Geoleca Ponte do Boco

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 Utilização de Geo Leca na reabilitação de um encontro da Ponte sobre o Rio Boco Seminário Geo Leca  LNEC  27 de Maio de 2009 1 / 31 UTILIZAÇÃO DE GEO LECA NA REABILITAÇÃO DE UM ENCONTRO D A PONTE SOBRE O RIO BOCO USE OF GEO LECA ON THE REHABILITATION OF A BRIDGE ABUTMENT OVER RIVER BOCO Domingos Moreira, GEG, Portugal, [email protected]  Ricardo Leite, GEG, Portugal, [email protected]  Paulo Lopes Pinto, DEC-FCT-Universidade de Coimbra, GEG, Portugal,   [email protected]  Raquel Pais, GEG, Portugal, [email protected]   António Campos e Matos, GEG, Portugal, [email protected]  1. Introdução O presente trabalho refere-se à Reabilitação / Reforço do Encontro Poente (E1) da Ponte Sobre o Rio Boco, na aut o-estrada A25, no Lanço Pirâmides   Barra, em Aveiro. Nesta obra foi utilizada Geo Leca como uma componente fundamental da solução adoptada. O encontro poente da Ponte Sobre o Rio Boco, na referida auto-estrada A25, apresentava assentamentos elevados, da ordem dos vários decímetros. Foi realizado pelo GEG, a pedido da AENOR, o projecto para a reabilitação / reforço do mesmo. Com este objectivo, foi inicialmen te definida uma campanha de sondagens, ensaios in-situ e laboratoriais, de modo a caracterizar os solos de fundação e assim tentar compreender quais os motivos dos assentamentos e anomalias observados e o seu grau de evolução, bem como definir soluções para prevenir os problemas daí decorrentes.  A primeira fase do estudo consistiu na análise dos resultado s da prospecção efectuada e na modelação da execução do aterro existente. Procurou-se estimar os assentamentos por este induzidos, bem como a sua progressão no tempo. Concluiu-se pela conveniência de intervir, na medida que parte relevante dos assentamentos totais não teria ainda ocorrido.  As soluções indicadas para este tipo de intervenções são essencialmente de dois tipos: redução das cargas transmitidas ou reforço do solo de fundação.

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    UTILIZAO DE GEO LECA NA REABILITAO DE UM ENCONTRO DA PONTE

    SOBRE O RIO BOCO

    USE OF GEO LECA ON THE REHABILITATION OF A BRIDGE ABUTMENT

    OVER RIVER BOCO

    Domingos Moreira, GEG, Portugal, [email protected]

    Ricardo Leite, GEG, Portugal, [email protected]

    Paulo Lopes Pinto, DEC-FCT-Universidade de Coimbra, GEG, Portugal, [email protected]

    Raquel Pais, GEG, Portugal, [email protected]

    Antnio Campos e Matos, GEG, Portugal, [email protected]

    1. Introduo

    O presente trabalho refere-se Reabilitao / Reforo do Encontro Poente (E1) da Ponte

    Sobre o Rio Boco, na auto-estrada A25, no Lano Pirmides Barra, em Aveiro. Nesta obra

    foi utilizada Geo Leca como uma componente fundamental da soluo adoptada.

    O encontro poente da Ponte Sobre o Rio Boco, na referida auto-estrada A25, apresentava

    assentamentos elevados, da ordem dos vrios decmetros. Foi realizado pelo GEG, a

    pedido da AENOR, o projecto para a reabilitao / reforo do mesmo.

    Com este objectivo, foi inicialmente definida uma campanha de sondagens, ensaios in-situ e

    laboratoriais, de modo a caracterizar os solos de fundao e assim tentar compreender

    quais os motivos dos assentamentos e anomalias observados e o seu grau de evoluo,

    bem como definir solues para prevenir os problemas da decorrentes.

    A primeira fase do estudo consistiu na anlise dos resultados da prospeco efectuada e na

    modelao da execuo do aterro existente. Procurou-se estimar os assentamentos por

    este induzidos, bem como a sua progresso no tempo. Concluiu-se pela convenincia de

    intervir, na medida que parte relevante dos assentamentos totais no teria ainda ocorrido.

    As solues indicadas para este tipo de intervenes so essencialmente de dois tipos:

    reduo das cargas transmitidas ou reforo do solo de fundao.

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    Na segunda fase do estudo, em conformidade, foram desenvolvidas duas solues distintas

    de reabilitao / reforo para o encontro E1. A primeira consiste no alvio de carga ao nvel

    do aterro, com substituio por materiais mais leves, de modo a limitar os assentamentos

    totais expectveis para a nova situao a valores muito semelhantes aos j ocorridos. A

    segunda soluo proposta consiste no reforo dos solos de fundao sob o macio de terra

    armada, materializado por colunas de jet-grout, a executar no interior do macio de

    fundao.

    A soluo escolhida, por se revelar mais vantajosa do ponto de vista tcnico/econmico,

    envolve a utilizao de um aterro de Geo Leca.

    O conceito de soluo consiste no aproveitamento da menor massa volmica da Geo Leca

    para reduzir as cargas descarregadas na camada consolidvel de fundao. Desta forma, a

    maior carga actualmente aplicada funciona como uma pr-carga, dentro da mesma

    configurao geomtrica, relativamente situao final de aterro com Geo Leca. Aproveitou-

    se portanto a circunstncia feliz de os assentamentos totais para a carga reduzida a longo

    prazo serem praticamente idnticos aos j ocorridos com a maior carga aplicada.

