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R e v i s t a B r a s i l e i r a d e

F i s i o l o g i ado e x e r c í c i oÓrgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício

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ISSN 16778510

NUTRIÇÃO• Avaliaçãonutricionaldefisioculturistas

CARDIOLOGIA• Testedecaminhadadeseisminutosemcardiopatas

• Marcadoresinflamatórioseexercíciosfísicos

ESPORTE• Atividadefísicaduranteagestação

• Prevalênciadelesõesnojudôdealtorendimento

• Análisedosaltoverticalemjogadoresdebasquete

• Lesõesosteomioarticularesemjogadoresdefutsal

ESTÉTICA• Tratamentodagorduralocalizada

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de Atividades Físicas

do Rio de Janeiro - IPCFEx

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EDITORIAL

Atividade física e aplicações clínicas, Paulo Tarso Veras Farinatti ................................................................................ 3

ARTIGOS ORIGINAIS

Marcadores inflamatórios em pacientes com doença arterial coronariana submetidos a um programa regular de exercícios físicos, Sonia Aparecida de Morais, Antonio Carlos da Silva Martins, Edison Sandoval Peixoto, Sebastião David Santos-Filho............................................. 4

Avaliação nutricional de fisiculturistas de academias da cidade de São Paulo, Amanda Cristina Lugarezze, Ana Lucia Girasoli, Cinthya Correia Bezerra, Karen Rejane Tanii Farinho, Neide Kaoru Hoshina, Patrícia Lima Araújo, Marcia Nacif ............................................... 9

Prevalência de lesões no judô de alto rendimento, Paloma Angel de Carvalho, Samira Jirges Hanna, Marcelo Massayoshi Ohira, Henrique Koch, Luis Ricardo Revite, Ricardo Xavier Pinto, Daiane Cardoso, Rafael Cusatis Neto ........................................................................................ 14

Análise do salto vertical em jogadores de basquete utilizando o alongamento como preparação da flexibilidade, Juliano Angeli Romani, Cristiane Mariana Rodrigues da Silva, Carlos Fornazzari ............................................................................................. 20

Relação entre alterações posturais e lesões osteomioarticulares em jogadores de futsal, Alisson Guimbala dos Santos Araujo, Cintia Seefeld, Juliana Cardoso Alves ................................................ 24

Influência da atividade física, pressão arterial e variáveis antropométricas da gestante sobre o peso do feto ao nascer, Janyny Galdino Onofre Spolador, Marcos Doederlein Polito ............................................................................................................................................ 30

REVISÕES

Uso da fosfatidilcolina no tratamento de depósitos localizados de gordura, José Diego Botezelli, José Alexandre Curiacos de Almeida Leme, Maria Alice Rostom de Mello ...................................................................................................................................... 34

A importância do teste de caminhada de seis minutos em pacientes com insuficiência cardíaca, Nivia Schmidt de Souza, Kellen Marcela Santos, Letícia Alckmin Morgado, Elaine Cristina Martinez Teodoro ..................................................................................... 38

NORMAS DE PUBLICAÇÃO .................................................................................................................................. 45

EVENTOS ................................................................................................................................................................. 47

Índicevolume 8 número 1 - janeiro/março 2009

R e v i s t a B r a s i l e i r a d e

F I S I O L O G I ADO E X E R C Í C I OÓrgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício

B r a z i l i a n J o u r n a l o f E x e r c i s e P h y s i o l o g y

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 20092

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Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: [email protected]

3Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009

Editorial

Atividade física e aplicações clínicas

Prof. Dr. Paulo Tarso Veras Farinatti

Editor-Chefe da RBFEx

Tenho o prazer de apresentar o primeiro número do volume deste oitavo volume da Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício (RBFEx). Continuando o proces-so de consolidação da revista, iniciamos o ano com um Conselho Editorial renovado. Além disso, implanta-se paulatinamente um sistema de submissão on-line que, no decorrer do ano, deve começar a funcionar. A quantidade de artigos submetidos vem aumentando a cada ano, per-mitindo com que a periodicidade da revista se mantenha sem os percalços do passado. Faz parte dos nossos planos aumentar o número de artigos por revista, visando, em prazo médio, uma periodicidade trimestral.

O presente número da RBFEx traz oito artigos, seis deles originais e duas revisões, cuja variedade de assuntos refl ete a riqueza da própria temática da revista. Inicialmen-te, a equipe da Universidade Federal Fluminense analisa

marcadores infl amatórios em cardiopatas praticantes de exercício. Em seguida, temos um levantamento do perfi l nutricional e do conhecimento sobre nutrição em pratican-tes de fi siculturismo da cidade de São Paulo. O desporto de rendimento é o assunto dos três artigos subseqüentes, um deles dedicado ao salto vertical no basquete e dois com foco nas lesões associadas à prática do judô e do futsal. Fechando os artigos originais, chega-nos da Universidade Estadual de Londrina interessante estudo sobre as relações entre a prática de atividades físicas por parte da gestante e características do feto no nascimento. Enfi m, as revisões da literatura apresentadas tratam de assuntos tão diversos quanto a combinação do exercício físico com técnica não-ortodoxa de perda de gordura e a aplicação de teste de caminhada em pacientes cardiopatas.

Bom proveito!

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 20094

Artigo original

Marcadores inflamatórios em pacientes com doença arterial coronariana submetidos a um programa

regular de exercícios físicosInflammatory markers in patients with coronary artery disease submitted

to a regular program of physical exercises

Sonia Aparecida de Morais, Ft.*, Antonio Carlos da Silva Martins, M.Sc.**, Edison Sandoval Peixoto, D.Sc.***, Sebastião David Santos-Filho, Ft., D.Sc.****

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Cardiologia da UFF, Professora de Fisioterapia Aplicada a Cardiologia do Centro Universitário de Volta Redonda RJ, Responsável Técnica da Reabilitação Cardíaca do Centro de Cardiodiagnóstico do Méier, **Mé-dico, Professor de Fisioterapia Aplicada à Cardiologia do Centro Universitário de Volta Redonda RJ, Responsável administrativo do Centro de Cardiodiagnóstico do Méier, ***Médico, Professor Titular de Cardiologia da UFF, Niterói RJ, ****Professor Adjunto de Biofísica e Fisiologia da Universidade Severino Sombra, Vassouras RJ

ResumoAs doenças coronarianas, entre elas a aterosclerose, tornaram-se

a principal causa de morte. Esse problema é decorrente de aspectos do estilo de vida moderno, entre eles alimentação irregular, tabagis-mo, ingestão de bebidas alcoólicas, estresse e o sedentarismo. Nosso estudo tem por objetivo avaliar a importância do exercício físico como recurso terapêutico no tratamento de pacientes com doença arterial coronariana, correlacionando os benefícios do mesmo na diminuição dos marcadores infl amatórios assim como no controle dos fatores de risco e na morbidade cardiovascular. Os dados deste estudo demonstram a importância dos marcadores infl amatórios como preditores de risco para doença cardiovascular. A efetividade do exercício físico no controle dos fatores de risco de doença car-diovascular, tendo como parâmetro os marcadores infl amatórios, atinge múltiplos benefícios, que podem ser alcançados com alto grau de segurança.Palavras-chave: aterosclerose, marcadores inflamatórios, exercício físico, reabilitação.

AbstractTh e coronary diseases, among them the atherosclerosis, are the

main cause of death. Th is problem is due to aspects of modern life style, such as irregular dietary, tobacco, alcohol ingestion, stress, and sedentarism. Our study aims at evaluating the importance of physical exercise as a therapeutic tool to treat patients with coronary artery disease, correlating benefi ts on infl ammatory markers decrease as well as risk factors control and cardiovascular morbidity. Data showed the importance of infl ammatory markers as predictors of cardiovascular disease risk. Th e eff ectiveness of physical exercise on prevention and control of cardiovascular disease risk factors, and the infl ammatory markers as a parameter, achieve multiple benefi ts that can be reached with high security level. Key-words: atherosclerosis, inflammatory markers, physical exercise, rehabilitation.

Autor para correspondência: Sonia Aparecida de Morais, Rua São Francisco Xavier, Bloco E, 681/202, 20550-011 Rio de Janeiro, RJ, Tel: (21) 2568-1371, E-mail: [email protected]

5Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009

Introdução

As doenças coronarianas, entre elas a aterosclerose, tor-naram-se a principal causa de morte na civilização moderna. Esse problema é decorrente de muitos aspectos do estilo de vida moderno, entre eles alimentação irregular, tabagismo, ingestão de bebidas alcoólicas, estresse cotidiano e o seden-tarismo [1].

Esses hábitos causam o desenvolvimento de fatores de risco relacionados à aterosclerose. A formação de placas ateroscleróticas ou ateromas está diretamente relacionada a acidentes coronarianos, como o infarto, a doença isquêmica do coração e a apoplexia [2].

As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte entre homens e mulheres, nos países desenvolvidos [3].

No inicio do século XX, a doença cardiovascular foi res-ponsável por menos de 10% das mortes em todo o mundo e, ao fi nal deste século, responde por 50% de todas as mortes em países desenvolvidos e 25% nos países em desenvolvimento [4,5].

Os mediadores infl amatórios mais estudados como prová-veis fatores prognósticos de risco de doenças cardiovasculares são a proteína C-reativa (PCR), ICAMs, IL6, TNF alfa e a P-selectina [6]. Desses, o que tem recebido maior atenção dos pesquisadores é a PCR, a qual, quando elevada, está associada a um risco aumentado para infarto agudo do miocárdico, acidente vascular cerebral e morte cardiovascular [7,8].

Vários estudos têm evidenciado uma associação entre a atividade física regular e a redução nos níveis dos diferentes marcadores infl amatórios. Um dos prováveis mecanismos de diminuição no risco cardiovascular relacionado com a prática do exercício se relaciona com o impacto deste sobre os diferentes marcadores infl amatórios [9,10].

Nosso estudo tem por objetivo avaliar a importância do exercício físico como recurso terapêutico no tratamento de pacientes com doença arterial coronariana correlacionando os benefícios do mesmo na diminuição dos marcadores in-fl amatórios arteriais assim como no controle dos fatores de risco e na morbidade cardiovascular.

Material e métodos

O estudo foi realizado com pacientes do Setor de Reabi-litação Cardíaca no Centro de Cardiodiagnóstico do Méier, Rio de Janeiro, RJ.

Em nosso estudo foram incluídos 14 pacientes com diag-nóstico de doença arterial coronariana. Todos os pacientes incluídos apresentavam eventos anteriores, como angioplas-tia, revascularização do miocárdio, ou infarto e todos eram sedentários. Dez pacientes do sexo masculino (71%) e quatro pacientes do sexo feminino (29%) com idades que variaram de 60 a 80 anos. Todos os pacientes assinaram um termo de consentimento esclarecido e receberam informações a respeito dos procedimentos e objetivos da pesquisa.

Os pacientes foram submetidos a uma avaliação médica e físico-funcional, além de exame bioquímico específi co – lipidograma, glicemia, proteína C reativa, cardiolepina, homocisteína, imunoglobulina e fibrinogênio. Todos os exames foram realizados em um mesmo laboratório sugerido pelos pesquisadores para evitar erros de metodologia. Os mesmos realizaram teste ergométrico para avaliação clínica e funcional. Todos os pacientes participaram de um programa de reabilitação cardíaca.

O programa proposto foi de 60 minutos de exercício físico aeróbico, três vezes na semana, durante doze semanas. Os pacientes iniciavam com 30 minutos de caminhada na esteira e a seguir, 30 minutos de pedalada na bicicleta, seguidos de alongamento global.

Todos os pacientes foram acompanhados e supervisio-nados durante a realização do programa de exercícios. Após 12 semanas de realização do programa, os pacientes foram reavaliados individualmente.

Resultados

Na Tabela I mostramos os fatores de risco apresentados pelos pacientes na primeira avaliação. Todos os pacientes eram sedentários. Observa-se que 78% dos pacientes apresentaram histórico de hipertensão arterial enquanto que outros 28% eram tabagistas, 48% diabéticos, 42% acima do peso e todos apresentaram dislipidemia.

Tabela I - Fatores de risco associados à doença arterial coronariana.Pacien-te

ID HA DB OB/SP

HD TB DP SD

RCV 66 Sim Não SP Sim Não Sim SimJJB 72 Sim Não Não Sim Não Sim SimAAB 78 Não Não Não NS Não Sim SimHPG 69 Sim Sim Sim Sim Não Sim SimOPC 70 Sim Sim SP Sim Não Sim SimFG 79 Sim Não Não Não Não Sim SimRFY 74 Sim Sim Não Sim Sim Sim SimMGP 81 Sim Não Não NS Não Sim SimACA 64 Sim Não Não Sim Não Sim SimJAS 74 Sim Sim SP Não Não Sim SimCVR 66 Sim Sim SP Não Sim Sim SimJBJ 77 Não Sim Não Sim Sim Sim SimABS 75 Não Não SP Não Não Sim SimAAC 80 Sim Sim Não Sim Não Sim Sim

ID – idade; HA – hipertensão arterial; DB – diabetes; OB – obesidade;

SP – sobrepeso; HD – hereditariedade; TB – tabagismo; DP – dislipide-

mia; SD – sedentarismo; NS – não sabe informar.

Na Tabela II, apresentamos os parâmetros da avaliação físico-funcional dos pacientes após inclusão no programa. Aproximadamente 42% apresentaram índice de massa cor-poral (IMC) acima de 25, o que caracteriza sobrepeso. 50% apresentaram circunferência abdominal fora das metas.

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 20096

Tabela II - Avaliação físico-funcional dos pacientes.

PacientePeso(kg)

Altura(cm)

IMC CA*(cm)

RCV 78 169 27 104JJB 72 169 25 96AAB 57 164 21 82HPG 89 162 34 116OPC 89 172 30 109FG 68 168 24 86RFY 73 172 24 104MGP 70 170 24 99ACA 72 170 25 87JAS 84 166 30 121CVR 80 164 30 118JBJ 71 169 25 87ABS 82 171 28 114AAC 74 172 25 88

*Circunferência abdominal

Após o programa de reabilitação proposto, observamos que aproximadamente 71% dos pacientes atingiram valores de normalidade na maioria dos marcadores infl amatórios estudados (Tabela III).

Os marcadores infl amatórios de maior expressão verifi ca-dos em nosso estudo foram a PCR ultra-sensível, homocis-teína e fi brinogênio.

Tabela III - Marcadores infl amatórios. Paciente PCR

(mg/dL)HC(μmol/L)

IgG*(GPL/mL)

IgM*(MPL/mL)

FG(mg/dL)

RCV 0,06 11,3 8,9 7,8 318JJB 0,07 17,0 3,8 0,7 295AAB 1,41 12,7 9,3 0,2 440HPG 0,14 13,0 2,0 4,0 540OPC 0,15 14.0 2,6 4,5 600FG 7,42 17,4 9,1 8,9 459RFY 0,70 6,5 1,0 2,0 320MGP 0,08 5,8 1,2 0,7 323ACA 7,20 17,2 9,2 0,8 515JAS 0,08 7,0 9,3 0,7 287CVR 0,08 10,4 9,8 8,3 321JBJ 7,10 16,9 1,3 0,8 395ABS 2,43 7,1 9,3 0,5 540AAC 7,42 9,4 8,9 0,8 451

*Tipos de Anti-cardiolepina; Proteína C reativa (PCR); Homocisteína

(HC); Lipoproteína de baixa densidade (LDL); Lipoproteína de alta

densidade (HDL); Imunoglobulina G (IgG); Imunoglobulina M (IgM);

Fibrinogênio (FG)

Na Tabela IV podemos observar que apesar de 48% dos pacientes apresentarem diagnóstico de diabetes, 93% alcançaram as metas de normalidade da glicemia de jejum.

Observamos ainda que 85,7% alcançaram valores sa-tisfatórios de perfi l lipídico e a maioria atingiu as metas de normalidade.

Tabela IV - Glicemia e perfi l lipídico.

PacienteGCM TGC LDL

(mg/dL)HDL(mg/dL)

VLDL CT

RCV 74 88 60 40 7 110JJB 107 35 43 63 7 113AAB 104 52 47 44 10 101HPG 97 112 80 60 22 164OPC 94 193 82 38 39 159FG 84 138 64 39 28 131RFY 98 101 73 47 18 121MGP 87 46 53 72 9 134ACA 101 247 147 35 20 202JAS 114 46 50 62 20 121CVR 80 120 62 38 15 103JBJ 74 115 53 73 9 115ABS 78 80 77 44 7 105AAC 86 82 74 45 11 110

Glicemia (GCM); Triglicerídeos (TGC); Lipoproteína de baixa densida-

de molecular (LDL); Lipoproteína de alta densidade molecular (HDL);

Colesterol total (CT); Colesterol (VLDL).

Discussão

Existem várias revisões da associação entre inatividade física e risco de doenças cardiovasculares. As meta-análises têm indicado o dobro de risco de doenças cardiovasculares em indivíduos inativos quando comparados com os ativos [11,12].

Nos estudos que têm avaliado a atividade física ocupacio-nal, a inatividade (ou sedentarismo) está associada a 90% de aumento de risco relativo de morte por doenças cardiovascula-res [13,14]. Em nosso estudo, todos os pacientes apresentaram estilo de vida sedentário na primeira avaliação.

Para Abramson et al. [10] alguns dos mecanismos envol-vidos no controle das doenças cardiovasculares utilizando a atividade física, que foram apresentados em trabalhos científi cos, incluem efeitos de diminuição da progressão da arteriosclerose e da trombose, diminuição da pressão arterial e isquemia, através de melhora da hemodinâmica local, e também diminuição do perfi l lipídico e melhora do quadro de arritmia. Os mecanismos pelos quais o exercício a longo prazo tem efeito protetor na arteriosclerose incluem o incre-mento signifi cante da proporção de células T circulantes que têm propriedades ateroprotetivas .

Para Ford [9] o exercício estimula um efeito protetor nas células endoteliais e nas células T em pessoas com aterosclerose. Existem também evidências de que o desen-volvimento da placa de aterosclerose está associado com o processo infl amatório e que o exercício está associado por sua vez com uma redução de marcadores infl amatórios –

7Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009

proteína C-reativa, células sangüíneas brancas, fi brinogênio, fator VIII–, sugerindo que o exercício está relacionado com uma redução da infl amação. A melhor compreensão da fi siopatologia e o desenvolvimento de tecnologias sensíveis e específi cas tornaram cada vez mais evidentes as possibi-lidades de detecção precoce e monitoração das doenças cardiovasculares. Assim, o conceito dos marcadores foi introduzido nos últimos anos. Um marcador pode refl etir a fi siopatologia da doença, predizer eventos futuros, bem como indicar a presença da afecção ou danos a um órgão. Um marcador pode também ser medido para avaliar o progresso do tratamento [15].

Nossos resultados mostraram que 71% dos pacientes atin-giram valores de normalidade dos marcadores infl amatórios, além de alcançarem níveis satisfatórios de glicemia de jejum e no lipidograma, com um programa de reabilitação com exercício físico aeróbico.

Segundo Sigal et al. [13], o programa de exercícios para pacientes com doença arterial coronariana é baseado na pres-crição tradicional para o desenvolvimento do efeito do treino em pessoas saudáveis. Porém, é modifi cado como indicado pela condição cardiovascular e estado clínico geral do paciente. Isso envolve um adequado programa individual de exercícios com respeito ao modo, freqüência, duração, intensidade e progressão do exercício. O programa de exercício proposto em nosso estudo foi individualizado e adaptado ao paciente respeitando as suas limitações.

