Revista Agropecuaria Catarinense - N. 78 -

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1 Agropecuária Catarinense, v.22, n.2, jul. 2009

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O ditado popular diz que “povo que não tem cultura é povo que não tem alma”. E podemos acrescentar também que “país que não faz pesquisas é país sem futuro”

Transcript of Revista Agropecuaria Catarinense - N. 78 -

1Agropecuária Catarinense, v.22, n.2, jul. 2009

2 Agropecuária Catarinense, v.22, n.2, jul. 2009

Sumário

Opinião

Registro

Vida rural

Plantas bioativas

Reportagem

Conjuntura

* Editorial..............................................................3* Lançamentos editoriais..................................... . 4

* Epagri produz alho livre de vírus....................... 6* Sementes de milho variedade estão disponíveis

para agricultores............................................... 7* Brasil é líder mundial em crescimento de

produtividade..................................................... 7* Plantio suspenso de morango facilita a colheita...8* Epagri e UFSC estudam produção de macroalgas

no Estado...........................................................9* Pesque e não pague.................................. ...... 10* Pesquisas com plástico biodegradável avançam

no País.............................................................10* Compostagem orgânica: nutrição de qualidade

para a planta.....................................................11* Sustentabilidade de Agroecossistemas é tema de

cursos em Chapecó..................................... .... 12* Brasil estuda combate a nova praga do

eucalipto...........................................................13* Campanha combate confinamento intensivo de

animais.............................................................13

As matérias assinadas não expressam necessariamente a opinião da revista e são de inteira responsabilidade dos autores.A sua reprodução ou aproveitamento, mesmo que parcial, só será permitida mediante a citação da fonte e dos autores.

Artigo científico

Informativo técnico

Nota científica

Normas para publicação

* Amazônia, o buraco negro do CO2 brasileiro?.. 14

* Dinâmicas territoriais sustentáveis: um novoconceito de desenvolvimento para ascomunidades rurais e pesqueirascatarinenses..................................................... 16

* Vitivinicultura brasileira: desafios estruturais eoportunidades tecnológicas...............................19

* Tratamento ecológico fornece água potável combaixo custo...................................................... 24

* Construindo o futuro........................................ 26* Uma ideia nascida na lavoura...........................35* Serviços ambientais: alternativa para

a agricultura familiar........................................ .39

* Confrei: veneno e remédio................................41

* Aspectos técnicos sobre resistência de plantasdaninhas a herbicidas..........................................46

* Redução do uso de adubos minerais e agrotóxicosna cultura da cebola em Santa Catarina...............50

* Biometria testicular de touros da raça CrioulaLageana..............................................................53

* Efeito de rizobactérias em sementes e mudas decebola.................................................................59

* Qualidade da forrragem de gramíneas anuais deinverno e de verão com adubação nitrogenada eesterco de suínos.................................................64

* Efeito da altura de corte na ramificação eprodutividade do vimeiro no Planalto SulCatarinense.........................................................70

* Artropodofauna associada aos citros em Chapecó,SC.......................................................................75

* Produtividade de tomate, cultivar Carmen,influenciada por espaçamentos entre plantas enúmero de hastes por planta................................81

* Infestação de Tetranychus ogmophallos em plantasde amendoim: primeiro registro em SantaCatarina...............................................................85

* Avaliação de um sistema de previsão para amancha bacteriana (Xanthomonas spp.) dotomateiro.............................................................87

* Normas para publicação na Revista AgropecuáriaCatarinense (RAC).................................................90

3Agropecuária Catarinense, v.22, n.2, jul. 20093 Agropec. Catarin., v.22, n.1, mar. 2009

FICHA CATALOGRÁFICA

Agropecuária Catarinense – v.1 (1988) –Florianópolis: Empresa Catarinense de PesquisaAgropecuária 1988 - 1991)

Editada pela Epagri (1991 – )TrimestralA partir de março/2000 a periodicidade passou a

ser quadrimestral1. Agropecuária – Brasil – SC – Periódicos. I.

Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária,Florianópolis, SC. II. Empresa de PesquisaAgropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina,Florianópolis, SC.

CDD 630.5

Tiragem: 2.500 exemplaresImpressão: Floriprint Ind. Gráficae Etiquetas Ltda.

ISSN 0103-0779

INDEXAÇÃO: Agrobase e CAB International.

AGROPECUÁRIA CATARINENSE é uma publicaçãoda Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Ruralde Santa Catarina (Epagri), Rodovia Admar Gonzaga,1.347, Itacorubi, Caixa Postal 502, 88034-901Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, fone: (48) 3239-5500, fax: (48) 3239-5597, internet: www.epagri.sc.gov.br,e-mail: [email protected]

EDITORAÇÃO:Editor-chefe: Roger Delmar FleschEditor técnico: Paulo Sergio Tagliari

JORNALISTA: Cinthia Andruchak Freitas (MTb SC02337)

PADRONIZAÇÃO: Maria Teresinha Andrade da Silva

REVISÃO DE PORTUGUÊS: João Batista LeonelGhizoni

REVISÃO DE INGLÊS: João Batista Leonel Ghizoni

CAPA: Pesquisador José Noldin em casa de vegetaçãona Estação Experimental de Itajaí. Foto de NilsonOtávio Teixeira.

ARTE: Vilton Jorge de Souza

DIAGRAMAÇÃO E ARTE-FINAL: Victor Berretta

REVISÃO TIPOGRÁFICA: Daniel Pereira

DOCUMENTAÇÃO: Ivete Teresinha Veit

ASSINATURA/EXPEDIÇÃO: Ivete Ana de Oliveira eZulma Maria Vasco Amorim – GMC/Epagri, C.P. 502,88034-901 Florianópolis, SC, fones: (48) 3239-5595 e3239-5535, fax: (48) 3239-5597 ou 3239-5628, e-mail:[email protected] anual (3 edições): R$ 22,00 à vista

PUBLICIDADE: GMC/Epagri – fone: (48) 3239-5682,fax: (48) 3239-5597

REVISTA QUADRIMESTRAL

15 DE NOVEMBRO DE 2009

As normas para publicação na Revista Agropecuária Catarinense estão disponíveis no site www.epagri.sc.gov.br e ao final desta edição.

A Epagri é uma empresa da Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural de Santa Catarina.

Oditado popular diz que “povoque não tem cultura é povoque não tem alma”. E

podemos acrescentar também que“país que não faz pesquisas é paíssem futuro”. No mundo competitivode hoje, com avanços acontecendo atodo momento, e com a necessidadepremente da geração de empregos, éfundamental que o Brasil invistacada vez mais na ciência, na pesquisacientífica.

Em Santa Catarina os avanços daciência na área agropecuária, graçasà visão de longo alcance e aos esforçosde nossos governantes ao longo dedécadas, colocam o Estado emposição de destaque no cenárionacional. Além disso, a criatividadee inventividade de nossos pro-fissionais da pesquisa, apesar dealgumas dificuldades, têm propiciadoa geração de novas e oportunasdescobertas tecnológicas importantespara alavancar o setor ruralestadual.

Nesta edição da revista oprincipal destaque é a reportagem

central, que realça exatamente esteassunto, ou seja, as pesquisasagropecuárias e seus resultados maisrecentes, levando-se em conta ostrabalhos desenvolvidos pela Epagri.

Além dos novos trabalhos eresultados de pesquisas desen-volvidas nas estações experimentaisda Empresa, esta edição da RACapresenta outras inovações quecontaram com a valiosa participaçãode extensionistas e agricultorescatarinenses e com a parceria deoutras instituições, como uni-versidades e a Embrapa.

O desenvolvimento pioneiro deum equipamento que auxilia oprodutor rural na semeadura deadubos verdes é exemplo de parceriaentre pesquisador e agricultor,conforme mostra uma de nossasreportagens. Outro tema abordadona edição é a importância de auxíliofinanceiro aos proprietários ruraispara a preservação ambiental,prática de uso corrente na Europa ejá iniciada em alguns Estadosbrasileiros. Em Santa Catarina háum Projeto de Lei com esse objetivo.Ainda com enfoque ambiental, aseção Vida Rural destaca a técnicade utilização de plantas despo-

luidoras para o tratamento ecológicode águas de fontes no meio rural.

A seção Técnico-científica mostraa descoberta de um novo inseto queestá infestando lavouras deamendoim na Região Oeste de SantaCatarina. Na Região do Alto Vale doItajaí pesquisadores demonstramque é possível a utilização deprodutos biológicos e alternativos aosagroquímicos tradicionalmenteutilizados na cultura da cebola. Outrapesquisa pioneira, envolvendo umaparceria com a Universidade doContestado e a Embrapa, desen-volveu um modelo de previsão dedoença do tomateiro que racionalizaa utilização de agrotóxicos.

Na área animal, a revista trazdois artigos, um sobre a raça CrioulaLageana, gado típico do PlanaltoCentral Catarinense, e outroenfocando o uso de esterco animal naprodução de forragem de gramíneas.

Insetos em pomares de citros,manejo do vimeiro, rizobactérias eefeito do espaçamento naprodutividade do tomateirocompletam os artigos.

Boa leitura!

4 Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

Doenças do maracujazeiro amarelo. 2009, 99p. BT145, R$ 12,00.

Direcionado a agricultores, técnicos e agrônomos, o Boletim serve comoum guia sobre as doenças do maracujazeiro mais frequentes em SantaCatarina e em outras regiões do Brasil. A publicação traz uma descriçãodas doenças incluindo sintomas, etiologia, fatores favoráveis e formasde controle. As ilustrações com detalhes servem como material de apoio.

Contato: [email protected]

Manejo alimentar das carpas em policultivo.Etologia aplicada para um sistema de produção.2009. 74p. BT 146, R$ 12,00.

O fornecimento de alimento adequado em quantidade e qualidade éimportante para o sucesso da criação de carpas em policultivo. EsteBoletim, destinado a produtores rurais, técnicos e extensionistas, reúneinformações sobre o assunto e apresenta uma série de técnicasrecomendadas para tornar a piscicultura uma atividade economicamenteviável.

Contato: [email protected]

Cancros de ramos e outras doenças causadas porBotryosphaeria spp. na cultura da macieira. 2009.51p. BT 147, R$ 12,00.

A publicação dá aos profissionais que trabalham com a cultura damacieira uma visão geral sobre os cancros de ramos. O Boletim trazinformações que permitem reconhecer cancros e outras doençascausadas por Botryosphaeria spp. na cultura da macieira, orienta sobreo desenvolvimento e o monitoramento das doenças e apresenta técnicasde manejo e controle.

Contato: [email protected]

5Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

Adubação verde em culturas anuais. 2009, 49p. BD81, R$ 10,00.

A adubação verde melhora a qualidade química, física e biológica dosolo. Ela prevê a incorporação ou não da massa vegetal de plantas nosolo para aumentar o rendimento das culturas. O Boletim trazorientações sobre a escolha de espécies, as principais modalidades deadubação, o manejo da semeadura e da massa verde e a produção desementes.

Contato: [email protected]

Conhecimento popular e diversidade da goiabeira--serrana (Acca sellowiana) na Serra Catarinense.2009, 29p. BD 83, R$ 8,00.A publicação apresenta os resultados de um estudo desenvolvido nos municípiosde São Joaquim, Urubici e Urupema, SC, para descobrir como se usa, conservae maneja a goiabeira-serrana, além de conhecer os tipos da fruta cultivadosna região. O Boletim traz, ainda, resultados de pesquisas em laboratório e atéreceitas à base de goiaba-serrana.

Contato: [email protected]

Curso profissionalizante de processamento de lã deovelha – iniciação à tecelagem. 2009. 75p. BD 75, R$12,00.

O Boletim é destinado aos tecelões que frequentam o “Cursoprofissionalizante de processamento de lã de ovelha” realizado pela Epagrie que queiram mais informações sobre manuseio do tear de mesa,padronagens e confecção de tecido com lã ovina. A publicação, queapresenta ilustrações para auxiliar na compreensão do texto, também éútil para quem quer iniciar nessa arte.

Contato: [email protected]

6 Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

Epagri produz alho livre de vírusEpagri produz alho livre de vírusEpagri produz alho livre de vírusEpagri produz alho livre de vírusEpagri produz alho livre de vírus

Um complexo de vírus vem afe-tando a produtividade nas la-vouras de alho em Santa

Catarina e em outras regiões do País.Para ofertar sementes de qualidadeaos produtores e melhorar acompetitividade do alho catarinense,a Epagri desenvolveu uma pesquisaque livrou a cultura dessas doenças.O trabalho, que iniciou em 2004, écoordenado pela Estação Experimen-tal de Caçador e envolve também asEstações Experimentais de Lages eItajaí e a Gerência Regional deCuritibanos.

A contaminação por vírus ocorrepela ação de insetos transmissoresdurante o desenvolvimento das plan-tas na lavoura. “Como o alho é umacultura de propagação vegetativa, ouseja, a semente utilizada para formar

novos cultivos é o próprio bulbilho – odente do alho – a virose se perpetuaao longo dos ciclos. Isso impede a plan-ta de expressar seu real potencial deprodução”, explica o engenheiro-agrô-nomo Renato Vieira, da Estação Ex-perimental de Caçador. Segundo ele,praticamente todas as sementes dealho produzidas em Santa Catarina eno Brasil estão contaminadas por essecomplexo viral e o grau de infecçãovaria, dependendo de cada local.

As sementes limpas foram produ-zidas em laboratório a partir de célu-las isentas de vírus extraídas nomeristema apical da planta, um teci-do embrionário localizado nas extre-midades do caule e da raiz. SegundoVieira, nesse tecido a taxa de multi-plicação do vírus é baixa em relaçãoà multiplicação das células da plan-

Estima-se que a produtividade nas lavourascatarinenses possa ter incremento de até 35%

Mais informações sobre o projeto com opesquisador Renato Luís Vieira, daEpagri/Estação Experimental de Caçador,pelo fone: (49) 3561-2000 ou pelo e-mail:[email protected].

Colheita maiorCom a eliminação dos vírus,

estima-se que a produtividade doalho nas lavouras catarinensespossa ter incremento de até 35%,sem aumento de custos. Hoje, aprodutividade média do alho emSanta Catarina é de aproxima-damente 7,8t/ha – acima da mé-dia brasileira, que é de 6,2t/ha.No entanto, a expectativa dos téc-nicos da Epagri com as novas se-mentes é de que esse índice che-gue a 12t/ha de bulbos nas lavou-ras do Estado.

Para o ano agrícola de 2010,a Epagri colocará à venda os pri-meiros lotes de sementes livresde doenças aos produtores inte-ressados. As variedades que fo-ram limpas de vírus são Quitéria,Caçador e Ito. Inicialmente, aprioridade de atendimento é dosagricultores de Santa Catarina.

A previsão dos técnicos é deque, a partir de 2011, vários agri-cultores estejam cultivando as se-mentes com alto potencial de pro-dução e garantam maiorcompetitividade por várias sa-fras. Para isso, será preciso man-ter os cultivos longe das outraslavouras de alho. “Se o plantio forfeito com esse cuidado, areinfestação da planta na lavou-ra será bem mais lenta e a se-mente livre de vírus poderá man-ter-se altamente produtiva portrês a quatro ciclos de cultivo”,explica Vieira.

ta. “Essa situação es-tabelece uma compe-tição desfavorável aovírus”, explica.

Após a fase de la-boratório, as plantasmatrizes são man-tidas durante 2 anosem ambientestelados, protegidoscontra os vetores quetransmitem os vírus,como pulgões, ácarose tripes. Agora, oprojeto está na últi-ma fase, que é a mul-tiplicação das se-mentes básicas emcampo. Este ano, fo-ram instaladas qua-tro lavouras de-monstrativas emCuritibanos, SC,para que os agricul-tores da maior re-gião produtora dealho do Estadoacompanhem o de-senvolvimento dassementes e compro-vem suas vantagens.

7Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

Sementes de milho variedade estãoSementes de milho variedade estãoSementes de milho variedade estãoSementes de milho variedade estãoSementes de milho variedade estãodisponíveis para agricultoresdisponíveis para agricultoresdisponíveis para agricultoresdisponíveis para agricultoresdisponíveis para agricultores

Cultivar Fortuna serve para produção de grão epara silagem

A Epagri, em parceria com a Fe-deração dos Trabalhadores naAgricultura do Estado de San-

ta Catarina (Fetaesc) e os Sindicatosdos Trabalhadores Rurais, estádisponibilizando sementes de milhovariedade para este ano agrícola. Ascultivares Fortuna (SCS154) eCatarina (SCS155), desenvolvidas

O Brasil tem a maior taxa decrescimento de produtivida-de agropecuária do mundo –

3,66% ao ano –, seguido por China(3,2%), Austrália (2,12%) e EstadosUnidos (1,95%). O índice, impulsiona-do por inovações tecnológicas decor-rentes de pesquisas, foi o principalfator responsável pelo crescimento dosetor entre 1975 e 2008. Os dados sãode estudo da Assessoria de Gestão Es-tratégica do Ministério da Agricultu-ra, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

De acordo com a pesquisa, o me-lhoramento genético e a introdução denovas cultivares permitiram aumen-tar a produtividade em lavouras comoas de soja, milho, café e cana-de-açú-car. Melhorias na produção de carnes,frutas e hortaliças também contribu-íram para o resultado. Entre 1975 e2008, a produção de carnes no Brasilpassou de 10,8kg para 38,6kg de car-

pela Epagri, são vendidasa R$ 39,50 a saca de 10kg.Elas são ideais para agri-cultores familiares e po-dem ser cultivadas emqualquer região do Esta-do.

De acordo com o enge-nheiro-agrônomo Esta-nislao Dávalos, da Epagri/Centro de Pesquisa paraAgricultura Familiar(Cepaf), a principal vanta-gem das variedades depolinização aberta (VPA)

é a redução do custo de produção, jáque, a partir delas, é possível produ-zir a própria semente. “Além disso, porter uma maior variabilidade genéti-ca, esse milho é mais tolerante à seca,problemas de fertilidade do solo, do-enças e pragas. Ele também tem umperíodo de polinização maior e não étão exigente de tecnologias como o hí-brido”, acrescenta.

Para cultivar 1 hectare com semen-tes das cultivares Catarina e Fortunao agricultor vai gastar aproximada-mente R$ 79,00. As duas cultivarestêm boa rentabilidade com adubaçãoverde, adaptam-se a diversos tipos desolo e alcançam produtividade médiade 8t/ha. A ‘Catarina’, por ser maisdura, serve para a produção de grãose armazenagem por períodos longos.Já a ‘Fortuna’ serve tanto para a pro-dução de grão como para silagem.

A previsão da Fetaesc é distribuir100 mil quilos de sementes para esteano agrícola. Os interessados devemprocurar o Sindicato dos ProdutoresRurais de cada município.

Brasil é líder mundial em crescimento de produtividadecaça por hectare de pastagem. A pro-dução de leite no período aumentoude 7,95 bilhões de litros para 26,92bilhões de litros por ano e a de avespassou de 372,73 miltoneladas para 10,18milhões de tonela-das.

No período avali-ado, a utilização decapital no setor cres-ceu em média 0,3%ao ano, enquanto amão de obra reduziuem 0,4% e a área uti-lizada aumentou0,12%. “A agricultu-ra vem se expandin-do com menor uso detrabalho, com áreapraticamente cons-tante e maior ten-dência de aumento

no uso de capital sob a forma de má-quinas e fertilizantes”, afirma o do-cumento.

Fonte: Mapa.

Melhoramento genético e novas cultivaresaumentaram o rendimento das lavouras

Mais informações sobre as característicase vantagens destes milhos podem ser ob-tidas com o engenheiro EstanislaoDávalos pelo e-mail: [email protected] ou pelo fone: (49) 3361-0600.

8 Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

Plantio suspenso de morango facilita a colheitaPlantio suspenso de morango facilita a colheitaPlantio suspenso de morango facilita a colheitaPlantio suspenso de morango facilita a colheitaPlantio suspenso de morango facilita a colheita

Sistema é ideal para produtores que têm pouco espaço para o plantio

A plantação de morango em can-teiros suspensos está levandomais conforto e qualidade de

vida para produtores da comunidadede Taquaras, em Rancho Queimado,SC. O método permite fazer a colhei-ta e o manejo das plantas em pé, evi-tando dores e problemas na coluna.

A técnica foi implantada com ori-entação do engenheiro-agrônomoCarlos Frischknecht, que trabalhavana comunidade como técnicofacilitador do Projeto Microbacias 2,executado pela Epagri, e hoje é secre-tário de Agricultura e Pecuária domunicípio. O plantio das mudas é fei-to em sacos plásticos cheios desubstrato, um material preparadocom esterco, compostagem e até cas-ca de arroz carbonizada. “Estamostestando várias combinações paraavaliar qual o melhor desempenho naprodução”, conta Carlos.

Dentro da estufa, os sacos são or-ganizados em fileiras e apoiados so-

bre uma estrutura feita de madeiraou de outros materiais, como concre-to ou até pedra. Em cada saco são fei-tos furos com espaçamento de 18 a20cm, onde as mudas são plantadas.As estruturas são montadas a 80cmdo solo e, somando com a altura dosaco de substrato, as plantas ficam acerca de 95cm do chão, facilitando otrabalho do produtor. A irrigação éfeita por sistema de gotejamento.

Pequenas propriedades

Carlos destaca que o sistema é ide-al para pequenos produtores familia-res, que têm pouco espaço para oplantio. “O morango precisa de rota-ção de áreas constante porque o solose contamina facilmente. Essa técni-ca permite utilizar sempre a mesmaárea sem o risco de ter problemas porconta da reutilização da terra. Bastasubstituir o substrato e ocupar sem-pre a mesma área”, explica. A distân-

cia do solo também melhora a sani-dade dos frutos e diminui o uso deagrotóxicos para controlar doenças epragas. Com menos insumos, os cus-tos de produção caem e os morangosficam mais saudáveis.

O produtor Dilceu Weiss, que cul-tiva morangos há mais de 10 anos,aprovou a novidade. “Eu sempre plan-tava no chão, mas essa tecnologia estádando certo porque os pés estão sadi-os. O morango não precisa de tantoveneno quanto o que é plantado naterra. Futuramente, talvez eu façatodo o plantio em sistema elevado”,conta. Douglas, filho do produtor, tam-bém gostou da forma mais prática detrabalhar. “Antes, nós trabalhávamoso dia todo agachados e as dores nacoluna eram frequentes. Hoje, o tra-balho é bem mais tranquilo”, revela.

O agrônomo Carlos Frischknechtdestaca que o objetivo da técnica nãoé eliminar o uso do solo, que é o prin-cipal instrumento de trabalho do agri-

cultor, mas racionalizar osistema de produção. “Como morango, o agricultor tra-balha 95% do tempo abaixa-do. Isso está causando gra-ves problemas de coluna.Esse sistema, que enfocatambém a ergonomia, dámais conforto para traba-lhar”, explica.

O objetivo da Epagri élevar a técnica para outraspequenas propriedades daregião. Em Rancho Queima-do, a capital catarinense domorango, mais de 150 famí-lias estão envolvidas na ati-vidade e colhem, todo ano,800 toneladas do fruto.

Mais informações sobre atecnologia podem ser obtidasna Epagri/Escritório Municipalde Rancho Queimado, pelofone: (48) 3275-0198.

9Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

Epagri e UFSC estudam produçãoEpagri e UFSC estudam produçãoEpagri e UFSC estudam produçãoEpagri e UFSC estudam produçãoEpagri e UFSC estudam produçãode macroalgas no Estadode macroalgas no Estadode macroalgas no Estadode macroalgas no Estadode macroalgas no Estado

Com o objetivo de oferecer maisuma opção de renda aosmaricultores catarinenses, a

Epagri e a Universidade Federal deSanta Catarina (UFSC) estão testan-do o cultivo da alga vermelhaKappaphycus alvarezii no litoral doEstado. A espécie tem grande impor-tância comercial por ser a principalmatéria-prima para extração decarragenana, aditivo empregadocomo espessante e estabilizante naindústria alimentícia, farmacêuticae de cosméticos.

O projeto está avaliando a viabi-lidade técnica, ambiental e econômi-ca do cultivo da macroalga com a in-tenção de tornar o Brasil um paísprodutor dessa matéria-prima. O ob-jetivo é abastecer o mercado internoe, posteriormente, entrar no merca-do externo. Hoje, o País importa maisde mil toneladas de carragenana porano, totalizando cerca de R$ 13 mi-lhões.

De acordo com a bióloga LeilaHayashi, que atua como pesquisado-ra visitante na UFSC, os estudos bus-cam tecnologias para o cultivo sus-tentado da espécie e a seleção de li-nhagens mais produtivas para a ob-tenção de carragenana de qualidade.Há, também, investigações para o de-senvolvimento de estufas para seca-gem da alga.

Para o engenheiro-agrônomo AlexAlves dos Santos, da Epagri/Centrode Desenvolvimento em Aquiculturae Pesca (Cedap), Santa Catarina re-úne as condições ideais para o suces-so do projeto. “O Estado é referêncianacional nos cultivos marinhos, con-ta com um setor produtivo organiza-do com vocação para a maricultura etem infraestrutura de pesquisa e ex-tensão”, afirma.

Boas perspectivas

Em uma unidade experimentalinstalada na praia de Sambaqui, emFlorianópolis, quatro linhagens da

macroalga estão sendo estudadas des-de 2008. Resultados preliminares in-dicam que Santa Catarina tem bompotencial para produzir a espécie. “Aalga suportou baixas temperaturas noinverno e variações de salinidade daágua. Algumas linhagens em teste jáestão despontando em produtividadee, até o final do ano, pretendemos es-tabelecer quantos ciclos da culturateremos por ano”, conta Alex.

O cultivo é feito a partir de peda-ços de talos colocados em redestubulares sustentadas por canos flu-tuantes. Sob as linhas de cultivo, sãoinstaladas redes para proteger as al-gas contra herbívoros e evitar a dis-persão do material no ambiente.

Para se desenvolver, a espécie ab-sorve nutrientes da água, especial-mente fósforo e nitrogênio, que resul-tam da degradação de matéria orgâ-nica. “Nossas baías têm grande con-centração de material orgânico que éarrastado pelas chuvas, por isso a ex-pectativa é melhorar a qualidade daágua com a retirada do excesso de

nutrientes”, explica o agrônomo.Além disso, pesquisas indicam que osmódulos de cultivo da espécie atuamcomo se fossem recifes artificiais,atraindo organismos e aumentandoa biodiversidade local.

O trabalho também busca garan-tir a segurança ambiental na produ-ção da Kappaphycus alvarezii, que éuma espécie exótica originária dasFilipinas. O cultivo experimental noBrasil iniciou há 10 anos em São Pau-lo e, até hoje, não houve problemasambientais.

Finalizada a fase experimental, aetapa seguinte do projeto será insta-lar unidades de observação em dife-rentes regiões do litoral catarinensee iniciar o trabalho de extensão, re-passando a tecnologia para o setorprodutivo.

Mais informações com o engenheiro-agrô-nomo Alex Alves dos Santos, da Epagri/Cedap, pelo fone: (48) 3239-8114 ou peloe-mail: [email protected].

Resultados preliminares indicam que Santa Catarina tem bom potencialpara produzir a alga vermelha

10 Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

PPPPPesque e não pagueesque e não pagueesque e não pagueesque e não pagueesque e não pague

Um projeto social implantadopela Epagri/Gerência Regio-nal de Tubarão possibilita a

criação de peixes nas cavas de ondefoi retirado o material para a fabri-

cação de tijolos no município deSangão. O trabalho conta com a par-ceria da Secretaria de Desenvolvi-mento Regional de Tubarão, que fi-nanciou a compra de filhotes de car-

pa-capim, carpa-ca-beça-grande, carpa--prateada, tilápia,jundiá e lambari.

O objetivo doprojeto é fornecerproteína de altaqualidade para fa-mílias de baixa ren-da que vivem noentorno das olariase cerâmicas. “Hácentenas de hecta-res de cavas antigasna região que estãoabandonadas. A

Peixes são criados nas cavas de onde foi retiradamatéria-prima para as olarias

PPPPPesquisas com plástico biodegradável avançam no Pesquisas com plástico biodegradável avançam no Pesquisas com plástico biodegradável avançam no Pesquisas com plástico biodegradável avançam no Pesquisas com plástico biodegradável avançam no Paísaísaísaísaís

mica nesses locais foi uma forma queencontramos de aproveitar as cavaspara melhorar a alimentação das fa-mílias a custo zero”, explica o gerenteregional de Tubarão, Luiz MarcosBora.

A população beneficiada aprovouo projeto. Além de promover amelhoria na alimentação, a pescariapassou a ser uma opção de lazer paraos moradores nos finais de tarde e finsde semana. “Estamos buscando sen-sibilizar os empresários locais paraque eles financiem a compra dosalevinos e ajudem a cuidar da produ-ção”, revela Bora. Satisfeita com osresultados, a equipe da Epagri pre-tende expandir o projeto no sul doEstado.

produção de peixessem intenção econô-

Mais informações com o gerente regionalda Epagri de Tubarão, Luiz Marcos Bora,pelo fone: (48) 3626-0577 ou pelo e-mail:[email protected].

Polímeros biodegradáveis são alternativa aosconvencionais quando a reciclagem não é viável

Desenvolver plásticos que se degradam com facilidadesem poluir o meio ambiente e que sejam capazes desubstituir os polímeros sintéticos no agronegócio bra-

sileiro. Esse é um dos desafios do Laboratório Nacional deNanotecnologia para o Agronegócio (LNNA), inaugurado naEmbrapa Instrumentação Agropecuária, em São Carlos, SP.

Pioneiro na América Latina, o LNNA já iniciou pesquisaspara o desenvolvimento de filmes comestíveis e de plásticobiodegradável de fonte renovável. De acordo com o pesquisa-dor José Manoel Marconcini, estão sendo realizados testes deresistência mecânica com amostras contendo nanoestruturasde origem natural na formulação. “A proposta é encontrar umplástico para ser usado em embalagens de todos os tipos, dopote de margarina à garrafa de refrigerante”, revela.

De acordo com Marconcini, os polímeros biodegradáveissão uma alternativa aos convencionais em casos em que areciclagem não é praticada ou não é economicamente viável.Ele explica que os plásticos biodegradáveis se degradam soba ação de organismos vivos e também de fatores ambientaisque provocam reações como fotodegradação, oxidação ehidrólise.

Fonte: Embrapa (www.embrapa.br).

11Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

Compostagem orgânica: nutrição deCompostagem orgânica: nutrição deCompostagem orgânica: nutrição deCompostagem orgânica: nutrição deCompostagem orgânica: nutrição dequalidade para a plantaqualidade para a plantaqualidade para a plantaqualidade para a plantaqualidade para a planta

Processo é simples, econômico e não prejudica omeio ambiente nem a saúde humana

A equipe de pesquisadores emhortaliças da Epagri/EstaçãoExperimental de Itajaí está

demonstrando aos técnicos e agricul-tores como produzir adubo de umaforma simples, econômica e que nãoprejudica o meio ambiente nem a saú-de humana: a compostagem orgâni-ca. “Esse processo utiliza o que exis-te na propriedade e dá um fim ade-quado para resíduos com potencialpoluente e que podem parar em riosou lençóis freáticos”, destaca oengenheiro-agrônomo EuclidesSchallenberger.

Nesse sistema, microrganismosaeróbicos decompõem resíduos vege-tais e animais, transformando-os emhúmus. “O resultado é um compostode alta qualidade, com presença deorganismos benéficos e ótimas quali-dades físicas, como textura e estru-tura”, diz o agrônomo. Segundo ele,o adubo orgânico fornece todos osmacro e micronutrientes necessáriosao desenvolvimento das plantas. “Asaúde delas depende de uma nutri-ção adequada. Assim, dificulta-se osurgimento de doenças e pragas”, con-ta.

Os pesquisadores procuram obtercompostos com diferentes concentra-ções de nutrientes para atender asexigências específicas de cadahortaliça. Na Estação, estão sendotestados materiais como capim-ele-fante, palha de arroz, feijão-de-porcoe crotalária, misturados ou não comesterco de aves. Podem-se usar, tam-bém, cinza de madeira como fontecomplementar de potássio e fosfatosnaturais para enriquecimento comfósforo.

O local da compostagem deve serprotegido do sol e da chuva. O chão éimpermeabilizado com plástico ou ci-mento para evitar a contaminação dosolo e do lençol freático pelo nitrito enitrato que escorrem do material du-rante a decomposição. Nessa super-fície protegida, são alternadas cama-das de vegetais e estercos. A quanti-dade de cada material depende daproporção de carbono (C) presente na

palha e de nitrogênio (N) presente nosvegetais e no esterco. A relação C/Ndeve ser de 30/1 e a proporção de cadaelemento é determinada com o auxí-lio de tabelas já conhecidas.

Por conta da decomposição, a tem-peratura na pilha pode chegar a até70°C. Essa elevação elimina semen-tes de plantas invaso-ras, fungos, bactérias enematoides prejudiciaispara as lavouras e atéos coliformes fecais doesterco. “Dessa forma, oadubo fica isento decontaminantes para asaúde humana”, desta-ca Schallenberger.

Mas, para impedirque a temperatura ul-trapasse o teto e preju-dique organismos im-portantes no processo,as pilhas são refrigera-das. “É preciso irrigar omaterial sempre que atemperatura tender aultrapassar 70°C”, ex-plica o agrônomo. Alémdisso, a pilha é revolvi-da aos 20, 50 e 80 diasapós a montagem.Como as camadas inter-nas se decompõem maisrápido, o revolvimentotambém ajuda a unifor-mizar o processo, oxige-nar os microrganismose distribuir a umidade.O composto fica prontoem cerca de 120 dias e,se armazenado ao abri-go da chuva e do sol, temlonga durabilidade.

Schallenberger alerta que a adu-bação orgânica praticada sem critériotécnico é tão prejudicial quanto a adu-bação química descontrolada. “Exces-so de adubo orgânico pode salinizar osolo e promover desequilíbrionutricional”, avisa. Além disso, cadahortaliça tem uma exigência diferen-te de nutrientes. Por isso, o volumeusado em cada cultura deve ser base-

ado na análise do solo e dos teores denutrientes do composto.

A adubação com material decompostagem é ideal para o cultivoorgânico e grande parte dos produto-res da região de Itajaí que produzemhortaliças de forma ecológica fazem opróprio adubo. Além disso, a Estação

recebe visitas semanais de agriculto-res e técnicos e promove eventos paradivulgar esse e outros sistemas orgâ-nicos.

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Mais informações com o engenheiro-agrô-nomo Euclides Schallenberger pelo fone:(47) 3441-5223 ou pelo e-mail:[email protected].

12 Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

Sustentabilidade de Agroecossistemas é temaSustentabilidade de Agroecossistemas é temaSustentabilidade de Agroecossistemas é temaSustentabilidade de Agroecossistemas é temaSustentabilidade de Agroecossistemas é temade cursos em Chapecóde cursos em Chapecóde cursos em Chapecóde cursos em Chapecóde cursos em Chapecó

Agricultores participam de aula prática na Epagri/Centro de Treinamento de Chapecó

Sustentabilidade dos Agro-ecossistemas foi o tema empauta nos cursos de

Agroecologia realizados em 2009 pelaEpagri/Centro de Treinamento deChapecó (Cetrec), coordenados pelosengenheiros-agrônomos Luiz AugustoVerona e Célio Haverroth.

Agroecossistema é umlocal de produção agrícola, ou umaunidade agrícola, englobando todos os

organismos, sejam eles de interesseagropecuário ou não, levando em con-sideração as interações nos níveis depopulação, comunidade ouecossistema e tendo como prioridadea sustentabilidade.

O desenvolvimento desse temadurante os cursos ministrados noCetrec tem o objetivo principal deoperacionalizar o conceito de

sustentabilidade junto aos agriculto-res familiares e técnicos da região. Aproposta envolve uma metodologiaparticipativa que valoriza todos osparticipantes, com destaque aos agri-cultores familiares e técnicos. Discu-tindo esse tópico são apresentadas vá-rias opções para que os técnicos e agri-cultores possam observar a situaçãoda sustentabilidade dos agroecossis-temas.

Os técnicos da Epagri salientamque: “este é um momento oportunopara construir um ‘código de palavrascomuns’ entre os participantes, umavez que esse código é indispensávelpara haver comunicação e poderavançar em conhecimento que vise aum desenvolvimento sustentável”.

Em atividades práticas e teóricas,os participantes discutem e verificam

a possibilidade de quantificar o tema.Ao final dos cursos são feitas ava-

liações sobre o conteúdo ministrado,nas quais fica registrada a satisfaçãodo público em trabalhar esse assun-to. Os participantes destacaram a im-portância do conhecimento para ob-servar os agroecossistemas no aspec-to de sustentabilidade no presente eno futuro, permitindo uma observa-ção sistêmica de suas práticas relaci-

onadas com a unidadede produção agrícola.

O tema da sus-tentabilidade do agro-ecossistema fez partedos cinco cursos deAgroecologia desenvol-vidos no Cetrec duranteeste ano, com a presen-ça média de 15 agricul-tores por evento, alémdos técnicos. Entre osassuntos discutidos des-tacaram-se: conceito deAgroecologia, teoria datrofobiose, plantasindicadoras, manejo dosolo, pomar doméstico,sistema de plantio dire-to, feijão em sistemaagroecológico, métodosalternativos de controlede pragas e doenças.Além dos técnicos, tam-bém ministraram o cur-so os seguintes profissi-

onais: engenheiros-agrônomos Lean-dro do Prado Wildner, Silmar Hemp,Eduardo Brugnara e o técnico agrí-cola Ivandro Vitor Motter.

Mais informações sobre o assunto podemser obtidas com os engenheiros-agrôno-mos Luiz Verona e Célio Haverroth, pelosrespectivos e-mails: [email protected] e [email protected].

13Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

Brasil estuda combate a nova praga do eucaliptoBrasil estuda combate a nova praga do eucaliptoBrasil estuda combate a nova praga do eucaliptoBrasil estuda combate a nova praga do eucaliptoBrasil estuda combate a nova praga do eucalipto

Campanha combate confinamento intensivo de animaisCampanha combate confinamento intensivo de animaisCampanha combate confinamento intensivo de animaisCampanha combate confinamento intensivo de animaisCampanha combate confinamento intensivo de animais

A Associação Humanitária deProteção e Bem-Estar Animal(Arca Brasil) se uniu à

Humane Society International, umaorganização norte-americana sem finslucrativos, para lançar a campanhaPelo Fim do Confinamento IntensivoAnimal. Inicialmente, o objetivo é fo-mentar a transição dos sistemas degaiolas em bateria da produção deovos e das celas de gestação da pro-dução de carne suína para sistemasalternativos.

De acordo com a bióloga MariaCristina Yunes, gerente da campanha,a mobilização envolve contato comconsumidores, produtores e represen-tantes do setor varejista. “Estamospedindo que eles adotem eimplementem padrões mais elevadosde bem-estar para os animais.

Estamos trabalhando com osgovernantes, encorajando-os a criarpolíticas que promovam um melhortratamento dos animais e que tam-bém beneficiem a população”, conta.

Adultos e ninfas do percevejo em folhade eucalipto

O p e r c e v e j o - b r o n z e a d o(Thaumastocoris peregri-nus), inseto originário da

Austrália que ataca árvores deeucalipto, tem se dispersado rapida-

mente pelo Brasil. Os primeiros ca-sos de infestação surgiram em 2008no Rio Grande do Sul e em São Pau-lo e, recentemente, a praga foi loca-lizada em Curitiba, PR. As espécies

mais atingidas são oEucalyptus camaldulensis eos clones híbridos deEucalyptus urograndis.

O inseto é sugador e, aose alimentar, reduz a capa-cidade da planta de fazerfotossíntese. Em altasinfestações, pode desfolharparcial ou totalmente a ár-vore e levá-la à morte. As fo-lhas ficam com aspecto bron-zeado e, progressivamente, osintoma afeta toda a copa.

