OS ELEMENTOS DE REFERÊNCIA NO TEXTO NARRATIVO … · Ela propõe três tipos de referência (por...

26
OS ELEMENTOS DE REFERÊNCIA NO TEXTO NARRATIVO THE ELEMENTS OF REFERENCE IN THE NARRATIVE TEXT Maria Lúcia Krevey (PDE) 1 Elódia Constantino Roman (UEPG) 2 RESUMO: Este trabalho analisa os elementos que constituem o mecanismo de coesão referencial proposto por Koch (1998, 2007). O objetivo é examinar a ocorrência de elementos que propiciam a progressão textual em textos narrativos produzidos pelos alunos do segundo ano do ensino médio. Em nossa análise, focalizamos a referenciação realizada por meio do uso de expressões pronominais, de pronomes, os hipônimos e hiperônimos, elipse, expressões nominais definidas e indefinidas. Para Koch (2007) a referenciação é uma atividade discursiva que consiste na construção e reconstrução de objetos-de-discurso caracterizada pela retomada de elementos no texto. A partir dessa perspectiva, a compreensão de uma expressão não consiste em identificar um termo lingüístico, um antecedente, mas em estabelecer relações de sentido com as informações que já foram expressas no discurso. Com a análise dos textos, percebeu-se que a maneira como as estratégias de referenciação são abordadas pode estar relacionada ao empenho do escritor em facilitar a compreensão da leitura enfatizando uma melhoria no processo de ensino-aprendizagem de língua portuguesa, visando a um ensino mais concreto e produtivo. Palavras-chave: Produção textual. Referenciação. Progressão textual ABSTRACT:This work analyzes the elements that constitute the mechanism of cohesion referencial proposed by Koch (1998, 2007). The objective is to examine the occurrence of elements that propitiate the textual progression in narrative texts produced by the students of the second year of the medium teaching. In our analysis, we focused the reference accomplished through the use of pronominal expressions, of pronouns, the hyponym and hyperonym etc. Koch (2007) argue the referenciation as a discursive activity that consists of the construction and object-of-speech reconstruction characterized by the retaking of elements in the text. Starting from that perspective, the understanding of an expression doesn't consist of identifying a linguistic term, an antecedent, but in establishing sense relationships with the information that were already expressed in the speech. With the analysis of the texts, it was noticed that the way as the reference strategies is approached can be related to the writer's pledge in facilitating the understanding of the reading emphasizing an improvement in the process of teaching-learning of Portuguese language, seeking to a more concrete and productive teaching. Keywords: Textual production. Referenciation. Textual progression 1. INTRODUÇÃO Os pronomes são expressões referenciais que possuem um papel significativo na manutenção da coesão do texto, permitindo aos interlocutores estabelecerem as relações entre os diferentes elementos já apresentados. As insatisfações e inquietações advindas dos alunos têm sido muitas, como por exemplo: Por que devo fazer redação? Como iniciá-la? Como surgem as idéias? Como terminar?O que faço para não errar tanto? Quando vou usar meus conhecimentos gramaticais? Esses questionamentos têm feito com que nossa preocupação com a produção do texto escrito e o ensino da gramática nos 1 Professora Nível 3. Atua no Colégio Estadual Agrícola “Augusto Ribas” e Colégio Estadual Profa. Elzira de Sá Correia - Ponta Grossa. 2 Orientadora - Profa. Dra. do Departamento de Letras Vernáculas da Universidade Estadual de Ponta Grossa

Transcript of OS ELEMENTOS DE REFERÊNCIA NO TEXTO NARRATIVO … · Ela propõe três tipos de referência (por...

Page 1: OS ELEMENTOS DE REFERÊNCIA NO TEXTO NARRATIVO … · Ela propõe três tipos de referência (por substituição, elipse , conjunção ou por coesão lexical) as quais a autora agrupa,

OS ELEMENTOS DE REFERÊNCIA NO TEXTO NARRATIVO

THE ELEMENTS OF REFERENCE IN THE NARRATIVE TEXT

Maria Lúcia Krevey (PDE)1

Elódia Constantino Roman (UEPG)2

RESUMO: Este trabalho analisa os elementos que constituem o mecanismo de coesão referencial proposto por Koch (1998, 2007). O objetivo é examinar a ocorrência de elementos que propiciam a progressão textual em textos narrativos produzidos pelos alunos do segundo ano do ensino médio. Em nossa análise, focalizamos a referenciação realizada por meio do uso de expressões pronominais, de pronomes, os hipônimos e hiperônimos, elipse, expressões nominais definidas e indefinidas. Para Koch (2007) a referenciação é uma atividade discursiva que consiste na construção e reconstrução de objetos-de-discurso caracterizada pela retomada de elementos no texto. A partir dessa perspectiva, a compreensão de uma expressão não consiste em identificar um termo lingüístico, um antecedente, mas em estabelecer relações de sentido com as informações que já foram expressas no discurso. Com a análise dos textos, percebeu-se que a maneira como as estratégias de referenciação são abordadas pode estar relacionada ao empenho do escritor em facilitar a compreensão da leitura enfatizando uma melhoria no processo de ensino-aprendizagem de língua portuguesa, visando a um ensino mais concreto e produtivo. Palavras-chave: Produção textual. Referenciação. Progressão textual ABSTRACT:This work analyzes the elements that constitute the mechanism of cohesion referencial proposed by Koch (1998, 2007). The objective is to examine the occurrence of elements that propitiate the textual progression in narrative texts produced by the students of the second year of the medium teaching. In our analysis, we focused the reference accomplished through the use of pronominal expressions, of pronouns, the hyponym and hyperonym etc. Koch (2007) argue the referenciation as a discursive activity that consists of the construction and object-of-speech reconstruction characterized by the retaking of elements in the text. Starting from that perspective, the understanding of an expression doesn't consist of identifying a linguistic term, an antecedent, but in establishing sense relationships with the information that were already expressed in the speech. With the analysis of the texts, it was noticed that the way as the reference strategies is approached can be related to the writer's pledge in facilitating the understanding of the reading emphasizing an improvement in the process of teaching-learning of Portuguese language, seeking to a more concrete and productive teaching. Keywords: Textual production. Referenciation. Textual progression

1. INTRODUÇÃO

Os pronomes são expressões referenciais que possuem um papel

significativo na manutenção da coesão do texto, permitindo aos interlocutores

estabelecerem as relações entre os diferentes elementos já apresentados.

As insatisfações e inquietações advindas dos alunos têm sido muitas, como

por exemplo: Por que devo fazer redação? Como iniciá-la? Como surgem as idéias?

Como terminar?O que faço para não errar tanto? Quando vou usar meus

conhecimentos gramaticais? Esses questionamentos têm feito com que nossa

preocupação com a produção do texto escrito e o ensino da gramática nos

1 Professora Nível 3. Atua no Colégio Estadual Agrícola “Augusto Ribas” e Colégio Estadual Profa. Elzira de Sá Correia - Ponta Grossa. 2 Orientadora - Profa. Dra. do Departamento de Letras Vernáculas da Universidade Estadual de Ponta Grossa

Page 2: OS ELEMENTOS DE REFERÊNCIA NO TEXTO NARRATIVO … · Ela propõe três tipos de referência (por substituição, elipse , conjunção ou por coesão lexical) as quais a autora agrupa,

acompanhe durante nossa trajetória como professora de Língua Portuguesa.

Durante esse tempo, verificou-se que, nas duas últimas décadas, muitas pesquisas

têm sido desenvolvidas, com o intuito de investigar os problemas referentes à

produção textual em redações de alunos de ensino médio e do segundo ciclo do

ensino fundamental (5ª a 8ª séries), quanto à coesão e também à utilização de

elementos que dão progressão ao texto. Esses estudos buscam uma metodologia

adequada que possibilite o atendimento às especificidades dos alunos. Todavia, por

mais que isso venha sendo discutido entre os profissionais do ensino, muitas são as

falhas que perduram tanto em relação à inadequação dos currículos e programas

quanto à ineficácia das metodologias de ensino.

A criança, ao chegar à escola, é falante de uma língua e se comunica a partir

de um conhecimento de uma gramática internalizada, independente de uma

aprendizagem sistematizada.

Na escola, espera-se que a criança amplie o domínio de uso da linguagem,

que é instrumento indispensável tanto para a aquisição de conhecimento, como para

a participação do indivíduo nas mais diversas situações sociais de interlocução

(PCNEM, 2006, p.23). Assim sendo, o professor deve sistematizar o ensino

gramatical, pois o aluno já tem a sintaxe no seu inconsciente, ele efetua operações

com a linguagem e reflete sobre as diferentes formas de uso da língua. (DCE, p.30).

Segundo as DCE (2006), os conteúdos gramaticais devem ser estudados a

partir de seus aspectos funcionais na constituição da unidade de sentido dos

enunciados. (p.28).

