Drama, Suspense & Terror VOL3

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080 CONTOS SELECIONADOS MIDU GORINI Volume 3 – Contos 31 a 45 midugorinibook 2010 © primeira edição

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CONTOS

SELECIONADOS

MIDU GORINI

Volume 3 – Contos 31 a 45

midugorinibook 2010 © primeira edição

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CONTOS

SELECIONADOS

Volume 3 – Contos 31 a 45

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Brasil. Catalogação na fonte midugorinibook.

[email protected] 2010 ©

Midu / Gorini, Romildo Filho, 1955. 080 CONTOS SELECIONADOS ®

primeira edição l. literatura brasileira. ll. título

As imagens foram captadas em sítios da Internet que permitem a livre utilização delas, portanto são de domínio público.

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CONTOS SELECIONADOS

Primeira edição ® 2010 ©

midugorinibook

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CONTOS SELECIONADOS

Epígrafe Indispensável

― Quem sabe respirar o ar de meus escritos sabe que e um ar da altitude, um forte ar. E preciso ser feito para ele, senão o perigo de se resfriar não e pequeno. O gelo esta perto... , mas com que tranqüilidade esta todas as coisas, a luz, com que liberdade se respira... , o autentico livro do ar das alturas.

Friedrich Nietzsche.

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CONTOS SELECIONADOS

Preâmbulo

― Um livro de contos para adultos, que possui o ar forte da altitude, o gelo esta ao lado, resta saber se você e feito para ele e sabe respirar o ar forte das alturas. Um ar com pouco oxigênio e fragmentos de fatos verídicos, regados a sangue frio, dominados por violenta emoção. E de quebra alguns contos de humor intercalados aos outros, boa leitura e boa sorte ♣.

Midu Gorini.

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Índice

Ж 08 – Sobrevivi ao inferno. Ж 15 – Amor perfeito! Ж 20 – Aconteceu na delegacia. Ж 24 – Desejos ardentes. Ж 32 – Linda, loira e famosa. Ж 39 – Os lábios da morte. Ж 43 – O assédio sexual. Ж 50 – Terror no cemitério. Ж 55 – A primeira vez a gente nunca esquece. Ж 61 – Uma aventura de Pedro Malarzarte Ж 64 – Olhos famintos. Ж 73 – Desejos proibidos. Ж 79 – Sandoval – O escravo sexual. Ж 84 – O estuprador. Ж 90 – O triângulo amoroso.

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Conto 31Conto 31Conto 31Conto 31

Sobrevivi ao infernoSobrevivi ao infernoSobrevivi ao infernoSobrevivi ao inferno

NÃO TEM COMO NEGAR, foi um amor fulminante, avassalador, um amor à primeira vista, um casamento relâmpago. Eu percebia que Ivânia cada vez mais se transformava em uma pessoa dominadora e ciumenta, transpirava o medo de me perder, respirava a necessidade de controlar todos os meus passos. Depois da alta vigilância exercida por Ivânia,

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tinha que provar todos os dias que eu era inocente, de sua visão deturpada dos fatos normais e corriqueiros da vida. Eu percebia que Ivânia sofria por ser ciumenta, não quereria que esse ciúme me machucasse, sofria por ser dominada por qualquer banalidade cotidiana, que aprofundasse sem motivo a sua insegurança. Cheguei a pensar que Ivânia me traía, por medo de ser traída ou me traía e se refugiava no seu ciúme extremado, para eu não desconfiar da sua traição. Mas, ela nunca me traiu, seu pensamento girava de forma obsessiva, 24 horas ao redor de mim. Ivânia foi ficando cada vez mais uma mulher caseira, transformando a minha vida de casa para o trabalho, do trabalho para casa, ela controlava até o meu jogo de futebol pela televisão, quando a bandeirinha Ana Paula atuava no trio de arbitragem, ela não me deixava ver o jogo em paz. Sua única amiga era a sua mãe, ficavam horas e horas no telefone, enquanto eu estava na fábrica trabalhando com os meus 43 colegas da linha de produção. Foi então que eu

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tive a idéia de pedir para o meu irmão, detetive particular, me ajudar a descobrir o que se passava com Ivânia. Passei a gravar todos os telefonemas de casa e escutava as fitas, que ele me levava na fábrica, nos poucos momentos de folga que tinha. E as surpresas apareceram logo na primeira fita: “Mãe não me interrompa eu quero desabafar. Mãe eu quero uma pessoa mesmo para ficar, ali, do meu lado, quando eu precisar está ali, sabe? É isso que eu quero. E com meu marido eu não tenho essa segurança. Eu o acho muito infantil, entendeu? Eu sou mais madura do que ele, eu acho ele muito assim, ele tem coisas diferentes de mim, não é igual, a mim. Ele gosta de sair, tomar uma cervejinha, comer uma pizza, eu acompanho, eu vou, participo, mas eu percebo que as mulheres hoje em dia estão dando em cima de qualquer um, não respeitam mais homens casados! Então não saímos mais para comer pizza e pronto. As mulheres estão muito atiradas, atrevidas, olham sem parar, acho que mudou o papel, sabe? Os homens estão mais reservados. A minha preocupação atual é os

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amigos da fábrica, sabe como é mãe, eu me preocupo muito com a influência dos solteiros e dos separados sobre meu marido, porque todo mundo fala: pô cara, casou? Iiii... não vai nunca mais poder tomar chopp com a gente, você está encoleirado, coitado... E eu tenho certeza, isso deve influenciar muito ele e isso, é claro, me deixa angustiada e cheia de ciúme, então nas raras vezes que nos saímos eu fico vigiando para ver se ele está olhando para alguma mulher ou se uma mulher está olhando para ele! Vou para um shopping, é a mesma coisa! Vou para um cinema, a mesma coisa! Eu não consigo me divertir, não me sinto feliz! Não é possível que ele não olhe pra ninguém. Eu vejo na rua os homens olham pra tudo quanto é mulher! É aleijada, é torta, é gorda, é magra, é bonita, é feia, eles olham! Parece, sabe? É uma coisa horrível! Ele não vai olhar por quê? Ele fala que não, que não olha, mas olha, eu sei que olha! Eu acho que todo mundo tá dando mole prá ele, acho que eu vou ser traída sempre, entendeu? Eu não consigo confiar nele nem nos amigos dele, sabe, teve uma situação que eu vi ele, o irmão, mais uma

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mulher na portaria da fábrica, eu já achei que a mulher era amante do meu marido eu me descontrolei totalmente. Passei a vigiá-lo e a cena se repetiu por mais uma vez , aí eu me descontrolei, fiquei louca, a minha mão tremia, passou um rapaz olhou para mim e eu lhe falei: quer transar, vamos estou a disposição é de graça. E o rapaz me comeu mesmo, em um hotelzinho pulguento ali perto, depois para o meu desespero descobri que a mulher da portaria da fabrica era namorada do irmão dele, portanto o meu marido não me traria com ela, de jeito nenhum. Ih! tenho que desligar, ele chegou, depois eu continuo”. Eu fiquei sem ar, sem fala, sem chão, o meu coração disparou, minha pressão arterial subiu, fui atendido no centro médico, depois dispensado do restante da jornada de trabalho, guardei a fita no meu armário da fábrica e fui para casa. Cheguei decidido, abri a porta da sala e falei para a Ivânia: - Acabou, você me traiu, acabou vou pegar algumas roupas e vou para a casa do meu irmão. Ela ficou estática em estado de choque, não respondeu nada. Fui

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para o quarto pequei a mala e senti a primeira facada em minhas costas, me virei rapidamente e senti a segunda facada na minha barriga, a minha vista ficou turva. Na terceira facada eu consegui me defender parcialmente, mas a faca rasgou o meu braço esquerdo, da quarta facada eu não sei como consegui me desviar, também não sei da onde saiu à força para esmurrar Ivânia no queixo, ela caiu no chão desacordada. Consegui chegar à portaria do prédio, o porteiro pediu socorro e chamou a polícia, entrei em estado de coma, e fiquei assim por nove dias. Depois me contaram, quando eu estava sendo socorrido, Ivânia saiu correndo do elevador completamente alucinada, esfaqueou um policial e consegui me dar mais uma facada do lado direito do peito em seguida ela levou um tiro na cabeça disparado pelo policial esfaqueado, Ivânia morreu quando estava sendo levada para o hospital. Enfim recebi alta, o pesadelo havia acabado, um enfermeiro me acompanhou até a portaria do hospital, me despedi dele, cumprimentei o policial militar, que fazia

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guarda na portaria e liguei para o meu irmão vir me buscar. Guardei o celular no bolso da camisa e escutei em alto e bom som “Você é o responsável pela morte da minha filha, seu desgraçado”. Em seguida a mãe de Ivânia disparou o primeiro tiro, ele acertou em cheio o lado esquerdo do meu peito, voei para trás, mas eu respirava, estava consciente. Escutei o zunido da bala do segundo tiro passando ao lado do meu ouvido, vi o policial sacando a sua arma e atirando para matar a minha ex-sogra em legitima defesa da minha vida. Fui socorrido imediatamente por um médico residente que exclamou “Cara você teve muita sorte, olhe a bala cravejada no seu celular”. Agora sim o pesadelo acabou, sobrevivi ao inferno.

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Amor perfeito!Amor perfeito!Amor perfeito!Amor perfeito!

EDUARDO nasceu no mesmo dia que Sueli, na mesma cidade e na mesma maternidade, ele nasceu de manhã ela à tarde, foram batizados no mesmo dia e na mesma igreja. Estas coincidências acabaram aproximando os pais das crianças, que se tornaram grandes amigos, verdadeiros compadres e comadres, com passar do tempo resolveram matricular as crianças na mesma escola.

