Teresa Mafalda Alves Bastos Peixoto · it has no impact on refractive examination with the usual...

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Teresa Mafalda Alves Bastos Peixoto Outubro de 2011 Universidade do Minho Escola de Ciências UMinho|2011 Teresa Mafalda Alves Bastos Peixoto Avaliação da variação circadiana do erro refrativo Avaliação da variação circadiana do erro refrativo

Transcript of Teresa Mafalda Alves Bastos Peixoto · it has no impact on refractive examination with the usual...

Teresa Mafalda Alves Bastos Peixoto

Outubro de 2011

Universidade do Minho

Escola de Ciências

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Avaliação da variação circadiana do erro refrativo

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Teresa Mafalda Alves Bastos Peixoto

Outubro de 2011

Universidade do Minho

Escola de Ciências

Trabalho realizado sob a orientação do

Professor Doutor Jorge Manuel Martins Jorge

e do

Professor Doutor José Manuel González-Méijome

Dissertação de MestradoMestrado em Optometria Avançada

Avaliação da variação circadiana do erro refrativo

Ao Marco António,

À Família,

Aos Amigos de sempre,

Aos Amigos desta experiência única.

Agradecimentos

v

Agradecimentos

No início de um novo percurso, tudo parece difícil e inatingível, graças a estas

pessoas tudo se tornou mais acessível e real. A elas agradeço pelo apoio prestado. Todas

deixaram uma pegada nesta minha longa caminhada.

O meu muito Obrigada:

Aos professores Jorge Jorge e José Manuel González-Méijome pela ajuda

prestada na execução e orientação científica deste trabalho.

Aos participantes, pela disponibilidade e espontaneidade em colaborarem neste

estudo.

Aos colegas de mestrado, que foram essenciais na discussão de temas e ideias, e

pelo companheirismo criado – uma verdadeira família MOA.

Às colegas do CEORLab pela ajuda com os instrumentos utilizados. Aos

professores do Mestrado em Optometria Avançada, pela procura de voluntários para este

estudo. E ao professor António Queirós pela ajuda no subcapítulo da aberrometria.

E por último, mas imprescindível, aos meus pais, que reuniram todas as condições

necessárias para que pudesse envergar por uma vida académica e por formarem com

princípios a mulher que hoje sou. Ao meu mais que tudo, que aguentou os meus

momentos de frustração e que comemorou comigo cada triunfo. À minha irmã, cunhada e

sogros pelo apoio fornecido a cada segundo. À restante família que demonstra sempre o

amor que sente por mim.

Resumo

vii

Resumo

Atualmente, os consultórios optométricos ou oftalmológicos praticam cada vez

mais horários de consultas alargados. Vários estudos publicados verificaram a existência

de uma variação diurna nos componentes oculares. Estes dois fatores justificaram a

realização deste estudo, que tem como objetivo verificar a existência de uma variação

circadiana do erro refrativo e qual ou quais os componentes oculares que mais

contribuem para essa variação.

As variações diurnas foram analisadas em três períodos diferentes do dia: Manhã

(das 9h às 12h), Tarde (das 13h às 16h) e Anoitecer (das 17h às 20h).

Neste estudo, verificou-se que apenas a componente astigmática do erro refrativo,

J0, e o atraso acomodativo apresentaram uma variação circadiana estatisticamente

significativa, mas clinicamente não produziram nenhum impacto no exame refrativo que

utiliza as habituais escalas de graduação de 0,25 D entre os seus intervalos.

Em relação aos parâmetros oculares, vários apresentaram uma variação diurna

estatisticamente significativa mas nenhuma das flutuações produziu uma variação

circadiana clinicamente significativa sobre o erro refrativo. Observou-se também, uma

correlação negativa entre o atraso acomodativo e o equivalente esférico (M).

Conclui-se assim, que a magnitude das flutuações encontradas na componente do

astigmatismo (J0) e no atraso acomodativo podem explicar a presença de determinada

sintomatologia (cansaço ocular ou stress visual) apresentada ao final do dia.

Abstract

ix

Abstract

Today, optometrists and ophthalmologists have a wider consultation time. Several

published studies have verified the existence of a diurnal variation on various

components of the eye. These two factors justify the need of this study, which aims are

verify the existence of a circadian variation on refractive error and what(s) component(s)

of the eye(s) that contribute most to this variation.

The diurnal variations were analyzed in three different periods of the day:

Morning (9am to 12pm), Afternoon (1pm to 4pm) and Dusk (5pm to 8pm).

In this study, only the astigmatic component of refractive error, J0, and

accommodative lag showed a significant statistically circadian variation but in clinically

it has no impact on refractive examination with the usual scale of 0.25 D between their

ranges.

Several ocular parameters showed a diurnal variation but these fluctuations do not

produce a clinically significant change on refractive error. There was a negative

correlation between accommodative lag and spherical equivalent refraction (M).

The fluctuations found in component of astigmatism (J0) and accommodative lag

may explain the presence of certain symptoms (eyestrain or visual stress) present at the

end of the day.

Índice

xi

Índice

Agradecimentos

V

Resumo

Vii

Abstract

Ix

Índice

Xi

Índice de Figuras

Xv

Índice de Tabelas

Xvii

Lista de Abreviaturas

Xix

Capítulo 1 - Introdução

21

Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica

25

2.1 - Sistema Visual

25

2.1.1 - Características da córnea

26

2.1.2 - Características do cristalino

27

2.1.3 - Características da câmara anterior e câmara vítrea

27

2.2 - Componentes óticos oculares

28

2.2.1 - Influência sobre o erro refrativo

28

2.2.2 - Variações ao longo da idade

29

2.3 - Disfunções Visuais

30

2.3.1- Erros refrativos

30

2.3.2 - Problemas de visão binocular

31

2.3.2.1 - Forias e Tropias

31

Índice

xii

2.3.3 - Problemas acomodativos

32

2.4 - Aberrometria

33

2.4.1 - Aberrações cromáticas

34

2.4.2 - Aberrações monocromáticas

34

2.4.2.1 - Polinómios de Zernike

35

2.5 - Pressão intraocular

36

2.6 - Variação diurna dos parâmetros oculares

37

2.6.1 - Córnea

38

2.6.1.1 - Correlação entre a variação da espessura e curvatura corneal

39

2.6.1.2 - Motivos para o aumento da espessura corneal

40

2.6.1.3 - Análise das aberrações corneais

40

2.6.1.4 - Córnea versus trabalho em visão próxima

41

2.6.1.5 - Córnea versus PIO

42

2.6.2 - Profundidade da Câmara anterior

43

2.6.3 - Comprimento Axial

44

2.6.3.1 - Comprimento axial versus PIO

44

2.6.3.2 - Comprimento axial versus coroide

44

2.6.3.3 - Comprimento axial versus acomodação

45

Capítulo 3 - Metodologia

47

3.1 - Amostra

47

3.1.1 - Cálculo da amostra necessária

50

3.1.2 - Critérios de inclusão e exclusão

50

3.1.3 - Questões de ética

50

3.2 - Exames

51

3.2.1 - Questionário

51

3.2.2 - Exames de seleção

52

3.2.3 - Autorrefractómetro

52

3.2.4 - Biómetro

54

3.2.5 - Tonómetro 54

Índice

xiii

3.2.6 - Aberrómetro

55

3.3 - Análise estatística

56

3.3.1 - Variáveis

57

3.3.2 - Normalidade dos dados

59

3.3.3 - Testes paramétricos e não paramétricos

59

3.3.3.1 - Testes paramétricos para amostras emparelhadas

60

3.3.3.2 - Testes não paramétricos para amostras emparelhadas

61

3.3.3.3 - Testes de correlação

61

Capítulo 4 - Resultados

63

4.1 - Variação circadiana do erro refrativo

64

4.1.1 - Variação circadiana do atraso acomodativo

65

4.2 - Variação circadiana dos parâmetros oculares

66

4.2.1 - Variação circadiana dos componentes óticos oculares

66

4.2.2 - Variação circadiana da pressão intraocular e das propriedades biomecânicas

da córnea

67

4.2.3 - Variação circadiana das aberrações oculares

69

4.3 - Correlações lineares existentes entre as variáveis estudadas

71

Capítulo 5 - Discussão

73

Capítulo 6 - Conclusão

79

Capítulo 7 - Bibliografia 81

Índice de Figuras

xv

Índice de Figuras

Figura 1 - Olho esquemático de Gullstrand-Emsley.

26

Figura 2 - Alterações nos COO com a idade.

29

Figura 3 - Efeitos da aberração cromática utilizando uma luz branca e uma lente

convergente.

34

Figura 4 - Representação dos Polinómios de Zernike.

36

Figura 5 - Pressão exercida sobre as diferentes estruturas oculares.

37

Figura 6 - Frequência relativa da idade na amostra.

48

Figura7 - Distribuição de géneros na amostra.

48

Figura 8 - Frequência relativa dos erros refrativos.

48

Figura 9 - Frequência relativa do atraso acomodativo.

49

Figura 10 - Frequência relativa do estado fórico.

49

Figura 11 - Autorrefractómetro de campo aberto.

53

Figura 12 - IOLmaster.

54

Figura 13 - Ocular Response Analyzer.

54

Figura 14 - Aberrómetro IRX3: Imagines Eyes.

55

Figura 15 - Variação dos valores dióptricos médios dos componentes do erro

refrativo ao longo do dia.

65

Figura 16 - Variação, em milímetros, do comprimento axial (CA) e da

profundidade da câmara anterior (PCA) ao longo do dia.

67

Figura 17 - Variação dos valores da Pressão intraocular (normal (PIOg) e

corrigida (PIOcc)), fator de resistência (CRF) e histerese corneal (CH), ao

longo dos três períodos do dia, respetivamente.

68

Figura 18 - Variação dos valores, em microns, das aberrações corneais, ao longo dos três períodos do dia.

70

Índice de Tabelas

xvii

Índice de Tabelas

Tabela 1. Valores normais para cada COO referidos por Gullstrand-Emsley.

28

Tabela 2. Variação dos valores médios e desvio-padrão dos componentes do erro

refrativo ao longo do dia e respetiva significância estatística.

64

Tabela 3. Variação dos valores médios e desvio-padrão do atraso acomodativo ao longo

do dia e respetiva significância estatística.

65

Tabela 4. Variação dos valores médios e desvio-padrão do comprimento axial (CA), e

da profundidade da câmara anterior (PCA), ao longo do dia e respetiva significância

estatística.

66

Tabela 5. Variação dos valores médios e desvio-padrão da Pressão intraocular (normal

(PIOg) e corrigida (PIOcc)), fator de resistência (CRF) e histerese corneal (CH), ao

longo do dia e respetiva significância estatística.

68

Tabela 6. Variação dos valores médios e desvio-padrão das aberrações corneais ao

longo do dia e respetiva significância estatística.

69

Tabela 7. Correlações estatisticamente significativas entre as variáveis estudadas nos

três períodos do dia.

71

Lista de Abreviaturas

xix

Lista de Abreviaturas

α – Nível de significância

CA – Comprimento axial

CH – Histerese corneal

COO – Componentes óticos oculares

CRF – Fator de resistência da córnea

D – Dioptrias

DP – Desvio padrão

EC – Espessura do cristalino

H0 – Hipótese nula

Ha – Hipótese alternativa

J0 – Componente do astigmatismo no

meridiano horizontal e vertical

J45 – Componente do astigmatismo no

meridiano de 45º e 135º

l – Espessura

M – Equivalente esférico

mm – Milímetros

mmHG – Milímetros de mercúrio

n – Índice de refração

nm – Nanómetros

OD – Olho direito

OE – Olho esquerdo

p – p-value

PCA – Profundidade da câmara anterior

PCV – Profundidade da câmara vítrea

PIO – Pressão intraocular

PIOcc – Pressão intraocular sem

influência da espessura e propriedades

biomecânicas da córnea

PIOg – Pressão intraocular tendo em

consideração a espessura e propriedades

biomecânicas da córnea

Q – Asfericidade corneal

r – Coeficiente de correlação

RC – Raio de curvatura

r1 / RCA – Raio de curvatura anterior

r2 – Raio de curvatura posterior

RFN – Reservas fusionais negativas

RFP – Reservas fusionais positivas

VB – Visão binocular

µm – Microns

Introdução

21

Capítulo 1 - Introdução

O olho encontra-se em constante desenvolvimento desde a sua formação

enquanto feto até ao início da adolescência (cerca dos 13 anos). Todos os seus

constituintes sofrem alterações com a finalidade de atingir a emetropia e mantê-la com o

avançar da idade.1

As distâncias lineares existentes entre os componentes oculares, as diferenças de

índices de refração que os constituem e as suas curvaturas, proporcionam a manutenção

da emetropia ou o aparecimento de um erro refrativo como a miopia, hipermetropia ou

astigmatismo.

Embora a maioria dos investigadores concorde que o erro refrativo tenha alguma

influência genética, existem algumas evidências que têm demonstrado que o seu

aparecimento pode ser influenciado pela interação com o meio ambiente. A

manifestação da refração pode ainda estar associada à idade, escolarização ou

localização geográfica do indivíduo.2

Vários estudos têm sido efetuados com a finalidade de descobrirem quais os

componentes oculares que mais contribuem para o aparecimento e desenvolvimento do

erro refrativo. Ao longo desta pesquisa verifica-se que estes, para além de variarem com

os fatores acima referidos, apresentam também uma variação circadiana. Esses estudos

demonstraram, por exemplo, que a córnea é mais grossa e plana ao despertar e mais fina

e curva ao final do dia;3-8

a pressão intraocular é maior nas primeiras horas do dia;9,10

e

o comprimento axial é maior ao meio-dia.11,12

Outro dos motivos para se sujeitar que a refração pode variar ao longo do dia é o

facto de a maioria das pessoas utilizarem a visão próxima nas suas profissões, uma vez

que, existem estudos que demonstram que o processo acomodativo pode provocar

Introdução

22

alterações nos valores do erro refrativo, nomeadamente, existem alterações de curvatura

do cristalino durante o processo de acomodação;13,14

durante a leitura ou trabalho ao

computador existe variações na curvatura corneal e um aumento das aberrações

corneais;4,15,16

e durante a acomodação a tensão exercida pelas fibras da Zónula de Zinn

sobre a coroide podem levar a um aumento do comprimento axial.17

Assim, é de extrema importância relacionar estas variações circadianas com a

refração ocular. Tornando-se num tema da atualidade, tendo em conta que cada vez

mais os consultórios optométricos e oftalmológicos apresentam horários de consultas

alargados. Por este motivo é necessário verificar se a realização de um exame visual

pode ser efetuada a qualquer hora do dia ou se existe algum período do dia que seja

mais apropriado.