Dessa forma, percebe-se que a escola, como instituição de ensino, deve criar

oportunidades para que o aluno possa refletir, construir, ou reconstruir diferentes

textos a partir da leitura e da escrita, a fim de levá-lo a compreender como a língua

funciona. (DCE, p.29).

Nesse sentido, observa-se que a produção escrita aparece como o grande

“problema” no ensino. O ensino de redação não se deve resumir a uma atividade

que se esgote em si mesma, mas em aulas voltadas especificamente para esse fim.

(PCNEM, p.18). É preciso discutir com os alunos os tópicos relevantes para a

compreensão das características formais e de conteúdos referentes aos vários

textos. (DCE, p.29).

Partindo desse pressuposto, considerando a interlocução como ponto de

partida para o trabalho com o texto, há necessidade do domínio de estratégias de

Page 3: OS ELEMENTOS DE REFERÊNCIA NO TEXTO NARRATIVO … · Ela propõe três tipos de referência (por substituição, elipse , conjunção ou por coesão lexical) as quais a autora agrupa,

organização da informação e da estrutura textual, estabelecendo pontos de

ancoragem entre elas. (KOCH, 2004, p.2).

Os PCN (2006:18), nesse aspecto, propõem a produção textual e a leitura

como base para a formação do educando, criticando o uso do texto como pretexto

para retirar exemplos de regras gramaticais, o que chamam de ensino

descontextualizado de metalinguagem.

Koch e Travaglia (1998, p.23- 50) entendem que, ao produzir seus textos, o

aluno se vale de complexos e diversos procedimentos, pois ele planeja, lê para

revisar e corrige seus escritos, considerando o funcionamento da língua; e a coesão

e coerência estão intimamente relacionadas no processo de produção e

compreensão do texto. Assim sendo, no momento da revisão, o aluno deve

identificar os problemas e aplicar os conhecimentos sobre a língua para resolvê-los,

acrescentando, retirando, deslocando ou substituindo termos ou expressões do

texto, com o objetivo de torná-lo coerente para o leitor.

Baseando-se nas premissas acima, este trabalho procura apontar as

dificuldades mais comuns na produção textual, abordando a importância de um

ensino baseado em textos. Optou-se por trabalhar com textos narrativos porque

estes circulam bastante entre os alunos, desde as séries iniciais e, para observar as

dificuldades estruturais, o desempenho dos alunos em organizar suas histórias

(situação inicial, desenvolvimento e desfecho final), bem como o uso de pronomes, a

repetição de expressões, a elipse, etc. em construções de referências sucessivas.

Observou-se também a dificuldade que os alunos tiveram na manipulação de

frases, especificamente problemas com a coesão e coerência textuais.

Nosso objetivo foi levantar e interpretar os itens lexicais que operam como

referenciadores discursivos nas produções textuais narrativas de alunos do segundo

ano do ensino médio de uma escola pública de Ponta Grossa, verificando o uso dos

elementos de referenciação em relação à progressão temática. O corpus da

pesquisa constituiu-se de 12 redações entre os 120 textos, dos quais fez-se um

recorte para este trabalho, dado a exigüidade de espaço. A proposta da redação

determinava aos alunos que, após ler e verificar os referenciadores utilizados nos

textos "Inferno Nacional", de Stanislaw Ponte Preta, um fragmento do romance

"Triste fim de Policarpo Quaresma", de Lima Barreto e uma paráfrase produzida por

um aluno de 3º ano falando sobre o caos aéreo, escrevessem um texto narrativo

falando sobre a problemática da saúde brasileira.

Page 4: OS ELEMENTOS DE REFERÊNCIA NO TEXTO NARRATIVO … · Ela propõe três tipos de referência (por substituição, elipse , conjunção ou por coesão lexical) as quais a autora agrupa,

2. OS ELEMENTOS DE REFERENCIAÇÃO

Para Koch, (2002, p.116) a coesão manifestada no nível microtextual, refere-

se aos modos como os componentes do universo textual, isto é, as palavras estão

ligadas entre si, dentro de uma seqüência e as concatenações frásicas lineares

dependem de cinco categorias de procedimento: referência, substituição, elipse,

conjunção e léxico. Pela referência um signo lingüístico se relaciona ao objeto

extralingüístico. Ela pode ser situacional ou exofórica e textual ou endofórica.

Segundo Koch (1998, p.20), a coesão textual ou endofórica pode ser:

anafórica – quando o signo de referência retoma um signo já expresso no texto ou

catafórica, quando o signo de referência antecipa um signo ainda não expresso no

texto.

Ela propõe três tipos de referência (por substituição, elipse, conjunção ou por

coesão lexical) as quais a autora agrupa, pois, para ela, a separação entre

referência, substituição e elipse não resiste a uma análise mais acurada, tendo em

vista que a substituição também é uma forma de referência. Para Fávero (2006:

p.18), se a elipse é considerada uma substituição por zero (∅), não há sentido em

considerá-la um tipo a parte.

Em nossa análise, será adotada a proposta de classificação de Koch e Elias (

2007) que postula, em primeiro lugar, a existência de duas grandes modalidades de

coesão: a referencial e a seqüencial. Destaca-se, em nossa análise, a coesão

referencial, adotando também algumas considerações feitas por Fávero (2006).

A coesão seqüencial é aquela que diz respeito aos procedimentos lingüísticos

por meio dos quais se estabelecem diversos tipos de interdependência semântica

e/ou pragmática entre enunciados (ou partes de enunciados) à medida que se faz o

texto progredir, sem que haja retomada dos itens, sentenças ou estruturas.

Já a coesão referencial ocorre entre dois componentes da superfície textual

que remetem a (ou permitem recuperar) um mesmo referente (que pode,

evidentemente, ser acrescido de outros traços que se lhe vão agregando

textualmente). Esta é responsável pela progressão do texto através da retomada de

referentes, utilizando vários mecanismos, como a repetição de expressões, o uso de

pronomes, a elipse, etc.

Segundo Fávero (2002), a coesão referencial pode ser obtida por substituição

e por reiteração. A substituição acontece quando um componente é retomado ou

Page 5: OS ELEMENTOS DE REFERÊNCIA NO TEXTO NARRATIVO … · Ela propõe três tipos de referência (por substituição, elipse , conjunção ou por coesão lexical) as quais a autora agrupa,

precedido de uma pró-forma. No caso de retomada, tem-se anáfora e, no caso de

sucessão, a catáfora.

As pró-formas podem ser , de acordo com Fávero ( 2002, p.4):

a) Pronominais: Tenho um automóvel. Ele é verde. (no exemplo, a

substituição se deu por um pronome reto, porém podem aparecer também, conforme

o caso, pronomes oblíquos, demonstrativos, possessivos e adverbiais).

b) Verbais: Lúcia corre todos os dias no parque. Patrícia faz o mesmo.

c) Adverbiais: Paula não irá à Europa em janeiro. Lá faz muito frio.

d) Numerais: Mariana e Luiz Paulo são irmãos. Ambos estudam inglês e

francês.

Além da substituição por pró-formas, pode ocorrer a substituição por

“zero”(elipse) de entidades já introduzidas no texto, conforme: Paulo veio de carro,

João (0) de ônibus. (elipse do verbo).

A reiteração é a repetição de expressões no texto (os elementos repetidos

têm a mesma referência) e pode-se apresentar da seguinte forma. Observe-se

exemplos de Fávero (2002, p.4):

a) repetição do mesmo item lexical: O fogo acabou com tudo. A casa estava

destruída. Da casa não sobrou nada.

b) hiperônimos (quando o primeiro elemento mantém com o segundo uma

relação todo-parte: Gosto de doces . Cocada , então adoro.

c) hipônimos (quando o primeiro elemento mantém com o segundo uma

relação parte-todo: O gato arranhou-te? O que esperavas de um felino ?

Percebe-se, então, que a boa formação textual requer uma estabilidade entre

uma informação nova e a repetição de informações já dadas pelo texto ou pelo

contexto – informações já dadas ou velhas. É na repetição ou na retomada de

informações novas ou velhas que acontece a continuidade temática, de suma

importância para a compreensão textual. E uma das aplicações práticas do conceito

de coesão referencial é precisamente a substituição de palavras por parte do aluno

ao escrever um texto.

Page 6: OS ELEMENTOS DE REFERÊNCIA NO TEXTO NARRATIVO … · Ela propõe três tipos de referência (por substituição, elipse , conjunção ou por coesão lexical) as quais a autora agrupa,

Observa-se que a referenciação está na construção e reconstrução de

objetos-de-discurso, isto é, a utilização de elementos que se utiliza em nossos

discursos está de acordo com a nossa percepção de mundo, nossos conhecimentos,

pensamentos, nossas crenças, (KOCH & ELIAS: 2007, 123). Quando se escolhe

termos para comunicar aos outros sujeitos, essas escolhas representam estados de

coisas, um "querer-dizer", existe uma proposta, uma construção de sentido, uma

interação entre os sujeitos.

