Disc i Pula Do Radical

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ÍNDICE O Chamado Inicial 2 1. O Discipulado Ideal........................................................ ................ 3 2. As Condições do Discipulado.................................................. ........ 5 3. Evidências do Discipulado.................................................. ............ 7 4. Os Testes do Discipulado.................................................. .............. 9 5. O Mestre do Discípulo.................................................... ................ 10 6. O Principal Sócio do Discípulo.................................................... .... 11 7. A Servidão do Discípulo.................................................... 13 Igreja Cristã Evangélica Reencontro – Discipulado Radical – Pr. Antonio Francisco da Silva – 2004 1

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CÉLULAS

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ÍNDICE

O Chamado Inicial 2

1. O Discipulado

Ideal........................................................................

3

2. As Condições do

Discipulado..........................................................

5

3. Evidências do

Discipulado..............................................................

7

4. Os Testes do

Discipulado................................................................

9

5. O Mestre do

Discípulo....................................................................

10

6. O Principal Sócio do

Discípulo........................................................

11

7. A Servidão do

Discípulo..................................................................

13

8. A Ambição do

Discípulo..................................................................

15

9. O Amor do

Discípulo.......................................................................

17

10. A Maturidade do

Discípulo..............................................................

19

11. As Olimpíadas do

Discípulo............................................................

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12. A Compaixão do 27

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Discípulo..............................................................

13. A Vida de Oração do

Discípulo........................................................

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14. Os Direitos do

Discípulo.................................................................

31

15. O Exemplo do

Discípulo..................................................................

34

16. A Solidão do

Discípulo....................................................................

37

17. A Segunda Chance do

Discípulo......................................................

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18. A Comissão Renovada do

Discípulo................................................

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19. O Poder do

Discípulo......................................................................

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20. A Esperança do

Discípulo...............................................................

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1ª edição (09/2001) - 2ª edição (05/2003) – 3ª edição (08/ 2004)

O CHAMADO INICIAL

“Andando à beira do mar da Galiléia, Jesus viu Simão e seu irmão André lançando redes ao mar, pois eram pescadores. E disse Jesus: ‘Sigam-me, e eu os farei pescadores de homens’. No mesmo instante eles deixaram as suas redes e o seguiram”(Marcos 1.16-18).

palavra discípulo aparece 269 vezes no Novo Testamento, enquanto a palavra cristão aparece apenas três vezes, e crente duas vezes. Isto certamente significa que a tarefa da Igreja não é tanto fazer “cristãos” ou

“crentes”, mas “discípulos”. O discípulo, naturalmente, deve ser um crente; mas, de acordo com as condições que Cristo apresenta para o discipulado, nem todos os crentes são discípulos, observados os padrões do Novo Testamento.

AA palavra discípulo significa “aquele que aprende”, mas Jesus infundiu nesta palavra uma riqueza de profundo significado. Usada por ele e por Paulo, significa “um aprendiz ou um aluno que aceita os ensinamentos de Cristo não apenas em relação à fé, mas também quanto à maneira de viver”. Isto envolve aceitar a visão e a prática do seu professor. Em outras palavras, significa aprender com o propósito de obedecer ao que se está aprendendo. Isto envolve uma escolha ponderada, uma negação definida e uma obediência determinada.

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Hoje alguém pode ser considerado cristão mesmo que haja poucos sinais, ou nenhum sinal de progresso no discipulado. Não era assim na Igreja primitiva. Naquele tempo, o discipulado envolvia aquele tipo de dedicação sobre a qual Pedro falou, quando disse a Jesus: “Nós deixamos tudo para seguir-te” (Mc. 10.28).

A tendência dos nossos tempos é de satisfação instantânea e dedicação em curto prazo, oração de respostas rápidas e resultados também rápidos, com um esforço mínimo, sem comprometer o conforto e o bem-estar. Mas não existe discipulado fácil e instantâneo. Alguém pode começar a caminhada do discipulado em um dado momento, mas o primeiro passo pode prolongar-se pelo resto da vida. Não existe discipulado rápido, em curto prazo (Lc. 14.25-33).

Para aqueles que têm sido orientados na doutrina da “crença fácil”, as exigências radicais de Cristo podem parecer excessivas e absurdas. O resultado é que depois de percorrerem uma pequena distância, e o caminho se tornar mais íngreme e áspero, eles se mostram parecidos com os discípulos mencionados em João 6.66 que diz: “Daquela hora em diante, muitos dos seus discípulos voltaram atrás e deixaram de segui-lo”. Ele está procurando homens e mulheres de valor, que não voltem atrás.

Neste estudo que estou chamando de Discipulado Radical, vamos tratar do modelo do discipulado conforme o Novo Testamento - os princípios básicos que devem ser incorporados ao estilo de vida do discípulo. O conteúdo a seguir foi adaptado do livro “Discipulado Espiritual”, da autoria de J. Oswald Sanders - Editora JUERP.

Cuiabá, setembro de 2001

Pr. Antonio Francisco da Silvahttp://achologia.blogspot.com

1O DISCÍPULO IDEAL

“Bem-aventurados serão vocês (...)” (Mateus 5.11).

A expressão “bem-aventurado” pode ser traduzida por “Oh, felicidade!” ou “ser parabenizado”. Ela é aplicada a oito condições de vida, divididos em dois grupos.

QUATRO QUALIDADES PESSOAIS PASSIVAS

1. FALÊNCIA ESPIRITUAL

“Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o Reino dos céus” (Mt. 5.3) ou “felizes aqueles que se sentem inadequados”.

A pessoa a ser parabenizada é aquela que tem plena consciência de sua falência espiritual, que depende de Deus e conta com seus recursos ilimitados. Como disse Lutero, “Nós somos todos mendigos, vivendo da generosidade de Deus”. Mas tal pobreza leva à riqueza espiritual.

2. CONTRIÇÃO ESPIRITUAL

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“Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados” (Mt. 5.4) ou “quão felizes são os infelizes!”. Esta qualidade é resultante da pobreza de espírito da primeira bem-aventurança. A palavra chorar traz consigo a idéia de tristeza das mais profundas. É a lamentação pelo pecado; pela lentidão de nosso crescimento na semelhança de Cristo - o sofrimento pela nossa falência espiritual. O pranto e a alegria não são incompatíveis, pois Jesus disse: “ (...) Bem-aventurados vocês, que agora choram, pois haverão de rir” (Lc. 6.21).

3. HUMILDADE ESPIRITUAL “Bem-aventurados os humildes, pois eles receberão a terra por herança” (Mt. 5.5). É o manso, e não o agressivo, que herda a terra. O manso tem uma herança. Aquele que é deste mundo não tem futuro”.

4. ASPIRAÇÃO ESPIRITUAL

“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão satisfeitos” (Mt. 5.6) ou “felizes os insatisfeitos”. Esta bênção se refere a um desejo ardente, verdadeira paixão pela justiça, um bom relacionamento com Deus. A pessoa verdadeiramente abençoada é aquela que tem fome e sede de Deus” (Sl. 42.1).

QUATRO QUALIDADES SOCIAIS ATIVAS

1. COMPASSIVIDADE DE ESPÍRITO

“Bem-aventurados os misericordiosos, pois obterão misericórdia” (Mt. 5.7) ou “felizes os misericordiosos!”. A misericórdia é sempre oferecida aos que não a merecem. Se fosse merecida, não seria mais misericórdia, mas sim justiça, pura e simplesmente. Como na Física, em que uma ação provoca uma reação igual e de sentido contrário, aqueles que são misericordiosos obterão misericórdia.

2. PUROS DE CORAÇÃO

“Bem-aventurados os puros de coração, pois verão a Deus” (Mt. 5.8) ou “felizes os sinceros!” Um coração limpo produz uma visão limpa. A ênfase aqui está na pureza interior, em contraste com a respeitabilidade aparente. A palavra “puro” aqui significa não adulterado. “Eles verão a Deus”.

3. ESPÍRITO CONCILIADOR

“Bem-aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus” (Mt. 5.9) ou “felizes aqueles que criam harmonia”. Pacificadores são os que promovem a paz. Não é nem aquele que mantém a paz existente, mas aqueles que se envolvem numa situação em que a paz foi quebrada e a restauram. A bem-aventurança não fala de um pacifista, mas de um reconciliador. É bom amar a paz. Promover a paz é melhor.

4. RESPONDENDO COM LEALDADE

“Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, pois deles é o Reino dos céus. Bem-aventurados serão vocês quando, por minha causa, os insultarem, os perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês. Alegrem-se e regozijem-se, porque grande é a sua recompensa nos céus, pois da mesma forma perseguiram os profetas que viveram antes de vocês” (Mt. 5.10-12) ou “felizes os que sofrem por Cristo”. O que foi feito ao Salvador será feito ao discípulo. A bênção está nos resultados dessa perseguição. O sofrimento é “a marca registrada” do cristianismo. “(...) mesmo que venham a sofrer porque praticam a justiça, vocês serão felizes (...)” (1 Pe. 3.14). “Grande é a sua recompensa nos céus”.

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EXERCÍCIO:

a) Compartilhe sua própria experiência de ser “pobre em espírito”.

b) Como você tem experimentado o “choro” pelos seus pecados e de outras pessoas?

c) Como você avalia a “mansidão” em sua vida?

d) Como “a fome de Deus” tem se manifestado em sua vida?

e) Como você tem demonstrado “misericórdia” nesse último mês?

f) O que você tem feito para manter um “coração puro”?

g) Nos últimos três meses você tem sido mais um “conciliador” ou tem provocado mais atrito e divisões entre as pessoas? Dê exemplos.

h) Que perseguição você tem recebido por causa do Reino de Deus?

2AS CONDIÇÕES DO

DISCIPULADO

“E aquele que não carrega sua cruz e não me segue não pode ser meu discípulo” (Lucas 14.27).

A obediência é a evidência de que nosso arrependimento e nossa fé são reais. A nossa obediência não leva à salvação, mas é evidência dela.

Há três condições indispensáveis para o verdadeiro discipulado:

UM AMOR SEM RIVAL

A primeira condição para o discipulado é um incomparável amor a Cristo. No reino das afeições do discípulo ele não permite nenhum rival. O discípulo é um seguidor de Cristo, cujo amor por ele transcende a todo e qualquer amor terreno.

“Se alguém vem a mim e ama o seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos e irmãs, e até sua própria vida mais do que a mim, não pode ser meu discípulo” (Lc. 14.26). “Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de mim” (Mt. 10.37).

Jesus falou de uma outra condição para o discipulado: “ (...) e até sua própria vida”. O amor do discípulo por Cristo deve ser maior do que o amor a si mesmo. Se o

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discípulo não estiver disposto a concordar com esta condição, as palavras são categóricas: “(...) não pode ser meu discípulo” (Lc. 14.26).

LEVAR A CRUZ CONTINUAMENTE

“E aquele que não carrega sua cruz e não me segue não pode ser meu discípulo” (Lc. 14.27). “E quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim” (Mt. 10.38). O que a cruz significava para Jesus? Foi algo que ele assumiu voluntariamente e não algo imposto sobre ele; a cruz envolveu sacrifício e sofrimento. A cruz envolveu Jesus em renúncias pelas quais ele pagou muito caro.

A cruz é um caminho escolhido deliberadamente. É um caminho que, segundo o curso deste mundo, é alvo de desonra e crítica. Todo crente pode evitá-la, simplesmente se conformando com o mundo e seus caminhos. Carregar a cruz nem sempre é uma experiência desprovida de alegrias, pois o amor a Jesus nos dá condições de levá-la com prazer:

“Por amor de ti enfrentamos a morte todos os dias; somos considerados como ovelhas destinadas ao matadouro” (Rm. 8.36).

Se o discípulo reluta em submeter-se a esta segunda condição, Jesus diz: “(...) não pode ser meu discípulo” (Lc. 14.27).

UMA ENTREGA SEM RESERVAS

“Da mesma forma, qualquer de vocês que não renunciar a tudo o que possui não pode ser meu discípulo” (Lc. 14.33).A primeira condição tinha a ver com as afeições do coração; a segunda, com a conduta no viver, e a terceira com os bens pessoais.

Das três, a terceira condição é provavelmente a mais indesejável de todas nestes tempos de cobiça e materialismo. Será que temos de tomar literalmente o que Jesus disse? Tudo mesmo? O que estava o Senhor realmente pedindo? Acho que ele não estava dizendo que devemos vender tudo o que temos e dar para a igreja, mas estava reivindicando o direito de dispor dos nossos bens.

Jesus testou um homem rico que lhe perguntou sobre a vida eterna. O homem preferiu ficar com seus bens. “Jesus respondeu: ‘Se você quer ser perfeito, vá, venda os seus bens e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro nos céus. Depois, venha e siga-me’. Ouvindo isso, o jovem afastou-se triste, porque tinha muitas riquezas” (Mt. 19.21-22).

Tudo o que Jesus pede ao discípulo ele fez

1. Ele amou ao máximo a seu Pai.2. Ele carregou literalmente sua cruz.3. Ele renunciou a tudo o que tinha direito.

EXERCÍCIO:

a) Não existe discipulado sem obediência. Como você tem mostrado obediência?

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b) Como você justifica a superioridade de seu amor por Jesus acima de sua família e de sua própria vida?

c) Como você tem carregado sua cruz?

d) A primeira condição para o discipulado, amor sem rival fala das ______________________. A segunda, levar a cruz tem a ver com a ______________________. A terceira condição refere-se aos _____________.

e) O que Jesus pede que você faça?

.

.

.

3EVIDÊNCIAS DO DISCIPULADO

“Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros” (João 13.35).

Certo jovem comunista fez a seguinte declaração: “Nós comunistas, não aprendemos para mostrar nosso alto QI. Nós aprendemos para pôr em prática o que aprendemos”. Esta atitude é a essência do verdadeiro discípulo. O Partido Comunista exige dos seus membros entrega absoluta. Um de seus líderes afirmou: “No comunismo não temos espectadores”. Lênin foi mais adiante, e disse que não aceitaria como membro do partido alguém com qualquer espécie de reserva. Somente alguém que fosse ativo, disciplinado, membro de uma de suas organizações, estaria apto para pertencer ao partido.

Jesus expôs três princípios fundamentais para orientar seus discípulos:

O PRINCÍPIO DA PERSISTÊNCIA

“Disse Jesus aos judeus que haviam crido nele: “Se vocês permanecerem firmes na minha palavra, verdadeiramente serão meus discípulos. E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará” (Jo.8.31-32).

Isto nos dá uma visão do discipulado por dentro. Quando isto não existe, o discipulado não tem significado nenhum, não é real.

Permanecer na sua Palavra é fazer dela a nossa regra para a prática da vida diária. Nosso discipulado começa com a aceitação da Palavra, e a permanência na Palavra evidencia a realidade desse mesmo discipulado.

O PRINCÍPIO DO AMOR

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“Um novo mandamento lhes dou: Amem-se uns aos outros. Como eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros. Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros” (Jo. 13.34-35).

Estes versículos dão a visão externa do discipulado e têm a ver com a nossa relação com o próximo.

A suprema evidência do discipulado, o emblema autêntico, é um amor genuíno pelo próximo. Quando as pessoas vêem isso exemplificado no testemunho dos cristãos, através do seu viver, elas acreditarão que são verdadeiros discípulos de Cristo. Podemos pregar, orar, dar e até fazer sacrifícios, mas sem este amor não se ganha nada. (1 Co. 13.1-3).

O PRINCÍPIO DO FRUTO

“Se vocês permanecerem em mim, e as minhas palavras permanecerem em vocês, pedirão o que quiserem, e lhes será concedido. Meu Pai é glorificado pelo fato de vocês darem muito fruto; e assim serão meus discípulos” (Jo. 15.7-8).

Esta passagem nos dá uma visão ascendente do discipulado. Um discípulo de Cristo que não dá fruto é uma contradição. Se nossa vida não produz “fruto”, não podemos dizer que somos verdadeiros discípulos.Os frutos, que são uma marca autêntica do discipulado, não são uma coisa automática, mas condicional. Jesus deixou isto bem claro quando disse: “Digo-lhes verdadeiramente que, se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, continuará ele só. Mas se morrer, dará muito fruto” (Jo. 12.24). Jesus une o frutificar com a cruz. A palavra-chave na afirmação de João 12 é “se”. A possibilidade gloriosa de “muito fruto” está em nossas mãos.