Para Pescatello et al. [15] o exercício contínuo como andar, correr, pedalar, nadar, aeróbica em grupo e remar são apro-priados para o condicionamento de resistência cardiovascular. A freqüência mínima é de 3 dias não consecutivos na semana. Períodos de aquecimento e resfriamento de pelo menos 10 minutos, incluindo alongamento e exercícios de fl exibilidade, devem preceder e seguir o exercício de 20-40 minutos realiza-dos tanto continuamente ou em intervalos [15,16].

Exercício em programas supervisionados é realizado em intensidade moderada, de maneira confortável, geralmente 40-85% da capacidade funcional máxima (VO2máx), que correlaciona com 40-85% da reserva de freqüência cardíaca máxima ([freqüência cardíaca máxima – freqüência cardíaca de repouso] x 40-85% + freqüência cardíaca de repouso), ou 55-90% da freqüência cardíaca máxima [17,18].

O grau de esforço percebido pode também ser usado para monitorar a intensidade do exercício, com o objetivo de man-ter a intensidade em nível moderado. Qualquer programa de exercício deve envolver uma progressão inicial lenta e gradual da duração e intensidade do exercício [19,20].

Com o objetivo de encontrar a melhor terapêutica para esta entidade em particular, a investigação clínica, por meio do exercício físico, tem sido utilizada como um método de intervenção promissor e que parece ser custo-efetivo. São inúmeras as evidências sugerindo que o exercício físico re-gular não somente melhora a capacidade funcional, expressa pelo aumento do VO2máx, como também reduz a morbidade

e, possivelmente, a mortalidade, justifi cando assim a sua utilização terapêutica.

Conclusão

Os dados do nosso estudo demonstram a importância dos marcadores infl amatórios como preditores de risco para doença cardiovascular. No entanto, comparando com os dados relatados na literatura notamos que sua plena utili-zação é limitada pelo alto custo e difi culdade de realização técnica.

A efetividade do exercício físico no controle dos fatores de risco de doença cardiovascular, tendo como parâmetro os mar-cadores infl amatórios arteriais, atinge múltiplos efeitos, que podem ser alcançados com alto grau de segurança. Embora em nosso estudo não tenhamos observado respostas signifi -cativas na redução de peso e da circunferência abdominal dos pacientes, inúmeros estudos apontam para os benefícios de um programa regular de exercícios. Estes benefícios incluem capacidade funcional aumentada, diminuição dos fatores de risco, redução dos sintomas de isquemia do miocárdio e sub-seqüente morbidade da doença coronária, melhora no perfi l lipídico sanguíneo, controle do peso e da hipertensão, e, em pacientes diabéticos, tolerância à glicose. Além de melhoras na perfusão do miocárdio, abandono do hábito de fumar e bem estar psicossocial.

Referências

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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 20098

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9Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009

Artigo original

Avaliação nutricional de fisiculturistas de academias da cidade de São Paulo

Nutritional assessment of bodybuilders of academies of São Paulo City

Amanda Cristina Lugarezze*, Ana Lucia Girasoli*, Cinthya Corrêa Bezerra*, Karen Rejane Tanii Farinho*, Neide Kaoru Hoshina*, Patrícia Lima Araújo*, Marcia Nacif, D.Sc.**

*Alunas do Centro Universitário São Camilo, **Nutricionista, Docente do Centro Universitário São Camilo e da Universidade Presbiteriana Mackenzie

Resumo Objetivo: Verifi car o perfi l nutricional e o conhecimento sobre

alimentação e nutrição de fi siculturistas de academias da cidade de São Paulo. Material e métodos: Trata-se de um estudo transversal, no qual participaram 13 fi siculturistas entre 21 e 40 anos de idade. Aplicou-se um questionário de conhecimento sobre alimentação e nutrição e foram avaliadas as variáveis antropométricas de peso, estatura, dobras cutâneas e circunferências corporais. Resultados: Verifi cou-se um IMC médio de 28,20 kg/m2 (DP ± 2,73) e dentre os atletas estudados, 100% dos indivíduos do gênero feminino e 55% do masculino apresentaram porcentagem de gordura dentro dos parâmetros normais para culturistas. Quanto ao conhecimento nutricional, 71% dos indivíduos não souberam qual deve ser a proporção correta dos macronutrientes presentes na alimentação, estes consideraram ser a proteína o macronutriente que mais deve contribuir com as necessidades calóricas diárias. As vitaminas foram consideradas por 57% dos indivíduos como fornecedoras de calorias e 71% deles referiram o uso de suplementos alimentares. Conclusão: É necessário o acompanhamento nutricional desta população visto que a porcentagem de gordura da maioria encontra-se por volta do limite mínimo recomendado para fi siculturistas. Também é indispensável um trabalho de educação nutricional para manter a performance, rendimento esportivo e saúde adequada destes indivíduos.Palavras-chave: avaliação nutricional, composição corporal, necessidades nutricionais, educação alimentar e nutricional.

AbstractAim: To describe the nutritional profi le and knowledge about

food and nutrition of bodybuilding practitioners in academies of São Paulo City. Method: Th is was a cross-sectional study made with 13 bodybuilders between 21 and 40 years of age. A questionnaire of knowledge about food and nutrition was applied and the anthropo-metric variables were evaluated for weight, height, circumferences and body skin folds. Results: Th e mean BMI was 28.20 kg/m2 (DP ± 2.73). All the females and 55% of males showed percentage of fat within the normal parameters for bodybuilders. As for the nu-tritional knowledge, 71% of individuals did not know the correct proportion of nutrients in their diet. Mostly they considered that protein should be the macronutrient which the higher contribution for the daily caloric needs. Vitamins were considered by 57% of individuals as supply calories and 71% admitted to use food supple-ments. Conclusion: Th e anthropometric characteristics of the sample were within the expected for bodybuilders but the knowledge about nutrition was very poor. Medical and nutritional monitoring would be necessary because the percentage of fat was near the minimum recommended for bodybuilders and to improve their knowledge about the specifi c needs of this competition modality.Key-words: nutritional assessment, corporal composition, nutritional needs, food and nutrition education.

Endereço para correspondência: Amanda Cristina Lugarezze, Rua Pereira de Avelar, 101, Vila Alpina, 03211-040 São Paulo SP, Tel: (11) 7625-7012, E-mail: [email protected].

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 200910

Introdução

O fi siculturista é o indivíduo que pratica exercícios físicos com peso, objetivando a modelagem corporal por meio do desenvolvimento da massa muscular. Estes atletas enfatizam principalmente a aparência física, a defi nição muscular e a simetria do corpo. Essa modalidade esportiva é chamada culturismo e seus praticantes geralmente combinam uma dieta altamente seletiva e treinamento de força para alcançar a melhor performance estética, evitando a mínima retenção de fl uido e gordura [1,2].

A dieta destes indivíduos deve ser individualizada e estabelecida conforme a freqüência, a intensidade e a dura-ção do treinamento realizado. Deve-se considerar diversos fatores como a adequação energética, distribuição dos ma-cronutrientes e o balanceamento adequado de vitaminas e minerais [3]. Além disso, a maioria dos fi siculturistas associa o treinamento à suplementação nutricional, ou seja, ingerem uma alimentação geralmente hiperprotéica devido a grande preocupação estética que se resume ao aumento da força e massa muscular [4].

Na prática deste esporte, que é categorizado pelo peso corporal, muitos atletas também costumam reduzir seu consumo energético a fi m de diminuir sua massa corporal para, assim, incluírem-se em uma categoria de peso inferior, com objetivo de obter vantagem sobre os outros competi-dores [3]. Os métodos de perda de peso incluem a restrição de alimentos e bebidas, uso de laxantes e de diuréticos e sessões em saunas [5]. Estes atletas chegam a perder dez quilos de peso antes de começar uma competição e para adquirir novamente o seu peso anterior chegam a dobrar seu consumo calórico diário. Seu desempenho é levado mais em consideração do que a sua própria saúde no momento de decidir qual é o melhor método para a modifi cação de sua composição corporal [4,5].

Devido ao fato de os hábitos alimentares de fi siculturis-tas na maioria das vezes serem errôneos, assim como o uso indiscriminado de suplementos por um longo tempo e a prática de exercícios intensos serem potencialmente dano-sos à saúde, é interessante que se avaliem as características corporais destes indivíduos, pois estes dados podem servir como o primeiro passo de uma avaliação completa do estado de saúde do atleta.

Material e métodos

Trata-se de um estudo transversal, no qual participaram 13 fi siculturistas, voluntários, de ambos os gêneros, de academias da cidade de São Paulo, com idade entre 21 e 40 anos.

Foi aplicada uma fi cha de anamnese contendo dados sobre idade, gênero, presença de enfermidades, consumo alimentar e ingestão de suplementos. Também foi aplicado um questioná-rio de conhecimento sobre alimentação e nutrição “Avaliação do conhecimento nutricional do desportista” contendo 8

questões de múltipla escolha em que foram atribuídos valores para as questões respondidas corretamente, somando 10 como pontuação máxima.

Foram coletadas as variáveis antropométricas de peso, estatura, dobras cutâneas e circunferências corporais.

Utilizou-se uma balança digital da marca Plenna® (modelo MEA-03184) com precisão de 100 gramas e capacidade de 150 quilos para avaliar a massa corporal; fi ta métrica com escala em milímetros para aferir a estatura, e para medir as circunferências de braço, de abdômen, de quadril, de punho, de coxa e de panturrilha. As dobras cutâneas biceptal, triceptal, subescapular, suprailíaca, peitoral, abdominal, coxa e pan-turrilha foram aferidas com o uso de um adipômetro clínico da marca Sanny®. Cada dobra cutânea foi medida três vezes em forma de circuito, sendo considerada como valor fi nal a média entre os três registros.

A partir de dados de peso e estatura calculou-se o índice de massa corporal (IMC) que foi classifi cado segundo a Or-ganização Mundial da Saúde [6].

A porcentagem de gordura foi calculada por Jackson e Pollock [7] para os indivíduos do gênero masculino e por Jackson, Pollock e Ward [8] para os indivíduos do gênero feminino e classifi cada de acordo com a referência proposta por Wilmore e Costill [9].

Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário São Camilo por meio do documento 047/05 e todos os participantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido.

Resultados

Foram avaliados 13 fisiculturistas com idade média de 28,23 anos (± 5,15), sendo 84,6% (n = 11) do gênero masculino e 15,4% (n = 2) do gênero feminino. Os dados antropométricos podem ser visualizados detalhadamente na Tabela I. As Tabelas II e III apresentam, respectivamente, resultados para o IMC e percentual de gordura para a amostra observada.

Tabela I - Idade e dados antropométricos de fi siculturistas. São Paulo, 2008.

Variáveis Média DP Mín. Máx.Idade (anos) 28,23 5,15 21,00 40,00Peso (Kg) 84,30 14,20 61,50 113,60

Gordura Abs. (Kg) 5,27 1,84 2,09 9,15Massa Magra (Kg) 79,00 13,31 55,58 105,29Estatura (cm) 172,00 0,08 154,00 184,00

IMC (Kg/m2) 28,20 2,73 24,51 33,55

CB (cm) 37,60 3,25 29,00 42,00

CMB (cm) 36,10 3,37 26,80 40,30DCT (mm) 4,90 1,53 2,70 7,70% Gordura (fem) 8,50 1,60 7,36 9,62% Gordura (masc) 5,90 1,75 2,89 9,15

11Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009

Os indivíduos apresentaram grande variação quanto ao peso corporal (84,30 ± 14,20kg) e idade (28,23 ± 5,15 anos). Não houve grande variação em relação à estatura. Esses dados são semelhantes aos encontrados em estudos anteriores como o de Silva [2], no qual a variação de peso corporal foi de 57,4 kg a 105,8 kg e a idade de 20 a 56 anos.

Tabela II - Índice de Massa Corporal de fi siculturistas. São Paulo, 2008.IMC (kg/m2) Classificação N %18,5 – 24,99 Eutrófico 1 7,725 – 29,99 Sobrepeso 9 69,230 – 34,99 Obesidade I 3 23,1

Tabela III - Porcentagem de gordura (%G) corporal de fi sicultu-ristas. São Paulo, 2008.Homens Mulheres% G N % % G N %< 5% 4 36,4 < 6% - -5 – 8% 6 54,5 6 – 12% 2 100,0> 8% 1 9,1 > 12% - -

Discussão

Em relação ao Índice de Massa Corpórea (IMC) [10] a maioria dos culturistas apresentou-se dentro da classifi cação de sobrepeso, porém esse não é o método mais adequado para se avaliar a massa corpórea destes indivíduos, pois sabe-se que atletas geralmente são classifi cados como obesos, segundo o IMC, devido a grande proporção de tecido muscular em relação ao tecido adiposo [11,12].

Segundo Wilmore e Costill [9], sugere-se que a porcen-tagem de gordura corporal para culturistas esteja entre os valores de 5 a 8% para homens e de 6 a 12% para mulheres. Esses valores são semelhantes aos sugeridos também por outros autores, como Pollock e Jackson [13] e Petrosky [14], que são de 4 a 9% para homens e de 8 a 12% para mulheres. Portanto, no presente estudo, os valores de porcentagem de gordura encontrados (Tabela III), em 55% dos homens e 100% das mulheres, são considerados normais; 36% dos homens estão abaixo da média e somente 9% estão acima da média de acordo com Wilmore e Costill [9].

Os resultados médios de porcentagem de gordura para mulheres (8,5% ± 1,60), encontrados no presente estudo, mostraram-se adequados para a modalidade e os encontrados nos homens (5,9% ± 1,75) mostraram-se discretamente inferiores aos encontrados por Silva [2] e outros estudos em culturistas brasileiros, que apresentaram porcentagem média de gordura de 6,9%. Já em estudos internacionais encontram-se variação de 6,8 a 9,9% para homens. A diferença nos métodos de cálculo usados pelos autores constitui um fator de dificuldade para compara-ções [2,15].

Quanto ao conhecimento nutricional da população estu-dada, pode-se dizer que é de nível intermediário mediante o resultado obtido com a aplicação da “Avaliação de conheci-mento nutricional do desportista” que apresentou média de acertos de 52%. Este é um dado importante para ser levado em consideração, visto que a idéia do que é uma alimentação adequada pode infl uenciar diretamente os hábitos alimentares dos indivíduos.

Conforme observado nesta avaliação, verifi cou-se que a maioria dos culturistas (86%) considerava o carboidrato mais energético do que os lipídeos. Segundo Sabino, que teve como objetivo compreender a visão de mundo e a organização social dos fi siculturistas das academias do Rio de Janeiro, alimentos muito ricos em carboidratos são considerados indispensáveis para os fi siculturistas, pois como dizem as proteínas associa-das aos carboidratos “são fundamentais para fazer crescer o músculo” [16].

Um fato muito importante a ser comentado se refere ao conhecimento dos culturistas quanto à distribuição correta dos macronutrientes, ou seja, carboidratos, proteínas e lipídeos, pois apenas 14% dos indivíduos responderam a questão corretamente e 71% escolheram a alternativa que considera que 15% das calorias ingeridas diariamente devem ser de origem glicídica, 60% de origem protéica e 25% de origem lipídica. Este resultado condiz com o perfi l de hábitos alimentares observados em culturistas, no qual a quantidade de proteínas ingeridas diariamente é elevadíssima, chegando até a 64% do valor energético total, conforme citado na literatura [5].

Em estudo realizado por Cabral et al. [3], com a Equipe Olímpica Permanente de Levantamento de Peso do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), observou-se que a ingestão de proteínas atendia às necessidades diárias, sendo de 14,53 ± 3,4% nos indivíduos do gênero masculino e 13,72 ± 2,48 nos indivíduos do gênero feminino [3]. Estes resultados se mos-tram diferentes dos observados em culturistas talvez devido aos diferentes objetivos de cada modalidade esportiva, na qual os culturistas preocupam-se mais com a forma física enquanto que levantadores de peso treinam unicamente objetivando o aumento da força física.

É recomendado que praticantes de atividade física au-mentem o consumo de proteínas para atender ao aumento da quantidade de proteína utilizada como fonte de energia pelo organismo durante os exercícios e reparar as lesões nas fi bras musculares. Exercícios de força requerem até 1,8 gramas de proteína por quilo de peso corporal, segundo a Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (SBME). Em contrapartida, segundo comentado por Cabral [3], esta quantidade está entre 1,5 a 2,5 g/kg de peso. É necessário consumir adequadamen-te energia e proteínas, pois o excesso de proteínas poderá, em longo prazo, causar danos à saúde como hipercalciúria, desidratação, aumento de trabalho hepático e renal, entre outros [3,17].

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 200912

De acordo com Cabral [3], a redução do consumo de lipídeos ocorre em modalidades nas quais há controle rígido do peso como os fi siculturistas. A SBME orienta que não se deve ingerir dietas restritas em gorduras por muito tempo, sendo as recomendações de lipídeos para atletas as mesmas dos adultos sedentários, ou seja, 30% do valor calórico total da dieta, com as mesmas proporções de ácidos graxos essenciais, que são 10% de saturados, 10% de poliinsaturados e 10% de monoinsaturados [12].

As vitaminas foram consideradas como fornecedoras de calorias por 57% dos participantes do presente estu-do, demonstrando o pouco conhecimento em relação aos micronutrientes e, conseqüentemente, em relação à sua importância. A inadequação do consumo de vitaminas pode levar a defi ciências nutricionais resultando em diminuição da performance [18].

Quanto à ingestão de água, os participantes do estudo referiram ingerir de 2 a 5 litros por dia, porém, o turnover de água no organismo varia bastante conforme o clima, a prática de exercício e o gênero do indivíduo, desta forma, para verifi car a adequação de hidratação seria preciso uma avaliação mais aprofundada [19].

O uso de suplementos nutricionais foi referido por 71% dos fi siculturistas, sendo a maioria dos suplementos, hiperprotéicos. Segundo a SBME, estudos recomendam que suplementos protéicos devem estar de acordo com a ingestão protéica, pois seu consumo excessivo não promove ganho de massa muscular adicional, nem aumento do desempenho. A suplementação de aminoácidos apresenta um baixo grau de recomendação e, em geral, não deve ser usada a não ser em algumas situações especiais [17].

Conclusão

O fi siculturismo apresenta controle dietético muito rígi-do. Isso, somado ao fato de que o estado nutricional pode estar comprometido em virtude da porcentagem de gordura corporal situar-se no limite inferior recomendado para esses atletas, faz-se necessário um acompanhamento médico e nu-tricional para evitar agravos à saúde. A nutricionista deve fazer valer seu papel de educadora nutricional sempre que possível, conscientizando não só a população em geral, mas também atletas, que têm necessidades nutricionais diferenciadas. Se o conhecimento nutricional por parte de atletas e praticantes de atividade física for aprimorado, parte dos mitos nos quais acreditam, poderão ser eliminados e a aceitação destes indiví-duos às mudanças visando melhorar seus hábitos alimentares será facilitada. Com estas intervenções é possível manter tanto a performance e rendimento esportivo como a saúde.