    Alm do desenvolvimento normal da soluo em relao questo fundamental e

    causadora das patologias/avarias estruturais, ou seja, dos assentamentos continuados do

    aterro, foi tambm includa a substituio do tramo de margem da ponte. Esta deciso

    resulta das condies aqum do desejvel em que se encontra esse tramo de margem e

    tambm da simplificao construtiva que permite na execuo do aterro com Geo Leca.

    2. Descrio das Estruturas Existentes

    A Ponte sobre o Rio Boco localiza-se na actual auto-estrada A25, no lano Pirmides

    Barra, em Aveiro, e foi construda h pouco mais de 14 anos, aquando do prolongamento do

    IP5 nesse troo.

    Trata-se de uma ponte com um tabuleiro em laje vigada, com vigas pr-fabricadas, com

    175m de desenvolvimento total e 29,50m de largura. A parte principal do tabuleiro

    suportada por 6 pilares centrais e em pilares de transio. A estrutura contnua, entre os

    pilares de transio de cada margem. A concepo das extremidades da ponte idntica

    da ponte mais antiga, paralela existente. Cada extremidade , no essencial, materializada

    por um tramo de margem isosttico, em laje macia, que vence o vo entre os pilares de

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    transio e o encontro. A parte em beto do encontro reduzida a uma pequena sapata,

    suportada por um muro de terra armada. As juntas de dilatao da ponte no se localizam

    nos encontros mas sim nos pilares de transio. Esta soluo estruturalmente interessante

    porque, de facto, isola o tabuleiro contnuo de assentamentos que possam ocorrer no

    encontro. No entanto, a grandeza dos assentamentos foi tal que originou avarias no muro

    em terra armada, adiante descritas, alm de causar transtornos circulao e impor

    condies de funcionamento severas para as juntas de dilatao.

    O tramo de margem junto a E1, pela sua muito menor altura estrutural, permitiu a

    implantao de um arruamento inferior (Figura 1).

    Figura 1 Aspecto geral do encontro E1

    Os vos correntes so de 25,0m. Os pilares so constitudos por elementos de seco

    circular, nos apoios no leito do Rio Boco, e por elementos de seco rectangular, nos pilares

    de transio, que j se localizam nas margens. As fundaes so do tipo indirecto.

    3. Situao Existente

    Foi identificada, em 2001, na Ponte Sobre o Rio Boco, a existncia de patologias ao nvel do

    tramo de margem poente e do encontro E1. Tais patologias consistem na rotao do tramo

    de margem em torno do seu apoio no pilar de transio, em resultado do assentamento do

    encontro (Figura 2). Traduzem-se ainda pela deslocao e fissurao das escamas do nvel

    superior do muro em terra armada (Figura 3).

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    No decorrer deste alerta foram criadas medidas de preveno, visando a manuteno

    temporria. Paralelamente, foi encetado um processo de observao/monitorizao dos

    assentamentos verificados neste encontro.

    Figura 2 Rotao nas extremidades do tramo de margem poente e do encontro E1

    Figura 3 Deslocao e Fissurao das Escamas de Terra Armada

    Os assentamentos iniciaram-se, manifestamente, ainda durante a construo da obra. Um

    indcio seguro deste facto o marcado desalinhamento das vigas de bordadura com o

    tabuleiro.

    4. Diagnstico. Segurana das Estruturas Existentes

    A apresentao de uma explicao e diagnstico para o estado de uma estrutura com

    avarias no tem como objectivo a satisfao de uma curiosidade, mas sim, e principalmente,

    o de basear correctamente as solues de reforo e reabilitao projectadas. Nos pontos

    seguintes, procura-se desenvolver uma explicao plausvel para as avarias ocorridas,

    embora se admita que alguma da especulao que se torna necessrio tomar, para

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    encontrar uma relao lgica de causa-efeito, poderia ser tambm usada para outras

    variantes de diagnstico. Em resumo, os pontos em que se baseia o presente diagnstico

    so:

    Assentamento muito significativo (cerca de 0,50m), no alinhamento extremo do tramo

    de margem do encontro E1. Este assentamento ter-se- iniciado ainda durante a

    construo. Ver Figura 4;

    Figura 4 Assentamento no alinhamento extremo do tramo de margem de E1

    Depreende-se que parte significativa do assentamento agora observado se deu

    durante a construo da obra de arte. Observa-se, na Figura 5, que as vigas de

    bordadura parecem ter sido montadas de forma a compensar o assentamento

    entretanto ocorrido no encontro;

    Figura 5 Desalinhamento da base das vigas de bordadura com o subleito do tramo de margem.

    O assentamento prosseguiu aps a concluso da obra. Um indcio claro deste facto,

    e das medidas correctivas entretanto tomadas, o desalinhamento das guardas de

    segurana com as vigas de bordadura, visvel na Figura 4;

    Observa-se destaque e fissurao das escamas superiores do muro em terra

    armada. Ver Figura 3;

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    Em consequncia do assentamento no encontro, a rotao do tramo de margem de

    E1 bastante pronunciada. Ver Figura 2 e Figura 6.

    Figura 6 Pormenor da rotao nas extremidades do tramo de margem de E1

    Pode ento concluir-se que o muro em terra armada do encontro E1 apresenta

    assentamentos muito considerveis, tendo uma parte significativa destes ocorrido ainda

    durante a construo da obra de arte. O tramo de margem rotulado no pilar de transio,

    como se v na Figura 6, e contnuo com a viga de fundao que apoia no macio de terra

    armada. A cota da base desta viga bastante inferior da rtula no pilar de transio.

