Grécia Antiga

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GRÉCIA ANTIGA COLEÇÃO HISTÓRIA ILUSTRADA UMA OBRA DA UNIVERSIDADE DE CAMBRIDGE

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Ricamente ilustrado e escrito por nove especialistas da Grã-Bretanha e da América do Norte, este livro oferece novas interpretações da cultura grega clássica, devotando a mesma atenção aos aspectos sociais, econômicos e intelectuais que à política e à guerra. É uma história cultural do início ao fim, que almeja situar a grandeza da Grécia em seu contexto mais amplo, avaliando as influências do meio ambiente e da economia, o efeito das tensões entre estados, as implicações da sexualidade, a experiência de trabalhadores, soldados, escravos, camponeses e mulheres, bem como os papéis do mito e da religião, da arte e da cultura, da ciência e da educação. Nesse contexto, Paul Cartledge e sua equipe examinam o vasto legado linguístico, literário, artístico e político da Grécia antiga.

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GRÉCIA ANTIGACOLEÇÃO HISTÓRIA ILUSTRADA

UMA OBRA DA UNIVERSIDADE DE CAMBRIDGE

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PAUL CARTLEDGE organizador

Tradução deLaura Alves e

Aurélio Rebello

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© 1998 by Cambridge University Press

Publicado originalmente nos Estados Unidos pela Cambridge University Press, Nova York

Copyright da tradução © 2002 by Ediouro Publicações Ltda.

Todos os direitos reservados, incluindo o direito de reprodução

no total ou em parte, sob qualquer forma.

Diretor: Edaury Cruz

Editora: Tainã Bispo

Coordenadora de produção: Adriane Gozzo

Assistente de produção: Juliana Campoi

Tradução: Laura Alves e Aurélio Rebello

Preparação de textos: Maria José de Sant’Anna

Revisão: Mary Ferrarini

Editora de arte: Ana Dobón

Projeto grá% co e capa: Ana Dobón

Diagramação: Sopa de Letrinhas Design Editorial

Imagens de capa: Partenon © Amabrao, Dreamstime.com

Ulisses e seus companheiros arrancando o olho do ciclope Polifemo,

ilustração em um vaso grego antigo © GettyImages

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

História ilustrada Grécia Antiga / Paul Cartledge , organizador;

tradução de Laura Alves e Aurélio Rebello. -- 2. ed. -- SãoPaulo:

Ediouro, 2009. -- (Coleção História Ilustrada)

Título original: The Cambridge illustrated history of ancient

Greece

Bibliogra3 a

ISBN 978-85-00-33032-2

1. Grécia Antiga - História 2. Grécia - Civilização I. Cartledge,

Paul. II. Série.

09-04260 CDD-938

Índice para catálogo sistemático:1. Grécia Antiga : História 938

Todos os direitos reservados à Ediouro Publicações Ltda.

R. Nova Jerusalém, 345 - Bonsucesso

Rio de Janeiro - RJ - CEP: 21042-235

Tel.: (21) 3882-8200 - Fax: (21) 3882-8212/8313

www.ediouro.com.br

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O organizador quer agradecer calorosamente, em seu nome e no

nome dos seus colaboradores, aos professores Pat Easterling (Univer-

sidade de Cambridge) e Mike Jameson (Universidade de Stanford),

que genero samente leram todo o manuscrito e atuaram como os

mais sábios conselheiros acadêmicos. Igualmente a Callie Kendall,

incansável e arguta pesquisadora de imagens, e sobretudo à editora

da coleção, Pauline Graham, uma verdadeira Penélope moderna.

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Conteúdo

INTRODUÇÃOGrécia: uma história de glória .............................a 10

PARTE 1O mundo da Grécia ......................................................a 26

CAPÍTULO 1História e tradição......................................................28

CAPÍTULO 2O meio ambiente ..............................................................48

CAPÍTULO 3Quem eram os gregos ..................................................74

INTERMEZZOResumo histórico ..........................................................96

PARTE 2A vida na Grécia............................................................a 126

CAPÍTULO 4Ricos e pobres.................................................................128

CAPÍTULO 5as Mulheres, as crianças e os homens............162

CAPÍTULO 6O poder e o estado......................................................214

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CAPÍTULO 7Guerra e paz.....................................................................252