“Basta ao discípulo ser como o seu mestre, e ao servo, como o seu senhor (...)” (Mt. 10.25).

É quando aplicamos a cruz à nossa vida e morremos para o egoísmo que o Espírito Santo pode fazer nossas vidas frutificarem.

EXERCÍCIO:

a) Como você tem demonstrado que vive pela “Palavra de Deus” e que nela permanece?

b) Tem alguém na igreja ou fora que você não ama? Por quê?

c) Comente sobre a frutificação espiritual em sua vida. Onde estão os seus frutos?

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4OS TESTES DO DISCIPULADO

“(...) Vou seguir-te, Senhor, mas...” (Lucas 9.61).

O VOLUNTÁRIO IMPULSIVO

“Eu te seguirei por onde quer que fores” (Lc. 9.57).

Jesus percebeu que o entusiasmo daquele homem não incluía as conseqüências em segui-lo. Ele sempre foi transparente, honesto com os possíveis seguidores, porque queria que a lealdade deles fosse inteligente. Ele examinou os motivos daquele homem como examina os nossos: vamos devagar. Você quer mesmo enfrentar sacrifícios? As raposas e os passarinhos têm suas casas, mas você está preparado para não ter uma casa? Você está preparado para aceitar um nível de vida inferior por amor de mim?” (Lc. 9.58).

O SEGUIDOR RELUTANTE “Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar meu pai” (Lc. 9.59).

O que ele realmente queria dizer era “deixa-me resolver meus negócios primeiro. Eu te seguirei quando me for conveniente. Deixa-me cuidar dos interesses da minha família”.

Na sua resposta Jesus quis dizer que se ele colocasse os interesses de Deus em primeiro lugar, os interesses da sua família não ficariam em falta (Lc. 9.60). Se o primeiro teste para o discipulado foi o da pobreza, o segundo é o da urgência.

O VOLUNTÁRIO DE CORAÇÃO DIVIDIDO

“Vou seguir-te, Senhor, mas deixa-me primeiro voltar e despedir-me da minha família” (Lc. 9.61).

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O primeiro candidato respondeu rápido demais; o segundo foi muito vagaroso, e o terceiro foi maleável demais.

A resposta de Cristo revelou a natureza do problema daquele homem: seu coração estava voltado para a sua casa e não para o seu Mestre. Jesus viu que logo ele estaria olhando para trás e então voltaria (Lc. 9.62).

EXERCÍCIO

a) Como você tem sido um discípulo impulsivo?

b) Como você tem sido um discípulo relutante?

c) Como você tem tido um coração dividido?

5O MESTRE DO DISCÍPULO

“Vocês me chamam ‘Mestre’ e ‘Senhor’, e com razão, pois eu o sou” (João 13.13). “(...) Jesus Cristo, Senhor de todos” (Atos 10.36).

A questão da autoridade é um dos assuntos mais palpitantes do nosso tempo. A autoridade é desafiada em todas as áreas - na família, na sociedade, na igreja, na escola e na comunidade.

A pergunta crucial que temos de responder é: “nas mãos de quem repousa a autoridade final?” Para o cristão, há apenas duas opções. A autoridade está nas mãos do Mestre ou em suas próprias mãos. As Escrituras não deixam nenhuma dúvida sobre quem deveria ter essa autoridade - “Jesus Cristo, Senhor de todos”.

SALVAÇÃO E SENHORIO

Separar a obra salvadora de Cristo do seu senhorio é errado. A salvação não consiste meramente em acreditar em certos fatos doutrinários; é crer e abraçar a Pessoa de Jesus Cristo que é o Senhor do Universo e que pagou caro pelos nossos pecados. O discípulo é aquele que aprende de Cristo com o propósito de obedecer àquilo que aprende.

O QUE ESTÁ ENVOLVIDO NO SENHORIO DE CRISTO

1. COMPLETA SUBMISSÃO À SUA AUTORIDADE

“Antes, santifiquem Cristo como Senhor em seu coração (...)” (1 Pe. 3.15).

O verbo está no imperativo, logo aponta para um ato definido da vontade por meio da qual tomamos nosso lugar aos pés de Cristo, em absoluta entrega.

2. RECONHECIMENTO DO SEU SENHORIO

“Jesus Cristo, Senhor de todos” (At. 10.36).

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A palavra Senhor, aqui, dá a idéia de um dono que tem o controle de tudo o que possui. A menos que reconheçamos este fato na prática, o domínio de Cristo sobre nós é meramente nominal. Somos dele pelo fato de ter nos criado e comprado com o seu sangue. Agora somos dele porque nos entregamos a ele.

3. OBEDIÊNCIA SEM QUESTIONAMENTO

“Por que vocês me chamam ‘Senhor, Senhor’ e não fazem o que eu digo?” (Lc. 6.46).

Obedecer de coração, é a evidência clara e verdadeira da realidade do senhorio de Cristo em nossa vida. A desobediência estraga todas as nossas afirmações de lealdade. O que fazemos fala mais alto do que o que dizemos. O teste não é o que falo, mas o que faço.

6O PRINCIPAL SÓCIO DO DISCÍPULO

“A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vocês” (2 Coríntios 13.14).

O empreendimento de se viver a vida cristã como deve ser vivida é elevado demais em seus ideais, e também exigente demais no que de nós se requer, para entrarmos nele sozinhos. Precisamos desesperadamente de um sócio com condições adequadas para que vivamos a vida cristã com sucesso.

Certas afirmações das Escrituras colocam-nos face a face com a nossa pequenez espiritual. Essas declarações bíblicas fazem exigências que são impossíveis de serem atendidas sem uma ajuda especial:

“(...) sejam perfeitos como perfeito é o Pai celestial de vocês” (Mt. 5.48). “dando graças constantemente a Deus Pai por todas as coisas (...)” (Ef. 5.20). “Não andem ansiosos por coisa alguma (...)” (Fp. 4.6). “Orem continuamente” (1 Ts. 5.17). “pois está escrito: Sejam santos, porque eu sou santo” (1 Pe. 1.16).

Que padrão impossível! Como um homem e uma mulher comuns poderiam esperar alcançar tais níveis de desempenho espiritual? Aqui, como em qualquer outro lugar, nosso generoso Deus antecipa nossas necessidades e as atende através das operações do Espírito Santo. Esta provisão está subentendida na conhecida bênção: “...e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vocês” (2 Co. 13.14).

A PERSONALIDADE DO SÓCIO

O Espírito Santo é uma Pessoa divina. Será que o reconhecemos e o honramos no nosso viver diário? Quando Jesus revelou aos seus discípulos que a sua partida para o Pai estava próxima, fez a seguinte declaração: “Se vocês me amam, obedecerão aos meus mandamentos. E eu pedirei ao Pai, e ele lhes dará outro Conselheiro para estar com vocês para sempre, o Espírito da verdade. O mundo não pode recebê-lo, porque não o vê nem o conhece. Mas vocês o conhecem, pois ele vive com vocês e estará em vocês” (Jo. 14.15-17).

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É comum falarmos do conhecimento de Deus Pai e de seu Filho Jesus Cristo. Mas podemos dizer com a mesma precisão que conhecemos o Espírito Santo? Sentimos satisfação com sua ajuda pessoal e com sua força na vida diária, ou ele é uma imagem mística, obscura, da qual não temos um conceito claro?

Já que o Espírito Santo está querendo ser sócio em nossa vida diária, por que não conhecê-lo melhor?

O PROPÓSITO DESSA SOCIEDADE

O Espírito Santo foi enviado para realizar grandes negócios para o Reino de Deus, nada menos do que para participar da redenção de um mundo perdido. Nesse grande empreendimento, ao supervisionar os interesses de Cristo na terra, ele nos procura para sermos sócios.

Jesus estabeleceu o principal ministério do Espírito: “Ele me glorificará (...)” (Jo. 16.14). Assim como o alvo de Cristo era glorificar o seu Pai (Jo. 17.4), o alvo do Espírito Santo é glorificar a Cristo. Se formos verdadeiros sócios do Espírito, então este será o nosso grande objetivo também: glorificar a Cristo.

A POSIÇÃO DOS SÓCIOS

Muitas de nossas falhas acontecem porque usurpamos o papel do Sócio Principal, em vez de cedermos este papel a ele. Será que não temos sido culpados de tentar usá-lo, em vez de permitir que ele nos use? A história de Gideão ilustra esse ponto. Ele tornou-se um instrumento poderoso nas mãos de Deus, porque reconheceu corretamente sua posição diante do Espírito Santo: “Então o Espírito do Senhor apoderou-se de Gideão (...)” (Jz. 6.34).

Se em nosso serviço honramos o Espírito Santo, e consistentemente respeitamos a sua posição de Sócio Principal, não seremos propensos a sofrer da atual doença de “se consumir”. Não estaremos assumindo nenhum trabalho para Deus baseados em nossas próprias forças ou nos lançando em empreendimentos a que ele não tenha dado início. A última palavra em qualquer decisão deve ficar com o Sócio Principal.

PARTICULARIDADES DESSA SOCIEDADE

1. Os negócios desta sociedade deverão ser conduzidos de acordo com o contrato estabelecido. A Palavra de Deus é, naturalmente, o nosso contrato nessa sociedade.

2. O sócio deverá dar todo seu tempo, habilidades e energias para promover o

progresso do negócio desta sociedade.

3. O capital de participação de cada sócio. Minha única contribuição para os recursos da sociedade é minha personalidade redimida, com seus poderes e possibilidades. Porque fui feito “à imagem de Deus”, sou aceito por meu Sócio, apesar da minha miséria.

4. Mas qual é a contribuição do Espírito Santo? Ele foi autorizado a tornar disponíveis a nós “(...) as insondáveis riquezas de Cristo” (Ef. 3.8). “(...) todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento” (Cl. 2.3). Por que será que não nos apropriamos mais do que nos é oferecido para nos equipar para o serviço eficiente?

5. No caso de surgir algum desentendimento ou uma disputa, o assunto deverá ser submetido a um árbitro. “Que a paz de Cristo seja o juiz em seu coração (...)” (Cl. 3.15).

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6. A distribuição dos lucros. Nessa sociedade, os lucros são sempre nossos. “Se somos filhos, então somos herdeiros; herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo (...)” (Rm. 8.17).

OS PRIVILÉGIOS DA SOCIEDADE

1. No estudo bíblico. O Espírito Santo é ao mesmo tempo o inspirador e o intérprete das Escrituras. Ele ilumina a Bíblia enquanto a estudamos.

2. Na vida de oração. Ele nos ajuda nas orações (Rm. 8.26).

3. Em nosso serviço. Ele nos dá poder para o serviço cristão (At. 1.8).

4. Em nosso caráter. Ele quer nos transformar na semelhança de Cristo (2 Co. 3.18).

7A SERVIDÃO DO DISCÍPULO

“(...) eu estou entre vocês como quem serve” (Lucas 22.27). “(...) Nenhum escravo é maior do que o seu senhor (...)” (João 15.20).

No livro do profeta Isaías, a expressão “o servo do Senhor” é usada em três sentidos diferentes:

1) Em referência à nação de Israel (Is. 41.8-9); 2) Em relação aos filhos de Deus (Is. 54.17);3) É usada também numa menção antecipada do Messias, o Cristo (Is. 42.1).

Em 42.1-4, uma passagem messiânica, Isaías mostra como seria o Servo de Iavé e que qualidades ele teria. Em dois textos bíblicos apenas, se declara que Cristo é nosso exemplo: um, em conexão com o serviço; o outro, e isto é muito significativo, em conexão com o sofrimento (Jo. 13.15-16; 1 Pe. 2.21). Não existe ninguém que esteja tão continuamente disponível quanto o próprio Deus. Ele é o Senhor de todos porque é servo de todos.

Existem alguns princípios na vida do Senhor Jesus que devem ser reproduzidos na vida dos seus discípulos, os quais discutimos a seguir.

DEPENDÊNCIA

“Eis o meu servo, a quem sustento (...)” (Is. 42.1). Jesus se identificou tanto conosco em todas as enfermidades da natureza humana (à exceção do pecado), que ele também precisava do sustento divino. Suas próprias palavras assim testificam: “Eu lhes digo verdadeiramente que o Filho não pode fazer nada de si mesmo” (Jo. 5.19); “O meu ensino não é de mim mesmo. Vem daquele que me enviou” (Jo. 7.16); “Estas palavras que vocês estão ouvindo não são minhas; são de meu Pai que me enviou” (Jo. 14.24).

Quando comparamos esses versículos, eles nos indicam que Jesus escolheu ser dependente do seu Pai, com referência a palavras e obras. Somos nós assim tão dependentes como ele? O Espírito Santo será capaz de usar-nos à medida que adotarmos a mesma atitude. O perigo é sermos independente demais.

APROVAÇÃO

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“(...) o meu escolhido, em quem tenho prazer (...)” (Is. 42.1). Embora o Pai tenha ficado quase que completamente desapontado com seu servo Israel, ele teve prazer nas atitudes e realizações do seu Filho. Nós também somos os escolhidos de Deus, e aceitos por meio dele.

HUMILDADE

“Não gritará nem clamará, nem erguerá a voz nas ruas” (Is. 42.2). O ministério do servo de Deus não deveria ser barulhento nem extravagante, mas modesto, procurando não aparecer. Esta é a qualidade mais desejável nestes dias de publicidade tão espalhafatosa, da impetuosa televisão e do aumento assustador do número de decibéis.

EMPATIA

“Não quebrará o caniço rachado, e não apagará o pavio fumegante” (Is. 42.3). Jesus tinha prazer em humilhar-se para servir àqueles que são ignorados pela maioria. Seu cuidado cheio de amor e de sabedoria fazia com que “o caniço rachado novamente produzisse música celestial e atiçava o pavio quase apagado de forma a erguer uma chama viva”. Ele jamais esmagou ou condenou o arrependido. Cuidar daqueles a quem o mundo despreza é um trabalho nobre.

OTIMISMO

“Não mostrará fraqueza nem se deixará ferir, até que estabeleça a justiça na terra (...)” ( Is. 42.4). Um pessimista jamais será um líder que transmita inspiração. Por mais que procuremos, não encontraremos pessimismo na vida ou no ministério de

Jesus. Ele era realista, mas não pessimista. Ele demonstrava uma inabalável confiança no cumprimento dos propósitos do seu Pai e na vinda do Reino.

UNÇÃO

“Eis o meu servo (...). Porei nele o meu Espírito (...)” (Is. 42.1). Por si mesmas, as cinco qualidades precedentes serão

equipamentos certamente insuficientes para o serviço divino. Verdadeiramente, o discípulo precisa de um toque do sobrenatural. Isto foi dado ao Servo Ideal de Deus, quando da unção do Espírito (At. 10.38). O mesmo Espírito e a mesma unção estão à nossa disposição. Não deveríamos tentar fazer o que nosso Divino Exemplo não faria - lançar-se no ministério sem ser ungido pelo Espírito.

EXERCÍCIO:

a) O estudo diz que “não existe ninguém que esteja tão continuamente disponível quanto o próprio Deus. Ele é o Senhor de todos porque é servo de todos”. De que maneira você tem sido um servo totalmente disponível?

b) De que maneira você tem sido um discípulo (servo) totalmente dependente de Deus?

c) Você tem sentido mais empatia ou antipatia pelas necessidades dos outros? Comente.

d) Você é pessimista ou realista? Explique.

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e) Você sente a unção divina no desempenho de sua vida cristã? Como?

8A AMBIÇÃO DO DISCÍPULO

“Por isso, temos o propósito de lhe agradar, quer estejamos no corpo, quer o deixemos” (2 Coríntios 5.9).

É responsabilidade do discípulo fazer o melhor que pode para Deus. Agradá-lo é nosso objetivo. Ele quer que cada um de nós atinja, de forma completa, aquele propósito para o qual nos criou. Ele não quer que nos contentemos com uma suave mediocridade. Muitas pessoas deixam de realizar alguma coisa de valor para Deus ou para o próximo porque lhes falta uma grande ambição. Nenhuma grande obra foi jamais realizada sem que houvesse uma dedicação completa, inspirada por uma ambição digna.

Faríamos bem em perguntar a nós mesmos se temos alguma ambição claramente definida. Estamos fazendo o melhor de nossas vidas? Estamos exercendo ao máximo nossa influência para o Senhor?