    Verificando-se um assentamento do apoio do encontro, a rotao do tramo de margem

    produz, em consequncia, um deslocamento horizontal no negligencivel da base da viga

    de fundao, no sentido da margem para o rio. , em nossa opinio, esta componente que

    motiva e justifica a fissurao importante da parte superior das escamas de topo do muro

    em terra armada. Por outro lado, o facto de a linha de fissurao se encontrar acima das

    armaduras superiores (tirantes) do muro um indcio favorvel no que diz respeito ao

    estado global de segurana deste elemento estrutural.

    5. Consideraes Geolgicas e Geotcnicas

    5.1. Litologia

    A Ponte Sobre o Rio Boco est implantada numa zona dominantemente aluvionar nas

    imediaes de Aveiro, caracterizada por aluvies actuais (a). Segundo a carta geolgica

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    16A Aveiro, esta aluvio repousa sobre os Arenitos e Argilas de Aveiro (C5), de idade

    Cretcica. (ver Figura 7).

    Figura 7 Extracto da carta geolgica de Portugal escala 1:50 000, Folha 16A - Aveiro, com a localizao aproximada da Ponte.

    5.2. Campanha de prospeco

    Com o intuito de obter informaes sobre os materiais de fundao do encontro da ponte em

    estudo (Encontro Poente, E1), foi proposta e realizada uma campanha de prospeco que

    compreendeu um total de 3 sondagens mecnicas, 65 ensaios SPT, recolha de 9 amostras

    indeformadas, realizao de 2 ensaios de corte rotativo e de 4 ensaios de penetrao

    esttica com medio das presses neutras. Foram ainda realizados 6 ensaios edomtricos.

    5.3. Sondagens

    De acordo com os diagramas das sondagens, constatou-se que os materiais interceptados

    so constitudos por aluvies que se estendem at uma profundidade mdia de 29m, a partir

    da qual se encontram as Argilas de Aveiro.

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    Quadro 1 Sondagens e Ensaios in situ

    Sondagem

    N

    Realizada

    Em

    Profundidade

    (m)

    Nvel fretico (m)

    SPT (un)

    S1 Maio 2006 39.0 4,5 25

    S2 Maio 2006 31,5 0,0 19

    S3 Maio 2006 31,5 1,8 21

    A observao mais detalhada dos diagramas das sondagens revelou que os materiais

    aluvionares variam na sua composio, ora mais arenosos, ora mais argilosos. De um modo

    geral, so caracterizados por intercalaes de areias finas a mdias, silto-lodosas, com

    lodos argilo-siltosos pontualmente com a presena de restos de conchas.

    Na Figura 8 encontram-se representados os metros de perfurao nos diferentes materiais.

    Constata-se imediatamente a variedade dos mesmos.

    Materiais intersectados

    4,8

    7,4 7,1

    2,03,2

    1,5

    6,5

    1,0

    3,2

    6,0

    3,0

    13,212,5

    14,5

    9,5

    6,6

    0,0

    2,0

    4,0

    6,0

    8,0

    10,0

    12,0

    14,0

    16,0

    Metr

    os d

    e P

    erf

    ura

    o

    Aterro/betuminoso/pavimento Areia f ina a mdia, lodosa

    Areia f ina silto-lodosa Areia f ina a mdia, lodosa com fragmentos de conchas e seixo pequeno

    Areia f ina lodosa Areia f ina a mdia, siltosa

    Areia f ina a mdia, siltosa com fragmentos de conchas e seixo pequeno Areia mdia a grosseira argilo-lodosa com fragmentos de conchas

    Areia f ina a mdia Areia f ina com lentculas lodosas

    Silte lodoso Lodo argilo-siltoso

    Lodo argiloso Lodo silto argiloso

    Argila siltosa Argilito

    Figura 8 Distribuio dos metros de perfurao pelos diferentes materiais interceptados

    Apesar das variaes, pode distinguir-se dois tipos de aluvies: uma aluvio com

    caractersticas dominantes arenosas e uma outra com caractersticas lodosas. Na Figura 9,

    esto representados os metros de perfurao para cada uma dessas aluvies, assim como

    para o aterro (que engloba tambm o pavimento e betuminoso), a argila siltosa e os argilitos

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    do Cretcico. Na mesma figura verifica-se que a aluvio lodosa domina sobre a aluvio

    arenosa.

    Figura 9 Distribuio dos metros de perfurao pelos principais grupos litolgicos identificados

    5.4. Ensaios de Penetrao SPT

    Uma primeira anlise geral dos resultados dos ensaios de Penetrao Dinmica

    Descontnua (SPT) realizados, revela um domnio de NSPT

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    Fazendo uma distribuio dos resultados obtidos pelos diferentes materiais interceptados

    (ver Figura 11), verifica-se que os valores de NSPT inferiores a 10 pancadas concentram-se

    na aluvio lodosa e os valores entre 10-30 pancadas distribuem-se, de modo semelhante,

    entre as aluvies lodosa e arenosa.

    Os valores de NSPT mais elevados foram obtidos nas argilas siltosas e nos argilitos do

    Cretcico.

    0

    2

    4

    6

    8

    10

    12

    14

    16

    18

    20

    Aluvio

    Lodosa

    Aluvio

    arenosa

    Argila

    Siltosa

    Argilitos Aterro

    Perc

    en

    tag

    em

    (%

    ) NSPT

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    Consistncia dos materiais argilosos

    24,0

    12,0

    8,0

    40,0

    12,0

    4,0

    0,0

    5,0

    10,0

    15,0

    20,0

    25,0

    30,0

    35,0

    40,0

    45,0

    Perc

    en

    tag

    em

    (%

    ) NSPT 30

    Figura 12 Distribuio dos valores de NSPT para os materiais argilosos (total de 25 ensaios).