Segundo Koch e Elias (2007, 125-126), na construção dos referentes textuais,

estão presentes as seguintes estratégias de referenciação:

2.1 Introdução (construção): um referente textual ainda não mencionado é

introduzido, permanecendo em foco. Veja o exemplo retirado do texto

Desespero:

" Carolina, com apenas 8 anos, é uma menina muito esperta e feliz. Brincava

com sua irmã de 10 anos quando se sentiu mal e chamou sua mãe Elisa,

dizendo que sentia muitas dores no peito. Ela ficou preocupada.

Elisa leva a garotinha a uma farmácia perto de sua casa.(...)" (Desespero )

No exemplo acima, o referente principal Carolina é introduzido, considerando-

se o título do texto “Desespero”. Quando uma entidade é referenciada pela primeira

vez em um texto, a expressão que a descreve é dita nova no discurso, é a primeira

categorização do referente. A introdução desse novo referente se manifesta por um

elemento formalmente definido, é a apresentação da personagem com a qual vai

ocorrer a história. Observa-se como existe uma apresentação de Carolina: sua

idade, características – esperta e feliz- e que ela tem uma irmã; somente então vai

haver a citação do problema de saúde da personagem. Um fator coesivo que auxilia

o interlocutor a compreender o texto consiste justamente no fenômeno das

informações que são introduzidas, no texto, pelo locutor.

2.2 Retomada (manutenção): um termo já introduzido no texto é retomado

através de uma nova forma referencial, por pronomes (pessoais e possessivos), ou

por sinônimos, mantendo a correferencialidade, fazendo com que seja ativado na

memória, permanecendo saliente. Veja o exemplo acima:

Page 7: OS ELEMENTOS DE REFERÊNCIA NO TEXTO NARRATIVO … · Ela propõe três tipos de referência (por substituição, elipse , conjunção ou por coesão lexical) as quais a autora agrupa,

O referente principal é introduzido (Carolina), sendo retomado pelos termos:

uma menina e a garotinha, fazendo com que o objeto-de-discurso "Carolina"

permaneça em foco. O referente Elisa é retomado através do pronome ela.

Observa-se que a relação anafórica dá-se por meio das expressões

pronominais e por palavras sinônimas, as quais, vazias de significação, são

interpretáveis porque se referem a elementos já explicitados no co-texto.

As anáforas são atividades de referenciação e remissão a termos

indispensáveis para a compreensão textual. Elas são como “costuras”, porque

unem os enunciados uns nos outros. Dessa forma, a atividade anafórica, como

elemento de coesão, é muito importante na construção da coerência de um texto.

Veja que nos exemplos dados, a função gramatical do pronome é justamente

substituir ou acompanhar um nome. Ele pode, ainda, retomar toda uma frase ou toda

a idéia contida em um parágrafo ou no texto todo. Nos textos analisados são nítidos

alguns casos de substituição pronominal. Observe os exemplos:

Certa vez uma criança foi picada por uma aranha. A região da picada tinha

tomado um tom roxo esverdeado. Os pais da menina notaram a febre alta e levaram-na ao posto de saúde.

Com lágrimas nos olhos, a mãe pedia desesperadamente a um enfermeiro.

Ele ameaçava tirá-la do hospital se não se acalmasse e aguardasse a sua vez. Enquanto isso, o veneno fazia seu trabalho.

Nesse fragmento do texto escrito pelos alunos, o pronome na e la são

anáforas lexicais de “Uma criança ”. Observe que as anáforas pronominais que aqui

aparecem são mais complexas e é difícil encontrá-las em textos de alunos. Observa-

se, com isso, que o estudante já possui um certo conhecimento gramatical de maior

complexidade e o utiliza em seus textos. O aluno utiliza corretamente o pronome ele

fazendo referência ao enfermeiro (anáfora), o que demonstra que o aluno busca

progressão temática em seu texto; ocorre o mesmo quando utiliza o pronome “seu ”

e “sua ” para caracterizar as personagens, dando estabilidade à sua história, e isso

resumindo o fato acontecido anteriormente..

Observe outros exemplos de anáforas pronominais:

"Certa vez José soube que estava com um problema grave de saúde . Era um câncer maligno. Ele dependia da ajuda do governo.."(Problema grave,).

Page 8: OS ELEMENTOS DE REFERÊNCIA NO TEXTO NARRATIVO … · Ela propõe três tipos de referência (por substituição, elipse , conjunção ou por coesão lexical) as quais a autora agrupa,

A mãe , desesperada, tentou processar o médico pela morte do seu filho. (Descaso com a vida)

Dona Ilda, uma dona de casa [...] .Um mês depois ela conseguiu sua primeira consulta, mas o médico apenas lhe receitou uns coquetéis para tomar.(Um sistema inconfiável)

Percebe-se, ainda, nos textos deles, o uso de muitas anáforas lexicais, pela

repetição do mesmo item lexical, ou por sinônimos. Esses mecanismos de conexão

marcam as grandes articulações da progressão temática e sua realização se dá

pelos organizadores textuais. O termo pode ser repetido através de outro que o

substitui; a substituição garante ao texto, ao mesmo tempo, a inserção de um novo

elemento, quer seja pela particularização ou pela paráfrase do termo substituído.

Simone é uma senhora que passou por maus momentos. Estava diante de mais um desafio : levar seu filho Augusto , de oito anos, para uma consulta. O garoto reclamava muito de dores de cabeça, tinha muita febre e vomitava com muita freqüência. Ao chegar no postinho, se deparou com uma enorme fila, que ocupava todo o postinho, saía pra fora e ia até a esquina. A mãe, muito preocupada com a saúde do menino , preferiu esperar pela consulta. Cinco horas mais tarde, a enfermeira anunciou a senha 583: é a vez de Simone . O médico perguntou a situação da criança e logo deu uma receita, dizendo que se tratava apenas de uma gripe.(Descaso com a vida)

Jonathan tinha 18 anos e morava em São Paulo. Contraiu a dengue em uma viagem que fez ao Rio de Janeiro. Ele não estava se sentindo bem, foi ao hospital, constatou-se que era uma gripe. Um mês depois, o rapaz ainda se sentia mal.(Falta de interesse governamental na saúde)

Antes dos exames, Carlos teve parada cardíaca e veio a falecer. Não foi possível realizar o transplante. Parentes dizem: se não fosse o dinheiro, Carlos ainda estaria presente entre nós. (Se não fosse o dinheiro)

Observe como o uso de sinônimos possibilita manter o mesmo tópico,

assegurando a continuidade entre as partes do texto. Veja-se o exemplo Augusto

sendo substituído por garoto, menino, criança; Jonathan é substituído por rapaz. No

texto "Se não fosse o dinheiro" ocorre a repetição do mesmo referente Carlos, para

ressaltar a crítica que o aluno faz ao poder de quem tem dinheiro. Essa repetição do

mesmo termo é chamada de reiteração.

Page 9: OS ELEMENTOS DE REFERÊNCIA NO TEXTO NARRATIVO … · Ela propõe três tipos de referência (por substituição, elipse , conjunção ou por coesão lexical) as quais a autora agrupa,

2.3 Desfocalização: ativação de um novo referente, deslocando a atenção para este

que vai ocupar a posição focal, mas deixando o outro referente disponível para

ser ativado a qualquer momento. Observe o exemplo dado por Koch & Elias

(p.126):

Ana Maria Braga vai se desfazer de dois de seus três barcos. A apresentadora está procurando comprador para as lanchas Âmbar I, de 47 pés, e Âmbar II, de 52 pés. Ela pretende ficar apenas com Shambhala, o trawler de 85 pés que inclui até TV de tela plana na sala de estar. Lanchas com essas dimensões custam entre R$ 450 mil e R$ 600 mil.

No texto acima, o Koch e Elias deixam o primeiro objeto de discurso

introduzido: Ana Maria Braga" de lado e passam a falar sobre a lancha Shambala

que passa a ocupar o foco de atenção; isto é uma desfocalização.

3. FORMAS DE INTRODUÇÃO (ATIVAÇÃO) DE REFERENTES TE XTUAIS

São de dois tipos os processos de construção de referentes textuais, isto é,

de atuação no modelo textual: a ativação ancorada e a ativação não-ancorada. A

introdução se constituirá em não-ancorada quando um objeto-de-discurso novo é

introduzido no texto, sem associação com elementos que já estejam presentes.

Observe um fragmento do texto utilizado como exemplo por Koch e Elias:

"Nova espécie de ave é descoberta na grande SP. O Ibama anunciou ontem a descoberta de uma nova ave, o bicudinho-do-

brejo-paulista.(...)"

