Escorpiões Amazônia

90

description

Descrição dos escorpiões peçonhentos encontrados no Brasil. Enfatizandos as espécies do Gênero Tityus.

Transcript of Escorpiões Amazônia

  • Os escorpioes

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

    ReitoraDora Leal Rosa

    Vice ReitorLuiz Rogrio Bastos Leal

    EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

    DiretoraFlvia Goulart Mota Garcia Rosa

    CONSELHO EDITORIAL

    Titularesngelo Szaniecki Perret Serpa

    Caiuby Alves da CostaCharbel Nin El-Hani

    Dante Eustachio Lucchesi RamacciottiJos Teixeira Cavalcante Filho

    Alberto Brum Novaes

    SuplentesEvelina de Carvalho S Hoisel

    Cleise Furtado MendesMaria Vidal de Negreiros Camargo

  • EDUFBASalvador

    2010

    Tania Kobler BrazilTiago Jordo Porto

    Os escorpioes

  • Sistema de Bibliotecas - UFBA

    2010 by autores (org.)Direitos para esta edio cedidos Edufba.

    Feito o depsito legal.

    Projeto grfico, capa e programao visualRodrigo Oyarzbal Schlabitz

    RevisoMagel Castilho

    NormalizaoSusane Barros

    EDUFBARua Baro de Jeremoabo, s/n, Campus de Ondina,

    40170-115, Salvador-BA, BrasilTel/fax: (71) 3283-6164

    www.edufba.ufba.br | [email protected]

    Associao Brasileira deEditoras Universitrias

    Brazil, Tania Kobler. Os escorpies / Tania Kobler Brazil, Tiago Jordo Porto ; prefcio Sylvia Marlene Lucas ;apresentao Tania Kobler Brazil. - Salvador : EDUFBA, 2010. 84 p.

    ISBN 978-85-232-0729-8

    1. Escorpies - Brasil. I. Porto, Tiago Jordo. II. Lucas, Sylvia Marlene. III.Ttulo.

    CDD - 595.460981

  • AGRADECIMENTOS

    Parte deste livro produto das revises bibliogrficas e dos resultados de pesquisas conduzidasdurante a graduao de Tiago Jordo Porto. Por isso agradecemos ao Conselho Nacional de Desen-volvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq), que financiou duas bolsas de Iniciao Cientfica noPrograma Institucional de Bolsas de Iniciao Cientfica da Universidade Federal da Bahia (PIBIC-UFBA). Fundao de Amparo Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), que financiou outras duasbolsas de Iniciao Cientficas de Tiago vinculadas a projetos de pesquisa coordenados pela professo-ra Rejne Maria Lira da Silva, a quem tambm agradecemos.

    Agradecemos a todos aqueles que contriburam enviando bibliografias, dados de distribuiodas espcies e aos que permitiram a utilizao de suas imagens para ilustrar esta obra.

  • [...] Suraju chamam os ndios a um bicho como os lacraus de Portugal, masso tamanhos como camares, e tm duas bocas compridas; e, se mordemuma pessoa, est atormentada com ardor vinte e quatro horas, mas noperiga.

    Gabriel Soares de Souza, 1587Tratado Descritivo do Brasil

  • SUMRIO

    PREFCIO | 11

    APRESENTAO | 13

    1 QUEM SO OS ESCORPIES? | 15 Estrutura do corpo | 18

    Histria natural | 24

    Mitos e lendas | 28

    2 TCNICAS DE COLETA E MANEJO DOS ESCORPIES EM CATIVEIRO | 33 Coleta de escorpies em ambiente natural | 34 Coleta de escorpies em reas urbanas | 37 Criao e manejo de escorpies em cativeiro | 39

    3 DIVERSIDADE DE ESCORPIES DO BRASIL | 47 Famlia Bothriuridae | 55 Famlia Buthidae | 57 Famlia Chactidae | 60 Famlia Liochelidae | 60 Conservao | 61

    4 OS ESCORPIES DE IMPORTNCIA MDICA E SEUS VENENOS | 65

    Escorpionismo no Brasil | 66 Veneno escorpinico | 70

  • 5 OS ESTUDOS SOBRE ESCORPIES NO BRASIL | 75 Histrico dos estudos sobre escorpies | 75 Colees cientficas e grupos de pesquisa no Brasil | 78

  • 11

    PREFCIO

    com grande satisfao que apresento o livro Os escorpies, uma iniciativa da Prof. TaniaKobler Brazil e seu orientando Tiago Jordo Porto. A Prof. Tania h anos vem se dedicandoao estudo dos animais peonhentos da Bahia participando da formao de um grande nme-ro de especialistas.

    O livro apresenta de maneira clara uma introduo ao estudo dos escorpies e abordaos diversos aspectos desde a sua origem e mitos, tcnicas de coleta, manuteno em cativei-ro e d nfase as espcies de importncia em sade; tema muito atual, uma vez que asnotificaes de acidentes com escorpies ao Ministrio de Sade esto aumentando de ma-neira inquietante. Cada captulo, escrito por especialistas como a mestre Denise MariaCandido do Instituto Butantan e o mestre Claudio Augusto Ribeiro de Souza, est acompa-nhado de extensa bibliografia demonstrando o cuidado dos autores que relacionaram desdeos primeiros trabalhos envolvendo o estudo dos escorpies at os mais recentes.

    Na certa esta obra ser um estmulo tanto para leigos como para estudantes de biologiainiciarem o estudo dos escorpies, principalmente por ter este livro uma linguagem acess-vel e suprir uma carncia grande, pois h mais de 30 anos nada sobre o tema foi publicado noBrasil.

    So Paulo, 15 de julho de 2009

    Sylvia Marlene Lucas

    Pesquisadora do Instituto Butantan

  • 13

    APRESENTAO

    Parte deste livro produto das revises bibliogrficas e dos resultados de pesquisasconduzidas durante a graduao de Tiago Jordo Porto, sob minha orientao. A reunio des-tas informaes no formato de um livro teve incio durante o trabalho monogrfico de Tiago,apresentado para a concluso no curso de Cincias Biolgicas da Universidade Federal daBahia, em dezembro de 2008. Representa tambm e por isso, parte da vida acadmica dessejovem que, desde 2005 integra o nosso Grupo de Pesquisa Ncleo de Ofiologia e AnimaisPeonhentos (NOAP) e vem desenvolvendo estudos sobre a nossa escorpiofauna com garra eperseverana, duas das maiores qualidades para a formao de um pesquisador. Tenho queconfessar que foi prazeroso orient-lo e que com orgulho que participo deste livro.

    Os mais de 30 anos de experincia no ensino superior, na rea da zoologia deinvertebrados, me fizeram enxergar o quanto ainda escassa a fonte de estudo e pesquisapara os alunos da graduao, principalmente, no campo da aracnologia. O ltimo livro bra-sileiro de cunho didtico sobre escorpies, e que foi intensamente usado por mim nas aulasde Zoologia III (artrpodes), foi O escorpio de autoria de Fabio Aranha Matthiesen1, publica-do em 1976 e que nunca mais foi reeditado. Muitos outros livros sobre escorpies forampublicadas desde ento, mas a maioria com carter cientfico e referente fauna de outrospases e nenhum em portugus, o que dificulta a utilizao por alunos de graduao e poroutros interessados no estudo dos escorpies.

    Assim que, de posse da extensa reviso bibliogrfica gerada por Tiago durante suagraduao e reunida em sua monografia, e com a colaborao de Denise Maria Candido eCludio Augusto Ribeiro de Souza, ambos do Instituto Butantan, ficamos motivados a en-frentar o desafio de publicar este livro, na esperana de contribuir com mais um instrumen-to de leitura sobre a diversidade da fauna brasileira. Esperamos que este veculo seja utiliza-

    1 Publicado em So Paulo pela Edart.

  • 14

    do no s pela comunidade acadmica, mas por todos os interessados nesses pequenosanimais, to nicos no universo da nossa fauna.

    Salvador, julho de 2010

    Tania Kobler Brazil

    Professora aposentada da Universidade Federal da BahiaProfessora da Escola Bahiana de Medicina e Sade Pblica

  • 15

    QUEM SO OS ESCORPIES?Tiago Jordo PortoTania Kobler Brazil

    Tambm conhecidos como lacraus, os escorpies (Scorpiones) surgiram h 450 mi-lhes de anos (Perodo Siluriano), no ambiente marinho (BROWNELL; POLIS, 2001). Osprimeiros registros deste aracndeo no ambiente terrestre so datados de 325 a 350 milhesde anos atrs (final do Devoniano e incio do Carbonfero), quando outros aracndeos,miripodes e insetos j habitavam este ambiente (POLIS, 1990a). Na principal obra de CarolusLinnaeus (1707-1778), (Systema Naturae, 1758), os escorpies eram considerados insetosdo gnero Scorpio, com apenas cinco espcies (S. afer, S. americanus, S. australis, S. europaeus eS. maurus). Somente a partir do incio do sculo XIX que foi considerado que estes animaisrepresentavam uma ordem dentro da classe dos aracndeos, classificao que perdura athoje. Portanto, os escorpies so artrpodes terrestres quelicerados que integram a ClasseArachnida, juntamente com as aranhas (Araneae), caros (Acari), opilies (Opiliones) eoutros oito grupos menos conhecidos popularmente (Tabela 1). Os aracndeos destacam-separa os seres humanos como animais perigosos e de importncia mdica pela capacidade detransmitir doenas ou causar danos a plantaes agrcolas (caros), e/ou pela ao do vene-no de algumas espcies (aranhas e escorpies).

    Atualmente, sabe-se que a Classe Arachnida abriga 651 famlias, 9.766 gneros e maisde 100.000 espcies (Tabela 1), o que corresponde a 10% de todos os artrpodes j descritos

  • 16

    (ERWIN, 1982). O relacionamento filogentico dos grupos taxonmicos dentro da ClasseArachnida discutido por vrios autores e uma das hipteses pode ser encontrada em Ruppert,Fox e Barnes (2005), que no inclui a Ordem Schizomida (Figura 1). Os aracndeos so osnicos representantes terrestres do Subfilo Chelicerata, composto ainda por Xiphosura (co-nhecido popularmente nos Estados Unidos como lmulo ou caranguejo-ferradura),Pycnogonida (aranha-do-mar) e os extintos Eurypterida.

    Tabela 1 - Nmero de famlias, gneros e espcies da Classe Arachnida (Arthropoda; Chelicerata)

    *nmeros aproximados

    Grupo Taxonmico

    Acari

    Amblypygi

    Araneae

    Opiliones

    Palpigradi

    Pseudoescorpiones

    Ricinulei

    Schizomida

    Scorpiones

    Solifugae

    Uropygi

    Total Arachnida

    Referncias

    HALLIDAY; OCONNOR; BAKER, 2000

    HARVEY, 2002

    PLATNICK, 2010

    MACHADO; PINTO-DA-ROCHA; GIRIBET, 2007

    HARVEY, 2002

    CEBALLOS; FLOREZ, 2007

    CODDINGTON; COLWELL, 2001

    HARVEY, 2002

    FET et al., 2000; PRENDINI; WHEELER, 2005

    HARVEY, 2002

    CODDINGTON; COLWELL, 2001

    Espcies

    48.200*

    136

    41.719

    6.000*

    78

    3.336

    53

    205

    1.500*

    1.087

    101

    102.415

    Gneros

    3.672

    17

    3.802

    1.500

    6

    437

    3

    34

    163

    141

    16

    9.791

    Famlias

    431

    5

    109

    45

    2

    25

    1

    2

    18

    12

    1

    651

  • 17

    Figura 1 - Relao filogentica dos grupos taxonmicos de ArachnidaFonte: adaptado de Ruppert, Fox e Barnes (2005).

    Scorpiones

    Araneae

    Uropygi

    Amplypygi

    Palpigradi

    Solifugae

    Pseudo-scorpiones

    Opiliones

    Recinulei

    Acari

  • 18

    A Ordem Scorpiones representa apenas 1,5% dos aracndeos conhecidos, com 18 fam-lias, 163 gneros e aproximadamente 1500 espcies no mundo. A estimativa total da diver-sidade de 7000 espcies (CODDINGTON; COLWELL, 2001) e, de todos os escorpies jdescritos, metade ocorre na Regio Neotropical (8 famlias, 48 gneros e cerca de 800 esp-cies) (LOURENO, 2002a). Apesar da baixa diversidade mundial, estes animais tm re-cebido considervel ateno taxonmica atravs dos anos, provavelmente como resultadoda sua importncia mdica, da sua antiguidade e importncia para anlise da filogenia deChelicerata, sua abundncia e ampla distribuio geogrfica (SISSOM, 1990), representadosem todos os continentes, com exceo da Antrtida. Nas Amricas, so encontrados desde oCanad, limite norte, at a Patagnia, limite sul (LOURENO, 2002a).

