SÃO DANIEL COMBONI ESCRITOS 2 - data.over-blog...
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SO DANIEL COMBONI
ESCRITOS 2
N 3700 - 7257
N.o 579 (550) - ACORDO COM AS IRMS DE S. JOS
ASSGM, Afr. C. (1874), v. 8, ff.236-239
1874
Anexo n.o 1
ACORDO ESTIPULADO ENTRE
O rev.mo pr-vigrio apostlico da frica Central
e a rev.da madre geral das Irms
de S. Jos da Apario
3700
A fim de coadjuvar a misso da frica Central em todas as actividades de instruo e caridade em favor
da condio feminina e da infncia, a congregao das Irms de S. Jos da Apario concorre generosamente
com as suas irms para esta sublime obra de apostolado. Pelo que a rev.ma madre geral desta congregao, a
senhora Emilie Julien, e o pr-vigrio apostlico da frica Central, Daniel Comboni, estabeleceram juntos o
seguinte recproco acordo formal, que ter fora e vigor, at depois da morte de ambos, entre os seus suces-
sores, enquanto assim o queira a Santa S.
Artigo primeiro
3701
A superiora geral dever ter presente que o apostolado da Nigrcia sumamente rduo e trabalhoso, pelo
que procurar enviar para l religiosas aptas a esse fim.
Artigo segundo
3702
O pr-vigrio apostlico ocupar-se- com todo o cuidado para que em cada casa em que as irms se en-
contrem ao servio da misso possam elas observar perfeitamente as regras do seu instituto de forma compa-
tvel com as necessidades prticas da misso.
Artigo terceiro
3703
O pr-vigrio obriga-se a fornecer s irms uma casa decentemente mobilada, equipada com o necessrio
para constituir uma regular instituto de misso.
Artigo quarto
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O pr-vigrio obriga-se a entregar a cada irm a importncia de quinhentas liras anuais, por adiantado, em
duas vezes, isto , duzentas e cinquenta cada semestre.
Artigo quinto
3704
O pr-vigrio suporta todos os gastos das viagens, incluindo a do regresso das irms, como tambm todos
os gastos provenientes de mudana, transferncia ou substituio das irms, ou por razo de sade, ou por
casos imprevistos que o pr-vigrio ou a rev.ma madre geral julguem necessrio.
Artigo sexto
Os trabalhos que realizarem as negras sero em benefcio da misso, assim como os donativos que os
benfeitores entregarem para o instituto das mesmas negras.
Artigo stimo
3705
Em caso de morte, far-se-o pelas irms os funerais e sufrgios que se fazem pelos sacerdotes mission-
rios falecidos, na medida em que as normas litrgicas o permitirem.
Observaes sobre o acordo
Do Anexo n.o1
3706
1.o Como a misso da frica Central completamente nova para as irms e no se podem medir ainda
as vantagens e os inconvenientes que este acordo oferece s duas partes, seria prudente que tivesse valor s
ad quinquennium, reservando-se ambas as partes o direito de estipular um novo acordo, aps realizar a expe-
rincia quinquenal.
2.o Os deveres e funes das irms consistem principalmente em educar as jovens negras, dirigir as cre-
ches, enfermarias, etc., e prestar-se a todas as actividades caritativas requeridas pelas necessidades da mis-
so, e que sejam conforme o objectivo da congregao de S. Jos.
3707
3.o O artigo quinto haveria que modific-lo assim: O pr-vigrio arca com todos os gastos das viagens
das irms, tanto para a sua ida para a misso como para o seu regresso por motivos de sade ou por casos
imprevistos julgados necessrios pelo pr-vigrio apostlico e pela madre geral. No ficaro a cargo da mis-
so as viagens das irms que a madre geral mande regressar, por serem destinadas por ela a outros estabele-
cimentos por vontade prpria.
3708
4.o O artigo sexto deveria ficar assim: Todos os bens, ofertas, esmolas ou legados oferecidos aos insti-
tutos que as irms dirigem, como tambm o que for cobrado pelas aulas ou pelos trabalhos dos prprios insti-
tutos, sero em benefcio da misso e, portanto, esto disposio do pr-vigrio apostlico.
3709
Nota bene: humildemente expostas estas observaes, o pr-vigrio Comboni mostrar a melhor disposi-
o e alegria em fazer tudo o que a S. C. considerar oportuno; e, portanto, sem necessidade de ser mais ouvi-
do sobre o assunto, assinar esse acordo, que lhe ser remetido pela Propaganda, na qual reconhece a vonta-
de de Deus.
N.o 580 (1162) - MADRE EUFRSIA MARAVAL
ASSGM, Afrique Centrale Dossier
Cartum, 1874
3710
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...Encarreguei Sror Genoveva, depois de muitos meses, que escreva madre geral, rogando-lhe que pre-
pare uma superiora provincial para o ms de Maro e que a envie para o Egipto. Ns precisamos de dez Ir-
ms, porque no fim deste ano abriremos a misso de Gebel Nuba. Por favor, envie-me irms como a Ir. Jose-
fina: preciso de irms rabes, virtuosas, recm-sadas do noviciado. Estas habituar-se-o mais facilmente.
Agradeo-lhe por me ter mandado a Ir. Ana, de quem espero bons resultados.
Rogo-lhe que se mostre benvola com a frica Central, na qual tem posto todo o seu interesse a Frana
inteira. Precisa-se de capazes e santas irms para esta misso, porque a mais difcil.
Que Deus a abenoe. Reze por mim.
P.e Daniel Comboni
Pr-vigrio ap. da Africa central
Original francs
Traduo do italiano
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1 8 7 5
N.o 581 (551) - MADRE EMILIENNE NAUBONNET
ASSGM, Afrique Centrale Dossier
J. M. J.
Cartum, 12 de Janeiro de 1875
Minha veneradssima madre,
3711
Com a maior satisfao recebi a sua estimada carta junto com a da nossa querida madre geral, nas quais
se me comunicou a boa notcia de que a senhora foi escolhida para superiora provincial da frica Central,
como eu desejava e tinha suplicado insistentemente ao cardeal-prefeito da Propaganda e rev.da madre ge-
ral. Confesso-lhe francamente que a nossa carssima madre geral no podia satisfazer melhor os meus arden-
tes anseios, que com a graa que me concedeu de escolher para a minha grande misso a veterana das irms
missionrias do Oriente, quer dizer, a si, minha boa madre, que educou quase todas as nossas estupendas
irms rabes e sobretudo a que ainda no cessei de chorar: a Ir. Josefina Tabraui. A madre, que veio pela
primeira vez ao Oriente trazida pelo P.e Ryllo, cujo tmulo est situado no meio do jardim das nossas irms
aqui em Cartum, a trinta passos da nova casa que constru para si; a madre, dizia, conhece perfeitamente a
vida apostlica das misses.
3712
Nunca agradecerei suficientemente madre geral por ma ter concedido, como na minha ltima carta
agradeci ao cardeal Franchi, o qual no deixou de instar perante a madre geral para que satisfizesse as mi-
nhas aspiraes.
No importa que a irm tenha uma idade um pouco avanada: creio que aqui rejuvenescer. suficiente o
olhar e a presena de uma boa superiora, sem trabalhar muito, para fazer andar as coisas para a frente. O seu
nome bem conhecido entre ns; nunca se passou um dia sem eu ouvir o seu venerado nome s irms e so-
bretudo s nossas Ir. Josefina Tabraui e Ir. Ana Mansur, a quem a irm to bem educou. Espero-a, pois, com
impacincia em Cartum e vou dar instrues para que venha do melhor modo possvel. Peo-lhe, minha ma-
dre, que no poupe nada para tornar a viagem menos difcil.
3713
A viagem fcil; apenas o deserto um pouco trabalhoso durante uns dias. A sua admirvel obedincia
madre geral, vindo para a frica, apesar da avanada idade e do peso de tantos anos de misso, foi-me muito
edificante. Com este esprito, Deus abeno-la-, assim como s irms e ao pr-vigrio apostlico mons.
Comboni, ao qual a senhora dar as suas instrues.
Assim, pois, a irm poder conscienciosamente provar a Ir. Genoveva (que tem defeitos misturados com
virtudes e que Irm de S. Jos e, portanto, filha nossa), aps o que estaremos em condies de decidir bem
o que se deve fazer: se destin-la a um bom lugar na frica Central ou dar-lhe a carta de obedincia.
3714
Espero que tenha compreendido o meu pensamento. Rogo-lhe, pois, que se encarregue de escrever ma-
dre geral neste sentido, porque eu no tenho tempo de o fazer e agradea-lhe por ela ter dado frica Central
o precioso dom de Sror Emilienne, a veterana missionria do Oriente.
3715
Jamais darei alguma incumbncia ou encargo ao P.e Estanislau Carcereri. Com a sua louca cabea exps
toda uma caravana a srios perigos e a muitos sofrimentos e gastou-me muito dinheiro por tomar um cami-
nho que no conhecia. Seguindo o percurso ordinrio, naquela estao a caravana poderia ter chegado a Car-
tum para a Imaculada Conceio, enquanto agora j no a espero seno l para Fevereiro prximo.
Como tenho toda a confiana em si, revelo-lhe a minha dor. Estou muito pesaroso, porque temo que a Ir.
Anglica e as outras duas tenham passado muito frio.
3716
A Ir. Ana tem a bicha solitria; um dia est nas aulas, outro na cama. Escrevi a P.e Bartolo para que me
mande os remdios necessrios para livrar a Ir. Ana desse parasita. Tenha a bondade de se informar bem
sobre isso no hospital com a superiora e os mdicos e envie os remdios e traga-os a irm tambm. Fica en-
tendido que, se antes de ter as respostas da madre geral tiver ocasio de partir, dever arrancar imediatamente
para Cartum, porque as cartas receb-las- aqui.
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3717
Pelo caminho de Suakin, no mar Vermelho, pode chegar a Cartum em menos de trinta dias. Mas P.e Bar-
tolo dir-lhe- tudo.
Tenha a bondade de saudar da minha parte as irms e sobretudo a madre superiora do hospital, enquanto
abenoando-a me declaro nos Coraes de Jesus e de Maria
Seu af.mo
P.e Daniel Comboni
Pr-vigrio apostlico
Original francs
Traduo do italiano
N.o 582 (552) - MADRE EMILIE JULIEN
ASSGM, Afrique Centrale Dossier
J. M. J.
Cartum, 24 de Janeiro de 1875
Minha carssima madre,
3718
No dia 22 do corrente, s sete da manh, a Ir. Genoveva partiu para o cu, depois de recebidos os sacra-
mentos e a bno papal in articulo mortis. Encontrava-se muito forte e cheia de sade, quando lhe veio uma
doena de sete dias. Depois de uma indigesto (como dizem a Ir. Severina e a Ir. Ana) tomou leo de rcino,
de que ela mesma tinha recolhido os frutos e extrado o suco. Os mdicos disseram que era o tifo. O facto
que eu queria cur-la, mas ela negou-se. Na mesma situao estava a Ir. Faustina, que, como a Ir. Genoveva,
nunca tinha sido sangrada. A Ir. Faustina deixou-se curar por mim meia-noite e j comea a levantar-se. A
Ir. Genoveva no sabia que eu tinha a sua carta de obedincia. Pelo contrrio, eu decidira esperar pela madre
Emilienne para nomear a Ir. Genoveva como Superiora no Cordofo, se lhe agradasse. Enfim, adoremos os
desgnios da Providncia. Mas o meu pesar muito grande.