África do Sul, Zimbábue,Argentina e Uruguai já re-gistraram incidência da pra-ga. Em São Paulo, onde maisde 40 municípios detectaramo percevejo, pesquisas indi-cam que a dispersão do inse-to segue o caminho das es-

tradas por onde são transportadas astoras de eucalipto.

A falta de informações sobre esseinseto é verificada em todo o mundo.Com o objetivo de combater a praga,um projeto coordenado pelo Institutode Pesquisas e Estudos Florestais(Ipef), com participação da Faculdadede Ciências Agronômicas da Univer-sidade Estadual Paulista (Unesp),Escola Superior de Agricultura Luizde Queiroz (Esalq/USP), EmbrapaFlorestas e Embrapa Meio Ambiente,começa a estudar a dinâmica do inse-to e estratégias de manejo integrado.“Vamos implantar um método de cri-ação artificial do percevejo em labo-ratório. Posteriormente, será estuda-da a biologia do inseto em diferentestemperaturas e espécies de eucaliptos.Também será feito o zoneamento eco-lógico do inseto para São Paulo eParaná”, conta o pesquisador Leonar-do Barbosa, da Embrapa Florestas.

Fonte: Embrapa Florestas (www.cnpf.embrapa.br).

A campanha se in-sere em uma tendên-cia global de aumentoda preocupação com obem-estar animal. Di-versos países já apro-varam leis contráriasao confinamento in-tensivo. A UniãoEuropeia irá banir asgaiolas em bateria con-vencionais até 2012 eas celas de gestaçãoaté 2013. Nos EstadosUnidos, os EstadosCalifórnia, Colorado,Arizona, Flórida,

Campanha segue tendência global de preocupaçãocom o bem-estar animal

Maine e Oregon também aprovaramleis semelhantes.

Mais informações no site www.confinamentoanimal.org.br.

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14 Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

Amazônia, o buraco negrodo CO2 brasileiro?

Gerson Luiz Selle1 e Elisabete Vuaden2

1Eng. florestal, doutorando, UFSM/CCR/Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal, Campus Universitário, 97105-900 Santa Maria, RS, fone: (55) 3220-8336, e-mail: [email protected]. florestal, mestranda, UFSM/CCR/Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal, fone: (55) 3220-8336, e-mail:elisabetevuaden @yahoo.com.br.

Fala-se muito em aquecimentoglobal e que os oceanos irão au-mentar devido ao descongela-

mento das calotas polares. Na verda-de, o que é o aquecimento global? Éum fenômeno provocado pelo acúmulode gases na atmosfera, fazendo comque o calor do Sol fique concentradojunto à superfície da Terra. Esse fe-nômeno é ocasionado pela combustãode derivados do petróleo ou pela quei-ma de florestas emitindo grandesquantidades de gás carbônico (CO2)para a atmosfera.

Qual a relação que existeentre a Amazônia, oaquecimento global e aemissão de CO2

Segundo cientistas de institutos depesquisas e ONGs ambientalistascomo a WWF-Brasil e Greenpeace, apecuária é a grande responsável pelodesmatamento de cerca de 75% naregião amazônica. Com a queima dasárvores para transformar áreas empastagens, são lançados ao céu cerca

de 120 toneladas de CO2 por hectare,sendo essa, conforme os pesquisado-res, a maior fonte de lançamento degás carbônico na atmosfera feita pornosso país. Como o solo da região épobre, 70% das áreas desmatadas sãoabandonadas, pois é mais fácildesmatar novas áreas do que recupe-rar as já abertas.

Para essas ONGs, o valor para fre-ar a destruição da Amazônia seria emtorno de R$ 1 bilhão/ano. Os pesqui-sadores indicam que, para se dar umbasta nas derrubadas, seria necessá-rio criar um fundo capaz de gerir essevalor.

Como se poderia pararcom as derrubadas naAmazônia

A primeira frente seria, com aconcretização desse fundo, criar no-vas bases de fiscalização na frontei-ra do desmatamento, com acontratação de mais funcionários peloInstituto Brasileiro do Meio Ambien-te e dos Recursos NaturaisRenováveis (Ibama) (que hoje conta

Queima de florestas emite grandes quantidades de CO2 para a atmosfera

Fonte: www.meioambiente.blogger.com.br.

15Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

3A Conferência das Partes (COP) é o órgão supremo decisório no âmbito da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB). Asreuniões da COP são realizadas a cada 2 anos. Trata-se de reunião de grande porte que conta com a participação de delegaçõesoficiais dos 188 membros da Convenção sobre Diversidade Biológica (187 países e um bloco regional), observadores de países não-parte, representantes dos principais organismos internacionais (incluindo os órgãos das Nações Unidas), organizações acadêmicas,organizações não-governamentais, organizações empresariais, lideranças indígenas, imprensa e demais observadores.

com 1.400 funcionários para fiscali-zar 64 milhões de hectares – um fis-cal/45.714ha), com um custo de R$350 milhões/ano.

A segunda frente seria incentivaras atividades econômicas sustentá-veis. Hoje, infelizmente, é mais fácilobter autorização para derrubar a flo-resta do que para fazer derrubadaseletiva de árvores. Deveriam ser cri-ados programas de assistência técni-ca para o manejo sustentável dasmatas, o que teria um custo aproxi-mado de R$ 300 milhões/ano.

Uma terceira frente, e a mais po-lêmica, seria reduzir o des-matamento, criando incentivos finan-ceiros à preservação.

Como funcionaria aterceira frente

Para os pesquisadores, os propri-etários rurais legalizados receberiamvalores compensatórios para manteras áreas preservadas. Para esse me-canismo ser posto em prática as ci-fras ficariam em R$ 350 milhões/ano.

Porém, antes da implementaçãodessa terceira frente, ogoverno deveria fazer aregularização fundiária,pois mais de 30% daAmazônia são terrasdevolutas, ou seja, per-tencentes ao Estado ou àUnião. Só para se teruma ideia, no Estado doPará, mais da metade doterritório é formado porterras públicas.

A falta de controle porparte dos órgãos gover-namentais sobre essasáreas induz ao avançodesenfreado do desma-tamento ilegal e a confli-tos no campo. O País der-ruba uma área corres-pondente ao Estado deSergipe a cada 2 anos.

De onde viria a cifra deR$ 1 bilhão para ocusteio do plano

Para os idealizadores, a primeiraideia seria a criação de um novo im-posto específico sobre as fontes emis-soras de poluição, como a gasolina e amineração. Uma segunda opção seriausar parte dos recursos do ICMS ar-recadado nos Estados da Amazônia.E a terceira opção, a mais atraente,seria conseguir verbas externas. Se ospaíses que integram a Conferênciadas Partes (COP)3 aceitarem a inclu-são das florestas tropicais nos acor-dos internacionais, o Brasil poderáreceber investimentos do mercado decrédito de carbono de empresas emis-soras de gases de outros países. Comisso, a venda de créditos de carbonopoderia evitar o desmatamento e, so-zinho, custear o projeto.

O Brasil é um dos poucos paísesque podem se orgulhar de sua matrizenergética. Temos mais de 80% denossa eletricidade gerada por hidre-létricas, que não depende da queima

de combustíveis fósseis nem gera re-síduos radioativos. Também é um dosúnicos países que têm um programade geração de combustíveis mais ino-vadores do mundo. Aproximadamen-te 45% dos automóveis são movidoscom combustíveis derivados de fontesrenováveis, tais como o álcool e obiodiesel, e esses combustíveis contri-buem pouco para o aquecimento doplaneta. A média mundial é de menosde 15%.

Se não fosse o desmatamento esuas queimadas, o Brasil estaria isen-to de culpa pelas mudanças climáti-cas. O desafio está lançado, o projetochamado de “Pacto pela Valorização daFloresta e Fim do Desmatamento naAmazônia” é uma ideia que deve serlevada em consideração, pois tem ple-nas condições de ter bom êxito. O quefalta é uma boa dose de vontade polí-tica para a solução.

Literatura consultada

PECUÁRIA é responsável por 70% dodesmatamento. Revista Madeira, n.109,dez. 2007.

Emissões de CO2 no Brasil

16 Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

Dinâmicas territoriais sustentáveis: um novo conceitoDinâmicas territoriais sustentáveis: um novo conceitoDinâmicas territoriais sustentáveis: um novo conceitoDinâmicas territoriais sustentáveis: um novo conceitoDinâmicas territoriais sustentáveis: um novo conceitode desenvolvimento para as comunidades rurais ede desenvolvimento para as comunidades rurais ede desenvolvimento para as comunidades rurais ede desenvolvimento para as comunidades rurais ede desenvolvimento para as comunidades rurais e

pesqueiras catarinensespesqueiras catarinensespesqueiras catarinensespesqueiras catarinensespesqueiras catarinenses

Sergio Leite Guimarães Pinheiro1, Paulo Freire Vieira2 e Claire Cerdan3

1 Eng.-agr., Dr., Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-5605, e-mail: [email protected] Cient. soc., Dr., UFSC/NMD, C.P. 476, 88040-900 Florianópolis, SC, fone: (48) 3721-8610, e-mail: [email protected] Eng. de alim., Dra., Cirad, e-mail: [email protected].

De tempos em tempos surgemdiferentes e polêmicas abor-dagens de desenvolvimento.

Foi assim com as teorias de desenvol-vimento local ascendente (“bottom-up”) nos anos 70 e 80, com o aprofun-damento da noção de sustentabilidadenos anos 90 e, mais recentemente,com a promoção do DesenvolvimentoTerritorial Sustentável (DTS).

Contudo, o fenômeno da resistên-cia à mudança já se tornou uma rea-lidade bem conhecida dos cientistassociais, e muitas inovações que colo-cam em xeque as concepções usuaisde planejamento e gestão costumamser distorcidas e banalizadas pela for-

ça de inércia dos bons e velhos costu-mes. Às vezes, mudam-se apenas osdiscursos e as declarações de “boasintenções”. O conceito desustentabilidade, por exemplo, vemsendo cada vez mais apropriado edistorcido pelos arautos do crescimen-to econômico a qualquer custo e, atu-almente, está muito difícil diferenci-ar os vários casos de gestão suposta-mente integrada, participativa e eco-logicamente prudente do meio rural.As novas e seminais contribuiçõesque estão emergindo em nome das di-nâmicas territoriais sustentáveis cor-rem os mesmos riscos de apropriaçãoindébita e oportunista.

Experiências pioneirascom um novo conceito deterritório

Na era da globalização assimé-trica, muitos países do sul se veemcada vez mais ameaçados pela padro-nização indiscriminada de produtos eserviços no mercado global. Com aintensificação do intercâmbio de“commodities” mobilizando uma redede corporações transnacionais, o ricopatrimônio natural e cultural acumu-lado ao longo dos séculos pelas comu-nidades locais passou a ser sistemati-camente degradado.

A Coca-cola, o “Big Mac” e os

Em SC, experiências de DTS identificam e valorizam asriquezas territoriais específicas...

17Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

“resorts” turísticos começaram a com-petir, nos mercados locais, com os vi-nhos, frutas, sucos, pães, queijos, ce-nários, valores culturais, produtos,serviços típicos e a hospitalidade úni-ca de pequenas pousadas e comuni-dades. Os fabricantes de espumantesapropriaram-se do rótulo (nobre) de“champagne”, e qualquer queijo ra-lado de qualidade duvidosa passou aser chamado de parmesão. Essasfraudes colidem frontalmente com oacervo de tecnologias vernaculares,consideradas como patrimônio cultu-ral de comunidades dotadas de atri-butos únicos e insubstituíveis. Paraos habitantes dessas áreas, esse pro-cesso de modernização conservadoradeixa como legado para as novas ge-rações o agravamento do desempre-go, da pobreza, do êxodo rural e dadegradação socioambiental. Produtos,serviços, cenários e valores uniformi-zados acabam desestimulando a pre-sença de visitantes interessados emalgo mais do que apenas lazer alie-nado nos finais de semana, sol e marnas férias de verão.

Nesse contexto, muitas regiõeseuropeias começaram a reagir a esserolo compressor, mobilizando seus re-cursos territoriais específicos, valori-zando a identidade cultural de suascomunidades, mobilizando instru-mentos de gestão e de propriedadeintelectual (indicação geográfica [IG],marca coletiva e/ou de certificação)

numa perspectiva mais sensível àscondicionantes ecológicas. Na Améri-ca Latina, com o apoio de entidadescomo o Centro Latino-Americanopara o Desenvolvimento Rural

(Rimisp), países como o Chile, o Equa-dor, a Colômbia, o Peru, a Guatemala,a Bolívia, o México e o Brasil estãodesenvolvendo atualmente experiên-cias e projetos promissores nessa di-reção.

No Brasil, desde o final de 2008,um desses projetos vem sendo condu-zido na zona costeira do Estado deSanta Catarina. Dele participam pes-quisadores vinculados à Universida-de Federal de Santa Catarina (NúcleoTransdisciplinar de Meio Ambiente eDesenvolvimento) e à Empresa dePesquisa Agropecuária e ExtensãoRural de Santa Catarina (Epagri),além de diversas organizações da so-ciedade civil, contando com o apoio fi-nanceiro do Ministério da Pesca e daAquicultura (MPA), do Rimisp e doCentro de Cooperação Internacionalem Pesquisa Agronômica para o De-senvolvimento (Cirad).

Iniciativas dessa natureza buscamestimular o desenvolvimento en-dógeno dos territórios rurais e pes-queiros partindo da ampliação da ca-pacidade de organização em rede daspopulações locais. Um dos aspectosmais relevantes diz respeito à abor-dagem integradora de ações coletivasajustadas a uma interpretaçãocoevolutiva das relações que mante-mos com a natureza. Nessas dinâmi-cas territoriais é colocado em primei-ro plano o fomento da integração

intersetorial, da aprendizagem cole-tiva, da cooperação fundada numaconcepção alternativa – sistêmica esolidária –, de eficiência econômica ede inclusão econômica e social.

De territórios dados aterritórios construídos

Afinal, qual a significação precisadesse novo conceito de território? Naliteratura especializada não existeainda uma definição-padrão etampouco “receitas prontas” para aconstrução de territórios sustentáveis.Mas mesmo como um conceito aindaem construção, vem se formando umgradativo consenso entre os pesqui-sadores quanto a alguns princípios eorientações básicas para dotá-lo deconteúdos empíricos cada vez maissólidos e confiáveis.

Territórios não se referem apenasa espaços físicos delimitados de acor-do com certos atributos ecológicos,econômicos ou político-administrati-vos, a exemplo de bacias hi-drográficas, distritos, municípios,microrregiões homogêneas ou países.Estes são denominados “territóriosdados”, que podem, eventualmente, setransformar em “territórios cons-truídos”, com fronteiras fluidas e di-nâmicas. A construção territorialpressupõe, sobretudo, o senso depertencimento ao lugar, a preocupa-ção pela transmissão intergeracionaldo patrimônio natural e cultural, oempreendedorismo coletivo, a capaci-dade de inovação permanente e oadensamento progressivo do capitalsocial. Trata-se de um processo com-plexo e de longo fôlego, que não pode

ser simplesmente decretado: ele exi-ge planejamento flexível emonitoramento contínuo.

Além disso, os territórios social-mente construídos ampliam as opor-

... e promovem a integração entre setores com base naidentidade territorial

intersetorial, da aprendizagem cole-tiva, da cooperação fundada numaconcepção alternativa – sistêmica esolidária –, de eficiência econômica ede inclusão econômica e social.

18 Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

tunidades econômicas para as comu-nidades e atores locais, sobretudopela diferenciação e valorização deseus produtos e serviços. Um exem-plo pode ser encontrado na regiãofrancesa de Nyons, famosa pela ex-cepcional qualidade dos seus azeites.Embora eles sejam consideradosidênticos aos azeites produzidos emregiões vizinhas, suas vendas vêm seexpandindo significativamente nosúltimos tempos. Hoje em dia, a ima-gem de “qualidade territorial” que aregião adquiriu abrange uma amplagama de produtos e serviços que vêmsendo cada vez mais valorizados pe-los visitantes. Para potencializar essavantagem, os mais diversos atores go-vernamentais e não governamentaistêm procurado integrar cada vez maissuas ações e fortalecer a visibilidadee a competitividade sistêmica desseterritório.

Consolidaram-se, assim, conceitoscomo “cestas de bens e de serviçosterritoriais” (Pecqueur, 2006) e “sis-temas produtivos localizados”, doiscomponentes essenciais do novoenfoque de DTS.

No caso brasileiro, dinâmicas se-melhantes vêm sendo observadas navitivinicultura da Serra Gaúcha, bemcomo na produção de queijos em Mi-nas Gerais e no Planalto Catarinense,entre outras. Entretanto, existe um

longo caminho a ser percorrido paratransformar oportunidades muitasvezes subaproveitadas ou mesmo des-conhecidas em dinâmicas sustentáveisde desenvolvimento territorial cadavez mais sólidas e dotadas de legiti-midade social.

Do conceito à ação

O processo de pesquisa sobre DTSpressupõe, inicialmente, a realizaçãode um diagnóstico territorial panorâ-mico, visando rastrear trajetórias dedesenvolvimento, mapear identidadesculturais e localizar perspectivas rea-listas de ativação de recursos especí-ficos. O diagnóstico é aprofundado vi-sando à identificação precisa dos ato-res sociais envolvidos, o sistema deação no qual eles estão inseridos, suasaspirações, alianças e conflitosintergrupais e interinstitucionais.

Mediante o fortalecimento de es-paços públicos de qualificação e nego-ciação de conflitos, busca-se impulsi-onar a integração intersetorial, queviabiliza a estabilização de um novoestilo de governança territorial. Aconstrução participativa de cenáriosnormativos de longo prazo, a realiza-ção de estudos de viabilidade e o es-forço de territorialização de bens eserviços por meio de sinais distintivos(IG, marca territorial ou coletiva)

complementam o roteiro metodológicobásico.

Na complexa passagem do concei-to à ação, a internalização de uma éti-ca ecológica capaz de superar a éticautilitarista, a integração horizontal(ou intersetorial) e vertical (outransescalar), a negociação de confli-tos de percepção e interesse, a tendên-cia recorrente de elitização do proces-so de desenvolvimento e a força deinércia de uma cultura política con-servadora, clientelista e corruptaconstituem os principais desafios aserem superados em nosso país.

Literatura consultada

1. PECQUEUR , B. Qualidade e desenvol-vimento territorial: a hipótese da cestade bens e de serviços territorializados,Eisforia, Florianópolis, v.4, n.4, p.135-153, 2006.

2. RANABOLDO, C.; SCHEJTMAN, A.(Eds.). El valor del patrimonio cultu-ral: territorios rurales, experiencias eproyecciones latinoamericanas. Lima,Peru: IEP/RIMISP, 2008. 428p.

3. VIEIRA, P.F.; CAZELLA, A.A.;CERDAN C. Desenvolvimentoterritorial sustentável: conceitos, expe-riências e desafios teórico-me-todológicos, Eisforia, Florianópolis, v.4,n.4, p.13-20, 2006.

Ao mesmo tempo que preserva a identidade territorial, o DTS resgata a autoestima e a solidariedade nascomunidades catarinenses

19Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

Vitivinicultura brasileira: desafios estruturais eVitivinicultura brasileira: desafios estruturais eVitivinicultura brasileira: desafios estruturais eVitivinicultura brasileira: desafios estruturais eVitivinicultura brasileira: desafios estruturais eoportunidades tecnológicasoportunidades tecnológicasoportunidades tecnológicasoportunidades tecnológicasoportunidades tecnológicas11111

José Fernando da Silva Protas2

Introdução

De modo semelhante a outrossetores do agronegócio mundial, osetor vitivinícola tem-se carac-terizado pela crescente competiçãoentre blocos econômicos, a qual temsido marcada por um ambienteempresarial cada vez mais intensoem tecnologia e gestão. Todavia, ovinho não é uma mercadoria comum,não pode ser produzido em qualquerlugar e seu sucesso depende defatores bem mais complexos do quea simples minimização de custos deprodução. Com efeito, sua localizaçãoestá sujeita à regra das vantagenscomparativas que, por sua vez,associadas a elementos como cultura,tecnologia produtiva, tradição eexperiência, podem ser convertidasem vantagens competitivas. Dessaforma, nenhuma região pode sersimplesmente classificada como boaou ruim para a vitivinicultura, massim distinta em suas potencialidades,cujo aproveitamento dependerá daspercepções de seus estrategistas,instituições e empresários.

Competir mundialmente, oumesmo localmente, nesse setor exige,além de atributos de qualidade ediferenciação, capacidade decoordenação estratégica, atualizaçãotecnológica e uma eficienteinfraestrutura de suporte e apoio.

Com uma área de apro-ximadamente 90 mil hectares, aviticultura brasileira estáestabelecida com vinhedos desde o

1 Este artigo serviu de referência no processo de construção de uma Rede Tecnológica dentro do Sistema Brasileiro de Tecnologia(Sibratec), com o objetivo de promover a inovação tecnológica nas empresas do setor vitivinícola brasileiro. A referida Rede foilançada pelo Ministro da Ciência e Tecnologia em 26 de setembro de 2009.2 Economista, Dr., Embrapa Uva e Vinho, assessor da Diretoria da Epagri. C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48)3239-5531, e-mail: [email protected] e [email protected].

extremo sul do País, em 31° latitudesul, até regiões situadas muitopróximas ao equador, em 5° latitudesul. Em função da diversidadeambiental, existem no País polosvitivinícolas tipicamente de regiõestemperadas, caracterizadas por umperíodo de repouso hibernal; polos emáreas subtropicais, onde a videira écultivada com dois ciclos anuaisdefinidos em função de um períodode temperaturas mais baixas, no qualhá inclusive risco de geadas; e, polosde viticultura tropical, onde épossível a realização de podassucessivas com a realização de dois emeio a três ciclos vegetativos por ano.Nos últimos anos, as estatísticas

oficiais registram uma produção deuvas que varia em torno de 1,2milhão de toneladas/ano. Dessevolume, cerca de 45% são destinadosao processamento para a elaboraçãode vinhos, sucos e outros derivados,e 55% comercializados para oconsumo in natura no mercadointerno e para exportação.

Um marco referencial da políticado setor agroindustrial vitivinícola éregistrado a partir de meados dadécada de 80, quando começaram aocorrer com maior intensidadeinvestimentos tanto na implantaçãoe/ou modernização das vinícolaslocalizadas nas regiões tradicionaisquanto nos novos polos produtores.

Santa Catarina se destaca na produção de vinhos finos

20 Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

Como elemento motivacional básicodeste movimento estava a percepçãoempresarial do potencial decrescimento do mercado internotanto para o consumo dos produtostradicionais (vinhos de mesa e sucode uva), quanto de novos produtos,com padrão internacional (vinhos eespumantes finos), capazes de seremcomercializados com maior valoragregado tanto no mercado internoquanto externo. Como consequênciadesse cenário, e de forma coerente econvergente ao movimento demodernização do setor agro-industrial, verificou-se, nos últimosanos, sobretudo nos polosemergentes, o surgimento de umanova viticultura, focada na produçãode uvas de variedades Vitis viniferapara a elaboração de vinhos finos dequalidade, de que são exemplo asregiões da metade sul do Rio Grandedo Sul, as de altitude de SantaCatarina e o Vale do Submédio SãoFrancisco, nos Estados dePernambuco e Bahia. Fatoresmarcantes na composição deste novocenário foram o surgimento e apredominância de sistemas deintegração agroindústria/produtor.Diferentemente da estruturatradicional, em que um grandenúmero de pequenos produtoresabastece as vinícolas com uvas para

processamento, neste caso, aspróprias vinícolas possuem suasestruturas de produção da uva(integração vertical) e/ouestabelecem contratos com algunsprodutores (integração horizontal)que, sob suas respectivas orientações,produzem a uva segundo define oreferido contrato (variedade,qualidade e quantidade).

Por tratar-se de regiõesemergentes, a despeito dos grandesinvestimentos envolvidos, esses polosvitivinícolas carecem de uma base deconhecimentos e tecnologiasadequadas às suas condiçõesambientais que lhes permitam oestabelecimento de sistemas eprocessos produtivos maiscompetitivos e sustentáveis. Grossomodo, as ações são desenvolvidas nabase da tentativa e erro.

Contrapondo-se a esse cenário,nas regiões tradicionais (algunssegmentos da Serra Gaúcha, RS, Valedo Rio do Peixe e Região Litoral Sul,SC, Grande Curitiba, PR, entreoutros), a produção vitícola ainda nãoingressou, de forma organizada econsistente, neste movimento demudanças que, a despeito dasdificuldades, empenha-se no sentidoda melhoria qualitativa da matéria--prima (uva), dos processos produtivos(elaboração de vinhos, suco e

derivados) e, consequentemente dosprodutos elaborados. Com aqualidade da matéria-prima abaixodo tecnicamente desejável eestruturas agroindustriais defasadastecnologicamente, a competitividadede toda a cadeia produtivavitivinícola dessas regiões vê-seseriamente ameaçada, compro-metendo a sustentabilidade dessesetor produtivo que tem sido a basede sustentação econômica, social ecultural destas regiões emblemáticasda imigração italiana e estruturadascom base na agricultura familiar.

Para melhor caracterizar ocenário em que está inserido essesegmento da cadeia produtivavitivinícola, tomemos algumasestatísticas referentes ao Estado doRio Grande do Sul, responsável porcerca de 90% da produção de vinhos,sucos e derivados do País. Quanto àscaracterísticas estruturais, trata-sede uma atividade de agriculturatipicamente familiar desenvolvidaem minifúndios. Segundo o CadastroVitícola do Rio Grande do Sul (2005-2007), esse Arranjo Produtivo Local(APL) ocupa uma área de 38.505hectares de vinhedos distribuídosentre 15.384 propriedades quepossuem, em média, 19 hectares deárea total, cuja área útil varia de 40%a 60%, sendo, destes, 2,5 hectares deparreirais, pouco mecanizados devidoao relevo acidentado, ondepredomina o uso da mão de obrafamiliar, cuja disponibilidade médiaé de quatro pessoas.

Segundo pesquisa da EmbrapaUva e Vinho, o número de pessoasresidente nas propriedades vitícolasé de 57.752, assim distribuídas deacordo com a faixa etária: 7,69% commenos de 10 anos; 9,56% entre 11 e18 anos; 69,20% entre 19 e 60 anos e13,56% com mais de 60 anos. Poroutro lado, no segmentoagroindustrial o APL vitivinícola doRio Grande do Sul registrou, segundoo Cadastro Vinícola 2009, um númerode 540 empresas vinícolas (privadase cooperativas) de pequeno, médio egrande porte, que elaboraram, em2009, cerca de 331.699.704 litros devinho, suco e derivados da uva e dovinho. Segundo o Sindicato dasIndústrias do Vinho do Rio Grandedo Sul (Sindivinho-RS), essas

Vinícolas catarinenses já estão investindo em tecnologia e marketing

21Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

empresas geram em torno de 3.300empregos diretos, assim distribuídos:56% na área industrial, 14% na áreaadministrativa, 13% na áreacomercial, 7% na área agrícola e 10%serviços terceirizados, o que significaa absorção de 11% da populaçãoeconomicamente ativa empregada nosetor industrial. Segundo a mesmafonte, a indústria vitivinícola temapresentado grande capacidade paraagregar valor aos produtoscomparativamente à média daindústria nacional de alimentos ebebidas, pois, enquanto nesta arelação entre o Valor deTransformação Industrial e o ValorBruto da Produção Industrial (VTI/VBP), em 2006, foi de 38%, naprodução vitivinícola essa relação foide 44%, indicando que de cada R$1,00 produzido agrega R$ 0,44, o quea caracteriza como de grandecapacidade e potencial paraincrementar a renda da produção,gerando emprego, salários edesenvolvimento humano.

Com grande capacidade deenvolver e dinamizar outrossegmentos ao longo da cadeiaprodutiva, estima-se que avitivinicultura gere, para cadahectare de vinhedo implantado, umemprego direto e dois indiretos.Compondo esse cenário, tem-severificado nos últimos anos um

grande incremento da atividadeenoturística nos polos vitivinícolas daSerra Gaúcha, RS, Vale do Rio doPeixe e Planalto Catarinense, SC, eVale do São Francisco, PE e BA,gerando e distribuindo emprego erenda ao longo da cadeia e nasatividades complementares (serviços,transporte, artesanato, etc.).

A questão dacompetitividade:desafios e oportunidades

Com o processo de abertura daeconomia brasileira, a partir demeados da década de 90, o setorvitivinícola nacional vem enfren-tando uma forte concorrênciaexterna, registrando-se taxassignificativas de crescimento dasimportações. No período de 2002-2008, o crescimento das importaçõesde produtos vitivinícolas (vinhos,espumantes, vinhos licorosos, etc.)pelo mercado brasileiro foi deaproximadamente 106%. Consi-derando apenas os volumes relativosaos vinhos, que representa oprincipal mercado para osestrangeiros no segmento dos vinhosfinos, verificaremos que em 2001 oproduto nacional detinha 48,1% domercado interno, enquanto osimportados representavam 51,9%. Já

em 2008 o percentual do produtonacional comercializado recuou para23,85%, enquanto o dos importadosevoluiu para 76,15%. Portanto, asestatísticas disponíveis evidenciam ocaráter inexorável do comportamentodesta conjuntura, já que, nocomparativo dos volumes comer-cializados, enquanto os vinhosimportados, acompanhando ocrescimento do mercado internobrasileiro, aumentaram a sua fatia,os nacionais diminuíram.

Analisando-se a estrutura domercado brasileiro de vinhos finospelo lado da oferta (vinhos,espumantes, vinhos licorosos, etc.),verifica-se que ele é disputado porquatro blocos produtores/ofertantes:Chile, Argentina, outros países(Europa, Oceania, África) e produçãonacional, destacando-se, nestecontexto, os dois primeiros, que, em2008, detiveram, respectivamente,32% e 27% do mercado brasileiro devinho fino (ver Tabela).

Muito se tem discutido re-lativamente às causas da poucacompetitividade dos vinhos bra-sileiros. Questões como: a elevadacarga tributária incidente sobre osprodutos vitivinícolas; a falta depolítica creditícia específica eadequada; a necessidade de isençãode imposto de importação parainsumos, máquinas e equipamentos

País 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Chile 6.206.675 7.971.749 11.160.061 11.685.418 15.224.011 18.894.922 18.747.299

Argentina 3.884.432 5.863.683 11.210.771 11.981.135 13.652.997 16.177.829 15.433.068

Itália 7.363.824 6.446.585 7.224.188 7.102.781 9.393.890 10.414.568 10.792.112

Portugal 3.061.893 3.361.360 4.181.406 5.193.415 5.971.334 6.846.083 6.276.252

França 3.024.866 2.923.395 2.838.644 2.602.976 3.658.009 3.817.279 3.457.723

Espanha 601.855 574.678 813.639 721.568 1.222.246 1.116.362 1.257.652

Uruguai 1.248.778 1.097.816 660.702 513.166 726.229 2.395.032 922.144

África do sul 32.194 162.785 303.548 407.933 359.145 386.515 324.592

Alemanha 766.746 576.312 442.860 254.573 315.919 235.986 295.894

Austrália 150.052 26.441 193.849 325.287 256.298 364.466 215.630

Outros 217.113 324.535 120.174 461.699 145.208 213.952 220.232

Total global 26.554.428 29.329.339 39.157.287 40.938.335 50.948.056 60.875.073 57.943.979

Importações brasileiras de vinhos finos (2002-2008), em litros

22 Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

(de modo semelhante aos paísesconcorrentes); a equiparação doICMS para os produtos vitivinícolasentre os Estados, entre outros, têmsido temas recorrentes nos pleitosfeitos junto às autoridades federaise estaduais através da CâmaraSetorial de Viticultura, Vinhos eDerivados e outros fóruns. Por outrolado, há evidências de que nem todosos produtos da cadeia produtivavitivinícola brasileira apresentam omesmo desempenho. Por exemplo, osespumantes brasileiros, mesmosofrendo uma forte pressão, têmapresentado um bom desempenhoante a concorrência.

Depreende-se, assim, que, alémdos aspectos relacionados com apolítica setorial (ou com a falta dela),outras questões relacionadas com aprópria organização setorial, tanto nadimensão competitiva dos processosprodutivos (da uva e dos produtosderivados; da qualidade dosprodutos) quanto na dimensão domercado, com toda a suacomplexidade e diversidade deatores, tenham grande importânciana definição e eventual reversão docenário presente.

Neste contexto de mercadoglobalizado, é importante que setenha presente a dinâmica queorienta as ações e promove os ajustesna conjuntura da vitiviniculturamundial, bem como os seusdesdobramentos. Segundo oRelatório 2006 da OrganizaçãoInternacional da Vinha e do Vinho(OIV), a produção mundial de vinhonaquele ano foi de 28,4 bilhões delitros e o consumo de 24,12 bilhõesde litros, gerando um excedente de4,28 bilhões de litros. Naquele mesmoano a União Europeia acionou umdos seus mecanismos de regulação domercado chamado Destilação deCrise, financiando, ao custo de 500milhões de euros, a destilação de 1,4bilhão de litros de vinho,transformando-os em álcool para, emboa parte, ser usado comocombustível pelas indústrias eveículos. Em 2007, o mesmo

mecanismo voltou a ser utilizado.Sabe-se, também, que a principalcausa dos elevados excedentes daprodução de vinhos europeus é a forteconcorrência proveniente daAustrália, dos Estados Unidos, doChile, da Argentina e da África doSul, ou seja, os excedentes são frutoda afluência de vinhos mais baratos,assentes numa produção maisindustrial e fortemente apoiada numcompetitivo marketing.

Diante deste cenário e doselevados custos das Destilações deCrise, a União Europeia optou porredefinir a sua estratégia políticapara o setor vitivinícola implantando,a partir do mês de agosto de 2008,um programa de erradicação e/oureconversão de vinhedos. Asestimativas são de que o Programaabranja, em 5 anos, cerca de 200 milhectares nos países da ComunidadeEuropeia. Ressalvando-se asproporções, e considerando que afundamentação do Programaeuropeu, quanto ao objetivoprincipal, é de adaptar sua oferta devinhos (quantidade e qualidade) àsexigências do mercado e àconcorrência rejeitando a produçãode vinhos de qualidade medíocre,

depreende-se que aquele cenário,bem como suas causas e efeitos, temalgumas semelhanças com obrasileiro. Temos o mesmo fatogerador da crise: perda decompetitividade no mercado erecorremos a mecanismossemelhantes para regular a oferta:Destilação de Crise (Europa) ePrograma para Escoamento deProduto (PEP) – Conab/Mapa(Brasil)3. Com a ajuda desteinstrumento de política do Ministérioda Agricultura, Pecuária eAbastecimento (Mapa), o setorvitivinícola brasileiro tem conseguidominimizar os problemas tanto delogística (grandes estoques) quantode perdas econômicas (queda nasvendas) gerados pela baixacompetitividade.

Para termos uma ideia damagnitude do problema e eficáciadestas operações, vejamos asestatísticas: no ano de 2006, ascooperativas vitivinícolas do RioGrande do Sul venderam a granel aosengarrafadores do centro do Paíscerca de 5.580.000 litros de vinho finotinto para serem misturados ao vinhode mesa; em 2008 foram exportados,também a granel, 5.851.000 litros de

3O Programa para o Escoamento de Produto (PEP) é uma subvenção econômica (prêmio) concedida àqueles que se disponham aadquirir o produto indicado pelo Governo Federal diretamente do produtor e/ou sua cooperativa, pelo valor de referência fixado(preço mínimo), promovendo o seu escoamento.

A Rede Tecnológica de Vitivinicultura objetiva promover a inovação dasempresas do setor

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vinho, sendo 264.000 litros de vinhocomum e 5.587.000 litros de vinhofino e, no período de janeiro a agostode 2009, foram exportados16.609.000 litros de vinho, sendo10.782.000 litros de vinho fino e5.827.000 litros de vinho de mesa. Háuma causa estrutural subjacente aessa questão, pois, além do vinho dequalidade, Europa e Brasil aindaproduzem volumes significativos devinhos medíocres que, por questõesde políticas setoriais ou outrasdesvantagens comparativas, chegamaos mercados (no caso brasileiro,principalmente ao mercado interno)com preços pouco competitivoscomparativamente aos vinhostambém medíocres de terceirospaíses. Quanto à eficácia e àconveniência de recorrermos àreceita europeia, seria pretensioso eprecipitado fazer qualquer juízo, atéporque, além da dimensão e daorganização social/setorial, asrealidades quanto às políticaspúblicas voltadas ao setor vitivinícolasão totalmente diferentes. Entre-tanto, o fato é que cada vez mais ficaevidente a necessidade daimplantação de políticas nacionaisestruturantes, focadas na promoçãodo desenvolvimento setorialsustentável e competitivo. Osmecanismos utilizados paracontornar questões conjunturais(como o PEP, por exemplo) sejustificam apenas no curto prazo;caso contrário, estarão contribuindopara a manutenção de setoresprodutivos não competitivos.

A inovação tecnológica eo desenvolvimentosetorial

Como síntese dos fatos, ficaevidente que na vitivinicultura, emqualquer parte do mundo, res-

guardando-se as características etipicidade dos produtos, não há maislugar para amadorismo e paraprodutos de qualidade medíocre.

Neste setor, sucesso e asustentabilidade dos empre-endimentos dependem da sua realcapacidade competitiva, a qual éobtida, antes de mais nada, com umaforte base tecnológica, fundamentadano conhecimento técnico-científico dacultura e das condições ambientaisdas regiões produtoras (solo, clima,etc.) que viabilizem o estabelecimentode sistemas de produção técnica,econômica e ambientalmentesustentáveis, que respeitem eexplorem racionalmente asrespectivas características am-bientais no sentido da produção devinhos, sucos e derivados dequalidade, que expressem atipicidade específica de cada regiãoprodutora.

Neste contexto é evidente, e nãomenos importante a existência, nasdiferentes regiões do País, de umsignificativo número de instituiçõesde ensino e pesquisa4 que possuemem seus programas e currículos açõesnas áreas de viticultura e enologia,mas que, a despeito de suasreconhecidas competências técnicase estruturais, possuem um históricode cooperação técnica e parceriasmuito aquém do desejável enecessário diante do tamanho ecomplexidade das demandas do setorprodutivo. Entretanto, é importanteregistrar que a reconhecidacompetência dessas instituições, nadimensão de suas respectivasmissões institucionais, e o históricode seus relevantes de serviçosprestados à vitivinicultura brasileira,ocorreram num ambiente merca-dológico pouco competitivo para osetor vitivinícola brasileiro quando,respaldado por uma forte política

protecionista, a entrada de vinhosestrangeiros no mercado interno erainsignificante. Naquele ambiente,não se faziam sentir demandas epressões por soluções tecnológicaspromotoras de impactos competitivosno setor e, consequentemente, namaioria dos casos, os esforços eramisolados e as sinergias potenciaisperdidas.

Diante deste cenário, ficaevidente a necessidade da im-plementação de um programanacional de desenvolvimento davitivinicultura no formato de umaRede Tecnológica orientada peloMinistério da Ciência e Tecnologia(conforme nota de rodapé no iníciodeste artigo), capaz de acelerar oprocesso de geração de conhe-cimentos e tecnologias e de promovera inovação tecnológica das empresas,elemento fundamental e básico paraa elevação da competitividade davitivinicultura brasileira a pa-tamares sustentáveis.

Literatura consultada

1. PROTAS, J.F.S. A produção de vinhosfinos: um flash do desafio brasileiro.Agropecuária Catarinense, Floria-nópolis, v. 21, n.1, p.17-19, 2008.

2. PROTAS, J.F.S. DesenvolvimentoEstratégico da Vitivinicultura do RioGrande do Sul – Visão 2025. In.CONGRESSO LATINO-AME-RICANO DE VITICULTURA EENOLOGIA, 10.; CONGRESSOBRASILEIRO DE VITICULTURA EENOLOGIA, 11.; SEMINÁRIOFRANCO-BRASILEIRO DE VITI-CULTURA E ENOLOGIA, 2., 2005,Bento Gonçalves, RS. Anais... BentoGonçalves, Embrapa Uva e Vinho,2005. p.109-130. (Embrapa Uva eVinho. Documentos, 55).

