Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo...

40
E-STRATÉGICA, 2, 2018 • ISSN 2530-9951, pp. 165-203 165 Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz – Um desconhecido comendador de Arenilha Cristóvão de Mendonça, navigator in the Orient and captain of Ormuz — an unknown comendador of Arenilha Fernando Pessanha Arquivo Histórico Municipal António Rosa Mendes/VRSA Resumo Identificados documentos que referem Cristóvão de Mendonça como comen- dador da vila de Arenilha, procurámos estabelecer a relação entre este dona- tário e o célebre capitão das armadas da Índia incumbido de descobrir a Ilha do Ouro e que mais tarde se veio a tornar capitão de Ormuz. Com o objectivo de perceber se estaríamos perante o mesmo indivíduo, o que constituiria uma importante novidade em relação ao nosso conhecimento acerca deste navega- dor, procurámos seguir uma metodologia de trabalho que passasse por recons- tituir o percurso deste capitão até ao momento em que Cristóvão de Mendonça aparece referido como comendador da antiga comenda quinhentista localiza- da na foz do Guadiana. Para tal, confrontámos as fontes do séc. XVI, nomeada- mente, as Décadas da Ásia de João de Barros e demais cronística, com estudos * Doutorando em Património Histórico pela Universidade de Huelva. Arquivo Histórico Municipal de Vila Real de Santo António. Correo electrónico: fernando.pessanha@ cm-vrsa.pt http://www.journal-estrategica.com/

Transcript of Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo...

Page 1: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 165

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no Oriente e capitatildeo de Ormuz ndash Um

desconhecido comendador de Arenilha

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navigator in the Orient and captain of Ormuz mdash an unknown comendador

of Arenilha

Fernando Pessanhalowast

Arquivo Histoacuterico Municipal Antoacutenio Rosa MendesVRSA

Resumo

Identificados documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comen-dador da vila de Arenilha procuraacutemos estabelecer a relaccedilatildeo entre este dona-taacuterio e o ceacutelebre capitatildeo das armadas da Iacutendia incumbido de descobrir a Ilha do Ouro e que mais tarde se veio a tornar capitatildeo de Ormuz Com o objectivo de perceber se estariacuteamos perante o mesmo indiviacuteduo o que constituiria uma importante novidade em relaccedilatildeo ao nosso conhecimento acerca deste navega-dor procuraacutemos seguir uma metodologia de trabalho que passasse por recons-tituir o percurso deste capitatildeo ateacute ao momento em que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece referido como comendador da antiga comenda quinhentista localiza-da na foz do Guadiana Para tal confrontaacutemos as fontes do seacutec XVI nomeada-mente as Deacutecadas da Aacutesia de Joatildeo de Barros e demais croniacutestica com estudos

Doutorando em Patrimoacutenio Histoacuterico pela Universidade de Huelva Arquivo Histoacuterico Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Correo electroacutenico fernandopessanha cm-vrsapt

httpwwwjournal-estrategicacom

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203166

Fernando Pessanha

genealoacutegicos e documentaccedilatildeo do Arquivo Nacional da Torre do Tombo no sen-tido de percebermos se o ceacutelebre navegador reunia as condiccedilotildees para ser agra-ciado com uma comenda da Ordem de Cristo

Palavras-chave

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Ordem de Cristo Arenilha Algarve

Abstract

Having identified documents referring to Cristovatildeo de Mendonccedila as commander of the town of Arenilha we attempted to establish the relationship between this donatary (comparable to a royal governor) and the famous captain of the Indian fleets given the task of discovering the Ilha do Ouro (Golden Island) who later became captain of Ormuz When trying to understand if we are dealing with the same individual which would be an important development when it comes to our knowledge on this navigator we attempted to use a work methodology which followed the reconstruction of his life up to the point when Cristovatildeo de Mendonccedila is mentioned as commander of the old 16th century comenda (a land grant together with a duty to defend it from enemies and criminals) located in the mouth of the Guadiana river To do this we compared 16th century sources namely the Deacutecadas da Aacutesia by Joatildeo de Barros and other chronicles with genealogical studies and documentation from the National Archive of Torre do Tombo with the intention of understanding if this famous navigator was the right kind of person to be awarded a comenda of the Order of Christ

Keywords

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Order of Christ Arenilha Algarve

1 A vila de Arenilha

A Histoacuteria da antiga vila de Arenilha fundada na margem portugue-sa da foz do Guadiana em 1513 continua envolta num cenaacuterio de con-tornos tatildeo romacircnticos quatildeo idiacutelicos natildeo obstante os vaacuterios estudos que nos uacuteltimos anos se tecircm debruccedilado sobre a Histoacuteria do Algarve Pon-tualmente a tradiccedilatildeo oral ainda arranca agraves brumas do esquecimento a memoacuteria da desaparecida vila - ou ldquoviletardquo como apelidou Frei Joatildeo de Satildeo Joseacute em 15771 Poreacutem satildeo escassas as investigaccedilotildees que tecircm tido Arenilha enquanto objecto de estudo e a verdade eacute que o nosso co-nhecimento sobre o tema resume-se a alguns trabalhos que de forma

1 JOSEacute ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo p 55

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 167

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

diligente foram dados agrave estampa a partir segunda metade do seacutec XX2 Posto isto verifiquemos em traccedilos muito gerais o estado do conheci-mento acerca desta vila e das suas gentes

A Vila de Santo Antoacutenio Santo Antoacutenio de Arenilha ou Santo Antoacute-nio da Foz do Guadiana satildeo designaccedilotildees relativas agrave mesma povoaccedilatildeo e que chegam a aparecer em simultacircneo no seacutec XVI Foi ao abrigo de um plano de natureza econoacutemica poliacutetica estrateacutegica e militar que a vila de Arenilha foi fundada enquanto couto de homiziados junto agrave foz do Gua-dianaldquoasy e da maneira que ho he a nossa Villa de Crastro Marymrdquo3 Eacute a Carta de Privileacutegio concedida por D Manuel em 8 de Fevereiro de 1513 e posteriormente confirmada por D Joatildeo III em 25 de Maio de 1526 a assinalar a fundaccedilatildeo da ldquonossa Villa darenilha que hora mandamos fazer e adifycarrdquo No entanto este topoacutenimo jaacute aparece referido em O Livro das Fortalezas4 produzido por Duarte de Armas em 1509 De resto a existecircncia de um topoacutenimo de origem castelhana - e que nos daacute conta da

2 De entre estes trabalhos destacam-se desde logo Ataiacutede de OLIVEIRA Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacutenio (obra originalmente publicada em 1908) Seguindo o criteacuterio cronoloacutegico segue-se de MAGALHAtildeES Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI (obra que natildeo obstante tratar a Histoacuteria econoacutemica do Algarve quinhentista na sua generalidade natildeo esquece a antiga vila de Arenilha) CORREIA Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina (dis-sertaccedilatildeo para doutoramento defendida em 1983 Refira-se que o compendioso corpus documental desta obra vem demonstrar que apesar de Arenilha se ter despovoado no decurso do seacutec XVII nunca deixou de existir do ponto de vista institucional con-tinuado a Cacircmara de Arenilha em funccedilotildees ateacute agrave fundaccedilatildeo de Vila Real de Santo An-toacutenio em 1776) CAVACO Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha (o primeiro trabalho exclusivamente dedicado agrave Histoacuteria da antiga vila de Arenilha) CAVACO ldquoEcos da Expansatildeo Portuguesa em Marrocosrdquo (trabalho que apresenta interessantes novida-des relativamente agrave publicaccedilatildeo de 1985) GRILO ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo CORREIA O Algarve em Patrimoacutenio (obra onde tambeacutem eacute tratada Arenilha) PESSANHA Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha (livro que visou a impres-cindiacutevel actualizaccedilatildeo de conhecimentos sobre o tema por ocasiatildeo do V centenaacuterio da fundaccedilatildeo da vila) PESSANHA ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Are-nilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo pp 77-95 PESSANHA Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Deste entatildeo a identificaccedilatildeo de documentos aparentemente ineacuteditos tem levado agrave publicaccedilatildeo de novas interpreta-ccedilotildees nos oacutergatildeos de comunicaccedilatildeo locais e nas Jornadas de Histoacuteria de Ayamonte o que tem permitindo que lenta e paulatinamente se vaacute constituindo do puzzle do nosso conhecimento sobre a Histoacuteria de Arenilha Ver PESSANHA ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo p 21 PESSANHA ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo p 21 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo

3 ANTT Chancelaria de D Joatildeo III liv 12 fl62 Documento publicado por CAVACO Re-visitando pp 27-28 GRILO ldquoNa margem direitardquo p32 PESSANHA Os 500 anos p 43

4 ANTT Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Nordm159 PT-TT-CF-159_m0020 ARMAS O Livro das Fortalezas fl1

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203168

Fernando Pessanha

natureza geomorfoloacutegica do espaccedilo - ainda antes da elaboraccedilatildeo do do-cumento que manda proceder agrave construccedilatildeo da vila pode perfeitamente indicar a ocupaccedilatildeo sazonal daquele areal na margem portuguesa da foz do Guadiana por populaccedilotildees de pescadores de origem espanhola5

Com efeito as fontes documentais relativas a Arenilha natildeo satildeo muito abundantes o que acaba por representar um entrave agrave investigaccedilatildeo his-toriograacutefica Ainda assim natildeo satildeo de todo inexistentes Para aleacutem de al-guns documentos que podemos encontrar no Arquivo Nacional da Torre do Tombo existem tambeacutem referecircncias agrave antiga vila nalgumas croacutenicas da centuacuteria quinhentista e que tecircm vindo a ser publicadas ao longo das uacuteltimas deacutecadas Nesse sentido assumem especial destaque as Visitaccedilotildees da Ordem de Santiago6 de 1555 a Relaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevora7 redigida pelo cronista Joatildeo Cascatildeo em 1574 a Corografia do Reino do Algarve8 de 1577 de Frei Joatildeo de Satildeo Joseacute e a Histoacuteria do Reino do Algarve de 1600 de Henrique Fernandes Sarratildeo9

Resumidamente sabemos que a vila foi um pequeno aglomerado de vocaccedilatildeo mariacutetima que encontrava na pesca a sua principal fonte de subsistecircncia e que se via constantemente ameaccedilada pelos ataques da pirataria magrebina10 Contava apenas com quinze ou dezasseis vizi-nhos (fogos) em 1574 aquando da passagem de D Sebastiatildeo pela foz do Guadiana11 Ora se tivermos em consideraccedilatildeo que durante o seacuteculo XVI cada vizinho era constituiacutedo por uma meacutedia de quatro ou cinco pes-soas12 rapidamente chegamos agrave conclusatildeo que por entatildeo a populaccedilatildeo

5 PESSANHA Os 500 anos pp 34-38 PESSANHA ldquoV Centenaacuteriordquo pp 79-816 CAVACO ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago pp242-246 LAMEIRA amp SANTOS Visita-

ccedilatildeo de Igrejas Algarvias pp 105-1087 CASCAtildeO ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevo-

rardquo pp77-1368 JOSEacute ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo pp 21-1329 SARRAtildeO ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo pp 133-174 Arenilha aparece referenciada

noutras obras da Idade Moderna como Massai ldquoDescripccedilatildeo do Reyno do Algarverdquo in GUEDES Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) pp 89-234 No entanto e uma vez que a balizagem a que nos propusemos incide concretamente no seacutec XVI optaacutemos por concentrar-nos ex-clusivamente nas fontes quinhentistas

10 PESSANHA ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcai-de-mor de Arenilhardquo pp 63-94

11 CASCAtildeO ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeordquo p 12012 Joaquim Romero de Magalhatildees por exemplo defende que o coeficiente multiplicador

para determinar o nuacutemero de habitantes de um ldquovizinhordquo ou ldquofogordquo deveraacute ser de 45 Ver MAGALHAtildeES Para o Estudo pp 245-246 nota 2

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 169

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

de Arenilha situar-se-ia entre as 60 e as 80 pessoas ou seja a vila nunca deixou de ser um lugar escassamente povoado mesmo durante o auge da sua densidade demograacutefica13

As fontes jaacute por si escassas pouco ou nada nos dizem acerca dos arenilhenses que povoaram a margem portuguesa da foz do Guadiana Sendo a populaccedilatildeo constituiacuteda por homiziados e gente humilde que en-contrava na pesca o seu sustento torna-se particularmente difiacutecil se-guir-lhes o rasto biograacutefico Se exceptuarmos as informaccedilotildees facultadas pelo processo da inquisiccedilatildeo de Jorge da Cunha um natural ldquodo lugar de Santo Antonio de Arenilha Reyno do Algaruerdquo14 as uacutenicas informaccedilotildees de que dispomos satildeo relativas agrave ldquogente nobre da governanccedila da terrardquo15 que como Romero de Magalhatildees bem observou mais natildeo era que uma segunda categoria do estado da nobreza16 Eacute exactamente nesse sentido que o presente artigo pretende apresentar um comendador da antiga vila de Arenilha ateacute agora desconhecido

2 Os senhores de Arenilha alcaides e comendadores

Torna-se difiacutecil seguirmos o rasto dos senhores de Arenilha As croacute-nicas quinhentistas atraacutes referidas e restante documentaccedilatildeo avulsa referem os alcaides da vila da foz do Guadiana a partir de meados do seacutec XVI mais precisamente a partir de 20 de Agosto de 154217 Foram estas fontes que permitiram a Ataiacutede de Oliveira baseando-se particu-larmente nos escritos de Frei Joatildeo de Satildeo Joseacute identificar os alcaides Antoacutenio Leite e Luiacutes Leite em Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacutenio18 publicada pela primeira vez em 1908 Posteriormente em 1995 Hugo Cavaco identificou o alcaide Antoacutenio Leite de Vascon-celos em Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha19 sendo que os outros donataacuterios posteriormente identificados jaacute ultrapassam a balizagem cronoloacutegica do seacutec XVI

13 PESSANHA Os 500 anos pp 54-5514 ANTT Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1 PESSANHA

Os 500 anos pp 104-107 PESSANHA ldquoAyamonte nos processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombordquo pp 12-28

15 MAGALHAtildeES Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 pp 41-49 MAGALHAtildeES ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo pp 274-277

16 MAGALHAtildeES Concelhos e organizaccedilatildeo p 12817 ANTT Chancelaria da Ordem de Cristo lv13 fls 375 vndash379 v18 OLIVEIRA Monografia p 7219 CAVACO Revisitando p 18

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203170

Fernando Pessanha

Com efeito a nomeaccedilatildeo destes alcaides pressupotildee a existecircncia - ou a intenccedilatildeo - de uma vila acastelada ou fortificada e de facto sabemos que a vila de Arenilha foi fortificada com ldquotramqueyras e repairos () de madeyrardquo nos uacuteltimos anos da primeira metade do seacutec XVI20 Aliaacutes se a principal funccedilatildeo do alcaide-mor para aleacutem das funccedilotildees administrativas e judiciais era a defesa e a guarda do castelo (que devia sustentar ateacute agrave morte)21 a referecircncia ao ldquoalcaide moorrdquo presente na Carta de Privileacutegio de 8 de Fevereiro de 1513 poderaacute deixar antever a intenccedilatildeo do monarca em fortificar a nova vila da foz do Guadiana

No entanto e ainda que natildeo sejam conhecidas referecircncias aos alcai-des de Arenilha ateacute 1542 temos de ter em consideraccedilatildeo que Castro Ma-rim e a nova vila da foz do Guadiana apresentavam-se como as duas uacuteni-cas comendas da Ordem de Cristo no Algarve Naturalmente que estas comendas implicavam desde logo a existecircncia de comendadores sobre os quais recaiacutea o senhorio das ditas vilas o que era compreendido como motivo de honra e de prestiacutegio social numa sociedade ainda bastante influenciada pelas antigas tradiccedilotildees medievo-feudais Estas comendas enquanto benefiacutecio atribuiacutedo a cavaleiros professos nas ordens milita-res como recompensa por serviccedilos prestados compreendiam o direito agrave administraccedilatildeo da localidade e conferiam uma renda para sustentaccedilatildeo do comendador beneficiaacuterio configurando um recurso para os encar-gos da proacutepria comenda

3 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila

No decurso da investigaccedilatildeo para o artigo ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo22 deparaacutemo-nos com dois documen-

20 Carta de Antoacutenio Leite a D Joatildeo III em 16 de Novembro de1542 - 1547 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos pp 99-101 No ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo o documento aparece com a seguinte designaccedilatildeo ldquoCarta a D Joatildeo III sobre a necessidade de fortificar a foz do Guadiana para fazer face aos ataques de mouros Santo Antoacutenio da Foz do Guadianardquo Ver PINTO ldquoIacuten-dice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo p 267 Jaacute o Arquivo Nacional da Torre do Tombo apresenta o mesmo documento como ldquoCarta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras q que era necessaacuterio enviar-lhe socorrordquo Ver ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

21 Segundo as Ordenaccedilotildees Manuelinas ldquoincorria na pena de traiccedilatildeo aquele que por sua cul-pa o perdesserdquo Ver ALMEIDA Histoacuteria de Portugal Vol VII p 25 PESSANHA As Guarni-ccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar p 97

22 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesardquo pp 86-82

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 171

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

tos ineacuteditos que desde logo chamaram a nossa atenccedilatildeo Trata-se de duas cartas em que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece referido como comenda-dor de Arenilha Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de anaacutelise no referido artigo Importa no entanto debruccedilarmo-nos sobre a identidade do comendador de Arenilha Cris-toacutevatildeo de Mendonccedila Quem era Qual o seu contexto familiar e social

Com efeito quer o nome quer a cronologia (deacutecada de 20 do seacutec XVI) remete-nos automaticamente para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila capitatildeo das armadas da Iacutendia em 1519 e 152723 capitatildeo-mor da armada destinada a descobrir a Ilha do Ouro em 152224 e capitatildeo de Ormuz entre 1527 e 1531153225 Por outras palavras o ceacutelebre navegador portuguecircs que de acordo com as teorias de autores como Kenneth McIntyre26 ou Peter Trickett27 foi o descobridor da Austraacutelia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Aliaacutes a teoria da descoberta da Austraacutelia pelos portugue-ses natildeo eacute propriamente novidade tendo vindo a consubstanciar-se des-

23 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap IX p 325 Ver tambeacutem GOacuteIS Chronica do Serenissimo Senhor Rei D Manuel IV Cap XXXVI p 515 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses V Cap XV p 27 SOUSA Asia Tomo I Pt III Cap III p 190

24 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I IV Cap III pp 412-413 Ver tambeacutem Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) Documento publicado in Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI p 96

25 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada IV II Cap III p 73 Ver tambeacutem CORREIA Lendas da Iacutendia Vol III Pt I Cap XVI p 182 SOUSA Anais de D Joatildeo III Vol II IV Cap I p 1 SOUSA Asia Tomo I Pt IV Cap II p 256

26 O australiano Kenneth McIntyre professor de Literatura Direito e aficionado da His-toacuteria Portuguesa foi um dos mais ceacutelebres defensores da teoria da descoberta da Aus-traacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila McIntyre defendeu esta teoria com base na anaacutelise de um mapa luso-francecircs de 1538 o designado Mapa Delfim que apresenta uma Ilha de Java bastante semelhante agrave Austraacutelia McIntyre refere ainda um navio de mogno afundado alegadamente pertencente agrave frota de Mendonccedila ainda que os destroccedilos da embarcaccedilatildeo nunca tenham sido encontrados A embarcaccedilatildeo teria encalhado nas dunas perto de Warrnambool estado de Victoria a oeste de Melbourne Dois caccedilado-res de focas afirmaram terem visto os seus destroccedilos em 1836 Actualmente o barco eacute considerado uma lenda e a sua histoacuteria eacute celebrada em Warrnambool nomeada-mente no festival portuguecircs que aiacute tem lugar de dois em dois anos Ver McINTYRE A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha portuguesa 250 anos antes do Comandante Cook 1989

27 Mais recentemente em 2007 o livro do jornalista Peter Trickett reavivou a tese da descoberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Desta vez com base na interpre-taccedilatildeo do mapa do Atlas Vallard de 1547 cujo original estaacute condicionado na Biblioteca de Huntington e onde dois destes mapas apresentam vaacuterios topoacutenimos da costa aus-traliana escritos em portuguecircs Ver TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os na-vegadores portugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Austraacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203172

Fernando Pessanha

de a segunda metade do seacutec XIX a partir dos estudos do Visconde de Santareacutem28 e do historiador inglecircs Henry Major29 De resto nem o nome de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila enquanto alegado descobridor da Austraacutelia nem a data de 1522 em que se teraacute dado a descoberta satildeo novidade para a historiografia nacional uma vez que jaacute anteriormente foram defendi-dos por investigadores como Armando Cortesatildeo30 Duarte Leite31 e Antoacute-nio Pereira Cardoso32

Natildeo eacute poreacutem intenccedilatildeo do presente artigo discutir as teorias destes au-tores nomeadamente a teoria de Trickett Para tal jaacute o Museu da Ciecircncia da Universidade de Coimbra realizou em 2008 um coloacutequio e uma mesa-redonda com historiadores de reconhecida credibilidade De resto as ac-tas deste encontro foram publicadas com o tiacutetulo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens33 publicaccedilatildeo em que de acordo com a comunida-de cientiacutefica a exploraccedilatildeo da costa australiana pelos portugueses parece indiscutiacutevel dado os diversos indiacutecios como os achados arqueoloacutegicos34 os relatos orais de aboriacutegenes35 ou a cartografia da escola de Dieppe36

Poreacutem e independentemente das teorias construiacutedas em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e da alegada descoberta da Austraacutelia interessa-nos determinar se este navegador e capitatildeo de Ormuz eacute o mesmo Cristoacute-vatildeo de Mendonccedila comendador de Arenilha

28 SILVA ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo p 111 nota 1

29 ALBUQUERQUE ldquoMajor Richard Henry (1818-1891)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 141-142 Ver tambeacutem DOMINGUES ldquoOs portugueses descobriram a Austraacute-liardquo pp 163-164 Refira-se que este uacuteltimo por exemplo atribuiu a descoberta do con-tinente austral a Antoacutenio de Abreu em 1512 e que segundo o historiador Joseacute Manuel Azevedo e Silva ldquoDiogo Pacheco foi o primeiro portuguecircs a descobrir a Austraacutelia em 1519rdquo Ver SILVA ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-morrdquo p 119 Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoViagens e misteacuterios nos mares da Indoneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo p 19

30 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Australaacutesia Macau Japatildeo)rdquo pp 156-159

31 LEITE Histoacuteria dos Descobrimentos pp 329-33432 CARDOSO A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila agrave Austraacutelia em 152233 Os resultados deste coloacutequio concluem que a ldquoteserdquo de Trickett aponta algumas pistas

de trabalho interessantes ainda que careccedila de fundamentaccedilatildeo cientiacutefica Ver SIMOtildeES amp DOMINGUES (coord) Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens

34 Referimo-nos concretamente a peccedilas de artilharia destroccedilos de um navio potes de barro antigas ruiacutenas em pedra um elmo de ferro e um projeacutectil de canhatildeo TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio pp 47-57 199-202 203-204 210-211 242-250

35 TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio pp 67-6936 Trata-se da localidade francesa onde foi feito o Atlas de Vallard que serviu de base ao

livro de Trickett Ver TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio p 29

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 173

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

4 Contexto social e familiar

Com efeito o Cristoacutevatildeo de Mendonccedila das croacutenicas portuguesas do seacutec XVI era filho de Diogo de Mendonccedila alcaide-mor de Mouratildeo e ana-del dos besteiros37 Segundo Damiatildeo de Goacuteis Diogo de Mendonccedila acom-panhou o duque de Braganccedila na conquista de Azamor38 Casou com D Brites Soares de Albergaria filha bastarda de Fernatildeo Soares de Alber-garia senhor do Prado39 De acordo com as genealogias avanccediladas pelo Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal ou pelo Livro de Linhagens do seacuteculo XVI Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teve seis irmatildeos Pecircro de Mendonccedila alcai-de-mor de Mouratildeo Antoacutenio de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo Isabel de Mendonccedila Margarida de Mendonccedila Joana de Mendonccedila mu-lher de D Jaime duque de Braganccedila e Francisco de Mendonccedila40

Quanto a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila sabemos que desposou Maria de Vilhena filha de Sancho de Tovar e de sua mulher Guiomar da Silva ainda que o casal natildeo tenha tido descendecircncia O Livro do Armeiro-Mor publicado em 1509 apresenta o brasatildeo de armas dos Mendonccedilas41 numa altura em que o alcaide-mor de Mouratildeo era Diogo de Mendonccedila pai de Cristoacutevatildeo Tambeacutem o Livro da Nobreza e da perfeiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal de Antoacutenio Godinho escrivatildeo da Cacircmara de D Joatildeo III apresenta o brasatildeo de armas dos Mendonccedilas numa altura em que o alcaide-mor de Mouratildeo era Pedro de Mendonccedila irmatildeo de Cristoacutevatildeo Refira-se que Antoacutenio Go-dinho teraacute comeccedilado a produzir este trabalho entre o fim do reinado de D Manuel e o iniacutecio do reinado de D Joatildeo III periacuteodo que corresponde agrave presenccedila de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente e agrave sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro42 Pouco se sabe acerca da infacircncia e juventude de Cristoacutevatildeo

37 Diogo de Mendonccedila tinha sido fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo e foi alcaide-mor de Mouratildeo pelo menos desde 1476 ateacute falecer em 1516 altura em que o cargo passou para o seu filho Pecircro de Mendonccedila Ver FREIRE Brasotildees da Sala de Sintra Vol III p 173 Por sua vez Pecircro de Mendonccedila fidalgo da Casa Real foi nomeado alcaide-mor do castelo e vila de Mouratildeo com todas as rendas direitos foros tributos liberdades e honras em consideraccedilatildeo aos serviccedilos prestados pelo seu pai Diogo de Mendonccedila em 14 de Julho de 1517 Ver ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 37

38 GOacuteIS Chronica III Cap XLVI p 36739 GAYO Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX p 5340 GAYO Nobiliaacuterio Tomo XX p 53 FARIA Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI p 275 41 BORGUES Livro do Armeiro-Mor p 6042 Cf ANTT Livro da Nobreza e da perfeiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres li-

nhagens dos reinos e senhorios de Portugal f12 (on line) httpdigitarqarquivosptdetailsid=4162407

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203174

Fernando Pessanha

Seja como for aparece referido na documentaccedilatildeo como fidalgo da Casa Real logo em 151443 Se seguirmos as Deacutecadas da Aacutesia apercebemo-nos de que ldquoChristovatildeo de Mendoccedila filho de Diogo de Mendoccedila Alcaide moacuter de Mouratildeordquo44 partiu para o Oriente em 23 de Abril de 1519 na armada de Jorge de Albuquerque composta por 14 naus Sigamos portanto o rasto biograacutefico deixado por Cristoacutevatildeo durante a sua primeira viagem ao Oriente

5 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente

51 A expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro

Decorria o ano de 1519 quando Diogo Lopes de Sequeira o entatildeo go-vernador da Iacutendia incumbiu Diogo Pacheco de obter informaccedilotildees sobre a existecircncia da miacutetica Ilha do Ouro que segundo Joatildeo de Barros se en-contrava ldquoao Sul daquela Ilha Ccedilamatrardquo45 Ao chegar ao porto de Barus Diogo Pacheco tomou conhecimento da existecircncia de uma outra ilha si-tuada a sudeste do arquipeacutelago indoneacutesio para a qual os naturais do reino de Barus jaacute tinham navegado de modo a obterem ouro atraveacutes do trato com os indiacutegenas46 Recolhidas estas informaccedilotildees Diogo Pacheco navegou ao largo da Ilha de Samatra seguindo para sudeste Poreacutem ao chegar ao estreito de Sunda entre Samatra e Java optou por navegar para noroeste circum-navegando Samatra ateacute chegar a Malaca

No ano seguinte em 1520 o mesmo navegador tentou repetir a ex-ploraccedilatildeo Poreacutem ao aproximar-se do porto de Barus foi recebido por navios hostis que lhe recusaram a entrada com tiros de bombarda Quanto a Diogo Pacheco acabaria por vir a falecer num recontro com os habitantes de uma ilha depois de o seu navio encalhar na costa47

43 Provisatildeo para se pagar a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila fidalgo da Casa 7 mil reacuteis de mora-dia ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 51 Nordm26

44 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap IX p 325 Ver tambeacutem GOacuteIS Chronica IV Cap XXXVI p 515 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento p 27 SOUSA Asia Tomo I Pt III Cap III p 190 ABREU Livro de Lisuarte de Abreu fl37v-38

45 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap III p268 O mito em torno da existecircncia de uma ilha do Ouro tem origem numa confusatildeo antiga com a ilha de Samatra onde se produzia ouro em Minangkabau facto que os portugueses conheceram Sobre a miacutetica Ilha do Ouro veja-se THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o descobrimento da Austraacuteliardquo pp 66-73

46 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap III p 26947 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap III p 273 Ver tambeacutem SOUSA Asia

Tomo I Pt III Cap III p187 Diz-nos Joatildeo de Barros que Diogo Pacheco ao ver-se com vento que lhe era contraacuterio e face aos indiacutegenas que se metiam nas suas em-

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 175

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

Como anteriormente referimos foi em 23 de Abril de 1519 que D Manuel enviou para a Iacutendia uma armada comandada por Jorge de Albuquerque onde seguia ldquoChristovatildeo de Mendoccedila filho de Diogo de Mendoccedila Alcaide moacuter de Mouratildeordquo Identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como um dos capitatildees desta armada resta-nos perceber porque moti-vo se teraacute aventurado no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Como anteriormente vimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Mendoccedila alcaide-mor de Mouratildeo Poreacutem natildeo era filho primogeacutenito Quer isto dizer que com o falecimento do seu pai a alcaidaria de Mouratildeo passou para o seu irmatildeo mais velho Pecircro de Mendonccedila em 151748 Eacute nesse sentido que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teraacute encontrado nos serviccedilos na Iacutendia o meio de ascensatildeo social para os filhos secundogeacutenitos uma vez que estes dependiam da generosidade reacutegia para a obtenccedilatildeo de tenccedilas e mercecircs que permitissem a manutenccedilatildeo ou elevaccedilatildeo do seu estatuto Vemos deste modo que a participaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo no projecto expan-sionista portuguecircs se apresentava perfeitamente normal se tivermos em conta o seu contexto social e familiar assim como a sua condiccedilatildeo de secundogeacutenito49

Ao seguirmos a croacutenica de Joatildeo de Barros apercebemo-nos de que a armada que partiu para a Iacutendia em 1519 apenas chegou ao destino em 1520 por motivo de invernada em Moccedilambique onde Cristoacutevatildeo se dete-ve com outros sete capitatildees50 De resto uma carta datada de 22 de Janei-

barcaccedilotildees para lhe tomarem o navio tentou evadir-se para o alto mar Poreacutem ao ser arrastado para a costa acabou por vir a perecer tendo apenas escapado alguns malaios que atravessaram a ilha ateacute agrave costa norte onde encontraram embarcaccedilatildeo para os levar a Malaca As uacuteltimas palavras de Joatildeo de Barros sobre esta viagem tem levado alguns autores a considerarem que Diogo Pacheco teraacute perecido na Austraacute-lia ldquoesta perdiccedilatildeo de Diogo Pacheco que foi o primeiro dos nossos que perdeo a vida por descubrir esta Ilha do ourordquo Eacute o caso de Trickett ou de Joseacute Manuel Azevedo e Silva para quem Diogo Pacheco foi o primeiro portuguecircs a descobrir a Austraacutelia tendo alcanccedilado a costa noroeste da ilha em 1519 Ver SILVA ldquoDiogo Pacheco capi-tatildeo-morrdquo pp 111-119

48 A tenccedila que eacute atribuiacuteda a Beatriz Soares viuacuteva de Diogo de Mendonccedila indica que este jaacute tinha falecido em Julho de 1516 Ver ANTT Chancelaria de D Manuel I livro 9 fl4v Pecircro de Mendonccedila fidalgo da Casa Real foi nomeado alcaide-mor do castelo e vila de Mouratildeo com todas as rendas direitos foros tributos liberdades e honras em consideraccedilatildeo aos serviccedilos prestados pelo seu pai Diogo de Mendonccedila em 14 de Julho de 1517 Ver ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 37 fl64 Ver tambeacutem FREIRE Brasotildees Vol III p 173

49 COSTA ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo pp 11-51

50 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento V Cap XX p 38 e Cap XXX p 56

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203176

Fernando Pessanha

ro de 1521 atesta a presenccedila de Mendonccedila e de seus homens em Goa51 tal como a Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) con-firma a sua passagem pela capital do Estado da Iacutendia no mesmo ano52

Seja como for a armada que partiu em 1519 levava ordens de D Manuel para o governador Diogo Lopes de Sequeira Determinava o monarca portuguecircs que o governador da Iacutendia escolhesse algueacutem da sua confianccedila para ir descobrir a Ilha do Ouro53 Por outras palavras D Manuel pretendia que se desse continuidade agraves exploraccedilotildees iniciadas por Diogo Pacheco Tal como podemos acompanhar no mesmo capiacutetulo da Deacutecada III da Aacutesia foi Diogo Lopes de Sequeira a escolher ldquoChristo-vatildeo de Mendoccedila filho de Pero de Mendoccedila Alcaide moacuter de Mouratildeordquo54 para tal missatildeo55 A documentaccedilatildeo mostra-nos que Cristoacutevatildeo se encontrava em Goa em Janeiro de 152156 e que partiu de Cochim em 4 de Maio de 152157 Se seguirmos a Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) apercebemo-nos de que a armada comandada por Mendonccedila e destinada a descobrir a Ilha do Ouro era constituiacuteda por quatro navios o navio Satildeo Cristoacutevatildeo em que o proacuteprio viajava a caravela Rosaacuterio co-mandada pelo capitatildeo Pedro Eanes Francecircs o bergantim Santo Antoacutenio comandado pelo capitatildeo Francisco Poles e um parau comandado pelo capitatildeo Gonccedilalo Homem58 Esta armada teraacute chegado agrave Ilha de Samatra por volta de Junho

51 Ver Conhecimento em que se declara que Diogo Lourenccedilo recebeu do feitor de Goa Francisco Cornivel 8 cruzados para mantimento da gente de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 93 Nordm150

52 Ver ldquoRelaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11)rdquo Documento publicado Documentos Sobre os Portugueses Vol VI p100

53 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I IV Cap III p 41254 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I IV Cap III p 413 O cronista poreacutem engana-se ao

referir o parentesco uma vez que o navegador incumbido de descobrir a Ilha do Ouro era Cristoacutevatildeo de Mendonccedila irmatildeo (e natildeo filho) de Pecircro de Mendonccedila

55 Note-se portanto que ao contraacuterio do que eacute defendido por Tricket ndash que tenta colocar esta expediccedilatildeo ao niacutevel da viagem de Vasco da Gama agrave Iacutendia - natildeo houve qualquer ordem real a nomear Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como capitatildeo da expediccedilatildeo destinada a descobrir a miacutetica ilha tendo sido o entatildeo governador da Iacutendia a escolher o capitatildeo para tal empreendimento Ver TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio pp 80-81

56 Conhecimento em que se declara que Diogo Lourenccedilo recebeu do feitor de Goa Fran-cisco Cornivel 8 cruzados para mantimento da gente de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 93 Nordm150

57 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila partiu acompanhado por Jorge de Brito que ia para as Mo-lucas onde deveria construir uma fortaleza e interceptar Fernatildeo de Magalhatildees Ver THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 97

58 Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) Documento publicado in Documentos Sobre os Portugueses Vol VI p 96

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 177

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

A primeira referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece aquando da sua passagem pelo porto de Pedir59 onde encontrou Rafael Catanho que entatildeo regressava de Acheacutem no extremo noroeste da ilha de Sama-tra60 Pouco tempo depois chegava agravequele porto de Pedir o que restava da armada de Jorge de Brito morto em combate juntamente com gran-de nuacutemero de portugueses apoacutes um confronto com as forccedilas do rei de Acheacutem61 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ao encontrar aquela armada desba-ratada e sem capitatildeo pretendeu colocaacute-la sob seu comando62 Poreacutem os poucos fidalgos sobreviventes natildeo o consentiram alegando que o co-mando deveria ser entregue a Antoacutenio de Brito o irmatildeo do falecido ca-pitatildeo que se deveria juntar agrave armada depois de consertar o seu navio63

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila rumou entatildeo a Paceacutem onde se deveria rea-bastecer de mantimentos para dar continuidade agrave viagem Todavia ao chegar a este ponto da narrativa diz-nos Joatildeo de Barros que ldquoo tempo natildeo era da monccedilatildeo pera onde cada hum havia de ir principalmente a de Christovatildeo de Mendoccedila que era jaacute passadardquo64 A acrescentar ao facto de o navegador ter perdido os ventos de monccedilatildeo acresce que o capitatildeo de Malaca Jorge de Albuquerque se encontrava em Paceacutem a construir uma fortaleza destinada a proteger uma feitoria cujo principal objecti-

59 Porto de grande importacircncia no comeacutercio do Iacutendico situado na parte nordeste da Ilha de Samatra O desenvolvimento de Pedir assim como o de Paceacutem relaciona-se estrei-tamente com a propagaccedilatildeo do islatildeo na Indoneacutesia ocidental Em 1509 Diogo Lopes de Sequeira assinou um tratado com o sultatildeo de Pedir e com a conquista de Malaca o seu principal comeacutercio passou a ser dirigido para esta cidade Sobre Pedir veja-se SS ldquoPedirrdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Portugueses (Dir Luis de Albu-querque) Vol II pp 870-872

60 O sultanato islacircmico de Acheacutem foi uma das entidades que mais se opocircs aos interesses dos portugueses estabelecidos em Malaca Fundado por um descendente do rei de Pedir transformou-se num reino poderoso que conquistou vaacuterias terras na ilha de Samatra e ao qual outros reinos pagavam tributo Ver GARCIA Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII pp 198-200

61 Este confronto com o reino de Acheacutem eacute tambeacutem narrado por Damiatildeo de Goacuteis e Fernatildeo Lopes de Castanheda Ver GOacuteIS Chronica IV Cap LXVII pp 566-567 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento V Cap LXV pp 107-109

62 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p546 Fernatildeo Lopes de Castanheda ainda que natildeo refira Cristoacutevatildeo revela que ldquocomo os nauios natildeo tinhatildeo capitatildees ouue alguns que se quiseram levantar coeles amp irse a diversas partes a fazer presasrdquo CASTA-NHEDA Histoacuteria do Descobrimento pp 107-110

63 Com efeito com a chegada de Antoacutenio de Brito foi apresentada uma provisatildeo de D Manuel I que o nomeava capitatildeo daquela armada em caso de falecimento de Jorge de Brito

64 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 548

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203178

Fernando Pessanha

vo consistia na recolha de pimenta que se produzia na regiatildeo65 Foi nes-se sentido que Jorge de Albuquerque determinou que todos os capitatildees que se encontravam em Paceacutem ali permanecessem em ldquofavor daquela fortaleza em quanto ella natildeo estava em estado pera se poder defenderrdquo66

Vemos deste modo que a expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo rumo agrave Ilha do Ouro foi interrompida em funccedilatildeo da necessidade que os portugueses sentiram em se fortificarem naquele ponto da ilha de Samatra Aliaacutes eacute o proacuteprio cronista a referir que a presenccedila de Cristoacutevatildeo e dos outros ca-pitatildees foi providencial para que a fortaleza se pudesse construir jaacute que os adversaacuterios os atacavam de forma sistemaacutetica Num desses ataques Melique Ladil um mouro que reivindicava para si o reino de Paceacutem aproximou-se da fortaleza com treze lancharas67 atrevendo-se a deitar fogo agrave fortificaccedilatildeo Foi entatildeo que Cristoacutevatildeo e os outros capitatildees saiacuteram em sua perseguiccedilatildeo desbaratando o adversaacuterio e confiscando-lhe todas as embarcaccedilotildees para serviccedilo agrave fortaleza Usando as palavras de Manuel de Faria e Sousa ldquoCristoval de Mendoccedila que bien fuerotilde menester para re-sistir y humillar despues a un orgulloso Moro que com algunos baxeles de remo infectava aquella marinardquo68 Finalmente terminada a empreitada Cristoacutevatildeo de Mendonccedila voltou a partir para Malaca69

Tal como Diogo Pacheco eacute possiacutevel que o navegador portuguecircs tenha contornado Samatra antes de partir para Malaca De acordo com Luiacutes Filipe Thomaz eacute provaacutevel que o navegador durante a viagem tenha descoberto uma ilha que deve ter tomado pela Ilha do Ouro ainda que constatado o erro a tenha baptizado com o nome que ainda hoje tem Ilha do Engano Seja como for temos notiacutecia de que a armada jaacute se en-contrava em Malaca em finais de 1521 onde a caravela Santa Maria do Rosaacuterio recebeu mantimentos em 10 de Dezembro para poder seguir

65 Esta fortaleza foi concebida para proteger uma feitoria cujo principal objectivo con-sistia na recolha da pimenta Poreacutem este enclave veio a revelar-se de difiacutecil manuten-ccedilatildeo devido aos ataques de que era alvo parte dos habitantes de Acheacutem Os portugue-ses acabariam por abandonar a fortaleza em Maio de 1523 natildeo tendo ficado qualquer testemunho iconograacutefico deste efeacutemero estabelecimento Castanheda poreacutem refere tratar-se de uma fortaleza ldquofeyta em breue tempo tempo com muros baluartes amp torres de madeyra amp cercada de caua () amp muyto bem artilhadardquo Ver CASTANHEDA Histoacute-ria do Descobrimento V Cap LXIIII pp 106-107 Damiatildeo de Goacuteis explica a conjun-tura poliacutetico-militar que levou agrave construccedilatildeo desta fortaleza Ver GOacuteIS Chronica IV Cap LXVI pp 564-566

66 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 548 67 Navios de remos entatildeo usados naquela zona do Oriente 68 SOUSA Asia Tomo I Pt III Cap V p 20269 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 549

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 179

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

para Paceacutem enquanto a nau Satildeo Cristoacutevatildeo apenas os recebeu em 10 de Janeiro de 1522 para depois seguir para Ormuz70 Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila natildeo teraacute tido tempo suficiente para chegar agrave Ilha do Ouro nesse ano de 1521 Pelo menos eacute o que podemos depreen-der quando Joatildeo de Barros refere a permanecircncia de Cristoacutevatildeo em Men-donccedila no auxiacutelio agrave construccedilatildeo da fortaleza de Paceacutem

Natildeo encontramos portanto elementos nas Deacutecadas da Aacutesia que nos permitam afirmar que este navegador portuguecircs teraacute prosseguido via-gem para o sul de Samatra e encontrado a miacutetica Ilha do Ouro identi-ficada com a Austraacutelia Ainda assim tecircm sido vaacuterios os historiadores nomeadamente Armando Cortesatildeo a defenderem natildeo haver motivo para se duvidar de que Cristoacutevatildeo teraacute seguido com a exploraccedilatildeo de que fora incumbido no ano seguinte aproveitando a monccedilatildeo do princiacutepio de 1522 Note-se que o proacuteprio Luiacutes de Albuquerque ainda que aves-so a esta teoria natildeo deixa de estranhar o facto de as Deacutecadas da Aacutesia natildeo referirem quais os serviccedilos especiais prestados por Mendonccedila que justifiquem a sua nomeaccedilatildeo para a rentaacutevel e apeteciacutevel capitania de Ormuz71 ldquotam viccediloacutesa e abastaacuteda q dizem os moradores della q o Mundo eacute hu aneacutel e Ormuz hua pedra precioacutesa engastaacuteda nellerdquo72 Como a seguir veremos a nomeaccedilatildeo para a capitania de Ormuz natildeo foi a uacutenica benesse com que o navegador foi agraciado apoacutes o seu regresso ao reino

52 A viagem de regresso ao reino

Segundo Trickett nada se sabe sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila nos seis anos posteriores agrave expediccedilatildeo que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro73 Como veremos esta ideia natildeo corresponde agrave realidade Sabe-se por exemplo que depois de o navegador ter estado em Ormuz e na Iacutendia regressou a Portugal em 1524 tendo-se detido em Marccedilo ou Maio desse ano na aguada de Saldanha na actual Aacutefrica do Sul tal como ficou atestado numa inscriccedilatildeo que aiacute foi encontrada

Com efeito decorria o ano de 1989 quando foi identificada uma ins-criccedilatildeo portuguesa em Golden Acre no sopeacute de Adderley Street na Cida-de do Cabo Desta inscriccedilatildeo fracturada sobreviveu um fragmento com 25

70 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 7671 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal p 25872 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada II II Cap II p 48 73 Cf TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio p 87

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203180

Fernando Pessanha

cm de largura por 10 cm de altura que foi recolhido pelo South African Museum Na altura um arqueoacutelogo do South African Museum pensou tratar-se de inscriccedilatildeo funeraacuteria de D Lourenccedilo de Almeida um navega-dor portuguecircs que numa viagem de regresso ao reino desembarcou na Baiacutea do Saldanha em Dezembro de 1509 de modo a castigar uns indiacutege-nas Poreacutem acabou por falecer nesse recontro juntamente com muitos outros elementos da sua tripulaccedilatildeo o que levou o referido arqueoacutelogo a interpretar o achado como uma inscriccedilatildeo funeraacuteria

Entretanto em Janeiro de 1990 o Prof Eric Axelon comunicou agrave Comissatildeo Nacional para as Comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portu-gueses a descoberta da inscriccedilatildeo Axelon adiantava poder tratar-se de um artefacto representativo da passagem de Duarte de Meneses pela Cidade do Cabo em 1524 Poreacutem a leitura e interpretaccedilatildeo de Maacuterio Jorge Barroca assistente de Arqueologia Medieval da Universidade do Porto veio a invalidar as suposiccedilotildees de Axelon e do arqueoacutelogo do South African Museum De acordo com Maacuterio Jorge Barroca este do-cumento epigraacutefico refere-se a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ainda que o estado de conservaccedilatildeo desta inscriccedilatildeo dificulte a interpretaccedilatildeo do seu conteuacutedo74 Luiacutes Filipe Thomaz que tambeacutem abordou esta inscriccedilatildeo faz uma leitura ligeiramente diferente mas que concorda quanto ao essencial do conteuacutedo75 De resto eacute interessante notar que para aleacutem dos supra citados autores apenas encontraacutemos referecircncias a este do-cumento epigraacutefico em Luiacutes de Albuquerque76 Antoacutenio Pereira Cardo-so77 e Joseacute Manuel Garcia78

De modo geral a inscriccedilatildeo identificada na Cidade do Cabo vem de-monstrar efectivamente que Cristoacutevatildeo empreendeu a viagem de re-gresso ao reino em 1524 sendo provaacutevel que tenha partido de Cochim logo no iniacutecio do ano Sabemos que se encontrava no sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio No entanto e ainda que esta epiacutegrafe se apresente como um elemento de grande interesse para a reconstituiccedilatildeo do percurso de Cristoacutevatildeo continuamos sem saber o que teraacute feito e por onde teraacute nave-gado entre os iniacutecios de 1522 quando recebeu mantimentos para seguir

74 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo pp 17-1875 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 7976 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-

tos Vol II pp 727-72877 CARDOSO A provaacutevel viagem pp10-1978 GARCIA O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash

1555 Nordm 8 p 98

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 181

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

para Ormuz e os iniacutecios de 1524 quando partiu da Iacutendia para regressar a Portugal Teraacute ele permanecido todo esse tempo em Ormuz Ou teraacute dado continuidade agraves exploraccedilotildees que lhe tinham sido incumbidas pelo governador Diogo Lopes de Sequeira

6 Rendas mercecircs e distinccedilotildees

61 Tenccedilas recebidas

Referimos haacute pouco natildeo ser correcta a ideia de nada se saber sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila nos seis anos posteriores agrave expediccedilatildeo que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro De facto para aleacutem da inscri-ccedilatildeo encontrada na Cidade do Cabo e que atesta a passagem de Mendon-ccedila pelo sul de Aacutefrica tambeacutem existem alguns documentos acondiciona-dos no Arquivo Nacional da Torre do Tombo que revelam informaccedilotildees interessantes para o periacuteodo correspondente agrave sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e 1527 Satildeo exactamente esses documentos que nos datildeo conta das rendas mercecircs e distinccedilotildees com que este navegador foi agraciado

Sabemos que em 4 de Julho de 1526 por exemplo D Joatildeo III mandou o almoxarife de Aveiro dar a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ldquofidalgo da sua casardquo 50000 reacuteis de tenccedila que ficaria assentada na alfacircndega da cidade de Lisboa79 Seria esta uma tenccedila generosa A resposta a esta questatildeo le-vou-nos a comparar este valor com as tenccedilas auferidas pelos seus fami-liares e por outros navegadores seus contemporacircneos Foi nesse sentido que constataacutemos que o ceacutelebre navegador e cosmoacutegrafo Duarte Pacheco Pereira depois de inuacutemeros serviccedilos prestados agrave Coroa recebeu uma tenccedila anual de 50000 reais nesse mesmo ano de 152680 Tristatildeo da Cu-nha ceacutelebre navegador e comandante naval portuguecircs nomeado por D Manuel para primeiro governador da Iacutendia em 150581 e pai de Nuno da Cunha Governador da Iacutendia entre 1528 e 153882 recebeu 40000 reacuteis

79 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57 80 JB de C ldquoPereira Duarte Pachecordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol V pp 52-

54 COSME ldquoOs homens de ciecircnciardquo pp 91-9781 E S ldquoCunha Tristatildeo da (1460-1540)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol II p 260

Sobre Tristatildeo da Cunha veja-se tambeacutem CARVALHO ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Manuelinardquo pp 199-226

82 E S ldquoCunha Nuno da (1487-1539)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol II pp 258-259 Sobre Nuno da Cunha veja-se tambeacutem CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538)

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203182

Fernando Pessanha

de tenccedila no mesmo ano de 152683 Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo rece-beu uma tenccedila generosa ao voltar ao reino Talvez Note-se que o pai de Cristoacutevatildeo Diogo de Mendonccedila alcaide-mor de Mouratildeo recebia os mesmos 50000 reacuteis de tenccedila em 150184 e em 151485 valor que o irmatildeo de Cristoacutevatildeo Pedro de Mendonccedila passou a auferir ao herdar a alcaidaria de Mouratildeo em 151786

Para aleacutem dos 50000 reacuteis de tenccedila eacute o proacuteprio Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila a mandar Jacome Bentes receber de Joatildeo de Azambuja 200000 reacuteis em virtude da outra procuraccedilatildeo que o dito Mendonccedila tinha feito para receber dos almoxarifes de Setuacutebal Aveiro e Coimbra87 Refira-se a este respeito que ainda no mesmo ano ordenou D Joatildeo III que o almoxari-fe de Aveiro pagasse ao jaacute referido Tristatildeo da Cunha 100000 reacuteis para pagamento de 250000 reacuteis da sua tenccedila88 ou que Vasco da Gama ao re-gressar ao reino depois de descobrir o caminho mariacutetimo para a Iacutendia recebeu uma renda de 300000 reacuteis89 Vemos deste modo que os rendi-mentos auferidos por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aquando do seu regresso ao reino natildeo foram propriamente modestos quando comparados com os do primeiro governador da Iacutendia ou com os do navegador e cosmoacute-grafo Duarte Pacheco Pereira

Por fim surge-nos um documento datado de 13 de Abril de 1527 e que tem por tiacutetulo Estabelecimento que Fernando Rodrigues como procu-rador de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila fidalgo da Casa do Rei fez em Fernando Gomes para cobrar todas as tenccedilas e moradias do seu dito constituinte90 Repare-se que de acordo com Joatildeo de Barros Cristoacutevatildeo de Mendonccedila voltou a partir para o Oriente em Marccedilo de 1527 Vemos portanto que o referido documento eacute ligeiramente posterior agrave partida do navegador e que este deixou instruccedilotildees ao seu procurador para que algueacutem cobrasse todas as suas tenccedilas e moradias De resto a alusatildeo agraves ldquotenccedilas e moradi-

83 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 135 Nordm4584 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 13 fl60 ANTT Chancelaria de D Manuel I

liv 8 fl29v85 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 53 Nordm18286 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 10 fl53 Repare-se que a partir de 1523 Pe-

dro de Mendonccedila passou a receber apenas 30000 reacuteis ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 109 Nordm131 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 131 Nordm226

87 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 136 Nordm10288 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 135 Nordm4989 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 4 fl 37 COSME ldquoOs Navegadores ndash Vasco da

Gamardquo p 14990 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 141 Nordm91

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 183

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

asrdquo vem reforccedilar a ideia de que os serviccedilos prestados por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente foram bem recompensados pelo monarca portu-guecircs Resta-nos perceber que serviccedilos teratildeo justificado estas recompen-sas assim como aquelas a que de seguida aludiremos

62 A capitania de Ormuz

Para aleacutem dos rendimentos atraacutes referidos os serviccedilos prestados por Mendonccedila foram igualmente agraciados com a nomeaccedilatildeo para a ren-taacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz para onde partiu em Marccedilo de 152791 Natildeo deixa de ser interessante a alusatildeo que cronistas como Joatildeo de Barros ou Frei Luiacutes de Sousa fazem aos Braganccedilas no momento em que referem esta nova partida de Cristoacutevatildeo para a Iacutendia Com efeito eacute possiacutevel que o duque de Braganccedila jaacute tivesse ligaccedilotildees aos Mendon-ccedilas ainda que o casamento de D Jaime com D Joana de Mendonccedila soacute se tenha realizado em 1520 Teresa Lacerda levanta a hipoacutetese de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ter sido indigitado para o Conselho Reacutegio por influecircncia do duque de Braganccedila do mesmo modo como foi nomea-do para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 e para capitatildeo de Ormuz em 152792 De facto natildeo eacute impossiacutevel No entanto somos da opiniatildeo de que natildeo seraacute apenas D Joana a estar na origem de uma eventual ligaccedilatildeo de D Jaime aos Mendonccedilas como tambeacutem a participaccedilatildeo do seu pai ldquoDiogo de mendonccedila alcaide mor de Mouratildeordquo e de ldquoPero de Mendonccedila seu filhordquo na conquista de Azamor comandada pelo proacuteprio duque em 151393

De facto natildeo sabemos se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teraacute sido indigitado para o Conselho Reacutegio para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquer-que de 1519 ou para a capitania de Ormuz por influecircncia do duque de Braganccedila Seja como for parece-nos que o contexto social e familiar de Cristoacutevatildeo teraacute pesado no momento em que o monarca procedeu a tais nomeaccedilotildees Basta recordarmos que Afonso Furtado bisavocirc de Cristoacute-vatildeo tinha sido nomeado capitatildeo do mar por D Joatildeo I em 138594 Afonso

91 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada IV II Cap III p 73 Ver tambeacutem CORREIA Lendas Vol III Pt I Cap XVI p 182 SOUSA Anais Vol II IV Cap I p 1 SOUSA Asia Tomo I Pt IV Cap II p 256

92 LACERDA Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social p 112 nota 375

93 GOacuteIS Chronica III Cap XLVI p 367 GAYO Nobiliaacuterio p 5394 FREIRE Brasotildees Vol III pp 170-171

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203184

Fernando Pessanha

Furtado de Mendonccedila avocirc de Cristoacutevatildeo para aleacutem de capitatildeo-mor do mar95 aparece referido como escrivatildeo da feitoria de Sofala96 Pedro de Mendonccedila tio de Cristoacutevatildeo tinha comandado uma nau numa frota de 12 navios que em 1504 partiu para a Iacutendia para garantir a seguranccedila das rotas comerciais do oceano Iacutendico e controlar o governante hostil de Calecut97 Natildeo se pode portanto considerar que os Mendonccedilas seri-am marginais ao projecto de expansatildeo ultramarina quando Cristoacutevatildeo aparece nomeado para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 ou para a capitania de Ormuz que deteve entre 1527 e 1531 ou 1532 ano da sua morte

Chegando a este ponto vale a pena determo-nos brevemente de modo a compreendermos o que era Ormuz e o que representava esta capitania no contexto do Impeacuterio Portuguecircs no Oriente Antes de mais conveacutem recordarmos que Ormuz era um importantiacutessimo entreposto mercantil em virtude da sua privilegiada localizaccedilatildeo geograacutefica na en-trada do Golfo Peacutersico Com efeito com a segunda conquista de Ormuz por Afonso de Albuquerque em 1515 e a consequente imposiccedilatildeo de um protectorado a Coroa portuguesa passou a arrecadar uma parcela con-sideraacutevel das receitas aduaneiras da proacutespera ilha transformando-se Ormuz no epicentro das actividades portuguesas no Golfo Peacutersico e no mar da Araacutebia A acreditar-se nas fontes quinhentistas era tal o movi-mento e a intensidade no porto de Ormuz que natildeo era invulgar ali en-contrar mais de 200 navios carregados de mercadorias De entre as mais importantes mercadorias que passavam pela cidade destacavam-se os cavalos oriundos da Araacutebia e da Peacutersia com destino aos portos da cos-ta ocidental da Iacutendia de onde eram encaminhados para os potentados indianos entre os quais grassavam guerras endeacutemicas Mas outros pro-dutos aacuterabes e persas faziam a riqueza da esteacuteril ilha de Djarucircn como as alcatifas aacuterabes as peacuterolas de Bahareacutem os tapetes a seda e a prata da Peacutersia o salitre e o enxofre da proacutepria ilha ao lado de mercadorias menos nobres como os frutos secos ou os cereais Dadas as circunstacircn-cias natildeo seraacute de estranhar que ao longo de todo o seacutec XVI a alfacircndega de Ormuz se tenha destacado como a mais rentaacutevel de todo o Estado da Iacutendia logo a seguir agrave de Goa Por outras palavras a cidade gerava

95 FARIA Livro de Linhagens p 27296 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada I Pt I V Cap III97 MALDONADO Relaccedilatildeo das Naos e Armadas da Iacutendia p 16 ANTT Corpo Cronoloacutegi-

co Pt II maccedilo 9 Nordm 35

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 185

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

um volume de receitas tatildeo consideraacutevel que a capitania de Ormuz aca-bou por se transformar numa das mais apetecidas de todo o Impeacuterio no Oriente Vemos deste modo que a atribuiccedilatildeo desta capitania natildeo soacute era motivo de prestiacutegio para o capitatildeo nomeado como tambeacutem fonte de grande riqueza98

Natildeo podemos deixar de notar que as Deacutecadas da Aacutesia ao referir-se agrave nomeaccedilatildeo de Mendonccedila para a capitania de Ormuz natildeo refere quais-quer serviccedilos especiais que justifiquem a atribuiccedilatildeo de tal benesse Ar-mando Cortesatildeo que levantou a hipoacutetese de ter sido Mendonccedila o pri-meiro europeu a chegar agrave Austraacutelia foi um dos investigadores a sugerir que esta nomeaccedilatildeo se devesse aos serviccedilos prestados pelo navegador99 Poreacutem e tal como temos afirmado ao longo deste trabalho natildeo existe qualquer documento que assegure o ecircxito de Mendonccedila relativamente agrave viagem que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro Omis-satildeo que segundo Jaime Cortesatildeo foi consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo entatildeo vigente Luiacutes de Albuquerque ainda que contraacuterio agrave teoria da descoberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que ldquodeve a sua celebridade a uma expediccedilatildeo que natildeo fezrdquo100 estranha no entanto o facto de Diogo do Couto natildeo mencionar os serviccedilos especiais que estiveram na origem da nomeaccedilatildeo do navegador para a capitania de Ormuz101 Esta distinccedilatildeo torna-se ainda mais suspeita se tivermos em consideraccedilatildeo que uma nomeaccedilatildeo desta natureza implicaria em meacutedia 10 anos de serviccedilos no Oriente102 durante os quais era acumu-lada a experiecircncia necessaacuteria para o desempenho de uma capitania Como vimos natildeo foi esse o caso de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Aliaacutes as nomeaccedilotildees para as capitanias mais importantes e lucrativas como Or-muz Goa ou Malaca natildeo soacute eram atribuiacutedas em reconhecimento pelos vaacuterios anos de serviccedilo no Oriente como tambeacutem recaiacuteam tendencial-mente sobre nobres com uma maior presenccedila na corte o que tambeacutem

98 LOUREIRO ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 pp 749-797 JPC ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 833-836

99 CORTESAcircO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158100 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo p 727101 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol IV

p 258102 Andreia Martins de Carvalho determinou os anos de serviccedilo de fidalgos no Oriente

antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania entre 1518 e 1544 CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 211 Foi nesse sentido que tendo em conta a infor-maccedilatildeo disponiacutevel sobre o percurso de 37 fidalgos estabelecemos a meacutedia de anos relativos a serviccedilos no Oriente antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203186

Fernando Pessanha

natildeo era o caso de Mendonccedila Ora se o navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro como explicar tatildeo generoso honroso e rentaacutevel reconhecimento Isto claro para aleacutem das compensaccedilotildees econoacutemicas atraacutes referidas e da entrega da comenda da Ordem de Cris-to que de seguida abordaremos De resto a capitania de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ficou marcada por episoacutedios dignos de registo como o au-xiacutelio prestado agrave frota de Simatildeo da Cunha assolada por uma epidemia contraiacuteda na campanha contra a ilha de Bahareacutem103 Refira-se aliaacutes que foi sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que recaiu a responsabilidade de escolher um agente para realizar a ceacutelebre missatildeo de espionagem que constituiu a viagem por terra de Ormuz a Portugal protagonizada por Antoacutenio Tenreiro entre Setembro de 1528 e Maio de 1529 - viagem cuja narrativa constitui um notaacutevel documento histoacuterico de natureza geograacutefica religiosa e antropoloacutegica104

63 A comenda da vila de Arenilha

Tal como anteriormente referimos deparaacutemo-nos com dois documen-tos que chamaram a nossa atenccedilatildeo aquando da investigaccedilatildeo para o ar-tigo ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo Trata-se de duas cartas em que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece referido como comendador da vila de Arenilha O primeiro documento data de 29 de Dezembro de 1529 e tem por tiacutetulo Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bregantim missiva em que o comendador de Arenilha culpa o marquecircs de Ayamonte pelos danos causados nas barcas dos habitantes da vila no-meadamente no referido bergantim chegando mesmo a mandar ldquopagar as barcas e () as perdas que receberam os donos delas e asy o dano que se fez na Arenilhardquo e mandar o marquecircs prender os responsaacuteveis que se encontrem nas suas terras105 Como se pode perceber o tom da missiva natildeo resulta propriamente abonatoacuterio para o nobre espanhol

103 SOUSA Anais Vol II IV Cap XXII p 106104 Como recompensa pelos serviccedilos prestados Antoacutenio Tenreiro recebeu da Coroa em

1533 uma tenccedila anual de 30000 reacuteis e o haacutebito de cavaleiro da Ordem de Cristo Ver TENREIRO amp AFONSO Viagens por terra da Iacutendia a Portugal p 18 RL ldquoTenreiro Antoacuteniordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II p 1023

105 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 Nordm45

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 187

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig1 - Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua

Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do

marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

Fig 1

Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o

marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203188

Fernando Pessanha

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig2 - Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar

creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Arenilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada destinada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila assim como o seu

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesahelliprdquo pp 86-82

Fig 2

Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao

comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Are-nilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada desti-nada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesardquo pp 86-82

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 189

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacute-vatildeo de Mendonccedila assim como o seu percurso como capitatildeo nas armadas da Iacutendia acreditamos encontrar-nos em condiccedilotildees para demonstrarmos que a comenda de Arenilha foi efectivamente atribuiacuteda ao navegador como reconhecimento pelos serviccedilos prestados no Oriente

Com efeito satildeo vaacuterios os indicadores que nos levam a afirmaacute-lo Em primeiro lugar o facto de natildeo se encontrar nas croacutenicas nem nas fontes coevas qualquer referecircncia a um homoacutenimo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a balizagem cronoloacutegica compreendida entre 1514 e 1532 periacuteodo em que aparece referido na documentaccedilatildeo Aliaacutes as da-tas discriminadas nos documentos que o referem como comendador de Arenilha corroboram a ideia de esta comenda ter sido atribuiacuteda aquando do seu regresso ao reino Eacute certo que natildeo sabemos a data em que Cristoacutevatildeo teraacute chegado a Portugal ainda que tenhamos notiacutecia da sua passagem pelo sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio de 1524 durante a viagem de regresso108 Poreacutem as tenccedilas atraacutes mencionadas indicam que se encontrava no reino em 1526 Uma vez que os documentos que o referem como comendador da vila da foz do Guadiana remontam a Dezembro de 1529 e Maio de 1530 anos em que o navegador jaacute se encontrava no Oriente eacute de supor que D Joatildeo III lhe teraacute atribuiacutedo a comenda aquando da sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e Marccedilo de 1527 ano em que voltou a partir para a Iacutendia jaacute na qualida-de de capitatildeo de Ormuz

Uma vez que natildeo se verificam homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila para a balizagem cronoloacutegica atraacutes referida e que as datas dos docu-mentos que o referem como comendador de Arenilha satildeo ligeiramente posteriores ao seu regresso ao reino resta-nos determinar se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila reunia as condiccedilotildees necessaacuterias para ser agraciado com uma comenda desta natureza Antes de mais importa referir que a vila de Arenilha e de Castro Marim eram as duas uacutenicas comendas da Ordem de Cristo no Algarve Curiosamente Isabel L Morgado de Sousa e Silva natildeo refere a comenda de Arenilha na dissertaccedilatildeo para doutoramento

108 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo Oceanos Nordm4 pp 17-18 ALBU-QUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 727-728 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 79

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203190

Fernando Pessanha

A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521)109 Poreacutem o documento publicado por Hugo Cavaco natildeo deixa margem para duacutevidas

ldquoNo Bispado do Algarve haacute somente duas Commendas da Ordem (de

Cristo) que satildeo das antigas e as seguintes

A Commenda e Alcaideria-moacuter de Castro Marim avaliou-se em quatro-

centos e cinquenta mil reacuteis no anno de 1608

A Commenda da Alcaideria-mograver de Santo Antonio de Arenilha que estaacute

junto a Castro Marim em cento e trinta mil reacuteis no anno de 1608

No Bispado do Algarve natildeo haacute nenhuma Commenda desta Ordem mais

que as duas velhas que valem quinhentos e oitenta mil reacuteis como se vecirc

da somma adianterdquo110

Aliaacutes soacute o facto de Arenilha ser comenda da Ordem de Cristo poderaacute explicar que o senhorio da vila tenha sido atribuiacutedo exclusivamente a cavaleiros da miliacutecia ao longo de toda a centuacuteria quinhentista111

Naturalmente que estas comendas implicavam desde logo a existecircn-cia de comendadores sobre os quais recaiacutea o senhorio das ditas vilas o que era compreendido como motivo de honra e de prestiacutegio social numa sociedade ainda bastante influenciada pelas antigas tradiccedilotildees medievo-feudais Comendas refira-se que compreendiam o direito agrave administra-ccedilatildeo da localidade e conferiam uma renda para sustentaccedilatildeo do comenda-dor beneficiaacuterio configurando um recurso para os encargos da proacutepria comenda No entanto a atribuiccedilatildeo de uma comenda representava um benefiacutecio atribuiacutedo a cavaleiros professos nas ordens militares como re-compensa por serviccedilos prestados Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Men-donccedila soacute poderia ser agraciado com a comenda de Arenilha caso tivesse sido investido na Ordem de Cristo Foi nesse sentido que procuraacutemos determinar se este navegador professou nesta Ordem Militar

Com efeito a dissertaccedilatildeo Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) de Joatildeo Maria Falcatildeo Pestana de Vascon-celos natildeo faz qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila enquanto cavaleiro da Ordem de Cristo Refere no entanto o seu avocirc Afonso Fur-

109 SILVA A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta110 Documento VIII BNLMicroformas F5040 Documento publicado por CAVACO Revisi-

tando p 52111 Cf PESSANHA Os 500 anos pp 57-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 191

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

tado de Mendonccedila comendador de Cardiga da Ordem de Cristo112 a sua irmatilde Margarida de Mendonccedila enquanto mulher de um comendador da mesma Ordem e o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo que recebeu o haacutebito da miliacutecia em 16 de Abril de 1514113 Ain-da que a referida dissertaccedilatildeo natildeo faccedila qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo enquanto membro desta Ordem vem demonstrar a ligaccedilatildeo de alguns dos seus familiares agrave mesma natildeo soacute na qualidade de cavaleiros como tambeacutem de comendadores

Poreacutem Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social de Teresa Lacerda assim como a jaacute referida tese A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) de Isabel L Morgado de Sousa e Silva jaacute identificam efectivamente Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como frei cavaleiro desta Ordem114 De acordo com a obra consultada Cavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVI Cristoacutevatildeo de Mendonccedila recebeu efectivamente o haacutebito da Ordem de Cristo em 16 de Abril de 1514115 exactamente na mesma data em que o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila tambeacutem foi in-vestido116 De resto o facto de Cristoacutevatildeo aparecer referido como mem-bro da miliacutecia numa provisatildeo em que D Joatildeo III manda o almoxarife de Aveiro pagar ldquoa Cristoacutevatildeo de Mendonccedila sua tenccedila deste ano 50000 reacuteis assentada na alfacircndega de Lisboa com o haacutebito de Cristordquo117 vem dissipar qualquer duacutevida que ainda subsistisse

Note-se que identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como cavaleiro da Ordem de Cristo natildeo pudemos deixar de reparar no silecircncio dos cronistas no momento de identificar os intervenientes no processo ex-pansionista com as suas respectivas filiaccedilotildees nas Ordens Militares De facto quer Joatildeo de Barros quer os cronistas que lhe sucederam natildeo fazem qualquer referecircncia agrave filiaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo em qualquer Ordem tal como de acordo com o que constataacutemos raramente o fazem em relaccedilatildeo a outros cavaleiros Esta evidecircncia pode parecer ainda mais estranha se tivermos em consideraccedilatildeo o forte envolvimento da Ordem

112 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Vol I p 377 FARIA Livro de Linhagens p 275

113 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares p 392 114 LACERDA Os Capitatildees das Armadas pp 120 e 228 SILVA A Ordem de Cristo p 336

SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma perspectiva de estudordquo apecircndice

115 FARIA ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo p 21116 FARIA ldquoCavaleirosrdquo p 21 Ver tambeacutem SILVA A Ordem de Cristo p 330117 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203192

Fernando Pessanha

de Cristo na Histoacuteria da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses Ordem Militar sublinhe-se que teve como governadores figuras in-contornaacuteveis da famiacutelia real como o infante D Henrique o infante D Fernando o rei D Manuel ou o rei D Joatildeo III118 Poreacutem haacute que ter em consideraccedilatildeo que documentos como Memoacuteria das Armadas ou o Livro de Lisuarte de Abreu natildeo satildeo fontes sobre qualquer uma das Ordens razatildeo pela qual se torna compreensiacutevel a ausecircncia de referecircncias mais completas relativamente aos intervenientes no processo de expansatildeo Aliaacutes a intenccedilatildeo subjacente agrave produccedilatildeo de obras como Histoacuteria do Des-cobrimento e da Conquista da Iacutendia natildeo passa por apresentar informa-ccedilatildeo detalhada sobre as individualidades que participaram no processo expansionista mas antes destacar o protagonismo reacutegio em todo este processo119

Por fim natildeo se verificando homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a cronologia abordada coincidindo as datas que o referem como comendador de Arenilha e identificado este navegador como cavalei-ro da Ordem de Cristo resta-nos perceber por que motivo lhe teraacute sido entregue a comenda desta vila na foz do Guadiana Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo que a fundaccedilatildeo de Are-nilha prende-se com a afirmaccedilatildeo da soberania poliacutetica e administra-tiva de D Manuel sobre um territoacuterio frequentado por castelhanos Eacute exactamente nesse contexto que em 1421 Castro Marim justificava o pedido de isenccedilatildeo de alguns encargos pelos ldquoconstantes trabalhos que os moradores tinham com os castelhanos que insistiam em vir pescar ao reinordquo120 Quer isto dizer que os castelhanos vinham pescar para as margens portuguesas natildeo pagando os devidos impostos agrave Coroa Aliaacutes a existecircncia do topoacutenimo de origem castelhana Arenilha121 ainda antes da elaboraccedilatildeo da Carta de Privileacutegio que manda proceder agrave construccedilatildeo

118 FONSECA ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo pp 321-347 Ver tambeacutem SILVA A Or-dem de Cristo pp 43-110

119 Cf SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristordquo pp 349-361120 VENTURA ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo p 608

ANTT Chancelaria de D Afonso V liv 2 fl30121 De acordo com o dicionaacuterio da Real Academia Espantildeola ldquoarenillardquo apresenta-se como

sinoacutenimo de ldquoarena menudardquo Ver Dicionario de la Real Academia Espantildeola Disponiacutevel em httplemaraeesdraeval=arenilla ndash Consultado dia 10 de Setembro de 2013 Note-se que quando em 1775 se pretendeu baptizar a nova vila iluminista com o nome de Vila Real de Santo Antoacutenio de Arenilha prontamente o Marquecircs de Pombal proibiu a utilizaccedilatildeo do nome ldquoArenilhardquo alegando que ldquoeacute uma palavra hespanhola e Villa Real uma povoaccedilatildeo portuguesardquo Ver OLIVEIRA Monografia p 71

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 193

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

da vila122 indica a ocupaccedilatildeo daquele areal na margem portuguesa da foz do Guadiana por populaccedilotildees de pescadores de origem castelhana Dadas as circunstacircncias seria do interesse estrateacutegico do monarca que esta comenda recaiacutesse sobre algueacutem experimentado na guarda da fronteira e que fizesse cumprir o pagamento dos devidos direitos aduaneiros Re-corde-se que Arenilha para aleacutem de comenda da Ordem de Cristo era uma vila de fronteira situada na margem portuguesa do Guadiana tal como o era a vila de Mouratildeo de onde Cristoacutevatildeo de Mendonccedila era natu-ral Como anteriormente referimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Men-donccedila o fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo que foi nomeado em 1476 alcaide-mor de Mouratildeo123 uma vila fortificada do Alentejo que guarda-va a fronteira portuguesa frente a Espanha O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas mostra-nos o castelo de Mouratildeo onde Cristoacutevatildeo teraacute crescido localizado no cimo de uma colina sobranceiro ao Guadiana124 Quer isto dizer que o ceacutelebre navegador era descendente de uma famiacutelia experimentada na guarda da fronteira face ao reino vizinho e familia-rizado com as actividades militares tributaacuterias e administrativas que lhe eram inerentes125 Assim sendo esta condiccedilatildeo de fronteiro a juntar ao facto de Cristoacutevatildeo ser cavaleiro da Ordem de Cristo teraacute resultado altamente pertinente no momento em que D Joatildeo III decidiu atribuir a comenda de Arenilha a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como recompensa pelos serviccedilos prestados

Por fim mas natildeo menos relevante teraacute sido a experiecircncia naval e militar adquirida por Mendonccedila nos mares do Oriente e direccionada para a foz do Guadiana sistematicamente ameaccedilada pelos ataques da pi-rataria magrebina126 Recorde-se que Mendonccedila no decurso das suas na-vegaccedilotildees na australaacutesia viu-se na necessidade de defender posiccedilotildees por-

122 O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas produzido por volta de 1509 jaacute indicava o topoacutenimo que veio a ser oficializado com a Carta de Privileacutegio de 12 de Fevereiro de 1513 Ver ARMAS O Livro das Fortalezas fl 1

123 FREIRE Brasotildees Vol III p 173124 ANTT Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Livro das Fortalezas si-

tuadas no Extremo de Portugal e Castela por Duarte de Armas escudeiro da Casa do Rei D Manuel I Nordm 159 fls 13-14 ARMAS O Livro das Fortalezas fls 13-14

125 Refira-se que foi durante o periacuteodo em que o pai de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila deteve a alcaidaria de Mouratildeo que o rei D Manuel obteve dos povos nas cortes de Lisboa de 1502 uma vultosa contribuiccedilatildeo que fez com que o castelo da vila fosse intervenciona-do por dois importantes arquitectos reacutegios os irmatildeos Francisco e Diogo de Arruda os mestres das obras reacutegias da comarca de entre o Tejo e o Guadiana Ver FARIA ldquoForti-ficaccedilotildees de Portugal na fronteira da Estremadura espanholardquo p 161

126 Sobre este assunto veja-se PESSANHA ldquoAtaques da piratariardquo pp 63-94

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203194

Fernando Pessanha

tuguesas dando combate aos adversaacuterios Recordemos a este respeito o ataque movido por Melique Ladil agrave fortaleza de Paceacutem entatildeo guardada por Mendonccedila e a maneira como o ldquomourordquo foi desbaratado e despo-jado das treze embarcaccedilotildees usadas no assalto127 Dadas as circunstacircnci-as seria um desperdiacutecio natildeo se aproveitar a experiecircncia deste capitatildeo numa altura em que se verificava um incremento da actividade piraacutetica nas costas do Algarve Esta actividade da pirataria na foz do Guadiana eacute aliaacutes referida por Bernardo Rodrigues em vaacuterias ocasiotildees nomeada-mente aquando da estadia da condessa de Redondo na vila de Arenilha em 1522128 ou quando Vasco Fernandes Ceacutesar - antigo adaiacutel de Azamor e capitatildeo da Armada do Estreito129 - foi incumbido embarcar o conde do Redondo D Joatildeo Coutinho na vila de Arenilha e escoltaacute-lo a Arzila130 Refira-se que a caminho da foz do Guadiana o navio de Vasco Fernan-des Ceacutesar foi atacado por duas naus tendo-se seguido um combate naval que resultou na explosatildeo de parte da alcaacuteccedilova atirando cinco homens ao mar entre os quais Vasco Fernandes que ficou gravemente ferido131

Vemos deste modo que a entrega da comenda de Arenilha a um in-diviacuteduo como Cristoacutevatildeo de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo descendente de uma famiacutelia de fronteiros e navegador experimentado no combate naval natildeo soacute era altamente pertinente como simboacutelica e manifestamente estrateacutegica para a defesa do extremo sudeste algarvio e da foz do Guadiana onde Mendonccedila deveria actuar com autoridade se-nhorial usufruindo dos seus bens e rendimentos E no caso da comenda de Arenilha Seriam generosos os seus rendimentos Sem duacutevida Se assim natildeo fosse o rei D Duarte natildeo teria doado ao infante D Henrique ainda em 25 de Setembro de 1433 a ldquodiacutesima nova de todo o pescado que pescarem quaisquer pessoas no mar do Monte Gordordquo132 Aliaacutes seraacute certa-

127 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III pp548-549128 RODRIGUES Anais de Arzila Tomo I Cap XC p 373129 GOacuteIS Chronica IV Cap LVII p 552 Sobre a Armada do Estreito veja-se GODINHO

ldquoA armada do estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo pp117-137130 RODRIGUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 PESSANHA Subsiacutedios p 100131 Segundo Bernardo Rodrigues os sobreviventes portugueses por pouco natildeo foram

executados Os que sobreviveram ao combate foram aprisionados e levados para Di-eppe Vasco Fernandes apesar de ferido acabou por escapar do cativeiro desfiando uma esteira e escapando por ela da torre onde se encontrava aprisionado RODRI-GUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 Ver tambeacutem PISSARRA ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Armada do Estreitordquo pp 144-145

132 SERRAtildeO Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fundaccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) p 65 OLIVEIRA Monografia p 73

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 195

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

mente o motivo econoacutemico que jaacute em 1555 estaraacute na origem da disputa pelo senhorio de Arenilha entre Jeroacutenimo de Melo fidalgo da Casa Real e alcaide-mor de Castro Marim e Luiacutes Leite frei cavaleiro da Ordem de Cristo e filho de Antoacutenio Leite o anterior alcaide133

Relativamente agrave defesa sabemos que Arenilha natildeo possuiacutea castelo torre ou qualquer fortificaccedilatildeo digna de registo ateacute 1542-1547 periacuteodo em que o alcaide Antoacutenio Leite daacute-nos conta das ldquotramqueyras e repai-rosrdquo construiacutedos sob o seu comando para a populaccedilatildeo se defender dos ataques da pirataria moura134 Ainda assim Mendonccedila estava obrigado a zelar pela defesa da vila independentemente de esta ter ou natildeo for-tificaccedilotildees para a proteger Se tivermos em consideraccedilatildeo que a sua no-meaccedilatildeo como comendador o obrigava agrave realizaccedilatildeo de um inventaacuterio ao patrimoacutenio da comenda (infelizmente desconhecido) e ao dever de fixar residecircncia na sua aacuterea de governo135 eacute muito provaacutevel que Cristoacutevatildeo se tenha detido durante algum tempo na vila da foz do Guadiana algures entre finais de 1524 aquando da sua chegada ao reino136 e Marccedilo de 1527 quando voltou a partir para o Oriente

Como anteriormente referimos os comendadores deviam fixar-se nas suas comendas para melhor procederem agrave sua defesa e melhor ren-tabilizarem as mesmas Assim sendo como eacute possiacutevel que os documen-tos que referem Cristoacutevatildeo como comendador de Arenilha sejam relati-vos aos anos em que este se encontrava na capitania de Ormuz Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo de que a principal obrigaccedilatildeo dos cavaleiros da Ordem de Cristo era a luta contra os inimigos da feacute devendo estar prontos para a guerra sempre que o Mestre os convocasse Uma vez que as situaccedilotildees de guerra eram cons-tantes nos territoacuterios de aleacutem-mar onde a presenccedila dos cavaleiros da Ordem se tornava necessaacuteria natildeo eacute de admirar que estes fossem dispen-sados da exigecircncia que os obrigava a permanecer nas suas comendas137

133 CAVACO Revisitando pp 18-20 PESSANHA Os 500 anos pp 72-73134 Carta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava

atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras e que era necessaacute-rio enviar-lhe socorro ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos p 99 PINTO ldquoIacutendice Analiacuteticordquo p 267

135 Cf SILVA A Ordem de Cristo pp 189-190136 Uma vez que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila se encontrava na Aacutefrica do Sul em Marccedilo ou Maio

de 1524 eacute de supor que a sua chegada ao reino se tenha dado ainda no mesmo ano137 SILVA A Ordem de Cristo p 191

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203196

Fernando Pessanha

Eacute nesse sentido que encontramos Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comen-dador de Arenilha em 1529 e 1530 anos em que jaacute se encontrava como capitatildeo na fortaleza de Ormuz De resto era nesta fortaleza que ainda se encontrava em 1531 ano em que piratas de Larache atacaram a vila da foz do Guadiana ldquoonde fizeacuteratildeo muito dano em navios que tomaacuteratildeo e den-tro da Barra de Aiamonte fizeacuteratildeo despejar a Arrinilha e a Montegordordquo138

7 Conclusatildeo

Com efeito muito se tem escrito (e especulado) sobre a alegada des-coberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila No entanto e indepen-dentemente dos resultados alcanccedilados pelo navegador nesta expediccedilatildeo parece indiscutiacutevel que foi generosamente recompensado aquando do seu regresso ao reino Resta-nos perceber porquecirc Jaacute Armando Cortesatildeo muito antes de Peter Trickett tinha levantado a hipoacutetese de a rentaacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz ter sido entregue a Mendonccedila como re-compensa pelos serviccedilos prestados na expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro139 Natildeo eacute conhecido poreacutem qualquer documento que ateste o ecircxito do navegador nesta expediccedilatildeo Omissatildeo que segundo investigadores como Armando Cortesatildeo Damiatildeo Peres ou Jaime Cortesatildeo teraacute sido consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo determinada pelas limitaccedilotildees de navega-ccedilatildeo estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas e com o contencioso entre Portugal e Espanha pela posse das Molucas140

O certo eacute que Mendonccedila ao regressar ao reino foi agraciado com uma das capitanias mais rentaacuteveis do impeacuterio no Oriente para aleacutem de ter recebido compensaccedilotildees econoacutemicas e aparecer referido em 1529 e 1530 como comendador da vila de Arenilha na foz do Guadiana Refira-se a este respeito que muitos capitatildees cavaleiros da Ordem de Cristo se lanccedilaram no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Poreacutem mui-to poucos chegaram a obter as tatildeo almejadas comendas141 Vemos deste

138 RODRIGUES Anais Tomo II Cap XXXV p 209139 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158140 CORTESAtildeO A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e

de D Joatildeo II Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 65-66 PERES ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na Histoacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II pp 17-21

141 Entre os afortunados que lograram obter este tipo de rendimento contam-se muito poucos D Joatildeo Pereira D Pedro de Castelo Branco Nuno Furtado Simatildeo Guedes entre outros Ver CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 216

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 197

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

modo que a atribuiccedilatildeo da comenda de Arenilha significou um motivo de grande honra e prestiacutegio para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Ora se este navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro resta-nos perceber porque motivo teraacute sido agraciado com compensaccedilotildees eco-noacutemicas a nomeaccedilatildeo para uma das mais rentaacuteveis capitanias de todo o Impeacuterio no Oriente e uma honrosa comenda da Ordem de Cristo Eacute caso para dizer que a problemaacutetica em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila con-tinua a levantar muitas duacutevidas e poucas certezas

Fontes e Bibliografia

1 Arquivos

ANTT

Chancelaria de D Afonso V Livro 2 fl30

Chancelaria de D Manuel I Livro 4 fl37 Livro 8 fl 29v Livro 9 fl4v Livro 10 fl53 Livro 13 fl60 Livro 37 fl64

Chancelaria de D Joatildeo III Livro 12 fl62

Chancelaria da Ordem de Cristo Livro13 fls375 vndash 379v

Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1

Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 15 Nordm47 Pt I maccedilo 44 Nordm45 Pt I maccedilo 45 Nordm9

Pt II maccedilo 51 Nordm26 Pt II maccedilo 53 Nordm182 Pt II maccedilo 93 Nordm150 Pt II maccedilo 109 Nordm131 Pt II maccedilo 131 Nordm226 Pt II maccedilo 134 Nordm57 Pt II maccedilo 135 Nordm45 Pt II maccedilo 135 Nordm49 Pt II maccedilo 136 Nordm102 Pt II maccedilo 141 Nordm91

Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Nordm159

Casa Real Cartoacuterio da Nobreza Livro Nordm20 - Livro da Nobreza e da per-feiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal fl XII

2 Fontes Impressas

ABREU Lisuarte de Livro de Lisuarte de Abreu (Reproduccedilatildeo do manuscrito existente na Perpont Morgan Library de Nova York) Comissatildeo Nacional para as comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portugueses Lisboa 1992

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203198

Fernando Pessanha

ARMAS Duarte de Livro das Fortalezas Arquivo Nacional da Torre do TomboInapa Lisboa 1997

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada III Na Regia Officina Typografica Lisboa MDCCLXXVII

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada IV Imprensa Nacional Casa da Moe-da Lisboa 2001

BORGES Joseacute Calvatildeo Borges Livro do Armeiro-Mor Academia Portugue-sa de HistoacuteriaEdiccedilotildees Inapa Lisboa 2000

CASCAtildeO Joatildeo ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevorardquo Uma Jornada ao Alentejo e ao Algarve A altera-ccedilatildeo das linhas de forccedila da poliacutetica nacional Livros Horizonte Lisboa 1984 pp 77-136

CASTANHEDA Fernatildeo Lopes de Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses 2 vols Lello amp Irmatildeos Editores Porto 1979

CORREIA Gaspar Lendas da Iacutendia Tomo III na Typographia da Acade-mia Real das Sciencias Lisboa 1862

Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI Centro de Estudos Histoacutericos Ultramarinos Lis-boa 1969

GAYO Felgueiras Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX Ediccedilatildeo de Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Arauacutejo Affonso Braga 1939

GUEDES Liacutevio da Costa Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) Arquivo Histoacuterico Militar Lisboa 1988

GOacuteIS Damiatildeo de Chonica do Serenissimo Senhor Rei D Manoel Lisboa 1749

JOSEacute Frei Joatildeo de Satildeo ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 21-132

RODRIGUES Bernardo Anais de Arzila 2 vols Academia das Sciecircncias de Lisboa Lisboa 1915-1919

SARRAtildeO Henrique Fernandes ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 133-174

SOUSA Frei Luiacutes de Anais de D Joatildeo III 2 vols Saacute da Costa Lisboa 1928

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 199

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

SOUSA Manuel de Faria e Asia Portvgvesa Officina de Henrique Valen-te de Oliveira impressor del Rey NS Lisboa 1666

TENREIRO Antoacutenio amp AFONSO Mestre Viagens por terra da Iacutendia a Por-tugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica Mem-Martins 1991

3 Estudos

ALBUQUERQUE Luiacutes de (dir) Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-tos Portugueses 2 vols Ciacuterculos de Leitores Lisboa 1994

ALMEIDA Fortunato de Histoacuteria de Portugal Vols III-VII Promoclube Lisboa sd

CARDOSO Antoacutenio Pereira A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila agrave Austraacutelia em 1522 Academia da Marinha Lisboa 1994

CARVALHO Andreia Martins de ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Ma-nuelinardquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia ndash Actas do Coloacutequio Internacional Joatildeo Paulo Oliveira e Costa amp Viacutetor Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 199-226

CARVALHO Andreia Martins de Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria dos Descobrimen-tos e da Expansatildeo Portuguesa (seacuteculos XV-XVIII) apresentado agrave UNL Lisboa 2006

CAVACO Hugo ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio (Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Arte no Algarve) Cacircmara Muni-cipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1987

CAVACO Hugo Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha Cacircmara Munici-pal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1995

CORREIA Joseacute Eduardo Horta Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina Faup Publicaccedilotildees Porto 1997

CORREIA Joseacute Eduardo Horta O Algarve em Patrimoacutenio Gente Singular Editora Olhatildeo 2010

CORTESAtildeO Armando ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Aus-tralaacutesia Macau Japatildeo)rdquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939

CORTESAtildeO Jaime ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal (Dir Damiatildeo Peres) Vol IV Portucalense Editora Barce-los 1932 pp 9-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203200

Fernando Pessanha

CORTESAtildeO Jaime A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e de D Joatildeo II Lisboa 1960

COSME Joatildeo ldquoOs homens de ciecircnciardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 91-97

COSME Joatildeo ldquoOs Navegadores ndash Vasco da Gamardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 145-152

COSTA Joatildeo Paulo Oliveira e ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo A Nobreza e a Expansatildeo Estudos Biograacuteficos Joatildeo Paulo Oliveira e Costa (coord) Patrimoacutenia Cascais 2000 pp 11-51

DOMINGUES Francisco Contente ldquoOs portugueses descobriram a Aus-traacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Si-motildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Univer-sidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 163-172

DOMINGUES Francisco Contente Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 Circulo dos Leitores Lisboa 2016

FARIA Antoacutenio Machado de Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI Acade-mia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 1956

FARIA Antoacutenio Machado de ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo Separata da revista Arqueologia e Histoacuteria vol VI Lisboa 1955

FARIA Miguel Figueira de ldquoFortificaccedilotildees de Portugal na fronteira da Es-tremadura espanholardquo Anais ndash Seacuterie Histoacuteria Vol II Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 1995 pp 156-187

FONSECA Luiacutes Adatildeo da ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo A Alta No-breza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 322-347

FREIRE Anselmo Braamcamp Brasotildees da Sala de Sintra 3 vols Impren-sa da Universidade de Coimbra Coimbra 1921-1930

GARCIA Joseacute Manuel Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII QuidNovi Lisboa 2009

GARCIA Joseacute Manuel O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash 1555 Nordm 8 QuidNovi Vila do Conde 2012

GODINHO Rui Landeiro ldquoA Armada do Estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (Seacuteculos XV-XIX) Ediccedilotildees Cul-turais da Marinha Lisboa 2003 pp 117-137

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 2: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203166

Fernando Pessanha

genealoacutegicos e documentaccedilatildeo do Arquivo Nacional da Torre do Tombo no sen-tido de percebermos se o ceacutelebre navegador reunia as condiccedilotildees para ser agra-ciado com uma comenda da Ordem de Cristo

Palavras-chave

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Ordem de Cristo Arenilha Algarve

Abstract

Having identified documents referring to Cristovatildeo de Mendonccedila as commander of the town of Arenilha we attempted to establish the relationship between this donatary (comparable to a royal governor) and the famous captain of the Indian fleets given the task of discovering the Ilha do Ouro (Golden Island) who later became captain of Ormuz When trying to understand if we are dealing with the same individual which would be an important development when it comes to our knowledge on this navigator we attempted to use a work methodology which followed the reconstruction of his life up to the point when Cristovatildeo de Mendonccedila is mentioned as commander of the old 16th century comenda (a land grant together with a duty to defend it from enemies and criminals) located in the mouth of the Guadiana river To do this we compared 16th century sources namely the Deacutecadas da Aacutesia by Joatildeo de Barros and other chronicles with genealogical studies and documentation from the National Archive of Torre do Tombo with the intention of understanding if this famous navigator was the right kind of person to be awarded a comenda of the Order of Christ

Keywords

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Order of Christ Arenilha Algarve

1 A vila de Arenilha

A Histoacuteria da antiga vila de Arenilha fundada na margem portugue-sa da foz do Guadiana em 1513 continua envolta num cenaacuterio de con-tornos tatildeo romacircnticos quatildeo idiacutelicos natildeo obstante os vaacuterios estudos que nos uacuteltimos anos se tecircm debruccedilado sobre a Histoacuteria do Algarve Pon-tualmente a tradiccedilatildeo oral ainda arranca agraves brumas do esquecimento a memoacuteria da desaparecida vila - ou ldquoviletardquo como apelidou Frei Joatildeo de Satildeo Joseacute em 15771 Poreacutem satildeo escassas as investigaccedilotildees que tecircm tido Arenilha enquanto objecto de estudo e a verdade eacute que o nosso co-nhecimento sobre o tema resume-se a alguns trabalhos que de forma

1 JOSEacute ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo p 55

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 167

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

diligente foram dados agrave estampa a partir segunda metade do seacutec XX2 Posto isto verifiquemos em traccedilos muito gerais o estado do conheci-mento acerca desta vila e das suas gentes

A Vila de Santo Antoacutenio Santo Antoacutenio de Arenilha ou Santo Antoacute-nio da Foz do Guadiana satildeo designaccedilotildees relativas agrave mesma povoaccedilatildeo e que chegam a aparecer em simultacircneo no seacutec XVI Foi ao abrigo de um plano de natureza econoacutemica poliacutetica estrateacutegica e militar que a vila de Arenilha foi fundada enquanto couto de homiziados junto agrave foz do Gua-dianaldquoasy e da maneira que ho he a nossa Villa de Crastro Marymrdquo3 Eacute a Carta de Privileacutegio concedida por D Manuel em 8 de Fevereiro de 1513 e posteriormente confirmada por D Joatildeo III em 25 de Maio de 1526 a assinalar a fundaccedilatildeo da ldquonossa Villa darenilha que hora mandamos fazer e adifycarrdquo No entanto este topoacutenimo jaacute aparece referido em O Livro das Fortalezas4 produzido por Duarte de Armas em 1509 De resto a existecircncia de um topoacutenimo de origem castelhana - e que nos daacute conta da

2 De entre estes trabalhos destacam-se desde logo Ataiacutede de OLIVEIRA Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacutenio (obra originalmente publicada em 1908) Seguindo o criteacuterio cronoloacutegico segue-se de MAGALHAtildeES Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI (obra que natildeo obstante tratar a Histoacuteria econoacutemica do Algarve quinhentista na sua generalidade natildeo esquece a antiga vila de Arenilha) CORREIA Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina (dis-sertaccedilatildeo para doutoramento defendida em 1983 Refira-se que o compendioso corpus documental desta obra vem demonstrar que apesar de Arenilha se ter despovoado no decurso do seacutec XVII nunca deixou de existir do ponto de vista institucional con-tinuado a Cacircmara de Arenilha em funccedilotildees ateacute agrave fundaccedilatildeo de Vila Real de Santo An-toacutenio em 1776) CAVACO Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha (o primeiro trabalho exclusivamente dedicado agrave Histoacuteria da antiga vila de Arenilha) CAVACO ldquoEcos da Expansatildeo Portuguesa em Marrocosrdquo (trabalho que apresenta interessantes novida-des relativamente agrave publicaccedilatildeo de 1985) GRILO ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo CORREIA O Algarve em Patrimoacutenio (obra onde tambeacutem eacute tratada Arenilha) PESSANHA Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha (livro que visou a impres-cindiacutevel actualizaccedilatildeo de conhecimentos sobre o tema por ocasiatildeo do V centenaacuterio da fundaccedilatildeo da vila) PESSANHA ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Are-nilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo pp 77-95 PESSANHA Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Deste entatildeo a identificaccedilatildeo de documentos aparentemente ineacuteditos tem levado agrave publicaccedilatildeo de novas interpreta-ccedilotildees nos oacutergatildeos de comunicaccedilatildeo locais e nas Jornadas de Histoacuteria de Ayamonte o que tem permitindo que lenta e paulatinamente se vaacute constituindo do puzzle do nosso conhecimento sobre a Histoacuteria de Arenilha Ver PESSANHA ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo p 21 PESSANHA ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo p 21 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo

3 ANTT Chancelaria de D Joatildeo III liv 12 fl62 Documento publicado por CAVACO Re-visitando pp 27-28 GRILO ldquoNa margem direitardquo p32 PESSANHA Os 500 anos p 43

4 ANTT Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Nordm159 PT-TT-CF-159_m0020 ARMAS O Livro das Fortalezas fl1

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203168

Fernando Pessanha

natureza geomorfoloacutegica do espaccedilo - ainda antes da elaboraccedilatildeo do do-cumento que manda proceder agrave construccedilatildeo da vila pode perfeitamente indicar a ocupaccedilatildeo sazonal daquele areal na margem portuguesa da foz do Guadiana por populaccedilotildees de pescadores de origem espanhola5

Com efeito as fontes documentais relativas a Arenilha natildeo satildeo muito abundantes o que acaba por representar um entrave agrave investigaccedilatildeo his-toriograacutefica Ainda assim natildeo satildeo de todo inexistentes Para aleacutem de al-guns documentos que podemos encontrar no Arquivo Nacional da Torre do Tombo existem tambeacutem referecircncias agrave antiga vila nalgumas croacutenicas da centuacuteria quinhentista e que tecircm vindo a ser publicadas ao longo das uacuteltimas deacutecadas Nesse sentido assumem especial destaque as Visitaccedilotildees da Ordem de Santiago6 de 1555 a Relaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevora7 redigida pelo cronista Joatildeo Cascatildeo em 1574 a Corografia do Reino do Algarve8 de 1577 de Frei Joatildeo de Satildeo Joseacute e a Histoacuteria do Reino do Algarve de 1600 de Henrique Fernandes Sarratildeo9

Resumidamente sabemos que a vila foi um pequeno aglomerado de vocaccedilatildeo mariacutetima que encontrava na pesca a sua principal fonte de subsistecircncia e que se via constantemente ameaccedilada pelos ataques da pirataria magrebina10 Contava apenas com quinze ou dezasseis vizi-nhos (fogos) em 1574 aquando da passagem de D Sebastiatildeo pela foz do Guadiana11 Ora se tivermos em consideraccedilatildeo que durante o seacuteculo XVI cada vizinho era constituiacutedo por uma meacutedia de quatro ou cinco pes-soas12 rapidamente chegamos agrave conclusatildeo que por entatildeo a populaccedilatildeo

5 PESSANHA Os 500 anos pp 34-38 PESSANHA ldquoV Centenaacuteriordquo pp 79-816 CAVACO ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago pp242-246 LAMEIRA amp SANTOS Visita-

ccedilatildeo de Igrejas Algarvias pp 105-1087 CASCAtildeO ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevo-

rardquo pp77-1368 JOSEacute ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo pp 21-1329 SARRAtildeO ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo pp 133-174 Arenilha aparece referenciada

noutras obras da Idade Moderna como Massai ldquoDescripccedilatildeo do Reyno do Algarverdquo in GUEDES Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) pp 89-234 No entanto e uma vez que a balizagem a que nos propusemos incide concretamente no seacutec XVI optaacutemos por concentrar-nos ex-clusivamente nas fontes quinhentistas

10 PESSANHA ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcai-de-mor de Arenilhardquo pp 63-94

11 CASCAtildeO ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeordquo p 12012 Joaquim Romero de Magalhatildees por exemplo defende que o coeficiente multiplicador

para determinar o nuacutemero de habitantes de um ldquovizinhordquo ou ldquofogordquo deveraacute ser de 45 Ver MAGALHAtildeES Para o Estudo pp 245-246 nota 2

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 169

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

de Arenilha situar-se-ia entre as 60 e as 80 pessoas ou seja a vila nunca deixou de ser um lugar escassamente povoado mesmo durante o auge da sua densidade demograacutefica13

As fontes jaacute por si escassas pouco ou nada nos dizem acerca dos arenilhenses que povoaram a margem portuguesa da foz do Guadiana Sendo a populaccedilatildeo constituiacuteda por homiziados e gente humilde que en-contrava na pesca o seu sustento torna-se particularmente difiacutecil se-guir-lhes o rasto biograacutefico Se exceptuarmos as informaccedilotildees facultadas pelo processo da inquisiccedilatildeo de Jorge da Cunha um natural ldquodo lugar de Santo Antonio de Arenilha Reyno do Algaruerdquo14 as uacutenicas informaccedilotildees de que dispomos satildeo relativas agrave ldquogente nobre da governanccedila da terrardquo15 que como Romero de Magalhatildees bem observou mais natildeo era que uma segunda categoria do estado da nobreza16 Eacute exactamente nesse sentido que o presente artigo pretende apresentar um comendador da antiga vila de Arenilha ateacute agora desconhecido

2 Os senhores de Arenilha alcaides e comendadores

Torna-se difiacutecil seguirmos o rasto dos senhores de Arenilha As croacute-nicas quinhentistas atraacutes referidas e restante documentaccedilatildeo avulsa referem os alcaides da vila da foz do Guadiana a partir de meados do seacutec XVI mais precisamente a partir de 20 de Agosto de 154217 Foram estas fontes que permitiram a Ataiacutede de Oliveira baseando-se particu-larmente nos escritos de Frei Joatildeo de Satildeo Joseacute identificar os alcaides Antoacutenio Leite e Luiacutes Leite em Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacutenio18 publicada pela primeira vez em 1908 Posteriormente em 1995 Hugo Cavaco identificou o alcaide Antoacutenio Leite de Vascon-celos em Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha19 sendo que os outros donataacuterios posteriormente identificados jaacute ultrapassam a balizagem cronoloacutegica do seacutec XVI

13 PESSANHA Os 500 anos pp 54-5514 ANTT Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1 PESSANHA

Os 500 anos pp 104-107 PESSANHA ldquoAyamonte nos processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombordquo pp 12-28

15 MAGALHAtildeES Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 pp 41-49 MAGALHAtildeES ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo pp 274-277

16 MAGALHAtildeES Concelhos e organizaccedilatildeo p 12817 ANTT Chancelaria da Ordem de Cristo lv13 fls 375 vndash379 v18 OLIVEIRA Monografia p 7219 CAVACO Revisitando p 18

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203170

Fernando Pessanha

Com efeito a nomeaccedilatildeo destes alcaides pressupotildee a existecircncia - ou a intenccedilatildeo - de uma vila acastelada ou fortificada e de facto sabemos que a vila de Arenilha foi fortificada com ldquotramqueyras e repairos () de madeyrardquo nos uacuteltimos anos da primeira metade do seacutec XVI20 Aliaacutes se a principal funccedilatildeo do alcaide-mor para aleacutem das funccedilotildees administrativas e judiciais era a defesa e a guarda do castelo (que devia sustentar ateacute agrave morte)21 a referecircncia ao ldquoalcaide moorrdquo presente na Carta de Privileacutegio de 8 de Fevereiro de 1513 poderaacute deixar antever a intenccedilatildeo do monarca em fortificar a nova vila da foz do Guadiana

No entanto e ainda que natildeo sejam conhecidas referecircncias aos alcai-des de Arenilha ateacute 1542 temos de ter em consideraccedilatildeo que Castro Ma-rim e a nova vila da foz do Guadiana apresentavam-se como as duas uacuteni-cas comendas da Ordem de Cristo no Algarve Naturalmente que estas comendas implicavam desde logo a existecircncia de comendadores sobre os quais recaiacutea o senhorio das ditas vilas o que era compreendido como motivo de honra e de prestiacutegio social numa sociedade ainda bastante influenciada pelas antigas tradiccedilotildees medievo-feudais Estas comendas enquanto benefiacutecio atribuiacutedo a cavaleiros professos nas ordens milita-res como recompensa por serviccedilos prestados compreendiam o direito agrave administraccedilatildeo da localidade e conferiam uma renda para sustentaccedilatildeo do comendador beneficiaacuterio configurando um recurso para os encar-gos da proacutepria comenda

3 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila

No decurso da investigaccedilatildeo para o artigo ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo22 deparaacutemo-nos com dois documen-

20 Carta de Antoacutenio Leite a D Joatildeo III em 16 de Novembro de1542 - 1547 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos pp 99-101 No ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo o documento aparece com a seguinte designaccedilatildeo ldquoCarta a D Joatildeo III sobre a necessidade de fortificar a foz do Guadiana para fazer face aos ataques de mouros Santo Antoacutenio da Foz do Guadianardquo Ver PINTO ldquoIacuten-dice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo p 267 Jaacute o Arquivo Nacional da Torre do Tombo apresenta o mesmo documento como ldquoCarta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras q que era necessaacuterio enviar-lhe socorrordquo Ver ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

21 Segundo as Ordenaccedilotildees Manuelinas ldquoincorria na pena de traiccedilatildeo aquele que por sua cul-pa o perdesserdquo Ver ALMEIDA Histoacuteria de Portugal Vol VII p 25 PESSANHA As Guarni-ccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar p 97

22 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesardquo pp 86-82

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 171

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

tos ineacuteditos que desde logo chamaram a nossa atenccedilatildeo Trata-se de duas cartas em que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece referido como comenda-dor de Arenilha Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de anaacutelise no referido artigo Importa no entanto debruccedilarmo-nos sobre a identidade do comendador de Arenilha Cris-toacutevatildeo de Mendonccedila Quem era Qual o seu contexto familiar e social

Com efeito quer o nome quer a cronologia (deacutecada de 20 do seacutec XVI) remete-nos automaticamente para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila capitatildeo das armadas da Iacutendia em 1519 e 152723 capitatildeo-mor da armada destinada a descobrir a Ilha do Ouro em 152224 e capitatildeo de Ormuz entre 1527 e 1531153225 Por outras palavras o ceacutelebre navegador portuguecircs que de acordo com as teorias de autores como Kenneth McIntyre26 ou Peter Trickett27 foi o descobridor da Austraacutelia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Aliaacutes a teoria da descoberta da Austraacutelia pelos portugue-ses natildeo eacute propriamente novidade tendo vindo a consubstanciar-se des-

23 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap IX p 325 Ver tambeacutem GOacuteIS Chronica do Serenissimo Senhor Rei D Manuel IV Cap XXXVI p 515 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses V Cap XV p 27 SOUSA Asia Tomo I Pt III Cap III p 190

24 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I IV Cap III pp 412-413 Ver tambeacutem Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) Documento publicado in Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI p 96

25 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada IV II Cap III p 73 Ver tambeacutem CORREIA Lendas da Iacutendia Vol III Pt I Cap XVI p 182 SOUSA Anais de D Joatildeo III Vol II IV Cap I p 1 SOUSA Asia Tomo I Pt IV Cap II p 256

26 O australiano Kenneth McIntyre professor de Literatura Direito e aficionado da His-toacuteria Portuguesa foi um dos mais ceacutelebres defensores da teoria da descoberta da Aus-traacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila McIntyre defendeu esta teoria com base na anaacutelise de um mapa luso-francecircs de 1538 o designado Mapa Delfim que apresenta uma Ilha de Java bastante semelhante agrave Austraacutelia McIntyre refere ainda um navio de mogno afundado alegadamente pertencente agrave frota de Mendonccedila ainda que os destroccedilos da embarcaccedilatildeo nunca tenham sido encontrados A embarcaccedilatildeo teria encalhado nas dunas perto de Warrnambool estado de Victoria a oeste de Melbourne Dois caccedilado-res de focas afirmaram terem visto os seus destroccedilos em 1836 Actualmente o barco eacute considerado uma lenda e a sua histoacuteria eacute celebrada em Warrnambool nomeada-mente no festival portuguecircs que aiacute tem lugar de dois em dois anos Ver McINTYRE A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha portuguesa 250 anos antes do Comandante Cook 1989

27 Mais recentemente em 2007 o livro do jornalista Peter Trickett reavivou a tese da descoberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Desta vez com base na interpre-taccedilatildeo do mapa do Atlas Vallard de 1547 cujo original estaacute condicionado na Biblioteca de Huntington e onde dois destes mapas apresentam vaacuterios topoacutenimos da costa aus-traliana escritos em portuguecircs Ver TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os na-vegadores portugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Austraacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203172

Fernando Pessanha

de a segunda metade do seacutec XIX a partir dos estudos do Visconde de Santareacutem28 e do historiador inglecircs Henry Major29 De resto nem o nome de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila enquanto alegado descobridor da Austraacutelia nem a data de 1522 em que se teraacute dado a descoberta satildeo novidade para a historiografia nacional uma vez que jaacute anteriormente foram defendi-dos por investigadores como Armando Cortesatildeo30 Duarte Leite31 e Antoacute-nio Pereira Cardoso32

Natildeo eacute poreacutem intenccedilatildeo do presente artigo discutir as teorias destes au-tores nomeadamente a teoria de Trickett Para tal jaacute o Museu da Ciecircncia da Universidade de Coimbra realizou em 2008 um coloacutequio e uma mesa-redonda com historiadores de reconhecida credibilidade De resto as ac-tas deste encontro foram publicadas com o tiacutetulo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens33 publicaccedilatildeo em que de acordo com a comunida-de cientiacutefica a exploraccedilatildeo da costa australiana pelos portugueses parece indiscutiacutevel dado os diversos indiacutecios como os achados arqueoloacutegicos34 os relatos orais de aboriacutegenes35 ou a cartografia da escola de Dieppe36

Poreacutem e independentemente das teorias construiacutedas em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e da alegada descoberta da Austraacutelia interessa-nos determinar se este navegador e capitatildeo de Ormuz eacute o mesmo Cristoacute-vatildeo de Mendonccedila comendador de Arenilha

28 SILVA ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo p 111 nota 1

29 ALBUQUERQUE ldquoMajor Richard Henry (1818-1891)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 141-142 Ver tambeacutem DOMINGUES ldquoOs portugueses descobriram a Austraacute-liardquo pp 163-164 Refira-se que este uacuteltimo por exemplo atribuiu a descoberta do con-tinente austral a Antoacutenio de Abreu em 1512 e que segundo o historiador Joseacute Manuel Azevedo e Silva ldquoDiogo Pacheco foi o primeiro portuguecircs a descobrir a Austraacutelia em 1519rdquo Ver SILVA ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-morrdquo p 119 Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoViagens e misteacuterios nos mares da Indoneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo p 19

30 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Australaacutesia Macau Japatildeo)rdquo pp 156-159

31 LEITE Histoacuteria dos Descobrimentos pp 329-33432 CARDOSO A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila agrave Austraacutelia em 152233 Os resultados deste coloacutequio concluem que a ldquoteserdquo de Trickett aponta algumas pistas

de trabalho interessantes ainda que careccedila de fundamentaccedilatildeo cientiacutefica Ver SIMOtildeES amp DOMINGUES (coord) Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens

34 Referimo-nos concretamente a peccedilas de artilharia destroccedilos de um navio potes de barro antigas ruiacutenas em pedra um elmo de ferro e um projeacutectil de canhatildeo TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio pp 47-57 199-202 203-204 210-211 242-250

35 TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio pp 67-6936 Trata-se da localidade francesa onde foi feito o Atlas de Vallard que serviu de base ao

livro de Trickett Ver TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio p 29

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 173

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

4 Contexto social e familiar

Com efeito o Cristoacutevatildeo de Mendonccedila das croacutenicas portuguesas do seacutec XVI era filho de Diogo de Mendonccedila alcaide-mor de Mouratildeo e ana-del dos besteiros37 Segundo Damiatildeo de Goacuteis Diogo de Mendonccedila acom-panhou o duque de Braganccedila na conquista de Azamor38 Casou com D Brites Soares de Albergaria filha bastarda de Fernatildeo Soares de Alber-garia senhor do Prado39 De acordo com as genealogias avanccediladas pelo Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal ou pelo Livro de Linhagens do seacuteculo XVI Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teve seis irmatildeos Pecircro de Mendonccedila alcai-de-mor de Mouratildeo Antoacutenio de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo Isabel de Mendonccedila Margarida de Mendonccedila Joana de Mendonccedila mu-lher de D Jaime duque de Braganccedila e Francisco de Mendonccedila40

Quanto a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila sabemos que desposou Maria de Vilhena filha de Sancho de Tovar e de sua mulher Guiomar da Silva ainda que o casal natildeo tenha tido descendecircncia O Livro do Armeiro-Mor publicado em 1509 apresenta o brasatildeo de armas dos Mendonccedilas41 numa altura em que o alcaide-mor de Mouratildeo era Diogo de Mendonccedila pai de Cristoacutevatildeo Tambeacutem o Livro da Nobreza e da perfeiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal de Antoacutenio Godinho escrivatildeo da Cacircmara de D Joatildeo III apresenta o brasatildeo de armas dos Mendonccedilas numa altura em que o alcaide-mor de Mouratildeo era Pedro de Mendonccedila irmatildeo de Cristoacutevatildeo Refira-se que Antoacutenio Go-dinho teraacute comeccedilado a produzir este trabalho entre o fim do reinado de D Manuel e o iniacutecio do reinado de D Joatildeo III periacuteodo que corresponde agrave presenccedila de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente e agrave sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro42 Pouco se sabe acerca da infacircncia e juventude de Cristoacutevatildeo

37 Diogo de Mendonccedila tinha sido fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo e foi alcaide-mor de Mouratildeo pelo menos desde 1476 ateacute falecer em 1516 altura em que o cargo passou para o seu filho Pecircro de Mendonccedila Ver FREIRE Brasotildees da Sala de Sintra Vol III p 173 Por sua vez Pecircro de Mendonccedila fidalgo da Casa Real foi nomeado alcaide-mor do castelo e vila de Mouratildeo com todas as rendas direitos foros tributos liberdades e honras em consideraccedilatildeo aos serviccedilos prestados pelo seu pai Diogo de Mendonccedila em 14 de Julho de 1517 Ver ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 37

38 GOacuteIS Chronica III Cap XLVI p 36739 GAYO Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX p 5340 GAYO Nobiliaacuterio Tomo XX p 53 FARIA Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI p 275 41 BORGUES Livro do Armeiro-Mor p 6042 Cf ANTT Livro da Nobreza e da perfeiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres li-

nhagens dos reinos e senhorios de Portugal f12 (on line) httpdigitarqarquivosptdetailsid=4162407

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203174

Fernando Pessanha

Seja como for aparece referido na documentaccedilatildeo como fidalgo da Casa Real logo em 151443 Se seguirmos as Deacutecadas da Aacutesia apercebemo-nos de que ldquoChristovatildeo de Mendoccedila filho de Diogo de Mendoccedila Alcaide moacuter de Mouratildeordquo44 partiu para o Oriente em 23 de Abril de 1519 na armada de Jorge de Albuquerque composta por 14 naus Sigamos portanto o rasto biograacutefico deixado por Cristoacutevatildeo durante a sua primeira viagem ao Oriente

5 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente

51 A expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro

Decorria o ano de 1519 quando Diogo Lopes de Sequeira o entatildeo go-vernador da Iacutendia incumbiu Diogo Pacheco de obter informaccedilotildees sobre a existecircncia da miacutetica Ilha do Ouro que segundo Joatildeo de Barros se en-contrava ldquoao Sul daquela Ilha Ccedilamatrardquo45 Ao chegar ao porto de Barus Diogo Pacheco tomou conhecimento da existecircncia de uma outra ilha si-tuada a sudeste do arquipeacutelago indoneacutesio para a qual os naturais do reino de Barus jaacute tinham navegado de modo a obterem ouro atraveacutes do trato com os indiacutegenas46 Recolhidas estas informaccedilotildees Diogo Pacheco navegou ao largo da Ilha de Samatra seguindo para sudeste Poreacutem ao chegar ao estreito de Sunda entre Samatra e Java optou por navegar para noroeste circum-navegando Samatra ateacute chegar a Malaca

No ano seguinte em 1520 o mesmo navegador tentou repetir a ex-ploraccedilatildeo Poreacutem ao aproximar-se do porto de Barus foi recebido por navios hostis que lhe recusaram a entrada com tiros de bombarda Quanto a Diogo Pacheco acabaria por vir a falecer num recontro com os habitantes de uma ilha depois de o seu navio encalhar na costa47

43 Provisatildeo para se pagar a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila fidalgo da Casa 7 mil reacuteis de mora-dia ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 51 Nordm26

44 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap IX p 325 Ver tambeacutem GOacuteIS Chronica IV Cap XXXVI p 515 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento p 27 SOUSA Asia Tomo I Pt III Cap III p 190 ABREU Livro de Lisuarte de Abreu fl37v-38

45 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap III p268 O mito em torno da existecircncia de uma ilha do Ouro tem origem numa confusatildeo antiga com a ilha de Samatra onde se produzia ouro em Minangkabau facto que os portugueses conheceram Sobre a miacutetica Ilha do Ouro veja-se THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o descobrimento da Austraacuteliardquo pp 66-73

46 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap III p 26947 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap III p 273 Ver tambeacutem SOUSA Asia

Tomo I Pt III Cap III p187 Diz-nos Joatildeo de Barros que Diogo Pacheco ao ver-se com vento que lhe era contraacuterio e face aos indiacutegenas que se metiam nas suas em-

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 175

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

Como anteriormente referimos foi em 23 de Abril de 1519 que D Manuel enviou para a Iacutendia uma armada comandada por Jorge de Albuquerque onde seguia ldquoChristovatildeo de Mendoccedila filho de Diogo de Mendoccedila Alcaide moacuter de Mouratildeordquo Identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como um dos capitatildees desta armada resta-nos perceber porque moti-vo se teraacute aventurado no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Como anteriormente vimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Mendoccedila alcaide-mor de Mouratildeo Poreacutem natildeo era filho primogeacutenito Quer isto dizer que com o falecimento do seu pai a alcaidaria de Mouratildeo passou para o seu irmatildeo mais velho Pecircro de Mendonccedila em 151748 Eacute nesse sentido que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teraacute encontrado nos serviccedilos na Iacutendia o meio de ascensatildeo social para os filhos secundogeacutenitos uma vez que estes dependiam da generosidade reacutegia para a obtenccedilatildeo de tenccedilas e mercecircs que permitissem a manutenccedilatildeo ou elevaccedilatildeo do seu estatuto Vemos deste modo que a participaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo no projecto expan-sionista portuguecircs se apresentava perfeitamente normal se tivermos em conta o seu contexto social e familiar assim como a sua condiccedilatildeo de secundogeacutenito49

Ao seguirmos a croacutenica de Joatildeo de Barros apercebemo-nos de que a armada que partiu para a Iacutendia em 1519 apenas chegou ao destino em 1520 por motivo de invernada em Moccedilambique onde Cristoacutevatildeo se dete-ve com outros sete capitatildees50 De resto uma carta datada de 22 de Janei-

barcaccedilotildees para lhe tomarem o navio tentou evadir-se para o alto mar Poreacutem ao ser arrastado para a costa acabou por vir a perecer tendo apenas escapado alguns malaios que atravessaram a ilha ateacute agrave costa norte onde encontraram embarcaccedilatildeo para os levar a Malaca As uacuteltimas palavras de Joatildeo de Barros sobre esta viagem tem levado alguns autores a considerarem que Diogo Pacheco teraacute perecido na Austraacute-lia ldquoesta perdiccedilatildeo de Diogo Pacheco que foi o primeiro dos nossos que perdeo a vida por descubrir esta Ilha do ourordquo Eacute o caso de Trickett ou de Joseacute Manuel Azevedo e Silva para quem Diogo Pacheco foi o primeiro portuguecircs a descobrir a Austraacutelia tendo alcanccedilado a costa noroeste da ilha em 1519 Ver SILVA ldquoDiogo Pacheco capi-tatildeo-morrdquo pp 111-119

48 A tenccedila que eacute atribuiacuteda a Beatriz Soares viuacuteva de Diogo de Mendonccedila indica que este jaacute tinha falecido em Julho de 1516 Ver ANTT Chancelaria de D Manuel I livro 9 fl4v Pecircro de Mendonccedila fidalgo da Casa Real foi nomeado alcaide-mor do castelo e vila de Mouratildeo com todas as rendas direitos foros tributos liberdades e honras em consideraccedilatildeo aos serviccedilos prestados pelo seu pai Diogo de Mendonccedila em 14 de Julho de 1517 Ver ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 37 fl64 Ver tambeacutem FREIRE Brasotildees Vol III p 173

49 COSTA ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo pp 11-51

50 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento V Cap XX p 38 e Cap XXX p 56

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203176

Fernando Pessanha

ro de 1521 atesta a presenccedila de Mendonccedila e de seus homens em Goa51 tal como a Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) con-firma a sua passagem pela capital do Estado da Iacutendia no mesmo ano52

Seja como for a armada que partiu em 1519 levava ordens de D Manuel para o governador Diogo Lopes de Sequeira Determinava o monarca portuguecircs que o governador da Iacutendia escolhesse algueacutem da sua confianccedila para ir descobrir a Ilha do Ouro53 Por outras palavras D Manuel pretendia que se desse continuidade agraves exploraccedilotildees iniciadas por Diogo Pacheco Tal como podemos acompanhar no mesmo capiacutetulo da Deacutecada III da Aacutesia foi Diogo Lopes de Sequeira a escolher ldquoChristo-vatildeo de Mendoccedila filho de Pero de Mendoccedila Alcaide moacuter de Mouratildeordquo54 para tal missatildeo55 A documentaccedilatildeo mostra-nos que Cristoacutevatildeo se encontrava em Goa em Janeiro de 152156 e que partiu de Cochim em 4 de Maio de 152157 Se seguirmos a Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) apercebemo-nos de que a armada comandada por Mendonccedila e destinada a descobrir a Ilha do Ouro era constituiacuteda por quatro navios o navio Satildeo Cristoacutevatildeo em que o proacuteprio viajava a caravela Rosaacuterio co-mandada pelo capitatildeo Pedro Eanes Francecircs o bergantim Santo Antoacutenio comandado pelo capitatildeo Francisco Poles e um parau comandado pelo capitatildeo Gonccedilalo Homem58 Esta armada teraacute chegado agrave Ilha de Samatra por volta de Junho

51 Ver Conhecimento em que se declara que Diogo Lourenccedilo recebeu do feitor de Goa Francisco Cornivel 8 cruzados para mantimento da gente de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 93 Nordm150

52 Ver ldquoRelaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11)rdquo Documento publicado Documentos Sobre os Portugueses Vol VI p100

53 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I IV Cap III p 41254 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I IV Cap III p 413 O cronista poreacutem engana-se ao

referir o parentesco uma vez que o navegador incumbido de descobrir a Ilha do Ouro era Cristoacutevatildeo de Mendonccedila irmatildeo (e natildeo filho) de Pecircro de Mendonccedila

55 Note-se portanto que ao contraacuterio do que eacute defendido por Tricket ndash que tenta colocar esta expediccedilatildeo ao niacutevel da viagem de Vasco da Gama agrave Iacutendia - natildeo houve qualquer ordem real a nomear Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como capitatildeo da expediccedilatildeo destinada a descobrir a miacutetica ilha tendo sido o entatildeo governador da Iacutendia a escolher o capitatildeo para tal empreendimento Ver TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio pp 80-81

56 Conhecimento em que se declara que Diogo Lourenccedilo recebeu do feitor de Goa Fran-cisco Cornivel 8 cruzados para mantimento da gente de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 93 Nordm150

57 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila partiu acompanhado por Jorge de Brito que ia para as Mo-lucas onde deveria construir uma fortaleza e interceptar Fernatildeo de Magalhatildees Ver THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 97

58 Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) Documento publicado in Documentos Sobre os Portugueses Vol VI p 96

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 177

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

A primeira referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece aquando da sua passagem pelo porto de Pedir59 onde encontrou Rafael Catanho que entatildeo regressava de Acheacutem no extremo noroeste da ilha de Sama-tra60 Pouco tempo depois chegava agravequele porto de Pedir o que restava da armada de Jorge de Brito morto em combate juntamente com gran-de nuacutemero de portugueses apoacutes um confronto com as forccedilas do rei de Acheacutem61 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ao encontrar aquela armada desba-ratada e sem capitatildeo pretendeu colocaacute-la sob seu comando62 Poreacutem os poucos fidalgos sobreviventes natildeo o consentiram alegando que o co-mando deveria ser entregue a Antoacutenio de Brito o irmatildeo do falecido ca-pitatildeo que se deveria juntar agrave armada depois de consertar o seu navio63

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila rumou entatildeo a Paceacutem onde se deveria rea-bastecer de mantimentos para dar continuidade agrave viagem Todavia ao chegar a este ponto da narrativa diz-nos Joatildeo de Barros que ldquoo tempo natildeo era da monccedilatildeo pera onde cada hum havia de ir principalmente a de Christovatildeo de Mendoccedila que era jaacute passadardquo64 A acrescentar ao facto de o navegador ter perdido os ventos de monccedilatildeo acresce que o capitatildeo de Malaca Jorge de Albuquerque se encontrava em Paceacutem a construir uma fortaleza destinada a proteger uma feitoria cujo principal objecti-

59 Porto de grande importacircncia no comeacutercio do Iacutendico situado na parte nordeste da Ilha de Samatra O desenvolvimento de Pedir assim como o de Paceacutem relaciona-se estrei-tamente com a propagaccedilatildeo do islatildeo na Indoneacutesia ocidental Em 1509 Diogo Lopes de Sequeira assinou um tratado com o sultatildeo de Pedir e com a conquista de Malaca o seu principal comeacutercio passou a ser dirigido para esta cidade Sobre Pedir veja-se SS ldquoPedirrdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Portugueses (Dir Luis de Albu-querque) Vol II pp 870-872

60 O sultanato islacircmico de Acheacutem foi uma das entidades que mais se opocircs aos interesses dos portugueses estabelecidos em Malaca Fundado por um descendente do rei de Pedir transformou-se num reino poderoso que conquistou vaacuterias terras na ilha de Samatra e ao qual outros reinos pagavam tributo Ver GARCIA Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII pp 198-200

61 Este confronto com o reino de Acheacutem eacute tambeacutem narrado por Damiatildeo de Goacuteis e Fernatildeo Lopes de Castanheda Ver GOacuteIS Chronica IV Cap LXVII pp 566-567 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento V Cap LXV pp 107-109

62 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p546 Fernatildeo Lopes de Castanheda ainda que natildeo refira Cristoacutevatildeo revela que ldquocomo os nauios natildeo tinhatildeo capitatildees ouue alguns que se quiseram levantar coeles amp irse a diversas partes a fazer presasrdquo CASTA-NHEDA Histoacuteria do Descobrimento pp 107-110

63 Com efeito com a chegada de Antoacutenio de Brito foi apresentada uma provisatildeo de D Manuel I que o nomeava capitatildeo daquela armada em caso de falecimento de Jorge de Brito

64 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 548

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203178

Fernando Pessanha

vo consistia na recolha de pimenta que se produzia na regiatildeo65 Foi nes-se sentido que Jorge de Albuquerque determinou que todos os capitatildees que se encontravam em Paceacutem ali permanecessem em ldquofavor daquela fortaleza em quanto ella natildeo estava em estado pera se poder defenderrdquo66

Vemos deste modo que a expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo rumo agrave Ilha do Ouro foi interrompida em funccedilatildeo da necessidade que os portugueses sentiram em se fortificarem naquele ponto da ilha de Samatra Aliaacutes eacute o proacuteprio cronista a referir que a presenccedila de Cristoacutevatildeo e dos outros ca-pitatildees foi providencial para que a fortaleza se pudesse construir jaacute que os adversaacuterios os atacavam de forma sistemaacutetica Num desses ataques Melique Ladil um mouro que reivindicava para si o reino de Paceacutem aproximou-se da fortaleza com treze lancharas67 atrevendo-se a deitar fogo agrave fortificaccedilatildeo Foi entatildeo que Cristoacutevatildeo e os outros capitatildees saiacuteram em sua perseguiccedilatildeo desbaratando o adversaacuterio e confiscando-lhe todas as embarcaccedilotildees para serviccedilo agrave fortaleza Usando as palavras de Manuel de Faria e Sousa ldquoCristoval de Mendoccedila que bien fuerotilde menester para re-sistir y humillar despues a un orgulloso Moro que com algunos baxeles de remo infectava aquella marinardquo68 Finalmente terminada a empreitada Cristoacutevatildeo de Mendonccedila voltou a partir para Malaca69

Tal como Diogo Pacheco eacute possiacutevel que o navegador portuguecircs tenha contornado Samatra antes de partir para Malaca De acordo com Luiacutes Filipe Thomaz eacute provaacutevel que o navegador durante a viagem tenha descoberto uma ilha que deve ter tomado pela Ilha do Ouro ainda que constatado o erro a tenha baptizado com o nome que ainda hoje tem Ilha do Engano Seja como for temos notiacutecia de que a armada jaacute se en-contrava em Malaca em finais de 1521 onde a caravela Santa Maria do Rosaacuterio recebeu mantimentos em 10 de Dezembro para poder seguir

65 Esta fortaleza foi concebida para proteger uma feitoria cujo principal objectivo con-sistia na recolha da pimenta Poreacutem este enclave veio a revelar-se de difiacutecil manuten-ccedilatildeo devido aos ataques de que era alvo parte dos habitantes de Acheacutem Os portugue-ses acabariam por abandonar a fortaleza em Maio de 1523 natildeo tendo ficado qualquer testemunho iconograacutefico deste efeacutemero estabelecimento Castanheda poreacutem refere tratar-se de uma fortaleza ldquofeyta em breue tempo tempo com muros baluartes amp torres de madeyra amp cercada de caua () amp muyto bem artilhadardquo Ver CASTANHEDA Histoacute-ria do Descobrimento V Cap LXIIII pp 106-107 Damiatildeo de Goacuteis explica a conjun-tura poliacutetico-militar que levou agrave construccedilatildeo desta fortaleza Ver GOacuteIS Chronica IV Cap LXVI pp 564-566

66 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 548 67 Navios de remos entatildeo usados naquela zona do Oriente 68 SOUSA Asia Tomo I Pt III Cap V p 20269 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 549

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 179

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

para Paceacutem enquanto a nau Satildeo Cristoacutevatildeo apenas os recebeu em 10 de Janeiro de 1522 para depois seguir para Ormuz70 Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila natildeo teraacute tido tempo suficiente para chegar agrave Ilha do Ouro nesse ano de 1521 Pelo menos eacute o que podemos depreen-der quando Joatildeo de Barros refere a permanecircncia de Cristoacutevatildeo em Men-donccedila no auxiacutelio agrave construccedilatildeo da fortaleza de Paceacutem

Natildeo encontramos portanto elementos nas Deacutecadas da Aacutesia que nos permitam afirmar que este navegador portuguecircs teraacute prosseguido via-gem para o sul de Samatra e encontrado a miacutetica Ilha do Ouro identi-ficada com a Austraacutelia Ainda assim tecircm sido vaacuterios os historiadores nomeadamente Armando Cortesatildeo a defenderem natildeo haver motivo para se duvidar de que Cristoacutevatildeo teraacute seguido com a exploraccedilatildeo de que fora incumbido no ano seguinte aproveitando a monccedilatildeo do princiacutepio de 1522 Note-se que o proacuteprio Luiacutes de Albuquerque ainda que aves-so a esta teoria natildeo deixa de estranhar o facto de as Deacutecadas da Aacutesia natildeo referirem quais os serviccedilos especiais prestados por Mendonccedila que justifiquem a sua nomeaccedilatildeo para a rentaacutevel e apeteciacutevel capitania de Ormuz71 ldquotam viccediloacutesa e abastaacuteda q dizem os moradores della q o Mundo eacute hu aneacutel e Ormuz hua pedra precioacutesa engastaacuteda nellerdquo72 Como a seguir veremos a nomeaccedilatildeo para a capitania de Ormuz natildeo foi a uacutenica benesse com que o navegador foi agraciado apoacutes o seu regresso ao reino

52 A viagem de regresso ao reino

Segundo Trickett nada se sabe sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila nos seis anos posteriores agrave expediccedilatildeo que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro73 Como veremos esta ideia natildeo corresponde agrave realidade Sabe-se por exemplo que depois de o navegador ter estado em Ormuz e na Iacutendia regressou a Portugal em 1524 tendo-se detido em Marccedilo ou Maio desse ano na aguada de Saldanha na actual Aacutefrica do Sul tal como ficou atestado numa inscriccedilatildeo que aiacute foi encontrada

Com efeito decorria o ano de 1989 quando foi identificada uma ins-criccedilatildeo portuguesa em Golden Acre no sopeacute de Adderley Street na Cida-de do Cabo Desta inscriccedilatildeo fracturada sobreviveu um fragmento com 25

70 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 7671 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal p 25872 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada II II Cap II p 48 73 Cf TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio p 87

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203180

Fernando Pessanha

cm de largura por 10 cm de altura que foi recolhido pelo South African Museum Na altura um arqueoacutelogo do South African Museum pensou tratar-se de inscriccedilatildeo funeraacuteria de D Lourenccedilo de Almeida um navega-dor portuguecircs que numa viagem de regresso ao reino desembarcou na Baiacutea do Saldanha em Dezembro de 1509 de modo a castigar uns indiacutege-nas Poreacutem acabou por falecer nesse recontro juntamente com muitos outros elementos da sua tripulaccedilatildeo o que levou o referido arqueoacutelogo a interpretar o achado como uma inscriccedilatildeo funeraacuteria

Entretanto em Janeiro de 1990 o Prof Eric Axelon comunicou agrave Comissatildeo Nacional para as Comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portu-gueses a descoberta da inscriccedilatildeo Axelon adiantava poder tratar-se de um artefacto representativo da passagem de Duarte de Meneses pela Cidade do Cabo em 1524 Poreacutem a leitura e interpretaccedilatildeo de Maacuterio Jorge Barroca assistente de Arqueologia Medieval da Universidade do Porto veio a invalidar as suposiccedilotildees de Axelon e do arqueoacutelogo do South African Museum De acordo com Maacuterio Jorge Barroca este do-cumento epigraacutefico refere-se a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ainda que o estado de conservaccedilatildeo desta inscriccedilatildeo dificulte a interpretaccedilatildeo do seu conteuacutedo74 Luiacutes Filipe Thomaz que tambeacutem abordou esta inscriccedilatildeo faz uma leitura ligeiramente diferente mas que concorda quanto ao essencial do conteuacutedo75 De resto eacute interessante notar que para aleacutem dos supra citados autores apenas encontraacutemos referecircncias a este do-cumento epigraacutefico em Luiacutes de Albuquerque76 Antoacutenio Pereira Cardo-so77 e Joseacute Manuel Garcia78

De modo geral a inscriccedilatildeo identificada na Cidade do Cabo vem de-monstrar efectivamente que Cristoacutevatildeo empreendeu a viagem de re-gresso ao reino em 1524 sendo provaacutevel que tenha partido de Cochim logo no iniacutecio do ano Sabemos que se encontrava no sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio No entanto e ainda que esta epiacutegrafe se apresente como um elemento de grande interesse para a reconstituiccedilatildeo do percurso de Cristoacutevatildeo continuamos sem saber o que teraacute feito e por onde teraacute nave-gado entre os iniacutecios de 1522 quando recebeu mantimentos para seguir

74 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo pp 17-1875 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 7976 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-

tos Vol II pp 727-72877 CARDOSO A provaacutevel viagem pp10-1978 GARCIA O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash

1555 Nordm 8 p 98

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 181

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

para Ormuz e os iniacutecios de 1524 quando partiu da Iacutendia para regressar a Portugal Teraacute ele permanecido todo esse tempo em Ormuz Ou teraacute dado continuidade agraves exploraccedilotildees que lhe tinham sido incumbidas pelo governador Diogo Lopes de Sequeira

6 Rendas mercecircs e distinccedilotildees

61 Tenccedilas recebidas

Referimos haacute pouco natildeo ser correcta a ideia de nada se saber sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila nos seis anos posteriores agrave expediccedilatildeo que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro De facto para aleacutem da inscri-ccedilatildeo encontrada na Cidade do Cabo e que atesta a passagem de Mendon-ccedila pelo sul de Aacutefrica tambeacutem existem alguns documentos acondiciona-dos no Arquivo Nacional da Torre do Tombo que revelam informaccedilotildees interessantes para o periacuteodo correspondente agrave sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e 1527 Satildeo exactamente esses documentos que nos datildeo conta das rendas mercecircs e distinccedilotildees com que este navegador foi agraciado

Sabemos que em 4 de Julho de 1526 por exemplo D Joatildeo III mandou o almoxarife de Aveiro dar a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ldquofidalgo da sua casardquo 50000 reacuteis de tenccedila que ficaria assentada na alfacircndega da cidade de Lisboa79 Seria esta uma tenccedila generosa A resposta a esta questatildeo le-vou-nos a comparar este valor com as tenccedilas auferidas pelos seus fami-liares e por outros navegadores seus contemporacircneos Foi nesse sentido que constataacutemos que o ceacutelebre navegador e cosmoacutegrafo Duarte Pacheco Pereira depois de inuacutemeros serviccedilos prestados agrave Coroa recebeu uma tenccedila anual de 50000 reais nesse mesmo ano de 152680 Tristatildeo da Cu-nha ceacutelebre navegador e comandante naval portuguecircs nomeado por D Manuel para primeiro governador da Iacutendia em 150581 e pai de Nuno da Cunha Governador da Iacutendia entre 1528 e 153882 recebeu 40000 reacuteis

79 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57 80 JB de C ldquoPereira Duarte Pachecordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol V pp 52-

54 COSME ldquoOs homens de ciecircnciardquo pp 91-9781 E S ldquoCunha Tristatildeo da (1460-1540)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol II p 260

Sobre Tristatildeo da Cunha veja-se tambeacutem CARVALHO ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Manuelinardquo pp 199-226

82 E S ldquoCunha Nuno da (1487-1539)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol II pp 258-259 Sobre Nuno da Cunha veja-se tambeacutem CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538)

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203182

Fernando Pessanha

de tenccedila no mesmo ano de 152683 Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo rece-beu uma tenccedila generosa ao voltar ao reino Talvez Note-se que o pai de Cristoacutevatildeo Diogo de Mendonccedila alcaide-mor de Mouratildeo recebia os mesmos 50000 reacuteis de tenccedila em 150184 e em 151485 valor que o irmatildeo de Cristoacutevatildeo Pedro de Mendonccedila passou a auferir ao herdar a alcaidaria de Mouratildeo em 151786

Para aleacutem dos 50000 reacuteis de tenccedila eacute o proacuteprio Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila a mandar Jacome Bentes receber de Joatildeo de Azambuja 200000 reacuteis em virtude da outra procuraccedilatildeo que o dito Mendonccedila tinha feito para receber dos almoxarifes de Setuacutebal Aveiro e Coimbra87 Refira-se a este respeito que ainda no mesmo ano ordenou D Joatildeo III que o almoxari-fe de Aveiro pagasse ao jaacute referido Tristatildeo da Cunha 100000 reacuteis para pagamento de 250000 reacuteis da sua tenccedila88 ou que Vasco da Gama ao re-gressar ao reino depois de descobrir o caminho mariacutetimo para a Iacutendia recebeu uma renda de 300000 reacuteis89 Vemos deste modo que os rendi-mentos auferidos por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aquando do seu regresso ao reino natildeo foram propriamente modestos quando comparados com os do primeiro governador da Iacutendia ou com os do navegador e cosmoacute-grafo Duarte Pacheco Pereira

Por fim surge-nos um documento datado de 13 de Abril de 1527 e que tem por tiacutetulo Estabelecimento que Fernando Rodrigues como procu-rador de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila fidalgo da Casa do Rei fez em Fernando Gomes para cobrar todas as tenccedilas e moradias do seu dito constituinte90 Repare-se que de acordo com Joatildeo de Barros Cristoacutevatildeo de Mendonccedila voltou a partir para o Oriente em Marccedilo de 1527 Vemos portanto que o referido documento eacute ligeiramente posterior agrave partida do navegador e que este deixou instruccedilotildees ao seu procurador para que algueacutem cobrasse todas as suas tenccedilas e moradias De resto a alusatildeo agraves ldquotenccedilas e moradi-

83 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 135 Nordm4584 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 13 fl60 ANTT Chancelaria de D Manuel I

liv 8 fl29v85 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 53 Nordm18286 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 10 fl53 Repare-se que a partir de 1523 Pe-

dro de Mendonccedila passou a receber apenas 30000 reacuteis ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 109 Nordm131 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 131 Nordm226

87 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 136 Nordm10288 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 135 Nordm4989 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 4 fl 37 COSME ldquoOs Navegadores ndash Vasco da

Gamardquo p 14990 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 141 Nordm91

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 183

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

asrdquo vem reforccedilar a ideia de que os serviccedilos prestados por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente foram bem recompensados pelo monarca portu-guecircs Resta-nos perceber que serviccedilos teratildeo justificado estas recompen-sas assim como aquelas a que de seguida aludiremos

62 A capitania de Ormuz

Para aleacutem dos rendimentos atraacutes referidos os serviccedilos prestados por Mendonccedila foram igualmente agraciados com a nomeaccedilatildeo para a ren-taacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz para onde partiu em Marccedilo de 152791 Natildeo deixa de ser interessante a alusatildeo que cronistas como Joatildeo de Barros ou Frei Luiacutes de Sousa fazem aos Braganccedilas no momento em que referem esta nova partida de Cristoacutevatildeo para a Iacutendia Com efeito eacute possiacutevel que o duque de Braganccedila jaacute tivesse ligaccedilotildees aos Mendon-ccedilas ainda que o casamento de D Jaime com D Joana de Mendonccedila soacute se tenha realizado em 1520 Teresa Lacerda levanta a hipoacutetese de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ter sido indigitado para o Conselho Reacutegio por influecircncia do duque de Braganccedila do mesmo modo como foi nomea-do para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 e para capitatildeo de Ormuz em 152792 De facto natildeo eacute impossiacutevel No entanto somos da opiniatildeo de que natildeo seraacute apenas D Joana a estar na origem de uma eventual ligaccedilatildeo de D Jaime aos Mendonccedilas como tambeacutem a participaccedilatildeo do seu pai ldquoDiogo de mendonccedila alcaide mor de Mouratildeordquo e de ldquoPero de Mendonccedila seu filhordquo na conquista de Azamor comandada pelo proacuteprio duque em 151393

De facto natildeo sabemos se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teraacute sido indigitado para o Conselho Reacutegio para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquer-que de 1519 ou para a capitania de Ormuz por influecircncia do duque de Braganccedila Seja como for parece-nos que o contexto social e familiar de Cristoacutevatildeo teraacute pesado no momento em que o monarca procedeu a tais nomeaccedilotildees Basta recordarmos que Afonso Furtado bisavocirc de Cristoacute-vatildeo tinha sido nomeado capitatildeo do mar por D Joatildeo I em 138594 Afonso

91 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada IV II Cap III p 73 Ver tambeacutem CORREIA Lendas Vol III Pt I Cap XVI p 182 SOUSA Anais Vol II IV Cap I p 1 SOUSA Asia Tomo I Pt IV Cap II p 256

92 LACERDA Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social p 112 nota 375

93 GOacuteIS Chronica III Cap XLVI p 367 GAYO Nobiliaacuterio p 5394 FREIRE Brasotildees Vol III pp 170-171

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203184

Fernando Pessanha

Furtado de Mendonccedila avocirc de Cristoacutevatildeo para aleacutem de capitatildeo-mor do mar95 aparece referido como escrivatildeo da feitoria de Sofala96 Pedro de Mendonccedila tio de Cristoacutevatildeo tinha comandado uma nau numa frota de 12 navios que em 1504 partiu para a Iacutendia para garantir a seguranccedila das rotas comerciais do oceano Iacutendico e controlar o governante hostil de Calecut97 Natildeo se pode portanto considerar que os Mendonccedilas seri-am marginais ao projecto de expansatildeo ultramarina quando Cristoacutevatildeo aparece nomeado para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 ou para a capitania de Ormuz que deteve entre 1527 e 1531 ou 1532 ano da sua morte

Chegando a este ponto vale a pena determo-nos brevemente de modo a compreendermos o que era Ormuz e o que representava esta capitania no contexto do Impeacuterio Portuguecircs no Oriente Antes de mais conveacutem recordarmos que Ormuz era um importantiacutessimo entreposto mercantil em virtude da sua privilegiada localizaccedilatildeo geograacutefica na en-trada do Golfo Peacutersico Com efeito com a segunda conquista de Ormuz por Afonso de Albuquerque em 1515 e a consequente imposiccedilatildeo de um protectorado a Coroa portuguesa passou a arrecadar uma parcela con-sideraacutevel das receitas aduaneiras da proacutespera ilha transformando-se Ormuz no epicentro das actividades portuguesas no Golfo Peacutersico e no mar da Araacutebia A acreditar-se nas fontes quinhentistas era tal o movi-mento e a intensidade no porto de Ormuz que natildeo era invulgar ali en-contrar mais de 200 navios carregados de mercadorias De entre as mais importantes mercadorias que passavam pela cidade destacavam-se os cavalos oriundos da Araacutebia e da Peacutersia com destino aos portos da cos-ta ocidental da Iacutendia de onde eram encaminhados para os potentados indianos entre os quais grassavam guerras endeacutemicas Mas outros pro-dutos aacuterabes e persas faziam a riqueza da esteacuteril ilha de Djarucircn como as alcatifas aacuterabes as peacuterolas de Bahareacutem os tapetes a seda e a prata da Peacutersia o salitre e o enxofre da proacutepria ilha ao lado de mercadorias menos nobres como os frutos secos ou os cereais Dadas as circunstacircn-cias natildeo seraacute de estranhar que ao longo de todo o seacutec XVI a alfacircndega de Ormuz se tenha destacado como a mais rentaacutevel de todo o Estado da Iacutendia logo a seguir agrave de Goa Por outras palavras a cidade gerava

95 FARIA Livro de Linhagens p 27296 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada I Pt I V Cap III97 MALDONADO Relaccedilatildeo das Naos e Armadas da Iacutendia p 16 ANTT Corpo Cronoloacutegi-

co Pt II maccedilo 9 Nordm 35

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 185

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

um volume de receitas tatildeo consideraacutevel que a capitania de Ormuz aca-bou por se transformar numa das mais apetecidas de todo o Impeacuterio no Oriente Vemos deste modo que a atribuiccedilatildeo desta capitania natildeo soacute era motivo de prestiacutegio para o capitatildeo nomeado como tambeacutem fonte de grande riqueza98

Natildeo podemos deixar de notar que as Deacutecadas da Aacutesia ao referir-se agrave nomeaccedilatildeo de Mendonccedila para a capitania de Ormuz natildeo refere quais-quer serviccedilos especiais que justifiquem a atribuiccedilatildeo de tal benesse Ar-mando Cortesatildeo que levantou a hipoacutetese de ter sido Mendonccedila o pri-meiro europeu a chegar agrave Austraacutelia foi um dos investigadores a sugerir que esta nomeaccedilatildeo se devesse aos serviccedilos prestados pelo navegador99 Poreacutem e tal como temos afirmado ao longo deste trabalho natildeo existe qualquer documento que assegure o ecircxito de Mendonccedila relativamente agrave viagem que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro Omis-satildeo que segundo Jaime Cortesatildeo foi consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo entatildeo vigente Luiacutes de Albuquerque ainda que contraacuterio agrave teoria da descoberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que ldquodeve a sua celebridade a uma expediccedilatildeo que natildeo fezrdquo100 estranha no entanto o facto de Diogo do Couto natildeo mencionar os serviccedilos especiais que estiveram na origem da nomeaccedilatildeo do navegador para a capitania de Ormuz101 Esta distinccedilatildeo torna-se ainda mais suspeita se tivermos em consideraccedilatildeo que uma nomeaccedilatildeo desta natureza implicaria em meacutedia 10 anos de serviccedilos no Oriente102 durante os quais era acumu-lada a experiecircncia necessaacuteria para o desempenho de uma capitania Como vimos natildeo foi esse o caso de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Aliaacutes as nomeaccedilotildees para as capitanias mais importantes e lucrativas como Or-muz Goa ou Malaca natildeo soacute eram atribuiacutedas em reconhecimento pelos vaacuterios anos de serviccedilo no Oriente como tambeacutem recaiacuteam tendencial-mente sobre nobres com uma maior presenccedila na corte o que tambeacutem

98 LOUREIRO ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 pp 749-797 JPC ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 833-836

99 CORTESAcircO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158100 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo p 727101 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol IV

p 258102 Andreia Martins de Carvalho determinou os anos de serviccedilo de fidalgos no Oriente

antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania entre 1518 e 1544 CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 211 Foi nesse sentido que tendo em conta a infor-maccedilatildeo disponiacutevel sobre o percurso de 37 fidalgos estabelecemos a meacutedia de anos relativos a serviccedilos no Oriente antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203186

Fernando Pessanha

natildeo era o caso de Mendonccedila Ora se o navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro como explicar tatildeo generoso honroso e rentaacutevel reconhecimento Isto claro para aleacutem das compensaccedilotildees econoacutemicas atraacutes referidas e da entrega da comenda da Ordem de Cris-to que de seguida abordaremos De resto a capitania de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ficou marcada por episoacutedios dignos de registo como o au-xiacutelio prestado agrave frota de Simatildeo da Cunha assolada por uma epidemia contraiacuteda na campanha contra a ilha de Bahareacutem103 Refira-se aliaacutes que foi sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que recaiu a responsabilidade de escolher um agente para realizar a ceacutelebre missatildeo de espionagem que constituiu a viagem por terra de Ormuz a Portugal protagonizada por Antoacutenio Tenreiro entre Setembro de 1528 e Maio de 1529 - viagem cuja narrativa constitui um notaacutevel documento histoacuterico de natureza geograacutefica religiosa e antropoloacutegica104

63 A comenda da vila de Arenilha

Tal como anteriormente referimos deparaacutemo-nos com dois documen-tos que chamaram a nossa atenccedilatildeo aquando da investigaccedilatildeo para o ar-tigo ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo Trata-se de duas cartas em que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece referido como comendador da vila de Arenilha O primeiro documento data de 29 de Dezembro de 1529 e tem por tiacutetulo Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bregantim missiva em que o comendador de Arenilha culpa o marquecircs de Ayamonte pelos danos causados nas barcas dos habitantes da vila no-meadamente no referido bergantim chegando mesmo a mandar ldquopagar as barcas e () as perdas que receberam os donos delas e asy o dano que se fez na Arenilhardquo e mandar o marquecircs prender os responsaacuteveis que se encontrem nas suas terras105 Como se pode perceber o tom da missiva natildeo resulta propriamente abonatoacuterio para o nobre espanhol

103 SOUSA Anais Vol II IV Cap XXII p 106104 Como recompensa pelos serviccedilos prestados Antoacutenio Tenreiro recebeu da Coroa em

1533 uma tenccedila anual de 30000 reacuteis e o haacutebito de cavaleiro da Ordem de Cristo Ver TENREIRO amp AFONSO Viagens por terra da Iacutendia a Portugal p 18 RL ldquoTenreiro Antoacuteniordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II p 1023

105 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 Nordm45

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 187

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig1 - Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua

Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do

marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

Fig 1

Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o

marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203188

Fernando Pessanha

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig2 - Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar

creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Arenilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada destinada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila assim como o seu

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesahelliprdquo pp 86-82

Fig 2

Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao

comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Are-nilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada desti-nada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesardquo pp 86-82

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 189

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacute-vatildeo de Mendonccedila assim como o seu percurso como capitatildeo nas armadas da Iacutendia acreditamos encontrar-nos em condiccedilotildees para demonstrarmos que a comenda de Arenilha foi efectivamente atribuiacuteda ao navegador como reconhecimento pelos serviccedilos prestados no Oriente

Com efeito satildeo vaacuterios os indicadores que nos levam a afirmaacute-lo Em primeiro lugar o facto de natildeo se encontrar nas croacutenicas nem nas fontes coevas qualquer referecircncia a um homoacutenimo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a balizagem cronoloacutegica compreendida entre 1514 e 1532 periacuteodo em que aparece referido na documentaccedilatildeo Aliaacutes as da-tas discriminadas nos documentos que o referem como comendador de Arenilha corroboram a ideia de esta comenda ter sido atribuiacuteda aquando do seu regresso ao reino Eacute certo que natildeo sabemos a data em que Cristoacutevatildeo teraacute chegado a Portugal ainda que tenhamos notiacutecia da sua passagem pelo sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio de 1524 durante a viagem de regresso108 Poreacutem as tenccedilas atraacutes mencionadas indicam que se encontrava no reino em 1526 Uma vez que os documentos que o referem como comendador da vila da foz do Guadiana remontam a Dezembro de 1529 e Maio de 1530 anos em que o navegador jaacute se encontrava no Oriente eacute de supor que D Joatildeo III lhe teraacute atribuiacutedo a comenda aquando da sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e Marccedilo de 1527 ano em que voltou a partir para a Iacutendia jaacute na qualida-de de capitatildeo de Ormuz

Uma vez que natildeo se verificam homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila para a balizagem cronoloacutegica atraacutes referida e que as datas dos docu-mentos que o referem como comendador de Arenilha satildeo ligeiramente posteriores ao seu regresso ao reino resta-nos determinar se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila reunia as condiccedilotildees necessaacuterias para ser agraciado com uma comenda desta natureza Antes de mais importa referir que a vila de Arenilha e de Castro Marim eram as duas uacutenicas comendas da Ordem de Cristo no Algarve Curiosamente Isabel L Morgado de Sousa e Silva natildeo refere a comenda de Arenilha na dissertaccedilatildeo para doutoramento

108 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo Oceanos Nordm4 pp 17-18 ALBU-QUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 727-728 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 79

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203190

Fernando Pessanha

A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521)109 Poreacutem o documento publicado por Hugo Cavaco natildeo deixa margem para duacutevidas

ldquoNo Bispado do Algarve haacute somente duas Commendas da Ordem (de

Cristo) que satildeo das antigas e as seguintes

A Commenda e Alcaideria-moacuter de Castro Marim avaliou-se em quatro-

centos e cinquenta mil reacuteis no anno de 1608

A Commenda da Alcaideria-mograver de Santo Antonio de Arenilha que estaacute

junto a Castro Marim em cento e trinta mil reacuteis no anno de 1608

No Bispado do Algarve natildeo haacute nenhuma Commenda desta Ordem mais

que as duas velhas que valem quinhentos e oitenta mil reacuteis como se vecirc

da somma adianterdquo110

Aliaacutes soacute o facto de Arenilha ser comenda da Ordem de Cristo poderaacute explicar que o senhorio da vila tenha sido atribuiacutedo exclusivamente a cavaleiros da miliacutecia ao longo de toda a centuacuteria quinhentista111

Naturalmente que estas comendas implicavam desde logo a existecircn-cia de comendadores sobre os quais recaiacutea o senhorio das ditas vilas o que era compreendido como motivo de honra e de prestiacutegio social numa sociedade ainda bastante influenciada pelas antigas tradiccedilotildees medievo-feudais Comendas refira-se que compreendiam o direito agrave administra-ccedilatildeo da localidade e conferiam uma renda para sustentaccedilatildeo do comenda-dor beneficiaacuterio configurando um recurso para os encargos da proacutepria comenda No entanto a atribuiccedilatildeo de uma comenda representava um benefiacutecio atribuiacutedo a cavaleiros professos nas ordens militares como re-compensa por serviccedilos prestados Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Men-donccedila soacute poderia ser agraciado com a comenda de Arenilha caso tivesse sido investido na Ordem de Cristo Foi nesse sentido que procuraacutemos determinar se este navegador professou nesta Ordem Militar

Com efeito a dissertaccedilatildeo Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) de Joatildeo Maria Falcatildeo Pestana de Vascon-celos natildeo faz qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila enquanto cavaleiro da Ordem de Cristo Refere no entanto o seu avocirc Afonso Fur-

109 SILVA A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta110 Documento VIII BNLMicroformas F5040 Documento publicado por CAVACO Revisi-

tando p 52111 Cf PESSANHA Os 500 anos pp 57-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 191

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

tado de Mendonccedila comendador de Cardiga da Ordem de Cristo112 a sua irmatilde Margarida de Mendonccedila enquanto mulher de um comendador da mesma Ordem e o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo que recebeu o haacutebito da miliacutecia em 16 de Abril de 1514113 Ain-da que a referida dissertaccedilatildeo natildeo faccedila qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo enquanto membro desta Ordem vem demonstrar a ligaccedilatildeo de alguns dos seus familiares agrave mesma natildeo soacute na qualidade de cavaleiros como tambeacutem de comendadores

Poreacutem Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social de Teresa Lacerda assim como a jaacute referida tese A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) de Isabel L Morgado de Sousa e Silva jaacute identificam efectivamente Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como frei cavaleiro desta Ordem114 De acordo com a obra consultada Cavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVI Cristoacutevatildeo de Mendonccedila recebeu efectivamente o haacutebito da Ordem de Cristo em 16 de Abril de 1514115 exactamente na mesma data em que o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila tambeacutem foi in-vestido116 De resto o facto de Cristoacutevatildeo aparecer referido como mem-bro da miliacutecia numa provisatildeo em que D Joatildeo III manda o almoxarife de Aveiro pagar ldquoa Cristoacutevatildeo de Mendonccedila sua tenccedila deste ano 50000 reacuteis assentada na alfacircndega de Lisboa com o haacutebito de Cristordquo117 vem dissipar qualquer duacutevida que ainda subsistisse

Note-se que identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como cavaleiro da Ordem de Cristo natildeo pudemos deixar de reparar no silecircncio dos cronistas no momento de identificar os intervenientes no processo ex-pansionista com as suas respectivas filiaccedilotildees nas Ordens Militares De facto quer Joatildeo de Barros quer os cronistas que lhe sucederam natildeo fazem qualquer referecircncia agrave filiaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo em qualquer Ordem tal como de acordo com o que constataacutemos raramente o fazem em relaccedilatildeo a outros cavaleiros Esta evidecircncia pode parecer ainda mais estranha se tivermos em consideraccedilatildeo o forte envolvimento da Ordem

112 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Vol I p 377 FARIA Livro de Linhagens p 275

113 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares p 392 114 LACERDA Os Capitatildees das Armadas pp 120 e 228 SILVA A Ordem de Cristo p 336

SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma perspectiva de estudordquo apecircndice

115 FARIA ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo p 21116 FARIA ldquoCavaleirosrdquo p 21 Ver tambeacutem SILVA A Ordem de Cristo p 330117 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203192

Fernando Pessanha

de Cristo na Histoacuteria da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses Ordem Militar sublinhe-se que teve como governadores figuras in-contornaacuteveis da famiacutelia real como o infante D Henrique o infante D Fernando o rei D Manuel ou o rei D Joatildeo III118 Poreacutem haacute que ter em consideraccedilatildeo que documentos como Memoacuteria das Armadas ou o Livro de Lisuarte de Abreu natildeo satildeo fontes sobre qualquer uma das Ordens razatildeo pela qual se torna compreensiacutevel a ausecircncia de referecircncias mais completas relativamente aos intervenientes no processo de expansatildeo Aliaacutes a intenccedilatildeo subjacente agrave produccedilatildeo de obras como Histoacuteria do Des-cobrimento e da Conquista da Iacutendia natildeo passa por apresentar informa-ccedilatildeo detalhada sobre as individualidades que participaram no processo expansionista mas antes destacar o protagonismo reacutegio em todo este processo119

Por fim natildeo se verificando homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a cronologia abordada coincidindo as datas que o referem como comendador de Arenilha e identificado este navegador como cavalei-ro da Ordem de Cristo resta-nos perceber por que motivo lhe teraacute sido entregue a comenda desta vila na foz do Guadiana Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo que a fundaccedilatildeo de Are-nilha prende-se com a afirmaccedilatildeo da soberania poliacutetica e administra-tiva de D Manuel sobre um territoacuterio frequentado por castelhanos Eacute exactamente nesse contexto que em 1421 Castro Marim justificava o pedido de isenccedilatildeo de alguns encargos pelos ldquoconstantes trabalhos que os moradores tinham com os castelhanos que insistiam em vir pescar ao reinordquo120 Quer isto dizer que os castelhanos vinham pescar para as margens portuguesas natildeo pagando os devidos impostos agrave Coroa Aliaacutes a existecircncia do topoacutenimo de origem castelhana Arenilha121 ainda antes da elaboraccedilatildeo da Carta de Privileacutegio que manda proceder agrave construccedilatildeo

118 FONSECA ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo pp 321-347 Ver tambeacutem SILVA A Or-dem de Cristo pp 43-110

119 Cf SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristordquo pp 349-361120 VENTURA ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo p 608

ANTT Chancelaria de D Afonso V liv 2 fl30121 De acordo com o dicionaacuterio da Real Academia Espantildeola ldquoarenillardquo apresenta-se como

sinoacutenimo de ldquoarena menudardquo Ver Dicionario de la Real Academia Espantildeola Disponiacutevel em httplemaraeesdraeval=arenilla ndash Consultado dia 10 de Setembro de 2013 Note-se que quando em 1775 se pretendeu baptizar a nova vila iluminista com o nome de Vila Real de Santo Antoacutenio de Arenilha prontamente o Marquecircs de Pombal proibiu a utilizaccedilatildeo do nome ldquoArenilhardquo alegando que ldquoeacute uma palavra hespanhola e Villa Real uma povoaccedilatildeo portuguesardquo Ver OLIVEIRA Monografia p 71

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 193

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

da vila122 indica a ocupaccedilatildeo daquele areal na margem portuguesa da foz do Guadiana por populaccedilotildees de pescadores de origem castelhana Dadas as circunstacircncias seria do interesse estrateacutegico do monarca que esta comenda recaiacutesse sobre algueacutem experimentado na guarda da fronteira e que fizesse cumprir o pagamento dos devidos direitos aduaneiros Re-corde-se que Arenilha para aleacutem de comenda da Ordem de Cristo era uma vila de fronteira situada na margem portuguesa do Guadiana tal como o era a vila de Mouratildeo de onde Cristoacutevatildeo de Mendonccedila era natu-ral Como anteriormente referimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Men-donccedila o fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo que foi nomeado em 1476 alcaide-mor de Mouratildeo123 uma vila fortificada do Alentejo que guarda-va a fronteira portuguesa frente a Espanha O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas mostra-nos o castelo de Mouratildeo onde Cristoacutevatildeo teraacute crescido localizado no cimo de uma colina sobranceiro ao Guadiana124 Quer isto dizer que o ceacutelebre navegador era descendente de uma famiacutelia experimentada na guarda da fronteira face ao reino vizinho e familia-rizado com as actividades militares tributaacuterias e administrativas que lhe eram inerentes125 Assim sendo esta condiccedilatildeo de fronteiro a juntar ao facto de Cristoacutevatildeo ser cavaleiro da Ordem de Cristo teraacute resultado altamente pertinente no momento em que D Joatildeo III decidiu atribuir a comenda de Arenilha a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como recompensa pelos serviccedilos prestados

Por fim mas natildeo menos relevante teraacute sido a experiecircncia naval e militar adquirida por Mendonccedila nos mares do Oriente e direccionada para a foz do Guadiana sistematicamente ameaccedilada pelos ataques da pi-rataria magrebina126 Recorde-se que Mendonccedila no decurso das suas na-vegaccedilotildees na australaacutesia viu-se na necessidade de defender posiccedilotildees por-

122 O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas produzido por volta de 1509 jaacute indicava o topoacutenimo que veio a ser oficializado com a Carta de Privileacutegio de 12 de Fevereiro de 1513 Ver ARMAS O Livro das Fortalezas fl 1

123 FREIRE Brasotildees Vol III p 173124 ANTT Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Livro das Fortalezas si-

tuadas no Extremo de Portugal e Castela por Duarte de Armas escudeiro da Casa do Rei D Manuel I Nordm 159 fls 13-14 ARMAS O Livro das Fortalezas fls 13-14

125 Refira-se que foi durante o periacuteodo em que o pai de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila deteve a alcaidaria de Mouratildeo que o rei D Manuel obteve dos povos nas cortes de Lisboa de 1502 uma vultosa contribuiccedilatildeo que fez com que o castelo da vila fosse intervenciona-do por dois importantes arquitectos reacutegios os irmatildeos Francisco e Diogo de Arruda os mestres das obras reacutegias da comarca de entre o Tejo e o Guadiana Ver FARIA ldquoForti-ficaccedilotildees de Portugal na fronteira da Estremadura espanholardquo p 161

126 Sobre este assunto veja-se PESSANHA ldquoAtaques da piratariardquo pp 63-94

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203194

Fernando Pessanha

tuguesas dando combate aos adversaacuterios Recordemos a este respeito o ataque movido por Melique Ladil agrave fortaleza de Paceacutem entatildeo guardada por Mendonccedila e a maneira como o ldquomourordquo foi desbaratado e despo-jado das treze embarcaccedilotildees usadas no assalto127 Dadas as circunstacircnci-as seria um desperdiacutecio natildeo se aproveitar a experiecircncia deste capitatildeo numa altura em que se verificava um incremento da actividade piraacutetica nas costas do Algarve Esta actividade da pirataria na foz do Guadiana eacute aliaacutes referida por Bernardo Rodrigues em vaacuterias ocasiotildees nomeada-mente aquando da estadia da condessa de Redondo na vila de Arenilha em 1522128 ou quando Vasco Fernandes Ceacutesar - antigo adaiacutel de Azamor e capitatildeo da Armada do Estreito129 - foi incumbido embarcar o conde do Redondo D Joatildeo Coutinho na vila de Arenilha e escoltaacute-lo a Arzila130 Refira-se que a caminho da foz do Guadiana o navio de Vasco Fernan-des Ceacutesar foi atacado por duas naus tendo-se seguido um combate naval que resultou na explosatildeo de parte da alcaacuteccedilova atirando cinco homens ao mar entre os quais Vasco Fernandes que ficou gravemente ferido131

Vemos deste modo que a entrega da comenda de Arenilha a um in-diviacuteduo como Cristoacutevatildeo de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo descendente de uma famiacutelia de fronteiros e navegador experimentado no combate naval natildeo soacute era altamente pertinente como simboacutelica e manifestamente estrateacutegica para a defesa do extremo sudeste algarvio e da foz do Guadiana onde Mendonccedila deveria actuar com autoridade se-nhorial usufruindo dos seus bens e rendimentos E no caso da comenda de Arenilha Seriam generosos os seus rendimentos Sem duacutevida Se assim natildeo fosse o rei D Duarte natildeo teria doado ao infante D Henrique ainda em 25 de Setembro de 1433 a ldquodiacutesima nova de todo o pescado que pescarem quaisquer pessoas no mar do Monte Gordordquo132 Aliaacutes seraacute certa-

127 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III pp548-549128 RODRIGUES Anais de Arzila Tomo I Cap XC p 373129 GOacuteIS Chronica IV Cap LVII p 552 Sobre a Armada do Estreito veja-se GODINHO

ldquoA armada do estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo pp117-137130 RODRIGUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 PESSANHA Subsiacutedios p 100131 Segundo Bernardo Rodrigues os sobreviventes portugueses por pouco natildeo foram

executados Os que sobreviveram ao combate foram aprisionados e levados para Di-eppe Vasco Fernandes apesar de ferido acabou por escapar do cativeiro desfiando uma esteira e escapando por ela da torre onde se encontrava aprisionado RODRI-GUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 Ver tambeacutem PISSARRA ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Armada do Estreitordquo pp 144-145

132 SERRAtildeO Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fundaccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) p 65 OLIVEIRA Monografia p 73

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 195

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

mente o motivo econoacutemico que jaacute em 1555 estaraacute na origem da disputa pelo senhorio de Arenilha entre Jeroacutenimo de Melo fidalgo da Casa Real e alcaide-mor de Castro Marim e Luiacutes Leite frei cavaleiro da Ordem de Cristo e filho de Antoacutenio Leite o anterior alcaide133

Relativamente agrave defesa sabemos que Arenilha natildeo possuiacutea castelo torre ou qualquer fortificaccedilatildeo digna de registo ateacute 1542-1547 periacuteodo em que o alcaide Antoacutenio Leite daacute-nos conta das ldquotramqueyras e repai-rosrdquo construiacutedos sob o seu comando para a populaccedilatildeo se defender dos ataques da pirataria moura134 Ainda assim Mendonccedila estava obrigado a zelar pela defesa da vila independentemente de esta ter ou natildeo for-tificaccedilotildees para a proteger Se tivermos em consideraccedilatildeo que a sua no-meaccedilatildeo como comendador o obrigava agrave realizaccedilatildeo de um inventaacuterio ao patrimoacutenio da comenda (infelizmente desconhecido) e ao dever de fixar residecircncia na sua aacuterea de governo135 eacute muito provaacutevel que Cristoacutevatildeo se tenha detido durante algum tempo na vila da foz do Guadiana algures entre finais de 1524 aquando da sua chegada ao reino136 e Marccedilo de 1527 quando voltou a partir para o Oriente

Como anteriormente referimos os comendadores deviam fixar-se nas suas comendas para melhor procederem agrave sua defesa e melhor ren-tabilizarem as mesmas Assim sendo como eacute possiacutevel que os documen-tos que referem Cristoacutevatildeo como comendador de Arenilha sejam relati-vos aos anos em que este se encontrava na capitania de Ormuz Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo de que a principal obrigaccedilatildeo dos cavaleiros da Ordem de Cristo era a luta contra os inimigos da feacute devendo estar prontos para a guerra sempre que o Mestre os convocasse Uma vez que as situaccedilotildees de guerra eram cons-tantes nos territoacuterios de aleacutem-mar onde a presenccedila dos cavaleiros da Ordem se tornava necessaacuteria natildeo eacute de admirar que estes fossem dispen-sados da exigecircncia que os obrigava a permanecer nas suas comendas137

133 CAVACO Revisitando pp 18-20 PESSANHA Os 500 anos pp 72-73134 Carta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava

atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras e que era necessaacute-rio enviar-lhe socorro ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos p 99 PINTO ldquoIacutendice Analiacuteticordquo p 267

135 Cf SILVA A Ordem de Cristo pp 189-190136 Uma vez que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila se encontrava na Aacutefrica do Sul em Marccedilo ou Maio

de 1524 eacute de supor que a sua chegada ao reino se tenha dado ainda no mesmo ano137 SILVA A Ordem de Cristo p 191

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203196

Fernando Pessanha

Eacute nesse sentido que encontramos Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comen-dador de Arenilha em 1529 e 1530 anos em que jaacute se encontrava como capitatildeo na fortaleza de Ormuz De resto era nesta fortaleza que ainda se encontrava em 1531 ano em que piratas de Larache atacaram a vila da foz do Guadiana ldquoonde fizeacuteratildeo muito dano em navios que tomaacuteratildeo e den-tro da Barra de Aiamonte fizeacuteratildeo despejar a Arrinilha e a Montegordordquo138

7 Conclusatildeo

Com efeito muito se tem escrito (e especulado) sobre a alegada des-coberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila No entanto e indepen-dentemente dos resultados alcanccedilados pelo navegador nesta expediccedilatildeo parece indiscutiacutevel que foi generosamente recompensado aquando do seu regresso ao reino Resta-nos perceber porquecirc Jaacute Armando Cortesatildeo muito antes de Peter Trickett tinha levantado a hipoacutetese de a rentaacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz ter sido entregue a Mendonccedila como re-compensa pelos serviccedilos prestados na expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro139 Natildeo eacute conhecido poreacutem qualquer documento que ateste o ecircxito do navegador nesta expediccedilatildeo Omissatildeo que segundo investigadores como Armando Cortesatildeo Damiatildeo Peres ou Jaime Cortesatildeo teraacute sido consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo determinada pelas limitaccedilotildees de navega-ccedilatildeo estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas e com o contencioso entre Portugal e Espanha pela posse das Molucas140

O certo eacute que Mendonccedila ao regressar ao reino foi agraciado com uma das capitanias mais rentaacuteveis do impeacuterio no Oriente para aleacutem de ter recebido compensaccedilotildees econoacutemicas e aparecer referido em 1529 e 1530 como comendador da vila de Arenilha na foz do Guadiana Refira-se a este respeito que muitos capitatildees cavaleiros da Ordem de Cristo se lanccedilaram no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Poreacutem mui-to poucos chegaram a obter as tatildeo almejadas comendas141 Vemos deste

138 RODRIGUES Anais Tomo II Cap XXXV p 209139 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158140 CORTESAtildeO A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e

de D Joatildeo II Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 65-66 PERES ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na Histoacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II pp 17-21

141 Entre os afortunados que lograram obter este tipo de rendimento contam-se muito poucos D Joatildeo Pereira D Pedro de Castelo Branco Nuno Furtado Simatildeo Guedes entre outros Ver CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 216

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 197

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

modo que a atribuiccedilatildeo da comenda de Arenilha significou um motivo de grande honra e prestiacutegio para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Ora se este navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro resta-nos perceber porque motivo teraacute sido agraciado com compensaccedilotildees eco-noacutemicas a nomeaccedilatildeo para uma das mais rentaacuteveis capitanias de todo o Impeacuterio no Oriente e uma honrosa comenda da Ordem de Cristo Eacute caso para dizer que a problemaacutetica em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila con-tinua a levantar muitas duacutevidas e poucas certezas

Fontes e Bibliografia

1 Arquivos

ANTT

Chancelaria de D Afonso V Livro 2 fl30

Chancelaria de D Manuel I Livro 4 fl37 Livro 8 fl 29v Livro 9 fl4v Livro 10 fl53 Livro 13 fl60 Livro 37 fl64

Chancelaria de D Joatildeo III Livro 12 fl62

Chancelaria da Ordem de Cristo Livro13 fls375 vndash 379v

Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1

Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 15 Nordm47 Pt I maccedilo 44 Nordm45 Pt I maccedilo 45 Nordm9

Pt II maccedilo 51 Nordm26 Pt II maccedilo 53 Nordm182 Pt II maccedilo 93 Nordm150 Pt II maccedilo 109 Nordm131 Pt II maccedilo 131 Nordm226 Pt II maccedilo 134 Nordm57 Pt II maccedilo 135 Nordm45 Pt II maccedilo 135 Nordm49 Pt II maccedilo 136 Nordm102 Pt II maccedilo 141 Nordm91

Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Nordm159

Casa Real Cartoacuterio da Nobreza Livro Nordm20 - Livro da Nobreza e da per-feiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal fl XII

2 Fontes Impressas

ABREU Lisuarte de Livro de Lisuarte de Abreu (Reproduccedilatildeo do manuscrito existente na Perpont Morgan Library de Nova York) Comissatildeo Nacional para as comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portugueses Lisboa 1992

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203198

Fernando Pessanha

ARMAS Duarte de Livro das Fortalezas Arquivo Nacional da Torre do TomboInapa Lisboa 1997

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada III Na Regia Officina Typografica Lisboa MDCCLXXVII

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada IV Imprensa Nacional Casa da Moe-da Lisboa 2001

BORGES Joseacute Calvatildeo Borges Livro do Armeiro-Mor Academia Portugue-sa de HistoacuteriaEdiccedilotildees Inapa Lisboa 2000

CASCAtildeO Joatildeo ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevorardquo Uma Jornada ao Alentejo e ao Algarve A altera-ccedilatildeo das linhas de forccedila da poliacutetica nacional Livros Horizonte Lisboa 1984 pp 77-136

CASTANHEDA Fernatildeo Lopes de Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses 2 vols Lello amp Irmatildeos Editores Porto 1979

CORREIA Gaspar Lendas da Iacutendia Tomo III na Typographia da Acade-mia Real das Sciencias Lisboa 1862

Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI Centro de Estudos Histoacutericos Ultramarinos Lis-boa 1969

GAYO Felgueiras Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX Ediccedilatildeo de Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Arauacutejo Affonso Braga 1939

GUEDES Liacutevio da Costa Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) Arquivo Histoacuterico Militar Lisboa 1988