    Os escorpies ocorrem em todos os ecossistemas terrestres, com exceo da tundra,taiga de alta latitude, reas boreais e em algumas reas de elevada altitude (POLIS, 1990b).J foram registrados a mais de 5.500 m de altitude (Andes peruanos), dentro de cavernassem luz, sob pedras cobertas de neve e dos desertos mais ridos at as florestas mais mi-das. Porm, a capacidade de sobrevivncia de algumas espcies a estas condies extremasno caracteriza os escorpies como animais ecologicamente generalistas. A grande maioriadas espcies apresenta exigncias especficas com relao ao hbitat e micro-hbitat e pos-suem padres ecolgicos e biogeogrficos previsveis e localizados (LOURENO;EICKSTEDT, 2009). No entanto, algumas espcies do gnero Centruroides, Isometrus, Tityus,Euscorpius e Bothriurus apresentam alta plasticidade ecolgica e padres irregulares de distri-buio, podendo ocorrer inclusive em ambientes perturbados ou modificados pela ao dohomem (LOURENO; EICKSTEDT, 2009), onde encontram abrigo e alimentao dentro e/ou prximo das residncias humanas.

    Estrutura do corpo

    O corpo dos escorpies dividido em duas partes: prossoma (cefalotrax) e opistossoma,este ltimo subdividido em mesossoma (tronco) e metassoma (cauda) (Figura 2). Caracte-rsticas estruturais da construo do corpo destes pequenos artrpodes so basais na evolu-o dos Arachnida, como a respirao exclusivamente area, presena de pulmes foliceos,

  • 19

    de olhos simples e de quatro pares de pernas locomotoras. Como caracterstica nica den-tre os aracndeos, os escorpies apresentam uma subdiviso do opistossoma em mesossomae metassoma, possuem um apndice ventral chamado de pente, e tlson modificado comglndula de veneno e aguilho inoculador.

    Figura 2 - Morfologia externa dorsal e ventral de um escorpio (Tityus aba):es) par de estigmas respiratrios do sexto segmento mesossomal; et) esterno; ms) mesossoma; mt) metassoma;pe) perna; pd) pedipalpo; pn) pentes; ps) prossoma; ql) quelcera; tl) tlson.Fonte: Candido e colaboradores (2005).

    A morfologia externa dos escorpies atuais bastante similar aos fsseis do Siluriano,demonstrando capacidade adaptativa a diferentes condies ambientais desde a sua origem(Figura 3). No entanto, como aconteceu com diversos outros artrpodes, evolutivamente,

    ps

    pe

    mt

    ms

    tl

    pd

    ql

    etpn

    es

    1 cm

  • 20

    houve uma reduo do tamanho dos escorpies. So reconhecidas aproximadamente 90espcies fsseis, e estima-se que Brontoscorpio anglicus poderia chegar a 94 cm (SISSOM,1990). O comprimento dos escorpies atualmente viventes varia desde 0,8 cm (Typhlochactasmitchelli) at 21 cm (Hadogenes troglodytes) e as espcies brasileiras geralmente medem entre2 e 9 cm. A anatomia do corpo, com segmentos achatados dorso-ventralmente (com exceodo metassoma), pernas dispostas lateralmente e metassoma flexvel, est vinculada s suasexigncias fisiolgicas, ecolgicas e comportamentais, permitindo a estes animais a ocupa-o de diferentes micro-hbitats.

    Figura 3 - Exemplares de escorpies fsseis e atuais:A) Proscorpius oshorni, New York, EUA (Siluriano); B) Protoischnurus axelrodorum, Cear, Brasil (Cretceo); C) Tityusserrulatus, Bahia, Brasil (atual).Fontes: Sissom (1990); W. R. Loureno; T. J. Porto.

    Todo o corpo dos escorpies coberto por plos (cerdas) cuticulares quimiorreceptorese principalmente mecanorreceptores, especialmente nas pernas, metassoma e pedipalpos,sendo estas as suas principais estruturas sensoriais (Figura 4). So equipados, tambm,

    A B C

  • 21

    com outras estruturas importantes, como clulas nervosas fotosensveis no metassoma, umsistema de deteco da distncia e direo das presas e predadores nas pernas e um par depentes sensoriais (ROOT, 1990). O prossoma coberto dorsalmente por uma carapaa ni-ca que suporta um par de olhos medianos e de dois a cinco pares de olhos laterais, os quaisso extremamente sensveis luz e eficientes para os hbitos noturnos do animal. Nas esp-cies troglbias1 esses olhos podem estar reduzidos ou ausentes.

    Figura 4 - Esquema representativo do ltimo segmento metassomal e do tlson:ac) acleo; an) nus; fe) ferro ou aguilho; pl) plos ou cerdas; segV) quinto segmento metassomal; tl) tlson.Fonte: adaptado de Hjelle (1990).

    Do prossoma partem os principais apndices dos escorpies, comuns a todos osaracndeos, na sequncia: um par de quelceras, um par de pedipalpos e quatro pares depernas (Figura 5). Ventralmente, o esterno formado pela fuso dos esternitos de todos ossegmentos do prossoma, e sustenta as coxas das pernas. O formato do esterno um impor-tante caracter taxonmico, pois caracterstico de cada famlia de escorpio.

    1 Restritas a cavernas que podem apresentar adaptaes morfolgicas para viver neste ambiente (troglomrficas), comoreduo ou perda de olhos e despigmentao.

    fe

    segV

    tlpl

    an

    ac

  • 22

    Figura 5 - Vista frontal e ventral do escorpio Tityus serrulatus:es) estigma ou espirculo respiratrio; et) esterno; pn) pentes; ol) olhos laterais; om) olhos medianos; op)oprculo genital; ql) quelceras.Fotos: T. J. Porto.

    As quelceras so tri-segmentadas (coxa, dedo fixo e dedo mvel) e utilizadas, princi-palmente, para triturar o alimento. Os pedipalpos, compostos por seis artculos (coxa,trocanter, fmur, patela, tbia e tarso, estes dois ltimos referidos coletivamente como quela),so utilizados para imobilizao da presa (principalmente insetos ou outros aracndeos),defesa, conduo do parceiro durante a corte e percepo sensorial. Os quatro pares depernas, formados por sete artculos (coxa, trocanter, fmur, patela, tbia, basitarso, tarso),so responsveis pela locomoo do animal e eventual elevao do corpo. Esta elevao necessria durante o simples deslocamento, quando o substrato tocado pelos pentes, du-rante o deslocamento por lugares midos, para evitar a submerso dos estigmas respiratri-os, durante o parto e em exibies comportamentais.

    O mesossoma, formado por sete segmentos, concentra a funo de reproduo dosescorpies, pois nele esto contidos os rgos e as estruturas reprodutivas. O oprculo genital,estrutura ventral localizada no primeiro segmento mesossomal, cobre e protege o gonporo.Nas fmeas, o oprculo d entrada para a cmara genital, que contnua ao oviduto onde osfilhotes iro se desenvolver. Nos machos, o gonporo segue internamente com uma srie de

    pnol

    op

    es

    ql

    om

    et

  • 23

    tbulos, rgos e glndulas responsveis pela produo dos espermatozides e oespermatforo, estrutura utilizada para transferncia indireta dos gametas (Figura 6). Nosegundo segmento mesossomal, ventralmente, encontram-se os pentes sensoriais, um parde estruturas que funcionam como quimiorreceptores e mecanorreceptores, importantespara percepo da presa, orientao espacial e, para os machos, para a busca de fmeas(Figura 5).

    Figura 6 - Esquemas do aparelho reprodutor feminino (ovaritero) e masculino:cg) cmara genital; de) ducto espermtico; fo) folculo ovariano; ga) glndula acessria; op) rgo paraxial; ov)oviduto; rs) receptculo seminal; ts) testculo; vs) vescula seminal.Fonte: esquema central do escorpio adaptado de Candido e colaboradores (2005) e esquemas laterais dos aparelhosreprodutores adaptados de Vachon (1952).

    rs

    op

    ov ga

    fo

    ts

    de

    vs

    cg

  • 24

    Do terceiro ao sexto segmento mesossomal, ventralmente, os espirculos ou estigmasrespiratrios (um par por segmento) permitem a passagem do ar atmosfrico aos pulmesfoliceos, onde se processam as trocas gasosas (Figuras 2 e 5). No stimo segmento noexistem apndices e o corpo do animal continua mais estreitado at o metassoma. Este formado por cinco estreitos segmentos com os tergitos fusionados de modo a permitir aflexibilidade necessria para o seu posicionamento tanto em descanso quanto em alerta.Essa forma e flexibilidade determinaram a denominao popular de cauda a essa estrutu-ra. A inoculao do veneno ocorre pelo ferro localizado no tlson, ltima parte do corpo. Otlson, que no considerado um segmento verdadeiro2, composto pela vescula ou acleo,que comporta duas glndulas de veneno, e o ferro ou aguilho (Figura 4).

    Histria natural

    A histria natural dos escorpies foi foco de investigaes desde o incio dos estudossobre estes aracndeos (Figura 7). Costumam ser encontrados em frestas de rochas, cascasde rvores, troncos em decomposio, sob pedras, no interior de tocas, sob folhio e emcavernas, escondendo-se de macacos, quatis, aves (seriemas, galinhas e corujas), anfbiosanuros e lagartos, seus principais predadores naturais. Nesses ambientes, a temperatura, aumidade e a oferta de presas so condies determinantes para o estabelecimento e prolife-rao das populaes de escorpies. Nas regies tropicais, so mais ativos durantes os me-ses mais quentes do ano, principalmente durante as chuvas. Os escorpies so forrageadoressenta-espera, e para a captura de seu alimento (principalmente baratas, grilos, larvas deinsetos e aranhas) se orientam atravs de estruturas sensoriais e seguram as presas com asquelas dos pedipalpos. Caso a presa oferea resistncia, o escorpio ir inocular o venenocom o objetivo de paralis-la e iniciar o processo de digesto. Em algumas situaes osescorpies podem picar a presa e no inocular veneno. Em reas urbanas, os escorpiespodem ser eficientes predadores de artrpodes que podem ser nocivos ao homem, comoaranhas e baratas (BRASIL, 2009).

    2 Metmero ou segmento formado durante o desenvolvimento do embrio.

  • 25

    A B

    C D E

    F G

    Figura 7 - Aspectos da histria natural de escorpies:A) exvia de Rhopalurus rochai; B) Tityus kuryi sob luz negra; C) T. kuryi predando aranha; D) casal de T. mattogrossensisem cpula; E) espermatforo de T. brazilae; F) escorpio partenogentico T. serrulatus com 31 filhotes no dorso;G) fmea de T. mattogrossensis com filhotes no dorso aps realizao da primeira ecdise. Fotos: T. J. Porto.

  • 26

    So animais quase sempre solitrios, embora algumas espcies possam desenvolveralgum grau de comportamento social (LOURENO, 2002b). A interao intra-especficamais bem estudada e mais complexa o comportamento de corte. Foi descrita pela primeiravez no incio do sculo XIX e somente na dcada de 1950 foi descoberta a forma indireta detransferncia de espermatozides (POLIS; SISSOM, 1990). Para facilitar o encontro para acpula, a fmea, quando receptiva, pode emitir feromnio que direciona o macho ao seuencontro. Em algumas espcies, principalmente naquelas onde existem mais machos do quefmeas, estas podem ser encontradas na companhia de machos que iro coabitar com ela attornarem-se receptivas para a corte (BENTON, 2001).

    O comportamento de corte dos escorpies pode ser dividido basicamente em trsfases: iniciao, dana e transferncia de espermatozides. Na primeira, relativamente r-pida, o casal se encontra e ocorre o reconhecimento especfico e sexual, somente prosse-guindo se a fmea, geralmente maior que o macho, estiver receptiva (BENTON, 2001).Durante a dana, o macho estimula a fmea e reduz sua agressividade conduzindo-a emvrias direes, segurando seus pedipalpos, explorando o ambiente procura da superf-cie adequada para efetuar a deposio do espermatforo. A durao desta fase direta-mente influenciada pelo tempo de encontro do local de deposio (5 minutos ou at 48horas). Na terceira fase, o macho abaixa seu mesossoma at que seu gonporo toque osubstrato escolhido, deposita o espermatforo e puxa a fmea, posicionando-a adequada-mente sobre ele. O oprculo genital da fmea se abre enquanto ela se abaixa sobre oespermatforo, permitindo que os espermatozides entrem em seu trato reprodutivo eocorra a fecundao (POLIS; SISSOM, 1990). Apesar desta caracterizao geral, o compor-tamento de corte difere entre as espcies, existindo inclusive atos comportamentais espec-ficos de algumas famlias de escorpies.

