Estatistica Do Seculo XX

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    Presidente da RepblicaLuiz Incio Lula da Silva

    Ministro do Planejamento, Oramento e GestoPaulo Bernardo Silva

    Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica - IBGE

    PresidenteEduardo Pereira Nunes

    Diretor ExecutivoSrgio da Costa Crtes

    rgos Especficos Singulares

    Diretoria de Pesquisas

    Wasmlia Bivar

    Diretoria de GeocinciasGuido Gelli

    Diretoria de Informtica

    Luiz Fernando Pinto Mariano

    Centro de Documentao e Disseminao de Informaes

    David Wu Tai

    Escola Nacional de Cincias EstatsticasPedro Luis Nascimento Silva

    Unidade Responsvel

    Centro de Documentao e Disseminao de Informaes

    AssistenteMagda Prates Coelho

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    Ministrio do Planejamento, Oramento e GestoInstituto Brasileiro de Geografia e Estatstica - IBGECentro de Documentao e Disseminao de Informaes

    Rio de Janeiro2006

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    Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica - IBGEAv. Franklin Roosevelt, 166 . Centro . 20021-120 . Rio de Janeiro . RJ . Brasil

    ISBN 85-240-3894-2 (DVD)IBGE . 2006

    Elaborao do arquivo PDFRoberto Cavararo

    Produo da multimdiaMarisa Sigolo MendonaMrcia do Rosrio Brauns

    CapaGerncia de Editorao/CDDIMnica Pimentel Cinelli Ribeiro

    Ana Bia AndradeFolhas de Guarda

    Operrios, 1933Tarsila do Amaral

    leo sobre tela 150 x 205cmPalcio Boa Vista, Campos do Jordo, SP.

    Criana Morta, 1944Cndido Portinari

    Painel a leo/tela 180 x 190 cmMuseu de Arte de So Paulo Assis Chateaubriand MASP

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    SUMRIOSUMRIO

    APRESENTAO

    INTRODUO

    O BRASIL DOSCULOXX

    ENTREVISTA COMCELSOFURTADO

    ESTATSTICASPOPULACIONAIS,SOCIAIS, POLTICAS E CULTURAIS

    O BRASILSOCIALCONTADO PELOIBGENO SCULOXX

    WANDERLEY GUILHERME DOS SANTOS

    POPULAO E ESTATSTICASVITAIS

    NELSON DOVALLE SILVA E MARIA LIGIA DE O. BARBOSA

    ASSOCIATIVISMO E ORGANIZAESVOLUNTRIAS

    LEILAH LANDIM

    ESTATSTICAS DOSCULO XX: EDUCAOCARLOS HASENBALG

    HABITAO E INFRA-ESTRUTURA URBANA

    NSIATRINDADE LIMA

    JUSTIA

    MARIATEREZA SADEK

    PREVIDNCIA EASSISTNCIA SOCIAL NOSANURIOS ESTATSTICOS DO BRASIL

    GILBERTO HOCHMAN

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    IBGE

    SADE NOSANURIOS ESTATSTICOS DO BRASIL

    NSIATRINDADE LIMA E FRANCISCOVIACAVA

    SINDICALISMO, TRABALHO E EMPREGO

    ADALBERTO MOREIRA CARDOSO

    ESTATSTICAS DOSCULO XX SOBRE

    REPRESENTAO POLTICA E PARTICIPAO ELEITORAL NO BRASIL

    FABIANO SANTOS

    ENTRE O PALCO E A TELEVISO

    SERGIO MICELI

    ESTATSTICAS ECONMICAS

    O BRASIL NOSCULOXX: AECONOMIA

    MARCELO DE PAIVAABREU

    FINANAS PBLICAS BRASILEIRAS NO SCULO XX

    ANTONIO CLAUDIO SOCHACZEWSKI.

    NVEL DEATIVIDADE E MUDANA ESTRUTURAL

    REGIS BONELLI

    OSETOR EXTERNO BRASILEIRO NO SCULO XX

    JORGE CHAMI BATISTA

    RENDIMENTOS E PREOS

    GUSTAVO GONZAGA E DANIELLE CARUSI MACHADO

    SCULO XXNAS CONTAS NACIONAIS

    EUSTQUIO REIS, FERNANDO BLANCO, LUCILENE MORANDI,

    MRIDA MEDINA, MARCELO DE PAIVAABREU

    TENDNCIAS DE LONGO PRAZO DA

    MOEDA E DO CRDITO NOBRASIL NO SCULO XX

    ANTONIO CLAUDIOSOCHACZEWSKI

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    APRESENTAOAPRESENTAO

    OInstituto Brasileiro de Geografia e Estatstica, orgulhosamente, publica asEstatsticas doSculo XXcom dados histricos sobre a realidade socioeconmica brasileira que se consolidou aolongo do ltimo sculo.

    Reunidas numa obra composta por um volume impresso acompanhado de um CD-ROM, que contm

    mais de 16 000 arquivos com tabelas e sries histricas, essas informaes so provenientes do prprio IBGE e

    de outros rgos do Governo Federal e foram selecionadas dos Anurios Estatsticos e das Estatsticas

    Histricas do Brasil. So informaes estatsticas que retratam as transformaes ocorridas na demografia,educao, cultura, sade, habitao, sindicalismo, trabalho, rendimento, preos e contas nacionais do Pas.

    Os pesquisadores envolvidos no projeto foram unnimes em constatar que trata-se de um retrato amplo

    mas descontnuo e, por isso mesmo, coerente com as marchas e contramarchas de um sculo em que a

    industrializao e a democracia se consolidaram no Brasil.

    Convidados pelo o IBGE, os professores Wanderley Guilherme dos Santos e Marcelo de Paiva

    Abreu coordenaram os trabalhos de anlise da enormidade de estatsticas sociais e econmicas existentes,

    analisadas e comentadas tematicamente por um grupo de renomados especialistas responsveis pelos

    ensaios contidos na publicao.

    Com esta iniciativa, pretendemos homenagear aqueles que ajudam a instituio a cumprir a sua misso deretratar o Brasil com as informaes necessrias ao conhecimento da sua realidade e ao exerccio da cidadania. Entre estes,

    queremos especialmente destacar o Professor Celso Furtado, pelos importantes trabalhos dedicados

    investigao dos problemas brasileiros e seu subdesenvolvimento. Sua obra contribui permanentemente para

    que a sociedade brasileira preste ateno ao estudo da nossa realidade, passada e presente, e assuma o propsito

    de construir um futuro com menos desigualdades sociais. Tudo isso, inegavelmente, aproxima o economista,

    professor, ministro e cidado brasileiro Celso Monteiro Furtado do IBGE.

    Hoje, passados 67 anos desde a criao do IBGE, acreditamos que a produo de estatsticas no Brasil

    situa-se num patamar equivalente ao dos pases mais desenvolvidos. No entanto, sabemos que ainda precisamos

    avanar muito. E este o desafio para o Sculo XXI.

    EDUARDO

    PEREIRA

    NUNES

    PRESIDENTE DO IBGE

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    INTRODUOINTRODUO

    Oprojeto que deu origem publicaoEstatsticas do Sculo XXteve como objetivo recuperar, organizare colocar disposio do pblico o acervo de estatsticas referentes a reas temticas previamenteselecionadas, de modo que permitisse a reconstituio da histria do Brasil atravs dos dados estatsticos produzidos

    num sculo.

    Para isso, o IBGE reuniu especialistas em populao, economia, poltica, cultura e na rea social para

    selecionarem e analisarem as estatsticas de cada um desses temas. Os dados foram recuperados do acervo do

    IBGE na coleo dos Anurios Estatsticos e atravs de levantamentos feitos a partir das Estatsticas Hist-ricas do Brasil; os textos representam a viso dos especialistas enquanto usurios externos das informaes

    produzidas pelo IBGE.

    Esta obra composta de um livro e de um CD-ROM. Em ambos o contedo est dividido em duas partes:

    a das estatsticas sociais, culturais, polticas e populacionais e a das estatsticas econmicas.

    O CD-ROM contm mais de 16 000 arquivos de tabelas, contemplando as duas partes. Essas tabelas

    passaram por um complexo processo de converso para o meio digital, incluindo as etapas de escaneamento

    e de reconhecimento ptico de caracteres (OCR). Durante esse processo manteve-se uma constante orientao

    e superviso dessas atividades para assegurar a transformao na ntegra do material original para os arquivos

    que viriam a compor o CD-ROM.

    O livro apresenta um conjunto de textos para cada uma das partes, que alm de variarem na temtica

    tambm possuem abordagens diferentes.

    Os textos sobre populao e panorama sociopoltico e cultural do Brasil no Sculo XX se detiveram na

    descrio do conjunto de dados e na avaliao de sua comparabilidade e do seu potencial de utilizao, visto que

    as estatsticas no apresentavam qualquer organizao. Elas se distribuam desigualmente pelos 60 Anurios

    Estatsticos publicados no sculo, com quase total ausncia de sries histricas ou fator que mostrasse algum

    tipo de aglutinao entre elas.

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    IBGE

    Os textos sobre as estatsticas econmicas tm como referncia as estatsticas do IBGE e de outros rgos

    pblicos, que atualizam as sries histricas j publicadas pelo Instituto. Diferentemente dos textos da parte ante-

    rior, no se detiveram na avaliao das estatsticas publicadas, mas na anlise da evoluo dos diferentes aspectos

    da economia brasileira luz de sries histricas atualizadas dos respectivos temas.

    A publicao apresenta tambm uma entrevista com o Professor Celso Furtado, que introduz o leitor sestatsticas presentes nesta obra e antecipa a percepo crtica da evoluo do Pas em todas as suas dimenses

    econmica, social, poltica, cultural e populacional atravs das estatsticas do Sculo XX.

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    Eduardo Pereira Nunes Presidente do IBGE AsEstatsticas do Sculo XX, publicadas pelo IBGE,mostram

    que o Brasil iniciou o sculo com uma economia agrrio-exportadora, recm-sada de um regime escravista de

    trabalho, e se transformou em uma economia industrial apoiada no trabalho assalariado e com um alto grau de

    urbanizao. Como o senhor sintetizaria essa evoluo da economia brasileira?

    Celso Furtado Em primeiro lugar, eu diria que uma iluso imaginar que o Brasil provavelmente se

    desenvolveu nessa escala. A verdade que o Brasil continua sendo uma constelao de regies de distintos

    nveis de desenvolvimento, com uma grande heterogeneidade social, e graves problemas sociais que preocupama todos os brasileiros.

    No comeo do Sculo XX, a ocupao das terras no Brasil no formava propriamente um sistema econmico,

    pois as conexes comerciais entre as regies eram precrias. As ligaes entre o Norte e o Nordeste com o

    Centro-Sul dependiam de uma frgil navegao de cabotagem. Tratava-se de uma realidade poltica decorrente

    do centralismo do imprio portugus. A nica regio que dependia do mercado interno era o extremo-sul

    pecurio. Esse quadro se modificaria com a forte expanso do caf no altiplano paulista e a extrao de

    borracha na regio amaznica. Nestes dois casos, houve importantes deslocaes de populaes. Mas a

    estruturao de um sistema econmico nacional s viria a ocorrer nos primeiros decnios do Sculo XX, com o

    avano da industrializao.