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Eduardo se destacava na matemática e nos esportes de atletismo, Sueli se destacava em português e na prática da natação. Ambos ganharam várias e várias provas e medalhas nos campeonatos estudantis da região, eram considerados verdadeiros ídolos do esporte na cidade, chegaram até a sair em uma reportagem especial de um jornal da capital. Foi nesta época que o pai de Eduardo descobriu que sua esposa, não era uma mulher totalmente fiel. Ela andava com o quitandeiro, com o padeiro, o açougueiro, leiteiro e até com o peixeiro, motivo pelo qual a geladeira da casa estava sempre lotada de coisas. O pai de Eduardo tomou uma atitude radical, foi nas casas Bahia e comprou uma geladeira nova, enorme, assim a vida do casal seguiu em paz. No dia que chegou a geladeira nova, na casa do pai de Eduardo. Eduardo começou namorar com Sueli, namoro que foi motivo de grande alegria e orgulho para as duas famílias, pois formavam um belíssimo casal, feitos um para o outro. Eles acabaram se formando no colegial no mesmo dia, em seguida os dois começaram

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a trabalhar. Eduardo abriu uma pequena loja de vinhos, Sueli uma pequena doceria, obtiveram grande sucesso nos seus negócios, o comentário geral na cidade era “em uma boa festa, não pode faltar os vinhos de Eduardo e nem os bolos de Sueli”. Com o dinheiro ganho, Eduardo e Sueli se casaram, o casamento movimentou a cidade, a fila para cumprimentar os noivos, na entrada do clube social, quase chegava à cidade vizinha. Logo depois que o casal voltou da pequena viagem de lua de mel, o pai da Sueli descobriu que sua mãe estava o traindo com o vizinho da casa ao lado. Sem saber que fora descoberta a mãe de Sueli confiou no marido e lhe pediu que trouxesse um copo de água com as dez gotas de seu remédio para dormir, o pai de Sueli colocou uma imensa quantidade de gotas no copo. Depois que a esposa adormeceu, abriu as torneiras de gás do fogão e deixou uma vela em cima da mesa da cozinha, fechou cuidadosamente todas as entradas de ar da casa, acendeu a vela e saiu para jogar sinuca com os amigos. A explosão e a conseqüente

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morte da mãe de Sueli foram dadas como acidental, pela perícia dos bombeiros e da polícia. Com o tempo, Eduardo de tanto provar os seus vinhos começou a chegar todos os dias bêbado em sua casa, por sua vez Sueli de tanto provar os seus bolos engordou, muitos achavam que ela ia estourar, de tão gorda. As brigas do casal até então esporádicas, ficaram cada vez mais freqüentes e violentas, não raramente acabavam na delegacia da mulher, por agressões mútuas do casal. Eles não tiveram filhos e os negócios começaram a ir por água abaixo. Foi nesta época que o pai de Eduardo, médico ginecologista, se separou da esposa infiel, alegando que estava enjoado de vaginas, segundo ele via 12 nas consultas diárias, 60 por semana, 240 por mês e 2880 por ano. Fora a vagina da própria esposa que ele usava religiosamente a cada quinze dias, resultado se aposentou e virou gay. No dia que Eduardo e Sueli completaram dez anos de casados, eles não saíram de casa, no outro dia a mesma coisa, fato que se repetiu

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de novo naquele dia ensolarado de terça-feira. Os vizinhos chamaram a polícia, que arrombou a porta da casa e do quarto e encontrou o casal morto, um do lado do outro deitado na cama de casal. O médico do Instituto Médico Legal concluiu que o Eduardo ingeriu vinho com arsênico e a Sueli comeu bolo com estriquinina, mas o delegado ficou em dúvida se foi duplo suicídio ou duplo homicídio, na verdade isso pouco importa agora. O padre que fez o enterro e celebrou a missa de sétimo dia do casal deixou a batina para se casar, seduzido pela beleza de uma atriz de filme pornô, que abandonou a profissão, seduzida pela santidade dele, depois de se confessar regularmente com o padre na igreja. Mas o casamento não deu certo, ele queria sexo e muita sacanagem, ela queria castidade e muita santidade, coisas do coração que sempre procura um amor perfeito! Nota do autor: “AMOR PERFEITO” É uma adaptação livre inspirada no filme curta metragem “Amor!” de José R. Toreno.

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Aconteceu na delegaciaAconteceu na delegaciaAconteceu na delegaciaAconteceu na delegacia

NO FIM da tarde fui falar com a refinada delegada na delegacia da mulher, ela estava com um simpático taieur branco, e me dizia “Dr. João não existe nenhum fato novo que incrimine o seu cliente, portanto não vou pedir a prisão preventiva dele agora”. Neste exato momento entra na sala, acompanhado de um jovem algemado o subdelegado Junior que diz para a delegada: - Posso interromper por um

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segundo Doutora, temos um fato inusitado aqui. - Pois não subdelegado, qual é o fato inusitado? - Esse jovem de 18 anos, chamado Rodolfo, foi preso em flagrante pelo soldado Jairo, depois que a dona Maria do carrinho de cachorro-quente, o alertou para o fato de esse rapaz ter tirado o seu pinto mole com a mão das calças, te-lo chacoalhado para ela, depois mijou tranquilamente no muro da delegacia. - No muro da minha delegacia, recém pintado de vermelho! Com a ajuda da associação dos moradores e da ONG dos direitos humanos? - Neste muro mesmo Doutora, ele mijou sem dó no muro recém pintado, deixo-o todo molhado. - Mais isso é um descalabro! Dr. João é um atentado ao pudor contra a dona Maria, por favor Doutor, como advogado informe a esse jovem senhor chamado Rodolfo, quais são as conseqüências do seu ato de desinteligência. - Rodolfo, você importunou de forma ostensiva a dona Maria com seu pênis mole e

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depois urinou de modo ofensivo ao pudor no muro recém pintado da delegacia, um lugar público, vai ter que pagar uma multa, por isso. A delegada me agradece e complementa: - Multa altíssima senhor Rodolfo, isto se eu não te colocar no xadrez, ainda hoje, o jovem senhor tem meios para pagá-la? - E que não tinha banheiro público e... A delegada interrompe bruscamente o rapaz: - Eu perguntei se o senhor tem dinheiro para pagar a multa? - Não senhora, o meu pai ganha pouco. - Você trabalha? - Não, mas estudo. - Mas você não tem cara de estudante, subdelegado Junior, você levantou a ficha desse jovem senhor? - Sim, ele não tem passagem policial, está sem emprego no momento, mas é estudante colegial, eu liguei para a escola e falei com a diretora, que me deu péssimas referências dele, muito bagunceiro, um péssimo aluno em Geografia. - Senhor Rodolfo, desta vez eu vou facilitar a sua vida, mas isso não significa que eu vou aliviar a gravidade de seus atos de desinteligência, vou lhe aplicar uma medida

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sôcio-educativa, o senhor concorda? Apavorado e sem nenhuma alternativa, Rodolfo cabisbaixo concorda com um simples “Sim senhora”. - Muito bem seu Rodolfo, o senhor vai trabalhar como voluntário, aqui na delegacia, de segunda a sexta-feira, duas horas por dia durante um mês e aproveitará os sábados e Domingos para estudar. Porque o senhor trará o seu livro de Geografia para mim, e no final dos 30 dias, vou lhe fazer 20 perguntas, se não acertar todas, vai trabalhar por mais um mês, estamos entendido? - Sim senhora, delegada. - Amanhã o senhor começa, vai lavar o muro que emporcalhou, depois vai pedir desculpas para a dona Maria. Pode tirar as algemas subdelegado Junior e deixe-o ir. Em seguida a delegada, me diz: - Assim seguem os autos do inquérito do seu cliente, sem novidades, o Doutor tem alguma novidade para me contar? - Não, nenhuma, Doutora. - Ótimo assim poderemos inocentá-lo, na conclusão do inquérito. Boa tarde Dr. João, volte sempre. - Boa tarde, voltarei sim, obrigado.

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Desejos ardentesDesejos ardentesDesejos ardentesDesejos ardentes

NA UNIVERSIDADE, conheci Isabelle uma francesa de vinte e três anos, estudante de psicologia, dezessete anos mais nova que eu. Ela linda e simpática eu sozinho e carente em uma cidade francesa, fazendo o meu pós-doutoramento, morávamos no mesmo prédio de pequenos apartamentos, eu no terceiro andar ela no segundo, os seus país moravam, em Monte Carlo, que não ficava longe de Nice.

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Um dia ela me disse que eu lembrava muito o seu pai, quando era jovem, eu parecia ser um irmão mais novo dele, me lembrei das palavras que li na revista sobre a atração de algumas mulheres jovens por homens mais velhos. Já havia percebido algo no olhar de Isabelle, ela sentia-se atraída por mim, um homem mais velho, do mesmo modo que eu me sentia atraído por ela, uma mulher mais jovem. Sentia-me bem na sua companhia, mas não era amor, não era amizade, era pura atração, puro desejos ardentes. Um dia coincidiu de voltarmos juntos da universidade e fomos para o meu apartamento. Depois de um jantarzinho a luz de velas, preparado por nós dois e, excedermos na quantidade de elogios mútuos, misturado com um pouco de vinho e boa música francesa, ficamos susceptível às sensações do momento. Ah, como ela era jovem! Usava um vestido preto de tecido suave ao toque de minhas mãos, enquanto dançávamos lentamente, um colado dois pra lá, dois pra cá, passos que

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foram se transformando em um pra lá, um pra cá, ao som romântico de Édith Piaf. Isabelle estava linda, risonha como quem se prepara pra fazer uma travessura, a mesma travessura de sempre, sempre me provocando com seu olhar felino, sensual. Naquela noite, não pude resistir aos seus apelos que até então resistidos e, excitados e entregues nas delicias da carne, do prazer pelo prazer, deixamos explodir ardentemente os nossos instintos mais selvagens. Apaguei a luz do abajur deixando a penumbra da vela sobre a mesa, ela abriu as cortinas do apartamento, deixando penetrar no ambiente o frescor da noite e o luar e, chamou-me para dançar. O luminoso da loja em frente piscava suave, dado um leve toque avermelhado ao ambiente, comecei a acariciá-la ao som da música enquanto dançávamos envolto ao clima de sedução, fascino, eu a beijei longamente, sentindo aquele corpo de menina em meus braços. Uma delicada flor de amor, tão mulher com os seus desejos afluídos, tão menina segura do que quer. Tudo era como um sonho, e

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como num passo de mágica estávamos no sofá, num agradável ninho de amor. Nossos beijos e carícias audaciosos deixaram explicito que era uma menina-mulher, com desejos ardentes, como braseiro em fornalha que não se apaga nunca. Seus anseios buscavam em meu corpo, a saciedade do prazer, enquanto eu experimentava um deleitável êxtase. Seus olhos lânguidos, seus lábios trêmulos de boca sensual, se preparavam para sugar-me, e beijando-me de cima abaixo, ajoelho-se lentamente. Em minhas mãos sua cabeça frenética de cabelos sedosos, abri o zíper do seu vestido, que escondia a mais misteriosa beleza, e beijei sua nuca perfumada e, como se houvesse ligado algum interruptor, Isabelle cavalgou-me num sexo selvagem que nos levou a loucura. Depois de um demorado banho, onde exploramos a pele, os lábios, os desejos de um e de outro, num jogo de sedução e prazer. Estávamos prontos para nova aventura e, nos amamos suavemente... E novamente... E muitas vezes... Serenamente... Suavemente, como se o mundo pertencesse somente a nós dois; em

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uma sincronia anatomicamente perfeita, como se tivéssemos sido criado um para o outro. Em poucos dias nos mudamos para o sexto andar, um apartamento de cobertura, um pouco maior e mais aconchegante, a paixão estava no ar, na pele, nas palavras e na alegria de viver por viver, na época do festival internacional de cinema, fomos à Cannes, que também não ficava longe. Em algum momento da vida, devemos responder a quatro perguntas fundamentais: - O que é sagrado? - O que é o espírito? - Porque vale a pena viver? - Porque vale à pena morrer? E, a única resposta existente para essas quatro perguntas. É o amor que pensei sentir por Isabelle, ledo engano o tempo desgastou a nossa relação, uma atração física que nunca virou amor e agora chegou ao fim. Quando cheguei ao apartamento, naquele início de noite, todas as luzes estavam apagadas, Isabelle fingia emburrada que dormia no quarto, com sua camisola de pouca conversa. De manhã eu lhe dei a notícia. - Isabelle, eu vou retornar ao Brasil. Com voz decidida ela me responde: - Eu já

