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Prof. Filomena Viana
Monitora Inês Frada
Mestrado Integrado de Engenharia Metalúrgica e de Materiais
Licenciatura em Ciências de Engenharia – Engenharia de Minas e Geo-Ambiente
Equipa 5
Carlos Silva
Joana Costa
Miguel Lapa
Ricardo Luís
Susana Dias
Tiago Rodrigo
Vicente Silva
3 de novembro de 2016
LIGAS COM MEMÓRIA DE FORMA
EDUCAÇÃO DE LIGAS COM MEMÓRIA DE FORMA
Ligas com memória de forma
ii
Resumo No âmbito da unidade curricular Projeto FEUP realizou-se este relatório de
forma a compreender o comportamento e educação das ligas de memória de
forma de níquel e titânio, também conhecidas por ligas TiNi.
Para se educar uma liga de memória de forma são necessárias certas
condições laboratoriais, sob as quais foi incidida uma pesquisa, bem como o
emprego das mesmas a fim de se realizar um trabalho prático.
Este relatório inclui a descrição da atividade laboratorial realizada no dia
18 de outubro no Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais.
A experiência procurou consolidar os conhecimentos adquiridos na procura
de informação, para além de dar oportunidade aos alunos de educarem uma
liga com memória de forma.
A atividade decorreu com sucesso, tendo sido atingidos os objetivos
propostos.
Palavras-chave Ligas com memória de forma, shape memory alloys, ligas TiNi.
Ligas com memória de forma
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Agradecimentos Gostaríamos de agradecer, em primeiro lugar, à FEUP por despertar
interesse e uma enorme vontade de aprender, assim como proporcionar as
condições ideais para o fazer.
Em segundo lugar, é fundamental dar ênfase ao acompanhamento da
Professora Filomena Viana e também da monitora Inês Frada, pois sempre
se mostraram disponíveis para esclarecer qualquer dúvida ou questão. Um
obrigado ainda ao Sr. Ramiro que se apresentou como uma grande ajuda
aquando da atividade prática.
Por fim, há que valorizar a dedicação de todos os formadores que estiveram
presentes na semana de receção aos novos estudantes, na medida em que
visaram a integração dos alunos na faculdade e ofereceram um leque de
conhecimentos que se transformaram numa ótima preparação para nos
tornarmos melhores profissionais.
Ligas com memória de forma
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Índice Resumo .............................................................................................................. ii
Palavras-chave .................................................................................................. ii
Agradecimentos ................................................................................................ iii
Lista de Figuras ................................................................................................ v
Introdução ......................................................................................................... 1
Extração do Minério .......................................................................................... 2
Ligas com memória de forma ........................................................................... 4
Ligas Níquel e Titânio ................................................................................... 4
Aplicações das TiNi ....................................................................................... 6
Educação de ligas com memória de forma ....................................................... 7
Procedimento experimental .............................................................................. 8
Conclusão ........................................................................................................ 10
Referências Bibliográficas .............................................................................. 11
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Lista de Figuras Figura 1 – Esquema da estrutura cristalina das fases martensite e
austenite.
Figura 2 – Molde metálico e liga enrolada no mesmo.
Figura 3 – Colocação do molde no interior do forno.
Figura 4 – Multímetro e termopar, instrumentos de auxílio na medição da
temperatura.
Figura 5 – Arrefecimento da liga em água.
Figura 6 – Deformação da liga após ter sido retirada do molde.
Figura 7 – A liga a voltar à forma educada (trevo) devido à subida da
temperatura.
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Introdução De modo a ser estudada a educação das ligas de memória de forma, tema
proposto da disciplina de primeiro ano, Projeto FEUP, foi efetuada uma
investigação intensa de forma a que este relatório se apresentasse o mais
completo possível. Assim, este está organizado de maneira a que seja
compreensível todo o processo da educação do material referido, mas
propriamente ligas de níquel e titânio. Para complementar, existe ainda o
elemento laboratorial, no qual foi posto em prática o procedimento a adotar
para atingir o objetivo do trabalho.