    Eduardo Pereira Nunes O ltimo Censo Demogrfico revelou que a populao brasileira cresceu quase dez

    vezes neste sculo: passou de 17 milhes em 1900 para quase 170 milhes em 2000. No incio do sculo, cerca

    de 52% da populao ocupada trabalhava no campo. Em 2000, essa proporo caiu para 17%, e 80% da

    populao vivia na rea urbana.

    Em 1900, a agropecuria contribua com 45% do PIB; a indstria com 11%, e os servios, com 44%. J em

    2000, essa distribuio passou a ser de 11% para a agropecuria, 28% da indstria e 61% para os servios.

    Qual o impacto do avano da industrializao, combinado com o xodo rural, sobre a organizao das cidades e

    do mercado de trabalho no Brasil?

    ENTREVISTA COM CELSO FURTADO

    O BRASIL DOSCULOXXO BRASIL DOSCULOXX

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    O BRASIL DOSCULOXXENTREVISTA COMCELSOFURTADOIBGE

    Celso Furtado Esses dados so muito importantes, mas so um pouco ilusrios quando se pretende

    esclarecer o que aconteceu no Brasil. A estrutura ocupacional da populao ativa um dado que deve ser

    utilizado com muito cuidado. O mundo rural abrigava um considervel excedente de populao submetida a

    formas extremas de explorao. Por motivos diversos, essa populao deslocou-se para as zonas urbanas. A

    partir dos anos 70 do sculo passado, o vis tecnolgico assumido pelo setor industrial, submetido a crescenteconcorrncia internacional, traduziu-se em forte declnio na criao de emprego. Este um dos motivos pelos

    quais o Brasil enfrenta atualmente um problema social de gravidade excepcional.

    Mas o processo de urbanizao da sociedade brasileira no semelhante ao que se verifica na Europa e em

    outras partes do mundo. Na Europa, a urbanizao decorreu da criao de um mercado de trabalho muito

    intenso nas cidades, que absorveu o excedente de populao rural, transformando o continente ao longo dos

    anos. No Brasil, o processo migratrio do campo para a cidade ocorreu de forma distinta: houve uma fase, na

    metade do Sculo XX, em que se criou muito emprego no setor industrial, mas nos ltimos 30 anos o emprego

    industrial j no cresceu. O crescimento da populao urbana inchou as cidades, mas nelas no se criou

    emprego suficiente para absorver toda essa gente, da as taxas de desemprego crescentes, a marginalidade.Eduardo Pereira Nunes E esse processo tem repercusso na distribuio de renda e na formao de

    mercado?

    Celso Furtado Tem srias repercusses negativas, especialmente no perfil social, porque o Brasil cresceu

    muito mas, no essencial, no se transformou. Por exemplo, crescente, em nmeros absolutos, a massa de

    populao subempregada ou desempregada. No se pode admitir que um pas possa se urbanizar to

    rapidamente criando apenas subemprego urbano.

    Eduardo Pereira Nunes Isto , necessrio que o emprego tenha qualidade, cuja renda permita ao

    empregado se transformar em um consumidor dos bens produzidos, criando um mercado de massa.Celso Furtado Sim. necessrio criar empregos que permitam uma insero social plena. O que

    ocorreu no Brasil foi a criao de uma enorme massa de subempregados. Este o fenmeno das cidades

    brasileiras de hoje, sendo a cidade de So Paulo o exemplo conspcuo, com quase vinte por cento de sua

    populao sem emprego. Os trabalhadores tm de ficar pedinchando empregos, porque as grandes

    empresas no querem cri-los. Estranhamente, elas no criam empregos, mas enfrentam problemas de falta

    de mercado para seus produtos.

    Eduardo Pereira Nunes Essa massa de subempregados explica o fato de, no Brasil, a taxa de desemprego

    no ser to elevada? Estudos mais abrangentes sobre as estatsticas de emprego deveriam contemplar o

    emprego, o desemprego, o subemprego, ou emprego de qualidade e renda precrias.

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    Celso Furtado Exato, mas estamos falando apenas do quadro urbano. No setor rural tambm houve uma

    transformao muito especial. Assistimos a uma forte presso para desempregar no campo,

    particularmente no Centro-sul do Brasil, onde a mecanizao da agricultura tem sido muito intensa nos

    ltimos tempos. O desemprego no mundo rural no decorreu apenas do crescimento da produtividade,

    mas tambm da impressionante concentrao das terras em todo o Brasil, isto , do crescimento doslatifndios.

    A massa de populao que perdeu seu emprego no campo contribuiu para a forte reduo da populao

    rural, como mostra o livro do IBGE sobre asEstat sticas do Sculo XX. O declnio da populao rural e do

    emprego no campo no teve como contrapartida a criao de empregos urbanos. O resultado foi que o

    Brasil terminou o Sculo XX com esse bolso enorme de desempregados e subempregados urbanos.

    Eduardo Pereira Nunes Podemos ento dizer que o modelo brasileiro de desenvolvimento do setor

    urbano e do setor rural no exatamente igual quele que os modelos clssicos da economia sugerem?

    Celso Furtado O Brasil um caso parte e os problemas sociais se agravam a cada dia. Quem observao Pas se impressiona com esse quadro. O Brasil cresceu. Hoje em dia, uma das dez maiores economias

    do mundo e tem um sistema industrial complexo. Mas, ao mesmo tempo, este Pas tem uma massa enorme

    de subempregados. A parte da populao que no participa dos benefcios do desenvolvimento to

    grande que este passa a ser um dos principais problemas, seno o prioritrio, de quem governa o Brasil.

    Qual ser o futuro deste Pas, se continuarmos a expelir a populao do campo, a reduzir o emprego no campo

    como se fez intensamente nos ltimos 20 anos? Vamos expulsar a populao rural para a beira das estradas?

    impressionante ver esses desempregados e subempregados querendo invadir as terras no prprio campo e nas

    cidades. Este um problema social cada vez mais difcil de resolver, enquanto no se atacar o fundo da questo.

    Para superar a situao atual, urgente pensarmos na criao de empregos.

    Veja os dados que vocs publicaram sobre o setor industrial: a indstria brasileira se modernizou

    consideravelmente, aumentou a produtividade e outro lado dessa moeda causou o declnio do emprego

    industrial. A indstria automobilstica, por exemplo, hoje emprega um tero do contingente que empregou h dez,

    vinte anos atrs, em virtude do forte aumento da modernizao da produo e dos sistemas, da terceirizao, etc.

    Paralelamente, precisamos pensar numa poltica rural de outro tipo, a fim de atrair gente para trabalhar no

    campo, mas com base em um modelo novo. O desafio ser criar emprego no campo sem inviabilizar a produo

    nas grandes propriedades. preciso criar uma agricultura variada: produo comercial e familiar. Muita gente j

    est debatendo isso. O Movimento dos Sem-Terra pensa nessa direo, est consciente disso.

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    Eduardo Pereira Nunes O senhor sugere ento que o Brasil precisa conciliar o agronegcio, de grande

    produtividade, com tecnologia avanada intensiva em capital, voltado para exportao, com uma agricultura

    familiar intensiva em mo-de-obra, voltada para o mercado interno, levando em conta a imensa extenso

    territorial, as terras disponveis e a necessidade de preservao do meio ambiente?

    Celso Furtado Quando debato esse problema internacionalmente, todos partem do seguinte raciocnio: oBrasil um Pas inexplicvel, pois com essa abundncia extraordinria de terras, o que hoje em dia rarssimo,

    tem uma massa enorme de desempregados! Por que no utilizar as terras disponveis para criar emprego?

    inexplicvel! Como defender esse modelo de desenvolvimento que cria desemprego e subemprego num Pas de

    terras abundantes e ociosas? Por que a invaso de terras preocupa mais do que a constatao do imenso

    nmero de desempregados e subempregados?

    Eduardo Pereira Nunes Ns temos que nos preocupar com o impacto do nosso modelo atual de

    desenvolvimento sobre o meio ambiente, sobre a estrutura agrria e sobre o mercado de trabalho. Este modelo,

    para ser sustentvel, tem de associar a poltica de ocupao de terras voltadas tanto para o agronegcio

    capitalista desenvolvido quanto para uma agricultura familiar geradora de emprego e abastecedora do nossomercado interno, sempre preservando os recursos naturais.

    Celso Furtado Exato. Esse o problema a ser enfrentado, a ser discutido pelos governantes. O governo que

    no enfrent-lo de verdade ter falhado na poltica de desenvolvimento. Desenvolvimento no Brasil, hoje em

    dia, essencialmente solucionar o problema social. Este o desenvolvimento sustentvel. No basta apenas

    aumentar o produto. Depois de ter assistido a tantos anos de transformaes, creio que esse o problema mais

    grave do Brasil atual. Um pas que no tem uma populao rural e uma agricultura forte uma economia muito

    frgil. Como manter o equilbrio interno entre os setores?

    Na primeira metade do Sculo XX, o Estado ainda absorvia mo-de-obra dos imigrantes que vieram da Europa.Como era um Pas de terras abundantes e virgens, nessa poca o Brasil conciliava o setor rural com o setor

    urbano. At os anos 50, no havia preocupao com a gerao de emprego, mas sim com a produtividade, a fim

    de se ganhar competitividade internacional. Ou seja, o Estado precisava fomentar a criao de indstrias

    modernas, ou no teramos desenvolvimento. Isso era aceito como sendo uma lei da natureza. Mais adiante, o

    resultado dessa poltica foi uma situao crescente de desemprego estrutural, que atualmente prevalece.

    O Brasil tem terras abundantes e baratas, tem mo-de-obra disponvel. Por que enfrenta tantas

    dificuldades? Por que tem crescentes problemas sociais? Por que o desenvolvimento s para servir uma

    minoria? Eu no consigo explicar.

    Ainda num passado recente, nem mesmo os economistas queriam debater esse problema, que agora imperativo.

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    Eduardo Pereira Nunes Eu gostaria de voltar aos anos 50, quando o senhor comeou a discutir com

    Rostow e outros economistas as teorias do desenvolvimento prevalecentes. Na poca, o senhor j contestava as

    teorias de que o subdesenvolvimento era uma etapa histrica do processo de desenvolvimento. De acordo com

    aquela teoria, todas as economias passavam por uma etapa de subdesenvolvimento, para, depois, alcanar um

    estgio superior de desenvolvimento. Dessa forma, podia-se concluir que o planejamento econmicorepresentava uma interferncia desnecessria e indesejvel do Estado nas trajetrias das economias nacionais.