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13Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009

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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 200914

Artigo original

Prevalência de lesões no judô de alto rendimentoPrevalence of injuries in high performance judo

Paloma Angel de Carvalho*, Samira Jirges Hanna*, Marcelo Massayoshi Ohira*, Henrique Koch*, Luis Ricardo Revite*, Ricardo Xavier Pinto*, Daiane Cardoso*, Rafael Cusatis Neto**

*Acadêmicos do curso de fi sioterapia do Centro Universitário Sant’anna, **Doutorado pela PUC-Campinas, Prof. de Delineamento de Pesquisa da Uni Sant’anna, FCNM e UNAERP-Guarujá

ResumoEste estudo teve como objetivo verifi car a prevalência de lesões

no judô de alto rendimento do Programa de Treinamento Olímpico. Participaram deste estudo 39 atletas com idade entre 15 e 24 anos, idade média de 17,5 anos. Foi aplicado um questionário elaborado pelos autores, com 12 questões, sendo 8 fechadas, 2 mistas e 2 escalas. Os resultados demonstraram que 28,9% do total de lesões foram em ombro, 23,7% em tornozelo e 22,7% em joelho (χ2

o = 22,02, χ2c =

9,49). Também foi observado que no ombro houve prevalência de 71,4% das luxações (χ2

o = 22,0, χ2c = 9,49), seguido por tornozelo

com 47,8% das entorses (χ2o = 45,06, χ2

c = 7,82) e joelho com 42,9% das rupturas ligamentares (χ2

o = 22,45, χ2c = 7,82). Concluiu-se que

a região do corpo mais acometida por lesão foi o ombro, sendo que a luxação foi a lesão mais comum para essa região e a contusão foi a lesão mais freqüente nos atletas estudados. Palavras-chave: artes marciais, traumatismo em atletas, fisioterapia esportiva, lesões no esporte.

AbstractTh is study aimed to verify the prevalence of injuries in high

performance judo along the Olympic Training Program. A group of 39 athletes participated of the study, 15 to 24 years-old, mean 17.5 yrs. A questionnaire was applied to collect data, including 12 questions: 8 closed, 2 mixed and 2 scales. Th e results showed that 28.9% of the total of injuries were in the shoulder, 23.7% in the ankle, and 22.7% in the knee (χ2

o = 22.02, χ2c = 9.49). It was also

observed that in the shoulder there was a prevalence of 71.4% of the dislocations (χ2

o = 22.0, χ2c = 9.49), followed by the ankle with

47.8% of sprains (χ2o = 45.06, χ2

c = 7.82) and the knee with 42.9% of ligament ruptures (χ2

o = 22.45, χ2c = 7.82). In conclusion, the

shoulders were the regions more aff ected by injuries, mostly by dislocation. Moreover the injury by impact trauma (bruise) was the most frequent lesion in the studied athletes. Key-words: martial arts, traumatism in athletes, sporting physical therapy, lesions in the sport.

Endereço para correspondência: Rafael Cusatis Neto, Rua Cruzeiro do Sul, 660, 08770-590 Mogi das Cruzes SP, Tel: (11) 9936-8624, E-mail: [email protected]

15Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009

Introdução

O judô como vários outros esportes competitivos, requer destreza de força, velocidade, resistência, habilidade e agilida-de, logo as lesões traumáticas físicas acabam sendo inevitáveis para todos que praticam esses esportes. Essas lesões podem ser intrínsecas, com origem na atividade física do próprio atleta, sendo ocasionadas normalmente pela “síndrome do uso exces-sivo”. Já as lesões traumáticas extrínsecas ocorrem por quedas ou pancadas de origem no meio externo, sendo que ambas podem ser, de certo modo, evitadas com condicionamento e treinamento apropriados [1].

Ide & Padilha [2] apresentam um tipo de lesão que não está associada a nenhuma técnica especifi ca, e sim as caracte-rísticas do esporte que exigem muito contato corporal, essa lesão é chamada hematoma auricular. Segundo os autores, essa lesão está presente em 40% dos lutadores.

Fontel [3] encontrou como principais lesões: escoriações de face; rupturas musculares; entorses; luxação nas articula-ções acrômio-claviculares, interfalangianas, escápulo-umeral e cotovelo; fraturas de falanges, metatarso, metacarpo, tíbia, fíbula, rádio, ulna, clavícula e costelas.

Torres [4] realizou um estudo epidemiológico pela análise do prontuário de 220 lesões, em 19 modalidades esportivas, dentre elas o judô. No geral, a lesão que mais acometeu os atletas foi a muscular, com 54,09% de todas as lesões, as lesões articulares fi caram com 23,63% e ligamentares com 22,27%. Os cinco esportes com mais casos de lesão em ordem decrescente foram: basquetebol, com 55 atendimentos, ou seja, 29,25%, em seguida o futebol com 43 atendimentos, 22,91% do total, o handball com 25 atendimentos, 13,29% do total, o atletismo com 14 atendimentos, 7,49% do total e o judô com 7 atendimentos e 3,72% do total. As lesões mais freqüentes no judô não foram citadas, pois esse esporte não se classifi cou entre os três com maior acometimento de lesão.

Carazzato J, Campos, Carazzato S [5] realizaram um estudo de incidência de lesões traumáticas. Foram analisados questionários de 6.955 atendimentos feitos na área de trauma-tologia esportiva, e nesse estudo o judô foi responsável pelo menor número de atendimentos, sendo que a região mais afetada foi o joelho principalmente com lesões meniscais e ligamentares.

Castropil [6] encontrou a entorse de joelho como o mais freqüente em esportes de contato, sendo que as maiores complicações foram às lesões de ligamento colateral medial, menisco medial e ligamento cruzado anterior.

Baff a & Barros Júnior [7] verifi caram a predominância de lesões no joelho, com 27 lesões (37,5%), seguida do cotovelo, dedos e mão com 12 lesões cada um (16,6%), o ombro apresentou 11 lesões (15,3%), dedos do pé, com 5 lesões (7%), punho e tornozelo, com 2 lesões cada (2,8%) e coluna com 1 lesão (1,4%). A lesão mais comum foi a entorse, com 36 ocorrências (45%), tendinites, com 13 ocorrências (17%), fraturas e luxações obtiveram o mesmo valor, com 9

ocorrências cada (12%), contusões, com 8 ocorrências (10%) lesões musculares, com 3 ocorrências (4%).

Santos, Duarte, Galli [8] realizaram um estudo analisando algumas variáveis físicas como fator relevante para a ocorrência de lesões em 42 judocas. As lesões encontradas foram: 16 judocas (38,1%) com entorses/torsões (joelho, tornozelo e dedos); 12 judocas (28,6%) com luxações (ombro e joelho); 8 judocas (19%) com pancadas (choque com joelho, perna e cabeça) e 6 judocas (14,3%) com distensões.

Carazzato et al. [9] realizaram um estudo de incidência de lesões e atendimentos nos jogos Pan-Americanos de Mar Del Plata, observaram que, entre as 425 lesões em atletas das 24 modalidades esportivas relacionadas, o judô foi o quarto com maior número de lesões. No atletismo foram 42 lesões, na natação 39, no voleibol 38 e no judô 34, sendo que 27 eram lesões exclusivas da área de traumatologia.

Carazzato, Cabrita, Castropil [10] encontraram o maior número de lesões nas categorias superiores do judô, podendo ser conseqüência do maior esforço realizado para alcançar resultados melhores. A região mais acometida foi o ombro, com 72,13%; seguida pelo joelho, com 63,59%; a mão, com 62,02%; o pé, com 53,49%; tornezelo, com 49,62%; lesões auriculares, com 46,51% (as mais comuns) e cotovelo, com 41,87%. As lesões articulares foram as mais freqüentes.

Ejnisman et al. [11] encontraram oito casos de ruptura do músculo peitoral maior em atletas do sexo masculino, todos de nível competitivo. Dos oito atletas, dois eram praticantes de judô e se lesionaram na competição.

Cortez [12] cita a articulação acrômio-clavicular como sede de lesões em atletas de judô, ocorrendo nos mecanismos traumáticos diretos ou indiretos, ou seja, ocasionada pelo choque direto sobre o ombro ou pelo choque indireto que atinge o braço e abala os ligamentos do ombro.

Tão importante como a lesão propriamente dita é a base científi ca para o reconhecimento das lesões mais incidentes nas modalidades esportivas, para que sejam corretamente aplica-das as medidas de controle, tratamento e prevenção [13].

Diante do exposto e levando-se em conta o alto índice de trauma nos esportes de contato, este estudo se propôs verifi car a prevalência de lesões no judô de alto rendimento, identifi cando a lesão mais comum, bem como o local mais acometido por lesão. Além disso, os resultados obtidos po-derão contribuir com trabalhos preventivos já focados nas necessidades reais deste tipo de atleta.

Material e métodos

Participaram deste estudo 39 voluntários, todos atletas praticantes de judô de alto rendimento do Programa Olím-pico Projeto Futuro do Estado de São Paulo. Dos atletas selecionados 33,33% eram do gênero feminino e 66,66% do gênero masculino, com idade média de 17,5 anos, variando entre 15 e 24 anos, com amplitude de 9 anos, média igual a 16 anos e mediana de 17 anos. Todos os sujeitos da pesquisa

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 200916

e os responsáveis por esses foram esclarecidos quanto à fi na-lidade da pesquisa e assinaram um termo de consentimento informado, conforme resolução CNS 196/96.

Foi aplicado um questionário formulado pelos autores com o intuito de verifi car a prevalência de lesões em atletas de judô de alto rendimento, o mesmo contendo 12 questões, sendo 8 fechadas, 2 mistas e 2 escalas. Esses foram respondidos e recolhidos no mesmo dia e pela mesma pessoa, após a leitura e explicações de cada questão.

Os dados foram processados quantitativamente e quali-tativamente por meio de freqüência e porcentagem, sendo apoiado em teste interferêncial não paramétrico, face à na-tureza dos dados.

Foi aplicado o teste do qui-quadrado para verifi car a ho-mogeneidade entre as respostas dos judocas, sempre partindo Ho de que não existia diferença signifi cante entre as variáveis em estudo com Ha de que poderiam ser diferentes. Para garan-tir a confi abilidade e o saber geral, o nível de signifi cância ou margem de erro foi estipulado em p < 0,05, aceito na área.

Resultados

Os resultados obtidos nos questionários demonstraram que 15,4% dos judocas praticavam judô há menos de 5 anos; 43,6% praticavam judô de 5 a 10 anos e 41,0% praticavam judô há mais de 10 anos. O teste do qui-quadrado resultou em χ2

o de 5,69, com χ2c de 5,99, ngl igual a 2 e p ≤ 0,05,

portanto não houve diferença signifi cante na concentração de 5 a 10 anos. Para o tempo de treino semanal, encontrou-se que 2,6% dos atletas treinam 4 vezes por semana e 97,4% treinam 5 ou mais vezes por semana, portanto houve signifi cância na concentração de treinos em 5 ou mais vezes por semana.

Quanto à carga horária diária de treino, observou-se que 71,8% dos judocas treinavam de 3 a 4 horas por dia e 23,1% dos judocas treinavam mais de 4 horas por dia. O teste do qui-quadrado resultou em χ2

o de 5,68, com χ2c de 5,99, ngl

igual a 1 e p ≤ 0,05, portanto houve diferença signifi cante na concentração de 3 a 4 horas de treino diário.

Com referência ao nível de competição, 35,9% dos judo-cas eram de nível estadual, 35,9% de nível nacional e 28,2% de nível internacional. O teste do qui-quadrado resultou em χ2

o de 0,44, com χ2c de 5,99, ngl igual a 2 e p ≤ 0,05, portanto

não houve diferença signifi cante entre o nível de competição dos atletas.

Os resultados evidenciaram que 79,9% dos atletas reali-zavam aquecimento/ alongamento antes dos treinos, 5,1% realizavam aquecimento/ alongamento depois dos treinos, 7,7% realizavam antes e depois dos treinos e 10,3 nunca rea-lizavam alongamento/ aquecimento. O teste do qui-quadrado resultou em χ2

o 144,31 , com o χ2c de 7,82, ngl igual a 3 e p ≤

0,05, portanto houve diferença signifi cante na concentração de atletas que realizavam aquecimento e/ou alongamento antes dos treinos e competições.

Quanto à freqüência de lesões em treinamento, observou-

se que 7,7% dos judocas já se lesionaram pelo menos uma vez, 30,8% dos judocas se lesionaram 2 vezes, 20,5% se lesionaram 3 vezes, 15,4% se lesionaram 4 vezes e 25,6% se lesionaram em treinamento mais de 4 vezes. O teste do qui-quadrado resultou em χ2

o de 16,04, com χ2c de 9,49, ngl

igual a 4 e p ≤ 0,05, portanto houve diferença signifi cante na concentração de judocas que se lesionaram pelo menos 2 vezes em treinamento.

Quanto à freqüência de lesões em competição, observou-se que 38,5% dos judocas se lesionaram pelo menos uma vez em competição, 20,5% se lesionaram 2 vezes, 7,7% se lesiona-ram 3 vezes, 7,7% se lesionaram 4 vezes, 5,1% se lesionaram mais de 4 vezes e 20,5% dos judocas nunca se lesionaram em competição. O teste do qui-quadrado resultou em χ2

o de 47,93, com χ2

c de 11,07, ngl igual a 5 e p ≤ 0,05, portanto houve diferença signifi cante na concentração de judocas que se lesionaram uma vez em competição.

Tabela I - Prevalência de contusão.F %

Ombro 7 28,0Joelho 9 36,0Cotovelo 3 12,0Tornozelo 3 12,0Virilha 2 8,0Coxa 1 4,0*Total 25 100

* Foi excluído do tratamento estatístico devido à baixa ocorrência.

Tabela II - Prevalência de distensão.F %

Ombro 1 8,3Joelho 2 16,7Cotovelo 2 16,7Tornozelo 2 16,7Virilha 3 25,0Coxa 2 16,7Total 12 100

Na Tabela I, quanto à prevalência de contusões nos judo-cas, podemos observar que 28,0% das contusões encontradas foram em ombro, 36,0% em joelho, 12,0% em cotovelo, 12,0% em tornozelo e 8,0% em quadril. O teste do qui-quadrado resultou em χ2

o de 30,67, com χ2c de 9,49, ngl

igual a 4 para p ≤ 0,05, portanto houve diferença signifi cante na concentração de contusões em joelho.

Quanto à prevalência de distensões nos judocas, os resul-tados apresentados na tabela II demonstram que 8,3% das distensões foram em ombro, 16,7% em joelho, 16,7% em cotovelo, 16,7% em tornozelo, 25,0% em virilha e 16,7% em coxa. O teste do qui-quadrado resultou em χ2

o de 8,33, com χ2

c de 11,07, ngl igual a 5 e p ≤ 0,05, portanto não houve diferença signifi cante na concentração de distensão em virilha.

17Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009

Tabela III - Prevalência de fratura.F %

Ombro 3 33,3Cotovelo 2 22,2Tornozelo 1 11,1Dedos (mão) 2 22,2Clavícula 1 11,1Total 9 100

Tabela IV - Prevalência de luxação.F %

Ombro 15 71,4Joelho 1 4,8*Tornozelo 4 19,0Dedos (pé) 1 4,8*Total 21 100

* Foi excluído do tratamento estatístico devido à baixa ocorrência.

A Tabela III, quanto à prevalência de fraturas em judocas, demonstra que 33,3% das fraturas ocorreram em ombro, 22,2% em cotovelo, 11,1% em tornozelo, 22,2% nos dedos da mão e 11,1% na clavícula. O teste do qui-quadrado re-sultou em χ2

o de 17,28, com χ2c de 9,49, ngl igual a 4 e p ≤

0,05, portanto houve diferença signifi cante na concentração de fraturas em ombro.

Observa-se, na tabela IV, quanto à prevalência de luxa-ções em judocas, que 71,4% das luxações foram em ombro e 19,0% em tornozelo. O teste do qui-quadrado resultou em χ2

o de 413,30, com χ2c de 3,84, ngl igual a 1 e p ≤ 0,05,

portanto houve diferença signifi cante na concentração de luxação em ombro.

Tabela V - Prevalência de entorse.F %

Ombro 2 8,7Joelho 7 30,4Cotovelo 1 4,3*Tornozelo 11 47,8Dedos (mão) 2 8,7Total 23 100

* Foi excluído do tratamento estatístico devido à baixa ocorrência.

Tabela VI - Prevalência de luxação.F %

Joelho 3 42,9Tornozelo 2 28,6Dedos (mão) 1 14,3Coxa 1 14,3Total 7 100,0

Na Tabela V, quanto à prevalência de entorse em judocas, podemos observar que 8,7% das entorses foram em ombro, 30,4% em joelho, 47,8% em tornozelo e 8,7% nos dedos da mão. O teste do qui-quadrado resultou em χ2

o de 45,06, com

χ2c de 7,82, ngl igual a 3 e p ≤ 0,05, portanto houve diferença

signifi cante na concentração de entorse em tornozelo.Na Tabela VI, quanto à prevalência de rupturas em judo-

cas, nota-se que 42,9% das rupturas foram em joelho, 28,6% em tornozelo, 14,3% nos dedos da mão e 14,3% na coxa. O teste do qui-quadrado resultou em χ2

o de 22,45, com χ2c

de 7,82, ngl igual a 3 e p ≤ 0,05, portanto houve diferença signifi cante na concentração de rupturas em joelho.

Quanto ao tipo de tratamento mais utilizado, os resul-tados demonstraram que 52,3% dos judocas utilizaram a fi sioterapia, 38,5% utilizaram medicamentos e 7,7% foram submetidos à cirurgia. O teste do qui-quadrado resultou em χ2

o de 20,66, com χ2c de 5,99, ngl igual a 2 e p ≤ 0,05,

portanto houve diferença signifi cativa na concentração de judocas que utilizaram fi sioterapia.

Em relação ao tempo de afastamento decorrente de lesão, 64,1% dos judocas permaneceram afastados por até 2 meses, 17,9% permaneceram afastados de 2 a 4 meses, 10,3% perma-neceram afastados de 4 a 6 meses e 7,7% por mais de 6 meses. O teste do Qui-quadrado resultou em χ2

o de 83,83, com χ2c

de 7,82, ngl igual a 3 e p ≤ 0,05, portanto houve diferença signifi cante na concentração de judocas que permaneceram afastados por até 2 meses.

Para a região do corpo mais acometida por lesão, 28,9% das lesões foram em ombro, 22,7% em joelho, 8,2% em cotovelo, 23,7% em tornozelo e 6,2% nos dedos da mão. O teste do qui-quadrado resultou em χ2

o de 22,02, com χ2c

de 9,49, ngl igual a 4 e p ≤ 0,05, portanto houve diferença signifi cante na concentração de lesões em ombro.

Em relação à média das respostas obtidas quanto à importância do tratamento fi sioterapêutico na reabilitação dos judocas, esta foi de 8,77, sendo que 0 representa nada importante e 10 signifi ca extremamente importante. Quanto ao rendimento dos mesmos na volta aos treinos, depois do processo de reabilitação, a média obtida foi de 6,08, sendo que 0 signifi ca um rendimento péssimo comparado ao período anterior à lesão, 5 signifi ca um rendimento igual ao anterior e 10 signifi ca um rendimento excelente.

Discussão

O judô, assim como outros esportes de contato, apre-sentam um elevado número de lesões entre praticantes de vários níveis, como foi observado por Carazzato et al. [9], durante atendimentos nos Jogos Pan-Americanos, relacionando o número de atletas com o número de aten-dimentos o judô foi o esporte que mais provocou lesão. A literatura relata um fenômeno caracterizado pelo excesso de treinamento chamado de overtraining, esse apresenta entre seus vários sintomas o aumento da incidência de lesões [14]. Além disso, o overtraining é responsável pela diminuição do desempenho levando a erros de execução nas técnicas de ataque e defesa, facilitando a ocorrência de lesões durante a luta [15].

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 200918

O presente estudo não relacionou a lesão mais freqüente nos judocas baseado no nível de competição, porém Baff a [7] e Carazzato, Cabrita, Castropil [10] fi zeram essa relação em seus estudos e verifi caram que quanto maior o nível de competição, maior é o número de lesões. Essa relação pode ocorrer devido a maior intensidade de treinamentos para manter o nível [10].