3719
O pax enviou um bei com doze soldados e quatro janzaros para a acompanhar ao cemitrio. Os seus fu-
nerais foram magnficos. Deus t-la- no Cu. Era devota e muito amante da orao. Eu, que a confessei
durante os ltimos seis meses, nunca a vi faltar ao tribunal da penitncia. Desde a ida da Ir. Maria Jos para o
Cordofo, eu estava satisfeito com a Ir. Genoveva, que tambm foi chorada em Cartum. Celebrarei por ela
muitas missas. Logo que chegar a caravana, que j saiu de Dngola, far-lhe-emos um grande servio litrgi-
co, porque agora sou o nico sacerdote que aqui diz missa.
3720
Agradeo-lhe infinitamente, minha boa e cara madre, por ter concedido frica Central a veterana das
missionrias, Ir. Emilienne. No me podia fazer favor maior, nem podia mandar-me uma irm mais adequada
e capaz para o objectivo proposto. No se preocupe por ser velha. F-la-emos rejuvenescer. Guard-la-emos
como uma relquia: basta-nos a sua presena: no trabalhar. Com ela espero poder conseguir boas e valiosas
irms rabes, como a Ir. Josefina e a Ir. Ana, que faz tanto bem, apesar de ter a bicha solitria.
3721
Receba, minha boa madre, a minha gratido pela preciosa prenda que me deu na pessoa da Ir. Emilienne.
causa de alegria para todos, mas quem est mais contente sou eu, porque, a julgar pelo que ouvi Ir. Jose-
fina e a todas as irms sobre Sror Emilienne e pela carta que me escreveu, estou convencido de que ela
uma santa e excelente religiosa e superiora. Ficar alojada perto do tmulo do P.e Ryllo (o qual se encontra
no jardim das irms), que a levou a primeira vez para a Sria.
Trata-se, pois, de um dos maiores confortos que recebi no meio das minhas cruzes (a maior das quais a
do P.e Carcereri, de que lhe escreverei). Obrigado, minha boa madre. O Esprito Santo inspirou-a para o bem
da frica.
3722
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Eu sabia perfeitamente que a Ir. Emilienne estava em Marselha disponvel; mas nunca teria tido a cora-
gem de lha pedir para a misso, to laboriosa, da frica Central, porque era muito mais modesto nas minhas
splicas.
Porm, o dia em que me chegou a sua carta com uma da Ir. Emilienne, na qual me dizia que, cumprindo
as ordens da sua madre geral, considerava fazer a vontade de Deus ao vir para a frica Central, fiquei im-
pressionado pela sua generosidade e perfeio. Eis uma santa religiosa digna de ser canonizada. Ainda que
velha e habituada s comodidades de Saida e ao trato com os padres jesutas (que so os mais estimveis
missionrios) e com os patriarcas e bispos do Oriente, vem enterrar-se com os negros. uma santa e, portan-
to, uma grande bno para a frica Central.
3723
Receba todo o meu agradecimento por isto. A Ir. Severina com os doentes uma irm incomparvel.
Tambm fez muito por P.e Pascoal. Transmita as minhas saudaes madre Eufrsia, assistente, Ir. Ce-
leste e senhora de Villeneuve.
P.e Daniel Comboni
Original francs
Traduo do italiano
N.o 583 (553) - AO CARDEAL ALEXANDRE FRANCHI
AP SC v. 8, ff. 302-303
N.o 1
Cartum, 31 de Janeiro de 1875
Em.o e Rev.mo Prncipe,
3724
Seria meu dever comunicar a V. Em.a Rev.ma o feliz comeo das minhas prticas para a fundao e pr-
xima instalao da comunidade camiliana em Berber. Mas como o aspecto substancial deste importante as-
sunto do meu vicariato est descrito na carta junta de 23 do corrente do P.e Franceschini, camiliano, que ma
mandou aberta para que eu a lesse e depois a enviasse ao seu geral, o rev.mo P.e Guardi, permito-me remet-
la a V. Em.a tal como me foi enviada, a fim de que se digne l-la para conhecer a situao do mencionado
assunto e depois faz-la chegar s mos do dito rev.mo P.e geral. Interpretando que conto para isso com o
total acordo do P.e Franceschini, tomei a liberdade de copiar para V. Em.a um extracto dela; quer dizer, a
parte que se refere misso de Berber e que interessa obra africana que concedi aos padres camilianos com
base no meu conhecido acordo com o rev.mo geral dos mesmos, vlido por cinco anos.
3725
O vicariato da frica Central entra hoje numa nova fase pela introduo nele de uma nova ordem religio-
sa, que, bem tratada e governada com prudncia e sabedoria, pode ser til ao apostolado da Nigrcia. Mas a
experincia e a histria das misses em que trabalham diferentes corporaes nos ensinam que, do concurso
de diversos institutos numa mesma misso, pode resultar um grande bem, mas tambm um grande mal, como
efeito, principalmente, da prudncia ou imprudncia do chefe ou do esprito com que se trabalha na vinha de
Cristo. Por isso, conhecendo bem a gravidade da minha posio, depois de madura reflexo e de incessantes
oraes quele de quem provm toda a luz, decidi no dar nenhum passo de importncia nas minhas rela-
es com a nova ordem camiliana e com o superior local da nova casa de Berber sem consultar a Propaganda
e invocar a preciosa ajuda dos sbios conselhos, ideias, instrues e ordens de V. Em.a e mant-lo informado
exacta e conscienciosamente de todas e de cada uma das minhas diligncias com a dita ordem (sobretudo
porque preciso comprovar durante alguns anos a sua aptido para o apostolado das santas misses, que at
hoje no foi a sua finalidade essencial) e especialmente com o superior da nova casa de Berber, o P.e Carce-
reri.
3726
O nico motivo pelo qual aceitei fundar uma Casa Camiliana no meu vicariato foi a esperana e o desejo
de salvar o maior nmero de almas na imensa vinha que a Santa S me confiou. E para ter xito no meu in-
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tento, preciso que proceda com a mxima prudncia e moderao, sem deixar de me manter no meu posto
nem de fazer valer com firmeza os meus direitos, que redundam no maior bem para o meu vicariato. Por isso
sumamente til e necessrio recorrer ao mais eficaz e poderoso meio providencial oferecido a todos e, de
modo especial, s mais trabalhosas e difceis misses do universo, como a Propaganda que dirigida por
uma sabedoria sobre-humana, infinitamente superior a todas as luzes da experincia que podem ter os supe-
riores imediatos das misses estrangeiras.
3727
Portanto, suplico a V. Em.a que se digne assistir-me tambm nos assuntos aludidos, enquanto com a ajuda
do Senhor, da Virgem Imaculada e de S. Jos e suportando com jbilo as inevitveis cruzes que os acompa-
nham, confio firmemente superar qualquer obstculo e em tudo triunfar.
3728
Na carta junta do P.e Franceschini ao rev.mo P.e Guardi, certamente chamaro a ateno a V. Eminncia
estas palavras: Fiquei no pouco surpreendido ao ver o pr-vigrio, cujas circunstncias crticas me eram
bem conhecidas, no olhar a gastos para comprar uma casa que fosse digna de acolher uma ordem religiosa,
etc. Pois bem, certo que me encontro em circunstncias crticas, porque tenho o cofre vazio. E no que
este vicariato carea de recursos ou que se realizem mais obras do que as que se podem, pois o vicariato tem
receitas suficientes, e eu nunca empreendo uma obra sem a certeza de dispor dos meios necessrios.
3729
O que me ps nestas circunstncias o atraso da caravana em chegar a Cartum. Em poucos meses tinham
sido destinados a este vicariato mais de 74 000 francos em donativos, uma parte dos quais foi recebida pelo
P.e Carcereri, graas a uma minha carta de recomendao, e a outra chegou ao Cairo, como de costume, s
mos do meu incomparvel e excelente representante, P.e Bartolo Rolleri, superior dos meus institutos egp-
cios. Porm, estas ltimas somas chegaram ao Cairo quando se encontrava a Carcereri, o qual, valendo-se da
sua autoridade de meu vigrio-geral, quis levar tudo. E de nada serviram os rogos e pedidos de P.e Rolleri,
que queria, como era costume e para maior segurana, mandar-me o dinheiro por meio do Consulado austr-
aco, sabendo que eu o precisava.
3730
Carcereri partiu do Cairo no dia 24 de Outubro do ano passado e ainda no chegou a Cartum, porque quis
tomar uma rota diferente da normal do deserto de Korosko, seguida at agora por todos os missionrios e
comerciantes; pelo contrrio, ele tomou a de Wady-Halfa, que insegura e mais longa e dispendiosa. As
caravanas sadas do Cairo nos fins de Novembro ou princpios de Dezembro j chegaram h uns dias a Car-
tum. A caravana do P.e Carcereri no sei onde est. Paguei a casa de Berber at ao ltimo centavo, mas te-
nho a caixa vazia. Esta a minha situao real. Beijo-lhe a sagrada prpura, etc.
Seu hum., devot.mo e obed.mo filho
P.e Daniel Comboni
Pr-vigrio apostlico
N.o 584 (1207) - BREVE NOTA
AP SC Afr. C., v. 1005, f.1495
Janeiro de 1875
N.o 585 (554) - MADRE EMILIE JULIEN
ASSGM, Afrique Centrale Dossier
J. M. J. N.o 2
Cartum, 28 de Fevereiro de 1875
Minha muito boa madre,
3731
-
A notcia do casamento do sr. Augusto de Villeneuve com a senhora Tanquerelle des Planches provocou
em mim muita alegria e satisfao. O incomparvel corao da senhora Villeneuve merecia esta graa pela
sua abnegao e pela sua f.
Naturalmente, vou escrever senhora e a Augusto; porm, entretanto, faa-lhes chegar os meus parabns
e os meus votos pela sua felicidade. No deixei passar um dia sem rezar por eles. O acordo pr-se- em pr-
tica segundo o desejo da madre Emilienne, que esta tarde deve chegar a Suakin, no mar Vermelho, aonde j
enviei o P.e Jos a receb-la.
Depois do documento que a madre me mandou, j no tenho nada a ver com o Sr. Loureno, graas a
Deus. Se tiver a ousadia de recorrer aos tribunais, ser derrotado como merece. O assunto s entre si e mim
e refere-se pequena soma de 3000 francos.
3732
De momento no posso enviar-lhe nada. Os enormes gastos a que devo fazer frente, sobretudo no Cairo,
para construir duas grandes obras e as casas de Berber e de Cartum, no me permitem dar nem um centavo.
Julgava poder acabar com este assunto dos 3000 francos com a chegada da caravana; porm, a m adminis-
trao do P.e Carcereri na viagem, gastando-me 40 000 francos e deixando todas as provises em Wady-
Halfa, etc., deixaram-me um pouco arruinado. Ele a causa de que dos 73 000 que em seis meses recebeu o
meu vicariato, eu s tenha tocado em 10 000. As irms Teresa e Vitria so testemunhas do esbanjamento de
dinheiro e de provises levado a cabo sem conscincia por ele que era o meu vigrio-geral. J estou saturado.
Porm, pacincia: P.e Bartolo Rolleri um homem santo e de valia e muito generoso com as irms. Esforar-
me-ei para lhe pagar este ano.
3733
Sua Eminncia o cardeal Franchi, nosso Pai, escreve-me: Soube com agrado que o acordo assinado en-
tre esse vicariato e as irms se lhe revelou satisfatrio. O senhor tem razo em gloriar-se das suas irms que,
deixando de lado todo o interesse pessoal, se sacrificam nessas terras pelo bem da Religio.