    Podemos dizer que o debate atual sobre o papel do Estado na formulao de polticas ativas de

    desenvolvimento, tecnolgicas e de comrcio exterior representa uma volta quele antigo debate e quela

    postura que o senhor j contestava nos anos 40 e 50?

    Celso Furtado Vamos responder por etapas. Primeiramente, a questo do desenvolvimento e

    subdesenvolvimento. Em meu primeiro livro de teoria econmica, escrito no final dos anos 50, defendi a tese de

    que o subdesenvolvimento no era uma fase pela qual tiveram de passar todas as economias, e sim a situao de

    dependncia que decorria de como as economias se inseriram nas correntes de expanso do comrcio

    internacional, a partir da Revoluo Industrial.Eu pretendi rebater as idias de Rostow, que eram amplamente dominantes na poca.

    Estvamos ambos em Cambridge, eu e Rostow, o famoso economista que formulou a teoria dos cinco estgios

    do desenvolvimento. Ao ouvir o debate sobre essa teoria, pensei: um absurdo; no pode haver isso; a nossa

    situao no uma fase, pois nela estamos h 100 anos; nada mudou; somos sempre subdesenvolvidos, e os

    outros esto cada vez mais frente. Ento, havia que repensar tudo isso. Foi quando formulei a teoria do

    subdesenvolvimento.

    Comparando pases de distintos nveis de renda per capita, percebi que o que fazia a diferena era a forma como

    cada pas incorporava a tecnologia moderna. A simples modernizao dos hbitos de consumo, mediante aimportao de veculos de luxo e artigos do gnero, podia significar o enriquecimento de uma elite local, mas

    estava longe de ser um autntico desenvolvimento.

    Se comparamos as economias da Argentina e do Japo no primeiro quartel do Sculo XX, comprovamos que a

    renda per capita do pas latino-americano era muito superior do asitico, apesar de a economia deste ltimo

    ser bem mais desenvolvida.

    A verdade que os pases que comearam pelo caminho certo tenderam a uma diversificao na economia foi

    o chamado progresso enquanto outros se especializaram na produo de matrias-primas, absorvendo muito

    pouco progresso tcnico. Portanto, constituram um quadro diferente, que chamei de estgio de

    subdesenvolvimento. Dele no se sai sem srias transformaes estruturais. No h um avano automtico para

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    o estgio do desenvolvimento. preciso fazer um grande esforo de transformao e enfrentar os

    problemas estruturais. Portanto, esse era um quadro novo. Reuni essas idias em meu livro

    Desenvolvimento e Subdesenvolvimento, de 1961 . Na poca, poucos aceitaram a teoria do

    subdesenvolvimento. Hoje em dia, ela est evidente: todos percebemos que um pas pode crescer muito,

    como o Brasil cresceu, e continuar subdesenvolvido. Por que o Brasil no reduziu osubdesenvolvimento, se o seu PIB cresceu 100 vezes no Sculo XX?

    Durante muitos anos trabalhei nesse tema, e s cheguei a perceber o mago da questo quando introduzi o

    aspecto cultural. Alguns pases podem ter crescimento econmico, a partir dos produtos primrios. Tero

    aumento de renda, o qual poder ser apropriado por uma minoria, por uma elite que adota, ento, padres de

    consumo e formas de viver tpicas dos pases mais ricos, e totalmente incompatveis com o nvel de renda do

    prprio pas. Esse pas crescer economicamente, mas no se transformar, ao contrrio, se deformar.

    Eduardo Pereira Nunes Moderniza-se o padro de consumo, mas no se absorve a tecnologia moderna de

    produo.

    Celso Furtado Absorve-se a tecnologia moderna, mas num setor, ou noutro. No setor de exportao, a

    produo de soja tem a tecnologia mais moderna, mas o conjunto da economia nacional no se transforma.

    Crescem a produtividade e a renda per capita, mas, se no houver distribuio dessa renda, apenas se

    reproduzem os padres de consumo dos pases mais ricos. As elites do Brasil vivem to bem, ou melhor, do que

    as do chamado Primeiro Mundo. O subdesenvolvimento cria um sistema de distribuio de renda perverso, que

    sacrifica os grupos de renda baixa. Pois inerente economia capitalista a tendncia concentrao social da

    renda. O processo competitivo da economia de mercado exige a seleo dos mais fortes, e os que vo passando

    na frente concentram a renda. Essa tendncia pode ser corrigida pela ao das foras sociais organizadas, que

    levam o Estado capitalista a adotar uma poltica social. Na Europa, onde se criaram grandes sindicatos, a

    sociedade civil se modificou, evoluiu, e a prpria luta social passou a ser um elemento dinmico. Se a Europa

    avanou tanto no foi s porque cresceu economicamente, mas porque redistribuiu a renda, o que foi possvel

    graas s presses dos poderosos sindicatos. O problema que nas economias subdesenvolvidas a ao dessas

    foras sociais de muito menor eficcia. Aqui, a tendncia agravao das desigualdades somente se reduz em

    fases de forte crescimento do intercmbio internacional. Da o fator poltico ser to relevante nos pases do

    Terceiro Mundo.

    Eduardo Pereira Nunes Qual deve ser o papel do planejamento econmico?

    Celso Furtado Em relao ao planejamento econmico, digo o seguinte: se um pas acumulou tamanho

    atraso, como o caso do Brasil, no pode sair dessa situao pelo mercado. Este no suficiente, pois no far

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    as transformaes estruturais necessrias. O mercado concentra renda e preciso desconcentrar. O pas

    submetido por longo tempo a um processo de concentrao de renda, como est acontecendo no Brasil,

    adquire uma rigidez estrutural muito grande. difcil impor as reformas. Veja o debate atual sobre as reformas

    sociais. A classe dominante quer defender de todas as maneiras os seus privilgios. H uma resistncia enorme

    para ceder. A concentrao de renda , no fundo, uma contrapartida das lutas sociais. A lgica do capitalismo a de concentrar renda, mas ele prprio engendra foras sociais que vo pression-lo para desconcentrar. E seu

    desenvolvimento surgiu da interao dessas foras, de um lado o progresso tecnolgico criando desemprego, de

    outro os movimentos sociais pressionando para criar emprego. Foi assim nos pases onde o capitalismo se

    desenvolveu em sua plenitude: as lutas sociais permitiram a desconcentrao da renda. Em cada ciclo

    econmico, em cada movimento social, os salrios se corrigiam, os salrios mdios cresciam cresciam tanto

    quanto a produtividade. Concentra, desconcentra: so as crises cclicas, que redistribuem a renda, permitem a

    retomada do crescimento; o capitalismo andando, navegando, indo de crise em crise, mas, em geral, crescendo.

    Porm, num Pas subdesenvolvido, que acumula o atraso, isso no ocorre: a sociedade no capaz de reagir

    suficientemente para modificar o quadro. No Brasil no se tem esse dinamismo do sistema capitalista, porque osmovimentos sociais so fracos. A elevao dos salrios o o que h de mais difcil num pas como o Brasil. Isso

    uma deformao social, que no fundo o espelho do subdesenvolvimento.

    Eduardo Pereira Nunes Por isso o subdesenvolvimento no uma etapa do desenvolvimento, mas uma

    deformao. Os pases mais desenvolvidos Estados Unidos, Europa ocidental e Japo so aqueles que ao

    longo do seu processo de desenvolvimento sempre realizaram polticas ativas de desenvolvimento cientfico,

    tecnolgico, procurando promover o crescimento e a distribuio da renda nacional.

    Olhando os pases menos desenvolvidos o senhor tem destacado a enorme desigualdade social. Como explicar

    que o Brasil, que procura elimin-la, enfrente tanta dificuldade no cenrio internacional, por exemplo, no mbitoda Organizao Mundial do Comrcio, para executar as suas polticas ativas? E os pases que um dia as

    praticaram so os que hoje se opem a prticas semelhantes adotadas pelo Brasil?

    Celso Furtado Essa a realidade. muito difcil enfrent-la porque as foras organizadas so, na verdade,

    contra os pases pobres. Na OMC todos os debates so para preservar os privilgios dos pases ricos. A

    poltica americana nesse quesito muito clara. Na Unio Europia, passa-se o mesmo. No existe

    globalizao quando se trata da necessidade de repensar o mundo. Hoje em dia proibido subsidiar as

    exportaes, como antigamente o Brasil tanto fez. O poder est se concentrando em todos os planos e isso

    vai criar dificuldades novas. Evidentemente, o que esperamos que pases como o Brasil se unam para lutar

    por novas formas de desenvolvimento.

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    Por outro lado, eu me pergunto se o Brasil precisa tanto desse apoio externo para se desenvolver. H uma

    abundncia to grande de recursos naturais, de mo-de-obra subempregada, de capacidade tcnica, e mesmo

    cientfica! Ento, por que no buscar um caminho prprio para se desenvolver? Entre a dcada de 30 e a de 70

    o Brasil se desenvolveu fortemente, foi um dos pases que mais cresceram no mundo. Pode-se argumentar que

    tnhamos a faca e o queijo na mo. Hoje diferente, sem dvida. Mas fico pensando se nas condies atuais oBrasil pode voltar a crescer, quando seu setor externo enfrenta srias limitaes e a participao de seu comrcio

    exterior na renda nacional se reduziu de cerca de 20% para 8%.

    No passado, quando o Brasil sofreu as conseqncias de uma poltica internacional de reduo de espao, voltou-

    se para o mercado interno, deixou de crescer segundo a linha tradicional das exportaes de produtos primrios e

    das importaes de manufaturas, e investiu na criao de um mercado interno. A descobriu o enorme potencial

    de seu mercado interno, graas tambm poltica de incentivos. Nessa poca, ainda se podia ter protecionismo,

    poltica cambial, etc. Alis, a poltica cambial brasileira foi muito inventiva, adotando a taxa mltipla de cmbio. Isso

    permitiu que o Brasil encontrasse uma maneira de financiar um desenvolvimento expressivo de seu produto

    nacional, com crescimento para dentro. Mas tudo se perdeu nos ltimos 10 ou 20 anos, quando se passou aafirmar que mercado interno era coisa secundria, que no favorecia o avano tecnolgico; ou seja, o jeito era se

    acomodar e ficar com uma tecnologia de segunda classe. O resultado dessa mudana a situao atual. O Brasil

    ter de voltar a pensar no seu mercado interno e abrir, assim, espao para crescer.

    Eduardo Pereira Nunes Falemos um pouco mais sobre o mercado interno, que sempre foi uma

    preocupao sua. Em 1961, o senhor apresentou no seu livro Desenvolvimento e subdesenvolvimentoas idias sobre o

    subdesenvolvimento brasileiro, e destacou a importncia da distribuio de renda para o fortalecimento do

    mercado interno brasileiro e a superao do atraso econmico e social do Pas. Hoje, continua afirmando que o

    fortalecimento do mercado interno fundamental para a sustentabilidade do desenvolvimento brasileiro.