    Atendendo agora aos ensaios realizados nos materiais com composio dominante

    arenosa, num total de 26, verifica-se que dominam os solos medianamente compactos (NSPT

    entre 10-30), seguidos dos solos arenosos compactos a muito compactos (NSPT entre 30-50)

    (ver Figura 13). Os solos arenosos muito soltos a soltos concentram-se mais superfcie,

    com excepo de uma camada que foi interceptada nas trs sondagens aproximadamente

    cota -15.0m. Esta camada apresenta uma espessura que varia entre 1,5m e 2,5m.

    Compacidade dos materiais arenosos

    15

    12

    42

    23

    8

    0

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

    45

    Perc

    en

    tag

    em

    (%

    ) NSPT 60

    Figura 13 Distribuio dos valores de NSPT para os materiais arenosos (total de 26 ensaios).

    A avaliao da distribuio dos ensaios SPT em profundidade representada na Figura 14,

    revela uma concentrao de valores NSPT

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    sondagem S1. As sondagens S2 e S3 tambm apresentam valores de NSPT mais

    concentrados entre as 8 e as 20 pancadas e at profundidades da ordem dos 25m.

    0,0

    5,0

    10,0

    15,0

    20,0

    25,0

    30,0

    35,0

    40,0

    45,0

    0 10 20 30 40 50 60

    NSPT

    Pro

    fun

    did

    ad

    e

    S1

    S2

    S3

    Figura 14 Distribuio dos valores de NSPT em profundidade.

    5.5. Ensaios edomtricos e de corte rotativo

    Com o intuito de avaliar as caractersticas de deformabilidade dos solos aluvionares

    compressveis, realizaram-se 6 ensaios edomtricos. No Quadro 2, apresenta-se os

    resultados mais relevantes dos ensaios edomtricos.

    Quadro 2 Resumo dos resultados dos ensaios edomtricos

    Amostra Provenincia Variao do

    ndice de Vazios cv (cm

    2/s) Cc / Cr

    A368/06 S2 (19,0 - 19,6m) 1,40 - 0,70 0,0017 - 0,0051 0,37 / 0,07

    A369/06 S3 (3,9 - 4,2m) 1,52 - 0,66 0,0005 - 0,004 0,33 / 0,097

    A370/06 S3 (6,6 - 6,9m) 1,56 - 0,75 0,012 - 0,014 0,37 / 0,18

    A371/06 S3 (14,0 - 14,6m) 1,64 - 0,91 0,007 - 0,01 0,65 / 0,15

    A397/06 S1 (8,0 - 8,3m) 1,67 - 0,91 0,0023 - 0,019 0,60 / 0,23

    A398/06 S1 (9,0 - 9,3m) 1,58 - 0,86 0,0022 - 0,0070 0,60 / 0,13

    cv o coeficiente de consolidao;

    Cc o ndice de compressibilidade;

    Cr o ndice de recompressibilidade.

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    Relativamente aos ensaios de corte rotativo, foram realizados apenas dois ensaios na

    unidade lodosa muito mole. Obteve-se resistncias de pico entre 18 e 50 kPa e resistncias

    residuais entre 8 e 20kPa.

    5.6. Modelo Geolgico-Geotcnico

    Com base nas sondagens realizadas, foi efectuado um perfil litoestratigrfico e um

    zonamento do macio em profundidade. As camadas atravessadas foram agrupadas em

    cinco zonas geolgico-geotcnicas principais, tendo como base a caracterizao

    macroscpica da amostragem e os resultados dos ensaios SPT e CPTU (ver Figura 15,

    Figura 16 e Figura 17).

    Figura 15 Planta de localizao da prospeco

    De modo simplificado, o modelo Geolgico-Geotcnico adoptado para este estudo tem

    obviamente por base a caracterizao geolgica-geotcnica, resultado da prospeco

    realizada, e consiste no seguinte:

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    Quadro 3 Modelo geolgico adoptado

    Cota Espessura

    (m) Tipo de solo

    (kN/m3)

    sat (kN/m3)

    E's (MPa)

    Eu (MPa)

    D (MPa)

    +1 a -2 3,0 Areia 17 19 20 0,30 27

    -2 a -5 3,0 Lodo argiloso 14 15 2,5 0,49 43

    -5 a -12 7,0 Areia lodosa 17 19 80 0,30 54

    -12 a -14 2,0 Lodo argiloso 16 18 10 0,49 171

    -14 a -17 3,0 Areia 17 19 40 0,30 27

    -17 a -27 10,0 Lodo argiloso 16 18 2,5 0,49 43

    -27 a -29 2,0 Argila siltosa 17 19 20 0,49 342

    < -29 Argilito 17 19 80 0,49 1369

    Es o mdulo de deformabilidade drenado secante;

    Eu o mdulo de deformabilidade no-drenado;

    o coeficiente de Poisson;

    D o mdulo edomtrico ou confinado.

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    Figura 16 Perfil litoestratigrfico

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    Figura 17 Zonamento geolgico-geotcnico

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    6. Estimativa dos Assentamentos

    Considerou-se que o aterro constitudo por aproximadamente 7,5 m de solo com baridade

    igual a =18 kN/m3. O acrscimo de tenso vertical ser igual a v=7,5*18=135 kN/m2.