4Instituições como a Embrapa Uva e Vinho, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade de Caxias do Sul,Universidade Federal de Santa Maria, Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet) Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul;Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), Universidade Federal de Santa Catarina(UFSC), Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), em Santa Catarina; Embrapa Semiárido, Instituto Tecnológico dePernambuco (Itep), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal da Bahia (UFB), Embrapa Mandiocae Fruticultura, Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet/Petrolina), em Pernambuco e Bahia; Emater do Estado do Paraná,Universidade Federal do Paraná (UFPR), Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Universidade Estadual de Londrina,Universidade Estadual de Maringá, no Paraná; Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Unesp/Jaboticabal, Unesp/Botucatu,Unesp/Ilha Solteira, em São Paulo, entre outros.

24 Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

A estrutura é uma espéciede tanque com divisões sepa-radas por paredes perfura-das. No primeiro comparti-mento, é feita uma filtragemcom brita, cacos de telha eplantas de junco. Na segun-da divisão ocorre a filtragemcom areia, cacos de telha e ojunco. A terceira é preenchi-da com areia grossa e a quar-ta, que pode ser substituídapor uma caixa-d’água, servecomo reguladora de nívelpara a água limpa que vai ser dis-tribuída. O tanque deve serconstruído em local elevado, no mí-nimo 3m acima dos pontos que se-rão abastecidos. As paredes devemter 10cm de espessura e 15cm defundo. “Embora a estrutura possa

Montagem da estrutura

ser construída com tijolos, é prefe-rível fazer em concreto armado comferro, que, além de durar mais, di-minui o risco de rachaduras e tornaa impermeabilização mais fácil, evi-tando vazamentos”, orientaAltamiro.

TTTTTratamento ecológico fornece águaratamento ecológico fornece águaratamento ecológico fornece águaratamento ecológico fornece águaratamento ecológico fornece águapotável com baixpotável com baixpotável com baixpotável com baixpotável com baixo custoo custoo custoo custoo custo

Consumir água de qualidade éfundamental para asobrevivência e a saúde de

qualquer pessoa. Sem acesso a águatratada, muitas famílias buscamabastecimento em rios, córregos enascentes. Nesses casos, é precisotomar alguns cuidados porque,mesmo parecendo limpa, a água podeconter organismos que provocamdoenças como verminose, amebíase,diarreia, hepatite e leptospirose.

Uma técnica simples que pode seradotada para garantir água segurapara o consumo humano é otratamento com zona de raízes. Deacordo com Altamiro Morais Filho,engenheiro-agrônomo da Epagri/Escritório Municipal de Biguaçu, osistema fornece volumes signi-ficativos de água potável com baixocusto e sem utilizar produtosquímicos. “Mesmo quando está emáreas de mato e parece limpa, a águasofre deposição de matéria orgânicae fezes de animais silvestres. Quandochove, apresenta turbidez, que é aexistência de partículas, prin-cipalmente de argila. O tratamentocom zona de raízes resolve essesproblemas”, conta.

Nesse sistema, a água é coletadaem córregos ou cachoeiras econduzida até uma estrutura de fil-tração com areia, brita e cacos de te-lha. Sobre esse material são coloca-das plantas de junco, cujas raízes fi-cam dentro da água. Materiais sóli-dos como argila, areia, folhas e algassão retidos na camada de areia ebrita, enquanto bactérias e algumassubstâncias químicas indesejáveissão neutralizadas pelas raízes do jun-co, que formam um filtro biológico.

25Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

É recomendável que a águaseja captada em um córrego quevenha do mato, sem ter passadopor focos de poluição. Se houvercriação de animais ou lavourascom uso de agrotóxicos, o sistemapode não ser eficiente. É impor-tante preservar e recuperar amata ciliar, retirar fontes de po-luição como dejetos humanos e deanimais ou produtos tóxicos e con-servar o solo nas áreas adjacen-tes.

Onde captar água

Planta que purifica

Esquema paratratamento de águacom zona de raízes

para fornecimento de15 mil litros por dia

Orientações técnicas

É recomendável que um técnico faça os cálculos para determinar,de maneira econômica, o tamanho e a forma do tanque em função dovolume de água a ser tratado. Características como firmeza do solo,necessidade de sapatas e vigas e quantidade e tipo de materiais devemser analisadas. É necessário, também, conhecer o desnível e a distân-cia entre os pontos de captação, tratamento, armazenamento e consu-mo para determinar as pressões que podem ser suportadas e o diâme-tro das tubulações. O volume de água a ser armazenado para o caso deinterrupção do tratamento deve ser considerado. Os parâmetros maisusados são os seguintes:

- Cada pessoa necessita de 150L de água por dia.- Para tratar 1.000L de água por dia são necessários 2,3m2 de área

plantada com junco.- São necessárias sete plantas de junco por metro quadrado.- O comprimento do tanque deve ter entre duas e quatro vezes a

medida da largura.- A medida mínima do tanque deve ser de 1,5 por 3m. A profundida-

de é, sempre, de 70cm.- O desnível entre o tanque e as caixas de armazenamento e entre

estas e os pontos de consumo não deve ultrapassar 20m. Se for maior,utilizam-se caixas intermediárias para aliviar a pressão.

O junco brasileiro (Zizanopsis bonariensis) é uma planta espontâ-nea facilmente encontrada nas várzeas úmidas e não exige cuidadosespeciais. As raízes oxigenam a água e utilizam a matéria orgânicadissolvida nela para a alimentação da planta. Ao redor das raízesformam-se colônias de bactérias benéficas que ajudam a planta a ab-sorver os nutrientes. Assim, elementos químicos são fixados nas raízesou absorvidos pela planta, enquanto as bactérias indesejáveis, comocoliformes fecais, são neutralizadas pelas bactérias que vivem emsimbiose com as raízes.

26 Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

Construindo o futuroConstruindo o futuroConstruindo o futuroConstruindo o futuroConstruindo o futuroConstruindo o futuroConstruindo o futuroConstruindo o futuroConstruindo o futuroConstruindo o futuroTecnologias da Epagri trazem

desenvolvimento para o Estado e reservamboas surpresas para os próximos anos

Cinthia Andruchak Freitas1

1 Bacharel em Jornalismo, Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-5537, e-mail: [email protected].

Foi-se o tempo em que o campoera visto como um lugaratrasado, menos desenvolvido

e sem qualidade de vida. Ao longo dasúltimas décadas, esse retrato passoupor mudanças, muitas delasproporcionadas pelas tecnologiasgeradas pela Epagri. O trabalho depesquisa, com a consequente geraçãode inovação, transformou o meiorural e pesqueiro catarinense em umespaço de aplicação de tecnologia.

O resultado desse esforço apareceprincipalmente em melhorias narenda e na qualidade de vida dosprodutores. Já o consumidor é

beneficiado com a redução de preçose o incremento na disponibilidade ena qualidade dos alimentos. Para oEstado, as tecnologias contribuemcom a preservação dos recursosnaturais, trazem desenvolvimentoeconômico e tornam os produtos e aagricultura mais competitivos nomercado. “A competitividade dassociedades se baseia na constanteinovação e a pesquisa é a base desseprocesso”, explica Edson Silva,diretor de Ciência, Tecnologia eInovação da Epagri.

Hoje, Santa Catarina é o quintomaior produtor de alimentos do País

e é referência nacional na produçãode cebola, maçã, arroz, banana, alho,mel, leite e moluscos. Entre 1976 e2007, o incremento na produtividadefoi de 203% na maçã, 193% na cebola,135% na banana, 361% no milho e225% no leite. “Isso se deve, além dacontribuição das pesquisas, ao perfilempreendedor dos produtorescatarinenses, abertos à adoção denovas tecnologias”, destaca o gerentede pesquisas, Luiz Antonio Palladini.

Na cultura do arroz, por exemplo,a produtividade nos últimos 35 anosaumentou mais de 300% no Estado,passando de 2,3 mil para 7 mil quilos

27Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

Goiabeira-serrana traz boas perspectivas paraprodutores catarinenses

por hectare. Considerando que todoo arroz catarinense é proveniente desementes pesquisadas pela Epagri,estima-se que as tecnologias daEmpresa sejam responsáveis por umincremento de 40 mil toneladasanuais na produção. Ao preço deagosto de 2009, os benefíciosresultam em R$ 4,35 milhões anuaisde acréscimo no recolhimento deICMS no Estado, o que correspondea cerca de 11% do orçamento daEmpresa para pesquisas.

Novas cultivares

Muitos dos avanços têm base empesquisas de melhoramento genético.Esse trabalho já resultou nolançamento de 115 cultivares comcaracterísticas como maiorprodutividade, estabilidade daprodução, adaptação a diferentesáreas de cultivo, resistência a pragase doenças, melhor qualidadenutricional e industrial e maiorfacilidade de manejo. “Estima-se que50% do aumento de rendimento dasprincipais culturas registrado no Paísnos últimos 30 anos se devam aomelhoramento genético. Os outros50% se devem às condiçõesfitotécnicas”, destaca o pesquisadorHaroldo Tavares Elias.

Todo esse trabalho recebe suporteda área de recursos genéticos. Paraisso, as EstaçõesExperimentais contamcom bancos degermoplasma dasculturas de maiorinteresse para oEstado. “Hoje, aEmpresa detém 43coleções na áreavegetal e três na áreaanimal, que servemcomo fonte genéticapara o lançamento denovas cultivares ougermoplasma animal”,conta o pesquisadorMario Vidor.

Um exemplo desucesso é o feijãoGuará, que temprodutividade de 5% a10% maior que asprincipais cultivaresutilizadas no Estado eocupa cerca de 10% daárea plantada com acultura em SantaCatarina. Com acebola, o melhora-mento de cultivaresproporcionado pelaspesquisas é respon-sável por 80% de toda

a produção do sul do País. Já asvariedades de milho de polinizaçãoaberta, como Fortuna e Catarina,lançadas pelo Centro de Pesquisaspara a Agricultura Familiar (Cepaf),são alternativas importantes àsespécies híbridas, pois têm bompotencial produtivo e possibilitam aopequeno agricultor reduzir custos.

A Epagri também lançou quatrocultivares da goiabeira-serrana, umaplanta nativa do sul do Brasil e donordeste do Uruguai que produzfrutos de sabor diferenciado. Asplantas foram selecionadas de acordocom características como aparênciae formato do fruto, rendimento dapolpa e sabor. Outra preocupação foibuscar cultivares de amadu-recimento precoce e outras maistardias, para ampliar o período deoferta do produto. Os lançamentostrazem boas perspectivas para osagricultores catarinenses, já quepaíses como Colômbia e NovaZelândia produzem o fruto e vendem,inclusive, para o mercado brasileiro.

Batata ‘Cota’ foi desenvolvida para o sistema agroecológico

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Melhoramento genético e biotecnologia levam desenvolvimento para o campo

Maçã ‘Kinkas’ é resistente à sarna e à mancha da gala

No ano passado, foi lançada a‘SCS365 Cota’, a primeira cultivarcatarinense de batata desenvolvidapara o sistema agroecológico. Ela temmaior resistência a doenças foliares,menor custo de produção e tubérculosde boa qualidade pós-colheita. Outravantagem é a produtividade, quevaria entre 10,8 e 18,4t/ha. Por teralta porcentagem de matéria seca nostubérculos e baixa taxa de absorçãode gordura, a cultivar é ideal para oprocessamento na forma de chips,batata palha e palitos pré-fritos.

Uma das novidades de 2010 seráo lançamento da cultivar de arrozSCS116 Satoru. “Ela é adequada aosistema pré-germinado e temprodutividade superior às principaissementes usadas pelos rizicultores,alcançando média de 9,4t/ha nosexperimentos de campo”, revela JoséAlberto Noldin, coordenador daequipe de pesquisa em arroz irrigado.A cultivar foi submetida aexperimentos em várias regiões doEstado e a uma avaliação dedesempenho industrial. “Ela foiconsiderada adequada aos processosde beneficiamento para arroz brancoe parboilizado e teve boa aceitaçãodos consumidores”, conta.

Na produção de maçã, que temgrande peso econômico para o Estado(Santa Catarina responde por maisda metade da produção nacional), jáforam lançadas cultivares como FredHough, Catarina, Joaquina e Daiane.Agora, a Empresa se prepara paralançar a ‘SCS416 Kinkas’, que éresistente à sarna e à mancha dagala. “Com boa aparência eprodutividade, ela é exigente de frioe tem ciclo tardio e, por isso, poderáser produzida junto às cultivaresCatarina e Joaquina”, conta opesquisador José Itamar da SilvaBoneti, da Estação Experimental deSão Joaquim. Os frutos têm de 195 a270g e boa firmeza de polpa. A‘Kinkas’ tem potencial para cultivo nosistema orgânico e no sistemaconvencional reduz significa-tivamente os gastos com fungicidas.

Além disso, a Estação Ex-perimental de Caçador está lançandoa cultivar Monalisa, adaptada àscondições do Meio-Oeste Catarinensee resistente às principais doenças dacultura. Este ano a cultivar recebeu

nota máxima no quesito sabor emuma feira internacional naAlemanha.

Outra cultivar em pesquisa é otomate ‘Miguelinho’, desenvolvidopara estimular a produção agro-ecológica e dar ao agricultor apossibilidade de produzir a própriasemente. “Para plantar 1 hectare detomateiros com 18 a 20 mil plantas,a partir de sementes híbridas, oprodutor gasta até R$ 12.000,00. Assementes dos frutos híbridos nãopodem ser plantadas por conta dadesuniformidade da safra resultante,mas as do ‘Miguelinho’ podem seraproveitadas”, explica José Angelo

Rebelo, pesquisador da EstaçãoExperimental de Itajaí.

O tomate passou por testes decomportamento e resistência adoenças em cultivo a céu aberto e emabrigo de cultivo. No cultivo abrigado,a seleção foi feita no sistema orgânicode produção. Os frutos sãovermelhos, saborosos, suculentos efirmes, com média de 180 a 200g, e opotencial produtivo é de até 120t/ha.

Tecnologia de ponta

Os estudos na área debiotecnologia têm proporcionadoganhos importantes para o Estado.

Na Estação Expe-rimental de Lages,pesquisadores tra-balham para me-lhorar o rendimento deculturas por meio detécnicas como aclonagem. “Identi-ficamos plantas maisprodutivas ou resis-tentes a determinadasdoenças e desen-volvemos essas va-riedades in vitro porclonagem”, explica opesquisador Aleksan-der Muniz. Por meiodesse processo jáforam obtidas diversasespécies de plantas

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Cultivar de arroz Satoru vai ampliar a produtividade nas lavouras

livres de vírus, como banana, maçã,pera, alho e batata. “Sem asprincipais viroses, o potencialprodutivo das culturas aumenta. Noalho, a produtividade subiu de 6 para18t/ha”, aponta.

Outro destaque da biotecnologiasão as pesquisas com rizóbios,bactérias promotoras de crescimentocapazes de fixar o nitrogênio daatmosfera e fornecê-lo a uma série deculturas, em uma relação desimbiose, reduzindo a necessidade deadubação nitrogenada. A Epagri temuma coleção com mais de 700 estirpesde rizóbios recomendadas paraaproximadamente 60 espécies deleguminosas. “Selecionamos einoculamos estirpes para forrageiras,ervilha e lentilha. Agora estamostrabalhando com gramíneas comomilho e arroz”, destaca Muniz.

A Estação Experimental de Lagestambém é pioneira no sul do Brasilcom pesquisas na área de homeopatiaagropecuária. A equipe estuda aprodução de preparados que possamser usados tanto em animais quantoem sistemas de produção vegetal. “Opreparado para manejo de formiga--cortadeira já ajudou a reduzir danosem vários cultivos”, conta opesquisador Pedro Boff. Tambémestão em andamento pesquisas parao manejo da mosca-da-fruta e deculturas como tomate, feijão, cebolae batata. Na área animal, o trabalhodos médicos-veterinários homeopatastem melhorado a saúde de aves,bovinos e ovinos, aumentando aprodução, reduzindo a incidência dedoenças e gerando economia para asfamílias rurais.

De olho na crescente demanda daindústria, a Estação Experimental deItajaí desenvolve estudos complantas bioativas para que o cultivodessas espécies gere renda naspropriedades. “Estamos selecionandoplantas de espinheira-santa, fáfia,guaco e ginseng brasileiro quetenham maior quantidade deprincípio ativo”, aponta o pesquisadorAirton Salerno. Atualmente, mais de500 produtores catarinensestrabalham com bioativas.Tomate ‘Miguelinho’ permite ao agricultor produzir as próprias sementes

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Pesquisas em homeopatia abrem novos horizontes àagropecuária

Plantas bioativas geram renda nas propriedades. Na foto, produção de babosaem Canelinha, SC

Ampliação do mercado

Se hoje o Estado oferta maçãsdurante o ano inteiro, apesar de acolheita ser feita em apenas 3 meses,é graças a uma tecnologia deconservação desenvolvida pelaEpagri. O segredo está no gás 1-metilciclopropeno (1-MCP), queretarda as alterações fisiológicasassociadas à maturação e degradaçãoda fruta. O método foi descoberto nosEstados Unidos em estudos comflores e, em 1997, um grupo depesquisadores, entre eles oengenheiro-agrônomo Luiz CarlosArgenta, iniciou estudos naquele paíspara adaptar o sistema à conservaçãode maçãs, peras e frutas de caroço.

Hoje, mais de 70% da produção demaçãs do País destinada àexportação e 50% das maçãsarmazenadas por médios e longosperíodos são tratadas com o 1-MCP.A tecnologia permitiu ampliar de 1 a2 meses o período de exportação e,no mercado interno, ajudou o Estadoa manter a competitividade dasespécies de clima temperado diantedas de clima tropical. Desde 2007 oproduto também é usado paraaumentar a conservação de caqui,quivi e ameixas no Brasil. “Pelaprimeira vez, o País exporta caquispor via marítima com o mínimo deperdas. Antes, eles eramtransportados de avião, com custodez vezes maior”, conta Argenta.

Na área zootécnica, um trabalhoque está ampliando o mercado eoferecendo uma nova oportunidade

aos maricultores éfeito com vieiras.Graças às contri-buições da pes-quisa, Santa Cata-rina começou aproduzir o moluscocomercialmente em2006 e, desdeentão, a atividadevem crescendo noEstado. O trabalhobusca promover odesenvolvimentosustentado daprodução por meioda definição deestratégias paraaumentar a produ-

tividade e os critérios para a seleçãode áreas adequadas ao cultivo.

Há dois projetos de pesquisa emandamento. Um deles buscaidentificar e caracterizar a influênciados fatores ambientais sobre ocrescimento e a sobrevivência dasvieiras e o outro, em parceria com aUniversidade Federal de SantaCatarina (UFSC), vem ampliando aprodução de sementes para suprir ademanda dos maricultores. “Omercado é promissor, uma vez que avieira é um produto diferenciado e devalor comercial superior aos demaismoluscos cultivados, como ostras e

mexilhões. Porém, o consumo épequeno no Brasil, pois o produtoainda é desconhecido do grandepúblico”, destaca Guilherme Rupp,pesquisador do Centro de Desen-volvimento em Aquicultura e Pesca(Cedap).

Hoje, o Estado conta com cerca de25 produtores de vieiras em seismunicípios. “Com a recentedemarcação de novas áreasmapeadas para a mariculturaenvolvendo águas mais profundas,ampliam-se os horizontes deprodução no Estado”, acrescentaRupp.

Produção Integrada

Com o objetivo de levar maissustentabilidade às lavouras, aspesquisas na área de ProduçãoIntegrada (PI) caminham paradesenvolver métodos científicos quepreservem os recursos naturais epermitam produzir alimentosseguros, saudáveis e de qualidade.

A primeira cultura do Brasil acontar com selo da PI foi a maçã. Otrabalho, conduzido em parceriaentre a Epagri e a Embrapa Uva eVinho, serviu de base para aadaptação do sistema a uma série deoutras culturas. “Participamos

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ativamente das pesquisas porquetínhamos a melhor tecnologia paraproduzir maçãs e uma equipeexperiente na área”, conta José LuizPetri, pesquisador da EstaçãoExperimental de Caçador.

A pesquisa envolveu a introduçãoe adaptação de tecnologias quepermitem reduzir o uso deagroquímicos, controlar pragas pormeio de monitoramento, analisar onível de resíduos de agrotóxicos,garantir a qualidade das frutas erastrear a produção. O trabalho

também incluiu a elaboração denormas que definem as práticasculturais permitidas, recomendadase proibidas na PI, além da criaçãode um sistema de certificação parao Brasil. Hoje, cerca de 50% da maçãproduzida no País e em SantaCatarina são cultivados de acordocom essas normas.

A Estação Experimental deCaçador também conduz a primeiraexperiência brasileira de PI detomate de mesa. Nas unidades deobservação instaladas em pro-

priedades, os frutos são saudáveis egraúdos, o custo de produção é menore a produtividade é superior à dosistema convencional. Na adubação,foi possível reduzir o insumo em até50%. “O alerta para controle darequeima diminuiu em 54% o uso defungicidas. Com a manchabacteriana, estamos pesquisando umsistema que, aliado a medidas comocondução em tutoramentoverticalizado e plantio direto, é capazde reduzir em 50% o uso deagrotóxicos”, destaca o pesquisadorWalter Becker.

O tomate da PI tem maiorlongevidade, com menor perda depeso e frutos mais sadios após aarmazenagem em câmara fria ouprateleira. No próximo ano inicia otreinamento de agricultores, técnicose extensionistas e em 2011 começa acertificação da produção.

A banana também segue essecaminho. “Estamos trabalhando paragerar, adaptar e fornecer recursosgenéticos, mudas certificadas,tecnologias de manejo e conservaçãodo solo, monitoramento de pragascom sistemas de previsão, análise deresíduos, assistência técnica, além deum sistema de rastreabilidade daprodução”, conta Robert Harri Hinz,

Estudos permitiram introduzir cultivo comercial de vieiras no Estado

Tecnologia de conservação ampliou mercado para frutas catarinenses

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Experimental de Urussanga foramselecionadas oito cultivares com baseem fatores como produtividade,adaptação ao clima e resistência àsigatoka, uma das principaisameaças à bananicultura cata-rinense. Há também um estudo sobreo manejo da cultivar Enxerto, que éa mais utilizada na região, mas ésuscetível à sigatoka. A Estaçãodisponibiliza, anualmente, cerca de500 mudas para cultivo agroecológicoaos produtores do litoral sul, ondeessa atividade envolve 39 famílias eabrange 130 hectares.

Também é da Epagri a primeirapesquisa de que se tem registro noBrasil para produção agroecológicade cebola. O trabalho iniciou em 1994na Estação Experimental deItuporanga e em propriedades doAlto Vale do Itajaí. Em parceria comagricultores, são produzidos bulbos esementes a partir de cultivareslançadas pela Empresa. “Tambémestamos desenvolvendo técnicas paramelhorar a sanidade da lavoura, omanejo do solo e de ervasespontâneas”, conta o pesquisadorPaulo Antônio Gonçalves. Nosensaios com cultivares a pro-dutividade é de 12 a 18t/ha e aexpectativa é que ela seja ampliada.

Uma técnica de produção demudas facilita o controle de plantasespontâneas. O canteiro é cobertocom papel e, sobre ele, se distribuicomposto orgânico e se faz asemeadura. Outras novidades são ouso de coquetel de adubos verdes, aantecipação do plantio e odesenvolvimento de cultivares maisprecoces, que permitem escapar dacompetição de ervas espontâneas deverão e resultam em bulbos maiores.

Na Estação Experimental deUrussanga, pesquisas com hortaliçasorgânicas mostram a viabilidadetécnica e econômica da produçãoagroecológica desses vegetais. Nesteano, o trabalho resultou nolançamento do livro “Cultive umahorta e um pomar orgânicos:sementes e mudas para preservar abiodiversidade”.

pesquisador da Estação Experi-mental de Itajaí.

O levantamento das condiçõesnutricionais dos bananais estáreduzindo em até 30% o uso deadubos químicos. Os resultados dosistema de previsão para o controledo mal de sigatoka também sãopromissores: em Luís Alves, asbananeiras, no momento do corte docacho, apresentam de dez a 12 folhassadias e produção de 1,6 a 1,8 caixade banana por cacho contra seis a oitofolhas sadias e 1,2 a 1,4 caixa/cachonas regiões não contempladas com atecnologia. Outro destaque é oprograma para controle do moleque--da-bananeira a partir do inseticidabiológico Beauveria bassiana.

O projeto está capacitandoprodutores e técnicos e em 2010 setebananicultores serão certificados.“Toda a produção comercial debananas do Estado tem à disposiçãotecnologias preconizadas pela PI.Esse é um grande diferencial doproduto catarinense”, destacaRobert.

Com o arroz irrigado, otrabalho na área de PIenvolve práticas comopreparo adequado do solo,plantio na época re-comendada utilizandosementes certificadas emoni-toramento de pragas,doenças e plantas da-ninhas, buscando o usoracional de agrotóxicos. Oregistro das práticasutilizadas na lavoura emcadernos de campo vaipermitir a rastreabilidadeda produção e, no futuro,um selo de certificação vaiatestar a qualidade doarroz. O projeto está emfase de mobilização detécnicos e produtores.

Essa articulação com osetor produtivo é umdiferencial no trabalho comarroz irrigado. Em reu-niões, pequenos e grandesagricultores, técnicos eoutros agentes do setor

produtivo, como o Sindicato daIndústria do Arroz do Estado deSanta Catarina (Sindarroz-SC), aAssociação Catarinense dos Pro-dutores de Sementes de ArrozIrrigado (Acapsa) e cooperativas,ajudam a equipe de pesquisa a definiras prioridades do trabalho. Dessaforma, é possível planejar melhor asações, atender as demandas de formamais eficiente, otimizar tempo erecursos.

Um dos resultados disso é aimplantação, no Centro de Trei-namento de Araranguá, de uma uni-dade de desenvolvimento de pes-quisas para produção agroecológicade arroz irrigado coordenada pelaEstação Experimental de Itajaí. Aunidade, criada a partir da demandade pequenos produtores, vaipossibilitar o desenvolvimento depesquisas e a difusão de tecnologias.

Produção agroecológica

Na agroecologia, um trabalhopromissor é a produção de banana nolitoral sul do Estado. Na Estação

Primeira experiência de PI de tomate de mesa doPaís é catarinense

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Brinde ao futuro

As pesquisas da Epagri colocamSanta Catarina em posição devanguarda na produção de vinhosfinos nacionais. Equipes das EstaçõesExperimentais de Videira e SãoJoaquim trabalham na avaliação econsolidação de regiões de altitudeque vêm se destacando comoimportantes produtoras de vinhos dequalidade. “Esse trabalho já éresponsável por mais de 300 hectaresde vinhedos. Há 10 anos, a área nãoalcançava 20 hectares”, conta opesquisador Jean Pierre Rosier. Hoje,a qualidade dos vinhos finoscatarinenses os coloca em um bompatamar de concorrência diante deimportados, que chegam ao mercadobrasileiro com preços elevados.

Para impulsionar o setor, estásendo implantada a Rede Ca-tarinense de Pesquisa e Desen-volvimento em Vitivinicultura, queenvolve instituições como Epagri,Embrapa e universidades. “Asinformações geradas irão possibilitarindicações geográficas que possamser representativas de cada produtonas diferentes regiões catarinenses”,aponta Rosier.

No sul do Estado,com a fundação daAssociação dosProdutores da Uva e doVinho Goethe daRegião de Urussanga(Progoethe), em 2005, osetor entrou em umanova fase. Com oobjetivo de apostar novinho Goethe como umproduto diferenciadopara manter acompetitividade dosagricultores da região,a Estação Expe-rimental de Urussangaorganizou os pro-dutores, prestoutreinamento e iniciouuma série depesquisas. “Desen-volvemos tecnologiasde fermentação da uvaque resultaram emvinhos mais aromáticose estáveis. Outrotrabalho é a tecnologia Produção agroecológica de banana no litoral sul envolve 39 famílias

de produção do vinho licoroso da uvaGoethe”, destaca o pesquisadorEmílio Della Bruna.

O projeto também envolve aUFSC e o Serviço de Apoio às Microe Pequenas Empresas de SantaCatarina (Sebrae/SC). As instituiçõestrabalham para obter o registro deIndicação Geográfica de Procedênciapara o vinho Goethe, já que o sulcatarinense é o único local onde essauva é produzida e os vinhos sãoreconhecidos como verdadeiros“terroirs” devido às condiçõesespecíficas de clima e solo do local.

Mais segurança

A equipe do Centro deInformações de Recursos Ambientaise de Hidrometeorologia de SantaCatarina (Ciram) tem papelimportante na prevenção decatástrofes naturais. Estudos sobrefenômenos meteorológicos, análise detendências e alertas emitidos para apopulação contribuem paraminimizar os desastres no Estado.Esse trabalho também busca mitigaros efeitos das mudanças climáticas eservir de base para a adaptação deculturas importantes para SantaCatarina.

Além dos projetos próprios, aEmpresa participa de uma série deestudos, como a Simulação decenários agrícolas futuros a partir deprojeções de mudanças climáticasregionalizadas, desenvolvido pelaEmbrapa em parceria com outras 25instituições. Outro projeto é oClimasul, cuja proposta é formaruma rede de pesquisa emagrometeorologia e recursos hídricospara elaborar cenários climáticosagrícolas de culturas do sul do Brasil.

A Epagri integra, ainda, o GrupoTécnico Científico (GTC), uma equipemultidisciplinar criada pelo Governodo Estado que conta com aparticipação de mais 20 instituiçõesestaduais e federais. A missão é usara pesquisa para adotar medidaspreventivas às catástrofes naturais.A articulação com a UFSC e oInstituto Federal de Santa Catarinapara a criação de uma RedeMeteorológica no Estado, que já temrecursos garantidos pelo GovernoFederal, também promete alavancaros estudos na área.

Outro projeto de sucesso estávoltado para a segurança no mar. Atéa década de 90, os pescadorescatarinenses tinham dificuldade emsaber as condições do tempo ecorriam riscos em tempestades, com

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prejuízos por ficarem no mar além dotempo, sem planejamento. Elespediram ajuda à Epagri, quedesenvolveu pesquisas para fornecerprevisões de forma adequada paraesse público. “Para saber o tempo deantecedência com que as informaçõesdeveriam chegar aos pescadores,principalmente em casos decondições adversas, foi consideradoo tempo que a embarcação maissimples, com menor força de motor,levaria para sair do perigo. E paradefinir a melhor forma para repassaras previsões, fizemos um estudo paraadequar a linguagem técnica”,

Pesquisas com uva Goethe beneficiam produtores do sul do Estado

explica a meteorologista Marilene deLima, do Ciram.

O resultado foi o lançamento doMeteopesca, um programa deprevisão e monitoramento dascondições de tempo e mar adaptadoao setor pesqueiro. Desde o ano 2000,o Ciram envia boletins a uma basede rádio localizada em Passo deTorres, SC, que repassa as previsõesaos barcos que navegam na região.Desde a implantação do Meteopesca,os pescadores que usam o sistemanão sofreram acidentes provocadospor mau tempo no litoral do Estado.

Modernização constante

Hoje, a Epagri tem cerca de 550experimentos em andamento e umquadro de 200 pesquisadores. Paradesenvolver novas tecnologias, aEmpresa conta com recursosestaduais, além do financiamento dediversas fontes públicas e parceriascom empresas privadas. De acordocom o diretor Edson Silva, osinvestimentos do Programa deFortalecimento e Crescimento daEmbrapa (PAC Embrapa) pos-sibilitaram a modernização dainfraestrutura da Empresa e vãoproporcionar condições maisadequadas ao desenvolvimento dapesquisa nos próximos anos. “Outraação que está impulsionando o setoré o ajuste do foco de trabalho dasunidades, criando centros e equipesde pesquisa com excelência e massacrítica em áreas estratégicas paraSanta Catarina”, acrescenta.

Para garantir a competitividadedas equipes de trabalho, a Empresatem contratado profissionais commestrado e doutorado e tambémincentiva a capacitação contínua pormeio do Programa de Pós-graduação.“Essas ações melhoram acompetitividade dos pesquisadoresna captação de recursos para osprojetos”, explica Edson Silva. Aparceria com a Fundação de Apoio àPesquisa Científica e Tecnológica doEstado de Santa Catarina (Fapesc),que prevê o depósito dos recursosdiretamente na conta dospesquisadores, agilizando o processo,é outro avanço apontado pelo diretor.

No início do ano, a sanção da Leide Inovação Tecnológica, queassegura a destinação de 1% dareceita líquida estadual para seraplicado diretamente em pesquisasna Epagri, trouxe perspectivas aindamelhores. “A promulgação dessa leie a criação do Núcleo de InovaçãoTecnológica (NIT) da Empresa dãocondições para o intercâmbio depesquisadores e informações comoutras instituições, para o usoconjunto de laboratórios, entreoutras ações que nos permitem atuarno ritmo que a sociedade exige”,destaca o diretor.

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Uma ideia nascidaUma ideia nascidaUma ideia nascidaUma ideia nascidaUma ideia nascidana lavourana lavourana lavourana lavourana lavoura

Da percepção dos agricultores, somada ao trabalho daEpagri, surge uma nova tecnologia para a semeadurade coberturas de inverno

Cinthia Andruchak Freitas1

Fotos de Remi Dambrós

Semear as plantas de coberturadurante a colheita do milhosempre foi um trabalho pouco

produtivo para o agricultor AdalbertoModena, 45 anos, do município deIomerê, SC. Era preciso que outrapessoa fosse jogando as sementes so-bre as plantas de milho ainda de pé,

antes da passagem da máquinacolhedora, para que elas ficassemembaixo da palha. Quando fazia o tra-balho sozinho, ele tinha que parar amáquina, semear a cobertura em umaárea, para só depois continuar o ser-viço. “Esse processo atrasava bastan-te a colheita. Além disso, a tarefa é

cansativa porque a semente é leve eprecisa ser jogada com força”, contao agricultor.

Foi na dificuldade do dia a dia queAdalberto teve uma ideia que resul-tou em uma inovação tecnológica parafacilitar o trabalho no campo. “Há umbom tempo eu vinha pensando se não

1 Bacharel em Jornalismo, Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-5537, e-mail: [email protected].

Uma ideia nascidaUma ideia nascidaUma ideia nascidaUma ideia nascidaUma ideia nascidana lavourana lavourana lavourana lavourana lavoura

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era possível adequar a máquina paradistribuir as sementes de coberturaenquanto ela faz a colheita”, lembrao produtor.

A possibilidade de realizar pesqui-sas participativas com base em de-mandas dos agricultores utilizandorecursos do Projeto Microbacias 2 foio impulso que faltava para a ideia setornar realidade. Em 2008,Adalberto levou a sugestão para aequipe da Epagri, que elaborou umprojeto técnico para estudar a melhorsolução a ser adotada. O desafio en-volveu o extensionista Sandro Secco,do Escritório Municipal de Iomerê, oengenheiro-agrônomo Remi Dam-brós, pesquisador da Estação Expe-rimental de Videira, o agricultorAdalberto Modena e uma oficinamecânica contratada. No trabalho depesquisa participativa, a troca de in-formações e os testes permitiram che-gar a um sistema adequado para osprodutores rurais. O resultado des-se esforço conjunto foi o desenvolvi-mento de um dosador de sementesfinas que é instalado sobre a latariada colhedora de milho.

Inovação

Para fabricar o equipamento, foiusado um rotor de distribuição de se-mentes de inverno, de uso normal nassemeadoras de plantio direto, quecusta cerca de R$ 160,00. “Colocamosuma caixa de sementes em cima delee fixamos tudo na lataria dacolhedora. A essa estrutura ligamosum motor de limpador de para-brisaalimentado pela bateria do tratorpara acionar o eixo do rotor. Tambéminstalamos um eixo e uma capa mó-vel, que permitem regular o volumede sementes a ser lançado por hecta-re”, conta o pesquisador RemiDambrós.

Ao girar, o rotor joga as sementesem um tubo flexível que as transpor-ta até a saída da palha de milho dacolhedora e, daí, até o solo. As semen-tes, ao serem ejetadas com velocida-de, ficam em contato com o solo e sãocobertas pela palha, germinando sema necessidade de mobilização mecâ-nica da terra. O equipamento foi tes-tado em propriedades de Iomerê ePinheiro Preto e os agricultores apro-varam a novidade. “Em condições de

Dosador de sementes finas é instalado sobre a lataria da colhedora de milho

Produtor Adalberto Modena e agrônomo Remi Dambrós conferem aqualidade das coberturas no ponto de rolagem

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Epagri está divulgando a novidade em eventos e dias de campo parabeneficiar produtores rurais

Deslocando as canaletas do rotor é possível variar a vazão de sementes entre30 e 150kg/ha

umidade normal do solo, o resultadoficou muito bom”, conta Remi.

A caixa de sementes foidimensionada com capacidade paraaproximadamente 30kg e o equipa-mento possibilita uma vazão de 30 a150kg/ha de sementes finas. Aregulagem é feita com um simplesdeslocamento das canaletas do rotor.Isso possibilita o uso da inovação paraa semeadura de qualquer coberturade inverno, inclusive de pastagenspara o gado. “A tecnologia pode seraproveitada em máquinas de uma li-nha ou mais que sejam rebocadas portrator“, explica o pesquisador.

Uma preocupação no desenvolvi-mento do equipamento foi utilizarcomponentes baratos e que fossemencontrados com facilidade. Além dis-so, a montagem é simples e exige cor-tes e soldas que podem ser feitos emqualquer pequena oficina. O equipa-mento custou R$ 1.200,00, mas o ob-jetivo da equipe é aperfeiçoá-lo paraque o custo de fabricação fique abai-xo de R$ 600,00.

Colheita eficiente

O dosador de sementes finashumaniza o trabalho, reduz a mão deobra do agricultor e agiliza a colhei-ta. De acordo com Remi, isso é im-portante porque, por falta de tempo,muitas vezes os produtores acabam

não semeando as coberturas ou, ain-da, realizam esse processo muito tar-de. “O momento ideal para a implan-tação das coberturas é durante a co-lheita do milho, preferencialmentenos meses de março, abril e maio,para garantir boa germinação e bomdesenvolvimento das plantas e paraque elas expressem seu potencialmáximo de volume de massa no mo-mento da dessecação ou rolagem”, ex-plica.

O sistema também traz grandesvantagens para os agricultores quefazem a semeadura após a colheita domilho e a gradagem do solo para a

incorporação das sementes. “Esse pro-cesso, além de demorar mais devidoà troca de equipamentos e desloca-mentos do trator, custa mais caro peladuplicidade de operações com a má-quina na mesma área, que compactaa terra e mobiliza a camada superfi-cial do solo, tornando-o suscetível aoefeito erosivo da chuva”, explica oextensionista Sandro Secco. O uso dodistribuidor de sementes evita duasentradas da máquina na lavoura: deuma vez só, o agricultor semeia ascoberturas e colhe o milho, sem pre-cisar passar a grade.

Para Sandro, a facilidade de se-mear com o novo equipamento deveestimular ainda mais os agricultoresa plantar coberturas de inverno.“Muitos deles, pelo custo e pelo tem-po que a atividade demandava, nãofaziam nada após a colheita e deixa-vam o solo desprotegido. Essa novi-dade vai ajudar a conscientizar maisagricultores a adotar a técnica”, ex-plica o extensionista.

O equipamento também reduz oscustos de produção. Como o agricul-tor não precisa mais fazer a semea-dura manual nem gradear o solo, es-tima-se que a economia média seja deR$ 40,00 por hectare ao ano em mãode obra e horas de trator.