Amatuzzi & Carazzato [16] verifi caram que as lesões causadas pelo judô foram mais comuns em membros infe-riores, representando 70,5% do total das lesões encontradas, sendo que 54,9% foram somente em joelho, seguido por 5,8% na coxa, 5,8% no tornozelo, 2,0% no pé e 2,0% na perna. Já Pieter [17] e Yard et al. [18] em seus artigos sobre os ferimentos mais comuns em artes marciais verifi caram a prevalência de lesões em membros superiores. Nesse trabalho, se considerarmos o total de lesões somente em membros inferiores teremos equivalência quanto à sua distribuição em membro superior com 44,33% das lesões, membro inferior com 50,52% e tronco com 5,15% das lesões, assim como no trabalho de Carazzato, Cabrita, Catropil [10] que encontra-ram equivalência na distribuição das lesões.

A prevalência de lesões no judô foi estudada por Carazzato, Campos, Carazzato [5] onde as lesões somente em joelho re-presentaram 54,91% do total das lesões, seguido por 21,57% em coluna. Outra pesquisa realizada, dessa vez na população de atletas de jiu-jitsu, demonstrou que a articulação mais acometida por lesões foi a do joelho com 37,7% das lesões, seguida por cotovelo e dedos da mão com 16,6% e ombro com 15,3% das lesões. Esses trabalhos vão de encontro com os resultados obtidos, visto que foram observados 28,9% de lesões em ombro, seguida por 23,7% em tornozelo, 22,7% em joelho, seguido por porcentagens menores respectivamente em cotovelo, dedos da mão, virilha, coxa, quadril, dedos do pé e clavícula.

Considerando o tipo de lesão mais freqüente encontramos 25 contusões, 23 entorses, 21 luxações, 12 distensões, 9 fra-turas e 7 rupturas (tendões e ligamentos) em um total de 97 lesões relatadas pelos 39 atletas que fi zeram parte da pesquisa. Quando relacionamos a lesão mais freqüente de acordo com a região corpórea encontramos no ombro a prevalência de luxação (71,4%), no joelho prevalência de rupturas (42,9%), no cotovelo prevalência de fraturas (22,2%), no tornozelo prevalência de entorse (47,8%), nos dedos da mão preva-lência de fraturas (22,2%), na coxa prevalência de distensão (16,7%), em outras regiões só foi relatado um tipo de lesão, sendo virilha distensões, no quadril contusões, nos dedos do pé luxações e na clavícula fraturas. O judô como esporte de contato direto usa movimentos em cadeia fechada. Segundo Carazzato, Cabrita, Castropil [10] acaba ocorrendo a preser-vação do aparelho motor principal e da alavanca principal que são respectivamente músculos e ossos, e sobrecarga dos locais onde ocorre o movimento, que são as articulações.

O retorno ao esporte após o tratamento obteve a média de 6,08, sendo que 5,00 representa um retorno com rendimen-

to igual ao anterior à lesão, logo podemos considerar que o rendimento foi bem próximo do considerado anteriormente. Este resultado concorda com Baff a & Barros Júnior [7] que verifi caram um rendimento igual ao anterior à lesão em 51,0% dos atletas pesquisados.

O conhecimento preciso das principais lesões que acome-tem judocas de vários níveis é fundamental para estimular o desenvolvimento do trabalho preventivo e suas vantagens, não só para evitar lesões, o que nem sempre é possível, mais para melhorar o rendimento do atleta no seu aspecto geral [19].

Conclusão

Em relação à prevalência de lesões, os resultados de-monstraram que a região mais acometida por lesão foi o ombro com maior índice de luxação, sendo que de todas as lesões a mais comum foi a contusão. Concluiu-se também que os judocas sofreram mais lesões em treinamento do que em competição, mantendo-se afastados dos treinos por até 2 meses, sendo o tratamento mais utilizado a fi sioterapia. Por meio desse levantamento confi rma-se a necessidade de trabalhos voltados à prevenção das lesões mais comuns para esse tipo de esporte, visando à melhora do rendimento desses atletas.

Referências

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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 200920

Artigo original

Análise do salto vertical em jogadores de basquete utilizando o alongamento

como preparação da flexibilidadeVertical jump analysis of basketball players using stretching

to improve flexibility

Juliano Angeli Romani*, Cristiane Mariana Rodrigues da Silva*, Carlos Fornazzari*

Faculdade Anhanguera de Piracicaba*, Universidade Metodista de Piracicaba**

ResumoEste estudo tem como objetivo analisar a impulsão vertical

em jogadores de basquetebol após a aplicação de um protocolo de alongamento do “tipo estático”. Foram avaliados 10 atletas do sexo masculino que atuam na categoria mini, com média de idade entre 10 e 11 anos. O teste realizado para medir a impulsão dos jogadores foi o Salto Vertical Máximo (SVM). A avaliação consistiu-se de 4 etapas: 1) Aquecimento geral inespecífi co (corrida do tipo “trote”) por 5 minutos; 2) Realização do SVM para o cálculo da média; 3) Realização do protocolo de alongamento do tipo estático dos seguintes grupos musculares: ísquio-tibiais, quadríceps, glúteos, tríceps sural, adutores e abdutores do quadril; 4) Realização de uma nova bateria de SVM. Concluímos que houve uma diferença estatisticamente de 2,0 cm para menos após o alongamento, sendo este responsável por um efeito inibitório sobre a contração dos grupos musculares do MMII e OTG´s.Palavras-chave: salto vertical, alongamento estático, impulsão, flexibilidade.

AbstractTh e present research has as objective of study the analysis of the

vertical jump in basketball players after static stretching. Ten male athletes, average age between 10 and 11 years old, were evaluated. Th e Highest Vertical Jump (HVJ) test was performed to measure players’ impulse. Th e evaluation consisted in four stages: 1) run at a slow trot for fi ve minutes to warm up; 2) HVJ test to estimate average of jump impulse; 3) stretching of the following muscles group: ischiotibial, quadriceps, gluteus, triceps sural, hip aductors and abductors; 4) HVJ was applied again. As a result, this study showed a statistical diff erence of less than two centimeters of HVJ after stretching, which causes an inhibitory eff ect of the inferior limbs and Golgi Tendon Organ (GTO).Key-words: vertical jump, static stretch, impulse, flexibility.

Endereço para correspondência: Juliano Angeli Romani, E-mail: [email protected], [email protected], [email protected]

21Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009

Introdução

O mover-se está intimamente ligado à vida e as atividades realizadas no dia a dia, sendo a fl exibilidade um de seus aspec-tos, tendo uma grande importância nas diversas modalidades esportivas e na reabilitação [1].

O basquetebol se tornou um dos esportes de equipe mais populares nos Estados Unidos, e no mundo todo. O desen-volvimento de habilidades específi cas como saltos, corridas e movimentos em pivô se faz necessário. Como modalidade competitiva o basquetebol evoluiu para um esporte que desenvolve muito contato e movimentos de alta velocidade, o que vem contribuindo para um aumento signifi cativo de lesões nos últimos anos [2].

Nas décadas de 60 e 70 já existia grande interesse em entender como ocorria o processo de adaptação das fi bras musculares, identifi cando que o músculo aumentava seu comprimento perante a adição de sarcômeros ao longo das fi bras musculares [3,4].

A conexão das pontes cruzadas dos fi lamentos de actina e miosina no sarcômero é fundamental para determinar a força que o músculo desenvolve durante a contração [5].

Gordon et al. [6] verifi caram em um estudo que a força desenvolvida pelo músculo é dependente do seu comprimento e da sua interação dos fi lamentos de actina e miosina. Quando ocorre o encurtamento muscular e de sarcômeros, os fi lamentos de actina e miosina apresentam uma sobreposição exagerada comprometendo a tensão ativa do músculo. O contrário tam-bém é verdadeiro, se o sarcômero for excessivamente alonga-do, os miofi lamentos de miosina pouco se conectam com os da actina causando um défi cit na tensão ativa realizada pelo músculo [7]. É importante ressaltar que este não é o único motivo pelo qual o músculo não consegue desenvolver sua força contrátil máxima, e que a integridade do Sistema Nervoso Central (SNC) córtex motor e Sistema Nervoso Periférico (SNP) unidades motoras também são infl uenciados por diversos fatores como tipo e diâmetro da fi bra muscular, quantidade de recrutamento de unidades motoras [8].

A capacidade de sobreposição entre os fi lamentos de ac-tina e miosina determinam o grau de tensão mecânica que o músculo pode desenvolver ativamente [9].

A fl exibilidade pode ser defi nida de forma operacional como “uma qualidade motriz que depende da elasticidade muscular e da mobilidade articular, expressa pela máxima amplitude de movimentos necessária para a perfeita execução de qualquer atividade física eletiva, sem que ocorram lesões anatomopatológicas” [1:7].

Quanto maior for o comprimento muscular, maior será a capacidade de desenvolver tensão, proporcionando um me-lhor rendimento da capacidade contrátil do músculo [10].

Estudos realizados em músculos isolados de rã comprovam que o aumento das excursões de comprimento muscular é necessário para que o músculo consiga desenvolver o máximo de energia mecânica [11].

Cuillo et al. [12] demonstraram em seu estudo que, tanto em humanos quanto em anfíbios, o músculo desenvolve um maior trabalho quando a contração concêntrica precede um alongamento em forma de contração excêntrica, do que após uma contração isométrica. Em estudo realizado com idosos, Feland et al. [13] concluíram que os alongamentos realizados por 15 a 30 segundos repetidos quatro vezes em cada sessão, cinco vezes por semana, por seis semanas produziram um aumento de amplitude signifi cativa em relação ao grupo controle, porém os que alongaram por 60 segundos obtiveram uma maior amplitude articular.

Kisner et al. [14] afi rmam que os ganhos obtidos com alongamentos de curta duração são transitórios e atribuí-dos a uma folga temporária entre as actinas e miosinas nos sarcômeros, enquanto que os alongamentos que possuíam duração de 20 minutos ou mais, teriam ganhos mais du-radouros.

Em relação a alterações plásticas do sistema musculoesque-lético, sabe-se que os alongamentos aplicados em uma pro-porção de 20 a 30% de sua amplitude fi siológica continuam a se manifestar de forma estrutural mesmo após o relaxamento muscular, sendo, portanto irreversíveis [15].

Considerando o exposto anteriormente, este trabalho tem por objetivo avaliar a impulsão reproduzida em atletas de basquetebol após uma preparação da fl exibilidade através da aplicação do alongamento muscular do tipo estático.

Material e métodos

Participaram deste estudo 10 atletas de basquetebol do sexo masculino com idades entre 10 e 11 anos, que foram selecionados e tiveram a participação voluntária. Antes da coleta de dados os indivíduos foram esclarecidos acerca dos objetivos e da metodologia a ser utilizada.

Teste SVM: O atleta mergulhava a ponta dos dedos da mão em talco, tomava uma distância equivalente a uma passada do banner que estava adaptado a uma parede e realizava o movimento de salto assim que fosse solicitado. Ao saltar na máxima amplitude o jogador batia com a mão sobre o banner deixando uma marca, a qual era visualizada e anotada pelo pesquisador.

O presente estudo envolveu quatro etapas: na primeira etapa os atletas realizaram um aquecimento geral inespecífi co (corrida tipo trote) com duração de 5 minutos; na segunda etapa os jogadores realizaram o teste Salto Vertical Máximo (SVM) com três repetições, e a média foi calculada; feito isto os voluntários foram submetidos a um protocolo de alongamento ativo do tipo estático que consistia de três séries com duração de 20 segundos cada, dos respectivos grupos musculares: quadríceps, ísquio-tibiais, tríceps sural, glúteos, adutores e abdutores do quadril.

O alongamento foi executado com o mínimo de compen-sações possíveis, com auxílio de um cronômetro para que o tempo exato de duração e a sua efi cácia fossem garantidos.

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 200922

Após o alongamento, por fi m os atletas realizaram uma nova bateria de SVM assim como na primeira etapa.

A altura atingida foi expressa em cm, através do auxílio de um banner que foi adaptado a uma parede, onde o indivíduo deixava sua marca ao realizar o salto. Antes da realização do salto o atleta mergulhava os dedos em talco que ajudava o exa-minador a visualizar no banner a altura atingida pelo atleta.

Após cada atleta marcar a altura atingida, o examinador apagava a marca e assim sucessivamente até o último atleta realizar o salto para que não houvesse erro na marcação de cada atleta.

Os resultados foram analisados estatisticamente pela apli-cação do teste t Student para amostra pareada.

A realização deste experimento tem como objetivo analisar a aplicação do alongamento em MMII como preparação da elasticidade, em relação ao desenvolvimento do salto vertical, verifi cando se há um ganho signifi cativo na altura atingida pelos atletas de basquetebol.

Resultados

Considerando as condições experimentais adotadas por este estudo, o valor médio obtido para a impulsão vertical pré-alongamento foi de 266,44 ± 34,34 cm com coefi ciente de variação de 13%. O valor obtido, após a aplicação do protocolo de alongamento, foi de 264,44 ± 34,39 cm com coefi ciente de variação de 13%.

A diferença pré e pós alongamento foi 2,0 cm com p = 0,021 no valor médio da impulsão vertical máxima após a intervenção proposta neste trabalho. Estes dados podem ser visualizados na Figura 1.

Figura 1 - Análise do salto vertical expressa em cm antes e após intervenção do alongamento pelo protocolo de 3 séries com 20 segundos de duração para os grupos musculares descritos anterior-mente no estudo.

peutas, preparadores físicos recomendam o alongamento tanto para prevenir lesões como para promover o aumento da performance.

Uma revisão recente realizada por Herbert et al. [16] con-cluiu que o alongamento antes ou depois da atividade física não previne a dor muscular ou a lesão muscular e que não há evidências de aumento de performance do atleta.

Estudos foram realizados relacionando o aumento da fl exibilidade e a diminuição da incidência de lesões, Knapik et al. [17] e Van Mechellen et al. [18] concluíram que o alongamento antes da atividade física possa melhorar a per-formance para alguns esportes que necessitam da fl exibilidade como ginástica ou natação, porém para outros esportes pode diminuir o rendimento do atleta, sendo que o aumento da fl exibilidade pode diminuir a força de contração muscular num período de até uma hora.

Existem diversos tipos de alongamento, passivo, estático, dinâmico, facilitação neuro-proprioceptiva, balístico e iso-métrico. Embora o alongamento estático seja o tipo usado com maior freqüência, cada uma destas técnicas tem a sua importância e recomendação.

Em nosso trabalho os atletas praticaram o alongamento de forma ativa e do tipo estático, com uma repetição para cada grupo muscular já citado na metodologia.

Avela et al. [19] investigaram o efeito do alongamento passivo do músculo tríceps sural, e, após uma hora de alon-gamento, relataram uma queda de 23% da contração volun-tária máxima, e de 43,8% no potencial de ação muscular, sugerindo a redução do drive excitatório produzido pelo motoneurônio-alfa.

Em nosso trabalho houve uma redução em média de 2,0 centímetros no salto vertical máximo produzido pelo atleta, sugerindo uma inibição do drive excitatório do motoneurônio-alfa, e também o relaxamento muscular momentâneo produzido pelo Órgão Tendinoso de Golgi (OTG), pois o tempo entre o alongamento e o salto foi menor que 5 minutos.

Em contraproposta Wilson et al. [20] concluíram que houve um aumento da performance no salto vertical após o treinamento de 8 semanas de fl exibilidade, 5,4% no Leg Press (movimento do rebote) e 4,5% na contração concêntrica pura, sugerindo que este ganho de performance foi devido a capacidade de armazenar e reproduzir a energia elástica do músculo durante o movimento de rebote.

Conclusão

Concluímos com este trabalho que a fl exibilidade é uma propriedade intrínseca dos tecidos moles que determinam o arco de movimento máximo sem que ocorra lesão ou ultra-passe o limite da plasticidade de um ou grupo muscular ou articular.

O alongamento diminuiu em média 2,0 cm durante o salto vertical, sugerindo uma diminuição da contração volun-

Discussão

O alongamento antes da realização da atividade física é uma prática comum em todos os níveis de esportes seja ele competitivo ou profi ssional. Atletas, treinadores, fi siotera-

23Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009

tária máxima concêntrica e uma pequena inibição muscular promovida pelo OTG (efeito transitório).

Sabemos que para o músculo desenvolver sua força contrátil máxima é importante que os SNC e SNP estejam íntegros e trabalhando de forma sinérgica. Outros fatores como tipo, diâmetro da fi bra, quantidade de recrutamento de unidades motoras também podem infl uenciar na força muscular máxima.

Porém estudos demonstram a importância do alongamen-to e a sua efi cácia em promover o aumento da ADM (braço de alavanca), contudo, é fundamental para prevenir lesões por sobrecarga, e conseqüentemente promover um maior rendimento ao atleta

Estudos mais detalhados sobre o alongamento e melho-ra da performance do atleta se faz necessário, e sugerimos também a implantação de um programa de fl exibilidade contínuo para atletas no período de preparação (trabalho de base) analisando o ganho de ADM e fl exibilidade.

Referências

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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 200924

Artigo original

Relação entre alterações posturais e lesões osteomioarticulares em jogadores de futsal

Relation between postural alterations and osteomyoarticular injuries in futsal players

Alisson Guimbala dos Santos Araujo*, Cintia Seefeld**, Juliana Cardoso Alves**

*Supervisor de Estágio da Faculdade Guilherme Guimbala da Associação Catarinense de Ensino, Especialista em Ortopedia e Trau-matologia, **Acadêmicas do curso de Fisioterapia da Faculdade Guilherme Guimbala

ResumoO futsal é considerado um esporte em ascensão, praticado

no mundo todo por milhares de pessoas. Os atletas sofrem com o excesso de jogos e treinos e, a exigência é cada vez maior no seu desempenho, fazendo com que trabalhem perto dos limites máximos de exaustão, aumentando a pré-disposição às lesões. O objetivo do trabalho foi investigar se as alterações posturais nos jogadores irão ocasionar maiores índices de lesões durante suas atividades. Foram avaliados 17 atletas com média de idade 27 anos (± 6,21), o número de lesões foi levantado através do prontuário fi sioterapêutico e ava-liação postural por um protocolo elaborado pelos pesquisadores. Os resultados mostraram que de acordo com a classifi cação utilizada, as lesões mais encontradas foram as distensões musculares (50%) e as tendinites (22,2%). As alterações posturais mais encontradas foram cabeça protusa, hiperlordose lombar, anteversão da pelve, joelho varo e pé abduzido. Houve diferença pouco signifi cativa entre as alterações encontradas nos grupos lesionados e não lesionados, em todos os segmentos analisados, sendo que os do grupo B (não lesio-nado) estariam predispostos também a lesões osteomioarticulares, devido às constantes sobrecargas nas estruturas musculoesqueléticas sofridas durante o desporto. Portanto, conclui-se que existe relação entre alterações posturais e as lesões dos atletas.Palavras-chave: futsal, lesões, alterações posturais.

Abstract Th e futsal is considered a sport on the rise, practiced worldwide

for thousands of people. Athletes suff er with the excess of games and overtraining, and the demand of performance is increasing. Th e athletes play near the limits of exhaustion, increasing the risk of injuries. Th e objective of this study was to investigate whether changes in posture will cause higher rates of injuries during their activities. We evaluated 17 athletes with an average age of 27 years (± 6.21), the number of injuries was raised through the physical therapy record and posture assessment by a protocol developed by the researchers. Th e results pointed out that in accordance with the classifi cation used, the most important lesions were the muscle distension (50%), followed by tendinitis (22,2%). Th e postural changes more frequent were head protusion, lumbar hyperlordosis, pelvis anteversion, knee and foot varus. Th ere was little signifi cant diff erence between the changes found in the groups injured and not injured, in all segments analyzed, and the group B (not injured) was also in risk of osteoarticular injuries, due to constant overload in the musculoskeletal structures suff ered during the sport. Th erefore, there is relationship between postural changes and injuries in these athletes. Key-words: futsal, injuries, postural changes.

