Programa de Segurança Perfurocortantes

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  • Manual de implementao

    Programa de preveno de acidentes com materiais perfurocortantes em servios de sade

    Adaptado de Workbook for designing,

    implementing, and evaluating a sharps injury

    prevention program dos Centers for Disease Control

    and Prevention (CDC) 2008

    www.cdc.gov/sharpssafety

    M I N I S T R I ODO TRABALHO E EMPREGO

    FUNDACENTROFUNDAO JORGE DUPRAT FIGUEIREDODE SEGURANA E MEDICINA DO TRABALHO

  • Presidente da RepblicaLuiz Incio Lula da Silva

    Ministro do Trabalho e EmpregoCarlos Lupi

    Projeto Riscobiologico.org

    Coordenadores

    Cristiane Rapparini

    Valria Saraceni

    Alcyone Artioli Machado

    Guilherme Crtes Fernandes

    Fundacentro

    PresidenteJurandir Boia

    Diretor ExecutivoEduardo de Azeredo Costa

    Diretor TcnicoJfi lo Moreira Lima Jnior

    Diretor de Administrao e FinanasHilbert Pfaltzgraff Ferreira

  • Manual de implementao

    Programa de preveno de acidentes com materiais perfurocortantes em servios de sade

    Adaptado de Workbook for designing, implementing, and evaluating

    a sharps injury prevention program dos Centers for Disease Control

    and Prevention (CDC) 2008

  • Adaptado de Workbook for designing, implementing, and evaluating a sharps injury prevention program dos Centers for Disease

    Control and Prevention (CDC) 2008www.cdc.gov/sharpssafety

    So Paulo

    2010

    Cristiane Rapparinirica Lui Reinhardt

    Manual de implementao

    Programa de preveno de acidentes com materiais

    perfurocortantes em servios de sade

    M I N I S T R I ODO TRABALHO E EMPREGO

    FUNDACENTROFUNDAO JORGE DUPRAT FIGUEIREDODE SEGURANA E MEDICINA DO TRABALHO

  • Disponvel tambm em: www.riscobiologico.org & www.fundacentro.gov.br

    Qualquer parte desta publicao pode ser reproduzida, desde que citada a fonte.

    Ficha Tcnica

    Superviso Editorial: Glaucia Fernandes - Fundacentro - Ministrio do Trabalho e Emprego

    Traduo, reviso, adaptao e modifi cao do texto: Cristiane Rapparini - Projeto Riscobiologico.org

    rica Lui Reinhardt - Fundacentro - Ministrio do Trabalho e Emprego

    Projeto Grfi co / Editorao: Simplesmente Comunicao e Design

    Redesign/adequao do projeto: Gisele Almeida (estagiria) - Fundacentro - Ministrio do Trabalho e Emprego

    Reviso de textos: Karina Penariol Sanches - Fundacentro - Ministrio do Trabalho e Emprego

    CIS

    Xycop Yhb As CDU614.253.1+613.6.02

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)Servio de Documentao e Biblioteca SDB / Fundacentro

    So Paulo SPErika Alves dos Santos CRB-8/7110

    Rapparini, Cristiane.Manual de implementao : programa de preveno de acidentes

    com materiais perfurocortantes em servios de sade / Cristiane Rapparini ; rica Lui Reinhardt. - So Paulo : Fundacentro, 2010.

    161 p. ; 30 cm.Adaptado de Workbook for designing, implementing, and

    evaluating a sharps injury prevention program - Centers for Disease Control and Prevention, 2008.

    ISBN 978-85-117-43-0

    1. Exposio ocupacional - Preveno. 2. Acidentes ocupacionais.3. Profissionais da sade. 4. Agentes biolgicos. 5. Hepatite B - Contgio. 5. Hepatite B - Preveno de doenas. 7. Hepatite C - Contgio. 8. Hepatite C - Preveno de doenas. 9. Sndrome de imunodeficincia - Contgio. 10. Sndrome de imunodeficincia - Preveno de doenas. 11. Avaliao de risco. 12. Fatores de risco. I. Reinhardt, rica Lui.

    CIS Classificao do Centre International dInformations de Scurit et dHygiene du TravailCDU Classificao Decimal Universal

  • Apresentao 9

    Informaes sobre o manual 11Introduo 11

    Viso geral do programa de preveno 11

    Informaes adicionais 12

    Pblico-alvo 12

    Riscos e preveno de acidentes com perfurocortantes 13entre trabalhadores da sade

    Introduo 13

    Patgenos de transmisso sangunea 13

    Vrus da hepatite B 14

    Vrus da hepatite C 15

    Vrus da imunodefi cincia humana 15

    Custo dos acidentes com perfurocortantes 16

    Epidemiologia dos acidentes de trabalho com perfurocortantes 16

    Quem corre risco de sofrer acidentes com perfurocortantes? 16

    Onde, quando e como ocorrem os acidentes? 17

    Quais perfurocortantes esto envolvidos nos acidentes percutneos? 20

    Importncia dos acidentes envolvendo agulhas com lmen 22

    Acidentes com perfurocortantes no centro cirrgico 23

    Estratgias para preveno de acidentes 23

    Perspectiva histrica e fundamentao de uma estratgia ampliada 23para preveno de acidentes com perfurocortantes

    Abordagens atuais de preveno 24

    Medidas de preveno com mltiplos componentes 29

    Fatores organizacionais 29

    Adeso dos trabalhadores da sade 31

    A necessidade de orientao 32

    Etapas organizacionais 33

    Etapa 1. Desenvolvimento da capacidade organizacional 33

    Comit gestor do programa de preveno de acidentes com perfurocortantes 34

    Etapa 2. Avaliao dos processos operacionais do programa 35

    Avaliao da cultura de segurana 36

    Avaliao de normas e procedimentos para notifi cao de acidentes com perfurocortantes 36

    ndice

  • Avaliao de mtodos para a anlise e o uso dos dados dos acidentes com perfurocortantes 37

    Avaliao do processo de identifi cao, seleo e implementao 37

    de perfurocortantes com dispositivos de segurana

    Avaliao de programas para a capacitao dos trabalhadores da sade 37

    sobre a preveno de acidentes com perfurocortantes

    Etapa 3. Anlise do perfi l inicial (basal) dos acidentes e das medidas de preveno 37

    Etapa 4. Determinao das prioridades de preveno 38

    Prioridades para a preveno de acidentes com perfurocortantes 38

    Prioridades para a melhoria do desempenho do programa 39

    Etapa 5. Desenvolvimento e implementao de planos de ao 39

    Plano de ao para reduzir acidentes 39

    Plano de ao para a melhoria do desempenho do programa 40

    Etapa 6. Monitoramento do desempenho do programa 41

    Processos operacionais 42

    Institucionalizao de uma cultura de segurana no ambiente de trabalho 42

    Introduo 42

    Estratgias para criao de uma cultura de segurana 44

    Mensurao de melhorias na cultura de segurana 46

    Implantao de procedimentos de registro, notifi cao e investigao 47de acidentes e situaes de risco

    Introduo 47

    Desenvolver um procedimento para notifi cao de acidentes e um mtodo de documentao 47

    Desenvolver um procedimento de registro de situaes de risco 50

    Desenvolver um procedimento de investigao de fatores contribuintes 50

    para o acidente ou quase acidente

    Anlise dos dados sobre os acidentes com perfurocortantes 52

    Introduo 52

    Compilao de dados de acidentes com perfurocortantes 52

    Anlise de dados de acidentes com perfurocortantes 53

    Clculo das taxas de incidncia de acidentes 54

    Uso de grfi cos ou cartas de controle para monitoramento dos progressos 55

    Clculo de taxas de acidentes por instituio 56

    Avaliao por comparao - benchmarking 56

    Seleo de perfurocortantes com dispositivos de segurana 56

    Introduo 56

    Etapa 1. Organizao de uma equipe de seleo e avaliao de produtos 57

    Etapa 2. Estabelecimento de prioridades para considerao do produto 58

    Etapa 3. Coleta de informaes sobre o uso do perfurocortante convencional 58

    Etapa 4. Determinao de critrios para seleo de produto e identifi cao de outros aspectos relevantes 59

    Etapa 5. Obteno de informaes sobre os produtos disponveis 59

    Etapa 6. Obteno de amostras de perfurocortantes com dispositivos de segurana 60

    Etapa 7. Desenvolvimento de um formulrio de avaliao de produto 60

    Etapa 8. Desenvolvimento e execuo de um plano de avaliao de produto 61

    Etapa 9. Tabulao e anlise dos resultados da avaliao 62

    Etapa 10. Seleo e implantao do produto escolhido 63

    Etapa 11. Realizao do monitoramento ps-implantao 64

  • Capacitao dos trabalhadores da sade 64

    Introduo 64

    Trabalhadores da sade como alunos 64

    Oportunidades para as atividades educativas e a capacitao 65dos profi ssionais e outros trabalhadores da sade

    Contedo das capacitaes sobre a preveno de acidentes com perfurocortantes 65

    Instrumentos didticos 66

    Referncias bibliogrfi cas 67

    Anexo A Formulrios e planilhas 76A-1 Modelo de planilha para avaliao inicial (basal) do programa

    A-2 Modelos de formulrios para medir as percepes dos trabalhadores sobre a cultura de segurana na instituio

    A-3 Modelos de formulrios para pesquisa com os trabalhadores sobre a exposio a sangue ou outros materiais biolgicos no ambiente de trabalho

    A-4 Modelo de planilha do perfi l inicial (basal) de acidentes na instituio

    A-5 Modelo de planilha para registro das medidas existentes para preveno de acidentes

    A-6 Modelos de formulrios de planos de ao do programa de preveno de acidentes com perfurocortantes

    A-7 Modelo de formulrio de notifi cao de exposio a sangue ou outros materiais biolgicos

    A-8 Modelos de formulrios para registro de situaes de riscoou quase acidentes envolvendo perfurocortantes

    A-9 Modelos de formulrio para anlise simples de causa raizde acidentes com perfurocortantes ou eventos de quase acidentes

    A-10 Modelo de planilha para o clculo do ajuste da taxa especfi ca por funo ou ocupao

    A-11 Modelo de questionrio para pesquisa sobre o uso de perfurocortantes

    A-12 Modelo de planilha de pr-seleo de perfurocortante com dispositivo de segurana

    A-13 Modelo de formulrio de avaliao de perfurocortante com dispositivo de segurana

    Anexo B Dispositivos de segurana para a preveno de acidentes com perfurocortantes 132

    Anexo C Prticas de trabalho seguras para a preveno de acidentes com perfurocortantes 135

    Anexo D Estratgias para abordar problemas especfi cos associados a acidentes com perfurocortantes 138

    Anexo E Avaliao do custo das aes de preveno de acidentes com perfurocortantes 140

    E-1 Modelo de planilha para estimativa dos custos anual e mdio dos acidentes com perfurocortantes

    E-2 Modelo de planilha para estimativa dos custos dos acidentes causados por perfurocortantes especfi cos

    E-3 Modelo de planilha para estimativa do custo lquido da implantao de um perfurocortante com dispositivo de segurana

    Anexo F Glossrio 155

    Anexo G Outras fontes de informao na internet 158

  • Apresentao

    Os servios de sade so compostos por ambientes de trabalho complexos, apresentando, por isso mesmo, riscos variados sade dos trabalhadores e tambm das pessoas que estejam recebendo assistncia mdica nesses locais. Dentre esses riscos, um que bastante peculiar ao servio de sade o risco de sofrer um acidente de trabalho com material biolgico envolvendo um perfurocortante. Alm de incluir o ferimento em si, a grande preocupao em um acidente desta natureza a possibilidade de vir a se infectar com um patgeno de transmisso sangunea, especialmente os vrus das hepatites B e C e da aids. Essas so doenas que trazem grandes perdas no s ao trabalhador acidentado, mas tambm a toda a sociedade. Mesmo que no haja soroconverso, um acidente com um perfurocortante envolve o sofrimento do trabalhador acidentado e de sua famlia e muitas vezes grandes custos fi nanceiros. Por isso, deve-se evitar ao mximo que esses acidentes ocorram, propsito ltimo deste manual e a principal motivao para a traduo e adaptao deste importante manual dos Centers for Disease Control and Prevention.

