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OS ELEMENTOS DE REFERÊNCIA NO TEXTO NARRATIVO
THE ELEMENTS OF REFERENCE IN THE NARRATIVE TEXT
Maria Lúcia Krevey (PDE)1
Elódia Constantino Roman (UEPG)2
RESUMO: Este trabalho analisa os elementos que constituem o mecanismo de coesão referencial proposto por Koch (1998, 2007). O objetivo é examinar a ocorrência de elementos que propiciam a progressão textual em textos narrativos produzidos pelos alunos do segundo ano do ensino médio. Em nossa análise, focalizamos a referenciação realizada por meio do uso de expressões pronominais, de pronomes, os hipônimos e hiperônimos, elipse, expressões nominais definidas e indefinidas. Para Koch (2007) a referenciação é uma atividade discursiva que consiste na construção e reconstrução de objetos-de-discurso caracterizada pela retomada de elementos no texto. A partir dessa perspectiva, a compreensão de uma expressão não consiste em identificar um termo lingüístico, um antecedente, mas em estabelecer relações de sentido com as informações que já foram expressas no discurso. Com a análise dos textos, percebeu-se que a maneira como as estratégias de referenciação são abordadas pode estar relacionada ao empenho do escritor em facilitar a compreensão da leitura enfatizando uma melhoria no processo de ensino-aprendizagem de língua portuguesa, visando a um ensino mais concreto e produtivo. Palavras-chave: Produção textual. Referenciação. Progressão textual ABSTRACT:This work analyzes the elements that constitute the mechanism of cohesion referencial proposed by Koch (1998, 2007). The objective is to examine the occurrence of elements that propitiate the textual progression in narrative texts produced by the students of the second year of the medium teaching. In our analysis, we focused the reference accomplished through the use of pronominal expressions, of pronouns, the hyponym and hyperonym etc. Koch (2007) argue the referenciation as a discursive activity that consists of the construction and object-of-speech reconstruction characterized by the retaking of elements in the text. Starting from that perspective, the understanding of an expression doesn't consist of identifying a linguistic term, an antecedent, but in establishing sense relationships with the information that were already expressed in the speech. With the analysis of the texts, it was noticed that the way as the reference strategies is approached can be related to the writer's pledge in facilitating the understanding of the reading emphasizing an improvement in the process of teaching-learning of Portuguese language, seeking to a more concrete and productive teaching. Keywords: Textual production. Referenciation. Textual progression
1. INTRODUÇÃO
Os pronomes são expressões referenciais que possuem um papel
significativo na manutenção da coesão do texto, permitindo aos interlocutores
estabelecerem as relações entre os diferentes elementos já apresentados.
As insatisfações e inquietações advindas dos alunos têm sido muitas, como
por exemplo: Por que devo fazer redação? Como iniciá-la? Como surgem as idéias?
Como terminar?O que faço para não errar tanto? Quando vou usar meus
conhecimentos gramaticais? Esses questionamentos têm feito com que nossa
preocupação com a produção do texto escrito e o ensino da gramática nos
1 Professora Nível 3. Atua no Colégio Estadual Agrícola “Augusto Ribas” e Colégio Estadual Profa. Elzira de Sá Correia - Ponta Grossa. 2 Orientadora - Profa. Dra. do Departamento de Letras Vernáculas da Universidade Estadual de Ponta Grossa
acompanhe durante nossa trajetória como professora de Língua Portuguesa.
Durante esse tempo, verificou-se que, nas duas últimas décadas, muitas pesquisas
têm sido desenvolvidas, com o intuito de investigar os problemas referentes à
produção textual em redações de alunos de ensino médio e do segundo ciclo do
ensino fundamental (5ª a 8ª séries), quanto à coesão e também à utilização de
elementos que dão progressão ao texto. Esses estudos buscam uma metodologia
adequada que possibilite o atendimento às especificidades dos alunos. Todavia, por
mais que isso venha sendo discutido entre os profissionais do ensino, muitas são as
falhas que perduram tanto em relação à inadequação dos currículos e programas
quanto à ineficácia das metodologias de ensino.
A criança, ao chegar à escola, é falante de uma língua e se comunica a partir
de um conhecimento de uma gramática internalizada, independente de uma
aprendizagem sistematizada.
Na escola, espera-se que a criança amplie o domínio de uso da linguagem,
que é instrumento indispensável tanto para a aquisição de conhecimento, como para
a participação do indivíduo nas mais diversas situações sociais de interlocução
(PCNEM, 2006, p.23). Assim sendo, o professor deve sistematizar o ensino
gramatical, pois o aluno já tem a sintaxe no seu inconsciente, ele efetua operações
com a linguagem e reflete sobre as diferentes formas de uso da língua. (DCE, p.30).
Segundo as DCE (2006), os conteúdos gramaticais devem ser estudados a
partir de seus aspectos funcionais na constituição da unidade de sentido dos
enunciados. (p.28).
Dessa forma, percebe-se que a escola, como instituição de ensino, deve criar
oportunidades para que o aluno possa refletir, construir, ou reconstruir diferentes
textos a partir da leitura e da escrita, a fim de levá-lo a compreender como a língua
funciona. (DCE, p.29).
Nesse sentido, observa-se que a produção escrita aparece como o grande
“problema” no ensino. O ensino de redação não se deve resumir a uma atividade
que se esgote em si mesma, mas em aulas voltadas especificamente para esse fim.
(PCNEM, p.18). É preciso discutir com os alunos os tópicos relevantes para a
compreensão das características formais e de conteúdos referentes aos vários
textos. (DCE, p.29).
Partindo desse pressuposto, considerando a interlocução como ponto de
partida para o trabalho com o texto, há necessidade do domínio de estratégias de
organização da informação e da estrutura textual, estabelecendo pontos de
ancoragem entre elas. (KOCH, 2004, p.2).
Os PCN (2006:18), nesse aspecto, propõem a produção textual e a leitura
como base para a formação do educando, criticando o uso do texto como pretexto
para retirar exemplos de regras gramaticais, o que chamam de ensino
descontextualizado de metalinguagem.
Koch e Travaglia (1998, p.23- 50) entendem que, ao produzir seus textos, o
aluno se vale de complexos e diversos procedimentos, pois ele planeja, lê para
revisar e corrige seus escritos, considerando o funcionamento da língua; e a coesão
e coerência estão intimamente relacionadas no processo de produção e
compreensão do texto. Assim sendo, no momento da revisão, o aluno deve
identificar os problemas e aplicar os conhecimentos sobre a língua para resolvê-los,
acrescentando, retirando, deslocando ou substituindo termos ou expressões do
texto, com o objetivo de torná-lo coerente para o leitor.
Baseando-se nas premissas acima, este trabalho procura apontar as
dificuldades mais comuns na produção textual, abordando a importância de um
ensino baseado em textos. Optou-se por trabalhar com textos narrativos porque
estes circulam bastante entre os alunos, desde as séries iniciais e, para observar as
dificuldades estruturais, o desempenho dos alunos em organizar suas histórias
(situação inicial, desenvolvimento e desfecho final), bem como o uso de pronomes, a
repetição de expressões, a elipse, etc. em construções de referências sucessivas.
Observou-se também a dificuldade que os alunos tiveram na manipulação de
frases, especificamente problemas com a coesão e coerência textuais.