Endereço para correspondência: Cintia Seefeld, Rua Euzébio de Queiróz, 258, 89203-100 Joinville SC, Tel: (47) 3801-4616, E-mail: [email protected]

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Introdução

O surgimento do Futsal data-se da década de 30 na ci-dade de Montevidéu (Uruguai) [1], sendo um dos esportes em ascensão mundial, atraindo cada vez mais adeptos [2]. No Brasil é um dos mais difundidos, jogado por mais de 12 milhões de brasileiros, segundo a Confederação Brasileira de Futebol de Salão (CBFS) [3].

O perfi l motor do jogador de futsal é caracterizado pela realização de inúmeras ações motoras rápidas, com e sem a posse de bola [4]. As atividades funcionais incluem aceleração, desaceleração, saltos, giros, viradas, chutes, e, devido a essas características do jogo, pode ser esperado um número vasto de lesões em seus praticantes [5].

Na prática desportiva, em especial no futsal, observam-se diferentes fatores que predispõe a ocorrência de lesões. Entre os fatores intrínsecos, podemos identifi car a presença de alterações no quadril, joelho, tornozelo e pé. Com relação aos fatores extrínsecos, devemos considerar as condições do piso, iluminação da quadra e tipo de calçado utilizado pelo atleta [6].

As lesões ocorrem principalmente em função das exigên-cias físicas serem cada vez maiores, o que obriga os atletas a trabalharem perto de seus limites máximos de exaustão, com maior predisposição às lesões [7], sendo uma das maiores preocupações para os atletas, devido ao fato da competitivi-dade exigir o retorno ao esporte o mais rápido possível [8]. O fortalecimento específi co, exigido nos treinamentos, busca maior potencia muscular, resistência aos exercícios, bem como o equilíbrio entre os grupos agonistas e antagonistas exigidos durante o movimento. Mas para que tudo isso seja alcançado é importante a intensa e freqüente supervisão e administração na intensidade e momentos mais apropriados ao atleta [9].

O treinamento intenso e repetitivo de uma modalidade esportiva proporciona a hipertrofi a muscular e a diminuição da fl exibilidade, causando desequilíbrio entre a musculatura agonista e antagonista, favorecendo a instalação de alterações posturais. Além disso, o excesso de treinamento pode causar lesões decorrentes do superuso, como microtraumas devidos ao atrito contínuo entre duas ou mais estruturas, e levar a quadros de condromalacia, tendinites, bursites, lombalgias e até fraturas [2]. Por isso a avaliação postural é bastante usada para prevenir e futuramente corrigir possíveis alterações pos-turais existentes [10].

Para que se tenha saúde, um bom desempenho músculo-articular e ainda uma melhor efi ciência nos exercícios, é ne-cessário que o indivíduo tenha um bom equilíbrio postural. A postura adequada é aquela que o individuo tem em posição ortostática, envolvendo uma quantidade mínima de esforço e sobrecarga, e conduz à efi ciência máxima do corpo [11].

As alterações posturais podem ser congênitas ou adqui-ridas (doença, hábito, fraqueza muscular etc) sendo que sua importância reside na anomalia postural que representa [12]. A manutenção da postura corporal ocorre através de músculos

antigravitacionais que possuem características que permitem adaptações com pouco esforço [13].

Diante disso, o objetivo deste estudo é investigar a re-lação entre as alterações posturais nos jogadores de futsal e a incidência de lesões osteomioarticulares sofridas por estes atletas, durante a Liga Nacional de Futsal. Este estudo baseou-se numa avaliação postural dos atletas e um estudo epidemiológico das lesões entre fevereiro e agosto de 2008, período que ocorreu a Liga Nacional de Futsal.

Material e métodos

Foram avaliados 17 atletas integrantes da Equipe masculi-na de Futsal de Joinville, com faixa etária entre 18 e 36 anos, sendo que a média de idade foi de 27 anos (± 6,21), a média de altura 1,76 m (± 0,05), a média de peso 76,2 kg (± 9,97) e o Índice de Massa Corpórea (IMC) teve a média de 24,48 (± 2,42). O critério para inclusão na pesquisa foi ser atleta da equipe, treinar e participar da Liga Nacional de Futsal, tanto os com histórico de lesão quanto os sem históricos de lesão durante a competição.

A pesquisa obedeceu aos princípios éticos dispostos nas re-soluções Nacionais 196/96 e 251/97, relacionadas a pesquisas envolvendo seres humanos com número de protocolo 08032, sendo aprovado pelo comitê de ética do Hospital Municipal São José – HMSJ. Todos os participantes do estudo assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.

Para a avaliação, o atleta foi encaminhado de forma in-dividual a uma sala, onde era preenchido um questionário, manuscrito logo após em uma fi cha individual. Cada atleta era questionado em relação a seu nome, idade, altura, peso e po-sição na equipe. Em relação à ocorrência de lesões as mesmas eram levantadas através de seu prontuário fi sioterapêutico, que se encontrava no Ambulatório de Distúrbios Músculos-Esqueléticos da Faculdade Guilherme Guimbala em Joinville/ SC, o qual seguiu critérios defi nidos por Ribeiro e Costa [1], adaptados pelos pesquisadores, sendo que as lesões seriam classifi cadas como: distensão, contraturas, tendinites e lesão de ligamento, ou seja, somente as lesões não traumáticas.

Para se realizar uma boa avaliação postural, devem-se ter critérios de padronizações, sendo o alinhamento postural necessário. Uma postura adequada é aquela que envolve uma quantidade mínima de esforço e sobrecarga, e conduz à efi ciência máxima do corpo [9]. Na realização da avaliação postural do atleta os critérios foram baseados nas descrições de Kendall et al. [11] elaborando assim um Protocolo de Avaliação Postural pelos pesquisadores (em anexo).

A avaliação postural foi realizada em três dias, sendo dois dias consecutivos e um dia intercalado, no período de 22 a 25 de julho de 2008. Cada avaliação durou aproximadamente 15 minutos. No procedimento para a avaliação postural, o atleta foi posicionado a 3 metros de distância do avaliador, com pés paralelos e distância de 10 cm, braços em posição neutra, solicitando ao atleta que permanecesse na posição

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 200926

mais natural possível, não fazendo correções. Foram avaliados os planos frontal anterior, frontal posterior, sagital esquerdo e sagital direito.

A análise estatística dos dados foi realizada de forma descritiva quantitativa. Para isso, foi utilizado à média, o desvio-padrão e a porcentagem, tabulados e armazenados no software Microsoft Excel 2003.

Resultados

A maioria dos atletas (76,5%) sofreu lesões durante a liga, sendo que foram registradas 18 lesões osteomioarticulares relacionadas à prática de futsal em uma equipe composta por 17 atletas, no qual 11 atletas sofreram lesões e 6 não sofreram nenhuma lesão relacionada a alterações posturais, defi nindo-se assim o grupo dos atletas lesionados, defi nidos como Grupo A (GA) e o grupo dos não lesionados, defi nidos como Grupo B (GB).

Na Tabela I, apresentou-se os tipos de lesões mais comu-mente encontrados, dos quais se destacaram as distensões musculares (50%), que se caracterizam pelo rompimento das fi bras musculares em conseqüência de uma solicitação excessiva do músculo [14], onde o mecanismo de lesão acontece quando a articulação é forçada além do seu limite de movimento [15], seguidos de tendinite (22,2%), que é proveniente de uma síndrome de uso excessivo ou de sobre-carga do tendão [14], lesão de ligamento (16,7%) e por último contraturas (11,1%).

Tabela I - Classifi cação das lesões segundo a etiologia.Tipos de lesãoDistensão 09 (50%)Contraturas 02 (11,1%)Tendinites 04 (22,2%)Lesão de Ligamento 03 (16,7%)TOTAL 18

Os segmentos mais lesionados durante a prática do futsal foram coxas, joelhos e tornozelos, e as menos lesionadas foram membros perna e pé, demonstrados na Tabela II.

Tabela II - Classifi cação das lesões segundo o segmento acometido.Parte do corpo lesadaCoxa 11 (61,1%)Joelho 02 (11,1%)Perna 01 (5,5%)Tornozelo 03 (16,7%)Pé 01 (5,5%)TOTAL 18

Com relação à avaliação postural, houve diferença signifi -cante entre as alterações encontradas nos grupos lesionados e não lesionados, nos segmentos coluna cervical, ombro, coluna lombar, pelve, joelho, tornozelo/pé, como mostra a Tabela III.

Comparando as alterações posturais entre os atletas lesio-nados e não lesionados, conforme a tabela III verifi cou-se que as principais diferenças de porcentagem entre os dois grupos, foram na protusão da cabeça (34,4%), na protação do ombro (38,5), na hiperlordose (44,9%) e na anteversão (28,9%).

Tabela III - Distribuição de porcentagem das alterações posturais observadas nos atletas durante a Liga de Futsal.

Segmento AlteraçãoGru-po A %

Gru-po B %

Cervical Cabeça protusa 11 84,6% 2 50%

OmbroProtação 5 38,5% 0 0%Retração 5 38,5% 1 25%

Col. Lombar Hiperlordose 4 30,1% 3 75%Pelve Anteversão 6 46,1% 3 75%

JoelhoVaro 5 38,5% 2 50%Valgo 1 7,7% 0 0%

Tornozelo / Pé

Inversão 1 7,7% 1 25%Eversão 1 7,7% 1 25%Abduzido 8 61,5% 2 50%

Discussão

Hoje o futsal, desde sua origem evoluiu-se consideravel-mente, mas permanece em processo de expansão. Devido a esta continua evolução, deparou-se com divergências entre estudos já realizados. No caso dos atletas de futsal, são verifi -cados grandes esforços, como velocidade, agilidade e potência muscular, presentes nas ações de deslocamentos (laterais e para trás), saídas e paradas rápidas, saltos, chutes e piques, sendo este esporte caracterizado pela realização de esforços intensos de curta duração [16], resultando com uma freqüência cada vez maior em lesões traumáticas e danos ao sistema músculo-esquelético [8].

A maioria das lesões ocorreu em membros inferiores (86,7%). Raymundo et al. [17] também verifi caram uma alta incidência de lesões em atletas de futsal, com predominância de lesões nos membros inferiores (88,1%). O tornozelo é uma articulação constantemente lesionada, sendo a entorse (lesão ligamentar) descrita como lesão mais comum do meio esportivo [18,19], diferentemente dos resultados obtidos neste estudo, a distensão muscular foi destacada como a lesão que mais acometeu, tendo como fatores predispo-nentes o desequilíbrio muscular e a fl exibilidade muscular precária [20].

Segundo os dados coletados relativos às lesões, a coxa foi o segmento mais acometido seguido de pé e tornozelo, que se assemelham aos achados de Lindenfeld et al. [21] em estudo com jogadores de futebol com idade entre 19 e 24 anos, que observaram que o segmento mais freqüentemente acometido foi o pé/tornozelo, seguido do joelho. Para Aglietti [22] as distensões foram as mais freqüentes, com uma incidência média de 20-25%, semelhante aos resultados obtidos neste estudo, apresentando 33,3% das lesões.

27Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009

Alterações posturais também têm sido identifi cadas em atletas de diferentes modalidades esportivas em função da grande sobrecarga músculoesquelética imposta pelo treina-mento [23]. As especifi cidades de cada modalidade acabam por gerar desequilíbrios musculares, os quais podem gerar alterações posturais, devido à necessidade do organismo se reorganizar em cadeias musculares de compensação [24,25]. Adicionado a gestos específi cos do esporte e erros na técnica de execução dos movimentos, podem aumentar a prevalência de lesões [25]. A avaliação postural é muito importante para prevenir e futuramente corrigir possíveis alterações posturais existentes [10].

Watson [26] encontrou apenas 23% dos atletas com alte-ração dos joelhos para varo ou para valgo, diferentemente do encontrado nesse estudo, no qual apresentou 41,2% joelhos varos e 5,9% de joelho valgos.

A protração escapular ocorreu em 38,5% dos atletas lesionados, uma das causas desse desequilíbrio é o desleixo contínuo e a ênfase excessiva em exercícios de fl exão de mem-bros superiores em programas gerais de exercício, e geralmente associada a uma protração da cabeça [27].

A anteversão de pelve foi observada em 52,9% dos casos, de modo geral este problema decorre da retração dos músculos fl exores do quadril e extensores do joelho, os quais contribuem para a formação da hiperlordose lombar que, em decorrência, desencadeia mecanismo compensatório de retração da cadeia posterior causando a cifose torácica e a cabeça em protrusão [28]. Já para Bienfait [24] não há hiperlordose lombar sem anteversão pélvica. Nesta pesquisa foi detectada que a maioria (66,7%) realmente apresentou hiperlordose associada com anteroversão.

A preocupação com a postura e o equilíbrio muscular deve ter o mesmo grau de importância que o desenvolvimento das qualidades específi cas para o alto desempenho, pois estes infl uenciam no rendimento do atleta e podem minimizar a incidência de lesões esportivas [28].

Conclusão

O futsal é um esporte de grande impacto nas estruturas osteomioarticulares, com isso requer condicionamento físi-co adequado e infra-estrutura apropriada. De acordo com o objetivo de nosso estudo verifi camos que existe uma relação entre alterações posturais e lesões osteomioarticulares nos jogadores de futsal, pois encontramos diversas alterações posturais devido ao fato que os atletas necessitarem de cargas extras para realizarem os movimentos ágeis, velozes e precisos que são necessários. Deste modo fi cam ainda mais suscetíveis a lesões.

Os resultados mostraram que as distensões musculares foram as lesões mais encontradas, ocasionadas durante a pra-tica esportiva, observando ainda que nas alterações posturais os maiores acometimentos foram a hiperlordose lombar, anteversão da pelve, joelho varo e pé abduzido. A presença

de lesões musculares e alterações posturais podem estar re-lacionadas a diversos fatores como a qualidade da realização do treinamento e a biomecânica dos movimentos envolvidos. Verifi cou-se, porém, que se faz necessário mais estudos para a avaliação das alterações e seqüelas que estes atletas poderão apresentar em longo prazo.

Acredita-se na suma importância da intervenção da fi siote-rapia, a fi m de realizar um trabalho de prevenção com atletas, reduzindo os índices de alterações posturais e lesões estruturais a longo prazo, pois com uma reabilitação adequada do atleta os benefícios são evidentes, pois irá melhorar o desempenho e redução do tempo de afastamento deste atleta.

Referências

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29Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009

ANEXO A - PROTOCOLO DE AVALIAÇAO POSTURAL PROPOSTOS PELOS AUTORES

VISTA ANTERIORAntepé( ) Alinhado ( ) Abduzido D/E ( ) Aduzido D/EArticulações dos joelhos( ) Alinhada ( ) Valgo D/E( ) Varo D/EPatelas( ) Alinhadas ( ) Patela mais alta D/E( )Patela rodada lateralmente ( )Patela rodada medialmente Espinhas Ilíacas Antero superiores( ) Alinhadas ( ) Desalinhadas, mais alta D/EAltura das cristas ilíacas( ) Alinhadas ( ) Desalinhadas, mais alta D/EAlinhamento do Tronco( )Alinhado ( ) Inclinação Lateral D/E( )Rotação cintura escapular ( )Rotação cintura pélvica Tórax( ) Simétrico ( ) AssimétricoArticulações dos ombros( ) Alinhados ( ) Ombro mais alto D/E ( ) Rotação medial D/E ( ) Rotação lateral D/ECotovelos( )Alinhados ( )Aumento flexão D/E( )Hiperextensão D/EClavículas( )Simétricas ( ) Horizontalizada D/E( )Verticalizada D/EFossas supraclaviculares( ) Simétricas ( ) Assimétricas, diminuída D/E

VISTA POSTERIORColuna cervical ( )Reta ( ) Flexionada Lateralmente D/EOmbro( )Nivelados ( )Elevados D/E( )Deprimidos D/EEscápula( ) Neutra ( ) Abduzidas D/E( ) Aduzidas D/E ( ) Aladas D/EColuna torácica ( ) Alinhadas ( ) Convexidade D/EColuna lombar( ) Alinhadas ( ) Convexidade D/EAltura das cristas ilíacas( ) Alinhadas ( ) Desalinhadas, mais alta D/EEspinhas ilíacas póstero-superiores ( ) Alinhadas ( ) Desalinhadas, mais alta D/EFossa poplítea( )Simétricas ( ) Mais profunda D/EArticulações do joelho( ) Alinhados ( ) Valgo D/E( ) Varo D/EArticulação do tornozelo( ) Alinhados ( ) Desalinhado D/EPés( )Paralelos ( ) Abduzido D/E( ) Aduzido D/E ( ) Inversão( ) Eversão D/E

VISTA LATERALCabeça ( ) Neutra ( ) Inclinada Pra Frente ( )Inclinada Pra TrásColuna cervical( ) Curva Normal ( ) Aumento da Lordose ( ) Retificação da Lordose Articulações do cotovelo( ) Alinhada ( ) Aumento da flexão D/E ( ) Hiperextensão D/EArticulações do ombro( )Alinhados ( )Protração D/E ( )Retração D/E ( ) Rotação Medial D/ E ( )Rotação Lateral D/EColuna torácica( ) Curva Normal ( ) Aumento da Cifose ( ) Retificação da CifoseColuna lombar( )Curva Normal ( )Aumento da Lordose ( )Retificação da Lordose Pelve( )Posição Neutra ( ) Anteversão ( ) RetroversãoArticulações dos joelho( )Posição Neutra ( ) Flexionada ( ) HiperestendidosArt. Do tornozelo( )Posição Neutra ( )Diminuído D/E ( ) Aumentado D/EPercepção dos apoios dos pés( ) Simétrico ( ) Antepé D/E ( ) Retropé D/E

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 200930

Artigo original

Influência da atividade física, pressão arterial e variáveis antropométricas da gestante sobre

o peso do feto ao nascerInfluence of pregnancy physical activity, arterial blood pressure,

and anthropometric factors on birth-weight

Janyny Galdino Onofre Spolador*, Marcos Doederlein Polito, D.Sc.**

*Departamento de Educação Física, Centro de Educação Física e Esporte, Universidade Estadual de Londrina, **Departamento de Educação Física, Centro de Educação Física e Esporte, Universidade de Londrina, Grupo de Estudo e Pesquisa em Respostas Cardio-vasculares e Exercício – GECardio/UEL

ResumoO objetivo do estudo foi analisar o nível de atividade física da

gestante com o peso corporal, a pressão arterial durante a gestação e o peso do recém-nascido. Trinta e sete gestantes foram submetidas a um questionário de atividade física habitual e a medidas de pressão arterial (PA) e peso corporal. As informações sobre peso e compri-mento do bebê foram obtidas através do cartão do bebê. Foram encontradas diferenças estatísticas para o peso corporal no início e fi nal da gestação (65,7 ± 15,7 e 78 ± 15,0 kg, p < 0,01) e diferenças em relação ao percentual de mulheres que não se exercitavam antes da gestação e durante a gestação (54,3% e 71,4%, p < 0,01). Em relação à PA, houve relação signifi cativa (R = 0,48; p < 0,01) entre aumento de peso corporal durante a gestação e hipertensão arterial sistólica. Não foram encontradas associações entre qualquer variável estudada e o peso do feto ou sobre o nível de atividade física da gestante. Concluindo, no presente estudo ocorreu relação signifi -cativa entre o aumento de peso corporal e hipertensão gestacional, sobretudo em relação à pressão arterial sistólica.Palavras-chave: obesidade, hipertensão arterial, exercício, gestação.

