Daniel Apocalipse Por Isaac Newton

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Observations upo n the Prophecies of Daniel, and the  A pocal y pse of St . John, in Two Parts  by : Isaac Newton

Transcript of Daniel Apocalipse Por Isaac Newton

  • Observations upon the

    Prophecies of Daniel,

    and the

    Apocalypse of St. John,

    in Two Parts

    by: Isaac Newton

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    OBSERVAES SOBRE

    AS PROFECIAS DE DANIEL E O

    APOCALIPSE DE SO JOO

    POR

    Sir Isaac Newton

    TRADUZIDAS DA EDIO INGLESA DE 1733,

    POR

    JULIO ABREU FILHO

    RUA ALFERES MAGALHES, 304 SO PAULO BRASIL

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    OBSERVATIONS U P O N T H E

    P R O P H E C I E S OF

    D A N I E L, AND THE

    A P O C A L Y P S E OF

    St. J O H N.

    In T W O P A R T S. By Sir I S A A C N E W T O N.

    L O N D O N,

    Printed by

    J. D A R B Y and T. B R O W N E in Bartholomew-Close.

    And Sold by

    J. R O B E R T S in Warwick-lane,

    J. T O N S O N in the Strand,

    W. I N N Y S and R. M A N B Y at the West End of St. Pauls Church-Yard,

    J. O S B O R N and T. L O N G M A N in Pater-Noster-Row,

    J. N O O N near Mercers Chapel in Cheapside,

    T. H A T C H E T T at the Royal Exchange,

    S. H A R D I N G in St. Martins lane,

    J. S T A G G in Westminster-Hall,

    J. P A R K E R in Pall-mall,

    And

    J. B R I N D L E Y in New Bond-Street.

    M DCC XXXIII (ano de 1733)

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    NDICE

    Dedicatria de Joseph Smith . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

    PRIMEIRA PARTE

    OBSERVAES SOBRE AS PROFECIAS

    DE DANIEL Caps.

    1 -- Introduo. Os compiladores dos livros do Velho Testamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 2 -- A linguagem proftica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 8 3 -- Da viso da imagem de quatro metais . . . . . . . . . . 2 5 4 -- Da viso das quatro bestas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 9 5 -- Dos reinos representados pelos ps de ferro e barro 3 3 6 -- Dos dez reinos representados pelos dez chifres . . . 4 5 7 -- Do undcimo chifre da quarta besta . . . . . . . . . . . . . 6 7 8 -- Do poder do undcimo chifre de mudar os tempos e as leis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 1 9 -- Dos reinos representados pelo carneiro e pelo bode 1 0 2 10 -- Da profecia das setenta semanas . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 1 3 11 -- Da poca do nascimento e da paixo de Cristo . . . . 1 2 7 12 -- Da profecia da escritura da verdade . . . . . . . . . . . . . 1 4 9 13 -- Do rei que fez o que quis; elevou-se e engrandeceu- se acima de todos os deuses e venceu os maozins e mostrou-se indiferente ao amor de mulheres . . . . . . 1 6 8 14 -- Dos maozins, venerados pelo rei que faz o que quer 1 7 6

    SEGUNDA PARTE

    OBSERVAES SOBRE O APOCALIPSE DE SO JOO

    Caps. 15 -- Introduo. poca em que foi escrito o Apocalipse 2 0 2 16 -- Das relaes entre o Apocalipse e o livro da lei de Moiss e o culto de Deus do tempo (+ verso mais resumida, trazida como Apndice ao final do livro . . . . . 2 1 8 17 -- Da relao entre as profecias de Joo e de Daniel. O assunto da profecia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 4 9 PGINA FINAL: NOTAS DO DIGITADOR . . . . . . . . . . . . . . . 2 7 6

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    DEDICATRIA: Ao honorvel P E T E R, Rei e Senhor, Baro de Ockham, Alto Chanceler da Gr Bretanha. Meu senhor,

    Eu no fao nenhuma objeo em enviar as folhas seguintes para V. Excia., j que vs vivestes um relacionamento de longa amizade com o Autor, e, como ele, entre ocupaes de natureza distinta, tambm fez da religio seu estudo voluntrio; e, tambm como ele, em todas as aes e investigaes, teve a mesma inflexvel adeso Verdade e Virtude.

    Eu sempre considerarei isto uma das vantagens de minha relao com Sir Isaac Newton, qual seja a de permitir a mim uma oportunidade de fazer este reconhecimento pblico do sincero respeito que Este tinha para com V. Excia. De seu mais obediente e humilde servial,

    Benjamin Smith

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    CAPTULO 1

    INTRODUO -

    OS COMPILADORES

    DOS LIVROS

    DO

    VELHO TESTAMENTO

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    Quando Manasss colocou uma imagem

    esculpida na Casa do Senhor e nos dois ptios construiu altares dedicados a todos os hspedes do cu; quando, conforme 2 Crn. 33:5 a 7, praticando encantamentos e feitiaria, utilizou espritos familiares, pelo que, devido sua maldade, foi invadido pelo exrcito de Asserhadon, rei da Assria, que o levou cativo para a Babilnia; o Livro da Lei ficou perdido at o ano dcimo oitavo do reinado de seu neto, Josias. Ento, ao restaurar o Templo, a o encontrou o sumo-sacerdote Helcas. Lamentando o rei que seus pais no tivessem seguido as palavras do Livro, determinou que o mesmo fosse lido ao povo, a quem fez renovar o santo concerto com Deus (cf. 2 Crn. Cap. 34) Este o atual Livro da Lei.

    Quando Sesac veio do Egito e saqueou o Templo, no quinto ano de Roboo, submetendo Jud monarquia egpcia, (cf. 2 Crn. 12:2 a 4; 8,9), durante cerca de trinta anos continuou o povo judeu sob grandes perturbaes.

    "Sem o verdadeiro Deus e sem sacerdote que instrua, e sem lei. Nesse tempo no haver paz para o que sai, nem para o que entra, mas de todas as partes haver terror em todos os habitantes da terra, porque se levantar uma nao contra outra nao, e uma cidade contra outra cidade, porque o Senhor os conturbar com toda sorte de aflies". (2 Crnicas 15:3, 5 e 6)

    Ento morreu Sesac e o Egito foi presa de desordem. Tinha Jud apenas dez anos, conforme indicado em 2 Crnicas 14:1; 6 a 9:12. Naquele tempo Asa edificou

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    cidades fortificadas em Jud e organizou um exrcito de 580.000 homens, com o qual, no dcimo quinto ano de seu reinado, enfrentou e venceu a Zara, o etope, que havia conquistado o Egito, a Lbia e a Troglodtica; e, com um exrcito de um milho de Lbios e Etopes, se havia atirado reconquista das regies antes tomadas por Sesac (cf. 2 Crnicas 15:3, 12, 13, 16, 18). Depois dessa vitria, Asa destronou a prpria me, sob o pretexto de idolatria; renovou o altar e trouxe para o Templo novas baixelas de ouro e prata; ele e o povo entraram em novo concerto, para buscar o Senhor Deus de seus pais, sob pena de morte aos adoradores de outros deuses; seu filho Josaf destruiu os altos lugares e no terceiro ano de seu reinado mandou alguns de seus Prncipes, Sacerdotes e Levitas a ensinar nas cidades de Jud: estes traziam consigo o Livro da Lei e percorreram quase todas as cidades de Jud, ensinando ao povo. este o Livro da Lei, que depois foi perdido, no reinado de Manasss e reencontrado no de Josias: escrito, portanto, antes do terceiro ano do reinado de Josaf.

    O mesmo Livro da Lei foi conservado e legado posteridade pelos Samaritanos; por isso mesmo foi recebido pelas dez tribos antes do cativeiro, pois, (cf. 2 Reis 17:27, 28, 32, 33), quando estas tribos foram escravizadas, um Sacerdote foi mandado do cativeiro de volta Betel, por ordem do rei da Assria, para ensinar aos novos habitantes de Samaria "o costume do Deus da terra". Foi dEsse Sacerdote que os Samaritanos tiveram o Pentateuco, contendo a Lei do costume do Deus da terra", que, conforme, o Sacerdote deveria ensinar ao povo (cf. 2 Reis 17:34, 41). Porque (os de Samaria) perseverassem na religio que lhes havia sido ensinada, a ela juntando a adorao dos prprios deuses, e

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    perseverassem no que haviam aprendido, conservaram esse Livro da Lei nos caracteres originais dos Hebreus, enquanto que as outras duas tribos, depois de sua volta do cativeiro, adotaram o Livro da Lei nos caracteres dos Caldeus, aprendidos na Babilnia.

    Desde que o Pentateuco havia sido recebido como o Livro da Lei, tanto pelas duas tribos (verso caldaica), quanto pelas dez (hebraico original), segue-se que o receberam antes de sua diviso em dois reinos. Porque aps a diviso no receberam mais leis uns dos outros, j que mantiveram a separao. Jud no podia acusar a Israel pelo pecado de Jeroboo, nem Israel tampouco. Assim, o Pentateuco era o Livro da Lei nos dias de Davi e de Salomo. Os assuntos do Tabernculo e do Templo eram regulados, por Davi e Salomo, conforme a Lei desse livro; e, no Salmo 78, Davi adverte ao povo a dar ouvidos Lei de Deus, isto , a Lei desse livro; tanto que, descrevendo como os seus antepassados no a respeitaram, cita passagens histricas dos livros de xodo e Nmeros.

    A rvore genealgica dos reis de Edom, antes que existissem reis em Israel, dada no Gnesis, captulo 36 e verso 31. Assim, Gnesis no foi escrito, inteiramente na forma como atualmente este nos apresenta, antes do reinado de Saul. Fica, assim, evidente que o autor do livro registrou a genealogia daqueles reis at a sua prpria poca e, assim, escreveu o Gnesis antes que Davi houvesse conquistado o Edom.

    O Pentateuco compe-se da Lei e da Histria do povo de Deus. Tal histria foi reunida em coletnea a partir de vrios livros, tais como a Histria de Criao, composta por Moiss (Gnesis 11:4); o Livro das Geraes de Ado

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    (Gnesis 5:1); e o Livro das Guerras do Senhor (Nmeros 21:4). Este livro das guerras continha o que se passara no Mar Vermelho e as jornadas de Israel pelo deserto. Devia, pois, ter sido comeado por Moiss e continuado por Josu, at a conquista de Cana, porque Josu escreveu algo no Livro da Lei de Deus (cf. Josu 24:26). Assim, no Livro das Guerras do Senhor, deveria ter escrito a sua prpria guerra, de vez que esta foi a mais importante das guerras de Deus. Eram livros pblicos e, como tal, no teriam sido escritos sem a autoridade de Moiss e de Josu. E, no reinado de Saul, Samuel teve oportunidade de pr estes livros na forma como os livros Pentateucos e o livro Josu agora aparecem, entretanto enxertando ali, no livro de Gnesis, a genealogia dos reis de Edom at que a reinasse um rei de Israel.

    O livro dos Juzes a contnua histria dos juzes hebreus e seis atos at a morte de Sanso. Foi, portanto, compilado depois ds morte deste.. Diz-se nesse livro (Juzes 17:6; 18:1; 19:1; 21:25) que muitas coisas ocorreram quando no havia rei em Israel. Assim, foi escrito depois do comeo do reinado de Saul, quando os Jebusitas habitavam Jerusalm (cf. Juzes 1:21) e antes do oitavo ano de Davi (cf. 2 Samuel 5:8; 1 Crnicas 11:6).

    Os livros Pentateucos, e de Josu e de Juzes apresentam uma histria seqencial, desde a Criao at a morte de Sanso. Onde termina o Pentateuco, comea o livro de Josu; e onde termina este, inicia o livro dos Juzes. Assim, todos eles foram compostos a partir dos escritos de Moiss, de Josu, e outras fontes, por uma e mesma pena, depois de iniciado o reinado de Saul e antes do oitavo ano do reinado de Davi.