Os principais objetivos deste trabalho são analisar as variações diurnas do erro

refrativo e de outros parâmetros oculares. Caso o valor do erro refrativo varie ao longo

do dia, pretende-se verificar se existe algum parâmetro que desempenhe um papel

preponderante na sua variação, e estabelecer critérios que ajudem o clínico a determinar

qual a melhor altura do dia para a realização de um exame visual, evitando assim,

possíveis erros, como a hipocorreção ou hipercorreção, que podem contribuir para uma

inadaptação à prescrição ou a variações da sintomatologia durante o dia.

Esta dissertação está organizada em sete capítulos, em que o primeiro traduz-se

numa breve introdução ao trabalho realizado.

No segundo capítulo apresenta-se uma revisão bibliográfica que inclui seis

subcapítulos que descrevem o funcionamento do sistema ocular, as principais

características refrativas dos componentes oculares que estão associadas com o

desenvolvimento do erro refrativo. Apresenta-se ainda, as alterações dos seus valores

com a idade, as principais disfunções visuais e uma breve descrição a determinados

termos utilizados ao longo do trabalho como a aberrometria e a pressão intraocular.

Neste capítulo, aborda-se também alguns estudos efetuados sobre a variação circadiana

dos componentes oculares que servem de base para a realização e fundamento deste

trabalho.

Introdução

23

A metodologia utilizada ao longo do trabalho é abordada no terceiro capítulo,

onde se classifica a amostra escolhida e apresenta-se todos os materiais e exames

efetuados. Inclui-se ainda, uma explicação concisa sobre os procedimentos estatísticos

empregados.

Todos os resultados e análise estatística encontram-se no quarto capítulo.

O quinto capítulo é constituído pela discussão dos resultados e comparação dos

mesmos com outros estudos.

No sexto capítulo apresenta-se as conclusões do trabalho efetuado.

Por último, a bibliografia consultada ao longo de todo este trabalho comparece

no sétimo capítulo.

Revisão bibliográfica

25

Capítulo 2 - Revisão bibliográfica

Este capítulo é composto por seis subcapítulos, no primeiro faz-se uma breve

descrição ao funcionamento do sistema visual e descreve-se as características óticas dos

principais componentes oculares.

No segundo subcapítulo apresenta-se os componentes óticos oculares

responsáveis pelo aparecimento ou evolução do erro refrativo, inclui-se ainda, a

variação dos mesmos com a idade.

As disfunções visuais, nomeadamente, os erros refrativos mais frequentes, os

problemas binoculares e acomodativos abordam-se no terceiro subcapítulo.

No quarto e quinto subcapítulos apresenta-se uma breve noção sobre o tema da

aberrometria e pressão intraocular, respetivamente, que servirão de esclarecimento para

capítulos ou subcapítulos posteriores.

Por último, no sexto subcapítulo aborda-se alguns estudos que servem de suporte

à realização deste trabalho. Estes estudos verificam a existência de uma variação diurna

dos componentes oculares mas poucos a relacionam com uma possível variação diurna

do erro refrativo total do olho.

2.1 - Sistema Visual

O globo ocular (Figura 1) é responsável pela captação da luz refletida pelos

objetos. Após a luz ser refratada, primariamente, pela córnea, passa através do humor

aquoso, e dirige-se para a íris onde é controlada a quantidade de luz que passa para o

cristalino.

Revisão bibliográfica

26

No cristalino a luz volta a ser refratada, funcionando como uma lente de

focalização que converge os raios luminosos para um ponto focal sobre a retina, a fóvea.

A retina é composta por milhares de células sensíveis à luz, conhecidas como

fotorrecetores: os bastonetes, que proporcionam a visão em preto e branco e a visão

noturna; e os cones, que proporcionam a visão em condições de boa iluminação e a

visão das cores. Os cones encontram-se maioritariamente na fóvea, conferindo-lhe uma

característica que a distingue da restante retina pois é a zona de maior acuidade visual,

fora desta zona a acuidade visual vai gradualmente diminuindo, à medida que, a

concentração de cones diminui. A luz, antes de atingir os fotorrecetores, passa por outro

tipo de células que também preenchem a retina: as células bipolares, as células

amácrinas e as células ganglionares. Deste modo, a retina é responsável por transformar

os impulsos luminosos em impulsos nervosos, conduzindo-os para o nervo ótico.

O nervo ótico, constituído pelos axónios das células ganglionares, transmite por

sua vez, os impulsos nervosos ao cérebro, que os interpreta. O cérebro é ainda capaz de

reunir os impulsos nervosos provenientes dos dois olhos numa única imagem.

Figura 1 - Olho esquemático de Gullstrand-Emsley. (Bennet & Rabbetts,

Clinical Visual Optics. Ed. Rabbetts RB.; pp. 125-153; Butterworth

Heinemann Elsevier, London 2007).

2.1.1- Características da Córnea

A córnea saudável possui um poder refrativo que pode variar entre as +39,00 e

as +48,00 dioptrias (D), e uma espessura média de 0,50 mm na região central e de 0,65

mm ou mais na região periférica. As suas propriedades óticas são determinadas pelos

Revisão bibliográfica

27

fatores: transparência, curvatura e índice de refração (com um valor aproximado de

1,376). O poder refrativo da córnea pode ser calculado através da diferença de índices

de refração entre as suas superfícies dividindo-o pelo raio de curvatura da córnea.

Ao longo do trabalho, sempre que se refira raio de curvatura da córnea, deve-se

interpretar como as alterações sofridas na curvatura da córnea anterior (RCA).

2.1.2 - Características do Cristalino

O valor dióptrico do cristalino varia entre as +15,00 D e as +25,00 D, apresenta

um índice de refração crescente desde a sua superfície anterior até ao núcleo e vai

diminuindo progressivamente até à sua superfície posterior, para efeitos de cálculos

assume-se um índice de refração médio de 1,416.

O cristalino tem a capacidade de variar a sua potência, alterando a sua forma e

espessura, de forma a focalizar o objeto a distâncias diferentes (longe, perto ou

distâncias intermédias), este processo designa-se por acomodação.

Com a idade (a partir aproximadamente dos 45 anos) a capacidade acomodativa

do cristalino diminui para valores que impossibilitam uma visão nítida ao perto dando

origem ao que se conhece por presbiopia.

2.1.3 - Características da câmara anterior e câmara vítrea

A profundidade da câmara anterior (PCA) é a distância desde a superfície

posterior da córnea até a face anterior do cristalino, num adulto esta distância é de cerca

de 3,68 mm. Por sua vez, a profundidade da câmara vítrea (PCV) é o espaço desde a

face posterior do cristalino até ao epitélio pigmentar da retina, medindo

aproximadamente 16,70 mm, considerando-se o olho de um adulto emetrope.

Uma diminuição da PCA pode originar um aumento no poder refrativo do olho

devido à proximidade entre a córnea e o cristalino, como também pode provocar um

fecho no ângulo irido-corneano, podendo levar ao aparecimento de uma patologia

denominada por glaucoma de ângulo fechado. No caso contrário, quando a PCA

aumenta, o poder refrativo do olho diminui.

Revisão bibliográfica

28

2.2 - Componentes óticos oculares

As variações das distâncias lineares entre os componentes oculares, os índices de

refração e as curvaturas da córnea e cristalino proporcionam alterações no valor do erro

refrativo. Em 1948, Hirsch e Weymouth mostraram que os componentes oculares com

maior influência sobre o aparecimento ou variação do erro refrativo são o raio de

curvatura anterior da córnea, a espessura do cristalino (EC), a profundidade da câmara

anterior, a profundidade da câmara vítrea e o comprimento (CA).

2.2.1 - Influência sobre o erro refrativo

Na tabela 1 apresentam-se os valores normais para alguns componentes óticos

oculares (COO) e qual o impacto das suas variações em termos de valor refrativo.

Um aumento ou diminuição da potência refrativa do olho poderá ser atribuído a

uma alteração de um dos COO. Na maioria das vezes, estas alterações não se

evidenciam numa mudança do poder refrativo total do olho pois existe uma interação

ativa entre todos os componentes oculares. Assim, podem existir alterações simultâneas

em um ou mais componentes oculares de forma a anular a alteração ocorrida noutro

componente ocular, mantendo um erro refrativo estável ou obtendo a emetropização do

olho.

Tabela 1. Valores normais para cada COO referidos por Gullstrand-Emsley.

Parâmetro Valores Normais Impacto das Alterações

Comprimento Axial 20,00 – 29,50 mm

(24,00 mm) +1,00 mm ≈ -2,70 D (Miopia)

Potência Corneal 39,00 – 48,00 D

(42,75 D) +1,00 D ≈ -1,00 D (Miopia)

Potência do Cristalino 15,50 – 25,00 D

(20,35 D) +1,00 D ≈ -0,67 D (Miopia)

Profundidade da Câmara

Anterior

2,80 – 4,60 mm

(3,68 mm)

+1,00 mm ≈ +1,39 D

(Hipermetropia)

Revisão bibliográfica

29

2.2.2 - Variações ao longo da idade

O olho deve atingir a emetropia na adolescência e mantê-la com o avançar da

idade. O poder refrativo de uma criança é caracterizado por uma distribuição gaussiana

em torno da hipermetropia, e ao longo do seu desenvolvimento vai de encontro à

emetropia. Quando o processo de emetropização falha, surge uma ametropia ocular.1

Ao longo dos anos ocorrem alterações nos tecidos oculares, inclusive nos

componentes óticos oculares.18

Tendo em conta os modelos esquemáticos de Lotmar

para descrever os parâmetros biométricos do olho de uma criança e o modelo de

Gullstrand-Emsley para o olho de um adulto, verifica-se que ao longo do crescimento

ocular: o cristalino vai ficando mais fino e perdendo a sua potência refrativa, a PCA

aumenta e a PCV diminui, a córnea, por sua vez, torna-se mais plana.

Atchison et al., em 2008, compararam a biometria de olhos emétropes com

idades diferentes, desde os 20 aos 70 anos, verificando diferenças significativas entre os

valores dos diferentes componentes oculares (Figura 2).18

Este estudo demonstrou que o RCA da córnea vai diminuindo com a idade e a

sua asfericidade (Q ≈ -0,20) vai adquirindo um valor mais positivo; as maiores

alterações ocorrem no cristalino e no comprimento axial, ambos aumentam o

comprimento longitudinal, mas o cristalino perde potência refrativa; a PCA diminui,

enquanto que a PCV se mantém constante com o aumento da idade.

Figura 2 - Alterações nos COO com a idade. (Atchison DA, Markwell EL, Pope JM,

Swann PG. Age-related changes in optical and biometric characteristics of emmetropic

eyes. Journal of Vision. 2008;8:1-20). Média dos valores para 20 anos de idade em cima

e para 70 anos em baixo. Distâncias em milímetros. Parâmetros com asterisco não

sofrem alterações com a idade.

Revisão bibliográfica

30

Os autores deste estudo sugerem ainda, a possibilidade de existir um “rearranjo”

entre os diferentes componentes oculares, uma vez que, as alterações referidas

anteriormente levariam a um aumento da miopia com o avançar da idade, mas verifica-

se o caso contrário, o erro refrativo apresenta uma tendência para o aumento da

hipermetropia.

2.3 - Disfunções Visuais

O aparecimento das disfunções visuais está associado a uma falha na

coordenação entre os diferentes componentes oculares (ocasionando o aparecimento de

ametropias), ou pode estar relacionado com uma descompensação da musculatura

intrínseca e extrínseca do olho. Estas disfunções podem traduzir-se das mais diversas

formas dependendo da disfunção visual associada.

2.3.1- Erros refrativos

A miopia é uma das anomalias refrativas mais frequentes na idade adulta.2 O

olho míope apresenta um poder refrativo maior e por este motivo todos os objetos

longínquos apresentam-se desfocados. Este excesso de potência total do olho poderá ser

atribuído a um excesso de potência dióptrica positiva do cristalino, a um excesso de

curvatura da córnea, a um comprimento axial grande, ou a uma combinação dos fatores

anteriormente referidos. Assim, os raios luminosos que chegam do infinito convergem

para um ponto focal que se encontra à frente da retina. A única forma de os raios

luminosos focarem sobre a retina passa por diminuir a distância de visualização ou pela

utilização de lentes divergentes.

A hipermetropia é a denominação dada ao erro refrativo que ocasiona a

formação da imagem dos objetos visualizados num “ponto virtual” para além da retina.

O olho hipermetrope, normalmente, apresenta um CA inferior ao normal ou possui uma

alteração na curvatura da córnea e/ou cristalino que proporcionam uma diminuição no

poder refrativo total do olho. Geralmente o hipermetrope possui uma boa visão ao longe

Revisão bibliográfica

31

devido ao poder acomodativo do cristalino, no entanto para perto não consegue

focalizar a imagem ou apresenta um desconforto visual associado ou não à imagem

desfocada para perto. Esta anomalia refrativa é corrigida com a utilização de lentes

convergentes, que colocam os raios luminosos sobre a retina.

O astigmatismo é uma ametropia ocular causada pela irregularidade das

superfícies visuais, que proporciona potências refrativas distintas em diferentes

direções. Este desajuste faz com que a luz se refrate em vários planos focais, fora e

dentro da retina, gerando uma distorção visual. Esta anomalia pode ser compensada

através da utilização de lentes tóricas que permitirão que os raios de luz se concentrem

num único plano focal.

A presbiopia é um processo natural do envelhecimento ocular, caracterizado pela

perda da capacidade acomodativa do cristalino. Pode ter como origem na diminuição

progressiva da elasticidade do músculo ciliar ou pela existência de uma esclerose

(endurecimento) no cristalino, que acontece por volta dos 45 anos de idade. Embora o

resultado (visão desfocada para objetos próximos) e o modo de refração dos raios

luminosos desta anomalia seja idêntica ao da hipermetropia, as causas são bastante

distintas.

2.3.2 - Problemas de visão binocular

A visão binocular (VB) é um fenómeno que ocorre quando ambos os olhos são

utilizados em conjunto. Assim, é necessário que ambos os olhos recebam uma imagem

nítida e que ambos se movimentem de uma forma coordenada.

2.3.2.1 - Forias e Tropias

Todos os músculos extraoculares devem ter um equilíbrio de forças perfeito para

que os olhos estejam alinhados e focalizados num só ponto. Quando os músculos

extraoculares não trabalham em conjunto originam um desvio ocular.

Revisão bibliográfica

32

Os desvios oculares podem ser de dois tipos: tropias ou estrabismo, quando

existe um desvio ocular manifesto mesmo sem o rompimento da VB; e forias ou

heretoforias, quando o desvio ocular se manifesta devido ao rompimento da VB.

Uma foria, que até ao momento era compensada perfeitamente pela capacidade

de convergência do sistema (RFN ou RFP), pode manifestar-se como um estrabismo se

o esforço de compensação do sistema deixar de ser suficiente.

Uma boa parte dos problemas de aprendizagem, dores de cabeça, enjoos,

vertigens anormais e dificuldade de atenção na leitura, estão associados a problemas de

visão binocular.