O LUGAR DA AMBIÇÃO

A palavra ambição deriva do latim e tem o sentido de “virar-se para ambas as direções, a fim de conseguir um mesmo objetivo”. Uma ilustração moderna dessa palavra seriam as táticas eleitorais de políticos inescrupulosos e ambivalentes, tentando angariar votos.

A ambição carnal pode ter uma variedade de ingredientes, mas segue geralmente três linhas principais: popularidade, poder, e riqueza. Mas nem todas as ambições justificam essas limitações. 2 Coríntios 5.9 diz: “...temos o propósito de lhe agradar...”.

Paulo afirma que desejar ser bispo é uma nobre ambição (1 Tm. 3.1). Muitos discípulos estão contentes com o status quo, e não têm nenhuma ambição de melhorar sua condição espiritual e realizar um ministério mais útil.

O TESTE DA AMBIÇÃO

O Reino de Deus se fundamenta sobre o sacrifício próprio, e não sobre o egoísmo. Tiago e João pediram uma coroa de glória; Jesus escolheu uma coroa de espinhos (Mc. 10.35-45). Eles queriam reinar sobre os seus companheiros; Jesus lhes disse que o caminho da grandeza era o serviço, e não o domínio sobre os outros. Esta é uma lição muitíssimo importante para a vida dos discípulos.

UMA AMBIÇÃO PRINCIPAL

David Brainerd, antigo missionário aos índios dos Estados Unidos, tinha tanta paixão pela glória de Cristo na salvação das almas, que assim testemunhou:

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“Jamais me importei a respeito de como ou onde morar, ou que sofrimentos suportar; o que importa é que ganhei almas para Cristo”.

Henry Martyn, brilhante autoridade e intrépido missionário, expressou sua maior ambição nestas palavras: “Eu não desejo me consumir pela avareza, nem me queimar pela ambição, e muito menos por mim mesmo, mas olhando para aquela grande oferta queimada, quero me incendiar para Deus e sua palavra”.

A grande paixão de Paulo era exaltar o nome de Jesus, estabelecer e edificar sua Igreja. Sua ambição se centralizava na glória e na promoção do seu Reino. Ele mesmo escreveu: “Sou devedor tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes”. “Sempre fiz questão de pregar o evangelho onde Cristo ainda não era conhecido, de forma que não estivesse edificando sobre alicerce de outro. Mas antes, como está escrito: Hão de vê-lo aqueles que não tinham ouvido falar dele, e o entenderão aqueles que não o haviam escutado”. “Pois o amor de Cristo nos constrange” (Rm. 1.14; 15.20-21; 2 Co. 5.14).

AMBIÇÃO CONTESTADA

Como aconteceu com o Mestre, a ambição do discípulo será desafiada através de toda a vida. Muitas coisas aconteceram para enfraquecer sua determinação e para desviá-lo dos seus propósitos - a maldade de seus inimigos, a inconstância de seus amigos, e até a tentativa de dissuadi-lo, por parte daqueles que lhe eram mais íntimos.

John R. W. Stott disse a respeito da falta de ambição em nossos dias: “O slogan de nossa geração é ‘segurança em primeiro lugar’. Muitos jovens estão procurando um trabalho seguro, onde possam fazer seu ninho, assegurar seu futuro, garantir sua vida, reduzir todos os riscos e ter uma gorda aposentadoria.

Não existe nada errado em se prover para o futuro, mas esse espírito domina a nossa vida até ela tornar-se tranqüila, sem nenhuma aventura. Estamos tão bem enrolados em algodão, que não podemos nem sentir as dores do mundo nem ouvir a Palavra de Deus...

Jesus não permaneceu na imunidade social dos céus, nem se escondeu na segurança do firmamento. Ele entrou na zona de perigo, arriscando contaminar-se... Como podemos nós tornar segura a nossa ambição?”

Se abraçarmos a ambição de Paulo de agradar a Cristo, descobriremos que vamos agradar a todas as pessoas a quem vale a pena agradar.

EXERCÍCIO:

a) Qual é a sua maior “ambição” na vida?

b) O que sua maior ambição na vida tem em comum com a ambição de David Brainerd e do apóstolo Paulo?

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c) O que você aprende com o comentário de John Stott?

9O AMOR DO DISCÍPULO

“(...) um frasco de alabastro contendo um perfume muito caro (...) Ele podia ser vendido por trezentos denários (...)” (Marcos 14.3, 5).

O incidente narrado em Marcos 14.1-11, no qual uma mulher quebrou um jarro com valioso perfume e o derramou sobre a cabeça de Jesus, é um brilhante exemplo de extravagância de amor. Este gesto de amor aconteceu quando o chefe dos sacerdotes e os professores da Lei estavam procurando alguma maneira astuta de prender Jesus e matá-lo (v. 1). O ódio implacável dos homens religiosos serviu de cenário para o devotado amor daquela mulher.

A cena se fecha com uma nota igualmente sombria: “Então Judas Iscariotes, um dos Doze, dirigiu-se aos chefes dos sacerdotes a fim de lhes entregar Jesus. A proposta muito os alegrou, e lhe prometeram dinheiro. Assim, ele procurava uma oportunidade para entregá-lo (v. 10 e 11). Entre esses dois sórdidos eventos, ocorreu uma das mais comoventes cenas da vida do Senhor.

A AVALIAÇÃO DOS DISCÍPULOS

“(...) Por que este desperdício de perfume?” (v. 4).

Foi pura extravagância Por que a mulher gastou tanto perfume quando apenas algumas gotas seriam suficientes? Para os discípulos, era uma questão de lucros e perdas. Para Maria, foi o momento supremo de sua vida, o momento quando ela declarou seu puro amor pelo seu Senhor.

Se Maria tivesse deixado cair apenas algumas gotas do perfume, como eles sugeriram, a história jamais teria atravessado os séculos. Nem outros corações teriam sido estimulados a expressar semelhante amor, que significa tanto para o Senhor. Será que nossas dádivas para o Senhor são cuidadosamente calculadas, medindo meticulosamente o tempo e a energia que devotamos aos interesses do seu Reino? Seu coração sofre pela falta de amor, e seu trabalho enfraquece quando não há amor.

Davi deu-nos um exemplo quando recusou aceitar a eira de Araúna como presente: “(...) Faço questão de pagar o preço justo. Não oferecerei ao Senhor, o meu Deus, holocaustos que não me custem nada (...)” (2 Sm. 24:24).

Foi um desperdício Na prática, quanto conhecemos desse gastar-se de modo extravagante de nós mesmos no seu serviço, como resultado de um simples amor por Jesus? Ou somos mesquinhos e calculistas em pensarmos apenas em nós mesmos?

A AVALIAÇÃO DA PRÓPRIA MULHER

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O vaso de perfume lhe pertencia, pode ter sido uma herança de família. Ela não tinha nenhuma necessidade de gastá-lo com o Senhor. Ela poderia ter usado o perfume para chamar a atenção sobre si mesma, mas não fez isto.Estamos usando os dons de Deus para nos enfeitar, ou os estamos derramando aos seus pés? A ação de Maria foi espontânea e não calculada, despojada de interesse próprio. Seu maior prazer foi derramar seu mais precioso tesouro sobre aquele a quem amava tanto.

A AVALIAÇÃO DE CRISTO

Jesus repreendeu os discípulos asperamente por haverem repreendido Maria: “Deixem-na em paz, disse Jesus. Por que a estão perturbando? Ela praticou uma boa ação para comigo. Pois os pobres vocês sempre terão com vocês, e poderão ajudá-los sempre que o desejarem. Mas a mim vocês nem sempre terão” (v. 6 e 7).

“Ela fez o que pôde” Disse Jesus sobre sua ação. Havia muita coisa que ela, como mulher, não poderia fazer; mas ela fez o que pôde. Ela derramou o seu perfume sobre a cabeça de Jesus como um ato de amor, enquanto Jesus podia receber essa manifestação.

O que Cristo predisse no versículo 9 tem se cumprido maravilhosamente: “Eu lhes asseguro que onde quer que o evangelho for anunciado, em todo o mundo, também o que ela fez será contado em sua memória”. Implícita nesta declaração está a confiança invencível que Jesus tinha, de que seus discípulos levariam seu evangelho “a todo o mundo”. E nós somos os beneficiários desta promessa. A fragrância daquele vaso quebrado alcançou-nos mais de 2.000 anos mais tarde.

O que Maria fez não foi aplaudido pelos seus companheiros, mas para seu Mestre amado foi um oásis refrescante no deserto da indiferença e do ódio humano.

Alguma vez temos oferecido um presente, ou feito alguma coisa, esvaziado nosso vaso de perfume, como resultado do nosso amor puro só a ele dedicado? Isto é algo que ele deseja mais do que todo nosso serviço, porque é o amor que está por trás do serviço que produz a fragrância.

EXERCÍCIO:

a) Já lhe aconteceu de ser ignorado ou desprezado por fazer algo de coração para Deus? Explique.

b) Qual foi sua reação diante da indiferença dos outros?

c) Como Deus recebeu o que você fez? O que isso tem a ver com sua reação diante do desprezo dos outros?

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10A MATURIDADE DO DISCÍPULO

“(...) avancemos para a maturidade (...)” (Hebreus 6.1).

O propósito revelado por Deus é de fazer discípulos que reflitam a perfeita humanidade de seu Filho, tanto na vida pessoal como no serviço cristão.

O Bispo Westcott, no seu Comentário aos hebreus, destaca este ponto. Ele sugere que “(...) avancemos para a maturidade (...)” pode ter três interpretações, e cada uma delas é um aviso quanto a um determinado perigo:

Podemos parar cedo demais Podemos sentir que “chegamos lá”. Mas o autor descarta essa complacência, exatamente como fez Paulo: “Não que eu já tenha obtido tudo isso ou tenha sido aperfeiçoado, mas prossigo para alcançá-lo (...)” (Fp. 3.12). Prossigamos. Mais à frente há outros picos a serem escalados.

Podemos sucumbir diante do desencorajamento e deixar cair nosso feixe, como João Marcos? Não! “Avancemos”!

Podemos pensar que temos de conseguir sozinhos Não! É Deus que nos conduz. Em nossa luta pela maturidade espiritual, temos a cooperação do Deus Trino. Não somos abandonados com nossos insignificantes esforços, mas temos a prometida atuação do Espírito Santo para nos capacitar para fazer o que lhe apraz.

Maturidade no Reino espiritual, é como a maturidade física; não se alcança do dia para a noite. Trata-se de um processo dinâmico, que continua por toda a vida.

NOSSA PARTICIPAÇÃO NO PROCESSO

Quem aspira ao discipulado, como um bom estudante, deve estar preparado para dedicar-se com afinco. Não existe maturidade instantânea. A busca da maturidade envolve a mesma aplicação e disciplina, como em qualquer escola, se é que queremos nos formar na escola de Deus.

Há certas coisas que temos de fazer por nós mesmos; Deus não as fará por nós. Enquanto a idéia popular de “deixar nas mãos de Deus” enfatiza um aspecto da verdade, ela pode ser uma perigosa meia verdade, e levar-nos a uma passividade doentia. A autodisciplina e a perseverança são ingredientes essenciais.

Nenhum crescimento rápido da maturidade cristã pode ser alcançado antes que o primeiro e indispensável passo da submissão ao senhorio de Cristo seja dado. A pergunta-chave que determina se Cristo recebeu ou não esta autoridade sobre a vida da pessoa é: “Quem toma as decisões?”

ACEITANDO AS CORREÇÕES IMPOSTAS PELA VIDA

Algumas experiências da vida podem ajudar grandemente a acelerar o processo de maturidade. Embora os três jovens hebreus (Dn. 3.16-19) devam ter ficado perplexo diante da não-intervenção de Deus a seu favor, eles amadureceram rapidamente

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com a experiência da fornalha ardente. Pode acontecer o mesmo conosco, diante das provações. Nossa atitude determinará se as correções que Deus nos impõe são desgraças ou bênçãos, se elas adoçam ou azedam nossa vida.

Alguém disse: “Há alguma coisa sobre maturidade que vem através da adversidade. Se você não sofrer um pouco, nunca deixará de ser criança!” “(...) Deus nos disciplina para o nosso bem(...)” (Hb. 12.10).

O testemunho de Paulo sobre esta verdade foi produzido nas marteladas contra a bigorna da dura experiência. Leia sobre suas provações em 2 Coríntios 11.23-29, e então veja o que ele diz:

“Não estou dizendo isso porque esteja necessitado, pois aprendi a adaptar-me a toda e qualquer circunstância. Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade” (Fp. 4.11-12).

Isto é maturidade espiritual. É desnecessário dizer que Paulo não alcançou esta posição vitoriosa do dia para a noite. Foi um penoso processo de aprendizagem, mas, dependendo do Espírito Santo, ele aprendeu essa difícil lição. O mesmo Espírito e a mesma graça estão ao nosso dispor.

No tempo da Igreja primitiva, havia quatro atitudes que as pessoas adotavam diante das provações e dos sofrimentos da vida:

O fatalista considerava que tudo acontecia de forma inevitável, impossível de se alterar; então por que lutar contra? Por que não ignorar? O muçulmano fatalista elimina o problema, dizendo: “É a vontade de Alá!”

O ponto de vista dos estóicos era: “Já que você não pode fazer nada, mantenha-se firme, desafie as circunstâncias e deixe que elas façam o pior”.

Os epicureus diziam: “Comamos e bebamos, porque amanhã morreremos”. Vamos diminuir nossos sofrimentos satisfazendo os prazeres sensuais da vida.

O discípulo maduro vai além de simplesmente submeter-se de forma inflexível à inevitável e inalterável vontade de Deus. Ele não somente aceita a vontade de Deus, mas a recebe com alegria, mesmo que seja entre lágrimas.

O segredo de Paulo em dominar todas as circunstâncias está em Filipenses 4.13: “Tudo posso naquele que me fortalece”. Foi por causa de sua união vital com Cristo, que ele foi capaz de triunfar e se alegrar. Ele não fugiu das circunstâncias difíceis; pelo contrário, adotou-as e fez delas um meio de crescer espiritualmente. Porque ele era tão dependente de Cristo, pôde ser independente das circunstâncias.

DESENVOLVENDO ATITUDES CORRETAS DIANTE DAS TENTAÇÕES

Satanás tenta e seduz o discípulo a pecar. Deus testa o discípulo para produzir o ouro do bom caráter e para levá-lo a uma maior maturidade espiritual. Tiago fala-nos da atitude correta diante da provação: “Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria o fato de passarem por diversas provações, pois vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança. Feliz é o homem que persevera na provação, porque depois de aprovado receberá a coroa da vida, que Deus prometeu aos que o amam” (Tg. 1.2, 3, 12). O texto clássico da tentação é:

“Não sobreveio a vocês tentação que não fosse comum aos homens. E Deus é fiel; ele não permitirá que vocês sejam tentados além do que podem suportar. Mas, quando forem tentados, ele mesmo lhes providenciará um escape, para que o possam suportar” (1 Co. 10.13).

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Esta passagem é cheia de conforto para aquele que é tentado. Ela nos fala de quatro coisas sobre Deus, que nos servem de sustentação e ajuda na tentação.

Ele é Fiel

Ele não abandonará aqueles que confiantemente olham para ele dependendo de ajuda e segurança. Ele cumprirá fielmente sua palavra.

Ele é Soberano

Ele controla as circunstâncias da vida e limita a força da tentação, porque ele conhece nossos limites. Isto nos dará a segurança de que suportaremos a tensão.

Ele é imparcial

Ele distribui testes que são comuns a todos nós. No auge da tentação, muitos cristãos acham que são os únicos a passar por uma experiência assim, mas isto não é verdade. Embora a tentação em si seja diferente, os mesmos princípios e saídas estão à disposição de todos nós.

Ele é Poderoso

Deus tem uma saída para cada tipo de tentação. A chave para abrir a porta está sempre por perto. É possível evitar a derrota. A palavra traduzida como “suportar” significa “atravessar incólume”. Entretanto, devemos ser vigilantes, por causa dos laços e astúcias do Inimigo, pois ele é sutil e ardiloso nos seus métodos.

Nosso Inimigo escolhe sagazmente o momento certo. A tentação de Elias, de sentir-se desencorajado e de fugir, veio no momento em que ele estava exausto física e emocionalmente. José foi tentado pela mulher de Potifar, quando não havia nenhum homem na casa e assim ninguém ficaria sabendo. Jonas encontrou o navio para Társis pronto, esperando por ele, quando foi desobediente e estava fugindo da ordem divina. Davi foi tentado quando estava negligenciando suas funções de monarca, permitindo-se um descanso ilegítimo. Jesus foi tentado por Satanás quando jejuou por 40 dias e estava debaixo de uma insuportável pressão espiritual.