    Este manual contm instrues prticas para auxiliar os servios de sade a elaborar, implementar e avaliar um programa de preveno de acidentes com perfurocortantes. Uma vez implementado, o programa ajudar a tornar mais seguro o ambiente de trabalho no s dos profi ssionais da sade, mas tambm de todos os outros trabalhadores que atuam nesses servios. Ao mesmo tempo, pode servir de subsdio tcnico para que os servios de sade atendam s exigncias legais relacionadas sade do trabalhador, especialmente as defi nidas na Norma Regulamentadora n 32 do Ministrio do Trabalho e Emprego, alm das estabelecidas em outras normas federais, estaduais ou municipais que tambm sejam aplicveis.

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  • Informaes sobre o manual

    Introduo

    A exposio ocupacional a patgenos de transmisso sangunea provocada por acidentes com agulhas e outros materiais perfurocortantes um problema grave, mas muitas vezes pode ser prevenida. Os Centers for Diseases Control and Prevention (CDC), nos EUA, estimam que anualmente ocorram aproximadamente 385.000 acidentes com materiais perfurocortantes envolvendo trabalhadores da sade que atuam em hospitais(1). Exposies semelhantes tambm ocorrem em outros servios de assistncia sade, como instituies de longa permanncia para idosos, clnicas de atendimento ambulatorial, servios de atendimento domiciliar (home care), servios de atendimento de emergncia e consultrios particulares. Os acidentes percutneos com exposio a material biolgico esto associados principalmente com a transmisso do vrus da hepatite B (HBV), do vrus da hepatite C (HCV) e do vrus da imunodefi cincia humana (HIV), mas tambm podem estar envolvidos na transmisso de outras dezenas de patgenos(2-5).

    Viso geral do programa de preveno

    Um efetivo programa de preveno de acidentes inclui diversos componentes que devem atuar em conjunto para prevenir que os trabalhadores da sade sofram acidentes de trabalho com agulhas e outros materiais perfurocortantes. Esse programa de preveno deve se integrar aos programas j existentes, como os de gesto da qualidade, de controle de infeco e de segurana e sade ocupacionais. baseado em um modelo de melhoria contnua da qualidade, uma abordagem que servios de sade bem-sucedidos tm adotado de forma crescente. Pode-se descrever esse modelo atravs de diferentes termos, mas o conceito subjacente aquele que envolve uma abordagem sistemtica, ampla, organizacional, de melhoria contnua do desempenho de todos os processos empregados para prover produtos e servios de qualidade. O programa de preveno tambm traz conceitos da rea de higiene do trabalho, na qual as intervenes de preveno so priorizadas com base em uma hierarquia de estratgias de controle.

    O programa de preveno consiste em dois componentes principais:

    Etapas organizacionais para o desenvolvimento e a implementao de um programa de preveno de acidentes de trabalho com materiais perfurocortantes: Incluem uma srie de atividades administrativas e organizacionais, iniciando-se com a criao de uma equipe de trabalho multidisciplinar. As etapas so consistentes com outros modelos de melhoria contnua

    11

  • 12

    da qualidade, nos quais h a exigncia da realizao de uma avaliao inicial e do estabelecimento de prioridades para o desenvolvimento de um programa de preveno. Um processo contnuo de reviso e de avaliao da efetividade do programa de preveno poder vir a indicar a modifi cao de determinado componente do programa, de acordo com as necessidades identifi cadas.

    Processos operacionais: Essas atividades formam a espinha dorsal do programa de preveno. Incluem a criao de uma cultura de segurana, a notifi cao dos acidentes, a anlise dos dados e a seleo e a avaliao de materiais perfurocortantes.

    Informaes adicionais

    Este manual inclui diversas sees que descrevem cada etapa organizacional e cada processo operacional do programa de preveno. Diversos modelos de formulrios e planilhas foram includos para orientar a implementao do programa. O manual tambm contm:

    Uma viso geral da literatura sobre os riscos e a preveno de acidentes de trabalho com materiais perfurocortantes envolvendo trabalhadores da sade;

    Uma descrio dos dispositivos de segurana e os fatores a serem considerados na seleo desses dispositivos;

    Links para sites com informaes relevantes sobre a preveno de acidentes com material biolgico.

    O manual apresenta um amplo programa de preveno de acidentes de trabalho com materiais perfurocortantes entre trabalhadores da sade. As informaes podem ser usadas para:

    Ajudar os servios de sade a criar, desenvolver e manter um programa de preveno;

    Ajudar os servios de sade a ampliar e aprimorar as aes de um programa de preveno que j tenha sido implementado.

    Os princpios podem tambm ser amplamente aplicados para a preveno de todos os tipos de exposies a sangue ou outros materiais biolgicos.

    Pblico-alvo

    O pblico para essas informaes inclui: gerentes de programas, membros de comits dos servios de sade e administradores na rea de assistncia sade. Nem todas as partes ou atividades sero relevantes a todas as instituies. Os formulrios e as planilhas podem ser adaptados de acordo com as necessidades dos usurios. Alguns formulrios e planilhas foram criados para serem usados apenas uma vez (por exemplo, avaliao inicial), enquanto outros so para uso peridico.

    Objetivos importantes que este manual ajudar a atingir:

    Avaliar o programa de preveno de acidentes de trabalho com materiais perfurocortantes de sua instituio;

    Documentar o desenvolvimento e a implementao de suas atividades de planejamento e de preveno;

    Avaliar o impacto de suas intervenes de preveno.

  • Riscos e preveno de acidentes com perfurocortantes entre trabalhadores da sade

    Introduo

    A preveno de acidentes de trabalho com material biolgico uma importante etapa na preveno da contaminao de trabalhadores da sade por patgenos de transmisso sangunea. Dados epidemiolgicos sobre os acidentes, incluindo as circunstncias associadas com a transmisso ocupacional por estes patgenos, so essenciais para o direcionamento e a avaliao das intervenes nos nveis local, regional e nacional. Os CDC estimam que, a cada ano, ocorram 385.000 acidentes com perfurocortantes entre os trabalhadores da sade que atuam em hospitais; uma mdia de 1.000 exposies por dia(1). A verdadeira magnitude do problema difcil de ser avaliada, j que no existem informaes sobre a ocorrncia destes acidentes entre os trabalhadores que atuam em outros servios, como, por exemplo, instituies de longa permanncia para idosos, clnicas de atendimento ambulatorial, servios de atendimento domiciliar (home care), servios de atendimento de emergncia e consultrios particulares. Alm disso, embora estas estimativas dos CDC tenham sido ajustadas em relao subnotifi cao, a importncia deste fator no pode ser subestimada. Diferentes estudos indicam que mais de 50% dos trabalhadores da sade no notifi cam a ocorrncia de exposies percutneas envolvendo material biolgico(6-13).

    Patgenos de transmisso sangunea

    Os acidentes com agulhas e outros perfurocortantes usados nas atividades laboratoriais e de assistncia sade esto associados transmisso ocupacional de mais de 20 diferentes patgenos (2,5,14-16). O vrus da hepatite B (HBV), o vrus da hepatite C (HCV) e o vrus da aids (HIV) so os patgenos mais comumente transmitidos durante as atividades de assistncia ao paciente (Tabela 1).

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  • 14

    Vrus da hepatite B

    Nos EUA, a vigilncia nacional de casos de hepatite fornece estimativas anuais de infeces por HBV em trabalhadores da sade. Essas estimativas so baseadas na proporo de pessoas com novas infeces que relatam um contato ocupacional frequente com sangue. Os CDC estimaram a ocorrncia de 12.000 infeces por HBV entre trabalhadores da sade em 1985(17). Desde ento, este nmero tem diminudo progressivamente, com uma estimativa de 500 casos em 1997(18). O declnio nos casos de hepatite B ocupacional mais de 95% ocorreu principalmente devido ampla imunizao dos trabalhadores da sade. Embora as precaues universais tambm ajudem a reduzir as exposies a sangue ou outros materiais biolgicos e as infeces por HBV(19-21), a extenso da contribuio destas medidas no pode ser precisamente quantifi cada.

    Atualmente, muitos trabalhadores da sade so imunes hepatite B como resultado da vacinao pr-exposio(22-27). Entretanto, trabalhadores suscetveis ainda correm risco de exposio envolvendo perfurocortantes e pacientes-fonte com infeco pelo HBV. Sem a instituio da pro-fi laxia ps-exposio, h um risco de 6%-30% de um trabalhador suscetvel tornar-se infectado aps exposio ao HBV(28-30). O risco mais elevado se o paciente-fonte for HBeAg positivo, um marcador de infectividade elevada(28).

    Uma recente reviso da literatura feita por Tarantola (2006) descreve que j foi identifi cada a trans-misso de 60 diferentes patgenos (26 vrus, 18 bactrias ou riqutsias, 13 parasitas e 3 fungos) aps exposio a sangue ou outros materiais biolgicos entre trabalhadores da sade.

    Fonte: Tarantola A, Abiteboul D, Rachline A. American Journal of Infection Control. 2006; 34(6): 367-75.

    No Brasil, alguns estudos tm encontrado um percentual elevado de vacinao contra hepatite B entre estudantes e trabalhadores, especialmente ao longo dos ltimos anos. Mas, entre algumas categorias de trabalhadores da sade e em algumas cidades do Pas e apesar de sua disponibi-lizao na rede pblica desde o incio dos anos 90, a proporo de vacinao contra hepatite B, especialmente com esquemas completos de trs doses de vacina, inferior a 50%.

    Infeco

    Blastomicose

    Criptococose

    Difteria

    Ebola

    Gonorreia

    Hepatite B

    Hepatite C

    HIV

    PC

    333

    LA

    33333333

    Infeco

    Herpes

    Leptospirose

    Malria

    Tuberculose

    Febre Maculosa

    S. pyogenes

    Sfi lis

    PC

    3

    33

    LA

    3

    3333

    Tabela 1 Infeces transmitidas atravs de acidentes percutneos durante atividades de assistncia ao paciente (PC) e/ou no Laboratrio/Autpsia (LA)1

    1 Referncias 2,5,14-16

  • 15

    Vrus da hepatite C

    Antes da implementao das precaues universais e da descoberta do HCV em 1990, uma associao foi observada entre trabalhar na rea da sade e a aquisio de hepatite aguda no-A, no-B(31). Um estudo mostrou uma associao entre a positividade para o anti-HCV e a histria de exposies ocupacionais percutneas(32).