Nosso objetivo foi levantar e interpretar os itens lexicais que operam como
referenciadores discursivos nas produções textuais narrativas de alunos do segundo
ano do ensino médio de uma escola pública de Ponta Grossa, verificando o uso dos
elementos de referenciação em relação à progressão temática. O corpus da
pesquisa constituiu-se de 12 redações entre os 120 textos, dos quais fez-se um
recorte para este trabalho, dado a exigüidade de espaço. A proposta da redação
determinava aos alunos que, após ler e verificar os referenciadores utilizados nos
textos "Inferno Nacional", de Stanislaw Ponte Preta, um fragmento do romance
"Triste fim de Policarpo Quaresma", de Lima Barreto e uma paráfrase produzida por
um aluno de 3º ano falando sobre o caos aéreo, escrevessem um texto narrativo
falando sobre a problemática da saúde brasileira.
2. OS ELEMENTOS DE REFERENCIAÇÃO
Para Koch, (2002, p.116) a coesão manifestada no nível microtextual, refere-
se aos modos como os componentes do universo textual, isto é, as palavras estão
ligadas entre si, dentro de uma seqüência e as concatenações frásicas lineares
dependem de cinco categorias de procedimento: referência, substituição, elipse,
conjunção e léxico. Pela referência um signo lingüístico se relaciona ao objeto
extralingüístico. Ela pode ser situacional ou exofórica e textual ou endofórica.
Segundo Koch (1998, p.20), a coesão textual ou endofórica pode ser:
anafórica – quando o signo de referência retoma um signo já expresso no texto ou
catafórica, quando o signo de referência antecipa um signo ainda não expresso no
texto.
Ela propõe três tipos de referência (por substituição, elipse, conjunção ou por
coesão lexical) as quais a autora agrupa, pois, para ela, a separação entre
referência, substituição e elipse não resiste a uma análise mais acurada, tendo em
vista que a substituição também é uma forma de referência. Para Fávero (2006:
p.18), se a elipse é considerada uma substituição por zero (∅), não há sentido em
considerá-la um tipo a parte.
Em nossa análise, será adotada a proposta de classificação de Koch e Elias (
2007) que postula, em primeiro lugar, a existência de duas grandes modalidades de
coesão: a referencial e a seqüencial. Destaca-se, em nossa análise, a coesão
referencial, adotando também algumas considerações feitas por Fávero (2006).
A coesão seqüencial é aquela que diz respeito aos procedimentos lingüísticos
por meio dos quais se estabelecem diversos tipos de interdependência semântica
e/ou pragmática entre enunciados (ou partes de enunciados) à medida que se faz o
texto progredir, sem que haja retomada dos itens, sentenças ou estruturas.
Já a coesão referencial ocorre entre dois componentes da superfície textual
que remetem a (ou permitem recuperar) um mesmo referente (que pode,
evidentemente, ser acrescido de outros traços que se lhe vão agregando
textualmente). Esta é responsável pela progressão do texto através da retomada de
referentes, utilizando vários mecanismos, como a repetição de expressões, o uso de
pronomes, a elipse, etc.
Segundo Fávero (2002), a coesão referencial pode ser obtida por substituição
e por reiteração. A substituição acontece quando um componente é retomado ou
precedido de uma pró-forma. No caso de retomada, tem-se anáfora e, no caso de
sucessão, a catáfora.
As pró-formas podem ser , de acordo com Fávero ( 2002, p.4):
a) Pronominais: Tenho um automóvel. Ele é verde. (no exemplo, a
substituição se deu por um pronome reto, porém podem aparecer também, conforme
o caso, pronomes oblíquos, demonstrativos, possessivos e adverbiais).
b) Verbais: Lúcia corre todos os dias no parque. Patrícia faz o mesmo.
c) Adverbiais: Paula não irá à Europa em janeiro. Lá faz muito frio.
d) Numerais: Mariana e Luiz Paulo são irmãos. Ambos estudam inglês e
francês.
Além da substituição por pró-formas, pode ocorrer a substituição por
“zero”(elipse) de entidades já introduzidas no texto, conforme: Paulo veio de carro,
João (0) de ônibus. (elipse do verbo).
A reiteração é a repetição de expressões no texto (os elementos repetidos
têm a mesma referência) e pode-se apresentar da seguinte forma. Observe-se
exemplos de Fávero (2002, p.4):
a) repetição do mesmo item lexical: O fogo acabou com tudo. A casa estava
destruída. Da casa não sobrou nada.
b) hiperônimos (quando o primeiro elemento mantém com o segundo uma
relação todo-parte: Gosto de doces . Cocada , então adoro.
c) hipônimos (quando o primeiro elemento mantém com o segundo uma
relação parte-todo: O gato arranhou-te? O que esperavas de um felino ?
Percebe-se, então, que a boa formação textual requer uma estabilidade entre
uma informação nova e a repetição de informações já dadas pelo texto ou pelo
contexto – informações já dadas ou velhas. É na repetição ou na retomada de
informações novas ou velhas que acontece a continuidade temática, de suma
importância para a compreensão textual. E uma das aplicações práticas do conceito
de coesão referencial é precisamente a substituição de palavras por parte do aluno
ao escrever um texto.
Observa-se que a referenciação está na construção e reconstrução de
objetos-de-discurso, isto é, a utilização de elementos que se utiliza em nossos
discursos está de acordo com a nossa percepção de mundo, nossos conhecimentos,
pensamentos, nossas crenças, (KOCH & ELIAS: 2007, 123). Quando se escolhe
termos para comunicar aos outros sujeitos, essas escolhas representam estados de
coisas, um "querer-dizer", existe uma proposta, uma construção de sentido, uma
interação entre os sujeitos.
Segundo Koch e Elias (2007, 125-126), na construção dos referentes textuais,
estão presentes as seguintes estratégias de referenciação:
2.1 Introdução (construção): um referente textual ainda não mencionado é
introduzido, permanecendo em foco. Veja o exemplo retirado do texto
Desespero:
" Carolina, com apenas 8 anos, é uma menina muito esperta e feliz. Brincava
com sua irmã de 10 anos quando se sentiu mal e chamou sua mãe Elisa,
dizendo que sentia muitas dores no peito. Ela ficou preocupada.
Elisa leva a garotinha a uma farmácia perto de sua casa.(...)" (Desespero )
No exemplo acima, o referente principal Carolina é introduzido, considerando-
se o título do texto “Desespero”. Quando uma entidade é referenciada pela primeira
vez em um texto, a expressão que a descreve é dita nova no discurso, é a primeira
categorização do referente. A introdução desse novo referente se manifesta por um
elemento formalmente definido, é a apresentação da personagem com a qual vai
ocorrer a história. Observa-se como existe uma apresentação de Carolina: sua
idade, características – esperta e feliz- e que ela tem uma irmã; somente então vai
haver a citação do problema de saúde da personagem. Um fator coesivo que auxilia
o interlocutor a compreender o texto consiste justamente no fenômeno das
informações que são introduzidas, no texto, pelo locutor.
2.2 Retomada (manutenção): um termo já introduzido no texto é retomado
através de uma nova forma referencial, por pronomes (pessoais e possessivos), ou
por sinônimos, mantendo a correferencialidade, fazendo com que seja ativado na
memória, permanecendo saliente. Veja o exemplo acima:
O referente principal é introduzido (Carolina), sendo retomado pelos termos:
uma menina e a garotinha, fazendo com que o objeto-de-discurso "Carolina"
permaneça em foco. O referente Elisa é retomado através do pronome ela.
Observa-se que a relação anafórica dá-se por meio das expressões
pronominais e por palavras sinônimas, as quais, vazias de significação, são
interpretáveis porque se referem a elementos já explicitados no co-texto.
As anáforas são atividades de referenciação e remissão a termos
indispensáveis para a compreensão textual. Elas são como “costuras”, porque
unem os enunciados uns nos outros. Dessa forma, a atividade anafórica, como
elemento de coesão, é muito importante na construção da coerência de um texto.