GOacuteIS Damiatildeo de Chonica do Serenissimo Senhor Rei D Manoel Lisboa 1749

JOSEacute Frei Joatildeo de Satildeo ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 21-132

RODRIGUES Bernardo Anais de Arzila 2 vols Academia das Sciecircncias de Lisboa Lisboa 1915-1919

SARRAtildeO Henrique Fernandes ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 133-174

SOUSA Frei Luiacutes de Anais de D Joatildeo III 2 vols Saacute da Costa Lisboa 1928

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 199

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

SOUSA Manuel de Faria e Asia Portvgvesa Officina de Henrique Valen-te de Oliveira impressor del Rey NS Lisboa 1666

TENREIRO Antoacutenio amp AFONSO Mestre Viagens por terra da Iacutendia a Por-tugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica Mem-Martins 1991

3 Estudos

ALBUQUERQUE Luiacutes de (dir) Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-tos Portugueses 2 vols Ciacuterculos de Leitores Lisboa 1994

ALMEIDA Fortunato de Histoacuteria de Portugal Vols III-VII Promoclube Lisboa sd

CARDOSO Antoacutenio Pereira A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila agrave Austraacutelia em 1522 Academia da Marinha Lisboa 1994

CARVALHO Andreia Martins de ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Ma-nuelinardquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia ndash Actas do Coloacutequio Internacional Joatildeo Paulo Oliveira e Costa amp Viacutetor Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 199-226

CARVALHO Andreia Martins de Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria dos Descobrimen-tos e da Expansatildeo Portuguesa (seacuteculos XV-XVIII) apresentado agrave UNL Lisboa 2006

CAVACO Hugo ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio (Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Arte no Algarve) Cacircmara Muni-cipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1987

CAVACO Hugo Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha Cacircmara Munici-pal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1995

CORREIA Joseacute Eduardo Horta Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina Faup Publicaccedilotildees Porto 1997

CORREIA Joseacute Eduardo Horta O Algarve em Patrimoacutenio Gente Singular Editora Olhatildeo 2010

CORTESAtildeO Armando ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Aus-tralaacutesia Macau Japatildeo)rdquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939

CORTESAtildeO Jaime ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal (Dir Damiatildeo Peres) Vol IV Portucalense Editora Barce-los 1932 pp 9-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203200

Fernando Pessanha

CORTESAtildeO Jaime A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e de D Joatildeo II Lisboa 1960

COSME Joatildeo ldquoOs homens de ciecircnciardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 91-97

COSME Joatildeo ldquoOs Navegadores ndash Vasco da Gamardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 145-152

COSTA Joatildeo Paulo Oliveira e ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo A Nobreza e a Expansatildeo Estudos Biograacuteficos Joatildeo Paulo Oliveira e Costa (coord) Patrimoacutenia Cascais 2000 pp 11-51

DOMINGUES Francisco Contente ldquoOs portugueses descobriram a Aus-traacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Si-motildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Univer-sidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 163-172

DOMINGUES Francisco Contente Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 Circulo dos Leitores Lisboa 2016

FARIA Antoacutenio Machado de Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI Acade-mia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 1956

FARIA Antoacutenio Machado de ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo Separata da revista Arqueologia e Histoacuteria vol VI Lisboa 1955

FARIA Miguel Figueira de ldquoFortificaccedilotildees de Portugal na fronteira da Es-tremadura espanholardquo Anais ndash Seacuterie Histoacuteria Vol II Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 1995 pp 156-187

FONSECA Luiacutes Adatildeo da ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo A Alta No-breza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 322-347

FREIRE Anselmo Braamcamp Brasotildees da Sala de Sintra 3 vols Impren-sa da Universidade de Coimbra Coimbra 1921-1930

GARCIA Joseacute Manuel Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII QuidNovi Lisboa 2009

GARCIA Joseacute Manuel O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash 1555 Nordm 8 QuidNovi Vila do Conde 2012

GODINHO Rui Landeiro ldquoA Armada do Estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (Seacuteculos XV-XIX) Ediccedilotildees Cul-turais da Marinha Lisboa 2003 pp 117-137

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 3: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 167

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

diligente foram dados agrave estampa a partir segunda metade do seacutec XX2 Posto isto verifiquemos em traccedilos muito gerais o estado do conheci-mento acerca desta vila e das suas gentes

A Vila de Santo Antoacutenio Santo Antoacutenio de Arenilha ou Santo Antoacute-nio da Foz do Guadiana satildeo designaccedilotildees relativas agrave mesma povoaccedilatildeo e que chegam a aparecer em simultacircneo no seacutec XVI Foi ao abrigo de um plano de natureza econoacutemica poliacutetica estrateacutegica e militar que a vila de Arenilha foi fundada enquanto couto de homiziados junto agrave foz do Gua-dianaldquoasy e da maneira que ho he a nossa Villa de Crastro Marymrdquo3 Eacute a Carta de Privileacutegio concedida por D Manuel em 8 de Fevereiro de 1513 e posteriormente confirmada por D Joatildeo III em 25 de Maio de 1526 a assinalar a fundaccedilatildeo da ldquonossa Villa darenilha que hora mandamos fazer e adifycarrdquo No entanto este topoacutenimo jaacute aparece referido em O Livro das Fortalezas4 produzido por Duarte de Armas em 1509 De resto a existecircncia de um topoacutenimo de origem castelhana - e que nos daacute conta da

2 De entre estes trabalhos destacam-se desde logo Ataiacutede de OLIVEIRA Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacutenio (obra originalmente publicada em 1908) Seguindo o criteacuterio cronoloacutegico segue-se de MAGALHAtildeES Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI (obra que natildeo obstante tratar a Histoacuteria econoacutemica do Algarve quinhentista na sua generalidade natildeo esquece a antiga vila de Arenilha) CORREIA Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina (dis-sertaccedilatildeo para doutoramento defendida em 1983 Refira-se que o compendioso corpus documental desta obra vem demonstrar que apesar de Arenilha se ter despovoado no decurso do seacutec XVII nunca deixou de existir do ponto de vista institucional con-tinuado a Cacircmara de Arenilha em funccedilotildees ateacute agrave fundaccedilatildeo de Vila Real de Santo An-toacutenio em 1776) CAVACO Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha (o primeiro trabalho exclusivamente dedicado agrave Histoacuteria da antiga vila de Arenilha) CAVACO ldquoEcos da Expansatildeo Portuguesa em Marrocosrdquo (trabalho que apresenta interessantes novida-des relativamente agrave publicaccedilatildeo de 1985) GRILO ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo CORREIA O Algarve em Patrimoacutenio (obra onde tambeacutem eacute tratada Arenilha) PESSANHA Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha (livro que visou a impres-cindiacutevel actualizaccedilatildeo de conhecimentos sobre o tema por ocasiatildeo do V centenaacuterio da fundaccedilatildeo da vila) PESSANHA ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Are-nilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo pp 77-95 PESSANHA Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Deste entatildeo a identificaccedilatildeo de documentos aparentemente ineacuteditos tem levado agrave publicaccedilatildeo de novas interpreta-ccedilotildees nos oacutergatildeos de comunicaccedilatildeo locais e nas Jornadas de Histoacuteria de Ayamonte o que tem permitindo que lenta e paulatinamente se vaacute constituindo do puzzle do nosso conhecimento sobre a Histoacuteria de Arenilha Ver PESSANHA ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo p 21 PESSANHA ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo p 21 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo

3 ANTT Chancelaria de D Joatildeo III liv 12 fl62 Documento publicado por CAVACO Re-visitando pp 27-28 GRILO ldquoNa margem direitardquo p32 PESSANHA Os 500 anos p 43

4 ANTT Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Nordm159 PT-TT-CF-159_m0020 ARMAS O Livro das Fortalezas fl1

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203168

Fernando Pessanha

natureza geomorfoloacutegica do espaccedilo - ainda antes da elaboraccedilatildeo do do-cumento que manda proceder agrave construccedilatildeo da vila pode perfeitamente indicar a ocupaccedilatildeo sazonal daquele areal na margem portuguesa da foz do Guadiana por populaccedilotildees de pescadores de origem espanhola5

Com efeito as fontes documentais relativas a Arenilha natildeo satildeo muito abundantes o que acaba por representar um entrave agrave investigaccedilatildeo his-toriograacutefica Ainda assim natildeo satildeo de todo inexistentes Para aleacutem de al-guns documentos que podemos encontrar no Arquivo Nacional da Torre do Tombo existem tambeacutem referecircncias agrave antiga vila nalgumas croacutenicas da centuacuteria quinhentista e que tecircm vindo a ser publicadas ao longo das uacuteltimas deacutecadas Nesse sentido assumem especial destaque as Visitaccedilotildees da Ordem de Santiago6 de 1555 a Relaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevora7 redigida pelo cronista Joatildeo Cascatildeo em 1574 a Corografia do Reino do Algarve8 de 1577 de Frei Joatildeo de Satildeo Joseacute e a Histoacuteria do Reino do Algarve de 1600 de Henrique Fernandes Sarratildeo9

Resumidamente sabemos que a vila foi um pequeno aglomerado de vocaccedilatildeo mariacutetima que encontrava na pesca a sua principal fonte de subsistecircncia e que se via constantemente ameaccedilada pelos ataques da pirataria magrebina10 Contava apenas com quinze ou dezasseis vizi-nhos (fogos) em 1574 aquando da passagem de D Sebastiatildeo pela foz do Guadiana11 Ora se tivermos em consideraccedilatildeo que durante o seacuteculo XVI cada vizinho era constituiacutedo por uma meacutedia de quatro ou cinco pes-soas12 rapidamente chegamos agrave conclusatildeo que por entatildeo a populaccedilatildeo

5 PESSANHA Os 500 anos pp 34-38 PESSANHA ldquoV Centenaacuteriordquo pp 79-816 CAVACO ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago pp242-246 LAMEIRA amp SANTOS Visita-

ccedilatildeo de Igrejas Algarvias pp 105-1087 CASCAtildeO ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevo-

rardquo pp77-1368 JOSEacute ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo pp 21-1329 SARRAtildeO ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo pp 133-174 Arenilha aparece referenciada

noutras obras da Idade Moderna como Massai ldquoDescripccedilatildeo do Reyno do Algarverdquo in GUEDES Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) pp 89-234 No entanto e uma vez que a balizagem a que nos propusemos incide concretamente no seacutec XVI optaacutemos por concentrar-nos ex-clusivamente nas fontes quinhentistas

10 PESSANHA ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcai-de-mor de Arenilhardquo pp 63-94

11 CASCAtildeO ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeordquo p 12012 Joaquim Romero de Magalhatildees por exemplo defende que o coeficiente multiplicador

para determinar o nuacutemero de habitantes de um ldquovizinhordquo ou ldquofogordquo deveraacute ser de 45 Ver MAGALHAtildeES Para o Estudo pp 245-246 nota 2

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 169

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

de Arenilha situar-se-ia entre as 60 e as 80 pessoas ou seja a vila nunca deixou de ser um lugar escassamente povoado mesmo durante o auge da sua densidade demograacutefica13

As fontes jaacute por si escassas pouco ou nada nos dizem acerca dos arenilhenses que povoaram a margem portuguesa da foz do Guadiana Sendo a populaccedilatildeo constituiacuteda por homiziados e gente humilde que en-contrava na pesca o seu sustento torna-se particularmente difiacutecil se-guir-lhes o rasto biograacutefico Se exceptuarmos as informaccedilotildees facultadas pelo processo da inquisiccedilatildeo de Jorge da Cunha um natural ldquodo lugar de Santo Antonio de Arenilha Reyno do Algaruerdquo14 as uacutenicas informaccedilotildees de que dispomos satildeo relativas agrave ldquogente nobre da governanccedila da terrardquo15 que como Romero de Magalhatildees bem observou mais natildeo era que uma segunda categoria do estado da nobreza16 Eacute exactamente nesse sentido que o presente artigo pretende apresentar um comendador da antiga vila de Arenilha ateacute agora desconhecido

2 Os senhores de Arenilha alcaides e comendadores

Torna-se difiacutecil seguirmos o rasto dos senhores de Arenilha As croacute-nicas quinhentistas atraacutes referidas e restante documentaccedilatildeo avulsa referem os alcaides da vila da foz do Guadiana a partir de meados do seacutec XVI mais precisamente a partir de 20 de Agosto de 154217 Foram estas fontes que permitiram a Ataiacutede de Oliveira baseando-se particu-larmente nos escritos de Frei Joatildeo de Satildeo Joseacute identificar os alcaides Antoacutenio Leite e Luiacutes Leite em Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacutenio18 publicada pela primeira vez em 1908 Posteriormente em 1995 Hugo Cavaco identificou o alcaide Antoacutenio Leite de Vascon-celos em Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha19 sendo que os outros donataacuterios posteriormente identificados jaacute ultrapassam a balizagem cronoloacutegica do seacutec XVI

13 PESSANHA Os 500 anos pp 54-5514 ANTT Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1 PESSANHA

Os 500 anos pp 104-107 PESSANHA ldquoAyamonte nos processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombordquo pp 12-28

15 MAGALHAtildeES Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 pp 41-49 MAGALHAtildeES ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo pp 274-277

16 MAGALHAtildeES Concelhos e organizaccedilatildeo p 12817 ANTT Chancelaria da Ordem de Cristo lv13 fls 375 vndash379 v18 OLIVEIRA Monografia p 7219 CAVACO Revisitando p 18

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203170

Fernando Pessanha

Com efeito a nomeaccedilatildeo destes alcaides pressupotildee a existecircncia - ou a intenccedilatildeo - de uma vila acastelada ou fortificada e de facto sabemos que a vila de Arenilha foi fortificada com ldquotramqueyras e repairos () de madeyrardquo nos uacuteltimos anos da primeira metade do seacutec XVI20 Aliaacutes se a principal funccedilatildeo do alcaide-mor para aleacutem das funccedilotildees administrativas e judiciais era a defesa e a guarda do castelo (que devia sustentar ateacute agrave morte)21 a referecircncia ao ldquoalcaide moorrdquo presente na Carta de Privileacutegio de 8 de Fevereiro de 1513 poderaacute deixar antever a intenccedilatildeo do monarca em fortificar a nova vila da foz do Guadiana

No entanto e ainda que natildeo sejam conhecidas referecircncias aos alcai-des de Arenilha ateacute 1542 temos de ter em consideraccedilatildeo que Castro Ma-rim e a nova vila da foz do Guadiana apresentavam-se como as duas uacuteni-cas comendas da Ordem de Cristo no Algarve Naturalmente que estas comendas implicavam desde logo a existecircncia de comendadores sobre os quais recaiacutea o senhorio das ditas vilas o que era compreendido como motivo de honra e de prestiacutegio social numa sociedade ainda bastante influenciada pelas antigas tradiccedilotildees medievo-feudais Estas comendas enquanto benefiacutecio atribuiacutedo a cavaleiros professos nas ordens milita-res como recompensa por serviccedilos prestados compreendiam o direito agrave administraccedilatildeo da localidade e conferiam uma renda para sustentaccedilatildeo do comendador beneficiaacuterio configurando um recurso para os encar-gos da proacutepria comenda

3 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila

No decurso da investigaccedilatildeo para o artigo ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo22 deparaacutemo-nos com dois documen-

20 Carta de Antoacutenio Leite a D Joatildeo III em 16 de Novembro de1542 - 1547 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos pp 99-101 No ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo o documento aparece com a seguinte designaccedilatildeo ldquoCarta a D Joatildeo III sobre a necessidade de fortificar a foz do Guadiana para fazer face aos ataques de mouros Santo Antoacutenio da Foz do Guadianardquo Ver PINTO ldquoIacuten-dice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo p 267 Jaacute o Arquivo Nacional da Torre do Tombo apresenta o mesmo documento como ldquoCarta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras q que era necessaacuterio enviar-lhe socorrordquo Ver ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

21 Segundo as Ordenaccedilotildees Manuelinas ldquoincorria na pena de traiccedilatildeo aquele que por sua cul-pa o perdesserdquo Ver ALMEIDA Histoacuteria de Portugal Vol VII p 25 PESSANHA As Guarni-ccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar p 97

22 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesardquo pp 86-82

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 171

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

tos ineacuteditos que desde logo chamaram a nossa atenccedilatildeo Trata-se de duas cartas em que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece referido como comenda-dor de Arenilha Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de anaacutelise no referido artigo Importa no entanto debruccedilarmo-nos sobre a identidade do comendador de Arenilha Cris-toacutevatildeo de Mendonccedila Quem era Qual o seu contexto familiar e social

Com efeito quer o nome quer a cronologia (deacutecada de 20 do seacutec XVI) remete-nos automaticamente para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila capitatildeo das armadas da Iacutendia em 1519 e 152723 capitatildeo-mor da armada destinada a descobrir a Ilha do Ouro em 152224 e capitatildeo de Ormuz entre 1527 e 1531153225 Por outras palavras o ceacutelebre navegador portuguecircs que de acordo com as teorias de autores como Kenneth McIntyre26 ou Peter Trickett27 foi o descobridor da Austraacutelia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Aliaacutes a teoria da descoberta da Austraacutelia pelos portugue-ses natildeo eacute propriamente novidade tendo vindo a consubstanciar-se des-

23 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap IX p 325 Ver tambeacutem GOacuteIS Chronica do Serenissimo Senhor Rei D Manuel IV Cap XXXVI p 515 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses V Cap XV p 27 SOUSA Asia Tomo I Pt III Cap III p 190

24 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I IV Cap III pp 412-413 Ver tambeacutem Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) Documento publicado in Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI p 96

25 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada IV II Cap III p 73 Ver tambeacutem CORREIA Lendas da Iacutendia Vol III Pt I Cap XVI p 182 SOUSA Anais de D Joatildeo III Vol II IV Cap I p 1 SOUSA Asia Tomo I Pt IV Cap II p 256

26 O australiano Kenneth McIntyre professor de Literatura Direito e aficionado da His-toacuteria Portuguesa foi um dos mais ceacutelebres defensores da teoria da descoberta da Aus-traacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila McIntyre defendeu esta teoria com base na anaacutelise de um mapa luso-francecircs de 1538 o designado Mapa Delfim que apresenta uma Ilha de Java bastante semelhante agrave Austraacutelia McIntyre refere ainda um navio de mogno afundado alegadamente pertencente agrave frota de Mendonccedila ainda que os destroccedilos da embarcaccedilatildeo nunca tenham sido encontrados A embarcaccedilatildeo teria encalhado nas dunas perto de Warrnambool estado de Victoria a oeste de Melbourne Dois caccedilado-res de focas afirmaram terem visto os seus destroccedilos em 1836 Actualmente o barco eacute considerado uma lenda e a sua histoacuteria eacute celebrada em Warrnambool nomeada-mente no festival portuguecircs que aiacute tem lugar de dois em dois anos Ver McINTYRE A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha portuguesa 250 anos antes do Comandante Cook 1989

27 Mais recentemente em 2007 o livro do jornalista Peter Trickett reavivou a tese da descoberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Desta vez com base na interpre-taccedilatildeo do mapa do Atlas Vallard de 1547 cujo original estaacute condicionado na Biblioteca de Huntington e onde dois destes mapas apresentam vaacuterios topoacutenimos da costa aus-traliana escritos em portuguecircs Ver TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os na-vegadores portugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Austraacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203172

Fernando Pessanha

de a segunda metade do seacutec XIX a partir dos estudos do Visconde de Santareacutem28 e do historiador inglecircs Henry Major29 De resto nem o nome de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila enquanto alegado descobridor da Austraacutelia nem a data de 1522 em que se teraacute dado a descoberta satildeo novidade para a historiografia nacional uma vez que jaacute anteriormente foram defendi-dos por investigadores como Armando Cortesatildeo30 Duarte Leite31 e Antoacute-nio Pereira Cardoso32

Natildeo eacute poreacutem intenccedilatildeo do presente artigo discutir as teorias destes au-tores nomeadamente a teoria de Trickett Para tal jaacute o Museu da Ciecircncia da Universidade de Coimbra realizou em 2008 um coloacutequio e uma mesa-redonda com historiadores de reconhecida credibilidade De resto as ac-tas deste encontro foram publicadas com o tiacutetulo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens33 publicaccedilatildeo em que de acordo com a comunida-de cientiacutefica a exploraccedilatildeo da costa australiana pelos portugueses parece indiscutiacutevel dado os diversos indiacutecios como os achados arqueoloacutegicos34 os relatos orais de aboriacutegenes35 ou a cartografia da escola de Dieppe36

Poreacutem e independentemente das teorias construiacutedas em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e da alegada descoberta da Austraacutelia interessa-nos determinar se este navegador e capitatildeo de Ormuz eacute o mesmo Cristoacute-vatildeo de Mendonccedila comendador de Arenilha

28 SILVA ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo p 111 nota 1

29 ALBUQUERQUE ldquoMajor Richard Henry (1818-1891)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 141-142 Ver tambeacutem DOMINGUES ldquoOs portugueses descobriram a Austraacute-liardquo pp 163-164 Refira-se que este uacuteltimo por exemplo atribuiu a descoberta do con-tinente austral a Antoacutenio de Abreu em 1512 e que segundo o historiador Joseacute Manuel Azevedo e Silva ldquoDiogo Pacheco foi o primeiro portuguecircs a descobrir a Austraacutelia em 1519rdquo Ver SILVA ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-morrdquo p 119 Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoViagens e misteacuterios nos mares da Indoneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo p 19

30 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Australaacutesia Macau Japatildeo)rdquo pp 156-159

31 LEITE Histoacuteria dos Descobrimentos pp 329-33432 CARDOSO A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila agrave Austraacutelia em 152233 Os resultados deste coloacutequio concluem que a ldquoteserdquo de Trickett aponta algumas pistas

de trabalho interessantes ainda que careccedila de fundamentaccedilatildeo cientiacutefica Ver SIMOtildeES amp DOMINGUES (coord) Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens

34 Referimo-nos concretamente a peccedilas de artilharia destroccedilos de um navio potes de barro antigas ruiacutenas em pedra um elmo de ferro e um projeacutectil de canhatildeo TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio pp 47-57 199-202 203-204 210-211 242-250

35 TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio pp 67-6936 Trata-se da localidade francesa onde foi feito o Atlas de Vallard que serviu de base ao

livro de Trickett Ver TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio p 29

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 173

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

4 Contexto social e familiar

Com efeito o Cristoacutevatildeo de Mendonccedila das croacutenicas portuguesas do seacutec XVI era filho de Diogo de Mendonccedila alcaide-mor de Mouratildeo e ana-del dos besteiros37 Segundo Damiatildeo de Goacuteis Diogo de Mendonccedila acom-panhou o duque de Braganccedila na conquista de Azamor38 Casou com D Brites Soares de Albergaria filha bastarda de Fernatildeo Soares de Alber-garia senhor do Prado39 De acordo com as genealogias avanccediladas pelo Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal ou pelo Livro de Linhagens do seacuteculo XVI Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teve seis irmatildeos Pecircro de Mendonccedila alcai-de-mor de Mouratildeo Antoacutenio de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo Isabel de Mendonccedila Margarida de Mendonccedila Joana de Mendonccedila mu-lher de D Jaime duque de Braganccedila e Francisco de Mendonccedila40

Quanto a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila sabemos que desposou Maria de Vilhena filha de Sancho de Tovar e de sua mulher Guiomar da Silva ainda que o casal natildeo tenha tido descendecircncia O Livro do Armeiro-Mor publicado em 1509 apresenta o brasatildeo de armas dos Mendonccedilas41 numa altura em que o alcaide-mor de Mouratildeo era Diogo de Mendonccedila pai de Cristoacutevatildeo Tambeacutem o Livro da Nobreza e da perfeiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal de Antoacutenio Godinho escrivatildeo da Cacircmara de D Joatildeo III apresenta o brasatildeo de armas dos Mendonccedilas numa altura em que o alcaide-mor de Mouratildeo era Pedro de Mendonccedila irmatildeo de Cristoacutevatildeo Refira-se que Antoacutenio Go-dinho teraacute comeccedilado a produzir este trabalho entre o fim do reinado de D Manuel e o iniacutecio do reinado de D Joatildeo III periacuteodo que corresponde agrave presenccedila de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente e agrave sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro42 Pouco se sabe acerca da infacircncia e juventude de Cristoacutevatildeo

37 Diogo de Mendonccedila tinha sido fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo e foi alcaide-mor de Mouratildeo pelo menos desde 1476 ateacute falecer em 1516 altura em que o cargo passou para o seu filho Pecircro de Mendonccedila Ver FREIRE Brasotildees da Sala de Sintra Vol III p 173 Por sua vez Pecircro de Mendonccedila fidalgo da Casa Real foi nomeado alcaide-mor do castelo e vila de Mouratildeo com todas as rendas direitos foros tributos liberdades e honras em consideraccedilatildeo aos serviccedilos prestados pelo seu pai Diogo de Mendonccedila em 14 de Julho de 1517 Ver ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 37

38 GOacuteIS Chronica III Cap XLVI p 36739 GAYO Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX p 5340 GAYO Nobiliaacuterio Tomo XX p 53 FARIA Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI p 275 41 BORGUES Livro do Armeiro-Mor p 6042 Cf ANTT Livro da Nobreza e da perfeiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres li-

nhagens dos reinos e senhorios de Portugal f12 (on line) httpdigitarqarquivosptdetailsid=4162407

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203174

Fernando Pessanha

Seja como for aparece referido na documentaccedilatildeo como fidalgo da Casa Real logo em 151443 Se seguirmos as Deacutecadas da Aacutesia apercebemo-nos de que ldquoChristovatildeo de Mendoccedila filho de Diogo de Mendoccedila Alcaide moacuter de Mouratildeordquo44 partiu para o Oriente em 23 de Abril de 1519 na armada de Jorge de Albuquerque composta por 14 naus Sigamos portanto o rasto biograacutefico deixado por Cristoacutevatildeo durante a sua primeira viagem ao Oriente

5 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente

51 A expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro

Decorria o ano de 1519 quando Diogo Lopes de Sequeira o entatildeo go-vernador da Iacutendia incumbiu Diogo Pacheco de obter informaccedilotildees sobre a existecircncia da miacutetica Ilha do Ouro que segundo Joatildeo de Barros se en-contrava ldquoao Sul daquela Ilha Ccedilamatrardquo45 Ao chegar ao porto de Barus Diogo Pacheco tomou conhecimento da existecircncia de uma outra ilha si-tuada a sudeste do arquipeacutelago indoneacutesio para a qual os naturais do reino de Barus jaacute tinham navegado de modo a obterem ouro atraveacutes do trato com os indiacutegenas46 Recolhidas estas informaccedilotildees Diogo Pacheco navegou ao largo da Ilha de Samatra seguindo para sudeste Poreacutem ao chegar ao estreito de Sunda entre Samatra e Java optou por navegar para noroeste circum-navegando Samatra ateacute chegar a Malaca

No ano seguinte em 1520 o mesmo navegador tentou repetir a ex-ploraccedilatildeo Poreacutem ao aproximar-se do porto de Barus foi recebido por navios hostis que lhe recusaram a entrada com tiros de bombarda Quanto a Diogo Pacheco acabaria por vir a falecer num recontro com os habitantes de uma ilha depois de o seu navio encalhar na costa47

43 Provisatildeo para se pagar a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila fidalgo da Casa 7 mil reacuteis de mora-dia ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 51 Nordm26

44 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap IX p 325 Ver tambeacutem GOacuteIS Chronica IV Cap XXXVI p 515 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento p 27 SOUSA Asia Tomo I Pt III Cap III p 190 ABREU Livro de Lisuarte de Abreu fl37v-38

45 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap III p268 O mito em torno da existecircncia de uma ilha do Ouro tem origem numa confusatildeo antiga com a ilha de Samatra onde se produzia ouro em Minangkabau facto que os portugueses conheceram Sobre a miacutetica Ilha do Ouro veja-se THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o descobrimento da Austraacuteliardquo pp 66-73

46 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap III p 26947 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap III p 273 Ver tambeacutem SOUSA Asia

Tomo I Pt III Cap III p187 Diz-nos Joatildeo de Barros que Diogo Pacheco ao ver-se com vento que lhe era contraacuterio e face aos indiacutegenas que se metiam nas suas em-

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 175

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

Como anteriormente referimos foi em 23 de Abril de 1519 que D Manuel enviou para a Iacutendia uma armada comandada por Jorge de Albuquerque onde seguia ldquoChristovatildeo de Mendoccedila filho de Diogo de Mendoccedila Alcaide moacuter de Mouratildeordquo Identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como um dos capitatildees desta armada resta-nos perceber porque moti-vo se teraacute aventurado no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Como anteriormente vimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Mendoccedila alcaide-mor de Mouratildeo Poreacutem natildeo era filho primogeacutenito Quer isto dizer que com o falecimento do seu pai a alcaidaria de Mouratildeo passou para o seu irmatildeo mais velho Pecircro de Mendonccedila em 151748 Eacute nesse sentido que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teraacute encontrado nos serviccedilos na Iacutendia o meio de ascensatildeo social para os filhos secundogeacutenitos uma vez que estes dependiam da generosidade reacutegia para a obtenccedilatildeo de tenccedilas e mercecircs que permitissem a manutenccedilatildeo ou elevaccedilatildeo do seu estatuto Vemos deste modo que a participaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo no projecto expan-sionista portuguecircs se apresentava perfeitamente normal se tivermos em conta o seu contexto social e familiar assim como a sua condiccedilatildeo de secundogeacutenito49

Ao seguirmos a croacutenica de Joatildeo de Barros apercebemo-nos de que a armada que partiu para a Iacutendia em 1519 apenas chegou ao destino em 1520 por motivo de invernada em Moccedilambique onde Cristoacutevatildeo se dete-ve com outros sete capitatildees50 De resto uma carta datada de 22 de Janei-

barcaccedilotildees para lhe tomarem o navio tentou evadir-se para o alto mar Poreacutem ao ser arrastado para a costa acabou por vir a perecer tendo apenas escapado alguns malaios que atravessaram a ilha ateacute agrave costa norte onde encontraram embarcaccedilatildeo para os levar a Malaca As uacuteltimas palavras de Joatildeo de Barros sobre esta viagem tem levado alguns autores a considerarem que Diogo Pacheco teraacute perecido na Austraacute-lia ldquoesta perdiccedilatildeo de Diogo Pacheco que foi o primeiro dos nossos que perdeo a vida por descubrir esta Ilha do ourordquo Eacute o caso de Trickett ou de Joseacute Manuel Azevedo e Silva para quem Diogo Pacheco foi o primeiro portuguecircs a descobrir a Austraacutelia tendo alcanccedilado a costa noroeste da ilha em 1519 Ver SILVA ldquoDiogo Pacheco capi-tatildeo-morrdquo pp 111-119

48 A tenccedila que eacute atribuiacuteda a Beatriz Soares viuacuteva de Diogo de Mendonccedila indica que este jaacute tinha falecido em Julho de 1516 Ver ANTT Chancelaria de D Manuel I livro 9 fl4v Pecircro de Mendonccedila fidalgo da Casa Real foi nomeado alcaide-mor do castelo e vila de Mouratildeo com todas as rendas direitos foros tributos liberdades e honras em consideraccedilatildeo aos serviccedilos prestados pelo seu pai Diogo de Mendonccedila em 14 de Julho de 1517 Ver ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 37 fl64 Ver tambeacutem FREIRE Brasotildees Vol III p 173

49 COSTA ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo pp 11-51

50 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento V Cap XX p 38 e Cap XXX p 56

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203176

Fernando Pessanha

ro de 1521 atesta a presenccedila de Mendonccedila e de seus homens em Goa51 tal como a Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) con-firma a sua passagem pela capital do Estado da Iacutendia no mesmo ano52

Seja como for a armada que partiu em 1519 levava ordens de D Manuel para o governador Diogo Lopes de Sequeira Determinava o monarca portuguecircs que o governador da Iacutendia escolhesse algueacutem da sua confianccedila para ir descobrir a Ilha do Ouro53 Por outras palavras D Manuel pretendia que se desse continuidade agraves exploraccedilotildees iniciadas por Diogo Pacheco Tal como podemos acompanhar no mesmo capiacutetulo da Deacutecada III da Aacutesia foi Diogo Lopes de Sequeira a escolher ldquoChristo-vatildeo de Mendoccedila filho de Pero de Mendoccedila Alcaide moacuter de Mouratildeordquo54 para tal missatildeo55 A documentaccedilatildeo mostra-nos que Cristoacutevatildeo se encontrava em Goa em Janeiro de 152156 e que partiu de Cochim em 4 de Maio de 152157 Se seguirmos a Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) apercebemo-nos de que a armada comandada por Mendonccedila e destinada a descobrir a Ilha do Ouro era constituiacuteda por quatro navios o navio Satildeo Cristoacutevatildeo em que o proacuteprio viajava a caravela Rosaacuterio co-mandada pelo capitatildeo Pedro Eanes Francecircs o bergantim Santo Antoacutenio comandado pelo capitatildeo Francisco Poles e um parau comandado pelo capitatildeo Gonccedilalo Homem58 Esta armada teraacute chegado agrave Ilha de Samatra por volta de Junho

51 Ver Conhecimento em que se declara que Diogo Lourenccedilo recebeu do feitor de Goa Francisco Cornivel 8 cruzados para mantimento da gente de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 93 Nordm150

52 Ver ldquoRelaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11)rdquo Documento publicado Documentos Sobre os Portugueses Vol VI p100

53 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I IV Cap III p 41254 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I IV Cap III p 413 O cronista poreacutem engana-se ao

referir o parentesco uma vez que o navegador incumbido de descobrir a Ilha do Ouro era Cristoacutevatildeo de Mendonccedila irmatildeo (e natildeo filho) de Pecircro de Mendonccedila

55 Note-se portanto que ao contraacuterio do que eacute defendido por Tricket ndash que tenta colocar esta expediccedilatildeo ao niacutevel da viagem de Vasco da Gama agrave Iacutendia - natildeo houve qualquer ordem real a nomear Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como capitatildeo da expediccedilatildeo destinada a descobrir a miacutetica ilha tendo sido o entatildeo governador da Iacutendia a escolher o capitatildeo para tal empreendimento Ver TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio pp 80-81

56 Conhecimento em que se declara que Diogo Lourenccedilo recebeu do feitor de Goa Fran-cisco Cornivel 8 cruzados para mantimento da gente de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 93 Nordm150

57 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila partiu acompanhado por Jorge de Brito que ia para as Mo-lucas onde deveria construir uma fortaleza e interceptar Fernatildeo de Magalhatildees Ver THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 97

58 Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) Documento publicado in Documentos Sobre os Portugueses Vol VI p 96

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 177

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

A primeira referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece aquando da sua passagem pelo porto de Pedir59 onde encontrou Rafael Catanho que entatildeo regressava de Acheacutem no extremo noroeste da ilha de Sama-tra60 Pouco tempo depois chegava agravequele porto de Pedir o que restava da armada de Jorge de Brito morto em combate juntamente com gran-de nuacutemero de portugueses apoacutes um confronto com as forccedilas do rei de Acheacutem61 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ao encontrar aquela armada desba-ratada e sem capitatildeo pretendeu colocaacute-la sob seu comando62 Poreacutem os poucos fidalgos sobreviventes natildeo o consentiram alegando que o co-mando deveria ser entregue a Antoacutenio de Brito o irmatildeo do falecido ca-pitatildeo que se deveria juntar agrave armada depois de consertar o seu navio63

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila rumou entatildeo a Paceacutem onde se deveria rea-bastecer de mantimentos para dar continuidade agrave viagem Todavia ao chegar a este ponto da narrativa diz-nos Joatildeo de Barros que ldquoo tempo natildeo era da monccedilatildeo pera onde cada hum havia de ir principalmente a de Christovatildeo de Mendoccedila que era jaacute passadardquo64 A acrescentar ao facto de o navegador ter perdido os ventos de monccedilatildeo acresce que o capitatildeo de Malaca Jorge de Albuquerque se encontrava em Paceacutem a construir uma fortaleza destinada a proteger uma feitoria cujo principal objecti-

59 Porto de grande importacircncia no comeacutercio do Iacutendico situado na parte nordeste da Ilha de Samatra O desenvolvimento de Pedir assim como o de Paceacutem relaciona-se estrei-tamente com a propagaccedilatildeo do islatildeo na Indoneacutesia ocidental Em 1509 Diogo Lopes de Sequeira assinou um tratado com o sultatildeo de Pedir e com a conquista de Malaca o seu principal comeacutercio passou a ser dirigido para esta cidade Sobre Pedir veja-se SS ldquoPedirrdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Portugueses (Dir Luis de Albu-querque) Vol II pp 870-872

60 O sultanato islacircmico de Acheacutem foi uma das entidades que mais se opocircs aos interesses dos portugueses estabelecidos em Malaca Fundado por um descendente do rei de Pedir transformou-se num reino poderoso que conquistou vaacuterias terras na ilha de Samatra e ao qual outros reinos pagavam tributo Ver GARCIA Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII pp 198-200

61 Este confronto com o reino de Acheacutem eacute tambeacutem narrado por Damiatildeo de Goacuteis e Fernatildeo Lopes de Castanheda Ver GOacuteIS Chronica IV Cap LXVII pp 566-567 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento V Cap LXV pp 107-109

62 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p546 Fernatildeo Lopes de Castanheda ainda que natildeo refira Cristoacutevatildeo revela que ldquocomo os nauios natildeo tinhatildeo capitatildees ouue alguns que se quiseram levantar coeles amp irse a diversas partes a fazer presasrdquo CASTA-NHEDA Histoacuteria do Descobrimento pp 107-110

63 Com efeito com a chegada de Antoacutenio de Brito foi apresentada uma provisatildeo de D Manuel I que o nomeava capitatildeo daquela armada em caso de falecimento de Jorge de Brito

64 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 548

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203178

Fernando Pessanha

vo consistia na recolha de pimenta que se produzia na regiatildeo65 Foi nes-se sentido que Jorge de Albuquerque determinou que todos os capitatildees que se encontravam em Paceacutem ali permanecessem em ldquofavor daquela fortaleza em quanto ella natildeo estava em estado pera se poder defenderrdquo66

Vemos deste modo que a expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo rumo agrave Ilha do Ouro foi interrompida em funccedilatildeo da necessidade que os portugueses sentiram em se fortificarem naquele ponto da ilha de Samatra Aliaacutes eacute o proacuteprio cronista a referir que a presenccedila de Cristoacutevatildeo e dos outros ca-pitatildees foi providencial para que a fortaleza se pudesse construir jaacute que os adversaacuterios os atacavam de forma sistemaacutetica Num desses ataques Melique Ladil um mouro que reivindicava para si o reino de Paceacutem aproximou-se da fortaleza com treze lancharas67 atrevendo-se a deitar fogo agrave fortificaccedilatildeo Foi entatildeo que Cristoacutevatildeo e os outros capitatildees saiacuteram em sua perseguiccedilatildeo desbaratando o adversaacuterio e confiscando-lhe todas as embarcaccedilotildees para serviccedilo agrave fortaleza Usando as palavras de Manuel de Faria e Sousa ldquoCristoval de Mendoccedila que bien fuerotilde menester para re-sistir y humillar despues a un orgulloso Moro que com algunos baxeles de remo infectava aquella marinardquo68 Finalmente terminada a empreitada Cristoacutevatildeo de Mendonccedila voltou a partir para Malaca69

Tal como Diogo Pacheco eacute possiacutevel que o navegador portuguecircs tenha contornado Samatra antes de partir para Malaca De acordo com Luiacutes Filipe Thomaz eacute provaacutevel que o navegador durante a viagem tenha descoberto uma ilha que deve ter tomado pela Ilha do Ouro ainda que constatado o erro a tenha baptizado com o nome que ainda hoje tem Ilha do Engano Seja como for temos notiacutecia de que a armada jaacute se en-contrava em Malaca em finais de 1521 onde a caravela Santa Maria do Rosaacuterio recebeu mantimentos em 10 de Dezembro para poder seguir

65 Esta fortaleza foi concebida para proteger uma feitoria cujo principal objectivo con-sistia na recolha da pimenta Poreacutem este enclave veio a revelar-se de difiacutecil manuten-ccedilatildeo devido aos ataques de que era alvo parte dos habitantes de Acheacutem Os portugue-ses acabariam por abandonar a fortaleza em Maio de 1523 natildeo tendo ficado qualquer testemunho iconograacutefico deste efeacutemero estabelecimento Castanheda poreacutem refere tratar-se de uma fortaleza ldquofeyta em breue tempo tempo com muros baluartes amp torres de madeyra amp cercada de caua () amp muyto bem artilhadardquo Ver CASTANHEDA Histoacute-ria do Descobrimento V Cap LXIIII pp 106-107 Damiatildeo de Goacuteis explica a conjun-tura poliacutetico-militar que levou agrave construccedilatildeo desta fortaleza Ver GOacuteIS Chronica IV Cap LXVI pp 564-566

66 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 548 67 Navios de remos entatildeo usados naquela zona do Oriente 68 SOUSA Asia Tomo I Pt III Cap V p 20269 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 549

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 179

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

para Paceacutem enquanto a nau Satildeo Cristoacutevatildeo apenas os recebeu em 10 de Janeiro de 1522 para depois seguir para Ormuz70 Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila natildeo teraacute tido tempo suficiente para chegar agrave Ilha do Ouro nesse ano de 1521 Pelo menos eacute o que podemos depreen-der quando Joatildeo de Barros refere a permanecircncia de Cristoacutevatildeo em Men-donccedila no auxiacutelio agrave construccedilatildeo da fortaleza de Paceacutem

Natildeo encontramos portanto elementos nas Deacutecadas da Aacutesia que nos permitam afirmar que este navegador portuguecircs teraacute prosseguido via-gem para o sul de Samatra e encontrado a miacutetica Ilha do Ouro identi-ficada com a Austraacutelia Ainda assim tecircm sido vaacuterios os historiadores nomeadamente Armando Cortesatildeo a defenderem natildeo haver motivo para se duvidar de que Cristoacutevatildeo teraacute seguido com a exploraccedilatildeo de que fora incumbido no ano seguinte aproveitando a monccedilatildeo do princiacutepio de 1522 Note-se que o proacuteprio Luiacutes de Albuquerque ainda que aves-so a esta teoria natildeo deixa de estranhar o facto de as Deacutecadas da Aacutesia natildeo referirem quais os serviccedilos especiais prestados por Mendonccedila que justifiquem a sua nomeaccedilatildeo para a rentaacutevel e apeteciacutevel capitania de Ormuz71 ldquotam viccediloacutesa e abastaacuteda q dizem os moradores della q o Mundo eacute hu aneacutel e Ormuz hua pedra precioacutesa engastaacuteda nellerdquo72 Como a seguir veremos a nomeaccedilatildeo para a capitania de Ormuz natildeo foi a uacutenica benesse com que o navegador foi agraciado apoacutes o seu regresso ao reino

52 A viagem de regresso ao reino

Segundo Trickett nada se sabe sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila nos seis anos posteriores agrave expediccedilatildeo que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro73 Como veremos esta ideia natildeo corresponde agrave realidade Sabe-se por exemplo que depois de o navegador ter estado em Ormuz e na Iacutendia regressou a Portugal em 1524 tendo-se detido em Marccedilo ou Maio desse ano na aguada de Saldanha na actual Aacutefrica do Sul tal como ficou atestado numa inscriccedilatildeo que aiacute foi encontrada

Com efeito decorria o ano de 1989 quando foi identificada uma ins-criccedilatildeo portuguesa em Golden Acre no sopeacute de Adderley Street na Cida-de do Cabo Desta inscriccedilatildeo fracturada sobreviveu um fragmento com 25

70 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 7671 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal p 25872 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada II II Cap II p 48 73 Cf TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio p 87

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203180

Fernando Pessanha

cm de largura por 10 cm de altura que foi recolhido pelo South African Museum Na altura um arqueoacutelogo do South African Museum pensou tratar-se de inscriccedilatildeo funeraacuteria de D Lourenccedilo de Almeida um navega-dor portuguecircs que numa viagem de regresso ao reino desembarcou na Baiacutea do Saldanha em Dezembro de 1509 de modo a castigar uns indiacutege-nas Poreacutem acabou por falecer nesse recontro juntamente com muitos outros elementos da sua tripulaccedilatildeo o que levou o referido arqueoacutelogo a interpretar o achado como uma inscriccedilatildeo funeraacuteria

Entretanto em Janeiro de 1990 o Prof Eric Axelon comunicou agrave Comissatildeo Nacional para as Comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portu-gueses a descoberta da inscriccedilatildeo Axelon adiantava poder tratar-se de um artefacto representativo da passagem de Duarte de Meneses pela Cidade do Cabo em 1524 Poreacutem a leitura e interpretaccedilatildeo de Maacuterio Jorge Barroca assistente de Arqueologia Medieval da Universidade do Porto veio a invalidar as suposiccedilotildees de Axelon e do arqueoacutelogo do South African Museum De acordo com Maacuterio Jorge Barroca este do-cumento epigraacutefico refere-se a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ainda que o estado de conservaccedilatildeo desta inscriccedilatildeo dificulte a interpretaccedilatildeo do seu conteuacutedo74 Luiacutes Filipe Thomaz que tambeacutem abordou esta inscriccedilatildeo faz uma leitura ligeiramente diferente mas que concorda quanto ao essencial do conteuacutedo75 De resto eacute interessante notar que para aleacutem dos supra citados autores apenas encontraacutemos referecircncias a este do-cumento epigraacutefico em Luiacutes de Albuquerque76 Antoacutenio Pereira Cardo-so77 e Joseacute Manuel Garcia78

De modo geral a inscriccedilatildeo identificada na Cidade do Cabo vem de-monstrar efectivamente que Cristoacutevatildeo empreendeu a viagem de re-gresso ao reino em 1524 sendo provaacutevel que tenha partido de Cochim logo no iniacutecio do ano Sabemos que se encontrava no sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio No entanto e ainda que esta epiacutegrafe se apresente como um elemento de grande interesse para a reconstituiccedilatildeo do percurso de Cristoacutevatildeo continuamos sem saber o que teraacute feito e por onde teraacute nave-gado entre os iniacutecios de 1522 quando recebeu mantimentos para seguir

74 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo pp 17-1875 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 7976 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-

tos Vol II pp 727-72877 CARDOSO A provaacutevel viagem pp10-1978 GARCIA O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash

1555 Nordm 8 p 98

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 181

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

para Ormuz e os iniacutecios de 1524 quando partiu da Iacutendia para regressar a Portugal Teraacute ele permanecido todo esse tempo em Ormuz Ou teraacute dado continuidade agraves exploraccedilotildees que lhe tinham sido incumbidas pelo governador Diogo Lopes de Sequeira

6 Rendas mercecircs e distinccedilotildees

61 Tenccedilas recebidas

Referimos haacute pouco natildeo ser correcta a ideia de nada se saber sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila nos seis anos posteriores agrave expediccedilatildeo que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro De facto para aleacutem da inscri-ccedilatildeo encontrada na Cidade do Cabo e que atesta a passagem de Mendon-ccedila pelo sul de Aacutefrica tambeacutem existem alguns documentos acondiciona-dos no Arquivo Nacional da Torre do Tombo que revelam informaccedilotildees interessantes para o periacuteodo correspondente agrave sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e 1527 Satildeo exactamente esses documentos que nos datildeo conta das rendas mercecircs e distinccedilotildees com que este navegador foi agraciado

Sabemos que em 4 de Julho de 1526 por exemplo D Joatildeo III mandou o almoxarife de Aveiro dar a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ldquofidalgo da sua casardquo 50000 reacuteis de tenccedila que ficaria assentada na alfacircndega da cidade de Lisboa79 Seria esta uma tenccedila generosa A resposta a esta questatildeo le-vou-nos a comparar este valor com as tenccedilas auferidas pelos seus fami-liares e por outros navegadores seus contemporacircneos Foi nesse sentido que constataacutemos que o ceacutelebre navegador e cosmoacutegrafo Duarte Pacheco Pereira depois de inuacutemeros serviccedilos prestados agrave Coroa recebeu uma tenccedila anual de 50000 reais nesse mesmo ano de 152680 Tristatildeo da Cu-nha ceacutelebre navegador e comandante naval portuguecircs nomeado por D Manuel para primeiro governador da Iacutendia em 150581 e pai de Nuno da Cunha Governador da Iacutendia entre 1528 e 153882 recebeu 40000 reacuteis

79 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57 80 JB de C ldquoPereira Duarte Pachecordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol V pp 52-

54 COSME ldquoOs homens de ciecircnciardquo pp 91-9781 E S ldquoCunha Tristatildeo da (1460-1540)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol II p 260

Sobre Tristatildeo da Cunha veja-se tambeacutem CARVALHO ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Manuelinardquo pp 199-226

82 E S ldquoCunha Nuno da (1487-1539)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol II pp 258-259 Sobre Nuno da Cunha veja-se tambeacutem CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538)

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203182

Fernando Pessanha

de tenccedila no mesmo ano de 152683 Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo rece-beu uma tenccedila generosa ao voltar ao reino Talvez Note-se que o pai de Cristoacutevatildeo Diogo de Mendonccedila alcaide-mor de Mouratildeo recebia os mesmos 50000 reacuteis de tenccedila em 150184 e em 151485 valor que o irmatildeo de Cristoacutevatildeo Pedro de Mendonccedila passou a auferir ao herdar a alcaidaria de Mouratildeo em 151786

Para aleacutem dos 50000 reacuteis de tenccedila eacute o proacuteprio Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila a mandar Jacome Bentes receber de Joatildeo de Azambuja 200000 reacuteis em virtude da outra procuraccedilatildeo que o dito Mendonccedila tinha feito para receber dos almoxarifes de Setuacutebal Aveiro e Coimbra87 Refira-se a este respeito que ainda no mesmo ano ordenou D Joatildeo III que o almoxari-fe de Aveiro pagasse ao jaacute referido Tristatildeo da Cunha 100000 reacuteis para pagamento de 250000 reacuteis da sua tenccedila88 ou que Vasco da Gama ao re-gressar ao reino depois de descobrir o caminho mariacutetimo para a Iacutendia recebeu uma renda de 300000 reacuteis89 Vemos deste modo que os rendi-mentos auferidos por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aquando do seu regresso ao reino natildeo foram propriamente modestos quando comparados com os do primeiro governador da Iacutendia ou com os do navegador e cosmoacute-grafo Duarte Pacheco Pereira

Por fim surge-nos um documento datado de 13 de Abril de 1527 e que tem por tiacutetulo Estabelecimento que Fernando Rodrigues como procu-rador de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila fidalgo da Casa do Rei fez em Fernando Gomes para cobrar todas as tenccedilas e moradias do seu dito constituinte90 Repare-se que de acordo com Joatildeo de Barros Cristoacutevatildeo de Mendonccedila voltou a partir para o Oriente em Marccedilo de 1527 Vemos portanto que o referido documento eacute ligeiramente posterior agrave partida do navegador e que este deixou instruccedilotildees ao seu procurador para que algueacutem cobrasse todas as suas tenccedilas e moradias De resto a alusatildeo agraves ldquotenccedilas e moradi-

83 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 135 Nordm4584 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 13 fl60 ANTT Chancelaria de D Manuel I

liv 8 fl29v85 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 53 Nordm18286 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 10 fl53 Repare-se que a partir de 1523 Pe-

dro de Mendonccedila passou a receber apenas 30000 reacuteis ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 109 Nordm131 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 131 Nordm226

87 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 136 Nordm10288 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 135 Nordm4989 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 4 fl 37 COSME ldquoOs Navegadores ndash Vasco da

Gamardquo p 14990 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 141 Nordm91

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 183

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

asrdquo vem reforccedilar a ideia de que os serviccedilos prestados por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente foram bem recompensados pelo monarca portu-guecircs Resta-nos perceber que serviccedilos teratildeo justificado estas recompen-sas assim como aquelas a que de seguida aludiremos

62 A capitania de Ormuz

Para aleacutem dos rendimentos atraacutes referidos os serviccedilos prestados por Mendonccedila foram igualmente agraciados com a nomeaccedilatildeo para a ren-taacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz para onde partiu em Marccedilo de 152791 Natildeo deixa de ser interessante a alusatildeo que cronistas como Joatildeo de Barros ou Frei Luiacutes de Sousa fazem aos Braganccedilas no momento em que referem esta nova partida de Cristoacutevatildeo para a Iacutendia Com efeito eacute possiacutevel que o duque de Braganccedila jaacute tivesse ligaccedilotildees aos Mendon-ccedilas ainda que o casamento de D Jaime com D Joana de Mendonccedila soacute se tenha realizado em 1520 Teresa Lacerda levanta a hipoacutetese de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ter sido indigitado para o Conselho Reacutegio por influecircncia do duque de Braganccedila do mesmo modo como foi nomea-do para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 e para capitatildeo de Ormuz em 152792 De facto natildeo eacute impossiacutevel No entanto somos da opiniatildeo de que natildeo seraacute apenas D Joana a estar na origem de uma eventual ligaccedilatildeo de D Jaime aos Mendonccedilas como tambeacutem a participaccedilatildeo do seu pai ldquoDiogo de mendonccedila alcaide mor de Mouratildeordquo e de ldquoPero de Mendonccedila seu filhordquo na conquista de Azamor comandada pelo proacuteprio duque em 151393

De facto natildeo sabemos se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teraacute sido indigitado para o Conselho Reacutegio para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquer-que de 1519 ou para a capitania de Ormuz por influecircncia do duque de Braganccedila Seja como for parece-nos que o contexto social e familiar de Cristoacutevatildeo teraacute pesado no momento em que o monarca procedeu a tais nomeaccedilotildees Basta recordarmos que Afonso Furtado bisavocirc de Cristoacute-vatildeo tinha sido nomeado capitatildeo do mar por D Joatildeo I em 138594 Afonso

91 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada IV II Cap III p 73 Ver tambeacutem CORREIA Lendas Vol III Pt I Cap XVI p 182 SOUSA Anais Vol II IV Cap I p 1 SOUSA Asia Tomo I Pt IV Cap II p 256

92 LACERDA Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social p 112 nota 375

93 GOacuteIS Chronica III Cap XLVI p 367 GAYO Nobiliaacuterio p 5394 FREIRE Brasotildees Vol III pp 170-171

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203184

Fernando Pessanha

Furtado de Mendonccedila avocirc de Cristoacutevatildeo para aleacutem de capitatildeo-mor do mar95 aparece referido como escrivatildeo da feitoria de Sofala96 Pedro de Mendonccedila tio de Cristoacutevatildeo tinha comandado uma nau numa frota de 12 navios que em 1504 partiu para a Iacutendia para garantir a seguranccedila das rotas comerciais do oceano Iacutendico e controlar o governante hostil de Calecut97 Natildeo se pode portanto considerar que os Mendonccedilas seri-am marginais ao projecto de expansatildeo ultramarina quando Cristoacutevatildeo aparece nomeado para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 ou para a capitania de Ormuz que deteve entre 1527 e 1531 ou 1532 ano da sua morte

Chegando a este ponto vale a pena determo-nos brevemente de modo a compreendermos o que era Ormuz e o que representava esta capitania no contexto do Impeacuterio Portuguecircs no Oriente Antes de mais conveacutem recordarmos que Ormuz era um importantiacutessimo entreposto mercantil em virtude da sua privilegiada localizaccedilatildeo geograacutefica na en-trada do Golfo Peacutersico Com efeito com a segunda conquista de Ormuz por Afonso de Albuquerque em 1515 e a consequente imposiccedilatildeo de um protectorado a Coroa portuguesa passou a arrecadar uma parcela con-sideraacutevel das receitas aduaneiras da proacutespera ilha transformando-se Ormuz no epicentro das actividades portuguesas no Golfo Peacutersico e no mar da Araacutebia A acreditar-se nas fontes quinhentistas era tal o movi-mento e a intensidade no porto de Ormuz que natildeo era invulgar ali en-contrar mais de 200 navios carregados de mercadorias De entre as mais importantes mercadorias que passavam pela cidade destacavam-se os cavalos oriundos da Araacutebia e da Peacutersia com destino aos portos da cos-ta ocidental da Iacutendia de onde eram encaminhados para os potentados indianos entre os quais grassavam guerras endeacutemicas Mas outros pro-dutos aacuterabes e persas faziam a riqueza da esteacuteril ilha de Djarucircn como as alcatifas aacuterabes as peacuterolas de Bahareacutem os tapetes a seda e a prata da Peacutersia o salitre e o enxofre da proacutepria ilha ao lado de mercadorias menos nobres como os frutos secos ou os cereais Dadas as circunstacircn-cias natildeo seraacute de estranhar que ao longo de todo o seacutec XVI a alfacircndega de Ormuz se tenha destacado como a mais rentaacutevel de todo o Estado da Iacutendia logo a seguir agrave de Goa Por outras palavras a cidade gerava

95 FARIA Livro de Linhagens p 27296 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada I Pt I V Cap III97 MALDONADO Relaccedilatildeo das Naos e Armadas da Iacutendia p 16 ANTT Corpo Cronoloacutegi-

co Pt II maccedilo 9 Nordm 35

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 185

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

um volume de receitas tatildeo consideraacutevel que a capitania de Ormuz aca-bou por se transformar numa das mais apetecidas de todo o Impeacuterio no Oriente Vemos deste modo que a atribuiccedilatildeo desta capitania natildeo soacute era motivo de prestiacutegio para o capitatildeo nomeado como tambeacutem fonte de grande riqueza98

Natildeo podemos deixar de notar que as Deacutecadas da Aacutesia ao referir-se agrave nomeaccedilatildeo de Mendonccedila para a capitania de Ormuz natildeo refere quais-quer serviccedilos especiais que justifiquem a atribuiccedilatildeo de tal benesse Ar-mando Cortesatildeo que levantou a hipoacutetese de ter sido Mendonccedila o pri-meiro europeu a chegar agrave Austraacutelia foi um dos investigadores a sugerir que esta nomeaccedilatildeo se devesse aos serviccedilos prestados pelo navegador99 Poreacutem e tal como temos afirmado ao longo deste trabalho natildeo existe qualquer documento que assegure o ecircxito de Mendonccedila relativamente agrave viagem que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro Omis-satildeo que segundo Jaime Cortesatildeo foi consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo entatildeo vigente Luiacutes de Albuquerque ainda que contraacuterio agrave teoria da descoberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que ldquodeve a sua celebridade a uma expediccedilatildeo que natildeo fezrdquo100 estranha no entanto o facto de Diogo do Couto natildeo mencionar os serviccedilos especiais que estiveram na origem da nomeaccedilatildeo do navegador para a capitania de Ormuz101 Esta distinccedilatildeo torna-se ainda mais suspeita se tivermos em consideraccedilatildeo que uma nomeaccedilatildeo desta natureza implicaria em meacutedia 10 anos de serviccedilos no Oriente102 durante os quais era acumu-lada a experiecircncia necessaacuteria para o desempenho de uma capitania Como vimos natildeo foi esse o caso de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Aliaacutes as nomeaccedilotildees para as capitanias mais importantes e lucrativas como Or-muz Goa ou Malaca natildeo soacute eram atribuiacutedas em reconhecimento pelos vaacuterios anos de serviccedilo no Oriente como tambeacutem recaiacuteam tendencial-mente sobre nobres com uma maior presenccedila na corte o que tambeacutem

98 LOUREIRO ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 pp 749-797 JPC ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 833-836

99 CORTESAcircO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158100 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo p 727101 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol IV

p 258102 Andreia Martins de Carvalho determinou os anos de serviccedilo de fidalgos no Oriente

antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania entre 1518 e 1544 CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 211 Foi nesse sentido que tendo em conta a infor-maccedilatildeo disponiacutevel sobre o percurso de 37 fidalgos estabelecemos a meacutedia de anos relativos a serviccedilos no Oriente antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203186

Fernando Pessanha

natildeo era o caso de Mendonccedila Ora se o navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro como explicar tatildeo generoso honroso e rentaacutevel reconhecimento Isto claro para aleacutem das compensaccedilotildees econoacutemicas atraacutes referidas e da entrega da comenda da Ordem de Cris-to que de seguida abordaremos De resto a capitania de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ficou marcada por episoacutedios dignos de registo como o au-xiacutelio prestado agrave frota de Simatildeo da Cunha assolada por uma epidemia contraiacuteda na campanha contra a ilha de Bahareacutem103 Refira-se aliaacutes que foi sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que recaiu a responsabilidade de escolher um agente para realizar a ceacutelebre missatildeo de espionagem que constituiu a viagem por terra de Ormuz a Portugal protagonizada por Antoacutenio Tenreiro entre Setembro de 1528 e Maio de 1529 - viagem cuja narrativa constitui um notaacutevel documento histoacuterico de natureza geograacutefica religiosa e antropoloacutegica104

63 A comenda da vila de Arenilha

Tal como anteriormente referimos deparaacutemo-nos com dois documen-tos que chamaram a nossa atenccedilatildeo aquando da investigaccedilatildeo para o ar-tigo ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo Trata-se de duas cartas em que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece referido como comendador da vila de Arenilha O primeiro documento data de 29 de Dezembro de 1529 e tem por tiacutetulo Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bregantim missiva em que o comendador de Arenilha culpa o marquecircs de Ayamonte pelos danos causados nas barcas dos habitantes da vila no-meadamente no referido bergantim chegando mesmo a mandar ldquopagar as barcas e () as perdas que receberam os donos delas e asy o dano que se fez na Arenilhardquo e mandar o marquecircs prender os responsaacuteveis que se encontrem nas suas terras105 Como se pode perceber o tom da missiva natildeo resulta propriamente abonatoacuterio para o nobre espanhol

103 SOUSA Anais Vol II IV Cap XXII p 106104 Como recompensa pelos serviccedilos prestados Antoacutenio Tenreiro recebeu da Coroa em

1533 uma tenccedila anual de 30000 reacuteis e o haacutebito de cavaleiro da Ordem de Cristo Ver TENREIRO amp AFONSO Viagens por terra da Iacutendia a Portugal p 18 RL ldquoTenreiro Antoacuteniordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II p 1023

105 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 Nordm45

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 187

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig1 - Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua

Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do

marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

Fig 1

Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o

marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203188

Fernando Pessanha

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig2 - Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar

creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Arenilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada destinada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila assim como o seu

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesahelliprdquo pp 86-82

Fig 2

Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao

comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Are-nilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada desti-nada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesardquo pp 86-82

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 189

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacute-vatildeo de Mendonccedila assim como o seu percurso como capitatildeo nas armadas da Iacutendia acreditamos encontrar-nos em condiccedilotildees para demonstrarmos que a comenda de Arenilha foi efectivamente atribuiacuteda ao navegador como reconhecimento pelos serviccedilos prestados no Oriente

Com efeito satildeo vaacuterios os indicadores que nos levam a afirmaacute-lo Em primeiro lugar o facto de natildeo se encontrar nas croacutenicas nem nas fontes coevas qualquer referecircncia a um homoacutenimo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a balizagem cronoloacutegica compreendida entre 1514 e 1532 periacuteodo em que aparece referido na documentaccedilatildeo Aliaacutes as da-tas discriminadas nos documentos que o referem como comendador de Arenilha corroboram a ideia de esta comenda ter sido atribuiacuteda aquando do seu regresso ao reino Eacute certo que natildeo sabemos a data em que Cristoacutevatildeo teraacute chegado a Portugal ainda que tenhamos notiacutecia da sua passagem pelo sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio de 1524 durante a viagem de regresso108 Poreacutem as tenccedilas atraacutes mencionadas indicam que se encontrava no reino em 1526 Uma vez que os documentos que o referem como comendador da vila da foz do Guadiana remontam a Dezembro de 1529 e Maio de 1530 anos em que o navegador jaacute se encontrava no Oriente eacute de supor que D Joatildeo III lhe teraacute atribuiacutedo a comenda aquando da sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e Marccedilo de 1527 ano em que voltou a partir para a Iacutendia jaacute na qualida-de de capitatildeo de Ormuz

Uma vez que natildeo se verificam homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila para a balizagem cronoloacutegica atraacutes referida e que as datas dos docu-mentos que o referem como comendador de Arenilha satildeo ligeiramente posteriores ao seu regresso ao reino resta-nos determinar se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila reunia as condiccedilotildees necessaacuterias para ser agraciado com uma comenda desta natureza Antes de mais importa referir que a vila de Arenilha e de Castro Marim eram as duas uacutenicas comendas da Ordem de Cristo no Algarve Curiosamente Isabel L Morgado de Sousa e Silva natildeo refere a comenda de Arenilha na dissertaccedilatildeo para doutoramento

108 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo Oceanos Nordm4 pp 17-18 ALBU-QUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 727-728 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 79

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203190

Fernando Pessanha

A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521)109 Poreacutem o documento publicado por Hugo Cavaco natildeo deixa margem para duacutevidas

ldquoNo Bispado do Algarve haacute somente duas Commendas da Ordem (de

Cristo) que satildeo das antigas e as seguintes

A Commenda e Alcaideria-moacuter de Castro Marim avaliou-se em quatro-

centos e cinquenta mil reacuteis no anno de 1608

A Commenda da Alcaideria-mograver de Santo Antonio de Arenilha que estaacute

junto a Castro Marim em cento e trinta mil reacuteis no anno de 1608

No Bispado do Algarve natildeo haacute nenhuma Commenda desta Ordem mais

que as duas velhas que valem quinhentos e oitenta mil reacuteis como se vecirc

da somma adianterdquo110

Aliaacutes soacute o facto de Arenilha ser comenda da Ordem de Cristo poderaacute explicar que o senhorio da vila tenha sido atribuiacutedo exclusivamente a cavaleiros da miliacutecia ao longo de toda a centuacuteria quinhentista111

Naturalmente que estas comendas implicavam desde logo a existecircn-cia de comendadores sobre os quais recaiacutea o senhorio das ditas vilas o que era compreendido como motivo de honra e de prestiacutegio social numa sociedade ainda bastante influenciada pelas antigas tradiccedilotildees medievo-feudais Comendas refira-se que compreendiam o direito agrave administra-ccedilatildeo da localidade e conferiam uma renda para sustentaccedilatildeo do comenda-dor beneficiaacuterio configurando um recurso para os encargos da proacutepria comenda No entanto a atribuiccedilatildeo de uma comenda representava um benefiacutecio atribuiacutedo a cavaleiros professos nas ordens militares como re-compensa por serviccedilos prestados Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Men-donccedila soacute poderia ser agraciado com a comenda de Arenilha caso tivesse sido investido na Ordem de Cristo Foi nesse sentido que procuraacutemos determinar se este navegador professou nesta Ordem Militar

Com efeito a dissertaccedilatildeo Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) de Joatildeo Maria Falcatildeo Pestana de Vascon-celos natildeo faz qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila enquanto cavaleiro da Ordem de Cristo Refere no entanto o seu avocirc Afonso Fur-

109 SILVA A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta110 Documento VIII BNLMicroformas F5040 Documento publicado por CAVACO Revisi-

tando p 52111 Cf PESSANHA Os 500 anos pp 57-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 191

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

tado de Mendonccedila comendador de Cardiga da Ordem de Cristo112 a sua irmatilde Margarida de Mendonccedila enquanto mulher de um comendador da mesma Ordem e o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo que recebeu o haacutebito da miliacutecia em 16 de Abril de 1514113 Ain-da que a referida dissertaccedilatildeo natildeo faccedila qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo enquanto membro desta Ordem vem demonstrar a ligaccedilatildeo de alguns dos seus familiares agrave mesma natildeo soacute na qualidade de cavaleiros como tambeacutem de comendadores

Poreacutem Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social de Teresa Lacerda assim como a jaacute referida tese A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) de Isabel L Morgado de Sousa e Silva jaacute identificam efectivamente Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como frei cavaleiro desta Ordem114 De acordo com a obra consultada Cavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVI Cristoacutevatildeo de Mendonccedila recebeu efectivamente o haacutebito da Ordem de Cristo em 16 de Abril de 1514115 exactamente na mesma data em que o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila tambeacutem foi in-vestido116 De resto o facto de Cristoacutevatildeo aparecer referido como mem-bro da miliacutecia numa provisatildeo em que D Joatildeo III manda o almoxarife de Aveiro pagar ldquoa Cristoacutevatildeo de Mendonccedila sua tenccedila deste ano 50000 reacuteis assentada na alfacircndega de Lisboa com o haacutebito de Cristordquo117 vem dissipar qualquer duacutevida que ainda subsistisse

Note-se que identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como cavaleiro da Ordem de Cristo natildeo pudemos deixar de reparar no silecircncio dos cronistas no momento de identificar os intervenientes no processo ex-pansionista com as suas respectivas filiaccedilotildees nas Ordens Militares De facto quer Joatildeo de Barros quer os cronistas que lhe sucederam natildeo fazem qualquer referecircncia agrave filiaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo em qualquer Ordem tal como de acordo com o que constataacutemos raramente o fazem em relaccedilatildeo a outros cavaleiros Esta evidecircncia pode parecer ainda mais estranha se tivermos em consideraccedilatildeo o forte envolvimento da Ordem

112 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Vol I p 377 FARIA Livro de Linhagens p 275

113 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares p 392 114 LACERDA Os Capitatildees das Armadas pp 120 e 228 SILVA A Ordem de Cristo p 336

SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma perspectiva de estudordquo apecircndice

115 FARIA ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo p 21116 FARIA ldquoCavaleirosrdquo p 21 Ver tambeacutem SILVA A Ordem de Cristo p 330117 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203192

Fernando Pessanha

de Cristo na Histoacuteria da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses Ordem Militar sublinhe-se que teve como governadores figuras in-contornaacuteveis da famiacutelia real como o infante D Henrique o infante D Fernando o rei D Manuel ou o rei D Joatildeo III118 Poreacutem haacute que ter em consideraccedilatildeo que documentos como Memoacuteria das Armadas ou o Livro de Lisuarte de Abreu natildeo satildeo fontes sobre qualquer uma das Ordens razatildeo pela qual se torna compreensiacutevel a ausecircncia de referecircncias mais completas relativamente aos intervenientes no processo de expansatildeo Aliaacutes a intenccedilatildeo subjacente agrave produccedilatildeo de obras como Histoacuteria do Des-cobrimento e da Conquista da Iacutendia natildeo passa por apresentar informa-ccedilatildeo detalhada sobre as individualidades que participaram no processo expansionista mas antes destacar o protagonismo reacutegio em todo este processo119

Por fim natildeo se verificando homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a cronologia abordada coincidindo as datas que o referem como comendador de Arenilha e identificado este navegador como cavalei-ro da Ordem de Cristo resta-nos perceber por que motivo lhe teraacute sido entregue a comenda desta vila na foz do Guadiana Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo que a fundaccedilatildeo de Are-nilha prende-se com a afirmaccedilatildeo da soberania poliacutetica e administra-tiva de D Manuel sobre um territoacuterio frequentado por castelhanos Eacute exactamente nesse contexto que em 1421 Castro Marim justificava o pedido de isenccedilatildeo de alguns encargos pelos ldquoconstantes trabalhos que os moradores tinham com os castelhanos que insistiam em vir pescar ao reinordquo120 Quer isto dizer que os castelhanos vinham pescar para as margens portuguesas natildeo pagando os devidos impostos agrave Coroa Aliaacutes a existecircncia do topoacutenimo de origem castelhana Arenilha121 ainda antes da elaboraccedilatildeo da Carta de Privileacutegio que manda proceder agrave construccedilatildeo

118 FONSECA ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo pp 321-347 Ver tambeacutem SILVA A Or-dem de Cristo pp 43-110

119 Cf SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristordquo pp 349-361120 VENTURA ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo p 608

ANTT Chancelaria de D Afonso V liv 2 fl30121 De acordo com o dicionaacuterio da Real Academia Espantildeola ldquoarenillardquo apresenta-se como

sinoacutenimo de ldquoarena menudardquo Ver Dicionario de la Real Academia Espantildeola Disponiacutevel em httplemaraeesdraeval=arenilla ndash Consultado dia 10 de Setembro de 2013 Note-se que quando em 1775 se pretendeu baptizar a nova vila iluminista com o nome de Vila Real de Santo Antoacutenio de Arenilha prontamente o Marquecircs de Pombal proibiu a utilizaccedilatildeo do nome ldquoArenilhardquo alegando que ldquoeacute uma palavra hespanhola e Villa Real uma povoaccedilatildeo portuguesardquo Ver OLIVEIRA Monografia p 71

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 193

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

da vila122 indica a ocupaccedilatildeo daquele areal na margem portuguesa da foz do Guadiana por populaccedilotildees de pescadores de origem castelhana Dadas as circunstacircncias seria do interesse estrateacutegico do monarca que esta comenda recaiacutesse sobre algueacutem experimentado na guarda da fronteira e que fizesse cumprir o pagamento dos devidos direitos aduaneiros Re-corde-se que Arenilha para aleacutem de comenda da Ordem de Cristo era uma vila de fronteira situada na margem portuguesa do Guadiana tal como o era a vila de Mouratildeo de onde Cristoacutevatildeo de Mendonccedila era natu-ral Como anteriormente referimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Men-donccedila o fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo que foi nomeado em 1476 alcaide-mor de Mouratildeo123 uma vila fortificada do Alentejo que guarda-va a fronteira portuguesa frente a Espanha O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas mostra-nos o castelo de Mouratildeo onde Cristoacutevatildeo teraacute crescido localizado no cimo de uma colina sobranceiro ao Guadiana124 Quer isto dizer que o ceacutelebre navegador era descendente de uma famiacutelia experimentada na guarda da fronteira face ao reino vizinho e familia-rizado com as actividades militares tributaacuterias e administrativas que lhe eram inerentes125 Assim sendo esta condiccedilatildeo de fronteiro a juntar ao facto de Cristoacutevatildeo ser cavaleiro da Ordem de Cristo teraacute resultado altamente pertinente no momento em que D Joatildeo III decidiu atribuir a comenda de Arenilha a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como recompensa pelos serviccedilos prestados

Por fim mas natildeo menos relevante teraacute sido a experiecircncia naval e militar adquirida por Mendonccedila nos mares do Oriente e direccionada para a foz do Guadiana sistematicamente ameaccedilada pelos ataques da pi-rataria magrebina126 Recorde-se que Mendonccedila no decurso das suas na-vegaccedilotildees na australaacutesia viu-se na necessidade de defender posiccedilotildees por-

122 O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas produzido por volta de 1509 jaacute indicava o topoacutenimo que veio a ser oficializado com a Carta de Privileacutegio de 12 de Fevereiro de 1513 Ver ARMAS O Livro das Fortalezas fl 1

123 FREIRE Brasotildees Vol III p 173124 ANTT Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Livro das Fortalezas si-

tuadas no Extremo de Portugal e Castela por Duarte de Armas escudeiro da Casa do Rei D Manuel I Nordm 159 fls 13-14 ARMAS O Livro das Fortalezas fls 13-14

125 Refira-se que foi durante o periacuteodo em que o pai de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila deteve a alcaidaria de Mouratildeo que o rei D Manuel obteve dos povos nas cortes de Lisboa de 1502 uma vultosa contribuiccedilatildeo que fez com que o castelo da vila fosse intervenciona-do por dois importantes arquitectos reacutegios os irmatildeos Francisco e Diogo de Arruda os mestres das obras reacutegias da comarca de entre o Tejo e o Guadiana Ver FARIA ldquoForti-ficaccedilotildees de Portugal na fronteira da Estremadura espanholardquo p 161

126 Sobre este assunto veja-se PESSANHA ldquoAtaques da piratariardquo pp 63-94

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203194

Fernando Pessanha

tuguesas dando combate aos adversaacuterios Recordemos a este respeito o ataque movido por Melique Ladil agrave fortaleza de Paceacutem entatildeo guardada por Mendonccedila e a maneira como o ldquomourordquo foi desbaratado e despo-jado das treze embarcaccedilotildees usadas no assalto127 Dadas as circunstacircnci-as seria um desperdiacutecio natildeo se aproveitar a experiecircncia deste capitatildeo numa altura em que se verificava um incremento da actividade piraacutetica nas costas do Algarve Esta actividade da pirataria na foz do Guadiana eacute aliaacutes referida por Bernardo Rodrigues em vaacuterias ocasiotildees nomeada-mente aquando da estadia da condessa de Redondo na vila de Arenilha em 1522128 ou quando Vasco Fernandes Ceacutesar - antigo adaiacutel de Azamor e capitatildeo da Armada do Estreito129 - foi incumbido embarcar o conde do Redondo D Joatildeo Coutinho na vila de Arenilha e escoltaacute-lo a Arzila130 Refira-se que a caminho da foz do Guadiana o navio de Vasco Fernan-des Ceacutesar foi atacado por duas naus tendo-se seguido um combate naval que resultou na explosatildeo de parte da alcaacuteccedilova atirando cinco homens ao mar entre os quais Vasco Fernandes que ficou gravemente ferido131

Vemos deste modo que a entrega da comenda de Arenilha a um in-diviacuteduo como Cristoacutevatildeo de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo descendente de uma famiacutelia de fronteiros e navegador experimentado no combate naval natildeo soacute era altamente pertinente como simboacutelica e manifestamente estrateacutegica para a defesa do extremo sudeste algarvio e da foz do Guadiana onde Mendonccedila deveria actuar com autoridade se-nhorial usufruindo dos seus bens e rendimentos E no caso da comenda de Arenilha Seriam generosos os seus rendimentos Sem duacutevida Se assim natildeo fosse o rei D Duarte natildeo teria doado ao infante D Henrique ainda em 25 de Setembro de 1433 a ldquodiacutesima nova de todo o pescado que pescarem quaisquer pessoas no mar do Monte Gordordquo132 Aliaacutes seraacute certa-

127 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III pp548-549128 RODRIGUES Anais de Arzila Tomo I Cap XC p 373129 GOacuteIS Chronica IV Cap LVII p 552 Sobre a Armada do Estreito veja-se GODINHO

ldquoA armada do estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo pp117-137130 RODRIGUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 PESSANHA Subsiacutedios p 100131 Segundo Bernardo Rodrigues os sobreviventes portugueses por pouco natildeo foram

executados Os que sobreviveram ao combate foram aprisionados e levados para Di-eppe Vasco Fernandes apesar de ferido acabou por escapar do cativeiro desfiando uma esteira e escapando por ela da torre onde se encontrava aprisionado RODRI-GUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 Ver tambeacutem PISSARRA ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Armada do Estreitordquo pp 144-145

132 SERRAtildeO Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fundaccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) p 65 OLIVEIRA Monografia p 73

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 195

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

mente o motivo econoacutemico que jaacute em 1555 estaraacute na origem da disputa pelo senhorio de Arenilha entre Jeroacutenimo de Melo fidalgo da Casa Real e alcaide-mor de Castro Marim e Luiacutes Leite frei cavaleiro da Ordem de Cristo e filho de Antoacutenio Leite o anterior alcaide133

Relativamente agrave defesa sabemos que Arenilha natildeo possuiacutea castelo torre ou qualquer fortificaccedilatildeo digna de registo ateacute 1542-1547 periacuteodo em que o alcaide Antoacutenio Leite daacute-nos conta das ldquotramqueyras e repai-rosrdquo construiacutedos sob o seu comando para a populaccedilatildeo se defender dos ataques da pirataria moura134 Ainda assim Mendonccedila estava obrigado a zelar pela defesa da vila independentemente de esta ter ou natildeo for-tificaccedilotildees para a proteger Se tivermos em consideraccedilatildeo que a sua no-meaccedilatildeo como comendador o obrigava agrave realizaccedilatildeo de um inventaacuterio ao patrimoacutenio da comenda (infelizmente desconhecido) e ao dever de fixar residecircncia na sua aacuterea de governo135 eacute muito provaacutevel que Cristoacutevatildeo se tenha detido durante algum tempo na vila da foz do Guadiana algures entre finais de 1524 aquando da sua chegada ao reino136 e Marccedilo de 1527 quando voltou a partir para o Oriente

Como anteriormente referimos os comendadores deviam fixar-se nas suas comendas para melhor procederem agrave sua defesa e melhor ren-tabilizarem as mesmas Assim sendo como eacute possiacutevel que os documen-tos que referem Cristoacutevatildeo como comendador de Arenilha sejam relati-vos aos anos em que este se encontrava na capitania de Ormuz Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo de que a principal obrigaccedilatildeo dos cavaleiros da Ordem de Cristo era a luta contra os inimigos da feacute devendo estar prontos para a guerra sempre que o Mestre os convocasse Uma vez que as situaccedilotildees de guerra eram cons-tantes nos territoacuterios de aleacutem-mar onde a presenccedila dos cavaleiros da Ordem se tornava necessaacuteria natildeo eacute de admirar que estes fossem dispen-sados da exigecircncia que os obrigava a permanecer nas suas comendas137

133 CAVACO Revisitando pp 18-20 PESSANHA Os 500 anos pp 72-73134 Carta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava

atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras e que era necessaacute-rio enviar-lhe socorro ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos p 99 PINTO ldquoIacutendice Analiacuteticordquo p 267

135 Cf SILVA A Ordem de Cristo pp 189-190136 Uma vez que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila se encontrava na Aacutefrica do Sul em Marccedilo ou Maio

de 1524 eacute de supor que a sua chegada ao reino se tenha dado ainda no mesmo ano137 SILVA A Ordem de Cristo p 191

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203196

Fernando Pessanha

Eacute nesse sentido que encontramos Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comen-dador de Arenilha em 1529 e 1530 anos em que jaacute se encontrava como capitatildeo na fortaleza de Ormuz De resto era nesta fortaleza que ainda se encontrava em 1531 ano em que piratas de Larache atacaram a vila da foz do Guadiana ldquoonde fizeacuteratildeo muito dano em navios que tomaacuteratildeo e den-tro da Barra de Aiamonte fizeacuteratildeo despejar a Arrinilha e a Montegordordquo138

7 Conclusatildeo

Com efeito muito se tem escrito (e especulado) sobre a alegada des-coberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila No entanto e indepen-dentemente dos resultados alcanccedilados pelo navegador nesta expediccedilatildeo parece indiscutiacutevel que foi generosamente recompensado aquando do seu regresso ao reino Resta-nos perceber porquecirc Jaacute Armando Cortesatildeo muito antes de Peter Trickett tinha levantado a hipoacutetese de a rentaacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz ter sido entregue a Mendonccedila como re-compensa pelos serviccedilos prestados na expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro139 Natildeo eacute conhecido poreacutem qualquer documento que ateste o ecircxito do navegador nesta expediccedilatildeo Omissatildeo que segundo investigadores como Armando Cortesatildeo Damiatildeo Peres ou Jaime Cortesatildeo teraacute sido consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo determinada pelas limitaccedilotildees de navega-ccedilatildeo estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas e com o contencioso entre Portugal e Espanha pela posse das Molucas140

O certo eacute que Mendonccedila ao regressar ao reino foi agraciado com uma das capitanias mais rentaacuteveis do impeacuterio no Oriente para aleacutem de ter recebido compensaccedilotildees econoacutemicas e aparecer referido em 1529 e 1530 como comendador da vila de Arenilha na foz do Guadiana Refira-se a este respeito que muitos capitatildees cavaleiros da Ordem de Cristo se lanccedilaram no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Poreacutem mui-to poucos chegaram a obter as tatildeo almejadas comendas141 Vemos deste

138 RODRIGUES Anais Tomo II Cap XXXV p 209139 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158140 CORTESAtildeO A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e

de D Joatildeo II Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 65-66 PERES ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na Histoacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II pp 17-21

141 Entre os afortunados que lograram obter este tipo de rendimento contam-se muito poucos D Joatildeo Pereira D Pedro de Castelo Branco Nuno Furtado Simatildeo Guedes entre outros Ver CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 216

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 197

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

modo que a atribuiccedilatildeo da comenda de Arenilha significou um motivo de grande honra e prestiacutegio para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Ora se este navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro resta-nos perceber porque motivo teraacute sido agraciado com compensaccedilotildees eco-noacutemicas a nomeaccedilatildeo para uma das mais rentaacuteveis capitanias de todo o Impeacuterio no Oriente e uma honrosa comenda da Ordem de Cristo Eacute caso para dizer que a problemaacutetica em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila con-tinua a levantar muitas duacutevidas e poucas certezas

Fontes e Bibliografia

1 Arquivos

ANTT

Chancelaria de D Afonso V Livro 2 fl30

Chancelaria de D Manuel I Livro 4 fl37 Livro 8 fl 29v Livro 9 fl4v Livro 10 fl53 Livro 13 fl60 Livro 37 fl64

Chancelaria de D Joatildeo III Livro 12 fl62

Chancelaria da Ordem de Cristo Livro13 fls375 vndash 379v

Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1

Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 15 Nordm47 Pt I maccedilo 44 Nordm45 Pt I maccedilo 45 Nordm9

Pt II maccedilo 51 Nordm26 Pt II maccedilo 53 Nordm182 Pt II maccedilo 93 Nordm150 Pt II maccedilo 109 Nordm131 Pt II maccedilo 131 Nordm226 Pt II maccedilo 134 Nordm57 Pt II maccedilo 135 Nordm45 Pt II maccedilo 135 Nordm49 Pt II maccedilo 136 Nordm102 Pt II maccedilo 141 Nordm91

Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Nordm159

Casa Real Cartoacuterio da Nobreza Livro Nordm20 - Livro da Nobreza e da per-feiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal fl XII

2 Fontes Impressas

ABREU Lisuarte de Livro de Lisuarte de Abreu (Reproduccedilatildeo do manuscrito existente na Perpont Morgan Library de Nova York) Comissatildeo Nacional para as comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portugueses Lisboa 1992

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203198

Fernando Pessanha

ARMAS Duarte de Livro das Fortalezas Arquivo Nacional da Torre do TomboInapa Lisboa 1997

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada III Na Regia Officina Typografica Lisboa MDCCLXXVII

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada IV Imprensa Nacional Casa da Moe-da Lisboa 2001

BORGES Joseacute Calvatildeo Borges Livro do Armeiro-Mor Academia Portugue-sa de HistoacuteriaEdiccedilotildees Inapa Lisboa 2000

CASCAtildeO Joatildeo ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevorardquo Uma Jornada ao Alentejo e ao Algarve A altera-ccedilatildeo das linhas de forccedila da poliacutetica nacional Livros Horizonte Lisboa 1984 pp 77-136

CASTANHEDA Fernatildeo Lopes de Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses 2 vols Lello amp Irmatildeos Editores Porto 1979

CORREIA Gaspar Lendas da Iacutendia Tomo III na Typographia da Acade-mia Real das Sciencias Lisboa 1862

Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI Centro de Estudos Histoacutericos Ultramarinos Lis-boa 1969

GAYO Felgueiras Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX Ediccedilatildeo de Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Arauacutejo Affonso Braga 1939

GUEDES Liacutevio da Costa Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) Arquivo Histoacuterico Militar Lisboa 1988

GOacuteIS Damiatildeo de Chonica do Serenissimo Senhor Rei D Manoel Lisboa 1749

JOSEacute Frei Joatildeo de Satildeo ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 21-132

RODRIGUES Bernardo Anais de Arzila 2 vols Academia das Sciecircncias de Lisboa Lisboa 1915-1919

SARRAtildeO Henrique Fernandes ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 133-174

SOUSA Frei Luiacutes de Anais de D Joatildeo III 2 vols Saacute da Costa Lisboa 1928

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 199

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

SOUSA Manuel de Faria e Asia Portvgvesa Officina de Henrique Valen-te de Oliveira impressor del Rey NS Lisboa 1666

TENREIRO Antoacutenio amp AFONSO Mestre Viagens por terra da Iacutendia a Por-tugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica Mem-Martins 1991

3 Estudos

ALBUQUERQUE Luiacutes de (dir) Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-tos Portugueses 2 vols Ciacuterculos de Leitores Lisboa 1994

ALMEIDA Fortunato de Histoacuteria de Portugal Vols III-VII Promoclube Lisboa sd

CARDOSO Antoacutenio Pereira A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila agrave Austraacutelia em 1522 Academia da Marinha Lisboa 1994

CARVALHO Andreia Martins de ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Ma-nuelinardquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia ndash Actas do Coloacutequio Internacional Joatildeo Paulo Oliveira e Costa amp Viacutetor Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 199-226

CARVALHO Andreia Martins de Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria dos Descobrimen-tos e da Expansatildeo Portuguesa (seacuteculos XV-XVIII) apresentado agrave UNL Lisboa 2006

CAVACO Hugo ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio (Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Arte no Algarve) Cacircmara Muni-cipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1987

CAVACO Hugo Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha Cacircmara Munici-pal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1995

CORREIA Joseacute Eduardo Horta Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina Faup Publicaccedilotildees Porto 1997

CORREIA Joseacute Eduardo Horta O Algarve em Patrimoacutenio Gente Singular Editora Olhatildeo 2010

CORTESAtildeO Armando ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Aus-tralaacutesia Macau Japatildeo)rdquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939

CORTESAtildeO Jaime ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal (Dir Damiatildeo Peres) Vol IV Portucalense Editora Barce-los 1932 pp 9-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203200

Fernando Pessanha

CORTESAtildeO Jaime A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e de D Joatildeo II Lisboa 1960

COSME Joatildeo ldquoOs homens de ciecircnciardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 91-97

COSME Joatildeo ldquoOs Navegadores ndash Vasco da Gamardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 145-152

COSTA Joatildeo Paulo Oliveira e ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo A Nobreza e a Expansatildeo Estudos Biograacuteficos Joatildeo Paulo Oliveira e Costa (coord) Patrimoacutenia Cascais 2000 pp 11-51

DOMINGUES Francisco Contente ldquoOs portugueses descobriram a Aus-traacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Si-motildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Univer-sidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 163-172

DOMINGUES Francisco Contente Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 Circulo dos Leitores Lisboa 2016

FARIA Antoacutenio Machado de Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI Acade-mia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 1956

FARIA Antoacutenio Machado de ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo Separata da revista Arqueologia e Histoacuteria vol VI Lisboa 1955

FARIA Miguel Figueira de ldquoFortificaccedilotildees de Portugal na fronteira da Es-tremadura espanholardquo Anais ndash Seacuterie Histoacuteria Vol II Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 1995 pp 156-187

FONSECA Luiacutes Adatildeo da ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo A Alta No-breza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 322-347

FREIRE Anselmo Braamcamp Brasotildees da Sala de Sintra 3 vols Impren-sa da Universidade de Coimbra Coimbra 1921-1930

GARCIA Joseacute Manuel Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII QuidNovi Lisboa 2009

GARCIA Joseacute Manuel O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash 1555 Nordm 8 QuidNovi Vila do Conde 2012

GODINHO Rui Landeiro ldquoA Armada do Estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (Seacuteculos XV-XIX) Ediccedilotildees Cul-turais da Marinha Lisboa 2003 pp 117-137

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 4: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203168

Fernando Pessanha

natureza geomorfoloacutegica do espaccedilo - ainda antes da elaboraccedilatildeo do do-cumento que manda proceder agrave construccedilatildeo da vila pode perfeitamente indicar a ocupaccedilatildeo sazonal daquele areal na margem portuguesa da foz do Guadiana por populaccedilotildees de pescadores de origem espanhola5

Com efeito as fontes documentais relativas a Arenilha natildeo satildeo muito abundantes o que acaba por representar um entrave agrave investigaccedilatildeo his-toriograacutefica Ainda assim natildeo satildeo de todo inexistentes Para aleacutem de al-guns documentos que podemos encontrar no Arquivo Nacional da Torre do Tombo existem tambeacutem referecircncias agrave antiga vila nalgumas croacutenicas da centuacuteria quinhentista e que tecircm vindo a ser publicadas ao longo das uacuteltimas deacutecadas Nesse sentido assumem especial destaque as Visitaccedilotildees da Ordem de Santiago6 de 1555 a Relaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevora7 redigida pelo cronista Joatildeo Cascatildeo em 1574 a Corografia do Reino do Algarve8 de 1577 de Frei Joatildeo de Satildeo Joseacute e a Histoacuteria do Reino do Algarve de 1600 de Henrique Fernandes Sarratildeo9

Resumidamente sabemos que a vila foi um pequeno aglomerado de vocaccedilatildeo mariacutetima que encontrava na pesca a sua principal fonte de subsistecircncia e que se via constantemente ameaccedilada pelos ataques da pirataria magrebina10 Contava apenas com quinze ou dezasseis vizi-nhos (fogos) em 1574 aquando da passagem de D Sebastiatildeo pela foz do Guadiana11 Ora se tivermos em consideraccedilatildeo que durante o seacuteculo XVI cada vizinho era constituiacutedo por uma meacutedia de quatro ou cinco pes-soas12 rapidamente chegamos agrave conclusatildeo que por entatildeo a populaccedilatildeo

5 PESSANHA Os 500 anos pp 34-38 PESSANHA ldquoV Centenaacuteriordquo pp 79-816 CAVACO ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago pp242-246 LAMEIRA amp SANTOS Visita-

ccedilatildeo de Igrejas Algarvias pp 105-1087 CASCAtildeO ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevo-

rardquo pp77-1368 JOSEacute ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo pp 21-1329 SARRAtildeO ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo pp 133-174 Arenilha aparece referenciada

noutras obras da Idade Moderna como Massai ldquoDescripccedilatildeo do Reyno do Algarverdquo in GUEDES Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) pp 89-234 No entanto e uma vez que a balizagem a que nos propusemos incide concretamente no seacutec XVI optaacutemos por concentrar-nos ex-clusivamente nas fontes quinhentistas

10 PESSANHA ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcai-de-mor de Arenilhardquo pp 63-94

11 CASCAtildeO ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeordquo p 12012 Joaquim Romero de Magalhatildees por exemplo defende que o coeficiente multiplicador

para determinar o nuacutemero de habitantes de um ldquovizinhordquo ou ldquofogordquo deveraacute ser de 45 Ver MAGALHAtildeES Para o Estudo pp 245-246 nota 2

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 169

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

de Arenilha situar-se-ia entre as 60 e as 80 pessoas ou seja a vila nunca deixou de ser um lugar escassamente povoado mesmo durante o auge da sua densidade demograacutefica13

As fontes jaacute por si escassas pouco ou nada nos dizem acerca dos arenilhenses que povoaram a margem portuguesa da foz do Guadiana Sendo a populaccedilatildeo constituiacuteda por homiziados e gente humilde que en-contrava na pesca o seu sustento torna-se particularmente difiacutecil se-guir-lhes o rasto biograacutefico Se exceptuarmos as informaccedilotildees facultadas pelo processo da inquisiccedilatildeo de Jorge da Cunha um natural ldquodo lugar de Santo Antonio de Arenilha Reyno do Algaruerdquo14 as uacutenicas informaccedilotildees de que dispomos satildeo relativas agrave ldquogente nobre da governanccedila da terrardquo15 que como Romero de Magalhatildees bem observou mais natildeo era que uma segunda categoria do estado da nobreza16 Eacute exactamente nesse sentido que o presente artigo pretende apresentar um comendador da antiga vila de Arenilha ateacute agora desconhecido

2 Os senhores de Arenilha alcaides e comendadores

Torna-se difiacutecil seguirmos o rasto dos senhores de Arenilha As croacute-nicas quinhentistas atraacutes referidas e restante documentaccedilatildeo avulsa referem os alcaides da vila da foz do Guadiana a partir de meados do seacutec XVI mais precisamente a partir de 20 de Agosto de 154217 Foram estas fontes que permitiram a Ataiacutede de Oliveira baseando-se particu-larmente nos escritos de Frei Joatildeo de Satildeo Joseacute identificar os alcaides Antoacutenio Leite e Luiacutes Leite em Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacutenio18 publicada pela primeira vez em 1908 Posteriormente em 1995 Hugo Cavaco identificou o alcaide Antoacutenio Leite de Vascon-celos em Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha19 sendo que os outros donataacuterios posteriormente identificados jaacute ultrapassam a balizagem cronoloacutegica do seacutec XVI

13 PESSANHA Os 500 anos pp 54-5514 ANTT Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1 PESSANHA

Os 500 anos pp 104-107 PESSANHA ldquoAyamonte nos processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombordquo pp 12-28

15 MAGALHAtildeES Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 pp 41-49 MAGALHAtildeES ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo pp 274-277

16 MAGALHAtildeES Concelhos e organizaccedilatildeo p 12817 ANTT Chancelaria da Ordem de Cristo lv13 fls 375 vndash379 v18 OLIVEIRA Monografia p 7219 CAVACO Revisitando p 18

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203170

Fernando Pessanha

Com efeito a nomeaccedilatildeo destes alcaides pressupotildee a existecircncia - ou a intenccedilatildeo - de uma vila acastelada ou fortificada e de facto sabemos que a vila de Arenilha foi fortificada com ldquotramqueyras e repairos () de madeyrardquo nos uacuteltimos anos da primeira metade do seacutec XVI20 Aliaacutes se a principal funccedilatildeo do alcaide-mor para aleacutem das funccedilotildees administrativas e judiciais era a defesa e a guarda do castelo (que devia sustentar ateacute agrave morte)21 a referecircncia ao ldquoalcaide moorrdquo presente na Carta de Privileacutegio de 8 de Fevereiro de 1513 poderaacute deixar antever a intenccedilatildeo do monarca em fortificar a nova vila da foz do Guadiana

No entanto e ainda que natildeo sejam conhecidas referecircncias aos alcai-des de Arenilha ateacute 1542 temos de ter em consideraccedilatildeo que Castro Ma-rim e a nova vila da foz do Guadiana apresentavam-se como as duas uacuteni-cas comendas da Ordem de Cristo no Algarve Naturalmente que estas comendas implicavam desde logo a existecircncia de comendadores sobre os quais recaiacutea o senhorio das ditas vilas o que era compreendido como motivo de honra e de prestiacutegio social numa sociedade ainda bastante influenciada pelas antigas tradiccedilotildees medievo-feudais Estas comendas enquanto benefiacutecio atribuiacutedo a cavaleiros professos nas ordens milita-res como recompensa por serviccedilos prestados compreendiam o direito agrave administraccedilatildeo da localidade e conferiam uma renda para sustentaccedilatildeo do comendador beneficiaacuterio configurando um recurso para os encar-gos da proacutepria comenda

3 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila

No decurso da investigaccedilatildeo para o artigo ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo22 deparaacutemo-nos com dois documen-

20 Carta de Antoacutenio Leite a D Joatildeo III em 16 de Novembro de1542 - 1547 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos pp 99-101 No ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo o documento aparece com a seguinte designaccedilatildeo ldquoCarta a D Joatildeo III sobre a necessidade de fortificar a foz do Guadiana para fazer face aos ataques de mouros Santo Antoacutenio da Foz do Guadianardquo Ver PINTO ldquoIacuten-dice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo p 267 Jaacute o Arquivo Nacional da Torre do Tombo apresenta o mesmo documento como ldquoCarta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras q que era necessaacuterio enviar-lhe socorrordquo Ver ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

21 Segundo as Ordenaccedilotildees Manuelinas ldquoincorria na pena de traiccedilatildeo aquele que por sua cul-pa o perdesserdquo Ver ALMEIDA Histoacuteria de Portugal Vol VII p 25 PESSANHA As Guarni-ccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar p 97

22 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesardquo pp 86-82

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 171

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

tos ineacuteditos que desde logo chamaram a nossa atenccedilatildeo Trata-se de duas cartas em que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece referido como comenda-dor de Arenilha Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de anaacutelise no referido artigo Importa no entanto debruccedilarmo-nos sobre a identidade do comendador de Arenilha Cris-toacutevatildeo de Mendonccedila Quem era Qual o seu contexto familiar e social

Com efeito quer o nome quer a cronologia (deacutecada de 20 do seacutec XVI) remete-nos automaticamente para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila capitatildeo das armadas da Iacutendia em 1519 e 152723 capitatildeo-mor da armada destinada a descobrir a Ilha do Ouro em 152224 e capitatildeo de Ormuz entre 1527 e 1531153225 Por outras palavras o ceacutelebre navegador portuguecircs que de acordo com as teorias de autores como Kenneth McIntyre26 ou Peter Trickett27 foi o descobridor da Austraacutelia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Aliaacutes a teoria da descoberta da Austraacutelia pelos portugue-ses natildeo eacute propriamente novidade tendo vindo a consubstanciar-se des-

23 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap IX p 325 Ver tambeacutem GOacuteIS Chronica do Serenissimo Senhor Rei D Manuel IV Cap XXXVI p 515 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses V Cap XV p 27 SOUSA Asia Tomo I Pt III Cap III p 190

24 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I IV Cap III pp 412-413 Ver tambeacutem Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) Documento publicado in Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI p 96

25 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada IV II Cap III p 73 Ver tambeacutem CORREIA Lendas da Iacutendia Vol III Pt I Cap XVI p 182 SOUSA Anais de D Joatildeo III Vol II IV Cap I p 1 SOUSA Asia Tomo I Pt IV Cap II p 256

26 O australiano Kenneth McIntyre professor de Literatura Direito e aficionado da His-toacuteria Portuguesa foi um dos mais ceacutelebres defensores da teoria da descoberta da Aus-traacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila McIntyre defendeu esta teoria com base na anaacutelise de um mapa luso-francecircs de 1538 o designado Mapa Delfim que apresenta uma Ilha de Java bastante semelhante agrave Austraacutelia McIntyre refere ainda um navio de mogno afundado alegadamente pertencente agrave frota de Mendonccedila ainda que os destroccedilos da embarcaccedilatildeo nunca tenham sido encontrados A embarcaccedilatildeo teria encalhado nas dunas perto de Warrnambool estado de Victoria a oeste de Melbourne Dois caccedilado-res de focas afirmaram terem visto os seus destroccedilos em 1836 Actualmente o barco eacute considerado uma lenda e a sua histoacuteria eacute celebrada em Warrnambool nomeada-mente no festival portuguecircs que aiacute tem lugar de dois em dois anos Ver McINTYRE A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha portuguesa 250 anos antes do Comandante Cook 1989

27 Mais recentemente em 2007 o livro do jornalista Peter Trickett reavivou a tese da descoberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Desta vez com base na interpre-taccedilatildeo do mapa do Atlas Vallard de 1547 cujo original estaacute condicionado na Biblioteca de Huntington e onde dois destes mapas apresentam vaacuterios topoacutenimos da costa aus-traliana escritos em portuguecircs Ver TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os na-vegadores portugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Austraacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203172

Fernando Pessanha

de a segunda metade do seacutec XIX a partir dos estudos do Visconde de Santareacutem28 e do historiador inglecircs Henry Major29 De resto nem o nome de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila enquanto alegado descobridor da Austraacutelia nem a data de 1522 em que se teraacute dado a descoberta satildeo novidade para a historiografia nacional uma vez que jaacute anteriormente foram defendi-dos por investigadores como Armando Cortesatildeo30 Duarte Leite31 e Antoacute-nio Pereira Cardoso32

Natildeo eacute poreacutem intenccedilatildeo do presente artigo discutir as teorias destes au-tores nomeadamente a teoria de Trickett Para tal jaacute o Museu da Ciecircncia da Universidade de Coimbra realizou em 2008 um coloacutequio e uma mesa-redonda com historiadores de reconhecida credibilidade De resto as ac-tas deste encontro foram publicadas com o tiacutetulo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens33 publicaccedilatildeo em que de acordo com a comunida-de cientiacutefica a exploraccedilatildeo da costa australiana pelos portugueses parece indiscutiacutevel dado os diversos indiacutecios como os achados arqueoloacutegicos34 os relatos orais de aboriacutegenes35 ou a cartografia da escola de Dieppe36

Poreacutem e independentemente das teorias construiacutedas em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e da alegada descoberta da Austraacutelia interessa-nos determinar se este navegador e capitatildeo de Ormuz eacute o mesmo Cristoacute-vatildeo de Mendonccedila comendador de Arenilha

28 SILVA ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo p 111 nota 1

29 ALBUQUERQUE ldquoMajor Richard Henry (1818-1891)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 141-142 Ver tambeacutem DOMINGUES ldquoOs portugueses descobriram a Austraacute-liardquo pp 163-164 Refira-se que este uacuteltimo por exemplo atribuiu a descoberta do con-tinente austral a Antoacutenio de Abreu em 1512 e que segundo o historiador Joseacute Manuel Azevedo e Silva ldquoDiogo Pacheco foi o primeiro portuguecircs a descobrir a Austraacutelia em 1519rdquo Ver SILVA ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-morrdquo p 119 Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoViagens e misteacuterios nos mares da Indoneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo p 19

30 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Australaacutesia Macau Japatildeo)rdquo pp 156-159

31 LEITE Histoacuteria dos Descobrimentos pp 329-33432 CARDOSO A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila agrave Austraacutelia em 152233 Os resultados deste coloacutequio concluem que a ldquoteserdquo de Trickett aponta algumas pistas

de trabalho interessantes ainda que careccedila de fundamentaccedilatildeo cientiacutefica Ver SIMOtildeES amp DOMINGUES (coord) Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens

34 Referimo-nos concretamente a peccedilas de artilharia destroccedilos de um navio potes de barro antigas ruiacutenas em pedra um elmo de ferro e um projeacutectil de canhatildeo TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio pp 47-57 199-202 203-204 210-211 242-250

35 TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio pp 67-6936 Trata-se da localidade francesa onde foi feito o Atlas de Vallard que serviu de base ao

livro de Trickett Ver TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio p 29

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 173

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

4 Contexto social e familiar

Com efeito o Cristoacutevatildeo de Mendonccedila das croacutenicas portuguesas do seacutec XVI era filho de Diogo de Mendonccedila alcaide-mor de Mouratildeo e ana-del dos besteiros37 Segundo Damiatildeo de Goacuteis Diogo de Mendonccedila acom-panhou o duque de Braganccedila na conquista de Azamor38 Casou com D Brites Soares de Albergaria filha bastarda de Fernatildeo Soares de Alber-garia senhor do Prado39 De acordo com as genealogias avanccediladas pelo Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal ou pelo Livro de Linhagens do seacuteculo XVI Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teve seis irmatildeos Pecircro de Mendonccedila alcai-de-mor de Mouratildeo Antoacutenio de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo Isabel de Mendonccedila Margarida de Mendonccedila Joana de Mendonccedila mu-lher de D Jaime duque de Braganccedila e Francisco de Mendonccedila40

Quanto a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila sabemos que desposou Maria de Vilhena filha de Sancho de Tovar e de sua mulher Guiomar da Silva ainda que o casal natildeo tenha tido descendecircncia O Livro do Armeiro-Mor publicado em 1509 apresenta o brasatildeo de armas dos Mendonccedilas41 numa altura em que o alcaide-mor de Mouratildeo era Diogo de Mendonccedila pai de Cristoacutevatildeo Tambeacutem o Livro da Nobreza e da perfeiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal de Antoacutenio Godinho escrivatildeo da Cacircmara de D Joatildeo III apresenta o brasatildeo de armas dos Mendonccedilas numa altura em que o alcaide-mor de Mouratildeo era Pedro de Mendonccedila irmatildeo de Cristoacutevatildeo Refira-se que Antoacutenio Go-dinho teraacute comeccedilado a produzir este trabalho entre o fim do reinado de D Manuel e o iniacutecio do reinado de D Joatildeo III periacuteodo que corresponde agrave presenccedila de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente e agrave sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro42 Pouco se sabe acerca da infacircncia e juventude de Cristoacutevatildeo

37 Diogo de Mendonccedila tinha sido fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo e foi alcaide-mor de Mouratildeo pelo menos desde 1476 ateacute falecer em 1516 altura em que o cargo passou para o seu filho Pecircro de Mendonccedila Ver FREIRE Brasotildees da Sala de Sintra Vol III p 173 Por sua vez Pecircro de Mendonccedila fidalgo da Casa Real foi nomeado alcaide-mor do castelo e vila de Mouratildeo com todas as rendas direitos foros tributos liberdades e honras em consideraccedilatildeo aos serviccedilos prestados pelo seu pai Diogo de Mendonccedila em 14 de Julho de 1517 Ver ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 37

38 GOacuteIS Chronica III Cap XLVI p 36739 GAYO Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX p 5340 GAYO Nobiliaacuterio Tomo XX p 53 FARIA Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI p 275 41 BORGUES Livro do Armeiro-Mor p 6042 Cf ANTT Livro da Nobreza e da perfeiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres li-

nhagens dos reinos e senhorios de Portugal f12 (on line) httpdigitarqarquivosptdetailsid=4162407

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203174

Fernando Pessanha

Seja como for aparece referido na documentaccedilatildeo como fidalgo da Casa Real logo em 151443 Se seguirmos as Deacutecadas da Aacutesia apercebemo-nos de que ldquoChristovatildeo de Mendoccedila filho de Diogo de Mendoccedila Alcaide moacuter de Mouratildeordquo44 partiu para o Oriente em 23 de Abril de 1519 na armada de Jorge de Albuquerque composta por 14 naus Sigamos portanto o rasto biograacutefico deixado por Cristoacutevatildeo durante a sua primeira viagem ao Oriente

5 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente

51 A expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro

Decorria o ano de 1519 quando Diogo Lopes de Sequeira o entatildeo go-vernador da Iacutendia incumbiu Diogo Pacheco de obter informaccedilotildees sobre a existecircncia da miacutetica Ilha do Ouro que segundo Joatildeo de Barros se en-contrava ldquoao Sul daquela Ilha Ccedilamatrardquo45 Ao chegar ao porto de Barus Diogo Pacheco tomou conhecimento da existecircncia de uma outra ilha si-tuada a sudeste do arquipeacutelago indoneacutesio para a qual os naturais do reino de Barus jaacute tinham navegado de modo a obterem ouro atraveacutes do trato com os indiacutegenas46 Recolhidas estas informaccedilotildees Diogo Pacheco navegou ao largo da Ilha de Samatra seguindo para sudeste Poreacutem ao chegar ao estreito de Sunda entre Samatra e Java optou por navegar para noroeste circum-navegando Samatra ateacute chegar a Malaca

No ano seguinte em 1520 o mesmo navegador tentou repetir a ex-ploraccedilatildeo Poreacutem ao aproximar-se do porto de Barus foi recebido por navios hostis que lhe recusaram a entrada com tiros de bombarda Quanto a Diogo Pacheco acabaria por vir a falecer num recontro com os habitantes de uma ilha depois de o seu navio encalhar na costa47

43 Provisatildeo para se pagar a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila fidalgo da Casa 7 mil reacuteis de mora-dia ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 51 Nordm26

44 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap IX p 325 Ver tambeacutem GOacuteIS Chronica IV Cap XXXVI p 515 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento p 27 SOUSA Asia Tomo I Pt III Cap III p 190 ABREU Livro de Lisuarte de Abreu fl37v-38

45 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap III p268 O mito em torno da existecircncia de uma ilha do Ouro tem origem numa confusatildeo antiga com a ilha de Samatra onde se produzia ouro em Minangkabau facto que os portugueses conheceram Sobre a miacutetica Ilha do Ouro veja-se THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o descobrimento da Austraacuteliardquo pp 66-73

46 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap III p 26947 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap III p 273 Ver tambeacutem SOUSA Asia

Tomo I Pt III Cap III p187 Diz-nos Joatildeo de Barros que Diogo Pacheco ao ver-se com vento que lhe era contraacuterio e face aos indiacutegenas que se metiam nas suas em-

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 175

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

Como anteriormente referimos foi em 23 de Abril de 1519 que D Manuel enviou para a Iacutendia uma armada comandada por Jorge de Albuquerque onde seguia ldquoChristovatildeo de Mendoccedila filho de Diogo de Mendoccedila Alcaide moacuter de Mouratildeordquo Identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como um dos capitatildees desta armada resta-nos perceber porque moti-vo se teraacute aventurado no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Como anteriormente vimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Mendoccedila alcaide-mor de Mouratildeo Poreacutem natildeo era filho primogeacutenito Quer isto dizer que com o falecimento do seu pai a alcaidaria de Mouratildeo passou para o seu irmatildeo mais velho Pecircro de Mendonccedila em 151748 Eacute nesse sentido que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teraacute encontrado nos serviccedilos na Iacutendia o meio de ascensatildeo social para os filhos secundogeacutenitos uma vez que estes dependiam da generosidade reacutegia para a obtenccedilatildeo de tenccedilas e mercecircs que permitissem a manutenccedilatildeo ou elevaccedilatildeo do seu estatuto Vemos deste modo que a participaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo no projecto expan-sionista portuguecircs se apresentava perfeitamente normal se tivermos em conta o seu contexto social e familiar assim como a sua condiccedilatildeo de secundogeacutenito49

Ao seguirmos a croacutenica de Joatildeo de Barros apercebemo-nos de que a armada que partiu para a Iacutendia em 1519 apenas chegou ao destino em 1520 por motivo de invernada em Moccedilambique onde Cristoacutevatildeo se dete-ve com outros sete capitatildees50 De resto uma carta datada de 22 de Janei-

barcaccedilotildees para lhe tomarem o navio tentou evadir-se para o alto mar Poreacutem ao ser arrastado para a costa acabou por vir a perecer tendo apenas escapado alguns malaios que atravessaram a ilha ateacute agrave costa norte onde encontraram embarcaccedilatildeo para os levar a Malaca As uacuteltimas palavras de Joatildeo de Barros sobre esta viagem tem levado alguns autores a considerarem que Diogo Pacheco teraacute perecido na Austraacute-lia ldquoesta perdiccedilatildeo de Diogo Pacheco que foi o primeiro dos nossos que perdeo a vida por descubrir esta Ilha do ourordquo Eacute o caso de Trickett ou de Joseacute Manuel Azevedo e Silva para quem Diogo Pacheco foi o primeiro portuguecircs a descobrir a Austraacutelia tendo alcanccedilado a costa noroeste da ilha em 1519 Ver SILVA ldquoDiogo Pacheco capi-tatildeo-morrdquo pp 111-119

48 A tenccedila que eacute atribuiacuteda a Beatriz Soares viuacuteva de Diogo de Mendonccedila indica que este jaacute tinha falecido em Julho de 1516 Ver ANTT Chancelaria de D Manuel I livro 9 fl4v Pecircro de Mendonccedila fidalgo da Casa Real foi nomeado alcaide-mor do castelo e vila de Mouratildeo com todas as rendas direitos foros tributos liberdades e honras em consideraccedilatildeo aos serviccedilos prestados pelo seu pai Diogo de Mendonccedila em 14 de Julho de 1517 Ver ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 37 fl64 Ver tambeacutem FREIRE Brasotildees Vol III p 173

49 COSTA ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo pp 11-51

50 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento V Cap XX p 38 e Cap XXX p 56

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203176

Fernando Pessanha

ro de 1521 atesta a presenccedila de Mendonccedila e de seus homens em Goa51 tal como a Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) con-firma a sua passagem pela capital do Estado da Iacutendia no mesmo ano52

Seja como for a armada que partiu em 1519 levava ordens de D Manuel para o governador Diogo Lopes de Sequeira Determinava o monarca portuguecircs que o governador da Iacutendia escolhesse algueacutem da sua confianccedila para ir descobrir a Ilha do Ouro53 Por outras palavras D Manuel pretendia que se desse continuidade agraves exploraccedilotildees iniciadas por Diogo Pacheco Tal como podemos acompanhar no mesmo capiacutetulo da Deacutecada III da Aacutesia foi Diogo Lopes de Sequeira a escolher ldquoChristo-vatildeo de Mendoccedila filho de Pero de Mendoccedila Alcaide moacuter de Mouratildeordquo54 para tal missatildeo55 A documentaccedilatildeo mostra-nos que Cristoacutevatildeo se encontrava em Goa em Janeiro de 152156 e que partiu de Cochim em 4 de Maio de 152157 Se seguirmos a Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) apercebemo-nos de que a armada comandada por Mendonccedila e destinada a descobrir a Ilha do Ouro era constituiacuteda por quatro navios o navio Satildeo Cristoacutevatildeo em que o proacuteprio viajava a caravela Rosaacuterio co-mandada pelo capitatildeo Pedro Eanes Francecircs o bergantim Santo Antoacutenio comandado pelo capitatildeo Francisco Poles e um parau comandado pelo capitatildeo Gonccedilalo Homem58 Esta armada teraacute chegado agrave Ilha de Samatra por volta de Junho

51 Ver Conhecimento em que se declara que Diogo Lourenccedilo recebeu do feitor de Goa Francisco Cornivel 8 cruzados para mantimento da gente de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 93 Nordm150

52 Ver ldquoRelaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11)rdquo Documento publicado Documentos Sobre os Portugueses Vol VI p100

53 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I IV Cap III p 41254 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I IV Cap III p 413 O cronista poreacutem engana-se ao

referir o parentesco uma vez que o navegador incumbido de descobrir a Ilha do Ouro era Cristoacutevatildeo de Mendonccedila irmatildeo (e natildeo filho) de Pecircro de Mendonccedila

55 Note-se portanto que ao contraacuterio do que eacute defendido por Tricket ndash que tenta colocar esta expediccedilatildeo ao niacutevel da viagem de Vasco da Gama agrave Iacutendia - natildeo houve qualquer ordem real a nomear Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como capitatildeo da expediccedilatildeo destinada a descobrir a miacutetica ilha tendo sido o entatildeo governador da Iacutendia a escolher o capitatildeo para tal empreendimento Ver TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio pp 80-81

56 Conhecimento em que se declara que Diogo Lourenccedilo recebeu do feitor de Goa Fran-cisco Cornivel 8 cruzados para mantimento da gente de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 93 Nordm150

57 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila partiu acompanhado por Jorge de Brito que ia para as Mo-lucas onde deveria construir uma fortaleza e interceptar Fernatildeo de Magalhatildees Ver THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 97

58 Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) Documento publicado in Documentos Sobre os Portugueses Vol VI p 96

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 177

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

A primeira referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece aquando da sua passagem pelo porto de Pedir59 onde encontrou Rafael Catanho que entatildeo regressava de Acheacutem no extremo noroeste da ilha de Sama-tra60 Pouco tempo depois chegava agravequele porto de Pedir o que restava da armada de Jorge de Brito morto em combate juntamente com gran-de nuacutemero de portugueses apoacutes um confronto com as forccedilas do rei de Acheacutem61 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ao encontrar aquela armada desba-ratada e sem capitatildeo pretendeu colocaacute-la sob seu comando62 Poreacutem os poucos fidalgos sobreviventes natildeo o consentiram alegando que o co-mando deveria ser entregue a Antoacutenio de Brito o irmatildeo do falecido ca-pitatildeo que se deveria juntar agrave armada depois de consertar o seu navio63

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila rumou entatildeo a Paceacutem onde se deveria rea-bastecer de mantimentos para dar continuidade agrave viagem Todavia ao chegar a este ponto da narrativa diz-nos Joatildeo de Barros que ldquoo tempo natildeo era da monccedilatildeo pera onde cada hum havia de ir principalmente a de Christovatildeo de Mendoccedila que era jaacute passadardquo64 A acrescentar ao facto de o navegador ter perdido os ventos de monccedilatildeo acresce que o capitatildeo de Malaca Jorge de Albuquerque se encontrava em Paceacutem a construir uma fortaleza destinada a proteger uma feitoria cujo principal objecti-

59 Porto de grande importacircncia no comeacutercio do Iacutendico situado na parte nordeste da Ilha de Samatra O desenvolvimento de Pedir assim como o de Paceacutem relaciona-se estrei-tamente com a propagaccedilatildeo do islatildeo na Indoneacutesia ocidental Em 1509 Diogo Lopes de Sequeira assinou um tratado com o sultatildeo de Pedir e com a conquista de Malaca o seu principal comeacutercio passou a ser dirigido para esta cidade Sobre Pedir veja-se SS ldquoPedirrdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Portugueses (Dir Luis de Albu-querque) Vol II pp 870-872

60 O sultanato islacircmico de Acheacutem foi uma das entidades que mais se opocircs aos interesses dos portugueses estabelecidos em Malaca Fundado por um descendente do rei de Pedir transformou-se num reino poderoso que conquistou vaacuterias terras na ilha de Samatra e ao qual outros reinos pagavam tributo Ver GARCIA Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII pp 198-200

61 Este confronto com o reino de Acheacutem eacute tambeacutem narrado por Damiatildeo de Goacuteis e Fernatildeo Lopes de Castanheda Ver GOacuteIS Chronica IV Cap LXVII pp 566-567 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento V Cap LXV pp 107-109

62 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p546 Fernatildeo Lopes de Castanheda ainda que natildeo refira Cristoacutevatildeo revela que ldquocomo os nauios natildeo tinhatildeo capitatildees ouue alguns que se quiseram levantar coeles amp irse a diversas partes a fazer presasrdquo CASTA-NHEDA Histoacuteria do Descobrimento pp 107-110

63 Com efeito com a chegada de Antoacutenio de Brito foi apresentada uma provisatildeo de D Manuel I que o nomeava capitatildeo daquela armada em caso de falecimento de Jorge de Brito

64 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 548

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203178

Fernando Pessanha

vo consistia na recolha de pimenta que se produzia na regiatildeo65 Foi nes-se sentido que Jorge de Albuquerque determinou que todos os capitatildees que se encontravam em Paceacutem ali permanecessem em ldquofavor daquela fortaleza em quanto ella natildeo estava em estado pera se poder defenderrdquo66

Vemos deste modo que a expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo rumo agrave Ilha do Ouro foi interrompida em funccedilatildeo da necessidade que os portugueses sentiram em se fortificarem naquele ponto da ilha de Samatra Aliaacutes eacute o proacuteprio cronista a referir que a presenccedila de Cristoacutevatildeo e dos outros ca-pitatildees foi providencial para que a fortaleza se pudesse construir jaacute que os adversaacuterios os atacavam de forma sistemaacutetica Num desses ataques Melique Ladil um mouro que reivindicava para si o reino de Paceacutem aproximou-se da fortaleza com treze lancharas67 atrevendo-se a deitar fogo agrave fortificaccedilatildeo Foi entatildeo que Cristoacutevatildeo e os outros capitatildees saiacuteram em sua perseguiccedilatildeo desbaratando o adversaacuterio e confiscando-lhe todas as embarcaccedilotildees para serviccedilo agrave fortaleza Usando as palavras de Manuel de Faria e Sousa ldquoCristoval de Mendoccedila que bien fuerotilde menester para re-sistir y humillar despues a un orgulloso Moro que com algunos baxeles de remo infectava aquella marinardquo68 Finalmente terminada a empreitada Cristoacutevatildeo de Mendonccedila voltou a partir para Malaca69

Tal como Diogo Pacheco eacute possiacutevel que o navegador portuguecircs tenha contornado Samatra antes de partir para Malaca De acordo com Luiacutes Filipe Thomaz eacute provaacutevel que o navegador durante a viagem tenha descoberto uma ilha que deve ter tomado pela Ilha do Ouro ainda que constatado o erro a tenha baptizado com o nome que ainda hoje tem Ilha do Engano Seja como for temos notiacutecia de que a armada jaacute se en-contrava em Malaca em finais de 1521 onde a caravela Santa Maria do Rosaacuterio recebeu mantimentos em 10 de Dezembro para poder seguir

65 Esta fortaleza foi concebida para proteger uma feitoria cujo principal objectivo con-sistia na recolha da pimenta Poreacutem este enclave veio a revelar-se de difiacutecil manuten-ccedilatildeo devido aos ataques de que era alvo parte dos habitantes de Acheacutem Os portugue-ses acabariam por abandonar a fortaleza em Maio de 1523 natildeo tendo ficado qualquer testemunho iconograacutefico deste efeacutemero estabelecimento Castanheda poreacutem refere tratar-se de uma fortaleza ldquofeyta em breue tempo tempo com muros baluartes amp torres de madeyra amp cercada de caua () amp muyto bem artilhadardquo Ver CASTANHEDA Histoacute-ria do Descobrimento V Cap LXIIII pp 106-107 Damiatildeo de Goacuteis explica a conjun-tura poliacutetico-militar que levou agrave construccedilatildeo desta fortaleza Ver GOacuteIS Chronica IV Cap LXVI pp 564-566

66 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 548 67 Navios de remos entatildeo usados naquela zona do Oriente 68 SOUSA Asia Tomo I Pt III Cap V p 20269 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 549

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 179

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

para Paceacutem enquanto a nau Satildeo Cristoacutevatildeo apenas os recebeu em 10 de Janeiro de 1522 para depois seguir para Ormuz70 Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila natildeo teraacute tido tempo suficiente para chegar agrave Ilha do Ouro nesse ano de 1521 Pelo menos eacute o que podemos depreen-der quando Joatildeo de Barros refere a permanecircncia de Cristoacutevatildeo em Men-donccedila no auxiacutelio agrave construccedilatildeo da fortaleza de Paceacutem

Natildeo encontramos portanto elementos nas Deacutecadas da Aacutesia que nos permitam afirmar que este navegador portuguecircs teraacute prosseguido via-gem para o sul de Samatra e encontrado a miacutetica Ilha do Ouro identi-ficada com a Austraacutelia Ainda assim tecircm sido vaacuterios os historiadores nomeadamente Armando Cortesatildeo a defenderem natildeo haver motivo para se duvidar de que Cristoacutevatildeo teraacute seguido com a exploraccedilatildeo de que fora incumbido no ano seguinte aproveitando a monccedilatildeo do princiacutepio de 1522 Note-se que o proacuteprio Luiacutes de Albuquerque ainda que aves-so a esta teoria natildeo deixa de estranhar o facto de as Deacutecadas da Aacutesia natildeo referirem quais os serviccedilos especiais prestados por Mendonccedila que justifiquem a sua nomeaccedilatildeo para a rentaacutevel e apeteciacutevel capitania de Ormuz71 ldquotam viccediloacutesa e abastaacuteda q dizem os moradores della q o Mundo eacute hu aneacutel e Ormuz hua pedra precioacutesa engastaacuteda nellerdquo72 Como a seguir veremos a nomeaccedilatildeo para a capitania de Ormuz natildeo foi a uacutenica benesse com que o navegador foi agraciado apoacutes o seu regresso ao reino

52 A viagem de regresso ao reino

Segundo Trickett nada se sabe sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila nos seis anos posteriores agrave expediccedilatildeo que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro73 Como veremos esta ideia natildeo corresponde agrave realidade Sabe-se por exemplo que depois de o navegador ter estado em Ormuz e na Iacutendia regressou a Portugal em 1524 tendo-se detido em Marccedilo ou Maio desse ano na aguada de Saldanha na actual Aacutefrica do Sul tal como ficou atestado numa inscriccedilatildeo que aiacute foi encontrada

Com efeito decorria o ano de 1989 quando foi identificada uma ins-criccedilatildeo portuguesa em Golden Acre no sopeacute de Adderley Street na Cida-de do Cabo Desta inscriccedilatildeo fracturada sobreviveu um fragmento com 25

70 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 7671 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal p 25872 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada II II Cap II p 48 73 Cf TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio p 87

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203180

Fernando Pessanha

cm de largura por 10 cm de altura que foi recolhido pelo South African Museum Na altura um arqueoacutelogo do South African Museum pensou tratar-se de inscriccedilatildeo funeraacuteria de D Lourenccedilo de Almeida um navega-dor portuguecircs que numa viagem de regresso ao reino desembarcou na Baiacutea do Saldanha em Dezembro de 1509 de modo a castigar uns indiacutege-nas Poreacutem acabou por falecer nesse recontro juntamente com muitos outros elementos da sua tripulaccedilatildeo o que levou o referido arqueoacutelogo a interpretar o achado como uma inscriccedilatildeo funeraacuteria

Entretanto em Janeiro de 1990 o Prof Eric Axelon comunicou agrave Comissatildeo Nacional para as Comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portu-gueses a descoberta da inscriccedilatildeo Axelon adiantava poder tratar-se de um artefacto representativo da passagem de Duarte de Meneses pela Cidade do Cabo em 1524 Poreacutem a leitura e interpretaccedilatildeo de Maacuterio Jorge Barroca assistente de Arqueologia Medieval da Universidade do Porto veio a invalidar as suposiccedilotildees de Axelon e do arqueoacutelogo do South African Museum De acordo com Maacuterio Jorge Barroca este do-cumento epigraacutefico refere-se a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ainda que o estado de conservaccedilatildeo desta inscriccedilatildeo dificulte a interpretaccedilatildeo do seu conteuacutedo74 Luiacutes Filipe Thomaz que tambeacutem abordou esta inscriccedilatildeo faz uma leitura ligeiramente diferente mas que concorda quanto ao essencial do conteuacutedo75 De resto eacute interessante notar que para aleacutem dos supra citados autores apenas encontraacutemos referecircncias a este do-cumento epigraacutefico em Luiacutes de Albuquerque76 Antoacutenio Pereira Cardo-so77 e Joseacute Manuel Garcia78

De modo geral a inscriccedilatildeo identificada na Cidade do Cabo vem de-monstrar efectivamente que Cristoacutevatildeo empreendeu a viagem de re-gresso ao reino em 1524 sendo provaacutevel que tenha partido de Cochim logo no iniacutecio do ano Sabemos que se encontrava no sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio No entanto e ainda que esta epiacutegrafe se apresente como um elemento de grande interesse para a reconstituiccedilatildeo do percurso de Cristoacutevatildeo continuamos sem saber o que teraacute feito e por onde teraacute nave-gado entre os iniacutecios de 1522 quando recebeu mantimentos para seguir

74 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo pp 17-1875 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 7976 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-

tos Vol II pp 727-72877 CARDOSO A provaacutevel viagem pp10-1978 GARCIA O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash

1555 Nordm 8 p 98

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 181

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

para Ormuz e os iniacutecios de 1524 quando partiu da Iacutendia para regressar a Portugal Teraacute ele permanecido todo esse tempo em Ormuz Ou teraacute dado continuidade agraves exploraccedilotildees que lhe tinham sido incumbidas pelo governador Diogo Lopes de Sequeira

6 Rendas mercecircs e distinccedilotildees

61 Tenccedilas recebidas

Referimos haacute pouco natildeo ser correcta a ideia de nada se saber sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila nos seis anos posteriores agrave expediccedilatildeo que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro De facto para aleacutem da inscri-ccedilatildeo encontrada na Cidade do Cabo e que atesta a passagem de Mendon-ccedila pelo sul de Aacutefrica tambeacutem existem alguns documentos acondiciona-dos no Arquivo Nacional da Torre do Tombo que revelam informaccedilotildees interessantes para o periacuteodo correspondente agrave sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e 1527 Satildeo exactamente esses documentos que nos datildeo conta das rendas mercecircs e distinccedilotildees com que este navegador foi agraciado

Sabemos que em 4 de Julho de 1526 por exemplo D Joatildeo III mandou o almoxarife de Aveiro dar a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ldquofidalgo da sua casardquo 50000 reacuteis de tenccedila que ficaria assentada na alfacircndega da cidade de Lisboa79 Seria esta uma tenccedila generosa A resposta a esta questatildeo le-vou-nos a comparar este valor com as tenccedilas auferidas pelos seus fami-liares e por outros navegadores seus contemporacircneos Foi nesse sentido que constataacutemos que o ceacutelebre navegador e cosmoacutegrafo Duarte Pacheco Pereira depois de inuacutemeros serviccedilos prestados agrave Coroa recebeu uma tenccedila anual de 50000 reais nesse mesmo ano de 152680 Tristatildeo da Cu-nha ceacutelebre navegador e comandante naval portuguecircs nomeado por D Manuel para primeiro governador da Iacutendia em 150581 e pai de Nuno da Cunha Governador da Iacutendia entre 1528 e 153882 recebeu 40000 reacuteis

79 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57 80 JB de C ldquoPereira Duarte Pachecordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol V pp 52-

54 COSME ldquoOs homens de ciecircnciardquo pp 91-9781 E S ldquoCunha Tristatildeo da (1460-1540)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol II p 260

Sobre Tristatildeo da Cunha veja-se tambeacutem CARVALHO ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Manuelinardquo pp 199-226

82 E S ldquoCunha Nuno da (1487-1539)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol II pp 258-259 Sobre Nuno da Cunha veja-se tambeacutem CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538)

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203182

Fernando Pessanha

de tenccedila no mesmo ano de 152683 Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo rece-beu uma tenccedila generosa ao voltar ao reino Talvez Note-se que o pai de Cristoacutevatildeo Diogo de Mendonccedila alcaide-mor de Mouratildeo recebia os mesmos 50000 reacuteis de tenccedila em 150184 e em 151485 valor que o irmatildeo de Cristoacutevatildeo Pedro de Mendonccedila passou a auferir ao herdar a alcaidaria de Mouratildeo em 151786

Para aleacutem dos 50000 reacuteis de tenccedila eacute o proacuteprio Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila a mandar Jacome Bentes receber de Joatildeo de Azambuja 200000 reacuteis em virtude da outra procuraccedilatildeo que o dito Mendonccedila tinha feito para receber dos almoxarifes de Setuacutebal Aveiro e Coimbra87 Refira-se a este respeito que ainda no mesmo ano ordenou D Joatildeo III que o almoxari-fe de Aveiro pagasse ao jaacute referido Tristatildeo da Cunha 100000 reacuteis para pagamento de 250000 reacuteis da sua tenccedila88 ou que Vasco da Gama ao re-gressar ao reino depois de descobrir o caminho mariacutetimo para a Iacutendia recebeu uma renda de 300000 reacuteis89 Vemos deste modo que os rendi-mentos auferidos por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aquando do seu regresso ao reino natildeo foram propriamente modestos quando comparados com os do primeiro governador da Iacutendia ou com os do navegador e cosmoacute-grafo Duarte Pacheco Pereira

Por fim surge-nos um documento datado de 13 de Abril de 1527 e que tem por tiacutetulo Estabelecimento que Fernando Rodrigues como procu-rador de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila fidalgo da Casa do Rei fez em Fernando Gomes para cobrar todas as tenccedilas e moradias do seu dito constituinte90 Repare-se que de acordo com Joatildeo de Barros Cristoacutevatildeo de Mendonccedila voltou a partir para o Oriente em Marccedilo de 1527 Vemos portanto que o referido documento eacute ligeiramente posterior agrave partida do navegador e que este deixou instruccedilotildees ao seu procurador para que algueacutem cobrasse todas as suas tenccedilas e moradias De resto a alusatildeo agraves ldquotenccedilas e moradi-

83 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 135 Nordm4584 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 13 fl60 ANTT Chancelaria de D Manuel I

liv 8 fl29v85 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 53 Nordm18286 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 10 fl53 Repare-se que a partir de 1523 Pe-

dro de Mendonccedila passou a receber apenas 30000 reacuteis ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 109 Nordm131 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 131 Nordm226

87 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 136 Nordm10288 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 135 Nordm4989 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 4 fl 37 COSME ldquoOs Navegadores ndash Vasco da

Gamardquo p 14990 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 141 Nordm91

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 183

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

asrdquo vem reforccedilar a ideia de que os serviccedilos prestados por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente foram bem recompensados pelo monarca portu-guecircs Resta-nos perceber que serviccedilos teratildeo justificado estas recompen-sas assim como aquelas a que de seguida aludiremos

62 A capitania de Ormuz

Para aleacutem dos rendimentos atraacutes referidos os serviccedilos prestados por Mendonccedila foram igualmente agraciados com a nomeaccedilatildeo para a ren-taacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz para onde partiu em Marccedilo de 152791 Natildeo deixa de ser interessante a alusatildeo que cronistas como Joatildeo de Barros ou Frei Luiacutes de Sousa fazem aos Braganccedilas no momento em que referem esta nova partida de Cristoacutevatildeo para a Iacutendia Com efeito eacute possiacutevel que o duque de Braganccedila jaacute tivesse ligaccedilotildees aos Mendon-ccedilas ainda que o casamento de D Jaime com D Joana de Mendonccedila soacute se tenha realizado em 1520 Teresa Lacerda levanta a hipoacutetese de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ter sido indigitado para o Conselho Reacutegio por influecircncia do duque de Braganccedila do mesmo modo como foi nomea-do para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 e para capitatildeo de Ormuz em 152792 De facto natildeo eacute impossiacutevel No entanto somos da opiniatildeo de que natildeo seraacute apenas D Joana a estar na origem de uma eventual ligaccedilatildeo de D Jaime aos Mendonccedilas como tambeacutem a participaccedilatildeo do seu pai ldquoDiogo de mendonccedila alcaide mor de Mouratildeordquo e de ldquoPero de Mendonccedila seu filhordquo na conquista de Azamor comandada pelo proacuteprio duque em 151393

De facto natildeo sabemos se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teraacute sido indigitado para o Conselho Reacutegio para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquer-que de 1519 ou para a capitania de Ormuz por influecircncia do duque de Braganccedila Seja como for parece-nos que o contexto social e familiar de Cristoacutevatildeo teraacute pesado no momento em que o monarca procedeu a tais nomeaccedilotildees Basta recordarmos que Afonso Furtado bisavocirc de Cristoacute-vatildeo tinha sido nomeado capitatildeo do mar por D Joatildeo I em 138594 Afonso

91 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada IV II Cap III p 73 Ver tambeacutem CORREIA Lendas Vol III Pt I Cap XVI p 182 SOUSA Anais Vol II IV Cap I p 1 SOUSA Asia Tomo I Pt IV Cap II p 256

92 LACERDA Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social p 112 nota 375

93 GOacuteIS Chronica III Cap XLVI p 367 GAYO Nobiliaacuterio p 5394 FREIRE Brasotildees Vol III pp 170-171

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203184

Fernando Pessanha

Furtado de Mendonccedila avocirc de Cristoacutevatildeo para aleacutem de capitatildeo-mor do mar95 aparece referido como escrivatildeo da feitoria de Sofala96 Pedro de Mendonccedila tio de Cristoacutevatildeo tinha comandado uma nau numa frota de 12 navios que em 1504 partiu para a Iacutendia para garantir a seguranccedila das rotas comerciais do oceano Iacutendico e controlar o governante hostil de Calecut97 Natildeo se pode portanto considerar que os Mendonccedilas seri-am marginais ao projecto de expansatildeo ultramarina quando Cristoacutevatildeo aparece nomeado para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 ou para a capitania de Ormuz que deteve entre 1527 e 1531 ou 1532 ano da sua morte

Chegando a este ponto vale a pena determo-nos brevemente de modo a compreendermos o que era Ormuz e o que representava esta capitania no contexto do Impeacuterio Portuguecircs no Oriente Antes de mais conveacutem recordarmos que Ormuz era um importantiacutessimo entreposto mercantil em virtude da sua privilegiada localizaccedilatildeo geograacutefica na en-trada do Golfo Peacutersico Com efeito com a segunda conquista de Ormuz por Afonso de Albuquerque em 1515 e a consequente imposiccedilatildeo de um protectorado a Coroa portuguesa passou a arrecadar uma parcela con-sideraacutevel das receitas aduaneiras da proacutespera ilha transformando-se Ormuz no epicentro das actividades portuguesas no Golfo Peacutersico e no mar da Araacutebia A acreditar-se nas fontes quinhentistas era tal o movi-mento e a intensidade no porto de Ormuz que natildeo era invulgar ali en-contrar mais de 200 navios carregados de mercadorias De entre as mais importantes mercadorias que passavam pela cidade destacavam-se os cavalos oriundos da Araacutebia e da Peacutersia com destino aos portos da cos-ta ocidental da Iacutendia de onde eram encaminhados para os potentados indianos entre os quais grassavam guerras endeacutemicas Mas outros pro-dutos aacuterabes e persas faziam a riqueza da esteacuteril ilha de Djarucircn como as alcatifas aacuterabes as peacuterolas de Bahareacutem os tapetes a seda e a prata da Peacutersia o salitre e o enxofre da proacutepria ilha ao lado de mercadorias menos nobres como os frutos secos ou os cereais Dadas as circunstacircn-cias natildeo seraacute de estranhar que ao longo de todo o seacutec XVI a alfacircndega de Ormuz se tenha destacado como a mais rentaacutevel de todo o Estado da Iacutendia logo a seguir agrave de Goa Por outras palavras a cidade gerava

95 FARIA Livro de Linhagens p 27296 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada I Pt I V Cap III97 MALDONADO Relaccedilatildeo das Naos e Armadas da Iacutendia p 16 ANTT Corpo Cronoloacutegi-

co Pt II maccedilo 9 Nordm 35

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 185

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

um volume de receitas tatildeo consideraacutevel que a capitania de Ormuz aca-bou por se transformar numa das mais apetecidas de todo o Impeacuterio no Oriente Vemos deste modo que a atribuiccedilatildeo desta capitania natildeo soacute era motivo de prestiacutegio para o capitatildeo nomeado como tambeacutem fonte de grande riqueza98

Natildeo podemos deixar de notar que as Deacutecadas da Aacutesia ao referir-se agrave nomeaccedilatildeo de Mendonccedila para a capitania de Ormuz natildeo refere quais-quer serviccedilos especiais que justifiquem a atribuiccedilatildeo de tal benesse Ar-mando Cortesatildeo que levantou a hipoacutetese de ter sido Mendonccedila o pri-meiro europeu a chegar agrave Austraacutelia foi um dos investigadores a sugerir que esta nomeaccedilatildeo se devesse aos serviccedilos prestados pelo navegador99 Poreacutem e tal como temos afirmado ao longo deste trabalho natildeo existe qualquer documento que assegure o ecircxito de Mendonccedila relativamente agrave viagem que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro Omis-satildeo que segundo Jaime Cortesatildeo foi consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo entatildeo vigente Luiacutes de Albuquerque ainda que contraacuterio agrave teoria da descoberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que ldquodeve a sua celebridade a uma expediccedilatildeo que natildeo fezrdquo100 estranha no entanto o facto de Diogo do Couto natildeo mencionar os serviccedilos especiais que estiveram na origem da nomeaccedilatildeo do navegador para a capitania de Ormuz101 Esta distinccedilatildeo torna-se ainda mais suspeita se tivermos em consideraccedilatildeo que uma nomeaccedilatildeo desta natureza implicaria em meacutedia 10 anos de serviccedilos no Oriente102 durante os quais era acumu-lada a experiecircncia necessaacuteria para o desempenho de uma capitania Como vimos natildeo foi esse o caso de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Aliaacutes as nomeaccedilotildees para as capitanias mais importantes e lucrativas como Or-muz Goa ou Malaca natildeo soacute eram atribuiacutedas em reconhecimento pelos vaacuterios anos de serviccedilo no Oriente como tambeacutem recaiacuteam tendencial-mente sobre nobres com uma maior presenccedila na corte o que tambeacutem

98 LOUREIRO ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 pp 749-797 JPC ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 833-836

99 CORTESAcircO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158100 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo p 727101 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol IV

p 258102 Andreia Martins de Carvalho determinou os anos de serviccedilo de fidalgos no Oriente

antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania entre 1518 e 1544 CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 211 Foi nesse sentido que tendo em conta a infor-maccedilatildeo disponiacutevel sobre o percurso de 37 fidalgos estabelecemos a meacutedia de anos relativos a serviccedilos no Oriente antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203186

Fernando Pessanha

natildeo era o caso de Mendonccedila Ora se o navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro como explicar tatildeo generoso honroso e rentaacutevel reconhecimento Isto claro para aleacutem das compensaccedilotildees econoacutemicas atraacutes referidas e da entrega da comenda da Ordem de Cris-to que de seguida abordaremos De resto a capitania de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ficou marcada por episoacutedios dignos de registo como o au-xiacutelio prestado agrave frota de Simatildeo da Cunha assolada por uma epidemia contraiacuteda na campanha contra a ilha de Bahareacutem103 Refira-se aliaacutes que foi sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que recaiu a responsabilidade de escolher um agente para realizar a ceacutelebre missatildeo de espionagem que constituiu a viagem por terra de Ormuz a Portugal protagonizada por Antoacutenio Tenreiro entre Setembro de 1528 e Maio de 1529 - viagem cuja narrativa constitui um notaacutevel documento histoacuterico de natureza geograacutefica religiosa e antropoloacutegica104

63 A comenda da vila de Arenilha

Tal como anteriormente referimos deparaacutemo-nos com dois documen-tos que chamaram a nossa atenccedilatildeo aquando da investigaccedilatildeo para o ar-tigo ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo Trata-se de duas cartas em que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece referido como comendador da vila de Arenilha O primeiro documento data de 29 de Dezembro de 1529 e tem por tiacutetulo Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bregantim missiva em que o comendador de Arenilha culpa o marquecircs de Ayamonte pelos danos causados nas barcas dos habitantes da vila no-meadamente no referido bergantim chegando mesmo a mandar ldquopagar as barcas e () as perdas que receberam os donos delas e asy o dano que se fez na Arenilhardquo e mandar o marquecircs prender os responsaacuteveis que se encontrem nas suas terras105 Como se pode perceber o tom da missiva natildeo resulta propriamente abonatoacuterio para o nobre espanhol

103 SOUSA Anais Vol II IV Cap XXII p 106104 Como recompensa pelos serviccedilos prestados Antoacutenio Tenreiro recebeu da Coroa em

1533 uma tenccedila anual de 30000 reacuteis e o haacutebito de cavaleiro da Ordem de Cristo Ver TENREIRO amp AFONSO Viagens por terra da Iacutendia a Portugal p 18 RL ldquoTenreiro Antoacuteniordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II p 1023

105 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 Nordm45

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 187

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig1 - Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua

Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do

marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

Fig 1

Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o

marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203188

Fernando Pessanha

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig2 - Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar

creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Arenilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada destinada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila assim como o seu

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesahelliprdquo pp 86-82

Fig 2

Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao

comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Are-nilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada desti-nada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesardquo pp 86-82

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 189

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacute-vatildeo de Mendonccedila assim como o seu percurso como capitatildeo nas armadas da Iacutendia acreditamos encontrar-nos em condiccedilotildees para demonstrarmos que a comenda de Arenilha foi efectivamente atribuiacuteda ao navegador como reconhecimento pelos serviccedilos prestados no Oriente

Com efeito satildeo vaacuterios os indicadores que nos levam a afirmaacute-lo Em primeiro lugar o facto de natildeo se encontrar nas croacutenicas nem nas fontes coevas qualquer referecircncia a um homoacutenimo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a balizagem cronoloacutegica compreendida entre 1514 e 1532 periacuteodo em que aparece referido na documentaccedilatildeo Aliaacutes as da-tas discriminadas nos documentos que o referem como comendador de Arenilha corroboram a ideia de esta comenda ter sido atribuiacuteda aquando do seu regresso ao reino Eacute certo que natildeo sabemos a data em que Cristoacutevatildeo teraacute chegado a Portugal ainda que tenhamos notiacutecia da sua passagem pelo sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio de 1524 durante a viagem de regresso108 Poreacutem as tenccedilas atraacutes mencionadas indicam que se encontrava no reino em 1526 Uma vez que os documentos que o referem como comendador da vila da foz do Guadiana remontam a Dezembro de 1529 e Maio de 1530 anos em que o navegador jaacute se encontrava no Oriente eacute de supor que D Joatildeo III lhe teraacute atribuiacutedo a comenda aquando da sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e Marccedilo de 1527 ano em que voltou a partir para a Iacutendia jaacute na qualida-de de capitatildeo de Ormuz

Uma vez que natildeo se verificam homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila para a balizagem cronoloacutegica atraacutes referida e que as datas dos docu-mentos que o referem como comendador de Arenilha satildeo ligeiramente posteriores ao seu regresso ao reino resta-nos determinar se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila reunia as condiccedilotildees necessaacuterias para ser agraciado com uma comenda desta natureza Antes de mais importa referir que a vila de Arenilha e de Castro Marim eram as duas uacutenicas comendas da Ordem de Cristo no Algarve Curiosamente Isabel L Morgado de Sousa e Silva natildeo refere a comenda de Arenilha na dissertaccedilatildeo para doutoramento

108 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo Oceanos Nordm4 pp 17-18 ALBU-QUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 727-728 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 79

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203190

Fernando Pessanha

A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521)109 Poreacutem o documento publicado por Hugo Cavaco natildeo deixa margem para duacutevidas

ldquoNo Bispado do Algarve haacute somente duas Commendas da Ordem (de

Cristo) que satildeo das antigas e as seguintes

A Commenda e Alcaideria-moacuter de Castro Marim avaliou-se em quatro-

centos e cinquenta mil reacuteis no anno de 1608

A Commenda da Alcaideria-mograver de Santo Antonio de Arenilha que estaacute

junto a Castro Marim em cento e trinta mil reacuteis no anno de 1608

No Bispado do Algarve natildeo haacute nenhuma Commenda desta Ordem mais

que as duas velhas que valem quinhentos e oitenta mil reacuteis como se vecirc

da somma adianterdquo110

Aliaacutes soacute o facto de Arenilha ser comenda da Ordem de Cristo poderaacute explicar que o senhorio da vila tenha sido atribuiacutedo exclusivamente a cavaleiros da miliacutecia ao longo de toda a centuacuteria quinhentista111

Naturalmente que estas comendas implicavam desde logo a existecircn-cia de comendadores sobre os quais recaiacutea o senhorio das ditas vilas o que era compreendido como motivo de honra e de prestiacutegio social numa sociedade ainda bastante influenciada pelas antigas tradiccedilotildees medievo-feudais Comendas refira-se que compreendiam o direito agrave administra-ccedilatildeo da localidade e conferiam uma renda para sustentaccedilatildeo do comenda-dor beneficiaacuterio configurando um recurso para os encargos da proacutepria comenda No entanto a atribuiccedilatildeo de uma comenda representava um benefiacutecio atribuiacutedo a cavaleiros professos nas ordens militares como re-compensa por serviccedilos prestados Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Men-donccedila soacute poderia ser agraciado com a comenda de Arenilha caso tivesse sido investido na Ordem de Cristo Foi nesse sentido que procuraacutemos determinar se este navegador professou nesta Ordem Militar

Com efeito a dissertaccedilatildeo Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) de Joatildeo Maria Falcatildeo Pestana de Vascon-celos natildeo faz qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila enquanto cavaleiro da Ordem de Cristo Refere no entanto o seu avocirc Afonso Fur-

109 SILVA A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta110 Documento VIII BNLMicroformas F5040 Documento publicado por CAVACO Revisi-

tando p 52111 Cf PESSANHA Os 500 anos pp 57-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 191

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

tado de Mendonccedila comendador de Cardiga da Ordem de Cristo112 a sua irmatilde Margarida de Mendonccedila enquanto mulher de um comendador da mesma Ordem e o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo que recebeu o haacutebito da miliacutecia em 16 de Abril de 1514113 Ain-da que a referida dissertaccedilatildeo natildeo faccedila qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo enquanto membro desta Ordem vem demonstrar a ligaccedilatildeo de alguns dos seus familiares agrave mesma natildeo soacute na qualidade de cavaleiros como tambeacutem de comendadores

Poreacutem Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social de Teresa Lacerda assim como a jaacute referida tese A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) de Isabel L Morgado de Sousa e Silva jaacute identificam efectivamente Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como frei cavaleiro desta Ordem114 De acordo com a obra consultada Cavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVI Cristoacutevatildeo de Mendonccedila recebeu efectivamente o haacutebito da Ordem de Cristo em 16 de Abril de 1514115 exactamente na mesma data em que o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila tambeacutem foi in-vestido116 De resto o facto de Cristoacutevatildeo aparecer referido como mem-bro da miliacutecia numa provisatildeo em que D Joatildeo III manda o almoxarife de Aveiro pagar ldquoa Cristoacutevatildeo de Mendonccedila sua tenccedila deste ano 50000 reacuteis assentada na alfacircndega de Lisboa com o haacutebito de Cristordquo117 vem dissipar qualquer duacutevida que ainda subsistisse

Note-se que identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como cavaleiro da Ordem de Cristo natildeo pudemos deixar de reparar no silecircncio dos cronistas no momento de identificar os intervenientes no processo ex-pansionista com as suas respectivas filiaccedilotildees nas Ordens Militares De facto quer Joatildeo de Barros quer os cronistas que lhe sucederam natildeo fazem qualquer referecircncia agrave filiaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo em qualquer Ordem tal como de acordo com o que constataacutemos raramente o fazem em relaccedilatildeo a outros cavaleiros Esta evidecircncia pode parecer ainda mais estranha se tivermos em consideraccedilatildeo o forte envolvimento da Ordem

112 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Vol I p 377 FARIA Livro de Linhagens p 275

113 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares p 392 114 LACERDA Os Capitatildees das Armadas pp 120 e 228 SILVA A Ordem de Cristo p 336

SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma perspectiva de estudordquo apecircndice

115 FARIA ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo p 21116 FARIA ldquoCavaleirosrdquo p 21 Ver tambeacutem SILVA A Ordem de Cristo p 330117 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203192

Fernando Pessanha

de Cristo na Histoacuteria da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses Ordem Militar sublinhe-se que teve como governadores figuras in-contornaacuteveis da famiacutelia real como o infante D Henrique o infante D Fernando o rei D Manuel ou o rei D Joatildeo III118 Poreacutem haacute que ter em consideraccedilatildeo que documentos como Memoacuteria das Armadas ou o Livro de Lisuarte de Abreu natildeo satildeo fontes sobre qualquer uma das Ordens razatildeo pela qual se torna compreensiacutevel a ausecircncia de referecircncias mais completas relativamente aos intervenientes no processo de expansatildeo Aliaacutes a intenccedilatildeo subjacente agrave produccedilatildeo de obras como Histoacuteria do Des-cobrimento e da Conquista da Iacutendia natildeo passa por apresentar informa-ccedilatildeo detalhada sobre as individualidades que participaram no processo expansionista mas antes destacar o protagonismo reacutegio em todo este processo119

Por fim natildeo se verificando homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a cronologia abordada coincidindo as datas que o referem como comendador de Arenilha e identificado este navegador como cavalei-ro da Ordem de Cristo resta-nos perceber por que motivo lhe teraacute sido entregue a comenda desta vila na foz do Guadiana Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo que a fundaccedilatildeo de Are-nilha prende-se com a afirmaccedilatildeo da soberania poliacutetica e administra-tiva de D Manuel sobre um territoacuterio frequentado por castelhanos Eacute exactamente nesse contexto que em 1421 Castro Marim justificava o pedido de isenccedilatildeo de alguns encargos pelos ldquoconstantes trabalhos que os moradores tinham com os castelhanos que insistiam em vir pescar ao reinordquo120 Quer isto dizer que os castelhanos vinham pescar para as margens portuguesas natildeo pagando os devidos impostos agrave Coroa Aliaacutes a existecircncia do topoacutenimo de origem castelhana Arenilha121 ainda antes da elaboraccedilatildeo da Carta de Privileacutegio que manda proceder agrave construccedilatildeo

118 FONSECA ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo pp 321-347 Ver tambeacutem SILVA A Or-dem de Cristo pp 43-110

119 Cf SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristordquo pp 349-361120 VENTURA ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo p 608

ANTT Chancelaria de D Afonso V liv 2 fl30121 De acordo com o dicionaacuterio da Real Academia Espantildeola ldquoarenillardquo apresenta-se como

sinoacutenimo de ldquoarena menudardquo Ver Dicionario de la Real Academia Espantildeola Disponiacutevel em httplemaraeesdraeval=arenilla ndash Consultado dia 10 de Setembro de 2013 Note-se que quando em 1775 se pretendeu baptizar a nova vila iluminista com o nome de Vila Real de Santo Antoacutenio de Arenilha prontamente o Marquecircs de Pombal proibiu a utilizaccedilatildeo do nome ldquoArenilhardquo alegando que ldquoeacute uma palavra hespanhola e Villa Real uma povoaccedilatildeo portuguesardquo Ver OLIVEIRA Monografia p 71

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 193

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

da vila122 indica a ocupaccedilatildeo daquele areal na margem portuguesa da foz do Guadiana por populaccedilotildees de pescadores de origem castelhana Dadas as circunstacircncias seria do interesse estrateacutegico do monarca que esta comenda recaiacutesse sobre algueacutem experimentado na guarda da fronteira e que fizesse cumprir o pagamento dos devidos direitos aduaneiros Re-corde-se que Arenilha para aleacutem de comenda da Ordem de Cristo era uma vila de fronteira situada na margem portuguesa do Guadiana tal como o era a vila de Mouratildeo de onde Cristoacutevatildeo de Mendonccedila era natu-ral Como anteriormente referimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Men-donccedila o fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo que foi nomeado em 1476 alcaide-mor de Mouratildeo123 uma vila fortificada do Alentejo que guarda-va a fronteira portuguesa frente a Espanha O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas mostra-nos o castelo de Mouratildeo onde Cristoacutevatildeo teraacute crescido localizado no cimo de uma colina sobranceiro ao Guadiana124 Quer isto dizer que o ceacutelebre navegador era descendente de uma famiacutelia experimentada na guarda da fronteira face ao reino vizinho e familia-rizado com as actividades militares tributaacuterias e administrativas que lhe eram inerentes125 Assim sendo esta condiccedilatildeo de fronteiro a juntar ao facto de Cristoacutevatildeo ser cavaleiro da Ordem de Cristo teraacute resultado altamente pertinente no momento em que D Joatildeo III decidiu atribuir a comenda de Arenilha a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como recompensa pelos serviccedilos prestados

Por fim mas natildeo menos relevante teraacute sido a experiecircncia naval e militar adquirida por Mendonccedila nos mares do Oriente e direccionada para a foz do Guadiana sistematicamente ameaccedilada pelos ataques da pi-rataria magrebina126 Recorde-se que Mendonccedila no decurso das suas na-vegaccedilotildees na australaacutesia viu-se na necessidade de defender posiccedilotildees por-

122 O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas produzido por volta de 1509 jaacute indicava o topoacutenimo que veio a ser oficializado com a Carta de Privileacutegio de 12 de Fevereiro de 1513 Ver ARMAS O Livro das Fortalezas fl 1

123 FREIRE Brasotildees Vol III p 173124 ANTT Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Livro das Fortalezas si-

tuadas no Extremo de Portugal e Castela por Duarte de Armas escudeiro da Casa do Rei D Manuel I Nordm 159 fls 13-14 ARMAS O Livro das Fortalezas fls 13-14

125 Refira-se que foi durante o periacuteodo em que o pai de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila deteve a alcaidaria de Mouratildeo que o rei D Manuel obteve dos povos nas cortes de Lisboa de 1502 uma vultosa contribuiccedilatildeo que fez com que o castelo da vila fosse intervenciona-do por dois importantes arquitectos reacutegios os irmatildeos Francisco e Diogo de Arruda os mestres das obras reacutegias da comarca de entre o Tejo e o Guadiana Ver FARIA ldquoForti-ficaccedilotildees de Portugal na fronteira da Estremadura espanholardquo p 161

126 Sobre este assunto veja-se PESSANHA ldquoAtaques da piratariardquo pp 63-94

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203194

Fernando Pessanha

tuguesas dando combate aos adversaacuterios Recordemos a este respeito o ataque movido por Melique Ladil agrave fortaleza de Paceacutem entatildeo guardada por Mendonccedila e a maneira como o ldquomourordquo foi desbaratado e despo-jado das treze embarcaccedilotildees usadas no assalto127 Dadas as circunstacircnci-as seria um desperdiacutecio natildeo se aproveitar a experiecircncia deste capitatildeo numa altura em que se verificava um incremento da actividade piraacutetica nas costas do Algarve Esta actividade da pirataria na foz do Guadiana eacute aliaacutes referida por Bernardo Rodrigues em vaacuterias ocasiotildees nomeada-mente aquando da estadia da condessa de Redondo na vila de Arenilha em 1522128 ou quando Vasco Fernandes Ceacutesar - antigo adaiacutel de Azamor e capitatildeo da Armada do Estreito129 - foi incumbido embarcar o conde do Redondo D Joatildeo Coutinho na vila de Arenilha e escoltaacute-lo a Arzila130 Refira-se que a caminho da foz do Guadiana o navio de Vasco Fernan-des Ceacutesar foi atacado por duas naus tendo-se seguido um combate naval que resultou na explosatildeo de parte da alcaacuteccedilova atirando cinco homens ao mar entre os quais Vasco Fernandes que ficou gravemente ferido131

Vemos deste modo que a entrega da comenda de Arenilha a um in-diviacuteduo como Cristoacutevatildeo de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo descendente de uma famiacutelia de fronteiros e navegador experimentado no combate naval natildeo soacute era altamente pertinente como simboacutelica e manifestamente estrateacutegica para a defesa do extremo sudeste algarvio e da foz do Guadiana onde Mendonccedila deveria actuar com autoridade se-nhorial usufruindo dos seus bens e rendimentos E no caso da comenda de Arenilha Seriam generosos os seus rendimentos Sem duacutevida Se assim natildeo fosse o rei D Duarte natildeo teria doado ao infante D Henrique ainda em 25 de Setembro de 1433 a ldquodiacutesima nova de todo o pescado que pescarem quaisquer pessoas no mar do Monte Gordordquo132 Aliaacutes seraacute certa-

127 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III pp548-549128 RODRIGUES Anais de Arzila Tomo I Cap XC p 373129 GOacuteIS Chronica IV Cap LVII p 552 Sobre a Armada do Estreito veja-se GODINHO

ldquoA armada do estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo pp117-137130 RODRIGUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 PESSANHA Subsiacutedios p 100131 Segundo Bernardo Rodrigues os sobreviventes portugueses por pouco natildeo foram

executados Os que sobreviveram ao combate foram aprisionados e levados para Di-eppe Vasco Fernandes apesar de ferido acabou por escapar do cativeiro desfiando uma esteira e escapando por ela da torre onde se encontrava aprisionado RODRI-GUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 Ver tambeacutem PISSARRA ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Armada do Estreitordquo pp 144-145

132 SERRAtildeO Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fundaccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) p 65 OLIVEIRA Monografia p 73

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 195

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

mente o motivo econoacutemico que jaacute em 1555 estaraacute na origem da disputa pelo senhorio de Arenilha entre Jeroacutenimo de Melo fidalgo da Casa Real e alcaide-mor de Castro Marim e Luiacutes Leite frei cavaleiro da Ordem de Cristo e filho de Antoacutenio Leite o anterior alcaide133

Relativamente agrave defesa sabemos que Arenilha natildeo possuiacutea castelo torre ou qualquer fortificaccedilatildeo digna de registo ateacute 1542-1547 periacuteodo em que o alcaide Antoacutenio Leite daacute-nos conta das ldquotramqueyras e repai-rosrdquo construiacutedos sob o seu comando para a populaccedilatildeo se defender dos ataques da pirataria moura134 Ainda assim Mendonccedila estava obrigado a zelar pela defesa da vila independentemente de esta ter ou natildeo for-tificaccedilotildees para a proteger Se tivermos em consideraccedilatildeo que a sua no-meaccedilatildeo como comendador o obrigava agrave realizaccedilatildeo de um inventaacuterio ao patrimoacutenio da comenda (infelizmente desconhecido) e ao dever de fixar residecircncia na sua aacuterea de governo135 eacute muito provaacutevel que Cristoacutevatildeo se tenha detido durante algum tempo na vila da foz do Guadiana algures entre finais de 1524 aquando da sua chegada ao reino136 e Marccedilo de 1527 quando voltou a partir para o Oriente

Como anteriormente referimos os comendadores deviam fixar-se nas suas comendas para melhor procederem agrave sua defesa e melhor ren-tabilizarem as mesmas Assim sendo como eacute possiacutevel que os documen-tos que referem Cristoacutevatildeo como comendador de Arenilha sejam relati-vos aos anos em que este se encontrava na capitania de Ormuz Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo de que a principal obrigaccedilatildeo dos cavaleiros da Ordem de Cristo era a luta contra os inimigos da feacute devendo estar prontos para a guerra sempre que o Mestre os convocasse Uma vez que as situaccedilotildees de guerra eram cons-tantes nos territoacuterios de aleacutem-mar onde a presenccedila dos cavaleiros da Ordem se tornava necessaacuteria natildeo eacute de admirar que estes fossem dispen-sados da exigecircncia que os obrigava a permanecer nas suas comendas137

133 CAVACO Revisitando pp 18-20 PESSANHA Os 500 anos pp 72-73134 Carta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava

atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras e que era necessaacute-rio enviar-lhe socorro ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos p 99 PINTO ldquoIacutendice Analiacuteticordquo p 267

135 Cf SILVA A Ordem de Cristo pp 189-190136 Uma vez que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila se encontrava na Aacutefrica do Sul em Marccedilo ou Maio

de 1524 eacute de supor que a sua chegada ao reino se tenha dado ainda no mesmo ano137 SILVA A Ordem de Cristo p 191

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203196

Fernando Pessanha

Eacute nesse sentido que encontramos Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comen-dador de Arenilha em 1529 e 1530 anos em que jaacute se encontrava como capitatildeo na fortaleza de Ormuz De resto era nesta fortaleza que ainda se encontrava em 1531 ano em que piratas de Larache atacaram a vila da foz do Guadiana ldquoonde fizeacuteratildeo muito dano em navios que tomaacuteratildeo e den-tro da Barra de Aiamonte fizeacuteratildeo despejar a Arrinilha e a Montegordordquo138

7 Conclusatildeo

Com efeito muito se tem escrito (e especulado) sobre a alegada des-coberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila No entanto e indepen-dentemente dos resultados alcanccedilados pelo navegador nesta expediccedilatildeo parece indiscutiacutevel que foi generosamente recompensado aquando do seu regresso ao reino Resta-nos perceber porquecirc Jaacute Armando Cortesatildeo muito antes de Peter Trickett tinha levantado a hipoacutetese de a rentaacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz ter sido entregue a Mendonccedila como re-compensa pelos serviccedilos prestados na expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro139 Natildeo eacute conhecido poreacutem qualquer documento que ateste o ecircxito do navegador nesta expediccedilatildeo Omissatildeo que segundo investigadores como Armando Cortesatildeo Damiatildeo Peres ou Jaime Cortesatildeo teraacute sido consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo determinada pelas limitaccedilotildees de navega-ccedilatildeo estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas e com o contencioso entre Portugal e Espanha pela posse das Molucas140

O certo eacute que Mendonccedila ao regressar ao reino foi agraciado com uma das capitanias mais rentaacuteveis do impeacuterio no Oriente para aleacutem de ter recebido compensaccedilotildees econoacutemicas e aparecer referido em 1529 e 1530 como comendador da vila de Arenilha na foz do Guadiana Refira-se a este respeito que muitos capitatildees cavaleiros da Ordem de Cristo se lanccedilaram no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Poreacutem mui-to poucos chegaram a obter as tatildeo almejadas comendas141 Vemos deste

138 RODRIGUES Anais Tomo II Cap XXXV p 209139 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158140 CORTESAtildeO A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e

de D Joatildeo II Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 65-66 PERES ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na Histoacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II pp 17-21

141 Entre os afortunados que lograram obter este tipo de rendimento contam-se muito poucos D Joatildeo Pereira D Pedro de Castelo Branco Nuno Furtado Simatildeo Guedes entre outros Ver CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 216

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 197

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

modo que a atribuiccedilatildeo da comenda de Arenilha significou um motivo de grande honra e prestiacutegio para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Ora se este navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro resta-nos perceber porque motivo teraacute sido agraciado com compensaccedilotildees eco-noacutemicas a nomeaccedilatildeo para uma das mais rentaacuteveis capitanias de todo o Impeacuterio no Oriente e uma honrosa comenda da Ordem de Cristo Eacute caso para dizer que a problemaacutetica em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila con-tinua a levantar muitas duacutevidas e poucas certezas

Fontes e Bibliografia

1 Arquivos

ANTT

Chancelaria de D Afonso V Livro 2 fl30

Chancelaria de D Manuel I Livro 4 fl37 Livro 8 fl 29v Livro 9 fl4v Livro 10 fl53 Livro 13 fl60 Livro 37 fl64

Chancelaria de D Joatildeo III Livro 12 fl62

Chancelaria da Ordem de Cristo Livro13 fls375 vndash 379v

Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1

Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 15 Nordm47 Pt I maccedilo 44 Nordm45 Pt I maccedilo 45 Nordm9

Pt II maccedilo 51 Nordm26 Pt II maccedilo 53 Nordm182 Pt II maccedilo 93 Nordm150 Pt II maccedilo 109 Nordm131 Pt II maccedilo 131 Nordm226 Pt II maccedilo 134 Nordm57 Pt II maccedilo 135 Nordm45 Pt II maccedilo 135 Nordm49 Pt II maccedilo 136 Nordm102 Pt II maccedilo 141 Nordm91

Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Nordm159

Casa Real Cartoacuterio da Nobreza Livro Nordm20 - Livro da Nobreza e da per-feiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal fl XII

2 Fontes Impressas

ABREU Lisuarte de Livro de Lisuarte de Abreu (Reproduccedilatildeo do manuscrito existente na Perpont Morgan Library de Nova York) Comissatildeo Nacional para as comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portugueses Lisboa 1992

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203198

Fernando Pessanha

ARMAS Duarte de Livro das Fortalezas Arquivo Nacional da Torre do TomboInapa Lisboa 1997

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada III Na Regia Officina Typografica Lisboa MDCCLXXVII

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada IV Imprensa Nacional Casa da Moe-da Lisboa 2001

BORGES Joseacute Calvatildeo Borges Livro do Armeiro-Mor Academia Portugue-sa de HistoacuteriaEdiccedilotildees Inapa Lisboa 2000

CASCAtildeO Joatildeo ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevorardquo Uma Jornada ao Alentejo e ao Algarve A altera-ccedilatildeo das linhas de forccedila da poliacutetica nacional Livros Horizonte Lisboa 1984 pp 77-136

CASTANHEDA Fernatildeo Lopes de Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses 2 vols Lello amp Irmatildeos Editores Porto 1979

CORREIA Gaspar Lendas da Iacutendia Tomo III na Typographia da Acade-mia Real das Sciencias Lisboa 1862

Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI Centro de Estudos Histoacutericos Ultramarinos Lis-boa 1969

GAYO Felgueiras Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX Ediccedilatildeo de Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Arauacutejo Affonso Braga 1939

GUEDES Liacutevio da Costa Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) Arquivo Histoacuterico Militar Lisboa 1988

GOacuteIS Damiatildeo de Chonica do Serenissimo Senhor Rei D Manoel Lisboa 1749

JOSEacute Frei Joatildeo de Satildeo ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 21-132

RODRIGUES Bernardo Anais de Arzila 2 vols Academia das Sciecircncias de Lisboa Lisboa 1915-1919

SARRAtildeO Henrique Fernandes ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 133-174

SOUSA Frei Luiacutes de Anais de D Joatildeo III 2 vols Saacute da Costa Lisboa 1928

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 199

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

SOUSA Manuel de Faria e Asia Portvgvesa Officina de Henrique Valen-te de Oliveira impressor del Rey NS Lisboa 1666

TENREIRO Antoacutenio amp AFONSO Mestre Viagens por terra da Iacutendia a Por-tugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica Mem-Martins 1991

3 Estudos

ALBUQUERQUE Luiacutes de (dir) Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-tos Portugueses 2 vols Ciacuterculos de Leitores Lisboa 1994

ALMEIDA Fortunato de Histoacuteria de Portugal Vols III-VII Promoclube Lisboa sd

CARDOSO Antoacutenio Pereira A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila agrave Austraacutelia em 1522 Academia da Marinha Lisboa 1994

CARVALHO Andreia Martins de ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Ma-nuelinardquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia ndash Actas do Coloacutequio Internacional Joatildeo Paulo Oliveira e Costa amp Viacutetor Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 199-226

CARVALHO Andreia Martins de Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria dos Descobrimen-tos e da Expansatildeo Portuguesa (seacuteculos XV-XVIII) apresentado agrave UNL Lisboa 2006

CAVACO Hugo ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio (Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Arte no Algarve) Cacircmara Muni-cipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1987

CAVACO Hugo Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha Cacircmara Munici-pal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1995

CORREIA Joseacute Eduardo Horta Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina Faup Publicaccedilotildees Porto 1997

CORREIA Joseacute Eduardo Horta O Algarve em Patrimoacutenio Gente Singular Editora Olhatildeo 2010

CORTESAtildeO Armando ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Aus-tralaacutesia Macau Japatildeo)rdquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939

CORTESAtildeO Jaime ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal (Dir Damiatildeo Peres) Vol IV Portucalense Editora Barce-los 1932 pp 9-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203200

Fernando Pessanha

CORTESAtildeO Jaime A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e de D Joatildeo II Lisboa 1960

COSME Joatildeo ldquoOs homens de ciecircnciardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 91-97

COSME Joatildeo ldquoOs Navegadores ndash Vasco da Gamardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 145-152

COSTA Joatildeo Paulo Oliveira e ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo A Nobreza e a Expansatildeo Estudos Biograacuteficos Joatildeo Paulo Oliveira e Costa (coord) Patrimoacutenia Cascais 2000 pp 11-51

DOMINGUES Francisco Contente ldquoOs portugueses descobriram a Aus-traacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Si-motildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Univer-sidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 163-172

DOMINGUES Francisco Contente Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 Circulo dos Leitores Lisboa 2016

FARIA Antoacutenio Machado de Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI Acade-mia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 1956

FARIA Antoacutenio Machado de ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo Separata da revista Arqueologia e Histoacuteria vol VI Lisboa 1955

FARIA Miguel Figueira de ldquoFortificaccedilotildees de Portugal na fronteira da Es-tremadura espanholardquo Anais ndash Seacuterie Histoacuteria Vol II Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 1995 pp 156-187

FONSECA Luiacutes Adatildeo da ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo A Alta No-breza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 322-347

FREIRE Anselmo Braamcamp Brasotildees da Sala de Sintra 3 vols Impren-sa da Universidade de Coimbra Coimbra 1921-1930

GARCIA Joseacute Manuel Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII QuidNovi Lisboa 2009

GARCIA Joseacute Manuel O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash 1555 Nordm 8 QuidNovi Vila do Conde 2012

GODINHO Rui Landeiro ldquoA Armada do Estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (Seacuteculos XV-XIX) Ediccedilotildees Cul-turais da Marinha Lisboa 2003 pp 117-137

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 5: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 169

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

de Arenilha situar-se-ia entre as 60 e as 80 pessoas ou seja a vila nunca deixou de ser um lugar escassamente povoado mesmo durante o auge da sua densidade demograacutefica13

As fontes jaacute por si escassas pouco ou nada nos dizem acerca dos arenilhenses que povoaram a margem portuguesa da foz do Guadiana Sendo a populaccedilatildeo constituiacuteda por homiziados e gente humilde que en-contrava na pesca o seu sustento torna-se particularmente difiacutecil se-guir-lhes o rasto biograacutefico Se exceptuarmos as informaccedilotildees facultadas pelo processo da inquisiccedilatildeo de Jorge da Cunha um natural ldquodo lugar de Santo Antonio de Arenilha Reyno do Algaruerdquo14 as uacutenicas informaccedilotildees de que dispomos satildeo relativas agrave ldquogente nobre da governanccedila da terrardquo15 que como Romero de Magalhatildees bem observou mais natildeo era que uma segunda categoria do estado da nobreza16 Eacute exactamente nesse sentido que o presente artigo pretende apresentar um comendador da antiga vila de Arenilha ateacute agora desconhecido

2 Os senhores de Arenilha alcaides e comendadores

Torna-se difiacutecil seguirmos o rasto dos senhores de Arenilha As croacute-nicas quinhentistas atraacutes referidas e restante documentaccedilatildeo avulsa referem os alcaides da vila da foz do Guadiana a partir de meados do seacutec XVI mais precisamente a partir de 20 de Agosto de 154217 Foram estas fontes que permitiram a Ataiacutede de Oliveira baseando-se particu-larmente nos escritos de Frei Joatildeo de Satildeo Joseacute identificar os alcaides Antoacutenio Leite e Luiacutes Leite em Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacutenio18 publicada pela primeira vez em 1908 Posteriormente em 1995 Hugo Cavaco identificou o alcaide Antoacutenio Leite de Vascon-celos em Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha19 sendo que os outros donataacuterios posteriormente identificados jaacute ultrapassam a balizagem cronoloacutegica do seacutec XVI

13 PESSANHA Os 500 anos pp 54-5514 ANTT Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1 PESSANHA

Os 500 anos pp 104-107 PESSANHA ldquoAyamonte nos processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombordquo pp 12-28

15 MAGALHAtildeES Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 pp 41-49 MAGALHAtildeES ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo pp 274-277

16 MAGALHAtildeES Concelhos e organizaccedilatildeo p 12817 ANTT Chancelaria da Ordem de Cristo lv13 fls 375 vndash379 v18 OLIVEIRA Monografia p 7219 CAVACO Revisitando p 18