2.3.3 - Problemas acomodativos

Ao passar da visão de longe para a visão próxima, a resposta acomodativa não é

igual para todos os indivíduos, diferencia-se dois tipos de resposta: o atraso

acomodativo ou o adianto acomodativo. O atraso acomodativo, em jovens e adultos

saudáveis até aos 45 anos de idade, é considerado normal para valores entre as 0,00 D e

as +0,50 D, valores maiores ou valores negativos (adiantos acomodativos), em idade

adulta, podem indicar a presença de disfunções acomodativas.19,20

Os problemas de acomodação não podem ser vistos como um problema único,

usualmente, os problemas de acomodação estão associados a problemas de VB e vice-

versa, normalmente, ocorrem após a utilização prolongada da visão próxima.

Os problemas acomodativos diferenciam-se em quatro aspetos: Excesso ou

espasmo acomodativo – quando a acomodação é usada em excesso quer na presença ou

na ausência de um estímulo, respetivamente; Fadiga acomodativa – quando existe um

défice de acomodação, devido à não sustentação do valor acomodativo durante uma

tarefa prolongada em visão próxima; Insuficiência acomodativa – devido ao próprio

valor de amplitude de acomodação ser inferior ao esperado para a idade; Inflexibilidade

acomodativa – quando existe uma dificuldade em manter os objetos focados quando a

visão alterna entre o longe e o perto.

Revisão bibliográfica

33

2.4 - Aberrometria

Todo este subcapítulo tem por base o livro “Aberraciones oculares – aspectos

clínicos”.21

A aberrometria mede as aberrações óticas do olho como um todo, através da

utilização de um feixe de laser de pequeno diâmetro focado na retina. Este pequeno foco

de luz que incide sobre retina atua como uma fonte emissora de feixes de luzes, que são

afetados por todos os elementos óticos do sistema ocular. Estes feixes de luz circulares

possuem a mesma fase e o mesmo comprimento de onda, e são frequentemente,

denominados por frentes de onda (wavefront).

A aberrometria caracteriza a ótica do olho numa ordem inferior às habituais 0,25

D praticadas pela refração tradicional que até então apenas detetava miopias,

hipermetropias ou astigmatismos, este tipo de aberrações designam-se por aberrações de

baixa ordem. Esta técnica permite não só a visualização das aberrações de baixa ordem,

como também detetam as aberrações de alta ordem que interferem com a qualidade da

imagem visualizada.

A aberrometria é indicada para os casos em que o uso de óculos ou de lentes de

contacto não proporcionam uma boa acuidade visual e no pré-operatório de cirurgias

refrativas, principalmente, em pacientes que apresentam diversos tipos de sintomas

relacionados com a qualidade da visão, como halos ao redor de luzes, “glare” ou

ofuscamento.

O diâmetro pupilar desempenha um papel preponderante na existência de

aberrações no sistema ótico, assim quando se está perante um diâmetro pupilar grande

existirá uma maior incidência de aberrações sobre a imagem visualizada.

As aberrações óticas podem ser definidas como uma alteração no sistema, que

impede que a imagem de um ponto seja a reprodução exata desse ponto, o que limita a

visualização dos detalhes mais precisos. Estas podem ser agrupadas em aberrações

cromáticas e monocromáticas.

Revisão bibliográfica

34

2.4.1 - Aberrações cromáticas

Qualquer sistema ótico é afetado pelas aberrações cromáticas que são

consequência da natureza da luz visível, composta por diferentes comprimentos de

onda.

Figura 3 - Efeitos da aberração cromática utilizando uma luz branca e

uma lente convergente.

A luz ao incidir na lente (por exemplo, córnea ou cristalino) pode mudar a sua

direção dependendo da curvatura e dos índices de refração que delimitam as superfícies

da lente. Esse desvio depende ainda, do comprimento de onda da luz incidente, isto

porque o índice de refração é função da frequência ou cor (o índice de refração diminui

com o aumento do comprimento de onda). Uma vez que, o poder refrativo do olho

depende do índice de refração, os diferentes comprimentos de onda focam-se em

diferentes pontos na retina (Figura 3). Esta diferença entre os 400 e 700 nm pode-se

traduzir numa variação de até 2,10 D.21

2.4.2 - Aberrações monocromáticas

As lentes, devido às curvaturas de superfície e ao ângulo de incidência dos raios

luminosos, fazem com que os raios centrais tenham uma trajetória diferente em relação

aos periféricos, originando vários pontos focais que geram uma imagem com distorções.

Este tipo de fenómeno denomina-se por aberração geométrica ou monocromática. No

olho este tipo de aberrações encontram-se atenuadas devido à forma asférica da córnea e

Revisão bibliográfica

35

do cristalino.

As aberrações monocromáticas podem ser classificadas em aberrações de baixa

ordem (exemplo: desfoque (miopia e hipermetropia) e astigmatismo), que afetam de

uma forma mais importante a qualidade da imagem, ou as aberrações de alta ordem

(exemplo: aberração esférica, coma e trefoil).

A aberração esférica é um fenómeno em que os raios de luz incidentes próximos

do bordo da lente são mais refratados do que os raios que incidem próximos do centro

ótico, assim os raios vão incidir à frente ou atrás do ponto focal na retina, formando um

halo concêntrico que deteriora a qualidade da imagem.

O astigmatismo é uma aberração que depende da inclinação dos raios incidentes

nas lentes. Quanto maior for a inclinação maior é o astigmatismo. Esta aberração não

depende da distância do ponto de incidência ao centro ótico da lente, nem depende do

comprimento de onda da radiação.

O Coma e o Trefoil são consideradas aberrações monocromáticas de terceira

ordem. A aberração coma faz com que um ponto de luz tenha um aspeto de um cometa.

Assim, quando a imagem de um objeto é obtida com uma lente com coma, os raios que

passam pela periferia da lente vão formar uma imagem mais larga que os raios que

passam pela zona central da lente. Na aberração trefoil o ponto de luz tem a aparência

de um trevo.

As aberrações óticas tornam-se mais complexas com o aumento de ordem e

diâmetro da pupila. Assim, durante o dia ou em ambientes bem iluminados, as

aberrações de alta ordem, como o Coma, têm os seus efeitos atenuados, devido à

condição natural do olho que ao adaptar-se à luminosidade, faz com que a pupila

apresente aberturas menores.

2.4.2.1 - Polinómios de Zernike

A compreensão de uma frente de onda deformada pode ser simplificada se for

visualizada como uma soma de frentes de onda mais elementares, que identificam quais

as aberrações presentes.

A forma mais utilizada para esta decomposição foi desenvolvida por Frederik

Zernike (1888-1966), através de uma série de fórmulas chamadas de Polinómios de

Zernike, onde cada termo descreve uma aberração específica, acabando por ser

considerado como um padrão na análise das frentes de onda.

Revisão bibliográfica

36

Assim, os Polinómios de Zernike (Figura 4) são utilizados para definir as

superfícies geométricas, de forma a descrever as aberrações óticas monocromáticas,

tanto as de baixa ordem (desfoque e astigmatismo), como as de alta ordem (coma,

aberração esférica, entre outros).

Figura 4 - Representação dos Polinómios de Zernike.

2.5 - Pressão intraocular

Este subcapítulo tem como fundamento bibliográfico, o livro “Oftalmología

Clínica”22

, frequentemente utilizado na área da oftalmologia e da optometria.

O humor aquoso, produzido pelos processos ciliares, possui a função de nutrição

da córnea e do cristalino e é responsável por gerar uma pressão intraocular (PIO).

Os valores da PIO, numa população normal, situam-se entre os 11,00 e os 21,00

mmHg. Olhos com valores de PIO superiores a 21,00 mmHg são considerados suspeitos

de desenvolverem glaucoma, no entanto, existem alguns pacientes com glaucoma que

apresentam uma PIO inferior aos 21,00 mmHg (glaucoma de tensão normal) e outros

com uma PIO superior a 30,00 mmHg (hipertensão ocular) que não apresentam

qualquer lesão glaucomatosa.

A PIO varia ao longo do dia, com o ritmo cardíaco, com a pressão arterial e com

a respiração, apresentando-se em 80% dos casos mais elevada nas primeiras horas da

manhã.

Revisão bibliográfica

37

Perante uma PIO elevada (devido principalmente, a um défice no escoamento do

humor aquoso) gera-se uma pressão não só sobre o nervo ótico como também sobre

todas as outras estruturas oculares. Seria de esperar, principalmente, um aumento no

CA, uma vez que, as forças exercidas sobre o anel de Zinn (a zona de inserção dos

músculos extraoculares tornam esta parte do olho mais resistente) não deixam o olho

alongar-se verticalmente (Figura 5).

Figura 5 - Pressão exercida sobre as diferentes estruturas oculares.

2.6 - Variação diurna dos parâmetros oculares

Em 1968, iniciam-se estudos3,46-49

sobre a existência de uma variação diurna

num dos vários COO, nomeadamente a córnea. Nesta época, com o aparecimento do

paquímetro e do topógrafo, vários estudos neste âmbito, foram elaborados.

Com o aparecimento e aperfeiçoamento dos mais variados instrumentos óticos,

vários autores demonstraram, que além da curvatura e espessura corneal, a profundidade

da câmara anterior, a espessura do cristalino, a amplitude de acomodação, a

profundidade da câmara vítrea, o comprimento axial e a pressão intraocular, também

possuem uma alteração dos seus valores ao longo do dia.

Apenas em 1988, surge o primeiro estudo8 que relaciona as variações diurnas

dos COO com as alterações do erro refrativo total ao longo do dia. Desde então, várias

investigações têm sido desenvolvidas, no sentido de verificar as variações diurnas dos

parâmetros oculares acima referidos, mas poucos são aqueles que relacionam as

variações encontradas com alguma variação diurna do erro refrativo total do olho.

Revisão bibliográfica

38

2.6.1 - Córnea

A variação diurna do raio de curvatura anterior e espessura corneal foram dos

primeiros parâmetros oculares a serem avaliados. Desde 1968, vários autores3,46-49

descrevem a córnea como sendo mais plana ao acordar, retomando os seus valores

normais ao longo do dia.

Em 1982, Kiely et al., encontram os mesmos resultados: a primeira medida do

dia possui um valor de espessura maior e uma córnea anterior mais plana, enquanto que

a asfericidade corneal mantém-se praticamente constante ao longo do dia. Em relação à

espessura corneal, esta apresenta o seu maior valor durante o fecho palpebral noturno e

começa a diminuir cerca de 2 horas depois da abertura palpebral, ao longo do dia retoma

o seu valor base.3

Read et al. analisaram a topografia corneal encontrando uma variação diurna

significativa. Os seus resultados são consistentes com os estudos referidos

anteriormente, evidenciando alterações entre o período da manhã e o período da tarde.4

Num estudo6 mais recente, Giráldez-Fernández et al., verificaram que a córnea

apresenta a sua espessura máxima no momento de abertura dos olhos depois do

encerramento noturno e diminuí durante o dia em várias localizações analisadas,

nomeadamente, a zona central, os meridianos nasal, temporal, superior e inferior e a

1,00 e 2,00 mm da zona central. A variação média da espessura da córnea central

observada é de 14,00 µm, com o valor mínimo depois de 8 a 10 horas de abertura do

olho. A menor curvatura corneal anterior foi observada no abrir do olho depois do fecho

noturno, com uma diferença estatisticamente significativa quando se compara com os

valores obtidos ao longo do dia. Depois de um aumento inicial da curvatura anterior,

esta permanece praticamente estável ao longo do dia em todas as localizações. A

variação média da curvatura central observada foi de 0,07 mm, com o valor mínimo

também depois de 2 horas de abertura dos olhos.6

Em 2009, Read and Collins, verificaram pela primeira vez, a existência de uma

variação diurna na superfície posterior da córnea. As maiores alterações sofridas nas

superfícies anterior e posterior ocorreram nas primeiras horas do acordar.5

A superfície posterior exerce pouca contribuição sobre o poder refrativo corneal,

devido à mínima diferença de índices de refração entre a superfície posterior da córnea e

o humor aquoso. Apesar deste facto, este estudo refere que a superfície posterior tem

Revisão bibliográfica

39

uma ação sobre a aberração esférica e astigmática do olho, e sugerem ainda, que a

análise desta superfície é importante na deteção precoce de ectasias pré e pós-cirúrgicas,

e particularmente, na deteção do queratocone.

Neste estudo5, os autores verificaram que as mudanças que ocorrem ao longo do

dia, na superfície anterior e posterior são maiores na zona paracentral (3,50 mm) do que

na zona mais periférica (7,00 mm). A curvatura da superfície corneal anterior altera-se

de uma forma oposta à superfície posterior, isto é, quando uma fica plana a outra fica

mais curva. Assim, a superfície posterior apresenta-se mais curva ao acordar e vai

ficando mais plana ao longo do dia.

Os autores concluíram ainda, que o edema corneal apresentado ao acordar

promove uma deslocação para trás da superfície posterior e uma ligeira deslocação para

a frente da superfície anterior (mais nas regiões periféricas da córnea), diminuindo a

PCA. Em relação ao equivalente esférico da córnea (M), verificaram a existência de

uma correlação significativa deste valor com a espessura corneal em ambas as

superfícies, indicaram ainda, que uma superfície anterior plana está correlacionada com

o aumento da espessura central da córnea e que a curvatura da superfície posterior está

associada à espessura corneal.5

Assim, a maior parte dos estudos analisados concluem que a córnea apresenta a

sua máxima espessura e curvatura mínima ao abrir o olho, sendo que as maiores

variações registadas situam-se na zona paracentral da córnea.

2.6.1.1 - Correlação entre a variação da espessura e curvatura corneal

Em relação à correlação existente entre a variação da espessura e a variação da

curvatura não existe um consenso entre os diversos autores,3,5,6

apresentando-se duas

teorias: a espessura aumenta e a curvatura aumenta; e a espessura aumenta e a curvatura

diminui. Por outro lado, Rom et al., não encontraram uma relação entre as variações de

espessura e a topografia corneal.51

No estudo efetuado por Kiely et al.,3 os valores de espessura e curvatura corneal

apresentam uma correlação positiva, isto é, quando a espessura da córnea central

aumenta, o raio de curvatura horizontal da córnea também aumenta. No entanto, em

estudos5,6

mais recentes encontraram-se uma correlação negativa entre estas duas

características corneais, isto é, quando a espessura diminui, a curvatura aumenta. Esta

relação pode ser atribuída a uma maior diminuição da espessura paracentral da córnea

Revisão bibliográfica

40

quando comparada com o centro da mesma, concluindo-se que uma diminuição de

espessura pode levar a um encurvamento corneal.