    Samuel era um escritor sacro (1 Samuel 10:25),

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    familiarizado com a histria de Moiss e dos juzes (1 Samuel 12:8 a 12). No reinado de Saul, Samuel teve oportunidade e suficiente autoridade para Os compr. Era profeta e julgou Israel durante toda sua vida, sendo portanto estimado pelo povo. E a Lei, segundo a qual se haveria de por ela julgar o povo, no devia ter sido publicada por uma autoridade que fosse inferior sua, de vez que seu autor no podia ser inferior ao Juz que a iria aplicar. E o Livro de Jasher (ou Livro da Retido), citado em Josu 10:13, ainda no existia quando da morte de Saul (2 Samuel 1:18).

    Quando da dedicao do Templo de Salomo, a Arca foi trazida para o lugar mais sagrado dEste, porm a no havia seno as duas tbuas (cf. 1 Reis 8:9). Portanto, quando os Filisteus tomaram a Arca, dela foram retirados o Livro da Lei, o vaso de ouro com Mann e a Vara de Aaro. Estas e outras perdas, ocorridas na desolao de Israel pela conquista destes pelos Filisteus, poderiam, depois de alguma relutncia daqueles inimigos, ter dado uma chance Samuel para recolher os escritos esparsos de Moiss e de Josu e os registros dos Patriarcas e Juzes, compondo os livros na forma atual como se apresentam.

    O livro de Rute a histria de fatos ocorridos nos dias dos Juzes e pode ser considerado como um apndice ao livro dos Juzes, escrito pelo mesmo autor e ao mesmo tempo. Foi escrito depois do nascimento de Davi (cf. Rute 4:17,22), e no muito depois disto, pois a histria de Boaz e Rute, bisavs de Davi, bem como a de seus contemporneos, no poderia ter sido to bem conservada como tradio oral depois de duas ou trs geraes. E, desde que o livro deriva a genealogia de Davi de Boaz e Rute, omitindo seus irmos mais velhos e seus filhos, deve ter sido escrito em honra a

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    Davi, depois de ungido Rei por Samuel e antes que tivesse filhos no Hebron e, conseqentemente, no reinado de Saul. A histria de Davi no continua no livro. Parece, assim, ter sido escrito logo aps a sua uno como rei. Por isso, devem estar certos os que atribuem a Samuel a autoria dos livros de Josu, Juzes e Rute.

    Samuel tambm considerado autor do primeiro livro de Samuel, at a poca de sua morte. Os dois livros de Samuel no indicam autores e, entretanto, parecem originais. Comeam com sua genealogia, nascimento e educao e devem ter sido escritos por ele prprio parcialmente, ou durante sua vida, pelos seus discpulos, os Profetas de Naiot em Ramata (I Samuel 19:18 a 20) e, em parte, depois de sua morte, pelos mesmos discpulos.

    O livro dos Reis cita outros autores, como o livro dos Atos de Salomo, o livro das Crnicas dos Reis de Israel, e o das Crnicas dos Reis de Jud. Os livros das Crnicas citam o livro de Samuel O Vidente, o livro de Natan O Profeta, e o livro de Gad O Vidente citado nos Atos de Davi; o livro do Profeta Natan, a Profecia de Abijah O Shilonita e as Vises Do Vidente Iddo so todos citados nos Atos de Salomo; o livro do Profeta Shenajah e o livro do Vidente Iddo, com referncia s genealogias, citado nos Atos De Roboo E Abijah; o livro dos Reis De Jud E De Israel comenta sobre os Atos De Asa, De Joaz, De Amazias, De Jothan, De Acaz, De Hezequias, De Manasss e De Josias; o livro do Vidente Hananias comenta sobre os Atos De Josaf; e as Vises De Isaas comenta sobre os Atos De Ozias E Hezequias.

    Eram, portanto, estes livros colecionados independentemente dos escritos histricos dos antigos

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    Videntes e Profetas. E porque os livros dos Reis e das Crnicas citam-se reciprocamente, devem ter sido escritos na mesma poca, depois do regresso do cativeiro da Babilnia, pois indicam a histria de Jud e as genealogias dos Reis de Jud e dos Sumo-sacerdotes durante o cativeiro. Eram os livros de Ezra originriamente uma parte do livro das Crnicas; posteriormente, foi separado das mesmas: tanto que comea com os dois ltimos versculos dos livros das Crnicas e o primeiro livro de Ezra comea com os dois ltimos captulos daquele. Foi, portanto, Ezra o compilador dos livros dos Reis e das Crnicas, escrevendo a histria de sua poca. Era um Escriba conhecedor da Lei de Deus; e, nesse mister, Neemias o assistira e, "formando uma biblioteca, ajuntara livros dos diversos pases, assim os dos Profetas, como os de Davi, e as Cartas dos reis, e os que administravam os seus bens" (2 Macabeus 2:13). Como Atos de Davi, compreendo aqui os livros de Samuel ou, pelos menos, o segundo deles. Alm dos Atos dos Reis, escritos periodicamente pelos Profetas, Ezra comps os livros dos Reis de Jud e Israel. Assim reuniu aqueles Atos cronologicamente, copiando os autores literalmente, como se v dos livros dos Reis e das Crnicas, em freqentes concordncias de palavras e de sentenas. Onde h concordncia de sentido, tambm o h de palavras.

    Assim, as profecias de Isaas, escritas em momentos diversos, foram reunidas num corpo nico. O mesmo foi feito com as de Jeremias e dos demais Profetas, at a poca do Segundo Templo. O livro de Jonas a sua histria escrita por outro.

    O livro de Daniel uma coleo de escritos de pocas diversas. Os seis ltimos captulos contm as

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    Profecias escritas pelo prprio Daniel em diferentes ocasies; os seis primeiros, uma coleo de escritos histricos de outros autores. O quarto captulo um Decreto de Nabucodonozor. O primeiro captulo foi escrito depois da morte de Daniel, pois a se diz que Daniel viveu at o primeiro ano do reinado de Ciro, isto , at o primeiro ano do domnio deste rei sobre os Persas e os Medas e o terceiro ano sobre a Babilnia. E, pelo mesmo motivo, o quinto e sexto captulos tambm foram escritos aps a morte de Daniel, pois terminam com estas palavras: "E Daniel permaneceu sempre em dignidade, durante o reinado de Dario e o reinado do persa Ciro" (Daniel 6:28). Tambm estas palavras deveriam ter sido adicionadas pelo coletor dos escritos, que suponho tenha sido o prprio Ezra.

    Parece que os Salmos, compostos por Moiss, Davi e outros, foram colecionados por Ezra pois, na coleo, encontro alguns at da poca do cativeiro de Babilnia, mas nenhum posterior. Ezra os reuniu num grande volume que conhecemos atualmente como livro dos Salmos.

    Depois disto, Antoco Epifnio saqueou o Templo, proibiu os Judeus de respeitar a Lei, sob pena de morte, e mandou queimar todos os livros sagrados que fossem encontrados. Nesses distrbios, bem provvel que o livro das Crnicas dos Reis de Israel se haja perdido por completo. Passada a opresso, Judas Macabeu recolheu todos os escritos que foi possvel encontrar (cf. 2 Macabeus 2:14). Ao p-los em ordem, ocorreu que parte das Profecias de Isaas ou algum outro Profeta foi acrescentada no final das profecias de Zacarias. E o livro ficou separado das Crnicas e arranjado em duas ordens diferentes: numa, no livro de Ezra, juntou-se o Cnon; na outra, juntou-se o primeiro livro de

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    Ezra. Depois do perodo em cativeiro Romano,

    preservando suas tradies, os Judeus as inscreveram no Talmude; e, visando preservar as escrituras, resolveram fazer uma edio gemtrica, na qual contaram as letras de todas as maneiras em cada livro. Conservaram ento apenas essa edio. Entretanto, notas marginais e outras correes, tais como os erros dos copistas, anteriores preparao dessa edio, interpenetraram-se aos textos e so agora de difcil correo. E por conservarem apenas essa edio, vrios ensinos mais antigos esto agora perdidos, com exceo daqueles que podem ser descobertos atravs da Septuaginta.

    Antes do Cativeiro Romano os Judeus dividiram os livros sagrados do seguinte modo: a Lei, os Profetas e a Hagigrafa ou os escritos sagrados. E nas sinagogas apenas eram lidos a Lei e os Profetas. O prprio Cristo e seus Apstolos apoiaram a religio na Lei e nos Profetas (veja Mateus 7:12; 22:4; Lucas 16:16, 29, 31; 24:44; Atos 24:14; 26:22; Romanos 3:21).

    A Hagigrafa compreendia os livros histricos, chamados Josu, Juzes, Rute, Samuel, Reis, Crnicas, Ezra, Neemias e Ester, o livro de J, os Salmos, os livros de Salomo e as Lamentaes. Os Samaritanos liam apenas o Pentateuco. E quando Josaf mandou ensinar nas cidades, os sacerdotes mestres apenas levaram o Livro da Lei, porque as profecias ento existentes ainda no haviam sido escritas. Quando de volta do Cativeiro da Babilnia, Ezra lia ao povo o Livro da Lei, de manh noite, no primeiro dia do stimo ms, assim como diariamente, durante a festa dos Tabernculos. bem possvel que por esta poca Ezra no havia ainda reunido a coleo dos escritos dos Profetas em

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    volumes, tal qual agora eles se nos apresentam; mas to logo a coleo foi concluda, j instituiu sua leitura nas sinagogas. Mais que a Hagigrafa, a leitura dos livros da Lei e dos Profetas nas sinagogas provavelmente os preservou um pouco mais da corrupo.

    Na infncia da nao de Israel, quando Deus lhes havia dado a Lei e estabelecido um pacto para ser o seu Deus, com a condio de que seus mandamentos fossem respeitados, enviou os Profetas para reclamar o seu cumprimento, pois que vrias vezes o haviam infringido, adorando a outros deuses. E, quando voltavam, o pacto, uma vez j quebrado, com freqncia era renovado. Esses Profetas continuaram a ser mandados Israel at os dias de Ezra. Mas depois que suas profecias eram lidas nas sinagogas, tinham tal ato como suficiente. Por isso o povo no queria ouvir Moiss ou qualquer outro velho Profeta: queriam novos, conquanto soubessem que estes se levantariam dentre os mortos.

    Por fim, quando uma nova verdade devia ser pregada aos Gentios, isto , que Jesus era O CRISTO, Deus mandou novos Profetas e Mestres. Entretanto, depois que seus escritos eram recebidos e lidos nas sinagogas dos Cristos, a Profecia cessou novamente. Agora temos Moiss, os Profetas, alm das palavras do prprio Cristo. E se no os ouvirmos, no seremos menos excusveis que os Judeus. Porque os Profetas e os Apstolos predisseram: que, assim como Israel tantas vezes se revoltara e quebrara o pacto, renovando-o depois, arrependidos, tambm entre os Cristos seria verificada, logo depois dos Apstolos, esta mesma fraqueza, chamada de A Apostasia ou Tempo da Apostasia; e que nos ltimos dias Deus destruiria os

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    revoltosos impertinentes, fazendo com seu povo um novo concerto; que DAR OUVIDOS AOS PROFETAS UMA CARACTERSTICA DA VERDADEIRA IGREJA; que Deus ordenou as Profecias de tal maneira que, nos ltimos dias, "os mpios procedero mpiamente, e nenhum mpio compreender, porm os sbios, estes sim, compreendero" (Daniel 12:9,10); que a autoridade dos Imperadores, Reis, e Prncipes humana. Tambm a autoridade dos Conclios, Snodos, Bispos, Presbteros humana, porm A AUTORIDADE DOS PROFETAS DIVINA e compreende toda a religio; que, alm dos prprios Profetas maiores e menores, a Moiss, Cristo e os Apstolos entre estes, e se um Anjo do cu pregar uma outra boa notcia, que no esta que por eles foi anunciada, que seja maldito.

    As escrituras contm o Concerto entre Deus e o seu povo, com as instrues para a sua observncia, exemplos do julgamento de Deus sobre aqueles que quebraram tal Concerto, e predies das coisas que estariam ainda por acontecer. A predio de coisas porvindouras refere-se situao da Igreja em todas as pocas. Enquanto o povo de Deus guardar o Concerto, continuar como Seu povo; porm quebrando-O, cessar de o ser e de ser a sua Igreja, tornando-se assim "sinagoga de Sat, que diz que so Judeus, quando no o so". E nenhum poder na Terra tem fora para alterar esse Concerto.