    Alm dessas trs fases, foram evidenciados registros de comportamentos ps-transfe-rncia em algumas espcies, como o consumo do espermatforo e o canibalismo sexual(MATTHIESEN, 1968), relacionado, provavelmente, ao ganho nutritivo ou energtico queesse ato proporciona. O canibalismo sexual o comportamento ps-cpula que mais chamaa ateno dos pesquisadores. Foi relatado para muitas espcies desde o incio dos estudos

  • 27

    com escorpies e ocorre quando a fmea percebe o macho como uma presa e no como umparceiro. O canibalismo tambm acontece entre adultos do mesmo sexo e de fmeas comseus filhotes (Figura 8).

    Figura 8 - Canibalismo entre escorpies:A) canibalismo entre Tityus neglectus adultos; B) canibalismo da fmea de T. brazilae em seu filhote.Fotos: T. J. Porto.

    Aps a inseminao, fmeas de algumas espcies podem apresentar uma massaesbranquiada na sua abertura vaginal, o espermatocleurum, estrutura sem origem certa e que excretada aps o nascimento dos filhotes. Sua funo tambm no conhecida, mas suapresena pode interferir em fecundaes adicionais (POLIS; SISSOM, 1990). Para os ma-chos, novas cpulas somente sero possveis aps a produo de um novo espermatforo,que pode ocorrer at 6 dias aps a ltima cpula (MATTHIESEN, 1968). Os machos podemacasalar at 5 vezes por ano e as fmeas de algumas famlias podem copular mais de uma vezpor estao reprodutiva (MAHSBERG, 2001), inclusive j tendo sido observado fmeas deButhidae copulando enquanto carregavam filhotes no dorso (POLIS; SISSOM, 1990).

    A B

  • 28

    Alguns escorpies reproduzem-se assexuadamente por partenognese, um fenmenoraro entre os quelicerados (exceto em caros), onde os vulos se desenvolvem sem fecunda-o de um macho. Tal estratgia reprodutiva foi reportada para onze espcies em vriasregies do mundo, cinco delas com ocorrncia no Brasil: Tityus metuendus, T. serrulatus, T.stigmurus, T. uruguayensis e T. trivittatus (LOURENO, 2008). A gestao, incluindo-se as es-pcies de reproduo sexuada e assexuada, pode ser curta (2 meses), caracterstica de al-guns escorpies da famlia Buthidae, ou extremamente longa (22 meses), ocorrendo emalgumas espcies das famlias Ischinuridae, Scorpionidae e Diplocentridae (LOURENO,2002b). As ninhadas podem ser de 1 a 105 filhotes, que iro manter-se no dorso da me(cuidado parental) at a primeira ou segunda muda, quando se dispersam, e isso leva de 5 a30 dias dependendo da espcie (LOURENO, 2002b). O desenvolvimento ps-embrion-rio, ou seja, o tempo at alcanar a maturidade sexual, varia de seis meses a sete anos. Amaioria das espcies vive entre 2 e 10 anos, mas alguns escorpies podem chegar a viver 25anos. Seu crescimento dependente de fatores como temperatura, disponibilidade de ali-mento e reproduo, sendo que os escorpies tm maior longevidade em cativeiro do queem ambiente natural e fmeas vivem mais que machos.

    Mitos e lendas

    Por serem menos frequentemente vistos pelos seres humanos e terem distribuio maisrestrita que as aranhas, os escorpies permeiam no domnio da mitologia, enquanto as ara-nhas, que afetam a vida de um nmero maior de pessoas, predominam no domnio do fol-clore (CLOUDSLEY-THOMPSON, 2001). Os escorpies habitam o imaginrio dos povos doOriente e Mediterrneo desde o incio dos tempos, e a mitologia sobre eles tende a sercsmica e pica, a exemplo dos egpcios que os veneravam e ignoravam outros aracndeos,como solfugos e aranhas (CLOUDSLEY-THOMPSON, 1990).

    Uma das representaes lendrias mais conhecidas a da constelao Scorpio, descritapelos astrnomos da Babilnia h 4.000 anos e que pode ser vista perto do centro da ViaLctea, nos cus de inverno do hemisfrio sul, em posio oposta constelao de rion(visvel no vero). Tanto os gregos como os egpcios trazem explicaes mitolgicas sobre

  • 29

    essa constelao, envolvendo os deuses Zeus e Artemis, explicando a morte de rion (filho deZeus) ocasionada por um escorpio. Segundo a lenda, rion era exmio caador, dotado deum porte de rara beleza e tinha a predileo da deusa Artemis, mas tambm era amado peladeusa Aurora. Por cime, Artemis faz com que um escorpio gigante saia da terra e piquemortalmente o calcanhar do caador, que nesse momento levado ao cu junto com o ani-mal venenoso, formando as constelaes. As duas constelaes (rion e Scorpio) so mantidasseparadas para evitar novas contendas. Scorpio, com sua principal estrela vermelha Antares,aparece na oitava casa do zodaco (crculo dos animais, ou caminho, do snscrito sodi) etraduz, para os astrlogos, o signo que est associado com a fora mstica nas fases crticasde transformao, como reproduo e morte-renascimento.

    Antigamente, era comum encontrar a representao visual dos escorpies em vriosobjetos, como forma de proteo, inclusive para as prprias picadas. No Egito antigo, suarepresentao comum em tumbas e monumentos, e na Prsia figuram em amuletos. Entreas crendices populares, a mais antiga e conhecida a de que os escorpies se matam. Paracelsus(1493-1541) foi um dos primeiros que afirmou que os escorpies se suicidavam quandorodeados por fogo. Esta idia foi corroborada por muitos naturalistas, mas negada por ou-tros, o que criou o mito. Bcherl (1971) esclareceu o fato demonstrando que os escorpiesmorrem pelo calor e ressecamento de seu corpo ao tentar fugir, elevando a cauda mecanica-mente em movimento de defesa. Alm disso, demonstrou que a carapaa endurecida pelaquitina impossvel de ser penetrada pelo acleo do animal e que o veneno do prprioescorpio no traz prejuzo ao mesmo animal, quando injetado. Alguns outros mitos e len-das envolvendo os escorpies e outros aracndeos podem ser encontrados nas publicaesde J. L. Cloudsley Thompson (1990; 2001).

    REFERNCIAS

    BENTON, T. G. Reproductive biology. In: BROWNELL, P.; POLIS, G. A. (Org.). Scorpion biology andresearch. New York: Oxford University Press, 2001. p. 278-301.

    BRASIL. Ministrio da Sade. Secretaria de Vigilncia em Sade. Manual de controle e manejo deescorpies. Braslia, 2009.

  • 30

    BROWNELL, P.; POLIS, G. Scorpion biology and research. New York: Oxford University Press, 2001.431 p.

    BUCHERL, W. Acleos que matam: no mundo dos animais peonhentos. So Paulo: Melhoramentos,1971. 144 p.

    CANDIDO, D. M. et al. Uma nova espcie de Tityus C. L. Koch, 1836 (Scorpiones, Buthidae) do Estadoda Bahia, Brasil. Biota Neutropica, v. 5, n. 1, p. 193-200, 2005.

    CEBALLOS, A.; FLOREZ, E. D. Pseudoscorpions (Arachnida: Pseudoscorpiones) from Colombia:checklist of species. Biota Colombiana, v. 8, n. 1, 2007.

    CLOUDSLEY-THOMPSON, J. L. Scorpions and spiders in mythology and folklore. In: FET, V.;SELDEN, P. A. Scorpions 2001: in Memoriam Gary A. Polis. Burnham Beeches, Bucks: BritishArachnological Society, 2001. p. 391-402.

    ______. Scorpions in mythology, folklore, and history. In: POLIS, G. A. (Org.). The biology ofscorpions. Stanford: Stanford University Press, 1990. p. 222-233.

    CODDINGTON, J. A.; COLWELL, R. K. Arachnida. In: LEVIN, S. C. (Org.). Encyclopedia ofbiodiversity. New York: Academic Press, 2001. p. 199-218.

    ERWIN, T. L. Tropical forests: their richness in Coleoptera and other arthropod species. TheColeopterists Bulletin, v. 36, p. 74-75, 1982.

    FET, V. et al. Catalog of the scorpions of the world (1758-1998). New York: New YorkEntomological Society, 2000. 690 p.

    HALLIDAY, R. B.; OCONNOR, B. M.; BAKER, A. S. Global diversity of mites. In: RAVEN, P. H.(Org.). Nature and human society: the quest for a sustainable world. Washington: National AcademyPress, 2000. p. 192-203.

    HARVEY, M. S. The neglected cousins: what do we know about the smaller arachnid orders? Journalof Arachnology, v. 30, n. 2, p. 357-372, 2002.

    HJELLE, J. T. Anatomy and morphology. In: POLIS, G. A. (Org.). The biology of scorpions. Stanford:Stanford University Press, 1990. p. 9-63.

  • 31

    LOURENO, W. R. Scorpiones. In: ADIS, J. (Org.). Amazonian arachnida and myriapoda:identification keys to all classes, orders, families, some genera and lists of known terrestrial species.Moscow: Pensoft Publishes, 2002a. p. 399-438.

    ______. Reproduction in scorpions, with special reference to parthenogenesis. In: TOFT, S.; SCHARFF,N. (Org.). European Arachnology 2000. Aarhus: Aarhus University Press, 2002b. p. 71-85.

    ______. Parthenogenesis in scorpions: some history new data. Journal of Venomous Animals andToxins including Tropical Diseases, Botucatu, v. 14, n. 1, p.19-44, 2008.

    LOURENO, W. R.; EICKSTEDT, V. R. Escorpies de Importncia Mdica. In: CARDOSO, J. L. C. etal. Animais peonhentos no Brasil: biologia, clnica e teraputica dos acidentes. So Paulo: Sarvier,2009. p. 198-213.

    MACHADO, G.; PINTO-DA-ROCHA, R.; GIRIBET, G. What are harvestmen?. In: PINTO-DA-ROCHA, R.; MACHADO, G.; GIRIBET, G. (Org.). Harvestmen: the biology of opiliones. Cambridge:Harvard University Press, 2007, p. 1-13.

    MAHSBERG, D. Brood care and social behavior. In: BROWNELL, P.; POLIS, G. A. (Org.). Scorpionbiology and research. New York: Oxford University Press, 2001. p. 257-277.

    MATTHIESEN, F. A. On the sexual behaviour of some brazilian scorpions. Revista Brasileira dePesquisas Mdicas e Biolgicas, v. 1, p. 93-96, 1968.

    PLATNICK, N. I. The world spider catalog. 2010. Disponvel em: . Acesso em: 27 nov. 2010.

    POLIS, G. A. The biology of scorpions. Stanford: Stanford University Press, 1990a. 587p.

    ______. Ecology. In: ______. (Org.). The biology of scorpions. Stanford: Stanford University Press,1990b. p. 247-293.

    POLIS, G. A.; SISSOM, W. D. Life history. In: ______. (Org.). The biology of scorpions. Stanford:Stanford University Press, 1990. p. 161-223.

    PRENDINI L. W.; WHEELER, C. Scorpion higher phylogeny and classification, taxonomic anarchy, andstandards for peer review in online publishing. Cladistics, v. 30, p. 446-494, 2005.

  • 32

    ROOT, T. M. Neurobiology. In: POLIS, G. A. (Org.). The biology of scorpions. Stanford: StanfordUniversity Press, 1990. p. 341-413.

    RUPPERT, E. E.; FOX, R. S.; BARNES, R. D. Zoologia dos invertebrados. 7. ed. So Paulo: Roca,2005. 1168 p.

    SISSOM W. D. Systematics, biogeography and paleontology. In: POLIS, G. A. (Org.). The biology ofscorpions. Stanford: Stanford University Press, 1990. p. 64-160.

    VACHON, M. tudes sur les scorpions. Algiers: Publications de LInstitut Pasteur dAlgerie. 1952.482 p.

  • 33

    TCNICAS DE COLETA E MANEJO DE ESCORPIES EM CATIVEIRODenise Maria CandidoTiago Jordo Porto

    Os escorpies so animais silvestres1 e como tal sua captura e manuteno so regula-mentadas por diversos atos legais no Brasil, dentre eles a Lei de Proteo Fauna (Lei n.5.197, de 1967), a Lei de Crimes Ambientais (Lei n. 9.605, de 1998) e o Decreto de CrimesAmbientais (Decreto n. 3.179, de 1999). A utilizao, perseguio, destruio, caa ou apa-nha de escorpies, de seus abrigos e criadouros naturais, assim como de qualquer outroanimal silvestre, proibida por lei no Brasil, e o seu descumprimento considerado infraoambiental, com diversas sanes penais e administrativas.