Economia de tempo

O agricultor Adalberto Modena fezpraticamente toda a última colheitade milho, numa área de 20ha, com onovo equipamento. Enquanto colhia,

38 Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

Proteger o solo com plantas de co-bertura traz uma série de vantagenspara o agricultor. “Elas des-compactam a camada superficial emelhoram a estrutura do solo, favo-recendo a penetração das raízes dasplantas das culturas de verão e amultiplicação de microrganismos be-néficos”, explica o pesquisador RemiDambrós, da Epagri. Segundo ele,quanto mais cedo se faz a cobertu-ra, menor é o efeito da chuva no pro-cesso erosivo, pois a palha e as co-berturas amenizam o impacto dasgotas e dificultam o escorrimen-tosuperficial da água no solo.

Os benefícios são maiores aindase o produtor fizer um consórcio deplantas. As gramíneas, como aveia,centeio e triticale, melhoram a es-trutura do solo, aumentam a quan-tidade de matéria orgânica e for-mam uma boa cobertura de palhaimpedindo que haja grande variaçãotérmica nos períodos mais quentes,quando o milho está na fase de cres-cimento, floração e formação degrãos. Já o nabo-forrageiro rompecamadas compactadas do solo e res-gata nutrientes a até 1 metro de pro-fundidade. A ervilhaca, umaleguminosa, retira o nitrogênio do arpor meio de bactérias fixadoras pre-sentes nas raízes e o disponibilizapara as culturas de verão.

O invento utiliza materiaisbaratos e encontrados comfacilidade:- dosador para sementes finas tipoestriado;- caixa de sementes com tampa (ca-pacidade para 25 a 30kg);- motor elétrico de limpador depara-brisa de caminhonete ou ca-minhão;- capa metálica conectando o eixodo motor com o eixo do rotor dassementes;- parafuso com rosca para regulare fixar o eixo do rotor de sementes;- suporte do motor elétrico;- tubo flexível para ligar a saída dassementes ao ejetor de palha;- cabo elétrico de 2m de compri-mento;- interruptor da corrente elétricada bateria até o motor elétrico;- 2 agarradeiras para conectar ospolos da bateria.

A equipe da Epagri está prepa-rando um prospecto para descre-ver o processo de montagem.

Nabo-forrageiro rompe camadascompactadas do solo e resgatanutrientes a até 1 metro deprofundidade

Cobertura verde melhora a produção

Semeadura de consórcio deplantas fica uniforme com o novoequipamento

Componentes doequipamento

ele semeou um coquetel de aveia(70kg), ervilhaca (7kg) e nabo--forrageiro (3kg), totalizando 80kg/ha.Como as sementes estavam mistura-das na caixa, foi possível fazer umasemeadura uniforme.

Com o novo sistema, Adalbertolevou cerca de 40% menos tempo parafazer o mesmo trabalho. “Agora, umapessoa basta para fazer o serviço.Enquanto a máquina descarrega omilho, eu abasteço o dosador com assementes de cobertura. Não percomais tempo”, conta o agricultor. Oresultado, para ele, não poderia sermais satisfatório: a cobertura estábem nascida e ficou até melhor do queantes, porque o cultivo está mais uni-forme. “Quando o vento soprava, agente não conseguia alcançar todos oscantos com a semeadura a lanço”,compara.

Num dia de campo realizado emjunho, os produtores de Iomerê pu-deram avaliar de perto o funciona-mento do equipamento, a distribuiçãodas sementes no solo, a cobertura coma palha do milho colhido e o estabele-cimento das culturas de aveia,ervilhaca e nabo-forrageiro no solo.

Eles aprovaram a novidade e fizeramsugestões para aprimorar o sistema,tornando-o mais simples e reduzindocustos. “Os agricultores sugeriramque fossem mais bem dimensionadosos componentes do sistema elétrico eo direcionamento da saída da palha edas sementes da máquina”, informaRemi Dambrós. Além disso, os pro-dutores apresentaram à equipe daEpagri o desafio de adaptar atecnologia para colhedoras automo-trizes.

Um acordo firmado entre produ-tor, diretoria da Associação de De-senvolvimento da Microbacia Rio SãoPedro de Iomerê, técnicos e o fabri-cante da colhedora permitiu que ainovação ficasse de domínio público.Dessa forma, qualquer agricultor po-derá construir o equipamento sem opagamento de direitos a ninguém. “Oobjetivo da pesquisa participativa é queo conhecimento gerado na comunidadefique de posse dos agricultores”, justi-

ficam os autores do trabalho.Além de divulgar a novidade em

eventos e dias de campo, a equipe daEpagri está preparando um prospectopara descrever o processo de montagemdo equipamento para beneficiar aindamais produtores rurais com atecnologia. Para o agricultor Adalberto,a maior satisfação é ver a ideia funcio-nando e trazendo resultados. “Estoubastante gratificado em ver que minhasugestão vai ajudar muita gente”, de-clara.

Mais informações sobre a inovação com opesquisador Remi Dambrós, da EstaçãoExperimental de Videira, pelo fone: (49)3566-0054 ou pelo e-mail: [email protected], e com o extensionistaSandro Secco, do Escritório Municipal deIomerê, pelo fone: (49) 3539-6003 ou peloe-mail: [email protected].

39Agropecuária Catarinense, v.22, n3, nov. 2009

Já está em tramitação naAssembleia Legislativa de San-ta Catarina o Projeto de Lei no

0423/2009, que institui a Política Es-tadual de Serviços Ambientais e criao Programa Estadual de Pagamentopor Serviços Ambientais. O PL, en-caminhado pelo Poder Executivo nodia 13 de outubro, foi criado por umaComissão Técnica integrada por doisrepresentantes da Epagri: o diretorCarlos Leomar Kreuz e o geógrafoEverton Vieira, pesquisador daEpagri/Centro de Informações de Re-cursos Ambientais e de Hidro-meteorologia (Ciram). O grupo con-tou, ainda, com membros das Secre-tarias de Estado da Fazenda, da Agri-cultura e Desenvolvimento Rural, doDesenvolvimento Econômico Susten-tável, da Fundação de Meio Ambien-te (Fatma) e da Polícia MilitarAmbiental.

A proposta, que regulamenta oartigo 288 do Código Estadual doMeio Ambiente (Lei nº 14.675/09), criatambém o Fundo Estadual de Paga-mento por Serviços Ambientais, defi-

nindo possíveis fontes dos recursos.Antes de ir à votação em plenário, oProjeto será submetido à avaliaçãodas Comissões de Constituição e Jus-tiça, Turismo e Meio Ambiente, Fi-nanças e Tributação e de Agriculturae Política Rural.

Segundo avaliação de Kreuz, aparticipação da Epagri na elaboraçãodo PL foi importante porque a Em-presa terá participação fundamentalna aplicação da Lei. "A Epagri terá opapel de detectar as áreas mais pro-blemáticas, prioritárias para a políti-ca de pagamento por serviçosambientais, isso porque conhece todoo Estado e trabalha com base no con-ceito de microbacias, que possibilitaa preservação de todo um ecossiste-ma", destaca.

Serviços ambientais são aquelesoferecidos pelos ecossistemas, comoregulação de gases (produção de oxi-gênio e sequestro de carbono), conser-vação da biodiversidade, proteção desolos, regulação das funções hídricase belezas cênicas. "Entretanto, é pre-ciso deixar claro que quem presta os

serviços ambientais é o meio ambien-te, sendo papel dos seres humanos ga-rantir as condições ambientais míni-mas para que esses serviços existam",esclarece Everton Vieira.

Depois de participar de diversoseventos nacionais e internacionaissobre o assunto, Vieira usou esse co-nhecimento para apoiar a elaboraçãodo PL, tendo como base experiênciaspositivas aplicadas no Brasil e no ex-terior. Os Estados de Espírito Santo,Minas Gerais e São Paulo já pagampor serviços ambientais que vêmapresentando bons resultados. CostaRica, México e Equador aplicam essapolítica há anos e comprovaram a efi-ciência do mecanismo em compara-ção com métodos usuais delicenciamento e fiscalização.

Pesquisas na área

A Epagri/Ciram montou um gru-po multidisciplinar para estudar osserviços ambientais envolvendo enge-nheiros-agrônomos, engenheiros sani-

Produtores catarinenses podem se beneficiar com aaprovação da lei que prevê pagamento pela preservaçãode recursos naturais

Gisele Dias1

1 Bacharel em Jornalismo, Epagri/Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia (Ciram), C.P. 502,88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3239-8001, e-mail: [email protected].

Serviços ambientais: alternativaServiços ambientais: alternativaServiços ambientais: alternativaServiços ambientais: alternativaServiços ambientais: alternativapara a agricultura familiarpara a agricultura familiarpara a agricultura familiarpara a agricultura familiarpara a agricultura familiarServiços ambientais: alternativaServiços ambientais: alternativaServiços ambientais: alternativaServiços ambientais: alternativaServiços ambientais: alternativapara a agricultura familiarpara a agricultura familiarpara a agricultura familiarpara a agricultura familiarpara a agricultura familiar

40 Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

taristas ambientais, uma engenheiraflorestal, um geógrafo, entre outrospesquisadores. O objetivo é realizarpesquisas e estudos para desenvolvermetodologias para aplicação dos con-ceitos de serviços ambientais. O gru-po também vai elaborar técnicas devaloração desses serviços, além deidentificar e caracterizar as áreasprioritárias em Santa Catarina paraimplantação da política.

Um projeto para estudar a viabi-lidade de implantação de pagamentopor serviços ambientais na Vargem doBraço, localidade do município deSanto Amaro da Imperatriz, já estáconcluído. Também conhecida comomanancial de Pilões, a área é respon-sável pelo abastecimento de água acerca de 700 mil moradores da Gran-de Florianópolis. O projeto, que ain-

da busca fontes financiadoras, preten-de realizar um diagnóstico desse ma-nancial por meio do monitoramentoqualitativo-quantitativo das águasdos rios, propondo o ordenamento dasatividades e apontando indicadorespara a implantação de um programade pagamento de serviços ambientaisna localidade.

A área é ocupada por produtoresrurais lá instalados há gerações, pro-duzindo hortaliças, tomate e grãos,sempre no sistema familiar. São cer-ca de 100 propriedades rurais e, des-sas, aproximadamente 40 a 50 sãofamílias tradicionais. Algumas propri-edades são utilizadas por arrendatá-rios e outras por sitiantes para finsde lazer.

O agricultor Hélio Voges faz parteda quarta geração de uma família que

Nova Iorque é exemplo

Um exemplo clássico de paga-mento por serviços ambientais vemda cidade de Nova Iorque, EUA.Lá, os produtores rurais que pos-suem propriedades a um raio deaté 20km de distância da cidade re-cebem incentivos financeiros paraadotar práticas menos intensivas,reflorestar áreas ou construir sis-temas para armazenar estrume,tudo com o objetivo de preservar aregião de mananciais e garantirágua limpa para consumo.

O projeto, que já tem 20 anos,é considerado emblemático nãoapenas pelos resultados práticosalcançados, mas também porquereduziu a conta da água para osconsumidores da cidade. "Ao inves-tir na proteção dos mananciais, aadministração pública conseguiudiminuir o custo final, uma vez queagora se gasta menos com o pro-cesso de tratamento da água paradeixá-la adequada ao consumo hu-mano", relata o pesquisadorEverton Vieira.

Serviços que podem ser remunerados

- Sequestro de carbono, que acontece quando árvores ou vegetais ab-sorvem o carbono da atmosfera durante o crescimento: uma indústria quenão consegue reduzir suas emissões de carbono na atmosfera paga paraque produtores rurais possam plantar e manter árvores.

- Proteção da biodiversidade: uma fundação paga para que comunida-des protejam e recuperem áreas para criar um corredor biológico (ou eco-lógico).

- Proteção de bacias hidrográficas: os usuários rio abaixo pagam paraque donos de propriedades rio acima adotem usos da terra que limitem odesmatamento, a erosão e os riscos de enchente.

- Beleza cênica: uma empresa de turismo paga para que uma comuni-dade local não realize caça em floresta usada para turismo de observaçãoda vida silvestre.

sempre subsistiu do que tirou da ter-ra produtiva da Vargem do Braço.Atento às peculiaridades ambientaisda região, ele optou pela agriculturaorgânica e formou uma associação quehoje reúne oito proprietários da loca-lidade.

Voges já mantém uma faixa míni-ma de mata ciliar na propriedade ealimenta as saracuras com ração paraevitar ataques à plantação. "Foi o jei-to de conviver homem e natureza",conta o produtor, que afirma haverconsciência ecológica entre os mora-dores da Vargem do Braço. Contudo,ele reclama que é preciso que os en-tes públicos apresentem soluções paraque a população da região possa con-tinuar subsistindo da terra sem afe-tar a qualidade da água consumidana Grande Florianópolis.

Ele conheceu o projeto do pesqui-sador da Epagri/Ciram e acredita queessa seja uma das soluções possíveispara a localidade. "Será bom porquepoderemos provar que não contami-namos a água e, no caso de haver con-taminação, poderemos saber onde elaestá para corrigir", afirma.

Agricultor Hélio Voges aposta no pagamento por serviços ambientais comosolução viável para a região da Vargem do Braço

41Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

Confrei: veneno e remédioConfrei: veneno e remédioConfrei: veneno e remédioConfrei: veneno e remédioConfrei: veneno e remédioConfrei: veneno e remédioConfrei: veneno e remédioConfrei: veneno e remédioConfrei: veneno e remédioConfrei: veneno e remédio

Andrey Martinez Rebelo1 , Antônio Amaury Silva Júnior2 e Klaus Konrad Scheuermann3

O confrei, Symphytumofficinale L., é uma plantaherbácea perene da família

Boraginaceae, originária da Ásia eEuropa, muito utilizada como plantaornamental em jardins, assim comona medicina.

Uso popular

Utilizado popularmente há maisde 2 mil anos em diversos locais domundo, o confrei é empregado exter-namente como anti-inflamatório,cicatrizante, antipsoríase, emolientee adstringente. Suas folhas são utili-zadas em lesões de tendões, fraturas,escoriações e hematomas (Rode,

2002). O confrei também é rico emmuitos nutrientes como proteínas,antioxidantes, vitaminas (B12), e éum componente comum na dieta decertos grupos étnicos (Rode, 2002). Ochá da planta tem sido indicado paraalívio das infecções gastrintestinais,tosse, bronquite e irregularidadesmenstruais. As raízes moídas, coloca-das sobre ferimentos abertos, apre-sentam propriedades aceleradoras decicatrização.

Nos anos 80 foram atribuídas aoconfrei propriedades quase quemiraculosas na cura de doenças gra-ves como leucemia e outros tipos decâncer. Nessa época, a legislação so-bre os fitoterápicos estava em fase de

elaboração e os estudos toxicológicosnão eram obrigatórios. Com o adven-to das leis relacionadas à aprovaçãode fitoterápicos, estas exigiram a re-alização de testes toxicológicos. As-sim, no início da década de 90, forampublicados vários trabalhos científi-cos mostrando que o chá do confreipossui toxinas capazes de induzir acâncer no fígado. Em 1992 o Ministé-rio da Saúde publicou uma portariaproibindo a venda e prescrição demedicamentos à base de confrei parao uso interno. No uso externo, comocicatrizante, no entanto, tem-se mos-trado eficaz e de baixa toxicidade.

1 Farm. ind., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone: (47) 3341-5244, e-mail:[email protected] Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, e-mail: [email protected] Eng.-agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, e-mail: [email protected].

42 Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

Identificação da espécie(fitologia)

Planta herbácea cespitosa, vivaz,que atinge 0,3 a 1,20m de altura. Cau-le ereto, ramoso, oco, áspero, angulo-so e alado. Folhas (Figura 1) ovado--agudas ou oblongo-lanceoladas,longamente decorrentes, acumina-das, levemente onduladas, decrescen-tes da base para o ápice, áspera epilosa. As folhas superiores sãosésseis, enquanto as demais são mais

pecioladas quanto mais próximas dosolo, podendo atingir 20 a 25cm decomprimento.

As flores podem ser grandes,brancas, violáceas, amarelas ou rosa-das, tubulosas, infundibuliformes,pêndulas e são dispostas no ápice dosramos em cimeiras geminadas curtase escorpioides (Figura 2).

O florescimento ocorre de outubroa dezembro. O fruto é composto dequatro aquênios negros, lisos evernicosos. O rizoma é grosso e asraízes, fusiformes e fasciculadas (Fi-gura 3). A raiz é escura externamen-te e alva internamente, adocicada eum pouco adstringente.

Agrotecnologia

Clima: originária de clima tempe-rado, mas adapta-se aos subtropicaise até aos tropicais. É higrófita e tole-ra a meia-sombra.

Solo: Cresce melhor em solos ri-cos em matéria orgânica, soltos e comum bom teor de umidade, mas toleraos períodos de seca. É nitrófila.

Espaçamento: 0,8 x 0,6m.Propagação: divisão de touceiras,

estacas e pedaços de rizomas da plan-ta matriz. Pode também ser feita a

microestaquia dos rizomas. Utilizam--se substratos leves e porosos para oenraizamento (casca de arroz tosta-da, vermiculita, areia).

Nutrição: a planta desenvolve-semelhor quando suprida com nitrogê-nio e cálcio.

Adubação: 2 a 3kg/m2 de cama deaviário ou composto orgânico e100g/m2 de fosfato natural, no plan-tio. Após cada corte de folhas, aplicar0,5kg/m2 de composto orgânico.

Plantio: deve coincidir com o perí-odo crescente de temperatura e umi-dade.

Colheita: As folhas são colhidas acada 2 meses, a partir de 1 ano decultivo, na primavera e no verão. Asraízes e os rizomas são coletados só

após o quarto ano, do final do outonoaté o final do inverno. Podem ser fei-tas até seis colheitas ao ano. Para seevitar o efeito irritante dapubescência das folhas, as mãos e ocorpo devem estar protegidos por oca-sião da coleta.

Rendimento: uma planta produzcerca de 150 folhas por ano.

Secagem: 40 a 45oC.Renovação: embora a raiz da plan-

ta sobreviva até 40 anos de idade, acultura deve ser renovada a cada 5 a

6 anos.Produção de se-

mentes: não se cons-tatou a formação desementes viáveis.

Fitoquímica

Seus principaiscomponentes são aalantoína e o ácidorosmarínico (Duke,2002). Além desses,são encontradosalcaloides pirroli-zidínicos, como acetilintermidina e acetillicopsamina (Dewick,2002), e nitratos(Cooper & Johnson,1984), que podem serresponsáveis pelahepatotoxicidade emruminantes que sealimentam de sila-gem contendo excesso

de confrei (Wilkinson, 2003).Existem muitas plantas do gêne-

ro Symphytum que são confundidascom o confrei. Nelas podemos encon-trar diferentes alcaloides pirroli-zidínicos, como intermedina,licopsamina, acetil intermedina,acetil licopsamina, simlandina,simfitina e quimidina. No entanto,quase todos (85% a 97%) os alcaloidespirrolizidínicos do confrei verdadeirode origem americana são monoésteresde retronecina. Em contrapartida,confrei russo (Symphytum Nymuplanidicum x) contém uma elevadaproporção do diéster retronecina, for-ma ligeiramente mais tóxica(Muetterlein & Arnold, 1993).

Figura 1. Textura da folha e pecíolo do confrei (S. officinalis)

43Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

Uso comprovado

Pode ser utilizado como adubo or-gânico, tanto como adubo ver-de como matéria-prima nacompostagem. Com algumasrestrições, pode ser utilizadocomo forrageira para ensilageme posterior utilização na ali-mentação animal (Wilkinson,2003).

No mercado, podem-se en-contrar pomadas à base deconfrei que são indicadas paratratamento de ferimento, ulce-rações, queimadura por fogo,água quente ou sol (Matos,1994).

Toxicologia

Apesar de sua comprovadaação em aplicações externas, oconfrei possui alcaloidespirrolizidínicos, que são com-postos conhecidos comohepatotóxicos, o que leva mui-

Figura 2. Flor do confrei (S. officinalis)

tos países a restringir sua disponibi-lidade (Rode, 2002). Vários trabalhostêm demonstrado que o confrei ofere-

ce riscos quando ingerido ou utiliza-do em tratamentos internos, como úl-ceras gástricas e problemas intesti-nais (Stickel & Seitz, 2000). A Foodand Drug Administration (FDA), dosEstados Unidos, sugeriu a remoção detodos os produtos à base de confrei.No Reino Unido a Agência de Contro-le Médico (MCA) incluiu o confrei nalista de produtos que devem ser ven-didos apenas com receita médica. NoCanadá e na Alemanha o confrei foilimitado à formulação de uso exter-no, assim como no Brasil (Brasil,1992).

Embora não tenha havido relatosrecentes de reação adversa ao confrei,vários casos de doença veno-oclusivaassociados com ingestão do confreiforam relatados (Stickel & Seitz,2000).

Apesar de os trabalhos de pesqui-sa não elucidarem definitivamentequestões sobre a toxicidade do confreivia oral em humanos, a presença dealcaloides pirrolizidínicos indica apossibilidade de distúrbios hepáticos.Contudo, testes em animais não sãorepresentativos neste caso, sendo ne-cessário fazer testes em humanos(Rode, 2002).

Dietas pobres em proteínas real-çam os efeitos tóxicos dos alcaloidespirrolizidínicos (Schoental, 1968).Felizmente, a folha de confrei seco é

Figura 3. Raízes do confrei (S. officinalis)

44 Agropecuária Catarinense, v.22, n.2, jul. 2009

rica em proteínas (35%). A maioriados estudos de toxicidade examinoua resposta à administração dealcaloides pirrolizidínicos purificados.Esses estudos provavelmente acabamexagerando o risco para a saúde as-sociado à ingestão da planta inteirade confrei (Rode, 2002).

Pesquisa em andamentona Epagri

Trabalhos desenvolvidos porKaravaev et al. (2001) demonstraramque o extrato aquoso de confrei inibea germinação de conídios de Oidiummonilioides e uredósporos dePuccinia graminis, causadores dooídio e da ferrugem do colmo do tri-go, respectivamente. Em função des-ses resultados, além dos efeitosantissépticos já conhecidos do confrei,pesquisadores da Epagri/Estação Ex-perimental de Itajaí estão iniciandoestudos visando avaliar a eficiênciado extrato de confrei para o controleda brusone, principal doença da cul-tura do arroz. Com esse trabalho, quetambém avalia outras espécies deten-toras de propriedades antimi-crobianas, espera-se identificar com-postos com potencial uso para o con-

trole de doenças de plantas que re-sultem em menor impacto ambiental.

Literatura citada

1. BRASIL. Ministério da Saúde. Secre-taria Nacional de Vigilância Sanitária.Portaria SNVS n. 19 de 30.01.92. Pro-íbe o uso de confrei (Symphytumofficinale L.) em preparações para usointerno, 1992.

2. COOPER, M.R.; JOHNSON, A.W.Poisonous plants in britain and theireffects on animals and man. ReferenceBook 161. London, UK: HMSO, 1984.305p.

3. DEWICK, P.M. Medicinal naturalproducts: A biosynthetic approach. 2.ed. Chichester, UK: John Wiley &Sons, 2002.

4. DUKE, J.A. Chemicals and theirbiological activities. In: Symphytumofficinale L. (Boraginaceae) – Comfrey.Phytochemical Database, USDA–ARS-NGRL. Beltsville, MD, USA:Beltsville Agricultural ResearchCenter, 2002.

5. KARAVAEV, V.A.; SOLNTSEV, M.K.;YURINA, T.P. et al. Antifungal activity

of aqueous extracts of the leaves ofcowparsnip and comfrey. BiologyBulletin of the Russian Academy ofSciences, v.28, n.4, p.365-370, 2001.

6. MATOS, F. J. A. Farmácias vivas: sis-temas de utilização de plantas medici-nais projetada para pequenas comu-nidades. 2.ed. Fortaleza: Ed. da UFC,1994. 268p.

7. MUETTERLEIN, R.; ARNOLD, C.G.Investigations concerning the contentand the pattern of pyrrolizidinealkaloids in Symphytum officinale L.(comfrey). Pharmazeutische Zeitung,v.138, p.119–125, 1993.

8. RODE, D. Comfrey toxicity revisited.Pharmacological Sciences, v.23, n.11,p. 497-499, nov. 2002.

9. SCHOENTAL, R. Toxicology andcarcinogenic action of pyrrolizidinealkaloids. Cancer Research, v.28, n.11,p.2237–2246, 1968.

10. STICKEL, F.; SEITZ, H.K. Theefficacy and safety of comfrey. PublicHealth Nutrition, v.3, p.501-508, 2000.

11. WILKINSON, J.M. A laboratoryevaluation of comfrey (Symphytumofficinale L.) as a forage crop forensilage. Animal Feed Science andTechnology, v.104, n.1, p.227–233,2003.

45Agropecuária Catarinense, v.22, n.2, jul. 2009

Seção Técnico-científicacatarinense

OEpagriEpagri

* Aspectos técnicos sobre resistência de plantas daninhas a herbicidas...................................................46Alvadi Antonio Balbinot Junior e Michelangelo Muzell Trezzi

* Redução do uso de adubos minerais e agrotóxicos na cultura da cebola em Santa Catarina.................50Paulo Antonio de Souza Gonçalves, Claudinei Kurtz e João Américo Wordell Filho

* Biometria testicular de touros da raça Crioula Lageana............................................................................53Cristina Perito Cardoso, Edison Martins, Vera Maria Villamil Martins e Antonio de Pinho Marques Júnior

* Efeito de rizobactérias em sementes e mudas de cebola..........................................................................59Oscar Emílio Ludtke Harthmann, Átila Francisco Mogor, João Américo Wordell Filho e Wilmar Cório da Luz

* Qualidade da forrragem de gramíneas anuais de inverno e de verão com adubação nitrogenada eesterco de suínos........................................................................................................................................64Elói Erhard Scherer e Cristiano Nunes Nesi

* Efeito da altura de corte na ramificação e produtividade do vimeiro no Planalto Sul Catarinense .......70Tássio Dresch Rech, Flávio Zanette, Dieter Brandes, Mari I. Carissimi Boff e Luiz Gustavo Willes Della Mea

* Antropodofauna associada aos citros em Chapecó, SC............................................................................75Luís Antônio Chiaradia e José Maria Milanez

* Produtividade do tomate, cultivar Carmen, influenciada por espaçamentos entre plantas e número dehastes por planta.........................................................................................................................................81Siegfried Mueller e Anderson Fernando Wamser

* Infestação de Tetranychus ogmophallos em plantas de amendoim: primeiro registro em Santa Catarina.....85Luís Antônio Chiaradia e Volmir Pinto de Oliveira

* Avaliação de um sistema de previsão para a mancha bacteriana (Xanthomonas spp.) do tomateiro...........87Leandro Luiz Marcuzzo, Walter Ferreira Becker e José Mauricio Cunha Fernandes

* Normas para publicação na Revista Agropecuária Catarinense (RAC) ....................................................90

Informativo técnico

Artigo científico

Nota científica

Normas para publicação

46 Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

Alvadi Antonio Balbinot Junior1 e Michelangelo Muzell Trezzi2

Aceito para publicação em 31/7/09.1Eng.-agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, C.P. 216, Canoinhas, SC, 89460-000, fone: (47) 3624-1144, e-mail:[email protected]., Dr., Universidade Tecnológica Federal do Paraná/Campus Pato Branco, Via do Conhecimento, km 1, 85503-390 Pato Branco,PR, fone: (46) 3220-2511, fax: (46) 3220-2500, e-mail: [email protected].

Nome científico Nome comum Ano Mecanismo de ação do herbicidaEuphorbia heterophylla Leiteira 1992 Inibidor da ALSBidens pilosa Picão-preto 1993 Inibidor da ALSBidens subalternans Picão-preto 1996 Inibidor da ALSBrachiaria plantaginea Papuã 1997 Inibidor da ACCaseEchinochloa crus-galli Capim-arroz 1999 Auxinas sintéticasEchinochloa crus-pavonis Capim-arroz 1999 Auxinas sintéticasSagittaria montevidensis Sagitária 1999 Inibidor da ALSCyperus difformis Junquinho 2000 Inibidor da ALSFimbristylis miliacea Cuminho 2001 Inibidor da ALSRaphanus sativus Nabo 2001 Inibidor da ALSDigitaria ciliaris Milhã 2002 Inibidor da ACCaseEleusine indica Capim-pé-de-galinha 2003 Inibidor da ACCaseLolium multiflorum Azevém 2003 GlicinasEuphorbia heterophylla(resistência múltipla) Leiteira 2004 Inibidor da ALS / Inibidor da ProtoxParthenium hysterophorus Losna-branca 2004 Inibidor da ALSConyza bonariensis (soja) Buva 2005 GlicinasConyza bonariensis (citrus) Buva 2005 GlicinasConyza canadensis Buva 2005 GlicinasEuphorbia heterophylla(resistência múltipla) Leiteira 2006 Glicinas / Inibidor da ALSEuphorbia heterophylla Leiteira 2006 Inibidor da ALS

Digitaria insularis Milhã 2008 Glicinas

Tabela 1. Espécies com populações de plantas daninhas resistentes a herbicidas detectadas no Brasil até agostode 2008

Fonte: Heap, 2008.

Em nível mundial, a extensãode áreas agrícolas infestadascom plantas daninhas

resistentes está aumentando emritmo elevado (Heap, 2008). NoBrasil, o primeiro relato deresistência a herbicida ocorreu em1992 e, desde então, foramregistrados 23 biótipos resistentes(Tabela 1) (Heap, 2008).

É frequente a confusão entre ostermos “resistência” e “tolerância”.Resistência é a capacidade inerentee herdável de alguns biótipos, dentrode uma determinada população, desobreviver e se reproduzir após aexposição à dose de um herbicida quenormalmente seria letal a essapopulação. Já a tolerância é umacaracterística inata da espécie ou

biótipo em sobreviver a aplicações deherbicidas na dose recomendada, queseria letal a outras espécies, semalterações marcantes em seucrescimento e desenvolvimento(Christoffoleti & Ovejero, 2008).

O objetivo deste trabalho édiscutir alguns aspectos relacionadosà resistência de plantas daninhas aherbicidas, bem como expor as

Aspectos técnicos sobre resistência de plantasAspectos técnicos sobre resistência de plantasAspectos técnicos sobre resistência de plantasAspectos técnicos sobre resistência de plantasAspectos técnicos sobre resistência de plantasdaninhas a herbicidasdaninhas a herbicidasdaninhas a herbicidasdaninhas a herbicidasdaninhas a herbicidas

47Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

Figura 1. Leiteira (Euphorbia heterophylla) com resistência múltipla a herbicidasinibidores da ALS e Protox (vaso da esquerda)

principais práticas para prevenção econtrole dessas plantas.

Origem da resistência

Resistência é considerada umaestratégia de sobrevivência daspopulações de organismos vivos. Aresistência implica a existência dedois pressupostos: variabilidadegenética e agentes selecionadores. Aspopulações de plantas daninhasapresentam diferentes graus devariabilidade genética, fruto doprocesso evolutivo, que abrangefenômenos importantes comomutações, fluxo gênico erecombinação gênica. Característicasgenéticas que determinam aresistência de plantas daninhas aherbicidas podem ter origem emmutações e em genes preexistentesna população, cujos alelos deresistência se encontram em baixafrequência na população original, nãosubmetida à ação dos herbicidas(Maxwell & Mortimer, 1994).Segundo a teoria da seleção naturalde Darwin, somente os indivíduosmais aptos a um determinadoambiente sobrevivem. Aplicações deum determinado herbicida por váriasgerações em uma determinadapopulação de plantas daninhasselecionam os indivíduos aptos asobreviver a esse herbicida(indivíduos resistentes), enquanto osnão adaptados morrem, ou seja, oherbicida atua como agente deseleção (Christoffoleti & Ovejero,2008).

À luz do conhecimento atual, osherbicidas não são consideradosagentes mutagênicos, ou seja, por sisó não induzem ao aparecimento deplantas daninhas resistentes, masselecionam as que apresentamalguma característica que lhesconfere a habilidade de sobreviver,mesmo sob exposição a herbicidasque matam outros indivíduos da suaespécie (Christoffoleti & López-Ovejero, 2003).

Em uma análise ampla, existemalguns fatores que intensificam aresistência: frequência elevada dealelos de resistência na população de

plantas daninhas; densidade elevadade plantas daninhas; número elevadode aplicações de um herbicida emuma mesma área e inexistência derotação de princípios ativos comdiferentes mecanismos de ação(Christoffoleti & Ovejero, 2008).

Tipos de resistência

A resistência pode ser simples,cruzada e múltipla. Quando umbiótipo apresenta resistência a umadeterminada molécula herbicida deforma isolada, trata-se de resistênciasimples.

A resistência cruzada ocorrequando um biótipo é resistente a doisou mais herbicidas com o mesmomecanismo de ação. Por exemplo,foram identificados biótipos de papuã(Brachiaria plantaginea) resistentesa vários herbicidas cujo mecanismode ação é a inibição da enzima Acetil-CoA carboxylase (ACCase) (Gazzieiroet al., 1997). A resistência múltipla,por sua vez, ocorre quando umbiótipo apresenta resistência aherbicidas com diferentes me-canismos de ação ao mesmo tempo.Por exemplo, no Brasil, foiidentificado um biótipo de leiteira(Euphorbia heterophylla) que possui

resistência a herbicidas inibidores daAcetolactato sintaxe (ALS) e daProtoporfirinogênio oxidase (Protox),de forma concomitante (Trezzi et al.,2006) (Figura 1).

Mecanismos deresistência

Existem três mecanismos bio-químicos básicos que podem serresponsáveis pelo desenvolvimentoda resistência: perda de afinidade doherbicida pelo local de ação naenzima, metabolismo e detoxificaçãodo herbicida e redução daconcentração do herbicida no local deação.

Perda de afinidade do her-bicida pelo local de ação naenzima: muitos herbicidas agemsobre determinadas enzimas deplantas daninhas. Para que issoocorra, há necessidade de ligação damolécula herbicida à enzima emsítios específicos. Se ocorreremmudanças de composição deaminoácidos no sítio de ligação, podehaver perda de afinidade entreherbicida e enzima, o que ocasionaausência de ação fitotóxica. Hámuitos exemplos de resistênciaobtida por esse mecanismo,

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Figura 2. Lavoura de soja infestada com leiteira (Euphorbia heterophylla) com resistência múltipla aos herbicidas inibidoresda ALS e Protox

especialmente no caso de herbicidasinibidores das enzimas ACCase eALS, inibidores do Fotossistema II einibidores da formação de tubulina.Exemplos deste mecanismo deresistência observados no Brasil:picão-preto (Bidens pilosa)(Christoffoleti, 1997) e leiteira(Vargas et al., 1999), resistentes aosherbicidas inibidores da ALS; papuã(Cortez, 2000) e capim-pé-de-galinha(Eleusine indica) (Vidal et al., 2006),resistentes aos inibidores da ACCase.Esse mecanismo de resistência épouco influenciado pelo ambiente.

Metabolismo e detoxificaçãodo herbicida: Neste mecanismo, aplanta transforma o herbicida em umcomposto não fitotóxico. Dois gruposde enzimas de plantas estãoenvolvidos diretamente nestemecanismo: monoxigenases (ci-tocromo P450) e glutationatransferase. Existem exemplos destemecanismo de resistência em váriosgrupos de herbicidas, e ele é muitoinfluenciado pelas condições doambiente e pelo estádio de

desenvolvimento das plantasdaninhas (Christoffoleti & Ovejero,2008).

Redução da concentração doherbicida no local de ação: Estaredução pode ser decorrente damenor absorção e translocação doherbicida na planta ou do sequestrodo herbicida em organelas celulares,como os vacúolos. Este mecanismo deresistência é menos comum emrelação aos demais. No Brasil, foiconfirmado que a resistência de umbiótipo de azevém (Loliummultiflorum) ao herbicida glyphosateocorre devido à menor translocaçãodesse herbicida no biótipo resistente(Ferreira et al., 2006).

Casos de resistência deplantas daninhas aherbicidas no Brasil

No Brasil, as espécies resistentesnominadas pela literatura técnica atéagosto de 2008 são apresentadas naTabela 1. A cultura da soja é a queapresenta maior número de espécies

de plantas daninhas com resistência(Christoffoleti & Ovejero, 2008)(Figura 2). É comum a confusão dediagnóstico entre aparecimento deplantas daninhas resistentes aherbicidas e falha de controle. Aseleção de indivíduo resistente ocorremesmo em situação de controlesatisfatório de plantas daninhas,restando apenas um ou algunsindivíduos vivos. Quando há controledeficiente de várias espécies deplantas daninhas na área toda, ou emparte da área, em geral, trata-se deum problema de “escape”, ou seja, defalha de controle. Isso pode decorrerde vários fatores, como doseinadequada do herbicida e ocorrênciade chuva logo após a aplicação.

Prevenção e controle deplantas daninhasresistentes a herbicidas

Em se tratando de resistência deplantas daninhas a herbicidas, amelhor alternativa é a prevenção dasua ocorrência, pois o custo da

49Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

utilização de métodos preventivos émenor do que o custo para a correçãodo problema. Na atualidade, aAustrália é um dos países queapresentam maiores problemas complantas daninhas resistentes (Heap,2008) devidos, em especial, ao baixouso de práticas preventivas.

Várias estratégias alternativasao uso de herbicidas são re-comendadas para evitar o a-parecimento ou reduzir a pro-pagação de biótipos resistentes aherbicidas. As mais importantes nocontexto da resistência são descritasa seguir.

- Uso de práticas culturais demanejo de plantas daninhas: nestecaso, sem dúvida, a prática maiseficiente é a rotação de culturas, jáque, além de reduzir a infestação deplantas daninhas, obriga a rotaçãode princípios ativos de herbicidas,reduzindo a pressão de seleção.Outra prática fundamental emsistema de plantio direto é amanutenção do solo coberto complantas e/ou palha, reduzindo ainfestação de plantas daninhas.Além disso, todas as práticasculturais que reduzem a infestaçãode plantas daninhas contribuempara a prevenção do aparecimentode biótipos resistentes a herbicidas,pois quanto menor a populaçãodessas plantas, menor aprobabilidade de aparecimento deindivíduos resistentes.

- Uso de controle mecânico,reduzindo o uso de herbicidas: estaestratégia pode ser empregada,principalmente, em áreas pequenase em culturas cujo espaçamentoentre fileiras permita esta prática,como é o caso do milho cultivado empequenas propriedades rurais.

- Utilizar herbicidas somentequando necessário, seguindo asrecomendações técnicas, prin-cipalmente a dose de aplicação.

- Realizar a rotação de herbicidascom diferentes mecanismos de ação.

- Aprimorar a tecnologia deaplicação, melhorando o nível decontrole e evitando o uso exageradode herbicidas.

- Não utilizar herbicidas com altoefeito residual desnecessariamente,pois quanto maior a meia-vida de umherbicida no ambiente, maior otempo de seleção de plantasresistentes (López-Ovejero et al.,2008).

- Observar plantas remanescentesdo controle químico e eliminá-lasantes que produzam propágulos.

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50 Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

RRRRRedução do uso de adubos minerais e agrotóxicos naedução do uso de adubos minerais e agrotóxicos naedução do uso de adubos minerais e agrotóxicos naedução do uso de adubos minerais e agrotóxicos naedução do uso de adubos minerais e agrotóxicos nacultura da cebola em Santa Catarinacultura da cebola em Santa Catarinacultura da cebola em Santa Catarinacultura da cebola em Santa Catarinacultura da cebola em Santa Catarina

Santa Catarina é o maior pro-dutor nacional de cebola. Noano agrícola 2006/07 o Estado

produziu 436.502t, em uma áreaplantada de 21.045ha, tendo produ-tividade média de 20,7t/ha (Boeing,2007). Na Região Sul do Brasil a cul-tura é caracterizada pelo uso intensi-vo de adubos minerais e agrotóxicos,com destaque para os fungicidas. Ouso de insumos em cebola represen-tou 68,80% dos custos variáveis deprodução no período compreendidoentre 1995 e 2001 (Muniz, 2003).