CULTIVANDO HÁBITOS CORRETOS

Em certo sentido, a vida consiste grandemente em fazer e descontinuar hábitos, porque todos nós temos hábitos. Inconscientemente estamos formando e quebrando hábitos o tempo todo, e por isso mesmo esta área de nossa vida deve estar sob o controle de Cristo. É uma parte essencial da educação da alma.

Todos nós temos maus hábitos, alguns dos quais podem estar evidentemente errados. Outros talvez não sejam errados em si mesmos, mas não ajudam muito. Tome por exemplo o hábito de não ser pontual. Algumas pessoas estão sempre atrasadas. Parecem não ter nenhuma preocupação com o tempo que as outras pessoas perdem. Tornou-se um hábito enraizado. Tais pessoas deveriam considerar seriamente as conseqüências sofridas pelos outros, em virtude do seu atraso. Deveriam ter um propósito inflexível de programarem-se para dez minutos mais cedo, quebrar o velho hábito e formar um novo. O Espírito Santo está sempre disponível para ajudar na formação de novos e bons hábitos, mas somos nós que temos a responsabilidade de tomar a iniciativa. Deus age em parceria conosco.

No desenvolvimento de nossa alma, nenhum hábito é mais importante e formativo do que manter uma vida devocional consistente - um momento reservado para a comunhão com Deus. Muitos acham isso difícil, mas é impossível avaliar sua importância e seu valor. Assim, é razoável esperar que esse hábito seja o foco de

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investidas implacáveis do Adversário. Embora não seja sempre possível, há um valor lógico e espiritual em se observar a primeira hora do dia.

11AS OLIMPÍADAS DO DISCÍPULO

“(...) exercite-se na piedade” (1 Timóteo 4.7).

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Embora os jogos olímpicos sejam pagãos em sua origem, os escritores do Novo Testamento, Paulo em particular, fizeram muitos paralelos entre o treinamento e o desempenho do atleta que competia e os deveres e privilégios do cristão. É mais provável que Paulo tivesse em mente os jogos ístmicos, que se realizavam em Corinto, a cada três anos. Ele conhecia as rivalidades e as ambições inerentes ao esporte. Existem mais de 50 referências aos esportes no Novo Testamento.

Cada participante sério dos jogos de então, como de hoje, estava determinado a sobrepujar e a derrotar seus adversários. Seu alvo não era nada menos que ganhar o prêmio de sua competição. E nós? Estamos nos exercitando na piedade, ou estamos nos tornando fracos, frouxos?

O TREINAMENTO INDISPENSÁVEL

“(...) exercite-se na piedade. O exercício físico é de pouco proveito; a piedade, porém, para tudo é proveitosa, porque tem promessa da vida presente e da futura” (1 Tm. 4.7-8).

Paulo, escrevendo aos seus amigos em Corinto, lembrou-lhes que “todos os que competem nos jogos se submetem a um treinamento rigoroso, para obter uma coroa que logo perece; mas nós o fazemos para ganhar uma coroa que dura para sempre” (1 Co. 9.25). Para o atleta participar das Olimpíadas, ele tinha de submeter-se a dez meses de treinamento rigoroso; esta era uma condição inflexível. Não podia haver exceção.

Durante esses dez meses, eles eram obrigados a manter uma disciplina rigorosa, moderando seus desejos e abstendo-se de certos passatempos, que poderiam prejudicar sua aptidão. Tinham que observar uma dieta balanceada e eliminar todas as gorduras supérfluas. Nos nossos dias, é mais comum ouvir dizer: “Faça o que quiser. Se você se sente bem, faça”. Não é desta maneira que se preparam os atletas de Jesus Cristo.

As regras para os atletas daquele tempo foram anotadas por Horácio: “O atleta deve levar uma vida normal, mas deve comer pouco. Deve abster-se de doces. Não deve deixar de fazer os exercícios nas horas estabelecidas, seja no calor ou no frio. Não deve beber água fria nem vinho ao acaso. Deve entregar-se ao treinador como quem se entrega a um médico, e então entrar na disputa”. Que palavras desafiadoras são essas para o discípulo negligente e indisciplinado!

Muita importância tem sido dada ao Espírito Santo hoje, e corretamente. Mas pouca importância tem sido dada a Gálatas 5.22-23: “Mas o fruto do Espírito é (...) domínio próprio [disciplina].

O atleta que deseja ganhar o prêmio cobiçado não faz sua própria vontade. Ele é preparado para assumir uma posição contra o espírito desta difícil era ímpia em que vivemos. Não é algo irônico que ao mesmo tempo em que pessoas aplaudem e admiram o sacrifício, a disciplina e o domínio próprio do atleta, elas se desinteressem quando é sugerido que deveria haver uma dedicação semelhante por parte do discípulo de Cristo?É da palavra que Paulo usa para “exercite-se”, 1 Timóteo 4.7, que tiramos nossa palavra ginásio - o lugar onde os atletas aprendem a exercitar seus músculos, a aumentar o seu fôlego, a ganhar flexibilidade. O Espírito Santo insiste conosco no sentido de fazermos na área espiritual o que os atletas fazem no ginásio.

Um corpo mimado, poupado, significa corrida perdida. Um atleta flácido não ganha nenhuma medalha. Agostinho sabia disto. Ele fazia sempre esta oração:

“Ó Deus, que eu possa ter para contigoUm coração cheio de ardor;Para os meus amigos, um coração de amor;

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E para mim mesmo, um coração de aço”.

OLIMPÍADAS PARA OS IDOSOS

Quando pensamos nas disputas dos jogos olímpicos, automaticamente fazemos a associação com jovens cheios de vigor. Mas Paulo, mesmo chegando ao fim da corrida, ainda se via em treinamento. Leia suas palavras:

“Vocês não sabem que todos os que correm no estádio, apenas um ganha o prêmio? Corram de tal modo que alcancem o prêmio. Todos os que competem nos jogos se submetem a um treinamento rigoroso, para obter uma coroa que logo perece; mas nós o fazemos para ganhar uma coroa que dura para sempre. Sendo assim, não corro como quem corre sem alvo, e não luto como quem esmurra o ar. Mas esmurro o meu corpo e faço dele meu escravo, para que, depois de ter pregado aos outros, eu mesmo não venha a ser reprovado” (1 Co. 9.24-27).

Os discípulos mais velhos não estão fora da corrida! Entramos na corrida quando nos convertemos. Em princípio parecia ser uma corrida de 100 metros rasos, mas verificamos tratar-se de uma verdadeira maratona, que testa nossa perseverança e nosso vigor espiritual. A corrida continua - “(...) corramos com perseverança a corrida que nos é proposta (...)” (Hb. 12.1), para que possamos ganhar o prêmio.

É fácil para o discípulo tornar-se relaxado e indisciplinado com o passar dos anos. Estamos mentalmente preguiçosos e indisciplinados? Será que pensamos que adquirimos o direito de sair da corrida? Não foi desta maneira que se portou o Crucificado, nem os homens e mulheres que serviram a Deus com dedicação.

AS REGRAS OLÍMPICAS

“Semelhantemente, nenhum atleta é coroado como vencedor, se não competir de acordo com as regras” (2 Tm. 2.5).

Ter domínio completo das regras da disputa é prioridade número um para o atleta. Se ele não se submeter a elas, não haverá prêmio. Observando essa condição, Agostinho desafiou um corredor: “Você pode estar demonstrando grande desempenho, mas está correndo fora da pista?”

As pessoas que se preparam para tirar a carteira de motorista devem estudar as leis de trânsito! Somos igualmente diligentes em aprender e em nos submeter às regras que disciplinam a corrida cristã?

O livro de regras do cristão é, naturalmente, a Bíblia. Nela encontramos toda a orientação que precisamos para saber o que é permitido e o que não é permitido. Mas este livro tem uma vantagem sobre o livro das regras olímpicas: ele promete o poder adequado para capacitar o corredor a chegar ao fim da corrida. Paulo aproveitou-se deste poder, e ao tocar a fita de chegada, pôde testificar: “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé” (2 Tm. 4.7).

OBSTÁCULOS NA CORRIDA

“Vocês corriam bem (...)”, escreveu Paulo aos gálatas. “(...) Quem os impediu de continuar obedecendo à verdade?” (Gl. 5.7).

Há muitas influências para nos desviar do alvo. Temos um Adversário manhoso, que usa seus seis milênios de perversa experiência para nos jogar para fora da pista. Não podemos ignorar as suas intenções (2 Co. 2.11).

OLHOS FIXOS NO ALVO

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“Tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé” (Hb. 12.2).

A corrida grega era considerada como o mais impetuoso e violento exercício físico da época. Numa corrida, Addas, o vitorioso, chegou à linha de chegada e morreu. Tornou-se uma montanha de músculos inertes. O esforço tinha feito com que ele ultrapassasse suas reservas físicas. Vencer uma corrida exige do atleta muito vigor e perseverança.

Depois que a corrida começa, o atleta não tem condições de olhar para trás. Ele deve avançar para a vitória sem se distrair. Se quiser ganhar o prêmio, seus olhos devem estar fixos no posto onde está o juiz, no final da pista. Foi pensando neste exemplo que Paulo fez a notável declaração: “(...) uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que ficam para trás e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus” (Fp. 3.13-14).

Assim, deve o discípulo correr com os olhos firmes, fixos no seu Senhor, que o encoraja e é ao mesmo tempo o Juiz, o Árbitro e o que confere o prêmio. O discípulo não deve olhar para trás saudosamente, nem sem esperança, mas deve resolutamente esquecer o que ficou para trás - falhas e desapontamentos, sucessos e vitórias. Ele deve esforçar-se para tocar o peito na fita de chegada com os olhos fixos no seu Senhor, que lhe dá as boas vindas. Foi Deus que iniciou nossa fé, e é ele que nos dará força para completar o trajeto.

Depois de empregar a figura do corredor em 1 Coríntios 9.26-27, Paulo volta-se para o boxe: “Sendo assim, não corro como quem corre sem alvo, e não luto como quem esmurra o ar. Mas esmurro o meu corpo e faço dele meu escravo (...)”.

Paulo usou o boxe para falar de sua atitude para com o corpo, o qual era freqüentemente foco de tentação. Ele descobriu que seu maior inimigo estava nele mesmo. “Sei que nada de bom habita em mim, isto é, em minha carne. Porque tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo” (Rm. 7.18).

Usando a linguagem do boxe, é como se Paulo estivesse dizendo: “Eu acerto todos os golpes; e os acerto em meu próprio corpo. Logo, meu corpo é meu servo, e não meu senhor”.

O PRÊMIO

“(...) Corram de tal modo que alcancem o prêmio” (1 Co. 9.24).

O que levava o atleta a exercer tal disciplina e exibir tais proezas de força e resistência? Certamente seria uma grande soma de dinheiro ou algum troféu de grande valor? Não. Ele o fazia para obter uma coroa corruptível - uma mera coroa de folhas de louro ou oliveira, de nenhum valor em si mesma. No entanto, era a mais cobiçada de todas as honras que a nação poderia conferir. Cícero afirmou que o vitorioso nas Olimpíadas recebia mais honra do que o general que voltava de suas campanhas. Mas era um prêmio que não durava muito.

O magnífico desfile das Olimpíadas alcançava o clímax quando a coroa da vitória era colocada na cabeça do vencedor pelo juiz dos jogos. Flores e presentes eram atirados sobre ele por seus admiradores.

Com esta cena em mente, Paulo antecipou o dia quando ele seria coroado pelo Juiz de toda a Terra: “Agora me está reservada a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amam a sua vinda” (2 Tm. 4.8). Através dos anos em que o apóstolo fez a corrida, ele manteve o olhar fixo em Jesus. Receber a “coroa” das mãos de Jesus, transpassadas por pregos, seria a grande recompensa por todos os seus

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sofrimentos. Ouvir o seu Senhor e Mestre dizer: “Muito bem, servo bom e fiel!” faria com que suas renúncias parecessem nada.

Paulo terminou seu breve comentário sobre os jogos com uma nota séria. Apesar do vasto alcance de suas realizações, ele ainda reconhecia a astúcia do Inimigo e a fraqueza da sua própria natureza humana. “Mas esmurro o meu corpo e faço dele meu escravo, para que, depois de ter pregado aos outros, eu mesmo não venha a ser reprovado” (1 Co. 9.27).

Quando velho, Paulo veio a descobrir que o mundo não se tornara menos enganoso, nem o pecado menos sedutor. O Diabo não se tornara menos malicioso do que nos tempos de sua mocidade, e ainda lhe causava um medo saudável.

A palavra “reprovado” não tinha referência à sua salvação. Ele não tinha medo de perdê-la, mas temia ser reprovado, ou reprovado pelo Juiz, tendo assim corrido em vão. Tenhamos esse mesmo medo saudável, e corramos de tal maneira que alcancemos o prêmio.EXERCÍCIO:

a) Comente seu treinamento espiritual?

b) Na maratona do discipulado radical, como está seu desempenho?

c) Como você tem mostrado interesse pelo manual do atleta (a Bíblia)?

d) Nesse último mês, que obstáculos você tem enfrentado na corrida?

e) De que maneira o prêmio prometido na Bíblia aos vencedores tem lhe motivado?

12A COMPAIXÃO DO DISCÍPULO

“Ao ver as multidões, teve compaixão delas, (...)” (Mateus 9.36).

Em nenhum lugar as Escrituras declaram ou dão a entender os pagãos estarem perdidos simplesmente porque não ouviram o evangelho. Milhões de pessoas nunca tiveram esta oportunidade. Se os pagãos estão perdidos é pela mesma razão que você e eu estávamos também, porque eles, como nós, são pecadores por natureza e pela prática. Paulo deixa isto bem claro: “(...) Não há distinção, pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus” (Rm. 3.22-23).

AQUELES QUE NUNCA OUVIRAM

Paulo não faz distinção entre os que ouviram o evangelho e os que não ouviram. Todos estão igualmente perdidos, porque todos são igualmente pecadores. “A Escritura encerrou tudo debaixo do pecado” (Gl. 3.22). Este fato habilita Deus a

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oferecer sua misericórdia a todos que queiram receber o evangelho. Precisamos atentar para o seguinte:

1. Jesus é o único meio de chegar a Deus Pai. “Respondeu Jesus: Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim” (Jo. 14.6).

2. É necessário nascer de novo, e isso não acontece automaticamente. “Respondeu Jesus: Digo-lhe a verdade: Ninguém pode entrar no Reino de Deus, se não nascer da água e do Espírito. Não se surpreenda pelo fato de eu ter dito: É necessário que vocês nasçam de novo” (Jo. 3.5, 7).

3. Sem a experiência do novo nascimento, todos estão na condição de pagãos perdidos. “(...) lembrem-se de que anteriormente vocês eram gentios, (...) naquela época vocês estavam sem Cristo, separados da comunidade de Israel, sendo estrangeiros quanto às alianças da promessa, sem esperança e sem Deus no mundo” ( Ef. 2.11, 12 ).

4. Os que vivem na prática do pecado serão lançados no lago de fogo: “os covardes, os incrédulos, os depravados, os assassinos, os que cometem imoralidade sexual, os que praticam feitiçaria, os idólatras e todos os mentirosos - o lugar deles será no lago de fogo que arde com enxofre. Esta é a segunda morte” (Ap. 21.8).

Estes textos, e outros, à primeira vista, parecem defender a causa dos perdidos não evangelizados. Se a salvação deles é uma coisa tão séria que exigiu os sofrimentos de Cristo na cruz, logo quão séria é a situação deles, e com que urgência deveríamos nos esforçar para resolvê-la!

13A VIDA DE ORAÇÃO DO DISCÍPULO

“(...) o Espírito nos ajuda em nossa fraqueza, pois não sabemos como orar, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis” (Romanos 8.26).

Nosso Senhor deu um exemplo de oração tão extraordinário aos discípulos, que eles lhe rogaram: “(...) Senhor, ensina-nos a orar, como João ensinou aos discípulos dele” (Lc. 11.1). Enquanto eles o ouviam orar, um anseio de ter essa mesma intimidade com o Pai brotou no coração deles. Que seja assim conosco.

