NCBC Efesios Colossenses Filemom Arthur G Patzia

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U U N Ü V U C f M E N T Á R I O B Í B L I C O O  C O N T E M P O R Â N E O -------------- ------------------------ i  a E F ESIOS . C O L O SS E f t s5 F I LEM O M ------------ -------------- ------------ ' ARTHUR G. PATZIA Editor do Novo Testamento:  W . W ar d G a s q ue ô a x z N <

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N Ü V U

C f M E N T Á R I O B Í B L I C O O

C O N T E M P O R Â N E O

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EFESIOS. COLOSSEfts5FILEMOM--------------------------------------

'ARTHUR G. PATZIA

Editor do Novo Testamento: 

W. Ward Gasque

 _ _ _ ô _ 

Vida Dedicados à Excelência

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ISBN 0-8297-1747-1

Categoria: Comentário

Este livro foi publicado em inglêscom o título Ephesians, Colossians, Philemon,

 por Hendrickson Publishers

© 1973, 1978, 1984, por Arthur G. PatziaHendrickson Publishers, Inc.© 1995 por Editora Vida

Traduzido pelo Rev. Oswaldo Ramos

Todos os direitos reservados em língua portuguesa porEditora Vida, Av. Liberdade, 902 - São Paulo, SP

CEP 01502-001 Telefone: (011) 278-5388Fax: (011)278-1798

As citações bíblicas são da tradução de João Ferreira de Almeida,Edição Contemporânea, da Editora Vida, salvo onde outra fontefor indicada.

Capa: John Coté

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 Dedicado à minha esposa DOROTHY, que é uma expressão viva do  

amor, da graça e do perdão de Deus.

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C O N T E Ú D O

Prefácio do E d ito r ............................................................................. 7 Nota do E d ito r ................................................................................... 9

A brevia tu ras...................................................................................... 10

CoiossensesIntrodução: Coiossenses.................................................................. 12

0 1. Saudações de Paulo (Cl 1:1-2).................................................... 23

02. Oração de Agradecimento (Cl 1:3-8)......................................... 2503. Oração Intercessória de Paulo (Cl 1:9-14)................................   2904. Hino a Cristo (Cl 1:15-20).......................................................... 35

05. Aplicação do Hino aos Coiossenses (Cl 1:21-23) ...................   4306. Sofrimento Pessoal de Paulo (Cl 1:24)...................................... 4607. Proclamação do Mistério por Paulo (Cl 1:25-29)..................... 5008. Interesse de Paulo pelas igrejas (Cl 2:1-5)................................   53

09. Convocação à Perseverança (Cl 2:6-7)...................................... 5510. Tradição Cristã Contra Tradição Humana (Cl 2:8-10)............   5711. A Verdadeira Circuncisão e Seus Efeitos (Cl 2:11-15)...........  6012. Manifesto da Liberdade Cristã (Cl 2:16-23).............................  6613. Dimensões Éticas da Vida Cristã (Introdução a Cl 3:1-4:6).... 7214. A Vida Celestial (Cl 3:1-4)......................................................... 7415. Os Vícios da Vida Antiga (Cl 3:5-9)......................................... 7616. As Virtudes da Nova Vida (Cl 3:10-15)...................................   7917. Expressões do Verdadeiro Culto (Cl 3:16-17).......................... 84

18. Os Deveres Domésticos (Introdução a Cl 3:18-4:1)................   8619. Relacionamentos entre Esposa e Marido (Cl 3:18-19)............   9120. Relacionamentos entre Pais e Filhos (Cl 3:20-21)...................   9221. Relacionamentos entre Escravos e Senhores (Cl 3:22-4:1)....   93

22. Exortações à Oração e ao Testemunho (Cl 4:2-6) ...................   9823. Instruções e Saudações Finais (Cl. 4:17-18).............................  101

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FilemomIntrodução: Filem om ....................................................................... 10501. Saudações de Paulo (Fm 1 -3) ....................................................   10602. Elogio de Paulo a Filemom (Fm 4 -7 ) ........................................ 108

03. Intercessão de Paulo por Onésimo (Fm 8-22)........................... 11004. Saudações Finais de Paulo (Fm 23-25)...................................... 117

EfésiosIn trodução: Efésios.......................................................................... 11801. Saudação Inicial (Ef 1:1-2)......................................................... 14102. Um Hino de Louvor (Ef 1:3-14)................................................ 144

03. Oração por Iluminação Divina (Ef 1:15-19)............................. 15904. Resultados da Entronização de Cristo (Ef 1:20-23).................   16505. Cristo e a Salvação dos Crentes (Introdução a Ef 2:1-10)......   17006. Salvação da Morte Espiritual (Ef 2:1-3)...................................   17207. Salvação para a Vida Espiritual (Ef 2:4-10).............................  17408. Cristo e a Unidade dos Crentes (Introdução a Ef 2:11-22).....   18209. Os Gentios Separados de Cristo (Ef 2:11-12)........................... 184

10. Os Gentios em Cristo (Ef 2:13-18)............................................ 187

11. A Nova Unidade (Ef 2:19-22).................................................... 194

12. Paulo e a Missão aos Gentios (Introdução a Ef 3:1-21)...........  19913. Apresentando o Mistério do Evangelho (Ef 3:1-13)................   20314. Orando por Iluminação (Ef 3:14-19)......................................... 21315. Louvando Mediante Doxologia (Ef 3:20-21)........................... 219

16. Apelo à Unidade e Padrão de Unidade (Ef 4:1 -6 )...................   22017. A Concessão de Dons Espirituais ao Corpo (Ef 4:7-11) ..........  22718. A Consecução da Unidade (Ef 4:12-16) ...................................   23419. A Vida Antiga e a Vida Nova (Ef 4:17-24)..............................  23820. Instruções Éticas Específicas (Ef 4:25-5:2)..............................  24221. Como Viver na Luz (Ef 5:3-21).................................................   24622. Esposas e Maridos (Ef 5:22-33).................................................   256

23. Pais e Filhos (Ef 6:1-4)............................................................... 26724. Senhores e Escravos (Ef 6:5-9).................................................. 270

25. A Armadura do Cristão (Ef 6:10-20)......................................... 273

26. Saudações Finais (Ef 6:21-22)................................................... 283

27. Bênção Final (Ef 6:23-24).......................................................... 284

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P r e f á c i o d o E d i t o r

Emboranão apareçanas listas comuns de “best-sellers”, a Bíblia continuaa ser mais vendida que qualquer outro livro. E, apesar do crescente secularismoocidental, não há sinais de que o interesse pela mensagem da Palavra de Deusesteja esfriando. Muito pelo contrário, um número cada vez maior dehomens e mulheres está examinando suas páginas em busca de luz eorientação, em meio à crescente complexidade da vida moderna.

Esse interesse sempre renovado pelas Escrituras, encontrado tanto dentrocomo fora da Igreja, é fato notável entre os povos da Ásia e da África, bemcomo da Europa e das Américas. Na verdade, à medida que nos afastamosde países tradicionalmente cristãos, parece aumentar o interesse pela Bíblia.Pessoas ligadas a igrejas tradicionais católicas e protestantes manifestam, pela Palavra, o mesmo anseio presente em igrejas e comunidades evangélicas

mais recentes.Por isso, ao oferecer esta nova série de comentários, desejamos estimulare fortalecer esse movimento mundial de estudo da Bíblia pelos leigos.Conquanto esperemos que pastores e mestres considerem estes volumesmuito úteis à compreensão e comunicação da Palavra de Deus, não osescrevemos primordialmente para esses profissionais. Nosso objetivo éfornecer, a todos os leitores das Escrituras, guias confiáveis que os ajudem

a melhor compreender os livros da Bíblia, guias que representem o que háde melhor em erudição contemporânea, e que sejam apresentados demaneira que não exija preparo teológico formal para ser entendidos.

É convicção do editor, bem como dos autores, que a Bíblia pertence ao povo, e não meramente aos acadêmicos. A mensagem da Bíblia é tãoimportante que de modo algum pode ficar acorrentada a artigos eruditos,

 presa a ensaios e monografias herméticos, redigidos apenas para osespecialistas em teologia. Embora a erudição rigorosa, esmerada, tenha seulugar no serviço de Cristo, todos quantos participam do ministério do ensino,na Igreja, são responsáveis por tomar acessíveis à grande comunidade cristãos resultados de suas pesquisas. Por isso, os eruditos que se unem paraapresentar esta série de comentários o fazem tendo em mente estes objetivossuperiores.

Em português, há diversas traduções e edições contemporâneas do Livrosagrado, Na sua maioria essas edições são excelentes e devem ter apreferência

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8 Prefácio

do leitor no que concerne à compreensão e a beleza literária do texto.A Bíblia de Jerusalém, baseada na obra de eruditos católicos franceses,

vividamente traduzida para o português, talvez seja a mais literária das

traduções recentes. A BLH (Bíblia na Linguagem de Hoje), da SociedadeBíblica do Brasil, é a tradução mais acessível às pessoas pouco familiarizadascom atradição cristã. Há aindaem português, a AlmeidaRevistae Atualizada,e a Edição Revisada de Almeida, além de outras.

Todas essas versões são, à sua própria maneira, muito boas, e devem serconsultadas com proveito pelo estudante sério das Escrituras. E possível quea maioria dos estudantes deseje possuir diversas versões para consulta,objetivando especialmente a clareza de compreensão — embora se devasalientar que de modo algum qualquer delas estej a isenta de falhas humanas,e deva ser considerada a última palavra quanto a qualquer ponto. De outraforma, não haveria a menor necessidade de uma série de comentários comoesta!

Esta série de livros, por ser tradução da língua inglesa, faz referências à

 NEB, que constitui verdadeiro monumento à pesquisa modema protestante,e a outras versões em inglês, entre elas a RS V, a NAB, e a conceituada NIV.Como texto básico desta série decidimos usar a ECA, por ser esta edição

a que está-se tomando padrão, de modo especial nos seminários e institutos bíblicos. Por representar, no momento, o que há de melhor na literaturaevangélica em língua portuguesa, ela está aos poucos se tornando a maisutilizada por pastores e outros estudiosos das Escrituras.

Cada volume desta série contém um capítulo introdutório que expõe emminúcias o intuito geral do livro, os temas mais importantes, e outrasinformações úteis. Depois, cada seção do livro é elucidada como um todo,e acompanhada de notas sobre aqueles pontos do texto que necessitam demaior esclarecimento ou de explanação mais minuciosa.

Oferecemos esta nova série aos leitores com uma oração: que ela se tomeinstrumento de renovação autêntica e de crescimento entre a comunidadecristã no mundo inteiro, bem como um meio de enaltecer a fé das pessoas queviveram nos tempos bíblicos, e das que procuram viver, em nossos dias,segundo a Bíblia.

 Editora Vida

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N o t a d o E d it o r

Embora o título deste volume seja Efésios, Colossenses, Filemom, ostrês livros serão comentados aqui noutra ordem: Colossenses, Filemom,Efésios. O título acima foi decisão editorial, baseada na ordem canônicadessas cartas. Entretanto, o autor preferiu comentá-las numa ordem diferente por razões crítico-literárias. Muitos dos comentários feitos no livro deEfésios, por exemplo, dependem de comentários feitos no livro deColossenses. Esperamos que isto não cause confusões indevidas.

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A b r e v i a t u r a s

ATR Anglican Theological ReviewBibSac Biblioteca SacraBibTod Bible TodayBJRL Bulletin of John Rylands LibraryBZNW Beiheft zur Zeitschrift für die neutestamentliche

WissenschaftCBQ Catholic Biblical QuarterlyCTJ Calvin Theological Journalcf. comparedisc. discussãoEQ Evangelical QuarterlyExpT Expository Times

ss. páginas ou versículos seguintesGNB Good News BibleIB Interpreter’s BibleInterp InterpretaçãoJBL Journal of Biblical LiteratureJETS Journal of the Evangelical SocietyJSNT Journal for the Study of the New TestamentJTS Journal of Theological StudiesKJV King James Versionn. nota NASB New American Standard Bible NEB New English Bible NIV New International Version

 NovT Novum Testamentum NT Novo Testamento NTS New Testament StudiesAT Antigo TestamentoRB Revue BibliqueRefThR Reformed Theological ReviewRevExp Review and Expositor 

RSV Revised Standard VersionSBLDS Society of Biblical Literature Dissertation Series

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 Abreviaturas

SBT Studies in Biblical TheologySJT Scottish Journal of TheologySNTSMS Society for New Testament Monograph Series

ST Studia TheologicaSWJTh Southwestern Journal of TheologyTDNT Theological Dictionary of the New Testament, editado

 por G. Kittel e G. Friedrich, e traduzido por G.W.Bromiley (1964-72)

TZ Theologische Zeitschrift

v. (vv.) versículo (versículos)ZNW Zeitschrift für die Neutestamentliche Wissenschaft

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C o lo s s e n s e s : In t r o d u ç ã o

4 Cidade de Colossos 

Colossos era uma cidade importante, situada nas proximidades do rioMeander, no vale do Lico e, por isso, acompanhava a principal rotacomercial que ligava as cidades da Frigia, no leste, com Efeso, no oeste. Osregistros históricos indicam que essa cidade desfrutava de imensa riqueza e

 prestígio, nos tempos antigos (anterior a 400 a.C.). Graças a seus interessescomerciais, Colossos havia sido uma cidade cosmopolita importante, queincluía diferentes elementos religiosos e culturais. A população judaicadevia-se em parte a Antíoco III, que fixou cerca de dois mil judeus daMesopotâmia e da Babilônia nessa área, em torno do ano 200 a.C. ObservaG.L. Munn que “ao redor de 62 a.C. os judeus do vale do Lico eram tãonumerosos que o governador romano proibiu a exportação de dinheirodestinado a pagar o imposto do templo.”1 Conforme Cícero, haveria uns dezmil judeus residentes naquela área da Frigia.2

A importância de Colossos como cidade diminuiu nos períodos helenísticoe romano. Na época do apóstolo Paulo, era a cidade menos importante daárea. Registram os historiadores que ela havia sido severamente devastada

 por um terremoto em 61 d.C. e, diferentemente das cidades vizinhas de

Laodicéia (cerca de dezesseis quilômetros a oeste), e Hierápolis (cerca devinte e cinco quilômetros), Colossos jamais foi reconstruída. O local haviasido completamente abandonado em torno do século oitavo d.C., e até hojenenhuma obra arqueológica foi realizada em suas ruínas.

A Igreja em Colossos 

Pouco se sabe a respeito da fundação da igrej a colossense. O livro de Atosnão registra especificamente uma visita que Paulo houvesse realizado aColossos, embora alguns eruditos como Bo Reicke tenham sugerido que oapóstolo poderia ter ido a essa cidade e a outras do vale do Lico, em suaterceira viagem missionária. Teria sido quando Paulo passou “sucessivamente

 pela província da Galácia e da Frigia” (18:23) e “pela estrada do interior” acaminho de Éfeso (19:1). Para Reicke, isto significa os vales do Lico e do

Meander, que teriam sido acessíveis pela estrada comercial que ligavaColossos à Antioquia da Pisídia.3

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 Introdução   13

Se isto for verdade, Paulo poderia ser considerado o fundador da igreja.Ele conhece vários membros da congregação (4:7-17; Filemom); os que nãoo conhecem pessoalmente (2:1) poderiam ser novos convertidos. As

evidências internas da epístola induzem o leitor a crer que os colossenseshaviam ouvido as boas-novas pela primeira vez da parte de Epafras (1:7), queera de Colossos (4:12), e se tornara um dos colaboradores de Paulo no valedo Lico (4:13). É possível que Epafras tenha ouvido o ensino de Paulo emÉfeso, tenha-se convertido ao cristianismo e voltado para sua terra a fim defundar ali uma igreja. De acordo com esta reconstrução, Paulo estariarelacionado — indiretamente — à fundação dessa igreja. Dir-se-ia o mesmo

a respeito de outras igrejas que foram fundadas como resultado de seuministério em Éfeso (“de modo que todos os que habitavam na Ásia ouvirama palavra do Senhor Jesus, tanto judeus como gregos”, Atos 19:10).

Os Falsos Ensinos 

Os falsos ensinos que estavam ameaçando a igreja colossense são melhor

descritos como um sistema religioso sincrético, isto é, uma mistura deelementos religiosos e filosóficos diversificados, provenientes de culturasorientais, gregas, romanas e judaicas. A Frigia, área em que se localizava acidade de Colossos, era a terra de Cibele, a grande mãe e deusa da fertilidade.Certas descrições das características das heresias colossenses podemrelacionar-se às crenças e costumes dessa seita popular.4

Visto que Paulo não enquadra a heresia colossense de maneira sistemática,temos que reconstruí-la com base em algumas palavras e idéias que eleemprega, bem como em nossa compreensão dos sistemas religiosos de seusdias. Os leitores de Paulo já conheciam os pontos básicos de seu ensino, peloque se tomava desnecessário que o apóstolo os descrevesse em minúcias. É possível que a complexidade do sistema herético teria induzido os cristãoscolossenses a crer que ali estava uma solução melhor para as esperanças e

lemores religiosos do povo, em vez do evangelho simples que haviamouvido da parte de Epafras.Os falsos ensinos tinham vários componentes principais, todos interligados

de várias maneiras:

 Astrologia.  Na carta, Paulo adverte seus leitores a respeito de “osrudimentos do mundo” (stoicheia tou kosmou,  2:8), “os principados e as

 potestades” (2:15), e “culto aos anjos” (2:18). No pensamento antigo, stoicheia  eram os princípios básicos ou fundamentais do conhecimento e da

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14  Introdução

criação, constituindo a totalidade do mundo. Sob a influência do sincretismohelenístico, inclusive a filosofia de Pitágoras, estes “rudimentos do mundo”foram promovidos ao status de “espíritos”, personificados como governantes

cósmicos, e divinizados de acordo com todos os demais corpos astrais douniverso.

Um dos princípios básicos da astrologia é que existe correspondênciaentre os movimentos dos deuses lá em cima, e as alterações que ocorrem aquiem baixo, na terra. As pessoas acreditavam que suas vidas eram controladas

 por essas divindades estelares, e por isso procuravam aplacá-las medianteadoração, ou diminuir-lhes o poder mediante a feitiçaria, os rituais mágicos,

despachos, e assim por diante. Certas crendices e costumes que Paulo expõeem sua carta relacionam-se à astrologia. Até mesmo o culto aos anjos podeter vindo da idéia de que eles são poderes que controlam os destinos das pessoas (a sorte), e precisam ser venerados. Lohse sugere que em algunsmeandros da especulação judaica, “as próprias estrelas eram consideradascomo um tipo distinto de anjos.”5

Gnosticismo.  Este componente da heresia colossense pode explicaralgumas referências como “filosofias e vãs sutilezas” (2:8), “tradição ctoshomens” (2:8), julgamentos “pelo comer, ou pelo beber” (2:16, 20-22),

 pessoas enfatuadas “sem motivo algum na sua mente carnal” (2:18),“humildade fingida” (2:23), e “severidade para com o corpo” (2:23).

Gnosticismo é o nome que se dá a um sistema religioso complexo,sincrético, em cujo ensino o conhecimento ( gnosis) assume importância

crucial. Visto que o gnosticismo subsiste numa grande variedade de formas,não há um movimento unificado que possa ser apropriadamente chamado degnosticismo. Grande parte do debate erudito de hoje centraliza-se ao redorda datação e das doutrinas desta heresia, que confrontou a Igreja em seus

 primórdios históricos.6Pode-se encontrar em Colossenses alguns traços de cosmologia,

soteriologia (teorias concernentes à salvação), e de ética. Os gnósticosaceitavam a idéia grega de um dualismo radical entre o espírito (Deus) e amatéria (o mundo). Ensinavam que a humanidade estaria separada de Deus por uma variedade de esferas cósmicas (usualmente sete), habitadas egovernadas por todo tipo de governadores, principados e poderes espirituais.Estas são as regiões em que devemos penetrar, se quisermos obter acesso aocéu.

A salvação, que consiste basicamente da ascensão da alma da terra aocéu, toma-se possível mediante o gnosis. Este conhecimento salvífico está

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 Introdução   15

à nossa disposição mediante alguns meios, tais como a instrução doutrinária,o ritualismo, a profecia, a iniciação sacramental e a descoberta de si próprio;ludo isso capacita a pessoa a voltar ao reino da luz, onde a alma de novo se

une a Deus.A vida ética dos gnósticos tomou duas direções principais. Alguns partiram para um ascetismo rígido. Por acreditar que o mundo é mau,separaram-se da “matéria” com o objetivo de evitar maior contaminação.Todos os apetites do corpo tinham que ser severamente restringidos.Entretanto, outros gnósticos praticavam a libertinagem, raciocinando que àvista de ser o corpo mau por natureza, a indulgência maior nas práticas

imorais não teria quaisquer conseqüências sérias. Além disso, achavam que possuíam um  gnosis  sobrenatural de sua “verdadeira” natureza, pelo que pouco importava o modo por que viviam.

Os falsos mestres de Colossos apegavam-se a um sistema rígido de leise regulamentos que julgavam necessário para controlar seu comportamento.Tais regras, combinadas com certas formas de legalismo judaico, explicamo “manifesto da liberdade cristã” de Paulo, em 2:16-23. Basicamente eleensma que tais dogmas são transitórios (2:17), causam divisões (2:18),escravizam (2:20), são temporários (2:22) e inúteis (2:23). Para Paulo, trata-se de “preceitos e ensinamentos dos homens” (2:22), nada tendo que ver como verdadeiro evangelho que vem de Cristo (2:8).

 Religiões de Mistério. O termo religião de mistério é nome dado a umadiversidade de credos e práticas que existiram em certa época, entre o oitavo

e o quarto século a.C. Chamam-se de mistério porque grande parte de seuensino e atividades ritualísticas se faziam em segredo.7

Em Colossenses, pode haver uma alusão aos mistérios nas frases “plenitudeda divindade” (2:9), “afetando humildade” e “baseando-se em visões”( 2:18). Os iniciados nos mistérios receberiam conhecimento e visões especiaissobre os segredos do universo. Isto, por sua vez, separaria tais pessoas dosn;ío-iniciados, criando divisões na sociedade.

 Judaísmo Helenístico.  As referências à circuncisão (2:11), a diassantificados, à festa da lua nova, ao sábado (2:16) e ao culto aos anjos (2:18),definitivamente são elementos judaicos. Entretanto, não se trata do judaísmoortodoxo da Palestina; antes, é o judaísmo que sofreu o processo dalielenização. Assim, faz parte da “filosofia” sincrética (2:8) que ameaçava oscristãos de Colossos. Paulo não selecionaesse elemento judaico, mas ataca

i) juntamente com todo o sistema.A solução paulina para a heresia colossense encontra-se na aplicação do

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16  Introdução

hino a Cristo (1:15-20), que estabelece a preeminência de Cristo no universo(cosmicamente), e na Igreja (eclesiasticamente). Visto ser Cristo superior atodo e qualquer poder do cosmos (l:15-17;2:10)e ter, efetivamente, derrotado

esses poderes na cruz (2:15), por que continuariam os crentes a viver comose ainda se lhes estivessem sujeitos? Os cristãos foram libertados de tais poderes por causa de sua união com Cristo no batismo (2:20).

Grande parte disso aplica-se à vida espiritual do crente. O crescimento,a maturidade e a integridade dos membros do corpo advêm de seurelacionamento com Cristo, a Cabeça (2:19), excluindo o retorno às regrase regulamentos escravizadoras, legalísticos, que Cristo anulou mediante sua

morte (2:14). O propósito da exortação de 3:1, e versículos seguintes, élembrar a esses crentes de que precisam viver eticamente aquilo que lhes pertence, segundo a teologia, visto serem membros do Corpo de Cristo.

0 Propósito da Carta 

Se a razão por que Colossenses foi escrita liga-se ao relatório de Epafras

a respeito dos falsos ensinos que ameaçavam a igreja, daí se segue que o propósito da carta foi advertir seus leitores contra essas heresias, e fazê-loslembrar-se da verdade do evangelho que já haviam recebido, e na qual agoraviviam (1:5). Basicamente Paulo está dizendo-lhes que Cristo derrotou os poderes do mal mediante sua morte na cruz (2:15). Isto significa que os falsosensinos e as leis escravizadoras provenientes da sabedoria humana, e dosespíritos que governam o universo (2:8), nenhuma autoridade exercem sobre

os crentes (2:10); a prisão em que antigamente atormentavam as pessoas, naforma de débitos não-pagos, foi cancelada (2:14). Paulo quer que seusleitores entendam esta verdade, pelo que os leva a lembrar-se de que devemandar na luz das tradições que receberam sobre Cristo e o evangelho.

Este fato explica as muitas referências à verdade do evangelho (1 :5 ,6,2527; 2:8, 9, 12, 13), e as admoestações a que se compreenda e se viva tal

esperança (1:9, 10, 12, 23, 28; 2:2, 3, 5-7). As exortações éticas (3:1 ss.)constituem um lembrete adicional aos colossenses, para que vivam em uniãocom Cristo, e sob a autoridade do Senhor exaltado.

Segundo o modo de Paulo entender o evangelho, não há lugar paranenhum tipo de exclusivismo. Seu conceito do “mistério” que ele foichamado para proclamar é que judeus e  gentios, bem como o universointeiro, foram incluídos no plano de Deus de redenção (1:20,25-29). Assim

é que ele se regozijaporque “em todo o mundo este evangelho vai frutificando”(1:6,23). O desejo de Paulo é que durante seu encarceramento — e também

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 Introdução   17

depois — ele possa continuar sua proclamação desse mistério (4:3, 4).Um dos perigos dos falsos ensinos em qualquer congregação é que eles

distorcem o plano de Deus, transformando-o em exclusivismo. Os que

seguem as “tradições dos homens” colocam-se no topo, como elite espiritualiluminada, crendo que sua sabedoria e legalismo tornam-nos diferentes dosdemais membros do corpo de Cristo. Em oposição ao exclusivismo, Pauloé inspirado a escrever que os crentes já foram circuncidados na união comCristo (2:11, 12) e, como resultado de tal união, “não há grego nem judeu”(3:11; observe GNB: “deixa de existir quaisquer distinções entre gentios e

 judeus”).8

Autoria 

A autoria paulina de Colossenses foi aceita universalmente até o eruditoalemão E. Meyerhoff vira questioná-la em 1893, em grande parte por causadessa carta depender muito de Efésios. Seguiu-se-lhe F.C. Baur, queensinava que a heresia descrita em Colossenses só poderia pertencer ao

segundo século. A partir de então, alguns eruditos têm entendido queColossenses é carta paulina, ou se trata de uma das epístolas deutero-

 paulinas, isto é, seria uma carta escrita por alguém que usa o nome de Paulo.9As questões sobre a autoria centralizam-se nos pontos usuais do

vocabulário, estilo e teologia. Colossenses possui um número inusitadamenteelevado de hapax legomema, a saber, contém trinta e quatro palavras que não

aparecem em nenhuma outra parte do NT. Além disso, há vinte e oito palavras que aparecem no NT, não porém nos escritos de Paulo. Certonúmero de eruditos questionam se isto poderia ocorrer, não fosse Colossensesobra de outro autor.IH

O estilo da carta é algo diferente das outras atribuídas indiscutivelmentea Paulo. Os eruditos observaram que Paulo geralmente trata dos problemasteológicos de maneira vigorosa, ou polêmica (cf. Gálatas, Coríntios,

Filipenses). Em Colossenses, o tratamento é amenizado e menosargumentativo. O estilo possui uma qualidade litúrgica, como se fosse umhino, e a carta toda mostra uma quantidade considerável de materialtradicional, isto é, ensinamentos cristãos que eram comuns na Igreja primitiva,usados por Paulo e outros escritores do NT.

A despeito das diferenças de vocabulário e de estilo, entretanto, quasetodos os eruditos concordam em que esses fatores, por si mesmos, não

 podem decidir a questão da autoria. Alguns acham que “as circunstânciasespeciais do contexto e dos propósitos da carta” explicam tais diferenças;

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18  Introdução

outros afirmam que por causa da alta porcentagem de material não-paulinona carta, a saber, material tradicional, torna-se impossível fazer quaisquercomparações confiáveis com as demais cartas de Paulo.11

E. Lohse, que declara com firmeza que Colossenses é uma carta deutero- paulina, reconhece que os estudos sobre linguagem e estilo não podemresolver essa questão. Para ele, é o ensino teológico que coloca Colossensesà parte de Paulo, e leva-nos à conclusão de que essa carta é obra de uma escola

 paulina que usa as cartas de Paulo a fim de dirigir um novo desafio à Igreja.Em seu minucioso e útil trabalho intitulado “A Carta aos Colossenses e

a Teologia Paulina”, Lohse examina a Cristologia (o ensino sobre Cristo), aEclesiologia (o ensino sobre a Igreja), a Escatologia (o ensino sobre o fim dostempos), e o Sacramentalismo (o estudo sobre o batismo como sacramento)de Colossenses, e chega à conclusão de que em todas essas áreas hádiferenças substanciais em relação à teologia de Paulo, conforme o ensinorefletido em suas cartas genuínas. É verdade que a situação histórica

 precisava de algumas formulações teológicas novas, mas as diferenças são

divergentes demais, segundo Lohse, para dar-se apoio à autoria paulina.12Entretanto, nem todos os eruditos estão convencidos de que a teologia de

Colossenses não seja paulina. Alguns acreditam que a ameaça dos falsosensinos exigia que Paulo declarasse e aplicasse seu evangelho de modosdiferentes, mas negam que o apóstolo o houvesse mudado ou apresentadouma contradição. G. Cannon acusa Lohse de negligenciar o inter-relacionamento dessas categorias, e deixar de enxergar o fato de que muitas

das idéias que ele rotula de deutero-paulinas podem ser encontradas nas principais cartas de Paulo, e nas declarações teológicas do material tradicionalusado em Colossenses.13

Outro argumento a favor da autoria paulina é a íntima conexão existenteentre Colossenses e Filemom. Visto que a autoria paulina de Filemomraramente é questionada, segue-se que Colossenses também veio da mão de

Paulo. Ambas as epístolas contêm o nome de Timóteo (Colossenses 1:1;Filemom 1), e incluem saudações das mesmas pessoas (Colossenses 4:1014; Filemom 23, 24). Além disso, Onésimo, assunto da carta a Filemom, émencionado como membro do grupo em Colossos (4:9).

Conquanto todas as evidências contrárias precisem ser avaliadascuidadosamente, parece razoável concluir com G. Cannon “que o autor deColossenses foi Paulo, o apóstolo, e que ele escreveu às igrejas do vale do

Lico a fim de adverti-las a respeito de ensinos que advogavam costumes queos colocariam numa situação pré-cristã, ensinos que contradiziam tudo que

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 Introdução 19

haviam recebido a respeito de Cristo, no evangelho, e nas instruções batismais.”14

Origem 

Se Colossenses não foi escrita por Paulo, deve ter sido produto da escola paulina que provavelmente estava relacionada com Éfeso.15Contudo, sePaulo é seu autor, ela pertence então à categoria das “cartas do cativeiro.” Hátrês lugares de origem que normalmente são propostos — Roma, Cesaréiae Éfeso.

 Roma. O ponto de vista tradicional, retraçado a partir do livro de Atos,é que Paulo escreveu as cartas do cativeiro enquanto estava na prisão emRoma (Atos 28:16-31; veja-se também a obra  Ecclesiastical History   deEusébio, 11.22.1, que identifica o lugar do encarceramento de Paulo emColossenses 4:10 como sendo Roma). A relativa liberdade que Paulousufruía na prisão, e o companheirismo de seus colaboradores, fazem deRoma um lugar provável. É muito possível, também, que Onésimo, o

escravo fugitivo, teria procurado o anonimato de uma grande cidade comoRoma.

Todavia, há alguns fatores que pesam contra a aceitação demasiadorápida de Roma como a origem da carta aos Colossenses. Por um lado, adistância entre Roma e Colossos é de cerca de mil e novecentos quilômetros.Teria Onésimo tentado uma viagem tão longa, havendo tão grande risco de

ser apanhado? Por outro lado, de acordo com Filemom 22, Paulo esperavaser libertado logo, a fim de visitar Colossos. Seu pedido que se lhe apronteum quarto deixa a impressão de que essa libertação está bem próxima. R.P.Martin observa também que uma viagem de Roma na direção do leste, paraColossos, representaria uma mudança na estratégia missionária de Pauloque, segundo Romanos 15:28, significaria partir para o ocidente, para aEspanha.16

Cesaréia. Depois de Paulo ser preso em Jerusalém (Atos 21:27ss.), ele passou dois anos na prisão de Cesaréia, antes de ser levado a Roma (Atos23:33-26:32). Bo Reicke, que é um dos principais proponentes deste pontode vista, argumenta que Cesaréia é o lugar mais propício como origem dessacarta.17

Há vários argumentos que apóiam esta opinião. Primeiro, o número deamigos que acompanharam Paulo a Jerusalém, e que estiveram com ele na

 prisão na Ásia (Atos 20:4; 24:23; cf. Colossenses 4:7-14 e Filemom 23,24).Segundo, as atividades missionárias que Paulo planejava, ao escrever 

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20  Introdução

Colossenses e Filemom, e a remessa dessas cartas para Colossos, por meiode Tíquico, fazem sentido se o ponto de partida é Cesaréia. Terceiro,Onésimo teria vindo a Cesaréia porque tinha amigos dessa área, e teria

voltado, depois, a Colossos com Tíquico. Estas considerações, ao lado deoutras, induziram Bo Reicke a entender que “Filemom e Colossenses foramenviadas de Cesaréia a Colossos cerca de 59 d.C.”18

 Efeso. Os argumentos segundo os quais houve um encarceramento dePaulo em Efeso, de onde o apóstolo teria escrito certas cartas como a dirigidaaos Colossenses, em grande parte são argumentos derivados do silêncio.

Atos não registra nenhuma prisão do apóstolo em Efeso. Tudo que se podedizer é que as lutas que Paulo sofreu em Éfeso (Atos 19:23-41) podem terse refletido na correspondência dele com os Coríntios (1 Coríntios 4:9-13;2Coríntios 1:8-10; 4:4-12; 6:4,5; 11:23,25). A referência a uma luta contra“bestas selvagens” em Efeso (1 Coríntios 15:32) pode ser uma expressãometafórica indicativa de confronto verbal com seus adversários, em vez deluta de caráter físico com animais, como ocorria na arena dos gladiadores.

Para Bo Reicke, “trata-se de pura imaginação falar-se de um cativeiro paulino em Éfeso.”1“

A despeito de falta de evidências diretas, um número surpreendente deeruditos apóia a tese do encarceramento efésio, e uma origem efésia paraColossenses. A proximidade entre Efeso e Colossos, a forte probabilidade deos colaboradores de Paulo (mencionados na carta aos Colossenses e emFilemom) estarem com o apóstolo em Efeso, mais a gravidade do tumulto

ocasionado pela pregação de Paulo, são mencionados como fatoresmerecedores de consideração. R.P. Martin examinou a maior parte dasteorias atuais e concluiu que a carta aos Colossenses “pertence àquele período tumultuado da vida de Paulo, representado em Atos 19-20, quandoseus labores missionários foram interrompidos momentaneamente por um

 período de prisão, como détenu [prisioneiro] perto de Éfeso.”20

Embora todas estas sugestões a respeito da origem de Colossensescontenham pontos fortes e pontos fracos, não parece haver nenhumaevidência decisiva que nos leve a abandonar a opinião tradicional: Roma. Oencarceramento em Éfeso é hipotético e inconclusivo; tal fato, aliado àcristologiacósmicaadiantadade Colossenses, fazem que fique mais plausívelque a carta tenha surgido num período posterior da vida de Paulo (cerca de60 d.C.), e de um ambiente como o de Roma.21

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 Introdução   21

N o t a s1. G.L. Munn, “Introduction to Colossians,” SWJTh 16 (1973), p. 10.2. Schweizer, Colossians, p. 14, cita Pro Flacco 28, de Cícero.

3. B. Reicke, “The Historical Setting of Colossians,” RevExp 70 (1973), pp.429-33.4. Quanto a informações adicionais sobre a natureza dos falsos ensinos e

alguns dos problemas difíceis de interpretação, veja o texto do comentário e asnotas adicionais sobre 2:8-23.

5. Lohse, Colossians and Philemon, p. 98.6. Quanto a algumas fontes úteis a respeito do Gnosticismo, veja-se R.M.

Grant, Gnosticism and Early Christianity  (Nova York: Harper Torchbooks,1959); H. Jonas, The Gnostic Religion (Boston: Beacon Press, 1958); R. McL.Wilson, Gno sis and the New Testament  (Filadél lia: Fortress, 1968); E. Yamauchi, Pre-Christian Gnosticism, 2a. ed. (Grand Rapids: Baker, 1973).

7. F. Cumont, Oriental Religion in Roman Paganism (Nova York: Dover,1956).

8. Quanto a averiguações adicionais do inclusivismo de Colossenses, veja-se G. Cannon, The Use of Traditional Materials in Colossians (Macon, Georgia:

Mercer Univ. Press, 1983), pp. 217-29.9. Quanto à questão de a autoria ser ou não paulina, veja-se A. Patzia, “The

Deutero-Pauline Hypothesis: An Attempt at Clarification,” EQ 52 (1980), pp.27-42; veja-se ainda a discussão na Introdução a Efésios.

10. Quanto a uma relação detalhada, e uma análise do vocabulário, cf. a obrade Lohse: “The Language and Style of Colossians,” em Colossians and   Philemon,  pp. 84-91. Outros paralelismos entre Colossenses e Efésios são

discutidos em J. B. Polhill, “The Relationship between Ephesians and Colossians,” RevExp 70 (1973), pp. 439-57; e J. Coutts, “The Relationship of Ephesians andColossians,” NTS 3-4 (1956-58), pp. 201-7.

11. Martin, Colossians and Philemon, p. 40; Cannon, p. 175.12. Lohse, Colossians and Philemon,  p. 177-83.13. Ibid., p. 14. Schweizer faz um comentário apropriado sobre esta questão

ao escrever: “Quer a voz do apóstolo chegue até nós diretamente, ou mediantea boca de seu colega de ministério, a mensagem é que é essencial, não o veículo pelo qual chega a nós” (“Christ in the Letter to the Colossians,”  RevExp 70 11973], p. 467); em sua obra Colossians, Schweizer apresenta algumas aplicações práticas, muito boas, ao tratar desse tópico, em “The Epistle to theColossians Today,” pp. 298-302.

15. Veja-se no. 9.16. Martin, Colossians and Philemon, p. 26.17. Reicke, “Caesarea, Rome and the Captivity Epistles,” em  Apostolic 

 History o fthe Gospel, ed. W. W. Gasque e R.P. Martin (Grand Rapids: Eerdmans,1970), pp. 277-82; Reicke, “The Historical Setting of Colossians,” pp. 429-38.

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22  Introdução

18. Reicke, “The Historical Setting of Colossians”, p. '435. Quanto a algunsargumentos decisivos contra esta teoria, consulte-se Martin, Colossians and  

 Philemon, p. 25.

19. Reicke, “The Historical Setting of Colossians,” p. 435.20. Martin, Colossians and Philemon, p. 30. Quanto aoapoioà origem efésia

da carta aos Colossenses, cf. G.S. Duncan, St. Paul’s Ephesian Ministry (NovaYork: Scribner, 1930); idem, “Were Paul’s Imprisonment Epistles Written fromEphesus?”  ExpT 67   (1955-56), pp. 163-66; B.W. Robinson, “An EphesianMinistry of Paul,”  JBL 29  (1920), pp. 181-89; D.T. Rowlingson, “Paul’sEphesian Ministry: An Evaluation of the Evidence,” ^477? 32  (1950), pp. 1-7;Schweizer, Colossians, pp. 25-26.

21. Nas principais obras intituladas “Introdução” ao NT podem-se encontrargrande variedade de opiniões quanto à autoria, origem e natureza de Colossenses.Cf. também F.F. Bruce, “St. Paul in Rome. 3. The Epistle to the Colossians,” BJRL 48 (1966), pp. 268-85.

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# 1. Saudações de Paulo ( C o l o s s e n s e s 1 : 1 - 2 )

A saudação inicial desta epístola é típica da maneira como Paulo se dirigeàs outras igrejas às quais ele escreveu (1 Coríntios 1:1-3; 2 Coríntios 1:1-2;Filipenses 1:1-2; 1 Tessalonicenses 1:1-2; 2 Tessalonicenses 1:1-2; cf.Efésios 1:1-2). Embora a forma dessas saudações seja muito parecida comos modelos gregos contemporâneos, o conteúdo é distintamente cristão e, nocaso de Colossenses, contém declarações de grande importância para ocorpo da carta.

1:1 / Paulo liga o nome de Timóteo à redação desta carta (e o irmão Timóteo). Este amado colaborador havia conquistado um lugar de respeitono coração de Paulo, e se havia tornado um fator vital em tudo quanto Paulo

 procurava realizar por Cristo (1 Coríntios 4:17; 2 Coríntios 1:1; Filipenses1:1; 2:19-24; 1Tessalonicenses 1:1; 3:1 ss.; Filemom 1). Ao incluir o nome

de Timóteo em sua saudação, Paulo comunica aos Colossenses que ele nãoestá sozinho na prisão, pois alguém, a quem eles conhecem pelo seuministério na Ásia Menor, está unido a ele nesta carta.

Paulo emprega uma frase que o ajuda a comunicar a autoridade de suamensagem: Ele é apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus. Apóstoloé alguém que se considera possuidor de poder e de autoridade. Embora nãohaja indicações de que os Colossenses estivessem questionando a autoridade

apostólica de Paulo, o conteúdo da carta revela que eles corriam o risco deabandonar a verdade do evangelho e abraçar os falsos ensinos (2:1-8).Conseqüentemente, precisavam ouvir uma mensagem forte, cheia deautoridade, da parte de um dos mensageiros de Deus.

l:2 /O s Colossenses são identificados de duas maneiras: Primeiramente,são santos (trad. lit. de hagioi). Era comum Paulo chamar os cristãos desantos (1 Coríntios 1:2; Filipenses 1:1; Efésios 1:1), referindo-se à posiçãodeles em Cristo, e não ao grau de santificação que pudessem ter atingido (cf.1:4). Sendo santos, formavam uma classe distinta de pessoas, as quais foramchamadas e separadas de seu modo primitivo de viver, a fim de viverem emCristo e para Cristo (1:21 ss.).

Em segundo lugar, são irmãos fiéis em Cristo. Há aqui alguma incertezaquanto ao uso que Paulo faz da palavra fiéis: seria no sentido de

“confiabilidade,” ou no sentido de “fé”? Noutras palavras, o apóstolo refere-se aos que são fiéis ao evangelho, ou aos que se reuniram por causa de sua

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24 (Col ossenses 1:1-2) 

fé em Cristo, e agora formam uma comunidade de crentes? Considerando-se que muitas das saudações e palavras de agradecimentos de Paulo trazema semente das preocupações pastorais que vão germinar e florescer em breve,

é possível que o apóstolo tenha em mente a firmeza ou fidelidade de seusleitores (1:10, 23; 2:6, 7).A saudação encerra-se com um apelo por graça a vós, e paz, cuja fonte

é Deus, o Pai. Isto serve para atrair a atenção para o favor que Deuslivremente concede e derrama a um povo não-merecedor, e para as condiçõesde vida sadias ou pacíficas que usufruíam por causa desse favor.

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# 2 . Oração de Agradecimento ( C o l o s s e n s e s 1 : 3 - 8 )

Feita a saudação, Paulo ora a Deus agradecidamente, pelos seus leitores.Ainda que não tenha ministrado a eles pessoalmente (1:6-8; 2:1), acha quefazem parte de seu interesse e cuidado pastorais. Conquanto o apóstolo sejagenuíno naquilo que diz, torna-se aparente que em seu agradecimento eleantecipa alguns dos problemas de que tratará oportunamente. Assim é quePaulo os elogia, por exemplo, por sua “fé,” “esperança,” e “amor,” (1:5); noentanto, encoraja-os com firmeza a que se encham do conhecimento davontade de Deus e a que andem de modo digno do Senhor (1:9); o apóstoloos elogia pela divulgação e crescimento do evangelho em suas próprias vidas(1:6), mas ora no sentido de que venham a “dar fruto” e possam “crescer” noconhecimento de Deus (1:10; 2:6). A seção toda de 1:3-14 é um beloexemplo da forma como Paulo combina louvor, agradecimentos e orações

em prol de seus leitores.1:3/ Embora o emprego do verbo no plural (damos) possa significar queTimóteo toma parte nessa oração, é mais provável que seja um exemplo doestilo empregado por Paulo noutras ocasiões, quando ele livremente alternao uso do pronome “eu” com o pronome “nós” (cf. 2 Coríntios 13:7ss.; 1Tessalonicenses 1:2; 2:13; 3:9; 2 Tessalonicenses 1:3; 2:13). A oração édirigida a Deus, nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo.

 Nesta versão ampliada de sua oração (cf. exemplos mais curtos emRomanos 1:8; 1 Coríntios 1:4; Filipenses 1:2; 1 Tessalonicenses 1:2-3),Paulo chama a atenção não apenas para Deus como Pai — uma visãodistintamente cristã— mas parao Senhor (kyrios) Jesus Cristo. Esta ênfasena posição sobremaneira exaltada de Cristo, como Senhor, certamentereforça a idéia de que Cristo não é uma deidade inferior, mas alguém emquem o próprio Deus se encontra (1:15-20).

1:4 / Os dois versículos seguintes apresentam-nos o trio familiar: a fé, o amore a esperança. As numerosas referências a estes conceitos do NT (Romanos 5:15; 1 Coríntios 13:13; Gálatas 5:5, 6; Efésios 1:15-18; 4:2-5; 1Tessalonicenses1:3; 5:8; Hebreus 6:10-12; 10:22-24; 1 Pedro 1:3-8,21,22) revelam-nos que essetrio era parte importante da tradição cristã primitiva. Paulo, aqui, não osmenciona a esmo, mas com a intenção de desenvolvê-los e aplicá-los às vidas

de seus leitores. Ele ouviu de sua fé em Cristo Jesus pela boca de Epafras, provavelmente o fundador da igreja colossense (1:7).

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26 (Colossenses 1:3-8)

Embora seja Cristo, com toda certeza, o conteúdo e objeto da fé, Paulo temem mente o reino, ou esfera, em que a fé colossense está operando. Noutras

 palavras, eles não apenas “crêem” em Cristo, mas também “vivem” em Cristo

(depois, em2:l 1,12, eem outras passagens como Romanos 6:1-11; 1Coríntios12:13, e Gálatas 3:26-27, o apóstolo mostra como os crentes foram batizados emCristo e incluídos no corpo do Senhor). O resultado de uma vida em Cristo é umavida por Cristo. Conseqüentemente, Paulo pode cumprimentar os colossenses

 pelo seu amor... para com todos os santos. Sua fé em Cristo se demonstravanum amor que se derramara de sua própria congregação, inundando outrasigrejas circunvizinhas, como a de Laodicéia e Hierápolis.

1:5/ Esperança é o terceiro elemento do trio, sendo apresentada como a baseda vossa fé... e do amor que tendes para com todos os santos. Esta mensagemde esperança, que constitui um componente vital da vida cristã, veio medianteapregação do evangelho. Paulo está enfatizando aqui que apalavra da verdade original que haviam recebido inclui uma palavra de esperança. Trata-se de uma

 possessão que obtiveram logo de início, e não algo que só os falsos mestres

 podiam oferecer (2:4, 8). Neste versículo Paulo combina as dimensões do presente e do futuro daesperança. E normal pensar na esperança como sendo algo que se realizarásomente no fim dos tempos, quando Cristo voltar (3:4). E verdade que aesperança é uma possessão concedida por Deus, que vos está reservada nos céus. As Escrituras ensinam que os crentes herdarão, ou possuirão as promessas de Deus num futuro próximo (Romanos 8:24s.). Aqui, entretanto,

Paulo está colocando uma ênfase necessária no aspecto presente da esperança.O apóstolo desej a mostrar a seus leitores que a esperança pertence à pregaçãoque ouviram de início, a qual já possuem, em virtude de estarem em Cristo(“esperança... da qual antes ouvistes e conhecestes pela palavra da verdadedo evangelho”). A esperança é a base de seu amor e fé, pelo que lhes asseguraa adequação do evangelho que receberam. Tal realidade elimina qualquerdesejo de suplementar o evangelho com especulações adicionais da partedos falsos mestres.

1:6 / A ênfase aqui continua na verdade do evangelho. Em 1:5 a verdadeestava ligada à esperança; aqui se faz associação à graça de Deus. Dai alguém poderia concluir que Paulo está preocupado com mostrar que a mensagemdo evangelho é verdadeira com respeito à esperança e à graça. Todavia, émais provável que ele tenha em mente a mensagem inteira. Contrastando

com os falsos ensinos a que os colossenses se expuseram, o evangelho é averdadeira mensagem.

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(Colossenses 1:3-8)   27

Mas a verdade e o poder do evangelho também possuem dimensões práticas. Em primeiro lugar, o evangelho tem escopo universal, isto é, vai frutificando  por todo o império romano. O evangelho é para todos (é

inclusivo), e não para um pequeno grupo seleto (não é exclusivo), conformeos hereges estão ensinando (2:8-15). Em segundo lugar, o evangelho está produzindo bênçãos (lit.: frutificando) para o mundo todo, como ocorre emrelação aos cristãos de Colossos. A verdadeira palavra de Deus é algo que sereproduz e cresce (cf. a parábola do semeador em Marcos 4:1 -20 e passagens

 paralelas); ela não germina para morrer em seguida (1 Pedro 1:23-25), comoé comum acontecer no caso da ensino falso (2:14-15, 19).

Paulo está estabelecendo critérios pelos quais os colossenses podemcontra-argumentar e rechaçar os ensinos dos falsos mestres. Tendo uma

 preocupação muito semelhante à do apóstolo João, que escreveu “provai seos espíritos vêm de Deus” (1 João 4:1), Paulo deseja que seus leitores testemas afirmativas desses hereges em confronto com as declarações do evangelho.São elas a verdade de Deus? São universais? Produzem frutos nas vidas das

 pessoas? Se as respostas forem não, aquele ensino não pode ser o evangelhoque já haviam recebido. O evangelho precisa dar fruto, a fim de provar queé evangelho!

1:7 / Outro teste consiste em avaliar o mensageiro. Embora não tenhasido o próprio Paulo quem levou o evangelho a Colossos, o apóstolo lembraa seus leitores que aprendestes isto com Epafras, um de seus própriosmembros, a quem Paulo elogia como sendo fiel ministro de Cristo (cf.

4:12). Este irmão, que também partilhou a prisão com Paulo (Filemom 23),é apontado em 4:13 pela sua fidelidade e diligência em prol da igrejacolossense.

1:8 /Epafras trouxe a Paulo as notícias da situação em Colossos. Sim, eraverdade que eles enfrentavam problemas graves, correndo o risco de cair emheresia. Mas Epafras também relatou a Paulo a respeito do amor no Espírito que os animava. Noutras palavras, a conduta dos colossenses na comunidade

era marcada por um amor cuja origem estava no Espírito (cf. Romanos15:30; Gálatas 5:22).

N o t a s A d i c io n a i s # 21:3 / Quanto a percepções úteis sobre as ações de graças paulinas, veja-se P.

Schubert, Form and Function of the Pauline Thanksgivings, BZNW 20 (Berlim:

Alfred Tõpelmann, 1939); J.L. White, Form and Function of the Greek Letter:A Study of the Letter Body in the Non-Literary Papyri and in Paul the Apostle,

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28 (Colossenses 1:3-8)

SBLDS 2 (Missoula, Mont.: Scholars Press, 1972).1:6 / Há certa ambigüidade com respeito à tradução deste versículo e o

sentido de verdade. Refere-se a verdade à graça de Deus ou a este evangelho, isto é, os colossenses vieram a conhecer o evangelho, ou a graça de Deus em 

verdade (en aletheia; cf. RSV e ECA)? Do grego parece que verdade em 1:6deve manter sua identificação com este evangelho, como em 1:5 (en to logo tesaletheias tou euangeliou). O ponto mais importante, porém, é que a mensagemde Paulo baseia-se na verdade de Deus e por isso é ensino correto. Quanto à frase“verdade do evangelho,” veja-se Gálatas 2:5, 14.

O conceito de verdade que se emprega aqui não é algo que se ganhamediante análise lógica, nem por observação empírica, como no pensamento

grego, ou ocidental. Em vez disso, transmite a idéia de confiabilidade naquilo que reivindica (Schweizer, p. 35). Assim é que os colossenses, alémde ouvir a verdade, chegaram a reconhecê-la em verdade integral. Pauloenfatiza os verbos ouvir  e conhecer  o evangelho.

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# 3 . Oração Intercessória de Paulo ( C o l o s s e n s e s 1 : 9 - 1 4 )

Depois de algumas palavras de ações de graças (1:3-8), Paulo se volta para a intercessão (1:9-11), e lança os alicerces de um hino a Cristo (1:1520). Como temos observado (# 2), Paulo ora especificamente pelas coisasque havia mencionado em sua elocução gratulatória (observe-se o termo por esta razão). Tanto as ações de graças quanto a intercessão constituem bons

exemplos do interesse pastoral contínuo de Paulo por sua congregação(orando sempre por vós), mesmo sabendo-se que ele não conhecia pessoalmente a maioria daqueles irmãos.

Embora 1:9 represente uma das petições, esta permanece a solicitaçãodentre todas as que se seguem. Paulo inicia pedindo a seus leitores que seencham do conhecimento da vontade de Deus, em toda a sabedoria e entendimento espiritual. Este conceito é fundamental para o apóstolo,

visto que no pensamento bíblico existe um relacionamento íntimo entre oconhecimento da vontade de Deus e a execução dessa vontade. Os que seenchem do Espírito, dessa maneira, demonstrarão as seguintes características:(a) poderão andar dignamente (1:10a), (b) estarão frutificando em toda a boa obra (1:10b), (c) estarão crescendo no conhecimento de Deus (1:10c)e (d) serão corroborados com toda a fortaleza (1:11).

1:9 / A petição para que Deus os torne cheios (lit., plerothete) sugere a

existência de algum vácuo espiritual que precisa ser corrigido. Trata-se damesma idéia expressa em 4:12 com referência a Epafras, cuja preocupação

 pelos colossenses era no sentido que se firmassem, fossem “maduros”{peplerophoremenoi) e totalmente convencidos, em completa obediência àvontade de Deus.

O enchimento deve ser feito com o conhecimento da vontade de Deus, e

não com algum tipo de gnosis especulativo, ou intelectual (“conhecimento”),característico dos falsos mestres. Conhecimento ( sophia) e entendimento (, synesis) da mesma forma não são conceitos intelectuais abstratos, oriundosdo mundo grego, mas atributos que o Espírito de Deus concede. Sendo donsespirituais divinos, capacitam o povo de Deus a viver vidas abundantes,frutíferas e obedientes, de acordo com a vontade de Deus. Os leitores dePaulo precisam de sabedoria espiritual a fim de determinar qual é a vontade

de Deus para suas vidas; precisam de entendimento espiritual a fim de aplicara vontade de Deus a situações específicas nesta vida.

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30 (Colossenses 1:9-14)

1:10/Este versículo começa, no grego, com uma construção (infinito de propósito) que expressa o resultado de alguém estar cheio do conhecimentoda vontade de Deus. Daí a tradução de ECA: para que possais andar 

dignamente na presença do Senhor. A primeira conseqüência de conhecer-se a vontade de Deus é viver como o Senhor quer. A idéia principal é que a

 profissão de fé  do cristão deve corresponder à sua confissão de fé .

Em segundo lugar, o crente deve agradar ao Senhor totalmente, em todasas coisas. Embora a palavra grega areskia tenha uma conotação negativa nostextos seculares, aqui ela não significa procurar o favor de alguém motivado por interesses egoístas, ou para obter vantagens pessoais. Uma vida que é

vivida dignamente na presença do Senhor é vida digna do  Senhor. Assim,0 objetivo constante do cristão é agradar ao Senhor de todas as formas, istoé, em todas as áreas de sua vida.

O terceiro resultado visado pelo apóstolo é a frutificação em boas obrase  o crescimento (mediante?) o conhecimento de Deus. Embora algunscomentaristas acreditem que esta sentença expressa duas petições distintas

(frutificação e  crescimento), é melhor manter os dois particípios gregos(karpophorountes e auxanomenoi) juntos. Em 1:6, o apóstolo declara que oevangelho estava “frutificando” e “crescendo” pelo mundo todo. Ele dizaqui que o que é verdade sobre o evangelho no mundo também deve serverdade na vida dos colossenses.

Uma das distorções infelizes de algumas formas de cristianismo é a mácompreensão do relacionamento existente entre a teologia e a ética, isto é,

entre a fé e a ação. Paulo apresenta um conceito de sabedoria e conhecimentodotados de dimensões morais e práticas. Os leitores devem preservar-secontra a ortodoxia infrutífera. A fé que ouviram e que transformou suas vidasdeve manifestar-se em boas obras, as quais, por sua vez, darão frutos ecrescimento pessoal (quanto a outros conceitos semelhantes, cf. Romanos7:4; 2 Coríntios 9:8; Gálatas 5:6; Efésios 2:10; 4:15; 2 Tessalonicenses 2:17;1 Pedro 2:2; 2 Pedro 3:18). O cristão precisa ser ativo a fim de crescerespiritualmente; de outra forma, instalam-se a estagnação e a regressão.

A tradução de ECA — crescendo no conhecimento de Deus  — dá aimpressão de que o crescimento consiste na compreensão cada vez maior deDeus, conceito semelhante ao de 1:9: “que sejais cheios do pleno conhecimentoda sua vontade.” No entanto, no grego não há um possessivo pessoal —“vossa” — (cf. GNB), e visto que o caso dativo no grego significa meio ou

instrumento, bem como referência, seria melhor traduzir essa frase com uma preposição “por” ou “mediante.” Portanto, Paulo não quer dizer que o

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(Colossenses 1:9-14)   31

crescimento deles se faz no  conhecimento de Deus; em vez disso, é oresultado de seu conhecimento de Deus. O crescimento moral e espiritualadvém de seu conhecimento e prática da vontade de Deus. Deus pede (que 

possais andar dignamente diante do Senhor) e capacita cada crente a viverdessa forma uma vida digna e frutífera.1:11-12 / Essa vida nova se toma possível mediante o poder de Deus. O 

emprego de duas palavras quase sinônimas  — fortaleza e força, mais o particípio corroborados (que dá idéia de reforço no poder) demonstra comoé difícil expressar com palavras a integridade do poder de Deus. Asexpressões usadas por Paulo aqui são comuns nas doxologias cristãs

 primitivas, que louvam a Deus pela sua glória e poder (1 Pedro 4:11; 5:11;Judas 25; Apocalipse 1:6; 5:13). Ele sabe que seus leitores vão precisar de perseverança e firmeza para prosseguirem na prática da vontade de Deus, erealizar todas as coisas pelas quais ele orou. Só os recursos divinos do podere da gloriosa força de Deus podem fortalecê-los para essa tarefa.

O particípio passado corroborados no grego é particípio presente

(.dynamoumenoi), e indica que se trata de uma atividade contínua de Deus,dentro do crente, e não umaexperiência única e para sempre. Longanimidade(hypomone) é aquela qualidade perseverante que capacita apessoa a continuarna perseguição de seu objetivo. Ela descreve o atleta em Hebreus 12:1 que

 participa de uma corrida até o fim, ou o cristão que, pacientemente, produzfrutos (Lucas 8:15). A palavra grega ma&roí/zjm/a, freqüentemente traduzida

 por “paciência” ou “longanimidade,” é a qualidade pela qual a pessoa se

auto-restringe, ao suportar a oposição sem retaliar.Dando graças ao Pai: os comentaristas têm tido alguma dificuldade na

colocação das palavras com gozo. No texto grego, com gozo (meta charas) faz parte de 1:11. Decorre daí a idéia de que os crentes devem suportar a

 provação com gozo — um conceito semelhante ao de Jesus em Mateus 5:1112. Gozo, longanimidade e domínio próprio são gomos do fruto do Espírito(Gálatas 5:22-23), pelo que talvez Paulo esteja admoestando os colossensesa manifestarem estas graças específicas em suas vidas.

A alternativa é ligar com gozo a dando graças (como em GNB e ECA;quanto à junção desses dois conceitos, cf. Filipenses 1:4; 4:4-6; 1Tcssalonicenses 5:16-18; 1 Pedro 1:8; 4:13). Paulo está criando um hino deações de graças (1:12-20), e conseqüentemente dirige seus leitores aexpressarem gratidão com gozo, dando graças ao Pai.

Os conceitos que Paulo menciona nos versículos seguintes sãoespecialmente apropriados para a situação em Colossos. Esta igreja corria o

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32 (Colossenses 1:9-14)

 perigo de desviar-se da verdade do evangelho (1:5), voltando-se para a“tradição dos homens” vivendo “não segundo Cristo” (2:8). Visto quegrande parte desse ensino falsificava e depreciava a pessoa e a obra de Cristo,

Paulo se propôs corrigir-lhes a cristologia, o que ele faz sob a forma deoração gratulatória (1:12-14), e um hino a Cristo (1:15-20).

Há várias razões por que os leitores de Paulo podem regozijar-se nagratidão: Em primeiro lugar, têm uma herança. A figura de linguagem nesteversículo provavelmente veio do trato de Deus com o povo de Israel, quandoo Senhor o tirou da escravidão do Egito, levando-o à sua herança na terra prometida de Canaã (Êxodo 6:8). Todavia o novo Israel — a Igreja —também recebeu uma herança. As palavras em português nos fez idôneos para participar da herança dos santos é tradução de uma frase gregaestranha que diz, literalmente: “para a porção/participação que consiste deum quinhão/herança” (gramaticalmente há um genitivo de aposição,identificador de um substantivo, e da palavra que modifica, como sendo amesma coisa).

Visto que Deus providenciou a herança, também qualificou (ou deu-lhesautoridade, (hikanosanti) os que vão recebê-la. Tudo isso já ocorreu nasvidas desses crentes. Deus os preparou para receberem sua herança; já sãosantos na luz.

Santos é tradução de hagioi (lit., “separados”). A frase incomum “reinoda luz” (que algumas versões trazem) é um tanto ambígua, merecedora dediferentes interpretações. Alguns comentaristas tomam a palavra luz como

sendo o “meio” pelo qual o cri stão se qualifica para receber a herança. Outros baseiam seus conceitos em passagens neotestamentárias, como 2 Coríntios4:6; Efésios 5:8 e 1 Pedro 2:9, em que luz é palavra empregada comometáfora para a nova vida. Alguns crêem que luz tem significado análogo a“nos céus” (de 1:5), ou que o autor está fazendo um contraste com o “poderdas trevas” de 1:13, que antecipa aqui. Os santos têm sido libertados das

trevas e agora vivem nos domínios da luz.E. Lohse utiliza passagens dos Manuscritos do Mar Morto que descrevema “vida” humana em termos de trevas ou luz. Nessa literatura, entretanto, os“santos” são os anjos, e não o povo de Deus. E possível que neste contextoPaulo esteja pensando em algum ensino herético que inclui a adoração deanjos (2:18), e o culto aos poderes angelicais (2:8, 20). Se assim for, suamensagem aos colossenses é que eles são co-herdeiros com os anjos (santos),

no reino da luz. Não há necessidade de lutar por algo que já possuem.1:13 / A segunda razão por que devem oferecer agradecimentos é que

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(Colossenses 1:9-14)   33

foram libertados das trevas e transferidos para o reino de Cristo. Trevas, no NT, é metáfora do mal; os que estão nas trevas estão sem Deus, vivendo sobo reinado de Satanás, o Maligno (Mateus 6:13). O próprio Paulo, como

mensageiro do evangelho, recebeu esta mensagem: gentios, a quemagora te envio, para lhes abrir os olhos, e das trevas os converter à luz, e do poder de Satanás a Deus, a fim de que recebam remissão dos pecados eherança entre aqueles que são santificados pela fé em mim” (Atos 26:17-18).Os cristãos são descritos como pessoas que em certa época viveram nastrevas, mas em Cristo tornaram-se povo da luz (Efésios 5:8; 1Pedro 2:9; 1João 1:5-7). Em Colossenses, Paulo lembra seus leitores que foram libertos

do poder das trevas.A faceta positiva da ação de Deus é que ele nos transportou (lit., “nos

transferiu”) para o reino do Filho do seu amor. A idéia expressa pela palavra reino é que se trata de um “governo,” e é empregada comocontrapartida de poder.  Noutras palavras, visto que o reino das trevas temcerto poder, faz-se uma transferência para o reino (poder, autoridade) doFilho do seu amor, isto é, o Filho a quem Deus ama (lit., “Filho amado,” amesma expressão usada no batismo e na transfiguração, Marcos 1:11; 9:7,e passagens paralelas; cf. também Efésios 1:6). Os colossenses foramlibertados da esfera da escuridão, que é dominada pelos poderes malignos,e transferidos para o reino do vitorioso Filho de Deus.

A frase reino do Filho do seu amor, ou “reino de Cristo,” não é comumno NT. E possível que o apóstolo use tal expressão a fim de enfatizar a

 presente  realidade e esfera de sua possessão em Cristo, em vez da expressãomais comum “reino de Deus,” que contém uma conotação de futuro (1Coríntios 6:9; 15:50; Gálatas 5:21; 2 Timóteo 4:1, 18). E possível, maissimplesmente, que Paulo esteja preparando o caminho para o hino a Cristoque se segue. Seja como for, serve para lembrar a seus leitores que já nãoestão sob o poder de forças malignas; foram libertos de tais forças, e sãoadmoestados a viver vitoriosamente no poder de Cristo (3:1-4).

1:14 / A terceira razão para o regozijo é que receberam perdão de pecados. O sujeito da ação aqui não é mais Deus (o Senhor age em 1:12-13),mas Cristo. Jesus Cristo é o agente da redenção e o meio pelo qual temos... a remissão de pecados. Diz a GNB: “pelo qual somos libertos,” que captade modo singular o sentido essencial da redenção, isto é, libertação, oulivramento da escravidão dos poderes malignos das trevas. O perdão de

 pecados é um resultado que acompanha a redenção, e jamais um ato separadode Cristo, como talvez os falsos mestres teriam ensinado.

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34 (Colossenses 1:9-14)

Teria sido natural que os colossenses perguntassem a Paulo quando ouonde tais obras ocorreram em suas vidas. Quando foi que Deus agiu de modotão decisivo a nosso favor, ao perdoar nossos pecados, e tornar-nos filhos da

luz? De acordo com o NT, a resposta é: no batismo (veja-se a nota sobre1:14).

N o t a s A d i c io n a i s # 3l:9/Lohse (p. 24) tem uma lista minuciosa de palavras e frases de 1:3-8, que

ocorrem de novo em 1:9-11. Esse autor provê um excelente material contextual para esta passagem, de modo particular tirado do AT e dos Manuscritos do Mar

Morto, onde uma idéia se desenvolve: “a vontade de Deus exige uma obediênciaque se torna visível nas ações da pessoa” (p. 25). Sabedoria e conhecimento sãodons de Deus, recebidos mediante o Espírito. O mesmo conceito constituiverdade no NT, que ensina que conhecer  a Deus é fazer  a vontade de Deus(Mateus 7:21; Lucas 12:47; 2 Timóteo 2:15; Hebreus \Q:36).

1:10/ Quanto ao conhecimento (epignosis), veja-se a longa nota de Robinson,em seu comentário St. Paul’s Epistle to the Ephesians, pp. 248-54.

1:12 / Veja-se H. Foerster, kleroo,  TDNT, vol. 3, pp. 758-85. Quanto aocomentário de Lohse a respeito dos anjos, veja-se pp. 35-36 de seu comentário.Schweizer pensa que “anjos” não é um conceito provável, visto que hagioi é  termo empregado a fim de descrever os membros da comunidade (1:2, 4, 26;3:12).

1:14 / A linguagem e o ensino batismais de Colossenses e Efésios serãoanalisados no decurso de nossos comentários. Quanto ao tema do batismo de

Colossenses 1:12-24, consulte-se Cannon, pp. 16-19. A conclusão de Cannonquanto a estes versículos é que sua natureza confessional sugere fortemente quePaulo estava empregando material textual tradicional relacionado ao sacramento do batismo.

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36 (Colossenses 1:15-20)

 Estrofe III 1:18b — E o princípio,o primogênito dentre os mortos,

(para que em tudo tenha a preeminência).1:19 — Pois foi do agrado do Paique toda a plenitude nele habitasse,1:20 — (e que, havendo por ele feito a paz

 pelo sangue da sua cruz), por meio dele reconciliasse consigo mesmotodas as coisas, tanto as que estão na terra,

como as que estão nos céus.

0 Autor do Hino 

Se Paulo é considerado o autor desta carta, por que então tantas perguntassobre a autoria deste hino específico? As razões são várias e complexas, mascentralizam-se ao redor do fato de (a) a passagem conter muitas palavras efrases não encontradas noutras passagens dos escritos de Paulo; e (b) ser

comum o costume de Paulo incorporar em suas cartas textos tradicionais, portanto previamente existentes. Isto costumava incluir, normalmente,hinos, confissões de fé, credos e material litúrgico empregados pela Igrejaapostólica. Em ocorrendo tal fato, Paulo poderia ser considerado o editor oucompilador, em vez de o autor do texto original.

A maior parte desse hino a Cristo, encontrado em Colossenses, veio a serconsiderada composição pré-paulina. Conquanto os eruditos possam discordar

entre si quanto à sua origem exata, todos têm certeza de que Paulo, ao adotaresse hino, modificou-o a fim de aplicá-lo à situação específica de Colossos.(As frases entre parênteses no texto de ECA, acima, refletem as adições, i.e.,interpolações que talvez  Paulo tenha introduzido no hino original. O sentidoe o propósitos dessas interpolações serão discutidos posteriormente).

A Fonte do Hino 

Várias fontes desse hino têm sido sugeridas. Alguns eruditos analisaram oconteúdo do hino à luz do AT, e julgam que sua origem está em algum tipo de

 judaísmo rabínico. Outros chegam a apreciar seu contexto gnóstico e, dessemodo, reconstroem seu sentido com base em idéias e linguagem familiares aosensinamentos do gnosticismo do tempo de Paulo. Outro grupo de intérpretes vêa origem do hino nos círculos do judaísmo helenístico que, ao redor do primeiroséculo, se havia tomado muito sincretista em suas crenças e práticas. Assim, é

comum esses autores utilizarem fontes estóicas, gnósticas, helenísticas e judaicas.

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(Colossenses 1:15-20)   37

Esse hino pode ter tido vários estágios de desenvolvimento: primeiro,como se fosse um hino não-cristão desenvolvido no ambiente da filosofiagrega e utilizado por grupos variados, como estóicos e gnósticos; segundo,

como se fosse um hino cristão que celebra o papel cósmico de Cristo comterminologia judaico-helenística; terceiro, como se fosse um hino paulinoque contém adições específicas que corrigem as idéias errôneas divulgadas pelos falsos mestres em Colossos.

0 Propósito e o Sentido do Hino 

Mencionamos atrás que os motivos de Paulo para adotar e aplicar este

hino centralizam-se ao redor de seu interesse em que os colossenses seatenham a uma compreensão correta da pessoa e da obra de Cristo, emoposição aos ensinos heréticos que vêm recebendo. Estão correndo o perigode desviar-se da verdade do evangelho, ao abraçar as tradições humanas.Paulo deseja que eles se lembrem de seguir o evangelho conforme oaprenderam de Epafras. “Portanto, assim como recebestes a Cristo Jesus, oSenhor, assim também andai nele, arraigados e edificados nele, e confirmadosna fé, assim como fostes ensinados, crescendo em ação de graças” (2:6-7).

O propósito primordial do hino é estabelecer a superioridade ou preeminência de Cristo em todas as coisas (1:18).

 Esboço do hino: A preeminência de CristoA. A preeminência de Cristo no cosmos (1:15-17)

1. A imagem do Criador (1:15a)2. O agente da criaçãoa. do mundo visível (1:15b)

 b. do mundo invisível (1:16)3. Os meios de coesão (1:17)1. Como a cabeça (1:18a)2. Como Senhor (1:18b, 19)

3. Como aquele que faz a reconciliação (1:20)

1:15/ Ele é a imagem do Deus invisível. Falando em imagem, Paulo nãoquer dizer mera semelhança ou parecença, visto que a palavra grega usadaé eikon. Esta palavra comunica a idéia de que Cristo participa da natureza deDeus, não como mera cópia, mas ao manifestar visivelmente e revelar com

 perfeição o próprio Deus, em forma humana (em 2 Coríntios 4:4 Paulo falada “glória de Deus, que é a imagem de Deus”).

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38 (Colossenses 1:15-20)

O resultado da encarnação é que o Deus invisível se tornou visível nohomem-Deus, Jesus Cristo. O apóstolo João, num contexto diferente,registra certas declarações feitas por Cristo: “Eu e o Pai somos um” (10:30),

e “Quem me vê, vê o Pai” (14:9). Nenhum anjo ou poderio espiritual poderiareivindicar tal posição. A soberania de Cristo é atestada pelo seurelacionamento pessoal e singular com Deus.

Pelo fato de ser, dessa maneira, a imagem de Deus, Cristo permanece à parte da criação, sendo o primogênito de toda a criação. A palavraprimogênito (prototokos) com freqüência é tomada no sentido temporal,implicando que Cristo foi o primeiro a ser criado e, por isso, pertence à ordem

criada. Parece que os falsos mestres de Colossos haviam relegado Cristo àsituação de um mero ser criado. Esta heresia tem, portanto, uma longahistória, pois já havia sido defendida pelos arianos no quarto século d.C., econtinua a ser perpetuada pelas testemunhas de Jeová de nossos dias.

Paulo não está ensinando que Cristo pertence àcriação de modo temporal.A questão aqui é de primazia de função, e não de prioridade temporal. Vistoque Cristo participa do ato da cri ação, ele permanece acima e além do mundocriado, como o agente através de quem tudo veio a existir.

1:16 / Depois de estabelecer a superioridade de Cristo na ordem criada,Paulo vai adiante, e trata do mundo invisível dos seres celestiais e terrenais.A expressão “toda a criação” (1:15) expande-se pela frase: pois nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra. O grego usa duas

 preposições que nos ajudam a compreender a ação intencionada: Deus criou

o universo todo por (dia) e para (eis) ele. Noutras palavras, Cristo é tantoo agente como o objetivo da criação. Ele não deve ser relegado à mesma

 posição inferior como os demais poderes espirituais. A criação toda encontraseu objetivo em Cristo, e só em Cristo. O uso do tempo perfeito no grego(ektisthe) mostra que o que ocorreu na atividade criativa de Deus continuaa ocorrer no presente.

O leitor fica com a impressão de que Paulo preocupa-se muito no sentido

de evitar quaisquer enganos e mal-entendidos nesta questão. Ele já enfatizouque todas as coisas (expressão empregada duas vezes neste versículo, nogrego) foram criadas por Cristo. Agora ele amplia esse conceito usando ostermos nos céus e na terra e visíveis e invisíveis. Isto inclui todas as forçasespirituais, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades.

Estes termos representam uma perspectiva e classificação das forçasespirituais correntes no primeiro século. As pessoas acreditavam que o

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(Colossenses 1:15-20)   39

mundo era habitado por todo tipo de forças alienígenas, as quais representavamameaça aos seres humanos (Romanos 8:38; 1 Coríntios 15:24; Efésios 1:21;6:12; 1 Pedro 3:22). O fato de a referência a tais poderes ser uma provável

interpolação que Paulo introduziu no hino, sugere que a tais poderes foiatribuída uma preeminência indevida, por esses falsos mestres. O pontoenfático de Paulo é que tais poderes estão sujeitos à superioridade de Cristo,visto terem sido criados por ele e para ele. Cristo é o Senhor de todos esses

 poderes (2:10, 15).1:17 / A frase ele é antes de todas as coisas reafirma certas verdades que

Paulo já havia ensinado a respeito de Cristo. Mas o novo pensamento é que

todas as coisas subsistem por ele. A palavra grega synesteken  dá conotaçãoaqui de preservação ou coerência. Assim, o Senhor que criou o universotambém o sustenta.

1:18 / Depois de discutir a soberania cósmica de Cristo, Paulo passa adiscutir sua preeminência na Igreja usando uma imagem de corpo-cabeça. Oapóstolo estabeleceu de modo convincente o senhorio de Cristo sobre omundo; agora ele estabelece o senhorio de Cristo sobre a Igreja.

Se o termo a igreja  pode ser considerado interpolação paulina, umaversão anterior do hino deve ter proclamado, então, a Cristo como apenas acabeça do corpo. Há muita especulação quanto à origem da metáfora corpo-cabeça nos escritos de Paulo. Alguns eruditos sentem-se atraídos pela idéiade uma “personalidade corporativa” segundo a qual a humanidade toda éconsiderada como estando “em Adão.” Em contrapartida, a significação no

 NTéque, desde que todos os cristãos estão “em Cristo” — istoé, a Igreja —eles podem considerar-se corpo de Cristo. Entretanto, a maioria dos eruditosacredita que essa idéia provém de conceitos helenistas do corpo cósmico.

Em várias fontes gregas, inclusive nos escritos de Platão, dos estóicos, enos do judeu alexandrino Filo, há numerosos conceitos mitológicos douniverso como sendo um corpo governado por uma “cabeça.” Aqui, ocosmos é preenchido pela divindade e, conseqüentemente, visto como um

corpo dessa divindade da qual a “Sabedoria” ou o “Logos” constitui acabeça. A crença comum era que assim como o corpo físico da pessoa precisade orientação proveniente da cabeça, assim o corpo do cosmos precisaria deuma cabeça, como o “Logos” ou a “Sabedoria,” como princípio unificador.

O que os gregos atribuíam à Sabedoria, ou ao Logos, como cabeça, aIgreja apostólica atribuía a Cristo. O Senhor é, noutras palavras, o Logos

divino (cf. o prólogo de João em 1:1-3), que governa o corpo (soma)  docosmos. É muito possível que uma antiga versão cristã desse hino celebrava

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40 (Colossenses 1:15-20)

o senhorio de Cristo sobre o cosmos. Em Colosseses, Paulo interpreta corpo não como o cosmos, mas como a Igreja.  Noutras palavras, embora Cristoseja cabeça do mundo todo, apenas a Igreja é o corpo de Cristo.

A identificação da Igreja como o corpo de Cristo, do qual Cristo é acabeça, em Colossenses (1:18, 24) e em Efésios (1:22, 23; 4:15, 16) não é amesma, conforme a descrição do “corpo” feita em Romanos e em 1Coríntios. Nestas duas cartas (Romanos 12:1-8; 1Coríntios 12:4-31), Pauloemprega o conceito da Igreja como o corpo de Cristo, e enfatiza osrelacionamentos e as obrigações mútuos existentes entre seus membros, emvirtude de seus dons espirituais. Ali a “cabeça” é mencionada ao lado de

outros membros do corpo (1 Coríntios 12:14-26). Só em Colossenses e emEfésios, Cristo é designado como cabeça que governa a Igreja. A razão distocertamente é que Paulo tem a intenção de proclamar o senhorio de Cristosobre todas as coisas. Ele quer que os colossenses saibam que a Igreja é olugar onde Cristo exerce sua soberania sobre todo o cosmos.

O Senhor é o princípio da vida do corpo, que lhe dá vida e energia, emvirtude de sua ressurreição. Paulo usa a frase o primogênito pela segundavez (cf. 1:15), a fim de dar nova ênfase à prioridade de Cristo. O resultadofinal disso é a absoluta preeminência de Cristo (para que em tudo tenha preeminência).

1:19 / Paulo prossegue dizendo que foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse.Há dois problemas que não podem ser desprezados,relacionados à tradução e interpretação desse versículo.

O primeiro problema diz respeito ao significado de plenitude ( pleroma).Em 2:9, pleroma significa toda a natureza de Deus que habita em Cristo(“pois nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade”). Com baseneste conceito, alguém seria justificado se desse a 1:19 o mesmo significadode 2:9, em vez de procurar ver aqui certa maneira gnóstica pela qual pleroma seria a totalidade ou integralidade de eons que Deus emana, e que enchemo espaço entre os céus e a terra. Contudo, um dos aspectos do falso ensino

 praticado em Colossos era a indevidapreeminência aos poderes sobrenaturaisque encheriam o universo, considerando-os elementos intermediários entreDeus e o mundo. Paulo corrige esse ensino ao afirmar que a natureza totalde Deus habita exclusivamente em Cristo.

A segunda questão diz respeito ao sujeito do verbo que, na tradução, deuorigem a um substantivo, agrado. O texto grego diz, literalmente: “porque

nele (Cristo) toda a plenitude agradou-se em habitar.” Pelo menos três possibilidades têm sido sugeridas: (a) colocar Cristo como o sujeito do

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(Colossenses 1:15-20)   41

verbo, pelo que o sentido seria que ele (Cristo) se agradou pelo fato de todaa plenitude de Deus habitar nele; (b) fazer de pleroma o sujeito, o que resultanuma tradução que RSV adotou (“porque nele toda a plenitude se agradou

em habitar”); e (c) considerar Deus como o sujeito. Daí a tradução de NIV:“Porque Deus se agradou em ter sua plenitude habitando nele” (cf. ECA: Foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse).

O principal argumento contra esta terceira construção é a introdução deDeus como sujeito, num hino que se concentra em Cristo (desde 1:15 Deusnão é mencionado). Mas o texto grego o permite; e tal significado tem o apoiode todo o texto escri turístico (cf. o batismo e a transfiguração de Cristo). Tais

minúcias técnico-gramaticais, entretanto, não nos devem desviar da verdadeessencial que Paulo deseja enfatizar, a saber, que Cristo é o lugar dehabitação (katoikesai, “fixar residência”) de Deus. A partir daí, estabelece-se outro fator sobre a soberania de Cristo.

1:20 / Dá-se a Cristo um tributo último como agente de reconciliação.Agradou a Deus que sua plenitude habitasse em seu Filho (1:19). Agora,Deus se agrada também de que por meio dele [do Filho] reconciliasse consigo mesmo todas as coisas. Reconciliação implica na existência dealguma inimizade ou hostilidade que precisa ser corrigida (1:12,22; Efésios2:16). A expressão todas as coisas que entram em reconciliação com Deus,c esclarecida pela frase tanto as que estão na terra como as que estão nos céus. Noutras palavras, não se trata meramente da Igreja (humanidade) quese reconcilia; Cristo trouxe uma reconciliação que se estendeu a toda a ordem

universal. Ao dizer isso, Paulo demonstra aos colossenses que o universointeiro está incluído na obra reconciliatória de Cristo. O amor de Cristo nãotem limites!

E preciso máximo cuidado para não levar esta linguagem ao extremo.Alguns a têm entendido de modo muito amplo, e crêem que a humanidadec todos os poderes espirituais — inclusive os anjos perversos — estão em pazcom Deus. Todavia, esta linguagem precisa ser interpretada à luz de tudo

quanto Paulo ensina e, na verdade, à luz de todo o NT, no que concerne àsdoutrinas da reconciliação e salvação. O principal ponto que Paulo enfatizaé que tudo se harmonizou “mediante” Cristo.

A terceira interpolação paulina neste hino inclui a frase havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz (cf. Romanos 5:lss.). Isto coloca areconciliação num ato histórico, realizado pelo derramamento do sangue deCristo na cruz. Paulo não quer que permaneça nenhuma porção do dramacósmico que represente o ensino herético dos falsos mestres.

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42 (Colossenses 1:15-20)

Há uma questão com respeito a consigo mesmo. RSV e NIV mostramcerta ambigüidade; alguém poderia entender que a expressão se refere aDeus ou a Cristo. A mesma construção (eis auton) é empregada em 1:16, em

que Cristo é o objeto. GNB e ECA provavelmente estão corretas aotraduzirem esse versículo, dando-lhe o sentido que a reconciliação se fazcom Deus (“Deus reconciliou consigo mesmo todas as coisas”). Assim, areconciliação se fez com Deus mediante Cristo.

N o t a s A d i c io n a i s # 41:15 / Veja-se H. Kleinknecht, eikon, TDNT, vol. 2, pp. 389-90.

1:16/Veja-se W. Michaelis,/?rotayTDNT, vol.6,pp. 865-82; Schweizer,Colossians,  tem uma seção interessante sobre a história da interpretação

 problemática deste versículo, pp. 250-52.1:18 / “Todos os [gregos] pensavam que o universo era algo como um

corpo gigantesco, governado pelos deuses, ou como mais e mais gregos pagãos o expressavam, à época do Novo Testamento, governado por umdeus, ou por um poder supremo, ou por um espírito universal. Alguns já

haviam empregado a figura de linguagem de Deus como a cabeça do corpo,o universo. Um filósofo judeu, contemporâneo de Jesus, Filo de Alexandria,

 já havia se referido ao Logos (que significa palavra e/ou mente e/ou espíritode Deus) como sendo a cabeça do universo. Assim, todos podiam entenderque Cristo poderia ser a cabeça do mundo” (Schweizer, Christ in the Letter  to the Colossians,  p. 460).