Estas palavras agradaram de modo particular s nossas boas irms. A irm Severina muito activa e fez
muito bem aqui.
Reze por
Seu af.mo
P.e Daniel Comboni
Original francs
Traduo do italiano
N.o 586 (555) - A P.e BARTOLOMEU ROLLERI
Les Missions Catholiques 304 (1875), p. 166
Fevereiro 1875
Breve artigo.
N.o 587 (556) - A BERARD DES GLAJEUX
APFP, Bote G 84
J. M. J.
Cartum, 10 de Maro de 1875
Senhor presidente em Paris,
3734
As doenas que todos ns temos sofrido neste trrido clima pela enorme subida do Nilo, que no ltimo
Outono ameaou com a destruio da cidade de Cartum, e a impossibilidade de apresentar contas exactas
sobre o ltimo exerccio, pelo atraso da caravana do P.e Carcereri, que tinha nas suas mos parte consider-
vel das ajudas que a Propagao da F e outras sociedades mais pequenas me tinham concedido no ano de
1874, impediram-me de lhe enviar para o primeiro de Outubro as tabelas estatsticas do meu vicariato com a
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informao completa, para servir para a futura repartio. Por isso limitei-me a enviar-lhe, no dia 3 de De-
zembro passado, um pequeno relatrio sobre o feliz andamento desta misso, as mencionadas tabelas estats-
ticas, ainda que incompletas.
3735
Agora que o P.e Carcereri trouxe do Cairo a Cartum o pessoal da caravana, deixando, por falta de came-
los, todas as caixas e as poucas provises de reserva em Wady-Halfa, ou seja, na segunda catarata, a quarenta
dias daqui, dou-lhe igualmente, abreviando, as contas mais exactas sobre a situao financeira junto com as
tabelas estatsticas do vicariato. Rogo-lhe, pois, sr. presidente, que tome em considerao este pequeno rela-
trio, melhor que o de 3 de Dezembro passado, porque agora que conheo os enormes gastos que a viagem
do P.e Carcereri com a caravana provocou, mudou um pouco as previses expostas nessas tabelas estatsticas
que lhe enviei, de modo que me vejo forado a expor-lhe a urgncia e necessidade que o meu vicariato tem
de ajudas mais abundantes que os outros anos, a fim de cobrir o dfice do passado exerccio e reforar e de-
senvolver amplamente esta importante misso, l onde nunca penetrou a palavra do Evangelho.
3736
Para consolidar bem a misso principal de Cartum de absoluta necessidade construir uma igreja, mais o
instituto das irms, com salas de aula, a creche, as dependncias da creche, a enfermaria, etc. Da igreja (que
ser a catedral) ocupar-nos-emos no futuro. Para a casa completa das irms faltam pelo menos 80 000 fran-
cos, includo o que j gastmos.
3737
Graas ao Sagrado Corao de Jesus e a si, recentemente terminou-se quase a metade do mencionado
edifcio. Com um gasto de 24 416 francos constru uma casa que, de momento, suficiente para as Irms, as
salas de aula e o jardim-de-infncia. Para a realizao (sob a minha direco imediata) desta metade da obra
empregaram-se 723 947 tijolos vermelhos, cada um de 25 centmetros de comprimento, 12 de largo e 6 de
espessura; alm disso, 1642 ardebs de cal, 984 jornadas de pedreiros a 9 ou 10 francos por dia, mais 10 372
jornadas de escravos e 4349 francos de madeira. Os meus ferreiros, carpinteiros e o pessoal da misso fize-
ram-nos poupar mais de metade do custo da construo. Ainda que incompleto, este edifcio de imensa
utilidade, tanto para a sade para como para o apostolado de Cartum e da frica Central. Em fins de Maro
mandarei interromper as obras para as retomar noutro ano.
3738
A Misso do Cordofo, sobretudo com a instalao das Irms, ganhou nova vida. Fora as reparaes fei-
tas na casa dos missionrios para proteger o pequeno seminrio ou colgio de negros, vi-me obrigado a rode-
ar toda a casa das Irms com um muro e a reparar as cabanas. Desde o ms de Maio temos aqui uma capela
sempre com o Santssimo Sacramento. O conjunto construdo de areia, como se usa na regio. Por tudo
isto, limitado ao estritamente necessrio, gastei 4105 francos com 7 cntimos. Ainda fica muito para fazer e
gastar antes de dotar do necessrio esta misso. No obstante, continua a ser a base de operaes e o centro
de comunicao para toda a parte do vicariato.
3739
Actualmente o Cordofo converte-se num ponto de partida da nova misso de Gebel Nuba. Quando S. E.
Ismail Pax Ayub, governador-geral de Cartum, passou por El-Obeid para ir conquista de Darfur, visitou as
nossas duas casas do Cordofo e escreveu-me que ficou encantado e cheio de admirao ao v-las to flores-
centes, sobretudo a casa das irms, e assegurou-me que ficar sempre contente de proteger uma obra to
eminente da civilizao europeia.
3740
A S. C. da Propaganda ordenou-me que fundasse, quanto antes, a misso de Gebel Nuba, a sudoeste do
Cordofo. Como sabe, em Outubro de 1873, mandei a essas tribos dois padres, Carcereri e Franceschini, e fiz
com que fosse com eles um veterano da misso da frica Central, o sr. Augusto Wisnewsky, da diocese de
Ermland, que desde h vinte anos se encontra no nosso vicariato e que conhece perfeitamente todas as tribos
destas terras at ao 4o de lat. norte.
3741
Acompanhado deste excelente homem, o P.e Carcereri visitou os primeiros povoados destas tribos, onde
existe o grande chefe e escolheu a localidade de Delen para comear o apostolado e a regenerao dos Nuba.
No ms de Novembro mandei ao dito lugar dois membros da misso para preparar a habitaes. Nesta pe-
quena expedio gastei 2490 francos, entre camelos, provises, ferro, etc. Porm, chegada a Cartum a cara-
vana do P.e Carcereri, apressei-me a enviar dois sacerdotes para preparar duas casas, uma para os mission-
rios outra para as irms.
3742
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No prximo ms, uma vez chegada a Cartum a madre provincial, a Ir. Emilienne Naubonnet (que foi trin-
ta anos superiora na Sria), e recebidas de Wady-Halfa as caixas que o P.e Carcereri deixou l por no ter
encontrado camelos suficientes, partirei para Gebel Nuba com o fim de fundar a nova misso. Para esta mis-
so e para levantar a casa dos missionrios e a das irms so precisos pelo menos, este ano, 10 000 francos.
3743
Por outro lado, no passado ms de Novembro abri j a misso de Berber, para a confiar aos padres de S.
Camilo de Lelis, destinando para a o P.e Jos Franceschini com um dos meus irmos leigos. Na actualidade
esto instalados em Berber (uma das cidades mais comerciais do Sudo) cinco padres camilianos e dois ir-
mos. Essa formosa casa junto ao Nilo, entre os gastos de aquisio e dos primeiros acondicionamentos e
reparaes, custou-me 8134 francos com 75 cntimos. Como no vai precisar de novas reparaes durante
alguns anos, a dita casa, com os cinco mil francos anuais estabelecidos no acordo com o P.e geral dos cami-
lianos, funcionar muito bem.
3744
O superior dela o P.e Carcereri que, como consequncia, deixa de ser o meu vigrio-geral.
Para este posto de muita importncia nomeei, com total satisfao de todos os meus missionrios, o cn.
Pascoal Fiore, que, at agora, foi Superior e proco da misso de Cartum.
Alm dos gastos correspondentes s misses do vicariato, este ano preciso de fazer despesas extraordin-
rias com as duas casas preparatrias do Cairo, a que a S. C. da Propaganda d uma grande importncia, so-
bretudo para a aclimatao nelas dos missionrios e das irms da Europa destinados ao vicariato.
3745
O senhor sabe que at ao presente os meus institutos do Cairo estiveram instalados em duas casas pelas
quais pagava anualmente um pesado arrendamento. Depois de ter experimentado mil meios para evitar isto,
ao cabo de trs anos dirigi-me a S. A. o quedive, a fim de obter no Cairo um terreno onde construir duas
casas.
Sua Alteza respondeu que mo conseguiria; mas, aps muitos esforos do meu representante P.e Bartolo
Rolleri, esse terreno s foi concedido no ms de Agosto passado e em condies que exigem grandes sacrif-
cios.
3746
Na verdade, o terreno concedido est num dos melhores lugares do Cairo e o seu valor de 43 000 fran-
cos pelo menos, segundo os clculos dos engenheiros. Realmente trata-se de algo magnfico para os interes-
ses do meu vicariato. Mas tenho que efectuar neste primeiro ano um gasto de 50 000 francos de construo
para me assegurar a propriedade. Para este fim, envio-lhe a cpia exacta do documento francs-rabe que me
deu o governo egpcio (Anexo II).
Ainda que eu e os meus missionrios tenhamos sofrido muitos apertos o ano passado para preparar, cons-
truir e organizar as nossas obras, estamos dispostos a sofrer muito tambm este ano, para economizar, a fim
de podermos edificar as casas do Cairo.
3747
Se Deus nos abenoar, dentro de cinco ou seis anos os Institutos e as obras do vicariato estaro mais flo-
rescentes. O nosso nimo para criar e formar com plena vida e actividade o vicariato mais difcil e colossal
do universo no meio de mil obstculos ser inquebrantvel se o senhor tiver a coragem de aumentar conside-
ravelmente o generoso contributo que a sua imensa caridade deu nos anos transactos para este vicariato.
J comearam as obras das duas casas do Cairo e gastaram-se at hoje uns oito mil francos. Porm, o Go-
verno egpcio exige que em dezoito meses, a partir de 4 de Agosto, ou seja, para o dia 4 de Fevereiro de
1876, se tenha efectuado o gasto de 50 000 francos. Espero, no obstante, que, feito este desembolso, possam
instalar-se l os dois institutos, aps o que a construo do restante se ir realizando pouco a pouco. Para
poder fazer frente a tudo, reduzi ao mnimo o pessoal do Cairo e transferi para Cartum tambm os trs estu-
dantes de teologia que tinha naquela capital.
3748
Como o senhor ver pelas estatsticas do passado exerccio, requerem-se considerveis somas para as via-
gens do pessoal, no s desde a Europa at Cartum mas tambm desde Cartum at s outras estaes do vica-
riato. A estes enormes gastos acrescentou-se a desgraa da caravana do P.e Carcereri. Com esta caravana,
includa a viagem dele Europa e as compras ordinrias, consumiu-se a desmesurada importncia de 36 680
francos com 91 cntimos, enquanto se outro tivesse guiado a expedio no teria empregado nela 20 000
francos. E, para alm de todos estes dispndios, as provises que deixaram encontram-se ainda a mais de
quarenta dias de Cartum, em Wady-Halfa, de onde, por agora, impossvel retir-las.
3749
-
O P.e Carcereri cometeu dois grandes erros nesta expedio. Chegado a Assuo, devia ter feito o mesmo
que todos os missionrios desde o ano de 1848, e todos os comerciantes: desembarcar os embrulhos e trans-
port-los sobre camelos at Schellal (duas horas de viagem), para a serem embarcados e levados a Korosko,
seguindo depois pelo deserto at Berber. Isto foi o que sempre fizeram os missionrios. Pelo contrrio, ele
quis fazer passar pelas cataratas de Assuo at Schellal no s as embarcaes, mas tambm o pessoal e os
ajudantes com o perigo de serem tragados pelo Nilo.