A oração é um paradoxo surpreendente. É uma mistura de simplicidade e profundidade. Ela pode ser uma agonia ou um êxtase.

Pode focalizar um só objetivo, ou pode percorrer o mundo. É “a forma de fala mais simples que os lábios da criança pode experimentar”, e ao mesmo tempo é “a mais sublime força que alcança a Majestade nas alturas”. Não é de espantar que mesmo Paulo, o gigante espiritual que era, teve de confessar: “Não sabemos como orar”.

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O INTERESSE DE DEUS DEVE VIR PRIMEIRO

Para o discípulo que tem maturidade, o interesse de Deus deve ser sempre da maior importância. A oração do cristão imaturo geralmente gira em torno de si mesmo. Em resposta ao pedido dos discípulos para ensinar-lhes a orar, Jesus disse: “Vocês, orem assim (...)”, e deu-lhes uma oração-modelo, que deveriam seguir. Vale a pena observar que, no registro de Mateus 6.9-13, a primeira metade da oração é totalmente ocupada com Deus e seus interesses. Somente depois é que pedidos pessoais têm lugar.

O DISCÍPULO PODE ORAR COM AUTORIDADE

Estamos engajados numa implacável guerra espiritual que não conhece trégua. Nossos inimigos são invisíveis e não podem ser tocados, são poderosos. Contra eles somente as armas espirituais prevalecerão. Paulo escreveu:

“Pois, embora vivamos como homens, não lutamos segundo os padrões humanos. As armas com as quais lutamos não são humanas; ao contrário, são poderosas em Deus para destruir fortalezas” (2 Co. 10.3-4).

Destas armas, a oração é a mais formidável e potente nos nossos conflitos com “as forças espirituais do mal nas regiões celestiais” (Ef. 6.12).

O ponto decisivo da derrota ou da vitória está na nossa habilidade de orar corretamente e fazer uso inteligente de nossas armas.

Em nenhum lugar Jesus imagina sua Igreja batendo em retirada. Aos 72 ardorosos discípulos que voltaram de uma incursão evangelística, radiantes por causa do sucesso alcançado, ele fez esta poderosa declaração: “(...) Eu vi Satanás caindo do céu como relâmpago. Eu lhes dei autoridade para pisarem sobre cobras e escorpiões, e sobre todo o poder do inimigo; nada lhes fará dano” (Lc. 10.18-19).

Samuel Chadwick afirmou que Satanás não teme estudos, ensinos e pregações que não estejam solidamente alicerçados na oração. “Ele ri do nosso trabalho árduo, zomba da nossa sabedoria, mas treme quando oramos”.

O DISCÍPULO DEVE ORAR AUDACIOSAMENTE

O discípulo amadurecido não deve desconhecer este tipo de oração. À luz do vasto alcance das promessas garantidas àquele que intercede, é surpreendente que nossas orações sejam tão mornas. Elas raramente pairam acima das experiências do passado ou de pensamentos naturais. Raramente oramos pelo inédito, e muito menos pelo impossível.

Ao orares, te aproximas de um Rei!Grandes, imensas petições contigo trazes,Pois sua graça e seu poder são tais,Que ninguém nunca poderá pedir demais.

As Escrituras dão testemunho do fato de que Deus se alegra em responder às orações ousadas, que se baseiam nas suas promessas. Jesus encorajou seus discípulos a pedirem livremente tanto pelo impossível como pelo possível. Ele disse: “(...) se vocês tiverem fé do tamanho de um grão de mostarda, poderão dizer a este monte: Vá daqui para lá, e ele irá. Nada lhes será impossível” (Mt. 17.20). Todas as dificuldades são do mesmo tamanho para Deus.

O DISCÍPULO ÀS VEZES DEVERÁ LUTAR EM ORAÇÃO

“Epafras, que é um de vocês e servo de Cristo Jesus, envia saudações. Ele está sempre batalhando por vocês em oração (...)” (Cl. 4.12).

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Este tipo de oração é experiência do discípulo amadurecido. Epafras era um destes. Mas nossas orações são um pálido reflexo das orações de Epafras.

A palavra agonizar é derivada da palavra grega correspondente ao termo “batalha”. Ela é usada no Novo Testamento em relação aos homens que trabalham até ficarem exauridos; a atletas correndo na pista, forçando cada nervo e cada músculo; em relação a soldados lutando por sua própria vida. Este tipo de oração é como se fosse um exercício espiritual.

O DISCÍPULO DEVE ORAR IMPORTUNANDO

Jesus reforçou a necessidade de orarmos com insistência, como quem importuna, nas parábolas do amigo importuno e a da viúva persistente.

O amigo importuno

Na parábola registrada em Lucas 11.5-13, Jesus, por implicação, contrastou a rispidez egoísta do amigo relutante com a generosidade do Pai. Eis o argumento: se um homem completamente egoísta, para quem o sono é mais importante do que a necessidade de um amigo, relutantemente se levanta no meio da noite para atendê-lo por causa de sua desembaraçada insistência, quanto mais Deus diante da insistência e da persistência de seus filhos! (Lc. 11.11-13).

A viúva persistente

O argumento é que se uma viúva que vivia resmungando, pela sua persistência, da qual não se envergonhava, pôde vencer a obstinação de um juiz sem princípios, quanto mais os filhos de Deus receberão a resposta para suas orações mais urgentes, pois eles apelam não a um adversário, mas a um Advogado que ama, e cuja atitude é a antítese daquela do juiz cruel.

A lição dessas parábolas é que quando não nos envergonhamos de persistir, voltamos de mãos cheias. E o oposto é também verdadeiro.

Isso naturalmente levanta a questão: por que Deus não pode simplesmente responder às nossas orações sem requerer que o importunemos por uma resposta?

Por que importunar é importante?

A necessidade de importunar está em nós, e não em Deus. Às vezes ele demora em responder, porque quem faz a petição não está em condições de receber a resposta. Há alguma coisa que Deus deseja fazer na pessoa antes.

O PROBLEMA DA ORAÇÃO NÃO RESPONDIDA

O discípulo amadurecido não tropeçará por causa de uma oração aparentemente não respondida. No entanto, ele não adota uma posição fatalista; ele examina suas orações e procura descobrir a causa da falha.

A verdade é que Deus nem sempre responde sim a todas as orações, muito embora a gente espere que ele responda sempre afirmativamente. Moisés insistiu com o Senhor no sentido de que lhe fosse permitido entrar na terra prometida. Mas Deus respondeu não (Dt. 34.4). Paulo orou repetidas vezes para que seu “espinho na carne” fosse removido, mas Deus respondeu não (2 Co. 12.7-9). No entanto, ele prometeu graça suficiente para compensar. Deus é soberano e sábio; nós deveríamos ser suficientemente sensíveis e humildes para reconhecer sua soberania no campo da oração.

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Tiago nos dá uma razão para nossas orações não serem respondidas: “Quando pedem, não recebem, pois pedem por motivos errados, para gastar em seus prazeres” (Tg. 4.3). Deus não responde a todos os pedidos egoístas, mas ele promete responder a todas as orações que são de acordo com sua perfeita vontade.

Pode ser que nossa oração não tenha sido a oração da fé, mas apenas a oração da esperança. Jesus disse: “(...) Que lhes seja feito segundo a fé que vocês têm” (Mt. 9.29), e não de acordo com a “vossa esperança”. Das suas orações, muitas são orações de esperança?

Também podemos estar substituindo a fé em Deus pela fé na oração. Em nenhum lugar na Bíblia aprendemos a ter fé na oração, mas sim fé em Deus, naquele que responde às orações. E isto é mais do que mera questão de semântica. Muitas vezes suspiramos: “Nossas orações são muito fracas e ineficazes!”, ou então, “Minha fé é tão pequena!” Jesus de certa forma previu esta reação, quando disse: “(...) Eu lhes asseguro que se vocês tiverem fé do tamanho de um grão de mostarda, poderão dizer a este monte: Vá daqui para lá, e ele irá. Nada lhes será impossível” (Mt. 17.20).

A olho nu vemos pouca diferença entre um grão de areia e uma semente de mostarda, mas existe um mundo de diferença entre os dois. Em um deles está o gérmen da vida. Não é o tamanho da nossa fé que é importante, mas sim se ela é uma fé viva num Deus vivo.

O discípulo amadurecido não se sente desencorajado diante da demora em receber uma resposta à sua oração, pois ele sabe que a demora de uma resposta de oração não significa uma negativa da parte de Deus.

14OS DIREITOS DO DISCÍPULO

“Não temos nós o direito de comer e beber? Não temos nós o direito de levar conosco uma esposa crente...? Mas eu não tenho usado de nenhum desses direitos (...)” (1 Coríntios 9.4-5, 15).

Por quatro vezes, em 1 Coríntios 9, Paulo fala dos seus direitos no evangelho. Ele afirma três vezes que deixou de exercer esses direitos por causa do grande interesse em divulgar o evangelho. Ele diz que está pronto a renunciar a qualquer direito que possa ter, e abandonar qualquer privilégio, por amor a Cristo e no interesse do progresso do evangelho. Observe a que extremo ele está pronto a ir: “Mas nós nunca usamos desse direito. Ao contrário, suportamos tudo para não colocar obstáculo algum ao evangelho de Cristo” (v. 12).

Oswald Chambers tinha palavras vigorosas a dizer em relação a isso: “Se estamos prontos a abrir mão apenas de coisas erradas por amor a Jesus, não devemos nunca falar a respeito de nosso amor por ele. Qualquer pessoa desistirá das coisas erradas, desde que saiba como fazê-lo; mas estamos preparados para desistir do que temos de melhor, por amor a Jesus Cristo? O único direito que um cristão tem é de abrir mão dos seus direitos. Se quisermos dar o melhor para Deus, tem que haver vitória em relação aos desejos legítimos, bem como em relação à tolerância ilegítima”.

Em outros textos, o apóstolo insistiu que tudo o que é legítimo não é necessariamente útil em todas as circunstâncias:

“Tudo me é permitido, mas nem tudo convém” (1 Co. 6.12).“(...) Tudo é permitido, mas nem tudo edifica” (1 Co. 10.23).

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Ele sabia, por experiência, que era possível entregar-se às coisas permitidas num grau desordenado, e assim tornar-se um escravo delas. Então, ele acrescenta mais uma outra restrição:

“Tudo me é permitido, mas eu não deixarei que nada me domine” (1 Co. 6.12).

Isto significa que o discípulo deve escolher suas prioridades com muito cuidado, mesmo as coisas que são corretas em si mesmas. Se nosso objetivo é alcançar o auge da experiência cristã, sempre existirá o desafio de renunciarmos voluntariamente a alguns direitos.

A vida cristã não é o único reino em que isso acontece. Quanta renúncia o atleta iniciante tem de fazer, a fim de conseguir um recorde ou ganhar um prêmio!

O DIREITO DE GRATIFICAR O APETITE NORMAL

“Não temos nós o direito de comer e beber?” Paulo perguntou (1 Co. 9.4). Ele estava falando de comer e beber à custa da igreja - o direito de o obreiro cristão receber sua subsistência material daqueles a quem ele serve espiritualmente.

O prazer de compartilhar o evangelho era para Paulo de muito mais importância do que o alimento e a bebida. Quando os interesses do evangelho exigiam, ele, alegremente, passava fome e sede. Veja seu testemunho: “Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade” (Fp. 4.12).

John Wesley imitou o apóstolo Paulo na sua determinação de não ser escravizado pelo apetite. Para conseguir esse domínio, ele viveu dois anos inteiros alimentando-se de batatas. Aparentemente isto não afetou sua saúde, pois ele chegou aos 89 anos de idade. Ele não era ascético, mas não tolerava ser dominado por seu apetite, especialmente se fosse prejudicar o evangelho de Cristo (1 Co. 9.12).

O DIREITO A UMA VIDA MARITAL NORMAL

“Não temos nós o direito de levar conosco uma esposa crente como fazem os outros apóstolos, os irmãos do Senhor e Pedro?” Perguntou Paulo. Isto levanta uma questão muito debatida: Paulo era casado?

Esta pergunta provavelmente não será nunca respondida decisivamente. Mas pode-se presumir que há evidências de que ele tenha sido casado. Paulo afirmou que, quando Estêvão foi condenado, ele dera seu voto contra ele. Isto implica que ele tinha sido membro do Sinédrio, e para ser membro do Sinédrio havia a condição de o homem ser casado. Se foi esse o caso, sua esposa deve ter morrido antes dele, ou deve tê-lo abandonado por ocasião de sua conversão. Mas, casado ou não, Paulo confirmou seu direito de ter uma vida marital normal, tendo a companhia de sua esposa; mas ele acrescentou: “(...) Mas nós nunca usamos desse direito (...)” (v.12).

Muitas pessoas casadas que são chamadas para o ministério da Palavra em sua terra, ou no estrangeiro, voluntariamente deixam seus companheiros, por períodos longos ou curtos, no interesse do evangelho. Outras renunciam voluntariamente ao direito do romance e do casamento para poderem entregar-se de maneira mais completa ao ministério confiado a elas. Tais sacrifícios não são esquecidos pelo Senhor, e eles terão sua própria recompensa.

O DIREITO AO DESCANSO E AO LAZER

“Ou será que só eu e Barnabé temos direito de receber sustento sem trabalhar?” (1 Co. 9.6).

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A questão aqui é o direito de o discípulo abster-se do trabalho manual e ser mantido pela igreja, como o foram os outros apóstolos. Uma vez mais, ele renunciou a este direito. “Se outros têm direito de ser sustentados por vocês, não o temos nós ainda mais?, ele perguntou. E acrescentou: “Mas nós nunca usamos desse direito (...)” (v. 12).

O princípio envolvido aqui poderia ser ampliado para incluir o direito que o discípulo tem ao descanso e ao lazer. Muitos obreiros cristãos, têm pagado um alto preço por não separarem um tempo adequado para o descanso e o lazer - como fez o piedoso jovem ministro escocês, Robert Murray McCheyne. No seu leito de morte, com apenas 29 anos de idade, completamente exaurido de tanto trabalhar, ele disse para seu amigo, sentado ao lado de sua cama: “O Senhor deu-me um cavalo para cavalgar e uma mensagem para entregar. E eu matei o cavalo e não posso entregar a mensagem!”

No decurso do labor cristão, haverá ocasiões em que o interesse do evangelho e a necessidade de ajuntar os frutos farão com que o lazer e as férias sejam adiados por algum tempo. O discípulo deve estar pronto para colocar seus direitos de lado quando as necessidades dos homens estão em jogo.

O DIREITO A UMA REMUNERAÇÃO ADEQUADA

“Se entre vocês semeamos coisas espirituais, seria demais colhermos de vocês coisas materiais. Se outros têm direito de ser sustentados por vocês, não o temos nós ainda mais? Mas nós nunca usamos desse direito (...)” (1 Co. 9.11-12).

Para sustentar sua opinião, o apóstolo cita o princípio geralmente aceito de que o agricultor que produz uma safra tem o direito a uma parte da colheita. Em outras

palavras, não há nada errado em alguém ser um pregador que recebe salário. Até o boi não fica amordaçado quando está envolvido em debulhar o grão. “Da mesma forma, o Senhor ordenou àqueles que pregam o evangelho, que vivam do evangelho” (vs. 9, 14).

Se possuirmos muito ou pouco dinheiro, isto não importa. Nossa atitude em relação a isto é que é reveladora. Não há

qualidade moral na riqueza ou na pobreza em si mesmas, mas a nossa atitude para com o dinheiro é o teste da verdadeira espiritualidade. Em um mundo onde valores materiais e financeiros são de tão grande valor, não é fácil escapar de sua nódoa.

A MOTIVAÇÃO

A renúncia voluntária aos nossos direitos em quatro áreas tão sensíveis, conforme discutido acima, exige mais do que uma motivação comum, ou dedicação. Alguns talvez achem o preço muito exorbitante e voltem atrás.

Deveríamos ser agradecidos pelo fato de Paulo ter não apenas deixado o modelo, mas ter também compartilhado a motivação que o levou a fazer tais renúncias com alegria.EXERCÍCIO:

a) De que direitos você já abriu mão no passado por causa do Reino de Deus?

b) De que você está abrindo mão no presente para colocar Deus em primeiro lugar?

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c) Comente sobre os direitos de quem trabalha para a obra de Deus.

15O EXEMPLO DO DISCÍPULO

“(...) seja um exemplo para os fiéis na palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza” (1 Timóteo 4.12).