Quanto a corpo,  veja-se Schweizer,  soma, TDNT, vol. 7, pp. 1024-94;Barth, Head, Body, Fulness, Eph. 1-3,  pp. 183-210; Bruce leva em conta ainfluência grega na filosofia de Paulo no que diz respeito a tais conceitos (pp.200-205).

1:19 / Quanto a plenitude, G. Delling, pleres, pleroo, TDNT, vol. 6, pp.283-311; Lohse, pp.52-59; P.D. Overfield, “'Pleroma’: A Study in Contentand Context,” NTS 25 (1979), pp. 384-96; Robinson, Ephesians,  pp. 87-89.

1:20 /Barclay relaciona quatro diferentes teorias sobre a interpretação de“reconciliação” neste verso: (1) os anjos precisariam de reconciliação eredenção por estarem sob pecado; (2) de acordo com Orígenes, até mesmoo diabo e seus anjos no fim se reconciliariam; (3) essa frase significa apenasalgo que se completou; e (4) os anjos ter-se-iam reconciliado com Deus masnão com ahumanidade (TheLetters to Philipians, Colossians, Thessalonians, 

 pp. 148-49).

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# 5. Aplicação do Hino aos Colossenses ( C o l o s s e n s e s 1 : 2 1 - 2 3 )

1:21 / Nos versículos que se seguem ao hino a Cristo (1:21-23), Paulovolta a manifestar o mesmo tipo de interesse pastoral que se evidenciou emsua oração gratulatória (1:3-19). Ele traz à memória de seus leitores que areconciliação cósmica e eclesiástica que acabara de descrever no hino, éverdadeira para eles também (a vós também... vos reconciliou). Foramfeitos aceitáveis diante de Deus e, agora, são desafiados a permanecer na

verdade que já lhes foi ensinada.Uma forma de a pessoa apreciar o que Deus fez, é a pessoa lembrar-se do

que era antes de a graça de Deus operar, e essa graça ser experimentada pessoalmente (cf. 1:26; 3:7; Romanos 6:22; 11:30; 1 Coríntios 6:11). E porisso que Paulo os faz lembrar-se de que no estado pré-cristão deles, eramestranhos, e inimigos no entendimento, pois estavam alienados de Deus.Tal inimizade se manifestava no modo maligno de viver e de pensar. Issoconstitui agudo contraste com a atual forma de viver cristã (descrita em1:10).

1:22 / Todavia, operou-se na vida deles uma tremenda mudança, porqueDeus agiu decisivamente em Cristo. Paulo usa apalavrachave reconciliação, tirada do hino (1:20), para fazê-los lembrar-se de que Deus se reconcilioucom eles no corpo da sua carne, pela morte [de Cristo], O hino e este

versículo enfatizam o ato pessoal e histórico de Cristo. É possível que osfalsos mestres houvessem negado ou minimizado a realidade da encarnaçãoe morte de Cristo. A ênfase na morte física de Cristo também pode serargumentação polêmica contra os falsos mestres, que incluíam os anjos naobra de reconciliação, sem estes terem, contudo, um corpo, em contrastecom Cristo.

A reconciliação também tem um aspecto moral. A GNB capta o grego parastesai,  que expressa propósito (para perante ele vos apresentar santos, e irrepreensíveis e inculpáveis). Alguns comentaristas acreditamque a terminologia empregada aqui tem certo sentido sacrificial ou litúrgico(cf. Hebreus 9:14; 1 Pedro 1:19). Entretanto, a idéia principal parece ser

 judicial, isto é, os que fora reconciliados com Deus estão livres de toda culpa;tornaram-se santos, puros e inculpáveis perante o Senhor (Efésios 5:27;Judas 24).

A mensagem para os colossenses é que tudo isso é verdade a respeito

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44 (Colossenses 1:21-23)

deles, agora. Tudo isso constitui a nova situação deles diante de Deus, poisé dádiva do Senhor a eles, mediante Cristo. No entanto, há um aspecto futuroem tudo isso, visto que o “já” e o “ainda não” são características dos escritos

de Paulo. Aquilo que os cristãos possuem agora, eles o receberão na plenitude na Parousia final de Cristo.1:23 / Para que seus leitores não venham a considerar sua nova posição

em Cristo com indiferença, Paulo os faz lembrar enfaticamente de umacondição que precisam manter em mente: se é que permaneceis fundados e firmes na fé. Embora a salvação seja um dom de Deus, precisa serresguardada. Assim é que todos quantos receberam a Cristo são admoestados

a permanecer ou perseverar em Cristo (João 8:31; 15:4-7; Atos 14:22;Romanos 11:22; 2 João 9).

A fim de contra-atacar a ameaça de uma erosão na fé e mudança naesperança dos colossenses, Paulo passa a empregar metáforas que, àsemelhança de outras nas Escrituras, falam de força, perseverançae segurança(Mateus 7:24-27; 1 Coríntios3:10-15;Efésios2:19-22; 1Pedro 2:4-10). Osleitores de Paulo só poderão ter tal fundamento — fundados e firmes — se

 perseverarem na fé e na esperança do evangelho, inicialmente pregado aeles e depois ao mundo todo.

Tendo em mente esses temas da fé, da esperança e da universalidade doevangelho, Paulo reinicia aexposição de suas idéias expressas em suaoraçãogratulatória inicial (1:3-8). Ali, a preocupação do apóstolo era que oscolossenses vissem isso como uma evidência da verdade do evangelho; aqui,

Paulo os admoesta a que apliquem essa verdade a suas vidas continuamente.Paulo encerra esta seção declarando que está pessoalmente relacionadocom tal evangelho, como servo (diakonos). Ao fazê-lo, demonstra estarcomprometido com a mensagem que os colossenses ouviram, e demonstraidentificar-se com seus colaboradores Epafras e Tíquico, que de modosemelhante são servos do evangelho (1:7; 4:7). Essa declaração tambémserve de transição para os versículos seguintes em que Paulo esboça seu

ministério à Igreja.

N o t a s A d i c io n a i s # 5Schweizer resume bem a natureza hínica desta passagem, ao escrever:

“Já deixou de ser questão polêmica se temos ou não nestes versículos umhino de que o autor da carta se apossou. Os pré-requisitos para isso estão

 presentes, no que concerne à forma; percebe-se um certo ritmo na construção,tanto no todo como nas minúcias. Também há um retrato de Cristo, auto-

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(Colossenses 1:21-23)   45

explicativo, que excede a tudo quanto se pode esperar desse contexto; e denovo, há a abertura costumeira por meio do pronome relativo. Mais importantedo que isso, as características distintivas do estilo do autor da carta não se

encontram aqui, conquanto surjam por toda a carta, aparecendo tambémnuma abundância de conceitos incomuns. Todavia, acima de tudo, não se

 pode deixar de notar a diferença teológica entre o hino em si e o comentárioque o autor da carta faz” (pp. 55-56).

Quanto à reconstrução do hino em suas divisões em estrofes, conformea apresentam E. Norden, J.M. Robinson e Schweizer, veja-se a discussãofeita por Cannon, pp. 19-23. Martin divide essa passagem em três partes:Estrofe 1(1:15-16); Estrofe II (1:17-18a); Estrofe III (1:18b-20), pp. 55-56.Veja-se também  Reconciliation  de Martin, pp. 111-26.

Quanto a uma apresentação recente do texto hínico no NT, veja-seCannon, pp. 6-9, especialmente no. 17, no que diz respeito a fontes bibliográficas. Quanto à discussão que Cannon faz de 1:15-20, veja-se pp.19-37. Lohse relaciona 23 estudos significativos desse hino (pp. 41-46).

Outras fontes úteis incluem W. McCown, “The Hymnic Structure ofColossians 1:15-20,” 51 (1979),pp. 156-62; Schweizer, pp. 55-58;idem,“The Church as the Missionary Body of Christ,” NTS 8 (1961) pp. 1-11;idem, “Christ in the Letter to the Colossians,” pp 455-62. Quanto à natureza

 batismal desse hino, E. Kásemann, “A Primitive Christian Liturgy,” em Essays onNewTestamentThemes, SBT41 (Londres: SCM, 1964),pp. 15459.

1:21 / A palavra grega apallotrioo  (estranhos, “alienados”) ocorreapenas aqui e em Efésios 2:12; 4:18. No grego é verbo no perfeito doindicativo (apellotriomenous), enfatizando a alienação das pessoas (noutro tempo éreis estranhos), uma condição contínua.

1:22 / Qualquer pessoa que leia o texto grego descobrirá vários textos paralelos a respeito da idéia de reconciliação, mostrando a luta que ostradutores têm sofrido com este versículo. NIV, bem como ECA, ao lado deoutras versões, aceitam a forma ativa do verbo (“vos reconciliou”), em vezda forma passiva “vós fostes reconciliados”.

1:23 / A frase o qual foi pregado a toda criatura que há debaixo do céu (cf. 1:6) não deve ser tomada literalmente, a menos que se refira ao ImpérioRomano. Em vez disso, este é um enunciado polêmico que mostra a propostade ensino abrangente do evangelho, em oposição ao exclusivismo dos falsos

ensinos.

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# 6. Sofrimento Pessoal de Paulo ( C o l o s s e n s e s 1 : 2 4 )

1:24 / Paulo inicia sua discussão referindo-se a seus sofrimentos físicos(na minha carne) em prol da igreja colossense. O fato de ele estar numa

 prisão pode ser algo que predomina em sua mente (4:18), embora possahaver uma referência genérica a outras aflições que ele experimentou aolongo de seu ministério como apóstolo de Jesus Cristo (2 Coríntios 1:4,6, 8;2:4; 6:4; 7:4; 8:2; Filipenses 1:17). O “regozijo” não advém pelo fato de

Paulo estar sofrendo provações ou perseguições. Paulo está feliz porque suasaflições foram produzidas em função dos crentes de Colossos. Nesta

 passagem, além de outras, como Romanos 5:3; 8:38ss., o apóstolo capta oespírito das palavras de Jesus em Mateus 5:10-12, em que a felicidade e a

 perseguição estão unidas (cf. 1Pedro 4:13). Noutras passagens, Paulo indica que suas aflições podem ser entendidas

de várias maneiras: São uma conseqüência da vida cristã e para o progressodo evangelho (2 Coríntios 6:4; Filipenses 1:17, 18, 24; 3:10); capacitam a pessoa a confortar outros crentes que estão experimentando tristeza (2Coríntios 1:4, 5), fazem que a pessoa se mantenha humilde (2 Coríntios12:10), e constituem um preparativo para a glória futura (2 Coríntios 4:17).Diz o apóstolo Pedro que as provações agem como um processo derefinamento da fé (1 Pedro 1:6, 7), e Tiago afirma que elas produzem

 perseverança (1:3, 4).A dificuldade maior neste versículo é interpretar esta declaração de

Paulo: na minha carne cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo seu corpo, que é a igreja. Isto é diferente de sofrer por  Cristo (Filipenses 1:29),e até mesmo de compartilhar dos  sofrimentos de Cristo (Filipenses 3:10).Paulo entende que seus sofrimentos de certo modo completam o que falta nasaflições de Cristo pela sua Igreja.

Têm sido apresentadas várias interpretações para esse versículo: Segundouma delas, há certa deficiência nos sofrimentos de Cristo pela redenção daIgreja, e por esse motivo os sofrimentos de Paulo, bem como os de todos ossantos e mártires, poderiam suplementar ou completar o que ficou faltando nos de Cristo.

Todavia, esta hipótese sofre grandes ataques, por diversas razões. As

Escrituras não dão apoio à idéia de que os sofrimentos de Cristo pela suaIgreja, a saber, sua obra reconciliadora mediante sua expiação, de alguma

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(Colossenses 1:24)   47

forma ficou incompleta. Cristo é o sacrifício perfeito pelos pecados, pelo queninguém pode acrescentar algo à obra que ele consumou. De fato, teria sidotolice e grave contradição se Paulo desse a entender tal interpretação numcontexto em que ele acaba de enfatizar a soberania de Cristo em todas ascoisas. Além disso, a palavra grega empregada aqui para aflições (thlipsis) não é empregada no NT com referência à morte expiatória de Cristo.

Uma segunda interpretação reconhece a perfeição e o término da obra damorte de Cristo, e adianta mais: nenhum volume de sofrimento humano podeacrescentar seja o que for à obra de Cristo. Dá-se ênfase, portanto, à naturezaedificante dos sofrimentos que os cristãos suportam no processo do

crescimento da Igreja, o corpo de Cristo. Noutras palavras, a Igreja éedificada mediante os sacrifícios, aflições e sofrimentos dos cristãos em toda parte. É certo que há alguma verdade aqui, e pode deixar implícito o quePaulo quer dizer com aflições por amor de Cristo (Filipenses 1:29). Entretanto,isto dificilmente faz justiça à idéia de completar o que falta nas aflições de Cristo, pelo seu corpo.

Uma terceira interpretação, um tanto minuciosa, procura uma solução na

literatura judaica e na primitiva literatura apocalíptica cristã. E. Lohse, porexemplo, crê que a frase “o resto das aflições de Cristo” é equivalente aoconceito de “uma medida definida para os últimos dias.” Acredita-se, aqui(cf. também Mateus 24; Marcos 13:5-27) que a volta do Ungido de Deus, oMessias, seria precedida por um período de tempo em que o povo de Deusseria convocado para sofrer as “dores do Messias.” Segundo alguns

comentaristas, Paulo vê-se a si mesmo como um mártir, cujos sofrimentoscontribuem para que esse período se complete, e ei-lo que aguarda o retornodo Messias. Portanto, Paulo sofre como servo do evangelho, e a favor docorpo de Cristo, a Igreja.

É bem possível que o pensamento judaico apocalíptico sirva de pano defundo para as idéias de Paulo a respeito do sofrimento. Entretanto, enquantoos judeus continuavam aguardando o reino messiânico, os primitivos

cristãos acreditavam que o reino escatológico havia sido inaugurado na vidac no ministério de Jesus, que sofrera vicaríamente pelo seu povo.

A quarta perspectiva coloca a declaração de Paulo no contexto da uniãomística que o apóstolo usufruía com Cristo. Aqui haveria uma referência àcomunhão (companheirismo íntimo) de Paulo na morte e ressurreição deCristo (Romanos 6:3-11; 2 Coríntios 4:10-14; Filipenses 3:10), ou a Atos9:4, em que a perseguição movida por Saulo contra a Igreja era equivalentea uma perseguição contra o próprio Cristo (“Saulo, Saulo, por que me

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48 (Colossenses 1:24)

 persegues?”). Portanto, os sofrimentos de Paulo podiam ser vistos como ossofrimentos do próprio Cristo, mas através de um membro de seu corpomístico.

Alguns autores empregam o termo o Cristo incorporado,  com que sereferem aos sofrimentos da Igreja, ou de seus membros individuais, comosendo os sofrimentos do próprio Cristo. Noutras palavras, as aflições daIgreja também são aflições de Cristo. O sofrimento de Paulo pela Igrejacompleta os sofrimentos pessoais de Cristo.

Após a morte, ressurreição e exaltação de Jesus, os membros dacomunidade cristã criam que haviam sido chamados para sofrer da mesma

forma como seu Senhor o fora, ainda que os sofrimentos deles não tivessemeficácia redentora. As Escrituras estão cheias de referências que demonstramque eles deveriam esperar muitas provações, tribulações e perseguições(Mateus 5:10-12; 20:23; João 15:20; Atos 9:16; Romanos 8:17; 2 Coríntios6:4;Filipenses 1:291;2Timóteo l:12;4:5;Tiago 1:2; 1Pedro 1:6;2:21;3:14;4:1, 13, 16; 5:10; Apocalipse 2:10).

Com o desenvolvimento do misticismo de Paulo, isto é, seu ensino sobrea nossa incorporação por Cristo, mediante o batismo (Romanos 6:1-10;Colossenses 2:11, 12; Gálatas 3:26-28), os seguidores de Cristo vieram acrer que seus sofrimentos e os de Cristo eram um só. Pode ser que mediantea declaração de 1:24, Paulo estivesse vendo as aflições que estava sofrendona carne como sendo as aflições de Cristo (cf. 2 Coríntios 1:5; 4:10;Filipenses 3:10; 1 Pedro 4:13, quanto a umas passagens paralelas

interessantes). Paulo crê que está ajudando a completar algo que o Messiasiniciou para a Igreja, uma obra que não se completará senão quando elevoltar.

Outra interpretação ensina que a frase “o que falta nas aflições de Cristo”(RSV) refere-se a uma deficiência de Paulo e não de Cristo. Paulo entendeque seu desejo de compartilhar dos sofrimentos de Cristo, e tomar-se comoseu Senhor na morte, é um processo contínuo (Filipenses 3:10). Paulo vê seu

sofrimento como um meio pelo qual ele pessoalmente se toma capacitado para reproduzir mais e mais a paixão de Cristo em sua própria vida. Asaflições que a Igreja suporta são, portanto, para que ela se tome completa,não visando alguma falta em Cristo (veja-se a nota).

N o t a s A d i c io n a i s # 6

1:24 / Quanto a material adicional a respeito de algumas destas interpretações, veja-se R. Yates, “Notes on Colossians 1:24,” EQ 42 (1970), pp. 88-102;

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(Colossenses 1:24)   49

arespeitodosofrimento,H. Schlier, thlibo, TDNT, vol. 3,pp. 139-48. Schweizer, p. 98, relaciona uma série de fontes alemãs sobre o sofrimento de Paulo. O artigode F. Hauck, koinos (“comunhão”), TDNT, vol. 3, pp. 789-809, esp. pp. 806-7,em que ele discute a comunhão que o crente usufrui com Cristo, também é muitoútil.

O ponto de vista de Lohse a respeito das “aflições do Messias” é discutidoem seu comentário, pp. 69-72. Martin adota esta interpretação de 1:24, aoafirmar: “Paulo apanha este conceito e o torce, a fim de que sirva a seus

 propósitos. Em sua vida de serviço às igrejas gentílicas, o apóstolo é chamado para representar seu povo como mártir, e desempenhar um ministério vicário (2Coríntios 1:6); foi dessa forma que ele completou sua ainda deficitária folha de

sofrimentos, que o novo Israel de Deus deveria suportar antes do fim dostempos” (p. 70).

A última interpretação sugerida conta com o apoio de vários autores. Em1958 E. Hoskyns e N. Davey declararam o seguinte: “Isto não significa quefaltava nos sofrimentos de Cristo, mas que faltava algo nos de São Paulo. Elequer que seu corpo seja como que uma arena em que a obediência a Deus serádemonstrada integralmente, como ocorrera na paixão de Jesus Cristo” (The 

 Riddle ofthe New Testament ) Londres: Faber & Faber, 1958, p. 158.Declarações semelhantes foram feitas por L.P. Trudinger, “Further Brief Note on Colossians 1:24,” EQ 45 (1973), pp. 36-38; e W.F. Flemington, “On theInterpretation of Colossians 1:24,” em Suffering and Martyrdom in the New Testament   (Cambridge: Cambridge University Press, 1981), pp. 84-90. Asidéias de Flemington estão claramente resumidas nesta citação: “A falta que SãoPaulo contempla não está nas aflições de Cristo, como tais, mas antes nas

aflições de Cristo na medida em que se refletem e se reproduzem na vida e nocomportamento de Paulo, seu apóstolo. São Paulo esforça-se continuamente nosentido de viver en Christo, mas ele sabe que em sua vida existe como que umsaldo a ser pago, que precisa ser liqüidado, para que a reprodução dos sofrimentos de Cristo na pessoa do apóstolo fique completa. Paulo se regozija porque emtudo que ele sofre, em prol dos colossenses, está eliminando aquele saldo aindanão pago; o apóstolo está fazendo com que a reprodução fique um pouco mais parecida com o original” (pp. 87-88).

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# 7 . Prodamação do Mistério por Paulo (C o l o ss e n se s 1 : 2 5 - 2 9 )

1:25 / Neste versículo Paulo continua a afirmar seu papel pessoal noseventos que descreve: primeiro, “eu” me tomei um servo do evangelho(1:23); a seguir, “eu” me sinto feliz em meu sofrimento por vocês (1:24);agora eu fui feito ministro (da Igreja) por causa de vocês (1:25). Dispensação é tradução da palavra grega oikonomia,  que tem o sentido de “gerência,

mordomia ou comissão para um ofício” (1 Coríntios 9:17). Paulo lembra aseus leitores que sua comissão como ministro foi feita por Deus, e eles estãoincluídos em seu ministério, cuja tarefa é proclamar integralmente oevangelho.

Para cumprir a palavra de Deus.  Não haveremos de entender que a proclamação anterior do evangelho, por Epafras, foi um tanto deficiente ouincompleta, que não se cumpriu. É provável que Paulo tenha em mente o

escopo total do evangelho (Romanos 15:19). Ele já havia feito alusão àuniversalidade e ao crescimento do evangelho (1:6); agora ele afirma queDeus o nomeou para compartilhar o ministério também. A palavra de Deusterá sido cumprida quando houver sido pregada a “toda criatura que hádebaixo do céu” (1:23). Todavia, diante da situação de Colossos, não éimpossível que Paulo esteja pensando no conteúdo do evangelho. Tanto NIV(“para apresentar-vos a palavra de Deus em sua integralidade”) como NEB

(“para pregar-vos a mensagem total [de Deus]”) entendem a passagem dessaforma. ECA: para cumprir a palavra de Deus.

1:26 / A palavra de Deus que Paulo foi chamado para proclamaridentifica-se como sendo o mistério que Deus manteve oculto durante séculos e gerações. A palavra mistério é tradução de mysterion, empregadana literatura grega para comunicar a idéia de algo secreto, misterioso e

desconhecido. As “religiões de mistério” gregas, por exemplo, receberamesse nome porque praticavam ritos secretos nas pessoas que iam aderindo(mystes).

O termo mistério é usado com muita freqüência no NT (27 vezes ao todo,das quais 20 nos escritos de Paulo), e assim seu sentido deve ser determinado

 pelo contexto. Aqui, bem como em 2:2; Efésios 1:9; 3:3, 4, 9: 6:19, eRomanos 16:25-26, refere-se a um aspecto do evangelho que previamente

havia estado oculto; mas agora, de acordo com a vontade soberana de Deus,havia sido manifesto aos seus santos.

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 Introdução   51

1:27 / Paulo deixa seu leitores em grande expectativa, antes de abrir-lheso conteúdo deste mistério. A eles Deus quis fazer conhecer,  principia oapóstolo, quais são as riquezas da glória deste mistério. E este mistério, 

 prossegue ele, para esclarecer, é que em virtude de seus leitores terem sidoincorporados em Cristo, participarão da glória de Deus. Noutras palavras, oevangelho inicia um processo que se move na direção de um objetivo quedeve ainda tornar-se completamente real. O conteúdo do mistério expande-se em Efésios, em que o autor demonstra que o plano de Deus era incluir osgentios no plano de salvação, de tal maneira que os gentios juntamente comos judeus se tornassem membros do corpo de Cristo (Efésios 2:11-22; 3:2-12).^

E possível traduzir o grego eu como entre — “Cristo entre vós”, em vezde Cristo em vós. Se assim for, a ênfase está na pregação de Cristo no meiodos colossenses, em vez de Cristo habitando em seus corações. Todavia,embora tal tradução possa encaixar-se no contexto, também é verdade queos colossenses pessoalmente partilhavam desse mistério, por causa do Cristo

que neles habitava. O mistério é que Cristo estava neles e entre eles, aomesmo tempo. Eram membros do corpo de Cristo ali, e naquele instante.Entretanto, um anel escatológico rodeia esse conceito, porque a esperançadeles dirigia-se ao futuro glorioso.

1:28 / Agora que a natureza do mistério é revelada, Paulo acrescenta unselementos específicos à sua própria comissão. Ao mudar o pronome “eu”(1:23,24,25) para “nós” (anunciamos), Paulo realiza duas coisas: Primeira,

inclui seus colaboradores, de modo particular Tíquico, que servira à igrejacolossense; segunda, coloca os verdadeiros mensageiros do mistério emlugar à parte, longe dos falsos mestres, os quais invadiram a Igreja com umevangelho diferente.

A tarefa de Paulo incluía a proclamação de Cristo a todo homem. Vistoque isto segue bem de perto o esclarecimento do mistério, Paulo deve quererdizer que sua mensagem é o conteúdo do mistério, isto é, Cristo está em vós,a esperança da glória. Proclamar a Cristo equivale a proclamar o evangelho(I Coríntios 9:14), ou a Palavra de Deus (Atos 13:5; 17:13).

Além da proclamação, há a instrução: admoestando a todo homem, e ensinando a todo homem em toda a sabedoria. Nouthetountes é um termo pedagógico usado em treinamento, disciplina e advertência (Romanos15:14; 1 Tessalonicenses 5:12, 14). Paulo deve ter achado necessário

 proteger a comunidade contra o perigo de desviar-se da verdade. O ensinodeve ser ministrado com toda a sabedoria, e isso implica, como em 1:9, uma

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52 (Colossenses 1:25-29)

aplicação prática de suas instruções, e não meramente um conhecimentoespeculativo ou esotérico.

A sabedoria que Paulo partilha com seus leitores tem um direcionamento

 prático e ético (cf. 1:6, 9); seu objetivo é para que apresentemos todo homem perfeito em Cristo (cf. 4:12). Duas importantes verdades salientam-se, contrastando com o ensino dos falsos mestres. Em primeiro lugar, oevangelho é para todo homem; trata-se de uma mensagem universal, àdisposição de todas as pessoas, não só para um punhado de iluminados. Emsegundo lugar, o objetivo é a maturidade em Cristo (perfeito [isto é, maduro]em Cristo). Os gnósticos enfatizavam a perfeição (teleios) daqueles que

afirmavam estar cheios de uma sabedoria ou poder especiais. Entretanto, oobjetivo de Paulo ao pregar, admoestar e ensinar era conduzir seus leitoresa uma vida espiritual madura, em Cristo (Efésios 4:13, 14).

1:29 / Embora não houvesse sido Paulo, pessoalmente, o responsável pela entrada do evangelho em Colossos, ele enfatiza que está trabalhando em prol daquela comunidade cristã. Para isto, isto é, com esse objetivo emmente, proclama o mistério, que exige força de vontade e trabalho duro(também trabalho, [kopiao] combatendo [agonizomenosj). Tão intensadedicação ao ministério teria sido impossível sem o poder de Cristo que noscapacita.

N o t a s A d i c io n a i s # 71:26,27 / Pode-se encontrar algumas informações úteis sobre o mistério em

G. Bornkamm, mysterion, TDNT, vol. 4, pp. 802-28; W.P. Bowers, “A Note onColossians 1:27a,” em G. Hawthorne, ed., Current Issues in Biblical Patristic  Interpretation (Grand Rapids: Eerdmans, 1975), pp. 110-14; Lohse, pp. 74-75.Quanto a uma discussão adicional, veja-se ## 12-15 sobre Efésios.

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# 8.0 Interesse de Paulo pelas igrejas ( C o lo s s e n s e s 2 : 1 - 5 )

2:1 /Nos versículos que se seguem (2:1 -5), Paulo descreve seu ministériocomo servo de Cristo. Com exceção de 1:24, a seção anterior (1:24-29)descreve uma situação mais genérica ou universal: Paulo sofre em prol daIgreja toda; ele é um servo de Deus que proclama o “mistério” a todas as pessoas; e ensina a fim de que todos possam tomar-se maduros em JesusCristo. Todavia, a fadiga e agonia que caracterizaram seu ministério a todosos gentios tomam-se particularmente evidentes em seu relacionamento com

os colossenses e outras congregações do vale do Lico.Paulo trabalhou duramente— de modo literal, ele agonizou (1:29) — em

 prol daqueles a quem ele jamais vira, bem como daqueles a quem ministrouem pessoa. No entanto, ele não criou um ego inflado; tampouco se afundouem auto-comiseração. Simplesmente relaciona seus trabalhos aos objetivosespecíficos que procura alcançar.

2:2 / O objetivo último de Paulo é encorajar seus leitores (que os seus corações sejam consolados). Corações sejam consolados é uma boatradução do grego paraklesis, porque Paulo deseja queeles sejam fortalecidos,ou encorajados intimamente, a fim de poderem enfrentar a ameaça do falsoensino. Esse encorajamento advém, de acordo com Paulo, do fato de estaremunidos em amor ( symbibasthentes en agape). A versão RSV torna esteconceito mais específico ainda: “que os seus corações sejam encorajados, ao

serem edificados e unidos em amor...”). Noutras palavras, o amor é o princípio que une essa congregação, como povo de Deus, e os encoraja aopor-se aos falsos mestres. O resultado será a convicção da verdade(enriquecidos — plerophoria  — da plenitude da inteligência), no que serelaciona ao mistério  de  Deus  — Cristo. Os  pensamentos que Paulo desenvolve aqui são muito semelhantes a Efésios 3:16-21, que menciona umfortalecimento, amor, compreensão e maturidade íntimos.

2:3 / Este versículo é a última linha sobre os pensamentos que Paulo vemdesenvolvendo a respeito do mistério. O mistério (“segredo”) é Cristo (2:2),em quem (por último) estão ocultos todos os tesouros da sabedoria e da ciência. Paulo já estabeleceu a preeminência de Cristo, ao mostrar que oSenhor é a revelação suprema e completa de Deus (1:15-20). Portanto, nãoé de surpreender que Cristo incorpore toda a sabedoria e ciência de Deus. Não é necessário que os colossenses olhem para além de Cristo; não existeum propósito na busca de outros sistemas de pensamento; não há valores nas

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54 (Colossenses 2:1-5)

entidades secretas. Cristo é tudo e nele estão todas as coisas!2:4 / Até este ponto, segundo algumas sugestões, a maior parte da lingua

gem e dos pensamentos de Paulo precisa ser interpretada dentro do contextoda heresia que ameaça a Igreja. Entretanto, aqui surge a primeira referênciadireta às atividades desses falsos mestres que, aparentemente, tinham grandehabilidade no uso das palavras. O texto grego tem dois termos impressionantes para descrever os métodos dúbios desses homens: Primeiro, eles usamlinguagem persuasiva (pithanologia, lit., “conversa vigorosa”); segunda,têm capacidade para enganar, iludir e seduzir (paralogizomai) suas vítimas.Esse fato conclama uma veemente advertência de Paulo aos colossenses:

digo isto para que ninguém vos engane com palavras persuasivas.2:5 / Embora a igreja não conheça a Paulo pessoalmente, que dela estáfisicamente separado, o apóstolo se sente no meio desses irmãos em espírito. Ao falar em espírito, Paulo provavelmente quer referir-se a maisdo que suas partes não-físicas como o pensamento, coração ou mente. Eleestá presente com os crentes por causa da fé comum em Cristo; estar emCristo equivale a estar no Espírito — o Espírito de Deus (Romanos 8:9ss.).

A presença de Paulo no meio dessa congregação é tão real, que ele de fatodiz que os vê. O que o apóstolo vê faz que ele se regozije, pois os colossensesainda não sucumbiram aos pés dos falsos mestres. As orações e os trabalhosde Paulo não foram em vão; os colossenses permanecem juntos, firmes nafé em Cristo.

N o t a s A d i c io n a i s # 82:2 / Uma interpretação alternativa de considerável mérito é sugerida por

O’Brien, em sua obra Colossians, Philemon. Para O’Brien, symbibazo tem umsentido didático, significando “instruir,” “tornar conhecido,” ou “ensinar.” Osentido, então, seria que Paulo instruiu seus leitores em amor, a fim de que setornem “iluminados em sua fé contra ensinos e práticas heréticos...” (p. 93).

2:3 / Schweizer salienta que o nosso conhecimento de Cristo nunca termina,nunca se faz de uma vez para sempre: “A revelação só pode ocorrer quando a

 pessoa ouve, e vai ouvindo e ouvindo sempre. Na verdade, a questão assim proposta é que Cristo é suficiente e não há outros mistérios importantes para asalvação, além de Cristo, ou em adição a Cristo. Portanto, por um 1ado toda arevelação de Deus se faz de uma vez por todas em Cristo, de modo que a pessoanão precisamais procurar conhecimento noutra parte, como algumas pessoas deColossos obviamente tentavam fazer. Por outro lado, ninguém consegue apro priar-se de tal conhecimento de uma vez por todas; antes, o crente precisa irdescobrindo-o sempre, num processo contínuo, ao permitir que Cristo lhoconceda” (p. 118).

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# 9. Convocação à Perseverança ( C o l o s s e n s e s 2 : 6 - 7 )

2:6   / O texto grego inicia-se com “portanto,” indicando que o que oapóstolo está prestes a dizer liga-se ao que acabou de ensinar a respeito doconteúdo do mistério, que é “o próprio Cristo.” E como disse alguém:“Sempre que você encontrar um “portanto” nas Escrituras, volte e veja o queestá ali, e para quê!”

 Permanecer firme não significa ficar quieto.  Paulo  sabe que a melhor  

defesa é uma boa ofensiva. Conseqüentemente ele aconselha seus leitores a prosseguirem na fé. Ao receberem o evangelho, receberam a Cristo Jesus,o Senhor. Entretanto, esse acontecimento do passado exerce um significado permanente em suas vidas, porque essas pessoas devem viver em união como Senhor — literalmente devem “andar com o Cristo.” Ao declarar isto,Paulo reforça um tema muito comum em seus escritos, a saber, orelacionamento existente entre a teologia e a ética (3:lss.; Efésios 4-5).

Todos quantos receberam a Cristo devem assim também andar nele. Ou,os que estão em Cristo (indicativo da vida cristã) devem tornar-se o que são(imperativo da vida cristã).

2:7 \ Paulo amplifica o que significa viver em união com Cristo, usandoumas imagens tiradas da botânica e arquitetura. A tradução de NIV —“enraizados... nele” — e outras versões, neste ponto, inclusive ECA(arraigados) não conseguem captar todo o significado dos tempos verbais

gregos empregados. A palavra de Paulo no grego para arraigados é umverbo no perfeito que, nessa língua, descreve um estado presente que resultade determinada ação no passado. Aqui, o sentido exato do verbo equivale a“tendo sido enraizados.”

Quanto à metáfora da edificação, Paulo emprega o presente do indicativo,que descreve uma ação contínua. A edificação da vida dos crentes em Cristo

(epoikodomoumenoi)  e o estabelecimento (bebctioumenoi) de sua féconstituem processos contínuos, que só são possíveis pelo fato de já estaremenraizados no Senhor. Daí decorre o tom imperativo de NIV: “Continuai...[a ser] edificados nele, e fortalecidos na fé,” enquanto ECA diz: arraigados e edificados nele, e confirmados na fé.

Alguns comentaristas sugerem que a referência à fé deve ser entendidacomo “pela vossa fé” (dativo de instrumento), ou “com respeito à vossa fé”

(dativo de referência). Se a opção correta é a primeira, a idéia então é que os

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56 (Colossenses 2:6-7)

crentes estão sendo edificado por meio da [sua] fé — sendo a fé o instrumentode seu crescimento. Se a última opção é a certa, Paulo deseja, então, que oscolossenses cresçam na [sua] fé (como o dizem NIV, RSV e GNB). É provável que se labore em erro, ao fazer-se uma distinção tão saliente, porque à medida que o crente cresce em Cristo, ele se firma tanto “na” fécomo “pela” fé.

Assim como fostes ensinados é uma referência específica ao evangelhoque os colossenses ouviram, e vieram a conhecer como a verdade de Deus(1:6). Paulo está prestes a expor a heresia, e deseja que seus leitores saibamque seu crescimento em Cristo depende de que sigam o evangelho conforme

este lhes fora originalmente pregado (1:5-8; 2:6), e não sigam certastradições de falsos mestres (2:8).

Crescendo em ação de graças: Paulo já havia mencionado a ação degraças (1:3,12), e o fará de novo em 3:15 e 4:2. E certo que esta frase se ligaà sua admoestação anterior, para que todos andem no Senhor (2:6). Noutras

 palavras, a vida cristã deve caracterizar-se pela gratidão a Deus.

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# 10. Tradição Cristã Contra Tradição Humana(C o l o ss e n s e s 2 : 8 - 1 0 )

2:8 / Antes, os leitores haviam sido advertidos a respeito de algunsmétodos empregados pelos falsos mestres (2:4). Agora, numa admoestaçãosevera (Tende cuidado), Paulo expõe as heresias com maior rigor. Primeiro,0 objetivo dos falsos mestres é escravizar suas vítimas. A palavra “sylagogeo”descreve a ação de alguém que rapta ou saqueia, e depois foge levando osdespojos como prêmio. Eis uma forma apropriada de retratar a natureza

maliciosa e sedutora da heresia.Em segundo lugar, trata-se de filosofias e vãs sutilezas (RSV: “filosofia

e engano vazio”; GNB: “engano sem valor da sabedoria humana”). Esta é aúnica vez que a palavra “filosofia” ocorre no NT, pelo que deveria constituiruma faceta especial daquela heresia. Paulo não está se opondo ao estudo dafilosofia (lit., “o que ama a sabedoria”), visto que no mundo helenista ascomunidades religiosas apresentavam seus ensinos como sendo filosofia. A preocupação de Paulo refere-se às pessoas que transformaram a busca dasabedoria numa “filosofo-latria” — a adoração da filosofia e a prática derituais enganosos. Tais idéias são vãs e vazias, porque nem sequer contêma verdade; são sutilezas porque conseguem cativar as pessoas, impedindo-as de ver a verdade.

Em terceiro lugar, esses ensinos têm origem humana, jamais divina. O

ensino segundo Cristo é a referência de Paulo à palavra da verdade, oevangelho, que veio aos colossenses diretamente, através de Epafras (1:5-7),e indiretamente mediante Paulo, o servo que Deus nomeara (1:23, 25). Os1alsos mestres não podem afirmar tal coisa, pois suas doutrinas têm origemhumana, foram criadas segundo os rudimentos do mundo (stoicheia tou kosmou, lit. “elementos do universo”). A maioria dos tradutores para o inglêsadiciona a palavra “espíritos” ou “princípios” (rudimentos, em ECA).

Assim é que RSV diz: “espíritos elementares do universo”; “princípioselementares do mundo,” em NASB, e “espíritos governantes do universo,”em GNB. Em Hebreus 5:12, os tradutores de NEB traduziram essa fraseassim: “o ABC dos oráculos de Deus.”

Como as notas adicionais o demonstrarão, existe grande variedade deopiniões eruditas quanto ao significado destes conceitos no NT (Colossenses2:8,20; Gálatas 4:3). O termo stoicheion indica algo básico, ou rudimentar,assim como os princípios fundamentais do aprendizado (a cartilha), ou os

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58 (Colossenses 2:8-10)

elementos mediante os quais o mundo foi criado (terra, ar, fogo e água). Taisrudimentos talvez tenham sido elevados ao nível de espíritos, ou anjos, nomundo helenista.

Stoicheion  também designa os corpos celestes que, em certos casos,

foram personificados e adorados. O controle que tais espíritos elementaresexerciam sobre os seres humanos (a sorte, ou destino) só podia ser quebradomediante o conhecimento correto (gnosis) e/ou um rito, em geral, na formade uma feitiçaria ou prática ascética (cf. 2:20-23). Entretanto, tais stoicheia também poderiam ser a origem da sabedoria ou conhecimento e, dessaforma, proviam a substância da falsa mensagem de que Paulo trata nos

versículos subseqüentes (2:16-19), e que ele expõe abertamente, como princípios contrários ao evangelho de Cristo.2:9 / Neste versículo, Paulo retorna a um tema já desenvolvido no hino

a Cristo (1:15-20), e enfatiza de novo que os colossenses não têm necessidadede uma fonte adicional de revelação, ou autoridade, para sua vida espiritual.Cristo não é simplesmente mais uma força espiritual, dentre outras quecompõem a totalidade, ou plenitude (pleroma) do universo (cf. 1:19). Ele é

superior a todos os poderes, visto que ele, e só ele, é o Deus encarnado; a plenitude de Deus encontra-se em Cristo.

2:10 / Entretanto, há algo mais nessa mensagem maravilhosa. Aqueleque é a plenitude do próprio Deus, também é a plenitude de cada crente. Acomunidade cristã cumpre-se em Cristo. Os colossenses não precisam

 procurar nada, além de Cristo, para poderem compreender o universo;tampouco precisam suplementar Cristo em suas vidas pessoais, porque as

 pessoas que estão “em Cristo” participam de sua plenitude “agora” (o tempo presente do verbo grego, este, que quer dizer “vós estais”). Noutras palavras,nada falta ao relacionamento dos crentes com Deus. Paulo termina reiterando(cf. 1:15-20) apreeminência de Cristo sobre todos os poderes (ele é o cabeça de todo principado e potestade). Portanto, não há a mínima necessidade de

 prestar-lhes homenagem!

N o t a s A d i c i o n a i s # 1 02:8 /Quanto a alguns comentários a respeito dos falsos ensinos em Colossos,

veja-se alntrodução. Praticamente todos os comentários trazem um estudo sobreas heresias, bem como o sentido de stoicheia tou kosmou. Por exemplo, Lohse,“The Elements of the Universe” (pp. 96-99), e “The Teaching of the Philosophy”(pp. 127-31); Martin, pp. 80-100; Schweizer, “Excursus: The ColossianPhilosophy (2:8),” em seu comentário, pp. 125-70.

Estudos adicionais, mais técnicos, incluem stoicheia, em W.F. Arndt e F. W.

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(Colossenses 2:8-10)   59

Gingrich, “A Greek-English Lexicon of the New Testament,” 2a. ed. (Chicago:Univ. of Chicago Press, 1979), pp. 768-69; A.J. Bandstra, “The Law and theElements of the World: An Exegetical Study in Aspects of Paul’s Teaching”(Kampen:  J.H.  Kok, 1964; G.R. Beasley-Murray, “The Second Chapter of

Colossians,” RevExp 70 (1973), pp. 469-79; E. Burton, “The Elements of theUniverse,” em sua obra “Critical and Exegetical Commentary on the Epistle tothe Galatians” (Edinburgo: T. & T. Clark, 1921), pp. 510-18; G. Delling,

 stoicheo  TDNT vol. 7, pp. 666-87; C.A. Evans. “The Colossian Mystics,”Biblica 63 (1982), pp. 188-205.

Um volume relacionado para leituras adicionais, de F. Francise W. Meeks,eds., “Conflict at Colossae” contém os seguintes artigos: “The ColossianI leresy,” de J.B. Lightfoot; “The Isis Initiation in Apuleius and Related InitiatoryRites,” de M. Dibelius; “The Heresy of Colossians,” de G. Bornkamm; “Paul’sAdversaries in Colossae,” de S. Lyonnet; “Humility and Angelic Worship inCol. 2:18,” deF.O. Francis; e “The Background of EMBATEUEIN (Col. 2:18)cm Legal Papyri and Oracle Inscriptions,” de F.O. Francis. Cf. também M.D.I looker, “Were There False Teachers in Colossae?” em “Christ and the Spirit inIhe New Testament,” ed. B. Lindars e S.S. Smalley (Cambridge: CambridgeUniversity Press, 1973), pp. 315-31; Schweizer, “Christ in the Letter to the

( ’olossians,” esp. pp. 451-55; quanto a outras contribuições de Schweizer, bemcomo fontes adicionais de fora, veja-se “Colossians” desse autor, pp. 121, 311.Uma interpretação singular, mas muito útil, de stoicheia encontramo-la em W.Wink, em “The Elements of the Universe in Biblical and Scientific Perspective,”Xygon 13 (1978), pp. 225-48.

Continua a haver debate sobre se stoicheia tou kosmou dever ser traduzidocomo “elementos do universo” ou “espíritos elementares do universo.” Deacordo com Schweizer, a designação “elementos” não inclui os espíritosastrológicos e as estrelas “senão depois do segundo século d.C. Além do mais,esses elementos nunca são mencionados nas listas do Novo Testamento de poderes e autoridades, nem mesmo em Colossenses (1:16; 2:10). Nosso pontode partida deve ser o fato de não haver evidências contemporânias para osignificado de “espíritos elementares” nem de “estrelas.” O poder que detêm, aoamarrar os homens ao “mundo,” mediante “determinações” ascéticas (vv. 20s.), provavelmente é comparável, então, ao poder inerente aos mandamentos da lei

i|ue, com toda certeza, também não são demônios” (p. 128).W. Wink percorre toda a história da pesquisa de stoicheia e conclui que antesilo terceiro século d.C., não existe a mínima evidência de serem consideradosseres pessoais, ou anjos decaídos, ou divinizados de alguma forma. O sentidodesse termo só pode ser determinado pelo contexto, que varia bastante no NT.Por exemplo, os elementos constituintes do universo físico (2 Pedro 3:10, 12),

 pressuposições filosóficas (Colossenses 2:8), leis e práticas religiosas(('olossenses 2:20; Gálatas 4:3,9), ou os princípios rudimentares, ou primordiais (Hebreus 5:12).

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# 11. A Verdadeira Crcunasão e Seus Efeitos( C o lo s se n s e s 2 : 1 1 - 1 5 )

2:11 / Já notamos que a doutrina do batismo ocupa lugar significativonesta carta (veja-se a nota sobre 1:14). Nesta seção (2:11-15), Paulo se volta para o batismo como forma de explicar os meios e os resultados da união doscrentes com Cristo. Com exceção da linguagem da circuncisão, os

 pensamentos são semelhantes àqueles desenvolvidos em Romanos 6:1-11 eGálatas 3:27-28. É bem possível que as crenças e práticas peculiares dosfalsos mestres colossenses precisassem deste esclarecimento sobre acircuncisão e seu relacionamento com a nova vida em Cristo, mediante o batismo.

Ao insistir em que os colossenses já haviam sido circuncidados, Pauloelimina todo o ensino conducente à continuação deste rito, na comunidade.

Mas sua circuncisão, esclarece o apóstolo, é aquela não feita por mãos no despojar do corpo da carne, literalmente: “não feita por mãos humanas.”Sendo gentios, não têm a mínima necessidade de passar por um rito que era

 praticado pelos judeus, como sinal de que faziam parte da aliança. Tampoucodeveriam submeter-se a quaisquer ritos de iniciação da parte dos falsosmestres, que degradam o corpo e a carne.

Os crentes são circuncidados com a circuncisão de Cristo. Esta nada

tem que ver com a circuncisão por que passou Jesus quando bebê judeu(Lucas 2:21). Em vez disso, Paulo refere-se a uma circuncisão que pertencea Cristo, e que só Cristo executa, quando os crentes a ele se unem pelo

 batismo. A principal intenção de Paulo é contrastar a circuncisão física(externa) com a espiritual (interna). Experimentar a circuncisão de Cristonada mais é do que ser sepultado e ressurreto com ele no batismo, mediantea fé.

A essência dessa circuncisão espiritual consiste no despojar-nos denossa natureza pecaminosa (lit., despojar-se do corpo carnal)  Noutras palavras, Cristo libera as pessoas de sua natureza não-regenerada ( ‘corpo do pecado,” Romanos 6:6; “corpo desta morte,” Romanos 7:24). Paulodesenvolve idéias semelhantes quando fala do “velho homem” que foi“crucificado” com Cristo no batismo (Romanos 6:6; Efésios 4:22; Colossenses

3:9, 10), ou da crucificação das paixões e desejos carnais (Gálatas 2:19;5:24).

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(Colossenses 2:8-10)   61

Que mensagem tremenda de libertação e vitória temos aqui para umacongregação que está sendo seduzida por um grupo de falsos mestres!Aquele grupo de novos-convertidos, ainda escravizado por poderes eautoridades cósmicos, que procurava libertar-se mediante rituais e práticasascéticas inúteis (2:16-23), precisava ouvir aquilo! Os colossensesnecessitavam lembrar-se de que Cristo havia derrotado (apekdysis, despojar,desnudar, desarmar) esses tiranos espirituais em sua morte, e sobre eles haviatriunfado através de sua ressurreição (2:15). Paulo traz à memória de seusleitores que essa vitória lhes pertence, porque eles haviam sido circuncidadoscom a circuncisão de Cristo,  pois mediante a união com ele no batismo,

Cristo liberta a humanidade dos poderes do mal.2:11/ Visto que a “circuncisão de Cristo” é o batismo, este versículo deveser entendido como uma elaboração dessa verdade, em vez de simplesintrodução de novas idéias. O texto grego começa com o particípio passado

 passivo syntaphentes, que se traduz tendo sido sepultados. ECA corretamentedeixa implícita esta continuidade de pensamento. RSV diz: “e vós fostessepultados”, o que pode dar a impressão errônea de que o sepultamento com

( 'risto no batismo é uma experiência diferente.A semelhança de idéias em Colossenses 2:11-15, Romanos 6:1-11,

( iálatas 3:26-27 eEfésios 2:1-10 sugere que tais passagens faziam parte dasinstruções-padrão para o batismo, na Igreja apostólica. É certo que existemdiferentes matizes e aplicações exigidas pelo contexto de cada carta. Mas basicamente elas ensinam: (a) que o batismo se recebe pela fé, isto é, destina-

se a crentes que colocam sua fé em Cristo; (b) que o batismo é uma participação na morte e ressurreição de Cristo; e (c) que no batismo háimplicações éticas, porque o crente recebe nova vida em Cristo.

A imagem de sepultamento (morte) e ressurreição (nova vida) vem da prática neo-testamentária da imersão — o crente era literalmente imergidona água. O sepultamento significava a morte para o velho modo de viver; aemersão simbolizava a nova vida (ressurreta) em Cristo. Assim, de modo

 profundo, o batismo simboliza ou dramatiza externamente uma experiênciainterna, a do perdão de pecados.

Estas coisas não deveriam conduzir o crente à conclusão de que o batismoé apenas um “símbolo” de certa experiência priorística, como oarrependimento ou a conversão. Visto que o batismo no Novo Testamentoc batismo de fé, não é incomum que se encontre o perdão, a regeneração ea justificação ligados a este rito (João 3:5; Atos 2:38; 22:16; 1 Coríntios 6:11;Tito 3:5; 1 Pedro 3:18-21). Noutras palavras, o batismo, quando acompanhado

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62 (Colossenses 2:8-10)

 pela fé, exerce uma função sacramental, bem como simbólica. Mediante seuEspírito, Deus decidiu que algo deve acontecer no batismo. O batismo é aomesmo tempo a expressão (símbolo) e o veículo (meio, instrumento) dagraça de Deus. O batismo declara e ao mesmo tempo efetua a união do crentecom a morte e a ressurreição de Cristo (cf. Romanos 6:1-10). Trata-se deiniciação no corpo de Cristo, a Igreja (1 Coríntios 12:13); é o modo que Deususa para marcar indelevelmente o crente com seu selo de propriedade(Efésios 1:13; 4:30).

Os crentes de Colossos que foram sepultados com ele no batismo também ressurgiram nele, em Cristo. A inferência mais lógica é que esta

“ressurreição” faz parte do batismo (segundo o texto grego <en ho>, quesignifica “em quem, que.” Assim é que RSV traz: “em que [i.e., batismo]fostes também ressuscitados com ele pela fé,” e GNB: “no batismo fostestambém ressuscitados com Cristo mediante a vossa fé”). Paulo apresentatambém a ressurreição de Cristo como a suprema manifestação do poder deDeus. Este pensamento final é semelhante a Efésios 1:19, em que o poder deDeus é demonstrado na ressurreição de Cristo dentre os mortos.

E significativo que a ação descrita nos versículos 11-12 está no pretérito passado (aoristo grego): “vós fostes circuncidados” (erietmethete); “havendosido sepultados” (syntaphentes);  “havendo sido... ressuscitados”(synegerthete).  Noutras palavras, estas realidades os crentes já as possuem,em virtude de sua união com Cristo, no batismo. Não há necessidade de

 procurar nenhuma experiência espiritual como suplemento à fé. O falso

ensino nada lhes tem a oferecer; tudo já lhes foi dado em Cristo.2:13 / A nova vida que esses crentes possuem agora, em Cristo, contrastacom aquilo que eram antes de serem batizados. Estavam todos mortosespiritualmente (cf. Efésios 2:1). Essa morte espiritual se comprovavamoralmente, pelos seus pecados (paraptoma ou “transgressões”). Assim,mediante o contraste, percebe-se uma conexão com o v. 11, em que Paulo serefere à “circuncisão espiritual” (cf. Efésios 2:11, 12). A continuidade com

o v. 13 é demonstrada no fato de que [Deus] vos vivificou juntamente com ele [Cristo], Assim como Cristo ressurgiu dos mortos pelo poder de Deus, ocrente, que está em Cristo por causa do batismo, também ressurgiu (2:12),i.e., voltou à vida (2:13).

O texto grego também ilustracomo Paulo deseja enfatizar cuidadosamentea união dos crentes com Cristo. A palavra para vida (zoe) tem como prefixoapreposição syn (synezoopoiesen). Estapreposição se repete com o pronomeele (syn auto), tirando qualquer dúvida sobre o fato de que a ressurreição e

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(Colossenses 2:8-10)   63

a concessão de nova vida ocorrem mediante a ação de Deus em Cristo, e sócm Cristo.

Esta nova vida em Cristo resultou numa mudança radical na vida moraldessas pessoas. Antes, estavam todos mortos em seus pecados; agora, estão

vivos espiritualmente (Deus agiu, perdoando-nos todos os nossos delitos). A mudança de vós para nós provavelmente indica que Paulo está usando umlexto familiar tradicional da Igreja apostólica (observe-se em Mateus 6:12,a oração dominical: “Perdoa-nos as nossas dívidas”). Este “perdão” ocorreutambém no passado (observe-se o aoristo grego). Por isso, não hánecessidadede procurar algo diferente, outras alternativas, além da experiência que

tiveram com Cristo.2:14-15 / Aqui, Paulo inicia seu ensino sobre o significado do perdão, emtermos que se aplicam de modo particular à situação. Seu ponto de maiordestaque é que o perdão de pecados significa a vitória sobre os poderesalienígenas, e a libertação de práticas legalísticas. De novo toda a ação sedescreve no tempo aoristo (passado): Ele “perdoou” (charisamenos), “cancelou” (exaleipsas) ,  “crucificou” (proselosas) ,  “libertou”

(apekdysamenos), e ele “triunfou” (thriambeusas)  sobre os principados e as potestades.

Ao discutir a natureza do perdão, Paulo se refere a um certificado escritoa mão que comprova a inexistência de débitos, semelhante a um reciboredigido à maneira de um “vale”, ou declaração de dívida (<cheirographon>, no grego). Os eruditos se dividem quanto ao sentido deste termo, e tambémquanto à interpretação adequada da frase toda: o escrito de dívida que havia contra nós em suas ordenanças, o qual nos era contrário. Algumas dassugestões são as seguintes: (a) a lei de Moisés, (b) a aliança feita entre Adãoc o diabo, (c) um certificado de débito, semelhante a um vale assinado, dedívida da humanidade para com Deus, (d) um livro celeste em que Deusregistrou os pecados humanos, ou (e) o próprio Cristo.

Um grande número de intérpretes entende que isto se refere à lei judaica

 — e assim às ordenanças de Deus — ou às tradições humanas provenientesdos falsos mestres, que resultaram nas transgressões. Em cada caso, os sereshumanos estavam impossibilitados de guardar esses preceitos, pelo queestes se arvoravam em escrito de dívida contra a humanidade, até que Cristoo cancelou mediante sua morte.

Uma e outra interpretação faz sentido, por várias razões: primeira, hácasos, no judaísmo contemporâneo, em que a lei é aplicada dessa maneira;

segunda, enquadra-se bem no contexto da passagem em que Paulo está

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64 (Colossenses 2:8-10)

tratando de práticas legalísticas específicas que condenavam o indivíduo, amenos que este a elas obedecesse; terceira, ajuda a explicar a ocorrência deoutros termos neste versículo, como havendo riscado e ordenanças (tois 

dogmasin). Embora não se consiga definir com certeza o significado exatodas palavras de Paulo, está claro que seu objetivo mais importante é enfatizaro modo decisivo e completo por que a morte de Cristo na cruz resolveu o

 problema da dívida da humanidade para com Deus.O aspecto negativo da obra de Cristo na cruz é o cancelamento da nossa

dívida; o aspecto positivo é o triunfo de Cristo sobre os poderes malignos. Na cruz, Cristo despojou os principados e as potestades.

Paulo ilustra essa conquista usando a imagem de um general vitoriosoque conduz para seu país, em cativeiro, uma procissão de prisioneiros deguerra, cuja derrota é assim proclamada perante o público. A derrotainfligida por Cristo aos poderes malignos resultou em que ele os expôs publicamente ao desprezo, porque deles triunfou na cruz. A crucificaçãoe a ressurreição (v. 12) são os eventos históricos supremos (proclamadospublicamente) da vitória de Cristo sobre o maligno.

O v. 15 também repete uma ênfase que tem sido vista em toda a carta, asaber, que só em Cristo, em virtude de sua morte na cruz, os tiranos malignosdeixaram de ter controle sobre o crente. Os leitores deverão lembrar-setambém de 1:13, em que Paulo diz que eles foram libertados dos poderes dastrevas, e conduzidos em segurança para o reino do Filho amado de Deus.Todos quantos foram batizados em Cristo, e dele receberam nova vida

(2:12), participam de sua vitória sobre o maligno.

N o t a s A d i c i o n a i s # 1 12:11 / Beasley-Murray usa essa figura da circuncisão de modo mais profun

do ainda: “Neste contexto, a expressão: ‘no despojar (ou despir) do corpo dacarne’, gera um contraste mais plausível ainda em relação à pequena operaçãoque envolve a circuncisão. Com toda franqueza, parece que o texto está dizendo

que em vez de retirar-se (despojar) um diminuto pedaço de pele, como nacircuncisão, o cristão despiu todo o seu corpo carnal, e isto aconteceu porqueCristo foi ‘circuncidado, ’ isto é, morto na cruz. O cristão compartilha esse eventode modo tão completo, como se ele próprio houvesse sofrido aquela mortesangrenta, horrível, na cruz” (“The Second Chapter of Colossians,” RevExp 70[1973], p. 474).

2:12 / O comentário de Beasley-Murray a respeito da natureza simbólica,

sacramental, do batismo na Igreja apostólica fala desse ponto: “Em tal ambiente,o batismo é menos o testemunho de uma fé previamente recebida, e mais uma

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(Colossenses 2:8-10)   65

declaração de fé abraçada aqui e agora, a corporificação de uma conversão aCristo, uma submissão a ele, que nos pode salvar. Em tal ambiente, não é desurpreender que as realidades espirituais da conversão e do batismo se juntem,visto que nesse contexto ambos caem juntos” (“The Second Chapter of

Colossians,” p. 476). No que concerne à ênfase de Paulo na ressurreição e batismo, deve-se

observar que em Romanos, a ressurreição é tratada como evento do futuro (“Sefomos plantados juntamente com ele na semelhança da sua morte, também oseremos na da sua ressurreição,” 6:5). Isto (cf. também 2 Coríntios 4:14; 2Timóteo 2:11) poderia ser uma correção de certo elemento da igreja gentílica,que julgava que a ressurreição se completava no batismo (2 Timóteo 2:18). Em

Colossenses, a ênfase de Paulo recai sobre a realidade presente da vida ressurretaem Cristo, porque os falsos mestres estavam ensinando que a alma ainda estavano processo de subir aos céus (Schweizer, pp. 144-45).

2:14/ Uma boa descrição de algumas dessas perspectivas nos é dada por W.Carr, em seu artigo, “Two Notes on Colossians (1. Col. 2:14; 2. Col. 2:18),” JTS24 (1973), pp. 492-500. A conclusão de Carr é que os dogmas (ordenanças) nãosão mandamentos de Deus, mas “aquelas decisões dos homens que induzem às

transgressões”, ou “o autógrafo de nossa própria condenação, com todas as suasminúcias” (p. 496).Quanto a referências a respeito da literatura judaica e grega, veja-se Lohse,

 pp. 108-9; Martin, “Colossians and Philemon,” pp. 83-85. Martin é atraído parauma perspectiva segundo a qual “cheirographon” é um livro de obras guardado

 por Deus, no qual estão registrados todos os pecados da humanidade. Emboraesse registro seja usado pelos espíritos maus a fim de acusar homens e mulheresquanto à sua condição carnal, nada espiritual, ele deixa de exercer força contraos crentes, porque Cristo lhe destruiu a eficácia pela sua morte na cruz. Parece,entretanto, que essa interpretação estaria fazendo muita concessão. Não estariaPaulo caindo na armadilha herética, ao reconhecer a existência de algo tãoabsurdo como uma lista de pecados? Quanto a outra opinião, cf. O. A. Blanchette,“Does the Cheirographon of Colossenses 2:14 Represent Christ Himself?” CBQ23 (1961), pp. 306-12.

2:15 / O verbo apekdysamenos é um aoristo, um particípio médio. Como

verbo depoente, entretanto, (apekdyomai),  tem sentido ativo e Deus comosujeito. Assim, “Deus despojou os poderes malignos de sua dignidade eautoridade” (veja-se Lohse, pp. 111-12; Martin, pp. 86-88; Bruce, pp. 239-40;Abbott, pp. 258-61).

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# 12 . Manifesto da Liberdade Cristã (C o lo s se n s e s 2 : 1 6 - 2 3 )

2:16 / A derrota dessas forças malignas infligida por Cristo forma a baseda polêmica de Paulo nesta seção. Portanto refere-se ao já mencionadoministério de Cristo e sua vitória sobre as potestades e principados espirituaisque, segundo se imaginava, exerciam poder sobre os crentes. Cristo libertouos crentes, os quais agora devem zelar por essa liberdade, ao resistir a todasas tentativas da parte dos falsos mestres, que almejam sujeitá-los a outrosistema de leis e preceitos legalísticos.

A passagem toda é um tanto difícil de ser interpretada. Em primeiro lugar,Paulo emprega frases e “slogans” que vinham sendo usados pelos falsosmestres. Embora fossem familiares aos colossenses, são de difícilcompreensão para o leitor moderno. Em segundo lugar, a despeito dereferências específicas às crenças e práticas dos falsos mestres, é impossívelidentificar a heresia com precisão. Algumas coisas que Paulo diz parecem

 judaicas; outras parecem pagãs, e helenísticas. Uma terceira alternativa, a

que atrai mais a atenção, é que essa heresia representava uma forma desincretismo que combinava elementos de várias fontes diferentes (veja-se adiscussão na introdução).

A identificação correta da heresia não é essencial à compreensão damensagem básica de Paulo. Ele deseja reassegurar a seus leitores que, emvirtude da pessoa e obra de Cristo, eles não precisam sacrificar sua liberdade

 perante o legalismo (ninguém vos julgue). Esse ninguém refere-se a certa pessoa (ou pessoas) que tenta constituir-se em juiz dos membros dacongregação, por estes não obedecerem a determinadas leis relativas aalimentos e observância de festividades religiosas.

Tais regulamentos ultrapassavam as exigências do Antigo Testamento,visto que as leis dietéticas que governavam o povo da antiga aliança haviamsido postas de lado por Cristo (Marcos 7:19), e jamais vigorariam sobre os

gentios (Atos 10:9-16; 15:19-29). Ficamos com a forte impressão de que osregulamentos que ameaçavam os colossenses eram meras tradições criadas

 pelos homens. As pessoas do mundo antigo se abstinham de determinadosalimentos por várias razões (cf. Romanos 14:17, 21; 1 Timóteo 4:3).

Os colossenses não deveriam prender-se a ordenanças relacionadas aalimentos (pelo comer, ou pelo beber), nem ao calendário religioso (ou por causa dos dias de festa, ou de lua nova, ou de sábados). E bem possível

que esses “dias especiais” também governassem o que a pessoa podia ou não

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(Colossenses 2:8-10)   67

 podia comer. O fato é que Paulo proclamou total liberdade de tais regulamentosimpostos pelos falsos mestres. Se se submetessem atais regras, os colossensesestariam reconhecendo que a autoridade das potestades malignas ainda osdominava. Era preciso que se lembrassem de que em Cristo eles haviam sidolibertos dessa tirania (2:20).

2:17 / Todos esses dogmas eram apenas sombras das coisas futuras. Houve época, no passado, em que tais ordenanças teriam servido como“tipo” transitório, ou sombras de algo permanente e futuro. Todavia, ocumprimento havia chegado, em Cristo, pelo que tais regulamentos haviam perdido seu valor intrínseco. Sua função como prenúncios havia sido

ultrapassada por Cristo: Ele é a realidade (cf. RSV: “a substância pertencea Cristo”; GNB: “a realidade é Cristo”; NIV e ECA: a realidade, porém, encontra-se em Cristo).

A palavra empregada para expressar realidade é soma. Por um lado, étermo que pode simplesmente distinguir a verdadeira realidade (substância)da aparência (sombras). Por outro lado, “soma” é a mesma palavra quePaulo usou para a Igreja como o corpo (“soma”) de Cristo (1:18; 2:19). Este

fato, aliado à identidade corporativa existente entre Cristo e os crentes, levanos a interrogar se Paulo tem em mente a Igreja como corpo de Cristo. Seassim é, o apóstolo estaria dizendo que a realidade existente em Cristo é partilhada de igual modo pelos membros de seu corpo, a Igreja.

2:18/Um dos efeitos mais devastadores produzidos pelos falsos ensinosé a divisão que eles criam dentro da comunidade cristã (cf. 1 Coríntios 1-3;

1 João 2:7-11). Quando certos indivíduos, por exemplo, se constituem a simesmos elite espiritual, ao declararem ter acesso especial a visões, revelações,línguas, profecias e assim por diante (1 Coríndos 14), passam a desprezar oscrentes que não podem reivindicar as mesmas coisas. Em Colossos, issotomou a forma de julgamento ou condenação. Ninguém vos prive do prêmio, afetando humildade ou culto aos anjos. É bem possível que talheresia tivesse alguma afinidade com as religiões de mistério, nas quais essas

visões eram recebidas quando o iniciado praticava determinados ritos, ou penetrava (embateuo) nas áreas mais íntimas do santuário pagão.

A referência a culto aos anjos vai muito além de tudo que se possaencontrar nas Escrituras. E verdade que os anjos eram considerados serescelestiais, intercessores, mensageiros, agentes de Deus, e assim por diante,mas nunca foram adorados como uma classe de seres espirituais. A elevaçãodeles ao nível de potestades cósmicas, e sua veneração como objetos de culto

deve, portanto, pertencer ao sistema herético sincretista. E possível, de fato,

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68 (Colossenses 2:8-10)

que os anjos seriam os principados, as potestades e autoridades que Paulomenciona ao longo de sua carta. Se assim é, tais anjos seriam adorados porcausa do poder e do controle que exercem sobre os seres humanos.

A palavra grega usada para humildade é tapeinophrosyne que, noutrasocasiões, constitui uma disposição de caráter positiva e elogiável (3:12;Efésios 4:2; Filipenses 2:3; 1Pedro 5:5). O contexto aqui demonstra que oshereges eram culpados de falsa humildade (afetando humildade) comrelação a seu culto de anjos. RSV traduz essa expressão como “auto-degradação,” indicando a natureza íntima e egoísta de sua conduta litúrgica.

E Paulo prossegue em sua condenação rigorosa dos perpetradores desse

engano: Eles se julgam superiores espiritualmente por causa de suas visõese práticas litúrgicas, sem que haja, todavia, fundamento sólido para suasafirmações (trata-se de alguém enfatuado sem motivo algum). E tudovaidade destituída de propósitos.

A fonte dessa vaidade está na sua mente carnal. Os falsos mestres poderiam ter imaginado que estavam em comunhão com Deus; teriam cridotalvez que haviam sido inspirados pelo Espírito. Entretanto, seus pensamentose ações vinham de uma fonte humana, e não de Deus. Por isso, continuavamsob o controle da carne (sarx). Paulo não quer dizer com isso que a carne, emsi mesma, é má; os versículos 18 e 19 juntos nos mostram que o problemaestá em a pessoa colocar sua confiança na carne, isto é, em si mesma ou noshomens, em vez de em Cristo.

2 :1 9 /0 grupo de falsos mestres caíra em erro porque deixara de apoiar-

se em Cristo, não se mantendo unido à Cabeça, da qual todo o corpo... vai crescendo. Paulo já havia discutido o senhorio de Cristo relacionado aocosmos e à Igreja (1:15-20; 2:10). Aqui o apóstolo aplica esse conceito aos problemas enfrentados pela Igreja, ao usar a analogia do corpo humano (cf.1 Coríntios 12:12-31; Efésios 4:15-16). Visto que tais falsos mestres sesepararam de Cristo, privaram-se a si mesmos da verdadeira fonte denutrição e unidade.

Cristo é a única fonte verdadeira de vida para a Igreja, pois sob seucontrole o corpo inteiro é provido e organizado (epichoregoumenon). Trata-se de um particípio presente, indicando (no grego) que o processo deapoio e nutrição do corpo é contínuo. A mesma ação contínua aplica-se àunidade do corpo (symbibazomenon):  todo o corpo, provido e organizado pelas juntas e ligaduras, está sob o controle de Cristo (cf. Efésios 4:16).Estas peças anatômicas provêm a necessária coesão para o corpo. Todavia,só podem funcionar se permanecerem unidas à Cabeça.

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(Colossenses 2:8-10)   69

Sob o senhorio de Cristo, o corpo cresce de acordo com o plano de Deus.A tradução literal da frase grega redunda em linguagem estranha: “Ela (aIgreja) cresce (com?) o crescimento de Deus.” Entretanto, o sentido básicoé que Deus provê o padrão do crescimento da Igreja; ele também é a fonte

desse crescimento, o qual é mediado por Cristo, a Cabeça.Tudo quanto Paulo vem dizendo aumenta mais ainda sua acusação dos

falsos mestres, por serem vãos e carnais (2:18). Visto que a si mesmo secortaram, separando-se da fonte de nutrição e unidade e crescimento, segue-se que estão subnutridos, fragmentados e estagnados. De fato, essa imagem

 pòde ser esticada mais um pouco, pois conduz-nos a esta verdade inescapável:

Quem se separa de Cristo, a Cabeça da Igreja, também se separou da Igreja,o corpo de Cristo; quem se separa da Igreja está cortado de Cristo, a Cabeça.2:20/Nãosepodedeixardenotara repetição dos pensamentos anteriores

de Paulo, de 2:6-23. Primeiro, ele aplica as verdades do hino a Cristo àsituação de Colossos (2:6-10); a seguir, o apóstolo explica o efeito da uniãodo crente com Cristo no batismo, que culmina na vitória sobre todas as potestades e principados (2:11-15). Entretanto, os hereges não vindicaram

essa vitória em Cristo, porque continuaram a viver em cativeiro, sob tais poderes malignos, espirituais — uma escravidão que se manifestava em práticas litúrgicas e adoração de anjos.

Agora, nos versículos 20-23, Paulo retoma suas acusações das heresias,ao expor sua natureza com maior profundidade. Toda e qualquer pessoa que

 pratica essa religião, afirma o apóstolo, ainda está escravizada aos poderescósmicos. Tal pessoa não vive à altura da realidade de que, por ocasião deseu batismo (2:11,12), morreu com Cristo e foi liberta do poder dos espíritosque governam o mundo das trevas.

A tragédia é que os falsos mestres não estão vivendo na vitória, nem naliberdade que lhes pertenceria em Cristo. Se estais mortos com Cristo,  pergunta Paulo, quanto aos rudimentos do mundo, por que vos sujeitas ainda a ordenanças, como se vivêsseis no mundo? A p'alavra grega

dogmatizesthe  foi usada em 2:14 e traduzida por “ordenanças.” Aqui, elaocorre na forma verbal média, que transmite a idéia de “por que vósvos submeteis a dogmas...? Por que vos sujeitas ainda a ordenanças?

2:21 / A primeira característica de tais ordenanças é que são escravizadoras(“Não toques, não proves, não manuseies”). Tais proibições podem levaras pessoas à paranóia, imobilizando-as pelo medo de pecar. Aparentementeesta heresia aferrava-se a uma longa lista de alimentos religiosamente

inaceitáveis, ou seja, impuros (cf. 1 Coríntios 8:1; 1 Timóteo 4:3). Não

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70 (Colossenses 2:8-10)

 parece haver uma gradação deliberada nesta lista, embora “não toques”(hapto)  pode ter a implicação de pegar com o propósito de assenhorear-se.

2:22/Em segundo lugar, essas ordenanças e esses “tabus” são temporários(todas estas coisas estão fadadas ao desaparecimento pelo uso). Traduzidoliteralmente, o texto grego diz o seguinte: “coisas destinadas à corrupção nouso.” Todos esses “tabus” estão sujeitos à dissolução (corrupção). Por que,então, colocar tanto de sua vida em coisas destituídas de conseqüências, semrealidade eterna, sem efeitos duradouros?

Em terceiro lugar, são preceitos humanos (preceitos e ensinamentos dos 

homens). Sem dúvida temos aqui uma alusão a passagens já registradascomo 2:8 e 2:17-18, em que Paulojátratou das tradições e leis humanas. Aidéia aqui é semelhante à referência que Jesus fez aos fariseus: “Hipócritas, bem profetizou Isaías a vosso respeito. Este povo honra-me com os seuslábios, mas o seu coração está longe de mim. Mas em vão me adoram,ensinando doutrinas que são preceitos dos homens” (Mateus 15:7-9; cf.Marcos 7:7). Uma preocupação semelhante corre em Tito 1:13-14, em que

Paulo apela “para que sejam sãos na fé”, e para que não dêem “ouvidos afábulas judaicas, nem a mandamentos de homens que se desviam daverdade.” A Igreja de Jesus Cristo precisa estar continuamente alerta paraque nenhuma tradição humana roube seus membros de sua liberdade emCristo.

2:23 / Em quarto lugar, eram enganosos e inúteis: As idéias neste

versículo são muito parecidas com as de 2:18, em que Paulo tratou de visões,da falsa humildade, e da adoração dos anjos. Aqui, ele acrescenta que asordenanças e regulamentos têm aparência de sabedoria, em culto voluntário, humildade fingida, e severidade para com o corpo. Entretanto,na melhor das hipóteses, todas essas exigências são forjadas, pois sóconseguem comunicar aparências e impressões. A sabedoria, o culto e ahumildade não consegue trazê-los para mais perto de Deus; as práticas

ascéticas nenhum efeito exercem na prevenção de pecados da carne.Basicamente todas essas tentativas humanas no campo da religião sãoinúteis, não têm valor algum contra a satisfação da carne.

N o t a s A d i c i o n a i s # 1 22:17 / Os problemas gramaticais da frase to de soma tou Christou  são

discutidos por Schweizer, pp. 157-58. Talvez um nominativo (ton) estivesseoriginalmente no lugar do genitivo, significando, assim, que em contraste com

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(Colossenses 2:8-10)   71

“sombras,” temos “arealidade, porém, encontra-seem Cristo.” A despeito disso,“o único ponto que não ficou completamente acertado é se é Cristo ou a Igrejaque se coloca como realidade, em contraste com as sombras” (p. 158).

2:18 / A palavra embateuo tem sido discutida por vários eruditos: Carr, em

“Two Notes on Colossians,” pp. 492-500, dá-lhe o sentido de entrar no santuário“da mente”, em vez de um santuário ligado à iniciação num dos mistérios.Conseqüentemente a tradução desse versículo diz: “Que ninguém vos julgueineptos para serem cristãos, partindo de desejos pessoais a respeito de excessosreligiosos e freqüência contínua das paragens celestiais, para o culto de anjos,das assim chamadas visões, inchados em sua imaginação terrena pessoal” (p.499). Este ponto de vista aproxima-se muito do de Schweizer, que fala a respeitode “meditação religiosa” em que a pessoa receberia uma visão de Deus (“Christin the Letter to the Colossians,” p. 454).

Quanto a outros comentários, veja-se Francis, “The Background ofEMBATEUEIN (Col. 2:18) in Legal Papyri and Oracle Inscriptions,” em“Conflict at Colossae,” pp. 197-207. Francis conclui que embateuein  nãoconfirma um tipo de religião de mistério, mas no contexto de Colossenses éusado como palavra que significa entrar no céu; H. Preisker, embateuo, TDNT,vol. 2, pp. 535-36. Nos comentários, Bruce, pp. 248-49, esp. no. 93; Martin, pp.

94-95.O problema da adoração de anjos é explorado por Francis, “Humility andAngelic Worship in Col. 2:18,” em “Conflict at Colossae,” pp. 163-95. Para ele,a frase “culto de anjos” está no genitivo subjetivo, significando, portanto, queos anjos é que prestam culto, e não as pessoas aos anjos, como comumente se pensa. Veja-se também A.R.R. Sheppard, “Pagan Cults of Angels in RomanAsia Minor,” “Talanta” 12/13 (1980-82), pp. 77-101.

2:20 / A escolha, como Schweizer, “é entre o ‘mundo’ e seus elementos, porum lado, e o ‘céu’ com a soberania de Deus, no outro lado” (p. 166). Grande partedos falsos ensinos, segundo o entende Schweizer, relaciona-se com as idéiasgnósticas quanto a subida da alma ao céu. Conseqüentemente, ele entende quea polêmica de Paulo segundo esse prisma: “Visto que os colossenses estão ansiosos porque talvez não possam, após a morte, subir às regiões superiores, o autorenfatiza o outro lado da questão: eles já atingiram aquelas regiões, ainda que essefato não esteja claramente evidente. Portanto, não devem permitir que ordenanças lhes prendam, como se ainda estivessem vivendo neste mundo” (p. 166).

2:23 / A tradução e a exposição aqui não mostram as dificuldades que oscomentaristas enfrentam ao tratar de um texto que muitos descrevem comosendo “desesperadamente obscuro.” Quanto a tentativas no sentido de esclarecer seu sentido, veja-se B. Hollenback, “Col. 2:23: Which Things Lead to theFulfillment of the Flesh,” NTS 25 (1979), pp. 254-61; Houlden, “Paul’s Lettersfrom Prison,” pp. 199-200; Lohse, p. 124-26; Martin, pp. 98-100; Schweizer

comenta que “é quase impossível traduzir esse versículo” (p. 168).

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# 13. Dimensões Éticas da Vida Cristã ( In t r odu ção aC o l o ss e n se s 3 : l - 4 : 6 )

O capítulo 3 inicia-se com o que normalmente se chama “seção ética” dacarta. Paulo segue aqui sua tendência normal em suas cartas: primeiro eletrata de questões teológicas, e depois edifica sua ética nesse alicerce (cf.Romanos 12:1 ss.; Gálatas 5:1 ss.; Efésios 4:lss.; Filipenses 4:lss.).

E muito comum os eruditos discutirem essacaracterística de Paulo, chamando-a de elementos “indicativos” e elementos “imperativos” de sua teologia.Basicamente trata-se de dois aspectos da vida cristã: “você é” e “você deve ser.”De certo modo, este conceito assume a forma de um paradoxo no pensamentode Paulo. Por um lado ele pode dizer.que, em virtude de sua posição em Cristo,o crente “está” há muito “morto para o pecado,” mas “vivo no Senhor”, e “é umanova criatura,” e assim por diante. Mas, por outro lado, diz Paulo: “agora, tomai-

vos o que sois,” isto é, “vivei como se estivésseis mortos para o pecado, vivosno Senhor, como novas criaturas.”Essa tensão entre o indicativo e o imperativo, entre pertencer

espiritualmente a uma era vindoura, todavia vivendo temporariamente naera atual, é uma extraordinária característica da teologia paulina (cf. Romanos6:1-4,11,12,13; 8:9-17; 13:14; 1 Coríntios 6:8-11,19,20;2Coríntios5:17-21; Gálatas 5:24, 25; Efésios 4:1-6; 4:22-5:20; Colossenses 1:9-15; 3:1-4).

Este terceiro capítulo de Colossenses ilustra esse princípio ao declarar queos crentes ressuscitaram com Cristo (fostes ressuscitados com Cristo). Entretanto, os crentes são admoestados a colocar seus corações nas “coisasque são de cima” (3:1); morreram com Cristo (2:20; 3:3), mas a seguirrecebem a ordem “fazei morrer” certos vícios (3:5). A linguagem que usa aexpressão “despir-se do velho homem” (3:9; cf. Efésios 4:22) e “vestir-se denovo” (3:10; Efésios 4:24) comunica uma mensagem semelhante.

O relacionamento entre a teologia e a ética, ou entre o indicativo e oimperativo, com freqüência se desenvolve ao redor do sacramento do batismo (cf. a disc. sobre 2:11-15). Esta verdade se torna óbvia quando a pessoa considera as conseqüências de morrer e de ressurgir com Cristo.Visto ser o batismo o fundamento de uma nova existência, a vida cristã precisa manifestar essa mudança mediante uma vida ética que lhe corresponda.

 Noutras palavras, o verdadeiro sentido do batismo precisa ser vivido na vidade cada crente.

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(Introdução à Colossenses 3:1-4:6)   73

Este íntimo relacionamento entre o batismo e a ética explica as numerosasassociações de exortações éticas em Colossenses e Efésios ao evento do

 batismo. Também é muito natural que encontremos a linguagem batismal ea ética envoltas num manto de intimidade, visto que o batismo era a ocasião

 propícia para a instrução ética.A discussão precedente provê um contexto para a compreensão de 3:1 ss.,

 porque Paulo utiliza o evento do batismo como forma de desenvolver um padrão ético para seus leitores. Partindo de sua discussão anterior (2:11-15),eles ficariam sabendo que o apóstolo tinha o batismo em mente ao dizer“estais mortos” (2:20; 3:3), e “tendo sido sepultados com ele no batismo,

nele também ressurgistes” (2:12; 3:1).Paulo discute a vida ética do crente numa série de relacionamentos queincluem Cristo (3:1-8); aigrejalocal (3:9-17); afamília(3:18-21); avocaçãoda pessoa (3:22-4:1); e a sociedade em geral (4:2-6). Embora estas seçõesnão contenham referências específicas ao falso ensino na comunidade, não pode haver dúvidas de que a compreensão dessas admoestações éticas, e aobediência a elas, fortificarão a congregação contra os falsos ensinos que

ouviram, e a ajudarão a cumprir sua missão perante Deus.

N o t a s A d i c i o n a i s # 1 3Quanto a uma discussão muito útil deste conceito, veja-se W.D. Dennison,

“Indicative and Imperative: The Basic Structure of Pauline Ethics,” CTJ 14(1979), pp. 55-78.

Embora as divisões genéricas entre a natureza teológica e a natureza práticadas cartas possam ser de utilidade, são um tanto artificiais, porque Paulo comfreqüência combina as verdades teológicas com as verdades éticas, ao longo desuas cartas. V.P. Furnish, por exemplo, demonstrou que a instrução ética dascartas de Paulo não se restringe às seções de encerramento (“Theology andEthics in Paul” [Nashville; Abingdon, 1968]).

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# 14. A Vida Celestial ( C o l o s s e n s e s 3 : 1 - 4 )

3:1 / Como acontece em várias seções “éticas” (cf. 3:5; Romanos 12:1;Efésios 4:1), Paulo inicia com a palavra “portanto” (oun).  NIV costumatrazer “desde que,” “então,” que produzem efeitos semelhantes no sentidode ligar as instruções éticas de Paulo ao seu ensino teológico. Esses crentesforam ressuscitados com Cristo. Com base nesse fato, eles devem colocarseus corações nas coisas que são de cima. O verbo buscai é um imperativo

forte, e boa tradução de  zeteo que significa buscar, examinar ou pesquisaralgo com o objetivo de possuí-lo. As coisas que são de cima, tanto aquicomo em 3:2, não se identificam. Podem ser as virtudes da vida cristã quePaulo elogiaem 3:12-16, em contraste com as coisas “terrenas” mencionadasem 2:20-23 e 3:5-9 (cf. 3:19).

De cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus (i.e., do céu, cf.GNB), não devemos entender como sendo um lugar geográfico no cosmos. Alinguagem aqui, como noutras partes (Mateus 6:20; Efésios 1:3; 2:6; 3:10), émais figurada que literal; designa uma qualidade de vida, não um lugar onde sevive. De cima é expressão de Paulo para o reino invisível da realidade espiritual,o mundo eterno, em contraste com o que é terreno e transitório.

Mediante o batismo em Cristo, o crente participa do reino espiritual eeterno em que Cristo foi exaltado e entronizado (Efésios 1:20; Filipenses

2:9-11). Isto faz que os colossenses se lembrem de que já partilham essaexaltação de Cristo, com o próprio Cristo. Não se trata de mera herançafutura, porque Deus “nos ressuscitou juntamente com ele, e nos fez assentarnas regiões celestiais, em Cristo Jesus” (Efésios 2:6).

3:2-4 / Além de buscar as coisas do céu, deverão também pensar nas coisas que são de cima. Isto significa manter a mente fixa em algo; é a pessoadeterminar que vai fazer algo (RSV também diz “buscar” em 3:1 e

“determinar” em 3:2; NIVempregao verbo “buscar” em ambos os versículos.)Basicamente, a mensagem é a seguinte: visto que os colossenses estão buscando as coisas celestiais, devem continuar determinados nessa busca,deixando de lado aquelas coisas para as quais já morreram. A semelhançacom 2:20 é extraordinária, pelo que Paulo obviamente tem em mente as pessoas que se apegam a rituais legalistas (2:21-23), bem como os víciosenumerados em 3:5-9. Temos aqui também um bom exemplo do indicativoe do imperativo de Colossenses.