    E entre os velhos Profetas, Daniel o mais caracterstico na questo de datas e o mais fcil de ser entendido. Por isso, no que se refere aos velhos Profetas, Daniel deve ser tomado como a chave para os demais.

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    CAPTULO 2

    OBSERVAES SOBRE AS

    PROFECIAS DE DANIEL -

    A

    LINGUAGEM PROFTICA

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    Para entender as Profecias, necessrio, antes de

    mais nada, estar familiarizado com a linguagem figurada dos Profetas, extrada das analogias entre o mundo natural e um imprio ou reino, considerado como um cenrio poltico.

    De acordo com isto, o conjunto do mundo natural, compreendendo o cu e a terra profticos, significa todo o cenrio poltico em pauta, consistente de tronos e povo, ou apenas uma parte, conforme a Profecia. Os componentes daquele cenrio proftico representam coisas anlogas no cenrio poltico. Assim, o Cu e o que nele se contm representam os tronos e as dignidades, ou aqueles que as desfrutam, enquanto a Terra com suas coisas, representa a massa popular, o povo; as partes inferiores da Terra, chamadas Hades ou Inferno, representam as mais rebaixadas ou miserveis camadas da populao. Ento, a subida ao Cu ou a descida Terra significam elevao ou queda do poder e das honras: elevar-se sobre a Terra ou sobre as guas quer dizer elevao alguma dignidade ou predomnio, partindo da condio inferior do povo, enquanto que a descida em tais elementos significa a perda de dignidades/cargos ou de predomnio; as descidas s partes mais baixas da Terra indicam reduo um estado infeliz e de rebaixamento; falar com voz fraca e como que sada do p, indica uma condio humilde e fraca; andar de uma a outra parte quer dizer mudana de mtodo, de dignidade ou de domnio; grandes terremotos e abalos do Cu e da Terra indicam comoes de reinos, tal como separaes e destruio generalizada; a criao de um novo Cu e nova Terra, um mundo antigo que passa, ou ainda o comeo e o fim de um mundo, traduzem o

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    aparecimento e a runa do corpo poltico por eles indicado. Para os intrpretes de sonhos, o Sol e a Lua

    representam Reis e Rainhas; entretanto, nas Profecias sacras, as quais no cuidam de indivduos, o Sol representa, de um modo geral, a raa dos Reis, no reino ou reinos do cenrio poltico, brilhando com poder e glria reais; a Lua simboliza o povo, tomado em seu conjunto, como a esposa do Rei; e as Estrelas so os Prncipes vassalos e os grandes homens do reino; ou, quando o Sol proftico o Cristo, representam os Bispos e os dirigentes do povo de Deus a luz representa a glria (talvez grandeza, virtude), a verdade, o saber, quando, atravs dos grandes homens e dos bons, ilumina os outros; a escurido denota condio obscura, em erro, cegueira e ignorncia; o escurecimento, o abalo ou o pr do Sol, da Lua e das Estrelas, representam o desaparecimento de um reino ou a sua desolao, proporcional ao entenebrecimento apontado: Sol escuro, Lua coberta de sangue ou queda das estrelas, trazem o mesmo significado; uma Lua nova representa a volta de um povo disperso um corpo poltico ou eclesistico organizado;

    Fogo e meteoros tanto se referem ao Cu quanto Terra e tm a seguinte significao: a queima de alguma coisa no fogo representa seu desaparecimento pela guerra; a conflagrao da Terra ou a transformao de um pas num lago de fogo o desaparecimento de um reino pela guerra; o lanamento num forno quer dizer dominao por uma outra nao; a contnua ascenso de fumo de alguma coisa que se queima denota que um povo conquistado continua na misria do domnio e escravido por um longo perodo de tempo; o abrazante calor do Sol indica vexames de guerras, perseguies e distrbios infligidos pelo prprio Rei; passear

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    nas nuvens quer dizer reinar sobre muitos povos; o Sol coberto por nuvens ou por fumaa sinal de presso de exrcitos inimigos exercida sobre o Rei; ventos tempestuosos, ou movimento de nuvens traduzem guerras e movimentaes de tropas; o trovo ou a voz de uma nuvem representam a voz do povo; uma tempestade de troves e relmpagos, com chuvas torrenciais, simboliza a tempestade da guerra descendo dos cus e das nuvens polticas sobre a cabea de seus inimigos; chuva moderada, orvalho e guas em movimento denotam graas divinas e doutrinas do Esprito; a falta de chuva indica nudez espiritual.

    Na Terra, o solo enxuto e um conjunto de guas, como mares, rios, ou uma enchente, simbolizam o povo de vrias regies, naes ou domnios; se as guas se tornarem salobras, significam grandes aflies do povo por causa de guerras e perseguies; se as coisas se transformarem em sangue, representam a morte mstica de organismos polticos, isto , sua dissoluo, politicamente falando; a mar alta sobre um mar ou enchente dum rio quer dizer invaso de um pas, pelo povo representado pelas guas; se as guas secarem, denotam a conquista dessas regies pelo povo representado pela terra; as fontes de gua representam cidades, ou origem permanente dos rios polticos; as montanhas e as ilhas simbolizam as cidades da terra e do mar poltico-profticos, com os respectivos territrios e domnios que lhes pertencem; cavernas e montanhas granticas so os templos das cidades; homens que se escondem nessas cavernas e rochas representam dolos trancados em seus templos; casas e navios so famlias, ajuntamentos e cidades do todo poltico representado pela terra e pelo mar; e uma frota de guerra um exrcito proveniente do reino

  • 22

    representado pelo mar. Tambm os animais e os vegetais representam o

    povo de vrias regies e condies; especialmente as rvores, as ervas e os animais terrestres, representam a gente do grupo poltico simbolizado pela terra. As bandeiras, os juncos e os peixes representam o povo cuja nao simbolizada pelas guas; as aves e os insetos tambm representam a populao do pas simbolizado pelo Cu e pela Terra. As florestas significam reinos; e o deserto traduz um povo fraco e desolado.

    Se o cenrio poltico considerado na profecia for constitudo de muitos reinos, ser representado por tantas partes quantas as do mundo natural: as mais nobres, pelos corpos celestes; mas a Lua e as nuvens representam a gente comum; as menos nobres so figuradas pela terra, o mar, os rios ou por animais, plantas e edifcios. O animal maior e mais poderoso, bem como as rvores mais altas, indicam os Reis, os Prncipes e os Nobres. E porque, em seu todo, o reino um organismo poltico do Rei, o Sol, ou uma rvore, um animal ou uma ave ou ainda um homem, a representando o Rei, adquire maior significao, pois representa todo o reino; muitos animais, como um Leo, um Urso, um Leopardo, um Bode, conforme suas qualidades, so os representantes profticos de vrios reinos ou organismos polticos. O sacrifcio de animais indica grande morticnio ou conquista de reinos; a amizade entre dois animais, indica paz entre dois reinos.

    Em vista de certos eptetos ou circunstncias, por vezes animais e plantas tm, por extenso, outros significados: assim uma rvore, quando chamada 'a rvore da vida ou do conhecimento'; e um animal, quando venerado ou

  • 23

    quando chamado 'a velha serpente'. Quando um animal ou um homem representa um

    reino, suas partes ou qualidades indicam, por analogia, partes ou qualidades daquele reino. Assim, a cabea deste animal aponta os grandes homens do governo e comando; quando forem mais de uma, as cabeas indicam as partes principais, ou as dinastias, ou ainda domnios (dentro) do reino, colaterais ou sucessivos em relao ao governo; os chifres em qualquer cabea, representam a o nmero de reinos, relacionados com a autoridade militar exercida. Ver quer dizer compreender. Os olhos valem por homens de compreenso e autoridade poltica; em assuntos religiosos, entretanto, querem dizer bispos/ lderes. Falar significa fazer leis; assim a boca indica aquele de onde promana a lei, seja agrada ou profana. A voz alta indicativa de fora e poder enquanto que a voz tnue indica fraqueza. Comer e beber valem pela aquisio do que est representado pela comida e a bebida. Os plos dos animais e dos homens, bem como as penas das aves querem dizer o povo; as asas indicam o nmero de reinos representados pelo animal. O brao do homem o seu poder ou o de qualquer povo pelo mesmo representado; os ps valem pelas mais baixas camadas do povo ou pelo final do reino. Ps, garras e dentes de animais de presa, indicam exrcitos e corpos de exrcitos; os ossos indicam os lugares fortificados; a carne signifca riqueza e bens. Os dias de ao profticas so contados como anos. Quando uma rvore representa um reino, seus galhos, folhas e frutos valem o mesmo que as asas e as penas ou o alimento de uma ave ou de um animal.

    Quando um homem tomado em sentido proftico, freqentemente suas qualidades so expressas por

  • 24

    suas aes e pelas circunstncias que cercam as coisas que lhe dizem respeito. Assim um Governante representado cavalgando um animal; um Guerreiro ou Conquistador ter uma espada ou um arco na mo; um homem poderoso apresentar estatura agigantada; um Juiz traz consigo pesos e medidas; uma sentena ter como smbolo uma pedra branca para sentena absolvitria ou uma pedra preta para sentena condenatria; uma nova dignidade se exprime por um novo nome; os ornamentos indicam qualificao moral ou civil; vestidos explndidos significam honra e glria; a dignidade real expressa pela prpura, pela escarlata ou por uma coroa; a retido simbolizada por vestes brancas e limpas, enquanto que a maldade indicada pelas roupas manchadas ou sujas; a aflio, o luto e a humilhao, vem indicadas por vestes grosseiras; j a desonra, a vergonha e a falta de boas obras indicada pela nudez; o erro e a misria, pelo ato de beber uma taa do vinho que os produz; a propagao da religio por interesse monetrio, pelo exerccio de trfico ou comrcio, com o povo a que se refere quela religio; a adorao ou servio de falsos deuses de qualquer nao, pela prtica de adultrio com os seus prncipes ou pela sua adorao; o Conselho de um Reino, pela imagem do mesmo; a idolatria, pela blasfmia; a derrubada pela guerra, por uma ferida feita por homem ou por animal; o duradouro flagelo da guerra, por uma chaga ou tormento; a aflio ou a perseguio que sofre um povo no trabalho de constituir um novo reino, pelas dores de uma mulher no parto de um menino; a dissoluo de um corpo poltico ou eclesistico, pela morte de um homem ou animal; e a revivescncia de um domnio que foi dissolvido, pela ressurreio de um morto.

  • 25

    CAPTULO 3

    DA VISO DA

    IMAGEM

    DE QUATRO METAIS

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    As profecias de Daniel ligam-se todas umas s

    outras, como se fossem simples partes de uma profecia geral, dada em vrias pocas. A primeira deve ser compreendida em primeiro lugar; e cada uma das que se seguem adicionam algo de novo s anteriores. A primeira foi dada num sonho a Nabucodonosor, rei da Babilnia, no segundo ano de seu reinado. Tendo o rei esquecido do sonho que havia tido, a mesma foi dada novamente a Daniel, tambm num sonho, que o revela ento Nabucodonosor.

    Assim Daniel tornou-se famoso por seu saber e pela faculdade de revelar coisas secretas, de tal modo que Ezequiel, seu contemporneo, no dcimo nono ano do reinado de Nabucodonosor, assim fala ao rei de Tiro: "Porque s mais sbio que Daniel, nenhum segredo h oculto para ti" (Ezeq. 28:3). E o mesmo Ezequiel, noutra passagem, rene Daniel a No e a J, como os mais distingidos pelos favores de Deus (Ezeq. 14:14, 16, 18, 20). E no ltimo ano de Baltazar, dele disse a rainha-me ao rei: "No teu reino h um homem que tem em si o esprito dos deuses santos; e no tempo de teu pai, manifestaram-se nele a cincia e a sabedoria; por isto at o rei Nabucodonosor, teu pai, o constituiu chefe dos magos, dos encantadores, dos caldeus e dos agoureiros; porque um esprito superior aos dos outros, e prudncia, e inteligncia, e interpretao de sonhos, e declarao de segredos, e soluo de dificuldades, tudo se achou nele, isto , Daniel, a quem o rei ps o nome de Baltazar" (Daniel v. 11, 12). Tinha Daniel o maior prestgio entre os Judeus at o reinado do Imperador Romano Adriano.