    O nmero exato de trabalhadores da sade que adquirem HCV ocupacional no conhecido. Os trabalhadores da sade expostos a sangue no local de trabalho representam de 2% a 4% do total de novas infeces por HCV que ocorrem anualmente nos Estados Unidos, um total que declinou de 112.000 em 1991 para 38.000 em 1997(33) (CDC, dados no publicados). Entretanto, no h uma maneira de confi rmar se estas infeces so casos de transmisso ocupacional. Estudos prospectivos mostram que o risco mdio de transmisso do HCV aps exposio percutnea a um paciente-fonte sabidamente infectado pelo HCV de 1,8% (variao: 0% a 7%)(34-39), com um estudo indicando que a transmisso ocorreu apenas em acidentes envolvendo agulhas com lmen quando comparados com outros perfurocortantes(34).

    Diversos relatos de casos tambm documentaram a transmisso ocupacional do HCV a trabalhadores da sade(40-46). Todos, com exceo de dois, envolveram exposies percutneas: um caso de transmisso de HCV e outro de transmisso de HCV + HIV ocorreram aps exposio de mucosa ocular a sangue(45,46). H a suspeita da ocorrncia de um caso de transmisso de HIV e HCV aps uma exposio de pele no-ntegra envolvendo um trabalhador da sade que prestava atendimento a um paciente internado em uma instituio de longa permanncia para idosos(47).

    Vrus da imunodefi cincia humana

    Nos EUA, o primeiro caso de transmisso de HIV de um paciente para um trabalhador da sade foi relatado em 1986(48). Do incio da epidemia at o fi nal de dezembro de 2001, os CDC receberam notifi caes (relatos voluntrios) de 57 casos documentados e 140 casos provveis de transmisso ocupacional do HIV*.

    Em estudos prospectivos, o risco mdio de transmisso do HIV aps exposio percutnea envolvendo sangue estimado como sendo aproximadamente de 0,3%(16).

    Em um estudo retrospectivo do tipo caso-controle com trabalhadores da sade que sofreram exposio percutnea, o risco de transmisso do HIV foi considerado como elevado em exposies que envolveram uma grande quantidade de sangue indicado por a) um dispositivo visualmente contaminado com o sangue do paciente-fonte, b) um procedimento que envolveu agulhas previamente utilizadas na veia ou artria do paciente-fonte ou c) uma leso profunda(49). Dos 57 casos comprovados de transmisso ocupacional do HIV entre trabalhadores da sade nos EUA, a grande maioria envolveu exposio a sangue atravs de um acidente percutneo, geralmente com uma agulha com lmen que estava em um vaso sanguneo (veia ou artria) (CDC, dados no publicados).

    Um estudo caso-controle sobre hepatite C ocupacional demonstrou que o risco de contaminao esteve relacionado principalmente com exposies envolvendo agulhas com lmen e previamente utilizadas em veias ou artrias dos pacientes-fonte, mas tambm houve relato de soroconverso com agulha de sutura e outros perfurocortantes.

    Fonte: Yazdanpanah Y et al. Clinical of Infectious Diseases. 2005; 41:142330.

    * http://www.cdc.gov/ncidod/dhqp/bp_hcp_w_hiv.html

  • 16

    O risco mdio de transmisso ocupacional do HIV aps exposio de membrana mucosa estimado como sendo de 0,09%(50). Embora episdios de transmisso ocupacional do HIV aps exposies cutneas tenham sido documentados(51), o risco mdio de transmisso no foi precisamente quantifi cado, mas estimado como sendo menor do que o risco de exposies de mucosas(52).

    Custo dos acidentes com perfurocortantes

    Embora casos de infeces ocupacionais pelo HIV e pelos vrus das hepatites B e C sejam relativamente raros, os riscos e os custos associados com exposies a sangue ou outros materiais biolgicos so graves e reais. Os custos diretos dos acidentes de trabalho com material biolgico esto associados com as profilaxias iniciais e com o acompanhamento dos trabalhadores expostos e so estimados entre 71 a at 5.000 dlares, e dependem das profilaxias institudas(53-55). Outros custos tambm esto envolvidos, mas so mais difceis de serem quantificados e incluem o custo emocional, associado com o medo, a ansiedade e a preocupao sobre as possveis consequncias de uma exposio; custos diretos e indiretos associados com as toxicidades dos medicamentos e o absentesmo; e o custo social, associado com uma soroconverso pelo HIV ou HCV. Este ltimo inclui a possvel perda dos servios prestados por um profissional da sade na assistncia a pacientes, os custos financeiros do tratamento mdico e o custo de qualquer processo legal e judicial relacionado.

    Epidemiologia dos acidentes de trabalho com perfurocortantes

    Dados sobre acidentes com agulhas e outros perfurocortantes so usados para caracterizar o trabalhador, o local, o objeto, a circunstncia e o modo dessas exposies. Dados de vigilncia agregados do National Surveillance System for Health Care Workers (NaSH) so usados neste manual para fornecer uma descrio geral da epidemiologia das exposies percutneas. Dados estatsticos semelhantes de hospitais que participam do sistema de vigilncia Exposure Prevention Information Network (EPINet), desenvolvido pela Dra. Janine Jagger e colaboradores da Universidade da Virginia, podem ser encontrados no website do International Health Care Worker Safety Center*.

    Quem corre risco de sofrer acidentes com perfurocortantes?

    Dados do NaSH mostram que a equipe de enfermagem que sofre o maior nmero de acidentes com perfurocortantes. Entretanto, outros trabalhadores que prestam assistncia aos pacientes (como mdicos e tcnicos), pessoal de laboratrio e trabalhadores de equipes de suporte (por exemplo, trabalhadores de servios de higienizao/limpeza) tambm esto sujeitos a este risco (Figura 1). A equipe de enfermagem o grupo ocupacional predominante em parte porque o maior segmento da fora de trabalho em muitos hospitais. Quando as taxas de acidentes so calculadas com base no nmero de trabalhadores naquela ocupao ou nmero de horas trabalhadas, outras ocupaes podem apresentar taxas mais elevadas de acidentes (Tabela 2).

    No Brasil, existem casos bem documentados de infeco ocupacional pelo HIV e hepatites B e C entre trabalhadores da sade. Como no havia at recentemente um sistema nacional de vigiln-cia de acidentes de trabalho com material biolgico no pas, no era possvel fazer uma estimativa sobre o nmero de exposies a material biolgico e infeces ocupacionais. Os estudos desen-volvidos no pas referiam-se principalmente a programas realizados de forma individualizada em hospitais universitrios e outros servios de sade. Algumas cidades e estados brasileiros tomaram iniciativas a partir do fi nal da dcada de 90, relacionadas com a criao e a implementao de sistemas de vigilncia locais.

    * http://www.healthsystem.virginia.edu/internet/epinet/

  • 17

    Onde, quando e como ocorrem os acidentes?

    Embora os perfurocortantes possam causar acidentes em qualquer lugar no servio de sade, os dados do NaSH mostram que a maioria (39%) dos acidentes ocorrem em unidades de internao, particularmente nas enfermarias/quartos, em unidades de terapia intensiva e no centro cirrgico (Figura 2). Os acidentes ocorrem mais frequentemente aps o uso e antes do descarte de um perfurocortante (40%), durante seu uso em um paciente (41%) e durante ou aps o descarte (15%) (CDC, dados no publicados). H muitas variaes nas circunstncias envolvendo os acidentes em cada um desses momentos, conforme mostrado nos dados do NaSH sobre acidentes envolvendo agulhas com lmen (Figura 3).

    Autor / perodo do estudo

    McCormick & Maki /

    1975-1979(57)

    Ruben et al. / 1977-1980 (58)

    Mansour / 1984-1989 (59)

    Whitby et al. / 1987-1988 (60)

    McCormick & Maki /

    1987-1988(61)

    Enfermeiras

    45%

    9

    66%

    23

    62%

    10

    79%

    15

    58%

    20

    Tabela 2 Comparao das propores e taxas de acidentes percutneos entre ocupaes selecionadas em diferentes estudos

    Laboratrio

    15%

    10

    10%

    12

    21%

    20

    2%

    4

    9%

    17

    Mdicos1

    ND

    4%

    5

    7%

    2

    11%

    3

    23%

    15

    Higienizao/limpeza

    17%

    13/100 trabalhadores

    16%

    18/100 trabalhadores

    10%

    6/100 trabalhadores

    5%

    3/100 trabalhadores

    11%

    31/100 trabalhadores

    1 Denota apenas o pessoal interno. A relao empregador/empregado do servio de sade afeta as taxas de acidentes entre os mdicos.

    ND no disponvel

    Figura 1 Grupos de trabalhadores da sade expostos a sangue ou outros materiais biolgicos. (N = 23.197, excluindo as notifi caes com dados incompletos.

    Fonte: NaSH junho/1995 a dezembro/2003)

    Mdicos28%

    Enfermagem43%

    Tcnicos15%

    Higienizao/limpeza/

    manuteno3%

    Estudantes4%

    Setoresadministrativos

    3%

    Odontologia1%

    Pesquisa1%

    Outros4%

  • 18

    Abrangncia

    Perodo

    Nmero de acidentes

    Categoria ocupacional

    Mdicos

    Enfermeiros

    Tcnicos, auxiliares e atendentes de enfermagem

    Laboratrio

    Cirurgies-dentistas

    Higienizao/limpeza

    Estudantes

    Ignorado

    Tabela 3 Nmero e proporo de acidentes por ocupaes selecionadas em sistemas de vigilncia brasileiros

    PSBio1

    Brasil (participao

    voluntria)

    2002 a maio 2009

    4.187

    591 (14,1%)

    228 (5,5%)

    1.658 (39,6%)

    128 (3,1%)

    150 (3,6%)

    287 (6,9%)

    527 (12,6%)4

    91 (2,1%)

    SINABIO2

    Estado de SP

    1999 a set 2006

    14.096

    1.176 (8,3%)

    572 (4,1%)

    7.550 (53,6%)

    340 (2,4%)

    486 (3,4%)

    1.343 (9,5%)

    1.067 (7,6)

    200 (1,4%)

    SMS-RJ3

    Municpio do

    Rio de Janeiro

    1997 a out 2008

    20.723

    3.378 (16,3%)

    1.185 (5,7%)

    7.694 (37,1%)

    1.065 (5,1%)

    590 (2,9%)

    2.587 (12,5%)

    2.767 (13,4%)5

    683 (3,3%)

    1 Sistema de vigilncia voluntrio mantido pelo Projeto Riscobiologico.org criado nos moldes do NaSH (CDC)/EPINet (Univ Virginia);2 Sistema de notifi cao voluntria do Programa Estadual DST/Aids da Secretaria de Estado de Sade SP; 3 Sistema de notifi cao do

    Programa Municipal DST/AIDS, Gerncia de Doenas Transmissveis, da Secretaria Municipal de Sade RJ; 4 Refere-se exclusivamente a

    estudantes de medicina, enfermagem e odontologia; 5 Inclui estagirios e estudantes.