"Nova espécie de ave" é uma introdução não-ancorada.

A ativação ancorada ocorre quando um novo objeto-de-discurso é introduzido,

porém faz relação com elementos que já foram expressos no texto. (KOCH e ELIAS,

2007, p.127). Ainda em Koch e Elias, tem-se como exemplo, que segue aqui

parafraseado, em forma de diálogo:

"__ Padre! Sou um alcoólatra! diz o pecador. __ Meu filho! Tem que ter forças para vencer o vício! Agora, vai se

comungar! responde o padre. Ao receber a comunhão, o pecador pergunta: __ E o vinho? Não tem?”

Page 10: OS ELEMENTOS DE REFERÊNCIA NO TEXTO NARRATIVO … · Ela propõe três tipos de referência (por substituição, elipse , conjunção ou por coesão lexical) as quais a autora agrupa,

Observe como, na última fala, foi introduzido o novo referente "vinho", que

tem associação aos elementos "alcoólatra e vício" presentes no co-texto e ao

contexto sociocognitivo.

Estão entre esses casos, as chamadas anáforas associativas e as anáforas

indiretas de modo geral.

A anáfora associativa explora relações meronímicas, ou seja, as remissões

são realizadas através de elementos que substituem ou mantêm relação com o

referente, como se um fosse ingrediente do outro. Nesta perspectiva, considera-se

também, não só as associações metonímicas, mas também as relações entre

termos que se complementam. Observe o exemplo, encontrado em Koch & Elias

(p.129).

"A fazenda estava abandonada. Dava pena ver o pasto e as lavouras dominadas pelo mato, a porteira derrubada e o velho casarão em ruínas. Nada lembrava a fartura e a riqueza dos bons tempos." A anáfora associativa ocorre com a introdução de um referente novo

"fazenda", explorando as relações meronímicas - pasto, lavouras, porteira, casarão,

que são ingredientes, têm associação com o elemento "fazenda".

Quer dizer, as descrições definidas o pasto, as lavouras, a porteira e o velho

casarão não estão simplesmente apresentando um referente novo; mas ativando um

referente que havia sido introduzido através de uma inferência, isto é, está

ancorando-a a uma informação já mencionada no co-texto, permitindo assim que se

use o artigo definido sem estranhamento por parte do leitor.

Percebe-se que as informações textuais em que se ancoram as anáforas

nominais associativas, apresentam pistas com as quais é possível estabelecer um

sentido.

Na anáfora indireta constrói-se uma relação inferencialmente, a partir do co-

texto, com base em nosso conhecimento de mundo. Veja o exemplo de Koch e

Elias:

"Abro a antiga mala de velharias e lá encontro minha máscara de esgrima. Emocionante o momento em que púnhamos a máscara - tela tão fina – e nos enfrentávamos mascarados, sem feições. A túnica branca com o coração em relevo no lado esquerdo do peito, "olha esse alvo sem defesa, menina, defenda esse alvo!" – advertia o professor e eu me confundia e o florete do adversário tocava reto no meu coração exposto".

Page 11: OS ELEMENTOS DE REFERÊNCIA NO TEXTO NARRATIVO … · Ela propõe três tipos de referência (por substituição, elipse , conjunção ou por coesão lexical) as quais a autora agrupa,

Observe como as expressões destacadas, no exemplo, remetem às âncoras

esgrima, refocalizando indiretamente tal referente. No exemplo, o cenário da aula de

esgrima só se configura com a introdução da entidade do professor.

Assim, as anáforas indiretas caracterizam-se por não existir no co-texto um

antecedente explícito, mas existe um elemento de relação que se pode denominar

de âncora e que é decisivo para o entendimento, para se saber de que se está

falando. Desta forma, nas anáforas indiretas, em geral, ocorre a seleção adequada

das possíveis âncoras que vão permitir a mobilização das inferências necessárias à

ativação do referente, contribuindo, assim, para o desenvolvimento do texto, através

da progressão referencial.

Entre os casos de introdução ancorada de objeto-de-discurso, se incluem as

chamadas nominalizações , isto é, uma operação discursiva que consiste em referir,

por meio de um sintagma nominal, um processo ou estado significado por uma

proposição que, anteriormente, não tinha o estatuto de entidade. Observe-se um

exemplo retirado de Koch e Elias:

"Fome, dívida externa, habitação, inflação, segurança! Quem seria capaz de resolver todos esses problemas?" (Problemas transforma todos os enunciados: fome, dívida externa, habitação, inflação, segurança, em um objeto-de-discurso- problemas.

As nominalizações são consideradas rotulações, resultantes de

encapsulamentos operados, isto é, introduz-se um referente novo, encapsulando-se

a informação difusa no contexto precedente ou subseqüente, de forma a operar

como objeto-de-discurso.

O encapsulamento, para Koch & Elias (op.cit. p.138) é uma função particular

das nominalizações que, conforme foi mencionado, sumarizam as informações-

suporte contidas em segmentos precedentes do texto, encapsulando-as sob a forma

de uma expressão nominal e transformando-as em objeto-de-discurso. Trata-se de

nomes-núcleo inespecífico que exigem realização lexical no contexto. Tais

expressões rotulam uma parte do co-texto que as estabelecem em novo referente

que, por sua vez, poderá constituir um tema específico para os enunciados

subseqüentes.

Considere-se o exemplo extraído do texto Problema grave:

Page 12: OS ELEMENTOS DE REFERÊNCIA NO TEXTO NARRATIVO … · Ela propõe três tipos de referência (por substituição, elipse , conjunção ou por coesão lexical) as quais a autora agrupa,

Tratamentos eram efetuados, operações, medicamentos tomados, mas o problema se agravava cada vez mais, (Problema grave)

Tratamentos encapsula operações, medicamentos.

Cabe, ainda, chamar a atenção para o fato de que a progressão e, portanto, a

reativação de referentes textuais pode realizar-se, também, por meio de formas

nominais indefinidas (normalmente introduzem referentes novos), ou expressões

nominais definidas (é a ativação de um determinante definido – artigo definido ou

pronome demonstrativo seguido de um nome - cujo conhecimento é partilhado com

o interlocutor).

Confronte os exemplos:

Um grupo de crianças entrou na sala. Uma garotinha loira me entregou uma flor.

O músico não pode fazer o concerto. O violão tinha sumido.

O uso do artigo definido, nos exemplos acima, aponta que essa preferência

de emprego deve-se, sobretudo, por sua função de marcar que a restrição foi

realizada. E, ainda, que a forma definida no singular ocorre nos casos em que se

preserva a identificação de um objeto que é único entre outros e é passível de ser

localizado no mundo real.

(...)As enfermeiras passavam por nós e não davam a mínima para os gemidos de dor do pobre homem . Meu tio , cansado de ver aquela cena , reclamou e conseguiu fazer com que o senhor fosse atendido rapidamente.(Tumulto no hospital)

agravava cada vez mais, o avanço da doença não tinha controle. Os profissionais também não eram especializados nesta área, eram apenas estagiários de medicina.(Problema grave)

...filho Augusto , de oito anos, para uma consulta. O garoto reclamava muito de dores de cabeça, tinha muita febre e vomitava com muita freqüência...(Descaso com a vida)

Carlos tinha 32 anos e morava em São Paulo. Ele sofria de problemas no coração . Portava essa doença desde os vinte anos. (Se não fosse o dinheiro)

Nos exemplos acima, as expressões são formadas por grupos nominais

introduzidos por artigo definido ou pronome demonstrativo (observe o exemplo

acima essa doença, usando o pronome demonstrativo). Em geral, são de

Page 13: OS ELEMENTOS DE REFERÊNCIA NO TEXTO NARRATIVO … · Ela propõe três tipos de referência (por substituição, elipse , conjunção ou por coesão lexical) as quais a autora agrupa,

conhecimento comum e dizem respeito a características do referente às quais se

deseja dar ênfase ou ressaltar, ajudando o leitor na construção do sentido. É o que

se comprova no exemplo o problema, / e essa doença, em que se desejava ressaltar

a característica, a gravidade do problema de saúde.

Como já foi dito, a referenciação é uma atividade discursiva que se processa

através da seleção que os indivíduos fazem entre as múltiplas possibilidades que a

língua oferece. Constitui as operações realizadas pelos sujeitos à medida que o

discurso se desenvolve. Por sua vez, o discurso constrói os objetos a que faz

remissão ao mesmo tempo em que é produto dessa construção. O uso de

hipônimos e hiperônimos acontece para atualizar os conhecimentos do

interlocutor, retomando um termo pouco usual.