AbstractTh e purpose of this study was to analyze the pregnancy physical

activity, body mass, arterial blood pressure, and birth-weight. Th e sample was composed by 37 pregnant women. Th ey answered a physical activity questionnaire and were evaluated on arterial blood pressure (BP) and anthropometry. Th e fetal data was obtained in the hospital. Th e results showed signifi cantly diff erences on maternal body mass between before and after pregnancy (65.7 ± 15.7 e 78 ± 15.0 kg, p < 0.01) and the percentage of inactive woman before and during pregnancy (54.3% e 71.4%, p < 0.01). Th ere was signifi cant relation (R = 0.48; p < 0.01) between high body mass during preg-nancy and systolic hypertension. Th ere were no diff erences between any variables and birth-weight or maternal physical activity status. In conclusion, the present study identifi ed signifi cantly relation between high body mass and gestational systolic hypertension. Key-words: obesity, hypertension, exercise, pregnancy.

Endereço para correspondência: Marcos Doederlein Polito, Universidade Estadual de Londrina, Centro de Educação Física e Esporte, Departamento de Educação Física, Rodovia Celso Garcia Cid Km 380, 86051-901 Londrina PR, E-mail: [email protected]

31Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009

Introdução

Atualmente, doenças como obesidade e hipertensão arte-rial sistêmica podem ser desencadeadas ou agravadas durante a gestação [1-5]. O aumento exagerado de peso durante a gestação pode ser determinante sobre os desfechos gesta-cionais (como crescimento fetal e peso ao nascer), trazendo implicações para a criança ao longo da vida, particularmente em relação às doenças crônico-degenerativas [2]. Além das possíveis complicações para o feto decorrente do ganho de peso materno, podem ainda infl uenciar em tais complicações os valores de pressão arterial da mãe [3]. Estudos relatam que cerca de 7% das gestantes apresentam casos de hipertensão gestacional, representando uma das mais importantes causas de mortes materna e perinatal [5].

Dessa forma, torna-se importante adotar medidas para evitar tais complicações durante a gestação. Uma das medidas menos onerosas é a prática habitual de atividades físicas. Por exemplo, foi verifi cado que mulheres praticantes de qualquer atividade física antes da gestação reduziram em aproximada-mente 35% o risco de desenvolver hipertensão gestacional [6]. Por outro lado, mulheres sedentárias podem apresentar um considerável declínio do condicionamento físico durante a gravidez [7]. De forma semelhante, mulheres com pré-disposição à obesidade podem prevenir seu desencadeamento através de exercícios físicos regulares [8].

A literatura apresenta alguns dados sobre os efeitos da atividade física em gestantes atletas [9,10] e não atletas em diferentes países [6]. Contudo, são relativamente escassas investigações nacionais envolvendo atividade física e caracte-rísticas antropométricas e cardiovasculares de gestantes. Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi relacionar o nível de atividade física da gestante com o peso corporal e pressão arterial durante a gestação, e o peso do recém-nascido. Nossa hipótese foi que a atividade física pode infl uenciar no compor-tamento da pressão arterial e do peso corporal da gestante.

Material e métodos

Esta pesquisa foi observacional sem qualquer intervenção do investigador sobre a amostra. Foram avaliadas 37 gestantes (27 ± 6 anos) e idade gestacional entre 34-40 semanas (37 ± 2 semanas), atendidas no Hospital Universitário e no am-bulatório do Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Londrina. Todas as gestantes declaram-se voluntárias a participar do estudo e assinaram termo de consentimento livre e esclarecido. A coleta de dados foi conduzida em dois mo-mentos. No primeiro momento, foi realizada uma anamnese através de questões pré-elaboradas sobre a saúde da gestante antes e durante a gestação, aplicado o questionário de ativi-dade física habitual de Baecke [11] e realizadas as medidas de pressão arterial de repouso e peso corporal. A pressão arterial de repouso foi aferida com equipamento automático (G-Tech, BP3AF1-3, Brasil) seguindo as recomendações da V Diretrizes

Brasileiras de Hipertensão Arterial [12]. O peso corporal foi obtido com as gestantes descalças e com roupas leves através de balança digital (G-Life, Lumina, Brasil) com graduação de 100 g. Os valores de estatura, pressão arterial de repouso e peso corporal no início da gestação foram obtidos através do cartão da gestante. No segundo momento, foram obtidas informações sobre o peso e comprimento do bebê ao nascer, através do cartão do bebê fornecido pela maternidade. Todas as informações foram coletadas por um único e devidamente treinado investigador.

A análise dos dados do cartão do bebê foi realizada de acor-do com as curvas de crescimento da National Center for Helth Statistics, utilizadas como curvas padrão no Brasil. Os valores do IMC materno foram obtidos de acordo com os dados de classifi cação do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional [13], sendo utilizado o gráfi co da curva de Atallah, o qual rela-ciona o IMC gestacional com a semana gestacional [13].

Para a análise dos dados, foi conduzida uma regressão simples entre a variável independente nível de atividade física e as demais. Também foi realizada a regressão múltipla tendo como variáveis independentes o nível de atividade física e a pressão arterial. As demais variáveis analisadas antes e durante a gestação foram comparadas pelo teste t-Student. Em todos os casos foi estabelecido p < 0,05 como signifi cância estatís-tica. Os dados foram analisados no programa Statistica 6.0 (Statsoft, EUA).

Resultados

A Tabela I ilustra os valores iniciais e fi nais de idade, idade gestacional, peso corporal, pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD). Somente o peso corporal mostrou-se sig-nifi cativamente mais elevado no fi nal da gestação em relação aos valores iniciais. Em relação aos dados dos fetos, o peso ao nascer foi de 3037,5 ± 516,9 g e o comprimento de 47,9 ± 2,3 cm. Nenhuma associação signifi cativa foi encontrada entre o peso e o comprimento do feto e os dados da mãe. Contudo, a porcentagem de mulheres grávidas que faziam exercício físico foi menor que as que não faziam. Analogamente, o número de mulheres que eram fi sicamente ativas antes da gravidez diminuiu com o advento da gestação (Tabela II).

Tabela I - Valores de idade, idade gestacional, peso corporal, pres-são arterial sistólica e pressão arterial diastólica da amostra antes e durante o período gestacional (média±desvio padrão).Variável Início da

gestaçãoFinal da ges-tação

Idade (anos) 27 ± 6 27 ± 6Idade gestacional (semanas) - 37,3 ± 1,8Peso corporal (kg) 65,7 ± 15,7 78,9 ± 15,0*PAS (mmHg) 112,5 ± 14,7 117,8 ± 18,8PAD (mmHg) 72,3 ± 10,4 71,8 ± 13,4

* diferença significativa (p < 0,01) em relação ao valor de início da

gestação

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 200932

Tabela II - Percentual da amostra que praticava atividades físicas durante a gestação e antes da gestação.Variável Sim (%) Não (%)Atividade física antes da gestação 45,7 54,3Atividade física durante a gestação 28,6 71,4*

* diferença significativa em relação ao percentual durante a gestação

Quanto ao IMC, observou-se um aumento no número de mulheres classifi cadas com sobrepeso e obesas no fi nal da gestação em relação ao início (Tabela III). O número de mulheres que se tornaram obesas e/ou hipertensas durante a gestação também não foi signifi cativo quando associado ao nível de atividade física. Entretanto, observou-se um aumento do percentual de mulheres que adquiriram tais problemas no decorrer da gestação (Tabela IV). Nesse caso, a regressão estatística acusou associação signifi cativa entre o peso corporal durante a gestação e o valor de PAS (p = 0, 003; R = 0,48). O mesmo foi verifi cado para o IMC e PAS (p = 0,01; R = 0,42). Dessa forma, as mulheres mais pesadas ou com maior IMC apresentaram valores mais elevados de PAS.

Tabela III - Classifi cação em relação ao IMC no início da gestação e no fi nal da gestação em porcentagem (%).Classificação Início da ges-

tação %Final da gestação %

Baixo peso 14,2 8,6*Peso adequado 42,8 31,4*Sobre- peso 22,8 34,2*Obesa 17,1 31,4*

* diferença significativa em relação ao percentual de início da gestação

Tabela IV - Percentual de mulheres que desenvolveram hipertensão arterial e/ou obesidade durante a gestação.Patologia % acometidas

Hipertensão arterialObesidadeHipertensão e obesidade

14,38,6 17,1

Discussão

O Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia [14] recomenda que as gestantes realizem 30 min de atividades físicas diárias com intensidade leve a moderada. No entan-to, tais recomendações não são comumente seguidas pela população de mulheres grávidas. Por exemplo, um estudo com 4.471 mulheres da cidade de Pelotas (RS) mostrou que 14,8% já realizavam algum tipo de atividade física anterior à gestação e que durante algum período da gestação 12,9% realizavam atividade física de lazer, e apenas 4,3% das mulhe-res entrevistadas foram ativas fi sicamente durante a gestação toda [15]. Tais resultados são divergentes do presente estudo, no qual se observou que 45,7% das entrevistadas relataram realizar algum tipo de atividade física antes da gestação e 28,6% durante algum período ou toda a gestação. Contudo,

há de se considerar a grande diferença amostral que indubi-tavelmente infl uenciou os dados. No entanto, no presente estudo, observa-se o considerável declínio entre as mulheres que se exercitavam antes da gestação e deixaram de exercitar durante a gestação. Algumas razões identifi cadas na anamnese como potenciais causas de inatividade física durante a ges-tação foram patologia ou indisposição durante a gravidez (9 mulheres) e falta de informações sobre a prática de exercícios físicos durante a gravidez (4 mulheres).

A importância da prática de atividades físicas durante a gestação pode se relacionar à diminuição de possíveis com-plicações, dentre as quais as alterações na pressão arterial de repouso. O aumento da pressão arterial de repouso durante a gestação pode ser extremamente complicado, tanto para a mãe quanto para o feto [14]. Um estudo realizado com 609 casos de morte materna mostrou que 23,3% destes casos foram por complicações em razão da síndrome hipertensiva da gravidez, sendo que 7,1% das mulheres desenvolveram a síndrome a partir do terceiro trimestre [16]. A síndrome hipertensiva da gravidez ocorre em 2-4% das gestações [17]. No presente estudo, os resultados de gestantes que desenvolveram doença hipertensiva não tiveram associação com o nível de atividade física. Porém, houve um percentual signifi cativo de mulheres que desenvolveram a hipertensão gestacional durante a gravi-dez (14,3%) e de mulheres que desenvolveram a hipertensão e a obesidade/sobrepeso (17,1%). Como já comentado, nosso estudo contou com uma amostra relativamente reduzida, o que pode ter infl uenciado nestes resultados. Contudo, valores próximos foram encontrados em um estudo feito com 200 gestantes com idade gestacional de 37,6 ± 3,5 semanas [18]. Os autores encontraram 16% de casos de hipertensão gestacio-nal, 33% de pré- eclampsia, 3% de hipertensão crônica e 5% de pré-eclâmpsia relacionada à hipertensão crônica. Também houve diferenças signifi cativas em relação ao peso ao nascer, sendo que as mulheres com pré-eclâmpsia deram à luz a fetos com peso signifi cativamente reduzido [18].

No presente estudo, também foi observado diminuição no número de mulheres que se apresentavam antes da gestação abaixo do peso e com peso adequado. Este fato pode estar relacionado à redução do nível de atividade física e, princi-palmente, ao aumento da ingestão calórica diária acima do recomendado (300 kcal adicionais) [8]. Um estudo descritivo realizado com 240 gestantes em Recife (PE) também indicou aumento do número de mulheres com sobrepeso e obesas no fi nal do terceiro trimestre de gestação. Neste estudo, os autores apontam diferenças signifi cativas no aumento excessivo de peso em mulheres que já apresentavam um peso acima do recomendado no início da gestação, naquelas que tinham escolaridade maior ou igual a oito anos de estudo e naquelas que viviam com o marido ou companheiro [19].

Além da possível infl uência da atividade física sobre os valores de pressão arterial, o excesso de peso também pode repercutir sobre o comportamento cardiovascular. Um estudo realizado em seis capitais brasileiras constatou que o sobrepeso

33Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009

ocorreu em 25% das gestantes adultas e houve relação direta com alterações da pressão arterial [20]. No presente estudo, também foi verifi cada associação signifi cativa entre aumento do peso corporal e hipertensão. Isso se deve a uma combina-ção de fatores ambientais (inatividade e excesso de peso, por exemplo) com os fatores genéticos relacionados à hipertensão (disfunção endotelial, por exemplo) [3,21]. Os resultados do presente estudo mostraram diferença signifi cativa entre os percentuais de mulheres classifi cadas como sobrepeso e obesas no início e no fi nal da gestação (34,2% e 31,4%, respectivamente). Um estudo já citado [19], interessante foi a associação entre o IMC no início da gestação e o ganho de peso durante a gestação, de forma que maior IMC no início da gestação representou maior chance de peso excessivo no fi m da gestação. As complicações decorrentes do ganho de peso excessivo da mãe podem repercutir diretamente sobre o feto. Kac e Velasquez-Melendez [22] constataram que um ganho de peso excessivo em 29,1% das mães associou-se à macrossomia fetal.

Conclusão

Os resultados obtidos mostraram uma relação signifi cativa entre o aumento excessivo de peso e síndromes hipertensivas na gravidez, sobretudo em relação à pressão arterial sistólica. Também houve relação signifi cativa quanto ao IMC e valores de pressão arterial sistólica, sendo que quanto mais pesada e com maior IMC tiver a gestante, maior o risco de desenvolver hipertensão. Não houve relação entre ganho de peso e nível de atividade física, assim como nenhuma variável associou-se com o peso do bebê. Isto pode ter ocorrido por limitações do estudo, como o número amostral. Entretanto, é consenso o efeito do exercício físico para o controle da obesidade e da hipertensão durante a gestação. Dessa forma, a prática de atividades físicas pode ser importante no período gestacional para contribuir com a qualidade de vida da gestante. Porém, mais estudos sobre os efeitos da atividade física em gestantes são necessários para atender esta área de atuação do profi s-sional de educação física.

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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 200934

Revisão

Uso da fosfatidilcolina no tratamento de depósitos localizados de gordura

The effect of phosphatidylcholine in the treatment of localized fat pads

José Diego Botezelli*, José Alexandre Curiacos de Almeida Leme**, Maria Alice Rostom de Mello***

IB/UNESP Departamento de Educação Física, Mestrando em Educação Física.,**IB/UNESP Departamento de Educação Física. Doutorando em Educação Física, ***IB/UNESP Departamento de Educação Física

ResumoSabe-se que um dos processos mais utilizados para o tratamento

de pequenos e moderados depósitos de gordura é a lipoaspiração. Porém esse método cirúrgico além de oneroso apresenta alto risco. Em anos recentes, outro procedimento, a aplicação tópica de fosfa-tidilcolina, vem sendo empregado com o mesmo propósito. Embora a forma injetável de fosfatidilcolina não tenha sido aprovada para fi ns cosméticos no Brasil, o medicamento tem sido amplamente utilizado. Recentemente, seu uso cosmético espalhou-se além das clinicas médicas, chegando até as academias e salões de beleza. Isso evidencia a urgência da realização de pesquisas visando ampliar os conhecimentos sobre os efeitos da aplicação da fosfatidilcolina com objetivos cosméticos. Assim sendo, na presente revisão serão abordados alguns aspectos referentes ao exercício e à ação da fos-fatidilcolina no controle da adiposidade, bem como seu emprego no tratamento da gordura localizada bem como alguns efeitos colaterais. São, também, apresentados dados referentes a estudos em modelos animais.Palavras-chave: exercício, fosfatidilcolina, depósitos de gordura, adiposidade.

AbstractIt is known that one of the most used processes for treatment

of lower and moderate fat deposits is the liposuction. However this method is very expensive and dangerous. Recently, the phos-phatidylcholine procedure has been also applied for the correction of fat deposits. Although injectable phosphatidylcholine has not been approved for cosmetic purposes in Brazil, the drug has been widely used. Its cosmetic use was spread out from medical clinics to gyms and beauty parlors. Th is shows that researches aiming at increasing knowledge about phosphatidylcholine use for cosmetic purposes should be carried out urgently. Th erefore, in this revision some aspects referring to exercise and phosphatidylchilne action to control adiposity will be pointed out, as well as its role in localized fat treatment. Animal model studies are also shown.Key-words: exercise, phosohatidylcholine, fat deposits, adiposity.

Autor para correspondência: José Diego Botezelli, Rua Albert Einstein, 398, Jd. Universitário, 13607-331 Araras SP, Tel: (19) 3523-8361, E-mail: [email protected], [email protected], [email protected]

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Introdução

Um problema associado ao excesso de ganho de peso é o acúmulo excessivo de gordura localizada. O procedimento atualmente mais usado para a remoção desses depósitos de gordura é a lipoaspiração [1]. Além do exercício e dos pro-cessos cirúrgicos, diversas outras técnicas de tratamento vêm sendo utilizadas no combate aos depósitos localizados de gordura, incluindo alguns medicamentos. Um desses fármacos utilizados, em associação ou não ao exercício físico, é a fosfa-tidilcolina [2]. Todavia, a discussão das ações deste fármaco no organismo é escassa, sendo tema de grande interesse para a comunidade científi ca.

O exercício físico tem sido amplamente empregado, isoladamente ou em associação com dietaterapia, na redução da adiposidade corporal. Embora a utilização do treinamento aeróbio seja a mais difundida, o treinamento intervalado, segundo alguns autores, também pode produzir excelentes re-sultados, principalmente em programas de redução ponderal, uma vez que parece induzir maiores adaptações metabólicas e ser facilmente sustentado por tempos prolongados com elevada intensidade de esforço [3]. A combinação de fosfatidil-colina e exercício físico tem demonstrado ser positiva, onde o fármaco pode melhorar o desempenho aeróbio, fundamental no tratamento de emagrecimento somado à dieta [4].

Fosfatidilcolina

A fosfatidilcolina é um fosfolipídio emulsifi cante que pos-sui ação detergente e diminui a tensão superfi cial, formando partículas menores de gordura na forma de triglicerídeos [5]. Isso causa alteração na forma do adipócito, o que pode explicar a redução de medidas nos locais onde a fosfatidilco-lina foi aplicada.

Na atualidade já foram iniciadas investigações científi -cas, no sentido de desvendar o provável mecanismo de ação lipolítica da fosfatidilcolina nos adipócitos de animais e de humanos. Uma das hipóteses a ser considerada, é a de que a fosfatidilcolina penetra no adipócito graças a seu caráter anfi pático. No citoplasma, a hidrólise da fosfatidilcolina pela fosfolipase D gera o ácido fosfatídico, que levaria a ativação da proteinaquinase C (PKC). Esta última ativaria a translocação da lípase sensível ao hormônio (LSH), desde o citoplasma do adipócito até o vacúolo que contém os triglicerídeos. Assim, o LSH hidrolisaria os triglicerídeos em ácido graxos e glicerol, que seriam posteriormente utilizados em outras vias metabólicas e eliminados em pequenas quantidades pelo aparelho urinário [6].

Outra hipótese a ser estudada, sugere a ativação de receptores específi cos de membrana e a destruição de adi-pócitos. Essa última seria desencadeada pela ativação da via infl amatória [fosfolipase D e o fator de necrose tumoral alfa, (TNF-α)], ou por uma ação irritante da fosfatidilcolina nos adipócitos [6].

Os estudos sobre os efeitos medicinais da fosfatidilco-lina são voltados principalmente para as doenças coroná-rias e pulmonares, mas há evidências de efeitos positivos também no fígado e cérebro. Nas doenças hepáticas, a fosfatidilcolina foi usada em casos de ingestão abusiva de álcool, existem relatos de sucesso no tratamento tanto por via oral quanto intravenosa [7,8], e na recuperação hepática após danos causados por vírus, como o da hepatite [10].No cérebro, este fosfolipídio é fornecedor da colina, essencial na formação da acetilcolina, um importante neurotransmissor. Nesta área, destaca-se o estudo de Chung et al. [10], que o uso de fosfatidilcolina melhorou a memória de animais.