    No entanto, em algumas situaes, necessria a captura e manuteno destes aracndeos,como por exemplo, para o fornecimento de material biolgico para pesquisas cientficas, paraa produo de imunobiolgicos e para o controle do tamanho populacional em casos de surtosem zonas urbanas. Para executar estas atividades, mesmo que se tenha uma finalidade cient-fica ou seja do interesse pblico, necessria uma licena emitida pelo Instituto Chico Men-des de Conservao da Biodiversidade (ICMBio). Atravs do Sistema de Autorizao e Infor-mao em Biodiversidade (SISBIO), pesquisadores podero solicitar autorizaes para coleta,

    1 Espcies nativas, migratrias e quaisquer outras, aquticas ou terrestres, que tenham todo ou parte de seu ciclo de vidaocorrendo dentro dos limites do territrio brasileiro, ou guas jurisdicionais brasileiras (Lei n. 9.605, art. 29, inciso III, 3).

  • 34

    transporte ou manuteno de escorpies em cativeiro, com fins cientficos ou didticos. Para amanuteno em cativeiro com fins cientficos, todas as normas dispostas na Portaria IBAMAn. 016/94 devem ser seguidas, de forma a preservar a sade dos animais e do homem. Acaptura, coleta e o transporte esto regulamentados pela Portaria n. 332/90 e pela InstruoNormativa IBAMA n. 109/97, o que significa que somente tcnicos ou profissionais autoriza-dos e licenciados podem coletar os escorpies (BRASIL, 2009).

    Coleta de escorpies em ambiente natural

    Por serem animais pequenos e terem hbitos noturnos, os escorpies so animais dedifcil encontro em ambiente natural. Quando encontrados, frequentemente fogem e se abri-gam em fresta, buracos, sob troncos e folhas cadas, mas podem tambm permanecer imveis,principalmente quando apresentam colorao do corpo similar do substrato. Ainda, por se-rem animais venenosos, estes aracndeos impem limitaes para sua captura. Estas dificul-dades impostas pela biologia do animal e por limitaes do coletor estimularam o desenvolvi-mento e adaptao de diferentes mtodos de coleta para escorpies em ambiente natural.

    A coleta de escorpies pode se proceder de maneira passiva (armadilhas) ou ativa (comesforo do coletor). Para amostragem passiva, podem ser utilizadas armadilhas de queda(pitfall traps) (e. g. BRADLEY; BRODY, 1984; DIAS; CANDIDO; BRESCOVIT, 2006; FREITAS;VASCONCELOS, 2008; HFER; WOLLSCHEID; GASNIER, 1996), armadilhas deinterceptao e queda (pitfall traps with drift fence) (e. g. FET, 1980; YAMAGUTHI; PINTO-DA-ROCHA, 2006; PINTO-DA-ROCHA et al., 2007; RAMOS, 2007) e armadilhas de quedacontidas em vala (trapping ditches) (FET, 1980). Outros mtodos podem ser utilizados naamostragem da fauna de escorpies por acessarem habitats ocupados por estes animais,como por exemplo o extrator de Winkler, o funil de Berlese e o termonebulizador de copa(canopy fogging). No entanto, a armadilha de queda o mtodo passivo mais utilizado paraamostragem da fauna de escorpies de uma rea.

    As armadilhas de queda consistem em recipientes enterrados at sua superfcie su-perior ficar nivelada com o solo (Figura 1), e so largamente utilizadas desde a dcada

  • 35

    de 1930 para coleta de artrpodes terrestres (SCHMIDT et al., 2006). So armadilhasrelativamente baratas, de fcil montagem e manuseio e realizam a amostragem durantetodo o tempo em que esto em campo. Frequentemente so colocadas cercas guias (dritffence), tambm chamadas de aparadeiras, para interceptar o trajeto do animal e direcion-lo at a armadilha (Figura 1), o que pode resultar em um maior nmero de animaiscoletados. O tamanho dos pitfalls utilizados para a amostragem de escorpies varia des-de recipientes de 300 ml (DIAS; CANDIDO; BRESCOVIT, 2006) at 90 l (PINTO-DA-ROCHA et al., 2007). A utilizao de pitfalls grandes pode complementar a amostragemmais frequentemente feita com pitfalls pequenos. A distribuio espacial destas armadi-lhas nos pontos amostrais pode variar, mas a disposio linear e em forma de Y so asmais utilizadas (Figura 1).

    Nos pitfalls menores, de at 2 l, geralmente adicionado uma soluo (na maioria dasvezes lcool, gua e detergente ou soluo hipersalina) para reter, matar e conservar osvrios artrpodes que podero ser coletados. J nos pitfalls maiores, que primariamente soutilizados para amostragem de vertebrados, no adicionada soluo, o que possibilita fu-gas, canibalismo, e predao dos escorpies por parte de outros animais que venham a sercapturados na mesma armadilha, como lagartos, sapos e roedores. Caso no se tenha inte-resse na captura destes vertebrados, podem ser utilizados filtros nas armadilhas, que iroatuar sobre o tamanho, dificultando a captura de animais maiores, inclusive de grandesartrpodes. Por exemplo, podem ser instaladas telas sobre a entrada dos pitfalls, ao nvel dosubstrato, ou coberturas planas tambm sobre a entrada dos pitfalls, sustentada alguns cen-tmetros acima do substrato.

    Os recipientes mais frequentemente utilizados como pitfalls para amostragem de escor-pies so copos plsticos de 500 ml, com cercas guias de 15-20 cm de altura feitas com lonaplstica. Geralmente coloca-se um prato plstico sobre o pitfall, sustentado a aproximada-mente 15 cm do substrato por hastes de madeira (Figura 1). Esta cobertura diminui a chancede extravasamento do lquido conservante em caso de chuva e evita que folhas e ramoscaiam dentro da armadilha e possibilitem fugas dos animais j capturados.

  • 36

    Figura 1 - Mtodos de coleta de escorpies em ambiente natural:A) armadilha de queda de 60 l; B) pitfall com cobertura protetora; C) armadilha de interceptao e queda, comcerca guia disposta em Y; D) busca ativa com luz ultra-violeta; E e F) Contraste entre a visualizao com luznormal (E) e com luz ultra-violeta (F).Fotos: T. J. Porto

    A B

    C D

    E F

  • 37

    Outro mtodo utilizado para amostragem de escorpies em ambiente natural a buscaativa, que pode ser realizada durante o dia ou noite. Para encontrar os escorpies duranteo dia, deve-se focar a procura nos micro-hbitats mais provveis para a ocorrncia destesaracndeos, como embaixo de pedras e troncos, sob cascas de rvore e dentro de tocas eburacos (COLOMBO, 2006; KALTSAS; STATHI, MYLONAS, 2006; WILLIAMS, 1968). Aprocura durante a noite frequentemente mais eficiente por ser o turno de maior atividadedestes animais, o que facilita seu encontro, e por ter sido desenvolvido um mtodo especialpara este perodo, a busca ativa com luz ultravioleta (luz negra).

    A partir da dcada de 1950, quanto foi descoberta uma propriedade nica dos escorpi-es de fluorescncia luz ultravioleta - UV (LOWE; KUTCHER; EDWARDS, 2003), o n-mero de estudos de campo aumentou, e consequentemente houve um aumento no entendi-mento da biologia destes animais (POLIS, 1990). Utilizando lanternas que emitem luz UV,os pesquisadores podem encontrar escorpies a mais de cinco metros de distncia, depen-dendo da qualidade da lanterna, do tamanho do escorpio, do tipo de ambiente e da intensi-dade da luz da Lua (Figura 1). A busca ativa com luz UV um mtodo de coleta complemen-tar ao pitfalls e busca ativa durante o dia (BRADLEY; BRODY, 1984; COLOMBO, 2006),mas a depender do objetivo do estudo, pode ser utilizado como nico mtodo de amostragem,e parece ser mais eficiente nas noites mais escuras (lua nova). Tal eficincia pode serminimizada em ambientes onde os escorpies tenham disponveis muitos componentes domicro-hbitat que podem funcionar como esconderijos.

    A funo biolgica da fluorescncia luz UV para os escorpies incerta. Autores dife-rentes defendem que esta caracterstica pode proteger os escorpies contra raios ultravioleta,pode atrair presas, pode ser utilizada na comunicao intraespecfica ou funcionar comocolorao aposemtica, mas podem ser apenas especulaes (KLOOCK, 2005). A composi-o qumica do exoesqueleto dos escorpies, responsvel por este efeito, tambm no completamente conhecida e mais de uma substncia tem sido sugerida como responsvelpor este fenmeno (LOWE; KUTCHER; EDWARDS, 2003).

    Coleta de escorpies em reas urbanas

    Algumas espcies de escorpies se adaptaram vida em ambiente urbano, como ocaso dos butdeos brasileiros Tityus bahiensis, T. serrulatus e T. stigmurus. Estes escorpies so

  • 38

    oportunistas, se alimentam de baratas e grilos em reas urbanas, e T. serrulatus e T. stigmuruspossuem populaes reconhecidamente partenogenticas, estratgia reprodutiva vantajosana colonizao e proliferao de cidades. No coincidentemente, estas trs espcies, as maisadaptadas ao ambiente urbano, so as principais responsveis por acidentes escorpinicosno Brasil (LOURENO; EICKSTEDT, 2009), j tendo sido registrados surtos populacionais,principalmente nas regies Nordeste e Sudeste (AMORIM et al., 2003; SPIRANDELLI-CRUZet al., 1995). Portanto, pelo risco que podem representar para a sade humana, em algumassituaes, necessrio controlar o tamanho de populaes de escorpies em reas urbanas,j que a erradicao dessas espcies no possvel e nem vivel (BRASIL, 2009). A InstruoNormativa IBAMA n. 141/2006 regulamenta o controle e o manejo ambiental da faunasinantrpica nociva, como o caso dos escorpies.

    A reduo do tamanho de populaes de animais silvestres um dos objetivos do ma-nejo de fauna, alcanada pela mudana da situao atual mediante ao direta e planejadasobre as populaes animais, seus hbitat e o homem (OJASTI, 2000). No Brasil, a execuodesta atividade de manejo compete ao municpio, que deve registrar, capturar e eliminar osanimais que representem risco sade do homem, cabendo ao estado supervisionar essasaes (Portaria n. 1.174, de 2004). As medidas de controle e manejo populacional de escor-pies baseiam-se na retirada/coleta dos animais, conscientizao da populao e modifica-o das condies do ambiente a fim de torn-lo desfavorvel ocorrncia, permanncia eproliferao destes aracndeos (BRASIL, 2009). A retirada/captura dos escorpies deve serfeita em todos os imveis e o mtodo mais utilizado consiste na busca ativa durante o dia.

    Nas ocasies de surtos populacionais, os escorpies so mais facilmente encontradosem reas urbanas do que em ambientes naturais. Deve-se procurar nos micro-hbitats maisprovveis a ocorrncia nestes ambientes (rea interna e externa dos imveis), como emroupas e sapatos, assoalhos e rodaps soltos, ralos de cozinha e banheiro, entulhos, terrenosbaldios, materias de construo abandonados, lixo domiciliar e outros lugares escuros, mi-dos e com pouco movimento (BRASIL, 2009). A busca ativa deve ser feita por pelo menosdois profissionais, utilizando Equipamentos de Proteo Individual (EPI), como botas ousapatos fechados e luvas, alm de pinas para a manipulao dos escorpies. Para saber mais

  • 39

    sobre o controle das populaes de escorpies em rea urbana consulte o Manual de Controlede Escorpies, publicado pelo Ministrio da Sade em 2009.

    Criao e manejo de escorpies em cativeiro

    A criao e manuteno de escorpies em cativeiro dependem dos objetivos a que sepropem. Se for um biotrio de produo de veneno, seja para pesquisa ou produo deimunobiolgicos, requer uma rea grande e manuteno intensa. A manuteno de algumasespcies, como o caso de Tityus bahiensis, T. serrulatus e T. stigmurus, pode ser feita em vivei-ros coletivos, desde que haja muitos esconderijos artificiais e a alimentao seja abundante,o que diminui a ocorrncia de canibalismo. Desta forma, os viveiros podem ser caixas depolietileno (50 x 75 x 40 cm) de cor clara, para facilitar a visualizao dos animais (Figura2). Essas caixas no podem apresentar rugosidades que possibilitem a fuga dos escorpies,o que pode ser solucionado com utilizao de faixas de plstico adesivo liso. Em cada viveiropodem ser colocados at 300 animais que devem ser manuseados com pinas anatmicas demetal (20 a 30 cm de comprimento).