2.6.1.2 - Motivos para o aumento da espessura corneal

Mishima et al., num estudo realizado em 1968, explicaram que o aumento da

espessura corneal se deve a um aumento da evaporação lacrimal durante a abertura

ocular e a um reduzido fluxo osmótico de saída de água da córnea durante o fecho

palpebral noturno.50

O estudo6 de Giráldez-Fernández et al. parte do pressuposto que o aumento da

espessura corneal é atribuído à diminuição do transporte de oxigénio durante o fecho

palpebral noturno, conduzindo a um metabolismo anaeróbico que leva a um aumento do

ácido lático. O aumento de ácido lático produz um aumento da pressão osmótica que

favorece a difusão da água desde o humor aquoso até ao estroma (camada intermédia

que compõe a córnea), resultando num aumento da espessura total da córnea.

Outras investigações4,7

desenvolvidas sugerem que a variabilidade da espessura

da córnea pode também dever-se à qualidade da película lacrimal, às variações diurnas

de produção da lágrima, à frequência de pestanejo e à pressão intraocular.

2.6.1.3 - Análise das aberrações corneais

Read et al., analisaram as aberrações corneais e verificaram que as aberrações de

alta ordem ocorrem numa menor magnitude que as de baixa ordem. A terceira ordem

dos polinómios de Zernike (coma e trefoil) é aquela que mais contribui para um

aumento das aberrações de alta ordem.4

Em relação ao equivalente esférico corneal (M), este exibe um leve aumento,

(aproximadamente 0,10 D), no entanto, o J0 corneal (astigmatismo 90º/180º) e J45

corneal (astigmatismo 45º/135º) diminuem ao longo do dia. Um exame mais profundo

sobre os dados revela que a variação diurna da córnea encontrada pode afetar

significativamente a medição clínica da refração subjetiva.

Existem outras duas aberrações de alta ordem que exibem alterações

significativas ao longo do dia: o trefoil que aumenta (fica mais positivo) e o coma que

diminui (fica mais negativo). A combinação, destas duas aberrações, representa um

aumento na distorção da frente de onda ao longo do dia e retoma os seus valores base na

Revisão bibliográfica

41

manhã seguinte.

Neste estudo4, os autores atribuem o aparecimento destas distorções à pressão

das pálpebras exercida sobre a córnea anterior e estabelecem uma relação entre o

impacto das mudanças topográficas apresentadas e o tamanho natural da pupila: quanto

maior a pupila mais distorções apresentará o mapa topográfico da córnea.

2.6.1.4 - Córnea versus trabalho em visão próxima

Os trabalhos de perto exigem uma acomodação prolongada e micro-movimentos

oculares. A força das pálpebras durante a leitura pode provocar aberrações e alterações

na topografia corneal.15,52

Ler ou trabalhar ao computador têm diferentes efeitos nas

aberrações corneais.16

Read et al. afirmam existir uma correlação entre a quantidade de trabalho

realizado em visão próxima e o grau de mudança de curvatura da córnea e atribuem-na a

possíveis fatores como a influência de hidratação corneal, a estabilidade da lágrima, a

frequência do pestanejo, a abertura palpebral vertical e ao tempo percorrido entre o

momento de trabalho em perto e o tempo de medição.4

Buehren et al. revelam que o trabalho de perto ou a pressão das pálpebras podem

ter um papel relevante nos câmbios diurnos dos valores da curvatura corneal. Uma

leitura de 60 minutos causa uma distorção na região superior da córnea, que está

relacionada com a posição e ângulo das pálpebras durante a leitura. O aumento das

aberrações corneais, principalmente no coma vertical e trefoil, podem estar relacionadas

com o desenvolvimento do erro refrativo, acrescentando ainda, que a posição das

pálpebras durante a leitura induz um astigmatismo corneal.15

Collins et al. encontraram também variações na topografia corneal quando

colocaram sujeitos a ler, ao computador e ao microscópio, durante 60 minutos. Todas as

tarefas analisadas possuem diferentes efeitos sobre as aberrações corneais, sendo que as

maiores alterações ocorrem durante a leitura e o microscópio do que durante o trabalho

ao computador.16

Ambos os estudos referidos anteriormente, relacionam o facto das mudanças nas

aberrações corneais durante a leitura terem um alto potencial em afetarem a qualidade

da imagem retiniana. Em estudos2,16

sobre o aparecimento ou evolução da miopia, a

falta de qualidade na imagem retiniana é considerada um fator de risco para o

desenvolvimento da miopia. Posto isto, o facto da posição palpebral afetar as aberrações

Revisão bibliográfica

42

corneais durante a leitura leva à hipótese de que se uma pessoa possuir uma fenda

palpebral maior ou mais pequena, estaria mais suscetível a um aumento da miopia.16

2.6.1.5 - Córnea versus PIO

Frampton et al. avaliaram a variação da PIO num período de 24 horas e

verificaram que a PIO aumenta durante a noite não só pela posição dorsal de dormida

como também quando dormem na vertical, concluindo que os olhos fechados

contribuem para um aumento da PIO numa escala mais reduzida.9

O maior valor da PIO é encontrado na primeira medição da manhã e 65% dos

picos ocorrem antes do meio-dia, e vai diminuindo ao longo do dia. O intervalo médio

de flutuação da PIO pode ir dos 3,00 aos 6,00 mmHg para os indivíduos normais, e

pode chegar aos 10,00 mmHg em pacientes com glaucoma ou hipertensão ocular.10

Vários autores23,24

relacionam a variação da espessura corneal com a variação da

pressão intraocular. Em 1997, Wolfs et al., evidenciaram uma relação positiva entre a

pressão intraocular e a espessura central da córnea, isto é, um aumento de 0,19 mmHg

na pressão intraocular por cada aumento de 10,00 µm na espessura central da córnea.

Pacientes com hipertensão ocular apresentam em média uma espessura corneal mais

grossa em comparação com indivíduos de controlo, enquanto que, os pacientes com

glaucoma de ângulo aberto apresentam em média uma córnea mais fina.24

Em 2002,

Eysteinsson et al., verificaram uma relação de dependência entre estes dois parâmetros

oculares: quanto maior a espessura corneal, maior o valor médio da PIO.25

Kida et al., mais recentemente, relacionaram as propriedades biomecânicas da

córnea com a pressão intraocular, num período de 24 horas. Nesse estudo23

a espessura

corneal apresenta o seu maior valor durante o período noturno. A PIO, por sua vez, foi

maior de manhã, decrescendo progressivamente ao longo do dia, e aumentando depois

no período noturno (onde se encontram os seus picos). Os resultados indicaram ainda,

que os ritmos de espessura corneal e da PIO possuem fases diferentes. Os autores

concluíram assim, não existir evidências no padrão de mudanças da PIO associadas ao

padrão biomecânico da córnea. Embora ambos apresentem os seus valores mais

elevados durante o período noturno, o aumento noturno da PIO não pode ser explicado

pelo aumento noturno da espessura corneal. Não foi detetada nenhuma mudança

significativa nas 24 horas da viscoelasticidade da córnea.

Revisão bibliográfica

43

No mesmo ano, Laiquzzaman et al., estudaram a variação diurna da histerese

corneal, da espessura corneal e da PIO. Verificaram que a diferença entre os valores da

histerese e de espessura corneal em qualquer momento da medição não foram

estatisticamente significativos. A análise de regressão mostrou não existir uma relação

entre a PIO e a histeresia corneal.26

Em 2008, González-Meijome JM et al., encontaram

as mesmas conclusões que o estudo anteriormente referido, no que se refere à variação

diurna da PIO e a histerese corneal. Observaram ainda, que as mudanças médias destes

parâmetros ao longo do tempo estão correlacionadas.45

2.6.2 - Profundidade da Câmara anterior

A câmara anterior é outro componente ocular que apresenta uma variação diurna

na sua profundidade axial central e periférica e no seu volume. Larsson et Brubeker

avaliaram as variações diurnas da PCA em coelhos e verificaram uma flutuação no

volume do humor aquoso em diferentes momentos do dia. A variação encontrada foi de

4% a mais à meia-noite do que ao meio-dia. No entanto, a diferença encontrada entre a

noite e o dia é muito pequena para possuir um efeito considerável sobre a medida

dinâmica do aquoso.27

Em relação ao olho humano, Mapstone et Clark, observaram que

a PCA e o seu volume são significativamente mais baixas à noite do que pela manhã,

com especial ênfase na periferia da câmara anterior (profundidade axial diminui 2,1%;

profundidade periférica diminui 21,1%; e volume da câmara anterior diminui 5,7%).28

As alterações ocorridas no cristalino, durante o processo de acomodação,

contribuem ainda para possíveis alterações na PCA. Assim, quando se olha para perto, o

cristalino aumenta o seu poder dióptrico e a sua espessura central, ocasionando uma

diminuição PCA provocada pelo deslocamento do cristalino para a frente. Na situação

contrária, quando se olha para longe, o cristalino diminui a sua espessura central

aumentando a PCA.13,14

Revisão bibliográfica

44

2.6.3 - Comprimento Axial

Em olhos humanos, verificou-se que o comprimento axial varia ao longo do dia,

com flutuações de 15,00 a 40,00 µm, num período médio de aproximadamente 21 horas.

Normalmente, o comprimento axial atinge o seu máximo valor no final da manhã, por

volta do meio-dia.11

2.6.3.1 - Comprimento axial versus PIO

Nos estudos até agora divulgados, não existe uma opinião unânime sobre a

correlação do comprimento axial e da PIO. Esta contrariedade de opiniões podem

dever-se à metodologia utilizada, uma vez que existe estudos em que os instrumentos

utilizados têm em conta as propriedades biomecânicas da córnea e outros não. Este facto

torna-se importante devido a estudos prévios provarem que a espessura da córnea exerce

uma influência sobre a medida da PIO.12

Alguns autores29

relatam que as oscilações diurnas no comprimento axial

(extensão ou contração) não refletem as alterações da PIO, outros12

encontram uma

associação significativa entre a PIO e a mudança do comprimento axial, estabelecendo

inclusive, uma relação entre ambas: por cada mudança de 5,90 µm no comprimento

axial corresponde uma mudança de 1,00 mmHg na PIO. Embora as associações

encontradas sejam consistentes, não provam que as mudanças na PIO causam mudanças

no comprimento axial.

2.6.3.2 - Comprimento axial versus coroide

Variações diurnas do comprimento axial, câmara vítrea e espessura da coroide

têm sido identificadas em galinhas. Estas flutuações podem estar relacionadas com

mecanismos de controlo de crescimento do olho. Um neurotransmissor, implicado na

miopia e na emetropização, a dopamina, sofre alterações diurnas na retina (libertação e

armazenamento). Fisiologicamente, as flutuações de dopamina na retina modulam os

mecanismos envolvidos na adaptação da retina ao escuro ou à claridade. Durante a

exposição à luz existe uma diminuição da concentração da dopamina, que proporciona

uma remodelação da esclera e um alongamento axial, induzindo uma miopia axial.11,30,31

Revisão bibliográfica

45

Estudos30,32

em galinhas demonstram ainda, que o comprimento axial é maior no

período da tarde, quando a coroide se apresenta mais fina. Este facto permitiu concluir

que esses ritmos são, aproximadamente, antifase um do outro. A coroide pode aumentar

a sua espessura ao longo do dia de 16,00 µm até 24,50 µm. Estudos33

em outros animais

comprovam as mesmas conclusões.

No ser humano é difícil analisar a variação da espessura e deformação da

coroide ao longo do dia, devido aos feixes de luzes existentes nos instrumentos óticos,

não alcançarem uma intensidade suficiente de forma a visualizar as estruturas mais

longínquas, nomeadamente, a coroide e esclera. Outra das causas será as diferenças

existentes entre as características anatómicas do olho humano e a dos animais (ex:

dimensões oculares, espessura e pigmentação da coroide e algumas propriedades da

membrana de Bruch).34

2.6.3.3 - Comprimento axial versus acomodação

Vários parâmetros oculares, tais como, a PCA, a espessura do cristalino

(referidas anteriormente), a PCV e o CA exibem uma alteração significativa durante o

processo acomodativo. À medida que aumenta o estímulo acomodativo ocorre um

aumento no CA.14

Através do estudo17

realizado por Drexler et al. em 1998, verificou-se que

durante a acomodação a tensão exercida pelas fibras da Zónula de Zinn sobre a coroide

produz um aumento do comprimento axial.

Em relação às variações do valor do CA entre diferentes populações (emetropes,

míopes e hipermetropes), as opiniões diferem, Read & al., revelam não existir

diferenças entre míopes e emetropes em termos da variação do CA,14

enquanto que

Kaluzny defende existir diferenças significativas entre os 3 grupos populacionais, que

estão relacionadas com o movimento do cristalino.13

Nos emetropes apenas o pólo

anterior do cristalino avançou anteriormente durante a acomodação, já nos míopes o

pólo anterior do cristalino avançou anteriormente e o pólo posterior recuou, nos

hipermetropes ambos os pólos se movimentam para a frente. O movimento para frente

do pólo posterior está correlacionado com um comprimento axial baixo, e também com

um erro de refrativo maior e um pequeno aumento da espessura do cristalino.

Metodologia

47

Capítulo 3 - Metodologia

Neste capítulo apresenta-se em primeiro lugar a obtenção e caracterização da

amostra estudada, em segundo lugar a metodologia utilizada (materiais e métodos) e por

último uma breve descrição da análise estatística utilizada na interpretação dos

resultados. No primeiro subcapítulo aborda-se também os critérios de exclusão, as

limitações na procura de voluntários e as questões de ética existentes no estudo. Os

testes optométricos escolhidos para a realização deste trabalho têm com principais

objetivos a precisão e a rapidez de execução, uma vez que são várias as variáveis em

estudo.

As medições foram efetuadas em três alturas diferentes do dia: manhã – desde as

9 horas até às 12 horas, à tarde – desde as 13 horas até às 16 horas e ao anoitecer –

desde as 17 horas às 20 horas. O período de recolha dos dados recorreu desde o mês de

fevereiro até ao final do mês de abril.

3.1 - Amostra

A amostra deste estudo é constituída por 21 estudantes que frequentam a

Licenciatura em Optometria e Ciências da Visão e o Mestrado em Optometria Avançada

na Universidade do Minho.

Neste estudo participaram 14 mulheres e 7 homens, com idades compreendidas

entre os 18 e os 32 anos, sendo a idade média da amostra de 23,8±5,9 anos (Valor

médio ± Desvio padrão), como se pode comprovar através das figuras 6 e 7.

Todos os participantes que apresentavam um erro refrativo encontravam-se

corrigidos com óculos, sendo que a última atualização foi efetuada à menos de 1 ano.

Metodologia

48

Figura 6 - Frequência absoluta da idade na amostra. Figura7 - Distribuição de géneros na amostra.