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Extração do Minério O níquel é extraído de dois tipos de minerais: lateritios e sulfatos. Apesar de
70% das reservas mundiais serem encontradas na forma lateritica, apenas
40% do níquel produzido é lateriritico. O níquel é um metal raro na crosta
terrestre. Aproximadamente 65% do níquel consumido são empregados na
fabricação de aço inoxidável e 12%, em superligas de níquel. Os restantes
23% são repartidos na produção de outras ligas metálicas, baterias
recarregáveis, cunhagens de moedas, revestimentos metálicos e fundição.
Com base na geofísica, acredita-se que a maior parte do níquel existente na
Terra encontra-se no núcleo interno e externo.
No ramo da engenharia, a metalúrgica é a que estuda os métodos e os
processos de extração dos minerais dos seus depósitos naturais. Este estudo
engloba todos os processos de tratamento do minério, como a lavagem,
concentração, separação, processos químicos e a extração pura do metal. A
ciência dos materiais tem como objetivo, para alem da extração, encontrar
as devidas aplicações tendo em conta as propriedades dos materiais, que por
vezes têm de ser trabalhadas para posterior uso.
Dentro dos processos necessários para o tratamento de minérios e metais
existem dois essenciais que através de reações químicas vão alterar as
características dos materiais. O primeiro processo é através da
pirometalurgia que envolve processos de altas temperaturas e que faz reagir
gases, sólidos e materiais fundidos. Os sólidos com metais valiosos são
tratados de modo a que no final do processo sejam convertidos no seu estado
elementar. O segundo processo desenvolve-se através da hidrometalurgia
que envolve a utilização de soluções aquosas de modo a extrair metais de
minérios existem dois essenciais que através de reações químicas vão alterar
as características dos materiais.
O primeiro processo é através da pirometalurgia que envolve processos de
altas temperaturas e que faz reagir gases, sólidos e materiais fundidos. Os
sólidos com metais valiosos são tratados de modo a que no final do processo
sejam convertidos no seu estado elementar.
O segundo processo desenvolve-se através da hidrometalurgia que envolve
a utilização de soluções aquosas de modo a extrair metais de minérios.
Outra forma de extrair o níquel é chamada “processo Mond”. Este processo
foi descoberto em meados de 1890 por Ludwig Mond, um químico inglês, e
pretende transformar óxido de níquel em níquel puro.
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O H2 reduz o NiO a Ni, que por sua vez reage com o CO formando o
tetracarbonilníquel (volátil e altamente inflamável e tóxico).
Faz-se o ataque do Ni a 50ºC e num forno com resfriamento mantém-se a
temperatura abaixo da temperatura de decomposição.
Ni + 4CO Ni(CO)4 + calor, sendo que as impurezas permanecem no estado
sólido.
A dissociação é feita introduzindo-se monóxido de carbono na coluna central
de um forno especial mantido a 190ºC, onde circulam “bolas” de Ni pré-
obtidas.
Estas são aquecidas indiretamente e nelas depositam o Ni com mais de
9,95% de pureza. Aquecido a 230ºC, o gás decompõe-se, formando o metal
puro e CO, que é reciclado. [1]
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Ligas com memória de forma As ligas de memória de forma (também conhecidas como SMA – Shape
Memory Alloys) são ligas metálicas que se caraterizam por voltarem à sua
forma original após uma deformação, sob a ação do aumento da temperatura
ou pressão. Este efeito ocorre devido à alteração/reorganização cristalina dos
materiais que constituem as mesmas ligas. A recuperação de forma acontece
entre os 8 e 10%. Esta ocorre após um ciclo de variação de temperatura [2].
Nestas ligas, existem duas fases sólidas nas quais a diferença está presente
na estrutura cristalina: a martensite e a austenite (fase mãe). A primeira é
a fase caraterística das ligas à temperatura ambiente. Os materiais
adquirem mais ductilidade e, como tal, tornam-se mais fáceis de trabalhar e
manobrar. Já a segunda fase, austenite, sucede a altas temperaturas, com
uma estrutura geralmente cúbica, apresentando maior simetria do que na
martensite [2,5].