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pressentia isso, não vá Jair, se você ficar eu me caso de papel passado com você! - Eu fui criado no Brasil, minha cultura é brasileira, meus costumes são brasileiros, não me adapto à Europa. Sem disfarçar a sua irritação, ela alterou discretamente o seu tom de voz: - Eu não vou deixar o primeiro mundo para morar com você no terceiro. Meu lugar é aqui na França, mas se você acha que o seu lugar é no Brasil, eu não posso fazer nada, a não ser lhe desejar boa viagem Jair. - Então estamos entendidos, o apartamento fica de presente de despedida para você, tá bom? Com a intenção explícita de me fazer sentir um lixo, ela respondeu cinicamente: - Vou pegar algumas roupas e vou para a casa de Jean Pierre, não quero ve-lo partir. Seja feliz, Jair. - Mas quem é Jean Pierre? Não é o dono da loja de ferramentas em frente? - Exatamente ele, meu amante querido de muito tempo. - De quanto tempo? Mas ele é um velho! Isabelle - Desde sempre e com uma maturidade muito superior a sua, que não passa de uma

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criança mimada. Mas isso agora não interessa mais, não é verdade Dr. Jair. Adeus. Surpreso com a notícia de ter sido traído, chifrado na cara dura todos esses três anos, por um velho de sessenta e poucos anos. Surpreso comigo mesmo por nunca ter suspeitado de nada, só me restou dizer a ela: - Seja feliz Isabelle, adeus. Embora estivesse surpreso e com o orgulho de macho ferido, me sentia aliviado por terminar com Isabelle de forma tão pacífica e prática, lhe deixava o apartamento e pronto. Mesmo dividida entre eu e o seu amante senil de cabelos brancos, Isabelle aplacou com perfeição a minha solidão na cama. Nos fins de semana passeávamos pela Riviera Francesa, por suas famosas praias de Nice, Cannes e do Principado de Mônaco, isto sem falar no Gran Prix de F1 do Principado, não perdíamos uma corrida, nunca me diverti tanto. Por esses motivos seria uma injustiça, eu tomar uma atitude machista, pueril e não cumprir a minha palavra de lhe deixar o apartamento. Durante a semana, os dias eram corridos, nunca almoçava com a Isabelle às quintas-feiras, com certeza era o dia que o seu amante

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senil, entrava em ação. No dia da minha partida, enquanto o motorista de táxi guardava a minha bagagem no carro, atravessei a rua e entrei na loja de ferramentas do Jean Pierre, como sempre ele estava atrás do balcão lendo atentamente o seu jornal matinal. Aproximei-me e lhe disse: - As chaves e a escritura do apartamento de Isabelle. Ele olhou nos meus olhos, pegou as chaves e a escritura e me disse como um pai diz a um filho: - Dr. Jair não leve rancor da Isabelle, ela é apenas uma criança, antes de me aposentar e abrir essa loja eu fui professor dela, e desde que ela tinha treze anos estamos juntos. Quando Isabelle conheceu o senhor, ela se encantou toda, se derreteu toda, eu incentivei, disse-lhe, vai Isabelle, vai meu amor. Ela foi, mas nunca me esqueceu, essa é a nossa história, Você não me magoou, muito pelo contrário, fiquei muito feliz ao ver Isabelle feliz do seu lado, eu espero não te-lo magoado também. Tenha uma boa viagem, adeus Dr. Jair. - Adeus Jean Pierre; Isabelle é uma pagina muito bem virada na minha vida, nunca mais a vi.

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Conto 3Conto 3Conto 3Conto 35555

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LÁ FORA a tarde arde covarde ao sol em dia que só tem pó passeando pelo ar, José fecha a janela da sala com decoração duvidosa, como se fechasse os seus sonhos mais íntimos e secretos de ser linda, loira e famosa. Senta-se confortavelmente na poltrona lilás e observa atentamente o relógio da parede pingar as horas de forma torturante, a sensação de vazio é enorme, a solidão invade-lhe sem

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piedade a alma, o tempo insiste e passa triste frente aos seus olhos marejados; tal e qual um cisne de plumagem tisne. José nasceu em berço de ouro, sempre teve o rei na barriga, minhocas na cabeça e inveja, muita inveja das mulheres, sua mania de perfeição lhe dava a cruel consciência que ele nunca seria igual a elas, nunca seria mãe biológica. Talvez por isso a idéia fixa de realizar uma cirurgia plástica para troca de sexo no exterior estava ficando cada vez mais fora de questão. Cada vez mais solitário e introspectivo, ele começou a definhar a olhos vistos preocupando familiares e amigos, sua magreza progressiva gerou suspeitas de AIDS ou coisa pior, por insistência deles, José procurou um médico, depois outro e outros em diferentes cidades e estados brasileiros. Todos diagnosticaram a mesma coisa, a depressão dele, mas ninguém compreendia qual a doença que ia consumindo lentamente o corpo de José, o seu vigor físico esvai-se no acalento lento da brisa com o frescor depois do

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sol, antes da prece que adormece ao luar, dia após dia ele definha de maneira inexorável. A vida afastava-se vagarosamente dele, apesar de todas as tentativas médicas, a sua face era igual um sopro de ar gélido que sai das sepulturas quando elas se abrem, num rosto que já tinha sido belo, segundo a sua própria mãe. Todos perguntavam a mesma coisa por que esse moço, belo e rico, tendo tudo para ser feliz, ia definhando lentamente? Foi então que uma pequena luz surgiu no fim do túnel, Dr. Jonas com calma na alma foi o nono médico que atendeu José, alegando inconformado com a ausência de um diagnóstico clínico esclarecedor, ele resolveu visitá-lo e lhe propôs consultá-lo gratuitamente para realizar uma nova avaliação médica. Na verdade uma derradeira tentativa, José com esperança mansa aceitou prontamente, mesmo já não tendo a mínima disposição de continuar vivendo. Quatro dias após, sozinho, sem nenhuma disposição física ou mental, ele comparece para a consulta. A sala de espera está estranhamente vazia, a secretária desfilando

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um vestido distraído, exibindo suas belas coxas, com seu jeito festivo acompanha-o perfumando o corredor, balançando como um líquido ela leva José até a sala do bom doutor. Depois do término da consulta, Dr. Jonas concluiu com mais precisão que da primeira avaliação clínica realizada, meses atrás, que José era portador de moléstia crônica incomum, de forma consuptiva ela não estava no corpo, nem em sua mente cheia de depressão. A doença estava encravada na alma dele, Jose estava morrendo de amor, um amor não correspondido! Pasmo com a precisão do diagnóstico feito pelo médico, José revela a ele que começou a definhar depois do abandono de Lauro, o grande amor da sua vida, que o trocou depois de quatro anos de intenso relacionamento, por Cristina, a famosa apresentadora loira da televisão. Estarrecido e incrédulo José ouviu atentamente a explicação do Dr. Jonas, a princípio ele não entendeu nada, principalmente quando o médico disse-lhe ser sabedor de todos os fatos. Que Cristina tinha

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feito um contrato de sangue com a seita dele, diretamente com o seu grande mestre, onde ela receberia Lauro de premio e como paga ela daria a eles sua própria alma. Mas Cristina depois de ter Lauro na palma de sua mão, converteu-se a Religião, aceitou Deus e renegou o mestre do mal, tentando assim romper o acordo de sangue feito, doce ilusão enfatizou o médico, um acordo desses, feito diretamente com o príncipe das trevas, jamais é rompido. Neste exato momento a explicação é interrompida, a secretária entra no consultório, trazendo Cristina em mais completo transe hipnótico, ela a posiciona em frente ao grande espelho da parede. Apavorado com os fatos ocorridos naquela estranha consulta, José se convence, o Dr. Jonas dizia a mais pura verdade. Com olhar esfolador o médico fuzilou José causando-lhe um estranho tremor pelo corpo, o aumento repentino da temperatura queima-lhe a face, espessas gotas de suor serpenteiam seu rosto, um abrupto calafrio percorre-lhe a espinha, os músculos, a pele

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arrepiando-lhe os pelos. José entra em transe hipnótico é conduzido pela secretária até o grande espelho, ao lado de Cristina. O médico em processo de meditação imediatamente posiciona-se atrás deles, ora, pronuncia palavras incompreensíveis aos seres humanos. A alma de José tal e qual uma frondosa nuvem branca esfumaceia radiante para o interior do corpo de Cristina, expulsando a alma dela, negra e pesada como as nuvens feias das grandes tempestades, que toma posse do corpo de José, ambos permanecem em transe. José sai primeiro do profundo transe, percebe que está dentro do corpo de Cristina, com satisfação se sente linda, loira e famosa, porém afirma veementemente que não entregaria sua alma ao diabo, em troca dessa transformação. Dr. Jonas lhe explica que o tratamento foi gratuito, como combinado desde o início, para José ir embora ao encontro de Lauro e viver feliz para sempre dentro do corpo de Cristina com o seu amado, e assim foi feito.

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Cristina minutos depois de José deixar o consultório, sai do profundo transe, imediatamente percebe o tamanho do castigo que lhe foi imposto, não se conforma, lágrimas sonoras, incoercíveis, copiosamente brotam-lhe dos olhos, Cristina grita histericamente, gritos aflitos as quatro paredes do consultório, o Dr. Jonas e a secretária a ignoram. Ela descabela-se sai correndo feita uma louca desvairada sem prumo, sem rumo pelas ruas e avenidas, ninguém consegue detê-la, só o ônibus, o qual ela se atirou abruptamente à frente para morrer instantaneamente. Mal Cristina sabia que estava deixando o seu inferno terreno, para ir de encontro há um infinitamente pior e mais cruel no além.