    Tambm no seu livro de 1968, Um projeto para o Brasil, preparado para debater no Congresso Nacional asperspectivas do desenvolvimento brasileiro, o senhor afirmava que o crescimento apoiado no mercado interno

    dependia, necessariamente, da prvia distribuio da renda. Caso contrrio, o Pas correria o risco de cair em

    uma estagnao econmica.

    Vou ler aqui alguns dados do livro do IBGE sobre asEstatsticas do Sculo XX. Em 1960, a parcela da renda

    nacional apropriada pelos 10% mais ricos do Pas era 34 vezes maior que a renda dos 10% mais pobres. Em

    1990, essa proporo passou para 78 vezes! AsEstatsticas do Sculo XXrevelam portanto que, ao longo desse

    perodo, a desigualdade social no Brasil cresceu e, com ela, cresce a dificuldade de se promover o

    desenvolvimento e a justia social numa economia voltada para o mercado interno, em virtude da excluso

    social. E esse j era o motivo da sua preocupao na obra de 1968, Um projeto para o Brasil.

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    Celso Furtado O problema j estava todo colocado. Naquela poca, ficou muito claro para ns que o

    mercado interno representava um trunfo para o Brasil crescer. Logo, era importante mostrar como uma poltica

    que o privilegiasse poderia contribuir para a promoo do desenvolvimento econmico e social do Pas. o que

    exponho em Um projeto para o Brasil. A meu ver, a poltica de distribuio de renda era a nica forma de fazer

    com que esse mercado interno se traduzisse em poder de compra para a populao.Eduardo Pereira Nunes Mercado interno, distribuio de renda, incluso social, poder de compra,

    consumo de massa e desenvolvimento econmico e social caminham passo a passo.

    Celso Furtado Veja como a coisa perversa: ao concentrar a renda, voc cria uma minoria de alto nvel de

    vida, que tem acesso a um mercado privilegiado. Esse mercado privilegiado de objetos de luxo, mas pequeno,

    e no leva muito longe. Portanto, o mercado interno que tem de se transformar em mercado de massa. E para

    haver um mercado de massa, preciso que a renda seja redistribuda. uma luta que integra, por um lado, a

    questo de privilegiar o mercado interno e, por outro, a de privilegiar a desconcentrao da renda.

    Qualquer poltica econmica, para ser eficaz, tem de levar em conta o consumo de massa, essencialmente,

    popular. Pode parecer demagogia, mas a verdade essa: o Brasil tem todos os meios para sair rapidamente dasituao em que est e avanar por muitos anos.

    Veja os dados da distribuio de renda na ndia, que publiquei em meu livro mais recente. O povo na ndia tem

    mais ou menos o nvel de vida do povo no Brasil, mas a classe rica na ndia pesa muito menos, sendo dez vezes

    menos rica do que a brasileira. O Brasil poderia ter uma forma de distribuio de renda distinta, sem deixar de

    ser capitalista. Tenho a impresso de que hoje em dia dispomos dos meios para resolver esse problema.

    Os dados estatsticos disponveis atualmente confirmam a tese que havamos formulado desde os anos de 1950,

    segundo a qual a dinmica da economia brasileira leva inexoravelmente concentrao da renda. A raiz desse

    problema, conforme j expliquei, est no comportamento das elites que se empenham em reproduzir os

    padres de consumo dos grupos de altas rendas dos pases mais ricos. Nos perodos de fraco crescimento, esse

    problema se agrava muito e cresce a responsabilidade do poder pblico. Ento, o primeiro objetivo deveria ser

    o de recuperar o nvel da taxa de poupana de meio sculo atrs.

    Eduardo Pereira Nunes De que forma a concentrao de renda afeta o desenvolvimento social e

    econmico do Pas a longo prazo?

    Celso Furtado A concentrao de renda representa um custo em divisas para a economia brasileira, pois

    pode agravar essa tendncia ao desequilbrio externo, que, por sua vez, leva a um permanente endividamento.

    A concentrao de renda corresponde, digamos, necessidade de se fabricarem automveis de luxo. Estes, por

    sua vez, tm um custo em divisas muito elevado, pois vrios de seus componentes so importados. Assim, boa

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    parte do setor industrial se deforma para produzir artigos de luxo e essa transformao duplamente perversa,

    pois os produtos de alto contedo de divisas agravam a tendncia do Pas escassez de divisas. De um lado,

    piora a concentrao da renda, de outro, piora o desequilbrio externo.

    Eduardo Pereira Nunes E, depois, torna-se necessrio adotar polticas especficas para o seu pagamento, ou

    renegociao...

    Celso Furtado A tendncia a se endividar parece, de fato, uma condenao, mas est ligada concentrao

    da renda. Quando a renda cresce, cresce mais que proporcionalmente a demanda de importaes; os grupos de

    alta renda exigem produtos mais nobres, importados, querem as ltimas novidades.

    Analisando as estatsticas do IBGE sobre o Sculo XX, vemos que, hoje, o Pas produz grande parte desses

    produtos nobres, mas so as firmas estrangeiras que os vendem. Isso custa divisas ao Pas, pois preciso pagar

    royaltiese dividendos, ou importar. Quando o custo em divisas aumenta mais do que a prpria renda nacional,

    cria-se o desequilbrio externo, que torna o pas vulnervel. Este o fulcro da questo.

    Eduardo Pereira Nunes Os captulos do livro do IBGE sobre asEstatsticas do Sculo XX mostram este

    problema nas contas nacionais do Brasil. Essas estatsticas mostram que, hoje em dia, a economia brasileira

    tende a pagar ao exterior um volume de divisas com a importao de mercadorias e servios, com rendas de

    juros da dvida externa e com dividendos, muito maior do que recebe com as exportaes e rendas.

    Celso Furtado Este um problema difcil de resolver porque a populao deseja gastar em divisas, deseja

    viajar para a Europa, os Estados Unidos, deseja consumir produtos modernos. So gastos nobres. Mas quantos

    brasileiros podem realizar esses desejos?

    O gasto em divisas representa uma sangria do fator mais escasso no Brasil: os dlares. Se no tivermos divisas

    para pagar, teremos de pedir emprestado, aumentando a dvida ainda mais. Por isso eu digo que precisamos de

    uma poltica de equilbrio da balana de pagamento distinta da atual.Quando fui Ministro do Planejamento, classificamos as importaes brasileiras em cinco categorias. De acordo

    com essa classificao, os produtos pouco essenciais, suprfluos para a economia do Pas, eram negociados a

    uma taxa de cmbio muito mais alta que a dos produtos essenciais. Assim, o Brasil tinha o dlar de 40 mil ris e

    o dlar de 200 mil ris, de acordo com o produto. E assim voc tinha uma discriminao e desencorajava as

    importaes de produtos no essenciais. Hoje o FMI no permite polticas discriminatrias. O Pas no tem

    autonomia, tem de se subordinar s regras do FMI, no pode discriminar as importaes de luxo. Da a situao

    de grande fragilidade externa na economia brasileira.

    Foi ao aprofundar o estudo desse problema que percebi seu forte componente cultural. O brasileiro tende a

    reproduzir padres de consumo que vm de fora, baseando-se na noo de que o produto importado melhor.

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    A classe de renda alta tem poder aquisitivo para comprar os produtos mais caros do mundo. Mas so poucos os

    que esto nessa situao. Assim, se voc permite que a economia opere sozinha, isto , de acordo com as regras

    do livre-mercado e sem polticas discriminatrias, ela engendra uma demanda por importaes de bens e

    servios muito maior do que a capacidade de exportar do pas. Da o desequilbrio permanente da balana de

    pagamentos, que culmina na dvida externa, nas privatizaes, na atrao de capitais de curto prazo.Em condies adversas, um pas dependente do endividamento externo apela para a importao do capital de

    curto prazo para fechar o seu balano de pagamentos. Mas essa iniciativa faz com que a dvida do governo

    cresa. Da a necessidade de termos uma poltica permanente para evitar a sangria de divisas, fator to caro no

    Brasil. Hoje, essas polticas s so adotadas quando ocorre uma crise no balano de pagamentos que afete a

    confiana dos investidores.

    Eduardo Pereira Nunes Os dados das contas nacionais do Brasil, includos nasEstatsticas do Sculo XX,

    revelam que a nossa taxa de investimento era de cerca de do PIB nos anos 70 e agora se encontra no patamar

    de 20%. Nos ltimos 30 anos do sculo passado, tivemos uma dcada de crescimento, os anos 70, e duas outras

    de estagnao econmica, os anos 80 e 90. A pergunta que eu fao a seguinte: at que ponto essas duas ltimasdcadas refletem aquela sua preocupao com a estagnao econmica e social do Pas que o senhor j havia

    apontado no seu livro Um projeto para o Brasil?

    Celso Furtado Os problemas fundamentais so os mesmos. O Brasil avanou em muitos setores, mas perdeu

    em capacidade de autogoverno. Hoje tem dificuldade para se defender da grande vulnerabilidade do setor

    externo. Antes do golpe militar de 1964 participei de trs governos, e naquela poca tnhamos a possibilidade de

    condicionar as importaes poltica de cmbio mltiplo e ao controle de cmbio.

    O Brasil renunciou a tudo isso, renunciou alavanca de poder. Hoje, o governo receia uma corrida contra o real.

    A qualquer instante, como ocorreu em 1998, 1999 e 2002, pode haver uma sada de 20, 30 bilhes de dlares,

    deixando o Pas completamente vulnervel.

    O Brasil tem recursos externos limitados. So poucos os seus meios de autodefesa.

    Ao mesmo tempo, vive aterrorizado com a ameaa da retomada da inflao. uma ameaa, no h dvida. Mais

    grave, contudo, a perda das alavancas de poder. Precisamos voltar a ter uma poltica cambial ativa. O FMI um

    fantasma usado por naes poderosas para que as indefesas no tenham uma poltica prpria.

    Governar o Brasil uma tarefa difcil, porque os meios de controlar a situao econmica e seguir uma

    determinada poltica so limitados. O Pas tem grandes possibilidades, mas vulnervel no curto prazo. Bastam

    dois ou trs boatos em Londres dizendo que o Ministro da Fazenda vai cair para o cmbio flutuar seriamente e

    abalar a taxa de juros.

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    Eduardo Pereira Nunes Podemos dizer que o rpido crescimento dos anos 70 criou uma iluso de que

    seria possvel crescer sem promover a distribuio de renda, ou isso seria um mito, como o senhor escreveu, em

    1974, no seu livro O Mito do desenvolvimento econmico?