    O fundo das caixas deve ser forrado com uma placa de papelo ondulado ou folha depapel rugoso para oferecer conforto aos animais, evitando mortes por fadiga. Bandejas deovos limpas (para evitar contaminao por fungos e caros) podem ser sobrepostas e inter-caladas com pranchas de papelo ondulado para evitar o contato excessivo entre os animais.Esse substrato um material extremamente leve, evita ferimentos durante o manuseio dosanimais e oferece abrigo adequado, alm do baixo custo. A gua deve ser oferecida em pe-quenas bandejas de plstico (3 x 29 x 17 cm) contendo algodo embebido (Figura 2). Para ocontrole da quantidade de cada viveiro, devem ser elaboradas fichas com os dados de entra-da, alimentao, extrao e ocorrncia de mortes. A manuteno deve ser semanal e incluira troca do algodo e substrato, retirada dos animais mortos e lavagem de cada viveiro comgua e sabo neutro (evitando o uso de produtos qumicos). A temperatura do biotrio deveser mantida entre 20-25 C. A limpeza dos viveiros fundamental para evitar o aparecimen-to de fungos e caros que podem prejudicar os animais e at mesmo acabar com a criao.Deve-se evitar o manuseio dirio para evitar o estresse dos animais.

  • 40

    Um dos problemas da criao de escorpies em cativeiro so as formigas, que so vora-zes e acabam facilmente com um viveiro, atacando a noite. Como no se pode utilizar produ-to qumico em biotrio, uma alternativa para proteger os viveiros colocar frascos com guae detergente nos ps das estantes onde os viveiros so acondicionados. Esta mistura impedeque as formigas subam nas estantes, que, por sua vez, devem ficar afastadas das paredes,assim como os viveiros.

    Para a manuteno de uma grande quantidade de escorpies, outros tipos de viveirosforam experimentados, utilizando areia e terra como substratos e tijolos e telhas como es-conderijos, procurando-se imitar o habitat destes escorpies em reas urbanas. Porm, autilizao destes materiais apresentou vrios inconvenientes, como a dificuldade de mantero viveiro limpo e, por serem relativamente pesados, a manipulao dos esconderijos ocasio-naram ferimentos nos animais e colocavam em risco a segurana do responsvel pelo mane-jo. As pinas metlicas utilizadas no suportam o peso de alguns tijolos e telhas, e era neces-srio o uso das mos durante o manejo do viveiro, o que aumentava o risco de acidente. Autilizao de papel jornal deve ser evitada, pois a tinta pode intoxicar os animais.

    A manuteno de uma menor quantidade de escorpies, para observao de aspectosbiolgicos e comportamentais, por exemplo, exige os mesmo cuidados com a limpeza doviveiro, anotaes sobre o controle de alimentao e cuidados com a sade do animal e doresponsvel pela manuteno. Os animais podem ser mantidos em viveiros pequenos (20 x10 x 10 cm), com gua sempre disponvel, e areia ou terra como substrato (Figura 2). Procu-ra-se reproduzir o mais fiel possvel o hbitat natural da espcie, colocando-se pedras, cas-cas de rvores, pedaos de troncos e folhas, variando-se tambm a profundidade do substrato.A limpeza deste substrato importante, pois restos de alimento e fezes podem facilitar ocrescimento de fungos e, portanto, a areia e a terra devem ser periodicamente trocadas. Paraalguns escorpies, necessria a manuteno de apenas um indivduo por cativeiro, casocontrrio pode haver canibalismo mesmo entre animais bem alimentados. Algumas espci-es do gnero Bothriurus e Thestylus, ambos pertencentes famlia Bothriuridae, so bonsexemplos de escorpies que devem ser mantidos em cativeiros individuais.

  • 41

    Figura 2 - Manuteno dos escorpies em cativeiro:A) estantes com viveiros coletivos (caixas de polietileno) no biotrio do Instituto Butantan; B) viveiro coletivo deTityus serrulatus; C) cativeiro individual de Rhopalurus agamemnom.Fotos: T. J. Porto.

    A B

    C

  • 42

    A alimentao dos escorpies, tanto os mantidos para a produo de veneno quanto osutilizados em estudos de aspectos biolgicos, deve ser oferecida a cada 15 dias. Portanto, necessria a manuteno permanente de insetos (presas) ou aquisio destes animais emcriadores comerciais legalizados a cada alimentao. Os insetos mais comumente mantidos eutilizados como presas so besouros (Zophoba morio), onde apenas a larva oferecida aos es-corpies, baratas (Periplaneta americana, Picnocelus surinamensis e/ou Blaberus rangifer) e grilos(Gryllus spp. e/ou Gryllodes sigilatus). O alimento oferecido, caso no seja consumido, deve serretirado aps, no mximo, dois dias, pois os insetos so vorazes e podem predar algum escor-pio que esteja debilitado. Nos viveiros individuais, deve ser oferecida uma presa para cadaescorpio. Nos viveiros coletivos, a quantidade de alimento oferecida proporcional quanti-dade de escorpies: uma barata para cada dois escorpies ou um grilo para cada escorpio. Afalta de alimento pode interferir na produo de veneno e o intervalo entre as alimentaesno pode ultrapassar 50 dias, pois pode acontecer o canibalismo nos viveiros coletivos.

    comum ocorrer o nascimento de filhotes dentro dos viveiros coletivos. Nestas ocasies,as fmeas devem ser retiradas para evitar que os outros escorpies venham a predar seus filhotesou que a prpria me os abandone. Aps a disperso dos filhotes do dorso da me, a fmearetorna ao viveiro coletivo e os filhotes so destinados a um viveiro prprio. A criao e manu-teno de filhotes em cativeiro exige alguns cuidados particulares. Diferente dos adultos, osfilhotes recm nascidos, at 1 e 2 ecdises, devem ser alimentados duas vezes por semana. Apseste perodo, o intervalo entre as alimentaes pode ir aumentando gradativamente. A mortali-dade grande e, portanto, os viveiros devem ser vistoriados diariamente.

    A criao de grandes quantidades de escorpies difcil, requer espao adequado, ali-mento suficiente e pessoal treinado. Candido e Lucas (2004) relacionaram alguns pr-requi-sitos para o sucesso de um biotrio de escorpies que objetiva produzir veneno. Para manterum nmero suficiente de escorpies, os esforos para capturar novos animais devem serfeitos na poca de sua maior ocorrncia e em localidades de comprovada existncia. Deveexistir um coordenador das atividades no biotrio para supervisionar os trabalhos e organi-zar o cronograma de alimentao, controlar a quantidade de animais por viveiro, a tempera-tura ambiente, a limpeza semanal e a periodicidade do manuseio dos animais.

  • 43

    REFERNCIAS

    AMORIM, A. M. et al. Acidentes por escorpio em uma rea do Nordeste de Amaralina, Salvador,Bahia, Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Uberaba, v. 36, n. 1, p. 51-56,2002.

    BRADLEY, R. A.; BRODY, A.J. Relative abundance of three vaejovid scorpions across a habitatgradient. Journal of Arachnology, v. 11, p. 437-440, 1984.

    BRASIL. Lei n. 5.197, de 3 de janeiro de 1967. Dispe sobre a proteo fauna e d outrasprovidncias. Dirio Oficial da Repblica Federativa do Brasil, Poder Executivo, Braslia, DF, 7 jan.1967.

    ______. Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispe sobre as sanes penais e administrativasderivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e d outras providncias. Dirio Oficialda Unio, Poder Executivo, Braslia, DF, 13 fev. 1998.

    ______. Decreto regulamentar n 3.179, de 21 de setembro de 1999. Dispe sobre a especificao dassanes aplicveis s condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e d outras providncias. DirioOficial da Unio, Poder Executivo, Braslia, DF, 21 set.1999.

    ______. Portaria IBAMA n. 016, de 04 de maro de 1994. Dispe sobre a manuteno e criao deanimais silvestres brasileiros para subsidiar pesquisas cientficas. Dirio Oficial da Unio, PoderExecutivo, Braslia, DF, 10 mar. 1994.

    ______. Portaria n. 332, de 13 de maro de 1990. Dispe sobre licenas para coleta de materialzoolgico, destinado a fins cientficos ou didticos. Dirio Oficial da Unio, Poder Executivo, Braslia,DF, 10 mar.1994.

    ______. Instruo Normativa IBAMA n. 109, de 12 de setembro de 1997. Destina-se a estabelecer euniformizar os procedimentos de expedio de licena de pesquisa para realizao de atividadescientficas em Unidades de Conservao Federais de Uso indireto, definidas como Parques Nacionais,Reservas Biolgicas, Estaes Ecolgicas e Reservas Ecolgicas. Dirio Oficial da Unio, PoderExecutivo, Braslia, DF, 25 set. 1997.

    ______. Ministrio da Sade. Manual de controle de escorpies. Braslia/DF: Secretaria de Vigilnciaem Sade. Departamento de Vigilncia Epidemiolgica, 2009. (Srie B. Textos Bsicos de Sade).

  • 44

    BRASIL. Instruo Normativa IBAMA n. 141, de 19 de dezembro de 2006. Regulamenta o controle e omanejo ambiental da fauna sinantrpica nociva. Dirio Oficial da Unio, Poder Executivo, Braslia,DF, 20 dez.2006.

    ______. Portaria n. 1.174, de 15 de junho de 2004. Regulamenta a NOB SUS 01/96 no que se refere scompetncias da Unio, Estados, Municpios e Distrito Federal, na rea de Vigilncia em Sade, definea sistemtica de financiamento e d outras providncias. Dirio Oficial da Unio, Poder Executivo,Braslia, DF, 15 jun. 2004.

    CANDIDO, D. M.; LUCAS, S. M. Maintenance of scorpions of the genus Tityus KOCH (Scorpiones,Buthidae) for venom obtention at Instituto Butantan, So Paulo, Brazil. The Journal of VenomousAnimals and Toxins including Tropical Diseases, v. 10, n. 1, p. 86-97, 2004.

    COLOMBO, M. New data on distribution and ecology of seven species of Euscorpius Thorell, 1876(Scorpiones: Euscorpiidae). Euscorpius, n. 36, 2006.

    DIAS, S. C.; CANDIDO, D. M.; BRESCOVIT, A. D. Scorpions from Mata do Buraquinho, Joo Pessoa,Paraba, Brazil, with ecological notes on a population of Ananteris mauryi Loureno (Scorpiones,Buthidae). Revista Brasileira de Zoologia, v. 23, p. 707-710, 2006.

    FET, V. Ecoloby of the scorpion (Arachnida, Scorpiones) of the Southeastern Kara-Kum.Entomological Review, v. 59, n. 1, p. 223-228. 1980.

    FREITAS, G. C. C.; VASCONCELOS, S. D. Scorpion fauna of the island of Fernando de Noronha,Brazil: first record of Tityus stigmurus (Thorell, 1877) (Arachnida, Buthidae). Biota Neotrop. v. 8, n. 2,p. 235-237, 2008.

    HFER, H.; WOLLSCHEID, E.; GASNIER, T. The relative abundance of Brotheas amazonicus(Chactidae, Scorpiones) in different habitat types of a Central Amazon Rainforest. The Journal ofArachnology, v. 24, p. 34-38, 1996.

    KALTSAS, D.; STATHI, I.; MYLONAS, M. The effect of insularity on the seasonal population structureof Mesobuthus gibbosus (Scorpiones: Buthidae). Euscorpius, n. 44. 2006.

    KLOOCK, C. T. Aerial insects avoid fluorescing scorpions. Euscorpius, n. 21, p. 1-7. 2005.

  • 45

    LOURENO, W. R.; EICKSTEDT, V. R. Escorpies de Importncia Mdica. In: CARDOSO, J. L. C. etal. Animais peonhentos no Brasil: biologia, clnica e teraputica dos acidentes. So Paulo: Sarvier,2009. p. 198-213.

    LOWE, G.; KUTCHER, S. R.; EDWARDS, D. A powerful new light source for ultraviolet detection ofscorpions in the field. Euscorpius, n. 28. 2003.

    OJASTI J. Manejo de fauna silvestre neotropical. Washington D.C: Smithsonian Institution/MABBiodiversity Program, 2000.

    PINTO-DA-ROCHA, R. et al. Arthropoda, Arachnida, Scorpiones: Estao Cientfica Ferreira Pennaand Juruti Plateau, Par, Brazil. Check List, v. 3, n. 2, p. 145-148, 2007.