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203170

Fernando Pessanha

Com efeito a nomeaccedilatildeo destes alcaides pressupotildee a existecircncia - ou a intenccedilatildeo - de uma vila acastelada ou fortificada e de facto sabemos que a vila de Arenilha foi fortificada com ldquotramqueyras e repairos () de madeyrardquo nos uacuteltimos anos da primeira metade do seacutec XVI20 Aliaacutes se a principal funccedilatildeo do alcaide-mor para aleacutem das funccedilotildees administrativas e judiciais era a defesa e a guarda do castelo (que devia sustentar ateacute agrave morte)21 a referecircncia ao ldquoalcaide moorrdquo presente na Carta de Privileacutegio de 8 de Fevereiro de 1513 poderaacute deixar antever a intenccedilatildeo do monarca em fortificar a nova vila da foz do Guadiana

No entanto e ainda que natildeo sejam conhecidas referecircncias aos alcai-des de Arenilha ateacute 1542 temos de ter em consideraccedilatildeo que Castro Ma-rim e a nova vila da foz do Guadiana apresentavam-se como as duas uacuteni-cas comendas da Ordem de Cristo no Algarve Naturalmente que estas comendas implicavam desde logo a existecircncia de comendadores sobre os quais recaiacutea o senhorio das ditas vilas o que era compreendido como motivo de honra e de prestiacutegio social numa sociedade ainda bastante influenciada pelas antigas tradiccedilotildees medievo-feudais Estas comendas enquanto benefiacutecio atribuiacutedo a cavaleiros professos nas ordens milita-res como recompensa por serviccedilos prestados compreendiam o direito agrave administraccedilatildeo da localidade e conferiam uma renda para sustentaccedilatildeo do comendador beneficiaacuterio configurando um recurso para os encar-gos da proacutepria comenda

3 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila

No decurso da investigaccedilatildeo para o artigo ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo22 deparaacutemo-nos com dois documen-

20 Carta de Antoacutenio Leite a D Joatildeo III em 16 de Novembro de1542 - 1547 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos pp 99-101 No ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo o documento aparece com a seguinte designaccedilatildeo ldquoCarta a D Joatildeo III sobre a necessidade de fortificar a foz do Guadiana para fazer face aos ataques de mouros Santo Antoacutenio da Foz do Guadianardquo Ver PINTO ldquoIacuten-dice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo p 267 Jaacute o Arquivo Nacional da Torre do Tombo apresenta o mesmo documento como ldquoCarta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras q que era necessaacuterio enviar-lhe socorrordquo Ver ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

21 Segundo as Ordenaccedilotildees Manuelinas ldquoincorria na pena de traiccedilatildeo aquele que por sua cul-pa o perdesserdquo Ver ALMEIDA Histoacuteria de Portugal Vol VII p 25 PESSANHA As Guarni-ccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar p 97

22 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesardquo pp 86-82

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 171

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

tos ineacuteditos que desde logo chamaram a nossa atenccedilatildeo Trata-se de duas cartas em que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece referido como comenda-dor de Arenilha Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de anaacutelise no referido artigo Importa no entanto debruccedilarmo-nos sobre a identidade do comendador de Arenilha Cris-toacutevatildeo de Mendonccedila Quem era Qual o seu contexto familiar e social

Com efeito quer o nome quer a cronologia (deacutecada de 20 do seacutec XVI) remete-nos automaticamente para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila capitatildeo das armadas da Iacutendia em 1519 e 152723 capitatildeo-mor da armada destinada a descobrir a Ilha do Ouro em 152224 e capitatildeo de Ormuz entre 1527 e 1531153225 Por outras palavras o ceacutelebre navegador portuguecircs que de acordo com as teorias de autores como Kenneth McIntyre26 ou Peter Trickett27 foi o descobridor da Austraacutelia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Aliaacutes a teoria da descoberta da Austraacutelia pelos portugue-ses natildeo eacute propriamente novidade tendo vindo a consubstanciar-se des-

23 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap IX p 325 Ver tambeacutem GOacuteIS Chronica do Serenissimo Senhor Rei D Manuel IV Cap XXXVI p 515 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses V Cap XV p 27 SOUSA Asia Tomo I Pt III Cap III p 190

24 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I IV Cap III pp 412-413 Ver tambeacutem Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) Documento publicado in Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI p 96

25 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada IV II Cap III p 73 Ver tambeacutem CORREIA Lendas da Iacutendia Vol III Pt I Cap XVI p 182 SOUSA Anais de D Joatildeo III Vol II IV Cap I p 1 SOUSA Asia Tomo I Pt IV Cap II p 256

26 O australiano Kenneth McIntyre professor de Literatura Direito e aficionado da His-toacuteria Portuguesa foi um dos mais ceacutelebres defensores da teoria da descoberta da Aus-traacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila McIntyre defendeu esta teoria com base na anaacutelise de um mapa luso-francecircs de 1538 o designado Mapa Delfim que apresenta uma Ilha de Java bastante semelhante agrave Austraacutelia McIntyre refere ainda um navio de mogno afundado alegadamente pertencente agrave frota de Mendonccedila ainda que os destroccedilos da embarcaccedilatildeo nunca tenham sido encontrados A embarcaccedilatildeo teria encalhado nas dunas perto de Warrnambool estado de Victoria a oeste de Melbourne Dois caccedilado-res de focas afirmaram terem visto os seus destroccedilos em 1836 Actualmente o barco eacute considerado uma lenda e a sua histoacuteria eacute celebrada em Warrnambool nomeada-mente no festival portuguecircs que aiacute tem lugar de dois em dois anos Ver McINTYRE A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha portuguesa 250 anos antes do Comandante Cook 1989

27 Mais recentemente em 2007 o livro do jornalista Peter Trickett reavivou a tese da descoberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Desta vez com base na interpre-taccedilatildeo do mapa do Atlas Vallard de 1547 cujo original estaacute condicionado na Biblioteca de Huntington e onde dois destes mapas apresentam vaacuterios topoacutenimos da costa aus-traliana escritos em portuguecircs Ver TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os na-vegadores portugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Austraacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203172

Fernando Pessanha

de a segunda metade do seacutec XIX a partir dos estudos do Visconde de Santareacutem28 e do historiador inglecircs Henry Major29 De resto nem o nome de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila enquanto alegado descobridor da Austraacutelia nem a data de 1522 em que se teraacute dado a descoberta satildeo novidade para a historiografia nacional uma vez que jaacute anteriormente foram defendi-dos por investigadores como Armando Cortesatildeo30 Duarte Leite31 e Antoacute-nio Pereira Cardoso32

Natildeo eacute poreacutem intenccedilatildeo do presente artigo discutir as teorias destes au-tores nomeadamente a teoria de Trickett Para tal jaacute o Museu da Ciecircncia da Universidade de Coimbra realizou em 2008 um coloacutequio e uma mesa-redonda com historiadores de reconhecida credibilidade De resto as ac-tas deste encontro foram publicadas com o tiacutetulo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens33 publicaccedilatildeo em que de acordo com a comunida-de cientiacutefica a exploraccedilatildeo da costa australiana pelos portugueses parece indiscutiacutevel dado os diversos indiacutecios como os achados arqueoloacutegicos34 os relatos orais de aboriacutegenes35 ou a cartografia da escola de Dieppe36

Poreacutem e independentemente das teorias construiacutedas em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e da alegada descoberta da Austraacutelia interessa-nos determinar se este navegador e capitatildeo de Ormuz eacute o mesmo Cristoacute-vatildeo de Mendonccedila comendador de Arenilha

28 SILVA ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo p 111 nota 1

29 ALBUQUERQUE ldquoMajor Richard Henry (1818-1891)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 141-142 Ver tambeacutem DOMINGUES ldquoOs portugueses descobriram a Austraacute-liardquo pp 163-164 Refira-se que este uacuteltimo por exemplo atribuiu a descoberta do con-tinente austral a Antoacutenio de Abreu em 1512 e que segundo o historiador Joseacute Manuel Azevedo e Silva ldquoDiogo Pacheco foi o primeiro portuguecircs a descobrir a Austraacutelia em 1519rdquo Ver SILVA ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-morrdquo p 119 Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoViagens e misteacuterios nos mares da Indoneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo p 19

30 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Australaacutesia Macau Japatildeo)rdquo pp 156-159

31 LEITE Histoacuteria dos Descobrimentos pp 329-33432 CARDOSO A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila agrave Austraacutelia em 152233 Os resultados deste coloacutequio concluem que a ldquoteserdquo de Trickett aponta algumas pistas

de trabalho interessantes ainda que careccedila de fundamentaccedilatildeo cientiacutefica Ver SIMOtildeES amp DOMINGUES (coord) Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens

34 Referimo-nos concretamente a peccedilas de artilharia destroccedilos de um navio potes de barro antigas ruiacutenas em pedra um elmo de ferro e um projeacutectil de canhatildeo TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio pp 47-57 199-202 203-204 210-211 242-250

35 TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio pp 67-6936 Trata-se da localidade francesa onde foi feito o Atlas de Vallard que serviu de base ao

livro de Trickett Ver TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio p 29

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 173

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

4 Contexto social e familiar

Com efeito o Cristoacutevatildeo de Mendonccedila das croacutenicas portuguesas do seacutec XVI era filho de Diogo de Mendonccedila alcaide-mor de Mouratildeo e ana-del dos besteiros37 Segundo Damiatildeo de Goacuteis Diogo de Mendonccedila acom-panhou o duque de Braganccedila na conquista de Azamor38 Casou com D Brites Soares de Albergaria filha bastarda de Fernatildeo Soares de Alber-garia senhor do Prado39 De acordo com as genealogias avanccediladas pelo Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal ou pelo Livro de Linhagens do seacuteculo XVI Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teve seis irmatildeos Pecircro de Mendonccedila alcai-de-mor de Mouratildeo Antoacutenio de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo Isabel de Mendonccedila Margarida de Mendonccedila Joana de Mendonccedila mu-lher de D Jaime duque de Braganccedila e Francisco de Mendonccedila40

Quanto a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila sabemos que desposou Maria de Vilhena filha de Sancho de Tovar e de sua mulher Guiomar da Silva ainda que o casal natildeo tenha tido descendecircncia O Livro do Armeiro-Mor publicado em 1509 apresenta o brasatildeo de armas dos Mendonccedilas41 numa altura em que o alcaide-mor de Mouratildeo era Diogo de Mendonccedila pai de Cristoacutevatildeo Tambeacutem o Livro da Nobreza e da perfeiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal de Antoacutenio Godinho escrivatildeo da Cacircmara de D Joatildeo III apresenta o brasatildeo de armas dos Mendonccedilas numa altura em que o alcaide-mor de Mouratildeo era Pedro de Mendonccedila irmatildeo de Cristoacutevatildeo Refira-se que Antoacutenio Go-dinho teraacute comeccedilado a produzir este trabalho entre o fim do reinado de D Manuel e o iniacutecio do reinado de D Joatildeo III periacuteodo que corresponde agrave presenccedila de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente e agrave sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro42 Pouco se sabe acerca da infacircncia e juventude de Cristoacutevatildeo

37 Diogo de Mendonccedila tinha sido fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo e foi alcaide-mor de Mouratildeo pelo menos desde 1476 ateacute falecer em 1516 altura em que o cargo passou para o seu filho Pecircro de Mendonccedila Ver FREIRE Brasotildees da Sala de Sintra Vol III p 173 Por sua vez Pecircro de Mendonccedila fidalgo da Casa Real foi nomeado alcaide-mor do castelo e vila de Mouratildeo com todas as rendas direitos foros tributos liberdades e honras em consideraccedilatildeo aos serviccedilos prestados pelo seu pai Diogo de Mendonccedila em 14 de Julho de 1517 Ver ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 37

38 GOacuteIS Chronica III Cap XLVI p 36739 GAYO Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX p 5340 GAYO Nobiliaacuterio Tomo XX p 53 FARIA Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI p 275 41 BORGUES Livro do Armeiro-Mor p 6042 Cf ANTT Livro da Nobreza e da perfeiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres li-

nhagens dos reinos e senhorios de Portugal f12 (on line) httpdigitarqarquivosptdetailsid=4162407

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203174

Fernando Pessanha

Seja como for aparece referido na documentaccedilatildeo como fidalgo da Casa Real logo em 151443 Se seguirmos as Deacutecadas da Aacutesia apercebemo-nos de que ldquoChristovatildeo de Mendoccedila filho de Diogo de Mendoccedila Alcaide moacuter de Mouratildeordquo44 partiu para o Oriente em 23 de Abril de 1519 na armada de Jorge de Albuquerque composta por 14 naus Sigamos portanto o rasto biograacutefico deixado por Cristoacutevatildeo durante a sua primeira viagem ao Oriente

5 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente

51 A expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro

Decorria o ano de 1519 quando Diogo Lopes de Sequeira o entatildeo go-vernador da Iacutendia incumbiu Diogo Pacheco de obter informaccedilotildees sobre a existecircncia da miacutetica Ilha do Ouro que segundo Joatildeo de Barros se en-contrava ldquoao Sul daquela Ilha Ccedilamatrardquo45 Ao chegar ao porto de Barus Diogo Pacheco tomou conhecimento da existecircncia de uma outra ilha si-tuada a sudeste do arquipeacutelago indoneacutesio para a qual os naturais do reino de Barus jaacute tinham navegado de modo a obterem ouro atraveacutes do trato com os indiacutegenas46 Recolhidas estas informaccedilotildees Diogo Pacheco navegou ao largo da Ilha de Samatra seguindo para sudeste Poreacutem ao chegar ao estreito de Sunda entre Samatra e Java optou por navegar para noroeste circum-navegando Samatra ateacute chegar a Malaca

No ano seguinte em 1520 o mesmo navegador tentou repetir a ex-ploraccedilatildeo Poreacutem ao aproximar-se do porto de Barus foi recebido por navios hostis que lhe recusaram a entrada com tiros de bombarda Quanto a Diogo Pacheco acabaria por vir a falecer num recontro com os habitantes de uma ilha depois de o seu navio encalhar na costa47

43 Provisatildeo para se pagar a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila fidalgo da Casa 7 mil reacuteis de mora-dia ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 51 Nordm26

44 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap IX p 325 Ver tambeacutem GOacuteIS Chronica IV Cap XXXVI p 515 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento p 27 SOUSA Asia Tomo I Pt III Cap III p 190 ABREU Livro de Lisuarte de Abreu fl37v-38

45 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap III p268 O mito em torno da existecircncia de uma ilha do Ouro tem origem numa confusatildeo antiga com a ilha de Samatra onde se produzia ouro em Minangkabau facto que os portugueses conheceram Sobre a miacutetica Ilha do Ouro veja-se THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o descobrimento da Austraacuteliardquo pp 66-73

46 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap III p 26947 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap III p 273 Ver tambeacutem SOUSA Asia

Tomo I Pt III Cap III p187 Diz-nos Joatildeo de Barros que Diogo Pacheco ao ver-se com vento que lhe era contraacuterio e face aos indiacutegenas que se metiam nas suas em-

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 175

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

Como anteriormente referimos foi em 23 de Abril de 1519 que D Manuel enviou para a Iacutendia uma armada comandada por Jorge de Albuquerque onde seguia ldquoChristovatildeo de Mendoccedila filho de Diogo de Mendoccedila Alcaide moacuter de Mouratildeordquo Identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como um dos capitatildees desta armada resta-nos perceber porque moti-vo se teraacute aventurado no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Como anteriormente vimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Mendoccedila alcaide-mor de Mouratildeo Poreacutem natildeo era filho primogeacutenito Quer isto dizer que com o falecimento do seu pai a alcaidaria de Mouratildeo passou para o seu irmatildeo mais velho Pecircro de Mendonccedila em 151748 Eacute nesse sentido que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teraacute encontrado nos serviccedilos na Iacutendia o meio de ascensatildeo social para os filhos secundogeacutenitos uma vez que estes dependiam da generosidade reacutegia para a obtenccedilatildeo de tenccedilas e mercecircs que permitissem a manutenccedilatildeo ou elevaccedilatildeo do seu estatuto Vemos deste modo que a participaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo no projecto expan-sionista portuguecircs se apresentava perfeitamente normal se tivermos em conta o seu contexto social e familiar assim como a sua condiccedilatildeo de secundogeacutenito49

Ao seguirmos a croacutenica de Joatildeo de Barros apercebemo-nos de que a armada que partiu para a Iacutendia em 1519 apenas chegou ao destino em 1520 por motivo de invernada em Moccedilambique onde Cristoacutevatildeo se dete-ve com outros sete capitatildees50 De resto uma carta datada de 22 de Janei-

barcaccedilotildees para lhe tomarem o navio tentou evadir-se para o alto mar Poreacutem ao ser arrastado para a costa acabou por vir a perecer tendo apenas escapado alguns malaios que atravessaram a ilha ateacute agrave costa norte onde encontraram embarcaccedilatildeo para os levar a Malaca As uacuteltimas palavras de Joatildeo de Barros sobre esta viagem tem levado alguns autores a considerarem que Diogo Pacheco teraacute perecido na Austraacute-lia ldquoesta perdiccedilatildeo de Diogo Pacheco que foi o primeiro dos nossos que perdeo a vida por descubrir esta Ilha do ourordquo Eacute o caso de Trickett ou de Joseacute Manuel Azevedo e Silva para quem Diogo Pacheco foi o primeiro portuguecircs a descobrir a Austraacutelia tendo alcanccedilado a costa noroeste da ilha em 1519 Ver SILVA ldquoDiogo Pacheco capi-tatildeo-morrdquo pp 111-119

48 A tenccedila que eacute atribuiacuteda a Beatriz Soares viuacuteva de Diogo de Mendonccedila indica que este jaacute tinha falecido em Julho de 1516 Ver ANTT Chancelaria de D Manuel I livro 9 fl4v Pecircro de Mendonccedila fidalgo da Casa Real foi nomeado alcaide-mor do castelo e vila de Mouratildeo com todas as rendas direitos foros tributos liberdades e honras em consideraccedilatildeo aos serviccedilos prestados pelo seu pai Diogo de Mendonccedila em 14 de Julho de 1517 Ver ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 37 fl64 Ver tambeacutem FREIRE Brasotildees Vol III p 173

49 COSTA ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo pp 11-51

50 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento V Cap XX p 38 e Cap XXX p 56

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203176

Fernando Pessanha

ro de 1521 atesta a presenccedila de Mendonccedila e de seus homens em Goa51 tal como a Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) con-firma a sua passagem pela capital do Estado da Iacutendia no mesmo ano52

Seja como for a armada que partiu em 1519 levava ordens de D Manuel para o governador Diogo Lopes de Sequeira Determinava o monarca portuguecircs que o governador da Iacutendia escolhesse algueacutem da sua confianccedila para ir descobrir a Ilha do Ouro53 Por outras palavras D Manuel pretendia que se desse continuidade agraves exploraccedilotildees iniciadas por Diogo Pacheco Tal como podemos acompanhar no mesmo capiacutetulo da Deacutecada III da Aacutesia foi Diogo Lopes de Sequeira a escolher ldquoChristo-vatildeo de Mendoccedila filho de Pero de Mendoccedila Alcaide moacuter de Mouratildeordquo54 para tal missatildeo55 A documentaccedilatildeo mostra-nos que Cristoacutevatildeo se encontrava em Goa em Janeiro de 152156 e que partiu de Cochim em 4 de Maio de 152157 Se seguirmos a Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) apercebemo-nos de que a armada comandada por Mendonccedila e destinada a descobrir a Ilha do Ouro era constituiacuteda por quatro navios o navio Satildeo Cristoacutevatildeo em que o proacuteprio viajava a caravela Rosaacuterio co-mandada pelo capitatildeo Pedro Eanes Francecircs o bergantim Santo Antoacutenio comandado pelo capitatildeo Francisco Poles e um parau comandado pelo capitatildeo Gonccedilalo Homem58 Esta armada teraacute chegado agrave Ilha de Samatra por volta de Junho

51 Ver Conhecimento em que se declara que Diogo Lourenccedilo recebeu do feitor de Goa Francisco Cornivel 8 cruzados para mantimento da gente de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 93 Nordm150

52 Ver ldquoRelaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11)rdquo Documento publicado Documentos Sobre os Portugueses Vol VI p100

53 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I IV Cap III p 41254 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I IV Cap III p 413 O cronista poreacutem engana-se ao

referir o parentesco uma vez que o navegador incumbido de descobrir a Ilha do Ouro era Cristoacutevatildeo de Mendonccedila irmatildeo (e natildeo filho) de Pecircro de Mendonccedila

55 Note-se portanto que ao contraacuterio do que eacute defendido por Tricket ndash que tenta colocar esta expediccedilatildeo ao niacutevel da viagem de Vasco da Gama agrave Iacutendia - natildeo houve qualquer ordem real a nomear Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como capitatildeo da expediccedilatildeo destinada a descobrir a miacutetica ilha tendo sido o entatildeo governador da Iacutendia a escolher o capitatildeo para tal empreendimento Ver TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio pp 80-81

56 Conhecimento em que se declara que Diogo Lourenccedilo recebeu do feitor de Goa Fran-cisco Cornivel 8 cruzados para mantimento da gente de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 93 Nordm150

57 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila partiu acompanhado por Jorge de Brito que ia para as Mo-lucas onde deveria construir uma fortaleza e interceptar Fernatildeo de Magalhatildees Ver THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 97

58 Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) Documento publicado in Documentos Sobre os Portugueses Vol VI p 96

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 177

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

A primeira referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece aquando da sua passagem pelo porto de Pedir59 onde encontrou Rafael Catanho que entatildeo regressava de Acheacutem no extremo noroeste da ilha de Sama-tra60 Pouco tempo depois chegava agravequele porto de Pedir o que restava da armada de Jorge de Brito morto em combate juntamente com gran-de nuacutemero de portugueses apoacutes um confronto com as forccedilas do rei de Acheacutem61 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ao encontrar aquela armada desba-ratada e sem capitatildeo pretendeu colocaacute-la sob seu comando62 Poreacutem os poucos fidalgos sobreviventes natildeo o consentiram alegando que o co-mando deveria ser entregue a Antoacutenio de Brito o irmatildeo do falecido ca-pitatildeo que se deveria juntar agrave armada depois de consertar o seu navio63

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila rumou entatildeo a Paceacutem onde se deveria rea-bastecer de mantimentos para dar continuidade agrave viagem Todavia ao chegar a este ponto da narrativa diz-nos Joatildeo de Barros que ldquoo tempo natildeo era da monccedilatildeo pera onde cada hum havia de ir principalmente a de Christovatildeo de Mendoccedila que era jaacute passadardquo64 A acrescentar ao facto de o navegador ter perdido os ventos de monccedilatildeo acresce que o capitatildeo de Malaca Jorge de Albuquerque se encontrava em Paceacutem a construir uma fortaleza destinada a proteger uma feitoria cujo principal objecti-

59 Porto de grande importacircncia no comeacutercio do Iacutendico situado na parte nordeste da Ilha de Samatra O desenvolvimento de Pedir assim como o de Paceacutem relaciona-se estrei-tamente com a propagaccedilatildeo do islatildeo na Indoneacutesia ocidental Em 1509 Diogo Lopes de Sequeira assinou um tratado com o sultatildeo de Pedir e com a conquista de Malaca o seu principal comeacutercio passou a ser dirigido para esta cidade Sobre Pedir veja-se SS ldquoPedirrdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Portugueses (Dir Luis de Albu-querque) Vol II pp 870-872

60 O sultanato islacircmico de Acheacutem foi uma das entidades que mais se opocircs aos interesses dos portugueses estabelecidos em Malaca Fundado por um descendente do rei de Pedir transformou-se num reino poderoso que conquistou vaacuterias terras na ilha de Samatra e ao qual outros reinos pagavam tributo Ver GARCIA Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII pp 198-200

61 Este confronto com o reino de Acheacutem eacute tambeacutem narrado por Damiatildeo de Goacuteis e Fernatildeo Lopes de Castanheda Ver GOacuteIS Chronica IV Cap LXVII pp 566-567 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento V Cap LXV pp 107-109

62 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p546 Fernatildeo Lopes de Castanheda ainda que natildeo refira Cristoacutevatildeo revela que ldquocomo os nauios natildeo tinhatildeo capitatildees ouue alguns que se quiseram levantar coeles amp irse a diversas partes a fazer presasrdquo CASTA-NHEDA Histoacuteria do Descobrimento pp 107-110

63 Com efeito com a chegada de Antoacutenio de Brito foi apresentada uma provisatildeo de D Manuel I que o nomeava capitatildeo daquela armada em caso de falecimento de Jorge de Brito

64 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 548

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203178

Fernando Pessanha

vo consistia na recolha de pimenta que se produzia na regiatildeo65 Foi nes-se sentido que Jorge de Albuquerque determinou que todos os capitatildees que se encontravam em Paceacutem ali permanecessem em ldquofavor daquela fortaleza em quanto ella natildeo estava em estado pera se poder defenderrdquo66

Vemos deste modo que a expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo rumo agrave Ilha do Ouro foi interrompida em funccedilatildeo da necessidade que os portugueses sentiram em se fortificarem naquele ponto da ilha de Samatra Aliaacutes eacute o proacuteprio cronista a referir que a presenccedila de Cristoacutevatildeo e dos outros ca-pitatildees foi providencial para que a fortaleza se pudesse construir jaacute que os adversaacuterios os atacavam de forma sistemaacutetica Num desses ataques Melique Ladil um mouro que reivindicava para si o reino de Paceacutem aproximou-se da fortaleza com treze lancharas67 atrevendo-se a deitar fogo agrave fortificaccedilatildeo Foi entatildeo que Cristoacutevatildeo e os outros capitatildees saiacuteram em sua perseguiccedilatildeo desbaratando o adversaacuterio e confiscando-lhe todas as embarcaccedilotildees para serviccedilo agrave fortaleza Usando as palavras de Manuel de Faria e Sousa ldquoCristoval de Mendoccedila que bien fuerotilde menester para re-sistir y humillar despues a un orgulloso Moro que com algunos baxeles de remo infectava aquella marinardquo68 Finalmente terminada a empreitada Cristoacutevatildeo de Mendonccedila voltou a partir para Malaca69

Tal como Diogo Pacheco eacute possiacutevel que o navegador portuguecircs tenha contornado Samatra antes de partir para Malaca De acordo com Luiacutes Filipe Thomaz eacute provaacutevel que o navegador durante a viagem tenha descoberto uma ilha que deve ter tomado pela Ilha do Ouro ainda que constatado o erro a tenha baptizado com o nome que ainda hoje tem Ilha do Engano Seja como for temos notiacutecia de que a armada jaacute se en-contrava em Malaca em finais de 1521 onde a caravela Santa Maria do Rosaacuterio recebeu mantimentos em 10 de Dezembro para poder seguir

65 Esta fortaleza foi concebida para proteger uma feitoria cujo principal objectivo con-sistia na recolha da pimenta Poreacutem este enclave veio a revelar-se de difiacutecil manuten-ccedilatildeo devido aos ataques de que era alvo parte dos habitantes de Acheacutem Os portugue-ses acabariam por abandonar a fortaleza em Maio de 1523 natildeo tendo ficado qualquer testemunho iconograacutefico deste efeacutemero estabelecimento Castanheda poreacutem refere tratar-se de uma fortaleza ldquofeyta em breue tempo tempo com muros baluartes amp torres de madeyra amp cercada de caua () amp muyto bem artilhadardquo Ver CASTANHEDA Histoacute-ria do Descobrimento V Cap LXIIII pp 106-107 Damiatildeo de Goacuteis explica a conjun-tura poliacutetico-militar que levou agrave construccedilatildeo desta fortaleza Ver GOacuteIS Chronica IV Cap LXVI pp 564-566

66 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 548 67 Navios de remos entatildeo usados naquela zona do Oriente 68 SOUSA Asia Tomo I Pt III Cap V p 20269 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 549

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 179

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

para Paceacutem enquanto a nau Satildeo Cristoacutevatildeo apenas os recebeu em 10 de Janeiro de 1522 para depois seguir para Ormuz70 Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila natildeo teraacute tido tempo suficiente para chegar agrave Ilha do Ouro nesse ano de 1521 Pelo menos eacute o que podemos depreen-der quando Joatildeo de Barros refere a permanecircncia de Cristoacutevatildeo em Men-donccedila no auxiacutelio agrave construccedilatildeo da fortaleza de Paceacutem

Natildeo encontramos portanto elementos nas Deacutecadas da Aacutesia que nos permitam afirmar que este navegador portuguecircs teraacute prosseguido via-gem para o sul de Samatra e encontrado a miacutetica Ilha do Ouro identi-ficada com a Austraacutelia Ainda assim tecircm sido vaacuterios os historiadores nomeadamente Armando Cortesatildeo a defenderem natildeo haver motivo para se duvidar de que Cristoacutevatildeo teraacute seguido com a exploraccedilatildeo de que fora incumbido no ano seguinte aproveitando a monccedilatildeo do princiacutepio de 1522 Note-se que o proacuteprio Luiacutes de Albuquerque ainda que aves-so a esta teoria natildeo deixa de estranhar o facto de as Deacutecadas da Aacutesia natildeo referirem quais os serviccedilos especiais prestados por Mendonccedila que justifiquem a sua nomeaccedilatildeo para a rentaacutevel e apeteciacutevel capitania de Ormuz71 ldquotam viccediloacutesa e abastaacuteda q dizem os moradores della q o Mundo eacute hu aneacutel e Ormuz hua pedra precioacutesa engastaacuteda nellerdquo72 Como a seguir veremos a nomeaccedilatildeo para a capitania de Ormuz natildeo foi a uacutenica benesse com que o navegador foi agraciado apoacutes o seu regresso ao reino

52 A viagem de regresso ao reino

Segundo Trickett nada se sabe sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila nos seis anos posteriores agrave expediccedilatildeo que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro73 Como veremos esta ideia natildeo corresponde agrave realidade Sabe-se por exemplo que depois de o navegador ter estado em Ormuz e na Iacutendia regressou a Portugal em 1524 tendo-se detido em Marccedilo ou Maio desse ano na aguada de Saldanha na actual Aacutefrica do Sul tal como ficou atestado numa inscriccedilatildeo que aiacute foi encontrada

Com efeito decorria o ano de 1989 quando foi identificada uma ins-criccedilatildeo portuguesa em Golden Acre no sopeacute de Adderley Street na Cida-de do Cabo Desta inscriccedilatildeo fracturada sobreviveu um fragmento com 25

70 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 7671 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal p 25872 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada II II Cap II p 48 73 Cf TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio p 87

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203180

Fernando Pessanha

cm de largura por 10 cm de altura que foi recolhido pelo South African Museum Na altura um arqueoacutelogo do South African Museum pensou tratar-se de inscriccedilatildeo funeraacuteria de D Lourenccedilo de Almeida um navega-dor portuguecircs que numa viagem de regresso ao reino desembarcou na Baiacutea do Saldanha em Dezembro de 1509 de modo a castigar uns indiacutege-nas Poreacutem acabou por falecer nesse recontro juntamente com muitos outros elementos da sua tripulaccedilatildeo o que levou o referido arqueoacutelogo a interpretar o achado como uma inscriccedilatildeo funeraacuteria

Entretanto em Janeiro de 1990 o Prof Eric Axelon comunicou agrave Comissatildeo Nacional para as Comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portu-gueses a descoberta da inscriccedilatildeo Axelon adiantava poder tratar-se de um artefacto representativo da passagem de Duarte de Meneses pela Cidade do Cabo em 1524 Poreacutem a leitura e interpretaccedilatildeo de Maacuterio Jorge Barroca assistente de Arqueologia Medieval da Universidade do Porto veio a invalidar as suposiccedilotildees de Axelon e do arqueoacutelogo do South African Museum De acordo com Maacuterio Jorge Barroca este do-cumento epigraacutefico refere-se a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ainda que o estado de conservaccedilatildeo desta inscriccedilatildeo dificulte a interpretaccedilatildeo do seu conteuacutedo74 Luiacutes Filipe Thomaz que tambeacutem abordou esta inscriccedilatildeo faz uma leitura ligeiramente diferente mas que concorda quanto ao essencial do conteuacutedo75 De resto eacute interessante notar que para aleacutem dos supra citados autores apenas encontraacutemos referecircncias a este do-cumento epigraacutefico em Luiacutes de Albuquerque76 Antoacutenio Pereira Cardo-so77 e Joseacute Manuel Garcia78

De modo geral a inscriccedilatildeo identificada na Cidade do Cabo vem de-monstrar efectivamente que Cristoacutevatildeo empreendeu a viagem de re-gresso ao reino em 1524 sendo provaacutevel que tenha partido de Cochim logo no iniacutecio do ano Sabemos que se encontrava no sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio No entanto e ainda que esta epiacutegrafe se apresente como um elemento de grande interesse para a reconstituiccedilatildeo do percurso de Cristoacutevatildeo continuamos sem saber o que teraacute feito e por onde teraacute nave-gado entre os iniacutecios de 1522 quando recebeu mantimentos para seguir

74 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo pp 17-1875 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 7976 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-

tos Vol II pp 727-72877 CARDOSO A provaacutevel viagem pp10-1978 GARCIA O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash

1555 Nordm 8 p 98

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 181

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

para Ormuz e os iniacutecios de 1524 quando partiu da Iacutendia para regressar a Portugal Teraacute ele permanecido todo esse tempo em Ormuz Ou teraacute dado continuidade agraves exploraccedilotildees que lhe tinham sido incumbidas pelo governador Diogo Lopes de Sequeira

6 Rendas mercecircs e distinccedilotildees

61 Tenccedilas recebidas

Referimos haacute pouco natildeo ser correcta a ideia de nada se saber sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila nos seis anos posteriores agrave expediccedilatildeo que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro De facto para aleacutem da inscri-ccedilatildeo encontrada na Cidade do Cabo e que atesta a passagem de Mendon-ccedila pelo sul de Aacutefrica tambeacutem existem alguns documentos acondiciona-dos no Arquivo Nacional da Torre do Tombo que revelam informaccedilotildees interessantes para o periacuteodo correspondente agrave sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e 1527 Satildeo exactamente esses documentos que nos datildeo conta das rendas mercecircs e distinccedilotildees com que este navegador foi agraciado

Sabemos que em 4 de Julho de 1526 por exemplo D Joatildeo III mandou o almoxarife de Aveiro dar a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ldquofidalgo da sua casardquo 50000 reacuteis de tenccedila que ficaria assentada na alfacircndega da cidade de Lisboa79 Seria esta uma tenccedila generosa A resposta a esta questatildeo le-vou-nos a comparar este valor com as tenccedilas auferidas pelos seus fami-liares e por outros navegadores seus contemporacircneos Foi nesse sentido que constataacutemos que o ceacutelebre navegador e cosmoacutegrafo Duarte Pacheco Pereira depois de inuacutemeros serviccedilos prestados agrave Coroa recebeu uma tenccedila anual de 50000 reais nesse mesmo ano de 152680 Tristatildeo da Cu-nha ceacutelebre navegador e comandante naval portuguecircs nomeado por D Manuel para primeiro governador da Iacutendia em 150581 e pai de Nuno da Cunha Governador da Iacutendia entre 1528 e 153882 recebeu 40000 reacuteis

79 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57 80 JB de C ldquoPereira Duarte Pachecordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol V pp 52-

54 COSME ldquoOs homens de ciecircnciardquo pp 91-9781 E S ldquoCunha Tristatildeo da (1460-1540)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol II p 260

Sobre Tristatildeo da Cunha veja-se tambeacutem CARVALHO ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Manuelinardquo pp 199-226

82 E S ldquoCunha Nuno da (1487-1539)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol II pp 258-259 Sobre Nuno da Cunha veja-se tambeacutem CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538)

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203182

Fernando Pessanha

de tenccedila no mesmo ano de 152683 Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo rece-beu uma tenccedila generosa ao voltar ao reino Talvez Note-se que o pai de Cristoacutevatildeo Diogo de Mendonccedila alcaide-mor de Mouratildeo recebia os mesmos 50000 reacuteis de tenccedila em 150184 e em 151485 valor que o irmatildeo de Cristoacutevatildeo Pedro de Mendonccedila passou a auferir ao herdar a alcaidaria de Mouratildeo em 151786

Para aleacutem dos 50000 reacuteis de tenccedila eacute o proacuteprio Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila a mandar Jacome Bentes receber de Joatildeo de Azambuja 200000 reacuteis em virtude da outra procuraccedilatildeo que o dito Mendonccedila tinha feito para receber dos almoxarifes de Setuacutebal Aveiro e Coimbra87 Refira-se a este respeito que ainda no mesmo ano ordenou D Joatildeo III que o almoxari-fe de Aveiro pagasse ao jaacute referido Tristatildeo da Cunha 100000 reacuteis para pagamento de 250000 reacuteis da sua tenccedila88 ou que Vasco da Gama ao re-gressar ao reino depois de descobrir o caminho mariacutetimo para a Iacutendia recebeu uma renda de 300000 reacuteis89 Vemos deste modo que os rendi-mentos auferidos por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aquando do seu regresso ao reino natildeo foram propriamente modestos quando comparados com os do primeiro governador da Iacutendia ou com os do navegador e cosmoacute-grafo Duarte Pacheco Pereira

Por fim surge-nos um documento datado de 13 de Abril de 1527 e que tem por tiacutetulo Estabelecimento que Fernando Rodrigues como procu-rador de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila fidalgo da Casa do Rei fez em Fernando Gomes para cobrar todas as tenccedilas e moradias do seu dito constituinte90 Repare-se que de acordo com Joatildeo de Barros Cristoacutevatildeo de Mendonccedila voltou a partir para o Oriente em Marccedilo de 1527 Vemos portanto que o referido documento eacute ligeiramente posterior agrave partida do navegador e que este deixou instruccedilotildees ao seu procurador para que algueacutem cobrasse todas as suas tenccedilas e moradias De resto a alusatildeo agraves ldquotenccedilas e moradi-

83 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 135 Nordm4584 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 13 fl60 ANTT Chancelaria de D Manuel I

liv 8 fl29v85 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 53 Nordm18286 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 10 fl53 Repare-se que a partir de 1523 Pe-

dro de Mendonccedila passou a receber apenas 30000 reacuteis ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 109 Nordm131 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 131 Nordm226

87 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 136 Nordm10288 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 135 Nordm4989 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 4 fl 37 COSME ldquoOs Navegadores ndash Vasco da

Gamardquo p 14990 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 141 Nordm91

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 183

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

asrdquo vem reforccedilar a ideia de que os serviccedilos prestados por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente foram bem recompensados pelo monarca portu-guecircs Resta-nos perceber que serviccedilos teratildeo justificado estas recompen-sas assim como aquelas a que de seguida aludiremos

62 A capitania de Ormuz

Para aleacutem dos rendimentos atraacutes referidos os serviccedilos prestados por Mendonccedila foram igualmente agraciados com a nomeaccedilatildeo para a ren-taacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz para onde partiu em Marccedilo de 152791 Natildeo deixa de ser interessante a alusatildeo que cronistas como Joatildeo de Barros ou Frei Luiacutes de Sousa fazem aos Braganccedilas no momento em que referem esta nova partida de Cristoacutevatildeo para a Iacutendia Com efeito eacute possiacutevel que o duque de Braganccedila jaacute tivesse ligaccedilotildees aos Mendon-ccedilas ainda que o casamento de D Jaime com D Joana de Mendonccedila soacute se tenha realizado em 1520 Teresa Lacerda levanta a hipoacutetese de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ter sido indigitado para o Conselho Reacutegio por influecircncia do duque de Braganccedila do mesmo modo como foi nomea-do para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 e para capitatildeo de Ormuz em 152792 De facto natildeo eacute impossiacutevel No entanto somos da opiniatildeo de que natildeo seraacute apenas D Joana a estar na origem de uma eventual ligaccedilatildeo de D Jaime aos Mendonccedilas como tambeacutem a participaccedilatildeo do seu pai ldquoDiogo de mendonccedila alcaide mor de Mouratildeordquo e de ldquoPero de Mendonccedila seu filhordquo na conquista de Azamor comandada pelo proacuteprio duque em 151393

De facto natildeo sabemos se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teraacute sido indigitado para o Conselho Reacutegio para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquer-que de 1519 ou para a capitania de Ormuz por influecircncia do duque de Braganccedila Seja como for parece-nos que o contexto social e familiar de Cristoacutevatildeo teraacute pesado no momento em que o monarca procedeu a tais nomeaccedilotildees Basta recordarmos que Afonso Furtado bisavocirc de Cristoacute-vatildeo tinha sido nomeado capitatildeo do mar por D Joatildeo I em 138594 Afonso

91 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada IV II Cap III p 73 Ver tambeacutem CORREIA Lendas Vol III Pt I Cap XVI p 182 SOUSA Anais Vol II IV Cap I p 1 SOUSA Asia Tomo I Pt IV Cap II p 256

92 LACERDA Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social p 112 nota 375

93 GOacuteIS Chronica III Cap XLVI p 367 GAYO Nobiliaacuterio p 5394 FREIRE Brasotildees Vol III pp 170-171

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203184

Fernando Pessanha

Furtado de Mendonccedila avocirc de Cristoacutevatildeo para aleacutem de capitatildeo-mor do mar95 aparece referido como escrivatildeo da feitoria de Sofala96 Pedro de Mendonccedila tio de Cristoacutevatildeo tinha comandado uma nau numa frota de 12 navios que em 1504 partiu para a Iacutendia para garantir a seguranccedila das rotas comerciais do oceano Iacutendico e controlar o governante hostil de Calecut97 Natildeo se pode portanto considerar que os Mendonccedilas seri-am marginais ao projecto de expansatildeo ultramarina quando Cristoacutevatildeo aparece nomeado para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 ou para a capitania de Ormuz que deteve entre 1527 e 1531 ou 1532 ano da sua morte

Chegando a este ponto vale a pena determo-nos brevemente de modo a compreendermos o que era Ormuz e o que representava esta capitania no contexto do Impeacuterio Portuguecircs no Oriente Antes de mais conveacutem recordarmos que Ormuz era um importantiacutessimo entreposto mercantil em virtude da sua privilegiada localizaccedilatildeo geograacutefica na en-trada do Golfo Peacutersico Com efeito com a segunda conquista de Ormuz por Afonso de Albuquerque em 1515 e a consequente imposiccedilatildeo de um protectorado a Coroa portuguesa passou a arrecadar uma parcela con-sideraacutevel das receitas aduaneiras da proacutespera ilha transformando-se Ormuz no epicentro das actividades portuguesas no Golfo Peacutersico e no mar da Araacutebia A acreditar-se nas fontes quinhentistas era tal o movi-mento e a intensidade no porto de Ormuz que natildeo era invulgar ali en-contrar mais de 200 navios carregados de mercadorias De entre as mais importantes mercadorias que passavam pela cidade destacavam-se os cavalos oriundos da Araacutebia e da Peacutersia com destino aos portos da cos-ta ocidental da Iacutendia de onde eram encaminhados para os potentados indianos entre os quais grassavam guerras endeacutemicas Mas outros pro-dutos aacuterabes e persas faziam a riqueza da esteacuteril ilha de Djarucircn como as alcatifas aacuterabes as peacuterolas de Bahareacutem os tapetes a seda e a prata da Peacutersia o salitre e o enxofre da proacutepria ilha ao lado de mercadorias menos nobres como os frutos secos ou os cereais Dadas as circunstacircn-cias natildeo seraacute de estranhar que ao longo de todo o seacutec XVI a alfacircndega de Ormuz se tenha destacado como a mais rentaacutevel de todo o Estado da Iacutendia logo a seguir agrave de Goa Por outras palavras a cidade gerava

95 FARIA Livro de Linhagens p 27296 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada I Pt I V Cap III97 MALDONADO Relaccedilatildeo das Naos e Armadas da Iacutendia p 16 ANTT Corpo Cronoloacutegi-

co Pt II maccedilo 9 Nordm 35

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 185

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

um volume de receitas tatildeo consideraacutevel que a capitania de Ormuz aca-bou por se transformar numa das mais apetecidas de todo o Impeacuterio no Oriente Vemos deste modo que a atribuiccedilatildeo desta capitania natildeo soacute era motivo de prestiacutegio para o capitatildeo nomeado como tambeacutem fonte de grande riqueza98

Natildeo podemos deixar de notar que as Deacutecadas da Aacutesia ao referir-se agrave nomeaccedilatildeo de Mendonccedila para a capitania de Ormuz natildeo refere quais-quer serviccedilos especiais que justifiquem a atribuiccedilatildeo de tal benesse Ar-mando Cortesatildeo que levantou a hipoacutetese de ter sido Mendonccedila o pri-meiro europeu a chegar agrave Austraacutelia foi um dos investigadores a sugerir que esta nomeaccedilatildeo se devesse aos serviccedilos prestados pelo navegador99 Poreacutem e tal como temos afirmado ao longo deste trabalho natildeo existe qualquer documento que assegure o ecircxito de Mendonccedila relativamente agrave viagem que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro Omis-satildeo que segundo Jaime Cortesatildeo foi consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo entatildeo vigente Luiacutes de Albuquerque ainda que contraacuterio agrave teoria da descoberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que ldquodeve a sua celebridade a uma expediccedilatildeo que natildeo fezrdquo100 estranha no entanto o facto de Diogo do Couto natildeo mencionar os serviccedilos especiais que estiveram na origem da nomeaccedilatildeo do navegador para a capitania de Ormuz101 Esta distinccedilatildeo torna-se ainda mais suspeita se tivermos em consideraccedilatildeo que uma nomeaccedilatildeo desta natureza implicaria em meacutedia 10 anos de serviccedilos no Oriente102 durante os quais era acumu-lada a experiecircncia necessaacuteria para o desempenho de uma capitania Como vimos natildeo foi esse o caso de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Aliaacutes as nomeaccedilotildees para as capitanias mais importantes e lucrativas como Or-muz Goa ou Malaca natildeo soacute eram atribuiacutedas em reconhecimento pelos vaacuterios anos de serviccedilo no Oriente como tambeacutem recaiacuteam tendencial-mente sobre nobres com uma maior presenccedila na corte o que tambeacutem

98 LOUREIRO ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 pp 749-797 JPC ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 833-836

99 CORTESAcircO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158100 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo p 727101 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol IV

p 258102 Andreia Martins de Carvalho determinou os anos de serviccedilo de fidalgos no Oriente

antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania entre 1518 e 1544 CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 211 Foi nesse sentido que tendo em conta a infor-maccedilatildeo disponiacutevel sobre o percurso de 37 fidalgos estabelecemos a meacutedia de anos relativos a serviccedilos no Oriente antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203186

Fernando Pessanha

natildeo era o caso de Mendonccedila Ora se o navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro como explicar tatildeo generoso honroso e rentaacutevel reconhecimento Isto claro para aleacutem das compensaccedilotildees econoacutemicas atraacutes referidas e da entrega da comenda da Ordem de Cris-to que de seguida abordaremos De resto a capitania de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ficou marcada por episoacutedios dignos de registo como o au-xiacutelio prestado agrave frota de Simatildeo da Cunha assolada por uma epidemia contraiacuteda na campanha contra a ilha de Bahareacutem103 Refira-se aliaacutes que foi sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que recaiu a responsabilidade de escolher um agente para realizar a ceacutelebre missatildeo de espionagem que constituiu a viagem por terra de Ormuz a Portugal protagonizada por Antoacutenio Tenreiro entre Setembro de 1528 e Maio de 1529 - viagem cuja narrativa constitui um notaacutevel documento histoacuterico de natureza geograacutefica religiosa e antropoloacutegica104

63 A comenda da vila de Arenilha

Tal como anteriormente referimos deparaacutemo-nos com dois documen-tos que chamaram a nossa atenccedilatildeo aquando da investigaccedilatildeo para o ar-tigo ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo Trata-se de duas cartas em que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece referido como comendador da vila de Arenilha O primeiro documento data de 29 de Dezembro de 1529 e tem por tiacutetulo Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bregantim missiva em que o comendador de Arenilha culpa o marquecircs de Ayamonte pelos danos causados nas barcas dos habitantes da vila no-meadamente no referido bergantim chegando mesmo a mandar ldquopagar as barcas e () as perdas que receberam os donos delas e asy o dano que se fez na Arenilhardquo e mandar o marquecircs prender os responsaacuteveis que se encontrem nas suas terras105 Como se pode perceber o tom da missiva natildeo resulta propriamente abonatoacuterio para o nobre espanhol

103 SOUSA Anais Vol II IV Cap XXII p 106104 Como recompensa pelos serviccedilos prestados Antoacutenio Tenreiro recebeu da Coroa em

1533 uma tenccedila anual de 30000 reacuteis e o haacutebito de cavaleiro da Ordem de Cristo Ver TENREIRO amp AFONSO Viagens por terra da Iacutendia a Portugal p 18 RL ldquoTenreiro Antoacuteniordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II p 1023

105 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 Nordm45

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 187

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig1 - Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua

Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do

marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

Fig 1

Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o

marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203188

Fernando Pessanha

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig2 - Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar

creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Arenilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada destinada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila assim como o seu

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesahelliprdquo pp 86-82

Fig 2

Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao

comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Are-nilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada desti-nada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesardquo pp 86-82

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 189

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacute-vatildeo de Mendonccedila assim como o seu percurso como capitatildeo nas armadas da Iacutendia acreditamos encontrar-nos em condiccedilotildees para demonstrarmos que a comenda de Arenilha foi efectivamente atribuiacuteda ao navegador como reconhecimento pelos serviccedilos prestados no Oriente

Com efeito satildeo vaacuterios os indicadores que nos levam a afirmaacute-lo Em primeiro lugar o facto de natildeo se encontrar nas croacutenicas nem nas fontes coevas qualquer referecircncia a um homoacutenimo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a balizagem cronoloacutegica compreendida entre 1514 e 1532 periacuteodo em que aparece referido na documentaccedilatildeo Aliaacutes as da-tas discriminadas nos documentos que o referem como comendador de Arenilha corroboram a ideia de esta comenda ter sido atribuiacuteda aquando do seu regresso ao reino Eacute certo que natildeo sabemos a data em que Cristoacutevatildeo teraacute chegado a Portugal ainda que tenhamos notiacutecia da sua passagem pelo sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio de 1524 durante a viagem de regresso108 Poreacutem as tenccedilas atraacutes mencionadas indicam que se encontrava no reino em 1526 Uma vez que os documentos que o referem como comendador da vila da foz do Guadiana remontam a Dezembro de 1529 e Maio de 1530 anos em que o navegador jaacute se encontrava no Oriente eacute de supor que D Joatildeo III lhe teraacute atribuiacutedo a comenda aquando da sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e Marccedilo de 1527 ano em que voltou a partir para a Iacutendia jaacute na qualida-de de capitatildeo de Ormuz

Uma vez que natildeo se verificam homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila para a balizagem cronoloacutegica atraacutes referida e que as datas dos docu-mentos que o referem como comendador de Arenilha satildeo ligeiramente posteriores ao seu regresso ao reino resta-nos determinar se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila reunia as condiccedilotildees necessaacuterias para ser agraciado com uma comenda desta natureza Antes de mais importa referir que a vila de Arenilha e de Castro Marim eram as duas uacutenicas comendas da Ordem de Cristo no Algarve Curiosamente Isabel L Morgado de Sousa e Silva natildeo refere a comenda de Arenilha na dissertaccedilatildeo para doutoramento

108 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo Oceanos Nordm4 pp 17-18 ALBU-QUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 727-728 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 79

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203190

Fernando Pessanha

A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521)109 Poreacutem o documento publicado por Hugo Cavaco natildeo deixa margem para duacutevidas

ldquoNo Bispado do Algarve haacute somente duas Commendas da Ordem (de

Cristo) que satildeo das antigas e as seguintes

A Commenda e Alcaideria-moacuter de Castro Marim avaliou-se em quatro-

centos e cinquenta mil reacuteis no anno de 1608

A Commenda da Alcaideria-mograver de Santo Antonio de Arenilha que estaacute

junto a Castro Marim em cento e trinta mil reacuteis no anno de 1608

No Bispado do Algarve natildeo haacute nenhuma Commenda desta Ordem mais

que as duas velhas que valem quinhentos e oitenta mil reacuteis como se vecirc

da somma adianterdquo110

Aliaacutes soacute o facto de Arenilha ser comenda da Ordem de Cristo poderaacute explicar que o senhorio da vila tenha sido atribuiacutedo exclusivamente a cavaleiros da miliacutecia ao longo de toda a centuacuteria quinhentista111

Naturalmente que estas comendas implicavam desde logo a existecircn-cia de comendadores sobre os quais recaiacutea o senhorio das ditas vilas o que era compreendido como motivo de honra e de prestiacutegio social numa sociedade ainda bastante influenciada pelas antigas tradiccedilotildees medievo-feudais Comendas refira-se que compreendiam o direito agrave administra-ccedilatildeo da localidade e conferiam uma renda para sustentaccedilatildeo do comenda-dor beneficiaacuterio configurando um recurso para os encargos da proacutepria comenda No entanto a atribuiccedilatildeo de uma comenda representava um benefiacutecio atribuiacutedo a cavaleiros professos nas ordens militares como re-compensa por serviccedilos prestados Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Men-donccedila soacute poderia ser agraciado com a comenda de Arenilha caso tivesse sido investido na Ordem de Cristo Foi nesse sentido que procuraacutemos determinar se este navegador professou nesta Ordem Militar

Com efeito a dissertaccedilatildeo Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) de Joatildeo Maria Falcatildeo Pestana de Vascon-celos natildeo faz qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila enquanto cavaleiro da Ordem de Cristo Refere no entanto o seu avocirc Afonso Fur-

109 SILVA A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta110 Documento VIII BNLMicroformas F5040 Documento publicado por CAVACO Revisi-

tando p 52111 Cf PESSANHA Os 500 anos pp 57-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 191

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

tado de Mendonccedila comendador de Cardiga da Ordem de Cristo112 a sua irmatilde Margarida de Mendonccedila enquanto mulher de um comendador da mesma Ordem e o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo que recebeu o haacutebito da miliacutecia em 16 de Abril de 1514113 Ain-da que a referida dissertaccedilatildeo natildeo faccedila qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo enquanto membro desta Ordem vem demonstrar a ligaccedilatildeo de alguns dos seus familiares agrave mesma natildeo soacute na qualidade de cavaleiros como tambeacutem de comendadores

Poreacutem Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social de Teresa Lacerda assim como a jaacute referida tese A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) de Isabel L Morgado de Sousa e Silva jaacute identificam efectivamente Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como frei cavaleiro desta Ordem114 De acordo com a obra consultada Cavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVI Cristoacutevatildeo de Mendonccedila recebeu efectivamente o haacutebito da Ordem de Cristo em 16 de Abril de 1514115 exactamente na mesma data em que o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila tambeacutem foi in-vestido116 De resto o facto de Cristoacutevatildeo aparecer referido como mem-bro da miliacutecia numa provisatildeo em que D Joatildeo III manda o almoxarife de Aveiro pagar ldquoa Cristoacutevatildeo de Mendonccedila sua tenccedila deste ano 50000 reacuteis assentada na alfacircndega de Lisboa com o haacutebito de Cristordquo117 vem dissipar qualquer duacutevida que ainda subsistisse

Note-se que identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como cavaleiro da Ordem de Cristo natildeo pudemos deixar de reparar no silecircncio dos cronistas no momento de identificar os intervenientes no processo ex-pansionista com as suas respectivas filiaccedilotildees nas Ordens Militares De facto quer Joatildeo de Barros quer os cronistas que lhe sucederam natildeo fazem qualquer referecircncia agrave filiaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo em qualquer Ordem tal como de acordo com o que constataacutemos raramente o fazem em relaccedilatildeo a outros cavaleiros Esta evidecircncia pode parecer ainda mais estranha se tivermos em consideraccedilatildeo o forte envolvimento da Ordem

112 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Vol I p 377 FARIA Livro de Linhagens p 275

113 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares p 392 114 LACERDA Os Capitatildees das Armadas pp 120 e 228 SILVA A Ordem de Cristo p 336

SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma perspectiva de estudordquo apecircndice

115 FARIA ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo p 21116 FARIA ldquoCavaleirosrdquo p 21 Ver tambeacutem SILVA A Ordem de Cristo p 330117 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203192

Fernando Pessanha

de Cristo na Histoacuteria da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses Ordem Militar sublinhe-se que teve como governadores figuras in-contornaacuteveis da famiacutelia real como o infante D Henrique o infante D Fernando o rei D Manuel ou o rei D Joatildeo III118 Poreacutem haacute que ter em consideraccedilatildeo que documentos como Memoacuteria das Armadas ou o Livro de Lisuarte de Abreu natildeo satildeo fontes sobre qualquer uma das Ordens razatildeo pela qual se torna compreensiacutevel a ausecircncia de referecircncias mais completas relativamente aos intervenientes no processo de expansatildeo Aliaacutes a intenccedilatildeo subjacente agrave produccedilatildeo de obras como Histoacuteria do Des-cobrimento e da Conquista da Iacutendia natildeo passa por apresentar informa-ccedilatildeo detalhada sobre as individualidades que participaram no processo expansionista mas antes destacar o protagonismo reacutegio em todo este processo119

Por fim natildeo se verificando homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a cronologia abordada coincidindo as datas que o referem como comendador de Arenilha e identificado este navegador como cavalei-ro da Ordem de Cristo resta-nos perceber por que motivo lhe teraacute sido entregue a comenda desta vila na foz do Guadiana Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo que a fundaccedilatildeo de Are-nilha prende-se com a afirmaccedilatildeo da soberania poliacutetica e administra-tiva de D Manuel sobre um territoacuterio frequentado por castelhanos Eacute exactamente nesse contexto que em 1421 Castro Marim justificava o pedido de isenccedilatildeo de alguns encargos pelos ldquoconstantes trabalhos que os moradores tinham com os castelhanos que insistiam em vir pescar ao reinordquo120 Quer isto dizer que os castelhanos vinham pescar para as margens portuguesas natildeo pagando os devidos impostos agrave Coroa Aliaacutes a existecircncia do topoacutenimo de origem castelhana Arenilha121 ainda antes da elaboraccedilatildeo da Carta de Privileacutegio que manda proceder agrave construccedilatildeo

118 FONSECA ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo pp 321-347 Ver tambeacutem SILVA A Or-dem de Cristo pp 43-110

119 Cf SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristordquo pp 349-361120 VENTURA ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo p 608

ANTT Chancelaria de D Afonso V liv 2 fl30121 De acordo com o dicionaacuterio da Real Academia Espantildeola ldquoarenillardquo apresenta-se como

sinoacutenimo de ldquoarena menudardquo Ver Dicionario de la Real Academia Espantildeola Disponiacutevel em httplemaraeesdraeval=arenilla ndash Consultado dia 10 de Setembro de 2013 Note-se que quando em 1775 se pretendeu baptizar a nova vila iluminista com o nome de Vila Real de Santo Antoacutenio de Arenilha prontamente o Marquecircs de Pombal proibiu a utilizaccedilatildeo do nome ldquoArenilhardquo alegando que ldquoeacute uma palavra hespanhola e Villa Real uma povoaccedilatildeo portuguesardquo Ver OLIVEIRA Monografia p 71

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 193

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

da vila122 indica a ocupaccedilatildeo daquele areal na margem portuguesa da foz do Guadiana por populaccedilotildees de pescadores de origem castelhana Dadas as circunstacircncias seria do interesse estrateacutegico do monarca que esta comenda recaiacutesse sobre algueacutem experimentado na guarda da fronteira e que fizesse cumprir o pagamento dos devidos direitos aduaneiros Re-corde-se que Arenilha para aleacutem de comenda da Ordem de Cristo era uma vila de fronteira situada na margem portuguesa do Guadiana tal como o era a vila de Mouratildeo de onde Cristoacutevatildeo de Mendonccedila era natu-ral Como anteriormente referimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Men-donccedila o fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo que foi nomeado em 1476 alcaide-mor de Mouratildeo123 uma vila fortificada do Alentejo que guarda-va a fronteira portuguesa frente a Espanha O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas mostra-nos o castelo de Mouratildeo onde Cristoacutevatildeo teraacute crescido localizado no cimo de uma colina sobranceiro ao Guadiana124 Quer isto dizer que o ceacutelebre navegador era descendente de uma famiacutelia experimentada na guarda da fronteira face ao reino vizinho e familia-rizado com as actividades militares tributaacuterias e administrativas que lhe eram inerentes125 Assim sendo esta condiccedilatildeo de fronteiro a juntar ao facto de Cristoacutevatildeo ser cavaleiro da Ordem de Cristo teraacute resultado altamente pertinente no momento em que D Joatildeo III decidiu atribuir a comenda de Arenilha a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como recompensa pelos serviccedilos prestados

Por fim mas natildeo menos relevante teraacute sido a experiecircncia naval e militar adquirida por Mendonccedila nos mares do Oriente e direccionada para a foz do Guadiana sistematicamente ameaccedilada pelos ataques da pi-rataria magrebina126 Recorde-se que Mendonccedila no decurso das suas na-vegaccedilotildees na australaacutesia viu-se na necessidade de defender posiccedilotildees por-

122 O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas produzido por volta de 1509 jaacute indicava o topoacutenimo que veio a ser oficializado com a Carta de Privileacutegio de 12 de Fevereiro de 1513 Ver ARMAS O Livro das Fortalezas fl 1

123 FREIRE Brasotildees Vol III p 173124 ANTT Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Livro das Fortalezas si-

tuadas no Extremo de Portugal e Castela por Duarte de Armas escudeiro da Casa do Rei D Manuel I Nordm 159 fls 13-14 ARMAS O Livro das Fortalezas fls 13-14

125 Refira-se que foi durante o periacuteodo em que o pai de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila deteve a alcaidaria de Mouratildeo que o rei D Manuel obteve dos povos nas cortes de Lisboa de 1502 uma vultosa contribuiccedilatildeo que fez com que o castelo da vila fosse intervenciona-do por dois importantes arquitectos reacutegios os irmatildeos Francisco e Diogo de Arruda os mestres das obras reacutegias da comarca de entre o Tejo e o Guadiana Ver FARIA ldquoForti-ficaccedilotildees de Portugal na fronteira da Estremadura espanholardquo p 161

126 Sobre este assunto veja-se PESSANHA ldquoAtaques da piratariardquo pp 63-94

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203194

Fernando Pessanha

tuguesas dando combate aos adversaacuterios Recordemos a este respeito o ataque movido por Melique Ladil agrave fortaleza de Paceacutem entatildeo guardada por Mendonccedila e a maneira como o ldquomourordquo foi desbaratado e despo-jado das treze embarcaccedilotildees usadas no assalto127 Dadas as circunstacircnci-as seria um desperdiacutecio natildeo se aproveitar a experiecircncia deste capitatildeo numa altura em que se verificava um incremento da actividade piraacutetica nas costas do Algarve Esta actividade da pirataria na foz do Guadiana eacute aliaacutes referida por Bernardo Rodrigues em vaacuterias ocasiotildees nomeada-mente aquando da estadia da condessa de Redondo na vila de Arenilha em 1522128 ou quando Vasco Fernandes Ceacutesar - antigo adaiacutel de Azamor e capitatildeo da Armada do Estreito129 - foi incumbido embarcar o conde do Redondo D Joatildeo Coutinho na vila de Arenilha e escoltaacute-lo a Arzila130 Refira-se que a caminho da foz do Guadiana o navio de Vasco Fernan-des Ceacutesar foi atacado por duas naus tendo-se seguido um combate naval que resultou na explosatildeo de parte da alcaacuteccedilova atirando cinco homens ao mar entre os quais Vasco Fernandes que ficou gravemente ferido131

Vemos deste modo que a entrega da comenda de Arenilha a um in-diviacuteduo como Cristoacutevatildeo de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo descendente de uma famiacutelia de fronteiros e navegador experimentado no combate naval natildeo soacute era altamente pertinente como simboacutelica e manifestamente estrateacutegica para a defesa do extremo sudeste algarvio e da foz do Guadiana onde Mendonccedila deveria actuar com autoridade se-nhorial usufruindo dos seus bens e rendimentos E no caso da comenda de Arenilha Seriam generosos os seus rendimentos Sem duacutevida Se assim natildeo fosse o rei D Duarte natildeo teria doado ao infante D Henrique ainda em 25 de Setembro de 1433 a ldquodiacutesima nova de todo o pescado que pescarem quaisquer pessoas no mar do Monte Gordordquo132 Aliaacutes seraacute certa-

127 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III pp548-549128 RODRIGUES Anais de Arzila Tomo I Cap XC p 373129 GOacuteIS Chronica IV Cap LVII p 552 Sobre a Armada do Estreito veja-se GODINHO

ldquoA armada do estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo pp117-137130 RODRIGUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 PESSANHA Subsiacutedios p 100131 Segundo Bernardo Rodrigues os sobreviventes portugueses por pouco natildeo foram

executados Os que sobreviveram ao combate foram aprisionados e levados para Di-eppe Vasco Fernandes apesar de ferido acabou por escapar do cativeiro desfiando uma esteira e escapando por ela da torre onde se encontrava aprisionado RODRI-GUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 Ver tambeacutem PISSARRA ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Armada do Estreitordquo pp 144-145

132 SERRAtildeO Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fundaccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) p 65 OLIVEIRA Monografia p 73

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 195

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

mente o motivo econoacutemico que jaacute em 1555 estaraacute na origem da disputa pelo senhorio de Arenilha entre Jeroacutenimo de Melo fidalgo da Casa Real e alcaide-mor de Castro Marim e Luiacutes Leite frei cavaleiro da Ordem de Cristo e filho de Antoacutenio Leite o anterior alcaide133

Relativamente agrave defesa sabemos que Arenilha natildeo possuiacutea castelo torre ou qualquer fortificaccedilatildeo digna de registo ateacute 1542-1547 periacuteodo em que o alcaide Antoacutenio Leite daacute-nos conta das ldquotramqueyras e repai-rosrdquo construiacutedos sob o seu comando para a populaccedilatildeo se defender dos ataques da pirataria moura134 Ainda assim Mendonccedila estava obrigado a zelar pela defesa da vila independentemente de esta ter ou natildeo for-tificaccedilotildees para a proteger Se tivermos em consideraccedilatildeo que a sua no-meaccedilatildeo como comendador o obrigava agrave realizaccedilatildeo de um inventaacuterio ao patrimoacutenio da comenda (infelizmente desconhecido) e ao dever de fixar residecircncia na sua aacuterea de governo135 eacute muito provaacutevel que Cristoacutevatildeo se tenha detido durante algum tempo na vila da foz do Guadiana algures entre finais de 1524 aquando da sua chegada ao reino136 e Marccedilo de 1527 quando voltou a partir para o Oriente

Como anteriormente referimos os comendadores deviam fixar-se nas suas comendas para melhor procederem agrave sua defesa e melhor ren-tabilizarem as mesmas Assim sendo como eacute possiacutevel que os documen-tos que referem Cristoacutevatildeo como comendador de Arenilha sejam relati-vos aos anos em que este se encontrava na capitania de Ormuz Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo de que a principal obrigaccedilatildeo dos cavaleiros da Ordem de Cristo era a luta contra os inimigos da feacute devendo estar prontos para a guerra sempre que o Mestre os convocasse Uma vez que as situaccedilotildees de guerra eram cons-tantes nos territoacuterios de aleacutem-mar onde a presenccedila dos cavaleiros da Ordem se tornava necessaacuteria natildeo eacute de admirar que estes fossem dispen-sados da exigecircncia que os obrigava a permanecer nas suas comendas137

133 CAVACO Revisitando pp 18-20 PESSANHA Os 500 anos pp 72-73134 Carta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava

atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras e que era necessaacute-rio enviar-lhe socorro ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos p 99 PINTO ldquoIacutendice Analiacuteticordquo p 267

135 Cf SILVA A Ordem de Cristo pp 189-190136 Uma vez que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila se encontrava na Aacutefrica do Sul em Marccedilo ou Maio

de 1524 eacute de supor que a sua chegada ao reino se tenha dado ainda no mesmo ano137 SILVA A Ordem de Cristo p 191

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203196

Fernando Pessanha

Eacute nesse sentido que encontramos Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comen-dador de Arenilha em 1529 e 1530 anos em que jaacute se encontrava como capitatildeo na fortaleza de Ormuz De resto era nesta fortaleza que ainda se encontrava em 1531 ano em que piratas de Larache atacaram a vila da foz do Guadiana ldquoonde fizeacuteratildeo muito dano em navios que tomaacuteratildeo e den-tro da Barra de Aiamonte fizeacuteratildeo despejar a Arrinilha e a Montegordordquo138

7 Conclusatildeo

Com efeito muito se tem escrito (e especulado) sobre a alegada des-coberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila No entanto e indepen-dentemente dos resultados alcanccedilados pelo navegador nesta expediccedilatildeo parece indiscutiacutevel que foi generosamente recompensado aquando do seu regresso ao reino Resta-nos perceber porquecirc Jaacute Armando Cortesatildeo muito antes de Peter Trickett tinha levantado a hipoacutetese de a rentaacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz ter sido entregue a Mendonccedila como re-compensa pelos serviccedilos prestados na expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro139 Natildeo eacute conhecido poreacutem qualquer documento que ateste o ecircxito do navegador nesta expediccedilatildeo Omissatildeo que segundo investigadores como Armando Cortesatildeo Damiatildeo Peres ou Jaime Cortesatildeo teraacute sido consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo determinada pelas limitaccedilotildees de navega-ccedilatildeo estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas e com o contencioso entre Portugal e Espanha pela posse das Molucas140

O certo eacute que Mendonccedila ao regressar ao reino foi agraciado com uma das capitanias mais rentaacuteveis do impeacuterio no Oriente para aleacutem de ter recebido compensaccedilotildees econoacutemicas e aparecer referido em 1529 e 1530 como comendador da vila de Arenilha na foz do Guadiana Refira-se a este respeito que muitos capitatildees cavaleiros da Ordem de Cristo se lanccedilaram no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Poreacutem mui-to poucos chegaram a obter as tatildeo almejadas comendas141 Vemos deste

138 RODRIGUES Anais Tomo II Cap XXXV p 209139 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158140 CORTESAtildeO A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e

de D Joatildeo II Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 65-66 PERES ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na Histoacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II pp 17-21

141 Entre os afortunados que lograram obter este tipo de rendimento contam-se muito poucos D Joatildeo Pereira D Pedro de Castelo Branco Nuno Furtado Simatildeo Guedes entre outros Ver CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 216

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 197

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

modo que a atribuiccedilatildeo da comenda de Arenilha significou um motivo de grande honra e prestiacutegio para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Ora se este navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro resta-nos perceber porque motivo teraacute sido agraciado com compensaccedilotildees eco-noacutemicas a nomeaccedilatildeo para uma das mais rentaacuteveis capitanias de todo o Impeacuterio no Oriente e uma honrosa comenda da Ordem de Cristo Eacute caso para dizer que a problemaacutetica em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila con-tinua a levantar muitas duacutevidas e poucas certezas

Fontes e Bibliografia

1 Arquivos

ANTT

Chancelaria de D Afonso V Livro 2 fl30

Chancelaria de D Manuel I Livro 4 fl37 Livro 8 fl 29v Livro 9 fl4v Livro 10 fl53 Livro 13 fl60 Livro 37 fl64

Chancelaria de D Joatildeo III Livro 12 fl62

Chancelaria da Ordem de Cristo Livro13 fls375 vndash 379v

Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1

Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 15 Nordm47 Pt I maccedilo 44 Nordm45 Pt I maccedilo 45 Nordm9

Pt II maccedilo 51 Nordm26 Pt II maccedilo 53 Nordm182 Pt II maccedilo 93 Nordm150 Pt II maccedilo 109 Nordm131 Pt II maccedilo 131 Nordm226 Pt II maccedilo 134 Nordm57 Pt II maccedilo 135 Nordm45 Pt II maccedilo 135 Nordm49 Pt II maccedilo 136 Nordm102 Pt II maccedilo 141 Nordm91

Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Nordm159

Casa Real Cartoacuterio da Nobreza Livro Nordm20 - Livro da Nobreza e da per-feiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal fl XII

2 Fontes Impressas

ABREU Lisuarte de Livro de Lisuarte de Abreu (Reproduccedilatildeo do manuscrito existente na Perpont Morgan Library de Nova York) Comissatildeo Nacional para as comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portugueses Lisboa 1992

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203198

Fernando Pessanha

ARMAS Duarte de Livro das Fortalezas Arquivo Nacional da Torre do TomboInapa Lisboa 1997

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada III Na Regia Officina Typografica Lisboa MDCCLXXVII

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada IV Imprensa Nacional Casa da Moe-da Lisboa 2001

BORGES Joseacute Calvatildeo Borges Livro do Armeiro-Mor Academia Portugue-sa de HistoacuteriaEdiccedilotildees Inapa Lisboa 2000

CASCAtildeO Joatildeo ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevorardquo Uma Jornada ao Alentejo e ao Algarve A altera-ccedilatildeo das linhas de forccedila da poliacutetica nacional Livros Horizonte Lisboa 1984 pp 77-136

CASTANHEDA Fernatildeo Lopes de Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses 2 vols Lello amp Irmatildeos Editores Porto 1979

CORREIA Gaspar Lendas da Iacutendia Tomo III na Typographia da Acade-mia Real das Sciencias Lisboa 1862

Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI Centro de Estudos Histoacutericos Ultramarinos Lis-boa 1969

GAYO Felgueiras Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX Ediccedilatildeo de Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Arauacutejo Affonso Braga 1939

GUEDES Liacutevio da Costa Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) Arquivo Histoacuterico Militar Lisboa 1988

GOacuteIS Damiatildeo de Chonica do Serenissimo Senhor Rei D Manoel Lisboa 1749

JOSEacute Frei Joatildeo de Satildeo ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 21-132

RODRIGUES Bernardo Anais de Arzila 2 vols Academia das Sciecircncias de Lisboa Lisboa 1915-1919

SARRAtildeO Henrique Fernandes ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 133-174

SOUSA Frei Luiacutes de Anais de D Joatildeo III 2 vols Saacute da Costa Lisboa 1928

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 199

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

SOUSA Manuel de Faria e Asia Portvgvesa Officina de Henrique Valen-te de Oliveira impressor del Rey NS Lisboa 1666

TENREIRO Antoacutenio amp AFONSO Mestre Viagens por terra da Iacutendia a Por-tugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica Mem-Martins 1991

3 Estudos

ALBUQUERQUE Luiacutes de (dir) Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-tos Portugueses 2 vols Ciacuterculos de Leitores Lisboa 1994

ALMEIDA Fortunato de Histoacuteria de Portugal Vols III-VII Promoclube Lisboa sd

CARDOSO Antoacutenio Pereira A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila agrave Austraacutelia em 1522 Academia da Marinha Lisboa 1994

CARVALHO Andreia Martins de ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Ma-nuelinardquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia ndash Actas do Coloacutequio Internacional Joatildeo Paulo Oliveira e Costa amp Viacutetor Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 199-226

CARVALHO Andreia Martins de Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria dos Descobrimen-tos e da Expansatildeo Portuguesa (seacuteculos XV-XVIII) apresentado agrave UNL Lisboa 2006

CAVACO Hugo ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio (Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Arte no Algarve) Cacircmara Muni-cipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1987

CAVACO Hugo Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha Cacircmara Munici-pal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1995

CORREIA Joseacute Eduardo Horta Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina Faup Publicaccedilotildees Porto 1997

CORREIA Joseacute Eduardo Horta O Algarve em Patrimoacutenio Gente Singular Editora Olhatildeo 2010

CORTESAtildeO Armando ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Aus-tralaacutesia Macau Japatildeo)rdquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939

CORTESAtildeO Jaime ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal (Dir Damiatildeo Peres) Vol IV Portucalense Editora Barce-los 1932 pp 9-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203200

Fernando Pessanha

CORTESAtildeO Jaime A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e de D Joatildeo II Lisboa 1960

COSME Joatildeo ldquoOs homens de ciecircnciardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 91-97

COSME Joatildeo ldquoOs Navegadores ndash Vasco da Gamardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 145-152

COSTA Joatildeo Paulo Oliveira e ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo A Nobreza e a Expansatildeo Estudos Biograacuteficos Joatildeo Paulo Oliveira e Costa (coord) Patrimoacutenia Cascais 2000 pp 11-51

DOMINGUES Francisco Contente ldquoOs portugueses descobriram a Aus-traacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Si-motildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Univer-sidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 163-172

DOMINGUES Francisco Contente Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 Circulo dos Leitores Lisboa 2016

FARIA Antoacutenio Machado de Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI Acade-mia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 1956

FARIA Antoacutenio Machado de ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo Separata da revista Arqueologia e Histoacuteria vol VI Lisboa 1955

FARIA Miguel Figueira de ldquoFortificaccedilotildees de Portugal na fronteira da Es-tremadura espanholardquo Anais ndash Seacuterie Histoacuteria Vol II Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 1995 pp 156-187

FONSECA Luiacutes Adatildeo da ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo A Alta No-breza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 322-347

FREIRE Anselmo Braamcamp Brasotildees da Sala de Sintra 3 vols Impren-sa da Universidade de Coimbra Coimbra 1921-1930

GARCIA Joseacute Manuel Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII QuidNovi Lisboa 2009

GARCIA Joseacute Manuel O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash 1555 Nordm 8 QuidNovi Vila do Conde 2012

GODINHO Rui Landeiro ldquoA Armada do Estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (Seacuteculos XV-XIX) Ediccedilotildees Cul-turais da Marinha Lisboa 2003 pp 117-137

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 6: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203170

Fernando Pessanha

Com efeito a nomeaccedilatildeo destes alcaides pressupotildee a existecircncia - ou a intenccedilatildeo - de uma vila acastelada ou fortificada e de facto sabemos que a vila de Arenilha foi fortificada com ldquotramqueyras e repairos () de madeyrardquo nos uacuteltimos anos da primeira metade do seacutec XVI20 Aliaacutes se a principal funccedilatildeo do alcaide-mor para aleacutem das funccedilotildees administrativas e judiciais era a defesa e a guarda do castelo (que devia sustentar ateacute agrave morte)21 a referecircncia ao ldquoalcaide moorrdquo presente na Carta de Privileacutegio de 8 de Fevereiro de 1513 poderaacute deixar antever a intenccedilatildeo do monarca em fortificar a nova vila da foz do Guadiana

No entanto e ainda que natildeo sejam conhecidas referecircncias aos alcai-des de Arenilha ateacute 1542 temos de ter em consideraccedilatildeo que Castro Ma-rim e a nova vila da foz do Guadiana apresentavam-se como as duas uacuteni-cas comendas da Ordem de Cristo no Algarve Naturalmente que estas comendas implicavam desde logo a existecircncia de comendadores sobre os quais recaiacutea o senhorio das ditas vilas o que era compreendido como motivo de honra e de prestiacutegio social numa sociedade ainda bastante influenciada pelas antigas tradiccedilotildees medievo-feudais Estas comendas enquanto benefiacutecio atribuiacutedo a cavaleiros professos nas ordens milita-res como recompensa por serviccedilos prestados compreendiam o direito agrave administraccedilatildeo da localidade e conferiam uma renda para sustentaccedilatildeo do comendador beneficiaacuterio configurando um recurso para os encar-gos da proacutepria comenda

3 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila

No decurso da investigaccedilatildeo para o artigo ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo22 deparaacutemo-nos com dois documen-

20 Carta de Antoacutenio Leite a D Joatildeo III em 16 de Novembro de1542 - 1547 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos pp 99-101 No ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo o documento aparece com a seguinte designaccedilatildeo ldquoCarta a D Joatildeo III sobre a necessidade de fortificar a foz do Guadiana para fazer face aos ataques de mouros Santo Antoacutenio da Foz do Guadianardquo Ver PINTO ldquoIacuten-dice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo p 267 Jaacute o Arquivo Nacional da Torre do Tombo apresenta o mesmo documento como ldquoCarta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras q que era necessaacuterio enviar-lhe socorrordquo Ver ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

21 Segundo as Ordenaccedilotildees Manuelinas ldquoincorria na pena de traiccedilatildeo aquele que por sua cul-pa o perdesserdquo Ver ALMEIDA Histoacuteria de Portugal Vol VII p 25 PESSANHA As Guarni-ccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar p 97

22 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesardquo pp 86-82

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 171

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

tos ineacuteditos que desde logo chamaram a nossa atenccedilatildeo Trata-se de duas cartas em que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece referido como comenda-dor de Arenilha Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de anaacutelise no referido artigo Importa no entanto debruccedilarmo-nos sobre a identidade do comendador de Arenilha Cris-toacutevatildeo de Mendonccedila Quem era Qual o seu contexto familiar e social

Com efeito quer o nome quer a cronologia (deacutecada de 20 do seacutec XVI) remete-nos automaticamente para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila capitatildeo das armadas da Iacutendia em 1519 e 152723 capitatildeo-mor da armada destinada a descobrir a Ilha do Ouro em 152224 e capitatildeo de Ormuz entre 1527 e 1531153225 Por outras palavras o ceacutelebre navegador portuguecircs que de acordo com as teorias de autores como Kenneth McIntyre26 ou Peter Trickett27 foi o descobridor da Austraacutelia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Aliaacutes a teoria da descoberta da Austraacutelia pelos portugue-ses natildeo eacute propriamente novidade tendo vindo a consubstanciar-se des-

23 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap IX p 325 Ver tambeacutem GOacuteIS Chronica do Serenissimo Senhor Rei D Manuel IV Cap XXXVI p 515 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses V Cap XV p 27 SOUSA Asia Tomo I Pt III Cap III p 190

24 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I IV Cap III pp 412-413 Ver tambeacutem Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) Documento publicado in Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI p 96

25 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada IV II Cap III p 73 Ver tambeacutem CORREIA Lendas da Iacutendia Vol III Pt I Cap XVI p 182 SOUSA Anais de D Joatildeo III Vol II IV Cap I p 1 SOUSA Asia Tomo I Pt IV Cap II p 256

26 O australiano Kenneth McIntyre professor de Literatura Direito e aficionado da His-toacuteria Portuguesa foi um dos mais ceacutelebres defensores da teoria da descoberta da Aus-traacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila McIntyre defendeu esta teoria com base na anaacutelise de um mapa luso-francecircs de 1538 o designado Mapa Delfim que apresenta uma Ilha de Java bastante semelhante agrave Austraacutelia McIntyre refere ainda um navio de mogno afundado alegadamente pertencente agrave frota de Mendonccedila ainda que os destroccedilos da embarcaccedilatildeo nunca tenham sido encontrados A embarcaccedilatildeo teria encalhado nas dunas perto de Warrnambool estado de Victoria a oeste de Melbourne Dois caccedilado-res de focas afirmaram terem visto os seus destroccedilos em 1836 Actualmente o barco eacute considerado uma lenda e a sua histoacuteria eacute celebrada em Warrnambool nomeada-mente no festival portuguecircs que aiacute tem lugar de dois em dois anos Ver McINTYRE A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha portuguesa 250 anos antes do Comandante Cook 1989

27 Mais recentemente em 2007 o livro do jornalista Peter Trickett reavivou a tese da descoberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Desta vez com base na interpre-taccedilatildeo do mapa do Atlas Vallard de 1547 cujo original estaacute condicionado na Biblioteca de Huntington e onde dois destes mapas apresentam vaacuterios topoacutenimos da costa aus-traliana escritos em portuguecircs Ver TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os na-vegadores portugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Austraacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203172

Fernando Pessanha

de a segunda metade do seacutec XIX a partir dos estudos do Visconde de Santareacutem28 e do historiador inglecircs Henry Major29 De resto nem o nome de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila enquanto alegado descobridor da Austraacutelia nem a data de 1522 em que se teraacute dado a descoberta satildeo novidade para a historiografia nacional uma vez que jaacute anteriormente foram defendi-dos por investigadores como Armando Cortesatildeo30 Duarte Leite31 e Antoacute-nio Pereira Cardoso32

Natildeo eacute poreacutem intenccedilatildeo do presente artigo discutir as teorias destes au-tores nomeadamente a teoria de Trickett Para tal jaacute o Museu da Ciecircncia da Universidade de Coimbra realizou em 2008 um coloacutequio e uma mesa-redonda com historiadores de reconhecida credibilidade De resto as ac-tas deste encontro foram publicadas com o tiacutetulo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens33 publicaccedilatildeo em que de acordo com a comunida-de cientiacutefica a exploraccedilatildeo da costa australiana pelos portugueses parece indiscutiacutevel dado os diversos indiacutecios como os achados arqueoloacutegicos34 os relatos orais de aboriacutegenes35 ou a cartografia da escola de Dieppe36

Poreacutem e independentemente das teorias construiacutedas em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e da alegada descoberta da Austraacutelia interessa-nos determinar se este navegador e capitatildeo de Ormuz eacute o mesmo Cristoacute-vatildeo de Mendonccedila comendador de Arenilha

28 SILVA ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo p 111 nota 1

29 ALBUQUERQUE ldquoMajor Richard Henry (1818-1891)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 141-142 Ver tambeacutem DOMINGUES ldquoOs portugueses descobriram a Austraacute-liardquo pp 163-164 Refira-se que este uacuteltimo por exemplo atribuiu a descoberta do con-tinente austral a Antoacutenio de Abreu em 1512 e que segundo o historiador Joseacute Manuel Azevedo e Silva ldquoDiogo Pacheco foi o primeiro portuguecircs a descobrir a Austraacutelia em 1519rdquo Ver SILVA ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-morrdquo p 119 Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoViagens e misteacuterios nos mares da Indoneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo p 19

30 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Australaacutesia Macau Japatildeo)rdquo pp 156-159

31 LEITE Histoacuteria dos Descobrimentos pp 329-33432 CARDOSO A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila agrave Austraacutelia em 152233 Os resultados deste coloacutequio concluem que a ldquoteserdquo de Trickett aponta algumas pistas

de trabalho interessantes ainda que careccedila de fundamentaccedilatildeo cientiacutefica Ver SIMOtildeES amp DOMINGUES (coord) Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens

34 Referimo-nos concretamente a peccedilas de artilharia destroccedilos de um navio potes de barro antigas ruiacutenas em pedra um elmo de ferro e um projeacutectil de canhatildeo TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio pp 47-57 199-202 203-204 210-211 242-250

35 TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio pp 67-6936 Trata-se da localidade francesa onde foi feito o Atlas de Vallard que serviu de base ao

livro de Trickett Ver TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio p 29

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 173

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

4 Contexto social e familiar

Com efeito o Cristoacutevatildeo de Mendonccedila das croacutenicas portuguesas do seacutec XVI era filho de Diogo de Mendonccedila alcaide-mor de Mouratildeo e ana-del dos besteiros37 Segundo Damiatildeo de Goacuteis Diogo de Mendonccedila acom-panhou o duque de Braganccedila na conquista de Azamor38 Casou com D Brites Soares de Albergaria filha bastarda de Fernatildeo Soares de Alber-garia senhor do Prado39 De acordo com as genealogias avanccediladas pelo Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal ou pelo Livro de Linhagens do seacuteculo XVI Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teve seis irmatildeos Pecircro de Mendonccedila alcai-de-mor de Mouratildeo Antoacutenio de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo Isabel de Mendonccedila Margarida de Mendonccedila Joana de Mendonccedila mu-lher de D Jaime duque de Braganccedila e Francisco de Mendonccedila40

Quanto a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila sabemos que desposou Maria de Vilhena filha de Sancho de Tovar e de sua mulher Guiomar da Silva ainda que o casal natildeo tenha tido descendecircncia O Livro do Armeiro-Mor publicado em 1509 apresenta o brasatildeo de armas dos Mendonccedilas41 numa altura em que o alcaide-mor de Mouratildeo era Diogo de Mendonccedila pai de Cristoacutevatildeo Tambeacutem o Livro da Nobreza e da perfeiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal de Antoacutenio Godinho escrivatildeo da Cacircmara de D Joatildeo III apresenta o brasatildeo de armas dos Mendonccedilas numa altura em que o alcaide-mor de Mouratildeo era Pedro de Mendonccedila irmatildeo de Cristoacutevatildeo Refira-se que Antoacutenio Go-dinho teraacute comeccedilado a produzir este trabalho entre o fim do reinado de D Manuel e o iniacutecio do reinado de D Joatildeo III periacuteodo que corresponde agrave presenccedila de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente e agrave sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro42 Pouco se sabe acerca da infacircncia e juventude de Cristoacutevatildeo

37 Diogo de Mendonccedila tinha sido fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo e foi alcaide-mor de Mouratildeo pelo menos desde 1476 ateacute falecer em 1516 altura em que o cargo passou para o seu filho Pecircro de Mendonccedila Ver FREIRE Brasotildees da Sala de Sintra Vol III p 173 Por sua vez Pecircro de Mendonccedila fidalgo da Casa Real foi nomeado alcaide-mor do castelo e vila de Mouratildeo com todas as rendas direitos foros tributos liberdades e honras em consideraccedilatildeo aos serviccedilos prestados pelo seu pai Diogo de Mendonccedila em 14 de Julho de 1517 Ver ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 37

38 GOacuteIS Chronica III Cap XLVI p 36739 GAYO Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX p 5340 GAYO Nobiliaacuterio Tomo XX p 53 FARIA Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI p 275 41 BORGUES Livro do Armeiro-Mor p 6042 Cf ANTT Livro da Nobreza e da perfeiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres li-

nhagens dos reinos e senhorios de Portugal f12 (on line) httpdigitarqarquivosptdetailsid=4162407

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203174

Fernando Pessanha

Seja como for aparece referido na documentaccedilatildeo como fidalgo da Casa Real logo em 151443 Se seguirmos as Deacutecadas da Aacutesia apercebemo-nos de que ldquoChristovatildeo de Mendoccedila filho de Diogo de Mendoccedila Alcaide moacuter de Mouratildeordquo44 partiu para o Oriente em 23 de Abril de 1519 na armada de Jorge de Albuquerque composta por 14 naus Sigamos portanto o rasto biograacutefico deixado por Cristoacutevatildeo durante a sua primeira viagem ao Oriente

5 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente

51 A expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro

Decorria o ano de 1519 quando Diogo Lopes de Sequeira o entatildeo go-vernador da Iacutendia incumbiu Diogo Pacheco de obter informaccedilotildees sobre a existecircncia da miacutetica Ilha do Ouro que segundo Joatildeo de Barros se en-contrava ldquoao Sul daquela Ilha Ccedilamatrardquo45 Ao chegar ao porto de Barus Diogo Pacheco tomou conhecimento da existecircncia de uma outra ilha si-tuada a sudeste do arquipeacutelago indoneacutesio para a qual os naturais do reino de Barus jaacute tinham navegado de modo a obterem ouro atraveacutes do trato com os indiacutegenas46 Recolhidas estas informaccedilotildees Diogo Pacheco navegou ao largo da Ilha de Samatra seguindo para sudeste Poreacutem ao chegar ao estreito de Sunda entre Samatra e Java optou por navegar para noroeste circum-navegando Samatra ateacute chegar a Malaca

No ano seguinte em 1520 o mesmo navegador tentou repetir a ex-ploraccedilatildeo Poreacutem ao aproximar-se do porto de Barus foi recebido por navios hostis que lhe recusaram a entrada com tiros de bombarda Quanto a Diogo Pacheco acabaria por vir a falecer num recontro com os habitantes de uma ilha depois de o seu navio encalhar na costa47

43 Provisatildeo para se pagar a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila fidalgo da Casa 7 mil reacuteis de mora-dia ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 51 Nordm26

44 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap IX p 325 Ver tambeacutem GOacuteIS Chronica IV Cap XXXVI p 515 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento p 27 SOUSA Asia Tomo I Pt III Cap III p 190 ABREU Livro de Lisuarte de Abreu fl37v-38

45 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap III p268 O mito em torno da existecircncia de uma ilha do Ouro tem origem numa confusatildeo antiga com a ilha de Samatra onde se produzia ouro em Minangkabau facto que os portugueses conheceram Sobre a miacutetica Ilha do Ouro veja-se THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o descobrimento da Austraacuteliardquo pp 66-73

46 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap III p 26947 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap III p 273 Ver tambeacutem SOUSA Asia

Tomo I Pt III Cap III p187 Diz-nos Joatildeo de Barros que Diogo Pacheco ao ver-se com vento que lhe era contraacuterio e face aos indiacutegenas que se metiam nas suas em-

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 175

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

Como anteriormente referimos foi em 23 de Abril de 1519 que D Manuel enviou para a Iacutendia uma armada comandada por Jorge de Albuquerque onde seguia ldquoChristovatildeo de Mendoccedila filho de Diogo de Mendoccedila Alcaide moacuter de Mouratildeordquo Identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como um dos capitatildees desta armada resta-nos perceber porque moti-vo se teraacute aventurado no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Como anteriormente vimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Mendoccedila alcaide-mor de Mouratildeo Poreacutem natildeo era filho primogeacutenito Quer isto dizer que com o falecimento do seu pai a alcaidaria de Mouratildeo passou para o seu irmatildeo mais velho Pecircro de Mendonccedila em 151748 Eacute nesse sentido que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teraacute encontrado nos serviccedilos na Iacutendia o meio de ascensatildeo social para os filhos secundogeacutenitos uma vez que estes dependiam da generosidade reacutegia para a obtenccedilatildeo de tenccedilas e mercecircs que permitissem a manutenccedilatildeo ou elevaccedilatildeo do seu estatuto Vemos deste modo que a participaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo no projecto expan-sionista portuguecircs se apresentava perfeitamente normal se tivermos em conta o seu contexto social e familiar assim como a sua condiccedilatildeo de secundogeacutenito49

Ao seguirmos a croacutenica de Joatildeo de Barros apercebemo-nos de que a armada que partiu para a Iacutendia em 1519 apenas chegou ao destino em 1520 por motivo de invernada em Moccedilambique onde Cristoacutevatildeo se dete-ve com outros sete capitatildees50 De resto uma carta datada de 22 de Janei-

barcaccedilotildees para lhe tomarem o navio tentou evadir-se para o alto mar Poreacutem ao ser arrastado para a costa acabou por vir a perecer tendo apenas escapado alguns malaios que atravessaram a ilha ateacute agrave costa norte onde encontraram embarcaccedilatildeo para os levar a Malaca As uacuteltimas palavras de Joatildeo de Barros sobre esta viagem tem levado alguns autores a considerarem que Diogo Pacheco teraacute perecido na Austraacute-lia ldquoesta perdiccedilatildeo de Diogo Pacheco que foi o primeiro dos nossos que perdeo a vida por descubrir esta Ilha do ourordquo Eacute o caso de Trickett ou de Joseacute Manuel Azevedo e Silva para quem Diogo Pacheco foi o primeiro portuguecircs a descobrir a Austraacutelia tendo alcanccedilado a costa noroeste da ilha em 1519 Ver SILVA ldquoDiogo Pacheco capi-tatildeo-morrdquo pp 111-119

48 A tenccedila que eacute atribuiacuteda a Beatriz Soares viuacuteva de Diogo de Mendonccedila indica que este jaacute tinha falecido em Julho de 1516 Ver ANTT Chancelaria de D Manuel I livro 9 fl4v Pecircro de Mendonccedila fidalgo da Casa Real foi nomeado alcaide-mor do castelo e vila de Mouratildeo com todas as rendas direitos foros tributos liberdades e honras em consideraccedilatildeo aos serviccedilos prestados pelo seu pai Diogo de Mendonccedila em 14 de Julho de 1517 Ver ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 37 fl64 Ver tambeacutem FREIRE Brasotildees Vol III p 173

49 COSTA ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo pp 11-51

50 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento V Cap XX p 38 e Cap XXX p 56

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203176

Fernando Pessanha

ro de 1521 atesta a presenccedila de Mendonccedila e de seus homens em Goa51 tal como a Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) con-firma a sua passagem pela capital do Estado da Iacutendia no mesmo ano52

Seja como for a armada que partiu em 1519 levava ordens de D Manuel para o governador Diogo Lopes de Sequeira Determinava o monarca portuguecircs que o governador da Iacutendia escolhesse algueacutem da sua confianccedila para ir descobrir a Ilha do Ouro53 Por outras palavras D Manuel pretendia que se desse continuidade agraves exploraccedilotildees iniciadas por Diogo Pacheco Tal como podemos acompanhar no mesmo capiacutetulo da Deacutecada III da Aacutesia foi Diogo Lopes de Sequeira a escolher ldquoChristo-vatildeo de Mendoccedila filho de Pero de Mendoccedila Alcaide moacuter de Mouratildeordquo54 para tal missatildeo55 A documentaccedilatildeo mostra-nos que Cristoacutevatildeo se encontrava em Goa em Janeiro de 152156 e que partiu de Cochim em 4 de Maio de 152157 Se seguirmos a Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) apercebemo-nos de que a armada comandada por Mendonccedila e destinada a descobrir a Ilha do Ouro era constituiacuteda por quatro navios o navio Satildeo Cristoacutevatildeo em que o proacuteprio viajava a caravela Rosaacuterio co-mandada pelo capitatildeo Pedro Eanes Francecircs o bergantim Santo Antoacutenio comandado pelo capitatildeo Francisco Poles e um parau comandado pelo capitatildeo Gonccedilalo Homem58 Esta armada teraacute chegado agrave Ilha de Samatra por volta de Junho

51 Ver Conhecimento em que se declara que Diogo Lourenccedilo recebeu do feitor de Goa Francisco Cornivel 8 cruzados para mantimento da gente de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 93 Nordm150

52 Ver ldquoRelaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11)rdquo Documento publicado Documentos Sobre os Portugueses Vol VI p100

53 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I IV Cap III p 41254 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I IV Cap III p 413 O cronista poreacutem engana-se ao

referir o parentesco uma vez que o navegador incumbido de descobrir a Ilha do Ouro era Cristoacutevatildeo de Mendonccedila irmatildeo (e natildeo filho) de Pecircro de Mendonccedila

55 Note-se portanto que ao contraacuterio do que eacute defendido por Tricket ndash que tenta colocar esta expediccedilatildeo ao niacutevel da viagem de Vasco da Gama agrave Iacutendia - natildeo houve qualquer ordem real a nomear Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como capitatildeo da expediccedilatildeo destinada a descobrir a miacutetica ilha tendo sido o entatildeo governador da Iacutendia a escolher o capitatildeo para tal empreendimento Ver TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio pp 80-81

56 Conhecimento em que se declara que Diogo Lourenccedilo recebeu do feitor de Goa Fran-cisco Cornivel 8 cruzados para mantimento da gente de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 93 Nordm150

57 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila partiu acompanhado por Jorge de Brito que ia para as Mo-lucas onde deveria construir uma fortaleza e interceptar Fernatildeo de Magalhatildees Ver THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 97

58 Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) Documento publicado in Documentos Sobre os Portugueses Vol VI p 96

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 177

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

A primeira referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece aquando da sua passagem pelo porto de Pedir59 onde encontrou Rafael Catanho que entatildeo regressava de Acheacutem no extremo noroeste da ilha de Sama-tra60 Pouco tempo depois chegava agravequele porto de Pedir o que restava da armada de Jorge de Brito morto em combate juntamente com gran-de nuacutemero de portugueses apoacutes um confronto com as forccedilas do rei de Acheacutem61 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ao encontrar aquela armada desba-ratada e sem capitatildeo pretendeu colocaacute-la sob seu comando62 Poreacutem os poucos fidalgos sobreviventes natildeo o consentiram alegando que o co-mando deveria ser entregue a Antoacutenio de Brito o irmatildeo do falecido ca-pitatildeo que se deveria juntar agrave armada depois de consertar o seu navio63

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila rumou entatildeo a Paceacutem onde se deveria rea-bastecer de mantimentos para dar continuidade agrave viagem Todavia ao chegar a este ponto da narrativa diz-nos Joatildeo de Barros que ldquoo tempo natildeo era da monccedilatildeo pera onde cada hum havia de ir principalmente a de Christovatildeo de Mendoccedila que era jaacute passadardquo64 A acrescentar ao facto de o navegador ter perdido os ventos de monccedilatildeo acresce que o capitatildeo de Malaca Jorge de Albuquerque se encontrava em Paceacutem a construir uma fortaleza destinada a proteger uma feitoria cujo principal objecti-

59 Porto de grande importacircncia no comeacutercio do Iacutendico situado na parte nordeste da Ilha de Samatra O desenvolvimento de Pedir assim como o de Paceacutem relaciona-se estrei-tamente com a propagaccedilatildeo do islatildeo na Indoneacutesia ocidental Em 1509 Diogo Lopes de Sequeira assinou um tratado com o sultatildeo de Pedir e com a conquista de Malaca o seu principal comeacutercio passou a ser dirigido para esta cidade Sobre Pedir veja-se SS ldquoPedirrdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Portugueses (Dir Luis de Albu-querque) Vol II pp 870-872

60 O sultanato islacircmico de Acheacutem foi uma das entidades que mais se opocircs aos interesses dos portugueses estabelecidos em Malaca Fundado por um descendente do rei de Pedir transformou-se num reino poderoso que conquistou vaacuterias terras na ilha de Samatra e ao qual outros reinos pagavam tributo Ver GARCIA Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII pp 198-200

61 Este confronto com o reino de Acheacutem eacute tambeacutem narrado por Damiatildeo de Goacuteis e Fernatildeo Lopes de Castanheda Ver GOacuteIS Chronica IV Cap LXVII pp 566-567 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento V Cap LXV pp 107-109

62 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p546 Fernatildeo Lopes de Castanheda ainda que natildeo refira Cristoacutevatildeo revela que ldquocomo os nauios natildeo tinhatildeo capitatildees ouue alguns que se quiseram levantar coeles amp irse a diversas partes a fazer presasrdquo CASTA-NHEDA Histoacuteria do Descobrimento pp 107-110

63 Com efeito com a chegada de Antoacutenio de Brito foi apresentada uma provisatildeo de D Manuel I que o nomeava capitatildeo daquela armada em caso de falecimento de Jorge de Brito

64 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 548

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203178

Fernando Pessanha

vo consistia na recolha de pimenta que se produzia na regiatildeo65 Foi nes-se sentido que Jorge de Albuquerque determinou que todos os capitatildees que se encontravam em Paceacutem ali permanecessem em ldquofavor daquela fortaleza em quanto ella natildeo estava em estado pera se poder defenderrdquo66

Vemos deste modo que a expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo rumo agrave Ilha do Ouro foi interrompida em funccedilatildeo da necessidade que os portugueses sentiram em se fortificarem naquele ponto da ilha de Samatra Aliaacutes eacute o proacuteprio cronista a referir que a presenccedila de Cristoacutevatildeo e dos outros ca-pitatildees foi providencial para que a fortaleza se pudesse construir jaacute que os adversaacuterios os atacavam de forma sistemaacutetica Num desses ataques Melique Ladil um mouro que reivindicava para si o reino de Paceacutem aproximou-se da fortaleza com treze lancharas67 atrevendo-se a deitar fogo agrave fortificaccedilatildeo Foi entatildeo que Cristoacutevatildeo e os outros capitatildees saiacuteram em sua perseguiccedilatildeo desbaratando o adversaacuterio e confiscando-lhe todas as embarcaccedilotildees para serviccedilo agrave fortaleza Usando as palavras de Manuel de Faria e Sousa ldquoCristoval de Mendoccedila que bien fuerotilde menester para re-sistir y humillar despues a un orgulloso Moro que com algunos baxeles de remo infectava aquella marinardquo68 Finalmente terminada a empreitada Cristoacutevatildeo de Mendonccedila voltou a partir para Malaca69

Tal como Diogo Pacheco eacute possiacutevel que o navegador portuguecircs tenha contornado Samatra antes de partir para Malaca De acordo com Luiacutes Filipe Thomaz eacute provaacutevel que o navegador durante a viagem tenha descoberto uma ilha que deve ter tomado pela Ilha do Ouro ainda que constatado o erro a tenha baptizado com o nome que ainda hoje tem Ilha do Engano Seja como for temos notiacutecia de que a armada jaacute se en-contrava em Malaca em finais de 1521 onde a caravela Santa Maria do Rosaacuterio recebeu mantimentos em 10 de Dezembro para poder seguir

65 Esta fortaleza foi concebida para proteger uma feitoria cujo principal objectivo con-sistia na recolha da pimenta Poreacutem este enclave veio a revelar-se de difiacutecil manuten-ccedilatildeo devido aos ataques de que era alvo parte dos habitantes de Acheacutem Os portugue-ses acabariam por abandonar a fortaleza em Maio de 1523 natildeo tendo ficado qualquer testemunho iconograacutefico deste efeacutemero estabelecimento Castanheda poreacutem refere tratar-se de uma fortaleza ldquofeyta em breue tempo tempo com muros baluartes amp torres de madeyra amp cercada de caua () amp muyto bem artilhadardquo Ver CASTANHEDA Histoacute-ria do Descobrimento V Cap LXIIII pp 106-107 Damiatildeo de Goacuteis explica a conjun-tura poliacutetico-militar que levou agrave construccedilatildeo desta fortaleza Ver GOacuteIS Chronica IV Cap LXVI pp 564-566

66 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 548 67 Navios de remos entatildeo usados naquela zona do Oriente 68 SOUSA Asia Tomo I Pt III Cap V p 20269 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 549

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 179

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

para Paceacutem enquanto a nau Satildeo Cristoacutevatildeo apenas os recebeu em 10 de Janeiro de 1522 para depois seguir para Ormuz70 Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila natildeo teraacute tido tempo suficiente para chegar agrave Ilha do Ouro nesse ano de 1521 Pelo menos eacute o que podemos depreen-der quando Joatildeo de Barros refere a permanecircncia de Cristoacutevatildeo em Men-donccedila no auxiacutelio agrave construccedilatildeo da fortaleza de Paceacutem

Natildeo encontramos portanto elementos nas Deacutecadas da Aacutesia que nos permitam afirmar que este navegador portuguecircs teraacute prosseguido via-gem para o sul de Samatra e encontrado a miacutetica Ilha do Ouro identi-ficada com a Austraacutelia Ainda assim tecircm sido vaacuterios os historiadores nomeadamente Armando Cortesatildeo a defenderem natildeo haver motivo para se duvidar de que Cristoacutevatildeo teraacute seguido com a exploraccedilatildeo de que fora incumbido no ano seguinte aproveitando a monccedilatildeo do princiacutepio de 1522 Note-se que o proacuteprio Luiacutes de Albuquerque ainda que aves-so a esta teoria natildeo deixa de estranhar o facto de as Deacutecadas da Aacutesia natildeo referirem quais os serviccedilos especiais prestados por Mendonccedila que justifiquem a sua nomeaccedilatildeo para a rentaacutevel e apeteciacutevel capitania de Ormuz71 ldquotam viccediloacutesa e abastaacuteda q dizem os moradores della q o Mundo eacute hu aneacutel e Ormuz hua pedra precioacutesa engastaacuteda nellerdquo72 Como a seguir veremos a nomeaccedilatildeo para a capitania de Ormuz natildeo foi a uacutenica benesse com que o navegador foi agraciado apoacutes o seu regresso ao reino

52 A viagem de regresso ao reino

Segundo Trickett nada se sabe sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila nos seis anos posteriores agrave expediccedilatildeo que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro73 Como veremos esta ideia natildeo corresponde agrave realidade Sabe-se por exemplo que depois de o navegador ter estado em Ormuz e na Iacutendia regressou a Portugal em 1524 tendo-se detido em Marccedilo ou Maio desse ano na aguada de Saldanha na actual Aacutefrica do Sul tal como ficou atestado numa inscriccedilatildeo que aiacute foi encontrada

Com efeito decorria o ano de 1989 quando foi identificada uma ins-criccedilatildeo portuguesa em Golden Acre no sopeacute de Adderley Street na Cida-de do Cabo Desta inscriccedilatildeo fracturada sobreviveu um fragmento com 25

70 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 7671 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal p 25872 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada II II Cap II p 48 73 Cf TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio p 87

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203180

Fernando Pessanha

cm de largura por 10 cm de altura que foi recolhido pelo South African Museum Na altura um arqueoacutelogo do South African Museum pensou tratar-se de inscriccedilatildeo funeraacuteria de D Lourenccedilo de Almeida um navega-dor portuguecircs que numa viagem de regresso ao reino desembarcou na Baiacutea do Saldanha em Dezembro de 1509 de modo a castigar uns indiacutege-nas Poreacutem acabou por falecer nesse recontro juntamente com muitos outros elementos da sua tripulaccedilatildeo o que levou o referido arqueoacutelogo a interpretar o achado como uma inscriccedilatildeo funeraacuteria

Entretanto em Janeiro de 1990 o Prof Eric Axelon comunicou agrave Comissatildeo Nacional para as Comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portu-gueses a descoberta da inscriccedilatildeo Axelon adiantava poder tratar-se de um artefacto representativo da passagem de Duarte de Meneses pela Cidade do Cabo em 1524 Poreacutem a leitura e interpretaccedilatildeo de Maacuterio Jorge Barroca assistente de Arqueologia Medieval da Universidade do Porto veio a invalidar as suposiccedilotildees de Axelon e do arqueoacutelogo do South African Museum De acordo com Maacuterio Jorge Barroca este do-cumento epigraacutefico refere-se a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ainda que o estado de conservaccedilatildeo desta inscriccedilatildeo dificulte a interpretaccedilatildeo do seu conteuacutedo74 Luiacutes Filipe Thomaz que tambeacutem abordou esta inscriccedilatildeo faz uma leitura ligeiramente diferente mas que concorda quanto ao essencial do conteuacutedo75 De resto eacute interessante notar que para aleacutem dos supra citados autores apenas encontraacutemos referecircncias a este do-cumento epigraacutefico em Luiacutes de Albuquerque76 Antoacutenio Pereira Cardo-so77 e Joseacute Manuel Garcia78

De modo geral a inscriccedilatildeo identificada na Cidade do Cabo vem de-monstrar efectivamente que Cristoacutevatildeo empreendeu a viagem de re-gresso ao reino em 1524 sendo provaacutevel que tenha partido de Cochim logo no iniacutecio do ano Sabemos que se encontrava no sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio No entanto e ainda que esta epiacutegrafe se apresente como um elemento de grande interesse para a reconstituiccedilatildeo do percurso de Cristoacutevatildeo continuamos sem saber o que teraacute feito e por onde teraacute nave-gado entre os iniacutecios de 1522 quando recebeu mantimentos para seguir

74 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo pp 17-1875 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 7976 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-

tos Vol II pp 727-72877 CARDOSO A provaacutevel viagem pp10-1978 GARCIA O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash

1555 Nordm 8 p 98

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 181

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

para Ormuz e os iniacutecios de 1524 quando partiu da Iacutendia para regressar a Portugal Teraacute ele permanecido todo esse tempo em Ormuz Ou teraacute dado continuidade agraves exploraccedilotildees que lhe tinham sido incumbidas pelo governador Diogo Lopes de Sequeira

6 Rendas mercecircs e distinccedilotildees

61 Tenccedilas recebidas

Referimos haacute pouco natildeo ser correcta a ideia de nada se saber sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila nos seis anos posteriores agrave expediccedilatildeo que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro De facto para aleacutem da inscri-ccedilatildeo encontrada na Cidade do Cabo e que atesta a passagem de Mendon-ccedila pelo sul de Aacutefrica tambeacutem existem alguns documentos acondiciona-dos no Arquivo Nacional da Torre do Tombo que revelam informaccedilotildees interessantes para o periacuteodo correspondente agrave sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e 1527 Satildeo exactamente esses documentos que nos datildeo conta das rendas mercecircs e distinccedilotildees com que este navegador foi agraciado

Sabemos que em 4 de Julho de 1526 por exemplo D Joatildeo III mandou o almoxarife de Aveiro dar a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ldquofidalgo da sua casardquo 50000 reacuteis de tenccedila que ficaria assentada na alfacircndega da cidade de Lisboa79 Seria esta uma tenccedila generosa A resposta a esta questatildeo le-vou-nos a comparar este valor com as tenccedilas auferidas pelos seus fami-liares e por outros navegadores seus contemporacircneos Foi nesse sentido que constataacutemos que o ceacutelebre navegador e cosmoacutegrafo Duarte Pacheco Pereira depois de inuacutemeros serviccedilos prestados agrave Coroa recebeu uma tenccedila anual de 50000 reais nesse mesmo ano de 152680 Tristatildeo da Cu-nha ceacutelebre navegador e comandante naval portuguecircs nomeado por D Manuel para primeiro governador da Iacutendia em 150581 e pai de Nuno da Cunha Governador da Iacutendia entre 1528 e 153882 recebeu 40000 reacuteis

79 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57 80 JB de C ldquoPereira Duarte Pachecordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol V pp 52-

54 COSME ldquoOs homens de ciecircnciardquo pp 91-9781 E S ldquoCunha Tristatildeo da (1460-1540)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol II p 260

Sobre Tristatildeo da Cunha veja-se tambeacutem CARVALHO ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Manuelinardquo pp 199-226

82 E S ldquoCunha Nuno da (1487-1539)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol II pp 258-259 Sobre Nuno da Cunha veja-se tambeacutem CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538)

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203182

Fernando Pessanha

de tenccedila no mesmo ano de 152683 Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo rece-beu uma tenccedila generosa ao voltar ao reino Talvez Note-se que o pai de Cristoacutevatildeo Diogo de Mendonccedila alcaide-mor de Mouratildeo recebia os mesmos 50000 reacuteis de tenccedila em 150184 e em 151485 valor que o irmatildeo de Cristoacutevatildeo Pedro de Mendonccedila passou a auferir ao herdar a alcaidaria de Mouratildeo em 151786

Para aleacutem dos 50000 reacuteis de tenccedila eacute o proacuteprio Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila a mandar Jacome Bentes receber de Joatildeo de Azambuja 200000 reacuteis em virtude da outra procuraccedilatildeo que o dito Mendonccedila tinha feito para receber dos almoxarifes de Setuacutebal Aveiro e Coimbra87 Refira-se a este respeito que ainda no mesmo ano ordenou D Joatildeo III que o almoxari-fe de Aveiro pagasse ao jaacute referido Tristatildeo da Cunha 100000 reacuteis para pagamento de 250000 reacuteis da sua tenccedila88 ou que Vasco da Gama ao re-gressar ao reino depois de descobrir o caminho mariacutetimo para a Iacutendia recebeu uma renda de 300000 reacuteis89 Vemos deste modo que os rendi-mentos auferidos por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aquando do seu regresso ao reino natildeo foram propriamente modestos quando comparados com os do primeiro governador da Iacutendia ou com os do navegador e cosmoacute-grafo Duarte Pacheco Pereira

Por fim surge-nos um documento datado de 13 de Abril de 1527 e que tem por tiacutetulo Estabelecimento que Fernando Rodrigues como procu-rador de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila fidalgo da Casa do Rei fez em Fernando Gomes para cobrar todas as tenccedilas e moradias do seu dito constituinte90 Repare-se que de acordo com Joatildeo de Barros Cristoacutevatildeo de Mendonccedila voltou a partir para o Oriente em Marccedilo de 1527 Vemos portanto que o referido documento eacute ligeiramente posterior agrave partida do navegador e que este deixou instruccedilotildees ao seu procurador para que algueacutem cobrasse todas as suas tenccedilas e moradias De resto a alusatildeo agraves ldquotenccedilas e moradi-

83 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 135 Nordm4584 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 13 fl60 ANTT Chancelaria de D Manuel I

liv 8 fl29v85 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 53 Nordm18286 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 10 fl53 Repare-se que a partir de 1523 Pe-

dro de Mendonccedila passou a receber apenas 30000 reacuteis ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 109 Nordm131 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 131 Nordm226

87 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 136 Nordm10288 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 135 Nordm4989 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 4 fl 37 COSME ldquoOs Navegadores ndash Vasco da

Gamardquo p 14990 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 141 Nordm91

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 183

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

asrdquo vem reforccedilar a ideia de que os serviccedilos prestados por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente foram bem recompensados pelo monarca portu-guecircs Resta-nos perceber que serviccedilos teratildeo justificado estas recompen-sas assim como aquelas a que de seguida aludiremos

62 A capitania de Ormuz

Para aleacutem dos rendimentos atraacutes referidos os serviccedilos prestados por Mendonccedila foram igualmente agraciados com a nomeaccedilatildeo para a ren-taacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz para onde partiu em Marccedilo de 152791 Natildeo deixa de ser interessante a alusatildeo que cronistas como Joatildeo de Barros ou Frei Luiacutes de Sousa fazem aos Braganccedilas no momento em que referem esta nova partida de Cristoacutevatildeo para a Iacutendia Com efeito eacute possiacutevel que o duque de Braganccedila jaacute tivesse ligaccedilotildees aos Mendon-ccedilas ainda que o casamento de D Jaime com D Joana de Mendonccedila soacute se tenha realizado em 1520 Teresa Lacerda levanta a hipoacutetese de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ter sido indigitado para o Conselho Reacutegio por influecircncia do duque de Braganccedila do mesmo modo como foi nomea-do para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 e para capitatildeo de Ormuz em 152792 De facto natildeo eacute impossiacutevel No entanto somos da opiniatildeo de que natildeo seraacute apenas D Joana a estar na origem de uma eventual ligaccedilatildeo de D Jaime aos Mendonccedilas como tambeacutem a participaccedilatildeo do seu pai ldquoDiogo de mendonccedila alcaide mor de Mouratildeordquo e de ldquoPero de Mendonccedila seu filhordquo na conquista de Azamor comandada pelo proacuteprio duque em 151393

De facto natildeo sabemos se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teraacute sido indigitado para o Conselho Reacutegio para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquer-que de 1519 ou para a capitania de Ormuz por influecircncia do duque de Braganccedila Seja como for parece-nos que o contexto social e familiar de Cristoacutevatildeo teraacute pesado no momento em que o monarca procedeu a tais nomeaccedilotildees Basta recordarmos que Afonso Furtado bisavocirc de Cristoacute-vatildeo tinha sido nomeado capitatildeo do mar por D Joatildeo I em 138594 Afonso

91 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada IV II Cap III p 73 Ver tambeacutem CORREIA Lendas Vol III Pt I Cap XVI p 182 SOUSA Anais Vol II IV Cap I p 1 SOUSA Asia Tomo I Pt IV Cap II p 256

92 LACERDA Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social p 112 nota 375

93 GOacuteIS Chronica III Cap XLVI p 367 GAYO Nobiliaacuterio p 5394 FREIRE Brasotildees Vol III pp 170-171

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203184

Fernando Pessanha

Furtado de Mendonccedila avocirc de Cristoacutevatildeo para aleacutem de capitatildeo-mor do mar95 aparece referido como escrivatildeo da feitoria de Sofala96 Pedro de Mendonccedila tio de Cristoacutevatildeo tinha comandado uma nau numa frota de 12 navios que em 1504 partiu para a Iacutendia para garantir a seguranccedila das rotas comerciais do oceano Iacutendico e controlar o governante hostil de Calecut97 Natildeo se pode portanto considerar que os Mendonccedilas seri-am marginais ao projecto de expansatildeo ultramarina quando Cristoacutevatildeo aparece nomeado para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 ou para a capitania de Ormuz que deteve entre 1527 e 1531 ou 1532 ano da sua morte

Chegando a este ponto vale a pena determo-nos brevemente de modo a compreendermos o que era Ormuz e o que representava esta capitania no contexto do Impeacuterio Portuguecircs no Oriente Antes de mais conveacutem recordarmos que Ormuz era um importantiacutessimo entreposto mercantil em virtude da sua privilegiada localizaccedilatildeo geograacutefica na en-trada do Golfo Peacutersico Com efeito com a segunda conquista de Ormuz por Afonso de Albuquerque em 1515 e a consequente imposiccedilatildeo de um protectorado a Coroa portuguesa passou a arrecadar uma parcela con-sideraacutevel das receitas aduaneiras da proacutespera ilha transformando-se Ormuz no epicentro das actividades portuguesas no Golfo Peacutersico e no mar da Araacutebia A acreditar-se nas fontes quinhentistas era tal o movi-mento e a intensidade no porto de Ormuz que natildeo era invulgar ali en-contrar mais de 200 navios carregados de mercadorias De entre as mais importantes mercadorias que passavam pela cidade destacavam-se os cavalos oriundos da Araacutebia e da Peacutersia com destino aos portos da cos-ta ocidental da Iacutendia de onde eram encaminhados para os potentados indianos entre os quais grassavam guerras endeacutemicas Mas outros pro-dutos aacuterabes e persas faziam a riqueza da esteacuteril ilha de Djarucircn como as alcatifas aacuterabes as peacuterolas de Bahareacutem os tapetes a seda e a prata da Peacutersia o salitre e o enxofre da proacutepria ilha ao lado de mercadorias menos nobres como os frutos secos ou os cereais Dadas as circunstacircn-cias natildeo seraacute de estranhar que ao longo de todo o seacutec XVI a alfacircndega de Ormuz se tenha destacado como a mais rentaacutevel de todo o Estado da Iacutendia logo a seguir agrave de Goa Por outras palavras a cidade gerava

95 FARIA Livro de Linhagens p 27296 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada I Pt I V Cap III97 MALDONADO Relaccedilatildeo das Naos e Armadas da Iacutendia p 16 ANTT Corpo Cronoloacutegi-

co Pt II maccedilo 9 Nordm 35

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 185

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

um volume de receitas tatildeo consideraacutevel que a capitania de Ormuz aca-bou por se transformar numa das mais apetecidas de todo o Impeacuterio no Oriente Vemos deste modo que a atribuiccedilatildeo desta capitania natildeo soacute era motivo de prestiacutegio para o capitatildeo nomeado como tambeacutem fonte de grande riqueza98

Natildeo podemos deixar de notar que as Deacutecadas da Aacutesia ao referir-se agrave nomeaccedilatildeo de Mendonccedila para a capitania de Ormuz natildeo refere quais-quer serviccedilos especiais que justifiquem a atribuiccedilatildeo de tal benesse Ar-mando Cortesatildeo que levantou a hipoacutetese de ter sido Mendonccedila o pri-meiro europeu a chegar agrave Austraacutelia foi um dos investigadores a sugerir que esta nomeaccedilatildeo se devesse aos serviccedilos prestados pelo navegador99 Poreacutem e tal como temos afirmado ao longo deste trabalho natildeo existe qualquer documento que assegure o ecircxito de Mendonccedila relativamente agrave viagem que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro Omis-satildeo que segundo Jaime Cortesatildeo foi consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo entatildeo vigente Luiacutes de Albuquerque ainda que contraacuterio agrave teoria da descoberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que ldquodeve a sua celebridade a uma expediccedilatildeo que natildeo fezrdquo100 estranha no entanto o facto de Diogo do Couto natildeo mencionar os serviccedilos especiais que estiveram na origem da nomeaccedilatildeo do navegador para a capitania de Ormuz101 Esta distinccedilatildeo torna-se ainda mais suspeita se tivermos em consideraccedilatildeo que uma nomeaccedilatildeo desta natureza implicaria em meacutedia 10 anos de serviccedilos no Oriente102 durante os quais era acumu-lada a experiecircncia necessaacuteria para o desempenho de uma capitania Como vimos natildeo foi esse o caso de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Aliaacutes as nomeaccedilotildees para as capitanias mais importantes e lucrativas como Or-muz Goa ou Malaca natildeo soacute eram atribuiacutedas em reconhecimento pelos vaacuterios anos de serviccedilo no Oriente como tambeacutem recaiacuteam tendencial-mente sobre nobres com uma maior presenccedila na corte o que tambeacutem

98 LOUREIRO ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 pp 749-797 JPC ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 833-836

99 CORTESAcircO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158100 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo p 727101 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol IV

p 258102 Andreia Martins de Carvalho determinou os anos de serviccedilo de fidalgos no Oriente

antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania entre 1518 e 1544 CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 211 Foi nesse sentido que tendo em conta a infor-maccedilatildeo disponiacutevel sobre o percurso de 37 fidalgos estabelecemos a meacutedia de anos relativos a serviccedilos no Oriente antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203186

Fernando Pessanha

natildeo era o caso de Mendonccedila Ora se o navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro como explicar tatildeo generoso honroso e rentaacutevel reconhecimento Isto claro para aleacutem das compensaccedilotildees econoacutemicas atraacutes referidas e da entrega da comenda da Ordem de Cris-to que de seguida abordaremos De resto a capitania de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ficou marcada por episoacutedios dignos de registo como o au-xiacutelio prestado agrave frota de Simatildeo da Cunha assolada por uma epidemia contraiacuteda na campanha contra a ilha de Bahareacutem103 Refira-se aliaacutes que foi sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que recaiu a responsabilidade de escolher um agente para realizar a ceacutelebre missatildeo de espionagem que constituiu a viagem por terra de Ormuz a Portugal protagonizada por Antoacutenio Tenreiro entre Setembro de 1528 e Maio de 1529 - viagem cuja narrativa constitui um notaacutevel documento histoacuterico de natureza geograacutefica religiosa e antropoloacutegica104

63 A comenda da vila de Arenilha

Tal como anteriormente referimos deparaacutemo-nos com dois documen-tos que chamaram a nossa atenccedilatildeo aquando da investigaccedilatildeo para o ar-tigo ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo Trata-se de duas cartas em que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece referido como comendador da vila de Arenilha O primeiro documento data de 29 de Dezembro de 1529 e tem por tiacutetulo Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bregantim missiva em que o comendador de Arenilha culpa o marquecircs de Ayamonte pelos danos causados nas barcas dos habitantes da vila no-meadamente no referido bergantim chegando mesmo a mandar ldquopagar as barcas e () as perdas que receberam os donos delas e asy o dano que se fez na Arenilhardquo e mandar o marquecircs prender os responsaacuteveis que se encontrem nas suas terras105 Como se pode perceber o tom da missiva natildeo resulta propriamente abonatoacuterio para o nobre espanhol

103 SOUSA Anais Vol II IV Cap XXII p 106104 Como recompensa pelos serviccedilos prestados Antoacutenio Tenreiro recebeu da Coroa em

1533 uma tenccedila anual de 30000 reacuteis e o haacutebito de cavaleiro da Ordem de Cristo Ver TENREIRO amp AFONSO Viagens por terra da Iacutendia a Portugal p 18 RL ldquoTenreiro Antoacuteniordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II p 1023

105 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 Nordm45

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 187

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig1 - Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua

Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do

marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

Fig 1

Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o

marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203188

Fernando Pessanha

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig2 - Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar

creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Arenilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada destinada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila assim como o seu

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesahelliprdquo pp 86-82

Fig 2

Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao

comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Are-nilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada desti-nada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesardquo pp 86-82

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 189

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacute-vatildeo de Mendonccedila assim como o seu percurso como capitatildeo nas armadas da Iacutendia acreditamos encontrar-nos em condiccedilotildees para demonstrarmos que a comenda de Arenilha foi efectivamente atribuiacuteda ao navegador como reconhecimento pelos serviccedilos prestados no Oriente

Com efeito satildeo vaacuterios os indicadores que nos levam a afirmaacute-lo Em primeiro lugar o facto de natildeo se encontrar nas croacutenicas nem nas fontes coevas qualquer referecircncia a um homoacutenimo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a balizagem cronoloacutegica compreendida entre 1514 e 1532 periacuteodo em que aparece referido na documentaccedilatildeo Aliaacutes as da-tas discriminadas nos documentos que o referem como comendador de Arenilha corroboram a ideia de esta comenda ter sido atribuiacuteda aquando do seu regresso ao reino Eacute certo que natildeo sabemos a data em que Cristoacutevatildeo teraacute chegado a Portugal ainda que tenhamos notiacutecia da sua passagem pelo sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio de 1524 durante a viagem de regresso108 Poreacutem as tenccedilas atraacutes mencionadas indicam que se encontrava no reino em 1526 Uma vez que os documentos que o referem como comendador da vila da foz do Guadiana remontam a Dezembro de 1529 e Maio de 1530 anos em que o navegador jaacute se encontrava no Oriente eacute de supor que D Joatildeo III lhe teraacute atribuiacutedo a comenda aquando da sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e Marccedilo de 1527 ano em que voltou a partir para a Iacutendia jaacute na qualida-de de capitatildeo de Ormuz

Uma vez que natildeo se verificam homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila para a balizagem cronoloacutegica atraacutes referida e que as datas dos docu-mentos que o referem como comendador de Arenilha satildeo ligeiramente posteriores ao seu regresso ao reino resta-nos determinar se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila reunia as condiccedilotildees necessaacuterias para ser agraciado com uma comenda desta natureza Antes de mais importa referir que a vila de Arenilha e de Castro Marim eram as duas uacutenicas comendas da Ordem de Cristo no Algarve Curiosamente Isabel L Morgado de Sousa e Silva natildeo refere a comenda de Arenilha na dissertaccedilatildeo para doutoramento

108 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo Oceanos Nordm4 pp 17-18 ALBU-QUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 727-728 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 79

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203190

Fernando Pessanha

A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521)109 Poreacutem o documento publicado por Hugo Cavaco natildeo deixa margem para duacutevidas

ldquoNo Bispado do Algarve haacute somente duas Commendas da Ordem (de

Cristo) que satildeo das antigas e as seguintes

A Commenda e Alcaideria-moacuter de Castro Marim avaliou-se em quatro-

centos e cinquenta mil reacuteis no anno de 1608

A Commenda da Alcaideria-mograver de Santo Antonio de Arenilha que estaacute

junto a Castro Marim em cento e trinta mil reacuteis no anno de 1608

No Bispado do Algarve natildeo haacute nenhuma Commenda desta Ordem mais

que as duas velhas que valem quinhentos e oitenta mil reacuteis como se vecirc

da somma adianterdquo110

Aliaacutes soacute o facto de Arenilha ser comenda da Ordem de Cristo poderaacute explicar que o senhorio da vila tenha sido atribuiacutedo exclusivamente a cavaleiros da miliacutecia ao longo de toda a centuacuteria quinhentista111

Naturalmente que estas comendas implicavam desde logo a existecircn-cia de comendadores sobre os quais recaiacutea o senhorio das ditas vilas o que era compreendido como motivo de honra e de prestiacutegio social numa sociedade ainda bastante influenciada pelas antigas tradiccedilotildees medievo-feudais Comendas refira-se que compreendiam o direito agrave administra-ccedilatildeo da localidade e conferiam uma renda para sustentaccedilatildeo do comenda-dor beneficiaacuterio configurando um recurso para os encargos da proacutepria comenda No entanto a atribuiccedilatildeo de uma comenda representava um benefiacutecio atribuiacutedo a cavaleiros professos nas ordens militares como re-compensa por serviccedilos prestados Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Men-donccedila soacute poderia ser agraciado com a comenda de Arenilha caso tivesse sido investido na Ordem de Cristo Foi nesse sentido que procuraacutemos determinar se este navegador professou nesta Ordem Militar

Com efeito a dissertaccedilatildeo Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) de Joatildeo Maria Falcatildeo Pestana de Vascon-celos natildeo faz qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila enquanto cavaleiro da Ordem de Cristo Refere no entanto o seu avocirc Afonso Fur-

109 SILVA A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta110 Documento VIII BNLMicroformas F5040 Documento publicado por CAVACO Revisi-

tando p 52111 Cf PESSANHA Os 500 anos pp 57-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 191

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

tado de Mendonccedila comendador de Cardiga da Ordem de Cristo112 a sua irmatilde Margarida de Mendonccedila enquanto mulher de um comendador da mesma Ordem e o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo que recebeu o haacutebito da miliacutecia em 16 de Abril de 1514113 Ain-da que a referida dissertaccedilatildeo natildeo faccedila qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo enquanto membro desta Ordem vem demonstrar a ligaccedilatildeo de alguns dos seus familiares agrave mesma natildeo soacute na qualidade de cavaleiros como tambeacutem de comendadores

Poreacutem Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social de Teresa Lacerda assim como a jaacute referida tese A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) de Isabel L Morgado de Sousa e Silva jaacute identificam efectivamente Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como frei cavaleiro desta Ordem114 De acordo com a obra consultada Cavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVI Cristoacutevatildeo de Mendonccedila recebeu efectivamente o haacutebito da Ordem de Cristo em 16 de Abril de 1514115 exactamente na mesma data em que o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila tambeacutem foi in-vestido116 De resto o facto de Cristoacutevatildeo aparecer referido como mem-bro da miliacutecia numa provisatildeo em que D Joatildeo III manda o almoxarife de Aveiro pagar ldquoa Cristoacutevatildeo de Mendonccedila sua tenccedila deste ano 50000 reacuteis assentada na alfacircndega de Lisboa com o haacutebito de Cristordquo117 vem dissipar qualquer duacutevida que ainda subsistisse

Note-se que identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como cavaleiro da Ordem de Cristo natildeo pudemos deixar de reparar no silecircncio dos cronistas no momento de identificar os intervenientes no processo ex-pansionista com as suas respectivas filiaccedilotildees nas Ordens Militares De facto quer Joatildeo de Barros quer os cronistas que lhe sucederam natildeo fazem qualquer referecircncia agrave filiaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo em qualquer Ordem tal como de acordo com o que constataacutemos raramente o fazem em relaccedilatildeo a outros cavaleiros Esta evidecircncia pode parecer ainda mais estranha se tivermos em consideraccedilatildeo o forte envolvimento da Ordem

112 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Vol I p 377 FARIA Livro de Linhagens p 275

113 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares p 392 114 LACERDA Os Capitatildees das Armadas pp 120 e 228 SILVA A Ordem de Cristo p 336

SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma perspectiva de estudordquo apecircndice

115 FARIA ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo p 21116 FARIA ldquoCavaleirosrdquo p 21 Ver tambeacutem SILVA A Ordem de Cristo p 330117 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203192

Fernando Pessanha

de Cristo na Histoacuteria da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses Ordem Militar sublinhe-se que teve como governadores figuras in-contornaacuteveis da famiacutelia real como o infante D Henrique o infante D Fernando o rei D Manuel ou o rei D Joatildeo III118 Poreacutem haacute que ter em consideraccedilatildeo que documentos como Memoacuteria das Armadas ou o Livro de Lisuarte de Abreu natildeo satildeo fontes sobre qualquer uma das Ordens razatildeo pela qual se torna compreensiacutevel a ausecircncia de referecircncias mais completas relativamente aos intervenientes no processo de expansatildeo Aliaacutes a intenccedilatildeo subjacente agrave produccedilatildeo de obras como Histoacuteria do Des-cobrimento e da Conquista da Iacutendia natildeo passa por apresentar informa-ccedilatildeo detalhada sobre as individualidades que participaram no processo expansionista mas antes destacar o protagonismo reacutegio em todo este processo119

Por fim natildeo se verificando homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a cronologia abordada coincidindo as datas que o referem como comendador de Arenilha e identificado este navegador como cavalei-ro da Ordem de Cristo resta-nos perceber por que motivo lhe teraacute sido entregue a comenda desta vila na foz do Guadiana Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo que a fundaccedilatildeo de Are-nilha prende-se com a afirmaccedilatildeo da soberania poliacutetica e administra-tiva de D Manuel sobre um territoacuterio frequentado por castelhanos Eacute exactamente nesse contexto que em 1421 Castro Marim justificava o pedido de isenccedilatildeo de alguns encargos pelos ldquoconstantes trabalhos que os moradores tinham com os castelhanos que insistiam em vir pescar ao reinordquo120 Quer isto dizer que os castelhanos vinham pescar para as margens portuguesas natildeo pagando os devidos impostos agrave Coroa Aliaacutes a existecircncia do topoacutenimo de origem castelhana Arenilha121 ainda antes da elaboraccedilatildeo da Carta de Privileacutegio que manda proceder agrave construccedilatildeo

118 FONSECA ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo pp 321-347 Ver tambeacutem SILVA A Or-dem de Cristo pp 43-110

119 Cf SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristordquo pp 349-361120 VENTURA ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo p 608

ANTT Chancelaria de D Afonso V liv 2 fl30121 De acordo com o dicionaacuterio da Real Academia Espantildeola ldquoarenillardquo apresenta-se como

sinoacutenimo de ldquoarena menudardquo Ver Dicionario de la Real Academia Espantildeola Disponiacutevel em httplemaraeesdraeval=arenilla ndash Consultado dia 10 de Setembro de 2013 Note-se que quando em 1775 se pretendeu baptizar a nova vila iluminista com o nome de Vila Real de Santo Antoacutenio de Arenilha prontamente o Marquecircs de Pombal proibiu a utilizaccedilatildeo do nome ldquoArenilhardquo alegando que ldquoeacute uma palavra hespanhola e Villa Real uma povoaccedilatildeo portuguesardquo Ver OLIVEIRA Monografia p 71

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 193

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

da vila122 indica a ocupaccedilatildeo daquele areal na margem portuguesa da foz do Guadiana por populaccedilotildees de pescadores de origem castelhana Dadas as circunstacircncias seria do interesse estrateacutegico do monarca que esta comenda recaiacutesse sobre algueacutem experimentado na guarda da fronteira e que fizesse cumprir o pagamento dos devidos direitos aduaneiros Re-corde-se que Arenilha para aleacutem de comenda da Ordem de Cristo era uma vila de fronteira situada na margem portuguesa do Guadiana tal como o era a vila de Mouratildeo de onde Cristoacutevatildeo de Mendonccedila era natu-ral Como anteriormente referimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Men-donccedila o fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo que foi nomeado em 1476 alcaide-mor de Mouratildeo123 uma vila fortificada do Alentejo que guarda-va a fronteira portuguesa frente a Espanha O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas mostra-nos o castelo de Mouratildeo onde Cristoacutevatildeo teraacute crescido localizado no cimo de uma colina sobranceiro ao Guadiana124 Quer isto dizer que o ceacutelebre navegador era descendente de uma famiacutelia experimentada na guarda da fronteira face ao reino vizinho e familia-rizado com as actividades militares tributaacuterias e administrativas que lhe eram inerentes125 Assim sendo esta condiccedilatildeo de fronteiro a juntar ao facto de Cristoacutevatildeo ser cavaleiro da Ordem de Cristo teraacute resultado altamente pertinente no momento em que D Joatildeo III decidiu atribuir a comenda de Arenilha a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como recompensa pelos serviccedilos prestados

Por fim mas natildeo menos relevante teraacute sido a experiecircncia naval e militar adquirida por Mendonccedila nos mares do Oriente e direccionada para a foz do Guadiana sistematicamente ameaccedilada pelos ataques da pi-rataria magrebina126 Recorde-se que Mendonccedila no decurso das suas na-vegaccedilotildees na australaacutesia viu-se na necessidade de defender posiccedilotildees por-

122 O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas produzido por volta de 1509 jaacute indicava o topoacutenimo que veio a ser oficializado com a Carta de Privileacutegio de 12 de Fevereiro de 1513 Ver ARMAS O Livro das Fortalezas fl 1

123 FREIRE Brasotildees Vol III p 173124 ANTT Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Livro das Fortalezas si-

tuadas no Extremo de Portugal e Castela por Duarte de Armas escudeiro da Casa do Rei D Manuel I Nordm 159 fls 13-14 ARMAS O Livro das Fortalezas fls 13-14

125 Refira-se que foi durante o periacuteodo em que o pai de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila deteve a alcaidaria de Mouratildeo que o rei D Manuel obteve dos povos nas cortes de Lisboa de 1502 uma vultosa contribuiccedilatildeo que fez com que o castelo da vila fosse intervenciona-do por dois importantes arquitectos reacutegios os irmatildeos Francisco e Diogo de Arruda os mestres das obras reacutegias da comarca de entre o Tejo e o Guadiana Ver FARIA ldquoForti-ficaccedilotildees de Portugal na fronteira da Estremadura espanholardquo p 161

126 Sobre este assunto veja-se PESSANHA ldquoAtaques da piratariardquo pp 63-94

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203194

Fernando Pessanha

tuguesas dando combate aos adversaacuterios Recordemos a este respeito o ataque movido por Melique Ladil agrave fortaleza de Paceacutem entatildeo guardada por Mendonccedila e a maneira como o ldquomourordquo foi desbaratado e despo-jado das treze embarcaccedilotildees usadas no assalto127 Dadas as circunstacircnci-as seria um desperdiacutecio natildeo se aproveitar a experiecircncia deste capitatildeo numa altura em que se verificava um incremento da actividade piraacutetica nas costas do Algarve Esta actividade da pirataria na foz do Guadiana eacute aliaacutes referida por Bernardo Rodrigues em vaacuterias ocasiotildees nomeada-mente aquando da estadia da condessa de Redondo na vila de Arenilha em 1522128 ou quando Vasco Fernandes Ceacutesar - antigo adaiacutel de Azamor e capitatildeo da Armada do Estreito129 - foi incumbido embarcar o conde do Redondo D Joatildeo Coutinho na vila de Arenilha e escoltaacute-lo a Arzila130 Refira-se que a caminho da foz do Guadiana o navio de Vasco Fernan-des Ceacutesar foi atacado por duas naus tendo-se seguido um combate naval que resultou na explosatildeo de parte da alcaacuteccedilova atirando cinco homens ao mar entre os quais Vasco Fernandes que ficou gravemente ferido131

Vemos deste modo que a entrega da comenda de Arenilha a um in-diviacuteduo como Cristoacutevatildeo de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo descendente de uma famiacutelia de fronteiros e navegador experimentado no combate naval natildeo soacute era altamente pertinente como simboacutelica e manifestamente estrateacutegica para a defesa do extremo sudeste algarvio e da foz do Guadiana onde Mendonccedila deveria actuar com autoridade se-nhorial usufruindo dos seus bens e rendimentos E no caso da comenda de Arenilha Seriam generosos os seus rendimentos Sem duacutevida Se assim natildeo fosse o rei D Duarte natildeo teria doado ao infante D Henrique ainda em 25 de Setembro de 1433 a ldquodiacutesima nova de todo o pescado que pescarem quaisquer pessoas no mar do Monte Gordordquo132 Aliaacutes seraacute certa-

127 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III pp548-549128 RODRIGUES Anais de Arzila Tomo I Cap XC p 373129 GOacuteIS Chronica IV Cap LVII p 552 Sobre a Armada do Estreito veja-se GODINHO

ldquoA armada do estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo pp117-137130 RODRIGUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 PESSANHA Subsiacutedios p 100131 Segundo Bernardo Rodrigues os sobreviventes portugueses por pouco natildeo foram

executados Os que sobreviveram ao combate foram aprisionados e levados para Di-eppe Vasco Fernandes apesar de ferido acabou por escapar do cativeiro desfiando uma esteira e escapando por ela da torre onde se encontrava aprisionado RODRI-GUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 Ver tambeacutem PISSARRA ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Armada do Estreitordquo pp 144-145

132 SERRAtildeO Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fundaccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) p 65 OLIVEIRA Monografia p 73

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 195

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

mente o motivo econoacutemico que jaacute em 1555 estaraacute na origem da disputa pelo senhorio de Arenilha entre Jeroacutenimo de Melo fidalgo da Casa Real e alcaide-mor de Castro Marim e Luiacutes Leite frei cavaleiro da Ordem de Cristo e filho de Antoacutenio Leite o anterior alcaide133

Relativamente agrave defesa sabemos que Arenilha natildeo possuiacutea castelo torre ou qualquer fortificaccedilatildeo digna de registo ateacute 1542-1547 periacuteodo em que o alcaide Antoacutenio Leite daacute-nos conta das ldquotramqueyras e repai-rosrdquo construiacutedos sob o seu comando para a populaccedilatildeo se defender dos ataques da pirataria moura134 Ainda assim Mendonccedila estava obrigado a zelar pela defesa da vila independentemente de esta ter ou natildeo for-tificaccedilotildees para a proteger Se tivermos em consideraccedilatildeo que a sua no-meaccedilatildeo como comendador o obrigava agrave realizaccedilatildeo de um inventaacuterio ao patrimoacutenio da comenda (infelizmente desconhecido) e ao dever de fixar residecircncia na sua aacuterea de governo135 eacute muito provaacutevel que Cristoacutevatildeo se tenha detido durante algum tempo na vila da foz do Guadiana algures entre finais de 1524 aquando da sua chegada ao reino136 e Marccedilo de 1527 quando voltou a partir para o Oriente

Como anteriormente referimos os comendadores deviam fixar-se nas suas comendas para melhor procederem agrave sua defesa e melhor ren-tabilizarem as mesmas Assim sendo como eacute possiacutevel que os documen-tos que referem Cristoacutevatildeo como comendador de Arenilha sejam relati-vos aos anos em que este se encontrava na capitania de Ormuz Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo de que a principal obrigaccedilatildeo dos cavaleiros da Ordem de Cristo era a luta contra os inimigos da feacute devendo estar prontos para a guerra sempre que o Mestre os convocasse Uma vez que as situaccedilotildees de guerra eram cons-tantes nos territoacuterios de aleacutem-mar onde a presenccedila dos cavaleiros da Ordem se tornava necessaacuteria natildeo eacute de admirar que estes fossem dispen-sados da exigecircncia que os obrigava a permanecer nas suas comendas137

133 CAVACO Revisitando pp 18-20 PESSANHA Os 500 anos pp 72-73134 Carta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava

atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras e que era necessaacute-rio enviar-lhe socorro ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos p 99 PINTO ldquoIacutendice Analiacuteticordquo p 267

135 Cf SILVA A Ordem de Cristo pp 189-190136 Uma vez que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila se encontrava na Aacutefrica do Sul em Marccedilo ou Maio

de 1524 eacute de supor que a sua chegada ao reino se tenha dado ainda no mesmo ano137 SILVA A Ordem de Cristo p 191

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203196

Fernando Pessanha

Eacute nesse sentido que encontramos Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comen-dador de Arenilha em 1529 e 1530 anos em que jaacute se encontrava como capitatildeo na fortaleza de Ormuz De resto era nesta fortaleza que ainda se encontrava em 1531 ano em que piratas de Larache atacaram a vila da foz do Guadiana ldquoonde fizeacuteratildeo muito dano em navios que tomaacuteratildeo e den-tro da Barra de Aiamonte fizeacuteratildeo despejar a Arrinilha e a Montegordordquo138

7 Conclusatildeo

Com efeito muito se tem escrito (e especulado) sobre a alegada des-coberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila No entanto e indepen-dentemente dos resultados alcanccedilados pelo navegador nesta expediccedilatildeo parece indiscutiacutevel que foi generosamente recompensado aquando do seu regresso ao reino Resta-nos perceber porquecirc Jaacute Armando Cortesatildeo muito antes de Peter Trickett tinha levantado a hipoacutetese de a rentaacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz ter sido entregue a Mendonccedila como re-compensa pelos serviccedilos prestados na expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro139 Natildeo eacute conhecido poreacutem qualquer documento que ateste o ecircxito do navegador nesta expediccedilatildeo Omissatildeo que segundo investigadores como Armando Cortesatildeo Damiatildeo Peres ou Jaime Cortesatildeo teraacute sido consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo determinada pelas limitaccedilotildees de navega-ccedilatildeo estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas e com o contencioso entre Portugal e Espanha pela posse das Molucas140

O certo eacute que Mendonccedila ao regressar ao reino foi agraciado com uma das capitanias mais rentaacuteveis do impeacuterio no Oriente para aleacutem de ter recebido compensaccedilotildees econoacutemicas e aparecer referido em 1529 e 1530 como comendador da vila de Arenilha na foz do Guadiana Refira-se a este respeito que muitos capitatildees cavaleiros da Ordem de Cristo se lanccedilaram no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Poreacutem mui-to poucos chegaram a obter as tatildeo almejadas comendas141 Vemos deste

138 RODRIGUES Anais Tomo II Cap XXXV p 209139 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158140 CORTESAtildeO A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e

de D Joatildeo II Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 65-66 PERES ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na Histoacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II pp 17-21

141 Entre os afortunados que lograram obter este tipo de rendimento contam-se muito poucos D Joatildeo Pereira D Pedro de Castelo Branco Nuno Furtado Simatildeo Guedes entre outros Ver CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 216

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 197

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

modo que a atribuiccedilatildeo da comenda de Arenilha significou um motivo de grande honra e prestiacutegio para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Ora se este navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro resta-nos perceber porque motivo teraacute sido agraciado com compensaccedilotildees eco-noacutemicas a nomeaccedilatildeo para uma das mais rentaacuteveis capitanias de todo o Impeacuterio no Oriente e uma honrosa comenda da Ordem de Cristo Eacute caso para dizer que a problemaacutetica em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila con-tinua a levantar muitas duacutevidas e poucas certezas

Fontes e Bibliografia

1 Arquivos

ANTT

Chancelaria de D Afonso V Livro 2 fl30

Chancelaria de D Manuel I Livro 4 fl37 Livro 8 fl 29v Livro 9 fl4v Livro 10 fl53 Livro 13 fl60 Livro 37 fl64

Chancelaria de D Joatildeo III Livro 12 fl62

Chancelaria da Ordem de Cristo Livro13 fls375 vndash 379v

Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1

Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 15 Nordm47 Pt I maccedilo 44 Nordm45 Pt I maccedilo 45 Nordm9

Pt II maccedilo 51 Nordm26 Pt II maccedilo 53 Nordm182 Pt II maccedilo 93 Nordm150 Pt II maccedilo 109 Nordm131 Pt II maccedilo 131 Nordm226 Pt II maccedilo 134 Nordm57 Pt II maccedilo 135 Nordm45 Pt II maccedilo 135 Nordm49 Pt II maccedilo 136 Nordm102 Pt II maccedilo 141 Nordm91

Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Nordm159

Casa Real Cartoacuterio da Nobreza Livro Nordm20 - Livro da Nobreza e da per-feiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal fl XII

2 Fontes Impressas

ABREU Lisuarte de Livro de Lisuarte de Abreu (Reproduccedilatildeo do manuscrito existente na Perpont Morgan Library de Nova York) Comissatildeo Nacional para as comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portugueses Lisboa 1992

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203198

Fernando Pessanha

ARMAS Duarte de Livro das Fortalezas Arquivo Nacional da Torre do TomboInapa Lisboa 1997

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada III Na Regia Officina Typografica Lisboa MDCCLXXVII

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada IV Imprensa Nacional Casa da Moe-da Lisboa 2001

BORGES Joseacute Calvatildeo Borges Livro do Armeiro-Mor Academia Portugue-sa de HistoacuteriaEdiccedilotildees Inapa Lisboa 2000

CASCAtildeO Joatildeo ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevorardquo Uma Jornada ao Alentejo e ao Algarve A altera-ccedilatildeo das linhas de forccedila da poliacutetica nacional Livros Horizonte Lisboa 1984 pp 77-136

CASTANHEDA Fernatildeo Lopes de Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses 2 vols Lello amp Irmatildeos Editores Porto 1979

CORREIA Gaspar Lendas da Iacutendia Tomo III na Typographia da Acade-mia Real das Sciencias Lisboa 1862

Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI Centro de Estudos Histoacutericos Ultramarinos Lis-boa 1969

GAYO Felgueiras Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX Ediccedilatildeo de Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Arauacutejo Affonso Braga 1939

GUEDES Liacutevio da Costa Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) Arquivo Histoacuterico Militar Lisboa 1988

GOacuteIS Damiatildeo de Chonica do Serenissimo Senhor Rei D Manoel Lisboa 1749

JOSEacute Frei Joatildeo de Satildeo ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 21-132

RODRIGUES Bernardo Anais de Arzila 2 vols Academia das Sciecircncias de Lisboa Lisboa 1915-1919

SARRAtildeO Henrique Fernandes ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 133-174

SOUSA Frei Luiacutes de Anais de D Joatildeo III 2 vols Saacute da Costa Lisboa 1928

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 199

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

SOUSA Manuel de Faria e Asia Portvgvesa Officina de Henrique Valen-te de Oliveira impressor del Rey NS Lisboa 1666

TENREIRO Antoacutenio amp AFONSO Mestre Viagens por terra da Iacutendia a Por-tugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica Mem-Martins 1991

3 Estudos

ALBUQUERQUE Luiacutes de (dir) Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-tos Portugueses 2 vols Ciacuterculos de Leitores Lisboa 1994

ALMEIDA Fortunato de Histoacuteria de Portugal Vols III-VII Promoclube Lisboa sd

CARDOSO Antoacutenio Pereira A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila agrave Austraacutelia em 1522 Academia da Marinha Lisboa 1994

CARVALHO Andreia Martins de ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Ma-nuelinardquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia ndash Actas do Coloacutequio Internacional Joatildeo Paulo Oliveira e Costa amp Viacutetor Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 199-226

CARVALHO Andreia Martins de Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria dos Descobrimen-tos e da Expansatildeo Portuguesa (seacuteculos XV-XVIII) apresentado agrave UNL Lisboa 2006

CAVACO Hugo ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio (Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Arte no Algarve) Cacircmara Muni-cipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1987

CAVACO Hugo Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha Cacircmara Munici-pal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1995

CORREIA Joseacute Eduardo Horta Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina Faup Publicaccedilotildees Porto 1997

CORREIA Joseacute Eduardo Horta O Algarve em Patrimoacutenio Gente Singular Editora Olhatildeo 2010

CORTESAtildeO Armando ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Aus-tralaacutesia Macau Japatildeo)rdquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939

CORTESAtildeO Jaime ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal (Dir Damiatildeo Peres) Vol IV Portucalense Editora Barce-los 1932 pp 9-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203200

Fernando Pessanha

CORTESAtildeO Jaime A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e de D Joatildeo II Lisboa 1960

COSME Joatildeo ldquoOs homens de ciecircnciardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 91-97

COSME Joatildeo ldquoOs Navegadores ndash Vasco da Gamardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 145-152

COSTA Joatildeo Paulo Oliveira e ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo A Nobreza e a Expansatildeo Estudos Biograacuteficos Joatildeo Paulo Oliveira e Costa (coord) Patrimoacutenia Cascais 2000 pp 11-51

DOMINGUES Francisco Contente ldquoOs portugueses descobriram a Aus-traacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Si-motildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Univer-sidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 163-172

DOMINGUES Francisco Contente Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 Circulo dos Leitores Lisboa 2016

FARIA Antoacutenio Machado de Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI Acade-mia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 1956

FARIA Antoacutenio Machado de ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo Separata da revista Arqueologia e Histoacuteria vol VI Lisboa 1955

FARIA Miguel Figueira de ldquoFortificaccedilotildees de Portugal na fronteira da Es-tremadura espanholardquo Anais ndash Seacuterie Histoacuteria Vol II Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 1995 pp 156-187

FONSECA Luiacutes Adatildeo da ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo A Alta No-breza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 322-347

FREIRE Anselmo Braamcamp Brasotildees da Sala de Sintra 3 vols Impren-sa da Universidade de Coimbra Coimbra 1921-1930

GARCIA Joseacute Manuel Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII QuidNovi Lisboa 2009

GARCIA Joseacute Manuel O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash 1555 Nordm 8 QuidNovi Vila do Conde 2012

GODINHO Rui Landeiro ldquoA Armada do Estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (Seacuteculos XV-XIX) Ediccedilotildees Cul-turais da Marinha Lisboa 2003 pp 117-137

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 7: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 171

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

tos ineacuteditos que desde logo chamaram a nossa atenccedilatildeo Trata-se de duas cartas em que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece referido como comenda-dor de Arenilha Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de anaacutelise no referido artigo Importa no entanto debruccedilarmo-nos sobre a identidade do comendador de Arenilha Cris-toacutevatildeo de Mendonccedila Quem era Qual o seu contexto familiar e social

Com efeito quer o nome quer a cronologia (deacutecada de 20 do seacutec XVI) remete-nos automaticamente para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila capitatildeo das armadas da Iacutendia em 1519 e 152723 capitatildeo-mor da armada destinada a descobrir a Ilha do Ouro em 152224 e capitatildeo de Ormuz entre 1527 e 1531153225 Por outras palavras o ceacutelebre navegador portuguecircs que de acordo com as teorias de autores como Kenneth McIntyre26 ou Peter Trickett27 foi o descobridor da Austraacutelia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Aliaacutes a teoria da descoberta da Austraacutelia pelos portugue-ses natildeo eacute propriamente novidade tendo vindo a consubstanciar-se des-

23 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap IX p 325 Ver tambeacutem GOacuteIS Chronica do Serenissimo Senhor Rei D Manuel IV Cap XXXVI p 515 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses V Cap XV p 27 SOUSA Asia Tomo I Pt III Cap III p 190

24 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I IV Cap III pp 412-413 Ver tambeacutem Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) Documento publicado in Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI p 96

25 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada IV II Cap III p 73 Ver tambeacutem CORREIA Lendas da Iacutendia Vol III Pt I Cap XVI p 182 SOUSA Anais de D Joatildeo III Vol II IV Cap I p 1 SOUSA Asia Tomo I Pt IV Cap II p 256

26 O australiano Kenneth McIntyre professor de Literatura Direito e aficionado da His-toacuteria Portuguesa foi um dos mais ceacutelebres defensores da teoria da descoberta da Aus-traacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila McIntyre defendeu esta teoria com base na anaacutelise de um mapa luso-francecircs de 1538 o designado Mapa Delfim que apresenta uma Ilha de Java bastante semelhante agrave Austraacutelia McIntyre refere ainda um navio de mogno afundado alegadamente pertencente agrave frota de Mendonccedila ainda que os destroccedilos da embarcaccedilatildeo nunca tenham sido encontrados A embarcaccedilatildeo teria encalhado nas dunas perto de Warrnambool estado de Victoria a oeste de Melbourne Dois caccedilado-res de focas afirmaram terem visto os seus destroccedilos em 1836 Actualmente o barco eacute considerado uma lenda e a sua histoacuteria eacute celebrada em Warrnambool nomeada-mente no festival portuguecircs que aiacute tem lugar de dois em dois anos Ver McINTYRE A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha portuguesa 250 anos antes do Comandante Cook 1989

27 Mais recentemente em 2007 o livro do jornalista Peter Trickett reavivou a tese da descoberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Desta vez com base na interpre-taccedilatildeo do mapa do Atlas Vallard de 1547 cujo original estaacute condicionado na Biblioteca de Huntington e onde dois destes mapas apresentam vaacuterios topoacutenimos da costa aus-traliana escritos em portuguecircs Ver TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os na-vegadores portugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Austraacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203172

Fernando Pessanha

de a segunda metade do seacutec XIX a partir dos estudos do Visconde de Santareacutem28 e do historiador inglecircs Henry Major29 De resto nem o nome de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila enquanto alegado descobridor da Austraacutelia nem a data de 1522 em que se teraacute dado a descoberta satildeo novidade para a historiografia nacional uma vez que jaacute anteriormente foram defendi-dos por investigadores como Armando Cortesatildeo30 Duarte Leite31 e Antoacute-nio Pereira Cardoso32

Natildeo eacute poreacutem intenccedilatildeo do presente artigo discutir as teorias destes au-tores nomeadamente a teoria de Trickett Para tal jaacute o Museu da Ciecircncia da Universidade de Coimbra realizou em 2008 um coloacutequio e uma mesa-redonda com historiadores de reconhecida credibilidade De resto as ac-tas deste encontro foram publicadas com o tiacutetulo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens33 publicaccedilatildeo em que de acordo com a comunida-de cientiacutefica a exploraccedilatildeo da costa australiana pelos portugueses parece indiscutiacutevel dado os diversos indiacutecios como os achados arqueoloacutegicos34 os relatos orais de aboriacutegenes35 ou a cartografia da escola de Dieppe36

Poreacutem e independentemente das teorias construiacutedas em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e da alegada descoberta da Austraacutelia interessa-nos determinar se este navegador e capitatildeo de Ormuz eacute o mesmo Cristoacute-vatildeo de Mendonccedila comendador de Arenilha

28 SILVA ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo p 111 nota 1

29 ALBUQUERQUE ldquoMajor Richard Henry (1818-1891)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 141-142 Ver tambeacutem DOMINGUES ldquoOs portugueses descobriram a Austraacute-liardquo pp 163-164 Refira-se que este uacuteltimo por exemplo atribuiu a descoberta do con-tinente austral a Antoacutenio de Abreu em 1512 e que segundo o historiador Joseacute Manuel Azevedo e Silva ldquoDiogo Pacheco foi o primeiro portuguecircs a descobrir a Austraacutelia em 1519rdquo Ver SILVA ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-morrdquo p 119 Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoViagens e misteacuterios nos mares da Indoneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo p 19

30 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Australaacutesia Macau Japatildeo)rdquo pp 156-159

31 LEITE Histoacuteria dos Descobrimentos pp 329-33432 CARDOSO A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila agrave Austraacutelia em 152233 Os resultados deste coloacutequio concluem que a ldquoteserdquo de Trickett aponta algumas pistas

de trabalho interessantes ainda que careccedila de fundamentaccedilatildeo cientiacutefica Ver SIMOtildeES amp DOMINGUES (coord) Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens

34 Referimo-nos concretamente a peccedilas de artilharia destroccedilos de um navio potes de barro antigas ruiacutenas em pedra um elmo de ferro e um projeacutectil de canhatildeo TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio pp 47-57 199-202 203-204 210-211 242-250

35 TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio pp 67-6936 Trata-se da localidade francesa onde foi feito o Atlas de Vallard que serviu de base ao

livro de Trickett Ver TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio p 29

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 173

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

4 Contexto social e familiar

Com efeito o Cristoacutevatildeo de Mendonccedila das croacutenicas portuguesas do seacutec XVI era filho de Diogo de Mendonccedila alcaide-mor de Mouratildeo e ana-del dos besteiros37 Segundo Damiatildeo de Goacuteis Diogo de Mendonccedila acom-panhou o duque de Braganccedila na conquista de Azamor38 Casou com D Brites Soares de Albergaria filha bastarda de Fernatildeo Soares de Alber-garia senhor do Prado39 De acordo com as genealogias avanccediladas pelo Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal ou pelo Livro de Linhagens do seacuteculo XVI Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teve seis irmatildeos Pecircro de Mendonccedila alcai-de-mor de Mouratildeo Antoacutenio de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo Isabel de Mendonccedila Margarida de Mendonccedila Joana de Mendonccedila mu-lher de D Jaime duque de Braganccedila e Francisco de Mendonccedila40

Quanto a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila sabemos que desposou Maria de Vilhena filha de Sancho de Tovar e de sua mulher Guiomar da Silva ainda que o casal natildeo tenha tido descendecircncia O Livro do Armeiro-Mor publicado em 1509 apresenta o brasatildeo de armas dos Mendonccedilas41 numa altura em que o alcaide-mor de Mouratildeo era Diogo de Mendonccedila pai de Cristoacutevatildeo Tambeacutem o Livro da Nobreza e da perfeiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal de Antoacutenio Godinho escrivatildeo da Cacircmara de D Joatildeo III apresenta o brasatildeo de armas dos Mendonccedilas numa altura em que o alcaide-mor de Mouratildeo era Pedro de Mendonccedila irmatildeo de Cristoacutevatildeo Refira-se que Antoacutenio Go-dinho teraacute comeccedilado a produzir este trabalho entre o fim do reinado de D Manuel e o iniacutecio do reinado de D Joatildeo III periacuteodo que corresponde agrave presenccedila de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente e agrave sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro42 Pouco se sabe acerca da infacircncia e juventude de Cristoacutevatildeo

37 Diogo de Mendonccedila tinha sido fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo e foi alcaide-mor de Mouratildeo pelo menos desde 1476 ateacute falecer em 1516 altura em que o cargo passou para o seu filho Pecircro de Mendonccedila Ver FREIRE Brasotildees da Sala de Sintra Vol III p 173 Por sua vez Pecircro de Mendonccedila fidalgo da Casa Real foi nomeado alcaide-mor do castelo e vila de Mouratildeo com todas as rendas direitos foros tributos liberdades e honras em consideraccedilatildeo aos serviccedilos prestados pelo seu pai Diogo de Mendonccedila em 14 de Julho de 1517 Ver ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 37

38 GOacuteIS Chronica III Cap XLVI p 36739 GAYO Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX p 5340 GAYO Nobiliaacuterio Tomo XX p 53 FARIA Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI p 275 41 BORGUES Livro do Armeiro-Mor p 6042 Cf ANTT Livro da Nobreza e da perfeiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres li-

nhagens dos reinos e senhorios de Portugal f12 (on line) httpdigitarqarquivosptdetailsid=4162407

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203174

Fernando Pessanha

Seja como for aparece referido na documentaccedilatildeo como fidalgo da Casa Real logo em 151443 Se seguirmos as Deacutecadas da Aacutesia apercebemo-nos de que ldquoChristovatildeo de Mendoccedila filho de Diogo de Mendoccedila Alcaide moacuter de Mouratildeordquo44 partiu para o Oriente em 23 de Abril de 1519 na armada de Jorge de Albuquerque composta por 14 naus Sigamos portanto o rasto biograacutefico deixado por Cristoacutevatildeo durante a sua primeira viagem ao Oriente

5 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente

51 A expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro

Decorria o ano de 1519 quando Diogo Lopes de Sequeira o entatildeo go-vernador da Iacutendia incumbiu Diogo Pacheco de obter informaccedilotildees sobre a existecircncia da miacutetica Ilha do Ouro que segundo Joatildeo de Barros se en-contrava ldquoao Sul daquela Ilha Ccedilamatrardquo45 Ao chegar ao porto de Barus Diogo Pacheco tomou conhecimento da existecircncia de uma outra ilha si-tuada a sudeste do arquipeacutelago indoneacutesio para a qual os naturais do reino de Barus jaacute tinham navegado de modo a obterem ouro atraveacutes do trato com os indiacutegenas46 Recolhidas estas informaccedilotildees Diogo Pacheco navegou ao largo da Ilha de Samatra seguindo para sudeste Poreacutem ao chegar ao estreito de Sunda entre Samatra e Java optou por navegar para noroeste circum-navegando Samatra ateacute chegar a Malaca

No ano seguinte em 1520 o mesmo navegador tentou repetir a ex-ploraccedilatildeo Poreacutem ao aproximar-se do porto de Barus foi recebido por navios hostis que lhe recusaram a entrada com tiros de bombarda Quanto a Diogo Pacheco acabaria por vir a falecer num recontro com os habitantes de uma ilha depois de o seu navio encalhar na costa47

43 Provisatildeo para se pagar a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila fidalgo da Casa 7 mil reacuteis de mora-dia ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 51 Nordm26

44 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap IX p 325 Ver tambeacutem GOacuteIS Chronica IV Cap XXXVI p 515 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento p 27 SOUSA Asia Tomo I Pt III Cap III p 190 ABREU Livro de Lisuarte de Abreu fl37v-38

45 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap III p268 O mito em torno da existecircncia de uma ilha do Ouro tem origem numa confusatildeo antiga com a ilha de Samatra onde se produzia ouro em Minangkabau facto que os portugueses conheceram Sobre a miacutetica Ilha do Ouro veja-se THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o descobrimento da Austraacuteliardquo pp 66-73

46 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap III p 26947 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap III p 273 Ver tambeacutem SOUSA Asia

Tomo I Pt III Cap III p187 Diz-nos Joatildeo de Barros que Diogo Pacheco ao ver-se com vento que lhe era contraacuterio e face aos indiacutegenas que se metiam nas suas em-

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 175

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

Como anteriormente referimos foi em 23 de Abril de 1519 que D Manuel enviou para a Iacutendia uma armada comandada por Jorge de Albuquerque onde seguia ldquoChristovatildeo de Mendoccedila filho de Diogo de Mendoccedila Alcaide moacuter de Mouratildeordquo Identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como um dos capitatildees desta armada resta-nos perceber porque moti-vo se teraacute aventurado no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Como anteriormente vimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Mendoccedila alcaide-mor de Mouratildeo Poreacutem natildeo era filho primogeacutenito Quer isto dizer que com o falecimento do seu pai a alcaidaria de Mouratildeo passou para o seu irmatildeo mais velho Pecircro de Mendonccedila em 151748 Eacute nesse sentido que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teraacute encontrado nos serviccedilos na Iacutendia o meio de ascensatildeo social para os filhos secundogeacutenitos uma vez que estes dependiam da generosidade reacutegia para a obtenccedilatildeo de tenccedilas e mercecircs que permitissem a manutenccedilatildeo ou elevaccedilatildeo do seu estatuto Vemos deste modo que a participaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo no projecto expan-sionista portuguecircs se apresentava perfeitamente normal se tivermos em conta o seu contexto social e familiar assim como a sua condiccedilatildeo de secundogeacutenito49

Ao seguirmos a croacutenica de Joatildeo de Barros apercebemo-nos de que a armada que partiu para a Iacutendia em 1519 apenas chegou ao destino em 1520 por motivo de invernada em Moccedilambique onde Cristoacutevatildeo se dete-ve com outros sete capitatildees50 De resto uma carta datada de 22 de Janei-

barcaccedilotildees para lhe tomarem o navio tentou evadir-se para o alto mar Poreacutem ao ser arrastado para a costa acabou por vir a perecer tendo apenas escapado alguns malaios que atravessaram a ilha ateacute agrave costa norte onde encontraram embarcaccedilatildeo para os levar a Malaca As uacuteltimas palavras de Joatildeo de Barros sobre esta viagem tem levado alguns autores a considerarem que Diogo Pacheco teraacute perecido na Austraacute-lia ldquoesta perdiccedilatildeo de Diogo Pacheco que foi o primeiro dos nossos que perdeo a vida por descubrir esta Ilha do ourordquo Eacute o caso de Trickett ou de Joseacute Manuel Azevedo e Silva para quem Diogo Pacheco foi o primeiro portuguecircs a descobrir a Austraacutelia tendo alcanccedilado a costa noroeste da ilha em 1519 Ver SILVA ldquoDiogo Pacheco capi-tatildeo-morrdquo pp 111-119

48 A tenccedila que eacute atribuiacuteda a Beatriz Soares viuacuteva de Diogo de Mendonccedila indica que este jaacute tinha falecido em Julho de 1516 Ver ANTT Chancelaria de D Manuel I livro 9 fl4v Pecircro de Mendonccedila fidalgo da Casa Real foi nomeado alcaide-mor do castelo e vila de Mouratildeo com todas as rendas direitos foros tributos liberdades e honras em consideraccedilatildeo aos serviccedilos prestados pelo seu pai Diogo de Mendonccedila em 14 de Julho de 1517 Ver ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 37 fl64 Ver tambeacutem FREIRE Brasotildees Vol III p 173

49 COSTA ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo pp 11-51

50 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento V Cap XX p 38 e Cap XXX p 56

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203176

Fernando Pessanha

ro de 1521 atesta a presenccedila de Mendonccedila e de seus homens em Goa51 tal como a Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) con-firma a sua passagem pela capital do Estado da Iacutendia no mesmo ano52

Seja como for a armada que partiu em 1519 levava ordens de D Manuel para o governador Diogo Lopes de Sequeira Determinava o monarca portuguecircs que o governador da Iacutendia escolhesse algueacutem da sua confianccedila para ir descobrir a Ilha do Ouro53 Por outras palavras D Manuel pretendia que se desse continuidade agraves exploraccedilotildees iniciadas por Diogo Pacheco Tal como podemos acompanhar no mesmo capiacutetulo da Deacutecada III da Aacutesia foi Diogo Lopes de Sequeira a escolher ldquoChristo-vatildeo de Mendoccedila filho de Pero de Mendoccedila Alcaide moacuter de Mouratildeordquo54 para tal missatildeo55 A documentaccedilatildeo mostra-nos que Cristoacutevatildeo se encontrava em Goa em Janeiro de 152156 e que partiu de Cochim em 4 de Maio de 152157 Se seguirmos a Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) apercebemo-nos de que a armada comandada por Mendonccedila e destinada a descobrir a Ilha do Ouro era constituiacuteda por quatro navios o navio Satildeo Cristoacutevatildeo em que o proacuteprio viajava a caravela Rosaacuterio co-mandada pelo capitatildeo Pedro Eanes Francecircs o bergantim Santo Antoacutenio comandado pelo capitatildeo Francisco Poles e um parau comandado pelo capitatildeo Gonccedilalo Homem58 Esta armada teraacute chegado agrave Ilha de Samatra por volta de Junho

51 Ver Conhecimento em que se declara que Diogo Lourenccedilo recebeu do feitor de Goa Francisco Cornivel 8 cruzados para mantimento da gente de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 93 Nordm150

52 Ver ldquoRelaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11)rdquo Documento publicado Documentos Sobre os Portugueses Vol VI p100

53 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I IV Cap III p 41254 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I IV Cap III p 413 O cronista poreacutem engana-se ao

referir o parentesco uma vez que o navegador incumbido de descobrir a Ilha do Ouro era Cristoacutevatildeo de Mendonccedila irmatildeo (e natildeo filho) de Pecircro de Mendonccedila

55 Note-se portanto que ao contraacuterio do que eacute defendido por Tricket ndash que tenta colocar esta expediccedilatildeo ao niacutevel da viagem de Vasco da Gama agrave Iacutendia - natildeo houve qualquer ordem real a nomear Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como capitatildeo da expediccedilatildeo destinada a descobrir a miacutetica ilha tendo sido o entatildeo governador da Iacutendia a escolher o capitatildeo para tal empreendimento Ver TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio pp 80-81

56 Conhecimento em que se declara que Diogo Lourenccedilo recebeu do feitor de Goa Fran-cisco Cornivel 8 cruzados para mantimento da gente de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 93 Nordm150

57 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila partiu acompanhado por Jorge de Brito que ia para as Mo-lucas onde deveria construir uma fortaleza e interceptar Fernatildeo de Magalhatildees Ver THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 97

58 Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) Documento publicado in Documentos Sobre os Portugueses Vol VI p 96

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 177

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

A primeira referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece aquando da sua passagem pelo porto de Pedir59 onde encontrou Rafael Catanho que entatildeo regressava de Acheacutem no extremo noroeste da ilha de Sama-tra60 Pouco tempo depois chegava agravequele porto de Pedir o que restava da armada de Jorge de Brito morto em combate juntamente com gran-de nuacutemero de portugueses apoacutes um confronto com as forccedilas do rei de Acheacutem61 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ao encontrar aquela armada desba-ratada e sem capitatildeo pretendeu colocaacute-la sob seu comando62 Poreacutem os poucos fidalgos sobreviventes natildeo o consentiram alegando que o co-mando deveria ser entregue a Antoacutenio de Brito o irmatildeo do falecido ca-pitatildeo que se deveria juntar agrave armada depois de consertar o seu navio63

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila rumou entatildeo a Paceacutem onde se deveria rea-bastecer de mantimentos para dar continuidade agrave viagem Todavia ao chegar a este ponto da narrativa diz-nos Joatildeo de Barros que ldquoo tempo natildeo era da monccedilatildeo pera onde cada hum havia de ir principalmente a de Christovatildeo de Mendoccedila que era jaacute passadardquo64 A acrescentar ao facto de o navegador ter perdido os ventos de monccedilatildeo acresce que o capitatildeo de Malaca Jorge de Albuquerque se encontrava em Paceacutem a construir uma fortaleza destinada a proteger uma feitoria cujo principal objecti-

59 Porto de grande importacircncia no comeacutercio do Iacutendico situado na parte nordeste da Ilha de Samatra O desenvolvimento de Pedir assim como o de Paceacutem relaciona-se estrei-tamente com a propagaccedilatildeo do islatildeo na Indoneacutesia ocidental Em 1509 Diogo Lopes de Sequeira assinou um tratado com o sultatildeo de Pedir e com a conquista de Malaca o seu principal comeacutercio passou a ser dirigido para esta cidade Sobre Pedir veja-se SS ldquoPedirrdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Portugueses (Dir Luis de Albu-querque) Vol II pp 870-872

60 O sultanato islacircmico de Acheacutem foi uma das entidades que mais se opocircs aos interesses dos portugueses estabelecidos em Malaca Fundado por um descendente do rei de Pedir transformou-se num reino poderoso que conquistou vaacuterias terras na ilha de Samatra e ao qual outros reinos pagavam tributo Ver GARCIA Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII pp 198-200

61 Este confronto com o reino de Acheacutem eacute tambeacutem narrado por Damiatildeo de Goacuteis e Fernatildeo Lopes de Castanheda Ver GOacuteIS Chronica IV Cap LXVII pp 566-567 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento V Cap LXV pp 107-109

62 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p546 Fernatildeo Lopes de Castanheda ainda que natildeo refira Cristoacutevatildeo revela que ldquocomo os nauios natildeo tinhatildeo capitatildees ouue alguns que se quiseram levantar coeles amp irse a diversas partes a fazer presasrdquo CASTA-NHEDA Histoacuteria do Descobrimento pp 107-110

63 Com efeito com a chegada de Antoacutenio de Brito foi apresentada uma provisatildeo de D Manuel I que o nomeava capitatildeo daquela armada em caso de falecimento de Jorge de Brito

64 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 548

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203178

Fernando Pessanha

vo consistia na recolha de pimenta que se produzia na regiatildeo65 Foi nes-se sentido que Jorge de Albuquerque determinou que todos os capitatildees que se encontravam em Paceacutem ali permanecessem em ldquofavor daquela fortaleza em quanto ella natildeo estava em estado pera se poder defenderrdquo66