    A estimativa dos assentamentos foi inicialmente elaborada admitindo, simplificadamente,

    uma anlise unidimensional. Dado que o aterro tem uma largura aproximada de 30 m e o

    argilito se encontra a cerca de 30 m de profundidade, a aproximao ser vlida para pontos

    sob o centro do aterro, que tendero a apresentar os assentamentos mais elevados.

    6.1.1. Assentamentos imediatos

    A largura do aterro de cerca de 30 m, pelo que os assentamentos provocados no centro

    do aterro sero prximos dos assentamentos confinados:

    i

    i

    v

    i HD

    h =6,1 cm

    6.1.2. Assentamentos por consolidao primria

    Os assentamentos por consolidao primria foram calculados admitindo que as camadas

    de lodo argiloso se encontram normalmente consolidadas. Assim, com base nos resultados

    dos ensaios edomtricos, o clculo dos assentamentos por consolidao primria est

    presente no Quadro 4 e, para cada camada, so iguais a:

    '

    0

    '

    0

    log1

    v

    vf

    ccp Ce

    Hh

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    Quadro 4 Clculo dos assentamentos por consolidao primria

    Cota H (m) Tipo de solo

    (kN/m3)sat

    (kN/m3)e0 Cc

    'v0 (kPa)

    'v (kPa)

    'vf (kPa)

    hcp (cm)

    +1 a -2 3,0 Areia 17 19 13,5 134,9 148,4

    -2 a -5 3,0 Lodo argiloso 14 15 1,520 0,33 34,5 133,6 168,1 27,0

    -5 a -12 7,0 Areia lodosa 17 19 73,5 125,2 198,7

    -12 a -14 2,0 Lodo argiloso 17 18 1,640 0,65 113,0 113,0 226,0 14,8

    -14 a -17 3,0 Areia 18 19 134,5 105,6 240,1

    -17 a -27 10,0 Lodo argiloso 17 18 1,400 0,37 188,0 87,7 275,7 25,6

    -27 a -29 2,0 Argila siltosa 18 19 237,0 73,9 310,9

    < -29 Argilito 21 22

    hcp (cm) = 67,5

    6.1.2.1. Tempo necessrio para terminar a consolidao primria

    O tempo necessrio para que 90% da consolidao primria ocorra igual a:

    vv c

    H

    c

    HTt

    2

    0

    2

    0 848,0

    onde H0 a maior distncia que a gua tem que percorrer para abandonar o estrato. No

    caso presente, as duas primeiras camadas so duplamente drenadas e a terceira

    simplesmente drenada.

    Quadro 5 Clculo do tempo de consolidao

    Cota Espessura

    (m) Tipo de solo

    cv (cm

    2/s)

    H0 (m)

    cv (m

    2/ano)

    t90 (anos)

    +1 a -2 3,0 Areia

    -2 a -5 3,0 Lodo argiloso 0,002 1,5 6,307 0,3

    -5 a -12 7,0 Areia lodosa

    -12 a -14 2,0 Lodo argiloso 0,0097 1,0 30,590 0,0

    -14 a -17 3,0 Areia

    -17 a -27 10,0 Lodo argiloso 0,0043 10,0 13,560 6,3

    -27 a -29 2,0 Argila siltosa

    < -29 Argilito

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    No Quadro 5, possvel verificar que as duas camadas superiores terminam o processo de

    consolidao primria muito rapidamente. J a camada mais profunda necessita de cerca de

    6,3 anos para que o grau de consolidao mdio seja de 90%.

    Como a obra de arte ter sido construda em 1995, decorreram, at elaborao do

    diagnstico e do Estudo Prvio, cerca de 11 anos, pelo que o factor tempo, T, para a

    camada de lodo mais profunda ser igual a:

    492,110

    1156,1322

    0H

    tcT v

    Portanto, o grau de consolidao mdio, ZU para este factor de tempo superior a 95%.

    Neste ponto ser importante referir que as expresses utilizadas foram desenvolvidas para

    consolidao unidimensional e coeficiente de compressibilidade volumtrica independente

    da tenso efectiva, o que manifestamente no o caso. Os resultados permitem no entanto

    enquadrar a anlise numrica por elementos finitos, que ser apresentada no ponto 6.2.

    6.1.3. Assentamentos por consolidao secundria

    Os assentamentos por consolidao secundria podem ser determinados atravs do

    respectivo coeficiente de consolidao, C .

    1

    1 log't

    tCHhcs

    Sendo t1 o tempo correspondente ao fim da consolidao primria (dependendo da

    representao utilizada poder ser igual a t100, quando obtida no grfico e-log(t), ou a t90 para o

    grfico e-(t)0.5), e t o momento para o qual se calcula o assentamento.

    Para o ensaio A368/06, pode obter-se o valor de C =0,0066. Trata-se de um valor

    classificado como mdio. Existem registos de valores de C =0,01 para aluvies orgnicas

    tpicas do litoral portugus. ento possvel estimar que para a camada inferior os

    assentamentos ocorridos at hoje so iguais a:

    cmmhcs 4,2024,03,6

    11log01,010

    No horizonte de 50 anos, os valores para esta camada sero iguais a:

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    cmmhcs 0,9090,03,6

    50log01,010

    O valor encontrado corresponde a 6,6 cm de acrscimo relativamente aos assentamentos

    verificados at agora. Haver ainda a contabilizar os assentamentos por consolidao

    secundria das camadas superiores, que no entanto se estima que sejam pequenos.

    6.2. Anlise Numrica

    O problema em questo foi tambm estudado atravs de uma anlise numrica, com

    recurso ao mtodo dos elementos finitos. Para tal foi utilizado o programa de clculo Plaxis

    V.8, o qual permite a considerao da consolidao na anlise.