    Figura 2 Locais de ocorrncia dos acidentes com sangue ou outros materiais biolgicos (N = 23.140, excluindo as notifi caes com dados incompletos. Fonte: NaSH junho/1995

    a dezembro/2003)

    CentroCirrgico25%

    Ambulatrio8%

    Sala deprocedimentos

    9%

    Lixo/Lavanderia/CME1%

    Internao39%

    Outros5%

    Pronto Socorro8%

    Laboratrios5%

    Enfermarias clnicas e cirrgicas . . . . . . 20%

    Unidade de Terapia Intensiva . . . . . . . . . 13%

    Obstetrcia/Ginecologia . . . . . . . . . . . . . . 2%

    Enfermaria peditrica . . . . . . . . . . . . . . . . 2%

    Enfermaria psiquitrica . . . . . . . . . . . . . . . 1%

    Berrio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1%

    Ala prisional. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . < 1%

  • 19

    Abrangncia

    Perodo

    Nmero de acidentes

    Locais de ocorrncia

    Enfermarias e quartos

    Pronto socorro / Emergncia

    Centro cirrgico

    Unidade de Terapia Intensiva

    Odontologia

    Laboratrio

    CME

    Tabela 4 Nmero e proporo de acidentes por local de ocorrncia dentro do servio de sade em sistemas de vigilncia brasileiros

    PSBio1

    Brasil (participao voluntria)

    2002 a maio 2009

    4.187

    1.119 (27,9%)

    354 (8,8%)

    541 (13,5%)

    418 (10,4%)

    ND

    137 (3,4%)

    50 (1,2%)

    SINABIO2

    Estado de So Paulo

    1999 a set 2006

    14.096

    2.058 (14,6%)

    2.001 (14,2%)

    1.233 (8,7%)

    866 (6,1%)

    672 (4,8%)

    492 (3,5%)

    193 (1,4%)

    1 Sistema de vigilncia voluntrio mantido pelo Projeto Riscobiologico.org criado nos moldes do NaSH (CDC)/EPINet (Univ Virginia); 2 Sistema de notifi cao voluntria do Programa Estadual DST/Aids da Secretaria de Estado de Sade SP;

    ND no disponvel; SMS-RJ Varivel no disponvel no sistema de vigilncia.

    Figura 3 Circunstncias de ocorrncia de acidentes percutneos envolvendo agulhas com lmen (N = 10.239, sendo 150 notifi caes sem informar sobre

    como o acidente ocorreu. Fonte: NaSH junho/1995 a dezembro/2003)

    Manipulao de

    agulha no paciente

    27%

    Acesso intravascular

    5%

    Durante descarte

    de perfurocortante

    13%

    Descarte

    inadequado

    9%

    Durante

    limpeza

    9%

    Reencapar agulha

    5%

    Outros

    4%

    Manuseio/passagem

    de instrumentos

    6%

    Em trnsito para

    o descarte

    4%

    Coliso com outro

    trabalhador ou

    com o perfurocortante

    10%

    Transferncia/processamento

    de amostras

    5%

    Ativao do dispositivo

    de segurana

    3%

  • 20

    Quais perfurocortantes esto envolvidos nos acidentes percutneos?

    Embora muitos tipos de perfurocortantes possam estar envolvidos, dados agregados do NaSH indicam que seis dispositivos so responsveis por aproximadamente oitenta por cento de todos os acidentes (Figura 4).

    Esses dispositivos so:

    Seringas descartveis/agulhas hipodrmicas (30%)

    Agulhas de sutura (20%)

    Escalpes (12%)

    Lminas de bisturi (8%)

    Estiletes de cateteres intravenosos (IV) (5%)

    Agulhas para coleta de sangue (3%)

    No geral, as agulhas com lmen so responsveis por 56% de todos os acidentes com perfurocor-tantes no NaSH.

    SMS-RJ 3

    Municpio do

    Rio de Janeiro

    1997 a out 2008

    20.723

    2.604 (12,6%)

    1.074 (5,2%)

    1.850 (8,9%)

    563 (2,7%)4

    SINABIO 2

    Estado de SP

    1999 a set 2006

    14.096

    587 (4,2%)

    1.194 (8,5%)

    (B)

    1.109 (7,9%)

    (C)

    2.068 (14,7%)

    577 (4,1%)

    869 (6,2%)

    Abrangncia

    Perodo

    Nmero de acidentes

    Circunstncias de ocorrncia

    Reencape de agulha

    Coleta de sangue

    Puno venosa perifrica

    Procedimento cirrgico

    Descarte

    Administrao de medicao

    Procedimento odontolgico

    Manuseio de lixo

    Tabela 5 Nmero e proporo de acidentes de acordo com as circunstncias da ocorrncia em sistemas de vigilncia brasileiros

    PSBio 1

    Brasil (participao

    voluntria)

    2002 a maio 2009

    4.187

    364

    (A)

    223

    496

    512

    456

    162

    184

    1 Sistema de vigilncia voluntrio mantido pelo Projeto Riscobiologico.org criado nos moldes do NaSH(CDC)/EPINet (Universidade de Virginia); 2 Sistema de notifi cao voluntria do Programa Estadual DST/Aids, da Secretaria de Estado

    de Sade SP; 3 Sistema de notifi cao do Programa Municipal DST/AIDS, Gerncia de Doenas Transmissveis, da Secretaria Municipal

    de Sade RJ; 4 Procedimento cirrgico + manuseio de material cirrgico; (A) Informao disponibilizada somente com diferente

    categorizao; (B) Puno vascular no especifi cada 448 acidentes; (C) Descarte em superfcie 995 acidentes

    2.714 (13,1%)

    1.427 (6,9%)

    75 (0,4%)

    2.453 (11,8%)

  • 21

    Figura 4 Tipos de perfurocortantes envolvidos nos acidentes percutneos (N = 18.708)Fonte: NaSH junho/1995 a dezembro/2003

    40

    35

    30

    25

    20

    15

    10

    5

    0

    Serin

    gas

    desc

    art

    veis

    Serin

    gas c

    omtu

    bete

    /

    med

    ica

    opr

    onta

    Esca

    lpes

    Estil

    etes

    cate

    tere

    s IV

    Agul

    has p

    ara

    cole

    ta

    desa

    ngue

    (vc

    uo)

    Agul

    has d

    e

    circ

    uito

    s IV

    Percentual de acidentes

    Taxa/100.000 de

    perfurocortantes

    comprados

    Figura 5 Risco de acidente por tipo de perfurocortante

    Agulhas hipodrmicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30%

    Escalpes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12%

    Estiletes de cateteres IV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5%

    Agulhas para coleta de sangue (vcuo) . . . . . . . . . . . 3%

    Outras agulhas com lmen . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6%

    Agulhas com

    lmen

    56%

    Lmina

    de bisturi

    8%

    Agulha

    de sutura

    20%

    Outros/

    desconhecido

    10%

    Vidraria

    2%

    Outros/desconhecido

    4%Perfurocortantes

    sem lmen: 38%

  • 22

    Fatores diretamente relacionados ao prprio perfurocortante tambm infl uenciam os riscos de acidente percutneo. Um artigo de Jagger et al.(62), de 1988, demonstra que os perfurocortantes que exigem manipulao ou desmontagem aps o uso (como agulhas conectadas ao circuito IV, escalpes e estiletes de cateteres IV) foram associados com uma taxa maior de acidentes do que a agulha ou a seringa hipodrmica.

    Importncia dos acidentes envolvendo agulhas com lmen

    Acidentes envolvendo agulhas com lmen, especialmente aquelas utilizadas para coleta de sangue e insero de cateter intravascular, so particularmente preocupantes. Esses perfurocortantes geralmente contm sangue residual e esto associados com um risco elevado de transmisso do HIV(49). Dos 57 casos documentados de transmisso ocupacional do HIV entre trabalhadores da sade e que foram relatados aos CDC at dezembro de 2001, 50 (88%) envolveram exposies percutneas. Destes, 45 (90%) foram causados por agulhas com lmen e metade destas agulhas foi usada previamente em uma veia ou uma artria (CDC, dados no publicados). Acidentes semelhantes foram observados em casos de transmisso ocupacional do HIV em outros pases(63).

    H poucos dados descritivos semelhantes para os tipos de perfurocortantes ou formas de exposio envolvidos na transmisso de HBV ou HCV. Entretanto, um estudo caso-controle sobre hepatite C ocupacional demonstrou que o risco de contaminao esteve relacionado com exposies en-volvendo agulhas com lmen e previamente utilizadas em veias ou artrias dos pacientes-fonte.

    Fonte: Yazdanpanah Y et al. Clinical of Infectious Diseases. 2005; 41:142330.

    Abrangncia

    Perodo

    Nmero de acidentes

    Materiais perfurocortantes

    Agulhas com lmen

    Agulha hipodrmica - com lmen (oca)

    Estilete ou guia intravascular

    Agulha de seringa com medicao pronta

    para administrao

    Agulha para coleta a vcuo

    Outro tipo de agulha com lmen (oca)

    Agulha de sutura

    Lminas

    Vidro

    Tabela 6 Nmero e proporo de acidentes de acordo com o material perfurocortante envolvido em sistemas de vigilncia brasileiros

    PSBio 1

    Brasil (participao voluntria)

    2002 a maio 2009

    4.187

    1.855 (55,0%)

    174 (5,2%)

    44 (1,3%)

    57 (1,7%)

    193 (5,7%)

    264 (7,8%)

    10 (0,3%)

    39 (1,1%)

    SINABIO 2

    Estado de So Paulo

    1999 a set 2006

    12.050

    8.587 (71,3%)3

    915 (7,6%)

    812 (6,7%)

    195 (1,6%)

    1 Sistema de vigilncia voluntrio mantido pelo Projeto Riscobiologico.org criado nos moldes do NaSH (CDC)/EPINet (Universidade de Virginia); 2 Sistema de notifi cao voluntria do Programa Estadual DST/Aids, da Secretaria de Estado de Sade SP; 3 Agulhas com lmen no

    especifi cadas; SMS-RJ varivel no disponvel no sistema de vigilncia.

  • 23

    Perfurocortantes sem lmen, como agulhas de sutura, teoricamente possuem um risco menor de transmisso do HIV, geralmente porque envolvem um inculo menor de sangue (especialmente quando atravessam luvas e outras barreiras)(64). Apesar disso, h registro de dois acidentes com bisturi (ambos durante necropsia) que causaram soroconverses pelo HIV (CDC, dados no publicados).

    Acidentes com perfurocortantes no centro cirrgico

    Entre os hospitais do NaSH, o centro cirrgico o segundo local com a maior frequncia de acidentes com perfurocortantes, sendo responsvel por 27% dos acidentes no geral (CDC, dados no publicados). Entretanto, a epidemiologia dos acidentes com perfurocortantes no centro cirrgico difere daquela em outros locais dentro do hospital. Estudos observacionais de procedimentos cirrgicos registraram que em 7% a 50% destes procedimentos houve exposio dos trabalha-dores a sangue; 2% a 15% destas exposies foram acidentes percutneos comumente provo-cados por agulha de sutura(65-69). Dados agregados de nove hospitais sobre acidentes entre as equipes do centro cirrgico tambm refl etem a importncia das agulhas de sutura, que foram responsveis por 43% das leses neste estudo(70).