Vemos deste modo que a expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo rumo agrave Ilha do Ouro foi interrompida em funccedilatildeo da necessidade que os portugueses sentiram em se fortificarem naquele ponto da ilha de Samatra Aliaacutes eacute o proacuteprio cronista a referir que a presenccedila de Cristoacutevatildeo e dos outros ca-pitatildees foi providencial para que a fortaleza se pudesse construir jaacute que os adversaacuterios os atacavam de forma sistemaacutetica Num desses ataques Melique Ladil um mouro que reivindicava para si o reino de Paceacutem aproximou-se da fortaleza com treze lancharas67 atrevendo-se a deitar fogo agrave fortificaccedilatildeo Foi entatildeo que Cristoacutevatildeo e os outros capitatildees saiacuteram em sua perseguiccedilatildeo desbaratando o adversaacuterio e confiscando-lhe todas as embarcaccedilotildees para serviccedilo agrave fortaleza Usando as palavras de Manuel de Faria e Sousa ldquoCristoval de Mendoccedila que bien fuerotilde menester para re-sistir y humillar despues a un orgulloso Moro que com algunos baxeles de remo infectava aquella marinardquo68 Finalmente terminada a empreitada Cristoacutevatildeo de Mendonccedila voltou a partir para Malaca69

Tal como Diogo Pacheco eacute possiacutevel que o navegador portuguecircs tenha contornado Samatra antes de partir para Malaca De acordo com Luiacutes Filipe Thomaz eacute provaacutevel que o navegador durante a viagem tenha descoberto uma ilha que deve ter tomado pela Ilha do Ouro ainda que constatado o erro a tenha baptizado com o nome que ainda hoje tem Ilha do Engano Seja como for temos notiacutecia de que a armada jaacute se en-contrava em Malaca em finais de 1521 onde a caravela Santa Maria do Rosaacuterio recebeu mantimentos em 10 de Dezembro para poder seguir

65 Esta fortaleza foi concebida para proteger uma feitoria cujo principal objectivo con-sistia na recolha da pimenta Poreacutem este enclave veio a revelar-se de difiacutecil manuten-ccedilatildeo devido aos ataques de que era alvo parte dos habitantes de Acheacutem Os portugue-ses acabariam por abandonar a fortaleza em Maio de 1523 natildeo tendo ficado qualquer testemunho iconograacutefico deste efeacutemero estabelecimento Castanheda poreacutem refere tratar-se de uma fortaleza ldquofeyta em breue tempo tempo com muros baluartes amp torres de madeyra amp cercada de caua () amp muyto bem artilhadardquo Ver CASTANHEDA Histoacute-ria do Descobrimento V Cap LXIIII pp 106-107 Damiatildeo de Goacuteis explica a conjun-tura poliacutetico-militar que levou agrave construccedilatildeo desta fortaleza Ver GOacuteIS Chronica IV Cap LXVI pp 564-566

66 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 548 67 Navios de remos entatildeo usados naquela zona do Oriente 68 SOUSA Asia Tomo I Pt III Cap V p 20269 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 549

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 179

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

para Paceacutem enquanto a nau Satildeo Cristoacutevatildeo apenas os recebeu em 10 de Janeiro de 1522 para depois seguir para Ormuz70 Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila natildeo teraacute tido tempo suficiente para chegar agrave Ilha do Ouro nesse ano de 1521 Pelo menos eacute o que podemos depreen-der quando Joatildeo de Barros refere a permanecircncia de Cristoacutevatildeo em Men-donccedila no auxiacutelio agrave construccedilatildeo da fortaleza de Paceacutem

Natildeo encontramos portanto elementos nas Deacutecadas da Aacutesia que nos permitam afirmar que este navegador portuguecircs teraacute prosseguido via-gem para o sul de Samatra e encontrado a miacutetica Ilha do Ouro identi-ficada com a Austraacutelia Ainda assim tecircm sido vaacuterios os historiadores nomeadamente Armando Cortesatildeo a defenderem natildeo haver motivo para se duvidar de que Cristoacutevatildeo teraacute seguido com a exploraccedilatildeo de que fora incumbido no ano seguinte aproveitando a monccedilatildeo do princiacutepio de 1522 Note-se que o proacuteprio Luiacutes de Albuquerque ainda que aves-so a esta teoria natildeo deixa de estranhar o facto de as Deacutecadas da Aacutesia natildeo referirem quais os serviccedilos especiais prestados por Mendonccedila que justifiquem a sua nomeaccedilatildeo para a rentaacutevel e apeteciacutevel capitania de Ormuz71 ldquotam viccediloacutesa e abastaacuteda q dizem os moradores della q o Mundo eacute hu aneacutel e Ormuz hua pedra precioacutesa engastaacuteda nellerdquo72 Como a seguir veremos a nomeaccedilatildeo para a capitania de Ormuz natildeo foi a uacutenica benesse com que o navegador foi agraciado apoacutes o seu regresso ao reino

52 A viagem de regresso ao reino

Segundo Trickett nada se sabe sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila nos seis anos posteriores agrave expediccedilatildeo que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro73 Como veremos esta ideia natildeo corresponde agrave realidade Sabe-se por exemplo que depois de o navegador ter estado em Ormuz e na Iacutendia regressou a Portugal em 1524 tendo-se detido em Marccedilo ou Maio desse ano na aguada de Saldanha na actual Aacutefrica do Sul tal como ficou atestado numa inscriccedilatildeo que aiacute foi encontrada

Com efeito decorria o ano de 1989 quando foi identificada uma ins-criccedilatildeo portuguesa em Golden Acre no sopeacute de Adderley Street na Cida-de do Cabo Desta inscriccedilatildeo fracturada sobreviveu um fragmento com 25

70 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 7671 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal p 25872 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada II II Cap II p 48 73 Cf TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio p 87

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203180

Fernando Pessanha

cm de largura por 10 cm de altura que foi recolhido pelo South African Museum Na altura um arqueoacutelogo do South African Museum pensou tratar-se de inscriccedilatildeo funeraacuteria de D Lourenccedilo de Almeida um navega-dor portuguecircs que numa viagem de regresso ao reino desembarcou na Baiacutea do Saldanha em Dezembro de 1509 de modo a castigar uns indiacutege-nas Poreacutem acabou por falecer nesse recontro juntamente com muitos outros elementos da sua tripulaccedilatildeo o que levou o referido arqueoacutelogo a interpretar o achado como uma inscriccedilatildeo funeraacuteria

Entretanto em Janeiro de 1990 o Prof Eric Axelon comunicou agrave Comissatildeo Nacional para as Comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portu-gueses a descoberta da inscriccedilatildeo Axelon adiantava poder tratar-se de um artefacto representativo da passagem de Duarte de Meneses pela Cidade do Cabo em 1524 Poreacutem a leitura e interpretaccedilatildeo de Maacuterio Jorge Barroca assistente de Arqueologia Medieval da Universidade do Porto veio a invalidar as suposiccedilotildees de Axelon e do arqueoacutelogo do South African Museum De acordo com Maacuterio Jorge Barroca este do-cumento epigraacutefico refere-se a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ainda que o estado de conservaccedilatildeo desta inscriccedilatildeo dificulte a interpretaccedilatildeo do seu conteuacutedo74 Luiacutes Filipe Thomaz que tambeacutem abordou esta inscriccedilatildeo faz uma leitura ligeiramente diferente mas que concorda quanto ao essencial do conteuacutedo75 De resto eacute interessante notar que para aleacutem dos supra citados autores apenas encontraacutemos referecircncias a este do-cumento epigraacutefico em Luiacutes de Albuquerque76 Antoacutenio Pereira Cardo-so77 e Joseacute Manuel Garcia78

De modo geral a inscriccedilatildeo identificada na Cidade do Cabo vem de-monstrar efectivamente que Cristoacutevatildeo empreendeu a viagem de re-gresso ao reino em 1524 sendo provaacutevel que tenha partido de Cochim logo no iniacutecio do ano Sabemos que se encontrava no sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio No entanto e ainda que esta epiacutegrafe se apresente como um elemento de grande interesse para a reconstituiccedilatildeo do percurso de Cristoacutevatildeo continuamos sem saber o que teraacute feito e por onde teraacute nave-gado entre os iniacutecios de 1522 quando recebeu mantimentos para seguir

74 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo pp 17-1875 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 7976 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-

tos Vol II pp 727-72877 CARDOSO A provaacutevel viagem pp10-1978 GARCIA O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash

1555 Nordm 8 p 98

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 181

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

para Ormuz e os iniacutecios de 1524 quando partiu da Iacutendia para regressar a Portugal Teraacute ele permanecido todo esse tempo em Ormuz Ou teraacute dado continuidade agraves exploraccedilotildees que lhe tinham sido incumbidas pelo governador Diogo Lopes de Sequeira

6 Rendas mercecircs e distinccedilotildees

61 Tenccedilas recebidas

Referimos haacute pouco natildeo ser correcta a ideia de nada se saber sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila nos seis anos posteriores agrave expediccedilatildeo que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro De facto para aleacutem da inscri-ccedilatildeo encontrada na Cidade do Cabo e que atesta a passagem de Mendon-ccedila pelo sul de Aacutefrica tambeacutem existem alguns documentos acondiciona-dos no Arquivo Nacional da Torre do Tombo que revelam informaccedilotildees interessantes para o periacuteodo correspondente agrave sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e 1527 Satildeo exactamente esses documentos que nos datildeo conta das rendas mercecircs e distinccedilotildees com que este navegador foi agraciado

Sabemos que em 4 de Julho de 1526 por exemplo D Joatildeo III mandou o almoxarife de Aveiro dar a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ldquofidalgo da sua casardquo 50000 reacuteis de tenccedila que ficaria assentada na alfacircndega da cidade de Lisboa79 Seria esta uma tenccedila generosa A resposta a esta questatildeo le-vou-nos a comparar este valor com as tenccedilas auferidas pelos seus fami-liares e por outros navegadores seus contemporacircneos Foi nesse sentido que constataacutemos que o ceacutelebre navegador e cosmoacutegrafo Duarte Pacheco Pereira depois de inuacutemeros serviccedilos prestados agrave Coroa recebeu uma tenccedila anual de 50000 reais nesse mesmo ano de 152680 Tristatildeo da Cu-nha ceacutelebre navegador e comandante naval portuguecircs nomeado por D Manuel para primeiro governador da Iacutendia em 150581 e pai de Nuno da Cunha Governador da Iacutendia entre 1528 e 153882 recebeu 40000 reacuteis

79 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57 80 JB de C ldquoPereira Duarte Pachecordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol V pp 52-

54 COSME ldquoOs homens de ciecircnciardquo pp 91-9781 E S ldquoCunha Tristatildeo da (1460-1540)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol II p 260

Sobre Tristatildeo da Cunha veja-se tambeacutem CARVALHO ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Manuelinardquo pp 199-226

82 E S ldquoCunha Nuno da (1487-1539)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol II pp 258-259 Sobre Nuno da Cunha veja-se tambeacutem CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538)

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203182

Fernando Pessanha

de tenccedila no mesmo ano de 152683 Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo rece-beu uma tenccedila generosa ao voltar ao reino Talvez Note-se que o pai de Cristoacutevatildeo Diogo de Mendonccedila alcaide-mor de Mouratildeo recebia os mesmos 50000 reacuteis de tenccedila em 150184 e em 151485 valor que o irmatildeo de Cristoacutevatildeo Pedro de Mendonccedila passou a auferir ao herdar a alcaidaria de Mouratildeo em 151786

Para aleacutem dos 50000 reacuteis de tenccedila eacute o proacuteprio Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila a mandar Jacome Bentes receber de Joatildeo de Azambuja 200000 reacuteis em virtude da outra procuraccedilatildeo que o dito Mendonccedila tinha feito para receber dos almoxarifes de Setuacutebal Aveiro e Coimbra87 Refira-se a este respeito que ainda no mesmo ano ordenou D Joatildeo III que o almoxari-fe de Aveiro pagasse ao jaacute referido Tristatildeo da Cunha 100000 reacuteis para pagamento de 250000 reacuteis da sua tenccedila88 ou que Vasco da Gama ao re-gressar ao reino depois de descobrir o caminho mariacutetimo para a Iacutendia recebeu uma renda de 300000 reacuteis89 Vemos deste modo que os rendi-mentos auferidos por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aquando do seu regresso ao reino natildeo foram propriamente modestos quando comparados com os do primeiro governador da Iacutendia ou com os do navegador e cosmoacute-grafo Duarte Pacheco Pereira

Por fim surge-nos um documento datado de 13 de Abril de 1527 e que tem por tiacutetulo Estabelecimento que Fernando Rodrigues como procu-rador de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila fidalgo da Casa do Rei fez em Fernando Gomes para cobrar todas as tenccedilas e moradias do seu dito constituinte90 Repare-se que de acordo com Joatildeo de Barros Cristoacutevatildeo de Mendonccedila voltou a partir para o Oriente em Marccedilo de 1527 Vemos portanto que o referido documento eacute ligeiramente posterior agrave partida do navegador e que este deixou instruccedilotildees ao seu procurador para que algueacutem cobrasse todas as suas tenccedilas e moradias De resto a alusatildeo agraves ldquotenccedilas e moradi-

83 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 135 Nordm4584 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 13 fl60 ANTT Chancelaria de D Manuel I

liv 8 fl29v85 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 53 Nordm18286 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 10 fl53 Repare-se que a partir de 1523 Pe-

dro de Mendonccedila passou a receber apenas 30000 reacuteis ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 109 Nordm131 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 131 Nordm226

87 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 136 Nordm10288 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 135 Nordm4989 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 4 fl 37 COSME ldquoOs Navegadores ndash Vasco da

Gamardquo p 14990 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 141 Nordm91

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 183

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

asrdquo vem reforccedilar a ideia de que os serviccedilos prestados por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente foram bem recompensados pelo monarca portu-guecircs Resta-nos perceber que serviccedilos teratildeo justificado estas recompen-sas assim como aquelas a que de seguida aludiremos

62 A capitania de Ormuz

Para aleacutem dos rendimentos atraacutes referidos os serviccedilos prestados por Mendonccedila foram igualmente agraciados com a nomeaccedilatildeo para a ren-taacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz para onde partiu em Marccedilo de 152791 Natildeo deixa de ser interessante a alusatildeo que cronistas como Joatildeo de Barros ou Frei Luiacutes de Sousa fazem aos Braganccedilas no momento em que referem esta nova partida de Cristoacutevatildeo para a Iacutendia Com efeito eacute possiacutevel que o duque de Braganccedila jaacute tivesse ligaccedilotildees aos Mendon-ccedilas ainda que o casamento de D Jaime com D Joana de Mendonccedila soacute se tenha realizado em 1520 Teresa Lacerda levanta a hipoacutetese de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ter sido indigitado para o Conselho Reacutegio por influecircncia do duque de Braganccedila do mesmo modo como foi nomea-do para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 e para capitatildeo de Ormuz em 152792 De facto natildeo eacute impossiacutevel No entanto somos da opiniatildeo de que natildeo seraacute apenas D Joana a estar na origem de uma eventual ligaccedilatildeo de D Jaime aos Mendonccedilas como tambeacutem a participaccedilatildeo do seu pai ldquoDiogo de mendonccedila alcaide mor de Mouratildeordquo e de ldquoPero de Mendonccedila seu filhordquo na conquista de Azamor comandada pelo proacuteprio duque em 151393

De facto natildeo sabemos se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teraacute sido indigitado para o Conselho Reacutegio para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquer-que de 1519 ou para a capitania de Ormuz por influecircncia do duque de Braganccedila Seja como for parece-nos que o contexto social e familiar de Cristoacutevatildeo teraacute pesado no momento em que o monarca procedeu a tais nomeaccedilotildees Basta recordarmos que Afonso Furtado bisavocirc de Cristoacute-vatildeo tinha sido nomeado capitatildeo do mar por D Joatildeo I em 138594 Afonso

91 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada IV II Cap III p 73 Ver tambeacutem CORREIA Lendas Vol III Pt I Cap XVI p 182 SOUSA Anais Vol II IV Cap I p 1 SOUSA Asia Tomo I Pt IV Cap II p 256

92 LACERDA Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social p 112 nota 375

93 GOacuteIS Chronica III Cap XLVI p 367 GAYO Nobiliaacuterio p 5394 FREIRE Brasotildees Vol III pp 170-171

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203184

Fernando Pessanha

Furtado de Mendonccedila avocirc de Cristoacutevatildeo para aleacutem de capitatildeo-mor do mar95 aparece referido como escrivatildeo da feitoria de Sofala96 Pedro de Mendonccedila tio de Cristoacutevatildeo tinha comandado uma nau numa frota de 12 navios que em 1504 partiu para a Iacutendia para garantir a seguranccedila das rotas comerciais do oceano Iacutendico e controlar o governante hostil de Calecut97 Natildeo se pode portanto considerar que os Mendonccedilas seri-am marginais ao projecto de expansatildeo ultramarina quando Cristoacutevatildeo aparece nomeado para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 ou para a capitania de Ormuz que deteve entre 1527 e 1531 ou 1532 ano da sua morte

Chegando a este ponto vale a pena determo-nos brevemente de modo a compreendermos o que era Ormuz e o que representava esta capitania no contexto do Impeacuterio Portuguecircs no Oriente Antes de mais conveacutem recordarmos que Ormuz era um importantiacutessimo entreposto mercantil em virtude da sua privilegiada localizaccedilatildeo geograacutefica na en-trada do Golfo Peacutersico Com efeito com a segunda conquista de Ormuz por Afonso de Albuquerque em 1515 e a consequente imposiccedilatildeo de um protectorado a Coroa portuguesa passou a arrecadar uma parcela con-sideraacutevel das receitas aduaneiras da proacutespera ilha transformando-se Ormuz no epicentro das actividades portuguesas no Golfo Peacutersico e no mar da Araacutebia A acreditar-se nas fontes quinhentistas era tal o movi-mento e a intensidade no porto de Ormuz que natildeo era invulgar ali en-contrar mais de 200 navios carregados de mercadorias De entre as mais importantes mercadorias que passavam pela cidade destacavam-se os cavalos oriundos da Araacutebia e da Peacutersia com destino aos portos da cos-ta ocidental da Iacutendia de onde eram encaminhados para os potentados indianos entre os quais grassavam guerras endeacutemicas Mas outros pro-dutos aacuterabes e persas faziam a riqueza da esteacuteril ilha de Djarucircn como as alcatifas aacuterabes as peacuterolas de Bahareacutem os tapetes a seda e a prata da Peacutersia o salitre e o enxofre da proacutepria ilha ao lado de mercadorias menos nobres como os frutos secos ou os cereais Dadas as circunstacircn-cias natildeo seraacute de estranhar que ao longo de todo o seacutec XVI a alfacircndega de Ormuz se tenha destacado como a mais rentaacutevel de todo o Estado da Iacutendia logo a seguir agrave de Goa Por outras palavras a cidade gerava

95 FARIA Livro de Linhagens p 27296 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada I Pt I V Cap III97 MALDONADO Relaccedilatildeo das Naos e Armadas da Iacutendia p 16 ANTT Corpo Cronoloacutegi-

co Pt II maccedilo 9 Nordm 35

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 185

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

um volume de receitas tatildeo consideraacutevel que a capitania de Ormuz aca-bou por se transformar numa das mais apetecidas de todo o Impeacuterio no Oriente Vemos deste modo que a atribuiccedilatildeo desta capitania natildeo soacute era motivo de prestiacutegio para o capitatildeo nomeado como tambeacutem fonte de grande riqueza98

Natildeo podemos deixar de notar que as Deacutecadas da Aacutesia ao referir-se agrave nomeaccedilatildeo de Mendonccedila para a capitania de Ormuz natildeo refere quais-quer serviccedilos especiais que justifiquem a atribuiccedilatildeo de tal benesse Ar-mando Cortesatildeo que levantou a hipoacutetese de ter sido Mendonccedila o pri-meiro europeu a chegar agrave Austraacutelia foi um dos investigadores a sugerir que esta nomeaccedilatildeo se devesse aos serviccedilos prestados pelo navegador99 Poreacutem e tal como temos afirmado ao longo deste trabalho natildeo existe qualquer documento que assegure o ecircxito de Mendonccedila relativamente agrave viagem que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro Omis-satildeo que segundo Jaime Cortesatildeo foi consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo entatildeo vigente Luiacutes de Albuquerque ainda que contraacuterio agrave teoria da descoberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que ldquodeve a sua celebridade a uma expediccedilatildeo que natildeo fezrdquo100 estranha no entanto o facto de Diogo do Couto natildeo mencionar os serviccedilos especiais que estiveram na origem da nomeaccedilatildeo do navegador para a capitania de Ormuz101 Esta distinccedilatildeo torna-se ainda mais suspeita se tivermos em consideraccedilatildeo que uma nomeaccedilatildeo desta natureza implicaria em meacutedia 10 anos de serviccedilos no Oriente102 durante os quais era acumu-lada a experiecircncia necessaacuteria para o desempenho de uma capitania Como vimos natildeo foi esse o caso de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Aliaacutes as nomeaccedilotildees para as capitanias mais importantes e lucrativas como Or-muz Goa ou Malaca natildeo soacute eram atribuiacutedas em reconhecimento pelos vaacuterios anos de serviccedilo no Oriente como tambeacutem recaiacuteam tendencial-mente sobre nobres com uma maior presenccedila na corte o que tambeacutem

98 LOUREIRO ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 pp 749-797 JPC ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 833-836

99 CORTESAcircO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158100 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo p 727101 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol IV

p 258102 Andreia Martins de Carvalho determinou os anos de serviccedilo de fidalgos no Oriente

antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania entre 1518 e 1544 CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 211 Foi nesse sentido que tendo em conta a infor-maccedilatildeo disponiacutevel sobre o percurso de 37 fidalgos estabelecemos a meacutedia de anos relativos a serviccedilos no Oriente antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203186

Fernando Pessanha

natildeo era o caso de Mendonccedila Ora se o navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro como explicar tatildeo generoso honroso e rentaacutevel reconhecimento Isto claro para aleacutem das compensaccedilotildees econoacutemicas atraacutes referidas e da entrega da comenda da Ordem de Cris-to que de seguida abordaremos De resto a capitania de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ficou marcada por episoacutedios dignos de registo como o au-xiacutelio prestado agrave frota de Simatildeo da Cunha assolada por uma epidemia contraiacuteda na campanha contra a ilha de Bahareacutem103 Refira-se aliaacutes que foi sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que recaiu a responsabilidade de escolher um agente para realizar a ceacutelebre missatildeo de espionagem que constituiu a viagem por terra de Ormuz a Portugal protagonizada por Antoacutenio Tenreiro entre Setembro de 1528 e Maio de 1529 - viagem cuja narrativa constitui um notaacutevel documento histoacuterico de natureza geograacutefica religiosa e antropoloacutegica104

63 A comenda da vila de Arenilha

Tal como anteriormente referimos deparaacutemo-nos com dois documen-tos que chamaram a nossa atenccedilatildeo aquando da investigaccedilatildeo para o ar-tigo ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo Trata-se de duas cartas em que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece referido como comendador da vila de Arenilha O primeiro documento data de 29 de Dezembro de 1529 e tem por tiacutetulo Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bregantim missiva em que o comendador de Arenilha culpa o marquecircs de Ayamonte pelos danos causados nas barcas dos habitantes da vila no-meadamente no referido bergantim chegando mesmo a mandar ldquopagar as barcas e () as perdas que receberam os donos delas e asy o dano que se fez na Arenilhardquo e mandar o marquecircs prender os responsaacuteveis que se encontrem nas suas terras105 Como se pode perceber o tom da missiva natildeo resulta propriamente abonatoacuterio para o nobre espanhol

103 SOUSA Anais Vol II IV Cap XXII p 106104 Como recompensa pelos serviccedilos prestados Antoacutenio Tenreiro recebeu da Coroa em

1533 uma tenccedila anual de 30000 reacuteis e o haacutebito de cavaleiro da Ordem de Cristo Ver TENREIRO amp AFONSO Viagens por terra da Iacutendia a Portugal p 18 RL ldquoTenreiro Antoacuteniordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II p 1023

105 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 Nordm45

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 187

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig1 - Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua

Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do

marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

Fig 1

Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o

marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203188

Fernando Pessanha

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig2 - Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar

creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Arenilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada destinada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila assim como o seu

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesahelliprdquo pp 86-82

Fig 2

Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao

comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Are-nilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada desti-nada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesardquo pp 86-82

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 189

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacute-vatildeo de Mendonccedila assim como o seu percurso como capitatildeo nas armadas da Iacutendia acreditamos encontrar-nos em condiccedilotildees para demonstrarmos que a comenda de Arenilha foi efectivamente atribuiacuteda ao navegador como reconhecimento pelos serviccedilos prestados no Oriente

Com efeito satildeo vaacuterios os indicadores que nos levam a afirmaacute-lo Em primeiro lugar o facto de natildeo se encontrar nas croacutenicas nem nas fontes coevas qualquer referecircncia a um homoacutenimo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a balizagem cronoloacutegica compreendida entre 1514 e 1532 periacuteodo em que aparece referido na documentaccedilatildeo Aliaacutes as da-tas discriminadas nos documentos que o referem como comendador de Arenilha corroboram a ideia de esta comenda ter sido atribuiacuteda aquando do seu regresso ao reino Eacute certo que natildeo sabemos a data em que Cristoacutevatildeo teraacute chegado a Portugal ainda que tenhamos notiacutecia da sua passagem pelo sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio de 1524 durante a viagem de regresso108 Poreacutem as tenccedilas atraacutes mencionadas indicam que se encontrava no reino em 1526 Uma vez que os documentos que o referem como comendador da vila da foz do Guadiana remontam a Dezembro de 1529 e Maio de 1530 anos em que o navegador jaacute se encontrava no Oriente eacute de supor que D Joatildeo III lhe teraacute atribuiacutedo a comenda aquando da sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e Marccedilo de 1527 ano em que voltou a partir para a Iacutendia jaacute na qualida-de de capitatildeo de Ormuz

Uma vez que natildeo se verificam homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila para a balizagem cronoloacutegica atraacutes referida e que as datas dos docu-mentos que o referem como comendador de Arenilha satildeo ligeiramente posteriores ao seu regresso ao reino resta-nos determinar se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila reunia as condiccedilotildees necessaacuterias para ser agraciado com uma comenda desta natureza Antes de mais importa referir que a vila de Arenilha e de Castro Marim eram as duas uacutenicas comendas da Ordem de Cristo no Algarve Curiosamente Isabel L Morgado de Sousa e Silva natildeo refere a comenda de Arenilha na dissertaccedilatildeo para doutoramento

108 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo Oceanos Nordm4 pp 17-18 ALBU-QUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 727-728 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 79

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203190

Fernando Pessanha

A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521)109 Poreacutem o documento publicado por Hugo Cavaco natildeo deixa margem para duacutevidas

ldquoNo Bispado do Algarve haacute somente duas Commendas da Ordem (de

Cristo) que satildeo das antigas e as seguintes

A Commenda e Alcaideria-moacuter de Castro Marim avaliou-se em quatro-

centos e cinquenta mil reacuteis no anno de 1608

A Commenda da Alcaideria-mograver de Santo Antonio de Arenilha que estaacute

junto a Castro Marim em cento e trinta mil reacuteis no anno de 1608

No Bispado do Algarve natildeo haacute nenhuma Commenda desta Ordem mais

que as duas velhas que valem quinhentos e oitenta mil reacuteis como se vecirc

da somma adianterdquo110

Aliaacutes soacute o facto de Arenilha ser comenda da Ordem de Cristo poderaacute explicar que o senhorio da vila tenha sido atribuiacutedo exclusivamente a cavaleiros da miliacutecia ao longo de toda a centuacuteria quinhentista111

Naturalmente que estas comendas implicavam desde logo a existecircn-cia de comendadores sobre os quais recaiacutea o senhorio das ditas vilas o que era compreendido como motivo de honra e de prestiacutegio social numa sociedade ainda bastante influenciada pelas antigas tradiccedilotildees medievo-feudais Comendas refira-se que compreendiam o direito agrave administra-ccedilatildeo da localidade e conferiam uma renda para sustentaccedilatildeo do comenda-dor beneficiaacuterio configurando um recurso para os encargos da proacutepria comenda No entanto a atribuiccedilatildeo de uma comenda representava um benefiacutecio atribuiacutedo a cavaleiros professos nas ordens militares como re-compensa por serviccedilos prestados Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Men-donccedila soacute poderia ser agraciado com a comenda de Arenilha caso tivesse sido investido na Ordem de Cristo Foi nesse sentido que procuraacutemos determinar se este navegador professou nesta Ordem Militar

Com efeito a dissertaccedilatildeo Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) de Joatildeo Maria Falcatildeo Pestana de Vascon-celos natildeo faz qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila enquanto cavaleiro da Ordem de Cristo Refere no entanto o seu avocirc Afonso Fur-

109 SILVA A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta110 Documento VIII BNLMicroformas F5040 Documento publicado por CAVACO Revisi-

tando p 52111 Cf PESSANHA Os 500 anos pp 57-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 191

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

tado de Mendonccedila comendador de Cardiga da Ordem de Cristo112 a sua irmatilde Margarida de Mendonccedila enquanto mulher de um comendador da mesma Ordem e o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo que recebeu o haacutebito da miliacutecia em 16 de Abril de 1514113 Ain-da que a referida dissertaccedilatildeo natildeo faccedila qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo enquanto membro desta Ordem vem demonstrar a ligaccedilatildeo de alguns dos seus familiares agrave mesma natildeo soacute na qualidade de cavaleiros como tambeacutem de comendadores

Poreacutem Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social de Teresa Lacerda assim como a jaacute referida tese A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) de Isabel L Morgado de Sousa e Silva jaacute identificam efectivamente Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como frei cavaleiro desta Ordem114 De acordo com a obra consultada Cavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVI Cristoacutevatildeo de Mendonccedila recebeu efectivamente o haacutebito da Ordem de Cristo em 16 de Abril de 1514115 exactamente na mesma data em que o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila tambeacutem foi in-vestido116 De resto o facto de Cristoacutevatildeo aparecer referido como mem-bro da miliacutecia numa provisatildeo em que D Joatildeo III manda o almoxarife de Aveiro pagar ldquoa Cristoacutevatildeo de Mendonccedila sua tenccedila deste ano 50000 reacuteis assentada na alfacircndega de Lisboa com o haacutebito de Cristordquo117 vem dissipar qualquer duacutevida que ainda subsistisse

Note-se que identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como cavaleiro da Ordem de Cristo natildeo pudemos deixar de reparar no silecircncio dos cronistas no momento de identificar os intervenientes no processo ex-pansionista com as suas respectivas filiaccedilotildees nas Ordens Militares De facto quer Joatildeo de Barros quer os cronistas que lhe sucederam natildeo fazem qualquer referecircncia agrave filiaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo em qualquer Ordem tal como de acordo com o que constataacutemos raramente o fazem em relaccedilatildeo a outros cavaleiros Esta evidecircncia pode parecer ainda mais estranha se tivermos em consideraccedilatildeo o forte envolvimento da Ordem

112 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Vol I p 377 FARIA Livro de Linhagens p 275

113 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares p 392 114 LACERDA Os Capitatildees das Armadas pp 120 e 228 SILVA A Ordem de Cristo p 336

SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma perspectiva de estudordquo apecircndice

115 FARIA ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo p 21116 FARIA ldquoCavaleirosrdquo p 21 Ver tambeacutem SILVA A Ordem de Cristo p 330117 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203192

Fernando Pessanha

de Cristo na Histoacuteria da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses Ordem Militar sublinhe-se que teve como governadores figuras in-contornaacuteveis da famiacutelia real como o infante D Henrique o infante D Fernando o rei D Manuel ou o rei D Joatildeo III118 Poreacutem haacute que ter em consideraccedilatildeo que documentos como Memoacuteria das Armadas ou o Livro de Lisuarte de Abreu natildeo satildeo fontes sobre qualquer uma das Ordens razatildeo pela qual se torna compreensiacutevel a ausecircncia de referecircncias mais completas relativamente aos intervenientes no processo de expansatildeo Aliaacutes a intenccedilatildeo subjacente agrave produccedilatildeo de obras como Histoacuteria do Des-cobrimento e da Conquista da Iacutendia natildeo passa por apresentar informa-ccedilatildeo detalhada sobre as individualidades que participaram no processo expansionista mas antes destacar o protagonismo reacutegio em todo este processo119

Por fim natildeo se verificando homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a cronologia abordada coincidindo as datas que o referem como comendador de Arenilha e identificado este navegador como cavalei-ro da Ordem de Cristo resta-nos perceber por que motivo lhe teraacute sido entregue a comenda desta vila na foz do Guadiana Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo que a fundaccedilatildeo de Are-nilha prende-se com a afirmaccedilatildeo da soberania poliacutetica e administra-tiva de D Manuel sobre um territoacuterio frequentado por castelhanos Eacute exactamente nesse contexto que em 1421 Castro Marim justificava o pedido de isenccedilatildeo de alguns encargos pelos ldquoconstantes trabalhos que os moradores tinham com os castelhanos que insistiam em vir pescar ao reinordquo120 Quer isto dizer que os castelhanos vinham pescar para as margens portuguesas natildeo pagando os devidos impostos agrave Coroa Aliaacutes a existecircncia do topoacutenimo de origem castelhana Arenilha121 ainda antes da elaboraccedilatildeo da Carta de Privileacutegio que manda proceder agrave construccedilatildeo

118 FONSECA ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo pp 321-347 Ver tambeacutem SILVA A Or-dem de Cristo pp 43-110

119 Cf SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristordquo pp 349-361120 VENTURA ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo p 608

ANTT Chancelaria de D Afonso V liv 2 fl30121 De acordo com o dicionaacuterio da Real Academia Espantildeola ldquoarenillardquo apresenta-se como

sinoacutenimo de ldquoarena menudardquo Ver Dicionario de la Real Academia Espantildeola Disponiacutevel em httplemaraeesdraeval=arenilla ndash Consultado dia 10 de Setembro de 2013 Note-se que quando em 1775 se pretendeu baptizar a nova vila iluminista com o nome de Vila Real de Santo Antoacutenio de Arenilha prontamente o Marquecircs de Pombal proibiu a utilizaccedilatildeo do nome ldquoArenilhardquo alegando que ldquoeacute uma palavra hespanhola e Villa Real uma povoaccedilatildeo portuguesardquo Ver OLIVEIRA Monografia p 71

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 193

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

da vila122 indica a ocupaccedilatildeo daquele areal na margem portuguesa da foz do Guadiana por populaccedilotildees de pescadores de origem castelhana Dadas as circunstacircncias seria do interesse estrateacutegico do monarca que esta comenda recaiacutesse sobre algueacutem experimentado na guarda da fronteira e que fizesse cumprir o pagamento dos devidos direitos aduaneiros Re-corde-se que Arenilha para aleacutem de comenda da Ordem de Cristo era uma vila de fronteira situada na margem portuguesa do Guadiana tal como o era a vila de Mouratildeo de onde Cristoacutevatildeo de Mendonccedila era natu-ral Como anteriormente referimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Men-donccedila o fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo que foi nomeado em 1476 alcaide-mor de Mouratildeo123 uma vila fortificada do Alentejo que guarda-va a fronteira portuguesa frente a Espanha O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas mostra-nos o castelo de Mouratildeo onde Cristoacutevatildeo teraacute crescido localizado no cimo de uma colina sobranceiro ao Guadiana124 Quer isto dizer que o ceacutelebre navegador era descendente de uma famiacutelia experimentada na guarda da fronteira face ao reino vizinho e familia-rizado com as actividades militares tributaacuterias e administrativas que lhe eram inerentes125 Assim sendo esta condiccedilatildeo de fronteiro a juntar ao facto de Cristoacutevatildeo ser cavaleiro da Ordem de Cristo teraacute resultado altamente pertinente no momento em que D Joatildeo III decidiu atribuir a comenda de Arenilha a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como recompensa pelos serviccedilos prestados

Por fim mas natildeo menos relevante teraacute sido a experiecircncia naval e militar adquirida por Mendonccedila nos mares do Oriente e direccionada para a foz do Guadiana sistematicamente ameaccedilada pelos ataques da pi-rataria magrebina126 Recorde-se que Mendonccedila no decurso das suas na-vegaccedilotildees na australaacutesia viu-se na necessidade de defender posiccedilotildees por-

122 O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas produzido por volta de 1509 jaacute indicava o topoacutenimo que veio a ser oficializado com a Carta de Privileacutegio de 12 de Fevereiro de 1513 Ver ARMAS O Livro das Fortalezas fl 1

123 FREIRE Brasotildees Vol III p 173124 ANTT Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Livro das Fortalezas si-

tuadas no Extremo de Portugal e Castela por Duarte de Armas escudeiro da Casa do Rei D Manuel I Nordm 159 fls 13-14 ARMAS O Livro das Fortalezas fls 13-14

125 Refira-se que foi durante o periacuteodo em que o pai de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila deteve a alcaidaria de Mouratildeo que o rei D Manuel obteve dos povos nas cortes de Lisboa de 1502 uma vultosa contribuiccedilatildeo que fez com que o castelo da vila fosse intervenciona-do por dois importantes arquitectos reacutegios os irmatildeos Francisco e Diogo de Arruda os mestres das obras reacutegias da comarca de entre o Tejo e o Guadiana Ver FARIA ldquoForti-ficaccedilotildees de Portugal na fronteira da Estremadura espanholardquo p 161

126 Sobre este assunto veja-se PESSANHA ldquoAtaques da piratariardquo pp 63-94

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203194

Fernando Pessanha

tuguesas dando combate aos adversaacuterios Recordemos a este respeito o ataque movido por Melique Ladil agrave fortaleza de Paceacutem entatildeo guardada por Mendonccedila e a maneira como o ldquomourordquo foi desbaratado e despo-jado das treze embarcaccedilotildees usadas no assalto127 Dadas as circunstacircnci-as seria um desperdiacutecio natildeo se aproveitar a experiecircncia deste capitatildeo numa altura em que se verificava um incremento da actividade piraacutetica nas costas do Algarve Esta actividade da pirataria na foz do Guadiana eacute aliaacutes referida por Bernardo Rodrigues em vaacuterias ocasiotildees nomeada-mente aquando da estadia da condessa de Redondo na vila de Arenilha em 1522128 ou quando Vasco Fernandes Ceacutesar - antigo adaiacutel de Azamor e capitatildeo da Armada do Estreito129 - foi incumbido embarcar o conde do Redondo D Joatildeo Coutinho na vila de Arenilha e escoltaacute-lo a Arzila130 Refira-se que a caminho da foz do Guadiana o navio de Vasco Fernan-des Ceacutesar foi atacado por duas naus tendo-se seguido um combate naval que resultou na explosatildeo de parte da alcaacuteccedilova atirando cinco homens ao mar entre os quais Vasco Fernandes que ficou gravemente ferido131

Vemos deste modo que a entrega da comenda de Arenilha a um in-diviacuteduo como Cristoacutevatildeo de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo descendente de uma famiacutelia de fronteiros e navegador experimentado no combate naval natildeo soacute era altamente pertinente como simboacutelica e manifestamente estrateacutegica para a defesa do extremo sudeste algarvio e da foz do Guadiana onde Mendonccedila deveria actuar com autoridade se-nhorial usufruindo dos seus bens e rendimentos E no caso da comenda de Arenilha Seriam generosos os seus rendimentos Sem duacutevida Se assim natildeo fosse o rei D Duarte natildeo teria doado ao infante D Henrique ainda em 25 de Setembro de 1433 a ldquodiacutesima nova de todo o pescado que pescarem quaisquer pessoas no mar do Monte Gordordquo132 Aliaacutes seraacute certa-

127 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III pp548-549128 RODRIGUES Anais de Arzila Tomo I Cap XC p 373129 GOacuteIS Chronica IV Cap LVII p 552 Sobre a Armada do Estreito veja-se GODINHO

ldquoA armada do estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo pp117-137130 RODRIGUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 PESSANHA Subsiacutedios p 100131 Segundo Bernardo Rodrigues os sobreviventes portugueses por pouco natildeo foram

executados Os que sobreviveram ao combate foram aprisionados e levados para Di-eppe Vasco Fernandes apesar de ferido acabou por escapar do cativeiro desfiando uma esteira e escapando por ela da torre onde se encontrava aprisionado RODRI-GUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 Ver tambeacutem PISSARRA ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Armada do Estreitordquo pp 144-145

132 SERRAtildeO Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fundaccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) p 65 OLIVEIRA Monografia p 73

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 195

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

mente o motivo econoacutemico que jaacute em 1555 estaraacute na origem da disputa pelo senhorio de Arenilha entre Jeroacutenimo de Melo fidalgo da Casa Real e alcaide-mor de Castro Marim e Luiacutes Leite frei cavaleiro da Ordem de Cristo e filho de Antoacutenio Leite o anterior alcaide133

Relativamente agrave defesa sabemos que Arenilha natildeo possuiacutea castelo torre ou qualquer fortificaccedilatildeo digna de registo ateacute 1542-1547 periacuteodo em que o alcaide Antoacutenio Leite daacute-nos conta das ldquotramqueyras e repai-rosrdquo construiacutedos sob o seu comando para a populaccedilatildeo se defender dos ataques da pirataria moura134 Ainda assim Mendonccedila estava obrigado a zelar pela defesa da vila independentemente de esta ter ou natildeo for-tificaccedilotildees para a proteger Se tivermos em consideraccedilatildeo que a sua no-meaccedilatildeo como comendador o obrigava agrave realizaccedilatildeo de um inventaacuterio ao patrimoacutenio da comenda (infelizmente desconhecido) e ao dever de fixar residecircncia na sua aacuterea de governo135 eacute muito provaacutevel que Cristoacutevatildeo se tenha detido durante algum tempo na vila da foz do Guadiana algures entre finais de 1524 aquando da sua chegada ao reino136 e Marccedilo de 1527 quando voltou a partir para o Oriente

Como anteriormente referimos os comendadores deviam fixar-se nas suas comendas para melhor procederem agrave sua defesa e melhor ren-tabilizarem as mesmas Assim sendo como eacute possiacutevel que os documen-tos que referem Cristoacutevatildeo como comendador de Arenilha sejam relati-vos aos anos em que este se encontrava na capitania de Ormuz Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo de que a principal obrigaccedilatildeo dos cavaleiros da Ordem de Cristo era a luta contra os inimigos da feacute devendo estar prontos para a guerra sempre que o Mestre os convocasse Uma vez que as situaccedilotildees de guerra eram cons-tantes nos territoacuterios de aleacutem-mar onde a presenccedila dos cavaleiros da Ordem se tornava necessaacuteria natildeo eacute de admirar que estes fossem dispen-sados da exigecircncia que os obrigava a permanecer nas suas comendas137

133 CAVACO Revisitando pp 18-20 PESSANHA Os 500 anos pp 72-73134 Carta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava

atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras e que era necessaacute-rio enviar-lhe socorro ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos p 99 PINTO ldquoIacutendice Analiacuteticordquo p 267

135 Cf SILVA A Ordem de Cristo pp 189-190136 Uma vez que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila se encontrava na Aacutefrica do Sul em Marccedilo ou Maio

de 1524 eacute de supor que a sua chegada ao reino se tenha dado ainda no mesmo ano137 SILVA A Ordem de Cristo p 191

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203196

Fernando Pessanha

Eacute nesse sentido que encontramos Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comen-dador de Arenilha em 1529 e 1530 anos em que jaacute se encontrava como capitatildeo na fortaleza de Ormuz De resto era nesta fortaleza que ainda se encontrava em 1531 ano em que piratas de Larache atacaram a vila da foz do Guadiana ldquoonde fizeacuteratildeo muito dano em navios que tomaacuteratildeo e den-tro da Barra de Aiamonte fizeacuteratildeo despejar a Arrinilha e a Montegordordquo138

7 Conclusatildeo

Com efeito muito se tem escrito (e especulado) sobre a alegada des-coberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila No entanto e indepen-dentemente dos resultados alcanccedilados pelo navegador nesta expediccedilatildeo parece indiscutiacutevel que foi generosamente recompensado aquando do seu regresso ao reino Resta-nos perceber porquecirc Jaacute Armando Cortesatildeo muito antes de Peter Trickett tinha levantado a hipoacutetese de a rentaacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz ter sido entregue a Mendonccedila como re-compensa pelos serviccedilos prestados na expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro139 Natildeo eacute conhecido poreacutem qualquer documento que ateste o ecircxito do navegador nesta expediccedilatildeo Omissatildeo que segundo investigadores como Armando Cortesatildeo Damiatildeo Peres ou Jaime Cortesatildeo teraacute sido consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo determinada pelas limitaccedilotildees de navega-ccedilatildeo estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas e com o contencioso entre Portugal e Espanha pela posse das Molucas140

O certo eacute que Mendonccedila ao regressar ao reino foi agraciado com uma das capitanias mais rentaacuteveis do impeacuterio no Oriente para aleacutem de ter recebido compensaccedilotildees econoacutemicas e aparecer referido em 1529 e 1530 como comendador da vila de Arenilha na foz do Guadiana Refira-se a este respeito que muitos capitatildees cavaleiros da Ordem de Cristo se lanccedilaram no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Poreacutem mui-to poucos chegaram a obter as tatildeo almejadas comendas141 Vemos deste

138 RODRIGUES Anais Tomo II Cap XXXV p 209139 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158140 CORTESAtildeO A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e

de D Joatildeo II Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 65-66 PERES ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na Histoacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II pp 17-21

141 Entre os afortunados que lograram obter este tipo de rendimento contam-se muito poucos D Joatildeo Pereira D Pedro de Castelo Branco Nuno Furtado Simatildeo Guedes entre outros Ver CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 216

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 197

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

modo que a atribuiccedilatildeo da comenda de Arenilha significou um motivo de grande honra e prestiacutegio para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Ora se este navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro resta-nos perceber porque motivo teraacute sido agraciado com compensaccedilotildees eco-noacutemicas a nomeaccedilatildeo para uma das mais rentaacuteveis capitanias de todo o Impeacuterio no Oriente e uma honrosa comenda da Ordem de Cristo Eacute caso para dizer que a problemaacutetica em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila con-tinua a levantar muitas duacutevidas e poucas certezas

Fontes e Bibliografia

1 Arquivos

ANTT

Chancelaria de D Afonso V Livro 2 fl30

Chancelaria de D Manuel I Livro 4 fl37 Livro 8 fl 29v Livro 9 fl4v Livro 10 fl53 Livro 13 fl60 Livro 37 fl64

Chancelaria de D Joatildeo III Livro 12 fl62

Chancelaria da Ordem de Cristo Livro13 fls375 vndash 379v

Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1

Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 15 Nordm47 Pt I maccedilo 44 Nordm45 Pt I maccedilo 45 Nordm9

Pt II maccedilo 51 Nordm26 Pt II maccedilo 53 Nordm182 Pt II maccedilo 93 Nordm150 Pt II maccedilo 109 Nordm131 Pt II maccedilo 131 Nordm226 Pt II maccedilo 134 Nordm57 Pt II maccedilo 135 Nordm45 Pt II maccedilo 135 Nordm49 Pt II maccedilo 136 Nordm102 Pt II maccedilo 141 Nordm91

Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Nordm159

Casa Real Cartoacuterio da Nobreza Livro Nordm20 - Livro da Nobreza e da per-feiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal fl XII

2 Fontes Impressas

ABREU Lisuarte de Livro de Lisuarte de Abreu (Reproduccedilatildeo do manuscrito existente na Perpont Morgan Library de Nova York) Comissatildeo Nacional para as comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portugueses Lisboa 1992

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203198

Fernando Pessanha

ARMAS Duarte de Livro das Fortalezas Arquivo Nacional da Torre do TomboInapa Lisboa 1997

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada III Na Regia Officina Typografica Lisboa MDCCLXXVII

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada IV Imprensa Nacional Casa da Moe-da Lisboa 2001

BORGES Joseacute Calvatildeo Borges Livro do Armeiro-Mor Academia Portugue-sa de HistoacuteriaEdiccedilotildees Inapa Lisboa 2000

CASCAtildeO Joatildeo ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevorardquo Uma Jornada ao Alentejo e ao Algarve A altera-ccedilatildeo das linhas de forccedila da poliacutetica nacional Livros Horizonte Lisboa 1984 pp 77-136

CASTANHEDA Fernatildeo Lopes de Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses 2 vols Lello amp Irmatildeos Editores Porto 1979

CORREIA Gaspar Lendas da Iacutendia Tomo III na Typographia da Acade-mia Real das Sciencias Lisboa 1862

Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI Centro de Estudos Histoacutericos Ultramarinos Lis-boa 1969

GAYO Felgueiras Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX Ediccedilatildeo de Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Arauacutejo Affonso Braga 1939

GUEDES Liacutevio da Costa Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) Arquivo Histoacuterico Militar Lisboa 1988

GOacuteIS Damiatildeo de Chonica do Serenissimo Senhor Rei D Manoel Lisboa 1749

JOSEacute Frei Joatildeo de Satildeo ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 21-132

RODRIGUES Bernardo Anais de Arzila 2 vols Academia das Sciecircncias de Lisboa Lisboa 1915-1919

SARRAtildeO Henrique Fernandes ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 133-174

SOUSA Frei Luiacutes de Anais de D Joatildeo III 2 vols Saacute da Costa Lisboa 1928

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 199

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

SOUSA Manuel de Faria e Asia Portvgvesa Officina de Henrique Valen-te de Oliveira impressor del Rey NS Lisboa 1666

TENREIRO Antoacutenio amp AFONSO Mestre Viagens por terra da Iacutendia a Por-tugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica Mem-Martins 1991

3 Estudos

ALBUQUERQUE Luiacutes de (dir) Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-tos Portugueses 2 vols Ciacuterculos de Leitores Lisboa 1994

ALMEIDA Fortunato de Histoacuteria de Portugal Vols III-VII Promoclube Lisboa sd

CARDOSO Antoacutenio Pereira A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila agrave Austraacutelia em 1522 Academia da Marinha Lisboa 1994

CARVALHO Andreia Martins de ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Ma-nuelinardquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia ndash Actas do Coloacutequio Internacional Joatildeo Paulo Oliveira e Costa amp Viacutetor Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 199-226

CARVALHO Andreia Martins de Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria dos Descobrimen-tos e da Expansatildeo Portuguesa (seacuteculos XV-XVIII) apresentado agrave UNL Lisboa 2006

CAVACO Hugo ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio (Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Arte no Algarve) Cacircmara Muni-cipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1987

CAVACO Hugo Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha Cacircmara Munici-pal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1995

CORREIA Joseacute Eduardo Horta Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina Faup Publicaccedilotildees Porto 1997

CORREIA Joseacute Eduardo Horta O Algarve em Patrimoacutenio Gente Singular Editora Olhatildeo 2010

CORTESAtildeO Armando ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Aus-tralaacutesia Macau Japatildeo)rdquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939

CORTESAtildeO Jaime ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal (Dir Damiatildeo Peres) Vol IV Portucalense Editora Barce-los 1932 pp 9-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203200

Fernando Pessanha

CORTESAtildeO Jaime A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e de D Joatildeo II Lisboa 1960

COSME Joatildeo ldquoOs homens de ciecircnciardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 91-97

COSME Joatildeo ldquoOs Navegadores ndash Vasco da Gamardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 145-152

COSTA Joatildeo Paulo Oliveira e ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo A Nobreza e a Expansatildeo Estudos Biograacuteficos Joatildeo Paulo Oliveira e Costa (coord) Patrimoacutenia Cascais 2000 pp 11-51

DOMINGUES Francisco Contente ldquoOs portugueses descobriram a Aus-traacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Si-motildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Univer-sidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 163-172

DOMINGUES Francisco Contente Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 Circulo dos Leitores Lisboa 2016

FARIA Antoacutenio Machado de Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI Acade-mia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 1956

FARIA Antoacutenio Machado de ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo Separata da revista Arqueologia e Histoacuteria vol VI Lisboa 1955

FARIA Miguel Figueira de ldquoFortificaccedilotildees de Portugal na fronteira da Es-tremadura espanholardquo Anais ndash Seacuterie Histoacuteria Vol II Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 1995 pp 156-187

FONSECA Luiacutes Adatildeo da ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo A Alta No-breza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 322-347

FREIRE Anselmo Braamcamp Brasotildees da Sala de Sintra 3 vols Impren-sa da Universidade de Coimbra Coimbra 1921-1930

GARCIA Joseacute Manuel Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII QuidNovi Lisboa 2009

GARCIA Joseacute Manuel O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash 1555 Nordm 8 QuidNovi Vila do Conde 2012

GODINHO Rui Landeiro ldquoA Armada do Estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (Seacuteculos XV-XIX) Ediccedilotildees Cul-turais da Marinha Lisboa 2003 pp 117-137

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 8: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203172

Fernando Pessanha

de a segunda metade do seacutec XIX a partir dos estudos do Visconde de Santareacutem28 e do historiador inglecircs Henry Major29 De resto nem o nome de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila enquanto alegado descobridor da Austraacutelia nem a data de 1522 em que se teraacute dado a descoberta satildeo novidade para a historiografia nacional uma vez que jaacute anteriormente foram defendi-dos por investigadores como Armando Cortesatildeo30 Duarte Leite31 e Antoacute-nio Pereira Cardoso32

Natildeo eacute poreacutem intenccedilatildeo do presente artigo discutir as teorias destes au-tores nomeadamente a teoria de Trickett Para tal jaacute o Museu da Ciecircncia da Universidade de Coimbra realizou em 2008 um coloacutequio e uma mesa-redonda com historiadores de reconhecida credibilidade De resto as ac-tas deste encontro foram publicadas com o tiacutetulo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens33 publicaccedilatildeo em que de acordo com a comunida-de cientiacutefica a exploraccedilatildeo da costa australiana pelos portugueses parece indiscutiacutevel dado os diversos indiacutecios como os achados arqueoloacutegicos34 os relatos orais de aboriacutegenes35 ou a cartografia da escola de Dieppe36

Poreacutem e independentemente das teorias construiacutedas em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e da alegada descoberta da Austraacutelia interessa-nos determinar se este navegador e capitatildeo de Ormuz eacute o mesmo Cristoacute-vatildeo de Mendonccedila comendador de Arenilha

28 SILVA ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo p 111 nota 1

29 ALBUQUERQUE ldquoMajor Richard Henry (1818-1891)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 141-142 Ver tambeacutem DOMINGUES ldquoOs portugueses descobriram a Austraacute-liardquo pp 163-164 Refira-se que este uacuteltimo por exemplo atribuiu a descoberta do con-tinente austral a Antoacutenio de Abreu em 1512 e que segundo o historiador Joseacute Manuel Azevedo e Silva ldquoDiogo Pacheco foi o primeiro portuguecircs a descobrir a Austraacutelia em 1519rdquo Ver SILVA ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-morrdquo p 119 Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoViagens e misteacuterios nos mares da Indoneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo p 19

30 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Australaacutesia Macau Japatildeo)rdquo pp 156-159

31 LEITE Histoacuteria dos Descobrimentos pp 329-33432 CARDOSO A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila agrave Austraacutelia em 152233 Os resultados deste coloacutequio concluem que a ldquoteserdquo de Trickett aponta algumas pistas

de trabalho interessantes ainda que careccedila de fundamentaccedilatildeo cientiacutefica Ver SIMOtildeES amp DOMINGUES (coord) Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens

34 Referimo-nos concretamente a peccedilas de artilharia destroccedilos de um navio potes de barro antigas ruiacutenas em pedra um elmo de ferro e um projeacutectil de canhatildeo TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio pp 47-57 199-202 203-204 210-211 242-250

35 TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio pp 67-6936 Trata-se da localidade francesa onde foi feito o Atlas de Vallard que serviu de base ao

livro de Trickett Ver TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio p 29

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 173

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

4 Contexto social e familiar

Com efeito o Cristoacutevatildeo de Mendonccedila das croacutenicas portuguesas do seacutec XVI era filho de Diogo de Mendonccedila alcaide-mor de Mouratildeo e ana-del dos besteiros37 Segundo Damiatildeo de Goacuteis Diogo de Mendonccedila acom-panhou o duque de Braganccedila na conquista de Azamor38 Casou com D Brites Soares de Albergaria filha bastarda de Fernatildeo Soares de Alber-garia senhor do Prado39 De acordo com as genealogias avanccediladas pelo Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal ou pelo Livro de Linhagens do seacuteculo XVI Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teve seis irmatildeos Pecircro de Mendonccedila alcai-de-mor de Mouratildeo Antoacutenio de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo Isabel de Mendonccedila Margarida de Mendonccedila Joana de Mendonccedila mu-lher de D Jaime duque de Braganccedila e Francisco de Mendonccedila40

Quanto a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila sabemos que desposou Maria de Vilhena filha de Sancho de Tovar e de sua mulher Guiomar da Silva ainda que o casal natildeo tenha tido descendecircncia O Livro do Armeiro-Mor publicado em 1509 apresenta o brasatildeo de armas dos Mendonccedilas41 numa altura em que o alcaide-mor de Mouratildeo era Diogo de Mendonccedila pai de Cristoacutevatildeo Tambeacutem o Livro da Nobreza e da perfeiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal de Antoacutenio Godinho escrivatildeo da Cacircmara de D Joatildeo III apresenta o brasatildeo de armas dos Mendonccedilas numa altura em que o alcaide-mor de Mouratildeo era Pedro de Mendonccedila irmatildeo de Cristoacutevatildeo Refira-se que Antoacutenio Go-dinho teraacute comeccedilado a produzir este trabalho entre o fim do reinado de D Manuel e o iniacutecio do reinado de D Joatildeo III periacuteodo que corresponde agrave presenccedila de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente e agrave sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro42 Pouco se sabe acerca da infacircncia e juventude de Cristoacutevatildeo

37 Diogo de Mendonccedila tinha sido fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo e foi alcaide-mor de Mouratildeo pelo menos desde 1476 ateacute falecer em 1516 altura em que o cargo passou para o seu filho Pecircro de Mendonccedila Ver FREIRE Brasotildees da Sala de Sintra Vol III p 173 Por sua vez Pecircro de Mendonccedila fidalgo da Casa Real foi nomeado alcaide-mor do castelo e vila de Mouratildeo com todas as rendas direitos foros tributos liberdades e honras em consideraccedilatildeo aos serviccedilos prestados pelo seu pai Diogo de Mendonccedila em 14 de Julho de 1517 Ver ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 37

38 GOacuteIS Chronica III Cap XLVI p 36739 GAYO Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX p 5340 GAYO Nobiliaacuterio Tomo XX p 53 FARIA Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI p 275 41 BORGUES Livro do Armeiro-Mor p 6042 Cf ANTT Livro da Nobreza e da perfeiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres li-

nhagens dos reinos e senhorios de Portugal f12 (on line) httpdigitarqarquivosptdetailsid=4162407

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203174

Fernando Pessanha

Seja como for aparece referido na documentaccedilatildeo como fidalgo da Casa Real logo em 151443 Se seguirmos as Deacutecadas da Aacutesia apercebemo-nos de que ldquoChristovatildeo de Mendoccedila filho de Diogo de Mendoccedila Alcaide moacuter de Mouratildeordquo44 partiu para o Oriente em 23 de Abril de 1519 na armada de Jorge de Albuquerque composta por 14 naus Sigamos portanto o rasto biograacutefico deixado por Cristoacutevatildeo durante a sua primeira viagem ao Oriente

5 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente

51 A expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro

Decorria o ano de 1519 quando Diogo Lopes de Sequeira o entatildeo go-vernador da Iacutendia incumbiu Diogo Pacheco de obter informaccedilotildees sobre a existecircncia da miacutetica Ilha do Ouro que segundo Joatildeo de Barros se en-contrava ldquoao Sul daquela Ilha Ccedilamatrardquo45 Ao chegar ao porto de Barus Diogo Pacheco tomou conhecimento da existecircncia de uma outra ilha si-tuada a sudeste do arquipeacutelago indoneacutesio para a qual os naturais do reino de Barus jaacute tinham navegado de modo a obterem ouro atraveacutes do trato com os indiacutegenas46 Recolhidas estas informaccedilotildees Diogo Pacheco navegou ao largo da Ilha de Samatra seguindo para sudeste Poreacutem ao chegar ao estreito de Sunda entre Samatra e Java optou por navegar para noroeste circum-navegando Samatra ateacute chegar a Malaca

No ano seguinte em 1520 o mesmo navegador tentou repetir a ex-ploraccedilatildeo Poreacutem ao aproximar-se do porto de Barus foi recebido por navios hostis que lhe recusaram a entrada com tiros de bombarda Quanto a Diogo Pacheco acabaria por vir a falecer num recontro com os habitantes de uma ilha depois de o seu navio encalhar na costa47

43 Provisatildeo para se pagar a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila fidalgo da Casa 7 mil reacuteis de mora-dia ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 51 Nordm26

44 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap IX p 325 Ver tambeacutem GOacuteIS Chronica IV Cap XXXVI p 515 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento p 27 SOUSA Asia Tomo I Pt III Cap III p 190 ABREU Livro de Lisuarte de Abreu fl37v-38

45 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap III p268 O mito em torno da existecircncia de uma ilha do Ouro tem origem numa confusatildeo antiga com a ilha de Samatra onde se produzia ouro em Minangkabau facto que os portugueses conheceram Sobre a miacutetica Ilha do Ouro veja-se THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o descobrimento da Austraacuteliardquo pp 66-73

46 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap III p 26947 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap III p 273 Ver tambeacutem SOUSA Asia

Tomo I Pt III Cap III p187 Diz-nos Joatildeo de Barros que Diogo Pacheco ao ver-se com vento que lhe era contraacuterio e face aos indiacutegenas que se metiam nas suas em-

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 175

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

Como anteriormente referimos foi em 23 de Abril de 1519 que D Manuel enviou para a Iacutendia uma armada comandada por Jorge de Albuquerque onde seguia ldquoChristovatildeo de Mendoccedila filho de Diogo de Mendoccedila Alcaide moacuter de Mouratildeordquo Identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como um dos capitatildees desta armada resta-nos perceber porque moti-vo se teraacute aventurado no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Como anteriormente vimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Mendoccedila alcaide-mor de Mouratildeo Poreacutem natildeo era filho primogeacutenito Quer isto dizer que com o falecimento do seu pai a alcaidaria de Mouratildeo passou para o seu irmatildeo mais velho Pecircro de Mendonccedila em 151748 Eacute nesse sentido que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teraacute encontrado nos serviccedilos na Iacutendia o meio de ascensatildeo social para os filhos secundogeacutenitos uma vez que estes dependiam da generosidade reacutegia para a obtenccedilatildeo de tenccedilas e mercecircs que permitissem a manutenccedilatildeo ou elevaccedilatildeo do seu estatuto Vemos deste modo que a participaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo no projecto expan-sionista portuguecircs se apresentava perfeitamente normal se tivermos em conta o seu contexto social e familiar assim como a sua condiccedilatildeo de secundogeacutenito49

Ao seguirmos a croacutenica de Joatildeo de Barros apercebemo-nos de que a armada que partiu para a Iacutendia em 1519 apenas chegou ao destino em 1520 por motivo de invernada em Moccedilambique onde Cristoacutevatildeo se dete-ve com outros sete capitatildees50 De resto uma carta datada de 22 de Janei-

barcaccedilotildees para lhe tomarem o navio tentou evadir-se para o alto mar Poreacutem ao ser arrastado para a costa acabou por vir a perecer tendo apenas escapado alguns malaios que atravessaram a ilha ateacute agrave costa norte onde encontraram embarcaccedilatildeo para os levar a Malaca As uacuteltimas palavras de Joatildeo de Barros sobre esta viagem tem levado alguns autores a considerarem que Diogo Pacheco teraacute perecido na Austraacute-lia ldquoesta perdiccedilatildeo de Diogo Pacheco que foi o primeiro dos nossos que perdeo a vida por descubrir esta Ilha do ourordquo Eacute o caso de Trickett ou de Joseacute Manuel Azevedo e Silva para quem Diogo Pacheco foi o primeiro portuguecircs a descobrir a Austraacutelia tendo alcanccedilado a costa noroeste da ilha em 1519 Ver SILVA ldquoDiogo Pacheco capi-tatildeo-morrdquo pp 111-119

48 A tenccedila que eacute atribuiacuteda a Beatriz Soares viuacuteva de Diogo de Mendonccedila indica que este jaacute tinha falecido em Julho de 1516 Ver ANTT Chancelaria de D Manuel I livro 9 fl4v Pecircro de Mendonccedila fidalgo da Casa Real foi nomeado alcaide-mor do castelo e vila de Mouratildeo com todas as rendas direitos foros tributos liberdades e honras em consideraccedilatildeo aos serviccedilos prestados pelo seu pai Diogo de Mendonccedila em 14 de Julho de 1517 Ver ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 37 fl64 Ver tambeacutem FREIRE Brasotildees Vol III p 173

49 COSTA ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo pp 11-51

50 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento V Cap XX p 38 e Cap XXX p 56

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203176

Fernando Pessanha

ro de 1521 atesta a presenccedila de Mendonccedila e de seus homens em Goa51 tal como a Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) con-firma a sua passagem pela capital do Estado da Iacutendia no mesmo ano52

Seja como for a armada que partiu em 1519 levava ordens de D Manuel para o governador Diogo Lopes de Sequeira Determinava o monarca portuguecircs que o governador da Iacutendia escolhesse algueacutem da sua confianccedila para ir descobrir a Ilha do Ouro53 Por outras palavras D Manuel pretendia que se desse continuidade agraves exploraccedilotildees iniciadas por Diogo Pacheco Tal como podemos acompanhar no mesmo capiacutetulo da Deacutecada III da Aacutesia foi Diogo Lopes de Sequeira a escolher ldquoChristo-vatildeo de Mendoccedila filho de Pero de Mendoccedila Alcaide moacuter de Mouratildeordquo54 para tal missatildeo55 A documentaccedilatildeo mostra-nos que Cristoacutevatildeo se encontrava em Goa em Janeiro de 152156 e que partiu de Cochim em 4 de Maio de 152157 Se seguirmos a Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) apercebemo-nos de que a armada comandada por Mendonccedila e destinada a descobrir a Ilha do Ouro era constituiacuteda por quatro navios o navio Satildeo Cristoacutevatildeo em que o proacuteprio viajava a caravela Rosaacuterio co-mandada pelo capitatildeo Pedro Eanes Francecircs o bergantim Santo Antoacutenio comandado pelo capitatildeo Francisco Poles e um parau comandado pelo capitatildeo Gonccedilalo Homem58 Esta armada teraacute chegado agrave Ilha de Samatra por volta de Junho

51 Ver Conhecimento em que se declara que Diogo Lourenccedilo recebeu do feitor de Goa Francisco Cornivel 8 cruzados para mantimento da gente de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 93 Nordm150

52 Ver ldquoRelaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11)rdquo Documento publicado Documentos Sobre os Portugueses Vol VI p100

53 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I IV Cap III p 41254 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I IV Cap III p 413 O cronista poreacutem engana-se ao

referir o parentesco uma vez que o navegador incumbido de descobrir a Ilha do Ouro era Cristoacutevatildeo de Mendonccedila irmatildeo (e natildeo filho) de Pecircro de Mendonccedila

55 Note-se portanto que ao contraacuterio do que eacute defendido por Tricket ndash que tenta colocar esta expediccedilatildeo ao niacutevel da viagem de Vasco da Gama agrave Iacutendia - natildeo houve qualquer ordem real a nomear Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como capitatildeo da expediccedilatildeo destinada a descobrir a miacutetica ilha tendo sido o entatildeo governador da Iacutendia a escolher o capitatildeo para tal empreendimento Ver TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio pp 80-81

56 Conhecimento em que se declara que Diogo Lourenccedilo recebeu do feitor de Goa Fran-cisco Cornivel 8 cruzados para mantimento da gente de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 93 Nordm150

57 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila partiu acompanhado por Jorge de Brito que ia para as Mo-lucas onde deveria construir uma fortaleza e interceptar Fernatildeo de Magalhatildees Ver THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 97

58 Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) Documento publicado in Documentos Sobre os Portugueses Vol VI p 96

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 177

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

A primeira referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece aquando da sua passagem pelo porto de Pedir59 onde encontrou Rafael Catanho que entatildeo regressava de Acheacutem no extremo noroeste da ilha de Sama-tra60 Pouco tempo depois chegava agravequele porto de Pedir o que restava da armada de Jorge de Brito morto em combate juntamente com gran-de nuacutemero de portugueses apoacutes um confronto com as forccedilas do rei de Acheacutem61 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ao encontrar aquela armada desba-ratada e sem capitatildeo pretendeu colocaacute-la sob seu comando62 Poreacutem os poucos fidalgos sobreviventes natildeo o consentiram alegando que o co-mando deveria ser entregue a Antoacutenio de Brito o irmatildeo do falecido ca-pitatildeo que se deveria juntar agrave armada depois de consertar o seu navio63

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila rumou entatildeo a Paceacutem onde se deveria rea-bastecer de mantimentos para dar continuidade agrave viagem Todavia ao chegar a este ponto da narrativa diz-nos Joatildeo de Barros que ldquoo tempo natildeo era da monccedilatildeo pera onde cada hum havia de ir principalmente a de Christovatildeo de Mendoccedila que era jaacute passadardquo64 A acrescentar ao facto de o navegador ter perdido os ventos de monccedilatildeo acresce que o capitatildeo de Malaca Jorge de Albuquerque se encontrava em Paceacutem a construir uma fortaleza destinada a proteger uma feitoria cujo principal objecti-

59 Porto de grande importacircncia no comeacutercio do Iacutendico situado na parte nordeste da Ilha de Samatra O desenvolvimento de Pedir assim como o de Paceacutem relaciona-se estrei-tamente com a propagaccedilatildeo do islatildeo na Indoneacutesia ocidental Em 1509 Diogo Lopes de Sequeira assinou um tratado com o sultatildeo de Pedir e com a conquista de Malaca o seu principal comeacutercio passou a ser dirigido para esta cidade Sobre Pedir veja-se SS ldquoPedirrdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Portugueses (Dir Luis de Albu-querque) Vol II pp 870-872

60 O sultanato islacircmico de Acheacutem foi uma das entidades que mais se opocircs aos interesses dos portugueses estabelecidos em Malaca Fundado por um descendente do rei de Pedir transformou-se num reino poderoso que conquistou vaacuterias terras na ilha de Samatra e ao qual outros reinos pagavam tributo Ver GARCIA Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII pp 198-200

61 Este confronto com o reino de Acheacutem eacute tambeacutem narrado por Damiatildeo de Goacuteis e Fernatildeo Lopes de Castanheda Ver GOacuteIS Chronica IV Cap LXVII pp 566-567 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento V Cap LXV pp 107-109

62 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p546 Fernatildeo Lopes de Castanheda ainda que natildeo refira Cristoacutevatildeo revela que ldquocomo os nauios natildeo tinhatildeo capitatildees ouue alguns que se quiseram levantar coeles amp irse a diversas partes a fazer presasrdquo CASTA-NHEDA Histoacuteria do Descobrimento pp 107-110

63 Com efeito com a chegada de Antoacutenio de Brito foi apresentada uma provisatildeo de D Manuel I que o nomeava capitatildeo daquela armada em caso de falecimento de Jorge de Brito

64 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 548

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203178

Fernando Pessanha

vo consistia na recolha de pimenta que se produzia na regiatildeo65 Foi nes-se sentido que Jorge de Albuquerque determinou que todos os capitatildees que se encontravam em Paceacutem ali permanecessem em ldquofavor daquela fortaleza em quanto ella natildeo estava em estado pera se poder defenderrdquo66

Vemos deste modo que a expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo rumo agrave Ilha do Ouro foi interrompida em funccedilatildeo da necessidade que os portugueses sentiram em se fortificarem naquele ponto da ilha de Samatra Aliaacutes eacute o proacuteprio cronista a referir que a presenccedila de Cristoacutevatildeo e dos outros ca-pitatildees foi providencial para que a fortaleza se pudesse construir jaacute que os adversaacuterios os atacavam de forma sistemaacutetica Num desses ataques Melique Ladil um mouro que reivindicava para si o reino de Paceacutem aproximou-se da fortaleza com treze lancharas67 atrevendo-se a deitar fogo agrave fortificaccedilatildeo Foi entatildeo que Cristoacutevatildeo e os outros capitatildees saiacuteram em sua perseguiccedilatildeo desbaratando o adversaacuterio e confiscando-lhe todas as embarcaccedilotildees para serviccedilo agrave fortaleza Usando as palavras de Manuel de Faria e Sousa ldquoCristoval de Mendoccedila que bien fuerotilde menester para re-sistir y humillar despues a un orgulloso Moro que com algunos baxeles de remo infectava aquella marinardquo68 Finalmente terminada a empreitada Cristoacutevatildeo de Mendonccedila voltou a partir para Malaca69

Tal como Diogo Pacheco eacute possiacutevel que o navegador portuguecircs tenha contornado Samatra antes de partir para Malaca De acordo com Luiacutes Filipe Thomaz eacute provaacutevel que o navegador durante a viagem tenha descoberto uma ilha que deve ter tomado pela Ilha do Ouro ainda que constatado o erro a tenha baptizado com o nome que ainda hoje tem Ilha do Engano Seja como for temos notiacutecia de que a armada jaacute se en-contrava em Malaca em finais de 1521 onde a caravela Santa Maria do Rosaacuterio recebeu mantimentos em 10 de Dezembro para poder seguir

65 Esta fortaleza foi concebida para proteger uma feitoria cujo principal objectivo con-sistia na recolha da pimenta Poreacutem este enclave veio a revelar-se de difiacutecil manuten-ccedilatildeo devido aos ataques de que era alvo parte dos habitantes de Acheacutem Os portugue-ses acabariam por abandonar a fortaleza em Maio de 1523 natildeo tendo ficado qualquer testemunho iconograacutefico deste efeacutemero estabelecimento Castanheda poreacutem refere tratar-se de uma fortaleza ldquofeyta em breue tempo tempo com muros baluartes amp torres de madeyra amp cercada de caua () amp muyto bem artilhadardquo Ver CASTANHEDA Histoacute-ria do Descobrimento V Cap LXIIII pp 106-107 Damiatildeo de Goacuteis explica a conjun-tura poliacutetico-militar que levou agrave construccedilatildeo desta fortaleza Ver GOacuteIS Chronica IV Cap LXVI pp 564-566

66 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 548 67 Navios de remos entatildeo usados naquela zona do Oriente 68 SOUSA Asia Tomo I Pt III Cap V p 20269 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 549

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 179

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

para Paceacutem enquanto a nau Satildeo Cristoacutevatildeo apenas os recebeu em 10 de Janeiro de 1522 para depois seguir para Ormuz70 Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila natildeo teraacute tido tempo suficiente para chegar agrave Ilha do Ouro nesse ano de 1521 Pelo menos eacute o que podemos depreen-der quando Joatildeo de Barros refere a permanecircncia de Cristoacutevatildeo em Men-donccedila no auxiacutelio agrave construccedilatildeo da fortaleza de Paceacutem

Natildeo encontramos portanto elementos nas Deacutecadas da Aacutesia que nos permitam afirmar que este navegador portuguecircs teraacute prosseguido via-gem para o sul de Samatra e encontrado a miacutetica Ilha do Ouro identi-ficada com a Austraacutelia Ainda assim tecircm sido vaacuterios os historiadores nomeadamente Armando Cortesatildeo a defenderem natildeo haver motivo para se duvidar de que Cristoacutevatildeo teraacute seguido com a exploraccedilatildeo de que fora incumbido no ano seguinte aproveitando a monccedilatildeo do princiacutepio de 1522 Note-se que o proacuteprio Luiacutes de Albuquerque ainda que aves-so a esta teoria natildeo deixa de estranhar o facto de as Deacutecadas da Aacutesia natildeo referirem quais os serviccedilos especiais prestados por Mendonccedila que justifiquem a sua nomeaccedilatildeo para a rentaacutevel e apeteciacutevel capitania de Ormuz71 ldquotam viccediloacutesa e abastaacuteda q dizem os moradores della q o Mundo eacute hu aneacutel e Ormuz hua pedra precioacutesa engastaacuteda nellerdquo72 Como a seguir veremos a nomeaccedilatildeo para a capitania de Ormuz natildeo foi a uacutenica benesse com que o navegador foi agraciado apoacutes o seu regresso ao reino

52 A viagem de regresso ao reino

Segundo Trickett nada se sabe sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila nos seis anos posteriores agrave expediccedilatildeo que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro73 Como veremos esta ideia natildeo corresponde agrave realidade Sabe-se por exemplo que depois de o navegador ter estado em Ormuz e na Iacutendia regressou a Portugal em 1524 tendo-se detido em Marccedilo ou Maio desse ano na aguada de Saldanha na actual Aacutefrica do Sul tal como ficou atestado numa inscriccedilatildeo que aiacute foi encontrada

Com efeito decorria o ano de 1989 quando foi identificada uma ins-criccedilatildeo portuguesa em Golden Acre no sopeacute de Adderley Street na Cida-de do Cabo Desta inscriccedilatildeo fracturada sobreviveu um fragmento com 25

70 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 7671 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal p 25872 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada II II Cap II p 48 73 Cf TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio p 87

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203180

Fernando Pessanha

cm de largura por 10 cm de altura que foi recolhido pelo South African Museum Na altura um arqueoacutelogo do South African Museum pensou tratar-se de inscriccedilatildeo funeraacuteria de D Lourenccedilo de Almeida um navega-dor portuguecircs que numa viagem de regresso ao reino desembarcou na Baiacutea do Saldanha em Dezembro de 1509 de modo a castigar uns indiacutege-nas Poreacutem acabou por falecer nesse recontro juntamente com muitos outros elementos da sua tripulaccedilatildeo o que levou o referido arqueoacutelogo a interpretar o achado como uma inscriccedilatildeo funeraacuteria

Entretanto em Janeiro de 1990 o Prof Eric Axelon comunicou agrave Comissatildeo Nacional para as Comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portu-gueses a descoberta da inscriccedilatildeo Axelon adiantava poder tratar-se de um artefacto representativo da passagem de Duarte de Meneses pela Cidade do Cabo em 1524 Poreacutem a leitura e interpretaccedilatildeo de Maacuterio Jorge Barroca assistente de Arqueologia Medieval da Universidade do Porto veio a invalidar as suposiccedilotildees de Axelon e do arqueoacutelogo do South African Museum De acordo com Maacuterio Jorge Barroca este do-cumento epigraacutefico refere-se a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ainda que o estado de conservaccedilatildeo desta inscriccedilatildeo dificulte a interpretaccedilatildeo do seu conteuacutedo74 Luiacutes Filipe Thomaz que tambeacutem abordou esta inscriccedilatildeo faz uma leitura ligeiramente diferente mas que concorda quanto ao essencial do conteuacutedo75 De resto eacute interessante notar que para aleacutem dos supra citados autores apenas encontraacutemos referecircncias a este do-cumento epigraacutefico em Luiacutes de Albuquerque76 Antoacutenio Pereira Cardo-so77 e Joseacute Manuel Garcia78

De modo geral a inscriccedilatildeo identificada na Cidade do Cabo vem de-monstrar efectivamente que Cristoacutevatildeo empreendeu a viagem de re-gresso ao reino em 1524 sendo provaacutevel que tenha partido de Cochim logo no iniacutecio do ano Sabemos que se encontrava no sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio No entanto e ainda que esta epiacutegrafe se apresente como um elemento de grande interesse para a reconstituiccedilatildeo do percurso de Cristoacutevatildeo continuamos sem saber o que teraacute feito e por onde teraacute nave-gado entre os iniacutecios de 1522 quando recebeu mantimentos para seguir

74 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo pp 17-1875 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 7976 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-

tos Vol II pp 727-72877 CARDOSO A provaacutevel viagem pp10-1978 GARCIA O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash

1555 Nordm 8 p 98

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 181

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

para Ormuz e os iniacutecios de 1524 quando partiu da Iacutendia para regressar a Portugal Teraacute ele permanecido todo esse tempo em Ormuz Ou teraacute dado continuidade agraves exploraccedilotildees que lhe tinham sido incumbidas pelo governador Diogo Lopes de Sequeira

6 Rendas mercecircs e distinccedilotildees

61 Tenccedilas recebidas

Referimos haacute pouco natildeo ser correcta a ideia de nada se saber sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila nos seis anos posteriores agrave expediccedilatildeo que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro De facto para aleacutem da inscri-ccedilatildeo encontrada na Cidade do Cabo e que atesta a passagem de Mendon-ccedila pelo sul de Aacutefrica tambeacutem existem alguns documentos acondiciona-dos no Arquivo Nacional da Torre do Tombo que revelam informaccedilotildees interessantes para o periacuteodo correspondente agrave sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e 1527 Satildeo exactamente esses documentos que nos datildeo conta das rendas mercecircs e distinccedilotildees com que este navegador foi agraciado

Sabemos que em 4 de Julho de 1526 por exemplo D Joatildeo III mandou o almoxarife de Aveiro dar a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ldquofidalgo da sua casardquo 50000 reacuteis de tenccedila que ficaria assentada na alfacircndega da cidade de Lisboa79 Seria esta uma tenccedila generosa A resposta a esta questatildeo le-vou-nos a comparar este valor com as tenccedilas auferidas pelos seus fami-liares e por outros navegadores seus contemporacircneos Foi nesse sentido que constataacutemos que o ceacutelebre navegador e cosmoacutegrafo Duarte Pacheco Pereira depois de inuacutemeros serviccedilos prestados agrave Coroa recebeu uma tenccedila anual de 50000 reais nesse mesmo ano de 152680 Tristatildeo da Cu-nha ceacutelebre navegador e comandante naval portuguecircs nomeado por D Manuel para primeiro governador da Iacutendia em 150581 e pai de Nuno da Cunha Governador da Iacutendia entre 1528 e 153882 recebeu 40000 reacuteis

79 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57 80 JB de C ldquoPereira Duarte Pachecordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol V pp 52-

54 COSME ldquoOs homens de ciecircnciardquo pp 91-9781 E S ldquoCunha Tristatildeo da (1460-1540)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol II p 260

Sobre Tristatildeo da Cunha veja-se tambeacutem CARVALHO ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Manuelinardquo pp 199-226

82 E S ldquoCunha Nuno da (1487-1539)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol II pp 258-259 Sobre Nuno da Cunha veja-se tambeacutem CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538)

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203182

Fernando Pessanha

de tenccedila no mesmo ano de 152683 Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo rece-beu uma tenccedila generosa ao voltar ao reino Talvez Note-se que o pai de Cristoacutevatildeo Diogo de Mendonccedila alcaide-mor de Mouratildeo recebia os mesmos 50000 reacuteis de tenccedila em 150184 e em 151485 valor que o irmatildeo de Cristoacutevatildeo Pedro de Mendonccedila passou a auferir ao herdar a alcaidaria de Mouratildeo em 151786

Para aleacutem dos 50000 reacuteis de tenccedila eacute o proacuteprio Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila a mandar Jacome Bentes receber de Joatildeo de Azambuja 200000 reacuteis em virtude da outra procuraccedilatildeo que o dito Mendonccedila tinha feito para receber dos almoxarifes de Setuacutebal Aveiro e Coimbra87 Refira-se a este respeito que ainda no mesmo ano ordenou D Joatildeo III que o almoxari-fe de Aveiro pagasse ao jaacute referido Tristatildeo da Cunha 100000 reacuteis para pagamento de 250000 reacuteis da sua tenccedila88 ou que Vasco da Gama ao re-gressar ao reino depois de descobrir o caminho mariacutetimo para a Iacutendia recebeu uma renda de 300000 reacuteis89 Vemos deste modo que os rendi-mentos auferidos por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aquando do seu regresso ao reino natildeo foram propriamente modestos quando comparados com os do primeiro governador da Iacutendia ou com os do navegador e cosmoacute-grafo Duarte Pacheco Pereira

Por fim surge-nos um documento datado de 13 de Abril de 1527 e que tem por tiacutetulo Estabelecimento que Fernando Rodrigues como procu-rador de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila fidalgo da Casa do Rei fez em Fernando Gomes para cobrar todas as tenccedilas e moradias do seu dito constituinte90 Repare-se que de acordo com Joatildeo de Barros Cristoacutevatildeo de Mendonccedila voltou a partir para o Oriente em Marccedilo de 1527 Vemos portanto que o referido documento eacute ligeiramente posterior agrave partida do navegador e que este deixou instruccedilotildees ao seu procurador para que algueacutem cobrasse todas as suas tenccedilas e moradias De resto a alusatildeo agraves ldquotenccedilas e moradi-

83 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 135 Nordm4584 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 13 fl60 ANTT Chancelaria de D Manuel I

liv 8 fl29v85 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 53 Nordm18286 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 10 fl53 Repare-se que a partir de 1523 Pe-

dro de Mendonccedila passou a receber apenas 30000 reacuteis ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 109 Nordm131 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 131 Nordm226

87 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 136 Nordm10288 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 135 Nordm4989 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 4 fl 37 COSME ldquoOs Navegadores ndash Vasco da

Gamardquo p 14990 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 141 Nordm91

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 183

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

asrdquo vem reforccedilar a ideia de que os serviccedilos prestados por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente foram bem recompensados pelo monarca portu-guecircs Resta-nos perceber que serviccedilos teratildeo justificado estas recompen-sas assim como aquelas a que de seguida aludiremos

62 A capitania de Ormuz

Para aleacutem dos rendimentos atraacutes referidos os serviccedilos prestados por Mendonccedila foram igualmente agraciados com a nomeaccedilatildeo para a ren-taacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz para onde partiu em Marccedilo de 152791 Natildeo deixa de ser interessante a alusatildeo que cronistas como Joatildeo de Barros ou Frei Luiacutes de Sousa fazem aos Braganccedilas no momento em que referem esta nova partida de Cristoacutevatildeo para a Iacutendia Com efeito eacute possiacutevel que o duque de Braganccedila jaacute tivesse ligaccedilotildees aos Mendon-ccedilas ainda que o casamento de D Jaime com D Joana de Mendonccedila soacute se tenha realizado em 1520 Teresa Lacerda levanta a hipoacutetese de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ter sido indigitado para o Conselho Reacutegio por influecircncia do duque de Braganccedila do mesmo modo como foi nomea-do para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 e para capitatildeo de Ormuz em 152792 De facto natildeo eacute impossiacutevel No entanto somos da opiniatildeo de que natildeo seraacute apenas D Joana a estar na origem de uma eventual ligaccedilatildeo de D Jaime aos Mendonccedilas como tambeacutem a participaccedilatildeo do seu pai ldquoDiogo de mendonccedila alcaide mor de Mouratildeordquo e de ldquoPero de Mendonccedila seu filhordquo na conquista de Azamor comandada pelo proacuteprio duque em 151393

De facto natildeo sabemos se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teraacute sido indigitado para o Conselho Reacutegio para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquer-que de 1519 ou para a capitania de Ormuz por influecircncia do duque de Braganccedila Seja como for parece-nos que o contexto social e familiar de Cristoacutevatildeo teraacute pesado no momento em que o monarca procedeu a tais nomeaccedilotildees Basta recordarmos que Afonso Furtado bisavocirc de Cristoacute-vatildeo tinha sido nomeado capitatildeo do mar por D Joatildeo I em 138594 Afonso

91 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada IV II Cap III p 73 Ver tambeacutem CORREIA Lendas Vol III Pt I Cap XVI p 182 SOUSA Anais Vol II IV Cap I p 1 SOUSA Asia Tomo I Pt IV Cap II p 256

92 LACERDA Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social p 112 nota 375

93 GOacuteIS Chronica III Cap XLVI p 367 GAYO Nobiliaacuterio p 5394 FREIRE Brasotildees Vol III pp 170-171

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203184

Fernando Pessanha

Furtado de Mendonccedila avocirc de Cristoacutevatildeo para aleacutem de capitatildeo-mor do mar95 aparece referido como escrivatildeo da feitoria de Sofala96 Pedro de Mendonccedila tio de Cristoacutevatildeo tinha comandado uma nau numa frota de 12 navios que em 1504 partiu para a Iacutendia para garantir a seguranccedila das rotas comerciais do oceano Iacutendico e controlar o governante hostil de Calecut97 Natildeo se pode portanto considerar que os Mendonccedilas seri-am marginais ao projecto de expansatildeo ultramarina quando Cristoacutevatildeo aparece nomeado para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 ou para a capitania de Ormuz que deteve entre 1527 e 1531 ou 1532 ano da sua morte

Chegando a este ponto vale a pena determo-nos brevemente de modo a compreendermos o que era Ormuz e o que representava esta capitania no contexto do Impeacuterio Portuguecircs no Oriente Antes de mais conveacutem recordarmos que Ormuz era um importantiacutessimo entreposto mercantil em virtude da sua privilegiada localizaccedilatildeo geograacutefica na en-trada do Golfo Peacutersico Com efeito com a segunda conquista de Ormuz por Afonso de Albuquerque em 1515 e a consequente imposiccedilatildeo de um protectorado a Coroa portuguesa passou a arrecadar uma parcela con-sideraacutevel das receitas aduaneiras da proacutespera ilha transformando-se Ormuz no epicentro das actividades portuguesas no Golfo Peacutersico e no mar da Araacutebia A acreditar-se nas fontes quinhentistas era tal o movi-mento e a intensidade no porto de Ormuz que natildeo era invulgar ali en-contrar mais de 200 navios carregados de mercadorias De entre as mais importantes mercadorias que passavam pela cidade destacavam-se os cavalos oriundos da Araacutebia e da Peacutersia com destino aos portos da cos-ta ocidental da Iacutendia de onde eram encaminhados para os potentados indianos entre os quais grassavam guerras endeacutemicas Mas outros pro-dutos aacuterabes e persas faziam a riqueza da esteacuteril ilha de Djarucircn como as alcatifas aacuterabes as peacuterolas de Bahareacutem os tapetes a seda e a prata da Peacutersia o salitre e o enxofre da proacutepria ilha ao lado de mercadorias menos nobres como os frutos secos ou os cereais Dadas as circunstacircn-cias natildeo seraacute de estranhar que ao longo de todo o seacutec XVI a alfacircndega de Ormuz se tenha destacado como a mais rentaacutevel de todo o Estado da Iacutendia logo a seguir agrave de Goa Por outras palavras a cidade gerava

95 FARIA Livro de Linhagens p 27296 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada I Pt I V Cap III97 MALDONADO Relaccedilatildeo das Naos e Armadas da Iacutendia p 16 ANTT Corpo Cronoloacutegi-

co Pt II maccedilo 9 Nordm 35

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 185

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

um volume de receitas tatildeo consideraacutevel que a capitania de Ormuz aca-bou por se transformar numa das mais apetecidas de todo o Impeacuterio no Oriente Vemos deste modo que a atribuiccedilatildeo desta capitania natildeo soacute era motivo de prestiacutegio para o capitatildeo nomeado como tambeacutem fonte de grande riqueza98

Natildeo podemos deixar de notar que as Deacutecadas da Aacutesia ao referir-se agrave nomeaccedilatildeo de Mendonccedila para a capitania de Ormuz natildeo refere quais-quer serviccedilos especiais que justifiquem a atribuiccedilatildeo de tal benesse Ar-mando Cortesatildeo que levantou a hipoacutetese de ter sido Mendonccedila o pri-meiro europeu a chegar agrave Austraacutelia foi um dos investigadores a sugerir que esta nomeaccedilatildeo se devesse aos serviccedilos prestados pelo navegador99 Poreacutem e tal como temos afirmado ao longo deste trabalho natildeo existe qualquer documento que assegure o ecircxito de Mendonccedila relativamente agrave viagem que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro Omis-satildeo que segundo Jaime Cortesatildeo foi consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo entatildeo vigente Luiacutes de Albuquerque ainda que contraacuterio agrave teoria da descoberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que ldquodeve a sua celebridade a uma expediccedilatildeo que natildeo fezrdquo100 estranha no entanto o facto de Diogo do Couto natildeo mencionar os serviccedilos especiais que estiveram na origem da nomeaccedilatildeo do navegador para a capitania de Ormuz101 Esta distinccedilatildeo torna-se ainda mais suspeita se tivermos em consideraccedilatildeo que uma nomeaccedilatildeo desta natureza implicaria em meacutedia 10 anos de serviccedilos no Oriente102 durante os quais era acumu-lada a experiecircncia necessaacuteria para o desempenho de uma capitania Como vimos natildeo foi esse o caso de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Aliaacutes as nomeaccedilotildees para as capitanias mais importantes e lucrativas como Or-muz Goa ou Malaca natildeo soacute eram atribuiacutedas em reconhecimento pelos vaacuterios anos de serviccedilo no Oriente como tambeacutem recaiacuteam tendencial-mente sobre nobres com uma maior presenccedila na corte o que tambeacutem

98 LOUREIRO ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 pp 749-797 JPC ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 833-836

99 CORTESAcircO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158100 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo p 727101 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol IV

p 258102 Andreia Martins de Carvalho determinou os anos de serviccedilo de fidalgos no Oriente

antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania entre 1518 e 1544 CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 211 Foi nesse sentido que tendo em conta a infor-maccedilatildeo disponiacutevel sobre o percurso de 37 fidalgos estabelecemos a meacutedia de anos relativos a serviccedilos no Oriente antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203186

Fernando Pessanha

natildeo era o caso de Mendonccedila Ora se o navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro como explicar tatildeo generoso honroso e rentaacutevel reconhecimento Isto claro para aleacutem das compensaccedilotildees econoacutemicas atraacutes referidas e da entrega da comenda da Ordem de Cris-to que de seguida abordaremos De resto a capitania de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ficou marcada por episoacutedios dignos de registo como o au-xiacutelio prestado agrave frota de Simatildeo da Cunha assolada por uma epidemia contraiacuteda na campanha contra a ilha de Bahareacutem103 Refira-se aliaacutes que foi sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que recaiu a responsabilidade de escolher um agente para realizar a ceacutelebre missatildeo de espionagem que constituiu a viagem por terra de Ormuz a Portugal protagonizada por Antoacutenio Tenreiro entre Setembro de 1528 e Maio de 1529 - viagem cuja narrativa constitui um notaacutevel documento histoacuterico de natureza geograacutefica religiosa e antropoloacutegica104

63 A comenda da vila de Arenilha

Tal como anteriormente referimos deparaacutemo-nos com dois documen-tos que chamaram a nossa atenccedilatildeo aquando da investigaccedilatildeo para o ar-tigo ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo Trata-se de duas cartas em que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece referido como comendador da vila de Arenilha O primeiro documento data de 29 de Dezembro de 1529 e tem por tiacutetulo Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bregantim missiva em que o comendador de Arenilha culpa o marquecircs de Ayamonte pelos danos causados nas barcas dos habitantes da vila no-meadamente no referido bergantim chegando mesmo a mandar ldquopagar as barcas e () as perdas que receberam os donos delas e asy o dano que se fez na Arenilhardquo e mandar o marquecircs prender os responsaacuteveis que se encontrem nas suas terras105 Como se pode perceber o tom da missiva natildeo resulta propriamente abonatoacuterio para o nobre espanhol

103 SOUSA Anais Vol II IV Cap XXII p 106104 Como recompensa pelos serviccedilos prestados Antoacutenio Tenreiro recebeu da Coroa em

1533 uma tenccedila anual de 30000 reacuteis e o haacutebito de cavaleiro da Ordem de Cristo Ver TENREIRO amp AFONSO Viagens por terra da Iacutendia a Portugal p 18 RL ldquoTenreiro Antoacuteniordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II p 1023

105 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 Nordm45

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 187

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig1 - Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua

Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do

marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

Fig 1

Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o

marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203188

Fernando Pessanha

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig2 - Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar

creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Arenilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada destinada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila assim como o seu

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesahelliprdquo pp 86-82

Fig 2

Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao

comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Are-nilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada desti-nada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesardquo pp 86-82

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 189

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacute-vatildeo de Mendonccedila assim como o seu percurso como capitatildeo nas armadas da Iacutendia acreditamos encontrar-nos em condiccedilotildees para demonstrarmos que a comenda de Arenilha foi efectivamente atribuiacuteda ao navegador como reconhecimento pelos serviccedilos prestados no Oriente

Com efeito satildeo vaacuterios os indicadores que nos levam a afirmaacute-lo Em primeiro lugar o facto de natildeo se encontrar nas croacutenicas nem nas fontes coevas qualquer referecircncia a um homoacutenimo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a balizagem cronoloacutegica compreendida entre 1514 e 1532 periacuteodo em que aparece referido na documentaccedilatildeo Aliaacutes as da-tas discriminadas nos documentos que o referem como comendador de Arenilha corroboram a ideia de esta comenda ter sido atribuiacuteda aquando do seu regresso ao reino Eacute certo que natildeo sabemos a data em que Cristoacutevatildeo teraacute chegado a Portugal ainda que tenhamos notiacutecia da sua passagem pelo sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio de 1524 durante a viagem de regresso108 Poreacutem as tenccedilas atraacutes mencionadas indicam que se encontrava no reino em 1526 Uma vez que os documentos que o referem como comendador da vila da foz do Guadiana remontam a Dezembro de 1529 e Maio de 1530 anos em que o navegador jaacute se encontrava no Oriente eacute de supor que D Joatildeo III lhe teraacute atribuiacutedo a comenda aquando da sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e Marccedilo de 1527 ano em que voltou a partir para a Iacutendia jaacute na qualida-de de capitatildeo de Ormuz

Uma vez que natildeo se verificam homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila para a balizagem cronoloacutegica atraacutes referida e que as datas dos docu-mentos que o referem como comendador de Arenilha satildeo ligeiramente posteriores ao seu regresso ao reino resta-nos determinar se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila reunia as condiccedilotildees necessaacuterias para ser agraciado com uma comenda desta natureza Antes de mais importa referir que a vila de Arenilha e de Castro Marim eram as duas uacutenicas comendas da Ordem de Cristo no Algarve Curiosamente Isabel L Morgado de Sousa e Silva natildeo refere a comenda de Arenilha na dissertaccedilatildeo para doutoramento

108 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo Oceanos Nordm4 pp 17-18 ALBU-QUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 727-728 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 79

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203190

Fernando Pessanha

A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521)109 Poreacutem o documento publicado por Hugo Cavaco natildeo deixa margem para duacutevidas

ldquoNo Bispado do Algarve haacute somente duas Commendas da Ordem (de

Cristo) que satildeo das antigas e as seguintes

A Commenda e Alcaideria-moacuter de Castro Marim avaliou-se em quatro-

centos e cinquenta mil reacuteis no anno de 1608

A Commenda da Alcaideria-mograver de Santo Antonio de Arenilha que estaacute

junto a Castro Marim em cento e trinta mil reacuteis no anno de 1608

No Bispado do Algarve natildeo haacute nenhuma Commenda desta Ordem mais

que as duas velhas que valem quinhentos e oitenta mil reacuteis como se vecirc

da somma adianterdquo110

Aliaacutes soacute o facto de Arenilha ser comenda da Ordem de Cristo poderaacute explicar que o senhorio da vila tenha sido atribuiacutedo exclusivamente a cavaleiros da miliacutecia ao longo de toda a centuacuteria quinhentista111

Naturalmente que estas comendas implicavam desde logo a existecircn-cia de comendadores sobre os quais recaiacutea o senhorio das ditas vilas o que era compreendido como motivo de honra e de prestiacutegio social numa sociedade ainda bastante influenciada pelas antigas tradiccedilotildees medievo-feudais Comendas refira-se que compreendiam o direito agrave administra-ccedilatildeo da localidade e conferiam uma renda para sustentaccedilatildeo do comenda-dor beneficiaacuterio configurando um recurso para os encargos da proacutepria comenda No entanto a atribuiccedilatildeo de uma comenda representava um benefiacutecio atribuiacutedo a cavaleiros professos nas ordens militares como re-compensa por serviccedilos prestados Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Men-donccedila soacute poderia ser agraciado com a comenda de Arenilha caso tivesse sido investido na Ordem de Cristo Foi nesse sentido que procuraacutemos determinar se este navegador professou nesta Ordem Militar

Com efeito a dissertaccedilatildeo Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) de Joatildeo Maria Falcatildeo Pestana de Vascon-celos natildeo faz qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila enquanto cavaleiro da Ordem de Cristo Refere no entanto o seu avocirc Afonso Fur-

109 SILVA A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta110 Documento VIII BNLMicroformas F5040 Documento publicado por CAVACO Revisi-

tando p 52111 Cf PESSANHA Os 500 anos pp 57-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 191

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

tado de Mendonccedila comendador de Cardiga da Ordem de Cristo112 a sua irmatilde Margarida de Mendonccedila enquanto mulher de um comendador da mesma Ordem e o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo que recebeu o haacutebito da miliacutecia em 16 de Abril de 1514113 Ain-da que a referida dissertaccedilatildeo natildeo faccedila qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo enquanto membro desta Ordem vem demonstrar a ligaccedilatildeo de alguns dos seus familiares agrave mesma natildeo soacute na qualidade de cavaleiros como tambeacutem de comendadores

Poreacutem Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social de Teresa Lacerda assim como a jaacute referida tese A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) de Isabel L Morgado de Sousa e Silva jaacute identificam efectivamente Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como frei cavaleiro desta Ordem114 De acordo com a obra consultada Cavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVI Cristoacutevatildeo de Mendonccedila recebeu efectivamente o haacutebito da Ordem de Cristo em 16 de Abril de 1514115 exactamente na mesma data em que o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila tambeacutem foi in-vestido116 De resto o facto de Cristoacutevatildeo aparecer referido como mem-bro da miliacutecia numa provisatildeo em que D Joatildeo III manda o almoxarife de Aveiro pagar ldquoa Cristoacutevatildeo de Mendonccedila sua tenccedila deste ano 50000 reacuteis assentada na alfacircndega de Lisboa com o haacutebito de Cristordquo117 vem dissipar qualquer duacutevida que ainda subsistisse

Note-se que identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como cavaleiro da Ordem de Cristo natildeo pudemos deixar de reparar no silecircncio dos cronistas no momento de identificar os intervenientes no processo ex-pansionista com as suas respectivas filiaccedilotildees nas Ordens Militares De facto quer Joatildeo de Barros quer os cronistas que lhe sucederam natildeo fazem qualquer referecircncia agrave filiaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo em qualquer Ordem tal como de acordo com o que constataacutemos raramente o fazem em relaccedilatildeo a outros cavaleiros Esta evidecircncia pode parecer ainda mais estranha se tivermos em consideraccedilatildeo o forte envolvimento da Ordem

112 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Vol I p 377 FARIA Livro de Linhagens p 275

113 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares p 392 114 LACERDA Os Capitatildees das Armadas pp 120 e 228 SILVA A Ordem de Cristo p 336

SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma perspectiva de estudordquo apecircndice

115 FARIA ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo p 21116 FARIA ldquoCavaleirosrdquo p 21 Ver tambeacutem SILVA A Ordem de Cristo p 330117 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203192

Fernando Pessanha

de Cristo na Histoacuteria da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses Ordem Militar sublinhe-se que teve como governadores figuras in-contornaacuteveis da famiacutelia real como o infante D Henrique o infante D Fernando o rei D Manuel ou o rei D Joatildeo III118 Poreacutem haacute que ter em consideraccedilatildeo que documentos como Memoacuteria das Armadas ou o Livro de Lisuarte de Abreu natildeo satildeo fontes sobre qualquer uma das Ordens razatildeo pela qual se torna compreensiacutevel a ausecircncia de referecircncias mais completas relativamente aos intervenientes no processo de expansatildeo Aliaacutes a intenccedilatildeo subjacente agrave produccedilatildeo de obras como Histoacuteria do Des-cobrimento e da Conquista da Iacutendia natildeo passa por apresentar informa-ccedilatildeo detalhada sobre as individualidades que participaram no processo expansionista mas antes destacar o protagonismo reacutegio em todo este processo119

Por fim natildeo se verificando homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a cronologia abordada coincidindo as datas que o referem como comendador de Arenilha e identificado este navegador como cavalei-ro da Ordem de Cristo resta-nos perceber por que motivo lhe teraacute sido entregue a comenda desta vila na foz do Guadiana Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo que a fundaccedilatildeo de Are-nilha prende-se com a afirmaccedilatildeo da soberania poliacutetica e administra-tiva de D Manuel sobre um territoacuterio frequentado por castelhanos Eacute exactamente nesse contexto que em 1421 Castro Marim justificava o pedido de isenccedilatildeo de alguns encargos pelos ldquoconstantes trabalhos que os moradores tinham com os castelhanos que insistiam em vir pescar ao reinordquo120 Quer isto dizer que os castelhanos vinham pescar para as margens portuguesas natildeo pagando os devidos impostos agrave Coroa Aliaacutes a existecircncia do topoacutenimo de origem castelhana Arenilha121 ainda antes da elaboraccedilatildeo da Carta de Privileacutegio que manda proceder agrave construccedilatildeo

118 FONSECA ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo pp 321-347 Ver tambeacutem SILVA A Or-dem de Cristo pp 43-110

119 Cf SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristordquo pp 349-361120 VENTURA ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo p 608

ANTT Chancelaria de D Afonso V liv 2 fl30121 De acordo com o dicionaacuterio da Real Academia Espantildeola ldquoarenillardquo apresenta-se como

sinoacutenimo de ldquoarena menudardquo Ver Dicionario de la Real Academia Espantildeola Disponiacutevel em httplemaraeesdraeval=arenilla ndash Consultado dia 10 de Setembro de 2013 Note-se que quando em 1775 se pretendeu baptizar a nova vila iluminista com o nome de Vila Real de Santo Antoacutenio de Arenilha prontamente o Marquecircs de Pombal proibiu a utilizaccedilatildeo do nome ldquoArenilhardquo alegando que ldquoeacute uma palavra hespanhola e Villa Real uma povoaccedilatildeo portuguesardquo Ver OLIVEIRA Monografia p 71

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 193

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

da vila122 indica a ocupaccedilatildeo daquele areal na margem portuguesa da foz do Guadiana por populaccedilotildees de pescadores de origem castelhana Dadas as circunstacircncias seria do interesse estrateacutegico do monarca que esta comenda recaiacutesse sobre algueacutem experimentado na guarda da fronteira e que fizesse cumprir o pagamento dos devidos direitos aduaneiros Re-corde-se que Arenilha para aleacutem de comenda da Ordem de Cristo era uma vila de fronteira situada na margem portuguesa do Guadiana tal como o era a vila de Mouratildeo de onde Cristoacutevatildeo de Mendonccedila era natu-ral Como anteriormente referimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Men-donccedila o fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo que foi nomeado em 1476 alcaide-mor de Mouratildeo123 uma vila fortificada do Alentejo que guarda-va a fronteira portuguesa frente a Espanha O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas mostra-nos o castelo de Mouratildeo onde Cristoacutevatildeo teraacute crescido localizado no cimo de uma colina sobranceiro ao Guadiana124 Quer isto dizer que o ceacutelebre navegador era descendente de uma famiacutelia experimentada na guarda da fronteira face ao reino vizinho e familia-rizado com as actividades militares tributaacuterias e administrativas que lhe eram inerentes125 Assim sendo esta condiccedilatildeo de fronteiro a juntar ao facto de Cristoacutevatildeo ser cavaleiro da Ordem de Cristo teraacute resultado altamente pertinente no momento em que D Joatildeo III decidiu atribuir a comenda de Arenilha a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como recompensa pelos serviccedilos prestados

Por fim mas natildeo menos relevante teraacute sido a experiecircncia naval e militar adquirida por Mendonccedila nos mares do Oriente e direccionada para a foz do Guadiana sistematicamente ameaccedilada pelos ataques da pi-rataria magrebina126 Recorde-se que Mendonccedila no decurso das suas na-vegaccedilotildees na australaacutesia viu-se na necessidade de defender posiccedilotildees por-

122 O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas produzido por volta de 1509 jaacute indicava o topoacutenimo que veio a ser oficializado com a Carta de Privileacutegio de 12 de Fevereiro de 1513 Ver ARMAS O Livro das Fortalezas fl 1

123 FREIRE Brasotildees Vol III p 173124 ANTT Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Livro das Fortalezas si-

tuadas no Extremo de Portugal e Castela por Duarte de Armas escudeiro da Casa do Rei D Manuel I Nordm 159 fls 13-14 ARMAS O Livro das Fortalezas fls 13-14

125 Refira-se que foi durante o periacuteodo em que o pai de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila deteve a alcaidaria de Mouratildeo que o rei D Manuel obteve dos povos nas cortes de Lisboa de 1502 uma vultosa contribuiccedilatildeo que fez com que o castelo da vila fosse intervenciona-do por dois importantes arquitectos reacutegios os irmatildeos Francisco e Diogo de Arruda os mestres das obras reacutegias da comarca de entre o Tejo e o Guadiana Ver FARIA ldquoForti-ficaccedilotildees de Portugal na fronteira da Estremadura espanholardquo p 161

126 Sobre este assunto veja-se PESSANHA ldquoAtaques da piratariardquo pp 63-94

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203194

Fernando Pessanha

tuguesas dando combate aos adversaacuterios Recordemos a este respeito o ataque movido por Melique Ladil agrave fortaleza de Paceacutem entatildeo guardada por Mendonccedila e a maneira como o ldquomourordquo foi desbaratado e despo-jado das treze embarcaccedilotildees usadas no assalto127 Dadas as circunstacircnci-as seria um desperdiacutecio natildeo se aproveitar a experiecircncia deste capitatildeo numa altura em que se verificava um incremento da actividade piraacutetica nas costas do Algarve Esta actividade da pirataria na foz do Guadiana eacute aliaacutes referida por Bernardo Rodrigues em vaacuterias ocasiotildees nomeada-mente aquando da estadia da condessa de Redondo na vila de Arenilha em 1522128 ou quando Vasco Fernandes Ceacutesar - antigo adaiacutel de Azamor e capitatildeo da Armada do Estreito129 - foi incumbido embarcar o conde do Redondo D Joatildeo Coutinho na vila de Arenilha e escoltaacute-lo a Arzila130 Refira-se que a caminho da foz do Guadiana o navio de Vasco Fernan-des Ceacutesar foi atacado por duas naus tendo-se seguido um combate naval que resultou na explosatildeo de parte da alcaacuteccedilova atirando cinco homens ao mar entre os quais Vasco Fernandes que ficou gravemente ferido131

Vemos deste modo que a entrega da comenda de Arenilha a um in-diviacuteduo como Cristoacutevatildeo de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo descendente de uma famiacutelia de fronteiros e navegador experimentado no combate naval natildeo soacute era altamente pertinente como simboacutelica e manifestamente estrateacutegica para a defesa do extremo sudeste algarvio e da foz do Guadiana onde Mendonccedila deveria actuar com autoridade se-nhorial usufruindo dos seus bens e rendimentos E no caso da comenda de Arenilha Seriam generosos os seus rendimentos Sem duacutevida Se assim natildeo fosse o rei D Duarte natildeo teria doado ao infante D Henrique ainda em 25 de Setembro de 1433 a ldquodiacutesima nova de todo o pescado que pescarem quaisquer pessoas no mar do Monte Gordordquo132 Aliaacutes seraacute certa-

127 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III pp548-549128 RODRIGUES Anais de Arzila Tomo I Cap XC p 373129 GOacuteIS Chronica IV Cap LVII p 552 Sobre a Armada do Estreito veja-se GODINHO

ldquoA armada do estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo pp117-137130 RODRIGUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 PESSANHA Subsiacutedios p 100131 Segundo Bernardo Rodrigues os sobreviventes portugueses por pouco natildeo foram

executados Os que sobreviveram ao combate foram aprisionados e levados para Di-eppe Vasco Fernandes apesar de ferido acabou por escapar do cativeiro desfiando uma esteira e escapando por ela da torre onde se encontrava aprisionado RODRI-GUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 Ver tambeacutem PISSARRA ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Armada do Estreitordquo pp 144-145

132 SERRAtildeO Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fundaccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) p 65 OLIVEIRA Monografia p 73

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 195

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

mente o motivo econoacutemico que jaacute em 1555 estaraacute na origem da disputa pelo senhorio de Arenilha entre Jeroacutenimo de Melo fidalgo da Casa Real e alcaide-mor de Castro Marim e Luiacutes Leite frei cavaleiro da Ordem de Cristo e filho de Antoacutenio Leite o anterior alcaide133

Relativamente agrave defesa sabemos que Arenilha natildeo possuiacutea castelo torre ou qualquer fortificaccedilatildeo digna de registo ateacute 1542-1547 periacuteodo em que o alcaide Antoacutenio Leite daacute-nos conta das ldquotramqueyras e repai-rosrdquo construiacutedos sob o seu comando para a populaccedilatildeo se defender dos ataques da pirataria moura134 Ainda assim Mendonccedila estava obrigado a zelar pela defesa da vila independentemente de esta ter ou natildeo for-tificaccedilotildees para a proteger Se tivermos em consideraccedilatildeo que a sua no-meaccedilatildeo como comendador o obrigava agrave realizaccedilatildeo de um inventaacuterio ao patrimoacutenio da comenda (infelizmente desconhecido) e ao dever de fixar residecircncia na sua aacuterea de governo135 eacute muito provaacutevel que Cristoacutevatildeo se tenha detido durante algum tempo na vila da foz do Guadiana algures entre finais de 1524 aquando da sua chegada ao reino136 e Marccedilo de 1527 quando voltou a partir para o Oriente

Como anteriormente referimos os comendadores deviam fixar-se nas suas comendas para melhor procederem agrave sua defesa e melhor ren-tabilizarem as mesmas Assim sendo como eacute possiacutevel que os documen-tos que referem Cristoacutevatildeo como comendador de Arenilha sejam relati-vos aos anos em que este se encontrava na capitania de Ormuz Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo de que a principal obrigaccedilatildeo dos cavaleiros da Ordem de Cristo era a luta contra os inimigos da feacute devendo estar prontos para a guerra sempre que o Mestre os convocasse Uma vez que as situaccedilotildees de guerra eram cons-tantes nos territoacuterios de aleacutem-mar onde a presenccedila dos cavaleiros da Ordem se tornava necessaacuteria natildeo eacute de admirar que estes fossem dispen-sados da exigecircncia que os obrigava a permanecer nas suas comendas137

133 CAVACO Revisitando pp 18-20 PESSANHA Os 500 anos pp 72-73134 Carta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava

atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras e que era necessaacute-rio enviar-lhe socorro ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos p 99 PINTO ldquoIacutendice Analiacuteticordquo p 267

135 Cf SILVA A Ordem de Cristo pp 189-190136 Uma vez que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila se encontrava na Aacutefrica do Sul em Marccedilo ou Maio

de 1524 eacute de supor que a sua chegada ao reino se tenha dado ainda no mesmo ano137 SILVA A Ordem de Cristo p 191

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203196

Fernando Pessanha

Eacute nesse sentido que encontramos Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comen-dador de Arenilha em 1529 e 1530 anos em que jaacute se encontrava como capitatildeo na fortaleza de Ormuz De resto era nesta fortaleza que ainda se encontrava em 1531 ano em que piratas de Larache atacaram a vila da foz do Guadiana ldquoonde fizeacuteratildeo muito dano em navios que tomaacuteratildeo e den-tro da Barra de Aiamonte fizeacuteratildeo despejar a Arrinilha e a Montegordordquo138

7 Conclusatildeo

Com efeito muito se tem escrito (e especulado) sobre a alegada des-coberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila No entanto e indepen-dentemente dos resultados alcanccedilados pelo navegador nesta expediccedilatildeo parece indiscutiacutevel que foi generosamente recompensado aquando do seu regresso ao reino Resta-nos perceber porquecirc Jaacute Armando Cortesatildeo muito antes de Peter Trickett tinha levantado a hipoacutetese de a rentaacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz ter sido entregue a Mendonccedila como re-compensa pelos serviccedilos prestados na expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro139 Natildeo eacute conhecido poreacutem qualquer documento que ateste o ecircxito do navegador nesta expediccedilatildeo Omissatildeo que segundo investigadores como Armando Cortesatildeo Damiatildeo Peres ou Jaime Cortesatildeo teraacute sido consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo determinada pelas limitaccedilotildees de navega-ccedilatildeo estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas e com o contencioso entre Portugal e Espanha pela posse das Molucas140

O certo eacute que Mendonccedila ao regressar ao reino foi agraciado com uma das capitanias mais rentaacuteveis do impeacuterio no Oriente para aleacutem de ter recebido compensaccedilotildees econoacutemicas e aparecer referido em 1529 e 1530 como comendador da vila de Arenilha na foz do Guadiana Refira-se a este respeito que muitos capitatildees cavaleiros da Ordem de Cristo se lanccedilaram no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Poreacutem mui-to poucos chegaram a obter as tatildeo almejadas comendas141 Vemos deste

138 RODRIGUES Anais Tomo II Cap XXXV p 209139 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158140 CORTESAtildeO A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e

de D Joatildeo II Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 65-66 PERES ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na Histoacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II pp 17-21

141 Entre os afortunados que lograram obter este tipo de rendimento contam-se muito poucos D Joatildeo Pereira D Pedro de Castelo Branco Nuno Furtado Simatildeo Guedes entre outros Ver CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 216

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 197

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

modo que a atribuiccedilatildeo da comenda de Arenilha significou um motivo de grande honra e prestiacutegio para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Ora se este navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro resta-nos perceber porque motivo teraacute sido agraciado com compensaccedilotildees eco-noacutemicas a nomeaccedilatildeo para uma das mais rentaacuteveis capitanias de todo o Impeacuterio no Oriente e uma honrosa comenda da Ordem de Cristo Eacute caso para dizer que a problemaacutetica em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila con-tinua a levantar muitas duacutevidas e poucas certezas

Fontes e Bibliografia

1 Arquivos

ANTT

Chancelaria de D Afonso V Livro 2 fl30

Chancelaria de D Manuel I Livro 4 fl37 Livro 8 fl 29v Livro 9 fl4v Livro 10 fl53 Livro 13 fl60 Livro 37 fl64

Chancelaria de D Joatildeo III Livro 12 fl62

Chancelaria da Ordem de Cristo Livro13 fls375 vndash 379v

Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1

Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 15 Nordm47 Pt I maccedilo 44 Nordm45 Pt I maccedilo 45 Nordm9

Pt II maccedilo 51 Nordm26 Pt II maccedilo 53 Nordm182 Pt II maccedilo 93 Nordm150 Pt II maccedilo 109 Nordm131 Pt II maccedilo 131 Nordm226 Pt II maccedilo 134 Nordm57 Pt II maccedilo 135 Nordm45 Pt II maccedilo 135 Nordm49 Pt II maccedilo 136 Nordm102 Pt II maccedilo 141 Nordm91

Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Nordm159

Casa Real Cartoacuterio da Nobreza Livro Nordm20 - Livro da Nobreza e da per-feiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal fl XII

2 Fontes Impressas

ABREU Lisuarte de Livro de Lisuarte de Abreu (Reproduccedilatildeo do manuscrito existente na Perpont Morgan Library de Nova York) Comissatildeo Nacional para as comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portugueses Lisboa 1992

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203198

Fernando Pessanha

ARMAS Duarte de Livro das Fortalezas Arquivo Nacional da Torre do TomboInapa Lisboa 1997

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada III Na Regia Officina Typografica Lisboa MDCCLXXVII

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada IV Imprensa Nacional Casa da Moe-da Lisboa 2001

BORGES Joseacute Calvatildeo Borges Livro do Armeiro-Mor Academia Portugue-sa de HistoacuteriaEdiccedilotildees Inapa Lisboa 2000

CASCAtildeO Joatildeo ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevorardquo Uma Jornada ao Alentejo e ao Algarve A altera-ccedilatildeo das linhas de forccedila da poliacutetica nacional Livros Horizonte Lisboa 1984 pp 77-136

CASTANHEDA Fernatildeo Lopes de Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses 2 vols Lello amp Irmatildeos Editores Porto 1979

CORREIA Gaspar Lendas da Iacutendia Tomo III na Typographia da Acade-mia Real das Sciencias Lisboa 1862

Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI Centro de Estudos Histoacutericos Ultramarinos Lis-boa 1969

GAYO Felgueiras Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX Ediccedilatildeo de Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Arauacutejo Affonso Braga 1939

GUEDES Liacutevio da Costa Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) Arquivo Histoacuterico Militar Lisboa 1988

GOacuteIS Damiatildeo de Chonica do Serenissimo Senhor Rei D Manoel Lisboa 1749

JOSEacute Frei Joatildeo de Satildeo ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 21-132

RODRIGUES Bernardo Anais de Arzila 2 vols Academia das Sciecircncias de Lisboa Lisboa 1915-1919

SARRAtildeO Henrique Fernandes ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 133-174

SOUSA Frei Luiacutes de Anais de D Joatildeo III 2 vols Saacute da Costa Lisboa 1928

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 199

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

SOUSA Manuel de Faria e Asia Portvgvesa Officina de Henrique Valen-te de Oliveira impressor del Rey NS Lisboa 1666

TENREIRO Antoacutenio amp AFONSO Mestre Viagens por terra da Iacutendia a Por-tugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica Mem-Martins 1991

3 Estudos

ALBUQUERQUE Luiacutes de (dir) Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-tos Portugueses 2 vols Ciacuterculos de Leitores Lisboa 1994

ALMEIDA Fortunato de Histoacuteria de Portugal Vols III-VII Promoclube Lisboa sd

CARDOSO Antoacutenio Pereira A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila agrave Austraacutelia em 1522 Academia da Marinha Lisboa 1994

CARVALHO Andreia Martins de ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Ma-nuelinardquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia ndash Actas do Coloacutequio Internacional Joatildeo Paulo Oliveira e Costa amp Viacutetor Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 199-226

CARVALHO Andreia Martins de Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria dos Descobrimen-tos e da Expansatildeo Portuguesa (seacuteculos XV-XVIII) apresentado agrave UNL Lisboa 2006

CAVACO Hugo ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio (Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Arte no Algarve) Cacircmara Muni-cipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1987

CAVACO Hugo Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha Cacircmara Munici-pal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1995

CORREIA Joseacute Eduardo Horta Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina Faup Publicaccedilotildees Porto 1997

CORREIA Joseacute Eduardo Horta O Algarve em Patrimoacutenio Gente Singular Editora Olhatildeo 2010

CORTESAtildeO Armando ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Aus-tralaacutesia Macau Japatildeo)rdquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939

CORTESAtildeO Jaime ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal (Dir Damiatildeo Peres) Vol IV Portucalense Editora Barce-los 1932 pp 9-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203200

Fernando Pessanha

CORTESAtildeO Jaime A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e de D Joatildeo II Lisboa 1960

COSME Joatildeo ldquoOs homens de ciecircnciardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 91-97

COSME Joatildeo ldquoOs Navegadores ndash Vasco da Gamardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 145-152

COSTA Joatildeo Paulo Oliveira e ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo A Nobreza e a Expansatildeo Estudos Biograacuteficos Joatildeo Paulo Oliveira e Costa (coord) Patrimoacutenia Cascais 2000 pp 11-51

DOMINGUES Francisco Contente ldquoOs portugueses descobriram a Aus-traacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Si-motildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Univer-sidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 163-172

DOMINGUES Francisco Contente Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 Circulo dos Leitores Lisboa 2016

FARIA Antoacutenio Machado de Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI Acade-mia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 1956

FARIA Antoacutenio Machado de ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo Separata da revista Arqueologia e Histoacuteria vol VI Lisboa 1955

FARIA Miguel Figueira de ldquoFortificaccedilotildees de Portugal na fronteira da Es-tremadura espanholardquo Anais ndash Seacuterie Histoacuteria Vol II Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 1995 pp 156-187

FONSECA Luiacutes Adatildeo da ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo A Alta No-breza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 322-347

FREIRE Anselmo Braamcamp Brasotildees da Sala de Sintra 3 vols Impren-sa da Universidade de Coimbra Coimbra 1921-1930

GARCIA Joseacute Manuel Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII QuidNovi Lisboa 2009

GARCIA Joseacute Manuel O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash 1555 Nordm 8 QuidNovi Vila do Conde 2012

GODINHO Rui Landeiro ldquoA Armada do Estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (Seacuteculos XV-XIX) Ediccedilotildees Cul-turais da Marinha Lisboa 2003 pp 117-137

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 9: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 173

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

4 Contexto social e familiar

Com efeito o Cristoacutevatildeo de Mendonccedila das croacutenicas portuguesas do seacutec XVI era filho de Diogo de Mendonccedila alcaide-mor de Mouratildeo e ana-del dos besteiros37 Segundo Damiatildeo de Goacuteis Diogo de Mendonccedila acom-panhou o duque de Braganccedila na conquista de Azamor38 Casou com D Brites Soares de Albergaria filha bastarda de Fernatildeo Soares de Alber-garia senhor do Prado39 De acordo com as genealogias avanccediladas pelo Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal ou pelo Livro de Linhagens do seacuteculo XVI Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teve seis irmatildeos Pecircro de Mendonccedila alcai-de-mor de Mouratildeo Antoacutenio de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo Isabel de Mendonccedila Margarida de Mendonccedila Joana de Mendonccedila mu-lher de D Jaime duque de Braganccedila e Francisco de Mendonccedila40

Quanto a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila sabemos que desposou Maria de Vilhena filha de Sancho de Tovar e de sua mulher Guiomar da Silva ainda que o casal natildeo tenha tido descendecircncia O Livro do Armeiro-Mor publicado em 1509 apresenta o brasatildeo de armas dos Mendonccedilas41 numa altura em que o alcaide-mor de Mouratildeo era Diogo de Mendonccedila pai de Cristoacutevatildeo Tambeacutem o Livro da Nobreza e da perfeiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal de Antoacutenio Godinho escrivatildeo da Cacircmara de D Joatildeo III apresenta o brasatildeo de armas dos Mendonccedilas numa altura em que o alcaide-mor de Mouratildeo era Pedro de Mendonccedila irmatildeo de Cristoacutevatildeo Refira-se que Antoacutenio Go-dinho teraacute comeccedilado a produzir este trabalho entre o fim do reinado de D Manuel e o iniacutecio do reinado de D Joatildeo III periacuteodo que corresponde agrave presenccedila de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente e agrave sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro42 Pouco se sabe acerca da infacircncia e juventude de Cristoacutevatildeo

37 Diogo de Mendonccedila tinha sido fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo e foi alcaide-mor de Mouratildeo pelo menos desde 1476 ateacute falecer em 1516 altura em que o cargo passou para o seu filho Pecircro de Mendonccedila Ver FREIRE Brasotildees da Sala de Sintra Vol III p 173 Por sua vez Pecircro de Mendonccedila fidalgo da Casa Real foi nomeado alcaide-mor do castelo e vila de Mouratildeo com todas as rendas direitos foros tributos liberdades e honras em consideraccedilatildeo aos serviccedilos prestados pelo seu pai Diogo de Mendonccedila em 14 de Julho de 1517 Ver ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 37

38 GOacuteIS Chronica III Cap XLVI p 36739 GAYO Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX p 5340 GAYO Nobiliaacuterio Tomo XX p 53 FARIA Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI p 275 41 BORGUES Livro do Armeiro-Mor p 6042 Cf ANTT Livro da Nobreza e da perfeiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres li-

nhagens dos reinos e senhorios de Portugal f12 (on line) httpdigitarqarquivosptdetailsid=4162407

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203174

Fernando Pessanha

Seja como for aparece referido na documentaccedilatildeo como fidalgo da Casa Real logo em 151443 Se seguirmos as Deacutecadas da Aacutesia apercebemo-nos de que ldquoChristovatildeo de Mendoccedila filho de Diogo de Mendoccedila Alcaide moacuter de Mouratildeordquo44 partiu para o Oriente em 23 de Abril de 1519 na armada de Jorge de Albuquerque composta por 14 naus Sigamos portanto o rasto biograacutefico deixado por Cristoacutevatildeo durante a sua primeira viagem ao Oriente

5 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente

51 A expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro

Decorria o ano de 1519 quando Diogo Lopes de Sequeira o entatildeo go-vernador da Iacutendia incumbiu Diogo Pacheco de obter informaccedilotildees sobre a existecircncia da miacutetica Ilha do Ouro que segundo Joatildeo de Barros se en-contrava ldquoao Sul daquela Ilha Ccedilamatrardquo45 Ao chegar ao porto de Barus Diogo Pacheco tomou conhecimento da existecircncia de uma outra ilha si-tuada a sudeste do arquipeacutelago indoneacutesio para a qual os naturais do reino de Barus jaacute tinham navegado de modo a obterem ouro atraveacutes do trato com os indiacutegenas46 Recolhidas estas informaccedilotildees Diogo Pacheco navegou ao largo da Ilha de Samatra seguindo para sudeste Poreacutem ao chegar ao estreito de Sunda entre Samatra e Java optou por navegar para noroeste circum-navegando Samatra ateacute chegar a Malaca

No ano seguinte em 1520 o mesmo navegador tentou repetir a ex-ploraccedilatildeo Poreacutem ao aproximar-se do porto de Barus foi recebido por navios hostis que lhe recusaram a entrada com tiros de bombarda Quanto a Diogo Pacheco acabaria por vir a falecer num recontro com os habitantes de uma ilha depois de o seu navio encalhar na costa47

43 Provisatildeo para se pagar a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila fidalgo da Casa 7 mil reacuteis de mora-dia ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 51 Nordm26

44 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap IX p 325 Ver tambeacutem GOacuteIS Chronica IV Cap XXXVI p 515 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento p 27 SOUSA Asia Tomo I Pt III Cap III p 190 ABREU Livro de Lisuarte de Abreu fl37v-38

45 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap III p268 O mito em torno da existecircncia de uma ilha do Ouro tem origem numa confusatildeo antiga com a ilha de Samatra onde se produzia ouro em Minangkabau facto que os portugueses conheceram Sobre a miacutetica Ilha do Ouro veja-se THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o descobrimento da Austraacuteliardquo pp 66-73

46 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap III p 26947 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap III p 273 Ver tambeacutem SOUSA Asia

Tomo I Pt III Cap III p187 Diz-nos Joatildeo de Barros que Diogo Pacheco ao ver-se com vento que lhe era contraacuterio e face aos indiacutegenas que se metiam nas suas em-

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 175

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

Como anteriormente referimos foi em 23 de Abril de 1519 que D Manuel enviou para a Iacutendia uma armada comandada por Jorge de Albuquerque onde seguia ldquoChristovatildeo de Mendoccedila filho de Diogo de Mendoccedila Alcaide moacuter de Mouratildeordquo Identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como um dos capitatildees desta armada resta-nos perceber porque moti-vo se teraacute aventurado no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Como anteriormente vimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Mendoccedila alcaide-mor de Mouratildeo Poreacutem natildeo era filho primogeacutenito Quer isto dizer que com o falecimento do seu pai a alcaidaria de Mouratildeo passou para o seu irmatildeo mais velho Pecircro de Mendonccedila em 151748 Eacute nesse sentido que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teraacute encontrado nos serviccedilos na Iacutendia o meio de ascensatildeo social para os filhos secundogeacutenitos uma vez que estes dependiam da generosidade reacutegia para a obtenccedilatildeo de tenccedilas e mercecircs que permitissem a manutenccedilatildeo ou elevaccedilatildeo do seu estatuto Vemos deste modo que a participaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo no projecto expan-sionista portuguecircs se apresentava perfeitamente normal se tivermos em conta o seu contexto social e familiar assim como a sua condiccedilatildeo de secundogeacutenito49

Ao seguirmos a croacutenica de Joatildeo de Barros apercebemo-nos de que a armada que partiu para a Iacutendia em 1519 apenas chegou ao destino em 1520 por motivo de invernada em Moccedilambique onde Cristoacutevatildeo se dete-ve com outros sete capitatildees50 De resto uma carta datada de 22 de Janei-

barcaccedilotildees para lhe tomarem o navio tentou evadir-se para o alto mar Poreacutem ao ser arrastado para a costa acabou por vir a perecer tendo apenas escapado alguns malaios que atravessaram a ilha ateacute agrave costa norte onde encontraram embarcaccedilatildeo para os levar a Malaca As uacuteltimas palavras de Joatildeo de Barros sobre esta viagem tem levado alguns autores a considerarem que Diogo Pacheco teraacute perecido na Austraacute-lia ldquoesta perdiccedilatildeo de Diogo Pacheco que foi o primeiro dos nossos que perdeo a vida por descubrir esta Ilha do ourordquo Eacute o caso de Trickett ou de Joseacute Manuel Azevedo e Silva para quem Diogo Pacheco foi o primeiro portuguecircs a descobrir a Austraacutelia tendo alcanccedilado a costa noroeste da ilha em 1519 Ver SILVA ldquoDiogo Pacheco capi-tatildeo-morrdquo pp 111-119

48 A tenccedila que eacute atribuiacuteda a Beatriz Soares viuacuteva de Diogo de Mendonccedila indica que este jaacute tinha falecido em Julho de 1516 Ver ANTT Chancelaria de D Manuel I livro 9 fl4v Pecircro de Mendonccedila fidalgo da Casa Real foi nomeado alcaide-mor do castelo e vila de Mouratildeo com todas as rendas direitos foros tributos liberdades e honras em consideraccedilatildeo aos serviccedilos prestados pelo seu pai Diogo de Mendonccedila em 14 de Julho de 1517 Ver ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 37 fl64 Ver tambeacutem FREIRE Brasotildees Vol III p 173

49 COSTA ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo pp 11-51

50 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento V Cap XX p 38 e Cap XXX p 56

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203176

Fernando Pessanha

ro de 1521 atesta a presenccedila de Mendonccedila e de seus homens em Goa51 tal como a Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) con-firma a sua passagem pela capital do Estado da Iacutendia no mesmo ano52

Seja como for a armada que partiu em 1519 levava ordens de D Manuel para o governador Diogo Lopes de Sequeira Determinava o monarca portuguecircs que o governador da Iacutendia escolhesse algueacutem da sua confianccedila para ir descobrir a Ilha do Ouro53 Por outras palavras D Manuel pretendia que se desse continuidade agraves exploraccedilotildees iniciadas por Diogo Pacheco Tal como podemos acompanhar no mesmo capiacutetulo da Deacutecada III da Aacutesia foi Diogo Lopes de Sequeira a escolher ldquoChristo-vatildeo de Mendoccedila filho de Pero de Mendoccedila Alcaide moacuter de Mouratildeordquo54 para tal missatildeo55 A documentaccedilatildeo mostra-nos que Cristoacutevatildeo se encontrava em Goa em Janeiro de 152156 e que partiu de Cochim em 4 de Maio de 152157 Se seguirmos a Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) apercebemo-nos de que a armada comandada por Mendonccedila e destinada a descobrir a Ilha do Ouro era constituiacuteda por quatro navios o navio Satildeo Cristoacutevatildeo em que o proacuteprio viajava a caravela Rosaacuterio co-mandada pelo capitatildeo Pedro Eanes Francecircs o bergantim Santo Antoacutenio comandado pelo capitatildeo Francisco Poles e um parau comandado pelo capitatildeo Gonccedilalo Homem58 Esta armada teraacute chegado agrave Ilha de Samatra por volta de Junho

51 Ver Conhecimento em que se declara que Diogo Lourenccedilo recebeu do feitor de Goa Francisco Cornivel 8 cruzados para mantimento da gente de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 93 Nordm150

52 Ver ldquoRelaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11)rdquo Documento publicado Documentos Sobre os Portugueses Vol VI p100

53 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I IV Cap III p 41254 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I IV Cap III p 413 O cronista poreacutem engana-se ao

referir o parentesco uma vez que o navegador incumbido de descobrir a Ilha do Ouro era Cristoacutevatildeo de Mendonccedila irmatildeo (e natildeo filho) de Pecircro de Mendonccedila

55 Note-se portanto que ao contraacuterio do que eacute defendido por Tricket ndash que tenta colocar esta expediccedilatildeo ao niacutevel da viagem de Vasco da Gama agrave Iacutendia - natildeo houve qualquer ordem real a nomear Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como capitatildeo da expediccedilatildeo destinada a descobrir a miacutetica ilha tendo sido o entatildeo governador da Iacutendia a escolher o capitatildeo para tal empreendimento Ver TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio pp 80-81

56 Conhecimento em que se declara que Diogo Lourenccedilo recebeu do feitor de Goa Fran-cisco Cornivel 8 cruzados para mantimento da gente de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 93 Nordm150

57 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila partiu acompanhado por Jorge de Brito que ia para as Mo-lucas onde deveria construir uma fortaleza e interceptar Fernatildeo de Magalhatildees Ver THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 97

58 Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) Documento publicado in Documentos Sobre os Portugueses Vol VI p 96

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 177

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

A primeira referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece aquando da sua passagem pelo porto de Pedir59 onde encontrou Rafael Catanho que entatildeo regressava de Acheacutem no extremo noroeste da ilha de Sama-tra60 Pouco tempo depois chegava agravequele porto de Pedir o que restava da armada de Jorge de Brito morto em combate juntamente com gran-de nuacutemero de portugueses apoacutes um confronto com as forccedilas do rei de Acheacutem61 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ao encontrar aquela armada desba-ratada e sem capitatildeo pretendeu colocaacute-la sob seu comando62 Poreacutem os poucos fidalgos sobreviventes natildeo o consentiram alegando que o co-mando deveria ser entregue a Antoacutenio de Brito o irmatildeo do falecido ca-pitatildeo que se deveria juntar agrave armada depois de consertar o seu navio63

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila rumou entatildeo a Paceacutem onde se deveria rea-bastecer de mantimentos para dar continuidade agrave viagem Todavia ao chegar a este ponto da narrativa diz-nos Joatildeo de Barros que ldquoo tempo natildeo era da monccedilatildeo pera onde cada hum havia de ir principalmente a de Christovatildeo de Mendoccedila que era jaacute passadardquo64 A acrescentar ao facto de o navegador ter perdido os ventos de monccedilatildeo acresce que o capitatildeo de Malaca Jorge de Albuquerque se encontrava em Paceacutem a construir uma fortaleza destinada a proteger uma feitoria cujo principal objecti-

59 Porto de grande importacircncia no comeacutercio do Iacutendico situado na parte nordeste da Ilha de Samatra O desenvolvimento de Pedir assim como o de Paceacutem relaciona-se estrei-tamente com a propagaccedilatildeo do islatildeo na Indoneacutesia ocidental Em 1509 Diogo Lopes de Sequeira assinou um tratado com o sultatildeo de Pedir e com a conquista de Malaca o seu principal comeacutercio passou a ser dirigido para esta cidade Sobre Pedir veja-se SS ldquoPedirrdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Portugueses (Dir Luis de Albu-querque) Vol II pp 870-872

60 O sultanato islacircmico de Acheacutem foi uma das entidades que mais se opocircs aos interesses dos portugueses estabelecidos em Malaca Fundado por um descendente do rei de Pedir transformou-se num reino poderoso que conquistou vaacuterias terras na ilha de Samatra e ao qual outros reinos pagavam tributo Ver GARCIA Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII pp 198-200

61 Este confronto com o reino de Acheacutem eacute tambeacutem narrado por Damiatildeo de Goacuteis e Fernatildeo Lopes de Castanheda Ver GOacuteIS Chronica IV Cap LXVII pp 566-567 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento V Cap LXV pp 107-109

62 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p546 Fernatildeo Lopes de Castanheda ainda que natildeo refira Cristoacutevatildeo revela que ldquocomo os nauios natildeo tinhatildeo capitatildees ouue alguns que se quiseram levantar coeles amp irse a diversas partes a fazer presasrdquo CASTA-NHEDA Histoacuteria do Descobrimento pp 107-110

63 Com efeito com a chegada de Antoacutenio de Brito foi apresentada uma provisatildeo de D Manuel I que o nomeava capitatildeo daquela armada em caso de falecimento de Jorge de Brito

64 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 548

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203178

Fernando Pessanha

vo consistia na recolha de pimenta que se produzia na regiatildeo65 Foi nes-se sentido que Jorge de Albuquerque determinou que todos os capitatildees que se encontravam em Paceacutem ali permanecessem em ldquofavor daquela fortaleza em quanto ella natildeo estava em estado pera se poder defenderrdquo66

Vemos deste modo que a expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo rumo agrave Ilha do Ouro foi interrompida em funccedilatildeo da necessidade que os portugueses sentiram em se fortificarem naquele ponto da ilha de Samatra Aliaacutes eacute o proacuteprio cronista a referir que a presenccedila de Cristoacutevatildeo e dos outros ca-pitatildees foi providencial para que a fortaleza se pudesse construir jaacute que os adversaacuterios os atacavam de forma sistemaacutetica Num desses ataques Melique Ladil um mouro que reivindicava para si o reino de Paceacutem aproximou-se da fortaleza com treze lancharas67 atrevendo-se a deitar fogo agrave fortificaccedilatildeo Foi entatildeo que Cristoacutevatildeo e os outros capitatildees saiacuteram em sua perseguiccedilatildeo desbaratando o adversaacuterio e confiscando-lhe todas as embarcaccedilotildees para serviccedilo agrave fortaleza Usando as palavras de Manuel de Faria e Sousa ldquoCristoval de Mendoccedila que bien fuerotilde menester para re-sistir y humillar despues a un orgulloso Moro que com algunos baxeles de remo infectava aquella marinardquo68 Finalmente terminada a empreitada Cristoacutevatildeo de Mendonccedila voltou a partir para Malaca69

Tal como Diogo Pacheco eacute possiacutevel que o navegador portuguecircs tenha contornado Samatra antes de partir para Malaca De acordo com Luiacutes Filipe Thomaz eacute provaacutevel que o navegador durante a viagem tenha descoberto uma ilha que deve ter tomado pela Ilha do Ouro ainda que constatado o erro a tenha baptizado com o nome que ainda hoje tem Ilha do Engano Seja como for temos notiacutecia de que a armada jaacute se en-contrava em Malaca em finais de 1521 onde a caravela Santa Maria do Rosaacuterio recebeu mantimentos em 10 de Dezembro para poder seguir

65 Esta fortaleza foi concebida para proteger uma feitoria cujo principal objectivo con-sistia na recolha da pimenta Poreacutem este enclave veio a revelar-se de difiacutecil manuten-ccedilatildeo devido aos ataques de que era alvo parte dos habitantes de Acheacutem Os portugue-ses acabariam por abandonar a fortaleza em Maio de 1523 natildeo tendo ficado qualquer testemunho iconograacutefico deste efeacutemero estabelecimento Castanheda poreacutem refere tratar-se de uma fortaleza ldquofeyta em breue tempo tempo com muros baluartes amp torres de madeyra amp cercada de caua () amp muyto bem artilhadardquo Ver CASTANHEDA Histoacute-ria do Descobrimento V Cap LXIIII pp 106-107 Damiatildeo de Goacuteis explica a conjun-tura poliacutetico-militar que levou agrave construccedilatildeo desta fortaleza Ver GOacuteIS Chronica IV Cap LXVI pp 564-566

66 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 548 67 Navios de remos entatildeo usados naquela zona do Oriente 68 SOUSA Asia Tomo I Pt III Cap V p 20269 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 549

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 179

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

para Paceacutem enquanto a nau Satildeo Cristoacutevatildeo apenas os recebeu em 10 de Janeiro de 1522 para depois seguir para Ormuz70 Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila natildeo teraacute tido tempo suficiente para chegar agrave Ilha do Ouro nesse ano de 1521 Pelo menos eacute o que podemos depreen-der quando Joatildeo de Barros refere a permanecircncia de Cristoacutevatildeo em Men-donccedila no auxiacutelio agrave construccedilatildeo da fortaleza de Paceacutem

Natildeo encontramos portanto elementos nas Deacutecadas da Aacutesia que nos permitam afirmar que este navegador portuguecircs teraacute prosseguido via-gem para o sul de Samatra e encontrado a miacutetica Ilha do Ouro identi-ficada com a Austraacutelia Ainda assim tecircm sido vaacuterios os historiadores nomeadamente Armando Cortesatildeo a defenderem natildeo haver motivo para se duvidar de que Cristoacutevatildeo teraacute seguido com a exploraccedilatildeo de que fora incumbido no ano seguinte aproveitando a monccedilatildeo do princiacutepio de 1522 Note-se que o proacuteprio Luiacutes de Albuquerque ainda que aves-so a esta teoria natildeo deixa de estranhar o facto de as Deacutecadas da Aacutesia natildeo referirem quais os serviccedilos especiais prestados por Mendonccedila que justifiquem a sua nomeaccedilatildeo para a rentaacutevel e apeteciacutevel capitania de Ormuz71 ldquotam viccediloacutesa e abastaacuteda q dizem os moradores della q o Mundo eacute hu aneacutel e Ormuz hua pedra precioacutesa engastaacuteda nellerdquo72 Como a seguir veremos a nomeaccedilatildeo para a capitania de Ormuz natildeo foi a uacutenica benesse com que o navegador foi agraciado apoacutes o seu regresso ao reino

52 A viagem de regresso ao reino

Segundo Trickett nada se sabe sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila nos seis anos posteriores agrave expediccedilatildeo que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro73 Como veremos esta ideia natildeo corresponde agrave realidade Sabe-se por exemplo que depois de o navegador ter estado em Ormuz e na Iacutendia regressou a Portugal em 1524 tendo-se detido em Marccedilo ou Maio desse ano na aguada de Saldanha na actual Aacutefrica do Sul tal como ficou atestado numa inscriccedilatildeo que aiacute foi encontrada

Com efeito decorria o ano de 1989 quando foi identificada uma ins-criccedilatildeo portuguesa em Golden Acre no sopeacute de Adderley Street na Cida-de do Cabo Desta inscriccedilatildeo fracturada sobreviveu um fragmento com 25

70 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 7671 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal p 25872 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada II II Cap II p 48 73 Cf TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio p 87

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203180

Fernando Pessanha

cm de largura por 10 cm de altura que foi recolhido pelo South African Museum Na altura um arqueoacutelogo do South African Museum pensou tratar-se de inscriccedilatildeo funeraacuteria de D Lourenccedilo de Almeida um navega-dor portuguecircs que numa viagem de regresso ao reino desembarcou na Baiacutea do Saldanha em Dezembro de 1509 de modo a castigar uns indiacutege-nas Poreacutem acabou por falecer nesse recontro juntamente com muitos outros elementos da sua tripulaccedilatildeo o que levou o referido arqueoacutelogo a interpretar o achado como uma inscriccedilatildeo funeraacuteria

Entretanto em Janeiro de 1990 o Prof Eric Axelon comunicou agrave Comissatildeo Nacional para as Comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portu-gueses a descoberta da inscriccedilatildeo Axelon adiantava poder tratar-se de um artefacto representativo da passagem de Duarte de Meneses pela Cidade do Cabo em 1524 Poreacutem a leitura e interpretaccedilatildeo de Maacuterio Jorge Barroca assistente de Arqueologia Medieval da Universidade do Porto veio a invalidar as suposiccedilotildees de Axelon e do arqueoacutelogo do South African Museum De acordo com Maacuterio Jorge Barroca este do-cumento epigraacutefico refere-se a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ainda que o estado de conservaccedilatildeo desta inscriccedilatildeo dificulte a interpretaccedilatildeo do seu conteuacutedo74 Luiacutes Filipe Thomaz que tambeacutem abordou esta inscriccedilatildeo faz uma leitura ligeiramente diferente mas que concorda quanto ao essencial do conteuacutedo75 De resto eacute interessante notar que para aleacutem dos supra citados autores apenas encontraacutemos referecircncias a este do-cumento epigraacutefico em Luiacutes de Albuquerque76 Antoacutenio Pereira Cardo-so77 e Joseacute Manuel Garcia78

De modo geral a inscriccedilatildeo identificada na Cidade do Cabo vem de-monstrar efectivamente que Cristoacutevatildeo empreendeu a viagem de re-gresso ao reino em 1524 sendo provaacutevel que tenha partido de Cochim logo no iniacutecio do ano Sabemos que se encontrava no sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio No entanto e ainda que esta epiacutegrafe se apresente como um elemento de grande interesse para a reconstituiccedilatildeo do percurso de Cristoacutevatildeo continuamos sem saber o que teraacute feito e por onde teraacute nave-gado entre os iniacutecios de 1522 quando recebeu mantimentos para seguir

74 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo pp 17-1875 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 7976 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-

tos Vol II pp 727-72877 CARDOSO A provaacutevel viagem pp10-1978 GARCIA O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash

1555 Nordm 8 p 98

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 181

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

para Ormuz e os iniacutecios de 1524 quando partiu da Iacutendia para regressar a Portugal Teraacute ele permanecido todo esse tempo em Ormuz Ou teraacute dado continuidade agraves exploraccedilotildees que lhe tinham sido incumbidas pelo governador Diogo Lopes de Sequeira

6 Rendas mercecircs e distinccedilotildees

61 Tenccedilas recebidas

Referimos haacute pouco natildeo ser correcta a ideia de nada se saber sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila nos seis anos posteriores agrave expediccedilatildeo que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro De facto para aleacutem da inscri-ccedilatildeo encontrada na Cidade do Cabo e que atesta a passagem de Mendon-ccedila pelo sul de Aacutefrica tambeacutem existem alguns documentos acondiciona-dos no Arquivo Nacional da Torre do Tombo que revelam informaccedilotildees interessantes para o periacuteodo correspondente agrave sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e 1527 Satildeo exactamente esses documentos que nos datildeo conta das rendas mercecircs e distinccedilotildees com que este navegador foi agraciado

Sabemos que em 4 de Julho de 1526 por exemplo D Joatildeo III mandou o almoxarife de Aveiro dar a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ldquofidalgo da sua casardquo 50000 reacuteis de tenccedila que ficaria assentada na alfacircndega da cidade de Lisboa79 Seria esta uma tenccedila generosa A resposta a esta questatildeo le-vou-nos a comparar este valor com as tenccedilas auferidas pelos seus fami-liares e por outros navegadores seus contemporacircneos Foi nesse sentido que constataacutemos que o ceacutelebre navegador e cosmoacutegrafo Duarte Pacheco Pereira depois de inuacutemeros serviccedilos prestados agrave Coroa recebeu uma tenccedila anual de 50000 reais nesse mesmo ano de 152680 Tristatildeo da Cu-nha ceacutelebre navegador e comandante naval portuguecircs nomeado por D Manuel para primeiro governador da Iacutendia em 150581 e pai de Nuno da Cunha Governador da Iacutendia entre 1528 e 153882 recebeu 40000 reacuteis

79 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57 80 JB de C ldquoPereira Duarte Pachecordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol V pp 52-

54 COSME ldquoOs homens de ciecircnciardquo pp 91-9781 E S ldquoCunha Tristatildeo da (1460-1540)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol II p 260

Sobre Tristatildeo da Cunha veja-se tambeacutem CARVALHO ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Manuelinardquo pp 199-226

82 E S ldquoCunha Nuno da (1487-1539)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol II pp 258-259 Sobre Nuno da Cunha veja-se tambeacutem CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538)

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203182

Fernando Pessanha

de tenccedila no mesmo ano de 152683 Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo rece-beu uma tenccedila generosa ao voltar ao reino Talvez Note-se que o pai de Cristoacutevatildeo Diogo de Mendonccedila alcaide-mor de Mouratildeo recebia os mesmos 50000 reacuteis de tenccedila em 150184 e em 151485 valor que o irmatildeo de Cristoacutevatildeo Pedro de Mendonccedila passou a auferir ao herdar a alcaidaria de Mouratildeo em 151786

Para aleacutem dos 50000 reacuteis de tenccedila eacute o proacuteprio Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila a mandar Jacome Bentes receber de Joatildeo de Azambuja 200000 reacuteis em virtude da outra procuraccedilatildeo que o dito Mendonccedila tinha feito para receber dos almoxarifes de Setuacutebal Aveiro e Coimbra87 Refira-se a este respeito que ainda no mesmo ano ordenou D Joatildeo III que o almoxari-fe de Aveiro pagasse ao jaacute referido Tristatildeo da Cunha 100000 reacuteis para pagamento de 250000 reacuteis da sua tenccedila88 ou que Vasco da Gama ao re-gressar ao reino depois de descobrir o caminho mariacutetimo para a Iacutendia recebeu uma renda de 300000 reacuteis89 Vemos deste modo que os rendi-mentos auferidos por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aquando do seu regresso ao reino natildeo foram propriamente modestos quando comparados com os do primeiro governador da Iacutendia ou com os do navegador e cosmoacute-grafo Duarte Pacheco Pereira

Por fim surge-nos um documento datado de 13 de Abril de 1527 e que tem por tiacutetulo Estabelecimento que Fernando Rodrigues como procu-rador de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila fidalgo da Casa do Rei fez em Fernando Gomes para cobrar todas as tenccedilas e moradias do seu dito constituinte90 Repare-se que de acordo com Joatildeo de Barros Cristoacutevatildeo de Mendonccedila voltou a partir para o Oriente em Marccedilo de 1527 Vemos portanto que o referido documento eacute ligeiramente posterior agrave partida do navegador e que este deixou instruccedilotildees ao seu procurador para que algueacutem cobrasse todas as suas tenccedilas e moradias De resto a alusatildeo agraves ldquotenccedilas e moradi-

83 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 135 Nordm4584 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 13 fl60 ANTT Chancelaria de D Manuel I

liv 8 fl29v85 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 53 Nordm18286 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 10 fl53 Repare-se que a partir de 1523 Pe-

dro de Mendonccedila passou a receber apenas 30000 reacuteis ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 109 Nordm131 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 131 Nordm226

87 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 136 Nordm10288 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 135 Nordm4989 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 4 fl 37 COSME ldquoOs Navegadores ndash Vasco da

Gamardquo p 14990 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 141 Nordm91

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 183

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

asrdquo vem reforccedilar a ideia de que os serviccedilos prestados por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente foram bem recompensados pelo monarca portu-guecircs Resta-nos perceber que serviccedilos teratildeo justificado estas recompen-sas assim como aquelas a que de seguida aludiremos

62 A capitania de Ormuz

Para aleacutem dos rendimentos atraacutes referidos os serviccedilos prestados por Mendonccedila foram igualmente agraciados com a nomeaccedilatildeo para a ren-taacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz para onde partiu em Marccedilo de 152791 Natildeo deixa de ser interessante a alusatildeo que cronistas como Joatildeo de Barros ou Frei Luiacutes de Sousa fazem aos Braganccedilas no momento em que referem esta nova partida de Cristoacutevatildeo para a Iacutendia Com efeito eacute possiacutevel que o duque de Braganccedila jaacute tivesse ligaccedilotildees aos Mendon-ccedilas ainda que o casamento de D Jaime com D Joana de Mendonccedila soacute se tenha realizado em 1520 Teresa Lacerda levanta a hipoacutetese de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ter sido indigitado para o Conselho Reacutegio por influecircncia do duque de Braganccedila do mesmo modo como foi nomea-do para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 e para capitatildeo de Ormuz em 152792 De facto natildeo eacute impossiacutevel No entanto somos da opiniatildeo de que natildeo seraacute apenas D Joana a estar na origem de uma eventual ligaccedilatildeo de D Jaime aos Mendonccedilas como tambeacutem a participaccedilatildeo do seu pai ldquoDiogo de mendonccedila alcaide mor de Mouratildeordquo e de ldquoPero de Mendonccedila seu filhordquo na conquista de Azamor comandada pelo proacuteprio duque em 151393

De facto natildeo sabemos se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teraacute sido indigitado para o Conselho Reacutegio para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquer-que de 1519 ou para a capitania de Ormuz por influecircncia do duque de Braganccedila Seja como for parece-nos que o contexto social e familiar de Cristoacutevatildeo teraacute pesado no momento em que o monarca procedeu a tais nomeaccedilotildees Basta recordarmos que Afonso Furtado bisavocirc de Cristoacute-vatildeo tinha sido nomeado capitatildeo do mar por D Joatildeo I em 138594 Afonso

91 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada IV II Cap III p 73 Ver tambeacutem CORREIA Lendas Vol III Pt I Cap XVI p 182 SOUSA Anais Vol II IV Cap I p 1 SOUSA Asia Tomo I Pt IV Cap II p 256

92 LACERDA Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social p 112 nota 375

93 GOacuteIS Chronica III Cap XLVI p 367 GAYO Nobiliaacuterio p 5394 FREIRE Brasotildees Vol III pp 170-171

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203184

Fernando Pessanha

Furtado de Mendonccedila avocirc de Cristoacutevatildeo para aleacutem de capitatildeo-mor do mar95 aparece referido como escrivatildeo da feitoria de Sofala96 Pedro de Mendonccedila tio de Cristoacutevatildeo tinha comandado uma nau numa frota de 12 navios que em 1504 partiu para a Iacutendia para garantir a seguranccedila das rotas comerciais do oceano Iacutendico e controlar o governante hostil de Calecut97 Natildeo se pode portanto considerar que os Mendonccedilas seri-am marginais ao projecto de expansatildeo ultramarina quando Cristoacutevatildeo aparece nomeado para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 ou para a capitania de Ormuz que deteve entre 1527 e 1531 ou 1532 ano da sua morte

Chegando a este ponto vale a pena determo-nos brevemente de modo a compreendermos o que era Ormuz e o que representava esta capitania no contexto do Impeacuterio Portuguecircs no Oriente Antes de mais conveacutem recordarmos que Ormuz era um importantiacutessimo entreposto mercantil em virtude da sua privilegiada localizaccedilatildeo geograacutefica na en-trada do Golfo Peacutersico Com efeito com a segunda conquista de Ormuz por Afonso de Albuquerque em 1515 e a consequente imposiccedilatildeo de um protectorado a Coroa portuguesa passou a arrecadar uma parcela con-sideraacutevel das receitas aduaneiras da proacutespera ilha transformando-se Ormuz no epicentro das actividades portuguesas no Golfo Peacutersico e no mar da Araacutebia A acreditar-se nas fontes quinhentistas era tal o movi-mento e a intensidade no porto de Ormuz que natildeo era invulgar ali en-contrar mais de 200 navios carregados de mercadorias De entre as mais importantes mercadorias que passavam pela cidade destacavam-se os cavalos oriundos da Araacutebia e da Peacutersia com destino aos portos da cos-ta ocidental da Iacutendia de onde eram encaminhados para os potentados indianos entre os quais grassavam guerras endeacutemicas Mas outros pro-dutos aacuterabes e persas faziam a riqueza da esteacuteril ilha de Djarucircn como as alcatifas aacuterabes as peacuterolas de Bahareacutem os tapetes a seda e a prata da Peacutersia o salitre e o enxofre da proacutepria ilha ao lado de mercadorias menos nobres como os frutos secos ou os cereais Dadas as circunstacircn-cias natildeo seraacute de estranhar que ao longo de todo o seacutec XVI a alfacircndega de Ormuz se tenha destacado como a mais rentaacutevel de todo o Estado da Iacutendia logo a seguir agrave de Goa Por outras palavras a cidade gerava

95 FARIA Livro de Linhagens p 27296 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada I Pt I V Cap III97 MALDONADO Relaccedilatildeo das Naos e Armadas da Iacutendia p 16 ANTT Corpo Cronoloacutegi-

co Pt II maccedilo 9 Nordm 35

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 185

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

um volume de receitas tatildeo consideraacutevel que a capitania de Ormuz aca-bou por se transformar numa das mais apetecidas de todo o Impeacuterio no Oriente Vemos deste modo que a atribuiccedilatildeo desta capitania natildeo soacute era motivo de prestiacutegio para o capitatildeo nomeado como tambeacutem fonte de grande riqueza98

Natildeo podemos deixar de notar que as Deacutecadas da Aacutesia ao referir-se agrave nomeaccedilatildeo de Mendonccedila para a capitania de Ormuz natildeo refere quais-quer serviccedilos especiais que justifiquem a atribuiccedilatildeo de tal benesse Ar-mando Cortesatildeo que levantou a hipoacutetese de ter sido Mendonccedila o pri-meiro europeu a chegar agrave Austraacutelia foi um dos investigadores a sugerir que esta nomeaccedilatildeo se devesse aos serviccedilos prestados pelo navegador99 Poreacutem e tal como temos afirmado ao longo deste trabalho natildeo existe qualquer documento que assegure o ecircxito de Mendonccedila relativamente agrave viagem que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro Omis-satildeo que segundo Jaime Cortesatildeo foi consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo entatildeo vigente Luiacutes de Albuquerque ainda que contraacuterio agrave teoria da descoberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que ldquodeve a sua celebridade a uma expediccedilatildeo que natildeo fezrdquo100 estranha no entanto o facto de Diogo do Couto natildeo mencionar os serviccedilos especiais que estiveram na origem da nomeaccedilatildeo do navegador para a capitania de Ormuz101 Esta distinccedilatildeo torna-se ainda mais suspeita se tivermos em consideraccedilatildeo que uma nomeaccedilatildeo desta natureza implicaria em meacutedia 10 anos de serviccedilos no Oriente102 durante os quais era acumu-lada a experiecircncia necessaacuteria para o desempenho de uma capitania Como vimos natildeo foi esse o caso de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Aliaacutes as nomeaccedilotildees para as capitanias mais importantes e lucrativas como Or-muz Goa ou Malaca natildeo soacute eram atribuiacutedas em reconhecimento pelos vaacuterios anos de serviccedilo no Oriente como tambeacutem recaiacuteam tendencial-mente sobre nobres com uma maior presenccedila na corte o que tambeacutem

98 LOUREIRO ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 pp 749-797 JPC ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 833-836

99 CORTESAcircO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158100 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo p 727101 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol IV

p 258102 Andreia Martins de Carvalho determinou os anos de serviccedilo de fidalgos no Oriente

antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania entre 1518 e 1544 CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 211 Foi nesse sentido que tendo em conta a infor-maccedilatildeo disponiacutevel sobre o percurso de 37 fidalgos estabelecemos a meacutedia de anos relativos a serviccedilos no Oriente antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203186

Fernando Pessanha

natildeo era o caso de Mendonccedila Ora se o navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro como explicar tatildeo generoso honroso e rentaacutevel reconhecimento Isto claro para aleacutem das compensaccedilotildees econoacutemicas atraacutes referidas e da entrega da comenda da Ordem de Cris-to que de seguida abordaremos De resto a capitania de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ficou marcada por episoacutedios dignos de registo como o au-xiacutelio prestado agrave frota de Simatildeo da Cunha assolada por uma epidemia contraiacuteda na campanha contra a ilha de Bahareacutem103 Refira-se aliaacutes que foi sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que recaiu a responsabilidade de escolher um agente para realizar a ceacutelebre missatildeo de espionagem que constituiu a viagem por terra de Ormuz a Portugal protagonizada por Antoacutenio Tenreiro entre Setembro de 1528 e Maio de 1529 - viagem cuja narrativa constitui um notaacutevel documento histoacuterico de natureza geograacutefica religiosa e antropoloacutegica104

63 A comenda da vila de Arenilha

Tal como anteriormente referimos deparaacutemo-nos com dois documen-tos que chamaram a nossa atenccedilatildeo aquando da investigaccedilatildeo para o ar-tigo ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo Trata-se de duas cartas em que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece referido como comendador da vila de Arenilha O primeiro documento data de 29 de Dezembro de 1529 e tem por tiacutetulo Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bregantim missiva em que o comendador de Arenilha culpa o marquecircs de Ayamonte pelos danos causados nas barcas dos habitantes da vila no-meadamente no referido bergantim chegando mesmo a mandar ldquopagar as barcas e () as perdas que receberam os donos delas e asy o dano que se fez na Arenilhardquo e mandar o marquecircs prender os responsaacuteveis que se encontrem nas suas terras105 Como se pode perceber o tom da missiva natildeo resulta propriamente abonatoacuterio para o nobre espanhol

103 SOUSA Anais Vol II IV Cap XXII p 106104 Como recompensa pelos serviccedilos prestados Antoacutenio Tenreiro recebeu da Coroa em

1533 uma tenccedila anual de 30000 reacuteis e o haacutebito de cavaleiro da Ordem de Cristo Ver TENREIRO amp AFONSO Viagens por terra da Iacutendia a Portugal p 18 RL ldquoTenreiro Antoacuteniordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II p 1023

105 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 Nordm45

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 187

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig1 - Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua

Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do

marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

Fig 1

Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o

marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203188

Fernando Pessanha

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig2 - Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar

creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Arenilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada destinada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila assim como o seu

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesahelliprdquo pp 86-82

Fig 2

Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao

comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Are-nilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada desti-nada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesardquo pp 86-82

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 189

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacute-vatildeo de Mendonccedila assim como o seu percurso como capitatildeo nas armadas da Iacutendia acreditamos encontrar-nos em condiccedilotildees para demonstrarmos que a comenda de Arenilha foi efectivamente atribuiacuteda ao navegador como reconhecimento pelos serviccedilos prestados no Oriente

Com efeito satildeo vaacuterios os indicadores que nos levam a afirmaacute-lo Em primeiro lugar o facto de natildeo se encontrar nas croacutenicas nem nas fontes coevas qualquer referecircncia a um homoacutenimo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a balizagem cronoloacutegica compreendida entre 1514 e 1532 periacuteodo em que aparece referido na documentaccedilatildeo Aliaacutes as da-tas discriminadas nos documentos que o referem como comendador de Arenilha corroboram a ideia de esta comenda ter sido atribuiacuteda aquando do seu regresso ao reino Eacute certo que natildeo sabemos a data em que Cristoacutevatildeo teraacute chegado a Portugal ainda que tenhamos notiacutecia da sua passagem pelo sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio de 1524 durante a viagem de regresso108 Poreacutem as tenccedilas atraacutes mencionadas indicam que se encontrava no reino em 1526 Uma vez que os documentos que o referem como comendador da vila da foz do Guadiana remontam a Dezembro de 1529 e Maio de 1530 anos em que o navegador jaacute se encontrava no Oriente eacute de supor que D Joatildeo III lhe teraacute atribuiacutedo a comenda aquando da sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e Marccedilo de 1527 ano em que voltou a partir para a Iacutendia jaacute na qualida-de de capitatildeo de Ormuz

Uma vez que natildeo se verificam homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila para a balizagem cronoloacutegica atraacutes referida e que as datas dos docu-mentos que o referem como comendador de Arenilha satildeo ligeiramente posteriores ao seu regresso ao reino resta-nos determinar se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila reunia as condiccedilotildees necessaacuterias para ser agraciado com uma comenda desta natureza Antes de mais importa referir que a vila de Arenilha e de Castro Marim eram as duas uacutenicas comendas da Ordem de Cristo no Algarve Curiosamente Isabel L Morgado de Sousa e Silva natildeo refere a comenda de Arenilha na dissertaccedilatildeo para doutoramento

108 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo Oceanos Nordm4 pp 17-18 ALBU-QUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 727-728 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 79

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203190

Fernando Pessanha

A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521)109 Poreacutem o documento publicado por Hugo Cavaco natildeo deixa margem para duacutevidas

ldquoNo Bispado do Algarve haacute somente duas Commendas da Ordem (de

Cristo) que satildeo das antigas e as seguintes

A Commenda e Alcaideria-moacuter de Castro Marim avaliou-se em quatro-

centos e cinquenta mil reacuteis no anno de 1608

A Commenda da Alcaideria-mograver de Santo Antonio de Arenilha que estaacute

junto a Castro Marim em cento e trinta mil reacuteis no anno de 1608

No Bispado do Algarve natildeo haacute nenhuma Commenda desta Ordem mais

que as duas velhas que valem quinhentos e oitenta mil reacuteis como se vecirc

da somma adianterdquo110

Aliaacutes soacute o facto de Arenilha ser comenda da Ordem de Cristo poderaacute explicar que o senhorio da vila tenha sido atribuiacutedo exclusivamente a cavaleiros da miliacutecia ao longo de toda a centuacuteria quinhentista111

Naturalmente que estas comendas implicavam desde logo a existecircn-cia de comendadores sobre os quais recaiacutea o senhorio das ditas vilas o que era compreendido como motivo de honra e de prestiacutegio social numa sociedade ainda bastante influenciada pelas antigas tradiccedilotildees medievo-feudais Comendas refira-se que compreendiam o direito agrave administra-ccedilatildeo da localidade e conferiam uma renda para sustentaccedilatildeo do comenda-dor beneficiaacuterio configurando um recurso para os encargos da proacutepria comenda No entanto a atribuiccedilatildeo de uma comenda representava um benefiacutecio atribuiacutedo a cavaleiros professos nas ordens militares como re-compensa por serviccedilos prestados Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Men-donccedila soacute poderia ser agraciado com a comenda de Arenilha caso tivesse sido investido na Ordem de Cristo Foi nesse sentido que procuraacutemos determinar se este navegador professou nesta Ordem Militar

Com efeito a dissertaccedilatildeo Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) de Joatildeo Maria Falcatildeo Pestana de Vascon-celos natildeo faz qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila enquanto cavaleiro da Ordem de Cristo Refere no entanto o seu avocirc Afonso Fur-

109 SILVA A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta110 Documento VIII BNLMicroformas F5040 Documento publicado por CAVACO Revisi-

tando p 52111 Cf PESSANHA Os 500 anos pp 57-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 191

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

tado de Mendonccedila comendador de Cardiga da Ordem de Cristo112 a sua irmatilde Margarida de Mendonccedila enquanto mulher de um comendador da mesma Ordem e o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo que recebeu o haacutebito da miliacutecia em 16 de Abril de 1514113 Ain-da que a referida dissertaccedilatildeo natildeo faccedila qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo enquanto membro desta Ordem vem demonstrar a ligaccedilatildeo de alguns dos seus familiares agrave mesma natildeo soacute na qualidade de cavaleiros como tambeacutem de comendadores

Poreacutem Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social de Teresa Lacerda assim como a jaacute referida tese A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) de Isabel L Morgado de Sousa e Silva jaacute identificam efectivamente Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como frei cavaleiro desta Ordem114 De acordo com a obra consultada Cavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVI Cristoacutevatildeo de Mendonccedila recebeu efectivamente o haacutebito da Ordem de Cristo em 16 de Abril de 1514115 exactamente na mesma data em que o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila tambeacutem foi in-vestido116 De resto o facto de Cristoacutevatildeo aparecer referido como mem-bro da miliacutecia numa provisatildeo em que D Joatildeo III manda o almoxarife de Aveiro pagar ldquoa Cristoacutevatildeo de Mendonccedila sua tenccedila deste ano 50000 reacuteis assentada na alfacircndega de Lisboa com o haacutebito de Cristordquo117 vem dissipar qualquer duacutevida que ainda subsistisse

Note-se que identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como cavaleiro da Ordem de Cristo natildeo pudemos deixar de reparar no silecircncio dos cronistas no momento de identificar os intervenientes no processo ex-pansionista com as suas respectivas filiaccedilotildees nas Ordens Militares De facto quer Joatildeo de Barros quer os cronistas que lhe sucederam natildeo fazem qualquer referecircncia agrave filiaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo em qualquer Ordem tal como de acordo com o que constataacutemos raramente o fazem em relaccedilatildeo a outros cavaleiros Esta evidecircncia pode parecer ainda mais estranha se tivermos em consideraccedilatildeo o forte envolvimento da Ordem

112 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Vol I p 377 FARIA Livro de Linhagens p 275

113 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares p 392 114 LACERDA Os Capitatildees das Armadas pp 120 e 228 SILVA A Ordem de Cristo p 336

SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma perspectiva de estudordquo apecircndice

115 FARIA ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo p 21116 FARIA ldquoCavaleirosrdquo p 21 Ver tambeacutem SILVA A Ordem de Cristo p 330117 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203192

Fernando Pessanha

de Cristo na Histoacuteria da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses Ordem Militar sublinhe-se que teve como governadores figuras in-contornaacuteveis da famiacutelia real como o infante D Henrique o infante D Fernando o rei D Manuel ou o rei D Joatildeo III118 Poreacutem haacute que ter em consideraccedilatildeo que documentos como Memoacuteria das Armadas ou o Livro de Lisuarte de Abreu natildeo satildeo fontes sobre qualquer uma das Ordens razatildeo pela qual se torna compreensiacutevel a ausecircncia de referecircncias mais completas relativamente aos intervenientes no processo de expansatildeo Aliaacutes a intenccedilatildeo subjacente agrave produccedilatildeo de obras como Histoacuteria do Des-cobrimento e da Conquista da Iacutendia natildeo passa por apresentar informa-ccedilatildeo detalhada sobre as individualidades que participaram no processo expansionista mas antes destacar o protagonismo reacutegio em todo este processo119

Por fim natildeo se verificando homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a cronologia abordada coincidindo as datas que o referem como comendador de Arenilha e identificado este navegador como cavalei-ro da Ordem de Cristo resta-nos perceber por que motivo lhe teraacute sido entregue a comenda desta vila na foz do Guadiana Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo que a fundaccedilatildeo de Are-nilha prende-se com a afirmaccedilatildeo da soberania poliacutetica e administra-tiva de D Manuel sobre um territoacuterio frequentado por castelhanos Eacute exactamente nesse contexto que em 1421 Castro Marim justificava o pedido de isenccedilatildeo de alguns encargos pelos ldquoconstantes trabalhos que os moradores tinham com os castelhanos que insistiam em vir pescar ao reinordquo120 Quer isto dizer que os castelhanos vinham pescar para as margens portuguesas natildeo pagando os devidos impostos agrave Coroa Aliaacutes a existecircncia do topoacutenimo de origem castelhana Arenilha121 ainda antes da elaboraccedilatildeo da Carta de Privileacutegio que manda proceder agrave construccedilatildeo

118 FONSECA ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo pp 321-347 Ver tambeacutem SILVA A Or-dem de Cristo pp 43-110

119 Cf SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristordquo pp 349-361120 VENTURA ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo p 608

ANTT Chancelaria de D Afonso V liv 2 fl30121 De acordo com o dicionaacuterio da Real Academia Espantildeola ldquoarenillardquo apresenta-se como

sinoacutenimo de ldquoarena menudardquo Ver Dicionario de la Real Academia Espantildeola Disponiacutevel em httplemaraeesdraeval=arenilla ndash Consultado dia 10 de Setembro de 2013 Note-se que quando em 1775 se pretendeu baptizar a nova vila iluminista com o nome de Vila Real de Santo Antoacutenio de Arenilha prontamente o Marquecircs de Pombal proibiu a utilizaccedilatildeo do nome ldquoArenilhardquo alegando que ldquoeacute uma palavra hespanhola e Villa Real uma povoaccedilatildeo portuguesardquo Ver OLIVEIRA Monografia p 71

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 193

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

da vila122 indica a ocupaccedilatildeo daquele areal na margem portuguesa da foz do Guadiana por populaccedilotildees de pescadores de origem castelhana Dadas as circunstacircncias seria do interesse estrateacutegico do monarca que esta comenda recaiacutesse sobre algueacutem experimentado na guarda da fronteira e que fizesse cumprir o pagamento dos devidos direitos aduaneiros Re-corde-se que Arenilha para aleacutem de comenda da Ordem de Cristo era uma vila de fronteira situada na margem portuguesa do Guadiana tal como o era a vila de Mouratildeo de onde Cristoacutevatildeo de Mendonccedila era natu-ral Como anteriormente referimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Men-donccedila o fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo que foi nomeado em 1476 alcaide-mor de Mouratildeo123 uma vila fortificada do Alentejo que guarda-va a fronteira portuguesa frente a Espanha O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas mostra-nos o castelo de Mouratildeo onde Cristoacutevatildeo teraacute crescido localizado no cimo de uma colina sobranceiro ao Guadiana124 Quer isto dizer que o ceacutelebre navegador era descendente de uma famiacutelia experimentada na guarda da fronteira face ao reino vizinho e familia-rizado com as actividades militares tributaacuterias e administrativas que lhe eram inerentes125 Assim sendo esta condiccedilatildeo de fronteiro a juntar ao facto de Cristoacutevatildeo ser cavaleiro da Ordem de Cristo teraacute resultado altamente pertinente no momento em que D Joatildeo III decidiu atribuir a comenda de Arenilha a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como recompensa pelos serviccedilos prestados

Por fim mas natildeo menos relevante teraacute sido a experiecircncia naval e militar adquirida por Mendonccedila nos mares do Oriente e direccionada para a foz do Guadiana sistematicamente ameaccedilada pelos ataques da pi-rataria magrebina126 Recorde-se que Mendonccedila no decurso das suas na-vegaccedilotildees na australaacutesia viu-se na necessidade de defender posiccedilotildees por-