    Celso Furtado Quando escrevi esse ensaio era muito mais limitado o conhecimento que tnhamos da

    realidade do subdesenvolvimento. Hoje vemos com clareza que o crescimento no condio suficiente parasuperar o subdesenvolvimento. S se consegue isso mediante reformas estruturais importantes. Naquela poca

    tampouco se tinha conscincia da gravidade do problema da concentrao de renda. O Brasil optou por

    financiar grandes projetos nos anos 70 com financiamento externo privado, numa poca de inundao de

    recursos lquidos. Isso mudou rapidamente quando teve incio a crise americana, em 1979. Foi ento que o

    Brasil teve de enfrentar uma situao nova, de endividamento de curto prazo.

    No incio dos anos 90, comeou uma nova fase de abundante liquidez. Mas, de novo, foi seguida por outra fase

    de retrao de recursos, aps as crises do Mxico, da sia e da Rssia, iniciadas em 1994. Agora, ningum mais

    confia em financiamento internacional, seno em condies muito bem estudadas, pois como j no h

    controle de cmbio e das taxas de juros, tudo mais incerto, e no se sabe quem responder pelasconseqncias.

    Eduardo Pereira Nunes O senhor est enfatizando bastante o problema da vulnerabilidade externa de

    pases como o Brasil. So vulnerveis e tm muita dificuldade para fortalecer a prpria moeda. Os governos

    locais tendem a adotar medidas de poltica econmica condicionadas por esses fatores. Esses choques externos

    s ocorrem em economias que no tm capacidade de gerao prpria da sua poupana, a qual poderia financiar

    os seus projetos de investimento. Desde os seus tempos de trabalho na CEPAL o senhor j destacava os

    problemas provenientes da escassez de poupana interna do Brasil.

    At que ponto o apelo ao capital estrangeiro, seja sob forma de capital de emprstimo, de investimentodireto e de capital de curto prazo, representa poupana externa efetiva para o desenvolvimento de

    economias como a do Brasil?

    Celso Furtado O que sabemos sobre a histria das economias que o endividamento externo til e

    operacional deve atuar no curto prazo para resolver problemas de calamidade pblica. Fora disso, todo

    endividamento deve ser feito em funo da capacidade de pagamento desse capital, que o servio da dvida

    externa. Ao tomar dinheiro emprestado, voc deve saber que tem que pag-lo com moeda estrangeira, ou seja,

    com as suas escassas divisas. Ento preciso muito cuidado.

    Eduardo Pereira Nunes Ns estamos analisando o Sculo XX, no qual o PIB do Brasil cresceu 100 vezes.

    Essa uma contradio da sociedade brasileira: o Pas cresceu 100 vezes em um sculo e estamos aqui falando

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    de todos os seus problemas. Um Pas que cresceu cem vezes no poderia ter tantos problemas. Mas o senhor aqui

    deu uma aula de quantas alternativas a sociedade brasileira tem para ser mais desenvolvida. Ao longo de sua obra o

    senhor fala desse dilema: no basta crescer; preciso repartir os seus frutos por toda a sociedade brasileira.

    Se olharmos agora para o Sculo XXI, quais seriam os conselhos que o senhor poderia dar para os novos

    cientistas sociais? Como devem trabalhar para dar um sentido mais igualitrio a toda a sociedade brasileira?

    Celso Furtado Esta a pergunta que cada brasileiro deve fazer a si mesmo: por que o desenvolvimento

    brasileiro foi to desigual? Por que existe essa injustia to profunda? O Brasil um Pas com tantos recursos e

    com uma massa enorme de gente excluda. uma profunda injustia. O fenmeno da excluso social a

    questo que ns todos nos colocamos. J ningum se satisfaz com meias medidas. H uma enorme preocupao

    com o problema da fome e da excluso social. O Brasil criou uma elite capaz, investiu na classe mdia alta, mas

    investiu muito pouco no povo. Temos ento essa massa desvalida, sem o mnimo necessrio para exercer a sua

    cidadania. Um pas como o Brasil tem sempre problemas novos, pois est em formao. Em meu livro Brasil, a

    construo interrompida, publicado h pouco mais de dez anos, mostrei que a edificao do nosso desenvolvimento

    vinha perdendo flego, reduzindo o seu lan criativo. Agora a situao est se invertendo, o fato de termoseleito um presidente progressista pode ajudar retomada dos debates. J um grande avano estarmos

    interessados nesse problema. O que antes era tachado de pessimismo, derrotismo, hoje revela um

    amadurecimento, uma conscincia de que devemos transformar este Pas, e de que a gerao nova vai cumprir

    sua misso. Que papel caber ao Brasil na cena internacional? E na Amrica Latina, que posio teremos? E

    como conquistar novos espaos, como o mercado da China? Ainda h muito o que pensar. S espero que a

    gerao nova encontre um contexto internacional favorvel. Hoje, pensar uma poltica para o Brasil

    reconhecer que, tendo em conta os compromissos j assumidos internacionalmente, limitada a nossa

    capacidade de ao.

    Para os novos cientistas sociais, eu digo, primeiramente: pacincia. Pacincia para completar a construo destePas. J cheguei a uma fase da vida em que propriamente no me preocupo com o futuro. Mas meu otimismo

    no desapareceu, embora reconhecendo que a responsabilidade dos que vo assumir o comando na prxima

    gerao muito grande. Por isso, a mensagem que deixo para os novos cientistas sociais a seguinte: em seus

    trabalhos como pesquisadores no hesitem em formular hipteses arrojadas. Assumam riscos. Sem isso, o

    conservadorismo que nos cerca por todos os lados deglutir a todos.

    Eduardo Pereira Nunes Professor Celso Furtado, antes de encerrar, gostaria de uma explicao sua. O

    IBGE produziu asEstatsticas do Sculo XX, mas parte das nossas estatsticas sobre esses 100 anos foi construda

    a partir de informaes criadas pelos prprios usurios, j que o IBGE tem apenas 67 anos de idade. Sabemos

    que o senhor foi um grande pesquisador e, diversas vezes, muito criativo na utilizao de fontes alternativas de

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    informao para construir os seus modelos de interpretao da realidade. Sua obra sobre a Formao econmica do

    Brasil um exemplo da sua capacidade de investigao. O que o pesquisador, professor, cientista social Celso

    Furtado poderia nos dizer a respeito desse perodo em que construiu suas prprias estatsticas para, num

    momento posterior, ser um grande usurio das estatsticas do IBGE?

    Celso Furtado Essa uma pergunta que nunca ningum me fez. Estudei a economia brasileira sculo asculo, a partir do Sculo XVI. Fiz isso com um pouco de engenho e arte porque s dispunha das informaes

    que estavam nos documentos histricos brasileiros. Aprendi desde cedo com meus professores da escola

    austraca que os dados estatsticos so to importantes que, no existindo, indispensvel invent-los.

    Estimativas aproximativas do processo de formao de capital e de renda nacional nos anos 40 do sculo

    passado nos permitiram formular muitas hipteses teis para penetrar na realidade da economia brasileira. O

    importante era manter-se na vanguarda nesse esforo de descobrir novas fontes de informao. Como voc

    sabe, para medir o fluxo de renda naquela poca era preciso ser engenhoso. Na verdade, atrevi-me a imaginar as

    contas nacionais do Brasil antes que elas tivessem sido estimadas por rgos oficiais.

    Mas o fato que os trabalhos do IBGE, nesse meio sculo em que venho estudando o Brasil, ajudaram-me aentender o Pas. A primeira vez que vi estatsticas histricas, abrangendo o Sculo XIX, por exemplo, foi numa

    publicao do IBGE. A partir da, fiquei pensando se no seria possvel sistematizar aqueles dados e abrir um

    debate sobre a natureza do atraso da economia brasileira. O que me impressionou, nos primeiros anos em que

    trabalhei na CEPAL, quando eu era muito jovem e cheio de idias, foi o atraso acumulado da Amrica Latina.

    Mxico, Chile e Argentina j tinham at clculo de renda nacional, ao passo que o Brasil tinha umas estimativas

    curiosssimas, feitas a partir de tcnicas muito primitivas. Mais tarde, o trabalho feito pelo IBGE para

    aperfeioar as estatsticas brasileiras foi fantstico. Eu no tenho nenhuma dvida de que foi esse avano que

    permitiu formar uma conscincia nacional do nosso atraso, da gravidade dos problemas sociais.

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    Vila da Felicidade, Manaus, AM.Foto: Jos Caldas - BrazilPhotos.

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    * Graduado em Filosofia e Ph.D. em Cincia Poltica (Universidade de Stanford), professor titular (aposentado) de Teoria Poltica daUniversidade Federal do Rio de Janeiro, Diretor do Laboratrio de Estudos Experimentais e Pr-Reitor de Anlise e Prospectiva daUniversidade Cndido Mendes. Distinguido pela Guggenheim Foundation, Comendador da Ordem do Baro do Rio Branco, daOrdem Nacional do Mrito Cientfico e da Ordem da Cultura Nacional e Prmio Moinho Santista, membro titular da AcademiaBrasileira de Cincias. Publicou, entre outros, Razes da Desordem 3aedio, Rio de Janeiro: Rocco, 1994, Dcadas de Espanto e umaapologia democrtica, Rio de Janeiro: Rocco, 1998, Roteiro Bibliogrfico do Pensamento Poltico-Social Brasileiro (1870-1965): Belo Horizonte:Editora UFMG; Rio de Janeiro: Casa de Oswaldo Cruz, 2002 e O Clculo do Conflito Estabilidade e Crise na Poltica Brasileira, BeloHorizonte: Editora UFMG; Rio de Janeiro: IUPERJ, 2003.

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    AAs estats ticas brasileiras aqui consolidadas no dispensam os esforos de redefinio,reclassificao e mensurao. Em uma palavra, no desobrigam o usurio profissional, maisexigente do que algum ocasional curioso, de pesquisar. Variando os interesses do pesquisador, iro se

    alterar igualmente os motivos para satisfao ou circunstancial desnimo. Naturalmente, no estaro

    dispostas nestes arquivos todas as sries desejadas, nos perodos pretendidos, e possivelmente nem mesmo

    se encontraro informaes que, no obstante existentes, e aqui recolhidas, no tenham sido designadas

    no passado conforme a nomenclatura atualmente consagrada. Reiterada observao dos colaboradores

    informa justamente que o sistema classificatrio oficial modifica-se ao longo dos anos, talvez decnios.Com freqncia, as mudanas, em si prprias, indicam a complexidade crescente da sociedade, exigindo a

    desagregao de rubricas e a redefinio de outras. Aperfeioamento inegvel, ao preo, contudo, de

    dificultar a comparabilidade dos dados sem prvio investimento de reclassificao. Sirvam, como exemplo,

    as informaes sobre o que contemporaneamente entendemos por associativismo, que compreendia,

    sobretudo na metade do sculo passado, as organizaes filantrpicas privadas e os asilos pblicos, e que,

    dispensando os asilos, passou a distinguir, mais recentemente, as associaes voluntrias e de interesse.