A fosfatidilcolina também foi utilizada com sucesso em estudos no tratamento do diabetes [11,12].

A colina é, ainda, necessária ao metabolismo de gordura, sendo que a ingestão de fosfatidilcolina mostrou-se efi ciente no tratamento de doenças cardiovasculares e redução das concentrações séricas de colesterol. Essas reduções devem-se à destruição de placas ateromatosas que circulam na corrente sanguínea e causam o entupimento e, conseqüentemente, um aumento da pressão arterial. A fosfatidilcolina aumenta a solubilidade do colesterol atuando como agente emulsio-nante e inibindo a formação de placas na parede dos vasos sanguíneos [13,15]. Contudo, há controvérsias em relação a estes resultados.

Em relação ao acúmulo tecidual de gordura, existe o relato de um estudo feito em animais por Takahashi e colaboradores [16], em que a defi ciência de fosfatidilcolina foi relacionada a distúrbios na liberação de lipídeos pelas células. Neste estudo, ratos recebiam dietas ricas ou pobres em colina durante duas semanas. Quando a quantidade de colina era baixa, havia distúrbios na liberação de gordura das células do intestino para o sistema linfático. A suplementação oral de fosfatidilcolina rapidamente corrigiu esta disfunção, confi rmando a colina como um fator extremamente importante na absorção de gorduras através da membrana celular.

Fosfatidilcolina e depósitos localizados de gor-dura

Um grande problema do ganho excessivo de peso é o aparecimento da gordura localizada. Este tipo de gordura geralmente surge após perda de peso brusca ou surge natural-mente mesmo em pessoas magras. Ela é de difícil remoção e mesmo com dietas e exercícios físicos freqüentes, os resultados para a sua perda são pequenos.

Para a redução dos depósitos localizados de gordura, foram sugeridos diversos tipos de exercícios, entre eles a ginástica localizada e o lift. Essas duas modalidades visam reduzir o excesso de tecido adiposo localizado na região onde a mus-culatura é recrutada durante a atividade. Contudo, estudos recentes mostraram que, mesmo nesse tipo de atividade, a gordura mobilizada é retirada de todas as partes do corpo e não somente das regiões mais próximas a musculatura que

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realiza a atividade. Por outro lado, mesmo não reduzindo exclusivamente os depósitos localizados de gordura, esse tipo de atividade pode ajudar a diminuir a adiposidade em diversas partes do corpo, além de fortalecer a musculatura ativada, e não pode ser descartada como alternativa no combate aos depósitos localizados de gordura.

Um dos processos efi cazes mais utilizados para o tratamen-to de pequenos e moderados depósitos de gordura é a lipo-aspiração [1]. Esse método, porém, além de caro é arriscado, pois envolve um procedimento cirúrgico. Em anos recentes, outro procedimento, a aplicação tópica de fosfatidilcolina, vem sendo empregado com o mesmo propósito. O uso cosmé-tico da fosfatidilcolina tem origem na década de 80 na Itália [17]. No Brasil, o uso da fosfatidilcolina para fi ns estéticos teve inicio no fi nal da década de 90 [2]. Os tratamentos à base desse fármaco têm sido anunciados como Lipodissolve, Lipoterapia, Lipolyse, Injeção de Massa Magra, entre outras denominações [1,18-20].

Como efeitos colaterais da fosfatidilcolina foram relata-dos dor local passageira, eczema, urticária transitória e graus variados de edema. O eczema e a maior parte dos edemas desaparecem em 2 dias. Podem ocorrer, também, sensibilidade localizada e edemas leves por semanas, equimoses e, mais raramente, hematomas [1,18].

Os efeitos sistêmicos da aplicação subcutânea de fosfatidilcoli-na em seres humanos ainda não foram adequadamente avaliados. Hexsel et al. [20] relataram alterações hepáticas e renais em 13 pacientes durante duas semanas subsequentes a dois tratamentos com injeções subcutâneas de fosfatidilcolina. Náusea e dores abdominais também foram apontados como efeitos colaterais de aplicações subcutâneas de fosfatidilcolina [18].

Embora a forma injetável de fosfatidilcolina não tenha sido aprovada para fi ns cosméticos no Brasil, existem evidências clínicas de sua efi cácia no tratamento da gordura localizada [1,20]. O medicamento tem sido amplamente utilizado no Brasil em diversas condições clínicas onde existem depósitos de gordura em tecidos subcutâneos [20].

Receosa quanto ao emprego da fosfatidilcolina no trata-mento de depósitos localizados de gordura, a Agencia Na-cional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que regulamenta o uso dos medicamentos no Brasil, publicou uma resolução, em 9 de janeiro de 2003, proibindo o uso cosmético em nível nacional da forma comercial do produto Lipostabil (Aventis Pharma). Contudo, a forma manipulada do medicamento não possui nenhum tipo de regulamentação, fato que aumentou a procura pela fosfatidilcolina na forma manipulada. Recen-temente o uso cosmético da fosfatidilcolina espalhou-se além das clínicas médicas, chegando até as academias e os salões de beleza.

Estudos experimentais

Do exposto anteriormente, conclui-se a urgência da realização de pesquisas visando ampliar os conhecimentos

sobre os efeitos da aplicação da fosfatidilcolina com objetivos cosméticos. Como existem limitações nas pesquisas com seres humanos, torna-se interessante o desenvolvimento de modelos experimentais adequados ao estudo desta questão.

Em um estudo recente, utilizando ratos tratados com fosfatidil colina, via subcutânea por 5 semanas, constatou-se redução da massa gorda e do peso total, sem a observação de efeitos tóxicos [21].

Em nossos laboratórios, estão em andamento pesquisas que visam analisar os aspectos da fosfatidilcolina, associada ou não ao exercício, sobre a gordura subcutânea e o teor de lipídios de diferentes órgãos, como o fígado, músculo esquelé-tico e sangue, além das concentrações hepáticas e musculares de glicogênio em modelo experimental usando ratos. Os resultados preliminares mostram que as concentrações de glicogênio foram reduzidas no fígado dos ratos tratados com fosfatidilcolina, injetada via subcutânea, e exercitados por natação durante quatro semanas e foram inferiores àquelas mostradas por animais controles, não submetidos a nenhum procedimento experimental assim como àquelas apresentadas por animais submetidos apenas ao protocolo de treinamento de natação. Não foram constatadas quaisquer diferenças es-tatísiticas entre os grupos nos demais parâmetros availados. Tais resultados preliminares sugerem que a aplicação tópica do medicamento pode exercer efeitos sistêmicos. Outras análises são necessárias para confi rmação dessa hipótese [22].

Conclusão

Embora os procedimentos mais adequados para o controle da adiposidade sejam dieta de restrição calórica e/ou prática regular de exercícios físicos, outros procedimentos, como cirurgias e medicamentos são freqüentemente empregados com a mesma fi nalidade. Um problema associado ao excesso de ganho de peso é a gordura localizada. O procedimento mais usado para a diminuição desses depósitos é a lipoaspi-ração. Contudo, outras técnicas como a aplicação tópica da fosfatidilcolina vêm sendo utilizadas.

Apesar de a forma injetável da substância tenha sido proibida pela Anvisa para fi ns cosméticos, ela está sendo amplamente utilizada no país. Daí a necessidade de ampliar o número de investigações sobre os efeitos sistêmicos da aplicação da fosfatidilcolona e estabelecer modelos animais apropriados para este tipo de estudo.

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Revisão

A importância do teste de caminhada de seis minutos em pacientes com insuficiência cardíaca

The importance of six-minute walk test in patients with heart failure

Nivia Schmidt de Souza, Ft.*, Kellen Marcela Santos, Ft.*, Letícia Alckmin Morgado*, Elaine Cristina Martinez Teodoro, Ft., M.Sc.**

*Faculdade de Pindamonhangaba (FAPI), Pindamonhangaba, SP, **Especialista em Fisiologia do Exercício (UNIFESP/EPM), Doutoranda em Engenharia Mecânica, Departamento de Mecânica - Universidade Estadual Paulista (UNESP) Guaratinguetá – SP

ResumoA Insufi ciência Cardíaca (IC) caracteriza-se por ser uma sín-

drome clínica complexa, que pode resultar de várias anormalidades estruturais e funcionais do coração, envolvendo múltiplos sistemas e mecanismos compensatórios neuro-humorais. O Teste de Cami-nhada de Seis Minutos (TC6M) é um teste prático que avalia de maneira simples a distância máxima que o paciente pode andar, em seu próprio ritmo, por seis minutos. Ele avalia a capacidade funcional e o prognóstico de pacientes com IC. A avaliação da capacidade funcional é necessária para que se prescrevam exercícios para pa-cientes com IC de forma adequada e também para avaliar a efi cácia da terapêutica utilizada. Este trabalho tem como objetivo avaliar a importância do TC6M na avaliação da capacidade funcional e no prognóstico de pacientes com IC. Conclui-se que o TC6M é uma medida útil para avaliação da capacidade funcional e prognóstico de pacientes com IC.Palavras-chave: insuficiência cardíaca, teste de caminhada de seis minutos, teste de esforço.

AbstractHeart failure (HR) is a complex clinical syndrome that may

result from many structural and functional abnormalities of the heart, involving multiple systems and neurohumoral compensatory mechanisms. Th e Six-Minute Walk Test (6MWT) is a simple, prac-tical test that measures the maximal distance a patient can travel at his/her own pace in six minutes. It assesses the functional capacity and prognosis of patients with HF. Th e assessment of functional capacity is necessary for the adequate prescription of exercise to such patients and for assessing the effi cacy of the treatment employed. Th e aim of the present study was to analyze the importance of the 6MWT in the assessment of functional capacity and prognosis of patients with HF. Th e 6MWT was concluded to be a useful measure for the assessment of functional capacity and prognosis of patients with HF, as it is a sub-maximal exercise test that imposes a lower cardiovascular load. Key-words: heart failure, six-minute walk test, exercise test.

Endereço para correspondência: Elaine Cristina Martinez Teodoro, Avenida Osvaldo Aranha, 1961, Vila Zélia,12600-000 Lorena SP, Tel: (12) 3152-8023, E-mail: [email protected]

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Introdução

A Insufi ciência Cardíaca (IC) é defi nida como a inca-pacidade do coração em manter as demandas teciduais por anormalidades na função ventricular e na regulação neuro-humoral, resultando em sintomas como fadiga, dispnéia e conseqüente intolerância ao esforço físico [1].

Aproximadamente 23 milhões de pessoas da população mundial são portadoras de IC. No Brasil, estima-se que cerca de 6,4 milhões de brasileiros sofram de IC, a qual representa a terceira causa de mortalidade em diferentes grupos de doenças cardiovasculares [1-3].

A IC resulta de anormalidades cardíacas intrínsecas e ex-trínsecas, onde vários mecanismos celulares estão envolvidos. Independente da causa inicial da lesão ao coração, este vai sofrer uma série de eventos que levarão fi nalmente a mudanças profundas na sua geometria e efi ciência mecânica [4].

O Teste de Caminhada de Seis Minutos (TC6M) é o mais utilizado no mundo para avaliação do esforço submáximo e é uma forma prática de avaliar a capacidade física em indivíduos com limitação funcional, como por exemplo, em pacientes com IC. Este teste ganhou grande importância tanto na prá-tica clínica quanto em pesquisas nos últimos anos, além de ser um método de custo reduzido. Os TC6M são administrados em programas de reabilitação cardiopulmonar com intuito de avaliar a capacidade física, monitorar a efetividade do trata-mento e estabelecer o prognóstico dos pacientes [5,6].

Foi sugerido que o tipo de esforço durante o TC6M assemelha-se à atividade diária, possibilitando ao paciente determinar o ritmo da caminhada tolerada, o que é uma vantagem adicional para aquele mais limitado fi sicamente e que certamente não toleraria o teste de esforço máximo, porém o TC6M não substitui o teste de esforço, entretanto, a intensidade da caminhada durante os seis minutos pode ser infl uenciada pelo incentivo verbal [7,8].

Portanto, este estudo tem como objetivo analisar a im-portância do TC6M na avaliação da capacidade funcional e no prognóstico de pacientes com IC.

Insuficiência cardíaca

A Insufi ciência Cardíaca (IC) caracteriza-se por ser uma síndrome clínica complexa, que pode resultar de várias anor-malidades estruturais e funcionais do coração, envolvendo múltiplos sistemas e mecanismos compensatórios neuro-humorais [9,10]. Este processo é progressivo e ao surgir disfunção ventricular, vários mecanismos compensatórios serão ativados e irão contribuir para continuada progressão do processo lesivo [4].

A IC pode ser considerada como o último estágio das doenças do coração. A limitada tolerância ao esforço é freqüen-temente a primeira e mais importante característica clínica da doença, que refl ete a redução na função cardíaca e alterações nos refl exos, metabolismo, vascular e função muscular [11].

A insufi ciência cardíaca é a doença cardiovascular mais prevalente na prática clínica e carreia altos índices de morbi-dade e mortalidade, sendo um problema cada vez maior em saúde pública. No Brasil, segundo o Sistema de Informações Hospitalares (SIH) do Sistema Único de Saúde (SUS), a IC foi a principal causa de internações entre as enfermidades do aparelho cardiovascular, com 418.620 mil casos em 2001 [12,13].

A idade avançada, independentemente de sexo ou raça, está relacionada ao seu pior prognóstico. O envelhecimento da população e a queda da mortalidade por outras doenças cardiovasculares que levam à insufi ciência cardíaca congestiva têm resultado no aumento da ocorrência dessa afecção e a perspectiva é de que esses números continuem a aumentar no Brasil e no mundo [14,15].

Etiologia

As causas mais comuns da IC na prática clínica são a re-dução da contratilidade miocárdica, freqüentemente associada à cardiopatia isquêmica, miocardiopatia dilatada idiopática, diabética, hipertensiva, valvar, inflamatória/infecciosa e doença de Chagas. Também são causas de IC as condições nas quais o coração é submetido à sobrecarga hemodinâmica (sobrecarga de volume ou de pressão), distúrbios de freqü-ência cardíaca ou condições que interfi ram no enchimento ventricular [16,17].

“É uma síndrome que pode ser causada por qualquer do-ença que afete o coração, podendo mais de um fator etiológico estar presente em um mesmo paciente, como por exemplo, a doença arterial coronária e a hipertensão arterial” [18].

Classificação

A IC pode ser classifi cada de diversas formas. A classifi ca-ção mais amplamente utilizada é a que obedece aos critérios da New York Heart Association (NYHA), utilizada desde 1964, segundo a qual o paciente pode ser classifi cado dentro de quatro classes, tais como: Classe I: assintomático nas ativi-dades usuais, classe II: assintomático em repouso e sintomas desencadeados por esforços habituais, classe III: assintomático em repouso, sintomas presentes em esforços menores que os usuais, e classe IV: sintomas (fadiga, palpitações e dispnéia) em repouso ou decorrentes de mínimos esforços [1].

Outra forma de classifi car os pacientes com IC seria no estadiamento da doença, em relação ao acometimento es-trutural do coração e o grau de manifestação clínica prévia, dividindo os pacientes em quatro estágios, sendo:

Estágio A: pacientes sem anormalidades ventriculares e risco de desenvolver IC em virtude de condições comórbidas que são fortemente associadas com o desencadeamento da IC, tais como: hipertensão, coronariopatias e diabetes.

Estágio B: pacientes que desenvolveram a doença cardíaca estrutural, a qual está fortemente associada com o desenvol-

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vimento da IC, mas não apresentam sintomas de IC. Por exemplo: hipertrofi a ventricular esquerda, doença valvar cardíaca assintomática com dilatação ventricular e Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) prévio.

Estágio C: pacientes que apresentam IC assintomática prévia ou atual, associada com doença estrutural cardíaca.

Estágio D: pacientes com nítidos sintomas de IC em repouso, apesar de máxima terapia farmacológica e que neces-sitam de intervenções especializadas. Por exemplo: pacientes que não podem ter alta hospitalar, recorrência de hospitali-zação, pacientes com suporte inotrópico contínuo para alívio sintomático ou em assistência circulatória [16].

Fisiopatologia

A Insufi ciência cardíaca é uma condição em que ocorre um dano funcional e estrutural difuso da miofi brila (necrose, apoptose, isquemia ou infl amação) ou uma sobrecarga hemo-dinâmica excessiva, que provoca uma diminuição da força contrátil do coração (fração de ejeção) e conseqüentemente aumento nos volumes ventriculares com ou sem diminuição do gasto cardíaco [19].

As manifestações periféricas da doença como a disfunção endotelial, alterações musculares esqueléticas, anormalidades de fl uxo sanguíneo e do controle quimiorefl exo ventilatório são os maiores determinantes dos sintomas que geram a in-tolerância ao esforço [20].

Na IC a redução do débito cardíaco é o sinal inicial para que vários mecanismos compensatórios sejam recrutados com a fi nalidade de manter a perfusão dos órgãos-alvo. Frente a uma doença cardíaca, mecanismos compensatórios são de-sencadeados, independente do agente causal, para sustentar a perfusão de órgãos vitais e estabilizar o desempenho do coração [18,20].

Esses mecanismos – sistema renina-angiotensina-aldoste-rona, sistema nervoso simpático e remodelamento ventricu-lar – são mudanças anatômicas, funcionais e humorais que tentam normalizar o gasto cardíaco frente a uma diminuição patológica da função sistólica (fração de ejeção). Diante dis-so, muitos pacientes podem permanecer assintomáticos por períodos de tempos variados [1,19,16].

O sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA) em condições normais tem um importante papel na manutenção da homeostase de sal e água, e, portanto, controle da pressão arterial e a perfusão arterial. Na IC ocorre aumento da pro-dução de renina pelo aparelho justaglomerular renal através de duas vias principais: estimulação dos adreno receptores-β1 do aparelho justaglomerular, secundário ao aumento da atividade simpática, e ativação dos baroreceptores renais pela queda da pressão hidrostática no glomérulo e arteríola aferente [16].

A renina atua sobre o angiotensinogêneo convertendo em angiotensina I, que é convertido em angiotensina II pela enzima de conversão da angiotensina (ECA) [16].

A angiotensina II é um dos mais potentes vasoconstritores e peptídeos mitogênicos produzidos sistêmica e localmente no coração, pulmões, rins e endotélio. A IC é caracterizada por concentrações teciduais e circulantes elevadas de angio-tensina II, um vasoconstritor que aumenta a pós-carga e causa hipertrofi a de miócitos, apoptose, fi brose intersticial, remodelamento cardíaco e vascular, e também aumenta a liberação de catecolaminas [18,21].

Sinais e sintomas

Os sinais e sintomas da insufi ciência cardíaca podem ser parcialmente explicados pelo conjunto de mecanismos com-pensatórios utilizados pelo organismo para corrigir a redução do débito cardíaco [22].

Pacientes com IC, freqüentemente são limitados pela dispnéia e fadiga durante o exercício, os quais constituem os principais sintomas clínicos da doença mesmo quando assintomáticos em repouso. Porém, quando comparados a indivíduos normais, apresentam baixa tolerância ao exercício físico, acentuada resposta metabólica e respiratória para a mesma intensidade de trabalho. Essa intolerância induz os pacientes a interromperem o esforço físico precocemente, contribuindo para a diminuição das atividades cotidianas, pelo círculo vicioso de inatividade, piora da capacidade física e redução da qualidade de vida. Esses sintomas são decorrentes de complexa resposta fi siopatológica à disfunção ventricular e da conseqüente diminuição da oferta de oxigênio aos tecidos [23,10].