CAPÍTULO 8Trabalho e lazer...........................................................r 280

CAPÍTULO 9Literatura e performance.......................................312

CAPÍTULO 10Arquitetura e outras artes visuais ..................348

CAPÍTULO 11Filosofia e ciência .......................................................a 392

CAPÍTULO 12Religião e mito ..............................................................438

EPÍLOGOO Legado ............................................................................470

GUIA DE REFERÊNCIAAQuem é quem ....................................................................494Glossário ..........................................................................512Cronologia .....................................................................a 518Resumos dos enredoss ................................................520Biografias .........................................................................528Crédito das imagens ..................................................530Índice ..................................................................................532

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IntroduçãoP C

Grécia: uma História

de Glória

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“De fato, tudo o que é moderno em nossas vidas

devemos aos gregos. Tudo o que é anacrônico

deve-se ao medievalismo.” Oscar Wilde

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Suponhamos que pudéssemos reservar uma passagem na má-

quina do tempo que nos transportasse para a Grécia antiga,

no século V a.C. (499-400). Ali, na Ágora (centro cívico)

de Ate nas, poderíamos ter encontrado qualquer uma das seguintes

personalidades: Alcibíades, Anaxágoras, Aristófanes, Aspásia, Cá-

lias, Cleo fon, Cléon, Cratino, Crésilas, Efi altes, Ésquilo, Êupolis,

Eurípides, Fídias, Górgias, Heródoto, Hipódamo, Ictino, Isócrates,

Milcíades, Parrásio, Péricles, Platão, Polignoto, Protágoras, Sócrates,

Sófocles, Tucídides, Xe nofonte, Zêuxis. Nem todos eram atenien-

ses natos, mas todos esti mu laram e também contribuíram de algum

modo para a enorme energia liberada por esse pequeno caldeirão de

cultura e política.

Hoje nem todas essas fi guras são nomes familiares. Mas o que

surpre en de verdadeiramente é que muitas ainda o sejam, apesar das

tentativas cons tantes de se depreciar — e diminuir — o estudo dos

antigos clássicos gregos e romanos como assunto da educação atual.

Esses povos ajudaram a estabelecer os alicerces políticos, artísti-

cos, culturais, educacionais, fi lo só fi cos e científi cos sobre os quais se

baseou des de então boa parte da civilização e da cultura ocidentais

subsequentes. Não admira que o atenien se Pla tão, nascido no fi nal

do século V, intitulasse de “Sede da Sophia” a gloriosa Atenas da sua

ju ventude (sophia signifi ca, ao mesmo tempo, sa be doria teórica e a

prática). Não admira também que os próprios atenienses gostassem

de ouvir elo gios à sua Atenas “coroada de violetas” nas obras dos

poetas líricos, como Píndaro de Tebas, e dos poe tas trágicos, como

Eurípides. Também não ad mira que no século XIX e no início do

século XX, eu ropeus e americanos de educação clássica achas sem na-

tural louvar “a glória que foi a Grécia” — na fa mo sa ex pressão da

Ode a Helena, de Edgar Allan Poe.

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“S T G. . .”

grandeza da Grécia antiga, e também estabelecer fi rmemen te essa

glória indubitável na sua perspectiva histórica própria, no seu con-

texto mais abrangente.

Procuraremos também fazer justiça à história campesina, nada es-

pe ta cular, relativamente imóvel, na qual uma multidão de camponeses

e escravos anônimos labutou para tornar possível a brilhante civiliza-

ção urbana com a qual os antigos gregos são fundamentalmente iden-

tifi cados hoje.

O A G

Por volta do século V a.C., a civilização e a cultura gregas já es-

ta vam havia muito estabelecidas. Hoje se sabe que o silabário prag-

maticamente denominado Linear B codifi cava uma forma primitiva

da língua grega (ver capítulo 3). Por meio desse código, a civilização

e a cultura “gregas” podem ser reconstituídas, pelo me nos desde a

segunda metade do segundo milênio a.C. Foram descobertas tabule-

tas de argila registrando créditos e débitos das eco no mias centralizadas

nos palácios de Pilos, Tirinto e Micenas,

no Pelo po neso; Tebas, na Grécia Central;

e Caneia e Cnossos, em Creta. Outras lo-

calidades produziram vasilhames para óleo

marcados com sím bolos do Linear B.