Hiperônimos são palavras gerais ou nomes genéricos usados para nomear

toda uma classe de seres ou para abarcar os membros de um grupo. Por sua

abrangência, asseguram a manutenção do tema.

Em contrapartida, os hipônimos são palavras mais específicas em relação a

uma outra mais geral. É o que ocorre no exemplo: a rosa, o cravo, a violeta são

flores maravilhosas. (flores é hiperônimo de cravo, rosa, violeta, que são seus

hipônimos).

Nos textos dos alunos (em anexo), observa-se o uso de hipônimos e

hiperônimos. Nesses exemplos, se observa a relação entre todo / parte: hospital

(referente) é o conjunto maior do qual o setor da saúde (sala de exames, sala de

cirurgia, enfermeira),faz parte. Destaca-se, a seguir, alguns trechos dos textos, que

exemplificam o que foi discutido acima:

(...)Ele ameaçava tirá-la do hospital se não se acalmasse e aguardasse a sua vez. (...). A mãe , temendo pela vida da filha, ameaçou o enfermeiro ,(...) mal humorado, tomou a garota nos braços e começou a caminhar para a sala de exames .(...) Após os exames, Letícia foi levada para a sala de cirurgia e toda a pele do local da ferida foi retirada, (...).(Desespero)

No texto acima, têm-se os hipônimos: enfermeiro, sala de exames, sala de

cirurgia contidos no hiperônimo hospital.

4. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO REALIZADO

Page 14: OS ELEMENTOS DE REFERÊNCIA NO TEXTO NARRATIVO … · Ela propõe três tipos de referência (por substituição, elipse , conjunção ou por coesão lexical) as quais a autora agrupa,

A proposta deste trabalho adveio, principalmente, de nossa experiência em

lecionar no Ensino Médio e na observação da grande dificuldade que os alunos

demonstravam ao produzir seus textos, principalmente ao utilizar o processo coesivo

textual.

Entende-se que a produção de textos é um processo de acertos e

inadequações, escrita e reescrita, segundo as Diretrizes Curriculares. (p.29).

Vê-se, então, a necessidade de repensar o ensino da escrita, pois se observa

que o ensino da Língua Portuguesa está passando por grande dificuldade, porque

os alunos não demonstram interesse quando da produção textual , pois estes

escrevem pouco e erram muito. Eles têm dificuldades em ligar alguns elementos

frasais, dar continuidade aos seus escritos.

No início do nosso trabalho, abordou-se o estudo da estrutura do texto

narrativo, observando as personagens, o tempo, o lugar, o enredo. Solicitou-se aos

alunos que escrevessem pequenos textos identificando os elementos estudados,

procurando construir histórias relacionando as ações, às personagens.

No decorrer do processo, mostrou-se aos alunos que as inadequações podem

ser revistas, corrigidas, buscando a construção de sentido do texto. Apresentou-se,

então, a fundamentação teórica dos elementos de referenciação aos alunos,

discutindo a sua importância para uma boa elaboração textual. Explicou-se que

elementos referenciais são aqueles termos ou formas de introdução, no texto, de

novas entidades ou referentes; é quando se faz referência a alguém ou a coisas do

próprio texto e nesse processo podem ser utilizados pronomes pessoais,

possessivos, demonstrativos ou expressões adverbiais; e referência é a função pela

qual uma palavra se relaciona a outro elemento do universo textual. Enfatizou-se o

emprego da anáfora, da catáfora e das nominalizações, que fazem parte de nossa

análise.

Também observou-se que a referência pode ocorrer quando se faz remissão

a algum elemento que está fora do texto – remissão exofórica- e quando o referente

está no próprio texto – remissão endofórica. (KOCH: 1998, p.20).

Partiu-se, então, para um estudo sobre o conceito e ocorrências da referência

textual.

Explicou-se que a coesão referencial é aquela utilizada para a progressão

do texto através da retomada de referentes, usando a correferência. Essa se utiliza

Page 15: OS ELEMENTOS DE REFERÊNCIA NO TEXTO NARRATIVO … · Ela propõe três tipos de referência (por substituição, elipse , conjunção ou por coesão lexical) as quais a autora agrupa,

de vários mecanismos, tais como a pura e simples repetição de expressões, o uso

de pronomes; os hiperônimos, hipônimos e a elipse.

Fez-se uma revisão, com os alunos, dos elementos que podem ser utilizados

para realizar as cadeias referenciais, como os pronomes, os numerais e advérbios

pronominais, as elipses, as nominalizações.

Foram propostas então atividades para que os alunos observassem, em

textos narrativos diversos, o uso dos elementos de referenciação e os destacassem.

Essa proposta foi importante para que o aluno observasse o processo de construção

da narrativa, a situação que a envolve e como a referenciação contribui para a

construção do sentido e da progressão (continuidade) do texto.

Chegou o momento de o aluno aplicar o seu conhecimento, escrevendo seu

próprio texto, utilizando os elementos referenciais estudados.

Foi interessante observar o procedimento dos alunos nesse momento. A

maioria deles não teve dificuldade em criar suas histórias observando os elementos

de referenciação utilizados. Após essa tarefa, foram recolhidos os textos e

classificados alguns deles para fazer o estudo da referenciação usada pelos alunos.

Para que os alunos visualizassem e entendessem melhor a nossa proposta

de trabalho quanto à reestruturação e o emprego de elementos referenciais textuais,

foi escolhido primeiramente um texto que apresentou poucas falhas de estrutura e

reestruturou-se, coletivamente. Em seguida, apresentou-se um texto em que

estavam presentes muitas repetições de um mesmo referente, o uso de termos

inadequados ao sentido. Quando interrogados sobre esse emprego não sabiam

explicar o porquê. Com o auxílio dos alunos, fez-se a reestruturação observando os

elementos utilizados. Somente então foi apresentado um terceiro texto para que eles

o reestruturassem individualmente. Muitos deles fizeram isso com facilidade, poucos

apresentaram dificuldade em cumprir essa tarefa.

Os textos produzidos depois dessa atividade melhoraram muito. Agora os

alunos produzem seus textos, corrigem suas falhas através da reestruturação e

somente então escrevem a versão definitiva.

Questionados a respeito dessa atividade, em que ela melhorou a

aprendizagem, ou se de alguma forma contribuiu para a melhoria de seus textos, a

resposta/comentários foram gratificantes, como "agora eu realmente aprendi a

escrever um texto", respondiam eles; "antes, a gente escrevia redação apenas para

Page 16: OS ELEMENTOS DE REFERÊNCIA NO TEXTO NARRATIVO … · Ela propõe três tipos de referência (por substituição, elipse , conjunção ou por coesão lexical) as quais a autora agrupa,

cumprir uma tarefa, agora eu sei como devo escrever meus textos, ficou bem mais

fácil". Foi compensador ouvir esses e outros comentários.

Num primeiro momento, eles se mostraram desinteressados, relutantes em

trabalhar essa atividade. Mas no final do trabalho, percebia-se a satisfação deles em

saber empregar os elementos estudados para tornar seus textos coerentes.

5. A ANÁLISE DA PRODUÇÃO TEXTUAL DOS ALUNOS

Os alunos, muitas vezes, utilizam expressões que não são condizentes com o

que de fato querem escrever, mas as colocam por tê-las ouvido ou lido em algum

lugar.

A partir da fundamentação apresentada acima, pode-se fazer uma síntese do

objetivo deste trabalho. Mostra-se a análise de fragmentos de algumas narrativas

produzidas pelos alunos, observando as ocorrências com base em nosso trabalho

realizado quando da explicação sobre os elementos referenciais textuais.

Como foi dito anteriormente, selecionou-se 12 textos de alunos da 2ª. série

do Ensino Médio de uma escola estadual de Ponta Grossa.

Inicialmente foi feita leitura de todos os textos e selecionados aqueles que

considerou-se estarem mais bem elaborados.

5.1 Análise e discussão dos dados

Constatou-se, pelos textos dos alunos, que eles utilizam a elipse que é

caracterizada pela omissão de um item, de um sintagma ou até de orações,

facilmente recuperáveis no contexto. É o que acontece nos exemplos abaixo, em

que se omite o referente Sandra, já expresso pelo autor no texto O grande milagre, e

o termo Dona Ilda, no texto Um sistema inconfiável. Nos textos dos alunos, percebe-

se que é comum a ocorrência da elipse antes de verbos.