Em relação às diferentes ametropias encontradas, os participantes foram

divididos em míopes, quando o valor da esfera equivalente (M) do erro refrativo obtido

através do autorrefratómetro de campo aberto foi inferior a -0,50 D, em emetropes

quando apresentavam valores superiores a -0,50 D e inferiores a +0,50 D, e em

hipermetropes quando os valores foram superiores a +0,50 D. Assim, amostra deste

estudo é considerada maioritariamente emetrope (Figura 8). Esta divisão é referente à

primeira medida realizada, ou seja, à medida correspondente ao período da manhã.

Figura 8 - Frequência absoluta dos erros refrativos.

18

2 1

Emetropes

Míopes

Hipermetropes

Metodologia

49

O atraso acomodativo da amostra situa-se entre as 0,08 D e as 2,25 D, a sua

distribuição na amostra pode ser visualizada na figura 9.

Figura 9 - Frequência absoluta do atraso acomodativo.

A nível do estado fórico da amostra, predomina a endoforia para a visão ao

longe, e a exoforia para a visão de perto, os seus valores variam desde a 1,00 D até às

4,00 D ou 6,00 D, respetivamente. A endoforia para a visão de perto não é maior que

1,00 D, em relação à exoforia para a visão de longe não ultrapassa as 3,00 D. A

distribuição das frequências relativas do estado fórico na amostra pode ser visualizado

na figura 10.

Figura 10 - Frequência absoluta do estado fórico.

Metodologia

50

3.1.1 - Cálculo da amostra necessária

O cálculo do tamanho da amostra necessária foi efetuado usando um programa

informático.44

Considerou-se uma diferença de 0,50 D entre os valores do erro refrativo, para

existir uma variação clinicamente significativa entre os 3 períodos do dia.

Com os dados da média e do desvio padrão dos primeiros 20 indivíduos

analisados (-0,02±0,36 D), calculou-se a amostra necessária. Com estes valores e

considerando uma variação de 0,50 D era necessária uma amostra final de cerca de 8

indivíduos.

O facto de este estudo possuir uma amostra composta 21 participantes, foi

considerado um número razoável para a realização deste trabalho, na medida que os

estudos até agora efetuados sobre as variações diurnas dos diferentes COO contemplam

no máximo 20 participantes.

3.1.2 - Critérios de inclusão e exclusão

Todos os participantes deveriam ter idades compreendidas entre os 18 e 35 anos

de idade. Os indivíduos não poderiam apresentar patologias oculares, nem serem

usuários de lentes de contacto.

Neste estudo foram excluídos míopes superiores a -3,00 D e hipermetropes

superiores a +3,00 D para obter uma amostra mais homogénea.

Na amostra obtida, excluiu-se um participante, porque não tinha uma recolha de

dados completa.

3.1.3 - Questões de ética

Antes da realização das medidas e de acordo com a declaração de Helsínquia

sobre a experimentação em humanos, foi dada uma explicação detalhada aos

participantes sobre os objetivos e finalidades deste estudo, assim como o modo de

funcionamento do mesmo. Foi ainda evidenciado, que nenhum dos procedimentos de

medida efetuados colocariam em risco a saúde ocular dos participantes, e que estes

Metodologia

51

poderiam abandonar o estudo a qualquer momento.

Devido à proteção de dados na sua divulgação, no tratamento de dados foi

ocultado o nome de cada participante através da numeração de sujeitos (Ex: Sujeito 1,

Sujeito 2). Todos os participantes assinaram um consentimento informado (anexo 1) em

como autorizavam a realização das medidas e a divulgação dos resultados encontrados.

3.2 - Exames

Uma ficha clínica (anexo 2) foi elaborada para registar todas as informações

pessoais dos participantes e anotar o resultado de cada exame efetuado. Os resultados do

autorrefratómetro eram impressos e afixados à ficha clínica. Esta ficha estava dividida

em três partes separadas, uma para cada fase do dia: manhã, tarde e anoitecer.

O trabalho iniciou-se com a realização de um questionário (anexo 3) que visava

conhecer o estado de saúde geral e ocular do sujeito, assim como os seus antecedentes

oculares. Em seguida efetuaram-se alguns exames que permitiram verificar se os

indivíduos cumpriam com os requisitos para participarem neste estudo.

O erro refrativo foi obtido através de um método que controla a acomodação, o

autorrefratómetro de campo aberto. De seguida efetuaram-se a biometria, a tonometria,

a aberrometria. As medidas foram realizadas de uma forma aleatória.

3.2.1 - Questionário

O questionário identifica o participante através do seu nome e data de

nascimento. Os participantes foram inquiridos se possuíam alguma doença geral

(hipertensão, diabetes ou colesterol) ou ocular (conjuntivites, secura ocular, blefarites

ou trauma) como também se possuíam hábitos tabagistas, se utilizaram o computador e

qual a rotina efetuada durante o dia das medições.

Durante o dia de recolha dos dados, os alunos encontravam-se em aulas ou a

estudar para exames e não utilizaram o computador como material de apoio.

Dos 21 participantes do estudo, 6 fumavam e 5 mulheres tomavam a pílula,

nenhuma outra medicação foi apresentada durante o questionário.

Metodologia

52

3.2.2 - Exames de seleção

A medida do estado fórico dos participantes foi efetuado através da utilização de

um cilindro de Maddox e de uma barra de primas. Este método é considerado um

método subjetivo que avalia a presença, direção e magnitude do desvio ocular, não

diferenciando o tipo de desvio apresentado: foria ou tropia. É um método que apesar de

não controlar a acomodação, consegue minimizar os erros associados à utilização de

diferentes instrumentos de medidas do estado fórico, uma vez que se pode utilizar quer

para a visão de longe quer para a visão de perto.

Primariamente, em cada sujeito foi colocado na armação de provas a graduação

dos seus óculos (caso o sujeito utilizasse) e o cilindro de Maddox branco apenas no olho

direito, numa posição horizontal, com o objetivo de medir as forias horizontais (a linha

ficará numa posição vertical).

O cilindro de Maddox transforma um ponto luminoso, projetado ao longe ou ao

perto, numa linha. Caso o participante possuísse algum desvio, a linha visualizada

através do cilindro de Maddox, não coincidirá com o ponto luminoso; se a linha

intercetar o ponto, o paciente não terá qualquer desvio ocular, apresentando uma

ortoforia. Sempre que a linha não coincide com o ponto é graduado a quantidade do

desvio com o auxílio de uma barra de prisma. Se a linha se apresentar do lado direito do

ponto, o paciente apresentará uma endoforia, no caso contrário, se a linha se apresentar

à esquerda do ponto, estamos perante uma exoforia. O grau da enforia ou exoforia

encontrada é dado pela quantidade de prismas colocados no olho esquerdo do paciente

para que o ponto luminoso coincida com a linha vertical.

Para longe o estímulo luminoso era projetado a 5 metros e para perto a 50

centímetros, através da utilização de uma lanterna.

3.2.3 - Autorrefractómetro

A determinação do erro refrativo foi realizada de uma forma automática,

utilizando o autorrefratómetro de campo aberto WAM-5500 (Grand Seiko, Hiroxima,

Japão, Figura 11). A utilização deste instrumento diminuiu o tempo de recolha de dados

e permite controlar parte da acomodação (instrumental e proximal).

Metodologia

53

O instrumento realiza cinco medidas consecutivas sobre o valor da refração do

paciente, apresentando também a sua média. Os valores foram impressos e anexados à

ficha clínica. A média dos valores da refração foi a medida considerada como o erro

refrativo do participante (ex: +0,39 -0,47 x 40, sendo que o primeiro valor representa o

valor da esfera, o segundo representa o valor do astigmatismo e em último representa o

eixo do astigmatismo).

As medidas realizadas para a visão de longe e perto foram efetuadas quando o

participante olhava para um objeto a 3 metros e a 40 centímetros, respetivamente.

Figura 11 - Autorrefractómetro de campo aberto.

Metodologia

54

3.2.4 - Biómetro

O biómetro utilizado para a realização deste trabalho foi o IOLmaster (Zeiss,

Jena, Alemanha, Figura 12). É instrumento de não contacto que mede a distância do

vértice da córnea ao epitélio pigmentar da retina, possui uma precisão de ±0,02 mm ou

mais.

Os dados recolhidos deste instrumento, para cada olho, foram a profundidade da

câmara anterior e o comprimento axial.

Figura 12 - IOLmaster.

3.2.5 - Tonómetro

O tonómetro utilizado neste estudo foi o ORA (Ocular Response Analyzer –

Reichert Inc, Depew, NY, EUA, Figura 13), este tonómetro envia um sopro de ar que

depois de processado fornece informações sobre a PIO e as propriedades biomecânicas

da córnea.

Figura 13 - Ocular Response Analyzer.

Metodologia

55

Os principais parâmetros biomecânicos medidos pelo ORA são a histerese

corneal (CH), definida como um resultado do amortecimento viscoelástico do tecido

corneal em resposta à deformação, e o fator de resistência da córnea (CRF), entendido

como a maior parte da elasticidade da córnea. Ambos os fatores estão fortemente

relacionados entre si, e por isso mesmo, não se conseguem isolar com esta técnica. O

ORA utiliza o valor do CH e do CRF para calcular uma PIO compensada (PIOcc), que é

supostamente livre da influência da espessura corneal e das propriedades biomecânicas

da córnea.

A cada participante foram efetuadas 3 medidas, para cada período do dia e para

cada olho. Os valores médios da PIO, da CRF e da CH foram utilizados para análise

estatística dos resultados.

3.2.6 - Aberrómetro

As aberrações de baixa e alta ordem foram analisadas através do aberrómetro

IRX3™ (Imagines Eyes, Orsay, France, Figura 14). Este instrumento apresenta uma

combinação de amplo alcance, com uma tecnologia de frente de onda de Shack-

Hartman e um software de análise ocular patenteado.

Figura 14 - Aberrómetro IRX3: Imagines Eyes.

As medidas eram efetuadas sempre com uma iluminação bastante diminuída

(perto da penumbra) para se obter o máximo diâmetro pupilar. Realizaram-se três

medidas para cada olho, utilizando-se a média das 3 medidas para a análise dos

Metodologia

56

resultados. Todas as aberrações de baixa ordem (desfoque e astigmatismo) e as

principais aberrações de alta ordem encontradas (z (3, -1) – coma vertical; z (3, 1) –

coma horizontal; z (4, 0) – aberração esférica de 4ª ordem; Soma-Esférica (soma de

todas as ordens de aberração esférica); Soma-Coma (soma de todas as ordens de coma);

Astigmatismo de 2ª ordem; Aberrações de 3ª, 4ª, 5ª e 6ª ordem foram analisadas.

3.3 - Análise estatística

A análise estatística deste trabalho tem por base o programa estatístico SPSS

versão 18.0, normalmente aplicado na área das ciências. Todo este subcapítulo tem

como suporte bibliográfico 4 livros35-38

que relacionam os resultados da análise

estatística com as respetivas interpretações.

A inferência estatística permite através de uma amostra aleatória tirar conclusões

gerais sobre a população onde esses elementos provieram. Este tipo de estatística

divide-se em dois ramos: estimação e testes de hipóteses.

A técnica da estimação obtém estimativas pontuais ou estimativas intervalares.

A estimação pontual consiste em determinar uma estatística que estime o valor do

parâmetro desconhecido. Como o valor do parâmetro é único, a estimativa pontual pode

ou não coincidir com este valor. Devido a não possuir um grau de certeza associada

utiliza-se com mais frequência a estimação intervalar. Os intervalos de confiança

contêm o verdadeiro valor do parâmetro (desconhecido) com uma certa confiança, isto

é, com uma certa probabilidade que é afixada à partida. Os níveis de confiança são

usualmente expressos em percentagem: 90%, 95% ou 99%., e consequentemente, as

probabilidades de errar são, respetivamente, de 0,10, 0,05 e 0,01.

Os testes de hipóteses verificam se as hipóteses sobre determinado parâmetro

são ou não rejeitadas. Existem dois tipos de hipóteses: a hipótese nula (H0), que

pressupõe a ausência de diferenças num determinado parâmetro a hipótese alternativa

(Ha), que pressupõe a rejeição de H0.

O objetivo do procedimento estatístico é aferir se se pode aceitar ou rejeitar a

hipótese nula.

Metodologia

57

Ao efetuar um teste de hipóteses pode-se cometer um dos dois tipos de erros: o

erro de tipo I, que consiste em rejeitar a hipótese nula quando esta é, de facto,

verdadeira; e o erro de tipo II, que consiste em não rejeitar a hipótese nula quando a

hipótese alternativa é verdadeira.

O erro de tipo I é considerado um erro mais grave que o erro do tipo II, por este

facto, é usual fixar-se um valor máximo para a probabilidade do erro de tipo I. Este

valor máximo denomina-se por nível de significância. Os níveis de significância

normalmente utilizados são os 0,05 e 0,01.

Uma alternativa a fixar o nível de significância do teste consiste em calcular o

valor de p-value (probabilidade de significância do resultado – p). O p-value

corresponde ao menor nível de significância em que a H0, admitida como verdadeira,

pode ser rejeitada. Se o p ≤ 0,05, o resultado obtido é considerado significativo ao nível

de 5% e há evidência para se rejeitar H0. Se o p ≤ 0,01, o resultado obtido é considerado

significativo ao nível de 1% e há forte evidência para se rejeitar H0. Se o p > 0,05, o

resultado obtido não é considerado significativo e não há evidência para se rejeitar H0.

3.3.1 - Variáveis

As varáveis analisadas ao longo deste trabalho podem ser dividas em variáveis

dependentes ou independentes e em variáveis qualitativas ou quantitativas.

As variáveis qualitativas são variáveis cujas escalas de medida apenas indica a

sua categoria (por exemplo: sexo: masculino ou feminino; período do dia: manhã, tarde

e anoitecer). As variáveis quantitativas são variáveis cuja escala de medida permite a

ordenação e quantificação de diferenças entre os valores observados (por exemplo: erro

refrativo, PCA, CA, atraso acomodativo, CH, CRF, PIOg, PIOcc e os coeficientes de

Zernike que descrevem as aberrações de baixa e alta ordem).

As variáveis dependentes correspondem ao valor do erro refrativo, pois no

âmbito do projeto desta tese, espera-se verificar se este apresenta uma variação diurna e

se algum dos COO é responsável por tal variação. As variáveis independentes incluem o

CA, a PCA, a PIO, a CH e o CRF e as aberrações. Todas estas variáveis são

dependentes entre si.

Metodologia

58

Em relação à PIO, esta foi divida em PIOg, valor da pressão intraocular que não

tem em consideração os parâmetros biomecânicos da córnea e em PIOcc, pressão

intraocular que tem em consideração os parâmetros biomecânicos da córnea,

normalmente denominada por pressão intraocular com correção.