Graças também aos notáveis esforços de

arqueólogos de muitos paí ses, e também

da própria Grécia moderna, hoje sabemos

Silabário

conjunto de

unidades que

denotam sílabas e

não letras individuais

(exemplo, o Linear B).

Glossário

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muito so bre a pri mitiva civilização

grega do fi nal da Idade do Bronze,

ou “era micênica” (aproximadamen-

te, de 1600 a 1100). O sufi ciente,

por exem plo, para afi rmarmos com confi ança que essa civilização

propiciou o am bien te e a inspiração original para as histórias de ar-

rojo heroico preservadas nas mais antigas obras — e obras-primas

— da literatura eu ro peia: a Ilíada e a a Odisseia, de Homero.

Contudo, a arqueologia também nos ensinou que existe um

enor me vazio cultural e cronológico entre o mundo do palácio mi cê-

nico, onde dominavam as fi guras literárias de Agamenon e Aqui les,

e o mundo da histórica polis, ou cidade grega, onde os épicos homé-

ricos foram criados e acolhidos. Por exemplo, a escrita utilizada para

transcrever os poe mas homéricos transmitidos oralmente não foi o

Linear B, uma escrita tão mal adaptada para transcrever o grego que

os símbolos escritos foram complementados por ideogramas expli-

ca tivos, ou símbolos de fi guras. Em vez disso, usou-se um alfabeto

tomado por em prés timo aos semitas fenícios do atual Líbano, bri-

lhan temente adaptado para poder representar completamente todos

os sons gregos, inclusive as vogais. En quan to o Linear B era uma

escrita de copistas, inventada e usada exclusivamente para man ter re-

gistros, o alfabe to era potencialmente aberto ao uso de qua se todos,

Ésquilo

O mais velho dos mestres da tragédia grega morreu mais ou menos aos 70 anos em Geia, na Sicília, em 456 a.C. O seu epitáfi o se concentra em seus feitos como um soldado ateniense que lutou contra os persas na Batalha de Maratona. Mas, para a posteridade, ele é co nhecido por seus dramas trágicos, principalmente pela trilogia Oresteia, de 458 a.C.

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homens e mulhe res, de clas se alta ou baixa, ricos ou pobres, livres

ou escravos. Enquanto os escribas do Li near B eram funcionários

palacia nos, o alfabeto podia ser utilizado para um amplo espectro de

expres sões escri tas, des de obras de literatura, co mo as de Ho mero,

até leis e tratados pú blicos e cor respon dên cia pessoal.

O alfabeto grego se desenvolveu com nume ro sas variantes locais,

prova vel men te em alguma época do século VIII a.C. (799-700).

Foi-nos trans mitido pelos romanos, que por sua vez o receberam

e adaptaram a partir de duas fontes italianas: dos etrus cos da atual

Toscana (que durante certo período do século VI a.C. podem até

mesmo ter controlado a cidade de Roma) e das ci da des gregas da

região que veio a ser conhecida como Magna Gré cia — ou seja,

as cidades situadas em volta da baía de Nápoles e no litoral sul,

em torno do “pé” da Itália. Na verdade, a atual pa la vra “gregos” é

uma versão bastante depreciativa, criada pelos ro ma nos, da palavra

Graeci; até onde se sabe, os

gregos sempre se de no mi na-

ram “helenos”, embora não

haja registro dessa palavra an-

tes dos poemas de Arquíloco

de Paros (e mais tarde, de Ta-

sos), no século VII a.C.

ARISTÓFANES

Nascido em Atenas por volta de 445 a.C., escreveu mais de quarenta

comédias das quais hoje sobrevivem onze. Assim como as tragédias de

Ésquilo, essas comédias foram repre sentadas pela primeira vez nos

dois principais festivais religiosos atenienses em homenagem ao deus

do vinho e do prazer Dioniso.

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H

Antes do estabelecimento do moderno estado grego, no início do

sé culo XIX, a Hélade era uma entidade cultural mais do que estri-

tamente política; algo como a “cristandade” na Idade Média, ou o

“mun do árabe” nos dias de hoje. Defi nia-se por uma ancestralidade

comum (ora genuína, ora inventada); por uma língua comum; e por

hábitos comuns — pelo menos rituais religiosos compartilhados.