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(Colossenses 3:1-4)   75

Em 2:20 Paulo declara: “Estais mortos com Cristo quanto aos rudimentosdo mundo”; em 3:3-4, existe um desenvolvimento semelhante depensamento;algo que estivera escondido agora é revelado. A nova vida que o crenterecebe em Cristo está oculta, isto é, trata-se de um mistério que ninguém

consegue explicar totalmente, nem demonstrar de modo físico. Entretanto,a verdadeira natureza dessa vida não permanecerá secreta, porque estáindissoluvelmente ligada a Cristo, e se revelará em sua volta. Estainterpretação, segundo a qual vida tem o sentido de qualidade ou essência,nós a preferimos àquela perspectiva segundo a qual a época do regresso deCristo é o tempo em que os que se salvaram (e, portanto, pertencem a Deus),

serão identificados.

N o t a s A d i c io n a i s # 1 43:1 / Quanto a uma discussão interessante desta seção, veja-se C.F.D. Moule,

“The New Life in Colossians,” RevExp 70 (1973), pp.481-93.3:2 / Se Colossenses trata de uma perspectiva gnóstica do universo, “céu” ou

“coisas que são de cima” deveriam ser entendidos de modo literal, ou topográ

fico. Na subida da alma os gnósticos esperavam deixar para trás todas as coisasmateriais, ou terrenas, a fim de voltar a uma existência no céu (veja-seSchweizer, p. 175).

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# 15 . Os Vícios da Vida Antiga ( C o l o s s e n s e s 3 : 5 - 9 )

3:5 / O tom imperativo que caracterizou 3:1-2 (“buscai” e “pensai”) éretomado em 3:5, mas desta vez de modo negativo: Fazei, pois, morrer... Esta lista de proibições pertence a uma categoria de vícios espalhados portodo o NT (cf. Mateus 15:19; Marcos 7:21, 22; Romanos 1:24, 26, 29-32;13:13; 1 Coríntios 5:10-13; 6:9-10; 2 Coríntios 12:20; Gálatas 5:19-21;Efésios4:31; 5:3-5; Colossenses 3:5,8; 1Timóteo 1:9,10; 6:4-5; 2 Timóteo3:2-5; Tito 3:3; 1Pedro 2:1; 4:3, 4; Judas 8, 16; Apocalipse 9:20, 21; 21:8;

22:15). Depois, em 3:12, Paulo menciona uma lista de virtudes que o cristãodeve “assumir.” Estas também pertencem a um catálogo (Mateus 5:3-11; 2Coríntios 6:6, 7; Gálatas 5:22, 23; Efésios 6:14-17;

Filipenses 4:8; Colossenses 3:12; 1 Timóteo 3:2, 3; 6:11; Tito 1:7, 8;Tiago 3:17; 2 Pedro 1:5-7).

Dentre todas as listas de vícios e de virtudes do NT, as listas deColossenses, Efésios e 1 Pedro são as mais parecidas. Eruditos que têm

 pesquisado esses “catálogos”, chegaram à conclusão que as listas queaparecem nestas três cartas pertencem a um corpo tradicional de textosinstrutivos da Igreja apostólica, o qual teria sido passado em herança aosnovos crentes por ocasião do batismo. Entretanto, ainda que Colossenses,Efésios e 1 Pedro contenham muito texto com linguagem batismal eteológica, provavelmente não foram escritas especificamente para essacelebração, não devendo, pois, ser consideradas folhetos sobre batismo.

A ordem (dada no imperativo) fazei, pois, morrer é uma clara referênciaà “morte” que esses crentes já haviam experimentado no batismo. Agora elessão convocados para apropriar-se dessa morte ao remover todos os desejosterrenos de sua vida. ECA traduz o termo grego mele por “natureza terrena”(ta mele ta epi tes ges)  enquanto outras versões preferem “membros.”Acreditava-se no mundo antigo que tais vícios se localizavam em determinadas

 partes do corpo. Em Romanos 6:13 Paulo emprega a mesma palavra quandodiz: “Nem tampouco apresenteis os vossos membros (ta mele) ao pecado porinstrumentos de iniqüidade, mas apresentai-vos a Deus, como vivos dentreos mortos, e os vossos membros (ta mele)  a Deus, como instrumentos de

 justiça.”A lista neste versículo inclui cinco vícios relacionados a pecados de

natureza sexual. São manifestações de desejos maus, nocivos às pessoas.

Prostituição (porneia)  diz respeito a todos os tipos de comportamentossexuais ilícitos, inclusive desvios e aberrações (1 Coríntios 5:1, 10; 6:9; 2

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(Colossenses 3:5-9)   77

Coríntios 12:21;Gálatas5:19;Efésios5:3; 1 Tessalonicenses4:3; 1Timóteo1:9, 10) como o adultério e a fornicação. Impureza (akatharsia) é  quasesinônimo de “porneia,” sendo este termo empregado no NT para descrevera intenção imoral, bem como a prática de vícios de natureza sexual.

Paixão (pathos), neste contexto, provavelmente implica em algum tipode paixão sexual, a saber, a luxúria ou lascívia que conduz ao pecado sexual.Concupiscência (epithymian kaken) emprega-se para definir o desejo dealgo proibido, mas que se persegue para satisfação de desejos veementes.Gálatas 5:6, por exemplo, declara: “Andai no Espírito, e não satisfareis àconcupiscência (epithymia) da carne.”

O último vício mencionado é a avareza (pleonexia), ou cobiça (RSV),literalmente a compulsão para ter cada vez mais, apropriar-se das posses deoutrem. Visto que o NT apresenta muitas advertências contra este pecado (cf.Marcos 7:22; Romanos 1:29; 1 Coríntios 6:10; Efésios 5:3), não ficou clarosc sua ocorrência, aqui, liga-se à imoralidade sexual, ou se a todas as áreasda vida. Ambas as idéias poderiam estar na mente do apóstolo. A expressão parentética que é idolatria, cujo paralelo está em Efésios 5:5, sublinha a

idéia de que a avareza, ao lado de outros vícios, é um desejo mau e ilícito (1Coríntios 5:10, 11; 6:9; Gálatas 5:20). A avareza é idolatria, porque leva a pessoa a focalizar a atenção e a afeição nas coisas, e não em Deus. A solução para o problema da avareza já havia sido dada: “Buscai... pensai nas coisasque são decima!” Noutras palavras, dai preeminência a Cristo em vossa vidaética também.

3:6 / Para que ninguém minimize a seriedade desses vícios, Paulo lembra

a seus leitores a ira de Deus(cf. anota: NIV omite “os filhos dadesobediência”alegando pouca evidência textual. ECA e outras versões trazem sobre os filhos da desobediência,  provavelmente por causa de Efésios 5:6). O

 julgamento de Deus sobre esses pecados é amplamente atestado em toda aSagrada Escritura (Romanos 1:18-32; 1 Coríntios 5:10, 11; 6:9, 10; 1Tessalonicenses 4:3-6).

3:7 / Antes de os colossenses tornarem-se crentes, suas vidas se

caracterizavam pelas paixões malignas desse tipo. Foram lembrados de quenaquela época estavam “mortos espiritualmente” em seus pecados (2:13) eviviam como se pertencessem ao mundo (2:20; cf. Efésios 2:1-3). O modode vida pagão deles equivalia a uma escravidão aos “poderes” malignos e às“paixões” malignas. Pela graça divina ocorreu neles uma mudançamaravilhosa, em Cristo (a forma indicativa); o resultado é que são convocados para demonstrar essa nova vida ética (a forma imperativa).

3:8 / Paulo exorta àqueles que ressurgiram com Cristo a manifestarem

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78 (Colossenses 3:5-9)

umanova atitude com relação ao pecado. O que era verdade com respeito aos pecados de ordem sexual, aplica-se igualmente aos pecados da língua:Agora, porém, isto é, como cristãos (cf. “andastes outrora,” também antes,”“vós outrora,” “naquele tempo,” mas agora,” “antes estáveis longe, já...chegastes perto” de Efésios 2:2, 3, 11-19), despojai-vos também de tudo. A palavra apothesthe, “livrar-se de,” despojar-de” (RSV, “despir-se de”) faz

 parte da figura de linguagem de vestimenta que Paulo emprega com relaçãoà antiga e à nova forma de viver. Os pecados do crente são como um velhovestuário que ele remove e atira fora, para que possa vestir um novo traje(2:11; 3:10, 12; Efésios 4:22, 24). Essa linguagem explica o costume

existente em muitas igrejas em que os candidatos ao batismo por imersão“despem” as roupas velhas, comuns, e “vestem” batas brancas, que simbolizamsua nova vida ressurreta em Cristo.

Os pecados que exercem forte influência nos relacionamentos sociais podem ser divididos em duas categorias: ira (orge),  cólera (thymos)  emalícia (kakios) são pecados que podem ser internalizados; podem expressar-se, ou não, em ação aberta, embora desta ou daquela maneira constituam

erros patentes (Mateus 5:22-30). Os outros pecados são os que podem serverbalizados. Que não haja maledicência (blasphemia)  nem palavras torpes (aischrologia)  saindo da vossa boca.

3:9 / A mentira, embora possa não pertencer à lista dos outros cincovícios, com toda certeza enquadra-se em seu contexto como pecado denatureza verbal, causando também pesados danos aos relacionamentos

 pessoais, de modo especial no corpo de Cristo. Aqui, como em 3:8, Paulo osfaz lembrar-se de que esse pecado também pertencia à sua antiga maneira deviver, a quai foi “despojada,” por ocasião do batismo (cf. Romanos 13:1214; Gálatas 3:27-28).

N o t a s A d i c i o n a i s # 1 53:5 / Uma dos mais recentes estudos eruditos sobre os vícios e virtudes

mencionados no NT, de modo especial os que dizem respeito a Colossenses, foirealizado por Cannon, pp. 51-94. Outros estudos úteis incluem B.S. Easton,“New Testament Ethical Lists,” JBL 51 (1932), pp. 1-12; Schweizer, “Tradicional Ethical Patterns in the Post-Pauline Letters and Their Development (Listsof Vices and the Housetables”), em “Text and Interpretation: Studies in the NewTestament Presented to Matthew Black,” ed. E. Best e R. McL. Wilson(Cambridge Univ. Press, 1979), pp. 195-209.

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# 1 6 . As Virtudes da Nova Vida ( C o l o s s e n s e s 3 : 1 0 - 1 5 )

3:10 / NIV esclarece que é o “novo eu” que está sendo renovado. ECAdiz: e vos vestistes do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou. Por trás deste versículo alguém poderiaantecipar uma pergunta séria que os colossenses poderiam ter levantado arespeito de sua nova vida em Cristo. “De que maneira posso eu vivereticamente para Cristo, segundo aquilo em que eu me transformeisacramentalmente em Cristo?” O próprio apóstolo Paulo estava muitoconsciente da tremenda tensão existente entre o indicativo e o imperativo,entre sua posição em Cristo e o processo que ainda precisa ser alcançado(Romanos 7). Ele sabia que nesta vida o crente está sendo continuamenteconvocado para tomar-se, “na realidade”, aquilo que já é “de fato.”

Mas, poderia alguém perguntar, como é que uma tarefa aparentemente

impossível pode ser executada? Como é que a pessoa pode tomar as decisõescertas? Quem dará a essa nova criatura a necessária habilidade e força? Aresposta, afirma Paulo, está na atividade de Deus: e vos vestistes do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou (cf. Romanos 8:29). Estas palavras nos lembram Gênesis 1:27, quedcclara que originalmente os seres humanos foram criados à imagem deDeus — isto é, imagem moral e espiritual —, e a essa altura tinha a

capacidade de escolher entre o bem e o mal. Pela queda, entretanto, a imagemse destruiu. Entretanto, as boas novas do evangelho são que agora, em Cristo,Deus está trabalhando na restauração da imagem perdida. Esta restauraçãoou re-criação não é obra da humanidade, de modo algum; não se trata de um processo de abandonar alguns vícios e aceitar algumas novas virtudes. Onovo homem é obra exclusiva de Deus! A fim de expressar este processo, ogrego usa um particípio presente passivo (anakainoumenon),  a fim deindicar que a renovação é contínua (o presente), e que possui uma fonteexterna (o passivo, o novo homem, que se renova).

À luz do ensino cristológico de Paulo nesta carta, alguém poderia esperarque ele se referisse a uma renovação à imagem de Cristo, ou o segundo Adão,como o apóstolo faz noutra passagem de suas cartas (Romanos 5:12-21;8:29; 1 Coríntios 15:48-49; 2 Coríntios 3:18). Para o apóstolo talvez seja

tudo uma única coisa, visto que antes ele já se referira a Cristo como sendo“a imagem do Deus invisível” (1:15). Acrescenta Paulo que o propósito

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80 (Colossenses 3:10-15)

dessa renovação é fazer que o crente tenha total conhecimento do Senhor. Ocrente precisa tornar-se consciente da presença de Deus, a fim de fazer-lhea vontade (cf. 1:9); a presença de Deus em Cristo capacitará o crente a tomaras decisões acertadas.

3:11 / A primeira vista, os pensamentos deste versículo não parecemenquadrar-se no contexto da vida ética que Paulo vem descrevendo.Entretanto, NIV e EC A preservam a continuidade de pensamento ao traduzira partícula grega hopou, que comumente denota lugar (“onde”) por aqui —  isto é, dentro de uma humanidade nova, ou renovada. Noutras palavras, aconseqüência de alguém estar em Cristo, de despojar-se dos pecados que

exploram e dividem a humanidade, de a pessoa renovar-se à imagem deDeus, é a eliminação de todas as distinções raciais (aqui não há grego nem  judeu), religiosas (circuncisão nem incircuncisão), culturais (bárbaro, cita) e sociais (servo ou livre).

A criação de uma nova humanidade (a Igreja como o corpo de Cristo) éuma das verdades maravilhosas do evangelho. Efésios 2:11 -22 é o comentáriomais longo de como Cristo derrubou a “parede” que separava os judeus dos

gentios (cf. também Romanos 2:25-29; 4:9-12; Gálatas 5:6). Até mesmo oescravo maligno e o pagão mais primitivo (“cita”) se unem em Cristo. Ao péda cruz, o terreno é nivelado!

Embora Paulo esteja declarando uma verdade teológica genérica nesteversículo, sem dúvida alguma ele tem em mente a Igreja de Colossos. O queé verdade universalmente também é verdade em qualquer localidade. É provável que aquela congregação fosse uma mistura de todo tipo de pessoas.

Entretanto, essas distinções deixam de ter qualquer sentido, quando se percebe que Cristo é tudo, e que ele habita nos crentes (Cristo é tudo em todos). Paulo tinha uma mensagem semelhante para os coríntios (1 Coríntios12:13) e para os gálatas (3:26-28).

3:12 / Os versículos 12-17 são uma continuação da discussão de Paulosobre os crentes que são batizados. Ele já tratou do aspecto negativo ao

mostrar que os que já morreram para o antigo modo de viver, devem despir-se daqueles vícios que os caracterizavam como pagãos. Nesta seção, Paulosalienta o aspecto positivo ao relacionar algumas virtudes que devemcaracterizar a nova vida, a vida ressurreta. Aquele portanto indica que o quese segue liga-se às idéias anteriores sobre a nova criatura (3:10, 11).

Há várias características nesta lista de virtudes dignas de nota: Primeira,como já explicamos, a lista faz parte de um corpo textual tradicional

transmitido pela Igreja apostólica (cf. disc. sobre 3:5). A expressão revesti-

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(Colossenses 3:10-15)   81

vos (“vistam as novas roupas”) demonstra que este ensino pertence aocontexto das instruções batismais. Segunda, estas virtudes são muitosemelhantes ao “fruto do Espírito” mencionados em Gálatas 5:22, 23. Três

dos gomos do “fruto” (benignidade, mansidão e longanimidade) estão nalista, enquanto “amor” e “paz” se encontram em 3:14 e 3:15, respectivamente.A terceira característica dessas virtudes é que elas são “qualidades

 piedosas,” usadas para descrever Deus ou o próprio Cristo. Muitas referênciasdo NT, por exemplo, dizem respeito à misericórdia ou à compaixão (Romanos 12:1; 2 Coríntios 1:3 [misericórdias]), benignidade (Romanos2:4; 11:22 [bondade]; Efésios 2:7), humildade (Filipenses 2:5-11 [humilhou-

se]; 2 Coríntios 10:1 [humilde], e longanimidade (Romanos 2:4; 9:22[paciência]) de Deus e de Cristo. A aplicação dessas virtudes ao cristãoderiva de modo natural do chamado para a imitação, união ou semelhançacom Cristo. Os crentes devem agir uns para com os outros da mesma formacomo Deus e Cristo agem para com eles.

Quarta, estas virtudes têm caráter social, isto é, descrevem atitudes eações muito importantes para os relacionamentos pessoais sadios. Depoisque o cristão esvaziou-se (despiu-se) de seus vícios nocivos e egoístas, eleé instruído a encher-se (revestir-se) de virtudes (as quais preencherão ovácuo deixado), cujo objetivo primordial é o bem-estar do próximo. Taisvirtudes são evidenciadas no contexto da igreja local (corpo, 3:15), onde oscolossenses vivem como membros entre si (3:13, 16). O relacionamentoentre si, uns com os outros, inclusive o culto (3:16,17), deve testemunhar que

agora eles são novas pessoas em Cristo. No versículo 12, os crentes se identificam como eleitos de Deus, e

literalmente, como hagioi, ou santos (1:2). Isto se tornou possível, diz Pauloa seus leitores, por causa do amor de Deus e sua eleição. A situação delesnada tinha que ver com seu esforço próprio: tudo dependia da escolha deDeus. Todos os três conceitos (santos, eleitos, amados) fazem-nos lembrarcertas descrições de Israel, feitas no Antigo Testamento, agora retomadas eaplicadas ao novo Israel, a Igreja (cf. 1 Pedro 2:9).

Os colossenses são admoestados a se revestirem de certas virtudes:Compaixão é tradução de duas palavras gregas,  splanchna   e oiktirmos, traduzidas literalmente por “entranhas de misericórdia” (KJV), visto que osintestinos, ou vísceras internas da pessoa, eram consideradas a sede dasemoções. Como tal, esse termo denota compaixão que provém autenticamente

do coração, e que se traduz em ações correspondentes para com outras pessoas.

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82 (Colossenses 3:10-15)

Benignidade (chrestotes), com seus conceitos correspondentes: bondade,generosidade ou cortesia, descreve um indivíduo cuja vida e relacionamentocom outras pessoas são graciosos e empáticos — a pessoa se interessagenuinamente pelos sentimentos de seu semelhante. Humildade (tapeinophrosyne), quando adequadamente direcionada (i.e., nada de falsahumildade), é uma atitude de modéstia e desinteresse por posição social. Éa virtude de Cristo que descreve muito bem sua prontidão para encarnar-see sofrer pela humanidade (Filipenses 2:5-11).

Mansidão (prautes), que aparece em RSV como “humildade,” às vezesé palavra tomada como sinal de fraqueza, de modo especial pelos gregos. No

 Novo Testamento, entretanto, trata-se de uma disposição caracterizada porextrema gentileza, consideração e submissão — exatamente o oposto dearrogância, rebelião e violência. Longanimidade (makrothymia)  é umavirtude passiva, amplificada por conceitos adicionais como a perseverança(cf. 1:11), paciência e constância. Nos relacionamentos interpessoais, é agraça exercida por alguém que poderia retaliar, mas prefere, em vez devingar-se, exercer a paciência.

3:13 /E certo que sempre haverá conflitos (queixas) dentro da Igreja.Quando isso ocorre, diz Paulo: suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos uns aos outros. Tolerância e perdão não devem ser consideradas duasvirtudes adicionais, mas explicações sobre como a benignidade e alonganimidade devem ser exercidas no corpo. Ser tolerante é ser paciente,suportando os outros com o propósito de perdoar-lhes as afrontas. Pauloapela para a experiência de perdão em Cristo. Devem perdoar por causa doexemplo do Senhor, de acordo com seu exemplo.

3:14 / E, sobre tudo isto, revesti-vos de amor. Paulo mantém em mentea lista de virtudes que o cristão deve “vestir.” O amor coroa todas essasvirtudes; é o sobretudo, a última peça do vestuário, o elemento que constituio vínculo da perfeição; liga tudo numa unidade só (lit. “o elo da perfeição”).Trata-se de uma idéia, aqui, semelhante a de Efésios 4:2-3 e 15-16, em que

o amor é a manifestação da nova vida em Cristo, e que conduz à maturidadee à unidade em seu corpo. Esse amor remove todos os sentimentos de fúria,de ódio, ou o espírito de falta de perdão (cf. Romanos 13:8-10; Gálatas 5:14).

3:15 / A paz de Cristo tem aplicação dupla. Visto que é paz provenientedele, provê uma tranqüilidade íntima para todos os crentes; é paz que devereinar (domine em vossos corações [lit., brabyein  significa “arbitrar,”“controlar”] guiar nas decisões que a pessoa precisa tomar. Todos que têm

 paz no íntimo terão paz com as demais pessoas; a paz possibilita aos

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(Colossenses 3:10-15)   83

indivíduos serem unidos num único corpo. As “queixas” (3:13) que unsmembros têm contra outros se resolvem quando a paz de Cristo governa seuscorações. No contexto do indicativo e do imperativo, o sentido da admoestação

 paulina poderia ser estabelecido desta forma: Em virtude de você estar

reconciliado com Deus, em Cristo, você “está” em paz (forma indicativa; cf.Romanos 5:1; Efésios 2:14; Colossenses 1:20); agora, trate de viver segundoessa paz (forma imperativa) em sua vida interpessoal e corporativa.

E sede agradecidos: ações de graças (cf. 1:12; 2:7), que basicamente sãouma resposta à graça de Deus, são mencionadas três vezes nos versículo 1517. Assim, em vez de uma admoestação conclusiva que encerra a lista de

virtudes, precedente, as ações de graças funcionam como uma convocaçãoa que ofereçamos essa resposta gratulatória num culto corporativo, e emnosso viver diário.

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# 17. Expressões do Verdadeiro Culto ( Co l o s s en se s 3:16-17)

3:16 /E is um versículo carregado de importantes verdades. Paulo acaboude falar da paz de Cristo que deve governar o coração do crente (3:15). Agoraele se volta para outro aspecto concernente a Cristo, a saber, a palavra de Cristo. Esta frase, tomada como genitivo objetivo, no grego, significa as

 palavras a respeito de Cristo, ou seja, o evangelho.A palavra de Cristo deve habitar o crente, o que pode acontecer com

grande riqueza ou grande fraqueza. Embora o evangelho seja, com todacerteza, “rico” de significado, conteúdo e assim por diante, o advérbio gregoequivalente a abundantemente intenciona caracterizar a maneira por que amensagem de Cristo deve habitar o crente: A palavra de Cristo habite em vós abundantemente.

A palavra implantada há de manifestar-se de duas maneiras: Primeira, os

colossenses são exortados a prosseguirem em toda a sabedoria, ensinando- vos e admoestando-vos uns aos outros. Temos aqui um processo pedagógico(cf. 1:28) no qual todos os membros compartilham as responsabilidades. Aluz do ministério de Paulo como mestre, e de Epafras como portador datradição, este versículo não deveria ser tomado no sentido de implicar aexistência de deficiência nesses dois líderes da Igreja.

A segunda manifestação da palavra de Cristo ocorre no culto. Fez-se

abundante pesquisa para analisar-se os diferentes componentes mencionados, pelo que não é incomum os comentaristas sugerirem que os salmos (psalmois)  poderiam ter uma herança no Antigo Testamento; hinos (hymnois) poderiamincluir alguns salmos, mas seriam mais cânticos cristãos de louvor aDeus oua Cristo; cânticos espirituais (odais)  podem ser composições musicaisoriginadas de expressões extáticas pronunciadas sob inspiração do EspíritoSanto (cf. 1 Coríntios 14:16).

Com base nesta passagem e outra semelhante, de Efésios 5:19, não é possível estabelecer quaisquer distinções com precisão, ainda que haja certadiversidade entre os três tipos de louvor. A passagem ajuda-nos a apreciara riqueza da hinologia cristã, ainda neste estágio primitivo da vida da Igreja,e a função da música no contexto do culto. Quando tal música se fundamentana palavra de Deus (i.e., de conteúdo doutrinário), ela definitivamente serve

a uma função didática e instrutiva dentro do corpo.O cântico deve exprimir-se num espírito de gratidão. A música pode

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(Colossenses 3:16-17)   85

edificar os membros da congregação, mas sua função primordial é rendergraças a Deus. A palavra traduzida por gratidão é charis, e não a palavramais comum eucharistia. Charis também pode significar “graça”, e com ainclusão do artigo (en te chariti), Paulo pode estar referindo-se à graça deDeus. Quando os crentes cantam “na graça,” cantam em virtude da graça deDeus que a eles foi concedida. (NIV emprega corretamente Deus, em vez de“Senhor,” que têm evidências mais fracas nos manuscritos e, provavelmente,representa uma tentativa de harmonizar o texto com Efésios 5:19).

3:17 / Embora este versículo siga os pensamentos de Paulo quanto aoculto corporativo, tem a intenção de ser universal em seu escopo. O apóstolo

esteve relacionando uma série de virtudes e sugerindo padrões de condutaque devem regulamentar a vida comunitária. Mas é óbvio que Paulo não

 pode elaborar uma lista minuciosa de vícios e virtudes capaz de cobrir todosos aspectos da vida. Fazer isso seria reverter o cristianismo a um tipo defarisaísmo que Jesus condenou veementemente, nos evangelhos, ou

 padronizar suas boas-novas de acordo com os hereges de Colossos, cheiosde regras e ordenanças (2:8-23).

Em vez de um manual de regulamentos, Paulo deixa um princípioimportante a seus leitores: Tudo o que fizerdes por palavras ou por obras, fazei-o em nome do Senhor Jesus. Eles haviam sido batizados em seu nomee, desse modo, estavam sob a autoridade de Cristo. A vida ética deles— fosse palavra, fosse ato — deveria manifestar essa realidade. Noutras palavras, omelhor testemunho de um batismo cheio de significado é uma vida de

obediência.Finalmente, fazei-o... dando por ele graças a Deus Pai. O cristão viveem perfeita obediência a Cristo, não como sob uma compulsão, como se forauma obrigação, mas na liberdade total, dando graças. Que contrasteextraordinário com as regras e regulamentos escravizadores dos falsosmestres! O louvor cristão é oferecido a Deus por meio de Cristo. Mais umavez Paulo traz à memória de seus leitores que Cristo é o único mediador entre

nós e Deus.

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# 18. Os Deveres Domésticos ( C o l o s se n s e s 3 : 1 8 - 4 : 1 )

 NIV intitula esta seção “Regras para o Lar Cristão.” ECA prefere: “OsDeveres Domésticos.” Paulo estabelece aqui uma série de admoestaçõesrecíprocas, que devem governar os relacionamentos entre esposas e maridos,filhos e pais, servos e patrões. Esta lista forma o que veio a ser conhecido noscírculos acadêmicos como Haustafeln, termo alemão que significa lista deregras ou deveres para os membros de um lar. Listas semelhantes à de

Colossenses encontram-se em Efésios 5:21-6:9 e 1 Pedro 2:18-25; 3:1-7. Asepístolas pastorais (1 Timóteo 2:8-15; 6:1-10; Tito 2:1-10) dirigem-se àsmesmas espécies de pessoas, mas de maneira menos estruturada e menosunificada.

O aparecimento de tais “regras domésticas” em tantas cartas do NTindica que tais instruções eram necessárias na Igreja apostólica. As pessoas

 precisavam saber de que modo sua vida em Cristo influiria em seusrelacionamentos pessoais no lar, bem como no corpo de Cristo, de maiores proporções. A similaridade dessas exortações, particularm ente emColossenses, Efésios e 1 Pedro, indica que faziam parte de um corpo detextos tradicionais que fora desenvolvido e passado às igrejas. As instruçõessobre escravatura, por exemplo, são mais extensas e têm uma funçãodiferente em 1 Pedro, comparada com Colossenses e Efésios. 1 Pedro não

apresenta instruções aos senhores, mas em Colossenses e Efésios esta é uma parte importante de um relacionamento recíproco. O fato de esposas eescravos estarem em todas as listas indica a existência de uma preocupaçãoque precisava de atendimento especial.

Visto ser óbvio que as outras sociedades e culturas, como a judaica, agrega e a romana, tinham leis e regulamentos a respeito de relacionamentossociais e pessoais, muitas considerações têm sido feitas nos círculos eruditos

quanto à fonte dessas Haustafeln  no NT. Alguns eruditos sentem-se atraídos para algumas idéias da filosofia grega, particularmente as éticas do Estoicismo,em que há paralelismo significativos com o NT. Outros supõem que houveinfluência judaica, e chamam a atenção para o padrão ético e preocupaçõesde natureza social no judaísmo palestino e helenístico. Alguns acadêmicos propõem uma origem distintamente cristã, acreditando que tais ordenanças podem ser encontradas nos ensinos de Jesus, de Paulo, e de outros apóstolos.Entretanto, a solução para o problema das fontes, da transmissão e da

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(Colossenses 3:18-4:1)   87

composição final dessas leis, não é fácil. Basta-nos saber que à época de seuaparecimento no NT, tais leis-instruções eram consideradas autênticas edotadas de autoridade.

Que significa, então, tudo isso, no que concerne aColossenses? Primeiro,seriajusto afirmarmos que Paulo está usando um corpo de textos tradicionaisque cuida dos relacionamentos interpessoais e os aplica àlgrejaem Colossos.Segundo, devem servir a uma função específica dentro dessa carta. Comounidade isolada (3:18-4:1), poderiam exercer simples função doméstica ousociológica. Todavia, sua localização na carta não deixa de ter grandesignificado.

À primeira vista, esta seção parece que interrompe as idéias de Paulo arespeito do culto (3:16, 17) — tema que prossegue em 4:2-4, com ênfase naoração e nas ações de graças. Entretanto, ao colocar o Haustafeln  no contextodo culto, Paulo deseja enfatizar a necessidade de boa “ordem” na igreja, particularmente entre as mulheres e os escravos. A função primordial dessasinstruções domésticas, portanto, é eclesiológica (isto é, para a Igreja), em vezde meramente sociológica (para a sociedade).

A necessidade de “ordem” em Colossos, bem como em congregaçõescomo a de Corinto e Efeso, deve ser vista dentro do contexto cultural ereligioso do primeiro século. Primeiro, havia preocupações derivadas daderhora na volta do Senhor. Os seguidores de Jesus esperavam que eleregressasse em sua própria geração (Marcos 9:1; 13:30 e textos paralelos);Paulo, de maneira semelhante, acreditava que a volta do Senhor era iminente

(1 Coríntios 15:51-58). Quando tal não ocorreu, e alguns problemascomeçaram a surgir na Igreja por causa disso, o apóstolo apresentou unscorretivos (2 Tessalonicenses 2:1-12; cf. também 1 Tessalonicenses 4:135:11). A segunda carta de Pedro pode ser um dos melhores documentos do NT, que dá conselhos a respeito da expectativa de um brevíssimo retorno doSenhor. “Um diaparao Senhor,” escreve Pedro, “é como mil anos, e mil anoscomo um dia” (3:8).

Como se cria que o regresso do Senhor era iminente, não havia a mínimarazão para preocupar-se com regras e instruções para o governo e boa ordemda Igreja. A Igreja apostólica era basicamente de natureza carismática, istoc, exercia considerável liberdade no Espírito, em sua vida e culto. Isto provêum ponto de apoio para grande parte da preocupação de Paulo, quanto àdesordem reinante na igreja coríntia, em que os dons do Espírito recebiamdemasiada ênfase, e a congregação se fragmentava em competições (1

Coríntios 11-14). Esta manifestação de entusiasmo religioso pode ter sido

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88 (Colossenses 3:18-4:1)

inspirada pelo cumprimento profético de Joel 2:8ss. (cf. Atos 2:17-21),recebendo influência de seitas pagãs nas quais abundavam o êxtase e osexcessos espirituais. De toda maneira, o culto na igreja não é ocasião paraque todos façam o que bem entendem; as coisas precisam ser feitas demaneira ordenada, levando-se em consideração o bem-estar de toda acomunidade.

Demorando o regresso do Senhor, tornou-se óbvia a necessidade deordem na Igreja. O ministério do ensino, que inicialmente ficara a cargo dosdoze apóstolos, e dos líderes carismáticos como os profetas e mestres (cf.Atos), cresceu e passou a incluir líderes adequadamente nomeados, como

Paulo, bem como os bispos (episkopos, 1 Timóteo 3:1-7; Tito 1:7), diáconos0diakonos, 1Timóteo 3:8-13), e os presbíteros, ou anciãos ( presbyteros, Tito1:5), os quais deviam ensinar a Igreja de Deus e dela cuidar. Era preciso quehouvesse ordem na Igreja com respeito ao que se dizia (tradição recebida),e quanto ao que se fazia (ofícios apropriados).

A demora na volta do Senhor também levantou algumas questões arespeito do relacionamento dos cristãos com a sociedade. Qual é a vontade

de Deus para os crentes no mundo? De que forma aqueles que “estão noSenhor” devem andar perante os que não estão no corpo de Cristo? Estasordenanças instrutivas domésticas foram criadas para servirem de padrãocomo respostas a tais perguntas, e para regulamentar os relacionamentosinterpessoais no lar, na Igreja e na sociedade. Esta preocupação estendeu-se,e passou a incluir instruções quanto o relacionamento com as autoridades

 políticas (Romanos 13:1-7; 1 Pedro 2:13-17).O segundo fator de influência forte nesta seção, centraliza-se na crescente percepção de liberdade entre as mulheres e os escravos, no tempo de Paulo.Infelizmente, sabemos mais a respeito da sujeição das mulheres e dosescravos do que de sua emancipação. Na cultura judaica, por exemplo, asmulheres estavam relegadas a uma posição inferior à dos homens. A elas senegavam certas funções no culto; o pátio feminino na área do templo era do

lado de fora, longe do “pátio de Israel.” De acordo com uma tradiçãorabínica, os homens judeus repetiam esta oração todas as manhãs: “Agradeçoao Senhor porque ele não me fez gentio... nem mulher... nem ignorante.”

Os escravos sujeitavam-se a condições semelhantes na sociedade gregae romana. Grande parte da literatura secular desse período fala dos escravosem termos depreciativos e desprezíveis. Escravo era uma ferramenta viva,e embora tivesse excepcionalmente a capacidade da fala, era consideradouma besta de carga. O senhor detinha poderes de vida e morte sobre seus

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(Colossenses 3:18-4:1)   89

escravos, os quais podiam ser abandonados quando não mais servissem parao trabalho. Muitos eram mortos pela mais insignificante das provocações.

Ao mesmo tempo, há numerosos exemplos de humanitarismo e deemancipação de escravos daparte dos senhores. Em certos casos, os escravosfaziam parte do lar, e usufruíam de posições pessoais responsáveis e tinhamrendimentos financeiros. Muitos escravos eram tratados com bondade ehonra. Entretanto, aexistênciade admoestações aos senhores nestas instruçõesindica que o relacionamento entre senhores e escravos cristãos precisava dealguma luz.

A emancipação da mulher era mais pronunciada nas culturas gentílicas

do quenajudaica. Esta era, basicamente, uma cultura patri arcai. As mulheresgregas e romanas gozavam de certos direitos e privilégios negados àsmulheres judaicas. Havia exceções, sem dúvida, visto que se podem encontrarrelatos conflitantes na literatura secular. As atitudes para com o “status” e o papel das mulheres variavam em diferentes períodos e diferentes áreasgeográficas— como ocorre hoje. No culto, entretanto, as mulheres gentílicastinham mais vantagens sobre as judias. Muitas das divindades gregas e

romanas eram femininas (e.g., Isis e Diana), e a maioria das seitas religiosasadmitia livremente a participação das mulheres, até como líderes.

Um pano de fundo desta natureza auxilia a pessoa a inserir no contextoadequado outras declarações de Paulo a respeito das mulheres, e do culto.Com freqüência as reações de Paulo têm origem em sua cultura judaica, naqual o papel masculino ainda era dominante. Assim é que sua atitude para

com as mulheres foi determinada pela ordem da criação (1 Coríntios 11:38; 1 Timóteo 2:13), o pecado de Eva (1 Timóteo 2:14), e a sujeiçãosimbolizada pela cabeça coberta pelo véu (1 Coríntios 11:5-8). No tempo dePaulo as mulheres eram instruídas a obedecer a estas instruções eadmoestações, não fazendo nada que perturbasse a ordem na Igreja, oumaculasse seu testemunho perante o mundo.

Sem dúvida, a nota mais significativa de liberação para as mulheres e

escravos ressoou na proclamação do próprio evangelho, no qual a liberdadee a igualdade de direitos são ingredientes essenciais para a nova vida emCristo. E nesse espírito que Paulo escreve aos Gálatas: “Todos vós sois filhosde Deus pela fé em Cristo Jesus, pois todos vós que fostes batizados emCristo, vos revestistes de Cristo. Desta forma não há servo nem livre, não hámacho nem fêmea, pois todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gálatas 3:2628). Em Cristo, todas as barreiras raciais, religiosas, culturais e sociais foramremovidas (cf. disc. sobre 3:11). De que forma as mulheres e os escravos dos

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90 (Colossenses 3:18-4:1)

dias de Paulo deviam entender e traduzir sua liberdade em Cristo, recentementedescoberta, no decorrer do seu viver diário? As instruções para o lar fazem

 parte da resposta apostólica a tais perguntas. Ao incluí-las em sua carta aosColossenses, Paulo os faz lembrar-se da necessidade de manter boa ordem

religiosa e social.

N o t a s A d i c i o n a i s # 1 8Há muitos estudos valiosos a respeito da origem, natureza e ensino das

“instruções domésticas” do NT. Em comentários, veja-se de modo especialLohse, pp. 154-57; o estudo de Schweizer “As Instruções Domésticas,” pp. 213

30. Outras fontes incluem: P.R. Coleman-Norton, “The Apostle Paul and theRoman Law of Slavery,” em “Studies in Roman Economic and Social History,”ed. idem (Princeton: Princeton Univ. Press, 1951), pp. 155-57; G. Hinson, “TheChristian Household in Colossians 3:18-4:1,” RevExp 70 (1973), pp. 495-506;W. Lillie, “The Pauline Housetables,” ExpT 86 (1975), pp. 179-83; W. Munro,“Col. 3:18-4:1 andEph. 5:21- 6:9: Evidences of a Late Literary Stratum?” NTS18 (1972), pp. 424-47; K.H. Rengstorf, doulos, TDNT, vol. 2, pp. 261-80; E.Schweizer, “Traditional Ethical Patterns in the Pauline and post-Pauline Letters

and Their Development (Lists of vices and house-tables”), pp. 195-209; T.Wiedemann, “Greek and Roman Slavery” (Baltimore: Johns Hopkins UniversityPress, 1981). Quanto a uma bibliografia atualizada sobre a literatura que tratados códigos domésticos, veja-se Cannon, pp. 119-20, no. 2. A discussão deCannon destes códigos e sua aplicação a Colossenses inclui pp. 95-131.

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# 19. Relacionamento entre Esposa e Mando(C o lo s se n s e s 3 : 1 8 - 1 9 )

3:18 / Há duas características extraordinárias nas exortações que seseguem: A primeira, de acordo com os padrões culturais aceitáveis da época,é que o primeiro grupo a que o apóstolo se dirige (esposas, filhos e escravos)está subordinado ao segundo grupo (maridos, pais e senhores); a segunda éque em todos os casos, estas admoestações são recíprocas — deve haver

amor mútuo  e  submissão mútua, os  quais são elementos-chave nesses relacionamentos.

As esposas devem submeter-se (o verbo está na forma média) a seusmaridos. Reforça-se a necessidade de obediência, ou de submissão(hypotasso), na base de que esse é o procedimento “cristão” correto, como convém no Senhor. Seja como for, significa que as esposas cristãs devemreconhecer o que é socialmente aceitável ou “apropriado,” com respeito aseus maridos. Paulo apenas estabelece esse princípio, e não chega a debatersua correção, nem procura interpretar seu significado.

 Nada há neste versículo que sugira que essa subordinação baseia-se numrelacionamento hierárquico, que às vezes conseguimos inferir a partir deoutras passagens escriturísticas (cf. 1 Coríntios 11:3;Efésios5:23). Hypotasso, de que deriva a palavra taxis  (“ordem,” como em taxonomia), é palavra

comum designativa de um relacionamento em que há mútua submissão. Nãolica implícito nada grosseiro, nem desprezível (cf. 1Coríntios 15:28eadisc.sobre Efésios 5:21 ss.).

3:19/ Os maridos devem amar suas esposas, não as tratando asperamente.Amor (agape) e aspereza de trato estabelecem violento contraste entre si.Para não acontecer de os maridos interpretarem obediência incorretamente,Paulo os faz lembrar-se de que o relacionamento conjugal deve ser governado

 pelo mais elevado de todos os tipos de amor — o que evita toda amargura etodo ressentimento ou tirania, visto que seu alvo supremo é o bem-estar daoutra pessoa.

N o t a s A d i c io n a i s # 1 93:19 /L.J. Baggott foi feliz em sua expressão: “a lei do amor é sempre melhor

do que o amor da lei”, em “A New Approach to Colossians” (Londres:Mowbray, 1961), p. 121.

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# 20. Relacionamentos entre Pais e Filhos

( C o l o s s e n s e s 3 : 2 0 - 2 1 )

3:20 / Os filhos devem obedecer a seus pais (obedecei em tudo). Em tudo significa obediência total, governada, como em 3:18, pelo fato de estaser a atitude correta a assumir. Não se sabe se Paulo tinha em mente paiscristãos, ou que limites ele teria estabelecido para tal obediência, caso

contrariasse a lei de Cristo. Visto que agradável (“euarestos”) é empregadanoutras passagens das Escrituras como “aquilo que é aceitável e agrada aDeus” (Romanos 12:1; 14:18; 2 Coríntios 5:9; Efésios 5:10), a implicaçãoé que a obediência filial produz esse mesmo efeito.

3:21 / A obediência exigida dos filhos não dá aos pais a liberdade deabusar deles. Daí o mandamento aos pais: não irriteis a vossos filhos, istoé, os pais não devem fazer algo que os provoque ou os tiranize (erethizo). Arazão disto é que se evite a reação negativa do desânimo nos filhos. Otratamento áspero e destemperado dispensado aos filhos conduz àexasperaçãoe à falta de entendimento. Os pais precisam restringir sua autoridade; devemmerecer obediência, em vez de exigi-la. À semelhança do caso das esposas,a parte que se subordina (o filho) recebe exortação a que seja submisso erespeitoso; como no caso dos maridos, a parte que comanda (os pais) é

admoestada a ser amorosa e responsável.

N o t a s A d i c io n a i s # 2 03:20 / De acordo com Hinson, “a forte ênfase sobre a obediência irrestrita da

 parte dos filhos reflete a atitude judaica e, talvez., indique sua origem nasinagoga” (“The Christian Household in Colossians 3:18-4:1,” RevExp 70[1973], p. 499).

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#21. Relacionamentos entre Escravos e Senhores( C o l o s se n s e s 3 : 2 2 - 4 : 1 )

Visto que muitos escravos tornaram-se cristãos, não deve surpreender-nos que eles sejam objeto de instruções específicas no NT (cf. 1 Coríntios7:20-24; Efésios 6:5-8; 1 Timóteo 6:1, 2; 1 Pedro 2:18-25). Para a grandemaioria deles, ser membro da igreja pode ter sido a única ocasião em que

 puderam experimentar igualdade e fraternidade. Entretanto, o fato de

 pertencerem a Cristo não os removeu do mundo, e tampouco os conduziu àemancipação. A fidelidade ao Senhor “celestial” não significava libertaçãode seus senhores “terrenos.” Os escravos, mais do que qualquer outro gruposocial, precisavam de esclarecimentos a respeito do relacionamento de suasituação em Cristo e sua situação na terra.

Uma leitura rápida das passagens dirigidas aos escravos revela que osautores do NT não assumiram uma atitude negativa face à prática daescravatura no mundo antigo; tampouco tentaram aboli-la. Vários fatores podem ter contribuído para essa postura.

Em primeiro lugar, o cristianismo não foi um movimento revolucionárioinclinado à destruição da ordem mundial existente. Tentar fazê-lo seriaequivalente ao suicídio, pois, que efeito poderia exercer um grupinhoinsignificante de cristãos contra a poderosa Roma? Qualquer tentativa de

revolução teria sido esmagada com severa perseguição e martírio.Uma das mensagens claríssimas do livro de Atos é que o cristianismo não

se engajou em atividades traiçoeiras e, por isso, deveria ser considerado umareligião legal no Império Romano (Atos 25:8). Os cristãos são admoestadosa obedecerem a seus governantes, e a aceitarem a ordem temporal, ainda quesejam insatisfatórios de muitas maneiras diferentes (Romanos 13:1-7; 1Pedro 2:13-17).

Em segundo lugar, a escravidão no mundo antigo era um mal necessário,embora fossem seres humanos os que criaram essa perversa instituição. Asociedade grega e romana era constituída de massas de indivíduos a quemfaltava a habilidade e a oportunidade de trabalhar. O sistema econômico,social e monetário que regula a sociedade moderna era desconhecido no primeiro século. Pense no caos social que teria resultado a libertação de

milhões de escravos. Que fariam essas pessoas, e como seriam alimentadas?A escravidão era um meio de manter-se a paz e a ordem no império; a

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94 (Colossenses 3:22-4:1)

abolição dessa instituição teria levado ao caos político e econômico.Isto não significa que o cristianismo meramente adaptou-se ao ambiente,

sem lutar, e sem demonstrar uma preocupação pela justiça social. Oministério e os ensinos de Jesus (Mateus 25:35-40; Lucas 4:18, 19), a vidada Igreja apostólica (Atos 6:1-6; 2 Coríntios 8:1-4), e os sofrimentos doscristãos (1 Pedro, Apocalipse) comprovam o contrário. Em vez de exercerum poder “revolucionário”, os cristãos proclamavam um poder“transformador.” Mediante sua vida e mensagem, lançaram um movimentoque no fim culminou na abolição da escravidão, pois, a partir do momentoem que escravos e senhores passaram a considerar-se irmãos, igualmente

 preciosos perante os olhos de Deus, tais divisões não poderiam prosseguir.A atitude assumida pela Igreja no que dizia respeito à escravidão foi

determinada principalmente pela teologia, em vez de pela sua preocupaçãoa respeito de segurança. Os cristãos criam que Deus os havia escolhido e lheshavia dado uma herança; criam que Cristo lhes havia trazido libertação, aqual seria usufruída totalmente quando o Senhor regressasse a fim de julgaro mundo e recompensar os santos. E visto não terem um mandato da parte

de Deus para revirar e dominar o mundo, viviam pacificamente, na certezade que os últimos dias estavam próximos. Deus lhes havia prometido umnovo Espírito, não uma nova ordem social.

A medida que a certeza do regresso iminente do Senhor se desvanecia,os escravos — à semelhança da maior parte dos crentes — tornaram-seinquietos. Talvez começassem a se interrogar quando é que sua igualdade e

liberdade em Cristo haveriam de tornar-se realidades sociais. Se o Senhornão voltasse logo, até quando eles deveriam continuar vivendo comoescravos? Esses pobres escravos precisavam de direção em suas vidas; precisavam de motivação mais forte, não apenas o suficiente para manter o“status quo”, e que lhes explicasse por que deveriam continuar em sua

 posição humilhante na ordem social.Estas instruções domésticas são tentativas no sentido de orientar escravos

e senhores em questões importantes, de grande sensibilidade. O fato dePaulo incluir uma exortação tão longa em Colossenses indica que se tratavade uma questão que precisava ser enfatizada a fim de a ordem ser preservada.É possível também que ele tivesse em mente Filemom e Onésimo, emboraos pontos específicos desse caso não tenham sido desenvolvidos aqui (cf.Filemom).

O que Paulo faz nesta seção é colocar a escravatura dentro do escopo dosenhorio de Cristo — um pensamento não surpreendente, se considerarmos

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(Colossenses 3:22-4:1)   95

o desenvolvimento da preeminência de Cristo ao longo da carta. Aquele queé Senhor do universo também é Senhor da Igreja (1:15-20); esse senhorioestende-se por todos os membros, inclusive os escravos. Sob o senhorio deCristo, Paulo menciona várias mudanças significativas que ocorreram comrespeito à situação dos escravos:

3:22 / Em primeiro lugar, os escravos adotam uma nova “atitude.” Emcerta época eram motivados pela necessidade de reconhecimento e do elogioda parte de seus senhores. A palavra incomum ophthalmodoulia compõe-sede ophthalmos (olho) e doulos (serviço). Não sendo cristãos, o serviço delesera executado com o objetivo de alcançar aprovação humana.

 No entanto, como cristãos, o trabalho deles deve partir do íntimo, docoração, em vez de ser feito por considerações externas. Devem entenderque seu trabalho ultimamente dirige-se a Cristo, e não a indivíduos. O“temor” (phobeomai) ou reverência para com o Senhor, toma-se o princípiomotivador que capacita os escravos a desempenhar bem suas tarefas diárias.

3:23 / Em segundo lugar, os escravos agora possuem um novo “centro dereferência.” Isto j á ficou implícito na última frase do v. 22, que os pensamentos

do v. 23 ampliam, de certa forma. Paulo deseja que os escravos entendamque, a despeito de sua posição humilhante, estão servindo a Cristo, e não aoshomens. Como resultado de seu relacionamento com Cristo, libertaram-sedo peso de ver seu trabalho como uma obrigação, ao efetuá-lo talvez de modometódico, mas sem entusiasmo, só para ganhar a aprovação humana. Assimé que Paulo os conclama a executar seu trabalho de todo o coração, como 

ao Senhor, e não aos homens.3:24 / Em terceiro lugar, os escravos terão nova recompensa. De novoPaulo os faz lembrar-se de que têm um novo centro de referência — é a Cristo, o Senhor, que servis. Sem dúvida há uma alusão aqui a salário —ou antes, à falta de salário — , e ao ressentimento que pode ter-se criado entreescravos e senhores. Em termos monetários os escravos eram pobres, etinham pouquíssimas oportunidades de receber uma herança, ou de melhorar

suas condições. A única esperança era que a compensação viesse do Senhor.A recompensa é a mesma a que se refere 1:12, com respeito à herança

do crente. Entretanto, esta não é a recompensa que um escravo recebe comoresultado de seu trabalho fiel, porque a herança do crente é dom de Deus. Amotivação de um escravo não é o ganho material, mas “a busca das coisasque são de cima,” que, neste caso, é o serviço a Cristo e a recompensa queele concede.

3:25 / Não está bem claro o ponto sob referência neste versículo. Quem

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96 (Colossenses 3:22-4:1)

faz injustiça receberá em troco a injustiça feita — refere-se isto ao escravo,ou ao senhor doescravo? Visto queos senhores não são mencionados formalmente,senão no próximo versículo, 4:1, seria fácil presumir que não são eles o alvovisado nesta admoestação. Todavia, à face do contexto do versículo precedente,com seu ensino a respeito de recompensa, será que o malfeitor é o senhor, quedeixou de compensar seu escravo de modo adequado? Paulo adverte osescravos, portanto, a que se lembrem de que por fim Deus julgará todas asinjustiças (Quem faz injustiça receberá em troco a injustiça feita, e nisto não há acepção de pessoas). Se este versículo for tomado como uma referência aossenhores, forma, então, um elo precioso com 4:1, em que se discutem as idéias

de amabilidade no tratamento e na justiça.Em certo sentido, este versículo pode aplicar-se aos escravos também.Eles foram exortados a obedecer em tudo (3:22), a trabalhar de coração e comsinceridade (3:22, 23), e manter uma perspectiva eterna (3:24). Será quePaulo está dizendo que os escravos que deixam de viver segundo aqueleideal, serão julgados como malfeitores? Os escravos que cumprem suasobrigações fielmente serão recompensados por Deus; os escravos que

deixam de cumpri-las, irresponsavelmente, podem esperar o julgamento deDeus. Deus não demonstra favor para com escravos, só por causa de suasituação humilde.

4:1 / De novo, Paulo não exige a abolição da escravatura. Os senhores deescravos, que agora são cristãos, não são obrigados a abrir mão de uma

 prática culturalmente aceita, só porque se tornaram cristãos. No entanto, ossenhores cristãos são pessoas diferentes, por causa de seu relacionamentocom o Senhor. Os donos de escravos também têm um novo centro dereferência, pelo que são convocados a demonstrar amabilidade no trato e

 justiça para com aqueles que os servem; os senhores de escravos também têmum Senhor nos céus.

Aqui está funcionando o princípio da reciprocidade: O mesmo podertransformador que capacita o escravo a entender e a executar seu trabalho de

modo diferente, está operando no senhor, que não mais trata seu escravocomo se fosse uma ferramenta, um objeto, mas considera-o pessoa humana,e até mesmo “irmão no Senhor” (Filemom 16). Quando existe umrelacionamento desse quilate entre senhor e escravo, não há problema dedesordem na igreja.

N o t a s A d i c io n a i s # 2 1Outras perspectivas úteis a respeito da escravidão podem ser encontradas em

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(Colossenses 3:22-4:1)   97

 bibliografias especializadas. Veja-se a disc. e a bibliografia sobre Efésios 6:59.

3:22 / “É certo que não se deveria imaginar que o oposto de temor éconfiança; isto se demonstra pelo fato de o Salmo 33 (32): 18, por exemplo,

igualar temor com a esperança da graça de Deus. O que temor  realmente significaé um modo de viver em que a pessoa nada teme, exceto perder o Senhor, damesma forma que um indivíduo apaixonado nada teme, senão vir a perder o afetoda pessoa amada” (Schweizer, p. 225).

3:25 / É interessante notar que a frase não há acepção de pessoas aplica-secom toda clareza aos senhores em Efésios 6:9, o que favorece sua aplicação denovo aos senhores, em Colossenses, a menos que o autor de Efésios esteja

tentando salientar um ponto diferente. Todavia, à face do contexto de Colossensese a necessidade de “ordem” em todas as coisas, faz sentido ver 3:25 comoreferência aos escravos. A obediência é o princípio que rege a Haustafeln, e é oque se aplica aos escravos. Schweizer sugere que “talvez a questão de a quemé que o apóstolo se refere tenha sido deixada em aberto, porque o que ele afirmaé válido para todos” (p. 227).

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# 22. Exortações à Oracão e ao Testemunho# *

{ C o lo s s e n s e s 4 : 2 - 6 )

4 :2 /0 versículo que abre esta seção dá prosseguimento às idéias de cultocorporativo que foram desenvolvidas em 3:16-18. A convocação apostólicaperseverai na oração é tema que se repete várias vezes no NT (Lucas 18:1;Atos 1:14; 1:24; 6:4; Romanos 12:12; Efésios 6:18). A idéia de persistênciaé enfatizada pela exortação adicional a vigiar (velando, gregoreo) nela com ações de graça. Assim, não se enfatiza apenas a importância da oração, masa maneira pela qual nós oramos.

Esta exortação pode ser uma advertência contra a negligência na oração — orar só de vez em quando. O chamado a que sejamos “vigilantes”constituía um assunto de instrução batismal (catequética) ministrada aosnovos cristãos (cf. Efésios 6:18-20: “Orai... vigiai”; 1Pedro 4:7; “Vigiai em

oração”; 5:8: “Sede sóbrios, vigiai”). Sua inclusão em Colossenses é outroexemplo de texto tradicional que se tomou e se aplicou à situação deColossos.

Deve-se orar e ao mesmo tempo oferecer ações de graças. Esta é a sétimavez que se mencionam ações de graças nesta carta (1:3,12; 2:7; 3:15,16,17).Tanto o agradecimento como a oração constituem reações apropriadas docristão, e devem ser feitos pela comunidade no culto, tanto quanto pelo

indivíduo. É o padrão que Paulo seguiu na carta em que ele deu graças a Deus pelos colossenses (1:3-8), e a seguir orou especificamente por eles (1:9-14).

4:3-4 / Partindo de uma admoestação genérica sobre a oração, Paulo sevolta para um pedido pessoal, específico, no sentido de que Deus nos abra a porta da palavra. Porta vem do grego thyra, sendo um termo empregadonas Escrituras como metáfora para oportunidades no testemunho (1 Coríntios16:9; 2 Coríntios 2:12). O conteúdo da mensagem de Paulo é a revelação do mistério de Cristo, algo que ele já explicara em 1:26 e 2:2 (cf. Efésios 3:36, 9).

Paulo indica que está preso (dedemai, perfeito passivo de deo\ cf. 4:18). Sua petição de uma oportunidade para pregar pode implicar num desejo delibertação pessoal (cf. Filemom 22); entretanto, com freqüência Paulo usavaseu encarceramento a fim de compartilhar o evangelho (Atos 28:30), e

achava que tais circunstâncias “contribuíram para maior avanço do evangelho”(Filipenses 1:12). Este desejo não é por ele apenas, pois o apóstolo inclui seus

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(Colossenses 4:2-6)   99

colaboradores (veja-se o plural nós), como Timóteo (1:1), Epafras (1:7; 4:12), Tíquico (4:7), Onésimo (4:9), e outros que ele menciona em suasaudação final (4:7-18). Há aqui um desejo de clareza (orai para que o manifeste como devo fazer (phaneroo) na pregação. Paulo deseja ter umaoportunidade para pregar o mistério de Cristo com clareza.

4:5-6 / Nos dois versículos seguintes, Paulo provê orientação no queconcerne aos relacionamentos com os incrédulos (cf. 1 Tessalonicenses4:12). Ele não aprovaria nenhum movimento do cristianismo no sentido deformar-se clubes, ou agremiações particulares, ou o afastamento da sociedade.Ao contrário, os crentes devem dar testemunho visível (na conduta), e

verbal, (na fala) de sua fé. O apóstolo procura encorajar seus leitores acomportar-se de maneira que dê autenticidade à sua fé diante dos que estão de fora (tous exo). A idéia por trás de oportunidade é a pitoresca palavraexagorazo, que significa “comprar” ou “redimir” (“agora,” mercado). Nãoficou claro se os crentes devem aproveitar bem cada oportunidade, porquese acreditava que o Senhor estava perto, ou se, à luz de Efésios 5:16, “porqueos dias são maus.” Sej a como for, a idéia enfática é que se use toda e qualquer

oportunidade para testemunhar de Cristo. Esta é uma tarefa a ser feitasabiamente. O bom senso e o tato devem acompanhar o entusiasmo. Otestemunho sem a sabedoria com freqüência produz má vontade e resultadosnegativos.

Paulo percebe que o testemunho da vida de uma pessoa deve fazer-seacompanhar da palavra falada. Para que saibais como deveis responder a 

cada um talvez se refira a respostas exigidas como resultado de umaapresentação pessoal das Boas-Novas (no grego temos “cada umindividualmente”); pode ser que Paulo tenha em vista uma situaçãosemelhante à de 1 Pedro: “Estai sempre preparados para responder commansidão e temor a todo aquele que vos pedir a razão da esperança que háem vós” (3 :15,16a; cf. também Mateus 10:19; Marcos 13:ll;Lucas 12:11,12; 21:14).

Seja qual for a situação, duas qualidades da fala são essenciais: Primeira,deve ser sempre “cheia de graça.” ECA traduziu en chariti  por “sempreagradável” e RS V, “fala graciosa.” O cristão que está “cheio de graça” divinademonstrará essa realidade mediante a qualidade “sempre agradável” de suaconversa. Em segundo lugar, deve ser temperada com sal, o que sugere umaconversa sadia, espirituosa, palatável, o oposto de palavras insípidas, isto é,sensaboronas e desagradáveis.

Com esta seção, os aspectos formais e teológicos de Colossenses chegam

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100 (Col ossenses 4:2- 6) 

ao final. Mas o que permanece nos versículos seguintes (4:7-18) não deve serconsiderado simples adendo que nada tem que ver com o conteúdo da carta.Estas saudações e instruções finais trazem duas contribuições significativas para esta carta.

Primeira, continuam a revelar o interesse pessoal e verdadeiro do coração pastoral de Paulo para com sua congregação. Por toda a carta o apóstolodemonstrou sua preocupação mediante ações de graças, intercessões, agoniae sofrimento. O mesmo espírito orosseeue aaui: Paulo deseia que as notíciasde Tíquico console os vossos corações (4:8), e mostra como Epafrascompartilha os objetivos que o apóstolo projetou para esta congregação —

 para seu compromisso de fidelidade, para sua maturidade e obediência aoevangelho. VEm segundo lugar, provêm uma perspectiva)nistórica valiosa aos

colaboradores de Paulo, no que concerne a seu relacionamento çòm a Igrejacolossense. A afinidade e o apoio^e^aSí? que Paulo demonstra aos“conservos no Senhor” constitueiíTexemplo de sua capacidade de amar as

 pessoas e reconhecer a contribiiiçao que fazem à sua própria vida, e à obra

do Senhor. Estes versículos, ao lado de RomâMM6:l-24, constituem umcomentário muito útil sobre como Deus se serve de várias pessoas para a

 proclamação das Boas-Novas e edificação da Igreja de Jesus Cristo.

N o t a s A d ic io n a is # 2 2 rj0°vExortações semelhantes a que oremos e testemunhemos encontram-se em

Gajâtas 5:26-6:6; Filipenses 4:8-13; 1Tessalonicenses 5:12-22.4:6/Veja-seW.Nauck,“Salt asaMetaphorinlnstructionsforDiscipleship,”

ST 6 (195^mp¥54-78.

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# 2 3 . Instruções e Saudações Finais ( C o l o s se n s e s 4 : 7 - 1 8 )

4:7-8 / Dois dos indivíduos mencionados nesta lista são emissários pessoais de Paulo à Igreja colossense. Tíquico é mencionado de modoespecial, e é elogiado como irmão amado, fiel ministro e conservo no Senhor. O relacionamento de Paulo com Tíquico originou-se em Éfeso(Atos 20:4), onde aparentemente esse colaborador teria passado algumtempo como líder da igreja (2 Timóteo 4:12; Tito 3:12).

Paulo envia Tíquico a Colossos como mensageiro pessoal e, provavelmente, como portador desta carta, e antecipa que sua chegada vaiencorajar seus corações (que ele console os vossos corações). A palavratraduzida por “consolar” é parakaleo, que comunica um sentido de conforto,neste contexto. Como uma espécie de “paracleto,” Tíquico é um agente pessoal do Espírito Santo a esta congregação (João 14:16, 26; 16:7).

4:9 / Onésimo, outro amado e fiel irmão, acompanha Tíquico aColossos pela mesma razão. Para Onésimo, o retomo a sua cidade natal deveter sido uma experiência de emoções conflitantes, pois ele é o escravo quefugiu de seu senhor, Filemom. Entretanto, os problemas relacionados comeste caso foram tratados na carta pessoal de Paulo a Filemom.

4:10-11 / Aristarco (Atos 19:29; 20:4; 27:2), Marcos (Marcos 14:51;Atos 12:12,25; 13:13; 15:37,39; 2 Timóteo 4:11; Filemom 24), e Justo são

identificados por Paulo como os únicos da circuncisão que cooperam comigo pelo reino de Deus. O leitor quase pode sentir uma nota de profundatristeza nas palavras de Paulo, visto que ele esperava que judeus-cristãos emnúmero bem maior se tomassem seus colaboradores. Entretanto, o apóstolodemonstra profunda gratidão pelaajudapessoal que esses lhe dão. Consolação (paregoria) pode expressar melhor o sentimento de gratidão de Paulo poressas três pessoas.

A frase reino de Deus  parece que é outro modo de Paulo expressar a pregação missionária do apóstolo e seus colaboradores (cf. Atos 19:8; 28:30,31), visto que seu objetivo era anunciar que o reino de Deus havia chegadoem Cristo, o Messias. Noutras passagens Paulo identifica esse “reino deDeus” como sendo o domínio dos justos (1 Coríntios 6:9; Gálatas 5:21).

Embora Aristarco seja identificado como colaborador que está preso comigo, isto é, com Paulo, não há como saber se isto (cf. Filemom 23) deveser tomado literalmente ou como metáfora (a saber, como prisioneiro do

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102 (Colossenses 4:7-18)

Senhor, ou por amor de Cristo, cf. Efésios 3:1; 4:1). As circunstânciashistóricas do encarceramento de Paulo, o emprego do termo synaichmalotos (“colega prisioneiro”) e a ausência de quaisquer frases qualificadoras (como

 por exemplo “no Senhor”), favorecem o sentido literal.Desses três indivíduos, Marcos era o menos conhecido dos colossenses.

Por isso, ele é identificado como o sobrinho de Barnabé — a quem elesdeveriam conhecer bem. Paulo lembra aos colossenses suas instruçõesanteriores no sentido de receberem Marcos, caso este fosse até Colossos.

 Nada se sabe, além desta referência, a respeito de um contato anterior deMarcos com a Igreja colossense. As instruções anteriores poderiam ter sido

emanadas do próprio Paulo, ou o apóstolo estaria apenas endossando asrecomendações de outrem.

4:12-13 / Epafras, outro servo de Cristo Jesus, tem sido identificadocom a Igreja colossense desde o início (1:7), pelo que a inclusão de seu nomenão causa surpresa. O elogio de Paulo a esse colaborador e companheiro de prisão (Filemom 23) emana de um relacionamento pessoal longo entreambos. Epafras deveria ter ido a Efeso durante a estada de Paulo nessa cidade

(Atos 19), tendo-se convertido pela pregação do apóstolo. A estada de Pauloem Éfeso deve ter sido longa (três anos, de acordo com Atos 20:31), tendoincluído um frutífero ministério de ensino (“discutia todos os dias na escolade Tirano”.) Durou isto dois anos, de modo que todos os que habitavam naÁsia ouviram a palavra do Senhor Jesus, tanto judeus como gregos,” (Atos19:9, 10).

Epafras deve ter-se formado na teologia paulina, de modo que estaria bem preparado para ser um missionário e mestre. O evangelho que ele levaraà sua cidade natal dera origem à Igreja de Colossos (1:7), bem como àsdemais igrejas das cidades vizinhas de Laodicéia e Hierápolis. Não se devemenosprezar a importância de Epafras como missionário aos gentios. E possível que ele houvesse ido a Roma a fim de aconselhar-se com Pauloquanto à maneira de tratar das heresias que ameaçavam a Igreja (2:8).

A preocupação de Epafras para com sua congregação manifestou-se emsua vida de oração. Ele não havia fundado a Igreja para abandoná-la a seguir;ao contrário, declara o apóstolo Paulo, ele está combatendo sempre por vós nas suas orações. As preocupações de Epafras em suas orações sãosemelhantes às do próprio apóstolo, expressas ao longo desta carta (cf. 1:9,11,23,28; 2:2,5:7; 3:1,2). As qualidades de firmeza, maturidade, convicçãoe obediência capacitarão os colossenses a resolver de modo eficiente aheresia que lhes ameaça a fé.

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(Colossenses 4:7-18)   103

4:14 / Lucas e Demas também são incluídos na lista de saudações. Orelacionamento de Lucas permaneceu íntimo e forte (2 Timóteo 4:11);entretanto, Demas derivou para um destino diferente, em certo momento posterior de sua vida (“Demas me abandonou, amando o presente século,”2 Timóteo 4:10).

4:15-16/Estes versículos provêm certas informações de interesse acercada vida da Igreja no primeiro século. Em primeiro lugar, trata-se de outroexemplo de cristãos primitivos que se reúnem em lares, para o culto (cf. Atos12:12; 16:40; Romanos 16:5; 1Coríntios 16:19;Filemom2).Sónofinal doterceiro século é que os cristãos começaram a reunir-se em lugares

especificamente consagrados para o culto. Paulo envia suas saudações a umacongregação doméstica em Laodicéia, que se reunia na casa de Ninfa.Em segundo lugar, demonstra que as igrejas usufruíam de comunhão

umas com as outras. Parece que era comum Paulo pedir que suas saudações,expressas numa carta aos colossenses, fossem retransmitidas às igrejas nasvizinhanças. O mesmo se aplica à troca de correspondência entre ascongregações de Colossos e Laodicéia. Visto que as cartas de Paulo não

 podiam ser duplicadas nem compradas pelos crentes, eram lidas em voz altae, neste caso, intercambiadas (cf. 1Tessalonicenses 5:27).

 Ninguém conseguiu localizar essa carta vinda de Laodicéia. Alguns têmsugerido tratar-se da carta aos Efésios, e até mesmo a de Filemom. Aexplicação mais óbvia é que se trata de uma carta escrita especificamente aessa igreja, que por alguma razão não foi mantida na correspondência

 paulina e, (aparentemente), não sobreviveu. Talvez se tenha extraviado porque a igreja a que foi dirigida tornou-se espiritualmente anêmica (“morna”),c morreu (Apocalipse 3:14-22).

4:17/Arquipo, provavelmente outro membro dacongregação colossense,recebe um encargo específico da parte de Paulo: terminar o ministério quelhe fora confiado no Senhor. Visto que ministério é tradução de diakonia, alguns comentaristas têm imaginado se o trabalho de Arquipo seria o de

diácono. No entanto, não há como saber se se trata de um ofício específico,ou de uma tarefa que lhe fora atribuída, que devia ser finalizada. A questãodeve ter sido bastante significativa, para que Paulo a salientasse dessa forma,mencionando Arquipo, considerando-se especialmente que a carta seria lidaem voz alta para que todos a ouvissem.

4:18 / Era costumeiro que autores como Paulo (cf. Romanos 16:22) ePedro (1 Pedro 5:12) empregassem secretários (amanuenses) para acomposição de suas cartas. Paulo, por exemplo, teria ditado certas idéias, e

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104 (Colossenses 4:7-18)

até mesmo escrito um esboço amplo que um secretário completaria. Aassinatura pessoal (Eu, Paulo, escrevo esta saudação com meu própriopunho) daria à carta um cunho de intimidade (cf. 1Coríntios 16:21; Gálatas

6:11; 2 Tessalonicenses 3:17).O pedido final é que os colossenses se lembrem de algo: Lembrai-vos das minhas cadeias. Antes, o apóstolo fizera um pedido semelhante, quantoàs orações dos colossenses (4:3). Ficamos questionando se tal rogo provémde um apóstolo solitário e desanimado, ou se deve ser entendido comoafirmativa indireta de seu ministério inteiro, de servo e prisioneiro de JesusCristo. Visto que Paulo não empregou a palavra normal para oração

(proseuchomai),  parece que aquela frase constitui um apelo a que oscolossenses se lembrem de Paulo e a ele respeitem, por quem ele é e pelo queescreveu.

Finalmente, há a bênção: A graça seja convosco. Da mesma forma comose iniciou (1:2), assim a carta se encerra: com uma oração gratulatória. Oscolossenses precisavam de muito mais que uma simples oração que ossustentasse em sua vida cristã. Só a graça de Deus poderia fortificá-los contraos falsos ensinos e capacitá-los a permanecer fiéis ao evangelho que haviamrecebido.

N o t a s A d i c io n a i s # 2 3Além dos comentários principais deste seção, veja-se G.E. Ladd, “Paul’s

Friends in Colossians 4:7-16,” RevExp 70 (1973), pp. 507-14.

4:15/ Segundo a tradução de NIV, Ninfa é uma mulher (o que é correto), masdeve-se notar que há uma variante textual que lhe mudou o gênero para omasculino, que diz: “e à igreja que está na casa dele.” Quanto a outras sugestõesconcernentes a este versículo, veja-se C.P. Anderson, “Who Wrote the Epistlefrom Laodicea?” JBL 85 (1986), pp. 436-40.

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Introdução: F i l e m o m

Esta é uma carta pessoal de Paulo a Filemom, membro da Igrejacolossense, e senhor do escravo Onésimo. Onésimo fugira de seu senhor, eacabou chegando ao lugar onde Paulo se encontrava: na prisão. Ali, tornou-se amigo e ajudante de Paulo. Entretanto, Paulo entende que Onésimo

 precisa corrigir suas más ações, isto é, deve voltar a Filemom, a quem

legalmente pertence. A carta de Paulo aFilemom é uma tentativa de defendera causa de Onésimo perante seu senhor, na esperança de que este reagirá

 positivamente em amor e perdão, e restaurará a Onésimo, não apenas comoescravo, mas como um amado irmão em Cristo.

A partir do comentário de Colossenses, fica óbvio que esta carta e a quefora dirigida a Filemom têm vários elementos em comum. Primeiro, foram

escritas no mesmo lugar (veja-se a Introdução a Colossenses). Segundo,foram dirigidas à mesma igreja, embora Filemom seja uma carta mais pessoal, endereçada a um membro em particular. Onésimo (Colossenses4:9) e Arquipo (Colossenses 4:17) pertenciam à Igreja colossense, pelo quese pode com grande margem de acerto deduzir que Filemom morava emColossos. Terceiro, ambas as cartas mencionam circunstâncias semelhantes,referentes ao encarceramento de Paulo (Colossenses 4:3, 18; Filemom 1,

13). Quarto, a lista de pessoas que enviam saudações é quase idêntica.Quinto, tanto Colossenses (1:1) como Filemom (v. 1) indicam que Timóteoajudou a redigir as cartas. Sexto, estas cartas provavelmente foram juntadase conservadas como uma única peça da correspondência de Paulo.Infelizmente, os compiladores do NT não mantiveram Colossenses e Filemom

 juntas.

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# 1 . Saudações de Paulo ( F i l e m o m 1 - 3 )

1  / Temos aqui uma carta de Paulo, prisioneiro de Cristo Jesus (cf.Colossenses 4:3, 18). Com base nos versículos 9 e 10, trata-se de prisão queo confinou fisicamente, em vez de mera figura metafórica. O irmão de Pauloem Cristo, Timóteo, une-se a ele no envio da carta (cf. Colossenses 1:1) ao amado Filemom, nosso cooperador. Filemom é um amado (agapetos)“amigo” (ECA não traduz este termo) porque pertence à comunidade que secaracteriza pelo amor; trata-se de um cooperador, porque está ativamenteenvolvido na obra do evangelho em Colossos.

2 / Uma das formas pelas quais Filemom tem demonstrado seu amor einteresse pelo evangelho é ao abrir sua casa para as reuniões da igreja. O fatode as saudações se estenderem à igreja, incluindo Afia e Arquipo, faz queesta carta seja mais pública que particular. É possível que o conteúdo seja

 primariamente dirigido a Filemom, mas a questão concernente a Onésimointeressa à Igreja inteira. Não se deve atribuir um sentido militar especial aotermo companheiro de lutas (“colega soldado,” segundo NIV, traduzindo

 systratiotes). Temos aí mais uma metáfora de Paulo para descrever um deseus companheiros de ministério. Em Filipenses 2:25 a mesma palavra éempregada a respeito de Epafrodito. No caso de Arquipo, Paulo usacompanheiro de lutas em vez de “companheiro de trabalho”, porque esse

irmão deverá executar uma tarefa especial (Colossenses 4:17).Pouco se sabe a respeito de Afia. Entretanto, visto que seu nome aparece

tão intimamente ligado ao de Filemom, é possível que ela seja sua esposa.Entretanto, daí não se deve deduzir que Arquipo seria filho do casal, comoalguns comentaristas afirmam, por especulação. João Knox, por exemplo,tentou demonstrar que Arquipo, e não Filemom, é o senhor de Onésimo, eque “o ministério” que Arquipo deveria terminar (Colossenses 4:17), refere-

se ao tratamento a ser ministrado ao caso do escravo fujão. As minúcias dessetrabalho estão delineadas na carta de Paulo a Filemom, que de acordo comKnox, é a “carta de Laodicéia” (Colossenses 4:16). Entretanto, há inúmerasdificuldades nesta teoria. A identidade de Arquipo, além do que se lê emColossenses e em Filemom, permanece bastante especulativa.

3 / A conclusão da carta, com a saudação de Paulo, é semelhante à deColossenses 1:2, e à forma por que Paulo se dirigia a outras congregações.Graça e paz a vós outros são dois dos maiores dons da vida cristã.

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(Filemom 1-3) 107

N o t a s A d i c i o n a i s # 1

2 / John Knox, “Philemon Among the Letters of Paul.” Quando a umaavaliação das idéias de Knox, consulte-se Lohse, pp. 186-87.

Dois artigos muito úteis a respeito de Filemom são: E.W. Koch, “Cameo ofKoinonia,” Interp 17 (1963), pp. 183-87; F.F. Church, “Rhetorical Structure andDesign in Paul’s Letter to Philemon,” HTR 71 (1978), pp. 17-33.

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# 2 . Elogio de Paulo a Filemom ( F i l e m o m 4 - 7 )

4-5 / Estes dois versículos atraem a atenção para a pessoa de Filemom damesma forma como a oração gratulatória de Paulo, em Colossenses, focalizoua congregação (Colossenses 1:3-14). A gratidão de Paulo pelo amor deFilemom dirigido ao povo de Deus (v. 5) constitui a base de seu pedido nov. 9. Paulo afirma que Filemom é seu companheiro (v. 6) e, com base nisso,roga a Filemom que use de misericórdia para com Onésimo (v. 17); assim

como Filemom animou o coração de todo o povo de Deus (v. 7), Paulo desejaque seu próprio coração se anime graças ao amor de Filemom (v. 20). Aquitambém a lembrança se toma ocasião de agradecimento e oração: Dou graças ao meu Deus, lembrando-me sempre de ti nas minhas orações.

Paulo demonstra gratidão por causa das coisas positivas que ouviu arespeito do amor e da fé (agape e pistis,  respectivamente). Normalmente,

Paulo menciona primeiro a fé e depois mostra o amor cristão emanando dafé e sendo nutrido pela fé no Senhor (Colossenses 1:4; Efésios 1:15). Asentença no grego diz o seguinte, literalmente: “Ouço de vosso amor e fé quetendes para com o Senhor Jesus e todos os santos.” Daí não termos meio desaber a quem o amor e a fé diziam respeito, individualmente.

 NIV traduz este versículo desta maneira: “Ouço acerca de tua fé noSenhor Jesus, e de teu amor para com todos os santos.” Os tradutores

chegaram a esta interpretação porque entenderam que o texto grego provavelmente emprega uma estrutura gramatical conhecida como quiasmo.Este termo veio da letra grega “chi,” grafada à semelhança de um “X.” Nasentença, as palavras ou frases são dispostas num paralelismo invertido, ouartificial. O v. 5, por exemplo, seria lido assim:

a) amor  b) fé b’) no Senhor Jesusa’) para com todos os santosAmor (a) vem primeiro, porque Paulo está pensando no amor de

Filemom, tanto explícito (vv. 7, 9) como implícito (vv. 14, 16, 17, 20); (b)fé é a fonte de onde deriva o amor; (b’) a fé tem como objeto o Senhor Jesus; (a’) o amor é dirigido a (eis) todos os santos. Esta explicação reflete o modo

 paulino costumeiro de associar a fé com o Senhor, e dirigir o amor ao povode Deus.

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(Filemom 4-7)   109

6 / Visto que este é o versículo mais obscuro da carta, talvez sejamos beneficiados em comparar várias traduções:

 No grego, literalmente: “Assim como a comunhão (koinonía) de vossa féfuncionando possa tornar-se em completo conhecimento de todas as coisas boas em nós por Cristo.”

ECA: Oro para que a comunicação da tua fé seja eficaz no conhecimento de todo o bem que em nós há para com Cristo.

 NIV: “Oro no sentido que sejas ativo no compartilhamento de tua fé, demodo que tenhas uma compreensão total de todas as coisas boas que temosem Cristo.”

RSV: “E oro para que o compartilhamento de tua fé possa promover oconhecimento de todas as boas coisas que são nossas em Cristo.”GNB: “Minha oração é para que nossa comunhão contigo, como crentes,

resulte num conhecimento mais profundo de todas as bênçãos que temos emnossa vida, em união com Cristo.”

O melhor meio de entender o que este versículo diz é vê-lo em seucontexto epistolar, que ensina as seguintes verdades: Todos os cristãos

compartilham uma fé comum; a fé deve ser ativa, visto que promove acompreensão das bênçãos que os cristãos receberam; a resposta da fé é paraCristo, isto é, para sua glória; o reconhecimento destas bênçãos da parte deFilemom fará que ele reaja de modo apropriado com respeito a Onésimo (v.14).

7 / 0 tema do amor de Filemom (v. 5) repete-se neste versículo: Por ti, ó irmão, o coração dos santos tem sido reanimado. Embora não haja meiode sabermos o que foi que Filemom fez, especificamente, o resultado foi umnovo ânimo, ou novo alento (anapauo)  em seus sentimentos íntimos(coração). A maior preocupação de Paulo não é descrever as ações deFilemom, mas acentuar seu espírito; esse mesmo espírito de amor vaideterminar a forma de ele reagir aos rogos de Paulo com respeito a Onésimo(cf. v. 20, onde ele emprega a mesma palavra). O relacionamento entre Paulo

c Filemom é o de irmão. Eis um  status de que gozam igualmente Paulo,Timóteo, Filemom e até mesmo Onésimo (v. 16), juntos.Paulo dá a entender que ele pessoalmente se beneficiou do amor de

Filemom de modo vicário. No amor de Filemom por todos os filhos de Deus,Paulo experimentou grande gozo (charis)  e consolação (paraklesis).  O apóstolo tivera um sentimento de identidade semelhante em relação à Igrejade Corinto, quando as coisas iam bem (cf. 2 Coríntios 7:4, 7).

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# 3. Intercessão de Paulo por Onésimo( F i l e m o m 8 - 2 2 )

Depois de haver elogiado bastante Filemom, pela sua conduta cristãexemplar, o apóstolo entra no âmago de sua intercessão em favor deOnésimo. De certa forma, Paulo dá a impressão de que está “dando murrosnuma sombra,” ou seja, ficou “rodeando o assunto” em vez de confrontarFilemom de modo direto e franco. Entretanto, a estratégia paulina foi

determinada por dois fatores: em primeiro lugar, o apóstolo precisa avançarcom cuidado, e pesar cada palavra. Afinal, sua intercessão no sentido dereinstalar um escravo fugitivo era algo totalmente incomum no primeiroséculo. De acordo com a lei romana, os senhores podiam exigir o retomo deum escravo fujão e infligir-lhe a punição quedem entendessem.

Em segundo lugar, Paulo quer evitar a impressão de estar legislando

ditatorialmente sobre a decisão que Filemom deve tomar. Ainda que oapóstolo tivesse autoridade para agir assim, percebe que “um homemconstrangido contra sua vontade continua a nutrir a mesma opinião.” Assimé que Paulo vai sugerir um modo de ação, e vai apelar aos elevados padrõescristãos de Filemom, deixando, porém, a decisão final nas mãos do dono doescravo.

8-9 /Pelo que (dio) liga o assunto introdutório dos vv. 4-7 ao pedido que

se segue. Com base no caráter gracioso e generoso de Filemom, Paulo achaque em Cristo o apóstolo goza de certo relacionamento com Filemom quelhe possibilita a liberdade de formular-lhe um apelo especial. Na verdade, alinguagem de Paulo é um tanto forte e, em certo sentido, ter-se-ia baseadoem sua autoridade apostólica, ao afirmar que poderia ordenar a Filemom quetomasse a decisão mais apropriada. Paulo acreditava que seu ofício deapóstolo de Jesus Cristo lhe dava grande poder, e exigia dele que tomassedecisões sumamente importantes (cf. 1 Coríntios 5:3; 7:6; 9:1; 2 Coríntios12:12). Ele é Paulo, o velho e, também agora, prisioneiro de Cristo Jesus. Talvez sua autoridade houvesse aumentado, porque estava sofrendoencarceramento por amor de Cristo.

Há alguma polêmica em torno da tradução da palavra grega presbutes. KJV, NIV e ECA traduzem “velho,” ou “homem idoso,” enquanto GNB e

RS V empregam “embaixador.” A única diferença entre a palavra grega paravelho (presbutes)  e “embaixador” (presbeutes)  está na letra e.  Alguns

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(Filemom 8-22) 111

críticos do texto sugerem que essa letra foi deixada fora, inadvertidamente,no processo de cópia; outros têm argumentado que  presbutes  às vezes é palavra empregada em textos não-bíblicos no sentido de “embaixador” ou“enviado,” e nesse caso poderia ter tal significado, aqui. A escolha de

 palavras é importante para a compreensão do espírito da intercessão dePaulo.

Se a palavra apropriada é velho, o apelo de Paulo adquire um tomemocional, ou seja, ele apela a Filemom como um velho e prisioneiro deCristo Jesus. Por outro lado, “embaixador” continua a ressoar a nota deautoridade a que o apóstolo aludira no versículo anterior. Neste caso, a força

do argumento é que embora ele pudesse decidir em lugar de Filemom, com base em sua autoridade apostólica, ele descarta esse privilégio da mesmaforma como o fizera antes (v. 8). Ele quer que Filemom aja segundo sua

 própria convicção, e não por compulsão externa. Mas deseja que Filemomsaiba também que sua intercessão parte do coração e não da cabeça apenas(prefiro, todavia, solicitar em nome do amor).

10 / Finalmente, parece que Paulo está pronto para formular seu pedido.

