredes e chega ao mundo verdadeiro, que ,tambm, o mundo da felicidade. Os preconceitos e as falsas cren-as (as correntes) so rompidos pela dialtica que conduz o indiv-duo do ilusrio para o verdadeiro. O prisioneiro curioso o sbio,e este, ao possuir conhecimento, alcana a vida virtuosa, que oleva felicidade.

    Do que foi dito podemos concordar com Scrates que so-

    mente o sbio feliz? At ento, Plato acompanha a verso so-crtica de educao, segundo a qual a felicidade meta suprema

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    Fundamentos Histricos e Filosficos da Educao

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    da vida humana s alcanada pelo saber, e temos de concluirque o saber torna o sbio feliz.

    No entanto, Plato d um passo a mais que Scrates no quediz respeito formao, envolvendo, com isso, razes polticas e

    sociais. Se, para seu mestre, o importante era a bem-aventuranaindividual e, sabendo que o acesso felicidade interditado paraos ignorantes, o ideal socrtico mantm-se no nvel subjetivo.

    Partindo da formao subjetiva, descrita pelo caminho as-cendente do prisioneiro curioso, Plato tenta mostrar que o sbiopode desempenhar um papel etraordinrio na sociedade. Ele nosconta que o prisioneiro, apesar de estar no mundo ensolarado das

    ideias, sentindo seu ser envolvido em plena felicidade, resolve re-tornar caverna para contar aos outros prisioneiros que h outrarealidade, mais verdadeira. nesse momento que a responsabili-dade social do sbio entra em jogo. Obviamente, ele corre risco deser morto ao tentar salvar os ignorantes de suas cavernas, mas s a

    ele cabe o papel de instruir os outros e mostrar que possvel umasociedade perfeita a partir da formao do homem.

    Plato tenta conjugar a viso subjetiva da educao, quecontemplava a formao integral do indivduo, contemplada pelaverso socrtica de formao, com a viso de uma educao parao bem comum do Estado, sem, contudo, lesar a formao indivi-dual do sujeito.

    Vamos observar como isso possvel?

    Inicialmente, Plato prope uma educao igual para todos pelo menos em seu ponto de partida , incluindo as mulheres.

    Essa educao contempla dois aspetos: a ginstica, para o corpo,e a msica, para a alma. A msica responsvel pelos estudos in-telectuais: poesia, literatura, matemtica etc.

    Desse modo,de acordo com o desempenho de cada um, oposterior desenvolvimento da educao contempla trs modali-dades, correspondentes s trs classes scias: governantes, guar-

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    dies e trabalhadores. Cada um deve ser instrudo segundo a virtu-de da justia, pois esta que ampara a diviso social do trabalho edetermina as modalidades educativas de cada classe. Assim, quem destinado a trabalhar e a produzir bens materiais deve aprendersaberes tcnicos; aos guardies, era reservada, segundo o mentordeA repblica, uma formao militar forjada na coragem e na dis-ciplina; e os destinados ao poder estatal, ou seja, os governantes,

    devem, aps um longo estudo terico em matemtica, literatura emsica, aprender a dialtica, que dar abertura viso panormi-ca das verdades eternas. Ento, somente os governantes estaroaptos a eercer o poder administrativo.

    Para compreender um pouco mais da significante propostapedaggica de Plato, vejamos um artigo de Renato Jos de Olivei-ra, intitulado Plato e a Filosofia da Educao.

    Plato e a Filosofa da EducaoO pensamento losco de Plato se desenvolve em consonncia com sua visoeducativa, a qual apresentada principalmente nos dilogos A RepblicaeAsleis. Tendo por objetivo a fundao mental de um Estado perfeito, Plato prope,

    emA Repblica, que se d ateno especial formao dos guardies, cujafuno social a defesa da cidade.

    O longo processo educativo que envolve a formao dos guardies tem comopilares duas a