(...) Meses e meses se passaram. Em uma noite fria, aproximadamente às

23:40, Sandra sentiu dores e fortes contrações. ∅ Levada imediatamente ao hospital, foram feitos novos exames para ver a causa de tanta dor. Depois de seis anos, as dores recomeçaram, e tudo se complicou. Várias

visitas ao médico, vários dias ∅ jogada nos corredores dos hospitais e nada de cirurgia. (O grande milagre)

Page 17: OS ELEMENTOS DE REFERÊNCIA NO TEXTO NARRATIVO … · Ela propõe três tipos de referência (por substituição, elipse , conjunção ou por coesão lexical) as quais a autora agrupa,

Dona Ilda morreu aos 60 anos de idade em uma maca de hospital público,

por ∅ não ter uma daquelas carteiras de saúde particular. (Um sistema inconfiável)

Simon e é uma senhora que passou por maus momentos. ∅ Estava diante de mais um desafio: levar seu filho Augusto , de oito anos, para uma

consulta. O garoto reclamava muito de dores de cabeça, ∅ tinha muita febre e vomitava com muita freqüência.(Descaso com a vida)

No texto acima, tem-se uma referência por elipse. O sujeito dos verbos estava

é Simone; e tinha, é o garoto. Veja que nos exemplos citados, que as expressões

nominais não são retomados pelos pronomes correspondentes (ela, ele), mas por

elipse, isto é, a concordância do verbo - 3ª pessoa do singular - é que indica a

referência.

Aponta-se, ainda, o alto valor generalizante das expressões nominais

destacando-se neste estudo o uso do demonstrativo que, na maioria delas,

cumpre a função de sinalizar que o autor do texto está passando a um estágio

seguinte de sua argumentação, fechando o anterior por meio de seu

encapsulamento em uma forma nominal. Um dos efeitos do demonstrativo usado

nos textos é o de recuperar a informação dada, anteriormente, formando uma cadeia

referencial, encapsulando uma informação do texto precedente. Este fenômeno é

claramente verificável quando o núcleo do sintagma nominal é um nome de

processo, por terem valor semântico incompleto, sendo, pois, intrinsecamente

anafóricos. Quando introduzidos por um determinante demonstrativo, este acarreta a

captação do processo por meio de referência (KOCH, 1998:42). Observe os

exemplos:

(...)Chegando lá, foi atendida pelo farmacêutico . Ele dá um remédio para acalmar a dor, mas pede à mãe para levá-la imediatamente a uma unidade de saúde. A mãe, muito nervosa, faz isso, e chega rapidamente ao pronto socorro(...) O moço que a atendia falou que dona Elisa teria que preencher uma ficha para que a menina pudesse ser atendida e naquela unidade ... . Elisa, inconformada com o atendimento daquele lugar... ( Desespero)

(...)Seu trabalho era muito pesado, tinha que levantar tijolos, cimento, cal, etc., por isso, desenvolveu uma hérnia no abdomem, que sempre o incomodou. Quando foi ao médico, ele fez um diagnóstico rápido, pois para detectar esse problema , não é muito difícil.(...) Mas como já faz cinco anos que ele carrega esse incômodo(...)(A espera pode trazer falecimentos)

Page 18: OS ELEMENTOS DE REFERÊNCIA NO TEXTO NARRATIVO … · Ela propõe três tipos de referência (por substituição, elipse , conjunção ou por coesão lexical) as quais a autora agrupa,

(...)O resultado dos exames foi a dengue , mas como a doença já havia evoluído para dengue hemorrágica, Jonathan foi transferido para um hospital mais equipado. Quando ele chegou ao hospital, morreu. Esses são problemas que vivemos no dia-a-dia,(...)( Falta de interesse governamental na saúde)

O uso do advérbio aparece nos textos exprimindo circunstâncias,

principalmente as de lugar, chamado aqui de referência espacial, que ocorre quando

a expressão é usada a partir de um ponto de referência constituído pelo lugar da

enunciação. No caso da anáfora, a expressão coloca o referente como foco da

atenção, como alguns exemplos, abaixo, retirado de textos de alunos:

Elisa leva a garotinha a uma farmácia perto de sua casa. Chegando lá, foi atendida pelo farmacêutico. Ele dá um remédio para acalmar a dor, mas pede à mãe para levá-la imediatamente a uma unidade de saúde.

Estava passando uns dias na casa da minha tia . Tudo ia muito bem, mas de repente meu primo começou a passar mal. Corremos para o hospital mais próximo. Chegando lá , meu tio foi pedir a consulta. (Tumulto no hospital) Sua amiga Mhaiuri, de 21 anos, percebeu que ela não se sentia bem, então imediatamente a levou ao hospital. Chegando lá, a enfermeira, ao invés de chamar um médico... (A saúde pública brasileira)

Certa vez uma criança foi picada por uma aranha. A região da picada tinha tomado um tom roxo esverdeado. Os pais da menina notaram a febre alta e levaram-na ao posto de saúde.. Havia muitas pessoas ali, muitas crianças e velhos. Temendo ainda mais pela menina, os pais levaram-na ao hospital da cidade. Lá o ambiente estava calmo, não havia muitas pessoas. (Desespero)

É importante observar que a referência espacial possui referente no co-texto.

Assim, lá e ali designam o local da enunciação.

Notou-se também que o uso de pronomes (pessoais, possessivos,

demonstrativos) é muito recorrente, sendo que, em sua maioria, são utilizados

pronomes pessoais do caso reto, principalmente, os da terceira pessoa do singular e

do plural. As retomadas feitas são mais explícitas e ocorrem bem próximas aos

referentes. Porém, mesmo através do uso de pronomes demonstrativos, as

remissões são realizadas também logo após o referente ser citado. Ressalva-se

apenas que, com o uso dos pronomes demonstrativos, os referentes não ficam tão

visíveis, mas é uma referência anafórica relacionada à locação de proximidade.

Muitas pessoas até hoje, no Brasil, sofrem com o descaso na saúde pública.

Page 19: OS ELEMENTOS DE REFERÊNCIA NO TEXTO NARRATIVO … · Ela propõe três tipos de referência (por substituição, elipse , conjunção ou por coesão lexical) as quais a autora agrupa,

Dona Ilda , uma dona de casa tinha um grave problema no coração. Em 1996, sentiu fortes dores no coração e isso começou a perturbar sua vida. Dali em diante, começava um longo sofrimento.(Descaso com a vida)

Carlos tinha 32 anos e morava em São Paulo. Ele sofria de problemas no coração .Portava essa doença desde os vinte anos. Ele estava na fila do SUS para operar desde quando descobriu a doença.(Se não fosse o dinheiro)

No final de um dia cansativo de aulas, Flávia sai da faculdade e se dirige para casa. Só que nesse percurso, devido a imprudência de um motorista, ela é atropelada, e não é socorrida. Ela ficou estendida no asfalto durante alguns minutos, até que um rapaz que passava pelo local, pediu socorro. (Realidade)

A presença da catáfora nos textos: um aspecto encontrado em todos os

textos analisados foi a pouca ocorrência da catáfora, que acontece quando um

elemento de referência antecipa uma situação ainda não expressa no texto e que

fica explicitada após esse elemento. Observe os exemplos retirados dos textos dos

alunos:

Simone é uma senhora que passou por maus momentos. Estava diante de mais um desafio : levar seu filho Augusto , de oito anos, para uma consulta. O garoto reclamava muito de dores de cabeça, tinha muita febre e vomitava com muita freqüência. Ao chegar no postinho, se deparou com uma enorme fila, que ocupava todo o postinho, saía pra fora e ia até a esquina.(Descaso com a vida)

A família desesperada e sem entender nada, pedia a Deus que a curasse. Após três horas na sala de cirurgia, a família ficou surpresa com o que viu: Sandra deu à luz a uma linda menina de 4 quilos. A mãe a chamou de Vitória, era uma chance que Deus dava à Sandra. O câncer havia desaparecido, como um milagre. (O grande milagre)

Acima, no primeiro exemplo, aparece primeiramente a expressão: um desafio,

e logo depois explicita qual é o desafio: levar seu filho Augusto para uma consulta;

no segundo exemplo tem-se: o que viu, e após, a explicação: Sandra deu à luz a

uma linda menina de quatro quilos. Essas expressões são exemplos de catáfora. Os

alunos souberam usá-la adequadamente, criando, com seu uso, uma espécie de

suspense.

É importante ressaltar que os alunos, ao escreverem seus textos, não

expressam em sua proposta uma preocupação com o uso ou não das estratégias de

Page 20: OS ELEMENTOS DE REFERÊNCIA NO TEXTO NARRATIVO … · Ela propõe três tipos de referência (por substituição, elipse , conjunção ou por coesão lexical) as quais a autora agrupa,

referenciação, eles fazem uso desses elementos de forma natural. O que se percebe

é que eles escreveram numa linguagem mais simples, isto é, de acordo com um

vocabulário conhecido e acessível a eles. A preocupação deles era criticar a saúde

brasileira.