O erro refrativo normalmente apresenta o valor da esfera, o astigmatismo e o

eixo do astigmatismo. Para a realização das operações estatísticas sobre estes valores, a

refração é expressa na forma de vetores de potência (M, J0 e J45).42

Os valores dos vetores são calculados através das seguintes expressões

matemáticas:

Equação 1: M = S + C/2 S: valor da esfera

Equação 2: J0 = (-C/2) cos (2β) C: valor do astigmatismo

Equação 3: J45 = (-C/2) sin (2β) β : eixo do astigmatismo

O componente M representa o equivalente esférico: soma do valor da esfera com

metade do valor do astigmatismo. O J0 e o J45 representam a componente astigmática:

o J0 representa a componente do astigmatismo no meridiano horizontal e vertical, sendo

positivo para astigmatismo à regra e negativo para astigmatismo contra a regra; o J45

representa a componente do astigmatismo oblíquo, sendo positivo para astigmatismos

cujo eixo está cerca dos 45º e negativo quando o eixo está aproximadamente nos 135º. 2

Ao longo da análise estatística apenas se utilizou as medidas efetuadas ao olho

direito, uma vez que as diferenças estatisticamente significativas encontradas entre

ambos os olhos eram pouco relevantes para o estudo. O teste estatístico utilizado, para

verificar esta diferença entre os valores do OD e do OE, foi o teste Wilcoxon.

Metodologia

59

3.3.2 - Normalidade dos dados

Os testes de Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk são dois testes utilizados em

simultâneo para verificar se as distribuições da amostra apresentam ou não a

normalidade dos dados.

O teste de ajustamento de Kolmogorov-Smirnov aplica-se quando se pretende

verificar se a distribuição de uma variável se ajusta a uma distribuição teoricamente

conhecida, como por exemplo, uniforme, Poisson, exponencial ou normal. No caso da

distribuição normal é o teste de aderência de Kolmogorov-Smirnov com correção de

Lilliefors que se aplica quando se conhecem os parâmetros populacionais, ou seja,

média e desvio padrão. Em rigor, quando se tem uma amostra superior a 50 observações

pode-se realizar o teste de Kolmogorov-Smirnov com correção de Lilliefors mesmo que

não se conheçam os seus parâmetros populacionais.

O teste de Shapiro-Wilk aplica-se quando se tem uma variável quantitativa

(continua ou tratada como tal) e se pretende verificar se a sua distribuição é normal. É o

teste de aderência à normal mais robusto quando se tem pequenas amostras (número de

sujeitos ≤ 50).38

3.3.3 - Testes paramétricos e não paramétricos

Usualmente, os diferentes testes estatísticos são classificados em dois grandes

grupos: testes paramétricos e não paramétricos.

Os testes paramétricos são utilizados quando se conhece a distribuição amostral

(sendo a normal a mais comum) e quando a característica em estudo é quantitativa (ou

tratada como tal). No entanto, alguns testes paramétricos requerem a verificação de

outros pressupostos para a sua realização (por exemplo, a homogeneidade das

variâncias).

Os testes não paramétricos são realizados como alternativa aos testes

paramétricos para variáveis quantitativas quando não se verifica os pressupostos,

quando não se conhece a distribuição amostral, ou quando as variáveis medidas estão

numa escala nominal ou ordinal (qualitativas). 38

Metodologia

60

Os testes paramétricos serão identificados, ao longo da análise dos resultados,

com um asterisco (*). Quando uma das variáveis não apresentar normalidade dos dados

ou os pressupostos não foram cumpridos em pelo menos uma das variáveis analisadas,

utilizar-se-á os testes não paramétricos, que serão identificados através de um sinal de

mais (+).

3.3.3.1 - Testes paramétricos para amostras emparelhadas

a) ANOVA: Teste F (Tests of Between-Subjects Effects)

O teste paramétrico da ANOVA, em particular, o teste Between-Subjects Effects,

utiliza-se para amostras emparelhadas e compara as médias entre três variáveis para os

mesmos indivíduos, ou seja, compara as variáveis nos 3 períodos do dia: manhã, tarde e

anoitecer. Este teste tem como pressupostos a normalidade e esfericidade das variáveis.

O teste que verifica a esfericidade (Mauchly`s test) é efetuado ao mesmo tempo que o

teste Between-Subjects Effects. Quando a sua significância é superior a 0,05, então a

variável possui esfericidade. Caso um destes pressupostos não se cumpra, utiliza-se o

teste não paramétrico de Friedman.38

Ao longo deste estudo as amostras foram consideradas emparelhadas, uma vez

que se teve em consideração que os valores de cada variável correspondem ao mesmo

sujeito.

b) T-Test

O teste paramétrico t para amostras emparelhadas aplica-se quando se têm duas

variáveis quantitativas correlacionadas (medidas em escalas comparáveis) e se pretende

comparar as suas médias para os mesmos indivíduos. Noutra perspetiva, têm-se duas

amostras emparelhadas quando os dois conjuntos de observações são diferentes em

apenas uma característica relevante. Este teste tem como pressupostos as variáveis

apresentarem uma distribuição normal, o emparelhamento das amostras (todas se

referem ao mesmo sujeito) e apresentarem uma correlação entre as variáveis (correlação

linear de Pearson). Caso alguns destes pressupostos não se cumpra utiliza-se como

alternativa o teste não paramétrico de Wilcoxon.38

Este tipo de teste permite avaliar as amostras a cada dois períodos do dia: Manhã

Metodologia

61

versus Anoitecer, Tarde versus Anoitecer e Manhã versus Tarde.

3.3.3.2 - Testes não paramétricos para amostras emparelhadas

a) Wilcoxon

É considerado um teste não paramétrico para duas amostras emparelhadas,

quando se pretende testar a igualdade de duas distribuições populacionais ou de outra

forma, permite comparar as médias das ordenações das suas distribuições, ou seja, a

cada dois períodos do dia. É utilizado como uma alternativa ao teste paramétrico (t-test)

para a igualdade das médias de duas amostras emparelhadas, quando não se pode aplicar

por violação de pressupostos ou como primeira opção, quando a variável em teste é uma

qualitativa ordinal. Considera-se emparelhamento de amostras quando se pretende

comparar duas características referentes ao mesmo indivíduo, ou seja, há relação entre

as amostras.38

b) Teste de Friedman

O teste de Friedman é um teste não paramétrico para amostras emparelhadas e

utiliza-se quando se pretende verificar a igualdade de médias entre três distribuições

populacionais, isto é, entre os três períodos do dia analisados. É utilizado como

alternativa ao teste ANOVA, quando um dos seus pressupostos falha.

3.3.3.3 - Testes de correlação

Os testes aos coeficientes de correlação linear de Pearson (r) e correlação

ordinal de Spearman (rho) aplicam-se quando se pretende testar se a relação entre duas

variáveis existe. A medida a utilizar depende da escala de medida das duas variáveis:

Pearson quando se têm duas variáveis quantitativas e normalmente distribuídas; e

Spearman quando as duas variáveis são, pelo menos, ordinais e quando não seja

possível assumir a normalidade dos dados. O rho de Spearman mede a associação entre

as ordenações (rankings) das duas variáveis.38

Metodologia

62

Pode-se encontrar os seguintes valores de r (coeficiente de correlação):

r = 1, a correlação existente entre as duas variáveis é uma correlação

perfeita positiva, isto é, uma variável aumenta com a outra;

r = -1, a correlação existente entre as duas variáveis é uma correlação

perfeita negativa, isto é, se uma variável aumenta, a outra diminui;

r = 0, significa que as duas variáveis não dependem linearmente uma da

outra pode existir no entanto, uma dependia não linear).

Outra forma de se verificar a correlação das variáveis é utilizando a hipóteses do

teste, neste caso considera-se:

H0: O coeficiente de correlação é igual a zero, isto é, não existe correlação entre as

variáveis;

Ha: O coeficiente de correlação é diferente de zero, logo existe uma correlação entre as

variáveis.

Regra de decisão:

Não rejeitar H0 se p > α = 0,05

Rejeitar H0 (aceitar Ha) se p ≤ α = 0,05

Resultados

63

Capítulo 4 - Resultados

Neste capítulo apresenta-se uma análise gráfica, que permitirá uma visualização

geral sobre a variação circadiana para cada variável analisada. Numa análise mais

profunda e precisa, efetuada aos dados recolhidos, é apresentado uma análise estatística

baseada nos testes de hipóteses.

Na análise estatística considera-se as seguintes hipóteses de teste:

H0: As médias entre as variáveis em estudo são iguais.

Ha: As médias entre variáveis em estudo são diferentes.

E respetivas regras de decisão:

Não rejeitar H0 se p > α = 0,05

Rejeitar H0 (aceitar Ha) se p ≤ α = 0,05

Assim, este capítulo encontra-se dividido em 3 subcapítulos. No primeiro

subcapítulo apresenta-se a variação dos valores dos componentes do erro refrativo e do

atraso acomodativo ao longo do dia.

A apresentação da variação circadiana dos parâmetros oculares, nomeadamente,

a PCA, o CA, as aberrações oculares, a PIO e as propriedades biomecânicas da córnea

encontram-se no segundo subcapítulo.

No terceiro subcapítulo apresenta-se as correlações existentes entre as variáveis

estudadas nos diferentes períodos do dia.

Resultados

64

4.1 - Variação circadiana do erro refrativo

O valor da esfera equivalente (M) na amostra em estudo apresenta valores

médios negativos (-0,08±0,26 D (média ± desvio padrão)) no período da manhã,

mantendo-se praticamente estável ao longo do dia, diminuindo ligeiramente ao

anoitecer (-0,07±0,41 D). Pela tabela 2 verifica-se que esta variação diurna não é

estatisticamente significativa (p > 0,05).

Tabela 2. Variação dos valores médios e desvio-padrão dos componentes do erro

refrativo ao longo do dia e respetiva significância estatística.

Componentes do

Erro refrativo Manhã Tarde Anoitecer p

M (D) -0,08 ± 0,26 -0,08 ± 0,40 -0,07 ± 0,41 0,231*

J0 (D) 0,09 ± 0,10 0,09 ± 0,15 0,07 ± 0,17 0,002*

J45 (D) 0,05 ± 0,13 0,05 ± 0,13 0,05±0,09 0,063*

* ANOVA: Teste F (Tests of Between-Subjects Effects)

Em relação aos componentes do astigmatismo, o J0 e o J45 apresentam valores

médios positivos (J0 ≥ 0,07±0,17 D; J45 ≥ 0,05±0,13 D). Perante este facto, pode-se

afirmar que a amostra é maioritariamente constituída por indivíduos que possuem um

astigmatismo situado no primeiro quadrante.

A variável J45 mantém-se praticamente constante ao longo do dia (0,05±0,13 D)

(Figura 15). Através da análise estatística (Tabela 2) verifica-se que esta variável não

apresenta qualquer variação significativa sobre os seus valores médios (p > 0,05).

Em relação à componente horizontal do astigmatismo, J0, observa-se uma

variação circadiana estatisticamente significativa (p ≤ 0,05). Ao longo do dia esta

variável apresenta uma diminuição dos seus valores. Pela tabela 2 verifica-se que a

maior flutuação (aproximadamente 0,02 D) ocorre entre o período da tarde (0,09±0,15

D) e o anoitecer (0,07±0,17 D). Na prática, esta flutuação representa uma diminuição do

astigmatismo à regra ou um aumento do astigmatismo contra a regra ao longo do dia.

Na anotação clínica verifica-se uma alteração da esfera em 0,02 D e no astigmatismo

total de -0,04 D (conversão vetorial).

Resultados

65

Assim, concluiu-se que as variáveis M e J45 não apresentam uma variação

estatisticamente significativa dos seus valores ao longo do dia, no caso contrário, a

variação da variável J0 apresenta uma variação diurna significativa.

Figura 15 - Valores dióptricos médios dos componentes do erro refrativo ao longo do dia.

4.1.1 - Variação circadiana do atraso acomodativo

A avaliação do atraso acomodativo foi o único teste utilizado neste estudo para

avaliar o estado acomodativo da amostra em análise. Em média todos os indivíduos

apresentam um atraso acomodativo entre as 0,85±0,38 D e as 0,90±0,44 D (Tabela 3).

Tabela 3. Variação dos valores médios e desvio-padrão do atraso acomodativo ao longo

do dia e respetiva significância estatística.

Manhã Tarde Anoitecer p

Atraso

Acomodativo (D) 0,90±0,44 0,88±0,45 0,85±0,38 < 0,001

*

* ANOVA: Teste F (Tests of Between-Subjects Effects)

Ao se efetuar uma análise estatística sobre os dados recolhidos (Tabela 3),

verificou-se que o atraso acomodativo apresenta uma variação significativa dos seus

valores ao longo dos três períodos do dia analisados: manhã, tarde e anoitecer (p

-0,1

-0,05

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

0,3

0,35

M J0 J45

Valo

r D

ióp

tric

o

Manhã

Tarde

Anoitecer

Resultados

66

<0,001). O atraso acomodativo diminui ao longo do dia, apresentando uma variação de

0,02 D entre o período da manhã e o período da tarde, e uma variação de 0,03 D entre o

período da tarde e o anoitecer. Esta flutuação não exerce uma influência direta sobre o

valor do erro refrativo, mas representa um aumento do esforço acomodativo ao longo do

dia, e provavelmente, um aumento da sintomatologia associada, nomeadamente cansaço

ocular e astenopia.

4.2 - Variação circadiana dos parâmetros oculares

Os parâmetros oculares analisados neste estudo foram a profundidade da câmara

anterior, o comprimento axial, a pressão intraocular e as propriedades biomecânicas da

córnea e as aberrações totais do olho.

4.2.1 - Variação circadiana dos componentes óticos oculares

Os componentes óticos oculares avaliados neste estudo foram o comprimento

axial (CA) e a profundidade da câmara anterior (PCA) (Figura 16).

O comprimento axial médio na amostra na primeira medida do dia é de

23,35±0,53 mm (Tabela 4). Os seus valores diminuem 0,04 mm do período da manhã

para o da tarde e aumentam na mesma proporção do período da tarde para o anoitecer

(Tabela 4). Através da análise estatística verifica-se que esta flutuação não é

considerada significativa, assim pode-se afirmar que não existe uma variação circadiana

do comprimento axial (p = 0,339).

Tabela 4. Variação dos valores médios e desvio-padrão do comprimento axial (CA), e

da profundidade da câmara anterior (PCA), ao longo do dia e respetiva significância

estatística.

Manhã Tarde Anoitecer P

CA 23,35±0,53 23,31±0,49 23,35±0,52 0,339+

PCA 3,13±0,61 3,34±0,49 3,15±0,48 < 0,001*

* ANOVA: Teste F (Tests of Between-Subjects Effects)

+ Teste de Friedman

Resultados

67

A profundidade da câmara anterior, ao longo dos três períodos do dia, situa-se

entre os 3,13±0,61 mm e os 3,34±0,49 mm. A PCA aumenta, aproximadamente 0,21

mm do período da manhã para o período da tarde e diminui cerca de 0,19 mm ao

anoitecer, alcançando praticamente o seu valor inicial (Tabela 4). Estas variações ao

longo do dia foram consideradas estatisticamente significativa (p <0,001).