122 O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas produzido por volta de 1509 jaacute indicava o topoacutenimo que veio a ser oficializado com a Carta de Privileacutegio de 12 de Fevereiro de 1513 Ver ARMAS O Livro das Fortalezas fl 1

123 FREIRE Brasotildees Vol III p 173124 ANTT Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Livro das Fortalezas si-

tuadas no Extremo de Portugal e Castela por Duarte de Armas escudeiro da Casa do Rei D Manuel I Nordm 159 fls 13-14 ARMAS O Livro das Fortalezas fls 13-14

125 Refira-se que foi durante o periacuteodo em que o pai de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila deteve a alcaidaria de Mouratildeo que o rei D Manuel obteve dos povos nas cortes de Lisboa de 1502 uma vultosa contribuiccedilatildeo que fez com que o castelo da vila fosse intervenciona-do por dois importantes arquitectos reacutegios os irmatildeos Francisco e Diogo de Arruda os mestres das obras reacutegias da comarca de entre o Tejo e o Guadiana Ver FARIA ldquoForti-ficaccedilotildees de Portugal na fronteira da Estremadura espanholardquo p 161

126 Sobre este assunto veja-se PESSANHA ldquoAtaques da piratariardquo pp 63-94

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203194

Fernando Pessanha

tuguesas dando combate aos adversaacuterios Recordemos a este respeito o ataque movido por Melique Ladil agrave fortaleza de Paceacutem entatildeo guardada por Mendonccedila e a maneira como o ldquomourordquo foi desbaratado e despo-jado das treze embarcaccedilotildees usadas no assalto127 Dadas as circunstacircnci-as seria um desperdiacutecio natildeo se aproveitar a experiecircncia deste capitatildeo numa altura em que se verificava um incremento da actividade piraacutetica nas costas do Algarve Esta actividade da pirataria na foz do Guadiana eacute aliaacutes referida por Bernardo Rodrigues em vaacuterias ocasiotildees nomeada-mente aquando da estadia da condessa de Redondo na vila de Arenilha em 1522128 ou quando Vasco Fernandes Ceacutesar - antigo adaiacutel de Azamor e capitatildeo da Armada do Estreito129 - foi incumbido embarcar o conde do Redondo D Joatildeo Coutinho na vila de Arenilha e escoltaacute-lo a Arzila130 Refira-se que a caminho da foz do Guadiana o navio de Vasco Fernan-des Ceacutesar foi atacado por duas naus tendo-se seguido um combate naval que resultou na explosatildeo de parte da alcaacuteccedilova atirando cinco homens ao mar entre os quais Vasco Fernandes que ficou gravemente ferido131

Vemos deste modo que a entrega da comenda de Arenilha a um in-diviacuteduo como Cristoacutevatildeo de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo descendente de uma famiacutelia de fronteiros e navegador experimentado no combate naval natildeo soacute era altamente pertinente como simboacutelica e manifestamente estrateacutegica para a defesa do extremo sudeste algarvio e da foz do Guadiana onde Mendonccedila deveria actuar com autoridade se-nhorial usufruindo dos seus bens e rendimentos E no caso da comenda de Arenilha Seriam generosos os seus rendimentos Sem duacutevida Se assim natildeo fosse o rei D Duarte natildeo teria doado ao infante D Henrique ainda em 25 de Setembro de 1433 a ldquodiacutesima nova de todo o pescado que pescarem quaisquer pessoas no mar do Monte Gordordquo132 Aliaacutes seraacute certa-

127 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III pp548-549128 RODRIGUES Anais de Arzila Tomo I Cap XC p 373129 GOacuteIS Chronica IV Cap LVII p 552 Sobre a Armada do Estreito veja-se GODINHO

ldquoA armada do estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo pp117-137130 RODRIGUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 PESSANHA Subsiacutedios p 100131 Segundo Bernardo Rodrigues os sobreviventes portugueses por pouco natildeo foram

executados Os que sobreviveram ao combate foram aprisionados e levados para Di-eppe Vasco Fernandes apesar de ferido acabou por escapar do cativeiro desfiando uma esteira e escapando por ela da torre onde se encontrava aprisionado RODRI-GUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 Ver tambeacutem PISSARRA ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Armada do Estreitordquo pp 144-145

132 SERRAtildeO Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fundaccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) p 65 OLIVEIRA Monografia p 73

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 195

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

mente o motivo econoacutemico que jaacute em 1555 estaraacute na origem da disputa pelo senhorio de Arenilha entre Jeroacutenimo de Melo fidalgo da Casa Real e alcaide-mor de Castro Marim e Luiacutes Leite frei cavaleiro da Ordem de Cristo e filho de Antoacutenio Leite o anterior alcaide133

Relativamente agrave defesa sabemos que Arenilha natildeo possuiacutea castelo torre ou qualquer fortificaccedilatildeo digna de registo ateacute 1542-1547 periacuteodo em que o alcaide Antoacutenio Leite daacute-nos conta das ldquotramqueyras e repai-rosrdquo construiacutedos sob o seu comando para a populaccedilatildeo se defender dos ataques da pirataria moura134 Ainda assim Mendonccedila estava obrigado a zelar pela defesa da vila independentemente de esta ter ou natildeo for-tificaccedilotildees para a proteger Se tivermos em consideraccedilatildeo que a sua no-meaccedilatildeo como comendador o obrigava agrave realizaccedilatildeo de um inventaacuterio ao patrimoacutenio da comenda (infelizmente desconhecido) e ao dever de fixar residecircncia na sua aacuterea de governo135 eacute muito provaacutevel que Cristoacutevatildeo se tenha detido durante algum tempo na vila da foz do Guadiana algures entre finais de 1524 aquando da sua chegada ao reino136 e Marccedilo de 1527 quando voltou a partir para o Oriente

Como anteriormente referimos os comendadores deviam fixar-se nas suas comendas para melhor procederem agrave sua defesa e melhor ren-tabilizarem as mesmas Assim sendo como eacute possiacutevel que os documen-tos que referem Cristoacutevatildeo como comendador de Arenilha sejam relati-vos aos anos em que este se encontrava na capitania de Ormuz Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo de que a principal obrigaccedilatildeo dos cavaleiros da Ordem de Cristo era a luta contra os inimigos da feacute devendo estar prontos para a guerra sempre que o Mestre os convocasse Uma vez que as situaccedilotildees de guerra eram cons-tantes nos territoacuterios de aleacutem-mar onde a presenccedila dos cavaleiros da Ordem se tornava necessaacuteria natildeo eacute de admirar que estes fossem dispen-sados da exigecircncia que os obrigava a permanecer nas suas comendas137

133 CAVACO Revisitando pp 18-20 PESSANHA Os 500 anos pp 72-73134 Carta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava

atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras e que era necessaacute-rio enviar-lhe socorro ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos p 99 PINTO ldquoIacutendice Analiacuteticordquo p 267

135 Cf SILVA A Ordem de Cristo pp 189-190136 Uma vez que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila se encontrava na Aacutefrica do Sul em Marccedilo ou Maio

de 1524 eacute de supor que a sua chegada ao reino se tenha dado ainda no mesmo ano137 SILVA A Ordem de Cristo p 191

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203196

Fernando Pessanha

Eacute nesse sentido que encontramos Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comen-dador de Arenilha em 1529 e 1530 anos em que jaacute se encontrava como capitatildeo na fortaleza de Ormuz De resto era nesta fortaleza que ainda se encontrava em 1531 ano em que piratas de Larache atacaram a vila da foz do Guadiana ldquoonde fizeacuteratildeo muito dano em navios que tomaacuteratildeo e den-tro da Barra de Aiamonte fizeacuteratildeo despejar a Arrinilha e a Montegordordquo138

7 Conclusatildeo

Com efeito muito se tem escrito (e especulado) sobre a alegada des-coberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila No entanto e indepen-dentemente dos resultados alcanccedilados pelo navegador nesta expediccedilatildeo parece indiscutiacutevel que foi generosamente recompensado aquando do seu regresso ao reino Resta-nos perceber porquecirc Jaacute Armando Cortesatildeo muito antes de Peter Trickett tinha levantado a hipoacutetese de a rentaacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz ter sido entregue a Mendonccedila como re-compensa pelos serviccedilos prestados na expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro139 Natildeo eacute conhecido poreacutem qualquer documento que ateste o ecircxito do navegador nesta expediccedilatildeo Omissatildeo que segundo investigadores como Armando Cortesatildeo Damiatildeo Peres ou Jaime Cortesatildeo teraacute sido consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo determinada pelas limitaccedilotildees de navega-ccedilatildeo estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas e com o contencioso entre Portugal e Espanha pela posse das Molucas140

O certo eacute que Mendonccedila ao regressar ao reino foi agraciado com uma das capitanias mais rentaacuteveis do impeacuterio no Oriente para aleacutem de ter recebido compensaccedilotildees econoacutemicas e aparecer referido em 1529 e 1530 como comendador da vila de Arenilha na foz do Guadiana Refira-se a este respeito que muitos capitatildees cavaleiros da Ordem de Cristo se lanccedilaram no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Poreacutem mui-to poucos chegaram a obter as tatildeo almejadas comendas141 Vemos deste

138 RODRIGUES Anais Tomo II Cap XXXV p 209139 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158140 CORTESAtildeO A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e

de D Joatildeo II Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 65-66 PERES ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na Histoacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II pp 17-21

141 Entre os afortunados que lograram obter este tipo de rendimento contam-se muito poucos D Joatildeo Pereira D Pedro de Castelo Branco Nuno Furtado Simatildeo Guedes entre outros Ver CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 216

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 197

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

modo que a atribuiccedilatildeo da comenda de Arenilha significou um motivo de grande honra e prestiacutegio para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Ora se este navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro resta-nos perceber porque motivo teraacute sido agraciado com compensaccedilotildees eco-noacutemicas a nomeaccedilatildeo para uma das mais rentaacuteveis capitanias de todo o Impeacuterio no Oriente e uma honrosa comenda da Ordem de Cristo Eacute caso para dizer que a problemaacutetica em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila con-tinua a levantar muitas duacutevidas e poucas certezas

Fontes e Bibliografia

1 Arquivos

ANTT

Chancelaria de D Afonso V Livro 2 fl30

Chancelaria de D Manuel I Livro 4 fl37 Livro 8 fl 29v Livro 9 fl4v Livro 10 fl53 Livro 13 fl60 Livro 37 fl64

Chancelaria de D Joatildeo III Livro 12 fl62

Chancelaria da Ordem de Cristo Livro13 fls375 vndash 379v

Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1

Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 15 Nordm47 Pt I maccedilo 44 Nordm45 Pt I maccedilo 45 Nordm9

Pt II maccedilo 51 Nordm26 Pt II maccedilo 53 Nordm182 Pt II maccedilo 93 Nordm150 Pt II maccedilo 109 Nordm131 Pt II maccedilo 131 Nordm226 Pt II maccedilo 134 Nordm57 Pt II maccedilo 135 Nordm45 Pt II maccedilo 135 Nordm49 Pt II maccedilo 136 Nordm102 Pt II maccedilo 141 Nordm91

Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Nordm159

Casa Real Cartoacuterio da Nobreza Livro Nordm20 - Livro da Nobreza e da per-feiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal fl XII

2 Fontes Impressas

ABREU Lisuarte de Livro de Lisuarte de Abreu (Reproduccedilatildeo do manuscrito existente na Perpont Morgan Library de Nova York) Comissatildeo Nacional para as comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portugueses Lisboa 1992

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203198

Fernando Pessanha

ARMAS Duarte de Livro das Fortalezas Arquivo Nacional da Torre do TomboInapa Lisboa 1997

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada III Na Regia Officina Typografica Lisboa MDCCLXXVII

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada IV Imprensa Nacional Casa da Moe-da Lisboa 2001

BORGES Joseacute Calvatildeo Borges Livro do Armeiro-Mor Academia Portugue-sa de HistoacuteriaEdiccedilotildees Inapa Lisboa 2000

CASCAtildeO Joatildeo ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevorardquo Uma Jornada ao Alentejo e ao Algarve A altera-ccedilatildeo das linhas de forccedila da poliacutetica nacional Livros Horizonte Lisboa 1984 pp 77-136

CASTANHEDA Fernatildeo Lopes de Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses 2 vols Lello amp Irmatildeos Editores Porto 1979

CORREIA Gaspar Lendas da Iacutendia Tomo III na Typographia da Acade-mia Real das Sciencias Lisboa 1862

Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI Centro de Estudos Histoacutericos Ultramarinos Lis-boa 1969

GAYO Felgueiras Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX Ediccedilatildeo de Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Arauacutejo Affonso Braga 1939

GUEDES Liacutevio da Costa Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) Arquivo Histoacuterico Militar Lisboa 1988

GOacuteIS Damiatildeo de Chonica do Serenissimo Senhor Rei D Manoel Lisboa 1749

JOSEacute Frei Joatildeo de Satildeo ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 21-132

RODRIGUES Bernardo Anais de Arzila 2 vols Academia das Sciecircncias de Lisboa Lisboa 1915-1919

SARRAtildeO Henrique Fernandes ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 133-174

SOUSA Frei Luiacutes de Anais de D Joatildeo III 2 vols Saacute da Costa Lisboa 1928

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 199

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

SOUSA Manuel de Faria e Asia Portvgvesa Officina de Henrique Valen-te de Oliveira impressor del Rey NS Lisboa 1666

TENREIRO Antoacutenio amp AFONSO Mestre Viagens por terra da Iacutendia a Por-tugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica Mem-Martins 1991

3 Estudos

ALBUQUERQUE Luiacutes de (dir) Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-tos Portugueses 2 vols Ciacuterculos de Leitores Lisboa 1994

ALMEIDA Fortunato de Histoacuteria de Portugal Vols III-VII Promoclube Lisboa sd

CARDOSO Antoacutenio Pereira A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila agrave Austraacutelia em 1522 Academia da Marinha Lisboa 1994

CARVALHO Andreia Martins de ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Ma-nuelinardquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia ndash Actas do Coloacutequio Internacional Joatildeo Paulo Oliveira e Costa amp Viacutetor Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 199-226

CARVALHO Andreia Martins de Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria dos Descobrimen-tos e da Expansatildeo Portuguesa (seacuteculos XV-XVIII) apresentado agrave UNL Lisboa 2006

CAVACO Hugo ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio (Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Arte no Algarve) Cacircmara Muni-cipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1987

CAVACO Hugo Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha Cacircmara Munici-pal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1995

CORREIA Joseacute Eduardo Horta Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina Faup Publicaccedilotildees Porto 1997

CORREIA Joseacute Eduardo Horta O Algarve em Patrimoacutenio Gente Singular Editora Olhatildeo 2010

CORTESAtildeO Armando ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Aus-tralaacutesia Macau Japatildeo)rdquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939

CORTESAtildeO Jaime ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal (Dir Damiatildeo Peres) Vol IV Portucalense Editora Barce-los 1932 pp 9-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203200

Fernando Pessanha

CORTESAtildeO Jaime A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e de D Joatildeo II Lisboa 1960

COSME Joatildeo ldquoOs homens de ciecircnciardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 91-97

COSME Joatildeo ldquoOs Navegadores ndash Vasco da Gamardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 145-152

COSTA Joatildeo Paulo Oliveira e ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo A Nobreza e a Expansatildeo Estudos Biograacuteficos Joatildeo Paulo Oliveira e Costa (coord) Patrimoacutenia Cascais 2000 pp 11-51

DOMINGUES Francisco Contente ldquoOs portugueses descobriram a Aus-traacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Si-motildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Univer-sidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 163-172

DOMINGUES Francisco Contente Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 Circulo dos Leitores Lisboa 2016

FARIA Antoacutenio Machado de Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI Acade-mia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 1956

FARIA Antoacutenio Machado de ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo Separata da revista Arqueologia e Histoacuteria vol VI Lisboa 1955

FARIA Miguel Figueira de ldquoFortificaccedilotildees de Portugal na fronteira da Es-tremadura espanholardquo Anais ndash Seacuterie Histoacuteria Vol II Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 1995 pp 156-187

FONSECA Luiacutes Adatildeo da ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo A Alta No-breza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 322-347

FREIRE Anselmo Braamcamp Brasotildees da Sala de Sintra 3 vols Impren-sa da Universidade de Coimbra Coimbra 1921-1930

GARCIA Joseacute Manuel Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII QuidNovi Lisboa 2009

GARCIA Joseacute Manuel O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash 1555 Nordm 8 QuidNovi Vila do Conde 2012

GODINHO Rui Landeiro ldquoA Armada do Estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (Seacuteculos XV-XIX) Ediccedilotildees Cul-turais da Marinha Lisboa 2003 pp 117-137

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 10: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203174

Fernando Pessanha

Seja como for aparece referido na documentaccedilatildeo como fidalgo da Casa Real logo em 151443 Se seguirmos as Deacutecadas da Aacutesia apercebemo-nos de que ldquoChristovatildeo de Mendoccedila filho de Diogo de Mendoccedila Alcaide moacuter de Mouratildeordquo44 partiu para o Oriente em 23 de Abril de 1519 na armada de Jorge de Albuquerque composta por 14 naus Sigamos portanto o rasto biograacutefico deixado por Cristoacutevatildeo durante a sua primeira viagem ao Oriente

5 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente

51 A expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro

Decorria o ano de 1519 quando Diogo Lopes de Sequeira o entatildeo go-vernador da Iacutendia incumbiu Diogo Pacheco de obter informaccedilotildees sobre a existecircncia da miacutetica Ilha do Ouro que segundo Joatildeo de Barros se en-contrava ldquoao Sul daquela Ilha Ccedilamatrardquo45 Ao chegar ao porto de Barus Diogo Pacheco tomou conhecimento da existecircncia de uma outra ilha si-tuada a sudeste do arquipeacutelago indoneacutesio para a qual os naturais do reino de Barus jaacute tinham navegado de modo a obterem ouro atraveacutes do trato com os indiacutegenas46 Recolhidas estas informaccedilotildees Diogo Pacheco navegou ao largo da Ilha de Samatra seguindo para sudeste Poreacutem ao chegar ao estreito de Sunda entre Samatra e Java optou por navegar para noroeste circum-navegando Samatra ateacute chegar a Malaca

No ano seguinte em 1520 o mesmo navegador tentou repetir a ex-ploraccedilatildeo Poreacutem ao aproximar-se do porto de Barus foi recebido por navios hostis que lhe recusaram a entrada com tiros de bombarda Quanto a Diogo Pacheco acabaria por vir a falecer num recontro com os habitantes de uma ilha depois de o seu navio encalhar na costa47

43 Provisatildeo para se pagar a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila fidalgo da Casa 7 mil reacuteis de mora-dia ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 51 Nordm26

44 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap IX p 325 Ver tambeacutem GOacuteIS Chronica IV Cap XXXVI p 515 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento p 27 SOUSA Asia Tomo I Pt III Cap III p 190 ABREU Livro de Lisuarte de Abreu fl37v-38

45 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap III p268 O mito em torno da existecircncia de uma ilha do Ouro tem origem numa confusatildeo antiga com a ilha de Samatra onde se produzia ouro em Minangkabau facto que os portugueses conheceram Sobre a miacutetica Ilha do Ouro veja-se THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o descobrimento da Austraacuteliardquo pp 66-73

46 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap III p 26947 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I III Cap III p 273 Ver tambeacutem SOUSA Asia

Tomo I Pt III Cap III p187 Diz-nos Joatildeo de Barros que Diogo Pacheco ao ver-se com vento que lhe era contraacuterio e face aos indiacutegenas que se metiam nas suas em-

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 175

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

Como anteriormente referimos foi em 23 de Abril de 1519 que D Manuel enviou para a Iacutendia uma armada comandada por Jorge de Albuquerque onde seguia ldquoChristovatildeo de Mendoccedila filho de Diogo de Mendoccedila Alcaide moacuter de Mouratildeordquo Identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como um dos capitatildees desta armada resta-nos perceber porque moti-vo se teraacute aventurado no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Como anteriormente vimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Mendoccedila alcaide-mor de Mouratildeo Poreacutem natildeo era filho primogeacutenito Quer isto dizer que com o falecimento do seu pai a alcaidaria de Mouratildeo passou para o seu irmatildeo mais velho Pecircro de Mendonccedila em 151748 Eacute nesse sentido que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teraacute encontrado nos serviccedilos na Iacutendia o meio de ascensatildeo social para os filhos secundogeacutenitos uma vez que estes dependiam da generosidade reacutegia para a obtenccedilatildeo de tenccedilas e mercecircs que permitissem a manutenccedilatildeo ou elevaccedilatildeo do seu estatuto Vemos deste modo que a participaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo no projecto expan-sionista portuguecircs se apresentava perfeitamente normal se tivermos em conta o seu contexto social e familiar assim como a sua condiccedilatildeo de secundogeacutenito49

Ao seguirmos a croacutenica de Joatildeo de Barros apercebemo-nos de que a armada que partiu para a Iacutendia em 1519 apenas chegou ao destino em 1520 por motivo de invernada em Moccedilambique onde Cristoacutevatildeo se dete-ve com outros sete capitatildees50 De resto uma carta datada de 22 de Janei-

barcaccedilotildees para lhe tomarem o navio tentou evadir-se para o alto mar Poreacutem ao ser arrastado para a costa acabou por vir a perecer tendo apenas escapado alguns malaios que atravessaram a ilha ateacute agrave costa norte onde encontraram embarcaccedilatildeo para os levar a Malaca As uacuteltimas palavras de Joatildeo de Barros sobre esta viagem tem levado alguns autores a considerarem que Diogo Pacheco teraacute perecido na Austraacute-lia ldquoesta perdiccedilatildeo de Diogo Pacheco que foi o primeiro dos nossos que perdeo a vida por descubrir esta Ilha do ourordquo Eacute o caso de Trickett ou de Joseacute Manuel Azevedo e Silva para quem Diogo Pacheco foi o primeiro portuguecircs a descobrir a Austraacutelia tendo alcanccedilado a costa noroeste da ilha em 1519 Ver SILVA ldquoDiogo Pacheco capi-tatildeo-morrdquo pp 111-119

48 A tenccedila que eacute atribuiacuteda a Beatriz Soares viuacuteva de Diogo de Mendonccedila indica que este jaacute tinha falecido em Julho de 1516 Ver ANTT Chancelaria de D Manuel I livro 9 fl4v Pecircro de Mendonccedila fidalgo da Casa Real foi nomeado alcaide-mor do castelo e vila de Mouratildeo com todas as rendas direitos foros tributos liberdades e honras em consideraccedilatildeo aos serviccedilos prestados pelo seu pai Diogo de Mendonccedila em 14 de Julho de 1517 Ver ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 37 fl64 Ver tambeacutem FREIRE Brasotildees Vol III p 173

49 COSTA ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo pp 11-51

50 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento V Cap XX p 38 e Cap XXX p 56

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203176

Fernando Pessanha

ro de 1521 atesta a presenccedila de Mendonccedila e de seus homens em Goa51 tal como a Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) con-firma a sua passagem pela capital do Estado da Iacutendia no mesmo ano52

Seja como for a armada que partiu em 1519 levava ordens de D Manuel para o governador Diogo Lopes de Sequeira Determinava o monarca portuguecircs que o governador da Iacutendia escolhesse algueacutem da sua confianccedila para ir descobrir a Ilha do Ouro53 Por outras palavras D Manuel pretendia que se desse continuidade agraves exploraccedilotildees iniciadas por Diogo Pacheco Tal como podemos acompanhar no mesmo capiacutetulo da Deacutecada III da Aacutesia foi Diogo Lopes de Sequeira a escolher ldquoChristo-vatildeo de Mendoccedila filho de Pero de Mendoccedila Alcaide moacuter de Mouratildeordquo54 para tal missatildeo55 A documentaccedilatildeo mostra-nos que Cristoacutevatildeo se encontrava em Goa em Janeiro de 152156 e que partiu de Cochim em 4 de Maio de 152157 Se seguirmos a Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) apercebemo-nos de que a armada comandada por Mendonccedila e destinada a descobrir a Ilha do Ouro era constituiacuteda por quatro navios o navio Satildeo Cristoacutevatildeo em que o proacuteprio viajava a caravela Rosaacuterio co-mandada pelo capitatildeo Pedro Eanes Francecircs o bergantim Santo Antoacutenio comandado pelo capitatildeo Francisco Poles e um parau comandado pelo capitatildeo Gonccedilalo Homem58 Esta armada teraacute chegado agrave Ilha de Samatra por volta de Junho

51 Ver Conhecimento em que se declara que Diogo Lourenccedilo recebeu do feitor de Goa Francisco Cornivel 8 cruzados para mantimento da gente de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 93 Nordm150

52 Ver ldquoRelaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11)rdquo Documento publicado Documentos Sobre os Portugueses Vol VI p100

53 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I IV Cap III p 41254 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I IV Cap III p 413 O cronista poreacutem engana-se ao

referir o parentesco uma vez que o navegador incumbido de descobrir a Ilha do Ouro era Cristoacutevatildeo de Mendonccedila irmatildeo (e natildeo filho) de Pecircro de Mendonccedila

55 Note-se portanto que ao contraacuterio do que eacute defendido por Tricket ndash que tenta colocar esta expediccedilatildeo ao niacutevel da viagem de Vasco da Gama agrave Iacutendia - natildeo houve qualquer ordem real a nomear Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como capitatildeo da expediccedilatildeo destinada a descobrir a miacutetica ilha tendo sido o entatildeo governador da Iacutendia a escolher o capitatildeo para tal empreendimento Ver TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio pp 80-81

56 Conhecimento em que se declara que Diogo Lourenccedilo recebeu do feitor de Goa Fran-cisco Cornivel 8 cruzados para mantimento da gente de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 93 Nordm150

57 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila partiu acompanhado por Jorge de Brito que ia para as Mo-lucas onde deveria construir uma fortaleza e interceptar Fernatildeo de Magalhatildees Ver THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 97

58 Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) Documento publicado in Documentos Sobre os Portugueses Vol VI p 96

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 177

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

A primeira referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece aquando da sua passagem pelo porto de Pedir59 onde encontrou Rafael Catanho que entatildeo regressava de Acheacutem no extremo noroeste da ilha de Sama-tra60 Pouco tempo depois chegava agravequele porto de Pedir o que restava da armada de Jorge de Brito morto em combate juntamente com gran-de nuacutemero de portugueses apoacutes um confronto com as forccedilas do rei de Acheacutem61 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ao encontrar aquela armada desba-ratada e sem capitatildeo pretendeu colocaacute-la sob seu comando62 Poreacutem os poucos fidalgos sobreviventes natildeo o consentiram alegando que o co-mando deveria ser entregue a Antoacutenio de Brito o irmatildeo do falecido ca-pitatildeo que se deveria juntar agrave armada depois de consertar o seu navio63

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila rumou entatildeo a Paceacutem onde se deveria rea-bastecer de mantimentos para dar continuidade agrave viagem Todavia ao chegar a este ponto da narrativa diz-nos Joatildeo de Barros que ldquoo tempo natildeo era da monccedilatildeo pera onde cada hum havia de ir principalmente a de Christovatildeo de Mendoccedila que era jaacute passadardquo64 A acrescentar ao facto de o navegador ter perdido os ventos de monccedilatildeo acresce que o capitatildeo de Malaca Jorge de Albuquerque se encontrava em Paceacutem a construir uma fortaleza destinada a proteger uma feitoria cujo principal objecti-

59 Porto de grande importacircncia no comeacutercio do Iacutendico situado na parte nordeste da Ilha de Samatra O desenvolvimento de Pedir assim como o de Paceacutem relaciona-se estrei-tamente com a propagaccedilatildeo do islatildeo na Indoneacutesia ocidental Em 1509 Diogo Lopes de Sequeira assinou um tratado com o sultatildeo de Pedir e com a conquista de Malaca o seu principal comeacutercio passou a ser dirigido para esta cidade Sobre Pedir veja-se SS ldquoPedirrdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Portugueses (Dir Luis de Albu-querque) Vol II pp 870-872

60 O sultanato islacircmico de Acheacutem foi uma das entidades que mais se opocircs aos interesses dos portugueses estabelecidos em Malaca Fundado por um descendente do rei de Pedir transformou-se num reino poderoso que conquistou vaacuterias terras na ilha de Samatra e ao qual outros reinos pagavam tributo Ver GARCIA Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII pp 198-200

61 Este confronto com o reino de Acheacutem eacute tambeacutem narrado por Damiatildeo de Goacuteis e Fernatildeo Lopes de Castanheda Ver GOacuteIS Chronica IV Cap LXVII pp 566-567 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento V Cap LXV pp 107-109

62 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p546 Fernatildeo Lopes de Castanheda ainda que natildeo refira Cristoacutevatildeo revela que ldquocomo os nauios natildeo tinhatildeo capitatildees ouue alguns que se quiseram levantar coeles amp irse a diversas partes a fazer presasrdquo CASTA-NHEDA Histoacuteria do Descobrimento pp 107-110

63 Com efeito com a chegada de Antoacutenio de Brito foi apresentada uma provisatildeo de D Manuel I que o nomeava capitatildeo daquela armada em caso de falecimento de Jorge de Brito

64 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 548

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203178

Fernando Pessanha

vo consistia na recolha de pimenta que se produzia na regiatildeo65 Foi nes-se sentido que Jorge de Albuquerque determinou que todos os capitatildees que se encontravam em Paceacutem ali permanecessem em ldquofavor daquela fortaleza em quanto ella natildeo estava em estado pera se poder defenderrdquo66

Vemos deste modo que a expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo rumo agrave Ilha do Ouro foi interrompida em funccedilatildeo da necessidade que os portugueses sentiram em se fortificarem naquele ponto da ilha de Samatra Aliaacutes eacute o proacuteprio cronista a referir que a presenccedila de Cristoacutevatildeo e dos outros ca-pitatildees foi providencial para que a fortaleza se pudesse construir jaacute que os adversaacuterios os atacavam de forma sistemaacutetica Num desses ataques Melique Ladil um mouro que reivindicava para si o reino de Paceacutem aproximou-se da fortaleza com treze lancharas67 atrevendo-se a deitar fogo agrave fortificaccedilatildeo Foi entatildeo que Cristoacutevatildeo e os outros capitatildees saiacuteram em sua perseguiccedilatildeo desbaratando o adversaacuterio e confiscando-lhe todas as embarcaccedilotildees para serviccedilo agrave fortaleza Usando as palavras de Manuel de Faria e Sousa ldquoCristoval de Mendoccedila que bien fuerotilde menester para re-sistir y humillar despues a un orgulloso Moro que com algunos baxeles de remo infectava aquella marinardquo68 Finalmente terminada a empreitada Cristoacutevatildeo de Mendonccedila voltou a partir para Malaca69

Tal como Diogo Pacheco eacute possiacutevel que o navegador portuguecircs tenha contornado Samatra antes de partir para Malaca De acordo com Luiacutes Filipe Thomaz eacute provaacutevel que o navegador durante a viagem tenha descoberto uma ilha que deve ter tomado pela Ilha do Ouro ainda que constatado o erro a tenha baptizado com o nome que ainda hoje tem Ilha do Engano Seja como for temos notiacutecia de que a armada jaacute se en-contrava em Malaca em finais de 1521 onde a caravela Santa Maria do Rosaacuterio recebeu mantimentos em 10 de Dezembro para poder seguir

65 Esta fortaleza foi concebida para proteger uma feitoria cujo principal objectivo con-sistia na recolha da pimenta Poreacutem este enclave veio a revelar-se de difiacutecil manuten-ccedilatildeo devido aos ataques de que era alvo parte dos habitantes de Acheacutem Os portugue-ses acabariam por abandonar a fortaleza em Maio de 1523 natildeo tendo ficado qualquer testemunho iconograacutefico deste efeacutemero estabelecimento Castanheda poreacutem refere tratar-se de uma fortaleza ldquofeyta em breue tempo tempo com muros baluartes amp torres de madeyra amp cercada de caua () amp muyto bem artilhadardquo Ver CASTANHEDA Histoacute-ria do Descobrimento V Cap LXIIII pp 106-107 Damiatildeo de Goacuteis explica a conjun-tura poliacutetico-militar que levou agrave construccedilatildeo desta fortaleza Ver GOacuteIS Chronica IV Cap LXVI pp 564-566

66 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 548 67 Navios de remos entatildeo usados naquela zona do Oriente 68 SOUSA Asia Tomo I Pt III Cap V p 20269 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 549

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 179

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

para Paceacutem enquanto a nau Satildeo Cristoacutevatildeo apenas os recebeu em 10 de Janeiro de 1522 para depois seguir para Ormuz70 Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila natildeo teraacute tido tempo suficiente para chegar agrave Ilha do Ouro nesse ano de 1521 Pelo menos eacute o que podemos depreen-der quando Joatildeo de Barros refere a permanecircncia de Cristoacutevatildeo em Men-donccedila no auxiacutelio agrave construccedilatildeo da fortaleza de Paceacutem

Natildeo encontramos portanto elementos nas Deacutecadas da Aacutesia que nos permitam afirmar que este navegador portuguecircs teraacute prosseguido via-gem para o sul de Samatra e encontrado a miacutetica Ilha do Ouro identi-ficada com a Austraacutelia Ainda assim tecircm sido vaacuterios os historiadores nomeadamente Armando Cortesatildeo a defenderem natildeo haver motivo para se duvidar de que Cristoacutevatildeo teraacute seguido com a exploraccedilatildeo de que fora incumbido no ano seguinte aproveitando a monccedilatildeo do princiacutepio de 1522 Note-se que o proacuteprio Luiacutes de Albuquerque ainda que aves-so a esta teoria natildeo deixa de estranhar o facto de as Deacutecadas da Aacutesia natildeo referirem quais os serviccedilos especiais prestados por Mendonccedila que justifiquem a sua nomeaccedilatildeo para a rentaacutevel e apeteciacutevel capitania de Ormuz71 ldquotam viccediloacutesa e abastaacuteda q dizem os moradores della q o Mundo eacute hu aneacutel e Ormuz hua pedra precioacutesa engastaacuteda nellerdquo72 Como a seguir veremos a nomeaccedilatildeo para a capitania de Ormuz natildeo foi a uacutenica benesse com que o navegador foi agraciado apoacutes o seu regresso ao reino

52 A viagem de regresso ao reino

Segundo Trickett nada se sabe sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila nos seis anos posteriores agrave expediccedilatildeo que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro73 Como veremos esta ideia natildeo corresponde agrave realidade Sabe-se por exemplo que depois de o navegador ter estado em Ormuz e na Iacutendia regressou a Portugal em 1524 tendo-se detido em Marccedilo ou Maio desse ano na aguada de Saldanha na actual Aacutefrica do Sul tal como ficou atestado numa inscriccedilatildeo que aiacute foi encontrada

Com efeito decorria o ano de 1989 quando foi identificada uma ins-criccedilatildeo portuguesa em Golden Acre no sopeacute de Adderley Street na Cida-de do Cabo Desta inscriccedilatildeo fracturada sobreviveu um fragmento com 25

70 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 7671 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal p 25872 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada II II Cap II p 48 73 Cf TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio p 87

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203180

Fernando Pessanha

cm de largura por 10 cm de altura que foi recolhido pelo South African Museum Na altura um arqueoacutelogo do South African Museum pensou tratar-se de inscriccedilatildeo funeraacuteria de D Lourenccedilo de Almeida um navega-dor portuguecircs que numa viagem de regresso ao reino desembarcou na Baiacutea do Saldanha em Dezembro de 1509 de modo a castigar uns indiacutege-nas Poreacutem acabou por falecer nesse recontro juntamente com muitos outros elementos da sua tripulaccedilatildeo o que levou o referido arqueoacutelogo a interpretar o achado como uma inscriccedilatildeo funeraacuteria

Entretanto em Janeiro de 1990 o Prof Eric Axelon comunicou agrave Comissatildeo Nacional para as Comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portu-gueses a descoberta da inscriccedilatildeo Axelon adiantava poder tratar-se de um artefacto representativo da passagem de Duarte de Meneses pela Cidade do Cabo em 1524 Poreacutem a leitura e interpretaccedilatildeo de Maacuterio Jorge Barroca assistente de Arqueologia Medieval da Universidade do Porto veio a invalidar as suposiccedilotildees de Axelon e do arqueoacutelogo do South African Museum De acordo com Maacuterio Jorge Barroca este do-cumento epigraacutefico refere-se a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ainda que o estado de conservaccedilatildeo desta inscriccedilatildeo dificulte a interpretaccedilatildeo do seu conteuacutedo74 Luiacutes Filipe Thomaz que tambeacutem abordou esta inscriccedilatildeo faz uma leitura ligeiramente diferente mas que concorda quanto ao essencial do conteuacutedo75 De resto eacute interessante notar que para aleacutem dos supra citados autores apenas encontraacutemos referecircncias a este do-cumento epigraacutefico em Luiacutes de Albuquerque76 Antoacutenio Pereira Cardo-so77 e Joseacute Manuel Garcia78

De modo geral a inscriccedilatildeo identificada na Cidade do Cabo vem de-monstrar efectivamente que Cristoacutevatildeo empreendeu a viagem de re-gresso ao reino em 1524 sendo provaacutevel que tenha partido de Cochim logo no iniacutecio do ano Sabemos que se encontrava no sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio No entanto e ainda que esta epiacutegrafe se apresente como um elemento de grande interesse para a reconstituiccedilatildeo do percurso de Cristoacutevatildeo continuamos sem saber o que teraacute feito e por onde teraacute nave-gado entre os iniacutecios de 1522 quando recebeu mantimentos para seguir

74 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo pp 17-1875 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 7976 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-

tos Vol II pp 727-72877 CARDOSO A provaacutevel viagem pp10-1978 GARCIA O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash

1555 Nordm 8 p 98

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 181

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

para Ormuz e os iniacutecios de 1524 quando partiu da Iacutendia para regressar a Portugal Teraacute ele permanecido todo esse tempo em Ormuz Ou teraacute dado continuidade agraves exploraccedilotildees que lhe tinham sido incumbidas pelo governador Diogo Lopes de Sequeira

6 Rendas mercecircs e distinccedilotildees

61 Tenccedilas recebidas

Referimos haacute pouco natildeo ser correcta a ideia de nada se saber sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila nos seis anos posteriores agrave expediccedilatildeo que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro De facto para aleacutem da inscri-ccedilatildeo encontrada na Cidade do Cabo e que atesta a passagem de Mendon-ccedila pelo sul de Aacutefrica tambeacutem existem alguns documentos acondiciona-dos no Arquivo Nacional da Torre do Tombo que revelam informaccedilotildees interessantes para o periacuteodo correspondente agrave sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e 1527 Satildeo exactamente esses documentos que nos datildeo conta das rendas mercecircs e distinccedilotildees com que este navegador foi agraciado

Sabemos que em 4 de Julho de 1526 por exemplo D Joatildeo III mandou o almoxarife de Aveiro dar a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ldquofidalgo da sua casardquo 50000 reacuteis de tenccedila que ficaria assentada na alfacircndega da cidade de Lisboa79 Seria esta uma tenccedila generosa A resposta a esta questatildeo le-vou-nos a comparar este valor com as tenccedilas auferidas pelos seus fami-liares e por outros navegadores seus contemporacircneos Foi nesse sentido que constataacutemos que o ceacutelebre navegador e cosmoacutegrafo Duarte Pacheco Pereira depois de inuacutemeros serviccedilos prestados agrave Coroa recebeu uma tenccedila anual de 50000 reais nesse mesmo ano de 152680 Tristatildeo da Cu-nha ceacutelebre navegador e comandante naval portuguecircs nomeado por D Manuel para primeiro governador da Iacutendia em 150581 e pai de Nuno da Cunha Governador da Iacutendia entre 1528 e 153882 recebeu 40000 reacuteis

79 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57 80 JB de C ldquoPereira Duarte Pachecordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol V pp 52-

54 COSME ldquoOs homens de ciecircnciardquo pp 91-9781 E S ldquoCunha Tristatildeo da (1460-1540)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol II p 260

Sobre Tristatildeo da Cunha veja-se tambeacutem CARVALHO ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Manuelinardquo pp 199-226

82 E S ldquoCunha Nuno da (1487-1539)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol II pp 258-259 Sobre Nuno da Cunha veja-se tambeacutem CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538)

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203182

Fernando Pessanha

de tenccedila no mesmo ano de 152683 Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo rece-beu uma tenccedila generosa ao voltar ao reino Talvez Note-se que o pai de Cristoacutevatildeo Diogo de Mendonccedila alcaide-mor de Mouratildeo recebia os mesmos 50000 reacuteis de tenccedila em 150184 e em 151485 valor que o irmatildeo de Cristoacutevatildeo Pedro de Mendonccedila passou a auferir ao herdar a alcaidaria de Mouratildeo em 151786

Para aleacutem dos 50000 reacuteis de tenccedila eacute o proacuteprio Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila a mandar Jacome Bentes receber de Joatildeo de Azambuja 200000 reacuteis em virtude da outra procuraccedilatildeo que o dito Mendonccedila tinha feito para receber dos almoxarifes de Setuacutebal Aveiro e Coimbra87 Refira-se a este respeito que ainda no mesmo ano ordenou D Joatildeo III que o almoxari-fe de Aveiro pagasse ao jaacute referido Tristatildeo da Cunha 100000 reacuteis para pagamento de 250000 reacuteis da sua tenccedila88 ou que Vasco da Gama ao re-gressar ao reino depois de descobrir o caminho mariacutetimo para a Iacutendia recebeu uma renda de 300000 reacuteis89 Vemos deste modo que os rendi-mentos auferidos por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aquando do seu regresso ao reino natildeo foram propriamente modestos quando comparados com os do primeiro governador da Iacutendia ou com os do navegador e cosmoacute-grafo Duarte Pacheco Pereira

Por fim surge-nos um documento datado de 13 de Abril de 1527 e que tem por tiacutetulo Estabelecimento que Fernando Rodrigues como procu-rador de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila fidalgo da Casa do Rei fez em Fernando Gomes para cobrar todas as tenccedilas e moradias do seu dito constituinte90 Repare-se que de acordo com Joatildeo de Barros Cristoacutevatildeo de Mendonccedila voltou a partir para o Oriente em Marccedilo de 1527 Vemos portanto que o referido documento eacute ligeiramente posterior agrave partida do navegador e que este deixou instruccedilotildees ao seu procurador para que algueacutem cobrasse todas as suas tenccedilas e moradias De resto a alusatildeo agraves ldquotenccedilas e moradi-

83 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 135 Nordm4584 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 13 fl60 ANTT Chancelaria de D Manuel I

liv 8 fl29v85 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 53 Nordm18286 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 10 fl53 Repare-se que a partir de 1523 Pe-

dro de Mendonccedila passou a receber apenas 30000 reacuteis ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 109 Nordm131 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 131 Nordm226

87 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 136 Nordm10288 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 135 Nordm4989 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 4 fl 37 COSME ldquoOs Navegadores ndash Vasco da

Gamardquo p 14990 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 141 Nordm91

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 183

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

asrdquo vem reforccedilar a ideia de que os serviccedilos prestados por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente foram bem recompensados pelo monarca portu-guecircs Resta-nos perceber que serviccedilos teratildeo justificado estas recompen-sas assim como aquelas a que de seguida aludiremos

62 A capitania de Ormuz

Para aleacutem dos rendimentos atraacutes referidos os serviccedilos prestados por Mendonccedila foram igualmente agraciados com a nomeaccedilatildeo para a ren-taacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz para onde partiu em Marccedilo de 152791 Natildeo deixa de ser interessante a alusatildeo que cronistas como Joatildeo de Barros ou Frei Luiacutes de Sousa fazem aos Braganccedilas no momento em que referem esta nova partida de Cristoacutevatildeo para a Iacutendia Com efeito eacute possiacutevel que o duque de Braganccedila jaacute tivesse ligaccedilotildees aos Mendon-ccedilas ainda que o casamento de D Jaime com D Joana de Mendonccedila soacute se tenha realizado em 1520 Teresa Lacerda levanta a hipoacutetese de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ter sido indigitado para o Conselho Reacutegio por influecircncia do duque de Braganccedila do mesmo modo como foi nomea-do para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 e para capitatildeo de Ormuz em 152792 De facto natildeo eacute impossiacutevel No entanto somos da opiniatildeo de que natildeo seraacute apenas D Joana a estar na origem de uma eventual ligaccedilatildeo de D Jaime aos Mendonccedilas como tambeacutem a participaccedilatildeo do seu pai ldquoDiogo de mendonccedila alcaide mor de Mouratildeordquo e de ldquoPero de Mendonccedila seu filhordquo na conquista de Azamor comandada pelo proacuteprio duque em 151393

De facto natildeo sabemos se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teraacute sido indigitado para o Conselho Reacutegio para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquer-que de 1519 ou para a capitania de Ormuz por influecircncia do duque de Braganccedila Seja como for parece-nos que o contexto social e familiar de Cristoacutevatildeo teraacute pesado no momento em que o monarca procedeu a tais nomeaccedilotildees Basta recordarmos que Afonso Furtado bisavocirc de Cristoacute-vatildeo tinha sido nomeado capitatildeo do mar por D Joatildeo I em 138594 Afonso

91 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada IV II Cap III p 73 Ver tambeacutem CORREIA Lendas Vol III Pt I Cap XVI p 182 SOUSA Anais Vol II IV Cap I p 1 SOUSA Asia Tomo I Pt IV Cap II p 256

92 LACERDA Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social p 112 nota 375

93 GOacuteIS Chronica III Cap XLVI p 367 GAYO Nobiliaacuterio p 5394 FREIRE Brasotildees Vol III pp 170-171

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203184

Fernando Pessanha

Furtado de Mendonccedila avocirc de Cristoacutevatildeo para aleacutem de capitatildeo-mor do mar95 aparece referido como escrivatildeo da feitoria de Sofala96 Pedro de Mendonccedila tio de Cristoacutevatildeo tinha comandado uma nau numa frota de 12 navios que em 1504 partiu para a Iacutendia para garantir a seguranccedila das rotas comerciais do oceano Iacutendico e controlar o governante hostil de Calecut97 Natildeo se pode portanto considerar que os Mendonccedilas seri-am marginais ao projecto de expansatildeo ultramarina quando Cristoacutevatildeo aparece nomeado para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 ou para a capitania de Ormuz que deteve entre 1527 e 1531 ou 1532 ano da sua morte

Chegando a este ponto vale a pena determo-nos brevemente de modo a compreendermos o que era Ormuz e o que representava esta capitania no contexto do Impeacuterio Portuguecircs no Oriente Antes de mais conveacutem recordarmos que Ormuz era um importantiacutessimo entreposto mercantil em virtude da sua privilegiada localizaccedilatildeo geograacutefica na en-trada do Golfo Peacutersico Com efeito com a segunda conquista de Ormuz por Afonso de Albuquerque em 1515 e a consequente imposiccedilatildeo de um protectorado a Coroa portuguesa passou a arrecadar uma parcela con-sideraacutevel das receitas aduaneiras da proacutespera ilha transformando-se Ormuz no epicentro das actividades portuguesas no Golfo Peacutersico e no mar da Araacutebia A acreditar-se nas fontes quinhentistas era tal o movi-mento e a intensidade no porto de Ormuz que natildeo era invulgar ali en-contrar mais de 200 navios carregados de mercadorias De entre as mais importantes mercadorias que passavam pela cidade destacavam-se os cavalos oriundos da Araacutebia e da Peacutersia com destino aos portos da cos-ta ocidental da Iacutendia de onde eram encaminhados para os potentados indianos entre os quais grassavam guerras endeacutemicas Mas outros pro-dutos aacuterabes e persas faziam a riqueza da esteacuteril ilha de Djarucircn como as alcatifas aacuterabes as peacuterolas de Bahareacutem os tapetes a seda e a prata da Peacutersia o salitre e o enxofre da proacutepria ilha ao lado de mercadorias menos nobres como os frutos secos ou os cereais Dadas as circunstacircn-cias natildeo seraacute de estranhar que ao longo de todo o seacutec XVI a alfacircndega de Ormuz se tenha destacado como a mais rentaacutevel de todo o Estado da Iacutendia logo a seguir agrave de Goa Por outras palavras a cidade gerava

95 FARIA Livro de Linhagens p 27296 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada I Pt I V Cap III97 MALDONADO Relaccedilatildeo das Naos e Armadas da Iacutendia p 16 ANTT Corpo Cronoloacutegi-

co Pt II maccedilo 9 Nordm 35

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 185

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

um volume de receitas tatildeo consideraacutevel que a capitania de Ormuz aca-bou por se transformar numa das mais apetecidas de todo o Impeacuterio no Oriente Vemos deste modo que a atribuiccedilatildeo desta capitania natildeo soacute era motivo de prestiacutegio para o capitatildeo nomeado como tambeacutem fonte de grande riqueza98

Natildeo podemos deixar de notar que as Deacutecadas da Aacutesia ao referir-se agrave nomeaccedilatildeo de Mendonccedila para a capitania de Ormuz natildeo refere quais-quer serviccedilos especiais que justifiquem a atribuiccedilatildeo de tal benesse Ar-mando Cortesatildeo que levantou a hipoacutetese de ter sido Mendonccedila o pri-meiro europeu a chegar agrave Austraacutelia foi um dos investigadores a sugerir que esta nomeaccedilatildeo se devesse aos serviccedilos prestados pelo navegador99 Poreacutem e tal como temos afirmado ao longo deste trabalho natildeo existe qualquer documento que assegure o ecircxito de Mendonccedila relativamente agrave viagem que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro Omis-satildeo que segundo Jaime Cortesatildeo foi consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo entatildeo vigente Luiacutes de Albuquerque ainda que contraacuterio agrave teoria da descoberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que ldquodeve a sua celebridade a uma expediccedilatildeo que natildeo fezrdquo100 estranha no entanto o facto de Diogo do Couto natildeo mencionar os serviccedilos especiais que estiveram na origem da nomeaccedilatildeo do navegador para a capitania de Ormuz101 Esta distinccedilatildeo torna-se ainda mais suspeita se tivermos em consideraccedilatildeo que uma nomeaccedilatildeo desta natureza implicaria em meacutedia 10 anos de serviccedilos no Oriente102 durante os quais era acumu-lada a experiecircncia necessaacuteria para o desempenho de uma capitania Como vimos natildeo foi esse o caso de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Aliaacutes as nomeaccedilotildees para as capitanias mais importantes e lucrativas como Or-muz Goa ou Malaca natildeo soacute eram atribuiacutedas em reconhecimento pelos vaacuterios anos de serviccedilo no Oriente como tambeacutem recaiacuteam tendencial-mente sobre nobres com uma maior presenccedila na corte o que tambeacutem

98 LOUREIRO ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 pp 749-797 JPC ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 833-836

99 CORTESAcircO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158100 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo p 727101 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol IV

p 258102 Andreia Martins de Carvalho determinou os anos de serviccedilo de fidalgos no Oriente

antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania entre 1518 e 1544 CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 211 Foi nesse sentido que tendo em conta a infor-maccedilatildeo disponiacutevel sobre o percurso de 37 fidalgos estabelecemos a meacutedia de anos relativos a serviccedilos no Oriente antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203186

Fernando Pessanha

natildeo era o caso de Mendonccedila Ora se o navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro como explicar tatildeo generoso honroso e rentaacutevel reconhecimento Isto claro para aleacutem das compensaccedilotildees econoacutemicas atraacutes referidas e da entrega da comenda da Ordem de Cris-to que de seguida abordaremos De resto a capitania de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ficou marcada por episoacutedios dignos de registo como o au-xiacutelio prestado agrave frota de Simatildeo da Cunha assolada por uma epidemia contraiacuteda na campanha contra a ilha de Bahareacutem103 Refira-se aliaacutes que foi sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que recaiu a responsabilidade de escolher um agente para realizar a ceacutelebre missatildeo de espionagem que constituiu a viagem por terra de Ormuz a Portugal protagonizada por Antoacutenio Tenreiro entre Setembro de 1528 e Maio de 1529 - viagem cuja narrativa constitui um notaacutevel documento histoacuterico de natureza geograacutefica religiosa e antropoloacutegica104

63 A comenda da vila de Arenilha

Tal como anteriormente referimos deparaacutemo-nos com dois documen-tos que chamaram a nossa atenccedilatildeo aquando da investigaccedilatildeo para o ar-tigo ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo Trata-se de duas cartas em que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece referido como comendador da vila de Arenilha O primeiro documento data de 29 de Dezembro de 1529 e tem por tiacutetulo Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bregantim missiva em que o comendador de Arenilha culpa o marquecircs de Ayamonte pelos danos causados nas barcas dos habitantes da vila no-meadamente no referido bergantim chegando mesmo a mandar ldquopagar as barcas e () as perdas que receberam os donos delas e asy o dano que se fez na Arenilhardquo e mandar o marquecircs prender os responsaacuteveis que se encontrem nas suas terras105 Como se pode perceber o tom da missiva natildeo resulta propriamente abonatoacuterio para o nobre espanhol

103 SOUSA Anais Vol II IV Cap XXII p 106104 Como recompensa pelos serviccedilos prestados Antoacutenio Tenreiro recebeu da Coroa em

1533 uma tenccedila anual de 30000 reacuteis e o haacutebito de cavaleiro da Ordem de Cristo Ver TENREIRO amp AFONSO Viagens por terra da Iacutendia a Portugal p 18 RL ldquoTenreiro Antoacuteniordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II p 1023

105 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 Nordm45

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 187

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig1 - Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua

Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do

marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

Fig 1

Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o

marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203188

Fernando Pessanha

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig2 - Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar

creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Arenilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada destinada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila assim como o seu

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesahelliprdquo pp 86-82

Fig 2

Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao

comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Are-nilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada desti-nada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesardquo pp 86-82

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 189

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacute-vatildeo de Mendonccedila assim como o seu percurso como capitatildeo nas armadas da Iacutendia acreditamos encontrar-nos em condiccedilotildees para demonstrarmos que a comenda de Arenilha foi efectivamente atribuiacuteda ao navegador como reconhecimento pelos serviccedilos prestados no Oriente

Com efeito satildeo vaacuterios os indicadores que nos levam a afirmaacute-lo Em primeiro lugar o facto de natildeo se encontrar nas croacutenicas nem nas fontes coevas qualquer referecircncia a um homoacutenimo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a balizagem cronoloacutegica compreendida entre 1514 e 1532 periacuteodo em que aparece referido na documentaccedilatildeo Aliaacutes as da-tas discriminadas nos documentos que o referem como comendador de Arenilha corroboram a ideia de esta comenda ter sido atribuiacuteda aquando do seu regresso ao reino Eacute certo que natildeo sabemos a data em que Cristoacutevatildeo teraacute chegado a Portugal ainda que tenhamos notiacutecia da sua passagem pelo sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio de 1524 durante a viagem de regresso108 Poreacutem as tenccedilas atraacutes mencionadas indicam que se encontrava no reino em 1526 Uma vez que os documentos que o referem como comendador da vila da foz do Guadiana remontam a Dezembro de 1529 e Maio de 1530 anos em que o navegador jaacute se encontrava no Oriente eacute de supor que D Joatildeo III lhe teraacute atribuiacutedo a comenda aquando da sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e Marccedilo de 1527 ano em que voltou a partir para a Iacutendia jaacute na qualida-de de capitatildeo de Ormuz

Uma vez que natildeo se verificam homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila para a balizagem cronoloacutegica atraacutes referida e que as datas dos docu-mentos que o referem como comendador de Arenilha satildeo ligeiramente posteriores ao seu regresso ao reino resta-nos determinar se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila reunia as condiccedilotildees necessaacuterias para ser agraciado com uma comenda desta natureza Antes de mais importa referir que a vila de Arenilha e de Castro Marim eram as duas uacutenicas comendas da Ordem de Cristo no Algarve Curiosamente Isabel L Morgado de Sousa e Silva natildeo refere a comenda de Arenilha na dissertaccedilatildeo para doutoramento

108 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo Oceanos Nordm4 pp 17-18 ALBU-QUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 727-728 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 79

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203190

Fernando Pessanha

A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521)109 Poreacutem o documento publicado por Hugo Cavaco natildeo deixa margem para duacutevidas

ldquoNo Bispado do Algarve haacute somente duas Commendas da Ordem (de

Cristo) que satildeo das antigas e as seguintes

A Commenda e Alcaideria-moacuter de Castro Marim avaliou-se em quatro-

centos e cinquenta mil reacuteis no anno de 1608

A Commenda da Alcaideria-mograver de Santo Antonio de Arenilha que estaacute

junto a Castro Marim em cento e trinta mil reacuteis no anno de 1608

No Bispado do Algarve natildeo haacute nenhuma Commenda desta Ordem mais

que as duas velhas que valem quinhentos e oitenta mil reacuteis como se vecirc

da somma adianterdquo110

Aliaacutes soacute o facto de Arenilha ser comenda da Ordem de Cristo poderaacute explicar que o senhorio da vila tenha sido atribuiacutedo exclusivamente a cavaleiros da miliacutecia ao longo de toda a centuacuteria quinhentista111

Naturalmente que estas comendas implicavam desde logo a existecircn-cia de comendadores sobre os quais recaiacutea o senhorio das ditas vilas o que era compreendido como motivo de honra e de prestiacutegio social numa sociedade ainda bastante influenciada pelas antigas tradiccedilotildees medievo-feudais Comendas refira-se que compreendiam o direito agrave administra-ccedilatildeo da localidade e conferiam uma renda para sustentaccedilatildeo do comenda-dor beneficiaacuterio configurando um recurso para os encargos da proacutepria comenda No entanto a atribuiccedilatildeo de uma comenda representava um benefiacutecio atribuiacutedo a cavaleiros professos nas ordens militares como re-compensa por serviccedilos prestados Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Men-donccedila soacute poderia ser agraciado com a comenda de Arenilha caso tivesse sido investido na Ordem de Cristo Foi nesse sentido que procuraacutemos determinar se este navegador professou nesta Ordem Militar

Com efeito a dissertaccedilatildeo Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) de Joatildeo Maria Falcatildeo Pestana de Vascon-celos natildeo faz qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila enquanto cavaleiro da Ordem de Cristo Refere no entanto o seu avocirc Afonso Fur-

109 SILVA A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta110 Documento VIII BNLMicroformas F5040 Documento publicado por CAVACO Revisi-

tando p 52111 Cf PESSANHA Os 500 anos pp 57-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 191

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

tado de Mendonccedila comendador de Cardiga da Ordem de Cristo112 a sua irmatilde Margarida de Mendonccedila enquanto mulher de um comendador da mesma Ordem e o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo que recebeu o haacutebito da miliacutecia em 16 de Abril de 1514113 Ain-da que a referida dissertaccedilatildeo natildeo faccedila qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo enquanto membro desta Ordem vem demonstrar a ligaccedilatildeo de alguns dos seus familiares agrave mesma natildeo soacute na qualidade de cavaleiros como tambeacutem de comendadores

Poreacutem Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social de Teresa Lacerda assim como a jaacute referida tese A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) de Isabel L Morgado de Sousa e Silva jaacute identificam efectivamente Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como frei cavaleiro desta Ordem114 De acordo com a obra consultada Cavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVI Cristoacutevatildeo de Mendonccedila recebeu efectivamente o haacutebito da Ordem de Cristo em 16 de Abril de 1514115 exactamente na mesma data em que o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila tambeacutem foi in-vestido116 De resto o facto de Cristoacutevatildeo aparecer referido como mem-bro da miliacutecia numa provisatildeo em que D Joatildeo III manda o almoxarife de Aveiro pagar ldquoa Cristoacutevatildeo de Mendonccedila sua tenccedila deste ano 50000 reacuteis assentada na alfacircndega de Lisboa com o haacutebito de Cristordquo117 vem dissipar qualquer duacutevida que ainda subsistisse

Note-se que identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como cavaleiro da Ordem de Cristo natildeo pudemos deixar de reparar no silecircncio dos cronistas no momento de identificar os intervenientes no processo ex-pansionista com as suas respectivas filiaccedilotildees nas Ordens Militares De facto quer Joatildeo de Barros quer os cronistas que lhe sucederam natildeo fazem qualquer referecircncia agrave filiaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo em qualquer Ordem tal como de acordo com o que constataacutemos raramente o fazem em relaccedilatildeo a outros cavaleiros Esta evidecircncia pode parecer ainda mais estranha se tivermos em consideraccedilatildeo o forte envolvimento da Ordem

112 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Vol I p 377 FARIA Livro de Linhagens p 275

113 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares p 392 114 LACERDA Os Capitatildees das Armadas pp 120 e 228 SILVA A Ordem de Cristo p 336

SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma perspectiva de estudordquo apecircndice

115 FARIA ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo p 21116 FARIA ldquoCavaleirosrdquo p 21 Ver tambeacutem SILVA A Ordem de Cristo p 330117 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203192

Fernando Pessanha

de Cristo na Histoacuteria da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses Ordem Militar sublinhe-se que teve como governadores figuras in-contornaacuteveis da famiacutelia real como o infante D Henrique o infante D Fernando o rei D Manuel ou o rei D Joatildeo III118 Poreacutem haacute que ter em consideraccedilatildeo que documentos como Memoacuteria das Armadas ou o Livro de Lisuarte de Abreu natildeo satildeo fontes sobre qualquer uma das Ordens razatildeo pela qual se torna compreensiacutevel a ausecircncia de referecircncias mais completas relativamente aos intervenientes no processo de expansatildeo Aliaacutes a intenccedilatildeo subjacente agrave produccedilatildeo de obras como Histoacuteria do Des-cobrimento e da Conquista da Iacutendia natildeo passa por apresentar informa-ccedilatildeo detalhada sobre as individualidades que participaram no processo expansionista mas antes destacar o protagonismo reacutegio em todo este processo119

Por fim natildeo se verificando homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a cronologia abordada coincidindo as datas que o referem como comendador de Arenilha e identificado este navegador como cavalei-ro da Ordem de Cristo resta-nos perceber por que motivo lhe teraacute sido entregue a comenda desta vila na foz do Guadiana Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo que a fundaccedilatildeo de Are-nilha prende-se com a afirmaccedilatildeo da soberania poliacutetica e administra-tiva de D Manuel sobre um territoacuterio frequentado por castelhanos Eacute exactamente nesse contexto que em 1421 Castro Marim justificava o pedido de isenccedilatildeo de alguns encargos pelos ldquoconstantes trabalhos que os moradores tinham com os castelhanos que insistiam em vir pescar ao reinordquo120 Quer isto dizer que os castelhanos vinham pescar para as margens portuguesas natildeo pagando os devidos impostos agrave Coroa Aliaacutes a existecircncia do topoacutenimo de origem castelhana Arenilha121 ainda antes da elaboraccedilatildeo da Carta de Privileacutegio que manda proceder agrave construccedilatildeo

118 FONSECA ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo pp 321-347 Ver tambeacutem SILVA A Or-dem de Cristo pp 43-110

119 Cf SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristordquo pp 349-361120 VENTURA ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo p 608

ANTT Chancelaria de D Afonso V liv 2 fl30121 De acordo com o dicionaacuterio da Real Academia Espantildeola ldquoarenillardquo apresenta-se como

sinoacutenimo de ldquoarena menudardquo Ver Dicionario de la Real Academia Espantildeola Disponiacutevel em httplemaraeesdraeval=arenilla ndash Consultado dia 10 de Setembro de 2013 Note-se que quando em 1775 se pretendeu baptizar a nova vila iluminista com o nome de Vila Real de Santo Antoacutenio de Arenilha prontamente o Marquecircs de Pombal proibiu a utilizaccedilatildeo do nome ldquoArenilhardquo alegando que ldquoeacute uma palavra hespanhola e Villa Real uma povoaccedilatildeo portuguesardquo Ver OLIVEIRA Monografia p 71

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 193

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

da vila122 indica a ocupaccedilatildeo daquele areal na margem portuguesa da foz do Guadiana por populaccedilotildees de pescadores de origem castelhana Dadas as circunstacircncias seria do interesse estrateacutegico do monarca que esta comenda recaiacutesse sobre algueacutem experimentado na guarda da fronteira e que fizesse cumprir o pagamento dos devidos direitos aduaneiros Re-corde-se que Arenilha para aleacutem de comenda da Ordem de Cristo era uma vila de fronteira situada na margem portuguesa do Guadiana tal como o era a vila de Mouratildeo de onde Cristoacutevatildeo de Mendonccedila era natu-ral Como anteriormente referimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Men-donccedila o fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo que foi nomeado em 1476 alcaide-mor de Mouratildeo123 uma vila fortificada do Alentejo que guarda-va a fronteira portuguesa frente a Espanha O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas mostra-nos o castelo de Mouratildeo onde Cristoacutevatildeo teraacute crescido localizado no cimo de uma colina sobranceiro ao Guadiana124 Quer isto dizer que o ceacutelebre navegador era descendente de uma famiacutelia experimentada na guarda da fronteira face ao reino vizinho e familia-rizado com as actividades militares tributaacuterias e administrativas que lhe eram inerentes125 Assim sendo esta condiccedilatildeo de fronteiro a juntar ao facto de Cristoacutevatildeo ser cavaleiro da Ordem de Cristo teraacute resultado altamente pertinente no momento em que D Joatildeo III decidiu atribuir a comenda de Arenilha a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como recompensa pelos serviccedilos prestados

Por fim mas natildeo menos relevante teraacute sido a experiecircncia naval e militar adquirida por Mendonccedila nos mares do Oriente e direccionada para a foz do Guadiana sistematicamente ameaccedilada pelos ataques da pi-rataria magrebina126 Recorde-se que Mendonccedila no decurso das suas na-vegaccedilotildees na australaacutesia viu-se na necessidade de defender posiccedilotildees por-

122 O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas produzido por volta de 1509 jaacute indicava o topoacutenimo que veio a ser oficializado com a Carta de Privileacutegio de 12 de Fevereiro de 1513 Ver ARMAS O Livro das Fortalezas fl 1

123 FREIRE Brasotildees Vol III p 173124 ANTT Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Livro das Fortalezas si-

tuadas no Extremo de Portugal e Castela por Duarte de Armas escudeiro da Casa do Rei D Manuel I Nordm 159 fls 13-14 ARMAS O Livro das Fortalezas fls 13-14

125 Refira-se que foi durante o periacuteodo em que o pai de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila deteve a alcaidaria de Mouratildeo que o rei D Manuel obteve dos povos nas cortes de Lisboa de 1502 uma vultosa contribuiccedilatildeo que fez com que o castelo da vila fosse intervenciona-do por dois importantes arquitectos reacutegios os irmatildeos Francisco e Diogo de Arruda os mestres das obras reacutegias da comarca de entre o Tejo e o Guadiana Ver FARIA ldquoForti-ficaccedilotildees de Portugal na fronteira da Estremadura espanholardquo p 161

126 Sobre este assunto veja-se PESSANHA ldquoAtaques da piratariardquo pp 63-94

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203194

Fernando Pessanha

tuguesas dando combate aos adversaacuterios Recordemos a este respeito o ataque movido por Melique Ladil agrave fortaleza de Paceacutem entatildeo guardada por Mendonccedila e a maneira como o ldquomourordquo foi desbaratado e despo-jado das treze embarcaccedilotildees usadas no assalto127 Dadas as circunstacircnci-as seria um desperdiacutecio natildeo se aproveitar a experiecircncia deste capitatildeo numa altura em que se verificava um incremento da actividade piraacutetica nas costas do Algarve Esta actividade da pirataria na foz do Guadiana eacute aliaacutes referida por Bernardo Rodrigues em vaacuterias ocasiotildees nomeada-mente aquando da estadia da condessa de Redondo na vila de Arenilha em 1522128 ou quando Vasco Fernandes Ceacutesar - antigo adaiacutel de Azamor e capitatildeo da Armada do Estreito129 - foi incumbido embarcar o conde do Redondo D Joatildeo Coutinho na vila de Arenilha e escoltaacute-lo a Arzila130 Refira-se que a caminho da foz do Guadiana o navio de Vasco Fernan-des Ceacutesar foi atacado por duas naus tendo-se seguido um combate naval que resultou na explosatildeo de parte da alcaacuteccedilova atirando cinco homens ao mar entre os quais Vasco Fernandes que ficou gravemente ferido131

Vemos deste modo que a entrega da comenda de Arenilha a um in-diviacuteduo como Cristoacutevatildeo de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo descendente de uma famiacutelia de fronteiros e navegador experimentado no combate naval natildeo soacute era altamente pertinente como simboacutelica e manifestamente estrateacutegica para a defesa do extremo sudeste algarvio e da foz do Guadiana onde Mendonccedila deveria actuar com autoridade se-nhorial usufruindo dos seus bens e rendimentos E no caso da comenda de Arenilha Seriam generosos os seus rendimentos Sem duacutevida Se assim natildeo fosse o rei D Duarte natildeo teria doado ao infante D Henrique ainda em 25 de Setembro de 1433 a ldquodiacutesima nova de todo o pescado que pescarem quaisquer pessoas no mar do Monte Gordordquo132 Aliaacutes seraacute certa-

127 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III pp548-549128 RODRIGUES Anais de Arzila Tomo I Cap XC p 373129 GOacuteIS Chronica IV Cap LVII p 552 Sobre a Armada do Estreito veja-se GODINHO

ldquoA armada do estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo pp117-137130 RODRIGUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 PESSANHA Subsiacutedios p 100131 Segundo Bernardo Rodrigues os sobreviventes portugueses por pouco natildeo foram

executados Os que sobreviveram ao combate foram aprisionados e levados para Di-eppe Vasco Fernandes apesar de ferido acabou por escapar do cativeiro desfiando uma esteira e escapando por ela da torre onde se encontrava aprisionado RODRI-GUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 Ver tambeacutem PISSARRA ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Armada do Estreitordquo pp 144-145

132 SERRAtildeO Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fundaccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) p 65 OLIVEIRA Monografia p 73

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 195

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

mente o motivo econoacutemico que jaacute em 1555 estaraacute na origem da disputa pelo senhorio de Arenilha entre Jeroacutenimo de Melo fidalgo da Casa Real e alcaide-mor de Castro Marim e Luiacutes Leite frei cavaleiro da Ordem de Cristo e filho de Antoacutenio Leite o anterior alcaide133

Relativamente agrave defesa sabemos que Arenilha natildeo possuiacutea castelo torre ou qualquer fortificaccedilatildeo digna de registo ateacute 1542-1547 periacuteodo em que o alcaide Antoacutenio Leite daacute-nos conta das ldquotramqueyras e repai-rosrdquo construiacutedos sob o seu comando para a populaccedilatildeo se defender dos ataques da pirataria moura134 Ainda assim Mendonccedila estava obrigado a zelar pela defesa da vila independentemente de esta ter ou natildeo for-tificaccedilotildees para a proteger Se tivermos em consideraccedilatildeo que a sua no-meaccedilatildeo como comendador o obrigava agrave realizaccedilatildeo de um inventaacuterio ao patrimoacutenio da comenda (infelizmente desconhecido) e ao dever de fixar residecircncia na sua aacuterea de governo135 eacute muito provaacutevel que Cristoacutevatildeo se tenha detido durante algum tempo na vila da foz do Guadiana algures entre finais de 1524 aquando da sua chegada ao reino136 e Marccedilo de 1527 quando voltou a partir para o Oriente

Como anteriormente referimos os comendadores deviam fixar-se nas suas comendas para melhor procederem agrave sua defesa e melhor ren-tabilizarem as mesmas Assim sendo como eacute possiacutevel que os documen-tos que referem Cristoacutevatildeo como comendador de Arenilha sejam relati-vos aos anos em que este se encontrava na capitania de Ormuz Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo de que a principal obrigaccedilatildeo dos cavaleiros da Ordem de Cristo era a luta contra os inimigos da feacute devendo estar prontos para a guerra sempre que o Mestre os convocasse Uma vez que as situaccedilotildees de guerra eram cons-tantes nos territoacuterios de aleacutem-mar onde a presenccedila dos cavaleiros da Ordem se tornava necessaacuteria natildeo eacute de admirar que estes fossem dispen-sados da exigecircncia que os obrigava a permanecer nas suas comendas137

133 CAVACO Revisitando pp 18-20 PESSANHA Os 500 anos pp 72-73134 Carta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava

atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras e que era necessaacute-rio enviar-lhe socorro ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos p 99 PINTO ldquoIacutendice Analiacuteticordquo p 267

135 Cf SILVA A Ordem de Cristo pp 189-190136 Uma vez que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila se encontrava na Aacutefrica do Sul em Marccedilo ou Maio

de 1524 eacute de supor que a sua chegada ao reino se tenha dado ainda no mesmo ano137 SILVA A Ordem de Cristo p 191

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203196

Fernando Pessanha

Eacute nesse sentido que encontramos Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comen-dador de Arenilha em 1529 e 1530 anos em que jaacute se encontrava como capitatildeo na fortaleza de Ormuz De resto era nesta fortaleza que ainda se encontrava em 1531 ano em que piratas de Larache atacaram a vila da foz do Guadiana ldquoonde fizeacuteratildeo muito dano em navios que tomaacuteratildeo e den-tro da Barra de Aiamonte fizeacuteratildeo despejar a Arrinilha e a Montegordordquo138

7 Conclusatildeo

Com efeito muito se tem escrito (e especulado) sobre a alegada des-coberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila No entanto e indepen-dentemente dos resultados alcanccedilados pelo navegador nesta expediccedilatildeo parece indiscutiacutevel que foi generosamente recompensado aquando do seu regresso ao reino Resta-nos perceber porquecirc Jaacute Armando Cortesatildeo muito antes de Peter Trickett tinha levantado a hipoacutetese de a rentaacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz ter sido entregue a Mendonccedila como re-compensa pelos serviccedilos prestados na expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro139 Natildeo eacute conhecido poreacutem qualquer documento que ateste o ecircxito do navegador nesta expediccedilatildeo Omissatildeo que segundo investigadores como Armando Cortesatildeo Damiatildeo Peres ou Jaime Cortesatildeo teraacute sido consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo determinada pelas limitaccedilotildees de navega-ccedilatildeo estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas e com o contencioso entre Portugal e Espanha pela posse das Molucas140

O certo eacute que Mendonccedila ao regressar ao reino foi agraciado com uma das capitanias mais rentaacuteveis do impeacuterio no Oriente para aleacutem de ter recebido compensaccedilotildees econoacutemicas e aparecer referido em 1529 e 1530 como comendador da vila de Arenilha na foz do Guadiana Refira-se a este respeito que muitos capitatildees cavaleiros da Ordem de Cristo se lanccedilaram no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Poreacutem mui-to poucos chegaram a obter as tatildeo almejadas comendas141 Vemos deste

138 RODRIGUES Anais Tomo II Cap XXXV p 209139 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158140 CORTESAtildeO A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e

de D Joatildeo II Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 65-66 PERES ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na Histoacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II pp 17-21

141 Entre os afortunados que lograram obter este tipo de rendimento contam-se muito poucos D Joatildeo Pereira D Pedro de Castelo Branco Nuno Furtado Simatildeo Guedes entre outros Ver CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 216

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 197

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

modo que a atribuiccedilatildeo da comenda de Arenilha significou um motivo de grande honra e prestiacutegio para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Ora se este navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro resta-nos perceber porque motivo teraacute sido agraciado com compensaccedilotildees eco-noacutemicas a nomeaccedilatildeo para uma das mais rentaacuteveis capitanias de todo o Impeacuterio no Oriente e uma honrosa comenda da Ordem de Cristo Eacute caso para dizer que a problemaacutetica em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila con-tinua a levantar muitas duacutevidas e poucas certezas

Fontes e Bibliografia

1 Arquivos

ANTT

Chancelaria de D Afonso V Livro 2 fl30

Chancelaria de D Manuel I Livro 4 fl37 Livro 8 fl 29v Livro 9 fl4v Livro 10 fl53 Livro 13 fl60 Livro 37 fl64

Chancelaria de D Joatildeo III Livro 12 fl62

Chancelaria da Ordem de Cristo Livro13 fls375 vndash 379v

Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1

Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 15 Nordm47 Pt I maccedilo 44 Nordm45 Pt I maccedilo 45 Nordm9

Pt II maccedilo 51 Nordm26 Pt II maccedilo 53 Nordm182 Pt II maccedilo 93 Nordm150 Pt II maccedilo 109 Nordm131 Pt II maccedilo 131 Nordm226 Pt II maccedilo 134 Nordm57 Pt II maccedilo 135 Nordm45 Pt II maccedilo 135 Nordm49 Pt II maccedilo 136 Nordm102 Pt II maccedilo 141 Nordm91

Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Nordm159

Casa Real Cartoacuterio da Nobreza Livro Nordm20 - Livro da Nobreza e da per-feiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal fl XII

2 Fontes Impressas

ABREU Lisuarte de Livro de Lisuarte de Abreu (Reproduccedilatildeo do manuscrito existente na Perpont Morgan Library de Nova York) Comissatildeo Nacional para as comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portugueses Lisboa 1992

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203198

Fernando Pessanha

ARMAS Duarte de Livro das Fortalezas Arquivo Nacional da Torre do TomboInapa Lisboa 1997

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada III Na Regia Officina Typografica Lisboa MDCCLXXVII

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada IV Imprensa Nacional Casa da Moe-da Lisboa 2001

BORGES Joseacute Calvatildeo Borges Livro do Armeiro-Mor Academia Portugue-sa de HistoacuteriaEdiccedilotildees Inapa Lisboa 2000

CASCAtildeO Joatildeo ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevorardquo Uma Jornada ao Alentejo e ao Algarve A altera-ccedilatildeo das linhas de forccedila da poliacutetica nacional Livros Horizonte Lisboa 1984 pp 77-136

CASTANHEDA Fernatildeo Lopes de Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses 2 vols Lello amp Irmatildeos Editores Porto 1979

CORREIA Gaspar Lendas da Iacutendia Tomo III na Typographia da Acade-mia Real das Sciencias Lisboa 1862

Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI Centro de Estudos Histoacutericos Ultramarinos Lis-boa 1969

GAYO Felgueiras Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX Ediccedilatildeo de Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Arauacutejo Affonso Braga 1939

GUEDES Liacutevio da Costa Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) Arquivo Histoacuterico Militar Lisboa 1988

GOacuteIS Damiatildeo de Chonica do Serenissimo Senhor Rei D Manoel Lisboa 1749

JOSEacute Frei Joatildeo de Satildeo ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 21-132

RODRIGUES Bernardo Anais de Arzila 2 vols Academia das Sciecircncias de Lisboa Lisboa 1915-1919

SARRAtildeO Henrique Fernandes ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 133-174

SOUSA Frei Luiacutes de Anais de D Joatildeo III 2 vols Saacute da Costa Lisboa 1928

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 199

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

SOUSA Manuel de Faria e Asia Portvgvesa Officina de Henrique Valen-te de Oliveira impressor del Rey NS Lisboa 1666

TENREIRO Antoacutenio amp AFONSO Mestre Viagens por terra da Iacutendia a Por-tugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica Mem-Martins 1991

3 Estudos

ALBUQUERQUE Luiacutes de (dir) Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-tos Portugueses 2 vols Ciacuterculos de Leitores Lisboa 1994

ALMEIDA Fortunato de Histoacuteria de Portugal Vols III-VII Promoclube Lisboa sd

CARDOSO Antoacutenio Pereira A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila agrave Austraacutelia em 1522 Academia da Marinha Lisboa 1994

CARVALHO Andreia Martins de ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Ma-nuelinardquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia ndash Actas do Coloacutequio Internacional Joatildeo Paulo Oliveira e Costa amp Viacutetor Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 199-226

CARVALHO Andreia Martins de Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria dos Descobrimen-tos e da Expansatildeo Portuguesa (seacuteculos XV-XVIII) apresentado agrave UNL Lisboa 2006

CAVACO Hugo ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio (Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Arte no Algarve) Cacircmara Muni-cipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1987

CAVACO Hugo Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha Cacircmara Munici-pal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1995

CORREIA Joseacute Eduardo Horta Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina Faup Publicaccedilotildees Porto 1997

CORREIA Joseacute Eduardo Horta O Algarve em Patrimoacutenio Gente Singular Editora Olhatildeo 2010

CORTESAtildeO Armando ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Aus-tralaacutesia Macau Japatildeo)rdquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939

CORTESAtildeO Jaime ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal (Dir Damiatildeo Peres) Vol IV Portucalense Editora Barce-los 1932 pp 9-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203200

Fernando Pessanha

CORTESAtildeO Jaime A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e de D Joatildeo II Lisboa 1960

COSME Joatildeo ldquoOs homens de ciecircnciardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 91-97

COSME Joatildeo ldquoOs Navegadores ndash Vasco da Gamardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 145-152

COSTA Joatildeo Paulo Oliveira e ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo A Nobreza e a Expansatildeo Estudos Biograacuteficos Joatildeo Paulo Oliveira e Costa (coord) Patrimoacutenia Cascais 2000 pp 11-51

DOMINGUES Francisco Contente ldquoOs portugueses descobriram a Aus-traacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Si-motildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Univer-sidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 163-172

DOMINGUES Francisco Contente Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 Circulo dos Leitores Lisboa 2016

FARIA Antoacutenio Machado de Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI Acade-mia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 1956

FARIA Antoacutenio Machado de ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo Separata da revista Arqueologia e Histoacuteria vol VI Lisboa 1955

FARIA Miguel Figueira de ldquoFortificaccedilotildees de Portugal na fronteira da Es-tremadura espanholardquo Anais ndash Seacuterie Histoacuteria Vol II Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 1995 pp 156-187

FONSECA Luiacutes Adatildeo da ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo A Alta No-breza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 322-347

FREIRE Anselmo Braamcamp Brasotildees da Sala de Sintra 3 vols Impren-sa da Universidade de Coimbra Coimbra 1921-1930

GARCIA Joseacute Manuel Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII QuidNovi Lisboa 2009

GARCIA Joseacute Manuel O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash 1555 Nordm 8 QuidNovi Vila do Conde 2012

GODINHO Rui Landeiro ldquoA Armada do Estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (Seacuteculos XV-XIX) Ediccedilotildees Cul-turais da Marinha Lisboa 2003 pp 117-137

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 11: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 175

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

Como anteriormente referimos foi em 23 de Abril de 1519 que D Manuel enviou para a Iacutendia uma armada comandada por Jorge de Albuquerque onde seguia ldquoChristovatildeo de Mendoccedila filho de Diogo de Mendoccedila Alcaide moacuter de Mouratildeordquo Identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como um dos capitatildees desta armada resta-nos perceber porque moti-vo se teraacute aventurado no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Como anteriormente vimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Mendoccedila alcaide-mor de Mouratildeo Poreacutem natildeo era filho primogeacutenito Quer isto dizer que com o falecimento do seu pai a alcaidaria de Mouratildeo passou para o seu irmatildeo mais velho Pecircro de Mendonccedila em 151748 Eacute nesse sentido que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teraacute encontrado nos serviccedilos na Iacutendia o meio de ascensatildeo social para os filhos secundogeacutenitos uma vez que estes dependiam da generosidade reacutegia para a obtenccedilatildeo de tenccedilas e mercecircs que permitissem a manutenccedilatildeo ou elevaccedilatildeo do seu estatuto Vemos deste modo que a participaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo no projecto expan-sionista portuguecircs se apresentava perfeitamente normal se tivermos em conta o seu contexto social e familiar assim como a sua condiccedilatildeo de secundogeacutenito49

Ao seguirmos a croacutenica de Joatildeo de Barros apercebemo-nos de que a armada que partiu para a Iacutendia em 1519 apenas chegou ao destino em 1520 por motivo de invernada em Moccedilambique onde Cristoacutevatildeo se dete-ve com outros sete capitatildees50 De resto uma carta datada de 22 de Janei-

barcaccedilotildees para lhe tomarem o navio tentou evadir-se para o alto mar Poreacutem ao ser arrastado para a costa acabou por vir a perecer tendo apenas escapado alguns malaios que atravessaram a ilha ateacute agrave costa norte onde encontraram embarcaccedilatildeo para os levar a Malaca As uacuteltimas palavras de Joatildeo de Barros sobre esta viagem tem levado alguns autores a considerarem que Diogo Pacheco teraacute perecido na Austraacute-lia ldquoesta perdiccedilatildeo de Diogo Pacheco que foi o primeiro dos nossos que perdeo a vida por descubrir esta Ilha do ourordquo Eacute o caso de Trickett ou de Joseacute Manuel Azevedo e Silva para quem Diogo Pacheco foi o primeiro portuguecircs a descobrir a Austraacutelia tendo alcanccedilado a costa noroeste da ilha em 1519 Ver SILVA ldquoDiogo Pacheco capi-tatildeo-morrdquo pp 111-119

48 A tenccedila que eacute atribuiacuteda a Beatriz Soares viuacuteva de Diogo de Mendonccedila indica que este jaacute tinha falecido em Julho de 1516 Ver ANTT Chancelaria de D Manuel I livro 9 fl4v Pecircro de Mendonccedila fidalgo da Casa Real foi nomeado alcaide-mor do castelo e vila de Mouratildeo com todas as rendas direitos foros tributos liberdades e honras em consideraccedilatildeo aos serviccedilos prestados pelo seu pai Diogo de Mendonccedila em 14 de Julho de 1517 Ver ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 37 fl64 Ver tambeacutem FREIRE Brasotildees Vol III p 173

49 COSTA ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo pp 11-51

50 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento V Cap XX p 38 e Cap XXX p 56

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203176

Fernando Pessanha

ro de 1521 atesta a presenccedila de Mendonccedila e de seus homens em Goa51 tal como a Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) con-firma a sua passagem pela capital do Estado da Iacutendia no mesmo ano52

Seja como for a armada que partiu em 1519 levava ordens de D Manuel para o governador Diogo Lopes de Sequeira Determinava o monarca portuguecircs que o governador da Iacutendia escolhesse algueacutem da sua confianccedila para ir descobrir a Ilha do Ouro53 Por outras palavras D Manuel pretendia que se desse continuidade agraves exploraccedilotildees iniciadas por Diogo Pacheco Tal como podemos acompanhar no mesmo capiacutetulo da Deacutecada III da Aacutesia foi Diogo Lopes de Sequeira a escolher ldquoChristo-vatildeo de Mendoccedila filho de Pero de Mendoccedila Alcaide moacuter de Mouratildeordquo54 para tal missatildeo55 A documentaccedilatildeo mostra-nos que Cristoacutevatildeo se encontrava em Goa em Janeiro de 152156 e que partiu de Cochim em 4 de Maio de 152157 Se seguirmos a Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) apercebemo-nos de que a armada comandada por Mendonccedila e destinada a descobrir a Ilha do Ouro era constituiacuteda por quatro navios o navio Satildeo Cristoacutevatildeo em que o proacuteprio viajava a caravela Rosaacuterio co-mandada pelo capitatildeo Pedro Eanes Francecircs o bergantim Santo Antoacutenio comandado pelo capitatildeo Francisco Poles e um parau comandado pelo capitatildeo Gonccedilalo Homem58 Esta armada teraacute chegado agrave Ilha de Samatra por volta de Junho

51 Ver Conhecimento em que se declara que Diogo Lourenccedilo recebeu do feitor de Goa Francisco Cornivel 8 cruzados para mantimento da gente de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 93 Nordm150

52 Ver ldquoRelaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11)rdquo Documento publicado Documentos Sobre os Portugueses Vol VI p100

53 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I IV Cap III p 41254 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I IV Cap III p 413 O cronista poreacutem engana-se ao

referir o parentesco uma vez que o navegador incumbido de descobrir a Ilha do Ouro era Cristoacutevatildeo de Mendonccedila irmatildeo (e natildeo filho) de Pecircro de Mendonccedila

55 Note-se portanto que ao contraacuterio do que eacute defendido por Tricket ndash que tenta colocar esta expediccedilatildeo ao niacutevel da viagem de Vasco da Gama agrave Iacutendia - natildeo houve qualquer ordem real a nomear Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como capitatildeo da expediccedilatildeo destinada a descobrir a miacutetica ilha tendo sido o entatildeo governador da Iacutendia a escolher o capitatildeo para tal empreendimento Ver TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio pp 80-81

56 Conhecimento em que se declara que Diogo Lourenccedilo recebeu do feitor de Goa Fran-cisco Cornivel 8 cruzados para mantimento da gente de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 93 Nordm150

57 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila partiu acompanhado por Jorge de Brito que ia para as Mo-lucas onde deveria construir uma fortaleza e interceptar Fernatildeo de Magalhatildees Ver THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 97

58 Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) Documento publicado in Documentos Sobre os Portugueses Vol VI p 96

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 177

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

A primeira referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece aquando da sua passagem pelo porto de Pedir59 onde encontrou Rafael Catanho que entatildeo regressava de Acheacutem no extremo noroeste da ilha de Sama-tra60 Pouco tempo depois chegava agravequele porto de Pedir o que restava da armada de Jorge de Brito morto em combate juntamente com gran-de nuacutemero de portugueses apoacutes um confronto com as forccedilas do rei de Acheacutem61 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ao encontrar aquela armada desba-ratada e sem capitatildeo pretendeu colocaacute-la sob seu comando62 Poreacutem os poucos fidalgos sobreviventes natildeo o consentiram alegando que o co-mando deveria ser entregue a Antoacutenio de Brito o irmatildeo do falecido ca-pitatildeo que se deveria juntar agrave armada depois de consertar o seu navio63

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila rumou entatildeo a Paceacutem onde se deveria rea-bastecer de mantimentos para dar continuidade agrave viagem Todavia ao chegar a este ponto da narrativa diz-nos Joatildeo de Barros que ldquoo tempo natildeo era da monccedilatildeo pera onde cada hum havia de ir principalmente a de Christovatildeo de Mendoccedila que era jaacute passadardquo64 A acrescentar ao facto de o navegador ter perdido os ventos de monccedilatildeo acresce que o capitatildeo de Malaca Jorge de Albuquerque se encontrava em Paceacutem a construir uma fortaleza destinada a proteger uma feitoria cujo principal objecti-

59 Porto de grande importacircncia no comeacutercio do Iacutendico situado na parte nordeste da Ilha de Samatra O desenvolvimento de Pedir assim como o de Paceacutem relaciona-se estrei-tamente com a propagaccedilatildeo do islatildeo na Indoneacutesia ocidental Em 1509 Diogo Lopes de Sequeira assinou um tratado com o sultatildeo de Pedir e com a conquista de Malaca o seu principal comeacutercio passou a ser dirigido para esta cidade Sobre Pedir veja-se SS ldquoPedirrdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Portugueses (Dir Luis de Albu-querque) Vol II pp 870-872

60 O sultanato islacircmico de Acheacutem foi uma das entidades que mais se opocircs aos interesses dos portugueses estabelecidos em Malaca Fundado por um descendente do rei de Pedir transformou-se num reino poderoso que conquistou vaacuterias terras na ilha de Samatra e ao qual outros reinos pagavam tributo Ver GARCIA Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII pp 198-200

61 Este confronto com o reino de Acheacutem eacute tambeacutem narrado por Damiatildeo de Goacuteis e Fernatildeo Lopes de Castanheda Ver GOacuteIS Chronica IV Cap LXVII pp 566-567 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento V Cap LXV pp 107-109

62 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p546 Fernatildeo Lopes de Castanheda ainda que natildeo refira Cristoacutevatildeo revela que ldquocomo os nauios natildeo tinhatildeo capitatildees ouue alguns que se quiseram levantar coeles amp irse a diversas partes a fazer presasrdquo CASTA-NHEDA Histoacuteria do Descobrimento pp 107-110

63 Com efeito com a chegada de Antoacutenio de Brito foi apresentada uma provisatildeo de D Manuel I que o nomeava capitatildeo daquela armada em caso de falecimento de Jorge de Brito

64 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 548

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203178

Fernando Pessanha

vo consistia na recolha de pimenta que se produzia na regiatildeo65 Foi nes-se sentido que Jorge de Albuquerque determinou que todos os capitatildees que se encontravam em Paceacutem ali permanecessem em ldquofavor daquela fortaleza em quanto ella natildeo estava em estado pera se poder defenderrdquo66

Vemos deste modo que a expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo rumo agrave Ilha do Ouro foi interrompida em funccedilatildeo da necessidade que os portugueses sentiram em se fortificarem naquele ponto da ilha de Samatra Aliaacutes eacute o proacuteprio cronista a referir que a presenccedila de Cristoacutevatildeo e dos outros ca-pitatildees foi providencial para que a fortaleza se pudesse construir jaacute que os adversaacuterios os atacavam de forma sistemaacutetica Num desses ataques Melique Ladil um mouro que reivindicava para si o reino de Paceacutem aproximou-se da fortaleza com treze lancharas67 atrevendo-se a deitar fogo agrave fortificaccedilatildeo Foi entatildeo que Cristoacutevatildeo e os outros capitatildees saiacuteram em sua perseguiccedilatildeo desbaratando o adversaacuterio e confiscando-lhe todas as embarcaccedilotildees para serviccedilo agrave fortaleza Usando as palavras de Manuel de Faria e Sousa ldquoCristoval de Mendoccedila que bien fuerotilde menester para re-sistir y humillar despues a un orgulloso Moro que com algunos baxeles de remo infectava aquella marinardquo68 Finalmente terminada a empreitada Cristoacutevatildeo de Mendonccedila voltou a partir para Malaca69

Tal como Diogo Pacheco eacute possiacutevel que o navegador portuguecircs tenha contornado Samatra antes de partir para Malaca De acordo com Luiacutes Filipe Thomaz eacute provaacutevel que o navegador durante a viagem tenha descoberto uma ilha que deve ter tomado pela Ilha do Ouro ainda que constatado o erro a tenha baptizado com o nome que ainda hoje tem Ilha do Engano Seja como for temos notiacutecia de que a armada jaacute se en-contrava em Malaca em finais de 1521 onde a caravela Santa Maria do Rosaacuterio recebeu mantimentos em 10 de Dezembro para poder seguir

65 Esta fortaleza foi concebida para proteger uma feitoria cujo principal objectivo con-sistia na recolha da pimenta Poreacutem este enclave veio a revelar-se de difiacutecil manuten-ccedilatildeo devido aos ataques de que era alvo parte dos habitantes de Acheacutem Os portugue-ses acabariam por abandonar a fortaleza em Maio de 1523 natildeo tendo ficado qualquer testemunho iconograacutefico deste efeacutemero estabelecimento Castanheda poreacutem refere tratar-se de uma fortaleza ldquofeyta em breue tempo tempo com muros baluartes amp torres de madeyra amp cercada de caua () amp muyto bem artilhadardquo Ver CASTANHEDA Histoacute-ria do Descobrimento V Cap LXIIII pp 106-107 Damiatildeo de Goacuteis explica a conjun-tura poliacutetico-militar que levou agrave construccedilatildeo desta fortaleza Ver GOacuteIS Chronica IV Cap LXVI pp 564-566

66 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 548 67 Navios de remos entatildeo usados naquela zona do Oriente 68 SOUSA Asia Tomo I Pt III Cap V p 20269 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 549

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 179

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

para Paceacutem enquanto a nau Satildeo Cristoacutevatildeo apenas os recebeu em 10 de Janeiro de 1522 para depois seguir para Ormuz70 Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila natildeo teraacute tido tempo suficiente para chegar agrave Ilha do Ouro nesse ano de 1521 Pelo menos eacute o que podemos depreen-der quando Joatildeo de Barros refere a permanecircncia de Cristoacutevatildeo em Men-donccedila no auxiacutelio agrave construccedilatildeo da fortaleza de Paceacutem

Natildeo encontramos portanto elementos nas Deacutecadas da Aacutesia que nos permitam afirmar que este navegador portuguecircs teraacute prosseguido via-gem para o sul de Samatra e encontrado a miacutetica Ilha do Ouro identi-ficada com a Austraacutelia Ainda assim tecircm sido vaacuterios os historiadores nomeadamente Armando Cortesatildeo a defenderem natildeo haver motivo para se duvidar de que Cristoacutevatildeo teraacute seguido com a exploraccedilatildeo de que fora incumbido no ano seguinte aproveitando a monccedilatildeo do princiacutepio de 1522 Note-se que o proacuteprio Luiacutes de Albuquerque ainda que aves-so a esta teoria natildeo deixa de estranhar o facto de as Deacutecadas da Aacutesia natildeo referirem quais os serviccedilos especiais prestados por Mendonccedila que justifiquem a sua nomeaccedilatildeo para a rentaacutevel e apeteciacutevel capitania de Ormuz71 ldquotam viccediloacutesa e abastaacuteda q dizem os moradores della q o Mundo eacute hu aneacutel e Ormuz hua pedra precioacutesa engastaacuteda nellerdquo72 Como a seguir veremos a nomeaccedilatildeo para a capitania de Ormuz natildeo foi a uacutenica benesse com que o navegador foi agraciado apoacutes o seu regresso ao reino

52 A viagem de regresso ao reino

Segundo Trickett nada se sabe sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila nos seis anos posteriores agrave expediccedilatildeo que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro73 Como veremos esta ideia natildeo corresponde agrave realidade Sabe-se por exemplo que depois de o navegador ter estado em Ormuz e na Iacutendia regressou a Portugal em 1524 tendo-se detido em Marccedilo ou Maio desse ano na aguada de Saldanha na actual Aacutefrica do Sul tal como ficou atestado numa inscriccedilatildeo que aiacute foi encontrada

Com efeito decorria o ano de 1989 quando foi identificada uma ins-criccedilatildeo portuguesa em Golden Acre no sopeacute de Adderley Street na Cida-de do Cabo Desta inscriccedilatildeo fracturada sobreviveu um fragmento com 25

70 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 7671 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal p 25872 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada II II Cap II p 48 73 Cf TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio p 87

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203180

Fernando Pessanha

cm de largura por 10 cm de altura que foi recolhido pelo South African Museum Na altura um arqueoacutelogo do South African Museum pensou tratar-se de inscriccedilatildeo funeraacuteria de D Lourenccedilo de Almeida um navega-dor portuguecircs que numa viagem de regresso ao reino desembarcou na Baiacutea do Saldanha em Dezembro de 1509 de modo a castigar uns indiacutege-nas Poreacutem acabou por falecer nesse recontro juntamente com muitos outros elementos da sua tripulaccedilatildeo o que levou o referido arqueoacutelogo a interpretar o achado como uma inscriccedilatildeo funeraacuteria

Entretanto em Janeiro de 1990 o Prof Eric Axelon comunicou agrave Comissatildeo Nacional para as Comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portu-gueses a descoberta da inscriccedilatildeo Axelon adiantava poder tratar-se de um artefacto representativo da passagem de Duarte de Meneses pela Cidade do Cabo em 1524 Poreacutem a leitura e interpretaccedilatildeo de Maacuterio Jorge Barroca assistente de Arqueologia Medieval da Universidade do Porto veio a invalidar as suposiccedilotildees de Axelon e do arqueoacutelogo do South African Museum De acordo com Maacuterio Jorge Barroca este do-cumento epigraacutefico refere-se a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ainda que o estado de conservaccedilatildeo desta inscriccedilatildeo dificulte a interpretaccedilatildeo do seu conteuacutedo74 Luiacutes Filipe Thomaz que tambeacutem abordou esta inscriccedilatildeo faz uma leitura ligeiramente diferente mas que concorda quanto ao essencial do conteuacutedo75 De resto eacute interessante notar que para aleacutem dos supra citados autores apenas encontraacutemos referecircncias a este do-cumento epigraacutefico em Luiacutes de Albuquerque76 Antoacutenio Pereira Cardo-so77 e Joseacute Manuel Garcia78

De modo geral a inscriccedilatildeo identificada na Cidade do Cabo vem de-monstrar efectivamente que Cristoacutevatildeo empreendeu a viagem de re-gresso ao reino em 1524 sendo provaacutevel que tenha partido de Cochim logo no iniacutecio do ano Sabemos que se encontrava no sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio No entanto e ainda que esta epiacutegrafe se apresente como um elemento de grande interesse para a reconstituiccedilatildeo do percurso de Cristoacutevatildeo continuamos sem saber o que teraacute feito e por onde teraacute nave-gado entre os iniacutecios de 1522 quando recebeu mantimentos para seguir

74 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo pp 17-1875 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 7976 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-

tos Vol II pp 727-72877 CARDOSO A provaacutevel viagem pp10-1978 GARCIA O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash

1555 Nordm 8 p 98

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 181

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

para Ormuz e os iniacutecios de 1524 quando partiu da Iacutendia para regressar a Portugal Teraacute ele permanecido todo esse tempo em Ormuz Ou teraacute dado continuidade agraves exploraccedilotildees que lhe tinham sido incumbidas pelo governador Diogo Lopes de Sequeira

6 Rendas mercecircs e distinccedilotildees

61 Tenccedilas recebidas

Referimos haacute pouco natildeo ser correcta a ideia de nada se saber sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila nos seis anos posteriores agrave expediccedilatildeo que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro De facto para aleacutem da inscri-ccedilatildeo encontrada na Cidade do Cabo e que atesta a passagem de Mendon-ccedila pelo sul de Aacutefrica tambeacutem existem alguns documentos acondiciona-dos no Arquivo Nacional da Torre do Tombo que revelam informaccedilotildees interessantes para o periacuteodo correspondente agrave sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e 1527 Satildeo exactamente esses documentos que nos datildeo conta das rendas mercecircs e distinccedilotildees com que este navegador foi agraciado

Sabemos que em 4 de Julho de 1526 por exemplo D Joatildeo III mandou o almoxarife de Aveiro dar a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ldquofidalgo da sua casardquo 50000 reacuteis de tenccedila que ficaria assentada na alfacircndega da cidade de Lisboa79 Seria esta uma tenccedila generosa A resposta a esta questatildeo le-vou-nos a comparar este valor com as tenccedilas auferidas pelos seus fami-liares e por outros navegadores seus contemporacircneos Foi nesse sentido que constataacutemos que o ceacutelebre navegador e cosmoacutegrafo Duarte Pacheco Pereira depois de inuacutemeros serviccedilos prestados agrave Coroa recebeu uma tenccedila anual de 50000 reais nesse mesmo ano de 152680 Tristatildeo da Cu-nha ceacutelebre navegador e comandante naval portuguecircs nomeado por D Manuel para primeiro governador da Iacutendia em 150581 e pai de Nuno da Cunha Governador da Iacutendia entre 1528 e 153882 recebeu 40000 reacuteis

79 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57 80 JB de C ldquoPereira Duarte Pachecordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol V pp 52-

54 COSME ldquoOs homens de ciecircnciardquo pp 91-9781 E S ldquoCunha Tristatildeo da (1460-1540)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol II p 260

Sobre Tristatildeo da Cunha veja-se tambeacutem CARVALHO ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Manuelinardquo pp 199-226

82 E S ldquoCunha Nuno da (1487-1539)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol II pp 258-259 Sobre Nuno da Cunha veja-se tambeacutem CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538)

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203182

Fernando Pessanha

de tenccedila no mesmo ano de 152683 Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo rece-beu uma tenccedila generosa ao voltar ao reino Talvez Note-se que o pai de Cristoacutevatildeo Diogo de Mendonccedila alcaide-mor de Mouratildeo recebia os mesmos 50000 reacuteis de tenccedila em 150184 e em 151485 valor que o irmatildeo de Cristoacutevatildeo Pedro de Mendonccedila passou a auferir ao herdar a alcaidaria de Mouratildeo em 151786

Para aleacutem dos 50000 reacuteis de tenccedila eacute o proacuteprio Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila a mandar Jacome Bentes receber de Joatildeo de Azambuja 200000 reacuteis em virtude da outra procuraccedilatildeo que o dito Mendonccedila tinha feito para receber dos almoxarifes de Setuacutebal Aveiro e Coimbra87 Refira-se a este respeito que ainda no mesmo ano ordenou D Joatildeo III que o almoxari-fe de Aveiro pagasse ao jaacute referido Tristatildeo da Cunha 100000 reacuteis para pagamento de 250000 reacuteis da sua tenccedila88 ou que Vasco da Gama ao re-gressar ao reino depois de descobrir o caminho mariacutetimo para a Iacutendia recebeu uma renda de 300000 reacuteis89 Vemos deste modo que os rendi-mentos auferidos por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aquando do seu regresso ao reino natildeo foram propriamente modestos quando comparados com os do primeiro governador da Iacutendia ou com os do navegador e cosmoacute-grafo Duarte Pacheco Pereira

Por fim surge-nos um documento datado de 13 de Abril de 1527 e que tem por tiacutetulo Estabelecimento que Fernando Rodrigues como procu-rador de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila fidalgo da Casa do Rei fez em Fernando Gomes para cobrar todas as tenccedilas e moradias do seu dito constituinte90 Repare-se que de acordo com Joatildeo de Barros Cristoacutevatildeo de Mendonccedila voltou a partir para o Oriente em Marccedilo de 1527 Vemos portanto que o referido documento eacute ligeiramente posterior agrave partida do navegador e que este deixou instruccedilotildees ao seu procurador para que algueacutem cobrasse todas as suas tenccedilas e moradias De resto a alusatildeo agraves ldquotenccedilas e moradi-

83 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 135 Nordm4584 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 13 fl60 ANTT Chancelaria de D Manuel I

liv 8 fl29v85 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 53 Nordm18286 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 10 fl53 Repare-se que a partir de 1523 Pe-

dro de Mendonccedila passou a receber apenas 30000 reacuteis ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 109 Nordm131 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 131 Nordm226

87 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 136 Nordm10288 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 135 Nordm4989 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 4 fl 37 COSME ldquoOs Navegadores ndash Vasco da

Gamardquo p 14990 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 141 Nordm91

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 183

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

asrdquo vem reforccedilar a ideia de que os serviccedilos prestados por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente foram bem recompensados pelo monarca portu-guecircs Resta-nos perceber que serviccedilos teratildeo justificado estas recompen-sas assim como aquelas a que de seguida aludiremos

62 A capitania de Ormuz

Para aleacutem dos rendimentos atraacutes referidos os serviccedilos prestados por Mendonccedila foram igualmente agraciados com a nomeaccedilatildeo para a ren-taacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz para onde partiu em Marccedilo de 152791 Natildeo deixa de ser interessante a alusatildeo que cronistas como Joatildeo de Barros ou Frei Luiacutes de Sousa fazem aos Braganccedilas no momento em que referem esta nova partida de Cristoacutevatildeo para a Iacutendia Com efeito eacute possiacutevel que o duque de Braganccedila jaacute tivesse ligaccedilotildees aos Mendon-ccedilas ainda que o casamento de D Jaime com D Joana de Mendonccedila soacute se tenha realizado em 1520 Teresa Lacerda levanta a hipoacutetese de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ter sido indigitado para o Conselho Reacutegio por influecircncia do duque de Braganccedila do mesmo modo como foi nomea-do para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 e para capitatildeo de Ormuz em 152792 De facto natildeo eacute impossiacutevel No entanto somos da opiniatildeo de que natildeo seraacute apenas D Joana a estar na origem de uma eventual ligaccedilatildeo de D Jaime aos Mendonccedilas como tambeacutem a participaccedilatildeo do seu pai ldquoDiogo de mendonccedila alcaide mor de Mouratildeordquo e de ldquoPero de Mendonccedila seu filhordquo na conquista de Azamor comandada pelo proacuteprio duque em 151393

De facto natildeo sabemos se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teraacute sido indigitado para o Conselho Reacutegio para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquer-que de 1519 ou para a capitania de Ormuz por influecircncia do duque de Braganccedila Seja como for parece-nos que o contexto social e familiar de Cristoacutevatildeo teraacute pesado no momento em que o monarca procedeu a tais nomeaccedilotildees Basta recordarmos que Afonso Furtado bisavocirc de Cristoacute-vatildeo tinha sido nomeado capitatildeo do mar por D Joatildeo I em 138594 Afonso

91 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada IV II Cap III p 73 Ver tambeacutem CORREIA Lendas Vol III Pt I Cap XVI p 182 SOUSA Anais Vol II IV Cap I p 1 SOUSA Asia Tomo I Pt IV Cap II p 256

92 LACERDA Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social p 112 nota 375

93 GOacuteIS Chronica III Cap XLVI p 367 GAYO Nobiliaacuterio p 5394 FREIRE Brasotildees Vol III pp 170-171

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203184

Fernando Pessanha

Furtado de Mendonccedila avocirc de Cristoacutevatildeo para aleacutem de capitatildeo-mor do mar95 aparece referido como escrivatildeo da feitoria de Sofala96 Pedro de Mendonccedila tio de Cristoacutevatildeo tinha comandado uma nau numa frota de 12 navios que em 1504 partiu para a Iacutendia para garantir a seguranccedila das rotas comerciais do oceano Iacutendico e controlar o governante hostil de Calecut97 Natildeo se pode portanto considerar que os Mendonccedilas seri-am marginais ao projecto de expansatildeo ultramarina quando Cristoacutevatildeo aparece nomeado para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 ou para a capitania de Ormuz que deteve entre 1527 e 1531 ou 1532 ano da sua morte

Chegando a este ponto vale a pena determo-nos brevemente de modo a compreendermos o que era Ormuz e o que representava esta capitania no contexto do Impeacuterio Portuguecircs no Oriente Antes de mais conveacutem recordarmos que Ormuz era um importantiacutessimo entreposto mercantil em virtude da sua privilegiada localizaccedilatildeo geograacutefica na en-trada do Golfo Peacutersico Com efeito com a segunda conquista de Ormuz por Afonso de Albuquerque em 1515 e a consequente imposiccedilatildeo de um protectorado a Coroa portuguesa passou a arrecadar uma parcela con-sideraacutevel das receitas aduaneiras da proacutespera ilha transformando-se Ormuz no epicentro das actividades portuguesas no Golfo Peacutersico e no mar da Araacutebia A acreditar-se nas fontes quinhentistas era tal o movi-mento e a intensidade no porto de Ormuz que natildeo era invulgar ali en-contrar mais de 200 navios carregados de mercadorias De entre as mais importantes mercadorias que passavam pela cidade destacavam-se os cavalos oriundos da Araacutebia e da Peacutersia com destino aos portos da cos-ta ocidental da Iacutendia de onde eram encaminhados para os potentados indianos entre os quais grassavam guerras endeacutemicas Mas outros pro-dutos aacuterabes e persas faziam a riqueza da esteacuteril ilha de Djarucircn como as alcatifas aacuterabes as peacuterolas de Bahareacutem os tapetes a seda e a prata da Peacutersia o salitre e o enxofre da proacutepria ilha ao lado de mercadorias menos nobres como os frutos secos ou os cereais Dadas as circunstacircn-cias natildeo seraacute de estranhar que ao longo de todo o seacutec XVI a alfacircndega de Ormuz se tenha destacado como a mais rentaacutevel de todo o Estado da Iacutendia logo a seguir agrave de Goa Por outras palavras a cidade gerava

95 FARIA Livro de Linhagens p 27296 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada I Pt I V Cap III97 MALDONADO Relaccedilatildeo das Naos e Armadas da Iacutendia p 16 ANTT Corpo Cronoloacutegi-

co Pt II maccedilo 9 Nordm 35

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 185

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

um volume de receitas tatildeo consideraacutevel que a capitania de Ormuz aca-bou por se transformar numa das mais apetecidas de todo o Impeacuterio no Oriente Vemos deste modo que a atribuiccedilatildeo desta capitania natildeo soacute era motivo de prestiacutegio para o capitatildeo nomeado como tambeacutem fonte de grande riqueza98

Natildeo podemos deixar de notar que as Deacutecadas da Aacutesia ao referir-se agrave nomeaccedilatildeo de Mendonccedila para a capitania de Ormuz natildeo refere quais-quer serviccedilos especiais que justifiquem a atribuiccedilatildeo de tal benesse Ar-mando Cortesatildeo que levantou a hipoacutetese de ter sido Mendonccedila o pri-meiro europeu a chegar agrave Austraacutelia foi um dos investigadores a sugerir que esta nomeaccedilatildeo se devesse aos serviccedilos prestados pelo navegador99 Poreacutem e tal como temos afirmado ao longo deste trabalho natildeo existe qualquer documento que assegure o ecircxito de Mendonccedila relativamente agrave viagem que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro Omis-satildeo que segundo Jaime Cortesatildeo foi consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo entatildeo vigente Luiacutes de Albuquerque ainda que contraacuterio agrave teoria da descoberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que ldquodeve a sua celebridade a uma expediccedilatildeo que natildeo fezrdquo100 estranha no entanto o facto de Diogo do Couto natildeo mencionar os serviccedilos especiais que estiveram na origem da nomeaccedilatildeo do navegador para a capitania de Ormuz101 Esta distinccedilatildeo torna-se ainda mais suspeita se tivermos em consideraccedilatildeo que uma nomeaccedilatildeo desta natureza implicaria em meacutedia 10 anos de serviccedilos no Oriente102 durante os quais era acumu-lada a experiecircncia necessaacuteria para o desempenho de uma capitania Como vimos natildeo foi esse o caso de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Aliaacutes as nomeaccedilotildees para as capitanias mais importantes e lucrativas como Or-muz Goa ou Malaca natildeo soacute eram atribuiacutedas em reconhecimento pelos vaacuterios anos de serviccedilo no Oriente como tambeacutem recaiacuteam tendencial-mente sobre nobres com uma maior presenccedila na corte o que tambeacutem

98 LOUREIRO ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 pp 749-797 JPC ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 833-836

99 CORTESAcircO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158100 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo p 727101 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol IV

p 258102 Andreia Martins de Carvalho determinou os anos de serviccedilo de fidalgos no Oriente

antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania entre 1518 e 1544 CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 211 Foi nesse sentido que tendo em conta a infor-maccedilatildeo disponiacutevel sobre o percurso de 37 fidalgos estabelecemos a meacutedia de anos relativos a serviccedilos no Oriente antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203186

Fernando Pessanha

natildeo era o caso de Mendonccedila Ora se o navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro como explicar tatildeo generoso honroso e rentaacutevel reconhecimento Isto claro para aleacutem das compensaccedilotildees econoacutemicas atraacutes referidas e da entrega da comenda da Ordem de Cris-to que de seguida abordaremos De resto a capitania de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ficou marcada por episoacutedios dignos de registo como o au-xiacutelio prestado agrave frota de Simatildeo da Cunha assolada por uma epidemia contraiacuteda na campanha contra a ilha de Bahareacutem103 Refira-se aliaacutes que foi sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que recaiu a responsabilidade de escolher um agente para realizar a ceacutelebre missatildeo de espionagem que constituiu a viagem por terra de Ormuz a Portugal protagonizada por Antoacutenio Tenreiro entre Setembro de 1528 e Maio de 1529 - viagem cuja narrativa constitui um notaacutevel documento histoacuterico de natureza geograacutefica religiosa e antropoloacutegica104

63 A comenda da vila de Arenilha

Tal como anteriormente referimos deparaacutemo-nos com dois documen-tos que chamaram a nossa atenccedilatildeo aquando da investigaccedilatildeo para o ar-tigo ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo Trata-se de duas cartas em que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece referido como comendador da vila de Arenilha O primeiro documento data de 29 de Dezembro de 1529 e tem por tiacutetulo Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bregantim missiva em que o comendador de Arenilha culpa o marquecircs de Ayamonte pelos danos causados nas barcas dos habitantes da vila no-meadamente no referido bergantim chegando mesmo a mandar ldquopagar as barcas e () as perdas que receberam os donos delas e asy o dano que se fez na Arenilhardquo e mandar o marquecircs prender os responsaacuteveis que se encontrem nas suas terras105 Como se pode perceber o tom da missiva natildeo resulta propriamente abonatoacuterio para o nobre espanhol

103 SOUSA Anais Vol II IV Cap XXII p 106104 Como recompensa pelos serviccedilos prestados Antoacutenio Tenreiro recebeu da Coroa em

1533 uma tenccedila anual de 30000 reacuteis e o haacutebito de cavaleiro da Ordem de Cristo Ver TENREIRO amp AFONSO Viagens por terra da Iacutendia a Portugal p 18 RL ldquoTenreiro Antoacuteniordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II p 1023

105 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 Nordm45

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 187

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig1 - Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua

Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do

marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

Fig 1

Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o

marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203188

Fernando Pessanha

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig2 - Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar

creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Arenilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada destinada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila assim como o seu

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesahelliprdquo pp 86-82

Fig 2

Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao

comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Are-nilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada desti-nada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesardquo pp 86-82

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 189

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacute-vatildeo de Mendonccedila assim como o seu percurso como capitatildeo nas armadas da Iacutendia acreditamos encontrar-nos em condiccedilotildees para demonstrarmos que a comenda de Arenilha foi efectivamente atribuiacuteda ao navegador como reconhecimento pelos serviccedilos prestados no Oriente

Com efeito satildeo vaacuterios os indicadores que nos levam a afirmaacute-lo Em primeiro lugar o facto de natildeo se encontrar nas croacutenicas nem nas fontes coevas qualquer referecircncia a um homoacutenimo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a balizagem cronoloacutegica compreendida entre 1514 e 1532 periacuteodo em que aparece referido na documentaccedilatildeo Aliaacutes as da-tas discriminadas nos documentos que o referem como comendador de Arenilha corroboram a ideia de esta comenda ter sido atribuiacuteda aquando do seu regresso ao reino Eacute certo que natildeo sabemos a data em que Cristoacutevatildeo teraacute chegado a Portugal ainda que tenhamos notiacutecia da sua passagem pelo sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio de 1524 durante a viagem de regresso108 Poreacutem as tenccedilas atraacutes mencionadas indicam que se encontrava no reino em 1526 Uma vez que os documentos que o referem como comendador da vila da foz do Guadiana remontam a Dezembro de 1529 e Maio de 1530 anos em que o navegador jaacute se encontrava no Oriente eacute de supor que D Joatildeo III lhe teraacute atribuiacutedo a comenda aquando da sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e Marccedilo de 1527 ano em que voltou a partir para a Iacutendia jaacute na qualida-de de capitatildeo de Ormuz

Uma vez que natildeo se verificam homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila para a balizagem cronoloacutegica atraacutes referida e que as datas dos docu-mentos que o referem como comendador de Arenilha satildeo ligeiramente posteriores ao seu regresso ao reino resta-nos determinar se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila reunia as condiccedilotildees necessaacuterias para ser agraciado com uma comenda desta natureza Antes de mais importa referir que a vila de Arenilha e de Castro Marim eram as duas uacutenicas comendas da Ordem de Cristo no Algarve Curiosamente Isabel L Morgado de Sousa e Silva natildeo refere a comenda de Arenilha na dissertaccedilatildeo para doutoramento

108 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo Oceanos Nordm4 pp 17-18 ALBU-QUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 727-728 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 79

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203190

Fernando Pessanha

A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521)109 Poreacutem o documento publicado por Hugo Cavaco natildeo deixa margem para duacutevidas

ldquoNo Bispado do Algarve haacute somente duas Commendas da Ordem (de

Cristo) que satildeo das antigas e as seguintes

A Commenda e Alcaideria-moacuter de Castro Marim avaliou-se em quatro-

centos e cinquenta mil reacuteis no anno de 1608

A Commenda da Alcaideria-mograver de Santo Antonio de Arenilha que estaacute

junto a Castro Marim em cento e trinta mil reacuteis no anno de 1608

No Bispado do Algarve natildeo haacute nenhuma Commenda desta Ordem mais

que as duas velhas que valem quinhentos e oitenta mil reacuteis como se vecirc

da somma adianterdquo110

Aliaacutes soacute o facto de Arenilha ser comenda da Ordem de Cristo poderaacute explicar que o senhorio da vila tenha sido atribuiacutedo exclusivamente a cavaleiros da miliacutecia ao longo de toda a centuacuteria quinhentista111

Naturalmente que estas comendas implicavam desde logo a existecircn-cia de comendadores sobre os quais recaiacutea o senhorio das ditas vilas o que era compreendido como motivo de honra e de prestiacutegio social numa sociedade ainda bastante influenciada pelas antigas tradiccedilotildees medievo-feudais Comendas refira-se que compreendiam o direito agrave administra-ccedilatildeo da localidade e conferiam uma renda para sustentaccedilatildeo do comenda-dor beneficiaacuterio configurando um recurso para os encargos da proacutepria comenda No entanto a atribuiccedilatildeo de uma comenda representava um benefiacutecio atribuiacutedo a cavaleiros professos nas ordens militares como re-compensa por serviccedilos prestados Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Men-donccedila soacute poderia ser agraciado com a comenda de Arenilha caso tivesse sido investido na Ordem de Cristo Foi nesse sentido que procuraacutemos determinar se este navegador professou nesta Ordem Militar

Com efeito a dissertaccedilatildeo Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) de Joatildeo Maria Falcatildeo Pestana de Vascon-celos natildeo faz qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila enquanto cavaleiro da Ordem de Cristo Refere no entanto o seu avocirc Afonso Fur-

109 SILVA A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta110 Documento VIII BNLMicroformas F5040 Documento publicado por CAVACO Revisi-

tando p 52111 Cf PESSANHA Os 500 anos pp 57-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 191

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

tado de Mendonccedila comendador de Cardiga da Ordem de Cristo112 a sua irmatilde Margarida de Mendonccedila enquanto mulher de um comendador da mesma Ordem e o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo que recebeu o haacutebito da miliacutecia em 16 de Abril de 1514113 Ain-da que a referida dissertaccedilatildeo natildeo faccedila qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo enquanto membro desta Ordem vem demonstrar a ligaccedilatildeo de alguns dos seus familiares agrave mesma natildeo soacute na qualidade de cavaleiros como tambeacutem de comendadores

Poreacutem Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social de Teresa Lacerda assim como a jaacute referida tese A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) de Isabel L Morgado de Sousa e Silva jaacute identificam efectivamente Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como frei cavaleiro desta Ordem114 De acordo com a obra consultada Cavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVI Cristoacutevatildeo de Mendonccedila recebeu efectivamente o haacutebito da Ordem de Cristo em 16 de Abril de 1514115 exactamente na mesma data em que o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila tambeacutem foi in-vestido116 De resto o facto de Cristoacutevatildeo aparecer referido como mem-bro da miliacutecia numa provisatildeo em que D Joatildeo III manda o almoxarife de Aveiro pagar ldquoa Cristoacutevatildeo de Mendonccedila sua tenccedila deste ano 50000 reacuteis assentada na alfacircndega de Lisboa com o haacutebito de Cristordquo117 vem dissipar qualquer duacutevida que ainda subsistisse

Note-se que identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como cavaleiro da Ordem de Cristo natildeo pudemos deixar de reparar no silecircncio dos cronistas no momento de identificar os intervenientes no processo ex-pansionista com as suas respectivas filiaccedilotildees nas Ordens Militares De facto quer Joatildeo de Barros quer os cronistas que lhe sucederam natildeo fazem qualquer referecircncia agrave filiaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo em qualquer Ordem tal como de acordo com o que constataacutemos raramente o fazem em relaccedilatildeo a outros cavaleiros Esta evidecircncia pode parecer ainda mais estranha se tivermos em consideraccedilatildeo o forte envolvimento da Ordem

112 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Vol I p 377 FARIA Livro de Linhagens p 275

113 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares p 392 114 LACERDA Os Capitatildees das Armadas pp 120 e 228 SILVA A Ordem de Cristo p 336

SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma perspectiva de estudordquo apecircndice

115 FARIA ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo p 21116 FARIA ldquoCavaleirosrdquo p 21 Ver tambeacutem SILVA A Ordem de Cristo p 330117 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203192

Fernando Pessanha

de Cristo na Histoacuteria da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses Ordem Militar sublinhe-se que teve como governadores figuras in-contornaacuteveis da famiacutelia real como o infante D Henrique o infante D Fernando o rei D Manuel ou o rei D Joatildeo III118 Poreacutem haacute que ter em consideraccedilatildeo que documentos como Memoacuteria das Armadas ou o Livro de Lisuarte de Abreu natildeo satildeo fontes sobre qualquer uma das Ordens razatildeo pela qual se torna compreensiacutevel a ausecircncia de referecircncias mais completas relativamente aos intervenientes no processo de expansatildeo Aliaacutes a intenccedilatildeo subjacente agrave produccedilatildeo de obras como Histoacuteria do Des-cobrimento e da Conquista da Iacutendia natildeo passa por apresentar informa-ccedilatildeo detalhada sobre as individualidades que participaram no processo expansionista mas antes destacar o protagonismo reacutegio em todo este processo119

Por fim natildeo se verificando homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a cronologia abordada coincidindo as datas que o referem como comendador de Arenilha e identificado este navegador como cavalei-ro da Ordem de Cristo resta-nos perceber por que motivo lhe teraacute sido entregue a comenda desta vila na foz do Guadiana Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo que a fundaccedilatildeo de Are-nilha prende-se com a afirmaccedilatildeo da soberania poliacutetica e administra-tiva de D Manuel sobre um territoacuterio frequentado por castelhanos Eacute exactamente nesse contexto que em 1421 Castro Marim justificava o pedido de isenccedilatildeo de alguns encargos pelos ldquoconstantes trabalhos que os moradores tinham com os castelhanos que insistiam em vir pescar ao reinordquo120 Quer isto dizer que os castelhanos vinham pescar para as margens portuguesas natildeo pagando os devidos impostos agrave Coroa Aliaacutes a existecircncia do topoacutenimo de origem castelhana Arenilha121 ainda antes da elaboraccedilatildeo da Carta de Privileacutegio que manda proceder agrave construccedilatildeo

118 FONSECA ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo pp 321-347 Ver tambeacutem SILVA A Or-dem de Cristo pp 43-110

119 Cf SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristordquo pp 349-361120 VENTURA ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo p 608

ANTT Chancelaria de D Afonso V liv 2 fl30121 De acordo com o dicionaacuterio da Real Academia Espantildeola ldquoarenillardquo apresenta-se como

sinoacutenimo de ldquoarena menudardquo Ver Dicionario de la Real Academia Espantildeola Disponiacutevel em httplemaraeesdraeval=arenilla ndash Consultado dia 10 de Setembro de 2013 Note-se que quando em 1775 se pretendeu baptizar a nova vila iluminista com o nome de Vila Real de Santo Antoacutenio de Arenilha prontamente o Marquecircs de Pombal proibiu a utilizaccedilatildeo do nome ldquoArenilhardquo alegando que ldquoeacute uma palavra hespanhola e Villa Real uma povoaccedilatildeo portuguesardquo Ver OLIVEIRA Monografia p 71

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 193

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

da vila122 indica a ocupaccedilatildeo daquele areal na margem portuguesa da foz do Guadiana por populaccedilotildees de pescadores de origem castelhana Dadas as circunstacircncias seria do interesse estrateacutegico do monarca que esta comenda recaiacutesse sobre algueacutem experimentado na guarda da fronteira e que fizesse cumprir o pagamento dos devidos direitos aduaneiros Re-corde-se que Arenilha para aleacutem de comenda da Ordem de Cristo era uma vila de fronteira situada na margem portuguesa do Guadiana tal como o era a vila de Mouratildeo de onde Cristoacutevatildeo de Mendonccedila era natu-ral Como anteriormente referimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Men-donccedila o fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo que foi nomeado em 1476 alcaide-mor de Mouratildeo123 uma vila fortificada do Alentejo que guarda-va a fronteira portuguesa frente a Espanha O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas mostra-nos o castelo de Mouratildeo onde Cristoacutevatildeo teraacute crescido localizado no cimo de uma colina sobranceiro ao Guadiana124 Quer isto dizer que o ceacutelebre navegador era descendente de uma famiacutelia experimentada na guarda da fronteira face ao reino vizinho e familia-rizado com as actividades militares tributaacuterias e administrativas que lhe eram inerentes125 Assim sendo esta condiccedilatildeo de fronteiro a juntar ao facto de Cristoacutevatildeo ser cavaleiro da Ordem de Cristo teraacute resultado altamente pertinente no momento em que D Joatildeo III decidiu atribuir a comenda de Arenilha a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como recompensa pelos serviccedilos prestados

Por fim mas natildeo menos relevante teraacute sido a experiecircncia naval e militar adquirida por Mendonccedila nos mares do Oriente e direccionada para a foz do Guadiana sistematicamente ameaccedilada pelos ataques da pi-rataria magrebina126 Recorde-se que Mendonccedila no decurso das suas na-vegaccedilotildees na australaacutesia viu-se na necessidade de defender posiccedilotildees por-

122 O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas produzido por volta de 1509 jaacute indicava o topoacutenimo que veio a ser oficializado com a Carta de Privileacutegio de 12 de Fevereiro de 1513 Ver ARMAS O Livro das Fortalezas fl 1

123 FREIRE Brasotildees Vol III p 173124 ANTT Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Livro das Fortalezas si-

tuadas no Extremo de Portugal e Castela por Duarte de Armas escudeiro da Casa do Rei D Manuel I Nordm 159 fls 13-14 ARMAS O Livro das Fortalezas fls 13-14

125 Refira-se que foi durante o periacuteodo em que o pai de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila deteve a alcaidaria de Mouratildeo que o rei D Manuel obteve dos povos nas cortes de Lisboa de 1502 uma vultosa contribuiccedilatildeo que fez com que o castelo da vila fosse intervenciona-do por dois importantes arquitectos reacutegios os irmatildeos Francisco e Diogo de Arruda os mestres das obras reacutegias da comarca de entre o Tejo e o Guadiana Ver FARIA ldquoForti-ficaccedilotildees de Portugal na fronteira da Estremadura espanholardquo p 161

126 Sobre este assunto veja-se PESSANHA ldquoAtaques da piratariardquo pp 63-94

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203194

Fernando Pessanha

tuguesas dando combate aos adversaacuterios Recordemos a este respeito o ataque movido por Melique Ladil agrave fortaleza de Paceacutem entatildeo guardada por Mendonccedila e a maneira como o ldquomourordquo foi desbaratado e despo-jado das treze embarcaccedilotildees usadas no assalto127 Dadas as circunstacircnci-as seria um desperdiacutecio natildeo se aproveitar a experiecircncia deste capitatildeo numa altura em que se verificava um incremento da actividade piraacutetica nas costas do Algarve Esta actividade da pirataria na foz do Guadiana eacute aliaacutes referida por Bernardo Rodrigues em vaacuterias ocasiotildees nomeada-mente aquando da estadia da condessa de Redondo na vila de Arenilha em 1522128 ou quando Vasco Fernandes Ceacutesar - antigo adaiacutel de Azamor e capitatildeo da Armada do Estreito129 - foi incumbido embarcar o conde do Redondo D Joatildeo Coutinho na vila de Arenilha e escoltaacute-lo a Arzila130 Refira-se que a caminho da foz do Guadiana o navio de Vasco Fernan-des Ceacutesar foi atacado por duas naus tendo-se seguido um combate naval que resultou na explosatildeo de parte da alcaacuteccedilova atirando cinco homens ao mar entre os quais Vasco Fernandes que ficou gravemente ferido131

Vemos deste modo que a entrega da comenda de Arenilha a um in-diviacuteduo como Cristoacutevatildeo de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo descendente de uma famiacutelia de fronteiros e navegador experimentado no combate naval natildeo soacute era altamente pertinente como simboacutelica e manifestamente estrateacutegica para a defesa do extremo sudeste algarvio e da foz do Guadiana onde Mendonccedila deveria actuar com autoridade se-nhorial usufruindo dos seus bens e rendimentos E no caso da comenda de Arenilha Seriam generosos os seus rendimentos Sem duacutevida Se assim natildeo fosse o rei D Duarte natildeo teria doado ao infante D Henrique ainda em 25 de Setembro de 1433 a ldquodiacutesima nova de todo o pescado que pescarem quaisquer pessoas no mar do Monte Gordordquo132 Aliaacutes seraacute certa-

127 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III pp548-549128 RODRIGUES Anais de Arzila Tomo I Cap XC p 373129 GOacuteIS Chronica IV Cap LVII p 552 Sobre a Armada do Estreito veja-se GODINHO

ldquoA armada do estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo pp117-137130 RODRIGUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 PESSANHA Subsiacutedios p 100131 Segundo Bernardo Rodrigues os sobreviventes portugueses por pouco natildeo foram

executados Os que sobreviveram ao combate foram aprisionados e levados para Di-eppe Vasco Fernandes apesar de ferido acabou por escapar do cativeiro desfiando uma esteira e escapando por ela da torre onde se encontrava aprisionado RODRI-GUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 Ver tambeacutem PISSARRA ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Armada do Estreitordquo pp 144-145

132 SERRAtildeO Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fundaccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) p 65 OLIVEIRA Monografia p 73

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 195

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

mente o motivo econoacutemico que jaacute em 1555 estaraacute na origem da disputa pelo senhorio de Arenilha entre Jeroacutenimo de Melo fidalgo da Casa Real e alcaide-mor de Castro Marim e Luiacutes Leite frei cavaleiro da Ordem de Cristo e filho de Antoacutenio Leite o anterior alcaide133

Relativamente agrave defesa sabemos que Arenilha natildeo possuiacutea castelo torre ou qualquer fortificaccedilatildeo digna de registo ateacute 1542-1547 periacuteodo em que o alcaide Antoacutenio Leite daacute-nos conta das ldquotramqueyras e repai-rosrdquo construiacutedos sob o seu comando para a populaccedilatildeo se defender dos ataques da pirataria moura134 Ainda assim Mendonccedila estava obrigado a zelar pela defesa da vila independentemente de esta ter ou natildeo for-tificaccedilotildees para a proteger Se tivermos em consideraccedilatildeo que a sua no-meaccedilatildeo como comendador o obrigava agrave realizaccedilatildeo de um inventaacuterio ao patrimoacutenio da comenda (infelizmente desconhecido) e ao dever de fixar residecircncia na sua aacuterea de governo135 eacute muito provaacutevel que Cristoacutevatildeo se tenha detido durante algum tempo na vila da foz do Guadiana algures entre finais de 1524 aquando da sua chegada ao reino136 e Marccedilo de 1527 quando voltou a partir para o Oriente

Como anteriormente referimos os comendadores deviam fixar-se nas suas comendas para melhor procederem agrave sua defesa e melhor ren-tabilizarem as mesmas Assim sendo como eacute possiacutevel que os documen-tos que referem Cristoacutevatildeo como comendador de Arenilha sejam relati-vos aos anos em que este se encontrava na capitania de Ormuz Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo de que a principal obrigaccedilatildeo dos cavaleiros da Ordem de Cristo era a luta contra os inimigos da feacute devendo estar prontos para a guerra sempre que o Mestre os convocasse Uma vez que as situaccedilotildees de guerra eram cons-tantes nos territoacuterios de aleacutem-mar onde a presenccedila dos cavaleiros da Ordem se tornava necessaacuteria natildeo eacute de admirar que estes fossem dispen-sados da exigecircncia que os obrigava a permanecer nas suas comendas137

133 CAVACO Revisitando pp 18-20 PESSANHA Os 500 anos pp 72-73134 Carta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava

atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras e que era necessaacute-rio enviar-lhe socorro ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos p 99 PINTO ldquoIacutendice Analiacuteticordquo p 267

135 Cf SILVA A Ordem de Cristo pp 189-190136 Uma vez que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila se encontrava na Aacutefrica do Sul em Marccedilo ou Maio

de 1524 eacute de supor que a sua chegada ao reino se tenha dado ainda no mesmo ano137 SILVA A Ordem de Cristo p 191

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203196

Fernando Pessanha

Eacute nesse sentido que encontramos Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comen-dador de Arenilha em 1529 e 1530 anos em que jaacute se encontrava como capitatildeo na fortaleza de Ormuz De resto era nesta fortaleza que ainda se encontrava em 1531 ano em que piratas de Larache atacaram a vila da foz do Guadiana ldquoonde fizeacuteratildeo muito dano em navios que tomaacuteratildeo e den-tro da Barra de Aiamonte fizeacuteratildeo despejar a Arrinilha e a Montegordordquo138

7 Conclusatildeo

Com efeito muito se tem escrito (e especulado) sobre a alegada des-coberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila No entanto e indepen-dentemente dos resultados alcanccedilados pelo navegador nesta expediccedilatildeo parece indiscutiacutevel que foi generosamente recompensado aquando do seu regresso ao reino Resta-nos perceber porquecirc Jaacute Armando Cortesatildeo muito antes de Peter Trickett tinha levantado a hipoacutetese de a rentaacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz ter sido entregue a Mendonccedila como re-compensa pelos serviccedilos prestados na expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro139 Natildeo eacute conhecido poreacutem qualquer documento que ateste o ecircxito do navegador nesta expediccedilatildeo Omissatildeo que segundo investigadores como Armando Cortesatildeo Damiatildeo Peres ou Jaime Cortesatildeo teraacute sido consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo determinada pelas limitaccedilotildees de navega-ccedilatildeo estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas e com o contencioso entre Portugal e Espanha pela posse das Molucas140

O certo eacute que Mendonccedila ao regressar ao reino foi agraciado com uma das capitanias mais rentaacuteveis do impeacuterio no Oriente para aleacutem de ter recebido compensaccedilotildees econoacutemicas e aparecer referido em 1529 e 1530 como comendador da vila de Arenilha na foz do Guadiana Refira-se a este respeito que muitos capitatildees cavaleiros da Ordem de Cristo se lanccedilaram no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Poreacutem mui-to poucos chegaram a obter as tatildeo almejadas comendas141 Vemos deste

138 RODRIGUES Anais Tomo II Cap XXXV p 209139 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158140 CORTESAtildeO A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e

de D Joatildeo II Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 65-66 PERES ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na Histoacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II pp 17-21

141 Entre os afortunados que lograram obter este tipo de rendimento contam-se muito poucos D Joatildeo Pereira D Pedro de Castelo Branco Nuno Furtado Simatildeo Guedes entre outros Ver CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 216

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 197

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

modo que a atribuiccedilatildeo da comenda de Arenilha significou um motivo de grande honra e prestiacutegio para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Ora se este navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro resta-nos perceber porque motivo teraacute sido agraciado com compensaccedilotildees eco-noacutemicas a nomeaccedilatildeo para uma das mais rentaacuteveis capitanias de todo o Impeacuterio no Oriente e uma honrosa comenda da Ordem de Cristo Eacute caso para dizer que a problemaacutetica em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila con-tinua a levantar muitas duacutevidas e poucas certezas

Fontes e Bibliografia

1 Arquivos

ANTT

Chancelaria de D Afonso V Livro 2 fl30

Chancelaria de D Manuel I Livro 4 fl37 Livro 8 fl 29v Livro 9 fl4v Livro 10 fl53 Livro 13 fl60 Livro 37 fl64

Chancelaria de D Joatildeo III Livro 12 fl62

Chancelaria da Ordem de Cristo Livro13 fls375 vndash 379v

Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1

Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 15 Nordm47 Pt I maccedilo 44 Nordm45 Pt I maccedilo 45 Nordm9

Pt II maccedilo 51 Nordm26 Pt II maccedilo 53 Nordm182 Pt II maccedilo 93 Nordm150 Pt II maccedilo 109 Nordm131 Pt II maccedilo 131 Nordm226 Pt II maccedilo 134 Nordm57 Pt II maccedilo 135 Nordm45 Pt II maccedilo 135 Nordm49 Pt II maccedilo 136 Nordm102 Pt II maccedilo 141 Nordm91

Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Nordm159

Casa Real Cartoacuterio da Nobreza Livro Nordm20 - Livro da Nobreza e da per-feiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal fl XII

2 Fontes Impressas

ABREU Lisuarte de Livro de Lisuarte de Abreu (Reproduccedilatildeo do manuscrito existente na Perpont Morgan Library de Nova York) Comissatildeo Nacional para as comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portugueses Lisboa 1992

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203198

Fernando Pessanha

ARMAS Duarte de Livro das Fortalezas Arquivo Nacional da Torre do TomboInapa Lisboa 1997

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada III Na Regia Officina Typografica Lisboa MDCCLXXVII

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada IV Imprensa Nacional Casa da Moe-da Lisboa 2001

BORGES Joseacute Calvatildeo Borges Livro do Armeiro-Mor Academia Portugue-sa de HistoacuteriaEdiccedilotildees Inapa Lisboa 2000

CASCAtildeO Joatildeo ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevorardquo Uma Jornada ao Alentejo e ao Algarve A altera-ccedilatildeo das linhas de forccedila da poliacutetica nacional Livros Horizonte Lisboa 1984 pp 77-136

CASTANHEDA Fernatildeo Lopes de Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses 2 vols Lello amp Irmatildeos Editores Porto 1979

CORREIA Gaspar Lendas da Iacutendia Tomo III na Typographia da Acade-mia Real das Sciencias Lisboa 1862

Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI Centro de Estudos Histoacutericos Ultramarinos Lis-boa 1969

GAYO Felgueiras Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX Ediccedilatildeo de Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Arauacutejo Affonso Braga 1939

GUEDES Liacutevio da Costa Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) Arquivo Histoacuterico Militar Lisboa 1988

GOacuteIS Damiatildeo de Chonica do Serenissimo Senhor Rei D Manoel Lisboa 1749

JOSEacute Frei Joatildeo de Satildeo ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 21-132

RODRIGUES Bernardo Anais de Arzila 2 vols Academia das Sciecircncias de Lisboa Lisboa 1915-1919

SARRAtildeO Henrique Fernandes ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 133-174

SOUSA Frei Luiacutes de Anais de D Joatildeo III 2 vols Saacute da Costa Lisboa 1928

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 199

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

SOUSA Manuel de Faria e Asia Portvgvesa Officina de Henrique Valen-te de Oliveira impressor del Rey NS Lisboa 1666

TENREIRO Antoacutenio amp AFONSO Mestre Viagens por terra da Iacutendia a Por-tugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica Mem-Martins 1991

3 Estudos

ALBUQUERQUE Luiacutes de (dir) Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-tos Portugueses 2 vols Ciacuterculos de Leitores Lisboa 1994

ALMEIDA Fortunato de Histoacuteria de Portugal Vols III-VII Promoclube Lisboa sd

CARDOSO Antoacutenio Pereira A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila agrave Austraacutelia em 1522 Academia da Marinha Lisboa 1994

CARVALHO Andreia Martins de ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Ma-nuelinardquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia ndash Actas do Coloacutequio Internacional Joatildeo Paulo Oliveira e Costa amp Viacutetor Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 199-226

CARVALHO Andreia Martins de Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria dos Descobrimen-tos e da Expansatildeo Portuguesa (seacuteculos XV-XVIII) apresentado agrave UNL Lisboa 2006

CAVACO Hugo ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio (Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Arte no Algarve) Cacircmara Muni-cipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1987

CAVACO Hugo Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha Cacircmara Munici-pal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1995

CORREIA Joseacute Eduardo Horta Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina Faup Publicaccedilotildees Porto 1997

CORREIA Joseacute Eduardo Horta O Algarve em Patrimoacutenio Gente Singular Editora Olhatildeo 2010

CORTESAtildeO Armando ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Aus-tralaacutesia Macau Japatildeo)rdquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939

CORTESAtildeO Jaime ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal (Dir Damiatildeo Peres) Vol IV Portucalense Editora Barce-los 1932 pp 9-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203200

Fernando Pessanha

CORTESAtildeO Jaime A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e de D Joatildeo II Lisboa 1960

COSME Joatildeo ldquoOs homens de ciecircnciardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 91-97

COSME Joatildeo ldquoOs Navegadores ndash Vasco da Gamardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 145-152

COSTA Joatildeo Paulo Oliveira e ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo A Nobreza e a Expansatildeo Estudos Biograacuteficos Joatildeo Paulo Oliveira e Costa (coord) Patrimoacutenia Cascais 2000 pp 11-51

DOMINGUES Francisco Contente ldquoOs portugueses descobriram a Aus-traacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Si-motildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Univer-sidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 163-172

DOMINGUES Francisco Contente Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 Circulo dos Leitores Lisboa 2016

FARIA Antoacutenio Machado de Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI Acade-mia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 1956

FARIA Antoacutenio Machado de ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo Separata da revista Arqueologia e Histoacuteria vol VI Lisboa 1955

FARIA Miguel Figueira de ldquoFortificaccedilotildees de Portugal na fronteira da Es-tremadura espanholardquo Anais ndash Seacuterie Histoacuteria Vol II Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 1995 pp 156-187

FONSECA Luiacutes Adatildeo da ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo A Alta No-breza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 322-347

FREIRE Anselmo Braamcamp Brasotildees da Sala de Sintra 3 vols Impren-sa da Universidade de Coimbra Coimbra 1921-1930

GARCIA Joseacute Manuel Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII QuidNovi Lisboa 2009

GARCIA Joseacute Manuel O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash 1555 Nordm 8 QuidNovi Vila do Conde 2012

GODINHO Rui Landeiro ldquoA Armada do Estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (Seacuteculos XV-XIX) Ediccedilotildees Cul-turais da Marinha Lisboa 2003 pp 117-137

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 12: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203176

Fernando Pessanha

ro de 1521 atesta a presenccedila de Mendonccedila e de seus homens em Goa51 tal como a Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) con-firma a sua passagem pela capital do Estado da Iacutendia no mesmo ano52

Seja como for a armada que partiu em 1519 levava ordens de D Manuel para o governador Diogo Lopes de Sequeira Determinava o monarca portuguecircs que o governador da Iacutendia escolhesse algueacutem da sua confianccedila para ir descobrir a Ilha do Ouro53 Por outras palavras D Manuel pretendia que se desse continuidade agraves exploraccedilotildees iniciadas por Diogo Pacheco Tal como podemos acompanhar no mesmo capiacutetulo da Deacutecada III da Aacutesia foi Diogo Lopes de Sequeira a escolher ldquoChristo-vatildeo de Mendoccedila filho de Pero de Mendoccedila Alcaide moacuter de Mouratildeordquo54 para tal missatildeo55 A documentaccedilatildeo mostra-nos que Cristoacutevatildeo se encontrava em Goa em Janeiro de 152156 e que partiu de Cochim em 4 de Maio de 152157 Se seguirmos a Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) apercebemo-nos de que a armada comandada por Mendonccedila e destinada a descobrir a Ilha do Ouro era constituiacuteda por quatro navios o navio Satildeo Cristoacutevatildeo em que o proacuteprio viajava a caravela Rosaacuterio co-mandada pelo capitatildeo Pedro Eanes Francecircs o bergantim Santo Antoacutenio comandado pelo capitatildeo Francisco Poles e um parau comandado pelo capitatildeo Gonccedilalo Homem58 Esta armada teraacute chegado agrave Ilha de Samatra por volta de Junho

51 Ver Conhecimento em que se declara que Diogo Lourenccedilo recebeu do feitor de Goa Francisco Cornivel 8 cruzados para mantimento da gente de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 93 Nordm150

52 Ver ldquoRelaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11)rdquo Documento publicado Documentos Sobre os Portugueses Vol VI p100

53 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I IV Cap III p 41254 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I IV Cap III p 413 O cronista poreacutem engana-se ao

referir o parentesco uma vez que o navegador incumbido de descobrir a Ilha do Ouro era Cristoacutevatildeo de Mendonccedila irmatildeo (e natildeo filho) de Pecircro de Mendonccedila

55 Note-se portanto que ao contraacuterio do que eacute defendido por Tricket ndash que tenta colocar esta expediccedilatildeo ao niacutevel da viagem de Vasco da Gama agrave Iacutendia - natildeo houve qualquer ordem real a nomear Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como capitatildeo da expediccedilatildeo destinada a descobrir a miacutetica ilha tendo sido o entatildeo governador da Iacutendia a escolher o capitatildeo para tal empreendimento Ver TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio pp 80-81

56 Conhecimento em que se declara que Diogo Lourenccedilo recebeu do feitor de Goa Fran-cisco Cornivel 8 cruzados para mantimento da gente de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 93 Nordm150

57 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila partiu acompanhado por Jorge de Brito que ia para as Mo-lucas onde deveria construir uma fortaleza e interceptar Fernatildeo de Magalhatildees Ver THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 97

58 Relaccedilatildeo dos navios que servem na Iacutendia (1522 Maio 11) Documento publicado in Documentos Sobre os Portugueses Vol VI p 96

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 177

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

A primeira referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece aquando da sua passagem pelo porto de Pedir59 onde encontrou Rafael Catanho que entatildeo regressava de Acheacutem no extremo noroeste da ilha de Sama-tra60 Pouco tempo depois chegava agravequele porto de Pedir o que restava da armada de Jorge de Brito morto em combate juntamente com gran-de nuacutemero de portugueses apoacutes um confronto com as forccedilas do rei de Acheacutem61 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ao encontrar aquela armada desba-ratada e sem capitatildeo pretendeu colocaacute-la sob seu comando62 Poreacutem os poucos fidalgos sobreviventes natildeo o consentiram alegando que o co-mando deveria ser entregue a Antoacutenio de Brito o irmatildeo do falecido ca-pitatildeo que se deveria juntar agrave armada depois de consertar o seu navio63

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila rumou entatildeo a Paceacutem onde se deveria rea-bastecer de mantimentos para dar continuidade agrave viagem Todavia ao chegar a este ponto da narrativa diz-nos Joatildeo de Barros que ldquoo tempo natildeo era da monccedilatildeo pera onde cada hum havia de ir principalmente a de Christovatildeo de Mendoccedila que era jaacute passadardquo64 A acrescentar ao facto de o navegador ter perdido os ventos de monccedilatildeo acresce que o capitatildeo de Malaca Jorge de Albuquerque se encontrava em Paceacutem a construir uma fortaleza destinada a proteger uma feitoria cujo principal objecti-

59 Porto de grande importacircncia no comeacutercio do Iacutendico situado na parte nordeste da Ilha de Samatra O desenvolvimento de Pedir assim como o de Paceacutem relaciona-se estrei-tamente com a propagaccedilatildeo do islatildeo na Indoneacutesia ocidental Em 1509 Diogo Lopes de Sequeira assinou um tratado com o sultatildeo de Pedir e com a conquista de Malaca o seu principal comeacutercio passou a ser dirigido para esta cidade Sobre Pedir veja-se SS ldquoPedirrdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Portugueses (Dir Luis de Albu-querque) Vol II pp 870-872

60 O sultanato islacircmico de Acheacutem foi uma das entidades que mais se opocircs aos interesses dos portugueses estabelecidos em Malaca Fundado por um descendente do rei de Pedir transformou-se num reino poderoso que conquistou vaacuterias terras na ilha de Samatra e ao qual outros reinos pagavam tributo Ver GARCIA Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII pp 198-200

61 Este confronto com o reino de Acheacutem eacute tambeacutem narrado por Damiatildeo de Goacuteis e Fernatildeo Lopes de Castanheda Ver GOacuteIS Chronica IV Cap LXVII pp 566-567 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento V Cap LXV pp 107-109

62 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p546 Fernatildeo Lopes de Castanheda ainda que natildeo refira Cristoacutevatildeo revela que ldquocomo os nauios natildeo tinhatildeo capitatildees ouue alguns que se quiseram levantar coeles amp irse a diversas partes a fazer presasrdquo CASTA-NHEDA Histoacuteria do Descobrimento pp 107-110

63 Com efeito com a chegada de Antoacutenio de Brito foi apresentada uma provisatildeo de D Manuel I que o nomeava capitatildeo daquela armada em caso de falecimento de Jorge de Brito

64 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 548

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203178

Fernando Pessanha

vo consistia na recolha de pimenta que se produzia na regiatildeo65 Foi nes-se sentido que Jorge de Albuquerque determinou que todos os capitatildees que se encontravam em Paceacutem ali permanecessem em ldquofavor daquela fortaleza em quanto ella natildeo estava em estado pera se poder defenderrdquo66

Vemos deste modo que a expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo rumo agrave Ilha do Ouro foi interrompida em funccedilatildeo da necessidade que os portugueses sentiram em se fortificarem naquele ponto da ilha de Samatra Aliaacutes eacute o proacuteprio cronista a referir que a presenccedila de Cristoacutevatildeo e dos outros ca-pitatildees foi providencial para que a fortaleza se pudesse construir jaacute que os adversaacuterios os atacavam de forma sistemaacutetica Num desses ataques Melique Ladil um mouro que reivindicava para si o reino de Paceacutem aproximou-se da fortaleza com treze lancharas67 atrevendo-se a deitar fogo agrave fortificaccedilatildeo Foi entatildeo que Cristoacutevatildeo e os outros capitatildees saiacuteram em sua perseguiccedilatildeo desbaratando o adversaacuterio e confiscando-lhe todas as embarcaccedilotildees para serviccedilo agrave fortaleza Usando as palavras de Manuel de Faria e Sousa ldquoCristoval de Mendoccedila que bien fuerotilde menester para re-sistir y humillar despues a un orgulloso Moro que com algunos baxeles de remo infectava aquella marinardquo68 Finalmente terminada a empreitada Cristoacutevatildeo de Mendonccedila voltou a partir para Malaca69

Tal como Diogo Pacheco eacute possiacutevel que o navegador portuguecircs tenha contornado Samatra antes de partir para Malaca De acordo com Luiacutes Filipe Thomaz eacute provaacutevel que o navegador durante a viagem tenha descoberto uma ilha que deve ter tomado pela Ilha do Ouro ainda que constatado o erro a tenha baptizado com o nome que ainda hoje tem Ilha do Engano Seja como for temos notiacutecia de que a armada jaacute se en-contrava em Malaca em finais de 1521 onde a caravela Santa Maria do Rosaacuterio recebeu mantimentos em 10 de Dezembro para poder seguir

65 Esta fortaleza foi concebida para proteger uma feitoria cujo principal objectivo con-sistia na recolha da pimenta Poreacutem este enclave veio a revelar-se de difiacutecil manuten-ccedilatildeo devido aos ataques de que era alvo parte dos habitantes de Acheacutem Os portugue-ses acabariam por abandonar a fortaleza em Maio de 1523 natildeo tendo ficado qualquer testemunho iconograacutefico deste efeacutemero estabelecimento Castanheda poreacutem refere tratar-se de uma fortaleza ldquofeyta em breue tempo tempo com muros baluartes amp torres de madeyra amp cercada de caua () amp muyto bem artilhadardquo Ver CASTANHEDA Histoacute-ria do Descobrimento V Cap LXIIII pp 106-107 Damiatildeo de Goacuteis explica a conjun-tura poliacutetico-militar que levou agrave construccedilatildeo desta fortaleza Ver GOacuteIS Chronica IV Cap LXVI pp 564-566

66 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 548 67 Navios de remos entatildeo usados naquela zona do Oriente 68 SOUSA Asia Tomo I Pt III Cap V p 20269 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 549

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 179

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

para Paceacutem enquanto a nau Satildeo Cristoacutevatildeo apenas os recebeu em 10 de Janeiro de 1522 para depois seguir para Ormuz70 Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila natildeo teraacute tido tempo suficiente para chegar agrave Ilha do Ouro nesse ano de 1521 Pelo menos eacute o que podemos depreen-der quando Joatildeo de Barros refere a permanecircncia de Cristoacutevatildeo em Men-donccedila no auxiacutelio agrave construccedilatildeo da fortaleza de Paceacutem

Natildeo encontramos portanto elementos nas Deacutecadas da Aacutesia que nos permitam afirmar que este navegador portuguecircs teraacute prosseguido via-gem para o sul de Samatra e encontrado a miacutetica Ilha do Ouro identi-ficada com a Austraacutelia Ainda assim tecircm sido vaacuterios os historiadores nomeadamente Armando Cortesatildeo a defenderem natildeo haver motivo para se duvidar de que Cristoacutevatildeo teraacute seguido com a exploraccedilatildeo de que fora incumbido no ano seguinte aproveitando a monccedilatildeo do princiacutepio de 1522 Note-se que o proacuteprio Luiacutes de Albuquerque ainda que aves-so a esta teoria natildeo deixa de estranhar o facto de as Deacutecadas da Aacutesia natildeo referirem quais os serviccedilos especiais prestados por Mendonccedila que justifiquem a sua nomeaccedilatildeo para a rentaacutevel e apeteciacutevel capitania de Ormuz71 ldquotam viccediloacutesa e abastaacuteda q dizem os moradores della q o Mundo eacute hu aneacutel e Ormuz hua pedra precioacutesa engastaacuteda nellerdquo72 Como a seguir veremos a nomeaccedilatildeo para a capitania de Ormuz natildeo foi a uacutenica benesse com que o navegador foi agraciado apoacutes o seu regresso ao reino

52 A viagem de regresso ao reino

Segundo Trickett nada se sabe sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila nos seis anos posteriores agrave expediccedilatildeo que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro73 Como veremos esta ideia natildeo corresponde agrave realidade Sabe-se por exemplo que depois de o navegador ter estado em Ormuz e na Iacutendia regressou a Portugal em 1524 tendo-se detido em Marccedilo ou Maio desse ano na aguada de Saldanha na actual Aacutefrica do Sul tal como ficou atestado numa inscriccedilatildeo que aiacute foi encontrada

Com efeito decorria o ano de 1989 quando foi identificada uma ins-criccedilatildeo portuguesa em Golden Acre no sopeacute de Adderley Street na Cida-de do Cabo Desta inscriccedilatildeo fracturada sobreviveu um fragmento com 25

70 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 7671 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal p 25872 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada II II Cap II p 48 73 Cf TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio p 87

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203180

Fernando Pessanha

cm de largura por 10 cm de altura que foi recolhido pelo South African Museum Na altura um arqueoacutelogo do South African Museum pensou tratar-se de inscriccedilatildeo funeraacuteria de D Lourenccedilo de Almeida um navega-dor portuguecircs que numa viagem de regresso ao reino desembarcou na Baiacutea do Saldanha em Dezembro de 1509 de modo a castigar uns indiacutege-nas Poreacutem acabou por falecer nesse recontro juntamente com muitos outros elementos da sua tripulaccedilatildeo o que levou o referido arqueoacutelogo a interpretar o achado como uma inscriccedilatildeo funeraacuteria

Entretanto em Janeiro de 1990 o Prof Eric Axelon comunicou agrave Comissatildeo Nacional para as Comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portu-gueses a descoberta da inscriccedilatildeo Axelon adiantava poder tratar-se de um artefacto representativo da passagem de Duarte de Meneses pela Cidade do Cabo em 1524 Poreacutem a leitura e interpretaccedilatildeo de Maacuterio Jorge Barroca assistente de Arqueologia Medieval da Universidade do Porto veio a invalidar as suposiccedilotildees de Axelon e do arqueoacutelogo do South African Museum De acordo com Maacuterio Jorge Barroca este do-cumento epigraacutefico refere-se a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ainda que o estado de conservaccedilatildeo desta inscriccedilatildeo dificulte a interpretaccedilatildeo do seu conteuacutedo74 Luiacutes Filipe Thomaz que tambeacutem abordou esta inscriccedilatildeo faz uma leitura ligeiramente diferente mas que concorda quanto ao essencial do conteuacutedo75 De resto eacute interessante notar que para aleacutem dos supra citados autores apenas encontraacutemos referecircncias a este do-cumento epigraacutefico em Luiacutes de Albuquerque76 Antoacutenio Pereira Cardo-so77 e Joseacute Manuel Garcia78

De modo geral a inscriccedilatildeo identificada na Cidade do Cabo vem de-monstrar efectivamente que Cristoacutevatildeo empreendeu a viagem de re-gresso ao reino em 1524 sendo provaacutevel que tenha partido de Cochim logo no iniacutecio do ano Sabemos que se encontrava no sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio No entanto e ainda que esta epiacutegrafe se apresente como um elemento de grande interesse para a reconstituiccedilatildeo do percurso de Cristoacutevatildeo continuamos sem saber o que teraacute feito e por onde teraacute nave-gado entre os iniacutecios de 1522 quando recebeu mantimentos para seguir

74 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo pp 17-1875 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 7976 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-

tos Vol II pp 727-72877 CARDOSO A provaacutevel viagem pp10-1978 GARCIA O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash

1555 Nordm 8 p 98

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 181

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

para Ormuz e os iniacutecios de 1524 quando partiu da Iacutendia para regressar a Portugal Teraacute ele permanecido todo esse tempo em Ormuz Ou teraacute dado continuidade agraves exploraccedilotildees que lhe tinham sido incumbidas pelo governador Diogo Lopes de Sequeira

6 Rendas mercecircs e distinccedilotildees

61 Tenccedilas recebidas

Referimos haacute pouco natildeo ser correcta a ideia de nada se saber sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila nos seis anos posteriores agrave expediccedilatildeo que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro De facto para aleacutem da inscri-ccedilatildeo encontrada na Cidade do Cabo e que atesta a passagem de Mendon-ccedila pelo sul de Aacutefrica tambeacutem existem alguns documentos acondiciona-dos no Arquivo Nacional da Torre do Tombo que revelam informaccedilotildees interessantes para o periacuteodo correspondente agrave sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e 1527 Satildeo exactamente esses documentos que nos datildeo conta das rendas mercecircs e distinccedilotildees com que este navegador foi agraciado

Sabemos que em 4 de Julho de 1526 por exemplo D Joatildeo III mandou o almoxarife de Aveiro dar a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ldquofidalgo da sua casardquo 50000 reacuteis de tenccedila que ficaria assentada na alfacircndega da cidade de Lisboa79 Seria esta uma tenccedila generosa A resposta a esta questatildeo le-vou-nos a comparar este valor com as tenccedilas auferidas pelos seus fami-liares e por outros navegadores seus contemporacircneos Foi nesse sentido que constataacutemos que o ceacutelebre navegador e cosmoacutegrafo Duarte Pacheco Pereira depois de inuacutemeros serviccedilos prestados agrave Coroa recebeu uma tenccedila anual de 50000 reais nesse mesmo ano de 152680 Tristatildeo da Cu-nha ceacutelebre navegador e comandante naval portuguecircs nomeado por D Manuel para primeiro governador da Iacutendia em 150581 e pai de Nuno da Cunha Governador da Iacutendia entre 1528 e 153882 recebeu 40000 reacuteis

79 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57 80 JB de C ldquoPereira Duarte Pachecordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol V pp 52-

54 COSME ldquoOs homens de ciecircnciardquo pp 91-9781 E S ldquoCunha Tristatildeo da (1460-1540)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol II p 260

Sobre Tristatildeo da Cunha veja-se tambeacutem CARVALHO ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Manuelinardquo pp 199-226

82 E S ldquoCunha Nuno da (1487-1539)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol II pp 258-259 Sobre Nuno da Cunha veja-se tambeacutem CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538)

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203182

Fernando Pessanha

de tenccedila no mesmo ano de 152683 Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo rece-beu uma tenccedila generosa ao voltar ao reino Talvez Note-se que o pai de Cristoacutevatildeo Diogo de Mendonccedila alcaide-mor de Mouratildeo recebia os mesmos 50000 reacuteis de tenccedila em 150184 e em 151485 valor que o irmatildeo de Cristoacutevatildeo Pedro de Mendonccedila passou a auferir ao herdar a alcaidaria de Mouratildeo em 151786

Para aleacutem dos 50000 reacuteis de tenccedila eacute o proacuteprio Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila a mandar Jacome Bentes receber de Joatildeo de Azambuja 200000 reacuteis em virtude da outra procuraccedilatildeo que o dito Mendonccedila tinha feito para receber dos almoxarifes de Setuacutebal Aveiro e Coimbra87 Refira-se a este respeito que ainda no mesmo ano ordenou D Joatildeo III que o almoxari-fe de Aveiro pagasse ao jaacute referido Tristatildeo da Cunha 100000 reacuteis para pagamento de 250000 reacuteis da sua tenccedila88 ou que Vasco da Gama ao re-gressar ao reino depois de descobrir o caminho mariacutetimo para a Iacutendia recebeu uma renda de 300000 reacuteis89 Vemos deste modo que os rendi-mentos auferidos por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aquando do seu regresso ao reino natildeo foram propriamente modestos quando comparados com os do primeiro governador da Iacutendia ou com os do navegador e cosmoacute-grafo Duarte Pacheco Pereira

Por fim surge-nos um documento datado de 13 de Abril de 1527 e que tem por tiacutetulo Estabelecimento que Fernando Rodrigues como procu-rador de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila fidalgo da Casa do Rei fez em Fernando Gomes para cobrar todas as tenccedilas e moradias do seu dito constituinte90 Repare-se que de acordo com Joatildeo de Barros Cristoacutevatildeo de Mendonccedila voltou a partir para o Oriente em Marccedilo de 1527 Vemos portanto que o referido documento eacute ligeiramente posterior agrave partida do navegador e que este deixou instruccedilotildees ao seu procurador para que algueacutem cobrasse todas as suas tenccedilas e moradias De resto a alusatildeo agraves ldquotenccedilas e moradi-

83 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 135 Nordm4584 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 13 fl60 ANTT Chancelaria de D Manuel I

liv 8 fl29v85 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 53 Nordm18286 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 10 fl53 Repare-se que a partir de 1523 Pe-

dro de Mendonccedila passou a receber apenas 30000 reacuteis ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 109 Nordm131 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 131 Nordm226

87 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 136 Nordm10288 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 135 Nordm4989 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 4 fl 37 COSME ldquoOs Navegadores ndash Vasco da

Gamardquo p 14990 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 141 Nordm91

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 183

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

asrdquo vem reforccedilar a ideia de que os serviccedilos prestados por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente foram bem recompensados pelo monarca portu-guecircs Resta-nos perceber que serviccedilos teratildeo justificado estas recompen-sas assim como aquelas a que de seguida aludiremos

62 A capitania de Ormuz

Para aleacutem dos rendimentos atraacutes referidos os serviccedilos prestados por Mendonccedila foram igualmente agraciados com a nomeaccedilatildeo para a ren-taacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz para onde partiu em Marccedilo de 152791 Natildeo deixa de ser interessante a alusatildeo que cronistas como Joatildeo de Barros ou Frei Luiacutes de Sousa fazem aos Braganccedilas no momento em que referem esta nova partida de Cristoacutevatildeo para a Iacutendia Com efeito eacute possiacutevel que o duque de Braganccedila jaacute tivesse ligaccedilotildees aos Mendon-ccedilas ainda que o casamento de D Jaime com D Joana de Mendonccedila soacute se tenha realizado em 1520 Teresa Lacerda levanta a hipoacutetese de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ter sido indigitado para o Conselho Reacutegio por influecircncia do duque de Braganccedila do mesmo modo como foi nomea-do para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 e para capitatildeo de Ormuz em 152792 De facto natildeo eacute impossiacutevel No entanto somos da opiniatildeo de que natildeo seraacute apenas D Joana a estar na origem de uma eventual ligaccedilatildeo de D Jaime aos Mendonccedilas como tambeacutem a participaccedilatildeo do seu pai ldquoDiogo de mendonccedila alcaide mor de Mouratildeordquo e de ldquoPero de Mendonccedila seu filhordquo na conquista de Azamor comandada pelo proacuteprio duque em 151393

De facto natildeo sabemos se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teraacute sido indigitado para o Conselho Reacutegio para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquer-que de 1519 ou para a capitania de Ormuz por influecircncia do duque de Braganccedila Seja como for parece-nos que o contexto social e familiar de Cristoacutevatildeo teraacute pesado no momento em que o monarca procedeu a tais nomeaccedilotildees Basta recordarmos que Afonso Furtado bisavocirc de Cristoacute-vatildeo tinha sido nomeado capitatildeo do mar por D Joatildeo I em 138594 Afonso

91 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada IV II Cap III p 73 Ver tambeacutem CORREIA Lendas Vol III Pt I Cap XVI p 182 SOUSA Anais Vol II IV Cap I p 1 SOUSA Asia Tomo I Pt IV Cap II p 256

92 LACERDA Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social p 112 nota 375

93 GOacuteIS Chronica III Cap XLVI p 367 GAYO Nobiliaacuterio p 5394 FREIRE Brasotildees Vol III pp 170-171

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203184

Fernando Pessanha

Furtado de Mendonccedila avocirc de Cristoacutevatildeo para aleacutem de capitatildeo-mor do mar95 aparece referido como escrivatildeo da feitoria de Sofala96 Pedro de Mendonccedila tio de Cristoacutevatildeo tinha comandado uma nau numa frota de 12 navios que em 1504 partiu para a Iacutendia para garantir a seguranccedila das rotas comerciais do oceano Iacutendico e controlar o governante hostil de Calecut97 Natildeo se pode portanto considerar que os Mendonccedilas seri-am marginais ao projecto de expansatildeo ultramarina quando Cristoacutevatildeo aparece nomeado para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 ou para a capitania de Ormuz que deteve entre 1527 e 1531 ou 1532 ano da sua morte

Chegando a este ponto vale a pena determo-nos brevemente de modo a compreendermos o que era Ormuz e o que representava esta capitania no contexto do Impeacuterio Portuguecircs no Oriente Antes de mais conveacutem recordarmos que Ormuz era um importantiacutessimo entreposto mercantil em virtude da sua privilegiada localizaccedilatildeo geograacutefica na en-trada do Golfo Peacutersico Com efeito com a segunda conquista de Ormuz por Afonso de Albuquerque em 1515 e a consequente imposiccedilatildeo de um protectorado a Coroa portuguesa passou a arrecadar uma parcela con-sideraacutevel das receitas aduaneiras da proacutespera ilha transformando-se Ormuz no epicentro das actividades portuguesas no Golfo Peacutersico e no mar da Araacutebia A acreditar-se nas fontes quinhentistas era tal o movi-mento e a intensidade no porto de Ormuz que natildeo era invulgar ali en-contrar mais de 200 navios carregados de mercadorias De entre as mais importantes mercadorias que passavam pela cidade destacavam-se os cavalos oriundos da Araacutebia e da Peacutersia com destino aos portos da cos-ta ocidental da Iacutendia de onde eram encaminhados para os potentados indianos entre os quais grassavam guerras endeacutemicas Mas outros pro-dutos aacuterabes e persas faziam a riqueza da esteacuteril ilha de Djarucircn como as alcatifas aacuterabes as peacuterolas de Bahareacutem os tapetes a seda e a prata da Peacutersia o salitre e o enxofre da proacutepria ilha ao lado de mercadorias menos nobres como os frutos secos ou os cereais Dadas as circunstacircn-cias natildeo seraacute de estranhar que ao longo de todo o seacutec XVI a alfacircndega de Ormuz se tenha destacado como a mais rentaacutevel de todo o Estado da Iacutendia logo a seguir agrave de Goa Por outras palavras a cidade gerava

95 FARIA Livro de Linhagens p 27296 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada I Pt I V Cap III97 MALDONADO Relaccedilatildeo das Naos e Armadas da Iacutendia p 16 ANTT Corpo Cronoloacutegi-

co Pt II maccedilo 9 Nordm 35

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 185

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

um volume de receitas tatildeo consideraacutevel que a capitania de Ormuz aca-bou por se transformar numa das mais apetecidas de todo o Impeacuterio no Oriente Vemos deste modo que a atribuiccedilatildeo desta capitania natildeo soacute era motivo de prestiacutegio para o capitatildeo nomeado como tambeacutem fonte de grande riqueza98

Natildeo podemos deixar de notar que as Deacutecadas da Aacutesia ao referir-se agrave nomeaccedilatildeo de Mendonccedila para a capitania de Ormuz natildeo refere quais-quer serviccedilos especiais que justifiquem a atribuiccedilatildeo de tal benesse Ar-mando Cortesatildeo que levantou a hipoacutetese de ter sido Mendonccedila o pri-meiro europeu a chegar agrave Austraacutelia foi um dos investigadores a sugerir que esta nomeaccedilatildeo se devesse aos serviccedilos prestados pelo navegador99 Poreacutem e tal como temos afirmado ao longo deste trabalho natildeo existe qualquer documento que assegure o ecircxito de Mendonccedila relativamente agrave viagem que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro Omis-satildeo que segundo Jaime Cortesatildeo foi consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo entatildeo vigente Luiacutes de Albuquerque ainda que contraacuterio agrave teoria da descoberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que ldquodeve a sua celebridade a uma expediccedilatildeo que natildeo fezrdquo100 estranha no entanto o facto de Diogo do Couto natildeo mencionar os serviccedilos especiais que estiveram na origem da nomeaccedilatildeo do navegador para a capitania de Ormuz101 Esta distinccedilatildeo torna-se ainda mais suspeita se tivermos em consideraccedilatildeo que uma nomeaccedilatildeo desta natureza implicaria em meacutedia 10 anos de serviccedilos no Oriente102 durante os quais era acumu-lada a experiecircncia necessaacuteria para o desempenho de uma capitania Como vimos natildeo foi esse o caso de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Aliaacutes as nomeaccedilotildees para as capitanias mais importantes e lucrativas como Or-muz Goa ou Malaca natildeo soacute eram atribuiacutedas em reconhecimento pelos vaacuterios anos de serviccedilo no Oriente como tambeacutem recaiacuteam tendencial-mente sobre nobres com uma maior presenccedila na corte o que tambeacutem

98 LOUREIRO ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 pp 749-797 JPC ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 833-836

99 CORTESAcircO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158100 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo p 727101 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol IV

p 258102 Andreia Martins de Carvalho determinou os anos de serviccedilo de fidalgos no Oriente

antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania entre 1518 e 1544 CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 211 Foi nesse sentido que tendo em conta a infor-maccedilatildeo disponiacutevel sobre o percurso de 37 fidalgos estabelecemos a meacutedia de anos relativos a serviccedilos no Oriente antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203186

Fernando Pessanha

natildeo era o caso de Mendonccedila Ora se o navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro como explicar tatildeo generoso honroso e rentaacutevel reconhecimento Isto claro para aleacutem das compensaccedilotildees econoacutemicas atraacutes referidas e da entrega da comenda da Ordem de Cris-to que de seguida abordaremos De resto a capitania de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ficou marcada por episoacutedios dignos de registo como o au-xiacutelio prestado agrave frota de Simatildeo da Cunha assolada por uma epidemia contraiacuteda na campanha contra a ilha de Bahareacutem103 Refira-se aliaacutes que foi sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que recaiu a responsabilidade de escolher um agente para realizar a ceacutelebre missatildeo de espionagem que constituiu a viagem por terra de Ormuz a Portugal protagonizada por Antoacutenio Tenreiro entre Setembro de 1528 e Maio de 1529 - viagem cuja narrativa constitui um notaacutevel documento histoacuterico de natureza geograacutefica religiosa e antropoloacutegica104

63 A comenda da vila de Arenilha

Tal como anteriormente referimos deparaacutemo-nos com dois documen-tos que chamaram a nossa atenccedilatildeo aquando da investigaccedilatildeo para o ar-tigo ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo Trata-se de duas cartas em que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece referido como comendador da vila de Arenilha O primeiro documento data de 29 de Dezembro de 1529 e tem por tiacutetulo Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bregantim missiva em que o comendador de Arenilha culpa o marquecircs de Ayamonte pelos danos causados nas barcas dos habitantes da vila no-meadamente no referido bergantim chegando mesmo a mandar ldquopagar as barcas e () as perdas que receberam os donos delas e asy o dano que se fez na Arenilhardquo e mandar o marquecircs prender os responsaacuteveis que se encontrem nas suas terras105 Como se pode perceber o tom da missiva natildeo resulta propriamente abonatoacuterio para o nobre espanhol

103 SOUSA Anais Vol II IV Cap XXII p 106104 Como recompensa pelos serviccedilos prestados Antoacutenio Tenreiro recebeu da Coroa em

1533 uma tenccedila anual de 30000 reacuteis e o haacutebito de cavaleiro da Ordem de Cristo Ver TENREIRO amp AFONSO Viagens por terra da Iacutendia a Portugal p 18 RL ldquoTenreiro Antoacuteniordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II p 1023

105 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 Nordm45

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 187

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig1 - Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua

Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do

marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

Fig 1

Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o

marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203188

Fernando Pessanha

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig2 - Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar

creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Arenilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada destinada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila assim como o seu

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesahelliprdquo pp 86-82

Fig 2

Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao

comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Are-nilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada desti-nada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesardquo pp 86-82

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 189

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacute-vatildeo de Mendonccedila assim como o seu percurso como capitatildeo nas armadas da Iacutendia acreditamos encontrar-nos em condiccedilotildees para demonstrarmos que a comenda de Arenilha foi efectivamente atribuiacuteda ao navegador como reconhecimento pelos serviccedilos prestados no Oriente

Com efeito satildeo vaacuterios os indicadores que nos levam a afirmaacute-lo Em primeiro lugar o facto de natildeo se encontrar nas croacutenicas nem nas fontes coevas qualquer referecircncia a um homoacutenimo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a balizagem cronoloacutegica compreendida entre 1514 e 1532 periacuteodo em que aparece referido na documentaccedilatildeo Aliaacutes as da-tas discriminadas nos documentos que o referem como comendador de Arenilha corroboram a ideia de esta comenda ter sido atribuiacuteda aquando do seu regresso ao reino Eacute certo que natildeo sabemos a data em que Cristoacutevatildeo teraacute chegado a Portugal ainda que tenhamos notiacutecia da sua passagem pelo sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio de 1524 durante a viagem de regresso108 Poreacutem as tenccedilas atraacutes mencionadas indicam que se encontrava no reino em 1526 Uma vez que os documentos que o referem como comendador da vila da foz do Guadiana remontam a Dezembro de 1529 e Maio de 1530 anos em que o navegador jaacute se encontrava no Oriente eacute de supor que D Joatildeo III lhe teraacute atribuiacutedo a comenda aquando da sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e Marccedilo de 1527 ano em que voltou a partir para a Iacutendia jaacute na qualida-de de capitatildeo de Ormuz