    Ocorre, tambm, o surgimento de sries consistentes de informaes sobre temas inexistentes

    anteriormente ou de registro altamente fragmentrio e, outra vez, testemunhando importantes mudanas

    sociais. o caso, sem dvida, das estatsticas eleitorais, de presena constante e relevante depois da

    redemocratizao de 1945. Faz parte da anlise poltica a considerao de que, de fato, as eleies s

    adquiriram o atributo de imprevisibilidade, caracterstica dos processos competitivos ps-oligrquicos,

    com o fim do Estado Novo.

    Estudiosos interessados no que correntemente se inclui no conceito de capital social, cultura cvica ou

    cultura poltica no deixaro de anotar as lentes com que os estratos intelectuais do passado examinavam

    certos fenmenos tais como desquites, suicdios ou taxas de criminalidade. Em particular informaes sobre

    raa, gnero e educao de encarcerados e apenados reclamaro o cuidado dos investigadores.

    O BRASILSOCIALCONTADOPELOIBGE NO SCULOXX

    WANDERLEYGUILHERME DOS SANTOS*

    O BRASILSOCIALCONTADOPELOIBGE NO SCULOXX

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    ESTATISTICAS

    XX

    SECULO

    do

    ESTATISTICAS

    SECULOXX

    Sem surpresa, as estatsticas populacionais so, se no me equvoco, as que melhor atendero s

    expectativas do pesquisador moderno. Pela quantidade e pela qualidade, as sries demogrficas disponveis

    propiciam enorme economia de tempo e de investimento na preparao de dados - o que poder ser

    observado, inclusive, nas listas de observaes negativas e favorveis dos ensaios introdutrios, menosenfticas, as negativas, em relao s estatsticas demogrficas.

    minha impresso, alis, espero que sem impropriedade, que parte da sensao de frustrao,

    sublinhada por praticamente todos os colaboradores, se deve, precisamente, descoberta, surpreendente, da

    riqueza de informaes acumuladas durante o Sculo XX. Juzo ponderado sobre os trabalhos de coleta e

    registro dessas informaes, quando a absoro do instrumental estatstico ainda se encontrava em estgio

    inicial, refiro-me, particularmente, primeira metade do sculo passado, deve levar em considerao as

    estatsticas de outros pases - e no s latino-americanos - e o empreendimento de recuperao e restaurao

    delas que, em algum momento, todos esses pases realizaram. So recentes, por exemplo, as publicaes sobre

    as elites polticas inglesas, membros do parlamento e dos gabinetes. Vale a pena observar, em relao a este

    tpico, que as estatsticas polticas do II Imprio brasileiro so inesperadamente completas e relativamenteconfiveis. Mas este tpico ultrapassa os limites da presente publicao.

    Cada um dos ensaios introdutrios traz a descrio do que, em geral, os estudiosos encontraro de

    relevante nas estatsticas. Ademais, os atuais comentadores no resistiram e aceitaram o atraente convite,

    insistentemente emitido pelos dados, a que sugerissem pistas de anlise e, tambm, sugestes no sentido

    de tornar as estatsticas mais ajustadas s demandas do presente. Com o sentimento de segurana que a

    contemporaneidade estimula, supe-se que, finalmente, seria possvel elaborar um sistema classificatrio

    que viesse a servir aos interesses de todos os pesquisadores futuros. Se verdade que, sem tal pretenso,

    dificilmente se produziria o nimo para o aperfeioamento do presente, em qualquer de seus aspectos,

    bastante provvel tambm que, no futuro, talvez mais breve, talvez mais remoto, o resultado do tempo e

    das aes que o presente favorece venham exigir novo esforo de atualizao. Reclamaro os jovens

    colegas de ento, com toda certeza, de nossa falta de discernimento e previso. Creio que isso ser umbom sinal.

    Estou seguro de que no violarei gravemente o formalismo de apresentaes semelhantes se deixar

    assinalados meus agradecimentos pelo convite do Dr. David Wu Tai para coordenar a rea de temas sociais

    desta publicao. Aos colegas que concordaram em cooperar com esta iniciativa e que, superando

    obstculos por todos imprevisveis, conduziram a tarefa ao seu final, meu profundo reconhecimento.

    IBGE

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    Cinco moas de Guaratinguet, 1930Di Cavalcantileo sobre tela 92 x 70 cmMuseu de Arte de So Paulo Assis Chateaubriand - MASP.

    POPULAO EESTATSTICAS

    VITAIS

    POPULAO EESTATSTICAS

    VITAIS

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    *Ph.D. (1978) em Sociologia pela Universidade de Michigan, EUA; Pesquisador Titular (aposentado) do Laboratrio Nacional de ComputaoCientfica e Professor Titular do Instituto Universitrio de Pesquisas do Rio de Janeiro - IUPERJ/UCAM. Autor de C or e Estratificao Social no Brasil,Rio: Contra Capa, 1999 (em colaborao com Carlos Hasenbalg e Mrcia Lima) e deMobilidade Social no Brasil,So Paulo: Makron Books, 1999 (emcolaborao com Jos Pastore).

    ** Doutora em Sociologia pela UNICAMP. Professora do Programa de Ps-Graduao em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal doRio de Janeiro. Publicou Um Toque de Clssicos- (co-autoras: Marcia Gardnia M. Oliveira e Tania B. Quintaneiro), Editora da UFMG, 1995 e 2002;Combater a Pobreza Estimulando a Freqncia Escolar: O Estudo de Caso do Programa Bolsa-Escola do Recife- Dados, vol. 43, n. 3, 2000. pp. 447-477. (co-autora: Lena Lavinas);Eficincia e eqidade: os impasses de uma Poltica Educacional, revista Brasileira de Poltica e Administrao da Educao , Porto Alegre, v.14, n. 2, pp. 211-242, 2001. (Co-autora: Laura da Veiga); Para onde vai a classe mdia: um novo profissionalismo no Brasil?Revista Tempo Social/USP:volume 10, n. 1- maio de 1998, pgs. 129-142.

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    ESTATISTICAS

    XX

    SECULO

    do

    ESTATISTICAS

    SECULOXX

    D e acordo com os resultados do Censo Demogrfico2000, a populao brasileira atingiu em 1de agostodaquele ano um total de 169 590 693 habitantespresentes1. Comparando com o ltimo dia do ltimo ano do sculo

    anterior, quando a populao recenseada havia indicado um contin-

    gente de apenas 17 438 434 residentes, podemos dizer que a popula-

    o brasileira praticamente decuplicou durante o Sculo XX. Se

    considerarmos o no to longnquo ano de 1970 o ano da Copa do

    Mxico os 90 milhes em ao de ento (mais precisamente,

    93 139 037 habitantes) cresceriam em 82% nos 30 anos seguintes. Emqualquer contabilidade que se faa, trata-se de um crescimento

    impressionante: a populao que j havia quase triplicado durante a

    primeira metade do sculo, atingindo 51 941 767 de pessoas em 1950,

    mais que triplica novamente na sua segunda metade2. Alm disso,

    devemos esperar um crescimento ainda vigoroso no futuro. As

    1Cf. SINOPSE PRELIMINAR DO CENSO DEMOGRFICO 2000 (v. 7,2001, Tabela 1).

    2A principal fonte de informaes populacionais no Brasil so os CensosDemogrficos. Estes, em princpio, deveriam ser decenais. Mas, na verdade,apresentam uma histria atribulada. Os dados relativos cidade do Rio de Janeiro

    no Censo de 1900 foram considerados deficientes e os resultados referentes aoDistrito Federal cancelados. Um novo recenseamento do Estado do Rio de Janeirofoi ento feito em 1906. Por razes de ordem poltica o recenseamento de 1910 foisuspenso. O mesmo ocorreu com o Censo de 1930. O Censo de 1920 foi conside-rado deficiente, com uma aparente superestimao de cerca de 10%. Por outrolado, os Censos de 1940,1950 e 1970 so considerados exemplares. Um escndaloadministrativo suspendeu o processamento do Censo de 1960, o qual s foicompletado, ainda de forma precria, quase 20 anos depois. Os censos posterioresenfrentaram crescentes problemas operacionais no levantamento de campo. Ocenso previsto para 1990 foi adiado para o ano seguinte, novamente por problemaspoltico-administrativos, sem que esse adiamento, no entanto, resultasse em ganhosde qualidade em relao aos censos anteriores.

    POPULAO E ESTATSTICASVITAISPOPULAO E ESTATSTICASVITAIS

    NELSON DO VALLE SILVA*EMARIA LIGIA DE OLIVEIRA BARBOSA**

    Mulher no interior do Piau , 1998.Foto Jos Caldas - BrazilPhotos.

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    CULOX

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    ESTATSTICASPOPULACIONAIS,SOCIAIS,POLTICASECULTURAIS

    POPULAO E ESTATSTICAS VITAISIBGE

    projees mais recentes feitas pelo IBGE3, que certamen-

    te devero sofrer algumas revises menores dada a

    recente disponibilidade dos resultados do Censo 2000,

    indicam-nos que devemos esperar que pelo menos mais

    40 milhes de pessoas devero ser acrescentadas ao total

    da populao do Pas (Grfico 1).

    No entanto, o crescimento extraordinrio da

    populao no apenas uma peculiaridade brasileira. O

    rpido alguns diriam, explosivo crescimento

    populacional um importantssimo aspecto de nossa

    poca e a caracteriza como um perodo sem precedentes

    na histria da Humanidade. Na verdade, nunca esta

    passou por uma fase de igual crescimento populacional,

    tanto globalmente como em suas diversas regies.

    Segundo estimativas de J. Durand, do ano 1 da era crist

    at 1750 a populao do mundo cresceu de cerca de 500

    milhes para um total de aproximadamente 800 milhes

    de pessoas. O meio do Sculo XVIII marca uma mudan-

    a extraordinria no padro de crescimento populacional,

    verificando-se uma acentuada acelerao na taxa de

    crescimento que, de resto, acompanha de perto a chama-

    da revoluo industrial, centrada particularmente na

    Europa Ocidental e nos Estados Unidos da Amrica. A

    taxa anual de crescimento populacional, que foi de cerca

    de 0,56 por mil habitantes por ano durante o perodo 1

    d.C. 1750 d.C., elevou a 4,4 por mil entre 1750 e 1800,

    resultando desse crescimento uma populao mundial de

    cerca de 1 bilho de pessoas.

    Por volta de 1850, a populao do mundo era de

    cerca de 1,3 bilho de pessoas, e em 1900 atingiu aproxi-

    madamente 1,7 bilho, o que representa taxas de 5,2 e 5,4

    por mil ao ano para cada metade do Sculo XIX, respecti-

    vamente. Segundo estimativas da ONU, a populao

    mundial em torno de 1950 compreendia cerca de 2,5

    bilhes de pessoas, o que, se for comparado com o 1,7

    bilho para 1900, implica uma taxa anual mdia de 7,9 por

    mil para a primeira metade do Sculo XX. As estatsticas

    para perodos mais recentes so ainda mais impressionan-

    tes. No terceiro quartel do sculo passado, a taxa de

    crescimento mais que duplicou, atingindo a marca anual de

    3Veja dados em: Anurio Estatstico do Brasil 1998, Tabelas 2.6-2.8.