3750
O pessoal teve a sorte de se salvar descendo para terra ao comeo da catarata e indo a p at Schellal; mas
as embarcaes ficaram muito avariadas pela passagem das cataratas e uma afundou-se no Nilo. Passo em
silncio a desgraa da morte de um dos meus bons agricultores, um verons que, cado num redemoinho do
Nilo, nas cataratas de Schellal, se afogou. Se o P.e Carcereri tivesse tomado em Assuo os camelos para um
percurso de duas horas at Schellal, como fizeram todos os demais, ter-se-iam evitado todos estes infort-
nios.
Em segundo lugar, o P.e Carcereri quis tomar o caminho de Wady-Halfa, em vez do de Korosko. Ele
nunca fizera esta rota, no conhecia Wady-Halfa, mas foi at l; enquanto muitos comerciantes egpcios,
seguindo a de Korosko, chegaram felizmente do Cairo a Cartum em sessenta dias.
3751
Pois bem, j em Wady-Halfa, Carcereri teve que se deter a trinta e quatro dias; e quando, por fim, pde
partir (aps a minhas diligncias perante o Governo), s lhe foi possvel faz-lo com dezanove camelos. Por-
tanto, do Cairo a Cartum gastou 103 dias. Quanto s provises, mais de metade se perdeu nas cataratas e o
resto est ainda em Wady-Halfa, onde h perigo de que tambm se perca. Assim pois, de Cartum mandei l
um dos meus bons irmos leigos buscar essas provises.
No deserto de Bayuda ele encontrou a caravana ( qual enviei os biscoitos de que carecia) e o P.e Carce-
reri ordenou-lhe que se detivesse em Dngola. Tendo-me inteirado deste novo contratempo, apressei-me a
ordenar ao meu irmo leigo que prossiga a viagem at Wady-Halfa e que dali leve o resto das provises para
Korosko e, atravs de Berber, as traga at Cartum.
3752
Deste modo aumentam ainda os gastos da caravana, para no perder tudo, e no fim esta expedio custar
mais de 40 000 francos. certo que se torna muito difcil a viagem frica Central; mas jamais voltarei a
pr o P.e Carcereri frente de tais empresas.
Apesar destas enormes despesas, encontro-me sem provises e, por cima, em apuros, porque no posso
deixar esta capital para cumprir as ordens da Propaganda de ir fundar a nova misso de Gebel Nuba. Porm,
toda a minha confiana est posta no Sagrado Corao e na Propagao da F.
3753
Graas ao divino Corao de Jesus e a si, apesar de tantas dificuldades, a Sagrada Congregao da Propa-
ganda pde reconhecer que no foram em vo os sacrifcios que os benfeitores da Obra fizeram por este co-
lossal Vicariato. Eis um pequeno extracto de uma carta que me dirigiu S. Em.a o cardeal Franchi:
Roma, sede da Propaganda, 29 de Agosto de 1874
3754
Na assembleia geral de 14 do corrente ms de Agosto, a Sagrada Congregao da Propaganda ocupou-
se dos assuntos dessa misso, com o objectivo de lhe proporcionar uma estruturao mais slida. Considera-
das, pois, as informaes enviadas por V. S. em diversas pocas, assim como as apresentadas pelo P.e Carce-
reri, a sagrada assembleia teve o prazer de saber que o Senhor se dignou abenoar o princpio de uma obra de
tanta glria para Ele e que fundamentalmente se espera que continuar a proteger com os seus celestiais fa-
vores. Portanto, os eminentssimos padres ordenaram que se institua imediatamente a nova misso em Gebel
Nuba, para que, com os meios que actualmente estejam ao alcance do senhor, procure a converso ao Cristi-
anismo desses povos to desventurados.
3755
Depois de me darem sbias instrues sobre o modo de agir quanto ao trfico de negros e escravido e
sobre como acabar pouco a pouco com as desordens destes povos, S. Em.a fez-me saber que a S. C. decidiu a
minha nomeao para bispo e vigrio apostlico; porm, s ser comunicado ao Santo Padre uma vez estabe-
lecida a misso de Gebel Nuba. A carta termina assim:
3756
-
Finalmente tenho o prazer de lhe participar que os meus eminentssimos colegas tributaram elogios ao
empenho com que o senhor iniciou a rdua empresa de evangelizar essas gentes e encorajam-no a continu-
la sem desanimar pelos obstculos que vier a encontrar. Pelo contrrio, contando com a divina assistncia,
que, certamente, no lhe faltar..., etc., etc.
Para lhe dar uma ideia cada vez mais exacta e verdadeira da administrao deste vicariato, junto as se-
guintes notas:
[Seguem notas administrativas e quatro anexos]
3757
Com este relatrio e com o que tive a honra de lhe enviar no dia 3 de Dezembro passado, espero ter-lhe
exposto a situao e o grande futuro do vicariato da frica Central. Rogo-lhe com lgrimas nos olhos que
aumente muito este ano a generosa ajuda ao mesmo, a fim de poder adquirir as propores que Deus parece
ter-lhe destinado para a salvao de tantos milhes de almas.
3758
A conquista do Equador, levada a cabo pelo coronel Gordon, e a do imprio de Darfur, realizada pelo
quedive, abriro em pouco tempo um campo mais seguro e extenso ao nosso laborioso apostolado.
Digne-se, senhor presidente, aceitar os meus humildes respeitos e apresent-los a todos os membros dos
conselhos centrais e a todos os scios, pelos quais rezo diariamente.
Seu dev.mo e agradecidssimo
P.e Daniel Comboni
Pr-vigrio apostlico da A. C.
Original francs
Traduo do italiano
N.o 588 (557) - A ESTANISLAU LAVERRIERE
Annales de la Propagation de la Foi (1875), pp. 361-363
Cartum, 10 de Maro de 1875
3759
A misso do Cordofo ganhou nova vida. Pude terminar a construo de metade da casa das Irms. fei-
ta de tijolo vermelho e, para o pas, uma maravilha. Tive que ampliar o seminrio, o pequeno colgio de
negros.
Cartum, que o centro de comunicaes, continua a ser para ns a base de operaes e o ponto de partida
da nova misso de Gebel Nuba.
3760
O governador-geral do Sudo, S. Exia. Ismail Pax, que passagem por El-Obeid para as operaes em
Darfur visitou as nossas duas casas do Cordofo, escreveu-me que ficou maravilhado, sobretudo com a casa
das irms e assegurou-me que se sentir sempre contente por proteger uma obra to eminente da civilizao
europeia.
Desde o passado Novembro tenho aberta uma casa em Berber, cidade muito comercial da Nbia Superior.
J esto instalados l cinco sacerdotes e dois irmos, sob a direco do P.e Carcereri, que o superior.
3761
Nomeei o cn. Pascoal Fiore, superior da misso de Cartum, meu vigrio-geral, em substituio do P.e
Carcereri. A casa de Berber pode converter-se no centro de outras misses nas provncias de Suakin, Taka e
Dongo.
3762
Anuncio-lhe uma muito feliz mudana na situao dos nossos Institutos do Cairo, destinados, como sabe,
aclimatao dos missionrios e das Irms da Europa. Eu pagava anualmente pelas duas casas uma renda
muito elevada. Para eliminar este pesado fardo, eu tentara desde h trs anos, diversas solues. Finalmente
dirigi-me a S. A. o quedive e pedi-lhe um terreno no Cairo. Aps mil fadigas e tentativas de P.e Rolleri, su-
perior dos institutos, e do P.e Carcereri, na sua passagem pelo Cairo, S. A. o vice-rei concedeu-me gratuita-
mente, a 4 de Agosto de 1874, o terreno solicitado. Esse terreno foi avaliado em 43 000 francos.
-
3763
Uma das clusulas da doao obriga-me a fazer no espao de dezoito meses obras no valor de 50 000
francos. Estas condies so onerosas, mas o vicariato tem absoluta necessidade de duas casas no Cairo. O
terreno, que mede 3609 metros quadrados, fica situado no bairro de Ismailiah, um dos melhores da capital do
Egipto. Recentemente escreveram-me de l a comunicar-me que os alicerces esto terminados. Mas por ago-
ra no posso continuar as obras por falta de meios.
P.e Daniel Comboni
Original francs
Traduo do italiano
N.o 589 (558) - AO CN. JOS ORTALDA
Museo delle Missioni Cattoliche XVIII (1875), p. 328
Cartum, 10 de Maro de 1875
3764
Darfur j est submetido em parte. O sulto deste vasto imprio encontra-se aqui em Cartum. Tem consi-
go poucas mulheres, mas est acompanhado de muitos soldados e de cinco filhos. Em Darfur tinha duzentas
mulheres e milhares de escravos. Vejo que est resignado sua sorte. Deus o nico Senhor disse-me; o
homem, ao invs, hoje rei, amanh escravo. Eu era sulto, hoje sou um prisioneiro. Deus o quis e tem ra-
zo, porque Ele que o nico Senhor e sulto do universo; todos ns somos seus servidores e escravos. O
sulto de Darfur guardado por um sandiak e por um grupo de soldados, que dentro de uns dias o conduzi-
ro ao Cairo.
3765
Sabe o rabe mediocremente. Em breve lhe mandarei notcias sobre a conquista de Darfur. Estas empre-
sas humanas so, no meu entender, meios de que a Providncia se serve para facilitar as comunicaes no
meu imenso vicariato e para contribuir para que nele entre a f. Entretanto, trabalha-se activamente na cons-
truo do caminho de ferro entre Wady-Halfa e Mothhammah, perto de Shendi. Deve estar terminado dentro
de cinco anos. Ento j no teremos que atravessar o deserto. O P.e Carcereri est em Berber e fica l como
superior. Todas as caixas da sua caravana se encontram ainda em Wady-Halfa.
(Daniel Comboni)
N.o 590 (559) - AO P.e ESTANISLAU CARCERERI
APCV, 1458/458
Cartum, 14 de Maro de 1875
Breve nota.
N.o 591 (560) - AO CARDEAL ALEXANDRE FRANCHI
AP SC Afr. C., v. 8, ff.313-318
J. M. J. N.o2
Cartum, 25 de Maro de 1875
Em.o e Rev.mo Prncipe,
3766
lei constante da Providncia que as obras de Deus tenham a marca da cruz. Por isso no pequeno con-
forto para o meu esprito, embora muito dbil, ver-me com o peso de mui graves cruzes. Estas fortalecem-
nos imensamente se pensarmos que com a cruz J. C. salvou o mundo e que com a cruz o nosso adorado San-
to Padre Pio IX elevou a tanta altura a glria do Pontificado, que um severo ministro da Inglaterra no pde
-
fazer menos que dizer que a Igreja Catlica hoje, ainda que inerme, a potncia mais formidvel e colossal
do universo, enquanto esse Barrabs charlato de Vila Severini se atreveu a afirmar desenvoltamente que o
Papado j teve o seu tempo. Sejam, pois, sempre benditas as cruzes: as obras de Deus so solidssimas por
nascerem ao p do calvrio.
3767
A caravana guiada pelo P.e Carcereri chegou a Cartum a 3 do passado ms de Fevereiro, 103 dias depois
de sair do Cairo; mas chegou s o pessoal da expedio (menos o excelente Jos Avesani, agricultor verons,
que morreu afogado no Nilo por alturas de Schellal), com dezanove camelos, pela rota de Dngola. Todo o
resto de caixas e provises correspondentes carga de sessenta camelos foi deixado pelo P.e Carcereri em
Wady-Halfa, ou seja, a mais de quarenta dias de Cartum. Grande parte das provises e todos os paramentos
sagrados, que me tinham mandado de todas as partes da Europa, perderam-se ou estragaram-se nas cataratas
de Assuo; e se o resto das provises continua em Wady-Halfa acabar por se perder.