Uma vez que natildeo se verificam homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila para a balizagem cronoloacutegica atraacutes referida e que as datas dos docu-mentos que o referem como comendador de Arenilha satildeo ligeiramente posteriores ao seu regresso ao reino resta-nos determinar se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila reunia as condiccedilotildees necessaacuterias para ser agraciado com uma comenda desta natureza Antes de mais importa referir que a vila de Arenilha e de Castro Marim eram as duas uacutenicas comendas da Ordem de Cristo no Algarve Curiosamente Isabel L Morgado de Sousa e Silva natildeo refere a comenda de Arenilha na dissertaccedilatildeo para doutoramento

108 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo Oceanos Nordm4 pp 17-18 ALBU-QUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 727-728 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 79

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203190

Fernando Pessanha

A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521)109 Poreacutem o documento publicado por Hugo Cavaco natildeo deixa margem para duacutevidas

ldquoNo Bispado do Algarve haacute somente duas Commendas da Ordem (de

Cristo) que satildeo das antigas e as seguintes

A Commenda e Alcaideria-moacuter de Castro Marim avaliou-se em quatro-

centos e cinquenta mil reacuteis no anno de 1608

A Commenda da Alcaideria-mograver de Santo Antonio de Arenilha que estaacute

junto a Castro Marim em cento e trinta mil reacuteis no anno de 1608

No Bispado do Algarve natildeo haacute nenhuma Commenda desta Ordem mais

que as duas velhas que valem quinhentos e oitenta mil reacuteis como se vecirc

da somma adianterdquo110

Aliaacutes soacute o facto de Arenilha ser comenda da Ordem de Cristo poderaacute explicar que o senhorio da vila tenha sido atribuiacutedo exclusivamente a cavaleiros da miliacutecia ao longo de toda a centuacuteria quinhentista111

Naturalmente que estas comendas implicavam desde logo a existecircn-cia de comendadores sobre os quais recaiacutea o senhorio das ditas vilas o que era compreendido como motivo de honra e de prestiacutegio social numa sociedade ainda bastante influenciada pelas antigas tradiccedilotildees medievo-feudais Comendas refira-se que compreendiam o direito agrave administra-ccedilatildeo da localidade e conferiam uma renda para sustentaccedilatildeo do comenda-dor beneficiaacuterio configurando um recurso para os encargos da proacutepria comenda No entanto a atribuiccedilatildeo de uma comenda representava um benefiacutecio atribuiacutedo a cavaleiros professos nas ordens militares como re-compensa por serviccedilos prestados Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Men-donccedila soacute poderia ser agraciado com a comenda de Arenilha caso tivesse sido investido na Ordem de Cristo Foi nesse sentido que procuraacutemos determinar se este navegador professou nesta Ordem Militar

Com efeito a dissertaccedilatildeo Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) de Joatildeo Maria Falcatildeo Pestana de Vascon-celos natildeo faz qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila enquanto cavaleiro da Ordem de Cristo Refere no entanto o seu avocirc Afonso Fur-

109 SILVA A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta110 Documento VIII BNLMicroformas F5040 Documento publicado por CAVACO Revisi-

tando p 52111 Cf PESSANHA Os 500 anos pp 57-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 191

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

tado de Mendonccedila comendador de Cardiga da Ordem de Cristo112 a sua irmatilde Margarida de Mendonccedila enquanto mulher de um comendador da mesma Ordem e o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo que recebeu o haacutebito da miliacutecia em 16 de Abril de 1514113 Ain-da que a referida dissertaccedilatildeo natildeo faccedila qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo enquanto membro desta Ordem vem demonstrar a ligaccedilatildeo de alguns dos seus familiares agrave mesma natildeo soacute na qualidade de cavaleiros como tambeacutem de comendadores

Poreacutem Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social de Teresa Lacerda assim como a jaacute referida tese A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) de Isabel L Morgado de Sousa e Silva jaacute identificam efectivamente Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como frei cavaleiro desta Ordem114 De acordo com a obra consultada Cavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVI Cristoacutevatildeo de Mendonccedila recebeu efectivamente o haacutebito da Ordem de Cristo em 16 de Abril de 1514115 exactamente na mesma data em que o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila tambeacutem foi in-vestido116 De resto o facto de Cristoacutevatildeo aparecer referido como mem-bro da miliacutecia numa provisatildeo em que D Joatildeo III manda o almoxarife de Aveiro pagar ldquoa Cristoacutevatildeo de Mendonccedila sua tenccedila deste ano 50000 reacuteis assentada na alfacircndega de Lisboa com o haacutebito de Cristordquo117 vem dissipar qualquer duacutevida que ainda subsistisse

Note-se que identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como cavaleiro da Ordem de Cristo natildeo pudemos deixar de reparar no silecircncio dos cronistas no momento de identificar os intervenientes no processo ex-pansionista com as suas respectivas filiaccedilotildees nas Ordens Militares De facto quer Joatildeo de Barros quer os cronistas que lhe sucederam natildeo fazem qualquer referecircncia agrave filiaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo em qualquer Ordem tal como de acordo com o que constataacutemos raramente o fazem em relaccedilatildeo a outros cavaleiros Esta evidecircncia pode parecer ainda mais estranha se tivermos em consideraccedilatildeo o forte envolvimento da Ordem

112 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Vol I p 377 FARIA Livro de Linhagens p 275

113 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares p 392 114 LACERDA Os Capitatildees das Armadas pp 120 e 228 SILVA A Ordem de Cristo p 336

SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma perspectiva de estudordquo apecircndice

115 FARIA ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo p 21116 FARIA ldquoCavaleirosrdquo p 21 Ver tambeacutem SILVA A Ordem de Cristo p 330117 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203192

Fernando Pessanha

de Cristo na Histoacuteria da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses Ordem Militar sublinhe-se que teve como governadores figuras in-contornaacuteveis da famiacutelia real como o infante D Henrique o infante D Fernando o rei D Manuel ou o rei D Joatildeo III118 Poreacutem haacute que ter em consideraccedilatildeo que documentos como Memoacuteria das Armadas ou o Livro de Lisuarte de Abreu natildeo satildeo fontes sobre qualquer uma das Ordens razatildeo pela qual se torna compreensiacutevel a ausecircncia de referecircncias mais completas relativamente aos intervenientes no processo de expansatildeo Aliaacutes a intenccedilatildeo subjacente agrave produccedilatildeo de obras como Histoacuteria do Des-cobrimento e da Conquista da Iacutendia natildeo passa por apresentar informa-ccedilatildeo detalhada sobre as individualidades que participaram no processo expansionista mas antes destacar o protagonismo reacutegio em todo este processo119

Por fim natildeo se verificando homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a cronologia abordada coincidindo as datas que o referem como comendador de Arenilha e identificado este navegador como cavalei-ro da Ordem de Cristo resta-nos perceber por que motivo lhe teraacute sido entregue a comenda desta vila na foz do Guadiana Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo que a fundaccedilatildeo de Are-nilha prende-se com a afirmaccedilatildeo da soberania poliacutetica e administra-tiva de D Manuel sobre um territoacuterio frequentado por castelhanos Eacute exactamente nesse contexto que em 1421 Castro Marim justificava o pedido de isenccedilatildeo de alguns encargos pelos ldquoconstantes trabalhos que os moradores tinham com os castelhanos que insistiam em vir pescar ao reinordquo120 Quer isto dizer que os castelhanos vinham pescar para as margens portuguesas natildeo pagando os devidos impostos agrave Coroa Aliaacutes a existecircncia do topoacutenimo de origem castelhana Arenilha121 ainda antes da elaboraccedilatildeo da Carta de Privileacutegio que manda proceder agrave construccedilatildeo

118 FONSECA ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo pp 321-347 Ver tambeacutem SILVA A Or-dem de Cristo pp 43-110

119 Cf SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristordquo pp 349-361120 VENTURA ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo p 608

ANTT Chancelaria de D Afonso V liv 2 fl30121 De acordo com o dicionaacuterio da Real Academia Espantildeola ldquoarenillardquo apresenta-se como

sinoacutenimo de ldquoarena menudardquo Ver Dicionario de la Real Academia Espantildeola Disponiacutevel em httplemaraeesdraeval=arenilla ndash Consultado dia 10 de Setembro de 2013 Note-se que quando em 1775 se pretendeu baptizar a nova vila iluminista com o nome de Vila Real de Santo Antoacutenio de Arenilha prontamente o Marquecircs de Pombal proibiu a utilizaccedilatildeo do nome ldquoArenilhardquo alegando que ldquoeacute uma palavra hespanhola e Villa Real uma povoaccedilatildeo portuguesardquo Ver OLIVEIRA Monografia p 71

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 193

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

da vila122 indica a ocupaccedilatildeo daquele areal na margem portuguesa da foz do Guadiana por populaccedilotildees de pescadores de origem castelhana Dadas as circunstacircncias seria do interesse estrateacutegico do monarca que esta comenda recaiacutesse sobre algueacutem experimentado na guarda da fronteira e que fizesse cumprir o pagamento dos devidos direitos aduaneiros Re-corde-se que Arenilha para aleacutem de comenda da Ordem de Cristo era uma vila de fronteira situada na margem portuguesa do Guadiana tal como o era a vila de Mouratildeo de onde Cristoacutevatildeo de Mendonccedila era natu-ral Como anteriormente referimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Men-donccedila o fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo que foi nomeado em 1476 alcaide-mor de Mouratildeo123 uma vila fortificada do Alentejo que guarda-va a fronteira portuguesa frente a Espanha O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas mostra-nos o castelo de Mouratildeo onde Cristoacutevatildeo teraacute crescido localizado no cimo de uma colina sobranceiro ao Guadiana124 Quer isto dizer que o ceacutelebre navegador era descendente de uma famiacutelia experimentada na guarda da fronteira face ao reino vizinho e familia-rizado com as actividades militares tributaacuterias e administrativas que lhe eram inerentes125 Assim sendo esta condiccedilatildeo de fronteiro a juntar ao facto de Cristoacutevatildeo ser cavaleiro da Ordem de Cristo teraacute resultado altamente pertinente no momento em que D Joatildeo III decidiu atribuir a comenda de Arenilha a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como recompensa pelos serviccedilos prestados

Por fim mas natildeo menos relevante teraacute sido a experiecircncia naval e militar adquirida por Mendonccedila nos mares do Oriente e direccionada para a foz do Guadiana sistematicamente ameaccedilada pelos ataques da pi-rataria magrebina126 Recorde-se que Mendonccedila no decurso das suas na-vegaccedilotildees na australaacutesia viu-se na necessidade de defender posiccedilotildees por-

122 O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas produzido por volta de 1509 jaacute indicava o topoacutenimo que veio a ser oficializado com a Carta de Privileacutegio de 12 de Fevereiro de 1513 Ver ARMAS O Livro das Fortalezas fl 1

123 FREIRE Brasotildees Vol III p 173124 ANTT Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Livro das Fortalezas si-

tuadas no Extremo de Portugal e Castela por Duarte de Armas escudeiro da Casa do Rei D Manuel I Nordm 159 fls 13-14 ARMAS O Livro das Fortalezas fls 13-14

125 Refira-se que foi durante o periacuteodo em que o pai de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila deteve a alcaidaria de Mouratildeo que o rei D Manuel obteve dos povos nas cortes de Lisboa de 1502 uma vultosa contribuiccedilatildeo que fez com que o castelo da vila fosse intervenciona-do por dois importantes arquitectos reacutegios os irmatildeos Francisco e Diogo de Arruda os mestres das obras reacutegias da comarca de entre o Tejo e o Guadiana Ver FARIA ldquoForti-ficaccedilotildees de Portugal na fronteira da Estremadura espanholardquo p 161

126 Sobre este assunto veja-se PESSANHA ldquoAtaques da piratariardquo pp 63-94

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203194

Fernando Pessanha

tuguesas dando combate aos adversaacuterios Recordemos a este respeito o ataque movido por Melique Ladil agrave fortaleza de Paceacutem entatildeo guardada por Mendonccedila e a maneira como o ldquomourordquo foi desbaratado e despo-jado das treze embarcaccedilotildees usadas no assalto127 Dadas as circunstacircnci-as seria um desperdiacutecio natildeo se aproveitar a experiecircncia deste capitatildeo numa altura em que se verificava um incremento da actividade piraacutetica nas costas do Algarve Esta actividade da pirataria na foz do Guadiana eacute aliaacutes referida por Bernardo Rodrigues em vaacuterias ocasiotildees nomeada-mente aquando da estadia da condessa de Redondo na vila de Arenilha em 1522128 ou quando Vasco Fernandes Ceacutesar - antigo adaiacutel de Azamor e capitatildeo da Armada do Estreito129 - foi incumbido embarcar o conde do Redondo D Joatildeo Coutinho na vila de Arenilha e escoltaacute-lo a Arzila130 Refira-se que a caminho da foz do Guadiana o navio de Vasco Fernan-des Ceacutesar foi atacado por duas naus tendo-se seguido um combate naval que resultou na explosatildeo de parte da alcaacuteccedilova atirando cinco homens ao mar entre os quais Vasco Fernandes que ficou gravemente ferido131

Vemos deste modo que a entrega da comenda de Arenilha a um in-diviacuteduo como Cristoacutevatildeo de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo descendente de uma famiacutelia de fronteiros e navegador experimentado no combate naval natildeo soacute era altamente pertinente como simboacutelica e manifestamente estrateacutegica para a defesa do extremo sudeste algarvio e da foz do Guadiana onde Mendonccedila deveria actuar com autoridade se-nhorial usufruindo dos seus bens e rendimentos E no caso da comenda de Arenilha Seriam generosos os seus rendimentos Sem duacutevida Se assim natildeo fosse o rei D Duarte natildeo teria doado ao infante D Henrique ainda em 25 de Setembro de 1433 a ldquodiacutesima nova de todo o pescado que pescarem quaisquer pessoas no mar do Monte Gordordquo132 Aliaacutes seraacute certa-

127 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III pp548-549128 RODRIGUES Anais de Arzila Tomo I Cap XC p 373129 GOacuteIS Chronica IV Cap LVII p 552 Sobre a Armada do Estreito veja-se GODINHO

ldquoA armada do estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo pp117-137130 RODRIGUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 PESSANHA Subsiacutedios p 100131 Segundo Bernardo Rodrigues os sobreviventes portugueses por pouco natildeo foram

executados Os que sobreviveram ao combate foram aprisionados e levados para Di-eppe Vasco Fernandes apesar de ferido acabou por escapar do cativeiro desfiando uma esteira e escapando por ela da torre onde se encontrava aprisionado RODRI-GUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 Ver tambeacutem PISSARRA ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Armada do Estreitordquo pp 144-145

132 SERRAtildeO Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fundaccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) p 65 OLIVEIRA Monografia p 73

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 195

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

mente o motivo econoacutemico que jaacute em 1555 estaraacute na origem da disputa pelo senhorio de Arenilha entre Jeroacutenimo de Melo fidalgo da Casa Real e alcaide-mor de Castro Marim e Luiacutes Leite frei cavaleiro da Ordem de Cristo e filho de Antoacutenio Leite o anterior alcaide133

Relativamente agrave defesa sabemos que Arenilha natildeo possuiacutea castelo torre ou qualquer fortificaccedilatildeo digna de registo ateacute 1542-1547 periacuteodo em que o alcaide Antoacutenio Leite daacute-nos conta das ldquotramqueyras e repai-rosrdquo construiacutedos sob o seu comando para a populaccedilatildeo se defender dos ataques da pirataria moura134 Ainda assim Mendonccedila estava obrigado a zelar pela defesa da vila independentemente de esta ter ou natildeo for-tificaccedilotildees para a proteger Se tivermos em consideraccedilatildeo que a sua no-meaccedilatildeo como comendador o obrigava agrave realizaccedilatildeo de um inventaacuterio ao patrimoacutenio da comenda (infelizmente desconhecido) e ao dever de fixar residecircncia na sua aacuterea de governo135 eacute muito provaacutevel que Cristoacutevatildeo se tenha detido durante algum tempo na vila da foz do Guadiana algures entre finais de 1524 aquando da sua chegada ao reino136 e Marccedilo de 1527 quando voltou a partir para o Oriente

Como anteriormente referimos os comendadores deviam fixar-se nas suas comendas para melhor procederem agrave sua defesa e melhor ren-tabilizarem as mesmas Assim sendo como eacute possiacutevel que os documen-tos que referem Cristoacutevatildeo como comendador de Arenilha sejam relati-vos aos anos em que este se encontrava na capitania de Ormuz Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo de que a principal obrigaccedilatildeo dos cavaleiros da Ordem de Cristo era a luta contra os inimigos da feacute devendo estar prontos para a guerra sempre que o Mestre os convocasse Uma vez que as situaccedilotildees de guerra eram cons-tantes nos territoacuterios de aleacutem-mar onde a presenccedila dos cavaleiros da Ordem se tornava necessaacuteria natildeo eacute de admirar que estes fossem dispen-sados da exigecircncia que os obrigava a permanecer nas suas comendas137

133 CAVACO Revisitando pp 18-20 PESSANHA Os 500 anos pp 72-73134 Carta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava

atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras e que era necessaacute-rio enviar-lhe socorro ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos p 99 PINTO ldquoIacutendice Analiacuteticordquo p 267

135 Cf SILVA A Ordem de Cristo pp 189-190136 Uma vez que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila se encontrava na Aacutefrica do Sul em Marccedilo ou Maio

de 1524 eacute de supor que a sua chegada ao reino se tenha dado ainda no mesmo ano137 SILVA A Ordem de Cristo p 191

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203196

Fernando Pessanha

Eacute nesse sentido que encontramos Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comen-dador de Arenilha em 1529 e 1530 anos em que jaacute se encontrava como capitatildeo na fortaleza de Ormuz De resto era nesta fortaleza que ainda se encontrava em 1531 ano em que piratas de Larache atacaram a vila da foz do Guadiana ldquoonde fizeacuteratildeo muito dano em navios que tomaacuteratildeo e den-tro da Barra de Aiamonte fizeacuteratildeo despejar a Arrinilha e a Montegordordquo138

7 Conclusatildeo

Com efeito muito se tem escrito (e especulado) sobre a alegada des-coberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila No entanto e indepen-dentemente dos resultados alcanccedilados pelo navegador nesta expediccedilatildeo parece indiscutiacutevel que foi generosamente recompensado aquando do seu regresso ao reino Resta-nos perceber porquecirc Jaacute Armando Cortesatildeo muito antes de Peter Trickett tinha levantado a hipoacutetese de a rentaacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz ter sido entregue a Mendonccedila como re-compensa pelos serviccedilos prestados na expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro139 Natildeo eacute conhecido poreacutem qualquer documento que ateste o ecircxito do navegador nesta expediccedilatildeo Omissatildeo que segundo investigadores como Armando Cortesatildeo Damiatildeo Peres ou Jaime Cortesatildeo teraacute sido consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo determinada pelas limitaccedilotildees de navega-ccedilatildeo estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas e com o contencioso entre Portugal e Espanha pela posse das Molucas140

O certo eacute que Mendonccedila ao regressar ao reino foi agraciado com uma das capitanias mais rentaacuteveis do impeacuterio no Oriente para aleacutem de ter recebido compensaccedilotildees econoacutemicas e aparecer referido em 1529 e 1530 como comendador da vila de Arenilha na foz do Guadiana Refira-se a este respeito que muitos capitatildees cavaleiros da Ordem de Cristo se lanccedilaram no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Poreacutem mui-to poucos chegaram a obter as tatildeo almejadas comendas141 Vemos deste

138 RODRIGUES Anais Tomo II Cap XXXV p 209139 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158140 CORTESAtildeO A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e

de D Joatildeo II Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 65-66 PERES ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na Histoacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II pp 17-21

141 Entre os afortunados que lograram obter este tipo de rendimento contam-se muito poucos D Joatildeo Pereira D Pedro de Castelo Branco Nuno Furtado Simatildeo Guedes entre outros Ver CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 216

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 197

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

modo que a atribuiccedilatildeo da comenda de Arenilha significou um motivo de grande honra e prestiacutegio para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Ora se este navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro resta-nos perceber porque motivo teraacute sido agraciado com compensaccedilotildees eco-noacutemicas a nomeaccedilatildeo para uma das mais rentaacuteveis capitanias de todo o Impeacuterio no Oriente e uma honrosa comenda da Ordem de Cristo Eacute caso para dizer que a problemaacutetica em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila con-tinua a levantar muitas duacutevidas e poucas certezas

Fontes e Bibliografia

1 Arquivos

ANTT

Chancelaria de D Afonso V Livro 2 fl30

Chancelaria de D Manuel I Livro 4 fl37 Livro 8 fl 29v Livro 9 fl4v Livro 10 fl53 Livro 13 fl60 Livro 37 fl64

Chancelaria de D Joatildeo III Livro 12 fl62

Chancelaria da Ordem de Cristo Livro13 fls375 vndash 379v

Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1

Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 15 Nordm47 Pt I maccedilo 44 Nordm45 Pt I maccedilo 45 Nordm9

Pt II maccedilo 51 Nordm26 Pt II maccedilo 53 Nordm182 Pt II maccedilo 93 Nordm150 Pt II maccedilo 109 Nordm131 Pt II maccedilo 131 Nordm226 Pt II maccedilo 134 Nordm57 Pt II maccedilo 135 Nordm45 Pt II maccedilo 135 Nordm49 Pt II maccedilo 136 Nordm102 Pt II maccedilo 141 Nordm91

Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Nordm159

Casa Real Cartoacuterio da Nobreza Livro Nordm20 - Livro da Nobreza e da per-feiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal fl XII

2 Fontes Impressas

ABREU Lisuarte de Livro de Lisuarte de Abreu (Reproduccedilatildeo do manuscrito existente na Perpont Morgan Library de Nova York) Comissatildeo Nacional para as comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portugueses Lisboa 1992

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203198

Fernando Pessanha

ARMAS Duarte de Livro das Fortalezas Arquivo Nacional da Torre do TomboInapa Lisboa 1997

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada III Na Regia Officina Typografica Lisboa MDCCLXXVII

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada IV Imprensa Nacional Casa da Moe-da Lisboa 2001

BORGES Joseacute Calvatildeo Borges Livro do Armeiro-Mor Academia Portugue-sa de HistoacuteriaEdiccedilotildees Inapa Lisboa 2000

CASCAtildeO Joatildeo ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevorardquo Uma Jornada ao Alentejo e ao Algarve A altera-ccedilatildeo das linhas de forccedila da poliacutetica nacional Livros Horizonte Lisboa 1984 pp 77-136

CASTANHEDA Fernatildeo Lopes de Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses 2 vols Lello amp Irmatildeos Editores Porto 1979

CORREIA Gaspar Lendas da Iacutendia Tomo III na Typographia da Acade-mia Real das Sciencias Lisboa 1862

Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI Centro de Estudos Histoacutericos Ultramarinos Lis-boa 1969

GAYO Felgueiras Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX Ediccedilatildeo de Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Arauacutejo Affonso Braga 1939

GUEDES Liacutevio da Costa Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) Arquivo Histoacuterico Militar Lisboa 1988

GOacuteIS Damiatildeo de Chonica do Serenissimo Senhor Rei D Manoel Lisboa 1749

JOSEacute Frei Joatildeo de Satildeo ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 21-132

RODRIGUES Bernardo Anais de Arzila 2 vols Academia das Sciecircncias de Lisboa Lisboa 1915-1919

SARRAtildeO Henrique Fernandes ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 133-174

SOUSA Frei Luiacutes de Anais de D Joatildeo III 2 vols Saacute da Costa Lisboa 1928

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 199

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

SOUSA Manuel de Faria e Asia Portvgvesa Officina de Henrique Valen-te de Oliveira impressor del Rey NS Lisboa 1666

TENREIRO Antoacutenio amp AFONSO Mestre Viagens por terra da Iacutendia a Por-tugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica Mem-Martins 1991

3 Estudos

ALBUQUERQUE Luiacutes de (dir) Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-tos Portugueses 2 vols Ciacuterculos de Leitores Lisboa 1994

ALMEIDA Fortunato de Histoacuteria de Portugal Vols III-VII Promoclube Lisboa sd

CARDOSO Antoacutenio Pereira A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila agrave Austraacutelia em 1522 Academia da Marinha Lisboa 1994

CARVALHO Andreia Martins de ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Ma-nuelinardquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia ndash Actas do Coloacutequio Internacional Joatildeo Paulo Oliveira e Costa amp Viacutetor Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 199-226

CARVALHO Andreia Martins de Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria dos Descobrimen-tos e da Expansatildeo Portuguesa (seacuteculos XV-XVIII) apresentado agrave UNL Lisboa 2006

CAVACO Hugo ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio (Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Arte no Algarve) Cacircmara Muni-cipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1987

CAVACO Hugo Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha Cacircmara Munici-pal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1995

CORREIA Joseacute Eduardo Horta Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina Faup Publicaccedilotildees Porto 1997

CORREIA Joseacute Eduardo Horta O Algarve em Patrimoacutenio Gente Singular Editora Olhatildeo 2010

CORTESAtildeO Armando ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Aus-tralaacutesia Macau Japatildeo)rdquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939

CORTESAtildeO Jaime ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal (Dir Damiatildeo Peres) Vol IV Portucalense Editora Barce-los 1932 pp 9-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203200

Fernando Pessanha

CORTESAtildeO Jaime A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e de D Joatildeo II Lisboa 1960

COSME Joatildeo ldquoOs homens de ciecircnciardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 91-97

COSME Joatildeo ldquoOs Navegadores ndash Vasco da Gamardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 145-152

COSTA Joatildeo Paulo Oliveira e ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo A Nobreza e a Expansatildeo Estudos Biograacuteficos Joatildeo Paulo Oliveira e Costa (coord) Patrimoacutenia Cascais 2000 pp 11-51

DOMINGUES Francisco Contente ldquoOs portugueses descobriram a Aus-traacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Si-motildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Univer-sidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 163-172

DOMINGUES Francisco Contente Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 Circulo dos Leitores Lisboa 2016

FARIA Antoacutenio Machado de Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI Acade-mia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 1956

FARIA Antoacutenio Machado de ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo Separata da revista Arqueologia e Histoacuteria vol VI Lisboa 1955

FARIA Miguel Figueira de ldquoFortificaccedilotildees de Portugal na fronteira da Es-tremadura espanholardquo Anais ndash Seacuterie Histoacuteria Vol II Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 1995 pp 156-187

FONSECA Luiacutes Adatildeo da ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo A Alta No-breza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 322-347

FREIRE Anselmo Braamcamp Brasotildees da Sala de Sintra 3 vols Impren-sa da Universidade de Coimbra Coimbra 1921-1930

GARCIA Joseacute Manuel Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII QuidNovi Lisboa 2009

GARCIA Joseacute Manuel O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash 1555 Nordm 8 QuidNovi Vila do Conde 2012

GODINHO Rui Landeiro ldquoA Armada do Estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (Seacuteculos XV-XIX) Ediccedilotildees Cul-turais da Marinha Lisboa 2003 pp 117-137

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 13: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 177

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

A primeira referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece aquando da sua passagem pelo porto de Pedir59 onde encontrou Rafael Catanho que entatildeo regressava de Acheacutem no extremo noroeste da ilha de Sama-tra60 Pouco tempo depois chegava agravequele porto de Pedir o que restava da armada de Jorge de Brito morto em combate juntamente com gran-de nuacutemero de portugueses apoacutes um confronto com as forccedilas do rei de Acheacutem61 Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ao encontrar aquela armada desba-ratada e sem capitatildeo pretendeu colocaacute-la sob seu comando62 Poreacutem os poucos fidalgos sobreviventes natildeo o consentiram alegando que o co-mando deveria ser entregue a Antoacutenio de Brito o irmatildeo do falecido ca-pitatildeo que se deveria juntar agrave armada depois de consertar o seu navio63

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila rumou entatildeo a Paceacutem onde se deveria rea-bastecer de mantimentos para dar continuidade agrave viagem Todavia ao chegar a este ponto da narrativa diz-nos Joatildeo de Barros que ldquoo tempo natildeo era da monccedilatildeo pera onde cada hum havia de ir principalmente a de Christovatildeo de Mendoccedila que era jaacute passadardquo64 A acrescentar ao facto de o navegador ter perdido os ventos de monccedilatildeo acresce que o capitatildeo de Malaca Jorge de Albuquerque se encontrava em Paceacutem a construir uma fortaleza destinada a proteger uma feitoria cujo principal objecti-

59 Porto de grande importacircncia no comeacutercio do Iacutendico situado na parte nordeste da Ilha de Samatra O desenvolvimento de Pedir assim como o de Paceacutem relaciona-se estrei-tamente com a propagaccedilatildeo do islatildeo na Indoneacutesia ocidental Em 1509 Diogo Lopes de Sequeira assinou um tratado com o sultatildeo de Pedir e com a conquista de Malaca o seu principal comeacutercio passou a ser dirigido para esta cidade Sobre Pedir veja-se SS ldquoPedirrdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Portugueses (Dir Luis de Albu-querque) Vol II pp 870-872

60 O sultanato islacircmico de Acheacutem foi uma das entidades que mais se opocircs aos interesses dos portugueses estabelecidos em Malaca Fundado por um descendente do rei de Pedir transformou-se num reino poderoso que conquistou vaacuterias terras na ilha de Samatra e ao qual outros reinos pagavam tributo Ver GARCIA Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII pp 198-200

61 Este confronto com o reino de Acheacutem eacute tambeacutem narrado por Damiatildeo de Goacuteis e Fernatildeo Lopes de Castanheda Ver GOacuteIS Chronica IV Cap LXVII pp 566-567 CASTANHEDA Histoacuteria do Descobrimento V Cap LXV pp 107-109

62 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p546 Fernatildeo Lopes de Castanheda ainda que natildeo refira Cristoacutevatildeo revela que ldquocomo os nauios natildeo tinhatildeo capitatildees ouue alguns que se quiseram levantar coeles amp irse a diversas partes a fazer presasrdquo CASTA-NHEDA Histoacuteria do Descobrimento pp 107-110

63 Com efeito com a chegada de Antoacutenio de Brito foi apresentada uma provisatildeo de D Manuel I que o nomeava capitatildeo daquela armada em caso de falecimento de Jorge de Brito

64 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 548

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203178

Fernando Pessanha

vo consistia na recolha de pimenta que se produzia na regiatildeo65 Foi nes-se sentido que Jorge de Albuquerque determinou que todos os capitatildees que se encontravam em Paceacutem ali permanecessem em ldquofavor daquela fortaleza em quanto ella natildeo estava em estado pera se poder defenderrdquo66

Vemos deste modo que a expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo rumo agrave Ilha do Ouro foi interrompida em funccedilatildeo da necessidade que os portugueses sentiram em se fortificarem naquele ponto da ilha de Samatra Aliaacutes eacute o proacuteprio cronista a referir que a presenccedila de Cristoacutevatildeo e dos outros ca-pitatildees foi providencial para que a fortaleza se pudesse construir jaacute que os adversaacuterios os atacavam de forma sistemaacutetica Num desses ataques Melique Ladil um mouro que reivindicava para si o reino de Paceacutem aproximou-se da fortaleza com treze lancharas67 atrevendo-se a deitar fogo agrave fortificaccedilatildeo Foi entatildeo que Cristoacutevatildeo e os outros capitatildees saiacuteram em sua perseguiccedilatildeo desbaratando o adversaacuterio e confiscando-lhe todas as embarcaccedilotildees para serviccedilo agrave fortaleza Usando as palavras de Manuel de Faria e Sousa ldquoCristoval de Mendoccedila que bien fuerotilde menester para re-sistir y humillar despues a un orgulloso Moro que com algunos baxeles de remo infectava aquella marinardquo68 Finalmente terminada a empreitada Cristoacutevatildeo de Mendonccedila voltou a partir para Malaca69

Tal como Diogo Pacheco eacute possiacutevel que o navegador portuguecircs tenha contornado Samatra antes de partir para Malaca De acordo com Luiacutes Filipe Thomaz eacute provaacutevel que o navegador durante a viagem tenha descoberto uma ilha que deve ter tomado pela Ilha do Ouro ainda que constatado o erro a tenha baptizado com o nome que ainda hoje tem Ilha do Engano Seja como for temos notiacutecia de que a armada jaacute se en-contrava em Malaca em finais de 1521 onde a caravela Santa Maria do Rosaacuterio recebeu mantimentos em 10 de Dezembro para poder seguir

65 Esta fortaleza foi concebida para proteger uma feitoria cujo principal objectivo con-sistia na recolha da pimenta Poreacutem este enclave veio a revelar-se de difiacutecil manuten-ccedilatildeo devido aos ataques de que era alvo parte dos habitantes de Acheacutem Os portugue-ses acabariam por abandonar a fortaleza em Maio de 1523 natildeo tendo ficado qualquer testemunho iconograacutefico deste efeacutemero estabelecimento Castanheda poreacutem refere tratar-se de uma fortaleza ldquofeyta em breue tempo tempo com muros baluartes amp torres de madeyra amp cercada de caua () amp muyto bem artilhadardquo Ver CASTANHEDA Histoacute-ria do Descobrimento V Cap LXIIII pp 106-107 Damiatildeo de Goacuteis explica a conjun-tura poliacutetico-militar que levou agrave construccedilatildeo desta fortaleza Ver GOacuteIS Chronica IV Cap LXVI pp 564-566

66 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 548 67 Navios de remos entatildeo usados naquela zona do Oriente 68 SOUSA Asia Tomo I Pt III Cap V p 20269 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 549

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 179

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

para Paceacutem enquanto a nau Satildeo Cristoacutevatildeo apenas os recebeu em 10 de Janeiro de 1522 para depois seguir para Ormuz70 Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila natildeo teraacute tido tempo suficiente para chegar agrave Ilha do Ouro nesse ano de 1521 Pelo menos eacute o que podemos depreen-der quando Joatildeo de Barros refere a permanecircncia de Cristoacutevatildeo em Men-donccedila no auxiacutelio agrave construccedilatildeo da fortaleza de Paceacutem

Natildeo encontramos portanto elementos nas Deacutecadas da Aacutesia que nos permitam afirmar que este navegador portuguecircs teraacute prosseguido via-gem para o sul de Samatra e encontrado a miacutetica Ilha do Ouro identi-ficada com a Austraacutelia Ainda assim tecircm sido vaacuterios os historiadores nomeadamente Armando Cortesatildeo a defenderem natildeo haver motivo para se duvidar de que Cristoacutevatildeo teraacute seguido com a exploraccedilatildeo de que fora incumbido no ano seguinte aproveitando a monccedilatildeo do princiacutepio de 1522 Note-se que o proacuteprio Luiacutes de Albuquerque ainda que aves-so a esta teoria natildeo deixa de estranhar o facto de as Deacutecadas da Aacutesia natildeo referirem quais os serviccedilos especiais prestados por Mendonccedila que justifiquem a sua nomeaccedilatildeo para a rentaacutevel e apeteciacutevel capitania de Ormuz71 ldquotam viccediloacutesa e abastaacuteda q dizem os moradores della q o Mundo eacute hu aneacutel e Ormuz hua pedra precioacutesa engastaacuteda nellerdquo72 Como a seguir veremos a nomeaccedilatildeo para a capitania de Ormuz natildeo foi a uacutenica benesse com que o navegador foi agraciado apoacutes o seu regresso ao reino

52 A viagem de regresso ao reino

Segundo Trickett nada se sabe sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila nos seis anos posteriores agrave expediccedilatildeo que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro73 Como veremos esta ideia natildeo corresponde agrave realidade Sabe-se por exemplo que depois de o navegador ter estado em Ormuz e na Iacutendia regressou a Portugal em 1524 tendo-se detido em Marccedilo ou Maio desse ano na aguada de Saldanha na actual Aacutefrica do Sul tal como ficou atestado numa inscriccedilatildeo que aiacute foi encontrada

Com efeito decorria o ano de 1989 quando foi identificada uma ins-criccedilatildeo portuguesa em Golden Acre no sopeacute de Adderley Street na Cida-de do Cabo Desta inscriccedilatildeo fracturada sobreviveu um fragmento com 25

70 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 7671 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal p 25872 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada II II Cap II p 48 73 Cf TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio p 87

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203180

Fernando Pessanha

cm de largura por 10 cm de altura que foi recolhido pelo South African Museum Na altura um arqueoacutelogo do South African Museum pensou tratar-se de inscriccedilatildeo funeraacuteria de D Lourenccedilo de Almeida um navega-dor portuguecircs que numa viagem de regresso ao reino desembarcou na Baiacutea do Saldanha em Dezembro de 1509 de modo a castigar uns indiacutege-nas Poreacutem acabou por falecer nesse recontro juntamente com muitos outros elementos da sua tripulaccedilatildeo o que levou o referido arqueoacutelogo a interpretar o achado como uma inscriccedilatildeo funeraacuteria

Entretanto em Janeiro de 1990 o Prof Eric Axelon comunicou agrave Comissatildeo Nacional para as Comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portu-gueses a descoberta da inscriccedilatildeo Axelon adiantava poder tratar-se de um artefacto representativo da passagem de Duarte de Meneses pela Cidade do Cabo em 1524 Poreacutem a leitura e interpretaccedilatildeo de Maacuterio Jorge Barroca assistente de Arqueologia Medieval da Universidade do Porto veio a invalidar as suposiccedilotildees de Axelon e do arqueoacutelogo do South African Museum De acordo com Maacuterio Jorge Barroca este do-cumento epigraacutefico refere-se a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ainda que o estado de conservaccedilatildeo desta inscriccedilatildeo dificulte a interpretaccedilatildeo do seu conteuacutedo74 Luiacutes Filipe Thomaz que tambeacutem abordou esta inscriccedilatildeo faz uma leitura ligeiramente diferente mas que concorda quanto ao essencial do conteuacutedo75 De resto eacute interessante notar que para aleacutem dos supra citados autores apenas encontraacutemos referecircncias a este do-cumento epigraacutefico em Luiacutes de Albuquerque76 Antoacutenio Pereira Cardo-so77 e Joseacute Manuel Garcia78

De modo geral a inscriccedilatildeo identificada na Cidade do Cabo vem de-monstrar efectivamente que Cristoacutevatildeo empreendeu a viagem de re-gresso ao reino em 1524 sendo provaacutevel que tenha partido de Cochim logo no iniacutecio do ano Sabemos que se encontrava no sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio No entanto e ainda que esta epiacutegrafe se apresente como um elemento de grande interesse para a reconstituiccedilatildeo do percurso de Cristoacutevatildeo continuamos sem saber o que teraacute feito e por onde teraacute nave-gado entre os iniacutecios de 1522 quando recebeu mantimentos para seguir

74 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo pp 17-1875 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 7976 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-

tos Vol II pp 727-72877 CARDOSO A provaacutevel viagem pp10-1978 GARCIA O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash

1555 Nordm 8 p 98

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 181

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

para Ormuz e os iniacutecios de 1524 quando partiu da Iacutendia para regressar a Portugal Teraacute ele permanecido todo esse tempo em Ormuz Ou teraacute dado continuidade agraves exploraccedilotildees que lhe tinham sido incumbidas pelo governador Diogo Lopes de Sequeira

6 Rendas mercecircs e distinccedilotildees

61 Tenccedilas recebidas

Referimos haacute pouco natildeo ser correcta a ideia de nada se saber sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila nos seis anos posteriores agrave expediccedilatildeo que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro De facto para aleacutem da inscri-ccedilatildeo encontrada na Cidade do Cabo e que atesta a passagem de Mendon-ccedila pelo sul de Aacutefrica tambeacutem existem alguns documentos acondiciona-dos no Arquivo Nacional da Torre do Tombo que revelam informaccedilotildees interessantes para o periacuteodo correspondente agrave sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e 1527 Satildeo exactamente esses documentos que nos datildeo conta das rendas mercecircs e distinccedilotildees com que este navegador foi agraciado

Sabemos que em 4 de Julho de 1526 por exemplo D Joatildeo III mandou o almoxarife de Aveiro dar a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ldquofidalgo da sua casardquo 50000 reacuteis de tenccedila que ficaria assentada na alfacircndega da cidade de Lisboa79 Seria esta uma tenccedila generosa A resposta a esta questatildeo le-vou-nos a comparar este valor com as tenccedilas auferidas pelos seus fami-liares e por outros navegadores seus contemporacircneos Foi nesse sentido que constataacutemos que o ceacutelebre navegador e cosmoacutegrafo Duarte Pacheco Pereira depois de inuacutemeros serviccedilos prestados agrave Coroa recebeu uma tenccedila anual de 50000 reais nesse mesmo ano de 152680 Tristatildeo da Cu-nha ceacutelebre navegador e comandante naval portuguecircs nomeado por D Manuel para primeiro governador da Iacutendia em 150581 e pai de Nuno da Cunha Governador da Iacutendia entre 1528 e 153882 recebeu 40000 reacuteis

79 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57 80 JB de C ldquoPereira Duarte Pachecordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol V pp 52-

54 COSME ldquoOs homens de ciecircnciardquo pp 91-9781 E S ldquoCunha Tristatildeo da (1460-1540)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol II p 260

Sobre Tristatildeo da Cunha veja-se tambeacutem CARVALHO ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Manuelinardquo pp 199-226

82 E S ldquoCunha Nuno da (1487-1539)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol II pp 258-259 Sobre Nuno da Cunha veja-se tambeacutem CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538)

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203182

Fernando Pessanha

de tenccedila no mesmo ano de 152683 Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo rece-beu uma tenccedila generosa ao voltar ao reino Talvez Note-se que o pai de Cristoacutevatildeo Diogo de Mendonccedila alcaide-mor de Mouratildeo recebia os mesmos 50000 reacuteis de tenccedila em 150184 e em 151485 valor que o irmatildeo de Cristoacutevatildeo Pedro de Mendonccedila passou a auferir ao herdar a alcaidaria de Mouratildeo em 151786

Para aleacutem dos 50000 reacuteis de tenccedila eacute o proacuteprio Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila a mandar Jacome Bentes receber de Joatildeo de Azambuja 200000 reacuteis em virtude da outra procuraccedilatildeo que o dito Mendonccedila tinha feito para receber dos almoxarifes de Setuacutebal Aveiro e Coimbra87 Refira-se a este respeito que ainda no mesmo ano ordenou D Joatildeo III que o almoxari-fe de Aveiro pagasse ao jaacute referido Tristatildeo da Cunha 100000 reacuteis para pagamento de 250000 reacuteis da sua tenccedila88 ou que Vasco da Gama ao re-gressar ao reino depois de descobrir o caminho mariacutetimo para a Iacutendia recebeu uma renda de 300000 reacuteis89 Vemos deste modo que os rendi-mentos auferidos por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aquando do seu regresso ao reino natildeo foram propriamente modestos quando comparados com os do primeiro governador da Iacutendia ou com os do navegador e cosmoacute-grafo Duarte Pacheco Pereira

Por fim surge-nos um documento datado de 13 de Abril de 1527 e que tem por tiacutetulo Estabelecimento que Fernando Rodrigues como procu-rador de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila fidalgo da Casa do Rei fez em Fernando Gomes para cobrar todas as tenccedilas e moradias do seu dito constituinte90 Repare-se que de acordo com Joatildeo de Barros Cristoacutevatildeo de Mendonccedila voltou a partir para o Oriente em Marccedilo de 1527 Vemos portanto que o referido documento eacute ligeiramente posterior agrave partida do navegador e que este deixou instruccedilotildees ao seu procurador para que algueacutem cobrasse todas as suas tenccedilas e moradias De resto a alusatildeo agraves ldquotenccedilas e moradi-

83 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 135 Nordm4584 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 13 fl60 ANTT Chancelaria de D Manuel I

liv 8 fl29v85 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 53 Nordm18286 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 10 fl53 Repare-se que a partir de 1523 Pe-

dro de Mendonccedila passou a receber apenas 30000 reacuteis ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 109 Nordm131 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 131 Nordm226

87 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 136 Nordm10288 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 135 Nordm4989 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 4 fl 37 COSME ldquoOs Navegadores ndash Vasco da

Gamardquo p 14990 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 141 Nordm91

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 183

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

asrdquo vem reforccedilar a ideia de que os serviccedilos prestados por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente foram bem recompensados pelo monarca portu-guecircs Resta-nos perceber que serviccedilos teratildeo justificado estas recompen-sas assim como aquelas a que de seguida aludiremos

62 A capitania de Ormuz

Para aleacutem dos rendimentos atraacutes referidos os serviccedilos prestados por Mendonccedila foram igualmente agraciados com a nomeaccedilatildeo para a ren-taacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz para onde partiu em Marccedilo de 152791 Natildeo deixa de ser interessante a alusatildeo que cronistas como Joatildeo de Barros ou Frei Luiacutes de Sousa fazem aos Braganccedilas no momento em que referem esta nova partida de Cristoacutevatildeo para a Iacutendia Com efeito eacute possiacutevel que o duque de Braganccedila jaacute tivesse ligaccedilotildees aos Mendon-ccedilas ainda que o casamento de D Jaime com D Joana de Mendonccedila soacute se tenha realizado em 1520 Teresa Lacerda levanta a hipoacutetese de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ter sido indigitado para o Conselho Reacutegio por influecircncia do duque de Braganccedila do mesmo modo como foi nomea-do para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 e para capitatildeo de Ormuz em 152792 De facto natildeo eacute impossiacutevel No entanto somos da opiniatildeo de que natildeo seraacute apenas D Joana a estar na origem de uma eventual ligaccedilatildeo de D Jaime aos Mendonccedilas como tambeacutem a participaccedilatildeo do seu pai ldquoDiogo de mendonccedila alcaide mor de Mouratildeordquo e de ldquoPero de Mendonccedila seu filhordquo na conquista de Azamor comandada pelo proacuteprio duque em 151393

De facto natildeo sabemos se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teraacute sido indigitado para o Conselho Reacutegio para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquer-que de 1519 ou para a capitania de Ormuz por influecircncia do duque de Braganccedila Seja como for parece-nos que o contexto social e familiar de Cristoacutevatildeo teraacute pesado no momento em que o monarca procedeu a tais nomeaccedilotildees Basta recordarmos que Afonso Furtado bisavocirc de Cristoacute-vatildeo tinha sido nomeado capitatildeo do mar por D Joatildeo I em 138594 Afonso

91 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada IV II Cap III p 73 Ver tambeacutem CORREIA Lendas Vol III Pt I Cap XVI p 182 SOUSA Anais Vol II IV Cap I p 1 SOUSA Asia Tomo I Pt IV Cap II p 256

92 LACERDA Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social p 112 nota 375

93 GOacuteIS Chronica III Cap XLVI p 367 GAYO Nobiliaacuterio p 5394 FREIRE Brasotildees Vol III pp 170-171

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203184

Fernando Pessanha

Furtado de Mendonccedila avocirc de Cristoacutevatildeo para aleacutem de capitatildeo-mor do mar95 aparece referido como escrivatildeo da feitoria de Sofala96 Pedro de Mendonccedila tio de Cristoacutevatildeo tinha comandado uma nau numa frota de 12 navios que em 1504 partiu para a Iacutendia para garantir a seguranccedila das rotas comerciais do oceano Iacutendico e controlar o governante hostil de Calecut97 Natildeo se pode portanto considerar que os Mendonccedilas seri-am marginais ao projecto de expansatildeo ultramarina quando Cristoacutevatildeo aparece nomeado para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 ou para a capitania de Ormuz que deteve entre 1527 e 1531 ou 1532 ano da sua morte

Chegando a este ponto vale a pena determo-nos brevemente de modo a compreendermos o que era Ormuz e o que representava esta capitania no contexto do Impeacuterio Portuguecircs no Oriente Antes de mais conveacutem recordarmos que Ormuz era um importantiacutessimo entreposto mercantil em virtude da sua privilegiada localizaccedilatildeo geograacutefica na en-trada do Golfo Peacutersico Com efeito com a segunda conquista de Ormuz por Afonso de Albuquerque em 1515 e a consequente imposiccedilatildeo de um protectorado a Coroa portuguesa passou a arrecadar uma parcela con-sideraacutevel das receitas aduaneiras da proacutespera ilha transformando-se Ormuz no epicentro das actividades portuguesas no Golfo Peacutersico e no mar da Araacutebia A acreditar-se nas fontes quinhentistas era tal o movi-mento e a intensidade no porto de Ormuz que natildeo era invulgar ali en-contrar mais de 200 navios carregados de mercadorias De entre as mais importantes mercadorias que passavam pela cidade destacavam-se os cavalos oriundos da Araacutebia e da Peacutersia com destino aos portos da cos-ta ocidental da Iacutendia de onde eram encaminhados para os potentados indianos entre os quais grassavam guerras endeacutemicas Mas outros pro-dutos aacuterabes e persas faziam a riqueza da esteacuteril ilha de Djarucircn como as alcatifas aacuterabes as peacuterolas de Bahareacutem os tapetes a seda e a prata da Peacutersia o salitre e o enxofre da proacutepria ilha ao lado de mercadorias menos nobres como os frutos secos ou os cereais Dadas as circunstacircn-cias natildeo seraacute de estranhar que ao longo de todo o seacutec XVI a alfacircndega de Ormuz se tenha destacado como a mais rentaacutevel de todo o Estado da Iacutendia logo a seguir agrave de Goa Por outras palavras a cidade gerava

95 FARIA Livro de Linhagens p 27296 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada I Pt I V Cap III97 MALDONADO Relaccedilatildeo das Naos e Armadas da Iacutendia p 16 ANTT Corpo Cronoloacutegi-

co Pt II maccedilo 9 Nordm 35

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 185

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

um volume de receitas tatildeo consideraacutevel que a capitania de Ormuz aca-bou por se transformar numa das mais apetecidas de todo o Impeacuterio no Oriente Vemos deste modo que a atribuiccedilatildeo desta capitania natildeo soacute era motivo de prestiacutegio para o capitatildeo nomeado como tambeacutem fonte de grande riqueza98

Natildeo podemos deixar de notar que as Deacutecadas da Aacutesia ao referir-se agrave nomeaccedilatildeo de Mendonccedila para a capitania de Ormuz natildeo refere quais-quer serviccedilos especiais que justifiquem a atribuiccedilatildeo de tal benesse Ar-mando Cortesatildeo que levantou a hipoacutetese de ter sido Mendonccedila o pri-meiro europeu a chegar agrave Austraacutelia foi um dos investigadores a sugerir que esta nomeaccedilatildeo se devesse aos serviccedilos prestados pelo navegador99 Poreacutem e tal como temos afirmado ao longo deste trabalho natildeo existe qualquer documento que assegure o ecircxito de Mendonccedila relativamente agrave viagem que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro Omis-satildeo que segundo Jaime Cortesatildeo foi consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo entatildeo vigente Luiacutes de Albuquerque ainda que contraacuterio agrave teoria da descoberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que ldquodeve a sua celebridade a uma expediccedilatildeo que natildeo fezrdquo100 estranha no entanto o facto de Diogo do Couto natildeo mencionar os serviccedilos especiais que estiveram na origem da nomeaccedilatildeo do navegador para a capitania de Ormuz101 Esta distinccedilatildeo torna-se ainda mais suspeita se tivermos em consideraccedilatildeo que uma nomeaccedilatildeo desta natureza implicaria em meacutedia 10 anos de serviccedilos no Oriente102 durante os quais era acumu-lada a experiecircncia necessaacuteria para o desempenho de uma capitania Como vimos natildeo foi esse o caso de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Aliaacutes as nomeaccedilotildees para as capitanias mais importantes e lucrativas como Or-muz Goa ou Malaca natildeo soacute eram atribuiacutedas em reconhecimento pelos vaacuterios anos de serviccedilo no Oriente como tambeacutem recaiacuteam tendencial-mente sobre nobres com uma maior presenccedila na corte o que tambeacutem

98 LOUREIRO ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 pp 749-797 JPC ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 833-836

99 CORTESAcircO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158100 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo p 727101 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol IV

p 258102 Andreia Martins de Carvalho determinou os anos de serviccedilo de fidalgos no Oriente

antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania entre 1518 e 1544 CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 211 Foi nesse sentido que tendo em conta a infor-maccedilatildeo disponiacutevel sobre o percurso de 37 fidalgos estabelecemos a meacutedia de anos relativos a serviccedilos no Oriente antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203186

Fernando Pessanha

natildeo era o caso de Mendonccedila Ora se o navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro como explicar tatildeo generoso honroso e rentaacutevel reconhecimento Isto claro para aleacutem das compensaccedilotildees econoacutemicas atraacutes referidas e da entrega da comenda da Ordem de Cris-to que de seguida abordaremos De resto a capitania de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ficou marcada por episoacutedios dignos de registo como o au-xiacutelio prestado agrave frota de Simatildeo da Cunha assolada por uma epidemia contraiacuteda na campanha contra a ilha de Bahareacutem103 Refira-se aliaacutes que foi sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que recaiu a responsabilidade de escolher um agente para realizar a ceacutelebre missatildeo de espionagem que constituiu a viagem por terra de Ormuz a Portugal protagonizada por Antoacutenio Tenreiro entre Setembro de 1528 e Maio de 1529 - viagem cuja narrativa constitui um notaacutevel documento histoacuterico de natureza geograacutefica religiosa e antropoloacutegica104

63 A comenda da vila de Arenilha

Tal como anteriormente referimos deparaacutemo-nos com dois documen-tos que chamaram a nossa atenccedilatildeo aquando da investigaccedilatildeo para o ar-tigo ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo Trata-se de duas cartas em que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece referido como comendador da vila de Arenilha O primeiro documento data de 29 de Dezembro de 1529 e tem por tiacutetulo Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bregantim missiva em que o comendador de Arenilha culpa o marquecircs de Ayamonte pelos danos causados nas barcas dos habitantes da vila no-meadamente no referido bergantim chegando mesmo a mandar ldquopagar as barcas e () as perdas que receberam os donos delas e asy o dano que se fez na Arenilhardquo e mandar o marquecircs prender os responsaacuteveis que se encontrem nas suas terras105 Como se pode perceber o tom da missiva natildeo resulta propriamente abonatoacuterio para o nobre espanhol

103 SOUSA Anais Vol II IV Cap XXII p 106104 Como recompensa pelos serviccedilos prestados Antoacutenio Tenreiro recebeu da Coroa em

1533 uma tenccedila anual de 30000 reacuteis e o haacutebito de cavaleiro da Ordem de Cristo Ver TENREIRO amp AFONSO Viagens por terra da Iacutendia a Portugal p 18 RL ldquoTenreiro Antoacuteniordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II p 1023

105 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 Nordm45

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 187

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig1 - Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua

Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do

marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

Fig 1

Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o

marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203188

Fernando Pessanha

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig2 - Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar

creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Arenilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada destinada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila assim como o seu

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesahelliprdquo pp 86-82

Fig 2

Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao

comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Are-nilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada desti-nada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesardquo pp 86-82

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 189

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacute-vatildeo de Mendonccedila assim como o seu percurso como capitatildeo nas armadas da Iacutendia acreditamos encontrar-nos em condiccedilotildees para demonstrarmos que a comenda de Arenilha foi efectivamente atribuiacuteda ao navegador como reconhecimento pelos serviccedilos prestados no Oriente

Com efeito satildeo vaacuterios os indicadores que nos levam a afirmaacute-lo Em primeiro lugar o facto de natildeo se encontrar nas croacutenicas nem nas fontes coevas qualquer referecircncia a um homoacutenimo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a balizagem cronoloacutegica compreendida entre 1514 e 1532 periacuteodo em que aparece referido na documentaccedilatildeo Aliaacutes as da-tas discriminadas nos documentos que o referem como comendador de Arenilha corroboram a ideia de esta comenda ter sido atribuiacuteda aquando do seu regresso ao reino Eacute certo que natildeo sabemos a data em que Cristoacutevatildeo teraacute chegado a Portugal ainda que tenhamos notiacutecia da sua passagem pelo sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio de 1524 durante a viagem de regresso108 Poreacutem as tenccedilas atraacutes mencionadas indicam que se encontrava no reino em 1526 Uma vez que os documentos que o referem como comendador da vila da foz do Guadiana remontam a Dezembro de 1529 e Maio de 1530 anos em que o navegador jaacute se encontrava no Oriente eacute de supor que D Joatildeo III lhe teraacute atribuiacutedo a comenda aquando da sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e Marccedilo de 1527 ano em que voltou a partir para a Iacutendia jaacute na qualida-de de capitatildeo de Ormuz

Uma vez que natildeo se verificam homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila para a balizagem cronoloacutegica atraacutes referida e que as datas dos docu-mentos que o referem como comendador de Arenilha satildeo ligeiramente posteriores ao seu regresso ao reino resta-nos determinar se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila reunia as condiccedilotildees necessaacuterias para ser agraciado com uma comenda desta natureza Antes de mais importa referir que a vila de Arenilha e de Castro Marim eram as duas uacutenicas comendas da Ordem de Cristo no Algarve Curiosamente Isabel L Morgado de Sousa e Silva natildeo refere a comenda de Arenilha na dissertaccedilatildeo para doutoramento

108 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo Oceanos Nordm4 pp 17-18 ALBU-QUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 727-728 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 79

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203190

Fernando Pessanha

A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521)109 Poreacutem o documento publicado por Hugo Cavaco natildeo deixa margem para duacutevidas

ldquoNo Bispado do Algarve haacute somente duas Commendas da Ordem (de

Cristo) que satildeo das antigas e as seguintes

A Commenda e Alcaideria-moacuter de Castro Marim avaliou-se em quatro-

centos e cinquenta mil reacuteis no anno de 1608

A Commenda da Alcaideria-mograver de Santo Antonio de Arenilha que estaacute

junto a Castro Marim em cento e trinta mil reacuteis no anno de 1608

No Bispado do Algarve natildeo haacute nenhuma Commenda desta Ordem mais

que as duas velhas que valem quinhentos e oitenta mil reacuteis como se vecirc

da somma adianterdquo110

Aliaacutes soacute o facto de Arenilha ser comenda da Ordem de Cristo poderaacute explicar que o senhorio da vila tenha sido atribuiacutedo exclusivamente a cavaleiros da miliacutecia ao longo de toda a centuacuteria quinhentista111

Naturalmente que estas comendas implicavam desde logo a existecircn-cia de comendadores sobre os quais recaiacutea o senhorio das ditas vilas o que era compreendido como motivo de honra e de prestiacutegio social numa sociedade ainda bastante influenciada pelas antigas tradiccedilotildees medievo-feudais Comendas refira-se que compreendiam o direito agrave administra-ccedilatildeo da localidade e conferiam uma renda para sustentaccedilatildeo do comenda-dor beneficiaacuterio configurando um recurso para os encargos da proacutepria comenda No entanto a atribuiccedilatildeo de uma comenda representava um benefiacutecio atribuiacutedo a cavaleiros professos nas ordens militares como re-compensa por serviccedilos prestados Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Men-donccedila soacute poderia ser agraciado com a comenda de Arenilha caso tivesse sido investido na Ordem de Cristo Foi nesse sentido que procuraacutemos determinar se este navegador professou nesta Ordem Militar

Com efeito a dissertaccedilatildeo Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) de Joatildeo Maria Falcatildeo Pestana de Vascon-celos natildeo faz qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila enquanto cavaleiro da Ordem de Cristo Refere no entanto o seu avocirc Afonso Fur-

109 SILVA A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta110 Documento VIII BNLMicroformas F5040 Documento publicado por CAVACO Revisi-

tando p 52111 Cf PESSANHA Os 500 anos pp 57-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 191

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

tado de Mendonccedila comendador de Cardiga da Ordem de Cristo112 a sua irmatilde Margarida de Mendonccedila enquanto mulher de um comendador da mesma Ordem e o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo que recebeu o haacutebito da miliacutecia em 16 de Abril de 1514113 Ain-da que a referida dissertaccedilatildeo natildeo faccedila qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo enquanto membro desta Ordem vem demonstrar a ligaccedilatildeo de alguns dos seus familiares agrave mesma natildeo soacute na qualidade de cavaleiros como tambeacutem de comendadores

Poreacutem Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social de Teresa Lacerda assim como a jaacute referida tese A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) de Isabel L Morgado de Sousa e Silva jaacute identificam efectivamente Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como frei cavaleiro desta Ordem114 De acordo com a obra consultada Cavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVI Cristoacutevatildeo de Mendonccedila recebeu efectivamente o haacutebito da Ordem de Cristo em 16 de Abril de 1514115 exactamente na mesma data em que o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila tambeacutem foi in-vestido116 De resto o facto de Cristoacutevatildeo aparecer referido como mem-bro da miliacutecia numa provisatildeo em que D Joatildeo III manda o almoxarife de Aveiro pagar ldquoa Cristoacutevatildeo de Mendonccedila sua tenccedila deste ano 50000 reacuteis assentada na alfacircndega de Lisboa com o haacutebito de Cristordquo117 vem dissipar qualquer duacutevida que ainda subsistisse

Note-se que identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como cavaleiro da Ordem de Cristo natildeo pudemos deixar de reparar no silecircncio dos cronistas no momento de identificar os intervenientes no processo ex-pansionista com as suas respectivas filiaccedilotildees nas Ordens Militares De facto quer Joatildeo de Barros quer os cronistas que lhe sucederam natildeo fazem qualquer referecircncia agrave filiaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo em qualquer Ordem tal como de acordo com o que constataacutemos raramente o fazem em relaccedilatildeo a outros cavaleiros Esta evidecircncia pode parecer ainda mais estranha se tivermos em consideraccedilatildeo o forte envolvimento da Ordem

112 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Vol I p 377 FARIA Livro de Linhagens p 275

113 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares p 392 114 LACERDA Os Capitatildees das Armadas pp 120 e 228 SILVA A Ordem de Cristo p 336

SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma perspectiva de estudordquo apecircndice

115 FARIA ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo p 21116 FARIA ldquoCavaleirosrdquo p 21 Ver tambeacutem SILVA A Ordem de Cristo p 330117 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203192

Fernando Pessanha

de Cristo na Histoacuteria da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses Ordem Militar sublinhe-se que teve como governadores figuras in-contornaacuteveis da famiacutelia real como o infante D Henrique o infante D Fernando o rei D Manuel ou o rei D Joatildeo III118 Poreacutem haacute que ter em consideraccedilatildeo que documentos como Memoacuteria das Armadas ou o Livro de Lisuarte de Abreu natildeo satildeo fontes sobre qualquer uma das Ordens razatildeo pela qual se torna compreensiacutevel a ausecircncia de referecircncias mais completas relativamente aos intervenientes no processo de expansatildeo Aliaacutes a intenccedilatildeo subjacente agrave produccedilatildeo de obras como Histoacuteria do Des-cobrimento e da Conquista da Iacutendia natildeo passa por apresentar informa-ccedilatildeo detalhada sobre as individualidades que participaram no processo expansionista mas antes destacar o protagonismo reacutegio em todo este processo119

Por fim natildeo se verificando homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a cronologia abordada coincidindo as datas que o referem como comendador de Arenilha e identificado este navegador como cavalei-ro da Ordem de Cristo resta-nos perceber por que motivo lhe teraacute sido entregue a comenda desta vila na foz do Guadiana Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo que a fundaccedilatildeo de Are-nilha prende-se com a afirmaccedilatildeo da soberania poliacutetica e administra-tiva de D Manuel sobre um territoacuterio frequentado por castelhanos Eacute exactamente nesse contexto que em 1421 Castro Marim justificava o pedido de isenccedilatildeo de alguns encargos pelos ldquoconstantes trabalhos que os moradores tinham com os castelhanos que insistiam em vir pescar ao reinordquo120 Quer isto dizer que os castelhanos vinham pescar para as margens portuguesas natildeo pagando os devidos impostos agrave Coroa Aliaacutes a existecircncia do topoacutenimo de origem castelhana Arenilha121 ainda antes da elaboraccedilatildeo da Carta de Privileacutegio que manda proceder agrave construccedilatildeo

118 FONSECA ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo pp 321-347 Ver tambeacutem SILVA A Or-dem de Cristo pp 43-110

119 Cf SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristordquo pp 349-361120 VENTURA ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo p 608

ANTT Chancelaria de D Afonso V liv 2 fl30121 De acordo com o dicionaacuterio da Real Academia Espantildeola ldquoarenillardquo apresenta-se como

sinoacutenimo de ldquoarena menudardquo Ver Dicionario de la Real Academia Espantildeola Disponiacutevel em httplemaraeesdraeval=arenilla ndash Consultado dia 10 de Setembro de 2013 Note-se que quando em 1775 se pretendeu baptizar a nova vila iluminista com o nome de Vila Real de Santo Antoacutenio de Arenilha prontamente o Marquecircs de Pombal proibiu a utilizaccedilatildeo do nome ldquoArenilhardquo alegando que ldquoeacute uma palavra hespanhola e Villa Real uma povoaccedilatildeo portuguesardquo Ver OLIVEIRA Monografia p 71

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 193

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

da vila122 indica a ocupaccedilatildeo daquele areal na margem portuguesa da foz do Guadiana por populaccedilotildees de pescadores de origem castelhana Dadas as circunstacircncias seria do interesse estrateacutegico do monarca que esta comenda recaiacutesse sobre algueacutem experimentado na guarda da fronteira e que fizesse cumprir o pagamento dos devidos direitos aduaneiros Re-corde-se que Arenilha para aleacutem de comenda da Ordem de Cristo era uma vila de fronteira situada na margem portuguesa do Guadiana tal como o era a vila de Mouratildeo de onde Cristoacutevatildeo de Mendonccedila era natu-ral Como anteriormente referimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Men-donccedila o fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo que foi nomeado em 1476 alcaide-mor de Mouratildeo123 uma vila fortificada do Alentejo que guarda-va a fronteira portuguesa frente a Espanha O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas mostra-nos o castelo de Mouratildeo onde Cristoacutevatildeo teraacute crescido localizado no cimo de uma colina sobranceiro ao Guadiana124 Quer isto dizer que o ceacutelebre navegador era descendente de uma famiacutelia experimentada na guarda da fronteira face ao reino vizinho e familia-rizado com as actividades militares tributaacuterias e administrativas que lhe eram inerentes125 Assim sendo esta condiccedilatildeo de fronteiro a juntar ao facto de Cristoacutevatildeo ser cavaleiro da Ordem de Cristo teraacute resultado altamente pertinente no momento em que D Joatildeo III decidiu atribuir a comenda de Arenilha a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como recompensa pelos serviccedilos prestados

Por fim mas natildeo menos relevante teraacute sido a experiecircncia naval e militar adquirida por Mendonccedila nos mares do Oriente e direccionada para a foz do Guadiana sistematicamente ameaccedilada pelos ataques da pi-rataria magrebina126 Recorde-se que Mendonccedila no decurso das suas na-vegaccedilotildees na australaacutesia viu-se na necessidade de defender posiccedilotildees por-

122 O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas produzido por volta de 1509 jaacute indicava o topoacutenimo que veio a ser oficializado com a Carta de Privileacutegio de 12 de Fevereiro de 1513 Ver ARMAS O Livro das Fortalezas fl 1

123 FREIRE Brasotildees Vol III p 173124 ANTT Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Livro das Fortalezas si-

tuadas no Extremo de Portugal e Castela por Duarte de Armas escudeiro da Casa do Rei D Manuel I Nordm 159 fls 13-14 ARMAS O Livro das Fortalezas fls 13-14

125 Refira-se que foi durante o periacuteodo em que o pai de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila deteve a alcaidaria de Mouratildeo que o rei D Manuel obteve dos povos nas cortes de Lisboa de 1502 uma vultosa contribuiccedilatildeo que fez com que o castelo da vila fosse intervenciona-do por dois importantes arquitectos reacutegios os irmatildeos Francisco e Diogo de Arruda os mestres das obras reacutegias da comarca de entre o Tejo e o Guadiana Ver FARIA ldquoForti-ficaccedilotildees de Portugal na fronteira da Estremadura espanholardquo p 161

126 Sobre este assunto veja-se PESSANHA ldquoAtaques da piratariardquo pp 63-94

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203194

Fernando Pessanha

tuguesas dando combate aos adversaacuterios Recordemos a este respeito o ataque movido por Melique Ladil agrave fortaleza de Paceacutem entatildeo guardada por Mendonccedila e a maneira como o ldquomourordquo foi desbaratado e despo-jado das treze embarcaccedilotildees usadas no assalto127 Dadas as circunstacircnci-as seria um desperdiacutecio natildeo se aproveitar a experiecircncia deste capitatildeo numa altura em que se verificava um incremento da actividade piraacutetica nas costas do Algarve Esta actividade da pirataria na foz do Guadiana eacute aliaacutes referida por Bernardo Rodrigues em vaacuterias ocasiotildees nomeada-mente aquando da estadia da condessa de Redondo na vila de Arenilha em 1522128 ou quando Vasco Fernandes Ceacutesar - antigo adaiacutel de Azamor e capitatildeo da Armada do Estreito129 - foi incumbido embarcar o conde do Redondo D Joatildeo Coutinho na vila de Arenilha e escoltaacute-lo a Arzila130 Refira-se que a caminho da foz do Guadiana o navio de Vasco Fernan-des Ceacutesar foi atacado por duas naus tendo-se seguido um combate naval que resultou na explosatildeo de parte da alcaacuteccedilova atirando cinco homens ao mar entre os quais Vasco Fernandes que ficou gravemente ferido131

Vemos deste modo que a entrega da comenda de Arenilha a um in-diviacuteduo como Cristoacutevatildeo de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo descendente de uma famiacutelia de fronteiros e navegador experimentado no combate naval natildeo soacute era altamente pertinente como simboacutelica e manifestamente estrateacutegica para a defesa do extremo sudeste algarvio e da foz do Guadiana onde Mendonccedila deveria actuar com autoridade se-nhorial usufruindo dos seus bens e rendimentos E no caso da comenda de Arenilha Seriam generosos os seus rendimentos Sem duacutevida Se assim natildeo fosse o rei D Duarte natildeo teria doado ao infante D Henrique ainda em 25 de Setembro de 1433 a ldquodiacutesima nova de todo o pescado que pescarem quaisquer pessoas no mar do Monte Gordordquo132 Aliaacutes seraacute certa-

127 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III pp548-549128 RODRIGUES Anais de Arzila Tomo I Cap XC p 373129 GOacuteIS Chronica IV Cap LVII p 552 Sobre a Armada do Estreito veja-se GODINHO

ldquoA armada do estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo pp117-137130 RODRIGUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 PESSANHA Subsiacutedios p 100131 Segundo Bernardo Rodrigues os sobreviventes portugueses por pouco natildeo foram

executados Os que sobreviveram ao combate foram aprisionados e levados para Di-eppe Vasco Fernandes apesar de ferido acabou por escapar do cativeiro desfiando uma esteira e escapando por ela da torre onde se encontrava aprisionado RODRI-GUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 Ver tambeacutem PISSARRA ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Armada do Estreitordquo pp 144-145

132 SERRAtildeO Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fundaccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) p 65 OLIVEIRA Monografia p 73

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 195

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

mente o motivo econoacutemico que jaacute em 1555 estaraacute na origem da disputa pelo senhorio de Arenilha entre Jeroacutenimo de Melo fidalgo da Casa Real e alcaide-mor de Castro Marim e Luiacutes Leite frei cavaleiro da Ordem de Cristo e filho de Antoacutenio Leite o anterior alcaide133

Relativamente agrave defesa sabemos que Arenilha natildeo possuiacutea castelo torre ou qualquer fortificaccedilatildeo digna de registo ateacute 1542-1547 periacuteodo em que o alcaide Antoacutenio Leite daacute-nos conta das ldquotramqueyras e repai-rosrdquo construiacutedos sob o seu comando para a populaccedilatildeo se defender dos ataques da pirataria moura134 Ainda assim Mendonccedila estava obrigado a zelar pela defesa da vila independentemente de esta ter ou natildeo for-tificaccedilotildees para a proteger Se tivermos em consideraccedilatildeo que a sua no-meaccedilatildeo como comendador o obrigava agrave realizaccedilatildeo de um inventaacuterio ao patrimoacutenio da comenda (infelizmente desconhecido) e ao dever de fixar residecircncia na sua aacuterea de governo135 eacute muito provaacutevel que Cristoacutevatildeo se tenha detido durante algum tempo na vila da foz do Guadiana algures entre finais de 1524 aquando da sua chegada ao reino136 e Marccedilo de 1527 quando voltou a partir para o Oriente

Como anteriormente referimos os comendadores deviam fixar-se nas suas comendas para melhor procederem agrave sua defesa e melhor ren-tabilizarem as mesmas Assim sendo como eacute possiacutevel que os documen-tos que referem Cristoacutevatildeo como comendador de Arenilha sejam relati-vos aos anos em que este se encontrava na capitania de Ormuz Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo de que a principal obrigaccedilatildeo dos cavaleiros da Ordem de Cristo era a luta contra os inimigos da feacute devendo estar prontos para a guerra sempre que o Mestre os convocasse Uma vez que as situaccedilotildees de guerra eram cons-tantes nos territoacuterios de aleacutem-mar onde a presenccedila dos cavaleiros da Ordem se tornava necessaacuteria natildeo eacute de admirar que estes fossem dispen-sados da exigecircncia que os obrigava a permanecer nas suas comendas137

133 CAVACO Revisitando pp 18-20 PESSANHA Os 500 anos pp 72-73134 Carta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava

atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras e que era necessaacute-rio enviar-lhe socorro ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos p 99 PINTO ldquoIacutendice Analiacuteticordquo p 267

135 Cf SILVA A Ordem de Cristo pp 189-190136 Uma vez que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila se encontrava na Aacutefrica do Sul em Marccedilo ou Maio

de 1524 eacute de supor que a sua chegada ao reino se tenha dado ainda no mesmo ano137 SILVA A Ordem de Cristo p 191

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203196

Fernando Pessanha

Eacute nesse sentido que encontramos Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comen-dador de Arenilha em 1529 e 1530 anos em que jaacute se encontrava como capitatildeo na fortaleza de Ormuz De resto era nesta fortaleza que ainda se encontrava em 1531 ano em que piratas de Larache atacaram a vila da foz do Guadiana ldquoonde fizeacuteratildeo muito dano em navios que tomaacuteratildeo e den-tro da Barra de Aiamonte fizeacuteratildeo despejar a Arrinilha e a Montegordordquo138

7 Conclusatildeo

Com efeito muito se tem escrito (e especulado) sobre a alegada des-coberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila No entanto e indepen-dentemente dos resultados alcanccedilados pelo navegador nesta expediccedilatildeo parece indiscutiacutevel que foi generosamente recompensado aquando do seu regresso ao reino Resta-nos perceber porquecirc Jaacute Armando Cortesatildeo muito antes de Peter Trickett tinha levantado a hipoacutetese de a rentaacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz ter sido entregue a Mendonccedila como re-compensa pelos serviccedilos prestados na expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro139 Natildeo eacute conhecido poreacutem qualquer documento que ateste o ecircxito do navegador nesta expediccedilatildeo Omissatildeo que segundo investigadores como Armando Cortesatildeo Damiatildeo Peres ou Jaime Cortesatildeo teraacute sido consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo determinada pelas limitaccedilotildees de navega-ccedilatildeo estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas e com o contencioso entre Portugal e Espanha pela posse das Molucas140

O certo eacute que Mendonccedila ao regressar ao reino foi agraciado com uma das capitanias mais rentaacuteveis do impeacuterio no Oriente para aleacutem de ter recebido compensaccedilotildees econoacutemicas e aparecer referido em 1529 e 1530 como comendador da vila de Arenilha na foz do Guadiana Refira-se a este respeito que muitos capitatildees cavaleiros da Ordem de Cristo se lanccedilaram no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Poreacutem mui-to poucos chegaram a obter as tatildeo almejadas comendas141 Vemos deste

138 RODRIGUES Anais Tomo II Cap XXXV p 209139 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158140 CORTESAtildeO A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e

de D Joatildeo II Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 65-66 PERES ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na Histoacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II pp 17-21

141 Entre os afortunados que lograram obter este tipo de rendimento contam-se muito poucos D Joatildeo Pereira D Pedro de Castelo Branco Nuno Furtado Simatildeo Guedes entre outros Ver CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 216

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 197

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

modo que a atribuiccedilatildeo da comenda de Arenilha significou um motivo de grande honra e prestiacutegio para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Ora se este navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro resta-nos perceber porque motivo teraacute sido agraciado com compensaccedilotildees eco-noacutemicas a nomeaccedilatildeo para uma das mais rentaacuteveis capitanias de todo o Impeacuterio no Oriente e uma honrosa comenda da Ordem de Cristo Eacute caso para dizer que a problemaacutetica em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila con-tinua a levantar muitas duacutevidas e poucas certezas

Fontes e Bibliografia

1 Arquivos

ANTT

Chancelaria de D Afonso V Livro 2 fl30

Chancelaria de D Manuel I Livro 4 fl37 Livro 8 fl 29v Livro 9 fl4v Livro 10 fl53 Livro 13 fl60 Livro 37 fl64

Chancelaria de D Joatildeo III Livro 12 fl62

Chancelaria da Ordem de Cristo Livro13 fls375 vndash 379v

Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1

Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 15 Nordm47 Pt I maccedilo 44 Nordm45 Pt I maccedilo 45 Nordm9

Pt II maccedilo 51 Nordm26 Pt II maccedilo 53 Nordm182 Pt II maccedilo 93 Nordm150 Pt II maccedilo 109 Nordm131 Pt II maccedilo 131 Nordm226 Pt II maccedilo 134 Nordm57 Pt II maccedilo 135 Nordm45 Pt II maccedilo 135 Nordm49 Pt II maccedilo 136 Nordm102 Pt II maccedilo 141 Nordm91

Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Nordm159

Casa Real Cartoacuterio da Nobreza Livro Nordm20 - Livro da Nobreza e da per-feiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal fl XII

2 Fontes Impressas

ABREU Lisuarte de Livro de Lisuarte de Abreu (Reproduccedilatildeo do manuscrito existente na Perpont Morgan Library de Nova York) Comissatildeo Nacional para as comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portugueses Lisboa 1992

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203198

Fernando Pessanha

ARMAS Duarte de Livro das Fortalezas Arquivo Nacional da Torre do TomboInapa Lisboa 1997

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada III Na Regia Officina Typografica Lisboa MDCCLXXVII

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada IV Imprensa Nacional Casa da Moe-da Lisboa 2001

BORGES Joseacute Calvatildeo Borges Livro do Armeiro-Mor Academia Portugue-sa de HistoacuteriaEdiccedilotildees Inapa Lisboa 2000

CASCAtildeO Joatildeo ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevorardquo Uma Jornada ao Alentejo e ao Algarve A altera-ccedilatildeo das linhas de forccedila da poliacutetica nacional Livros Horizonte Lisboa 1984 pp 77-136

CASTANHEDA Fernatildeo Lopes de Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses 2 vols Lello amp Irmatildeos Editores Porto 1979

CORREIA Gaspar Lendas da Iacutendia Tomo III na Typographia da Acade-mia Real das Sciencias Lisboa 1862

Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI Centro de Estudos Histoacutericos Ultramarinos Lis-boa 1969

GAYO Felgueiras Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX Ediccedilatildeo de Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Arauacutejo Affonso Braga 1939

GUEDES Liacutevio da Costa Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) Arquivo Histoacuterico Militar Lisboa 1988

GOacuteIS Damiatildeo de Chonica do Serenissimo Senhor Rei D Manoel Lisboa 1749

JOSEacute Frei Joatildeo de Satildeo ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 21-132

RODRIGUES Bernardo Anais de Arzila 2 vols Academia das Sciecircncias de Lisboa Lisboa 1915-1919

SARRAtildeO Henrique Fernandes ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 133-174

SOUSA Frei Luiacutes de Anais de D Joatildeo III 2 vols Saacute da Costa Lisboa 1928

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 199

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

SOUSA Manuel de Faria e Asia Portvgvesa Officina de Henrique Valen-te de Oliveira impressor del Rey NS Lisboa 1666

TENREIRO Antoacutenio amp AFONSO Mestre Viagens por terra da Iacutendia a Por-tugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica Mem-Martins 1991

3 Estudos

ALBUQUERQUE Luiacutes de (dir) Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-tos Portugueses 2 vols Ciacuterculos de Leitores Lisboa 1994

ALMEIDA Fortunato de Histoacuteria de Portugal Vols III-VII Promoclube Lisboa sd

CARDOSO Antoacutenio Pereira A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila agrave Austraacutelia em 1522 Academia da Marinha Lisboa 1994

CARVALHO Andreia Martins de ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Ma-nuelinardquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia ndash Actas do Coloacutequio Internacional Joatildeo Paulo Oliveira e Costa amp Viacutetor Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 199-226

CARVALHO Andreia Martins de Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria dos Descobrimen-tos e da Expansatildeo Portuguesa (seacuteculos XV-XVIII) apresentado agrave UNL Lisboa 2006

CAVACO Hugo ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio (Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Arte no Algarve) Cacircmara Muni-cipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1987

CAVACO Hugo Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha Cacircmara Munici-pal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1995

CORREIA Joseacute Eduardo Horta Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina Faup Publicaccedilotildees Porto 1997

CORREIA Joseacute Eduardo Horta O Algarve em Patrimoacutenio Gente Singular Editora Olhatildeo 2010

CORTESAtildeO Armando ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Aus-tralaacutesia Macau Japatildeo)rdquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939

CORTESAtildeO Jaime ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal (Dir Damiatildeo Peres) Vol IV Portucalense Editora Barce-los 1932 pp 9-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203200

Fernando Pessanha

CORTESAtildeO Jaime A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e de D Joatildeo II Lisboa 1960

COSME Joatildeo ldquoOs homens de ciecircnciardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 91-97

COSME Joatildeo ldquoOs Navegadores ndash Vasco da Gamardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 145-152

COSTA Joatildeo Paulo Oliveira e ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo A Nobreza e a Expansatildeo Estudos Biograacuteficos Joatildeo Paulo Oliveira e Costa (coord) Patrimoacutenia Cascais 2000 pp 11-51

DOMINGUES Francisco Contente ldquoOs portugueses descobriram a Aus-traacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Si-motildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Univer-sidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 163-172

DOMINGUES Francisco Contente Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 Circulo dos Leitores Lisboa 2016

FARIA Antoacutenio Machado de Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI Acade-mia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 1956

FARIA Antoacutenio Machado de ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo Separata da revista Arqueologia e Histoacuteria vol VI Lisboa 1955

FARIA Miguel Figueira de ldquoFortificaccedilotildees de Portugal na fronteira da Es-tremadura espanholardquo Anais ndash Seacuterie Histoacuteria Vol II Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 1995 pp 156-187

FONSECA Luiacutes Adatildeo da ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo A Alta No-breza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 322-347

FREIRE Anselmo Braamcamp Brasotildees da Sala de Sintra 3 vols Impren-sa da Universidade de Coimbra Coimbra 1921-1930

GARCIA Joseacute Manuel Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII QuidNovi Lisboa 2009

GARCIA Joseacute Manuel O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash 1555 Nordm 8 QuidNovi Vila do Conde 2012

GODINHO Rui Landeiro ldquoA Armada do Estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (Seacuteculos XV-XIX) Ediccedilotildees Cul-turais da Marinha Lisboa 2003 pp 117-137

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 14: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203178

Fernando Pessanha

vo consistia na recolha de pimenta que se produzia na regiatildeo65 Foi nes-se sentido que Jorge de Albuquerque determinou que todos os capitatildees que se encontravam em Paceacutem ali permanecessem em ldquofavor daquela fortaleza em quanto ella natildeo estava em estado pera se poder defenderrdquo66

Vemos deste modo que a expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo rumo agrave Ilha do Ouro foi interrompida em funccedilatildeo da necessidade que os portugueses sentiram em se fortificarem naquele ponto da ilha de Samatra Aliaacutes eacute o proacuteprio cronista a referir que a presenccedila de Cristoacutevatildeo e dos outros ca-pitatildees foi providencial para que a fortaleza se pudesse construir jaacute que os adversaacuterios os atacavam de forma sistemaacutetica Num desses ataques Melique Ladil um mouro que reivindicava para si o reino de Paceacutem aproximou-se da fortaleza com treze lancharas67 atrevendo-se a deitar fogo agrave fortificaccedilatildeo Foi entatildeo que Cristoacutevatildeo e os outros capitatildees saiacuteram em sua perseguiccedilatildeo desbaratando o adversaacuterio e confiscando-lhe todas as embarcaccedilotildees para serviccedilo agrave fortaleza Usando as palavras de Manuel de Faria e Sousa ldquoCristoval de Mendoccedila que bien fuerotilde menester para re-sistir y humillar despues a un orgulloso Moro que com algunos baxeles de remo infectava aquella marinardquo68 Finalmente terminada a empreitada Cristoacutevatildeo de Mendonccedila voltou a partir para Malaca69

Tal como Diogo Pacheco eacute possiacutevel que o navegador portuguecircs tenha contornado Samatra antes de partir para Malaca De acordo com Luiacutes Filipe Thomaz eacute provaacutevel que o navegador durante a viagem tenha descoberto uma ilha que deve ter tomado pela Ilha do Ouro ainda que constatado o erro a tenha baptizado com o nome que ainda hoje tem Ilha do Engano Seja como for temos notiacutecia de que a armada jaacute se en-contrava em Malaca em finais de 1521 onde a caravela Santa Maria do Rosaacuterio recebeu mantimentos em 10 de Dezembro para poder seguir

65 Esta fortaleza foi concebida para proteger uma feitoria cujo principal objectivo con-sistia na recolha da pimenta Poreacutem este enclave veio a revelar-se de difiacutecil manuten-ccedilatildeo devido aos ataques de que era alvo parte dos habitantes de Acheacutem Os portugue-ses acabariam por abandonar a fortaleza em Maio de 1523 natildeo tendo ficado qualquer testemunho iconograacutefico deste efeacutemero estabelecimento Castanheda poreacutem refere tratar-se de uma fortaleza ldquofeyta em breue tempo tempo com muros baluartes amp torres de madeyra amp cercada de caua () amp muyto bem artilhadardquo Ver CASTANHEDA Histoacute-ria do Descobrimento V Cap LXIIII pp 106-107 Damiatildeo de Goacuteis explica a conjun-tura poliacutetico-militar que levou agrave construccedilatildeo desta fortaleza Ver GOacuteIS Chronica IV Cap LXVI pp 564-566

66 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 548 67 Navios de remos entatildeo usados naquela zona do Oriente 68 SOUSA Asia Tomo I Pt III Cap V p 20269 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III p 549

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 179

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

para Paceacutem enquanto a nau Satildeo Cristoacutevatildeo apenas os recebeu em 10 de Janeiro de 1522 para depois seguir para Ormuz70 Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila natildeo teraacute tido tempo suficiente para chegar agrave Ilha do Ouro nesse ano de 1521 Pelo menos eacute o que podemos depreen-der quando Joatildeo de Barros refere a permanecircncia de Cristoacutevatildeo em Men-donccedila no auxiacutelio agrave construccedilatildeo da fortaleza de Paceacutem

Natildeo encontramos portanto elementos nas Deacutecadas da Aacutesia que nos permitam afirmar que este navegador portuguecircs teraacute prosseguido via-gem para o sul de Samatra e encontrado a miacutetica Ilha do Ouro identi-ficada com a Austraacutelia Ainda assim tecircm sido vaacuterios os historiadores nomeadamente Armando Cortesatildeo a defenderem natildeo haver motivo para se duvidar de que Cristoacutevatildeo teraacute seguido com a exploraccedilatildeo de que fora incumbido no ano seguinte aproveitando a monccedilatildeo do princiacutepio de 1522 Note-se que o proacuteprio Luiacutes de Albuquerque ainda que aves-so a esta teoria natildeo deixa de estranhar o facto de as Deacutecadas da Aacutesia natildeo referirem quais os serviccedilos especiais prestados por Mendonccedila que justifiquem a sua nomeaccedilatildeo para a rentaacutevel e apeteciacutevel capitania de Ormuz71 ldquotam viccediloacutesa e abastaacuteda q dizem os moradores della q o Mundo eacute hu aneacutel e Ormuz hua pedra precioacutesa engastaacuteda nellerdquo72 Como a seguir veremos a nomeaccedilatildeo para a capitania de Ormuz natildeo foi a uacutenica benesse com que o navegador foi agraciado apoacutes o seu regresso ao reino

52 A viagem de regresso ao reino

Segundo Trickett nada se sabe sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila nos seis anos posteriores agrave expediccedilatildeo que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro73 Como veremos esta ideia natildeo corresponde agrave realidade Sabe-se por exemplo que depois de o navegador ter estado em Ormuz e na Iacutendia regressou a Portugal em 1524 tendo-se detido em Marccedilo ou Maio desse ano na aguada de Saldanha na actual Aacutefrica do Sul tal como ficou atestado numa inscriccedilatildeo que aiacute foi encontrada

Com efeito decorria o ano de 1989 quando foi identificada uma ins-criccedilatildeo portuguesa em Golden Acre no sopeacute de Adderley Street na Cida-de do Cabo Desta inscriccedilatildeo fracturada sobreviveu um fragmento com 25

70 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 7671 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal p 25872 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada II II Cap II p 48 73 Cf TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio p 87

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203180

Fernando Pessanha

cm de largura por 10 cm de altura que foi recolhido pelo South African Museum Na altura um arqueoacutelogo do South African Museum pensou tratar-se de inscriccedilatildeo funeraacuteria de D Lourenccedilo de Almeida um navega-dor portuguecircs que numa viagem de regresso ao reino desembarcou na Baiacutea do Saldanha em Dezembro de 1509 de modo a castigar uns indiacutege-nas Poreacutem acabou por falecer nesse recontro juntamente com muitos outros elementos da sua tripulaccedilatildeo o que levou o referido arqueoacutelogo a interpretar o achado como uma inscriccedilatildeo funeraacuteria

Entretanto em Janeiro de 1990 o Prof Eric Axelon comunicou agrave Comissatildeo Nacional para as Comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portu-gueses a descoberta da inscriccedilatildeo Axelon adiantava poder tratar-se de um artefacto representativo da passagem de Duarte de Meneses pela Cidade do Cabo em 1524 Poreacutem a leitura e interpretaccedilatildeo de Maacuterio Jorge Barroca assistente de Arqueologia Medieval da Universidade do Porto veio a invalidar as suposiccedilotildees de Axelon e do arqueoacutelogo do South African Museum De acordo com Maacuterio Jorge Barroca este do-cumento epigraacutefico refere-se a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ainda que o estado de conservaccedilatildeo desta inscriccedilatildeo dificulte a interpretaccedilatildeo do seu conteuacutedo74 Luiacutes Filipe Thomaz que tambeacutem abordou esta inscriccedilatildeo faz uma leitura ligeiramente diferente mas que concorda quanto ao essencial do conteuacutedo75 De resto eacute interessante notar que para aleacutem dos supra citados autores apenas encontraacutemos referecircncias a este do-cumento epigraacutefico em Luiacutes de Albuquerque76 Antoacutenio Pereira Cardo-so77 e Joseacute Manuel Garcia78

De modo geral a inscriccedilatildeo identificada na Cidade do Cabo vem de-monstrar efectivamente que Cristoacutevatildeo empreendeu a viagem de re-gresso ao reino em 1524 sendo provaacutevel que tenha partido de Cochim logo no iniacutecio do ano Sabemos que se encontrava no sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio No entanto e ainda que esta epiacutegrafe se apresente como um elemento de grande interesse para a reconstituiccedilatildeo do percurso de Cristoacutevatildeo continuamos sem saber o que teraacute feito e por onde teraacute nave-gado entre os iniacutecios de 1522 quando recebeu mantimentos para seguir

74 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo pp 17-1875 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 7976 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-

tos Vol II pp 727-72877 CARDOSO A provaacutevel viagem pp10-1978 GARCIA O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash

1555 Nordm 8 p 98

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 181

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

para Ormuz e os iniacutecios de 1524 quando partiu da Iacutendia para regressar a Portugal Teraacute ele permanecido todo esse tempo em Ormuz Ou teraacute dado continuidade agraves exploraccedilotildees que lhe tinham sido incumbidas pelo governador Diogo Lopes de Sequeira

6 Rendas mercecircs e distinccedilotildees

61 Tenccedilas recebidas

Referimos haacute pouco natildeo ser correcta a ideia de nada se saber sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila nos seis anos posteriores agrave expediccedilatildeo que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro De facto para aleacutem da inscri-ccedilatildeo encontrada na Cidade do Cabo e que atesta a passagem de Mendon-ccedila pelo sul de Aacutefrica tambeacutem existem alguns documentos acondiciona-dos no Arquivo Nacional da Torre do Tombo que revelam informaccedilotildees interessantes para o periacuteodo correspondente agrave sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e 1527 Satildeo exactamente esses documentos que nos datildeo conta das rendas mercecircs e distinccedilotildees com que este navegador foi agraciado

Sabemos que em 4 de Julho de 1526 por exemplo D Joatildeo III mandou o almoxarife de Aveiro dar a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ldquofidalgo da sua casardquo 50000 reacuteis de tenccedila que ficaria assentada na alfacircndega da cidade de Lisboa79 Seria esta uma tenccedila generosa A resposta a esta questatildeo le-vou-nos a comparar este valor com as tenccedilas auferidas pelos seus fami-liares e por outros navegadores seus contemporacircneos Foi nesse sentido que constataacutemos que o ceacutelebre navegador e cosmoacutegrafo Duarte Pacheco Pereira depois de inuacutemeros serviccedilos prestados agrave Coroa recebeu uma tenccedila anual de 50000 reais nesse mesmo ano de 152680 Tristatildeo da Cu-nha ceacutelebre navegador e comandante naval portuguecircs nomeado por D Manuel para primeiro governador da Iacutendia em 150581 e pai de Nuno da Cunha Governador da Iacutendia entre 1528 e 153882 recebeu 40000 reacuteis

79 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57 80 JB de C ldquoPereira Duarte Pachecordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol V pp 52-

54 COSME ldquoOs homens de ciecircnciardquo pp 91-9781 E S ldquoCunha Tristatildeo da (1460-1540)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol II p 260

Sobre Tristatildeo da Cunha veja-se tambeacutem CARVALHO ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Manuelinardquo pp 199-226

82 E S ldquoCunha Nuno da (1487-1539)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol II pp 258-259 Sobre Nuno da Cunha veja-se tambeacutem CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538)

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203182

Fernando Pessanha

de tenccedila no mesmo ano de 152683 Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo rece-beu uma tenccedila generosa ao voltar ao reino Talvez Note-se que o pai de Cristoacutevatildeo Diogo de Mendonccedila alcaide-mor de Mouratildeo recebia os mesmos 50000 reacuteis de tenccedila em 150184 e em 151485 valor que o irmatildeo de Cristoacutevatildeo Pedro de Mendonccedila passou a auferir ao herdar a alcaidaria de Mouratildeo em 151786

Para aleacutem dos 50000 reacuteis de tenccedila eacute o proacuteprio Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila a mandar Jacome Bentes receber de Joatildeo de Azambuja 200000 reacuteis em virtude da outra procuraccedilatildeo que o dito Mendonccedila tinha feito para receber dos almoxarifes de Setuacutebal Aveiro e Coimbra87 Refira-se a este respeito que ainda no mesmo ano ordenou D Joatildeo III que o almoxari-fe de Aveiro pagasse ao jaacute referido Tristatildeo da Cunha 100000 reacuteis para pagamento de 250000 reacuteis da sua tenccedila88 ou que Vasco da Gama ao re-gressar ao reino depois de descobrir o caminho mariacutetimo para a Iacutendia recebeu uma renda de 300000 reacuteis89 Vemos deste modo que os rendi-mentos auferidos por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aquando do seu regresso ao reino natildeo foram propriamente modestos quando comparados com os do primeiro governador da Iacutendia ou com os do navegador e cosmoacute-grafo Duarte Pacheco Pereira

Por fim surge-nos um documento datado de 13 de Abril de 1527 e que tem por tiacutetulo Estabelecimento que Fernando Rodrigues como procu-rador de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila fidalgo da Casa do Rei fez em Fernando Gomes para cobrar todas as tenccedilas e moradias do seu dito constituinte90 Repare-se que de acordo com Joatildeo de Barros Cristoacutevatildeo de Mendonccedila voltou a partir para o Oriente em Marccedilo de 1527 Vemos portanto que o referido documento eacute ligeiramente posterior agrave partida do navegador e que este deixou instruccedilotildees ao seu procurador para que algueacutem cobrasse todas as suas tenccedilas e moradias De resto a alusatildeo agraves ldquotenccedilas e moradi-

83 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 135 Nordm4584 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 13 fl60 ANTT Chancelaria de D Manuel I

liv 8 fl29v85 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 53 Nordm18286 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 10 fl53 Repare-se que a partir de 1523 Pe-

dro de Mendonccedila passou a receber apenas 30000 reacuteis ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 109 Nordm131 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 131 Nordm226

87 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 136 Nordm10288 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 135 Nordm4989 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 4 fl 37 COSME ldquoOs Navegadores ndash Vasco da

Gamardquo p 14990 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 141 Nordm91

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 183

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

asrdquo vem reforccedilar a ideia de que os serviccedilos prestados por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente foram bem recompensados pelo monarca portu-guecircs Resta-nos perceber que serviccedilos teratildeo justificado estas recompen-sas assim como aquelas a que de seguida aludiremos

62 A capitania de Ormuz

Para aleacutem dos rendimentos atraacutes referidos os serviccedilos prestados por Mendonccedila foram igualmente agraciados com a nomeaccedilatildeo para a ren-taacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz para onde partiu em Marccedilo de 152791 Natildeo deixa de ser interessante a alusatildeo que cronistas como Joatildeo de Barros ou Frei Luiacutes de Sousa fazem aos Braganccedilas no momento em que referem esta nova partida de Cristoacutevatildeo para a Iacutendia Com efeito eacute possiacutevel que o duque de Braganccedila jaacute tivesse ligaccedilotildees aos Mendon-ccedilas ainda que o casamento de D Jaime com D Joana de Mendonccedila soacute se tenha realizado em 1520 Teresa Lacerda levanta a hipoacutetese de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ter sido indigitado para o Conselho Reacutegio por influecircncia do duque de Braganccedila do mesmo modo como foi nomea-do para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 e para capitatildeo de Ormuz em 152792 De facto natildeo eacute impossiacutevel No entanto somos da opiniatildeo de que natildeo seraacute apenas D Joana a estar na origem de uma eventual ligaccedilatildeo de D Jaime aos Mendonccedilas como tambeacutem a participaccedilatildeo do seu pai ldquoDiogo de mendonccedila alcaide mor de Mouratildeordquo e de ldquoPero de Mendonccedila seu filhordquo na conquista de Azamor comandada pelo proacuteprio duque em 151393

De facto natildeo sabemos se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teraacute sido indigitado para o Conselho Reacutegio para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquer-que de 1519 ou para a capitania de Ormuz por influecircncia do duque de Braganccedila Seja como for parece-nos que o contexto social e familiar de Cristoacutevatildeo teraacute pesado no momento em que o monarca procedeu a tais nomeaccedilotildees Basta recordarmos que Afonso Furtado bisavocirc de Cristoacute-vatildeo tinha sido nomeado capitatildeo do mar por D Joatildeo I em 138594 Afonso

91 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada IV II Cap III p 73 Ver tambeacutem CORREIA Lendas Vol III Pt I Cap XVI p 182 SOUSA Anais Vol II IV Cap I p 1 SOUSA Asia Tomo I Pt IV Cap II p 256

92 LACERDA Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social p 112 nota 375

93 GOacuteIS Chronica III Cap XLVI p 367 GAYO Nobiliaacuterio p 5394 FREIRE Brasotildees Vol III pp 170-171

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203184

Fernando Pessanha

Furtado de Mendonccedila avocirc de Cristoacutevatildeo para aleacutem de capitatildeo-mor do mar95 aparece referido como escrivatildeo da feitoria de Sofala96 Pedro de Mendonccedila tio de Cristoacutevatildeo tinha comandado uma nau numa frota de 12 navios que em 1504 partiu para a Iacutendia para garantir a seguranccedila das rotas comerciais do oceano Iacutendico e controlar o governante hostil de Calecut97 Natildeo se pode portanto considerar que os Mendonccedilas seri-am marginais ao projecto de expansatildeo ultramarina quando Cristoacutevatildeo aparece nomeado para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 ou para a capitania de Ormuz que deteve entre 1527 e 1531 ou 1532 ano da sua morte

Chegando a este ponto vale a pena determo-nos brevemente de modo a compreendermos o que era Ormuz e o que representava esta capitania no contexto do Impeacuterio Portuguecircs no Oriente Antes de mais conveacutem recordarmos que Ormuz era um importantiacutessimo entreposto mercantil em virtude da sua privilegiada localizaccedilatildeo geograacutefica na en-trada do Golfo Peacutersico Com efeito com a segunda conquista de Ormuz por Afonso de Albuquerque em 1515 e a consequente imposiccedilatildeo de um protectorado a Coroa portuguesa passou a arrecadar uma parcela con-sideraacutevel das receitas aduaneiras da proacutespera ilha transformando-se Ormuz no epicentro das actividades portuguesas no Golfo Peacutersico e no mar da Araacutebia A acreditar-se nas fontes quinhentistas era tal o movi-mento e a intensidade no porto de Ormuz que natildeo era invulgar ali en-contrar mais de 200 navios carregados de mercadorias De entre as mais importantes mercadorias que passavam pela cidade destacavam-se os cavalos oriundos da Araacutebia e da Peacutersia com destino aos portos da cos-ta ocidental da Iacutendia de onde eram encaminhados para os potentados indianos entre os quais grassavam guerras endeacutemicas Mas outros pro-dutos aacuterabes e persas faziam a riqueza da esteacuteril ilha de Djarucircn como as alcatifas aacuterabes as peacuterolas de Bahareacutem os tapetes a seda e a prata da Peacutersia o salitre e o enxofre da proacutepria ilha ao lado de mercadorias menos nobres como os frutos secos ou os cereais Dadas as circunstacircn-cias natildeo seraacute de estranhar que ao longo de todo o seacutec XVI a alfacircndega de Ormuz se tenha destacado como a mais rentaacutevel de todo o Estado da Iacutendia logo a seguir agrave de Goa Por outras palavras a cidade gerava

95 FARIA Livro de Linhagens p 27296 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada I Pt I V Cap III97 MALDONADO Relaccedilatildeo das Naos e Armadas da Iacutendia p 16 ANTT Corpo Cronoloacutegi-

co Pt II maccedilo 9 Nordm 35

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 185

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

um volume de receitas tatildeo consideraacutevel que a capitania de Ormuz aca-bou por se transformar numa das mais apetecidas de todo o Impeacuterio no Oriente Vemos deste modo que a atribuiccedilatildeo desta capitania natildeo soacute era motivo de prestiacutegio para o capitatildeo nomeado como tambeacutem fonte de grande riqueza98

Natildeo podemos deixar de notar que as Deacutecadas da Aacutesia ao referir-se agrave nomeaccedilatildeo de Mendonccedila para a capitania de Ormuz natildeo refere quais-quer serviccedilos especiais que justifiquem a atribuiccedilatildeo de tal benesse Ar-mando Cortesatildeo que levantou a hipoacutetese de ter sido Mendonccedila o pri-meiro europeu a chegar agrave Austraacutelia foi um dos investigadores a sugerir que esta nomeaccedilatildeo se devesse aos serviccedilos prestados pelo navegador99 Poreacutem e tal como temos afirmado ao longo deste trabalho natildeo existe qualquer documento que assegure o ecircxito de Mendonccedila relativamente agrave viagem que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro Omis-satildeo que segundo Jaime Cortesatildeo foi consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo entatildeo vigente Luiacutes de Albuquerque ainda que contraacuterio agrave teoria da descoberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que ldquodeve a sua celebridade a uma expediccedilatildeo que natildeo fezrdquo100 estranha no entanto o facto de Diogo do Couto natildeo mencionar os serviccedilos especiais que estiveram na origem da nomeaccedilatildeo do navegador para a capitania de Ormuz101 Esta distinccedilatildeo torna-se ainda mais suspeita se tivermos em consideraccedilatildeo que uma nomeaccedilatildeo desta natureza implicaria em meacutedia 10 anos de serviccedilos no Oriente102 durante os quais era acumu-lada a experiecircncia necessaacuteria para o desempenho de uma capitania Como vimos natildeo foi esse o caso de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Aliaacutes as nomeaccedilotildees para as capitanias mais importantes e lucrativas como Or-muz Goa ou Malaca natildeo soacute eram atribuiacutedas em reconhecimento pelos vaacuterios anos de serviccedilo no Oriente como tambeacutem recaiacuteam tendencial-mente sobre nobres com uma maior presenccedila na corte o que tambeacutem

98 LOUREIRO ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 pp 749-797 JPC ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 833-836

99 CORTESAcircO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158100 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo p 727101 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol IV

p 258102 Andreia Martins de Carvalho determinou os anos de serviccedilo de fidalgos no Oriente

antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania entre 1518 e 1544 CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 211 Foi nesse sentido que tendo em conta a infor-maccedilatildeo disponiacutevel sobre o percurso de 37 fidalgos estabelecemos a meacutedia de anos relativos a serviccedilos no Oriente antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203186

Fernando Pessanha

natildeo era o caso de Mendonccedila Ora se o navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro como explicar tatildeo generoso honroso e rentaacutevel reconhecimento Isto claro para aleacutem das compensaccedilotildees econoacutemicas atraacutes referidas e da entrega da comenda da Ordem de Cris-to que de seguida abordaremos De resto a capitania de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ficou marcada por episoacutedios dignos de registo como o au-xiacutelio prestado agrave frota de Simatildeo da Cunha assolada por uma epidemia contraiacuteda na campanha contra a ilha de Bahareacutem103 Refira-se aliaacutes que foi sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que recaiu a responsabilidade de escolher um agente para realizar a ceacutelebre missatildeo de espionagem que constituiu a viagem por terra de Ormuz a Portugal protagonizada por Antoacutenio Tenreiro entre Setembro de 1528 e Maio de 1529 - viagem cuja narrativa constitui um notaacutevel documento histoacuterico de natureza geograacutefica religiosa e antropoloacutegica104

63 A comenda da vila de Arenilha

Tal como anteriormente referimos deparaacutemo-nos com dois documen-tos que chamaram a nossa atenccedilatildeo aquando da investigaccedilatildeo para o ar-tigo ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo Trata-se de duas cartas em que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece referido como comendador da vila de Arenilha O primeiro documento data de 29 de Dezembro de 1529 e tem por tiacutetulo Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bregantim missiva em que o comendador de Arenilha culpa o marquecircs de Ayamonte pelos danos causados nas barcas dos habitantes da vila no-meadamente no referido bergantim chegando mesmo a mandar ldquopagar as barcas e () as perdas que receberam os donos delas e asy o dano que se fez na Arenilhardquo e mandar o marquecircs prender os responsaacuteveis que se encontrem nas suas terras105 Como se pode perceber o tom da missiva natildeo resulta propriamente abonatoacuterio para o nobre espanhol

103 SOUSA Anais Vol II IV Cap XXII p 106104 Como recompensa pelos serviccedilos prestados Antoacutenio Tenreiro recebeu da Coroa em

1533 uma tenccedila anual de 30000 reacuteis e o haacutebito de cavaleiro da Ordem de Cristo Ver TENREIRO amp AFONSO Viagens por terra da Iacutendia a Portugal p 18 RL ldquoTenreiro Antoacuteniordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II p 1023

105 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 Nordm45

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 187

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig1 - Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua

Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do

marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

Fig 1

Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o

marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203188

Fernando Pessanha

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig2 - Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar

creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Arenilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada destinada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila assim como o seu

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesahelliprdquo pp 86-82

Fig 2

Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao

comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Are-nilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada desti-nada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesardquo pp 86-82

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 189

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacute-vatildeo de Mendonccedila assim como o seu percurso como capitatildeo nas armadas da Iacutendia acreditamos encontrar-nos em condiccedilotildees para demonstrarmos que a comenda de Arenilha foi efectivamente atribuiacuteda ao navegador como reconhecimento pelos serviccedilos prestados no Oriente

Com efeito satildeo vaacuterios os indicadores que nos levam a afirmaacute-lo Em primeiro lugar o facto de natildeo se encontrar nas croacutenicas nem nas fontes coevas qualquer referecircncia a um homoacutenimo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a balizagem cronoloacutegica compreendida entre 1514 e 1532 periacuteodo em que aparece referido na documentaccedilatildeo Aliaacutes as da-tas discriminadas nos documentos que o referem como comendador de Arenilha corroboram a ideia de esta comenda ter sido atribuiacuteda aquando do seu regresso ao reino Eacute certo que natildeo sabemos a data em que Cristoacutevatildeo teraacute chegado a Portugal ainda que tenhamos notiacutecia da sua passagem pelo sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio de 1524 durante a viagem de regresso108 Poreacutem as tenccedilas atraacutes mencionadas indicam que se encontrava no reino em 1526 Uma vez que os documentos que o referem como comendador da vila da foz do Guadiana remontam a Dezembro de 1529 e Maio de 1530 anos em que o navegador jaacute se encontrava no Oriente eacute de supor que D Joatildeo III lhe teraacute atribuiacutedo a comenda aquando da sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e Marccedilo de 1527 ano em que voltou a partir para a Iacutendia jaacute na qualida-de de capitatildeo de Ormuz

Uma vez que natildeo se verificam homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila para a balizagem cronoloacutegica atraacutes referida e que as datas dos docu-mentos que o referem como comendador de Arenilha satildeo ligeiramente posteriores ao seu regresso ao reino resta-nos determinar se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila reunia as condiccedilotildees necessaacuterias para ser agraciado com uma comenda desta natureza Antes de mais importa referir que a vila de Arenilha e de Castro Marim eram as duas uacutenicas comendas da Ordem de Cristo no Algarve Curiosamente Isabel L Morgado de Sousa e Silva natildeo refere a comenda de Arenilha na dissertaccedilatildeo para doutoramento

108 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo Oceanos Nordm4 pp 17-18 ALBU-QUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 727-728 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 79

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203190

Fernando Pessanha

A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521)109 Poreacutem o documento publicado por Hugo Cavaco natildeo deixa margem para duacutevidas

ldquoNo Bispado do Algarve haacute somente duas Commendas da Ordem (de

Cristo) que satildeo das antigas e as seguintes

A Commenda e Alcaideria-moacuter de Castro Marim avaliou-se em quatro-

centos e cinquenta mil reacuteis no anno de 1608

A Commenda da Alcaideria-mograver de Santo Antonio de Arenilha que estaacute

junto a Castro Marim em cento e trinta mil reacuteis no anno de 1608

No Bispado do Algarve natildeo haacute nenhuma Commenda desta Ordem mais

que as duas velhas que valem quinhentos e oitenta mil reacuteis como se vecirc

da somma adianterdquo110

Aliaacutes soacute o facto de Arenilha ser comenda da Ordem de Cristo poderaacute explicar que o senhorio da vila tenha sido atribuiacutedo exclusivamente a cavaleiros da miliacutecia ao longo de toda a centuacuteria quinhentista111

Naturalmente que estas comendas implicavam desde logo a existecircn-cia de comendadores sobre os quais recaiacutea o senhorio das ditas vilas o que era compreendido como motivo de honra e de prestiacutegio social numa sociedade ainda bastante influenciada pelas antigas tradiccedilotildees medievo-feudais Comendas refira-se que compreendiam o direito agrave administra-ccedilatildeo da localidade e conferiam uma renda para sustentaccedilatildeo do comenda-dor beneficiaacuterio configurando um recurso para os encargos da proacutepria comenda No entanto a atribuiccedilatildeo de uma comenda representava um benefiacutecio atribuiacutedo a cavaleiros professos nas ordens militares como re-compensa por serviccedilos prestados Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Men-donccedila soacute poderia ser agraciado com a comenda de Arenilha caso tivesse sido investido na Ordem de Cristo Foi nesse sentido que procuraacutemos determinar se este navegador professou nesta Ordem Militar

Com efeito a dissertaccedilatildeo Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) de Joatildeo Maria Falcatildeo Pestana de Vascon-celos natildeo faz qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila enquanto cavaleiro da Ordem de Cristo Refere no entanto o seu avocirc Afonso Fur-

109 SILVA A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta110 Documento VIII BNLMicroformas F5040 Documento publicado por CAVACO Revisi-

tando p 52111 Cf PESSANHA Os 500 anos pp 57-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 191

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

tado de Mendonccedila comendador de Cardiga da Ordem de Cristo112 a sua irmatilde Margarida de Mendonccedila enquanto mulher de um comendador da mesma Ordem e o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo que recebeu o haacutebito da miliacutecia em 16 de Abril de 1514113 Ain-da que a referida dissertaccedilatildeo natildeo faccedila qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo enquanto membro desta Ordem vem demonstrar a ligaccedilatildeo de alguns dos seus familiares agrave mesma natildeo soacute na qualidade de cavaleiros como tambeacutem de comendadores

Poreacutem Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social de Teresa Lacerda assim como a jaacute referida tese A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) de Isabel L Morgado de Sousa e Silva jaacute identificam efectivamente Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como frei cavaleiro desta Ordem114 De acordo com a obra consultada Cavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVI Cristoacutevatildeo de Mendonccedila recebeu efectivamente o haacutebito da Ordem de Cristo em 16 de Abril de 1514115 exactamente na mesma data em que o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila tambeacutem foi in-vestido116 De resto o facto de Cristoacutevatildeo aparecer referido como mem-bro da miliacutecia numa provisatildeo em que D Joatildeo III manda o almoxarife de Aveiro pagar ldquoa Cristoacutevatildeo de Mendonccedila sua tenccedila deste ano 50000 reacuteis assentada na alfacircndega de Lisboa com o haacutebito de Cristordquo117 vem dissipar qualquer duacutevida que ainda subsistisse

Note-se que identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como cavaleiro da Ordem de Cristo natildeo pudemos deixar de reparar no silecircncio dos cronistas no momento de identificar os intervenientes no processo ex-pansionista com as suas respectivas filiaccedilotildees nas Ordens Militares De facto quer Joatildeo de Barros quer os cronistas que lhe sucederam natildeo fazem qualquer referecircncia agrave filiaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo em qualquer Ordem tal como de acordo com o que constataacutemos raramente o fazem em relaccedilatildeo a outros cavaleiros Esta evidecircncia pode parecer ainda mais estranha se tivermos em consideraccedilatildeo o forte envolvimento da Ordem

112 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Vol I p 377 FARIA Livro de Linhagens p 275

113 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares p 392 114 LACERDA Os Capitatildees das Armadas pp 120 e 228 SILVA A Ordem de Cristo p 336

SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma perspectiva de estudordquo apecircndice

115 FARIA ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo p 21116 FARIA ldquoCavaleirosrdquo p 21 Ver tambeacutem SILVA A Ordem de Cristo p 330117 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203192

Fernando Pessanha

de Cristo na Histoacuteria da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses Ordem Militar sublinhe-se que teve como governadores figuras in-contornaacuteveis da famiacutelia real como o infante D Henrique o infante D Fernando o rei D Manuel ou o rei D Joatildeo III118 Poreacutem haacute que ter em consideraccedilatildeo que documentos como Memoacuteria das Armadas ou o Livro de Lisuarte de Abreu natildeo satildeo fontes sobre qualquer uma das Ordens razatildeo pela qual se torna compreensiacutevel a ausecircncia de referecircncias mais completas relativamente aos intervenientes no processo de expansatildeo Aliaacutes a intenccedilatildeo subjacente agrave produccedilatildeo de obras como Histoacuteria do Des-cobrimento e da Conquista da Iacutendia natildeo passa por apresentar informa-ccedilatildeo detalhada sobre as individualidades que participaram no processo expansionista mas antes destacar o protagonismo reacutegio em todo este processo119

Por fim natildeo se verificando homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a cronologia abordada coincidindo as datas que o referem como comendador de Arenilha e identificado este navegador como cavalei-ro da Ordem de Cristo resta-nos perceber por que motivo lhe teraacute sido entregue a comenda desta vila na foz do Guadiana Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo que a fundaccedilatildeo de Are-nilha prende-se com a afirmaccedilatildeo da soberania poliacutetica e administra-tiva de D Manuel sobre um territoacuterio frequentado por castelhanos Eacute exactamente nesse contexto que em 1421 Castro Marim justificava o pedido de isenccedilatildeo de alguns encargos pelos ldquoconstantes trabalhos que os moradores tinham com os castelhanos que insistiam em vir pescar ao reinordquo120 Quer isto dizer que os castelhanos vinham pescar para as margens portuguesas natildeo pagando os devidos impostos agrave Coroa Aliaacutes a existecircncia do topoacutenimo de origem castelhana Arenilha121 ainda antes da elaboraccedilatildeo da Carta de Privileacutegio que manda proceder agrave construccedilatildeo

118 FONSECA ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo pp 321-347 Ver tambeacutem SILVA A Or-dem de Cristo pp 43-110

119 Cf SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristordquo pp 349-361120 VENTURA ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo p 608

ANTT Chancelaria de D Afonso V liv 2 fl30121 De acordo com o dicionaacuterio da Real Academia Espantildeola ldquoarenillardquo apresenta-se como

sinoacutenimo de ldquoarena menudardquo Ver Dicionario de la Real Academia Espantildeola Disponiacutevel em httplemaraeesdraeval=arenilla ndash Consultado dia 10 de Setembro de 2013 Note-se que quando em 1775 se pretendeu baptizar a nova vila iluminista com o nome de Vila Real de Santo Antoacutenio de Arenilha prontamente o Marquecircs de Pombal proibiu a utilizaccedilatildeo do nome ldquoArenilhardquo alegando que ldquoeacute uma palavra hespanhola e Villa Real uma povoaccedilatildeo portuguesardquo Ver OLIVEIRA Monografia p 71

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 193

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

da vila122 indica a ocupaccedilatildeo daquele areal na margem portuguesa da foz do Guadiana por populaccedilotildees de pescadores de origem castelhana Dadas as circunstacircncias seria do interesse estrateacutegico do monarca que esta comenda recaiacutesse sobre algueacutem experimentado na guarda da fronteira e que fizesse cumprir o pagamento dos devidos direitos aduaneiros Re-corde-se que Arenilha para aleacutem de comenda da Ordem de Cristo era uma vila de fronteira situada na margem portuguesa do Guadiana tal como o era a vila de Mouratildeo de onde Cristoacutevatildeo de Mendonccedila era natu-ral Como anteriormente referimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Men-donccedila o fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo que foi nomeado em 1476 alcaide-mor de Mouratildeo123 uma vila fortificada do Alentejo que guarda-va a fronteira portuguesa frente a Espanha O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas mostra-nos o castelo de Mouratildeo onde Cristoacutevatildeo teraacute crescido localizado no cimo de uma colina sobranceiro ao Guadiana124 Quer isto dizer que o ceacutelebre navegador era descendente de uma famiacutelia experimentada na guarda da fronteira face ao reino vizinho e familia-rizado com as actividades militares tributaacuterias e administrativas que lhe eram inerentes125 Assim sendo esta condiccedilatildeo de fronteiro a juntar ao facto de Cristoacutevatildeo ser cavaleiro da Ordem de Cristo teraacute resultado altamente pertinente no momento em que D Joatildeo III decidiu atribuir a comenda de Arenilha a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como recompensa pelos serviccedilos prestados

Por fim mas natildeo menos relevante teraacute sido a experiecircncia naval e militar adquirida por Mendonccedila nos mares do Oriente e direccionada para a foz do Guadiana sistematicamente ameaccedilada pelos ataques da pi-rataria magrebina126 Recorde-se que Mendonccedila no decurso das suas na-vegaccedilotildees na australaacutesia viu-se na necessidade de defender posiccedilotildees por-

122 O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas produzido por volta de 1509 jaacute indicava o topoacutenimo que veio a ser oficializado com a Carta de Privileacutegio de 12 de Fevereiro de 1513 Ver ARMAS O Livro das Fortalezas fl 1

123 FREIRE Brasotildees Vol III p 173124 ANTT Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Livro das Fortalezas si-

tuadas no Extremo de Portugal e Castela por Duarte de Armas escudeiro da Casa do Rei D Manuel I Nordm 159 fls 13-14 ARMAS O Livro das Fortalezas fls 13-14

125 Refira-se que foi durante o periacuteodo em que o pai de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila deteve a alcaidaria de Mouratildeo que o rei D Manuel obteve dos povos nas cortes de Lisboa de 1502 uma vultosa contribuiccedilatildeo que fez com que o castelo da vila fosse intervenciona-do por dois importantes arquitectos reacutegios os irmatildeos Francisco e Diogo de Arruda os mestres das obras reacutegias da comarca de entre o Tejo e o Guadiana Ver FARIA ldquoForti-ficaccedilotildees de Portugal na fronteira da Estremadura espanholardquo p 161

126 Sobre este assunto veja-se PESSANHA ldquoAtaques da piratariardquo pp 63-94

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203194

Fernando Pessanha

tuguesas dando combate aos adversaacuterios Recordemos a este respeito o ataque movido por Melique Ladil agrave fortaleza de Paceacutem entatildeo guardada por Mendonccedila e a maneira como o ldquomourordquo foi desbaratado e despo-jado das treze embarcaccedilotildees usadas no assalto127 Dadas as circunstacircnci-as seria um desperdiacutecio natildeo se aproveitar a experiecircncia deste capitatildeo numa altura em que se verificava um incremento da actividade piraacutetica nas costas do Algarve Esta actividade da pirataria na foz do Guadiana eacute aliaacutes referida por Bernardo Rodrigues em vaacuterias ocasiotildees nomeada-mente aquando da estadia da condessa de Redondo na vila de Arenilha em 1522128 ou quando Vasco Fernandes Ceacutesar - antigo adaiacutel de Azamor e capitatildeo da Armada do Estreito129 - foi incumbido embarcar o conde do Redondo D Joatildeo Coutinho na vila de Arenilha e escoltaacute-lo a Arzila130 Refira-se que a caminho da foz do Guadiana o navio de Vasco Fernan-des Ceacutesar foi atacado por duas naus tendo-se seguido um combate naval que resultou na explosatildeo de parte da alcaacuteccedilova atirando cinco homens ao mar entre os quais Vasco Fernandes que ficou gravemente ferido131

Vemos deste modo que a entrega da comenda de Arenilha a um in-diviacuteduo como Cristoacutevatildeo de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo descendente de uma famiacutelia de fronteiros e navegador experimentado no combate naval natildeo soacute era altamente pertinente como simboacutelica e manifestamente estrateacutegica para a defesa do extremo sudeste algarvio e da foz do Guadiana onde Mendonccedila deveria actuar com autoridade se-nhorial usufruindo dos seus bens e rendimentos E no caso da comenda de Arenilha Seriam generosos os seus rendimentos Sem duacutevida Se assim natildeo fosse o rei D Duarte natildeo teria doado ao infante D Henrique ainda em 25 de Setembro de 1433 a ldquodiacutesima nova de todo o pescado que pescarem quaisquer pessoas no mar do Monte Gordordquo132 Aliaacutes seraacute certa-

127 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III pp548-549128 RODRIGUES Anais de Arzila Tomo I Cap XC p 373129 GOacuteIS Chronica IV Cap LVII p 552 Sobre a Armada do Estreito veja-se GODINHO

ldquoA armada do estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo pp117-137130 RODRIGUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 PESSANHA Subsiacutedios p 100131 Segundo Bernardo Rodrigues os sobreviventes portugueses por pouco natildeo foram

executados Os que sobreviveram ao combate foram aprisionados e levados para Di-eppe Vasco Fernandes apesar de ferido acabou por escapar do cativeiro desfiando uma esteira e escapando por ela da torre onde se encontrava aprisionado RODRI-GUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 Ver tambeacutem PISSARRA ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Armada do Estreitordquo pp 144-145

132 SERRAtildeO Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fundaccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) p 65 OLIVEIRA Monografia p 73

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 195

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

mente o motivo econoacutemico que jaacute em 1555 estaraacute na origem da disputa pelo senhorio de Arenilha entre Jeroacutenimo de Melo fidalgo da Casa Real e alcaide-mor de Castro Marim e Luiacutes Leite frei cavaleiro da Ordem de Cristo e filho de Antoacutenio Leite o anterior alcaide133

Relativamente agrave defesa sabemos que Arenilha natildeo possuiacutea castelo torre ou qualquer fortificaccedilatildeo digna de registo ateacute 1542-1547 periacuteodo em que o alcaide Antoacutenio Leite daacute-nos conta das ldquotramqueyras e repai-rosrdquo construiacutedos sob o seu comando para a populaccedilatildeo se defender dos ataques da pirataria moura134 Ainda assim Mendonccedila estava obrigado a zelar pela defesa da vila independentemente de esta ter ou natildeo for-tificaccedilotildees para a proteger Se tivermos em consideraccedilatildeo que a sua no-meaccedilatildeo como comendador o obrigava agrave realizaccedilatildeo de um inventaacuterio ao patrimoacutenio da comenda (infelizmente desconhecido) e ao dever de fixar residecircncia na sua aacuterea de governo135 eacute muito provaacutevel que Cristoacutevatildeo se tenha detido durante algum tempo na vila da foz do Guadiana algures entre finais de 1524 aquando da sua chegada ao reino136 e Marccedilo de 1527 quando voltou a partir para o Oriente

Como anteriormente referimos os comendadores deviam fixar-se nas suas comendas para melhor procederem agrave sua defesa e melhor ren-tabilizarem as mesmas Assim sendo como eacute possiacutevel que os documen-tos que referem Cristoacutevatildeo como comendador de Arenilha sejam relati-vos aos anos em que este se encontrava na capitania de Ormuz Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo de que a principal obrigaccedilatildeo dos cavaleiros da Ordem de Cristo era a luta contra os inimigos da feacute devendo estar prontos para a guerra sempre que o Mestre os convocasse Uma vez que as situaccedilotildees de guerra eram cons-tantes nos territoacuterios de aleacutem-mar onde a presenccedila dos cavaleiros da Ordem se tornava necessaacuteria natildeo eacute de admirar que estes fossem dispen-sados da exigecircncia que os obrigava a permanecer nas suas comendas137

133 CAVACO Revisitando pp 18-20 PESSANHA Os 500 anos pp 72-73134 Carta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava

atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras e que era necessaacute-rio enviar-lhe socorro ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos p 99 PINTO ldquoIacutendice Analiacuteticordquo p 267

135 Cf SILVA A Ordem de Cristo pp 189-190136 Uma vez que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila se encontrava na Aacutefrica do Sul em Marccedilo ou Maio

de 1524 eacute de supor que a sua chegada ao reino se tenha dado ainda no mesmo ano137 SILVA A Ordem de Cristo p 191

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203196

Fernando Pessanha

Eacute nesse sentido que encontramos Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comen-dador de Arenilha em 1529 e 1530 anos em que jaacute se encontrava como capitatildeo na fortaleza de Ormuz De resto era nesta fortaleza que ainda se encontrava em 1531 ano em que piratas de Larache atacaram a vila da foz do Guadiana ldquoonde fizeacuteratildeo muito dano em navios que tomaacuteratildeo e den-tro da Barra de Aiamonte fizeacuteratildeo despejar a Arrinilha e a Montegordordquo138

7 Conclusatildeo

Com efeito muito se tem escrito (e especulado) sobre a alegada des-coberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila No entanto e indepen-dentemente dos resultados alcanccedilados pelo navegador nesta expediccedilatildeo parece indiscutiacutevel que foi generosamente recompensado aquando do seu regresso ao reino Resta-nos perceber porquecirc Jaacute Armando Cortesatildeo muito antes de Peter Trickett tinha levantado a hipoacutetese de a rentaacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz ter sido entregue a Mendonccedila como re-compensa pelos serviccedilos prestados na expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro139 Natildeo eacute conhecido poreacutem qualquer documento que ateste o ecircxito do navegador nesta expediccedilatildeo Omissatildeo que segundo investigadores como Armando Cortesatildeo Damiatildeo Peres ou Jaime Cortesatildeo teraacute sido consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo determinada pelas limitaccedilotildees de navega-ccedilatildeo estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas e com o contencioso entre Portugal e Espanha pela posse das Molucas140

O certo eacute que Mendonccedila ao regressar ao reino foi agraciado com uma das capitanias mais rentaacuteveis do impeacuterio no Oriente para aleacutem de ter recebido compensaccedilotildees econoacutemicas e aparecer referido em 1529 e 1530 como comendador da vila de Arenilha na foz do Guadiana Refira-se a este respeito que muitos capitatildees cavaleiros da Ordem de Cristo se lanccedilaram no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Poreacutem mui-to poucos chegaram a obter as tatildeo almejadas comendas141 Vemos deste

138 RODRIGUES Anais Tomo II Cap XXXV p 209139 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158140 CORTESAtildeO A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e

de D Joatildeo II Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 65-66 PERES ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na Histoacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II pp 17-21

141 Entre os afortunados que lograram obter este tipo de rendimento contam-se muito poucos D Joatildeo Pereira D Pedro de Castelo Branco Nuno Furtado Simatildeo Guedes entre outros Ver CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 216

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 197

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

modo que a atribuiccedilatildeo da comenda de Arenilha significou um motivo de grande honra e prestiacutegio para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Ora se este navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro resta-nos perceber porque motivo teraacute sido agraciado com compensaccedilotildees eco-noacutemicas a nomeaccedilatildeo para uma das mais rentaacuteveis capitanias de todo o Impeacuterio no Oriente e uma honrosa comenda da Ordem de Cristo Eacute caso para dizer que a problemaacutetica em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila con-tinua a levantar muitas duacutevidas e poucas certezas

Fontes e Bibliografia

1 Arquivos

ANTT

Chancelaria de D Afonso V Livro 2 fl30

Chancelaria de D Manuel I Livro 4 fl37 Livro 8 fl 29v Livro 9 fl4v Livro 10 fl53 Livro 13 fl60 Livro 37 fl64

Chancelaria de D Joatildeo III Livro 12 fl62

Chancelaria da Ordem de Cristo Livro13 fls375 vndash 379v

Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1

Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 15 Nordm47 Pt I maccedilo 44 Nordm45 Pt I maccedilo 45 Nordm9

Pt II maccedilo 51 Nordm26 Pt II maccedilo 53 Nordm182 Pt II maccedilo 93 Nordm150 Pt II maccedilo 109 Nordm131 Pt II maccedilo 131 Nordm226 Pt II maccedilo 134 Nordm57 Pt II maccedilo 135 Nordm45 Pt II maccedilo 135 Nordm49 Pt II maccedilo 136 Nordm102 Pt II maccedilo 141 Nordm91

Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Nordm159

Casa Real Cartoacuterio da Nobreza Livro Nordm20 - Livro da Nobreza e da per-feiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal fl XII

2 Fontes Impressas

ABREU Lisuarte de Livro de Lisuarte de Abreu (Reproduccedilatildeo do manuscrito existente na Perpont Morgan Library de Nova York) Comissatildeo Nacional para as comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portugueses Lisboa 1992

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203198

Fernando Pessanha

ARMAS Duarte de Livro das Fortalezas Arquivo Nacional da Torre do TomboInapa Lisboa 1997

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada III Na Regia Officina Typografica Lisboa MDCCLXXVII

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada IV Imprensa Nacional Casa da Moe-da Lisboa 2001

BORGES Joseacute Calvatildeo Borges Livro do Armeiro-Mor Academia Portugue-sa de HistoacuteriaEdiccedilotildees Inapa Lisboa 2000

CASCAtildeO Joatildeo ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevorardquo Uma Jornada ao Alentejo e ao Algarve A altera-ccedilatildeo das linhas de forccedila da poliacutetica nacional Livros Horizonte Lisboa 1984 pp 77-136

CASTANHEDA Fernatildeo Lopes de Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses 2 vols Lello amp Irmatildeos Editores Porto 1979

CORREIA Gaspar Lendas da Iacutendia Tomo III na Typographia da Acade-mia Real das Sciencias Lisboa 1862

Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI Centro de Estudos Histoacutericos Ultramarinos Lis-boa 1969

GAYO Felgueiras Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX Ediccedilatildeo de Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Arauacutejo Affonso Braga 1939

GUEDES Liacutevio da Costa Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) Arquivo Histoacuterico Militar Lisboa 1988

GOacuteIS Damiatildeo de Chonica do Serenissimo Senhor Rei D Manoel Lisboa 1749

JOSEacute Frei Joatildeo de Satildeo ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 21-132

RODRIGUES Bernardo Anais de Arzila 2 vols Academia das Sciecircncias de Lisboa Lisboa 1915-1919

SARRAtildeO Henrique Fernandes ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 133-174

SOUSA Frei Luiacutes de Anais de D Joatildeo III 2 vols Saacute da Costa Lisboa 1928

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 199

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

SOUSA Manuel de Faria e Asia Portvgvesa Officina de Henrique Valen-te de Oliveira impressor del Rey NS Lisboa 1666

TENREIRO Antoacutenio amp AFONSO Mestre Viagens por terra da Iacutendia a Por-tugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica Mem-Martins 1991

3 Estudos

ALBUQUERQUE Luiacutes de (dir) Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-tos Portugueses 2 vols Ciacuterculos de Leitores Lisboa 1994

ALMEIDA Fortunato de Histoacuteria de Portugal Vols III-VII Promoclube Lisboa sd

CARDOSO Antoacutenio Pereira A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila agrave Austraacutelia em 1522 Academia da Marinha Lisboa 1994

CARVALHO Andreia Martins de ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Ma-nuelinardquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia ndash Actas do Coloacutequio Internacional Joatildeo Paulo Oliveira e Costa amp Viacutetor Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 199-226

CARVALHO Andreia Martins de Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria dos Descobrimen-tos e da Expansatildeo Portuguesa (seacuteculos XV-XVIII) apresentado agrave UNL Lisboa 2006

CAVACO Hugo ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio (Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Arte no Algarve) Cacircmara Muni-cipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1987

CAVACO Hugo Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha Cacircmara Munici-pal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1995

CORREIA Joseacute Eduardo Horta Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina Faup Publicaccedilotildees Porto 1997

CORREIA Joseacute Eduardo Horta O Algarve em Patrimoacutenio Gente Singular Editora Olhatildeo 2010

CORTESAtildeO Armando ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Aus-tralaacutesia Macau Japatildeo)rdquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939

CORTESAtildeO Jaime ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal (Dir Damiatildeo Peres) Vol IV Portucalense Editora Barce-los 1932 pp 9-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203200

Fernando Pessanha

CORTESAtildeO Jaime A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e de D Joatildeo II Lisboa 1960

COSME Joatildeo ldquoOs homens de ciecircnciardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 91-97

COSME Joatildeo ldquoOs Navegadores ndash Vasco da Gamardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 145-152

COSTA Joatildeo Paulo Oliveira e ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo A Nobreza e a Expansatildeo Estudos Biograacuteficos Joatildeo Paulo Oliveira e Costa (coord) Patrimoacutenia Cascais 2000 pp 11-51

DOMINGUES Francisco Contente ldquoOs portugueses descobriram a Aus-traacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Si-motildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Univer-sidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 163-172

DOMINGUES Francisco Contente Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 Circulo dos Leitores Lisboa 2016

FARIA Antoacutenio Machado de Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI Acade-mia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 1956

FARIA Antoacutenio Machado de ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo Separata da revista Arqueologia e Histoacuteria vol VI Lisboa 1955

FARIA Miguel Figueira de ldquoFortificaccedilotildees de Portugal na fronteira da Es-tremadura espanholardquo Anais ndash Seacuterie Histoacuteria Vol II Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 1995 pp 156-187

FONSECA Luiacutes Adatildeo da ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo A Alta No-breza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 322-347

FREIRE Anselmo Braamcamp Brasotildees da Sala de Sintra 3 vols Impren-sa da Universidade de Coimbra Coimbra 1921-1930

GARCIA Joseacute Manuel Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII QuidNovi Lisboa 2009

GARCIA Joseacute Manuel O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash 1555 Nordm 8 QuidNovi Vila do Conde 2012

GODINHO Rui Landeiro ldquoA Armada do Estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (Seacuteculos XV-XIX) Ediccedilotildees Cul-turais da Marinha Lisboa 2003 pp 117-137

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 15: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 179

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

para Paceacutem enquanto a nau Satildeo Cristoacutevatildeo apenas os recebeu em 10 de Janeiro de 1522 para depois seguir para Ormuz70 Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila natildeo teraacute tido tempo suficiente para chegar agrave Ilha do Ouro nesse ano de 1521 Pelo menos eacute o que podemos depreen-der quando Joatildeo de Barros refere a permanecircncia de Cristoacutevatildeo em Men-donccedila no auxiacutelio agrave construccedilatildeo da fortaleza de Paceacutem

Natildeo encontramos portanto elementos nas Deacutecadas da Aacutesia que nos permitam afirmar que este navegador portuguecircs teraacute prosseguido via-gem para o sul de Samatra e encontrado a miacutetica Ilha do Ouro identi-ficada com a Austraacutelia Ainda assim tecircm sido vaacuterios os historiadores nomeadamente Armando Cortesatildeo a defenderem natildeo haver motivo para se duvidar de que Cristoacutevatildeo teraacute seguido com a exploraccedilatildeo de que fora incumbido no ano seguinte aproveitando a monccedilatildeo do princiacutepio de 1522 Note-se que o proacuteprio Luiacutes de Albuquerque ainda que aves-so a esta teoria natildeo deixa de estranhar o facto de as Deacutecadas da Aacutesia natildeo referirem quais os serviccedilos especiais prestados por Mendonccedila que justifiquem a sua nomeaccedilatildeo para a rentaacutevel e apeteciacutevel capitania de Ormuz71 ldquotam viccediloacutesa e abastaacuteda q dizem os moradores della q o Mundo eacute hu aneacutel e Ormuz hua pedra precioacutesa engastaacuteda nellerdquo72 Como a seguir veremos a nomeaccedilatildeo para a capitania de Ormuz natildeo foi a uacutenica benesse com que o navegador foi agraciado apoacutes o seu regresso ao reino

52 A viagem de regresso ao reino

Segundo Trickett nada se sabe sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila nos seis anos posteriores agrave expediccedilatildeo que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro73 Como veremos esta ideia natildeo corresponde agrave realidade Sabe-se por exemplo que depois de o navegador ter estado em Ormuz e na Iacutendia regressou a Portugal em 1524 tendo-se detido em Marccedilo ou Maio desse ano na aguada de Saldanha na actual Aacutefrica do Sul tal como ficou atestado numa inscriccedilatildeo que aiacute foi encontrada

Com efeito decorria o ano de 1989 quando foi identificada uma ins-criccedilatildeo portuguesa em Golden Acre no sopeacute de Adderley Street na Cida-de do Cabo Desta inscriccedilatildeo fracturada sobreviveu um fragmento com 25

70 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 7671 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal p 25872 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada II II Cap II p 48 73 Cf TRICKETT Para Aleacutem de Capricoacuternio p 87

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203180

Fernando Pessanha

cm de largura por 10 cm de altura que foi recolhido pelo South African Museum Na altura um arqueoacutelogo do South African Museum pensou tratar-se de inscriccedilatildeo funeraacuteria de D Lourenccedilo de Almeida um navega-dor portuguecircs que numa viagem de regresso ao reino desembarcou na Baiacutea do Saldanha em Dezembro de 1509 de modo a castigar uns indiacutege-nas Poreacutem acabou por falecer nesse recontro juntamente com muitos outros elementos da sua tripulaccedilatildeo o que levou o referido arqueoacutelogo a interpretar o achado como uma inscriccedilatildeo funeraacuteria

Entretanto em Janeiro de 1990 o Prof Eric Axelon comunicou agrave Comissatildeo Nacional para as Comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portu-gueses a descoberta da inscriccedilatildeo Axelon adiantava poder tratar-se de um artefacto representativo da passagem de Duarte de Meneses pela Cidade do Cabo em 1524 Poreacutem a leitura e interpretaccedilatildeo de Maacuterio Jorge Barroca assistente de Arqueologia Medieval da Universidade do Porto veio a invalidar as suposiccedilotildees de Axelon e do arqueoacutelogo do South African Museum De acordo com Maacuterio Jorge Barroca este do-cumento epigraacutefico refere-se a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ainda que o estado de conservaccedilatildeo desta inscriccedilatildeo dificulte a interpretaccedilatildeo do seu conteuacutedo74 Luiacutes Filipe Thomaz que tambeacutem abordou esta inscriccedilatildeo faz uma leitura ligeiramente diferente mas que concorda quanto ao essencial do conteuacutedo75 De resto eacute interessante notar que para aleacutem dos supra citados autores apenas encontraacutemos referecircncias a este do-cumento epigraacutefico em Luiacutes de Albuquerque76 Antoacutenio Pereira Cardo-so77 e Joseacute Manuel Garcia78

De modo geral a inscriccedilatildeo identificada na Cidade do Cabo vem de-monstrar efectivamente que Cristoacutevatildeo empreendeu a viagem de re-gresso ao reino em 1524 sendo provaacutevel que tenha partido de Cochim logo no iniacutecio do ano Sabemos que se encontrava no sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio No entanto e ainda que esta epiacutegrafe se apresente como um elemento de grande interesse para a reconstituiccedilatildeo do percurso de Cristoacutevatildeo continuamos sem saber o que teraacute feito e por onde teraacute nave-gado entre os iniacutecios de 1522 quando recebeu mantimentos para seguir

74 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo pp 17-1875 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 7976 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-

tos Vol II pp 727-72877 CARDOSO A provaacutevel viagem pp10-1978 GARCIA O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash

1555 Nordm 8 p 98

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 181

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

para Ormuz e os iniacutecios de 1524 quando partiu da Iacutendia para regressar a Portugal Teraacute ele permanecido todo esse tempo em Ormuz Ou teraacute dado continuidade agraves exploraccedilotildees que lhe tinham sido incumbidas pelo governador Diogo Lopes de Sequeira

6 Rendas mercecircs e distinccedilotildees

61 Tenccedilas recebidas

Referimos haacute pouco natildeo ser correcta a ideia de nada se saber sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila nos seis anos posteriores agrave expediccedilatildeo que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro De facto para aleacutem da inscri-ccedilatildeo encontrada na Cidade do Cabo e que atesta a passagem de Mendon-ccedila pelo sul de Aacutefrica tambeacutem existem alguns documentos acondiciona-dos no Arquivo Nacional da Torre do Tombo que revelam informaccedilotildees interessantes para o periacuteodo correspondente agrave sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e 1527 Satildeo exactamente esses documentos que nos datildeo conta das rendas mercecircs e distinccedilotildees com que este navegador foi agraciado

Sabemos que em 4 de Julho de 1526 por exemplo D Joatildeo III mandou o almoxarife de Aveiro dar a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ldquofidalgo da sua casardquo 50000 reacuteis de tenccedila que ficaria assentada na alfacircndega da cidade de Lisboa79 Seria esta uma tenccedila generosa A resposta a esta questatildeo le-vou-nos a comparar este valor com as tenccedilas auferidas pelos seus fami-liares e por outros navegadores seus contemporacircneos Foi nesse sentido que constataacutemos que o ceacutelebre navegador e cosmoacutegrafo Duarte Pacheco Pereira depois de inuacutemeros serviccedilos prestados agrave Coroa recebeu uma tenccedila anual de 50000 reais nesse mesmo ano de 152680 Tristatildeo da Cu-nha ceacutelebre navegador e comandante naval portuguecircs nomeado por D Manuel para primeiro governador da Iacutendia em 150581 e pai de Nuno da Cunha Governador da Iacutendia entre 1528 e 153882 recebeu 40000 reacuteis

79 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57 80 JB de C ldquoPereira Duarte Pachecordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol V pp 52-

54 COSME ldquoOs homens de ciecircnciardquo pp 91-9781 E S ldquoCunha Tristatildeo da (1460-1540)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol II p 260

Sobre Tristatildeo da Cunha veja-se tambeacutem CARVALHO ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Manuelinardquo pp 199-226

82 E S ldquoCunha Nuno da (1487-1539)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol II pp 258-259 Sobre Nuno da Cunha veja-se tambeacutem CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538)

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203182

Fernando Pessanha

de tenccedila no mesmo ano de 152683 Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo rece-beu uma tenccedila generosa ao voltar ao reino Talvez Note-se que o pai de Cristoacutevatildeo Diogo de Mendonccedila alcaide-mor de Mouratildeo recebia os mesmos 50000 reacuteis de tenccedila em 150184 e em 151485 valor que o irmatildeo de Cristoacutevatildeo Pedro de Mendonccedila passou a auferir ao herdar a alcaidaria de Mouratildeo em 151786

Para aleacutem dos 50000 reacuteis de tenccedila eacute o proacuteprio Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila a mandar Jacome Bentes receber de Joatildeo de Azambuja 200000 reacuteis em virtude da outra procuraccedilatildeo que o dito Mendonccedila tinha feito para receber dos almoxarifes de Setuacutebal Aveiro e Coimbra87 Refira-se a este respeito que ainda no mesmo ano ordenou D Joatildeo III que o almoxari-fe de Aveiro pagasse ao jaacute referido Tristatildeo da Cunha 100000 reacuteis para pagamento de 250000 reacuteis da sua tenccedila88 ou que Vasco da Gama ao re-gressar ao reino depois de descobrir o caminho mariacutetimo para a Iacutendia recebeu uma renda de 300000 reacuteis89 Vemos deste modo que os rendi-mentos auferidos por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aquando do seu regresso ao reino natildeo foram propriamente modestos quando comparados com os do primeiro governador da Iacutendia ou com os do navegador e cosmoacute-grafo Duarte Pacheco Pereira

Por fim surge-nos um documento datado de 13 de Abril de 1527 e que tem por tiacutetulo Estabelecimento que Fernando Rodrigues como procu-rador de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila fidalgo da Casa do Rei fez em Fernando Gomes para cobrar todas as tenccedilas e moradias do seu dito constituinte90 Repare-se que de acordo com Joatildeo de Barros Cristoacutevatildeo de Mendonccedila voltou a partir para o Oriente em Marccedilo de 1527 Vemos portanto que o referido documento eacute ligeiramente posterior agrave partida do navegador e que este deixou instruccedilotildees ao seu procurador para que algueacutem cobrasse todas as suas tenccedilas e moradias De resto a alusatildeo agraves ldquotenccedilas e moradi-

83 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 135 Nordm4584 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 13 fl60 ANTT Chancelaria de D Manuel I

liv 8 fl29v85 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 53 Nordm18286 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 10 fl53 Repare-se que a partir de 1523 Pe-

dro de Mendonccedila passou a receber apenas 30000 reacuteis ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 109 Nordm131 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 131 Nordm226

87 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 136 Nordm10288 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 135 Nordm4989 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 4 fl 37 COSME ldquoOs Navegadores ndash Vasco da

Gamardquo p 14990 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 141 Nordm91

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 183

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

asrdquo vem reforccedilar a ideia de que os serviccedilos prestados por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente foram bem recompensados pelo monarca portu-guecircs Resta-nos perceber que serviccedilos teratildeo justificado estas recompen-sas assim como aquelas a que de seguida aludiremos

62 A capitania de Ormuz

Para aleacutem dos rendimentos atraacutes referidos os serviccedilos prestados por Mendonccedila foram igualmente agraciados com a nomeaccedilatildeo para a ren-taacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz para onde partiu em Marccedilo de 152791 Natildeo deixa de ser interessante a alusatildeo que cronistas como Joatildeo de Barros ou Frei Luiacutes de Sousa fazem aos Braganccedilas no momento em que referem esta nova partida de Cristoacutevatildeo para a Iacutendia Com efeito eacute possiacutevel que o duque de Braganccedila jaacute tivesse ligaccedilotildees aos Mendon-ccedilas ainda que o casamento de D Jaime com D Joana de Mendonccedila soacute se tenha realizado em 1520 Teresa Lacerda levanta a hipoacutetese de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ter sido indigitado para o Conselho Reacutegio por influecircncia do duque de Braganccedila do mesmo modo como foi nomea-do para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 e para capitatildeo de Ormuz em 152792 De facto natildeo eacute impossiacutevel No entanto somos da opiniatildeo de que natildeo seraacute apenas D Joana a estar na origem de uma eventual ligaccedilatildeo de D Jaime aos Mendonccedilas como tambeacutem a participaccedilatildeo do seu pai ldquoDiogo de mendonccedila alcaide mor de Mouratildeordquo e de ldquoPero de Mendonccedila seu filhordquo na conquista de Azamor comandada pelo proacuteprio duque em 151393

De facto natildeo sabemos se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teraacute sido indigitado para o Conselho Reacutegio para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquer-que de 1519 ou para a capitania de Ormuz por influecircncia do duque de Braganccedila Seja como for parece-nos que o contexto social e familiar de Cristoacutevatildeo teraacute pesado no momento em que o monarca procedeu a tais nomeaccedilotildees Basta recordarmos que Afonso Furtado bisavocirc de Cristoacute-vatildeo tinha sido nomeado capitatildeo do mar por D Joatildeo I em 138594 Afonso

91 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada IV II Cap III p 73 Ver tambeacutem CORREIA Lendas Vol III Pt I Cap XVI p 182 SOUSA Anais Vol II IV Cap I p 1 SOUSA Asia Tomo I Pt IV Cap II p 256

92 LACERDA Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social p 112 nota 375

93 GOacuteIS Chronica III Cap XLVI p 367 GAYO Nobiliaacuterio p 5394 FREIRE Brasotildees Vol III pp 170-171

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203184

Fernando Pessanha

Furtado de Mendonccedila avocirc de Cristoacutevatildeo para aleacutem de capitatildeo-mor do mar95 aparece referido como escrivatildeo da feitoria de Sofala96 Pedro de Mendonccedila tio de Cristoacutevatildeo tinha comandado uma nau numa frota de 12 navios que em 1504 partiu para a Iacutendia para garantir a seguranccedila das rotas comerciais do oceano Iacutendico e controlar o governante hostil de Calecut97 Natildeo se pode portanto considerar que os Mendonccedilas seri-am marginais ao projecto de expansatildeo ultramarina quando Cristoacutevatildeo aparece nomeado para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 ou para a capitania de Ormuz que deteve entre 1527 e 1531 ou 1532 ano da sua morte

Chegando a este ponto vale a pena determo-nos brevemente de modo a compreendermos o que era Ormuz e o que representava esta capitania no contexto do Impeacuterio Portuguecircs no Oriente Antes de mais conveacutem recordarmos que Ormuz era um importantiacutessimo entreposto mercantil em virtude da sua privilegiada localizaccedilatildeo geograacutefica na en-trada do Golfo Peacutersico Com efeito com a segunda conquista de Ormuz por Afonso de Albuquerque em 1515 e a consequente imposiccedilatildeo de um protectorado a Coroa portuguesa passou a arrecadar uma parcela con-sideraacutevel das receitas aduaneiras da proacutespera ilha transformando-se Ormuz no epicentro das actividades portuguesas no Golfo Peacutersico e no mar da Araacutebia A acreditar-se nas fontes quinhentistas era tal o movi-mento e a intensidade no porto de Ormuz que natildeo era invulgar ali en-contrar mais de 200 navios carregados de mercadorias De entre as mais importantes mercadorias que passavam pela cidade destacavam-se os cavalos oriundos da Araacutebia e da Peacutersia com destino aos portos da cos-ta ocidental da Iacutendia de onde eram encaminhados para os potentados indianos entre os quais grassavam guerras endeacutemicas Mas outros pro-dutos aacuterabes e persas faziam a riqueza da esteacuteril ilha de Djarucircn como as alcatifas aacuterabes as peacuterolas de Bahareacutem os tapetes a seda e a prata da Peacutersia o salitre e o enxofre da proacutepria ilha ao lado de mercadorias menos nobres como os frutos secos ou os cereais Dadas as circunstacircn-cias natildeo seraacute de estranhar que ao longo de todo o seacutec XVI a alfacircndega de Ormuz se tenha destacado como a mais rentaacutevel de todo o Estado da Iacutendia logo a seguir agrave de Goa Por outras palavras a cidade gerava

95 FARIA Livro de Linhagens p 27296 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada I Pt I V Cap III97 MALDONADO Relaccedilatildeo das Naos e Armadas da Iacutendia p 16 ANTT Corpo Cronoloacutegi-

co Pt II maccedilo 9 Nordm 35

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 185

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

um volume de receitas tatildeo consideraacutevel que a capitania de Ormuz aca-bou por se transformar numa das mais apetecidas de todo o Impeacuterio no Oriente Vemos deste modo que a atribuiccedilatildeo desta capitania natildeo soacute era motivo de prestiacutegio para o capitatildeo nomeado como tambeacutem fonte de grande riqueza98

Natildeo podemos deixar de notar que as Deacutecadas da Aacutesia ao referir-se agrave nomeaccedilatildeo de Mendonccedila para a capitania de Ormuz natildeo refere quais-quer serviccedilos especiais que justifiquem a atribuiccedilatildeo de tal benesse Ar-mando Cortesatildeo que levantou a hipoacutetese de ter sido Mendonccedila o pri-meiro europeu a chegar agrave Austraacutelia foi um dos investigadores a sugerir que esta nomeaccedilatildeo se devesse aos serviccedilos prestados pelo navegador99 Poreacutem e tal como temos afirmado ao longo deste trabalho natildeo existe qualquer documento que assegure o ecircxito de Mendonccedila relativamente agrave viagem que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro Omis-satildeo que segundo Jaime Cortesatildeo foi consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo entatildeo vigente Luiacutes de Albuquerque ainda que contraacuterio agrave teoria da descoberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que ldquodeve a sua celebridade a uma expediccedilatildeo que natildeo fezrdquo100 estranha no entanto o facto de Diogo do Couto natildeo mencionar os serviccedilos especiais que estiveram na origem da nomeaccedilatildeo do navegador para a capitania de Ormuz101 Esta distinccedilatildeo torna-se ainda mais suspeita se tivermos em consideraccedilatildeo que uma nomeaccedilatildeo desta natureza implicaria em meacutedia 10 anos de serviccedilos no Oriente102 durante os quais era acumu-lada a experiecircncia necessaacuteria para o desempenho de uma capitania Como vimos natildeo foi esse o caso de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Aliaacutes as nomeaccedilotildees para as capitanias mais importantes e lucrativas como Or-muz Goa ou Malaca natildeo soacute eram atribuiacutedas em reconhecimento pelos vaacuterios anos de serviccedilo no Oriente como tambeacutem recaiacuteam tendencial-mente sobre nobres com uma maior presenccedila na corte o que tambeacutem

98 LOUREIRO ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 pp 749-797 JPC ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 833-836

99 CORTESAcircO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158100 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo p 727101 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol IV

p 258102 Andreia Martins de Carvalho determinou os anos de serviccedilo de fidalgos no Oriente

antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania entre 1518 e 1544 CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 211 Foi nesse sentido que tendo em conta a infor-maccedilatildeo disponiacutevel sobre o percurso de 37 fidalgos estabelecemos a meacutedia de anos relativos a serviccedilos no Oriente antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203186

Fernando Pessanha

natildeo era o caso de Mendonccedila Ora se o navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro como explicar tatildeo generoso honroso e rentaacutevel reconhecimento Isto claro para aleacutem das compensaccedilotildees econoacutemicas atraacutes referidas e da entrega da comenda da Ordem de Cris-to que de seguida abordaremos De resto a capitania de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ficou marcada por episoacutedios dignos de registo como o au-xiacutelio prestado agrave frota de Simatildeo da Cunha assolada por uma epidemia contraiacuteda na campanha contra a ilha de Bahareacutem103 Refira-se aliaacutes que foi sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que recaiu a responsabilidade de escolher um agente para realizar a ceacutelebre missatildeo de espionagem que constituiu a viagem por terra de Ormuz a Portugal protagonizada por Antoacutenio Tenreiro entre Setembro de 1528 e Maio de 1529 - viagem cuja narrativa constitui um notaacutevel documento histoacuterico de natureza geograacutefica religiosa e antropoloacutegica104

63 A comenda da vila de Arenilha

Tal como anteriormente referimos deparaacutemo-nos com dois documen-tos que chamaram a nossa atenccedilatildeo aquando da investigaccedilatildeo para o ar-tigo ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo Trata-se de duas cartas em que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece referido como comendador da vila de Arenilha O primeiro documento data de 29 de Dezembro de 1529 e tem por tiacutetulo Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bregantim missiva em que o comendador de Arenilha culpa o marquecircs de Ayamonte pelos danos causados nas barcas dos habitantes da vila no-meadamente no referido bergantim chegando mesmo a mandar ldquopagar as barcas e () as perdas que receberam os donos delas e asy o dano que se fez na Arenilhardquo e mandar o marquecircs prender os responsaacuteveis que se encontrem nas suas terras105 Como se pode perceber o tom da missiva natildeo resulta propriamente abonatoacuterio para o nobre espanhol

103 SOUSA Anais Vol II IV Cap XXII p 106104 Como recompensa pelos serviccedilos prestados Antoacutenio Tenreiro recebeu da Coroa em

1533 uma tenccedila anual de 30000 reacuteis e o haacutebito de cavaleiro da Ordem de Cristo Ver TENREIRO amp AFONSO Viagens por terra da Iacutendia a Portugal p 18 RL ldquoTenreiro Antoacuteniordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II p 1023

105 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 Nordm45

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 187

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig1 - Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua

Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do

marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

Fig 1

Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o

marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203188

Fernando Pessanha

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig2 - Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar

creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Arenilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada destinada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila assim como o seu

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesahelliprdquo pp 86-82

Fig 2

Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao

comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Are-nilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada desti-nada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesardquo pp 86-82

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 189

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacute-vatildeo de Mendonccedila assim como o seu percurso como capitatildeo nas armadas da Iacutendia acreditamos encontrar-nos em condiccedilotildees para demonstrarmos que a comenda de Arenilha foi efectivamente atribuiacuteda ao navegador como reconhecimento pelos serviccedilos prestados no Oriente

Com efeito satildeo vaacuterios os indicadores que nos levam a afirmaacute-lo Em primeiro lugar o facto de natildeo se encontrar nas croacutenicas nem nas fontes coevas qualquer referecircncia a um homoacutenimo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a balizagem cronoloacutegica compreendida entre 1514 e 1532 periacuteodo em que aparece referido na documentaccedilatildeo Aliaacutes as da-tas discriminadas nos documentos que o referem como comendador de Arenilha corroboram a ideia de esta comenda ter sido atribuiacuteda aquando do seu regresso ao reino Eacute certo que natildeo sabemos a data em que Cristoacutevatildeo teraacute chegado a Portugal ainda que tenhamos notiacutecia da sua passagem pelo sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio de 1524 durante a viagem de regresso108 Poreacutem as tenccedilas atraacutes mencionadas indicam que se encontrava no reino em 1526 Uma vez que os documentos que o referem como comendador da vila da foz do Guadiana remontam a Dezembro de 1529 e Maio de 1530 anos em que o navegador jaacute se encontrava no Oriente eacute de supor que D Joatildeo III lhe teraacute atribuiacutedo a comenda aquando da sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e Marccedilo de 1527 ano em que voltou a partir para a Iacutendia jaacute na qualida-de de capitatildeo de Ormuz

Uma vez que natildeo se verificam homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila para a balizagem cronoloacutegica atraacutes referida e que as datas dos docu-mentos que o referem como comendador de Arenilha satildeo ligeiramente posteriores ao seu regresso ao reino resta-nos determinar se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila reunia as condiccedilotildees necessaacuterias para ser agraciado com uma comenda desta natureza Antes de mais importa referir que a vila de Arenilha e de Castro Marim eram as duas uacutenicas comendas da Ordem de Cristo no Algarve Curiosamente Isabel L Morgado de Sousa e Silva natildeo refere a comenda de Arenilha na dissertaccedilatildeo para doutoramento

108 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo Oceanos Nordm4 pp 17-18 ALBU-QUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 727-728 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 79

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203190

Fernando Pessanha

A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521)109 Poreacutem o documento publicado por Hugo Cavaco natildeo deixa margem para duacutevidas

ldquoNo Bispado do Algarve haacute somente duas Commendas da Ordem (de

Cristo) que satildeo das antigas e as seguintes

A Commenda e Alcaideria-moacuter de Castro Marim avaliou-se em quatro-

centos e cinquenta mil reacuteis no anno de 1608

A Commenda da Alcaideria-mograver de Santo Antonio de Arenilha que estaacute

junto a Castro Marim em cento e trinta mil reacuteis no anno de 1608

No Bispado do Algarve natildeo haacute nenhuma Commenda desta Ordem mais

que as duas velhas que valem quinhentos e oitenta mil reacuteis como se vecirc

da somma adianterdquo110

Aliaacutes soacute o facto de Arenilha ser comenda da Ordem de Cristo poderaacute explicar que o senhorio da vila tenha sido atribuiacutedo exclusivamente a cavaleiros da miliacutecia ao longo de toda a centuacuteria quinhentista111

Naturalmente que estas comendas implicavam desde logo a existecircn-cia de comendadores sobre os quais recaiacutea o senhorio das ditas vilas o que era compreendido como motivo de honra e de prestiacutegio social numa sociedade ainda bastante influenciada pelas antigas tradiccedilotildees medievo-feudais Comendas refira-se que compreendiam o direito agrave administra-ccedilatildeo da localidade e conferiam uma renda para sustentaccedilatildeo do comenda-dor beneficiaacuterio configurando um recurso para os encargos da proacutepria comenda No entanto a atribuiccedilatildeo de uma comenda representava um benefiacutecio atribuiacutedo a cavaleiros professos nas ordens militares como re-compensa por serviccedilos prestados Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Men-donccedila soacute poderia ser agraciado com a comenda de Arenilha caso tivesse sido investido na Ordem de Cristo Foi nesse sentido que procuraacutemos determinar se este navegador professou nesta Ordem Militar

Com efeito a dissertaccedilatildeo Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) de Joatildeo Maria Falcatildeo Pestana de Vascon-celos natildeo faz qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila enquanto cavaleiro da Ordem de Cristo Refere no entanto o seu avocirc Afonso Fur-

109 SILVA A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta110 Documento VIII BNLMicroformas F5040 Documento publicado por CAVACO Revisi-

tando p 52111 Cf PESSANHA Os 500 anos pp 57-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 191

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

tado de Mendonccedila comendador de Cardiga da Ordem de Cristo112 a sua irmatilde Margarida de Mendonccedila enquanto mulher de um comendador da mesma Ordem e o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo que recebeu o haacutebito da miliacutecia em 16 de Abril de 1514113 Ain-da que a referida dissertaccedilatildeo natildeo faccedila qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo enquanto membro desta Ordem vem demonstrar a ligaccedilatildeo de alguns dos seus familiares agrave mesma natildeo soacute na qualidade de cavaleiros como tambeacutem de comendadores

Poreacutem Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social de Teresa Lacerda assim como a jaacute referida tese A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) de Isabel L Morgado de Sousa e Silva jaacute identificam efectivamente Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como frei cavaleiro desta Ordem114 De acordo com a obra consultada Cavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVI Cristoacutevatildeo de Mendonccedila recebeu efectivamente o haacutebito da Ordem de Cristo em 16 de Abril de 1514115 exactamente na mesma data em que o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila tambeacutem foi in-vestido116 De resto o facto de Cristoacutevatildeo aparecer referido como mem-bro da miliacutecia numa provisatildeo em que D Joatildeo III manda o almoxarife de Aveiro pagar ldquoa Cristoacutevatildeo de Mendonccedila sua tenccedila deste ano 50000 reacuteis assentada na alfacircndega de Lisboa com o haacutebito de Cristordquo117 vem dissipar qualquer duacutevida que ainda subsistisse

Note-se que identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como cavaleiro da Ordem de Cristo natildeo pudemos deixar de reparar no silecircncio dos cronistas no momento de identificar os intervenientes no processo ex-pansionista com as suas respectivas filiaccedilotildees nas Ordens Militares De facto quer Joatildeo de Barros quer os cronistas que lhe sucederam natildeo fazem qualquer referecircncia agrave filiaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo em qualquer Ordem tal como de acordo com o que constataacutemos raramente o fazem em relaccedilatildeo a outros cavaleiros Esta evidecircncia pode parecer ainda mais estranha se tivermos em consideraccedilatildeo o forte envolvimento da Ordem

112 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Vol I p 377 FARIA Livro de Linhagens p 275

113 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares p 392 114 LACERDA Os Capitatildees das Armadas pp 120 e 228 SILVA A Ordem de Cristo p 336

SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma perspectiva de estudordquo apecircndice

115 FARIA ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo p 21116 FARIA ldquoCavaleirosrdquo p 21 Ver tambeacutem SILVA A Ordem de Cristo p 330117 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203192

Fernando Pessanha

de Cristo na Histoacuteria da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses Ordem Militar sublinhe-se que teve como governadores figuras in-contornaacuteveis da famiacutelia real como o infante D Henrique o infante D Fernando o rei D Manuel ou o rei D Joatildeo III118 Poreacutem haacute que ter em consideraccedilatildeo que documentos como Memoacuteria das Armadas ou o Livro de Lisuarte de Abreu natildeo satildeo fontes sobre qualquer uma das Ordens razatildeo pela qual se torna compreensiacutevel a ausecircncia de referecircncias mais completas relativamente aos intervenientes no processo de expansatildeo Aliaacutes a intenccedilatildeo subjacente agrave produccedilatildeo de obras como Histoacuteria do Des-cobrimento e da Conquista da Iacutendia natildeo passa por apresentar informa-ccedilatildeo detalhada sobre as individualidades que participaram no processo expansionista mas antes destacar o protagonismo reacutegio em todo este processo119

Por fim natildeo se verificando homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a cronologia abordada coincidindo as datas que o referem como comendador de Arenilha e identificado este navegador como cavalei-ro da Ordem de Cristo resta-nos perceber por que motivo lhe teraacute sido entregue a comenda desta vila na foz do Guadiana Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo que a fundaccedilatildeo de Are-nilha prende-se com a afirmaccedilatildeo da soberania poliacutetica e administra-tiva de D Manuel sobre um territoacuterio frequentado por castelhanos Eacute exactamente nesse contexto que em 1421 Castro Marim justificava o pedido de isenccedilatildeo de alguns encargos pelos ldquoconstantes trabalhos que os moradores tinham com os castelhanos que insistiam em vir pescar ao reinordquo120 Quer isto dizer que os castelhanos vinham pescar para as margens portuguesas natildeo pagando os devidos impostos agrave Coroa Aliaacutes a existecircncia do topoacutenimo de origem castelhana Arenilha121 ainda antes da elaboraccedilatildeo da Carta de Privileacutegio que manda proceder agrave construccedilatildeo

118 FONSECA ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo pp 321-347 Ver tambeacutem SILVA A Or-dem de Cristo pp 43-110

119 Cf SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristordquo pp 349-361120 VENTURA ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo p 608

ANTT Chancelaria de D Afonso V liv 2 fl30121 De acordo com o dicionaacuterio da Real Academia Espantildeola ldquoarenillardquo apresenta-se como

sinoacutenimo de ldquoarena menudardquo Ver Dicionario de la Real Academia Espantildeola Disponiacutevel em httplemaraeesdraeval=arenilla ndash Consultado dia 10 de Setembro de 2013 Note-se que quando em 1775 se pretendeu baptizar a nova vila iluminista com o nome de Vila Real de Santo Antoacutenio de Arenilha prontamente o Marquecircs de Pombal proibiu a utilizaccedilatildeo do nome ldquoArenilhardquo alegando que ldquoeacute uma palavra hespanhola e Villa Real uma povoaccedilatildeo portuguesardquo Ver OLIVEIRA Monografia p 71

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 193

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

da vila122 indica a ocupaccedilatildeo daquele areal na margem portuguesa da foz do Guadiana por populaccedilotildees de pescadores de origem castelhana Dadas as circunstacircncias seria do interesse estrateacutegico do monarca que esta comenda recaiacutesse sobre algueacutem experimentado na guarda da fronteira e que fizesse cumprir o pagamento dos devidos direitos aduaneiros Re-corde-se que Arenilha para aleacutem de comenda da Ordem de Cristo era uma vila de fronteira situada na margem portuguesa do Guadiana tal como o era a vila de Mouratildeo de onde Cristoacutevatildeo de Mendonccedila era natu-ral Como anteriormente referimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Men-donccedila o fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo que foi nomeado em 1476 alcaide-mor de Mouratildeo123 uma vila fortificada do Alentejo que guarda-va a fronteira portuguesa frente a Espanha O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas mostra-nos o castelo de Mouratildeo onde Cristoacutevatildeo teraacute crescido localizado no cimo de uma colina sobranceiro ao Guadiana124 Quer isto dizer que o ceacutelebre navegador era descendente de uma famiacutelia experimentada na guarda da fronteira face ao reino vizinho e familia-rizado com as actividades militares tributaacuterias e administrativas que lhe eram inerentes125 Assim sendo esta condiccedilatildeo de fronteiro a juntar ao facto de Cristoacutevatildeo ser cavaleiro da Ordem de Cristo teraacute resultado altamente pertinente no momento em que D Joatildeo III decidiu atribuir a comenda de Arenilha a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como recompensa pelos serviccedilos prestados

Por fim mas natildeo menos relevante teraacute sido a experiecircncia naval e militar adquirida por Mendonccedila nos mares do Oriente e direccionada para a foz do Guadiana sistematicamente ameaccedilada pelos ataques da pi-rataria magrebina126 Recorde-se que Mendonccedila no decurso das suas na-vegaccedilotildees na australaacutesia viu-se na necessidade de defender posiccedilotildees por-

122 O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas produzido por volta de 1509 jaacute indicava o topoacutenimo que veio a ser oficializado com a Carta de Privileacutegio de 12 de Fevereiro de 1513 Ver ARMAS O Livro das Fortalezas fl 1

123 FREIRE Brasotildees Vol III p 173124 ANTT Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Livro das Fortalezas si-

tuadas no Extremo de Portugal e Castela por Duarte de Armas escudeiro da Casa do Rei D Manuel I Nordm 159 fls 13-14 ARMAS O Livro das Fortalezas fls 13-14

125 Refira-se que foi durante o periacuteodo em que o pai de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila deteve a alcaidaria de Mouratildeo que o rei D Manuel obteve dos povos nas cortes de Lisboa de 1502 uma vultosa contribuiccedilatildeo que fez com que o castelo da vila fosse intervenciona-do por dois importantes arquitectos reacutegios os irmatildeos Francisco e Diogo de Arruda os mestres das obras reacutegias da comarca de entre o Tejo e o Guadiana Ver FARIA ldquoForti-ficaccedilotildees de Portugal na fronteira da Estremadura espanholardquo p 161

126 Sobre este assunto veja-se PESSANHA ldquoAtaques da piratariardquo pp 63-94

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203194

Fernando Pessanha

tuguesas dando combate aos adversaacuterios Recordemos a este respeito o ataque movido por Melique Ladil agrave fortaleza de Paceacutem entatildeo guardada por Mendonccedila e a maneira como o ldquomourordquo foi desbaratado e despo-jado das treze embarcaccedilotildees usadas no assalto127 Dadas as circunstacircnci-as seria um desperdiacutecio natildeo se aproveitar a experiecircncia deste capitatildeo numa altura em que se verificava um incremento da actividade piraacutetica nas costas do Algarve Esta actividade da pirataria na foz do Guadiana eacute aliaacutes referida por Bernardo Rodrigues em vaacuterias ocasiotildees nomeada-mente aquando da estadia da condessa de Redondo na vila de Arenilha em 1522128 ou quando Vasco Fernandes Ceacutesar - antigo adaiacutel de Azamor e capitatildeo da Armada do Estreito129 - foi incumbido embarcar o conde do Redondo D Joatildeo Coutinho na vila de Arenilha e escoltaacute-lo a Arzila130 Refira-se que a caminho da foz do Guadiana o navio de Vasco Fernan-des Ceacutesar foi atacado por duas naus tendo-se seguido um combate naval que resultou na explosatildeo de parte da alcaacuteccedilova atirando cinco homens ao mar entre os quais Vasco Fernandes que ficou gravemente ferido131

Vemos deste modo que a entrega da comenda de Arenilha a um in-diviacuteduo como Cristoacutevatildeo de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo descendente de uma famiacutelia de fronteiros e navegador experimentado no combate naval natildeo soacute era altamente pertinente como simboacutelica e manifestamente estrateacutegica para a defesa do extremo sudeste algarvio e da foz do Guadiana onde Mendonccedila deveria actuar com autoridade se-nhorial usufruindo dos seus bens e rendimentos E no caso da comenda de Arenilha Seriam generosos os seus rendimentos Sem duacutevida Se assim natildeo fosse o rei D Duarte natildeo teria doado ao infante D Henrique ainda em 25 de Setembro de 1433 a ldquodiacutesima nova de todo o pescado que pescarem quaisquer pessoas no mar do Monte Gordordquo132 Aliaacutes seraacute certa-

127 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III pp548-549128 RODRIGUES Anais de Arzila Tomo I Cap XC p 373129 GOacuteIS Chronica IV Cap LVII p 552 Sobre a Armada do Estreito veja-se GODINHO

ldquoA armada do estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo pp117-137130 RODRIGUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 PESSANHA Subsiacutedios p 100131 Segundo Bernardo Rodrigues os sobreviventes portugueses por pouco natildeo foram

executados Os que sobreviveram ao combate foram aprisionados e levados para Di-eppe Vasco Fernandes apesar de ferido acabou por escapar do cativeiro desfiando uma esteira e escapando por ela da torre onde se encontrava aprisionado RODRI-GUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 Ver tambeacutem PISSARRA ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Armada do Estreitordquo pp 144-145

132 SERRAtildeO Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fundaccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) p 65 OLIVEIRA Monografia p 73

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 195

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

mente o motivo econoacutemico que jaacute em 1555 estaraacute na origem da disputa pelo senhorio de Arenilha entre Jeroacutenimo de Melo fidalgo da Casa Real e alcaide-mor de Castro Marim e Luiacutes Leite frei cavaleiro da Ordem de Cristo e filho de Antoacutenio Leite o anterior alcaide133

Relativamente agrave defesa sabemos que Arenilha natildeo possuiacutea castelo torre ou qualquer fortificaccedilatildeo digna de registo ateacute 1542-1547 periacuteodo em que o alcaide Antoacutenio Leite daacute-nos conta das ldquotramqueyras e repai-rosrdquo construiacutedos sob o seu comando para a populaccedilatildeo se defender dos ataques da pirataria moura134 Ainda assim Mendonccedila estava obrigado a zelar pela defesa da vila independentemente de esta ter ou natildeo for-tificaccedilotildees para a proteger Se tivermos em consideraccedilatildeo que a sua no-meaccedilatildeo como comendador o obrigava agrave realizaccedilatildeo de um inventaacuterio ao patrimoacutenio da comenda (infelizmente desconhecido) e ao dever de fixar residecircncia na sua aacuterea de governo135 eacute muito provaacutevel que Cristoacutevatildeo se tenha detido durante algum tempo na vila da foz do Guadiana algures entre finais de 1524 aquando da sua chegada ao reino136 e Marccedilo de 1527 quando voltou a partir para o Oriente

Como anteriormente referimos os comendadores deviam fixar-se nas suas comendas para melhor procederem agrave sua defesa e melhor ren-tabilizarem as mesmas Assim sendo como eacute possiacutevel que os documen-tos que referem Cristoacutevatildeo como comendador de Arenilha sejam relati-vos aos anos em que este se encontrava na capitania de Ormuz Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo de que a principal obrigaccedilatildeo dos cavaleiros da Ordem de Cristo era a luta contra os inimigos da feacute devendo estar prontos para a guerra sempre que o Mestre os convocasse Uma vez que as situaccedilotildees de guerra eram cons-tantes nos territoacuterios de aleacutem-mar onde a presenccedila dos cavaleiros da Ordem se tornava necessaacuteria natildeo eacute de admirar que estes fossem dispen-sados da exigecircncia que os obrigava a permanecer nas suas comendas137