EM BUSCA DE MODELOS

“Em tudo seja você mesmo um exemplo para eles, fazendo boas obras (...)” (Tt. 2.7).

Em nossos dias, quando as estruturas sociais estão em colapso e a vida familiar se deteriora, há um grande número de jovens que estão confusos, e que não encontram ninguém que sirva de bom e inspirador exemplo. Os jovens crescem sem a presença do pai ou da mãe no lar, numa sociedade que favorece a promiscuidade sexual, a intemperança e a violência. Conseqüentemente, eles estão inconscientemente procurando modelos que apresentem um exemplo atraente.

Através de um estilo de vida exemplar, o discípulo pode tornar seu Senhor atraente diante dos olhos dos outros. Na sua carta a Tito, Paulo insiste no sentido de que ele ensine os servos a trabalharem de modo a agradar seus senhores “(...) para que assim tornem atraente, em tudo, o ensino de Deus, nosso Salvador” (2.10). Obviamente, nossas vidas podem tornar atraente o nosso ensino. As pessoas não deveriam somente ouvir verdades dignas de ser ouvidas, mas deveriam também ver vidas dignas de serem imitadas. A palavra que Paulo usa nesse versículo é traduzida por ornamento em algumas versões. Esta palavra é usada no sentido de se arrumarem as jóias de tal maneira que mostrem sua beleza ao máximo. Este é o nosso privilégio.

EXERCITE-SE NA PIEDADE

Não podemos nos tornar mais piedosos automaticamente. A possibilidade de alguém se tornar mais espiritual é algo que está em suas próprias mãos, e, como Paulo diz, envolve treinamento. Como já foi dito, a palavra “treinar”, no texto original, deu origem à nossa palavra “ginásio”, e esta conexão leva à idéia de “exercitar o corpo ou a mente”. J. B. Phillips traduz assim 1 Tm. 4.7: “Dedica-te com afinco a manter-se espiritualmente em forma”. A implicação é que devemos ter tanta vontade de manter-nos espiritualmente em forma, como o atleta tem vontade

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de ganhar uma medalha de ouro nas Olimpíadas. O treinamento envolve um regular e árduo esforço, que exigirá dedicação de nosso tempo e renúncia a algumas atividades. E isto é algo que temos de fazer. Mas, acima de tudo, isto exigirá que mantenhamos uma vida devocional consistente.

FAÇA UMA COMPENSAÇÃO PARA A SUA MOCIDADE

“Ninguém o despreze pelo fato de você ser jovem, mas seja um exemplo para os fiéis na palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza” (1 Tm. 4.12).

O apóstolo especificou cinco áreas com as quais Timóteo deveria preocupar-se. São áreas em que às vezes os jovens são deficientes - palavra, estilo de vida, amor, fidelidade e pureza.

Embora Timóteo não fosse um jovem qualquer, muitos dos anciãos da igreja de Éfeso eram mais idosos do que ele. Mesmo assim ele não deveria permitir que eles o tratassem como um garoto. Ele estava ali em resposta a um chamado divino. O tempo do verbo aqui nos fornece o sentido da expressão: “Pare de permitir que qualquer pessoa pressione você (...) Não dê a ninguém base por meio de alguma falha em seu caráter para desprezar sua mocidade” (K.S. Wuest).

DEDIQUE-SE À LEITURA PÚBLICA DA ESCRITURA

“Até a minha chegada, dedique-se à leitura pública da Escritura, à exortação e ao ensino” (1 Tm. 4.13).

Timóteo deveria prestar atenção para garantir que aos três elementos do ministério da Palavra estava sendo dada a devida importância. É através da leitura pública da Escritura, que a voz de Deus é ouvida. É lamentável que esta recomendação não seja mais fervorosamente observada.

O segundo elemento é a pregação. Pregar é a exortação que segue à leitura da Escritura. Para ser proveitosa, a verdade deve ser transformada em ação. É espiritualmente perigoso ouvir repetidamente a verdade sem responder a ela. A exortação inclui conselhos, encorajamentos e advertências contra os erros. Atualmente, a pregação tem sido de certa forma rebaixada, a favor do diálogo, da discussão e do aconselhamento, mas a exortação permanece: “Prega a Palavra”.

O terceiro elemento é ensinar - apresentar um ensinamento sistematizado sobre as grandes verdades centrais da fé cristã. Estamos rodeados por um excesso de seitas e heresias, e “a teologia correta é o melhor antídoto para o erro”.

DEIXE DE NEGLIGENCIAR O SEU DOM

“Não negligencie o dom que lhe foi dado (...)” (1 Tm. 4.14).

Não ficamos sabendo que dom era esse. O tempo do verbo traduzido por “não negligencie” tem o sentido de “pare de negligenciar” ou “não se torne descuidado” com o seu dom. Isto dá a entender que o tímido Timóteo precisava ser estimulado nesse aspecto.

OCUPE-SE COM SUA TAREFA

“Seja diligente nessas coisas; dedique-se inteiramente a elas (...)” (1 Tm. 4.15).

Ele deveria entregar-se ao ministério com renúncia. A. T. Robertson diz que “seja diligente” aqui deveria ser como “afundado até as orelhas”. É não arrastar os pés! Que fins Timóteo deveria ter em vista? “(...) para que todos vejam o seu progresso”. Seu progresso em santidade e semelhança com Cristo deveria ser tão marcante que deveria ser visível a todos - tanto aos de fora quanto aos da família da igreja. Uma

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pergunta que devemos fazer a nós mesmos é: será que meu progresso na vida espiritual é tão evidente, a ponto de ser claramente visível àqueles com quem convivo e trabalho ou àqueles a quem sirvo? O discípulo está exposto a dois riscos, aos quais deve estar atento.

O primeiro é o perigo de uma “infância espiritual” excessiva e indevidamente prolongada. Paulo tinha essa possibilidade em mente quando escreveu à igreja de Corinto, altamente dotada, mas ainda confusa e espiritualmente imatura: “Irmãos, não lhes pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a crianças em Cristo. Dei-lhes leite, e não alimento sólido, pois vocês não estavam em condições de recebê-lo. De fato, vocês ainda não estão em condições” (1 Co. 3.1-2).

O segundo perigo era a “senilidade espiritual”. O escritor da carta aos Hebreus estava preocupado porque alguns deles tinham retrocedido a um estado de senilidade espiritual, e então lhes fez a seguinte recomendação: “Embora a esta altura já devessem ser mestres, vocês precisam de alguém que lhes ensine novamente os princípios elementares da palavra de Deus. Estão precisando de leite, e não de alimento sólido! Quem se alimenta de leite ainda é criança, e não tem experiência no ensino da justiça” (Hb. 5.12-13). Timóteo tinha de estar prevenido contra tais perigos, e manter um progresso firme e contínuo em busca da maturidade (Hb. 6.1).

MOSTRE PROGRESSO CONSTANTE “(...) para que todos vejam o seu progresso” (1 Tm. 4.15).

É uma experiência salutar, e eu a conheço pessoalmente, aceitar este desafio e medir nosso grau de progresso visível - ou a falta dele. Uma das melhores maneiras de se aferir este propósito é a descrição que Paulo faz do fruto do Espírito em Gálatas 5.22-23. Embarquemos nessa viagem de descoberta. Aqui está o modelo: “(...) o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade,

fidelidade, mansidão e domínio próprio (...)”.

PERSEVERE NESSES DEVERES

Perseverança. A exortação final de Paulo foi quanto à perseverança: “(...) perseverando nesses deveres (...)” (1 Tm. 4.16). Isto é, “continua focalizando tua mente no santo viver e na vigilância, sempre desperto”. Se ele perseverar nesses

deveres, disse o apóstolo, “(...) você salvará tanto a si mesmo quanto aos que o ouvem” (v.16), no sentido de ajudá-los a se livrar da “(...) presente era perversa (...)” (Gl. 1.4).

EXERCÍCIO:

a) Sobre o que você pode dizer: “Sejam meus imitadores?”

b) Comente objetivamente sobre sua leitura bíblica.

c) Como você avalia seu progresso espiritual nesse último ano?

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16A SOLIDÃO DO DISCÍPULO

“(...) Vocês me deixarão sozinho. Mas eu não estou sozinho, pois meu Pai está comigo” (João 16.32).

O fato de a pessoa ser um discípulo de Cristo não a coloca fora do alcance dos tentáculos da solidão, pois ela é universal. Jesus, o Filho do homem, experimentou a solidão durante sua vida terrena. Portanto, a solidão não é um pecado. O discípulo que sofre de solidão não precisa acrescentar o peso da culpa à sua dor. Mas a solidão pode facilmente dar origem ao pecado. É impressionante que a primeira declaração do Senhor de que se tem registro é para se referir ao fato de que a solidão não é boa coisa. “Então o Senhor Deus declarou: Não é bom que o homem esteja só; farei para ele alguém que o auxilie e lhe corresponda” (Gn. 2.18).

Os fatores ambientais e sociais contemporâneos são uma das principais causas da solidão. A principal destas é a perda do companheiro, especialmente se foi um relacionamento de muitos anos. Mudar-se de perto da família pode ser uma experiência por vezes traumática. Sair de casa e afastar-se dos amigos são experiências que podem deixar cicatrizes profundas.

SOLIDÃO NÃO É ISOLAMENTO

Solidão e isolamento não são a mesma coisa. A solidão é algo que escolhemos, enquanto o isolamento chega até nós sem ser convidado, sendo por isto indesejável. A solidão pode ser física, mas o isolamento é um sofrimento psicológico. O isolamento negativo não é produtivo, enquanto que a solidão pode ser construtiva e frutífera.

Foi quando “Jacó, porém, ficou só” (solidão), esperando na tenda, com justa apreensão diante da aproximação do irmão que ele tinha defraudado, que ele teve uma experiência que mudou sua vida.

A solidão no nível espiritual é ainda mais desoladora; é isolar-se de Deus, o único que pode completar e satisfazer o coração humano.

NENHUM ESTÁGIO DA VIDA ESTÁ ISENTO

Em uma de suas peças, Shakespeare descreve as “Sete Idades do Homem”. Com sua pena pungente, ele delineia as características de cada estágio da vida com maior ou menor exatidão. Mas uma coisa é certa, não há nenhuma idade em que o homem esteja isento da solidão.

Algumas pessoas abraçam suas perdas e, como o salmista, recusam-se a ser confortadas, roubando, assim, de si mesmas, aquilo de que mais necessitam - o conforto de Deus. Jesus apropriou-se de Isaías 61.1 para si mesmo: “(...) Enviou-me

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para cuidar dos que estão com o coração quebrantado (...)”. Deixemos que ele faça isto!

AÇÃO CURATIVA

Tendo examinado muitas das causas da solidão, sugerimos agora os caminhos pelos quais suas dores podem ser aliviadas.1. Creia que o Senhor está com você em sua solidão. Eis algumas importantes

promessas esperando ser reivindicadas:

“(...) Eu mesmo o acompanharei, e lhe darei descanso” (Ex. 33.14).“(...) não tema, pois estou com você (...)” (Is. 41.10).“(...) lhe chamarão Emanuel, que significa Deus conosco” (Mt. 1.23).“(...) Deus mesmo disse: Nunca o deixarei, nunca o abandonarei. Podemos, pois, dizer com confiança: O Senhor é o meu ajudador, não temerei. O que me podem fazer os homens?” (Hb. 13.5-6).

2. Considerando que não há pecado em ser uma pessoa solitária, não acrescente culpa ao seu problema.

3. Se as circunstâncias externas não podem ser mudadas, as atitudes internas podem e devem ser ajustadas.

4. Não viva se depreciando. Se Deus aceitou você, é porque você tem algum valor aos seus olhos. Aceite a valorização que ele lhe atribui.

5. “Limpe o terreno”, espiritualmente falando. Se existe algum pecado ainda não confessado, confesse-o honesta e inteiramente, abandonando-o, e apropriando-se do perdão e da pureza de Deus prometidos em 1 João 1.9. Fazendo dessa forma, você eliminará o problema. Isso terá sobre sua vida espiritual o mesmo efeito que o espremer de uma ferida supurada faz sobre seu físico.

6. Compartilhe seus sentimentos, suas lutas, e, é claro, suas falhas, com o seu Senhor, que tudo compreende. “Pois ele sabe do que somos formados; lembra-se de que somos pó” (Sl. 103.14). Abra-se com o seu pastor ou um amigo cristão da sua inteira confiança. Peça-lhe conselhos e também suas orações. Um problema compartilhado geralmente torna-se menos um problema!

7. Aprenda a conviver com alguns problemas não resolvidos. Foi isso que Jesus nos mandou fazer, quando disse: “Você não compreende agora o que estou lhe fazendo; mais tarde, porém, entenderá” (Jo. 13.7).

8. Abandone a autopiedade - esta conduta massacrante. Em muitos casos, a autopiedade é a grande vilã da história. Ter pena de si mesmo é uma rua de mão única que conduz à solidão. Num certo sentido, a autopiedade é uma negação da nossa responsabilidade pessoal de lidar com a situação. E frustra a possibilidade de cura.

Se persistirmos em fixar o nosso pensamento em nós mesmos, isto só servirá para atiçar a chama da solidão. Mas, em vez disso, se voltarmos nossos pensamentos para fora e começarmos a cuidar mais dos outros, então nossa situação poderá se reverter, e seremos capazes de sair da concha de nossa própria desolação.

9. Se as circunstâncias não podem ser modificadas, aceite-as em vez de lutar contra elas; e então se adapte a elas e procure modificá-las.

COMO ESTABELECER NOVOS RELACIONAMENTOS

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O estabelecimento de novos relacionamentos é a cura total para a solidão, mas isto é a coisa mais difícil de fazer. Mas tem de ser feito, pois a opção é a continuação do status quo. Eis algumas sugestões sobre como formar novos relacionamentos:

a) Ore e procure oportunidades para fazer novas amizades entre os cristãos, pessoas que você imagina que podem tornar-se seus amigos.

b) Ao se preparar para a aproximação, pense em assuntos de interesse mútuo, que poderiam tornar-se fáceis para a conversação.

c) Dê o primeiro passo, fazendo a abordagem. Será necessária uma ação definida de sua vontade.

d) Estimule a outra pessoa a falar sobre si mesma. Demonstre genuíno interesse pelas preocupações e interesses da outra pessoa, esquecendo de você mesmo.

e) Se você for tímido e achar difícil falar com as outras pessoas, considere a possibilidade de iniciar e manter uma conversa.

f) Lembre-se que nenhum contato social isolado resolverá todos os seus problemas rapidamente. O alívio mais completo será encontrado na comunhão com o Cristo vivo.

g) Coloque seus desejos e ambições em objetivos fora de você mesmo. Dê a si mesmo em favor dos outros.

h) Dê o primeiro passo para mudar essa situação hoje mesmo. Não espere por uma ocasião mais conveniente. Pode ser que ela demore.

EXERCÍCIO:

a) Qual tem sido sua experiência com a solidão?

b) Na sua opinião, como alguém pode superar a solidão?

c) Como a solidão pode ser positiva?

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17A SEGUNDA CHANCE DO DISCÍPULO

“Mas o vaso de barro que ele estava formando estragou-se em suas mãos; e ele o refez, moldando outro vaso de acordo com a sua vontade” (Jeremias 18.4).

Jeremias, o profeta patriota, estava profundamente magoado. Apesar das suas lágrimas e súplicas, sua amada nação havia se mostrado intransigente e estava se afastando cada vez mais de Deus.

Seus ardentes esforços para evitar a catástrofe foram inúteis. Ele já tinha exaurido todos os seus próprios recursos, e parecia não haver outra opção, senão o merecido julgamento.

Foi justamente quando ele estava nessa crise, que Deus deu-lhe uma visão de esperança. “Vá à casa do oleiro, e ali você ouvirá a minha mensagem” (Jr. 18.2). Embora Israel tivesse contrariado persistentemente o propósito divino de abençoar, se a nação se arrependesse, e uma vez mais cedesse diante do toque divino, o Oleiro celestial faria dela uma nova nação e lhe daria uma nova chance, mesmo nesse último momento. Ao observar o trabalho do oleiro, Jeremias viu:

O FORMATO DO VASO

“Então fui à casa do oleiro, e o vi trabalhando com a roda” (Jr. 18.3).