Por volta de 500 a.C., a Hélade, nesse sentido cultural e não

po lí tico, estendia-se desde as “Colunas de Héracles” (o estreito de

Gi bral tar), a oeste, até Colchis (na atual Geórgia, na extremidade

do mar Negro), a leste. Os gregos, como dizia o Sócrates de Platão,

viviam “como sa pos ou formigas em volta de um lago” — ou seja,

em volta do mar Mediterrâneo e de sua extensão a nordeste, o mar

Negro. Mas só áreas limitadas desse enorme mundo conseguiram

— ou impuseram — algo semelhante a uma unifi cação política, e

apenas por períodos limitados. Entre esses exemplos se inclui boa

parte da área grega do mar Egeu (abran gendo também o litoral oes-

te da atual Turquia) durante a segunda metade do século V, graças

ao im pério contrário aos persas dominado por Atenas; ou a maior

parte da Grécia continental e ilhas adjacen tes, depois de conquis-

tadas, no século IV, por Filipe e seu fi lho Alexan dre, o Grande, da

Macedônia, e seus sucessores helenísticos. Porém, quando o ter-

ritório, por sua vez, foi conquistado pelos romanos, estes seguiram

a estratégia costumeira de “dividir e governar”, e o

dividiram em duas províncias, administradas

separadamente: Aqueia e Macedônia. Os

ro ma nos tam bém absorveram o que restou

do mundo de fala grega, que constituía a

metade leste do importante império mun-

Hélade

nome dado pelos

gregos ao conceito,

mais idealizado do

que real, de todo o

mundo de língua

grega.

Glossário

SAIBA MAIS

Todos os que não fa la vam grego eram rotulados de

“bárbaros” porque suas línguas eram cons tituídas de um “bar-bar”, ou seja, de um

balbuciar de sons ininte li gíveis.

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dial e que eventualmente deu origem ao isolado império bizantino

baseado em Cons tan ti no pla, embora os bizantinos se intitulassem

romanos. A antiga Bizân cio, fundada originalmente a partir do ter-

ritório grego continental de Mégara, no século VII a.C., foi renome-

ada para Constan ti no pla em homenagem ao seu segundo fundador,

Constantino, o Grande (morto em 337). A conquista dos turcos

otomanos, em 1453, provocou outra mudança de nome, mas até a

Istambul turca teima em con servar um traço linguístico grego (-bul,ll

derivado de polis). ss

O L G

Político

Alguns estudiosos modernos da Grécia antiga, especialmente desde

o surgimento de corporações internacionais como a Liga das Nações

e as Nações Unidas, surpreenderam-se com a incapacidade dos gregos

clás sicos de estabelecerem vínculos de união duradoura entre cida-

des, com base numa cultura comum, e destacaram que essa desunião

po lí ti ca facilitou a conquista e a submissão externas. Pode-se argu-

mentar também que foi precisamente a independência e a rivalidade

das cidades que possibilitaram as suas extraordinárias e férteis expe-

riências de autogoverno; mais nota vel mente, é claro,

a invenção da democracia.

Estima-se que havia bem mais de mil comuni-

dades gregas distintas e radicalmente diferencia-

das, espalhadas pelo mundo grego.

À época de Aristóteles, no século IV, a

vasta maioria dessas comunidades desfruta-

va de alguma forma de governo democrá-

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tico ou oligárquico — ou seja, versões de autogestão nas quais o poder

era depositado principalmente nas mãos da maioria pobre (demos) ou s

da minoria rica de ci da dãos adultos do sexo masculino. No entanto,

depois da morte de Aris tó teles, em 322, a democracia virtualmente

desapareceu, ou melhor, foi suprimida em todo o mundo antigo. Só

reapareceu — sob uma apa rên cia muito diferente — no século XVI.

Contudo, quando a ideia de autogestão popular foi mais uma vez con-

siderada um sistema político sério, ainda que a princípio revolucioná-

rio, recebeu o nome de demo cra cia, palavra derivada do grego.