    Rejeitar suas profecias rejeitar a religio crist, por isso que a religio est fundada nas profecias

  • 27

    concernentes ao Messias. O fundamento de todas as profecias de Daniel

    encontra-se na viso dessa imagem feita de quatro metais. Ela representa um corpo de quatro grandes naes, que deveriam reinar sucessivamente sobre todo o mundo ento conhecido, a saber: o povo da Babilnia, os Persas, os Gregos e os Romanos. E uma pedra, arrancada sem auxlio de mos humanas, caiu sobre os ps da imagem, reduzindo a pedaos os quatro metais; ela "tornou-se um grande monte que encheu toda a terra", o que indica que um novo reino surgir depois do quarto e conquistar todas as naes; e durar at o fim dos tempos.

    A cabea da imagem era de ouro e representava as naes do Imprio Babilnico, que reinou primeiro, conforme a interpretao do prprio Daniel. "Tu, pois, s a cabea de ouro", disse ele a Nabucodonosor. Estas naes reinaram at Ciro conquistar a Babilnia e, poucos meses depois dessa conquista, os Persas revoltaram-se, submetendo os Medos. O peito e os braos eram de prata e representavam os Persas, que reinaram a seguir. A barriga e as coxas eram de lato e representavam os Gregos que, sob o domnio de Alexandre o Grande, conquistaram os Persas e reinaram depois daqueles.

    As pernas eram de ferro e representavam os Romanos, que dominaram depois dos Gregos e comearam a conquist-los no oitavo ano de Antoco Epifnio. Pois naquele ano submeteram Perseu, rei da Macednia, principal reino dos Gregos; da por diante foram-se tornando um Imprio poderoso e reinaram soberanamente at os dias de Teodsio o Grande. Ento, dada a incurso de muitas naes do norte, rompeu-se numa poro de reinos menores, que so

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    representados pelos ps e dedos dos ps da imagem, feitos em parte de ferro e em parte de barro. "Esse reino", diz Daniel, "que ter sua origem na veia de ferro, ser dividido; segundo tu viste que o ferro estava misturado com a terra e com o barro; tambm eles se misturaro por meio de parentescos contrados, mas no formaro um corpo nico entre si, assim como o ferro no pode se ligar ao barro". (Daniel 2:41, 43)

    "No tempo, porm, daqueles reinos", diz Daniel, "suscitar o Deus do cu um reino que no ser jamais destrudo, e este seu reino no passar a outro povo; antes esmigalhar e aniquilar todos esses reinos, e ele subsistir para sempre. Segundo o que viste, que uma pedra foi arrancada do monte sem intervir mo de nenhum homem, e esmigalhou o barro, e o ferro, e o cobre e a prata e o ouro." (Daniel 2:44, 45).

  • 29

    CAPTULO 4

    DA VISO

    DAS QUATRO BESTAS

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    Na viso seguinte, a das quatro Bestas, repete-se a mesma profecia dos quatro Imprios, porm com vrias adies, tais como as duas asas da Leoa, as trs ordens de dentes na boca do Urso, as quatro asas e as quatro cabeas do Leopardo, os onze chifres que tm a quarta besta e o "Filho do homem, que vinha com as nuvens do cu, e que chegou at ao Ancio dos muitos dias", sentado em julgamento.

    A primeira Besta era como uma Leoa, e tinha asas de guia, para denotar os reinos da Babilnia e da Mdia, que derrubaram o Imprio Assrio e o dividiram entre si, tornando-se assim Imprios considerveis. Na profecia anterior o Imprio Babilnico era representado pela cabea de ouro; nesta, Babilnia e Mdia so representados juntos pelas duas asas da Leoa. E diz Daniel: "quando eu estava olhando para ela, foram-lhe arrancadas as asas, e foi levantada da terra, ps-se sobre os seus ps, como um homem, e foi-lhe dado um corao de homem" (Daniel 7:4), isto , at que fosse humilhada e subjugada e reconhecesse sua condio humana.

    A segunda besta era como um Urso e representa o Imprio que reinou depois dos Babilnicos, isto , o Imprio Persa. "O teu reino foi dividido e dado aos Medos e aos Persas" (Daniel 5:28), diz ele ao Rei da Babilnia. Esta Besta levantou-se e se ps ao seu lado, pois estavam os Persas dominados pelos Medos quando da queda de Babilnia, mas depois levantaram-se e os dominaram. E "tinha trs ordens de dentes na sua boca" (Daniel 8:5) para significar os reinos de Sardes, Babilnia e Egito, por eles conquistados, mas que no pertenciam ao seu prprio corpo. E devorava "carne em abundncia", isto , as riquezas daqueles trs reinos.

  • 31

    A terceira Besta o reino que sucedeu aos Persas, isto , o Imprio dos Gregos (Daniel 7:6, 7, 20, 21). Era como um Leopardo, para significar sua ferocidade; e tinha quatro cabeas e quatro asas, para indicar que poderia ser dividido em quatro reinos (Daniel 8:22), pois continuou em regime monrquico durante o reinado de Alexandre o Grande, seu irmo Arideus e seus filhos Alexandre e Hrcules, dividindo-se ento em quatro reinos, de vez que os governadores das provncias, por mtuo consenso, se tinham feito coroar e reinaram sobre as mesmas. Cassandro reinou sobre a Macednia, a Grcia e o piro; Lismaco sobre a Trcia e a Bitnia; Ptolomeu sobre o Egito, a Lbia, a Arbia, a Celosria e a Palestina; e Seleuco sobre a Sria.

    A quarta Besta o Imprio que sucedeu ao dos Gregos, isto , o Imprio Romano. Esta Besta era excessivamente terrvel e tinha grandes dentes de ferro, devorava e quebrava em pedaos, e calcava os restos com os ps: tal era o Imprio Romano. Era maior, mais forte e mais formidvel e duradouro do que qualquer dos outros. Conquistou o reino da Macednia, com a Ilria e o piro, no oitavo ano de Antoco Epifnio ou em 580; herdou o de Prgamo, em 515; conquistou a Sria em 718, datas todas estas referidas a ano de Nabonassar. Por estas e outras conquistas tornou-se maior e mais terrvel que qualquer das trs Bestas anteriores. Este Imprio, o Romano, continuou sua grandeza at o reinado de Teodsio o Grande; ento se dividiu em dez reinos, representados pelos dez chifres desta Besta, continuando assim at que o Ancio de muitos dias se sentasse num trono como uma chama viva e o julgamento fosse feito, os livros abertos, as Bestas abatidas, seus corpos destrudos e atirados s chamas; "num personagem que

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    parecia o Filho do homem, que vinha com as nuvens do cu, e que chegou at ao Ancio dos muitos dias" (Daniel 7:13), deu-lhe o poder sobre todas as naes e foi dada autoridade aos Santos de Altssimo e veio o momento em que estes possuram o reino.

    Diz Daniel: "E vi que o animal tinha sido morto e que o seu corpo perecera e fora entregue ao fogo para ser queimado; vi tambm que tinha sido tirado o poder aos outros animais, e que a durao de vida destes lhes tinha sido assinalada at um tempo e um tempo" (Daniel 7:11, 12). Assim, as quatro Bestas esto vivas, conquanto j passada a dominao das trs primeiras. A Caldia e a Assria ainda so a primeira Besta; a Mdia e a Prsia so a segunda; a Macednia, a Grcia, a Trcia, a sia Menor, a Sria e o Egito ainda constituem a terceira Besta, enquanto as naes da Europa, do lado da Grcia, ainda so a quarta Besta.

    Vendo, assim, que o corpo da terceira Besta circunscrito pelas naes daquele lado do rio Eufrates, e que o corpo da quarta Besta circunscrito pelas naes deste lado da Grcia, devemos procurar as quatro cabeas da terceira Besta entre as naes daquele lado do Eufrates, porm os onze chifres da quarta Besta devemos procurar entre as naes deste lado da Grcia. Portanto na fragmentao do Imprio Grego em quatro reinos dos Gregos, no devemos incluir a Caldia, a Mdia e a Prsia, porque pertenciam aos corpos das duas primeiras Bestas. Tambm no devemos reconhecer o Imprio Grego, sediado em Constantinopla, entre os chifres da quarta Besta, porque aquela cidade pertencia ao corpo da terceira Besta.

  • 33

    CAPTULO 5

    DOS REINOS

    REPRESENTADOS PELOS

    PS DE FERRO E BARRO

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    Era a Dcia uma grande regio limitada ao sul

    pelo rio Danbio, a leste pelo rio Euxino e os montes Crapac, e a oeste pelo rio Tibesis ou Teis, que corre para o sul at lanar-se no Danbio, um pouco acima de Belgrado. Compreendia as regies agora chamadas Transilvnia, Moldvia e Valquia e, a leste, a Hungria Superior. Seus antigos habitantes chamavam a si mesmos de Godos, mas os Gregos os chamavam Getas, e os Latinos os chamavam Daci. Alexandre o Grande atacou-os e Trajano os conquistou, reduzindo-os a uma provncia do Imprio Romano.

    Por isso a propagao do Evangelho entre eles foi muito incrementada.

    Compunham-se de vrias Naes Godas, chamadas Ostrogodos, Vndalos, Lombardos, Burgndios, Alanos, etc.; todos semelhantes nas maneiras, falavam a mesma lngua, como Procpius faz notar. Quando sob o domnio Romano, os Godos ou Ostrogodos estavam localizados ao leste da Dcia, os Vndalos ao oeste, no Teis, onde correm o Maresh e o Karesh; e entre aqueles ficavam os Visigodos. De acordo com Jornandes, os Gpidas viviam no Vstula. Os Burgndios, povo Vndalo, ficavam entre o Vstula e a nascente sul do Boristenes, a alguma distncia dos montes Crapac, para os lados do norte, onde os situa Ptolomeu, com os nomes de Phrugundiones e Burgiones. Os Alanos, outro povo Godo, ficavam entre a nascente norte do Boristenes e a foz do rio Tanais, onde Ptolomeu situa o monte Alanus e a margem oeste do Palus Maeotis (cf. Procop.1 - 1- De Bello Vandalico).

    Estes povos continuaram sob o domnio dos Romanos at o segundo ano do imperador Filipe; ento se

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    rebelaram, por falta de pagamento do seu soldo: os Ostrogodos, estabelecendo um reino que sob o domnio dos Reis Ostrogota, Cniva, Ararico, Geperico e Hermanarico se desenvolveram at o ano de 376; ento, por uma incurso dos Hunos, vindos de alm do Tanais, e pela morte de Hermanarico, retalharam-se em diversos pequenos reinos. Hunimundo, filho de Hermanarico, tornou-se rei dos Ostrogodos; Ffridigern, dos Visigodos; Winithar ou Vinithar reinou sobre uma parte dos Godos chamados Gruthingi por Ammiano, Guthunni por Claudiano e, pelos outros, chamados Srmatas e Citas. Athanarico reinou sobre outra parte dos Godos na Dcia, chamada Thervingi; Box reinou sobre os Antes na Sarmcia. Os Gpidas tambm tinham o seu rei. No fim do reinado de Constantino o Grande, os Vndalos fugiram de Geberico para o Danbio; o Imperador garantiu-lhes sde na Pannia, onde viveram pacficamente quarenta anos, ou at o ano 377, quando vrias naes Godas, fugindo dos Hunos, caram sobre o Danbio e tiveram suas sdes garantidas na Msia e na Trcia por Valente, ento Imperador Grego. Mas no ano seguinte, revoltaram-se alguns Godos, Alanos e Hunos de alm Danbio, destroaram o exrcito romano, puseram em fuga o Imperador Valente e espalharam-se pela Grcia e pela Pannia, at aos Alpes. Nos anos de 379 e 380, foram batidos pelas armas dos Imperadores Graciano e Teodsio e aceitaram uma paz imposta. Os Visigodos e os Thervingi voltaram para suas sdes no Danbio e os Alanos e os Gruthingi obtiveram sdes na Pannia.