Mas é necessário esperar! O leitor não será informado sobre o pedido senãono v. 17. Todos os comentários de Paulo que precedem a delicada intercessãodemonstram que ele se aproxima de Filemom de modo gradual, com máximotato e humildade.

Paulo chama Onésimo de meu filho porque este se tomara membro dafamília de Deus. Visto que Paulo foi o instrumento divino em levar Onésimo

a Cristo, pelo seu testemunho, o apóstolo descreve seu relacionamento comOnésimo como se fora seu pai espiritual. Ele usa essa linguagem de pai efilho em outras ocasiões, quando foi responsável pelo fato de algumas pessoas se tornarem cristãs (cf. 1 Coríntios 4:15, 17; Gálatas 4:19).

Tomando a preposição grega peri no sentido de “estou rogando por ele,” pode-se acreditar que Paulo desejasse reter Onésimo como seu ajudante pessoal na prisão. Entretanto, ainda que Paulo admitisse a tentação de tal

 possibilidade, pode-se verificar pelo v. 15 que sua intenção sempre foi a dedevolver Onésimo. Seu apelo é “por amor de,” ou “a favor de”, em vez depor Onésimo.

11  / As expressões inútil para ti e útil tanto para mim como para ticonstituem um trocadilho com o nome de Onésimo, que significa “útil”. (Eraum nomecomum para escravos no mundo antigo, porcausadesse significado.)A força do trocadilho (um jogo de palavras) está no seguinte: Antes Onésimoera um escravo inútil  para Filemom, talvez até quando este tinha a posse do

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112 (Filemom 8-22)

servo, mais provavelmente depois de este ter fugido; mas agora, isto é, apóssua conversão a Cristo, tornou-se útil tanto para ti como para mim. Aironia é que Onésimo só pode continuar a ser útil para o apóstolo se Onésimoficar a seu lado, na prisão, e só será útil para Filemom, se voltar paraColossos. Seja como for, Onésimo é outro homem. O contraste entre sua vida pessoal anterior e a atual é tão dramático como o contraste nas vidas dosgentios, cuja conduta pregressa no pecado contrasta violentamente com anova vida em Cristo (“antes... agora:” cf. Colossenses 3:7, 8; Efésios 2:11,13; 5:8).

1 2 / 0 relacionamento entre Paulo e Onésimo é de tal intimidade (pai e

filho espirituais) que a partida de Onésimo é como a perda de uma parte doapóstolo. Eis um lindo exemplo de fraternidade em que as distinções sociais já não importam mais. Em Cristo, um escravo frigi o delinqüente pode tomar-se um irmão do grande apóstolo dos gentios. Entretanto, Paulo não pode

 permitir que seu coração decida as questões; ele sabe que a única coisa certae legal que pode fazer é providenciar a volta de Onésimo aFilemom. Tal açãose concretiza na resolução de Paulo de remeter o escravo a seu legítimo

 proprietário. A construção no grego é um aoristo epistolar, o que significaque, mesmo estando no passado, seu sentido estende-se ao presente. Daí afrase: estou mandando, em vez de “mandei.”

13  / De novo Paulo indica que sua preferência pessoal seria manterOnésimo ao seu lado, na prisão. De certa maneira Paulo entende que, adespeito de seu encarceramento, o serviço prestado por Onésimo promoveria

o evangelho desta ou daquela forma. Ele poderia tomar teu lugar em ajudar-me dá-nos a sugestão de que Paulo está pensando em que o próprioFilemom poderia prestar-lhe algum tipo de serviço. Será que Filemom lhedevia alguma coisa? O único indício de algum tipo de dívida surge no v. 19,em que Paulo poderia estar lembrando a Filemom que foi através doministério do apóstolo que Filemom veio a tornar-se um cristão.

14 / Paulo demonstra grande cuidado ao fazer seu pedido. Acha que tem

algum direito em reter Onésimo, para crédito de Filemom, mas deseja quetal decisão venha diretamente de Filemom (Eu não quis fazer nada sem o teu consentimento). O texto grego diz literalmente “tua boa obra” (agathon), o que nos faz lembrar do mesmo uso dessa palavra no v. 6, traduzida aquicomo “boa coisa” em NIV. Mas seja o que for que Filemom decidir fazer, queo faça de boa mente. Constrangimento, compulsão, coerção, necessidade eassim por diante, não são motivações próprias de uma pessoa que serve aCristo. “Deus ama a quem dá com alegria, não relutantemente ou por 

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obrigação” (2 Coríntios 9:7). Filemom revelará seu verdadeiro carátercristão ao agir voluntariamente.

25 / Até este ponto alguém poderia interpretar o caso de Onésimo comouma tragédia. Aqui está um indivíduo que praticou o mal contra seu senhor,que talvez lhe tenha roubado e que, para coroar essa delinqüência, fugiu decasa e ficou sujeito a ser caçado. Sua situação é essa, vista de um ângulohumano, puramente terreno.

Todavia, Paulo a vê de modo diferente, pois contempla-a do ponto devista da eternidade. Noutras palavras, Paulo vê a situação de Onésimosegundo a direção providencial de Deus em todos os eventos. A ação de

Onésimo foi deliberada; entretanto, sua fuga não o tirou de sob a soberaniade Deus. Sim, é verdade que Onésimo ficou separado de Filemom por algum tempo; no entanto, o resultado final foi que Deus ordenou a vida deOnésimo de tal maneira que Filemom poderia tê-lo de volta para sempre. As vezes as falhas humanas tornam-se as oportunidades de Deus! Eis aquium caso em que uma perda temporária tornou-se um ganho eterno.

1 6 / 0 relacionamento providencial e eterno que Paulo entreviu no v. 15

agora se toma bem elaborado, em palavras que captam o âmago do próprioevangelho. Agora que Onésimo se tomou crente, deixou de ser um escravo. Onésimo não regressa como escravo, mas em vez de escravo, como um irmão querido. Essa fraternidade é espiritual e resulta do fato de Paulo, Onésimo eFilemom estarem unidos como irmãos em Cristo. Conquanto esse novorelacionamento tenha muita importância para Paulo, pessoalmente ele entende,com todo acerto, que o novo status de Onésimo apresenta uma aplicação maissignificativa para Filemom, para quem Onésimo é “ao mesmo tempo umhomem” (i.e., alguém na carne — sarx) e um irmão no Senhor.

Temos aqui mais um pouco a respeito daquela maravilhosa transformaçãode que Paulo começou a falar no v. 15. Onésimo havia partido por um curtotempo, e agora volta para sempre; saiu como um escravo e volta como um homem e um irmão. Paulo não usa esta oportunidade para denunciar a

escravidão, pois a nova posição espiritual de Onésimo em Cristo não o livrade suas obrigações humanas para com Filemom. Neste aspecto Paulomantém coerência com os princípios que ele próprio estabeleceu emColossenses 3:22-4:1.0 novo relacionamento que Filemom e Onésimo têmum para com o outro é um relacionamento em que o lado humano e oespiritual se justapõem.

17 / Finalmente, surge o pedido: Portanto, recebe-o como receberias a mim. Até agora Paulo veio apelando a Filemom mediante a força de certas

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declarações, como por exemplo, o caráter cristão de Filemom (vv. 4-7), a posição de Paulo como apóstolo e prisioneiro (vv. 8-9), a fé nova e a nova“utilidade” que Onésimo acabou de encontrar (vv. 10-13), o princípio dadecisão voluntária (v. 14), a providência divina e a fraternidade cristã (vv.15-16). Todavia, antes de o pedido ser formulado, Paulo lança mais umincentivo, a saber, o da participação ativa. Quando duas pessoas estão emkoinonia acabam tendo interesses, sentimentos e objetivos comuns (cf. v. 6).Paulo e Filemom com toda certeza tinham esta koinonia, em virtude de suafé comum. Daí Paulo raciocina que se Filemom de fato o considera seucompanheiro e irmão, não haverá problema em honrar o pedido do apóstolo.

Mas Paulo caminha um passo adiante, pois identifica-se tão intimamentecom Onésimo que deseja que Filemom receba seu escravo como receberiao próprio apóstolo  — como tu me receberias. A comunhão no Senhorderrubou todas as barreiras. Paulo concretiza em sua vida o que ele expressou por escrito em sua carta.

18 / A partícula se não deve ser entendida como iniciante de um casohipotético, visto que Paulo sabe muito bem que Onésimo defraudou a seu

senhor ao fugir de casa. Paulo não menospreza este fato, mas acredita queFilemom deve receber alguma compensação pelas perdas que sofreu.Alguns eruditos crêem que o débito de Onésimo se refere a algum dinheiro,ou bens, que o escravo teria roubado de Filemom, antes de fugir. É mais

 provável que Paulo tenha em mente o “tempo,” pois a ausência de Onésimoteria custado algo a seu senhor. Paulo assume as dívidas de Onésimo, porquenaquela época era costume que o novo senhor pagasse as dívidas e penalidadesmais significativas de um escravo recém-adquirido. Embora Paulo não sejao novo senhor de Onésimo, está disposto a indenizar Filemom por quaisquer perdas — põe-no em minha conta.

19 / Paulo reafirma sua intenção ao declarar que assumirá a dívida. Oefeito de sua assinatura pessoal é “selar” o que ficaria parecido com uma nota promissória — uma confissão de dívida — que legalmente o obrigaria a

 pagar a dívida assumida. Ao fazer isso, Paulo na verdade tira toda a força desua proposta de indenização, ao lembrar gentilmente a Filemom que ele devetanto ao apóstolo, que não poderia pensar em pedir ou receber dinheiroalgum. Foi através de Paulo que Filemom tornou-se um cristão, e no reinoespiritual não há modo de um débito tão grande ser pago. As declarações dePaulo nos fazem lembrar do servo que recebeu perdão do rei, de uma vultosasoma, mas não quis perdoar a um conservo que lhe devia uma pequena

importância (Mateus 18:21-35).

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20 / A intimidade entre Paulo e Filemom é reforçada pelo uso do termoirmão (cf. v. 7). Isto possibilita a Paulo dizer de forma muito franca queFilemom deve honrar seu pedido no Senhor — literalmente, “possa eu teralegria, lucro ou ajuda de tua parte, no Senhor.” A palavra grega parabenefício é oninetni, que se parece com Onésimo, o nome do escravo. Talsimilaridade tem levado alguns eruditos a concluir que Paulo está fazendooutro trocadilho, com o propósito de pedir Onésimo para si mesmo. Se assimfor, o pensamento que o apóstolo está exprimindo é: “possa eu ter Onésimode tua parte,” ou “Onésimo tem sido útil para ti, sê tu um benefício paramim.”

A frase refrigera minhas entranhas nos faz lembrar uma expressãosemelhante no v. 7, em que o amor de Filemom “refrigerou o coração dossantos.” A aceitação de Onésimo por Filemom refrigera o coração de Paulo.Mas trata-se de uma alegria não-egoísta, porque está colocada na esfera doSenhor (em Cristo). Paulo vai regozijar-se porque sabe que Filemom vaireagir segundo a nova vida que experimentou em Cristo.

21 / Visto que Paulo conhece a Filemom tão bem, está confiante quanto

à obediência de seu amigo, seu atendimento ao pedido que lhe fez para quereceba Onésimo. Paulo se refere a sua confiança na obediência de Filemom(hypakoe)— uma obediência não-baseada na lei romana nem na autoridadeapostólica, mas no princípio do amor cristão. Esse amor deixa Filemom comuma única escolha, que é o mais elevado bem para seu servo e para oapóstolo.

Paulo confia em que Filemom fará ainda mais. Que mais, todavia, poderia ele fazer? Estaria Paulo antecipando que Filemom deixará Onésimoà guarda do apóstolo, ou espera este que Filemom dará “completa alforria”

 para seu escravo? A decisão está inteiramente nas mãos do senhor.22 / Paulo entrevê mais uma mudança que seria possível dentro da

 providência de Deus. Esta envolve o próprio apóstolo, cuja esperança é que possa trocar sua prisão pela liberdade. Por isso, ele ora para que possa ser 

devolvido a vós em resposta às vossas orações. E significativo saber quea congregação toda (vós e vosso são plural no grego) está intercedendo pelalibertação de Paulo. Tal fato faz que o apóstolo se sinta mais chegado a estaigreja, e lhe dá maior esperança de que Deus lhe possibilite ver todos osirmãos.

Paulo está confiante a este respeito, e até faz reserva de um quarto. Os primitivos cristãos davam grande ênfase à hospitalidade (Romanos 12:13; 1

Timóteo 3:2; Tito 1:8; Hebreus 13:2; 1 Pedro 4:9), pelo que o pedido de

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Paulo não é incomum. Visto que Filemom tinha uma casa suficientementegrande para que nela se realizassem cultos públicos, não haveria problema para acomodar Paulo se e quando ele regressasse a Colossos.

N o t a s A d i c io n a i s # 38 / Embora inusitado, o pedido de Paulo tem precedente. Lohse cita uma carta

 pessoal de Plínio, o moço, na qual este oficial romano intercede junto a umhomem chamado Sabiniano, dono de um escravo que fugira, mas se arrependera(pp. 196-97).

15 / Paulo usa no texto grego o que se chama de verbo passivo: echopisthe, 

que literalmente significa “ele foi separado de você.” Quanto a isso, Martin fazreferência ao hebraico. Nesta língua, o passivo divino “é um modo de expressãoque denota a ação oculta de Deus como sendo o agente responsável pelo que foifeito” (p. 166).

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# 4. Saudações Finais de Paulo ( F i l e m o m 2 3 - 2 5 )

23-25 / Estes versículos finais são quase idênticos aos do encerramentode Colossenses. Paulo termina esta carta com palavras familiares jáempregadas na saudação inicial (v. 3). Aqui a frase a graça do Senhor Jesus Cristo seja com o vosso espírito serve mais de oração e bênção que desaudação. De novo vosso expressa o plural; assim, Paulo intenciona que estacarta seja recebida pela congregação toda (cf. Gálatas 6:18).

N o t a s A d i c io n a i s # 4Quanto a estas saudações e às pessoas mencionadas, veja-se a disc. sobre

Colossenses 4:7-17. Essas listas mostram a importância que Paulo atribuía a seuscolaboradores em seu ministério. Lohse faz uma comparação excelente dosnomes que ocorrem em Colossenses e Filemom, em seu comentário, pp. 175-77.

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Introdução: E f é s i o s

O título e a saudação em NIV e ECA indicam que esta é uma carta dePaulo aos Efésios (“Paulo... aos santos de Efeso...”). Desde tempos apostólicosesta epístola tem sido considerada um documento autêntico do apóstoloPaulo, escrito à Igreja de Efeso, onde ele passou cerca de três anos na funçãode mestre (Atos 19:10; 20:31).

Visto que a carta afirma ter sido escrita por Paulo, é comum encontrar-

se várias referências pessoais ao próprio apóstolo e à situação a que se dirige.Basicamente, ele se identifica como um apóstolo de Jesus Cristo pelavontade de Deus em prol dos efésios (1:1). Embora esteja numa prisão (3:1;4:1), Paulo apela ao seu cargo como alguém autorizado a proclamar osmistérios do evangelho aos gentios (3:1 -9), e relatar a seus leitores a essênciada vida cristã (4:17ss.).

Embora esta carta não siga de modo completo a forma epistolar das cartas

de Paulo (saudação — ações de graças — oração — corpo — exortaçõeséticas — saudações finais), possui muitas afinidades verbais, teológicas eliterárias com o pensamento de Paulo. A primeira vista, não parece havergrandes diferenças em Efésios, em comparação com outros livros do NT, noque concerne ao retrato que estes nos dão do apóstolo. Efésios contém temas

 paulinos familiares, como por exemplo a soberania de Deus, a ressurreição,

o Espírito Santo, ética e assim por diante. Embora haja outras ênfasesteológicas, estas nos parecem coerentes com o pensamento paulino.Os fatos externos que rodeiam esta carta sugerem, de modo semelhante,

que sua autenticidade não foi disputada pela Igreja primitiva. Está relacionadacomo obra de Paulo no cânon de Marcião dos livros do NT, como sendo acarta àlgreja de “Laodicéia” (c. 140 d.C.), o qual é conhecido como o cânonmuratório (c. 180 d.C.). Este fato tem o apoio dos primitivos pais da Igreja

do segundo século, como Irineu, Clemente de Alexandria e Tertuliano.Salvo exceções de menos importância, o consenso de opiniões dos eruditosé que Efésios foi considerada consistentemente como carta de Paulo, até aera da crítica erudita do século dezoito.1

Entretanto, a identificação dos “destinatários” da carta não escapou da polêmica. A frase “em Efeso” (en Epheso) está ausente nos manuscritos maisantigos e mais confiáveis. Como ocorre noutras versões (RSV, GNB, NEB),

uma nota de rodapé em NIV indica que há um problema textual neste ponto.

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Esta expressão foi verificada por Orígenes, Tertuliano e Jerônimo, emboraa tradição da igreja tenha associado a carta à cidade de Éfeso.

As razões por que o endereço foi omitido — se é que um dia esteve presente — e por que tal endereço ficou associado a Éfeso, são várias ecomplexas. A teoria mais popular, sugerida em parte pela natureza genéricada carta, afirma ter sido uma carta-circular que Paulo pretendia fosse lida emvárias igrejas. O manuscrito original poderia ter tido um espaço em branco,de modo que cada congregação poderia tê-la lido como se seu nome aliestivesse inscrito.2 Por várias razões — primordialmente por causa da longaassociação de Paulo com a Igreja de Éfeso e a importância dessa Igreja na

Ásia Menor, a carta ficou ligada aos Efésios.Com o surgimentoda alta crítica erudita sobre aBíblia, no século dezoito,

a atitude com respeito à autoria paulina mudou dramaticamente. Ao adotaruma metodologia crítica e ao aplicar seus princípios ao estudo externo einterno da carta, um número crescente de eruditos foi chegando à conclusãode que Efésios não é genuinamente de Paulo. O resultado final foi oestabelecimento de duas posições principais a respeito da autoria de Efésios,hoje: a carta é paulina, ou não é paulina.

Os eruditos que duvidam da autoria paulina de certas cartas (em geral 2Tessalonicenses, Efésios, Colossenses e as pastorais) afirmam que foramredigidas por um “segundo”, isto é, por um deutero Paulo. Basicamente, estateoria precisa imaginar um indivíduo, ou grupo de indivíduos, colaboradoresíntimos de Paulo, que ansiosamente desejavam comunicar a mensagem e a

autoridade de Paulo às gerações vindouras. Muitos eruditos vêem nestaidéiauma solução plausível para as questões relacionadas à autoria.Várias coisas a respeito da hipótese do deutero-Paulo precisam ser

esclarecidas. Em primeiro lugar, é perfeitamente possível que a prática da pseudonimidade (alguém escrever em nome de outra pessoa) no primeiroséculo incluísse algumas das cartas que formam o cânon do NT. Infelizmente,um grupo de eruditos doN T considera esta hipótese negativa. Entendem que

isto constitui uma fraude, certos documentos foram forjados; os autores delais documentos pseudônimos não passam de reles charlatões, impostores ouenganadores. Mas isso não é verdade: Qualquer pessoa que escrevesse emnome de Paulo poderia tê-lo feito movido de intenções sinceras, crendo quenão estaria desonrando a Deus, nem ao apóstolo, e nem estaria enganandoos leitores.

Em segundo lugar, o deutero-Paulo não seria mero compilador, copistaou transmissor de textos paulinos genuínos. Se assim fosse, a literatura desse

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deutero-Paulo não passaria dê um mosaico de passagens das cartas de Paulo.A pessoa que escrevesse em nome de Paulo teria sido um teólogo categorizadoe com credenciais. Esse autor seria fiel a Paulo, mas teria achado necessáriomodificar ou expandir as idéias de Paulo, e aplicá-las a certosdesenvolvimentos posteriores na Igreja.

Vários colaboradores íntimos de Paulo, como Timóteo, Tíquico e Lucasteriam sido capazes de produzir esse tipo de texto. É até possível que Paulotenha dirigido uma espécie de curso teológico na “escola de Tirano,”enquanto esteve em Efeso, onde suas idéias foram apresentadas e continuarama ser discutidas até mesmo depois de sua morte (Atos 19:9). Alguns de seus

alunos poderiam ter sentido a responsabilidade de interpretar, reinterpretare aplicar a teologia do mestre às novas situações do período pós-apostólico.O escrever em nome de Paulo daria às suas cartas o selo da autoridadeapostólica, especialmente quando os falsos ensinos estavam ameaçando aIgreja.

Se Efésios se enquadra nesta reconstrução hipotética, pode ser consideradacomo continuação do pensamento de Paulo noutra geração. Teria sido uma

tentativa do autor de apresentar uma reafirmação tempestiva do modo dePaulo entender epassar o “mistério de Cristo” aos gentios. Ou, como diz C.L.Mitton: “O autor nos presenteou em Efésios com um resumo brilhante eextenso dos principais ensinos teológicos de Paulo, embora, quandonecessário, esse autor os tenha adaptado e interpretado segundo asnecessidades de uma situação nova. Essa carta, se publicada cerca de uma

geração depois da morte de Paulo, seria “A Mensagem de Paulo para Hoje.”3R.P. Martin apresenta uma hipótese, a de que Lucas teria escrito Efésios, aqual nos faz pensar, e tem seus méritos.4

Dentre os fatores que fazem erguer-se perguntas acerca da autoria paulina de Efésios, surge, em primeiro lugar, o vocabulário da carta. Cercade noventa palavras e frases de Efésios, inclusive “diabo,” “nas esferascelestiais,” e “o Amado” (como título de Cristo), não são usadas noutras

cartas de Paulo.Além do problema do vocabulário, há a questão do estilo da carta.

Contrastando com o tom polêmico e movimentação rápida das principaiscartas de Paulo, Efésios apresenta um halo litúrgico ou poético. Isto se devea vários fatores, inclusive o emprego de sentenças longas e complexas, usoextensivo de preposições e de muitos sinônimos alinhados.

Conquanto a maioria dos eruditos concorde em que diferenças estilísticase lingüísticas por si só não podem desaprovar a autoria paulina, acham

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difícil, todavia, imaginar Paulo escrevendo Efésios desta maneira. Os proponentes da autoria de Paulo contra-atacam dizendo que é possívelexplicar esse estilo e vocabulário, considerando-se a versatilidade de Paulocomo escritor, as circunstâncias históricas que mudaram, e o fato de a carta

ser de natureza mais reflexiva e litúrgica. “Poderia um imitador,” perguntaA.S. Wood, “produzir um texto ao mesmo tempo autêntico e tão original? Setal imitador rivalizasse com Paulo como um gênio espiritual, é estranho quea Igreja primitiva nada soubesse a seu respeito.”5

Um segundo jogo de perguntas concernentes à autoria paulina relaciona-se à repetição de palavras, frases e conceitos paulinos em Efésios,

especialmente de Colossenses. Cerca de um quarto do vocabulário e umterço do conteúdo de Efésios têm paralelos em Colossenses, inclusive certosacordos copiados ao pé da letra (cf. Efésios 6:21ss. e Colossenses 4:7ss.).Foram observados numerosos outros paralelismos com outras cartas paulinas, bem como afinidades com 1 Pedro, Hebreus, Lucas, Atos e João, o quecontribui mais ainda para a suspeita de que o autor de Efésios tomouemprestado material dessas obras para a composição de sua carta, em vez de

criar sua própria obra. Alguns eruditos encontraram mais afinidades com osescritos de Qumran (Rolos do Mar Morto) e o Gnosticismo, do que com o NT. Mais problemática ainda é a afirmativa de que certas palavras e idéiassão usadas de modo diferente, ou assumem sentidos diferentes em Efésios,em relação às cartas genuínas de Paulo (igreja, mordomia, mistério ecumprimento, para mencionar apenas algumas).

Para contra-atacar essas conclusões, os proponentes da autoria paulinaafirmam que a conexão íntima entre Efésios e as demais cartas paulinas,inclusive Colossenses, explica-se bem, dando maior apoio a Paulo comoautor que a outrem. Argumentam que as aparentes diferenças em uso esentido de alguns termos não significam que está descartada a autoria paulina. Nesse ponto, D. Guthrie fala em nome de um punhado de autores,quando diz que “a conclusão mais natural que se tira a partir da abundância

de passagens paralelas, é que em Efésios e nas demais cartas de Paulo,reflete-se a mesma mente.”6

Uma terceira consideração relacionada à autoria de Paulo é que ascircunstâncias históricas que rodeiam a carta são vagas. E difícil acreditarque Paulo escreveria uma carta a uma congregação com a qual ele passaratrês anos e não incluiria nenhuma saudação pessoal, nem se referiria a certosassuntos locais. O autor escreve como se ele os leitores não se conhecessem

( 1:13,15; 3:1 ;4:21). Ainda que Efésios fosse uma carta circular, esperaríamos

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algumas alusões a pessoas ou a circunstâncias ligadas às atividadesmissionárias de Paulo naquela parte da Ásia Menor. A sugestão de Barth, deque essa carta teria sido escrita para gentios convertidos que chegaram à

igreja depois do ministério de Paulo em Éfeso, não convence.7Há outros problemas, além da natureza pessoal da carta. Historicamente,a controvérsia relacionada aos judeus e gentios na Igreja, que ocupou tantoda vida de Paulo, aparentemente chegara a um fim (Atos 15; Gálatas 2).Muitos eruditos acham que Efésios reflete uma situação existente algumtempo depois de Paulo, quando a Igreja estava sendo preparada paraenfrentar seu futuro e resguardar-se contra a ameaça de heresias como o

Gnosticismo.Infelizmente, os fatores históricos por si só não podem decidir a questão

da autoria. Os problemas entre judeus e gentios cristãos são difíceis de serdocumentados historicamente e poderiam ter variado de uma área para outra, por todo o império. Alguns autores colocam grande ênfase na destruição dotemplo de Jerusalém em 70 d.C., afirmando que se Efésios houvesse sidoescrita depois desse acontecimento, teriahavido alguma referênciaespecíficaa esse fato, de modo especial no contexto de 2:11-22.

Quarta consideração: Algumas questões de ordem teológica lançamdúvidas quanto à autoria paulina. Para maior conveniência, essas questões

 podem ser discutidas de acordo com as seguintes categorias:“Cosmologia.” Efésios, mais do que Colossenses, apresenta um quadro

cosmológico das atividades salvíficas de Deus e do papel de Cristo. Dá

crescente atenção a principados e potestades derrotados por Deus em Cristo.“Eclesiologia.” Uma das mais importantes e notáveis diferenças entre ascartas inegavelmente paulinas e a de Efésios, é que esta é universal, não local.O autor escreve tendo em vista os crentes de todas as partes, não apenas os deÉfeso. Aqui, como em Colossenses, a Igreja é definida como o corpo de Cristo,e Cristo está relacionado ao corpo como a cabeça. Em Romanos e Coríntios nãose dá tal preeminência à cabeça; ela é apenas outra parte do corpo.

Em Efésios, a Igreja assume uma função cósmica; através da Igreja, os principados e potestades angelicais do mundo espiritual podem conhecer asabedoria de Deus em todas as suas diferentes formas (3:10). Isto vai muitoalém da função local a que a Igreja serve nas cartas reconhecidamente

 paulinas. Alguns eruditos, de modo especial o alemão E. Kãsemann, vêemEfésios num movimento que sai de Cristo — para Paulo o centro sempre foi

Cristo — e vai para a Igreja, como se esta fosse um novo centro. ParaKàsemann, este é o sinal de um “catolicismo primitivo.”8

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(Efésios) 123

Parte da eclesiologia de Efésios centraliza-se na preeminência e papeldos apóstolos e profetas (2:20; 3:5) na fundação da Igreja. Para alguns, aveneração desses cargos, a estrutura e função do ministério (4:11-16) e oreconhecimento da autoridade apostólica são sinais de uma igreja efésia pós-

 paulina. São questões que surgiram depois da época de Paulo.“Escatologia.” Nas cartas indisputavelmente paulinas o leitor fica com a

impressão de que a parousia é iminente, isto é, Cristo está prestes a voltar.Por isso, grande parte da teologia e da instrução de Paulo volta-se para ocontexto do fim dos tempos. Em Efésios não existe essa urgênci a escatológica,e a carta apresenta uma escatologia já um tanto realizada, ao enfatizar a

experiência atual dos crentes com Cristo. A ressurreição e a exaltação jáestão sendo usufruídas pelos crentes em Cristo; dá-se mais atenção à vida noEspírito agora, e menos ao futuro; ainda que a igreja mantenha umaesperança futura (1:18), as diretrizes da carta preparam os crentes paraviverem tal esperança nas realidades da vida diária.

Essa mudança na perspectiva escatológica influi muito na forma de osleitores enfrentarem o futuro. Assim é que a igreja assume novo significado:

a Igreja se torna o instrumento pelo qual se cumprem os propósitos de Deusno mundo, de modo especial a unificação de judeus, gentios e o cosmos(2:21; 3:10; 4:13, 16; 5:27). As exortações éticas, as instruções domésticasc outros elementos sugerem que a Igreja deve estar tão interessada nosrelacionamentos sociais e comunitários (sócio-éticos), como deve estar arespeito da salvação ou reconciliação pessoal.9

Cristologia.  Alguns eruditos acham que Efésios omite elementosfundamentais daCristologiade Paulo, e apresenta umacompreensão diferentedo papel e da Pessoa de Cristo. Falta a ênfase de Paulo na morte de Cristo,a doutrina da justificação e a parousia; preeminente é o Cristo ressurreto,exaltado e triunfante. De acordo com J.A. Allan, a fórmula “em Cristo” nãotem, em Efésios, o misticismo que tanto caracteriza Paulo.10Além disso, a

reconciliação não se faz entre a humanidade e Deus, mas é uma reconciliaçãosocial entre judeus e gentios, e cósmica, envolvendo poderes e potestadesespirituais. Atos que Paulo atribui aDeus, como a reconciliação (Colossenses1:21; 2:13,14) e a nomeação de oficiais (1 Coríntios 12:28) são, em Efésios,apresentados como obra de Cristo (2:16; 4:11).

A conclusão a que muitos eruditos têm chegado, depois de analisar o pensamento teológico, histórico, eclesiástico e cosmológico de Efésios, é

que é difícil — se não impossível — insistir na autoria paulina desta carta.

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W.G. Kümmel provavelmente representa a maioria dos eruditos quequestionam a autoria de Paulo, ao escrever: “À vista das circunstânciaslingüísticas, literárias e teológicas, não se pode duvidar seriamente de queEfésios não veio de Paulo, sendo, portanto, uma obra pseudônima.”11

A grande questão, evidentemente, é se tais observações são verdadeiras,e só admitem uma conclusão. Não seria o caso de os críticos de Paulo terementendido mal a carta aos Efésios, sendo culpados de usar falsas pressuposiçõese metodologias, para chegar, assim, a falsas soluções? Que isto é possíveltoma-se bastante claro pela hoste de eruditos sérios que crêem que asevidências tanto externas como internas com respeito a Efésios, confirmam

a conclusão tradicional. Para estes, Efésios continuará a ser uma carta paulina, até que se possa provar conclusiva e definitivamente que ela não éde Paulo.

D. Guthrie representa esta convicção ao escrever: “Acreditar que umardoroso adepto de Paulo, só por amor ao apóstolo, resolveu auto-aniquilar-se a fim de redigir esta carta, e atribuí-la a Paulo, encontrando uma imediatae espantosa prontidão da parte da Igreja para reconhecê-la como sendo de

Paulo, é consideravelmente menos crível do que a simples alternativa deconsiderá-la obra do próprio Paulo.”12

Essa questão da autoria de Efésios atualmente constitui um impasse,havendo eruditos de grande reputação em ambos os lados. Devemos salientaraqui que esta questão não divide os eruditos em conservadores e liberais. Emvez de encarar o problema como um caso de decisão entre o certo e o errado,o estudioso da Palavra precisa entender que ambos os lados são sinceros emseu estudo da questão, todos partem de determinadas pressuposiçõesteológicas que exercem influência na compreensão da Palavra de Deus, eneste caso, na compreensão de Efésios.

Acima de tudo, o crente deve evitar concluir que a autoria de Efésios porum deutero-Paulo torna falsa esta carta e, conseqüentemente, sem inspiração,validade e autoridade perante a Igreja de hoje. Desde que as motivações de

um deutero-Paulo sejam adequadamente entendidas e apreciadas, Efésios pode falar à Igrejacom amesma autoridade do próprio Paulo. A Igreja retevee canonizou a carta aos Hebreus, por exemplo, ainda que seu autor sejaanônimo.13

Embora a questão da autoria da carta tenha produzido um efeito negativo,ao dividir os eruditos, dois resultados positivos extraordinários foramcolhidos, a respeito dos estudos em Efésios:

Primeiro, o minucioso estudo lingüístico, literário, e teológico dessa

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carta, levou todos a uma nova apreciação de seu valor para a Igreja. A.M.Hunter resume vários séculos de pensamento ao escrever: “João Calvinochamou-a de sua carta favorita; Coleridge chamou-a de ‘uma das maisdivinas composições humanas’; o Dr. João Mackay disse: ‘a este livro eu

devo minha vida’; e C.H. Dodd chamou-a de ‘coroa do paulinismo.’14Além desses elogios todos, não é incomum descobrir-se outros títulos

honoríficos para Efésios, como: “A Rainha das Cartas,” “a quintessência doPaulinismo,” “A Carta da Ascenção.”15 J.N. Sanders considera Efésios otestamento espiritual de Paulo para a Igreja, “o resumo final da vida, da obrae do pensamento do apóstolo.”1'1

Segundo, novos estudos a respeito da natureza, propósito e conteúdo dacarta têm sido efetuados. Dentre as teorias mais significativas estão as quesugerem que Efésios é um resumo da teologia de Paulo, um lembrete, umacongratulação, um libelo anti-herético, um documento litúrgico e um discursoem prol da unidade da Igreja.

Resumo da Teologia de Paulo 

Embora a maior parte destas perspectivas não dependa de Paulo ser oautor, e estas possam ser apreciadas por qualquer pessoa, uma idéia importantec que Efésios é considerada um resumo da teologia de Paulo, ou o elevadolouvor da teologia de Paulo para a Igreja de outra geração (Beare; Milton).R.P. Martin, escrevendo no “Broadman Commentary,” vê o autor “apanhandoum compêndio do ensino de Paulo sobre o tema de Cristo-em-sua-igreja; eadicionados a este corpo de ensino, vários elementos litúrgicos (orações,hinos e confissões de fé) derivados da vida de adoração das comunidadesapostólicas com as quais ele próprio estava familiarizado.”17

Uma das teorias mais engenhosas e elaboradas a este respeito é aformulada por E. J. Goodspeed. Aturdido pelos problemas internos eexternos de Efésios, Goodspeed sugeriu que a carta havia sido escrita por

Onésimo (ex-escravo e posteriormente bispo da igrej a efésia), como carta decobertura ou introdutória da coleção de cartas escritas por Paulo (corpus),aparecida no final do primeiro século, após a publicação de Atos haversuscitado renovado interesse pela pessoa de Paulo. Para Goodspeed, Efésiosé “um hino sobre o valor da salvação,” “um mosaico de material paulino,”“uma antologia paulina.”18A força da hipótese de Goodspeed está mais naforma como ele entende a natureza de Efésios do que no propósito da

hipótese.

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Algumas das perspectivas de Goodspeed a respeito das peculiaridadeslingüísticas e literárias de Efésios pavimentaram o caminho para outrosestudos. Conseqüentemente, não é incomum que os eruditos digam que acarta é um resumo do pensamento de Paulo, destinado a futuras gerações,

ainda que não seja uma espécie de carta-resumo das cartas paulinas.Entretanto, a chave para a hipótese do deutero-Paulo é que o autor é mais doque simplesmente um editor das idéias de Paulo, tiradas de suas cartasgenuínas; esse autor é “um teólogo que age e julga independentemente, como selo de Paulo.”19

Lembrete e Congratulação  A  teoria de que Efésios é um lembrete e uma congratulação é promovida

 principalmente por N. A. Dahl, para quem a carta tem como objetivo resolvero problema da desunião na Igreja. E por isso que seu autor conclama o povode Deus a voltar à unidade; o autor remete as igrejas de volta a suas origens,fazendo-as lembrar que elas compartilham os privilégios que Deus concedeuaos judeus. Baseado na forma como entende os “antes” e “agora” da carta,

Dahl sugere que Efésios é “uma carta que constitui lembrete e congratulação,i.e., não é tanto um tratado de alguma doutrina abstrata da Igreja, mas antesfaz-nos lembrar que na verdade pertencemos à Igreja, o corpo de Cristo, e

 pede-nos que vivamos de acordo com o que isso significa.”20O valor de Efésios para Dahl é que, embora sua mensagem original tenha

um contexto histórico, pode ser universalizada de modo que fale à Igreja detodas as gerações: “Pois a carta aos Efésios é uma carta de congratulaçõese um lembrete acerca da soma total de tudo que nos foi concedido.”21

Como tal, a carta apresenta a seus leitores um privilégio e umaresponsabilidade: Os crentes foram privilegiados ao receber tão rica herançaem Cristo. Entretanto, isto não deveria conduzir ao orgulho espiritual nemao triunfalismo cristão, pois os crentes são lembrados daquilo que “outrorafostes” em suas vidas. O “agora, porém, sois” é o imperativo ético para que

vivamos a nova vida de modo responsável.

Um Tratado Anti-herético 

A opinião de que Efésios é um tratado anti-herético é aceita por grandenúmero de eruditos, quanto à natureza e propósito da carta. Alguns desseseruditos, como F.C. Baur, P. Pokorny, H. Schlier, E. Kásemann,H.Conzelmann e F. Mussner, crêem que a carta pode ser entendida melhor

dentro do contexto do gnosticismo do primeiro século.22 Acham que Efésios

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contém grande número de termos gnósticos (“conhecimento,” “plenitude,”“mistério,” “perfeição,” “corpo,” “novo homem,” “união celestial,”“revelação,” “principados e potestades”) e conceitos (dualismo, cosmologiae ética). Estes eruditos não estão dizendo que o autor é gnóstico, nem que

Efésios é um tratado gnóstico. Antes, acreditam que o autor transfere alinguagem e pensamento gnósticos à Igreja, a fim de contra-atacar a heresiaque ameaça a Igreja. Seu método consiste em estabelecer um ponto decontato com seus leitores, mas nesse processo ele atribui a essas palavras econceitos um novo significado: “Efésios faz que a linguagem gnóstica sevolte contra o gnosticismo.”23

 Nesse processo, eruditos como H. Schlier e F. Beare vêem o autordesenvolver uma “gnosi s” distintamente cri stã (uma teoria do conhecimento)capaz de explicar tais coisas como o conhecimento de Deus, da humanidadee do mundo. Schlier foi tão longe que chamou Efésios de uma meditaçãosobre a sabedoria do mistério de Cristo — uma “Weisheitsrede” ou“Sophiarede.”24

Toda essa pesquisa abriu outra possibilidade para a compreensão da

natureza e propósito de Efésios. Infelizmente pouco se conhece a respeito doGnosticismo do primeiro século, de modo que não se sabe com certeza se oautor estava confrontando essa heresia de modo direto, ou apenas utilizandoa linguagem e os conceitos de sua época.25

Outro grupo de eruditos procura explicar a origem de Efésios à base de paralelismos com a linguagem e a teologia dos Manuscritos do Mar Morto — aquele corpo de literatura pertencente à comunidade de Qumran. Até omomento, as contribuições mais valiosas são as que vieram de K.G. Kuhn,J. M urphy-0’Connor e F. Mussner.26

Estes eruditos fizeram extensas comparações entre Efésios e osManuscritos do Mar Morto, no que diz respeito a estruturas de hinos e para-éticas (textos exortativos); conceitos genéricos como cosmologia, criação,dualismo, mal; e paralelismos específicos, como o mistério, santos, templo

de Deus e assim por diante.27 A maior parte desses eruditos esperou poderestabelecer a existência de uma influência literária de Qumran sobre Efésios.Murphy-O’ Connor chegou ao ponto de dizer que Efésios foi redigida por umamanuense de Paulo que viera das fileiras dos essênios.28

Infelizmente as evidências não nos permitem chegar a conclusõesdefinitivas a respeito das ligações literárias entre Efésios e os Manuscritosdo Mar Morto. O autor da carta pode estar simplesmente usando expressões

que eram comuns em sua época, que tanto ele quanto os autores dos

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manuscritos teriam usado independentemente. Para Barth, “Efésios ‘in toto’de modo algum está mais intimamente relacionada, em forma ou substância,a Qumran, do que qualquer outra passagem-chave dos escritos indisputáveisde Paulo.”29

Esta breve pesquisa tem o objetivo de mostrar que os paralelismosgnósticos e os de Qumran receberam considerável atenção, e serve comoestrutura básica a partir da qual certo grupo de eruditos procura explicar acarta aos Efésios. Se o autor estiver conscientemente combatendo ognosticismo, Efésios poderia, então, ser chamada de tratado anti-gnosticismo.Com respeito ao relacionamento entre Efésios e Qumran, entretanto, não

 parece que o autor esteja atacando uma heresia que ameaça a Igreja. Nestecaso, ele pode pertencer simplesmente à mesma tradição li terária de Qumran.

Um Documento Litúrgico 

Uma análise das características estilísticas de Efésios levou um grupo deeruditos a entender que essa carta é uma espécie de documento litúrgico, emvez de carta. Moffatt, por exemplo, refere-se a Efésios chamando-a de

“homilia” em vez de carta.30 E com base nessas características estilísticas taiscomo o material de hinos, as longas sentenças e o alinhamento de sinônimos,Martin chama Efésios de poema em prosa elevada, “uma liturgia típica docristianismo primitivo.”31A obra de J. Kirby sobre Efésios levou-o a concluirque essa carta é uma oração e um discurso no formato de uma carta.32

Embora alguns elementos de hino em Efésios fossem identificados muito

cedo, por eruditos como M. Dibelius, E. Lohmeyer e T. Innitzer, a extensãoe a função do material de hino, de liturgia e de catequese em Efésios nãohaviam sido exploradas até recentemente.33Muitos eruditos concordam emque a utilização de tantos textos tradicionais faz com que Efésios se revistade uma função litúrgica na Igreja. Entretanto, que tipo de função a cartaexerce é questão que varia de erudito para erudito.

Kirby, por exemplo, afirma que o autor escreveu os capítulos 1-3 na

forma de uma berakah (bênção) judaica, possivelmente para ser usada comocelebração da Santa Ceia. Além disso, a carta incorpora material litúrgico daigreja de Éfeso, de modo particular o que fora utilizado na renovação daaliança para celebrar o Pentecoste.34 N.A. Dahl, em vários de seus escritos,

 propôs que Efésios seja considerada uma carta batismal.35 Essa teoria temencontrado aceitação popular entre inúmeros eruditos em NT que crêem quea carta pode ser entendida melhor num contexto batismal.

Ao longo de todo este comentário, faremos menção à natureza batismal

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de Efésios. Em minha opinião, embora Efésios empregue um númerosignificativo de imagens batismais, a carta não foi escrita como um tratadosobre o batismo, nem para ser usada na celebração de batismos, nem parainstruir os candidatos ao batismo; em vez disso, “a linguagem e a teologia

 batismais são empregadas a fim de desenvolver o tema do autor relacionadoà unidade na Igreja.”

Um grupo de eruditos, dentre os quais está C.L. Mitton, não tentaidentificar o propósito de Efésios com base num evento específico como o batismo, Santa Ceia ou o Pentecoste. Segundo Mitton, o autor usou esseestilo litúrgico porque tem em mente o culto congregacional. Ele sabe que

o povo estará lendo sua carta no contexto do culto e da oração.Conseqüentemente, ele “redigiu sua carta num estilo adequado ao ouvinte eao que presta culto, em vez de ao leitor particular. Isto o induziria a utilizarum estilo declarativo — algo que hoje com freqüência é chamado de estilolitúrgico. Não seria de surpreender se o autor incorporasse aqui e ali trechosde algum hino familiar, ou frases tiradas de alguma confissão de fé; mas oestilo litúrgico não decorre tanto de seus empréstimos, como de sua

consciência do contexto em que seu texto haveria de ser utilizado.”36

Um Discurso Sobre a Unidade da Igreja 

Qualquer pessoa que leia Efésios logo se conscientiza de que a Igreja(ekklesia) recebe considerável atenção:

a. Ela é mencionada nove vezes (texto em grego: 1:22; 3:10,21; 5:23,24,

25, 27, 29, 32). b. E mencionada através de várias metáforas: biológica (o corpo deCristo: 1:22, 23; 2:16; 4:4, 12, 16; 5:23, 30); da arquitetura (o templo santo:2:20-22; 4:12, 16), e social (a noiva: 5:21-33).

c. Tem um significado universal em vez de local. Aqui “Igreja” é a novacriação e a sociedade universal que consiste de judeus e gentios, e não acongregação local “de Efeso.” Isto também fica demonstrado pelo  status 

transcendental que os crentes usufruem na Igreja, graças a escatologiarealizada que permeia a carta. “A Igreja compartilha a vida celestial de seuSenhor exaltado hoje mesmo, em nossa era (1:22; 2:6; 5:27).”,7Ela possuiuma mensagem que é válida para todas as gerações, inclusive os principadose potestades (3:10).

d. A Igreja (o corpo) e Cristo (acabeça) estão unidos e são interdependentes,em vez de a Cabeça ser simplesmente um dentre muitos membros, como em

Romanos 12:4, 5 e 1 Coríntios 12:12-26. Estas observações fazem que a

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 pessoa se tome consciente de que o ensino da igreja em Efeso é importantee novo. Basicamente, a criação desse “novo homem” mostra que Deus vemagindo historicamente no sentido de unir a humanidade, e que a Igreja é uma

testemunha do plano último de Deus para unir todas as coisas em Cristo(1:10, 22, 23; 2:14-16). Conforme John Stott intitulou seu livro com muita percepção, a Igreja é “A Nova Sociedade de Deus.”

Visto que a unidade da Igreja recebeu tanta atenção na carta aos Efésios,ficamos naturalmente imaginando que fatores históricos e teológicosconduziram o autor a tal ênfase. Uma opinião relaciona este tema ao

 problema do gnosticismo, que essencialmente desfaz a história do

Cristianismo ao desdobrá-la em mitos destituídos de temporalidade. Assimé que o autor procura enraizar a vida cristã nas declarações verídicas dahistória, e demonstrar que a Igreja é uma testemunha histórica da atividaderedentora de Deus mediante Cristo.

Entretanto, o foco da especulação erudita a respeito da ocasião e do propósito de Efésios fica ao redor do problema do relacionamento entre judeus e gentios. Judeus e gentios estavam tomando-se cristãos, mas haviaalgumas diferenças básicas no modo como compreendiam o evangelho deJesus Cristo.

Segundo uma opinião, o tema da unidade em Efésios surgiu pelo problema do “exclusivismojudeu” na Igreja primitiva. Basicamente foi umaatitude negativa da parte dos crentes judeus para com os gentios que setomavam crentes. Devido a sua adesão a algumas das prescrições da lei

mosaica (Torah) — de modo particular a circuncisão e as leis a respeito dealimentos —, alguns judeus crentes achavam que os gentios deveriamobedecer às leis judaicas quando se tornavam cristãos. Isto constituía umaameaça ao evangelho que Paulo pregava, e fazia com que o cristianismo setomasse uma seita derivada do judaísmo.

Esse problema do exclusivismo judaico é descrito em Atos 15:1-35,quando o concílio de Jerusalém tratou do caso, e também nas cartas de Paulo

aos Romanos e Gálatas. Esse concílio decidiu que Paulo poderia evangelizaros gentios sem exigir destes que fossem circuncidados, nem que praticassemas leis dietéticas judaicas (cf. Atos 15:19-29; Gálatas 2). O ceme doevangelho de Paulo é marcado mais pelo inclusivismo que pelo exclusivismo.Trata-se de um evangelho que se caracteriza pela fé no Senhor Jesus Cristoe não nas obras da lei, isto é, na circuncisão e nas leis alimentícias. Tanto os

 judeus como os gentios participam de Jesus Cristo, em quem não há “judeunem grego” (Gálatas 3:28).

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Embora as linhas mestras do evangelho de Paulo houvessem sidoestabelecidas naquele concílio de Jerusalém, o exclusivismo judaico prosseguiu, tornando necessário aplicar aqueles princípios nas igrejas dePaulo. Conseqüentemente, um dos principais temas de Romanos é que os

gentios tinham o direito de receber a salvação de Deus, da mesma forma queos judeus; os gentios haviam sido implantados na “oliveira,” a qual, outrora,era do direito exclusivo dos judeus (11:13-24).

Em Gálatas, Paulo enfrenta um problema semelhante de exclusivismo judaico. Sua resposta aos judeus é que os gentios são justificados por Deusem virtude de sua “fé em Jesus Cristo,” e não mediante “a observância da lei”

(2:16). Noutras palavras, os gentios não precisam “viver como judeus”;deles não se requer a prática da circuncisão e das leis sobre alimentos.38Seria o caso de o problema do exclusivismo judaico estar por trás da

redação de Efésios? Será que as barreiras religiosas e sociais que separavamos judeus dos gentios, e que levaram os judeus ao seu exclusivismo,continuavam a manifestar-se, a despeito dos esclarecimentos anteriores dePaulo sobre o evangelho? Seria Efésios a última tentativa no sentido de

destruir o fanatismo judaico, mediante a reafirmação da visão universal dePaulo, mostrando que a essência do “mistério” é que crentes judeus e gentiosforam unificados num único corpo?

A maior parte do conteúdo de Efésios poderia ser interpretada comomensagem aos crentes gentios, anunciando-lhes que eles não precisamsentir-se excluídos do povo de Deus. É verdade que outrora suas vidas secaracterizavam pela desobediência e pecado (2:1-3); eram então chamados

 — provavelmente em tom de zombaria — “‘incircuncisão’ pelos que nacarne se chamam ‘circuncisão’” (2:11); eram “estranhos” porque estavam“separados da comunidade de Israel” e, como tal, não participavam daaliança, destituídos de esperança e sem Deus (2:12). Mas a mensagemcentral de Efésios é que isso deixou de ser verdade, porque em Cristo foramaproximados (2:13), e “a lei dos mandamentos, que consistiam em ordenanças”

(circuncisão e restrições dietéticas) que separavam os judeus dos gentios, foiderrubada (2:14, 15).O resultado final da atividade redentora de Deus é a união de judeus e

gentios na Igreja. Isto é muito mais do que a imagem do enxerto relacionadaà oliveira, em Romanos 11:13-24. A união entre judeus e gentios não serealiza mediante a transformação dos gentios em judeus, mas pela criação deum “novo homem,” a Igreja, que inclui tanto judeus como gentios (2:15;

3:6). Efésios ensina claramente que os gentios têm todo o direito de ser 

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considerados membros do corpo de Cristo.Outra aproximação mais popular é olhar para Efésios da perspectiva do

“exclusivismo gentílico.” H. Chadwick sugeriu que essa carta tinha sidoescrita a fim de corrigir um erro espiritual que havia surgido dentro do

cristianismo pós-paulmo.39 Aparentemente, as congregações gentílicas sehaviam divorciado da história da salvação dos judeus cristãos, e seconsideravam uma entidade espiritual separada. De acordo com Chadwick,Efésios insiste na continuidade do cristianismo gentílico ligado ao judaísmo,e ensina que judeus e gentios foram unidos em Cristo.

A interpretação de Chadwick assemelha-se à de E. Kãsemann, que

acredita que o autor de Efésios precisa lembrar os cristãos gentílicos de suasraízes, e da origem histórica do evangelho, porque estavam desprezandoseus companheiros crentes judaicos. A este respeito, a carta discute um temaque é tratado com brevidade por Paulo em Romanos 11, a saber, a incorporaçãodos gentios no cristianismo judaico.40

Tudo isso, todavia, foi insuficiente para prover uma pista, pelo menos para a descoberta da razão para o relacionamento estremecido entre crentes

 judeus e crentes gentios. W. Grundmann tenta estabelecer uma conexãohistóricaentreamigraçãodecristãosjudeusparaaAsiaMenor, apósaguerra

 judaica, e argumenta que o fluxo desse círculo gentílico-cristão para dentrodas igrejas cristãs predominantemente gentílicas da Ásia Menor induziu auma desavença que um discípulo de Paulo procurou eliminar na carta aosEfésios, mediante a aplicação de pensamentos paulinos concernentes àunidade desses dois grupos.41

Uma teoria mais recente, ideada por K.M. Fischer, tenta localizar o problema do cisma judaico-gentílico na Igreja, dentro do contexto da guerraentre Roma e Israel, durante os anos que precederam e os que se sucederamà destruição de Jerusalém em 70 d.C.42 Tal guerra ameaçou o íntimorelacionamento entre crentes judeus (a sinagoga) e crentes gentios (a Igreja), porque os gentios achavam que deviam dissociar-se totalmente de todas as

formas de nacionalismo judeu (os zelotes), para que não levantassemsuspeitas nem arriscassem sofrer o antagonismo e as represálias dasautoridades romanas.

O autor de Efésios, de acordo com Fischer, cuida de resolver esse problema. Paulo havia argumentado que os gentios fossem admitidos naIgreja sem que precisassem tornar-se judeus (Romanos 9-11; Gálatas 1-3),e “o autor de Efésios usa o nome de Paulo a fim de pedir que os judeus cristãos

fossem incluídos na comunidade cristã, sem precisar assimilar os pontos de

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(Efésios) 133

vista da maioria gentílica. Quando Paulo pediu a inclusão de “gentiles quagentiles”, o autor de Efésios pediu a inclusão de “judeus cristãos qua judeuscristãos.”43

Infelizmente, todas estas perspectivas são muito hipotéticas, em grande parte conjecturas apenas; somos forçados a concordar com W.G. Kümmelque a situação concreta que ocasionou “esta renovação da mensagem

 paulina mediante a ênfase na unidade da Igreja, que era formada por gentiose judeus, não pode ser percebida agora.”44 Tudo quanto podemos perceberé um tipo de crise espiritual no cristianismo gentílico pós-paulino, que precisava de uma ênfase na igreja universal formada de judeus e gentios.

Da perspectiva do exclusivismo gentílico, estes cristãos foram exortadosa não desconsiderar sua herança espiritual com Israel. Em seu estado pagãoestavam separados dos judeus e não tinham nenhum ponto de contato como povo da aliança (2:11 ss.) de Deus. Todavia, mediante Cristo, e na Igreja,tornaram-se “concidadãos dos santos, e da família de Deus” (2:19; 3:6). Seos judeus não tinham o direito de excluí-los da Iigreja, da mesma forma eraerrado os gentios desconsiderarem os judeus!

E possível que Efésios contenha uma mensagem dupla: Um deutero- paulinista poderia estar estendendo a visão de Paulo de uma Igreja universale unida que incluísse os gentios, enquanto simultaneamente os faria lembrar-se de que fazem parte da história da salvação de Israel. “Efésios,” escreveBarth, “mais do que qualquer outra carta do Novo Testamento, enfatiza o

 ponto que os gentios não recebem outra salvação senão a que compartilham

com Israel e recebem-na mediante o Messias. Trata-se da salvação que deinício foi prometida e concedida somente a este povo: Israel.”45Ainda que tenha havido falha em identificar a situação concreta, real, que

ocasionou a carta aos Efésios, isto não impediu que seu tema dominantefosse a “unidade.” Embora isto já tenha sido mencionado em parte, há certascaracterísticas específicas de Efésios que tomam este fato óbvio, e é por essarazão que o autor desenvolve este tema:

a. A fonte de toda unidade está na vontade e propósito eletivos de Deus(1:4,5, 10; 3:11).

 b. Cristo é o agente mediante o qual esta unidade é realizada. De acordocom J. A. Allan, as frases “em Cristo,” “em quem,” e semelhantes são usadastrinta e quatro vezes em Efésios.

c. Há doze ocorrências da palavra “um” (hen)  no texto grego (“deambos... fez um,” 2:14; “um novo homem,” 2:15; “um só corpo” 2:16; 4:4;“um só Espírito,” 2:18; 4:4; “uma só esperança,” 4:4; “um só Senhor,” 4:5;

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“uma só fé,” 4:5; “um só batismo,” 4:5; “um só Deus e Pai,” 4:6; “a cada umde nós,” 4:7; “cada parte,” 4:16; “cada um,” 5:33); também, a força de ana em anakephalaioo (1:10) é “todas as coisas,” que congrega itens separadosnum todo unificado.

d. A preposição  syn (“com,” “junto com”) é empregada com inúmerosverbos e substantivos. Em alguns casos, estas palavras são usadas emconexão com a união dos crentes com Cristo, corno em “nos vivificou

 juntamente com Cristo” ( synezoopoieo, 2:5), “nos ressuscitou juntamentecom ele” ( synegeiro, 2:6), “nos fez assentar.. em Cristo” ( synkathizo, 2:6).

Os substantivos com “syn” também são usados para descrever o fato que

os gentios são “unidos juntamente” ( sy n a rm o lo g e P 2:21; 4:16), “bemajustado,” ( symbibazo , 4:16), e “nele também vós juntamente sois edificados para morada de Deus no Espírito” (2:22). Conseqüentemente, são “co-herdeiros” ( synkleronomos, 3:6), “membros do mesmo corpo” ( syssomos, 3:6), e “co-participantes” (symmetochos, 3:6). Em duas ocasiões, há o usonegativo dessas palavras compostas: Os crentes não devem “co-participar”(symmetochos, 5:7) com pessoas imorais, ou manter comunhão ( synkoinoneo, 

5:11) com pagãos.e. Dá-se considerável atenção ao conceito de paz. A parte a saudação

 padrão (1:2) e a despedida (6:23), a palavra paz ocupa lugar central na idéiade reconciliação e unidade entre judeus e gentios (2:14,15,17), e é essencial

 para a manutenção da unidade do corpo (4:3). Finalmente, os crentesdeverão armar-se do “evangelho da paz” (6:15).

f. A palavra grega para “unidade” (enotes) ocorre duas vezes em Efésios(4:3, 13) e em nenhuma outra passagem do NT.g. À parte estes exemplos específicos, há algumas observações genéricas

que parecem acentuar a necessidade e a possibilidade da unidade: asexortações éticas são dadas à Igreja como meio de manter a unidade e a pazque foram trazidas por Cristo (4:1 -6); os dons do Espírito demonstram que pode haver unidade e unificação de propósitos no meio da diversidade; os

crentes que estão no corpo de Cristo “lançaram fora” aqueles vícios quedanificam os relacionamentos interpessoais (4:25); em vez de promover oindividualismo, a vida na Igreja é um compartilhamento alegre de todos

 juntos no culto público (5:15-20); e finalmente, o princípio da submissão éensinado, para que os diferentes membros do lar possam viver juntos emunidade, paz e amor (5:21-6:9).

A atenção dada a este tema levou H. von Soden ü ver Efésios como um“hino à unidade.”46 Uma dimensão desse tema é eclesiológico: judeus e

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gentios foram unificados num só corpo, que é a Igreja. A outra dimensão écosmológica: A Igreja é testemunha dos poderes cósmicos (3:10) de que os propósitos últimos de Deus de unir toda a criação estão sendo realizados(1:10, 22, 23).

Por toda a carta, o autor usa a linguagem e a teologia do batismo, a fimde desenvolver o tema da unidade. Ele considera o batismo como o rito peloqual a pessoa participa de Cristo (2:5-10) e, assim, participa de todas as bênçãos de Deus (1:3-14; 2:13ss.; 5:8ss.). Além disso, o surgimento de “umsó batismo” em 4:5 como um dos princípios fundamentais da unidade daIgreja demonstra a importância deste sacramento para o autor, e sua

concordância em que a tradição da Igreja primitiva, ao considerar o batismoum sacramento deunidade(l Coríntios l:13ss.; 12:12,13; Gálatas 3:27,28;Colossenses 3:10, 11).

O ato do batismo também é usado para descrever a mudança de <status:> — o indivíduo çassa de pagão a crente. O autor acentua essa mudança aocontrastar o que seus leitores eram outrora (2:1 ss., 11 ss.; 5:8a) e o que podemtomar-se agora em Cristo (2:4ss., 13ss., 5:8bss.). Isto também concorda com

o ponto de vista da Igrej a primitiva, segundo o qual o batismo era interpretadocomo participação nos eventos de Cristo (indicativo) e o início de uma novavida ética (imperativo; cf. Romanos 6:1-11; 2 Coríntios 3:3; Tito 3:5-7).

Efésios contém grande parte de textos para-éticos (4:1-3; 4:17-5:20;5:21-6:9) que provavelmente pertenciam à tradição comum catequética daIgreja primitiva. O autor usa essas exortações a fim de expor a natureza da

nova vida em Cristo, e para mostrar o efeito unificador desta postura éticanos relacionamentos humanos da Igreja (4:3, 15, 16, 25-32; 5:31-33).A face de toda a discussão precedente, torna-se óbvio que todas as

questões a respeito de Efésios relacionam-se à questão central da autoria dacarta. Se Efésios foi escrita por Paulo, podemos tirar as seguintes conclusões:

Origem. Efésios é uma das “cartas da prisão,” escrita enquanto Pauloestava na prisão. O NT registra um breve período de encarceramento em

Filipos (Atos 16:19-33), dois anos em Cesaréia (Atos 23:23-26:32), e doisanos em Roma, antes da morte do apóstolo (Atos 28:16-31).47

Embora não haja uma menção específica de um encarceramento emEfeso, as referências de Paulo ao sofrimento e à aflição que ele experimentouna Ásia (2 Coríntios 1:8-10), a outros encarceramentos (2 Coríntios 6:5;11:23), e sua declaração “lutei em Efeso com feras” (1 Coríntios 15:32), têmsido tomadas como indicação da existência de um encarceramento efésio dealguma duração. Embora esta teoria tenha alguma força, trata-se de argumento

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136 (Efésios)

 proveniente do silêncio, e depende de sua associação com Colossenses (cf.Introdução a Colossenses). Diga-se o mesmo a respeito quanto à possibilidadede a origem de Efésios ser a Cesaréia (cf. Introdução a Colossenses). Se forvista como carta paulina, existe pouca evidência, todavia preciosa, capaz de

destronar a teoria tradicional de que a carta foi escrita pelo apóstolo duranteseu encarceramento romano. O estilo e conteúdo fazem mais sentido se acarta for relacionada aos últimos anos da vida de Paulo.

 Data. Se a carta se originou em Roma, a data seria entre 62 e 64 d.C.; seem Éfeso, a data seria entre 54 e 57 d.C.; se em Cesaréia, entre 59 e 61 d.C.

 Destinatário.  Diante do problema concernente à frase “em Éfeso,” a

melhor solução parece ser a de considerar a epístola como uma espécie decarta circular dirigida a mais de uma igreja. Mas a igreja, no decorrer doseventos, veio a tornar-se conhecida como a de Efeso.

Tal identificação com Efeso pode ser o resultado do ministério pessoalde Paulo nessa cidade, bem como a importância dela como centro religiosoe capital da Ásia Proconsular. As referências do NT a Efeso indicam quedetinha uma posição estratégica para a atividade missionária da Igreja

 primitiva (Atos 19:10; 1 Timóteo 1:3; 2 Timóteo 1:18; 4:12; Apocalipse1:11; 2:1-7).

Enquanto Paulo esteve ensinando em Efeso (na “escola de Tirano,” Atos19:9, 10), Epafras ouviu o evangelho e, em resultado de sua conversão aocristianismo, regressou a seu lar em Colossos, onde iniciou uma igreja (Colossenses1:7; 4:12). Mais ou menos a mesma coisa teria acontecido às sete igrejasmencionadas em Apocalipse 1-3, e a outras não mencionadas no NT. A.S. Woodobserva que “Éfeso estava rodeada por 230 comunidades independentes dentroda província romana da Ásia. Se a fé cristã estivesse firmemente estabelecida nacapital, poderia espalhar-se do centro para a periferia.”48

Se Efésios é carta produzida por um deutero-paulinista, as seguintesconclusões seriam possíveis:

Origem. A origem deve permanecer na área das conjecturas. Entretanto,

à face da importância de Éfeso como centro evangelístico e didático, paraPaulo e sua “escola,” provavelmente a carta saiu daqui.

 Data. A data seria entre a morte do apóstolo (cerca de 64 d.C.) e antes dofim do primeiro século. Visto haver alguns ecos de Efésios na carta deClemente aos Coríntios (cerca de 95 d.C.), ela teria sido escrita não depoisdos primeiros anos da década de 90.

 Destinatário.  Efésios é uma carta universal dirigida a várias igrejas

gentílicas da Ásia Menor, inclusive a congregação efésia.

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(Efésios) 137

C o n c l u s õ e sTodas as questões internas e externas que rodeiam esta carta não nos

deveriam distrair a atenção de sua beleza e valor essenciais, e completa

autoridade que ela tem para a Igreja. Acontece que a carta possui umasingularidade ou aura ao seu redor, que nos dificulta classificá-la, ou dar-lheum lugar dentro do contexto da vida de Paulo. E por que a carta podeenquadrar-se em mais de um contexto histórico, parece-nos melhor considerá-la um desenvolvimento da visão de Paulo, quanto a uma Igreja universal,unificada, formada de crentes judeus e gentios.

N o t a s1. Barth,  Ephesians 1-3,  p. 37; Mitton,  Ephesians,  pp. 2-4. Quanto a um

artigo útil, veja-se J.B. Polhill, “An Introduction to Ephesians,” RevExp 76(1979), pp. 465-79.

2. Quanto a mais minúcias sobre a teoria da carta circular, veja-se a maioriadas seções de Introdução dos principais comentários, e a obra de D. Guthrie, New Testament Introduction  (Downers Grove, 111.: InterVarsity Press, 1971), pp.

510s. (daqui em diante citada como Introduction. Vários estudos especializadosincluem R. Batey, “The Destination of Ephesias,” JBL 82 (1963), p. 101. (Bateysugere que durante o processo de transmissão, a palavra ousin  substituiu a

 palavra original hasias). D.A. Black, “The Peculiarities of Ephesians and theEphesian Address,” Grace Theological Journal  2 (1981), pp. 59-73; M. Santer,“The Text of Ephesians 1.1,” NTS (1969), pp. 247-48. Best fornece um estudocompleto de todas as evidências em Ephesians I.i,” em Text and Interpretation, 

 pp. 29-41.3. Mitton,  Ephesians,  p. 11; cf. também The Epistle to the Ephesians: Its  Authorship, Origin and Purpose (Oxford: Clarendon, 1951), pp. 243ss., quantoa um tratamento mais completo de suas opiniões sobre a data de Efésios. Paramaior esclarecimento desta opinião por um autor posterior, veja-se A. Patzia,“The Deutero-Pauline Hypothesis,” pp. 27-42.

4. R.P. Martin, “An Epistle in Search of a Life-Setting,” ExpT 79(1968), pp.296-302. Quanto a comentários a respeito das opiniões de Martin, cf. D. J.Rowston, “Changes in Biblical Interpretation Today: The Example of Ephesians,”

 Biblical Theological Bulletin 9 (1979), pp. 121-25.5. Wood, “Ephesians,” p. 7. Quanto a uma defesa da autoria paulina baseada

nestes fundamentos, veja-se Guthrie, Introduction, pp. 491 ss.; Barth, Ephesians 1-3,p. 6.0 livro mais completo em inglês que trata de todos os assuntos dos problemasde introdução a Efésios, é o de A. von Roon, The Authenticity o f Ephesians, Supplement to NovT, vol. 39 (Leiden: Brill, 1974). Cf. também J.N. Sanders, “The

Case for Pauline Authorship,” em Studies in Ephesians, ed. F.L. Cross, pp. 9-20.

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138 (Efésios)

Grande parte do debate a respeito da autoria centraliza-se nas semelhançasexistentes entre Efésios, Colossenses e outras cartas do NT. Algumas comparações úteis podem ser encontradas na maior parte dos comentários; veja-seAbbott, Ephesians and Colossians, pp. xxiii-xxix; Foulkes, Ephesians, pp. 20

30; Mitton, Ephesians, pp. 11-18; idem, “The Epistle to the Ephesians,” partesII e III e apêndices; Moule, “Ephesians,” pp. 29-32; Westcott, “Ephesians,” pp.xxv-lx. Dois excelentes artigos são: Coutts, “The Relationship between Ephesiansand Colossians,” pp. 439-50.

6. Guthrie, Introduction, p. 497.7. Barth, Eph. 1-3, pp. 3-4.8. Quanto a uma explicação das idéias de Kásemann sobre “Catolicismo

Primitivo,” veja-se Patzia, “The Deutero-Pauline Hypothesis,” pp. 30-31.9. Barth, “Eph. 1-3,” p. 45.10. J.A. Allan, “The ‘In Christ’ Formulain Ephesians,” NTS 5 (1958-59), pp.

54-62.11. W.G. Kiimmel, Introduction to the New Testament, 17th ed. (Nashville:

Abington, 1975), p. 361. Veja-se também D.E. Nineham, “The Case Against thePauline Authorship,” em Cross, Studies in Ephesians,  pp. 21-35. Todas asquestões que rodeiam a autoria, o destinatário, o propósito e assim por diante,

de Efésios, podem ser frustrantes para o leitor. H. J. Cadbury reconheceu isto hámuito tempo em seu artigo “The Dilemma of Ephesians,” NTS 5 (1958-59), pp.91-102.

12. Guthrie, Introduction, pp. 507, 508.13 .0 valor e a autoridade de Efésios como uma carta deutero-paulina são

discutidos por Mitton, em sua obra The Epistle to the Ephesians, pp. 270-78. Elecrê que mediante uma analogia com a autoria de Hebreus, uma perda inicial se

transforma em ganho. Como carta deutero-paulina, Efésios revela nova mentalidade e voz dotadas de autoridade, na geração de crentes que surgiu depois dePaulo.

14. A.M. Hunter,  Introducing the New Testament,  2a. ed. (Filadélfia:Westminster, 1957), p. 120. Entre outros estudos que expressam opiniõessemelhantes encontram-se N. Alexander, “The Epistle for Today,” em Biblical  Studies, ed. RJ. McKay e J.F. Miller (Filadélfia: Westminster, 1976), pp. 99

118; W.B. Coibe, “The Queen of the Epistles,” SWJTh 6  (1963), pp. 7-19.15. Barclay, The Letters to the Galatians and Ephesians,  p. 83; Bruce,“Ephesians,” p. 11; C.R. Erdman, The Epistle o f Paul to the Ephesians (Filadélfia: Westminster, 1931), p. 14.

16. J.N. Sanders, “The Case for Pauline Authorship,” p. 16.17. Martin, “Ephesians,” p. 126. Veja-se também M. Barth, “Traditions in

Ephesians,” NTS 30 (1984), pp. 3-25.18. As idéias de Goodspeed são apresentadas em The Meaning of Ephesians 

(Chicago: Univ. of Chicago Press, (1933) e The Key to Ephesians  (Chicago:

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(Efésios) 139

Univ. of Chicago Press, (1956). Quanto a uma criticada hipótese de Goodspeed,veja-se Guthrie, Introduction, pp. 512-14; Wood, “Ephesians,” p. 112.

19. E. Lohse., “Pauline Theology in the Letter to the Colossians,” NTS 15(1969), pp. 211-20.

20. N.A. Dahl, “Interpreting Ephesians: Then and Now,” Theology Digest, 25 (1977), p. 314.

21. Ibid., p. 314.22. Quanto a uma longa lista de eruditos assim persuadidos, veja-se Barth,

 Ephesians 1-3,  pp. 12ss.23. Dahl, “Interpreting Ephesians: Then and Now,” p. 307.24. H. Schlier, Der Briefan die Epheser, (Düsseldorf: Patmos Verlag, 1962),

 p. 21. Quanto aos comentários de Beare, veja-se sua obra “Ephesians,” pp. 67475.

25. Veja-se Yamauchi, Pre-Christian Gnosticism.

26. Kuhn, “Der Epheserbrief im Lichte derQumrantexte,” A7’5'7 (1960-61), pp. 334-46; Murphy-O’Connor, “Who Wrote Ephesians?” BibTod 18 (1965), pp. 1201-0; F. Mussner, “Beiträge aus Qumran zum Verständnis desEpheserbriefes,” “Neutestamentliche Aufsätze” (Regensburg: Verlag Friedrich

Pustet, 1963).27. Veja-se o resumo de Mitton, Ephesians,  pp. 18ss.28. Murphy-O’Connor, “Who Wrote Ephesians?” “Aquele homem que

outrora fora um essênio, e agora é discípulo do homem que escreveu 1Coríntios13, havia assimilado muito bem a lição mais profunda de seu mestre” (p. 1209).

29. Barth,  Ephesians 1-3,  p. 21; cf. também R.A. Culpepper, “EthicalDualism and Church Discipline: Ephesians 4:25-5:20,” RevExp 76  (1979), pp.529-39, para comparações entre Efésios e Qumran.

30. J. Moffatt, Introduction to the Literature o f the New Testament, 3a. ed.(Edimburgo: T. & T. Clark, 1918), p. 388.

31. Martin, “Ephesians,” o. 128. Veja-se também Martin, Reconciliation, p.157.

32. Kirby, Ephesians: Baptism and Pentecost.

33. Um exemplo é J.T. Sanders, “Hymnic Elements in Ephesians 1-3,” ZNW  56 ( 1965), pp. 214-32.

34. Kirby, Ephesians: Baptism and Pentecost,  p. 170.35. Dahl, “Adresse und Proömium des Epheserbriefes,” TZ 7 (1951), pp.

241-64; “Bibelstudie über den Epheserbrief,” em  Kurze Auslegung des  Epheserbriefes  (Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 1965), pp. 7-83;“Anamnesis,” Studia Theologica I  (1948), pp. 69-95. Quanto a outros estudossobre a natureza batismal/litúrgica de Efésios, veja-se R.R.. Williams, “ThePauline Catechesis,” emStudies in Ephesians, ed. Cross, pp. 89-96; P. Carrington,

The Primitive Christian Catechism (Cambridge: Cambridge Univ. Press, 1940);G.E. Selwyn, The First Epistle o f St. Peter,  (Londres: MacMillan, 1946);

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140 (Efésios)

J.Coutts, “Ephesians 1.3-14 and I Peter 1.3-12,” NTS 3 )1956-57), pp. 115-27.36. Mitton, Ephesians, p. 30.37. Martin, “Ephesians, p. 129.38. Veja-se Cannon,pp. 183-96. Quanto a algumas correções da interpreta

ção usual da atitude de Paulo no que concerne à lei, cf. K. Stendhal, Paul Among   Jews and Gentiles and Others Essays (Filadélfia: Fortress, 1976); E.P. Sanders,“ Paul and Palestinian Judaism: A Comparison of Patterns of Religion (Filadélfia: Fortress, 1977).

39. H. Chadwick, “Die Absicht des Epheserbriefes,”  ZNW  51 (1960), pp.145-53; também seu estudo “Ephesians,” em Peake’s Commentary on the Bible, ed. M Black and H.H. Rowley (Edimburgo: Thomas Nelson, 1962), pp. 980ss.

40. E. Käsemann, “Ephesians and Acts,” em Studies in Luke-Acts, ed. L.E.Keck and J.L. Martyn (Nashville: Abingdon, 1966), pp. 288-97.41. W. Grundmann, “Die NEPIOI in der Paränese,” NTS 5 (1958-59), pp.

188-205.42. Veja-se K.M. Fischer, Tendez und Absicht des Epheserbriefes (Göttingen:

Vandenhoeck & Ruprecht, 1973).43. Citado de C. Roetzel, The Letters o f Paul  — Conversations in Context, 

2a. ed. (Atlanta; John Knox, 1982), p. 104.44. Kümmel, Introduction to the New Testament,  p. 364.45. Barth, Ephesians 1 -3, p. 66.46. H. von Soden, citado em Wood, “Ephesians,” p. 18.47. Quanto a uma discussão sobre a origem de Colossenses, veja-se a

“Introdução” a essa carta.48. Wood, “Ephesians,” p. 12.

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# 1. Saudação Inicial ( E f é s i o s 1 : 1 - 2 )

1:1/ Exceto pela omissão do nome de Timóteo, a abertura desta s audaçãoé muito parecida com a de Colossenses 1:1. A carta afirma provir de Paulo, apóstolo de Cristo Jesus. Este era um termo que Paulo empregava comfreqüência a fim de indicar ser ele “um que fora enviado” (apostello, “enviar”) como missionário, ou enviado especial de Deus. É expressão que

designava os doze discípulos, bem como outros que desempenhavamfunções apostólicas, como Andrônico e Júnia (Romanos 16:7). As vezes,aplica-se a cristãos que tiveram uma experiência excepcionalmente vívidacom Cristo (Atos 1:21, 22; 1 Coríntios 9:1). À época em que Efésios foiescrita, essa expressão foi usada primordialmente para os cristãos quefundaram a Igreja de Cristo (2:20).

A declaração de que o apostolado de Paulo deve-se à vontade de Deus repete um tema que Paulo enfatizou em suas cartas: Quando ele foi chamado,tanto ele quanto Bamabé foram separados para realizar uma obra para a qualDeus os chamara (Atos 13:2); aos Romanos, assim escreve Paulo: “chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus” (1:1); aos Gálatas eledeclara, em termos que não deixam dúvidas que seu chamado veio “não da

 parte de homens, nem por homem algum, mas por Jesus Cristo, e por Deus

Pai” (1:1; cf. também 1:13-16); e embora Paulo às vezes se sinta indigno deseu chamado (1 Coríntios 15:9), afirma que foi a graça de Deus que fez delequem ele é (1 Coríntios 15:10).

Esta consciência da iniciativa de Deus em seu chamamento impedia quePaulo se vangloriasse de sua posição; era também o que dava legitimidadea seu ofício de apóstolo em ocasiões em que sua autoridade era questionada(cf. Gálatas e Coríntios).

Seus leitores são identificados, primordialmente, como santos. Comosantos, constituem um povo que foi consagrado para Deus, tendo sidoseparado do pecado. Em segundo lugar, são fiéis em Cristo Jesus, i.e., estãosendo fiéis ou dignos de confiança. A nota de rodapé na versão NIV diz quea palavra grega “pistois” (fiéis) também pode ser traduzida por “crentes.”Assim, a saudação poderia ser a seguinte: “aos santos e crentes que estão...”

Entretanto, ambos esses sentidos estão expressos no corpo da carta: o povode Deus constitui-se de todos que puseram sua fé em Cristo (o indicativo) e

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142 (Efésios 1:1-2)

que vivem segundo sua fé, em obediência ao Senhor (o imperativo).O texto indica que a carta foi dirigida ao povo de Deus que vive em Efeso, 

embora uma nota de rodapé de NIV informe que existe uma questãoconcernente à inclusão da expressão em Efeso. É muito provável que esse

destinatário não constasse do manuscrito original, porque o objetivo teriasido que a carta fosse de abrangência universal, que circularia entre váriasigrejas (veja-se a Introdução).

1:2 / A saudação de Paulo encerra-se com a menção usual de graça e paz (cf. Romanos 1:7; 1 Coríntios 1:3; 2 Coríntios 1:2; Gálatas 1:3; Filipenses1:2; Colossenses 1:2; 1 Tessalonicenses 1:2; 1 Timóteo 1:2; 2 Timóteo 1:2;

e Tito 1:4 inclui graça, misericórdia e paz). Chairein  (“Saudações”) era uma palavra comum de saudação no mundo grego (Atos 15:23; 23:26; Tiago 1:1).Paulo u sac/ía m (“graça”), que para os crentes veio asignificaramisericórdiagraciosa e imerecida para com a humanidade.

Os judeus saudavam-se uns aos outros com  salom, termo comum para“paz” e para plenitude ou integridade de vida. De modo semelhante, oapóstolo está fazendo algo mais do que simplesmente saudar seus leitores,

ao usar esses termos, visto que graça e paz são dons de Deus, concedidosmediante Jesus Cristo. Ao mencionar estes dois dons juntos, Paulo exortaseus leitores a usufruírem a vida, por causa do favor que Deus graciosamentederramou sobre eles. Ambos os conceitos são parte importante da carta (paz:2:14, 15, 17; 4:3; 6:15; graça: 2:5, 7, 8; 3:2, 7; 4:7).

 Não podemos deixar de notar o papel importantíssimo atribuído a Cristonestes versículos iniciais. Paulo fora designado apóstolo de Cristo Jesus; oscrentes vivem sua vida em Cristo Jesus; e Deus, o Pai, mediante o Senhor Jesus Cristo, concede os dons divinos da graça e da paz a seu povo.

 Na discussão que se segue observaremos que Efésios possui váriascaracterísticas estilísticas semelhantes às de Colossenses. Em primeirolugar, Efésios segue o padrão de louvor, de gratidão e de oração. EmColossenses, Paulo inicia dando graças a Deus pelos seus leitores (1:3-8), e

 por eles orando para que Deus realizasse determinadas coisas na vida deles.Em Efésios encontramos uma estrutura semelhante: a carta inicia-se com umgrandioso hino de louvor ou de agradecimento a Deus (1:3-14), e é seguidode uma longa oração (1:15-2:20) em que o apóstolo expressa preocupaçãono sentido de seus leitores compreenderem como Deus os tem abençoado emCristo.

Uma segunda similaridade refere-se ao hino e seu lugar na carta. Em

Colossenses, as idéias do hino a Cristo (1:15-20) foram aplicadas vezes e

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(Efésios 1:1-2) 143

vezes sem conta na carta. O mesmo se poderia dizer de Efésios, pois esselouvor de abertura serve de excelente prefácio da seção doutrináriaremanescente. A idéia de redenção é preeminente nas frases que dizemrespeito à exaltação de Cristo (1:15-22), a salvação pela fé (2:1-10), aunidade entre judeus e gentios (2:11-22), e a revelação do mistério de Cristo(3:1-12).

Em terceiro lugar, Efésios poderia ser convenientemente dividida emduas seções, uma doutrinária e outra prática, pois encontramos o autor

 provendo uma base teológica (capítulos 1-3) e a seguir aplicando essasverdades à vida cristã (capítulos 4-6). Entretanto, tais divisões não deveriam

ser tomadas com excessiva rigidez, pois, encontramos exortações éticas nomeio de uma discussão doutrinária (e.g., 1:4-2:10), e o ensino doutrinário prossegue pelos últimos capítulos 4:4-16; 5:21-6:9).

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# 2 . Um Hino d e Louvor ( E f é s i o s 1 : 3 - 1 4 )

Muitas palavras e frases têm sido usadas a fim de descrever a beleza destehino de abertura em louvor a Deus pelas bênçãos espirituais que o Senhorderramou sobre os crentes em Cristo. Scott, em seu comentário (p. 32), citavários autores que usam frases como “um magnífico portal,” “uma correntede elos de ouro,” “um caleidoscópio de luzes deslumbrantes e corescambiantes,” “um culto em forma de rapsódia,” e “louvor em forma de

 poema.”Infelizmente as traduções para o português não conseguem reter a

natureza hínica e o padrão rítmico tão discerníveis na língua original. Porexemplo, no grego, uma seção inteira de doze versículos constitui um únicoe longo período. Isto nos ajuda a apreciar como os pensamentos do  autorficaram voando em elevadas alturas. A divisão de tão longo texto em períodos mais curtos (RS V, NEB e NIV apresentam oito períodos compostos;GNB, quinze; ECA também apresenta oito períodos compostos) destrói acontinuidade tanto do estilo como do pensamento.

Várias propostas têm sido apresentadas com respeito à origem dessehino. Os que acham que Efésios é uma carta genuinamente paulinanaturalmente atribuem esses versículos ao grande apóstolo. Os eruditos quequestionam a autoria paulina sugerem que o autor, escrevendo em nome de

Paulo, tomou emprestado alguns termos e frases de outras cartas de Paulo,e compôs um hino que se assemelha com algo que Paulo poderia ter escrito.

A busca das origens e dos modelos tomou várias direções diferentes. J.Kirby acredita que essa passagem foi modelada segundo uma “berakah”(bênção) judaica, na qual Deus é louvado pela sua bondade. Outros notarama forte natureza litúrgica dessa passagem, e sugeriram que ela deve pertencerà comunidade de adoradores. Como tal, o texto teria tido existência anterior

e independente, separada de Efésios, ou poderia ter sido escrita pelo próprioautor, com o objetivo de prover uma peça litúrgica a ser usada no culto e nasaulas de instrução da Igreja (Mitton, pp. 22-24).

Vários eruditos que têm tentado explicar a origem de Efésios como sehouvesse saído de um contexto batismal, focalizaram a atenção nesta seção particular hínica. No hino, o autor usa termos e conceitos batismais como a

filiação (1:5), a redenção (1:7) e o selo (1:13). A explicação mais provável para isto é que o autor está criando uma teologia batismal a fim de agradecer 

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(Efésios 1:3-14) 145

a Deus por todas as bênçãos da redenção que ele concedeu em Cristo a todosos que crêem. Visto que esta passagem é um hino, é perfeitamente possívelque seja considerado hino batismal que teria feito parte da tradição litúrgicada Igreja primitiva, que o autor da carta o tomou e o incorporou em suadoxologia de redenção. A menção do batismo neste hino é tão insistente, quealguns eruditos se convenceram fortemente de que a carta toda foi redigidaà guisa de tratado sobre o batismo, ou pelo menos teria estado relacionadaà celebração desse sacramento pela Igreja.