Veja que nos exemplos dados, a função gramatical do pronome é justamente
substituir ou acompanhar um nome. Ele pode, ainda, retomar toda uma frase ou toda
a idéia contida em um parágrafo ou no texto todo. Nos textos analisados são nítidos
alguns casos de substituição pronominal. Observe os exemplos:
Certa vez uma criança foi picada por uma aranha. A região da picada tinha
tomado um tom roxo esverdeado. Os pais da menina notaram a febre alta e levaram-na ao posto de saúde.
Com lágrimas nos olhos, a mãe pedia desesperadamente a um enfermeiro.
Ele ameaçava tirá-la do hospital se não se acalmasse e aguardasse a sua vez. Enquanto isso, o veneno fazia seu trabalho.
Nesse fragmento do texto escrito pelos alunos, o pronome na e la são
anáforas lexicais de “Uma criança ”. Observe que as anáforas pronominais que aqui
aparecem são mais complexas e é difícil encontrá-las em textos de alunos. Observa-
se, com isso, que o estudante já possui um certo conhecimento gramatical de maior
complexidade e o utiliza em seus textos. O aluno utiliza corretamente o pronome ele
fazendo referência ao enfermeiro (anáfora), o que demonstra que o aluno busca
progressão temática em seu texto; ocorre o mesmo quando utiliza o pronome “seu ”
e “sua ” para caracterizar as personagens, dando estabilidade à sua história, e isso
resumindo o fato acontecido anteriormente..
Observe outros exemplos de anáforas pronominais:
"Certa vez José soube que estava com um problema grave de saúde . Era um câncer maligno. Ele dependia da ajuda do governo.."(Problema grave,).
A mãe , desesperada, tentou processar o médico pela morte do seu filho. (Descaso com a vida)
Dona Ilda, uma dona de casa [...] .Um mês depois ela conseguiu sua primeira consulta, mas o médico apenas lhe receitou uns coquetéis para tomar.(Um sistema inconfiável)
Percebe-se, ainda, nos textos deles, o uso de muitas anáforas lexicais, pela
repetição do mesmo item lexical, ou por sinônimos. Esses mecanismos de conexão
marcam as grandes articulações da progressão temática e sua realização se dá
pelos organizadores textuais. O termo pode ser repetido através de outro que o
substitui; a substituição garante ao texto, ao mesmo tempo, a inserção de um novo
elemento, quer seja pela particularização ou pela paráfrase do termo substituído.
Simone é uma senhora que passou por maus momentos. Estava diante de mais um desafio : levar seu filho Augusto , de oito anos, para uma consulta. O garoto reclamava muito de dores de cabeça, tinha muita febre e vomitava com muita freqüência. Ao chegar no postinho, se deparou com uma enorme fila, que ocupava todo o postinho, saía pra fora e ia até a esquina. A mãe, muito preocupada com a saúde do menino , preferiu esperar pela consulta. Cinco horas mais tarde, a enfermeira anunciou a senha 583: é a vez de Simone . O médico perguntou a situação da criança e logo deu uma receita, dizendo que se tratava apenas de uma gripe.(Descaso com a vida)
Jonathan tinha 18 anos e morava em São Paulo. Contraiu a dengue em uma viagem que fez ao Rio de Janeiro. Ele não estava se sentindo bem, foi ao hospital, constatou-se que era uma gripe. Um mês depois, o rapaz ainda se sentia mal.(Falta de interesse governamental na saúde)
Antes dos exames, Carlos teve parada cardíaca e veio a falecer. Não foi possível realizar o transplante. Parentes dizem: se não fosse o dinheiro, Carlos ainda estaria presente entre nós. (Se não fosse o dinheiro)
Observe como o uso de sinônimos possibilita manter o mesmo tópico,
assegurando a continuidade entre as partes do texto. Veja-se o exemplo Augusto
sendo substituído por garoto, menino, criança; Jonathan é substituído por rapaz. No
texto "Se não fosse o dinheiro" ocorre a repetição do mesmo referente Carlos, para
ressaltar a crítica que o aluno faz ao poder de quem tem dinheiro. Essa repetição do
mesmo termo é chamada de reiteração.
2.3 Desfocalização: ativação de um novo referente, deslocando a atenção para este
que vai ocupar a posição focal, mas deixando o outro referente disponível para
ser ativado a qualquer momento. Observe o exemplo dado por Koch & Elias
(p.126):
Ana Maria Braga vai se desfazer de dois de seus três barcos. A apresentadora está procurando comprador para as lanchas Âmbar I, de 47 pés, e Âmbar II, de 52 pés. Ela pretende ficar apenas com Shambhala, o trawler de 85 pés que inclui até TV de tela plana na sala de estar. Lanchas com essas dimensões custam entre R$ 450 mil e R$ 600 mil.
No texto acima, o Koch e Elias deixam o primeiro objeto de discurso
introduzido: Ana Maria Braga" de lado e passam a falar sobre a lancha Shambala
que passa a ocupar o foco de atenção; isto é uma desfocalização.
3. FORMAS DE INTRODUÇÃO (ATIVAÇÃO) DE REFERENTES TE XTUAIS
São de dois tipos os processos de construção de referentes textuais, isto é,
de atuação no modelo textual: a ativação ancorada e a ativação não-ancorada. A
introdução se constituirá em não-ancorada quando um objeto-de-discurso novo é
introduzido no texto, sem associação com elementos que já estejam presentes.
Observe um fragmento do texto utilizado como exemplo por Koch e Elias:
"Nova espécie de ave é descoberta na grande SP. O Ibama anunciou ontem a descoberta de uma nova ave, o bicudinho-do-
brejo-paulista.(...)"
"Nova espécie de ave" é uma introdução não-ancorada.
A ativação ancorada ocorre quando um novo objeto-de-discurso é introduzido,
porém faz relação com elementos que já foram expressos no texto. (KOCH e ELIAS,
2007, p.127). Ainda em Koch e Elias, tem-se como exemplo, que segue aqui
parafraseado, em forma de diálogo:
"__ Padre! Sou um alcoólatra! diz o pecador. __ Meu filho! Tem que ter forças para vencer o vício! Agora, vai se
comungar! responde o padre. Ao receber a comunhão, o pecador pergunta: __ E o vinho? Não tem?”
Observe como, na última fala, foi introduzido o novo referente "vinho", que
tem associação aos elementos "alcoólatra e vício" presentes no co-texto e ao
contexto sociocognitivo.
Estão entre esses casos, as chamadas anáforas associativas e as anáforas
indiretas de modo geral.
A anáfora associativa explora relações meronímicas, ou seja, as remissões
são realizadas através de elementos que substituem ou mantêm relação com o
referente, como se um fosse ingrediente do outro. Nesta perspectiva, considera-se
também, não só as associações metonímicas, mas também as relações entre
termos que se complementam. Observe o exemplo, encontrado em Koch & Elias
(p.129).
"A fazenda estava abandonada. Dava pena ver o pasto e as lavouras dominadas pelo mato, a porteira derrubada e o velho casarão em ruínas. Nada lembrava a fartura e a riqueza dos bons tempos." A anáfora associativa ocorre com a introdução de um referente novo
"fazenda", explorando as relações meronímicas - pasto, lavouras, porteira, casarão,
que são ingredientes, têm associação com o elemento "fazenda".
Quer dizer, as descrições definidas o pasto, as lavouras, a porteira e o velho
casarão não estão simplesmente apresentando um referente novo; mas ativando um
referente que havia sido introduzido através de uma inferência, isto é, está
ancorando-a a uma informação já mencionada no co-texto, permitindo assim que se
use o artigo definido sem estranhamento por parte do leitor.