A redução de custos é uma opor-tunidade para aumentar a compe-

titividade da cebola catarinense. Nes-te sentido, a pesquisa da Epagri ge-rou algumas informações que contri-buem para a redução do uso deinsumos e para a produção sustentá-vel de cebola, que são relatadas nes-te informativo. Há, também, a possi-bilidade de produção orgânica (Figu-ra 1), com redução do uso de insumose aumento do valor bruto do produto.A produção orgânica necessita demaior geração de pesquisas, princi-palmente no manejo de ervas invaso-ras e intenso trabalho em extensãorural para a adoção do sistema pelosagricultores.

Adubação verde e plantiodireto

A adubação verde e o plantio dire-to na cultura da cebola (Figura 2) sãomedidas importantes para asustentabilidade produtiva porquepropiciam a melhoria das condiçõesfísicas, químicas e biológicas do solo,permitindo diminuir o uso de adubosminerais (Amado & Teixeira, 1991) ede herbicidas devido à menorinfestação de plantas invasoras(Rowe, 2006). Para adubação verdede verão são recomendadas as seguin-tes espécies e densidades de semen-tes: mucunas (Stizolobium spp.): 60a 80kg/ha; feijão-de-porco (Canavaliaensiformes (L.) DC.): 100 a 120kg/ha;crotalárias (Crotalaria spp.): 70 a90kg/ha (Epagri, 2000). Apesar deconhecer os benefícios da adubaçãoverde de verão, os produtores de ce-bola normalmente semeiam espéciesem sequência à cultura, como milhoe soja. Os adubos verdes de invernorecomendados para cebola são: aveia--preta (Avena strigosa Schreb), 60 a80kg/ha, nabo-forrageiro (Raphanussativus cv. oleiferus Metzg), 4 a6kg/ha, centeio (Secale cereale L.), 80a 100kg/ha (Epagri, 2000).

Adubação mineral

O incremento no consumo dosmacronutrientes nitrogênio, fósforo epotássio na cultura da cebola no pe-ríodo de 1994 a 2000 foi de 293%(Muniz, 2003). O uso do adubo fórmu-

Aceito para publicação em 2/9/09.1Eng.-agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Ituporanga, C.P. 121, 88400-000 Ituporanga, SC, fone: (47) 3533-1409, e-mail:[email protected]., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Ituporanga, e-mail: [email protected]., Dr., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf), C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 3361-0600,e-mail: [email protected].

Figura 1. Cebola orgânica produzida na Região do Alto Vale do Itajaí

Paulo Antonio de Souza Gonçalves1, Claudinei Kurtz2 e João Wordell Filho3

51Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

la 5-20-10 (NPK) na região deItuporanga, SC, passou, nos últimosanos, em algumas situações, de600kg/ha para mais de 1.500kg/ha,pois técnicos e agricultores contesta-vam as recomendações oficiais, acre-ditando ser necessário maior volumede nutrientes.

Os trabalhos realizados pelaEpagri apontaram que a cultura res-ponde em produtividade, principal-mente ao nitrogênio (Machado et al.,1984; Kurtz, 2008), e ao fósforo, commenor resposta para o potássio (Ma-chado et al., 1984; Gonçalves et al.,2009). Aplicações foliares de fertili-zante com alto teor de potássio (NPK:3-0-16) causaram maior incidência dapodridão de bulbos armazenados por5 meses (Wordell Filho et al., 2007).Esses trabalhos não invalidam a re-comendação oficial de adubação paraa cultura da cebola (Sociedade Brasi-leira de Ciência do Solo, 2004). Por-

tanto, é possível manter a recomen-dação oficial de adubação commacronutrientes sem prejuízos à pro-dutividade.

O uso de micronutrientes na cul-tura da cebola em pulverizaçõesfoliares tem sido frequente no AltoVale do Itajaí. Porém, trabalhos rea-lizados na região de Ituporanga nãomostram efeito do uso demicronutrientes sobre a produtivida-de da cultura. Gonçalves et al. (2004)não observaram efeito de sulfato demanganês sobre a produtividade decebola pela aplicação foliar desse fer-tilizante, na concentração de 1%, emsistema orgânico de produção. Kurtz(2008), em solo cultivado com cebolaem sistema de plantio direto, utilizan-do sulfato de manganês 1% via foliarem 400L de água/ha ou nas doses de15, 30 e 60kg/ha via solo, em sistemaconvencional, também não observouefeito significativo sobre a produtivi-

dade da cultura. As aplicações de B eZn via foliar não apresentaram resul-tados sobre produtividade, embora oZn aplicado no solo proporcionasseincremento significativo na produçãode bulbos (Kurtz, 2008).

Portanto, são necessárias maispesquisas com micronutrientes parauma recomendação segura queapresente efeito sobre o rendimentoda cultura da cebola. O uso preventivode micronutrientes para a cebola nosmoldes adotados na Região do AltoVale é insustentável, pois falta basecientífica que comprove a sua eficácia.

Adubação orgânica

O uso de adubos orgânicos, nor-malmente recomendados para a fasede canteiro para a cebola, é: compos-to termofílico feito com resíduos cul-turais de cebola, esterco de suínos,capim-elefante, Pennisetum clandes-

Figura 2. Plantas de cebola em sistema de plantio direto sobre palha de aveia e papuã (Brachiaria plantaginea).Epagri/Estação Experimental de Ituporanga

52 Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

tinum Hochst. ex. Chiov. (5kg/m2),cama de aviário bem curtida (1,5kg/m2) ou húmus de minhoca (5kg/m2)(Epagri, 2000). Gonçalves & Silva(2003) observaram que, após otransplantio da cebola, as seguintesfontes orgânicas de adubo colocadasna base supriram o nitrogênio neces-sário para a cultura, e proporciona-ram produtividade semelhante à adu-bação mineral: esterco suíno (16t/ha),esterco de aves (6t/ha), compostooriundo de descarte de cebola e ca-pim-elefante (20t/ha); húmus de es-terco de suíno (6,5t/ha) e esterco deperu (6t/ha). Porém, a baixa disponi-bilidade dessas fontes de adubos or-gânicos e o custo do transporte podeminviabilizar o seu uso em larga esca-la. O recomendado é aumentar o teorde matéria orgânica no solo, princi-palmente com adubação verde (Ama-do & Teixeira, 1991) e plantio direto.

Manejo fitossanitário

Os tratamentos fitossanitáriospara a cebola são direcionados, nafase de canteiro, para o controle dequeima-acinzentada (Botrytissquamosa Walker) e, na fase de la-voura, para míldio (Peronosporadestructor Berk Casp. ex Berk) etripes (Thrips tabaci Lind.Thysanoptera: Thripidae).

Na fase de canteiro, o uso de cal-da bordalesa (0,5%), cinza de madei-ra (50g/m2), extrato de própolis (0,2%)associado a enxofre em pó molhável(0,25%) e silicato de sódio comercial(0,5%) são alternativas no controle dequeima-acinzentada (Boff et al.,1999). A calda bordalesa 0,3% e ofosfito de potássio (NPK, 0-30-20)0,25%, aplicados isolada oualternadamente com 1 dia entre aspulverizações, também são recomen-dados no manejo de mancha--acinzentada no canteiro (Wordell Fi-lho & Stadnik, 2006) e têm apresen-tado produtividade equivalente à apli-cação de fungicidas sintéticos no ma-nejo de míldio no transplantio(Wordell Filho et al., 2007).

No manejo de tripes é recomen-dado o sistema de plantio direto, poispela melhoria das condições físicas,químicas e biológicas do solo, as plan-tas se desenvolvem adequadamente

e toleram o dano do inseto, mesmo emaltos níveis populacionais, sem redu-ções significativas de produtividade(Gonçalves, 2007). A adoção de culti-vares precoces também é medida im-portante para se reduzir ou até mes-mo eliminar o uso de inseticidas, pois,devido ao plantio antecipado (junhoe julho), escapam durante o estágiode formação de folhas de altasinfestações de tripes, que ocorremprincipalmente nos meses de outubroe novembro com a elevação da tem-peratura.

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Biometria testicular de touros da raça Crioula LageanaBiometria testicular de touros da raça Crioula LageanaBiometria testicular de touros da raça Crioula LageanaBiometria testicular de touros da raça Crioula LageanaBiometria testicular de touros da raça Crioula LageanaCristina Perito Cardoso1, Edison Martins2, Vera Maria Villamil Martins3 e Antonio de Pinho Marques Júnior4

Resumo – O trabalho teve por objetivo estudar a biometria testicular de touros da raça bovina Crioula Lageana. Oexperimento foi realizado em Lages, SC, onde foram examinados 60 animais com idades entre 18 e 144 meses. Osanimais foram agrupados em quatro tratamentos de acordo com a idade, sendo o Tratamento I formado por animaisde 18 meses de idade, o Tratamento II por animais com idades entre 24 e 36 meses, o Tratamento III por animais comidades entre 48 e 60 meses e o Tratamento IV por animais com idades de 72 meses ou mais. Os parâmetros estudadosforam: a) circunferência escrotal (CE); b) comprimento (CT) e largura testicular (LT); c) volume testicular (VT) e d)formato testicular. Concluiu-se que os touros da raça Crioula Lageana atingem a maturidade sexual entre os 18 e 24meses e que os parâmetros comprimento, largura e o volume testicular dessa raça aumentam até os 5 anos de idade.

Termos para indexação: Circunferência escrotal, recursos genéticos, bovinos, Bos taurus taurus.

Testicular biometry of Crioula Lageana breed bulls

Abstract – The purpose of this experiment was to study the testicular biometry of the Crioula Lageana breed bulls.The experiment was developed in Lages, SC, Brazil, where sixty animals with ages between 18 and 144 months wereevaluated. The animals were divided in four treatments according to age: Treatment I, animals with 18 months of age;Treatment II, animals between 24 and 36 months of age; Treatment III, animals between 48 and 60 months of age;and Treatment IV, animals with 72 months or more. The researched parameters were: a) scrotal circumference (CE);b) length (CT) and testicular width (LT); c) testicular volume (VT), and d) testicular form. The conclusion is that theCrioula Lageana breed bulls reach their sexual maturity between the ages of 18 and 24 months, and that the parameterslenght, width and volume of the testicles increase until they reach 5 years of age.

Index terms: Scrotal circumference, genetic resources, bovine, Bos taurus taurus.

Aceito para publicação em 4/9/09.¹ Méd.-vet., M.Sc., doutoranda Unesp/FMVZ, Campus de Botucatu, SP, Rua Cirilo Vieira Ramos, 300, 88503-200 Lages, SC, fone:(49) 9965-8657, e-mail: [email protected].² Méd.-vet., D.Sc., Epagri/Estação Experimental de Lages, C.P. 181, 88502-970 Lages, SC, fone: (49) 3244-4400, e-mail:[email protected]. (Aposentado).³ Méd.-vet., D.Sc., Udesc/CAV, Av. Luiz de Camões, 2.090, 88520-100 Lages, SC, fone: (49) 2101-9100, fax: (49) 2101-9122 e-mail:[email protected] Méd.-vet., D.Sc., UFMG/Escola de Veterinária, C.P. 567, 30161-970 Belo Horizonte, MG, fone: (31) 3409-2001, fax: (31) 3409-2030, e-mail: [email protected].

Introdução

Ao longo do tempo, a ênfase daseleção para característicasprodutivas resultou em menoratenção ao desempenho dos touros,porém a eficiência reprodutiva eprodutiva tem importantecontribuição destes, uma vez querepresentam a metade da composiçãogenética de suas progênies (Martinezet al., 2000).

Acrescida à importância do exameandrológico, a circunferência escrotal(CE) em bovinos é um parâmetroconfiável e de grande utilidade paraavaliar a eficiência reprodutiva domacho, apresentando altaherdabilidade. Essa medidaapresenta fácil mensuração e altarepetibilidade, mantendo correlaçãocom índices produtivos ereprodutivos (Guimarães et al., 2003;Vale Filho et al., 2001). Bastidas-

-Mendoza (1999) constatou queanimais com valores maiores de CEatingiram a puberdade mais cedo,produziram mais sêmen e de melhorqualidade, sugerindo que testículospequenos são indesejáveis para umreprodutor.

A mensuração da CE é um métodoeficaz para a seleção de animais, vistoque há correlação genética positivacom a taxa de crescimento e ganhode peso da progênie, com o volume e

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Figura 1. Touros da raça Crioula Lageana de pelagem (A) africana preta, com 48 meses de idade e (B) africanavermelha, com 20 meses de idade

(A) (B)

a motilidade espermáticos, bem comocom a precocidade reprodutiva emenor incidência de patologiastesticulares. A mensuração da CEpermite selecionar touros com acapacidade de produzir gerações demachos e fêmeas mais férteis, sendoessa mensuração uma característicaincluída como critério para avaliaçãogenética em muitas raças de corte deorigem europeia (Pereira, 1997).

Unanian et al. (2000) ressaltarama importância da mensuraçãobidimensional (largura e com-primento) como método com-plementar à CE para tornarfidedigna a avaliação das dimensõestesticulares e do potencial re-produtivo de touros jovens, prin-cipalmente aqueles com variação naforma testicular.

A busca pela CE cada vez maiorinduz à seleção de formas testicularesmais ovaladas ou mesmo esféricas.No entanto, Bailey et al. (1996)sugeriram que testículos de formaalongada apresentam volumessemelhantes às demais formastesticulares, condizentes com osresultados obtidos em seu trabalho enaquele desenvolvido por Caldas etal. (1999), em que ambos nãoencontraram diferença significativaem relação à forma testicular eíndices médios testiculares. A largurapode ser compensada em 20% pelo

maior comprimento, como verificadoem touros Nelore (Pinho et al., 2001).

Fatores como a raça, idade,alimentação e peso exercem forteinfluencia sobre a biometriatesticular, havendo muitas variaçõesentre os animais quanto à idade dapuberdade e parâmetros repro-dutivos (Vale Filho et al., 2001).

Apesar de a CE ser um parâmetrobiométrico confiável, não éaconselhável sua utilização isoladapara seleção de touros. Outrosaspectos como o exame clínico gerale especial do aparelho genital,características genéticas e fenotípicasmerecem consideração, sendo a CEum importante critério para odesempate entre animais comcaracterísticas semelhantes (Oliveiraet al., 2000).

A raça Crioula Lageana é umaraça naturalizada, que passoupredominantemente pelo processo deseleção natural no Planalto SerranoCatarinense, resultando emcaracterísticas de rusticidade,adaptação, boa habilidade materna,entre outras. Qualquer seleçãoartificial que possa ter ocorrido porinterferência dos criadores foi feitasem aplicação de métodos científicos.Os genes responsáveis por taisatributos são promissores emprogramas de melhoramentogenético animal.

A necessidade de conhecimentodos parâmetros morfofisiológicos dosanimais da raça Crioula Lageanamotivou a realização deste estudo,que teve por objetivo determinar osparâmetros biométricos testiculares.

Material e métodos

Foram examinados 100% dostouros da raça Crioula Lageana(Figura 1) com idade superior a 18meses pertencentes ao núcleo decriadores da Associação Brasileirados Criadores de Bovinos da RaçaCrioula Lageana, entre março de2004 e dezembro de 2005. O censototalizou 60 animais, os quais foramdistribuídos conforme a idade emquatro tratamentos, sendo oTratamento I formado por dezanimais com 18 meses de idade; oTratamento II por 21 animais comidades entre 24 e 36 meses; oTratamento III por 11 animais comidades entre 48 e 60 meses e oTratamento IV composto por 18animais com idades de 72 meses oumais e mantidos em sistema decriação extensivo, sobre pastagensnaturais, pertencentes aos núcleos deconservação da raça, localizados nosmunicípios de Lages, Painel e PonteAlta, SC.

Para a tomada da CE os animaisforam imobilizados em bretes de

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contenção e os testículos tracionadospara a base da bolsa escrotal. Amedida foi tomada na posição demaior dimensão dos testículosutilizando-se de uma trena comescala métrica de 0,001m.

Para a determinação do volumetesticular utilizaram-se as medidasde comprimento e largura dos 120testículos, tomadas com umpaquímetro com escala métrica de0,001m com os testículos dispostos nabase da bolsa escrotal, através dafórmula preconizada por Fields et al.(1979).

Para o formato testicular utilizou--se a metodologia descrita por Baileyet al. (1996), que classifica ostestículos em longo, longo-moderado,moderado-oval, oval-esférico eesférico.

Os dados numéricos de CE,comprimento, largura e volume dostestículos foram submetidos à análisede variância e as médias dostratamentos comparadas entre sipelo teste t de Student (P < 0,05)(Snedecor & Cochram, 1994). Quantoao formato testicular, determinou-sea frequência relativa nos diferentestratamentos.

Resultados e discussão

As medidas obtidas dacircunferência escrotal (CE),comprimento (CT), largura (LT) evolume (VT) testicular nas diferentesfaixas etárias de touros da raçaCrioula Lageana encontram-sedispostas nas Tabelas 1 e 2.

O maior aumento de CEverificado entre os 18 e 24 meses deidade (Tabela 1) sugere que os tourosda raça Crioula Lageana atingem amaturidade sexual nesse período,uma vez que o crescimento testicularé rápido à medida que os animaisamadurecem sexualmente, conti-nuando o crescimento de forma maislenta após a maturidade sexual(Figura 2).

Quanto à largura, ao com-primento e ao volume testicular osanimais dos Tratamentos III e IVapresentaram mensurações maioresque os animais dos Tratamentos I eII (P < 0,05). Também os animais doTratamento II apresentarammensurações maiores que os doTratamento I (P < 0,05). No entanto,os animais do Tratamento IVapresentaram mensurações seme-lhantes aos animais do TratamentoIII (P > 0,05).

Avaliando a simetria testicular,observou-se que em todos ostratamentos as mensurações decomprimento, largura e volume não

(1)As médias seguidas com letras diferentes nas colunas diferem entre si pelo teste t de Student (P < 0,05).Nota: CTD = Comprimento testicular direito; CTE = Comprimento testicular esquerdo; LTD = Largura testicular direita; LTE= Largura testicular esquerda; VTD = Volume testicular direito; VTE = Volume testicular esquerdo e DP = Desvio padrão.

Trata- Parâmetro(1)

mento CE ± DP CT ± DP LT ± DP VT ± DP

..................................cm.................................... ............cm3.............

I 29,50 a ± 2,94 9,49 a ± 0,85 5,80 a ± 0,70 510,05 a ± 147,86

II 33,68 b ± 2,52 10,79 b ± 1,00 6,47 b ± 0,58 720,96 b ± 181,82

III 35,16 bc ± 2,83 11,70 c ± 1,58 7,12 c ± 0,74 957,43 c ± 315,45

IV 36,62 c ± 3,19 12,13 c ± 1,91 7,15 c ± 0,68 992,09 c ± 262,64

Tabela 1. Circunferência escrotal, comprimento, largura e volume testicular emtouros da raça Crioula Lageana nas idades de 18 meses (Tratamento I), 24 a 36meses (Tratamento II), 48 a 60 meses (Tratamento III) e 72 ou mais meses (Trata-mento IV)

(1)As médias seguidas com letras diferentes nas colunas diferem entre si pelo testet de Student (P < 0,05).Nota: CE = Circunferência escrotal; CT = Média do comprimento testicular direitoe esquerdo; LT = Média da largura testicular direita e esquerda; VT = Média dovolume testicular direito e esquerdo e DP = Desvio padrão.

Trata- Parâmetro(1)

mento CTD ± DP CTE ± DP LTD ± DP LTE ± DP VTD ± DP VTE ± DP

.........................................................cm........................................................... ...............................cm³.................................

I 9,49 a ± 0,93 9,49 a ± 0,81 5,86 a ± 0,77 5,73 a ± 0,65 523,29 a ± 165,04 497,76 a ± 136,22

II 10,75 b ± 1,04 10,82 b ± 0,99 6,58 b ± 0,59 6,36 b ± 0,56 743,52 b ± 190,59 698,40 b ± 174,29

III 11,52 bc ± 1,64 11,88 c ± 1,57 7,21 c ± 0,79 7,03 c ± 0,72 967,89 c ± 333,57 946,98 c ± 312,18

IV 12,00 c ± 2,00 12,27 c ± 1,85 7,25 c ± 0,71 7,04 c ± 0,65 1.017,19 c ± 278,46 966,99 c ± 251,29

Tabela 2. Comprimento, largura e volume testicular, direito e esquerdo, em touros da raça Crioula Lageana nas idades de

18 meses (Tratamento I), 24 a 36 meses (Tratamento II), 48 a 60 meses (Tratamento III) e 72 ou mais meses (Tratamento IV)

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diferiram entre os testículos direitoe esquerdo (P > 0,05) (Tabela 2).

Na classificação do formatotesticular nos animais estudadosprevaleceram os testículos longo--moderados (LM), seguidos doformato moderado-oval (MO), longo(LO) e oval-esférico (OE), res-pectivamente com 60,83%, 30%, 7,5%e 1,67% (Tabela 3).

A CE nas diferentes idades detouros da raça Crioula Lageana foisimilar àquelas propostas pelaSociedade Americana de Te-riogenologia para Bos taurus taurus

com medidas de CE variando de 32 a38cm para touros com idades entre21 e 30 meses (Roberts, 1986 citadopor Gottschall & Mattos, 1997). Essasmedidas foram superiores àsencontradas por Unanian et al.(2000) em touros da raça Nelore aos18 meses, porém similares àsencontradas por Peña et al. (2001) eDias et al. (2003).

Nas raças Guzerá (Torres-Júnior& Henry, 2003), Sindi (Peña-Alfaroet al., 2001) e Tabapuã (Vale Filho etal., 2001) as medidas da CEapresentaram resultados seme-lhantes aos encontrados nos tourosda raça Crioula Lageana, nasdiferentes idades, exceto animais daraça Tabapuã, que apresentarammedidas inferiores aos 18 meses.

Estudos feitos nas raçasMarchigiana (musculatura simples)

e Devon (Oliveira et al., 2002;Quirino et al, 2004) determinarammedidas de CE maiores que asencontradas nos touros da raçaCrioula Lageana avaliados nestetrabalho.

A diferença de resultadosencontrada entre as raças citadas ea Crioula Lageana pode, em parte,ser explicada pelo processo de seleçãonatural que caracterizou essesanimais, não devendo, no entanto, sercomparada à seleção induzidarealizada nas demais raças, quevisam à alta produtividade.

A CE na raça Crioula Lageana foisimilar à determinada nas raçaszebuínas e moderadamente inferioràquela encontrada em raçastaurinas.

Os resultados indicam que naraça Crioula Lageana o crescimentotesticular é mais acentuado até os 5anos de idade. Após essa idade ocrescimento é reduzido.

Os testículos dos touros da raçaCrioula Lageana foram semelhantesem comprimento e maiores emlargura quando comparados com osdados encontrados por Unanian et al.(2000) estudando touros da raçaNelore aos 18 meses. Caldas et al.(1999) e Pinho et al. (2001),estudando comprimento e larguratesticular em touros também da raçaNelore, aos 18 meses de idade,determinaram valores similares aos

observados nos touros da raçaCrioula Lageana. Entretanto, apartir dos 24 meses, os dados forammaiores que os descritos em tourosda raça Nelore por Welter et al.(2005).

Oliveira et al. (2002), aoestudarem touros jovens das raçasPardo Suíço, Canchim e Limousin,determinaram dimensões decomprimento testicular similares àsobtidas neste estudo em touros daraça Crioula Lageana.

Brito et al. (2004) determinarammédias de CT de 9,4 ± 0,5; 10,5 ± 0,8e 12,2 ± 0,4cm e para LT de 5,4 ± 0,5;6,6 ± 0,5 e 7,3 ± 0,3cm, respec-tivamente para Bos taurus indicuscom idades entre 18 e 30 meses,cruzamentos Bos taurus indicus xBos taurus taurus aos 27,8 ± 8,6meses e Bos taurus taurus aos 14,8± 0,6 meses. Os touros criouloslageanos apresentam, assim, valoressemelhantes aos dos animaiscruzados Bos taurus indicus x Bostaurus taurus, moderadamenteinferiores aos Bos taurus taurus esuperiores aos Bos taurus indicus.

O volume testicular determinadoneste trabalho foi similar ao descritopor Torres-Júnior & Henry (2003) naraça Guzerá e superiores aosencontrados por Unanian et al.(2000) em touros Nelore aos 18meses.

Moura et al. (2002) asseveramque em touros puros de origem (PO)da raça Nelore o formato dostestículos torna-se menos alongado àmedida que avança a idade, o quetambém foi observado nos touros daraça Crioula Lageana.

Os touros crioulos lageanosapresentam dominância de testículoscom formato longo-moderado emtodas as faixas etárias estudadas.Resultados semelhantes foramobservados por Torres-Júnior &Henry (2003) ao avaliarem o formatotesticular de touros da raça Guzerá.No entanto, em touros Nelore de 18meses de idade prevaleceram formasintermediárias entre a longa e aesférica com 70,3% (Caldas et al.,1999; Pinho et al., 2001).

Guimarães et al. (2003),avaliando também o formatotesticular em touros da raça Neloredos 20 aos 22 meses, constataram que

Formato testicular(1)

LO LM MO OE

No …………...….........….%…..…….......….……………

I 20 10,00 50,00 40,00 0

II 42 2,38 78,57 19,05 0

III 22 0 59,09 40,91 0

IV 36 16,67 47,22 30,56 5,56

Total 120 7,50 60,83 30,00 1,67

Tabela 3. Frequência quanto ao formato testicular de touros da raça CrioulaLageana nas idades de 18 meses (Tratamento I), entre 24 e 36 meses(Tratamento II), entre 48 e 60 meses (Tratamento III) e 72 ou mais meses(Tratamento IV)

Nota: LO = Longo; LM = Longo moderado; MO = Moderado oval; OE = Ovalesférico.

Obser-vações

Trata-mento

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os formatos testiculares longo elongo-moderado representavam91,36% dos animais avaliados. Nostouros da raça Crioula Lageana osformatos longo-moderado emoderado-oval foram os maisfrequentes (90,83%).

Os touros da raça CrioulaLageana, vistas as condições decriação com grande défice alimentardurante a estação fria, histórico deseleção e adaptação às regiões doscampos de cima da serra do RioGrande do Sul e Santa Catarina,apresentam bom desenvolvimentoreprodutivo, atingindo a maturidadesexual com idade semelhante àsraças comerciais modernas.

Considerando a pouca quantidadede literatura disponível sobre osparâmetros morfológicos repro-dutivos na raça Crioula Lageana e anecessidade da determinação desses

parâmetros, a fim de melhorentender a fisiologia dos animaispertencentes a esse grupamentogenético, sugere-se a continuidadedas avaliações morfológicas dessesanimais.

Conclusões

Os resultados obtidos permitemconcluir que o período de maioraumento de CE ocorre entre 18 e 24meses de idade, sugerindo que naraça Crioula Lageana os tourosatingem a maturidade sexual nestafaixa etária; o comprimento, alargura e o volume testicular nessesanimais aumentam até os 5 anos deidade, tendo a predominância detestículos com o formato longo--moderado.

Os dados biométricos testicularesencontrados na raça Crioula Lageana

Figura 2. Representação gráfica do crescimento testicular em touros da raça Crioula Lageana. (A) Comprimentotesticular (CT), (B) largura testicular (LT) e (C) volume testicular (VT)

são semelhantes àqueles descritospara as raças zebuínas e raçassintéticas (zebuínos x taurinos).

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Efeito de rizobactérias em sementes e mudas de cebolaEfeito de rizobactérias em sementes e mudas de cebolaEfeito de rizobactérias em sementes e mudas de cebolaEfeito de rizobactérias em sementes e mudas de cebolaEfeito de rizobactérias em sementes e mudas de cebola

Resumo – Este trabalho avalia o efeito de rizobactérias na germinação e no crescimento de mudas de cebola. Ostratamentos utilizados foram dez isolados de Pseudomonas e Bacillus microbiolizados isoladamente nas sementes. Oefeito da microbiolização das sementes foi avaliado em laboratório e canteiros. Houve influência de rizobactériassobre a germinação e desenvolvimento de plântulas de cebola em laboratório. As rizobactérias que promoveram me-lhor germinação e desenvolvimento de plântulas foram Bacillus megaterium, isolados W7 e W19, e Bacillus cereusUFV40. Os tratamentos não apresentaram efeito significativo no crescimento das mudas nem na redução na severi-dade da doença Botrytis squamosa na fase de canteiros.

Termos para indexação: Allium cepa, RPCV.

Effect of rhizobacteria on onion seeds and seedlings

Abstract – This study assesses the effects of rhizobacteria on the germination and growth of onion seedlings. Tenisolates from treatments of Pseudomonas and Bacillus in seeds were used. The effect of the microbiolization in seedswas assessed in laboratories and fields. There was an influence of rhizobacteria on the germination and developmentof the onion seedlings in laboratory. The rhizobacteria which promoted better germination and development werethose of the seedlings Bacillus megaterium, isolated W7 and W19, and Bacillus cereus UFV40. The treatments withrhizobacteria did not promote significant effects either on the growth of seedlings or on the reduction of the Botrytissquamosa disease in the fields phase.

Index terms: Allium cepa, PGPR.

Oscar Emílio Ludtke Harthmann1, Átila Francisco Mogor2, João Américo Wordell Filho3 e Wilmar Cório da Luz4

Introdução

A cebola (Allium cepa L.) é de ori-gem asiática e uma das plantas culti-vadas de maior difusão no mundo.Introduzida no Brasil pelos portugue-ses no século XVI, é uma das hortali-ças mais importantes, cultivada namaioria das regiões brasileiras. Aárea plantada no ano agrícola 2007foi de 62.885ha, com produção de1.312.000t e rendimento médio de20,8t/ha (IBGE, 2008).

A adoção de tecnologia voltada aodesenvolvimento sustentável é umdos fatores que podem ser melhora-dos na cadeia produtiva da cebola(Boeing, 2002). Para a obtenção de

rendimentos adequados de bulbos, énecessário que as técnicas utilizadassejam ajustadas aos sistemas de pro-dução. Assim, em sistemas de cultivosustentáveis, a utilização derizobactérias promotoras de cresci-mento pode ser uma alternativatecnológica para produção vegetal(Luz, 1996).

O termo “rizobactéria” caracteri-za as bactérias que colonizam asraízes das plantas. São denominadasrizobactérias promotoras de cresci-mento de vegetal (RPCV) quandoapresentam efeitos positivos sobre asculturas (Luz, 1996). Uma mesmaestirpe de rizobactéria pode ser efi-caz com diferentes espécies de plan-tas e em diferentes tipos de solo e re-

giões (Antoun & Prévost, 2005).Há relatos da eficiência da utili-

zação de rizobactérias nas sementescom resultados positivos na germina-ção, no crescimento de plantas e norendimento (Kishore et al., 2005). Ainoculação com RPCV pode produziraumento na massa radicular devidoà sua capacidade de produzirhormônios que promovem alonga-mento radicular e aumento de raízeslaterais. Plantas inoculadas absorvemmais minerais da solução do solo e,consequentemente, acumulam maismassa seca (Harthmann et al., 2007).As rizobactérias no controle defitopatógenos têm sido utilizadascomo um importante complemento nomanejo integrado de doenças de plan-

Aceito para publicação em 25/8/09.1 Eng.-agr., M.Sc., Ifet Catarinense, C.P. 441, 89160-000 Rio do Sul, SC, fone: (47) 3531-3700, e-mail: [email protected] Eng.-agr., Dr., UFPR/PGAPV, C.P. 19.061, 81531-990 Curitiba, PR, fone/fax: (41) 3350-5601, e-mail: [email protected] Eng.-agr., Dr., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf), C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49) 3361-0638 e-mail: [email protected] Eng.-agr., Dr., RAPP, Rua Saul Irineu Farina, 111, Passo Fundo, RS, e-mail: [email protected].

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tas. Os mecanismos de ação indiretaincluem a indução de resistênciasistêmica nos vegetais, diminuição defatores de estresse, como etilenoendógeno, produção de antibióticos eantagonismo a fitopatógenos, entreoutros fatores (Antoun & Prévost,2005).

A utilização de inoculantes e amicrobiolização de sementes comrizobactérias são realidade em algunspaíses e vêm despertando o interessede pesquisadores no Brasil. A maio-ria dos trabalhos está baseada em suarelação com cereais e gramíneas, ha-vendo também relatos de efeitos be-néficos em outras culturas. Para acultura da cebola, os resultados depesquisas em laboratórios e em estu-fas são significativos, mas os resulta-dos no campo são inconsistentes, exis-tindo necessidade de pesquisas emcondições de produção (Siddiqui,2005).

O objetivo desta pesquisa foi es-tudar os efeitos da microbiolização derizobactérias em sementes de cebolaem laboratório, na promoção de cres-cimento de mudas em canteiros e naseveridade da doença mancha--acinzentada (Botrytis squamosaWalker) em condições de campo.

Material e métodos

A pesquisa foi conduzida em labo-ratório e no campo, na Epagri/Esta-ção Experimental de Ituporanga, SC(27o25’ latitude sul e 49o38’ longitudeoeste), com altitude de 475m e climasubtropical úmido (Cfa), segundo aclassificação de Köeppen. O experi-mento foi realizado no período de abrila julho de 2007, utilizando-se semen-tes de cebola da cultivar Bola Preco-ce, que apresentavam 86% de germi-nação, peso de mil sementes de 4,07ge 7,93% de umidade.

Os isolados bacterianos utilizadosno estudo fazem parte da coleção deRPCV do doutor Wilmar Cório daLuz, obtidos da rizosfera degramíneas da região de Passo Fun-do, RS. Vinte isolados forammicrobiolizados em sementes de ce-bola e avaliados quanto aosparâmetros biométricos da parte aé-rea de mudas em condições de can-teiros no ano 2006. Desses isolados,oito foram selecionados e fazem par-te da pesquisa, juntamente com doisisolados fornecidos pelo doutorReginaldo da Silva Romeiro, da Uni-

versidade Federal de Viçosa (UFV),MG. Esses isolados foram previamen-te testados em tomate e feijão e porisso foram também testados nesse ex-perimento.

Os tratamentos constaram de tes-temunha sem microbiolização e ne-nhuma aplicação de produto químiconas sementes (T), testemunha comaplicação de produto químico padrãonas sementes conforme sistema deprodução utilizado na região (TQ) emicrobiolização nas sementes com osseguintes isolados de rizobactérias:Pseudomonas spp. (W1),Pseudomonas spp. (W2),Pseudomonas spp. (W5),Pseudomonas spp. (W6), Bacillusmegaterium (W7), Pseudomonasalcaligenes (W15), Paenibacilluspolymyxa (W18), Bacillusmegaterium (W19), Bacillus cereus(UFV40), Pseudomonas putida(UFV43).

As rizobactérias foram multiplica-das em meio de cultura ágar nutriti-vo (extrato de carne em pó paramicrobiologia 3g, peptona de carne5g, glicose anidra 2,5g, ágar 15g eágua destilada 1.000ml), utilizando atemperatura de 23 ± 2oC. Após 48horas, as células foram removidas dasuperfície do meio de cultura com umpincel e colocadas em água destiladaesterilizada. A concentração de cadarizobactéria foi de aproximadamente107 unidades formadoras de colôniaspor ml, de acordo com a escala deMcFarland.

As sementes da testemunha foramimersas em água destilada esteriliza-da e agitadas por 5 minutos. No tra-tamento químico foi utilizada a dosede 300g de Captan/100kg de semen-tes, misturada às sementes, e agita-do o composto por 5 minutos. Amicrobiolização das sementes se deupor sua imersão em suspensõesbacterianas por 5 minutos, sendo agi-tadas e filtradas (Figura 1). Após tra-tadas, as sementes foram mantidasem repouso em ambiente assépticodurante 24 horas para secagem.

Instalação dos experimentosem laboratório: utilizou-se o deline-amento inteiramente casualizado comquatro repetições de 50 sementes, dis-tribuídas em caixas plásticas tipogerbox sobre duas folhas de mata-bor-rão embebido em água destilada e co-locado para germinar em câmara tipoBOD com temperatura constante de20oC e fotoperíodo de 12 horas. O vo-

lume de água utilizado paraembebição do mata-borrão foi o equi-valente a 2,5 vezes o peso do papel. Aprimeira contagem de plântulas nor-mais (G1), feita junto com o teste degerminação, foi realizada no sexto diaapós a instalação do trabalho. As ava-liações de germinação foram realiza-das no décimo segundo dia (G2) apósa instalação do experimento. Os re-sultados foram expressos em porcen-tagem de plântulas normais, confor-me as Regras para Análise de Semen-tes (RAS) (Brasil, 1992).

A avaliação do comprimento deplântula foi realizada no delineamen-to inteiramente casualizado com qua-tro repetições de 50 sementessemeadas em rolos de papel, sobreuma linha horizontal, no terço supe-rior do papel umedecido com águadestilada. Os rolos contendo as se-mentes foram embalados e permane-ceram em germinador por 12 dias sobtemperatura de 20oC no escuro. Nacondução do teste foram utilizadossacos plásticos de polietileno transpa-rente para envolver os conjuntos derolos de papel com as sementes. Du-rante o experimento, os rolos conti-dos pelos sacos plásticos foram dispos-tos na posição vertical dentro dogerminador, procedendo-se, posterior-mente, à sua medição (Nakagawa,1999). Os comprimentos médios dasplântulas normais foram expressosem centímetros.

Instalação do experimento emcanteiros: o efeito da microbiolização

Figura 1. Microbiolização derizobactérias em sementes de cebolacultivar Bola Precoce

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das sementes foi avaliado em cantei-ros conforme metodologia descritanas recomendações da Epagri no “Sis-tema de Produção para Cebola”(Epagri, 2000), no delineamento ex-perimental em blocos casualizadoscom cinco repetições. As parcelasconstaram de 4m2, com área útil de1m2.

O solo da área de estudo foi clas-sificado de Cambissolo HúmicoDistrófico Álico. A análise química dosolo da camada de zero a 20cm daárea de canteiros expressou pH (H2O)= 5,8; P = 27mg/dm3; K = 234mg/dm3;Al+3 = 0,0cmol/dm3; Ca+2 = 7,2cmolc/dm3; Mg+2 = 3,9cmolc/dm3; CTC =15,2cmolc/dm3; V% = 77,1, argila =32%; e matéria orgânica = 3,4%. Naadubação mineral foram utilizados300g/m2 da fórmula 5-20-10 (N-P-K).Aos 40 dias após a emergência dasplântulas, foi feita uma adubação decobertura com ureia na dose de 10g/m2. Para controlar plantas daninhas,foram efetuadas duas aplicações deherbicida com ingrediente ativoioxynil na dosagem de 0,50L/ha(Andrei, 1999), além de, ocasional-mente, terem sido feitas capinas ma-nuais para manter a cultura livre decompetição com outras plantas.

Durante a fase de mudas nas par-celas com rizobactérias e testemunha(T) não foram aplicados agrotóxicospara controle de doenças, visando aavaliar a curva de progresso da do-ença mancha-acinzentada e sua rela-ção com os tratamentos. Nas parce-las com tratamento químico (TQ) omanejo foi conforme o sistema de pro-dução recomendado para a região,tendo as pulverizações com fungicidassido iniciadas 14 dias após a emer-gência das plântulas e finalizadas aos7 dias da idade de transplantio (90dias da semeadura), totalizando seispulverizações. Utilizaram-se Meta-laxyl-M + Clorotalonil (Folio Gold1,5kg/100L) alternadamente comProcimidone (Sumilex 500 PM 150g/100L) (Andrei, 1999).

Em intervalos semanais, do está-dio de plântula até a fase de trans-plante, foram avaliadas dez plantaspor parcela quanto à severidade dadoença mancha-acinzentada, esti-mando visualmente a porcentagem deárea foliar afetada pelas doenças(zero a 100%), conforme Wordell Fi-lho & Stadnik (2006). Posteriormen-te, estimou-se a área abaixo da curva

de progresso das doenças (AACPD) demancha-acinzentada (Botrytissquamosa Walker) pela fórmulaAACPD = S [(y1+y2)/2*(t2-t1)], emque y1 e y2 são duas avaliações con-secutivas de severidade feitas nostempos t1 e t2, respectivamente.