    Grfico 1- Populao residente - Brasil - 1900/2000

    Fonte: Sinopse preliminar do censo demogrfico 2000. Rio de Janeiro: IBGE, v. 7, 2001.

    Tota

    ld

    ap

    opu

    la

    o

    19401930192019101900 1950 1960 1970 1980 1990 20000

    Ano do recenseamento

    20 000

    40 000

    60 000

    80 000

    100 000

    120 000

    140 000

    160 000

    180 000

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    IBGENELSON DOVALLE SILVA EMARIA LIGIA DE O. BARBOSA

    17,1 por mil, da qual resultou uma populao em torno de1980 estimada em cerca de 4 bilhes de pessoas.

    Assim, o Brasil foi parte desse quadro de crescimen-

    to historicamente sem precedentes, marcado no apenas

    pelas elevadas taxas com que nossa populao cresceu no

    ltimo sculo como tambm pelo crescimento muito

    substancial que ainda temos garantido para o futuro

    prximo. Fica, no entanto, a questo: quais causas e quais

    os mecanismos que deram origem a esse crescimento

    extraordinrio da populao mundial em geral, e da

    populao brasileira em particular? Como se comportou apopulao brasileira no ltimo sculo ?

    Examinando-se as taxas mdias de crescimento da

    populao brasileira durante o Sculo XX4, observamos

    que estas se encontravam num patamar muito elevado

    nos dois primeiros decnios (uma taxa de 2,91% ao ano),

    decaindo imediatamente nas duas dcadas seguintes para

    um nvel que se revelou como o mais baixo de todo o

    sculo (1,49% anual). A partir dos anos de 1940, no

    entanto, o ritmo de crescimento populacional rapidamen-te volta a se intensificar, subindo at atingir um pico

    histrico de 2,99% ao ano entre 1950 e 1960. A trajetria

    descendente ento retomada, inicialmente de forma

    lenta durante a dcada seguinte e de forma bem mais

    acentuada da em diante. A taxa de crescimento estimada

    para a ltima dcada do sculo, embora maior do que o

    seu valor mnimo durante o perodo, atingiu o nvel de

    1,63% anual em mdia (Grfico 2). Ao que tudo indica,

    esta trajetria descendente dever permanecer no futuro,

    projetando-se para o ano de 2020 um crescimentopopulacional em torno de 0,71%.

    O primeiro fato a ser compreendido sobre o

    crescimento da populao brasileira diz respeito s causas

    das elevadas taxas de crescimento no incio do sculo e do

    abrupto declnio destas no perodo subseqente. Para isto

    devemos examinar a evoluo dos componentes do

    crescimento populacional ao longo do sculo (Grfico 3).

    Neste caso, fica evidente que a migrao internacional

    4Cf. SINOPSE PRELIMINAR DO CENSO DEMOGRFICO 2000 (v. 7, 2001, Tabela 1).

    Grfico 2 - Taxa mdia geomtrica de crescimento anual - Brasil - 1900/2000

    Perodo intercensitrio

    Taxageom

    tr

    ica

    de

    cresc

    imento

    anua

    l

    0,0

    0,5

    1,0

    1,5

    2,0

    2,5

    3,0

    3,5

    1900/1920 1920/1940 1940/1950 1950/1960 1960/1970 1970/1980 1980/1991 1991/2000

    Fonte: Sinopse preliminar do censo demogrfico 2000. Rio de Janeiro: IBGE, v. 7, 2001.

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    POPULAO E ESTATSTICAS VITAISIBGE

    contribua de forma muito significativa para o crescimento

    da populao desde o final do sculo anterior at as

    primeiras dcadas do Sculo XX. Enquanto que o cresci-

    mento natural (isto , o saldo entre nascimentos e mortes)pode ser estimado em cerca de 19 por mil habitantes

    durante as quatro primeiras dcadas do sculo, a contribui-

    o da imigrao pode similarmente ser estimada em 2 por

    mil durante este mesmo perodo, ou seja, a migrao

    externa respondia por cerca de 10% do crescimento

    populacional no perodo.

    Na verdade, o forte impacto da imigrao estrangei-

    ra j datava do final do sculo anterior. Com a abolio

    formal da escravatura em 1888 e a carncia decorrente de

    mo-de-obra agrcola, um esforo de recrutamento detrabalhadores estrangeiros foi desenvolvido no s pela

    iniciativa privada como pelos governos federal e estadual,

    atravs do subsdio dos custos de transporte para o Brasil.

    Dessa forma, estima-se que um total de quase 5 milhes

    de pessoas emigraram para o Pas entre 1887 e 1957, sendo

    este contingente formado em cerca de 32% por italianos,

    31% por portugueses, 14% por espanhis e 4% por

    japoneses. O pico deste influxo imigratrio se deu naltima dcada do Sculo XIX, quando mais de 1 milho de

    imigrantes ( majoritariamente italianos, com destino a So

    Paulo) aportaram aqui, estimando-se que isto representou

    quase um quarto do crescimento populacional total no

    perodo5.

    O influxo de imigrantes resultou no agravamento

    do conflito no mercado de trabalho, opondo os trabalha-

    dores nacionais aos estrangeiros, tendo constitudo foco

    de agitao popular em vrias regies durante as primeiras

    dcadas da Repblica, especialmente no Rio de Janeiro,onde foi forte o movimento dito jacobino e freqentes

    os episdios chamados de mata galegos, opondo

    violentamente trabalhadores brasileiros e portugueses6.

    Assim, tendo em vista a proteo ao trabalhador nacional,

    5Cf. SMITH (1972).

    6Veja, por exemplo, Ribeiro (1990).

    Grfico 3 - Componentes do crescimento da populao brasileira - 1900/2000

    Fonte: Anurio estatstico do Brasil 1990. Rio de Janeiro: IBGE, v. 50, 1990; Anurio estatstico do Brasil 1997-1998. Rio de Janeiro: IBGE, v. 57-58, 1998-1999.

    1900-1910 1910-1920 1920-1930 1930-1940 1940-1950 1950-1960 1960-1970 1970-1980 1980-1990 1990-2000

    Taxa

    (por

    mil)

    Dcada

    Crescimento total (N-M+I) Migrao lquida (I) Natalidade (N) Mortalidade (M)

    -5

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

    45

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    IBGENELSON DOVALLE SILVA EMARIA LIGIA DE O. BARBOSA

    em 1934 o governo federal estabeleceu um sistema de

    quotas para controlar a entrada de imigrantes. Estas

    quotas se aplicavam ao total de imigrantes oriundos de

    cada pas fornecedor, sendo fixadas no valor de 2% do

    total da imigrao proveniente de cada um destes pases

    no perodo de 1884 a 1934. Adicionalmente, restringia-se o fluxo de imigrao total a 77 mil pessoas por ano.

    Este sistema, embora fortemente restritivo, caracteri-

    zou-se por beneficiar relativamente mais a imigrao de

    origem europia, que correspondia a um estoque prvio

    bem maior de imigrantes, em detrimento daquela deorigem asitica.

    A partir da dcada de 1930 a imigrao perde sua

    relevncia na determinao da taxa de crescimento da

    populao brasileira, no s pelo decrscimo do nmero

    de imigrantes em termos absolutos, mas tambm e sobre-

    tudo pelo aumento muito forte do crescimento natural

    desta populao, especialmente em meados do sculo. Na

    dcada de 1960 a contribuio da imigrao externa ao

    crescimento populacional brasileiro j havia se tornado

    irrelevante. De qualquer forma, mesmo sendo relativamen-te modesto, cabe se observar que as ltimas dcadas do

    Sculo XX presenciaram o nascimento de um fato supos-

    tamente sem precedentes histricos. Neste perodo,

    resultante das seguidas crises econmicas que comeam a

    se manifestar no Brasil a partir da primeira crise do

    petrleo em 1973, e que se agravam no incio dos anos de

    1980, assistimos inaugurao de sensveis movimentos

    emigratrios por parte de brasileiros em busca de melhores

    oportunidades em outros pases7.

    Embora a imigrao tenha sido fundamental para aformao da populao em diversas regies brasileiras

    (destacando-se os italianos e espanhis em So Paulo e os

    alemes no Sul), algumas anlises indicam que esta no

    teve a mesma importncia no Brasil como um todo do que

    a observada para outros pases da Amrica. Assim,

    Mortara8, estudando a contribuio da imigrao no

    crescimento da populao de alguns destes pases entre

    1840 e 1940 , concluiu que a imigrao contribuiu de

    forma direta (os prprios imigrantes) e de forma indireta

    (seus descendentes) com 19% do aumento populacional

    brasileiro, comparado com uma contribuio de 58% nocaso da Argentina, 44% no caso dos Estados Unidos, e

    22% no caso do Canad, o que vale dizer, que a populao

    de origem imigrante correspondia a 16%, 54%, 36% e

    19% das populaes totais daqueles pases, na mesma

    7Estimativas recentes dos saldos migratrios internacionais so feitas em Carvalho (1996) e Oliveira e outros (1996).

    8MORTARA (1947 apud CLEVELARIO JNIOR, 1997).

    Filha de colonos alemes. Londrina, PR. Acervo IBGE.

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    ESTATSTICASPOPULACIONAIS,SOCIAIS,POLTICASECULTURAIS

    POPULAO E ESTATSTICAS VITAISIBGE

    ordem. Mortara9ainda refez seus clculos, baseado namesma metodologia para o perodo entre 1890 e 1940,

    concluindo que a imigrao foi responsvel por cerca de

    15% do crescimento populacional no perodo, o que

    indicaria que cerca de 10% da populao brasileira em

    1940 tinha origem nos imigrantes aportados no perodo e

    em seus descendentes. Mesmo sendo as estimativas de

    Mortara baseadas no pressuposto irrealista de que o

    crescimento vegetativo das populaes nativas e imigrantes

    eram idnticas e, portanto, sendo provavelmente

    subestimativas (dado um suposto maior dinamismo

    reprodutivo da populao imigrante), como o pressuposto

    foi aplicado a todos os pases igualmente, parece ser

    indiscutvel ser bem menor a relevncia da imigrao na

    constituio da populao brasileira, especialmente quando

    comparada com os casos da Argentina e dos Estados

    Unidos10. De qualquer forma, a importncia da imigrao

    na dinmica populacional uma caracterstica histrica dos

    pases do Novo Mundo e da Oceania, sendo ainda hoje

    muito substancial no crescimento da populao dos

    Estados Unidos.