Linguístico

A palavra “democracia” é apenas um exemplo da nossa herança

lin guís tica dos gregos antigos. Estima-se que nada menos do que um

terço do vocabulário da língua inglesa tenha raízes gregas. Segundo a

grega Alexandra Fiada, na sua obra Guia xenófobo para os gregos, cons-

cien temente autodepreciativo, sem os gregos nada e ninguém poderia

ser europeu, misterioso, etére

ótico, fl eumático, trágico, dip

má tico, automático, nostál

gico, magnético, tropical,

aromático, histé ri co, irôni-

co ou mesmo anônimo...

Natural de Estagira, fi lho do médico da corte do pai de Filipe, da

Macedônia, discípulo de Platão, mestre de Alexandre, fundou seu

próprio Liceu por volta de 335 a.C.; conhecem-se cerca de 500 títulos

de sua autoria, dos quais sobrevivem trinta tratados, especialmente nos

campos da biologia, da zoologia e da política.

quem é ARISTÓTELES 384322 a.C.

eo, patri-

plo-

l-

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isso sem mencionar democrático (ou oligárquico, ou tirânico). Não

haveria estratégia, tática, políticos, ética, aristocratas, ninfomaníacos,

anarquistas, tecnocratas, esquizo frê ni cos, heróis, história, escolas, or-

ganizações, símbolos, piratas, climas, papel, garrafa térmica nem die-

tas. As artes não contariam com poetas, dramaturgos, cenas, teatros,

comédia, cinema, acrobatas, melodias, gui tarras, acordes, sinfonias,

orquestras, programas, críticos, foto gra fi as. À ciência e à tecnologia

faltariam ideias, arquitetos, médicos, me tal, discos, hidráulica, eletrici-

dade, lâmpadas, poliuretano e átomos.

E isso omitindo-se deliberadamente toda a gama de palavras

associa das ao cristianismo, tradição religiosa dominante na Europa e

no Oci den te desde o nascimento de Cristo (em grego, “aquele que foi

ungido”). Essas palavras incluem Natal, Bíblia, profetas, anjos, paraíso

(que os gre gos tomaram emprestado dos antigos persas), apóstolos,

márti res, hinos, cemitérios, ídolos, exorcistas, hereges, ateus, blasfe-

mos, de mô nios e dogmas. Contudo, há um legado que não devemos

aos gregos pré-cristãos e que constitui o assunto principal deste livro: a

reli gião por eles praticada.

A E “G A”

O surgimento do cristianismo nos primeiros dois ou três séculos

d.C. serve de corte para a nossa apresentação dos antigos gregos.

Co mo pon to de partida, tomamos o primeiro uso pelos micênicos,

se gu ramente comprovado, de uma língua inquestionavelmente

grega — an ces tral dos dialetos históricos detectados pela primeira

vez no sé culo VIII a.C.

No entanto, com esse amplo espectro de 1.500 anos, é necessá-

rio concentrar o foco, se quisermos fazer justiça às prodigiosas con-

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quistas gregas em muitas esferas. O padrão sobrevivente de evidên-

cias contemporâneas torna quase inevitável que nos concentremos

na era “clássica”, dos séculos V e IV a.C. (cerca de 500-300). Foi o

período dos he róis da cultura do século V, listados no início, e dos

seus sucessores do século IV, como Aristóteles, Eudoxo e Alexan-

dre, o Grande. Foi a lite ra tu ra por eles produzida que os estudiosos

que trabalharam no museu e na biblioteca de Alexandria nos últi-

mos três séculos a.C. decidiram que valia a pena preservar, copiar

e transmitir para gerações futuras, por meio de instrução e de uma

educação elevada. Foi nessa literatura que os retóricos e escritores

de fala grega que viveram no Império Ro ma no no primeiro e no

segundo séculos d.C. basearam o movimento intelectual que passou

a ser conhecido como Segunda Sofística. Até mesmo escritores do

calibre de Plutarco (cerca de 46-120 d.C.) perceberam que fi cavam

à sombra dos seus grandes antecessores, mas o que invejavam sobre-

tudo era a liberdade política e seus efeitos inspiradores e criativos.