3768
Uma embarcao da caravana, batida pelas vagas ao passar as cataratas quebrou-se nos escolhos e foi ao
fundo, embora se conseguissem tirar alguns objectos deteriorados. O prejuzo que sofreu a misso, alm de
muitos outros inconvenientes, ascende a mais de vinte mil francos ou talvez mais de trinta mil, o que me cria
no pouca preocupao. Mas nas barbas de S. Jos encontram-se escondidos no s trinta mil francos, seno
milhares e milhes de guinus; pelo que no duvido que o nosso querido protector da Igreja Catlica e da
Nigrcia cumprir com o seu dever de ressarcir a obra africana do seu divino Filho. Para este objectivo so
dirigidas especialmente as nossas oraes neste ms a ele consagrado.
3769
At agora, nunca tinha acontecido semelhante desgraa a nenhuma caravana da misso da frica Central
desde o ano de 1846, em que foi erigida em vicariato. Tanto os missionrios como todos os comerciantes
chegados a Assuo sempre desembarcaram as provises e as mercadorias e transportaram-nas at Schellal
por meio de camelos. E sempre se seguiu este procedimento, porque, fazendo passar as embarcaes pelas
cataratas, corre-se o perigo de perder pessoal e carregamento. De modo semelhante, todos os missionrios e
comerciantes que, navegando, chegaram a Korosko, tomaram sempre a rota do deserto de Atmur at Berber e
nunca os missionrios seguiram a de Wady-Halfa e Dngola, especialmente quando transportavam muitas
caixas, porque em Wady-Halfa difcil encontrar camelos; e ainda que houvesse camelos, essa rota sempre
mais longa e fadigosa e pressupe um gasto maior.
3770
Todos os que estamos aqui no pudemos compreender ainda porque ocorreu ao P.e Carcereri a ideia de
fazer passar as embarcaes pelas perigosas cataratas de Assuo, nem a razo pela qual tomou o caminho
incerto de Wady-Halfa, que ele mesmo nunca tinha visto, afastando-se do processo e da rota seguidos sem-
pre pelos missionrios e comerciantes. Entretanto, eu vejo-me obrigado a fazer novos gastos de alguns mi-
lhares de francos para fazer transportar para Cartum as caixas de Wady-Halfa. E talvez tenha de seguir o
conselho do I. R. consul austro-hngaro e do governador de Cartum: mandar ao meu bom Augusto Wis-
newsky (a quem enviei a Wady-Halfa, onde no encontra camelos) que embarque de novo todas as caixas e
as leve para trs para Korosko, para da tomar a antiga rota do deserto de Atmur e de Berber. Faa-se sempre
a vontade divina.
3771
Logo que chegaram a Cartum os missionrios, enviei ao Cordofo uma nova caravana, para dar comeo
misso de Gebel Nuba. Apenas recebido o meu aviso, o grande chefe apressou-se a mandar a sua gente a El-
Obeid buscar e conduzir os missionrios a Delen. A pequena caravana, constituda por dois sacerdotes e dois
hbeis e piedosos artesos, mais um aluno meu da tribo dos Nuba como intrprete, j saiu de El-Obeid para o
seu destino. Com a ajuda do chefe devem preparar na povoao de Delen dois estabelecimentos, um para os
missionrios e outro para as irms, e uma capela. At data no tenho nenhuma notcia nem da viagem nem
da chegada da caravana a Delen.
3772
A excelente madre geral das Irms de S. Jos mandou de Marselha para o Cairo a madre provincial que
eu tanto lhe havia pedido, na pessoa da Ir. Emilienne Naubonnet, talvez muito conhecida na Propaganda,
porque esteve trinta anos como superiora na Sria; e telegrafei ao Superior dos meus institutos do Cairo orde-
nando-lhe que a envie quanto antes para Cartum pela rota do Suez, mar Vermelho e Suakin. Ao mesmo tem-
po, mandei a esta ltima cidade um missionrio que a v receber e que, pelo deserto dos Bisharin, a conduza
a Berber. Tanto a madre provincial como o missionrio enviado no s chegaram a Suakin, como at se en-
contram j de viagem a camelo em direco a Berber.
3773
-
Tendo-me declarado o P.e Carcereri que era vontade da Propaganda e do seu Geral que ele ficasse um ano
em Berber e compreendendo eu que tal era o desejo do P.e Carcereri, julguei conveniente aceder a isso; pelo
que partiu com todos os seus religiosos para Berber, onde chegou h tempos. Assim todos os camilianos
esto j instalados naquela nova casa.
3774
No dia 22 de Janeiro, morria em Cartum a superiora das Irms de S. Jos, Ir. Genoveva Nivelet. Entre as
recm-chegadas h uma (a mais forte), a Ir. Vitria Maill, que est gravemente doente. Na realidade, ela
chegou j mal a Cartum e temo que tambm esta tome o caminho do Cu. De resto, o clima da frica Central
melhor que o de muitas outras misses. Aqui h que suportar grande nmero de fadigas e sofrimentos, mas
pode-se subsistir: basta saber-se orientar bem.
3775
Veio prisioneiro para Cartum o sulto de Darfur acompanhado de muitos filhos. Em Darfur tinha mais de
duzentas esposas e concubinas. O governador militar de Cartum levou misso o sulto e os seus filhos,
todos mais negros que o carvo, para me fazerem uma visita. Ficou pasmado de admirao ao ver o nosso
jardim e, sobretudo, o novo estabelecimento que constru para as irms. O sulto, falando-me do seu cativei-
ro, disse-me, entre outras coisas, em lngua rabe-sudanesa, na qual se exprime bastante bem, que Deus
Senhor de todos os reinos e de todas as coisas: hoje cria os reis e manda que eles dem ordens; amanh faz
deles servos e ordena que obedeam. Ontem eu era rei; os meus antepassados tinham mandado em Darfur
como senhores da vida e da morte de todos os mortais, ao longo de uma dinastia de 467 anos de existncia.
Hoje, em troca, de repente vi-me transformado num escravo e devo ir servir para longe do meu pas. Deus
meu Senhor: Deus tem razo, visto que quer assim. Deve-se fazer o que Deus quer.
3776
Os seus filhos imperiais ficaram boquiabertos quando lhes mostrei a grande fotografia de S. E. Ismail
Ayub Pax, governador-geral do Sudo e generalssimo do exrcito egpcio de Darfur. Estes prncipes ne-
gros reconheceram perfeitamente na grande fotografia aquele que os fizera prisioneiros e se tinha apoderado
da sua capital e do seu pas. Primeiro mostraram assombro e comentavam: ele, o Ismael Pax. Depois
comearam-se a rir de forma incontida, repetindo: Hua zato, hua bardo. At que, de repente, se evapora-
ram do meu salo sem se despedirem e fugiram da misso. H quem diga que os filhos do sulto, crendo
encontrar-se realmente em presena de Ismail Pax, seu inimigo, se deram fuga.
3777
Agora, que est ausente S. E. Ismail Pax, todos os comerciantes de Cartum se encontram muito descon-
tentes com quem desempenha as funes de governador-geral, que Tuak Pax, e suspiram pelo regresso
daquele. Mas tardar muito a voltar a Cartum, Porque desta vez recebeu a incumbncia de S. A. o quedive de
estabelecer um governo regular no imprio conquistado de Darfur, o qual se dividir em cinco grandes pro-
vncias ou mudiris e se abrir ao comrcio e s comunicaes com outros pases da frica e com os euro-
peus. Espero que no vamos tardar muito a implantar a cruz na sua capital.
3778
Peo-lhe perdo por me ter alargado um pouco. Ficaria feliz se a exmia bondade de V. Em.a me obtives-
se do Santo Padre uma bno para suportar alegremente as cruzes que me afligem e, em especial, para o
bom xito na ereco da nova misso de Gebel Nuba. Antes de partir para territrio Nuba proclamarei, numa
circular, o jubileu ou Ano Santo.
Rendendo-lhe humildemente a homenagem da minha profunda devoo, tenho a honra de lhe beijar a sa-
grada prpura e de me declarar nos Sagrados Coraes de Jesus e Maria
De V. Em.a Rev.ma
Hum., devot.mo e af.mo filho
P.e Daniel Comboni
Pr-vig. ap. da frica Central
3779
Na minha ltima carta esqueci-me da cpia anexa relativa ao estabelecimento de Berber, feita com per-
misso do autor, o P.e Franceschini, que informava o seu geral sobre a casa camiliana de Berber.
N.o 592 (1208) - NOTA
AP SC Afr. C., v. 8, ff. 319-320
-
25 de Maro de 1875
Breve nota sobre uma carta.
N.o 593 (561) - NOTA A UMA CARTA DE P.e LOSI
ACR, A, c. 27/11, n.4
Cartum, Maro de 1875
N.o 594 (562) - DECRETO DA ERECO DA CASA DE BERBER
AP SC Afr. C., V. 8, F. 329
Cartum, 1 de Abril de 1875
ANEXO A. Decreto da ereco cannica
da casa da misso de Berber
Decreto
3780
Dado que S. S. nosso senhor Pio IX, Papa por divina Providncia, nos concedeu a ns, ainda que indig-
nos, a suprema autoridade do vicariato apostlico da frica Central e que nosso dever pr o mximo cui-
dado em atender com grande empenho s pesadssimas tarefas do nosso apostolado e com todas as nossas
foras procurar diligentemente a salvao eterna destes povos, depois de elevar com fervor preces e splicas
dirias a Jesus Cristo, eterno e sumo Pastor, considermos que deveramos dispor as coisas de forma que, sob
o nosso poder e autoridade, tambm as nclitas famlias dos regulares acorressem em ajuda dos dilectos sa-
cerdotes do nosso Instituto das Misses Pro Nigris, de Verona, sacerdotes a quem foi confiada e encomen-
dada pela Santa S Apostlica a administrao e o cuidado espiritual de todo o vicariato da frica Central.
3781
De entre as ditas famlias, preferimos a Congregao dos Clrigos Regulares Ministros dos Doentes, fun-
dada por S. Camilo de Lelis, porque pensmos que sobretudo esta, ao ser-lhe prprio o duplo carisma do
servio eclesistico e da exmia caridade, poderia responder extraordinariamente s necessidades das regies
africanas.
3782
Portanto, proposto ao rev.mo P.e Camilo Guardi, superior geral da mesma ordem, um determinado acordo
para tal fim, vlido por um quinqunio, pensmos confiar a estes religiosos, escolhidos e aprovados pela S.
Congregao da Propaganda Fide, mediante uma carta de autorizao, o cuidado espiritual com a jurisdio
ordinria paroquial apenas sob a nossa autoridade e dependncia e a dos nossos sucessores sobre todos os
fiis de um e de outro sexo, de qualquer nacionalidade e rito, que se encontram na provncia de Berber, na
Nbia Superior, desde Suakin at ao mar Vermelho e desde Taka at ao limite setentrional com a Abissnia e
com o antigo reino de Dngola, como esto civilmente constitudas e unidas ao nosso vicariato.