    Estratgias para preveno de acidentes

    Perspectiva histrica e fundamentao de uma estratgia ampliada para preveno de acidentes com perfurocortantes

    Em 1981, McCormick e Maki foram os primeiros a descrever as caractersticas de acidentes com perfurocortantes entre trabalhadores da sade e a recomendar uma srie de estratgias de preveno, incluindo programas educacionais, evitamento de reencape e melhores sistemas para descarte de agulhas(57). Em 1987, as recomendaes dos CDC para precaues universais incluram um guia sobre a preveno de acidentes com perfurocortantes com foco nos cuidados durante o manuseio e o descarte(71). Diversos estudos sobre a preveno de acidentes com agulhas, publicados entre 1987 e 1992, focalizaram o desenvolvimento e a colocao de coletores de descarte de perfurocortantes resistentes punctura em locais adequados e a capacitao dos trabalhadores sobre os riscos do re-encape, do encurvamento e da quebra de agulhas usadas(72-78). Muitos desses estudos documentaram o sucesso limitado dessas intervenes especfi cas, tanto em prevenir acidentes relacionados ao descarte quanto ao reencape(60,74-77). Os resultados foram melhores, porm, quando a interveno incluiu uma nfase na comunicao e no feedback para os trabalhadores das situaes de risco encontradas e dos acidentes notifi cados(72,78).

    As precaues universais (atualmente denominadas precaues padro ou precaues bsicas) estabelecem conceitos importantes e so uma abordagem com efi ccia demonstrada para a preveno de exposies cutneas e de mucosas(19,20). Entretanto, seu foco principal est no controle do comportamento e das atitudes individuais, exemplifi cado pelo uso de equipamentos de proteo individual e por mudanas nas prticas de trabalho de cada indivduo (por exemplo, tomar mais cuidado no manuseio de perfurocortantes), que isoladamente podem no ter um impacto signifi cativo na preveno de acidentes envolvendo perfurocortantes. Alm disso, embora os equipamentos de proteo individual (como luvas, protetores faciais) protejam a pele e as mucosas do contato com sangue ou outros materiais biolgicos, representando assim uma barreira s exposies, muitos so facilmente penetrados por agulhas e outros perfurocortantes. Dessa forma, apesar de estratgias usadas h mais de uma dcada para reduzir a incidncia de acidentes com perfurocortantes (por exemplo, coletores rgidos para descarte de perfurocortantes, evitamento de reencape) continuarem importantes atualmente, intervenes adicionais so necessrias(79, 81).

  • 24

    Abordagens atuais de preveno

    Em anos recentes, os servios de sade vm adotando como modelo para seus programas de preveno o conceito de hierarquia de controles usado na higiene do trabalho para priorizar as intervenes de preveno. Na hierarquia da preveno de acidentes com perfurocortantes, a primeira prioridade eliminar e reduzir o uso de agulhas e outros perfurocortantes onde for possvel. A prxima isolar o perigo atravs do uso de um controle de engenharia no ambiente ou no prprio perfurocortante, dessa forma impedindo que o elemento perfurante ou cortante fi que exposto em qualquer lugar do ambiente de trabalho. Quando essas estratgias no esto disponveis ou no fornecem proteo completa, s ento que o foco deve ser na implementao das mudanas na prtica de trabalho e do uso de equipamentos de proteo individual.

    Desde 1991, quando a OSHA (Occupational Safety and Health Administration dos EUA) publicou pela primeira vez o documento sobre Patgenos de Transmisso Sangunea (Bloodborne Pathogens Standard, 82) para proteger os trabalhadores da sade de exposies a sangue, o foco da atividade regulatria e legislativa tem sido na implementao de uma hierarquia de medidas de controle. Esta incluiu dar maior ateno minimizao dos riscos relacionados aos perfurocortantes atravs do desenvolvimento e do uso de controles de engenharia. At o fi nal de 2001, 21 estados norte-americanos haviam estabelecido legislao para assegurar a avaliao e a implementao de dispositivos de segurana para proteger os trabalhadores da sade de acidentes com perfurocortantes*. Alm disso, o Needlestick Safety and Prevention Act, assinado como lei de abrangncia federal nos EUA em novembro de 2000**, autorizou a reviso recente do documento da OSHA (publicado em 2001) para exigir mais explicitamente o uso de perfurocortantes com mecanismos de segurana***.

    Alternativas para o uso de agulhas

    Os servios de sade podem eliminar ou reduzir o uso de agulhas de diversas maneiras. A maioria (~70%) dos hospitais norte-americanos(83) eliminou o uso desnecessrio de agulhas atravs da implementao de sistemas de administrao IV que no exigem (e em alguns casos, no permitem) o acesso a agulhas. (Alguns autores consideram esta uma medida de controle de engenharia, como descrito acima.) Essa estratgia removeu amplamente as agulhas dos circuitos intravasculares, como aquelas para infuso intermitente (piggy-back) e outras agulhas usadas para conectar e acessar partes do sistema de administrao IV. Esses sistemas demonstraram sucesso considervel na reduo de acidentes com perfurocortantes relacionados a circuitos IV(84-86). Outras estratgias importantes para eliminao ou reduo do uso de agulhas incluem:

    Uso de alternativas para fornecer medicao e vacinao quando for disponvel e seguro para o atendimento ao paciente, e

    Reviso das rotinas e prticas de coleta de amostras de sangue a fi m de identifi car e eliminar punes desnecessrias, uma estratgia que boa tanto para os pacientes, quanto para os trabalhadores da sade. Alm disso, este tipo de medida tambm pode contribuir para reduzir o desperdcio de material e os gastos a ele relacionados, como na estratgia de planejar todos os exames de um paciente de forma a colh-los em uma nica vez.

    No Brasil, a Portaria n 939, de 18 de novembro de 2008 do Ministrio do Trabalho e Emprego (http://www.mte.gov.br/legislacao/Portarias/2008/p_20081118_939.pdf), DOU de 19/11/08 Seo 1 pg. 238, publica o cronograma previsto no item 32.2.4.16 da Norma Regulamentadora n 32 (NR 32) e estabelece que os empregadores devero promover a substituio dos materiais perfu-rocortantes por outros com dispositivo de segurana no prazo mximo de vinte e quatro meses a partir da data de sua publicao.

    * http://www.cdc.gov/niosh/topics/bbp/ndl-law2.html** http://www.cdc.gov/sharpssafety/pdf/Neelestick%20Saftety%20and%20Prevention%20Act.pdf*** http://www.osha.gov/SLTC/bloodbornepathogens/index.html

  • 25

    Controles de engenharia. Esses controles segregam ou isolam um perigo no local de trabalho. No contexto da preveno de acidentes com perfurocortantes, incluem os coletores de descarte, que retiram os perfurocortantes do ambiente e os segregam em recipientes especfi cos, e os dispositivos de segurana, que isolam completamente o perfurocortante. A nfase nesses controles levou ao desenvolvimento de muitos tipos de dispositivos de segurana(87-92) e h critrios sugeridos para a criao e o desempenho desses dispositivos(90, 91). Esses critrios propem que o dispositivo de segurana deva:

    Ser uma parte integral do perfurocortante.

    Ser simples e fcil de operar.

    Ser confi vel e automtico.

    Fornecer uma cobertura/tampa/superfcie rgida que permita que as mos permaneam atrs do elemento perfurante ou cortante.

    Estar funcionando antes da desmontagem e permanea funcionando aps o descarte.

    Ser tecnicamente semelhante aos dispositivos convencionais.

    Minimizar o risco de infeco a pacientes e no criar problemas relacionados ao controle de infeco adicionais queles dos dispositivos convencionais.

    Produzir um aumento mnimo no volume de resduos.

    Ser custo-efetivo.

    Tabela 7 Efetividade dos dispositivos de segurana e de outras medidas de preveno na preveno de acidentes com materiais perfurocortantes

    Autores Desenho e populao dos estudos

    Interveno Desfecho medido

    Resultados Comentrios

    Gartner (1992)(84) Avaliao de acidentes percutneos relacionados administrao IV durante o perodo de seis meses aps implementao da interveno, comparados com dados histricos

    Sistema IV Interlink Nmero de acidentes percutneos relacionados administrao IV

    Houve dois acidentes percutneos relacionados administrao IV no perodo de seis meses aps a interveno, comparados com uma mdia de 17 (variao de 11-26) destes acidentes por perodo de seis meses durante os cinco anos anteriores, uma reduo de 88%

    Dos dois ferimentos durante o perodo da interveno, um foi imediatamente aps o treinamento e o outro envolveu o uso de uma agulha com o sistema

    Skolnick et al. (1993)(85) Avaliao de acidentes percutneos relacionados administrao IV durante oito meses similares de pr e ps-interveno

    Sistema de acesso ao circuito IV com cnulas cegas

    Nmero de acidentes percutneos relacionados administrao IV

    O nmero de acidentes percutneos relacionados administrao IV diminuiu 72%; de 36 antes da interveno para 10 (72%) durante o perodo da interveno

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    Tabela 7 Efetividade dos dispositivos de segurana e de outras medidas de preveno na preveno de acidentes com materiais perfurocortantes - continuao

    Autores Desenho e populao dos estudos

    Interveno Desfecho medido

    Resultados Comentrios

    Yassi et al. (1995)(86) Avaliao de acidentes percutneos relacionados administrao IV durante dois perodos semelhantes de 12 meses de pr e ps-interveno

    Sistema IV Interlink Reduo no nmero de acidentes percutneos relacionados administrao IV e nmero total de acidentes

    O nmero de acidentes percutneos relacionados administrao IV declinou de 61 para 10 (78,7%); os acidentes percutneos totais declinaram 43,4% durante o perodo de interveno

    Younger et al. (1993)(97) Estudo de trs centros - acidentes percutneos 60 dias pr e ps-implementao de seringa de segurana

    Seringa de Segurana Monoject de 3 mL com bainha deslizante

    Taxa de acidentes percutneos por 100.000 unidades de seringas convencionais e seringas de 3 mL de segurana

    A taxa geral de acidentes percutneos foi de 14/100.000 durante a fase inicial e de 2/100.000 durante a fase do estudo (p = 0,01)

    CDC (1997)(7) Pr e ps-implementao multicntrica de dispositivo de segurana

    Agulha para coleta de sangue Punctur-guard

    Nmero estimado de acidentes percutneos por 100.000 coletas de sangue realizadas com dispositivo convencional versus com dispositivo de segurana

    Reduo de 76% na taxa de acidentes percutneos associada com o uso de dispositivo de segurana (p < 0,003)

    Agulha de coleta de sangue a vcuo, com cobertura/tampa articulada para agulha - Venipuncture Needle-Pro

    Reduo de 66% na taxa de acidentes percutneos associada com o uso de dispositivo de segurana (p < 0,003)

    Escalpe Safety-lok Reduo de 23% na taxa de acidentes percutneos associada com o uso de dispositivo de segurana (p < 0,07)

    Billiet et al. (1991)(94) Estudo pr e ps-implementao comparando dois dispositivos que previnem acidentes percutneos em coleta de sangue durante perodos de interveno de seis meses e 10 meses

    Perodo I (seis meses)Dispositivo de reencape (sem nome fornecido)

    Mudana no nmero de acidentes percutneosrelacionados a coletas de sangue

    A taxa de acidentes percutneos relacionados a punes venosas para coletas de sangue na pr-interveno de 10 meses foi de 28/100 trabalhadores durante 120.000 punes venosas; Perodo I, 26/100 trabalhadores durante 120.000 punes venosas; Perodo II, 5/100 trabalhadores durante 70.000 punes venosas. Uma reduo de 82% na taxa total de acidentes percutneos