O oleiro era um homem habilidoso e experiente. Deus é muitíssimo habilidoso em moldar vidas humanas. Ele não faz experiências. Ele não erra. Ele nunca estraga o seu próprio trabalho. A tragédia é que, às vezes, arrogantemente, nós assumimos o papel do oleiro e tentamos moldar nossas próprias vidas. E o resultado é desastroso.

A vida humana, assim como o barro, tem potencial quase ilimitado quando entregue ao toque do Oleiro celestial. Por que algumas vidas são radiantes e outras opacas? São feitas do mesmo material! A diferença está na permissão que o Oleiro tem para elaborar o lindo projeto que está em sua mente.

O VASO ESTRAGADO

“Mas o vaso de barro que ele estava formando estragou-se em suas mãos; e ele o refez, moldando outro vaso de acordo com a sua vontade” (Jr. 18.4).

Enquanto Jeremias admirava o vaso que ficava pronto, de repente ele se transformou num montículo de barro disforme. Todo o trabalho do oleiro resultou em nada.

O lindo formato que o oleiro tinha em mente se desfez, e o profeta esperava que o oleiro fosse jogá-lo no monturo. Não sabemos por que o vaso que estava sendo preparado se quebrou, mas, sem dúvida, foi devido a alguma falha na resposta do barro ao toque do oleiro.

Esta cena tem relação com alguma coisa que acontece em sua vida? O estrago não foi devido a nenhum descuido ou falta de habilidade do oleiro. Nenhum artista estraga seu próprio trabalho. Nós nos lançamos à vida cheios de esperanças e

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ideais, mas freqüentemente somos derrotados na batalha da vida. O vaso está quebrado, mas há um raio brilhante de esperança. O “barro” ainda está em “suas mãos”. Ele não o jogou fora!

O projeto do Oleiro celestial pode ser estragado de várias maneiras, sendo que a mais comum delas é a tolerância do pecado em nossa vida. Pode ser pecado praticado à vista de todos, ou pecado acariciado em nossa imaginação. Podem ser pecados do espírito: orgulhos, cobiça ou pecados da fala. Tais pecados parecem ser mais respeitados do que os pecados grosseiros da carne, mas nem por isso são aceitos por Deus. Seja qual for o pecado, ele estraga o vaso. Pode ser resistência à vontade de Deus. O barro dos nossos desejos é resistente demais para ceder ao delicado toque do Oleiro. A batalha crucial geralmente se desenvolve ao redor de um ponto de resistência - e isto estraga o vaso. Ou pode ser alguns relacionamentos errados ou inúteis, que cortam as bênçãos de Deus.

Estes assuntos exigem ações drásticas. Eles devem ser cuidadosamente pensados e tratados impiedosamente, se quisermos realmente retornar ao caminho certo.

O VASO REMODELADO

“(...) ele o refez, moldando outro vaso de acordo com a sua vontade” (Jr. 18.4). Aqui está a mensagem de esperança de Deus. O oleiro de Jeremias não jogou fora o vaso deformado, mas do mesmo barro, talvez amaciado com um pouco de água, ele fez outro. Este novo vaso talvez não fique tão bonito como se esperava que o primeiro ficasse, mas o Mestre ainda pode usá-lo.

Quem, senão ele teria escolhido Jacó para ser o chefe da nação santa, através de quem viria o Messias? O próprio nome Jacó significava “trapaceiro, suplantador”. Um autor disse que ele era tão torto que poderia esconder-se atrás de um saca-rolha. Antes da crise determinante da sua vida, ele viveu cerca de 20 anos agindo desonestamente contra seu tio, Labão, e vice-versa. Então, Deus colocou-o contra a parede, e ele não teve nenhuma saída.

“E Jacó ficou sozinho. Então veio um homem que se pôs a lutar com ele até o amanhecer. Quando o homem viu que não poderia dominá-lo, tocou na articulação da coxa de Jacó, de forma que lhe deslocou a coxa, enquanto lutavam. Então o homem disse: Deixe-me ir, pois o dia já desponta. Mas Jacó lhe respondeu: Não te deixarei ir, a não ser que me abençoes. O homem lhe perguntou: Qual é o seu nome? Jacó, respondeu ele. Então disse o homem: Seu nome não será mais Jacó, mas sim Israel, porque você lutou com Deus e com homens e venceu” (Gn. 32.24-28).

Até essa ocasião, Jacó tinha resistido ao Oleiro em tudo, e buscando seus próprios caminhos tortuosos; mas, finalmente, foi derrotado. Ele deixou cair a espada da rebelião. E Deus o transformou de um mau elemento em um príncipe.

Simão Pedro não era muito promissor. Depois de muitas falhas, ele alcançou o fundo do poço de suas experiências, quando negou seu Senhor com juramentos e maldições. Quando ele saiu da presença do Senhor e chorou amargamente, sem dúvida pensou que o fim havia chegado para ele. Fora um lindo sonho enquanto havia durado, mas ele tinha destruído o sonho. Seria melhor voltar a pescar.

Mas o Oleiro celestial não estava desencorajado. Ele não jogou Pedro fora, no monte de cacos. Em 50 dias, aquele mesmo Pedro estava pregando o inflamado Sermão de Pentecoste, que levou três mil pessoas ao Reino de Deus. Jesus nem mesmo o colocou em um período de experiência! “Ele bem sabia o que havia no homem” e ele viu a profundidade e a realidade do arrependimento de Pedro. Deus

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não somente reinstituiu Pedro no apostolado; Pedro tornou-se o líder do grupo; a ele foram confiadas as chaves que abririam o Reino dos Céus tanto aos judeus quanto aos gentios.

João Marcos era um jovem promissor, que se tornou um desertor. Quando Barnabé e Paulo partiram para a sua primeira jornada missionária, Marcos os acompanhou, cheio de grandes esperanças. Sentia-se honrado por viajar com aqueles homens. Mas, à medida que as oposições cresceram e a viagem tornou-se mais árdua e perigosa, seu entusiasmo inicial evaporou. Ele os deixou e voltou para casa (At. 13.13) - foi um desertor.

Quando Barnabé sugeriu que o levassem na próxima viagem, Paulo não quis nem ouvir. Marcos já tinha feito o que fez com eles uma vez - nada de segunda chance. Mas Barnabé e o Oleiro celestial não o deixaram; deram-lhe uma segunda chance, e ele se saiu bem. O desertor veio a ser o biógrafo do Filho de Deus! Maravilhosa graça do Oleiro que jamais se desencoraja!

O VASO APERFEIÇOADO

Em sua arte, o oleiro usa tanto o fogo quanto a roda. Sem o fogo do forno, o vaso não conserva seu formato. No fogo, a umidade e outros elementos indesejáveis são eliminados pelo calor. À medida que a temperatura se eleva, o barro torna-se puro, e as lindas cores do modelo do oleiro são fixadas.

Qual o modelo que nosso Oleiro tem em mente? Não é uma idéia que chegou atrasada, que veio depois. Paulo nos diz o que é: “Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (Rm. 8.29).

Todos os toques do Oleiro em nossas vidas têm esse fim desejável em vista. Os toques que às vezes tememos são destinados somente a remover as coisas feias, e substituí-las pela graça e pelas virtudes do nosso Senhor.

Quando, através de duras provações, tiveres que passar,Minha graça, que é suficiente, será tua provisão;A chama não há de te machucar; ela só existe paraTua escória consumir, e teu ouro refinar - Robert Keene

O fogo faz com que o modelo torne-se permanente. O oleiro nunca coloca artigos desprotegidos no fogo. Sempre os coloca enrolados em algum material que seja resistente ao fogo. De outra forma, o forte calor pode estragar os objetos. Isso nos lembra a profecia de Isaías, quando o Senhor disse: “Mas agora assim diz o Senhor, aquele que o criou, ó Jacó, aquele que o formou, ó Israel: Não tema, pois eu o resgatei; eu o chamei pelo nome; você é meu. Quando você atravessar as águas, eu estarei com você; quando você atravessar os rios, eles não o encobrirão. Quando você andar através do fogo, não se queimará; as chamas não o deixarão em brasas” (Is. 43.1-2). Nunca somos deixados a passar pelo teste do fogo sozinhos - mas será que acreditamos sempre nisto, lançando mão desse conforto?

Depois de uma série de reveses e sofrimentos pelos quais Jó passou, ele deu este testemunho, que um sem-número de pessoas santificadas subscreveram em anos subseqüentes: “Mas ele conhece o caminho por onde ando; se me puser à prova, aparecerei como o ouro” (Jó. 23.10).Judas repeliu persistentemente o toque benéfico do Oleiro na sua vida, e o resultado disto foi que não houve outro lugar para ele senão no monte de cacos quebrados. Teria sido mera coincidência que o ladrão suicida tivesse sido enterrado no campo do oleiro, que os sacerdotes tinham comprado por 30 moedas de prata, pelas quais ele traiu Cristo? (Mt. 27.7-10; At. 1.18-19).

O seu fim é um aviso para aqueles que estão resistindo ao toque do Oleiro.

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18A COMISSÃO RENOVADA DO DISCÍPULO

“Assim diz o Senhor dos Exércitos: Se você andar nos meus caminhos e obedecer aos meus preceitos, você governará a minha casa e também

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estará encarregado das minhas cortes, e eu lhe darei um lugar entre estes que estão aqui” (Zacarias 3.7).

O SUMO SACERDOTE DESQUALIFICADO Na visão, Zacarias foi introduzido a uma cena no céu. Um julgamento estava em processo, com Josué, o sumo sacerdote e representante do seu povo, no banco dos réus. De pé, do seu lado direito, estava Satanás, seu adversário e acusador. Para a sua consternação, o profeta viu Josué vestido com roupas imundas. De acordo com as leis de Moisés, isto o desqualificava para a função de sumo sacerdote.

De repente para alívio e alegria de Zacarias, o suspense foi quebrado pela intervenção espontânea do Juiz, repreendendo e refutando as acusações feitas pelo acusador. “O anjo do Senhor disse a Satanás: O Senhor o repreenda, Satanás! O Senhor que escolheu Jerusalém o repreenda! Este homem não parece um tição tirado do fogo?” (Zc. 3.2). Então, o acusador de Josué foi repreendido e calou-se.

Porque Cristo nos constituiu “(...) reino e sacerdotes para servir a seu Deus e Pai (...)” (Ap. 1.6), é privilégio e função de todo discípulo ministrar diante de Deus. No desempenho dessa função, podemos esperar, como Josué, que venhamos a atrair a hostilidade do nosso Adversário, no seu papel de “(...) acusador dos nossos irmãos (...)” (Ap. 12.10). Josué era, sem dúvida, um dos homens mais santos de sua época, e no entanto, quando se viu diante da resplandecente luz da santidade de Deus, sentiu sua total inadequação para atuar como sacerdote do Deus vivo.

O CONSELHO ACUSADOR

Satanás é chamado de “(...) o acusador dos nossos irmãos (...)” (Ap. 12.10). Este é o seu papel favorito. Ele é o pai da mentira (Jo. 8.44).

Satanás se deleita quando vê um cristão “vestido com roupas imundas”, e, como fez com Josué, ele fará tudo o que estiver ao seu alcance para evitar que essas roupas sujas sejam trocadas por outras limpas. Ele sabe que nada pode prejudicar mais a causa de Cristo do que um cristão que cai em pecado. Satanás tem ganhado muitas vitórias. Mas a vitória final não está com ele.

Vale a pena observar que na visão de Zacarias o Juiz não negou as acusações trazidas pelo Acusador contra Josué e a nação, mas recusou-se a levá-las em consideração. “O Senhor te repreenda, Satanás” foi sua resposta. “Não é este um tição tirado do fogo?”

Esta última figura é muito interessante. Imagine um documento importante sendo inadvertidamente atirado ao fogo. Em tempo, é descoberto e arrancado do fogo. As beiradas estão chamuscadas, mas a parte essencial do documento ainda está intacta. Ele tem valor, embora esteja um tanto desfigurado. O fato de Deus ter se preocupado em retirar Josué - e nós - do fogo é a nossa segurança de que temos valor aos seus olhos, e de que ele aperfeiçoará em nós o trabalho que começou. “Estou convencido de que aquele que começou boa obra em vocês, vai completá-la até o dia de Cristo Jesus” (Fp. 1.6).

Paulo festejava, num senso de completa absolvição espiritual, quando escreveu as vibrantes palavras: “Quem fará alguma acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? Foi Cristo Jesus que morreu; e mais, que ressuscitou e está à direita de Deus, e também intercede por nós” (Rm. 8.33-34).

Quando, num sonho, o Acusador dos cristãos confrontou Martinho Lutero com uma assustadora lista de pecados, ele, penitentemente, tomou a todos como sendo seus. Então, voltando-se para o Acusador, disse: “Sim, eles são todos meus, mas

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escreva por cima deles todos: “(...) o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado” (1 Jo. 1.7). Esta é a resposta perfeita e adequada para toda e qualquer acusação de Satanás.

O JUIZ QUE ABSOLVE

Quando Deus escolheu Israel como nação e Jerusalém como a cidade através da qual ele traria bênçãos para todo o mundo, ele já previa todo o seu trágico futuro de rebelião. Suas ações e reações não o pegaram de surpresa; nem as nossas. Foi como se ele tivesse dito: “Escolhi Israel sabendo tudo o que eles fariam e seriam. Não os escolhi porque fossem maiores ou melhores do que outras nações, mas porque tive amor por eles. Nenhuma acusação que você possa fazer contra eles fará com que os propósitos de minha graça venham a falhar. Não é este um tição queimado tirado do fogo?”

Esta é a mensagem de encorajamento para o discípulo que perdeu contato com Deus. Mesmo tendo em mente nossa falha mais recente, podemos ver que é verdade que Deus, sabendo de tudo, nos escolheu antes da criação do mundo (Ef. 1.4). Embora os nossos pecados não o tenham surpreendido, eles têm entristecido profundamente nosso amado Pai. Mas seu conhecimento anterior não apagou seu amor. Porque todas as acusações que poderiam ser trazidas contra nós foram respondidas na cruz, ele é capaz de repreender e fazer silenciar o Acusador. Verdadeiramente, somos varas queimadas tiradas do fogo, mas o Senhor ainda tem um propósito para as nossas vidas, como tinha para a vida de Josué.

Há um imenso conforto no fato de que, embora Josué tivesse um Acusador malicioso e vingativo, tinha também um poderoso Advogado. É em prejuízo próprio que tão freqüentemente ouvimos a voz do acusador, e não ouvimos a voz confortadora do nosso Advogado.

O SENHOR RECOMISSIONADOR

Houve quatro passos no recomissionamento e na reinstalação de Josué:

Ele foi limpo

“Tirem as roupas impuras dele” (Zc. 3.4).

As palavras foram endereçadas aos espectadores. As roupas, naturalmente, representam o caráter de que estamos revestidos. Roupas sujas significam impureza e pecados de caráter. Deus não descansará, não cessará de trazer distúrbios às nossas vidas até que sejam removidas, e deveríamos ficar contentes por ser assim.

Ele foi vestido

“Depois disse a Josué: Veja, eu tirei de você o seu pecado, e coloquei vestes nobres sobre você” (Zc. 3.4).

Agostinho tinha vivido seus primeiros dias no pecado e na licenciosidade, apesar das orações e das lágrimas da sua mãe, Mônica. Um dia, ele ouviu uma voz que dizia: “Tome e leia”. Ele pegou sua Bíblia e leu: “Comportemo-nos com decência, como quem age à luz do dia, não em orgias e bebedeiras, não em imoralidade sexual e depravação, não em desavença e inveja. Ao contrário, revistam-se do Senhor Jesus Cristo, e não fiquem premeditando como satisfazer os desejos da carne” (Rm. 13.13-14).

Deus falou-lhe poderosamente através destas palavras. Ele disse para si mesmo: “Gastei todo o meu tempo permitindo que a carne me tiranizasse, e agora Deus

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ordenou que eu me revista do Senhor Jesus Cristo”. Por um ato de sua vontade, ele se apropriou de Cristo como complemento de todas as suas necessidades, e daquela hora em diante sua vida foi completamente transformada. O devasso transformou-se num dos maiores líderes cristãos da Antigüidade.

O maravilhoso guarda-roupa de Deus está à nossa disposição. Nós devemos, por um ato definitivo da vontade, tirar “as roupas manchadas de sangue” - renunciá-las e abandoná-las. Cristo espera que dele nos apropriemos, para ele poder atender a todas as nossas necessidades.