    Por volta do ano 373 ou 374, os Burgndios levantaram-se de sua sde no Vstula, com um exrcito de oitenta mil homens para invadir a Glia; porm, encontrando

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    resistncia, estabeleceram-se nas margens do Rheno, nas alturas de Mentz. No ano 358, um corpo de Francos Slicos, com o seu rei, descendo do rio Sala, foram recebidos no imprio por Juliano e sediados na Glia, entre o Brabante e o Rheno. Seu rei, Mellobaudes, foi, pelo Imperador Graciano, nomeado Comes Domesticorum. Outro nobre Franco Slico, Richomer, foi,por Teodsio, nomeado Comes Domesticorum e Magister Utriusque Militiae e, em 374, foi Cnsul com Clearchus. Richomer foi um grande favorito de Teodsio e o acompanhou nas guerras contra Eugnio, morrendo numa expedio e deixando um filho, chamado Teodomiro, o qual foi posteriormente rei dos Francos Slicos do Brabante. Durante essa guerra, alguns Francos de alm do Rheno invadiram a Glia, sob a chefia de Genobaldo, Marcomiro e Suno, mas foram repelidos por Stilico; Marcomiro tendo sido morto nesta guerra, sucedeu-lhe na Germnia seu filho Ferramundo.

    Enquanto estas naes ficaram sossegadas dentro do imprio, submetidas aos Romanos, muitas outras continuaram assim alm do Danbio, at a morte de Teodsio, quando ento levantaram-se em armas. Em sua "Historia Miscellanea", livro 14, falando dos tempos que se seguiram morte daquele imperador, diz Paulus Diaconus: "Ao mesmo tempo os Godos e numerosos outros povos habitavam alm do Danbio. Destes, os mais humanos so quatro, a saber: os Godos, os Visigodos, os Gpidas e os Vndalos, apenas diferenciados quanto ao nome. Depois de passarem o Danbio, ao tempo de Arcdio e de Honrio, eles se estabeleceram em territrio romano; e os Gpidas, dos quais, mais tarde, se separaram os Longobardos e os varos, viveram em aldeias perto do Singdono e do Sirmium". E, no

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    comeo de sua "Histria Vandalica", Procopius nos diz a mesma coisa. At aqui o Imprio do Ocidente continuava intacto; s depois que partiu-se em muitos reinos.

    O imperador Teodsio morreu em 395. Ento, sob o comando de Alarico, sucessor de Fridigern, os Visigodos levantaram-se em sua sde na Trcia, devastaram a ferro e fogo, durante cinco anos, a Macednia, a Tesslia, a Acaia, o Peloponeso e o piro. Voltando-se depois para o oeste, invadiram a Dalmcia, a Ilria e a Pannia; dali passaram Itlia em 402; e no ano seguinte foram de tal forma batidos em Pollentia e Verona por Stilico, comandante das foras do Imprio do Ocidente, que Claudiano chama o remanescente das tropas de Alarico de "pequenos resduos de povo de to grande valor" e Prudentius de "povo destrudo". Nestas condies, Alarico fez a paz com o Imperador, tendo sido to humilhado que, conforme cita Orosius, oravam humildemente e com simplicidade por uma paz melhor e algumas habitaes". Esta paz foi ratificada de parte a parte pelos refns: Aetius foi mandado como refm a Alarico e este continuou como prncipe livre na sde que ento lhe foi assegurada.

    Quando Alarico se ps em armas, os povos alm do Danbio comearam a se movimentar; no inverno seguinte, entre 395 e 396, grandes corporaes de Hunos, Alanos, Ostrogodos, Gpidas e outros povos do norte desceram sobre o Danbio gelado, a convite de Rufino; ento seus irmos, que haviam obtido sdes dentro do imprio, tambm correram s armas. Diz Jerome que essa multido era composta de Hunos, Alanos, Godos, Sarmatas, Quades e Marcomanos; e que os mesmos invadiram todas as regies entre Constantinopla e os Alpes Julianos, devastando a Ctia,

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    a Trcia, a Macednia, a Dardnia, a Tesslia, a Acaia, o piro, a Dalmcia e toda a Pannia. Os Suevos tambm invadiram a Rhaetia; pois, enquanto Alarico devastava a Pannia, os Romanos defendiam aquela regio. Isto deu a Alarico a oportunidade de invadir a Itlia, conforme refere Claudiano: Os Getas s irromperam por traio, enquanto a Rhaetia subjuga as nossas foras e, numa segunda batalha, dispersa as nossas Cortes". E quando da Alarico passou Itlia, outros povos brbaros invadiram a Nrica e a Vindelcia, como o mesmo Claudiano nos descreve nos seguintes versos: J os povos haviam desfeito as suas alianas e, sabedores da derrota, os ferozes Lcios ocupavam os desfiladeiros vendlicos e os campos da Nrica

    Isto se passou entre os anos de 402 e 403. Entre aqueles povos, constato os Suevos, os Quades e os Marcomanos, todos ento em armas. Os Quades e os Marcomanos eram Suevos; aqueles e estes vieram originriamente da Bomia e do rio Suevos ou Sprake, na Lusatia; achavam-se ento unidos sob um rei comum, chamado Ermerico, o qual logo depois os conduziu Glia. Por esse tempo os Vndalos e os Alanos deveriam estar espalhados pela Nrica. Na mesma ocasio, Aldino atravessou o Danbio com um exrcito de Hunos, quando do banimento de Crisstomo, isto , em 404, devastando a Trcia e a Msia. Radagsio, rei dos Gruthunni e sucessor de Winithar, convidou mais brbaros de alm do Danbio, invadiu a Itlia com um exrcito de mais de duzentos mil Godos e, em um ou dois anos, de 405 a 406, foi derrotado por Stilico, perecendo com o seu exrcito. Nesta guerra, Stilico foi ajudado por um grande exrcito de Hunos e Ostrogodos, sob a chefia de Uldino e de Sarus, mercenrios ao servio de

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    Honrio. Em toda esta confuso, os Lombardos na Pannia tiveram de se armar para a defesa da prpria liberdade, de vez que j os Romanos no eram capazes de o fazer.

    Ento Stilico, pretendendo fazer-se coroar imperador, proporcionou uma prefeitura militar a Alarico e mandou-o para o Oriente, ao servio de Honrio, Imperador do Ocidente, entregando-lhe algumas tropas Romanas, a fim de aumentar a sua fora de Godos e prometendo seguir, em breve, com seu prprio exrcito. Sua inteno era reconquistar algumas regies da Ilria, que o Imperador do Oriente era acusado de deter com prejuzo do Ocidente. Mas seu secreto desgnio era fazer-se imperador, com o auxlio dos Vndalos e seus aliados: ele prprio era Vndalo. Com o objetivo de facilitar o seu plano, convidou um grande exrcito de povos brbaros a invadir o Imprio do Ocidente, enquanto ele e Alarico invadiam o Imprio do Oriente. Sob o comando de vrios reis, isto , os Vndalos, comandados por Godegsilo; os Alanos em duas corporaes, respectivamente sob as ordens de Goar e de Resplendial; e os Suevos, Quades e Marcomanos chefiados por Ermerico; estas naes marcharam atravs da Rhaetia, para os lados do Rheno, deixando suas sdes na Pannia aos Hunos e Ostrogodos e reunindo-se aos Burgndios chefiados por Gundicar, vindo a incomodar os Francos em sua marcha final. Por fim, em Dezembro do ano de 406, passaram o Rheno em Mentz e derramaram-se pela Germnia Prima e regies adjacentes. Entre outras aes, os Vndalos tomaram a Triers. Ento avanaram pela Blgica e comearam a devastar aquela regio. Em conseqncia disto, os Francos Slicos dos Brabante tomaram as armas e, conduzidos por Teodomiro, filho de Richomer, tambm chamado Ricimer, opuseram to

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    tenaz resistncia que mataram no campo da luta cerca de vinte mil Vndalos, inclusive seu rei Godegsilo; o resto escapou devido aos Alanos de Resplendial, que lhes trouxeram uma ajuda oportuna.

    Ento os soldados Britnicos, alarmados pelos boatos, revoltaram-se e nomearam seus tiranos: primeiro Marcos, que logo assassinaram; depois Graciano, tambm morto em poucos meses; por fim Constantino, sob cujo comando invadiram a Glia em 408, no que foram favorecidos por Goar e Gundicar. Tendo Constantino se apoderado de boa parte da Glia, nomeou Csar a seu filho Constncio e mandou-o Espanha, em 409, a fim de pr ordem nos negcios.

    Entrementes, vendo Resplendial o supradito desastre dos Vndalos, e que Goar se lanara sobre os Romanos, retirou seu exrcito do Rheno e, com os Suevos e o remanescente dos Vndalos, dirigiu-se para a Espanha; entretanto, prosseguindo em suas vitrias, os Francos operaram a retomada de Triers, que saquearam antes de a entregar aos Romanos. A princpio, os Brbaros haviam parado nos Pireneus, o que fez com que se espalhassem pela Aquitnia; mas no ano seguinte tiveram a passagem tomada, graas traio de alguns soldados de Constncio; e entrando na Espanha no dia 4 de Outubro de 409, conquistaram tudo quanto puderam. Por fim, em 411, fizeram a partilha de sua conquista: os Vndalos ficaram com a Btica e parte da Galcia; os Suevos com o resto da Galcia; os Alanos com a Lusitnia e a Provncia de Cartagena. Em homenagem paz, o Imperador os confirmou em suas sdes pelo Ato de 413.

    Tendo feito Teodomiro rei, os Franco-Romanos supra mencionados, logo depois da conquista dos Vndalos,

  • 41

    comearam a invadir os vizinhos. Os primeiros foram os Gauleses de Brabante (i., Galli Arborici, da o ter sido a regio chamada Arboricbant e, por contrao, Brabante); mas no encontrando resistncia suficiente, preferiram sua aliana. Assim aqueles Gauleses, separando-se dos Romanos, firmaram slida ligao com os Francos, a fim de se tornarem um s povo, unindo-se pelo matrimnio e misturando usos e costumes at no haver mais distino entre eles. Deste modo, pela entrada daqueles Gauleses, assim como dos Francos, que pouco depois vieram para o Rheno, o Reino Slico em breve cresceu e tornou-se poderoso.

    A expedio de Stilico contra o Imperador Grego foi sustada por ordem de Honrio; ento Alarico passou do piro Nrica e reclamou certa indenizao pelos seus servios. O Senado estava inclinado a negar-lhe esta, porm cedeu ante a interferncia de Stilico. Entretanto, pouco depois, foi este acusado de conspirao traioeira com Alarico e assassinado no dia 10 de Setembro de 408; em vista disso, aquela soma foi negada tambm Alarico, o qual foi considerado inimigo do imprio; em conseqncia, marchou diretamente para a Itlia com o exrcito retirado do piro e mandou seu irmo Adolfo segu-lo com as foras armadas de que dispunha na Pannia, as quais, apesar de no muito grandes, no eram de se desprezar. Em vista disso, e porque temesse ser encurralado em Roma, Honrio retirou-se para Ravena no ms de outubro do mesmo ano. E desde ento, esta passou a ser e se tornou a sde dos Imperadores do Ocidente. Naqueles dias tambm os Hunos invadiram a Pannia e, ocupando as sdes desertadas pelos Vndalos, Alanos e Godos, fundaram a um novo reino. Avanando sobre Roma, Alarico sitiou-a, tomou-a no dia 9 de setembro

  • 42

    de 410, e, em seguida, naufragou ao tentar passar para a frica. Depois disso, Honrio fez a paz e organizou um exrcito para atacar o tirano Constantino.