.
Ligas Níquel e Titânio Este tipo de liga começou a ser utilizada no fim da década de 1960 para fins
militares, nomeadamente, para a construção de aviões de combate, os F-14.
As ligas TiNi compostas por aproximadamente 50% de níquel e 50% de
titânio são chamam-se “nitinol”.
Fig. 1 – Esquema da estrutura cristalina das fases
martensite e austenite [2]
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As TiNi apresentam uma cor acinzentada e brilhante e uma densidade de
6.45 g/cm3. O seu ponto de fusão ronda os 1310 ºC (diferente da temperatura
necessária para ocorrer o efeito memória de forma)[7]. Este material é
bastante utilizado em áreas como a medicina e aeronáutica devido à
biocompatibilidade e resistência mecânica.
As suas principais aplicações devem-se à resistência à corrosão, capacidade
de amortecimento e superelasticidade. No entanto, estas apresentam
algumas desvantagens tais como o elevado custo de produção e pouca
resistência à fadiga[4,5,6].
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Aplicações das TiNi A liga com memória de forma é utilizada no bioengenharia com diversas
funções. Umas delas é a reparação dos ossos partidos. A placa da liga tem
temperatura de transferência de memória parecida com a temperatura
corporal e é conectada a ambas as partes do osso quebrado. Devido ao calor
corporal a placa irá contrair-se e manter a forma original, exercendo assim
uma força de compressão no osso na zona de fratura. Após o osso ter sarado
a placa continua a exercer a força compressiva e ajuda a fortalecer durante
a reabilitação. Metais com memória também se aplicam a substituições de
anca tendo em conta a sua capacidade elástica.
Outra função da liga é o desbloqueamento de vasos sanguíneos, sendo assim
um tubo de liga é comprimido e introduzido no vaso bloqueado. O metal tem
memória de temporal perto da temperatura corporal, logo o metal expande
e abre os vasos entupidos.
Além disso, é usada para o arame do aparelho dentário. As ligas de memória
mantêm a sua forma já que se encontram a constante temperatura e devido
a elasticidade do metal de memória.
Estas também são usadas em válvulas de proteção que devido a um aumento
da temperatura as válvulas atuam. Por exemplo num chuveiro quando a
temperatura sobe demais estas válvulas atuam, ou seja, bloqueiam a
passagem de água só voltando a reabrir.
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Educação de ligas com memória de forma Como vimos, estas ligas metálicas possuem uma estrutura cristalina que
tem a capacidade de memorizar uma forma específica e de regressar a esta
quando aquecida. É possível “programarmos” estas ligas para uma nova
forma.
Após darmos à liga a forma desejada enquanto está na fase martensite,
coloca-se num molde resistente e aquece-se o metal até este atingir
temperaturas perto dos 500ºC. A estas temperaturas, a liga irá mudar para
a fase austenita, mas a estrutura dos cristais não conseguirá forçar o metal
a regressar à forma que caracteriza essa fase por causa do molde. Deste
modo, por ação do calor, os cristais serão lentamente educados a “lembrar-
se” da estrutura que apresentam nesse momento. A liga não necessitará de
ser submetida a altas temperaturas durante mais de vinte minutos para ser
educada com a nova forma.