Ele foi coroado

“Disse também: Coloquem um turbante limpo em sua cabeça” (Zc. 3.5).

Poderia parecer que a essa altura Zacarias tivesse sido somente um observador atemorizado. Mas, agora, quando viu Josué limpo e vestido com ricas roupas, ele, emocionado, interrompeu e disse: “Coloquem um turbante limpo em sua cabeça”, como se estivesse dizendo: “Completem a restauração!” Ele estava se referindo ao turbante do sumo sacerdote que trazia uma placa de ouro, na qual lia-se as palavras “Santidade ao Senhor”. Era também nesse turbante que o óleo perfumado da unção era derramado. “(...) Colocaram o turbante nele e o vestiram (...)” (v.5). A restauração foi completa. Sua autoridade sacerdotal pôde mais uma vez ser exercida.

Ele foi comissionado

“O anjo do Senhor exortou Josué, dizendo: Assim diz o Senhor dos Exércitos: Se você andar nos meus caminhos e obedecer aos meus preceitos, você governará a minha casa e também estará encarregado das minhas cortes, e eu lhe darei um lugar entre estes que estão aqui” (v. 6 e 7).

O Senhor, que é perdoador, tinha feito sua parte de forma magnânima. Agora faltava apenas Josué aceitar sua responsabilidade, usufruir os privilégios que lhe foram concedidos, e andar nos caminhos do Senhor. Na linguagem do Novo Testamento, o equivalente seria “andar no Espírito”.

Josué não foi apenas recomissionado, mas foi admitido a privilégios dos quais nunca desfrutara antes - o direito de acesso à presença imediata de Deus e a admissão nos próprios desígnios do Todo-Poderoso.

19O PODER DO DISCÍPULO

“Eu lhes envio a promessa de meu Pai; mas fiquem na cidade até serem revestidos do poder do alto” (Lucas 24.49).

“Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas (...)” (Atos 1.8).

Nestas palavras proferidas antes da sua ascensão, Jesus falou aos seus discípulos no sentido de não iniciarem seu ministério público até que fossem revestidos - dotados - com o poder do alto. Ele mesmo tinha dado o exemplo. Apesar de sua vida santa, ele não iniciou seu ministério público até que recebeu o Espírito Santo.

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“Assim que Jesus foi batizado, saiu da água. Naquele momento o céu se abriu, e ele viu o Espírito de Deus descendo como pomba e pousando sobre ele” (Mt. 3.16).

Os discípulos atenderam a sua ordem, e no dia de Pentecostes “todos ficaram cheios do Espírito Santo (...)” (At. 2.4). Até aquele dia eles tinham causado pouca agitação, mas logo deles foi dito: “(...) Esses homens, que têm causado alvoroço por todo o mundo, agora chegaram aqui” (At. 17.6). O poder dinâmico do Espírito Santo transformou seus ministérios e os fez poderosamente eficientes.

O Espírito Santo não deve ser concebido em termos de uma experiência emocional. Ele não é uma influência misteriosa e mística que permeia a vida de alguém; nem é uma energia, como a eletricidade, que podemos usar para realizar os nossos propósitos. Ele é uma Pessoa divina, igual ao Pai e ao Filho em poder e dignidade; e ele deve ser igualmente amado e obedecido. Há uma linha de pensamento que dá a impressão de que o Espírito Santo é um “artigo de luxo” para uma elite espiritual de cristãos avançados, e que aqueles que não têm certas experiências são cidadãos de segunda classe. Mas esta concepção é errada. Na verdade, Jesus ensinou exatamente o contrário. Veja suas palavras:

“Qual pai, entre vocês, se um filho lhe pedir um peixe, em lugar disso lhe dará uma cobra? Ou se pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai que está nos céus dará o Espírito Santo a quem o pedir!” (Lc. 11.11-13).

Numa passagem paralela, Jesus acrescentou: “Qual de vocês, se seu filho pedir pão, lhe dará uma pedra?” (Mt. 7.9).

Assim, ao ilustrar a natureza e a obra do Espírito Santo, o Senhor não o compara com as luxúrias da vida oriental, mas com o alimento básico na vida diária dos lares orientais - peixe, ovo, pão. A carne era muito cara para a maioria dos lares, e era vista como luxo.

A mesma verdade emerge na conversa de Paulo com os anciãos de Éfeso. Aparentemente, ele descobriu que faltava algo na experiência deles, “e lhes perguntou: Vocês receberam o Espírito Santo quando creram? Eles responderam: Não, nem sequer ouvimos que existe o Espírito Santo” (At. 19.2).

Depois de instruí-los nas áreas onde o conhecimento era deficiente, Paulo impôs suas mãos sobre eles e “(...) veio sobre eles o Espírito Santo (...)” (v. 6). O Espírito Santo já havia sido dado no dia de Pentecoste para toda a igreja, mas os anciãos de Éfeso tinham que crer nisto e tinham que se apropriar desta dádiva divina. Esta falha em seu conhecimento foi responsável pelo seu testemunho aparentemente anêmico.

DEIXEM-SE ENCHER PELO ESPÍRITO

A ordem “(...) deixem-se encher pelo Espírito (...)” (Ef. 5.18) não é dirigida às pessoas especialmente santas, ou para um estágio de vida cristã avançado; da mesma forma que o pão, o peixe e os ovos não são reservados para os adultos e negados às crianças. O maravilhoso ministério do Espírito Santo é uma necessidade indispensável e universal em qualquer estágio da vida do discípulo. Ser cheio do Espírito é o mínimo indispensável para uma vida cristã completa. Deus não mantém seus filhos com o mínimo, o essencial à vida; ele abre para nós um inesgotável reservatório de bênçãos.

O tempo do verbo em Efésios 5.18 tem o seguinte sentido: “deixe o Espírito Santo continuar enchendo sua vida” - uma ação contínua, como foi dito pelo Senhor: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva. Ele estava se referindo ao Espírito, que

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mais tarde receberiam os que nele cressem. Até então o Espírito ainda não tinha sido dado, pois Jesus ainda não fora glorificado” (Jo. 7.37-39).

A mesma palavra para deixem-se encher é usada em outro lugar na expressão encher-se de tristeza, ou de medo - emoções que podem poderosamente controlar nossas ações. Assim, quando estou cheio do Espírito, minha personalidade é voluntária e cooperativamente entregue ao seu controle.

Parece estranho que embora os 12 apóstolos tenham desfrutado de três anos de concentrada instrução individual com o incomparável Professor, suas vidas foram caracterizadas mais por fraquezas do que por poder e sucesso. Foi o Pentecoste que mudou tudo isso; eles foram cheios do Espírito Santo. Depois da sua ressurreição, Jesus assegurou a seus discípulos que aquele defeito seria corrigido.

A PROMESSA DO PODER

“Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra” (At. 1.8).

Duas palavras são empregadas no Novo Testamento para poder: exousia, significando “autoridade”, e dunamis, significando “habilidade, poder, energia”. Foi dunamis que o Senhor prometeu aos seus discípulos. Ele não falou de poder político, intelectual ou de oratória, mas do poder que vem diretamente de Deus, através do Espírito Santo - poder que revoluciona a vida e a energiza para um trabalho espiritual eficiente.

As palavras diferem no seu poder de penetrar e de convencer. As palavras ditas por uma pessoa controlada pelo Espírito Santo hão de produzir convicção nos seus ouvintes, enquanto que as mesmas palavras ditas por uma outra pessoa que não esteja assim dotada não causarão nenhuma mudança. A diferença está na presença ou na ausência da “unção” do Espírito.

Um escritor observou que depois da efusão do Pentecoste os apóstolos não alugaram o Cenáculo para a santa reunião; em vez disto, saíram para as ruas e testemunharam de Cristo.

Assim como há diversidade de dons espirituais, há também diversidade na maneira pela qual o Espírito trabalha em vidas diferentes, em épocas diferentes. Em uma pessoa o resultado é visto na paixão pelas almas; em outra, um apetite voraz, fora do comum, pela Palavra de Deus; em outra, uma grande preocupação social. Mas o Espírito é o mesmo que está trabalhando na vida de cada pessoa.

PREOCUPAÇÃO SOCIAL

Há uma tendência para pensar no ministério do Espírito Santo apenas em relação às atividades espirituais. Mas um estudo do Livro de Atos revela que ele estava envolvido nos problemas sociais e raciais que seus discípulos tiveram de enfrentar, e também em suas preocupações econômicas e eclesiásticas.

Jesus precisou da unção e do poder do Espírito não somente para o ministério da Palavra, mas também para ir por toda parte, fazendo o bem (At. 10.38). O poder do Espírito é necessário tanto para o serviço em casa como nos negócios, na comunidade e na igreja. Nunca mais se ouviu nada a respeito dos mais de 120 de Pentecoste. Sem dúvida muitos voltaram para suas casas, para ter uma vida comum, porém uma vida santa. Deus vê e promete recompensar os obreiros desconhecidos.

Uma das qualificações para este ministério social era que os homens escolhidos deveriam ser “(...) de bom testemunho, cheios do Espírito e de sabedoria (...)” (At.

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6.3). O cumprimento fiel deste obscuro ministério social de Estêvão, mais tarde, veio a abrir caminho para o poderoso ministério da pregação, que culminou no seu martírio. Um dos importantes ministérios do Espírito é equipar o discípulo para o serviço eficaz no Corpo de Cristo.

EXERCÍCIO:

a) Você está cheio do Espírito Santo?

b) Como saber quando se está cheio do Espírito?

20A ESPERANÇA DO DISCÍPULO

“Porque a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens. Ela nos ensina a renunciar à impiedade e às paixões mundanas e a viver de maneira sensata, justa e piedosa nesta era presente, enquanto aguardamos a bendita esperança: a gloriosa manifestação de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo” (Tito 2.11-13).

Poucos discípulos inteligentes discordarão da afirmativa de que estamos nos aproximando rapidamente da consumação dos séculos. Não o fim dos séculos meramente, porque qualquer campanha pode chegar ao fim sem ter alcançado nenhuma conquista ou realização. A consumação significa que o alvo que se tinha em vista foi alcançado.

O Novo Testamento constantemente focaliza o triunfo final de Cristo no tempo e na história. Em nenhum lugar é dito para esperarmos uma operação de resgate destinada a uma geração privilegiada. Mas somos encorajados a crer que haverá uma conquista mundial completa por nosso glorioso Senhor e Salvador.

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“A bendita esperança” do discípulo de Cristo não é o arrebatamento da Igreja, embora ele seja certo, mas “a gloriosa manifestação de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo”. Nós, seres humanos, somos tão centralizados em nós mesmos que temos a tendência de pensar nesse glorioso evento em termos do que ele significará para nós, em vez de pensarmos no que ele significará para Jesus. Até os nossos hinos são assim:

“Sim há de ser, glória pra mim,Glória pra mim, glória pra mim”.

A consumação dos séculos acontecerá quando Cristo for coroado Rei dos reis e Senhor dos senhores, e for reconhecido como tal por toda a criação. É na direção desse glorioso acontecimento que os discípulos deveriam olhar.

OS SINAIS DA VOLTA DE CRISTO

De uma forma muito especial, característica do nosso tempo, esta geração tem sido testemunha de cumprimentos de profecias, de modo universal e dramático. Muitos dos sinais que Jesus disse que antecederiam a sua volta têm-se desenrolado diante de nossos olhos.

O Sinal Evangelístico “E este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo como testemunho a todas as nações, e então virá o fim” (Mt. 24.14).

Esta profecia tem-se cumprido em nossa geração de um modo como jamais foi visto antes. Não existe hoje nenhuma grande nação onde não haja testemunho do Cristianismo. Mas como Cristo ainda não voltou, é óbvio que nossa tarefa ainda não foi completada.

O Sinal Religioso “(...) Antes daquele dia virá a apostasia e, então, será revelado o homem do pecado, o filho da perdição” (2 Ts. 2.3). Infelizmente podemos ver este sinal sendo cumprido por toda parte. Como Jesus disse, o amor de muitos esfriará (Mt. 24.12). Mas em muitas partes do mundo há uma inédita colheita; então não precisamos nos sentir desencorajados.

O Sinal Político Poderiam as condições mundiais reinantes de hoje ter sido mais exatas e amplamente descritas do que o foram nas Palavras do Senhor, em Lucas 21.25-26? “(...) Na terra, as nações estarão em angústia e perplexidade (...) Os homens desmaiarão de terror, apreensivos com o que estará sobrevindo ao mundo (...)”.

O Sinal Judaico “(...) Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos deles se cumpram” (Lc. 21.24).

Há sinais dados por Jesus aos seus discípulos que são amplos e gerais. São precursores do seu retorno. Estes e muitos outros sinais foram intensificados e estão se cumprindo em nossos dias. Pela primeira vez em 2.500 anos, Jerusalém não está dominada por gentios.

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Jesus reservou aos fariseus uma das suas sátiras mais mordazes. Os fariseus exigiam um sinal do céu para provar que ele, Jesus, tinha a aprovação divina:

“Ele respondeu: Quando a tarde vem, vocês dizem: Vai fazer bom tempo, porque o céu está vermelho, e de manhã: Hoje haverá tempestade, porque o céu está vermelho e nublado. Vocês sabem interpretar o aspecto do céu, mas não sabem interpretar os sinais dos tempos!” (Mt. 16.2-3).

Qualquer que seja a visão que tenhamos quanto aos detalhes que acompanharão a segunda vinda de Cristo, se falharmos em discernir nestes sinais amplos uma notificação da iminência do seu retorno, merecemos uma repreensão semelhante. A história está se movendo rapidamente - não para o cataclismo meramente, mas para a consumação.

O RETORNO DE CRISTO É CONDICIONAL

O fato de o nosso Senhor ainda não ter voltado é uma indicação clara de que a tarefa deixada com a Igreja de “fazer discípulos de todas as nações” ainda não está completa. A incerteza quanto ao tempo exato da sua volta, em vez de nos desencorajar, deveria nos incentivar a um esforço mais urgente. Deus escolheu ser dependente da cooperação do seu povo.

Considerando, como vimos, que Jesus fez com que sua volta dependesse da nossa pregação do evangelho, como um testemunho a todos (Mt. 24.14), a nossa responsabilidade torna-se bem clara. É Pedro quem nos diz:

“O dia do Senhor, porém, virá como ladrão. Os céus desaparecerão com um grande estrondo, os elementos serão desfeitos pelo calor, e a terra, e tudo o que nela há, será desnudada. Visto que tudo será assim desfeito, que tipo de pessoas é necessário que vocês sejam? Vivam de maneira santa e piedosa, esperando o dia de Deus e apressando a sua vinda. Naquele dia os céus serão desfeitos pelo fogo, e os elementos se derreterão pelo calor” (2 Pe. 3.10-12).

Qualquer aparente demora no retorno de Cristo não é por culpa dele. Pedro nos assegura: “O Senhor não demora em cumprir a sua promessa (...)” (2 Pe. 3.9). A demora, portanto, se deve à desobediência da Igreja, que tem sido negligente na resposta à Grande Comissão.

O DESAFIO MODERNO

Por que Deus teria reservado grande parte das invenções para esta geração, senão para facilitar e acelerar a propagação do evangelho? Pense nas vantagens que temos, comparando com todas as gerações anteriores:

1. Temos mobilidade quase total. Com o advento do avião, o mundo se transformou numa aldeia global.

2. O rádio, a televisão, a internet e outros meios eletrônicos de comunicação colocaram o mundo inteiro ao alcance do evangelho.

3. As técnicas lingüísticas foram aperfeiçoadas grandemente, reduzindo bastante a dificuldade do estudo das línguas.

4. Problemas de saúde que dizimavam a vida de muitos dos primeiros missionários não constituem mais uma ameaça.

5. A Igreja hoje tem muitos recursos, se seus membros se dispuserem a contribuir.

6. Há uma reserva incomparável de homens e mulheres treinados.

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Nossa geração não terá desculpas se falhar diante do nosso Senhor. Devemos mobilizar todas as nossas forças e recursos, e apressar o ritmo do esforço missionário. O mesmo Espírito Santo que deu poder aos primeiros discípulos para transformar o mundo, continua trabalhando no mundo de hoje.

Está a Noiva fazendo o Noivo esperar? Por que ainda não se aprontou? Porque não cumpriu, ainda, a sua missão???

“Jesus dizia a todos: Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me” (Lc. 9.23).

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