    O modelo de clculo adoptado est apresentado na Figura 18. Foi considerado estado plano

    de deformao e tirou-se partido da simetria do problema, pelo que a malha representa

    apenas metade do domnio. Admitiu-se o zonamento geotcnico apresentado na figura.

    Para o aterro de terra armada foi admitido um comportamento linear-elstico. Para as

    camadas do material mais deformvel foi considerado o modelo de Cam-Clay (Soft-soil a

    designao adoptada no Plaxis). Para os restantes materiais adoptou-se o modelo de Mohr-

    Coulomb.

    Os parmetros utilizados neste estudo resultaram da prospeco Geolgico-Geotcnica

    realizada e esto apresentados nos Quadro 6, Quadro 7 e Quadro 8.

    Quadro 6 Materiais linear-elsticos

    Nome Tipo

    (kN/m3)

    sat

    (kN/m3)

    k_x

    (m/dia)

    k_y

    (m/dia)

    E

    (kN/m2)

    Aterro Drenado 18 18 1 1 0.30 30 000

    Quadro 7 Materiais com modelo Mohr-Coulomb

    Nome Tipo

    (kN/m3)

    sat

    (kN/m3)

    k_x

    (m/dia)

    k_y

    (m/dia)

    E

    (kN/m2)

    c

    (kPa)

    '

    ()

    ()

    G2B Drenado 17 19 1.0E-01 1.0E-01 0.30 20 000 1 32 0

    G4 Drenado 17 19 1.0E-01 1.0E-01 0.30 80 000 1 35 0

    G3C Drenado 18 19 1.0E-01 1.0E-01 0.30 40 000 1 35 0

    G3B N drenado 18 19 4.0E-05 4.0E-05 0.32 40 000 100 0 0

    G5 N drenado 21 22 4.0E-05 4.0E-05 0.30 80 000 200 0 0

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    Quadro 8 Materiais com modelo Cam-Clay

    Nome Tipo

    (kN/m3)

    sat

    (kN/m3)

    k_x

    (m/dia)

    k_y

    (m/dia) * *

    c

    (kPa)

    '

    ()

    ()

    G1A Drenado 14 15 8.0E-05 8.0E-05 0.0569 0.0335 1 25 0

    G3A Drenado 17 18 1.5E-04 1.5E-04 0.0670 0.0250 1 25 0

    Nome

    n_ur

    [ - ]

    K0 nc

    [ - ]

    M

    [ - ]

    G1A 0.15 0.58 1.114904

    G3A 0.15 0.58 1.266478

    O coeficiente de permeabilidade dos materiais arenosos foi admitido igual a k = 1,2E-6 m/s, o

    qual foi considerado um valor razovel para este tipo de solo. A permeabilidade dos lodos e

    argilas foi determinado a partir dos resultados dos ensaios edomtricos, de acordo com a

    seguinte expresso:

    wvv

    wv

    v mckm

    kc

    Foram ainda adoptados os valores representativos do valor mdio de tenso efectiva vertical

    de cada camada.

    Figura 18 Modelo utilizado para o estudo

    G2B

    G1A

    G3A

    G3A

    G4

    G3C

    G3B

    G5

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    O faseamento construtivo considerado na modelao foi o seguinte:

    Quadro 9 Faseamento construtivo

    Fase Descrio

    0 Tenses iniciais (K0)

    1 Construo do aterro at 3,5 m de altura

    2 Pausa de 30 dias

    3 Construo do aterro at 7,0 m de altura

    4 Consolidao at que o excesso de presso intersticial seja inferior a 1 kPa

    Os resultados obtidos apresentam um assentamento mximo de cerca de 70 cm, sendo

    necessrio pouco mais de 6 anos para se obter 90% deste valor. Estes valores encontram-

    se perfeitamente enquadrados pelos resultados do clculo analtico e corroborados pela

    realidade.

    No presente, 11 anos aps a construo do aterro, o assentamento obtido de 67 cm, o

    que corresponde a 95% do assentamento mximo calculado.

    Ponte do Boco

    -0.800

    -0.700

    -0.600

    -0.500

    -0.400

    -0.300

    -0.200

    -0.100

    0.000

    0 5 10 15 20 25 30 35

    Tempo (anos)

    Assenta

    mento

    (m

    )

    Figura 19 Evoluo do assentamento sob o ponto mdio do aterro

    Nas figuras seguintes apresenta-se a evoluo dos deslocamentos e do excesso da presso

    intersticial para diversas fases de clculo consideradas.

    Actualidade

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    Figura 20 Deslocamentos imediatamente aps a concluso do aterro

    Figura 21 Deslocamentos aps 11 anos

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    Seminrio Geo Leca LNEC 27 de Maio de 2009 24 / 31

    Figura 22 Excesso de presso intersticial imediatamente aps a concluso do aterro

    Figura 23 Excesso de presso intersticial imediatamente aps 11 anos

    A evoluo das presses intersticiais particularmente elucidativa das camadas que

    condicionam o comportamento do macio. A camada mais superficial (G1A) e a mais

    profunda (G3A) apresentam acrscimos significativos de presso intersticial logo aps a

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    construo do aterro. Devido menor espessura e, consequentemente, ao menor caminho

    de drenagem, a primeira dissipa este excesso mais rapidamente do que a mais profunda.

    Aps 11 anos, o excesso de presso calculado ainda superior a 8 kPa, o que est a

    causar, de acordo com esta modelao, ainda assentamentos por consolidao primria.