    POLIS, G. A. Ecology. In: ______. (Org.). The biology of scorpions. Stanford: Stanford UniversityPress, 1990. p. 247-293

    RAMOS, E. C. B. Padres de ocorrncia de trs espcies simptricas de escorpies, Ananterisbalzanii Thorell, 1891, Tityus confluens Borelli, 1899 e Tityus paraguayensis Kraepelin, 1895(Buthidae), em capes de mata no Pantanal Sul. 2007. Dissertao (Mestrado em Ecologia eConservao) - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande.

    SCHMIDT, M. H. et al. Capture efficiency and preservation attributes of different fluids in pitfall traps.The Journal of Arachnology, v. 34, p. 159-162, 2006.

    SPIRANDELLI-CRUZ, E. F. et al. Programa de controle de surto de escorpio Tityus serrulatus Lutz eMello 1922, no municpio de Aparecida, (SP), (Scorpiones, Buthidae). Revista da SociedadeBrasileira de Medicina Tropical, v. 28, p. 123-128, 1995.

    WILLIAMS, S. C. Methods of sampling scorpion population. Proceeding of the California Academyof Science, v. 36, n. 8, p. 221-230, 1968.

    YAMAGUTHI, H. Y.; PINTO-DA-ROCHA, R. Ecology of Thestylus aurantiurus of the Parque Estadual daSerra Da Cantareira, So Paulo, Brazil (Scorpiones, Bothriuridae). The Journal of Arachnology, v. 34,p. 214-220, 2006.

  • 47

    DIVERSIDADE DE ESCORPIES DO BRASILTiago Jordo PortoTania Kobler BrazilCludio Augusto Ribeiro de Souza

    O Brasil o quinto maior pas do mundo e o maior entre os pases tropicais, com umterritrio de 8.514.877 km e jurisdio sobre mais de 3,5 milhes de km de guas costei-ras. Quase todo o territrio est situado na zona tropical do globo e apenas uma pequenaporo do extremo sul est situada na zona temperada. Devido a sua magnitude espacial epeculiaridades biogeogrficas, comporta uma variedade de climas, relevo, solos e vegetao,e as vrias combinaes destes fatores produzem diferentes biomas, ecorregies e incontveisecossistemas, alm de possuir o maior sistema fluvial do mundo. Apresenta um mostruriocompleto das principais paisagens das reas tropicais, sendo reconhecidos cinco grandesdomnios paisagsticos e macroecolgicos: 1) domnio das terras baixas florestadas da Ama-znia; 2) domnio dos chapades centrais recobertos por cerrados, cerrades e campestres;3) domnio das depresses interplanlticas semi-ridas do Nordeste; 4) domnio dos maresde morros florestados e 5) domnio dos planaltos das araucrias (ABSABER, 2003).

    A diversidade de ecossistemas do Brasil um dos fatores responsvel pela elevada rique-za de espcies de fauna e flora, que chega a representar 13% da biota mundial (MACHADO;DRUMMOND; PAGLIA, 2008). O pas ocupa a 1 colocao em riqueza total de espcies e foium dos inspiradores do conceito de megadiversidade (MITTERMEIER et al., 1992). Contm10% das espcies de mamferos, 18% das espcies de borboletas, 19% das espcies plantas e

  • 48

    21% das espcies de peixes de guas continentais. Estima-se que existam 1,8 milho de esp-cies no Brasil e que conheamos apenas 10% deste total (LEWINSOHN; PRADO, 2005). Osinvertebrados terrestres esto entre os principais responsveis por estes nmeros, dada a elevadaestimativa de riqueza de espcies. Para os aracndeos, so estimadas entre 5.600 e 6.500 esp-cies para o Brasil (LEWINSOHN; PRADO, 2005), sendo as aranhas, caros, opilies,pseudoescorpies e escorpies os principais responsveis por tais nmeros.

    A fauna de escorpies do Brasil uma das mais bem estudadas atualmente, devido aostrabalhos de reviso e descrio de novos txons desenvolvidos desde o final dos anos 1970(LOURENO; EICKSTEDT, 2009). Brasil, Equador, Colmbia e Peru so os pases de maiordiversidade de escorpies do mundo, sendo registrado importante aumento na quantidade deestudos sobre estes animais nestas regies nos ltimos anos. Em 1915 eram registradas apenas40 espcies para o Brasil (MAURANO, 1915) e em menos de um sculo este nmero quadriplicou.Segundo Loureno (2002), at o ano de 2002, eram registradas 86 espcies, 17 gneros e 4famlias de escorpies para o Brasil, ocorrendo em todas as regies e biomas. Com as recentesdescries e revises sistemticas, atualmente so registradas 131 espcies, 23 gneros e 4 fam-lias (Quadro 1), o que representa aproximadamente 9% da diversidade mundial.