Entretanto, a natureza batismal desse hino de abertura não significanecessariamente que o objetivo da carta foi instruir os leitores a respeito do

sentido do batismo. Se fosse esse o propósito, poderíamos esperar que semencionasse o batismo de modo mais explícito, porque da forma como otemos, a palavra “batismo” ocorre apenas uma vez (4:5). Antes, entende oautor que as idéias sobre o batismo e a linguagem batismal são apropriadas

 para descrever a seus leitores todas as bênçãos que Deus derramou sobre nósem Cristo. A Igreja primitiva entendia que o batismo era um ato através doqual o crente se apropria pela fé das bênçãos da redenção em Cristo. Por isso,

foi-lhe suficiente aludir ao batismo, sem precisar definir seu significado demodo direto.

Outra característica notável do hino é o lugar que ele dá aos três membrosda Trindade. Num sentido lato, a obra de Deus, o Pai, está descrita nosversículos 3-6; a de Deus, o Filho, nos versículos 7-12; e a de Deus EspíritoSanto, nos versículos 13-14. Mas as três Pessoas atravessam a passagem

toda. Deus é a “fonte” de todas as bênçãos espirituais mencionadas no hino;Cristo é o “agente” em quem estas bênçãos se cumprem no crente. O nome“Cristo” — ou alguma forma desse nome, como a contração do pronome

 pessoal “nele,” ou do relativo “em quem” — ocorre treze vezes nesta passagem. Tudo quanto Deus criou com um propósito para o crente, cumpre-se em Cristo. O Espírito Santo é mencionado como a Pessoa que “sela” ocrente e o tomapertencente a Cristo. As bênçãos enumeradas nestapassagem

são “espirituais,” pois são dadas pelo “Espírito.”

1:3 / Bendito seja: A palavra grega aqui é “eulogetos,” que tem osignificado de falar (lego)  bem, ou bondosamente (eu),  de alguém. Nestecontexto, a frase pode exprimir “agradecimentos a,” abençoado seja,” bemcomo “louvores sejam dados” a Deus. No NT, a expressão é usadaexclusivamente para Deus, visto que só ele é digno de louvor; ele é bendito porque é o autor de todas as bênçãos que derrama sobre o crente em Cristo.

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146 (Efésios 1:3-14)

Como tais formas de louvor eram comuns entre os judeus, esta passagem pode ter um antecedente judaico.

Louvores sejam dados a Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo (cf.1:3; 2 Coríntios 1:3; 1 Pedro 1:3). Gramaticalmente essa frase poderia sertraduzida assim: “Deus, que é o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.” Destaforma, indicaria o relacionamento singular existente entre Deus e Cristo. Nocontexto do NT, os crentes chamam a Deus de “Pai,” por causa da filiaçãoque recebem mediante Cristo (cf. 1:5; Romanos 8:14-17; Gálatas 4:6-7).

O qual nos abençoou: É importante notar que a ação ocorreu no pretérito passado (aoristo grego), significando que o autor tem em mente uma época

em que Deus agiu e derramou estas bênçãos, em vez de antecipar algo queDeus fará algo no futuro. Tais bênçãos tornaram-se uma realidade para oscrentes em Cristo — isto é, no batismo.

A natureza ou essência das bênçãos é espiritual (bênçãos espirituais). As palavras em ECA estão no plural (todas as bênçãos), o que nos leva a versua abrangência: as bênçãos de Deus são ilimitadas; ele não retém nada quecriou para seu povo. A esfera dessas bênçãos são as regiões celestiais em 

Cristo. Assim, não se referem a bênçãos materiais, físicas ou temporais: Nãofazem parte do tesouro de alguém “onde a traça e a ferrugem destroem e ondeos ladrões arrombam e roubam” (Mateus 6:19). Sendo dons espirituais nomundo espiritual, são imperecíveis e pertencem à ordem eterna, “onde nema traça nem a ferrugem destroem e onde os ladrões não arrombam nemroubam” (Mateus 6:20).

A frase nas regiões celestiais é tradução do grego “nas celestiais” (en tois epouraniois). Visto ser um adjetivo sem substantivo, as traduções acrescentamuma palavra, como “mundo” (GNB), lugares (RSV), regiões (NIV e ECA).Este esclarecimento, porém, não deveria levar-nos a concluir que Paulo temem mente um lugar geográfico, ou um lugar cósmico, em algum recanto douniverso, acima da terra. “Celestiais” é um termo que significa o mundoespiritual, isto é, o mundo invisível da realidade e das atividades espirituais.

E nessa esfera que os crentes são abençoados. As outras quatro ocorrênciasde “regiões espirituais” na carta (1:20; 2:6; 3:10; 6:12) ajudam a expressaressa idéia com maior clareza.

 No mundo antigo acreditava-se existir uma terrível batalha cósmica entreas forças do bem e as do mal. Em geral, o céu era considerado o lugar ondetal guerra entre potestades, principados, poderes e espíritos reinantes do malsobre o universo (stoicheia tou kosmou) se travava. Uma parte importante damensagem aos Colossenses era que tais poderes espirituais são inferiores a

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(Efésios 1:3-14) 147

Cristo, na ordem da criação (Colossenses 1:16), e estão sujeitos a Ele porcausa de sua vitória na cruz, onde Cristo, “tendo despojado os principadose as potestades, os expôs publicamente ao desprezo, e deles triunfou na cruz”(Colossenses 2:15). Efésios dá continuidade a essas idéias ao ensinar que,

 por causa da vitória de Cristo na cruz sobre esses poderes malignos, foiexaltado à mão direita de Deus “acima de todo principado, e autoridade, e poder, e domínio” (1:20, 21). Além disso, esses poderes estão aprendendoa sabedoria de Deus mediante o testemunho da Igreja (3:10).

Efésios ensina-nos que os crentes estão empenhados numa batalhasemelhante: “Pois não temos de lutar contra a carne e o sangue, e, sim, contra

os principados, contra as potestades, contraos poderes deste mundo tenebroso,contra as forças espirituais da maldade nas regiões celestes (2:6). De fato,todas as bênçãos enumeradas nesta passagem são cumpridas ou em nossaunião com Cristo, ou mediante a obra de Cristo.

1:4 / A primeira bênção específica mencionada é a que se chama, noscírculos teológicos, de eleição ou predestinação. Basicamente, esta doutrinaafirma que Deus tomou a iniciativano processo de “eleição” ou de “escolha.”

 No AT, Deus escolheu Israel dentre todas as nações da terra para que fosseseu povo da aliança (Deuteronômio 4:37; 7:6,7; Isaías 44:1,2); no NT, Deusescolheu algumas pessoas para serem membros da nova aliança, a Igreja(João 15:16; Romanos 8:29; 9:11; Efésios 1:4, 5; 2 Tessalonicenses 2:13; 2Timóteo 1:9; 1 Pedro 1:2); homens como Jeremias (1:5) e Paulo (1 Coríntios15:9-11) criam que até mesmo sua vocação havia sido predestinada porDeus.

Infelizmente, algrejadividiu-se em campos teológicos opostos, arespeitodesta doutrina. Alguns (conhecidos como calvinistas) puseram toda a ênfasena graça soberana de Deus na questão de nossa salvação; outros (conhecidoscomo arminianos), puseram toda a ênfase no livre-arbítrio humano, no

 processo de nossa salvação. Visto que a bíblia não tenta harmonizar esteaparente paradoxo, ele continua sendo um dos “mistérios” mais divisórios

e especulativos da fé cristã.Quando tratarmos desta questão, devemos evitar os extremos tanto na

teoria como na prática, que com freqüência caracterizam os adeptos desta edaquela doutrina. A eleição para a salvação não implica, portanto, que Deus

 predestina o resto da humanidade para a perdição; tampouco deve a eleiçãoconduzir ao orgulho espiritual entre os eleitos. A eleição simplesmenteafirma que a fé pessoal repousa sobre a obra anterior (graça) de Deus, de tal

maneira que, no que diz respeito à salvação, Deus tomou a iniciativa de

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148 (Efésios 1:3-14)

chamar um povo para si. O indivíduo está livre para escolher a Deus, porqueDeus já escolheu essa pessoa desde a eternidade. De maneira semelhante, aeleição não deve levar-nos àcomplacência espiritual; trata-se de um privilégioe responsabilidade que conduz à santidade de vida, e para as boas obras (1 ;4;2 :10).

O autor indica que a intenção de Deus para a salvação da humanidade precede a criação do mundo e o processo histórico (pois nos elegeu nele antes da fundação do mundo). Quando Paulo, membro da Igrej a e apóstoloescolhido para a obra entre os gentios, reflete sobre a doutrina da eleição,talvez esteja pensando nestes termos: “Como foi que eu, um fariseu e ex-

 perseguidor dos cristãos, cheguei a ser quem sou? De que maneira os judeus — e agora os gentios — vieram a tornar-se parte da família de Deus?Certamente não foi por causa de algum mérito nacional, ou realização

 pessoal, mediante a fé ou boas obras!Isto teria que ser obra de Deus. Ele sabiadesde a eternidade como trabalharia em mim e no mundo; a transformaçãodos gentios em herdeiros da salvação não se fez por uma decisão de últimominuto” (3:6). Quando o apóstolo escreve aos coríntios a respeito da nova

existência deles em Cristo, por exemplo, assim se expressa: “Tudo isto provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo” (2Coríntios 5:17-19).

Stott produz um comentário interessante ao chamar-nos a atenção parao relacionamento dos três pronomes da frase: [Ele] nos elegeu nele. Deusnos escolheu, antes ainda de termos sido criados, para sermos redimidos

mediante a obra de Cristo, que ainda não ocorrera (Stott, p. 36). Entretanto,essa é a maravilha extraordinária da graça eletiva de Deus para com a raçahumana.

O objetivo da eleição é que os crentes sejam santos e irrepreensíveis diante de Deus. Esta frase é semelhante à de Colossenses 1:22, e podeconstituir parte da linguagem sacrificial do AT, que o NT emprega noutrasocasiões (cf. 5:27; Hebreus 9:14; 1 Pedro 1:19; Judas 24). Em certos casos,

a doutrina da predestinação levou as pessoas à licenciosidade, em vez de àsantidade moral pessoal. Não poucos crentes raciocinaram que, pelo fato deestarem “eternamente seguros,” sua vida ética deixou de interessar a Deuse às outras pessoas. Entretanto, tal raciocínio é infeliz, porque o “status” doscrentes diante de Deus, e sua eleição (o indicativo), demonstram-se pelo tipode vida que vivem eticamente (o imperativo).

1:5 / É difícil saber o que fazer com a frase em amor. Algumas versõescolocam esta expressão no versículo 5 (NIV, RSV e GNB), para indicar 

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(Efésios 1:3-14) 149

assim que a escolha de Deus foi motivada pelo seu amor. Com base em seuamor, Deus nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo.Mas essa frase poderia ser considerada com a ação descrita no versículo 4,como sendo o amor da humanidade a Deus, em vez de o amor de Deus paracom a humanidade. Assim, o sentido seria que os crentes devem ser santose impecáveis diante de Deus em amor (en agape).  “Agape” é empregadonoutra passagem em Efésios para designar o amor de Cristo (3:17; 4:2, 15,16; 5:2). E muitíssimo apropriado que se mencione o amor de Deus logo deinício, na carta, e que foi esse amor que o motivou a tomar a decisão (lit.,“preordenar”) de redimir a humanidade: nos predestinou para sermos filhos

de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de suavontade.Para “sermos filhos” — refere-se a tomarmos-nos filhos de Deus (i.e.,

com direito a herdar suas promessas) — diz respeito à segunda bênçãorelacionada nesta passagem, a qual é, também, um dom de Deus por JesusCristo. Paulo usa esse termo em Romanos 8:15, 23, 29, e Gálatas 4:5 a fimde indicar o relacionamento especial que os crentes usufruem com Deus.

Aqui, a filiação está ligada ao propósito eletivo de Deus para a humanidade.A linguagem nesta passagem é semelhante à dos relatos do batismo de

Jesus (Mateus 3:13-17; Marcos 1:9-11; Lucas 3:21, 22) e a transfiguração(Mateus 17:5; Marcos 9:7; Lucas 9:35). Nestes relatos evangélicos do batismo de Cristo, como em Efésios 1:5 e 6, o batismo e a filiaçãorelacionam-se intimamente entre si, e a Cristo se dá o título de “Amado” ou“Aquele a quem Deus ama” (1:6). Esta similaridade entre linguagem e idéias(“filhos de adoção, [huiothesia]\  “beneplácito”, [eudokia];  e “Amado”[agapetos]  leva-nos a inferir que esta referência à eleição e filiação docristão pode ter alguma conexão com o batismo de Jesus.

Portanto, alguém poderia dizer que assim como Jesus foi proclamadoFilho, em seu batismo, o batismo é o evento pelo qual os crentes obtêmfiliação. Este pensamento está bem explícito na passagem batismal de

Gálatas 3:26-27 que declara que “todos vós sois filhos de Deus pela fé emCristo Jesus, pois todos vós que fostes batizados em Cristo, vos revestistesde Cristo.”

1:6 / A teologia é doxologia! Noutras palavras, a filiação (o indicativo)é uma convocação para que louvemos a Deus pela sua graça gloriosa. O textogrego diz o seguinte, literalmente: “para o louvor da glória da graça dele, oqual nos agraciou no Amado.” Esta redação ajuda-nos a ver quanta ênfase

o autor coloca na graça (cf. 1:2). Ele parece tão arrebatado em êxtase pelo

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150 (Efésios 1:3-14)

 pensamento da graça de Deus, que não quer pensar noutra coisa. É tambémum modo bem adequado de encerrar uma seção devotada à obra do Pai (1:36). O uso de frases quase idênticas em 1:12 e 1:14 (“o louvor de sua glória”)confirma a natureza hínica desta seção toda.

1:7 / Há, aqui, um paralelismo definido em relação a Colossenses 1:14,em que redenção e remissão de pecados estão intimamente interligados.Todavia, em Efésios o sentido de redenção se amplifica pela frase pelo seu sangue, a remissão de pecados. A ênfase aqui recai sobre o perdão, que porsua vez é seguido pela reação altissonante concernente à grandeza da graçade Deus. Visto que a filiação ocorre mediante o batismo, e visto que a filiação

e o perdão estão intimamente interligados, nesta passagem, ficamosimaginando se o autor ainda tem em mente o batismo, quando fala do perdãode pecados.

1:8 / A magnitude da graça de Deus é amplificada nesta frase de abertura:que ele derramou profundamente sobre nós (eperisseusen). Diante danatureza poética da frase grega toma-nos difícil saber se devemos ligar as

 palavras seguintes (em toda a sabedoria e entendimento) ao versículo 8 ou

ao 9. Trata-se da sabedoria e entendimento “de Deus,” (GNB, RSV) ou seráque se trata de sabedoria e entendimento que Deus, mediante sua graça,derramou sobre os crentes, de tal modo que pudessem entender a vontade deDeus (NIV, NEB, ECA)? Considerando-se o paralelismo com Colossenses1:9 e o significado do v. 9, parece melhor considerar sabedoria e entendimentocomo provenientes da graça de Deus.

Esses dois termos, sabedoria (sophia)  e entendimento (phronesis), embora não sejam coerentemente diferenciados nas Escrituras, em geral sereferem ao conhecimento de algo, seguido da habilidade de aplicá-lo à açãocorreta. Deus nos concedeu o conhecimento e a habilidade necessários paraconhecermos e fazermos sua vontade.

1 :9 /0 dom da sabedoria e do entendimento, dado por Deus, capacita o

crente a entender o mistério da sua vontade (cf. GNB: “o plano secreto”).Em Colossenses, esse mistério era que os gentios haviam se tornardoreceptores do evangelho e herdeiros da salvação (1:26,27; 2:2; 4:3). Emboraesse pensamento também apareça em Efésios (cf. 3:3-6), esta carta leva maislonge ainda o conceito ao dar ênfase à Igreja e à unidade de todos os homens.Essa revelação faz parte do plano eterno de Deus (segundo o seu beneplácito que propusera), sendo algo que se executará totalmente em Cristo. A semelhança do v. 5, o propósito de Deus inclui seu beneplácito (segundo lhe

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(Efésios 1:3-14) 151

apraz, cf. eudokia em Lucas 2:14; Gálatas 2:15). Aprouve a Deus fazer queseu plano (ou vontade) fosse conhecido, e concretizar esse plano em seuFilho.

1 :1 0 /0 beneplácito de Deus faz convergir em Cristo ou é administrado por Cristo (quanto ao emprego de oikonomia  como “administração”,“mordomia”, “cargo”, cf. Lucas 16:2-4; 1Corín tios 9:17; 1Pedro 4:10). Eleé o mordomo através de quem Deus está desenvolvendo seu plano para omundo — um plano que acha-se em pleno processo, e que culminará na dispensação da plenitude dos tempos (lit., “na plenitude do tempo”).

O plano último de Deus é unificar toda a criação sob o senhorio de Cristo.

 Noutra passagem da carta o autor fala a respeito de unir judeus e gentios numúnico corpo (2:11, 12; 3:6); aqui, no entanto, ele contempla uma unidadeglobal. De várias maneiras estas palavras nos fazem lembrar o hino a Cristo,de Colossenses, em que todas as coisas na terra e no céu se reconciliam emCristo (1:20).

E difícil determinar até que ponto podemos esticar essa linguagem nosentido de compreender o escopo das idéias do autor. Todas as coisas (ta 

 panta) tanto as que estão nos céus como as que estão na terra, é apenasuma metáfora de universalidade, ou será que o autor quer referir-se àunificação das coisas celestiais (i.e., anjos, principados, potestades, espíritos,etc.) com os seres humanos? Estaria ele pensando numa renovação terrenae cósmica que caracteriza o final dos tempos (Mateus 19:28; Romanos 8:1825; 2 Pedro 3:10-13)? Embora não possamos ter certeza quanto aos

 pormenores, fica bem claro que este hino louva a Deus, porque no fim todasas coisas encontrarão seu lugar e unidade em Cristo.A palavra difícil anakephalaiosasthai é traduzida de modo adequado por

 NIV, que traz: “trazer... à união sob uma cabeça, que é Cristo,” que ECAtraduz com mais força: fazer convergir em Cristo todas as coisas. Emtermos seculares, a palavra é empregada para somar coisas, como somarnúmeros em aritmética, ou concluir uma argumentação (em suma) num

debate. Em linguagem moderna, as pessoas falam de “resumo final” com omesmo sentido. Paulo emprega essa expressão em Romanos 13:9 ao dizerque todos os mandamentos se resumem na ordem para que amemos.

Entretanto, em Efésios, “soma” ou “adição” ou “resumo” não expressacom perfeição o pensamento do autor. Convergir em Cristo todas as coisas dá-nos a idéia de que todas as coisas realmente (seres humanos, a história eo universo inteiro) encontram seu foco em Cristo. Este é, em essência, o

conteúdo do plano secreto de Deus!

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152 (Efésios 1:3-14)

1:11- 12 / Até este ponto do hino (vv. 3-10), os pronomes pessoais “nós”(ocultos ou não) e “nos”, referem-se a todos os cristãos, independentementede origens étnicas. Todavia, ocorre uma mudança importante nos versículosfinais do hino, em que se faz uma distinção entre cristãos judeus e cristãosgentios: Nos vv. 11-12, “nós” refere-se ao autor, identificado com os cristãos

 judeus; no v. 13, “vós” definitivamente se refere aos crentes gentios; aseguir, “nós” no v. 14 refere-se a todo o povo de Deus — os crentes judeuse os crentes gentios. As distinções efetuadas aqui receberão mais atenção nocapítulo 2 da carta, onde se mostra “de que forma” judeus e gentios foramtrazidos à unificação num único corpo em Cristo.

Quando o autor descreve a ação de Deus quanto aos crentes judeus, repetemuitas das palavras e idéias usadas anteriormente: havendo sido predestinados (1:5) conforme o propósito (1:5,9) daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade (1:5). No que diz respeito aoscristãos judeus, ele quer enfatizar que o que lhes aconteceu não foi por acaso,nem por méritos humanos, mas unicamente segundo o plano eterno e eletivode Deus, em Cristo. Tudo é de Deus!

O texto de NIV “nele também fomos escolhidos” capta com perfeição aessência da palavra grega eklerothemen, bem apanhada em ECA: nele, digo, em quem também fomos feitos herança... O verbo kleroo  significa“escolher”, “indicar por sorte.” O substantivo kleros  seria, portanto, “a

 porção,” “o lote,” “aparte”, isto é, algo obtido como que por sorte, por acaso.A palavra grega para “herança,” “possessão,” ou “propriedade” é cognata de

kleronomia  (cf. 1:14).Por trás dessa linguagem está o conceito do AT de que Israel era o “povoescolhido” ou “a porção” de Deus (Deuteronômio 4:20; 9:29; 32:9; 1Reis8:51; Salmo 106:40; Jeremias 10:16; Zacarias 2:12). Dado o contexto do v.11 como sendo um hino que celebra o propósito eletivo de Deus, parecemuito provável que o autor está-se referindo aos cristãos judeus como oscrentes aquem Deus escolheu como seu povo. Agora essa posse é reivindicada

em virtude da união desses crentes com Cristo (nele).Embora o fato de sermos o povo de Deus possa resultar em que o

louvemos mediante a oração, o culto, etc., a frase a fím de sermos para louvor da sua glória dá a entender que nosso próprio ser ou nossa existênciaé que está em foco. As novas pessoas pertencentes a Deus são convocadas para louvar ao Senhor, da mesma forma que Israel havia sido chamado comonação para declarar a glória de Deus em sua vida, seu testemunho e seu culto(Isaías 43:21; Jeremias 13:11).

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(Efésios 1:3-14)   153

Quem são aqueles que de antemão esperamos em Cristo? Algunscomentaristas, em virtude do artigo grego antes de Cristo, entendem que areferência se faz à nação judaica e sua espera “do Cristo”, isto é, a vinda doMessias; outros entendem que esse comentário se aplica aos judeus que

creram em Cristo e se tornaram os primeiros cristãos. Cronologicamente,esses judeus precederam os gentios em sua esperança (e fé) em Cristo. Este

 ponto de visita parece enquadrar-se no contexto em que se discute o contrasteentre os crentes judeus (1:11-12) e os crentes gentios.

1:13/ Aqui o autor se volta para os gentios e afirma que eles também estãoem Cristo: É também nele que vós estais. A seguir, ele esboça os passos

dados na entrega pessoal a Cristo:Primeiro, isto ocorreu depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação. Em certa ocasião, esses leitores ouviram amensagem do evangelho, que resultou em sua salvação. Neste contexto, é

 provável que salvação significa renovação íntima e todas as bênçãos e privilégios disponíveis aos cristãos em virtude de sua posição em Cristo (cf.2: lss.), em vez de mera preservação da ira de Deus (cf. Romanos 5:9).

A fraseologia desta declaração inicial é semelhante à de Colossenses 1:5e às idéias de Romanos 10:14 e 17, que mostram que a proclamação do evangelho precede a fé no evangelho. Uma seqüência semelhante ocorredurante o sermão de Pedro no dia de Pentecoste, quando o apóstolo convocaos ouvintes do evangelho a arrepender-se e ser batizados (Atos 2:37ss.).

Em segundo lugar, creram (tendo nele crido, tradução literal do grego).Embora não se mencione o conteúdo da crença, teria definitivamenteincluído a Pessoa de Cristo (“Se com a tua boca confessares a Jesus comoSenhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos,serás salvo,” Romanos 10:9), ou o evangelho que dá testemunho dele.

Em terceiro lugar, fostes selados com o Espírito Santo da promessa. Afigura de linguagem nesta frase vem do antigo costume de selar-se (sphragizo) as posses pessoais (e.g., animais, móveis domésticos, escravos) com

determinada marca ou selo de propriedade, da mesma forma como asmercadorias recebem marcas, ou são identificadas hoje. Isto também servia

 para autenticar ou confirmar a genuinidade de algo. Determinado selo numacarta ou documento, por exemplo, declarava sua validade legal. As pessoasengajadas nas várias seitas religiosas comumente eram marcadas com sinaisespecíficos que simbolizavam seus deuses. O livro de Apocalipse refere-seàs pessoas que receberam, ou não receberam, “nas suas testas o selo de Deus”

(Apocalipse 9:4; cf. também 7:2-8; 22:4; 2 Timóteo 2:19).

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154 (Efésios 1:3-14)

 No NT há várias referências indicativas de que o Espírito Santo é o selodo crente: Em Romanos, Paulo relata o testemunho íntimo do Espíritoquanto à filiação do crente (8:15, 16; cf. Gálatas 4:6), afirmando assim quea presença do Espírito Santo no crente é sinal de que ele pertence a Deus. Oapóstolo é mais explícito ainda em 2 Coríntios 1:22: “o qual [Deus] tambémnos selou e deu o penhor do Espírito em nossos corações.” Efésios 1:13confirma isto, ao assegurar aos crentes: fostes selados com o Espírito Santo, e agora são possessão do Espírito. Trata-se de um atestado visível deque o crente pertence a Cristo.

Embora Paulo ligue o selo do Espírito Santo ao ato de “ouvir” o

evangelho e de “crer” em Cristo, ha razões fortes para crermos que o v. 13foi redigido com o evento batismal em mente, ainda que o batismo não sejamencionado explicitamente. Primeiro, há uma conexão inseparável entre fée batismo no NT. Trata-se do batismo do crente; as pessoas que criam emCristo expressavam sua fé quase que de imediato mediante o batismo (Atos2:38,41; 8:12, 35-38; 9:18; 10:47,48; 19:5). A fé e o batismo caminhavamtão intimamente ligados, que eram considerados um ato em vez de dois. Por

exemplo, Pedro instrui seus leitores a que se arrependam, isto é, a que tenhamfé, creiam e sejam batizados para perdão de pecados (2:38). Quando Paulose tornou um cristão, foi-lhe ordenado que se levantasse para receber o batismo: “Levanta-te, batiza-te e lava os teus pecados, invocando o seunome” (Atos 22:16). Segundo a estrutura do NT, a pessoa não era batizadase não cresse, e tampouco a pessoa que cria deixava de ser batizada.

Em segundo lugar, o NT relaciona o batismo ao recebimento do EspíritoSanto. Pedro exorta seus ouvintes a que sejam batizados e recebam “o domdo Espírito Santo” (Atos 2:38). Paulo relaciona o batismo ao Espírito Santoem várias ocasiões, em suas cartas (1 Coríntios 6:11; 12:13; Tito 3:5). Equando Lucas descreve algumas das grandes épocas da vida da Igreja primitiva, inclui a fé, o batismo e o recebimento do Espírito Santo comosendo os elementos essenciais da conversão ao cristianismo, ou seja, a

essência da iniciação cristã (Atos 2:38ss.; 8:12-17; 19:1-6; cf. 10:44-48).Com base nestas observações, parece-nos legítimo interpretar 1:13

dentro do contexto do batismo. Os particípios aoristos “ouvistes” (akousantes) e “tendo nele crido” (pisteusantes), seguidos dos aoristos passivos (“fostesselados com o Espírito Santo da promessa”), são reminiscentes do padrão dafé, do batismo e do Espírito Santo observado acima. O autor não contemplauma seqüência de eventos separados por longos períodos de tempo.

Embora o Espírito Santo seja o selo (1:13; 4:30; 2 Coríntios 1:22), e 1:13

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(Efésios 1:3-14)   155

seja uma forte alusão ao batismo, de modo nenhum é certo que selo é palavrausada como termo técnico para batismo, em Efésios. A primeira referênciadefinida ao “selo do batismo” ocorre no segundo século (cerca de 150 d.C.)na “Segunda Carta de Clemente” (7:6; 8:6). Dessa época em diante,<sphragis> é o selo recebido por todos os cristãos por ocasião do batismo e,assim, tomou-se um termo que significa o próprio batismo.

Oefeito do Espírito Santo é marcar o crente com um selo (fostes selados). Como no processo de selagem, o Espírito Santo marca o crente como pertencente a Cristo. É interessante notar que esse é virtualmente o mesmoefeito produzido pelo batismo “em Cristo.” Ser batizado no nome ou na

Pessoa de Cristo é tornar-se possessão de Cristo, ser colocado sob aautoridade e proteção do Senhor.1:14 / Além da realidade da propriedade, o Espírito Santo também é o 

penhor, isto é, a “garantia de depósito” de que os crentes receberão as promessas de Deus. A maioria dos comentaristas entende que a idéia depenhor (arrabon) veio ao mundo grego proveniente dos fenícios que, noacerto de suas questões de comércio, com freqüência faziam um depósito

inicial, ou pagavam uma importância definida como entrada, devendo osaldo ser pago totalmente em certa data futura. Esse penhor ou depósitoinicial obrigava o comprador e o vendedor a completar a transação comercial.Todavia, “o negócio” incluía uma consciência de “qualidade” também, vistoque a pessoa que recebia o pagamento da “entrada” esperava receber orestante pelas mercadorias de mesma qualidade entregues (Mitton, pp. 6263). Na vida cristã, o Espírito Santo é um penhor, ou certeza de que Deuscumprirá sua promessa de entregar-nos nossa herança. A declaração de 2Coríntios 5:5 é mais específica a respeito desta idéia: [Deus] nos deu o

 penhor do Espírito” como garantia do que haveremos de receber. A vidaatual do crente “no” Espírito é um prenúncio da vida eterna futura dessecrente “com” o Espírito!

Além de ser o penhor de nossa herança, o Espírito Santo assegura aos

crentes a redenção da propriedade de Deus. Ficam incluídos nesta traduçãodois conceitos teológicos de máxima importância: redenção (apolytroses) e propriedade (peripoiesis). Alguns comentaristas (cf. Abbott, p. 24) crêemque o contexto (nossa herança) requer que a possessão de igual modo seja“nossa possessão.” Assim é que os crentes são redimidos, mas aguardamuma épocafutura quando tomarão posse total de suaredenção. Esta perspectivalevou à tradução ambígua e inadequada de RSV: “que é a garantia de nossa

herança até que tomemos posse dela, para o louvor de sua glória.”

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156 (Efésios 1:3-14)

A maioria dos comentaristas — em resultado da maioria das traduções,como NIV — acha que este versículo está enfatizando o fato de que Deus éo agente da redenção, e que os crentes são propriedade de Deus (NIV, NASB e ECA), “povo de Deus” (NEB), ou “pessoas que lhe pertencem”

(GNB). Embora a redenção seja uma dádiva do presente, o Espírito Santoassegura ao crente que por fim Deus redimirá de modo completo os que lhe

 pertencem; o Espírito é uma garantia, até que venha a liberdade completa(redenção) do povo de Deus (cf. 1 Pedro 2:5).

Estes pensamentos nos fazem relembrar os aspectos do “já ” e do “aindanão” da vida cristã. Os crentes receberam o Espírito Santo, usufruem a nova

vida em Cristo, foram redimidos, mas ainda aguardam o cumprimentodessas bênçãos na segunda vinda do Senhor. O selo do Espírito Santo temuma função escatológica que aponta para o dia final, quando seus corposserão libertados de modo completo (redimidos) de todos os efeitos do pecado. Efésios 4:30 expande este conceito de modo mais completo quandose refere ao “Espírito Santo de Deus, no qual fostes selados para o dia daredenção.” Um pensamento semelhante concernente à redenção está expresso

em Romanos 8:23, em que Paulo discute a glória futura do povo de Deus eda criação de Deus: “nós mesmos, que temos as primícias do Espírito,também gememos em nós mesmos, aguardando a adoção, a saber, aredenção do nosso corpo.”

Este grande hino de louvor (vv. 3-14) termina com uma nota que ressoouvárias vezes antes, a respeito do propósito eletivo de Deus para a humanidade.Daí decorre que a eleição e a filiação objetivam o louvor e glória da sua graça (v. 6); redenção e todos os seus benefícios (vv. 7-11), devem culminarem vida de louvor (a fim de sermos para louvor da sua glória — v. 12);finalmente, o selo (ou pagamento inicial) do Espírito Santo é apresentado emrelação ao plano de Deus que se revela. Isto também é em louvor da sua glória (v. 14).

N o t a s A d i c io n a i s # 2Quanto a 1:3-14 cf. J.T. Sanders  Hymnic Elements in Ephesians 1-3,  ZNW  56 (1956), pp. 214-32. Outros estudos especializados incluem V.A.Bartling, “The Church of God’s Eternal Plan: A Study of Ephesians 1:1-14,”Concordia Theological Monthly 36  (1965), pp. 198-204; J. Coutts, “Ephesians1:3-14 and I Peter 1:3-12,” pp. 115-27; N. H. Keathley, “To the Praise of HisGlory: Ephesians I, RevExp 76  (1979), pp. 485-93; P. T. O’Brien, Ephesians:

An Unusual Introduction to a New Testament Letter,” NTS  25 (1979), pp.

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(Efésios 1:5-14) 157

504-16. O’Brien observa que os vv. 3-14 têm uma “intenção didática,” um“objetivo para-ético,” e uma “função epistolar”.

As seguintes frases dos vv. 3-14 no NT indicam a existência de muitasvariantes das declarações tipo “em Cristo:”

em Cristo (v. 3)nele (en auto, i.e., Cristo, v. 4)por Jesus Cristo (v. 5)no Amado (v. 6)em Cristo (v. 9)em Cristo (v. 10)

nele (v. 11)em Cristo (v. 12)nele... estais (v. 13)nele crido (v. 13)

1:3 / Alguns textos úteis a respeito de “regiões celestiais” incluemCaragounis, “The Ephesian My sterion,”pp. 146-52; Robinson, “Ephesians,”

 pp. 2-22; A.T. Lincoln, “Re-Examination of the Heavenlies’ in Ephesians,” NTS 19 (1973), pp. 468-83. Lincoln nos fornece uma boa história dainterpretação, bem como um exame da obra de H. Odeburg, The View o f the Universe in the Epistle to the Ephesians (Lund: C.W.K. Gleerup, 1934). Elese diferencia de Odeburg ao concluir que 3:10 e 6:12 têm um sentido “local”em vez de “espiritual:” “Em Efésios, então, não seria de surpreender se en 

tois epouraniois se referisse aos céus como uma parte distinta do universocriado, retendo, porém, seu relacionamento de segredo com o mundoespiritual e com o próprio Deus e, assim também, seu aspecto de serincompreensível” (p. 480). Veja-se também  Paradise Now and Not Yet: Studies in the Role o f the Heavenly Dimension in Paul’s Thought with Special Reference to His Eschatology, SNTSMS43 (Cambridge: CambridgeUniversity Press, 1981), esp. pp. 135-68.

1:7 / Quanto a relação entre o batismo e o perdão de pecados, no NT, cf.Atos 2:38; 22:16; 1Coríntios 6:11; Tito 3:5; 1Pedro 3:18-21 e adisc. sobreColossenses 2:11-15.

1:10/ As idéias contidas neste versículo não podem ser interpretadas nosentido de promover-se o “universalismo,” segundo o qual toda a humanidade

 por fim será salva (veja-seStott: God’s New Society, pp. 42-45; Caragounis,The Ephesian Mysterion, pp. 143ss.; Hanson, sobre anakephalaiosis, emsua obra The Unity o f the Church in the New Testament,  pp. 123-25).

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158 (Efésios 1:3-14)

1:11-12 / Quanto a “nós” e “vós”, veja-se D. Jayne, “‘We’ and ‘You’ inEphesians,” ExpT 85 (1974), pp. 151-52; R.A. Wilson, “‘We’ and ‘You’ inthe Epistle fo the Ephesians,” Studia Evangélica 2 (1964), pp. 676-80.

1:13 / G. Fitzer,  sphragis, TDNT,  vol. 8, pp. 939-53; P.W. Evans,“Sealing as a Terem for Baptism,” The Baptist Quarterly 16 (1955-56), pp.171-75; J.Ysebaret, “Greek Baptismal Terminology” (Nijmegen: Dekker&Van de Vegt, 1962), pp. 182ss.

Quanto ao batismo com água e com o Espírito, veja-se G.R. Beasley-Murray, Baptism in the New Testament  (Londres: MacMillan, 1962); J.D.G.Dunn,  Baptism in the Holy Spirit   (Londres: SCM, 1970).

1:14/ Quanto ao “j á” e o “ainda não” da teologia de Paulo, cf. J.D. Hester, Paul’s Concept o f Inheritance.  Scottish Journal of Theology OccasionlPappers No. 14 (Edimburgo: Oliver & Boyd, 1968), esp. pp. 90-104; D.R.Denton, “Inheritance in Paul and Ephesians, EQ 54 (1982), pp. 157-62; L.P.Hammer, “Comparison of kleronomia  in Paul and in Ephesians,”  JBL 79(1960), pp. 267-72.

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# 3 . Oração por Iluminação Divina ( E f é s i o s 1 : 1 5 - 1 9 )

Pelo contexto de 1:15-2:10, parece que estes versículos formam a próxima seção maior de Efésios. O apóstolo acabou de relembrar as bênçãosespirituais que Deus, mediante Cristo, derramou sobre todos os crentes.Partindo desta verdade universal, ele se volta para algo mais específico: seus

 pensamentos movimentam-se da doxologia para a oração; ele faz seusleitores se lembrarem de que dá graças a Deus por eles (vv. 15, 16), e de que

ele ora de modo específico para que tenham a necessária sabedoria paraentender essas bênçãos em Cristo (vv. 17-19).

Quando o apóstolo começa a falar de Cristo, entretanto, parece abandonara forma de oração e mover-se para uma exposição do poder de Deus,conforme se manifestou na ressurreição, exaltação e senhorio de Cristo —ele é a cabeça da Igreja (1:20-23), o que se manifesta na nova vida que eleconcede ao crente em Cristo (2:1 -10). E possível considerar 1:20-3:13 comoum longo parêntese doutrinário no qual o apóstolo desenvolve suas idéiassobre a unificação de judeus e gentios na Igreja cristã (2:11,12), e expõe seu

 papel pessoal de mensageiro do evangelho (3:1-13). Em 3:14-21 ele retomaao texto em forma de oração de 1:15.

1:15 / Pelo que (NIV: “por esta razão”) talvez se refira a tudo que estáescrito em 1:3-14 acerca das bênçãos de Deus. Mas é possível que o apóstolo

tenha algo mais específico em mente, visto que ele menciona de imediato afé e o amor de seus leitores. Sem dúvida seus pensamentos e orações voltam-se para o fato de que eles, como gentios, ouviram o evangelho e se tomaram

 povo de Deus (1:13, 14).A declaração ouvindo eu também falar da fé que entre vós há no 

Senhor Jesus é um forte argumento contra a idéia de Éfeso ser o endereçoda carta, pois seria improvável que Paulo se mostrasse tão vago e impessoal

 perante pessoas a quem ele havia ministrado durante três anos (Atos 20:31).Tais palavras seriam mais de se esperar se se tratasse de Colossos; Paulo nãoconhecia esta congregação pessoalmente, e só ouviu a seu respeito atravésdo relato de Epafras (Colossenses 1:4, 7, 9). É remotamente possível,todavia, que ele estivesse referindo-se a um relatório recente — talvez dealguém como Epafras — a respeito do progresso da fé dos efésios. Tudoquanto ele ouviu é que o povo de Deus que se mantém fiel (1:1) fundamentousua fé no Senhor Jesus. Tal fé se exprime de modo prático em vosso amor

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160 (Efésios 1:15-19)

para com todos os santos (cf. Colossenses 1:4); ou, dizendo-o com outras palavras, o amor dedicado ao povo de Deus é o desabrochamento de sua féem Cristo. O amor, a fé e a esperança (1:12, 18) surgem em Efésios e nas

cartas paulinas como sendo graças cristãs básicas (cf. Colossenses 1:5).1:16 / O relatório ouvido pelo apóstolo leva-o a orar gratulatoriamente pelos seus leitores (não cesso de dar graças a Deus por vós, lembrando- me de vós nas minhas orações). Essa combinação de oração e ações degraças, bem como essa constância em oração, são características de Paulo(Romanos 1:8-10; Filipenses 1:3,4; 4:6; Efésios 5:19, 20; Colossenses 1:3;3:15-17; 4:2; 1 Tessalonicenses 1:2; 5:18). Nesta oração, notamos que as

 petições tornam-se mais específicas e relacionam-se a uma compreensão eapropriação mais profundas das bênçãos que os leitores já possuem, emvirtude de estarem em Cristo.

1:17 / As orações dirigem-se ao Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória. Basicamente, esta é uma variação do título de Deus em 1:3.Cristo não só se dirige a Deus como seu “Pai” (Lucas 10:21; João 17:1 ss;20:17), mas revela-o dessa forma (João 14-17). Essa revelação expande-seaqui pela frase o Pai da glória. Este conceito de Deus recebeu considerávelatenção na doxologia de abertura (1:6, 12, 14) e, além deste versículo, voltaa ser mencionado em 1:18; 3:14,16,21. Não só Deus é o Pai da glória, comotambém “é o Pai a quem pertence toda a glória.” A glória de Deus é arevelação plena de seus atributos, inclusive sua majestade e poder.

A primeira petição nesta oração é que Deus conceda a todos os crentes

em seu conhecimento o espírito de sabedoria e de revelação (lit., “noconhecimento dele [Deus]”). Segundo o texto grego, não há como saber que“espírito” (pneuma) significa Espírito Santo. Normalmente, quando o autorquer referir-se ao “Espírito”, esta palavra vem precedida do artigo “o.” Semo artigo, entende-se que trata-se de algum dom ou manifestação do Espírito,como o espírito de santidade (Romanos 1:4), de mansidão (1 Coríntios 4:21;Gálatas 6:1), de verdade (João 14:17), ou fé (2 Coríntios 4:13; e.g., Westcott,

 p. 24). Isto explica a tradução de “espírito” com inicial minúscula em RSV(cf. NIV, nota sobre o texto).

Os leitores já receberam o Espírito Santo, e nele foram selados porocasião de seu batismo. Esta oração, portanto, não pede o Espírito Santo emsi, mas o espírito de sabedoria e de revelação, que é um dom, manifestaçãoou aplicação especiais do Espírito Santo. Esta concessão do Espírito fará que

os leitores se tornem sábios a respeito do entendimento (epignosis) de Deus.Mas epignosis,  em confronto com  gnosis,  que normalmente tem uma

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(Efésios 1:15-19) 161

aplicação ampla, é “conhecimento” limitado a elementos religiosos emorais, pelo que de certo modo se aplica a Deus ou aos caminhos de Deus.Os versículos seguintes revelam a direção espiritual desta petição e como éilustrada e desenvolvida. Os homens conhecem a Deus quando são“iluminados” (1:18a); a iluminação leva à compreensão da esperança dochamado de Deus (1:18b), à bênção de Deus (herança, 1:18c) e ao poder deDeus (1:19), conforme ficou demonstrado na ressurreição de Cristo (1:20)e na sua exaltação (1:21-23).

l:1 8 /O ro não é palavra que se deve tomar como o segundo pedido, mascomo continuação da oração iniciada em 1:17 (o texto grego não repete a

cláusula proposital): A iluminação é o resultado do conhecimento de Deuse de sua vontade com maior perfeição. Luz e conhecimento com freqüênciavêm juntos nas Escrituras. Salmo 119:18, por exemplo, é uma forma de

 petição em que o autor roga: “Desvenda os meus olhos, para que veja asmaravilhas da tua lei.” No NT os seres humanos são com freqüênciadescritos como vivendo nas trevas, precisando da luz de Cristo, ou da luz doevangelho para mudar suas vidas (cf. João 1:9; Atos 26:18; Efésios 5:8; 1

Pedro 2:9; 1 João 1:7; 2:8ss.).Essa iluminação ocorre — literalmente — nos olhos do vosso 

entendimento. NIV se refere a “os olhos do vosso coração.” Em linguagem bíblica, “coração” é termo abrangente que significa o eu íntimo total, a personalidade do indivíduo, que inclui o caráter, a vontade e as emoções(Mateus 5:8; Romanos 10:8-10). A luz da verdade de Deus ilumina “todo o

ser” da pessoa.Um dos problemas da interpretação deste versículo diz respeito aosentido de “iluminados.” No grego ,pephotismenous é um particípio perfeito

 passivo que denota uma ação que se completou, um estado presente queresulta de uma ação passada. O tempo verbal aqui proíbe que se tome“iluminados” em sentido progressivo— a saber, no sentido de uma iluminaçãocada vez maior. Esta observação nos conduz a uma pergunta óbvia: Quando

foi que Deus agiu no crente dessa maneira? No NT, o verbo  photizein   (produzir luz, iluminar) e o substantivo

 photismos (iluminação, luz) são empregados para expressar o resultado deum encontro espiritual. Cristo, por exemplo, é “a luz verdadeira que iluminaa todos os homens” (João 1:9). Segundo Coríntios 4:4 fala da “luz doevangelho da glória de Cristo,” e 4:6 diz que “das trevas resplandecerá a luz,é quem brilhou em nossos corações, para iluminação do conhecimento daglória de Deus, na face de Jesus Cristo.” Em 2 Timóteo 1:10, o evangelho é

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162 (Efésios 1:15-19)

o meio de trazer “à luz a vida e a imortalidade pelo evangelho” (photisantos). Em outras palavras, a iluminação advém mediante o recebimento doevangelho.

Com base no que tem sido falado anteriormente a respeito da natureza batismal de Efésios, é possível que o autor esteja pensando no batismo comosendo a ocasião em que o crente foi “iluminado”? Certamente este é umtermo apropriado para o batismo, visto que as pessoas que recebem a luz da

 palavra de Deus são batizados e, ao serem batizados, recebem o EspíritoSanto e seu dom de sabedoria e de entendimento (1:17).

Hebreus e 1Pedro provêm percepções interessantes sobre este ponto. Em 1

Pedro, carta que muitos eruditos relacionam ao batismo, o autor fala dos crentescomo “a nação santa, o povo adquirido” a quem Deus “chamou das trevas paraa sua maravilhosa luz” (2:9; cf. Efésios 5:8 e a disc. de 5:8-14 como peça litúrgica

 batismal). Em duas passagens, Hebreus emprega a palavra “iluminados” no passado. Em 6:4 apalavra ocorre no contexto do ensino a respeito do “batismo”(cf. 6:2) e induz o autor a declarar: “E impossível que os que já uma vez foramiluminados (photisthentas), e provaram o dom celestial, e se fizeramparticipantesdo Espírito Santo... e depois caíram, sejam outra vez renovados paraarrependimento.” Em 10:32 ele convoca seus leitores: “Lembrai-vos, porém,dos dias passados, em que, depois de serdes iluminados [photisthentas], suportastes grande combate de aflições.”

Embora o NT fale de “iluminados” de modo não ligado ao batismo,Hebreus 6:4 e 10:32, 1 Pedro 2:9, e Efésios 5:8-14 provêm evidências

textuais indicativas de que se fez uma conexão pela qual “iluminados,” emEfésios 1:18 pode referir-se ao batismo. No segundo e terceiro séculos,iluminação veio a tomar-se termo técnico designativo desse rito cristão.

A oração em prol de iluminação conduz a vários pedidos específicos: primeiro, que os leitores conheçam a esperança para a qual Deus chamouseu povo. Esperança, aqui, não é um sentimento subjetivo, nem umaaspiração pessoal, do tipo “espero que” ou “minha esperança é que” (cf.

1:12). Em vez disso, trata-se de um elemento objetivo pertencente ao crente. Noutras passagens das Escrituras, trata-se de um depósito celestial(Colossenses 1:5), de Cristo no crente (Colossenses 1:27), de algo “oferecido”ao crente (Hebreus 6:18), e do segundo advento (Tito 2:13). Nesse contexto,o autor ora para que seus leitores tenham sabedoria, conhecimento eiluminação, de modo que tenham pleno entendimento de sua vocação da

 parte de Deus (cf. 4:4), e a certeza de que sua vida está em Cristo, tendo o selodo Espírito Santo.

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(Efésios 1:15-19) 163

Uma segunda petição é que eles venham a conhecer as riquezas da glória da sua herança nos santos. Uma forma de entender esta frase é vêla como esclarecimento da esperança a que Deus chamou seu povo — istoé, essa esperança consiste da herança que Deus concede ao crente (cf. 1:14

e Colossenses 1:12, que devem estar na mente do autor). No entanto, o textogrego indica que se trata de “herança pertencente a Deus” (tes kleronomias autou), e não algo que os santos vão receber, como em 1:14 e Colossenses1:12. Assim, o apóstolo está pensando na Igreja como povo de Deus — aherança pertencente a Deus. A oração, nesse caso, seria no sentido de haveruma compreensão mais profunda do que significa ser possessão de Deus. O

foco se dirige à posição dos crentes como povo de Deus, em vez de aos pormenores das bênçãos incluídas nesse herança.1 :1 9/A terceira petição é para que os crentes saibam da magnitude do

 poder de Deus dentro deles. Depois de o apóstolo ter mencionado aesperança do chamamento de Deus e a glória da herança de Deus, ele élevado a contemplar o poder de Deus que possibilita tudo isso. Do ponto devista estilístico, essas sentenças são de natureza poética (têm linguagem

litúrgica), e no grego encontramos sinônimos como poder (dynamis), operação (energia), poder (kratos), e força (ischys)fDessa forma, o autordeseja simplesmente enfatizar que nada é impossível para Deus. O poder deDeus que opera no crente é o mesmo poder (força do seu poder) que semanifestou na ressurreição, exaltação e domínio universal de Cristo. O autorvolta a esse poder no final de sua oração em 3:20.

N o t a s A d i c io n a i s # 31:15 / Nem NIV nem ECA indicam que alguns manuscritos gregos omitem

a palavra amor. O resultado é a expressão inusitada e sem precedente, segundoa qual a fé dirige-se para (eis) o povo de Deus. A melhor explicação é que a

 palavra amor estava presente no texto original, mas foi involuntariamenteomitida no processo de cópia dos manuscritos (veja-se B. Metzger, A Textual  Commentary on the Greek New Testament  [Nova York: United Bible Society,1971], p. 602; também a explicação de Moule,  Ephesians,  p. 56). Quanto acomentários a respeito de santos, cf. disc. sobre 1:1 e Colossenses 1:2.

1:17 / Westcott oferece-nos um resumo e explicação muito úteis sobre a palavra “glória” em sua obra Ephesians, pp. 187-89. Quanto a “conhecimento”e sabedoria, cf. disc. sobre Colossenses 1:9, 10, e a nota mais extensa sobreepignosis de Robinson, pp. 249-54.

1:18 / A natureza batismal de 1Pedro foi pesquisa por R.P. Martin, em sua

obra “The Composition of IPeterin Recent Study,” Vox Evangélica,  1(1962),

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164 (Efésios 1:15-19)

 pp. 29-42. Veja-se também J. Coutts, “Ephesians 1.3-14 and I Peter 1.3-12,” NTS  3 (1956-57), pp. 115-27; F.L. Cross,  I Peter: A Pascal Liturgy  (Londres:Mowbray, 1954); F. W. Beare, “The First Epistle of Peter,” 3a. ed. (Oxford:Blackwell’s, 1970). A referência para a identificação de iluminação com o

 batismo estáem Apology /, 61,65” de Justino. Discussões adicionais encontram-se em Ysebaret, Greek Baptismal Terminology,  pp. 157ss.

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# 4 . Resultados da Entronização de Cristo ( E f é s io s 1 : 2 0 - 2 3 )

1:20 / Os escritores do NT demonstram que a Igreja apostólica estavaconvicta de que Jesus de Nazaré, que morrera crucificado, também ressurgira pelo poder de Deus, tendo sido exaltado a uma posição de autoridade: “ÉCristo quem morreu, ou antes quem ressurgiu dentre os mortos, o qual estáà direita de Deus, e também intercede por nós” (Romanos 8:34; cf. tambémAtos 2:32, 33; 3:15; 4:10; 5:30, 31; 10:40; Romanos 4:24; 8:11, 10:9; 1Coríntios 6:14; 15:15; 2 Coríntios 4:14; Gálatas 1:1; Colossenses 2:12; 1Pedro 1:21). A Igreja apostólica também acreditava que o Senhor estava vivono meio dos crentes, mediante o Espírito Santo.

Embora seja comum pensar-se que a ressurreição e a exaltação são doiseventos separados, é bom considerá-los dois modos diferentes de expressar

a mesma verdade teológica, a saber, o triunfo de Deus sobre as forças damorte. Paulo ilustra o poder de Deus ao declarar que ele se manifestou aoressuscitar a Cristo da morte, e fazê-lo sentar-se à sua mão direita no céu (cf.também Atos 2:32, 33; Romanos 8:11; Filipenses 2:9; 1Timóteo 3:16). Asaparições pós-ressurreição de Cristo devem ser interpretadas como visitas emanifestações terrenas, periódicas, do Senhor ressurreto e exaltado, duranteum período de quarenta dias. O que Lucas diz em Atos 1:1-11 é que a

ascensão marcou o fim desse tipo de aparição; dali por diante, Cristo haveriade manifestar-se através do Espírito Santo.

As frases fazendo-o sentar-se à sua direita nos céus vêm do Salmo110:1 ss.; toda a honra, dignidade e autoridade do rei entronizado são agoraatribuídas a Cristo. São frases que não podem ser interpretadas literalmentecomo linguagem metafórica que expressa a presença de Cristo com seu Paino mundo invisível, a esfera da realidade eterna. Depois, em 2:1-10, o autoraplicará essas declarações ao crente também. A realidade da ressurreição eexaltação de Cristo torna-se um sinal e promessa do triunfo do cristão (cf.Romanos 8:11; 2 Coríntios 4:14; 1 Pedro 1:2).

1:21 / A ascensão de Cristo aos céus e sua autoridade são expressas nadeclaração de que o Senhorreina ali acima de todo principado, e autoridade, e poder, e domínio, e de todo o nome que se nomeia. Estas categorias são

semelhantes às listas de Romanos 8:38,1 Coríntios 15:24, Colossenses 1:16e 2:15, e 1 Pedro 3:22. Tais conceitos de “seres celestiais” pertenciam ao

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166 (Efésios 1:20-23)

mundo antigo, foram incrementados durante o período inter-testamentário,na literatura apócrifa, e foram empregados por alguns autores do NT parailustrar a luta espiritual entre as forças do bem e do mal, ou da luz e das trevas.O exorcismo de demônios feito por Jesus, por exemplo, é visto como umsinal de sua autoridade e poder sobre as forças demoníacas (cf. evangelho deMarcos e disc. sobre Colossenses 1:16).

Parte da mensagem de Colossenses é que Cristo é superior a todos os poderes malignos. No hino a Cristo (1:15-20), Paulo afirma a soberania deCristo ao declarar que tais poderes foram criados por Cristo e, por isso, estãosujeitos à sua autoridade. Depois ele demonstra que, em virtude da morte de

Cristo na cruz, o Senhor triunfou sobre tais poderes e, como vencedor, osconduz cativos num cortejo (2:15). O resultado da supremacia e vitória deCristo é que tais poderes foram reduzidos a um estado de impotência einferioridade; deixaram de exercer poder ou influência sobre o crente que seidentificou com Cristo.

 Não nos parece que Efésios esteja infligindo uma polêmica contra o falsosistema que estaria promovendo a importância desses poderes espirituais.

Embora alguns intérpretes tenham defendido a existência de um contextognóstico para essa carta (veja-se a Introdução), isto certamente não é tãoóbvio como para Colossenses. O ponto mais perto a que o autor chega équando indicaque abatalha espiritual do crente se trava “contra os principados,contra os poderes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais damaldade nas regiões celestes” (6:12).

Em 1:21 estes poderes são mencionados apenas no contexto da exaltação deCristo. De fato, o versículo declara que o Senhor está assentado acima de todo principado, e autoridade... e de todo o nome que se nomeia (ECA traz umatrad. lit.; cf. Filipenses 2:9). Além disso, esta supremacia é tão abrangente,engloba tanta coisa, que diz respeito a eras atuais e eras futuras. J. A. Robinsonreúne estes pensamentos grandiosos de forma sucinta ao dizer: “Acima de tudoexistente ou possível de existir em qualquer lugar, acima de todas as classificações

de dignidade, reais ou imaginárias, boas ou más, presentes ou futuras— o poderabsoluto de Deus exaltou e entronizou Cristo” (p. 41).

1 :2 2 /0 apóstolo prossegue, enfatizando pensamentos sobre a supremaciade Cristo, usando imagens características de uma corte real, em que osinimigos vencidos prestam homenagem ao vencedor: E sujeitou todas as coisas debaixo dos seus pés. Parece que estas palavras foram tiradas doSalmo 110:1; aplicadas a Cristo, ilustram sua conquista de todos os inimigosespirituais e sua autoridade sobre eles.

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As vezes os leitores do NT acham difícil interpretar e aplicar esse princípio da soberania de Cristo, porque é vazado em conceitos cosmológicosantigos, em linguagem mística, poética, com que as pessoas hodiernas nãoestão familiarizadas. A tendência é no sentido de desprezar essa linguagemcomo sendo irrelevante e sem sentido, ou de desmistificá-la.

M. Barth fez uma tentativa de entender os pensamentos dos apóstolos,realizando uma pesquisa dentro da história, da essência e da função desses

 poderes espirituais. De seu estudo, ele conclui que “quando Paulo se referea principados e potestades, refere-se a instituições e estruturas mediante asquais as questões humanas e os reinos invisíveis são administrados, e sem os

quais a vida humana não é possível” (Eph. 1-3, p. 174). Barth inclui certascategorias como reis, procuradores, senadores, juizes e sumo-sacerdotes,que exercem funções políticas, financeiras, jurídicas e eclesiásticas. C.L.Mitton leva essa idéia mais longe ainda, e questiona se poderíamos substituir principados e potestades por “poderes malignos de nosso mundocontemporâneo [tais como] o racismo, o nacionalismo, o ódio, o medo, aluxúria sexual indomada, o vício das drogas, o alcoolismo, etc. Como ocorre

no caso dos ‘principados e potestades’, diante destes males o indivíduosente-se impotente, ainda que reconheça seu poder para destruir o que há demelhor na vida humana” (p. 72).

1:23 / Partindo da idéia da soberania, o apóstolo entra no conceito de umaunião vital, que ele expressa pela metáfora do corpo, que é a Igreja: que é seu corpo. Esta idéia é singular no ensino de Efésios ( 1:23: 5:23) e de Colossenses

(1:18,24; 2:19), e vai além da idéia de Paulo a respeito da Igreja em Romanose Coríntios, onde “cabeça” é mencionada com outros membros do corpo (1Coríntios 12:14-26). Cristo não é uma parte do corpo (e.g., a cabeça ou os pés),mas constitui o todo, de que os vários membros são as partes (1 Coríntios 12:12).Em Romanos e Coríntios, Cristo significa o corpo; mas em Efésios e emColossenses, a Igreja é que significa o corpo, sendo Cristo a cabeça.

Em Colossenses, a metáfora cabeça-corpo foi empregada a fim de

combater idéias heréticas que limitavam a posição singular de autoridade deCristo ao universo e à Igreja. O interesse de Paulo aqui é restaurar Cristo aseu lugar de direito de preeminência em todas as coisas — inclusive seusenhorio sobre a Igreja (cf. disc. sobre Colossenses 1:18). Em Efésios não há

 polêmica direta contra os falsos mestres. A idéia do senhorio de Cristo sobrea Igreja é introduzida a fim de ilustrar outra dimensão da exaltação de Cristo.

De certo modo, o senhorio de Cristo sobre a Igreja é semelhante a seusenhorio sobre todas as coisas. Sendo o Senhor, ele governa, guia e inspira.

(Efésios 1:20-23) 167

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168 (Efésios 1:20-23)

Entretanto, o senhorio de Cristo sobre a Igreja tem natureza diferente, vistoque a Igreja é o seu corpo, e ele é sua cabeça. Assim, o Senhor está em uniãovital com Cristo; a Igreja lhe pertence e seu significado deriva de sua união

com Cristo; é a plenitude daquele que enche tudo em todos. Assim, demodo um tanto misterioso, a Igreja é necessária para a plenitude de Cristo,e a ela o Senhor concede sua plenitude.

Até este ponto do texto o autor vem dizendo que Deus “sujeitou todas ascoisas debaixo dos seus pés,” a quem também estabeleceu como Senhor detodas as coisas, inclusive a Igreja. Agora o autor expande esse pensamentoao declarar que Cristo enche tudo em todos (lit., “todas [as coisas] em todas

[as coisas]” !) É possível que tais idéias sejam uma expansão de 1:10, que dizque o plano de Deus é “fazer convergir em Cristo todas as coisas... que estãonos céus como as que estão na terra.” Seria o caso de o autor entender queisto está sendo realizado pela igreja (cf. 3:10)?

O conceito da plenitude ou integralidade de Cristo é salientado váriasvezes em Colossenses, onde se declara que a natureza total de Deus habitaem seu Filho (1:19; 2:9). O crente, por sua vez, chega à plenitude da vidamediante sua união com Cristo no batismo. Efésios apresenta o mesmo

 pensamento em duas ocasiões diferentes: O apóstolo ora para que seusleitores possam ser “cheios de toda a plenitude de Deus” (3:19) e exorta-osa alcançar “a medida da estatura da plenitude de Cristo” (4:13).

Os eruditos continuam a lutar com o conceito teológico difícil e aconstrução gramatical traduzida por plenitude [pleroma] de Cristo. Alguns

intérpretes entendem que a Igreja de certo modo “completa” ou “dá plenitude”a Cristo. Entretanto, a maioria entende que essa frase significa que o Cristoque enche tudo também enche a Igreja, de tal modo que esta (a Igreja) édescrita como seu corpo, a plenitude daquele que enche tudo. Deveríamosseguir sabiamente a advertência de C.L. Mitton, que conclui: “Devemosconfessar francamente que o significado destas palavras conclusivas do v. 23é bastante incerto e, por isso, não podem ser empregadas de modo legítimo

 para dar apoio a qualquer doutrina acerca de Cristo, ou de sua Igreja” (p. 79).

N o t a s A d i c io n a i s # 41:20 / Uma discussão interessante das aparições pós-ressurreição de Cristo

em relação à sua ascensão encontra-se em F.F. Bruce, The Book ofActs (GrandRapids: Eerdmans, 1979), pp. 30ss.

1:21-22  / Os muitos livros e artigos que tratam de conceitos como principados, potestades, etc., no NT são um indício da dificuldade existente para

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(Efésios 1:20-23) 169

compreendê-los. Algumas fontes úteis incluem: G.B. Caird, Principalities and   Powers: A Study in Pauline Theology  (Oxford: Claredon, 1956); W. Carr, Angels and Principalities: The Background, Meaning and Development o f the  Pauline Phrase hai archai kai hai exousiai,  SNTSMS, vol. 42 (Cambridge:

Cambridge Univ. Press, 1981), esp. pp. 47-85 sobre Colossenses e pp. 93-111sobre Efésios; G.H. C. MacGregor, “Principalities and Powers: The CosmicBackground of Paul’s Thought,”  NTS   1 (1954), pp. 17-28; R. Yates, “ThePowers of Evil in the New Testament,” EQ 52-53 (1980-81), pp. 97-111; idem,“Principalities and Powers in Ephesians,” New Blackfriar  58 (1977), pp. 51621; J.Y. Lee, “Interpreting the Demonic Powers in Pauline Thought,” NovT  12(1970), pp. 54-69.

P.T. O’Brien escreveu um artigo interessante intitulado “Principalities andPowers and Their Relationship to Structures,” RefThR 40 (1981), pp. 1-10, noqual ele critica vários eruditos (a saber: Barth, Berkhof, Caird, Rupp, Sider,Yoder) que interpretam principados e potestades como sendo estruturas sócio- políticas, tradições, leis, autoridades, religião, etc. Quanto a uma discussãoadicional deste tópico de Efésios, veja-se a disc. e as notas sobre 3:10 e 6:12.

l:2 3/O s termos técnicos relacionados à lingüística, sintaxe e exegese ficamalém do escopo deste comentário. Quanto a uma discussão importante e útil, cf.

as notas sobre Colossenses 1:18; veja-se também G. Howard, “The Head/BodyMetaphors of Ephesians,”  NTS  20 (1974), pp. 350-56. Informações valiosassobre pleroma e elementos técnicos deste versículo podem ser encontrados noscomentários de Barth ( Eph. 1-3), pp. 200-10; Mitton, pp. 76-79; Robinson, pp.42-45,87-89; Stott, God’s New Society, pp. 62-65. Estudos mais especializadosincluem P. Benoit, “Body, Head and Pleroma in the Epistles of the Captivity,” RB 63 (1956), pp. 5-44; A. R. McGlashan, “Ephesians 1:23,”  ExpT16  (1965),

 pp. 132-33. Este último artigo induziu a uma réplica de R. Fowler, “Ephesians1:23,”  ExpT   76 (1965), p. 294. R. Yates dá-nos um estudo mais extenso do problema em sua obra “A Re-examination of Ephesians 1:23,” ExpT  (1972), pp.146-51. As conclusões de Yates produziu a seguinte tradução (p. 154): “E ele(Deus) trouxe todas as coisas sob sujeição sob seus pés (de Cristo), e ele (Deus)concedeu-lhe (a Cristo) ser a cabeça de todas as coisas para a Igreja, que é seuCorpo, a plenitude (aquilo que é completo) dele (Cristo), que é tudo em tudo

(completamente) e está sendo cumprido (i.e., chega a ser completo à medida quehomens e mulheres se reconciliam com Deus mediante a obra de Cristo,incorporando-se nele mediante seu Corpo, a Igreja).”

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# 5. Cristo e a Salvação dos Crentes ( In t r od . a E fé s i o s 2:1 -10)

O capítulo 1 de Efésios é dominado pelo tema do louvor e das ações degraças. Nos vv. 3-14 o apóstolo usa uma apologia para louvar a Deus portodas as bênçãos espirituais que ele derramou sobre os crentes. Estas bênçãosvêm por meio de seu Filho, sendo confirmadas nos crentes pelo testemunhoíntimo do Espírito Santo. O emprego de temas batismais sugere que esse hino pode ter tido conexão com a celebração do batismo na Igreja apostólica.

Partindo da doxologia, o autor volta-se para uma oração na qual eleexpressa o desejo de seus leitores compreenderem as bênçãos que acabou deenumerar, e delas se apropriem pessoalmente. Conseqüentemente, há muitassemelhanças doutrinárias e verbais entre estas duas seções. Na oração, oapóstolo pede que os crentes possam conhecer cada vez mais a esperança

 para a qual Deus os chamou (1:18a), e as riquezas da bênção de Deus (1:18b),

e que vejam o poder de Deus manifestado na ressurreição, exaltação esenhorio de Cristo sobre todas as coisas, inclusive a Igreja (1:19-23).O contexto torna aparente o fato que a menção da ressurreição e exal tação

de Cristo provê a base para os pensamentos que ele desenvolve em 2:1-10e em 2:11-22.0 apóstolo deseja demonstrar que o infinito poder de Deus queoperava em Cristo, opera também no crente; o que é verdade a respeito deCristo, é verdade também a respeito de cada crente em Cristo. Infelizmente,

esse fluxo de pensamento se quebra pela divisão do texto em capítulos eversículos. O texto grego nos permite apreciar a natureza hínica (litúrgica)desta seção, porque os vv. 1-7 formam um único período, de que o principalverbo só ocorre no versículo 5 (nos vivificou).

 No capítulo 2, o apóstolo desenvolve dois temas específicos que já forammencionados: Em 2:1-10, ele apanha os temas da redenção e do perdão (1:7),e aplica-os à reconciliação da humanidade pecadora com Deus; em 2:11-22,

ele aplica o princípio da unidade de 1:10 ao caso específico dos judeus e dosgentios, e mostra como foram unificados num único corpo.

O texto de 2:1-10 contém várias características contrastantes:Primeiramente, as pessoas mencionadas. O autor principia referindo-se aosgentios de modo específico (2:1), mas em 2:3 ele expande seu círculo demodo que inclui os judeus também. Dessa forma, ele demonstra que a

humanidade toda estava alienada de Deus, mas todos vieram a tornar-sereceptores de sua graça (2:3-7). E embora o apóstolo volte ao pronome “vós”

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(Introdução a Efésios 2:1-10) 171

em 2:8, temos a impressão de que ele ainda tem em mente os dois grupos, atédirigir-se aos gentios de modo direto em 2:11.

Em segundo lugar, há o contraste entre seu primitivo modo de vi da pagão

(2:1-3) e sua nova vida em Cristo (2:4-10). Em certa época estavamespiritualmente mortos e, por causa de sua natureza pecaminosa, viviamvidas cheias de pecado, percorriam os caminhos iníquos do mundo edesobedeciam a Deus; mas agora, como resultado da graça e misericórdia deDeus agindo em suas vidas, foram feitos espiritualmente vivos, e participamda ressurreição e exaltação de Cristo. O fato de agora serem novas criaturasé manifestação das “boas obras” de Deus (2:10), em vez de uma vida de

desobediência e perversidade.Em terceiro lugar, estes dois modos de viver refletem os poderes

contrastantes colocados diante da humanidade: De um lado está o mundo (“ocurso deste mundo”), Satanás (“o príncipe das potestades do ar, do espíritoque agora opera nos filhos da desobediência”) e a carne (“desejos da nossacarne... [e] por natureza filhos da ira”). Aniquilando tudo isso estão a graça,o amor e a misericórdia de Deus, que tornou possível que tenhamos vida,

ressurreição e entronização com Cristo.

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# 6. Salvação da Morte Espiritual ( E f é s i o s 2 : 1 - 3 )

2 :1 /0 principal contraste que o apóstolo faz nesta seção é entre “morte”e “vida.” Ele começa relembrando seus leitores de sua condição no passadoe, a seguir, continua descrevendo causas e efeitos de sua morte espiritual.Temos que esperar até o v. 5 a fim de apanhar as idéias contrastantes de vida(“Ele nos vivificou” com Cristo) e as características de uma vida em Cristo.

Os que vivem sem Cristo são descritos como estando mortos 

espiritualmente. Nesta condição, não existe o mínimo desejo de a pessoarelacionar sua vida a Deus, visto que esta se caracteriza pela desobediência(lit., delitos, paraptoma, e pecados, hamartia). Muitas tentativas têm sidofeitas no sentido de distinguir estes dois termos e definir “delitos” como“passos em falso,” “desvios de um caminho prescrito,” e assim por diante,e “pecados” como “errar o alvo” ou “ficar abaixo do padrão.” Entretanto, ouso destes termos no NT varia e não permite distinções refinadas. Nestecontexto, é melhor tomá-los como expressões de grande âmbito, queenglobam tudo, descritivas das vidas das pessoas mortas espiritualmente.

2:2 / Antes de se tornar crentes esses gentios andavam segundo o curso deste mundo. O verbo andavam no grego é  peripateo,  aqui traduzidoliteralmente por ECA. Expressa o modo da pessoa viver, isto é, sua condutamoral. Os evangelhos falam de uma porta, ou de um “caminho” que conduz

à vida, e de outro conducente à morte (Mateus 7:13, 14). Jesus chamou a simesmo de “o caminho” (João 14:6), e seus discípulos são seguidores desse“Caminho” (Atos 9:2), “caminho do Senhor” (Atos 18:25), e “caminho deDeus” (Atos 18:26).

Este “modo de viver,” ou “modo de andar, ou “caminho” é descrito pelasseguintes expressões: Primeira, segundo o curso deste mundo.  Noutras

 palavras, trata-se de um padrão de vida caracterizado pelo mundanismo que,

neste contexto, significa tudo quanto é contrário a Deus e separado de Deus.A primeira carta de João 2:15-17 comenta adequadamente este conceito, aodefinir “mundo” como sendo “a concupiscência da carne, a concupiscênciados olhos e a soberba da vida.” Paulo admoesta os crentes: “não vosconformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vossoentendimento” (Romanos 12:2).

Em segundo lugar, é obediência ao príncipe das potestades do ar. Oapóstolo já falou da exaltação de Cristo sobre essas potestades espirituais

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(Introdução a Efésios 2:1-10) 173

(1:21), e prossegue indicando que os crentes, semelhantemente, estãoengajados num combate feroz contra as forças demoníacas (6:11,12). Antesde alguém tomar-se um cristão, entretanto, a pessoa devotava sua fidelidade

a tais poderes malignos, de modo particular ao príncipe, que se sabe tratar-se de Satanás, ou o diabo (6:11). Esse príncipe é definido com mais pormenores como o espírito que agora opera nos filhos da desobediência. O apóstolo percebeu que as pessoas em seu estado pré-cristão obedeciam aSatanás, estando sob o poder controlador dos espíritos maus que os induziaa desobedecer a Deus (cf. Lucas 11:14-26; João 13:2; Atos 5:3; 2Tessalonicenses 2:9)

2:3 / Esta horrorosa condição de vida também se aplicava a Paulo e a seuscompanheiros crentes, antes de se tornarem cristãos. O que era verdadeiroa respeito dos gentios era verdadeiro a respeito da humanidade toda, porque“todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Romanos 3:23):todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne. Vivercomo os gentios é viver fazendo a vontade da carne... éramos por natureza filhos da ira.  Não nos parece que esta seria uma referência àdoutrina do pecado original, a qual é ensinada noutra passagem das Escrituras(Romanos 1-3; 5:12-14). Essa frase sugere, antes, um padrão de vidadecorrente de a pessoa viver segundo seus apetites naturais.

Em tais condições, as pessoas fazem tudo quanto agrada à vontade da carne e dos pensamentos, segundo nossa natureza pecaminosa. A expressãoé traduzida literalmente por “lascívia da carne” ( sarx). A palavra sarx não

implica em que o corpo é intrinsecamente mau, mas refere-se antes aos princípios pecaminosos, às paixões e apetites físicos que dominam a vida doindivíduo (Gálatas 5:19-21). Pensamentos é palavra que abrange nossashabilidades intelectuais, nosso raciocínio (cf. Colossenses 1:21). Aconseqüência de tal perversidade e de tais ações ímpias é que nós nostomamos filhos da ira. Assim é que quando as pessoas seguem seus desejose apetites naturais, elas se sujeitam ao horrendo julgamento de Deus

(“éramos por natureza filhos da ira,” RSV e ECA).

N o t a s A d i c io n a i s # 62:1 / Quanto à morte espiritual, veja-se E. Best, “Dead in Trespasses and

Sins (Eph. 2:1),” JSNT 13 (1981), pp. 9-25.

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# 7 . Salvação para a Vida Espiritual ( E f é s io s 2 : 4 - 1 0 )

2:4-5 / O apóstolo pára de referir-se à perversidade da humanidade e aos pecadores desobedientes, merecedores todos da ira de Deus, e faz agora umcontraste agudo com a misericórdia e o amor de Deus. A misericórdia deDeus procede de seu amor, e é sua forma de alcançar pessoas queabsolutamente não a merecem. Estando nós, afirma Paulo, ainda mortos em nossos delitos ... chegaram as boas novas, o evangelho, de que Deus agiudecisivamente em Cristo para corrigir a situação. Em 2:5 encontramos overbo que manteve o leitor em suspense desde o início de 2:1: As pessoas queestavam espiritualmente mortas (2:1) tornaram-se as receptoras damisericórdia e do amor de Deus, pois ele nos vivificou juntamente comCristo.

Esta ação de Deus é a primeira de três experiências que o crente tem em

união com Cristo. Literalmente, o texto diz que o amor e a misericórdia deDeus nos tomaram “vivos junto com Cristo” ( synezoopoiesen), enfatizandoa união íntima de que os crentes desfrutam no Senhor. Os três verbos — “nosvivificou,” “nos ressuscitou,” e “nos fez assentar” — são verbos compostosno grego, tendo como prefixo a preposição syn, que significa “junto com.”Estes verbos dizem que o crente partilha essas experiências com Cristo e,assim, com todos os demais que estão no corpo de Cristo. Os crentes que

“morrem” ou são “sepultados” com Cristo (Romanos 6:4,6,8; Gálatas 2:20;Filipenses 3:10; Colossenses 2:12), também são vivificados (Efésios 2:5),ressuscitados (Romanos 6:4; Efésios 2:6; Colossenses 2:12) e entronizados(Efésios 2:6; Colossenses 3:1).

 Não existe distinção importante entre ser “vivificado” e ser “ressuscitado”com Cristo. Estes dois termos fazem um contraste vívido com o estado demorte espiritual mencionado anteriormente. No texto grego (cf. RSV, NIVe ECA) a frase diz: é pela graça que sois salvos, aparecendo como que entre parênteses, sem receber maiores explicações até 2:8. A graça é o fa vor (nãomerecido) da parte de Deus para a humanidade; a referência a tal graça aquié um lembrete agudo de que a mudança da morte para a vida se deveinteiramente à iniciativa de Deus, nunca à ação humana. Salvos aparentementeequivale a ser trazido à vida com Cristo. Vem no pretérito perfeito passivo,

sois salvos ( sesosmenoi) — um tempo verbal que em grego descreve umestado no presente que resultou de uma ação no passado. Portanto, a salvação

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(Efésios 2:4-10) 175

é uma realidade que já aconteceu (fait accompli),  sendo seus efeitoscontínuos sobre o crente.

2:6 / Além da vida e da ressurreição, o crente também é exaltado(synegeiren)  com Cristo (nos fez assentar nas regiões celestiais). Anteriormente, o apóstolo havia falado a respeito das bênçãos “nas regiõescelestiais” (1:3); a seguir ele menciona a exaltação de Cristo às “regiõescelestiais” (1:20); e agora o crente, em virtude de sua união com Cristo,também está entronizado no mundo invisível da realidade espiritual ondeCristo reina supremo. É um pensamento que nos faz lembrar de Colossenses3:1, em que os crentes são exortados a fixar a mente nas coisas celestiais,

 porque foram exaltados a uma nova vida em Cristo.Este ensino sobre a participação do crente em Cristo é semelhante aos pensamentos que ocorremnos textos batismais de Romanos 6:1 -11 e Colossenses2:11-13 e 3:1-4. Efésios, entretanto, não menciona a morte nem o sepultamentodo crente com Cristo da maneira como o fazem Romanos e Colossenses. A mortede que Efésios fala não é a participação mística na morte de Cristo, mas o estadonatural da humanidade: estamos todos mortos em nossos pecados e transgressões.

Mas ainda que a referência seja a pessoas que estão “mortas espiritualmente,”é através da união com Cristo que elas são vivificadas.

Com base na natureza batismal e no ensino de Romanos e de Colossenses,é razoável presumir-se que o autor de Efésios tem em mente o evento do batismo, quando se refere à participação dos crentes em Cristo. Embora elenão mencione o rito explicitamente, os leitores podem reconhecer que a

linguagem da vida, ressurreição e exaltação com Cristo é alusão ao batismo.A novidade em Efésios, que caracteriza a carta, é que o crente é colocado nasregiões celestiais ao lado de Cristo. Ao fazer isso, o autor mostra que a

 plenitude da vida “em Cristo” inclui tudo quanto aconteceu ao próprioCristo, inclusive sua “entronização” (1:20). Dessa forma, os crentes já

 participam do governo celestial em Cristo.E difícil entender a idéia da entronização ou exaltação dos salvos com

Cristo, porque há uma tendência da parte dos crentes de pensar que isto é algoque se realizará no futuro, isto é, no fim desta nossa era. Por exemplo, Jesusdisse aos seus discípulos: “Quando, na regeneração, o Filho do homem seassentar no trono da sua glória, também vos assentareis sobre doze tronos,

 para julgar as doze tribos de Israel” (Mateus 19:28; Lucas 22:30). Algumasimagens apocalípticas do NT falam de um tempo futuro, quando os santosressurgirão e reinarão com o Senhor (1 Coríntios 15:51-54; 1 Tessalonicenses4:17; 2 Timóteo 2:12; Apocalipse 3:21; 20:4; 22:5).

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176 (Efésios 2:4-10)

C.L. Mitton observa em seu comentário que alguns eruditos vão longe nosentido de dar um significado futuro aos verbos em 2:5, 6 embora estesestejam no pretérito. Propõem que a ressurreição do crente pode estar no

 passado, porque a ressurreição futura já está garantida; ou, o estado futurodos crentes com Cristo é tão seguro que eles já dispõem de um lugar certono céu (pp. 89-90). Estes argumentos têm certa afinidade com o “futuro

 profético” em que um acontecimento vindouro é de cumprimento tão certoque é descrito no tempo pretérito, como se já houvesse ocorrido.

Entretanto, tais interpretações não fazem justiça aos pensamentos deEfésios, onde a ressurreição e exaltação do crente são descritas como

ocorrências que “já aconteceram” na sua união com Cristo. Em vários casos,tais perspectivas refletem algumas tentativas de fazer com que a escatologiade Efésios — e de Colossenses — se conforme com o mesmo padrãodesenvolvido nas cartas cuja autor indiscutível é Paulo.

Um dos aspectos mais significativos do modo de Paulo entender aescatologia é que para ele o processo escatológico começara na vida, mortee ressurreição de Cristo. Para Paulo, esses eventos representam a vinda deDeus ao mundo para inaugurar seu reino entre nós. Portanto, em Cristo as promessas escatológicas já estavam no processo de cumprimento.

O fato de haver uma “inauguração” do processo escatológico nãoelimina, porém, o elemento futuro. Paulo conserva a convicção de que o processo escatológico já começado prossegue na direção de seu objetivo econsumação finais. Isto exerce grande influência sobre a teologia de Paulo,

 porque coloca o indivíduo numa tensão entre duas eras — a que se inicioucom a vinda de Cristo, e a que virá na Parousia. O crente ocupa uma posiçãoentre essas duas eras, porque o reino já chegou e ainda está por vir.Poderíamos caracterizar nossa posição como sendo a do “já” e ao mesmotempo “ainda não” da vida cristã — um dos grandes paradoxos na fé cristã.

Várias fases desse paradoxo são salientadas nas cartas paulinas. Cristoveio (1 Coríntios 15:3ss.), mas voltará (1 Tessalonicenses 4:16); o cristão

morreu para seus pecados (Romanos 6:6), mas continua na carne (1 Coríntios3:3); os crentes são cidadãos dos céus (Filipenses 3:20a), no entantoaguardam ansiosamente a volta do Salvador, que virá dos céus (Filipenses3:20b); os crentes são seres novos — uma nova criação (2 Coríntios 5:17) —no entanto, deverão renovar-se a cada momento de sua vida (Romanos 12:12); os crentes possuem as primícias do Espírito (Romanos 8:23a), no entanto,“gememos em nós mesmos, aguardando a adoção, a saber, a redenção donosso corpo” (Romanos 8:23b); aqui os crentes recebem toda a abundante

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(Efésios 2:4-10) 177

riqueza de Cristo (Filipenses 4:19), no entanto, há uma glória a ser revelada(Romanos 8:18).

Até certo ponto, Efésios e Colossenses conservam a crença na Parousiacomo sendo a esperança do povo de Deus. Em Colossenses, o crente morreucom Cristo (3 :3a), mas sua nova vida está oculta em Deus com Cristo, istoé, sua plenitude será revelada na Parousia (3:3b); os crentes já ressurgiramcom Cristo (2:1; 3:1), mas são exortados a colocar o coração nas coisascelestiais, lá em “cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus” (3:1).Em Efésios, quem foi batizado possui o Espírito como penhor, “pagamentoinicial”, ou garantia de herança futura (4:30). A igreja foi redimida, mas

ainda aguarda sua glorificação final (5:27); o crente foi liberto dos poderesmalignos (2:1-5), mas sabe que é necessário armar-se contra os principados,as potestades e outros poderes (6:12).

Até mesmo em Colossenses e Efésios a humanidade está entre duas eras — a da promessa e a do cumprimento. Em certo sentido, a nova “vida” emCristo pode ser considerada como sendo tão integral e completa como a“morte” em Cristo. Entretanto, visto que os seres humanos existem num

mundo real, Efésios, Romanos e Colossenses enfatizam fortemente a vidaética do crente. Os que foram batizados em Cristo devem viver “em novidadede vida” (Romanos 6:4), ou são admoestados a “colocar” suas mentes nascoisas celestiais e mantê-las ali (Colossenses 3:2). Em Efésios o autor nãoé menos explícito a respeito do modo de andar do cristão. Os que foram

 batizados em Cristo foram recriados “para as boas obras” (2:10), e são

exortados a “que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados”(4:1).2:7 / Quando o apóstolo falou sobre a ressurreição e exaltação de Cristo,

indicou que isto havia sido uma demonstração do “poder” de Deus (1:19,20). Mas ele fala da ressurreição e exaltação do crente com Cristo como umademonstração das abundantes riquezas da sua graça [de Deus], pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus.

Deus já demonstrou sua graça na era presente ao abençoar o crente tãoricamente em Cristo. A tal graça o crente reage naturalmente com comentários:“que coisa maravilhosa,” ou “que coisa prodigiosa.” Entretanto, temos aquiapenas pequena amostra da obra contínua da graça de Deus nos séculos vindouros. O autor não se refere à era vindoura, final (cf. a disc. anterior de1:21: não só neste século), mas também no vindouro. O autor emprega o

 plural em 2:7 (séculos vindouros, en tois aiosin) talvez porque tem emmente uma série de “eras” (gerações?) nas quais as abundantes riquezas da

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178 (Efésios 2:4-10)

sua graça (de Cristo) se estendem à humanidade mediante a Igreja (3:10),até à inauguração da era final.