    De acordo com o representado tambm no grfico da evoluo dos assentamentos (Figura

    19), a consolidao dos solos demorar aproximadamente 30 anos, at que o excesso das

    presses intersticiais seja inferior a 1 kPa.

    Das vrias solues possveis, a soluo prevista para limitar os assentamentos a reduo

    do peso do aterro, atravs da sua substituio parcial com materiais leves (aterro leve). Com

    o intuito de estudar a viabilidade e o impacto deste tipo de soluo, foi realizada uma anlise

    adicional, com o seguinte faseamento:

    Quadro 10 Faseamento construtivo com substituio por aterro leve

    Fase Descrio

    0 Tenses iniciais (K0)

    1 Construo do aterro at 3,5 m de altura

    2 Pausa de 30 dias

    3 Construo do aterro at 7,0 m de altura

    4 Consolidao durante 11 anos

    5 Substituio por aterro leve, com reduo de 24 kN/m2

    6 Consolidao at que o excesso de presso intersticial seja inferior a 1 kPa

    Os resultados mostram uma recuperao de cerca de 5 cm, devido reduo da carga,

    bem como uma reduo do tempo necessrio para que o excesso de presso intersticial

    seja inferior a 1 kPa. O empolamento calculado dever ser superior ao que se ir verificar no

    local, uma vez que o mdulo de descarga dos materiais estudados com atravs do modelo

    de Mohr-Coulomb ser inferior ao real (neste modelo o mdulo de descarga igual ao de

    carga). No entanto, o benefcio desta soluo o de reduzir o tempo necessrio para o fim

    da consolidao primria. Na prtica, a soluo funciona como uma pr-carga, durante 11

    anos, seguida de uma reduo da tenso introduzida no macio.

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    Ponte do Boco

    -0.800

    -0.700

    -0.600

    -0.500

    -0.400

    -0.300

    -0.200

    -0.100

    0.000

    0 5 10 15 20 25 30 35

    Tempo (anos)A

    ssenta

    mento

    (m

    )

    Aterro existente

    Com Aterro Leve

    Figura 24 Evoluo do assentamento sob o ponto mdio do aterro, com e sem aterro leve

    Figura 25 Deslocamentos aps 21 anos (com aterro leve)

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    Figura 26 Excesso de presso intersticial imediatamente aps 21 anos (com aterro leve)

    6.3. Concluses

    Face aos dados disponveis e aos resultados das anlises efectuadas possvel concluir

    que a consolidao primria dos terrenos subjacentes ao encontro dever encontrar-se na

    sua fase final. No entanto, o grau de preciso da estimativa dos parmetros necessrios

    para os clculos deixa em aberto a hiptese de ainda estarem por ocorrer alguns

    assentamentos, embora certamente muito inferiores aos constatados at data. Em

    ambiente geotcnico, e tratando-se de parmetros convencionados com um determinado

    protocolo de avaliao, inevitvel alguma impreciso na sua determinao, at porque os

    valores variaro certamente de ponto para ponto. Podero estar ainda a ocorrer

    assentamentos por consolidao secundria.

    No que se refere modelao da soluo prevista, com a substituio parcial do aterro por

    materiais leves, resulta o empolamento do terreno devido ao alvio da carga, havendo no

    s uma recuperao do assentamento mas principalmente a reduo do tempo necessrio

    para o alvio das presses intersticiais. Esta soluo tem como principal vantagem o facto de

    utilizar o aterro actual como uma pr-carga efectiva durante 11 anos, e que agora, ao ser

    aliviada, estabilizar os assentamentos e o processo de consolidao.

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    7. Soluo de Reabilitao Adoptada

    7.1. Aterro Leve

    Nesta soluo, prope-se que seja efectuado um alvio da carga transmitida ao macio de

    fundao. Esta soluo permite desagravar o estado de tenso no macio, transitando as

    camadas argilosas de um estado de consolidao normal para um estado de

    sobreconsolidao, como se o actual aterro tivesse funcionado como uma pr-carga.

    O alvio da carga materializado pela substituio, na camada superior, de material de

    aterro por um material tipo Geo Leca.

    A Geo Leca uma argila expandida, com partculas de forma aproximadamente esfrica.

    Possui uma baridade mais baixa do que os materiais de enchimento naturais, o que,

    acessoriamente, ir reduzir os impulsos nas estruturas existentes.

    Quadro 11 Propriedades Requeridas para Aceitao do Produto

    Preconiza-se assim que sejam substitudos os materiais correspondentes a uma espessura

    de aterro entre 2,0m e 2,5m. Adoptando, de modo conservativo, uma altura de substituio

    de 2.0m, resulta um decrscimo de carga de aproximadamente (18 kN/m x 2,0m 3 kN/m

    x 2,0m) = 30 kN/m, correspondente a uma reduo de carga transmitida pelo aterro, ao

    nvel da fundao, superior a 20%.

    A substituio ser efectuada numa extenso de 10,0m a partir do eixo da fundao do

    tramo de margem. Este desenvolvimento corresponde a cerca de 1,5 vezes a altura do

    macio de terra armada. Sero colocadas geogrelhas de reforo e um geotxtil de

    separao nas interfaces da camada de material leve com as restantes camadas, de forma

    a evitar a penetrao destes materiais no interior da Geo Leca. Sobre esta camada ser

    Granulometria 10,0 20,0 mm

    (11 95) (% massa passado acumulado)

    Massa volmica aparente seca (Baridade)

    275 15 kg/ m3

    Massa volmica seca da partcula 480 kg/ m3

    Percentagem de partidos 26 9 % massa

    Resistncia ao esmagamento 0,70 N/mm2

    Absoro de gua

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    colocado aterro compactado e as diversas camadas de pavimento, com uma espessura total

    de, aproximadamente, 0,70m.