Percebe-se que as informações textuais em que se ancoram as anáforas
nominais associativas, apresentam pistas com as quais é possível estabelecer um
sentido.
Na anáfora indireta constrói-se uma relação inferencialmente, a partir do co-
texto, com base em nosso conhecimento de mundo. Veja o exemplo de Koch e
Elias:
"Abro a antiga mala de velharias e lá encontro minha máscara de esgrima. Emocionante o momento em que púnhamos a máscara - tela tão fina – e nos enfrentávamos mascarados, sem feições. A túnica branca com o coração em relevo no lado esquerdo do peito, "olha esse alvo sem defesa, menina, defenda esse alvo!" – advertia o professor e eu me confundia e o florete do adversário tocava reto no meu coração exposto".
Observe como as expressões destacadas, no exemplo, remetem às âncoras
esgrima, refocalizando indiretamente tal referente. No exemplo, o cenário da aula de
esgrima só se configura com a introdução da entidade do professor.
Assim, as anáforas indiretas caracterizam-se por não existir no co-texto um
antecedente explícito, mas existe um elemento de relação que se pode denominar
de âncora e que é decisivo para o entendimento, para se saber de que se está
falando. Desta forma, nas anáforas indiretas, em geral, ocorre a seleção adequada
das possíveis âncoras que vão permitir a mobilização das inferências necessárias à
ativação do referente, contribuindo, assim, para o desenvolvimento do texto, através
da progressão referencial.
Entre os casos de introdução ancorada de objeto-de-discurso, se incluem as
chamadas nominalizações , isto é, uma operação discursiva que consiste em referir,
por meio de um sintagma nominal, um processo ou estado significado por uma
proposição que, anteriormente, não tinha o estatuto de entidade. Observe-se um
exemplo retirado de Koch e Elias:
"Fome, dívida externa, habitação, inflação, segurança! Quem seria capaz de resolver todos esses problemas?" (Problemas transforma todos os enunciados: fome, dívida externa, habitação, inflação, segurança, em um objeto-de-discurso- problemas.
As nominalizações são consideradas rotulações, resultantes de
encapsulamentos operados, isto é, introduz-se um referente novo, encapsulando-se
a informação difusa no contexto precedente ou subseqüente, de forma a operar
como objeto-de-discurso.
O encapsulamento, para Koch & Elias (op.cit. p.138) é uma função particular
das nominalizações que, conforme foi mencionado, sumarizam as informações-
suporte contidas em segmentos precedentes do texto, encapsulando-as sob a forma
de uma expressão nominal e transformando-as em objeto-de-discurso. Trata-se de
nomes-núcleo inespecífico que exigem realização lexical no contexto. Tais
expressões rotulam uma parte do co-texto que as estabelecem em novo referente
que, por sua vez, poderá constituir um tema específico para os enunciados
subseqüentes.
Considere-se o exemplo extraído do texto Problema grave:
Tratamentos eram efetuados, operações, medicamentos tomados, mas o problema se agravava cada vez mais, (Problema grave)
Tratamentos encapsula operações, medicamentos.
Cabe, ainda, chamar a atenção para o fato de que a progressão e, portanto, a
reativação de referentes textuais pode realizar-se, também, por meio de formas
nominais indefinidas (normalmente introduzem referentes novos), ou expressões
nominais definidas (é a ativação de um determinante definido – artigo definido ou
pronome demonstrativo seguido de um nome - cujo conhecimento é partilhado com
o interlocutor).
Confronte os exemplos:
Um grupo de crianças entrou na sala. Uma garotinha loira me entregou uma flor.
O músico não pode fazer o concerto. O violão tinha sumido.
O uso do artigo definido, nos exemplos acima, aponta que essa preferência
de emprego deve-se, sobretudo, por sua função de marcar que a restrição foi
realizada. E, ainda, que a forma definida no singular ocorre nos casos em que se
preserva a identificação de um objeto que é único entre outros e é passível de ser
localizado no mundo real.
(...)As enfermeiras passavam por nós e não davam a mínima para os gemidos de dor do pobre homem . Meu tio , cansado de ver aquela cena , reclamou e conseguiu fazer com que o senhor fosse atendido rapidamente.(Tumulto no hospital)
agravava cada vez mais, o avanço da doença não tinha controle. Os profissionais também não eram especializados nesta área, eram apenas estagiários de medicina.(Problema grave)
...filho Augusto , de oito anos, para uma consulta. O garoto reclamava muito de dores de cabeça, tinha muita febre e vomitava com muita freqüência...(Descaso com a vida)
Carlos tinha 32 anos e morava em São Paulo. Ele sofria de problemas no coração . Portava essa doença desde os vinte anos. (Se não fosse o dinheiro)
Nos exemplos acima, as expressões são formadas por grupos nominais
introduzidos por artigo definido ou pronome demonstrativo (observe o exemplo
acima essa doença, usando o pronome demonstrativo). Em geral, são de
conhecimento comum e dizem respeito a características do referente às quais se
deseja dar ênfase ou ressaltar, ajudando o leitor na construção do sentido. É o que
se comprova no exemplo o problema, / e essa doença, em que se desejava ressaltar
a característica, a gravidade do problema de saúde.
Como já foi dito, a referenciação é uma atividade discursiva que se processa
através da seleção que os indivíduos fazem entre as múltiplas possibilidades que a
língua oferece. Constitui as operações realizadas pelos sujeitos à medida que o
discurso se desenvolve. Por sua vez, o discurso constrói os objetos a que faz
remissão ao mesmo tempo em que é produto dessa construção. O uso de
hipônimos e hiperônimos acontece para atualizar os conhecimentos do
interlocutor, retomando um termo pouco usual.
Hiperônimos são palavras gerais ou nomes genéricos usados para nomear
toda uma classe de seres ou para abarcar os membros de um grupo. Por sua
abrangência, asseguram a manutenção do tema.
Em contrapartida, os hipônimos são palavras mais específicas em relação a
uma outra mais geral. É o que ocorre no exemplo: a rosa, o cravo, a violeta são
flores maravilhosas. (flores é hiperônimo de cravo, rosa, violeta, que são seus
hipônimos).
Nos textos dos alunos (em anexo), observa-se o uso de hipônimos e
hiperônimos. Nesses exemplos, se observa a relação entre todo / parte: hospital
(referente) é o conjunto maior do qual o setor da saúde (sala de exames, sala de
cirurgia, enfermeira),faz parte. Destaca-se, a seguir, alguns trechos dos textos, que
exemplificam o que foi discutido acima:
(...)Ele ameaçava tirá-la do hospital se não se acalmasse e aguardasse a sua vez. (...). A mãe , temendo pela vida da filha, ameaçou o enfermeiro ,(...) mal humorado, tomou a garota nos braços e começou a caminhar para a sala de exames .(...) Após os exames, Letícia foi levada para a sala de cirurgia e toda a pele do local da ferida foi retirada, (...).(Desespero)
No texto acima, têm-se os hipônimos: enfermeiro, sala de exames, sala de
cirurgia contidos no hiperônimo hospital.
4. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO REALIZADO
A proposta deste trabalho adveio, principalmente, de nossa experiência em
lecionar no Ensino Médio e na observação da grande dificuldade que os alunos
demonstravam ao produzir seus textos, principalmente ao utilizar o processo coesivo
textual.
Entende-se que a produção de textos é um processo de acertos e
inadequações, escrita e reescrita, segundo as Diretrizes Curriculares. (p.29).