Avaliou-se o número de plantasemergidas por metro quadrado 40dias após a semeadura. Noventa diasapós a semeadura foram avaliadas 25plantas por parcela para medição daaltura entre a base do sistemaradicular e o ápice da folha mais de-senvolvida (cm) e o diâmetro dopseudocaule, utilizando-se uma réguae um paquímetro digital, respectiva-mente. Após as avaliações de alturae diâmetro, a parte aérea das mudasfoi acondicionada em sacos de papele levada à estufa com circulação for-çada de ar, regulada à temperaturade 60oC, até o material atingir pesoconstante. Desta forma, foi calculadaa massa seca da parte aérea com osresultados expressos em miligramaspor plântula.

Análise dos dados: os resultadosforam analisados e foram verificadasa homocedasticidade (homogeneidade

das variâncias) e normalidade dosresíduos e as variâncias, comparadaspelo teste F. Atendidas as pressupo-sições, realizou-se a análise devariância, e as médias dos tratamen-tos foram comparadas pelo teste deScott-Knott a 5% de probabilidade. Osdados referentes às porcentagens fo-ram transformados em y = arcsen (x/100)1/2.

Resultados e discussão

Na avaliação de plântulas normaisrealizada aos 6 dias após amicrobiolização observou-se a forma-ção de três grupos, com os isolados deB. cereus UFV40, B. megaterium W19e B. megaterium W7 apresentandoresultados superiores às testemunhastratada (TQ) e não tratada (T) (Tabe-la 1). Os isolados de Pseudomonasspp. W2, P. putida UFV43 ePseudomonas spp. W6 apresentaramas menores porcentagens deplântulas normais, juntamente coma testemunha tratada com captan,não apresentando diferenças signifi-cativas entre si. As porcentagens

Tabela 1. Porcentagem de plântulas normais aos 6 dias (G1) e aos 12 dias(G2) e comprimento de plântulas (CP) referente aos efeitos da microbiolizaçãode rizobactérias nas sementes de cebola, em laboratório, comparados com tes-temunhas não tratada (T) e tratada com Captan (TQ). Cultivar Bola Precoce,Epagri, Ituporanga, SC, 2007

(1) Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem significativamente entre sipelo teste de Scott-Knott (P < 0,05).

Tratamento G1 G2 CP

Testemunha não tratada (T) 75,5 b(1) 86,5 a(1) 6,0 b(1)

Tratamento químico (TQ) 43,0 c 79,5 b 5,8 b

Pseudomonas spp. W1 74,5 b 80,0 b 6,9 a

Pseudomonas spp. W2 37,5 c 76,5 b 4,6 c

Pseudomonas spp. W5 72,5 b 86,0 a 5,7 b

Pseudomonas spp. W6 53,5 c 86,5 a 6,1 b

Bacillus megaterium W7 81,0 a 88,0 a 7,8 a

Pseudomonas alcaligenes W15 74,5 b 83,0 b 4,9 c

Paenibacillus polymyxa W18 68,0 b 73,5 b 5,3 c

Bacillus megaterium W19 83,5 a 92,5 a 7,2 a

Bacillus cereus UFV40 83,5 a 91,0 a 7,1 a

Pseudomonas putida UFV43 46,5 c 67,0 b 4,7 c

CV (%) 8,4 7,2 13,7

..................%................... cm

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médias de germinação aos 12 diasapós a microbiolização das sementesvariaram de 67% a 92,5% (Tabela 1).No teste de germinação, houve a for-mação de dois grupos: um com os iso-lados B. megaterium W19, B.cereusUFV40, B. megaterium W7,Pseudomonas spp. W6 ePseudomonas spp. W5 e testemunhanão tratada, que apresentaram mai-or porcentagem de plântulas normaisque o grupo dois, formado pela teste-munha tratada com fungicida, junta-mente com os isolados de P.alcaligenes W15, Pseudomonas spp.W1, Pseudomonas spp. W2, P.polymyxa W18 e P. putida UFV43. Assementes microbiolizadas com os iso-lados de B. megaterium W19 e B.cereus UFV40 apresentaram diferen-ças significativas em relação ao tra-tamento químico utilizado comercial-mente, com superioridade de 13% e11,5% para valores de germinação 12dias após a microbiolização, respecti-vamente (Tabela 1). Resultados seme-lhantes foram observados por Kishoreet al. (2005) trabalhando com Bacillusmegaterium GPS 55. Esses autoresobtiveram resultados entre 12% e19% na emergência na cultura doamendoim em relação ao controle.

A microbiolização das sementes decebola alterou o comprimento daplântula em função das rizobactériasaplicadas. Os isolados dePseudomonas spp. W2, P. alcaligenesW15, P. polymyxa W18 ePseudomonas putida UFV43 apre-sentaram comprimento inferior àstestemunhas tratada e não tratada.Os isolados de B. megaterium W7, B.megaterium W19, B. cereus UFV40 ePseudomonas spp. W1 favoreceram odesenvolvimento de plântulas, queapresentaram os maiores comprimen-tos, diferindo significativamente dastestemunhas.

A germinação das sementes e ocomprimento de plântulas tratadascom B. megaterium W19 (Figura 2),B. cereus UFV40 e B. megaterium W7foram favorecidos em relação ao tra-tamento químico padrão (Figura 3).Portanto, os isolados apresentaramresultados promissores no desenvol-vimento de plântulas normais.

Os resultados obtidos com essesisolados provavelmente têm relaçãocom a produção de hormônios que têmsido encontrados em algumasrizobactérias. Esses hormônios(giberilinas, auxinas, citocininas eetileno) desempenham funções impor-

tantes no crescimento das plantas(Kloepper, 2003), estimulando o com-primento de suas raízes.

O número de mudas emergidas,altura, diâmetro de pseudocaule emassa seca da parte aérea no pontode transplante não diferiram entre ostratamentos (Tabela 2). O crescimen-to vegetativo da cebola apresenta trêsfases bem distintas (Mogor, 2000). Aprimeira é definida por um períodode crescimento lento com reduzidodesenvolvimento radicular e aéreo,sendo essa fase prolongada em plan-

tios de inverno e correspondendo aoperíodo em que as mudas foram ava-liadas nos canteiros. O efeito não sig-nificativo devido à microbiolização desementes com rizobactérias geral-mente está associado à sua incapaci-dade de colonizar raízes de plantas.A comunidade microbiana darizosfera de plantas pode ser afetadapor vários fatores, dependendo do es-tádio de crescimento da planta, carac-terísticas do solo, práticas agronômi-cas como adubação mineral e condi-ções ambientais e, principalmente,temperatura (Antoun & Prévost,2005). Essas mudanças podem afetarnegativamente o crescimento dasplantas, ou positivamente, aumentan-do a proporção de RPCV.

Os tratamentos com RPCV na fasede produção de mudas de cebola nãopromoveram a emergência nem ocrescimento das mudas (Figura 4).Durante o período de condução do ex-perimento, a temperatura média va-riou de 11,17 a 13,33oC, com o regis-tro de 11 geadas e temperaturas ne-gativas. Provavelmente os fatoresambientais como as baixas tempera-turas registradas no período de ava-liação das mudas e o estádiofenológico da cebola influenciaram naresposta das rizobactérias micro-biolizadas no experimento.

Na avaliação do nível de severida-de por queima-acinzentada, uma dasprincipais doenças na cultura da ce-bola na fase de muda, houve diferen-ça significativa entre os tratamentospara a AACPD (Tabela 2). As plantas

Figura 3. Plântulas de cebolatratadas com Captan

Figura 4. Avaliação de mudas de cebola oriundas de sementes microbiolizadascom rizobactérias

Figura 2. Plântulas de cebolacultivar Bola Precoce avaliadas aos12 dias

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que receberam tratamento químicona semente e durante o período de 90dias que permaneceram nos cantei-ros apresentaram menor severidade.Os tratamentos com RPCV na fase deprodução de mudas de cebola não re-duziram a severidade por queima--acinzentada.

Apesar de terem sido observadosresultados significativos em algumasvariáveis avaliadas em laboratório, osbenefícios do uso de rizobactérias nãoforam comprovados nas condições decanteiros. Novos testes devem ser re-alizados na fase de lavoura visando aavaliar a eficiência desses isolados noaumento da produtividade de bulbosde cebola, pois a eficácia dos isoladospode ter sido alterada na fase de can-teiro devido a temperaturas baixas doperíodo de inverno e à elevada adu-bação mineral utilizada no solo nomomento do preparo dos canteiros.

Conclusões

Os isolados das rizobactérias B.megaterium W7, B. megaterium W19e B. cereus UFV40 favorecem o de-senvolvimento de plântulas de cebo-

la in vitro.Não há efeito promotor de cresci-

mento nem redução na severidade dadoença queima-acinzentada porrizobactérias em mudas de cebolaobtidas de sementes microbiolizadascom os isolados testados.

Agradecimentos

Os autores agradecem à Coorde-nação de Aperfeiçoamento de Pesso-al de Nível Superior (Capes) pela con-cessão de bolsa de doutorado e ao dou-tor Reginaldo da Silva Romeiro, daUniversidade Federal de Viçosa, pelacessão dos isolados UFV40 e UFV43.

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3. BOEING, G. Fatores que afetam a qua-

Tratamento NME A D MSPA ACPD

No/m2 cm mm mgTestemunha não tratada (T) 520(1) 32,9(1) 4,6(1) 199(1) 166 a(2)

Tratamento químico (TQ) 596 33,7 5,1 225 84 bPseudomonas sp. W1 531 30,6 4,6 185 184 aPseudomonas sp. W2 536 31,7 5,0 218 183 aPseudomonas sp. W5 583 30,6 4,6 185 209 aPseudomonas sp. W6 587 32,3 4,8 208 184 aBacillus megaterium W7 539 31,4 4,7 195 195 aPseudomonas alcaligenes W15 617 31,6 4,8 194 162 aPaenibacillus polymyxa W18 591 32,3 4,8 203 206 aBacillus megaterium W19 503 31,5 4,7 202 159 aBacillus cereus UFV40 593 32,0 4,7 196 160 aPseudomonas putida UFV43 585 31,5 4,6 190 186 a

CV (%) 13,96 5,17 6,08 11,69 22,72

Tabela 2. Número de mudas emergidas (NME) por metro quadrado, altura(A), diâmetro de pseudocaule (D), massa seca da parte aérea de mudas (MSPA)e área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD) de mancha--acinzentada (Botrytis squamosa) após microbiolização de sementes comrizobactérias e desenvolvidas em canteiros, comparadas com testemunhasnão tratada (T) e tratada com Captan (TQ). Cultivar Bola Precoce, Epagri,Ituporanga, SC, 2007

(1) Efeito não significativo.(2) Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem significativamente entre sipelo teste de Scott-Knott (P < 0,05).

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64 Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

Introdução

Na Região Oeste de SantaCatarina, a bovinocultura de leite éuma atividade típica de pequenaspropriedades rurais, com produçãode leite à base de pasto. Em muitosdesses estabelecimentos a bovino-cultura está integrada à suinocultura

ou à avicultura, visando aoaproveitamento dos estercos comofonte de nutrientes nas pastagenspara reduzir os custos de produçãocom a substituição do adubo mineralpelo orgânico.

Para tornar esse sistema deprodução de leite mais competitivo eviável economicamente, a pastagem

deve ser produtiva e ter boaqualidade. Entre as forrageirasanuais com maior potencial deprodução destacam-se a aveia-pretae o azevém nos cultivos de inverno, omilheto e sorgo-forrageiro nos deverão. Essas forrageiras podem serusadas tanto em pastejo direto (Cóser& Maraschin, 1983; Lupatini et al.,

Qualidade da forragem de gramíneas anuais de inverno eQualidade da forragem de gramíneas anuais de inverno eQualidade da forragem de gramíneas anuais de inverno eQualidade da forragem de gramíneas anuais de inverno eQualidade da forragem de gramíneas anuais de inverno ede verão com adubação nitrogenada e esterco de suínosde verão com adubação nitrogenada e esterco de suínosde verão com adubação nitrogenada e esterco de suínosde verão com adubação nitrogenada e esterco de suínosde verão com adubação nitrogenada e esterco de suínos

Resumo – Em um experimento de campo conduzido na Região Oeste de Santa Catarina foram avaliados parâmetrosqualitativos de forragens relacionados com a adubação orgânica e a mineral. Os tratamentos constaram de duas fontesde nitrogênio: nitrato de amônio (NA) e esterco de suínos (ES), aplicados nas doses de zero, 60, 120 e 180kg/ha de N nasemeadura de milheto e consórcio de aveia + azevém. No início do florescimento, coletaram-se amostras da parte aéreadas plantas para análise dos parâmetros qualitativos: digestibilidade in vitro, teores de proteína bruta, nutrientesdigestíveis totais e fibra bruta; e quantidade de nutrientes acumulados na matéria seca (MS). Os resultados mostraramum aumento linear no teor de proteína bruta da forragem em função das doses de N aplicadas. Os demais parâmetrosqualitativos da forragem não foram afetados. A adubação nitrogenada, além de aumentar o teor de N na forragem,proporcionou maior acúmulo de outros nutrientes nas plantas, melhorando a qualidade nutricional da forragem. Emcomparação ao NA, o ES proporcionou maior acúmulo de P, K e Zn na forragem.

Termos para indexação: proteína bruta, digestibilidade, níveis de nitrogênio, adubação orgânica.

Forage quality of winter and summer anual grasses under nitrogen fertilization and pig slurry

Abstract – Nutrient accumulation and forage quality were evaluated in a field experiment in Chapecó, Southern Brazil,with different grasses and nitrogen fertilization. The treatments were a combination of the nitrogen sources: ammoniumnitrate (AN) and pig slurry (PS), applied at the rates of 0, 60, 120 and 180kg/ha of N before seeding the annual grasses:pearl millet in the summer and black oat + Italian ryegrass in the winter. Nutrient accumulation, crude protein (CP),acid detergent fiber (ADF), in vitro organic matter digestibility (IVOMD) and total nutrient digestibility (TND) wereevaluated in the dry matter. Both N sources linearly increased CP content in pearl millet and oat + ryegrass forage. Thevariables IVOMD, ADF and TND were not affected by nitrogen. Nutrient accumulation increased by increasing N ratesfrom both sources. In comparison to AN, PS increased the absorption of P, K and Zn in all forage plants.

Index terms: crude protein, digestibility, nitrogen levels, organic fertilizer.

Aceito para publicação em 23/9/09.1Eng.-agr., Dr., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf), C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49)3361-0600, e-mail: [email protected]., M.Sc., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf), e-mail: [email protected].

Elói Erhard Scherer1 e Cristiano Nunes Nesi2

65Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

1998; Moojen et al., 1999; Difante etal., 2006) como para corte efornecimento in natura, ou na formade silagem e feno (Kollet et al., 2006).

A adubação nitrogenada é um dosprincipais fatores responsáveis peloincremento de produção e melhoriada qualidade da forragem degramíneas (Roso et al., 1999;Heringer & Moojen, 2002),proporcionando aumento naprodução animal por meio daelevação da capacidade de suporte dapastagem e da produção animal porhectare (Cóser & Maraschim, 1983;Lupatini et al., 1998; Restle et al.,2000; Moojen et al., 1999; Soares &Restle, 2002; Difante et al., 2006).Neste sentido, o aproveitamento dosestercos animais pode ser uma boaalternativa para suprimento denitrogênio e outros nutrientes àsplantas a um baixo custo,aumentando o rendimento dematéria seca e melhorando aqualidade da forragem (Durigon etal., 2002). O objetivo deste estudo foiavaliar o efeito de doses e fontes denitrogênio (esterco de suínos e nitratode amônio) na absorção e no acúmulode nutrientes pelas plantas e nosparâmetros qualitativos da forragem.

Material e métodos

O experimento foi conduzido naEpagri/Centro de Pesquisa paraAgricultura Familiar (Cepaf), emChapecó, SC (altitude de 679m,27o07' latitude sul, 52o37' longitudeoeste). O solo é classificado comoLatossolo Vermelho distroférricotípico e apresentava, na instalação doexperimento, as seguintescaracterísticas na camada de zero a20cm: 63% de argila, 3,4% de matériaorgânica, 5,8 de pH-H2O, 9,0mg/L deP e 155mg/L de K.

O experimento foi conduzido de2001 a 2003, com cultivo deforrageiras anuais de inverno (aveia+ azevém consorciados) e de verão(milheto), em sistema de sucessão. O

delineamento experimental foi emblocos ao acaso, com três repetiçõese tratamentos dispostos em esquemafatorial. Os tratamentos foram dosescrescentes de N (zero, 60, 120 e180kg/ha), na forma de nitrato deamônio (NA) e esterco líquido desuínos (ES), aplicados duas vezes aoano, em dose única, 1 dia antes dasemeadura das forrageiras deinverno e de verão. As parcelastinham área total de 30m2 e área útilde 12m2.

Os adubos foram aplicados a lançona superfície do solo manejado emsistema de plantio direto, tomandocomo base o teor de N total de cadafonte de adubo. O esterco de suínosutilizado apresentou, em média,3,21kg/m3 de N, 1,76kg/m3 de P2O5 e1,22kg/m3 de K2O. Em todas asparcelas foi aplicada uma adubaçãouniforme de P e K, de acordo com arecomendação para cada cultura(Sociedade..., 2004).

Os resultados deste trabalhoreferem-se a três cultivos de aveia +azevém e dois de milheto, em que foiavaliada a produção de massa seca eparâmetros qualitativos da forragem.A avaliação da produção de massaseca das espécies forrageiras foirealizada no início do florescimentodas plantas, o que ocorreu entre 60 e65 dias após a emergência dasplantas de aveia + azevém e entre 65e 70 dias após a emergência dasplantas de milheto. O material foicortado a 0,10m de altura, pesadoverde e, logo após, foram retiradassubamostras para secagem em estufaa 65oC para determinação do seu teorde matéria seca. Essas amostrasforam moídas em moinho tipo Willey(< 40 mesh) e encaminhadas aoLaboratório de Nutrição e FisiologiaVegetal da Epagri/Caçador paradeterminação dos teores de N, P, K,Cu e Zn, e ao Laboratório de NutriçãoAnimal da Epagri/Lages, onde foramdeterminados os teores de proteínabruta (PB), fibra bruta (FB),digestibilidade da matéria orgânica

in vitro (DIVMO) e nutrientesdigestíveis totais (NDT) da massaseca (MS). As análises de qualidade(PB, NDT, FB e DIVMO) foramefetuadas apenas no ano de 2003, eos teores de nutrientes na matériaseca foram avaliados anualmente.Para estimar o teor de PB daforragem usou-se o fator de conversão(PB = 6,25 x N). Também foramcalculadas as quantidades denutrientes absorvidas e acumuladasna parte aérea das forrageiras,usando-se para isso o teor doelemento no tecido e a quantidade dematéria seca produzida por área.

Os dados foram submetidos àanálise de variância seguida do testede Duncan a 5% para comparação demédias (FB, DIVMO e NDT) eajustadas equações polinomiais paraPB e nutrientes no tecido, quandohouve significância da análise devariância (P < 0,05).

Resultados e discussão

A adubação nitrogenada aumen-tou significativamente os teores dePB na MS das forrageiras avaliadas(Figura 1). Os resultados mostramque, em comparação ao N-ES, o N-NA apresenta uma maior eficiência(P < 0,05) na produção de PB,resultando em maiores incrementoscom a mesma quantidade de Naplicada. Essa menor eficiência do N-ES em relação ao N-NA é justificávelpelo fato de o esterco apresentarparte do N na forma orgânica, nãoprontamente disponível às plantas(Scherer et al., 1996).

As equações ajustadas indicamque, para cada 100kg/ha de N-ES eN-NA aplicados, há um incrementolinear de, respectivamente, 4% e 6%no teor de PB na forragem de milhetoe 4% no teor de PB na forragem deaveia + azevém. Em média, os valoresde PB nos diversos tratamentos doexperimento variaram de 14% a 23%no consórcio aveia + azevém e de 11%a 24% no milheto. Esses resultados

66 Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

Fonte FB(%) DIVMO(%) NDT(%)

.................... Aveia + azevém..................

Esterco de suínos 30,0 a 67,6 a 61,5 a

Nitrato de amônio 28,6 a 69,2 a 62,4 a

CV (%) 12,5 9,4 9,5

.......................... Milheto .........................

Esterco de suínos 33,8 a 61,6 a 56,0 a

Nitrato de amônio 32,1 b 65,4 a 60,1 a

CV (%) 4,2 10,3 10,0

Tabela 1. Teores médios de fibra bruta (FB) e nutrientes digestíveis totais (NDT),digestibilidade in vitro (DIVMO) da matéria seca da forragem de aveia +azevém e milheto, com uso de duas fontes de nitrogênio. Valores médios dasdiferentes doses de nitrogênio (1)

(1) Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste deDuncan a 5% de probabilidade.

Figura 1. Efeito de doses de nitrogênio provenientes de esterco líquido desuínos (ES) e nitrato de amônio (NA) no teor de proteína bruta (PB) das (A)gramíneas milheto e (B) aveia + azevém. Média de 3 anos

(*) Significativo a 5%

estão de acordo com os obtidos porLupatini et al. (1998), queobservaram aumento linear de13,17% a 22,24% de PB na matériaseca no consórcio de aveia + azevémcom doses de zero a 300kg/ha de N,por Soares & Restle (2002), queobtiveram teores de 19,83% a 25,06%de PB com utilização de zero a 450kg/ha de N em triticale + azevém e porKollet et al. (2006), que utilizaram80kg/ha de N em cultivares demilheto, obtendo valores de PB entre13,62% e 19,33%. Os resultados deDifante et al. (2006), com valor médiode 14,5% de PB em azevém, foraminferiores aos obtidos neste trabalho.

Os demais parâmetros dequalidade da forragem (FB, DIVMOe NDT) não foram afetados pelasfontes e doses de N avaliadas, àexceção do teor de FB na MS domilheto, que foi significativamentemaior com utilização de N-ES emcomparação ao N-NA (Tabela 1). Osvalores médios de DIVMO, NDT e FBna matéria seca de milheto sãosemelhantes aos obtidos emgramíneas de estação fria porLupatini et al. (1998), Restle et al.(2000), Roso et al. (2000) e Difanteet al. (2006), e em milheto porHeringer & Moojen (2002).

Estes resultados demonstram queé possível produzir forragem de boaqualidade, com alto teor de proteína,com utilização exclusiva de esterco desuínos em substituição ao adubonitrogenado, que normalmenteconstitui um dos fatores que maisoneram os custos de produção daspastagens (Restle et al., 2000).

Com base na produção defitomassa (forragem) das espécies eteores de nutrientes na MS, foramcalculadas as quantidades de N, P,K, Cu e Zn acumuladas na parteaérea produzida por área. Na Figura2 observa-se que a quantidade de Nacumulado na MS de milheto e deaveia + azevém aumentou signi-ficativamente com as doses de N-NAe N-ES aplicadas. Comparando-se os

Dose de N (Kg/ha)

Dose de N (Kg/ha)

(A)

(B)

PB (%

)PB

(%)

67Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

Figura 2. Acúmulo de N na parte aérea de aveia + azevém (Av + Az) e milheto(Mi) em função da aplicação de doses crescentes de N, usando como fonteesterco líquido de suínos (ES) e nitrato de amônio (NA). Média de 3 anos

Figura 3. Acúmulo de fósforo (P) e potássio (K) na parte aérea de aveia +azevém (Av + Az) e milheto (Mi) em função da aplicação de doses crescentesde N, usando como fonte esterco líquido de suínos (ES) e nitrato de amônio(NA). Média de 3 anos

(*) Significativo a 5%

(*) Significativo a 5%

valores de N acumulados pelasplantas, verifica-se que o milhetoapresentou maior capacidade deextração e acúmulo de N na MS emcomparação ao consórcio das duasforrageiras de clima temperado(aveia + azevém). A recuperação deN pelo milheto, dada pelo coeficienteangular da equação ajustada, foi de59% e 79% quando da utilização deN-ES e N-NA, respectivamente,sendo bastante superior aos 26%encontrados quando da utilização deN-ES em aveia + azevém. Com autilização de N-NA em forrageiras declima temperado, o acúmulo de N foimais bem explicado pelo modeloquadrático, com ponto de máximoacúmulo na planta adicionando-se126,7kg/ha de N-NA. Esses valoresde recuperação de N com milhetoestão próximos aos 83% encontradospor Paul & Beauschamp (1995) emmilho, porém são bem superiores aos28,7% de N encontrados por Cerettaet al. (2005) com utilização de estercode suínos em milho.

Nas Figuras 3 e 4 são apre-sentados os teores de algunsnutrientes acumulados na forragemdas espécies de inverno e de verão.Observa-se que a ciclagem pelasplantas forrageiras dos nutrientesadicionados pela adubação mineral(Pe K) e pelo esterco (P, K, Cu, Zn eoutros) foi positivamente in-fluenciada pelos tratamentosaplicados. Na forragem de milheto,a quantidade de nutrientesacumulados respondeu de formalinear às doses de N aplicadas. Paracada 100kg/ha de N-NA e N-ESaplicados, haveria teoricamente umacúmulo de 4 e 7kg/ha de P e 34 e49kg/ha de K, respectivamente(Figura 3). Para os micronutrientes,presentes em grandes quantidadesno esterco de suínos, o efeito dasdoses de N também foi linear (Figura4), com incrementos de 29 e 26g/hade Cu e 59 e 87g/ha de Zn para cada100kg/ha de N-NA e N-ES aplicados,respectivamente.

Dose de N (Kg/ha)N

na

MS

(kg/

ha)

Dose de N (kg/ha)

K n

a M

S (k

g/ha

)P

na M

S (k

g/ha

)

68 Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

Em gramíneas de estação fria aquantidade de nutrientes acumu-lados na forragem quando dautilização de N-ES foi mais bemexplicada pelo modelo linear equando da utilização de N-NA, pelomodelo quadrático. Esses resultadosmostram que com a adição dessesnutrientes pelo esterco, o acúmulo naMS foi crescente, enquanto com autilização de N-NA, que forneceunicamente N, o acúmulo tende adiminuir com a utilização de altasdoses.

Isso mostra que a adubação

nitrogenada, além de aumentar aabsorção e acúmulo de N naforragem, proporciona também aabsorção de maiores quantidades dosdemais nutrientes essenciais àsplantas, aumentando a qualidadenutricional da forragem produzida.Esse fato fica mais marcante quandoda utilização de esterco de suínoscomo fonte de N, pois este apresentaem sua constituição quantidadesvariáveis de quase todos osnutrientes essenciais para as plantas,que podem ser incorporados àforragem.

Figura 4. Acúmulo de cobre (Cu) e zinco (Zn) na parte aérea de aveia + azevém(Av + Az) e milheto (Mi) em função da aplicação de doses crescentes de N,usando como fonte esterco líquido de suínos (ES) e nitrato de amônio (NA).Média de 3 anos

As maiores quantidades denutrientes acumulados na forragem,em função das doses crescentes de Naplicadas, a qual é retirada do localna colheita, apontam para anecessidade de se aplicarem maioresquantidades de P e K, de fontemineral ou orgânica, do que aquelasrecomendadas para os sistemas quevisam unicamente à produção degrãos (Sociedade..., 2004).

Conclusões

A adubação nitrogenada aumentalinearmente os teores de proteínabruta na forragem de gramíneasanuais, mas não tem efeito sobre adigestibilidade in vitro da matériaorgânica, teores de fibra bruta enutrientes digestíveis totais.

O uso de esterco de suínos naadubação de gramíneas forrageirasaumenta o teor de nitrogênio e deoutros nutrientes na forragem,melhorando a qualidade nutricionalda forragem.

Em comparação ao nitrato deamônio, o esterco de suínos apresentauma menor eficiência na produção deproteína bruta para uma mesmaquantidade de nitrogênio aplicada.

O esterco de suínos podesubstituir o adubo nitrogenado semcomprometer a qualidade daforragem.

Literatura citada

1. CERETTA, C.A.; BASSO, C.J.;PAVINATTO, P.S. et al. Produtividadede grãos de milho, produção dematéria seca e acúmulo de nitrogênio,fósforo e potássio na rotação de aveia--preta/milho/nabo forrageiro com

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milheto comum e sorgo. PesquisaAgropecuária Brasileira, Brasília,v.18, n.4, p.421-426, 1983.

(*) Significativo a 5%Dose de N (kg/ha)

Zn n

a M

S (k

g/ha

)C

u na

MS

(kg/

ha)

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15. SOCIEDADE BRASILEIRA DECIÊNCIA DO SOLO. COMISSÃO DEQUÍMICA E FERTILIDADE DOSOLO. Manual de adubação e decalagem para os estados do RioGrande do Sul e Santa Catarina.10.ed. Porto Alegre: SBCS/NúcleoRegional Sul; Comissão de Química eFertilidade do Solo – RS/SC, 2004.400p.

70 Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

Efeito da altura de corte na ramificação e produtividade doEfeito da altura de corte na ramificação e produtividade doEfeito da altura de corte na ramificação e produtividade doEfeito da altura de corte na ramificação e produtividade doEfeito da altura de corte na ramificação e produtividade dovimeiro no Planalto Sul Catarinensevimeiro no Planalto Sul Catarinensevimeiro no Planalto Sul Catarinensevimeiro no Planalto Sul Catarinensevimeiro no Planalto Sul Catarinense

Tássio Dresch Rech1, Flávio Zanette2, Dieter Brandes3, Mari I. Carissimi Boff4 e Luiz Gustavo Willes Della Mea5

Resumo – O defeito mais comum e indesejado na produção de vime é a ramificação dos ramos, pois aumenta adesuniformidade de diâmetro, favorece o engrossamento e a perda de flexibilidade do vime, além de deixar marcasquando removido após a colheita. O presente trabalho avaliou os efeitos do corte dos ramos rente à inserção, acimada segunda gema ou acima da quarta gema, com ou sem eliminação de ramos fracos, no momento da colheita, sobrea ramificação e a produtividade de vime, no ciclo subsequente. O experimento foi conduzido em lavoura comercialem Bocaina do Sul, SC, no período de 2003 a 2005. A altura de corte na colheita não influenciou a produtividade nema taxa de ramificação do vimeiro.

Termos para indexação: Salix x rubens, poda, morfogênese.

Effect of cutting height on the branching and yield of willow crop in the Southernplateau of Santa Catarina, Brazil

Abstract –The most common and unwanted defect in the production of wicker is the ramification of the branches, asit increases the lack of uniformity in diameter, increases of thickness, and promotes the loss of flexibility of wicker. Italso leaves marks when removed after harvest. The present research analyzed the effect of the branch cutting heightbeside the insert point, over the second bud or over the fourth bud, with or without the deletion of the weak ones, onbranching formation and yield. This was evaluated under field conditions in Bocaina do Sul, SC, Brazil, from 2003 to2005. The cutting height of branches had no effect on either yield or branching.

Index terms: Salix x rubens, pruning, morphogenesis.

Aceito para publicação em 28/9/09.1Eng.-agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Lages, C.P. 181, 88502-970 Lages, SC, fone: (49) 3224-4400, e-mail:[email protected]., Dr., UFPR/Setor de Ciências Agrárias, Rua dos Funcionários, 1.540, 80035-050 Curitiba, PR, fone: (41) 3350-5601,e-mail: [email protected]., Ph.D., Epagri/Estação Experimental de Lages, e-mail: [email protected]. (Aposentado).4Eng.-agr., Ph.D., Udesc/Centro de Ciências Agroveterinárias, Av. Luis de Camões, 2.090, 88520-000 Lages, SC, e-mail:[email protected]., mestrando, Udesc/Centro de Ciências Agroveterinárias, e-mail: [email protected].

O cultivo do vimeiro contribuipara a manutenção de mais de 1.400unidades produtivas familiares noPlanalto Sul Catarinense. A espécietradicionalmente cultivada é o Salixx rubens, que apresenta boaaceitação entre os agricultores(Epagri, 2005). A presença deramificações é o defeito mais comum

e indesejado no vime produzido noPlanalto Sul Catarinense (Rech,2006). Ramos de vime comramificações são normalmenterejeitados pelos artesãos porapresentarem maior desunifor-midade de diâmetro, facilidade dequebra na confecção e prin-cipalmente no acabamento de peçasartesanais, além da presença demarcas e irregularidades de

superfície nos pontos em que asramificações foram removidas(Hubbard,1904). O estabelecimentode um sistema de condução dovimeiro que contribua para aprodução de maior proporção deramos de vime sem ramificação é degrande importância na valoração doproduto ofertado pelos viminicultorese, consequentemente, na rendadestes.

Introdução

71Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

O objetivo do presente trabalho foiavaliar a influência da altura do cortedos ramos sobre a produtividade e aramificação do vime nas condições doPlanalto Sul Catarinense.

Material e métodos

Em lavoura comercial de Salix xrubens implantada em 1999, noespaçamento de 30 x 90cm, foiinstalado um experimento emsetembro de 2002. O vimial estavalocalizado em Piúras (852m dealtitude, 27o46’ latitude sul e 49o52’longitude oeste), município deBocaina do Sul, SC. No momento dainstalação do experimento, o soloapresentava as seguintescaracterísticas físico-químicas nacamada de zero a 20cm deprofundidade, determinadasconforme metodologia descrita porTedesco et al. (1985): pHágua = 5,35; P= 15,1mg/dm3; K = 108mg/dm3; Ca =7,1cmolc/dm3; Mg = 5,0cmolc/dm3; Al= 0,9cmolc/dm3; MO = 4,4% e Argila= 25%.

O delineamento experimental foiem blocos casualizados, com trêsrepetições. As parcelas tinham áreade 7,29m2 e foram compostas por 27plantas dispostas em três fileiras,sendo avaliadas as seis plantas dafileira central. As colheitas foramrealizadas sempre no mês de julhodos anos de 2003 a 2005. Foramrealizadas duas capinas manuais porano, uma no início da brotação eoutra no mês dezembro,incorporando no solo a vegetaçãoespontânea que se desenvolvia naárea. Não foi utilizada adubação nacondução da lavoura.

Os tratamentos foram osseguintes: a) poda rasa – corte nabase de todos os ramos (testemunha);b) poda curta sem limpeza – cortedeixando duas gemas de todos osramos; c) poda longa sem limpeza –corte deixando quatro gemas de todosos ramos; d) poda curta com limpeza– corte rente à base nos ramos fracose deixando duas gemas nos ramosvigorosos; e) poda longa com limpeza– corte rente à base dos ramos fracose deixando quatro gemas dos ramosvigorosos. Foram considerados ramos

fracos aqueles com diâmetro inferiora 10mm.

O vime produzido em cadaparcela foi classificado comoramificado quando apresentavaramos laterais com diâmetro basalsuperior a 2mm, ou liso, na ausênciade ramificações ou com ramificaçõesinferiores a 2mm de diâmetro. Emcada classe foram avaliados afitomassa fresca (MF), em t/ha, onúmero de ramos (N), em unidades,e o diâmetro (D), em mm, de cadaramo. No momento do corte foirealizado registro fotográfico deeventuais anomalias morfogênicas edanos causados por insetos.

A partir dos dados de fitomassafresca e do número de ramos foicalculada a massa média por ramo(Md), a proporção de vime ramificadoem relação à fitomassa fresca(%rfMF) e ao número de ramos(%rfN) e a taxa de incremento dediâmetro (%iD), conforme segue: Md= MF/N; %rfMF = 100 (MFrf/MFtt);%rfN = 100 (Nrf/Ntt); e %iD = 100[(Drf – Dli)/Dli]; em que: MFrf é afitomassa fresca do vime comramificação, MFtt é a fitomassafresca total, Nrf é o número de ramoscom ramificação, Ntt é o número totalde ramos, Drf é o diâmetro dos ramosramificados, Dli é o diâmetro dosramos lisos.

Os dados dos 3 anos, bem como osdados acumulados dos 3 anos, foramsubmetidos separadamente à análisede variância e as médias foramcomparadas com base no teste Tukeya 5%.

Resultados e discussão

Os rendimentos médios e ascaracterísticas morfométricas médiasdos ramos de vime produzidos sobdiferentes sistemas de altura de cortena colheita estão apresentados nasTabelas 1 a 4. De forma geral, aaltura do corte não influenciou aprodutividade do vimeiro, nem aconformação e a taxa de ramificaçãodos ramos produzidos, em nenhumdos anos avaliados. Na análiseconjunta dos anos foram observadosapenas efeitos de ano e blocos,refletindo as variações climáticas ede distribuição espacial do plantio.

Diversos fatores podem terdeterminado a ausência de respostaà altura do corte, no momento dacolheita. A colheita foi realizada nomês de julho e, nos tratamentos compoda longa, pode ter favorecido abrotação de gemas da base emdetrimento das gemas distais,devido ao gradiente acrótono dedormência do Salix x rubens ,conforme constatado por Rech et al.(2006). O gradiente acrótono écaracterizado pela maior exigência dehoras de frio ou pela soma térmicadas gemas apicais em relação àsbasais. Com isso, a manutenção debase dos ramos na planta pode nãoter contribuído na formação de novosramos (Figura 1).

Hubbard (1904) enfatiza que ocorte deve ser realizado rente aotronco, para garantir o vigor e aqualidade dos ramos. No mês denovembro foram observados de 15 a30 brotos por planta, porém, em

Figura 1. Presença de ramos sembrotação em plantas de vimeiro compoda longa. Bocaina do Sul (10/12/2005)

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média, cada vimeiro produziu de deza 16 ramos. Portanto, pouco mais dametade dos brotos sobreviveu até oponto de colheita (dados nãoapresentados).

Além disso, as gemas re-manescentes na base dos ramos sãogemas completas, que tiveram umaestação de crescimento quasecompleta para diferenciação edesenvolvimento. As observações emmicroscópio estereoscópico per-mitiram identificar de quatro a oitofolíolos dentro das brácteas de gemadormente (Figura 2). Na base de cadafolíolo é encontrada uma nova gemaem desenvolvimento. Pode-seespecular que essas gemas axilares,

por estarem formadas desde aestação de crescimento anterior,apresentem maior aptidão para abrotação que as gemas axilares aserem formadas durante odesenvolvimento de brotos do ano.Isso, somado à posição mais elevada

destas gemas, vem a facilitar aramificação dos ramos formados apartir das gemas axilares.

Os ramos de maior diâmetro,devido ao seu peso e comprimento, eao próprio diâmetro, são os maissujeitos ao dano no momento do

PodaCaracterística avaliada(1) Rasa Curta Curta Longa Longa CV(%)

sem(2) com(2) sem(2) com(2)

Fitomassa ramificados (MFrf, t/ha) 4,6 4,9 5,4 4,5 4,8 42,2Fitomassa lisos (MFli, h/ha) 1,2 1,2 1,5 1,4 1,3 33,7% Fitomassa ramificados (100(MFrf/MFtt)) 75,9 76,9 68,9 75,3 79,0 12,4Número de ramificados (Nrf, 1.000/ha) 23,6 23,8 23,6 20,5 23,3 31,3Número de lisos (Nli,1.000/ha) 56,7 48,8 59,0 56,9 57,9 36,5% Número ramificados (100(Nrf/Ntt)) 30,5 35,2 27,7 28,9 30,6 26,0Diâmetro ramificados (Drf, mm) 13,7 13,3 13,4 14,2 13,9 13,5Diâmetro ramos lisos (Dli, mm) 7,6 8,7 8,6 8,3 8,0 9,8% Incremento diâmetro (%iD = 100[(Drf - Dli)/Dli]) 80,1 53,2 56,1 70,5 77,0 40,6Massa média ramificados (Mdrf, g) 135,1 131,6 144,8 159,4 147,7 32,5Massa média lisos (Mdli, g) 30,8 38,4 41,8 33,6 35,7 24,0

Tabela 1. Rendimentos médios e caracterização do vime produzido no ano agrícola de 2003 sob diferentes sistemas dealtura de corte na colheita, município de Bocaina do Sul, SC

(1)Não houve diferenças estatísticas observadas entre as variáveis.(2)Limpeza dos ramos, ou seja, poda curta ou longa, com ou sem a remoção dos ramos mais fracos.Nota: CV = coeficiente de variação.