3783
Portanto, visto o referido rev.mo P.e Camilo Guardi e a S. Congregao da Propaganda Fide se terem
dignado benevolentemente dar a tudo isso a sua aquiescncia e se encontrarem j no nosso vicariato os apro-
vados e escolhidos da dita ordem religiosa, ns, aps madura e diligente indagao sobre eles e escutada a
opinio de alguns membros do nosso instituto verons para as misses, dos mais venerados e tidos em consi-
derao pela sua experincia, determinmos entregar a casa da misso de Berber, por ns fundada, aos dilec-
tos filhos de S. Camilo de Lelis e proceder ereco cannica da mesma casa para a famlia dos camilianos.
3784
Pelo que decidimos no Senhor erigir canonicamente a supradita casa da misso dos Clrigos Regulares
dos Ministros dos Doentes na cidade de Berber. Desde hoje, com a nossa presente carta, declaramo-la erigida
solenemente, segundo a forma e as condies subscritas no referido acordo por ns propostas, aceite pelo
rev.mo P.e Camilo Guardi e benevolentemente aprovado pela S. Congregao da Propaganda Fide
Dado em Cartum, na nossa residncia principal, a 1 de Abril de 1875.
(L. S.)
-
P.e Daniel Comboni
Pr-vig. ap. da frica Central
Paulo Rossi, secretrio
Original latino
Traduo do italiano
N.o 595 (563) - AO P.e ESTANISLAU CARCERERI
APCV, 1458/458 (Cronaca..., p.35)
Cartum, 11 de Abril de 1875
3785
Em ateno ao desejo que me expressou verbalmente em Cartum no passado Fevereiro e, do Cairo e
Wady-Halfa, me comunicou por escrito em vrias cartas, declarando a sua vontade de renunciar a ser meu
vigrio-geral, e uma vez que essa funo incompatvel hic et nunc com o seu novo cargo de prefeito da
casa camiliana de Berber, manifesto-lhe por meio deste escrito que aceitei definitivamente a sua renncia
mencionada funo. Em virtude do que fica despojado de todas as faculdades ordinrias e extraordinrias
inerentes mesma e que eu lhe conferi mediante documento expedido em Maio de 1873 e noutras pocas
tanto verbalmente como por escrito.
3786
Com a presente carta declaro igualmente nulas e de nenhum valor, a partir de agora, todas as faculdades
que, como vigrio-geral, outorgou aos seus irmos camilianos, reservando para mim mesmo conceder-lhes
no futuro mediante o correspondente documento os poderes e faculdades que considere oportuno, etc...
P.e Daniel Comboni
N.o 596 (564) - AO P.e CAMILO GUARDI
AGCR, 1700/35
N.o 1
Cartum, 14 de Abril de 1875
Rev.mo padre,
3787
Ainda que tarde, chegou finalmente s minhas mos a sua estimadssima carta de 14 de Dezembro do ano
passado. No s foi V. S. rev.ma um homem de palavra como tambm demonstrou ter palavra de rei. Mas da
minha parte tenho a satisfao de no ficar atrs no que se refere ao cumprimento da palavra, pois, embora
me encontrasse na absoluta impossibilidade de oferecer imediatamente em Berber uma casa digna de acolher
uma ordem religiosa, tanto pelas obras que me tinham ocupado, como porque quase todos os recursos do
vicariato estavam nas mos do P.e Estanislau e do superior dos meus pequenos institutos do Cairo, para fazer
frente aos gastos da grande caravana que o P.e Estanislau devia conduzir frica Central, contudo fiz sacri-
fcios superiores s minhas foras, com o fim de ver depressa preparada e erigida material e canonicamente a
casa camiliana, segundo os seus venerveis desejos, que repetidamente me tinha exposto por escrito o P.e
Estanislau Carcereri.
3788
Para satisfazer a vontade de V. P. Rev.ma, expressa tambm pelo dito padre, consenti que todos os religi-
osos permaneam reunidos em Berber, enquanto eu no tiver absoluta necessidade deles. Possivelmente s
chamarei a Cartum e por pouco tempo o P.e Franceschini. Como ele tem autorizao de V. P. rev.ma para
fazer uma visita a Verona, desejaria que me acompanhasse na minha viagem da frica Central Europa
quando, fundada a misso dos Nuba, tiver que ir a Roma; o que no demorar muito, j que chegaram os
meus missionrios a essa tribo e foram bem acolhidos pelo chefe e pela populao de Delen.
3789
-
Entretanto, a pedido do P.e Estanislau, no dia 1 do corrente promulguei o decreto da ereco cannica da
casa da misso de Berber, do que mandei cpia Propaganda. E ainda que, devido s graves perdas sofridas
pelo naufrgio de uma embarcao nas cataratas de Assuo e pelo atraso em recuperar o resto das provises
que na data em que escrevo ainda esto em Wady-Halfa, a mais de 40 dias de Cartum me encontre des-
provido de fundos, o seu paternal corao pode estar completamente seguro de que a sua famlia religiosa de
Berber no deixar de ser abastecida do necessrio. A Providncia Divina ajudar-me- espero a assistir
esta primognita das congregaes regulares do vicariato.
3790
Quando tiver a dita de ir Cidade Eterna, se Deus me der vida, confio poder conversar longamente com
V. P. rev.ma sobre muitas coisas de importncia relativas aos interesses e ao maior bem de seus filhos africa-
nos e de sua obra. Agrada-me muito o R. P.e Afonso Chiarelli.
3791
Em cumprimento do artigo IX do nosso acordo, pus o olhar no P.e Joo Baptista Carcereri para a eleio
do futuro proco de Berber; e para este objectivo, com carta de 11 do actual, comuniquei ao P.e Estanislau
que vou nomear provisoriamente vigrio-geral o seu irmo J. Baptista. Por isso rogo a V. P. rev.ma se digne
fazer-me saber se do seu agrado que este padre (a quem conheo h mais de 30 anos e que com o M. R. P.e
Tomelleri e o P.e Ragazzini foi meu condiscpulo no Instituto Mazza, de Verona) seja eleito proco de ma-
neira definitiva; nesse caso comunicar-lhe-ei a devida patente. Por muitos bons motivos, que, sem dvida,
no escapam sabedoria de V. P. Rev.ma, parece-me muito oportuna esta escolha.
3792
Finalmente, atendendo a repetidas cartas do P.e Estanislau, enviadas de Verona, do Cairo e de Wady-
Halfa, e inteno que me manifestou em Cartum de renunciar ao cargo de meu vigrio-geral para atender
com maior dedicao ao estabelecimento da casa religiosa de Berber, aceitei a solicitada demisso, por ser
uma funo to grave, verdadeiramente incompatvel com a sua nova misso e a prolongada residncia em
Berber.
3793
Assegurando-lhe todo o meu cuidado e afecto pela sua dilecta famlia religiosa de Berber e com o ardente
desejo de o ver em breve em Roma, ofereo-lhe o meu sentimento de homenagem de venerao e gratido,
com o qual tenho o prazer de me subscrever de todo o corao
De V. P. rev.ma hum. e verdadeiro servidor
P.e Daniel Comboni, pr-vig. apost. da A. Central
N.o 597 (565) - AO CARDEAL ALEXANDRE FRANCHI
AP SC Afr. C., v. 8, ff. 323-324
J. M. J.
Cartum, 14 de Abril de 1875
Em.o e Rev.mo Prncipe,
3794
No obstando nada ereco cannica da casa da misso em Berber, onde j se encontram reunidos cinco
sacerdotes religiosas de S. Camilo munidos da patente da Propaganda e dois leigos, no dia 1 do presente ms
de Abril publiquei o decreto para a ereco cannica da dita casa-misso, cumprindo o dever de lhe remeter
cpia a V. Em.a Rev.ma como Anexo A.
3795
Por outro lado, tendo-me o P.e Carcereri, com carta de 16 do passado Maro, manifestado o desejo de V.
Em.a de que eu examinasse o P.e Jos Franceschini (a quem V. Em.a expediu a patente de missionrio que
ele me mostrou) sobre os seus conhecimentos e aptido para o ministrio apostlico, por este candidato se
encontrar em Berber, deleguei no P.e Carcereri que realizasse o requerido exame. Efectuado mesmo no dia 2
do presente ms de Abril, enviou-me uma declarao sobre o assunto, na qual reconhece no dito jovem mis-
-
sionrio boas qualidades para a misso da frica Central e que, ratificadas por mim, passo a remeter a V.
Em.a Rev.ma como Anexo B.
3796
Todas as caixas e provises da expedio do P.e Carcereri, que ficaram aps o desastre nas cataratas de
Assuo, se encontram ainda em Wady-Halfa, a mais de 40 dias de Cartum. Seguindo o parecer do I. R. cn-
sul austro-hngaro, do Governo local e de alguns comerciantes experimentados, dei ordem ao meu enviado
Augusto Wisnewski para levar todas as provises e roupas de volta a Korosko, seguindo o deserto de Atmur
por Abuhhammed e Berber. Espero, dentro de ms e meio, poder receber tudo em Cartum.
3797
A rev.ma madre provincial, Ir. Emilienne Naubonnet, ainda que velha e com trinta anos de misso na S-
ria, passou felizmente o deserto dos Bisharin desde Suakin, no mar Vermelho, at Berber (15 dias de came-
lo). No dia 7 do corrente partiu desta ltima cidade e, possivelmente, dentro de uma semana chegar a Car-
tum. Vai ser uma dor para ela no encontrar j a excelente Irm Vitria Maill, a qual voou para o eterno
descanso no dia 2 do presente ms.
3798
No passado domingo recebi cartas de Gebel Nuba, onde chegaram sem contratempos os meus mission-
rios e foram acolhidos cordialmente por aquele chefe e pela povoao de Delen. Espero que o Sacratssimo
Corao de Jesus abenoe esta nova misso.
3799
Tambm S. E. Ismail Pax, governador-geral do Sudo e generalssimo do exrcito egpcio no imprio de
Darfur, me escreveu daquela capital com data de 10 de Safar (17 de Maro), dando-me muito boas novas
dessa recente conquista, pedindo notcias minhas e mostrando a melhor disposio. Est a organizar em cinco
grandes muderias ou provncias o vasto reino conquistado e depois voltar a Cartum.
3800
O coronel Gordon, nomeado agora ferik pax, deixou Gondokoro, para fixar a sua residncia principal a
Lad, a trs horas mais para norte. Abandonaram-no quase todos os seus colaboradores, que regressam
Europa diz-se devido ao seu grande rigor. Mas a razo determinante que se trata de um verdadeiro sol-
dado, que exige ordem e pontualidade e que no permite roubar. Alm disso, mostra-se terrvel e inexorvel
com o trfico de escravos, que desapareceu completamente das localidades prximas da sua residncia; po-
rm, o comrcio de escravos continua com pleno vigor a alguma distncia de Lad e das margens do Nilo
Branco, onde as suas escassas tropas no chegam.
Honrando-me em lhe exprimir os meus sentimentos de profunda venerao e beijando-lhe respeitoso a
sagrada prpura, passo a subscrever-me nos Sagrados Coraes de J. e de M.
De V. Em.a rev.ma
Hum. e dev.mo e af.mo filho
P.e Daniel Comboni
Pr-vig. ap. da A. Central
N.o 598 (566) - AO P.e ARNOLDO JANSSEN
AVR, 1626-1633
J. M. J. N.o 1
Cartum, 14 de Abril de 1875
Ilustrssimo e dilectssimo senhor,
3801
Ontem recebi a sua carta de 18 de Fevereiro deste ano, junto com as trs folhas da sua pia revista, que tem
o doce ttulo de Kleiner Herz-Jesu Bote (Pequeno Mensageiro do Corao de Jesus).