Vê-se, então, a necessidade de repensar o ensino da escrita, pois se observa
que o ensino da Língua Portuguesa está passando por grande dificuldade, porque
os alunos não demonstram interesse quando da produção textual , pois estes
escrevem pouco e erram muito. Eles têm dificuldades em ligar alguns elementos
frasais, dar continuidade aos seus escritos.
No início do nosso trabalho, abordou-se o estudo da estrutura do texto
narrativo, observando as personagens, o tempo, o lugar, o enredo. Solicitou-se aos
alunos que escrevessem pequenos textos identificando os elementos estudados,
procurando construir histórias relacionando as ações, às personagens.
No decorrer do processo, mostrou-se aos alunos que as inadequações podem
ser revistas, corrigidas, buscando a construção de sentido do texto. Apresentou-se,
então, a fundamentação teórica dos elementos de referenciação aos alunos,
discutindo a sua importância para uma boa elaboração textual. Explicou-se que
elementos referenciais são aqueles termos ou formas de introdução, no texto, de
novas entidades ou referentes; é quando se faz referência a alguém ou a coisas do
próprio texto e nesse processo podem ser utilizados pronomes pessoais,
possessivos, demonstrativos ou expressões adverbiais; e referência é a função pela
qual uma palavra se relaciona a outro elemento do universo textual. Enfatizou-se o
emprego da anáfora, da catáfora e das nominalizações, que fazem parte de nossa
análise.
Também observou-se que a referência pode ocorrer quando se faz remissão
a algum elemento que está fora do texto – remissão exofórica- e quando o referente
está no próprio texto – remissão endofórica. (KOCH: 1998, p.20).
Partiu-se, então, para um estudo sobre o conceito e ocorrências da referência
textual.
Explicou-se que a coesão referencial é aquela utilizada para a progressão
do texto através da retomada de referentes, usando a correferência. Essa se utiliza
de vários mecanismos, tais como a pura e simples repetição de expressões, o uso
de pronomes; os hiperônimos, hipônimos e a elipse.
Fez-se uma revisão, com os alunos, dos elementos que podem ser utilizados
para realizar as cadeias referenciais, como os pronomes, os numerais e advérbios
pronominais, as elipses, as nominalizações.
Foram propostas então atividades para que os alunos observassem, em
textos narrativos diversos, o uso dos elementos de referenciação e os destacassem.
Essa proposta foi importante para que o aluno observasse o processo de construção
da narrativa, a situação que a envolve e como a referenciação contribui para a
construção do sentido e da progressão (continuidade) do texto.
Chegou o momento de o aluno aplicar o seu conhecimento, escrevendo seu
próprio texto, utilizando os elementos referenciais estudados.
Foi interessante observar o procedimento dos alunos nesse momento. A
maioria deles não teve dificuldade em criar suas histórias observando os elementos
de referenciação utilizados. Após essa tarefa, foram recolhidos os textos e
classificados alguns deles para fazer o estudo da referenciação usada pelos alunos.
Para que os alunos visualizassem e entendessem melhor a nossa proposta
de trabalho quanto à reestruturação e o emprego de elementos referenciais textuais,
foi escolhido primeiramente um texto que apresentou poucas falhas de estrutura e
reestruturou-se, coletivamente. Em seguida, apresentou-se um texto em que
estavam presentes muitas repetições de um mesmo referente, o uso de termos
inadequados ao sentido. Quando interrogados sobre esse emprego não sabiam
explicar o porquê. Com o auxílio dos alunos, fez-se a reestruturação observando os
elementos utilizados. Somente então foi apresentado um terceiro texto para que eles
o reestruturassem individualmente. Muitos deles fizeram isso com facilidade, poucos
apresentaram dificuldade em cumprir essa tarefa.
Os textos produzidos depois dessa atividade melhoraram muito. Agora os
alunos produzem seus textos, corrigem suas falhas através da reestruturação e
somente então escrevem a versão definitiva.
Questionados a respeito dessa atividade, em que ela melhorou a
aprendizagem, ou se de alguma forma contribuiu para a melhoria de seus textos, a
resposta/comentários foram gratificantes, como "agora eu realmente aprendi a
escrever um texto", respondiam eles; "antes, a gente escrevia redação apenas para
cumprir uma tarefa, agora eu sei como devo escrever meus textos, ficou bem mais
fácil". Foi compensador ouvir esses e outros comentários.
Num primeiro momento, eles se mostraram desinteressados, relutantes em
trabalhar essa atividade. Mas no final do trabalho, percebia-se a satisfação deles em
saber empregar os elementos estudados para tornar seus textos coerentes.
5. A ANÁLISE DA PRODUÇÃO TEXTUAL DOS ALUNOS
Os alunos, muitas vezes, utilizam expressões que não são condizentes com o
que de fato querem escrever, mas as colocam por tê-las ouvido ou lido em algum
lugar.
A partir da fundamentação apresentada acima, pode-se fazer uma síntese do
objetivo deste trabalho. Mostra-se a análise de fragmentos de algumas narrativas
produzidas pelos alunos, observando as ocorrências com base em nosso trabalho
realizado quando da explicação sobre os elementos referenciais textuais.
Como foi dito anteriormente, selecionou-se 12 textos de alunos da 2ª. série
do Ensino Médio de uma escola estadual de Ponta Grossa.
Inicialmente foi feita leitura de todos os textos e selecionados aqueles que
considerou-se estarem mais bem elaborados.
5.1 Análise e discussão dos dados
Constatou-se, pelos textos dos alunos, que eles utilizam a elipse que é
caracterizada pela omissão de um item, de um sintagma ou até de orações,
facilmente recuperáveis no contexto. É o que acontece nos exemplos abaixo, em
que se omite o referente Sandra, já expresso pelo autor no texto O grande milagre, e
o termo Dona Ilda, no texto Um sistema inconfiável. Nos textos dos alunos, percebe-
se que é comum a ocorrência da elipse antes de verbos.
(...) Meses e meses se passaram. Em uma noite fria, aproximadamente às
23:40, Sandra sentiu dores e fortes contrações. ∅ Levada imediatamente ao hospital, foram feitos novos exames para ver a causa de tanta dor. Depois de seis anos, as dores recomeçaram, e tudo se complicou. Várias
visitas ao médico, vários dias ∅ jogada nos corredores dos hospitais e nada de cirurgia. (O grande milagre)
Dona Ilda morreu aos 60 anos de idade em uma maca de hospital público,
por ∅ não ter uma daquelas carteiras de saúde particular. (Um sistema inconfiável)
Simon e é uma senhora que passou por maus momentos. ∅ Estava diante de mais um desafio: levar seu filho Augusto , de oito anos, para uma
consulta. O garoto reclamava muito de dores de cabeça, ∅ tinha muita febre e vomitava com muita freqüência.(Descaso com a vida)
No texto acima, tem-se uma referência por elipse. O sujeito dos verbos estava
é Simone; e tinha, é o garoto. Veja que nos exemplos citados, que as expressões
nominais não são retomados pelos pronomes correspondentes (ela, ele), mas por
elipse, isto é, a concordância do verbo - 3ª pessoa do singular - é que indica a
referência.