    BA, DF, GO, MG, MS, PA, PI, RJ, SC, SP

    AL, BA, CE, DF, MA, PB, PE, PI, RN, SE

    RS, SC

    TO

    TO

    PR

    MS

    AL, BA, CE, MA, PB, PE, PI, RN, SE

    ES

    PR

    GO

    Grupo Taxonmico Unidades Federativas

    Famlia Bothriuridae1. Bothriurus araguayae Vellard, 1934

    2. Bothriurus asper Pocock, 1893

    3. Bothriurus bonariensis C. L. Koch, 1842

    4. Bothriurus cerradoensis Loureno, Motta, Godoi & Arajo, 2004

    5. Bothriurus illudens Mello-Leito, 1947

    6. Bothriurus moojeni Mello-Leito, 1932

    7. Bothriurus pora Mattoni & Acosta, 2005

    8. Bothriurus rochai Mello-Leito, 1932

    9. Bothriurus sooretamensis San Martin, 1966

    10. Bothriurus vachoni San Martin, 1968

    11. Brachistosternus simoneae (Microsternus) Loureno, 2000

  • 49

    MS

    ES, MG, RJ, SC, SP

    ES, RJ, SP, PR

    RJ

    RS

    Grupo Taxonmico Unidades Federativas

    Famlia Bothriuridae

    12. Brazilobothriurus pantanalensis Loureno & Monod, 2000

    13. Thestylus aurantiurus Yamaguti & Pinto-da-Rocha, 2003

    14. Thestylus glasioui (Bertkau, 1880)

    15. Thestylus signatus Mello-Leito, 1931

    16. Urophonius iheringi Pocock, 1893

    Famlia Buthidae

    17. Ananteris balzanii Thorell, 1891

    18. Ananteris bernabei Giupponi, Vasconcelos & Loureno, 2009

    19. Ananteris bianchinii Loureno, Aguiar-Neto & Limeira-de- Oliveira, 2009

    20. Ananteris cachimboensis Loureno, Motta & da Silva, 2006

    21. Ananteris chagasi Giupponi, Vasconcelos & Loureno, 2009

    22. Ananteris cryptozoicus Loureno, 2005

    23. Ananteris dekeyseri Loureno, 1982

    24. Ananteris deniseae Loureno, 1997

    25. Ananteris evellynae Loureno, 2004

    26. Ananteris franckei Loureno, 1982

    27. Ananteris kuryi Giupponi, Vasconcelos & Loureno, 2009

    28. Ananteris luciae Loureno, 1984

    29. Ananteris maranhensis Loureno 1987

    30. Ananteris mariaterezae Loureno, 1982

    31. Ananteris mauryi Loureno, 1982

    32. Ananteris nairae Loureno, 2004

    33. Ananteris pydanieli Loureno, 1982

    34. Isometrus maculatus (DeGeer, 1778)

    35. Microtityus vanzolinii Loureno & Eickstedt, 1983

    BA, GO, MG, MS, MT, PA, SP

    ES

    MA

    PA

    MG

    AM

    AM

    PR

    BA

    BA, PE

    BA

    PA

    MA

    TO, MG, MS

    BA, PB, PE, RN

    AM

    AM

    BA, PE, RN

    AM

  • 50

    BA, CE, PE, PI

    BA, GO, PI, PE, SE, MA, MG, MT, CE, TO

    PA

    RR

    BA

    BA

    BA, CE, RN, PE, AL, PI, PB, SE, MG

    BA

    AM

    MG

    PE

    MT

    ES, MG, MS, MT, RJ, RS, GO, SC, SP, PR

    AM

    GO

    AL, BA, ES, PB, SE

    AM

    MT

    GO, MS, MT

    MT, MS, PR, PI, TO

    BA, ES, MG, MS, MT, PR, RJ, RS, SC, SP

    BA

    AM

    RR

    PA

    Grupo Taxonmico Unidades Federativas

    Famlia Buthidae

    36. Physoctonus debilis (C. L. Koch, 1840)

    37. Rhopalurus agamemmon (C. L. Koch, 1839)

    38. Rhopalurus amazonicus Loureno, 1986

    39. Rhopalurus crassicauda Di Caporiacco, 1947

    40. Rhopalurus guanambiensis Lenarducci, Pinto-da-Rocha & Lucas, 2005

    41. Rhopalurus lacrau Loureno & Pinto-da-Rocha, 1997

    42. Rhopalurus rochai Borelli, 1910

    43. Tityus aba Candido, Lucas, de Souza, Diaz & Lira-da-Silva, 2005

    44. Tityus adisi Loureno & Pzier, 2002

    45. Tityus adrianoi Loureno, 2003

    46. Tityus anneae Loureno, 1997

    47. Tityus apiacas Loureno, 2002

    48. Tityus bahiensis (Perty, 1833)

    49. Tityus bastosi Loureno, 1984

    50. Tityus blaseri Mello-Leito, 1981

    51. Tityus brazilae Loureno & Eickstedt, 1984

    52. Tityus canopensis Loureno & Pzier, 2002

    53. Tityus carvalhoi Mello-Leito, 1945

    54. Tityus charreyroni Vellard, 1932

    55. Tityus confluens Borelli, 1899

    56. Tityus costatus (Karsch, 1879)

    57. Tityus cylindricus (Karsch, 1879)

    58. Tityus dinizi Loureno, 1997

    59. Tityus elizabethae Loureno & Ramos, 2004

    60. Tityus evandroi Mello-Leito, 1945

  • 51

    DF, GO, MG, MT

    AM

    DF

    BA

    AM

    MT

    AM

    PA

    MA

    BA, CE, PB

    AM

    BA, DF, GO, MG, MS, MT, PI, SP, TO

    BA, MG

    AC, AM, PA, RO, RR

    RJ

    AM

    AL, BA, PE, RN, SE

    AM

    PA, MT

    MS

    SP

    PR

    RJ, ES

    PB, PE, PI

    AM

    Grupo Taxonmico Unidades Federativas

    Famlia Buthidae

    61. Tityus fasciolatus Pessa, 1935

    62. Tityus gasci Loureno, 1982

    63. Tityus jeanvellardi Loureno, 2001

    64. Tityus kuryi Loureno, 1997

    65. Tityus lokiae Loureno, 2005

    66. Tityus lutzi Giltay, 1928

    67. Tityus magnimanus Pocock, 1897

    68. Tityus marajoensis Loureno & da Silva, 2007

    69. Tityus maranhensis Loureno, Jesus-Junior & Limeira-de- Oliveira, 2006

    70. Tityus martinpaechi Loureno, 2001

    71. Tityus matthieseni Loureno & Pinto-da-Rocha, 2000

    72. Tityus mattogrossensis Borelli, 1901

    73. Tityus melici Loureno, 2003

    74. Tityus metuendus Pocock, 1897

    75. Tityus munozi Loureno, 1997

    76. Tityus neblina Loureno, 2008

    77. Tityus neglectus Mello-Leito, 1932

    78. Tityus nelsoni Loureno, 2005

    79. Tityus obscurus (Gervais, 1843)

    80. Tityus paraguayensis Kraepelin, 1895

    81. Tityus paulistorum Loureno, 2006

    82. Tityus pintodarochai Loureno, 2005

    83. Tityus potameis Loureno & Giupponi, 2004

    84. Tityus pusillus Pocock, 1893

    85. Tityus raquelae Loureno, 1988

  • 52

    AM

    BA, CE, DF, ES, GO, MG, MS, PR, PE,PI, RJ, RN, SC, SE, SP, TO

    AC, AM, AP, GO, MT, PA, RO

    AL, BA, CE, MG, PB, PE, PI, RN, SE

    AM, PA

    AM

    MS, PR

    PA

    GO

    AM

    RS

    BA

    RS

    AP

    AM

    PA

    RO

    PA

    AM

    AM, RO, RR

    AP

    AP

    AM

    Grupo Taxonmico Unidades Federativas

    Famlia Buthidae

    86. Tityus rionegresensis Loureno, 2006

    87. Tityus serrulatus Lutz & Mello, 1922

    88. Tityus silvestris Pocock, 1897

    89. Tityus stigmurus (Thorell, 1876)

    90. Tityus strandi Werner, 1939

    91. Tityus sylviae Loureno, 2005

    92. Tityus trivittatus Kraepelin, 1898

    93. Tityus tucurui Loureno, 1988

    94. Tityus uniformis Mello-Leito, 1931

    95. Tityus unus Pinto-da-Rocha & Loureno, 2000

    96. Tityus uruguayensis Borelli, 1901

    97. Troglorhopalurus translucidus Loureno, Baptista & Giupponi, 2004

    98. Zabius gaucho Acosta, Candido, Buckup & Brescovit, 2008

    Famlia Chactidae

    99. Auyantepuia amapensis Loureno & Qi, 2007

    100. Broteochactas fei Pinto-da-Rocha, Gasnier, Brescovit & Apolinrio, 2002

    101. Broteochactas goujei Vellard, 1932

    102. Broteochactas granosus Pocock, 1900

    103. Broteochactas mascarenhasi (Loureno, 1988)

    104. Broteochactas polisi Monod & Loureno, 2001

    105. Brotheas amazonicus Loureno, 1988

    106. Brotheas gervaisii Pocock, 1893

    107. Brotheas granulatus Simon, 1877

    108. Brotheas henriquesi Loureno & Machado, 2004

  • 53

    AM

    PA

    PA

    PA

    AM

    AM

    AM

    AM

    PE

    CE

    PA

    AM

    AP

    AP

    AM

    PA

    MT

    AM

    AM

    AM

    RR

    AM

    TO, PA, AM

    Grupo Taxonmico Unidades Federativas

    Famlia Chactidae

    109. Brotheas jourdani Loureno, 1997

    110. Brotheas overali Loureno, 1988

    111. Brotheas paraensis Simon, 1880

    112. Brotheas silvestris Loureno, 1988

    113. Chactas braziliensis Loureno, Aguiar & Franklin, 2005

    114. Chactopsis amazonica Loureno & Francke, 1986

    115. Chactopsis burhnheimi Loureno, 2003

    116. Chactopsis insignis Kraepelin, 1912

    117. Hadrurochactas araripe Lourenco, 2010

    118. Hadrurochactas brejo (Loureno, 1988)

    119. Hadrurochactas mapuera (Loureno, 1988)

    120. Hadrurochactas polisi (Monod & Loureno, 2001)

    121. Hadrurochactas schaumii (Karsch, 1880)

    122. Neochactas delicatus (Karsch, 1879)

    123. Neochactas mottai Loureno & Araujo, 2004

    124. Neochactas parvulus Pocock, 1893

    125. Neochactas skuki Loureno & Pinto-da-Rocha, 2000

    126. Teuthraustes amazonicus (Simon 1880)

    127. Teuthraustes lisei Loureno, 1994

    128. Vachoniochactas ashleeae Loureno, 1994

    129. Vachoniochactas roraima Loureno & Duhem, 2009

    Famlia Liochelidae

    130. Opistacanthus borboremai Loureno & F, 2003

    131. Opistacanthus cayaporum Vellard, 1932

    Quadro 1 - Relao das espcies de escorpies do Brasil e respectivas unidades federativas de ocorrncia.

  • 54

    As regies Norte e Nordeste so as principais responsveis pela elevada riqueza deespcies de escorpies do Brasil (Figura 1). So registradas 68 espcies para a regio Norte,o que representa 52% das espcies de escorpies do pas, e 34 espcies para a regio Nordes-te, o que representa 26% da escorpiofauna brasileira. Os grandes responsveis pela elevadariqueza nestas regies so, respectivamente, os estados do Amazonas, com 38 espcies, e daBahia, com 27 espcies (Figura 2). No entanto, sabe-se que a fauna de escorpies do Brasil subestimada pela carncia de especialistas e incentivos pesquisas, alm das lacunas naamostragem da escorpiofauna em diversas reas.

    Figura 1 - Nmero de espcies de escorpies registrados para cada regio do Brasil.

  • 55

    Figura 2 - Nmero de espcies de escorpies registrados para cada unidade federativa do Brasil.

    Famlia Bothriuridae

    A famlia Bothriuridae inclui aproximadamente 140 espcies e 15 gneros distribudosna Amrica do Sul, frica, sia (ndia) e Oceania (Austrlia)1, sendo que a maioria das esp-cies habita regies temperadas e subtropicais da Amrica do Sul. Os escorpies desta famliapossuem o esterno de forma linear e estreito, algumas vezes podendo estar ausente (LOU-RENO, 2002). So escorpies de pequeno a mdio porte (2,5 a 6 cm), com colorao varian-do do amarelo ao preto. No Brasil so registrados 16 espcies pertencentes a 5 gneros: BothriurusPeters, 1861, Brachistosternus Pocock, 1893, Brazilobothriurus Loureno & Monod, 2000, ThestylusSimon, 1880 e Urophonius Pocock, 1893. O gnero Bothriurus o mais especioso desta famlia,com 10 espcies registradas para o Brasil, e apresenta ampla distribuio no continente, ocor-rendo na Argentina, Bolvia, Chile, Paraguai, Peru, Uruguai e Brasil (SISSOM, 1990).

    No Brasil, os representantes da famlia Bothriuridae ocorrem nas cinco regies e a mai-or riqueza de espcies registrada na faixa leste do pas (Figura 3). So registradas 3 espci-

    1 As informaes referentes ao nmero de espcies e distribuio mundial das famlias de escorpies foram obtidas nowebsite The Scorpion Files (http://www.ntnu.no/ub/scorpion-files).

  • 56

    es para as regies Norte e Nordeste, 5 para o Centro-Oeste e Sudeste e 7 para a regio Sul.O Rio de Janeiro o estado com a maior riqueza de botriurdeos (n=4) e, no outro extremo,nenhum escorpio desta famlia foi registrado para o Acre, Amazonas, Amap, Rondnia,Roraima e Mato Grosso (Quadro 1; Figuras 3 e 4).

    Figura 3 - Gradiente de riqueza de espcies para cada famlia da ordem Scorpiones com ocorrncia no Brasil.

    Ausncia de registro

    Gradiente de riqueza deespcies

    Bothriuridae Buthidae

    Chactidae Liochaelidae

  • 57

    Famlia Buthidae

    A famlia Buthidae a maior e mais amplamente distribuda da ordem Scorpiones, comaproximadamente 90 gneros e 900 espcies ocorrendo em todos os continentes ocupadospelos escorpies. Os representantes da famlia Buthidae so reconhecidos atravs do esternotriangular (ou subtriangular) e a patela do pedipalpo sem tricobtrias ventrais (POLIS, 1990;LOURENO, 2002). So escorpies de pequeno a mdio porte (2 a 12 cm), com muitasvariaes em colorao e comprimento, largura e espessura de metassoma e pedipalpos. Afamlia destaca-se, tambm, por conter todos os escorpies de importncia mdica do mun-do.

    No Brasil, a famlia Buthidae representada por 82 espcies, distribudas em 8 g-neros: Ananteris Thorell, 1891, Isometrus Ehrenberg, 1828, Microtityus Kjellesvig-Waering,1966, Physoctonus (C. L. Koch, 1840), Rhopalurus Thorell, 1876, Tityus C. L. Koch, 1836,Troglorhopalurus Loureno, Baptista & Giupponi, 2004 e Zabius Thorell, 1893 (Figuras 4 e5). O gnero Tityus o mais especioso da famlia no Brasil, com 54 espcies, seguido dognero Ananteris, com 17 espcies. Isometrus maculatus (DeGeer, 1778), nica espcie dognero no pas, foi originalmente descrito para Pensilvnia e Suriname e introduzido noBrasil, com relatos desde a dcada de 1940. uma espcie cosmopolita e parece ser anica introduzida no Brasil.

    Os butdeos ocorrem em todas as regies do Brasil (Quadro 1; Figuras 3), com elevadariqueza de espcies nas regies Norte (n=35) e Nordeste (n=29), riqueza mediana nasregies Centro-Oeste (n=20) e Sudeste (n=18), e baixa riqueza de espcies na regio Sul(n=9). Para todos os estados brasileiros existe registro de pelo menos um escorpio destafamlia, sendo a Bahia (n=24) e o Amazonas (n=22) os estados de maior riqueza de butdeosno Brasil.

  • 58

    Figura 4 - Escorpies do Brasil (Bothriuridae e Buthidae):A) Bothriurus araguayae; B) Bothriurus rochai; C) Ananteris balzanii; D) Ananteris mauryi; E) Physoctonus debilis;F) Troglorhopalurus translucidus.Fotos: A e C, D. M. Candido; B, D e E, T. J. Porto; F, P. M. Costa.

    A B

    C D

    E F

  • 59

    Figura 5 - Escorpies do Brasil (Buthidae):A) Rhopalurus agamemnom; B) Rhopalurus rochai; C) Tityus brazilae; D) Tityus kuryi; E) Tityus melici; F) Tityus metuendus.Fotos: T. J. Porto.

    A B

    C D

    E F

  • 60

    Famlia Chactidae

    A famlia Chactidae composta atualmente por 11 gneros e 170 espcies, distribudosexclusivamente nas Amricas, estendendo-se desde os Estados Unidos at o Centro-Oestedo Brasil. Os integrantes desta famlia so caracterizados pelo formato subpentagonal doesterno e pela presena do esporo tarsal retrolateral. Habitam quase que exclusivamente asflorestas tropicais, a nica exceo Chactas keyserlingi Pocock, 1893, que habita as monta-nhas secas e desflorestadas da Colmbia (MONOD; LOURENO, 2001).

    No Brasil so registradas 31 espcies pertencentes a 9 gneros, com ocorrncia quaseque restrita regio Norte (n=28), mas tambm encontrado nas regies Nordeste (n=2),nos estados do Cear e Pernambuco, e Centro-Oeste (n=1), no estado do Mato Grosso(Figuras 3 e 6). O estado do Amazonas se destaca como detentor de 14 espcies de Chactidae,seguido do Par, com 6 espcies, e do Amap, com 5 Chactidae registrados.

    Famlia Liochelidae

    So reconhecidos aproximadamente 12 gneros e 90 espcies da famlia Liochelidae,com representantes em quase todos os continentes, exceto na Amrica do Norte (FET et al.,2000), e maior diversidade no continente africano. Os integrantes desta famlia so caracte-rizados pela presena de um esterno subpentagonal e ausncia do esporo tarsal retrolateral,podendo chegar a 20 cm de comprimento total. Na Amrica Central e na Amrica do Sul hocorrncia de um nico gnero, Opisthacanthus Peters, 1861, representado por sete espcies(LOURENO; F, 2003).

    No Brasil, so registradas apenas duas espcies e exclusivamente para regio Norte (Figuras3 e 6). Opisthacanthus borboremai Loureno & F, 2003 foi descrita para o Estado do Amazonas, e ato momento conhecida apenas pelos exemplares utilizados na descrio. O. borboremai foi a pri-meira espcie do gnero descrita pra a floresta Amaznica, onde vivem em pequenos grupos sobretroncos cados (LOURENO; F, 2003). Opisthacanthus cayaporum Vellard, 1932, a outra espciesda famlia registrada para o Brasil, ocorre nos estados do Amazonas, Par e Tocantins, onde habitareas de cerrado, vivendo em grupos no interior de cupinzeiros.

  • 61

    Figura 6 - Escorpies do Brasil (Chactidae e Liochelidae):A) Brotheas gervaisii; B) Brotheas granulatus; C) Hadrurochactas schaumii; D) Opistacanthus cayaporum.Fotos: A, B e C, E. Ythier; D, T. J. Porto.

    Conservao

    Na lista oficial dos animais ameaados de extino no Brasil, publicada em 2008 peloMinistrio do Meio Ambiente no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaada de Extino, cons-tam 627 espcies da fauna. Destas, 130 espcies so invertebrados terrestres, distribudasem 4 filos, 6 classes, 14 ordens e 43 famlias (MACHADO et al., 2008). Pela primeira vez osaracndeos apareceram na lista de espcies ameaadas, totalizando 15 espcies de 4 ordens(Araneae, Opiliones, Pseudoscorpiones e Amblypygi). Os critrios para incluso destes

    A B

    C D

  • 62

    aracndeos na lista foram sua restrita distribuio geogrfica e/ou ocorrncia em reas alta-mente impactadas pela urbanizao. Algumas espcies de escorpies se enquadram nestescritrios, mas nenhuma foi includa na relao. Sugerimos aqui a incluso de algumas esp-cies em uma prxima verso da lista oficial de animais ameaados de extino do Brasil.