A maior variação diurna da profundidade da câmara anterior (0,21 mm) pode

provocar uma alteração máxima sobre o erro refrativo de aproximadamente +0,33 D

(Tabela 1 – Subcapítulo 2.2.1).

Figura 16 - Variação, em milímetros, do comprimento axial (CA) e da profundidade da câmara anterior

(PCA) ao longo do dia.

4.2.2 - Variação circadiana da Pressão intraocular e das

propriedades biomecânicas da córnea

Os valores da pressão intraocular (PIOcc e PIOg) foram analisados

estatisticamente e representados graficamente (Figura 17).

O valor da pressão intraocular (PIOg) que tem em consideração as propriedades

biomecânicas da córnea (CH e CRF) apresenta o seu maior valor (pico) no período da

manhã e o seu mínimo no período da tarde, os seus valores médios situam-se entre os

13,27±1,98 mmHg e os 12,64±2,77 mmHg, respetivamente (Tabela 5).

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

PCA

Manhã

Tarde

Anoitecer

22

22,25

22,5

22,75

23

23,25

23,5

23,75

24

CA

Va

lore

s em

mm

Resultados

68

Os valores médios da pressão intraocular com correção (PIOcc) situam-se entre

os 13,36±2,13 mmHg e os 13,97±2,68 mmHg. Estes valores superam os valores

apresentados pela pressão intraocular não corrigida (PIOg).

Tabela 5. Variação dos valores médios e desvio-padrão da Pressão intraocular (normal

(PIOg) e corrigida (PIOcc)), fator de resistência (CRF) e histerese corneal (CH), ao

longo do dia e respetiva significância estatística.

Manhã Tarde Anoitecer P

PIOg 13,27±1,98 12,64±2,77 12,81±3,11 < 0,001*

PIOcc 13,85±2,44 13,38±2,13 13,97±2,68 < 0,001*

CRF 9,99±1,53 9,53±1,44 9,37±1,48 < 0,001*

CH 10,53±1,23 10,22±1,12 10,12±1,12 < 0,001*

* ANOVA: Teste F (Tests of Between-Subjects Effects)

As variáveis, PIOg e PIOcc, apresentam o mesmo comportamento ao longo do

dia: ambas apresentam uma diminuição estatisticamente significativa (p < 0,001) do

período da manhã para o da tarde, aumentando depois ao anoitecer. A máxima flutuação

ocorreu entre o período da manhã e o período da tarde, apresentando uma variação de

0,63 mmHg para a PIOg e de 0,59 mmHg para a PIOcc. É de salientar, que o aumento

sofrido pela variável PIOcc do período da tarde para o anoitecer consegue superar o

valor médio atingido no período da manhã (Figura 17).

Figura 17 - Variação dos valores da Pressão intraocular (normal (PIOg) e corrigida (PIOcc)), fator

de resistência (CRF) e histerese corneal (CH), ao longo dos três períodos do dia, respetivamente.

9

10

11

12

13

14

15

16

17

PIOg PIOcc CRF CH

Valo

res

em m

mH

g

Manhã

Tarde

Anoitecer

Resultados

69

Os valores médios encontrados para as propriedades biomecânicas da córnea na

primeira medida do dia foram de 9,99±1,53 mmHg para o CRF e de 10,53±1,23 mmHg

para o CH.

Através da análise da tabela 5 verifica-se que a variação diurna das variáveis CH

e CRF é considerada estatisticamente significativa (p <0,001). Os valores médios da

CRF diminuem aproximadamente 0,46 mmHg do período da manhã para o da tarde,

diminuindo novamente ao anoitecer cerca de 0,16 mmHg. A variável CH apresentou

uma diminuição dos seus valores médios ao longo do dia, verificando-se uma flutuação

de 0,31 mmHg do período da manhã para o da tarde e uma flutuação de 0,10 mmHg da

tarde para o anoitecer. É de salientar, que as maiores variações da CRF e da CH se

registaram na transição do período da manhã para o da tarde, igualando o

comportamento diurno observado na PIOg e PIOcc.

4.2.3 - Variação circadiana das aberrações oculares

As principais aberrações analisadas neste estudo estão representadas na tabela 6.

Tabela 6. Variação dos valores médios e desvio-padrão das aberrações corneais ao

longo do dia e respetiva significância estatística.

Aberrações Manhã Tarde Anoitecer p

z (3 , -1) 0,013±0,111 0,014±0,110 -0,002±0,107 0,727*

z (3 , 1) 0,001±0,042 0,017±0,056 0,016±0,045 0,237*

z (4 , 0) 0,040±0,042 0,032±0,052 0,038±0,040 0,311+

Soma-Esférica 0,051±0,029 0,052±0,033 0,049±0,027 < 0,001*

Soma-Coma 0,100±0,065 0,109±0,061 0,101±0,060 0,304+

Astigmatismo 2ª ord. 0,037±0,016 0,039±0,015 0,034±0,019 0,688+

3ª ordem 0,147±0,098 0,161±0,080 0,154±0,081 0,717+

4ª ordem 0,081±0,044 0,081±0,040 0,075±0,032 0,596+

5ª ordem 0,040±0,030 0,041±0,029 0,043±0,024 0,717+

6ª ordem 0,029±0,013 0,031±0,012 0,034±0,019 0,467+

Total RMS 0,180±0,103 0,192±0,085 0,184±0,083 0,405+

* ANOVA: Teste F (Tests of Between-Subjects Effects)

+ Teste de Friedman

Resultados

70

Todas as aberrações apresentam diversos comportamentos diurnos. O coma

vertical, representado pelo coeficiente de Zernike (3, -1), e o coma horizontal (z (3, 1))

representam as aberrações com os menores valores da amostra ao longo do dia (Tabela

6).

As aberrações de 3ª ordem possuem os maiores valores na amostra, seguidas da

aberração coma e das aberrações de 4ª ordem.

Pela análise gráfica (Figura 18), verifica-se que a cada aberração do olho possui

um comportamento diurno diferente, por exemplo quando uma aberração apresenta uma

diminuição dos seus valores durante a tarde, existe outras aberrações que aumentam ou

diminuem, ou ainda, existe outras que se mantêm constantes ao longo do dia.

Figura 18 - Variação dos valores, em microns, das aberrações corneais, ao longo dos três períodos do dia.

Analisando mais profundamente os dados obtidos, através da tabela 6, observa-

se que todos os valores de p-value possuem um valor maior que o nível de significância

estabelecido (α = 0,05), com a exceção da aberração esférica (Soma-Esférica). Esta

aberração, que representa a soma de todas as aberrações esféricas, possui uma variação

circadiana estatisticamente significativa (p < 0,001), aumentando do período da manhã

para o da tarde (0,001 µm) e diminuindo ao anoitecer (0,003 µm). Em relações às outras

-0,05

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

0,30

Va

lore

s em

mic

ron

s

Manhã Tarde Anoitecer

Resultados

71

aberrações do olho não existem evidências estatísticas que comprovem uma variação

diurna (p > 0,05).

Os resultados obtidos que não apresentaram diferenças estatisticamente

significativas ao longo dos três períodos do dia analisados, foram submetidos a uma

análise mais rigorosa, isto é, efectuaram-se testes estatísticos que analisam a variação

dos valores médios a cada dois períodos do dia (Manhã versus Tarde; Tarde versus

Anoitecer; Anoitecer versus Manhã). Mesmo assim, não foram encontradas quaisquer

variações consideradas estatisticamente significativas.

4.3 - Correlações lineares existentes entre as variáveis estudadas

Os testes estatísticos utilizados para verificar a correlação existente entre as

diversas variáveis analisadas no estudo, foram os testes de Pearson ou Spearman, caso

as variáveis possuíssem ou não a normalidade dos dados.

Os testes de correlação de Pearson foram utilizados quando as duas varáveis

correlacionadas apresentam uma distribuição normal. No caso da não normalidade dos

dados de apenas uma das variáveis, utilizou-se o teste de Spearman.

As correlações encontradas entre as diversas variáveis apresentam um p-value

inferior ao nível de significância fixado (0,05), indicando a existência de uma correlação

entre elas durante os três períodos do dia (Tabela 7).

Tabela 7. Correlações estatisticamente significativas entre as variáveis estudadas nos

três períodos do dia.

Manhã Tarde Anoitecer

Correlações r p r p r p

PIOg vs PIOcc 0,785*

< 0,001* 0,824

* < 0,001

* 0,898

* < 0,001

*

PIOg vs CRF 0,677*

0,003* 0,650

* 0,002

* 0,777

* < 0,001

*

CRF vs CH 0,751*

< 0,001*

0,729*

< 0,001* 0,791

* < 0,001

*

* Teste de Pearson

Pela própria definição de PIOcc e PIOg, era esperado que estas variáveis

apresentassem uma correlação positiva entre elas, ao longo dos três períodos analisados.

Resultados

72

Facto comprovável e observado através da tabela 7 (r = 0,785 e p < 0,001) . Assim,

ambas as variáveis possuem uma relação de dependência, isto é, quando uma das

variáveis aumentar ou diminuir, a outra também irá aumentar ou diminuir. A proporção

do aumento ou diminuição para cada variável pode diferir devido à influência que as

variáveis CH e CRF possuem sobre o valor da PIOcc.

As variáveis CH e CRF apresentam uma correlação positiva (r > 0) entre si,

devido à instrumentalização utilizada neste estudo não conseguir diferenciar estas duas

variáveis.

Observa-se também uma correlação positiva entre a PIOg e a CRF (r > 0), ou

seja, quando o coeficiente do fator de resistência da córnea (CRF) aumentar ou diminuir

ao longo do dia, a pressão intraocular sem correção (PIOg) vai apresentar a mesma

direção de variação mas apresentará uma magnitude de flutuação diferente.

No período da tarde e do anoitecer observou-se uma correlação estatisticamente

significativa (p < 0,001*) entre o atraso acomodativo e o equivalente esférico (M). Estas

duas variáveis variam em sentido contrário, ou seja quando uma variável diminuir, a

outra variável aumentará (r = -0,781 no período da tarde; r = -0,522 ao anoitecer).

Discussão

73

Capítulo 5 - Discussão

Este estudo teve como objetivo a averiguação de uma possível variação

circadiana do erro refrativo e dos componentes oculares, de forma a ajudar o

profissional clínico a estabelecer um horário de consultas, que evite possíveis problemas

de adaptação à graduação prescrita. Assim, numa primeira fase avaliou-se a variação do

erro refrativo ao longo do dia, e numa fase posterior, verificou-se a existência de uma

variação diurna nos componentes oculares que possam exercer alguma influência sobre

a variação dos valores médios do erro refrativo nos três períodos do dia analisados:

manhã, tarde e anoitecer.

Analisando a variação circadiana do erro refrativo, decomposto nos vetores de

potência (M, J0 e J45), verificou-se uma variação estatisticamente significativa apenas

da componente astigmática, J0. Esta variável diminui ao longo do dia, apresentando

uma flutuação máxima de 0,02 D do período da manhã ou tarde para o anoitecer. Em

termos práticos, esta flutuação poderá representar uma diminuição do astigmatismo à

regra ou um aumento do astigmatismo contra a regra.

Em relação ao valor do astigmatismo, a sua variação diurna (alteração da esfera

em 0,02 D e no astigmatismo total de -0,04 D – anotação clínica) não será notória nos

exames optométricos ou oftalmológicos devido às habituais escalas de graduação

utilizarem intervalos de 0,25 D. Através da aberrometria, que tem em consideração uma

variação do erro refrativo em escalas de intervalos menores, o astigmatismo de 2ª ordem

e o coma não apresentaram qualquer variação circadiana estatisticamente significativa.

O atraso acomodativo, que mede a diferença entre a acomodação requerida para

visualizar com nitidez o optotipo colocado a uma certa distância e o esforço

acomodativo realmente efetuado, foi o único teste realizado para conhecer o estado

acomodativo da amostra. Esta variável vai diminuindo ao longo do dia, podendo sofrer

uma variação máxima de 0,05 D. Esta flutuação pode contribuir para um aumento do

Discussão

74

cansaço ocular ou a uma falta de nitidez na imagem visualizada ao final do dia, isto

porque, o indivíduo pode apresentar uma maior dificuldade em relaxar a acomodação.

Este facto possui ainda uma maior relevância devido à correlação linear encontrada

entre o atraso acomodativo e os valores médios do equivalente esférico (M) nos

períodos da tarde e o anoitecer.

Apesar, de não se conhecer nenhum estudo que avaliasse a variação diurna da

acomodação, em 1998, Drexler et al. verificou que a acomodação induzida (colocar o

individuo a focar um objeto a 30 cm) e a amplitude de acomodação possuem uma

correlação positiva com o comprimento axial. Observaram ainda que, a força efetuada

sobre as fibras da Zónula de Zinn quando o indivíduo acomodava, ocasionava uma

debilidade da esclera, proporcionando um aumento de aproximadamente 10 µm no

comprimento axial.17

Em 2010, Read et al, verificaram que durante a acomodação a PIO

diminuiu.39

No presente estudo o atraso acomodativo não apresentou uma correlação

linear com o comprimento axial ou com a PIO, uma vez que a metodologia utilizada não

mediu o valor da acomodação, do CA e da PIO depois de um período de tempo

prolongado em visão próxima.

Os componentes óticos oculares analisados neste estudo foram a profundidade

da câmara anterior e o comprimento axial, ambos apresentaram valores considerados

normais (Tabela 1) para o olho de um adulto saudável: o comprimento axial observado

foi de aproximadamente 23,00 mm e os valores da profundidade da câmara anterior

situaram-se entre os 3,10 mm e os 3,34 mm.

O comprimento axial manteve-se praticamente estável ao longo do dia, esta

conclusão é divergente dos resultados apresentados por Wilson et al. e por Stone et al.,

que verificaram uma variação sinoidal do CA ao longo do dia.11,29

Este último autor

estabelece inclusive uma hora do dia para que o CA alcance o seu valor máximo

(aproximadamente ao meio-dia).

No presente estudo a observação da variação diurna do CA foi realizada num

período de 11 horas, no entanto, nos estudos referidos anteriormente, a recolha dos

dados sucedeu-se num período de horas superior, 18h e 15h respetivamente.

Read et al., numa avaliação do CA ao longo de um dia (24 horas) encontraram

uma flutuação máxima de 0,046 mm e uma correlação significativa entre a variação

diurna do CA e da PIO.12

A flutuação de 0,046 mm observada por este autor (dos três

estudos11,12,29

referenciados é o que apresenta a maior flutuação do CA) poderia

Discussão

75

proporcionar uma variação de aproximadamente -0,12 D no erro refrativo, se os outros

COO se mantivessem constante.