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Conto 3Conto 3Conto 3Conto 36666

Os lábios da morteOs lábios da morteOs lábios da morteOs lábios da morte

OS RUÍDOS da noite feriam a madrugada enluarada sem maldade, os ruídos dos tiros ainda ressoam no alto do morro, todos eram caçadores ou caçados, espiões ou espiados, traidores ou traídos. Ouvem-se as ordens, o “dedo-duro” deve ser aquele homem grisalho, baixo e gordo, com aparência inexpressiva, ficava a espreita observando tudo enquanto trocava o telhado do seu barracão de zinco. A adrenalina sobe, corações batem com força e sombras ameaçadoras na penumbra da

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lua espalham-se pelas ruelas da favela, pelos corredores compridos e escuros, adentram pelos becos, ouvem-se passos apressados, uma janela batendo ao vento, a porta sendo arrombada e dois tiros ao alto anunciava o encontro do homem. Ele é imediatamente dominado, amarrado pelas mãos é arrastado pela longa corda aos chutes e empurrões até o alto do morro, é posicionado ao lado do penhasco, no fundo do vale o córrego das Almas Perdidas o espera. Um a um pneus de caminhão formaram uma pilha, dentro ensopado de óleo diesel, querosene e gasolina o homem grisalho baixo e gordo com sua aparência inexpressiva entregue a sua própria sorte, resignado com o futuro anunciado. Pessoas sedentas pela vingança, famintas de dor alheia e barbárie, exalando ódio profundo por todos os poros, formam um semicírculo a sua frente, atrás de si apenas o desfiladeiro e o córrego o esperam ludicamente. Seus ouvidos estremecem ao ouvir “acendam a tocha”, o seu cérebro ferve em

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pensamentos. A vida em fração de segundo passa-lhe frente aos olhos como um filme nostálgico, a infância miserável, o primeiro beijo, os fantasmas, os percalços, pai, mãe, filhos, esposa, as amantes, as migalhas de amigos, a vida que deveria ter sido e não foi. Seu sangue esfria frente a frente com a foice da figura da morte, sua alma parece estar preparada para separar-se ternamente, eternamente do seu corpo baixo e gordo, o coração dele em desvairada disparada, bate forte como se quisesse vencer a morte, mas sabe que em instantes tudo se acabará, tudo estará terminado. “Solta ele já! O verdadeiro dedo-duro foi descoberto! O chefe ordenou pelo celular”. Um piedoso calafrio apodera-se daquele corpo ressuscitado que se afasta do beijo da morte com lábios trêmulos, magno lhe parece o seu destino, uma vez que sua vida adquiriu um sentido, regenerar-se e fazer o bem, não queria mais àquela vida vivida. Os pneus são retirados cuidadosamente, um a um, fartos jatos d’água fresca são lançados sobre o seu corpo nu, livre das roupas

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encharcadas pelos combustíveis, que lhe ardiam na pele, lentamente os traficantes foram se afastando, nenhum pedido de desculpas foi escutado por ele. O homem grisalho, baixo e gordo nu de joelhos ao chão como quebrado, sentiu os lábios da morte tão próximos, agora sozinho no alto do morro sente sobre o seu corpo o acalento lento do sopro da vida, da brisa que desce o penhasco rumo ao córrego das Almas Perdidas. Ele desce o morro com calma na alma e esperança mansa, no barraco semi destruído toma um banho, que lhe lava o corpo e a alma. Depois discretamente passa pelo silêncio macio do lado calado que ilumina a esquina, perigosa e gostosa na saída do morro onde as meninas prostituem-se desinibidas, os meninos traficam às escondidas. Na boca loca do fundo do mundo ele deixa a sua vida vivida para trás e segue em frente rumo a um novo horizonte com prumo e retidão, sem saber ainda aonde encontrá-lo, ele segue em frente, não olha mais para trás.

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Conto 3Conto 3Conto 3Conto 37777

O assédio sexualO assédio sexualO assédio sexualO assédio sexual

ÀS DEZOITO horas Carla a gerente de recursos humanos, está com alguns funcionários em sua sala, Lara a simpática secretária, entra e discretamente pergunta “posso ir para casa”. Carla sorri e diz “ainda preciso dos seus serviços”, Lara senta-se no sofá de três lugares e aguarda.

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Depois de dez minutos elas estão sozinhas na sala, mas a porta está aberta e realmente trabalham por mais dez minutos, quando o segurança, pede licença e pergunta “a Doutora vai trabalhar até mais tarde”. Carla diz “sim e apague as luzes do corredor”, o segurança faz sinal de positivo, em seguida, Carla pede para Lara fechar a porta da sala de espera. Trabalham por mais dez minutos em seguida Carla se levanta da poltrona, passa a mão pelos cabelos de Lara e com muito cuidado tranca a porta do seu escritório. Carla senta confortavelmente em sua poltrona e diz: - Lara se você não fosse funcionária da empresa, eu lhe daria casa, comida e dois dias na semana para me fazer de corna. Em seguida liga o som ambiente e pede “Lara rebole bem devagar, dance lentamente, que hoje vou gozar na sua boca”. Lara levanta-se com a cabeça baixa e começa o seu desajeitado strip tease. Carla começa tirar sua roupa com uma rapidez bem maior, começa a se masturbar lentamente, pede para Lara, quase despida, fazer um sexo oral bem gostoso, Lara para de dançar e nega

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veementemente, dizendo: - Não vou mais fazer isso, Carla. Ela para de se masturbar e diz, com voz firme: - Se me desobedecer está na rua Lara, despedida entendeu. - Não vou mais fazer isto, Carla, não adianta insistir. Carla se irrita e fala em voz alta: - Você tem filho para criar, faça ou te ponho na rua. Lara pede piedade: - Te suplico Carla me liberte de suas taras sexuais. - Não Lara, você é a minha única fonte de prazer, meu marido é broxa, um Mané na cama. - Eu continuo a dançar para você se masturbar, por favor, Carla me deixe só dançar. Ela se levanta e diz: - Lara você tem mãe para cuidar. - Não posso mais Carla, me perdoa. Carla veste a roupa e diz: - Amanhã você receberá o aviso prévio, de manhã bem cedo. E sai do escritório esbravejando “vou te por na rua sua vagabunda”. Lara se recompôs

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chorando copiosamente sentada no sofá de três lugares. O que a irritada gerente de recursos humanos não sabia, é que as dezoito em ponto, Dr. Morares presidente da fábrica me recebeu em seu amplo escritório, simplesmente me disse: - Boa tarde Dr. João vou precisar de seus serviços advocatícios. Em seguida nos acomodamos em frente à TV acoplada a um vídeo cassete gravando as imagens, todas as imagens dos fatos recém ocorridos no escritório da gerente de recursos humanos. Lara parcialmente refeita do seu choro nos encontrou no escritório do Dr. Moraes, todos chocados com a situação escabrosa: - Como advogado e amigo eu pergunto a você Lara e ao Sr. Dr. Moraes, faremos justiça hoje nesta fábrica? Lara respondeu: – Dr. João eu sou pobre e quem é pobre tem que se submeter... Interrompe o Dr. Moraes: - Não vai mais se submeter dona Lara o Dr. João, achará um modo de se fazer justiça nesta fabrica hoje, causando o mínimo de prejuízos morais para a senhora e para a imagem da nossa boa fábrica.

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- Faço justiça sem nenhuma exposição do bom nome da sua fábrica, fique tranqüilo Dr. Moraes, que não haverá prejuízo moral para ninguém. Intranqüilo Dr. Moraes diz: - Dr. João o que acontecerá com Carla, estou com muita pena do marido, o coitado é um bom homem tem duas filhinhas com essa demente, sou padrinho de uma delas. - Às conseqüências para a Carla, serão a demissão por justa causa e dois anos de detenção, pena máxima da lei do assédio sexual, a nossa prova de flagrante delito é lícita não foi forjada e sim um flagrante esperado, portanto válida como prova material do crime. Inseguro Dr. Moraes diz: - Dr. João o sigilo é absoluto mesmo? - A delegada será obrigada a assegurar o sigilo do inquérito. Carla será presa em flagrante delito quando o aviso prévio for entregue para Lara. Ultimo ato do seu crime, mesmo se não entregar o aviso, o flagrante, horas depois do crime, com a meticulosidade da delegada será livre de nulidades processuais

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com certeza. E fique tranqüilo Dr. Moraes a imprensa jamais tomará ciência desse caso horripilante. - Confio no senhor, Dr. João, tome as medidas cabíveis ao caso, vou chamar a minha secretária para assessorá-lo, agora venha comigo Lara, vou pedir para o motorista, levá-la embora. Disse o Dr. Moraes se retirando da sala rapidamente. Entrei em contacto com a delegada da delegacia da mulher, ela veio até a fábrica, elegantemente vestida com um taieur verde musgo, com detalhes verde limão, confesso que não gostei da cor. Ela assistiu à repugnante fita e armou uma estratégia simples para prender Carla, em flagrante delito. Depois me disse "ah! que delícia vai ser prender essa gerente abusadora inveterada de bela funcionária indefesa da fábrica, em flagrante delito para depois interrogá-la adequadamente, nos fundos da minha delegacia e entregá-la totalmente domesticada e dócil aos bons cuidados da carcereira Maguila". Na manhã seguinte, Carla chamou Lara em sua sala e com uma postura arrogante,

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entregou-lhe o aviso prévio. Lara assinou e saiu com sua cópia do aviso, entregando-a imediatamente para a delegada, que entrou na sala de Carla com mais dois agentes, e deu voz de prisão em flagrante delito. Carla não entende nada, mas passa a entender quando a delegada educadamente lhe mostrou os locais das micro-câmeras. É algemada por um dos agentes e sai chorando, envergonhado com um paletó cobrindo a sua cabeça, ao lado da elegante delegada que segura o seu braço, conduzindo-o calmamente até a viatura estrategicamente estacionada, para ninguém ver nada. Várias e várias pessoas procuraram Carla no escritório, durante todo o dia. Lara simplesmente informava: “Carla entrou na fábrica pegou os seus pertences e sem dar maiores explicações, entregou em caráter irreversível o seu pedido de demissão e foi embora. Dr. Moraes foi pego de surpresa, pela intempestiva atitude que me promoveu à gerente de recursos humanos. Com certeza, Carla foi trabalhar em outra fábrica, agora eu sou a nova gerente, deseja alguma coisa?”.

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Conto 3Conto 3Conto 3Conto 38888

Terror no cemitérioTerror no cemitérioTerror no cemitérioTerror no cemitério

EXATAMENTE quatorze dias depois do taxista Pedro ter sido assaltado e atingido por um tiro no pescoço, ao meio dia, horário em que a sombra é mais curta, o mais longo dos erros do assaltante era enterrado ao lado de sua ex-esposa. Por vontade de seu filho Paulinho, que estava presente com sua eterna Bíblia embaixo do braço.