Aponta-se, ainda, o alto valor generalizante das expressões nominais
destacando-se neste estudo o uso do demonstrativo que, na maioria delas,
cumpre a função de sinalizar que o autor do texto está passando a um estágio
seguinte de sua argumentação, fechando o anterior por meio de seu
encapsulamento em uma forma nominal. Um dos efeitos do demonstrativo usado
nos textos é o de recuperar a informação dada, anteriormente, formando uma cadeia
referencial, encapsulando uma informação do texto precedente. Este fenômeno é
claramente verificável quando o núcleo do sintagma nominal é um nome de
processo, por terem valor semântico incompleto, sendo, pois, intrinsecamente
anafóricos. Quando introduzidos por um determinante demonstrativo, este acarreta a
captação do processo por meio de referência (KOCH, 1998:42). Observe os
exemplos:
(...)Chegando lá, foi atendida pelo farmacêutico . Ele dá um remédio para acalmar a dor, mas pede à mãe para levá-la imediatamente a uma unidade de saúde. A mãe, muito nervosa, faz isso, e chega rapidamente ao pronto socorro(...) O moço que a atendia falou que dona Elisa teria que preencher uma ficha para que a menina pudesse ser atendida e naquela unidade ... . Elisa, inconformada com o atendimento daquele lugar... ( Desespero)
(...)Seu trabalho era muito pesado, tinha que levantar tijolos, cimento, cal, etc., por isso, desenvolveu uma hérnia no abdomem, que sempre o incomodou. Quando foi ao médico, ele fez um diagnóstico rápido, pois para detectar esse problema , não é muito difícil.(...) Mas como já faz cinco anos que ele carrega esse incômodo(...)(A espera pode trazer falecimentos)
(...)O resultado dos exames foi a dengue , mas como a doença já havia evoluído para dengue hemorrágica, Jonathan foi transferido para um hospital mais equipado. Quando ele chegou ao hospital, morreu. Esses são problemas que vivemos no dia-a-dia,(...)( Falta de interesse governamental na saúde)
O uso do advérbio aparece nos textos exprimindo circunstâncias,
principalmente as de lugar, chamado aqui de referência espacial, que ocorre quando
a expressão é usada a partir de um ponto de referência constituído pelo lugar da
enunciação. No caso da anáfora, a expressão coloca o referente como foco da
atenção, como alguns exemplos, abaixo, retirado de textos de alunos:
Elisa leva a garotinha a uma farmácia perto de sua casa. Chegando lá, foi atendida pelo farmacêutico. Ele dá um remédio para acalmar a dor, mas pede à mãe para levá-la imediatamente a uma unidade de saúde.
Estava passando uns dias na casa da minha tia . Tudo ia muito bem, mas de repente meu primo começou a passar mal. Corremos para o hospital mais próximo. Chegando lá , meu tio foi pedir a consulta. (Tumulto no hospital) Sua amiga Mhaiuri, de 21 anos, percebeu que ela não se sentia bem, então imediatamente a levou ao hospital. Chegando lá, a enfermeira, ao invés de chamar um médico... (A saúde pública brasileira)
Certa vez uma criança foi picada por uma aranha. A região da picada tinha tomado um tom roxo esverdeado. Os pais da menina notaram a febre alta e levaram-na ao posto de saúde.. Havia muitas pessoas ali, muitas crianças e velhos. Temendo ainda mais pela menina, os pais levaram-na ao hospital da cidade. Lá o ambiente estava calmo, não havia muitas pessoas. (Desespero)
É importante observar que a referência espacial possui referente no co-texto.
Assim, lá e ali designam o local da enunciação.
Notou-se também que o uso de pronomes (pessoais, possessivos,
demonstrativos) é muito recorrente, sendo que, em sua maioria, são utilizados
pronomes pessoais do caso reto, principalmente, os da terceira pessoa do singular e
do plural. As retomadas feitas são mais explícitas e ocorrem bem próximas aos
referentes. Porém, mesmo através do uso de pronomes demonstrativos, as
remissões são realizadas também logo após o referente ser citado. Ressalva-se
apenas que, com o uso dos pronomes demonstrativos, os referentes não ficam tão
visíveis, mas é uma referência anafórica relacionada à locação de proximidade.
Muitas pessoas até hoje, no Brasil, sofrem com o descaso na saúde pública.
Dona Ilda , uma dona de casa tinha um grave problema no coração. Em 1996, sentiu fortes dores no coração e isso começou a perturbar sua vida. Dali em diante, começava um longo sofrimento.(Descaso com a vida)
Carlos tinha 32 anos e morava em São Paulo. Ele sofria de problemas no coração .Portava essa doença desde os vinte anos. Ele estava na fila do SUS para operar desde quando descobriu a doença.(Se não fosse o dinheiro)
No final de um dia cansativo de aulas, Flávia sai da faculdade e se dirige para casa. Só que nesse percurso, devido a imprudência de um motorista, ela é atropelada, e não é socorrida. Ela ficou estendida no asfalto durante alguns minutos, até que um rapaz que passava pelo local, pediu socorro. (Realidade)
A presença da catáfora nos textos: um aspecto encontrado em todos os
textos analisados foi a pouca ocorrência da catáfora, que acontece quando um
elemento de referência antecipa uma situação ainda não expressa no texto e que
fica explicitada após esse elemento. Observe os exemplos retirados dos textos dos
alunos:
Simone é uma senhora que passou por maus momentos. Estava diante de mais um desafio : levar seu filho Augusto , de oito anos, para uma consulta. O garoto reclamava muito de dores de cabeça, tinha muita febre e vomitava com muita freqüência. Ao chegar no postinho, se deparou com uma enorme fila, que ocupava todo o postinho, saía pra fora e ia até a esquina.(Descaso com a vida)
A família desesperada e sem entender nada, pedia a Deus que a curasse. Após três horas na sala de cirurgia, a família ficou surpresa com o que viu: Sandra deu à luz a uma linda menina de 4 quilos. A mãe a chamou de Vitória, era uma chance que Deus dava à Sandra. O câncer havia desaparecido, como um milagre. (O grande milagre)
Acima, no primeiro exemplo, aparece primeiramente a expressão: um desafio,
e logo depois explicita qual é o desafio: levar seu filho Augusto para uma consulta;
no segundo exemplo tem-se: o que viu, e após, a explicação: Sandra deu à luz a
uma linda menina de quatro quilos. Essas expressões são exemplos de catáfora. Os
alunos souberam usá-la adequadamente, criando, com seu uso, uma espécie de
suspense.
É importante ressaltar que os alunos, ao escreverem seus textos, não
expressam em sua proposta uma preocupação com o uso ou não das estratégias de
referenciação, eles fazem uso desses elementos de forma natural. O que se percebe
é que eles escreveram numa linguagem mais simples, isto é, de acordo com um
vocabulário conhecido e acessível a eles. A preocupação deles era criticar a saúde
brasileira.
De maneira geral, os alunos atenderam à tipologia textual solicitada,
demonstrando que leram o texto-base oferecido a eles. Como se pôde observar, nos
textos há um predomínio do uso dos pronomes (pessoais, possessivos,
demonstrativos), isto é, a anáfora aparece com muita freqüência, dando clareza aos
textos, garantindo a sua continuidade.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pela análise dos fragmentos apresentados acima, pôde-se apontar a
utilização de referentes nas produções dos alunos e demonstrar, de maneira sucinta,
a importância da atuação do professor como orientador nessa atividade para que
haja realmente a aprendizagem do ensino da língua. Há necessidade de o professor
ser capaz de modificar seu posicionamento metodológico de ensino de produção de
textos, para auxiliar os alunos nas suas dificuldades e para que eles possam
escrever textos coerentes.
É importante destacar a observação feita por Roman (2007, p.234)
o professor, ao analisar os textos produzidos por seus alunos, deve-se
perguntar: O que me leva a corrigir esta ou aquela forma? O que me leva a
sugerir mudanças no texto? Como fazer isso sem discriminar a linguagem
dos alunos? Como levar os alunos a saber avaliar a adequação do uso de
uma forma ou de outra? [...] É importante realizar operações em que a
expansão dos sintagmas expressem sinteticamente elementos dispersos no
texto que predicam um mesmo núcleo ou o modificam.