(1)Não houve diferenças estatísticas observadas entre as variáveis.(2)Limpeza dos ramos, ou seja, poda curta ou longa, com ou sem a remoção dos ramos mais fracos.Nota: CV = coeficiente de variação.

PodaCaracterística avaliada(1) Rasa Curta Curta Longa) Longa CV(%)

sem(2) com(2) sem(2 com(2)

Fitomassa ramificados (MFrf, t/ha) 3,7 3,4 2,8 4,0 4,1 50,1Fitomassa lisos (MFli), t/ha) 1,5 1,0 0,7 0,9 1,4 56,5% Fitomassa ramificados (100(MFrf/MFtt) 74,4 74,3 76,8 76,1 72,8 13,4Número de ramificados (Nrf, 1.000/ha) 28,9 22,6 23,8 23,8 26,9 28,6Número de lisos (100(Nrf/Ntt)) 67,0 36,9 27,6 37,4 47,9 59,7% Número ramificados (Nli,1.000/ha) 34,1 39,8 44,8 37,0 41,4 26,3Diâmetro ramificados (Drf, mm) 12,1 12,4 11,0 12,0 12,2 7,8Diâmetro ramos lisos (Dli, mm) 7,1 7,6 7,3 7,0 8,2 11,3%Incremento diâmetro (%iD = 100[(Drf - Dli)/Dli]) 70,9 62,4 49,2 74,1 49,5 32,2Massa média ramificados (Mdrf, g) 116,3 137,4 92,8 113,2 130,7 25,5Massa média lisos (Mdli, g) 33,1 35,7 32,6 36,0 55,0 33,4

Tabela 2. Rendimentos médios e caracterização do vime produzido no ano agrícola de 2004 sob diferentes sistemas dealtura de corte na colheita, município de Bocaina do Sul, SC

Figura 2. (A) Gema de Salix x rubens intacta e com bráctea removida, (B) deperfil e (C) com folíolos internos parcialmente removidos no processo decontagem de gemas axilares (aumento de 10x). Lages, julho de 2008

(A) (B) (C)

73Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

corte, podendo lascar longi-tudinalmente quando o corte não érealizado com o cuidado necessário(observação de campo). Isso podefavorecer a ocorrência de doenças emorte dos ramos. Assim, a maiorincidência de danos nos ramos demaior diâmetro e comprimento podeter anulado a tendência de maiorsobrevivência desses ramos com maisreservas.

Um dos fatores de dano aos ramosmais vigorosos foi a ocorrência deformigas do gênero Pseudomyrmex(subfamília Pseudomyrmecinae efamília Formicidae), acompanhadasde ovos, larvas e pupas. Elasinstalaram seus ninhos nos canais

medulares de ramos podados,principalmente os de maior diâmetrode medula (Figura 3) (CSIRO, 1979).Embora sejam abundantes naliteratura de outros países as citaçõesde insetos considerados pragas naslavouras de vime, nenhumareferência foi encontrada sobreformigas com o comportamentoobservado (Abalos, 1998; Abraham-son et al., 2006). A porcentagem deplantas mortas foi de 5,6% para podarasa, de 8,2% na média dostratamentos com poda curta e de13,8% para a poda longa. Essas di-ferenças, porém, não foramsignificativas. Também não se podeafirmar que a incidência das formigas

seja o principal fator de mortalidadedas plantas. Foram observadasplantas que se mantiveramprodutivas mesmo com ataque deformigas em vários remanescentes deramos, sendo a produção da plantatotal ou parcialmente compensadapelos ramos não atacados. A presençada formiga parece menos importantena sobrevivência das plantas do quena estruturação da arquitetura deplanta esperada pelo manejo de poda.

Conforme descrito por Ehsen(1987), pode ainda ocorrer com-partimentalização das lesões, comoresposta à injúria do corte, com obloqueio dos traqueídeos por gomase tiloses no ponto de inserção do ramo

PodaCaracterística avaliada(1) Rasa Curta Curta Longa Longa CV(%)

sem(2) com(2) sem(2) com(2)

Fitomassa ramificados (MFrf, t/ha) 2,7 3,2 4,5 4,1 5,2 79,0Fitomassa lisos (MFli, t/ha) 1,4 2,0 1,7 1,9 1,3 65,2% Fitomassa ramificados (100(MFli/MFtt)) 71,1 53,7 67,0 64,3 80,9 29,6Número de ramificados (Nrf, 1.000/ha) 28,0 19,3 32,4 40,8 37,4 35,6Número de lisos (Nli,1.000/ha) 52,7 69,5 67,3 76,8 55,7 55,6% Número ramificados (100(Nrf/Ntt)) 43,7 21,9 34,1 37,9 46,9 50,1Diâmetro ramificados (Drf, mm) 11,4 12,4 10,9 12,1 12,2 13,8Diâmetro ramos lisos (Dli, mm) 75,6 8,6 8,0 7,9 7,7 8,5%Incremento diâmetro (%iD = 100[(Drf - Dli)/Dli]) 40,1 37,3 40,3 31,3 46,9 43,2Massa média ramificados (Mdrf, g) 75,5 111,0 100,5 81,4 106,6 37,3Massa média lisos (Mdli, g) 28,3 45,0 40,0 40,2 38,8 29,5

Tabela 3. Rendimentos médios e caracterização do vime produzido no ano agrícola de 2005 sob diferentes sistemas dealtura de corte na colheita, município de Bocaina do Sul, SC

(1)Não houve diferenças estatísticas observadas entre as variáveis.(2)Limpeza dos ramos, ou seja, poda curta ou longa, com ou sem a remoção dos ramos mais fracos.Nota: CV = coeficiente de variação.

Tabela 4. Rendimentos médios e caracterização do vime produzido nos anos agrícolas de 2003 a 2005 sob diferentessistemas de altura de corte na colheita, município de Bocaina do Sul, SC

(1)Não houve diferenças estatísticas observadas entre as variáveis.(2)Limpeza dos ramos, ou seja, poda curta ou longa, com ou sem a remoção dos ramos mais fracos.Nota: CV = coeficiente de variação.

PodaCaracterística avaliada(1) Rasa Curta Curta Longa Longa CV(%)

Sem(2) Com(2) Sem(2) Com(2)

Fitomassa ramificados (MFrf, t/ha) 3,7 3,8 4,2 4,2 4,6 70,0Fitomassa lisos (MFli, t/ha) 1,4 1,4 1,3 1,4 1,4 62,3% Fitomassa ramificados (100(MFli/MFtt)) 74,2 68,3 71,2 72,4 77,6 21,8Número de ramificados (Nrf, 1.000/ha) 26,6 21,9 26,2 27,5 29,2 41,6Número de lisos (Nli,1.000/ha) 58,6 51,8 50,2 55,6 53,8 56,8% Número ramificados (100(Nrf/Ntt)) 35,7 32,3 35,6 34,4 39,7 44,0Diâmetro ramificados (Drf, mm) 12,3 12,5 11,9 12,3 12,5 16,3Diâmetro ramos lisos (Dli, mm) 7,4 8,3 8,0 7,7 8,0 11,4%Incremento diâmetro (%iD = 100[(Drf - Dli)/Dli]) 65,0 51,0 49,1 60,6 57,8 43,6Massa média ramificados (Mdrf, g) 111,0 126,7 113,6 120,6 128,4 37,5Massa média lisos (Mdli, g) 30,8 39,7 38,0 36,4 43,2 32,6

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cortado. A ocorrência desse tipo debloqueio determina a morte doremanescente de ramo, anulando outornando prejudicial a prática decorte com remanescente longo.

Conclusão

A altura de corte na colheita nãoapresenta efeitos consistentes sobrea produtividade nem sobre a

proporção de vime ramificado no ciclosubsequente.

Agradecimento

Agradecemos ao colega DieterBrandes pela cessão gratuita da áreaexperimental e pela colaboração alémdas obrigações funcionais namanutenção do experimento.

Literatura citada

1. ABALOS R.; M.I. (Ed.) Mimbre de laproducción al consumo. Santiago:Infor, 1998. 83p.

2. ABRAHAMSON, L.P;VOLK, R.F;WHITE, E.H. et al. Willow BiomassProducer’s Handbook. Syracuse, NY:Short-Rotation Woody CropsProgram, Sunny College ofEnvironmental Science & Forestry.Disponível em: <http://www.esf.edu/W I L L O W / P D F / 2 0 0 1 % 2 0f i n a l h a n d b o o k . p d f # s e a r c h= % 2 2 A B R A H A M S O N % 2 0 % 2 2Willow%20Biomass%20Producer

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3. COMMONWEALTH SCIENTIFICAND INDUSTRIAL RESEARCHORGANIZATION (CSIRO). TheInsects of Australia - A Textbook forStudents and research Workers.Canberra, Australia: MelbourneUniversity Press, 1979. 1029p.

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5. EPAGRI. Diagnóstico da cultura dovimeiro - Relatório Interno. Lages,2005. 19p.

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7. RECH, T.D. Ramificação eprodutividade do vimeiro emdiferentes condições ambientais e demanejo no Planalto Sul Catarinense.2006. 149f. Tese (Doutorado emProdução Vegetal) - UniversidadeFederal do Paraná, Curitiba, PR.

8. RECH, T.D.; ZANETTE, F.;BRANDES, D. et al. Requerimentoem frio, dinâmica e heterogeneidadede dormência de gemas em ramos deSalix x rubens cultivado em Lages,SC. Ciência Florestal, Santa Maria,v.16, n.3/4, p.427-435, 2006.

9. TEDESCO, M.J.; VOLKWEISS, S.J.;BOMMEN, H. Análises de solo,plantas e outros materiais. PortoAlegre: UFRGS, 1985. 188p. (UFRGS.Boletim Técnico, 5).

Figura 3. (A) Formigueiro dentro de tronco de vimeiro parcialmente afetado,ainda produtivo, em Lages (16/8/2005) e (B) presença de pó de madeiraindicando a invasão de formigas na medula de ramos ainda com brotaçõesverdes, em Bocaina do Sul (6/12/2005). (Círculos amarelos demarcamalgumas formigas)

(A)

(B)

75Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

Artropodofauna associada aos citros em Chapecó, SCArtropodofauna associada aos citros em Chapecó, SCArtropodofauna associada aos citros em Chapecó, SCArtropodofauna associada aos citros em Chapecó, SCArtropodofauna associada aos citros em Chapecó, SCLuís Antônio Chiaradia1 e José Maria Milanez2

Aceito para publicação em 1/10/091Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf), C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49)3361-0638, e-mail: [email protected]., Dr., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone: (47) 3341-5244, e-mail:[email protected].

Resumo – Para conhecer a artropodofauna associada aos citros foi realizado um levantamento faunístico em umpomar de laranjeiras ‘Valência’, situado em Chapecó, SC. As amostragens foram quinzenais, no período de julho de2003 a junho de 2006, utilizando um coletor de sucção aplicado sobre a copa das plantas. Houve captura de 17.925artrópodes, sendo 9.397 pragas, 5.913 inimigos naturais e 2.615 insetos com outros hábitos. Os hemípteros foram aspragas capturadas em maior número, enquanto as aranhas e as joaninhas predominaram entre os inimigos naturais.Os resultados mostraram a existência de interações tróficas entre grupos da artropodofauna dos citros.

Termos para indexação: pragas, inimigos naturais, amostragem.

Arthropods associated with citrus in Chapecó, SC, Brazil

Abstract – To know the arthropods associated with citrus a faunal survey was conducted in a ‘Valencia’ orangeorchard located in Chapecó, Santa Catarina State, Brazil. Samplings were fortnightly, from July of 2003 to June of2006 using a suction collector applied on the tree canopies. The total catches were 17,925 arthropods with 9,397pests and 5,913 natural enemies and 2,615 insects with other habits. Hemipterous were the pests caught in greatestnumbers, whereas spiders and ladybugs predominated among the natural enemies. The results showed the existenceof trophic interactions among arthropods groups in citrus.

Index terms: pests, natural enemies, sampling.

Introdução

O Brasil é o maior produtormundial de frutas cítricas, que sãodestinadas principalmente àindustrialização de suco concentrado.Os citros são cultivados em váriosEstados brasileiros, existindo intensacirculação de mudas e frutas peloPaís, o que favorece a dispersão depragas (Koller, 2006). Assim, muitosartrópodes prejudiciais incidem nospomares de citros no Estado de SantaCatarina, sendo importante conheceras espécies para implantar o manejointegrado de pragas nessa cultura(Chiaradia & Milanez, 2006).

Na artropodofauna associada aoscitros há pragas e inimigos naturais,além de existirem espécies que nãocausam danos ou benefícios. Dentreas espécies benéficas destacam-se osácaros predadores, as aranhas, asjoaninhas e insetos das ordens

Diptera e Hymenoptera (Parra et al.,2003).

Os ambientes naturais, normal-mente, têm maior diversidade deespécies do que as áreas cultivadasdevido à uniformidade da coberturavegetal e às práticas culturaisaplicadas, embora não se diferenciemnos grupos de fauna, pois a sucessãotrófica, geralmente, ocorre pelasubstituição das espécies por outrasde hábitos semelhantes (Matson etal., 1997).

A mosca-da-fruta, o ácaro-da--leprose e o ácaro-da-falsa-ferrugemsão pragas-chave dos citros no Estadode Santa Catarina (Chiaradia et al.,2002; Chiaradia et al., 2004). NoOeste Catarinense, cigarrinhas dafamília Cicadellidae também seenquadram nessa categoria, porquetransmitem a bactéria Xylellafastidiosa (Wells et al.), causando aclorose variegada dos citros (CVC)

(Huang & Chiaradia, 1998; Rosseti,2001). O psilídeo-dos-citros, Dia-phorina citri Kuwayama (Hemiptera:Psyllidae), poderá tornar-se umapraga-chave em Santa Catarina(Chiaradia et al., 2006), pois ocorreno Estado e se trata do vetor dabactéria Candidatus Liberibacteramericanus, patógeno causador do“greening” (Yamamoto et al., 2008).

Outros artrópodes prejudiciaisaos citros são pragas secundárias,pois ocorrem em baixos níveispopulacionais, incidem em surtos ouprovocam danos inexpressivos (Galloet al., 2002). Nessa categoria estãoincluídos diversos hemípteros.Alimentam-se de seiva, podemtransmitir doenças e, sobre asexcreções de algumas espécies,desenvolve-se o fungo Capnodiumcitri Berk & Desm., causador dafumagina (Moraes et al., 1995).

Ao estudar a entomofauna de um

76 Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

pomar de citros, Chagas (1980)utilizou um aparelho de sucção(D-vac), aplicando o bocal doequipamento, semanalmente, sobreos ramos da copa das plantas. Nesselevantamento, foram capturadas 132espécies de artrópodes, destacando--se, em número, o pulgão-preto,Toxoptera citricida Kirk. (Hemiptera:Aphididae), e joaninhas (Coleoptera:Coccinellidae) como praga e inimigosnaturais, respectivamente.

A repercussão de tratamentosfitossanitários sobre inimigosnaturais de pragas dos citros foiestudada por Bittencourt (1987),utilizando um aspirador D-vac.Baspinar (1994) usou um aparelho desucção para monitorar a populaçãode cigarrinhas da famíliaCicadellidae em culturas anuais e emcitros. Yamamoto & Gravena (2000)usaram um aparelho de sucção D-vacpara verificar a flutuaçãopopulacional de D. citri e conheceras cigarrinhas que infestam ospomares de citros no Estado de SãoPaulo. Nas amostragens, foi aplicadoo bocal do aparelho nos ramos dasplantas, permitindo capturar 58espécies de cicadelídeos.

Nos experimentos relatados nestetrabalho realizou-se o levantamentofaunístico em um pomar de citrossituado em Chapecó, SC, com oobjetivo de conhecer os artrópodesassociados à cultura.

Material e métodos

O estudo foi realizado em umpomar de laranjeiras ‘Valência’,Citrus sinensis (Osbeck), enxertadassobre Poncirus trifoliata (L.), situadoem Chapecó, SC (27o07’58’’ latitudesul, 52o38’40’’ longitude oeste e 660mde altitude). O pomar, com 10 anos,apresentava plantas arranjadas noespaçamento de 4 x 6m. Os tratosculturais aplicados periodicamenteno pomar foram: distribuição defertilizantes químicos em coberturana projeção da copa das plantas,roçadas na vegetação intercalar,pulverização de herbicidas edistribuição de iscas formicidas.

As amostragens foram realizadasquinzenalmente, sempre no períododa tarde, no decorrer de julho de 2003a junho de 2006, utilizando-se um

coletor de sucção adaptado de umaspirador/soprador de folhas damarca Echo, modelo PB 2110 (Figura1). Em cada data de avaliação foramcoletadas cinco amostras, obtidas aoaplicar o bocal do aspirador, por trêsminutos, sobre os ramos da copa deplantas tomadas ao acaso.

As amostras, retidas no depósitodo aspirador, foram transferidas parasacos plásticos e levadas para oLaboratório de Fitossanidade daEpagri/Centro de Pesquisa paraAgricultura Familiar (Cepaf), emChapecó, onde foram congeladas a-20oC. Microscópios esterioscópicos,com até 80 aumentos, foram usadosna triagem dos artrópodes, os quaisforam determinados usando aschaves taxonômicas de Peterson(1960), Peterson (1962), Borror &DeLong (1969), Loureiro & Queiroz(1990), Zucchi et al. (1993), Gallo etal. (2002) e Costa et al. (2006), alémde comparar insetos com o acervo dacoleção entomológica do Cepaf eencaminhar alguns espécimes paraidentificação. Os dados foramorganizados por data e táxon, daclasse à espécie, separando emespécies fitófagas, inimigos naturaise insetos com outros hábitos. Algunsinsetos foram montados, etiquetados,catalogados e inseridos na coleçãoentomológica do Cepaf.

Grupos da artropodofauna foramsubmetidos à análise quantitativa de

frequência (porcentagem deindivíduos em relação ao total depragas, inimigos naturais e insetoscom outros hábitos) e constância(número de amostras em que o grupoesteve presente), separando em“constante” (> 50%), “acessória” (25%a 50%) e “acidental” (< 25%) (SilveiraNeto et al., 1976).

Uma análise multivariada decomponentes principais foi aplicadapara avaliar, simultaneamente, ascorrelações entre grupos de pragas ede inimigos naturais. Oscomponentes principais foramcombinados linearmente a partir dasvariáveis originais, de formaindependente, sendo estimados nopropósito de reter, em ordem deestimação, o máximo de informaçõesda variação contida nos dadosiniciais. A representação geométricaplana das variáveis foi caracterizadapor vetores, com normal igual àunidade, sendo as correlaçõesexistentes entre as variáveisexpressas pelo cosseno dos ângulosque os vetores formaram entre si(Escofier & Pagès, 1992). Oscoeficientes de correlação (r) foramclassificados de acordo com Barbettaet al. (2004), que adotam os termos“positiva” e “negativa” para designaro sentido e “forte”, “moderada” e“fraca” para caracterizar a força dacorrelação.

Figura 1. Amostragem da fauna em pomar de laranjeiras da cultivarValência, utilizando um coletor de sucção. Chapecó, SC

77Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

Categoria Ordem Nome comum Número Frequência Constância

Hemiptera Pulgões 7.244 77,09 Acessório

Cigarrinhas 654 6,95 Constante

Percevejos 278 2,96 Acessório

Psilídeo-dos-citros 51 0,54 Acidental

Moscas-brancas 34 0,36 Acidental

Espécies fitófagas Coleoptera Crisomelídeos 268 2,85 Acidental

Curculionídeos 166 1,77 Acidental

Outros besouros 183 1,95 Acessório

Thysanoptera Tripes 275 2,93 Acidental

Orthoptera Grilos, gafanhotos e esperanças 87 0,92 Acidental

Hymenoptera Formigas-cortadeiras e abelha-irapuá 82 0,88 Acidental

Lepidoptera Lagartas 75 0,80 Acidental

Subtotal 9.397 100,00 -

Aracnida Aranhas 3.135 53,02 Constante

Coleoptera Joaninhas 1.416 23,95 Constante

Carabídeos e outros 93 1,57 Acidental

Hymenoptera Micro-himenópteros parasitoides 567 9,59 Constante

Formigas-predadoras 193 3,26 Acessório

Vespas 23 0,39 Acidental

Inimigos naturais Neuroptera Hemerobídeos 159 2,69 Acidental

Crisopídeos 142 2,40 Acidental

Diptera Larvas de sirfídeos 86 1,45 Acidental

Hemiptera Percevejos-predadores 57 0,97 Acidental

Mantodea Louva-a-deus 28 0,47 Acidental

Dermaptera Tesourinhas 14 0,24 Acidental

Subtotal 5.913 100,00 -

Hymenoptera Formigas diversas 1.415 54,11 Constante

Outros insetos Abelhas 125 4,78 Acidental

Blattodea Baratas 533 20,38 Constante

Psocoptera Psocópteros 542 20,73 Constante

Subtotal 2.615 100,00 -

Total 17.925 - -

Tabela 1. Espécies fitófagas, inimigos naturais e outros insetos capturados com coletor de sucção em um pomar delaranjeiras ‘Valência’. Chapecó, julho de 2003 a junho de 2006

(%)

78 Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

Resultados e discussão

Neste estudo não foram incluídasas moscas-da-fruta nem os ácarosporque a incidência dessesartrópodes foi estudada com outrasmetodologias, cujos resultados sãoapresentados em Chiaradia et al.(2002), Chiaradia et al. (2004) eChiaradia et al. (2009). A populaçãode cochonilhas também não foiaferida nesta pesquisa porque ocoletor de sucção não é um aparelhoindicado para avaliar a infestaçãodessas pragas (Herms et al., 1990).

Nas 72 datas de amostragemforam coletados 17.925 artrópodes,sendo 9.397 espécimes fitófagos,5.913 inimigos naturais e 2.615insetos com outros hábitos,predominando artrópodes comcategoria “acidental”, em relação àsespécies “constantes” e “acessórias”.

Houve variação populacional nonúmero de artrópodes capturados nodecorrer das amostragens (Figura 2).Entre as pragas, aconteceraminfestações cíclicas de T. citricida eAphis spiraecola (Hemiptera:Aphididae), que, juntos, totalizaram7.244 espécimes, incidindo, sobre-tudo, nos períodos de brotações dasplantas, confirmando o exposto porChagas (1980), Gallo et al. (2002) eParra et al. (2003).

Houve captura de 616 cigarrinhasadultas pertencentes à famíliaCicadellidae, sendo: 113 deScaphytopius fuliginosus (Osborn),69 de Dilobopterus costalimai Young,31 de Acrogonia citrina Marucci &Cavichioli, 25 de Oncometopiafacialis (Signoret), 25 de Buce-phalogonia xanthopis (Berg), 13 deHortensia similis Walker, 12 deMacugonalia cavifrons Stal, 8 deParathona gratiosa (Blanchard), 6 deDiedrocephala continua Sakakibara& Cavichioli, 6 de Homalodiscaignorata Melichar, 5 de Ferrarianatrivittata (Signoret), 5 de Molomealineiceps Young, 2 de Sibovia sagata(Signoret), 1 de Cospidiomus sp. e 1de Plesiommata sp., além de 294ninfas, que não foram determinadas.A maioria dessas espécies decigarrinhas foi capturada tambémpor Yamamoto & Gravena (2000).

Os cicadelídeos, que se destacamna transmissão do agente da CVC,são: D. costalimai, A. citrina, O.facialis e B. xanthopis (Rosseti, 2001;Gallo et al., 2002), as quais, nesteestudo, totalizaram 150 espécimes, oque traz preocupação devido àexistência da doença em pomarescatarinenses.

Outros hemípteros coletadosforam: 2 cigarrinhas de Aethalionreticulatum (L.) (Aetalionidae); 26 de

Membracidae, incluindo Metcalfiellapertusa (Germar), Ceresa sp. eAconophora sp.; 34 de Aleyrodidae(moscas-brancas) e 10 de Fulgoridae.O psilídeo D. citri foi coletado em 12datas de amostragem, totalizando 51espécimes, o que traz preocupação,pois o “greening” já ocorre em outrosEstados brasileiros (Yamamoto et al.,2008).

Os percevejos capturados tota-lizaram 278 espécimes, pertencentesàs famílias: Miridae (90), Lygaeidae(10), Cydinidae (8), Tingidae (5),Alydidae (2), Pyrrhocoridae (42)(todos Dysdercus), Coreidae (12)(todos Leptoglossus) e Pentatomidae(109). Dentre os pentatomídeoshouve a captura de 54 espécimes deNezara viridula L., 26 de Piezodorusguildinii West., 6 de Loxa deducta(Walker), 3 de Chinavia sp. e 1 deEdessa meditabunda (Fabr.), sendoinsetos de hábito alimentar polífago(Gallo et al., 2002).

Nas amostragens foram coletadas75 lagartas, incluindo: 6 do bicho--cesto, Oiketicus kirbii Guilding(Psychidae), 5 da lagarta-aranha,Phobetron hipparchia (Cramer)(Limacodidae), 3 de Geometridae, 3de Saturniidae, 2 de Hesperiidae, 47de Papilionidae e 9 de outrasfamílias. Não houve captura delagartas do minador-dos-citros,Phyllocnistis citrella (Lepidoptera:Gracillariidae), nem do bicho-furão,Ecdytolopha aurantiana (Lima)(Lepidoptera: Tortricidae), porque aslarvas desses insetos infestam ointerior de folhas e de frutas,respectivamente (Gallo et al., 2002;Chiaradia & Milanez, 2006),dificultando a captura com o coletorde sucção.

Dentre os besouros fitófagoshouve maior coleta de insetos dasfamílias Chrysomelidae e Cur-culionidae. Dentre os crisomelídeosforam capturados 83 espécimes deDiabrotica speciosa (Germar), 34 deMaecolaspis spp., 21 de Charidotisauroguttata (Boh.) e, em menornúmero, Diabrotica limitata(Sahlberg), Caeporis stigmulaGermar, Diphaulaca volkameriaeFabr., Paralauca dives (Germar),Stolas chalybaea (Boh.), Charidotissp. e Cistudinella sp. Entre oscurculionídeos foram coletados 50

Figura 2. Número de pragas, inimigos naturais e outros insetos capturadosmensalmente com um aspirador de sucção, em pomar de laranjeiras‘Valência’. Chapecó, julho de 2003 a junho de 2006

79Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

exemplares de Naupactusnavicularis Boh., 6 de Naupactusauricinctus Boh., 5 de Naupactusrivulosus (Olivier) e 34 exemplaresde duas outras espécies deste mesmogênero. Outros besouros coletadosforam: 27 de Lagria villosa(Fabrícius) (Lagriidae); 10 deElateridae (5 de Conoderusstigmosus Germar); 8 de Melyridae,sendo 4 de Astylus variegatus(Germar); 7 de Cerambycidae, com 3de Megacyllene acuta (Germar); 4 deCantharidae (Chaliognatus sp.); 60de Nitidulidae; 11 de Lycidae; alémde 56 besouros de outras famílias.

Outras pragas capturadas foram:87 espécimes de Orthoptera (24Acrididae, 35 Gryllidae e 27Tettigonidae), 275 de Thysanopterae 82 de Hymenoptera, sendo 3 saúva--limão-sulina, Atta sexdenspiriventris Santschi, 75 Acromyrmexspp. (todas Hymenoptera:Formicidae) e 4 abelhas-irapuá,Trigona spinipes (Fabr.)(Hymenoptera: Apidae). O controlesistemático de formigas cortadeirasmanteve baixa a infestação dessaspragas no pomar.

As aranhas foram os inimigosnaturais mais numerosos, tota-lizando 3.135 espécimes, com poucavariação no número de indivíduosentre as amostragens. Esse resultadopode ser explicado porque essesartrópodes geralmente se dispersampouco e/ou aguardam as presas emsuas teias. Os aracnídeos, que sealimentam indistintamente deespécies benéficas e de prejudiciais,sendo até canibais, são importantesno equilíbrio biológico daartropodofauna do pomar (Parra etal., 2003).

As joaninhas totalizaram 1.416espécimes, incluindo: 832 deScymnus spp., 125 de Psylloboraspp., 96 de Cycloneda sanguinea (L.),70 de Azya luteipes Mulsant, 54 deOlla v-nigrum (Mulsant), 46 deStethorus sp., 38 de Coccidophilussp., 33 de Chilocorus sp., 26 deExochomus jordani (Mulsant), 16 dePentilia egena (Mulsant), 15 deHyperaspis silvestrii Weise, 5 deCurinus coeruleus Mulsant, 5 deNeojauravia sp., 2 de Hippodamiaconvergens Guérin-Meneville, alémde 53 espécimes imaturos, que não

foram determinados. Outrosbesouros predadores capturadosforam: 3 da família Staphilinidae, 5de Cicindelidae e 85 de Carabidae,incluindo Callida sp. e Lebiaconcinna Germar.

Houve captura de 783 hime-nópteros enquadrados em inimigos

naturais, sendo: 567 micro-himenópteros, 23 vespas (Hy-menoptera: Vespidae) e 193 formigaspredadoras, principalmente perten-centes ao gênero Solenopsis(Hymenoptera: Formicidae). Outrosinimigos naturais coletados foram:301 espécimes da ordem Neuroptera(159 Hemerobiidae e 142 Chryso-pidae), cujas larvas alimentam-se,sobretudo, de ninfas de cochonilhase de pulgões (Gallo et al., 2002); 86larvas de moscas da famíliaSyrphidae, as quais consomempreferencialmente pulgões (Parra etal., 2003); 57 percevejos predadores,sendo 27 de Reduviidae, 23 dePentatomidae (Tynacantha margi-nata Dallas e Podisus sp.), 5 deEnicocephalidae e 2 de Nabidae, os

quais predam principalmentelagartas (Parra et al., 2003); 28louva-a-deus (Mantodea); e 14espécimes de Doru luteipes (Scudder)(Dermaptera: Forficulidae), queconsomem ovos e larvas delepidópteros (Parra et al., 2003).

Nos insetos com outros hábitos

foram capturados 115 exemplares deApis mellifera L. (Hymenoptera:Apidae) e 10 de abelhas nativas, asquais incidiram principalmentequando havia floração naslaranjeiras. Houve coleta de 1.148formigas doceiras do gêneroCamponotus, as quais se alimentamde excrementos de hemípteros, 44 deCrematogaster spp., 34 de Pseudo-myrmex spp. e outras 189 formigasque não foram identificadas. Tambémforam coletadas 533 baratas(Blattodea) e 542 insetos da ordemPsocoptera, que, aparentemente, nãocausam danos nem benefícios aoscitros (Parra et al., 2003).

Pela análise de componentesprincipais, foram avaliadas ascorrelações existentes entre seis

Figura 3. Análise de componentes principais para o numero de indivíduosde grupos da fauna associada aos citros. Chapecó, SC

80 Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

Agricultura Luiz de Queiroz, USP,Piracicaba, SP.

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Conclusões

Os hemípteros destacam-se emnúmero de pragas nos pomares decitros e as aranhas e joaninhaspredominam entre os inimigosnaturais.

Existem interações tróficas entreos inimigos naturais e a espéciesfitófagas que incidem em plantas decitros.

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81Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

PPPPProdutividade de tomate, cultivar Carmen,rodutividade de tomate, cultivar Carmen,rodutividade de tomate, cultivar Carmen,rodutividade de tomate, cultivar Carmen,rodutividade de tomate, cultivar Carmen,influenciada por espaçamentos entre plantas einfluenciada por espaçamentos entre plantas einfluenciada por espaçamentos entre plantas einfluenciada por espaçamentos entre plantas einfluenciada por espaçamentos entre plantas e

número de hastes por plantanúmero de hastes por plantanúmero de hastes por plantanúmero de hastes por plantanúmero de hastes por plantaSiegfried Mueller1 e Anderson Fernando Wamser2

Aceito para publicação em 7/10/09.1Eng.-agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Caçador, C.P. 591, 89500-000 Caçador, SC, fone: (49) 3561-2035, e-mail:[email protected]., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Caçador, e-mail: [email protected].

Resumo – Em trabalho na Epagri/Estação Experimental de Caçador, Santa Catarina, anos agrícolas 1997/98, 1998/99 e 2001/02, se estudaram em campo quatro espaçamentos de plantio de tomate sobre o rendimento e a qualidadedos frutos: T1) 35cm entre plantas, uma planta por cova e uma haste por planta; T2) 50cm entre plantas, uma plantapor cova e uma haste por planta; T3) 70cm entre plantas, uma planta por cova e duas hastes por planta; T4) 70cmentre plantas, duas plantas por cova e uma haste por planta. Para todos os tratamentos o espaçamento entre fileirasfoi de 1m. O delineamento experimental utilizado foi de blocos ao acaso com cinco repetições. O tratamento 1 (T1)apresentou produtividade superior aos demais, seguido dos tratamentos 3 e 4 (T3 e T4). O tratamento 2 (T2) apresentoua menor produtividade, porém a maior massa média dos frutos comerciais.

Termos para indexação: Lycopersicon esculentum, Solanum lycopersicon, tomate, massa média de frutos.

Plant spacing and conduction system of the plant for tomato ‘Carmen’

Abstract – A field experiment was carried out at Epagri experiment station in Caçador, SC, Brazil, during the 1997/98, 1998/99 and 2001/02 seasons. Yield and fruit quality were evaluated for the following spacings: Treatment 1)35cm between plants with one plant per hollow and one branch per plant; Treatment 2) 50cm between plants withone plant per hollow and one branch per plant; Treatment 3) 70cm between plants with one plant per hollow and twobranches per plant; Treatment 4) 70cm between plants with two plants per hollow and one branch per plant. For alltreatments row spacing was 1m. The experiment was designed as randomized blocks with five replicates per treatment.Treatment 1 was the most productive, while treatment 2 was the least productive. However, treatment 2 presentedthe highest average of fruit weight among all treatments. There was statistical spacing effect on fruit quality indexbetween years. During 1998/99 crop, treatment 3 presented the highest percentage of marketable fruits. However,for the other spacing treatments there was not any difference.

Index terms: Lycopersicon esculentum, Solanum lycopersicon, yield, average fruit weight.

Introdução

O espaçamento de plantas e seumétodo de condução são fatoresimportantes no sistema de produçãode tomate, pois podem interferir nociclo da planta, no controle dedoenças, na produtividade e naqualidade de frutos colhidos (Fery &Janick, 1970; Nichols, 1987).

A remoção das brotações lateraisem plantas de tomate de crescimento

indeterminado é uma prática comumentre os tomaticultores brasileiros etem como finalidade facilitar os tratosculturais. Geralmente se deixam umaou duas hastes, a principal e asecundária, sendo esta última apartir da gema imediatamenteabaixo do primeiro ramo floral, e asdemais são removidas (Campos et al.,1987).

Uma das consequências inde-sejáveis da alta densidade utilizando

o tutoramento vertical é oestiolamento das plantas devido à máiluminação da folhagem (Silva Júnioret al., 1992). Com o estiolamento hácrescimento exagerado das plantas,o que induz a aumentos naconcorrência por luz, água enutrientes pelas plantas, assim comoo autossombreamento, que diminui ataxa fotossintética líquida e resultaem decréscimo da produtividadecomercial (Larcher, 1995).

82 Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

O número de hastes por plantainflui sobre o tamanho dos frutos(Marim et al. 2005). Esses autoresverificaram que no sistema verticalcom uma haste por planta houvemaior quantidade de frutos detamanho grande do que naquele comduas hastes por planta.

O aumento da densidade ou donúmero de plantas por área resultaem maior precocidade de colheita,maior produtividade, redução donúmero de frutos por planta e damassa média dos frutos (Fery &Janick, 1970 e Campos et al., 1987).No entanto, Streck et al. (1996)observaram que o período dotransplante à primeira florada e daprimeira florada à primeira colheitado tomate não foi influenciado peladensidade de plantas.

Fery & Janick (1970) e Camposet al. (1987) afirmam que a densidadeideal de plantio do tomate varia deacordo com a cultivar e o ambienteonde for cultivado (Streck et al.,1996).

Conforme Moccia & Katcherian(1997), a produtividade do tomateiroaumenta linearmente com o aumentoda densidade das plantas, embora aprodução por planta diminua.

O maior espaçamento entreplantas de tomate (60 x 60cm)apresentou os maiores rendimentosde frutos e de sementes por planta, omaior número de frutas por planta,e ainda a maior massa média dosfrutos. Entretanto, o espaçamento de60 x 45cm resultou nos maioresrendimentos de frutos e de sementespor hectare (Sharma et al., 2001).

Conforme Ahmed et al. (2001), onúmero de frutos por planta e amassa média dos frutos diminuíramcom o aumento das densidades deplantio. Contudo, o rendimentocomercial e o rendimento total defrutos aumentaram significa-tivamente com o aumento dadensidade de plantio, o que tambémfoi constatado por Dobromilska(2002). A cultivar Débora Maxalcançou as maiores produtividadesquando plantada no espaçamento de30cm entre plantas e cujas plantasforam conduzidas com uma haste(Carvalho & Tessarioli Neto, 2005).

Este trabalho objetivou de-terminar o melhor espaçamento

entre plantas na fileira, número dehastes por planta e número deplantas por cova na condução deplantas de tomate, visando à maiorprodutividade e qualidade dos frutos.

Material e métodos

O trabalho foi realizado emcampo, na Epagri/Estação Expe-rimental de Caçador, nos anosagrícolas 1997/98, 1998/99 e 2001/02,utilizando-se a cultivar de tomateCarmen, em diferentes espaçamentose métodos de condução de plantas.Foram testados os seguintestratamentos: T1) espaçamento de35cm entre plantas na fileira, comuma planta por cova e uma haste porplanta; T2) espaçamento de 50cmentre plantas na fileira, com umaplanta por cova e uma haste porplanta; T3) espaçamento de 70cmentre plantas na fileira, com umaplanta por cova e duas hastes porplanta; T4) espaçamento de 70cmentre plantas na fileira, com duasplantas por cova e uma haste porplanta. Salienta-se que o número dehastes por hectare foi igual para ostratamentos T1, T3 e T4. Porém notratamento T2 as plantas alcançaramapenas 70% de hastes em relação osdemais tratamentos.

O delineamento experimental foiem blocos ao acaso, com cincorepetições. A área total das parcelaspara os tratamentos T1, T3 e T4 foide 8,4m2, enquanto para otratamento T2 foi de 8m2. A área útildas parcelas para os tratamentos T1,T3 e T4 foi de 5,6m2 e para o T2 foi de6m2. A parcela constou de duasfileiras e as plantas da cabeceira decada uma delas foram consideradasbordadura. O espaçamento entre asfileiras foi de 1m para todos ostratamentos. As mudas foramproduzidas em bandejas com 128células preenchidas com substrato damarca Plantmax®, as quais forampostas em piscinas (tipo “floating”)dentro de estufa coberta com filmeplástico. O sistema de tutoramentofoi feito com a utilização de varas debambu (taquaruçu) dispostas em “Vinvertido”. As plantas foramdespontadas acima do 12º ou 13ºcacho, deixando-se duas a três folhasacima do último cacho. Os plantios

foram feitos em 11/11/97, 15/11/98 e8/11/2001 e as colheitas foram feitas,duas vezes por semana, de 27/1/98 a2/4/98 no ano agrícola 1997/98, de 20/1/99 a 12/3/99 no ano agrícola 1998/99 e de 21/1 a 20/3/2002 no anoagrícola de 2001/02.