    Ao mesmo tempo Gerncio, um dos seus capites, revoltou-se e fez-se Mximo Imperador da Espanha. Em conseqncia, Constantino mandou Edobec, outro de seus capites, levar assistncia aos Brbaros comandados por Goar e Gundicar, na Glia e reservas de Francos e Alemes de alm do Rheno; ento seu filho Constante cercou Viena, na Glia Narbonense. Adiantando-se, Gerncio matou Constante em Viena e assediou Constantino em Arles. Entretanto, ao mesmo tempo, Honrio mandou um exrcito sob as ordens de Constncio, com o mesmo propsito; Gerncio escapou e Constncio continuou o cerco, reforado pela entrada da maior parte dos soldados de Gerncio. Depois de quatro meses de resistncia, tendo Edobec conseguido auxlio, o rei brbaro de Mentz, Goar e Gundicar fizeram Jovino o Imperador e, com o mesmo, mandaram auxlio Arles. Diante de sua aproximao, Constncio retirou-se; perseguiram-no, mas foram derrotados de surpresa. Como entretanto no tivessem prosseguido depois dessa vitria, logo os Brbaros se refizeram, muito embora no tivessem podido evitar a queda dos tiranos Constantino, Jovino e Mximo. A Bretanha no pde ser reconquistada pelo Imprio; depois disto ficou sempre um reino distinto.

    No ano seguinte, 412, tendo sido batidos os Visigodos na Itlia, na retirada invadiram a Aquitnia, devastando-a violentamente, obrigando a retirada dos Alanos e dos Burgndios, que ento a assolavam. Ao mesmo tempo, estes foram pacificados e o Imperador lhes deu como herana

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    a regio do Rheno, que haviam invadido; parece que outro tanto foi feito aos Alanos. Mas, pouco depois, os Francos retomaram Triers e, em 415, Castino foi mandado contra eles com um exrcito: derrotou-os e matou seu rei Teodomiro. Foi esta a segunda tomada de Triers pelos Francos. Entretanto a mesma foi tomada quatro vezes: uma pelos Vndalos e trs pelos Francos. Teodomiro foi sucedido por Ferramundo, Prncipe do Rei dos Francos Slicos da Germnia. Dali, este trouxe novas foras e reinou sobre todos; tinha sdes garantidas ao seu povo dentro do Imprio, perto do Rheno.

    Ento os Brbaros se aquietaram, constituiram-se em vrios reinos dentro do Imprio, no s pela conquista, mas por concesso do Imperador Honrio. Pois Rutilius, em seu "Itinerario", escrito no outono do Ano Urbis 1169, isto , de acordo com os clculos de Varro, ento correntes, no ano de 416, assim lamenta a devastao dos campos: ...por aquelas partes muito devastadas por longas guerras. E acrescenta: "Destroadas as herdades por longos incndios, j se podiam edificar casas de pastores. E um pouco adiante: "Para sempre te sulque o teu Rheno".

    E Orosius, no fim de sua histria, que foi concluda em 417, descreve assim a pacificao geral das naes brbaras: "Refreavam, apertavam e dominavam povos ferocssimos; chamando-as "imperio addictas" (adicionadas ao Imprio), porque se haviam estabelecido no Imprio numa liga, e compactadas e refreadas (no original: coangustatas), porque no mais invadiram as regies sua vontade; antes, pela mesma compacticidade, ficaram sossegadas nas sdes que lhes haviam sido assinadas.

    E estes foram os reinos surgidos dos ps da Besta e que so representados por ferro e barro misturados, mas que

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    no se ligam um ao outro, pois so de energias diferentes.

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    CAPTULO 6

    DOS DEZ REINOS

    REPRESENTADOS PELOS

    DEZ CHIFRES

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    Pelas guerras anteriormente discutidas, o Imprio

    Romano do Ocidente, ao tempo em que Roma foi cercada e tomada pelos Godos, dividiu-se nos seguintes reinos:

    1. dos Vndalos e Alanos, na Espanha e frica; 2. dos Suevos, na Espanha; 3. dos Visigodos; 4. dos Alanos, na Glia; 5. dos Burgndios; 6. dos Francos; 7. dos Bretes; 8. dos Hunos; 9. dos Lombardos; 10. de Ravenos, na Ravena. Sete destes so assim mencionados por Sigonius:

    "No reinado de Honrio, os Hunos entraram na Pannia; os Vndalos, Suevos e Godos, na Espanha; e os Alanos, Burgndios e Godos, na Frana, com direito a certas habitaes. Acrescentem-se os Francos, os Bretes e os Lombardos e ter-se-o os dez: pois estes se erigiram mais ou menos no mesmo tempo que aqueles.

    Entretanto, examinemo-los separadamente: 1. Os reis dos Vndalos eram: em 407,

    Godegsilo; ainda em 407, Gunderico; em 426, Geiserico; em 477, Hunerico; em 484, Gundemundo; em 496, Trasamundo; em 523, Geiserico; em 530, Gelimer. Os Vndalos foram conduzidos: por Godegsilo Glia, em 406; por Gunderico Espanha, em 409; por Geiserico frica, em 427. E Gelimer foi vencido por Belisrio, em 533.

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    Seu reino durou na Glia, Espanha e frica ao todo 126 anos. E na frica foram muito poderosos. Os Alanos s tiveram prpriamente dois reis na Espanha: Resplendial e Ataces, tambm chamado Utacus ou Otacar. Sob o domnio de Resplendial, entraram na Frana em 407 e na Espanha em 409. Ataces foi morto com quase todo o seu exrcito por Vlia, o rei dos Visigodos, em 419.

    Ento, os remanescentes Alanos se sujeitaram a Gunderico, rei dos Vndalos, na Btica, e com estes passaram depois frica, conforme se l em Procopius. Por isso os reis dos Vndalos passaram a se denominar reis dos Vndalos e Alanos, como se v no dito de Hunerico, citado por Victor na sua "Perseguio Vandlica". Em conjunto com os Chatti, estes Alanos deram nome a Cathalaunia, ou Chatti-Alania, atual provncia de Catalunha. Entre os Alanos havia tambm Gpidas; foi por isso que vieram Pannia antes que aqueles a deixassem. A tornaram-se sditos dos Hunos at a morte de tila, em 454, sendo finalmente dominados pelos Ostrogodos.

    2. Foram os seguintes os reis dos Suevos: em

    407, Ermerico; em 438, Rechila; em 448, Rechirio; em 458, Maldra; em 460, Frumrio; em 463, Regismundo. Depois de alguns reis desconhecidos, temos: em 558, Teodomiro; em 568, Miro; em 582, Eubrico; e em 583, Andeca. Depois de se ter sediado na Espanha, este reino ficou sempre na Galcia e na Lusitnia. Depois da queda do reino Alano, Ermerico extendeu-o toda a Galcia, forando os Vndalos a se retirarem para a Btica e para a provncia Cartaginesa. Segundo Isidorus, este reino durou 177 anos, tendo sido ento conquistado por Leovigildo, rei dos Visigodos, e

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    transformado numa provncia de seu reino em 585. 3. Foram os seguintes os reis dos Visigodos: em

    400, Alarico; em 410, Ataulfo; em 415, Sergerico e Vlia; em 419, Teodomiro; em 451, Torismundo; em 452, Teodorico; em 465, Eurico; em 482, Alarico; em 505, Gensalarico; em 526, Amalarico; em 531, Tudio; em 548, Teudisclo, etc.

    Considero o incio deste reino da data em que Alarico deixou a Trcia e a Grcia, para invadir o Imprio do Ocidente. No fim do reinado de Ataulfo, os Godos foram humilhados pelos Romanos e tentaram passar da Frana Espanha. Sergerico reinou apenas uns poucos dias. No comeo do reinado de Vlia, de novo assaltaram os Romanos, mas foram repelidos mais uma vez, tendo sido feita a paz com a condio de que, em favor do Imprio, invadissem os reinos brbaros da Espanha. E o fizeram, juntos com os Romanos, nos anos de 417 e 418, destroando os Alanos e parte dos Vndalos. Ento receberam do Imperador, como doao, a Aquitnia, deixando-lhe em troca suas conquistas na Espanha. Assim, as sdes conquistadas aos Alanos caram nas mos dos Romanos. No ano de 455, assistido pelos Burgndios, Teodorico invadiu a Espanha, ento quase toda submetida aos Suevos, tomando-lhes uma parte. Em 506, os Godos foram postos fora da Glia pelos Francos. Em 585, conquistaram o reino Suevo e se tornaram senhores de toda a Espanha. Em 713, foram invadidos pelos Saracenos, mas logo reconquistaram seus domnios e desde ento reinaram na Espanha.

    4. Os reis dos Alanos na Glia foram Goar,

    Sambida, Eucrico, Sangibano, Beurgos e outros. Em 407,

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    sob o comando de Goar, invadiram a Glia e em 412 estabeleceram-se perto do Rheno. Sob o domnio de Sambida, sucessor daquele, segundo Bucher, seno seu prprio filho, obtiveram o territrio de Valncia, dado por Aetius, general do Imperador, no ano de 440. Sob o comando de Eucrico, conquistaram uma regio dos rebeldes Gauleses de Brabante, que a estes havia sido dada pelo mesmo Aetius. A esta regio chamavam "Alancnio, espcie de cabea de comarca (quasi Conventus) dos Alanos. No reinado de Sangibano foram invadidos e Orlans, sua capital, foi cercada por tila, rei dos Hunos, com enorme exrcito de 500.000 homens. Aetius e os reis Brbaros da Glia vieram para levantar o cerco e derrotaram os Hunos em memorvel batalha, no ano de 451, em campos Catalneos, assim chamados da mistura entre os Chatti e os Alanos. A regio agora chamada Champagne. Naquela batalha pereceram de ambos os lados 162.000 homens. Um ou dois anos depois, tila voltou com um imenso exrcito para conquistar este reino, mas foi novamente batido por eles, junto com os Visigodos, numa batalha que durou trs dias e com uma carnificina quase igual primeira. Sob o reinado de Beurgos, tambm chamado Biorgor, infestaram toda a Glia at o reinado do Imperador Mximo. Ento passaram os Alpes no inverno e penetraram na Ligria, onde foram batidos, e Beurgos foi morto por Richomer, tambm chamado Ricimer, comandante das foras do Imperador, em 464. Outra vez foram ainda batidos pelas foras reunidas de Odoacro, rei da Itlia e de Quilderico, rei dos Francos, por volta do ano de 480 e ainda por Teudoberto, rei dos Francos-Austracos, a pelo ano de 511.

  • 50

    5. Foram os seguintes os reis dos Burgndios: em 407, Gundicar; em 436, Gundioc; em 467, Bilimer; em 473, Gundobaldo com seus irmos; em 510, Sigismundo; em 517, Godomaro. Sob as ordens de Gundicar, invadiram a Glia em 407, e em 412 obtiveram do Imperador sdes perto do Rheno, na Glia Belga. Havia Saxes no seu meio e eram to poderosos que deles escreveu Orosius em 417, dizendo: "Hoje as Glias testemunham que os Burgndios so um exrcito muito poderoso e que, depois de as ocupar, a se mantm. Por volta do ano 435, Aetius lhes infligiu duros golpes e em seguida o mesmo lhes fizeram os Hunos. Mas cinco anos depois, a Sabia lhes foi abjudicada, a fim de ser partilhada por seus habitantes; e desde ento tornou-se de novo um reino forte, limitado pelo Rdano e que mais tarde se extendeu ainda pelo centro da Glia. Gundobaldo conquistou as regies ribeirinhas do Araris e do Rdano, com o territrio de Marselha; e, invadindo a Itlia, ao tempo do Imperador Glicrio, dominou todos os seus irmos. Godomaro estabeleceu sua capital em Orleans, e desde ento o reino chamou-se Reino de Aureliano. Foi conquistado por Clotrio e Quildeberto, reis dos Francos, em 526. Da em diante, o reino esteve por vezes unido ao dos Francos at o reinado de Carlos Magno, que fez de seu filho Carolotius o rei da Burgndia. Desde esse momento, teve reis prprios durante cerca de trezentos anos, quando se dividiu no Ducado de Burgndia (Borgonha) e nos Condados de Burgndia e de Sabia. Algum tempo depois, ainda se dividiram em condados menores.