De maneira geral, os alunos atenderam à tipologia textual solicitada,

demonstrando que leram o texto-base oferecido a eles. Como se pôde observar, nos

textos há um predomínio do uso dos pronomes (pessoais, possessivos,

demonstrativos), isto é, a anáfora aparece com muita freqüência, dando clareza aos

textos, garantindo a sua continuidade.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pela análise dos fragmentos apresentados acima, pôde-se apontar a

utilização de referentes nas produções dos alunos e demonstrar, de maneira sucinta,

a importância da atuação do professor como orientador nessa atividade para que

haja realmente a aprendizagem do ensino da língua. Há necessidade de o professor

ser capaz de modificar seu posicionamento metodológico de ensino de produção de

textos, para auxiliar os alunos nas suas dificuldades e para que eles possam

escrever textos coerentes.

É importante destacar a observação feita por Roman (2007, p.234)

o professor, ao analisar os textos produzidos por seus alunos, deve-se

perguntar: O que me leva a corrigir esta ou aquela forma? O que me leva a

sugerir mudanças no texto? Como fazer isso sem discriminar a linguagem

dos alunos? Como levar os alunos a saber avaliar a adequação do uso de

uma forma ou de outra? [...] É importante realizar operações em que a

expansão dos sintagmas expressem sinteticamente elementos dispersos no

texto que predicam um mesmo núcleo ou o modificam.

Acredita-se que este estudo, possa ter trazido uma contribuição para a

melhoria do processo de ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa, visando a um

ensino mais concreto e produtivo. É importante acrescentar informações novas ao

texto, ancorando-as em informações dadas, já conhecidas pelo interlocutor.

Analisados os textos, percebe-se que a repetição lexical foi a categoria com

maior índice de ocorrências. Ressalta-se a repetição dos nomes genéricos,

Page 21: OS ELEMENTOS DE REFERÊNCIA NO TEXTO NARRATIVO … · Ela propõe três tipos de referência (por substituição, elipse , conjunção ou por coesão lexical) as quais a autora agrupa,

hiperônimos, hipônimos, pronominalizações, expressões nominais. Outro aspecto

encontrado nos textos analisados foi a pouca ocorrência da catáfora.

Entende-se que os fragmentos textuais aqui analisados permitem observar

que os referentes são objetos-de-discurso que vão sendo construídos e

reconstruídos durante a interação verbal. Percebeu-se, com este trabalho, que os

objetos-de-discurso são altamente dinâmicos, ou seja, quando introduzidos na

memória discursiva, vão sendo constantemente transformados, reconstruídos,

recategorizados no curso da progressão textual, como afirma Koch (2004, p.12).

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais – Língua Portuguesa: ensino médio. Brasília: MEC, 2006.

FÁVERO, Leonor Lopes Coesão e Coerência Textuais. 9ª edição,São Paulo: Ática, 2002.

KOCH, Ingedore G. V. Desvendando os Segredos do texto . São Paulo: Cortez, 2002. _______ ;ELIAS, Vanda M. Ler e Compreender os Sentidos do Texto, 2ª ed. São Paulo: Contexto, 2007. _______. Koch, Ingedore V. Linguagem e cognição: A construção de objetos-de-discurso. Veredas, MG, 2004. _______; TRAVAGLIA, L. C. Texto e Coerência . São Paulo, Cortez, 1998. _______. Trajetória da Lingüística Textual. São Paulo, 2004.

NEVES, M.H.M. Funcionalismo e Lingüística Textual- Martins Fontes . São Paulo, 2004. ROMAN, Elódia Constantino. A diversidade de textos e a prática de análise lingüística. In: Línguas & Letras. EDUNIOESTE. Cascavel, v. 8, p.221-236, 2007. SEED. Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica do Estado do Paraná . Curitiba: Ed., 2006

Page 22: OS ELEMENTOS DE REFERÊNCIA NO TEXTO NARRATIVO … · Ela propõe três tipos de referência (por substituição, elipse , conjunção ou por coesão lexical) as quais a autora agrupa,

ANEXOS

TEXTOS DOS ALUNOS

TEXTO 1 : TUMULTO NO HOSPITAL

Estava passando uns dias na casa da minha tia . Tudo ia muito bem, mas de repente meu primo começou a passar mal. Corremos para o hospital mais próximo. Chegando lá , meu tio foi pedir a consulta . A enfermeira informou que ele teria que esperar sua vez, pois tinha outras pessoas na fila de espera e que havia só um médico de plantão. Após uns cinco minutos de espera, um senhor que estava sentado ao meu lado começou a se contorcer de dor. As enfermeiras passavam por nós e não davam a mínima para os gemidos de dor do pobre homem . Meu tio , cansado de ver aquela cena , reclamou e conseguiu fazer com que o senhor fosse atendido rapidamente. Depois do tumulto , todas as outras pessoas, inclusive meu primo , foram atendidos rapidamente.

TEXTO 2: PROBLEMA GRAVE Certa vez José soube que estava com um problema grave de saúde . Era um

câncer maligno. Ele dependia da ajuda do governo por não ter condições financeiras para fazer o tratamento.

José sofria muito, necessitava todos os dias de medicamentos e de assistência, porque a doença estava instalada em sua face, e não conseguia enxergar, porque seu rosto estava muito inchado. Tratamentos eram efetuados, operações, medicamentos tomados, mas o problema se agravava cada vez mais, o avanço da doença não tinha controle. Os profissionais também não eram especializados nesta área, eram apenas estagiários de medicina.

Assim José se tornou um objeto de estudo para estagiários de medicina . Eram realizados diversos tipos de operações por eles . A vida de José cada vez mais chegava perto do fim, com gritos, choros, ranger de dentes de tanta dor, e isso causava espanto para outras pessoas. Professores e alunos de medicina sabiam que não havia solução para José , mas os familiares não sabiam de nada.

Por não haver controle eficiente, o câncer chegou ao cérebro, no entanto, já não sabiam o que fazer, então realizaram uma eutanásia, sem ninguém saber que ele morreu desta maneira. Esta alternativa para José foi um alívio, só assim pôde descansar.

TEXTO 3: O GRANDE MILAGRE

Foram exatamente 8 meses e meio de dor e desespero. Nos seus aproximadamente 45 anos, Sandra descobriu ser mais uma vítima do câncer. Sorrisos se transformaram em lágrimas e palavras bonitas eram apenas consolos.

Page 23: OS ELEMENTOS DE REFERÊNCIA NO TEXTO NARRATIVO … · Ela propõe três tipos de referência (por substituição, elipse , conjunção ou por coesão lexical) as quais a autora agrupa,

Exames foram feitos e o tumor que dizia ter se agravava ainda mais. Vários médicos foram consultados e remédios fortíssimos estavam sendo ingeridos por Sandra, mas nada a salvaria. O desespero da família era tamanho, mas a fé em Deus era o que prevalecia.

Meses e meses se passaram. Em uma noite fria, aproximadamente às 23:40, Sandra sentiu dores e fortes contrações. Levada imediatamente ao hospital, foram feitos novos exames para ver a causa de tanta dor. Impactado com o resultado, o médico a mandou imediatamente à maternidade.

A família desesperada e sem entender nada, pedia a Deus que a curasse. Após três horas na sala de cirurgia, a família ficou surpresa com o que viu: Sandra deu à luz a uma linda menina de 4 quilos. A mãe a chamou de Vitória, era uma chance que Deus dava à Sandra. O câncer havia desaparecido, como um milagre.

TEXTO 4: DESCASO COM A VIDA

Simone é uma senhora que passou por maus momentos. Estava diante de mais um desafio : levar seu filho Augusto , de oito anos, para uma consulta. O garoto reclamava muito de dores de cabeça, tinha muita febre e vomitava com muita freqüência. Ao chegar no postinho, se deparou com uma enorme fila, que ocupava todo o postinho, saía pra fora e ia até a esquina.

A mãe, muito preocupada com a saúde do menino , preferiu esperar pela consulta. Cinco horas mais tarde, a enfermeira anunciou a senha 583: é a vez de Simone . O médico perguntou a situação da criança e logo deu uma receita, dizendo que se tratava apenas de uma gripe. A mãe ficou aliviada. Pegou os remédios e deu ao menino, mal sabia a mãe que esses remédios seriam piores. O menino estava com dengue e devido os remédios, ele piorou e faleceu.

A mãe, desesperada, tentou processar o médico pela morte do seu filho , mas logo perdeu as esperanças, ao saber que essas situações(anáfora) são muito freqüentes no Brasil e sempre ficam impunes.

TEXTO 5: SISTEMA INCONFIÁVEL Muitas pessoas até hoje, no Brasil, sofrem com o descaso na saúde pública. Dona Ilda , uma dona de casa tinha um grave problema no coração. Em 1996,

sentiu fortes dores no coração e isso começou a perturbar sua vida. Dali em diante, começava um longo sofrimento.Um mês depois ela conseguiu sua primeira consulta, mas o médico apenas lhe receitou uns coquetéis para tomar.