3802
Agradeo-lhe imensamente pela sua gentileza e caridade e tambm aos meus piedosssimos benfeitores
que, por meio de si, se compadeceram desta trabalhosa misso da frica Central e dos meninos negros.
3803
Todos os dias, em pblico e em privado, rezamos ao Corao de Jesus, a quem com a autoridade do Sumo
Pontfice Pio IX e da Santa S Apostlica consagrei todo o vicariato por si e pelos benfeitores da Alemanha
-
catlica, bem como pelos intrpidos bispos, sacerdotes e fiis da Prssia renana e germnica, cuja f, firmeza
e herosmo contemplam admirados o mundo, os anjos e os homens. Os missionrios da frica Central, ainda
que extenuados por um enorme trabalho, no nos consideramos dignos de ser chamados discpulos dos valo-
rosssimos homens da Alemanha, tanto eclesisticos como leigos catlicos. O vosso exemplo fortalece o
nosso esprito e incita-nos a sofrer mais pela salvao e redeno dos negros da frica interior. nimo, pois!
O prximo triunfo consolar-vos- a vs e Igreja de Cristo. O Corao de Jesus est convosco.
3804
O rev.mo senhor proco Ncker, de Colnia, em trinta meses, a partir de Setembro do ano de 1872, deu
ao meu vicariato 40 000 (quarenta mil) francos e tambm o encargo de comprar meninos.
3805
Porm, como no me chegou a carta em francs, a que o senhor se dignou referir na sua carta, at agora
no conheo inteiramente as condies e as intenes especiais dos meus generosos benfeitores: o ilustrssi-
mo e rev.mo proco Ncker, junto com os membros da pia Sociedade de Colnia para o resgate e a educao
das crianas negras (com os quais estou relacionado h quinze anos), e foi sempre muito exacto e fiel a
enviar o dinheiro e a transmitir as intenes dos benfeitores da frica Central.
3806
Os motivos pelos quais no recebi essa carta em francs podem ter sido vrios:
1.o O servio postal de Alexandria ou do Cairo, ou, numa palavra do conjunto do Egipto e da Nbia, no
como o europeu. Por isso, muitas cartas, que me so enviadas para a frica ou que eu escrevo para a Euro-
pa, extraviam-se. E de nada tm servido as minhas queixas ou as do I. R. cnsul austro-hngaro ao Governo
egpcio. As cartas e os escritos so transportados em camelos e ao rabe falta-lhe muito de civilizao, ainda
primitivo.
2.o O rev.do P.e Carcereri, antes meu vigrio-geral, um excelentssimo escritor e redactor e muito ins-
trudo; mas (para lhe dizer confidencial e secretamente a verdade) um pssimo administrador e muito inex-
periente ao tratar dos assuntos. Nos dois anos em que permaneci em El-Obeid, no Cordofo, ele recebeu em
Cartum todas as cartas a mim dirigidas da Europa e foi muito negligente em faz-las chegar s minhas mos.
3807
O P.e Carcereri saiu de Cartum a 10 de Dezembro de 1873 em direco Europa, onde percorreu a Itlia,
Frana, Alemanha e ustria devido a assuntos da misso, aps o que regressou ao Egipto e depois a Cartum.
Agora superior da casa da misso de Berber. Ele mesmo, antes de Julho do ano passado, recebeu na Europa
para mim muitas cartas de muitos dos meus benfeitores da Itlia, Alemanha e ustria e, com elas, dinheiro,
roupa, livros, paramentos e vasos sagrados; mas no me falou nem escreveu especificando as diferentes coi-
sas e os benfeitores, excepto num caso ou noutro.
3808
Agora, de Berber, mandou-me muitas cartas fechadas nos meses de Abril, Maio e Junho do ano passado.
Do Cairo, tambm me mandou algumas cartas atrasadas, outras de Wady-Halfa, Assuo e Dngola, e ainda
h outras nas caixas de gneros alimentcios e outras coisas que levou do Cairo at Wady-Halfa e que conti-
nuam l desde h cinco meses, porque no pde transport-las para Cartum, por falta de sessenta camelos.
3809
O P.e Carcereri foi a Colnia em Junho do ano passado, onde recebeu do rev.mo Ncker 20 000 francos.
E certamente a sociedade dos negros ou o rev.mo proco Ncker entregaram-lhe todas as notas necessrias
com as intenes dos benfeitores, como se faz sempre.
3810
Feito este esclarecimento, com prazer cumprirei as condies e os desejos expressos na carta de V. S. re-
centemente recebida. Resgatarei os dez negros na misso do Cordofo; mas seja gentil escrevendo-me os
nomes dos meninos que o senhor e os benfeitores desejam. J resgatmos muitos meninos em El-Obeid com
o dinheiro da Sociedade de Colnia e, no prximo ms, quando for a terras dos Nuba para fundar uma mis-
so por mandato da Santa S Apostlica, administrarei o baptismo em El-Obeid a vinte e cinco ou trinta cri-
anas resgatadas o ano passado. Far-me-, pois, ilustrssimo senhor, um assinalado favor se, logo que receber
a minha carta, me mandar os nomes dos meninos negros resgatados pelos benfeitores de Westflia.
3811
Desculpe-me por lhe escrever em latim, mas que no durmo por excesso de ocupaes e estou esgotado.
Por este motivo no lhe escrevo em alemo, porque precisaria de mais tempo e teria que usar o dicionrio. O
senhor, porm, pode escrever-me em alemo, pois percebo-o bastante bem. Ou, se preferir, pode faz-lo
igualmente em francs, ingls, espanhol, portugus, italiano ou em latim, lnguas faladas pelos ocidentais.
3812
-
Os meus colaboradores, isto , o meu vigrio-geral e superior de Cartum, P.e Pascoal Fiore, o meu secre-
trio, P.e Paulo Rossi, e P.e Losi, reitor da misso do Cordofo, far-me-o chegar, sem falta, todos os escri-
tos que o senhor me mandar. E o mesmo far P.e Bartolomeu Rolleri, superior do colgio de negros do Cai-
ro, no Egipto.
Rogo-lhe me mande a sua estupenda revista Kleiner Herz-Jesu Bote, de Maro, Abril e dos meses seguin-
tes, porque um feliz compndio da histria das misses apostlicas. Agradeo-lhe por isso.
3813
Quando dispuser de mais tempo, escrever-lhe-ei sobre o meu vicariato, que muito extenso e o mais po-
voado de todo o mundo e cujas gentes e povos se encontram nas trevas e sombras da morte.
3814
Expresse o meu agradecimento o mais que puder aos meus benfeitores e transmita-me, se possvel, os
nomes das pessoas mais dignas de venerao, para que as recordemos nas nossas oraes. Pelo que respeita
ao dinheiro, se recolher algum, tenha a bondade de o mandar sempre ao senhor Ncker.
No Sacratssimo Corao de Jesus subscrevo-me humildemente,
Seu servo em Xsto.
P.e Daniel Comboni
Pr-vigrio apostlico da frica Central
Original latino
Traduo do italiano
N.o 599 (567) - A D. GODOFREDO NCKER
Jahresbericht... 22 (1875), pp.52-55
Cartum, 20 de Abril de 1875
Ilustrssimo e rev.mo senhor,
3815
Ocupado com trabalhos importantes e urgentes e pressionado por visitas de toda a espcie, fui at agora
impedido de enviar notcias sobre a situao e as condies da nossa misso. Peo-lhe mil desculpas. Neste
tempo, o bom Deus deu-me um excelente secretrio, cheio de esprito apostlico, na pessoa de P.e Paulo
Rossi, um aluno do nosso Instituto Africano de Verona, por meio do qual poderei em breve mandar, sob a
bno que o Corao de Jesus tem reservada para o nosso vicariato da frica Central, pormenorizadas in-
formaes Sociedade de Colnia, a cujas fadigas deve este imenso vicariato a sua ressurreio e existncia.
3816
Como antecipao, mando-lhes com a presente os acordos a que cheguei, por um lado, com o superior ge-
ral dos Clrigos Regulares Ministros dos Enfermos e, por outro, com a superiora geral da congregao das
Irms de S. Jos da Apario e que foram aprovados pela Propaganda em Roma. A tudo isso acrescento o
recente decreto sobre a ereco cannica de uma casa missionria em Berber. Todos os padres da congrega-
o de S. Camilo de Lelis, chamados tambm Clrigos Regulares Ministros dos Enfermos, devem permane-
cer em Berber um ano por desejo do seu prefeito, o P.e Estanislau Carcereri; ficam disso excludos os padres
Franceschini e Chiarelli, que, juntamente com um veterano da misso, o rev.do sr. Wischnewsky, da diocese
de Ermland, na Prssia, se mantm preparados para visitar, sob a minha pessoal direco, os povos Nuba. J
mandei tambm l, guiados por P.e Lus Bonomi, do nosso Instituto de Verona, quatro irmos coadjutores.
Chegaram h dois meses ao primeiro povoado, chamado Delen, onde o chefe os recebeu com muito agrado.
A vo construir duas casas, uma destinada a acolher os missionrios e outra as Irms de S. Jos.
3817
H pouco veio para Cartum, pela rota do mar Vermelho e de Suakin, a rev.da madre provincial, Sror
Emilienne Naubonnet, que j foi durante trinta anos superiora das misses na Sria. Chegou pela primeira
vez ao Oriente com o rev.do P.e Maximiliano Ryllo, sacerdote da Companhia de Jesus, que morreu em 1848
como primeiro pr-vigrio apostlico da frica Central e cujos restos esto enterrados no jardim da casa das
irms que constru recentemente. J dois anos antes tinha pedido ao falecido cardeal Barnab uma madre
-
provincial para a frica Central que exercesse o cargo da direco religiosa dos Institutos das Irms e agora
concederam-me este favor tanto o novo prefeito da Propaganda, Sua Em.a o cardeal Franchi, como a superio-
ra geral. Uma mulher forte, dotada de nimo viril, de 56 anos e de singular experincia e habilidade, ser, se
Deus quiser, de uma utilidade muito grande para o vicariato.
3818
Os missionrios que partiram do Cairo a 24 de Outubro de 1874 chegaram a Cartum a 3 de Fevereiro do
presente ano; porm, fizeram-no sem as provises e as outras coisas que traziam para a misso. Isso perma-
neceu quatro meses em Wady-Halfa e desde ento at agora na capital de Dongola e perdeu-se quase tudo.
Este prejuzo, que ascende a quase 30 000 francos foi motivado por dois equvocos do condutor da expedi-
o. Com efeito, em vez de ir pelo caminho normal, o de Korosko a Berber, que seguem os comerciantes e
desde 1847 os missionrios, tomou a rota de Wady-Halfa e Dngola, que demasiado longa, arriscada e
dispendiosa; e, em vez de passar as cataratas de Assuo com as embarcaes vazias, enquanto a carga co-
mo haviam feito os missionrios a partir de Knoblecher era transportada mais para l das cataratas, por
terra, em camelos, e as pessoas sobre burros, ele passou esses perigosos lugares com as embarcaes carre-
gadas e, portanto, sem as devidas precaues, de modo que os missionrios e as irms se viram expostos a
grande perigo de se afogarem e s por um milagre escaparam a um naufrgio certo.