    6. Foram os seguintes os reis dos Francos: em

    407, Teodomiro; em 417, Ferramundo; em 428, Cldio; em

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    448, Meroveu; em 456, Quilderico; em 482, Clodoveu, etc. Windeline e Bucher, os dois melhores pesquisadores das origens deste reino, fazem-no comear no mesmo ano de invaso da Glia pelos Brbaros, ou seja, em 407. Do primeiro destes reis, a Biblioteca Labbe faz o seguinte registro:

    Alguns excertos histricos das velhas rvores genealticas dos Reis da Frana: Genobaldo, Marcomero, Suno e Teodomeris. Estes foram chefes ou rgulos da nao dos Francos em diversas ocasies, desde o princpio. Mas os historiadores deixaram incerta sua linha genealgica e de sucesso.

    Pharamundus/ Faramundo: Sob o domnio deste seu primeiro rei, sujeitaram-se os Francos s leis promulgadas por seus principais: Wisogastus, Atrogastus, Salegastus e Chochilo. Este atravessou o Rheno, venceu os Romanos na Floresta Carbonria, apoderou-se do Camaraco, que conservou, reinando durante vinte anos. Durante o seu reinado os Francos fizeram muitos progresssos.

    Merovechus: Sob o domnio deste rei os Francos destroem Treves, incendiam Metz e chegam at Aureliano.

    Quanto a Genobaldo, Marcomero e Suno, durante o reinado de Teodsio estes eram capites dos Francos TransRhenanos e no nos interessam para fins deste estudo. Devemos comear com Teodomiro, primeiro rei dos Slios rebelados, que Ivo Carnotensis chama Thiedo ou Theudemerus. Sua efgie existe numa moeda de ouro, encontrada com a inscrio Theudemir Rex, conforme nos diz Petavius e que, segundo Windeline, era ainda existente. Isso mostra que era rei, e rei na Glia; mostra ainda que a

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    rude Germnia ainda no entendia de cunhagem de moedas nem usava as letras ou palavras latinas. Teodomiro era filho de Richomer, o favorito do Imperador Teodsio. Assim, sendo ele um Franco-Romano de sangue real Slico, foi feito rei por meio de uma rebelio. Toda a histria de seu reinado encontrada no Excerptis Gregorii Turonensis, de Fredigarius; os captulos 5, 6, 7 e 8 apresentam este reinado como uma srie de acontecimentos encadeados, tais como sua elevao ao trono, a tirania de Jovino, o morticnio dos partidrios de Jovino, a segunda tomada de Triers pelos Francos e sua guerra com Castino, na qual o rei foi morto. Eis a seqncia, descrita por Fredigarius:

    Extintos os chefes entre os Francos, so novamente criados reis da mesma estirpe dos que o eram antes. Ao mesmo tempo, Jovino toma as insgnias reais. Constantino foge para a Itlia; mas perseguido at o rio Mentio pelos emissrios do Prncipe Jovino e a decapitado. Por ordem de Jovino, muitos nobres foram presos na Auvergne e impiedosamente trucidados pelos capites de Honrio. Pela ao de um dos Senadores, chamado Lcio, a cidade de Treves (Trevirorum) foi tomada pelos Francos e incendiada. Castino, ento "Comus Domesticorum", aceita a expedio contra os francos, etc.

    Na pressa de falar de Teodsio, Fredigarius acrescenta: Os Francos, procurando, como anteriormente, escolherem para si um rei que fosse da linhagem de Pramo, de Frgio e de Francion, para que reinasse sobre eles, elegeram a Teodemero, filho de Richomer, o qual foi morto pelos Romanos, na batalha que acima referi, isto , na batalha com as foras de Castino. Assim a sua morte relatada por Gregrio Turonensis: "Temos lido, nas

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    consulares, que Teodomiro, rei dos Francos, filho de Richomer, e sua me Aseila foram mortos a espada".

    Com essa vitria dos Romanos, os Francos e Gauleses rebelados, que ao tempo de Teodomiro se guerreavam mtuamente, fizeram a paz e se uniram, a fim de se fortalecerem, conforme nos conta Ordericus Vitalis, no Apud Bucherum, 50:14, c.9, n.8: "Como os Gauleses tivessem sido os primeiros a rebelarem-se contra os Romanos, os Francos se lhes associaram e, juntos, escolheram para seu rei a Ferramunduo, filho do capito Suno".

    Prosper indica-nos a data: "No vigsimo quinto ano de Honrio, Ferramundo reina na Frana". Com razo que observou Bucher que isto se refere ao fim do ano de 416, ou comeo do ano seguinte, desde que se datem os anos de Honrio desde a morte de Valentiniano. E argumenta bem ao dizer que, ento, Ferramundo no s era rei segundo a constituio dos Francos, mas coroado tambm por consentimento de Honrio e tinha uma parte da Glia, que lhe fora concedida por um acordo. Talvez por isto os escritores romanos o reconhecem como o primeiro rei. No compreendendo deste modo, outros escritores o consideram o fundador deste reino, apoiado num exrcito de Francos TransRhenanos. Poderia ter vindo com tal exrcito, mas foi o sucessor de Teodomiro, por direito hereditrio e pela vontade do povo. A passagem de Fredigarius, j citada, relatando que "extintos os chefes entre os Francos, so novamente criados reis da mesma estirpe dos que o eram antes", implica a continuao do reino sob essa famlia, eleita durante o reinado de mais de um soberano. Se contarmos os anos de Honrio desde a morte de seu pai, o reinado de Ferramundo

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    deve comear dois anos mais tarde do que admite Bucher. As leis Slicas, feitas em seu reinado e ainda subsistentes, mostram, por seu nome, que reinava sobre um reino Slico e, pelas multas em dinheiro que as mesmas continham, mostram que, no lugar onde reinava, o dinheiro era abundante e, conseqentemente, era dentro do Imprio, pois a rude Germnia, por todo o tempo enquanto no se misturou com os Romanos, desconhecia o uso do dinheiro. No prefcio das leis Slicas, escrito especialmente logo aps a converso dos Francos religio crist, isto , no final do reinado de Meroveu, ou pouco depois, a origem deste reino assim descrita: "E esse povo forte e poderoso, lutando, sacudiu o jugo durssimo dos Romanos, etc." Assim, no foi o reino estabelecido por uma invaso, mas por uma rebelio, como ficou descrito.

    Fazendo o registro cronolgico de seus reis, diz Prosper: "Ferramundo reina na Frana; Cldio reina na Frana; Meroveu reina na Frana"; e no se pode imaginar seno que em todos estes lugares se referia a uma s e mesma Frana. E certo que a "Francia" de Meroveu era a Glia.

    Ainda mais, quando o pai de Ferramundo era rei de um corpo de Francos na Germnia, no reinado do Imperador Teodsio, Ferramundo devia reinar sobre os mesmos Francos na Germnia, antes que sucedesse a Teodomiro no reino dos Slicos com o Imprio e mesmo antes que comeasse o reinado de Teodomiro. Admitimos que tenha sido no primeiro ano de Honrio ou possvelmente quando aqueles Francos, ao serem expulsos por Stilico, perderam seus reis Marcomiro e Suno, um dos quais era pai de Ferramundo. Ento, os Francos Romanos, aps a morte de Teodomiro, deveriam ter convidado Ferramundo, com seu

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    povo de alm do Rheno. Mas no queremos considerar o reino de Ferramundo na Germnia: queremos, isto sim, admitir o incio deste reino a partir da data de seu estabelecimento dentro do Imprio e consider-lo reforado pelo acesso de outros Francos vindos de alm do Rheno, quer na gesto deste rei, quer na de seu sucessor, Cldio. Isto porque, no ltimo ano do reinado de Ferramundo, Aetius lhe tomou uma parte das possesses na Glia.

    Mas seu sucessor, Cldio, que Fredigarius apresenta como sendo filho de Teodomiro, e que alguns chamam Clgio, Clvio e Claudio, convidando um grande corpo de Francos de alm do Rheno, recuperou tudo e levou suas conquistas at o Soame. Dividindo ento as conquistas entre si, aqueles Francos constituram novos reinos em Colnia e em Cambray, como em algumas outras cidades, todos posteriormente conquistados por Clodoveu, que tambm expulsou os Godos da Glia e fixou sua capital em Paris, onde permaneceu desde ento. E esta foi a origem do atual reino da Frana.

    7. Foram estes os reis da Bretanha: em 407 ou

    408, Marcos, Graciano e Constantino, sucessivamente; em 425, Vortigern; em 466, Aurlio Ambrsio; em 498, Uther Pendragon (ou Pendraco); em 508, Artur; em 542, Constantino; em 545, Aurlio Cunano; em 578, Vortiporeu; em 581, Malgo; em 586, Cartico; em 613, Cadwan; em 635, Cadwalin; em 676, Cadwallader. Os trs primeiros eram tiranos romanos que se haviam rebelado contra o Imprio. Orosius, Prosper e Zsimus ligam sua revolta irrupo dos Brbaros na Glia e como uma conseqncia disto. Prosper, com quem concorda Zsimus, fixam a revolta no ano

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    comeado ao dia seguinte quela invaso. Assim, fixam a data certa: Marcos no reinou muitos dias; Graciano, apenas por quatro meses; e Constantino, por trs anos. Foi morto no ano seguinte a tomada de Roma, isto , em 411, no dia 14 de outubro, enquanto que a revolta ocorreu na primavera de 408. Sozomen fixa a expedio de Constantino Glia na poca da morte de Arcdio, ou pouco depois; e Arcdio morreu a 1 de maio de 408. Entretanto, apesar de curto, o reinado destes tiranos deu incio ao reino da Bretanha, pelo que devem ser considerados como seus trs primeiros reis, principalmente porque a descendncia de Constantino, a saber, seus filhos Aurlio Ambrsio e Uther Pendraco e seu neto Artur reinaram depois. Porque, desde a revolta daqueles tiranos, a Bretanha continuou como um reino distinto, isento de submisso ao Imprio, pois o Imperador no dispunha de soldados para remeter para l, a fim de receber e guardar a Ilha, pelo que a abandonou; , pelo menos, o que lemos em registros dignos de f. Diz-nos Prosper: "Em 410, no consulado de Variano, pelo poder militar dos Romanos reduziram-se consideravelmente as foras da Bretanha". E, aliando isto ao cerco de Roma, diz Sigebert: "As foras da Bretanha ficaram muito reduzidas; entretanto subtraram-se ao domnio dos Romanos", E em seu livro 6, Zsimus diz: "Os Brbaros TransRhenanos invadiram todos os lugares, submeteram os habitantes da ilha da Bretanha, bem como certos povos Clticos daquela regio, que se haviam subtrado ao Imprio Romano; e, desde que no mais obedeciam s leis romanas, viviam vontade, em grupos separados. Ento, tomando das armas, os Bretes se aventuraram em busca de sua mesma segurana e livraram suas cidades da iminncia do ataque dos Brbaros. Deste

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    modo, todo o Brabante e algumas provncias dos Gauleses, imitando os Bretes, conquistaram sua liberdade, expulsando os presidentes romanos e organizando-se numa espcie de comunidade, de acordo com seus gostos. Esta rebelio de povos Bretes e Celtas ocorreu quando Constantino usurpou o trono", conclui Zsimus.

    Tambm Procopius, falando do mesmo Constantino, assim se exprime em Livro 1 Vandal: "Tendo sido vencido na batalha, Constantino foi morto com seus filhos: E nunca mais os Romanos puderam reconquistar a Bretanha que, desde ento, ficou sob o domnio dos Tiranos". Segundo Beda, Livro 1, captulo 2: "Roma foi destruda pelos Godos no ano de 1164 da fundao de Roma; desde ento os Romanos deixaram de reinar na Bretanha". Tambm Ethelwaldus relata: "Ao tempo da conquista de Roma pelos Godos, cessou o domnio dos Romanos na ilha da Bretanha, bem como em muitas outras regies escravizadas ao seu jugo". E, no sermo nono, de De Curand Graec Affect", por volta do ano de 424, Teodoreto reconhece os Bretes entre as naes que no se achavam submetidas ao Imprio Romano. E Sigonius assim se exprime: "Nos anos de 411, depois da retirada de Constantino, nulo foi na Bretanha o poder dos Romanos".