    Se fossem usadas as taxas de acidentes percutneos por 100.000 punes venosas para coletas de sangue, as taxas seriam de 9,2 sem nenhuma interveno, 8,3 com o dispositivo para reencape e 3,0 com o dispositivo de segurana

    Perodo II (10 meses)Adaptador para Agulha para Coleta de Sangue Saf-T-Click

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    Tabela 7 Efetividade dos dispositivos de segurana e de outras medidas de preveno na preveno de acidentes com materiais perfurocortantes - continuao

    Autores Desenho e Populao dos Estudos

    Interveno Desfecho Medido

    Resultados Comentrios

    Jagger (1996)(96) Estudo de trs hospitais pr e ps-implementao

    Cateter IV de segurana

    Alterao na taxa de acidentes percutneos relacionados a cateteres IV por 100.000 dispositivos comprados

    A taxa de acidentes percutneos relacionados a cateteres IV caiu 84%, da mdia de dois anos de 7,5/100.000 cateteres IV convencionais para 1,2/100.000 cateteres IV de segurana

    Dale et al. (1998)(95) Reviso retrospectiva de taxas de acidentes percutneos relacionados coleta de sangue de 1983-1996 e entrevistas para revisar as medidas de preveno

    Bloco/suporte para reencape de agulhas com uma nica mo; holder/adaptador de agulha de coleta a vcuo de uso nico; coletores de descarte de perfurocortantes prximos aos locais de gerao; agulhas para coleta de sangue com dispositivo de reencape de segurana; alteraes das prticas de trabalho; programa de conscientizao sobre a segurana

    Reduo de acidentes percutneos por 10.000 coletas de sangue

    O nmero de acidentes percutneos diminuiu de 1,5 para 0,2/10.000 punes venosas para coleta de sangue

    Os autores acreditam que a diminuio foi correlacionada com alteraes nas atividades educativas, na prtica e no uso de dispositivos de segurana

    McCleary et al. 2002(98) Estudo prospectivo de dois anos com uma agulha de segurana em 5 centros de hemodilise

    MasterGuard Anti-Stick Needle Protector para hemodilise

    Taxa de acidentes percutneos por 100.000 punes com o dispositivo convencional e o de segurana

    A taxa de acidentes percutneos foi de 8,58/100.000 punes versus zero/54.000 punes para o dispositivo de segurana (p < 0,029)

    Mendelson et al. (2003)(99) Estudo pr e ps-implementao comparando taxas de acidentes com dois diferentes tipos de escalpes usados para acesso IV

    Safety-Lok usado para procedimentos de coleta de sangue

    Taxa de acidentes percutneos por 100.000 perfurocor-tantes usados, convencionais ou com dispositivos de segurana

    A taxa de acidentes percutneos foi 13,41/100.000 dispositivos convencionais versus 6,1/100.000 dispositivos de segurana

    Rogues et al. (2004)(100) Estudo pr e ps-implementao comparando dois perfurocortantes com dispositivo de segurana utilizados para coleta de sangue

    Escalpe Safety-Lok e agulhas de tubos Vacutainer usados para procedimentos de coleta de sangue

    Frequncia de acidentes percutneos associados coleta de sangue

    Os acidentes relacionados coleta de sangue reduziram 48% do perodo pr-interveno ao perodo ps-interveno

  • 28

    Os dispositivos projetados para proteger os trabalhadores da sade no devem comprometer o atendimento ao paciente(91-93).

    Estudos que sistematicamente avaliem a efi ccia dos dispositivos de segurana na reduo de acidentes percutneos (com exceo daqueles que envolvem circuitos IV sem uso de agulhas) so relativamente escassos, apesar da proliferao desses dispositivos (Tabela 7). Os estudos disponveis mostram variao considervel na metodologia do estudo, na medio dos resultados e desfechos e na efi ccia. Ainda h diferenas aparentes na efi ccia por tipo de dispositivo.

    Em 1998, a OSHA publicou no Federal Register uma solicitao de informaes sobre controles de engenharia e da prtica de trabalho usados para minimizar o risco de exposio ocupacional a patgenos de transmisso sangunea devido a acidentes percutneos com perfurocortantes contaminados. Houve 396 respostas a essa solicitao; diversos respondedores forneceram dados e informaes anedticas sobre suas experincias com dispositivos de segurana*.

    Os estudos sugerem que nenhum dispositivo de segurana ou estratgia funciona da mesma maneira em todos os servios de sade. Alm disso, no existe um critrio padro para avaliao das alegaes sobre a segurana dos dispositivos, embora todos os principais fabricantes de artigos mdicos comercializem perfurocortantes com dispositivos de segurana**. Portanto, os trabalhadores devem desenvolver seus prprios programas para selecionar a tecnologia mais adequada e avaliar a efi ccia de diversos materiais no contexto de seus prprios ambientes de trabalho.

    Mudanas nas prticas de trabalho. Com o foco atual nas medidas de controle de engenharia, h poucas informaes novas sobre o uso de controles nas prticas de trabalho para reduzir o risco de acidentes com perfurocortantes durante o atendimento ao paciente. Uma exceo se refere preveno de acidentes no centro cirrgico. Os controles nas prticas de trabalho so um importante componente da preveno de exposies a material biolgico, incluindo acidentes percutneos, em ambientes cirrgicos e obsttricos porque o uso de perfurocortantes no pode ser abolido.

    As medidas em centro cirrgico incluem:

    Usar instrumentos, em vez dos dedos, para segurar agulhas, retrair tecidos e montar/desmontar agulhas e lminas de bisturis;

    Anunciar verbalmente ao passar perfurocortantes;

    * http://www.osha.gov/html/ndlreport052099.html** No Brasil, ainda relativamente restrito o nmero de fabricantes de perfurocortantes com dispositivos de segurana. (Nota das autoras)

    Tabela 7 Efetividade dos dispositivos de segurana e de outras medidas de preveno na preveno de acidentes com materiais perfurocortantes - continuao

    Autores Desenho e populao dos estudos

    Interveno Desfecho medido

    Resultados Comentrios

    Orenstien et al. (1995)(101) Estudo prospectivo de 12 meses pr e ps-implementao de seringa de segurana, sistema IV sem agulhas

    Seringa de segurana Safety-Lok de 3 mL

    Taxa de acidentes percutneos por 1.000 trabalhadores-dia

    A taxa de acidentes percutneos foi de 0,785/1.000 durante a fase anterior implementao e de 0,303/1.000 durante o perodo do estudo (p = 0,046)

    Diminuio semelhante nas taxas de acidentes percutneos; diminuio sem diferena estatisticamente signifi cante nas taxas de acidentes com as seringas de 3 mL e aquelas relacionadas ao circuito IV

    Sistema IV Interlink

  • 29

    Evitar a passagem de instrumentos perfurocortantes de mo em mo, usando uma bacia/bandeja ou uma rea de zona neutra;

    Usar mtodos alternativos de corte, como dispositivos de eletrocauterizao cegos (blunt electrocautery) e a laser, quando adequados;

    Substituir a cirurgia aberta por cirurgia endoscpica, quando possvel;

    Usar lminas de bisturi com ponta arredondada ao invs de lminas pontiagudas; e

    Usar dois pares de luvas(79, 102-105).

    O uso de agulhas de sutura cegas/rombas (blunt suture needles), uma medida de controle de engenharia, tambm reduz acidentes nesse ambiente(106). Essas medidas ajudam a proteger tanto o trabalhador da sade, que presta o atendimento, quanto o paciente da exposio ao sangue de outras pessoas(107).

    Medidas de preveno com mltiplos componentes

    Os especialistas concordam que, isoladamente, dispositivos de segurana e mudanas nas prticas de trabalho no iro prevenir todos os acidentes com perfurocortantes(102, 108-112). Redues signifi cativas desses acidentes tambm exigem:

    Aes educativas,

    Uma reduo na realizao de procedimentos invasivos (a mxima possvel),

    Um ambiente de trabalho seguro, e

    Uma relao trabalhador/paciente adequada.

    Um programa para reduzir acidentes com agulhas e outros perfurocortantes, detalhado em um estudo, envolveu a implementao simultnea de vrias intervenes:

    Formao de um comit de preveno de acidentes com perfurocortantes para implantao e acompanhamento de programas compulsrios de capacitao em servio;

    Terceirizao dos servios de coleta, reposio e distribuio dos coletores de descarte de perfurocortantes;

    Reviso de polticas, normatizaes e condutas relacionadas aos acidentes com agulhas e outros perfurocortantes; e

    Adoo e avaliao de um sistema de acesso IV sem agulhas, seringas de segurana e um sistema de administrao de medicamentos sem agulhas/tubetes (prefi lled cartridge)(111).

    Essa estratgia mostrou uma diminuio imediata e sustentada nos acidentes com agulhas, levando os pesquisadores a conclurem que uma abordagem de preveno ampliada e multifacetada pode ser bem-sucedida em reduzir os acidentes com perfurocortantes.

    Fatores organizacionais

    O sucesso limitado da implementao das prticas de trabalho e de controles de engenharia na reduo das exposies ocupacionais a patgenos de transmisso sangunea tem levado a uma reavaliao dos fatores organizacionais que podem ter um papel importante na preveno dessas exposies.

    Um aspecto organizacional, conhecido como cultura de segurana, tem especial importncia. Alguns setores da rea industrial tm verifi cado que uma cultura de segurana forte correlaciona-se com: produtividade, custo, qualidade do produto e satisfao dos trabalhadores(113). Instituies com culturas de segurana fortes consistentemente registram um nmero menor de acidentes

  • 30

    do que instituies com uma cultura de segurana fraca. Isto ocorre no apenas porque o local de trabalho possui programas de segurana bem desenvolvidos e efetivos, mas tambm porque a gesto, atravs destes programas, envia sinais do comprometimento da instituio com a segurana de seus trabalhadores.

    O conceito da institucionalizao da cultura de segurana relativamente novo na rea da sade e h poucos estudos avaliando o impacto destes esforos.

    Entretanto, um estudo recente nesta rea correlacionou o clima de segurana (uma medida relacionada a como os trabalhadores percebem a cultura de segurana da instituio) tanto adeso dos trabalhadores s prticas de trabalho seguras, quanto diminuio das exposies a sangue ou outros materiais biolgicos, incluindo a diminuio dos acidentes com perfurocortantes(114).

    Um segundo estudo na rea da sade tambm verifi cou uma correlao entre a extenso da cultura de segurana (como a percepo do comprometimento com a gesto da segurana) e a adeso s medidas de precaues universais e alteraes na frequncia de acidentes(115).

    Alm disso, um estudo recente que avaliou uma amostra ampla de trabalhadores da sade indicou que um apoio adequado dos gestores esteve associado a uma adeso mais consistente s precaues universais (especialmente a de nunca reencapar agulhas), enquanto que o aumento das demandas do trabalho foi um preditor de adeso inconsistente(81). Medidas indicativas de um clima de segurana mais positivo tambm estiveram associadas ao aumento da aceitao de cateter IV com dispositivo de segurana em outro estudo(116).