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Ele viu cabisbaixo, todo o estardalhaço da imprensa e os protestos dos taxistas, depois quando o caixão de Pedro desceu à cova, Paulinho aproximou-se dos coveiros, pediu para eles se afastarem e se ajoelhou, junto à cova, pegou um monte de terra com a mão direita e jogou sobre o caixão. Em seguida ergueu os braços, com a Bíblia na mão esquerda e falou para todo mundo escutar: - Amigos, Mateus, 6: 22-23:3 "A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz. Se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso...". Não concluindo essa passagem bíblica, ele foi direto para Mateus, 5:29:3 -"Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti, pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado no inferno". Para terminar e agradecer a presença de todos os amigos cito ainda, o apostolo Marcos, 9:47 -"Se o teu olho é ocasião de escândalo para você, arranque-o. É melhor você entrar no Reino de Deus com um olho só, do que ter os

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dois olhos jogados no inferno, onde o seu verme nunca morre e o seu fogo nunca se apaga". Paulino abaixa os dois braços, coloca a Bíblia no chão, ao seu lado, e se inclina para frente, fazendo uma reverencia a cova, como os mulçumanos a fazem para Alá, ajoelhados no chão das mesquitas e com as mãos arranca o seu olho direito do globo ocular. Soltando um grande grito de dor, se levanta em estado de choque, com o olho pendurado no rosto, preso à face apenas pelo nervo óptico, o terror e a histeria dos presentes são generalizados, menos dos repórteres fotográficos, que documentavam, a auto-enucleação do pobre rapaz. Corri em direção a ele, para socorrê-lo, e com a ajuda de um dos coveiros, colocamos Paulinho dentro do carro de um dos presentes, um senhor de meia idade, que nos levou até o hospital, mais próximo. No caminho, Paulinho disse para mim, com um misto de euforia e agonia pela de dor, “Deus queria que fosse assim, os meus pais queriam muito que eu trabalhasse, mas eu

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nunca trabalhei, nunca fiz nada para ajudá-los. Não deixe que joguem o meu olho fora, pois quero aguardá-lo para sempre, como um pedido de perdão, a eles, como Deus me ordenou, antes do enterro”, em seguida entrou em uma espécie de torpor silenciou. Chegando ao hospital ele é imediatamente socorrido pelos enfermeiros e levado ao centro cirúrgico, antes, porém eu pedi a um deles que não jogassem o olho fora de maneira alguma. De manhã os jornais estampavam, em sua primeira página, a foto de Paulinho, com seu olho preso à face, somente pelo nervo óptico, as reportagens relatavam que ele tinha sido operado, para a extirpação do olho e posteriormente colocariam uma prótese de vidro no local. Entrevistaram o médico oftalmologista que relatou, “No momento da minha avaliação clinica inicial. O paciente apresentava-se francamente psicótico, dizia estar obedecendo "às ordens de Deus", repetia palavras isoladas como "salvação" e "paraíso". Além de manifestar alterações sensoriais e perceptivas compatíveis com alucinações auditivas, mas

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como organicamente, ele estava bem e não apresentava nenhum risco cirúrgico. Eu decidi operá-lo, para a remoção do olho, que infelizmente não pude salvar.” Paulinho foi se recuperando bem da cirurgia e acabou sendo transferido para o hospital psiquiátrico. Ele estava feliz com seu olho, guardado dentro de um vidro com formol a 10% e se recusava terminantemente, a colocação de uma prótese de olho vidro. Justificava a recusa aos médicos com a seguinte frase, “Tenho que fazer o que a voz de Deus manda, senão coisas piores podem ocorrer comigo”. Segundo os mesmos médicos o prognóstico da psicose de Paulinho era terrível só havia uma certeza quanto ao seu quadro clínico, ele ficaria internado por muito tempo, com grande chance de nunca receber alta, pois com certeza se mutilaria de novo. Quanto a mim nada de novo, eterno eu retornei para o inferno, deixando para trás a minha vil voz viril nos ouvidos de Paulinho.

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A primeira vez a gente nunca esqueceA primeira vez a gente nunca esqueceA primeira vez a gente nunca esqueceA primeira vez a gente nunca esquece

JONAS entra sorrateiro como uma barata velha pelo corredor, vestindo a sua roupa de super-herói americano, tamanho doze anos, novinha em folha, ele observa astuto onde está a sua querida mãe, na cozinha distraída. Seguro de si matuto ele adentra no banheiro feito um raio, fecha a porta preservando o máximo silêncio possível e delicia-se pela primeira vez com a foto preta e branca que trazia escondida na manga. Masturbou-se prazerosamente, depois observa admirado mais uma vez todos os

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detalhes e as curvas da moça de maiô duas peças na foto, tão linda aos seus olhos, em seguida a esconde mais uma vez na manga e sai do banheiro tipo “The Flash”, dando de cara com a sua mamãe Sueli. Pelas gotas de suor que serpenteavam o pequeno rosto ruborizado de Jonas, não foi difícil para ela perceber o que o nosso super-herói mirim estava fazendo tão quietinho no banheiro, sem pestanejar Sueli lhe exige a foto, Jonas dissimula, ela o revista e obtém sucesso em sua busca. Irritada Sueli explica ao menino que aquela velha foto preta e branca, manchada, amarelada e desbotada era de sua mãe, avó dele falecida bem velhinha no fim do ano passado. Desconsertado fingindo ignorância Jonas escuta tudo, não fala nada, ela lhe diz que a vovó está no céu e vê tudo o que ele faz no banheiro com a foto dela e se ele mexesse na foto de novo, ficaria um longo tempo de castigo. Sueli pede para Jonas ficar no corredor de castigo por dez minutos, ela vai até o quarto dela, recoloca a foto no velho álbum de família e depois o esconde sem perceber o filho a

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espiando pela fresta da porta entre aberta. Como sempre acontecia toda noite, exceto aos domingos, a rotina da casa segue o seu ritual normal, logo após o jantar, servido às sete horas, Sueli avisa Jonas que vai trabalhar, para ele não atender ao telefone e muito menos a porta. Em seguida ela dá um carinhoso beijo no filho e sai vestida adequadamente, como convém a uma profissional do sexo competente. Mal a porta da sala fecha, Jonas corre para o quarto de Sueli, pega a foto preta e branca da avó de maiô na praia de Santos. Não convencido com a história da mãe, sobre sua avó ver tudo do céu, ele a questiona em voz alta, quer saber se a avó realmente sabe onde ele estava naquele exato momento se no quarto, na sala ou no banheiro. Não obtendo resposta nenhuma ele começava a duvidar da história contada pela mãe, quando a energia elétrica da casa cai, o telefone começa a tocar, um vento gelado lambe-lhe o rosto, a janela bate. Jonas fica apavorado a energia volta, o telefone se cala, a janela acalma-se, o vento frio vai embora sem deixar saudades, um barulho de trovão anuncia

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a chuva lá fora. Alguém aperta a campainha, bate à porta com insistência, Jonas seguindo as instruções da mãe ignora, a porta é arrombada. Um homem entra irado na sala, segura o menino pelo braço, quer saber a todo custo o número do telefone celular de Sueli, sem saída Jonas informa com a voz embargada e é trancado no banheiro, começa chorar, escuta em pânico o homem ligar da sala para a sua mãe. Sueli de imediato reconhece a voz de Luiz ao telefone, um ladrão de quinta categoria e cafetão nas horas vagas. Em poucos minutos ela chega furiosa à residência, eles discutem, ela quer saber se seu filho está bem, ele quer saber da comissão devida pelo cliente indicado, eles não chegam a um acordo de bom termo, Luiz saca o seu velho revolver 38, eles entram em luta corporal. Jonas ainda trancafiado no banheiro ouve tudo que se passa na sala, tremendo de medo, encolhidinho segurando a foto preta e branca contra o peito, se encontra agachado ao lado do vaso sanitário. Jonas pede com toda a Fé, que a avó interceda do céu em favor de sua mãe, promete que nunca mais vai fazer “aquelas

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coisas” utilizando-se da foto dela, um tiro ressoa pelos cômodos da casa. A porta do banheiro se abre Sueli resgata Jonas com abraços e beijos, na sala o corpo estendido no chão, morto. Sem uma lástima a polícia no local, sem uma lágrima a notícia no jornal. O caso é dado como uma tentativa de assalto a mão armada com reação da vítima para proteger a vida do filho, resultando na morte do meliante. Após alguns dias, parcialmente refeito do terrível trauma, Jonas entra sorrateiro como uma barata velha no quarto de Sueli, vestindo a sua roupa nova de super-herói mexicano, tamanho doze anos, ele observa astuto onde está a sua querida mãe, na cozinha distraída. Segurando a foto de maiô da avó com carinho, ele vai até o armário, pega o velho álbum de fotos da família e cuidadosamente a coloca no seu devido lugar. Depois despretensioso folheia o álbum vê pasmo a fotografia colorida da tia Sonia de biquíni em Copacabana, encantado ele pergunta para a mãe atarefada na cozinha, em alto e bom som “mamãe a tia Sonia já morreu?

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Conto Conto Conto Conto 40404040

Uma aventura de Pedro MalazarteUma aventura de Pedro MalazarteUma aventura de Pedro MalazarteUma aventura de Pedro Malazarte

UMA AVENTURA que o meu avô me contava, que agora passo a cortar para vocês, com as minhas palavras... A tarde arde ao sol e no acalento lento do vento, pela estrada caminhando vinha Pedro Malazarte mortinho de fome sequinho de sede. Para sua felicidade à beira da estrada encontrou uma generosa mina de água cristalina, onde pode saciar sua sede, mas não sua fome, no local não tinha nem uma fruta para comer,

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apenas um urubu com a asa machucada. Sem dinheiro e sem alternativa, Pedro Malazarte pegou o urubu e colocou em um saco de pano, pelo menos agora ele possuía um bem, um belo urubu com a asa machucada e assim seguiu pela estrada á procura de comida. Lacrimas sonoras serpenteavam o seu rosto de fome, quando ele avistou uma pequena casa, não se fez de rogado, mas foi pedir comida e recebeu um eloqüente não como resposta da bela morena uma verdadeira flor de açucena. Indignado sem ter para onde ir, se afastou um pouco e ficou observando a casa, completamente perdido acarinhava o seu urubu, quando viu um forte rapaz, trazendo vinho e comida, entrar sorrateiramente na casa e sair mais sorrateiramente ainda pelos fundos, quando o marido da serena morena chegou. Pedro Malazarte, mortinho de fome, voltou a casa e pediu comida para o marido, que gentilmente lhe atendeu e perguntou: - o que você tem dentro do saco? - Um urubu, ele é adivinho. Surpreso o homem exclamou: - Adivinho como assim, deixa eu ver ele fazer uma

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adivinhação. Matreiro Pedro Malazarte encostou o bico do urubu na orelha direita e falou: - na mesa do senhor tem uma comida muito boa, mas ela é simples, já no armário da cozinha tem uma comida muito chique, prontinha para comer. O homem entrou em sua casa, contou a estória para a esposa e depois abriu o armário, ele ficou maravilhado com a comida e cochichou para ela: - Esse urubu é adivinho nada, ele é mágico, vou comprá-lo desse caipira. Todos se fartaram da boa comida e depois Pedro Malazarte foi embora com um bom dinheiro no bolso, deixando o urubu para trás, que nunca mais adivinhou mais nada.

AdendoAdendoAdendoAdendo Nota do autor: O conto “A primeira vez a gente nunca esquece” é uma adaptação livre do filme “Jonas” de Allan Sieber, para conto literário de suspense.