Os distúrbios respiratórios são freqüentes nos pacientes com IC, que, entretanto, por estarem dormindo, na maioria das vezes não os percebem. As manifestações mais comuns são a síndrome da apnéia do sono e os distúrbios periódicos ou oscilatórios da respiração, que acontecem no período de vigília e também durante o sono [22].

Teste de caminhada de seis minutos

O Teste de Caminhada de Seis Minutos (TC6M) é um teste prático que mede de maneira simples a distância má-xima que o paciente pode andar, em seu próprio ritmo, por seis minutos. Ele apresenta-se como uma opção de baixo custo e de boa tolerância, possibilita ao paciente determinar a velocidade e a necessidade de realizar pausas, além de ser preditor de sobrevida em pacientes com insufi ciência cardíaca [24,25,8].

O TC6M foi inicialmente utilizado para avaliar pacientes com doenças respiratórias crônicas, tais como Doença Pulmo-nar Obstrutiva Crônica (DPOC) e insufi ciência respiratória. O teste atraiu a atenção dos cardiologistas porque ele é fácil de realizar e interpretar [26].

Seus objetivos incluem: avaliar a capacidade para prática de esportes e outras atividades, o estado funcional do sistema cardiovascular e/ou respiratório, programas de prevenção,

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terapêuticos e de reabilitação e predizer morbidade e morta-lidade em candidatos a transplantes cardíacos [6].

Indicações e contra-indicações

As indicações para a realização do TC6M são: comparação entre o pré e pós-tratamento de situações como: transplante pulmonar, ressecção pulmonar, cirurgia de redução do volume do pulmão, reabilitação pulmonar, DPOC, hipertensão pul-monar e insufi ciência cardíaca; categoria funcional (somente para pacientes usuários de única medição): DPOC, fi brose cística, insufi ciência cardíaca, doença vascular periférica, fi bromialgia, pacientes idosos; e preditor de morbidade e mortalidade: insufi ciência cardíaca, DPOC e hipertensão pulmonar primária [27].

As contra-indicações absolutas para o TC6M incluem as seguintes: presença de angina instável há um mês e infarto agu-do do miocárdio precedendo um mês. As contra-indicações relativas incluem: freqüência cardíaca de repouso acima de 120 bpm, pressão arterial sistólica maior que 180 mmHg, e pressão arterial diastólica maior que 100 mmHg [27].

Execução do teste

O TC6M deve ser realizado em um corredor reto, plano, de preferência com 30 metros de comprimento, em ambiente fechado, com uma cadeira disposta em cada extremidade da reta demarcada. No entanto, ele pode ser feito em uma esteira rolante, como alternativa em situações em que um corredor não está disponível, porém os valores obtidos não serão fi de-dignos. O TC6M é um exame limitado por tempo e que pode ser realizado a qualquer hora do dia [27,1,24,28].

Os pacientes devem ser instruídos a caminhar o mais rá-pido possível, sem correr, porém no ritmo máximo tolerado. A cada trinta segundos o avaliador dirá uma frase de reforço como “você esta indo bem” ou “mantenha este ritmo“. Se eles se sentirem cansados, deverão interromper a caminhada por alguns instantes, a fi m de que descansem e continuem tão logo se sintam capazes para isso [1].

Durante o teste o paciente deve usar roupas confortáveis, calçados apropriados para caminhada, deve ter realizado uma alimentação leve previamente, não deve ter se exercitado vi-gorosamente duas horas antes do início do teste e caminhar sozinho para não haver alteração dos seus passos, pois estudos mostram que pacientes que caminham em grupo apresentam aumento da distância percorrida em seis minutos e caminham em ritmo de competição, o que altera os resultados do teste [28].

Apesar de não ser preconizado pela American Th oracic Society Statement, o teste pode ser realizado com acompanha-mento do fi sioterapeuta ao lado do paciente, impondo o ritmo da caminhada e oferecendo estímulo verbal, pois essas atitudes contribuem para a melhora no seu desempenho [25].

Todos os pacientes devem ser monitorados com freqüen-

címetro de pulso. A freqüência cardíaca deve ser anotada no repouso, segundo, quarto e sexto minutos e após dois minutos do término do teste. É fundamental aferir a pressão arterial em repouso, no fi nal e dois minutos após o término do teste. Ao fi nal do mesmo, os pacientes devem relatar o cansaço subjetivo pela escala de Borg e anotar-se-á a metragem total percorrida nos seis minutos [1].

A distância da caminhada é dividida em quatro níveis: Nível I para os que caminharem uma distância menor do que 300 metros, Nível II, entre 300 e 375 metros, Nível III entre 375 e 450 metros e Nível IV distância maior do que 450 metros [29].

Um estudo mostrou que a mortalidade diminui à medida que a distância percorrida aumenta. Distâncias maiores do que 450 metros indicam bom prognóstico e entre 150 a 300 metros caracterizam pior prognóstico [29,30].

Importância da execução do TC6M em pacientes com IC

O impacto econômico que a Insufi ciência Cardíaca (IC) ocasiona para a sociedade tem motivado o interesse considerável dos programas de gerenciamento na IC em identifi car intervenções que sejam efi cazes sob o ponto de vista clínico e econômico. Portanto, o desenvolvimento de métodos simples, que não exijam equipamento especial de alto custo, é de grande importância na avaliação destes pacientes [31].

A avaliação da capacidade funcional é necessária para que se prescrevam exercícios para pacientes com IC de forma ade-quada e também para avaliar a efi cácia da terapêutica utilizada. Isso pode ser conseguido com a aplicação do TC6M, uma vez que o mesmo refl ete a análise de aspectos metabólicos do miocárdio e o grau de resposta isquêmica ao esforço a que está sendo submetido [28].

O TC6M propõe ser um exame submáximo que pode reproduzir atividades físicas diárias dos pacientes e avaliar o prognóstico de pacientes com IC [11].

Os centros para controle e prevenção de doenças reconhe-cem como atividades submáximas aquelas com intensidades de 3 a 6 METS, os quais correspondem a uma intensidade moderada para a maioria dos jovens e adultos de meia idade. Para certifi car-se de que todos os pacientes se submetem ao teste submáximo, uma cuidadosa padronização foi proposta utilizando a escala de Borg, (Anexo A), na qual o nível de intensidade submáximo é defi nido entre fácil e ligeiramente cansativo, o qual se encontra entre os valores 11 e 13 na escala [11].

Método

Trata-se de uma revisão bibliográfi ca constituída por artigos científi cos que utilizou os seguintes bancos de dados: Bireme, Pubmed e Comut da Faculdade de Engenharia de

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Guaratinguetá, FEG – UNESP. As bases de dados consultadas foram Medline, Scielo e Lilacs.

Foi realizado um levantamento bibliográfi co utilizando as seguintes palavras-chave: insufi ciência cardíaca, teste de caminhada de seis minutos, teste submáximo, six-minute walk test, heart failure, sub-maximal test.

Foram selecionados apenas artigos publicados nos idiomas inglês, espanhol e português, com ano de publicação com-preendido entre 1996 a 2008.

Resultados e discussão

Vários e diferentes estudos têm investigado se a distância percorrida durante o teste de caminhada é um indicador de prognóstico em pacientes com IC crônica. A redução dos níveis da capacidade funcional demonstrada por uma distância percorrida < 300 m durante o TC6M foi provado ser um preditor de mortalidade e morbidade, tanto em pacientes com disfunção sistólica ventricular esquerda assintomática como em pacientes com IC leve, moderada e avançada [26].

No estudo de Rubim et al. [13] com 179 pacientes por-tadores de IC nas classes II e III da NYHA, o objetivo foi avaliar a utilidade do teste como indicador prognóstico e sua contribuição na prática clínica desses pacientes, e verifi cou-se que a média da distância percorrida durante o teste dos pacientes que foram a óbito foi de 480 m e os pacientes que não foram a óbito foi de 540 m, sendo assim observou-se que a distância percorrida no TC6M foi um forte marcador prognóstico para mortalidade nos portadores de IC, o que condiz com o estudo realizado por Rostagno et al. [32] cujos resultados sugeriram que a distância percorrida durante o TC6M parece ser um preditor independente da sobrevida em pacientes com insufi ciência cardíaca de leve a moderada, e a mortalidade foi signifi cativamente maior no grupo de pacien-tes que percorreram menos de 300 m durante o teste.

Outro trabalho realizado foi o de Lawrence et al. [33], que em seus estudos com 45 indivíduos (40 homens e 5 mulheres) com idade média de 49 anos, relacionou o VO2 pico e a distância percorrida no teste de caminhada de seis minutos em pacientes com insufi ciência cardíaca avançada submetidos a avaliação para transplante cardíaco, e identifi ca-ram que a distância percorrida no TC6M é um forte preditor do VO2 pico e que distâncias menores que 300 m previram um aumento da probabilidade de morte ou internação para transplante cardíaco no prazo de 6 meses, mas não previram a longo prazo a sobrevida de eventos cardíacos.

Segundo Faggiano et al. [26], a distância percorrida duran-te o TC6M tende a aumentar quando o mesmo é repetido após um curto período de tempo, porém parece permanecer estável a partir do segundo e terceiro teste em diante, concordando com Refsgaard [34] onde foi demonstrado que pacientes com ICC foram capazes de percorrer uma distância estável no teste de caminhada de seis minutos após a primeira realização do teste, ou seja, à distância percorrida no segundo teste de ca-

minhada foi maior que a distância do primeiro, condizendo também com os estudos de Rubim [13] e Wu, Sanderson, Bittner [35] nos quais foi observado que a média da distância percorrida no pré-TC6M realizado na véspera dos pacientes executarem exames mostrou ser signifi cativamente menor do que a média da distância do TC6M propriamente dito.

Segundo Guimarães et al. [8] e Faggiano [26], o incentivo dado durante o teste tem grande efeito, pois a motivação durante o exercício pode determinar um melhor desempenho físico, como o aumento da distância percorrida, da freqüência cardíaca e maior consumo de oxigênio, o que condiz com o American Th oracic Society [27], o qual relata que o incentivo aumenta signifi cativamente a distância percorrida. Porém, segundo Refsgaard [34], o encorajamento realizado durante o teste contribui para que o paciente com IC seja capaz de caminhar signifi cativamente mais, no entanto, as variações das instruções e do próprio encorajamento durante o teste podem contribuir para diferentes resultados, afi rmando ainda que o TC6M deveria ser realizado com boas instruções e sem o encorajamento do paciente, pois este é um teste de caminhada, não uma conversa, e se isto for seguido, o TC6M fornecerá informações suplementares válidas, dos efeitos do tratamento e do estado físico do paciente.

No estudo realizado por Ingle et al. [36], com uma população inicial de 1.592 participantes de 70 a 82 anos, pertencentes a classe funcional de IC de I-IV da NYHA, que apresentavam sinais clínicos de dispnéia, foi observado que os pacientes que percorreram mais de 360 m tiveram maior sobrevida em relação aos que caminharam 240 m, pois neste segundo grupo, os pacientes (212) foram a óbito. Este fato pode estar relacionado à idade avançada dos pacientes, sendo a média de 76 anos e a maior intensidade dos sintomas ao repouso, concordando com o estudo realizado por Rubim [13], em que foi observado que a maior probabilidade de óbito esteve relacionada à menor distância percorrida no TC6M e a idade mais avançada, o que também se assemelha com o estudo de Pires et al. [6] realizado com 122 indivíduos saudá-veis, separados em três grupos (grupo 1: 20-40 anos; grupo 2: 40-60 anos e grupo 3: > 60 anos), no qual constatou-se que quanto maior a idade, menor foi a distância percorrida. Este fato pôde ser observado tanto em pacientes saudáveis, como em pacientes com disfunção cardíaca.

De acordo com Faggiano [26], o TC6M pela sua sim-plicidade de realização, seu tempo de execução (6 minutos) e aceitação (sintoma-limitado), tem mostrado ser um teste submáximo, porém em relação ao consumo de oxigênio (VO2) o teste se assemelha ao esforço máximo e isso pode ser observado nos pacientes que apresentam quadros mais severos de IC, o que se confi rma no estudo de Guimarães et al. [8] que demonstra que o TC6M, quando aplicado na sua forma original, alcança níveis de esforço relativamente altos, sugerindo que os determinantes da capacidade de exercício submáximo e máximo neste grupo de pacientes, podem não diferir.

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Araújo et al. [25] em seus estudos compararam os re-sultados do TC6M realizado com estímulo verbal e com acompanhamento de um fi sioterapeuta ao lado do paciente; com a realização do TC6M somente com o estímulo verbal. Em 30 pacientes separados em 2 grupos (grupo1: 14 porta-dores de doença cardíaca; grupo 2: 16 sem doença cardíaca), sendo observado que o teste sem acompanhamento atingiu um nível de esforço submáximo e no teste com acompa-nhamento a freqüência cardíaca atingida se assemelhou ao esforço máximo em ambos os grupos, sugerindo que quando o objetivo for avaliar a capacidade física, o acompanhamento estimula um maior desempenho cardiovascular mais próximo do máximo.

Segundo Santos e Brofman [37], no estudo com 30 pacien-tes portadores de insufi ciência cardíaca, a qualidade de vida foi relacionada com a distância percorrida no TC6M e com a classe funcional de IC segundo a NYHA, e foi constatado que há uma importante correlação entre estas variáveis, sendo que quanto maior à distância percorrida no teste, melhor é a qualidade de vida e quanto maior a classifi cação segundo a NYHA, menor é a qualidade de vida desses pacientes.

Por outro lado, Opasich et al. [38] afi rmam que em pa-cientes com IC de moderada a grave, a distância percorrida no teste de caminhada de seis minutos não se relaciona com a função cardíaca e apresenta uma pequena relação com a capacidade de exercício, ou seja, não fornece informações prognósticas que complementam ou substituem as informa-ções obtidas pelo VO2 pico ou a classe NYHA, desse modo, nessa população de pacientes o teste apresenta uma limitada utilidade com indicador decisório na prática clínica.

Opasich et al. [39] aplicaram o teste de caminhada de seis minutos em 2.555 pacientes, com idade média de 70 anos, pós-cirurgia cardíaca admitidos no Departamento de Reabi-litação Cardíaca Salvatore Maugeri Fundation e compararam a média da distância percorrida no TC6M com as variáveis idade, sexo, presença de comorbidades e Fração de Ejeção do Ventrículo Esquerdo (FEVE), onde se observou que a distân-cia percorrida em seis minutos foi signifi cativamente associada ao sexo, idade e presença de pelo menos uma comorbidade. A FEVE teve fraca associação com teste, porém teve signi-fi cativa correlação com a distância percorrida por homens. Pôde-se observar também, que os homens caminharam mais que as mulheres e que a presença de uma ou mais condições comórbidas, afetou negativamente o desempenho no teste, independente do sexo e idade.

Segundo a declaração da American Th oracic Society [27], o TC6M avalia de forma global e integrada a resposta de todos os sistemas envolvidos durante o exercício e os pacientes seve-ramente prejudicados não impõem ritmo máximo durante o teste, uma vez que escolhem sua própria intensidade e estão autorizados a parar e descansar quando necessário. Porém, a maioria das atividades de vida diária é realizada abaixo dos níveis de esforço máximo, desta forma, pode-se dizer que o teste de caminhada de seis minutos refl ete melhor o nível

funcional e se assemelha com o esforço realizado nas atividades físicas diárias.

Conclusão

Conclui-se que o TC6M é uma ferramenta útil, simples, de baixo custo e de fácil realização para avaliação da capacidade funcional e prognóstico de pacientes com IC, pois de acordo com a distância percorrida pode-se determinar o real estado físico do paciente.

Com relação as suas perspectivas de atuação, por tratar-se de um teste submáximo ele impõe uma menor sobrecarga cardiovascular, sendo mais seguro e melhor tolerado pelo paciente, possibilitando-o determinar o ritmo da caminhada tolerada, o que é uma vantagem para aqueles mais limitados fi sicamente e que certamente não tolerariam um teste de esforço máximo.

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Normas de publicação Fisiologia do Exercício

A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científi cos das áreas relacionadas à atividade física. Os artigos publicados na Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições.A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “estilo Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especifi cações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em pdf ).Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/e-mail) para nossa redação, sendo que fi ca entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que será notifi cado ao autor.O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modifi cações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científi co, limitando-se unicamente ao estilo literário.

1. EditorialTrabalhos escritos por sugestão do Comitê Científi co, ou por um de seus membros.Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman) com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a bibliografi a não deve conter mais que dez referências.

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Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científi co, novidade, originalidade, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto.

3. RevisãoSerão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à atividade física, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas científi cas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais. 4. Atualização ou divulgaçãoSão trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre tema de interesse dos profi ssionais de Educação Física (novas técnicas, legislação, etc) e que têm características distintas de um artigo de revisão.

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6. Comunicação breveEsta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor.Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc.Tabelas e fi guras: No máximo quatro tabelas em Excel e fi guras digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power Point, Excel, etcBibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências bibliográfi cas.

7. ResumosNesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê Científi co, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas.

8. CorrespondênciaEsta seção publicará correspondência recebida, sem que necessariamente haja relação com artigos publicados, porém relacionados à linha editorial da revista.Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta.Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especifi cações anteriores, bibliografi a incluída, sem tabelas ou fi guras.

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1. Normas gerais1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc.1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma.1.3 Numere as fi guras em arábico, e envie de acordo com as especifi cações anteriores.As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com resolução de qualidade gráfi ca (300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografi a. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identifi car com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor.

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análise).- Descobertas principais do estudo (dados concretos e

estatísticos).- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior

novidade.Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço Internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes.

5. AgradecimentosOs agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio fi nanceiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no fi nal do artigo, antes as referências, em uma secção especial.

6. ReferênciasAs referências bibliográfi cas devem seguir o estilo Vancouver defi nido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográfi cas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas:

Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e fi nal, ponto.Exemplo:1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78. Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e fi nal, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al.Exemplo:Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.

Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:Guillermina Arias - E-mail: [email protected]

47Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 8 Número 1 - janeiro/março 2009

Calendário de eventos

2009

Março

26 a 29 de marçoSaúde Sport e Fitness Centro de Convenções de GoiâniaInformações: (61) [email protected]

Abril

3 a 7 de abril35º ENAPEF Capão da Canoa, RSInformações: www.apefrs.com.br

17 e 21 de abril II Congresso Internacional de Educação Física e Qualidade de Vida Universidade Católica de BrasíliaBrasília, DFInformações: www.ucb.br/edfisica/congresso

Maio

7 a 9 de maio 21o Congresso Brasileiro de Medicina do Exercício e do Esporte9º Congresso Paulista de Medicina do EsporteCentro de Convenções RebouçasSão Paulo, SPInformações: www. medicinadoesporte.org.br

Julho

18 a 26 de julhoVI Encontro Internacional Esporte e Atividade FísicaInformações: (011) 2714-5678www.encontrophorte.com.brencontro@institutophorte.com.br

Setembro

X Seminário Internacional sobre Atividades Físicas para a Terceira IdadeNúcleo de Educação Física e Desportos (NEFD) do Centro de Educação (CEDU) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL)

20 a 25 de Setembro XVI Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte e III Congresso Internacional de Ciências do EsporteInformações: [email protected]

Novembro

6 a 8 de novembro13º. Simpósio Internacional de Atividades Físicas do Rio de Janeiro - SIAFis RJAuditório da Escola NavalRio de Janeiro, RJInformações: [email protected]

CURSO

Abril11 a 17 de abrilCiências da Performance HumanaUFRJ - Especialização Latu SensuEEFD / UFRJInformações: (21) 2562-6803 / 2562-6826 / [email protected]