133 CAVACO Revisitando pp 18-20 PESSANHA Os 500 anos pp 72-73134 Carta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava

atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras e que era necessaacute-rio enviar-lhe socorro ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos p 99 PINTO ldquoIacutendice Analiacuteticordquo p 267

135 Cf SILVA A Ordem de Cristo pp 189-190136 Uma vez que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila se encontrava na Aacutefrica do Sul em Marccedilo ou Maio

de 1524 eacute de supor que a sua chegada ao reino se tenha dado ainda no mesmo ano137 SILVA A Ordem de Cristo p 191

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203196

Fernando Pessanha

Eacute nesse sentido que encontramos Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comen-dador de Arenilha em 1529 e 1530 anos em que jaacute se encontrava como capitatildeo na fortaleza de Ormuz De resto era nesta fortaleza que ainda se encontrava em 1531 ano em que piratas de Larache atacaram a vila da foz do Guadiana ldquoonde fizeacuteratildeo muito dano em navios que tomaacuteratildeo e den-tro da Barra de Aiamonte fizeacuteratildeo despejar a Arrinilha e a Montegordordquo138

7 Conclusatildeo

Com efeito muito se tem escrito (e especulado) sobre a alegada des-coberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila No entanto e indepen-dentemente dos resultados alcanccedilados pelo navegador nesta expediccedilatildeo parece indiscutiacutevel que foi generosamente recompensado aquando do seu regresso ao reino Resta-nos perceber porquecirc Jaacute Armando Cortesatildeo muito antes de Peter Trickett tinha levantado a hipoacutetese de a rentaacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz ter sido entregue a Mendonccedila como re-compensa pelos serviccedilos prestados na expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro139 Natildeo eacute conhecido poreacutem qualquer documento que ateste o ecircxito do navegador nesta expediccedilatildeo Omissatildeo que segundo investigadores como Armando Cortesatildeo Damiatildeo Peres ou Jaime Cortesatildeo teraacute sido consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo determinada pelas limitaccedilotildees de navega-ccedilatildeo estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas e com o contencioso entre Portugal e Espanha pela posse das Molucas140

O certo eacute que Mendonccedila ao regressar ao reino foi agraciado com uma das capitanias mais rentaacuteveis do impeacuterio no Oriente para aleacutem de ter recebido compensaccedilotildees econoacutemicas e aparecer referido em 1529 e 1530 como comendador da vila de Arenilha na foz do Guadiana Refira-se a este respeito que muitos capitatildees cavaleiros da Ordem de Cristo se lanccedilaram no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Poreacutem mui-to poucos chegaram a obter as tatildeo almejadas comendas141 Vemos deste

138 RODRIGUES Anais Tomo II Cap XXXV p 209139 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158140 CORTESAtildeO A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e

de D Joatildeo II Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 65-66 PERES ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na Histoacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II pp 17-21

141 Entre os afortunados que lograram obter este tipo de rendimento contam-se muito poucos D Joatildeo Pereira D Pedro de Castelo Branco Nuno Furtado Simatildeo Guedes entre outros Ver CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 216

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 197

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

modo que a atribuiccedilatildeo da comenda de Arenilha significou um motivo de grande honra e prestiacutegio para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Ora se este navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro resta-nos perceber porque motivo teraacute sido agraciado com compensaccedilotildees eco-noacutemicas a nomeaccedilatildeo para uma das mais rentaacuteveis capitanias de todo o Impeacuterio no Oriente e uma honrosa comenda da Ordem de Cristo Eacute caso para dizer que a problemaacutetica em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila con-tinua a levantar muitas duacutevidas e poucas certezas

Fontes e Bibliografia

1 Arquivos

ANTT

Chancelaria de D Afonso V Livro 2 fl30

Chancelaria de D Manuel I Livro 4 fl37 Livro 8 fl 29v Livro 9 fl4v Livro 10 fl53 Livro 13 fl60 Livro 37 fl64

Chancelaria de D Joatildeo III Livro 12 fl62

Chancelaria da Ordem de Cristo Livro13 fls375 vndash 379v

Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1

Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 15 Nordm47 Pt I maccedilo 44 Nordm45 Pt I maccedilo 45 Nordm9

Pt II maccedilo 51 Nordm26 Pt II maccedilo 53 Nordm182 Pt II maccedilo 93 Nordm150 Pt II maccedilo 109 Nordm131 Pt II maccedilo 131 Nordm226 Pt II maccedilo 134 Nordm57 Pt II maccedilo 135 Nordm45 Pt II maccedilo 135 Nordm49 Pt II maccedilo 136 Nordm102 Pt II maccedilo 141 Nordm91

Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Nordm159

Casa Real Cartoacuterio da Nobreza Livro Nordm20 - Livro da Nobreza e da per-feiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal fl XII

2 Fontes Impressas

ABREU Lisuarte de Livro de Lisuarte de Abreu (Reproduccedilatildeo do manuscrito existente na Perpont Morgan Library de Nova York) Comissatildeo Nacional para as comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portugueses Lisboa 1992

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203198

Fernando Pessanha

ARMAS Duarte de Livro das Fortalezas Arquivo Nacional da Torre do TomboInapa Lisboa 1997

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada III Na Regia Officina Typografica Lisboa MDCCLXXVII

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada IV Imprensa Nacional Casa da Moe-da Lisboa 2001

BORGES Joseacute Calvatildeo Borges Livro do Armeiro-Mor Academia Portugue-sa de HistoacuteriaEdiccedilotildees Inapa Lisboa 2000

CASCAtildeO Joatildeo ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevorardquo Uma Jornada ao Alentejo e ao Algarve A altera-ccedilatildeo das linhas de forccedila da poliacutetica nacional Livros Horizonte Lisboa 1984 pp 77-136

CASTANHEDA Fernatildeo Lopes de Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses 2 vols Lello amp Irmatildeos Editores Porto 1979

CORREIA Gaspar Lendas da Iacutendia Tomo III na Typographia da Acade-mia Real das Sciencias Lisboa 1862

Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI Centro de Estudos Histoacutericos Ultramarinos Lis-boa 1969

GAYO Felgueiras Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX Ediccedilatildeo de Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Arauacutejo Affonso Braga 1939

GUEDES Liacutevio da Costa Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) Arquivo Histoacuterico Militar Lisboa 1988

GOacuteIS Damiatildeo de Chonica do Serenissimo Senhor Rei D Manoel Lisboa 1749

JOSEacute Frei Joatildeo de Satildeo ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 21-132

RODRIGUES Bernardo Anais de Arzila 2 vols Academia das Sciecircncias de Lisboa Lisboa 1915-1919

SARRAtildeO Henrique Fernandes ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 133-174

SOUSA Frei Luiacutes de Anais de D Joatildeo III 2 vols Saacute da Costa Lisboa 1928

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 199

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

SOUSA Manuel de Faria e Asia Portvgvesa Officina de Henrique Valen-te de Oliveira impressor del Rey NS Lisboa 1666

TENREIRO Antoacutenio amp AFONSO Mestre Viagens por terra da Iacutendia a Por-tugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica Mem-Martins 1991

3 Estudos

ALBUQUERQUE Luiacutes de (dir) Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-tos Portugueses 2 vols Ciacuterculos de Leitores Lisboa 1994

ALMEIDA Fortunato de Histoacuteria de Portugal Vols III-VII Promoclube Lisboa sd

CARDOSO Antoacutenio Pereira A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila agrave Austraacutelia em 1522 Academia da Marinha Lisboa 1994

CARVALHO Andreia Martins de ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Ma-nuelinardquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia ndash Actas do Coloacutequio Internacional Joatildeo Paulo Oliveira e Costa amp Viacutetor Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 199-226

CARVALHO Andreia Martins de Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria dos Descobrimen-tos e da Expansatildeo Portuguesa (seacuteculos XV-XVIII) apresentado agrave UNL Lisboa 2006

CAVACO Hugo ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio (Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Arte no Algarve) Cacircmara Muni-cipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1987

CAVACO Hugo Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha Cacircmara Munici-pal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1995

CORREIA Joseacute Eduardo Horta Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina Faup Publicaccedilotildees Porto 1997

CORREIA Joseacute Eduardo Horta O Algarve em Patrimoacutenio Gente Singular Editora Olhatildeo 2010

CORTESAtildeO Armando ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Aus-tralaacutesia Macau Japatildeo)rdquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939

CORTESAtildeO Jaime ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal (Dir Damiatildeo Peres) Vol IV Portucalense Editora Barce-los 1932 pp 9-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203200

Fernando Pessanha

CORTESAtildeO Jaime A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e de D Joatildeo II Lisboa 1960

COSME Joatildeo ldquoOs homens de ciecircnciardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 91-97

COSME Joatildeo ldquoOs Navegadores ndash Vasco da Gamardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 145-152

COSTA Joatildeo Paulo Oliveira e ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo A Nobreza e a Expansatildeo Estudos Biograacuteficos Joatildeo Paulo Oliveira e Costa (coord) Patrimoacutenia Cascais 2000 pp 11-51

DOMINGUES Francisco Contente ldquoOs portugueses descobriram a Aus-traacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Si-motildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Univer-sidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 163-172

DOMINGUES Francisco Contente Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 Circulo dos Leitores Lisboa 2016

FARIA Antoacutenio Machado de Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI Acade-mia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 1956

FARIA Antoacutenio Machado de ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo Separata da revista Arqueologia e Histoacuteria vol VI Lisboa 1955

FARIA Miguel Figueira de ldquoFortificaccedilotildees de Portugal na fronteira da Es-tremadura espanholardquo Anais ndash Seacuterie Histoacuteria Vol II Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 1995 pp 156-187

FONSECA Luiacutes Adatildeo da ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo A Alta No-breza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 322-347

FREIRE Anselmo Braamcamp Brasotildees da Sala de Sintra 3 vols Impren-sa da Universidade de Coimbra Coimbra 1921-1930

GARCIA Joseacute Manuel Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII QuidNovi Lisboa 2009

GARCIA Joseacute Manuel O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash 1555 Nordm 8 QuidNovi Vila do Conde 2012

GODINHO Rui Landeiro ldquoA Armada do Estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (Seacuteculos XV-XIX) Ediccedilotildees Cul-turais da Marinha Lisboa 2003 pp 117-137

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 16: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203180

Fernando Pessanha

cm de largura por 10 cm de altura que foi recolhido pelo South African Museum Na altura um arqueoacutelogo do South African Museum pensou tratar-se de inscriccedilatildeo funeraacuteria de D Lourenccedilo de Almeida um navega-dor portuguecircs que numa viagem de regresso ao reino desembarcou na Baiacutea do Saldanha em Dezembro de 1509 de modo a castigar uns indiacutege-nas Poreacutem acabou por falecer nesse recontro juntamente com muitos outros elementos da sua tripulaccedilatildeo o que levou o referido arqueoacutelogo a interpretar o achado como uma inscriccedilatildeo funeraacuteria

Entretanto em Janeiro de 1990 o Prof Eric Axelon comunicou agrave Comissatildeo Nacional para as Comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portu-gueses a descoberta da inscriccedilatildeo Axelon adiantava poder tratar-se de um artefacto representativo da passagem de Duarte de Meneses pela Cidade do Cabo em 1524 Poreacutem a leitura e interpretaccedilatildeo de Maacuterio Jorge Barroca assistente de Arqueologia Medieval da Universidade do Porto veio a invalidar as suposiccedilotildees de Axelon e do arqueoacutelogo do South African Museum De acordo com Maacuterio Jorge Barroca este do-cumento epigraacutefico refere-se a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ainda que o estado de conservaccedilatildeo desta inscriccedilatildeo dificulte a interpretaccedilatildeo do seu conteuacutedo74 Luiacutes Filipe Thomaz que tambeacutem abordou esta inscriccedilatildeo faz uma leitura ligeiramente diferente mas que concorda quanto ao essencial do conteuacutedo75 De resto eacute interessante notar que para aleacutem dos supra citados autores apenas encontraacutemos referecircncias a este do-cumento epigraacutefico em Luiacutes de Albuquerque76 Antoacutenio Pereira Cardo-so77 e Joseacute Manuel Garcia78

De modo geral a inscriccedilatildeo identificada na Cidade do Cabo vem de-monstrar efectivamente que Cristoacutevatildeo empreendeu a viagem de re-gresso ao reino em 1524 sendo provaacutevel que tenha partido de Cochim logo no iniacutecio do ano Sabemos que se encontrava no sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio No entanto e ainda que esta epiacutegrafe se apresente como um elemento de grande interesse para a reconstituiccedilatildeo do percurso de Cristoacutevatildeo continuamos sem saber o que teraacute feito e por onde teraacute nave-gado entre os iniacutecios de 1522 quando recebeu mantimentos para seguir

74 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo pp 17-1875 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 7976 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-

tos Vol II pp 727-72877 CARDOSO A provaacutevel viagem pp10-1978 GARCIA O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash

1555 Nordm 8 p 98

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 181

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

para Ormuz e os iniacutecios de 1524 quando partiu da Iacutendia para regressar a Portugal Teraacute ele permanecido todo esse tempo em Ormuz Ou teraacute dado continuidade agraves exploraccedilotildees que lhe tinham sido incumbidas pelo governador Diogo Lopes de Sequeira

6 Rendas mercecircs e distinccedilotildees

61 Tenccedilas recebidas

Referimos haacute pouco natildeo ser correcta a ideia de nada se saber sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila nos seis anos posteriores agrave expediccedilatildeo que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro De facto para aleacutem da inscri-ccedilatildeo encontrada na Cidade do Cabo e que atesta a passagem de Mendon-ccedila pelo sul de Aacutefrica tambeacutem existem alguns documentos acondiciona-dos no Arquivo Nacional da Torre do Tombo que revelam informaccedilotildees interessantes para o periacuteodo correspondente agrave sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e 1527 Satildeo exactamente esses documentos que nos datildeo conta das rendas mercecircs e distinccedilotildees com que este navegador foi agraciado

Sabemos que em 4 de Julho de 1526 por exemplo D Joatildeo III mandou o almoxarife de Aveiro dar a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ldquofidalgo da sua casardquo 50000 reacuteis de tenccedila que ficaria assentada na alfacircndega da cidade de Lisboa79 Seria esta uma tenccedila generosa A resposta a esta questatildeo le-vou-nos a comparar este valor com as tenccedilas auferidas pelos seus fami-liares e por outros navegadores seus contemporacircneos Foi nesse sentido que constataacutemos que o ceacutelebre navegador e cosmoacutegrafo Duarte Pacheco Pereira depois de inuacutemeros serviccedilos prestados agrave Coroa recebeu uma tenccedila anual de 50000 reais nesse mesmo ano de 152680 Tristatildeo da Cu-nha ceacutelebre navegador e comandante naval portuguecircs nomeado por D Manuel para primeiro governador da Iacutendia em 150581 e pai de Nuno da Cunha Governador da Iacutendia entre 1528 e 153882 recebeu 40000 reacuteis

79 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57 80 JB de C ldquoPereira Duarte Pachecordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol V pp 52-

54 COSME ldquoOs homens de ciecircnciardquo pp 91-9781 E S ldquoCunha Tristatildeo da (1460-1540)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol II p 260

Sobre Tristatildeo da Cunha veja-se tambeacutem CARVALHO ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Manuelinardquo pp 199-226

82 E S ldquoCunha Nuno da (1487-1539)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol II pp 258-259 Sobre Nuno da Cunha veja-se tambeacutem CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538)

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203182

Fernando Pessanha

de tenccedila no mesmo ano de 152683 Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo rece-beu uma tenccedila generosa ao voltar ao reino Talvez Note-se que o pai de Cristoacutevatildeo Diogo de Mendonccedila alcaide-mor de Mouratildeo recebia os mesmos 50000 reacuteis de tenccedila em 150184 e em 151485 valor que o irmatildeo de Cristoacutevatildeo Pedro de Mendonccedila passou a auferir ao herdar a alcaidaria de Mouratildeo em 151786

Para aleacutem dos 50000 reacuteis de tenccedila eacute o proacuteprio Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila a mandar Jacome Bentes receber de Joatildeo de Azambuja 200000 reacuteis em virtude da outra procuraccedilatildeo que o dito Mendonccedila tinha feito para receber dos almoxarifes de Setuacutebal Aveiro e Coimbra87 Refira-se a este respeito que ainda no mesmo ano ordenou D Joatildeo III que o almoxari-fe de Aveiro pagasse ao jaacute referido Tristatildeo da Cunha 100000 reacuteis para pagamento de 250000 reacuteis da sua tenccedila88 ou que Vasco da Gama ao re-gressar ao reino depois de descobrir o caminho mariacutetimo para a Iacutendia recebeu uma renda de 300000 reacuteis89 Vemos deste modo que os rendi-mentos auferidos por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aquando do seu regresso ao reino natildeo foram propriamente modestos quando comparados com os do primeiro governador da Iacutendia ou com os do navegador e cosmoacute-grafo Duarte Pacheco Pereira

Por fim surge-nos um documento datado de 13 de Abril de 1527 e que tem por tiacutetulo Estabelecimento que Fernando Rodrigues como procu-rador de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila fidalgo da Casa do Rei fez em Fernando Gomes para cobrar todas as tenccedilas e moradias do seu dito constituinte90 Repare-se que de acordo com Joatildeo de Barros Cristoacutevatildeo de Mendonccedila voltou a partir para o Oriente em Marccedilo de 1527 Vemos portanto que o referido documento eacute ligeiramente posterior agrave partida do navegador e que este deixou instruccedilotildees ao seu procurador para que algueacutem cobrasse todas as suas tenccedilas e moradias De resto a alusatildeo agraves ldquotenccedilas e moradi-

83 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 135 Nordm4584 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 13 fl60 ANTT Chancelaria de D Manuel I

liv 8 fl29v85 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 53 Nordm18286 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 10 fl53 Repare-se que a partir de 1523 Pe-

dro de Mendonccedila passou a receber apenas 30000 reacuteis ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 109 Nordm131 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 131 Nordm226

87 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 136 Nordm10288 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 135 Nordm4989 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 4 fl 37 COSME ldquoOs Navegadores ndash Vasco da

Gamardquo p 14990 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 141 Nordm91

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 183

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

asrdquo vem reforccedilar a ideia de que os serviccedilos prestados por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente foram bem recompensados pelo monarca portu-guecircs Resta-nos perceber que serviccedilos teratildeo justificado estas recompen-sas assim como aquelas a que de seguida aludiremos

62 A capitania de Ormuz

Para aleacutem dos rendimentos atraacutes referidos os serviccedilos prestados por Mendonccedila foram igualmente agraciados com a nomeaccedilatildeo para a ren-taacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz para onde partiu em Marccedilo de 152791 Natildeo deixa de ser interessante a alusatildeo que cronistas como Joatildeo de Barros ou Frei Luiacutes de Sousa fazem aos Braganccedilas no momento em que referem esta nova partida de Cristoacutevatildeo para a Iacutendia Com efeito eacute possiacutevel que o duque de Braganccedila jaacute tivesse ligaccedilotildees aos Mendon-ccedilas ainda que o casamento de D Jaime com D Joana de Mendonccedila soacute se tenha realizado em 1520 Teresa Lacerda levanta a hipoacutetese de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ter sido indigitado para o Conselho Reacutegio por influecircncia do duque de Braganccedila do mesmo modo como foi nomea-do para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 e para capitatildeo de Ormuz em 152792 De facto natildeo eacute impossiacutevel No entanto somos da opiniatildeo de que natildeo seraacute apenas D Joana a estar na origem de uma eventual ligaccedilatildeo de D Jaime aos Mendonccedilas como tambeacutem a participaccedilatildeo do seu pai ldquoDiogo de mendonccedila alcaide mor de Mouratildeordquo e de ldquoPero de Mendonccedila seu filhordquo na conquista de Azamor comandada pelo proacuteprio duque em 151393

De facto natildeo sabemos se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teraacute sido indigitado para o Conselho Reacutegio para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquer-que de 1519 ou para a capitania de Ormuz por influecircncia do duque de Braganccedila Seja como for parece-nos que o contexto social e familiar de Cristoacutevatildeo teraacute pesado no momento em que o monarca procedeu a tais nomeaccedilotildees Basta recordarmos que Afonso Furtado bisavocirc de Cristoacute-vatildeo tinha sido nomeado capitatildeo do mar por D Joatildeo I em 138594 Afonso

91 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada IV II Cap III p 73 Ver tambeacutem CORREIA Lendas Vol III Pt I Cap XVI p 182 SOUSA Anais Vol II IV Cap I p 1 SOUSA Asia Tomo I Pt IV Cap II p 256

92 LACERDA Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social p 112 nota 375

93 GOacuteIS Chronica III Cap XLVI p 367 GAYO Nobiliaacuterio p 5394 FREIRE Brasotildees Vol III pp 170-171

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203184

Fernando Pessanha

Furtado de Mendonccedila avocirc de Cristoacutevatildeo para aleacutem de capitatildeo-mor do mar95 aparece referido como escrivatildeo da feitoria de Sofala96 Pedro de Mendonccedila tio de Cristoacutevatildeo tinha comandado uma nau numa frota de 12 navios que em 1504 partiu para a Iacutendia para garantir a seguranccedila das rotas comerciais do oceano Iacutendico e controlar o governante hostil de Calecut97 Natildeo se pode portanto considerar que os Mendonccedilas seri-am marginais ao projecto de expansatildeo ultramarina quando Cristoacutevatildeo aparece nomeado para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 ou para a capitania de Ormuz que deteve entre 1527 e 1531 ou 1532 ano da sua morte

Chegando a este ponto vale a pena determo-nos brevemente de modo a compreendermos o que era Ormuz e o que representava esta capitania no contexto do Impeacuterio Portuguecircs no Oriente Antes de mais conveacutem recordarmos que Ormuz era um importantiacutessimo entreposto mercantil em virtude da sua privilegiada localizaccedilatildeo geograacutefica na en-trada do Golfo Peacutersico Com efeito com a segunda conquista de Ormuz por Afonso de Albuquerque em 1515 e a consequente imposiccedilatildeo de um protectorado a Coroa portuguesa passou a arrecadar uma parcela con-sideraacutevel das receitas aduaneiras da proacutespera ilha transformando-se Ormuz no epicentro das actividades portuguesas no Golfo Peacutersico e no mar da Araacutebia A acreditar-se nas fontes quinhentistas era tal o movi-mento e a intensidade no porto de Ormuz que natildeo era invulgar ali en-contrar mais de 200 navios carregados de mercadorias De entre as mais importantes mercadorias que passavam pela cidade destacavam-se os cavalos oriundos da Araacutebia e da Peacutersia com destino aos portos da cos-ta ocidental da Iacutendia de onde eram encaminhados para os potentados indianos entre os quais grassavam guerras endeacutemicas Mas outros pro-dutos aacuterabes e persas faziam a riqueza da esteacuteril ilha de Djarucircn como as alcatifas aacuterabes as peacuterolas de Bahareacutem os tapetes a seda e a prata da Peacutersia o salitre e o enxofre da proacutepria ilha ao lado de mercadorias menos nobres como os frutos secos ou os cereais Dadas as circunstacircn-cias natildeo seraacute de estranhar que ao longo de todo o seacutec XVI a alfacircndega de Ormuz se tenha destacado como a mais rentaacutevel de todo o Estado da Iacutendia logo a seguir agrave de Goa Por outras palavras a cidade gerava

95 FARIA Livro de Linhagens p 27296 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada I Pt I V Cap III97 MALDONADO Relaccedilatildeo das Naos e Armadas da Iacutendia p 16 ANTT Corpo Cronoloacutegi-

co Pt II maccedilo 9 Nordm 35

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 185

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

um volume de receitas tatildeo consideraacutevel que a capitania de Ormuz aca-bou por se transformar numa das mais apetecidas de todo o Impeacuterio no Oriente Vemos deste modo que a atribuiccedilatildeo desta capitania natildeo soacute era motivo de prestiacutegio para o capitatildeo nomeado como tambeacutem fonte de grande riqueza98

Natildeo podemos deixar de notar que as Deacutecadas da Aacutesia ao referir-se agrave nomeaccedilatildeo de Mendonccedila para a capitania de Ormuz natildeo refere quais-quer serviccedilos especiais que justifiquem a atribuiccedilatildeo de tal benesse Ar-mando Cortesatildeo que levantou a hipoacutetese de ter sido Mendonccedila o pri-meiro europeu a chegar agrave Austraacutelia foi um dos investigadores a sugerir que esta nomeaccedilatildeo se devesse aos serviccedilos prestados pelo navegador99 Poreacutem e tal como temos afirmado ao longo deste trabalho natildeo existe qualquer documento que assegure o ecircxito de Mendonccedila relativamente agrave viagem que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro Omis-satildeo que segundo Jaime Cortesatildeo foi consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo entatildeo vigente Luiacutes de Albuquerque ainda que contraacuterio agrave teoria da descoberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que ldquodeve a sua celebridade a uma expediccedilatildeo que natildeo fezrdquo100 estranha no entanto o facto de Diogo do Couto natildeo mencionar os serviccedilos especiais que estiveram na origem da nomeaccedilatildeo do navegador para a capitania de Ormuz101 Esta distinccedilatildeo torna-se ainda mais suspeita se tivermos em consideraccedilatildeo que uma nomeaccedilatildeo desta natureza implicaria em meacutedia 10 anos de serviccedilos no Oriente102 durante os quais era acumu-lada a experiecircncia necessaacuteria para o desempenho de uma capitania Como vimos natildeo foi esse o caso de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Aliaacutes as nomeaccedilotildees para as capitanias mais importantes e lucrativas como Or-muz Goa ou Malaca natildeo soacute eram atribuiacutedas em reconhecimento pelos vaacuterios anos de serviccedilo no Oriente como tambeacutem recaiacuteam tendencial-mente sobre nobres com uma maior presenccedila na corte o que tambeacutem

98 LOUREIRO ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 pp 749-797 JPC ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 833-836

99 CORTESAcircO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158100 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo p 727101 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol IV

p 258102 Andreia Martins de Carvalho determinou os anos de serviccedilo de fidalgos no Oriente

antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania entre 1518 e 1544 CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 211 Foi nesse sentido que tendo em conta a infor-maccedilatildeo disponiacutevel sobre o percurso de 37 fidalgos estabelecemos a meacutedia de anos relativos a serviccedilos no Oriente antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203186

Fernando Pessanha

natildeo era o caso de Mendonccedila Ora se o navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro como explicar tatildeo generoso honroso e rentaacutevel reconhecimento Isto claro para aleacutem das compensaccedilotildees econoacutemicas atraacutes referidas e da entrega da comenda da Ordem de Cris-to que de seguida abordaremos De resto a capitania de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ficou marcada por episoacutedios dignos de registo como o au-xiacutelio prestado agrave frota de Simatildeo da Cunha assolada por uma epidemia contraiacuteda na campanha contra a ilha de Bahareacutem103 Refira-se aliaacutes que foi sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que recaiu a responsabilidade de escolher um agente para realizar a ceacutelebre missatildeo de espionagem que constituiu a viagem por terra de Ormuz a Portugal protagonizada por Antoacutenio Tenreiro entre Setembro de 1528 e Maio de 1529 - viagem cuja narrativa constitui um notaacutevel documento histoacuterico de natureza geograacutefica religiosa e antropoloacutegica104

63 A comenda da vila de Arenilha

Tal como anteriormente referimos deparaacutemo-nos com dois documen-tos que chamaram a nossa atenccedilatildeo aquando da investigaccedilatildeo para o ar-tigo ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo Trata-se de duas cartas em que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece referido como comendador da vila de Arenilha O primeiro documento data de 29 de Dezembro de 1529 e tem por tiacutetulo Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bregantim missiva em que o comendador de Arenilha culpa o marquecircs de Ayamonte pelos danos causados nas barcas dos habitantes da vila no-meadamente no referido bergantim chegando mesmo a mandar ldquopagar as barcas e () as perdas que receberam os donos delas e asy o dano que se fez na Arenilhardquo e mandar o marquecircs prender os responsaacuteveis que se encontrem nas suas terras105 Como se pode perceber o tom da missiva natildeo resulta propriamente abonatoacuterio para o nobre espanhol

103 SOUSA Anais Vol II IV Cap XXII p 106104 Como recompensa pelos serviccedilos prestados Antoacutenio Tenreiro recebeu da Coroa em

1533 uma tenccedila anual de 30000 reacuteis e o haacutebito de cavaleiro da Ordem de Cristo Ver TENREIRO amp AFONSO Viagens por terra da Iacutendia a Portugal p 18 RL ldquoTenreiro Antoacuteniordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II p 1023

105 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 Nordm45

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 187

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig1 - Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua

Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do

marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

Fig 1

Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o

marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203188

Fernando Pessanha

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig2 - Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar

creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Arenilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada destinada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila assim como o seu

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesahelliprdquo pp 86-82

Fig 2

Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao

comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Are-nilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada desti-nada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesardquo pp 86-82

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 189

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacute-vatildeo de Mendonccedila assim como o seu percurso como capitatildeo nas armadas da Iacutendia acreditamos encontrar-nos em condiccedilotildees para demonstrarmos que a comenda de Arenilha foi efectivamente atribuiacuteda ao navegador como reconhecimento pelos serviccedilos prestados no Oriente

Com efeito satildeo vaacuterios os indicadores que nos levam a afirmaacute-lo Em primeiro lugar o facto de natildeo se encontrar nas croacutenicas nem nas fontes coevas qualquer referecircncia a um homoacutenimo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a balizagem cronoloacutegica compreendida entre 1514 e 1532 periacuteodo em que aparece referido na documentaccedilatildeo Aliaacutes as da-tas discriminadas nos documentos que o referem como comendador de Arenilha corroboram a ideia de esta comenda ter sido atribuiacuteda aquando do seu regresso ao reino Eacute certo que natildeo sabemos a data em que Cristoacutevatildeo teraacute chegado a Portugal ainda que tenhamos notiacutecia da sua passagem pelo sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio de 1524 durante a viagem de regresso108 Poreacutem as tenccedilas atraacutes mencionadas indicam que se encontrava no reino em 1526 Uma vez que os documentos que o referem como comendador da vila da foz do Guadiana remontam a Dezembro de 1529 e Maio de 1530 anos em que o navegador jaacute se encontrava no Oriente eacute de supor que D Joatildeo III lhe teraacute atribuiacutedo a comenda aquando da sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e Marccedilo de 1527 ano em que voltou a partir para a Iacutendia jaacute na qualida-de de capitatildeo de Ormuz

Uma vez que natildeo se verificam homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila para a balizagem cronoloacutegica atraacutes referida e que as datas dos docu-mentos que o referem como comendador de Arenilha satildeo ligeiramente posteriores ao seu regresso ao reino resta-nos determinar se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila reunia as condiccedilotildees necessaacuterias para ser agraciado com uma comenda desta natureza Antes de mais importa referir que a vila de Arenilha e de Castro Marim eram as duas uacutenicas comendas da Ordem de Cristo no Algarve Curiosamente Isabel L Morgado de Sousa e Silva natildeo refere a comenda de Arenilha na dissertaccedilatildeo para doutoramento

108 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo Oceanos Nordm4 pp 17-18 ALBU-QUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 727-728 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 79

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203190

Fernando Pessanha

A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521)109 Poreacutem o documento publicado por Hugo Cavaco natildeo deixa margem para duacutevidas

ldquoNo Bispado do Algarve haacute somente duas Commendas da Ordem (de

Cristo) que satildeo das antigas e as seguintes

A Commenda e Alcaideria-moacuter de Castro Marim avaliou-se em quatro-

centos e cinquenta mil reacuteis no anno de 1608

A Commenda da Alcaideria-mograver de Santo Antonio de Arenilha que estaacute

junto a Castro Marim em cento e trinta mil reacuteis no anno de 1608

No Bispado do Algarve natildeo haacute nenhuma Commenda desta Ordem mais

que as duas velhas que valem quinhentos e oitenta mil reacuteis como se vecirc

da somma adianterdquo110

Aliaacutes soacute o facto de Arenilha ser comenda da Ordem de Cristo poderaacute explicar que o senhorio da vila tenha sido atribuiacutedo exclusivamente a cavaleiros da miliacutecia ao longo de toda a centuacuteria quinhentista111

Naturalmente que estas comendas implicavam desde logo a existecircn-cia de comendadores sobre os quais recaiacutea o senhorio das ditas vilas o que era compreendido como motivo de honra e de prestiacutegio social numa sociedade ainda bastante influenciada pelas antigas tradiccedilotildees medievo-feudais Comendas refira-se que compreendiam o direito agrave administra-ccedilatildeo da localidade e conferiam uma renda para sustentaccedilatildeo do comenda-dor beneficiaacuterio configurando um recurso para os encargos da proacutepria comenda No entanto a atribuiccedilatildeo de uma comenda representava um benefiacutecio atribuiacutedo a cavaleiros professos nas ordens militares como re-compensa por serviccedilos prestados Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Men-donccedila soacute poderia ser agraciado com a comenda de Arenilha caso tivesse sido investido na Ordem de Cristo Foi nesse sentido que procuraacutemos determinar se este navegador professou nesta Ordem Militar

Com efeito a dissertaccedilatildeo Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) de Joatildeo Maria Falcatildeo Pestana de Vascon-celos natildeo faz qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila enquanto cavaleiro da Ordem de Cristo Refere no entanto o seu avocirc Afonso Fur-

109 SILVA A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta110 Documento VIII BNLMicroformas F5040 Documento publicado por CAVACO Revisi-

tando p 52111 Cf PESSANHA Os 500 anos pp 57-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 191

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

tado de Mendonccedila comendador de Cardiga da Ordem de Cristo112 a sua irmatilde Margarida de Mendonccedila enquanto mulher de um comendador da mesma Ordem e o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo que recebeu o haacutebito da miliacutecia em 16 de Abril de 1514113 Ain-da que a referida dissertaccedilatildeo natildeo faccedila qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo enquanto membro desta Ordem vem demonstrar a ligaccedilatildeo de alguns dos seus familiares agrave mesma natildeo soacute na qualidade de cavaleiros como tambeacutem de comendadores

Poreacutem Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social de Teresa Lacerda assim como a jaacute referida tese A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) de Isabel L Morgado de Sousa e Silva jaacute identificam efectivamente Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como frei cavaleiro desta Ordem114 De acordo com a obra consultada Cavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVI Cristoacutevatildeo de Mendonccedila recebeu efectivamente o haacutebito da Ordem de Cristo em 16 de Abril de 1514115 exactamente na mesma data em que o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila tambeacutem foi in-vestido116 De resto o facto de Cristoacutevatildeo aparecer referido como mem-bro da miliacutecia numa provisatildeo em que D Joatildeo III manda o almoxarife de Aveiro pagar ldquoa Cristoacutevatildeo de Mendonccedila sua tenccedila deste ano 50000 reacuteis assentada na alfacircndega de Lisboa com o haacutebito de Cristordquo117 vem dissipar qualquer duacutevida que ainda subsistisse

Note-se que identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como cavaleiro da Ordem de Cristo natildeo pudemos deixar de reparar no silecircncio dos cronistas no momento de identificar os intervenientes no processo ex-pansionista com as suas respectivas filiaccedilotildees nas Ordens Militares De facto quer Joatildeo de Barros quer os cronistas que lhe sucederam natildeo fazem qualquer referecircncia agrave filiaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo em qualquer Ordem tal como de acordo com o que constataacutemos raramente o fazem em relaccedilatildeo a outros cavaleiros Esta evidecircncia pode parecer ainda mais estranha se tivermos em consideraccedilatildeo o forte envolvimento da Ordem

112 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Vol I p 377 FARIA Livro de Linhagens p 275

113 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares p 392 114 LACERDA Os Capitatildees das Armadas pp 120 e 228 SILVA A Ordem de Cristo p 336

SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma perspectiva de estudordquo apecircndice

115 FARIA ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo p 21116 FARIA ldquoCavaleirosrdquo p 21 Ver tambeacutem SILVA A Ordem de Cristo p 330117 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203192

Fernando Pessanha

de Cristo na Histoacuteria da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses Ordem Militar sublinhe-se que teve como governadores figuras in-contornaacuteveis da famiacutelia real como o infante D Henrique o infante D Fernando o rei D Manuel ou o rei D Joatildeo III118 Poreacutem haacute que ter em consideraccedilatildeo que documentos como Memoacuteria das Armadas ou o Livro de Lisuarte de Abreu natildeo satildeo fontes sobre qualquer uma das Ordens razatildeo pela qual se torna compreensiacutevel a ausecircncia de referecircncias mais completas relativamente aos intervenientes no processo de expansatildeo Aliaacutes a intenccedilatildeo subjacente agrave produccedilatildeo de obras como Histoacuteria do Des-cobrimento e da Conquista da Iacutendia natildeo passa por apresentar informa-ccedilatildeo detalhada sobre as individualidades que participaram no processo expansionista mas antes destacar o protagonismo reacutegio em todo este processo119

Por fim natildeo se verificando homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a cronologia abordada coincidindo as datas que o referem como comendador de Arenilha e identificado este navegador como cavalei-ro da Ordem de Cristo resta-nos perceber por que motivo lhe teraacute sido entregue a comenda desta vila na foz do Guadiana Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo que a fundaccedilatildeo de Are-nilha prende-se com a afirmaccedilatildeo da soberania poliacutetica e administra-tiva de D Manuel sobre um territoacuterio frequentado por castelhanos Eacute exactamente nesse contexto que em 1421 Castro Marim justificava o pedido de isenccedilatildeo de alguns encargos pelos ldquoconstantes trabalhos que os moradores tinham com os castelhanos que insistiam em vir pescar ao reinordquo120 Quer isto dizer que os castelhanos vinham pescar para as margens portuguesas natildeo pagando os devidos impostos agrave Coroa Aliaacutes a existecircncia do topoacutenimo de origem castelhana Arenilha121 ainda antes da elaboraccedilatildeo da Carta de Privileacutegio que manda proceder agrave construccedilatildeo

118 FONSECA ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo pp 321-347 Ver tambeacutem SILVA A Or-dem de Cristo pp 43-110

119 Cf SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristordquo pp 349-361120 VENTURA ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo p 608

ANTT Chancelaria de D Afonso V liv 2 fl30121 De acordo com o dicionaacuterio da Real Academia Espantildeola ldquoarenillardquo apresenta-se como

sinoacutenimo de ldquoarena menudardquo Ver Dicionario de la Real Academia Espantildeola Disponiacutevel em httplemaraeesdraeval=arenilla ndash Consultado dia 10 de Setembro de 2013 Note-se que quando em 1775 se pretendeu baptizar a nova vila iluminista com o nome de Vila Real de Santo Antoacutenio de Arenilha prontamente o Marquecircs de Pombal proibiu a utilizaccedilatildeo do nome ldquoArenilhardquo alegando que ldquoeacute uma palavra hespanhola e Villa Real uma povoaccedilatildeo portuguesardquo Ver OLIVEIRA Monografia p 71

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 193

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

da vila122 indica a ocupaccedilatildeo daquele areal na margem portuguesa da foz do Guadiana por populaccedilotildees de pescadores de origem castelhana Dadas as circunstacircncias seria do interesse estrateacutegico do monarca que esta comenda recaiacutesse sobre algueacutem experimentado na guarda da fronteira e que fizesse cumprir o pagamento dos devidos direitos aduaneiros Re-corde-se que Arenilha para aleacutem de comenda da Ordem de Cristo era uma vila de fronteira situada na margem portuguesa do Guadiana tal como o era a vila de Mouratildeo de onde Cristoacutevatildeo de Mendonccedila era natu-ral Como anteriormente referimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Men-donccedila o fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo que foi nomeado em 1476 alcaide-mor de Mouratildeo123 uma vila fortificada do Alentejo que guarda-va a fronteira portuguesa frente a Espanha O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas mostra-nos o castelo de Mouratildeo onde Cristoacutevatildeo teraacute crescido localizado no cimo de uma colina sobranceiro ao Guadiana124 Quer isto dizer que o ceacutelebre navegador era descendente de uma famiacutelia experimentada na guarda da fronteira face ao reino vizinho e familia-rizado com as actividades militares tributaacuterias e administrativas que lhe eram inerentes125 Assim sendo esta condiccedilatildeo de fronteiro a juntar ao facto de Cristoacutevatildeo ser cavaleiro da Ordem de Cristo teraacute resultado altamente pertinente no momento em que D Joatildeo III decidiu atribuir a comenda de Arenilha a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como recompensa pelos serviccedilos prestados

Por fim mas natildeo menos relevante teraacute sido a experiecircncia naval e militar adquirida por Mendonccedila nos mares do Oriente e direccionada para a foz do Guadiana sistematicamente ameaccedilada pelos ataques da pi-rataria magrebina126 Recorde-se que Mendonccedila no decurso das suas na-vegaccedilotildees na australaacutesia viu-se na necessidade de defender posiccedilotildees por-

122 O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas produzido por volta de 1509 jaacute indicava o topoacutenimo que veio a ser oficializado com a Carta de Privileacutegio de 12 de Fevereiro de 1513 Ver ARMAS O Livro das Fortalezas fl 1

123 FREIRE Brasotildees Vol III p 173124 ANTT Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Livro das Fortalezas si-

tuadas no Extremo de Portugal e Castela por Duarte de Armas escudeiro da Casa do Rei D Manuel I Nordm 159 fls 13-14 ARMAS O Livro das Fortalezas fls 13-14

125 Refira-se que foi durante o periacuteodo em que o pai de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila deteve a alcaidaria de Mouratildeo que o rei D Manuel obteve dos povos nas cortes de Lisboa de 1502 uma vultosa contribuiccedilatildeo que fez com que o castelo da vila fosse intervenciona-do por dois importantes arquitectos reacutegios os irmatildeos Francisco e Diogo de Arruda os mestres das obras reacutegias da comarca de entre o Tejo e o Guadiana Ver FARIA ldquoForti-ficaccedilotildees de Portugal na fronteira da Estremadura espanholardquo p 161

126 Sobre este assunto veja-se PESSANHA ldquoAtaques da piratariardquo pp 63-94

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203194

Fernando Pessanha

tuguesas dando combate aos adversaacuterios Recordemos a este respeito o ataque movido por Melique Ladil agrave fortaleza de Paceacutem entatildeo guardada por Mendonccedila e a maneira como o ldquomourordquo foi desbaratado e despo-jado das treze embarcaccedilotildees usadas no assalto127 Dadas as circunstacircnci-as seria um desperdiacutecio natildeo se aproveitar a experiecircncia deste capitatildeo numa altura em que se verificava um incremento da actividade piraacutetica nas costas do Algarve Esta actividade da pirataria na foz do Guadiana eacute aliaacutes referida por Bernardo Rodrigues em vaacuterias ocasiotildees nomeada-mente aquando da estadia da condessa de Redondo na vila de Arenilha em 1522128 ou quando Vasco Fernandes Ceacutesar - antigo adaiacutel de Azamor e capitatildeo da Armada do Estreito129 - foi incumbido embarcar o conde do Redondo D Joatildeo Coutinho na vila de Arenilha e escoltaacute-lo a Arzila130 Refira-se que a caminho da foz do Guadiana o navio de Vasco Fernan-des Ceacutesar foi atacado por duas naus tendo-se seguido um combate naval que resultou na explosatildeo de parte da alcaacuteccedilova atirando cinco homens ao mar entre os quais Vasco Fernandes que ficou gravemente ferido131

Vemos deste modo que a entrega da comenda de Arenilha a um in-diviacuteduo como Cristoacutevatildeo de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo descendente de uma famiacutelia de fronteiros e navegador experimentado no combate naval natildeo soacute era altamente pertinente como simboacutelica e manifestamente estrateacutegica para a defesa do extremo sudeste algarvio e da foz do Guadiana onde Mendonccedila deveria actuar com autoridade se-nhorial usufruindo dos seus bens e rendimentos E no caso da comenda de Arenilha Seriam generosos os seus rendimentos Sem duacutevida Se assim natildeo fosse o rei D Duarte natildeo teria doado ao infante D Henrique ainda em 25 de Setembro de 1433 a ldquodiacutesima nova de todo o pescado que pescarem quaisquer pessoas no mar do Monte Gordordquo132 Aliaacutes seraacute certa-

127 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III pp548-549128 RODRIGUES Anais de Arzila Tomo I Cap XC p 373129 GOacuteIS Chronica IV Cap LVII p 552 Sobre a Armada do Estreito veja-se GODINHO

ldquoA armada do estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo pp117-137130 RODRIGUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 PESSANHA Subsiacutedios p 100131 Segundo Bernardo Rodrigues os sobreviventes portugueses por pouco natildeo foram

executados Os que sobreviveram ao combate foram aprisionados e levados para Di-eppe Vasco Fernandes apesar de ferido acabou por escapar do cativeiro desfiando uma esteira e escapando por ela da torre onde se encontrava aprisionado RODRI-GUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 Ver tambeacutem PISSARRA ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Armada do Estreitordquo pp 144-145

132 SERRAtildeO Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fundaccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) p 65 OLIVEIRA Monografia p 73

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 195

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

mente o motivo econoacutemico que jaacute em 1555 estaraacute na origem da disputa pelo senhorio de Arenilha entre Jeroacutenimo de Melo fidalgo da Casa Real e alcaide-mor de Castro Marim e Luiacutes Leite frei cavaleiro da Ordem de Cristo e filho de Antoacutenio Leite o anterior alcaide133

Relativamente agrave defesa sabemos que Arenilha natildeo possuiacutea castelo torre ou qualquer fortificaccedilatildeo digna de registo ateacute 1542-1547 periacuteodo em que o alcaide Antoacutenio Leite daacute-nos conta das ldquotramqueyras e repai-rosrdquo construiacutedos sob o seu comando para a populaccedilatildeo se defender dos ataques da pirataria moura134 Ainda assim Mendonccedila estava obrigado a zelar pela defesa da vila independentemente de esta ter ou natildeo for-tificaccedilotildees para a proteger Se tivermos em consideraccedilatildeo que a sua no-meaccedilatildeo como comendador o obrigava agrave realizaccedilatildeo de um inventaacuterio ao patrimoacutenio da comenda (infelizmente desconhecido) e ao dever de fixar residecircncia na sua aacuterea de governo135 eacute muito provaacutevel que Cristoacutevatildeo se tenha detido durante algum tempo na vila da foz do Guadiana algures entre finais de 1524 aquando da sua chegada ao reino136 e Marccedilo de 1527 quando voltou a partir para o Oriente

Como anteriormente referimos os comendadores deviam fixar-se nas suas comendas para melhor procederem agrave sua defesa e melhor ren-tabilizarem as mesmas Assim sendo como eacute possiacutevel que os documen-tos que referem Cristoacutevatildeo como comendador de Arenilha sejam relati-vos aos anos em que este se encontrava na capitania de Ormuz Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo de que a principal obrigaccedilatildeo dos cavaleiros da Ordem de Cristo era a luta contra os inimigos da feacute devendo estar prontos para a guerra sempre que o Mestre os convocasse Uma vez que as situaccedilotildees de guerra eram cons-tantes nos territoacuterios de aleacutem-mar onde a presenccedila dos cavaleiros da Ordem se tornava necessaacuteria natildeo eacute de admirar que estes fossem dispen-sados da exigecircncia que os obrigava a permanecer nas suas comendas137

133 CAVACO Revisitando pp 18-20 PESSANHA Os 500 anos pp 72-73134 Carta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava

atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras e que era necessaacute-rio enviar-lhe socorro ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos p 99 PINTO ldquoIacutendice Analiacuteticordquo p 267

135 Cf SILVA A Ordem de Cristo pp 189-190136 Uma vez que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila se encontrava na Aacutefrica do Sul em Marccedilo ou Maio

de 1524 eacute de supor que a sua chegada ao reino se tenha dado ainda no mesmo ano137 SILVA A Ordem de Cristo p 191

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203196

Fernando Pessanha

Eacute nesse sentido que encontramos Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comen-dador de Arenilha em 1529 e 1530 anos em que jaacute se encontrava como capitatildeo na fortaleza de Ormuz De resto era nesta fortaleza que ainda se encontrava em 1531 ano em que piratas de Larache atacaram a vila da foz do Guadiana ldquoonde fizeacuteratildeo muito dano em navios que tomaacuteratildeo e den-tro da Barra de Aiamonte fizeacuteratildeo despejar a Arrinilha e a Montegordordquo138

7 Conclusatildeo

Com efeito muito se tem escrito (e especulado) sobre a alegada des-coberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila No entanto e indepen-dentemente dos resultados alcanccedilados pelo navegador nesta expediccedilatildeo parece indiscutiacutevel que foi generosamente recompensado aquando do seu regresso ao reino Resta-nos perceber porquecirc Jaacute Armando Cortesatildeo muito antes de Peter Trickett tinha levantado a hipoacutetese de a rentaacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz ter sido entregue a Mendonccedila como re-compensa pelos serviccedilos prestados na expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro139 Natildeo eacute conhecido poreacutem qualquer documento que ateste o ecircxito do navegador nesta expediccedilatildeo Omissatildeo que segundo investigadores como Armando Cortesatildeo Damiatildeo Peres ou Jaime Cortesatildeo teraacute sido consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo determinada pelas limitaccedilotildees de navega-ccedilatildeo estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas e com o contencioso entre Portugal e Espanha pela posse das Molucas140

O certo eacute que Mendonccedila ao regressar ao reino foi agraciado com uma das capitanias mais rentaacuteveis do impeacuterio no Oriente para aleacutem de ter recebido compensaccedilotildees econoacutemicas e aparecer referido em 1529 e 1530 como comendador da vila de Arenilha na foz do Guadiana Refira-se a este respeito que muitos capitatildees cavaleiros da Ordem de Cristo se lanccedilaram no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Poreacutem mui-to poucos chegaram a obter as tatildeo almejadas comendas141 Vemos deste

138 RODRIGUES Anais Tomo II Cap XXXV p 209139 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158140 CORTESAtildeO A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e

de D Joatildeo II Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 65-66 PERES ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na Histoacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II pp 17-21

141 Entre os afortunados que lograram obter este tipo de rendimento contam-se muito poucos D Joatildeo Pereira D Pedro de Castelo Branco Nuno Furtado Simatildeo Guedes entre outros Ver CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 216

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 197

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

modo que a atribuiccedilatildeo da comenda de Arenilha significou um motivo de grande honra e prestiacutegio para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Ora se este navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro resta-nos perceber porque motivo teraacute sido agraciado com compensaccedilotildees eco-noacutemicas a nomeaccedilatildeo para uma das mais rentaacuteveis capitanias de todo o Impeacuterio no Oriente e uma honrosa comenda da Ordem de Cristo Eacute caso para dizer que a problemaacutetica em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila con-tinua a levantar muitas duacutevidas e poucas certezas

Fontes e Bibliografia

1 Arquivos

ANTT

Chancelaria de D Afonso V Livro 2 fl30

Chancelaria de D Manuel I Livro 4 fl37 Livro 8 fl 29v Livro 9 fl4v Livro 10 fl53 Livro 13 fl60 Livro 37 fl64

Chancelaria de D Joatildeo III Livro 12 fl62

Chancelaria da Ordem de Cristo Livro13 fls375 vndash 379v

Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1

Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 15 Nordm47 Pt I maccedilo 44 Nordm45 Pt I maccedilo 45 Nordm9

Pt II maccedilo 51 Nordm26 Pt II maccedilo 53 Nordm182 Pt II maccedilo 93 Nordm150 Pt II maccedilo 109 Nordm131 Pt II maccedilo 131 Nordm226 Pt II maccedilo 134 Nordm57 Pt II maccedilo 135 Nordm45 Pt II maccedilo 135 Nordm49 Pt II maccedilo 136 Nordm102 Pt II maccedilo 141 Nordm91

Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Nordm159

Casa Real Cartoacuterio da Nobreza Livro Nordm20 - Livro da Nobreza e da per-feiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal fl XII

2 Fontes Impressas

ABREU Lisuarte de Livro de Lisuarte de Abreu (Reproduccedilatildeo do manuscrito existente na Perpont Morgan Library de Nova York) Comissatildeo Nacional para as comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portugueses Lisboa 1992

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203198

Fernando Pessanha

ARMAS Duarte de Livro das Fortalezas Arquivo Nacional da Torre do TomboInapa Lisboa 1997

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada III Na Regia Officina Typografica Lisboa MDCCLXXVII

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada IV Imprensa Nacional Casa da Moe-da Lisboa 2001

BORGES Joseacute Calvatildeo Borges Livro do Armeiro-Mor Academia Portugue-sa de HistoacuteriaEdiccedilotildees Inapa Lisboa 2000

CASCAtildeO Joatildeo ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevorardquo Uma Jornada ao Alentejo e ao Algarve A altera-ccedilatildeo das linhas de forccedila da poliacutetica nacional Livros Horizonte Lisboa 1984 pp 77-136

CASTANHEDA Fernatildeo Lopes de Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses 2 vols Lello amp Irmatildeos Editores Porto 1979

CORREIA Gaspar Lendas da Iacutendia Tomo III na Typographia da Acade-mia Real das Sciencias Lisboa 1862

Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI Centro de Estudos Histoacutericos Ultramarinos Lis-boa 1969

GAYO Felgueiras Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX Ediccedilatildeo de Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Arauacutejo Affonso Braga 1939

GUEDES Liacutevio da Costa Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) Arquivo Histoacuterico Militar Lisboa 1988

GOacuteIS Damiatildeo de Chonica do Serenissimo Senhor Rei D Manoel Lisboa 1749

JOSEacute Frei Joatildeo de Satildeo ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 21-132

RODRIGUES Bernardo Anais de Arzila 2 vols Academia das Sciecircncias de Lisboa Lisboa 1915-1919

SARRAtildeO Henrique Fernandes ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 133-174

SOUSA Frei Luiacutes de Anais de D Joatildeo III 2 vols Saacute da Costa Lisboa 1928

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 199

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

SOUSA Manuel de Faria e Asia Portvgvesa Officina de Henrique Valen-te de Oliveira impressor del Rey NS Lisboa 1666

TENREIRO Antoacutenio amp AFONSO Mestre Viagens por terra da Iacutendia a Por-tugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica Mem-Martins 1991

3 Estudos

ALBUQUERQUE Luiacutes de (dir) Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-tos Portugueses 2 vols Ciacuterculos de Leitores Lisboa 1994

ALMEIDA Fortunato de Histoacuteria de Portugal Vols III-VII Promoclube Lisboa sd

CARDOSO Antoacutenio Pereira A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila agrave Austraacutelia em 1522 Academia da Marinha Lisboa 1994

CARVALHO Andreia Martins de ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Ma-nuelinardquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia ndash Actas do Coloacutequio Internacional Joatildeo Paulo Oliveira e Costa amp Viacutetor Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 199-226

CARVALHO Andreia Martins de Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria dos Descobrimen-tos e da Expansatildeo Portuguesa (seacuteculos XV-XVIII) apresentado agrave UNL Lisboa 2006

CAVACO Hugo ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio (Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Arte no Algarve) Cacircmara Muni-cipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1987

CAVACO Hugo Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha Cacircmara Munici-pal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1995

CORREIA Joseacute Eduardo Horta Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina Faup Publicaccedilotildees Porto 1997

CORREIA Joseacute Eduardo Horta O Algarve em Patrimoacutenio Gente Singular Editora Olhatildeo 2010

CORTESAtildeO Armando ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Aus-tralaacutesia Macau Japatildeo)rdquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939

CORTESAtildeO Jaime ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal (Dir Damiatildeo Peres) Vol IV Portucalense Editora Barce-los 1932 pp 9-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203200

Fernando Pessanha

CORTESAtildeO Jaime A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e de D Joatildeo II Lisboa 1960

COSME Joatildeo ldquoOs homens de ciecircnciardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 91-97

COSME Joatildeo ldquoOs Navegadores ndash Vasco da Gamardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 145-152

COSTA Joatildeo Paulo Oliveira e ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo A Nobreza e a Expansatildeo Estudos Biograacuteficos Joatildeo Paulo Oliveira e Costa (coord) Patrimoacutenia Cascais 2000 pp 11-51

DOMINGUES Francisco Contente ldquoOs portugueses descobriram a Aus-traacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Si-motildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Univer-sidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 163-172

DOMINGUES Francisco Contente Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 Circulo dos Leitores Lisboa 2016

FARIA Antoacutenio Machado de Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI Acade-mia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 1956

FARIA Antoacutenio Machado de ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo Separata da revista Arqueologia e Histoacuteria vol VI Lisboa 1955

FARIA Miguel Figueira de ldquoFortificaccedilotildees de Portugal na fronteira da Es-tremadura espanholardquo Anais ndash Seacuterie Histoacuteria Vol II Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 1995 pp 156-187

FONSECA Luiacutes Adatildeo da ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo A Alta No-breza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 322-347

FREIRE Anselmo Braamcamp Brasotildees da Sala de Sintra 3 vols Impren-sa da Universidade de Coimbra Coimbra 1921-1930

GARCIA Joseacute Manuel Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII QuidNovi Lisboa 2009

GARCIA Joseacute Manuel O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash 1555 Nordm 8 QuidNovi Vila do Conde 2012

GODINHO Rui Landeiro ldquoA Armada do Estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (Seacuteculos XV-XIX) Ediccedilotildees Cul-turais da Marinha Lisboa 2003 pp 117-137

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 17: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 181

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

para Ormuz e os iniacutecios de 1524 quando partiu da Iacutendia para regressar a Portugal Teraacute ele permanecido todo esse tempo em Ormuz Ou teraacute dado continuidade agraves exploraccedilotildees que lhe tinham sido incumbidas pelo governador Diogo Lopes de Sequeira

6 Rendas mercecircs e distinccedilotildees

61 Tenccedilas recebidas

Referimos haacute pouco natildeo ser correcta a ideia de nada se saber sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila nos seis anos posteriores agrave expediccedilatildeo que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro De facto para aleacutem da inscri-ccedilatildeo encontrada na Cidade do Cabo e que atesta a passagem de Mendon-ccedila pelo sul de Aacutefrica tambeacutem existem alguns documentos acondiciona-dos no Arquivo Nacional da Torre do Tombo que revelam informaccedilotildees interessantes para o periacuteodo correspondente agrave sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e 1527 Satildeo exactamente esses documentos que nos datildeo conta das rendas mercecircs e distinccedilotildees com que este navegador foi agraciado

Sabemos que em 4 de Julho de 1526 por exemplo D Joatildeo III mandou o almoxarife de Aveiro dar a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ldquofidalgo da sua casardquo 50000 reacuteis de tenccedila que ficaria assentada na alfacircndega da cidade de Lisboa79 Seria esta uma tenccedila generosa A resposta a esta questatildeo le-vou-nos a comparar este valor com as tenccedilas auferidas pelos seus fami-liares e por outros navegadores seus contemporacircneos Foi nesse sentido que constataacutemos que o ceacutelebre navegador e cosmoacutegrafo Duarte Pacheco Pereira depois de inuacutemeros serviccedilos prestados agrave Coroa recebeu uma tenccedila anual de 50000 reais nesse mesmo ano de 152680 Tristatildeo da Cu-nha ceacutelebre navegador e comandante naval portuguecircs nomeado por D Manuel para primeiro governador da Iacutendia em 150581 e pai de Nuno da Cunha Governador da Iacutendia entre 1528 e 153882 recebeu 40000 reacuteis

79 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57 80 JB de C ldquoPereira Duarte Pachecordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol V pp 52-

54 COSME ldquoOs homens de ciecircnciardquo pp 91-9781 E S ldquoCunha Tristatildeo da (1460-1540)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol II p 260

Sobre Tristatildeo da Cunha veja-se tambeacutem CARVALHO ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Manuelinardquo pp 199-226

82 E S ldquoCunha Nuno da (1487-1539)rdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol II pp 258-259 Sobre Nuno da Cunha veja-se tambeacutem CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538)

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203182

Fernando Pessanha

de tenccedila no mesmo ano de 152683 Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo rece-beu uma tenccedila generosa ao voltar ao reino Talvez Note-se que o pai de Cristoacutevatildeo Diogo de Mendonccedila alcaide-mor de Mouratildeo recebia os mesmos 50000 reacuteis de tenccedila em 150184 e em 151485 valor que o irmatildeo de Cristoacutevatildeo Pedro de Mendonccedila passou a auferir ao herdar a alcaidaria de Mouratildeo em 151786

Para aleacutem dos 50000 reacuteis de tenccedila eacute o proacuteprio Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila a mandar Jacome Bentes receber de Joatildeo de Azambuja 200000 reacuteis em virtude da outra procuraccedilatildeo que o dito Mendonccedila tinha feito para receber dos almoxarifes de Setuacutebal Aveiro e Coimbra87 Refira-se a este respeito que ainda no mesmo ano ordenou D Joatildeo III que o almoxari-fe de Aveiro pagasse ao jaacute referido Tristatildeo da Cunha 100000 reacuteis para pagamento de 250000 reacuteis da sua tenccedila88 ou que Vasco da Gama ao re-gressar ao reino depois de descobrir o caminho mariacutetimo para a Iacutendia recebeu uma renda de 300000 reacuteis89 Vemos deste modo que os rendi-mentos auferidos por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aquando do seu regresso ao reino natildeo foram propriamente modestos quando comparados com os do primeiro governador da Iacutendia ou com os do navegador e cosmoacute-grafo Duarte Pacheco Pereira

Por fim surge-nos um documento datado de 13 de Abril de 1527 e que tem por tiacutetulo Estabelecimento que Fernando Rodrigues como procu-rador de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila fidalgo da Casa do Rei fez em Fernando Gomes para cobrar todas as tenccedilas e moradias do seu dito constituinte90 Repare-se que de acordo com Joatildeo de Barros Cristoacutevatildeo de Mendonccedila voltou a partir para o Oriente em Marccedilo de 1527 Vemos portanto que o referido documento eacute ligeiramente posterior agrave partida do navegador e que este deixou instruccedilotildees ao seu procurador para que algueacutem cobrasse todas as suas tenccedilas e moradias De resto a alusatildeo agraves ldquotenccedilas e moradi-

83 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 135 Nordm4584 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 13 fl60 ANTT Chancelaria de D Manuel I

liv 8 fl29v85 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 53 Nordm18286 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 10 fl53 Repare-se que a partir de 1523 Pe-

dro de Mendonccedila passou a receber apenas 30000 reacuteis ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 109 Nordm131 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 131 Nordm226

87 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 136 Nordm10288 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 135 Nordm4989 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 4 fl 37 COSME ldquoOs Navegadores ndash Vasco da

Gamardquo p 14990 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 141 Nordm91

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 183

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

asrdquo vem reforccedilar a ideia de que os serviccedilos prestados por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente foram bem recompensados pelo monarca portu-guecircs Resta-nos perceber que serviccedilos teratildeo justificado estas recompen-sas assim como aquelas a que de seguida aludiremos

62 A capitania de Ormuz

Para aleacutem dos rendimentos atraacutes referidos os serviccedilos prestados por Mendonccedila foram igualmente agraciados com a nomeaccedilatildeo para a ren-taacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz para onde partiu em Marccedilo de 152791 Natildeo deixa de ser interessante a alusatildeo que cronistas como Joatildeo de Barros ou Frei Luiacutes de Sousa fazem aos Braganccedilas no momento em que referem esta nova partida de Cristoacutevatildeo para a Iacutendia Com efeito eacute possiacutevel que o duque de Braganccedila jaacute tivesse ligaccedilotildees aos Mendon-ccedilas ainda que o casamento de D Jaime com D Joana de Mendonccedila soacute se tenha realizado em 1520 Teresa Lacerda levanta a hipoacutetese de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ter sido indigitado para o Conselho Reacutegio por influecircncia do duque de Braganccedila do mesmo modo como foi nomea-do para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 e para capitatildeo de Ormuz em 152792 De facto natildeo eacute impossiacutevel No entanto somos da opiniatildeo de que natildeo seraacute apenas D Joana a estar na origem de uma eventual ligaccedilatildeo de D Jaime aos Mendonccedilas como tambeacutem a participaccedilatildeo do seu pai ldquoDiogo de mendonccedila alcaide mor de Mouratildeordquo e de ldquoPero de Mendonccedila seu filhordquo na conquista de Azamor comandada pelo proacuteprio duque em 151393

De facto natildeo sabemos se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teraacute sido indigitado para o Conselho Reacutegio para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquer-que de 1519 ou para a capitania de Ormuz por influecircncia do duque de Braganccedila Seja como for parece-nos que o contexto social e familiar de Cristoacutevatildeo teraacute pesado no momento em que o monarca procedeu a tais nomeaccedilotildees Basta recordarmos que Afonso Furtado bisavocirc de Cristoacute-vatildeo tinha sido nomeado capitatildeo do mar por D Joatildeo I em 138594 Afonso

91 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada IV II Cap III p 73 Ver tambeacutem CORREIA Lendas Vol III Pt I Cap XVI p 182 SOUSA Anais Vol II IV Cap I p 1 SOUSA Asia Tomo I Pt IV Cap II p 256

92 LACERDA Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social p 112 nota 375

93 GOacuteIS Chronica III Cap XLVI p 367 GAYO Nobiliaacuterio p 5394 FREIRE Brasotildees Vol III pp 170-171

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203184

Fernando Pessanha

Furtado de Mendonccedila avocirc de Cristoacutevatildeo para aleacutem de capitatildeo-mor do mar95 aparece referido como escrivatildeo da feitoria de Sofala96 Pedro de Mendonccedila tio de Cristoacutevatildeo tinha comandado uma nau numa frota de 12 navios que em 1504 partiu para a Iacutendia para garantir a seguranccedila das rotas comerciais do oceano Iacutendico e controlar o governante hostil de Calecut97 Natildeo se pode portanto considerar que os Mendonccedilas seri-am marginais ao projecto de expansatildeo ultramarina quando Cristoacutevatildeo aparece nomeado para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 ou para a capitania de Ormuz que deteve entre 1527 e 1531 ou 1532 ano da sua morte

Chegando a este ponto vale a pena determo-nos brevemente de modo a compreendermos o que era Ormuz e o que representava esta capitania no contexto do Impeacuterio Portuguecircs no Oriente Antes de mais conveacutem recordarmos que Ormuz era um importantiacutessimo entreposto mercantil em virtude da sua privilegiada localizaccedilatildeo geograacutefica na en-trada do Golfo Peacutersico Com efeito com a segunda conquista de Ormuz por Afonso de Albuquerque em 1515 e a consequente imposiccedilatildeo de um protectorado a Coroa portuguesa passou a arrecadar uma parcela con-sideraacutevel das receitas aduaneiras da proacutespera ilha transformando-se Ormuz no epicentro das actividades portuguesas no Golfo Peacutersico e no mar da Araacutebia A acreditar-se nas fontes quinhentistas era tal o movi-mento e a intensidade no porto de Ormuz que natildeo era invulgar ali en-contrar mais de 200 navios carregados de mercadorias De entre as mais importantes mercadorias que passavam pela cidade destacavam-se os cavalos oriundos da Araacutebia e da Peacutersia com destino aos portos da cos-ta ocidental da Iacutendia de onde eram encaminhados para os potentados indianos entre os quais grassavam guerras endeacutemicas Mas outros pro-dutos aacuterabes e persas faziam a riqueza da esteacuteril ilha de Djarucircn como as alcatifas aacuterabes as peacuterolas de Bahareacutem os tapetes a seda e a prata da Peacutersia o salitre e o enxofre da proacutepria ilha ao lado de mercadorias menos nobres como os frutos secos ou os cereais Dadas as circunstacircn-cias natildeo seraacute de estranhar que ao longo de todo o seacutec XVI a alfacircndega de Ormuz se tenha destacado como a mais rentaacutevel de todo o Estado da Iacutendia logo a seguir agrave de Goa Por outras palavras a cidade gerava

95 FARIA Livro de Linhagens p 27296 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada I Pt I V Cap III97 MALDONADO Relaccedilatildeo das Naos e Armadas da Iacutendia p 16 ANTT Corpo Cronoloacutegi-

co Pt II maccedilo 9 Nordm 35

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 185

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

um volume de receitas tatildeo consideraacutevel que a capitania de Ormuz aca-bou por se transformar numa das mais apetecidas de todo o Impeacuterio no Oriente Vemos deste modo que a atribuiccedilatildeo desta capitania natildeo soacute era motivo de prestiacutegio para o capitatildeo nomeado como tambeacutem fonte de grande riqueza98

Natildeo podemos deixar de notar que as Deacutecadas da Aacutesia ao referir-se agrave nomeaccedilatildeo de Mendonccedila para a capitania de Ormuz natildeo refere quais-quer serviccedilos especiais que justifiquem a atribuiccedilatildeo de tal benesse Ar-mando Cortesatildeo que levantou a hipoacutetese de ter sido Mendonccedila o pri-meiro europeu a chegar agrave Austraacutelia foi um dos investigadores a sugerir que esta nomeaccedilatildeo se devesse aos serviccedilos prestados pelo navegador99 Poreacutem e tal como temos afirmado ao longo deste trabalho natildeo existe qualquer documento que assegure o ecircxito de Mendonccedila relativamente agrave viagem que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro Omis-satildeo que segundo Jaime Cortesatildeo foi consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo entatildeo vigente Luiacutes de Albuquerque ainda que contraacuterio agrave teoria da descoberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que ldquodeve a sua celebridade a uma expediccedilatildeo que natildeo fezrdquo100 estranha no entanto o facto de Diogo do Couto natildeo mencionar os serviccedilos especiais que estiveram na origem da nomeaccedilatildeo do navegador para a capitania de Ormuz101 Esta distinccedilatildeo torna-se ainda mais suspeita se tivermos em consideraccedilatildeo que uma nomeaccedilatildeo desta natureza implicaria em meacutedia 10 anos de serviccedilos no Oriente102 durante os quais era acumu-lada a experiecircncia necessaacuteria para o desempenho de uma capitania Como vimos natildeo foi esse o caso de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Aliaacutes as nomeaccedilotildees para as capitanias mais importantes e lucrativas como Or-muz Goa ou Malaca natildeo soacute eram atribuiacutedas em reconhecimento pelos vaacuterios anos de serviccedilo no Oriente como tambeacutem recaiacuteam tendencial-mente sobre nobres com uma maior presenccedila na corte o que tambeacutem

98 LOUREIRO ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 pp 749-797 JPC ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 833-836

99 CORTESAcircO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158100 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo p 727101 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol IV

p 258102 Andreia Martins de Carvalho determinou os anos de serviccedilo de fidalgos no Oriente

antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania entre 1518 e 1544 CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 211 Foi nesse sentido que tendo em conta a infor-maccedilatildeo disponiacutevel sobre o percurso de 37 fidalgos estabelecemos a meacutedia de anos relativos a serviccedilos no Oriente antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203186

Fernando Pessanha

natildeo era o caso de Mendonccedila Ora se o navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro como explicar tatildeo generoso honroso e rentaacutevel reconhecimento Isto claro para aleacutem das compensaccedilotildees econoacutemicas atraacutes referidas e da entrega da comenda da Ordem de Cris-to que de seguida abordaremos De resto a capitania de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ficou marcada por episoacutedios dignos de registo como o au-xiacutelio prestado agrave frota de Simatildeo da Cunha assolada por uma epidemia contraiacuteda na campanha contra a ilha de Bahareacutem103 Refira-se aliaacutes que foi sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que recaiu a responsabilidade de escolher um agente para realizar a ceacutelebre missatildeo de espionagem que constituiu a viagem por terra de Ormuz a Portugal protagonizada por Antoacutenio Tenreiro entre Setembro de 1528 e Maio de 1529 - viagem cuja narrativa constitui um notaacutevel documento histoacuterico de natureza geograacutefica religiosa e antropoloacutegica104

63 A comenda da vila de Arenilha

Tal como anteriormente referimos deparaacutemo-nos com dois documen-tos que chamaram a nossa atenccedilatildeo aquando da investigaccedilatildeo para o ar-tigo ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo Trata-se de duas cartas em que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece referido como comendador da vila de Arenilha O primeiro documento data de 29 de Dezembro de 1529 e tem por tiacutetulo Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bregantim missiva em que o comendador de Arenilha culpa o marquecircs de Ayamonte pelos danos causados nas barcas dos habitantes da vila no-meadamente no referido bergantim chegando mesmo a mandar ldquopagar as barcas e () as perdas que receberam os donos delas e asy o dano que se fez na Arenilhardquo e mandar o marquecircs prender os responsaacuteveis que se encontrem nas suas terras105 Como se pode perceber o tom da missiva natildeo resulta propriamente abonatoacuterio para o nobre espanhol

103 SOUSA Anais Vol II IV Cap XXII p 106104 Como recompensa pelos serviccedilos prestados Antoacutenio Tenreiro recebeu da Coroa em

1533 uma tenccedila anual de 30000 reacuteis e o haacutebito de cavaleiro da Ordem de Cristo Ver TENREIRO amp AFONSO Viagens por terra da Iacutendia a Portugal p 18 RL ldquoTenreiro Antoacuteniordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II p 1023

105 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 Nordm45

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 187

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig1 - Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua

Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do

marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

Fig 1

Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o

marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203188

Fernando Pessanha

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig2 - Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar

creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Arenilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada destinada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila assim como o seu

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesahelliprdquo pp 86-82

Fig 2

Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao

comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Are-nilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada desti-nada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesardquo pp 86-82

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 189

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacute-vatildeo de Mendonccedila assim como o seu percurso como capitatildeo nas armadas da Iacutendia acreditamos encontrar-nos em condiccedilotildees para demonstrarmos que a comenda de Arenilha foi efectivamente atribuiacuteda ao navegador como reconhecimento pelos serviccedilos prestados no Oriente

Com efeito satildeo vaacuterios os indicadores que nos levam a afirmaacute-lo Em primeiro lugar o facto de natildeo se encontrar nas croacutenicas nem nas fontes coevas qualquer referecircncia a um homoacutenimo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a balizagem cronoloacutegica compreendida entre 1514 e 1532 periacuteodo em que aparece referido na documentaccedilatildeo Aliaacutes as da-tas discriminadas nos documentos que o referem como comendador de Arenilha corroboram a ideia de esta comenda ter sido atribuiacuteda aquando do seu regresso ao reino Eacute certo que natildeo sabemos a data em que Cristoacutevatildeo teraacute chegado a Portugal ainda que tenhamos notiacutecia da sua passagem pelo sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio de 1524 durante a viagem de regresso108 Poreacutem as tenccedilas atraacutes mencionadas indicam que se encontrava no reino em 1526 Uma vez que os documentos que o referem como comendador da vila da foz do Guadiana remontam a Dezembro de 1529 e Maio de 1530 anos em que o navegador jaacute se encontrava no Oriente eacute de supor que D Joatildeo III lhe teraacute atribuiacutedo a comenda aquando da sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e Marccedilo de 1527 ano em que voltou a partir para a Iacutendia jaacute na qualida-de de capitatildeo de Ormuz

Uma vez que natildeo se verificam homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila para a balizagem cronoloacutegica atraacutes referida e que as datas dos docu-mentos que o referem como comendador de Arenilha satildeo ligeiramente posteriores ao seu regresso ao reino resta-nos determinar se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila reunia as condiccedilotildees necessaacuterias para ser agraciado com uma comenda desta natureza Antes de mais importa referir que a vila de Arenilha e de Castro Marim eram as duas uacutenicas comendas da Ordem de Cristo no Algarve Curiosamente Isabel L Morgado de Sousa e Silva natildeo refere a comenda de Arenilha na dissertaccedilatildeo para doutoramento

108 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo Oceanos Nordm4 pp 17-18 ALBU-QUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 727-728 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 79

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203190

Fernando Pessanha

A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521)109 Poreacutem o documento publicado por Hugo Cavaco natildeo deixa margem para duacutevidas

ldquoNo Bispado do Algarve haacute somente duas Commendas da Ordem (de

Cristo) que satildeo das antigas e as seguintes

A Commenda e Alcaideria-moacuter de Castro Marim avaliou-se em quatro-

centos e cinquenta mil reacuteis no anno de 1608

A Commenda da Alcaideria-mograver de Santo Antonio de Arenilha que estaacute

junto a Castro Marim em cento e trinta mil reacuteis no anno de 1608

No Bispado do Algarve natildeo haacute nenhuma Commenda desta Ordem mais

que as duas velhas que valem quinhentos e oitenta mil reacuteis como se vecirc

da somma adianterdquo110

Aliaacutes soacute o facto de Arenilha ser comenda da Ordem de Cristo poderaacute explicar que o senhorio da vila tenha sido atribuiacutedo exclusivamente a cavaleiros da miliacutecia ao longo de toda a centuacuteria quinhentista111

Naturalmente que estas comendas implicavam desde logo a existecircn-cia de comendadores sobre os quais recaiacutea o senhorio das ditas vilas o que era compreendido como motivo de honra e de prestiacutegio social numa sociedade ainda bastante influenciada pelas antigas tradiccedilotildees medievo-feudais Comendas refira-se que compreendiam o direito agrave administra-ccedilatildeo da localidade e conferiam uma renda para sustentaccedilatildeo do comenda-dor beneficiaacuterio configurando um recurso para os encargos da proacutepria comenda No entanto a atribuiccedilatildeo de uma comenda representava um benefiacutecio atribuiacutedo a cavaleiros professos nas ordens militares como re-compensa por serviccedilos prestados Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Men-donccedila soacute poderia ser agraciado com a comenda de Arenilha caso tivesse sido investido na Ordem de Cristo Foi nesse sentido que procuraacutemos determinar se este navegador professou nesta Ordem Militar

Com efeito a dissertaccedilatildeo Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) de Joatildeo Maria Falcatildeo Pestana de Vascon-celos natildeo faz qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila enquanto cavaleiro da Ordem de Cristo Refere no entanto o seu avocirc Afonso Fur-

109 SILVA A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta110 Documento VIII BNLMicroformas F5040 Documento publicado por CAVACO Revisi-

tando p 52111 Cf PESSANHA Os 500 anos pp 57-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 191

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

tado de Mendonccedila comendador de Cardiga da Ordem de Cristo112 a sua irmatilde Margarida de Mendonccedila enquanto mulher de um comendador da mesma Ordem e o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo que recebeu o haacutebito da miliacutecia em 16 de Abril de 1514113 Ain-da que a referida dissertaccedilatildeo natildeo faccedila qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo enquanto membro desta Ordem vem demonstrar a ligaccedilatildeo de alguns dos seus familiares agrave mesma natildeo soacute na qualidade de cavaleiros como tambeacutem de comendadores

Poreacutem Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social de Teresa Lacerda assim como a jaacute referida tese A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) de Isabel L Morgado de Sousa e Silva jaacute identificam efectivamente Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como frei cavaleiro desta Ordem114 De acordo com a obra consultada Cavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVI Cristoacutevatildeo de Mendonccedila recebeu efectivamente o haacutebito da Ordem de Cristo em 16 de Abril de 1514115 exactamente na mesma data em que o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila tambeacutem foi in-vestido116 De resto o facto de Cristoacutevatildeo aparecer referido como mem-bro da miliacutecia numa provisatildeo em que D Joatildeo III manda o almoxarife de Aveiro pagar ldquoa Cristoacutevatildeo de Mendonccedila sua tenccedila deste ano 50000 reacuteis assentada na alfacircndega de Lisboa com o haacutebito de Cristordquo117 vem dissipar qualquer duacutevida que ainda subsistisse

Note-se que identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como cavaleiro da Ordem de Cristo natildeo pudemos deixar de reparar no silecircncio dos cronistas no momento de identificar os intervenientes no processo ex-pansionista com as suas respectivas filiaccedilotildees nas Ordens Militares De facto quer Joatildeo de Barros quer os cronistas que lhe sucederam natildeo fazem qualquer referecircncia agrave filiaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo em qualquer Ordem tal como de acordo com o que constataacutemos raramente o fazem em relaccedilatildeo a outros cavaleiros Esta evidecircncia pode parecer ainda mais estranha se tivermos em consideraccedilatildeo o forte envolvimento da Ordem

112 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Vol I p 377 FARIA Livro de Linhagens p 275

113 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares p 392 114 LACERDA Os Capitatildees das Armadas pp 120 e 228 SILVA A Ordem de Cristo p 336

SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma perspectiva de estudordquo apecircndice

115 FARIA ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo p 21116 FARIA ldquoCavaleirosrdquo p 21 Ver tambeacutem SILVA A Ordem de Cristo p 330117 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203192

Fernando Pessanha

de Cristo na Histoacuteria da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses Ordem Militar sublinhe-se que teve como governadores figuras in-contornaacuteveis da famiacutelia real como o infante D Henrique o infante D Fernando o rei D Manuel ou o rei D Joatildeo III118 Poreacutem haacute que ter em consideraccedilatildeo que documentos como Memoacuteria das Armadas ou o Livro de Lisuarte de Abreu natildeo satildeo fontes sobre qualquer uma das Ordens razatildeo pela qual se torna compreensiacutevel a ausecircncia de referecircncias mais completas relativamente aos intervenientes no processo de expansatildeo Aliaacutes a intenccedilatildeo subjacente agrave produccedilatildeo de obras como Histoacuteria do Des-cobrimento e da Conquista da Iacutendia natildeo passa por apresentar informa-ccedilatildeo detalhada sobre as individualidades que participaram no processo expansionista mas antes destacar o protagonismo reacutegio em todo este processo119

Por fim natildeo se verificando homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a cronologia abordada coincidindo as datas que o referem como comendador de Arenilha e identificado este navegador como cavalei-ro da Ordem de Cristo resta-nos perceber por que motivo lhe teraacute sido entregue a comenda desta vila na foz do Guadiana Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo que a fundaccedilatildeo de Are-nilha prende-se com a afirmaccedilatildeo da soberania poliacutetica e administra-tiva de D Manuel sobre um territoacuterio frequentado por castelhanos Eacute exactamente nesse contexto que em 1421 Castro Marim justificava o pedido de isenccedilatildeo de alguns encargos pelos ldquoconstantes trabalhos que os moradores tinham com os castelhanos que insistiam em vir pescar ao reinordquo120 Quer isto dizer que os castelhanos vinham pescar para as margens portuguesas natildeo pagando os devidos impostos agrave Coroa Aliaacutes a existecircncia do topoacutenimo de origem castelhana Arenilha121 ainda antes da elaboraccedilatildeo da Carta de Privileacutegio que manda proceder agrave construccedilatildeo

118 FONSECA ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo pp 321-347 Ver tambeacutem SILVA A Or-dem de Cristo pp 43-110

119 Cf SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristordquo pp 349-361120 VENTURA ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo p 608

ANTT Chancelaria de D Afonso V liv 2 fl30121 De acordo com o dicionaacuterio da Real Academia Espantildeola ldquoarenillardquo apresenta-se como

sinoacutenimo de ldquoarena menudardquo Ver Dicionario de la Real Academia Espantildeola Disponiacutevel em httplemaraeesdraeval=arenilla ndash Consultado dia 10 de Setembro de 2013 Note-se que quando em 1775 se pretendeu baptizar a nova vila iluminista com o nome de Vila Real de Santo Antoacutenio de Arenilha prontamente o Marquecircs de Pombal proibiu a utilizaccedilatildeo do nome ldquoArenilhardquo alegando que ldquoeacute uma palavra hespanhola e Villa Real uma povoaccedilatildeo portuguesardquo Ver OLIVEIRA Monografia p 71

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 193

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

da vila122 indica a ocupaccedilatildeo daquele areal na margem portuguesa da foz do Guadiana por populaccedilotildees de pescadores de origem castelhana Dadas as circunstacircncias seria do interesse estrateacutegico do monarca que esta comenda recaiacutesse sobre algueacutem experimentado na guarda da fronteira e que fizesse cumprir o pagamento dos devidos direitos aduaneiros Re-corde-se que Arenilha para aleacutem de comenda da Ordem de Cristo era uma vila de fronteira situada na margem portuguesa do Guadiana tal como o era a vila de Mouratildeo de onde Cristoacutevatildeo de Mendonccedila era natu-ral Como anteriormente referimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Men-donccedila o fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo que foi nomeado em 1476 alcaide-mor de Mouratildeo123 uma vila fortificada do Alentejo que guarda-va a fronteira portuguesa frente a Espanha O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas mostra-nos o castelo de Mouratildeo onde Cristoacutevatildeo teraacute crescido localizado no cimo de uma colina sobranceiro ao Guadiana124 Quer isto dizer que o ceacutelebre navegador era descendente de uma famiacutelia experimentada na guarda da fronteira face ao reino vizinho e familia-rizado com as actividades militares tributaacuterias e administrativas que lhe eram inerentes125 Assim sendo esta condiccedilatildeo de fronteiro a juntar ao facto de Cristoacutevatildeo ser cavaleiro da Ordem de Cristo teraacute resultado altamente pertinente no momento em que D Joatildeo III decidiu atribuir a comenda de Arenilha a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como recompensa pelos serviccedilos prestados

Por fim mas natildeo menos relevante teraacute sido a experiecircncia naval e militar adquirida por Mendonccedila nos mares do Oriente e direccionada para a foz do Guadiana sistematicamente ameaccedilada pelos ataques da pi-rataria magrebina126 Recorde-se que Mendonccedila no decurso das suas na-vegaccedilotildees na australaacutesia viu-se na necessidade de defender posiccedilotildees por-

122 O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas produzido por volta de 1509 jaacute indicava o topoacutenimo que veio a ser oficializado com a Carta de Privileacutegio de 12 de Fevereiro de 1513 Ver ARMAS O Livro das Fortalezas fl 1

123 FREIRE Brasotildees Vol III p 173124 ANTT Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Livro das Fortalezas si-

tuadas no Extremo de Portugal e Castela por Duarte de Armas escudeiro da Casa do Rei D Manuel I Nordm 159 fls 13-14 ARMAS O Livro das Fortalezas fls 13-14

125 Refira-se que foi durante o periacuteodo em que o pai de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila deteve a alcaidaria de Mouratildeo que o rei D Manuel obteve dos povos nas cortes de Lisboa de 1502 uma vultosa contribuiccedilatildeo que fez com que o castelo da vila fosse intervenciona-do por dois importantes arquitectos reacutegios os irmatildeos Francisco e Diogo de Arruda os mestres das obras reacutegias da comarca de entre o Tejo e o Guadiana Ver FARIA ldquoForti-ficaccedilotildees de Portugal na fronteira da Estremadura espanholardquo p 161

126 Sobre este assunto veja-se PESSANHA ldquoAtaques da piratariardquo pp 63-94

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203194

Fernando Pessanha

tuguesas dando combate aos adversaacuterios Recordemos a este respeito o ataque movido por Melique Ladil agrave fortaleza de Paceacutem entatildeo guardada por Mendonccedila e a maneira como o ldquomourordquo foi desbaratado e despo-jado das treze embarcaccedilotildees usadas no assalto127 Dadas as circunstacircnci-as seria um desperdiacutecio natildeo se aproveitar a experiecircncia deste capitatildeo numa altura em que se verificava um incremento da actividade piraacutetica nas costas do Algarve Esta actividade da pirataria na foz do Guadiana eacute aliaacutes referida por Bernardo Rodrigues em vaacuterias ocasiotildees nomeada-mente aquando da estadia da condessa de Redondo na vila de Arenilha em 1522128 ou quando Vasco Fernandes Ceacutesar - antigo adaiacutel de Azamor e capitatildeo da Armada do Estreito129 - foi incumbido embarcar o conde do Redondo D Joatildeo Coutinho na vila de Arenilha e escoltaacute-lo a Arzila130 Refira-se que a caminho da foz do Guadiana o navio de Vasco Fernan-des Ceacutesar foi atacado por duas naus tendo-se seguido um combate naval que resultou na explosatildeo de parte da alcaacuteccedilova atirando cinco homens ao mar entre os quais Vasco Fernandes que ficou gravemente ferido131

Vemos deste modo que a entrega da comenda de Arenilha a um in-diviacuteduo como Cristoacutevatildeo de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo descendente de uma famiacutelia de fronteiros e navegador experimentado no combate naval natildeo soacute era altamente pertinente como simboacutelica e manifestamente estrateacutegica para a defesa do extremo sudeste algarvio e da foz do Guadiana onde Mendonccedila deveria actuar com autoridade se-nhorial usufruindo dos seus bens e rendimentos E no caso da comenda de Arenilha Seriam generosos os seus rendimentos Sem duacutevida Se assim natildeo fosse o rei D Duarte natildeo teria doado ao infante D Henrique ainda em 25 de Setembro de 1433 a ldquodiacutesima nova de todo o pescado que pescarem quaisquer pessoas no mar do Monte Gordordquo132 Aliaacutes seraacute certa-

127 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III pp548-549128 RODRIGUES Anais de Arzila Tomo I Cap XC p 373129 GOacuteIS Chronica IV Cap LVII p 552 Sobre a Armada do Estreito veja-se GODINHO

ldquoA armada do estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo pp117-137130 RODRIGUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 PESSANHA Subsiacutedios p 100131 Segundo Bernardo Rodrigues os sobreviventes portugueses por pouco natildeo foram

executados Os que sobreviveram ao combate foram aprisionados e levados para Di-eppe Vasco Fernandes apesar de ferido acabou por escapar do cativeiro desfiando uma esteira e escapando por ela da torre onde se encontrava aprisionado RODRI-GUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 Ver tambeacutem PISSARRA ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Armada do Estreitordquo pp 144-145

132 SERRAtildeO Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fundaccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) p 65 OLIVEIRA Monografia p 73

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 195

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

mente o motivo econoacutemico que jaacute em 1555 estaraacute na origem da disputa pelo senhorio de Arenilha entre Jeroacutenimo de Melo fidalgo da Casa Real e alcaide-mor de Castro Marim e Luiacutes Leite frei cavaleiro da Ordem de Cristo e filho de Antoacutenio Leite o anterior alcaide133

Relativamente agrave defesa sabemos que Arenilha natildeo possuiacutea castelo torre ou qualquer fortificaccedilatildeo digna de registo ateacute 1542-1547 periacuteodo em que o alcaide Antoacutenio Leite daacute-nos conta das ldquotramqueyras e repai-rosrdquo construiacutedos sob o seu comando para a populaccedilatildeo se defender dos ataques da pirataria moura134 Ainda assim Mendonccedila estava obrigado a zelar pela defesa da vila independentemente de esta ter ou natildeo for-tificaccedilotildees para a proteger Se tivermos em consideraccedilatildeo que a sua no-meaccedilatildeo como comendador o obrigava agrave realizaccedilatildeo de um inventaacuterio ao patrimoacutenio da comenda (infelizmente desconhecido) e ao dever de fixar residecircncia na sua aacuterea de governo135 eacute muito provaacutevel que Cristoacutevatildeo se tenha detido durante algum tempo na vila da foz do Guadiana algures entre finais de 1524 aquando da sua chegada ao reino136 e Marccedilo de 1527 quando voltou a partir para o Oriente

Como anteriormente referimos os comendadores deviam fixar-se nas suas comendas para melhor procederem agrave sua defesa e melhor ren-tabilizarem as mesmas Assim sendo como eacute possiacutevel que os documen-tos que referem Cristoacutevatildeo como comendador de Arenilha sejam relati-vos aos anos em que este se encontrava na capitania de Ormuz Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo de que a principal obrigaccedilatildeo dos cavaleiros da Ordem de Cristo era a luta contra os inimigos da feacute devendo estar prontos para a guerra sempre que o Mestre os convocasse Uma vez que as situaccedilotildees de guerra eram cons-tantes nos territoacuterios de aleacutem-mar onde a presenccedila dos cavaleiros da Ordem se tornava necessaacuteria natildeo eacute de admirar que estes fossem dispen-sados da exigecircncia que os obrigava a permanecer nas suas comendas137

133 CAVACO Revisitando pp 18-20 PESSANHA Os 500 anos pp 72-73134 Carta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava

atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras e que era necessaacute-rio enviar-lhe socorro ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos p 99 PINTO ldquoIacutendice Analiacuteticordquo p 267

135 Cf SILVA A Ordem de Cristo pp 189-190136 Uma vez que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila se encontrava na Aacutefrica do Sul em Marccedilo ou Maio

de 1524 eacute de supor que a sua chegada ao reino se tenha dado ainda no mesmo ano137 SILVA A Ordem de Cristo p 191

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203196

Fernando Pessanha

Eacute nesse sentido que encontramos Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comen-dador de Arenilha em 1529 e 1530 anos em que jaacute se encontrava como capitatildeo na fortaleza de Ormuz De resto era nesta fortaleza que ainda se encontrava em 1531 ano em que piratas de Larache atacaram a vila da foz do Guadiana ldquoonde fizeacuteratildeo muito dano em navios que tomaacuteratildeo e den-tro da Barra de Aiamonte fizeacuteratildeo despejar a Arrinilha e a Montegordordquo138

7 Conclusatildeo

Com efeito muito se tem escrito (e especulado) sobre a alegada des-coberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila No entanto e indepen-dentemente dos resultados alcanccedilados pelo navegador nesta expediccedilatildeo parece indiscutiacutevel que foi generosamente recompensado aquando do seu regresso ao reino Resta-nos perceber porquecirc Jaacute Armando Cortesatildeo muito antes de Peter Trickett tinha levantado a hipoacutetese de a rentaacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz ter sido entregue a Mendonccedila como re-compensa pelos serviccedilos prestados na expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro139 Natildeo eacute conhecido poreacutem qualquer documento que ateste o ecircxito do navegador nesta expediccedilatildeo Omissatildeo que segundo investigadores como Armando Cortesatildeo Damiatildeo Peres ou Jaime Cortesatildeo teraacute sido consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo determinada pelas limitaccedilotildees de navega-ccedilatildeo estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas e com o contencioso entre Portugal e Espanha pela posse das Molucas140

O certo eacute que Mendonccedila ao regressar ao reino foi agraciado com uma das capitanias mais rentaacuteveis do impeacuterio no Oriente para aleacutem de ter recebido compensaccedilotildees econoacutemicas e aparecer referido em 1529 e 1530 como comendador da vila de Arenilha na foz do Guadiana Refira-se a este respeito que muitos capitatildees cavaleiros da Ordem de Cristo se lanccedilaram no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Poreacutem mui-to poucos chegaram a obter as tatildeo almejadas comendas141 Vemos deste

138 RODRIGUES Anais Tomo II Cap XXXV p 209139 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158140 CORTESAtildeO A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e

de D Joatildeo II Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 65-66 PERES ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na Histoacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II pp 17-21

141 Entre os afortunados que lograram obter este tipo de rendimento contam-se muito poucos D Joatildeo Pereira D Pedro de Castelo Branco Nuno Furtado Simatildeo Guedes entre outros Ver CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 216

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 197

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

modo que a atribuiccedilatildeo da comenda de Arenilha significou um motivo de grande honra e prestiacutegio para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Ora se este navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro resta-nos perceber porque motivo teraacute sido agraciado com compensaccedilotildees eco-noacutemicas a nomeaccedilatildeo para uma das mais rentaacuteveis capitanias de todo o Impeacuterio no Oriente e uma honrosa comenda da Ordem de Cristo Eacute caso para dizer que a problemaacutetica em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila con-tinua a levantar muitas duacutevidas e poucas certezas

Fontes e Bibliografia

1 Arquivos

ANTT

Chancelaria de D Afonso V Livro 2 fl30

Chancelaria de D Manuel I Livro 4 fl37 Livro 8 fl 29v Livro 9 fl4v Livro 10 fl53 Livro 13 fl60 Livro 37 fl64

Chancelaria de D Joatildeo III Livro 12 fl62

Chancelaria da Ordem de Cristo Livro13 fls375 vndash 379v

Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1

Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 15 Nordm47 Pt I maccedilo 44 Nordm45 Pt I maccedilo 45 Nordm9

Pt II maccedilo 51 Nordm26 Pt II maccedilo 53 Nordm182 Pt II maccedilo 93 Nordm150 Pt II maccedilo 109 Nordm131 Pt II maccedilo 131 Nordm226 Pt II maccedilo 134 Nordm57 Pt II maccedilo 135 Nordm45 Pt II maccedilo 135 Nordm49 Pt II maccedilo 136 Nordm102 Pt II maccedilo 141 Nordm91

Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Nordm159

Casa Real Cartoacuterio da Nobreza Livro Nordm20 - Livro da Nobreza e da per-feiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal fl XII

2 Fontes Impressas

ABREU Lisuarte de Livro de Lisuarte de Abreu (Reproduccedilatildeo do manuscrito existente na Perpont Morgan Library de Nova York) Comissatildeo Nacional para as comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portugueses Lisboa 1992

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203198

Fernando Pessanha

ARMAS Duarte de Livro das Fortalezas Arquivo Nacional da Torre do TomboInapa Lisboa 1997

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada III Na Regia Officina Typografica Lisboa MDCCLXXVII

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada IV Imprensa Nacional Casa da Moe-da Lisboa 2001

BORGES Joseacute Calvatildeo Borges Livro do Armeiro-Mor Academia Portugue-sa de HistoacuteriaEdiccedilotildees Inapa Lisboa 2000

CASCAtildeO Joatildeo ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevorardquo Uma Jornada ao Alentejo e ao Algarve A altera-ccedilatildeo das linhas de forccedila da poliacutetica nacional Livros Horizonte Lisboa 1984 pp 77-136

CASTANHEDA Fernatildeo Lopes de Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses 2 vols Lello amp Irmatildeos Editores Porto 1979

CORREIA Gaspar Lendas da Iacutendia Tomo III na Typographia da Acade-mia Real das Sciencias Lisboa 1862

Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI Centro de Estudos Histoacutericos Ultramarinos Lis-boa 1969

GAYO Felgueiras Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX Ediccedilatildeo de Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Arauacutejo Affonso Braga 1939

GUEDES Liacutevio da Costa Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) Arquivo Histoacuterico Militar Lisboa 1988

GOacuteIS Damiatildeo de Chonica do Serenissimo Senhor Rei D Manoel Lisboa 1749

JOSEacute Frei Joatildeo de Satildeo ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 21-132

RODRIGUES Bernardo Anais de Arzila 2 vols Academia das Sciecircncias de Lisboa Lisboa 1915-1919

SARRAtildeO Henrique Fernandes ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 133-174

SOUSA Frei Luiacutes de Anais de D Joatildeo III 2 vols Saacute da Costa Lisboa 1928

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 199

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

SOUSA Manuel de Faria e Asia Portvgvesa Officina de Henrique Valen-te de Oliveira impressor del Rey NS Lisboa 1666

TENREIRO Antoacutenio amp AFONSO Mestre Viagens por terra da Iacutendia a Por-tugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica Mem-Martins 1991

3 Estudos

ALBUQUERQUE Luiacutes de (dir) Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-tos Portugueses 2 vols Ciacuterculos de Leitores Lisboa 1994

ALMEIDA Fortunato de Histoacuteria de Portugal Vols III-VII Promoclube Lisboa sd

CARDOSO Antoacutenio Pereira A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila agrave Austraacutelia em 1522 Academia da Marinha Lisboa 1994

CARVALHO Andreia Martins de ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Ma-nuelinardquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia ndash Actas do Coloacutequio Internacional Joatildeo Paulo Oliveira e Costa amp Viacutetor Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 199-226

CARVALHO Andreia Martins de Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria dos Descobrimen-tos e da Expansatildeo Portuguesa (seacuteculos XV-XVIII) apresentado agrave UNL Lisboa 2006

CAVACO Hugo ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio (Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Arte no Algarve) Cacircmara Muni-cipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1987

CAVACO Hugo Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha Cacircmara Munici-pal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1995

CORREIA Joseacute Eduardo Horta Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina Faup Publicaccedilotildees Porto 1997

CORREIA Joseacute Eduardo Horta O Algarve em Patrimoacutenio Gente Singular Editora Olhatildeo 2010

CORTESAtildeO Armando ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Aus-tralaacutesia Macau Japatildeo)rdquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939

CORTESAtildeO Jaime ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal (Dir Damiatildeo Peres) Vol IV Portucalense Editora Barce-los 1932 pp 9-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203200

Fernando Pessanha

CORTESAtildeO Jaime A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e de D Joatildeo II Lisboa 1960

COSME Joatildeo ldquoOs homens de ciecircnciardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 91-97

COSME Joatildeo ldquoOs Navegadores ndash Vasco da Gamardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 145-152

COSTA Joatildeo Paulo Oliveira e ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo A Nobreza e a Expansatildeo Estudos Biograacuteficos Joatildeo Paulo Oliveira e Costa (coord) Patrimoacutenia Cascais 2000 pp 11-51

DOMINGUES Francisco Contente ldquoOs portugueses descobriram a Aus-traacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Si-motildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Univer-sidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 163-172

DOMINGUES Francisco Contente Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 Circulo dos Leitores Lisboa 2016

FARIA Antoacutenio Machado de Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI Acade-mia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 1956

FARIA Antoacutenio Machado de ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo Separata da revista Arqueologia e Histoacuteria vol VI Lisboa 1955

FARIA Miguel Figueira de ldquoFortificaccedilotildees de Portugal na fronteira da Es-tremadura espanholardquo Anais ndash Seacuterie Histoacuteria Vol II Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 1995 pp 156-187

FONSECA Luiacutes Adatildeo da ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo A Alta No-breza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 322-347

FREIRE Anselmo Braamcamp Brasotildees da Sala de Sintra 3 vols Impren-sa da Universidade de Coimbra Coimbra 1921-1930

GARCIA Joseacute Manuel Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII QuidNovi Lisboa 2009

GARCIA Joseacute Manuel O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash 1555 Nordm 8 QuidNovi Vila do Conde 2012

GODINHO Rui Landeiro ldquoA Armada do Estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (Seacuteculos XV-XIX) Ediccedilotildees Cul-turais da Marinha Lisboa 2003 pp 117-137

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 18: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203182

Fernando Pessanha

de tenccedila no mesmo ano de 152683 Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo rece-beu uma tenccedila generosa ao voltar ao reino Talvez Note-se que o pai de Cristoacutevatildeo Diogo de Mendonccedila alcaide-mor de Mouratildeo recebia os mesmos 50000 reacuteis de tenccedila em 150184 e em 151485 valor que o irmatildeo de Cristoacutevatildeo Pedro de Mendonccedila passou a auferir ao herdar a alcaidaria de Mouratildeo em 151786

Para aleacutem dos 50000 reacuteis de tenccedila eacute o proacuteprio Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila a mandar Jacome Bentes receber de Joatildeo de Azambuja 200000 reacuteis em virtude da outra procuraccedilatildeo que o dito Mendonccedila tinha feito para receber dos almoxarifes de Setuacutebal Aveiro e Coimbra87 Refira-se a este respeito que ainda no mesmo ano ordenou D Joatildeo III que o almoxari-fe de Aveiro pagasse ao jaacute referido Tristatildeo da Cunha 100000 reacuteis para pagamento de 250000 reacuteis da sua tenccedila88 ou que Vasco da Gama ao re-gressar ao reino depois de descobrir o caminho mariacutetimo para a Iacutendia recebeu uma renda de 300000 reacuteis89 Vemos deste modo que os rendi-mentos auferidos por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aquando do seu regresso ao reino natildeo foram propriamente modestos quando comparados com os do primeiro governador da Iacutendia ou com os do navegador e cosmoacute-grafo Duarte Pacheco Pereira

Por fim surge-nos um documento datado de 13 de Abril de 1527 e que tem por tiacutetulo Estabelecimento que Fernando Rodrigues como procu-rador de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila fidalgo da Casa do Rei fez em Fernando Gomes para cobrar todas as tenccedilas e moradias do seu dito constituinte90 Repare-se que de acordo com Joatildeo de Barros Cristoacutevatildeo de Mendonccedila voltou a partir para o Oriente em Marccedilo de 1527 Vemos portanto que o referido documento eacute ligeiramente posterior agrave partida do navegador e que este deixou instruccedilotildees ao seu procurador para que algueacutem cobrasse todas as suas tenccedilas e moradias De resto a alusatildeo agraves ldquotenccedilas e moradi-

83 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 135 Nordm4584 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 13 fl60 ANTT Chancelaria de D Manuel I

liv 8 fl29v85 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 53 Nordm18286 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 10 fl53 Repare-se que a partir de 1523 Pe-

dro de Mendonccedila passou a receber apenas 30000 reacuteis ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 109 Nordm131 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 131 Nordm226

87 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 136 Nordm10288 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 135 Nordm4989 ANTT Chancelaria de D Manuel I liv 4 fl 37 COSME ldquoOs Navegadores ndash Vasco da

Gamardquo p 14990 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 141 Nordm91

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 183

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

asrdquo vem reforccedilar a ideia de que os serviccedilos prestados por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente foram bem recompensados pelo monarca portu-guecircs Resta-nos perceber que serviccedilos teratildeo justificado estas recompen-sas assim como aquelas a que de seguida aludiremos

62 A capitania de Ormuz

Para aleacutem dos rendimentos atraacutes referidos os serviccedilos prestados por Mendonccedila foram igualmente agraciados com a nomeaccedilatildeo para a ren-taacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz para onde partiu em Marccedilo de 152791 Natildeo deixa de ser interessante a alusatildeo que cronistas como Joatildeo de Barros ou Frei Luiacutes de Sousa fazem aos Braganccedilas no momento em que referem esta nova partida de Cristoacutevatildeo para a Iacutendia Com efeito eacute possiacutevel que o duque de Braganccedila jaacute tivesse ligaccedilotildees aos Mendon-ccedilas ainda que o casamento de D Jaime com D Joana de Mendonccedila soacute se tenha realizado em 1520 Teresa Lacerda levanta a hipoacutetese de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ter sido indigitado para o Conselho Reacutegio por influecircncia do duque de Braganccedila do mesmo modo como foi nomea-do para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 e para capitatildeo de Ormuz em 152792 De facto natildeo eacute impossiacutevel No entanto somos da opiniatildeo de que natildeo seraacute apenas D Joana a estar na origem de uma eventual ligaccedilatildeo de D Jaime aos Mendonccedilas como tambeacutem a participaccedilatildeo do seu pai ldquoDiogo de mendonccedila alcaide mor de Mouratildeordquo e de ldquoPero de Mendonccedila seu filhordquo na conquista de Azamor comandada pelo proacuteprio duque em 151393

De facto natildeo sabemos se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teraacute sido indigitado para o Conselho Reacutegio para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquer-que de 1519 ou para a capitania de Ormuz por influecircncia do duque de Braganccedila Seja como for parece-nos que o contexto social e familiar de Cristoacutevatildeo teraacute pesado no momento em que o monarca procedeu a tais nomeaccedilotildees Basta recordarmos que Afonso Furtado bisavocirc de Cristoacute-vatildeo tinha sido nomeado capitatildeo do mar por D Joatildeo I em 138594 Afonso

91 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada IV II Cap III p 73 Ver tambeacutem CORREIA Lendas Vol III Pt I Cap XVI p 182 SOUSA Anais Vol II IV Cap I p 1 SOUSA Asia Tomo I Pt IV Cap II p 256

92 LACERDA Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social p 112 nota 375

93 GOacuteIS Chronica III Cap XLVI p 367 GAYO Nobiliaacuterio p 5394 FREIRE Brasotildees Vol III pp 170-171

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203184

Fernando Pessanha

Furtado de Mendonccedila avocirc de Cristoacutevatildeo para aleacutem de capitatildeo-mor do mar95 aparece referido como escrivatildeo da feitoria de Sofala96 Pedro de Mendonccedila tio de Cristoacutevatildeo tinha comandado uma nau numa frota de 12 navios que em 1504 partiu para a Iacutendia para garantir a seguranccedila das rotas comerciais do oceano Iacutendico e controlar o governante hostil de Calecut97 Natildeo se pode portanto considerar que os Mendonccedilas seri-am marginais ao projecto de expansatildeo ultramarina quando Cristoacutevatildeo aparece nomeado para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 ou para a capitania de Ormuz que deteve entre 1527 e 1531 ou 1532 ano da sua morte

Chegando a este ponto vale a pena determo-nos brevemente de modo a compreendermos o que era Ormuz e o que representava esta capitania no contexto do Impeacuterio Portuguecircs no Oriente Antes de mais conveacutem recordarmos que Ormuz era um importantiacutessimo entreposto mercantil em virtude da sua privilegiada localizaccedilatildeo geograacutefica na en-trada do Golfo Peacutersico Com efeito com a segunda conquista de Ormuz por Afonso de Albuquerque em 1515 e a consequente imposiccedilatildeo de um protectorado a Coroa portuguesa passou a arrecadar uma parcela con-sideraacutevel das receitas aduaneiras da proacutespera ilha transformando-se Ormuz no epicentro das actividades portuguesas no Golfo Peacutersico e no mar da Araacutebia A acreditar-se nas fontes quinhentistas era tal o movi-mento e a intensidade no porto de Ormuz que natildeo era invulgar ali en-contrar mais de 200 navios carregados de mercadorias De entre as mais importantes mercadorias que passavam pela cidade destacavam-se os cavalos oriundos da Araacutebia e da Peacutersia com destino aos portos da cos-ta ocidental da Iacutendia de onde eram encaminhados para os potentados indianos entre os quais grassavam guerras endeacutemicas Mas outros pro-dutos aacuterabes e persas faziam a riqueza da esteacuteril ilha de Djarucircn como as alcatifas aacuterabes as peacuterolas de Bahareacutem os tapetes a seda e a prata da Peacutersia o salitre e o enxofre da proacutepria ilha ao lado de mercadorias menos nobres como os frutos secos ou os cereais Dadas as circunstacircn-cias natildeo seraacute de estranhar que ao longo de todo o seacutec XVI a alfacircndega de Ormuz se tenha destacado como a mais rentaacutevel de todo o Estado da Iacutendia logo a seguir agrave de Goa Por outras palavras a cidade gerava

95 FARIA Livro de Linhagens p 27296 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada I Pt I V Cap III97 MALDONADO Relaccedilatildeo das Naos e Armadas da Iacutendia p 16 ANTT Corpo Cronoloacutegi-

co Pt II maccedilo 9 Nordm 35

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 185

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

um volume de receitas tatildeo consideraacutevel que a capitania de Ormuz aca-bou por se transformar numa das mais apetecidas de todo o Impeacuterio no Oriente Vemos deste modo que a atribuiccedilatildeo desta capitania natildeo soacute era motivo de prestiacutegio para o capitatildeo nomeado como tambeacutem fonte de grande riqueza98

Natildeo podemos deixar de notar que as Deacutecadas da Aacutesia ao referir-se agrave nomeaccedilatildeo de Mendonccedila para a capitania de Ormuz natildeo refere quais-quer serviccedilos especiais que justifiquem a atribuiccedilatildeo de tal benesse Ar-mando Cortesatildeo que levantou a hipoacutetese de ter sido Mendonccedila o pri-meiro europeu a chegar agrave Austraacutelia foi um dos investigadores a sugerir que esta nomeaccedilatildeo se devesse aos serviccedilos prestados pelo navegador99 Poreacutem e tal como temos afirmado ao longo deste trabalho natildeo existe qualquer documento que assegure o ecircxito de Mendonccedila relativamente agrave viagem que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro Omis-satildeo que segundo Jaime Cortesatildeo foi consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo entatildeo vigente Luiacutes de Albuquerque ainda que contraacuterio agrave teoria da descoberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que ldquodeve a sua celebridade a uma expediccedilatildeo que natildeo fezrdquo100 estranha no entanto o facto de Diogo do Couto natildeo mencionar os serviccedilos especiais que estiveram na origem da nomeaccedilatildeo do navegador para a capitania de Ormuz101 Esta distinccedilatildeo torna-se ainda mais suspeita se tivermos em consideraccedilatildeo que uma nomeaccedilatildeo desta natureza implicaria em meacutedia 10 anos de serviccedilos no Oriente102 durante os quais era acumu-lada a experiecircncia necessaacuteria para o desempenho de uma capitania Como vimos natildeo foi esse o caso de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Aliaacutes as nomeaccedilotildees para as capitanias mais importantes e lucrativas como Or-muz Goa ou Malaca natildeo soacute eram atribuiacutedas em reconhecimento pelos vaacuterios anos de serviccedilo no Oriente como tambeacutem recaiacuteam tendencial-mente sobre nobres com uma maior presenccedila na corte o que tambeacutem

98 LOUREIRO ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 pp 749-797 JPC ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 833-836

99 CORTESAcircO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158100 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo p 727101 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol IV

p 258102 Andreia Martins de Carvalho determinou os anos de serviccedilo de fidalgos no Oriente

antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania entre 1518 e 1544 CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 211 Foi nesse sentido que tendo em conta a infor-maccedilatildeo disponiacutevel sobre o percurso de 37 fidalgos estabelecemos a meacutedia de anos relativos a serviccedilos no Oriente antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203186

Fernando Pessanha

natildeo era o caso de Mendonccedila Ora se o navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro como explicar tatildeo generoso honroso e rentaacutevel reconhecimento Isto claro para aleacutem das compensaccedilotildees econoacutemicas atraacutes referidas e da entrega da comenda da Ordem de Cris-to que de seguida abordaremos De resto a capitania de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ficou marcada por episoacutedios dignos de registo como o au-xiacutelio prestado agrave frota de Simatildeo da Cunha assolada por uma epidemia contraiacuteda na campanha contra a ilha de Bahareacutem103 Refira-se aliaacutes que foi sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que recaiu a responsabilidade de escolher um agente para realizar a ceacutelebre missatildeo de espionagem que constituiu a viagem por terra de Ormuz a Portugal protagonizada por Antoacutenio Tenreiro entre Setembro de 1528 e Maio de 1529 - viagem cuja narrativa constitui um notaacutevel documento histoacuterico de natureza geograacutefica religiosa e antropoloacutegica104

63 A comenda da vila de Arenilha

Tal como anteriormente referimos deparaacutemo-nos com dois documen-tos que chamaram a nossa atenccedilatildeo aquando da investigaccedilatildeo para o ar-tigo ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo Trata-se de duas cartas em que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece referido como comendador da vila de Arenilha O primeiro documento data de 29 de Dezembro de 1529 e tem por tiacutetulo Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bregantim missiva em que o comendador de Arenilha culpa o marquecircs de Ayamonte pelos danos causados nas barcas dos habitantes da vila no-meadamente no referido bergantim chegando mesmo a mandar ldquopagar as barcas e () as perdas que receberam os donos delas e asy o dano que se fez na Arenilhardquo e mandar o marquecircs prender os responsaacuteveis que se encontrem nas suas terras105 Como se pode perceber o tom da missiva natildeo resulta propriamente abonatoacuterio para o nobre espanhol

103 SOUSA Anais Vol II IV Cap XXII p 106104 Como recompensa pelos serviccedilos prestados Antoacutenio Tenreiro recebeu da Coroa em

1533 uma tenccedila anual de 30000 reacuteis e o haacutebito de cavaleiro da Ordem de Cristo Ver TENREIRO amp AFONSO Viagens por terra da Iacutendia a Portugal p 18 RL ldquoTenreiro Antoacuteniordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II p 1023

105 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 Nordm45

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 187

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig1 - Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua

Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do

marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

Fig 1

Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o

marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203188

Fernando Pessanha

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig2 - Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar

creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Arenilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada destinada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila assim como o seu

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesahelliprdquo pp 86-82

Fig 2

Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao

comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Are-nilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada desti-nada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesardquo pp 86-82

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 189

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacute-vatildeo de Mendonccedila assim como o seu percurso como capitatildeo nas armadas da Iacutendia acreditamos encontrar-nos em condiccedilotildees para demonstrarmos que a comenda de Arenilha foi efectivamente atribuiacuteda ao navegador como reconhecimento pelos serviccedilos prestados no Oriente

Com efeito satildeo vaacuterios os indicadores que nos levam a afirmaacute-lo Em primeiro lugar o facto de natildeo se encontrar nas croacutenicas nem nas fontes coevas qualquer referecircncia a um homoacutenimo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a balizagem cronoloacutegica compreendida entre 1514 e 1532 periacuteodo em que aparece referido na documentaccedilatildeo Aliaacutes as da-tas discriminadas nos documentos que o referem como comendador de Arenilha corroboram a ideia de esta comenda ter sido atribuiacuteda aquando do seu regresso ao reino Eacute certo que natildeo sabemos a data em que Cristoacutevatildeo teraacute chegado a Portugal ainda que tenhamos notiacutecia da sua passagem pelo sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio de 1524 durante a viagem de regresso108 Poreacutem as tenccedilas atraacutes mencionadas indicam que se encontrava no reino em 1526 Uma vez que os documentos que o referem como comendador da vila da foz do Guadiana remontam a Dezembro de 1529 e Maio de 1530 anos em que o navegador jaacute se encontrava no Oriente eacute de supor que D Joatildeo III lhe teraacute atribuiacutedo a comenda aquando da sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e Marccedilo de 1527 ano em que voltou a partir para a Iacutendia jaacute na qualida-de de capitatildeo de Ormuz

Uma vez que natildeo se verificam homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila para a balizagem cronoloacutegica atraacutes referida e que as datas dos docu-mentos que o referem como comendador de Arenilha satildeo ligeiramente posteriores ao seu regresso ao reino resta-nos determinar se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila reunia as condiccedilotildees necessaacuterias para ser agraciado com uma comenda desta natureza Antes de mais importa referir que a vila de Arenilha e de Castro Marim eram as duas uacutenicas comendas da Ordem de Cristo no Algarve Curiosamente Isabel L Morgado de Sousa e Silva natildeo refere a comenda de Arenilha na dissertaccedilatildeo para doutoramento

108 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo Oceanos Nordm4 pp 17-18 ALBU-QUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 727-728 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 79

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203190

Fernando Pessanha

A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521)109 Poreacutem o documento publicado por Hugo Cavaco natildeo deixa margem para duacutevidas

ldquoNo Bispado do Algarve haacute somente duas Commendas da Ordem (de

Cristo) que satildeo das antigas e as seguintes

A Commenda e Alcaideria-moacuter de Castro Marim avaliou-se em quatro-

centos e cinquenta mil reacuteis no anno de 1608

A Commenda da Alcaideria-mograver de Santo Antonio de Arenilha que estaacute

junto a Castro Marim em cento e trinta mil reacuteis no anno de 1608

No Bispado do Algarve natildeo haacute nenhuma Commenda desta Ordem mais

que as duas velhas que valem quinhentos e oitenta mil reacuteis como se vecirc

da somma adianterdquo110

Aliaacutes soacute o facto de Arenilha ser comenda da Ordem de Cristo poderaacute explicar que o senhorio da vila tenha sido atribuiacutedo exclusivamente a cavaleiros da miliacutecia ao longo de toda a centuacuteria quinhentista111

Naturalmente que estas comendas implicavam desde logo a existecircn-cia de comendadores sobre os quais recaiacutea o senhorio das ditas vilas o que era compreendido como motivo de honra e de prestiacutegio social numa sociedade ainda bastante influenciada pelas antigas tradiccedilotildees medievo-feudais Comendas refira-se que compreendiam o direito agrave administra-ccedilatildeo da localidade e conferiam uma renda para sustentaccedilatildeo do comenda-dor beneficiaacuterio configurando um recurso para os encargos da proacutepria comenda No entanto a atribuiccedilatildeo de uma comenda representava um benefiacutecio atribuiacutedo a cavaleiros professos nas ordens militares como re-compensa por serviccedilos prestados Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Men-donccedila soacute poderia ser agraciado com a comenda de Arenilha caso tivesse sido investido na Ordem de Cristo Foi nesse sentido que procuraacutemos determinar se este navegador professou nesta Ordem Militar

Com efeito a dissertaccedilatildeo Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) de Joatildeo Maria Falcatildeo Pestana de Vascon-celos natildeo faz qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila enquanto cavaleiro da Ordem de Cristo Refere no entanto o seu avocirc Afonso Fur-

109 SILVA A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta110 Documento VIII BNLMicroformas F5040 Documento publicado por CAVACO Revisi-

tando p 52111 Cf PESSANHA Os 500 anos pp 57-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 191

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

tado de Mendonccedila comendador de Cardiga da Ordem de Cristo112 a sua irmatilde Margarida de Mendonccedila enquanto mulher de um comendador da mesma Ordem e o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo que recebeu o haacutebito da miliacutecia em 16 de Abril de 1514113 Ain-da que a referida dissertaccedilatildeo natildeo faccedila qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo enquanto membro desta Ordem vem demonstrar a ligaccedilatildeo de alguns dos seus familiares agrave mesma natildeo soacute na qualidade de cavaleiros como tambeacutem de comendadores

Poreacutem Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social de Teresa Lacerda assim como a jaacute referida tese A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) de Isabel L Morgado de Sousa e Silva jaacute identificam efectivamente Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como frei cavaleiro desta Ordem114 De acordo com a obra consultada Cavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVI Cristoacutevatildeo de Mendonccedila recebeu efectivamente o haacutebito da Ordem de Cristo em 16 de Abril de 1514115 exactamente na mesma data em que o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila tambeacutem foi in-vestido116 De resto o facto de Cristoacutevatildeo aparecer referido como mem-bro da miliacutecia numa provisatildeo em que D Joatildeo III manda o almoxarife de Aveiro pagar ldquoa Cristoacutevatildeo de Mendonccedila sua tenccedila deste ano 50000 reacuteis assentada na alfacircndega de Lisboa com o haacutebito de Cristordquo117 vem dissipar qualquer duacutevida que ainda subsistisse

Note-se que identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como cavaleiro da Ordem de Cristo natildeo pudemos deixar de reparar no silecircncio dos cronistas no momento de identificar os intervenientes no processo ex-pansionista com as suas respectivas filiaccedilotildees nas Ordens Militares De facto quer Joatildeo de Barros quer os cronistas que lhe sucederam natildeo fazem qualquer referecircncia agrave filiaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo em qualquer Ordem tal como de acordo com o que constataacutemos raramente o fazem em relaccedilatildeo a outros cavaleiros Esta evidecircncia pode parecer ainda mais estranha se tivermos em consideraccedilatildeo o forte envolvimento da Ordem

112 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Vol I p 377 FARIA Livro de Linhagens p 275

113 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares p 392 114 LACERDA Os Capitatildees das Armadas pp 120 e 228 SILVA A Ordem de Cristo p 336

SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma perspectiva de estudordquo apecircndice

115 FARIA ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo p 21116 FARIA ldquoCavaleirosrdquo p 21 Ver tambeacutem SILVA A Ordem de Cristo p 330117 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203192

Fernando Pessanha

de Cristo na Histoacuteria da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses Ordem Militar sublinhe-se que teve como governadores figuras in-contornaacuteveis da famiacutelia real como o infante D Henrique o infante D Fernando o rei D Manuel ou o rei D Joatildeo III118 Poreacutem haacute que ter em consideraccedilatildeo que documentos como Memoacuteria das Armadas ou o Livro de Lisuarte de Abreu natildeo satildeo fontes sobre qualquer uma das Ordens razatildeo pela qual se torna compreensiacutevel a ausecircncia de referecircncias mais completas relativamente aos intervenientes no processo de expansatildeo Aliaacutes a intenccedilatildeo subjacente agrave produccedilatildeo de obras como Histoacuteria do Des-cobrimento e da Conquista da Iacutendia natildeo passa por apresentar informa-ccedilatildeo detalhada sobre as individualidades que participaram no processo expansionista mas antes destacar o protagonismo reacutegio em todo este processo119

Por fim natildeo se verificando homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a cronologia abordada coincidindo as datas que o referem como comendador de Arenilha e identificado este navegador como cavalei-ro da Ordem de Cristo resta-nos perceber por que motivo lhe teraacute sido entregue a comenda desta vila na foz do Guadiana Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo que a fundaccedilatildeo de Are-nilha prende-se com a afirmaccedilatildeo da soberania poliacutetica e administra-tiva de D Manuel sobre um territoacuterio frequentado por castelhanos Eacute exactamente nesse contexto que em 1421 Castro Marim justificava o pedido de isenccedilatildeo de alguns encargos pelos ldquoconstantes trabalhos que os moradores tinham com os castelhanos que insistiam em vir pescar ao reinordquo120 Quer isto dizer que os castelhanos vinham pescar para as margens portuguesas natildeo pagando os devidos impostos agrave Coroa Aliaacutes a existecircncia do topoacutenimo de origem castelhana Arenilha121 ainda antes da elaboraccedilatildeo da Carta de Privileacutegio que manda proceder agrave construccedilatildeo

118 FONSECA ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo pp 321-347 Ver tambeacutem SILVA A Or-dem de Cristo pp 43-110

119 Cf SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristordquo pp 349-361120 VENTURA ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo p 608

ANTT Chancelaria de D Afonso V liv 2 fl30121 De acordo com o dicionaacuterio da Real Academia Espantildeola ldquoarenillardquo apresenta-se como

sinoacutenimo de ldquoarena menudardquo Ver Dicionario de la Real Academia Espantildeola Disponiacutevel em httplemaraeesdraeval=arenilla ndash Consultado dia 10 de Setembro de 2013 Note-se que quando em 1775 se pretendeu baptizar a nova vila iluminista com o nome de Vila Real de Santo Antoacutenio de Arenilha prontamente o Marquecircs de Pombal proibiu a utilizaccedilatildeo do nome ldquoArenilhardquo alegando que ldquoeacute uma palavra hespanhola e Villa Real uma povoaccedilatildeo portuguesardquo Ver OLIVEIRA Monografia p 71

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 193

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

da vila122 indica a ocupaccedilatildeo daquele areal na margem portuguesa da foz do Guadiana por populaccedilotildees de pescadores de origem castelhana Dadas as circunstacircncias seria do interesse estrateacutegico do monarca que esta comenda recaiacutesse sobre algueacutem experimentado na guarda da fronteira e que fizesse cumprir o pagamento dos devidos direitos aduaneiros Re-corde-se que Arenilha para aleacutem de comenda da Ordem de Cristo era uma vila de fronteira situada na margem portuguesa do Guadiana tal como o era a vila de Mouratildeo de onde Cristoacutevatildeo de Mendonccedila era natu-ral Como anteriormente referimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Men-donccedila o fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo que foi nomeado em 1476 alcaide-mor de Mouratildeo123 uma vila fortificada do Alentejo que guarda-va a fronteira portuguesa frente a Espanha O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas mostra-nos o castelo de Mouratildeo onde Cristoacutevatildeo teraacute crescido localizado no cimo de uma colina sobranceiro ao Guadiana124 Quer isto dizer que o ceacutelebre navegador era descendente de uma famiacutelia experimentada na guarda da fronteira face ao reino vizinho e familia-rizado com as actividades militares tributaacuterias e administrativas que lhe eram inerentes125 Assim sendo esta condiccedilatildeo de fronteiro a juntar ao facto de Cristoacutevatildeo ser cavaleiro da Ordem de Cristo teraacute resultado altamente pertinente no momento em que D Joatildeo III decidiu atribuir a comenda de Arenilha a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como recompensa pelos serviccedilos prestados

Por fim mas natildeo menos relevante teraacute sido a experiecircncia naval e militar adquirida por Mendonccedila nos mares do Oriente e direccionada para a foz do Guadiana sistematicamente ameaccedilada pelos ataques da pi-rataria magrebina126 Recorde-se que Mendonccedila no decurso das suas na-vegaccedilotildees na australaacutesia viu-se na necessidade de defender posiccedilotildees por-

122 O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas produzido por volta de 1509 jaacute indicava o topoacutenimo que veio a ser oficializado com a Carta de Privileacutegio de 12 de Fevereiro de 1513 Ver ARMAS O Livro das Fortalezas fl 1

123 FREIRE Brasotildees Vol III p 173124 ANTT Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Livro das Fortalezas si-

tuadas no Extremo de Portugal e Castela por Duarte de Armas escudeiro da Casa do Rei D Manuel I Nordm 159 fls 13-14 ARMAS O Livro das Fortalezas fls 13-14

125 Refira-se que foi durante o periacuteodo em que o pai de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila deteve a alcaidaria de Mouratildeo que o rei D Manuel obteve dos povos nas cortes de Lisboa de 1502 uma vultosa contribuiccedilatildeo que fez com que o castelo da vila fosse intervenciona-do por dois importantes arquitectos reacutegios os irmatildeos Francisco e Diogo de Arruda os mestres das obras reacutegias da comarca de entre o Tejo e o Guadiana Ver FARIA ldquoForti-ficaccedilotildees de Portugal na fronteira da Estremadura espanholardquo p 161

126 Sobre este assunto veja-se PESSANHA ldquoAtaques da piratariardquo pp 63-94

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203194

Fernando Pessanha

tuguesas dando combate aos adversaacuterios Recordemos a este respeito o ataque movido por Melique Ladil agrave fortaleza de Paceacutem entatildeo guardada por Mendonccedila e a maneira como o ldquomourordquo foi desbaratado e despo-jado das treze embarcaccedilotildees usadas no assalto127 Dadas as circunstacircnci-as seria um desperdiacutecio natildeo se aproveitar a experiecircncia deste capitatildeo numa altura em que se verificava um incremento da actividade piraacutetica nas costas do Algarve Esta actividade da pirataria na foz do Guadiana eacute aliaacutes referida por Bernardo Rodrigues em vaacuterias ocasiotildees nomeada-mente aquando da estadia da condessa de Redondo na vila de Arenilha em 1522128 ou quando Vasco Fernandes Ceacutesar - antigo adaiacutel de Azamor e capitatildeo da Armada do Estreito129 - foi incumbido embarcar o conde do Redondo D Joatildeo Coutinho na vila de Arenilha e escoltaacute-lo a Arzila130 Refira-se que a caminho da foz do Guadiana o navio de Vasco Fernan-des Ceacutesar foi atacado por duas naus tendo-se seguido um combate naval que resultou na explosatildeo de parte da alcaacuteccedilova atirando cinco homens ao mar entre os quais Vasco Fernandes que ficou gravemente ferido131

Vemos deste modo que a entrega da comenda de Arenilha a um in-diviacuteduo como Cristoacutevatildeo de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo descendente de uma famiacutelia de fronteiros e navegador experimentado no combate naval natildeo soacute era altamente pertinente como simboacutelica e manifestamente estrateacutegica para a defesa do extremo sudeste algarvio e da foz do Guadiana onde Mendonccedila deveria actuar com autoridade se-nhorial usufruindo dos seus bens e rendimentos E no caso da comenda de Arenilha Seriam generosos os seus rendimentos Sem duacutevida Se assim natildeo fosse o rei D Duarte natildeo teria doado ao infante D Henrique ainda em 25 de Setembro de 1433 a ldquodiacutesima nova de todo o pescado que pescarem quaisquer pessoas no mar do Monte Gordordquo132 Aliaacutes seraacute certa-

127 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III pp548-549128 RODRIGUES Anais de Arzila Tomo I Cap XC p 373129 GOacuteIS Chronica IV Cap LVII p 552 Sobre a Armada do Estreito veja-se GODINHO

ldquoA armada do estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo pp117-137130 RODRIGUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 PESSANHA Subsiacutedios p 100131 Segundo Bernardo Rodrigues os sobreviventes portugueses por pouco natildeo foram

executados Os que sobreviveram ao combate foram aprisionados e levados para Di-eppe Vasco Fernandes apesar de ferido acabou por escapar do cativeiro desfiando uma esteira e escapando por ela da torre onde se encontrava aprisionado RODRI-GUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 Ver tambeacutem PISSARRA ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Armada do Estreitordquo pp 144-145

132 SERRAtildeO Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fundaccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) p 65 OLIVEIRA Monografia p 73

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 195

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

mente o motivo econoacutemico que jaacute em 1555 estaraacute na origem da disputa pelo senhorio de Arenilha entre Jeroacutenimo de Melo fidalgo da Casa Real e alcaide-mor de Castro Marim e Luiacutes Leite frei cavaleiro da Ordem de Cristo e filho de Antoacutenio Leite o anterior alcaide133

Relativamente agrave defesa sabemos que Arenilha natildeo possuiacutea castelo torre ou qualquer fortificaccedilatildeo digna de registo ateacute 1542-1547 periacuteodo em que o alcaide Antoacutenio Leite daacute-nos conta das ldquotramqueyras e repai-rosrdquo construiacutedos sob o seu comando para a populaccedilatildeo se defender dos ataques da pirataria moura134 Ainda assim Mendonccedila estava obrigado a zelar pela defesa da vila independentemente de esta ter ou natildeo for-tificaccedilotildees para a proteger Se tivermos em consideraccedilatildeo que a sua no-meaccedilatildeo como comendador o obrigava agrave realizaccedilatildeo de um inventaacuterio ao patrimoacutenio da comenda (infelizmente desconhecido) e ao dever de fixar residecircncia na sua aacuterea de governo135 eacute muito provaacutevel que Cristoacutevatildeo se tenha detido durante algum tempo na vila da foz do Guadiana algures entre finais de 1524 aquando da sua chegada ao reino136 e Marccedilo de 1527 quando voltou a partir para o Oriente

Como anteriormente referimos os comendadores deviam fixar-se nas suas comendas para melhor procederem agrave sua defesa e melhor ren-tabilizarem as mesmas Assim sendo como eacute possiacutevel que os documen-tos que referem Cristoacutevatildeo como comendador de Arenilha sejam relati-vos aos anos em que este se encontrava na capitania de Ormuz Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo de que a principal obrigaccedilatildeo dos cavaleiros da Ordem de Cristo era a luta contra os inimigos da feacute devendo estar prontos para a guerra sempre que o Mestre os convocasse Uma vez que as situaccedilotildees de guerra eram cons-tantes nos territoacuterios de aleacutem-mar onde a presenccedila dos cavaleiros da Ordem se tornava necessaacuteria natildeo eacute de admirar que estes fossem dispen-sados da exigecircncia que os obrigava a permanecer nas suas comendas137

133 CAVACO Revisitando pp 18-20 PESSANHA Os 500 anos pp 72-73134 Carta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava

atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras e que era necessaacute-rio enviar-lhe socorro ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos p 99 PINTO ldquoIacutendice Analiacuteticordquo p 267

135 Cf SILVA A Ordem de Cristo pp 189-190136 Uma vez que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila se encontrava na Aacutefrica do Sul em Marccedilo ou Maio

de 1524 eacute de supor que a sua chegada ao reino se tenha dado ainda no mesmo ano137 SILVA A Ordem de Cristo p 191

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203196

Fernando Pessanha

Eacute nesse sentido que encontramos Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comen-dador de Arenilha em 1529 e 1530 anos em que jaacute se encontrava como capitatildeo na fortaleza de Ormuz De resto era nesta fortaleza que ainda se encontrava em 1531 ano em que piratas de Larache atacaram a vila da foz do Guadiana ldquoonde fizeacuteratildeo muito dano em navios que tomaacuteratildeo e den-tro da Barra de Aiamonte fizeacuteratildeo despejar a Arrinilha e a Montegordordquo138

7 Conclusatildeo

Com efeito muito se tem escrito (e especulado) sobre a alegada des-coberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila No entanto e indepen-dentemente dos resultados alcanccedilados pelo navegador nesta expediccedilatildeo parece indiscutiacutevel que foi generosamente recompensado aquando do seu regresso ao reino Resta-nos perceber porquecirc Jaacute Armando Cortesatildeo muito antes de Peter Trickett tinha levantado a hipoacutetese de a rentaacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz ter sido entregue a Mendonccedila como re-compensa pelos serviccedilos prestados na expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro139 Natildeo eacute conhecido poreacutem qualquer documento que ateste o ecircxito do navegador nesta expediccedilatildeo Omissatildeo que segundo investigadores como Armando Cortesatildeo Damiatildeo Peres ou Jaime Cortesatildeo teraacute sido consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo determinada pelas limitaccedilotildees de navega-ccedilatildeo estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas e com o contencioso entre Portugal e Espanha pela posse das Molucas140

O certo eacute que Mendonccedila ao regressar ao reino foi agraciado com uma das capitanias mais rentaacuteveis do impeacuterio no Oriente para aleacutem de ter recebido compensaccedilotildees econoacutemicas e aparecer referido em 1529 e 1530 como comendador da vila de Arenilha na foz do Guadiana Refira-se a este respeito que muitos capitatildees cavaleiros da Ordem de Cristo se lanccedilaram no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Poreacutem mui-to poucos chegaram a obter as tatildeo almejadas comendas141 Vemos deste

138 RODRIGUES Anais Tomo II Cap XXXV p 209139 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158140 CORTESAtildeO A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e

de D Joatildeo II Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 65-66 PERES ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na Histoacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II pp 17-21

141 Entre os afortunados que lograram obter este tipo de rendimento contam-se muito poucos D Joatildeo Pereira D Pedro de Castelo Branco Nuno Furtado Simatildeo Guedes entre outros Ver CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 216

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 197

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

modo que a atribuiccedilatildeo da comenda de Arenilha significou um motivo de grande honra e prestiacutegio para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Ora se este navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro resta-nos perceber porque motivo teraacute sido agraciado com compensaccedilotildees eco-noacutemicas a nomeaccedilatildeo para uma das mais rentaacuteveis capitanias de todo o Impeacuterio no Oriente e uma honrosa comenda da Ordem de Cristo Eacute caso para dizer que a problemaacutetica em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila con-tinua a levantar muitas duacutevidas e poucas certezas

Fontes e Bibliografia

1 Arquivos

ANTT

Chancelaria de D Afonso V Livro 2 fl30

Chancelaria de D Manuel I Livro 4 fl37 Livro 8 fl 29v Livro 9 fl4v Livro 10 fl53 Livro 13 fl60 Livro 37 fl64

Chancelaria de D Joatildeo III Livro 12 fl62

Chancelaria da Ordem de Cristo Livro13 fls375 vndash 379v

Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1

Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 15 Nordm47 Pt I maccedilo 44 Nordm45 Pt I maccedilo 45 Nordm9

Pt II maccedilo 51 Nordm26 Pt II maccedilo 53 Nordm182 Pt II maccedilo 93 Nordm150 Pt II maccedilo 109 Nordm131 Pt II maccedilo 131 Nordm226 Pt II maccedilo 134 Nordm57 Pt II maccedilo 135 Nordm45 Pt II maccedilo 135 Nordm49 Pt II maccedilo 136 Nordm102 Pt II maccedilo 141 Nordm91

Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Nordm159

Casa Real Cartoacuterio da Nobreza Livro Nordm20 - Livro da Nobreza e da per-feiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal fl XII

2 Fontes Impressas

ABREU Lisuarte de Livro de Lisuarte de Abreu (Reproduccedilatildeo do manuscrito existente na Perpont Morgan Library de Nova York) Comissatildeo Nacional para as comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portugueses Lisboa 1992

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203198

Fernando Pessanha

ARMAS Duarte de Livro das Fortalezas Arquivo Nacional da Torre do TomboInapa Lisboa 1997

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada III Na Regia Officina Typografica Lisboa MDCCLXXVII

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada IV Imprensa Nacional Casa da Moe-da Lisboa 2001

BORGES Joseacute Calvatildeo Borges Livro do Armeiro-Mor Academia Portugue-sa de HistoacuteriaEdiccedilotildees Inapa Lisboa 2000

CASCAtildeO Joatildeo ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevorardquo Uma Jornada ao Alentejo e ao Algarve A altera-ccedilatildeo das linhas de forccedila da poliacutetica nacional Livros Horizonte Lisboa 1984 pp 77-136

CASTANHEDA Fernatildeo Lopes de Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses 2 vols Lello amp Irmatildeos Editores Porto 1979

CORREIA Gaspar Lendas da Iacutendia Tomo III na Typographia da Acade-mia Real das Sciencias Lisboa 1862

Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI Centro de Estudos Histoacutericos Ultramarinos Lis-boa 1969

GAYO Felgueiras Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX Ediccedilatildeo de Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Arauacutejo Affonso Braga 1939

GUEDES Liacutevio da Costa Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) Arquivo Histoacuterico Militar Lisboa 1988

GOacuteIS Damiatildeo de Chonica do Serenissimo Senhor Rei D Manoel Lisboa 1749

JOSEacute Frei Joatildeo de Satildeo ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 21-132

RODRIGUES Bernardo Anais de Arzila 2 vols Academia das Sciecircncias de Lisboa Lisboa 1915-1919

SARRAtildeO Henrique Fernandes ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 133-174

SOUSA Frei Luiacutes de Anais de D Joatildeo III 2 vols Saacute da Costa Lisboa 1928

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 199

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

SOUSA Manuel de Faria e Asia Portvgvesa Officina de Henrique Valen-te de Oliveira impressor del Rey NS Lisboa 1666

TENREIRO Antoacutenio amp AFONSO Mestre Viagens por terra da Iacutendia a Por-tugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica Mem-Martins 1991

3 Estudos

ALBUQUERQUE Luiacutes de (dir) Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-tos Portugueses 2 vols Ciacuterculos de Leitores Lisboa 1994

ALMEIDA Fortunato de Histoacuteria de Portugal Vols III-VII Promoclube Lisboa sd

CARDOSO Antoacutenio Pereira A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila agrave Austraacutelia em 1522 Academia da Marinha Lisboa 1994

CARVALHO Andreia Martins de ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Ma-nuelinardquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia ndash Actas do Coloacutequio Internacional Joatildeo Paulo Oliveira e Costa amp Viacutetor Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 199-226

CARVALHO Andreia Martins de Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria dos Descobrimen-tos e da Expansatildeo Portuguesa (seacuteculos XV-XVIII) apresentado agrave UNL Lisboa 2006

CAVACO Hugo ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio (Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Arte no Algarve) Cacircmara Muni-cipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1987

CAVACO Hugo Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha Cacircmara Munici-pal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1995

CORREIA Joseacute Eduardo Horta Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina Faup Publicaccedilotildees Porto 1997

CORREIA Joseacute Eduardo Horta O Algarve em Patrimoacutenio Gente Singular Editora Olhatildeo 2010

CORTESAtildeO Armando ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Aus-tralaacutesia Macau Japatildeo)rdquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939

CORTESAtildeO Jaime ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal (Dir Damiatildeo Peres) Vol IV Portucalense Editora Barce-los 1932 pp 9-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203200

Fernando Pessanha

CORTESAtildeO Jaime A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e de D Joatildeo II Lisboa 1960

COSME Joatildeo ldquoOs homens de ciecircnciardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 91-97

COSME Joatildeo ldquoOs Navegadores ndash Vasco da Gamardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 145-152

COSTA Joatildeo Paulo Oliveira e ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo A Nobreza e a Expansatildeo Estudos Biograacuteficos Joatildeo Paulo Oliveira e Costa (coord) Patrimoacutenia Cascais 2000 pp 11-51

DOMINGUES Francisco Contente ldquoOs portugueses descobriram a Aus-traacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Si-motildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Univer-sidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 163-172

DOMINGUES Francisco Contente Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 Circulo dos Leitores Lisboa 2016

FARIA Antoacutenio Machado de Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI Acade-mia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 1956

FARIA Antoacutenio Machado de ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo Separata da revista Arqueologia e Histoacuteria vol VI Lisboa 1955

FARIA Miguel Figueira de ldquoFortificaccedilotildees de Portugal na fronteira da Es-tremadura espanholardquo Anais ndash Seacuterie Histoacuteria Vol II Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 1995 pp 156-187

FONSECA Luiacutes Adatildeo da ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo A Alta No-breza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 322-347

FREIRE Anselmo Braamcamp Brasotildees da Sala de Sintra 3 vols Impren-sa da Universidade de Coimbra Coimbra 1921-1930

GARCIA Joseacute Manuel Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII QuidNovi Lisboa 2009

GARCIA Joseacute Manuel O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash 1555 Nordm 8 QuidNovi Vila do Conde 2012

GODINHO Rui Landeiro ldquoA Armada do Estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (Seacuteculos XV-XIX) Ediccedilotildees Cul-turais da Marinha Lisboa 2003 pp 117-137

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 19: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 183

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

asrdquo vem reforccedilar a ideia de que os serviccedilos prestados por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila no Oriente foram bem recompensados pelo monarca portu-guecircs Resta-nos perceber que serviccedilos teratildeo justificado estas recompen-sas assim como aquelas a que de seguida aludiremos

62 A capitania de Ormuz

Para aleacutem dos rendimentos atraacutes referidos os serviccedilos prestados por Mendonccedila foram igualmente agraciados com a nomeaccedilatildeo para a ren-taacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz para onde partiu em Marccedilo de 152791 Natildeo deixa de ser interessante a alusatildeo que cronistas como Joatildeo de Barros ou Frei Luiacutes de Sousa fazem aos Braganccedilas no momento em que referem esta nova partida de Cristoacutevatildeo para a Iacutendia Com efeito eacute possiacutevel que o duque de Braganccedila jaacute tivesse ligaccedilotildees aos Mendon-ccedilas ainda que o casamento de D Jaime com D Joana de Mendonccedila soacute se tenha realizado em 1520 Teresa Lacerda levanta a hipoacutetese de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ter sido indigitado para o Conselho Reacutegio por influecircncia do duque de Braganccedila do mesmo modo como foi nomea-do para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 e para capitatildeo de Ormuz em 152792 De facto natildeo eacute impossiacutevel No entanto somos da opiniatildeo de que natildeo seraacute apenas D Joana a estar na origem de uma eventual ligaccedilatildeo de D Jaime aos Mendonccedilas como tambeacutem a participaccedilatildeo do seu pai ldquoDiogo de mendonccedila alcaide mor de Mouratildeordquo e de ldquoPero de Mendonccedila seu filhordquo na conquista de Azamor comandada pelo proacuteprio duque em 151393

De facto natildeo sabemos se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila teraacute sido indigitado para o Conselho Reacutegio para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquer-que de 1519 ou para a capitania de Ormuz por influecircncia do duque de Braganccedila Seja como for parece-nos que o contexto social e familiar de Cristoacutevatildeo teraacute pesado no momento em que o monarca procedeu a tais nomeaccedilotildees Basta recordarmos que Afonso Furtado bisavocirc de Cristoacute-vatildeo tinha sido nomeado capitatildeo do mar por D Joatildeo I em 138594 Afonso

91 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada IV II Cap III p 73 Ver tambeacutem CORREIA Lendas Vol III Pt I Cap XVI p 182 SOUSA Anais Vol II IV Cap I p 1 SOUSA Asia Tomo I Pt IV Cap II p 256

92 LACERDA Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social p 112 nota 375

93 GOacuteIS Chronica III Cap XLVI p 367 GAYO Nobiliaacuterio p 5394 FREIRE Brasotildees Vol III pp 170-171

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203184

Fernando Pessanha

Furtado de Mendonccedila avocirc de Cristoacutevatildeo para aleacutem de capitatildeo-mor do mar95 aparece referido como escrivatildeo da feitoria de Sofala96 Pedro de Mendonccedila tio de Cristoacutevatildeo tinha comandado uma nau numa frota de 12 navios que em 1504 partiu para a Iacutendia para garantir a seguranccedila das rotas comerciais do oceano Iacutendico e controlar o governante hostil de Calecut97 Natildeo se pode portanto considerar que os Mendonccedilas seri-am marginais ao projecto de expansatildeo ultramarina quando Cristoacutevatildeo aparece nomeado para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 ou para a capitania de Ormuz que deteve entre 1527 e 1531 ou 1532 ano da sua morte

Chegando a este ponto vale a pena determo-nos brevemente de modo a compreendermos o que era Ormuz e o que representava esta capitania no contexto do Impeacuterio Portuguecircs no Oriente Antes de mais conveacutem recordarmos que Ormuz era um importantiacutessimo entreposto mercantil em virtude da sua privilegiada localizaccedilatildeo geograacutefica na en-trada do Golfo Peacutersico Com efeito com a segunda conquista de Ormuz por Afonso de Albuquerque em 1515 e a consequente imposiccedilatildeo de um protectorado a Coroa portuguesa passou a arrecadar uma parcela con-sideraacutevel das receitas aduaneiras da proacutespera ilha transformando-se Ormuz no epicentro das actividades portuguesas no Golfo Peacutersico e no mar da Araacutebia A acreditar-se nas fontes quinhentistas era tal o movi-mento e a intensidade no porto de Ormuz que natildeo era invulgar ali en-contrar mais de 200 navios carregados de mercadorias De entre as mais importantes mercadorias que passavam pela cidade destacavam-se os cavalos oriundos da Araacutebia e da Peacutersia com destino aos portos da cos-ta ocidental da Iacutendia de onde eram encaminhados para os potentados indianos entre os quais grassavam guerras endeacutemicas Mas outros pro-dutos aacuterabes e persas faziam a riqueza da esteacuteril ilha de Djarucircn como as alcatifas aacuterabes as peacuterolas de Bahareacutem os tapetes a seda e a prata da Peacutersia o salitre e o enxofre da proacutepria ilha ao lado de mercadorias menos nobres como os frutos secos ou os cereais Dadas as circunstacircn-cias natildeo seraacute de estranhar que ao longo de todo o seacutec XVI a alfacircndega de Ormuz se tenha destacado como a mais rentaacutevel de todo o Estado da Iacutendia logo a seguir agrave de Goa Por outras palavras a cidade gerava

95 FARIA Livro de Linhagens p 27296 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada I Pt I V Cap III97 MALDONADO Relaccedilatildeo das Naos e Armadas da Iacutendia p 16 ANTT Corpo Cronoloacutegi-

co Pt II maccedilo 9 Nordm 35

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 185

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

um volume de receitas tatildeo consideraacutevel que a capitania de Ormuz aca-bou por se transformar numa das mais apetecidas de todo o Impeacuterio no Oriente Vemos deste modo que a atribuiccedilatildeo desta capitania natildeo soacute era motivo de prestiacutegio para o capitatildeo nomeado como tambeacutem fonte de grande riqueza98

Natildeo podemos deixar de notar que as Deacutecadas da Aacutesia ao referir-se agrave nomeaccedilatildeo de Mendonccedila para a capitania de Ormuz natildeo refere quais-quer serviccedilos especiais que justifiquem a atribuiccedilatildeo de tal benesse Ar-mando Cortesatildeo que levantou a hipoacutetese de ter sido Mendonccedila o pri-meiro europeu a chegar agrave Austraacutelia foi um dos investigadores a sugerir que esta nomeaccedilatildeo se devesse aos serviccedilos prestados pelo navegador99 Poreacutem e tal como temos afirmado ao longo deste trabalho natildeo existe qualquer documento que assegure o ecircxito de Mendonccedila relativamente agrave viagem que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro Omis-satildeo que segundo Jaime Cortesatildeo foi consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo entatildeo vigente Luiacutes de Albuquerque ainda que contraacuterio agrave teoria da descoberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que ldquodeve a sua celebridade a uma expediccedilatildeo que natildeo fezrdquo100 estranha no entanto o facto de Diogo do Couto natildeo mencionar os serviccedilos especiais que estiveram na origem da nomeaccedilatildeo do navegador para a capitania de Ormuz101 Esta distinccedilatildeo torna-se ainda mais suspeita se tivermos em consideraccedilatildeo que uma nomeaccedilatildeo desta natureza implicaria em meacutedia 10 anos de serviccedilos no Oriente102 durante os quais era acumu-lada a experiecircncia necessaacuteria para o desempenho de uma capitania Como vimos natildeo foi esse o caso de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Aliaacutes as nomeaccedilotildees para as capitanias mais importantes e lucrativas como Or-muz Goa ou Malaca natildeo soacute eram atribuiacutedas em reconhecimento pelos vaacuterios anos de serviccedilo no Oriente como tambeacutem recaiacuteam tendencial-mente sobre nobres com uma maior presenccedila na corte o que tambeacutem

98 LOUREIRO ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 pp 749-797 JPC ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 833-836

99 CORTESAcircO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158100 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo p 727101 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol IV

p 258102 Andreia Martins de Carvalho determinou os anos de serviccedilo de fidalgos no Oriente

antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania entre 1518 e 1544 CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 211 Foi nesse sentido que tendo em conta a infor-maccedilatildeo disponiacutevel sobre o percurso de 37 fidalgos estabelecemos a meacutedia de anos relativos a serviccedilos no Oriente antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203186

Fernando Pessanha

natildeo era o caso de Mendonccedila Ora se o navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro como explicar tatildeo generoso honroso e rentaacutevel reconhecimento Isto claro para aleacutem das compensaccedilotildees econoacutemicas atraacutes referidas e da entrega da comenda da Ordem de Cris-to que de seguida abordaremos De resto a capitania de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ficou marcada por episoacutedios dignos de registo como o au-xiacutelio prestado agrave frota de Simatildeo da Cunha assolada por uma epidemia contraiacuteda na campanha contra a ilha de Bahareacutem103 Refira-se aliaacutes que foi sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que recaiu a responsabilidade de escolher um agente para realizar a ceacutelebre missatildeo de espionagem que constituiu a viagem por terra de Ormuz a Portugal protagonizada por Antoacutenio Tenreiro entre Setembro de 1528 e Maio de 1529 - viagem cuja narrativa constitui um notaacutevel documento histoacuterico de natureza geograacutefica religiosa e antropoloacutegica104

63 A comenda da vila de Arenilha

Tal como anteriormente referimos deparaacutemo-nos com dois documen-tos que chamaram a nossa atenccedilatildeo aquando da investigaccedilatildeo para o ar-tigo ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo Trata-se de duas cartas em que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece referido como comendador da vila de Arenilha O primeiro documento data de 29 de Dezembro de 1529 e tem por tiacutetulo Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bregantim missiva em que o comendador de Arenilha culpa o marquecircs de Ayamonte pelos danos causados nas barcas dos habitantes da vila no-meadamente no referido bergantim chegando mesmo a mandar ldquopagar as barcas e () as perdas que receberam os donos delas e asy o dano que se fez na Arenilhardquo e mandar o marquecircs prender os responsaacuteveis que se encontrem nas suas terras105 Como se pode perceber o tom da missiva natildeo resulta propriamente abonatoacuterio para o nobre espanhol

103 SOUSA Anais Vol II IV Cap XXII p 106104 Como recompensa pelos serviccedilos prestados Antoacutenio Tenreiro recebeu da Coroa em

1533 uma tenccedila anual de 30000 reacuteis e o haacutebito de cavaleiro da Ordem de Cristo Ver TENREIRO amp AFONSO Viagens por terra da Iacutendia a Portugal p 18 RL ldquoTenreiro Antoacuteniordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II p 1023

105 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 Nordm45

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 187

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig1 - Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua

Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do

marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

Fig 1

Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o

marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203188

Fernando Pessanha

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig2 - Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar

creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Arenilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada destinada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila assim como o seu

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesahelliprdquo pp 86-82

Fig 2

Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao

comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Are-nilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada desti-nada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesardquo pp 86-82

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 189

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacute-vatildeo de Mendonccedila assim como o seu percurso como capitatildeo nas armadas da Iacutendia acreditamos encontrar-nos em condiccedilotildees para demonstrarmos que a comenda de Arenilha foi efectivamente atribuiacuteda ao navegador como reconhecimento pelos serviccedilos prestados no Oriente

Com efeito satildeo vaacuterios os indicadores que nos levam a afirmaacute-lo Em primeiro lugar o facto de natildeo se encontrar nas croacutenicas nem nas fontes coevas qualquer referecircncia a um homoacutenimo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a balizagem cronoloacutegica compreendida entre 1514 e 1532 periacuteodo em que aparece referido na documentaccedilatildeo Aliaacutes as da-tas discriminadas nos documentos que o referem como comendador de Arenilha corroboram a ideia de esta comenda ter sido atribuiacuteda aquando do seu regresso ao reino Eacute certo que natildeo sabemos a data em que Cristoacutevatildeo teraacute chegado a Portugal ainda que tenhamos notiacutecia da sua passagem pelo sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio de 1524 durante a viagem de regresso108 Poreacutem as tenccedilas atraacutes mencionadas indicam que se encontrava no reino em 1526 Uma vez que os documentos que o referem como comendador da vila da foz do Guadiana remontam a Dezembro de 1529 e Maio de 1530 anos em que o navegador jaacute se encontrava no Oriente eacute de supor que D Joatildeo III lhe teraacute atribuiacutedo a comenda aquando da sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e Marccedilo de 1527 ano em que voltou a partir para a Iacutendia jaacute na qualida-de de capitatildeo de Ormuz

Uma vez que natildeo se verificam homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila para a balizagem cronoloacutegica atraacutes referida e que as datas dos docu-mentos que o referem como comendador de Arenilha satildeo ligeiramente posteriores ao seu regresso ao reino resta-nos determinar se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila reunia as condiccedilotildees necessaacuterias para ser agraciado com uma comenda desta natureza Antes de mais importa referir que a vila de Arenilha e de Castro Marim eram as duas uacutenicas comendas da Ordem de Cristo no Algarve Curiosamente Isabel L Morgado de Sousa e Silva natildeo refere a comenda de Arenilha na dissertaccedilatildeo para doutoramento

108 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo Oceanos Nordm4 pp 17-18 ALBU-QUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 727-728 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 79

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203190

Fernando Pessanha

A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521)109 Poreacutem o documento publicado por Hugo Cavaco natildeo deixa margem para duacutevidas

ldquoNo Bispado do Algarve haacute somente duas Commendas da Ordem (de

Cristo) que satildeo das antigas e as seguintes

A Commenda e Alcaideria-moacuter de Castro Marim avaliou-se em quatro-

centos e cinquenta mil reacuteis no anno de 1608

A Commenda da Alcaideria-mograver de Santo Antonio de Arenilha que estaacute

junto a Castro Marim em cento e trinta mil reacuteis no anno de 1608

No Bispado do Algarve natildeo haacute nenhuma Commenda desta Ordem mais

que as duas velhas que valem quinhentos e oitenta mil reacuteis como se vecirc

da somma adianterdquo110

Aliaacutes soacute o facto de Arenilha ser comenda da Ordem de Cristo poderaacute explicar que o senhorio da vila tenha sido atribuiacutedo exclusivamente a cavaleiros da miliacutecia ao longo de toda a centuacuteria quinhentista111

Naturalmente que estas comendas implicavam desde logo a existecircn-cia de comendadores sobre os quais recaiacutea o senhorio das ditas vilas o que era compreendido como motivo de honra e de prestiacutegio social numa sociedade ainda bastante influenciada pelas antigas tradiccedilotildees medievo-feudais Comendas refira-se que compreendiam o direito agrave administra-ccedilatildeo da localidade e conferiam uma renda para sustentaccedilatildeo do comenda-dor beneficiaacuterio configurando um recurso para os encargos da proacutepria comenda No entanto a atribuiccedilatildeo de uma comenda representava um benefiacutecio atribuiacutedo a cavaleiros professos nas ordens militares como re-compensa por serviccedilos prestados Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Men-donccedila soacute poderia ser agraciado com a comenda de Arenilha caso tivesse sido investido na Ordem de Cristo Foi nesse sentido que procuraacutemos determinar se este navegador professou nesta Ordem Militar

Com efeito a dissertaccedilatildeo Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) de Joatildeo Maria Falcatildeo Pestana de Vascon-celos natildeo faz qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila enquanto cavaleiro da Ordem de Cristo Refere no entanto o seu avocirc Afonso Fur-

109 SILVA A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta110 Documento VIII BNLMicroformas F5040 Documento publicado por CAVACO Revisi-

tando p 52111 Cf PESSANHA Os 500 anos pp 57-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 191

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

tado de Mendonccedila comendador de Cardiga da Ordem de Cristo112 a sua irmatilde Margarida de Mendonccedila enquanto mulher de um comendador da mesma Ordem e o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo que recebeu o haacutebito da miliacutecia em 16 de Abril de 1514113 Ain-da que a referida dissertaccedilatildeo natildeo faccedila qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo enquanto membro desta Ordem vem demonstrar a ligaccedilatildeo de alguns dos seus familiares agrave mesma natildeo soacute na qualidade de cavaleiros como tambeacutem de comendadores

Poreacutem Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social de Teresa Lacerda assim como a jaacute referida tese A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) de Isabel L Morgado de Sousa e Silva jaacute identificam efectivamente Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como frei cavaleiro desta Ordem114 De acordo com a obra consultada Cavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVI Cristoacutevatildeo de Mendonccedila recebeu efectivamente o haacutebito da Ordem de Cristo em 16 de Abril de 1514115 exactamente na mesma data em que o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila tambeacutem foi in-vestido116 De resto o facto de Cristoacutevatildeo aparecer referido como mem-bro da miliacutecia numa provisatildeo em que D Joatildeo III manda o almoxarife de Aveiro pagar ldquoa Cristoacutevatildeo de Mendonccedila sua tenccedila deste ano 50000 reacuteis assentada na alfacircndega de Lisboa com o haacutebito de Cristordquo117 vem dissipar qualquer duacutevida que ainda subsistisse

Note-se que identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como cavaleiro da Ordem de Cristo natildeo pudemos deixar de reparar no silecircncio dos cronistas no momento de identificar os intervenientes no processo ex-pansionista com as suas respectivas filiaccedilotildees nas Ordens Militares De facto quer Joatildeo de Barros quer os cronistas que lhe sucederam natildeo fazem qualquer referecircncia agrave filiaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo em qualquer Ordem tal como de acordo com o que constataacutemos raramente o fazem em relaccedilatildeo a outros cavaleiros Esta evidecircncia pode parecer ainda mais estranha se tivermos em consideraccedilatildeo o forte envolvimento da Ordem

112 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Vol I p 377 FARIA Livro de Linhagens p 275

113 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares p 392 114 LACERDA Os Capitatildees das Armadas pp 120 e 228 SILVA A Ordem de Cristo p 336

SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma perspectiva de estudordquo apecircndice

115 FARIA ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo p 21116 FARIA ldquoCavaleirosrdquo p 21 Ver tambeacutem SILVA A Ordem de Cristo p 330117 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203192

Fernando Pessanha

de Cristo na Histoacuteria da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses Ordem Militar sublinhe-se que teve como governadores figuras in-contornaacuteveis da famiacutelia real como o infante D Henrique o infante D Fernando o rei D Manuel ou o rei D Joatildeo III118 Poreacutem haacute que ter em consideraccedilatildeo que documentos como Memoacuteria das Armadas ou o Livro de Lisuarte de Abreu natildeo satildeo fontes sobre qualquer uma das Ordens razatildeo pela qual se torna compreensiacutevel a ausecircncia de referecircncias mais completas relativamente aos intervenientes no processo de expansatildeo Aliaacutes a intenccedilatildeo subjacente agrave produccedilatildeo de obras como Histoacuteria do Des-cobrimento e da Conquista da Iacutendia natildeo passa por apresentar informa-ccedilatildeo detalhada sobre as individualidades que participaram no processo expansionista mas antes destacar o protagonismo reacutegio em todo este processo119

Por fim natildeo se verificando homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a cronologia abordada coincidindo as datas que o referem como comendador de Arenilha e identificado este navegador como cavalei-ro da Ordem de Cristo resta-nos perceber por que motivo lhe teraacute sido entregue a comenda desta vila na foz do Guadiana Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo que a fundaccedilatildeo de Are-nilha prende-se com a afirmaccedilatildeo da soberania poliacutetica e administra-tiva de D Manuel sobre um territoacuterio frequentado por castelhanos Eacute exactamente nesse contexto que em 1421 Castro Marim justificava o pedido de isenccedilatildeo de alguns encargos pelos ldquoconstantes trabalhos que os moradores tinham com os castelhanos que insistiam em vir pescar ao reinordquo120 Quer isto dizer que os castelhanos vinham pescar para as margens portuguesas natildeo pagando os devidos impostos agrave Coroa Aliaacutes a existecircncia do topoacutenimo de origem castelhana Arenilha121 ainda antes da elaboraccedilatildeo da Carta de Privileacutegio que manda proceder agrave construccedilatildeo

118 FONSECA ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo pp 321-347 Ver tambeacutem SILVA A Or-dem de Cristo pp 43-110

119 Cf SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristordquo pp 349-361120 VENTURA ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo p 608

ANTT Chancelaria de D Afonso V liv 2 fl30121 De acordo com o dicionaacuterio da Real Academia Espantildeola ldquoarenillardquo apresenta-se como

sinoacutenimo de ldquoarena menudardquo Ver Dicionario de la Real Academia Espantildeola Disponiacutevel em httplemaraeesdraeval=arenilla ndash Consultado dia 10 de Setembro de 2013 Note-se que quando em 1775 se pretendeu baptizar a nova vila iluminista com o nome de Vila Real de Santo Antoacutenio de Arenilha prontamente o Marquecircs de Pombal proibiu a utilizaccedilatildeo do nome ldquoArenilhardquo alegando que ldquoeacute uma palavra hespanhola e Villa Real uma povoaccedilatildeo portuguesardquo Ver OLIVEIRA Monografia p 71

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 193

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

da vila122 indica a ocupaccedilatildeo daquele areal na margem portuguesa da foz do Guadiana por populaccedilotildees de pescadores de origem castelhana Dadas as circunstacircncias seria do interesse estrateacutegico do monarca que esta comenda recaiacutesse sobre algueacutem experimentado na guarda da fronteira e que fizesse cumprir o pagamento dos devidos direitos aduaneiros Re-corde-se que Arenilha para aleacutem de comenda da Ordem de Cristo era uma vila de fronteira situada na margem portuguesa do Guadiana tal como o era a vila de Mouratildeo de onde Cristoacutevatildeo de Mendonccedila era natu-ral Como anteriormente referimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Men-donccedila o fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo que foi nomeado em 1476 alcaide-mor de Mouratildeo123 uma vila fortificada do Alentejo que guarda-va a fronteira portuguesa frente a Espanha O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas mostra-nos o castelo de Mouratildeo onde Cristoacutevatildeo teraacute crescido localizado no cimo de uma colina sobranceiro ao Guadiana124 Quer isto dizer que o ceacutelebre navegador era descendente de uma famiacutelia experimentada na guarda da fronteira face ao reino vizinho e familia-rizado com as actividades militares tributaacuterias e administrativas que lhe eram inerentes125 Assim sendo esta condiccedilatildeo de fronteiro a juntar ao facto de Cristoacutevatildeo ser cavaleiro da Ordem de Cristo teraacute resultado altamente pertinente no momento em que D Joatildeo III decidiu atribuir a comenda de Arenilha a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como recompensa pelos serviccedilos prestados

Por fim mas natildeo menos relevante teraacute sido a experiecircncia naval e militar adquirida por Mendonccedila nos mares do Oriente e direccionada para a foz do Guadiana sistematicamente ameaccedilada pelos ataques da pi-rataria magrebina126 Recorde-se que Mendonccedila no decurso das suas na-vegaccedilotildees na australaacutesia viu-se na necessidade de defender posiccedilotildees por-

122 O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas produzido por volta de 1509 jaacute indicava o topoacutenimo que veio a ser oficializado com a Carta de Privileacutegio de 12 de Fevereiro de 1513 Ver ARMAS O Livro das Fortalezas fl 1

123 FREIRE Brasotildees Vol III p 173124 ANTT Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Livro das Fortalezas si-

tuadas no Extremo de Portugal e Castela por Duarte de Armas escudeiro da Casa do Rei D Manuel I Nordm 159 fls 13-14 ARMAS O Livro das Fortalezas fls 13-14

125 Refira-se que foi durante o periacuteodo em que o pai de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila deteve a alcaidaria de Mouratildeo que o rei D Manuel obteve dos povos nas cortes de Lisboa de 1502 uma vultosa contribuiccedilatildeo que fez com que o castelo da vila fosse intervenciona-do por dois importantes arquitectos reacutegios os irmatildeos Francisco e Diogo de Arruda os mestres das obras reacutegias da comarca de entre o Tejo e o Guadiana Ver FARIA ldquoForti-ficaccedilotildees de Portugal na fronteira da Estremadura espanholardquo p 161

126 Sobre este assunto veja-se PESSANHA ldquoAtaques da piratariardquo pp 63-94

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203194

Fernando Pessanha

tuguesas dando combate aos adversaacuterios Recordemos a este respeito o ataque movido por Melique Ladil agrave fortaleza de Paceacutem entatildeo guardada por Mendonccedila e a maneira como o ldquomourordquo foi desbaratado e despo-jado das treze embarcaccedilotildees usadas no assalto127 Dadas as circunstacircnci-as seria um desperdiacutecio natildeo se aproveitar a experiecircncia deste capitatildeo numa altura em que se verificava um incremento da actividade piraacutetica nas costas do Algarve Esta actividade da pirataria na foz do Guadiana eacute aliaacutes referida por Bernardo Rodrigues em vaacuterias ocasiotildees nomeada-mente aquando da estadia da condessa de Redondo na vila de Arenilha em 1522128 ou quando Vasco Fernandes Ceacutesar - antigo adaiacutel de Azamor e capitatildeo da Armada do Estreito129 - foi incumbido embarcar o conde do Redondo D Joatildeo Coutinho na vila de Arenilha e escoltaacute-lo a Arzila130 Refira-se que a caminho da foz do Guadiana o navio de Vasco Fernan-des Ceacutesar foi atacado por duas naus tendo-se seguido um combate naval que resultou na explosatildeo de parte da alcaacuteccedilova atirando cinco homens ao mar entre os quais Vasco Fernandes que ficou gravemente ferido131

Vemos deste modo que a entrega da comenda de Arenilha a um in-diviacuteduo como Cristoacutevatildeo de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo descendente de uma famiacutelia de fronteiros e navegador experimentado no combate naval natildeo soacute era altamente pertinente como simboacutelica e manifestamente estrateacutegica para a defesa do extremo sudeste algarvio e da foz do Guadiana onde Mendonccedila deveria actuar com autoridade se-nhorial usufruindo dos seus bens e rendimentos E no caso da comenda de Arenilha Seriam generosos os seus rendimentos Sem duacutevida Se assim natildeo fosse o rei D Duarte natildeo teria doado ao infante D Henrique ainda em 25 de Setembro de 1433 a ldquodiacutesima nova de todo o pescado que pescarem quaisquer pessoas no mar do Monte Gordordquo132 Aliaacutes seraacute certa-

127 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III pp548-549128 RODRIGUES Anais de Arzila Tomo I Cap XC p 373129 GOacuteIS Chronica IV Cap LVII p 552 Sobre a Armada do Estreito veja-se GODINHO

ldquoA armada do estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo pp117-137130 RODRIGUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 PESSANHA Subsiacutedios p 100131 Segundo Bernardo Rodrigues os sobreviventes portugueses por pouco natildeo foram

executados Os que sobreviveram ao combate foram aprisionados e levados para Di-eppe Vasco Fernandes apesar de ferido acabou por escapar do cativeiro desfiando uma esteira e escapando por ela da torre onde se encontrava aprisionado RODRI-GUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 Ver tambeacutem PISSARRA ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Armada do Estreitordquo pp 144-145

132 SERRAtildeO Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fundaccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) p 65 OLIVEIRA Monografia p 73

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 195

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

mente o motivo econoacutemico que jaacute em 1555 estaraacute na origem da disputa pelo senhorio de Arenilha entre Jeroacutenimo de Melo fidalgo da Casa Real e alcaide-mor de Castro Marim e Luiacutes Leite frei cavaleiro da Ordem de Cristo e filho de Antoacutenio Leite o anterior alcaide133

Relativamente agrave defesa sabemos que Arenilha natildeo possuiacutea castelo torre ou qualquer fortificaccedilatildeo digna de registo ateacute 1542-1547 periacuteodo em que o alcaide Antoacutenio Leite daacute-nos conta das ldquotramqueyras e repai-rosrdquo construiacutedos sob o seu comando para a populaccedilatildeo se defender dos ataques da pirataria moura134 Ainda assim Mendonccedila estava obrigado a zelar pela defesa da vila independentemente de esta ter ou natildeo for-tificaccedilotildees para a proteger Se tivermos em consideraccedilatildeo que a sua no-meaccedilatildeo como comendador o obrigava agrave realizaccedilatildeo de um inventaacuterio ao patrimoacutenio da comenda (infelizmente desconhecido) e ao dever de fixar residecircncia na sua aacuterea de governo135 eacute muito provaacutevel que Cristoacutevatildeo se tenha detido durante algum tempo na vila da foz do Guadiana algures entre finais de 1524 aquando da sua chegada ao reino136 e Marccedilo de 1527 quando voltou a partir para o Oriente

Como anteriormente referimos os comendadores deviam fixar-se nas suas comendas para melhor procederem agrave sua defesa e melhor ren-tabilizarem as mesmas Assim sendo como eacute possiacutevel que os documen-tos que referem Cristoacutevatildeo como comendador de Arenilha sejam relati-vos aos anos em que este se encontrava na capitania de Ormuz Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo de que a principal obrigaccedilatildeo dos cavaleiros da Ordem de Cristo era a luta contra os inimigos da feacute devendo estar prontos para a guerra sempre que o Mestre os convocasse Uma vez que as situaccedilotildees de guerra eram cons-tantes nos territoacuterios de aleacutem-mar onde a presenccedila dos cavaleiros da Ordem se tornava necessaacuteria natildeo eacute de admirar que estes fossem dispen-sados da exigecircncia que os obrigava a permanecer nas suas comendas137

133 CAVACO Revisitando pp 18-20 PESSANHA Os 500 anos pp 72-73134 Carta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava

atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras e que era necessaacute-rio enviar-lhe socorro ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos p 99 PINTO ldquoIacutendice Analiacuteticordquo p 267

135 Cf SILVA A Ordem de Cristo pp 189-190136 Uma vez que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila se encontrava na Aacutefrica do Sul em Marccedilo ou Maio

de 1524 eacute de supor que a sua chegada ao reino se tenha dado ainda no mesmo ano137 SILVA A Ordem de Cristo p 191

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203196

Fernando Pessanha

Eacute nesse sentido que encontramos Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comen-dador de Arenilha em 1529 e 1530 anos em que jaacute se encontrava como capitatildeo na fortaleza de Ormuz De resto era nesta fortaleza que ainda se encontrava em 1531 ano em que piratas de Larache atacaram a vila da foz do Guadiana ldquoonde fizeacuteratildeo muito dano em navios que tomaacuteratildeo e den-tro da Barra de Aiamonte fizeacuteratildeo despejar a Arrinilha e a Montegordordquo138

7 Conclusatildeo

Com efeito muito se tem escrito (e especulado) sobre a alegada des-coberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila No entanto e indepen-dentemente dos resultados alcanccedilados pelo navegador nesta expediccedilatildeo parece indiscutiacutevel que foi generosamente recompensado aquando do seu regresso ao reino Resta-nos perceber porquecirc Jaacute Armando Cortesatildeo muito antes de Peter Trickett tinha levantado a hipoacutetese de a rentaacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz ter sido entregue a Mendonccedila como re-compensa pelos serviccedilos prestados na expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro139 Natildeo eacute conhecido poreacutem qualquer documento que ateste o ecircxito do navegador nesta expediccedilatildeo Omissatildeo que segundo investigadores como Armando Cortesatildeo Damiatildeo Peres ou Jaime Cortesatildeo teraacute sido consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo determinada pelas limitaccedilotildees de navega-ccedilatildeo estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas e com o contencioso entre Portugal e Espanha pela posse das Molucas140

O certo eacute que Mendonccedila ao regressar ao reino foi agraciado com uma das capitanias mais rentaacuteveis do impeacuterio no Oriente para aleacutem de ter recebido compensaccedilotildees econoacutemicas e aparecer referido em 1529 e 1530 como comendador da vila de Arenilha na foz do Guadiana Refira-se a este respeito que muitos capitatildees cavaleiros da Ordem de Cristo se lanccedilaram no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Poreacutem mui-to poucos chegaram a obter as tatildeo almejadas comendas141 Vemos deste

138 RODRIGUES Anais Tomo II Cap XXXV p 209139 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158140 CORTESAtildeO A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e

de D Joatildeo II Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 65-66 PERES ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na Histoacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II pp 17-21

141 Entre os afortunados que lograram obter este tipo de rendimento contam-se muito poucos D Joatildeo Pereira D Pedro de Castelo Branco Nuno Furtado Simatildeo Guedes entre outros Ver CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 216

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 197

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

modo que a atribuiccedilatildeo da comenda de Arenilha significou um motivo de grande honra e prestiacutegio para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Ora se este navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro resta-nos perceber porque motivo teraacute sido agraciado com compensaccedilotildees eco-noacutemicas a nomeaccedilatildeo para uma das mais rentaacuteveis capitanias de todo o Impeacuterio no Oriente e uma honrosa comenda da Ordem de Cristo Eacute caso para dizer que a problemaacutetica em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila con-tinua a levantar muitas duacutevidas e poucas certezas

Fontes e Bibliografia

1 Arquivos

ANTT

Chancelaria de D Afonso V Livro 2 fl30

Chancelaria de D Manuel I Livro 4 fl37 Livro 8 fl 29v Livro 9 fl4v Livro 10 fl53 Livro 13 fl60 Livro 37 fl64

Chancelaria de D Joatildeo III Livro 12 fl62

Chancelaria da Ordem de Cristo Livro13 fls375 vndash 379v

Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1

Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 15 Nordm47 Pt I maccedilo 44 Nordm45 Pt I maccedilo 45 Nordm9