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Conto 4Conto 4Conto 4Conto 41111

OOOOlhos lhos lhos lhos ffffamintosamintosamintosamintos

CARLA nasceu em uma família operária, na periferia de São Paulo, sempre foi considerada por todos como sendo uma menina muito bonita, tanto nos seus atributos físicos como nos seus valores interiores. Porém do alto dos seus dezoitos anos completados a pouco,

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alguma coisa mudou ela decidiu questionar esses “jogos” familiares, esses papéis falsos, nos quais, ou você faz a sua parte do jeito que “eles” querem, ou está fora do jogo. Várias pessoas tentaram aconselhá-la para dissuadi-la das suas reais intenções de abandonar o barco, sair de casa, partir para outra, mas naquele momento morar nas ruas lhe parecia o mais sensato a ser feito. Quando de fato foi morar nas ruas, viu muitas coisas ruins, mas por outro lado, se sentia muito bem consigo mesma por não ter mais que fingir ser uma pessoa que ela não era. Por não ter mais que se calar, quando não concordava com algo, era esse tipo de “liberdade” que Carla começou a sentir. No entanto depois de certo tempo, ela percebeu que não se tem uma liberdade plena, sem limite nas ruas, pois se tem que andar conforme as regras próprias da rua. Às vezes ela pensava se o real motivo pelo qual foi morar nas ruas era vil rebeldia, puro orgulho, para se conhecer melhor ou um conjunto das três coisas ao mesmo tempo. Carla como moradora de rua sentia-se

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fortemente excluída pelas pessoas, mas isso não lhe fazia a menor diferença, pois com a sua própria família ela já se sentia só. Quando relembrava os antigos amigos, os familiares, o namorado e até mesmo os objetivos pessoais que possuía, ela não se alterava, nem com essas lembranças Carla se sentia melhor, tudo isso parecia fazer parte de um passado longínquo. Freqüentemente pensava nessas pessoas que faziam parte da sua antiga vida, mas naquele momento, elas perderam totalmente o valor para ela. Posso dizer que a maioria dos dias que Carla passou nas ruas foi de doloroso aprendizado pessoal, pois nunca pensou que conheceria, veria e sentiria coisas tão diferentes como pode conhecer inclusive as drogas, o álcool e os estupros. Às drogas, injetou tanto e tão sucessivamente, que as veias do seu braço ficaram roxas e ela sentia dores muito fortes, além de injetar até não conseguir mais, Carla também bebia bastante para ver se chegava logo a uma overdose, parecia o principio do fim. Os estupros, não havia como dizer “não” sempre, para os toques

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íntimos que as pessoas que conviviam com ela, lhe faziam, pois eles lhe davam as drogas. A primeira noite que Carla passou nas ruas, foi um descalabro. Era um dia frio e chuvoso, logo após o anoitecer, Carla estava dormindo embaixo de um viaduto, de repente acordou com um rapaz ao seu lado abraçando-a, ela o rejeitava, mas ele continuava. Eles entraram numa luta física, Carla estava tão nervosa, saiu correndo desvairada pelo meio da avenida, pedindo socorro até que encontrou a Rota Policial, pediu ajuda a eles, falou o acontecido, e estes policiais pediram para ela entrar na viatura, e tudo seria resolvido. Mas, os policiais pararam no meio do nada, em um local ermo e desconhecido por ela, e fizeram tudo o que queriam com Carla, eles a estupraram de todos os jeitos, de todos os lados, depois a ameaçaram dizendo que se ela registrasse queixa na delegacia estaria morta. Em seguida a levaram para perto da porta de um albergue, Carla fugiu de um abuso e acabou sofrendo um maior ainda. A noite estava muito fria a chuva fina insistia em continuar, ela resolveu passar a

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noite lá. Tomou um demorado banho quente, comeu a sopa que eles distribuem com indiferença tratando todas as pessoas que ali estavam como objeto, sem a menor humanidade, sem olhar para os olhos daquele que estava à sua frente recebendo o alento daquele prato de sopa. Tentavam apenas cumprir o seu papel de funcionários do albergue, mas sem se envolver com aquelas pessoas famintas e ávidas por uma noite de sono em um lugar seco, seguro e aquecido. Carla após se alimentar, foi dormir e pouco depois que as luzes se apagaram, o albergue estava cheio. Assim, após algumas horas, quando já era madrugada, ela sentiu alguém colocar a mão na sua boca, para que ela não acordasse aqueles que estavam dormindo em seguida outros segurando os seus braços e pernas. Eram várias pessoas, ela não saberia dizer quantas exatamente, arrancaram as suas roupas e bateram muito nela até que ela parasse de tentar se defender. Violentaram-na com toda a agressividade e raiva possível, parecia uma forma que eles

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tinham de extravasar toda aquela angústia, dor, raiva e violência que possuíam em seu interior. Carla foi objeto sexual no seu primeiro dia de moradora de rua e não teve o poder de escolher, aceitar ou não, o que lhe aconteceu, do que é capaz o ser humano, quando este não se sente mais parte da sociedade? Do que é capaz quando se sente livre de regras morais? Mas se toda essa experiência teve momentos péssimos, ela podia dizer que também houve reflexões “essenciais” para a sua vida e que com toda a certeza transformaram-na, foi uma experiência válida, estava em contato direto com a complexidade dos seres humanos e se transformou de muitas formas. Descobriu como podia dizer a verdade daquele mundo onde se encontrava inserida, foi como se descobrir, compreender que ela era muito mais, do que a filha, a irmã, a namorada. Papéis que Carla cumpriu um dia e percebeu que ela era um ser, sem consciência de quem era, ou do que poderia vir a fazer na vida. Confusa em relação aos seus sentimentos sim, mas apesar de tantos medos, Carla teve a

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coragem de procurar a si própria antes de morrer internamente e conseqüentemente exteriormente, essa procura envolveu muita dor, constrangimentos e vários traumas. Era engraçado para Carla como as pessoas viam as pessoas que moram nas ruas, com um olhar tão distante, como se fossem objetos de seu desprezo. Um reflexo de tudo o que há de ruim, como se aquela situação jamais pudesse ocorrer com elas. Muitos estudantes faziam pesquisas na rua onde ela ficava, via-se claramente o medo, o horror dos estudantes e pesquisadores em relação aos moradores de rua. A abordagem deles era errada, eles exibiam olhares já pré-determinados sobre aquelas pessoas pobres, desprovidas de quase tudo. Certa vez um grupo de estudantes com o seu professor, eu não sei ao certo qual era a faculdade, foram fazer uma entrevista com os moradores de rua, era visível a ingenuidade deles, era absurdo a falta de noção sobre a realidade a ser pesquisada. As moças muito bem vestidas, roupas de grife, bolsas, óculos, sacolas, um comportamento que chamava a

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atenção, pois era muito contrastante com aquela realidade que eles se confrontavam. O professor ordenou e os estudantes começaram a observar o local, buscando pessoas para poder abordar. Uma logo chegou até Carla e começou a fazer perguntas do tipo: – Por que você resolveu morar aqui? O que te levou as ruas? Ela percebeu com isso, com essas pessoas, com suas perguntas irrelevantes, elas não queriam realmente entender aquela realidade, as pessoas que nela viviam os seus problemas, as suas dificuldades, o seu dia a dia. Mais sim algo bem mais superficial, terminar suas pesquisas e depois poder dizer que fez algo bom para alguém, para poder dizer sobre algo que na verdade elas não conhecem, não fazem a mínina idéia do que é morar nas “ruas”. Às vezes era muito doloroso para Carla perceber que, na verdade, ao tentar fugir de alguns problemas, teve que se deparar com um problema maior, o de se auto conhecer, pois é quase inevitável não se pensar em quem você é e o que significa a sua vida.

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Ela sabia que tinha que sair urgentemente das ruas, do álcool e das drogas, da possibilidade de uma gravidez indesejada, sabia que até então teve muita sorte de não estar contaminada pelo vírus da AIDS ou por outro agente de doença séria. Portanto a vida de meretriz veio como uma fatalidade induzida pela miséria, atirada pela necessidade, ela foi levada pela desventura de ter de comercializar o seu próprio corpo. Perdendo, enfim, o grande contingente do que a natureza pôs de nobre e delicado nos sentimentos da mulher e de fremente e sensual na volúpia de sua carne. Mas conseguiu sair das ruas, do álcool, e das drogas, concluiu o segundo grau e trabalha como caixa em uma loja de uma rede de hiper mercados da capital paulista. É casada e tem um casal de filhos, nunca mais entrou em contato com sua antiga família, é voluntária em uma ONG que se preocupa com o futuro dos moradores de rua.

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Conto 4Conto 4Conto 4Conto 42222

Desejos proibidos Desejos proibidos Desejos proibidos Desejos proibidos

JUNTOS o discreto casal de noivos caminhava pela calçada tateada por suas bengalas, suprindo em parte a deficiência visual deles, cegos desde a mais tenra infância, esta coincidência acabou aproximando eles

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quando se conheceram a dois anos na sala de espera da clínica oftalmológica. Desde então Roberta Maria e Luiz Pedro não se largaram mais, amigos inseparáveis por muito tempo, até que a solidão afetiva e a carência amorosa contribuíram muito para eles começarem a namorar e noivar em seguida. Com um parcimonioso beijo nos lábios de Roberta Maria, Luiz Pedro se despede dela e entra no prédio onde trabalha como advogado assistente, eles voltariam a se encontrar na manhã seguinte, depois que ele retorna-se de sua rápida viagem de trabalho. Ela continua a caminhar com calma, a biblioteca onde trabalhava digitando textos em Braille, não ficava longe. No meio do caminho o som estridente do telefone público, atordoante, irritante ninguém atendia, ao se aproximar com certa dose de irritação e o firme propósito de fazer aquele telefone calar, Roberta Maria atente com um simples “alo” e escuta “é a Messalina Italiana?” uma suave voz masculina que lhe fez bem aos ouvidos e ao corpo, causando-lhe um estranho arrepio na espinha.

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Arrebatada pela voz ela em tom de quem está fazendo uma grande arte infantil responde com voz languida “agora eu sou a Mascarada Sedutora, o que você quer pelo preço de sempre?”, novamente a voz masculina seduz os seus ouvidos “quero te abrir como uma preciosa rosa formosa, fazer-lhe tremer em suas carnes macias e me perder nas suas gotas de suor com passos embriagados de prazer Mascarada Sedutora, quando poderemos nos encontrar flor de amor?”. Estranhos tremores percorrerem por todo o corpo de Roberta Maria sentia uma excitação em êxtase que jamais sentira. Desvairada com voz de desejos proibidos marca o encontro “hoje à noite, às nove horas em ponto estarei te esperando em uma suíte no Hotel Trianon Inn, enfrente a Estação de Metro Trianon-Masp”. Sem esperar uma resposta ela desliga, o jogo erótico estava feito, a sorte lançada às fantasias mais íntimas de sua mente. Roberta Maria não sabia se o dono da voz apareceria no hotel, mas se sentia nas nuvens, pela primeira vez sentiu o doce prazer de se sentir verdadeiramente fêmea, não foi

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trabalhar na biblioteca. Preferiu pegar um taxi e ir até um sex shopping e viver intensamente a sua fantasia, respirar com gosto a natureza sem censura desta intimidade, transpirar com gozo o destino sem futuro desta incerta infidelidade. Entrou na Loja dos Prazeres, pediu a vendedora uma lingerie sensual e acabou comprando um modelo que fazia muito sucesso entre as prostitutas de fino trato, além de uma venda longa para os olhos de cetim vermelho. Em seguida foi até o hotel e se hospedou em uma romântica suíte, depois passou a tarde recebendo uma relaxante e estimulante massagem, ansiosa se arrumou para o encontro duas horas antes do horário marcado. Tempo que ela aproveitou para conhecer detalhadamente a suíte com iluminação de penumbra sem o auxilio de sua bengala para cegos, os minutos passam com agonia e êxtase a ansiedade oprime-lhe o peito, respira com dificuldade, ofegante, arruma pela enésima vez a venda sob seus olhos.