    Vrios livros e artigos que fornecem estratgias para aprimoramento e mensurao da cultura de segurana tm sido publicados. Alm disso, a OSHA desenvolveu uma ferramenta de educao distncia para auxiliar as instituies a criar uma cultura de segurana em seus ambientes de trabalho. Apesar da maioria destes recursos serem dirigidos para o setor industrial, seus princpios so facilmente adaptveis rea da sade.

    Diferenas no nmero de trabalhadores da enfermagem (relao trabalhador/paciente) tm sido correlacionadas a inmeros surtos de infeces associadas assistncia sade(117, 118).

    Tambm tem sido demonstrado que a relao nmero de trabalhadores da enfermagem/pacientes e a organizao da enfermagem nos hospitais infl uenciam na probabilidade de estes trabalhadores sofrerem acidentes com perfurocortantes. Um estudo com 40 unidades de internao (enfermarias/quartos), em 20 hospitais gerais em regies com alta prevalncia de aids, mostrou que a equipe de enfermagem em unidades com nmero reduzido de profi ssionais da enfermagem (bem como servios onde foi percebida pouca liderana da enfermagem) tinha uma probabilidade maior de sofrer acidentes com perfurocortantes e de notifi car a presena de fatores de risco associados a exposies percutneas(119). Posteriormente, um estudo que avaliou 22 hospitais que tinham reputao de excelncia na rea da enfermagem tambm demonstrou que, nos hospitais com mdias dirias de internaes de pacientes mais elevadas, a equipe de enfermagem tinha maior probabilidade de sofrer acidentes com perfurocortantes(120).

    Estratgias de avaliao de sistemas de gesto, usadas por muitos servios de sade para aumentar a segurana do paciente, tambm podem ser aplicadas na preveno de acidentes com perfurocortantes entre trabalhadores da sade. Essas estratgias incluem:

    Defi nio de eventos sentinela e realizao de uma anlise de causa raiz para determinar sua causa subjacente. Eventos sentinela so aqueles incidentes que necessitam de ateno imediata e maior investigao. Parte desta investigao pode incluir uma anlise de causa raiz, na qual se analisa a questo central ao invs dos sintomas do problema.

    Aplicao da anlise do efeito e modo da falha (FMEA) a um instrumento, equipamento ou processo (problema pr-evento) para sistematicamente identifi car a forma de prevenir a falha. A anlise

  • 31

    do efeito e modo da falha envolve a identifi cao dos passos para completar uma tarefa e os pontos nos quais um erro ou uma falha de sistema pode ocorrer com o objetivo de detectar quais medidas preventivas podem ser estabelecidas.

    Informaes detalhadas sobre estas e outras abordagens relacionadas a sistemas de segurana para o paciente podem ser encontradas em http://www.patientsafety.gov.

    Adeso dos trabalhadores da sade

    Os trabalhadores da sade tm difi culdades em alterar prticas antigas e que j se tornaram hbitos. Essa observao corroborada por estudos conduzidos nos anos seguintes implementao das precaues universais, quando a adeso observada s prticas recomendadas no foi satisfatria (13, 121-126). A mesma observao verdadeira para perfurocortantes com dispositivos de segurana servios de sade tm difi culdade em convencer os trabalhadores a adotarem os novos perfurocortantes e procedimentos(111). Fatores psicossociais e organizacionais que retardam a adoo de prticas de segurana incluem:

    Baixa percepo do risco ou minimizao do risco,

    Percepo de um clima de segurana fraco no ambiente de trabalho,

    Percepo de um confl ito entre prestar o melhor atendimento ao paciente e se proteger da exposio,

    Acreditar que as precaues no so justifi cadas em algumas situaes especfi cas,

    Falha em antecipar uma exposio potencial, e

    Aumento das demandas, causando um aumento no ritmo de trabalho(80, 125).

    Os trabalhadores alteram seus comportamentos mais rapidamente quando pensam que:

    Eles esto correndo risco,

    O risco signifi cativo,

    A alterao de comportamento far a diferena, e

    A mudana valer o esforo(127).

    Por outro lado, um estudo que avaliou a adeso s precaues universais entre mdicos mostrou que os que aderiam eram aqueles com maior conhecimento e que tinham sido capacitados quanto s precaues universais, que percebiam as medidas de preveno como efetivas e que percebiam o comprometimento da instituio com a segurana(128).

    Poucos autores aplicaram mtodos de pesquisa e modelos de mudana de comportamento de outras reas para estudar a aceitabilidade s estratgias de controle de infeco(129, 130). Em um estudo foi usado um modelo sobre a aprendizagem em adultos para avaliar a questo dos acidentes com perfurocortantes entre trabalhadores da sade e se descobriu que o conhecimento dos procedimentos corretos, o fornecimento de equipamentos de segurana e o manejo adequa-do foram preditores da adeso s medidas de preveno de acidentes(128). Outros empregaram o Modelo de Crenas em Sade para auxiliar a compreender a relutncia em adotar comportamen-tos preventivos para diminuir os acidentes com perfurocortantes. Esses autores sugerem que os programas de preveno de acidentes com perfurocortantes incorporem abordagens cognitivas e estratgias para mudana de comportamento(121, 123). Outros modelos, incluindo a Teoria da Ao Racional e a Teoria do Comportamento Planejado, podem ser recomendados ao se considerar uma interveno para melhorar a prtica(121). Pesquisas adicionais so necessrias para definir como esses modelos poderiam afetar a preveno de acidentes com perfurocortantes.

  • 32

    A necessidade de orientao

    De acordo com os autores do guia de preveno de acidentes da Associao Norte-Americana de Hospitais(112), instituies que adotaram ou esto adotando medidas e tecnologias de segurana consideram o processo como sendo complexo e minucioso. Programas bem-sucedidos de preveno de acidentes exigem:

    Notifi cao abrangente de acidentes,

    Acompanhamento detalhado,

    Capacitaes minuciosas quanto ao uso dos novos perfurocortantes, e

    Avaliao correta dos dispositivos de segurana e da efetividade do programa.

    Alm disso, embora muitos servios de sade reconheam a necessidade de uma abordagem interdisciplinar para lidar com essa tarefa complexa, ... poucos esto preparados para as difi culdades com as tentativas de modifi car os comportamentos, a logstica complexa de suprimentos e equipamentos em um hospital moderno ou o rigor metodolgico e analtico da documentao do impacto dos dispositivos de segurana(110).

    Em novembro de 1999, os CDC/NIOSH (NIOSH National Institute for Occupational Safety and Health dos EUA) publicou um documento, o NIOSH Alert: Preventing Needlestick Injuries in Healthcare Setting*, para orientar os empregadores e os trabalhadores da sade sobre estratgias de preveno de acidentes com perfurocortantes. Este manual complementar a este documento dos CDC/NIOSH e tem o objetivo de auxiliar os servios de sade em seus esforos quanto a programas para melhorar a segurana dos trabalhadores da sade.

    * http://www.cdc.gov/Niosh/2000-108.html

  • Etapas organizacionais

    Esta parte do manual descreve uma srie de etapas organizacionais que devem ser estabelecidas para assegurar que um programa de preveno de acidentes com perfurocortantes:

    Seja integrado aos programas de segurana existentes,

    Refl ita a situao e o alcance das estratgias de preveno j existentes na instituio, e

    Identifi que reas e aspectos que devam ser priorizados nas intervenes e no monitoramento dos progressos no desempenho.

    Embora o programa seja dirigido para a preveno de acidentes com perfurocortantes, ele est baseado em princpios que podem ser aplicados preveno de todos os tipos de exposio a sangue ou outros materiais biolgicos.

    Etapa 1. Desenvolvimento da capacidade organizacional

    O modelo proposto um programa de mbito institucional (isto , abrangendo todos os aspectos de uma instituio, seja dentro do contexto de uma pequena clnica privada ou de uma instituio complexa) em que a responsabilidade compartilhada entre os membros de um comit gestor multidisciplinar, estabelecido com o objetivo de eliminar os acidentes com perfurocortantes entre os trabalhadores da sade. A representatividade de profi ssionais de vrias reas assegura que os recursos, o conhecimento tcnico e as vrias perspectivas estejam presentes. A responsabilidade e a autoridade pela coordenao do programa devem ser atribudas a um indivduo com as competncias adequadas de organizao e de liderana.

    Pontos importantes

    Desenvolver capacidade organizacional

    Criar um programa de mbito

    institucional

    Estabelecer um comit gestor

    multidisciplinar

    Envolver a diretoria e os

    gerentes seniores

    6. Monitorar os progressos no desempenho

    5. Desenvolver e implementar planos de ao

    4. Determinar as prioridades de interveno

    3. Preparar a anlise inicial (basal) do perfi l dos acidentes e das medidas de preveno

    2. Avaliar os processos operacionais do programa

    1. Desenvolver capacidade organizacional

    33

  • 34

    A representao da diretoria e dos gerentes seniores importante para proporcionar uma liderana visvel e demonstrar o comprometimento da administrao com o programa. A equipe deve tambm incluir profi ssionais de servios clnicos e laboratoriais que realizam procedimentos com perfurocortantes, bem como profi ssionais com conhecimento tcnico nas reas de controle de infeco, segurana e sade ocupacional, capacitao e educao, gesto ambiental e de resduos, central de material esterilizado, padronizao e compra de materiais e controle de qualidade e gerncia de riscos, quando disponveis. Independentemente do tipo ou tamanho da instituio, uma abordagem multidisciplinar essencial para identifi car as questes de sade e segurana, analisar tendncias, implementar intervenes, avaliar resultados e fazer recomendaes para os vrios setores da instituio.

    1 Diferentes formaes e disciplinas geralmente compartilham reas comuns de conhecimento e expertise. Portanto, estes papis no devem ser vistos como exclusividade de uma nica rea.

    reas e setores representados

    Diretoria/gerentes seniores

    Controle de infeco/epidemiologia hospitalar

    SESMT/segurana e sade ocupacionais

    1

    Responsabilidades e contribuies

    Comunicar o comprometimento da instituio com a segurana do trabalhador eprover pessoal e recursos, inclusive fi nanceiros, para atender s metas do programa

    Aplicar mtodos epidemiolgicos de coleta e anlise de dados sobre os acidentes e infeces associadas s exposies dos trabalhadores

    Identifi car prioridades para interveno com base nos riscos de transmisso das doenas

    Avaliar as implicaes dos perfurocortantes com dispositivos de segurana para a ocorrncia/preveno de infeces

    Coletar informaes detalhadas sobre os acidentes notifi cados

    Auxiliar nas avaliaes da subnotifi cao de acidentes entre trabalhadores da sade

    Avaliar fatores ambientais e ergonmicos que contribuem para os acidentes com perfurocortantes e propor solues

    Promover a notifi cao de acidentes, prticas de trabalho seguras e a implementao de prioridades de preveno entre os trabalhadores

    Comit gestor do programa de preveno de acidentes com perfurocortantes

    Controle e gesto da qualidade e gerncia de riscos

    1

    Capacitao e educao continuada

    Gesto ambiental e de resduos

    Central de material esterilizado

    Padronizao de materiais/setor de compras

    Equipe clnica e laboratorial (diretamente envolvidos na realizao de procedimentos com perfurocortantes)

    Fornecer perspectiva e abordagem institucionais ao aperfeioamento da qualidade

    Ajudar a criar processos relacionados ao programa de preveno de acidentes com perfurocortantes

    Fornecer informaes sobre formas e estratgias educativas e de capacitao da instituio

    Identifi car as necessidades educacionais e discutir as implicaes organizacionais das intervenes educacionais propostas

    Colaborar na identifi cao de riscos do meio ambiente que no so detectados atravs das notifi caes de acidentes percutneos

    Avaliar as implicaes ambientais das intervenes propostas

    Fornecer informaes sobre os riscos de acidentes no reprocessamento de perfurocortantes

    Identifi car as questes logsticas envolvidas na implementao de perfurocortantes com dispositivos de segurana

    Ajudar a identifi car produtos e fabricantes de perfurocortantes com dispositivos de segurana

    Fornecer informaes sobre custo para tomada de decises

    Fornecer informaes sobre fatores e situaes de risco de acidentes e sobre implicaes das intervenes propostas

    Participar ativamente na avaliao das intervenes de preveno

  • 35

    * Ao longo do texto, a expresso inicial (basal) relaciona-se obteno de um conjunto de observaes ou dados crticos iniciais que sero usados posteriormente como dados de controle ou como dados para comparao. (Nota das autoras)

    Embora o comit gestor deva incluir um pequeno grupo da equipe clnica, profi ssionais de outras reas, como radiologia, anestesiologia, terapia respiratria, cirurgia, hemodilise, terapia intensiva, pediatria e outras reas, devem ser convidados a participar em discusses separadas ou como parte de um subcomit ad hoc.