2:8-9 / Estes versículos com freqüência são chamados de coração doevangelho de Paulo, porque captam e resumem a essência de alguns dosgrandes pensamentos que ele desenvolve em Romanos e em Gálatas. Nessecontexto, graça e fé são mencionadas como elementos-chave na união docrente com Cristo. O apóstolo descarta a idéia de que a mudança de posiçãoe situação, da morte para a vida espiritual, e exaltação em Cristo se deve aalgum esforço humano. Ele conclui declarando que a salvação é umchamado para uma vida de boas obras.

Graça pode-se definir como favor imerecido ou misericórdia. Quandofalamos da graça de Deus, falamos da ação de Deus pela qual ele invadegraciosamente a vida do ser humano, que nada merece. A essência da graçaé que ela é de Deus (é pela graça) e é grátis, nada pagamos; de outra forma,não seria graça.

 No que diz respeito à salvação, Deus é sempre a fonte de graça. Quandoas Escrituras falam da “graça de nosso Senhor Jesus Cristo,” fazem-no para

esclarecer que Cristo é o agente da graça de Deus, a saber, Cristo é o meio pelo qual a graça de Deus se torna conhecida pela humanidade. Embora amediação de Cristo não seja mencionada aqui, está definitivamente afirmadanos versículos precedentes, onde a referência à graça de Deus (2:5) está numcontexto da discussão a respeito da vida em Cristo.

A graça e a fé são dois fatores essenciais à salvação. Basicamente, fé é o

meio pelo qual nós nos apropriamos da graça de Deus para a salvação. Háum lado passivo na fé: quando abandonamos tudo, pondo Cristo em primeirolugar. Implica em entrega total diante de Deus, uma disposição da parte doindivíduo para abrir-se e receber a graça de Deus. Isto, em certo sentido,também é um dom de Deus, porque a tendência natural da pessoa é fechar-se e desprezar a Deus.

O outro lado da fé é ativo: Receber a Cristo. Os que estão dispostos a

receber a graça de Deus devem reagir pessoalmente e apropriar-se dela. Féé confiança pessoal em Deus e recepção da mensagem da salvação que oevangelho nos oferece. No NT os cristãos são descritos como crentes — istoé, pessoas que têm fé (hoipisteuontes, Romanos 1:16; 3:22; 4:11; 1 Coríntios1:21) porque se voltaram para Deus pela fé (pisteuein, 1 Coríntios 15:2,11).A fé inclui a disposição para entregar tudo, e um compromisso de obediênciatotal (cf. 2:10).

É pela graça que sois salvos, por meio da fé. Como em 2:5, a palavra

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(Efésios 2:4-10)   179

 para “salvação” ocorre no texto grego na forma de um verbo no tempo pretérito perfeito, o que reafirma aos leitores que suaposição atual e contínuaquanto à salvação é o resultado de determinado ato do passado, quando agraça de Deüs e a fé dos crentes se uniram — sem dúvida quando foram

 batizados em Cristo, porque creram. Na estrutura do NT, o batismo doscrentes é uma reação pessoal face à proclamação do evangelho (Atos 2:38,41, etc.).

Alguns comentaristas questionam esta ocorrência de “salvação”, porquePaulo normalmente emprega o verbo designativo destapalavranum presente progressivo, como “vós estais sendo salvos” (veja-se Mitton, p. 94). Outros

se preocupam com a ausência dos grandes temas paulinos da justificação ereconciliação. Entretanto, os crentes devem reconhecer que o NT empregavárias palavras e conceitos diferentes quando se refere à salvação ou ao

 processo pelo qual a pessoa se torna cristã. Por exemplo, quando uma pessoadeseja saber como se recebe a salvação, as Escrituras declaram que asalvação vem mediante afé (Marcos 16:16; Atos 16:30, 31; Romanos 5:1;Efésios 2:8, 9) o arrependimento (2 Coríntios 7:10; 2 Pedro 3:9), a

confissão (Atos 19:18; Romanos 10:9), a regeneração (Tito 3:5), e obatismo (Atos 22:16); 1 Coríntios 6:11; 1 Pedro 3:21).

Visto que a graça e até certo ponto a fé são dons de Deus, os leitores sãolembrados de que sua salvação não se deve a esforços humanos, e não pode,

 por isso, conduzir o crente ao orgulho espiritual. O princípio da graça proíbeque o crente se gabe (3:27). NIV e ECA apresentam certa ambigüidade neste

 ponto com referência ao pronome isto (touto). Isto vem imediatamentedepois de fé (é pela graça que sois salvos, por meio da fé — e isto não vem de vós, é dom de Deus, pelo que muitos comentaristas o têm tomado comoreferindo-se à fé em vez de à graça, o que enfatiza a fé como sendo um dom.

Entretanto, ainda que essa idéia seja verdadeira teologicamente, asentença grega não permite tal identificação, visto que as duas palavras

 pertencem a categorias gramaticais diferentes. O apóstolo tem em mente

mais do que apenas o dom da fé, pois isto se refere ao processo total dasalvação, de que a fé é uma parte. E visto que a salvação é obra total de Deus,o crente não pode operar sua salvação nem gabar-se dela. A expressão não das obras não diz respeito às “obras da lei” a que Paulo se referiu ao escreveraos Romanos (3:20) e aos Gálatas (3:10). Para esses leitores gentios, obras significa qualquer esforço humano no sentido de obter-se a salvação. Setivessem algum sucesso, tais esforços só serviriam para a pessoa gabar-se e

auto-engrandecer-se.

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180 (Efésios 2:4-10)

2:10/ Este versículo continua a enfatizar a atividade de Deus, e de modointeressante desenvolve temas discutidos anteriormente nesta carta.Primeiramente, somos feitura sua [de Deus] (poiema). Esta idéia faz eco de

todo o aspecto de renascimento ou re-criação que ocorreu em Cristo Jesus (2:4-6; cf. 2 Coríntios 5:17, onde Paulo escreve que “se alguém está emCristo, nova criatura é”). Tudo isto é obra exclusiva de Deus, e elimina todoe qualquer pensamento de orgulho que adviria se fosse “auto-criação”humana.

Em segundo lugar, fomos criados em Cristo Jesus para as boas obras (cf. 1:4,6,12,14,15). O contexto todo, que enfatiza o dom de Deus da graça

e da fé, e a ênfase em que somos novas criaturas em Cristo, proíbem-nos deentender a expressãoboas obras de modo meritório, embora sejam elementosessenciais da nova vida do crente em Cristo. Esse termo significa que oscrentes foram criados tendo em vista a “operação “ de boas obras; os crentessão salvos “para” as boas obras, e não “pelas” nem “por causa das” boasobras. As boas obras são o resultado da salvação, e não a causa da salvação.

O contraste aqui se faz entre os mortos espirituais que andavam ( peripateo) em desobediência e pecado (2:1-2), e os que foram vivificados e re-criadosem Cristo com nova vida (peripateo) de boas obras. Esta vida pertence aochamado do crente, porque a fé é um chamado à obediência. E tudo isto faz

 parte do plano de Deus, desde o início. Quando ele nos escolheu “parasermos santos e irrepreensíveis diante dele” (1:4), determinou também quenossa fé se expressaria em boas obras, as quais Deus preparou para que 

andássemos nelas.Este versículo permanece como lembrete vívido de que a salvação é algo

mais do que “dar um jeito de salvar-se.” Embora a fé em Cristo seja algoimportante, e o início da vida cristã (o indicativo), os crentes devem lembrar-se de que foram chamados para uma vida de fé, uma vida em que a fé écomprovada pelas boas obras (o imperativo). Tiago, por exemplo, é um dosautores do NT que coloca grande ênfase no relacionamento entre fé e obras

(1:22; 2:14-26). Em muitas ocasiões os cristãos são chamados para serexemplos de boas obras perante o mundo (1 Timóteo 6:18; Tito 2:7; 1 Pedro2:12). Jesus deixou isto bem claro quando disse: “Nem todo o que me diz:Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade demeu Pai, que está nos céus” (Mateus 7:21). C.L. Mitton encerra seucomentário sobre este versículo com uma observação muito apropriada:

“Essa última frase a respeito de nossa obrigação ‘para que andássemos nelas ’faz-nos lembrar que o que se exige de nós não são frases bonitas nem sermões

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(Efésios 2:4-10) 181

eloqüentes, mas atos, atos que custam caro, atos que expressam em nossaconduta prática o amor que o poder salvífico de Deus criou em nossocoração” (p. 99).

N o t a s A d i c i o n a i s # 72:6 / Quanto a maiores esclarecimentos sobre a escatologia de Paulo, veja-

se Lohse, Colossians and. Philemon,  pp. 177-83; C.K. Barrett,  Jewish and   Pauline Eschatology, SJT 6 (1953), pp. 136-55; W.G. Kümmel, “Promise andFulfillment” (Londres: SCM, 1957).

2:7 / Quanto à sugestão de que o plural, nos séculos vindouros, reinterpretaa escatologia de Paulo, cf. Mitton, pp. 91-92.

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# 8. Cristo e a Unidade dos Crentes (E f és io s 2 : 1 1 - 2 2 )

Em 2:1-10, o apóstolo se dirige a crentes judeus e crentes gentios. Eleinicia mostrando que ambos os grupos estavam vivendo em desobediênciae pecado; ambos tinham grande necessidade da misericórdia e amor de Deus.As Boas-Novas dessa passagem são que um Deus gracioso e amoroso haviaagido no sentido de corrigir essa situação mediante seu Filho. Unidos a

Cristo, os crentes se tomam nova criação, ressurgem e são exaltados com seuSenhor. Assim é que são arrancados de sua situação horrorosa, para poderemcompartilhar a vitória de Cristo sobre o pecado, e viver uma vida de boasobras.

Até esse ponto, a ênfase está nos privilégios que os crentes judeus ecrentes gentios usufruem em Cristo. Em 2:11-22, o autor abandona o temada união deles em Cristo para discutir sua unidade na igrej a. Nesta passagem,

o apóstolo mostra que a Igreja deixou de ser entendida como um corpoformado por crentes judeus e gentios; em vez disso, trata-se de uma criaçãototalmente nova (“nova criatura”, ou “novo homem”) na qual todas as

 barreiras raciais e todos os preconceitos desaparecem. Para o apóstolo, aIgreja é um exemplo vívido de como Deus está operando e implantando seu

 plano que visa unir (1:10) e completar (1:23) todas as coisas em Cristo.

De certa maneira, este conceito de uma “nova criatura” é umdesenvolvimento de pensamentos a respeito da nova criação em Cristo,expressados por Paulo em suas cartas. Em 2 Coríntios 5:16ss., ele se refereao processo de reconciliação, e mostra como “toda” a humanidade sereconcilia com Deus, ao se tornarem novos seres; em Gálatas 6:15 ele indicaque as distinções raciais são insignificantes em relação à verdadeira questão,que é ser uma nova criatura (“Em Cristo Jesus nem a circuncisão nem a

incircuncisão têm valor algum, mas sim o ser uma nova criatura”). O novo pensamento em Efésios é que estas “novas criaturas” em Cristo constituemagora uma singular e nova humanidade, o corpo de Cristo, isto é, a Igreja.

 Nesta seção, o autor descreve a alienação em que se encontravam osgentios, antes de se tornarem cristãos (vv. 11,12); descreve também de quemodo Cristo criou um novo povo, partindo de dois grupos étnicos diferentes(vv. 13-18); e, mediante a imagem de um edifício celestial, mostra como aIgreja cresce a ponto de tomar-se um templo sagrado no Senhor (vv. 19-22.

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(Efésios 2:11-22) 183

A passagem toda apresenta muitas características litúrgicas, utiliza muito alinguagem do AT, e ensina uma rica teologia batismal.

N o t a s A d i c io n a i s # 8

Além dos comentários, há alguns estudos interessantes que tratam de algunstemas deste capítulo: W. Barclay, “The One, New Man,” em Unity and Diversity in New Testament Theology, ed. R.A. Guelich (Grand Rapids: Eerdmans, 1978),

 pp. 73-81. O principal ponto de Barclay é que “novo” (kainos) significa algonovo em qualidade e em caráter; E.K. Lee, “Unity in Israel and Unity in Christ,”em Studies in E p h e s ia n sed. F.L. Cross, pp. 36-50; Martin nos oferece uma

análise detalhada, de caráter teológico e literário de 2:19-21; M. Meeks, In OneBody: The Unity of Humankind in Colossians and Ephesians,” em God’s Christ  andHisPeople, ed. J. Jervell e W. Meeks (Oslo: Universitetsforlaget, 1977), pp.209-21.

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# 9. Os Gentios Separados de Cristo ( E f é s i o s 2:11 -12)

O apóstolo começa descrevendo as condições dos gentios antes de estestomarem-se cristãos. Embora ele já tenha feito isto, até certo ponto, a ênfase em2:1-3 está no fato de os gentios se encontrarem alienados de Deus comoindivíduos. Mas mesmo nessa situação, tinham muitas coisas em comum comos judeus, de modo que o autor fala de toda a humanidade. Em 2:4-10 ele prossegue enfatizando a misericórdia, o amor e a graça de Deus, e como Deus

levou a humanidade a um relacionamento consigo mesmo mediante Cristo.O interesse do apóstolo em 2:11-22 está na alienação nacional; perdeu-

se a aliança entre judeus e gentios, ao passo que a alienação entre Deus e ahumanidade é descrita em 2:1-10. Assim, a ênfase aqui está naquele aspectoda redenção de Cristo que derruba divisões e forma um novo povo de Deus,caracterizado pela paz e unidade. Sua vida anterior “sem Cristo” (2:12) e suaatual vida “agora em Cristo Jesus” (2:13) contém alguns contrastes agudos:

Os gentios no passado: sem Cristo (v. 12)longe (vv. 13, 17)excluídos da cidadania em Israel (v. 12)estrangeiros segundo as alianças da promessa (v. 12)

sem esperança (v. 12)sem Deus (v. 12)

Os gentios do presente:

em si mesmo [Cristo] (v. 15)aproximados pelo sangue de Cristo (vv. 13, 17)concidadãos do povo de Deus (v. 19)

não mais estranhos e estrangeiros (v. 19)

2:11 / O texto grego começa com um enfático portanto, lembrai-vos. Com base em tudo quanto esses gentios experimentaram da parte de Deus,em Cristo (1:3-2:10), foram convocados a lembrar-se do que eram outrora. São chamados de gentios na carne. A inclusão do artigo (lit., vós, os gentios)indica que o autor se dirige a uma classe especial de pessoas. Pode ser suaforma de dar ênfase especial ao fato de a Igreja ser constituída de dois tipos

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(Efésios 2:11-12) 185

de pessoas. Anteriormente (2:1, 2) ele empregara apenas a segunda pessoado plural (vós) ao referir-se a tais pessoas.

Os que eram gentios na carne (por nascimento) eram chamados pelos judeus (circuncisão) de incircuncisão. A circuncisão é um rito físico

realizado nos meninos judeus como sinal da aliança (Gênesis 17:11).Embora a circuncisão seja usada num sentido espiritual nas Escrituras, comoalgo que Deus realiza no coração humano — portanto, trata-se de algo nãofeito por mãos (Deuteronômio 10:16; Romanos 2:28, 29; 4:11; 1 Coríntios7:19; Filipenses 3:3; Colossenses 2:11) — a ênfase aqui é posta no ritohumano, pois, na carne... foi feita pela mão dos homens. Então,

aparentemente, os gentios se distinguiram dos judeus tanto pelo nascimentocomo pelo rito externo, físico, da circuncisão. Estes dois fatos provêem a base para as condições relacionadas no versículo seguinte.

2:12 / No passado (naquele tempo) os gentios estavam separados, sem Cristo. Em certo sentido, aqui estava sua maior privação, pois estar semCristo é privar-se de todas as bênçãos que ele concede. E por esta razão queo apóstolo menciona Cristo: “Tendo sido abençoados espiritualmente em

Cristo” (2:1-10), ele os faz lembrar-se de que é mediante sua união comCristo que se tomam UM com os judeus, e participam das bênçãos que lhes pertenciam por serem o povo da aliança de Deus. Estar sem Cristo constituium violento contraste com estar “em Cristo Jesus” (2:13). Visto que a primeira referência é apenas a “Cristo” (contrastando com Cristo Jesus),talvez haja a intenção proposital de referir-se ao “Messias.”

Estáveis... separados... e estranhos às alianças. Isto significa que sendogentios, eram estranhos, ou estrangeiros, e estavam fora da aliança que Deuscelebrara com seu povo. Tais alianças incluem as que foram celebradas comAbraão (Gênesis 15:8-21; 17:1-21) e com Moisés (Êxodo 24:1-11), e asnovas alianças, etemas de que falaram os profetas (cf. Isaías 55:3; Jeremias31:31-34; Ezequiel 37:26).

As alianças que Deus celebrou com Israel exerceram funções presentes e ao

mesmo tempo futuras, pelo fato de terem estabelecido Israel como o povoespecial de Deus, e terem assegurado a Israel a presença contínua de Deus (eramalianças da promessa). A redação do texto grego (alianças da promessa), além de uma possível referência ao “Messias,” sugere que o autor pode ter emmente algumas alianças especiais, aquelas que prometiam a vinda do Messias.Entretanto, sendo gentios, não tinham quaisquer direitos às provisões que Deushavia feito para seu povo escolhido, nem às promessas que lhe diziam respeito.

Outro aspecto de sua condição anterior, de alienação, é que estavam

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186 (Efésios 2:11-12)

separados da comunidade de Israel. O texto grego contém uma palavraforte, apallotrioo,  que transmite a idéia de isolamento ou alienação (cf.RSV). Não pertencer a Israel (lit. comunidade, estado político,  politeia )significa que não tinham direitos de cidadania e nenhuma participação navida nacional ou religiosa dos israelitas. E considerando-se que Israel era aúnica nação a quem Deus se havia revelado de maneira especial, os gentiosnão tinham acesso ao verdadeiro Deus. Sua vida se resumia nestas palavras:não tendo esperança e sem Deus no mundo.

Levando-se em conta o contexto em que a palavra esperança aparece, énatural que esta palavra se refira ao estado geral de desalento e abandono dos

gentios: não pertencem ao povo de Deus, e por isso não participam da vidado Messias. No cristianismo, as pessoas sem esperança são as que não têmcerteza alguma quanto aos eventos futuros pertinentes à volta do Senhor eà vida eterna (Atos 23:6; 1 Coríntios 15:29, 32; Colossenses 1:5, 27; 1Tessalonicenses 2:19; 4:13; 1 Pedro 1:3; 3:5).

J.A. Robinson faz uma observação interessante a respeito da esperança judaica e da desesperança gentílica: “Os judeus tinham esperança; os

gentios, nenhuma. A era de ouro dos gentios estava no passado; seus poetasa mencionavam como tendo cessado. A era de ouro dos judeus estava nofuturo; seus profetas os exortavam a que aguardassem sua vinda” (p. 57).Durante um curto período de tempo, as religiões de mistério dos gregos, comsuas doutrinas de purificação, imortalidade, fraternidade e assim por diante,ofereciam um raio de esperança a gregos e romanos. Entretanto, estas

 práticas jamais tiveram a mínima semelhança com a crença judaica na vindado reino de Deus, nem com a certeza do cristianismo, cujas esperanças se baseavam na verdade da vida em Cristo, e em sua ressurreição.

Além disso, a vida gentílica neste mundo era sem Deus. Isto surge comouma caracterização um tanto estranha de um povo famoso pela sua idolatriae politeísmo (muitos deuses). Quando Paulo visitou Atenas, por exemplo, “oseu espírito se revoltava em si mesmo, vendo a cidade tão entregue à

idolatria” (Atos 17:16). A ironia está em que, embora houvesse “muitosdeuses e muitos senhores” (1 Coríntios 8:5), na verdade “não são deuses”(Atos 19:26; cf. 17:22-31; 1 Coríntios 8:4, 6; Gálatas 4:8). Ao crerem emídolos, ou divindades criadas pelos homens, os gentios na verdade nadatinham — estavam sem Deus. A palavra grega atheos, da qual deriva nossa

 palavra “ateu,” ocorre só aqui em todo o NT. Na literatura grega, essa palavraera usada para descrever pessoas que não contavam com a ajuda do Senhor,viviam impiedosamente ou não criam em Deus (veja-se Abbott, p. 59).

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# 10. Os Gentios em Cristo ( E f é s io s 2 : 1 3 - 1 8 )

2:13 / As Boas Novas do evangelho são que Cristo veio a um mundoalienado e sem esperança, a fim de reverter a situação dos gentios: Mas agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto.  Nada existe nos dois versículos anteriores quecorresponda às idéias de longe e perto, a não ser a óbvia distância entre os

 judeus privilegiados e os gentios em estado de privação espiritual. Esta

imagem vem de Isaías 57:19, onde o profeta diz: “Paz, paz, para os que estãolonge, e para os que estão perto, diz o Senhor, e eu o sararei.” São as mesmas palavras que Pedro emprega em seu sermão no dia de Pentecoste, ao dirigir-se a um auditório heterogêneo (Atos 2:39; cf. também Romanos 10:15). Deacordo com Efésios, só pelo sangue de Cristo é que podemos aproximarmo-nos de Deus.

2:14-15 / Visto que o autor volta aos conceitos de “longe” e “perto” em2:17, parece que 2:14-16 é um texto parentético um tanto longo, a respeitode como a morte de Cristo uniu a humanidade dividida. O apóstolo já deuuma série de razões por que os judeus e os gentios tinham diferenças entresi (2:11,12). Tais distinções raciais, sociais e religiosas resultaram em váriasexpressões de hostilidade e inimizade.

O apóstolo se refere à lei judaica, a lei dos mandamentos, que consistia 

em ordenanças, como sendo a causa das divisões verificadas entre judeuse gentios. Essa “lei”, afirma o apóstolo, funcionava como uma espécie de parede que separava ambos os povos, mantendo-os isolados como inimigos.Entretanto, pela morte de Cristo, essa parede foi derrubada e um novo povose criou. Gentios e judeus se reconciliaram entre si, e ambos se reconciliaramcom Deus.

A frase pois ele é a nossa paz é muito mais enfática do que parece em

 português. Embora seja verdade que ele é a fonte da paz, e nos traz a pazmediante sua vida, Cristo é a paz — ele nos dá a paz, porque ele próprio é  a paz. Essa paz nos sobreveio porque judeus e gentios se fizeram um único povo. Esse conceito nos faz lembrar de Gálatas 3:28, em que Paulo declaraque “não há judeu nem grego... pois todos vós sois um em Cristo Jesus.”

De novo o autor se volta para o papel desempenhado por Cristo aoefetivar nossa paz. No v. 13 ele se refere ao sangue (i.e., à morte) de Cristo;agora ele declara que Cristo na sua carne desfez a lei dos mandamentos,

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188 (Efésios 2:13-18)

que consistia em ordenanças (é possível que o autor estej a conscientementeusando apalavracarne (sarx) neste contexto, a fim de referir-se àencarnação

 — cf. Romanos 8:3; Gálatas 4:4; Hebreus 2:14). Entretanto, o efeito práticodisto foi a abolição das barreiras que separavam os judeus dos gentios.

É preciso entender a imagem da parede de separação que Cristodestruiu em conexão com a referência em 2:15 à lei. Basicamente, a parede de separação é um símbolo das divisões criadas pela lei de Moisés (“lei dosmandamentos, que consistia em ordenanças”), as quais impediam que osdois povos se relacionassem entre si social e religiosamente.

Tem havido muita especulação a respeito da parede divisória. A maioria

dos eruditos crê que o autor se refere à parede que separava os gentios dos judeus, na área do templo. Josefo, historiador judeu do primeiro século,descreve essa parede como sendo uma barreira de pedra com cerca de 1,65m de altura (Antigüidades 15:11). Talvez os gentios desejassem aproximar-se do templo por mera curiosidade, ou para oferecer dádivas e sacrifícios aoDeus dos judeus. E por isso que colocavam advertências em lugaresapropriados a fim de lembrá-los de seus limites, e da severidade da punição,

caso a barreira fosse transposta. Os arqueólogos descobriram uma placa comuma dessas advertências, em 1871, a qual está agora no museu deConstantinopla. Em tradução do grego, diz o seguinte:

 NENHUM HOMEM DE OUTRA NAÇÃO [PODE] ENTRAR[TRANSPONDO] A CERCA E O MURO AO REDOR DO TEMPLO. EQUEM FOR APANHADO SERÁ DECLARADO CULPADO POR SI

MESMO, PELA PENA DE MORTE QUE NELE SE APLICARÁ (citado por Robinson, p. 60).A seriedade dessa advertência se retrata em Atos 21:27ss., em que Paulo

é acusado de levar gregos (“Trófimo de Éfeso,”) à área do templo e, dessaforma, “profanou este santo lugar.”

Esta parede, que de modo tão dramático simbolizava o separatismo judaico, foi derrubada junto com o templo quando o general romano Tito

destruiu Jerusalém em 70 d.C. Todavia, a destruição dessa barreira física demodo algum eliminou as barreiras internas que os judeus haviam erigido:isto só ocorreu quando Cristo aboliu mediante sua morte a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças. Isto significava a aboliçãode todas as distinções que separavam os judeus dos gentios.

Há outras opiniões quanto ao significado de parede, as quais são menoscomuns, destacando-se as seguintes: (a) o véu do templo, que separava oLugar Santo do Santo dos Santos; (b) uma declaração rabínica sobre a

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(Efésios 2:13-18) 189

edificação de “um muro ao redor da lei”; (c), o pecado, que separa Deus dahumanidade; ou (d) um conceito gnóstico sobre algum tipo de “parede”divisória das esferas do céu e da terra (veja-se Barth, “Eph. 1-3”, pp. 283-87).

A lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, é referência à

lei cerimonial, que incluía preceitos dietéticos, a circuncisão, os ritos de purificação, o sábado e as festividades, sacrifícios e outras coisas. Colossenses2:8-23, que da mesma forma menciona a abolição de mandamentos eordenanças, expande a lista, que vai além das leis cerimoniais, porque tratade inúmeras prescrições e “rudimentos” criados pelo homem, e que haviamsido acrescentados pelos falsos mestres: (“não toques, não proves, nãomanuseies”). Ali, a ênfase está na advertência aos crentes de Colossos paraque não se tomassem escravos desse legalismo, visto que em Cristo eles selibertaram dos poderes malignos. Em Efésios a ênfase recai na abolição deuma lei, cuja eliminação faz que se unam dois grupos que até então eramhostis e alienados entre si.

Entretanto, a destruição dessas leis cerimoniais não significava que os padrões morais estavam abolidos também. Os primitivos cristãos adotaram

muitos dos ensinos morais do judaísmo, incorporando-os à sua teologia,desde que estivessem de acordo com os padrões ensinados ou vividos porCristo (cf. o Sermão do Monte, esp. Mateus 5:17-48). Stott menciona queembora Jesus não abolisse a lei moral “como padrão de comportamento”, elea aboliu “como meio de salvação” (p. 101).

A Igreja precisou de um longo tempo para perceber as implicações desseensino e aceitar de vez certos princípios fundamentados na verdade.

Teologicamente, é um processo que se iniciou com a morte de Estêvão (Atos7), exposto por Paulo em Romanos e Gálatas. Praticamente algumas dasdivisões jamais foram abolidas de modo completo, porque os judeus cristãosde Jerusalém e da Palestina permaneceram mais judeus na teologia e na prática do que seus irmãos de fora da Palestina (a Diáspora).

A maior parte dos primitivos cristãos era constituída de crentes judeus

(Atos 1-12), os quais nunca se separaram de modo completo do judaísmo.Quando a missão gentílica foi inaugurada, alguns desses cristãos judeus,representados pelas igrejas de Jerusalém e da Palestina, acharam que osgentios deviam tornar-se judeus, antes de tomar-se cristãos — isto é, deviamsubmeter-se à circuncisão e à lei (o ponto de vista extremado) — ou pelomenos demonstrar sensibilidade diante das leis judaicas dietéticas, nasocasiões de convívio social. O relato da visão de Pedro na casa de Simão, o

curtidor, fala-nos de como Deus declarou que todos os alimentos são puros

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190 (Efésios 2:13-18)

(Atos 10:1-43). As minúcias deste ensino e as implicações relacionadas àmissão gentílica foram discutidas no concílio de Jerusalém (Atos 15:1-35), bem como em Gálatas 2.

As Boas-Novas em Efésios são que a morte de Cristo aboliu as distinçõeslegais que separavam os judeus dos gentios. Os antigos efeitos separatistasda lei foram anulados e perderam seu poder (cf. Colossenses 2:15). Em vezde inimizade entre os dois povos, há paz; em vez de dois grupos separados,há um só corpo.

O efeito da obra de Cristo ao derrubar a barreira é duplo: Primeiro,resultou na criação de uma nova humanidade (para criar em si mesmo, dos 

dois um novo homem, trazendo a paz).  Não temos aqui simplesmente aunião ou mistura de dois grupos de pessoas. Não é o caso de os gregosconquistarem os judeus, nem de os judeus converterem os gregos à sua fé eestilo de vida. Antes, temos aqui uma nova criação (um novo homem), obrade Cristo (Gálatas 3:28; Colossenses 3:11) em si mesmo. Em certo sentido,a Igreja é a soma total de indivíduos que se tornaram “novas criaturas” emCristo (2 Coríntios 5:17; Gálatas 6:15; Colossenses 3:10); mas o autor está pensando em algo mais profundo, a saber, a Igreja como uma entidadeincorporada.

2:16 / Segundo: há o aspecto da reconciliação que, para o apóstolo,apresenta dois focos. Por um lado, a Igreja efetuou uma reconciliação entre

 judeus e gentios. A barreira destruída — tarefa executada pela cruz — e acriação da Igreja (“um novo homem” — um novo povo) significa que a

inimizade entre os dois povos cedeu lugar à paz. Aqui o autor usa a frase“tendo matado (apokteinas) a inimizade.” A imagem da cruz sugere queaquele que foi morto (Hebreus 2:14), agora é quem mata (destrói) ainimizade. A paz é ilustrada pela metáfora do corpo, a Igreja. Judeus egentios se reconciliam entre si porque estão unidos em um só corpo,  pormeio da cruz. Assim é que a Igreja é apresentada como um organismo vivo,composto de diversas partes, mas existindo pacificamente como um só corpo

(cf. 4:4; 1 Coríntios 10:17; 12:13; Colossenses 3:15).O outro lado da obra de Cristo é que trouxe reconciliação entre a

humanidade e Deus (pela cruz reconciliar ambos com Deus), isto é, tê-losunidos em um só corpo com Deus). Não existe aqui o privilégio judaico, nema ignorância grega, pois ambos são igualmente representados como objetosde reconciliação: Mediante a obra de Cristo na cruz, Deus “nos reconciliou

consigo mesmo” (2 Coríntios 5:18; cf. também Romanos 5:10).2:17 / Antes de o autor desenvolver este conceito de acesso, ele passa de

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(Efésios 2:13-18) 191

Cristo, o que reconcilia, para o Cristo que proclama: Ele evangelizou a paz a vós que estáveis longe, e aos que estavam perto. Esta idéia de paz talvezhouvesse sido tirada delsaías 57:19, já empregada anteriormente (2:13), ouo autor estaria usando Isaías 52:7, que anuncia: “Quão formosos são sobre

os montes os pés do que anuncia boas novas, que proclama a paz.”A maior parte dos eruditos toma a pregação de Cristo como um ato

relacionado à sua morte-ressurreição-exaltação, e não ao seu ministérioterreno anterior à ressurreição. Parece que o contexto favorece a idéia de quea paz que ele realizou na cruz é, em si mesma, uma proclamação e o modode o Senhor anunciar ao mundo que fez-se paz. Este versículo pode referir-

se às aparições pós-ressurreição de Cristo, nas quais seus primeiros discípulossão instruídos anão temer (Mateus 28:5,10), ou pode referir-se à suabênçãode paz em João 14:27 (“Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou”). Entretanto,há muita coisa a ser dita em defesa da opinião segundo a qual este versículose refere à pregação do próprio Jesus terreno ou, pelo menos, à pregação deseus discípulos.

Jesus adotou as palavras de Isaías 61:1,2 como a missão de sua vida (“O

Espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para pregaras boas-novas aos pobres,” Lucas 4:18,19), e se envolveu com um segmentoda sociedade que poderia ser considerado como estando “longe” (cf. Mitton,

 pp. 109-10). Mas independentemente da perspectiva que assumimos, o ponto mais importante é que no evento de Cristo (vida-morte-ressurreição-exaltação), conseguiu-se apaz, e possibilitou-se o livre acesso aDeus. Assimé que o autor faz lembrar a seus leitores que é mediante Cristo que judeus egentios — “ambos temos acesso ao Pai em um mesmo Espírito” (2:18).

2:18 / Talvez haja uma alusão aqui ao véu, no interior do templo, queseparava as pessoas de Deus, o Santo dos Santos onde só o sumo-sacerdote

 podia entrar e ter acesso ao Senhor no dia da Expiação (Hebreus 9:1-14).Entretanto, as boas-novas do evangelho são que Cristo abriu caminho deacesso ao Pai, ao remover o véu mediante sua morte (Hebreus 10; 19ss.). A

imagem sugerida pela palavra “acesso” ( prosagoge) é  a de uma corte orientalem que os súditos eram apresentados ao monarca por meio de um“prosagogos.”

 Na Igreja, foi Cristo quem nos abriu o caminho até à presença de Deus(“no qual temos ousadia e acesso em confiança, pela nossa fé nele”). Oacesso a Deus se obtém mediante um mesmo Espírito,  porque todos oscristãos estão unidos em um Espírito em seu batismo em Cristo (1 Coríntios

12:12, 13; Efésios 4:1-6). E sendo a Igreja (o corpo de Cristo), os cristãos

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192 (Efésios 2:13-18)

constituem agora a comunidade do Espírito Santo. Além deste versículo, o papel do Espírito no culto é mencionado também em 3:18-20, e numa passagem semelhante em Colossenses (3:16-17).

Há várias coisas que sugerem que o autor talvez tenha em mente o

 batismo, durante toda esta discussão (2:11-18). Primeiramente, porque o batismo provê a melhor resposta quanto a onde e quando tudo isto aconteceu para os judeus e para os gentios — isto é, os que estavam “longe” foramtrazidos para “perto,” e tanto os de “longe” quanto os de “perto” foramaproximados e unidos com Cristo, e transformados em membros uns dosoutros no corpo do Senhor. E evidente que Cristo efetuou essa obra ao morrer

na cruz, mas o crente se apropria dessa bênção pela fé e batismo em Cristo.Em segundo lugar, há nesta passagem muitos paralelismos intimamenterelacionados a duas passagens batismais de Colossenses: Efésios 2:11 éextraordinariamente semelhante a Colossenses 2:11-13; e 2:11-18 pode seruma adaptação do hino a Cristo de Colossenses 1:15-20, que recebeconsiderável apoio como hino batismal (veja-se a disc. sobre Colossenses1:15-20).

Terceira consideração e, talvez, a mais convincente: temos aquelas passagens batismais que mencionam de modo específico o batismo emCristo como meio de derrubar todas as barreiras, inclusive as distinçõesraciais. Assim é que Paulo escreve aos Gálatas: “Vós que fostes batizados emCristo... não há judeu nem grego” (3:27, 28). Em Colossenses a imagem

 batismal de “despojar-se” e “revestir-se” é utilizada, com o resultado de o batismo eliminar as diferenças entre gentios e judeus (3:9-11). Poder-se-iadizer que o autor volta-se para a linguagem batismal em Efésios 2:11 -18, afim de dar apoio à sua declaração teológica da união entre judeus e gentioscomo um novo povo em Cristo. Além disso, visto que o batismo é mencionadoem sua famosa passagem sobre a unidade (4:1-6), poderíamos inferir que

 para o apóstolo, o batismo é o sacramento da unidade (1 Coríntios 12:13).

N o t a s A d i c i o n a i s # 1 02:14-15 / M.S. Moore apresenta uma análise detalhada desses versículos em

sua obra “Ephesians 2:15-16: A History of Recent Interpretation,”  EQ  54(1982), pp. 163-69. Quanto a uma visão da natureza do cristianismo judaico egentílico da igreja apostólica, veja-se L. Goppelt, Apostolic and Post-Apostolic 

 History (Nova York: Harper Torchbooks, 1970), esp. cap. 3, pp. 61-107.2:17 / D.C. Smith dá-nos uma discussão completa das expressões perto e

longe, em sua obra “The Ephesian Heresy and the Origin of the Epistle to the

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(Efésios 2:13-18) 193

Ephesians,” Ohio Journal of Religious Studies  5 (1977), pp. 78-103. Asinvestigações de Smith levaram-no a concluir que a questão não era que ocristianismo gentílico estaria ameaçando fazer perder suas conexões com ocristianismo judaico, mas “antes, a questão era que certos cristãos gentios de

origem judaica, com base em tradições derivadas em grande parte do judaísmohelenístico, estavam demonstrando desprezo pelos judeus naturais que setornaram cristãos. Aqueles oponentes do autor de Efésios apresentam, então,uma síntese fascinante dos elementos esotéricos tirados do judaísmo, docristianismo e da religião helenística em geral” (p. 103).

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# 11. A Nova Unidade ( E f é s i o s 2 : 1 9 - 2 2 )

Estes versículos a respeito da incorporação dos gentios no templosagrado, no Senhor, concluem a seção sobre a unidade cristã (2:11-22).Portanto  produz o efeito de apontar para trás, para o que foi dito nosversículos precedentes, ligando-os à passagem seguinte. O principal

 pensamento é que, à vista de os gentios estarem agora em Cristo, e terem livreacesso ao Pai, em um Espírito, deixaram de ser “estrangeiros, nem forasteiros,

mas concidadãos dos santos, e da família de Deus.” Em virtude de sua fé emJesus Cristo, “a principal pedra angular,” os gentios são como um edifícioedificado sobre o “fundamento dos apóstolos e dos profetas,” o qual “cresce para templo santo no Senhor.”

2:19 / Depois de o apóstolo ter discutido os efeitos que a morte de Cristoteve sobre os judeus e os gentios (2:14-18), volta a tratar dos gentios, afimde concluir os contrastes que havia iniciado antes. Outrora eles eramestrangeiros, não pertenciam ao povo de Deus (2:12), mas agora deixam deser estrangeiros ( xenos) ou forasteiros ( paroikos).Estrangeiros são pessoasde fora do país ou da comunidade, destituídos de direitos e privilégiosespeciais. A palavra traduzida por forasteiros ( paroikos) com freqüência étraduzida por “andarilhos, peregrinos” termos que acentuam a naturezatransitória dos gentios. Nessa situação, eram como forasteiros com um “visto

de imigração,” o qual lhes concedia direitos e privilégios limitados, não, porém, cidadania completa ou residência permanente.Entretanto, a posição dos gentios mudou notavelmente. Em primeiro

lugar, o autor usa uma expressão política e afirma que eles agora sãoconcidadãos ( sympolitai) dos santos, e da família de Deus, isto é, estão em

 pé de igualdade com o povo histórico de Deus. Em segundo lugar, ele usa aimagem de um edifício (oikos) para afirmar que são da família de Deus.

2:20 / Saindo do conceito de família (oikos), o autor passa a discutir aedificação (oikodome) dessa família, usando uma metáfora da arquitetura.Essa linguagem reenfatiza que os gentios fazem parte de um processocontínuo: Vós também fostes edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas.

Se os gentios .haviam sido culpados de terem-se esquecido de seurelacionamento com a obra redentora de Deus na história, ou de a teremdesprezado, estas palavras seriam um lembrete significativo de que não são

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(Efésios 2:19-22) 195

as primeiras, nem as únicas pessoas no plano eterno de Deus. Antes, foramedificados (o aoristo grego refere-se a algo que já aconteceu) sobre ofundamento que já havia sido lançado.

Dos apóstolos e dos profetas constitui o fundamento da Igreja. Emboraalguns comentaristas tomem profetas no sentido que a palavra tem no AT,as outras palavras — dos apóstolos e dos profetas — fazem com que hajamaiores probabilidades de o autor ter em mente os profetas do NT (cf. Atosll:27ss.; 1 Coríntios 12:28, 29; 14:1-5, 24ss.). Ambos os cargos aparecemde novo em Efésios (3:5; 4:11), numa clara referência ao período do NT.Esses cargos são considerados o fundamento da Igreja, por causa de sua

importância como mensageiros e intérpretes do evangelho.Os pensamentos que o autor desenvolve diferem ligeiramente do quadro

que Paulo nos apresenta em Coríntios. Em Coríntios, ele cuida de uma igrejadividida — igreja que se polarizou ao redor de Paulo, Pedro e Apoio. Paulo procura dispersar esse espírito partidário mostrando que o ministério é umesforço cooperativo de certo número de indivíduos, que são servos de Deuse cooperadores entre si (1 Coríntios 1:10-13; 3:5-9). A qualquer pessoa que

 procura ser o fundamento do edifício de Deus, Paulo adverte que “ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo”(1 Coríntios 3:11). Em Efésios, os apóstolos e os profetas são o fundamentoe Jesus se toma a principal pedra angular (cf. 1 Pedro 2:4-8, citando Isaías28:16 e Salmo 118:22, em que Cristo é a pedra angular).

 Não é fácil discernir as razões dessa aparente mudança. Um autor sugere

que à época em que Efésios foi escrita, a centralidade de Cristo na Igrejaestava garantida, mas por causa das heresias que ameaçavam a Igreja,tomou-se necessário estabelecer uma linha autêntica de tradição pelos

 profetas e apóstolos (Houlden, p. 292). T.K. Abbott raciocina que a pedraangular era mais importante para os orientais por causa de sua função

-conetora e sustentadora do edifício (p. 71). Este ponto de vista tem algumapelo porque, no contexto da passagem, a ênfase recai sobre a função de

Cristo, de manter unida esta estrutura que cresce. A pedra angular teriaservido de elemento-chave ao redor do qual o fundamento e a infra-estruturaforam estabelecidos (Stott, pp. 107-8).

Embora seja natural pensarmos na pedra angular como estando no níveldo alicerce do edifício, existe uma alternativa atraente deste conceito,segundo a qual essa expressão não diz respeito ao alicerce, ou fundamento,mas uma “pedra-chave” que eracolocadano topo do edifício como coroamentode seu término. Alguns acreditam que esta é uma explicação mais adequada

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196 (Efésios 2:19-22)

do pensamento exposto em Efésios, em que Cristo é a cabeça do corpo(1:22), e a Igreja cresce nele, a cabeça (4:15).

A variedade de interpretações desta difícil figura de linguagem e suasintaxe não deve distrair a atenção do leitor, tirando-a da mensagem desta

 passagem. O apóstolo está mostrando que a Igreja consiste de três elementosimportantes: (a) os gentios, que agora fazem parte do povo de Deus, e os

 judeus; (b) os apóstolos e os profetas; d (c) Jesus Cristo. Todavia, temos aquimuito mais do que uma combinação casual de elementos: eles estão unidos

 pelo princípio da unidade e do crescimento.2:21 / A construção gramatical deste versículo é ambígua, no grego,

tendo suscitado certa variedade de traduções e interpretações. Literalmenteo texto diz: “em quem toda a estrutura (pasa oikodome)  é ligada(synarmologeo). A grande questão é se pasa oikodome deve ser traduzido

 por “todo edifício” ou “o edifício inteiro”, e se os pensamentos devem sertomados literal ou metaforicamente.

Os que optam pela primeira alternativa crêem que este “templo santo noSenhor” assemelha-se ao templo judaico, em que os muitos edifícios, salase partes (veja-se Moule, p. 85; Westcott, p. 41) constituíam o “templo todo.”Mitton aceita “todo edifício” como sendo preferível gramaticalmente, masdá-lhe um sentido metafórico em vez de literal. Daí, ele segue uma linha deinterpretação segundo a qual as “partes” são as congregações locais queformam a igreja universal, ou católica (p. 115).

Todavia, do contexto dessa passagem, ficamos seriamente imaginando

se o apóstolo tem em mente as congregações locais, por causa de sua preocupação tão grande com a unidade do corpo inteiro. Robinson, de sua parte, admite que a redação é ambígua, mas dentro do contexto da passagem,enfatiza o processo da edificação que toma a frase como tendo o sentido de“tudo quanto é edificado,” isto é, qualquer edifício que esteja sendoconstruído (pp. 70,165). Portanto, o que está na mente do autor é a operaçãotoda de edificação, em vez de as estruturas simples que formam o todo (cf.

também Abbott, pp. 74, 75. Barth, “Eph. 1-3,” p. 272; Foulkes, p. 87). NIV e ECA seguem esta linha de interpretação: Nele todo o edifício bem ajustado cresce (ECA), e “nele todo o edifício é unido.”

Prossegue o conceito de um processo de edificação no versículo seguinte:Cristo é a Pessoa em quem o edifício cresce para templo santo no Senhor.Embora a imagem seja a de uma edificação, o versículo seguinte (2:22)esclarece que o autor tem em mente uma “casa” espiritual, em que semanifesta a presença de Deus. Templo santo é tradução de naon hagion,

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(Efésios 2:19-22)   197

sendo naos a parte interna do templo onde se acreditava que Deus habitavae recebia seu povo. Na teologia cristã primitiva, os crentes são mencionadoscomo templo sagrado de Deus, não num sentido material, mas como um“edifício espiritual” em que Deus reside e se manifesta. Os cristãos são esse

templo santo (ou “sagrado”), em virtude de estarem no Senhor.2:22 / De novo o apóstolo enfatiza que os gentios têm uma parte em tudo

isto: E nele também vós juntamente sois (presente) edificados para morada de Deus no Espírito. Este conceito faz parte das idéias de Paulo emsuas cartas coríntias, em que ele lembra à sua congregação que seuscomponentes são o templo de Deus — templo — em que habita o Espírito

de Deus (1 Coríntios 3:9, 16ss.; 2 Coríntios 6:16). Para os gentios, tudo istoforma um contraste vívido com o começo de suas vidas, que era “na carne”(2 :11).

Esta passagem (2:19-22) contém vários paralelismos conceptuais elingüísticos notáveis em relação ao hino litúrgico de 1 Pedro 2:4-10). Porexemplo, ambas as epístolas se referem a Cristo como a pedra angular, eenfatizam que os cristãos fazem parte do processo de edificação de que

surgirá o templo espiritual. Primeira Pedro fala da “pedra” rejeitada pelosedificadores, que se tornou “pedra angular” eleita como “principal deesquina “em Sião” para os crentes gentios.

Em Efésios temos a confirmação de que os gentios, que outrora estavamlonge, distanciados da comunidade de Israel, foram aproximados e setomaram um com o povo de Deus. Em 1 Pedro 2:9, 10, os que foramchamados das trevas para a luz tornaram-se o povo de Deus. Em Efésios, esta

idéia de os gentios terem-se tornado povo de Deus recebe ênfase em 2:1122, embora esta imagem de trevas e luz não seja utilizada senão em 5:8-14(cf. Colossenses 1:12, 13).

Estas semelhanças entre 2:19-22 e 1 Pedro 2:4-10 sugerem que haviauma tradição na Igreja apostólica que descrevia o papel de Cristo, a novasituação dos crentes gentios (o indicativo) e seu objetivo final (o imperativo),

ao empregar imagens de construção. Diante da natureza litúrgica de ambasas passagens, não é irrazoável inferir que estes textos teriam sido usados pelas igrejas gentílicas para celebrar sua incorporação na família de Deus.Embora sejam imagens diferentes, existe uma notável semelhança no

 pensamento entre a união dos crentes com Cristo e sua incorporação nocorpo de Cristo à época do batismo.

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198 (Efésios 2:19-22)

N o t a s A d i c i o n a i s # 1 12:20 / Esta idéia de “chave” aparentemente foi introduzida por J. Jeremias,

em seu artigo akrogonias, TDNT, vol. 1, p. 792, que é calorosamente defendida

 por Barth em Eph. 1-3, pp. 317-19. Mitton relaciona várias objeções contra estateoria, preferindo permanecer com o ponto de vista tradicional, segundo o qualJesus é a pedra de esquina do edifício, “a partir da qual o futuro edifício seráavaliado” (p. 115). Esta opinião também tem o apoio de RJ. McKelvey, “Christthe Cornerstone: Eph. 2:11-22,” NTS 8 (1962), pp. 352-59. McKelvey concluique “a interpretação segundo a qual akrogoniaios de Efésios 2:20 é uma “chave”deve ser abandonada, preferindo-se a opinião tradicional de que akrogoniaios é  uma pedra relacionada ao fundamento do edifício, a qual se localizava numadas esquinas (provavelmente a esquina determinativa), que unia as paredes e osalicerces” (p. 359). Quanto a mais alguns comentários, veja-se F.F. Bruce, “NewWine in Old Wine Skins: III. The Comer Stone,” ExpT84 (1973), pp. 231-35.

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# 1 2 . Paulo e a Missão aos Gentios ( In t ro d u ç ã o a E fé sio s 3 : 1 - 2 1 )

Quando o apóstolo concluiu a seção das bênçãos espirituais em Cristo(1:3-14), passou a orar, apresentando ações de graças e petições (1:15-23).Depois dessa discussão teológica de 2:1-22, parece que ele está de novo pronto a orar outra vez, porque sua declaração: “Por esta causa” (3:1) refere-se ao que ele acabou de dizer. Além disso, a oração registrada em 3:14ss.

aparentemente se relaciona a esta seção, e seria um clímax adequado para os pensamentos expostos pelo apóstolo. Entretanto, em vez de orar, o apóstolodirige seus pensamentos para outro tópico de discussão— o tema relacionadoao chamamento e missão de Paulo, como proclamador do mistério de Deus.Após uma longa apresentação deste assunto (3:2-13), ele retoma à suaintenção inicial de orar, e subseqüentemente faz uma das orações mais lindase completas do NT.

À primeira vista, Efésios 3:2-13 parece um texto parentético um tantolongo, em que Paulo vindica seu apostolado entre os gentios. O autor estevediscutindo a unidade entre judeus e gentios, em Cristo, e como os gentios sãoherdeiros legítimos da salvação de Deus (2:11-22); mas, por alguma razão,ele acha necessário que se defina com maior precisão o mistério de Deus, eo agente humano mediante o qual esse mistério se revelou. Sua definiçãodesse mistério (3:6) também inclui figuras de linguagem previamenteutilizadas. Em 2:19-22 os gentios são considerados concidadãos que foramunidos e edificados para formar um templo santo. O tema da unidade éenfatizado de novo em 3:6 mediante uma série de expressões semelhantes:“O mistério é que os gentios são co-herdeiros e membros do mesmo corpo,e co-participantes da promessa em Cristo Jesus pelo evangelho.”

Há muitas semelhanças fortes entre Efésios 3:1-13 e Colossenses 1:23

2:2:

E f é s i o s3 :1 — Eu, Paulo, sou o prisioneiro

de Cristo Jesus3:2 — a graça de Deus, que para

convosco me foi dada

3 :3 — o mistério que me foimanifestado pela revelação

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200 (Efésios 3:1-21)

3 :4 — podereis perceber a minhacompreensão do mistério de Cristo

3 :6 — o mistério é que os gentios sãoco-herdeiros e membros do mesmo corpo,e co-participantes da promessaem Cristo Jesus pelo evangelho

3:8 — A mim, o menor... me foi dadaesta graça de anunciar entre os gentios, por meio do evangelho,as riquezas insondáveis de Cristo.

3:9 — demonstrar a todos qual sejaa dispensação do mistério.3:10 — pela igreja, a multiforme sabedoria

de Deus seja conhecida3:13 — não desfaleçais nas minhas

tribulações por vós.

C o l o s s e n s e s1:23 — eu, Paulo, fui feito ministro1:25 — a dispensação de Deus, que me foi concedida

 para convosco, para cumprir a palavra de Deus1:27 — Deus quis fazer conhecer [aos gentios]

as riquezas... deste mistério

2:2 — para que... estejam... enriquecidos...[do] conhecimento do mistério de Deus ¥ Cristo1:27 — este mistério... que é Cristo em vós,

esperança da glória1:27 — Deus quis fazer conhecer quais são

as riquezas da glóriadeste mistério entre os gentios

1:26 — O mistério... que agora foi manifesto aos seus santos1:24 — Agora me regozijo no que padeço por vós

Em ambas as cartas, o apóstolo está na prisão e sofrendo aflições; éconsiderado ministro aos gentios; o “mistério” estivera “oculto” mas agoraé revelado; esse mistério é identificado como sendo a inclusão dos gentiosno plano de salvação de Deus; é a mensagem que Paulo foi chamado aanunciar.

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(Efésios 3:1-21)   201

Entretanto, também há algumas diferenças notáveis entre estas duascartas. Em Colossenses, o chamado de Paulo para ser missionário aos gentios(1:25, 26) não é tão específico como em Efésios (3:8), em que ele édefinitivamente identificado como prisioneiro de Cristo Jesus por amor dos

“gentios”, a quem ele prega (cf. Atos 21:17-34; 22:21-24; 26:12-23).Os objetivos da pregação de Paulo também variam ligeiramente: Em

Colossenses, a proclamação é dada “para que apresentemos todo homemDerfeito em Cristo” (1:28); em Efésios, seus objetivos são orientadosespecificamente para a revelação do “mistério”, (“demonstrar a todos qualseja a dispensação do mistério”). Efésios não toca no aspecto da maturidade

cristã senão ao chegar a 4:13.Entretanto, aprincipal diferença centraliza-se nanatureza deste “mistério^que Paulo foi chamado para pregar. A breve ménçap disto em Colossenses1:27 quase passa despercebida, e dificiménte dá alguma indicação danatureza do mistério. Entretanto, Efésros jjreòcupa-se com defiftir bem o queé esse “mistério” (3:6), tendo Paulo çomó seu grande expoente.

Em 3:14-19, o autor inifcia sua oração por crescimento e unidade

espiritual. Os pedidos específicos incluem o fortalecimento do espírito dosleitores pelo Espírito de Deus (3:16), a habitação de Cristo em seus corações

 pela fé (3:17a), o alícerçamento fortc fK) amor (3:17b), a compreensão doamor de Cristo (3:18-19a), e o çnchi mento com a perfeita plenitude de Deus(3:l%)\®fySého modo, estes^pedidos não são diferentes daquele anterior,

 porjiàbedoria (1:17), conhecimento (1:17) e iluminação para os leitores(1:18).

 Não existc^lerencia específica ao problema da unidade da Igreja.Entretanto, a paternidade de Deus (3:14) e a compreensão do amor de Cristo por todo o povo de Deus (3:18) trazem à memória dos leitores a lembrançade que sua unidade em Cristo deve resultar numa comunhão cristã unificada.O autor emprega a expressão “os santos” (hoi hagioi) em várias ocasiões, noseniluo ue periencer a uma cumumuaue, seimr-se umuo a eia i, i j , io;

2:19; 3:18; 6:18).A bênção final (3:20, 21) afirma que Deus é capaz de fazer muito mais

do que lhe é pedido, porque o poder de Cristo está operando dentro do crente.A menção da Igreja é significativa, visto ser a esfera onde se processam os

 propósitos de Deus na terra como no céu (3:10). Ao declarar isto, Efésiosestende a missão da Igreja para além dos limites dados em Colossenses.

As novas características deste capítulo centralizam-se no esclarecimento

do “mistério” de Deus, na preeminência de Paulo como expositor desse

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202 (Efésios 3:1-21)

mistério, e na missão mundial da Igreja. Além disso, há uma repetiçãodefinida das idéias apresentadas anteriormente na carta, como por exemplo:

o mistério é revelado

o papel dos apóstolos e profetasa herança dos santosa graça e o poder de Deuso plano eterno de Deuso escopo cósmicoo propósito eterno de Deus

o acesso a Deuso Filhoo Espíritoa plenitude de Deus

3:3 = 1:9

3:5 = 2:203:6 = 1:143:7,20 = 1:193:9 = 1:10; 2:73:10 = 1:3, 103:11 = 1:4

3:12 = 2:123:11,17= 1:3, etc.3:5,16= 1:13,14; 2:223:19 = 1:23

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# 13. Apresentando o Mistério do Evangelho ( E fé s i o s 3 :1 - 1 3 )

3:1 / Como já comentamos na introdução, a frase Por esta causa aponta para trás, para as idéias teológicas que foram desenvolvidas na seçãoanterior, e que induziram o apóstolo a orar. Eu, Paulo é expressão enfáticadesignada a chamar a atenção para o apóstolo, e ao que ele tem para dizer (c f.2 Coríntios 10:1; Gálatas 5:2; Colossenses 1:23; 1 Tessalonicenses 2:18).Enfatiza-se que Paulo é o prisioneiro de Cristo Jesus por amor dos gentios.

 NIV e ECA traduzem corretamente o artigo definido o antes da palavra prisioneiro, em vez de um  (RSV). Assim é que Paulo é representado nãocomo um prisioneiro entre muitos outros, mas como o prisioneiro de CristoJesus, por causa da importância de seu ministério aos gentios (Atos 21:1734; 22:21-24; 26:12-23). A palavra gentios é abrangente e, como em 2:11,não se refere a alguma congregação específica, mas a todos os gentios (os 

gentios também é expressão precedida pelo artigo definido, e a frase deveser traduzida por “vós, os gentios”). Encontram-se outras referências aoencarceramento de Paulo em 6:20, Filipenses 1:7; Colossenses 4:10 eFilemom 1 e 9.

3:2 / A tradução de NIV (e de GNB) certamente vós tendes ouvido émelhor do que a de RSV, “presumindo-se que tendes ouvido”, e ECA, se é que tendes ouvido, pois estas subentendem alguma dúvida, precisando de

verificação (cf. 4:21; Colossenses 1:23). Essa frase suscita uma questão arespeito do destinatário da carta, mas enquadra-se bem na “teoria da cartacircular,” que incluiria várias congregações gentílicas.

 No processo de desenvolver o papel de Paulo como missionário aosgentios, o autor menciona várias coisas importantes: Primeira, Deus deu aPaulo uma comissão (a dispensação, [oikonomia] da graça de Deus, que para convosco me foi dada); segunda, Deus lhe deu graça. Embora Pauloligue a graça de Deus à sua missão (3:7,8; 4:7; Romanos 1:5; 12:3; 15:1516), é a graça de Deus e não o trabalho que é dado neste contexto. Isto éligeiramente diferente de Colossenses 1:25, em que é o cargo (oikonomia)que fora dado (cf. Mitton, pp. 125, 126).

3:3-4 / Nos próximos dez versículos o autor se concentra no mistério eem como Deus usou Paulo a fim de revelar esse plano aos gentios. Ele inicia

referindo-se ao mistério que me foi manifestado pela revelação. Isto sesegue à conexão existente entre a revelação e o mistério a que se aludiu em

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204 (Efésios 3:1-13)

1:9 e 10, mas afirma que esta revelação vem de Deus, e não é uma conclusãoa que Paulo chegou depois de muito estudo, nem algo que recebera datradição (cf. Gálatas 1:12, 16, 2:2).

Antes que o significado desse mistério se desenvolva, o autor lembra aseus leitores que ele já havia escrito em poucas palavras a esse respeito.Embora alguns comentaristas vejam nesta frase uma alusão a uma cartaanterior (ou cartas), dirigida a uma comunidade gentílica, a maioria toma-acomo referência à breve menção do “mistério” em 1:9-10, e não a seuresultado mediante judeus e gentios, em 2:1 lss. Tendo isso como pano defundo, os leitores podem ir em frente e perceber a minha compreensão do 

mistério de Cristo. O autor tem confiança em que quando lerem — provavelmente num culto público e depois numa meditação particular — ,serão capazes de apreciar a importância de Paulo como servo de Cristo, comrespeito ao mistério. E improvável que se refira a um texto do AntigoTestamento (veja-se Foulkes, p. 92).

Com respeito ao emprego da palavra mistério, devemos observar váriositens: Em Colossenses (1:27) o mistério é o conceito um tanto místico do

Cristo que em nós habita (“Cristo em vós, esperança da glória”); emColossenses 4:3, o “mistério de Cristo” é alusão ao fato que os gentios sãotambém receptores do evangelho (cf. Romanos 16:25, 26); em Efésios 1:9,o mistério do plano de Deus de unir toda a criação pela mediação de Cristo;em Efésios 3:4, ao lado de 3:6, o mistério da unidade entre judeus e gentios.Isto foi parcialmente explicado em 1:9-10 e 2:11 -22, mas agora se torna maisexplícito. Efésios toma o conceito de “mistério” da revelação de umevangelho que incluía os gentios (Colossenses), e desenvolve-o até tomar-se doutrina da unidade entre judeus e gentios na Igreja (3:6).

3:5 / Este versículo lembra-nos muito Colossenses 1:26, que diz respeitoao mistério que esteve oculto durante todas as eras passadas, da humanidadetoda, e que Deus agora revela a seu povo. Há, entretanto, notáveis diferenças:Primeiramente, anaturezado próprio mistério. Em Colossenses, é a mensagem

do evangelho aos gentios; em Efésios, é a unidade entre judeus e gentios. Emsegundo lugar, a revelação se faz pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas em vez de “a todas as pessoas.” Esta mudança é importante emEfésios, porque ela confirma a ênfase dada na carta aos líderes da Igreja e àsautoridades eclesiásticas, em vez de a todas as pessoas. Inicialmente (3:3) oautor declara que Paulo, e só ele, é o receptor desta revelação; depois eleexpande o conceito, e inclui outros líderes inspirados da Igreja (2:20; 4:11).

A frase de abertura deste versículo ([o mistério] o qual em outras

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(Efésios 3:1-13) 205

gerações não foi manifestado aos filhos dos homens), suscita uma perguntaa respeito de quanto do plano de Deus para os gentios foi revelado, antes dePaulo chegar. Há alguns vislumbres disto no AT, em que as referências atodas as nações que vêm à “luz” ou unem-se ao Senhor sem dúvida incluem

os gentios (Gênesis 12:1-3; Isaías 11:10; 42:6; 60:3; Jeremias 16:19;Miquéias 4:2; Sofonias 2:11). O próprio Paulo usa Isaías 49:6 a fim de

 justificar seu chamado para os gentios quando disputa com os judeus (Atos13:47).E em Romanos 15:9-12, o apóstolo relacionauma série de passagensdo Antigo Testamento a fim de demonstrar que os gentios sempre tiveramum futuro de salvação nos planos de Deus.

Assim, num sentido lato, poderíamos dizer que os propósitos de Deus para os gentios foram manifestados. Mas isto é muito menos do quedemonstra o desenvolvimento em Efésios, que tem em mira umacomunidadeuniversal em que os judeus e os gentios têm a mesma participação naquiloque se chamará Igreja, o corpo de Cristo (cf. Stott, p. 118). A nova revelaçãofoi possível pelo Espírito, isto é, ele é o agente que trouxe o mistério à luz,

3:6 / Até este ponto o autor fez alusão ao mistério várias vezes: agora, no

entanto, ele se toma específico e define-o de forma tal que remove toda equalquer dúvida quanto ao seu conteúdo. O mistério é este: Pelo evangelho,isto é, mediante a proclamação da palavra da verdade que fora pregada eaceita (1:13), foi atribuído aos gentios uma posição completamente nova,com todos os privilégios dela decorrentes. O autor descreve isto usando certonúmero de palavras pitorescas prefixadas pela preposição grega syn.

Primeiramente, os gentios são co-herdeiros [com Israel]. A palavragrega synkleronoma é  a mesma que Paulo usa em certas ocasiões, quando elese refere a crentes que se tornam “herdeiros” da salvação e às bênçãos deDeus (Romanos 8:17; Gálatas 3:29; 4:7). Aqui, a preposição syn dá à palavraa força de “co-herdeiros,” “participantes da herança,” indicando que osgentios participam do mesmo modo que os judeus de todos os privilégios e

 bênçãos da filiação.

Em segundo lugar, são membros do mesmo corpo. Visto não haverocorrência desta palavra ( syssoma) em nenhuma outra passagem do NT,nem na Septuaginta (tradução grega pré-cristã do NT), nem na literaturaclássica, toma-se óbvio que o apóstolo a criou a fim de descrever orelacionamento que judeus e gentios mantêm entre si no corpo de Cristo, aIgreja. Robinson observa que não existe uma palavra equivalente em inglês, pelo que ele tenta captar seu significado total, e para isto oferece esta idéia:

“em relação ao Corpo, os membros são “incorporados”; em relação uns com

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206 (Efésios 3:1-13)

os outros, são ‘co-incorporados,’ ou seja, partilham do mesmo corpo” (p. 78).Em terceiro lugar, os gentios são co-participantes da promessa em 

Cristo Jesus. De novo o autor utiliza uma palavra iniciada por  syn” (,symmetochos) para enfatizar que os gentios participam de igual modo(como os judeus) das promessas de Deus. Seu relacionamento total com o

 povo de Deus fica estabelecido mediante sua incorporação em Cristo, comolhes ocorreu pelo evangelho. O evangelho é a proclamação de todos os

 privilégios que Cristo possibilitou à humanidade, inclusive os gentios.Anteriormente, o autor havia indicado que o plano final de Deus tinha sidounificar toda a criação (1:10). Ficamos com a nítida impressão de que a

unidade entre judeus e gentios nada mais é senão o primeiro passo para umaunidade cósmica mais amplam, que deverá incluir toda a criação sob osenhorio de Cristo (cf. Romanos 8:19-21).

3:7 / Tendo declarado que o papel do evangelho é implementar estaunidade, o autor traz de novo à lembrança de seus leitores o fato de Paulo tersido feito ministro deste evangelho, segundo o dom da graça de Deus (cf.3:2). O ministério de Paulo não foi um ministério que ele própmrio houvesse

escolhido, e tampouco ele se auto-nomeou ministro, mas foi o dom da graça de Deus. A capacidade para desempenhar essa missão adveio segundo a operação do seu poder (de Deus), jamais segundo o poder do próprio Paulo(Colossenses 1:29). Tudo quanto Paulo recebeu e realizou foi o resultado dodom, da graça e do poder de Deus.

3:8 / Os leitores das cartas de Paulo se lembram de declarações semelhantes

à que aparece aqui: a mim, o menor de todos os santos. Quando oapostolado de Paulo estava sendo questionado pelos coríntios, ele observouque “em nada fui inferior a esses tais apóstolos, ainda que nada sou” (2Coríntios 12:11). E em certas ocasiões, quando a consciência de Paulo éatormentada por causa de sua antiga tarefa de perseguidor da Igreja, ele selembra de sua indignidade e incapacidade (cf. 1Coríntios 15:9;Gálatas 1:13;1 Timóteo 1:12-14). Nesse contexto, parece que o complexo de inferioridade

de Paulo advém do fato de ele refletir sobre a graça de Deus, e como tal graçaoperou em sua vida e entre os gentios. Paulo foi vencido, não por umaconsciência culpada, ou por questões a respeito de sua autoridade, mas porum coração transbordante das maravilhas da graça de Deus.

A frase seguinte indica que há uma função dupla no apostolado de Paulo:Primeira função, ele tem um ministério da proclamação do evangelho aosgentios (me foi dada esta graça de anunciar entre os gentios, por meio do evangelho, as riquezas insondáveis de Cristo). Embora Paulo tenha

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(Efésios 3:1-13) 207

comentado sua missão aos gentios, ele parece admirado — e agradecido — porque a graça de Deus foi suficientemente rica a ponto de os incluir, e oapóstolo foi o instrumento de Deus para levar-lhes a mensagem dereconciliação. F. Beare chama-nos a atenção para o artigo definido antes de

Cristo (não traduzido em ECA), indicativo de que “o Cristo,” ou “oMessias” que fora prometido aos judeus, agora está sendo proclamado paraos gentios também (p. 669). Este poderia ter sido um pensamento conscientena mente do autor, diante do contexto de uma passagem em que se enfatizaa incorporação de judeus, bem como de gentios.

A tradução de ECA riquezas insondáveis (anexichniastos) capta belamente a idéia contida na palavra grega (cf. NEB: incomensurável). Stottrelaciona dez diferentes palavras equivalentes, em inglês, que ele descobriuem várias traduções e comentários — todas as quais tentam definir a palavrasem restringir seu sentido (p. 120). Basicamente a palavra significa “que nãose pode acompanhar” (como se fora um caminho), além de nossacompreensão,” o “inescrutável”. Paulo expressa essa idéia ao escrever aosRomanos. “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria como da ciência

de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seuscaminhos!” (11:33). O mesmo pensamento ocorre em Jó 5:9 e 9:10 comrespeito à criação e providência de Deus: estão muito além da nossacompreensão e capacidade de descrição.

Uma analogia moderna nós a encontramos na tentativa atual de conquistar-se o cosmos. O presente universo, como o conhecemos, é acessível e“escrutável”. Mas à medida que avançamos cada vez mais profundamenteno espaço, descobrimos que há muitos outros universos e galáxias a seremexploradas — literalmente, um infinito no espaço. O mesmo ocorre com asriquezas de Cristo! São insondáveis  porque no momento em que alguémdescobre uma parte delas, de imediato uma nova porta se abre para o tesourode Deus que, por sua vez, conduz a outro tesouro insondável e além de nossacompreensão. Essas riquezas insondáveis são o próprio Cristo.

3:9 / O segundo aspecto da missão de Paulo é demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério. A frase em grego diz literalmente: “iluminar”( photisai), ou “trazer à luz o que é a mordomia (oikonomia) do mistério.” A

 palavra grega para “todas as pessoas” (todos, pantes) é omitida em algunsmanuscritos, de modo que a ênfase é posta em trazer-se o mistério de Deusà luz. Embora não esteja declarado, a intenção parece ser que a revelação é para todos (como em NIV e ECA).

A idéia de “iluminar” ou fazer que toda a humanidade veja o plano do

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208 (Efésios 3:1-13)

mistério de Deus que vai ser executado, sugere muito mais do que umasimples proclamação; comunica a idéia de que Paulo foi usado de modoespecífico para mostrar ao mundo como Deus mostrou de modo público oque havia sido mantido secreto. Paulo conseguiu isso ao explicar a

incorporação de judeus e gentios no corpo de Cristo. Tudo quanto aconteceufaz parte do plano-mestre de Deus (oikonomia). A referência a Deus comosendo a Pessoa que a tudo criou é um tanto enigmática. Significaria isso queo plano/mistério de Deus é parte de sua atividade criativa, ou a ênfase estáem que o mistério esteve escondido desde o tempo da criação, e desde osséculos esteve oculto em Deus?

O paralelismo em Colossenses 1:26, por exemplo, menciona o mistério“oculto durante séculos e gerações”, sem referência a Deus como o Criador.Beare conclui que a menção da atividade criativa de Deus “alinha-se com ainsistente associação da criação à redenção, e sua ênfase no aspecto cósmicoda obra salvífica de Cristo” (p. 670). Confirma que Deus... a tudo criou, inclusive o que está momentaneamente oculto e que, em seu plano eterno,será demonstrado (e demonstrará a todos).

3:10 / O que permaneceu oculto “desde os séculos [passados]” (3:9)agora... seja conhecido (nyh). Este versículo constitui uma das declaraçõesmais inclusivas a respeito da Igreja em todo o NT. De maneira simples, eleanuncia que a Igreja exerce uma função cósmica no plano de Deus.

Com este versículo o autor alcança o clímax de seu desenvolvimento arespeito do “mistério/plano de Deus.” C.L. Mitton o chama de “plano-mestrede Deus”, e esboça a seqüência pela qual esta revelação ocorreu: “Primeirofoi revelado a Paulo (3:3), depois aos apóstolos e profetas (3:5), e finalmentea todos (3:9). Só então, à medida que o poder reconciliador de Deus tomou-se efetivo em sua Igreja, e produziu uma comunhão íntima de elementos que,no mundo, pareciam irreconciliáveis, é que os poderes do maligno perceberamo que Deus estava realizando” (p. 127). Este desdobramento do plano deDeus apresentado em Efésios pode ser diagramado da seguinte forma:

Paulo (3:3)Apóstolos e profetas (3:5)

Toda a humanidade (3:9)

Principados e p o t e s t a d e sangelicais nasregiões celestiais(3:10)

 Neste último estágio, o plano de Deus completa um ciclo: Completa-se

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(Efésios 3:1-13) 209

agora aquilo que fora mencionado no hino de louvor, de abertura (1:10). Ograndioso propósito da Igreja é que por seu intermédio, isto é, pela Igreja, amultiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestadesnas regiões celestiais. Estes poderes celestes são os mesmos mencionados

em 1:21 e em 6:12. Colossenses utiliza expressões semelhantes ao ensinara respeito das vitórias de Cristo — e conseqüentemente do crente — sobretais poderes malignos (Colossenses 1:16; 2:15, 20; cf. também Romanos8:38; 1 Pedro 3:22).

A fim de entendermos este versículo é necessário que saibamos que oautor presume um sistema cosmológico antigo. Nos tempos anteriores aCopémico, os astrônomos acreditavam que a terra era o centro do universo,e que não tinha movimento. A terra estava rodeada de uma série de esferasque continham corpos celestes, como o sol, a lua, as estrelas e os planetas,os quais giravam ao redor da terra. Além dessas esferas (em geral sete) ficavao céu mais elevado, a habitação de Deus. Com o tempo, passou-se a crer quetais esferas eram habitadas por algum tipo de “seres celestiais” que agiamcomo potestades, ou soberanos, dentro de tais esferas. Tais poderes podiam

ser bons e amistosos, ou maus e hostis.Com relação à salvação, alguns sistemas religiosos, como o dos gnósticos,

criam que a alma humana tinha que passar por essas esferas enquanto iasubindo à sua habitação permanente com Deus, nos mais altos céus. Masenquanto a alma ia subindo, era confrontada pelos principados e potestadesdessas esferas que, na maioria dos casos, eram hostis e precisavam seraplacados ou ter sua ira amenizada de alguma forma, para que à alma ficasse

garantida a passagem segura pelas esferas. Isto se desenvolveu,transformando-se em sistemas elaborados de magia, feitiçaria e astrologia,muitos dos quais já existiam nos dias de Paulo.

A mensagem central do livro de Colossenses é que Cristo derrotou esses poderes malignos por suamorte na cruz. Conseqüentemente, não mais detêma autoridade e controle sobre a humanidade; os crentes partilham dessa

vitória em virtude de sua fé em Cristo, e por causa de sua união com ele emsua morte e ressurreição, no batismo (Colossenses 2:20).Efésios conserva uma cosmologia semelhante: Cristo é exaltado e

governa “acima de todo principado, e autoridade, e poder, e domínio, e detodo nome que se nomeia” (1:21); o cristão é engajado numa batalha “contraos principados, contra as potestades,, contra os poderes deste mundotenebroso, contra as forças espirituais da maldade nas regiões celestes”

(6:12); e em 3:10, essas forças existem em testemunho do que Deus fez e está

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210 (Efésios 3:1-13)

fazendo mediante a Igreja. Assim, toda forma de vida — seja na terra, sejanos confins do cosmos — conhece o plano e propósito eternos de Deus.

As interpretações dos eruditos variam muito nas formas de se aproximarda cosmologia apresentada em Efésios e Colossenses. Alguns crêem que os

conceitos se tomaram obsoletos e precisam ser desmistificados, isto é,reinterpretados em termos que tenham sentido para a mente modema. Um

 bom exemplo disso é Barth, para quem esses conceitos são estruturas político-econômicas da sociedade, em vez de inteligências cósmicas (cf.notas sobre 1:21,22). No outro extremo fica a posição representada por Stott,que protesta contra o tipo de interpretação dada por B arth e outros. Stott não

aceita o ponto de vista segundo o qual Paulo está-se referindo a estruturassocial terrenas, que estariam incluídas na atividade redentora de Deus. Emseu livro God’s New Society,  ele provê uma breve história do estudo dos

 principados e potestades (pp. 267-75), e faz um apelo apaixonado aosleitores do NT, para que entendam estas entidades como sendo seressobrenaturais, em vez de “estruturas, instituições e tradições” (p. 273).

 Não ficou bem claro que efeito esta revelação do mistério de Deus

mediante a Igreja deverá ter sobre os seres celestiais. O que o texto afirmaé que pela Igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida. Seriameles os alvos da atividade redentora de Deus, ou meros espectadorescósmicos de um drama que se tem desenrolado na terra mediante a Igreja?O resto do NT silencia a este respeito, e só alguns versículos fazem alusãoacerto tipo de atividade inteligente entre os anjos (cf. 1Coríntios4:9; 1Pedro1:12). O autor descreve a unidade da Igrej a como manifestação da sabedoria de Deus — sabedoria no sentido de os propósitos santos de Deus estaremsendo cumpridos “desde os séculos [passados]” até a presente era. Só umDeus onisciente poderia juntar nações e potestades hostis, a fim de formaruma unidade integral.

A sabedoria de Deus, prossegue o autor, é multiforme. Esta palavra étradução do grego polypoikilos,  que basicamente significa “que tem muitas

facetas” ou “formas variadas” (NEB). Ver a multiforme sabedoria de Deus assemelha-seacontemplarumcaleidoscópiocapazderevelarumaimpressionantecombinação de formas e cores, àmedidaque apessoao vai girando com cuidado;é como admirar uma peça maravilhosa de tapeçaria, desenhada e tecida por umartista que utilizou grande variedade de fios (Stott, p. 123). Neste versículo, oautor tem uma visão magnífica da Igreja unificada e vencedora, que demonstratodos os propósitos criativos e redentores de Deus para com toda a humanidade

(3:9), e a todos os poderes cósmicos (3:10).

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(Efésios 3:1-13) 211

3:11 / A manifestação recente do mistério de Deus foi algo que Deushaviaplanejado desde aetemidade. De certo modo, o apóstolo estápartilhandouma filosofia da história, em que ele vê todas as eras em sucessão comorevelação adicional do plano eterno que Deus está implementando para ahumanidade. Muitos escritores cristãos estão sugerindo que a palavrahistória seja mudada para história-dele (cf. Stott, p. 127). Aquele que “noselegeu nele antes da fundação do mundo” (1:4,, RS V, EGA) tomou possívelessa eleição em Cristo Jesus nosso Senhor.

Como ocorre no hino de abertura, o autor indica que Cristo é o agentemediante o qual Deus realiza seus propósitos. Aqui ele emprega três títulos

específicos para Cristo: Ele é “o Cristo,” isto é, o Messias esperado pelos judeus; ele é Jesus, aquele que os cristãos primitivos criam ter estado comeles historicamente em sua encarnação; ele é Senhor,  por cuja morte eressurreição foi exaltado e está à direita do Pai.

Quando este versículo afirma que o propósito eterno de Deus foiexecutado segundo o eterno propósito que [ele] fez em Cristo Jesus, nosso Senhor, deixa implícito que tudo quanto Cristo fez foi importante. O 

apóstolo está chamando a atenção para a totalidade do evento de Cristo(encamação-vida-morte-ressurreição-exaltação), visto que foi nelequeDeusexecutou seus propósitos redentores para a humanidade. Efésios 2:1-10serve de excelente comentário sobre como o apóstolo via a obra de Cristoaplicada ao crente; 2:11-22 desempenha uma função semelhante aodemonstrar que judeus e gentios estão unidos em Cristo e formam seu corpo.A Igreja é um testemunho vivo do poder redentor e unificador de Deus naterra (3:9), bem como a todos os seres celestiais (3:10).

3:12 / Para que os leitores não chegassem à conclusão errônea de que oDeus que vem implementando seu plano eterno está um tanto afastado dosassuntos cotidianos da humanidade, o apóstolo volta-se para uma preocupação

 prática, e lembra-os de que sua união com Cristo lhes concede o privilégiode comunicar-se com Deus (no qual temos ousadia e acesso em confiança, 

pela nossa fé nele). As palavras gregas são “ousadia” (parresia), “acesso”( prosagoge), e confiança ( pepoithesis). Parresia é  usada no NT no contextoda fala, como por exemplo ousadiana proclamação do evangelho (Atos 4:31;Efésios 6:20; Filipenses 1:20) e confiança para aproximarmos-nos de Deus(Hebreus 4:16; 10:19).

Os cristãos têm essa ousadia para aproximar-se de Deus, porque sua fée união com Cristo lhes dá confiança. Em Cristo, todas as barreiras capazes

de impedir que o crente se aproxime de Deus aberta e confiantemente foram

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212 (Efésios 3:1-13)

removidas. Cristo nos revelou o Pai como alguém que perdoou a seus filhose os ama. B. F. Westcott judiciosamente comenta que “o direito de dirigir-se a Deus e de ter acesso a ele estão unificados no direito de ter comunhão

com ele” (p. 49).3:13 / Neste versículo parece que há uma mudança repentina no pensamento do autor, que volta à sua menção anterior de ser um prisioneiro(3:1). Ao lermos as entrelinhas, poderíamos ficar com a impressão de que ascongregações gentílicas se tornaram desencorajadas (enkakeo, “ficardesanimado,” “desesperado,” “perder o ânimo,” “ficar com medo”), vistoque seu grande porta-voz havia sido preso. Sem dúvida, muita oração havia

subido até Deus em prol de Paulo (Colossenses 4:18). E possível que aodiscutir a revelação do mistério de Deus, e ao lembrar seus leitores de quetêm liberdade para aproximar-se de Deus, o apóstolo tenha sido levado aencorajar seus leitores a não desfalecer (não desfaleçais, me enkakein) nãotem sujeito. Por isso, poderia ser traduzido assim: (a) “Peço que ‘eu’ nãodesfaleça,” ou (b) “Peço que ‘vós’ não desfaleçais.” O contexto desta

 passagem, junto com a atitude positiva de Paulo a respeito de seus própriossofrimentos (Romanos 5:3; 2 Coríntios 12:10; Colossenses 1:24), sugeremque a preocupação do autor refere-se aos membros gentios da congregação,que podem ter ficado desanimados à face do encarceramento de Paulo.Conseqüentemente eles são lembrados de no vo (cf. 3:1) que Paulo sofre para

 benefício deles; desta vez, porém, o autor acrescenta que é para “o vosso benefício” (por vós... a vossa glória, doxd). O benefício imediato, ou glória,

é que mediante o ministério de Paulo e subseqüente encarceramento, osgentios possam tornar-se membros do corpo de Cristo.  Tal afirmaçãodeveria impedi-los de desanimar. É de duvidar-se que Efésios estejaensinandoque os sofrimentos dos mártires são a glória da Igreja — conceito que sedesenvolveu em  séculos posteriores.

N o t a s A d i c i o n a i s # 1 33:2 / Quanto a uma discussão mais profunda do “mistério,” veja-se R.E.

Brown, The Semitic Background ofthe Terem ‘Mystery ’ in the New Testament  (Filadélfia: Fortress, 1968); A.E. Harvey, “The Use of Mystery Languague inthe Bible,” JTS  n.s. 31 (1980), pp. 320-36.

3:10/Háum estudo adicional desses conceitos no comentário de Colossenses1:16; 2:15,20, e Efésios 1:21-22 e 6:12. Veja-se a bibliografia citada nas notasde Efésios 1:21-22 e 6:12. Cf. também Caragounis, The Ephesians Mysterion, 

 pp. 139-42; Beare, pp. 671-72; Stott, pp. 267-75.

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# 1 4 . Orando por Iluminação ( E f é s i o s 3 : 1 4 - 1 9 )

Esta seção segue o mesmo padrão estrutural que o autor estabeleceuanteriormente na carta. Ela havia começado com um grandioso hino de açõesde graças por todas as bênçãos espirituais que Deus provera em Cristo (1:314) e, a seguir, o autor faz uma oração para que seus leitores entendessem suaesperança e herança no Senhor (1:15-20). Em 2:1-3:13, o autor provê umaexposição de fôlego a respeito da posição do crente em Cristo (2:1-10), aincorporação de judeus e gentios num só corpo, a Igreja (2:11-22), e o papel

 pessoal de Paulo na revelação do plano eterno e secreto (o mistério) de Deus(3:1 -13); isto também é seguido de uma oração para que os leitores entendama magnitude do plano de Deus, e se encham da plenitude de Deus (3:14-19).Uma bênção apropriada encerra a principal seção doutrinária da carta (3:2021).

Entretanto, tais similaridades não deveriam impedir-nos de ver algumasdas diferenças mais significativas entre as orações. Um escritor devocionalestabeleceu essas diferenças da seguinte maneira: Na primeira oração, “oapóstolo pede a Deus sabedoria, e na segunda, amor. A primeira é oração que

 pede revelação; a segunda, capacitação. Não é suficiente “saber” apenas; precisamos “ser.” O fruto do conhecimento divino é a expressão do amordivino” (Strauss, p. 160).

Devemos observar duas características desta oração. Primeira, apresentamuitos paralelismos do louvor e da oração do capítulo 1. Em certo sentido,3:14-21 poderia ser considerado uma aplicação adicional das idéiasdesenvolvidas antes: a oração é dirigida ao Pai (1:17 = 3:14s.); a oração é noEspírito (1:17 = 3:16); a esfera da ação de Deus está na mente (1:18) ou nocoração (3:16); há um anseio de conhecimento e plenitude (1:18s = 3:18s.);há uma ligação entre o amor e o poder (1:19 = 3:19); e finalmente, louvor eglória são oferecidos a Deus (1:6, 12, 14 = 3:21).