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O telefone toca às nove horas da noite, o recepcionista avisa que a pessoa esperada pagou pela diária da suíte e está subindo, Roberta Maria inebriada com seus desejos proibidos a flor da pele, o espera com a porta entre aberta. Ele chega a abraça com a pegada de quem sabe o que está fazendo e diz junto ao ouvido dela com carinho “minha boca convida o teu desejo com dentes de marfim, aroma e água, bela e pura, nua e crua para o amor perfeito”. Sem uma palavra Roberta Maria não resistiu aos encantos sedutores dele que fizeram o seu coração bater lascivamente enamorado e com um beijo abrasado ela se entregou com movimentos ardentes, ofegantes, alucinantes, às vezes leves, suaves e tentantes, às vezes violentos como os movimentos das grandes tempestades. Em uma viagem selvagem de instintos primitivos, em idas e vindas com temperaturas altas, altíssimas ela descobriu o prazer pleno, onde sedutores suores feriram sem maldade a madrugada com burburinhos de carinhos.

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Quando Roberta Maria acordou ao nascer do sol, o homem já não estava mais lá, apenas o dinheiro ao seu lado na cama com um recado escrito em uma pequena folha de papel, que ela pediu para o motorista do taxi ler enquanto rumava para a sua casa. “Eu quero sentir de novo a vida beijar o meu rosto, o calor acariciar o meu corpo, o prazer tecer a minha pele e nela o seu corpo estremecer ardente neste vai e vem que me deixou refém de você”. Às oito horas em ponto Roberta Maria encontra Luiz Pedro na calçada, o mesmo beijo parcimonioso de sempre, as mesmas palavras de sempre, depois calados rumam juntos, abraçadinhos para o trabalho. No meio do caminho apenas uma pergunta diferente dele para ela “você gostou da nossa noite, quem sabe a semana que vem poderemos realizar outra fantasia nossa?”. Nota Autor: O conto "DESEJOS PROIBIDOS" é uma adaptação livre inspirada no filme curta-metragem "Messalina", de Cristiane Oliveira.

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Sandoval Sandoval Sandoval Sandoval ---- O Escravo Sexual O Escravo Sexual O Escravo Sexual O Escravo Sexual

HAVIA uma luta incessante entre Sandoval e o seu destino, uma espécie de inconformismo amoroso sentimental. Jamais o destino lhe retribuiu com liberdade, sem cessar o escravizava. Por essa luta todos os seus sentimentos acabavam na dor que lhe corroia o peito. Mais cedo ou mais tarde todos os apaixonados passam por uma fase onde a trilha sonora é a mais chorosa. “Porque me arrasto aos seus pés? Porque me dou tanto assim? E porque não peço em troca? Nada de volta pra mim?” Sandoval pensativo desliga o rádio interrompendo a musica do “Rei” que doía em seu peito, ele se via nela, sempre se arrastou

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aos pés de sua amada e dominadora esposa Sandra, que fazia dele o que bem queria, colocava-o sempre no seu devido lugar de dia para noite, de noite para gato, de gato para sapato e de sapato para escravo sexual, servil e dócil. Ele bem conhecia os mistérios da sua paixão, sabia que sua paixão era fogo que aquecia e queimava-lhe o sonho, a realidade, o erotismo, o místico, as suas mais intimas fantasias. Sandoval perdia completamente o controle nesta viagem de instinto selvagem, como a tempestade bruta na montanha sua paixão era algo inquietante que lhe retirava a razão. Ele estava completamente domesticado por Sandra, não tinha nenhum direito a não ser consumir a sua esposa repleta de cheiros e sabores elementares, penetrantes e extremamente perturbadores que o deixavam desorientado aos seus pés. Contudo Sandoval sabia que Sandra, um ser de amor, paixão e fogo, afeita a dominação extrema, não nascera para ser mulher de um só homem, ela tinha amantes ele estava cansado de saber disso, mas a esposa na sua vida era

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um hábito fatal, um vício no cio, uma crônica doença. Enfim Sandra manifestou suas forças de vida e de morte sobre ele, primeiro Sandoval pensou em matá-la, ele não agüentava mais as freqüentes traições e humilhações, mas não se mata quem ama, seria renegar o seu amor por ela. Depois Sandoval pensou em suicidar-se já que abandoná-la estava terminantemente fora de questão, ele não suportaria a distância física, porém isso já seria demais, um suicídio facilitaria ainda mais a vida lasciva dela que receberia de bom grado o seu polpudo salário de alto funcionário público federal. Assim Sandoval decompunha toda a volúpia de sua ardente paixão, remontando suas razões, às suas idéias mais intimas, os seus instintos mais primitivos, assim fez voltar todo o sentimento sentido e achou uma saída honrosa que lhe aplacasse em parte o sofrimento e a agonia dentro do seu peito. Resolveu ter uma amante, assim além de trair a sua esposa ele seria o ser dominante na relação, um verdadeiro grito de liberdade, mesmo que momentâneo e passageiro.

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Decidido, com a posição financeira dele não foi difícil arranjar uma jovem mulher que se dispusesse a ir com ele realizar uma entrevista íntima em um luxuoso motel da cidade, enfim uma bela amante depois de 10 anos de casado. Parecia tudo certo, tudo resolvido, porém na hora “H” Sandoval fracassou nas suas três tentativas de possuir sexualmente a simpática moça, que educadamente o dispensou para sempre. Fato irrelevante para ele encarou como sendo coisa de principiante, apenas um acidente de percurso, não abalando a sua convicção de ter uma amante. Sandoval arranjou uma nova jovem e bela mulher, desta vez foi mais precavido, antes de ir para o motel tomou um Viagra de 100mg e na hora “H” nada, só então ele percebeu que não tinha desejo de possuir mulher alguma, só queria a Sandra. Compreensiva a jovem e bela mulher entendeu a situação, ficaram bons amigos com o passar do tempo. Sandoval fez mais uma tentativa com uma profissional do sexo e nada, conformado ele pagou a profissional, passou em uma loja

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de CDs e comprou um do Roberto Carlos, depois o escutou sozinho dentro do carro “Porque me arrasto aos seus pés? Porque me dou tanto assim? E porque não peço em troca? Nada de volta pra mim?...”. Sandoval então em um minuto sublime, como um raio prateado, a libertação penetrou até as raízes mais profundas do seu coração, libertou a sua alma, desarmou o seu espírito, apaziguou a sua consciência, finalmente ele entendeu que não tinha desejos por outras mulheres, amava perdidamente a sua esposa Sandra e a queria do jeito que fosse. Sandoval atingiu a iluminação, a insurreição, sabia que em matéria de amor, paixão e desejo sexual saia do mapa das ilusões perdidas, das lágrimas que serpentearam o seu rosto e seguiu um rumo só seu não sofria mais. Não se importava mais em ser traído sistematicamente, não se importava mais em ser o dócil e servil escravo sexual de Sandra, fazendo tudo o que ela pedia de bom grado, este era o preço a ser pago por ele para obter a sua plena felicidade na vida, e assim foi feito.

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O O O O eeeestupradorstupradorstupradorstuprador

A MAIS cara de todas as loucuras é acreditar apaixonadamente naquilo que claramente não é a pura verdade, assim Valéria acreditava piamente na felicidade plena do seu casamento de sete anos com Augusto, até aquela fatídica tarde, daquele fatídico sábado chuvoso de verão, abalado pela intensa frente fria. Quem abriu os olhos de Valéria para a sua infelicidade foi sol, as nuvens, o frio inesperado, à tarde que não arde ao sol, assim

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como a sua pele não ardia mais pela pele do Augusto. O sol entre as nuvens não era radiante, era um sol frio tal e qual os escassos carinhos e a atenção que ela recebia do marido, era um sol amolecido feito o pênis sempre cansado do Augusto, esta última conclusão aflorou a sua suspeita dele ter uma amante. Sábado único dia da semana em que se livravam do filho pequeno, levando-o para dormir na casa de uma das avós. O casal desfrutava os sábados à noite, eles sempre saiam, jantavam fora em alguma pizzaria, dançavam um pouco no pagode, depois faziam uma insatisfatória entrevista intima nos lençóis da vida, de algum motel da cidade. Era sempre assim, a revelação estava feita por um fim de tarde escuro de verão, abalado por uma inesperada frente fria. Valéria tinha frente aos seus olhos à claridade da mais pura verdade, cristalina como a água da chuva que começava a lhe a molhar as roupas, o rosto, a alma. Resignada, molhada, de alma lavada, era o início do fim, sem ter para onde ir Valéria

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entrou no seu carro e foi para casa, pelo caminho mais longo. Dirigindo em baixíssima velocidade como se não quisesse chegar, então ela resolveu estacionar o seu carro em frente da charmosa loja de conveniência em um belo posto de gasolina recém inaugurado. Valéria sentia-se mal, sentia-se injustiçada pela vida, injuriada com Augusto, veio em seu peito um sentimento de vingança contra tudo e contra todos. Quando ela entrou na loja de conveniência com a roupa respingada pela chuva, que lhe fez arrepiar os bicos dos seios por baixo da camisa de seda branca, foi imediatamente notada por Itamar com o seu olhar esfolador sem cerimônia lambeu o corpo de Valéria, de cima em baixo. Ela não se fez de rogada e olhou fixamente nos olhos de Itamar, que sem pestanejar a convidou para sentar-se à mesa e acompanhá-lo em um saboroso chocolate quente ao rum a moda da casa, Valéria aceitou o elegante convite dizendo: “Vejo pela sua aliança que é um homem noivo eu sou casada, assim não vejo mal nenhum em tomarmos uma bebida quente juntos”.