Acredita-se que este estudo, possa ter trazido uma contribuição para a
melhoria do processo de ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa, visando a um
ensino mais concreto e produtivo. É importante acrescentar informações novas ao
texto, ancorando-as em informações dadas, já conhecidas pelo interlocutor.
Analisados os textos, percebe-se que a repetição lexical foi a categoria com
maior índice de ocorrências. Ressalta-se a repetição dos nomes genéricos,
hiperônimos, hipônimos, pronominalizações, expressões nominais. Outro aspecto
encontrado nos textos analisados foi a pouca ocorrência da catáfora.
Entende-se que os fragmentos textuais aqui analisados permitem observar
que os referentes são objetos-de-discurso que vão sendo construídos e
reconstruídos durante a interação verbal. Percebeu-se, com este trabalho, que os
objetos-de-discurso são altamente dinâmicos, ou seja, quando introduzidos na
memória discursiva, vão sendo constantemente transformados, reconstruídos,
recategorizados no curso da progressão textual, como afirma Koch (2004, p.12).
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais – Língua Portuguesa: ensino médio. Brasília: MEC, 2006.
FÁVERO, Leonor Lopes Coesão e Coerência Textuais. 9ª edição,São Paulo: Ática, 2002.
KOCH, Ingedore G. V. Desvendando os Segredos do texto . São Paulo: Cortez, 2002. _______ ;ELIAS, Vanda M. Ler e Compreender os Sentidos do Texto, 2ª ed. São Paulo: Contexto, 2007. _______. Koch, Ingedore V. Linguagem e cognição: A construção de objetos-de-discurso. Veredas, MG, 2004. _______; TRAVAGLIA, L. C. Texto e Coerência . São Paulo, Cortez, 1998. _______. Trajetória da Lingüística Textual. São Paulo, 2004.
NEVES, M.H.M. Funcionalismo e Lingüística Textual- Martins Fontes . São Paulo, 2004. ROMAN, Elódia Constantino. A diversidade de textos e a prática de análise lingüística. In: Línguas & Letras. EDUNIOESTE. Cascavel, v. 8, p.221-236, 2007. SEED. Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica do Estado do Paraná . Curitiba: Ed., 2006
ANEXOS
TEXTOS DOS ALUNOS
TEXTO 1 : TUMULTO NO HOSPITAL
Estava passando uns dias na casa da minha tia . Tudo ia muito bem, mas de repente meu primo começou a passar mal. Corremos para o hospital mais próximo. Chegando lá , meu tio foi pedir a consulta . A enfermeira informou que ele teria que esperar sua vez, pois tinha outras pessoas na fila de espera e que havia só um médico de plantão. Após uns cinco minutos de espera, um senhor que estava sentado ao meu lado começou a se contorcer de dor. As enfermeiras passavam por nós e não davam a mínima para os gemidos de dor do pobre homem . Meu tio , cansado de ver aquela cena , reclamou e conseguiu fazer com que o senhor fosse atendido rapidamente. Depois do tumulto , todas as outras pessoas, inclusive meu primo , foram atendidos rapidamente.
TEXTO 2: PROBLEMA GRAVE Certa vez José soube que estava com um problema grave de saúde . Era um
câncer maligno. Ele dependia da ajuda do governo por não ter condições financeiras para fazer o tratamento.
José sofria muito, necessitava todos os dias de medicamentos e de assistência, porque a doença estava instalada em sua face, e não conseguia enxergar, porque seu rosto estava muito inchado. Tratamentos eram efetuados, operações, medicamentos tomados, mas o problema se agravava cada vez mais, o avanço da doença não tinha controle. Os profissionais também não eram especializados nesta área, eram apenas estagiários de medicina.
Assim José se tornou um objeto de estudo para estagiários de medicina . Eram realizados diversos tipos de operações por eles . A vida de José cada vez mais chegava perto do fim, com gritos, choros, ranger de dentes de tanta dor, e isso causava espanto para outras pessoas. Professores e alunos de medicina sabiam que não havia solução para José , mas os familiares não sabiam de nada.
Por não haver controle eficiente, o câncer chegou ao cérebro, no entanto, já não sabiam o que fazer, então realizaram uma eutanásia, sem ninguém saber que ele morreu desta maneira. Esta alternativa para José foi um alívio, só assim pôde descansar.
TEXTO 3: O GRANDE MILAGRE
Foram exatamente 8 meses e meio de dor e desespero. Nos seus aproximadamente 45 anos, Sandra descobriu ser mais uma vítima do câncer. Sorrisos se transformaram em lágrimas e palavras bonitas eram apenas consolos.
Exames foram feitos e o tumor que dizia ter se agravava ainda mais. Vários médicos foram consultados e remédios fortíssimos estavam sendo ingeridos por Sandra, mas nada a salvaria. O desespero da família era tamanho, mas a fé em Deus era o que prevalecia.
Meses e meses se passaram. Em uma noite fria, aproximadamente às 23:40, Sandra sentiu dores e fortes contrações. Levada imediatamente ao hospital, foram feitos novos exames para ver a causa de tanta dor. Impactado com o resultado, o médico a mandou imediatamente à maternidade.
A família desesperada e sem entender nada, pedia a Deus que a curasse. Após três horas na sala de cirurgia, a família ficou surpresa com o que viu: Sandra deu à luz a uma linda menina de 4 quilos. A mãe a chamou de Vitória, era uma chance que Deus dava à Sandra. O câncer havia desaparecido, como um milagre.
TEXTO 4: DESCASO COM A VIDA
Simone é uma senhora que passou por maus momentos. Estava diante de mais um desafio : levar seu filho Augusto , de oito anos, para uma consulta. O garoto reclamava muito de dores de cabeça, tinha muita febre e vomitava com muita freqüência. Ao chegar no postinho, se deparou com uma enorme fila, que ocupava todo o postinho, saía pra fora e ia até a esquina.
A mãe, muito preocupada com a saúde do menino , preferiu esperar pela consulta. Cinco horas mais tarde, a enfermeira anunciou a senha 583: é a vez de Simone . O médico perguntou a situação da criança e logo deu uma receita, dizendo que se tratava apenas de uma gripe. A mãe ficou aliviada. Pegou os remédios e deu ao menino, mal sabia a mãe que esses remédios seriam piores. O menino estava com dengue e devido os remédios, ele piorou e faleceu.
A mãe, desesperada, tentou processar o médico pela morte do seu filho , mas logo perdeu as esperanças, ao saber que essas situações(anáfora) são muito freqüentes no Brasil e sempre ficam impunes.
TEXTO 5: SISTEMA INCONFIÁVEL Muitas pessoas até hoje, no Brasil, sofrem com o descaso na saúde pública. Dona Ilda , uma dona de casa tinha um grave problema no coração. Em 1996,
sentiu fortes dores no coração e isso começou a perturbar sua vida. Dali em diante, começava um longo sofrimento.Um mês depois ela conseguiu sua primeira consulta, mas o médico apenas lhe receitou uns coquetéis para tomar.
Depois de seis anos, as dores recomeçaram, e tudo se complicou. Varias visitas ao médico, vários dias jogada nos corredores dos hospitais e nada de cirurgia.
Dona Ilda morreu aos 60 anos de idade em uma maca de hospital público, por não ter uma daquelas carteiras de saúde particular.
TEXTO 6: SE NÃO FOSSE O DINHEIRO...
Carlos tinha 32 anos e morava em São Paulo. Ele sofria de problemas no coração .Portava essa doença desde os vinte anos.