Segunda, esta oração apresenta um progresso maravilhoso e crescente. Oautor inicia relacionando três pedidos específicos: Ele ora para que osleitores possam (a) receber força interna vinda do Espírito Santo (3:16), (b)experimentar a presença permanente de Cristo em seus corações (3:17a), e(c) enraizar e solidificar suas vidas no amor (3:17b). O autor percebe dois

desdobramentos importantes daí decorrentes: primeiro, uma compreensão eapreciação mais profundas da extensão do amor de Deus (3:18); segundo — 

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214 (Efésios 3:14-19)

o objetivo final — “que sejais cheios de toda a plenitude de Deus” (3:19).3:14 / C.L. Mitton inicia sua exposição desta oração ao observar bem

 ponderadamente que “este curto parágrafo é uma das gemas do NT” (p. 129).A seção abre-se com a mesma frase (por causa disto) como em 3:1, onde

 parece que o autor de início queria enunciar essa oração, mas foimomentaneamente distraído. Eu me ponho de joelhos é expressão de profunda emoção e humildade — de prostração no espírito de submissão(Romanos 11:4; 14:11; Filipenses 2:10). Outra postura de oração era ficar de

 pé com o rosto e as mãos levantados para Deus (Mateus 6:5; Marcos 11:25).Seja como for, o importante é a atitude do coração, não a postura física. De

novo, Deus é nosso Pai, a quem a oração é dirigida.3:15/ Em grego, há um trocadilho entre “Pai” (patros) e família (patria) que não é óbvio em português. O autor diz que Deus, como Pai, é aquele do qual toda a família nos céus e na terra toma o nome. O sentido desse textoé ambíguo e suscita vários problemas: Primeiro,  patria  significa família,tribo ou grupo descendente de um ancestral comum. Não pode ser traduzida

 por “paternidade,” embora a idéia de paternidade esteja ali, tendo levado

alguns comentaristas a pensar em Deus como o protótipo ou arquétipo detoda paternidade. Isto é diferente de dizer-se que Deus é o Pai de todos, algoque a passagem não está ensinando.

Segundo, a frase toda a família (pasa patria) apresenta um problemaanálogo a “todo o edifício” de 2:21. Algumas traduções, como NIV e ECA,trazem toda afamília, mas isto requerum artigo (pasa hepatria). A tradução

de GNB, “toda família” é a correta. Mas isto não lhe esclarece o significado.Diante do contexto da passagem, que inclui a unidade de todas as pessoase uma referência a “principados e potestades,” parece que o apóstolo entendeque “toda a família,” isto é, toda paternidade humana e divina deriva seu padrão e significado de Deus, o protótipo divino. A família na terra poderiaser os judeus e os gentios que compõem a Igreja, que é a família de Deus. Aodizer “toda a família” nos céus, o apóstolo estaria se referindo a algum tipo

de comunidade celeste em que as estruturas familiares têm sentido, ou usaa expressão de modo inclusivo para ensinar que todos os padrões de famíliaconcebíveis, quer na terra, quer nos céus, recebem seu nome da parte do Pai.A sugestão de Mitton de que esse versículo pode significar “congregaçõeslocais” (na terra) ou “um grupo de cristãos falecidos” (nos céus) é interessante,mas pouco convincente (pp. 131-32).

3:16 / Neste versículo o apóstolo se abastece do imenso reservatório dosrecursos divinos — Oro para que, segundo as riquezas da sua graça... A

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(Efésios 3:14-19) 215

glória de Deus é a essência de tudo quanto Deus é, pelo que não existe limite para sua capacidade de dar. Normalmente, as orações se limitam pelaincapacidade de a pessoa compreender as riquezas de Deus, e assim pedir deacordo com sua compreensão (3:20; Tiago 4:2,3). Efésios lembra aos crentes

que Deus dá segundo as riquezas da sua graça!O  primeiro pedido é pela força interna vinda do Espírito Santo. No 

homem interior é termo inclusivo que pode significar o coração, a mente,o espírito e assim por diante — tudo que contrasta com o exterior da pessoa(cf. Romanos 7:22; 2 Coríntios 4:16). Tal fortalecimento interior ocorremediante o poder (dynamis) concedido pelo Espírito Santo. E o meio pelo

qual Deus opera na vida do crente.3:17 / Em segundo lugar, há a presença permanente de Cristo no coraçãodo crente (que Cristo habite pela fé nos vossos corações). Este é outromodo de Deus preparar o crente para que este cumpra seu objetivo último.Esta declaração reverte a terminologia usual de Paulo a respeito a união docrente com Cristo, ao enfatizar que Cristo habita o cristão. Essa permanênciadeve ser entendida como Cristo vindo residir no coração do crente, a saber,

em seus mais íntimos recessos. Além disso, é um relacionamento concedidopela fé, um pensamento que nos faz lembrar de 2:1-10, e das passagens

 batismais que ligam a fé ao Cristo que em nós habita (Romanos 6:1-11;Gálatas 3:26,27;1 Colossenses 2:11-13; cf. também Gálatas 2:20). A fé é aresposta da pessoa face à ação de Deus mediante o Espírito.

Embora os pedidos de poder do Espírito Santo e que Cristo venha habitarem nós sejam duas expressões separadas, conformam-se à teologia de Paulo,que iguala o Espírito ao Espírito de Cristo: ter Cristo é o mesmo que ter oEspírito; estar no Espírito é estar em Cristo (Romanos 8:9ss.).

O terceiro pedido é que os leitores estejam arraigados e fundados em amor. O tempo desses verbos no grego (perfeito passivo, errizomenoi, tethemeliomenoi) indicaque tais ações já aconteceram, mas devem continuarcomo realidade na vida do crente (veja-se Colossenses 1:23; 2:7, quanto a

exortações semelhantes para estabilidade). A fim de ilustrar a profundidadede vida que está buscando, o autor emprega metáforas tiradas da botânica eda arquitetura. A primeira relaciona-se à raiz que penetra no solo, a segundadiz respeito ao edifício erguido em alicerces bem fundados. NIV e ECAdizem que o fundamento é o amor.

Esta tradução não significa que existe uma polêmica textual séria neste ponto. No grego, é possível tomar a frase em amor e ligá-la a arraigados e 

fundados (como em NIV e ECA), ou ligá-la à frase precedente, de modo que

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216 (Efésios 3:14-19)

teríamos: “que Cristo faça habitação em vossos corações, mediante a fé e oamor.” Robinson, dentre outros, prefere este sentido; pela fé os gentios são

 participantes de Cristo, mas estão ligados pelo amor (p. 175).Entretanto, a maioria dos eruditos toma a palavra amor como sendo o solo

em que a raiz se desenvolve, ou o alicerce sobre o qual o edifício seráconstruído. O amor é considerado mais como o resultado da habitação deCristo no crente, em vez de uma esfera dentro da qual ele mora. A verdadeúltima é que os crentes fortalecidos pelo Espírito, nos quais Cristo habita,terão suas vidas enraizadas e baseadas no amor. Desde que o amor é a possessão tanto de judeus como de gentios, todos podem crescer juntos na

compreensão do amor de Cristo.3:18 / Depois de haver feito estes três pedidos específicos, o apóstoloconclui mencionando o “efeito” que esta oração terá em sua compreensão deDeus. Ele ainda está-se dirigindo aos gentios, e diz que o recebimento dosdons de Deus não é algo que hão de experimentar isoladamente, mas com todos os santos.

Tais palavras são bem apropriadas a pessoas de procedência grega, que

têm tendência para o racionalismo e amor à sabedoria (cf. 1 Coríntios 1:22;8:1-3; Colossenses 2:18, 23; 1 Timóteo 1:4; 6:4). Entretanto, ainda que oautor esteja desenvolvendo uma filosofia cristã da história a respeito deDeus, da humanidade e do mundo, a ênfase é posta no amor, em vez de noconhecimento. O apóstolo não apoiaria um sistema gnóstico que eleva asabedoria como sendo o dom mais alto. O verdadeiro teste da maturidadeespiritual do crente é se ele está, ou não, enraizado e fundamentado no amor;o amor, e não a sabedoria, ou conhecimento, é que induz a uma compreensãomais profunda de Deus.

Ao dar ênfase ao amor, em vez de à sabedoria, parece que o autor, assimo sentimos, está atacando certa forma de gnosticismo (cf. Introdução). Alémde salientar o conhecimento ( gnosis) em si mesmo, a ênfase do gnosticismona consecução e posse do conhecimento com freqüência induz a uma espécie

de elitismo espiritual na Igreja. Em Corinto, por exemplo, isto se transformounuma divisão entre crentes “espirituais,” isto é, os que possuíam umconhecimento maior, e os “carnais,” que eram menos iluminados (cf. 1Coríntios). O apóstolo João enfrenta um problema semelhante em sua

 primeira carta, em que uma manifestação do gnosticismo ameaçava dividira Igreja. Isto fez que lhe fosse necessário ressaltar o íntimo relacionamentoexistente entre o conhecimento e o amor: “Aquele que não ama não conhece

a Deus, porque Deus é amor” (1 João 4 :8; cf. também 2:9; 3:11 - 19; 4:13-21).

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(Efésios 3:14-19) 217

O conhecimento, quando enraizado no amor, une o povo de Deus, jamaisdivide. Assim é que o apóstolo ora para que os gentios entendam que a visãoe maturidade espirituais não lhes pertencem com exclusividade; eles nãoexistem em isolamento, fora do modo estabelecido por Deus historicamente,

de modo especial entre os judeus. E visto serem membros do mesmo corpo,co-herdeiros e assim por diante (3:6), partilham do conhecimento do amorde Cristo e da plenitude de Deus com todos os santos.

Este conhecimento da verdade de Deus não é possessão de algunsindivíduos privilegiados; não é um sistema de doutrinas secretas, para um pequeno círculo. O conhecimento do mistério de Deus é concedido aindivíduos na comunidade e para a comunidade de crentes, da mesma formaque todos os dons espirituais são concedidos para o bem-estar do corpo todo(4:11-16; 1 Coríntios 12:4-13; 14:12,26). Esta é uma mensagem tempestivaaos cristãos de todas as eras, quando o individualismo tende a destruir aunidade do corpo de Cristo.

A oração inclui o poder — possais compreender perfeitamente —  noutras palavras, poder para entender, ou capacidade para perceber — a 

largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade... do amor de Cristo. Esta imagem espacial deve ser entendida como tentativa do apóstolode mostrar a magnitude do amor de Cristo, e não deveria impulsionar o leitorà procura de prováveis objetos que o apóstolo teria em mente. Váriasinterpretações dessa passagem referem-se ao formato da cruz, da Igreja, dotemplo, do universo visível, e assim por diante. Todavia, na melhor dashipóteses, essas idéias não passam de “curiosidades” (Stott, p. 137), ouinterpretações fantasiosas e engenhosas (Mitton, p. 134).

Quando o autor se põe a refletir sobre o amor de Cristo, descobre bemdepressa que não existe um meio tangível de descrevê-lo, pelo que recorrea estas expressões metafóricas. O amor de Cristo só pode ser descrito comimagens espaciais. Paulo teve uma experiência quando sentiu o amor deDeus, em Cristo, e exclamou que nada, absolutamente, pode separar o crente

“do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor” (Romanos 8:3139). Efésios emprega linguagem espacial de maneira semelhante à dosalmista, quando este descreve o amor de Deus (Salmo 103), ou suaonipresença (Salmo 109). O universo inteiro está inundado do amor deCristo.

3:19 / Entretanto, no ato de convocar seus leitores a compreenderem oamor de Cristo, o apóstolo percebe que qualquer esforço nesse sentido deixa

de atingir o alvo almej ado. Independentemente da capacidade de compreensão

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218 (Efésios 3:14-19)

da pessoa, o amor de Cristo excede todo o entendimento; excede a“capacidade de compreensão” da pessoa (Beare, p. 679). Que acusaçãocontra os que reivindicavam tal conhecimento para si mesmos! Embora sejalegítimo e necessário procurar tal compreensão, é loucura reivindicar sua

 posse. (Quanto a outra discussão do amor e sua superioridade sobre oconhecimento, veja-se 1 Coríntios 8:1-3; 13:1-3).

Embora os cristãos nunca entendam totalmente o amor de Cristo, é um passo para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus. Este é o segundoresultado de sua oração, segundo a visão do apóstolo. Ele havia começadoorando para que o poder do Espírito Santo, a permanência de Cristo no

coração, e o enraizamento no amor conduzissem a uma compreensão doamor de Cristo. Mas o objetivo último é que os crentes atinjam a plenitudeque pertence a Deus, isto é, todas as riquezas e a glória que lhe pertencem.“A plenitude ou perfeição de Deus torna-se o padrão ou nível que almejamosem oração atingir” (Stott, p. 138).

O conceito de “plenitude” (pleroma) em Colossenses 1:19; 2:9, 10) eEfésios (1:23; 3:19; 4:13) é outro modo pelo qual o autor descreve o

indicativo e o imperativo, ou o “agora” e o “ainda não” da vida cristã. Emunião com Cristo, os cristãos receberam essa plenitude; mas a possessão éum alvo que ainda está por ser alcançado, à medida que se apropriam dosdons de Deus, e crescem em sua capacidade de recebê-los (1:14; 4:30).Parece que o apóstolo está enfatizando a realidade disto no contexto daIgreja, e não estaria fazendo alusão a algum tipo de perfeição celestial queaguarda o povo de Deus, quando terminar nossa peregrinação terrena.

N o t a s A d i c i o n a i s # 1 4Quanto a3:14-21, veja-se W.E. Hull, Love in FourDimensons (Nashville:

Broadman, 1982)3:15 / Quanto a uma discussão mais longa sobre toda a família, de 3:15,

veja-se Abbott, pp. 93-94; Mitton, pp. 130-132.3:18 / Veja-se N.A. Dahl, “Cosmic Dimensions and Religious Knowledge

(Eph. 3:18),” em  Jesus und Paulus,  ed. E. E. Ellis e E. Grãsser (Gõttingen:Vandenhoeck&Ruprecht, 1975), pp. 57-75. Também Barth, Eph. 1-3, pp.  39597; Moule, p. 100; Robinson, p. 176.

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# 1 5 . Louvando Mediante Doxologia ( E f é s i o s 3 : 2 0 - 2 1 )

3:20 / O apóstolo orou fervorosamente pedindo determinadas coisas;todavia, ele mesmo percebe que seus pedidos sempre ficam aquém daquiloque Deus pode fazer. Assim, ele conclui esta seção doutrinária com um apeloàs riquezas e à compreensão infinitas de Deus: Aquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou  

pensamos... “Nossa experiência sobre seu poder, à medida que opera dentrode nós, é um índice limitado, mas verdadeiro, sobre a natureza do poder quegoverna o universo e conduz todas as coisas ao fim determinado” (Beare, p.680).

3:21 / A maior parte das doxologias do NT ligam a glória de Deus à deCristo, de algum modo (Romanos 11:36; 16:27;Gálatas 1:5; 1 Timóteo 1:17;1 Pedro 4:11; Judas 24, 25); esta é a única passagem que faz referência à

glória, na Igreja e em Cristo Jesus. Alguns comentaristas tomam isto comosendo parte da linguagem litúrgica do autor, que não deveria ser comprimidaa fim de extrair-se alguma precisão teológica (veja-se Holden, p. 305).Entretanto, diante do ensino a respeito da Igreja em Efeso, o relacionamentoda Igreja como corpo, com a cabeça, Cristo, e a ocorrência de tanto textolitúrgico, parece mais provável que esta declaração tenha sido escolhida demodo deliberado. Cristo (a cabeça) e sua Igreja (o corpo), formam a esfera

total da glória de Deus e, ao mesmo tempo, provêm os meios pelos quais essaglória é proclamada a toda a humanidade. Este louvor à glória de Deus prossegue por todas as gerações, para todo o sempre. Amém. Este amém é um anseio litúrgico final no sentido de que tudo o que o apóstolo escreveu, possa ocorrer de fato.

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#16. Apelo à Unidade e Padrão de Unidade (E fés io s 4 : 1 -6 )

O capítulo 4 inicia o que com freqüência tem sido chamado de a seção prática ou ética da carta. Se os capítulos 1-3 provêm a “base teológica” daunidade cristã, os capítulos 4-6 contêm as “instruções práticas” para suamanutenção. Estabeleceu-se a unidade (o indicativo); agora é dever doscrentes fortalecer e manter a unidade em sua comunhão (o imperativo).

A generalização não significa que os capítulos 4-6 não têm nenhum

conteúdo teológico. A divisão da carta em categorias assim tão amplas decerto modo leva à desorientação, porque, como no caso de Colossenses, oapóstolo em suas cartas freqüentemente combina declarações teológicascom ensinos éticos (cf. discussão de Colossenses 3:lss.). Em Efésios, oensino ético baseia-se no que foi dito nos capítulos anteriores (1-3), massurgem também em decorrência de novas preocupações teológicas do autor,de modo particular com respeito à unidade da Igreja. O estilo litúrgico quecaracterizou grande parte da primeira metade da carta prossegue ainda emtoda a segunda metade.

Tem sido sugerido que o principal tema de Efésios é a unidade — umaunidade que tem sido efetuada pela obra reconciliadora de Cristo, que uniutodas as coisas na terra e nos céus (1:10), e que uniu judeus e gentios naIgreja. Agora o apóstolo exorta seus leitores a que mantenham essa unidade

em sua vida pessoal, doméstica, social e eclesiástica. Na exortação inicial (4:1-3), ele de imediato nos chama a atenção para

sua principal preocupação: Os leitores precisam manifestar essas virtudesque caracterizam sua nova vida em Cristo, “procurando guardar a unidadedo Espírito” (4:3). Esta admoestação é seguida de uma lista de todos oselementos unificadores da Igreja (4:4-6), a que se dá maior aplicação nosdemais capítulos da carta.

4:1 / Portanto... rogo-vos refere-se ao que foi dito nos capítulos 1-3.Como em 3:1, o apóstolo lembra a seus leitores que sua vocação é a razãode seu encarceramento (como prisioneiro do Senhor). A preposição gregaen também aponta para a esfera de seu cativeiro: Ele é um prisioneiro “doSenhor.”

A exortação começa com uma exortação aos leitores: que andeis como 

é digno da vocação com que fostes chamados. O conceito de “vocação” émuito importante no pensamento bíblico. Em várias ocasiões os profetas

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(Efési os 4:1- 6)  221

lembraram aos componentes da nação de Israel que eles haviam sido“chamados” por Deus a fim de cumprir uma função específica (veja-se Isaías41:9; 42:6; 43:1; 44:2; 45:3; Oséias 11:1). De modo semelhante, os cristãostêm um chamado da parte de Deus, como se evidenciou no caso dosdiscípulos (Marcos 1:20), o apóstolo Paulo (1 Coríntios 1:1), e os gentios(Efésios 3:6).

Em Efésios, aos gentios se diz que Deus os escolheu para serem seusfilhos (1:4,5), que determinou que eles louvem a glória de Deus (1:12), queos chamou para uma esperança maravilhosa (1:18), e que os incorporou nocorpo de Cristo para uma vida de boas obras (2:10). Agora eles são

admoestados no sentido de mostrar sua vocação e posição em Cristo,mediante uma vida verdadeiramente ética e digna.Que andeis é tradução literal do grego peripateo (andar). Outrorao modo

de eles “andarem” conformava-se com “o curso deste mundo” (2:2); agorasão exortados a “andar” em Cristo, fazer desabrochar sua nova vida emCristo e a unidade que lhes cabe na Igreja. Fazem parte do grande propósitode Deus para o mundo, o qual inclui a união de todas as coisas na terra como

nos céus (1:10).4 :2 /Este versículo apresenta uma relação de atitudes pessoais essenciais

 para a unidade no corpo de Cristo. Há uma extraordinária similaridade coma lista de Colossenses 3:12-15, mas aqui a aplicação se desenvolve ao redordo tema da unidade. Stott se refere a tais virtudes como sendo “as cinco

 pedras fundamentais da unidade cristã” (p. 149). Como foi observado em

Colossenses, muitas dessas virtudes estão correlacionadas, ficando às vezesdifícil traçar diferenças entre elas.A humildade (tapeinophrosyne) é aquela atitude de espírito que capacita

a pessoa a ver objetivamente outras pessoas. Os gregos desdenhavam daidéia de uma atitude subserviente ou submissiva, mas o cristianismo, emvirtude do exemplo do próprio Cristo na Encarnação (Filipenses 2:5-11),deu-lhe novo sentido. Quando Paulo se encontrou com os anciãos efésios, fê-

los lembrar-se de que seu ministério entre eles era efetuado “com toda ahumildade” (Atos 20:19). A humildade é importante, e de modo especial nocorpo de Cristo, em que os relacionamentos interpessoais têm grandesignificado. A Igreja filipense constitui um exemplo clássico de como oorgulho, o egoísmo e a vaidade levam a uma comunhão esboroada (Filipenses2:1-4).

Mansidão (prautes) é consideração para com os outros. Uma pessoa

mansa não insiste em seus direitos pessoais, nem se imporá às expensas de

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222 (Efési os 4:1- 6) 

outrem. Stott observa que a humildade e a mansidão caminham juntas, aoelaborar com mais força uma perspectiva de R. W. Dale: “O homem 'm anso’dá pouca atenção às suas vindicações, assim como o homem humilde aosseus méritos pessoais” (p. 149).

Longanimidade (makrothymia) e suportando-vos uns aos outros em amor (amecho, lit. “suportar alguém ou algo”) forma outro pensamentosingular. Longanimidade ou paciência é a prontidão e a habilidade pararelacionar-se com as pessoas de modo deliberadamente cortês — da mesmaforma que Deus trata de seu povo (Romanos 2:4; 9:22; 1 Timóteo 1:16; 1Pedro 3:20; 2 Pedro 3:15); os cristãos são convocados para demonstrar esta

virtude no trato mútuo (1 Coríntios 13:4; Gálatas 5:22; 2 Timóteo 4:2). Essatolerância mútua dentro do corpo de Cristo faz o máximo para manter oespírito de unidade.

A quinta virtude é o amor. Conquanto se pudesse argumentar que o amornão é uma virtude separada da paciência, mas “uma ampliação do quesignifica a paciência” (Mitton, p. 138), o amor poderia ser considerado avirtude coroadora que abrange todas as demais. O amor é posto em realce

várias vezes ao longo da carta (1:4; 3:17; 4:15,16). E embora no amor possaincluir-se o conceito de sermos úteis uns aos outros, o autor entende quetodas as virtudes precisam ser praticadas, se se quiser que haja unidade naIgreja.

4:3 / Procurando guardar (no grego spoudazo, que significa “envidarum esforço zeloso,” “esforçar-se ao máximo”) a unidade. A expressão todasublinha o interesse profundo do apóstolo no sentido de que seus leitoresguardem cuidadosamente a unidade que lhes fora dada. Em princípio, essaunidade já existe como algo que o Espírito dá; agora o povo de Deus éadmoestado a preservar e manifestar essa unidade.

Efésios é a única carta do NT que emprega a palavra unidade (enotes,4:3, 13). Noutras passagens a unidade é descrita por certos conceitos como“comunhão,” “comunidade,” “um homem,” “um só corpo,” e assim por

diante. A unidade aqui é dom do Espírito, e por isso se manifesta no espíritohumano.Paz é virtude introduzida como a qualidade ou o meio que constitui o 

vínculo, ou elo que une os crentes entre si. E diferente de Colossenses 3:14,em que o amor é que une todas as coisas numa perfeita unidade. Em Efésios,paz se obteve quando se eliminaram as hostilidades que separavam judeusde gentios, quando ambos os povos se uniram num novo homem, em Cristo

(2:14-16); aqui, a paz é o vínculo que mantém a unidade.

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(Efési os 4:1- 6)  223 

Agora que o apóstolo exortou seus leitores a manterem a unidademediante uma conduta apropriada, ele apresenta a base teológica sobre quese erige toda a unidade. Nos versículos 4-6 aparece sete vezes a palavra“um”, relacionando elementos da unidade da Igreja com a unidade de Cristoe Deus.

Há várias teorias a respeito da origem desta passagem. Os eruditos têmencontrado paralelismos notáveis, com traços de judaísmo helenístico efilosofia estóica. Beare, por exemplo, relaciona várias fontes não-cristãs quedão testemunho da preocupação existente no mundo antigo acerca daunidade do cosmos, de Deus, da Lei, da Verdade e de todas as áreas da vida

(pp. 685-86). A presunção é que o autor de Efésios adotou tais fórmulas, deu-lhes um conteúdo cristão específico e as incorporou em sua carta.A maioria dos comentaristas, entretanto, toma os vv. 4-6 como uma

compilação de palavras e idéias que Paulo utilizou em seus escritos. A principal diferença entre os escritos indisputavelmente paulinos e a carta aosEfésios não está muito no conteúdo, mas na estrutura em que estas fórmulasse inserem. Só Efésios resume e dispõe tais pensamentos num padrão que faz

lembrar um hino litúrgico ou uma confissão de fé.Embora o autor de Efésios possa ter ficado em débito para com certos

textos paulinos como 1 Coríntios 8:6 e 12:4-13, a aplicação que ele dá àsidéias ali encontradas se conforma com a preocupação específica pelaunidade dentro do corpo de Cristo. Em Coríntios, por exemplo (1 Coríntios12:4-13), o apóstolo trata de umaquestão local, concernente àmá compreensãodos dons espirituais e sua aplicação no culto da Igreja e em sua vidacomunitária. Salienta-se ali que todo o orgulho e desunião devem desaparecer,

 porque tais dons provêm do mesmo Espírito. Em Efésios, Cristo é odispenseiro dos dons espirituais, e a unificação que abrange toda a sociedade baseia-se na “unidade” ou indivisibilidade do próprio Deus, que é a fonteúltima da unidade (veja-se Houlden, p. 309).

Estruturalmente, várias características desta passagem merecem nossa

observação: Primeira, o autorpassadeIgreja(“corpo”)paraDeus. Poderíamoster esperado que o apóstolo saísse da unidade de Deus para a unidade daIgreja, mas a ordem seguida parece ser determinada pela sua preocupaçãocom a unidade dentro do corpo. O v. 4 flui com naturalidade, a partir de suaexortação no v. 3, convocando a Igreja para perseverar na unidade que oEspírito concede; assim, “há um só corpo e um só Espírito.”

Segunda, há uma ênfase óbvia em todos os membros da Trindade e no

relacionamento do crente com o Espírito, com o Filho e com o Pai.

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224 (Efési os 4:1- 6) 

Conquanto tenha havido várias tentativas engenhosas de esboçar o pensamento do apóstolo, não parece haver simetria consciente ou algum paralelismo em sua mente. Stott, por exemplo, aplica quatro dessas expressõesa diferentes membros da Trindade: “Primeiro, o único Pai criou a única

família. Segundo, o único Senhor Jesus criou uma fé, uma esperança e um batismo. Terceiro, o único Espírito criou o único corpo” (p. 151). Entretanto, basicamente a passagem ensina que a unidade de Deus é o fundamento daunidade da Igreja. “Sua unidade é da mesma ordem da unidade de Cristo ede Deus; assim como não pode haver outros deuses e outros senhores, assimnão pode haver outras Igrejas” (Beare, p. 686).

4:4 / Há um só corpo e um só Espírito: A união de corpo e Espírito éobservável em 1 Coríntios 8:6; 12:4-6, 13. A ênfase em Efésiosindubitavelmente se relaciona ao conceito de que os crentes são membros docorpo em virtude da obra do Espírito Santo. Há um só corpo, porque só háum Espírito.

Além de serem um só no corpo e no Espírito, os crentes foram chamados em uma só esperança da vossa vocação. Esperança é o objetivo ou

herança pela qual o corpo se esforça no Espírito (1:14, 18; Colossenses1:4,5). Todos quantos foram chamados por Deus partilham a esperança queé comum a todos os crentes.

4:5 / Partindo do “corpo”, o apóstolo vai para “a cabeça” (Cristo) e paraaquilo que une o crente a Cristo. Senhor em grego é kyrios, título atribuídoa Cristo em várias ocasiões (1 Coríntios 8:6; 12:3; Filipenses 2:11). A Igrejafoi estabelecida pelo reconhecimento de Jesus como “o soberano Senhor.”

Fé pode ser tomada de duas maneiras: Primeira, pode significar “a fé,”ou seja, o corpo de doutrinas que contém todas as verdades a respeito da vidae obra de Cristo. Na Igreja apostólica, esta palavra tomou-se uma expressãocomum para mensagem cristã (Gálatas 1:23; Filipenses 1:27; 1Timóteo 3:9;4:1, 6; Tito 1:4; Judas 3). Todavia, a ausência do artigo definido nesta

 passagem faz que seja mais provável que o autor esteja pensando na crença

ou confiança em Jesus como Senhor e, desse modo, a aceitação ereconhecimento dele como Senhor.Batismo refere-se ao rito do batismo com água, visto ser a expressão

visível da fé do crente no Senhor, sendo o meio pelo qual a pessoa se tomamembro do corpo de Cristo, a Igreja (Romanos 6:1-11; Gálatas 3:26, 27;Colossenses 2:11-13). E duvidoso que um só batismo contenha a idéia deque o batismo não se repete, ou que se trata de uma polêmica contra outras

 práticas batismais correntes nessa época. Tudo que aqui está implícito é que

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(Efési os 4:1- 6)  225

o batismo apropriado, ou correto, é o batismo de fé em Cristo. O batismo éo sacramento da unidade, porque expressa uma fé comum em um Senhor.

A idéia de batismo como um sacramento de unidade não é exclusividadede Efésios. Por trás da observação um tanto sarcástica de Paulo aos coríntios:

“Fostes vós batizados em nome de Paulo?” (1 Coríntios 1:13) está aimplicação de que o batismo daqueles crentes em Cristo deveri a uni-los e nãodividi-los. Esta idéia é enfatizada com mais força ainda em 1 Coríntios12:13, onde se vê uma referência específica ao batismo “em um só Espírito,formando um só corpo.” A menção específica de judeus e gentios nesta

 passagem de 1 Coríntios, bem como na de Gálatas 3:27, 28 e Colossenses

3:10, 11, enquadra-se bem no tema da unidade de Efésios.Embora fé, Senhor, corpo e Espírito pertençam ao evento batismal, nãohá como saber se tais palavras contêm uma fórmula ou confissão de batismo.Se aceitarmos uma ambientação litúrgica de Efésios, seria então possívelencaixar esses versículos como uma confissão de fé, a ser recitada peloscandidatos ao batismo, ou como hino que as congregações entoavam. Aadmoestação inicial para que se viva uma vida que se harmoniza com a

vocação com que Deus nos vocacionou, pode ser tomada como a nova vidarecebida por ocasião do batismo. Entretanto, o aparecimento dessa fórmulaem Efésios não significa necessariamente que a carta é um tratado litúrgicoou batismal. O fato de ela usar imagens e teologia batismais simplesmenteestá de acordo com o propósito do autor de descrever a unidade da Igreja.Entretanto, por trás da fórmula está a idéia do batismo como o “sacramentoda unidade,” o rito mediante o qual judeus e gentios se tornam membros docorpo de Cristo. Tanto sua fé como seu batismo estão em Jesus Cristo, oSenhor.

4:6 / Os pensamentos do autor atingem o clímax na unidade de Deus (um só Deus e Pai de todos). A comunidade cristã partilhava o conceito judaicodo monoteísmo (um só Deus), e mediante seu relacionamento com Cristo,sabiam que Deus é Pai (Romanos 8:15; 1Coríntios 8:6; Gálatas 4:6; Efésios

3:14) de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos. A traduçãode KJV “em todos vós” não tem base sólida textual, tendo sido abandonadanas traduções subseqüentes.

Levando-se em conta o contexto da passagem, parece que o autor tem emmente a comunidade do povo de Deus (Stott, p. 151), ainda que tais

 pensamentos possam abranger o universo todo. E conceito que expressa atranscendência de Deus (é sobre todos), a onipresença de Deus (por todos) 

e a imanência de Deus (em todos). Ficamos imaginando se temos aqui uma

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226 (Efési os 4:1- 6) 

referência velada ao Deus triuno, porque no pensamento cristão, a onipresençae imanência de Deus são manifestações do Filho e do Espírito. O versículoé semelhante à bênção de Paulo em Romanos 11:36, em que ele declara:“Porque dele e por ele e para ele são todas as coisas.”

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# 17. A Concessão de Dons Espntuois ao Coipo ( E fé s i o s 4:7-11)

4:7 / O apóstolo vem discutindo a unidade do todo (4:1-6); agora ele sevolta para as partes individuais, e mostra como a diversidade dentro do corpocontribui para sua unidade. O corpo é uno, mas não é uniforme; todo crentetem um dom especial que traz uma contribuição para o todo.

 Nos versículos seguintes o apóstolo relaciona os vários dons necessários

 para o funcionamento perfeito do corpo e para que, no fim, se atinja seuobjetivo de maturidade — “até que cheguemos... à medida da estatura da plenitude de Cristo” (4:13). Mas a graça foi dada a cada um de nós. Cristonos dá, porque dar faz parte de sua graça. Assim como o apóstolo enfatizouque ele pessoalmente foi um dos que recebeu a graça (3:2,7,8), assim lembraa seus leitores que cada um deles recebeu o mesmo privilégio. Depois, elevai mostrar como tal privilégio induz à responsabilidade (4:12-16).

A dádiva é concedida segundo a medida do dom de Cristo. Embora agraça sugira o favor ilimitado de Deus, esta frase demonstra que tendo sidodada a cada um individualmente, tem limitações. Nenhuma pessoa possuitodos os dons exigidos pelo corpo; antes, os dons de cada membro sãosuplementados pelos dons de todos os demais membros. E o funcionamentosincronizado de cada parte que produz a unidade e o crescimento. Aqui sefala do dom segundo a medida do dom de Cristo, não do dom do Espírito,como em Coríntios (1 Coríntios 12:7-13).

A continuidade dessa passagem é interrompida por um parêntese em 4:9-10.O autor apresentou Cristo como o doador dos dons espirituais, mas antes de

 prosseguir enumerando-os (4:11), faz uma pausa a fim de refletir sobre oDoador, e sobre como a concessão desses dons por Cristo relaciona-se à suahumilhação e exaltação. Este assim chamado parêntese (4:9-10) constitui uma

das passagens mais difíceis e controvertidas da carta: Primeiro, há a tradução deuma citação do AT; segundo, há a aplicação dessa citação a Cristo; e terceiro,há o significado desses versículos dentro do contexto de Efésios.

4:8 / Por isso diz indica que o apóstolo está citando o AT. O problema,entretanto, é que a citação em Efésios difere consideravelmente do Salmo68:18, a única fonte provável da citação.

Salmos 68:18 Efésios 4:8Quando subiste ao alto, levaste cativo por isso diz: Subindo ao alto,

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228 (Efési os 4:7- 11) 

o cativeiro; recebeste dons dos homens, levou cativo o cativeiro,e até dos rebeldes, para que o Senhor e deu dons aos homens.Deus habitasse entre eles.

Pela tradução de NIV e ECA, vê-se que houve uma mudança de pessoa.Da segunda (tu) o apóstolo passou para a terceira (ele), e mudou a frase“recebeste dons dos homens” para “deu dons aos homens.” As reações doseruditos variam entre acusações de alteração deliberada (veja-se Houlden, p.130); “citação falha involuntária” (Mitton, p. 146); “trecho de exegeserabínica” (Beare, p. 688). Há também a explicação de Stott, de que “as duas

redações são apenas formalmente contraditórias, não porémsubstancialmente” (p. 157).

Originalmente, o salmo celebrava o triunfo terreno dos israelitas sobreseus inimigos, com o retomo de seus inimigos derrotados, mais o despojo daguerra, para a capital. Isto serve também como um retrato da vitória de Deussobre todos os seus inimigos durante o êxodo, e sua entronização na cidadesanta. Num período posterior, os rabis interpretavam essa passagem comoreferindo-se à ascensão de Moisés ao monte Sinai, a fim de receber a lei(Êxodo 19). A entrega da Tora (Lei) veio a associar-se à festa de Pentecoste.Segundo esse uso do salmo, os rabis entendiam que Moisés havia subido àmontanha a fim de receber dons, isto é, a lei, para o povo, para que ele, porsua vez, pudesse concedê-los ao povo (veja-se Barth, Eph. 4-6  p. 472; Beare,

 p. 688). Um Targum antigo (tradução do texto hebraico para o aramaico) na

verdade mudou a redação do salmo original para “ele deu dons aos homens.”Quando o autor de Efésios discute os dons espirituais que Cristoconcedeu à Igreja, busca argumentos nesse salmo, porque vê a ascensão deCristo ao Pai como o seu cumprimento profético (subindo ao alto). Assimcomo Moisés recebeu a lei para o povo de Israel, Cristo, sendo um segundoMoisés, todavia maior ainda, deu seu Espírito à Igreja, o qual, além disso,inclui os dons mencionados em 4:11 (deu dons aos homens). Cativeiro 

refere-se aos principados e potestades que Cristo levou cativos (1:20-22;Colossenses 2:15).

Os comentaristas ficam perturbados pela falta de cerimônia do autor emalterar assim o texto do AT (Houlden, p. 130), desconsiderando o sentidooriginal da passagem, ou aceitam isto como “um verdadeiro testemunho doEspírito de profecia” (Moule, p. 107). Stott reconcilia as partes conflitantesao enfatizar que, por trás de “receber” estava o propósito de “dar,” princípioque ele vê ilustrado no sermão de Pedro no dia de Pentecoste (Atos 2:33),

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(Efési os 4:1- 6)  229

quando este apóstolo declara: “De sorte que, exaltado pela destra de Deus,e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vósagora vedes e ouvis” (pp. 158s.).

4:9 / O autor encerra a citação e disserta (parenteticamente em NIV) a

respeito do significado de subir e descer: Ora, isto — ele subiu — que é, senão que também antes desceu às partes mais baixas da terra? A frasepartes mais baixas da terra levanta o segundo maior problema interpretati vodesta passagem: Os comentaristas estão sempre cheios de sugestões, como por exemplo: (a) a terra; (b) as regiões abaixo da terra, como o Hades ou oInferno; (c) a vinda de Cristo em carne; (d) a humilhação de Cristo na cruz,sua morte e sepultamento; e (e) a volta de Cristo no Pentecoste a fim deatribuir seu Espírito Santo à Igreja.

Visto que o apóstolo não esclarece o que tem em mente, presumimos queseus leitores teriam sabido a que ele se referia. Alguns estudiosos podem

 pensar numa tradição da Igreja apostólica, segundo a qual Cristo teriavisitado o mundo subterrâneo, entre sua morte e sua ressurreição (1 Pedro3:19; 4:6). Entretanto, isto poderia ser apenas um modo expressivo de o

apóstolo mostrar-se inclusivo ao máximo. Serve, portanto, para equilibrar afrase: “subiu acima de todos os céus” de 4:10.

4:10 / O apóstolo fala “subiu” e depois “desceu”, e salienta que estáfalando da mesma pessoa: ele subiu... e também desceu. Talvez seja umareferência a uma heresia do tempo apostólico chamada docetismo, quenegava a realidade e integridade da encarnação (cf. 1 João). O autor estariadizendo que o mesmo Jesus que se encarnou, que sofreu e morreu, quedesceu ao Hades (?), também foi exaltado e subiu à mão direita do Pai, queé o Dispenseiro dos dons espirituais.

Ele subiu acima de todos os céus. A cosmologia antiga retratava aexistência de pelo menos sete céus acima da terra (veja-se adisc. sobre 3:10).Aqui o apóstolo está afirmando de novo que Cristo foi exaltado “à maiorhonra e glória possíveis” (Foulkes, p. 116); sua presença permeia tudo, desde

a profundidade mais profunda até a altura mais elevada (“todas as coisas...tanto as que estão nos céus como as que estão na terra,” 1:10). A primitivateologia cristã descrevia a ascensão de Cristo como sendo sua exaltação aoscéus, e além dos céus (1:20,21; Hebreus 4:14; 7:26).

O propósito da ascensão é que Cristo subiu para cumprir todas as coisas (cf. 1:23). Isto poderia significar que Cristo simplesmente permeia tudo comsua presença ou que, ao fazer isso, traz todas as coisas em sujeição sob sua

soberania. Seja como for, a verdade central a respeito da ascensão é que ela

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230 (Efésios 4:7-11)

toma Cristo acessível a “todos os homens, em todos os tempos” (Mitton, p.149). No contexto dos dons, esta passagem mostra que o Senhor que subiué o mesmo que desceu à terra a fim de entregar essas dádivas espirituais àIgreja.

4:11 / Após este breve comentário sobre o Salmo 68:18, o apóstolo voltaseus pensamentos para os dons especiais que Cristo deu à sua Igreja (4:7).Ao mencionar o salmo, repete — como que para dar nova ênfase — quequem dá é Cristo: Ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores.

Embora este versículo possa parecer um tanto simples, quando analisado

de modo superficial, há várias questões que dificultam seu sentido e atémesmo o tornam ambíguo: Primeiramente, no cânon do NT, às vezes apareceuma sobreposição de funções atribuídas ao mesmo cargo. Diáconos e presbíteros, por exemplo, desenvolvem um ministério parecido, e poucoseruditos concordam sobre a maneira de distinguir-se presbíteros, bispos eanciãos.

Em segundo lugar, é possível que as Igrejas diferissem em suas estruturas

organizacionais de um lugar para outro. Assim, o que era verdade a respeitode uma congregação específica poderia não se aplicar às demais Igrejas.Aceita-se muito bem a teoria de que os líderes “carismáticos” da Igreja prim itiva gradualmente foram sendo substituídos por pessoas emdeterminadas funções (e.g., anciãos, bispos, diáconos). As epístolas pastorais(1 e 2 Timóteo, Tito), por exemplo, enfatizam os cargos da Igreja, em vez dea variedade de dons mencionada em 1 Coríntios 12.

Em terceiro lugar, há também a questão da autoridade dalgrejaprimitiva.De início, a autoridade espiritual e eclesiástica pertencia aos líderes primitivos¥ os apóstolos, profetas, anciãos e assim por diante. Entretanto, gradualmente,esta autoridade foi substituída pelo cânon das Escrituras. À medida que oslíderes das Igrejas iam morrendo, as Igrejas eram forçadas a procurar osescritos inspirados que haviam deixado atrás de si, como sua fonte de

autoridade. Assim foi que a autoridade apostólica de Paulo pôde ser mantida pelas gerações que se sucederam, mediante suas cartas às igrejas.Um quarto problema a respeito de Efeso é a intenção do autor. Quais eram

suas intenções ao apresentar aquela lista? Por que omitiu os dons mencionadosem 1 Coríntios? A seleção dele diz respeito a uma igreja local ou à Igrejauniversal? Infelizmente nem sempre é fácil determinar as respostas a estas perguntas.

Finalmente, qualquer interpretação desses “dons” corre o risco de impor 

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(Efésios 4:1-6) 231

idéias contemporâneas sobre categorias antigas. Visto que a Igreja de hojenão tem lugar para o cargo de apóstolo, por exemplo, a tentação é encontrar-se uma contrapartida contemporânea nos líderes eclesiásticos, comosuperintendentes e supervisores (veja-se Stott, p. 160). Pode haver certa

legitimidade nisto, mas não adianta esclarecer o sentido original de um cargoe/ou dom, e compreendê-lo no contexto em que é empregado. Neste caso,não se trata de pôr vinho novo em odres velhos; a Igreja tem novos odres nosquais está tentando guardar vinho velho.

Há várias coisas que podem ser observadas a respeito de Efésios:Primeira, apóstolos... profetas e doutores são as únicas três categorias

tiradas diretamente de 1 Coríntios 12:28: “A uns pôs Deus na Igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro lugarmestres.” Apóstolos e mestres já foram mencionados na fundação da Igreja(2:20; 3:5); os demais cargos (evangelistas... pastores) ocorrem pela

 primeira vez.Segunda, o cargo de evangelista corre apenas duas outras vezes no NT.

Filipe é um “evangelista” (Atos 21:8), e Timóteo é exortado por Paulo: “Faze

a obra de um evangelista” (2 Timóteo 4:5). Não há meio de sabermos se oautor pensou em evangelistas como sendo elementos para fundação deigrejas, do mesmo modo que apóstolos e profetas. E certo que suas funçõescomo proclamadores do evangelho poderiam ser consideradas desse modo.

Terceira, parece que certas tentativas para separar esses cargos emministérios missionários e ministérios de continuidade, ou em cargos decaráter universal (apóstolos, profetas, evangelistas) e cargos para a igrejalocal (pastores / doutores) são arbitrárias. Se o apóstolo pretendesse fazerdistinções, esperaríamos que ele mencionasse os presbíteros, bispos ediáconos também. O que é certo, contudo, é que Cristo deu (nomeou) essesoficiais para esses cargos na Igreja, a fim de que esta atingisse maturidadetotal nele (4:12-16).

Apóstolos: Esta palavra vem do verbo postello, que significa “enviar.”

Apóstolo é alguém que foi enviado. No NT é palavra empregada para osdoze, para as pessoas relacionadas a igrejas específicas (2 Coríntios 8:23;Filipenses 2:25), e dos cristãos de modo geral (João 13:16). Na Igrejaapostólica, as qualificações de um apóstolo de Cristo eram ter visto a Jesus(1 Coríntios 9:1,2) e ser testemunha de sua ressurreição (Atos 1:21-23). Osapóstolos eram enviados como missionários, provavelmente por ordenaçãode uma igreja (após a ressurreição do Senhor), a fim de exercer liderança em

questões espirituais e de organização.

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232 (Efésios 4:7-11)

Profetas:  Na literatura bíblica, profeta é um proclamador (quem prega)e vidente (quem prevê o futuro). Essas pessoas recebiam uma mensagemespecífica de Deus, diretamente ou mediante sua Palavra; através de proclamações divinas, faziam que a vontade de Deus fosse conhecida em

situações específicas. Na maioria dos casos, o profeta comunicava umamensagem imediata da parte de Deus a seu povo ou à Igreja (veja-se Stott, pp. 161-62).

Evangelistas: A definição mais óbvia de evangelista é “pregador doevangelho” (2 Timóteo 4:2), “prega a palavra”). Na Igreja primitiva havia pregadores itinerantes que andavam por áreas ainda não-evangelizadas a fim

de proclamar o evangelho. Todavia, o evangelista também poderia ter o domnecessário à função de explicar o evangelho às pessoas, além de levar os pagãos a aceitá-lo como Palavra de Deus (cf. 2 Timóteo 4:5: “Tu, porém, sêsóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre bem0 teu ministério”).

Pastores e doutores: Tem havido algum debate sobre se o autor pretendia expressar dois cargos distintos, ou se os pastores e doutores

(mestres) são duas funções a serem exercidas no mesmo cargo. A ausênciado artigo antes de mestres (tous de poimenas kai didaskalous)  leva-nos aentender que estas palavras exprimem dois aspectos do mesmo cargo — éum cargo que tem um ministério pedagógico e outro pastoral.

Esta é a única ocasião no NT em que o substantivo poimen ocorre comotítulo de um líder da Igreja. Sem dúvida é palavra proveniente da aplicaçãoda figura de linguagem do pastor, a qual caracterizava o relacionamento doSenhor Jesus com seus discípulos. Jesus é o bom pastor (opoimen ho kalos, João 10:11-18; cf. também Mateus 18:12-14; Lucas 15:3-7; Hebreus 13:20;1 Pedro 2:25; 5:4); em diversas ocasiões, os líderes da Igreja foramexortados: “Apascentai o rebanho de Deus” (1 Pedro 5:2; Atos 20:28); oslíderes eclesiásticos devem espelhar-se, como pastores, no Supremo Pastor,Jesus Cristo.

Se o principal trabalho do pastor é “cuidar” do rebanho de modo pastoral,a principal tarefa do mestre é “alimentar” o rebanho pela instrução. É difícilseparar as duas funções, visto que pastorear e ensinar são tarefas intimamenterelacionadas. Citamos Stott: “Talvez possamos dizer que, embora todo

 pastor deve ser um mestre, dotado de dons para o ministério da Palavra deDeus ao povo (quer se dirija a uma congregação ou a grupos de indivíduos),nem todo mestre cristão, todavia, também é pastor, visto que talvez ensine

apenas numa escola, ou colégio, em vez de numa igreja local” (pp. 163-64).

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(Efésios 4:1-6) 233

O pastoreio, que inclui um elemento didático, implica uma responsabilidadea longo prazo no trato das necessidades espirituais do povo.

N o t a s A d ic io n a i s # 1 7

4:8 / R. Rubinkeiwicz examina a versão do Targum desse Salmo em seuartigo, “Ps LXVII 19 (=EPH IV 8): Another Textual Tradition or Targum?” NovT  17 (1975), pp. 219-24. Veja-se também G.V. Smith, “Paul’s Use of Psalm68:18 in Ephesians 4:8,” JETS  18 (1975), pp. 181-89.

4:9 / Quanto a uma explicação mais detalhada dessas teorias, veja-seAbbott,pp. 114-16; Barth, Eph. 4-6, pp. 433-34; Beare, pp. 688-89; Mitton, pp.

146-49; Stott, God’s New Society, pp. 156-59. Quanto à teoria da descida deCristo no Pentecoste, cf. G. B. Caird, “The Descent of Christ in Ephesians 4 ,711, “em Studia Evangélica, vol. 2, ed., F.L. Cross (Berlim: Akademie Verlag,1964), pp. 535-45.

4:11 / Um estudo antigo, mas valioso, encontra-se em J.B. Lightfoot, “TheChristian Ministry,” em Philippians (Londres: MacMillan, 1898), pp. 181-269.Quanto aos cargos, cf. K.H. Rengstorf, apostolos, TDNT, vol. 1, pp. 407-47; G.

Friedrich, prophetes, TDNT, vol. 6, pp. 781-861; idem, euangelistes, TDNT, vol.2, pp. 736-502; K.J. Rengstorf, didaskalos, TDNT, vol. 2, pp. 148-60.

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# 18. A Consecução da Unidade ( E f é s i o s 4 : 1 2 - 1 6 )

4:12 / Após relacionar os cargos, o apóstolo passa a esclarecer suasfunções ou propósitos. Conforme Coríntios, os dons são concedidos à Igreja

 para benefício do corpo todo (1 Coríntios 12:7; 14:26,31). A obra e osresultados descritos enquadram-se no ministério confiado a pastores emestres.

A principal e imediata função dos líderes da Igreja é o aperfeiçoamento dos santos, para o desempenho do ministério. NIV e EC A de modo corretocombinam o preparo, ou aperfeiçoamento, ao ministério, o que evita o errode algumas versões anteriores, que traziam duas orações coordenadas no

 período (cf. KJV; RSV, ed. 1947). No corpo, todos os membros e não apenasos ministros devem ser treinados para servir. A palavra katartismos (“treinamento,” “preparo,” “dotação de conhecimentos”) transmite a idéia

de um desenvolvimento harmonioso em que todas as partes são postas emcondições de desempenhar funções segundo o propósito determinado (2Timóteo 3:17).

A segunda frase, para a edificação dó corpo de Cristo, exprime oobjetivo último dos dons entregues à Igreja. Aqui, a imagem de umaedificação indica que o corpo está sendo edificado à medida que o povo deDeus vai sendo preparado para realizar a obra do ministério (diakonia). Cada

crente deve dar sua contribuição nesse processo, sob pena de o corpo vir aser deficiente em certas áreas de seu crescimento.

4:13 /Partindo dessas duas declarações gerais, o autorprossegue e definecom mais precisão os vários aspectos do crescimento cristão no corpo deCristo. A edificação do corpo de Cristo inclui várias característicasimportantes. Em primeiro lugar, existe um componente intelectual (até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus). Aqui está um chamado à comunidade cristã para que trabalhe demodo coletivo no sentido de atingir a unidade da fé (eis ten enoteta tes 

 pisteos). Visto que Efésios já mencionou a unidade inerente à “fé” (4:5), a pessoa vê isto como mais um lembrete para que os leitores se apropriem demodo progressivo daquilo que lhes pertence por direito de posse. A ênfaseaqui estána consecução corporativa dessa unidade (até que todos cheguemos 

à unidade da fé), em vez de em indivíduos que isoladamente estão lutando para obter crescimento espiritual, separados do corpo.

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(Efésios 4:12-16) 235

Além da fé, o pleno conhecimento do Filho de Deus é a segundacondição para a unidade. Filho de Deus é outra designação de Jesus(Romanos 1:4; Gálatas 2:20), e aparentemente não existe nenhuma razãoespecífica para o emprego desse termo aqui. O que é importante é que o Filho de Deus é essencial para a unidade, por ser o objeto da fé e do conhecimentocristãos. Noutras palavras, a consecução da união só se pode encontrar numrelacionamento pessoal de fé e de conhecimento da pessoa de Jesus Cristo.

A segunda característica do crescimento do corpo inclui a maturidade pessoal — à perfeita varonilidade (eis andra teleion).  Embora algunseruditos tomem esta expressão como referência à maturidade individual, ou

 pessoal, (Mitton, p. 154) ou a Cristo, o “Homem Perfeito” (Barth, Eph. 4-6,  pp. 484-96, o contexto mostra que o autor ainda está pensando na naturezacorporativa da Igreja, e sua unidade. Sendo um corpo, a Igreja deve crescercomo crescem as pessoas maduras; este é um objetivo que, logicamente, só pode ser atingido se e quando os membros individuais crescem na unidadeda fé, no conhecimento do Filho de Deus.

A terceira característica é algo equivalente à semelhança de Cristo

(Mitton, p. 154) — à medida da estatura da plenitude de Cristo. Esta é aúltima oração preposicional (eis... eis... eis...), e representa o estágio final damaturidade da Igreja. A maturidade cristã, quer individual, quer corporativa,é aquela qualidade de vida que pertence a Cristo. Quando a Igreja atinge aestatura da plenitude de Cristo, surge um benefício recíproco em que Cristotambém encontra sua plenitude na Igreja (1:23).

Até agora o apóstolo esteve descrevendo a unidade cristã como um algoque precisa ser atingido. E verdade que existe diversidade dentro do corpocom respeito aos dons espirituais que Cristo concedeu à Igreja. Todavia, essadiversidade deve promover a unidade da fé e ajudar o corpo a alcançar seualvo último. Espera-se que os crentes cresçam, saindo de seu individualismoe atingindo a unidade corporativa da pessoa de Cristo. Nos versículosseguintes o apóstolo descreve algumas circunstâncias que prejudicam a

consecução dessa unidade e, a seguir, dá-nos algumas perspectivas docrescimento do corpo.

4:14 / Embora a unidade seja um ideal a ser atingido, o autor está bemciente de que a peregrinação da Igreja na direção desse objetivo caracteriza-se pela imaturidade e instabilidade. Hoje, o corpo de Cristo age à semelhançade meninos, uma designação que implica imaturidade, temperamentoinstável, individualismo, auto-afirmação, e assim por diante. Quando aIgreja atinge seu objetivo, pára de agir de modo infantil.

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236 (Efésios 4:12-16)

As crianças também são inconstantes, isto é, agem às vezes como barquinhos,levados ao redor por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia induzem ao erro. A Igreja age de modo imaturo e inconstantequando permite que ensinos e doutrinas falsos a impeçam de atingir plenamaturidade em Cristo. Não há meio de sabermos se o apóstolo tem em mentealguma heresia específica (como o gnosticismo ou o docetimo, cf. Atos 19:26-35),ou se setratadeumaexortação genérica quanto àsãdoutrina. Sejacomofor,o ensino de falsas doutrinas promove o sectarismo e o individualismo, em vezde a unidade corporativa dentro do corpo de Cristo.

O apóstolo fala mais um pouco do engano da humanidade ao empregar

uma metáfora tirada do jogo de dados — pelo engano dos homens. A palavra grega kybeia basicamente significa “jogar dados,” mas por fim veioa ter o sentido de “engano,” “astúcia,” “trapaça.”

Parece que os falsos mestres deliberadamente tentavam desviar a Igrejamediante ensinos cavilosos e enganosos. “As pessoas estão sendo levadas pelas ondas da moda, pelas novas manias e idéias; e também estão sendomanipuladas por homens inescrupulosos e astuciosos que, mediante todo

tipo de trapaça, tentam desviá-las da principal vida da Igreja, na direção demovimentos divisivos e sectários” (Mitton, p. 155). Todas essas característicasnegativas desaparecerão (para que não sejamos mais...) quando o corpo deCristo houver atingido seu objetivo de unidade e maturidade em Cristo.

4 :1 5 /0 apóstolo deixa a direção negativa para retomar a positiva, a quea Igreja deve seguir. Uma igreja dividida caracteriza-se por rivalidade,

suspeita, ódio, orgulho, egoísmo, falta de direção e assim por diante (cf.Filemom 2:2-4). Antes, exorta o apóstolo, que a Igreja se caracterize pelasqualidades da verdade e do amor (seguindo a verdade em amor...). Literalmente, a frase poderia ser traduzida assim: “verdadeando em amor,” porque não existe um verbo no texto grego que se traduza por “seguindo,”ou “falando”. (Tampouco existe em português o verbo verdadear). O sentidoessencial é que a verdade precisa ser comunicada em amor, não pelo engano

e trapaça e sem amor.A verdade e o amor constituem dois componentes essenciais da vida da

Igreja. O ensino importante desta frase é que estas duas virtudes andam juntas. A verdade cristã tem um aspecto moral bem como intelectual; influina pessoa toda, não apenas no cérebro. E embora a posse da verdade sejacrucial para a vida da Igreja, é importante também a forma como a verdadeé obtida e mantida. E claro que os mestres cristãos jamais podem recorrer aotipo de truques que caracteriza os falsos mestres (4:14).

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(Efésios 4:12-16) 237

“Vivendo a verdade em amor” dá a idéia de o crente arraigar-se naverdade e no espírito de amor. Algumas congregações podem deter toda “averdade,” e nenhum amor; outras poderão ter muito amor, mas nenhumaverdade. Precisa-se de uma combinação e do equilíbrio entre ambas as

virtudes. Stott apresenta uma declaração apropriada e inteligente a esserespeito: “A verdade torna-se dura, quando não vem suavizada pelo amor;o amor torna-se mole, se não vier fortalecido pela verdade. O apóstolo nosadmoesta a que mantenhamos ambos j untos... Não exi ste nenhuma outra rotasenão essa, para a unidade cristã completa e madura” (p. 172).

Como ocorre quanto à outra exortação do apóstolo, esta se dirige à vida

corporativa da Igreja. O indivíduo precisa aprender a viver como parte dotodo maior— “nós” (cresçamos), isto é, o corpo inteiro, cresçamos em tudo naquele que é o cabeça, Cristo. A Igreja é um corpo vivo, capaz demanifestar tal crescimento por causa de seu relacionamento íntimo comCristo, o cabeça.

4:1 6/ Como cabeça do corpo, Cristo dirige e controla o crescimento quevai ocorrer. Ele é a fonte e ao mesmo tempo o objetivo do crescimento da

Igreja. Como ilustração, o autor usa uma metáfora fisiológica semelhante àde Colossenses 2:19. Em Colossenses, a ênfase está na nutrição e coesão quea cabeça dá ao corpo; em Efésios, permanece o relacionamento cabeça-corpo, mas dá-se maior ênfase à interdependência dos indivíduos dentro docorpo, de modo muito parecido com a atuação coordenada de músculos,nervos, membros e assim por diante, no organismo humano. Os verbosiniciados por  syn” (synarmologoumenon, “encaixar-se ou ligar-se,” e

 symbibazomenon, “entrosar, unir, entretecer”) sublinham esta preocupação,e o tempo presente indica a existência de um processo contínuo dentro docorpo de Cristo.

De novo o autor chama-nos a atenção para a importância das partes emsua relação com o todo: do qual todo o corpo bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz 

o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor. Eimportante que os membros individuais estejam ligados à cabeça (4:15); masé igualmente importante o fato de o crescimento do corpo depender damaneira por que tais membros estão relacionados entre si, a fim dedesempenhar suas próprias funções como membros do corpo. Este processode edificação e crescimento se faz em amor. Os leitores têm sido exortadosa demonstrar amor uns para com os outros (4:2,15), e são lembrados de novo

que o amor é o solo em que cresce o espírito de unidade (cf. 3:17).

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# 19. A Vida Antiga e a Vida Nova ( E f é s io s 4 : 1 7 - 2 4 )

Até o presente ponto da carta, só houve referências ocasionais à vida éticado cristão (2:10; 4:1-3,15). Em 4:1 parece que o apóstolo estaria preparandouma descrição da nova vida em Cristo, mas isso o induziu, antes, a uma ex posição mais pormenorizada dos elementos unificadores da Igreja (4:4-16).

Em 4:17, entretanto, há uma digressão clara dos aspectos teológicos daunidade, pondo o apóstolo maior ênfase na ética da unidade, e como tal ética

 pode manter-se dentro da Igreja. Esta grande seção inicia-se com umaadmoestação aos leitores para que não andem — isto é, não vivam — comoos pagãos, sem ética. E o apóstolo prossegue dando uma descrição dos novos padrões que deverão governar sua vida. Em contraste com Colossenses, não parece haver nenhuma crise moral que exigisse tal admoestação; antes, estaexortação faz parte do tema geral da unidade, defendido pelo autor.

A grande seção ética de 4:17-5:21 pode ser desdobrada em várias partes

menores. A primeira, 4:17-24, representa um apelo genérico aos leitores para que abandonem sua forma primitiva de vida, sob o princípio de que suanova vida em Cristo representa uma mudança radical de comportamento. Asegunda, 4:25-5:2, inclui uma lista seleta de vícios e virtudes essenciais àmanutenção da unidade no corpo. A terceira, a ética da vida antiga e a da vidanova entra em contraste pela imagem da luz e das trevas (5:3-14). A quarta,

há outro apelo para o modo de o cristão andar &m 5:15-21, incluindo algumasexortações dentro do contexto do culto cristão.4:17 / Pela referência do apóstolo ao Senhor, depreende-se que ele

achava que suas exortações éticas eram urgente, importantes e cheias deautoridade (lit., “isto eu digo, portanto, e dou testemunho no Senhor”). A

 principal preocupação do autor é que seus leitores abandonem seu antigomodo pagão de viver (como andam os outros gentios). Esta descrição

 parece-se muito com a de Romanos 1:18-24.O modo gentio de viver inclui a vaidade do seu pensamento; a palavra

grega para vaidade é mataiotes, e expressa a inutilidade daquela maneira deviver. E vida que, longe de Deus, nenhum valor tem.

4:18/Os gentios também têm mentes obscurecidas; privados da verdadeirafonte de luz e do esclarecimento que Deus concede a seus filhos (1:18),vivem num estado de escuridão intelectual.

Vivem alienados por causa da ignorância (agnoia) e dureza do seu

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(Efésios 4:17-24) 239

coração (dia tenporosin tes kardias auton)\ estão separados de toda a vidacom Deus. O autor não esclarece como foi que isso aconteceu. Em RomanosPaulo diz que Deus se deu a conhecer mediante a revelação natural, mas ahumanidade rejeitou essa revelação e preferiu voltar-se para a adoração de

si própria e dos ídolos (cf. Romanos 1:18-23). “Teimosia” (GNB) é outratradução adequada de porosis, preferível a “cegueira” (veja-se a nota sobre4:18).

4:19 / Tudo isto produziu dois efeitos degradantes adicionais em suasvidas. Insensibilidade (tendo-se tornado insensíveis); e vício (dissolução, ou sensualidade, “licenciosidade,” RSV). Este último vocábulo é outra

maneira de descrever todo tipo de libertinagem e perversão sexual (asalgeia, “licenciosidade,” “luxúria,” “conduta indecente”). E tal conduta indecenteera praticada com avidez (“sem restrições,” GNB).  Pleonexia  descreveindivíduos cheios de luxúria, que procuram continuamente satisfazer seusdesejos. No contexto, o pensamento do autor é que o modo de vida dos

 pagãos caracteriza-se por um desejo sempre crescente de participar mais emais de imoralidade sexual.

Podemos ver a futilidade do paganismo. Ao rejeitar a revelação de Deus,o pagão torna-se endurecido de coração e de consciência. Esta situação tristeconduz ao comportamento imoral. Por fim, temos um círculo vicioso,

 porque se toma necessário buscar novas perversões que substituam asantigas (Mitton, pp.161-62).

4:20 / Em contraste com o antigo modo de seus leitores viverem, oapóstolo leva-os a lembrar-se que aprenderam algo muito diferente quandose tomaram cristãos — mas vós não aprendestes assim a Cristo. O mododo cristão viver é oposto a esse que Paulo acabou de descrever. Asreferências a terem aprendido, ouvido, terem sido ensinados, sem dúvida sereferem ao tempo quando esses gentios se tornaram cristãos mediante a proclamação do evangelho de Jesus. A conversão ter-se-ia seguido asubseqüente instrução na fé cristã. A fraseologia sugere a existência de uma

“escola,” ou pelo menos de instrução catequética sendo transmitida aosnovos convertidos.4:21 / Embora NIV mencione que os crentes “vieram a conhecer Cristo,”

o texto grego não tem o verbo no infinito, e literalmente declara que“aprenderam a Cristo, (emathete ton Christon); (ECA: se é que... nele fostes ensinados). Parece que a implicação é que a voz de Cristo teria sido ouvidamediante a proclamação dos apóstolos (Mitton, p. 163; Stott, p. 179). Além

da proclamação (kerygma), há ensino (didache), de que Cristo é o objeto (se

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240 (Efésios 4:17-24)

é  que o ouvistes, e nele fostes ensinados, conforme é a verdade em Jesus).Parece não haver razão por que o autor muda de “Cristo” (4:20)  para

Jesus (4:21). Alguns comentaristas acham que isso pode ser uma referência

 proposital à personalidade histórica do Senhor, visto que certo ensino falsodessa época fazia distinção entre Cristo e Jesus. Isto, entretanto, é especulação;talvez o apóstolo simplesmente deseja lembrar a seus leitores que a verdadeestá encarnada em Jesus — que, naturalmente, é o Cristo.

4:22-24 / Em 4:22-24 o autor se refere ao tipo de instrução que os novoscrentes teriam recebido à época de seu batismo (cf. Colossenses 3:8-12). Otexto grego não tem nova sentença no início de 4:22, pelo que a exortação

a que vos despojeis do velho homem e vos revistais do novo homem deveser entendida no contexto da instrução batismal. Esta passagem mostra orelacionamento íntimo existente entre o batismo e a ética. A moralidadecristã não pode ser considerada à parte da revelação cristã. Fica bem claroque o que se iniciou no batismo deve prosseguir na experiência do cristão.O batismo é uma nova modalidade ética de vida.

Três verbos importantes governam 4:22-24. Vos despojeis e vos revistais são aoristos infinitivos e, assim, expressam um ato único baseado em experiência

 passada. Os leitores se “despojaram” (apothesthai) da velha natureza e se“revestiram” da nova natureza por ocasião de seu batismo. Isto indica sua vidacristã, formando a base do imperativo para que vivam com toda ética. Assim éque o apóstolo lembra a seus leitores: que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do 

engano; e vos renoveis no espírito. O novo homem, por outro lado, de que oscrentes se revestem no batismo, foi criado segundo Deus.

Em Colossenses 3:10, Paulo fala dessa nova maneira de viver, comoalguém que se renova à imagem de Deus. Sem dúvida, tanto Efésios comoColossenses estão aludindo à restauração da imagem de Deus no homem,que se perdera após a queda (Gênesis 1:27), mas que fora restaurada pelavivência em Cristo. O novo homem, ou nova criatura, segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade.

Todavia, entre o lembrete para que os leitores se dispam do velho homeme se revistam do novo, vem uma exortação para que haja contínua renovaçãode seus corações e mentes (lit., “no espírito de vossa mente”). Ananeousthai é  infinitivo presente, o que indica que ano va criação se faz à imagem de Deuse é um processo contínuo, ainda que constitua um fato estabelecido. Aqui

está outro lembrete aos crentes, de que devem “tornar-se” aquilo que já“são!” "

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N o t a s A d i c i o n a i s # 1 9

(Efésios 4:17-24) 241

4:17 / Mitton provê-nos uma tabela comparativa muito interessante, entreRomanos e Efésios, p. 159, e também Stott, God’s New Society,” pp. 177-78.

4:18 / Robinson apóia a tradução “cegueira.” Veja-se sua longa discussãosobre a palavra porosis em seu comentário, pp. 264-74.

4:20 / Barth,  Eph. 4-6, apresenta muitos comentários úteis em seu estudo“The School of the Messiah,” pp. 529-33.

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# 20. Instruções Éticas Específicas ( E f é s i o s 4 : 2 5 - 5 : 2 )

As exortações morais desta seção são apropriadas de modo especial paraa manutenção da unidade dentro do corpo de Cristo. Os vícios mencionadossão destrutivos, eliminam a comunhão cristã; as virtudes promovem aunidade corporativa dos crentes. Mas embora o apóstolo possaconscientemente escolher essas qualidades de modo que se fortaleça sua tese

 principal, deve-se notar que seu ensino possui uma aplicação mais ampla,

sendo adequada também para pessoas de fora da Igreja.Basicamente, esta seção contém os vícios oriundos da antiga vida e as

virtudes que marcam a nova vida. Conseqüentemente, cada vez que o autorrelaciona um vício que deve ser “despojado,” este é substituído por umavirtude que promove o relacionamento humano. A mentira é substituídapelaverdade (4:25); a ira dá lugar à reconciliação (4:26); a pessoa que antesfurtava agora vai trabalhar (4:27); palavras danosas silenciam, substituídas por palavras úteis (4:29); a amargura, a ira, a cólera, a gritaria, as blasfêmiase a malícia cedem lugar à benignidade, à misericórdia e ao perdão (4:25-5:2).

4:26-27 / A segunda exortação é no sentido de se controlar a ira. Oimperativo grego “irai-vos” (orgizesthe) provavelmente é um “imperativo

 permissivo,” ou “concessivo”, e pode ser adequadamente traduzido por “sevós vos irardes” (GNB, cf. Salmo 4:4). O ponto importante é que a ira se

restringe por uma série de admoestações negativas.Irai-vos e não pequeis. Os crentes precisam aprender a controlar sua ira.Se uma pessoa estiver legitimamente irada (poderíamos chamá-la de irasanta?), é preciso que tome cuidado para que não se tome a causa de pecadoscomo o orgulho, o ódio ou a auto-retidão.

Toda ira deve ser resolvida antes de o dia acabar. A tradução não se ponha o sol sobre a vossa ira sugere que não há justificativa para que se

carregue a ira até o dia seguinte; isso com certeza induziria ao pecado. Nenhuma oportunidade se deve conceder ao diabo. O apóstolo entende

que a ira injustificada, que promove outras ações pecaminosas, a ira que ocrente permitiu permanecer em sua vida, por fim dará acesso ao adversáriode Deus ao coração do crente, o que destrói a harmonia da Igreja.

4:28 / A terceira exortação procura dar fim ao furto (não furte mais, klepto). Os que se haviam tornado cristãos e prosseguiam em sua práticaantiga de furtar, são exortados a acabar com essa prática e passar a trabalhar 

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(Efésios 4:25-5:2) 243

(antes trabalhe). Roubar é tentar obter algo em troca de nada. Os ladrõestentam enriquecer-se à custa do trabalho dos outros. Os indivíduos que praticam esse pecado devem trabalhar (antes trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom.)

O trabalho manual, entretanto, é muito mais que simples terapia contrao furto, ou método de ganho pessoal. O apóstolo eleva a motivação para otrabalho a um nível mais alto, e diz que os que trabalham honestamente serãocapazes de cumprir sua obrigação corporativa de repartir com o necessitado. A motivação bíblica para a posse não é o ganho pessoal ou egoísta, mas aoportunidade de ajudar os outros (quanto a exortações bíblicas sobre a

contribuição, veja-se Mateus 19:21; Lucas 14:13; João 13:29; Atos 2:44;4:32-37; 6:1-4; Romanos 15:25-29; 2 Coríntios 8 e 9). O objetivo último dotrabalho é que se tenha algo para dar. Os leitores de Efésios devem participardesse interesse pela humanidade.

4:29 / A quarta injunção trata de palavra torpe  — não pronuncieisnenhuma palavra “podre” ( sapros). Segundo Mitton, isto incluiria “palavrasde queixume, de zombaria, cínicas, sarcásticas, as quais espalham a

desmoralização numa comunidade” (p. 171). Em vez de más palavras, falesó conforme a necessidade, para que beneficie aos que a ouvem. Tantoas pessoas individualmente quanto o corpo de crentes precisam da palavraque edifica, que fortalece aos que a ouvem. A palavra grega traduzida peloverbo beneficie é charis, que significa “graça.” Embora às vezes o silêncio

 possa ser considerado uma virtude, o crente é encorajado a fazer umacontribuição positiva à vida do corpo mediante a fala cheia de graça. “Aconversa maligna entristece o Espírito Santo, que opera mediante as boas palavras” (Westcott, p. 80).

4:30 / Aparentemente o autor está-se referindo ao Espírito Santo  porcausa de sua conexão com a fala de uma pessoa. “O Espírito,” declara J.A.Robinson, “afirma que se expressa na fala dos crentes... (cf. 5:18). O mauemprego do órgão da palavra é, portanto, um malefício contra o Espírito, que

se ressente, e que afirma controlar as palavras” (p. 113). A conversaimprópria entristece (lypeo-) o Espírito Santo de Deus. “Os pecados contraa irmandade também são uma ofensa contra o Espírito divino que habita ocorpo dos crentes” (Beare, p. 701).

De novo os leitores são lembrados de que foram selados com o EspíritoSanto— no qual fostes selados para o dia da redenção (cf. 1:13). Visto queo Espírito é um selo d garantia, ou certeza do destino dos crentes (o dia da 

redenção), os crentes são exortados a mostrarem reverência ao Espírito em

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244 (Efésios 4:25-5:2)

suas palavras, e assim ser dignos de sua herança.4:31 / A presença do Espírito Santo dentro do crente é razão suficiente

 para que ele limpe sua fala, ao abolir os seguintes vícios: amargura ( pikria),que advém pela guarida que se dá a ressentimentos; ira (thymos), ouexplosão de fúria amarga; cólera (orge) pode-se entender como sendoressentimento que impregna a vida do crente; gritaria, ou esbravejamento(krauge), é o confronto face a face; blasfêmias (blasphemia) pode referir-se a palavras caluniosas ou perversas pronunciadas contra alguém.

Por último, temos toda a malícia. Este termo pode indicar uma categoriaà parte, ou como alguns comentaristas sugerem, pode ser uma categoria que

abrange todos os vícios anteriores (Mitton, p. 173; por isso, temos toda a [forma de] malícia de NIV e ECA, e “maus sentimentos de todo tipo” de

 NEB). Quaisquer desses vícios entristecem o Espírito Santo, quando semanifestam na vida do crente.

4:32 / Este versículo provê um contraste violento com o anterior, aoenfatizar as virtudes que devem caracterizar os crentes, em seusrelacionamentos interpessoais. Em vez desses vícios destruidores, os crentes

são admoestados a ser uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros. Estas virtudes promovem o espírito deaceitação, tolerância e paciência na congregação.

Além disso, os leitores devem perdoar uns aos outros. A palavratraduzida pelo verbo “perdoando-vos” (charizomais) é palavra de que“graça” (charis) se deriva. Dentro desse contexto, os crentes devem reagir

entre si com a mesma graça, o mesmo perdão e generosidade que receberamde Deus; daí a admoestação: perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo. Os crentes foram perdoados por Cristo(■echarisato , tempo verbal aoristo no passado), mas devem prosseguir

 perdoando (charizomenoi, tempo presente) uns aos outros, pelo poder doexemplo que Cristo lhes deu.

5:1 / O pensamento da atividade graciosa de Deus em Cristo leva o

apóstolo a convocar seus leitores (filhos amados), sede (imperativo, ginesthe) imitadores de Deus. Esta é a única passagem do NT em que os crentes sãoconvocados a imitarem a Deus. Noutras passagens, Paulo pede a seusconvertidos queoimitem, pois são seus filhos (1 Coríntios4:14-16; 11:1; 1Tessalonicenses 3:7,9) e porque ele próprio imita a Cristo. Aqui, a imitaçãode Deus é introduzida dentro do contexto do perdão, e o apóstolo desejautilizar o exemplo de Deus em Cristo como padrão dos relacionamentos

 pessoais. E duvidoso que o apóstolo tenha feito uma distinção entre imitar 

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(Efésios 4:25-5:2) 245

a Jesus e imitar a Deus, visto que a pessoa só pode vir a conhecer a Deusmediante Jesus.

5:2 / Visto que o perdão e o amor estão enfeixados juntos, os crentes sãoadmoestados a viver em amor (andai em amor). Esse amor encontra seu

exemplo em Deus, e deve ser a principal característica do modo de o crenteandar (peripateo). Ao mencionar a morte de Cristo, o apóstolo relembra

 palavras que eram aplicadas aos sacrifícios judaicos — a saber, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave. O sacrifício de Jesus e a vida de amorsacrificial que os crentes vivem agradam a Deus.

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#21. Como Viver na Luz ( E f é s i o s 5:3-21)

 Na seção anterior (4:25-5:2), o apóstolo se concentrou nos vícios quedestroem a unidade da comunidade cristã. Partiu daí para os pecados daimoralidade. Em certo sentido, os pecados de ordem sexual também destroema confiança, a- unidade e o respeito que os cristãos devem nutrir uns pelosoutros e, por isso, devem ser banidos. Neste caso, o ponto principal é que os

 pecados sexuais são uma ofensa contra Deus, e suscitam a ira divina, porque

são considerados idolatria. O novo modo de andar é explicado maisminuciosamente mediante a ilustração das trevas e da luz. Os leitores sãoadmoestados a andar “em amor” (5:1, 2), isto é, devem andar na “luz” queacabaram de receber.

A face da aplicação geral da carta, parece improvável que estas exortaçõesdizem respeito a algum problema específico que os leitores enfrentavam.Parecem-se muito com certas denúncias de outra passagem do NT (Romanos,

1 Coríntios, Gálatas 5:19-21; Colossenses 3:5-8). Mas ao mesmo tempo,certa forma de ensino gnóstico possivelmente havia penetrado na comunidadecristã. Em alguns casos, por exemplo, a heresia de Colossos (2:8-23), oensino enfatizavaum ascetismo rígido. Entretanto, havia uma variação desseensino que se aproximava do libertinismo: os que houvessem recebidoconhecimento espiritual ( gnosis) tinham liberdade para participar de orgiassexuais. Os que separavam corpo e espírito argumentavam que poucoimportava o que a pessoa fazia com o corpo; assim é que pecavam pelaimpureza. Portanto, estas exortações tinham em vista uma situação em quetais ensinos estavam produzindo seus maus efeitos.

5 : 3 / 0 autor enfatiza que por que seus leitores eram santos de Deus, nãose discutiria a questão de eles não participarem; antes, tal tipo de coisas nem ainda se nomeie entre vós. Quando os crentes encaram o pecado com

indiferença (como no caso do libertinismo gnóstico), toma-se comumatribuir pouca importância aos pecados pessoais próprios ou de outrem. Talatitude deve ser banida na comunidade dos crentes.

Prostituição (porneia) ou “imoralidade sexual” cobre uma grandevariedade de atividades sexuais ilícitas, como a prostituição, o adultério, afornicação e a promiscuidade. E toda a sorte de impureza (ak.atha.rsia) éexpressão que está relacionada à imoralidade e, provavelmente, significa

 perversões sexuais de vários tipos. Cobiça (pleonoxia), ou ambição

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(Efésios 5:3-21) 247

desregrada, no contexto do comportamento imoral, seria o desejo de entregar-se a atividades sexuais com propósitos unicamente egoístas. Os crentesdevem remover tais males de suas vidas, bem como de sua conversa. Essas

 perversões são contradições na vida de um crente que foi chamado para

imitar a Deus e andar no amor de Cristo (5:1, 2).5:4 / Prossegue a relação de proibições (não há sentença nova no texto

grego), incluindo torpeza, conversa tola e chocarrices. As palavras torpessão obscenas, feias, chulas e envergonham (aischrotes)\  conversa tola (,morologia) são as palavras pronunciadas por um louco (moros), destituídasde decência e honra; eutrapelia (chocarrices) é termo que pode ter sentido

 positivo, como “bom humor” ou “palavras agradáveis.” Aqui, porém, éusado negativamente no sentido de anedotas indecentes, cruas, insinuaçõessujas, e assim por diante. Nada disso pode ocupar lugar na vida do crente.

Em lugar das conversas tolas e desrespeitosas, deve haver ações de graças. O espírito de ações de graças, em vez do espírito de indecência, é quedeve dominar a fala do crente. Embora as ações de graças devam serexpressas por todas as coisas, o contexto pode implicar que esse agradecimento

deve ser expresso a Deus pelo dom do sexo, ou pelo dom da palavra, quandoexercidos de modo apropriado (cf. Mitton, p. 179).

5:5 / A expressão enfática Pois bem sabeis isto e “ninguém vos enganecom palavras vãs” (5:6) sugere que pairava uma ameaça séria na época. A

 prostituição, a impureza e a cobiça conspurcavam as pessoas impedindo-asde receber a herança que Deus havia preparado para elas. A cobiça, oulascívia (pleonexia) é igualada à idolatria porque as paixões sexuais podemtomar-se tiranos que dominam a vida da pessoa e destroem seu relacionamentocom Deus. Uma declaração semelhante encontramos em Colossenses 3:5,num contexto de “eliminação” de práticas imorais.

Ainda que muita coisa tenha sido dito a respeito do “reino de Deus” no NT, Gálatas 5:21 é a única passagem que menciona especificamente esteconceito dentro do contexto do comportamento imoral: os que se dedicam

a “atos de natureza pecaminosa” não receberão o “reino de Deus” (Gálatas5:19-21). Mas a frase reino de Cristo e de Deus é singular no NT (amenosque “Senhor” em Apocalipse 11:15 signifique Deus). O autor de Efésios nãofaz distinção entre os dois termos, porque entende que o governo de Cristoe o de Deus são um só governo (cf. 1Coríntios 15:24-28).Entretanto,oponto

 principal é que o governo (reino) de Deus é negado às pessoas que têmcomportamento imoral.

5:6-7 / Não temos meios de saber de modo específico quem estava

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248 (Efésios 5:3-21)

tentando enganar esses crentes com palavras vãs. Visto que não parece queEfésios tenha em mira uma situação local, o termo ninguém pode significar“todos” ¥,* todos quantos pronunciam palavras vazias ou tolas. Mitton serefere a isso como “argumentos que soam plausíveis e atraentes, mas que se

chocam contra o verdadeiro raciocínio e perspectivas intuitivas” (p. 181).Isto poderia ser uma ampliação da referência aos “homens que com astúciainduzem ao erro”, os quais ensinam mediante o erro e a malícia (4:14).

Os falsos mestres gostariam que os cristãos cressem que nada há deerrado sobre engajar-se em comportamento sexual ilícito e em conversasimundas. Entretanto, esse ensino é enganador; induz as pessoas a crerem

numa falsidade. O fato terrível é que por estas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.  No fim os delinqüentes serão punidos pelas suas faltas.

Os crentes são, então, advertidos: Não sejais participantes com eles. Otermo grego “participantes” ( symmetochos) indica que os crentes não devemunir-se a essas pessoas nem participar de suas práticas malignas. Esteversículo não ensina que os crentes devem evitar todo contato com pessoas

imorais; de outro modo, essas exortações que se seguem, a respeito da luzque dissipa as trevas nenhum propósito teriam (cf. Colossenses 4:5,6:“Andai em sabedoria para com os que estão de fora”). Em vez disso, essa

 passagem adverte-nos contra a participação nos vícios alheios.5:8 / O apóstolo fala da vida cristã em 5:8-14 com a ilustração familiar

das trevas e da luz. Visto que aqueles crentes são luz no Senhor, deixaramde ser trevas; tampouco participam das obras infrutíferas das trevas. A vidavivida como filhos da luz caracteriza-se pela bondade, justiça, verdade etudo quanto agrada ao Senhor. Esta seção encerra-se com a citação de umditado segundo o qual os mortos espirituais devem erguer-se de seu sono eexperimentar a luz do Senhor (5:14).

A linguagem, as figuras de linguagem e a teologia desta seção (5:8-14)sugerem, com muita força, que o autor tem em mente o batismo. Em primeiro

lugar, existe uma evidência convencedora de que a Igreja primitiva possuíauma fórmula catequética que utilizava a ilustração das trevas e da luz. Estafigura de linguagem desempenha um papel crucial nesta passagem, sendo

 perfeitamente plausível que o autor esteja tomando emprestado alguns pensamentos que faziam parte da tradição cristã.