No presente estudo, não foi encontrada qualquer correlação entre estas duas

variáveis. Mesmo assim, o facto da inexistência de uma variação diurna do CA, não

seria considerado como um fator na variação da PIO ao longo do dia.

A profundidade da câmara anterior apresentou uma variação circadiana

estatisticamente significativa. O aumento de 0,21 mm na PCA entre o período da manhã

e o período da tarde seria responsável pelo aumento da hipermetropia ou diminuição da

miopia na ordem das 0,33 D, no entanto, a diminuição de 0,19 mm entre o período da

tarde e o anoitecer provocaria uma diminuição da hipermetropia ou um aumento da

miopia na ordem das 0,26 D (Tabela 1).

Assim, a amostra maioritariamente emetrope deveria ter ficado mais

hipermetrope no período da tarde e mais míope ao anoitecer. Sabendo que os

componentes oculares podem sofrer alterações simultâneas, é normal que outro

componente ocular (as variações circadianas da curvatura e espessura corneal ou da

PCV) tenha anulado este efeito, uma vez que não foi observada qualquer variação

clinicamente significativa na refração (< 0,25 D). Devido à instrumentalização

disponibilizada não foi possível averiguar uma possível variação diurna da PCV e

respetivas correlações. Em relação às variações circadianas da espessura e curvatura

corneal, todos estes dados foram perdidos durante uma manutenção efetuada ao

computador anexado ao topógrafo, já depois da recolha de dados ter terminado.

A maior profundidade da câmara anterior foi encontrada no período da tarde.

Estudos realizados por Larsson and Brubaker com o objetivo de conhecer as variações

da PCA em animais, ao longo de 24 horas, verificaram que os seus valores máximos

ocorreram 4% a mais à noite do que de manhã.27

Em humanos, Mapstone and Clark,

verificaram que a PCA e o seu volume foram significativamente mais baixas à noite do

que pela manhã.28

Este facto está relacionado com o número de medidas efetuadas e a

hora em que eram realizadas, por exemplo, foram realizadas duas medidas, uma à meia-

noite e outra ao meio-dia.

Uma vez que, o comprimento axial do olho depende da PCA e PCV, seria de

esperar que quando uma destas distâncias lineares aumentasse ou diminuísse, o CA

também seguisse a mesma tendência, facto que neste estudo não se evidenciou, como

também não se tem vindo a demonstrar em estudos relacionados com o aparecimento e

Discussão

76

desenvolvimento da miopia,2 devido aos rearranjos existentes entre os diversos COO. É

de salientar que, devido a limitações da instrumentalização utilizada neste estudo não se

conseguiu apurar os valores da PCV ao longo do dia.

A pressão intraocular (PIOg) apresentou o seu máximo valor no período da

manhã, estando de acordo com a maior parte dos estudos divulgados10,12,22,23,26

diminuindo ao longo do dia. Analisando o comportamento circadiano da pressão

intraocular corrigida (PIOcc), verificou-se que a pressão adquiriu os seus máximos

valores quer no período da manhã quer ao anoitecer.

A diferença entre os picos encontrados para a PIOg e a PIOcc pode ser explicado

pela relação de interdependência entre as propriedades biomecânicas da córnea (CRF e

CH) e a espessura corneal.

Através da análise estatística de correlação pode-se comprovar a existência de

uma relação linear positiva entre a PIOg e a CRF, que por sua vez, apresentou uma

correlação positiva com a CH. Este tema é alvo de algumas controvérsias: um estudo,

efetuado por Kida et al., verificou uma correlação positiva entre a espessura corneal

central e a histerese corneal, ambas aumentaram nas primeiras horas do acordar e foram

diminuindo ao longo do dia.23

Em 2008, González-Méijome et al., não observaram

qualquer variação diurna da PIO e das propriedades biomecânicas da córnea, mas

verificaram uma correlação entre estas duas variáveis, sugerindo que as variações

diurnas da PIO podem em parte estar relacionadas com as mudanças no comportamento

biomecânica da córnea.45

Outros autores26

também observaram que os valores da

histerese corneal e da espessura corneal se mantêm praticamente estáveis ao longo do

dia.

Outro parâmetro ocular analisado nesta investigação foi as variações circadianas

das aberrações totais do olho, estudos até agora divulgados apenas observaram as

variações diurnas das aberrações corneais.

Batista, na sua tese de mestrado,40

verificou que cada coeficiente de Zernike

afeta a acuidade visual de modo diferente: em cada ordem, as aberrações mais próximas

do centro da árvore de Zernike (coma, aberração esférica, …) tendem a afetar mais a

acuidade visual que as localizadas próximo dos extremos da árvore (exemplo: trefoil,

quadrafoil).

As aberrações totais do olho que ocorreram com uma maior magnitude, nesta

investigação, foram as aberrações de 3ª ordem, que englobam o coma vertical, o coma

Discussão

77

horizontal e o trefoil. Read et al., encontraram uma conclusão semelhante para as

aberrações corneais, evidenciando que esta ordem de aberração é a que mais contribui

para um aumento das aberrações corneais.4

Na presente investigação, de todas as aberrações oculares, apenas a soma de

todas as aberrações esféricas existentes no olho (Soma-Esférica) apresentou uma

variação dos seus valores ao longo do dia. Apesar deste facto, a sua variação não foi

suficiente significativa para produzir uma variação diurna nas aberrações totais do olho.

Batista sugere que deve existir algum tipo de compensação entre as diferentes

aberrações (todas elas contribuem, e apresentam alguma dependência entre elas) para

um exista um equilíbrio total.40

Mierdel et al., em 2005 analisou as variações diurnas das aberrações corneais, e

verificou que apenas existiu uma variação circadiana no coeficiente Z (4, 2),

apresentando uma flutuação de 0,016 µm. Esta variação, devido à magnitude do valor,

não apresenta consequências diretas sobre as práticas clínicas (graduação ou cirurgias).

Neste estudo observou-se ainda, uma regressão linear entre alguns coeficientes de

Zernike e a PIO e a espessura da córnea central durante o dia, ou seja, as alterações de

alguns coeficientes de Zernike durante o dia pode ser explicado pelo comportamento

biomecânico da córnea.41

Concluiu-se assim, que as variações circadianas existentes nos COO, na PIO e

na aberrometria não provocam alterações clinicamente significativas no valor da

variação diurna do erro refrativo. Em qualquer período do dia analisado, as variações do

erro refrativo não serão evidenciadas na refração do indivíduo (variação < 0,25 D).

Embora se possa relacionar os sintomas de desconforto ou cansaço ocular, muitas vezes

mencionados ao final do dia, com a variação diurna do atraso acomodativo.

Neste estudo o estado acomodativo dos indivíduos apenas foi avaliado pelo

atraso acomodativo, outros exames acomodativos deveriam ter sido utilizados de forma

a averiguar mais profundamente as alterações circadianas da acomodação.

Alguns dos parâmetros oculares podem não ter demonstrado uma variação

circadiana significativa, devido a apenas se ter efetuado três medições ao longo do dia e

o tempo entre a recolha de dados ser reduzidos (apenas 11 horas do dia).

Discussão

78

Na análise dos resultados utilizou-se sempre a comparação dos valores médios

de cada variável para cada período do dia, averiguando as diferenças entre os valores

obtidos para cada indivíduo em cada fase do dia, verifica-se que existem variações

clinicamente significativas (maiores que 0,50D) no máximo em 20% dos indivíduos.

Esta análise não mostra como a população em geral se comporta (amostra muito

pequena), mas pode levar o profissional a ter uma maior sensibilidade no momento da

prescrição.

Devido à instrumentalização utilizada, não se conseguiu avaliar as variações

circadianas de todos COO, de forma a explicar qual o padrão por eles adaptado, para

que quando um dos COO varia, exista outro que varie na proporção contrária. O facto

de se ter utilizado vários instrumentos para medir cada parâmetro ocular, gerou alguns

transtornos aos participantes, devido às repetidas medições e ao tempo prolongado de

recolha dos dados.

Uma vez que, no presente estudo, se verificou uma variação circadiana da

componente do astigmatismo (J0) seria interessante averiguar estas flutuações diurnas

numa amostra que incluísse astigmatismos moderados ou altos. No caso da variação

diurna do atraso acomodativo era curioso verificar qual a sua magnitude de flutuação

numa amostra constituída apenas por hipermetropes ou pseudomiopes.

Uma forma de averiguar um número maior de parâmetros oculares sem provocar

algum cansaço aos participantes e reduzindo o tempo de recolha das medidas é

sugerido, a utilização de um biómetro desenvolvido pela Haag Streit, denominado

Lenstart 900. Este instrumento permite obter valores fiáveis da PCA, PCV, CA,

espessura da córnea, curvatura corneal, astigmatismo corneal, espessura do cristalino,

espessura da retina e coroide. Com este instrumento pode-se avaliar ao mesmo tempo

todos os COO referidos, como também a espessura da retina e coroide que também têm

demonstrado variações diurnas que influenciam o crescimento do olho, em

animais.31,33,34

Em futuras investigações seria interessante comparar as variações diurnas do

erro refrativo entre indivíduos assintomáticos e indivíduos que apresentem problemas

acomodativos ou binoculares.

Conclusão

79

Capítulo 6 - Conclusão

A realização deste estudo tinha como principais objetivos a analise das variações

diurnas do erro refrativo e de outros parâmetros oculares.

O erro refrativo decomposto nos vetores de potência não apresentou qualquer

variação dos seus valores médios ao longo dos três períodos do dia analisados: manhã,

tarde e anoitecer.

A profundidade da câmara anterior, a pressão intraocular, as propriedades

biomecânicas da córnea e a aberração esférica apresentaram uma variação circadiana

estatisticamente significativa. Estas flutuações não produziram nenhum impacto na

variação diurna do erro refrativo médio da amostra.

Ao longo deste trabalho, verificou-se uma correlação negativa entre o atraso

acomodativo e o equivalente esférico ao longo da tarde e anoitecer, esta correlação

indica que uma diminuição da acomodação ao longo do dia pode ser responsável por

um aumento do valor da esfera equivalente, mesmo que esta flutuação não se tenha

demonstrado quer clinicamente ou estatisticamente significativa.

Outro objetivo deste estudo era determinar qual a melhor altura do dia para a

realização de um exame visual. Sendo que não existiu uma variação do erro refrativo

que possa ser medida (intervalos de graduação de 0,25D) ou compensada pelo métodos

habituais (utilização de óculos ou lentes de contato com intervalos menores que 0,25 D),

concluindo-se que o exame optométrico ou oftalmológico se poderá realizar a qualquer

hora do dia.

No presente estudo, não se verificou alterações circadianas do erro refrativo que

sejam clinicamente relevantes, mas as variações diurnas presentes no atraso

acomodativo e no astigmatismo poderão indicar um aumento da sintomatologia ao final

do dia.

Bibliografia

81

Capítulo 7 - Bibliografia

1. Brown NP, Koretz JF, Bron AJ. The development and maintenance of emmetropia.

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Anexos

Anexo 1 - Consentimento informado

Anexo 2 - Ficha Clínica

Anexo 3 - Inquérito realizado na anamnese

CONSENTIMENTO INFORMADO

RECOLHA E DIVULGAÇÃO DE DADOS DE SAÚDE OCULAR

A participação neste estudo tem como objetivo avaliar a variação diurna

dos diferentes componentes oculares e do erro refrativo. Nenhum dos

procedimentos de medida efetuados, colocarão em risco a saúde ocular

do participante. A recolha dos parâmetros oculares irá ser efetuada ao

longo do mesmo dia, em três alturas distintas. A primeira medida realiza-

se no início da manhã, outra no início da tarde e outra ao anoitecer. Na

divulgação dos dados recolhidos é garantido a ocultação de dados de

identificação do participante. O participante que decidir, por livre vontade,

aceitar participar neste estudo, tem sempre a possibilidade de o

abandonar sem qualquer restrição ou consequências.

Nome legível da investigadora responsável pela proposta:

Teresa Mafalda Alves Bastos Peixoto

Data ….../....../….......

Assinatura ..................................................................................................

-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-

+-+-+-+-

Por favor, leia com atenção todo o conteúdo deste documento. Não hesite em solicitar mais informações, se não estiver completamente esclarecido. Verifique se todas as informações estão corretas. Se entender que tudo está em conformidade e se estiver de acordo com a proposta que lhe é feita, então assine este documento.

- Declaro ter compreendido os objetivos quando me foi proposto e explicado pela investigadora Teresa Peixoto, que assina este documento, ter-me sido dada oportunidade de fazer todas as perguntas sobre o assunto e para todas elas ter obtido resposta esclarecedora. Autorizo, assim, o ato acima referido.

_______________(localidade)__/__/____ NOME________________________________________

Ficha de Registo de Dados

EXAME BINOCULAR E ACOMODATIVO

Foria:VL: ______________ VP: ____________ Atraso acomodativo: ______________

ANAMNSE: Data de nascimento:____/____/_____ Nome:____________________________________ Telef./Tlm:_____________________

Idade:______

Profissão:_______________________________ Utiliza pc:_________ Média de

h/dia:_____________

Fuma:_____________ Rotina do dia:_____________________________________________________

____________________________________________________________________________________

_

Medicação:_______________________________________________Alergias:____________________

História clínica geral e ocular:__________________________________________________________

Observações Gerais:___________________________________________________________________ Hora: ___:___ Periodo: Manhã

Hora que se levantou: ________________ Quantas horas dormiu: _________________________

EXAMES COMPLEMENTARES: Biómetria: OD: PCA: ______ CA: _____ mm

OE: PCA: ______ CA: _____ mm

Hora: ___:___ Periodo: Tarde EXAMES COMPLEMENTARES:

Biómetria: OD: PCA: ______ CA: _____ mm

OE: PCA: ______ CA: _____ mm

Hora: ___:___ Periodo: Anoitecer

EXAMES COMPLEMENTARES:

Biómetria: OD: PCA: ______ CA: _____ mm

OE: PCA: ______ CA: _____ mm

Ficha n.º:___ Data:___/____/____

Inquérito efetuado na anamnese

1. A que horas acordou hoje?

2. Quantas horas dormiu hoje?

3. Utiliza frequentemente o computador no seu dia a dia? Em média, quantas horas

por dia utiliza o computador?

4. Hoje vai utilizar o computador? Quantas(os) horas (minutos) pensa utilizar o

computador, em cada período do dia (Manhã, Tarde e Anoitecer)?

5. Quando efetuou a última atualização dos seus óculos?

6. Possui, a nível de saúde geral, alguma patologia? Exemplo, diabetes, colesterol

ou hipertensão.

7. É fumador?

8. Atualmente está a tomar alguma medicação? Qual medicação e para que

problema se destina?

9. Possui algum tipo de alergias?

10. Possui ou já apresentou alguma patologia ocular? Exemplo, conjuntivites,

traumas ou blefarites.