3819
Mas infelizmente, uma embarcao que levava provises e os paramentos da igreja, partindo-se, acabou
por se afundar no rio, em cujas guas encontrou a morte o nosso querido irmo Jos Avesani. Por esta razo
e por to graves perdas, por agora no estou em condies de ir ao Cordofo e a Gebel Nuba. Embora isto,
por agora, me mantenha muito aflito, no quero perder o nimo. Antes pelo contrrio, direi com o patriarca
Job: Deus mo deu, Deus mo tirou; como o Senhor quis, assim aconteceu. Bendito seja o nome do Senhor!
O divino Corao de Jesus nos anime e conforte. Receba o senhor as minhas cordiais saudaes e tenha
uma amvel recordao para o seu
Obrigadssimo amigo
P.e Daniel Comboni, pr-vigrio
Original alemo
Traduo do italiano
N.o 600 (568) - A AUGUSTO DE VILLENEUVE
AFV, Versailles
J. M. J.
Cartum, 25 de Abril de 1875
Meu carssimo Augusto,
3820
Encontro-me frente da mais vasta misso de todo o universo, rodeado das maiores e pesadas cruzes. No
meio das minhas penas e trabalhos e apoquentado por um terrvel calor, veio trazer-me um imenso e inefvel
conforto a notcia que a madre Emilie Julien me deu do seu casamento com um maravilhoso anjo, ou seja, a
senhora de Tanquerelle des Planches, sobrinha do card. de Cheverus, a qual hoje sua muito amada esposa.
Oh, carssimo amigo, esta notcia encheu-me de verdadeiro gozo e levantou-me o corao, tanto pela sua
felicidade como pelo desejo satisfeito da sua incomparvel me. De modo que cantmos uma missa solene
na minha pequena catedral, para dar graas a Deus por esta grande ventura.
3821
o fruto, caro Augusto, de tantas preces que sua admirvel me elevou e fez elevar ao Cu em todo o
universo. Sim; nem sequer nas distantes regies da frica Central deixei um s dia de pedir a Deus que lhe
desse uma companheira na Terra e esteja certo de que o mesmo se fez na sia, na Amrica, na Austrlia, em
Roma e em toda a parte, porque a sua incomparvel me, possuda de uma f herica e de uma perseverana
sem igual, bem digna de ser escutada. Desde h muitos anos ela derramou muitas lgrimas e suspiros e fez
rezar por este feliz resultado at a augusta majestade de Pio IX. Assim, o impondervel Deus viu-se obrigado
a atender essa poderosa orao materna.
3822
-
Agradea, meu caro Augusto, antes de tudo a Deus, Santssima Virgem e a Pio IX e, depois, f dessa
extraordinria me que conseguiu tal dita e procurem o senhor e sua esposa servir bem a Deus e fazer felizes
sobre a Terra os dias da sua boa me, pois ela merece-o pela sua f, a sua perseverana e o seu amor mater-
no.
Solicito-lhe, caro Augusto, apresente os meus afectuosos respeitos a sua esposa, a quem espero conhecer
pessoalmente antes de morrer e rogo-lhe que me mande uma fotografia dela por correio. Esta a minha di-
reco:
Mons. Daniel Comboni
Pr-vigrio apostlico da frica Central
C/Egipto Cartum (Sudo)
No dia 16 de Junho celebrarei missa no Cordofo por si, sua esposa e sua me.
Seu amigo P.e Daniel Comboni
Original francs
Traduo do italiano
N.o 601 (569) - A Mme. A. H. DE VILLENEUVE
AFV, Versailles
J. M. J.
Cartum, 25 de Abril de 1875
Estimadssima senhora,
3823
Rogo-lhe que me conceda o seu perdo, minha mui apreciada senhora, pelo silncio da minha caneta.
Tm-me apoquentado tantas cruzes, doenas, traies e fadigas to grandes, que, para lhe dar uma pequena
ideia delas, necessitaria de cinquenta folhas. Contudo, mesmo no meio das minhas tribulaes no deixei de
pensar em si, nem de rezar por si e por Augusto. Que grande felicidade, senhora, me produziu a notcia do
casamento de Augusto com a senhora de Tanquerelle des Planches, que bem digna dele! Posso dizer-lhe
que isto me fez esquecer as minhas penas.
3824
Sou testemunha, senhora, das promessas que fez por isso. Penetrei muito no seu corao e conheo a
fundo a sua alma. Enfim, mereceu esta graa: Deus devia conceder-lha e Augusto, pela sua entrega a sua
me, foi abenoado. Agradeci muito a Deus, muito estimada senhora, por esta ventura. Agora h que rezar
para que ele tenha filhos e Deus lhos conceda.
Logo que receber a esplndida casula que a senhora me enviou (que a nica que se salvou dizem-me
no naufrgio nas cataratas), com ela cantarei a missa por si e por seus filhos. No meio das desgraas e das
imensas perdas que sofri, o bom Deus concedeu-me muitos dons, entre eles o de um milagre que livrou da
morte todos os missionrios e trs Irms de S. Jos quando um dos meus missionrios, por imprudncia, em
vez de desembarcar em Assuo, fez entrar todas as embarcaes nas cataratas, onde uma delas ficou destru-
da ao embater contra os escolhos e se perdeu toda a carga.
3825
Porm, com as provises e os objectos de culto podiam ter-se perdido os missionrios e as irms e, por
graa de Deus, s um agricultor se afogou. Esta caravana, que saiu do Cairo a 24 de Outubro, ainda no che-
gou toda a Cartum. Foi para todo o meu vicariato uma verdadeira desgraa, que me deixou num grande aper-
to e provocou prejuzos imensos, alm de um grande atraso nos assuntos. Tudo pela imprudncia e teimosia
de um s homem. Mas fiat!
3826
Tive um prejuzo de mais de trinta mil francos, louvado seja Deus! Mas entre estas grandes cruzes e ou-
tras ainda mais terrveis, o Senhor abenoa este imenso vicariato, a misso mais vasta e difcil da Terra, que
maior que toda a Europa e povoada por mais de cem milhes de infiis. Pude construir uma bela casa em
-
Cartum para as Irms de S. Jos e outra no Cordofo; alm disso, abri e erigi canonicamente a nova misso
de Berber e empreendi a fundao da misso entre os povos Nuba, a sul do Cordofo e de Darfur.
3827
A nossa madre geral, Ir. Emilie, contribuiu de novo para consolidar as casas das suas irms no meu vica-
riato. Deu-me uma superiora provincial, que eu lhe tinha pedido com insistncia, a qual deve ir para a minha
residncia episcopal. Esta madre a Ir. Emilienne Naubonnet, de Pau, que foi durante trinta anos superiora
no Oriente: uma estupenda mulher, modelo de missionria, cheia de valentia e abnegao. Chegou h trs
semanas a Cartum, onde pude conhec-la bem. Estou satisfeito com ela.
A madre Emilie no podia atender melhor o meu pedido seno mandando-me a Ir. Emilienne. Esta for-
mou e educou na Sria quase todas as irms rabes, das quais tenho trs na misso. Trata-se de verdadeiros
soldados, que ganham muitas almas e que se fazem respeitar e temer por turcos e africanos.
3828
Uma destas magnficas irms, vendo que eu no conseguia dissuadir da sua conduta um homem que vivia
amancebado, apresentou-se s boas em casa deste, tirou de l a concubina e levou-a para nossa casa, onde,
aps a converter e instruir, fez com que eu a baptizasse. Agora uma boa crist, que vem confessar-se todos
os domingos. O que era seu amante veio repetidas vezes ter comigo para reclamar a sua amante; mas sempre
lhe respondi que no era assunto meu e que fosse falar com as Irms. Foi vrias vezes, mas em vo, porque
ao cabo de um ms, a concubina, convertida, lhe mandou recado pela irm rabe, dizendo-lhe que no quer
voltar a estar com ele, que crist. So uma irms bem teis nas misses! Contar-lhe-ei mais dentro de pou-
co tempo.
3829
Digo-lhe em segredo que a S. C. da Propaganda, na assembleia do passado Agosto, me elevou ao episco-
pado; mas antes de ir a Roma para a sagrao preciso que abra e ponha em andamento a nova misso dos
Nuba. uma viagem longa que devo empreender. Penso que poderei estar em Roma no prximo ano. No
preciso de lhe dizer que, esteja eu Roma, em Frana ou no extremo do mundo, logo que sagrado bispo, quero
v-la, ir a sua casa e passar alguns dias consigo, com Augusto e sua esposa e espero que esteja a senhora
Maria. Ento falar-lhe-ei tambm da misso mais trabalhosa e maior de todo o universo. Desejo ter a foto da
sua nora, o que j pedi a Augusto. D-me notcias acerca do seu nascimento e da sua educao e sobre a cir-
cunstncia humana que determinou este acontecimento. Espero que a jovem partilhe a sua vida consigo.
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Desejo-lhe tal sorte. A senhora mereceu este anjo para si e para Augusto. Sade da minha parte a senhora
Maria e todos os que conheo da sua famlia. A Ir. Emilienne, a superiora da frica Central, a quem falei de
si, pede-me que lhe apresente os seus respeitos. Da minha parte, rogo-lhe que me d notcias de Urbansky e,
na esperana de voltar a escrever-lhe em breve, declaro-me nos coraes de Jesus e de Maria com todo o
meu corao
Seu dev.mo
P.e Daniel Comboni
Original francs
Traduo do italiano
N.o 602 (570) - AO P.e ESTANISLAU CARCERERI
APCv, 1458/458 (Cronaca...)
Cartum, 25 de Abril de 1875
Frases de Comboni da Cronaca di P.e Stan. Carcereri.
N.o 603 (571) - AO P.e ESTANISLAU CARCERERI
APCV, 1458/351
Maio de 1875
Autenticao de um decreto da Propaganda.
-
N.o 604 (572) - AO P.e JOO BAPTISTA CARCERERI
APCV, 1458/351
Maio de 1875
Autenticao de um decreto da Propaganda.
N.o 605 (573) - AO P.e GERMANO TOMELLERI
APCV, 1458/370
J. M. J.
Cartum, 5 de Maio de 1875
M. R. P.e Germano,
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Agradeo-lhe infinitamente o bom livro de inscries latinas e italianas, tributo de afecto aos padres
Bresciani e Artini, que compendiam a vida e as empresas destes dois astros do clero verons. Causou-me um
grande prazer, lembrando-se da minha pequenez e enviando-me to boa oferta. Porm, seria muito desejvel
que, como tributo de amor filial, os camilianos da provncia vneta realizassem o seguinte: 1) Publicar todas
as oraes fnebres do incomparvel P.e Fundador Bresciani, modelo de sagrada eloquncia, sobretudo em
retratar perfeitamente o carcter do heri que celebra, em cujo caso eu me comprometeria a adquirir doze
exemplares. 2) Compor a orao fnebre de ambos os padres da famlia camiliana vneta e especialmente a
do P.e Bresciani, que, depois de ter celebrado os maiores homens da ptria, morreu sem que at agora ne-
nhum fizesse a sua orao fnebre. No obstante, nunca demasiado tarde para a fazer, pois aquele apstolo
da caridade mereceu-a. 3) Finalmente, publicar a vida do P.e Bresciani e tambm a do P.e Artini, a qual,
embora no seja toda de cristal, pelas ideias um pouquinho liberais em 1866, depois de tudo, constitui, como
a outra, uma flor do jardim verons.
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Em Berber todos esto de perfeita sade e mantenho com essa casa correspondncia semanal. Alegro-me
muito de que o P.e Joo Baptista Carcereri tenha decidido consagrar-se ao apostolado africano: estuda inten-
samente o rabe e com verdadeiro aproveitamento. Propus ao rev.mo P.e geral que me permita nome-lo
definitivamente proco de Ber