Em segundo lugar, o contraste entre o “outrora” e o “agora,” como jáobservamos anteriormente, relaciona-se ao conceito de batismo como uma

mudança de posição do indivíduo. Os que haviam sido estranhos, alienados

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(Efésios 5:3-21) 249

de Deus (2:12-22), e sujeitos aos poderes do mundo (2:1,2) também haviamvivido nas trevas (5:8,11). Agora, entretanto, além de terem sido levado para

 perto de Deus (2:13ss.), são vitoriosos e experimentam a salvação em Cristo(2:5-9). Estão na luz e são admoestados a viver (andai) como filhos da luz 

(5:8). Esta figura de linguagem atinge seu clímax em 5:14, com a afirmaçãode que Cristo é o instrumento da luz.

Anteriormente, o autor contrastou a situação desses indivíduos emtermos de estarem “mortos” ou “vivos” (2:1-5), e “longe” e “perto” (2:1113). Aqui, como continuação da figura de mentes entenebrecidas (4:18) ecorações renovados (4:23), trevas e luz descrevem sua condição moral. As

trevas simbolizam sua vida de pecado e sua participação nos pecados que oapóstolo acabou de denunciar, e a luz, como vida de obediência a Deus.Pois outrora éreis trevas (ete gar pote skotos)  significa que foram

identificados como trevas, e não que apenas estavam rodeados pelas trevas.Moule declara-o de modo sucinto ao escrever: “A noite da ignorânciaespiritual e do pecado havia penetrado esses homens de tal modo que eleseram, poderíamos dizer, a própria noite, as trevas encarnadas” (Moule, p.

131). A mesma linguagem se aplica à nova situação deles como crentes: mas agora sois luz (nyn de phos)  no Senhor. Visto que se tornaram luz(indicativo), a mudança ética que se segue (imperativo) exorta-os a serem oque já são, isto é, andai como filhos da luz. É claro que essa mudança dastrevas para a luz se devia ao seu novo relacionamento com o Senhor mediante a fé e o batismo.

5:9 / Assim como uma semente, planta ou árvore cumpre sua verdadeiranatureza ao produzir fruto, o crente, que agora é luz no Senhor, há de produzir as virtudes da bondade, e justiça e verdade — bem o contrário dofruto das trevas em 5:3,5. Ao insistir nas implicações morais da luz, o autorestaria opondo-se a quaisquer falsas teorias, como as do sistema gnóstico, para quem a iluminação era uma experiência mística, e viam a vida ética com profunda indiferença e até desdém. Ser  luz é caminhar na luz (João 3:19,20;

1 João 1:5-7; 2:8-11).O fruto da luz é semelhante ao fruto do Espírito mencionado em Gálatas5:22, embora bondade seja o único conceito que ocorre aqui. Os itens destalista provavelmente foram selecionados por causa de sua relevância no temade unidade dentro do corpo de Cristo. As virtudes de bondade, justiça everdade são essenciais aos relacionamentos pessoais e sociais.

5:10 / Embora parte do processo de tomar-se um cristão seja a aceitação

da verdade da forma como se encontra no evangelho, a outra parte é o

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250 (Efésios 5:3-21)

aprendizado mediante ponderação e experiência cuidadosas do que significaser um cristão. Antes, quando o autor estava percorrendo uma lista de vícios

 pagãos, fez lembrar aos crentes que “vós não aprendestes assim a Cristo”(4:20). Mediante instrução e orientação, provavelmente na forma de umcatecismo batismal, os novos-convertidos foram ensinados a respeito do quedeviam crer e como deviam agir. Aqui eles são exortados a descobrir o que é agradável ao Senhor.

A palavra dokimazo  significa “colocar sob teste,” “comprovar,”“examinar.” A vida cristã não é apenas mera aceitação de um corpo dedoutrinas e regras; os crentes exercem julgamento inteligente à medida que

vão relacionando sua teologia a situações morais específicas. As coisas queagradam (o que é agradável, euarestos) ao Senhor inclui a rica colheita detodo tipo de fruto mencionado no v. 9: toda a bondade, e justiça e verdade.

Tanto dokimazo  como euarestos  ocorrem em Romanos 12:2, em quePaulo escreve que por causa da transformação interna, de suas mentes, oscrentes serão transformados “pela renovação do vosso entendimento, paraque experimenteis [dokimazo] qual seja a boa, agradável [euarestos]  e

 perfeita vontade de Deus.” Beare observa que euarestos  (“agradável,”“aceitável”) quase sempre se refere a uma oferta sacrificial (Romanos 12:1;Filipenses 4:18): “Por isso, aqui ele sugere que a vida do cristão está sempresobre o altar. Todas as nossas ações devem constituir uma oferta a Deus... porisso devemos cuidar que elas sejam aceitáveis ao Senhor” (p. 709).

5:11 / Contrastando com as obras frutíferas da luz (5:9), as obras das

trevas são improdutivas, infrutuosas. Os crentes são admoestados a nadaterem em comum com as pessoas que pertencem às trevas. De novo, comoem 5:7, o apóstolo usa um substantivo iniciado por syn — synkoinonos, como qual ele diz: Não vos tomeis participantes; não vos associeis às obrasinfrutuosas das trevas. Antes, os crentes devem corrigir, condenar ou 'reprovar elencho o mal, expondo-o à luz. A vida cristã não somente é a formade evitar o mal, mas uma participação ativa em tudo que denuncia o mal.

5:12 / Pois o que eles fazem em oculto, até dizê-lo é vergonhoso. Eisuma forte admoestação contra o hábito de discutir as obras das trevas emsegredo. Estas palavras poderiam ser uma referência velada aos ritossecretos das religiões de mistério, ou apenas um lembrete genérico de quegrande parte do mal que ocorre é secreto, feito sob a proteção das trevas.Visto que as obras malignas são horrendamente vergonhosas, é erradosequer conversar a respeito delas (cf. pensamentos semelhantes em João

3:19-21).

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(Efésios 5:3-21) 251

5:13 / Aqui o autor volta a seus pensamentos expostos em 5:10,afirmando que todas as coisas manifestas pela luz tornam-se visíveis. Arepetição de elencho (5:11) reafirma a natureza positiva da luz ao expor ereprovar as obras das trevas. Nesse processo, as pessoas chegarão a ver a

verdadeira natureza do mal, e, assim se espera, voltar-se-ão para a luz.Conforme Beare o declarou: “O poder da luz não apenas revela, mas penetrae transforma à sua própria semelhança tudo quanto ilumina” (p. 711).

5:14 / A ênfase contínua na primeira parte deste versículo é que as trevasnão podem existir na presença da luz. Parece que o modo mais razoável deentender-se a figura de linguagem das trevas e da luz, e a citação seguinte,

é pelo contexto do batismo. As trevas, o sono e a morte são figuras muitofortes que simbolizam as condições de um indivíduo longe de Cristo. O batismo poderia ser visto como o ato pelo qual uma pessoa desperta do sono,ressurge da morte e reage à luz de Cristo. Assim, Desperta, ó tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará.

Tem havido muita especulação a respeito da origem deste ditado. Algunseruditos o vêem mais como uma sinopse de algumas idéias do AT, como

Isaías 26:19 e 60:1,2; outros especulam que talvez tenha vindo de um textoapócrifo, ou de alguma literatura helenística de fundo gnóstico, ou dereligião de mistério; outros encontram paralelismos e alusões nos Manuscritosdo Mar Morto.

A frase introdutória, dio legei (cf. 4:18, em que se apresenta uma citaçãodo AT), dá a entender que se menciona uma fonte escrita. Mas aimpossibilidade de encontrar-se uma fórmula literária abre a possibilidadede que isto seria uma expressão bem conhecida entre a comunidade cristã.As palavras de ECA: Pelo que diz... dá lugar para esta possibilidade.

Embora a reconstrução do ambiente desta citação permaneça na área daespeculação, pode ter sido empregada pela Igreja numa celebração de

 batismo, como parte de um hino que era recitado ou cantado. A Igreja primitiva criou e usou muitos hinos nos cultos (Efésios 5:19,20; Filipenses

2:6-11; Colossenses 3:16; 1 Timóteo 3:16), não havendo nenhuma razão para que duvidemos de que se cantavam hinos nas ocasiões em que serealizavam batismos, como uma espécie de “convocação” ao candidato.Poderiam ser cantados quando o candidato saía da água após a imersão. Noestado de incredulidade, a pessoa poderia ser considerada entregue ao sono,ou morta; conseqüentemente, o crente é convocado a levantar-se para umanova vida.

Outra possibilidade é que esse ditado, ao lado da discussão precedente

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252 (Efésios 5:3-21)

sobre trevas e luz (5:8-13) e posteriores exortações sobre a vida cristã(5:15ss.), pertence a um contexto de instrução (catequese) que vinha logoantes do batismo. Os que eram batizados eram relembrados de sua vidaantiga nas trevas, e convidados a “despertar” e “levantar-se” (desperta, ó tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará).

Embora alguma parte disto seja especulação, parece que o autor estáconscientemente fazendo alusão ao batismo, e que seus leitores entenderiamsua alusão. Entretanto, seu propósito não é criar nem prover uma liturgia

 batismal, ainda que o material que utiliza tenha tal orientação.As exortações de 5:8-14 caem no contexto maior de uma seção mais

ampla (4:17-5:20) e ilustram o emprego que o apóstolo faz de materialtradicional de catequese. O fato de ele citar um hino batismal existente naocasião enfatiza que Cristo é a fonte de toda luz espiritual. Agora que oscrentes são luz no Senhor, deverão andar (peripateo) como filhos da luz.Prossegue o apóstolo afirmando que isto inclui a sabedoria (5:15), acompreensão da vontade de Deus (5:17), a plenitude do Espírito (5:18), bemcomo alegria e ações de graças (5:19,20).

5:15/ Dentro do contexto do ensino cri stão, a teologia e a ética caminham juntas: O comportamento deve basear-se na doutrina exata; o conhecimentonão deve ser considerado um substituto do comportamento adequado,correto. Basicamente, é outra maneira de lembrar aos crentes a serem o quesão. Conseqüentemente, devem andar cuidadosamente e viver comoindivíduos sábios e não como néscios. A sabedoria, aqui, tem uma dimensão

 prática, isto é, a habilidade de discernir o certo do errado. Para Mitton, “istosignifica que o reconhecimento de que nós vivemos num mundo em que asações más são acompanhadas por más conseqüências, é o primeiro passo nadireção de uma conduta sábia” (p. 187).

5:16 / A exortação seguinte adverte os leitores a que aproveitem aomáximo todas as oportunidades: remindo o tempo. Literalmente, o termoagorazo provém da linguagem do mercado, e significa “comprar de novo,

remir ou redimir.”  Kairos (“tempo”) é a oportunidade concedida por Deus pela qual o crente deve andar em sabedoria, e demonstrar as qualidades devida que projetam luz nas trevas. Tempo é aquela preciosidade confiada aoscrentes para o propósito de fazer o bem neste mundo, em que os dias são maus. Com demasiada freqüência os crentes estão voltados demais para océu, e se tomam inúteis na terra.

5:17/ Nesta breve exposição da sabedoria cristã (5:15-17), o apóstolo fez

lembrar seus leitores que a sabedoria tem uma dimensão prática, e que eles

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(Efésios 5:3-21) 253

são sábios quando fazem bom uso de todas as oportunidades. Sua exortaçãofinal é para que não (andem) como néscios, mas procurem discernir avontade de Deus a respeito de suas ações: que sejam éticas.

5:18 / Efésios 5:18-21 é uma exortação dirigida à comunidade de crentes em

culto, e cria um contraste agudo com as atitudes e ações das pessoas que vivemnas trevas (5:8-12). Em vez de proibir certas condutas e conversas, os crentes sãoencorajados aexpressar sua alegria espiritual com cânticos e ações de graças. Em5:15-17, o apóstolo os lembra que devem ser sábios, e obedecer à vontade deDeus; em 5:18-21 ficam sabendo como conseguirão realizar isto.

Estes versículos são adaptação de Colossenses 3:16, mas aqui a principalênfase se coloca no Espírito, em vez de na mensagem (palavra de Cristo). Aadmoestação — não vos embriagueis com vinho  — induz a pessoa asuspeitar de que o autor estaria pensando em algumas seitas religiosas, comoo culto dirigido aDionísio, em que a intoxicação se manifestava em agitaçãofrenética e comportamento extático, interpretados em termos religiosos. Oscristãos têm um meio melhor de experimentar a alegria espiritual — seremcheios do Espírito — enchei-vos do Espírito.

Deve-se notar que não se trata de uma proibição contra o uso de vinho,mas contra o uso excessivo de qualquer bebida alcoólica conducente àembriaguez (1 Timóteo 3:3,8; Tito 1:7; 2:3; asotia,  “devassidão,”“libertinagem,” “desperdício”). O contraste não se faz entre o vinho e oEspírito, mas entre os dois estados que produzem: A intoxicação com vinho produz efeitos degradantes; a plenitude do Espírito (cf. Atos 2:13) exerce umefeito edificante sobre a comunidade cristã.

5:19/ Os efeitos edificantes se manifestam de várias maneiras. Um delesse vê no culto: Este versículo sugere que o culto cristão primitivo eraespontâneo, e não havia adquirido nenhuma fixidez determinada pela ordemlitúrgica. Salmos ( psalm os), e hinos (hymnos) e cânticos espirituais (odais 

 pneumatikais)  são relacionados como maneiras pelas quais o crente podelouvar ao Senhor. Embora seja impossível estabelecer distinções reais entre

essas categorias (cf. disc. sobre Colossenses 3:16), alguns autores acham quesalmos são peças musicais do AT cantadas ao som de instrumentos decordas, como a harpa; hinos seriam cânticos de louvor a Deus; e cânticos espirituais,  peças musicais inspiradas, mais espontâneas, ou palavras deexortação. O fato mais importante é que esse culto tinha caráter coletivo, nãoindividual. Os crentes devem compartilhar (falando entre vós com salmos, e hinos, e cânticos espirituais) seu louvor ao Senhor.

5:20 / A segunda manifestação se faz nas ações de graças (dando

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254 (Efésios 5:3-21)

sempre graças): embora o agradecimento sem dúvida seja um componentedo culto, é outro sinal de a pessoa estar cheia do Espírito. Os cristãos cheiosdo Espírito vivem numa atitude contínua de gratidão por tudo. Como Stott

sabiamente observa, isto não deve ser interpretado muito literalmente: “Não podemos dar graças a Deus por absolutamente 'tudo,’ inclusive o mal patente... o 'tudo’ por que devemos dar graças aDeus precisa ser qualificado pelo seu contexto, a saber, a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor   Jesus Cristo (p. 207).

5:21 / A manifestação final observada é a submissão: os eruditos e,conseqüentemente, os tradutores da Bíblia, estão divididos a respeito da

maneira como este versículo se enquadra em seu contexto. Do ponto de vistagramatical, pertence ao culto (5:18-21) e deve ser considerado como outramanifestação do crente cheio do Espírito. O cântico e as ações de graçasdevem expressar-se corporativamente e, do mesmo modo, os crentes devemde boa vontade submeter-se uns aos outros. A plenitude do Espírito induz àsubordinação mútua e à unidade, nunca ao orgulho individual e à desunião(cf. 1 Coríntios 14:26-33; Filipenses 2:1-5). Ao mesmo tempo, 5:21 é umversículo de transição, a partir do qual o autor prossegue a fim de ilustrarcomo a submissão deve ser observada especificamente nos relacionamentosdomésticos (5:22-6:9).

Se 5:21 for tomado como oração independente, serve, então, de título para os relacionamentos específicos que se seguem. Algumas versões, asaber, GNB e RSV, usam esse versículo deste modo. No entanto, NIV e ECA

deixam-no junto à seção anterior. Dessa ou de outra maneira, aposição desseversículo não é tão importante quanto seu ensino: os crentes são exortadosa submeter-se (sujeitando-vos) uns aos outros no temor de Cristo. “Nãose exige de nós que atendamos aos desejos das pessoas, seja lá o que for queestiverem pedindo-nos, mas somente quando nos pedem o que está alinhadocom a reverência a Cristo (Mitton, p. 196).

N o t a s A d i c io n a i s # 2 15:4 / P. W. van der Horst faz um exame minucioso da palavra eutrapelia e

conclui que “a advertência de Efésios 5:4 não precisa ser lida como se fora umadenúncia contra o humor e o espírito jocoso nalgreja” (“Is Wittiness Unchristian?A Note on eutrapeliain Eph. v.4,” em Miscellanea Neotestamentica, Supplements 

to NovT, vol. 48, ed. T. Baarda, A.FJ. Klijn, e W.C. van Unnik [Leiden: Brill,1978], 163-77).

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(Efésios 5:3-21) 255

5:8 / Cf. disc. sobre Colossenses 1:11-12, pp. 23-25. Pode-se encontrarestudos profundos sobre o ensi no catequético da Igrej a primiti vaem P. Carrington,The Primitive Christian Catechism, e Selwyn, IPeter. A tabelall de Selwyn, pp.376-78, que ele denomina de “Material Adicional de Catequese: Os Filhos da

Luz (Filii Lucis) é útil de modo especial. Grande parte da linguagem de Efésiosnos faz lembrar do simbolismo do Quarto Evangelho, em que seguir a Cristocomo a luz do mundo significa ter a luz da vida, e não andar nas trevas (8:12; cf.também 3:19ss.; 9:5; 12:35,36,46). ,

5:14/Quantoàhistóriadainterpretaçãodestapassagem, veja-seBarth,Ep/i.4-6,  pp. 573-77; R. Orlett, “Awake, Sleeper,” Worship 35 (1961), pp. 102-5.Houlden, p. 185, relaciona alguns paralelismos entre estapassageme Atos 12:7.

A maior parte dos eruditos apóia este tipo de relacionamento deste ditado a umhino batismal, crendo que poderia ter sido usado como uma “convocação paradespertamento” dirigida ao incrédulo, no sentido de ele abandonar as trevas e virà luz de Cristo.

5:18 / C.E. Rogers acredita que as práticas perversas de bêbados, relacionadas ao culto de Dionísio, constituem o pano de fundo desta exortação. Veja-sesua obra “The Dionysian Background of Ephesians 5:18,” BibSac 136 (1979),

 pp. 249-57; também Beare, p. 714; Mitton, pp. 188-89.Como complemento dos comentários sobre o hinário dalgrejaprimitiva, cf.

H. Schlier, “ode,”  TDNT, vol. 1, pp. 164-65; G. Delling, hymnos... psalmos,TDNT, vol. 8, pp. 498-501.

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# 22. Esposas e Maridos ( E f é s io s 5 : 2 2 - 3 3 )

Que é que motivou o autor a sair das admoestações genéricas sobre a vidamoral e culto coletivo, partindo para instruções específicas a respeito derelacionamentos domésticos? Beare sugere que a disposição do materialtextual segue o padrão convencional da literatura filosófica helenística, queconcluía sua exposição doutrinária com uma breve apresentação de umcódigo social (p. 176). Outro autor coloca esse código, de modo particular

a seção a respeito de maridos e esposas, dentro do contexto das instruçõeséticas que a precediam: “Que seria mais necessário,” pergunta esse autor,“do que conter a imoralidade com uma doutrina verdadeira sobre o maridoe a esposa?” (Houlden, p. 331).

Uma terceira sugestão vem de J.A. Robinson, que vê esse código comoestando relacionado estruturalmente às instruções precedentes sobre o culto(5:18-20). A Igreja não é uma comunidade fanática, desorganizada; antes, égovernada pela ordem e pelo princípio da sujeição dos membros uns aosoutros (p. 123).

Uma quarta teoria explica a organização em Efésios como tendo base emColossenses que, de acordo com vários comentaristas, o apóstolo estariautilizando como modelo. De modo semelhante, Colossenses tem uma seçãosobre instrução e culto (3:16-17), antes de Paulo prosseguir discutindo

“relacionamentos pessoais na vida nova.” As diferenças entre os códigos deColossenses e de Efésios podem ser explicadas pelos propósitos específicosde cada carta.

Finalmente, existe o princípio da sujeição mútua, em 5:21. Esta declaraçãorelaciona-se à mutualidade dentro da Igreja, e também forma uma transição

 para a seção do código doméstico. Assim é que o autor declara um princípiogeral; agora provê exemplos específicos de como esse princípio deve ser

aplicado nos relacionamentos entre marido e mulher, pais e filhos e senhorese escravos.

Além dessas observações, devemos questionar com toda razão o propósitoda longa exposição sobre o relacionamento entre marido e mulher nesta carta(Efésios tem onze versículos, enquanto Colossenses apenas dois). Qual é aintenção primária do autor? (a) Oferecer orientação doméstica concernente

ao relacionamento entre marido e mulher (como é o caso em 6:1-9, comrespeito a pais e filhos e senhores e escravos? (b) Ou está o autor usando o

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(Efésios 5:22-33)   257

exemplo de maridos e mulheres com um propósito eclesiológico, isto é,retratar a natureza do relacionamento entre Cristo e a sua Igreja? (c) Está oapóstolo usando o relacionamento entre Cristo e a Igreja como um protótipo

do casamento cristão ideal?Parece que a primordial intenção do autor é enfatizar a qualidade dorelacionamento que deve existir entre marido e mulher. Para fazer isto demodo adequado e assim salientar as implicações mais profundas do casamento,Paulo se vale de uma analogia de Cristo e da Igreja. Que analogia magnífica!Assim como Cristo é o cabeça da Igreja, o marido é o cabeça de sua esposa(5:23); assim como a Igreja se sujeita a Cristo, as esposas devem sujeitar-se

a seus maridos (5:24); os maridos devem amar suas esposas com o mesmoamor sacrificial de Cristo, que alimenta a Igreja e dela cuida, pois é seu corpo(5:25, 29). O senhorio de Cristo e seu relacionamento com a Igreja resumea união ideal entre marido e mulher.

Entretanto, embora pareça ser esse o principal propósito, a analogiafunciona também na outra direção. Ao longo da carta, o autor vem expondoa natureza da Igreja e a maneira por que Cristo, a Cabeça, se relaciona comseu corpo, a Igreja. O casamento lhe fornece uma ilustração — ainda queimperfeita— que possibilita a seus leitores entender sua Eclesiologia. Assimé que a Igreja está sob a autoridade de Cristo, da mesma forma que a esposaestá sob a autoridade de seu marido (5:23); Cristo ama sualgreja e dela cuida,da mesma forma que um marido deve amar sua esposa (5:28). A analogiaexerce uma função tanto doméstica como eclesiástica.

Barth concorda com esses dois pontos focais, mas não acha que um ououtro ponto ocupe posição destacada na mente do autor. O casamento, aolado de outros problemas levantados em Efésios (e.g., pecado, morte,divisões étnicas, instituições), ficam sob o poder e a riqueza da graça deDeus. “A intenção de Paulo é demonstrar que ‘a graça de nosso Senhor JesusCristo’ dá ao marido e à esposa a base, a força e o exemplo de que precisam para viver na paz de Deus, (Deus os chamou para a paz, 1 Coríntios 7:15).

A ‘paz’ entre Deus e o homem, judeus e gentios, de que Paulo falou emEfésios 2:14-16 será estendida a cada casa e louvada pela conduta de maridoe mulher” ( Eph. 4-6, p. 655).

Os assuntos de relacionamento entre marido e mulher, a igualdade dasmulheres e o papel delas na Igreja continuam a ser debatidos hoje, comoquestões controvertidas. Com respeito a Efésios, diversas coisas precisam

ser observadas: Primeira, o autor está falando do relacionamento marido-esposa, não  de diferenças entre o homem e a mulher, nem da igualdade dos

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direitos, dos papéis e assim por diante, da mulher. Alguns desses assuntosrecebem tratamento em outras cartas, como 1 Coríntios e 1 Timóteo.Segunda, o relacionamento entre marido e mulher não é modificado nem  qualificado por argumentos usados noutras passagens das Escrituras, comoas que dizem respeito à glória e ordem da criação (1 Coríntios 11:3-16), ouo pecado de Eva (1 Timóteo 2:9-15).

Tampouco se demonstra a sujeição mediante coisas externas, como o fatode as mulheres cobrirem suas cabeças no culto público (1 Coríntios 11:3-16),ou permanecerem em silêncio na presença de homens, durante o culto (1Coríntios 14:33-38). A sujeição ensinada em Efésios é a  sujeição mútua  

entre marido e mulher, e baseia-se no protótipo de Cristo e sua Igreja', Cristoé o exemplo que determina as qualidades de senhorio e sujeição. Terceira,o ensino a respeito de marido e mulher — bem como a respeito das demaiscategorias do código — deve ser entendido dentro do contexto mais amploda posição das mulheres e do casamento no primeiro século (cf. disc. no cap.18 deste comentário, sobre Colossenses; Barth,  Eph. 4-6 , pp. 655-62.

A necessidade de ordem está por trás de todas as instruções que abrangem

o código doméstico. Os autores do NT não queriam que o cristianismo fossemal compreendido pela sociedade, ou que os novos cristãos achassem quesua liberdade em Cristo significasse a abolição dos padrões então em vigorna vida doméstica. Mas em Efésios os motivos vão além da “boa ordem.” Asregras domésticas ilustram o princípio da subordinação, que é essencial paraa unidade e harmonia dentro do corpo de Cristo. A Igreja se toma um padrão

 para toda a ordem social.5:22-24 / Colossenses exorta as esposas e serem submissas (hypotasso)a seus maridos, por que é a atitude adequada às esposas cristãs (3:18).Requer-se a submissão com base nas normas socialmente aceitáveis daépoca. Em Efésios, as mulheres são convocadas para a sujeição por umarazão diferente, que é a ordem divina à criação, que parece estar no cerne da

 passagem toda. Esse princípio do “criacionismo” apenas se presume, não

está explicitamente declarado, como é o caso, por exemplo, de 1 Coríntios11:3 (“Cristo é o cabeça [kephale] de todo homem, e o homem o cabeça damulher, e Deus o cabeça de Cristo”).

O marido é o cabeça da mulher. O que é significativo em Efésios é quea assim chamada ordem hierárquica da criação vem profundamentequalificada: Primeiro, a sujeição da esposa a seu marido se exerce dentro do princípio mais amplo da sujeição mútua. Os membros do corpo de Cristodevem sujeitar-se “uns aos outros no temor de Cristo” (5:21). Isto, entretanto,

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(Efésios 5:22-33) 259

não elimina o conceito de autoridade: “O princípio da subordinação mútuanão se aplica de modo que se destrua o princípio complementar da autoridade,sem a qual não pode haver ordem social entre os homens” (Beare, p. 717).Em segundo lugar, o motivo para a sujeição é colocado dentro do contexto

do relacionamento da mulher com o Senhor — vós, mulheres, submetei- vos a vossos maridos, como ao Senhor. As que se submetem, devem fazê-lo como se estivessem se submetendo a Cristo.

Em terceiro lugar, a submissão é regulamentada pelo padrão divino dorelacionamento de Cristo com a Igreja. Aqueles a quem se presta a submissão,da mesma maneira deverão encontrar o padrão de sua obediência e condutaem Cristo. Daí decorrem as exortações recíprocas: esposas, sujeitai-vos avossos maridos como ao Senhor... “como também Cristo amou a Igreja”(5:25).

Desses princípios toma-se óbvio que a autoridade do marido é regulada pelo exemplo de Cristo e o princípio do amor. O autoritarismo, a auto-afirmação e o egoísmo não têm lugar num casamento baseado nos princípioscristãos. Sujeição não é “obediência”, visto que a palavra “obedecer”

(hypakouo)  só é empregada a respeito de crianças e escravos (6:1, 5).Quando um marido se relaciona com sua mulher em amor (agape), nãohaverá problemas com respeito a submissão e obediência.

O autor está bem ciente dos limites de sua analogia, porque nenhummarido humano, falível, pode sequer tentar aproximar-se da extensão doamor que Cristo nutre por sua Igreja. Parece que este é o caso quando eledeclara que Cristo é o cabeça da Igreja, sendo ele próprio o salvador do 

corpo (5:23). Só Cristo pode ser considerado o salvador do corpo, por causade sua obra em prol do corpo e seu relacionamento de amor para com ele.Entretanto, “a preocupação sacrificial do Senhor quanto à salvação da Igrejadeve ter um paralelo, ainda que num nível muito inferior, na preocupaçãoamorosa e sacrificial do marido pelo bem-estar de sua esposa” (Foulkes, p.156).

5:25 / Para que os maridos não viessem a crer que Efésios 5:21-33 é umdocumento que lhes legaliza a autoridade, e a ela dá legitimidade, para querestrinjam a liberdade de suas esposas, notemos que a admoestação aoshomens para que amem suas esposas coloca sobre eles tremendaresponsabilidade. Agape significa subordinar os próprios interesses, prazerese a personalidade em benefício de outra pessoa. De fato, o amor de Cristo,que o marido deve copiar, foi um amor sacrificial — Cristo amou a Igreja, 

e a si mesmo se entregou por ela. A Igreja é considerada a soma total das

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260 (Efésios 5:22-33)

 pessoas por quem Cristo morreu (Romanos 4:25; 8:32; Gálatas 1:4; 2:20).Amou (no pretérito) diz respeito a uma ação definida no passado, como acruz.

5:26 / O sentido da natureza corporativa da Igreja é levado aos doisversículos que descrevem alavagem dalgrejae seus resultados subseqüentes.À primeira vista, 5:26,21 parece uma interpolação, visto que os pensamentosde 5:25 e 5:28 se fundem suave e belamente. Entretanto, não existe evidênciatextual de que tais versículos tenham origem questionável; tampouco existealguma sugestão de que não se enquadram no contexto da discussão do autorsobre Cristo e sua Igreja. Parece que a menção da morte de Cristo pela Igreja

(5:25) despertou pensamentos que o autor já havia acolhido a respeito do batismo. Talvez ele estivesse pensando na morte de Cristo como um batismode que seus seguidores deviam participar (Marcos 10:38,39). O batismocristão é um batismo na morte de Cristo (Romanos 6:3; Gálatas 3:27;Colossenses 2:11,12,20).

Além do relacionamento entre a morte de Cristo e o batismo, outraanalogia parece estar funcionando, ou seja, o banho cerimonial nupcial que

a noiva tomava antes do casamento. Nas culturas daqueles dias era costumeque a noiva tomasse esse banho antes da celebração do casamento. Depoisdo banho, a noiva, vestida em roupas lindas, se apresentava perante o noivo.Teria o autor concebido o batismo como um banho nupcial que santifica aIgreja? Teria Paulo essa imagem em mente ao escrever aos Coríntios,“Tenho-vos preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um

marido, a saber, a Cristo,” (2 Coríntios 11:2)? Com base no contexto, parecemais plausível que quando o autor fala de Cristo entregando-se pela Igreja(5:25), esteja pensando no batismo como um rito que simboliza sua morte,

 pela qual a Igreja foi purificada mediante a lavagem com água.Há várias razões porque os pensamentos no versículo 26 estão relacionados

ao batismo: Primeira, há a imagem da lavagem e purificação (purificando- a com a lavagem da água). A purificação da Igreja, que é vista aqui de modo

coletivo ou corporativo, aconteceu quando os membros individuais foram batizados. Os leitores estariam cientes do ensino sobre batismo na Igrejaapostólica, que entendiam ser o batismo uma lavagem moral (João 13:10;Atos 2:38; 22:16; 1 Coríntios 6:11; Tito 3:5; Hebreus 10:22; 1 Pedro3:20,21).

A segunda é o relacionamento entre o batismo e a palavra (lit.,”alavagem da água pela/na palavra”). O batismo, no contexto do NT, se fazacompanhar da  palavra fa lada.  Aqui, pode significar (a) algum tipo de

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(Efésios 5:22-33) 261

 pronunciamento evangélico; (b) uma confissão do candidato em que eleexpressa fé no Senhor; (c) certas palavras de instrução próprias para antes domomento do batismo; ou (d) uma fórmula batismal, como o batismo emnome de Cristo (Atos 2:38; 8:16; 19:5; 22:16; 1 Coríntios 6:11) ou no nomeda Trindade (Mateus 28:19). A despeito de todas estas possibilidades, seriamais prudente concluir que palavra refere-se a uma confissão ou fórmula defé que acompanhava o batismo.

A nova idéia — talvez inusitada — de Efésios neste ponto é que a Igrejatoda recebe esse banho. Esta idéia de um batismo coletivo pode ter-seoriginado na discussão precedente sobre os elementos unificadores da Igreja

cristã (4:4-6) na qual, dentre outras coisas, a autor menciona um corpo (4:4)e um batismo (4:5). Conquanto o batismo de ordinário é aplicado a umindivíduo, sua aplicação à Igreja toda se justifica com base na naturezacorporativa e unificada da Igreja.

5:27 / O apóstolo declara agora a razão ou propósito último por trás do batismo da Igreja: a fim de apresentá-la a si mesmo Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível. É 

aqui que a analogia da noiva e do banho nupcial — se é que está implícito — se desintegra. Num casamento, a noiva se apresenta ao noivo; seriainapropriado o noivo apresentar a noiva a si mesmo (Mitton, p. 201). Aqui,Cristo toma a iniciativa ao purificar a noiva (a Igreja) mediante o batismo,apresentando-a a si próprio “livre das distorções e deformidades” (Mitton,

 p.204; Mitton chama a atenção para o paralelismo entre a santidade individuale a coletiva em 1:4 e 5:27). O marido deve amar sua esposa “não apenas porcausa da beleza que descobre nela, mas a fim de torná-la mais bonita. Cristovê sua Igreja com todas as suas fraquezas e falhas, e apesar disso ama-a comoseu Corpo, e promove sua verdadeira santificação” (Foulkes, p. 160).

O batismo possui um foco tridimensional: É um evento do passado baseado na obra redentora de Cristo (“a si mesmo se entregou por ela,” istoé, a Igreja); continua a ser uma realidade presente mediante a qual os

indivíduos são batizados no corpo de Cristo, e pelo qual são purificados.Além do mais, possui uma função ética e escatológica (a fim de apresentá- la). A santificação e a purificação induzem à glorificação última da Igreja,e a seu esplendor.

5:28 / Ainda que os maridos não consigam amar suas esposas da mesmaforma que Cristo amou sua Igreja, o modelo divino ainda está na mente doautor: Assim devem os maridos amar a suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Parece que o marido, com base no princípio de que

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no casamento os dois se tomam um (5:31), deve considerar sua esposa comose fosse seu próprio corpo. Portanto, ele há de amar a sua mulher da mesmaforma como ama a seu próprio corpo. A união e a intimidade deste tipo parecem concordar com as palavras quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. Assim, é verdade que marido e mulher são “partes complementaresde uma personalidade” (Beare, p. 725).

Esta interpretação adapta-se bem à movimentação do pensamento doautor, é melhor do que a outra segundo a qual essas declarações do apóstolovão ao encontro do “interesse próprio pragmático” ou “prudente,” comoMitton, por exemplo, sugere: “É mais fácil fazer o que é certo e bom, quando

a pessoa pode ver no momento que o ato produzirá algo benéfico para simesma” (p. 205). Em vez disso, temos a fusão da imagem da noiva com aimagem do corpo (Houlden, p. 334). Assim, “da mesma forma que a Igrejaé o Corpo de Cristo, num sentido real a esposa é o corpo do marido. Mediantea esposa, o marido estende sua vida” (Westcott, p. 85).

5:29 / Ao prefaciar 5:29 e 30 com Afinal, NIV e EC A entendem que estesversículos são um comentário de 5:28. O amor que o marido tem pelo seu

 próprio corpo e, conseqüentemente, por sua esposa, está ilustrado demaneiras práticas: Primeiro, a alimenta e sustenta. Desde que o maridoentenda que sua esposa é sua própria carne, ele a alimenta e sustenta (lit.,“nutre,” ektrephó) e sustenta (lit., cuida com máximo carinho, thalpo) comoCristo age com respeito a seu Corpo, a Igreja. No nível humano, isto éverdadeiro porque nunca ninguém odiou a sua própria carne. (O gregoemprega o termo carne em vez de “corpo,” talvez porque se antecipa acitação de 5:31, de Gênesis 2:24, que declara que os dois se tomarão uma só“carne”)

5:30 A segunda ilustração diz respeito a membros do seu corpo (cf. 1 Coríntios 6:15 — “Não sabeis vós que os vossos corpos são membros deCristo?”). O sentido desta frase deve ser interpretado em relação à declaração

 prévia do amor e do cuidado de Cristo por sua Igreja: pois somos membros 

do seu corpo; portanto, Cristo nos “alimenta” e “cuida” de nós (“sustenta”).Embora não pareça haver uma aplicação consciente desta verdade aosleitores, tais palavras lembrariam a eles a preocupação de Cristo a respeitode cada crente. Foulkes vê uma analogia interessante com a videira e osramos, de João 15: “Assim como no propósito divino a esposa se toma parteda própria vida de seu marido, que a alimenta e sustenta com amor, assimtambém o Senhor cuida de nós, pois somos membros dele, fazemos parte de

sua vida, somos pessoas a quem ele assimilou” (Foulkes, p. 161).

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(Efésios 5:22-33) 263

5:31 /Menciona-se finalmente o versículo do AT (Gênesis 2:24), do qualo autor tirou essa imagem. Esse versículo confirma os pensamentos que oautor vem expondo a respeito do relacionamento entre marido e mulher, nocasamento. Antes de casar-se, um homem e uma mulher estão intimamente

ligados a seus pais; mas os laços do matrimônio transcendem os elosanteriores, porque une duas pessoas numa só carne. Para o autor, esseversículo expressa apropriadamente a intimidade, a unidade e, de acordocom seus pensamentos, a identidade do marido e sua esposa dentro docasamento; sem dúvida essa condição é criada pela união sexual (cf. 1Coríntios 6:16,17, em que Gênesis 2:24 é empregado com referência a umrelacionamento ilícito, imoral, com uma prostituta).

Alguns comentários mais antigos sugerem que este versículo contémuma referência secundária a Cristo, e como o Senhor deixou seu lar celestiala fim de unir-se à sua esposa, a Igreja. Moule, por exemplo, escreve:“Podemos reverentemente inferir que o apóstolo foi guiado a ver nesteversículo uma parábola divina da vinda do Senhor, o Homem  dos Homens,vindo do  Pai, para sua união mística, presente e eterna com a verdadeira

Igreja, sua noiva” (p. 143; cf. outros exemplos em Abbott, pp. 173, 174).Entretanto, uma interpretação desse tipo é altamente especulativa, e tentaextrair da analogia muito mais do que era seu propósito ensinar: unidade.

 Não se pode exagerar o significado desta citação e o contexto de onde étirada. Nas Escrituras, é empregada como o principal argumento contra a poligamia, a imoralidade sexual e o divórcio. Nenhum outro versículo falacom mais força a respeito do casamento como algo sagrado e permanente,

da fidelidade no casamento.5:32 / Apesar da extrema adequação de Gênesis 2:24 para descrever a

essência do casamento, e não obstante o autor estar encantado pela beleza detal relacionamento, ele ainda está preocupado com certas idéias a respeito deCristo e sua Igreja. E por isso que ele vê na unidade do marido e sua esposauma grande revelação que, para ele, se aplica a Cristo e à Igreja. “Aposição

do marido como o cabeça e seu dever de amor sacrificial e cuidadoextremado por sua esposa não passam de um retrato imperfeito (embora sejao que de melhor esta vida pode apresentar), de Cristo como o Cabeça, e deseu amor, auto-sacrifício e interesse pela sua Igreja. A dependência daesposa em relação a seu marido, e seu dever de sujeição a ele, são um retratode como a Igreja deve viver em relação a seu Senhor divino” (Foulkes, p.162).

A frase Grande é este mistério é tradução do texto grego to mysterion

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264 (Efésios 5:22-33)

touto mega estin (“este mistério é grande!”). Um pouco antes, nesta carta,mistério referia-se ao plano de Deus para a humanidade, que estivera oculto,mas agora está sendo revelado (1:9; 3:3-6,9; cf. também 6:19). Aqui se referea uma perspectiva profunda (grande é este mistério), ou a uma verdadeimportante que está sendo revelada. Mistério neste contexto não é umsegredo, mas uma revelação — a união entre Cristo e sua Igreja.

 Não podemos deixar de notar que as referências a mistério em Efésiostêm como tema a unidade. O mistério revelado em 3:3-6 une judeus e gentiosno corpo de Cristo; em 5:32, uma aplicação do mistério é a união entre Cristoe a Igreja. No primeiro caso há a criação de um novo povo em união com ele 

mesmo, (Cristo); no segundo caso, os dois se tornam um. Stott observa queem Efésios as metáforas da Igreja — “o corpo, o edifício e a noiva — todasenfatizam a realidade de sua unidade, por causa de sua união com Cristo” (p.231). A tradução latina  sacramentum,  referindo-se ao “mistério,” não dálegitimidade à doutrina do casamento como sendo um sacramento (cf. Barth,

 Eph. 4-6, pp. 744-49).De maneira nenhuma é fácil determinar o significado exato dos

 pensamentos do autor, o que se torna óbvio pela grande variedade detraduções e interpretações (veja-se uma lista delas em Mitton, pp. 207,8).Alguns comentaristas, a despeito da aplicação que o apóstolo faz de Gênesis2:24 a Cristo e sua Igreja, crêem que se trata primordialmente do casamentoentre um homem e uma mulher, que seria o “grande mistério. Outrosconcordam em que embora esta idéia possa estar certa, a frase mas eu me 

refiro a (ego de lego) ou, “isto também se aplica,” indica que a uniãomatrimonial ilustra algo muito mais significativo. Beare parafraseia esseconceito da seguinte maneira: “O mistério da união do homem com suamulher numa só carne tem importância de longo alcance e, com muitaclareza, aponta para alguma realidade eterna, transcendental. Eu, por mim,tomo-a como símbolo da união de Cristo com sua Igreja” (Beare, p. 727).

5:33 / Para impedir que os leitores sejam apanhados pelos aspectos

místicos dessas idéias, e a despeito da aplicação feita a Cristo e sua Igreja em5:32, o autor os traz de volta à realidade: Assim também vós, cada um em particular... Ao agir assim, o apóstolo volta às considerações de ordem mais

 prática e humana com que iniciara a discussão sobre o relacionamentomarido/mulher (5:22ss.): Assim também vós, cada um em particular, ame a sua própria mulher como a si mesmo, e a mulher respeite a seu marido. Respeite é tradução do grego phobeo que, como em 5:21, também tem osignificado de ter reverência. A melhor tradução seria “ter profunda

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(Efésios 5:22-33) 265

reverência”, aquilo que a pessoa sentiria na presença do próprio Deus (cf.Barth,  Eph. 4-6,  pp. 662-68, quanto a uma explicação minuciosa). Barth

 protesta contra tentar-se dar a “temor” e “reverência,” ou respeito, o mesmo

significado; insiste em que se dê também a reverência um sentido adicional,escatológico, isto é, “uma conduta pessoal que leva em consideração a criseatual, o julgamento final e o triunfo último de Cristo” (Eph. 4-6, p. 667).

Esta seção do código doméstico encerra-se de maneira bem parecidacomo se iniciou — submissão, reverência e amor. Por todo o texto, oapóstolo flutuou entre duas analogias: As vezes o relacionamento marido/mulher exerceu uma função eclesiológica, ao ilustrar o relacionamento entre

Cristo e sua Igreja; noutras ocasiões, a analogia Cristo/Igreja ilustrou umideal para o lar. O resultado é que ficamos com uma apreciação e compreensãomais profundas dos dois relacionamentos, embora a intenção original doautor fosse enriquecer nossa compreensão do casamento.

N o t a s A d i c io n a i s # 2 2

Complementando a discussão e bibliografia sobre os códigos domésticosnos parágrafos 18-21, sobre Colossenses 3:18-4:1, veja-se F. Stagg, “TheDomestic Code and Final Appeal: Ephesians 5:21-6:24,” RevExp 75 (1979), pp.541-52. Quanto ao uso de material tradicional desta seção, P. Sampley, And the Two Shall Become One Flesh: A Study of Traditions in Ephesians 5:21-33 (Cambridge: Cambridge Univ. Press, 1971); Barth,  Eph. 4-6,  pp. 652-55;

Mitton, pp. 208-10.5:23 / Quanto a perguntas relacionadas a se kephale pode legitimamente sertraduzida por “autoridade,” veja-se o artigo de B. e A. Mickelsen, “Does MaleDominance Tarnish Our Translations?” Christianity Today, Outubro 5, 1979,

 pp. 23-29. O principal ponto salientado por Mickelsen é que cabeça “não significa ‘chefe’ nem ‘autoridade final’... mas fonte ou origem... ou princípio.”

5:26-27 / Quanto a argumentos pró e contra o banho nupcial, veja-se R.

Batey, “Jewish Gnosticism and the ‘Hieros Gamos’ of Eph. v.21-33,” NTS  10(1963), pp. 121-27; C. Chavasse, The Bride of Christ  (Londres: Faber & Faber,1939); Hanson, The Unity of the Church in the New Testament. Barth argumentacontra uma interpretação batismal de 5:26, 27, em sua obra Eph. 4-6, pp. 687700.

5:31 / Quanto ao uso de Gênesis 2:24 em Efésios 5:31, 32, veja-se A.T.Lincoln, “The Use of OT in Ephesians,” JSN T 14 (1982), pp. 16-57, esp. pp. 3036. Quanto a alguns pensamentos adicionais a respeito de casamento, vida de

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266 (Efésios 5:22-33)

solteiro e o individualismo, Barth,  Eph. 4-6 , pp. 700-738; F. Stagg, “TheDomestic Code and Final Appeal: Ephesians 5:21-6:24,” RevExp 76 (4,1979),

 pp. 547-48.5:32/ Pode-se encontrar um estudo sobre o conceito do “casamento sagrado”

(hieros gamos) no pensamento judaico e helenístico, em Barth,  Eph. 4-6, pp.738-44; Beare, pp. 726-28; e Batey, “Jewish Gnosticism and the ‘Hieros Gamos’of Eph. v. 21-33.”

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# 2 3 . Pais e Filhos ( E fé s io s 6 : 1 - 4 )

Temos em 6:1-9 uma continuação das regras de comportamento; agoraa respeito de pais e filhos (6:1-4), depois senhores e escravos (6:5-9). Comona seção do relacionamento entre marido e mulher, há ênfase específica navida ética do cristão, que deve basear-se no Senhor e ser dirigida pelo Senhor.

O cabeçalho da submissão “no temor de Cristo” de 5:21 aplica-se aocódigo todo. As esposas devem submeter-se a seus maridos como ao Senhor

(5:22); os filhos devem obedecer a seus pais “no Senhor”; os pais devemeducar seus filhos “na disciplina e instrução do Senhor” (6:4); os escravosdevem obedecer a seus senhores terrenos “como a Cristo” (6:5) como“servos de Cristo” (6:6). Os senhores, igualmente, devem permitir queCristo, seu Senhor no céu, governe sua atitude e conduta em relação a seusescravos (6:9).

É possível que tais regras de conduta tenham sido entregues como partedas instruções de catequese a novos crentes recentemente batizados, mas nãoé necessário concluir que o autor está aqui dirigindo-se à congregaçãodurante uma cerimônia batismal. Tampouco a inclusão de crianças nestasinstruções significa que crianças eram batizadas. O interesse principal édemonstrar o tipo de unidade pessoal e doméstica que deve existir entre oscristãos e a Igreja.

6 :1 /Embora o autor esteja seguindo Colossenses 3:20-21 bem de perto,há algumas diferenças importantes nesta carta. Os filhos são exortados aobedecer (sede obedientes a vossos pais no Senhor, pois isto é justo. Aobediência aos pais é considerada uma coisa evidente por si mesma, umaatitude moralmente certa a ser tomada.

Essa obediência filial deve prevalecer em todas as famílias (a declaraçãonão especifica que se destina somente os cristãos). NIV diz no Senhor, 

expressão controvertida no texto grego, provavelmente copiado posteriormente, por causa de uma frase semelhante em 5:22 (to kyrio), e/ou porque é paralelismo de Colossenses 3:20. Em permanecendo o texto, tomaa obrigação de obedecer não só cristã, mas universal.

Em Colossenses os filhos devem “obedecer em tudo.” Mitton sugere quea mudança em Efésios seria mais apropriada “se os filhos sob referência têm

 pais pagãos,” e por isso precisariam prestar “uma obediência que nãocolidisse com a obediência primordial 'ao Senhor’ (p. 210). Embora a

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268 (Efésios 6:1-4)

obediência aos pais seja um princípio universalmente aceitável, surgemconflitos quando os filhos cristãos são forçados a submeter-se a pais que não possuem um compromisso cristão, e cujos padrões morais chocam-se comos de Cristo.

6:2-3 / “Honra a teu pai e a tua mãe”:Visto que esta citação de Êxodo20:12 (cf. Deuteronômio 5:16) não ocorre no texto paralelo colossense, érazoável supor-se que o autor de Efésios está apoiando-se numa tradiçãodiferente ou enfatizando um ponto específico, apropriado ao seu auditório.A obediência a este mandamento contém a promessa de prosperidade e delongevidade. Dizendo que é o primeiro mandamento com promessa, o

autor deve querer dizer que é o primeiro em importância, com respeito aosfilhos, porque o segundo mandamento, o que proíbe aidolatria, é acompanhado pela promessa de Deus de demonstrar seu amor infatigável aos que o amame guardam seus mandamentos (Êxodo 20:6).

Inicialmente, Êxodo 20:12 se referia à terra prometida, que Deus estavadando aos filhos de Israel. Havia também filhos mais velhos que teriam sidoconvocados para honrar seus pais mediante a obediência a eles, e pela

demonstração de cuidado e responsabilidade para com seus pais. Efésiosabreviou a frase “para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhorteu Deus te dá” (Êxodo 20:12), dizendo apenas “sobre a terra.” A terra prometida é substituída por um conceito mais genérico e universal. Deusrecompensa uma sociedade ou comunidade em que a obediência e o respeitosão praticados.

É difícil demonstrar o cumprimento desta promessa numa sociedade emque uma recompensa prometida nem sempre se cumpre. A maior parte doscomentaristas, portanto, interpreta a intenção geral do autor, em vez de ostermos individuais. “Assim,” diz Stott, “o que é prometido não é tanto umavida longa aos filhos que obedecem a seus pais, mas principalmenteestabilidade social para qualquer comunidade em que os filhos honram aseus pais. E certo que uma sociedade sadia é inconcebível sem uma vida

familiar forte” (p. 241; cf. também Foulkes, p. 165; Mitton, p. 212, quantoa aplicações semelhantes).6:4 / A mudança de “pais” (6:1, no sentido de pais e mães englobados)

 para pais (plural de pai, masculino) pode ser ou não significativo. Será queo autor tem em mente que enquanto se requer obediência a ambos os pais (paie mãe), é da responsabilidade do pai administrar a disciplina, e sustentar ofilhp nas coisas espirituais? Isto poderia explicar a forte orientação patriarcal

do primeiro século, tanto na sociedade judaica quanto na pagã. Um pai

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(Efésios 6:1-4) 269

romano, por exemplo (pater famílias), exercia controle rígido e soberanosobre sua casa (Stott, p. 245; Barclay, p. 208).

De modo negativo, vós, pais, não provoqueis à ira a vossos filhos;  parorgizo é “provocar à ira.” Pode-se esperar obediência, mas esta não pode

ser exigida mediante provocação e irritação dos filhos, fazendo que fiquemenfurecidos (Colossenses 3:21 acrescenta: “para que não percam o ânimo.”De modo positivo, os pais são exortados a criá-los na disciplina e instrução do Senhor.

O verbo traduzido por “criar” (ektrepho) tem o sentido de nutrir. Embora possa ser traduzido de modo que transmita a idéia de nutrir o corpo,administrar cuidados (5:29), também se aplica ao cuidado dado à pessoatoda. Essa nutrição é ministrada através da disciplina cristã (paideia)  einstrução (nouthesia). Estas exortações em prol de instrução catequétia podem relacionar-se à natureza batismal da carta. Esta poderia ser a razão porque este versículo é omitido em Colossenses; outra razão poderia ser queEfésios foi escrita muito depois de Colossenses e, por isso, reflete umacrescente preocupação paternal e eclesiástica a respeito das crianças.

Alguns comentaristas traçam uma distinção bastante rígida entre as duascategorias de nutrição empregada, e sugerem que paideia  significa treinarmediante ação disciplinar, enquanto nouthesia  diz respeito à instruçãoverbal (Foulkes, p. 166; Stott, p. 248). Tais distinções, de acordo comMitton, são um tanto “forçadas,” embora “as palavras juntas sugerem tantoo ato de inculcar padrões de comportamento dignos do cristão e, também,instrução verbal a respeito do conteúdo da fé” (p. 213).

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# 2 4 . Senhores e Escravos ( E f é s io s 6 : 5 - 9 )

A maior parte do que se escreveu a respeito da escravidão na exegese deColossenses (Colossenses, cap. # 21) e Filemom aplica-se também a Efésios.Porém, o código colossense dirigia-se de modo específico à necessidade deordem na Igreja, enquanto o de Efésios parece ter natureza mais genérica,conformando-se ao interesse do autor de que haja unidade e compreensão

dentro da comunidade cristã, à medida que os crentes vão buscando servira Cristo dentro das linhas mestras do princípio da sujeição (5:21).6:5 / Os escravos a quem o apóstolo se dirige são cristãos. Isto significa

que sua vida tem um novo referencial, e que sua lealdade última dirige-se aoSenhor, que lhes imprime nas responsabilidades terrenas um novo significado.Conseqüentemente devem obedecer a seus senhores terrenos (vós, servos, obedecei a vossos senhores segundo a carne) como se estivessem servindo

aCristo (6:5); devem considerar-se “escravos deCristo” (6:6) e desempenharseus deveres como se estivessem servindo “como ao Senhor, e não como ahomens” (6:7).

Temor e tremor parece ser uma expressão comum ligada à obediência(2 Coríntios 7:15; Filipenses 2:12). Para alguns, isto pode ter conotação decovardia, ou submissão determinada por severa opressão. Mas é mais

 provável que o apóstolo tenha em mente a reverência e o respeito devidos às

 pessoas de autoridade. Os escravos, a despeito de sua liberdade em Cristo,recém-descoberta, precisam lembrar-se de que não se libertaram socialmenteda instituição escravagista. A desobediência a seu senhor terreno poderiaresultar em severa punição (cf. 6:9, “deixando as ameaças”). O trabalho prestado aos senhores terrenos deve ser prestado com o mesmo tipo desinceridade ... de coração, que governa o trabalho prestado a Cristo.

6:6 / A idéia anterior é levada para este versículo, em que a sinceridadeé definida como comportamento entusiástico (fazendo de coração) semtentar atrair a atenção humana (não... apenas quando estão olhando) semquerer agradar a homens. Servindo desta forma estarão fazendo a vontade de Deus.

Certamente temos aqui uma transformação revolucionária da ética dotrabalho, tendo muitas implicações quanto às relações trabalhistas de hoje.

Para o cristão, não existe distinção entre o secular e o sagrado. “O ideal docristão quanto ao seu trabalho diário, quer seja visto pelos homens, quer não,

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(Efésios 6:5-9) 271

é que seja aceitável como a vontade de Deus, que tenha sido executado comalegria, não por constrangimento nem com desleixo, mas por ser a vontadedivina” (Foulkes, p. 168).

6:7 / Este versículo repete essencialmente — e assim re-enfatiza — o pensamento dos dois versículos precedentes. O trabalho realizado comalegria (eunoia traz a idéia de zelo e entusiasmo) deve partir do coração. Aconvicção íntima derivada de um novo relacionamento com Cristo, e a novaatitude para com o trabalho, capacita o escravo a desempenhar suasresponsabilidades com entusiasmo. .

6:8 / Como em Colossenses (3:24), é introduzido aqui a motivação da

recompensa, como lembrete de que há muito mais nesta vida do que péssimas condições de trabalho e salário baixo (cada um receberá do Senhor todo o bem que fizer). Em Colossenses há uma conexão direta coma herança futura que os fiéis hão de receber (“recebereis do Senhor arecompensa da herança”) porque o problema da injustiça parece ter-seagravado (3:24). Em Efésios, a ênfase recai sobre o bem que tiver sidoexecutado pelo indivíduo, seja escravo, seja livre: ambos serão

recompensados pelo Senhor.6:9 / Os senhores são exortados a tratar bem de seus escravos (fazei o 

mesmo para com eles). Isto significa que o Senhor espera alegria, sinceridadee desprendimento das coisas materiais, da necessidade de aprovação; sãosenhores cristãos, e por isso seus escravos crentes têm o mesmo Senhor(sabendo também que o Senhor deles e vosso está no céu). “Pela lei civil,o escravo não tinha direitos contra seu senhor, mas sob o cristianismo, suasobrigações eram recíprocas” (Beare, p. 735). Aposição social ou econômicamais elevada não representa vantagem para alguém, na comunidade cristã,no que concerne ao seu relacionamento com o Senhor. Para Cristo não há acepção de pessoas (lit., “diante dele não existe parcialidade,”

 prosopolempsia.

Os donos de escravos que se tomavam cristãos tinham que passar por

uma mudança radical em suas atitudes e comportamento no que diziarespeito a seus escravos. Um modo comum de controlar o trabalho deles era por meio de ameaças — ameaças de morte, de punição ou venda. Esta prática, declara o apóstolo, deve acabar (deixando as ameaças). O serviçodeve ser prestado; não deve ser o resultado de medo da vingança.

Embora o autor não tenha abolido a instituição da escravidão, esta novarelação entre escravo e senhor por fim induziu à eliminação da escravatura.

Com respeito a isso, Stott observa que o evangelho, com seu ensino sobre

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272 (Efésios 6:5-9)

igualdade de direitos, justiça e fraternidade, “acendeu um pavio que,finalmente, fez explodir e destruir a escravidão” (p. 257).

N o t a s A d i c io n a i s # 2 46:9 / Alinhado com este conceito, Stagg profeticamente observou: “Mais

cedo ou mais tarde, a escravidão deveria vir sob o julgamento da consciênciacristã. Que se dirá do domínio machista, ou de qualquer negação da personalidade integral de qualquer pessoa?” (“The Domestic Code and Final Appeal,” p.550).

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# 25. A Armadura do Cristão ( E f é s i o s 6 : 1 0 - 2 0 )

Visto que as figuras de linguagem da guerra e da armadura são preeminentes no NT, esta seção de Efésios não representa especificamenteum novo ensino. Paulo, por exemplo, fala de sua própria vida cristã comosendo uma luta espiritual (1 Coríntios 9:24-27); o autor das pastoraisencoraja Timóteo a “...que... combatas o bom combate” (1 Timóteo 1:18;6:12) numa era de apostasia. Em diversas ocasiões, Paulo chega a identificaras armas que o cristão deve usar. Visto que se trata de uma batalha espiritual,diz ele, “as armas da nossa milícia não são carnais, mas sim poderosas emDeus, para destruição das fortalezas” (2 Coríntios 10:4). Ele exorta osromanos: “vistamo-nos das armas da luz” (Romanos 13:12), e suaadmoestação aos tessalonicenses é: “revestindo-nos da couraça da fé e doamor, e tendo por capacete a esperança da salvação” (1 Tessalonicenses 5:8).

Há pelo menos duas fontes possíveis para este tipo de figura de linguagem.A fonte original e mais próxima da inspiração paulina seriam as peças dearmadura que o exército romano usava. Paulo teve suficientes oportunidades

 para observar essas armaduras nos soldados que o guardavam na prisão.Entretanto, embora as forças militares romanas fossem as mais próximas, oautor de Efésios sem dúvida compartilhava conceitos que já teriam sidofirmemente estabelecidos na Igreja.

O ponto de partida mais óbvio para essas figuras de linguagem está emIsaías 59:17, em que Deus é retratado como um guerreiro armado para a

 batalha: “Ele se revestiu de retidão, como de uma couraça, e pôs o elmo dasalvação na cabeça: tomou sobre si as vestes da vingança, e se cobriu de zelo,como de um manto.” Na profecia de Isaías 11:5, é o Messias que chega paraa batalha e julgamento: “A justiça será o cinto de seus lombos, e a verdade

o cinto dos seus rins.” Esta figura de linguagem se transporta para a literaturaapócrifa, onde se declara que a vinda do Senhor e até mesmo toda a criaçãoestará armada para a batalha (Sabedoria de Salomão 5:17-20). A idéia daarmadura celestial tem sua origem nessas-fontes do AT, e atinge sua formaintegral no quadro do NT do guerreiro cristão.

Além da idéia de que a vida cristã pode ser considerada uma guerra ouum combate, é muito provável que estas exortações eram particularmente

úteis quando os cristãos eram perseguidos. Em 1 Pedro 4:1, por exemplo, oscrentes são exortados a armar-se (“armai-vos também”) espiritualmente

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274 (Efésios 6:10-20)

 para suportar o sofrimento que os aguarda.Em Efésios, o guerreiro cristão é exortado assim: “Revesti-vos de toda a

armadura de Deus” (6:1 í) para a batalha contra as forças domai. Ali não háindicação de sofrimento nem de perseguição. A exortação é clara, dizrespeito à presente vida da Igreja, embora a menção da chegada do dia mau,vindouro (6:13) traga um elemento do futuro. O autor indica que essa é suaexortação final a seus leitores (6:10). Assim, os que já estão em Cristo, emvirtude de seu batismo, devem prosseguir e encontrar forças em sua novavida “no Senhor” (6:10).

As inúmeras referências a “permanecer firme” (6:11, 13, 14) enfatizam

o tema da vigilância e perseverança que caracterizam este catecismo primitivo (cf. 1 Coríntios 16:13; Colossenses 4:12; Tiago 4:7; 1 Pedro 5:8,9). Embora o NT com freqüência fale da guerra íntima causada pelas paixõesda carne (Romanos 7:23; Gálatas 5:17; tiago 4:1; 1Pedro 2:11), os inimigoscontra quem os leitores de Efésios deverão lutar são de natureza espiritual,e incluem o diabo e “... os principados... as potestades... os poderes... asforças espirituais da maldade” (6:12).

Pouca evidência existe de que essa exortação se liga de modo específicoao batismo. Embora o batismo fosse um evento adequado para lembrar aosnovos cristãos de que possuem uma armadura espiritual para enfrentar omundo, pouca base temos para apoiar tal conexão em Efésios. A evidênciamais tangível nesta questão encontra-se na carta de Inácio a Policarpo: “Queo batismo seja tua arma; que tua fé seja teu capacete; teu amor, tua lança; tua

 perseverança, a tua armadura” (6.2).O máximo que alguém poderia dizer a respeito da exortação final do autorna carta aos Efésios é que ela se centraliza na figura de linguagem de umguerreiro cristão, e em material catequético primitivo sobre a perseverançae vigilância na vida cristã. Esta seção poderia, como sugere Mitton, estarapanhando as advertências que o autor desenvolvera em 5:3-20, ou mesmoem 4:25-31, em que os leitores são admoestados no sentido de não dar lugar

ao diabo (4:27). As exortações de 6:10-20 provêm meios específicos por queo mal pode ser neutralizado (p. 219).

6:10 / No demais, isto é, “finalmente” se segue a última exortação, a deconclusão. A frase fortalecei-vos no Senhor não é um apelo para o esforço

 próprio, pessoal. O verbo no tempo presente passivo, endynamoo, literalmentesignifica “fortificai-vos no Senhor, continuamente.” A frase seguinte indicaque esse fortalecimento só é possível por causa dos recursos que o Senhorsupre ¥ e na força do seu poder.

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(Efésios 6:10-20)   275

 Nesse versículo existem três palavras gregas que significam poder -dynamis, kratos e ischus. Nem sempre é necessário que se estabeleçam asdiferenças existentes entre essas palavras; a mensagem que chega é que osrecursos de Deus capacitam o crente a enfrentar o maligno. Essas mesmas palavras em 1:19 descrevem os dons espirituais do crente (indicativo); agoraos crentes são exortados a experimentar o efeito desse poder em suas vidasdiárias (imperativo).

6:11 / Revesti-vos é uma expressão comum de Efésios e Colossenses, aqual é usada, como vimos, no contextodo batismo (4:24; Colossenses 3:10,12). O tempo aoristo indica que o autor está pensando numa época ou

situação específica, quando isso ocorreu na vida do crente. “Isto se enquadraria bem numa ocasião batismal em que o novo cristão está pronto para embarcarem sua nova aventura, a do discipulado cristão” (Mitton, p. 220). Estar firmes, como observamos acima, era um tema comum na instrução catequéticada Igreja apostólica.

O equipamento do crente é toda a armadura de Deus (tenpanoplian tou theou). Toda tem o sentido de adequação e qualidade, não de algo completo,

visto haver outras peças que um soldado exigiria para estar “completamentearmado” para o combate. Inclui-se aqui, todavia, tudo de que os crentes

 precisam para estar firmes contra as astutas ciladas do diabo. Methodeia, de que se deriva nossa palavra portuguesa método, metódico  e outras;também significa “astúcia, sutileza, sagacidade enganosa” — daí o apóstoloreferir-se às astutas ciladas do diabo. Esta linguagem é muito semelhanteà de outra exortação das Escrituras: “Sede sóbrios, vigiai. O vosso adversário,o diabo, anda em derredor, rugindo como leão, buscando a quem possatragar” (1 Pedro 5:8).

6:12 / Além de enfrentar o diabo, os crentes enfrentam uma hoste deinimigos espirituais perversos, descritos como principados (archon),potestades (exousia), e poderes (kosmokrator ) deste mundo tenebroso. Stott dá-nos um retrato completo e extraordinário das forças malignas

enfrentadas pelo crente: “O inimigo,” declara ele, é “poderoso,” “perverso,”e “astucioso,” (pp. 263-67). Não é de admirar, portanto, que os crentes sejamconvocados para reunir forças e revestir-se “de toda a armadura de Deus.”“Só o poder de Deus pode defender-nos e livrar-nos do poderio, da iniqüidadee da astúcia do diabo” (Stott, p. 266).

Ao declarar que a guerra do crente não se trava contra a carne e o sangue, mas contra as forças espirituais cósmicas, o autor está empregando

a mesma mitologia cósmica que usara anteriormente (1:21; 3:10), a qual se

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276 (Efésios 6:10-20)

encontra também noutras passagens do NT (Romanos 8:38; Gálatas 4:3;Colossenses 1:16; 2:15,20; 1 Pedro 3:22). Basicamente, essas classes de

espíritos malignos compreendem uma designação ampla de todos os inimigosque o crente enfrenta. Visto pertencerem a uma ordem celeste (regiões celestes), não são materiais, mas supraterrestres: “Embora o atual domíniodeles se estenda por sobre a terra, sua origem e base de operações estão longedeste mundo” (Mitton, p. 222). Só Efésios contém a palavra kosmokrator  (substantivo composto derivado de kosmos,  “mundo,” e kratos,  “regra”).Trata-se de um título aplicado a vários deuses pagãos (Beare, p. 738). Aquise afirma que essas forças malignas exercem sua autoridade no mundo

(kosmos e, assim, sobre o crente.Esta passagem leva o leitor de volta a Efésios 1:21, que descreve a vitória

e exaltação de Cristo sobre as forças malignas. Os crentes “em Cristo,”mediante sua fé e batismo, partilham a vitória e exaltação do Senhor (2:110). Em Colossenses, a vitória e a autoridade de Cristo sobre os poderesmalignos se declaram mais enfaticamente ainda (1:16; 2:15). O principal ponto da carta é que, em virtude da obra de Cristo, esses espíritos deixam de

exercer controle sobre o crente — “Se estais mortos com Cristo quanto aosrudimentos do mundo...” Entretanto, os crentes são admoestadoscontinuamente a “tornar-se” o que “já são” (a tensão entre o indicativo e oimperativo).

Os poderes malignos e cósmicos são apresentados como estando aindaa exercer poder sobre o crente, embora tenham sido derrotados por Cristo

(6:12). Ainda estão em atividade; tentam continuamente reconquistar oterreno perdido, sua posição de eminência; constituem constante ameaçacontra o bem-estar espiritual do crente. E por essa razão que os leitores sãoexortados a usar a armadura que Deus lhes deu.

6:13 / Portando, tomai toda a armadura de Deus. A figura delinguagem de “vestir” as diferentes peças da armadura, vem de observar-seum soldado que se equipa, ou é equipado por alguém, para a batalha.

Entretanto, diante da natureza da armadura dos cristãos, e do fato de elesterem recebido tal equipamento quando se tornaram cristãos, não é provávelque deveríamos imaginar um soldado cristão que se veste aos poucos, a fimde enfrentar Satanás. Vestir a armadura, ou revestir-se dela, tomá-la (6:11,13) é um chamado para os crentes, para que usem o que já possuem.

O dia mau, vindouro, comumente é interpretado como sendo um conflitoescatológico no futuro (Marcos 13; 2 Tessalonicenses 2:8-10; 1 João 2:18;4:17), ou a batalha final do Armagedom (Apocalipse 16:12-16; 20:7,8). É

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(Efésios 6:10-20)   277

verdade que os crentes são advertidos nas Escrituras a que se preparem parao julgamento escatológico, mas não parece que é isso que ocupa a mente doapóstolo; ele vê esse conflito como sendo uma crise atual, pelo que admoestaos crentes a que estejam prontos. A vinda do dia mau é um lembrete darealidade sempre presente da perversidade e da tentação. Os que estãoequipados com a armadura de Deus estarão capacitados a resistir no dia mau.

Quando chegam os assaltos, os crentes têm certeza de que o diabo nãoserá capaz de sacudi-los — havendo feito tudo, deverão ficar firmes. Ocontexto dapassagem enfatiza a “prontidão” e a “firmeza,” mas katergazomai 

tem o sentido de um combate coroado pela vitória (Barth, Eph. 4-6, pp. 765,766). Entretanto, o resultado desse combate não é o progresso na conquista,mas o fortalecimento da posição da pessoa (ficar firmes). Moule lembra aseus leitores que o quadro de uma batalha em Efésios não é o de uma“marcha”, mas o da “manutenção da fortaleza da alma” (p. 151). Aqui, temos“uma cena, uma praça ocupada pelas hostes do maligno reunidas, dispostasa deslocar  a alma, e a Igreja, arrancá-las de sua posição estratégica de vida

e de poder — de união e de comunhão com o Senhor” (p. 154).6:14 / Tendo discutido os benefícios e a necessidade de estarmos

 preparados, o apóstolo finalmente descreve as peças indi viduai s da armadurado cristão. De novo salientamos que não existe o propósito de uma armaduracompleta, visto que se omitem algumas peças (cf. disc. de 6:11; tambémBeare, que cita o relato de Políbio sobre a armadura carregada pelo lanceiroromano, p. 740). Entretanto, isto não significa que o crente estáinadequadamente vestido, já que o autor crê que os seis itens relacionadossão os essenciais: o cinto, a couraça, os borzeguins (calçados os pés), o escudo, o capacete, a espada representam a verdade, a justiça, o evangelhoda paz, a fé, a salvação e a palavra de Deus, respectivamente.

Ao interpretar esses termos, é bom levar em conta o conselho de Mitton:“E errado, entretanto, elaborar demais na tentativa de fazer corresponder

com precisão essas comparações... A ênfase deve estar antes no equipamentototal. Assim como o soldado empenhado na guerra física precisa de todos osseis elementos, e não deve expor-se, e ficar desnecessariamente vulnerávelem alguns pontos, assim o cristão precisa de cada peça de seu equipamento para a batalha” (p. 223). Portanto, ficai firmes.

Primeiramente, ficai firmes tendo cingidos os vossos lombos com a verdade.  Numa cultura em que as pessoas usavam mantos compridos,

soltos, a roupa precisava ser amarrada junto ao corpo quando se exigia pronta

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ação. Aqui, o crente é convocado a ficar firme, (lit. “tendo cingido ( perizonnymi) os vossos lombos na verdade,” cf. RSV e EGA; o sentido éo mesmo de 1 Pedro 1:13, em que se usa a frase “os lombos do vossoentendimento).” “Isto significa livrar-se de qualquer coisa que possa servirde empecilho na luta contra o mal, eliminando um pouco caso e poucoempenho que não prepara o soldado para a batalha” (Mitton, p. 225).

Verdade  pode ter dois sentidos: Pode ser referência específica aoevangelho, que é a verdadeira mensagem (Colossenses 1:5), ou pode ser osconceitos equivalentes de fidelidade, confiabilidade e integridade, algogenuíno. Se a intenção do autor era a doutrina correta ou o evangelho,

esperaríamos ver o artigo (“a verdade”) no grego. Este versículo poderia seruma alusão à ênfase anterior sobre a verdade e integridade dentro do corpode Cristo (4:25ss.; 2 Coríntios 6:7).

Em segundo lugar, vestida a couraça da justiça: A justiça é uma dasqualidades do guerreiro divino (Isaías 11:5; 59:17); em 1Tessalonicenses,a fé e o amor são a couraça (5:8); como servos de Deus, escreve Paulo, “pelasarmas da justiça à direita e à esquerda” (2 Coríntios 6:7). Segundo o uso do

 NT, a justiça (dikaiosyne) pode significar a justificação do pecador bemcomo a qualidade moral da piedade (dikaios). Stott entende que essa palavrasignifica retidão de caráter e conduta, e cita G.G. Findlay, como apoio: “Aintegridade do perdão para as ofensas do passado, e a integridade de caráterque se relaciona a uma vida justificada, são entretecidas numa malhaimpenetrável” (p. 279). Seja como for, a justiça constitui a couraça que protege o coração.

6:15 / Em terceiro lugar, os pés do guerreiro cristão deverão estarcalçados... na preparação do evangelho da paz. Com esse equipamento ocrente está pronto para levar as Boas-Novas. E uma figura de linguagemsemelhante à descrição do servo de Deus, o Messias, de Isaías 52:7: “Quãoformosos são sobre os montes os pés do que anuncia boas novas, que

 proclama a paz” (Também Romanos 10:15). Antes, na carta, o autor

declarou de Cristo: “vindo, ele evangelizou a paz a vós” (2:17). No contexto de Efésios, a paz era proclamada aos gentios (os que estavam

“longe”) e aos judeus (os que estavam “perto”), o que se tomou realidadequando se reconciliaram entre si em Cristo (2:15). Neste versículo, a ênfase

 parece recair sobre a urgência da batalha espiritual que todos os crentesenfrentam, e sua prontidão para proclamar o evangelho pelo qual Cristoderrotou todas as forças malignas das trevas.

6:16 / Em quarto lugar, tomando, sobretudo, o escudo da fé... Segundo

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alguns historiadores antigos, o grande escudo protetor, com formato de porta, compunha-se de duas camadas de madeira, recobertas de um couroresistente ao fogo. Os dardos inflamados que o inimigo atirava batiam noescudo e se apagavam, sem conseguir penetrá-lo. A fé, afirma o autor,

funciona à semelhança de um escudo impenetrável, incombustível, extintorde todos os dardos inflamados do maligno. Fé é total confiança em Deus,que nos dá a vitória.

6:17 / Em quinto lugar, Tomai também o capacete da salvação (cf. 1Tessalonicenses 5:8). No caso do guerreiro divino (Isaías 59:17), a salvaçãoé o capacete que o próprio Deus usá na batalha. No contexto, o capacetesimboliza o “poder de Deus e prontidão para salvar os outros,” e não

 proteção, como em Efésios (Beare, p. 743; também Moule, p. 157). Como protetor da cabeça, o capacete guarda “o centro da vida. O sentido dasalvação coloca a vida livre de todo perigo” (Westcott, p. 97).

O uso de tomai ou “recebei” (dechomai) é significativo. Anteriormente,o autor usou o verbo “revesti-vos” (endyo, analambano) para as outras peçasda armadura. Até aqui, poderíamos imaginar o soldado vestindo-se,

equipando-se com cada peça da armadura com máximo cuidado. Bearesugere que a partir do momento em que o soldado está completamenterevestido, o capacete e a espada não podiam ser levantados do chão pelo próprio soldado, mas lhe eram entregues pelo seu assistente, ou peloescudeiro (Beare, p. 743). Por analogia, salvação e palavra de Deus sãotermos que os crentes recebem. A salvação é um dom de Deus, mas “não hádúvida de que o poder salvífico de Deus é nossa única defesa contra o

inimigo de nossas almas” (Stott, p. 282).Em sexto lugar, e para concluir: Tomai também... a espada do Espírito, 

que é a palavra de Deus. Eis uma questão interessante, relacionada a esteversículo: Como interpretar a frase a espada do Espírito (ten machairan tou 

 pneumatos). É “a espada que consiste do Espírito, ou a espada que o Espírito provê?” (Mitton, p. 227). E de que modo isto se relaciona com a frase

seguinte, que é a palavra de Deus?As melhores explicações tomam a espada como sendo dada pelo Espírito,mas identificada como a palavra de Deus — a espada que é a palavra de Deus (quanto a exemplos bíblicos que comparam a fala a uma espada, cf.Salmo 57:4; 64:3; Isaías 49:2; Hebreus 4:12; Apocalipse 1:16; 2:16; 19:15).A palavra de Deus não é apenas o evangelho (1 Pedro 1:25), mas todas as palavras de Deus que vieram pelo seu Espírito. “A salvação é  o capacete do

cristão, o Espírito que nele habita é  sua espada. O Espírito lhe dá a palavra

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que deve falar” (cf. Marcos 13:11 e Isaías 51:16; Houlden, p. 339; tambémMitton, p. 227).

6:18 / Embora a figura de linguagem de natureza militar prossiga neste

versículo — armai-vos e vigiai  —, a oração para a qual os leitores sãoconvocados não deve ser tomada como a sétima peça da armadura do cri stão.Deus lhe deu essa esplêndida armadura, mas o “vesti-la” e a utilização dessaarmadura na batalha exige disciplina em oração no Espírito. De acordo comStott, “equipar-nos com a armadura de Deus não é um preparo mecânico; éexpressão de nossa dependência de Deus, em outras palavras, dependênciada oração” (p. 283).

A oração que os crentes são admoestados a vivenciar possui algumasqualidades significativas. Primeira, deve ser incessante: orai em todo o tempo. O guerreiro cristão, embora pesadamente armado, só pode permanecerfirme contra o inimigo mediante a oração incessante. A oração se faz no Espírito. Orar assim não é ser transportado numa situação estática oueufórica, fora dos sentidos, mas viver na percepção de que o Espírito é oajudador do crente (5:18), e seu intercessor (Romanos 8:15,16,26,27). “É um

modo de aproximarmos-nos de Deus não confiando em nossa própria piedade, mas na ajuda que Deus em seu Espírito nos oferece” (Mitton, p.228).

O grego, e a maior parte das traduções (RSV, NIV, ECA) empregam asduas expressões: oração (proseuche) e súplica (deesis). A maior parte doscomentaristas acha que a “oração” sempre se dirige a Deus, enquanto a

“súplica” pode ser dirigida a Deus ou à humanidade. A versão GNB“pedindo a ajuda de Deus” presume que o termo grego seja uma súplica aDeus, e não uma intercessão em prol de seres humanos.

Segunda, a oração deve ser intensa. Vigiai nisto com toda a perseverança e súplica.  Noutras palavras, mantende um espírito alerta, de perseverança.O guerreiro cristão não deve ser apanhado desprevenido. A exortação àconstância e à vigilância em oração, e à vida cristã, é comum no NT (Lucas

18:l;Romanos 12:12; 1Coríntios 16:13;Filipenses4:6;Colossenses4:2; 1Tessalonicenses 5:17; 1Pedro 5:8). Mas desde que esta frase fica entre duasexortações diferentes, não fica inteiramente claro a que termo pertence a“perseverança” (Vigiai nisto com toda a perseverança). Deve ficar ao ladoda idéia de orar constantemente, estando sempre alerta, ou deve ir com a fraseseguinte, em que os crentes são convocados para interceder pelos outros?Beare sugere que estar alerta (vigiai) refere-se ao conflito espiritual do

crente, mas que este conflito, por sua vez, conduz à “perseverança na

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intercessão por todos os seus companheiros de luta” (p. 746).Terceira, a oração é ilimitada. Vigiai... com... toda a súplica por todos

os santos. Visto que todos os crentes estão envolvidos numaguerraespiritual,a oração deve transcender seu estreito individualismo e abranger todo o

corpo de Cristo. Como membros de um exército, os crentes devem manifestarseu interesse por todos os que estão lutando ao seu lado. Aqui, a preocupaçãodo apóstolo não é diferente das expressas em 1 Pedro, em que, num contextosemelhante de advertência aos leitores a respeito do diabo, Pedro escreve:“Resisti-lhe, firmes na fé, sabendo que os mesmos sofrimentos estão-secumprindo entre os vossos irmãos no mundo” (5:9).

6:19-20 / A idéia de os cristãos estarem orando uns pelos outros leva oapóstolo apensar também em suas próprias necessidadéx%®ração. (Cf. est£-,

 padrão em Colossenses 4:3; 1 Tessalonicenses $:25; 2 Tessalonicenses 3:1.Este versículo é quase idêntico em substânciaa Colossenses 4:3). Basicamente,o apóstolo tem dois pedidos: Primeiro,'Grài...para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavrafííõni confiança. Literalmente, a frase dizo seguinte: “Orai... de tal modo que a palavra (logos) possa ser-me dada para

abrir a minha boca.” De acordo^om Abbott, “'Abrir a boca’ é uma expressãoque só se usa quando há necessidade de um.grave pronunciamento” (p. 189).É Deus quem concede tal pronunciamento especial, mas o apóstolo estáconsciente;.^ ser ò" portador. ^ \ /

Segundo,'ele pede ousadia'pára com intrepidez fazer conhecido o mistériòído evangelho, ^^pre ocupação é repetida no versículo seguinte,indicando assim o peso que o apóstolo sentia quanto a uma apresentação bem

clara do evangel-hp. O mistério se refere, noutro trecho de Efésios, à unidadeentre judeus e gentios no corpo de Cristo (3:3-6,9). Embora ele seja umembaixador em cadeias (hylasis) por causa do evangelho, procura descobrirnovas oportunidades para servir na qualidade de representante do Senhor.

 ________________________ 

6:12 / Além da disc. e da bibliografia a respeito de principados, potestades,etc., sobre 1:22; 3:10; e Colossenses 1:16; 2:15, 20, veja-se D.E.H. Whiteley,“Ephesians vi.12 — Evil Powers,” ExpT  68 (1956-57), pp. 100-103. Whiteleyresume o ensino de 6:12 desta maneira: ‘ ‘Porque Cristo é Um com Deus, e porquesomos membros de Cristo, todo o poder de Deus está à nossa disposição emnossa luta contra os poderes malignos” (p. 103). Outra fonte útil que trata da luta

dos crentes com as forças inimigas, que já foram derrotadas por Cristo é O.

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Cullmann, Christand Time (Londres: SCN, ed. 1951); a analogia de Cullmanndo dia “D” com o dia “V” tornou-se famosa.

6:15/ Barth toma en hetoimasia com o sentido de “perseverança” em vez de“prontidão.” Assim, os borzeguins são mais uma arma defensiva, que capacitao crente a permanecer firme e resistir contra o inimigo ( Eph. 4-6, pp. 770-71;797-99).

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# 26. Saudações Finais ( E f é s io s 6 : 2 1 - 2 2 )

6:21-22/Efésios encerra-se de maneira inesperada e não-característica:Primeiro, as referências pessoais aTíquico e a uma congregação (ou mais deuma) conflitam com a natureza impessoal e universal da carta. O máximoque uma pessoa consegue dizer é que Tíquico, portador da carta de Colossensese de Filemom, pode estar levando a carta de Efésios às congregações da Ásia

Menor também. Aqui, Tíquico é considerado irmão amado, e fiel ministro do Senhor, que dará notícias sobre a situação do apóstolo na prisão.Segundo, existe o problema dacorrespondência verbal com Colossenses.

Mitton observou que “trinta e duas palavras consecutivas de Efésios sãoidênticas a um grupo similar de palavras de Colossenses 4:7-8” (p. 230).Conquanto haja muitas outras similaridades entre estas duas cartas, hápoucadúvida de que nesta seção o autor esteve copiando Colossenses palavra a

 palavra.

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# 27. Bênção Final ( E f é s i o s 6 : 2 3 - 2 4 )

6:23-24 / Estes versículos de encerramento da carta contêm as virtudesfamiliares da paz, amor, fé e graça que ocorreram ao longo de toda a carta.Esta bênção tem uma aplicação dupla: Primeira, paz, amor e fé sãoestendidas aos irmãos, isto é, aos membros de uma comunidade cristã local;segunda, a bênção da graça é muito mais genérica, sendo estendida a todos 

os que amam, com amor perene, a nosso Senhor Jesus Cristo, isto é,membros da Igreja universal.A bênção inclui a frase inusitada perene amor. Aphtharsia, que carrega

o sentido de imortal, incorruptível ou imperecível; pode ser apenas outramaneira de dizer permanente, eterno. NIV e ECA (à semelhança de GNB eRSV), toma essa palavra em conexão com amor, significando que a graça deDeus é para todos os que amam ao Senhor para sempre. Entretanto, alguns

comentaristas acham que isso produz uma distinção injustificada entre doistipos de amor — o eterno em contraposição com o temporal —, e preferemligá-lo à graça de Deus. Isto produz o efeito de aplicar a palavra à ilimitadagraça, em vez de ao amor humano (assim ocorre com NEB: “a graça de Deusseja com todos os que amam nosso Senhor Jesus Cristo, graça e imortalidade”).Assim, a carta termina com o mesmo tema com que iniciou — a graça deDeus (1:1,2).

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QUEM LÊ