    Entre a morte de Constantino e o reinado de Vortigern houve um intervalo de cerca de catorze anos, nos quais os Bretes estiveram em guerra com os Pictos e os Scots (Escoceses) e por duas vezes obtiveram a ajuda de uma Legio Romana, que expulsou o inimigo, mas que no mais deveria voltar. Sobre o comeo do reinado de Vortigern h esse registro numa velha crnica de Nennius, citado por Camden e outros: "Guortigerno ocupou o poder na Bretanha

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    no consulado de Teodsio e de Valentiniano (ano 425) e no quarto ano de seu reinado chegaram os Saxes Bretanha, no consulado de Felix e de Tauro (ano 428)". Esta vinda dos Saxes referida por Sigeberto ao quarto ano de Valentiniano, que cai no ano de 428, conforme a crnica acima; e dois anos depois, os Saxes reunidos com os Pictos foram batidos pelos Bretes. Depois disso, no reinado do Imperador Matian, isto , entre os anos 450 e 456, os Saxes, sob o comando de Heugisto, foram convidados pelos Bretes; mas, aps seis anos, sublevaram-se contra os mesmos, fizeram-lhe guerra com alguns sucessos, substituindo-os pouco a pouco. Ainda os Bretes continuaram como um reino florescente at o reinado de Cartico. E entre as duas naes a guerra continuou at o pontificado de Srgio, no ano de 688, conforme consta no Rolevinc Antiqua Saxonia, Livro 2, captulo 6.

    8. Foram os seguintes os reis dos Hunos: em

    406, Octar e Rugila; em 433, Bleda e tila. Octar e Rugila eram irmos de Munzuc, rei dos Hunos na Gothia, para alm do Danbio; e Bleda e tila eram seus filhos e Munzuc era filho de Balamiro. Segundo Jornanus, os dois primeiros eram reis dos Hunos, mas no de todos eles e os dois ltimos foram seus sucessores.

    Considero o reinado dos Hunos na Pannia desde o momento em que os Vndalos e os Alanos lhes abandonaram aquela regio, em 407; Sigonius o considera desde quando os Visigodos abandonaram a Pannia em 408. Diz ele: Consta que quando os Godos partiram da Ilria, os Hunos os sucederam, entraram na Pannia e a ocuparam. E porque, entre tantas dificuldades, Honrio se encontrasse

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    desprovido de foras para lhes resistir e for-los a retroceder, achou mais acertado tomar uma atitude pacfica, fazer aliana com eles, dar e receber refns; e entre os que foram dados recorda-se principalmente cio [Aetius], que j havia antes sido dado a Alarico.

    Fredigarius descreve como Aetius foi refm dos Godos e Hunos. E, ao mencionar que Teodsio, ento Imperador do Oriente, tinha mandado ordens severas a Joo, o qual, depois da morte de Honrio, havia usurpado a coroa do Imprio do Ocidente, acrescenta: Movido por estes, cio [Aetius], que era ento o administrador do palcio, com uma grande quantidade de ouro foi enviado por Joo aos Hunos, muito conhecidos ao tempo por suas ciladas, e que lhe eram ligados por amizade de famlia. E, pouco adiante, acrescenta: Durante trs anos cio [Aetius] foi prisioneiro de Alarico, depois dos Hunos e finalmente genro de Carplio, ex Comite Domesticorum e administrador do palcio de Joo.

    Bucher ento mostra que Aetius foi refm de Alarico at o ano de 410, quando este morreu; dos Hunos entre os anos de 411 e 415; tornou-se genro de Carplio por volta de 417 ou 418 e Curopalater de l para os fins de 423. Da, provavelmente, ter sido feito refm dos Hunos entre 412 e 413, quando Honrio fez aliana com quase todos os povos brbaros e lhes assegurou sedes. Entretanto, pensamos com Sigonius que Aetius se tornou refm de Alarico no ano de 403. bem manifesto em Prosper que os Hunos tinham posse pacfica sobre a Pannia em 432. Porque no primeiro livro da Crnica de Eusbio, escreve Prosper: Dez anos depois da morte de Honrio, e aps a batalha com Bonifcio, tendo cio [Aetius] recorrido ao patrocnio dos Hunos, ento

  • 60

    governados por Rugila, e impetrado auxlio, regressou ao solo dos Romanos. E no segundo livro diz: No consulado de cio [Aetius] e Valrio, pondo de lado a autoridade, aquele expatriou-se entre os Hunos na Pannia, de cuja amizade e auxlio se servira e conseguiu a graa dos principais, para a interrompida autoridade.

    Por aqui parece-me que, ao tempo em que Rugila ou Rechila, como o chamou Maximus reinava sobre os Hunos na Pannia; e que esta no era bem considerada como solo do Imprio, pois tinha sido outrora assegurada aos Hunos; e que estes eram o mesmssimo corpo de Hunos com os quais, ao tempo em que foi seu hspede, Aetius fez amizade. Por fora disto, tendo solicitado sua ajuda antes da do tirano Joo, em 424, assim lhes proporcionou uma intercesso espontnea junto ao Imperador.

    Octar morreu em 430, pois nos diz Scrates que por aquele tempo, tendo os Burgndios sido novamente incomodados pelos Hunos, tendo conhecimento da morte de Octar e os vendo sem um chefe, caram de surpresa sobre eles e com tanto vigor que, numa s batalha, 3000 Burgndios mataram 10000 Hunos.

    J falamos de Rugila como rei da Pannia. Este morreu em 433 e foi sucedido por Bleda, segundo relatam Prosper e Maximus. Este Bleda e seu irmo tila eram antes reis dos Hunos do alto Danbio, tendo dividido entre si o reino de seu pai Munzuc; ento reuniram aos seus o reino da Pannia. Por isso diz Paulus Diaconus que governavam o reino entre a Pannia e a Dcia. No ano de 441 comearam a invadir o Imprio, reunindo s foras da Pannia novos e grandes exrcitos da Ctia. Mas foi posto um termo guerra e, tendo tila visto Bleda inclinado paz, assassinou-o em

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    444, herdou os seus domnios e novamente invadiu o Imprio. Por fim, aps vrias guerras importantes com os Romanos, tila pereceu no ano de 454. Disputando seus filhos por seus domnios, deram lugar a que os Gpidas, Ostrogodos e outros povos seus sditos se revoltassem e lhes fizessem guerra. No mesmo ano, os Ostrogodos tiveram o seu estabelecimento garantido na Pannia pelos Imperadores Marciano e Valentiniano; e, com os Romanos, expulsaram os Hunos logo aps a morte de tila, no que concordam todos os historiadores. Tal expulso se deu no reinado de Avitus, conforme se encontra em Choronicum Boiorum e em Carm. 7 in Avitum, de Sidonius, que assim se refere ao Imperador: Este j estava resolvido guerra, para reconquistar assim as Pannias, perdidas h muitos sculos. Quis dizer este poeta que, com a vinda de Avitus, os Hunos renderam-se mais facilmente aos Godos. Isto foi escrito por Sidonius no comeo do reinado de Avitus; e seu reino comeou no fim do ano de 455 e no durou nem um ano.

    Diz-nos Jornandes: No dcimo segundo ano do reinado de Vlia, aos cinqenta anos da invaso da Pannia pelos Hunos, foram estes expulsos pelos Romanos e Godos. E assim se exprime Marcellinus: No consulado de Hirio e Ardabrio, a Pannia, que durante cinqenta anos estivera ocupada pelos Hunos, foi reconquistada pelos Romanos. Da poderia parecer que os Hunos tivessem invadido e dominado a Pannia do ano 378 ou 379 at 427, quando teriam sido expulsos. Porm, isto puro engano. O certo que o Imperador Teodsio deixou o imprio intacto; e j mostramos, com Prosper, que em 432 os Hunos estavam em posse pacfica da Pannia. Naqueles dias nada tinham que fazer com a Pannia, e os Ostrogodos continuavam

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    submetidos aos Hunos at a morte de tila, em 454; e Vlia, rei dos Visigodos no reinou doze anos: comeou seu reinado no fim de 415, reinou trs anos e foi morto em 419, como se v em Idacius, em Isidorus e no Manuscrito Espanhol, citado por Grotius.

    Olympiodorus, que leva sua histria somente at o ano de 425, cita a morte de Vlia, rei dos Visigodos, ligando-a de Constantino, ocorrida em 420. Em conseqncia disso, o Vlia a que se refere Jornandes, e que reinou pelo menos doze anos, um outro rei qualquer. Suspeitamos que tal nome tenha sido escrito por engano, em lugar de Valamir, rei dos Ostrogodos, porque a ao referida a era de Romanos e Ostrogodos expulsando os Hunos da Pannia, depois da morte de tila. E improvvel que algum historiador referisse a histria dos Ostrogodos nos anos dos reis Visigodos. Esta ao ocorreu no fim de 455, que considero como o dcimo segundo de Valamir na Pannia, e que quase cinqenta anos aps 406, quando os Hunos ali sucederam aos Vndalos e Alanos.

    Quando cessou a linhagem de Hunimundo, filho de Hermanerico, os Ostrogodos viveram cerca de quarenta anos dominados pelos Hunos e sem reis prprios. E, quando Alarico comeou a guerrear os Romanos, no ano de 444, fez Valamir, com seus irmos Teodomiro e Videmir, netos de Vinethar, capites ou reis destes Ostrogodos, por ele dominados. No dcimo segundo ano do reinado de Valamir, contado daquela poca, os Hunos foram expulsos da Pannia.

    Os Hunos ainda no haviam sido expulsos, mas se achavam em luta com os Romanos, quando a cabea de Denfix, filho de tila, foi levada para Constantinopla, em 469, no consulado de Zeno e de Marciano, conforme relata

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    Marcellinus. Tambm no tinham sido ainda completamente expelidos do Imprio: porque alm de suas relquias na Pannia, diz-nos Sigonius que, quando os Imperadores Marciano e Valentiniano haviam garantido a Pannia aos Godos, o que se deu em 454, garantiram parte da Ilria a alguns Hunos e Srmatas. E no ano de 526, quando os Lombardos, agitando-se na Pannia, a combateram os Gpidas e os varos, parte dos Hunos que haviam tomado esse nome de um de seus reis, ajudaram os Lombardos. Depois disso, quando passaram Itlia, estes deixaram suas sdes na Pannia aos varos, em recompensa por sua amizade.

    Da por diante os Hunos tornaram-se muito poderosos. Seus reis, a quem chamavam Chagan, causaram grandes perturbaes ao Imprio, durante os reinados de Maurcio, Focas e Herclio. Esta a origem do atual reino da Hungria, o qual, daqueles Hunos e varos misturados, tomou o nome de Hun-Avaria e, por contrao, Hungria.

    9. Antes de vir para o Danbio, eram os

    Lombardos comandados por dois capites: Ibor e Ayon. Depois da morte destes tiveram os seguintes reis: Agilmundo, Lamisso, Lechu, Hildehoc, Gudehoc, Clafo, Tato, Wacho, Walter, Andoino, Alboim, Cleopis e outros.

    Agilmundo era filho de Ayon e, segundo Prosper, tornou-se rei no consulado de Honrio e de Teodsio, em 389, reinando trinta e trs anos, conforme Paulus Warnefridus, tendo sido morto em combate pelos Blgaros. Prosper coloca sua morte no consulado de Marinianus e de Asclepiodorus, isto , no ano de 423.

    Lamisso bateu os Blgaros e reinou trs anos,

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    enquanto Lechu reinou quase qarenta anos. Gudehoc foi contemporneo de Odoacro, rei dos Hrulos na Itlia; levou seu povo da Pannia para a Rgia, regio ao norte da Nrica, pouco acima do Danbio; da ento Odoacro levou sua gente para a Itlia.

    Tato bateu o rei dos Hrulos acima do Danbio. Wacho conquistou os Suevos, reinou, ento, limitado a leste pela Bavria, a oeste pela Frana e ao Sul pela Burgndia. Andoino voltou para a Pannia em 526 e a venceu os Gpidas. Em 511, Alboin submeteu o reino dos Gpidas e matou seu rei, Chunnimund. Em 563, ajudou o Imperador Grego contra Totila, rei dos Ostrogodos na Itlia; e em 568 levou seu povo da Pannia para a Lombardia, onde domi