    Na descrio de Tityus annae, Loureno (1997) afirma que tal espcie pode j estar extin-ta da natureza pela destruio do seu hbitat. De fato, nenhum outro exemplar de tal esp-cie foi registrado desde a sua descrio. Em um trabalho sobre a escorpiofauna da Bahia(PORTO, BRAZIL; LIRA-DA-SILVA, 2010), foi sugerida a incluso de trs espcies de escor-pies na lista de animais ameaados, na categoria vulnervel, pela pequena rea de ocupaoe pelo nvel de ameaa do seu hbitat: Tityus kuryi, restrito a poucas localidades de elevadaaltitude na Chapada Diamantina e pelo avano da agropecuria na regio, o que pode com-prometer o futuro da espcie, e Rhopalurus lacrau e Troglorhopalurus translucidus, por seremescorpies troglbios endmicos de cavernas na Chapada Diamantina que so largamenteutilizadas como roteiros tursticos sem controle de acesso. Como foi sugerido para os outrosaracndeos (MACHADO et al., 2008), as medidas de conservao mais efetivas seriam aproteo dos ambientes de ocorrncia destes animais, o que ajudaria a manter as populaesainda existentes e as demais espcies que vivem nestas reas.

    REFERNCIAS

    ABSABER, A. N. Os domnios da natureza do Brasil: potencialidades paisagsticas. So Paulo:Ateli, 2003. 159p.

    FET, V. et al. Catalog of the scorpions of the world (1758-1998). New York: New YorkEntomological Society, 2000. 690p.

    LEWINSOHN, T. M.; PRADO, P. I. How many species are there in Brazil? Conservation Biology, v. 19,n. 3, p. 619-624, 2005.

    LOURENO, W. R. Scorpions of Brazil. Paris: Les Editions de lIF, 2002. 320p.

  • 63

    LOURENO, W. R. Finding lost diversity in old collections: Tityus anneae a new species of scorpionfrom Brazil found in the old Simon collection deposited in the Natural History Museum, Paris.Biogeographica, v. 73, p. 135-140, 1997.

    LOURENO, W. R.; EICKSTEDT, V. R. Escorpies de Importncia Mdica. In: CARDOSO, J. L. C.; etal. Animais peonhentos no Brasil: biologia, clnica e teraputica dos Acidentes. So Paulo: Sarvier;Fapesp, 2009. p. 198-213.

    LOURENO, W. R.; F, N. F. Description of a new species of Opisthacanthus Peters (Scorpiones,Liochelidae) to Brazilian Amazonia. Revista Ibrica de Aracnologa, v. 8, p. 81-88. 2003.

    MACHADO, A. B. M. et al. Panorama geral dos invertebrados terrestres ameaados de extino. In:MACHADO, A. B. M.; DRUMMOND, G. M.; PAGLIA, A. P. (Ed.). Livro vermelho da faunabrasileira ameaada de extino. Braslia, DF: MMA; Belo Horizonte: Fundao Biodiversitas, 2008.p. 303-323. (v. 1)

    MACHADO, A. B. M.; DRUMMOND, G. M.; PAGLIA, A. P. (Ed.). Livro vermelho da faunabrasileira ameaada de extino. Braslia, DF: MMA; Belo Horizonte: Fundao Biodiversitas, 2008.

    MAURANO, H. R. Do escorpionismo. 1915. Tese de Doutorado - Faculdade de Medicina do Rio deJaneiro, Rio de Janeiro.

    MITTERMEIER, R. A. et al. O Pas da megadiversidade. Cincia Hoje, v. 81, p. 20-27, 1992.

    MONOD, L.; LOURENO, W. R. A new species of Broteochactas Pocock, 1890 from Brazilian Amazonia(Scorpiones: Chactidae). In: V. F.; SELDEN, P. A. (Ed.). Scorpions 2001. British ArachnologicalSociety, 2001. In memorian Gary A. Polis.

    POLIS, G. A. The biology of scorpions. California: Stanford University Press, 1990.

    PORTO, T. J.; BRAZIL, T. K.; LIRA-DA-SILVA, R. M. Scorpions from the state of Bahia, NortheasternBrazil (Scorpiones, Arachnida). Checklist, v. 6, n. 2, 2010.

    SISSOM, W. D. Systematics, biogeography and paleontology. In: POLIS, G. A. (Ed). Biology ofscorpions. Stanford, California: Stanford University Press, 1990.

  • 65

    OS ESCORPIES DE IMPORTNCIA MDICA E SEUS VENENOSTiago Jordo PortoTania Kobler Brazil

    Todos os escorpies so venenosos e apresentam mecanismos para inoculao do seuveneno atravs do tlson. No entanto, apenas 2% de todas as espcies so capazes de causaracidentes graves ou que necessitem de interveno mdica (cerca de 25 espcies exclusiva-mente da famlia Buthidae). Os escorpies provocam acidentes em todos os continentesonde ocorrem: frica (e. g. SOULAYMANI-BENCHEIKH et al., 2007), Amricas (e. g. CUPOet al., 1994), sia (e. g. AL-SADOON; JARRAR, 2003), Europa (e. g. OZKAN et al., 2008) eOceania (e. g. ISBISTER; VOLSCHENK; SEYMOUR, 2004). As regies de maior incidnciade acidentes escorpinicos so bem definidas geograficamente, assim como os principaisescorpies causadores: norte da frica e Oriente Mdio (Androctonus Ehrenberg, 1828 e LeiurusEhrenberg, 1828), costa pacfica do Mxico e Estados Unidos (Centruroides Marx, 1890) eIlha de Trinidad e regio Sudeste e Nordeste do Brasil (Tityus C. L. Koch, 1836) (LOUREN-O; EICKTEDT, 2009). Alm destes, outros gneros de escorpies so referidos como cau-sadores de acidentes graves em outras regies: Buthus Leach, 1815 (Marrocos, Arglia eJordnia), Hottentotta Birula, 1908 (Sudo), Parabuthus Pocock, 1890 (frica) e MesobuthusVachon, 1950 (ndia) (SIMARD; WATT, 1990).

    Os escorpies que causam acidentes graves no Brasil pertencem unicamente ao gneroTityus (Famlia Buthidae). Embora existam 54 espcies de Tityus no Brasil, as espcies de

  • 66

    importncia mdica que causam envenenamentos graves ou fatais so T. bahiensis, T. obscurus,T. serrulatus e T. stigmurus (Figura 1; Quadro 1), sendo Tityus obscurus sinnimo junior de T.cambridgei e T. paraensis (LOURENO; LEGUIN, 2008). T. serrulatus o principal agenteetiolgico dos acidentes escorpinicos no Brasil, sendo responsvel pela maioria dos casosde maior gravidade e diversos casos fatais. Um fato preocupante na casustica de acidentespor escorpies no Brasil que tem sido observado aumento do nmero de acidentes ocasi-onados por T. serrulatus em regies onde antes predominavam outras espcies (CUPO; AZE-VEDO-MARQUES; HERING, 2009). Adicionalmente, so reconhecidas outras 12 espciesde Tityus que causam envenenamentos leves e moderados no pas: T. adrianoi, T. brazilae, T.charreyroni, T. confluens, T. costatus, T. fasciolatus, T. mattogrossensis, T. metuendus, T. neglectus, T.pusillus, T. trivittatus e T. silvestris (ALBUQUERQUE et al., 2009; LVARES et al., 2006; BRAZILet al., 2009; LIRA-DA-SILVA; AMORIM; BRAZIL, 1997; LOURENO; EICKSTEDT, 2009;BRASIL, 2009). Espcies de outros gneros da famlia Buthidae tm sido referidas comocausadoras de acidente leves e moderados, como Ananteris spp., Isometrus maculatus, Rhopalurusagamemnom e R. rochai (BARBOSA et al., 2003; CARVALHO; SANTOS; DIAS, 2007; LIRA-DA-SILVA; AMORIM; BRAZIL, 1997). Adicionalmente, espcies de outras famlias tambmtm causados acidentes de menor gravidade, como algumas espcies de Bothriurus(Bothriuridae) e Brotheas amazonicus (Chactidae).

    Escorpionismo no Brasil

    O escorpionismo tornou-se um problema de sade pblica em alguns pases pela altaincidncia e/ou gravidade dos casos e dificuldade de gesto pelos servios de sade, ultra-passando 1.200.000 casos anuais com mais de 3.250 mortes no mundo (CHIPPAUX;GOYFFON, 2008). No Brasil, os primeiros estudos sobre escorpionismo datam do incio dosculo XX, por iniciativa do primeiro diretor do Instituto Butantan (So Paulo), Dr. VitalBrazil Mineiro da Campanha (1897-1950). Vital Brazil encontrou dificuldades para identifi-car os escorpies causadores de acidentes, mas com o auxlio do naturalista Rodolpho TeodoroGaspar Wilhelm Von Ihering (1883-1939) os animais foram identificados como pertencen-tes ao gnero Tityus (BRAZIL, 1907). Os estudos posteriores realizados por Heitor Maurano

  • 67

    (1915), Octvio de Magalhes (1929, 1945) e Wolfgang Bcherl (1969), embora relatassemapenas duas espcies, Tityus bahiensis e T. serrulatus, revelaram que os acidentes provocadospor estes animais deveriam ser considerados um problema mdico-sanitrio, fato que per-siste at hoje, devido sua frequncia e potencial gravidade.

    So registrados aproximadamente 100.000 acidentes e 200 bitos por animaispeonhentos anualmente no Brasil, e os escorpies se destacam por serem responsveis poraproximadamente 30% dos casos, superando em nmeros absolutos os casos de ofidismo(BRASIL, 2009). A gravidade destes acidentes varia conforme a quantidade de veneno inje-tada, toxicidade, espcie e tamanho do escorpio, local da picada, idade e sensibilidade dapessoa ao veneno, alm de fatores relacionados ao tratamento, como diagnstico precoce etempo decorrido desde o acidente at a soroterapia. Podem ocorrer manifestaes clnicaslocais (dor, edema, hiperemia, sudorese e piloereo) e sistmicas (manifestaesgastrointestinais, respiratrios, cardiocirculatrias e neurolgicas). Segundo Cupo e cola-boradores (2009), para fins de orientao teraputicos e prognstico, os acidentesescorpinicos so classificados em:

    Leve: mais frequente (97% dos acidentes). Somente presente sintomatologia local, sen-do a dor referida em quase todos os casos. Podem ocorrer vmitos ocasionais, discretataquicardia e agitao, decorrentes da dor e da ansiedade;

    Moderado: alm da sintomatologia local, esto presentes algumas manifestaessistmicas como nuseas, sudorese, vmitos, taquicardia, taquipneia, agitao e hiper-tenso arterial;

    Grave: a sintomatologia local mascarada pelo quadro sistmico de vmitos profusos efrequentes (sintoma importante que anuncia a gravidade do envenenamento), sudoreseprofusa, palidez, hipotermia, agitao alternada com sonolncia, hipertenso arterial,taqui ou bradicardia, extra-sistolias, taqui ou hiperpneia, tremores e espasmos muscu-lares. Pode haver evoluo para insuficincia cardaca, edema agudo de pulmo e cho-que cardiocirculatrio, que so as causas mais frequentes de bito nos acidentes porescorpio.

  • 68

    Figura 1 - Escorpies de importncia mdica do Brasil:A) Tityus bahiensis; B) T. obscurus; C) T. serrulatus; D) T. stigmurus.Fotos: A) T. V. D. Ende; B) M. Cozijn; C e D) T. J. Porto.

    A B

    C D

  • 69

    Quadro 1 - Principais caractersticas diagnsticas, distribuio geogrfica e informaes sobre acidentes dasquatro espcies de escorpies de importncia mdica do Brasil.

    Espcie

    Tityus bahiensis

    Tityus obscurus

    Tityus serrulatus

    Tityus stigmurus

    Principais caractersticas

    - Cerca de 7 cm- Pernas e pedipalpos marrons- Metassoma e dorso do prossoma e

    mesossoma escuros- Manchas escuras nas pernas e pedipalpos- Sem serrilha no metassoma- Macho com tbia do pedipalpo mais

    robusta do que a tbia da fmea

    - Cerca de 9 cm- Quando adulto, todo o corpo negro- Machos com pedipalpo mais fino e longo

    do que na fmea

    - Cerca de 7 cm- Pernas, pedipalpo e metassoma amarelos- Prossoma e metassoma com dorso

    marrom escuro- Serrilha dorsal no 3 e 4 segmentos do

    metassoma- Registradas populaes sexuadas e

    assexuadas (partenognese)- Macho com metassoma mais robusto do

    que na fmea

    - Cerca de 7 cm- Pernas,