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Na mesa trocaram palavras, olhares e endereços, no carro trocaram abraços, beijos e gostos, no motel trocaram carícias, desejos e fantasias, durante o ato de amor proibido, Valéria pede para Itamar bater nela, com mais e mais força. Gemidinhos transformam-se em gritos de prazer, com voz lânguida ela pede mais e mais, pede para ele bater em todo o seu corpo, Itamar extasiado de prazer descontrola enquanto goza, o rosto dela se deforma, os dois se abraçam extenuados. Depois de alguns minutos e derradeiros beijos, Itamar paga o motel e vai feliz da vida para sua casa, onde morava sozinho. Já Valéria vai diretamente para a delegacia mulher, faz exame de corpo delito, sêmen e retirado de sua vagina para exames, Itamar é preso em flagrante na sua residência, poucas horas depois dela registrar uma queixa de estupro contra ele. Itamar desesperado, depois de reconhecido por Valéria, contou a sua versão dos fatos para a delegada, diante das provas irrefutáveis contra ele, ela não acreditou em uma só palavra dele, Itamar acabou sendo

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jogado em uma cela que possuía capacidade para vinte presos, mas tinha um efetivo real de oitenta. Ele foi imediatamente submetido às regras do cárcere, onde vige a lei do mais forte, a lei da selva, onde o crime de estupro não é aceito pelos demais detentos. Como primeira medida interna Itamar apanhou muito, foi espancado incessantemente pelos companheiros de cela, após algumas horas de “animadíssima diversão” e com algumas costelas trincadas passou-se a segunda fase. Ele foi violentado sexualmente das maneiras mais perversas que nós humanos podemos imaginar, depois foi transformado em “mulherzinha”, sendo seviciado por diversos agressores de uma só vez. Que diziam a ele “Ah faz assim, porque as puta da zona também faz...” ficou apenas de calcinha e sutiã improvisados enquanto era depilado, maquiado e tatuado no rosto com uma pinta, identificando-o como um homossexual passivo, algo animalesco, indelével, indescritível...

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Sempre muito maquiado, Itamar assumiu todas as tarefas femininas da cela, inclusive as sexuais, até o seu advogado de defesa conseguir o relaxamento de sua prisão, cinco dias depois, já que na delegacia não havia cela especial denominada “seguro” e nem vaga em outro presídio para ele ser transferido com urgência. Valéria e Augusto viveram juntos por mais um mês, divorciaram-se a pedido dela, ela não retirou a queixa de estupro contra Itamar e se nega a falar com o advogado de defesa dele. Sem noiva e inconformado com a situação Itamar aguarda em liberdade, sem esperanças de ser inocentado, o seu julgamento por estupro.

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O triângulo amorosoO triângulo amorosoO triângulo amorosoO triângulo amoroso AVENTURANDO a vida Carmen se tornou uma mulher independente, livre, por isso machucava os homens, por muitas vezes eles ficaram desorientados aos seus pés. Ela mesma se considerara uma cigana, uma mulher de malandro, mas não gostava de apanhar e sim de dominar, gostava de colocar o homem no seu devido lugar, de dia para a noite, de noite para gato, de gato para sapato. Sempre provocativa expunha a sua exuberante sensualidade, charme e beleza física nos palcos da vida das mais requintadas

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casas noturnas da capital, onde interpretava como uma Diva os mais variados sucessos da musica romântica francesa. Neste clima de boemia Carmen teve o seu coração dividido por dois homens totalmente apaixonados por ela, completamente diferentes entre si. Peixoto o inocente noivo, delegado da policia civil, especializado em desvendar homicídios e Ademar o “caliente” amante, requintado malandro carioca, atolado até o pescoço com o jogo do bicho. Os três formavam um típico triangulo amoroso, onde uma delas é comprometida. E só duas sabem da existência do tal triângulo. Carmem a princípio resistiu às investidas amorosas de Ademar e preferiu noivar com Peixoto, um homem determinado, austero do tipo machão, fato que desagradou profundamente Ademar. Contudo ele não se fez de rogado e continuou a insinuar-se acintosamente para a amada, com palavras cada vez mais doces e sorrisos fáceis, dividiu o coração de Carmem, arrebatada nos seus instintos mais primitivos, ela não resistiu aos encantos de Ademar e decidiu ficar com os

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dois. Ela não tinha mais o poder da escolha, sentia-se realizada no amor com os carinhos certinhos de Peixoto e na cama com as carícias sábias do amante. O triangulo amoroso corria a boca pequena no meio da boemia, todos sabiam ninguém comentava abertamente. Carmem controlava a situação dominando os dois homens, perdidamente apaixonados aos seus pés, seu coração cada vez mais dividido, porém na boemia, mais cedo ou mais tarde os segredos da noite, acabam ferindo sem maldade a madrugada apiedada. Uma carta anônima acompanhada por três fotos comprometedoras desvelou a verdade dos fatos para Peixoto, sua ira quase irracional. Ele percebeu que não se tratava de uma trepadinha de Carmen fora do noivado, existia um relacionamento à parte, com vários encontros amorosos. Onde se devia falar de tudo, principalmente em paixão, em amor, em carinho, onde havia lágrimas e sorrisos, e onde se faziam planos com o amante dormindo abraçadinhos de forma despudorada. O mais dolorido para Peixoto era saber que depois

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Carmem voltava para os seus braços como se nada tivesse acontecido, dócil e amável, talvez para amenizar a sua culpa, Peixoto entendeu que fora traído na cama e nos sentimentos. No final da carta anônima o endereço de um restaurante italiano no centro da cidade, onde Ademar almoçava sozinho todas as quartas-feiras, em uma discreta mesa afastada dos demais clientes. Peixoto refletiu e decidiu não falar nada com Carmem por enquanto, a tratou como nada tivesse acontecido, com o carinho de sempre. Naquela noite ele não conseguiu dormir, fumou dois maços de cigarros, preferiu aguardar o dia fatídico e encontrar pessoalmente o amante de sua noiva, para uma conversa definitiva. Ademar entrou no restaurante pontualmente ao meio dia, hora em que a sombra é mais curta e seu pensamento mais longo em Carmem, fantasiando um amor ideal, vivendo uma eterna paixão. Sentia-se solitário sabia que não podia escolher os momentos para estar com ela, tinha que ser sempre servil aos horários disponíveis da amada, tampando buracos de uma relação desgastada ou pelo

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menos insatisfatória entre ela e Peixoto. Encontros furtivos e apaixonados, sexo selvagem, discussões torrenciais e excitantes, presentes, elogios mútuos intermináveis e medo, muito medo de assumir o papel de marido em uma relação homem-mulher, embora este fosse o sonho mais íntimo, deixar de ser o outro e assumir o papel principal. Ademar percebeu o noivo traído entrando pela porta do restaurante e caminhar com passos firmes, direto e reto em sua direção, temeu pelo pior, então desabotoou o seu paletó de linho branco deixando a mostra o cabo madrepérola do revolver calibre 38, que portava na cintura da calça. Peixoto não se intimidou e chegando à mesa, puxou a cadeira sem pedir licença e sentou bem na frente do amante de sua noiva e disse com voz calma, porém firme “não vamos duelar a moda antiga, isso da cadeia nos dias de hoje, portanto feche o paletó, que vai acabar chamando atenção dos clientes com esse revolver a mostra na cintura”. Ademar concordou lentamente com a cabeça, abotoou o paletó e olhando fixamente

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nos olhos de Peixoto disse-lhe “continue”, “vamos disputar a Carmem agora, neste momento, em uma única mão de poker aberto, o perdedor sai para sempre da cidade e da vida de Carmem”. Novamente Ademar concordou com a cabeça em seguida no melhor estilo mafioso italiano, pegou a faça que estava sobre a mesa e fez um pequeno corte no polegar esquerdo. Peixoto fez o mesmo, depois selaram um pacto de sangue e honra, ficando claro para os dois que quem quebrasse o pacto, morreria sem piedade. Peixoto retirou do bolso do paletó um maço de baralhos fechado e colocou sobre a mesa, Ademar desprezou as cartas afastando-as do centro da mesa, chamou o gerente do restaurante e pediu urgência na compra de um novo maço de baralhos na banca de revista em frente, Peixoto concordou com a cabeça. O ódio mútuo impregnava o ar, os dois olhando fixamente um para o outro, nos olhos, esperaram em mais completo silencio o retorno dele. Quando ele retornou, Ademar falou para o gerente “o jogo é poker aberto, em uma única mão, embaralhe bem e de as

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cartas”, sem pestanejar, percebendo o clima quente entre o delegado e o bicheiro, o gerente embaralhou e deu as cartas. Primeiro para Peixoto que recebeu satisfeito com um sorriso no canto da boca uma trinca de oitos, um dez e um rei, em seguida Ademar recebeu um par de valetes e um de damas, mais um inútil sete, causando-lhe um estranho arrepio na espinha, apreensivo sabia que seu jogo de partida era inferior, antes das trocas das cartas. Logo compreendeu que se Peixoto na troca das duas cartas, dez e rei, imprestáveis para o seu jogo, resultasse em uma carta oito tudo estaria perdido, sua única chance era obter um valete ou uma dama para completar um full-house, jogo superior a trinca, mais inferior a quadra de oitos. Nas trocas das cartas, novamente Peixoto recebeu primeiro as cartas trocadas, um sete e um ás, não desanimou, esperançoso sabia que seu jogo ainda era superior, em seguida Ademar pediu para receber sua única carta trocada fechada, Peixoto concordou com a cabeça e assim foi feito. Ele com as mãos trêmulas pegou a carta sobre a mesa com

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delicadeza, como fosse à coisa mais preciosa do mundo, lentamente foi erguendo-a até o seu campo de visão, a altura dos olhos. Nesta ocasião, as duas mãos tiveram um gesto particularmente terrível, como que saltassem para agarrar algo que não existia mais e caíram agonizantes sobre a mesa, obedecendo unicamente à lei da gravidade, a carta era um nove, tudo estava perdido, Peixoto manteve a serenidade e a discrição dos bons vencedores. Ademar num gesto seco levantou-se como alguém se sentindo mal e levantasse para não sufocar, por trás dele a cadeira rolou barulhenta pelo chão, em seguida com passos desesperados ele se afastou da mesa, sem dizer nada, sem se importar com nada mais em direção ao banheiro. Peixoto policial experiente percebeu que aquele homem estava prestes a suicidar-se e rapidamente foi atrás dele. Quando o delegado entrou no banheiro encontrou o bicheiro com o revolver calibre 38 apontado para a cabeça, Peixoto gritou desesperado “não faça isso, não quero levar a sua morte na minha consciência, fique com a

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Carmem, você a ama mais que eu”, Ademar mantendo o revolver apontado para a sua própria cabeça, desolado respondeu com a voz embargada e trêmula “isso não é justo para com o nosso pacto de sangue e honra, eu me caso com a Carmem e você fica como amante dela, concorda?”, “concordo”, respondeu Peixoto resignado, em seguida os dois calados se dirigiram rumo ao apartamento de Carmem. Carmem os recebeu com descrição e cortesia, mas estranhamente não demonstrou surpresa alguma ao vê-los juntos, em seguida escutou atentamente a proposta dos dois e com um largo sorriso de felicidade no rosto deu sua resposta final “aceito a proposta com muito amor, paixão e carinho”. Depois complementou “eu enviei a carta anônima para você, Peixoto, achei que já estava na hora de vocês dois se acertarem, e nós três sermos felizes até quando a vida assim permitir”. Os comentários correram à boca miúda pelos boêmios da noite carioca, "será que onde cabe um, cabem dois?". O casamento se deu um mês depois com o triângulo amoroso equilibrado e pacificado.

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