Ele estava na fila do SUS para operar desde quando descobriu a doença. Quando foi encontrado um coração compatível, estava na fila há oito anos. Estava tudo certo para a operação , mas um ator famoso também tinha o mesmo problema, e era compatível com o coração encontrado. O dinheiro falou mais alto e o coração foi para o ator.
Passaram-se mais quatro anos e outro coração compatível apareceu, mas o destino é surpreendente. Antes dos exames, Carlos teve parada cardíaca e veio a falecer. Não foi possível realizar o transplante.
Parentes dizem: se não fosse o dinheiro, Carlos ainda estaria presente entre nós.
TEXTO 7: REALIDADE No final de um dia cansativo de aulas, Flávia sai da faculdade e se dirige para
casa. Só que nesse percurso, devido a imprudência de um motorista, ela é atropelada, e não é socorrida. Ela ficou estendida no asfalto durante alguns minutos, até que um rapaz que passava pelo local, pediu socorro. O resgate demora a chegar. Quando finalmente o Samu chega, ela recebe os primeiros socorros e é levada ao Pronto Socorro, onde fica em uma maca no corredor. Ela começa a ter convulsões, vai perdendo seu fôlego de vida pouco a pouco, com muita dor. Quando os enfermeiros vão atende-la , é tarde demais, Flávia já havia morrido. Por imprudência de um motorista e a incompetência e descaso com a saúde pública, mais uma jovem perde a vida.
TEXTO 8: DESESPERO Carolina, com apenas 8 anos, é uma menina muito esperta e feliz. Brincava com sua irmã de 10 anos quando se sentiu mal e chamou sua mãe Elisa, dizendo que sentia muitas dores no peito. Ela ficou preocupada.
Elisa leva a garotinha a uma farmácia perto de sua casa. Chegando lá, foi atendida pelo farmacêutico . Ele dá um remédio para acalmar a dor, mas pede à mãe para leva-la imediatamente a uma unidade de saúde.
A mãe, muito nervosa, faz isso, e chega rapidamente ao pronto socorro e diz a um enfermeiro que sua filha está com fortes dores no peito. Carolina fala para a mãe que não suporta as pontadas perto de seu coração.
O moço que a atendia falou que dona Elisa teria que preencher uma ficha para que a menina pudesse ser atendida e naquela unidade só havia um pediatra . Elisa, ]inconformada com o atendimento daquele lugar, mas sem ter condições para ir a outro lugar, faz a ficha e espera pelo atendimento a sua filha.Horas depois, ela sem ser atendida, não suporta mais ver sua filha com fortes dores, implora por um atendimento. Enfim, ela precisou fazer um escândalo para que a menina fosse atendida. Ao entrar no consultório , o médico vê o estado da criança e pede imediatamente aos enfermeiros que a levem para a sala de cirurgia. A mãe , em desespero, fica em uma sala separada, orando para que não seja nada grave com sua linda filha. Depois de algumas horas, o doutor fala para a mãe que Carolina tinha veia entupida do coração, mas já tinha sido operada e passava bem.
No outro dia, as duas voltam para casa e já estava tudo bem.
TEXTO 9: A ESPERA PODE TRAZER FALECIMENTOS Na fila de espera para cirurgia do SUS, encontrava-se um homem chamado
João José. Ele já está a cinco anos nessa fila. Pedreiro particular, sempre pagou o INSS para ter assistência quando precisasse. Por este motivo,quando seu problema começou a aparecer, ele logo se encostou.
Seu trabalho era muito pesado tinha que levantar tijolos, cimento, cal, etc., por isso, desenvolveu uma hérnia no abdomem, que sempre o incomodou. Quando foi ao médico, ele fez um diagnóstico rápido, pois para detectar esse problema , não é muito difícil.
Mas como já faz cinco anos que ele carrega esse incômodo , tornou-se um câncer, que piorou totalmente a situação. Logo, ele estava largado em um corredor do pronto-socorro, sentindo muitas dores, já em estado terminal.
Depois de alguns dias, ele é retirado do corredor e levado para o necrotério . Acabou falecendo por falta de atendimento do SUS.
TEXTO 10: A SAÚDE PÚBLICA BRASILEIRA Já era de manhã quando Yasmim, de 28 anos, passou mal ao se dirigir ao
banheiro. Ao levantar-se da cama, sentiu fortes dores na região do coração. Sua amiga Mhaiuri, de 21 anos, percebeu que ela não se sentia bem, então
imediatamente a levou ao hospital. Chegando lá, a enfermeira, ao invés de chamar um médico, ficou conversando com sua colega de trabalho. Mhayuri pediu à enfermeira que chamasse um médico rápido, porque Yasmim estava muito mal.
A enfermeira lhe disse que o médico já lhe atenderia, era pra esperar um pouco, mas o médico saiu em instantes, apressado, sem lhes dar explicações.
Na tentativa de obter esclarecimentos, Mhaiuri procurou a direção do hospital para tentar solucionar o problema, mas sua amiga veio a falecer na fila de espera de atendimento.
Ao perceber que sua amiga estava encostada, mórbida, gelada no encosto da cadeira, constatou que sua amiga estava morta, ela entrou em estado de choque profundo.
Enquanto milhares de pessoas morrem em filas de espera, médicos e governantes tomam o cafezinho da tarde. E ainda dizem que a saúde pública brasileira presta serviços com rigor à população. Será mesmo verdade?
TEXTO 11: FALTA DE INTERESSE GOVERNAMENTAL NA SAÚDE Jonathan tinha 18 anos e morava em São Paulo. Contraiu a dengue em uma
viagem que fez ao Rio de Janeiro. Ele não estava se sentindo bem,foi ao hospital, constatou-se que era uma gripe.
Um mês depois, o rapaz ainda se sentia mal. Voltou ao hospital ainda mais doente. Diagnosticaram que era apenas um resfriado. Mais um tempo se passou e Jonathan já não conseguia mais se levantar. Sua mãe levou-o ao hospital e exigiu que realmente o atendessem.
O resultado dos exames foi a dengue , mas como a doença já havia evoluído para dengue hemorrágica, Jonathan foi transferido para um hospital mais equipado. Quando ele chegou ao hospital, morreu.
Esses são problemas que vivemos no dia-a-dia, às vezes de uma simples doença, fácil de ser tratada, acaba com a vida de uma pessoa.
TEXTO12: DESESPERO Certa vez uma criança foi picada por uma aranha. A região da picada tinha tomado um tom roxo esverdeado. Os pais da menina notaram a febre alta e levaram-na ao posto de saúde.. Havia muitas pessoas ali, muitas crianças e velhos. Temendo ainda mais pela menina, os pais levaram-na ao hospital da cidade. Lá o ambiente estava calmo, não havia muitas pessoas. Foram até a balconista e receberam uma senha. Aguardavam o atendimento, e a criança delirava . Então a mãe implorava por um atendimento de emergência, porém seu pedido era recusado. Com lágrimas nos olhos, a mãe pedia desesperadamente a um enfermeiro. Ele ameaçava tirá-la do hospital se não se acalmasse e aguardasse a sua vez. Enquanto isso, o veneno fazia seu trabalho. A mãe , temendo pela vida da filha, ameaçou o enfermeiro , disse que chamaria a imprensa e que lhe processaria. Diante das ameaças, o enfermeiro , mal humorado, tomou a garota nos braços e começou a caminhar para a sala de exames . Durante alguns minutos ouviam-se apenas os passos ansiosos da mãe. Após os exames, Letícia foi levada para a sala de cirurgia e toda a pele do local da ferida foi retirada, vários remédios foram receitados, agora só restava esperar a reação da criança .