Esta facilidade de educar as ligas de memória forma dá-lhes uma
versatilidade que as torna muito úteis em vários ramos da Indústria. [8]
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Procedimento experimental Antes da realização da experiência, foi formado um molde metálico com
orifícios onde são inseridos parafusos. A ordem e padrão destes parafusos
devem ser rigorosos de tal maneira que a liga seja enrolada e fixa nos
parafusos e, desta forma, adquirir a forma desejada. (Fig. 2)
Após a liga estar bem fixa, o molde é inserido num forno pré-aquecido a
500ºC. Devido a estas altas temperaturas, deve-se usar luvas termicamente
resistentes e uma tenaz metálica. (Fig. 3)
O molde e a liga repousam no forno durante 15 minutos. Durante o
aquecimento, a temperatura é medida num termopar inserido num orifício
da porta do forno. Este aparelho está associado a um multímetro, onde se
pode visualizar os valores da temperatura. (Fig. 4). O molde é depois retirado
do forno e colocado num recipiente cheio de água à temperatura ambiente (o
Fig. 2 – Molde metálico e liga enrolada no
mesmo
Fig. 3 – Colocação do molde no forno
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molde é agitado dentro de água para evitar a formação de vapor de água),
onde arrefece rapidamente. (Fig. 5)
Após o molde ser seco, a liga é retirada e deformada (Fig. 6). Com auxilio de
um isqueiro (fonte de calor), é aquecida para se verificar se a educação foi
bem sucedida. Caso isso seja verdade, a liga irá reorganizar-se à medida que
é aquecida até a forma educada ser visível (Fig. 7).
Fig. 4 – Multímetro e termopar,
instrumentos de auxílio na medição
da temperatura.
Fig. 5 – Arrefecimento da liga em
água
Fig. 6 – Deformação da
liga após ter sido retirada
do molde
Fig. 7 – Liga a voltar à forma educada
(trevo) devido à subida da temperatura
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Conclusão Em suma, a realização deste trabalho permitiu aos estudantes abrangerem
os seus conhecimentos sobre o mundo das ligas metálicas, nomeadamente
das ligas com memória de forma.
O facto de ter sido possível efetuar a educação da liga TiNi mostrou-se como
uma parte fundamental do trabalho, uma vez que foi possível presenciar o
processo em estudo e fazer parte do mesmo. Aliado ao que foi descrito
anteriormente, os resultados positivos geraram curiosidade e vontade de
aprender mais sobre esta matéria.
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Referências Bibliográficas
1. Robert Lancashire. 2010. “Nickel Chemistry”. Acedido a 28 de outubro de
2016. http://wwwchem.uwimona.edu.jm:1104/courses/nickel.html
2. Silva, Paulo Lobo et al. “Shape memory alloys behaviour : A review”.
Volume 144. Páginas 776-783. Acedido a 26 de outubro de 2016. http://ac.els-
cdn.com/S1877705815016641/1-s2.0-S1877705815016641-
main.pdf?_tid=80f5e5fe-9c6b-11e6-a850-
00000aacb35e&acdnat=1477589802_4951ab049dd18d481da381037bab6a0
2
3. Acedido a 15 de outubro de 2016.
https://en.wikipedia.org/wiki/Nickel_titanium
4. Johnson Matthey Medical Components. 2016. “How does Nitinol work?
All about Nitinol Shape Memory and Superelasticity”. Acedido a 30 de
setembro de 2016. http://jmmedical.com/resources/122/How-Does-Nitinol-
Work%3F-All-About-Nitinol-Shape-Memory-and-Superelasticity.html
5. Silva, Rui. “Metais com Memória de Forma”. Acedido a 25 de outubro de
2016. www.ua.pt/cv/readobject.aspx?obj=1259
6. Kang, Guozheng et al. “Review on structural fatigue of NiTi shape
memory alloys: Pure mechanical and thermos-mechanical ones”. Theoretical
and Applied Mechanics Letters. Volume 5. Páginas 245-254. Acedido a 15 de
outubro de 2016. http://ac.els-cdn.com/S2095034915000938/1-s2.0-
S2095034915000938-main.pdf?_tid=63268a50-9c6c-11e6-8047-
00000aacb35e&acdnat=1477590181_c4d0621ddb8cefe7589c4e5aeb8ffdd1
7. Chemistry Learner. 2016. “Nitinol”. Acedido a 2 de outubro de 2016.
http://www.chemistrylearner.com/nitinol.html
8. Fremond, Michael and Schuichi Myazaki. “Shape Memory Alloys”. Vol.
351. Springer, 2014.