    A substituio dos solos do aterro implica que sejam desmontadas as camadas superiores

    do muro de terra armada, incluindo as escamas danificadas. De forma a criar melhores

    condies de segurana relativamente ao apoio do tramo de margem, prev-se a sua

    substituio por uma pea semelhante mas com uma extenso ligeiramente superior. Desta

    forma, consegue-se melhorar a estabilidade do paramento do muro de terra armada e

    reduzir os impulsos mximos na base do macio de terra armada, uma vez que se efectua

    uma melhor distribuio de cargas.

    7.2. Tramo de margem

    Conforme foi referido anteriormente, e de forma a criar melhores condies de segurana,

    relativamente ao apoio do tramo de margem, prev-se a substituio da laje existente.

    7.2.1. Soluo estrutural

    O tabuleiro do tramo de margem da ponte sobre o Rio Boco uma estrutura sem

    continuidade com a que vence os restantes vos.

    O seu comportamento assimilvel a uma laje de transio, j que tem um apoio rgido,

    rotulado, no pilar de transio (P1) e um apoio flexvel no macio em terra armada que

    materializa o encontro.

    O tabuleiro constitudo por uma laje em beto armado, com uma espessura constante de

    0,50m, apoiado, em toda a extenso, numa sapata contnua com seco em T invertido. A

    parte vertical do T pode ser descrita como uma parede. Tem por objectivo vencer o desnvel

    entre o tabuleiro e a fundao. Do lado do rio, optou-se por manter a soluo de articulao

    em beto, de modo a no introduzir momentos flectores na cabea do pilar de transio da

    ponte sobre o Rio Boco. Desta forma, mantm-se o conceito estrutural que conduziu ao

    dimensionamento dessa pea, no introduzindo esforos adicionais de outra natureza.

    O novo tabuleiro dividido em duas partes desiguais, pelo separador. Cada uma delas

    suporta uma das faixas de rodagem principais, apresentando assim larguras de 13.8m e

    15.65m. O separador central, tipo New-Jersey, colocado sobre o tabuleiro mais estreito. A

    junta entre tabuleiros de 0,02m e pretende-se, ao apoiar o perfil rgido apenas num

    tabuleiro, garantir a sua estabilidade que, assim, no afectada por deformaes

    diferenciais, correntes para diferentes situaes de carga.

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    Seminrio Geo Leca LNEC 27 de Maio de 2009 30 / 31

    Para os passeios, cuja geometria igualmente mantida, preconiza-se o enchimento com

    beto de agregados leves ( =9kN/m3). Esta soluo de todo conveniente, dado que os

    lancis tm 0,30m de altura e as inclinaes transversais do tabuleiro (beto) e do passeio

    tendem a agravar este valor junto viga de bordadura. O pavimento dos passeios ser

    materializado por betonilha esquartelada, com 0,03m de espessura.

    8. Faseamento Construtivo

    O faseamento construtivo o usual para este tipo de obras e intervenes, considerando

    essencialmente o seguinte processo de trabalhos principais: demolio, escavao, aterro e

    execuo da estrutura. No podemos, no entanto, negligenciar o facto da especificidade da

    obra, no que se refere ao local de interveno. Estando localizada numa auto-estrada em

    servio, A25, devem ser cuidadosamente analisados os trabalhos de desvios de trnsito e

    sinalizao de modo a minimizar a interferncia com o trfego e a maximizar a segurana

    durante a execuo. Assim, o processo construtivo pode resumir-se a:

    1. Colocao da sinalizao e separadores. Desvio do trnsito da primeira zona

    em interveno;

    2. Separao, por corte ao longo do eixo, do tramo de margem;

    3. Demolio ou desmontagem da parte que fica na primeira zona a

    intervencionar;

    4. Realizao das sondagens necessrias para averiguao do estado de

    conservao dos tirantes do muro de terra armada e, caso necessrio

    proceder substituio integral do muro existente na zona em reabilitao;

    5. Escavao, ao abrigo de uma conteno provisria, do aterro que ir ser

    substitudo por material leve e da parte superior do muro ou de todo o muro

    se estiver em ms condies de segurana;

    6. Execuo de um prisma de solos seleccionados, com 0.50m de altura, na

    zona de fundao do novo tramo de margem e dos muros laterais

    associados. Execuo da sapata e do muro. Montagem do cimbre, cofragem

    e armaduras. Betonagem do tramo de margem;

  • Utilizao de Geo Leca na reabilitao de um encontro da Ponte sobre o Rio Boco

    Seminrio Geo Leca LNEC 27 de Maio de 2009 31 / 31

    7. Colocao do aterro leve, de acordo com as especificaes tcnicas

    respectivas, na rea escavada at as cotas pretendidas;

    8. Execuo, sobre o material de aterro leve, do solo compactado e das

    restantes camada de pavimento at as cotas finais;

    9. Basculamento do trnsito para a zona reabilitada, com a consequente

    alterao da sinalizao e separadores;

    10. Execuo das tarefas 3 a 8 na segunda zona a intervencionar;

    11. Arranjos finais, restabelecimento das infra-estruturas desviadas e reposio

    das condies iniciais de circulao.

    9. Agradecimentos

    Os autores gostariam de agradecer AENOR e ao E.P. Estradas de Portugal o empenho no

    acompanhamento e aceitao deste estudo, com o qual contriburam para o

    desenvolvimento da concepo de uma soluo arrojada mas que se espera de elevado

    desempenho.