D F A

Naturalmente, o epicentro cultural do alto classicismo dos sécu-

los V e IV foi Atenas. Para lá eram atraídos magneticamente os mais

talen to sos gregos nascidos e educados em outros locais do mundo

grego. Heródoto, de Halicarnasso, na Ásia Menor; Aristóteles, de

Estagira, no norte da Gré cia; Diógenes, o Cínico, de Sinope, no mar

Negro; Ze não (possivelmente nascido de uma mistura de ancestrais

gregos e fenícios), da Cício cipriota; e Aspásia, de Mileto, no leste da

Grécia, para citar apenas cinco.

Entretanto, Atenas não constituía de modo algum a Grécia toda,

e nes te livro esperamos estabelecer as realizações atenienses dentro

Segunda Sofística

termo utilizado

para o período de

cerca de 60-230 d.C.,

caracterizado pelas

declamações dos

oradores gregos.

Glossário

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da ma triz grega mais ampla e destacar as peculiaridades e diferenças

dos muitos e heterogêneos alcances do helenismo. Exemplos dessa

hetero ge neidade incluem o modelo democrático, político e cultural

de Atenas; as experiências fi losófi cas e políticas dos aristocratas pi-

tagóricos do sul da Itália; a predileção um tanto não helênica pela

tirania, demonstrada pelos gregos da Sicília; as formas políticas e

culturais de Esparta, extremamente não atenienses, ou até mesmo

contrárias a Ate nas; e a inventiva musical, militar e polí-

tica de Tebas (berço de Píndaro e Epaminondas), signifi -

cativamente diferente tanto de Es par ta quanto de

Atenas. Também existem as peculiaridades artísti-

cas e religiosas de Creta; a brilhante poesia lírica de

Alceu e Safo, de Les bos; e os centros médicos rivais

de Cós e Cnido. Tudo isso também é parte essencial

da Grécia antiga e não pode fi car perdido na vasta

sombra lançada por Atenas.

D A

Sem negligenciar a abordagem tradicional (desde

Homero!) “de ci ma para baixo”, neste livro também

procuraremos apresentar a visão “ras tei ra”, antio-

límpica, de baixo para cima: a visão dos pobres, dos

es tran geiros, das mulheres ou dos escravos libertos

— ou a visão ou vi sões que lhes podem ser atribuí-

das de modo plausível. Ao adotarmos esta aborda-

gem, esperamos dar voz a quem não a tinha ou foi

silenciado, e co locar a democracia, o teatro, a fi -

losofi a, a medicina, a arqui te tura, a escultura

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e tudo o mais produzido pelos gregos numa pers pec tiva histórica

nova e mais verdadeira. Atenção particular foi dada ao legado gre-

go: isto é, não tanto àquilo que os gregos potencialmente transmi-

tiram às civilizações posteriores, mas sim ao que essas civilizações

decidiram herdar deles e o que elas — inclusive a nossa — fi zeram

com essa herança.

Com relação à Grécia antiga, é difícil, e não totalmente dese-

jável, fugir totalmente da abordagem “reis-e-batalhas”. Em muitos

casos, as cidades gregas foram forjadas na bigorna da guerra, e o

desenvolvimento da civilização e da cultura gregas foi crucialmen-

te afetado, tan to positiva quanto negativamente, por determinadas

guerras, principalmente as persas (490, 480-79) e as do Peloponeso

(431-404). Con tu do, embora a atividade da guerra — junto com os

desenvolvimentos políticos, como a introdução da democracia em

Atenas em 508/7 — possa propiciar um fi o narrativo para a história,

neste livro, as im plica ções e consequências sociais das guerras gregas,

tanto no mar quanto na terra, recebem ênfase igual à atribuída aos

detalhes puramente técnicos de estratégia e tática. Por exemplo, foi

a guerra que ser viu para delimitar um espaço peculiarmente mascu-

lino de empe nho e conquis ta e para fi xar um elemento essencial nas

noções gregas de gênero e sexualidade.

A guerra também inspirou boa parte da melhor literatura grega,

de Homero a Tucídides e muitos mais. Por outro lado, é o assunto

de boa parte das artes visuais gregas. Por exemplo, o templo de Del-

fos, coberto de obras de arte e monumentos à piedade, era também

até certo pon to um gigantesco memorial de guerra, bastante lúgu-

bre — no nos so modo de pensar —, comemorando não apenas as

vitórias dos gregos sobre os não gregos, mas também os resultados

daquilo que Heródoto, comovido, chamou de “discórdia dentro da

tribo [grega]”.

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