    Nessa primeira etapa, o comit gestor deve destacar como planeja atingir a meta de reduo ou eliminao dos acidentes. A equipe deve determinar quais comits ou comisses permanentes da instituio contribuiro para este processo e como esses grupos iro trocar informaes. Os comits ou as comisses participantes podem incluir:

    Controle de infeco,

    Programa de gesto da qualidade,

    SESMT ou comit de segurana e sade ocupacionais,

    Anlise de custos, e

    Avaliao e padronizao de produtos/setor de compras.

    Em algumas instituies, um desses comits pode se tornar o responsvel pela superviso do programa de preveno de acidentes com perfurocortantes. Entretanto, todos os comits devem estar envolvidos na implantao do programa de preveno de acidentes. Por exemplo, os comits de Segurana e Sade Ocupacionais/SESMT ou de Controle de Infeco podem fornecer relatrios sobre os acidentes. Por sua vez, o comit gestor pode trabalhar com os comits de Segurana e Sade Ocupacionais/SESMT ou de Controle de Infeco para aprimorar a qualidade das informaes coletadas para melhor atender s metas de melhoria do desempenho.

    Etapa 2. Avaliao dos processos operacionais do programa

    O modelo proposto inclui cinco processos operacionais, cada um dos quais ser discutido em detalhes em sees subsequentes deste manual. Estes incluem:

    Institucionalizao de uma cultura de segurana no ambiente de trabalho,

    Implantao de procedimentos de registro e investigao de acidentes e situaes de risco,

    Anlise dos dados sobre os acidentes com perfuro-cortantes para planejamento das medidas de preveno e avaliao da melhoria do desempenho,

    Seleo de dispositivos para preveno de acidentes (por exemplo, perfurocortantes com dispositivos de segurana), e

    Capacitao dos trabalhadores da sade sobre a preveno de acidentes com perfurocortantes.

    A equipe deve realizar uma avaliao inicial (basal)* de cada um desses processos para determinar onde necessrio um aprimoramento.

    PontosimportantesProcessos operacionais do programa

    Cinco processos do suporte a um programa de preveno de acidentes com perfurocortantes.

    Uma avaliao inicial (basal) desses processos necessria para um efetivo planejamento do programa.

    As reas para anlise incluem:

    Avaliao da cultura de segurana

    Normas e procedimentos para

    notifi cao de acidentes

    Anlise e uso dos dados das

    notifi caes de acidentes

    Sistemas de seleo, avaliao

    e implementao de

    perfurocortantes com dispositivos

    de segurana

    Programas para a capacitao

    dos trabalhadores da sade sobre

    a preveno de acidentes com

    perfurocortantes

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    Modelo de planilha para essa atividade

    Planilha para avaliao inicial (basal) do programa

    (Vide Anexo A-1)

    Avaliao da cultura de segurana

    Essa avaliao determina como a segurana, particularmente a preveno de acidentes com perfurocortantes, valorizada pela instituio e quais processos esto atuando para promover um ambiente de trabalho seguro para a proteo de pacientes e de trabalhadores. Elementos importantes da cultura de segurana da instituio e sugestes para aumentar a conscientizao sobre a segurana sero discutidos em Processos operacionais: Institucionalizao de uma cultura de segurana no ambiente de trabalho (p. 42). Como parte de uma avaliao inicial (basal), o comit gestor dever analisar:

    O comprometimento da alta administrao (diretoria e gestores) da instituio com a segurana,

    As estratgias usadas para notifi car acidentes e identifi car e eliminar situaes de risco,

    Os sistemas de feedback para aumentar a conscientizao sobre a segurana, e

    Os mtodos para promover a adeso e o comprometimento individual com relao segurana.

    O comit gestor deve tambm avaliar as fontes de dados (por exemplo, pesquisas observacionais, relatrios de incidentes) que so usadas ou poderiam ser usadas para medir melhorias no nvel da cultura de segurana. Como parte da avaliao inicial e como um possvel mecanismo para medir melhorias de desempenho relacionadas cultura de segurana, a equipe pode considerar o uso da ferramenta do Anexo A-2 para analisar as percepes dos trabalhadores em relao cultura de segurana na instituio.

    Modelo de planilha para essa atividade

    Formulrios para medir as percepes dos trabalhadores sobre a cultura de segurana na instituio

    (Vide Anexo A-2)

    Avaliao de normas e procedimentos para notifi cao de acidentes com perfurocortantes

    Muitos servios de sade tm normas e procedimentos para a notifi cao e a documentao de acidentes de trabalho com agulhas e outros perfurocortantes. O comit gestor deve avaliar se esses procedimentos so adequados para coleta e anlise de dados e determinar todas as fontes de dados (por exemplo, relatrios de avaliao dos procedimentos, pesquisa de satisfao dos trabalhadores com as condies para notifi cao, notifi caes registradas) que podem ser usadas para monitorar o aperfeioamento dos mtodos usados para a notifi cao dos acidentes.

    Como parte da avaliao inicial, a equipe pode considerar o uso do formulrio para pesquisa do anexo A-3 para avaliar a ocorrncia de subnotifi cao dos acidentes com perfurocortantes. (Embora as profi laxias ps-exposio no estejam includas neste modelo de programa de preveno de acidentes com perfurocortantes, este formulrio inclui questes que podem ser usadas para avaliar a satisfao do trabalhador com o processo de atendimento e prescrio das profi laxias ps-exposio.) Podem ser efetuadas anlises peridicas (por exemplo, anualmente) para medir variaes nos ndices de notifi cao.

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    Modelo de planilha para essa atividade

    Formulrios para pesquisa com os trabalhadores sobre a exposio a sangue ou outros materiais biolgicos no ambiente de trabalho

    (Vide Anexo A-3)

    Avaliao de mtodos para a anlise e o uso dos dados dos acidentes com perfurocortantes

    Os dados sobre acidentes com perfurocortantes precisam ser analisados e interpretados; assim, eles sero relevantes para o planejamento das medidas de preveno. Essa parte da avaliao determina como esses dados so compilados e usados na instituio. Vide Processos operacionais: Anlise de dados sobre os acidentes com perfurocortantes (p. 52) para uma discusso de como realizar a anlise de dados.

    Avaliao do processo de identifi cao, seleo e implementao de perfurocortantes com dispositivos de segurana

    J que uma importante meta deste manual fornecer informaes e orientao sobre a implementao de perfurocortantes com dispositivos de segurana, um modelo de mtodo para avaliao desses materiais foi includa em Processos operacionais: Seleo de perfurocor-tantes com dispositivos de segurana (p. 56). Essa avaliao inicial considera quem est envolvi-do e como as decises so tomadas. Assim como em relao a outros processos do programa, importante determinar as fontes de dados (por exemplo, relatrios de avaliao e padronizao de produtos, listas de fornecedores contatados, listas de materiais perfurocortantes) que podem ser usadas para medir os resultados deste processo e suas melhorias de desempenho. Uma ava-liao semelhante dos mtodos para identifi cao e implementao de outras medidas de preveno (por exemplo, alteraes nas prticas de trabalho, polticas e procedimentos) tam-bm poderia ser includa nessa avaliao inicial.

    Avaliao de programas para a capacitao dos trabalhadores da sade sobre a preveno de acidentes com perfurocortantes

    A maioria dos servios de sade planejam a capacitao dos trabalhadores sobre a preveno da exposio a patgenos de transmisso sangunea para o momento da contratao, bem como durante capacitaes ou atualizaes anuais. A implementao de um programa de preveno de acidentes com perfurocortantes um momento oportuno para reavaliar a qualidade dessas medidas e identifi car outras oportunidades de capacitao. Assim como com outros processos, necessrio identifi car os dados (por exemplo, relatrios sobre o desenvolvimento profi ssional, alteraes de currculo, capacitaes) que podem ser usados para avaliar melhorias na capacitao dos trabalhadores.

    Etapa 3. Anlise do perfi l inicial (basal) dos acidentes e das medidas de preveno

    Aps avaliar as etapas operacionais do programa, a prxima etapa desenvolver um perfi l dos riscos de acidentes existentes na instituio. Essas informaes, juntamente com as informaes obtidas na avaliao inicial, sero usadas para desenvolver um plano de ao de interveno.

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    Modelos de planilhas para essa atividade

    Planilha do perfi l inicial (basal) de acidentes na instituio

    (Vide Anexo A-4)

    Planilha para registro das medidas existentes para preveno de acidentes

    (Vide Anexo A-5)

    Com os resultados desses levantamentos em mos, importante desenvolver um panorama de como os acidentes esto ocorrendo e uma lista das atuais estratgias de preveno. As questes a seguir podem ajudar a orientar o desenvolvimento desse panorama, mas outras questes podem ser adicionadas:

    Quais funes e categorias ocupacionais sofrem acidentes com perfurocortantes mais

    frequentemente?

    Onde esses acidentes ocorrem com maior frequncia?

    Quais so os principais perfurocortantes envolvidos nesses acidentes?

    Quais circunstncias ou procedimentos contribuem para a ocorrncia de acidentes com

    perfurocortantes?

    Quais acidentes possuem maior risco de transmisso de um patgeno veiculado pelo sangue?

    A instituio implementou aes para diminuir o uso desnecessrio de agulhas pelos

    trabalhadores? Se sim, como isso foi feito?

    Quais perfurocortantes com dispositivo de segurana foram implementados?

    H uma lista de prticas de trabalho recomendadas para prevenir acidentes com

    perfurocortantes?

    Quais meios e ferramentas de comunicao foram usados para promover tcnicas seguras de

    manuseio de perfurocortantes?

    H uma poltica/procedimento para determinao da localizao adequada dos coletores de

    perfurocortantes?

    Quem o responsvel por recolher/substituir estes coletores?

    Etapa 4. Determinao das prioridades de preveno

    Nem todos os pr