A adubação de plantio aplicadanos sulcos aproximadamente 10 diasantes do plantio foi constituída de 10tde esterco de frango, 80kg de N(nitrato de cálcio), 320kg de P2O5

(superfosfato triplo), 60kg de K2O(cloreto de potássio) e 30kg de bóraxpor hectare. Os adubos químicos,exceto bórax, foram parcelados emduas aplicações: na primeiraaplicaram-se dois terços da dose,aproximadamente 10 dias antes doplantio, e na segunda, um terço dadose, aproximadamente 14 dias apóso plantio, junto com a amontoa. Airrigação das plantas e a aplicaçãodos adubos de cobertura foram feitaspelo sistema de fertirrigação.Usaram-se mangueiras de gote-jamento da marca Queen Gil, e ainjeção foi feita com o auxílio dosistema de Venturi. A aplicação dosadubos de cobertura na área (250kg/ha de N e 200kg/ha de K2O) foi feitasemanalmente. O controle fitos-sanitário das doenças e das pragasfoi feito sistematicamente comaplicação semanal, ou até duas vezespor semana caso ocorresse chuva, dosseguintes produtos: a) fungicidas:Clorotalonil, oxicloreto de cobre,Iprodione, Mancozeb, Metalaxil,Captan e Benomyl; b) inseti-cidas: Acephate, Fenitrothion eDeltamethrine. As plantas daninhasforam controladas com capinasmanuais (enxada) e uso do herbicidaSethoxydim para o controle dasplantas daninhas da família Poaceae.A condução do experimento obedeceuàs normas técnicas para o tomatetutorado na Região do Alto Vale doRio do Peixe (Epagri, 1997).

As variáveis avaliadas foram:produtividade, número total ecomercial de frutos, massa média defrutos comerciais e percentagem defrutos comerciais. Salienta-se que seconsiderou como fruto comercialaquele com peso maior que ou iguala 100g que não apresentavadistúrbios fisiológicos ou ataque depragas e doenças. As variáveis

83Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

estudadas foram submetidas àanálise de variância a 5% deprobabilidade de erro, para cada anoagrícola. Quando houve homo-geneidade de variâncias, foi feitaanálise conjunta dos três anosagrícolas. A comparação de médiasdos tratamentos foi feita pelo testede Tukey (P > 0,05).

Resultados e discussão

Observa-se que o espaçamento de35cm entre plantas na fileira, comuma planta por cova e uma haste porplanta (T1) (Tabela 1) apresentouprodutividade comercial de frutossuperior aos demais tratamentos,seguido pelo espaçamento de 70cmentre plantas na fileira, com duasplantas por cova e uma haste porplanta (T4), e/ou uma planta por covacom duas hastes por planta (T3). Poroutro lado, o espaçamento de 50cmentre plantas na fileira, com umaplanta por cova e uma haste porplanta (T2), apresentou a menorprodução comercial de frutos. Issoindica que o maior número de plantase/ou número de hastes por unidadede área apresenta maior pro-dutividade, o que é concordante comFery & Janick (1970), Nichols (1987),Moccia & Katcherian (1997), Sharmaet al. (2001), Dobromilska (2002) eAhmed et al. (2001) e Carvalho &Tessarioli Neto (2005).

Quanto à massa média dos frutoscomerciais (Tabela 1), o T2(espaçamento de 50cm entre plantasna fileira, uma planta por cova e umahaste por planta) foi superior aosdemais tratamentos. O T3 apre-sentou a segunda maior média defrutos comerciais, todavia sem diferirdo T4 (espaçamentos de 70cm entreplantas na fileira, com duas plantaspor cova e uma haste por planta). Otratamento T1 (espaçamento de35cm entre plantas na fileira, comuma planta por cova e uma haste porplanta) apresentou os menoresvalores de massa média de frutoscomerciais, porém sem diferir do T4.Isso mostra que o menor número dehastes por unidade de área (T2)apresentou o menor número de frutospor hectare e por isso proporcionoufrutos com maior massa médiacomercial em relação aos demaistratamentos. Salienta-se ainda o fatode que no T3 foi usada somente ametade de sementes em relação aoT1 e ao T4, e sabe-se que isso faz umagrande diferença em termos deeconomia, pois o milheiro desementes de tomate híbrido é alto(aproximadamente R$ 250,00).

Pela Tabela 1 observa-se que onúmero de frutos totais e comerciaispode ser descrito conjuntamente, poisapresentaram os mesmos resultadosestatísticos para os respectivostratamentos estudados. O T1

(espaçamento de 35cm entre plantasna fileira, com uma planta por covae uma haste por planta) apresentouos maiores números de frutos porhectare. No entanto o T2 (espaça-mento de 50cm entre plantas nafileira, uma planta por cova e umahaste por planta) apresentou o menornúmero de frutos por hectare. O T4(espaçamento de 70cm entre plantasna fileira, com duas plantas por covae uma haste por planta) e o T3(espaçamento de 70cm entre plantasna fileira, com uma planta por covae duas hastes por planta) apre-sentaram número médio de frutosintermediário em relação àqueles (T1e T2), porém o T4 apresentou valoresmaiores do que o T3. Isso mostra quequanto maior o número de hastes porunidade de área e/ou o número decachos por planta, maior é o númerode frutos por hectare. Essasobservações são concordantes comMoccia & Katcherian (1997), Ahmedet al. (2001) e Dobromilska (2002).Salienta-se que o T4, com duasplantas por cova, em geral, produzum cacho a mais que o T3 (umaplanta por cova e duas hastes porplanta), e os dois têm o mesmonúmero de hastes por hectare. Porisso aquele tratamento apresentoumaior número de frutos por hectaredo que este.

Para a variável “percentagem defrutos comerciais” foi feita análise por

Tratamento(1) Produtividade Fruto Massa médiade frutos

Total Comercial Total Comercial comerciais

...................kg/ha................. .........................No/ha.................... .........g........

T1 – 35 cm - 1pl e 1h 184.554 a(2) 176.536 a 1.155.873 a 1.087.928 a 162,3c

T2 – 50 cm - 1pl e 1h 152.131 c 145.504 c 888.841 d 834.551 d 174,4a

T3 – 70 cm - 1pl e 2h 160.023 c 155.449 b 963.363 c 923.234 c 168,4b

T4 – 70 cm - 2pl e 1h 170.222 b 163.216 b 1.052.072 b 993.572 b 164,3bc

CV (%) 5,6 5,8 5,6 5,9 3,1

Tabela 1. Produtividade total e comercial, massa média e número total de frutos em função da densidade e o númerode hastes por planta de tomate cultivar Carmen, média dos três anos agrícolas. Epagri, EE de Caçador, 2008

(1) 1pl = uma planta por cova; 2pl = duas plantas por cova; 1h = uma haste por planta; 2h = duas hastes por planta.(2) Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro.Nota: CV = coefifiente de variação.

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ano agrícola (Tabela 2) porque nãohouve homogeneidade de variânciasentre os 3 anos agrícolas estudados.Verificou-se que somente no anoagrícola 1998/99 houve diferençasentre tratamentos. Naquele ano, oespaçamento de 70cm entre plantascom uma planta por cova e duashastes por planta (T3) apresentou omaior valor, enquanto os demaistratamentos não diferiram entre si.

Conclusões

O espaçamento de 35cm entreplantas na fileira com uma planta porcova e uma haste por planta (T1)apresenta a maior produtividade defrutos comerciais, porém a menormassa média dos frutos comerciais.

O espaçamento de 50cm entreplantas na fileira com uma planta porcova e uma haste por planta (T2)apresenta a menor produtividade defrutos comerciais, porém a maiormassa média dos frutos comerciais.

A massa média dos frutoscomerciais é positivamenteinfluenciada pelo menor número dehastes e/ou plantas, por unidade deárea.

(1) 1pl = uma planta por cova; 2pl = duas plantas por cova; 1h = uma haste por planta;2h = duas hastes por planta.(2) Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%de probabilidade de erro.Notas: ns = não há diferenças entre tratamentos pelo teste F a 5% de probabilidadede erro.CV = coeficiente de variação.

Tabela 2. Porcentagem de frutos comerciais em função dos métodos decondução do tomateiro cultivar Carmen. Nos anos agrícolas 1997/98, 1998/99 e 2001/02. Epagri, EE de Caçador, 2008

Frutos comerciaisTratamento(1) 1997/98 1998/99 2001/02

...............................%................................T1 – 35 cm - 1pl e 1h 98,1ns 91,6 b 97,6ns

T2 – 50 cm - 1pl e 1h 97,9 91,6 b 97,7T3 – 70 cm - 1pl e 2h 98,4 95,4 a 97,6

T4 – 70 cm - 2pl e 1h 97,7 92,4 b 97,6Médias 98,0 92,8 97,6CV(%) 0,9 1,6 0,6

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85Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

Nota Científica

Infestação de Infestação de Infestação de Infestação de Infestação de TTTTTetranychus ogmophallosetranychus ogmophallosetranychus ogmophallosetranychus ogmophallosetranychus ogmophallos em plantas de em plantas de em plantas de em plantas de em plantas deamendoim: primeiro registro em Santa Catarinaamendoim: primeiro registro em Santa Catarinaamendoim: primeiro registro em Santa Catarinaamendoim: primeiro registro em Santa Catarinaamendoim: primeiro registro em Santa Catarina

Luís Antônio Chiaradia1 e Volmir Pinto de Oliveira2

Aceito para publicação em 9/10/09.1Eng.-agr., M.Sc., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf), C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (49)3361-0638, e-mail: [email protected]écn. agr., Epagri/Escritório Municipal de São Lourenço do Oeste, Rua Duque de Caxias, 789, 89990-000 São Lourenço doOeste, SC, fone: (49) 3344-8500, e-mail: [email protected].

Resumo – O ácaro Tetranychus ogmophallos Ferreira & Flechtmann (Acari: Tetranychidae) infestou e causou danosem uma plantação de amendoim, Arachis hypogaea L. (Fabaceae), situada no município de São Lourenço do Oeste(26o21’24’’latitude sul, 52o50’54’’ longitude oeste e 880m de altitude). A produtividade do amendoim foi reduzidaporque esse ácaro causou bronzeamento e queda prematura de folhas e produziu densa teia sobre as plantas. Este seconstitui no primeiro registro de T. ogmophallos no Estado de Santa Catarina.

Termos para indexação: Arachis hypogaea, Tetranychidae, ácaro, praga.

Tetranychus ogmophallos mite infestation on peanut plants

Abstract – Tetranychus ogmophallos Ferreira & Flechtmann mite (Acari: Tetranychidae) infested and caused damagesto a peanut crop, Arachis hypogaea L. (Fabaceae), located in São Lourenço do Oeste (26o21’24’’S, 52o50’54’’W andaltitude of 880m). The yield of peanuts was reduced because this pest caused tanning and premature fall of leavesand produced dense web on plants. This was the first record of T. ogmophallos in Santa Catarina State, Brazil.

Index terms: Arachis hypogaea, Tetranychidae, mite, pest.

Em nível mundial, são conhecidas17 espécies de ácaros fitófagos queinfestam plantas de amendoim,Arachis hypogaea L. (Fabaceae)(Lourenção et al., 2001), e o ácaro--verde, Mononychellus planki(McGregor), o ácaro-vermelho,Tetranychus evansi Baker &Printchard (Flechtmann, 1985), oácaro-rajado, Tetranychus urticae(Koch) (Zucchi et al., 1993; Gallo etal., 2002) e o ácaro Tetranychusogmophallos Ferreira & Flechtmann(Lourenção et al., 2001) (todas Acari:Tetranychidae) ocorrem no territóriobrasileiro.

Os ácaros tetraniquídeos in-troduzem as quelíceras na epidermevegetal para se alimentarem do sucocelular, provocando lesões queinduzem ao aparecimento demanchas cloróticas nas folhas,

sintoma popularmente conhecido por“prateamento”, “bronzeamento” ou“mosqueamento”. As folhas com essesintoma normalmente caem, o quereduz a produtividade das plantas(Gallo et al., 2002). Além dessesdanos, os ácaros T. evansi e T.ogmophallos produzem densa teia,que pode cobrir totalmente as plantasde amendoim (Lourenção et al., 2001;Gallo et al., 2002).

Em um cultivo de amendoim, devariedade local, situado na áreaurbana do município de SãoLourenço do Oeste, SC (26o21’24’’latitude sul, 52o50’54’’ longitude oestee 880m de altitude), quando asplantas estavam na fase de formaçãode vagens (março e abril de 2009),ocorreu elevada infestação de umácaro de cor vermelha. Os espécimesse movimentavam rapidamente e se

aglomeravam na face superior dasfolhas mais altas (Figura 1), além deproduzirem teia, que cobriutotalmente as plantas (Figura 2). Aprodutividade do amendoim foireduzida porque as folhas ma-nifestaram sintoma de bron-zeamento e caíram prematuramente.

Espécimes do ácaro foramcoletados, armazenados em álcooletílico 70% e encaminhados paraidentificação. A espécie foiidentificada como T. ogmophallos, eesse foi o primeiro registro daocorrência dessa praga no Estado deSanta Catarina.

A espécie T. ogmophallos foidescrita em 1997 a partir deespécimes que foram coletados emamendoim-forrageiro, Arachis pintoiKrap. & Greg. (Fabaceae), plantarasteira utilizada principalmente em

86 Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

jardins, na cobertura intercalar depomares e como espécie associada agramíneas forrageiras (Ferreira &Flechtmann, 1997). Outras plantashospedeiras desse ácaro são: oamendoim-silvestre, Arachisprostata Benth, o feijão, Phaseolusvulgaris L. e a soja, Glycine max L.,(todas Fabaceae) (Bonato et al.,2000).

O ácaro T. ogmophallos localiza--se preferencialmente na face

superior das folhas mais altas, poréminfesta toda a planta de amendoimquando a população está alta,causando danos que podem reduziraté 76,5% da produtividade dacultura (Lourenção et al., 2001).

O ácaro T. ogmophallos temcoloração vermelha, e as fêmeasmedem em torno de 0,55mm decomprimento e 0,35mm de largura,enquanto os machos são menores

(0,45 por 0,24mm) (Ferreira &Flechtmann, 1997). O ciclo biológicodesse acarino em plantas deamendoim tem duração aproximadade 14 dias, à temperatura de 26oC,condição que permite o desen-volvimento de uma geração a cada 20dias (Bonato et al., 2000). Isso explicao aumento populacional em curtoespaço de tempo.

As populações dos ácarostetraniquídeos normalmente aumen-

Figura 1. Colônia do ácaro Tetranychusogmophallos sobre folhas de amendoim. SãoLourenço do Oeste, SC (abril de 2009)

Figura 2. Teias produzidas pelo ácaroTetranychus ogmophallos sobre plantas deamendoim. São Lourenço do Oeste, SC (abril de2009)

tam em períodos quen-tes e secos devido aessas condições cli-máticas serem fa-voráveis ao desen-volvimento dessaspragas (Flechtmann,1985). Os dadosclimáticos obtidos emChapecó, na EstaçãoMeteorológica daEpagri/Centro de Pes-quisa para Agri-cultura Familiar(Cepaf) (27o05’06’’latitude sul, 52o38’08’’longitude oeste e 660mde altitude), referênciapara a Região OesteCatarinense, revela-ram que a tempe-ratura média foisuperior a 24oC emmarço e abril de 2009,meses em que foramregistrados 17,1 e36mm de chuva,r e s p e c t i v a m e n t e .Essas condições cli-máticas, possivel-mente, contribuírampara aumentar apopulação desse ácarotetraniquídeo, cor-roborando as in-formações de Flecht-mann (1985) e Gallo et

al. (2002).Atualmente não há acaricidas

registrados para controlar o ácaro T.ogmophallos, o que traz preocupaçõesdevidas aos expressivos danos que elepode ocasionar em lavouras deamendoim. Na necessidade decombater a infestação dessa praga deforma emergencial sugere-se apulverização de Sulficamp, pois setrata do único acaricida registrado

para essa cultura, sendo re-comendado no controle do ácaro--verde (M. planki) e do ácaro--vermelho (T. evansi), na dose de600g de produto comercial para 100Lde água (Agrofit, 2009). Esseacaricida, cujo ingrediente ativo é oenxofre inorgânico, não tem prazo decarência estabelecido para a culturado amendoim.

Agradecimentos

Agradecemos à Dra. Denise NaviaMagalhães Ferreira, pesquisadora daEmbrapa-Cenargen de Brasília, pelaidentificação da espécie do ácaro.

Literatura citada

1. AGROFIT: Sistema de agrotóxicosfitossanitários. Disponível em: <http:// e x t r a n e t . a g r i c u l t u r a . g o v. b r /agrofit_cons/principal_agrofit_cons>.Acesso em: 3 set. 2009.

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87Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

Nota Científica

Avaliação de um sistema de previsão para a manchaAvaliação de um sistema de previsão para a manchaAvaliação de um sistema de previsão para a manchaAvaliação de um sistema de previsão para a manchaAvaliação de um sistema de previsão para a manchabacteriana (bacteriana (bacteriana (bacteriana (bacteriana (Xanthomonas Xanthomonas Xanthomonas Xanthomonas Xanthomonas spp.) do tomateirospp.) do tomateirospp.) do tomateirospp.) do tomateirospp.) do tomateiro1

Leandro Luiz Marcuzzo2, Walter Ferreira Becker3 e José Mauricio Cunha Fernandes4

Aceito para publicação em 27/7/09.1Parte da tese de doutorado do primeiro autor, Universidade de Passo Fundo (UPF), 2008.2Eng.-agr., Dr., Universidade do Contestado/Campus Universitário de Caçador, C.P. 232, 89500-000 Caçador, SC, fone: (49)3561-6200, e-mail: [email protected]., Dr., Epagri/Estação Experimental de Caçador, C.P. 591, 89500-000 Caçador, SC, fone: (49) 3561-2000, e-mail:[email protected]., Ph.D., Embrapa Trigo, Rodovia BR-285, km 174, C.P. 451, 99001-970 Passo Fundo, RS, fone: (54) 3316-5800, e-mail:[email protected].

Resumo – Este trabalho tem como objetivo avaliar um modelo de previsão, com diferentes níveis de severidade, para ocontrole da mancha bacteriana do tomateiro, comparando-o à pulverização convencional. Realizaram-se os regimes depulverização com severidade estimada (SE) de 0,05, 0,15 e 0,25, com base no modelo descrito por Marcuzzo et al. (2008), eno sistema convencional com pulverizações a cada 5 e 7 dias. Não houve diferença significativa para produtividade efrutos com sintomas (P < 0,05). Na área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD), constatou-se redução de 25,71%na SE = 0,15 para o mesmo número de pulverizações realizadas semanalmente, o qual não diferiu na AACPD da SE =0,05. Para SE = 0,25 houve redução de 54,1% e 35,3% no número de pulverizações e de 9,83% a 19,66% para AACPDquando comparado a cada 5 e 7 dias, respectivamente. O sistema de previsão SE = 0,15 reduziu pulverizações em relaçãoao sistema convencional de controle.

Termos para indexação: Solanum lycopersicum, epidemiologia, previsão.

Evaluation of a forecast system for bacterial tomato (Xanthomonas spp.) spot

Abstract – An evaluation of a forecast model of bacterial tomato spot with different levels of disease severity was comparedto conventional spraying regime. The following sprayings with severity threshold (ST) of 0.05, 0.15, and 0.25 were carriedout, based on the forecast model described by Marcuzzo et al. (2008), and conventional spraying regime with 5- and 7-dayintervals. The results did not reveal any significant differences (P < 0.05) in yield or fruits with symptoms within alltreatments. The area under disease progress curve (AUDPC) was reduced by 25.71% for ST 0.15 with the same number ofsprayings carried out weekly. This was not different from AUDPC of ST: 0.05. For ST: 0.25, the number of sprays was54.1% and 35.3% less compared to 5-day and 7-day spray regime, respectively, and the corresponding AUDPC were 9.83%and 19.66%. The forecast model with severity threshold ST 0.15 reduced the spraying number in relation to the conventionalspraying regime.

Index terms: Solanum lycopersicum, epidemiology, forecast.

O cultivo do tomateiro ocupa umaposição de destaque na produçãoagrícola, pois é exploradointensivamente em todo o territórionacional. Em Santa Catarina, omunicípio de Caçador se destacacomo um dos principais produtoresno sul do País (Síntese..., 2007).

Diversas enfermidades incidemna cultura e, entre elas, asfitobactérias, que se caracterizamcomo patógenos de difícil controle,pois os antibióticos não apresentamuma efetividade de controle (Romeiro& Vieira Junior, 2005). Entretanto,

produtos à base de cobre em misturacom mancozeb são utilizados desdea década de 80 como o principalmétodo de controle (Maringoni et al.,1986).

Na região de Caçador, SC, afitobactéria prevalente na cultura dotomateiro é Xanthomonas campestrispv. vesicatoria, agente causal damancha bacteriana. Atualmente,essa bactéria é também denominadade X. euvesicatoria (Jones et al.,2004). Outras espécies têm sidoassociadas à doença, como X.gardneri, X. vesicatoria e X.

perforans (Lopes & Quezado-Duval,2005) com a mesma sintomatologia(Figura 1). Neste trabalho, seráadotada a nomenclatura deXanthomonas spp.

Muitas das enfermidades deplantas têm sido controladas pormétodos empíricos, ocasionando usodesnecessário de agrotóxicos eaumento dos custos de produção,além de impactar o meio ambiente eapresentar resíduos no fruto (Reis,2004). Mediante esse contexto, omanejo de controle ideal inclui aprevisão de doenças, relacionando-as

88 Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

com a variação micrometeorológica,principalmente durante o processo dainfecção. Segundo Bergamim Filho &Amorim (1995), os sistemas deprevisão de doenças de plantas sãoferramentas que possibilitam prevero desenvolvimento de uma doença eindicar o momento mais provável deefetuar a pulverização.

Partindo desses princípios, estetrabalho teve como objetivo avaliar,em condição de campo, o sistema deprevisão para a mancha bacterianadesenvolvido por Marcuzzo et al.(2008) com vistas à adequação demanejo da doença.

A condução do trabalho foi naEpagri/Estação Experimental deCaçador, localizada a 26o81’93’’latitude sul e 51o83’53’’ longitudeoeste e altitude de 952m , no períodode 13 de novembro de 2006 a 19 demarço de 2007.

A verificação das variáveismeteorológicas como temperatura emolhamento foliar foram realizadasatravés do termo-higroumectógrafo(G. Lufft Altenberg STR 3) instaladoem abrigo meteorológico, e o índicepluviométrico medido pelo plu-viômetro na estação meteorológica daEpagri/Estação Experimental deCaçador, localizada a 500m do localdo experimento.

Mudas de tomateiro da cultivarCarmem foram transplantadas acampo e conduzidas no sistema deestaqueamento vertical com umaplanta por cova e duas hastes porplanta. Utilizou-se espaçamento de1,5m entre filas e 0,6m entre plantas.

A calagem, adubação e tratosculturais foram realizados conformea recomendação para a cultura.Foram comparados os níveis dosistema de previsão, com valores deseveridade estimada (SE) de 0,05,0,15, 0,25, baseando-se no modelodesenvolvido por Marcuzzo et al.(2008).

em que, SE é a severidade estimada(% de severidade/100); x, a tem-peratura média diária (oC); y, o tempode molhamento foliar (horas),juntamente avaliado com o sistemaconvencional de controle por meio depulverização a cada 5 e 7 dias. Apulverização no sistema de previsãofoi realizada quando o somatóriodiário dos valores (0,05, 0,15, 0,25)de cada SE foi atingida, sendo entãozerado e iniciada nova contagem deseveridade.

A testemunha absoluta, semtratamento, constou de 60 plantasafastadas a 3m dos tratamentos.Para os tratamentos baseados nosistema de previsão, a pulverizaçãoiniciou-se após a sétima semana dotransplantio, período esse em queinicia a ocorrência da manchabacteriana na região de Caçador, SC(Marcuzzo et al., 2007). Nostratamentos de 5 e 7 dias, aspulverizações foram realizadas desdeo transplantio, conforme sistemaconvencional de controle. Naocorrência de volumes de chuvasuperiores a 25mm, todos ostratamentos eram pulverizadosdevido à possível perda do efeitoprotetor do fungicida.

A calda bactericida era compostada mistura comercial mancozeb +cobre (cuprozeb 200g/100L) e dofungicida clorothalonil (200g/100L) efoi aplicada semanalmente ou após oacúmulo de 25mm ou mais deprecipitação pluviométrica. Para ocontrole de insetos, foramintercalados os tratamentos comdeltamethrine (40ml/100L) eetofenproxi (200ml/100L), aplicadospreventivamente a cada 7 dias.

O delineamento experimental foiem blocos casualizados com seisrepetições, e cada parcela foiconstituída de dez plantas. Aporcentagem de área total foliarinfectada na planta foi verificadasemanalmente com o auxílio deescala diagramática proposta porMello et al. (1997). A severidade dadoença ao longo do ciclo foiintegralizada por meio da áreaabaixo da curva de progresso dadoença (AACPD).

As variáveis produtividade (t/ha)de frutos comerciais classificadoscomo extra AA (> 150g) e extra A (100a 150g), a porcentagem de frutos commancha bacteriana e a AACPD dossistemas de previsão e convencionalforam submetidas à análise devariância pelo teste F. A média decada um dos tratamentos foicomparada com a média dotratamento testemunha pelo teste deDunnett a 5% de probabilidade e asmédias entre os tratamentos dosistema de previsão e convencionalforam comparadas entre si pelo testede Tukey a 5%.

Constatou-se que no nível deprevisão SE = 0,05 houve umaumento de 50% e 111,8% no númerode pulverizações quando comparados

à pulverização a cada 5 e 7 dias,respectivamente (Tabela 1). Nosistema SE = 0,15 houve umaredução de 29,2% no número depulverizações quando comparado acada 5 dias e igualando-se quando acada 7 dias (Tabela 1). No SE = 0,25reduziu-se o número de pulverizaçõessemanais em 54,2% e 35,3% quandocomparado a cada 5 e 7 dias,respectivamente. No estudorealizado por Jardine & Stephens(1987) para a previsão de Pseu-domonas syringae pv. tomato, cons-tatou-se uma redução de até 25% nonúmero de aplicações para a pintabacteriana do tomateiro.

Na avaliação da AACPD (Tabela1), o sistema de previsão SE = 0,15apresentou uma redução de 25,71%na AACPD comparado com 7 dias, oqual diferiu estatisticamente datestemunha pelo teste de Dunnett5%, porém foi igual pelo teste deTukey 5% da AACPD na SE = 0,05.Considerando-se que o tratamentoSE = 0,15 teve o mesmo número depulverizações que o tratamento 7dias e este apresentou uma AACPDsignificativamente inferior, pode-seafirmar que o momento correto dapulverização aliado às condiçõesclimáticas apresenta um efetivomanejo da doença com o mesmonúmero de pulverizações realizadoempiricamente pelo método decalendário fixo, que normalmente oprodutor utiliza.

Para o tratamento SE = 0,25,constatou-se uma redução na AACPDde 9,83% a 19,66% quandocomparado com pulverização a cada5 e 7 dias, respectivamente. Nãohouve diferença significativa paraAACPD entre os tratamentos SE =0,15 e 5 dias, nem entre o sistemaconvencional de pulverização a cada5 e 7 dias (Tabela 1).

Para a produção de frutoscomerciais e porcentagem de frutoscom sintomas (Tabela 1), ostratamentos não diferiram entre si.

O modelo proposto demonstrouque é possível manejar a enfermidade(Figura 1) e, dentro desse aspecto, énecessário que a avaliação tenhaoutras observações para que secomprove a eficácia do modelo emdiferentes condições climáticas e deepidemias durante o ciclo produtivodo tomateiro no município deCaçador.

O uso do modelo com SE = 0,15demonstrou que é possível a redução

SE=0,0001538.(x-8) 2,4855647.(32-x) 0,7091962. 0,64289 1+2126122.exp-0,12345y

89Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

da doença e do número depulverizações comparado com oempregado no sistema convencional(5 a 7 dias) com vista ao controle damancha bacteriana causada porXanthomonas spp.

Literatura citada

1. BERGAMIM FILHO, A.; AMORIM,L. Sistemas de previsão e avisos. In:BERGAMIM FILHO, A.; KIMATI, H.;AMORIM, L. (Ed.). Manual defitopatologia. 3.ed. São Paulo: Ceres,1995. v.1. p.627-646.

2. JONES, J.B.; LACY, G.H.; BOUZAR,H. et al. Reclassification of theXanthomonas associated withbacterial spot disease of tomatopepper. Systematic and AppliedMicrobiology, Stuttgart, v.27, n.6,p.755-762, 2004.

3. JARDINE, D.J.; STEPHENS, C.T.A.Predictive system for timing chemicalapplications to control Pseudomonas

syringae pv. tomato, causal agent ofbacterial speck. Phytopathology, St.Paul, v.77, n.6, p.823-827, 1987.

4. LOPES, C.A.; QUEZADO-DUVAL,M.A . Doenças bacterianas. In:LOPES, C.A.; ÁVILA, A.C. Doençasdo tomateiro. Brasília: Embrapa-CNPH, 2005. p.53-73 .

5. MARCUZZO, L.L.; FERNANDES,J.M.C.; BECKER, W.F. Influência datemperatura e da duração domolhamento foliar na severidade damancha bacteriana do tomateiro.Summa Phytopathologica, Botucatu,v.34, p.9, 2008. (Suplemento).

6. MARCUZZO, L.L.; BECKER, W.F.;FERNANDES, J.M.C. Epidemiologiada mancha bacteriana (Xanthomonasspp.) do tomateiro. FitopatologiaBrasileira, Brasília, v.32, n.1, p.136,2007.

7. MARINGONI, A.C.; KUROZAWA, C.;BARBOSA, V. et al. Controle químicoda mancha bacteriana (Xanthomonascampestris pv. vesicatoria (DOIDGE)

Frutos ComerciaisTratamento Pulverização AACPD(1) Produção Com sintomas de

mancha bacterianaNº ..............................t/ha..........................

SE = 0,05 36 936,81 a* 77,85ns 5,94ns

SE = 0,15 17 1.114,93 ab* 75,74 6,32SE = 0,25 11 1.205,71 b 76,92 6,58Convencional (5 dias) 24 1.337,18 bc 77,63 5,83

Convencional (7 dias) 17 1.500,82 c 79,07 6,63Testemunha 1.515,87 66,96 7,41CV (%) - 12,22 12,52 16,15

Tabela 1. Número de pulverizações, área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD), frutos comerciais eporcentagem de frutos com sintomas da doença em diferentes sistemas de previsão comparados com o tratamentoconvencional para controle da mancha bacteriana do tomateiro. Epagri/EE Caçador, 2006/07

(¹) Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5%.*Sistema difere estatisticamente da testemunha pelo teste de Dunnett em nível de 5%.Notas: SE = severidade estimada (% de severidade/100).

CV = coeficiente de variação.ns = não significativo pelo teste F 5%.

DYE) do tomateiro (Lycopersiconesculentum MILL.). SummaPhytopathologica, Piracicaba, v.12,n.1, p.92-101, 1986.

8. MELLO, S.C.; TAKATSU, A.;LOPES, C.A. Escala diagramáticapara avaliação da mancha-bacteriana do tomateiro.Fitopatologia Brasileira, Brasília,v.22, n.3, p.447-448, maio/jun. 1997.

9. REIS, E.M. Previsão de doenças deplantas. Passo Fundo, RS: UPF, 2004.316p.

10. ROMEIRO. R. S.; VIEIRA JUNIOR,J. R. Importância de antibióticos parao controle de fitopatógenos e paraoutras finalidades em fitopatologia.Summa Phytopathologica , v.31,p.132-135, 2005. (Suplemento).

11. SÍNTESE ANUAL DA AGRICUL-TURA DE SANTA CATARINA 2006/2007. Florianópolis: Epagri/Cepa,2007. 282p.

Figura 1. (A) Sintoma da mancha bacteriana do tomateiro na face superior, (B) na face inferior da folha e (C) no fruto

90 Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

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A revista Agropecuária Catari-nense aceita para publicaçãomatérias ligadas à agropecuária e àpesca, desde que se enquadrem nasseguintes normas:

1. As matérias para as seçõesArtigo científico, Germoplasmae Lançamento de cultivares eNota científica devem seroriginais e vir acompanhadas deuma carta afirmando que amatéria é exclusiva à RAC.

2. O Artigo científico deve serconclusivo, oriundo de umapesquisa já encerrada. Deveestar organizado em Título,Nome completo dos autores (semabreviação), Resumo (máximode 15 linhas, incluindo Termospara indexação), Título eminglês, Abstract e Index terms,Introdução, Material e métodos,Resultados e discussão, Con-clusão, Agradecimentos (opcio-nal), Literatura citada, tabelase figuras. Os termos paraindexação não devem conterpalavras já existentes no títuloe devem ter no mínimo três e nomáximo cinco palavras. Nomescientíficos no título não devemconter o nome do identificadorda espécie. Há um limite de 15páginas para Artigo científico,incluindo tabelas e figuras.

3. A Nota científica refere-se apesquisa científica inédita erecente com resultadosimportantes e de interesse parauma rápida divulgação, porémcom volume de informaçõesinsuficiente para constituir umartigo científico completo. Podeser também a descrição de nova

doença ou inseto-praga. Deve terno máximo oito páginas(incluídas as tabelas e figuras).Deve estar organizada emTítulo, Nome completo dosautores (sem abreviação),Resumo (máximo de 12 linhas,incluindo Termos paraindexação), Título em inglês,Abstract e Index terms, textocorrido, Agradecimentos(opcional), Literatura citada,tabelas e figuras. Não deveultrapassar dez referênciasbibliográficas.

4. A seção Germoplasma (Lan-çamento de cultivares) deveconter Título, Nome completodos autores, Resumo (máximo de15 linhas, incluindo Termos paraindexação), Título em inglês,Abstract e Index terms,Introdução, Origem (incluindopedigree), Descrição (planta,brotação, floração, fruto, folha,sistema radicular, tabela comdados comparativos),Perspectivas e problemas danova cultivar ou germoplasma,Disponibilidade de material eLiteratura citada. Há um limitede 12 páginas para cadamatéria, incluindo tabelas efiguras.

5. Devem constar no rodapé daprimeira página: formaçãoprofissional do autor e do(s)coautor(es), título de graduaçãoe pós-graduação (Especialização,M.Sc., Dr., Ph.D.), nome eendereço da instituição em quetrabalha, telefone para contatoe endereço eletrônico.

6. As citações de autores no textodevem ser feitas por sobrenome

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9. As matérias apresentadas paraas seções Registro, Opinião,Conjuntura e Informativotécnico devem se orientar pelasnormas do item 10.

91Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

9.1 Registro – matérias que tratamde fatos oportunos que mereçamser divulgados. Seu conteúdo éa notícia, que, apesar de atual,não chega a merecer o destaquede uma reportagem. Não devemter mais que duas páginas.

9.2 Opinião – deve discorrer sobreassuntos que expressam aopinião do autor sobre o fato emfoco e não deve ter mais que trêspáginas.

9.3 Conjuntura – matérias queenfocam fatos atuais com baseem análise econômica, social oupolítica, cuja divulgação éoportuna. Não devem ter maisque seis páginas.

9.4 Informativo técnico – refere-seà descrição de uma técnica, umatecnologia, doenças, insetos--praga, e outras recomendaçõestécnicas de cunho prático. Nãodeve ter mais do que oitopáginas, incluídas as figuras etabelas.

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11. Literatura citada. As referênciasbibliográficas devem estarrestritas à Literatura citada notexto, de acordo com a ABNT eem ordem alfabética. Não sãoaceitas citações de dados nãopublicados e de publicações noprelo. Quando houver mais detrês autores, citam-se apenas ostrês primeiros, seguidos de “etal.” .

Exemplos de citação:

Eventos:Daners, G. Flora de importânciamelífera no Uruguai. In:CONGRESSO IBERO-LATINO-AMERICANO DE APICULTURA, 5.,

1996, Mercedes. Anais... Mercedes,1996. p.20.

Periódicos no todo:ANUÁRIO ESTATÍSTICO DOBRASIL-1999. Rio de Janeiro: IBGE,v.59, 2000. 275 p.

Artigo de periódico:STUKER, H.; BOFF, P. Tamanho daamostra na avaliação da queimaacinzentada em canteiros de cebola.Horticultura Brasileira, Brasília,v.16, n.1, p.10-13, maio 1998.

Artigo de periódico em meioeletrônico:SILVA, S.J. O melhor caminho paraatualização. PC world, São Paulo,n.75, set. 1998. Disponível em:<www.idg.com.br/abre.htm>. Acessoem: 10 set. 1998.

Livro no todo:SOCIEDADE BRASILEIRA DECIÊNCIA DO SOLO. Recomendaçãode adubação e de calagem para osestados do Rio Grande do Sul e deSanta Catarina. 3.ed. Passo Fundo,RS: SBCS/Núcleo Regional Sul;Comissão de Fertilidade do Solo –RS/SC, 1994. 224p., 1994. 224p.

SOCIEDADE BRASILEIRA DECIÊNCIA DO SOLO. Manual deadubação e calagem para os Estadosdo Rio Grande do Sul e de SantaCatarina. 10.ed. Porto Alegre, RS:SBCS/ Núcleo Regional Sul;Comissão de Química e Fertilidadedo Solo – RS/SC, 2004, 400p.

Capítulo de livro:SCHNATHORST, W.C. Verticilliumwilt. In: WATKINS, G.M. (Ed.)Compendium of cotton diseases.St.Paul: The AmericanPhytopathological Society, 1981. part1, p.41-44.

Teses e dissertações:CAVICHIOLLI, J.C. Efeitos dailuminação artificial sobre o cultivodo maracujazeiro amarelo (Passifloraedulis Sims f. flavicarpa Deg.), 1998.134f. Dissertação (Mestrado emProdução Vegetal), Faculdade deCiências Agrárias e Veterinárias,Universidade Estadual Paulista,Jaboticabal, SP.

0,0004(**) - -

68.72447.38745.03767.93648.31359.50593.037

64.316

64.129 -

113 d122 cd131 abc134 ab122 cd128 abc138 a

125 bc

133 ab

4,80,0002(**)

96,0110,7114,3112,3103,3109,0119,0

108,4

112,3

6,4

80 d100 ab 91 bc 94 bc 88 cd 92 bc104 a

94 abc

95 abc

6,1

95 d110 bc121 a109 bc100 cd107 bc115 ab

106 bc

109 bc

6,40,011(**)

.............................. g ............................... kg/ha

1993 1994 1995 Média

Tabela 1. Peso médio dos frutos no período de 1993 a 1995 e produção média desses trêsanos, em plantas de macieira, cultivar Gala, tratadas com diferentes volumes de calda deraleantes químicos(1)

TestemunhaRaleio manual16L/ha300L/ha430L/ha950L/ha1.300L/ha1.900L/hac/ pulverizadormanual1.900L/hac/ turboatomizador

CV (%)

Probabilidade > F

Peso médio dos frutos ProduçãomédiaTratamento

(1)Médias seguidas pela mesma letra, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Duncan a 5% de probalidade.(**) Teste F significativo a 1% de probabilidade.Nota: CV = coeficiente de variação.Fonte: Camilo & Palladini. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.35, n.11, nov. 2000.

92 Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

Em relação ao artigo “Melhoramento genético participativo em goiabeira-serrana”, publicado na seção

Conjuntura da última revista (v.22, n.2, jul. 2009, p.17-18), foram omitidas três bibliografias no item Literatura

citada. São elas:

· CLEVELAND, D.A., SOLERI, D.; SMITH, S.E. A biological framework for understanding farmers’ plant

breeding. Economic Botany, v.54, n.3, p.377-394, 2000.

· GUIVANT, J.S. Heterogeneidade de conhecimentos no desenvolvimento rural sustentável. Cadernos de

Ciência e Tecnologia, v.14, n.3, p.411-448, 1997.

· SIMONS, A.; LEAKEY, R.R.B. Tree domestication in tropical agroforestry. Agroforestry Systems, v.61,

p.167-181, 2004.

Errata

93Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009

94 Agropecuária Catarinense, v.22, n.3, nov. 2009