    Do ponto de vista histrico, um fator que contribui

    para dar verdadeiramente um carter de unicidade nossa

    poca o fato de ter a mortalidade declinado a nveis

    nunca antes experimentados, especialmente nos pasesdesenvolvidos. No entanto, declnios tambm espetacula-

    res ocorreram mais recentemente, na segunda metade do

    Sculo XX, em muitos pases em desenvolvimento, como,

    por exemplo, nos pases da Amrica Latina. De fato, o

    extraordinrio crescimento da populao mundial, a que j

    nos referimos, pode ser atribudo ao declnio da mortalida-

    de e no, como poderia se pensar, num suposto aumento

    da natalidade. Embora tal aumento possa ter sido observa-

    do em algumas regies de mudana recente (em particular

    em alguns pases da frica tropical), este aumento respon-

    de parcialmente a uma melhora nas prprias condies de

    sobrevivncia das mes e no desempenha qualquer papel

    mais significativo em relao ao crescimento populacional.

    O vertiginoso crescimento experimentado pela populao

    mundial durante o Sculo XX basicamente resultante da

    queda espetacular da mortalidade aliada relativa manuten-

    o dos tradicionais e elevados nveis da fecundidade nas

    sociedades em desenvolvimento por longo espao de

    tempo durante este perodo.

    O debate em torno das causas do declnio da

    mortalidade na Europa tem sido intenso, alguns apontan-

    do para os avanos mdicos alcanados j no Sculo

    XVIII, como, por exemplo, a inoculao e, posteriormen-

    te, a vacinao antivarilica; outros sustentando como

    causa provvel as mudanas em saneamento e higiene

    pblica que teriam tido um significativo impacto sobre

    certas causas de morte, como o tifo e o clera. No entanto,

    o que a experincia dos pases em que a queda da mortali-

    dade se deu mais recentemente (como os pases latino-

    americanos) nos ensina que provavelmente as duas

    causas esto presentes na reduo da mortalidade. O que

    9MORTARA (1951 apud CLEVELARIO JNIOR, 1997).

    10Um quadro evolutivo da imigrao anual para o Brasil no perodo de1900 a 1968 foi publicado em:Sries estatsticas retrospectivas (1986, v. 1, p.71, Tabela 2.2.4.1). Similarmente, um quadro para todo o perodo de1884 a 1951, segundo a nacionalidade do imigrante, encontra-se em:

    Anurio Estatstico do Brasil 1953, apndice, p. 489.

    Coefficiente de Mortalidade- Anno 1907 -Fonte: Exposio Nacional de 1908, IBGE.

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    tambm essa experincia recente deixa claro que ganhos

    importantes na mortalidade podem ser obtidos sem

    nenhuma modificao significativa na situao social

    das populaes. Na verdade, muitas vezes a evoluo

    temporal da mortalidade caminha em sentido contra-

    ditrio com esta situao social. Os avanos na

    medicina social, com todo um arsenal farmacutico e

    de conhecimentos de higiene elementar, resultam em

    sucessos extraordinrios a custos muito reduzidos.De for ma semelhante, melhoramentos relativamente

    menores no saneamento, particularmente em reas

    urbanas, resultam geralmente em ganhos substanciais

    na sade das populaes. Assim, a histria recente

    registra casos de pases em desenvolvimento com

    baixssima renda per capita que apresentam redues

    marcantes em seus nveis de mortalidade, de tal

    forma que as diferenas entre pases pobres e ricos

    nessa questo muito menor hoje que em algumas

    dcadas passadas. Esta narrativa descreve em grande

    medida a evoluo da mortalidade no Brasil durante

    o Sculo XX.

    O nvel de mortalidade no Brasil no final do

    sculo pode ser estimado em pouco menos de sete

    mortes por mil habitantes por ano11, o que o torna

    comparvel mdia dos pases desenvolvidos. Histori-

    camente tambm experimentamos

    o mesmo processo de espetacular

    declnio da mortalidade: de uma

    taxa bruta superior a 30 por mil ao

    ano durante a maior parte doSculo XIX, atingimos no final do

    sculo passado uma taxa corres-

    pondente a menos de um quarto da

    registrada 100 anos antes.

    Essa taxa relativamente baixa

    para a populao brasileira no

    pode, entretanto, ser tomada com exagerado otimismo.

    Deve-se observar que comparaes internacionais utilizan-

    do-se a taxa bruta de mortalidade devem ser feitas com

    extrema cautela, uma vez que esse tipo de taxa reflete

    parcialmente a estrutura por idade da populao. Assim,

    dada uma mesma situao geral de mortalidade, uma

    sociedade que tenha uma populao mais velha (ou seja,

    com uma maior freqncia relativa de pessoas nos grupos

    de idade mais avanados) apresentar uma taxa bruta demortalidade maior que aquela obtida para uma sociedade

    com estrutura etria mais jovem, uma vez que ter um

    maior nmero relativo de pessoas nas faixas de idade

    onde a mortalidade maior. O Brasil, como veremos

    posteriormente, possui uma populao ainda relativamen-

    te jovem, o que o favorece quando comparamos sua

    taxa de mortalidade com as dos pases desenvolvidos,

    sociedades que, tipicamente, tm populaes velhas.

    De fato, o Brasil se tivesse uma estrutura etria similar

    predominante na Europa, sua taxa bruta de mortalidade

    seria bem mais elevada, algo provavelmente em torno de

    12 por mil habitantes ao ano. Nesse sentido, mais

    indicada para comparaes internacionais (e mesmo entre

    regies de um mesmo pas) a utilizao da expectativa de

    vida ao nascer, ou vida mdia, medida que independe

    da estrutura etria da populao.

    11Cf. Anurio Estatstico do Brasil 1998,Tabela 2.13.

    Quatro homens em Belo Horizonte, MG, 1925. Museu Histrico Ablio Barreto.

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    Adicionalmente, embora tenha havido ganhosespetaculares nas ltimas dcadas12, a situao da mortali-

    dade infantil em nosso Pas ainda relativamente

    preocupante: se, por um lado, observou-se um aumento

    muito significativo na expectativa de vida ao nascer13,

    quase que dobrando ao longo do sculo (a expectativa de

    vida ao nascer para homens era de 33,4 anos em 1910 e

    estimada em torno de 62,3 anos em 1990; para mulheres

    os valores correspondentes eram 34,6 e 69,1 anos, respecti-

    vamente), a mortalidade das crianas menores de 1 ano

    ainda bastante significativa, constituindo ainda um fatorrelevante para ganhos futuros na expectativa de vida ao

    nascer. Para se ter uma idia da extenso do problema,

    recorramos a uma comparao internacional, cotejando-se

    a expectativa de vida restante a 1 ano de idade com aquela

    que se tem ao nascer. Como vimos, uma criana do sexo

    masculino nascida em 1990 tinha uma expectativa de vida

    estimada em 62,3 anos; o valor correspondente para

    crianas do sexo feminino estimado em 69,1 anos. J as

    crianas afortunadas o suficiente para sobreviverem aoprimeiro ano de vida podiam esperar viver em mdia mais

    65,0 anos no caso dos homens (isto , viverem at os 66

    anos de idade) e mais 71,1 anos adicionais no caso de

    mulheres. Isso evidencia os tremendos riscos ainda

    enfrentados pelas crianas brasileiras no primeiro ano de

    vida. A situao em pases desenvolvidos bastante

    diversa. Por exemplo, na Sucia dos anos de 1970, uma

    criana do sexo feminino tinha uma expectativa de vida ao

    nascer de 77,7 anos. Ao completar 5 anos sua expectativa

    de vida adicional era de 73,5 anos, ou seja, deveria sobrevi-

    ver em mdia at os 78,5 anos, o que mostra que j

    naquele perodo praticamente nenhuma criana sueca

    morria antes dos 5 anos de idade.

    Observe-se que, comparada com a mortalidade

    infantil, a mortalidade adulta apresentou ganhos relativa-

    mente modestos. De fato, associado sobretudo ao aumen-

    to da violncia nas cidades brasileiras, tem-se verificado

    mesmo o aumento da mortalidade em algumas reas,

    12Sobre os ganhos na mortalidade infantil, veja Simes (1997). Uma importante contribuio ao tema a de Ferreira e Flores (1987).

    13Cf. Anurio Estatstico do Brasil 1990, Tabelas 7-9.

    Grfico Evoluo da esperana de vida ao nascer - Brasil - 1940/20004 -

    Fonte: Anurio estatstico do Brasil 1990. Rio de Janeiro: IBGE, v. 50, 1990; Anurio estatstico do Brasil 1998. Rio de Janeiro: IBGE, v. 58, 1999.

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    IBGENELSON DOVALLE SILVA EMARIA LIGIA DE O. BARBOSA

    concentrada em jovens do sexo masculino de 15 a 29 anos.Esta , sem dvida, uma tendncia preocupante e que tem

    contrariado as expectativas mais otimistas propiciadas

    pelos outros indicadores14.

    Quanto evoluo temporal da expectativa de vida

    no Brasil ao longo das ltimas dcadas (Grfico 4), pode-se

    dizer que, aps um perodo de ganhos muito substanciais

    entre 1940 e 1960, quando aumentou em quase 10 anos (indo

    de 42,7 em 1940 para 52,4 em 1960), os ganhos em sobrevida

    praticamente se estagnaram na dcada de 1960, para retomar

    um vigoroso crescimento na dcada seguinte, atingindo 61,7anos em 1980. A partir da continuam os ganhos, embora em

    ritmo mais lento, atingindo um nvel estimado em 67,1 anos

    de vida no ltimo ano do Sculo XX.

    Um fato importante a se observar quanto expectati-

    va de vida ao nascer que os diferenciais entre grupos

    sociais e entre regies no Brasil eram historicamente

    elevados15(Grfico 5). Em 1940 a maior esperana de vida

    encontrava-se na Regio Sul (50,1 anos) enquanto a regio

    com menor valor era o Nordeste (38,2 anos), com umadiferena de quase 12 anos entre elas. As demais regies se

    diferenciavam mais ou menos uniformemente dentro deste

    intervalo. No final do sculo, todavia, havia-se registrado

    uma substancial convergncia na expectativa de vida entre as

    regies: embora o maior valor continuasse a ser observado

    na Regio Sul, com 68,7 anos em 1990 e, similarmente, a de

    menor valor no Nordeste, com 64,3 anos naquele mesmo

    ano, a diferena havia se reduzido a 4,4 anos. Ademais, as

    diferenas entre as outras regies quase desapareceram,

    oscilando entre 67,8 anos no Centro-Oeste e 67,4 anos na

    Regio Norte. Observe-se ainda que as diferenas entre o

    Nordeste e as demais regies de fato se ampliaram entre

    1950 e 1970, a convergncia s ocorrendo aps esta ltima

    data. A evoluo temporal da mortalidade infantil ao longo

    do Sculo XX compatvel com esta descrio feita para a

    expectativa de vida ao nascer, conforme esperado, dado

    serem os ganhos na sobrevida durante a primeira infncia o

    principal componente no prolongamento da vida mdia em

    pases como o Brasil (Grficos 6 e 7).

    14Veja a este respeito, por exemplo, Albuquerque e Oliveir