Depois de seis anos, as dores recomeçaram, e tudo se complicou. Varias visitas ao médico, vários dias jogada nos corredores dos hospitais e nada de cirurgia.

Dona Ilda morreu aos 60 anos de idade em uma maca de hospital público, por não ter uma daquelas carteiras de saúde particular.

TEXTO 6: SE NÃO FOSSE O DINHEIRO...

Page 24: OS ELEMENTOS DE REFERÊNCIA NO TEXTO NARRATIVO … · Ela propõe três tipos de referência (por substituição, elipse , conjunção ou por coesão lexical) as quais a autora agrupa,

Carlos tinha 32 anos e morava em São Paulo. Ele sofria de problemas no coração .Portava essa doença desde os vinte anos.

Ele estava na fila do SUS para operar desde quando descobriu a doença. Quando foi encontrado um coração compatível, estava na fila há oito anos. Estava tudo certo para a operação , mas um ator famoso também tinha o mesmo problema, e era compatível com o coração encontrado. O dinheiro falou mais alto e o coração foi para o ator.

Passaram-se mais quatro anos e outro coração compatível apareceu, mas o destino é surpreendente. Antes dos exames, Carlos teve parada cardíaca e veio a falecer. Não foi possível realizar o transplante.

Parentes dizem: se não fosse o dinheiro, Carlos ainda estaria presente entre nós.

TEXTO 7: REALIDADE No final de um dia cansativo de aulas, Flávia sai da faculdade e se dirige para

casa. Só que nesse percurso, devido a imprudência de um motorista, ela é atropelada, e não é socorrida. Ela ficou estendida no asfalto durante alguns minutos, até que um rapaz que passava pelo local, pediu socorro. O resgate demora a chegar. Quando finalmente o Samu chega, ela recebe os primeiros socorros e é levada ao Pronto Socorro, onde fica em uma maca no corredor. Ela começa a ter convulsões, vai perdendo seu fôlego de vida pouco a pouco, com muita dor. Quando os enfermeiros vão atende-la , é tarde demais, Flávia já havia morrido. Por imprudência de um motorista e a incompetência e descaso com a saúde pública, mais uma jovem perde a vida.

TEXTO 8: DESESPERO Carolina, com apenas 8 anos, é uma menina muito esperta e feliz. Brincava com sua irmã de 10 anos quando se sentiu mal e chamou sua mãe Elisa, dizendo que sentia muitas dores no peito. Ela ficou preocupada.

Elisa leva a garotinha a uma farmácia perto de sua casa. Chegando lá, foi atendida pelo farmacêutico . Ele dá um remédio para acalmar a dor, mas pede à mãe para leva-la imediatamente a uma unidade de saúde.

A mãe, muito nervosa, faz isso, e chega rapidamente ao pronto socorro e diz a um enfermeiro que sua filha está com fortes dores no peito. Carolina fala para a mãe que não suporta as pontadas perto de seu coração.

O moço que a atendia falou que dona Elisa teria que preencher uma ficha para que a menina pudesse ser atendida e naquela unidade só havia um pediatra . Elisa, ]inconformada com o atendimento daquele lugar, mas sem ter condições para ir a outro lugar, faz a ficha e espera pelo atendimento a sua filha.Horas depois, ela sem ser atendida, não suporta mais ver sua filha com fortes dores, implora por um atendimento. Enfim, ela precisou fazer um escândalo para que a menina fosse atendida. Ao entrar no consultório , o médico vê o estado da criança e pede imediatamente aos enfermeiros que a levem para a sala de cirurgia. A mãe , em desespero, fica em uma sala separada, orando para que não seja nada grave com sua linda filha. Depois de algumas horas, o doutor fala para a mãe que Carolina tinha veia entupida do coração, mas já tinha sido operada e passava bem.

No outro dia, as duas voltam para casa e já estava tudo bem.

Page 25: OS ELEMENTOS DE REFERÊNCIA NO TEXTO NARRATIVO … · Ela propõe três tipos de referência (por substituição, elipse , conjunção ou por coesão lexical) as quais a autora agrupa,

TEXTO 9: A ESPERA PODE TRAZER FALECIMENTOS Na fila de espera para cirurgia do SUS, encontrava-se um homem chamado

João José. Ele já está a cinco anos nessa fila. Pedreiro particular, sempre pagou o INSS para ter assistência quando precisasse. Por este motivo,quando seu problema começou a aparecer, ele logo se encostou.

Seu trabalho era muito pesado tinha que levantar tijolos, cimento, cal, etc., por isso, desenvolveu uma hérnia no abdomem, que sempre o incomodou. Quando foi ao médico, ele fez um diagnóstico rápido, pois para detectar esse problema , não é muito difícil.

Mas como já faz cinco anos que ele carrega esse incômodo , tornou-se um câncer, que piorou totalmente a situação. Logo, ele estava largado em um corredor do pronto-socorro, sentindo muitas dores, já em estado terminal.

Depois de alguns dias, ele é retirado do corredor e levado para o necrotério . Acabou falecendo por falta de atendimento do SUS.

TEXTO 10: A SAÚDE PÚBLICA BRASILEIRA Já era de manhã quando Yasmim, de 28 anos, passou mal ao se dirigir ao

banheiro. Ao levantar-se da cama, sentiu fortes dores na região do coração. Sua amiga Mhaiuri, de 21 anos, percebeu que ela não se sentia bem, então

imediatamente a levou ao hospital. Chegando lá, a enfermeira, ao invés de chamar um médico, ficou conversando com sua colega de trabalho. Mhayuri pediu à enfermeira que chamasse um médico rápido, porque Yasmim estava muito mal.

A enfermeira lhe disse que o médico já lhe atenderia, era pra esperar um pouco, mas o médico saiu em instantes, apressado, sem lhes dar explicações.

Na tentativa de obter esclarecimentos, Mhaiuri procurou a direção do hospital para tentar solucionar o problema, mas sua amiga veio a falecer na fila de espera de atendimento.

Ao perceber que sua amiga estava encostada, mórbida, gelada no encosto da cadeira, constatou que sua amiga estava morta, ela entrou em estado de choque profundo.

Enquanto milhares de pessoas morrem em filas de espera, médicos e governantes tomam o cafezinho da tarde. E ainda dizem que a saúde pública brasileira presta serviços com rigor à população. Será mesmo verdade?

TEXTO 11: FALTA DE INTERESSE GOVERNAMENTAL NA SAÚDE Jonathan tinha 18 anos e morava em São Paulo. Contraiu a dengue em uma

viagem que fez ao Rio de Janeiro. Ele não estava se sentindo bem,foi ao hospital, constatou-se que era uma gripe.

Um mês depois, o rapaz ainda se sentia mal. Voltou ao hospital ainda mais doente. Diagnosticaram que era apenas um resfriado. Mais um tempo se passou e Jonathan já não conseguia mais se levantar. Sua mãe levou-o ao hospital e exigiu que realmente o atendessem.

O resultado dos exames foi a dengue , mas como a doença já havia evoluído para dengue hemorrágica, Jonathan foi transferido para um hospital mais equipado. Quando ele chegou ao hospital, morreu.

Page 26: OS ELEMENTOS DE REFERÊNCIA NO TEXTO NARRATIVO … · Ela propõe três tipos de referência (por substituição, elipse , conjunção ou por coesão lexical) as quais a autora agrupa,

Esses são problemas que vivemos no dia-a-dia, às vezes de uma simples doença, fácil de ser tratada, acaba com a vida de uma pessoa.

TEXTO12: DESESPERO Certa vez uma criança foi picada por uma aranha. A região da picada tinha tomado um tom roxo esverdeado. Os pais da menina notaram a febre alta e levaram-na ao posto de saúde.. Havia muitas pessoas ali, muitas crianças e velhos. Temendo ainda mais pela menina, os pais levaram-na ao hospital da cidade. Lá o ambiente estava calmo, não havia muitas pessoas. Foram até a balconista e receberam uma senha. Aguardavam o atendimento, e a criança delirava . Então a mãe implorava por um atendimento de emergência, porém seu pedido era recusado. Com lágrimas nos olhos, a mãe pedia desesperadamente a um enfermeiro. Ele ameaçava tirá-la do hospital se não se acalmasse e aguardasse a sua vez. Enquanto isso, o veneno fazia seu trabalho. A mãe , temendo pela vida da filha, ameaçou o enfermeiro , disse que chamaria a imprensa e que lhe processaria. Diante das ameaças, o enfermeiro , mal humorado, tomou a garota nos braços e começou a caminhar para a sala de exames . Durante alguns minutos ouviam-se apenas os passos ansiosos da mãe. Após os exames, Letícia foi levada para a sala de cirurgia e toda a pele do local da ferida foi retirada, vários remédios foram receitados, agora só restava esperar a reação da criança .