Pt II maccedilo 51 Nordm26 Pt II maccedilo 53 Nordm182 Pt II maccedilo 93 Nordm150 Pt II maccedilo 109 Nordm131 Pt II maccedilo 131 Nordm226 Pt II maccedilo 134 Nordm57 Pt II maccedilo 135 Nordm45 Pt II maccedilo 135 Nordm49 Pt II maccedilo 136 Nordm102 Pt II maccedilo 141 Nordm91

Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Nordm159

Casa Real Cartoacuterio da Nobreza Livro Nordm20 - Livro da Nobreza e da per-feiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal fl XII

2 Fontes Impressas

ABREU Lisuarte de Livro de Lisuarte de Abreu (Reproduccedilatildeo do manuscrito existente na Perpont Morgan Library de Nova York) Comissatildeo Nacional para as comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portugueses Lisboa 1992

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203198

Fernando Pessanha

ARMAS Duarte de Livro das Fortalezas Arquivo Nacional da Torre do TomboInapa Lisboa 1997

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada III Na Regia Officina Typografica Lisboa MDCCLXXVII

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada IV Imprensa Nacional Casa da Moe-da Lisboa 2001

BORGES Joseacute Calvatildeo Borges Livro do Armeiro-Mor Academia Portugue-sa de HistoacuteriaEdiccedilotildees Inapa Lisboa 2000

CASCAtildeO Joatildeo ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevorardquo Uma Jornada ao Alentejo e ao Algarve A altera-ccedilatildeo das linhas de forccedila da poliacutetica nacional Livros Horizonte Lisboa 1984 pp 77-136

CASTANHEDA Fernatildeo Lopes de Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses 2 vols Lello amp Irmatildeos Editores Porto 1979

CORREIA Gaspar Lendas da Iacutendia Tomo III na Typographia da Acade-mia Real das Sciencias Lisboa 1862

Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI Centro de Estudos Histoacutericos Ultramarinos Lis-boa 1969

GAYO Felgueiras Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX Ediccedilatildeo de Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Arauacutejo Affonso Braga 1939

GUEDES Liacutevio da Costa Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) Arquivo Histoacuterico Militar Lisboa 1988

GOacuteIS Damiatildeo de Chonica do Serenissimo Senhor Rei D Manoel Lisboa 1749

JOSEacute Frei Joatildeo de Satildeo ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 21-132

RODRIGUES Bernardo Anais de Arzila 2 vols Academia das Sciecircncias de Lisboa Lisboa 1915-1919

SARRAtildeO Henrique Fernandes ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 133-174

SOUSA Frei Luiacutes de Anais de D Joatildeo III 2 vols Saacute da Costa Lisboa 1928

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 199

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

SOUSA Manuel de Faria e Asia Portvgvesa Officina de Henrique Valen-te de Oliveira impressor del Rey NS Lisboa 1666

TENREIRO Antoacutenio amp AFONSO Mestre Viagens por terra da Iacutendia a Por-tugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica Mem-Martins 1991

3 Estudos

ALBUQUERQUE Luiacutes de (dir) Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-tos Portugueses 2 vols Ciacuterculos de Leitores Lisboa 1994

ALMEIDA Fortunato de Histoacuteria de Portugal Vols III-VII Promoclube Lisboa sd

CARDOSO Antoacutenio Pereira A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila agrave Austraacutelia em 1522 Academia da Marinha Lisboa 1994

CARVALHO Andreia Martins de ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Ma-nuelinardquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia ndash Actas do Coloacutequio Internacional Joatildeo Paulo Oliveira e Costa amp Viacutetor Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 199-226

CARVALHO Andreia Martins de Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria dos Descobrimen-tos e da Expansatildeo Portuguesa (seacuteculos XV-XVIII) apresentado agrave UNL Lisboa 2006

CAVACO Hugo ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio (Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Arte no Algarve) Cacircmara Muni-cipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1987

CAVACO Hugo Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha Cacircmara Munici-pal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1995

CORREIA Joseacute Eduardo Horta Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina Faup Publicaccedilotildees Porto 1997

CORREIA Joseacute Eduardo Horta O Algarve em Patrimoacutenio Gente Singular Editora Olhatildeo 2010

CORTESAtildeO Armando ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Aus-tralaacutesia Macau Japatildeo)rdquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939

CORTESAtildeO Jaime ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal (Dir Damiatildeo Peres) Vol IV Portucalense Editora Barce-los 1932 pp 9-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203200

Fernando Pessanha

CORTESAtildeO Jaime A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e de D Joatildeo II Lisboa 1960

COSME Joatildeo ldquoOs homens de ciecircnciardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 91-97

COSME Joatildeo ldquoOs Navegadores ndash Vasco da Gamardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 145-152

COSTA Joatildeo Paulo Oliveira e ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo A Nobreza e a Expansatildeo Estudos Biograacuteficos Joatildeo Paulo Oliveira e Costa (coord) Patrimoacutenia Cascais 2000 pp 11-51

DOMINGUES Francisco Contente ldquoOs portugueses descobriram a Aus-traacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Si-motildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Univer-sidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 163-172

DOMINGUES Francisco Contente Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 Circulo dos Leitores Lisboa 2016

FARIA Antoacutenio Machado de Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI Acade-mia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 1956

FARIA Antoacutenio Machado de ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo Separata da revista Arqueologia e Histoacuteria vol VI Lisboa 1955

FARIA Miguel Figueira de ldquoFortificaccedilotildees de Portugal na fronteira da Es-tremadura espanholardquo Anais ndash Seacuterie Histoacuteria Vol II Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 1995 pp 156-187

FONSECA Luiacutes Adatildeo da ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo A Alta No-breza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 322-347

FREIRE Anselmo Braamcamp Brasotildees da Sala de Sintra 3 vols Impren-sa da Universidade de Coimbra Coimbra 1921-1930

GARCIA Joseacute Manuel Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII QuidNovi Lisboa 2009

GARCIA Joseacute Manuel O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash 1555 Nordm 8 QuidNovi Vila do Conde 2012

GODINHO Rui Landeiro ldquoA Armada do Estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (Seacuteculos XV-XIX) Ediccedilotildees Cul-turais da Marinha Lisboa 2003 pp 117-137

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 20: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203184

Fernando Pessanha

Furtado de Mendonccedila avocirc de Cristoacutevatildeo para aleacutem de capitatildeo-mor do mar95 aparece referido como escrivatildeo da feitoria de Sofala96 Pedro de Mendonccedila tio de Cristoacutevatildeo tinha comandado uma nau numa frota de 12 navios que em 1504 partiu para a Iacutendia para garantir a seguranccedila das rotas comerciais do oceano Iacutendico e controlar o governante hostil de Calecut97 Natildeo se pode portanto considerar que os Mendonccedilas seri-am marginais ao projecto de expansatildeo ultramarina quando Cristoacutevatildeo aparece nomeado para capitatildeo da armada de Jorge de Albuquerque em 1519 ou para a capitania de Ormuz que deteve entre 1527 e 1531 ou 1532 ano da sua morte

Chegando a este ponto vale a pena determo-nos brevemente de modo a compreendermos o que era Ormuz e o que representava esta capitania no contexto do Impeacuterio Portuguecircs no Oriente Antes de mais conveacutem recordarmos que Ormuz era um importantiacutessimo entreposto mercantil em virtude da sua privilegiada localizaccedilatildeo geograacutefica na en-trada do Golfo Peacutersico Com efeito com a segunda conquista de Ormuz por Afonso de Albuquerque em 1515 e a consequente imposiccedilatildeo de um protectorado a Coroa portuguesa passou a arrecadar uma parcela con-sideraacutevel das receitas aduaneiras da proacutespera ilha transformando-se Ormuz no epicentro das actividades portuguesas no Golfo Peacutersico e no mar da Araacutebia A acreditar-se nas fontes quinhentistas era tal o movi-mento e a intensidade no porto de Ormuz que natildeo era invulgar ali en-contrar mais de 200 navios carregados de mercadorias De entre as mais importantes mercadorias que passavam pela cidade destacavam-se os cavalos oriundos da Araacutebia e da Peacutersia com destino aos portos da cos-ta ocidental da Iacutendia de onde eram encaminhados para os potentados indianos entre os quais grassavam guerras endeacutemicas Mas outros pro-dutos aacuterabes e persas faziam a riqueza da esteacuteril ilha de Djarucircn como as alcatifas aacuterabes as peacuterolas de Bahareacutem os tapetes a seda e a prata da Peacutersia o salitre e o enxofre da proacutepria ilha ao lado de mercadorias menos nobres como os frutos secos ou os cereais Dadas as circunstacircn-cias natildeo seraacute de estranhar que ao longo de todo o seacutec XVI a alfacircndega de Ormuz se tenha destacado como a mais rentaacutevel de todo o Estado da Iacutendia logo a seguir agrave de Goa Por outras palavras a cidade gerava

95 FARIA Livro de Linhagens p 27296 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada I Pt I V Cap III97 MALDONADO Relaccedilatildeo das Naos e Armadas da Iacutendia p 16 ANTT Corpo Cronoloacutegi-

co Pt II maccedilo 9 Nordm 35

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 185

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

um volume de receitas tatildeo consideraacutevel que a capitania de Ormuz aca-bou por se transformar numa das mais apetecidas de todo o Impeacuterio no Oriente Vemos deste modo que a atribuiccedilatildeo desta capitania natildeo soacute era motivo de prestiacutegio para o capitatildeo nomeado como tambeacutem fonte de grande riqueza98

Natildeo podemos deixar de notar que as Deacutecadas da Aacutesia ao referir-se agrave nomeaccedilatildeo de Mendonccedila para a capitania de Ormuz natildeo refere quais-quer serviccedilos especiais que justifiquem a atribuiccedilatildeo de tal benesse Ar-mando Cortesatildeo que levantou a hipoacutetese de ter sido Mendonccedila o pri-meiro europeu a chegar agrave Austraacutelia foi um dos investigadores a sugerir que esta nomeaccedilatildeo se devesse aos serviccedilos prestados pelo navegador99 Poreacutem e tal como temos afirmado ao longo deste trabalho natildeo existe qualquer documento que assegure o ecircxito de Mendonccedila relativamente agrave viagem que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro Omis-satildeo que segundo Jaime Cortesatildeo foi consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo entatildeo vigente Luiacutes de Albuquerque ainda que contraacuterio agrave teoria da descoberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que ldquodeve a sua celebridade a uma expediccedilatildeo que natildeo fezrdquo100 estranha no entanto o facto de Diogo do Couto natildeo mencionar os serviccedilos especiais que estiveram na origem da nomeaccedilatildeo do navegador para a capitania de Ormuz101 Esta distinccedilatildeo torna-se ainda mais suspeita se tivermos em consideraccedilatildeo que uma nomeaccedilatildeo desta natureza implicaria em meacutedia 10 anos de serviccedilos no Oriente102 durante os quais era acumu-lada a experiecircncia necessaacuteria para o desempenho de uma capitania Como vimos natildeo foi esse o caso de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Aliaacutes as nomeaccedilotildees para as capitanias mais importantes e lucrativas como Or-muz Goa ou Malaca natildeo soacute eram atribuiacutedas em reconhecimento pelos vaacuterios anos de serviccedilo no Oriente como tambeacutem recaiacuteam tendencial-mente sobre nobres com uma maior presenccedila na corte o que tambeacutem

98 LOUREIRO ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 pp 749-797 JPC ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 833-836

99 CORTESAcircO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158100 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo p 727101 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol IV

p 258102 Andreia Martins de Carvalho determinou os anos de serviccedilo de fidalgos no Oriente

antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania entre 1518 e 1544 CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 211 Foi nesse sentido que tendo em conta a infor-maccedilatildeo disponiacutevel sobre o percurso de 37 fidalgos estabelecemos a meacutedia de anos relativos a serviccedilos no Oriente antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203186

Fernando Pessanha

natildeo era o caso de Mendonccedila Ora se o navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro como explicar tatildeo generoso honroso e rentaacutevel reconhecimento Isto claro para aleacutem das compensaccedilotildees econoacutemicas atraacutes referidas e da entrega da comenda da Ordem de Cris-to que de seguida abordaremos De resto a capitania de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ficou marcada por episoacutedios dignos de registo como o au-xiacutelio prestado agrave frota de Simatildeo da Cunha assolada por uma epidemia contraiacuteda na campanha contra a ilha de Bahareacutem103 Refira-se aliaacutes que foi sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que recaiu a responsabilidade de escolher um agente para realizar a ceacutelebre missatildeo de espionagem que constituiu a viagem por terra de Ormuz a Portugal protagonizada por Antoacutenio Tenreiro entre Setembro de 1528 e Maio de 1529 - viagem cuja narrativa constitui um notaacutevel documento histoacuterico de natureza geograacutefica religiosa e antropoloacutegica104

63 A comenda da vila de Arenilha

Tal como anteriormente referimos deparaacutemo-nos com dois documen-tos que chamaram a nossa atenccedilatildeo aquando da investigaccedilatildeo para o ar-tigo ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo Trata-se de duas cartas em que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece referido como comendador da vila de Arenilha O primeiro documento data de 29 de Dezembro de 1529 e tem por tiacutetulo Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bregantim missiva em que o comendador de Arenilha culpa o marquecircs de Ayamonte pelos danos causados nas barcas dos habitantes da vila no-meadamente no referido bergantim chegando mesmo a mandar ldquopagar as barcas e () as perdas que receberam os donos delas e asy o dano que se fez na Arenilhardquo e mandar o marquecircs prender os responsaacuteveis que se encontrem nas suas terras105 Como se pode perceber o tom da missiva natildeo resulta propriamente abonatoacuterio para o nobre espanhol

103 SOUSA Anais Vol II IV Cap XXII p 106104 Como recompensa pelos serviccedilos prestados Antoacutenio Tenreiro recebeu da Coroa em

1533 uma tenccedila anual de 30000 reacuteis e o haacutebito de cavaleiro da Ordem de Cristo Ver TENREIRO amp AFONSO Viagens por terra da Iacutendia a Portugal p 18 RL ldquoTenreiro Antoacuteniordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II p 1023

105 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 Nordm45

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 187

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig1 - Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua

Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do

marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

Fig 1

Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o

marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203188

Fernando Pessanha

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig2 - Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar

creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Arenilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada destinada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila assim como o seu

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesahelliprdquo pp 86-82

Fig 2

Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao

comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Are-nilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada desti-nada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesardquo pp 86-82

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 189

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacute-vatildeo de Mendonccedila assim como o seu percurso como capitatildeo nas armadas da Iacutendia acreditamos encontrar-nos em condiccedilotildees para demonstrarmos que a comenda de Arenilha foi efectivamente atribuiacuteda ao navegador como reconhecimento pelos serviccedilos prestados no Oriente

Com efeito satildeo vaacuterios os indicadores que nos levam a afirmaacute-lo Em primeiro lugar o facto de natildeo se encontrar nas croacutenicas nem nas fontes coevas qualquer referecircncia a um homoacutenimo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a balizagem cronoloacutegica compreendida entre 1514 e 1532 periacuteodo em que aparece referido na documentaccedilatildeo Aliaacutes as da-tas discriminadas nos documentos que o referem como comendador de Arenilha corroboram a ideia de esta comenda ter sido atribuiacuteda aquando do seu regresso ao reino Eacute certo que natildeo sabemos a data em que Cristoacutevatildeo teraacute chegado a Portugal ainda que tenhamos notiacutecia da sua passagem pelo sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio de 1524 durante a viagem de regresso108 Poreacutem as tenccedilas atraacutes mencionadas indicam que se encontrava no reino em 1526 Uma vez que os documentos que o referem como comendador da vila da foz do Guadiana remontam a Dezembro de 1529 e Maio de 1530 anos em que o navegador jaacute se encontrava no Oriente eacute de supor que D Joatildeo III lhe teraacute atribuiacutedo a comenda aquando da sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e Marccedilo de 1527 ano em que voltou a partir para a Iacutendia jaacute na qualida-de de capitatildeo de Ormuz

Uma vez que natildeo se verificam homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila para a balizagem cronoloacutegica atraacutes referida e que as datas dos docu-mentos que o referem como comendador de Arenilha satildeo ligeiramente posteriores ao seu regresso ao reino resta-nos determinar se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila reunia as condiccedilotildees necessaacuterias para ser agraciado com uma comenda desta natureza Antes de mais importa referir que a vila de Arenilha e de Castro Marim eram as duas uacutenicas comendas da Ordem de Cristo no Algarve Curiosamente Isabel L Morgado de Sousa e Silva natildeo refere a comenda de Arenilha na dissertaccedilatildeo para doutoramento

108 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo Oceanos Nordm4 pp 17-18 ALBU-QUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 727-728 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 79

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203190

Fernando Pessanha

A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521)109 Poreacutem o documento publicado por Hugo Cavaco natildeo deixa margem para duacutevidas

ldquoNo Bispado do Algarve haacute somente duas Commendas da Ordem (de

Cristo) que satildeo das antigas e as seguintes

A Commenda e Alcaideria-moacuter de Castro Marim avaliou-se em quatro-

centos e cinquenta mil reacuteis no anno de 1608

A Commenda da Alcaideria-mograver de Santo Antonio de Arenilha que estaacute

junto a Castro Marim em cento e trinta mil reacuteis no anno de 1608

No Bispado do Algarve natildeo haacute nenhuma Commenda desta Ordem mais

que as duas velhas que valem quinhentos e oitenta mil reacuteis como se vecirc

da somma adianterdquo110

Aliaacutes soacute o facto de Arenilha ser comenda da Ordem de Cristo poderaacute explicar que o senhorio da vila tenha sido atribuiacutedo exclusivamente a cavaleiros da miliacutecia ao longo de toda a centuacuteria quinhentista111

Naturalmente que estas comendas implicavam desde logo a existecircn-cia de comendadores sobre os quais recaiacutea o senhorio das ditas vilas o que era compreendido como motivo de honra e de prestiacutegio social numa sociedade ainda bastante influenciada pelas antigas tradiccedilotildees medievo-feudais Comendas refira-se que compreendiam o direito agrave administra-ccedilatildeo da localidade e conferiam uma renda para sustentaccedilatildeo do comenda-dor beneficiaacuterio configurando um recurso para os encargos da proacutepria comenda No entanto a atribuiccedilatildeo de uma comenda representava um benefiacutecio atribuiacutedo a cavaleiros professos nas ordens militares como re-compensa por serviccedilos prestados Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Men-donccedila soacute poderia ser agraciado com a comenda de Arenilha caso tivesse sido investido na Ordem de Cristo Foi nesse sentido que procuraacutemos determinar se este navegador professou nesta Ordem Militar

Com efeito a dissertaccedilatildeo Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) de Joatildeo Maria Falcatildeo Pestana de Vascon-celos natildeo faz qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila enquanto cavaleiro da Ordem de Cristo Refere no entanto o seu avocirc Afonso Fur-

109 SILVA A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta110 Documento VIII BNLMicroformas F5040 Documento publicado por CAVACO Revisi-

tando p 52111 Cf PESSANHA Os 500 anos pp 57-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 191

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

tado de Mendonccedila comendador de Cardiga da Ordem de Cristo112 a sua irmatilde Margarida de Mendonccedila enquanto mulher de um comendador da mesma Ordem e o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo que recebeu o haacutebito da miliacutecia em 16 de Abril de 1514113 Ain-da que a referida dissertaccedilatildeo natildeo faccedila qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo enquanto membro desta Ordem vem demonstrar a ligaccedilatildeo de alguns dos seus familiares agrave mesma natildeo soacute na qualidade de cavaleiros como tambeacutem de comendadores

Poreacutem Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social de Teresa Lacerda assim como a jaacute referida tese A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) de Isabel L Morgado de Sousa e Silva jaacute identificam efectivamente Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como frei cavaleiro desta Ordem114 De acordo com a obra consultada Cavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVI Cristoacutevatildeo de Mendonccedila recebeu efectivamente o haacutebito da Ordem de Cristo em 16 de Abril de 1514115 exactamente na mesma data em que o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila tambeacutem foi in-vestido116 De resto o facto de Cristoacutevatildeo aparecer referido como mem-bro da miliacutecia numa provisatildeo em que D Joatildeo III manda o almoxarife de Aveiro pagar ldquoa Cristoacutevatildeo de Mendonccedila sua tenccedila deste ano 50000 reacuteis assentada na alfacircndega de Lisboa com o haacutebito de Cristordquo117 vem dissipar qualquer duacutevida que ainda subsistisse

Note-se que identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como cavaleiro da Ordem de Cristo natildeo pudemos deixar de reparar no silecircncio dos cronistas no momento de identificar os intervenientes no processo ex-pansionista com as suas respectivas filiaccedilotildees nas Ordens Militares De facto quer Joatildeo de Barros quer os cronistas que lhe sucederam natildeo fazem qualquer referecircncia agrave filiaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo em qualquer Ordem tal como de acordo com o que constataacutemos raramente o fazem em relaccedilatildeo a outros cavaleiros Esta evidecircncia pode parecer ainda mais estranha se tivermos em consideraccedilatildeo o forte envolvimento da Ordem

112 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Vol I p 377 FARIA Livro de Linhagens p 275

113 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares p 392 114 LACERDA Os Capitatildees das Armadas pp 120 e 228 SILVA A Ordem de Cristo p 336

SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma perspectiva de estudordquo apecircndice

115 FARIA ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo p 21116 FARIA ldquoCavaleirosrdquo p 21 Ver tambeacutem SILVA A Ordem de Cristo p 330117 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203192

Fernando Pessanha

de Cristo na Histoacuteria da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses Ordem Militar sublinhe-se que teve como governadores figuras in-contornaacuteveis da famiacutelia real como o infante D Henrique o infante D Fernando o rei D Manuel ou o rei D Joatildeo III118 Poreacutem haacute que ter em consideraccedilatildeo que documentos como Memoacuteria das Armadas ou o Livro de Lisuarte de Abreu natildeo satildeo fontes sobre qualquer uma das Ordens razatildeo pela qual se torna compreensiacutevel a ausecircncia de referecircncias mais completas relativamente aos intervenientes no processo de expansatildeo Aliaacutes a intenccedilatildeo subjacente agrave produccedilatildeo de obras como Histoacuteria do Des-cobrimento e da Conquista da Iacutendia natildeo passa por apresentar informa-ccedilatildeo detalhada sobre as individualidades que participaram no processo expansionista mas antes destacar o protagonismo reacutegio em todo este processo119

Por fim natildeo se verificando homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a cronologia abordada coincidindo as datas que o referem como comendador de Arenilha e identificado este navegador como cavalei-ro da Ordem de Cristo resta-nos perceber por que motivo lhe teraacute sido entregue a comenda desta vila na foz do Guadiana Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo que a fundaccedilatildeo de Are-nilha prende-se com a afirmaccedilatildeo da soberania poliacutetica e administra-tiva de D Manuel sobre um territoacuterio frequentado por castelhanos Eacute exactamente nesse contexto que em 1421 Castro Marim justificava o pedido de isenccedilatildeo de alguns encargos pelos ldquoconstantes trabalhos que os moradores tinham com os castelhanos que insistiam em vir pescar ao reinordquo120 Quer isto dizer que os castelhanos vinham pescar para as margens portuguesas natildeo pagando os devidos impostos agrave Coroa Aliaacutes a existecircncia do topoacutenimo de origem castelhana Arenilha121 ainda antes da elaboraccedilatildeo da Carta de Privileacutegio que manda proceder agrave construccedilatildeo

118 FONSECA ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo pp 321-347 Ver tambeacutem SILVA A Or-dem de Cristo pp 43-110

119 Cf SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristordquo pp 349-361120 VENTURA ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo p 608

ANTT Chancelaria de D Afonso V liv 2 fl30121 De acordo com o dicionaacuterio da Real Academia Espantildeola ldquoarenillardquo apresenta-se como

sinoacutenimo de ldquoarena menudardquo Ver Dicionario de la Real Academia Espantildeola Disponiacutevel em httplemaraeesdraeval=arenilla ndash Consultado dia 10 de Setembro de 2013 Note-se que quando em 1775 se pretendeu baptizar a nova vila iluminista com o nome de Vila Real de Santo Antoacutenio de Arenilha prontamente o Marquecircs de Pombal proibiu a utilizaccedilatildeo do nome ldquoArenilhardquo alegando que ldquoeacute uma palavra hespanhola e Villa Real uma povoaccedilatildeo portuguesardquo Ver OLIVEIRA Monografia p 71

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 193

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

da vila122 indica a ocupaccedilatildeo daquele areal na margem portuguesa da foz do Guadiana por populaccedilotildees de pescadores de origem castelhana Dadas as circunstacircncias seria do interesse estrateacutegico do monarca que esta comenda recaiacutesse sobre algueacutem experimentado na guarda da fronteira e que fizesse cumprir o pagamento dos devidos direitos aduaneiros Re-corde-se que Arenilha para aleacutem de comenda da Ordem de Cristo era uma vila de fronteira situada na margem portuguesa do Guadiana tal como o era a vila de Mouratildeo de onde Cristoacutevatildeo de Mendonccedila era natu-ral Como anteriormente referimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Men-donccedila o fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo que foi nomeado em 1476 alcaide-mor de Mouratildeo123 uma vila fortificada do Alentejo que guarda-va a fronteira portuguesa frente a Espanha O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas mostra-nos o castelo de Mouratildeo onde Cristoacutevatildeo teraacute crescido localizado no cimo de uma colina sobranceiro ao Guadiana124 Quer isto dizer que o ceacutelebre navegador era descendente de uma famiacutelia experimentada na guarda da fronteira face ao reino vizinho e familia-rizado com as actividades militares tributaacuterias e administrativas que lhe eram inerentes125 Assim sendo esta condiccedilatildeo de fronteiro a juntar ao facto de Cristoacutevatildeo ser cavaleiro da Ordem de Cristo teraacute resultado altamente pertinente no momento em que D Joatildeo III decidiu atribuir a comenda de Arenilha a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como recompensa pelos serviccedilos prestados

Por fim mas natildeo menos relevante teraacute sido a experiecircncia naval e militar adquirida por Mendonccedila nos mares do Oriente e direccionada para a foz do Guadiana sistematicamente ameaccedilada pelos ataques da pi-rataria magrebina126 Recorde-se que Mendonccedila no decurso das suas na-vegaccedilotildees na australaacutesia viu-se na necessidade de defender posiccedilotildees por-

122 O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas produzido por volta de 1509 jaacute indicava o topoacutenimo que veio a ser oficializado com a Carta de Privileacutegio de 12 de Fevereiro de 1513 Ver ARMAS O Livro das Fortalezas fl 1

123 FREIRE Brasotildees Vol III p 173124 ANTT Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Livro das Fortalezas si-

tuadas no Extremo de Portugal e Castela por Duarte de Armas escudeiro da Casa do Rei D Manuel I Nordm 159 fls 13-14 ARMAS O Livro das Fortalezas fls 13-14

125 Refira-se que foi durante o periacuteodo em que o pai de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila deteve a alcaidaria de Mouratildeo que o rei D Manuel obteve dos povos nas cortes de Lisboa de 1502 uma vultosa contribuiccedilatildeo que fez com que o castelo da vila fosse intervenciona-do por dois importantes arquitectos reacutegios os irmatildeos Francisco e Diogo de Arruda os mestres das obras reacutegias da comarca de entre o Tejo e o Guadiana Ver FARIA ldquoForti-ficaccedilotildees de Portugal na fronteira da Estremadura espanholardquo p 161

126 Sobre este assunto veja-se PESSANHA ldquoAtaques da piratariardquo pp 63-94

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203194

Fernando Pessanha

tuguesas dando combate aos adversaacuterios Recordemos a este respeito o ataque movido por Melique Ladil agrave fortaleza de Paceacutem entatildeo guardada por Mendonccedila e a maneira como o ldquomourordquo foi desbaratado e despo-jado das treze embarcaccedilotildees usadas no assalto127 Dadas as circunstacircnci-as seria um desperdiacutecio natildeo se aproveitar a experiecircncia deste capitatildeo numa altura em que se verificava um incremento da actividade piraacutetica nas costas do Algarve Esta actividade da pirataria na foz do Guadiana eacute aliaacutes referida por Bernardo Rodrigues em vaacuterias ocasiotildees nomeada-mente aquando da estadia da condessa de Redondo na vila de Arenilha em 1522128 ou quando Vasco Fernandes Ceacutesar - antigo adaiacutel de Azamor e capitatildeo da Armada do Estreito129 - foi incumbido embarcar o conde do Redondo D Joatildeo Coutinho na vila de Arenilha e escoltaacute-lo a Arzila130 Refira-se que a caminho da foz do Guadiana o navio de Vasco Fernan-des Ceacutesar foi atacado por duas naus tendo-se seguido um combate naval que resultou na explosatildeo de parte da alcaacuteccedilova atirando cinco homens ao mar entre os quais Vasco Fernandes que ficou gravemente ferido131

Vemos deste modo que a entrega da comenda de Arenilha a um in-diviacuteduo como Cristoacutevatildeo de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo descendente de uma famiacutelia de fronteiros e navegador experimentado no combate naval natildeo soacute era altamente pertinente como simboacutelica e manifestamente estrateacutegica para a defesa do extremo sudeste algarvio e da foz do Guadiana onde Mendonccedila deveria actuar com autoridade se-nhorial usufruindo dos seus bens e rendimentos E no caso da comenda de Arenilha Seriam generosos os seus rendimentos Sem duacutevida Se assim natildeo fosse o rei D Duarte natildeo teria doado ao infante D Henrique ainda em 25 de Setembro de 1433 a ldquodiacutesima nova de todo o pescado que pescarem quaisquer pessoas no mar do Monte Gordordquo132 Aliaacutes seraacute certa-

127 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III pp548-549128 RODRIGUES Anais de Arzila Tomo I Cap XC p 373129 GOacuteIS Chronica IV Cap LVII p 552 Sobre a Armada do Estreito veja-se GODINHO

ldquoA armada do estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo pp117-137130 RODRIGUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 PESSANHA Subsiacutedios p 100131 Segundo Bernardo Rodrigues os sobreviventes portugueses por pouco natildeo foram

executados Os que sobreviveram ao combate foram aprisionados e levados para Di-eppe Vasco Fernandes apesar de ferido acabou por escapar do cativeiro desfiando uma esteira e escapando por ela da torre onde se encontrava aprisionado RODRI-GUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 Ver tambeacutem PISSARRA ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Armada do Estreitordquo pp 144-145

132 SERRAtildeO Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fundaccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) p 65 OLIVEIRA Monografia p 73

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 195

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

mente o motivo econoacutemico que jaacute em 1555 estaraacute na origem da disputa pelo senhorio de Arenilha entre Jeroacutenimo de Melo fidalgo da Casa Real e alcaide-mor de Castro Marim e Luiacutes Leite frei cavaleiro da Ordem de Cristo e filho de Antoacutenio Leite o anterior alcaide133

Relativamente agrave defesa sabemos que Arenilha natildeo possuiacutea castelo torre ou qualquer fortificaccedilatildeo digna de registo ateacute 1542-1547 periacuteodo em que o alcaide Antoacutenio Leite daacute-nos conta das ldquotramqueyras e repai-rosrdquo construiacutedos sob o seu comando para a populaccedilatildeo se defender dos ataques da pirataria moura134 Ainda assim Mendonccedila estava obrigado a zelar pela defesa da vila independentemente de esta ter ou natildeo for-tificaccedilotildees para a proteger Se tivermos em consideraccedilatildeo que a sua no-meaccedilatildeo como comendador o obrigava agrave realizaccedilatildeo de um inventaacuterio ao patrimoacutenio da comenda (infelizmente desconhecido) e ao dever de fixar residecircncia na sua aacuterea de governo135 eacute muito provaacutevel que Cristoacutevatildeo se tenha detido durante algum tempo na vila da foz do Guadiana algures entre finais de 1524 aquando da sua chegada ao reino136 e Marccedilo de 1527 quando voltou a partir para o Oriente

Como anteriormente referimos os comendadores deviam fixar-se nas suas comendas para melhor procederem agrave sua defesa e melhor ren-tabilizarem as mesmas Assim sendo como eacute possiacutevel que os documen-tos que referem Cristoacutevatildeo como comendador de Arenilha sejam relati-vos aos anos em que este se encontrava na capitania de Ormuz Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo de que a principal obrigaccedilatildeo dos cavaleiros da Ordem de Cristo era a luta contra os inimigos da feacute devendo estar prontos para a guerra sempre que o Mestre os convocasse Uma vez que as situaccedilotildees de guerra eram cons-tantes nos territoacuterios de aleacutem-mar onde a presenccedila dos cavaleiros da Ordem se tornava necessaacuteria natildeo eacute de admirar que estes fossem dispen-sados da exigecircncia que os obrigava a permanecer nas suas comendas137

133 CAVACO Revisitando pp 18-20 PESSANHA Os 500 anos pp 72-73134 Carta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava

atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras e que era necessaacute-rio enviar-lhe socorro ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos p 99 PINTO ldquoIacutendice Analiacuteticordquo p 267

135 Cf SILVA A Ordem de Cristo pp 189-190136 Uma vez que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila se encontrava na Aacutefrica do Sul em Marccedilo ou Maio

de 1524 eacute de supor que a sua chegada ao reino se tenha dado ainda no mesmo ano137 SILVA A Ordem de Cristo p 191

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203196

Fernando Pessanha

Eacute nesse sentido que encontramos Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comen-dador de Arenilha em 1529 e 1530 anos em que jaacute se encontrava como capitatildeo na fortaleza de Ormuz De resto era nesta fortaleza que ainda se encontrava em 1531 ano em que piratas de Larache atacaram a vila da foz do Guadiana ldquoonde fizeacuteratildeo muito dano em navios que tomaacuteratildeo e den-tro da Barra de Aiamonte fizeacuteratildeo despejar a Arrinilha e a Montegordordquo138

7 Conclusatildeo

Com efeito muito se tem escrito (e especulado) sobre a alegada des-coberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila No entanto e indepen-dentemente dos resultados alcanccedilados pelo navegador nesta expediccedilatildeo parece indiscutiacutevel que foi generosamente recompensado aquando do seu regresso ao reino Resta-nos perceber porquecirc Jaacute Armando Cortesatildeo muito antes de Peter Trickett tinha levantado a hipoacutetese de a rentaacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz ter sido entregue a Mendonccedila como re-compensa pelos serviccedilos prestados na expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro139 Natildeo eacute conhecido poreacutem qualquer documento que ateste o ecircxito do navegador nesta expediccedilatildeo Omissatildeo que segundo investigadores como Armando Cortesatildeo Damiatildeo Peres ou Jaime Cortesatildeo teraacute sido consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo determinada pelas limitaccedilotildees de navega-ccedilatildeo estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas e com o contencioso entre Portugal e Espanha pela posse das Molucas140

O certo eacute que Mendonccedila ao regressar ao reino foi agraciado com uma das capitanias mais rentaacuteveis do impeacuterio no Oriente para aleacutem de ter recebido compensaccedilotildees econoacutemicas e aparecer referido em 1529 e 1530 como comendador da vila de Arenilha na foz do Guadiana Refira-se a este respeito que muitos capitatildees cavaleiros da Ordem de Cristo se lanccedilaram no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Poreacutem mui-to poucos chegaram a obter as tatildeo almejadas comendas141 Vemos deste

138 RODRIGUES Anais Tomo II Cap XXXV p 209139 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158140 CORTESAtildeO A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e

de D Joatildeo II Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 65-66 PERES ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na Histoacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II pp 17-21

141 Entre os afortunados que lograram obter este tipo de rendimento contam-se muito poucos D Joatildeo Pereira D Pedro de Castelo Branco Nuno Furtado Simatildeo Guedes entre outros Ver CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 216

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 197

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

modo que a atribuiccedilatildeo da comenda de Arenilha significou um motivo de grande honra e prestiacutegio para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Ora se este navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro resta-nos perceber porque motivo teraacute sido agraciado com compensaccedilotildees eco-noacutemicas a nomeaccedilatildeo para uma das mais rentaacuteveis capitanias de todo o Impeacuterio no Oriente e uma honrosa comenda da Ordem de Cristo Eacute caso para dizer que a problemaacutetica em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila con-tinua a levantar muitas duacutevidas e poucas certezas

Fontes e Bibliografia

1 Arquivos

ANTT

Chancelaria de D Afonso V Livro 2 fl30

Chancelaria de D Manuel I Livro 4 fl37 Livro 8 fl 29v Livro 9 fl4v Livro 10 fl53 Livro 13 fl60 Livro 37 fl64

Chancelaria de D Joatildeo III Livro 12 fl62

Chancelaria da Ordem de Cristo Livro13 fls375 vndash 379v

Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1

Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 15 Nordm47 Pt I maccedilo 44 Nordm45 Pt I maccedilo 45 Nordm9

Pt II maccedilo 51 Nordm26 Pt II maccedilo 53 Nordm182 Pt II maccedilo 93 Nordm150 Pt II maccedilo 109 Nordm131 Pt II maccedilo 131 Nordm226 Pt II maccedilo 134 Nordm57 Pt II maccedilo 135 Nordm45 Pt II maccedilo 135 Nordm49 Pt II maccedilo 136 Nordm102 Pt II maccedilo 141 Nordm91

Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Nordm159

Casa Real Cartoacuterio da Nobreza Livro Nordm20 - Livro da Nobreza e da per-feiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal fl XII

2 Fontes Impressas

ABREU Lisuarte de Livro de Lisuarte de Abreu (Reproduccedilatildeo do manuscrito existente na Perpont Morgan Library de Nova York) Comissatildeo Nacional para as comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portugueses Lisboa 1992

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203198

Fernando Pessanha

ARMAS Duarte de Livro das Fortalezas Arquivo Nacional da Torre do TomboInapa Lisboa 1997

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada III Na Regia Officina Typografica Lisboa MDCCLXXVII

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada IV Imprensa Nacional Casa da Moe-da Lisboa 2001

BORGES Joseacute Calvatildeo Borges Livro do Armeiro-Mor Academia Portugue-sa de HistoacuteriaEdiccedilotildees Inapa Lisboa 2000

CASCAtildeO Joatildeo ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevorardquo Uma Jornada ao Alentejo e ao Algarve A altera-ccedilatildeo das linhas de forccedila da poliacutetica nacional Livros Horizonte Lisboa 1984 pp 77-136

CASTANHEDA Fernatildeo Lopes de Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses 2 vols Lello amp Irmatildeos Editores Porto 1979

CORREIA Gaspar Lendas da Iacutendia Tomo III na Typographia da Acade-mia Real das Sciencias Lisboa 1862

Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI Centro de Estudos Histoacutericos Ultramarinos Lis-boa 1969

GAYO Felgueiras Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX Ediccedilatildeo de Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Arauacutejo Affonso Braga 1939

GUEDES Liacutevio da Costa Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) Arquivo Histoacuterico Militar Lisboa 1988

GOacuteIS Damiatildeo de Chonica do Serenissimo Senhor Rei D Manoel Lisboa 1749

JOSEacute Frei Joatildeo de Satildeo ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 21-132

RODRIGUES Bernardo Anais de Arzila 2 vols Academia das Sciecircncias de Lisboa Lisboa 1915-1919

SARRAtildeO Henrique Fernandes ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 133-174

SOUSA Frei Luiacutes de Anais de D Joatildeo III 2 vols Saacute da Costa Lisboa 1928

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 199

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

SOUSA Manuel de Faria e Asia Portvgvesa Officina de Henrique Valen-te de Oliveira impressor del Rey NS Lisboa 1666

TENREIRO Antoacutenio amp AFONSO Mestre Viagens por terra da Iacutendia a Por-tugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica Mem-Martins 1991

3 Estudos

ALBUQUERQUE Luiacutes de (dir) Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-tos Portugueses 2 vols Ciacuterculos de Leitores Lisboa 1994

ALMEIDA Fortunato de Histoacuteria de Portugal Vols III-VII Promoclube Lisboa sd

CARDOSO Antoacutenio Pereira A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila agrave Austraacutelia em 1522 Academia da Marinha Lisboa 1994

CARVALHO Andreia Martins de ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Ma-nuelinardquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia ndash Actas do Coloacutequio Internacional Joatildeo Paulo Oliveira e Costa amp Viacutetor Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 199-226

CARVALHO Andreia Martins de Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria dos Descobrimen-tos e da Expansatildeo Portuguesa (seacuteculos XV-XVIII) apresentado agrave UNL Lisboa 2006

CAVACO Hugo ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio (Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Arte no Algarve) Cacircmara Muni-cipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1987

CAVACO Hugo Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha Cacircmara Munici-pal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1995

CORREIA Joseacute Eduardo Horta Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina Faup Publicaccedilotildees Porto 1997

CORREIA Joseacute Eduardo Horta O Algarve em Patrimoacutenio Gente Singular Editora Olhatildeo 2010

CORTESAtildeO Armando ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Aus-tralaacutesia Macau Japatildeo)rdquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939

CORTESAtildeO Jaime ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal (Dir Damiatildeo Peres) Vol IV Portucalense Editora Barce-los 1932 pp 9-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203200

Fernando Pessanha

CORTESAtildeO Jaime A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e de D Joatildeo II Lisboa 1960

COSME Joatildeo ldquoOs homens de ciecircnciardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 91-97

COSME Joatildeo ldquoOs Navegadores ndash Vasco da Gamardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 145-152

COSTA Joatildeo Paulo Oliveira e ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo A Nobreza e a Expansatildeo Estudos Biograacuteficos Joatildeo Paulo Oliveira e Costa (coord) Patrimoacutenia Cascais 2000 pp 11-51

DOMINGUES Francisco Contente ldquoOs portugueses descobriram a Aus-traacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Si-motildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Univer-sidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 163-172

DOMINGUES Francisco Contente Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 Circulo dos Leitores Lisboa 2016

FARIA Antoacutenio Machado de Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI Acade-mia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 1956

FARIA Antoacutenio Machado de ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo Separata da revista Arqueologia e Histoacuteria vol VI Lisboa 1955

FARIA Miguel Figueira de ldquoFortificaccedilotildees de Portugal na fronteira da Es-tremadura espanholardquo Anais ndash Seacuterie Histoacuteria Vol II Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 1995 pp 156-187

FONSECA Luiacutes Adatildeo da ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo A Alta No-breza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 322-347

FREIRE Anselmo Braamcamp Brasotildees da Sala de Sintra 3 vols Impren-sa da Universidade de Coimbra Coimbra 1921-1930

GARCIA Joseacute Manuel Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII QuidNovi Lisboa 2009

GARCIA Joseacute Manuel O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash 1555 Nordm 8 QuidNovi Vila do Conde 2012

GODINHO Rui Landeiro ldquoA Armada do Estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (Seacuteculos XV-XIX) Ediccedilotildees Cul-turais da Marinha Lisboa 2003 pp 117-137

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 21: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 185

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

um volume de receitas tatildeo consideraacutevel que a capitania de Ormuz aca-bou por se transformar numa das mais apetecidas de todo o Impeacuterio no Oriente Vemos deste modo que a atribuiccedilatildeo desta capitania natildeo soacute era motivo de prestiacutegio para o capitatildeo nomeado como tambeacutem fonte de grande riqueza98

Natildeo podemos deixar de notar que as Deacutecadas da Aacutesia ao referir-se agrave nomeaccedilatildeo de Mendonccedila para a capitania de Ormuz natildeo refere quais-quer serviccedilos especiais que justifiquem a atribuiccedilatildeo de tal benesse Ar-mando Cortesatildeo que levantou a hipoacutetese de ter sido Mendonccedila o pri-meiro europeu a chegar agrave Austraacutelia foi um dos investigadores a sugerir que esta nomeaccedilatildeo se devesse aos serviccedilos prestados pelo navegador99 Poreacutem e tal como temos afirmado ao longo deste trabalho natildeo existe qualquer documento que assegure o ecircxito de Mendonccedila relativamente agrave viagem que tinha por objectivo a descoberta da Ilha do Ouro Omis-satildeo que segundo Jaime Cortesatildeo foi consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo entatildeo vigente Luiacutes de Albuquerque ainda que contraacuterio agrave teoria da descoberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que ldquodeve a sua celebridade a uma expediccedilatildeo que natildeo fezrdquo100 estranha no entanto o facto de Diogo do Couto natildeo mencionar os serviccedilos especiais que estiveram na origem da nomeaccedilatildeo do navegador para a capitania de Ormuz101 Esta distinccedilatildeo torna-se ainda mais suspeita se tivermos em consideraccedilatildeo que uma nomeaccedilatildeo desta natureza implicaria em meacutedia 10 anos de serviccedilos no Oriente102 durante os quais era acumu-lada a experiecircncia necessaacuteria para o desempenho de uma capitania Como vimos natildeo foi esse o caso de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Aliaacutes as nomeaccedilotildees para as capitanias mais importantes e lucrativas como Or-muz Goa ou Malaca natildeo soacute eram atribuiacutedas em reconhecimento pelos vaacuterios anos de serviccedilo no Oriente como tambeacutem recaiacuteam tendencial-mente sobre nobres com uma maior presenccedila na corte o que tambeacutem

98 LOUREIRO ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 pp 749-797 JPC ldquoOrmuzrdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 833-836

99 CORTESAcircO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158100 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo p 727101 ALBUQUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal Vol IV

p 258102 Andreia Martins de Carvalho determinou os anos de serviccedilo de fidalgos no Oriente

antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania entre 1518 e 1544 CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 211 Foi nesse sentido que tendo em conta a infor-maccedilatildeo disponiacutevel sobre o percurso de 37 fidalgos estabelecemos a meacutedia de anos relativos a serviccedilos no Oriente antes da atribuiccedilatildeo da primeira capitania

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203186

Fernando Pessanha

natildeo era o caso de Mendonccedila Ora se o navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro como explicar tatildeo generoso honroso e rentaacutevel reconhecimento Isto claro para aleacutem das compensaccedilotildees econoacutemicas atraacutes referidas e da entrega da comenda da Ordem de Cris-to que de seguida abordaremos De resto a capitania de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ficou marcada por episoacutedios dignos de registo como o au-xiacutelio prestado agrave frota de Simatildeo da Cunha assolada por uma epidemia contraiacuteda na campanha contra a ilha de Bahareacutem103 Refira-se aliaacutes que foi sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que recaiu a responsabilidade de escolher um agente para realizar a ceacutelebre missatildeo de espionagem que constituiu a viagem por terra de Ormuz a Portugal protagonizada por Antoacutenio Tenreiro entre Setembro de 1528 e Maio de 1529 - viagem cuja narrativa constitui um notaacutevel documento histoacuterico de natureza geograacutefica religiosa e antropoloacutegica104

63 A comenda da vila de Arenilha

Tal como anteriormente referimos deparaacutemo-nos com dois documen-tos que chamaram a nossa atenccedilatildeo aquando da investigaccedilatildeo para o ar-tigo ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo Trata-se de duas cartas em que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece referido como comendador da vila de Arenilha O primeiro documento data de 29 de Dezembro de 1529 e tem por tiacutetulo Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bregantim missiva em que o comendador de Arenilha culpa o marquecircs de Ayamonte pelos danos causados nas barcas dos habitantes da vila no-meadamente no referido bergantim chegando mesmo a mandar ldquopagar as barcas e () as perdas que receberam os donos delas e asy o dano que se fez na Arenilhardquo e mandar o marquecircs prender os responsaacuteveis que se encontrem nas suas terras105 Como se pode perceber o tom da missiva natildeo resulta propriamente abonatoacuterio para o nobre espanhol

103 SOUSA Anais Vol II IV Cap XXII p 106104 Como recompensa pelos serviccedilos prestados Antoacutenio Tenreiro recebeu da Coroa em

1533 uma tenccedila anual de 30000 reacuteis e o haacutebito de cavaleiro da Ordem de Cristo Ver TENREIRO amp AFONSO Viagens por terra da Iacutendia a Portugal p 18 RL ldquoTenreiro Antoacuteniordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II p 1023

105 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 Nordm45

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 187

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig1 - Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua

Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do

marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

Fig 1

Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o

marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203188

Fernando Pessanha

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig2 - Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar

creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Arenilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada destinada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila assim como o seu

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesahelliprdquo pp 86-82

Fig 2

Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao

comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Are-nilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada desti-nada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesardquo pp 86-82

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 189

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacute-vatildeo de Mendonccedila assim como o seu percurso como capitatildeo nas armadas da Iacutendia acreditamos encontrar-nos em condiccedilotildees para demonstrarmos que a comenda de Arenilha foi efectivamente atribuiacuteda ao navegador como reconhecimento pelos serviccedilos prestados no Oriente

Com efeito satildeo vaacuterios os indicadores que nos levam a afirmaacute-lo Em primeiro lugar o facto de natildeo se encontrar nas croacutenicas nem nas fontes coevas qualquer referecircncia a um homoacutenimo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a balizagem cronoloacutegica compreendida entre 1514 e 1532 periacuteodo em que aparece referido na documentaccedilatildeo Aliaacutes as da-tas discriminadas nos documentos que o referem como comendador de Arenilha corroboram a ideia de esta comenda ter sido atribuiacuteda aquando do seu regresso ao reino Eacute certo que natildeo sabemos a data em que Cristoacutevatildeo teraacute chegado a Portugal ainda que tenhamos notiacutecia da sua passagem pelo sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio de 1524 durante a viagem de regresso108 Poreacutem as tenccedilas atraacutes mencionadas indicam que se encontrava no reino em 1526 Uma vez que os documentos que o referem como comendador da vila da foz do Guadiana remontam a Dezembro de 1529 e Maio de 1530 anos em que o navegador jaacute se encontrava no Oriente eacute de supor que D Joatildeo III lhe teraacute atribuiacutedo a comenda aquando da sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e Marccedilo de 1527 ano em que voltou a partir para a Iacutendia jaacute na qualida-de de capitatildeo de Ormuz

Uma vez que natildeo se verificam homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila para a balizagem cronoloacutegica atraacutes referida e que as datas dos docu-mentos que o referem como comendador de Arenilha satildeo ligeiramente posteriores ao seu regresso ao reino resta-nos determinar se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila reunia as condiccedilotildees necessaacuterias para ser agraciado com uma comenda desta natureza Antes de mais importa referir que a vila de Arenilha e de Castro Marim eram as duas uacutenicas comendas da Ordem de Cristo no Algarve Curiosamente Isabel L Morgado de Sousa e Silva natildeo refere a comenda de Arenilha na dissertaccedilatildeo para doutoramento

108 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo Oceanos Nordm4 pp 17-18 ALBU-QUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 727-728 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 79

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203190

Fernando Pessanha

A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521)109 Poreacutem o documento publicado por Hugo Cavaco natildeo deixa margem para duacutevidas

ldquoNo Bispado do Algarve haacute somente duas Commendas da Ordem (de

Cristo) que satildeo das antigas e as seguintes

A Commenda e Alcaideria-moacuter de Castro Marim avaliou-se em quatro-

centos e cinquenta mil reacuteis no anno de 1608

A Commenda da Alcaideria-mograver de Santo Antonio de Arenilha que estaacute

junto a Castro Marim em cento e trinta mil reacuteis no anno de 1608

No Bispado do Algarve natildeo haacute nenhuma Commenda desta Ordem mais

que as duas velhas que valem quinhentos e oitenta mil reacuteis como se vecirc

da somma adianterdquo110

Aliaacutes soacute o facto de Arenilha ser comenda da Ordem de Cristo poderaacute explicar que o senhorio da vila tenha sido atribuiacutedo exclusivamente a cavaleiros da miliacutecia ao longo de toda a centuacuteria quinhentista111

Naturalmente que estas comendas implicavam desde logo a existecircn-cia de comendadores sobre os quais recaiacutea o senhorio das ditas vilas o que era compreendido como motivo de honra e de prestiacutegio social numa sociedade ainda bastante influenciada pelas antigas tradiccedilotildees medievo-feudais Comendas refira-se que compreendiam o direito agrave administra-ccedilatildeo da localidade e conferiam uma renda para sustentaccedilatildeo do comenda-dor beneficiaacuterio configurando um recurso para os encargos da proacutepria comenda No entanto a atribuiccedilatildeo de uma comenda representava um benefiacutecio atribuiacutedo a cavaleiros professos nas ordens militares como re-compensa por serviccedilos prestados Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Men-donccedila soacute poderia ser agraciado com a comenda de Arenilha caso tivesse sido investido na Ordem de Cristo Foi nesse sentido que procuraacutemos determinar se este navegador professou nesta Ordem Militar

Com efeito a dissertaccedilatildeo Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) de Joatildeo Maria Falcatildeo Pestana de Vascon-celos natildeo faz qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila enquanto cavaleiro da Ordem de Cristo Refere no entanto o seu avocirc Afonso Fur-

109 SILVA A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta110 Documento VIII BNLMicroformas F5040 Documento publicado por CAVACO Revisi-

tando p 52111 Cf PESSANHA Os 500 anos pp 57-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 191

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

tado de Mendonccedila comendador de Cardiga da Ordem de Cristo112 a sua irmatilde Margarida de Mendonccedila enquanto mulher de um comendador da mesma Ordem e o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo que recebeu o haacutebito da miliacutecia em 16 de Abril de 1514113 Ain-da que a referida dissertaccedilatildeo natildeo faccedila qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo enquanto membro desta Ordem vem demonstrar a ligaccedilatildeo de alguns dos seus familiares agrave mesma natildeo soacute na qualidade de cavaleiros como tambeacutem de comendadores

Poreacutem Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social de Teresa Lacerda assim como a jaacute referida tese A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) de Isabel L Morgado de Sousa e Silva jaacute identificam efectivamente Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como frei cavaleiro desta Ordem114 De acordo com a obra consultada Cavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVI Cristoacutevatildeo de Mendonccedila recebeu efectivamente o haacutebito da Ordem de Cristo em 16 de Abril de 1514115 exactamente na mesma data em que o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila tambeacutem foi in-vestido116 De resto o facto de Cristoacutevatildeo aparecer referido como mem-bro da miliacutecia numa provisatildeo em que D Joatildeo III manda o almoxarife de Aveiro pagar ldquoa Cristoacutevatildeo de Mendonccedila sua tenccedila deste ano 50000 reacuteis assentada na alfacircndega de Lisboa com o haacutebito de Cristordquo117 vem dissipar qualquer duacutevida que ainda subsistisse

Note-se que identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como cavaleiro da Ordem de Cristo natildeo pudemos deixar de reparar no silecircncio dos cronistas no momento de identificar os intervenientes no processo ex-pansionista com as suas respectivas filiaccedilotildees nas Ordens Militares De facto quer Joatildeo de Barros quer os cronistas que lhe sucederam natildeo fazem qualquer referecircncia agrave filiaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo em qualquer Ordem tal como de acordo com o que constataacutemos raramente o fazem em relaccedilatildeo a outros cavaleiros Esta evidecircncia pode parecer ainda mais estranha se tivermos em consideraccedilatildeo o forte envolvimento da Ordem

112 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Vol I p 377 FARIA Livro de Linhagens p 275

113 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares p 392 114 LACERDA Os Capitatildees das Armadas pp 120 e 228 SILVA A Ordem de Cristo p 336

SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma perspectiva de estudordquo apecircndice

115 FARIA ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo p 21116 FARIA ldquoCavaleirosrdquo p 21 Ver tambeacutem SILVA A Ordem de Cristo p 330117 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203192

Fernando Pessanha

de Cristo na Histoacuteria da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses Ordem Militar sublinhe-se que teve como governadores figuras in-contornaacuteveis da famiacutelia real como o infante D Henrique o infante D Fernando o rei D Manuel ou o rei D Joatildeo III118 Poreacutem haacute que ter em consideraccedilatildeo que documentos como Memoacuteria das Armadas ou o Livro de Lisuarte de Abreu natildeo satildeo fontes sobre qualquer uma das Ordens razatildeo pela qual se torna compreensiacutevel a ausecircncia de referecircncias mais completas relativamente aos intervenientes no processo de expansatildeo Aliaacutes a intenccedilatildeo subjacente agrave produccedilatildeo de obras como Histoacuteria do Des-cobrimento e da Conquista da Iacutendia natildeo passa por apresentar informa-ccedilatildeo detalhada sobre as individualidades que participaram no processo expansionista mas antes destacar o protagonismo reacutegio em todo este processo119

Por fim natildeo se verificando homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a cronologia abordada coincidindo as datas que o referem como comendador de Arenilha e identificado este navegador como cavalei-ro da Ordem de Cristo resta-nos perceber por que motivo lhe teraacute sido entregue a comenda desta vila na foz do Guadiana Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo que a fundaccedilatildeo de Are-nilha prende-se com a afirmaccedilatildeo da soberania poliacutetica e administra-tiva de D Manuel sobre um territoacuterio frequentado por castelhanos Eacute exactamente nesse contexto que em 1421 Castro Marim justificava o pedido de isenccedilatildeo de alguns encargos pelos ldquoconstantes trabalhos que os moradores tinham com os castelhanos que insistiam em vir pescar ao reinordquo120 Quer isto dizer que os castelhanos vinham pescar para as margens portuguesas natildeo pagando os devidos impostos agrave Coroa Aliaacutes a existecircncia do topoacutenimo de origem castelhana Arenilha121 ainda antes da elaboraccedilatildeo da Carta de Privileacutegio que manda proceder agrave construccedilatildeo

118 FONSECA ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo pp 321-347 Ver tambeacutem SILVA A Or-dem de Cristo pp 43-110

119 Cf SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristordquo pp 349-361120 VENTURA ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo p 608

ANTT Chancelaria de D Afonso V liv 2 fl30121 De acordo com o dicionaacuterio da Real Academia Espantildeola ldquoarenillardquo apresenta-se como

sinoacutenimo de ldquoarena menudardquo Ver Dicionario de la Real Academia Espantildeola Disponiacutevel em httplemaraeesdraeval=arenilla ndash Consultado dia 10 de Setembro de 2013 Note-se que quando em 1775 se pretendeu baptizar a nova vila iluminista com o nome de Vila Real de Santo Antoacutenio de Arenilha prontamente o Marquecircs de Pombal proibiu a utilizaccedilatildeo do nome ldquoArenilhardquo alegando que ldquoeacute uma palavra hespanhola e Villa Real uma povoaccedilatildeo portuguesardquo Ver OLIVEIRA Monografia p 71

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 193

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

da vila122 indica a ocupaccedilatildeo daquele areal na margem portuguesa da foz do Guadiana por populaccedilotildees de pescadores de origem castelhana Dadas as circunstacircncias seria do interesse estrateacutegico do monarca que esta comenda recaiacutesse sobre algueacutem experimentado na guarda da fronteira e que fizesse cumprir o pagamento dos devidos direitos aduaneiros Re-corde-se que Arenilha para aleacutem de comenda da Ordem de Cristo era uma vila de fronteira situada na margem portuguesa do Guadiana tal como o era a vila de Mouratildeo de onde Cristoacutevatildeo de Mendonccedila era natu-ral Como anteriormente referimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Men-donccedila o fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo que foi nomeado em 1476 alcaide-mor de Mouratildeo123 uma vila fortificada do Alentejo que guarda-va a fronteira portuguesa frente a Espanha O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas mostra-nos o castelo de Mouratildeo onde Cristoacutevatildeo teraacute crescido localizado no cimo de uma colina sobranceiro ao Guadiana124 Quer isto dizer que o ceacutelebre navegador era descendente de uma famiacutelia experimentada na guarda da fronteira face ao reino vizinho e familia-rizado com as actividades militares tributaacuterias e administrativas que lhe eram inerentes125 Assim sendo esta condiccedilatildeo de fronteiro a juntar ao facto de Cristoacutevatildeo ser cavaleiro da Ordem de Cristo teraacute resultado altamente pertinente no momento em que D Joatildeo III decidiu atribuir a comenda de Arenilha a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como recompensa pelos serviccedilos prestados

Por fim mas natildeo menos relevante teraacute sido a experiecircncia naval e militar adquirida por Mendonccedila nos mares do Oriente e direccionada para a foz do Guadiana sistematicamente ameaccedilada pelos ataques da pi-rataria magrebina126 Recorde-se que Mendonccedila no decurso das suas na-vegaccedilotildees na australaacutesia viu-se na necessidade de defender posiccedilotildees por-

122 O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas produzido por volta de 1509 jaacute indicava o topoacutenimo que veio a ser oficializado com a Carta de Privileacutegio de 12 de Fevereiro de 1513 Ver ARMAS O Livro das Fortalezas fl 1

123 FREIRE Brasotildees Vol III p 173124 ANTT Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Livro das Fortalezas si-

tuadas no Extremo de Portugal e Castela por Duarte de Armas escudeiro da Casa do Rei D Manuel I Nordm 159 fls 13-14 ARMAS O Livro das Fortalezas fls 13-14

125 Refira-se que foi durante o periacuteodo em que o pai de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila deteve a alcaidaria de Mouratildeo que o rei D Manuel obteve dos povos nas cortes de Lisboa de 1502 uma vultosa contribuiccedilatildeo que fez com que o castelo da vila fosse intervenciona-do por dois importantes arquitectos reacutegios os irmatildeos Francisco e Diogo de Arruda os mestres das obras reacutegias da comarca de entre o Tejo e o Guadiana Ver FARIA ldquoForti-ficaccedilotildees de Portugal na fronteira da Estremadura espanholardquo p 161

126 Sobre este assunto veja-se PESSANHA ldquoAtaques da piratariardquo pp 63-94

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203194

Fernando Pessanha

tuguesas dando combate aos adversaacuterios Recordemos a este respeito o ataque movido por Melique Ladil agrave fortaleza de Paceacutem entatildeo guardada por Mendonccedila e a maneira como o ldquomourordquo foi desbaratado e despo-jado das treze embarcaccedilotildees usadas no assalto127 Dadas as circunstacircnci-as seria um desperdiacutecio natildeo se aproveitar a experiecircncia deste capitatildeo numa altura em que se verificava um incremento da actividade piraacutetica nas costas do Algarve Esta actividade da pirataria na foz do Guadiana eacute aliaacutes referida por Bernardo Rodrigues em vaacuterias ocasiotildees nomeada-mente aquando da estadia da condessa de Redondo na vila de Arenilha em 1522128 ou quando Vasco Fernandes Ceacutesar - antigo adaiacutel de Azamor e capitatildeo da Armada do Estreito129 - foi incumbido embarcar o conde do Redondo D Joatildeo Coutinho na vila de Arenilha e escoltaacute-lo a Arzila130 Refira-se que a caminho da foz do Guadiana o navio de Vasco Fernan-des Ceacutesar foi atacado por duas naus tendo-se seguido um combate naval que resultou na explosatildeo de parte da alcaacuteccedilova atirando cinco homens ao mar entre os quais Vasco Fernandes que ficou gravemente ferido131

Vemos deste modo que a entrega da comenda de Arenilha a um in-diviacuteduo como Cristoacutevatildeo de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo descendente de uma famiacutelia de fronteiros e navegador experimentado no combate naval natildeo soacute era altamente pertinente como simboacutelica e manifestamente estrateacutegica para a defesa do extremo sudeste algarvio e da foz do Guadiana onde Mendonccedila deveria actuar com autoridade se-nhorial usufruindo dos seus bens e rendimentos E no caso da comenda de Arenilha Seriam generosos os seus rendimentos Sem duacutevida Se assim natildeo fosse o rei D Duarte natildeo teria doado ao infante D Henrique ainda em 25 de Setembro de 1433 a ldquodiacutesima nova de todo o pescado que pescarem quaisquer pessoas no mar do Monte Gordordquo132 Aliaacutes seraacute certa-

127 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III pp548-549128 RODRIGUES Anais de Arzila Tomo I Cap XC p 373129 GOacuteIS Chronica IV Cap LVII p 552 Sobre a Armada do Estreito veja-se GODINHO

ldquoA armada do estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo pp117-137130 RODRIGUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 PESSANHA Subsiacutedios p 100131 Segundo Bernardo Rodrigues os sobreviventes portugueses por pouco natildeo foram

executados Os que sobreviveram ao combate foram aprisionados e levados para Di-eppe Vasco Fernandes apesar de ferido acabou por escapar do cativeiro desfiando uma esteira e escapando por ela da torre onde se encontrava aprisionado RODRI-GUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 Ver tambeacutem PISSARRA ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Armada do Estreitordquo pp 144-145

132 SERRAtildeO Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fundaccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) p 65 OLIVEIRA Monografia p 73

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 195

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

mente o motivo econoacutemico que jaacute em 1555 estaraacute na origem da disputa pelo senhorio de Arenilha entre Jeroacutenimo de Melo fidalgo da Casa Real e alcaide-mor de Castro Marim e Luiacutes Leite frei cavaleiro da Ordem de Cristo e filho de Antoacutenio Leite o anterior alcaide133

Relativamente agrave defesa sabemos que Arenilha natildeo possuiacutea castelo torre ou qualquer fortificaccedilatildeo digna de registo ateacute 1542-1547 periacuteodo em que o alcaide Antoacutenio Leite daacute-nos conta das ldquotramqueyras e repai-rosrdquo construiacutedos sob o seu comando para a populaccedilatildeo se defender dos ataques da pirataria moura134 Ainda assim Mendonccedila estava obrigado a zelar pela defesa da vila independentemente de esta ter ou natildeo for-tificaccedilotildees para a proteger Se tivermos em consideraccedilatildeo que a sua no-meaccedilatildeo como comendador o obrigava agrave realizaccedilatildeo de um inventaacuterio ao patrimoacutenio da comenda (infelizmente desconhecido) e ao dever de fixar residecircncia na sua aacuterea de governo135 eacute muito provaacutevel que Cristoacutevatildeo se tenha detido durante algum tempo na vila da foz do Guadiana algures entre finais de 1524 aquando da sua chegada ao reino136 e Marccedilo de 1527 quando voltou a partir para o Oriente

Como anteriormente referimos os comendadores deviam fixar-se nas suas comendas para melhor procederem agrave sua defesa e melhor ren-tabilizarem as mesmas Assim sendo como eacute possiacutevel que os documen-tos que referem Cristoacutevatildeo como comendador de Arenilha sejam relati-vos aos anos em que este se encontrava na capitania de Ormuz Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo de que a principal obrigaccedilatildeo dos cavaleiros da Ordem de Cristo era a luta contra os inimigos da feacute devendo estar prontos para a guerra sempre que o Mestre os convocasse Uma vez que as situaccedilotildees de guerra eram cons-tantes nos territoacuterios de aleacutem-mar onde a presenccedila dos cavaleiros da Ordem se tornava necessaacuteria natildeo eacute de admirar que estes fossem dispen-sados da exigecircncia que os obrigava a permanecer nas suas comendas137

133 CAVACO Revisitando pp 18-20 PESSANHA Os 500 anos pp 72-73134 Carta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava

atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras e que era necessaacute-rio enviar-lhe socorro ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos p 99 PINTO ldquoIacutendice Analiacuteticordquo p 267

135 Cf SILVA A Ordem de Cristo pp 189-190136 Uma vez que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila se encontrava na Aacutefrica do Sul em Marccedilo ou Maio

de 1524 eacute de supor que a sua chegada ao reino se tenha dado ainda no mesmo ano137 SILVA A Ordem de Cristo p 191

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203196

Fernando Pessanha

Eacute nesse sentido que encontramos Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comen-dador de Arenilha em 1529 e 1530 anos em que jaacute se encontrava como capitatildeo na fortaleza de Ormuz De resto era nesta fortaleza que ainda se encontrava em 1531 ano em que piratas de Larache atacaram a vila da foz do Guadiana ldquoonde fizeacuteratildeo muito dano em navios que tomaacuteratildeo e den-tro da Barra de Aiamonte fizeacuteratildeo despejar a Arrinilha e a Montegordordquo138

7 Conclusatildeo

Com efeito muito se tem escrito (e especulado) sobre a alegada des-coberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila No entanto e indepen-dentemente dos resultados alcanccedilados pelo navegador nesta expediccedilatildeo parece indiscutiacutevel que foi generosamente recompensado aquando do seu regresso ao reino Resta-nos perceber porquecirc Jaacute Armando Cortesatildeo muito antes de Peter Trickett tinha levantado a hipoacutetese de a rentaacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz ter sido entregue a Mendonccedila como re-compensa pelos serviccedilos prestados na expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro139 Natildeo eacute conhecido poreacutem qualquer documento que ateste o ecircxito do navegador nesta expediccedilatildeo Omissatildeo que segundo investigadores como Armando Cortesatildeo Damiatildeo Peres ou Jaime Cortesatildeo teraacute sido consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo determinada pelas limitaccedilotildees de navega-ccedilatildeo estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas e com o contencioso entre Portugal e Espanha pela posse das Molucas140

O certo eacute que Mendonccedila ao regressar ao reino foi agraciado com uma das capitanias mais rentaacuteveis do impeacuterio no Oriente para aleacutem de ter recebido compensaccedilotildees econoacutemicas e aparecer referido em 1529 e 1530 como comendador da vila de Arenilha na foz do Guadiana Refira-se a este respeito que muitos capitatildees cavaleiros da Ordem de Cristo se lanccedilaram no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Poreacutem mui-to poucos chegaram a obter as tatildeo almejadas comendas141 Vemos deste

138 RODRIGUES Anais Tomo II Cap XXXV p 209139 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158140 CORTESAtildeO A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e

de D Joatildeo II Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 65-66 PERES ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na Histoacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II pp 17-21

141 Entre os afortunados que lograram obter este tipo de rendimento contam-se muito poucos D Joatildeo Pereira D Pedro de Castelo Branco Nuno Furtado Simatildeo Guedes entre outros Ver CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 216

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 197

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

modo que a atribuiccedilatildeo da comenda de Arenilha significou um motivo de grande honra e prestiacutegio para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Ora se este navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro resta-nos perceber porque motivo teraacute sido agraciado com compensaccedilotildees eco-noacutemicas a nomeaccedilatildeo para uma das mais rentaacuteveis capitanias de todo o Impeacuterio no Oriente e uma honrosa comenda da Ordem de Cristo Eacute caso para dizer que a problemaacutetica em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila con-tinua a levantar muitas duacutevidas e poucas certezas

Fontes e Bibliografia

1 Arquivos

ANTT

Chancelaria de D Afonso V Livro 2 fl30

Chancelaria de D Manuel I Livro 4 fl37 Livro 8 fl 29v Livro 9 fl4v Livro 10 fl53 Livro 13 fl60 Livro 37 fl64

Chancelaria de D Joatildeo III Livro 12 fl62

Chancelaria da Ordem de Cristo Livro13 fls375 vndash 379v

Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1

Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 15 Nordm47 Pt I maccedilo 44 Nordm45 Pt I maccedilo 45 Nordm9

Pt II maccedilo 51 Nordm26 Pt II maccedilo 53 Nordm182 Pt II maccedilo 93 Nordm150 Pt II maccedilo 109 Nordm131 Pt II maccedilo 131 Nordm226 Pt II maccedilo 134 Nordm57 Pt II maccedilo 135 Nordm45 Pt II maccedilo 135 Nordm49 Pt II maccedilo 136 Nordm102 Pt II maccedilo 141 Nordm91

Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Nordm159

Casa Real Cartoacuterio da Nobreza Livro Nordm20 - Livro da Nobreza e da per-feiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal fl XII

2 Fontes Impressas

ABREU Lisuarte de Livro de Lisuarte de Abreu (Reproduccedilatildeo do manuscrito existente na Perpont Morgan Library de Nova York) Comissatildeo Nacional para as comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portugueses Lisboa 1992

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203198

Fernando Pessanha

ARMAS Duarte de Livro das Fortalezas Arquivo Nacional da Torre do TomboInapa Lisboa 1997

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada III Na Regia Officina Typografica Lisboa MDCCLXXVII

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada IV Imprensa Nacional Casa da Moe-da Lisboa 2001

BORGES Joseacute Calvatildeo Borges Livro do Armeiro-Mor Academia Portugue-sa de HistoacuteriaEdiccedilotildees Inapa Lisboa 2000

CASCAtildeO Joatildeo ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevorardquo Uma Jornada ao Alentejo e ao Algarve A altera-ccedilatildeo das linhas de forccedila da poliacutetica nacional Livros Horizonte Lisboa 1984 pp 77-136

CASTANHEDA Fernatildeo Lopes de Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses 2 vols Lello amp Irmatildeos Editores Porto 1979

CORREIA Gaspar Lendas da Iacutendia Tomo III na Typographia da Acade-mia Real das Sciencias Lisboa 1862

Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI Centro de Estudos Histoacutericos Ultramarinos Lis-boa 1969

GAYO Felgueiras Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX Ediccedilatildeo de Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Arauacutejo Affonso Braga 1939

GUEDES Liacutevio da Costa Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) Arquivo Histoacuterico Militar Lisboa 1988

GOacuteIS Damiatildeo de Chonica do Serenissimo Senhor Rei D Manoel Lisboa 1749

JOSEacute Frei Joatildeo de Satildeo ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 21-132

RODRIGUES Bernardo Anais de Arzila 2 vols Academia das Sciecircncias de Lisboa Lisboa 1915-1919

SARRAtildeO Henrique Fernandes ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 133-174

SOUSA Frei Luiacutes de Anais de D Joatildeo III 2 vols Saacute da Costa Lisboa 1928

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 199

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

SOUSA Manuel de Faria e Asia Portvgvesa Officina de Henrique Valen-te de Oliveira impressor del Rey NS Lisboa 1666

TENREIRO Antoacutenio amp AFONSO Mestre Viagens por terra da Iacutendia a Por-tugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica Mem-Martins 1991

3 Estudos

ALBUQUERQUE Luiacutes de (dir) Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-tos Portugueses 2 vols Ciacuterculos de Leitores Lisboa 1994

ALMEIDA Fortunato de Histoacuteria de Portugal Vols III-VII Promoclube Lisboa sd

CARDOSO Antoacutenio Pereira A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila agrave Austraacutelia em 1522 Academia da Marinha Lisboa 1994

CARVALHO Andreia Martins de ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Ma-nuelinardquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia ndash Actas do Coloacutequio Internacional Joatildeo Paulo Oliveira e Costa amp Viacutetor Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 199-226

CARVALHO Andreia Martins de Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria dos Descobrimen-tos e da Expansatildeo Portuguesa (seacuteculos XV-XVIII) apresentado agrave UNL Lisboa 2006

CAVACO Hugo ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio (Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Arte no Algarve) Cacircmara Muni-cipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1987

CAVACO Hugo Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha Cacircmara Munici-pal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1995

CORREIA Joseacute Eduardo Horta Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina Faup Publicaccedilotildees Porto 1997

CORREIA Joseacute Eduardo Horta O Algarve em Patrimoacutenio Gente Singular Editora Olhatildeo 2010

CORTESAtildeO Armando ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Aus-tralaacutesia Macau Japatildeo)rdquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939

CORTESAtildeO Jaime ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal (Dir Damiatildeo Peres) Vol IV Portucalense Editora Barce-los 1932 pp 9-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203200

Fernando Pessanha

CORTESAtildeO Jaime A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e de D Joatildeo II Lisboa 1960

COSME Joatildeo ldquoOs homens de ciecircnciardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 91-97

COSME Joatildeo ldquoOs Navegadores ndash Vasco da Gamardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 145-152

COSTA Joatildeo Paulo Oliveira e ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo A Nobreza e a Expansatildeo Estudos Biograacuteficos Joatildeo Paulo Oliveira e Costa (coord) Patrimoacutenia Cascais 2000 pp 11-51

DOMINGUES Francisco Contente ldquoOs portugueses descobriram a Aus-traacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Si-motildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Univer-sidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 163-172

DOMINGUES Francisco Contente Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 Circulo dos Leitores Lisboa 2016

FARIA Antoacutenio Machado de Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI Acade-mia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 1956

FARIA Antoacutenio Machado de ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo Separata da revista Arqueologia e Histoacuteria vol VI Lisboa 1955

FARIA Miguel Figueira de ldquoFortificaccedilotildees de Portugal na fronteira da Es-tremadura espanholardquo Anais ndash Seacuterie Histoacuteria Vol II Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 1995 pp 156-187

FONSECA Luiacutes Adatildeo da ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo A Alta No-breza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 322-347

FREIRE Anselmo Braamcamp Brasotildees da Sala de Sintra 3 vols Impren-sa da Universidade de Coimbra Coimbra 1921-1930

GARCIA Joseacute Manuel Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII QuidNovi Lisboa 2009

GARCIA Joseacute Manuel O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash 1555 Nordm 8 QuidNovi Vila do Conde 2012

GODINHO Rui Landeiro ldquoA Armada do Estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (Seacuteculos XV-XIX) Ediccedilotildees Cul-turais da Marinha Lisboa 2003 pp 117-137

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 22: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203186

Fernando Pessanha

natildeo era o caso de Mendonccedila Ora se o navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro como explicar tatildeo generoso honroso e rentaacutevel reconhecimento Isto claro para aleacutem das compensaccedilotildees econoacutemicas atraacutes referidas e da entrega da comenda da Ordem de Cris-to que de seguida abordaremos De resto a capitania de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ficou marcada por episoacutedios dignos de registo como o au-xiacutelio prestado agrave frota de Simatildeo da Cunha assolada por uma epidemia contraiacuteda na campanha contra a ilha de Bahareacutem103 Refira-se aliaacutes que foi sobre Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que recaiu a responsabilidade de escolher um agente para realizar a ceacutelebre missatildeo de espionagem que constituiu a viagem por terra de Ormuz a Portugal protagonizada por Antoacutenio Tenreiro entre Setembro de 1528 e Maio de 1529 - viagem cuja narrativa constitui um notaacutevel documento histoacuterico de natureza geograacutefica religiosa e antropoloacutegica104

63 A comenda da vila de Arenilha

Tal como anteriormente referimos deparaacutemo-nos com dois documen-tos que chamaram a nossa atenccedilatildeo aquando da investigaccedilatildeo para o ar-tigo ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo Trata-se de duas cartas em que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila aparece referido como comendador da vila de Arenilha O primeiro documento data de 29 de Dezembro de 1529 e tem por tiacutetulo Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bregantim missiva em que o comendador de Arenilha culpa o marquecircs de Ayamonte pelos danos causados nas barcas dos habitantes da vila no-meadamente no referido bergantim chegando mesmo a mandar ldquopagar as barcas e () as perdas que receberam os donos delas e asy o dano que se fez na Arenilhardquo e mandar o marquecircs prender os responsaacuteveis que se encontrem nas suas terras105 Como se pode perceber o tom da missiva natildeo resulta propriamente abonatoacuterio para o nobre espanhol

103 SOUSA Anais Vol II IV Cap XXII p 106104 Como recompensa pelos serviccedilos prestados Antoacutenio Tenreiro recebeu da Coroa em

1533 uma tenccedila anual de 30000 reacuteis e o haacutebito de cavaleiro da Ordem de Cristo Ver TENREIRO amp AFONSO Viagens por terra da Iacutendia a Portugal p 18 RL ldquoTenreiro Antoacuteniordquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II p 1023

105 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 Nordm45

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 187

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig1 - Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua

Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do

marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

Fig 1

Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o

marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203188

Fernando Pessanha

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig2 - Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar

creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Arenilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada destinada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila assim como o seu

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesahelliprdquo pp 86-82

Fig 2

Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao

comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Are-nilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada desti-nada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesardquo pp 86-82

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 189

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacute-vatildeo de Mendonccedila assim como o seu percurso como capitatildeo nas armadas da Iacutendia acreditamos encontrar-nos em condiccedilotildees para demonstrarmos que a comenda de Arenilha foi efectivamente atribuiacuteda ao navegador como reconhecimento pelos serviccedilos prestados no Oriente

Com efeito satildeo vaacuterios os indicadores que nos levam a afirmaacute-lo Em primeiro lugar o facto de natildeo se encontrar nas croacutenicas nem nas fontes coevas qualquer referecircncia a um homoacutenimo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a balizagem cronoloacutegica compreendida entre 1514 e 1532 periacuteodo em que aparece referido na documentaccedilatildeo Aliaacutes as da-tas discriminadas nos documentos que o referem como comendador de Arenilha corroboram a ideia de esta comenda ter sido atribuiacuteda aquando do seu regresso ao reino Eacute certo que natildeo sabemos a data em que Cristoacutevatildeo teraacute chegado a Portugal ainda que tenhamos notiacutecia da sua passagem pelo sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio de 1524 durante a viagem de regresso108 Poreacutem as tenccedilas atraacutes mencionadas indicam que se encontrava no reino em 1526 Uma vez que os documentos que o referem como comendador da vila da foz do Guadiana remontam a Dezembro de 1529 e Maio de 1530 anos em que o navegador jaacute se encontrava no Oriente eacute de supor que D Joatildeo III lhe teraacute atribuiacutedo a comenda aquando da sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e Marccedilo de 1527 ano em que voltou a partir para a Iacutendia jaacute na qualida-de de capitatildeo de Ormuz

Uma vez que natildeo se verificam homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila para a balizagem cronoloacutegica atraacutes referida e que as datas dos docu-mentos que o referem como comendador de Arenilha satildeo ligeiramente posteriores ao seu regresso ao reino resta-nos determinar se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila reunia as condiccedilotildees necessaacuterias para ser agraciado com uma comenda desta natureza Antes de mais importa referir que a vila de Arenilha e de Castro Marim eram as duas uacutenicas comendas da Ordem de Cristo no Algarve Curiosamente Isabel L Morgado de Sousa e Silva natildeo refere a comenda de Arenilha na dissertaccedilatildeo para doutoramento

108 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo Oceanos Nordm4 pp 17-18 ALBU-QUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 727-728 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 79

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203190

Fernando Pessanha

A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521)109 Poreacutem o documento publicado por Hugo Cavaco natildeo deixa margem para duacutevidas

ldquoNo Bispado do Algarve haacute somente duas Commendas da Ordem (de

Cristo) que satildeo das antigas e as seguintes

A Commenda e Alcaideria-moacuter de Castro Marim avaliou-se em quatro-

centos e cinquenta mil reacuteis no anno de 1608

A Commenda da Alcaideria-mograver de Santo Antonio de Arenilha que estaacute

junto a Castro Marim em cento e trinta mil reacuteis no anno de 1608

No Bispado do Algarve natildeo haacute nenhuma Commenda desta Ordem mais

que as duas velhas que valem quinhentos e oitenta mil reacuteis como se vecirc

da somma adianterdquo110

Aliaacutes soacute o facto de Arenilha ser comenda da Ordem de Cristo poderaacute explicar que o senhorio da vila tenha sido atribuiacutedo exclusivamente a cavaleiros da miliacutecia ao longo de toda a centuacuteria quinhentista111

Naturalmente que estas comendas implicavam desde logo a existecircn-cia de comendadores sobre os quais recaiacutea o senhorio das ditas vilas o que era compreendido como motivo de honra e de prestiacutegio social numa sociedade ainda bastante influenciada pelas antigas tradiccedilotildees medievo-feudais Comendas refira-se que compreendiam o direito agrave administra-ccedilatildeo da localidade e conferiam uma renda para sustentaccedilatildeo do comenda-dor beneficiaacuterio configurando um recurso para os encargos da proacutepria comenda No entanto a atribuiccedilatildeo de uma comenda representava um benefiacutecio atribuiacutedo a cavaleiros professos nas ordens militares como re-compensa por serviccedilos prestados Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Men-donccedila soacute poderia ser agraciado com a comenda de Arenilha caso tivesse sido investido na Ordem de Cristo Foi nesse sentido que procuraacutemos determinar se este navegador professou nesta Ordem Militar

Com efeito a dissertaccedilatildeo Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) de Joatildeo Maria Falcatildeo Pestana de Vascon-celos natildeo faz qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila enquanto cavaleiro da Ordem de Cristo Refere no entanto o seu avocirc Afonso Fur-

109 SILVA A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta110 Documento VIII BNLMicroformas F5040 Documento publicado por CAVACO Revisi-

tando p 52111 Cf PESSANHA Os 500 anos pp 57-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 191

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

tado de Mendonccedila comendador de Cardiga da Ordem de Cristo112 a sua irmatilde Margarida de Mendonccedila enquanto mulher de um comendador da mesma Ordem e o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo que recebeu o haacutebito da miliacutecia em 16 de Abril de 1514113 Ain-da que a referida dissertaccedilatildeo natildeo faccedila qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo enquanto membro desta Ordem vem demonstrar a ligaccedilatildeo de alguns dos seus familiares agrave mesma natildeo soacute na qualidade de cavaleiros como tambeacutem de comendadores

Poreacutem Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social de Teresa Lacerda assim como a jaacute referida tese A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) de Isabel L Morgado de Sousa e Silva jaacute identificam efectivamente Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como frei cavaleiro desta Ordem114 De acordo com a obra consultada Cavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVI Cristoacutevatildeo de Mendonccedila recebeu efectivamente o haacutebito da Ordem de Cristo em 16 de Abril de 1514115 exactamente na mesma data em que o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila tambeacutem foi in-vestido116 De resto o facto de Cristoacutevatildeo aparecer referido como mem-bro da miliacutecia numa provisatildeo em que D Joatildeo III manda o almoxarife de Aveiro pagar ldquoa Cristoacutevatildeo de Mendonccedila sua tenccedila deste ano 50000 reacuteis assentada na alfacircndega de Lisboa com o haacutebito de Cristordquo117 vem dissipar qualquer duacutevida que ainda subsistisse

Note-se que identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como cavaleiro da Ordem de Cristo natildeo pudemos deixar de reparar no silecircncio dos cronistas no momento de identificar os intervenientes no processo ex-pansionista com as suas respectivas filiaccedilotildees nas Ordens Militares De facto quer Joatildeo de Barros quer os cronistas que lhe sucederam natildeo fazem qualquer referecircncia agrave filiaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo em qualquer Ordem tal como de acordo com o que constataacutemos raramente o fazem em relaccedilatildeo a outros cavaleiros Esta evidecircncia pode parecer ainda mais estranha se tivermos em consideraccedilatildeo o forte envolvimento da Ordem

112 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Vol I p 377 FARIA Livro de Linhagens p 275

113 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares p 392 114 LACERDA Os Capitatildees das Armadas pp 120 e 228 SILVA A Ordem de Cristo p 336

SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma perspectiva de estudordquo apecircndice

115 FARIA ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo p 21116 FARIA ldquoCavaleirosrdquo p 21 Ver tambeacutem SILVA A Ordem de Cristo p 330117 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203192

Fernando Pessanha

de Cristo na Histoacuteria da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses Ordem Militar sublinhe-se que teve como governadores figuras in-contornaacuteveis da famiacutelia real como o infante D Henrique o infante D Fernando o rei D Manuel ou o rei D Joatildeo III118 Poreacutem haacute que ter em consideraccedilatildeo que documentos como Memoacuteria das Armadas ou o Livro de Lisuarte de Abreu natildeo satildeo fontes sobre qualquer uma das Ordens razatildeo pela qual se torna compreensiacutevel a ausecircncia de referecircncias mais completas relativamente aos intervenientes no processo de expansatildeo Aliaacutes a intenccedilatildeo subjacente agrave produccedilatildeo de obras como Histoacuteria do Des-cobrimento e da Conquista da Iacutendia natildeo passa por apresentar informa-ccedilatildeo detalhada sobre as individualidades que participaram no processo expansionista mas antes destacar o protagonismo reacutegio em todo este processo119

Por fim natildeo se verificando homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a cronologia abordada coincidindo as datas que o referem como comendador de Arenilha e identificado este navegador como cavalei-ro da Ordem de Cristo resta-nos perceber por que motivo lhe teraacute sido entregue a comenda desta vila na foz do Guadiana Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo que a fundaccedilatildeo de Are-nilha prende-se com a afirmaccedilatildeo da soberania poliacutetica e administra-tiva de D Manuel sobre um territoacuterio frequentado por castelhanos Eacute exactamente nesse contexto que em 1421 Castro Marim justificava o pedido de isenccedilatildeo de alguns encargos pelos ldquoconstantes trabalhos que os moradores tinham com os castelhanos que insistiam em vir pescar ao reinordquo120 Quer isto dizer que os castelhanos vinham pescar para as margens portuguesas natildeo pagando os devidos impostos agrave Coroa Aliaacutes a existecircncia do topoacutenimo de origem castelhana Arenilha121 ainda antes da elaboraccedilatildeo da Carta de Privileacutegio que manda proceder agrave construccedilatildeo

118 FONSECA ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo pp 321-347 Ver tambeacutem SILVA A Or-dem de Cristo pp 43-110

119 Cf SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristordquo pp 349-361120 VENTURA ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo p 608

ANTT Chancelaria de D Afonso V liv 2 fl30121 De acordo com o dicionaacuterio da Real Academia Espantildeola ldquoarenillardquo apresenta-se como

sinoacutenimo de ldquoarena menudardquo Ver Dicionario de la Real Academia Espantildeola Disponiacutevel em httplemaraeesdraeval=arenilla ndash Consultado dia 10 de Setembro de 2013 Note-se que quando em 1775 se pretendeu baptizar a nova vila iluminista com o nome de Vila Real de Santo Antoacutenio de Arenilha prontamente o Marquecircs de Pombal proibiu a utilizaccedilatildeo do nome ldquoArenilhardquo alegando que ldquoeacute uma palavra hespanhola e Villa Real uma povoaccedilatildeo portuguesardquo Ver OLIVEIRA Monografia p 71

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 193

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

da vila122 indica a ocupaccedilatildeo daquele areal na margem portuguesa da foz do Guadiana por populaccedilotildees de pescadores de origem castelhana Dadas as circunstacircncias seria do interesse estrateacutegico do monarca que esta comenda recaiacutesse sobre algueacutem experimentado na guarda da fronteira e que fizesse cumprir o pagamento dos devidos direitos aduaneiros Re-corde-se que Arenilha para aleacutem de comenda da Ordem de Cristo era uma vila de fronteira situada na margem portuguesa do Guadiana tal como o era a vila de Mouratildeo de onde Cristoacutevatildeo de Mendonccedila era natu-ral Como anteriormente referimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Men-donccedila o fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo que foi nomeado em 1476 alcaide-mor de Mouratildeo123 uma vila fortificada do Alentejo que guarda-va a fronteira portuguesa frente a Espanha O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas mostra-nos o castelo de Mouratildeo onde Cristoacutevatildeo teraacute crescido localizado no cimo de uma colina sobranceiro ao Guadiana124 Quer isto dizer que o ceacutelebre navegador era descendente de uma famiacutelia experimentada na guarda da fronteira face ao reino vizinho e familia-rizado com as actividades militares tributaacuterias e administrativas que lhe eram inerentes125 Assim sendo esta condiccedilatildeo de fronteiro a juntar ao facto de Cristoacutevatildeo ser cavaleiro da Ordem de Cristo teraacute resultado altamente pertinente no momento em que D Joatildeo III decidiu atribuir a comenda de Arenilha a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como recompensa pelos serviccedilos prestados

Por fim mas natildeo menos relevante teraacute sido a experiecircncia naval e militar adquirida por Mendonccedila nos mares do Oriente e direccionada para a foz do Guadiana sistematicamente ameaccedilada pelos ataques da pi-rataria magrebina126 Recorde-se que Mendonccedila no decurso das suas na-vegaccedilotildees na australaacutesia viu-se na necessidade de defender posiccedilotildees por-

122 O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas produzido por volta de 1509 jaacute indicava o topoacutenimo que veio a ser oficializado com a Carta de Privileacutegio de 12 de Fevereiro de 1513 Ver ARMAS O Livro das Fortalezas fl 1

123 FREIRE Brasotildees Vol III p 173124 ANTT Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Livro das Fortalezas si-

tuadas no Extremo de Portugal e Castela por Duarte de Armas escudeiro da Casa do Rei D Manuel I Nordm 159 fls 13-14 ARMAS O Livro das Fortalezas fls 13-14

125 Refira-se que foi durante o periacuteodo em que o pai de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila deteve a alcaidaria de Mouratildeo que o rei D Manuel obteve dos povos nas cortes de Lisboa de 1502 uma vultosa contribuiccedilatildeo que fez com que o castelo da vila fosse intervenciona-do por dois importantes arquitectos reacutegios os irmatildeos Francisco e Diogo de Arruda os mestres das obras reacutegias da comarca de entre o Tejo e o Guadiana Ver FARIA ldquoForti-ficaccedilotildees de Portugal na fronteira da Estremadura espanholardquo p 161

126 Sobre este assunto veja-se PESSANHA ldquoAtaques da piratariardquo pp 63-94

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203194

Fernando Pessanha

tuguesas dando combate aos adversaacuterios Recordemos a este respeito o ataque movido por Melique Ladil agrave fortaleza de Paceacutem entatildeo guardada por Mendonccedila e a maneira como o ldquomourordquo foi desbaratado e despo-jado das treze embarcaccedilotildees usadas no assalto127 Dadas as circunstacircnci-as seria um desperdiacutecio natildeo se aproveitar a experiecircncia deste capitatildeo numa altura em que se verificava um incremento da actividade piraacutetica nas costas do Algarve Esta actividade da pirataria na foz do Guadiana eacute aliaacutes referida por Bernardo Rodrigues em vaacuterias ocasiotildees nomeada-mente aquando da estadia da condessa de Redondo na vila de Arenilha em 1522128 ou quando Vasco Fernandes Ceacutesar - antigo adaiacutel de Azamor e capitatildeo da Armada do Estreito129 - foi incumbido embarcar o conde do Redondo D Joatildeo Coutinho na vila de Arenilha e escoltaacute-lo a Arzila130 Refira-se que a caminho da foz do Guadiana o navio de Vasco Fernan-des Ceacutesar foi atacado por duas naus tendo-se seguido um combate naval que resultou na explosatildeo de parte da alcaacuteccedilova atirando cinco homens ao mar entre os quais Vasco Fernandes que ficou gravemente ferido131

Vemos deste modo que a entrega da comenda de Arenilha a um in-diviacuteduo como Cristoacutevatildeo de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo descendente de uma famiacutelia de fronteiros e navegador experimentado no combate naval natildeo soacute era altamente pertinente como simboacutelica e manifestamente estrateacutegica para a defesa do extremo sudeste algarvio e da foz do Guadiana onde Mendonccedila deveria actuar com autoridade se-nhorial usufruindo dos seus bens e rendimentos E no caso da comenda de Arenilha Seriam generosos os seus rendimentos Sem duacutevida Se assim natildeo fosse o rei D Duarte natildeo teria doado ao infante D Henrique ainda em 25 de Setembro de 1433 a ldquodiacutesima nova de todo o pescado que pescarem quaisquer pessoas no mar do Monte Gordordquo132 Aliaacutes seraacute certa-

127 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III pp548-549128 RODRIGUES Anais de Arzila Tomo I Cap XC p 373129 GOacuteIS Chronica IV Cap LVII p 552 Sobre a Armada do Estreito veja-se GODINHO

ldquoA armada do estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo pp117-137130 RODRIGUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 PESSANHA Subsiacutedios p 100131 Segundo Bernardo Rodrigues os sobreviventes portugueses por pouco natildeo foram

executados Os que sobreviveram ao combate foram aprisionados e levados para Di-eppe Vasco Fernandes apesar de ferido acabou por escapar do cativeiro desfiando uma esteira e escapando por ela da torre onde se encontrava aprisionado RODRI-GUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 Ver tambeacutem PISSARRA ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Armada do Estreitordquo pp 144-145

132 SERRAtildeO Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fundaccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) p 65 OLIVEIRA Monografia p 73

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 195

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

mente o motivo econoacutemico que jaacute em 1555 estaraacute na origem da disputa pelo senhorio de Arenilha entre Jeroacutenimo de Melo fidalgo da Casa Real e alcaide-mor de Castro Marim e Luiacutes Leite frei cavaleiro da Ordem de Cristo e filho de Antoacutenio Leite o anterior alcaide133

Relativamente agrave defesa sabemos que Arenilha natildeo possuiacutea castelo torre ou qualquer fortificaccedilatildeo digna de registo ateacute 1542-1547 periacuteodo em que o alcaide Antoacutenio Leite daacute-nos conta das ldquotramqueyras e repai-rosrdquo construiacutedos sob o seu comando para a populaccedilatildeo se defender dos ataques da pirataria moura134 Ainda assim Mendonccedila estava obrigado a zelar pela defesa da vila independentemente de esta ter ou natildeo for-tificaccedilotildees para a proteger Se tivermos em consideraccedilatildeo que a sua no-meaccedilatildeo como comendador o obrigava agrave realizaccedilatildeo de um inventaacuterio ao patrimoacutenio da comenda (infelizmente desconhecido) e ao dever de fixar residecircncia na sua aacuterea de governo135 eacute muito provaacutevel que Cristoacutevatildeo se tenha detido durante algum tempo na vila da foz do Guadiana algures entre finais de 1524 aquando da sua chegada ao reino136 e Marccedilo de 1527 quando voltou a partir para o Oriente

Como anteriormente referimos os comendadores deviam fixar-se nas suas comendas para melhor procederem agrave sua defesa e melhor ren-tabilizarem as mesmas Assim sendo como eacute possiacutevel que os documen-tos que referem Cristoacutevatildeo como comendador de Arenilha sejam relati-vos aos anos em que este se encontrava na capitania de Ormuz Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo de que a principal obrigaccedilatildeo dos cavaleiros da Ordem de Cristo era a luta contra os inimigos da feacute devendo estar prontos para a guerra sempre que o Mestre os convocasse Uma vez que as situaccedilotildees de guerra eram cons-tantes nos territoacuterios de aleacutem-mar onde a presenccedila dos cavaleiros da Ordem se tornava necessaacuteria natildeo eacute de admirar que estes fossem dispen-sados da exigecircncia que os obrigava a permanecer nas suas comendas137

133 CAVACO Revisitando pp 18-20 PESSANHA Os 500 anos pp 72-73134 Carta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava

atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras e que era necessaacute-rio enviar-lhe socorro ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos p 99 PINTO ldquoIacutendice Analiacuteticordquo p 267

135 Cf SILVA A Ordem de Cristo pp 189-190136 Uma vez que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila se encontrava na Aacutefrica do Sul em Marccedilo ou Maio

de 1524 eacute de supor que a sua chegada ao reino se tenha dado ainda no mesmo ano137 SILVA A Ordem de Cristo p 191

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203196

Fernando Pessanha

Eacute nesse sentido que encontramos Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comen-dador de Arenilha em 1529 e 1530 anos em que jaacute se encontrava como capitatildeo na fortaleza de Ormuz De resto era nesta fortaleza que ainda se encontrava em 1531 ano em que piratas de Larache atacaram a vila da foz do Guadiana ldquoonde fizeacuteratildeo muito dano em navios que tomaacuteratildeo e den-tro da Barra de Aiamonte fizeacuteratildeo despejar a Arrinilha e a Montegordordquo138

7 Conclusatildeo

Com efeito muito se tem escrito (e especulado) sobre a alegada des-coberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila No entanto e indepen-dentemente dos resultados alcanccedilados pelo navegador nesta expediccedilatildeo parece indiscutiacutevel que foi generosamente recompensado aquando do seu regresso ao reino Resta-nos perceber porquecirc Jaacute Armando Cortesatildeo muito antes de Peter Trickett tinha levantado a hipoacutetese de a rentaacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz ter sido entregue a Mendonccedila como re-compensa pelos serviccedilos prestados na expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro139 Natildeo eacute conhecido poreacutem qualquer documento que ateste o ecircxito do navegador nesta expediccedilatildeo Omissatildeo que segundo investigadores como Armando Cortesatildeo Damiatildeo Peres ou Jaime Cortesatildeo teraacute sido consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo determinada pelas limitaccedilotildees de navega-ccedilatildeo estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas e com o contencioso entre Portugal e Espanha pela posse das Molucas140

O certo eacute que Mendonccedila ao regressar ao reino foi agraciado com uma das capitanias mais rentaacuteveis do impeacuterio no Oriente para aleacutem de ter recebido compensaccedilotildees econoacutemicas e aparecer referido em 1529 e 1530 como comendador da vila de Arenilha na foz do Guadiana Refira-se a este respeito que muitos capitatildees cavaleiros da Ordem de Cristo se lanccedilaram no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Poreacutem mui-to poucos chegaram a obter as tatildeo almejadas comendas141 Vemos deste

138 RODRIGUES Anais Tomo II Cap XXXV p 209139 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158140 CORTESAtildeO A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e

de D Joatildeo II Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 65-66 PERES ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na Histoacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II pp 17-21

141 Entre os afortunados que lograram obter este tipo de rendimento contam-se muito poucos D Joatildeo Pereira D Pedro de Castelo Branco Nuno Furtado Simatildeo Guedes entre outros Ver CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 216

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 197

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

modo que a atribuiccedilatildeo da comenda de Arenilha significou um motivo de grande honra e prestiacutegio para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Ora se este navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro resta-nos perceber porque motivo teraacute sido agraciado com compensaccedilotildees eco-noacutemicas a nomeaccedilatildeo para uma das mais rentaacuteveis capitanias de todo o Impeacuterio no Oriente e uma honrosa comenda da Ordem de Cristo Eacute caso para dizer que a problemaacutetica em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila con-tinua a levantar muitas duacutevidas e poucas certezas

Fontes e Bibliografia

1 Arquivos

ANTT

Chancelaria de D Afonso V Livro 2 fl30

Chancelaria de D Manuel I Livro 4 fl37 Livro 8 fl 29v Livro 9 fl4v Livro 10 fl53 Livro 13 fl60 Livro 37 fl64

Chancelaria de D Joatildeo III Livro 12 fl62

Chancelaria da Ordem de Cristo Livro13 fls375 vndash 379v

Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1

Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 15 Nordm47 Pt I maccedilo 44 Nordm45 Pt I maccedilo 45 Nordm9

Pt II maccedilo 51 Nordm26 Pt II maccedilo 53 Nordm182 Pt II maccedilo 93 Nordm150 Pt II maccedilo 109 Nordm131 Pt II maccedilo 131 Nordm226 Pt II maccedilo 134 Nordm57 Pt II maccedilo 135 Nordm45 Pt II maccedilo 135 Nordm49 Pt II maccedilo 136 Nordm102 Pt II maccedilo 141 Nordm91

Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Nordm159

Casa Real Cartoacuterio da Nobreza Livro Nordm20 - Livro da Nobreza e da per-feiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal fl XII

2 Fontes Impressas

ABREU Lisuarte de Livro de Lisuarte de Abreu (Reproduccedilatildeo do manuscrito existente na Perpont Morgan Library de Nova York) Comissatildeo Nacional para as comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portugueses Lisboa 1992

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203198

Fernando Pessanha

ARMAS Duarte de Livro das Fortalezas Arquivo Nacional da Torre do TomboInapa Lisboa 1997

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada III Na Regia Officina Typografica Lisboa MDCCLXXVII

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada IV Imprensa Nacional Casa da Moe-da Lisboa 2001

BORGES Joseacute Calvatildeo Borges Livro do Armeiro-Mor Academia Portugue-sa de HistoacuteriaEdiccedilotildees Inapa Lisboa 2000

CASCAtildeO Joatildeo ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevorardquo Uma Jornada ao Alentejo e ao Algarve A altera-ccedilatildeo das linhas de forccedila da poliacutetica nacional Livros Horizonte Lisboa 1984 pp 77-136

CASTANHEDA Fernatildeo Lopes de Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses 2 vols Lello amp Irmatildeos Editores Porto 1979

CORREIA Gaspar Lendas da Iacutendia Tomo III na Typographia da Acade-mia Real das Sciencias Lisboa 1862

Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI Centro de Estudos Histoacutericos Ultramarinos Lis-boa 1969

GAYO Felgueiras Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX Ediccedilatildeo de Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Arauacutejo Affonso Braga 1939

GUEDES Liacutevio da Costa Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) Arquivo Histoacuterico Militar Lisboa 1988

GOacuteIS Damiatildeo de Chonica do Serenissimo Senhor Rei D Manoel Lisboa 1749

JOSEacute Frei Joatildeo de Satildeo ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 21-132

RODRIGUES Bernardo Anais de Arzila 2 vols Academia das Sciecircncias de Lisboa Lisboa 1915-1919

SARRAtildeO Henrique Fernandes ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 133-174

SOUSA Frei Luiacutes de Anais de D Joatildeo III 2 vols Saacute da Costa Lisboa 1928

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 199

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

SOUSA Manuel de Faria e Asia Portvgvesa Officina de Henrique Valen-te de Oliveira impressor del Rey NS Lisboa 1666

TENREIRO Antoacutenio amp AFONSO Mestre Viagens por terra da Iacutendia a Por-tugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica Mem-Martins 1991

3 Estudos

ALBUQUERQUE Luiacutes de (dir) Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-tos Portugueses 2 vols Ciacuterculos de Leitores Lisboa 1994

ALMEIDA Fortunato de Histoacuteria de Portugal Vols III-VII Promoclube Lisboa sd

CARDOSO Antoacutenio Pereira A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila agrave Austraacutelia em 1522 Academia da Marinha Lisboa 1994

CARVALHO Andreia Martins de ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Ma-nuelinardquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia ndash Actas do Coloacutequio Internacional Joatildeo Paulo Oliveira e Costa amp Viacutetor Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 199-226

CARVALHO Andreia Martins de Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria dos Descobrimen-tos e da Expansatildeo Portuguesa (seacuteculos XV-XVIII) apresentado agrave UNL Lisboa 2006

CAVACO Hugo ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio (Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Arte no Algarve) Cacircmara Muni-cipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1987

CAVACO Hugo Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha Cacircmara Munici-pal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1995

CORREIA Joseacute Eduardo Horta Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina Faup Publicaccedilotildees Porto 1997

CORREIA Joseacute Eduardo Horta O Algarve em Patrimoacutenio Gente Singular Editora Olhatildeo 2010

CORTESAtildeO Armando ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Aus-tralaacutesia Macau Japatildeo)rdquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939

CORTESAtildeO Jaime ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal (Dir Damiatildeo Peres) Vol IV Portucalense Editora Barce-los 1932 pp 9-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203200

Fernando Pessanha

CORTESAtildeO Jaime A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e de D Joatildeo II Lisboa 1960

COSME Joatildeo ldquoOs homens de ciecircnciardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 91-97

COSME Joatildeo ldquoOs Navegadores ndash Vasco da Gamardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 145-152

COSTA Joatildeo Paulo Oliveira e ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo A Nobreza e a Expansatildeo Estudos Biograacuteficos Joatildeo Paulo Oliveira e Costa (coord) Patrimoacutenia Cascais 2000 pp 11-51

DOMINGUES Francisco Contente ldquoOs portugueses descobriram a Aus-traacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Si-motildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Univer-sidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 163-172

DOMINGUES Francisco Contente Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 Circulo dos Leitores Lisboa 2016

FARIA Antoacutenio Machado de Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI Acade-mia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 1956

FARIA Antoacutenio Machado de ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo Separata da revista Arqueologia e Histoacuteria vol VI Lisboa 1955

FARIA Miguel Figueira de ldquoFortificaccedilotildees de Portugal na fronteira da Es-tremadura espanholardquo Anais ndash Seacuterie Histoacuteria Vol II Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 1995 pp 156-187

FONSECA Luiacutes Adatildeo da ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo A Alta No-breza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 322-347

FREIRE Anselmo Braamcamp Brasotildees da Sala de Sintra 3 vols Impren-sa da Universidade de Coimbra Coimbra 1921-1930

GARCIA Joseacute Manuel Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII QuidNovi Lisboa 2009

GARCIA Joseacute Manuel O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash 1555 Nordm 8 QuidNovi Vila do Conde 2012

GODINHO Rui Landeiro ldquoA Armada do Estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (Seacuteculos XV-XIX) Ediccedilotildees Cul-turais da Marinha Lisboa 2003 pp 117-137

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 23: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 187

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig1 - Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua

Alteza o marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do

marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

Fig 1

Traslado do que se deu a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila que enviou a sua Alteza o

marquecircs de Ayamonte sobre o caso do Bergantim ANTT Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 44 nordm 45

O outro documento data de 24 de Maio de 1530 e tem por tiacutetulo Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila missiva em que o marquecircs se esquiva das acusaccedilotildees de que era alvo referindo a pena que tinha em natildeo poder demonstrar a sua vontade em servir o rei portuguecircs106

106 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 Nordm9

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203188

Fernando Pessanha

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig2 - Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar

creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Arenilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada destinada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila assim como o seu

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesahelliprdquo pp 86-82

Fig 2

Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao

comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Are-nilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada desti-nada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesardquo pp 86-82

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 189

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacute-vatildeo de Mendonccedila assim como o seu percurso como capitatildeo nas armadas da Iacutendia acreditamos encontrar-nos em condiccedilotildees para demonstrarmos que a comenda de Arenilha foi efectivamente atribuiacuteda ao navegador como reconhecimento pelos serviccedilos prestados no Oriente

Com efeito satildeo vaacuterios os indicadores que nos levam a afirmaacute-lo Em primeiro lugar o facto de natildeo se encontrar nas croacutenicas nem nas fontes coevas qualquer referecircncia a um homoacutenimo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a balizagem cronoloacutegica compreendida entre 1514 e 1532 periacuteodo em que aparece referido na documentaccedilatildeo Aliaacutes as da-tas discriminadas nos documentos que o referem como comendador de Arenilha corroboram a ideia de esta comenda ter sido atribuiacuteda aquando do seu regresso ao reino Eacute certo que natildeo sabemos a data em que Cristoacutevatildeo teraacute chegado a Portugal ainda que tenhamos notiacutecia da sua passagem pelo sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio de 1524 durante a viagem de regresso108 Poreacutem as tenccedilas atraacutes mencionadas indicam que se encontrava no reino em 1526 Uma vez que os documentos que o referem como comendador da vila da foz do Guadiana remontam a Dezembro de 1529 e Maio de 1530 anos em que o navegador jaacute se encontrava no Oriente eacute de supor que D Joatildeo III lhe teraacute atribuiacutedo a comenda aquando da sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e Marccedilo de 1527 ano em que voltou a partir para a Iacutendia jaacute na qualida-de de capitatildeo de Ormuz

Uma vez que natildeo se verificam homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila para a balizagem cronoloacutegica atraacutes referida e que as datas dos docu-mentos que o referem como comendador de Arenilha satildeo ligeiramente posteriores ao seu regresso ao reino resta-nos determinar se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila reunia as condiccedilotildees necessaacuterias para ser agraciado com uma comenda desta natureza Antes de mais importa referir que a vila de Arenilha e de Castro Marim eram as duas uacutenicas comendas da Ordem de Cristo no Algarve Curiosamente Isabel L Morgado de Sousa e Silva natildeo refere a comenda de Arenilha na dissertaccedilatildeo para doutoramento

108 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo Oceanos Nordm4 pp 17-18 ALBU-QUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 727-728 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 79

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203190

Fernando Pessanha

A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521)109 Poreacutem o documento publicado por Hugo Cavaco natildeo deixa margem para duacutevidas

ldquoNo Bispado do Algarve haacute somente duas Commendas da Ordem (de

Cristo) que satildeo das antigas e as seguintes

A Commenda e Alcaideria-moacuter de Castro Marim avaliou-se em quatro-

centos e cinquenta mil reacuteis no anno de 1608

A Commenda da Alcaideria-mograver de Santo Antonio de Arenilha que estaacute

junto a Castro Marim em cento e trinta mil reacuteis no anno de 1608

No Bispado do Algarve natildeo haacute nenhuma Commenda desta Ordem mais

que as duas velhas que valem quinhentos e oitenta mil reacuteis como se vecirc

da somma adianterdquo110

Aliaacutes soacute o facto de Arenilha ser comenda da Ordem de Cristo poderaacute explicar que o senhorio da vila tenha sido atribuiacutedo exclusivamente a cavaleiros da miliacutecia ao longo de toda a centuacuteria quinhentista111

Naturalmente que estas comendas implicavam desde logo a existecircn-cia de comendadores sobre os quais recaiacutea o senhorio das ditas vilas o que era compreendido como motivo de honra e de prestiacutegio social numa sociedade ainda bastante influenciada pelas antigas tradiccedilotildees medievo-feudais Comendas refira-se que compreendiam o direito agrave administra-ccedilatildeo da localidade e conferiam uma renda para sustentaccedilatildeo do comenda-dor beneficiaacuterio configurando um recurso para os encargos da proacutepria comenda No entanto a atribuiccedilatildeo de uma comenda representava um benefiacutecio atribuiacutedo a cavaleiros professos nas ordens militares como re-compensa por serviccedilos prestados Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Men-donccedila soacute poderia ser agraciado com a comenda de Arenilha caso tivesse sido investido na Ordem de Cristo Foi nesse sentido que procuraacutemos determinar se este navegador professou nesta Ordem Militar

Com efeito a dissertaccedilatildeo Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) de Joatildeo Maria Falcatildeo Pestana de Vascon-celos natildeo faz qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila enquanto cavaleiro da Ordem de Cristo Refere no entanto o seu avocirc Afonso Fur-

109 SILVA A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta110 Documento VIII BNLMicroformas F5040 Documento publicado por CAVACO Revisi-

tando p 52111 Cf PESSANHA Os 500 anos pp 57-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 191

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

tado de Mendonccedila comendador de Cardiga da Ordem de Cristo112 a sua irmatilde Margarida de Mendonccedila enquanto mulher de um comendador da mesma Ordem e o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo que recebeu o haacutebito da miliacutecia em 16 de Abril de 1514113 Ain-da que a referida dissertaccedilatildeo natildeo faccedila qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo enquanto membro desta Ordem vem demonstrar a ligaccedilatildeo de alguns dos seus familiares agrave mesma natildeo soacute na qualidade de cavaleiros como tambeacutem de comendadores

Poreacutem Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social de Teresa Lacerda assim como a jaacute referida tese A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) de Isabel L Morgado de Sousa e Silva jaacute identificam efectivamente Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como frei cavaleiro desta Ordem114 De acordo com a obra consultada Cavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVI Cristoacutevatildeo de Mendonccedila recebeu efectivamente o haacutebito da Ordem de Cristo em 16 de Abril de 1514115 exactamente na mesma data em que o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila tambeacutem foi in-vestido116 De resto o facto de Cristoacutevatildeo aparecer referido como mem-bro da miliacutecia numa provisatildeo em que D Joatildeo III manda o almoxarife de Aveiro pagar ldquoa Cristoacutevatildeo de Mendonccedila sua tenccedila deste ano 50000 reacuteis assentada na alfacircndega de Lisboa com o haacutebito de Cristordquo117 vem dissipar qualquer duacutevida que ainda subsistisse

Note-se que identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como cavaleiro da Ordem de Cristo natildeo pudemos deixar de reparar no silecircncio dos cronistas no momento de identificar os intervenientes no processo ex-pansionista com as suas respectivas filiaccedilotildees nas Ordens Militares De facto quer Joatildeo de Barros quer os cronistas que lhe sucederam natildeo fazem qualquer referecircncia agrave filiaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo em qualquer Ordem tal como de acordo com o que constataacutemos raramente o fazem em relaccedilatildeo a outros cavaleiros Esta evidecircncia pode parecer ainda mais estranha se tivermos em consideraccedilatildeo o forte envolvimento da Ordem

112 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Vol I p 377 FARIA Livro de Linhagens p 275

113 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares p 392 114 LACERDA Os Capitatildees das Armadas pp 120 e 228 SILVA A Ordem de Cristo p 336

SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma perspectiva de estudordquo apecircndice

115 FARIA ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo p 21116 FARIA ldquoCavaleirosrdquo p 21 Ver tambeacutem SILVA A Ordem de Cristo p 330117 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203192

Fernando Pessanha

de Cristo na Histoacuteria da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses Ordem Militar sublinhe-se que teve como governadores figuras in-contornaacuteveis da famiacutelia real como o infante D Henrique o infante D Fernando o rei D Manuel ou o rei D Joatildeo III118 Poreacutem haacute que ter em consideraccedilatildeo que documentos como Memoacuteria das Armadas ou o Livro de Lisuarte de Abreu natildeo satildeo fontes sobre qualquer uma das Ordens razatildeo pela qual se torna compreensiacutevel a ausecircncia de referecircncias mais completas relativamente aos intervenientes no processo de expansatildeo Aliaacutes a intenccedilatildeo subjacente agrave produccedilatildeo de obras como Histoacuteria do Des-cobrimento e da Conquista da Iacutendia natildeo passa por apresentar informa-ccedilatildeo detalhada sobre as individualidades que participaram no processo expansionista mas antes destacar o protagonismo reacutegio em todo este processo119

Por fim natildeo se verificando homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a cronologia abordada coincidindo as datas que o referem como comendador de Arenilha e identificado este navegador como cavalei-ro da Ordem de Cristo resta-nos perceber por que motivo lhe teraacute sido entregue a comenda desta vila na foz do Guadiana Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo que a fundaccedilatildeo de Are-nilha prende-se com a afirmaccedilatildeo da soberania poliacutetica e administra-tiva de D Manuel sobre um territoacuterio frequentado por castelhanos Eacute exactamente nesse contexto que em 1421 Castro Marim justificava o pedido de isenccedilatildeo de alguns encargos pelos ldquoconstantes trabalhos que os moradores tinham com os castelhanos que insistiam em vir pescar ao reinordquo120 Quer isto dizer que os castelhanos vinham pescar para as margens portuguesas natildeo pagando os devidos impostos agrave Coroa Aliaacutes a existecircncia do topoacutenimo de origem castelhana Arenilha121 ainda antes da elaboraccedilatildeo da Carta de Privileacutegio que manda proceder agrave construccedilatildeo

118 FONSECA ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo pp 321-347 Ver tambeacutem SILVA A Or-dem de Cristo pp 43-110

119 Cf SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristordquo pp 349-361120 VENTURA ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo p 608

ANTT Chancelaria de D Afonso V liv 2 fl30121 De acordo com o dicionaacuterio da Real Academia Espantildeola ldquoarenillardquo apresenta-se como

sinoacutenimo de ldquoarena menudardquo Ver Dicionario de la Real Academia Espantildeola Disponiacutevel em httplemaraeesdraeval=arenilla ndash Consultado dia 10 de Setembro de 2013 Note-se que quando em 1775 se pretendeu baptizar a nova vila iluminista com o nome de Vila Real de Santo Antoacutenio de Arenilha prontamente o Marquecircs de Pombal proibiu a utilizaccedilatildeo do nome ldquoArenilhardquo alegando que ldquoeacute uma palavra hespanhola e Villa Real uma povoaccedilatildeo portuguesardquo Ver OLIVEIRA Monografia p 71

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 193

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

da vila122 indica a ocupaccedilatildeo daquele areal na margem portuguesa da foz do Guadiana por populaccedilotildees de pescadores de origem castelhana Dadas as circunstacircncias seria do interesse estrateacutegico do monarca que esta comenda recaiacutesse sobre algueacutem experimentado na guarda da fronteira e que fizesse cumprir o pagamento dos devidos direitos aduaneiros Re-corde-se que Arenilha para aleacutem de comenda da Ordem de Cristo era uma vila de fronteira situada na margem portuguesa do Guadiana tal como o era a vila de Mouratildeo de onde Cristoacutevatildeo de Mendonccedila era natu-ral Como anteriormente referimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Men-donccedila o fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo que foi nomeado em 1476 alcaide-mor de Mouratildeo123 uma vila fortificada do Alentejo que guarda-va a fronteira portuguesa frente a Espanha O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas mostra-nos o castelo de Mouratildeo onde Cristoacutevatildeo teraacute crescido localizado no cimo de uma colina sobranceiro ao Guadiana124 Quer isto dizer que o ceacutelebre navegador era descendente de uma famiacutelia experimentada na guarda da fronteira face ao reino vizinho e familia-rizado com as actividades militares tributaacuterias e administrativas que lhe eram inerentes125 Assim sendo esta condiccedilatildeo de fronteiro a juntar ao facto de Cristoacutevatildeo ser cavaleiro da Ordem de Cristo teraacute resultado altamente pertinente no momento em que D Joatildeo III decidiu atribuir a comenda de Arenilha a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como recompensa pelos serviccedilos prestados

Por fim mas natildeo menos relevante teraacute sido a experiecircncia naval e militar adquirida por Mendonccedila nos mares do Oriente e direccionada para a foz do Guadiana sistematicamente ameaccedilada pelos ataques da pi-rataria magrebina126 Recorde-se que Mendonccedila no decurso das suas na-vegaccedilotildees na australaacutesia viu-se na necessidade de defender posiccedilotildees por-

122 O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas produzido por volta de 1509 jaacute indicava o topoacutenimo que veio a ser oficializado com a Carta de Privileacutegio de 12 de Fevereiro de 1513 Ver ARMAS O Livro das Fortalezas fl 1

123 FREIRE Brasotildees Vol III p 173124 ANTT Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Livro das Fortalezas si-

tuadas no Extremo de Portugal e Castela por Duarte de Armas escudeiro da Casa do Rei D Manuel I Nordm 159 fls 13-14 ARMAS O Livro das Fortalezas fls 13-14

125 Refira-se que foi durante o periacuteodo em que o pai de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila deteve a alcaidaria de Mouratildeo que o rei D Manuel obteve dos povos nas cortes de Lisboa de 1502 uma vultosa contribuiccedilatildeo que fez com que o castelo da vila fosse intervenciona-do por dois importantes arquitectos reacutegios os irmatildeos Francisco e Diogo de Arruda os mestres das obras reacutegias da comarca de entre o Tejo e o Guadiana Ver FARIA ldquoForti-ficaccedilotildees de Portugal na fronteira da Estremadura espanholardquo p 161

126 Sobre este assunto veja-se PESSANHA ldquoAtaques da piratariardquo pp 63-94

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203194

Fernando Pessanha

tuguesas dando combate aos adversaacuterios Recordemos a este respeito o ataque movido por Melique Ladil agrave fortaleza de Paceacutem entatildeo guardada por Mendonccedila e a maneira como o ldquomourordquo foi desbaratado e despo-jado das treze embarcaccedilotildees usadas no assalto127 Dadas as circunstacircnci-as seria um desperdiacutecio natildeo se aproveitar a experiecircncia deste capitatildeo numa altura em que se verificava um incremento da actividade piraacutetica nas costas do Algarve Esta actividade da pirataria na foz do Guadiana eacute aliaacutes referida por Bernardo Rodrigues em vaacuterias ocasiotildees nomeada-mente aquando da estadia da condessa de Redondo na vila de Arenilha em 1522128 ou quando Vasco Fernandes Ceacutesar - antigo adaiacutel de Azamor e capitatildeo da Armada do Estreito129 - foi incumbido embarcar o conde do Redondo D Joatildeo Coutinho na vila de Arenilha e escoltaacute-lo a Arzila130 Refira-se que a caminho da foz do Guadiana o navio de Vasco Fernan-des Ceacutesar foi atacado por duas naus tendo-se seguido um combate naval que resultou na explosatildeo de parte da alcaacuteccedilova atirando cinco homens ao mar entre os quais Vasco Fernandes que ficou gravemente ferido131

Vemos deste modo que a entrega da comenda de Arenilha a um in-diviacuteduo como Cristoacutevatildeo de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo descendente de uma famiacutelia de fronteiros e navegador experimentado no combate naval natildeo soacute era altamente pertinente como simboacutelica e manifestamente estrateacutegica para a defesa do extremo sudeste algarvio e da foz do Guadiana onde Mendonccedila deveria actuar com autoridade se-nhorial usufruindo dos seus bens e rendimentos E no caso da comenda de Arenilha Seriam generosos os seus rendimentos Sem duacutevida Se assim natildeo fosse o rei D Duarte natildeo teria doado ao infante D Henrique ainda em 25 de Setembro de 1433 a ldquodiacutesima nova de todo o pescado que pescarem quaisquer pessoas no mar do Monte Gordordquo132 Aliaacutes seraacute certa-

127 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III pp548-549128 RODRIGUES Anais de Arzila Tomo I Cap XC p 373129 GOacuteIS Chronica IV Cap LVII p 552 Sobre a Armada do Estreito veja-se GODINHO

ldquoA armada do estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo pp117-137130 RODRIGUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 PESSANHA Subsiacutedios p 100131 Segundo Bernardo Rodrigues os sobreviventes portugueses por pouco natildeo foram

executados Os que sobreviveram ao combate foram aprisionados e levados para Di-eppe Vasco Fernandes apesar de ferido acabou por escapar do cativeiro desfiando uma esteira e escapando por ela da torre onde se encontrava aprisionado RODRI-GUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 Ver tambeacutem PISSARRA ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Armada do Estreitordquo pp 144-145

132 SERRAtildeO Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fundaccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) p 65 OLIVEIRA Monografia p 73

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 195

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

mente o motivo econoacutemico que jaacute em 1555 estaraacute na origem da disputa pelo senhorio de Arenilha entre Jeroacutenimo de Melo fidalgo da Casa Real e alcaide-mor de Castro Marim e Luiacutes Leite frei cavaleiro da Ordem de Cristo e filho de Antoacutenio Leite o anterior alcaide133

Relativamente agrave defesa sabemos que Arenilha natildeo possuiacutea castelo torre ou qualquer fortificaccedilatildeo digna de registo ateacute 1542-1547 periacuteodo em que o alcaide Antoacutenio Leite daacute-nos conta das ldquotramqueyras e repai-rosrdquo construiacutedos sob o seu comando para a populaccedilatildeo se defender dos ataques da pirataria moura134 Ainda assim Mendonccedila estava obrigado a zelar pela defesa da vila independentemente de esta ter ou natildeo for-tificaccedilotildees para a proteger Se tivermos em consideraccedilatildeo que a sua no-meaccedilatildeo como comendador o obrigava agrave realizaccedilatildeo de um inventaacuterio ao patrimoacutenio da comenda (infelizmente desconhecido) e ao dever de fixar residecircncia na sua aacuterea de governo135 eacute muito provaacutevel que Cristoacutevatildeo se tenha detido durante algum tempo na vila da foz do Guadiana algures entre finais de 1524 aquando da sua chegada ao reino136 e Marccedilo de 1527 quando voltou a partir para o Oriente

Como anteriormente referimos os comendadores deviam fixar-se nas suas comendas para melhor procederem agrave sua defesa e melhor ren-tabilizarem as mesmas Assim sendo como eacute possiacutevel que os documen-tos que referem Cristoacutevatildeo como comendador de Arenilha sejam relati-vos aos anos em que este se encontrava na capitania de Ormuz Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo de que a principal obrigaccedilatildeo dos cavaleiros da Ordem de Cristo era a luta contra os inimigos da feacute devendo estar prontos para a guerra sempre que o Mestre os convocasse Uma vez que as situaccedilotildees de guerra eram cons-tantes nos territoacuterios de aleacutem-mar onde a presenccedila dos cavaleiros da Ordem se tornava necessaacuteria natildeo eacute de admirar que estes fossem dispen-sados da exigecircncia que os obrigava a permanecer nas suas comendas137

133 CAVACO Revisitando pp 18-20 PESSANHA Os 500 anos pp 72-73134 Carta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava

atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras e que era necessaacute-rio enviar-lhe socorro ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos p 99 PINTO ldquoIacutendice Analiacuteticordquo p 267

135 Cf SILVA A Ordem de Cristo pp 189-190136 Uma vez que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila se encontrava na Aacutefrica do Sul em Marccedilo ou Maio

de 1524 eacute de supor que a sua chegada ao reino se tenha dado ainda no mesmo ano137 SILVA A Ordem de Cristo p 191

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203196

Fernando Pessanha

Eacute nesse sentido que encontramos Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comen-dador de Arenilha em 1529 e 1530 anos em que jaacute se encontrava como capitatildeo na fortaleza de Ormuz De resto era nesta fortaleza que ainda se encontrava em 1531 ano em que piratas de Larache atacaram a vila da foz do Guadiana ldquoonde fizeacuteratildeo muito dano em navios que tomaacuteratildeo e den-tro da Barra de Aiamonte fizeacuteratildeo despejar a Arrinilha e a Montegordordquo138

7 Conclusatildeo

Com efeito muito se tem escrito (e especulado) sobre a alegada des-coberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila No entanto e indepen-dentemente dos resultados alcanccedilados pelo navegador nesta expediccedilatildeo parece indiscutiacutevel que foi generosamente recompensado aquando do seu regresso ao reino Resta-nos perceber porquecirc Jaacute Armando Cortesatildeo muito antes de Peter Trickett tinha levantado a hipoacutetese de a rentaacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz ter sido entregue a Mendonccedila como re-compensa pelos serviccedilos prestados na expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro139 Natildeo eacute conhecido poreacutem qualquer documento que ateste o ecircxito do navegador nesta expediccedilatildeo Omissatildeo que segundo investigadores como Armando Cortesatildeo Damiatildeo Peres ou Jaime Cortesatildeo teraacute sido consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo determinada pelas limitaccedilotildees de navega-ccedilatildeo estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas e com o contencioso entre Portugal e Espanha pela posse das Molucas140

O certo eacute que Mendonccedila ao regressar ao reino foi agraciado com uma das capitanias mais rentaacuteveis do impeacuterio no Oriente para aleacutem de ter recebido compensaccedilotildees econoacutemicas e aparecer referido em 1529 e 1530 como comendador da vila de Arenilha na foz do Guadiana Refira-se a este respeito que muitos capitatildees cavaleiros da Ordem de Cristo se lanccedilaram no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Poreacutem mui-to poucos chegaram a obter as tatildeo almejadas comendas141 Vemos deste

138 RODRIGUES Anais Tomo II Cap XXXV p 209139 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158140 CORTESAtildeO A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e

de D Joatildeo II Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 65-66 PERES ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na Histoacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II pp 17-21

141 Entre os afortunados que lograram obter este tipo de rendimento contam-se muito poucos D Joatildeo Pereira D Pedro de Castelo Branco Nuno Furtado Simatildeo Guedes entre outros Ver CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 216

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 197

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

modo que a atribuiccedilatildeo da comenda de Arenilha significou um motivo de grande honra e prestiacutegio para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Ora se este navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro resta-nos perceber porque motivo teraacute sido agraciado com compensaccedilotildees eco-noacutemicas a nomeaccedilatildeo para uma das mais rentaacuteveis capitanias de todo o Impeacuterio no Oriente e uma honrosa comenda da Ordem de Cristo Eacute caso para dizer que a problemaacutetica em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila con-tinua a levantar muitas duacutevidas e poucas certezas

Fontes e Bibliografia

1 Arquivos

ANTT

Chancelaria de D Afonso V Livro 2 fl30

Chancelaria de D Manuel I Livro 4 fl37 Livro 8 fl 29v Livro 9 fl4v Livro 10 fl53 Livro 13 fl60 Livro 37 fl64

Chancelaria de D Joatildeo III Livro 12 fl62

Chancelaria da Ordem de Cristo Livro13 fls375 vndash 379v

Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1

Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 15 Nordm47 Pt I maccedilo 44 Nordm45 Pt I maccedilo 45 Nordm9

Pt II maccedilo 51 Nordm26 Pt II maccedilo 53 Nordm182 Pt II maccedilo 93 Nordm150 Pt II maccedilo 109 Nordm131 Pt II maccedilo 131 Nordm226 Pt II maccedilo 134 Nordm57 Pt II maccedilo 135 Nordm45 Pt II maccedilo 135 Nordm49 Pt II maccedilo 136 Nordm102 Pt II maccedilo 141 Nordm91

Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Nordm159

Casa Real Cartoacuterio da Nobreza Livro Nordm20 - Livro da Nobreza e da per-feiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal fl XII

2 Fontes Impressas

ABREU Lisuarte de Livro de Lisuarte de Abreu (Reproduccedilatildeo do manuscrito existente na Perpont Morgan Library de Nova York) Comissatildeo Nacional para as comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portugueses Lisboa 1992

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203198

Fernando Pessanha

ARMAS Duarte de Livro das Fortalezas Arquivo Nacional da Torre do TomboInapa Lisboa 1997

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada III Na Regia Officina Typografica Lisboa MDCCLXXVII

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada IV Imprensa Nacional Casa da Moe-da Lisboa 2001

BORGES Joseacute Calvatildeo Borges Livro do Armeiro-Mor Academia Portugue-sa de HistoacuteriaEdiccedilotildees Inapa Lisboa 2000

CASCAtildeO Joatildeo ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevorardquo Uma Jornada ao Alentejo e ao Algarve A altera-ccedilatildeo das linhas de forccedila da poliacutetica nacional Livros Horizonte Lisboa 1984 pp 77-136

CASTANHEDA Fernatildeo Lopes de Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses 2 vols Lello amp Irmatildeos Editores Porto 1979

CORREIA Gaspar Lendas da Iacutendia Tomo III na Typographia da Acade-mia Real das Sciencias Lisboa 1862

Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI Centro de Estudos Histoacutericos Ultramarinos Lis-boa 1969

GAYO Felgueiras Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX Ediccedilatildeo de Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Arauacutejo Affonso Braga 1939

GUEDES Liacutevio da Costa Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) Arquivo Histoacuterico Militar Lisboa 1988

GOacuteIS Damiatildeo de Chonica do Serenissimo Senhor Rei D Manoel Lisboa 1749

JOSEacute Frei Joatildeo de Satildeo ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 21-132

RODRIGUES Bernardo Anais de Arzila 2 vols Academia das Sciecircncias de Lisboa Lisboa 1915-1919

SARRAtildeO Henrique Fernandes ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 133-174

SOUSA Frei Luiacutes de Anais de D Joatildeo III 2 vols Saacute da Costa Lisboa 1928

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 199

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

SOUSA Manuel de Faria e Asia Portvgvesa Officina de Henrique Valen-te de Oliveira impressor del Rey NS Lisboa 1666

TENREIRO Antoacutenio amp AFONSO Mestre Viagens por terra da Iacutendia a Por-tugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica Mem-Martins 1991

3 Estudos

ALBUQUERQUE Luiacutes de (dir) Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-tos Portugueses 2 vols Ciacuterculos de Leitores Lisboa 1994

ALMEIDA Fortunato de Histoacuteria de Portugal Vols III-VII Promoclube Lisboa sd

CARDOSO Antoacutenio Pereira A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila agrave Austraacutelia em 1522 Academia da Marinha Lisboa 1994

CARVALHO Andreia Martins de ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Ma-nuelinardquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia ndash Actas do Coloacutequio Internacional Joatildeo Paulo Oliveira e Costa amp Viacutetor Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 199-226

CARVALHO Andreia Martins de Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria dos Descobrimen-tos e da Expansatildeo Portuguesa (seacuteculos XV-XVIII) apresentado agrave UNL Lisboa 2006

CAVACO Hugo ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio (Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Arte no Algarve) Cacircmara Muni-cipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1987

CAVACO Hugo Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha Cacircmara Munici-pal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1995

CORREIA Joseacute Eduardo Horta Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina Faup Publicaccedilotildees Porto 1997

CORREIA Joseacute Eduardo Horta O Algarve em Patrimoacutenio Gente Singular Editora Olhatildeo 2010

CORTESAtildeO Armando ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Aus-tralaacutesia Macau Japatildeo)rdquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939

CORTESAtildeO Jaime ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal (Dir Damiatildeo Peres) Vol IV Portucalense Editora Barce-los 1932 pp 9-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203200

Fernando Pessanha

CORTESAtildeO Jaime A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e de D Joatildeo II Lisboa 1960

COSME Joatildeo ldquoOs homens de ciecircnciardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 91-97

COSME Joatildeo ldquoOs Navegadores ndash Vasco da Gamardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 145-152

COSTA Joatildeo Paulo Oliveira e ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo A Nobreza e a Expansatildeo Estudos Biograacuteficos Joatildeo Paulo Oliveira e Costa (coord) Patrimoacutenia Cascais 2000 pp 11-51

DOMINGUES Francisco Contente ldquoOs portugueses descobriram a Aus-traacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Si-motildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Univer-sidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 163-172

DOMINGUES Francisco Contente Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 Circulo dos Leitores Lisboa 2016

FARIA Antoacutenio Machado de Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI Acade-mia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 1956

FARIA Antoacutenio Machado de ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo Separata da revista Arqueologia e Histoacuteria vol VI Lisboa 1955

FARIA Miguel Figueira de ldquoFortificaccedilotildees de Portugal na fronteira da Es-tremadura espanholardquo Anais ndash Seacuterie Histoacuteria Vol II Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 1995 pp 156-187

FONSECA Luiacutes Adatildeo da ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo A Alta No-breza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 322-347

FREIRE Anselmo Braamcamp Brasotildees da Sala de Sintra 3 vols Impren-sa da Universidade de Coimbra Coimbra 1921-1930

GARCIA Joseacute Manuel Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII QuidNovi Lisboa 2009

GARCIA Joseacute Manuel O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash 1555 Nordm 8 QuidNovi Vila do Conde 2012

GODINHO Rui Landeiro ldquoA Armada do Estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (Seacuteculos XV-XIX) Ediccedilotildees Cul-turais da Marinha Lisboa 2003 pp 117-137

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 24: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203188

Fernando Pessanha

httpswwwjournal-shy‐estrategicacom E-shy‐STRATEGICA 2 2018 middot∙ ISSN 2530-shy‐9951 pp

Fig2 - Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar

creacutedito ao comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Arenilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada destinada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila assim como o seu

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesahelliprdquo pp 86-82

Fig 2

Carta do marquecircs de Aiamonte agradecendo ao rei mandar ouvir e dar creacutedito ao

comendador Cristoacutevatildeo de Mendonccedila ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt I maccedilo 45 nordm 9

Natildeo abordaremos o conteuacutedo destes documentos visto terem sido objecto de estudo em ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo107 Importa no entanto determinar se o comendador de Are-nilha Cristoacutevatildeo de Mendonccedila eacute o ceacutelebre capitatildeo-mor da armada desti-nada a descobrir a Ilha do Ouro em 1522 Foi ao abrigo desse raciociacutenio

107 PESSANHA ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesardquo pp 86-82

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 189

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacute-vatildeo de Mendonccedila assim como o seu percurso como capitatildeo nas armadas da Iacutendia acreditamos encontrar-nos em condiccedilotildees para demonstrarmos que a comenda de Arenilha foi efectivamente atribuiacuteda ao navegador como reconhecimento pelos serviccedilos prestados no Oriente

Com efeito satildeo vaacuterios os indicadores que nos levam a afirmaacute-lo Em primeiro lugar o facto de natildeo se encontrar nas croacutenicas nem nas fontes coevas qualquer referecircncia a um homoacutenimo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a balizagem cronoloacutegica compreendida entre 1514 e 1532 periacuteodo em que aparece referido na documentaccedilatildeo Aliaacutes as da-tas discriminadas nos documentos que o referem como comendador de Arenilha corroboram a ideia de esta comenda ter sido atribuiacuteda aquando do seu regresso ao reino Eacute certo que natildeo sabemos a data em que Cristoacutevatildeo teraacute chegado a Portugal ainda que tenhamos notiacutecia da sua passagem pelo sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio de 1524 durante a viagem de regresso108 Poreacutem as tenccedilas atraacutes mencionadas indicam que se encontrava no reino em 1526 Uma vez que os documentos que o referem como comendador da vila da foz do Guadiana remontam a Dezembro de 1529 e Maio de 1530 anos em que o navegador jaacute se encontrava no Oriente eacute de supor que D Joatildeo III lhe teraacute atribuiacutedo a comenda aquando da sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e Marccedilo de 1527 ano em que voltou a partir para a Iacutendia jaacute na qualida-de de capitatildeo de Ormuz

Uma vez que natildeo se verificam homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila para a balizagem cronoloacutegica atraacutes referida e que as datas dos docu-mentos que o referem como comendador de Arenilha satildeo ligeiramente posteriores ao seu regresso ao reino resta-nos determinar se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila reunia as condiccedilotildees necessaacuterias para ser agraciado com uma comenda desta natureza Antes de mais importa referir que a vila de Arenilha e de Castro Marim eram as duas uacutenicas comendas da Ordem de Cristo no Algarve Curiosamente Isabel L Morgado de Sousa e Silva natildeo refere a comenda de Arenilha na dissertaccedilatildeo para doutoramento

108 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo Oceanos Nordm4 pp 17-18 ALBU-QUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 727-728 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 79

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203190

Fernando Pessanha

A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521)109 Poreacutem o documento publicado por Hugo Cavaco natildeo deixa margem para duacutevidas

ldquoNo Bispado do Algarve haacute somente duas Commendas da Ordem (de

Cristo) que satildeo das antigas e as seguintes

A Commenda e Alcaideria-moacuter de Castro Marim avaliou-se em quatro-

centos e cinquenta mil reacuteis no anno de 1608

A Commenda da Alcaideria-mograver de Santo Antonio de Arenilha que estaacute

junto a Castro Marim em cento e trinta mil reacuteis no anno de 1608

No Bispado do Algarve natildeo haacute nenhuma Commenda desta Ordem mais

que as duas velhas que valem quinhentos e oitenta mil reacuteis como se vecirc

da somma adianterdquo110

Aliaacutes soacute o facto de Arenilha ser comenda da Ordem de Cristo poderaacute explicar que o senhorio da vila tenha sido atribuiacutedo exclusivamente a cavaleiros da miliacutecia ao longo de toda a centuacuteria quinhentista111

Naturalmente que estas comendas implicavam desde logo a existecircn-cia de comendadores sobre os quais recaiacutea o senhorio das ditas vilas o que era compreendido como motivo de honra e de prestiacutegio social numa sociedade ainda bastante influenciada pelas antigas tradiccedilotildees medievo-feudais Comendas refira-se que compreendiam o direito agrave administra-ccedilatildeo da localidade e conferiam uma renda para sustentaccedilatildeo do comenda-dor beneficiaacuterio configurando um recurso para os encargos da proacutepria comenda No entanto a atribuiccedilatildeo de uma comenda representava um benefiacutecio atribuiacutedo a cavaleiros professos nas ordens militares como re-compensa por serviccedilos prestados Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Men-donccedila soacute poderia ser agraciado com a comenda de Arenilha caso tivesse sido investido na Ordem de Cristo Foi nesse sentido que procuraacutemos determinar se este navegador professou nesta Ordem Militar

Com efeito a dissertaccedilatildeo Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) de Joatildeo Maria Falcatildeo Pestana de Vascon-celos natildeo faz qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila enquanto cavaleiro da Ordem de Cristo Refere no entanto o seu avocirc Afonso Fur-

109 SILVA A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta110 Documento VIII BNLMicroformas F5040 Documento publicado por CAVACO Revisi-

tando p 52111 Cf PESSANHA Os 500 anos pp 57-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 191

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

tado de Mendonccedila comendador de Cardiga da Ordem de Cristo112 a sua irmatilde Margarida de Mendonccedila enquanto mulher de um comendador da mesma Ordem e o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo que recebeu o haacutebito da miliacutecia em 16 de Abril de 1514113 Ain-da que a referida dissertaccedilatildeo natildeo faccedila qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo enquanto membro desta Ordem vem demonstrar a ligaccedilatildeo de alguns dos seus familiares agrave mesma natildeo soacute na qualidade de cavaleiros como tambeacutem de comendadores

Poreacutem Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social de Teresa Lacerda assim como a jaacute referida tese A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) de Isabel L Morgado de Sousa e Silva jaacute identificam efectivamente Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como frei cavaleiro desta Ordem114 De acordo com a obra consultada Cavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVI Cristoacutevatildeo de Mendonccedila recebeu efectivamente o haacutebito da Ordem de Cristo em 16 de Abril de 1514115 exactamente na mesma data em que o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila tambeacutem foi in-vestido116 De resto o facto de Cristoacutevatildeo aparecer referido como mem-bro da miliacutecia numa provisatildeo em que D Joatildeo III manda o almoxarife de Aveiro pagar ldquoa Cristoacutevatildeo de Mendonccedila sua tenccedila deste ano 50000 reacuteis assentada na alfacircndega de Lisboa com o haacutebito de Cristordquo117 vem dissipar qualquer duacutevida que ainda subsistisse

Note-se que identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como cavaleiro da Ordem de Cristo natildeo pudemos deixar de reparar no silecircncio dos cronistas no momento de identificar os intervenientes no processo ex-pansionista com as suas respectivas filiaccedilotildees nas Ordens Militares De facto quer Joatildeo de Barros quer os cronistas que lhe sucederam natildeo fazem qualquer referecircncia agrave filiaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo em qualquer Ordem tal como de acordo com o que constataacutemos raramente o fazem em relaccedilatildeo a outros cavaleiros Esta evidecircncia pode parecer ainda mais estranha se tivermos em consideraccedilatildeo o forte envolvimento da Ordem

112 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Vol I p 377 FARIA Livro de Linhagens p 275

113 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares p 392 114 LACERDA Os Capitatildees das Armadas pp 120 e 228 SILVA A Ordem de Cristo p 336

SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma perspectiva de estudordquo apecircndice

115 FARIA ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo p 21116 FARIA ldquoCavaleirosrdquo p 21 Ver tambeacutem SILVA A Ordem de Cristo p 330117 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203192

Fernando Pessanha

de Cristo na Histoacuteria da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses Ordem Militar sublinhe-se que teve como governadores figuras in-contornaacuteveis da famiacutelia real como o infante D Henrique o infante D Fernando o rei D Manuel ou o rei D Joatildeo III118 Poreacutem haacute que ter em consideraccedilatildeo que documentos como Memoacuteria das Armadas ou o Livro de Lisuarte de Abreu natildeo satildeo fontes sobre qualquer uma das Ordens razatildeo pela qual se torna compreensiacutevel a ausecircncia de referecircncias mais completas relativamente aos intervenientes no processo de expansatildeo Aliaacutes a intenccedilatildeo subjacente agrave produccedilatildeo de obras como Histoacuteria do Des-cobrimento e da Conquista da Iacutendia natildeo passa por apresentar informa-ccedilatildeo detalhada sobre as individualidades que participaram no processo expansionista mas antes destacar o protagonismo reacutegio em todo este processo119

Por fim natildeo se verificando homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a cronologia abordada coincidindo as datas que o referem como comendador de Arenilha e identificado este navegador como cavalei-ro da Ordem de Cristo resta-nos perceber por que motivo lhe teraacute sido entregue a comenda desta vila na foz do Guadiana Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo que a fundaccedilatildeo de Are-nilha prende-se com a afirmaccedilatildeo da soberania poliacutetica e administra-tiva de D Manuel sobre um territoacuterio frequentado por castelhanos Eacute exactamente nesse contexto que em 1421 Castro Marim justificava o pedido de isenccedilatildeo de alguns encargos pelos ldquoconstantes trabalhos que os moradores tinham com os castelhanos que insistiam em vir pescar ao reinordquo120 Quer isto dizer que os castelhanos vinham pescar para as margens portuguesas natildeo pagando os devidos impostos agrave Coroa Aliaacutes a existecircncia do topoacutenimo de origem castelhana Arenilha121 ainda antes da elaboraccedilatildeo da Carta de Privileacutegio que manda proceder agrave construccedilatildeo

118 FONSECA ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo pp 321-347 Ver tambeacutem SILVA A Or-dem de Cristo pp 43-110

119 Cf SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristordquo pp 349-361120 VENTURA ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo p 608

ANTT Chancelaria de D Afonso V liv 2 fl30121 De acordo com o dicionaacuterio da Real Academia Espantildeola ldquoarenillardquo apresenta-se como

sinoacutenimo de ldquoarena menudardquo Ver Dicionario de la Real Academia Espantildeola Disponiacutevel em httplemaraeesdraeval=arenilla ndash Consultado dia 10 de Setembro de 2013 Note-se que quando em 1775 se pretendeu baptizar a nova vila iluminista com o nome de Vila Real de Santo Antoacutenio de Arenilha prontamente o Marquecircs de Pombal proibiu a utilizaccedilatildeo do nome ldquoArenilhardquo alegando que ldquoeacute uma palavra hespanhola e Villa Real uma povoaccedilatildeo portuguesardquo Ver OLIVEIRA Monografia p 71

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 193

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

da vila122 indica a ocupaccedilatildeo daquele areal na margem portuguesa da foz do Guadiana por populaccedilotildees de pescadores de origem castelhana Dadas as circunstacircncias seria do interesse estrateacutegico do monarca que esta comenda recaiacutesse sobre algueacutem experimentado na guarda da fronteira e que fizesse cumprir o pagamento dos devidos direitos aduaneiros Re-corde-se que Arenilha para aleacutem de comenda da Ordem de Cristo era uma vila de fronteira situada na margem portuguesa do Guadiana tal como o era a vila de Mouratildeo de onde Cristoacutevatildeo de Mendonccedila era natu-ral Como anteriormente referimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Men-donccedila o fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo que foi nomeado em 1476 alcaide-mor de Mouratildeo123 uma vila fortificada do Alentejo que guarda-va a fronteira portuguesa frente a Espanha O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas mostra-nos o castelo de Mouratildeo onde Cristoacutevatildeo teraacute crescido localizado no cimo de uma colina sobranceiro ao Guadiana124 Quer isto dizer que o ceacutelebre navegador era descendente de uma famiacutelia experimentada na guarda da fronteira face ao reino vizinho e familia-rizado com as actividades militares tributaacuterias e administrativas que lhe eram inerentes125 Assim sendo esta condiccedilatildeo de fronteiro a juntar ao facto de Cristoacutevatildeo ser cavaleiro da Ordem de Cristo teraacute resultado altamente pertinente no momento em que D Joatildeo III decidiu atribuir a comenda de Arenilha a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como recompensa pelos serviccedilos prestados

Por fim mas natildeo menos relevante teraacute sido a experiecircncia naval e militar adquirida por Mendonccedila nos mares do Oriente e direccionada para a foz do Guadiana sistematicamente ameaccedilada pelos ataques da pi-rataria magrebina126 Recorde-se que Mendonccedila no decurso das suas na-vegaccedilotildees na australaacutesia viu-se na necessidade de defender posiccedilotildees por-

122 O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas produzido por volta de 1509 jaacute indicava o topoacutenimo que veio a ser oficializado com a Carta de Privileacutegio de 12 de Fevereiro de 1513 Ver ARMAS O Livro das Fortalezas fl 1

123 FREIRE Brasotildees Vol III p 173124 ANTT Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Livro das Fortalezas si-

tuadas no Extremo de Portugal e Castela por Duarte de Armas escudeiro da Casa do Rei D Manuel I Nordm 159 fls 13-14 ARMAS O Livro das Fortalezas fls 13-14

125 Refira-se que foi durante o periacuteodo em que o pai de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila deteve a alcaidaria de Mouratildeo que o rei D Manuel obteve dos povos nas cortes de Lisboa de 1502 uma vultosa contribuiccedilatildeo que fez com que o castelo da vila fosse intervenciona-do por dois importantes arquitectos reacutegios os irmatildeos Francisco e Diogo de Arruda os mestres das obras reacutegias da comarca de entre o Tejo e o Guadiana Ver FARIA ldquoForti-ficaccedilotildees de Portugal na fronteira da Estremadura espanholardquo p 161

126 Sobre este assunto veja-se PESSANHA ldquoAtaques da piratariardquo pp 63-94

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203194

Fernando Pessanha

tuguesas dando combate aos adversaacuterios Recordemos a este respeito o ataque movido por Melique Ladil agrave fortaleza de Paceacutem entatildeo guardada por Mendonccedila e a maneira como o ldquomourordquo foi desbaratado e despo-jado das treze embarcaccedilotildees usadas no assalto127 Dadas as circunstacircnci-as seria um desperdiacutecio natildeo se aproveitar a experiecircncia deste capitatildeo numa altura em que se verificava um incremento da actividade piraacutetica nas costas do Algarve Esta actividade da pirataria na foz do Guadiana eacute aliaacutes referida por Bernardo Rodrigues em vaacuterias ocasiotildees nomeada-mente aquando da estadia da condessa de Redondo na vila de Arenilha em 1522128 ou quando Vasco Fernandes Ceacutesar - antigo adaiacutel de Azamor e capitatildeo da Armada do Estreito129 - foi incumbido embarcar o conde do Redondo D Joatildeo Coutinho na vila de Arenilha e escoltaacute-lo a Arzila130 Refira-se que a caminho da foz do Guadiana o navio de Vasco Fernan-des Ceacutesar foi atacado por duas naus tendo-se seguido um combate naval que resultou na explosatildeo de parte da alcaacuteccedilova atirando cinco homens ao mar entre os quais Vasco Fernandes que ficou gravemente ferido131

Vemos deste modo que a entrega da comenda de Arenilha a um in-diviacuteduo como Cristoacutevatildeo de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo descendente de uma famiacutelia de fronteiros e navegador experimentado no combate naval natildeo soacute era altamente pertinente como simboacutelica e manifestamente estrateacutegica para a defesa do extremo sudeste algarvio e da foz do Guadiana onde Mendonccedila deveria actuar com autoridade se-nhorial usufruindo dos seus bens e rendimentos E no caso da comenda de Arenilha Seriam generosos os seus rendimentos Sem duacutevida Se assim natildeo fosse o rei D Duarte natildeo teria doado ao infante D Henrique ainda em 25 de Setembro de 1433 a ldquodiacutesima nova de todo o pescado que pescarem quaisquer pessoas no mar do Monte Gordordquo132 Aliaacutes seraacute certa-

127 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III pp548-549128 RODRIGUES Anais de Arzila Tomo I Cap XC p 373129 GOacuteIS Chronica IV Cap LVII p 552 Sobre a Armada do Estreito veja-se GODINHO

ldquoA armada do estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo pp117-137130 RODRIGUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 PESSANHA Subsiacutedios p 100131 Segundo Bernardo Rodrigues os sobreviventes portugueses por pouco natildeo foram

executados Os que sobreviveram ao combate foram aprisionados e levados para Di-eppe Vasco Fernandes apesar de ferido acabou por escapar do cativeiro desfiando uma esteira e escapando por ela da torre onde se encontrava aprisionado RODRI-GUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 Ver tambeacutem PISSARRA ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Armada do Estreitordquo pp 144-145

132 SERRAtildeO Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fundaccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) p 65 OLIVEIRA Monografia p 73

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 195

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

mente o motivo econoacutemico que jaacute em 1555 estaraacute na origem da disputa pelo senhorio de Arenilha entre Jeroacutenimo de Melo fidalgo da Casa Real e alcaide-mor de Castro Marim e Luiacutes Leite frei cavaleiro da Ordem de Cristo e filho de Antoacutenio Leite o anterior alcaide133

Relativamente agrave defesa sabemos que Arenilha natildeo possuiacutea castelo torre ou qualquer fortificaccedilatildeo digna de registo ateacute 1542-1547 periacuteodo em que o alcaide Antoacutenio Leite daacute-nos conta das ldquotramqueyras e repai-rosrdquo construiacutedos sob o seu comando para a populaccedilatildeo se defender dos ataques da pirataria moura134 Ainda assim Mendonccedila estava obrigado a zelar pela defesa da vila independentemente de esta ter ou natildeo for-tificaccedilotildees para a proteger Se tivermos em consideraccedilatildeo que a sua no-meaccedilatildeo como comendador o obrigava agrave realizaccedilatildeo de um inventaacuterio ao patrimoacutenio da comenda (infelizmente desconhecido) e ao dever de fixar residecircncia na sua aacuterea de governo135 eacute muito provaacutevel que Cristoacutevatildeo se tenha detido durante algum tempo na vila da foz do Guadiana algures entre finais de 1524 aquando da sua chegada ao reino136 e Marccedilo de 1527 quando voltou a partir para o Oriente

Como anteriormente referimos os comendadores deviam fixar-se nas suas comendas para melhor procederem agrave sua defesa e melhor ren-tabilizarem as mesmas Assim sendo como eacute possiacutevel que os documen-tos que referem Cristoacutevatildeo como comendador de Arenilha sejam relati-vos aos anos em que este se encontrava na capitania de Ormuz Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo de que a principal obrigaccedilatildeo dos cavaleiros da Ordem de Cristo era a luta contra os inimigos da feacute devendo estar prontos para a guerra sempre que o Mestre os convocasse Uma vez que as situaccedilotildees de guerra eram cons-tantes nos territoacuterios de aleacutem-mar onde a presenccedila dos cavaleiros da Ordem se tornava necessaacuteria natildeo eacute de admirar que estes fossem dispen-sados da exigecircncia que os obrigava a permanecer nas suas comendas137

133 CAVACO Revisitando pp 18-20 PESSANHA Os 500 anos pp 72-73134 Carta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava

atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras e que era necessaacute-rio enviar-lhe socorro ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos p 99 PINTO ldquoIacutendice Analiacuteticordquo p 267

135 Cf SILVA A Ordem de Cristo pp 189-190136 Uma vez que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila se encontrava na Aacutefrica do Sul em Marccedilo ou Maio

de 1524 eacute de supor que a sua chegada ao reino se tenha dado ainda no mesmo ano137 SILVA A Ordem de Cristo p 191

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203196

Fernando Pessanha

Eacute nesse sentido que encontramos Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comen-dador de Arenilha em 1529 e 1530 anos em que jaacute se encontrava como capitatildeo na fortaleza de Ormuz De resto era nesta fortaleza que ainda se encontrava em 1531 ano em que piratas de Larache atacaram a vila da foz do Guadiana ldquoonde fizeacuteratildeo muito dano em navios que tomaacuteratildeo e den-tro da Barra de Aiamonte fizeacuteratildeo despejar a Arrinilha e a Montegordordquo138

7 Conclusatildeo

Com efeito muito se tem escrito (e especulado) sobre a alegada des-coberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila No entanto e indepen-dentemente dos resultados alcanccedilados pelo navegador nesta expediccedilatildeo parece indiscutiacutevel que foi generosamente recompensado aquando do seu regresso ao reino Resta-nos perceber porquecirc Jaacute Armando Cortesatildeo muito antes de Peter Trickett tinha levantado a hipoacutetese de a rentaacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz ter sido entregue a Mendonccedila como re-compensa pelos serviccedilos prestados na expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro139 Natildeo eacute conhecido poreacutem qualquer documento que ateste o ecircxito do navegador nesta expediccedilatildeo Omissatildeo que segundo investigadores como Armando Cortesatildeo Damiatildeo Peres ou Jaime Cortesatildeo teraacute sido consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo determinada pelas limitaccedilotildees de navega-ccedilatildeo estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas e com o contencioso entre Portugal e Espanha pela posse das Molucas140

O certo eacute que Mendonccedila ao regressar ao reino foi agraciado com uma das capitanias mais rentaacuteveis do impeacuterio no Oriente para aleacutem de ter recebido compensaccedilotildees econoacutemicas e aparecer referido em 1529 e 1530 como comendador da vila de Arenilha na foz do Guadiana Refira-se a este respeito que muitos capitatildees cavaleiros da Ordem de Cristo se lanccedilaram no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Poreacutem mui-to poucos chegaram a obter as tatildeo almejadas comendas141 Vemos deste

138 RODRIGUES Anais Tomo II Cap XXXV p 209139 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158140 CORTESAtildeO A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e

de D Joatildeo II Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 65-66 PERES ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na Histoacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II pp 17-21

141 Entre os afortunados que lograram obter este tipo de rendimento contam-se muito poucos D Joatildeo Pereira D Pedro de Castelo Branco Nuno Furtado Simatildeo Guedes entre outros Ver CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 216

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 197

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

modo que a atribuiccedilatildeo da comenda de Arenilha significou um motivo de grande honra e prestiacutegio para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Ora se este navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro resta-nos perceber porque motivo teraacute sido agraciado com compensaccedilotildees eco-noacutemicas a nomeaccedilatildeo para uma das mais rentaacuteveis capitanias de todo o Impeacuterio no Oriente e uma honrosa comenda da Ordem de Cristo Eacute caso para dizer que a problemaacutetica em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila con-tinua a levantar muitas duacutevidas e poucas certezas

Fontes e Bibliografia

1 Arquivos

ANTT

Chancelaria de D Afonso V Livro 2 fl30

Chancelaria de D Manuel I Livro 4 fl37 Livro 8 fl 29v Livro 9 fl4v Livro 10 fl53 Livro 13 fl60 Livro 37 fl64

Chancelaria de D Joatildeo III Livro 12 fl62

Chancelaria da Ordem de Cristo Livro13 fls375 vndash 379v

Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1

Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 15 Nordm47 Pt I maccedilo 44 Nordm45 Pt I maccedilo 45 Nordm9

Pt II maccedilo 51 Nordm26 Pt II maccedilo 53 Nordm182 Pt II maccedilo 93 Nordm150 Pt II maccedilo 109 Nordm131 Pt II maccedilo 131 Nordm226 Pt II maccedilo 134 Nordm57 Pt II maccedilo 135 Nordm45 Pt II maccedilo 135 Nordm49 Pt II maccedilo 136 Nordm102 Pt II maccedilo 141 Nordm91

Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Nordm159

Casa Real Cartoacuterio da Nobreza Livro Nordm20 - Livro da Nobreza e da per-feiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal fl XII

2 Fontes Impressas

ABREU Lisuarte de Livro de Lisuarte de Abreu (Reproduccedilatildeo do manuscrito existente na Perpont Morgan Library de Nova York) Comissatildeo Nacional para as comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portugueses Lisboa 1992

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203198

Fernando Pessanha

ARMAS Duarte de Livro das Fortalezas Arquivo Nacional da Torre do TomboInapa Lisboa 1997

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada III Na Regia Officina Typografica Lisboa MDCCLXXVII

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada IV Imprensa Nacional Casa da Moe-da Lisboa 2001

BORGES Joseacute Calvatildeo Borges Livro do Armeiro-Mor Academia Portugue-sa de HistoacuteriaEdiccedilotildees Inapa Lisboa 2000

CASCAtildeO Joatildeo ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevorardquo Uma Jornada ao Alentejo e ao Algarve A altera-ccedilatildeo das linhas de forccedila da poliacutetica nacional Livros Horizonte Lisboa 1984 pp 77-136

CASTANHEDA Fernatildeo Lopes de Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses 2 vols Lello amp Irmatildeos Editores Porto 1979

CORREIA Gaspar Lendas da Iacutendia Tomo III na Typographia da Acade-mia Real das Sciencias Lisboa 1862

Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI Centro de Estudos Histoacutericos Ultramarinos Lis-boa 1969

GAYO Felgueiras Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX Ediccedilatildeo de Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Arauacutejo Affonso Braga 1939

GUEDES Liacutevio da Costa Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) Arquivo Histoacuterico Militar Lisboa 1988

GOacuteIS Damiatildeo de Chonica do Serenissimo Senhor Rei D Manoel Lisboa 1749

JOSEacute Frei Joatildeo de Satildeo ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 21-132

RODRIGUES Bernardo Anais de Arzila 2 vols Academia das Sciecircncias de Lisboa Lisboa 1915-1919

SARRAtildeO Henrique Fernandes ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 133-174

SOUSA Frei Luiacutes de Anais de D Joatildeo III 2 vols Saacute da Costa Lisboa 1928

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 199

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

SOUSA Manuel de Faria e Asia Portvgvesa Officina de Henrique Valen-te de Oliveira impressor del Rey NS Lisboa 1666

TENREIRO Antoacutenio amp AFONSO Mestre Viagens por terra da Iacutendia a Por-tugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica Mem-Martins 1991

3 Estudos

ALBUQUERQUE Luiacutes de (dir) Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-tos Portugueses 2 vols Ciacuterculos de Leitores Lisboa 1994

ALMEIDA Fortunato de Histoacuteria de Portugal Vols III-VII Promoclube Lisboa sd

CARDOSO Antoacutenio Pereira A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila agrave Austraacutelia em 1522 Academia da Marinha Lisboa 1994

CARVALHO Andreia Martins de ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Ma-nuelinardquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia ndash Actas do Coloacutequio Internacional Joatildeo Paulo Oliveira e Costa amp Viacutetor Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 199-226

CARVALHO Andreia Martins de Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria dos Descobrimen-tos e da Expansatildeo Portuguesa (seacuteculos XV-XVIII) apresentado agrave UNL Lisboa 2006

CAVACO Hugo ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio (Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Arte no Algarve) Cacircmara Muni-cipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1987

CAVACO Hugo Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha Cacircmara Munici-pal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1995

CORREIA Joseacute Eduardo Horta Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina Faup Publicaccedilotildees Porto 1997

CORREIA Joseacute Eduardo Horta O Algarve em Patrimoacutenio Gente Singular Editora Olhatildeo 2010

CORTESAtildeO Armando ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Aus-tralaacutesia Macau Japatildeo)rdquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939

CORTESAtildeO Jaime ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal (Dir Damiatildeo Peres) Vol IV Portucalense Editora Barce-los 1932 pp 9-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203200

Fernando Pessanha

CORTESAtildeO Jaime A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e de D Joatildeo II Lisboa 1960

COSME Joatildeo ldquoOs homens de ciecircnciardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 91-97

COSME Joatildeo ldquoOs Navegadores ndash Vasco da Gamardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 145-152

COSTA Joatildeo Paulo Oliveira e ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo A Nobreza e a Expansatildeo Estudos Biograacuteficos Joatildeo Paulo Oliveira e Costa (coord) Patrimoacutenia Cascais 2000 pp 11-51

DOMINGUES Francisco Contente ldquoOs portugueses descobriram a Aus-traacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Si-motildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Univer-sidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 163-172

DOMINGUES Francisco Contente Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 Circulo dos Leitores Lisboa 2016

FARIA Antoacutenio Machado de Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI Acade-mia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 1956

FARIA Antoacutenio Machado de ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo Separata da revista Arqueologia e Histoacuteria vol VI Lisboa 1955

FARIA Miguel Figueira de ldquoFortificaccedilotildees de Portugal na fronteira da Es-tremadura espanholardquo Anais ndash Seacuterie Histoacuteria Vol II Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 1995 pp 156-187

FONSECA Luiacutes Adatildeo da ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo A Alta No-breza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 322-347

FREIRE Anselmo Braamcamp Brasotildees da Sala de Sintra 3 vols Impren-sa da Universidade de Coimbra Coimbra 1921-1930

GARCIA Joseacute Manuel Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII QuidNovi Lisboa 2009

GARCIA Joseacute Manuel O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash 1555 Nordm 8 QuidNovi Vila do Conde 2012

GODINHO Rui Landeiro ldquoA Armada do Estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (Seacuteculos XV-XIX) Ediccedilotildees Cul-turais da Marinha Lisboa 2003 pp 117-137

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 25: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 189

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

que seguimos o rasto biograacutefico do navegador de modo a percebermos em que circunstacircncias surgem os documentos que referem Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comendador da antiga vila da foz do Guadiana Eacute nesse sentido que identificado o contexto familiar e social do navegador Cristoacute-vatildeo de Mendonccedila assim como o seu percurso como capitatildeo nas armadas da Iacutendia acreditamos encontrar-nos em condiccedilotildees para demonstrarmos que a comenda de Arenilha foi efectivamente atribuiacuteda ao navegador como reconhecimento pelos serviccedilos prestados no Oriente

Com efeito satildeo vaacuterios os indicadores que nos levam a afirmaacute-lo Em primeiro lugar o facto de natildeo se encontrar nas croacutenicas nem nas fontes coevas qualquer referecircncia a um homoacutenimo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a balizagem cronoloacutegica compreendida entre 1514 e 1532 periacuteodo em que aparece referido na documentaccedilatildeo Aliaacutes as da-tas discriminadas nos documentos que o referem como comendador de Arenilha corroboram a ideia de esta comenda ter sido atribuiacuteda aquando do seu regresso ao reino Eacute certo que natildeo sabemos a data em que Cristoacutevatildeo teraacute chegado a Portugal ainda que tenhamos notiacutecia da sua passagem pelo sul de Aacutefrica em Marccedilo ou Maio de 1524 durante a viagem de regresso108 Poreacutem as tenccedilas atraacutes mencionadas indicam que se encontrava no reino em 1526 Uma vez que os documentos que o referem como comendador da vila da foz do Guadiana remontam a Dezembro de 1529 e Maio de 1530 anos em que o navegador jaacute se encontrava no Oriente eacute de supor que D Joatildeo III lhe teraacute atribuiacutedo a comenda aquando da sua passagem pelo reino entre finais de 1524 e Marccedilo de 1527 ano em que voltou a partir para a Iacutendia jaacute na qualida-de de capitatildeo de Ormuz

Uma vez que natildeo se verificam homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila para a balizagem cronoloacutegica atraacutes referida e que as datas dos docu-mentos que o referem como comendador de Arenilha satildeo ligeiramente posteriores ao seu regresso ao reino resta-nos determinar se Cristoacutevatildeo de Mendonccedila reunia as condiccedilotildees necessaacuterias para ser agraciado com uma comenda desta natureza Antes de mais importa referir que a vila de Arenilha e de Castro Marim eram as duas uacutenicas comendas da Ordem de Cristo no Algarve Curiosamente Isabel L Morgado de Sousa e Silva natildeo refere a comenda de Arenilha na dissertaccedilatildeo para doutoramento

108 ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo Oceanos Nordm4 pp 17-18 ALBU-QUERQUE ldquoMendonccedila Cristoacutevatildeo derdquo Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimentos Vol II pp 727-728 THOMAZ ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedilardquo p 79

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203190

Fernando Pessanha

A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521)109 Poreacutem o documento publicado por Hugo Cavaco natildeo deixa margem para duacutevidas

ldquoNo Bispado do Algarve haacute somente duas Commendas da Ordem (de

Cristo) que satildeo das antigas e as seguintes

A Commenda e Alcaideria-moacuter de Castro Marim avaliou-se em quatro-

centos e cinquenta mil reacuteis no anno de 1608

A Commenda da Alcaideria-mograver de Santo Antonio de Arenilha que estaacute

junto a Castro Marim em cento e trinta mil reacuteis no anno de 1608

No Bispado do Algarve natildeo haacute nenhuma Commenda desta Ordem mais

que as duas velhas que valem quinhentos e oitenta mil reacuteis como se vecirc

da somma adianterdquo110

Aliaacutes soacute o facto de Arenilha ser comenda da Ordem de Cristo poderaacute explicar que o senhorio da vila tenha sido atribuiacutedo exclusivamente a cavaleiros da miliacutecia ao longo de toda a centuacuteria quinhentista111

Naturalmente que estas comendas implicavam desde logo a existecircn-cia de comendadores sobre os quais recaiacutea o senhorio das ditas vilas o que era compreendido como motivo de honra e de prestiacutegio social numa sociedade ainda bastante influenciada pelas antigas tradiccedilotildees medievo-feudais Comendas refira-se que compreendiam o direito agrave administra-ccedilatildeo da localidade e conferiam uma renda para sustentaccedilatildeo do comenda-dor beneficiaacuterio configurando um recurso para os encargos da proacutepria comenda No entanto a atribuiccedilatildeo de uma comenda representava um benefiacutecio atribuiacutedo a cavaleiros professos nas ordens militares como re-compensa por serviccedilos prestados Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Men-donccedila soacute poderia ser agraciado com a comenda de Arenilha caso tivesse sido investido na Ordem de Cristo Foi nesse sentido que procuraacutemos determinar se este navegador professou nesta Ordem Militar

Com efeito a dissertaccedilatildeo Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) de Joatildeo Maria Falcatildeo Pestana de Vascon-celos natildeo faz qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila enquanto cavaleiro da Ordem de Cristo Refere no entanto o seu avocirc Afonso Fur-

109 SILVA A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta110 Documento VIII BNLMicroformas F5040 Documento publicado por CAVACO Revisi-

tando p 52111 Cf PESSANHA Os 500 anos pp 57-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 191

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

tado de Mendonccedila comendador de Cardiga da Ordem de Cristo112 a sua irmatilde Margarida de Mendonccedila enquanto mulher de um comendador da mesma Ordem e o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo que recebeu o haacutebito da miliacutecia em 16 de Abril de 1514113 Ain-da que a referida dissertaccedilatildeo natildeo faccedila qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo enquanto membro desta Ordem vem demonstrar a ligaccedilatildeo de alguns dos seus familiares agrave mesma natildeo soacute na qualidade de cavaleiros como tambeacutem de comendadores

Poreacutem Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social de Teresa Lacerda assim como a jaacute referida tese A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) de Isabel L Morgado de Sousa e Silva jaacute identificam efectivamente Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como frei cavaleiro desta Ordem114 De acordo com a obra consultada Cavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVI Cristoacutevatildeo de Mendonccedila recebeu efectivamente o haacutebito da Ordem de Cristo em 16 de Abril de 1514115 exactamente na mesma data em que o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila tambeacutem foi in-vestido116 De resto o facto de Cristoacutevatildeo aparecer referido como mem-bro da miliacutecia numa provisatildeo em que D Joatildeo III manda o almoxarife de Aveiro pagar ldquoa Cristoacutevatildeo de Mendonccedila sua tenccedila deste ano 50000 reacuteis assentada na alfacircndega de Lisboa com o haacutebito de Cristordquo117 vem dissipar qualquer duacutevida que ainda subsistisse

Note-se que identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como cavaleiro da Ordem de Cristo natildeo pudemos deixar de reparar no silecircncio dos cronistas no momento de identificar os intervenientes no processo ex-pansionista com as suas respectivas filiaccedilotildees nas Ordens Militares De facto quer Joatildeo de Barros quer os cronistas que lhe sucederam natildeo fazem qualquer referecircncia agrave filiaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo em qualquer Ordem tal como de acordo com o que constataacutemos raramente o fazem em relaccedilatildeo a outros cavaleiros Esta evidecircncia pode parecer ainda mais estranha se tivermos em consideraccedilatildeo o forte envolvimento da Ordem

112 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Vol I p 377 FARIA Livro de Linhagens p 275

113 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares p 392 114 LACERDA Os Capitatildees das Armadas pp 120 e 228 SILVA A Ordem de Cristo p 336

SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma perspectiva de estudordquo apecircndice

115 FARIA ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo p 21116 FARIA ldquoCavaleirosrdquo p 21 Ver tambeacutem SILVA A Ordem de Cristo p 330117 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203192

Fernando Pessanha

de Cristo na Histoacuteria da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses Ordem Militar sublinhe-se que teve como governadores figuras in-contornaacuteveis da famiacutelia real como o infante D Henrique o infante D Fernando o rei D Manuel ou o rei D Joatildeo III118 Poreacutem haacute que ter em consideraccedilatildeo que documentos como Memoacuteria das Armadas ou o Livro de Lisuarte de Abreu natildeo satildeo fontes sobre qualquer uma das Ordens razatildeo pela qual se torna compreensiacutevel a ausecircncia de referecircncias mais completas relativamente aos intervenientes no processo de expansatildeo Aliaacutes a intenccedilatildeo subjacente agrave produccedilatildeo de obras como Histoacuteria do Des-cobrimento e da Conquista da Iacutendia natildeo passa por apresentar informa-ccedilatildeo detalhada sobre as individualidades que participaram no processo expansionista mas antes destacar o protagonismo reacutegio em todo este processo119

Por fim natildeo se verificando homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a cronologia abordada coincidindo as datas que o referem como comendador de Arenilha e identificado este navegador como cavalei-ro da Ordem de Cristo resta-nos perceber por que motivo lhe teraacute sido entregue a comenda desta vila na foz do Guadiana Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo que a fundaccedilatildeo de Are-nilha prende-se com a afirmaccedilatildeo da soberania poliacutetica e administra-tiva de D Manuel sobre um territoacuterio frequentado por castelhanos Eacute exactamente nesse contexto que em 1421 Castro Marim justificava o pedido de isenccedilatildeo de alguns encargos pelos ldquoconstantes trabalhos que os moradores tinham com os castelhanos que insistiam em vir pescar ao reinordquo120 Quer isto dizer que os castelhanos vinham pescar para as margens portuguesas natildeo pagando os devidos impostos agrave Coroa Aliaacutes a existecircncia do topoacutenimo de origem castelhana Arenilha121 ainda antes da elaboraccedilatildeo da Carta de Privileacutegio que manda proceder agrave construccedilatildeo

118 FONSECA ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo pp 321-347 Ver tambeacutem SILVA A Or-dem de Cristo pp 43-110

119 Cf SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristordquo pp 349-361120 VENTURA ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo p 608

ANTT Chancelaria de D Afonso V liv 2 fl30121 De acordo com o dicionaacuterio da Real Academia Espantildeola ldquoarenillardquo apresenta-se como

sinoacutenimo de ldquoarena menudardquo Ver Dicionario de la Real Academia Espantildeola Disponiacutevel em httplemaraeesdraeval=arenilla ndash Consultado dia 10 de Setembro de 2013 Note-se que quando em 1775 se pretendeu baptizar a nova vila iluminista com o nome de Vila Real de Santo Antoacutenio de Arenilha prontamente o Marquecircs de Pombal proibiu a utilizaccedilatildeo do nome ldquoArenilhardquo alegando que ldquoeacute uma palavra hespanhola e Villa Real uma povoaccedilatildeo portuguesardquo Ver OLIVEIRA Monografia p 71

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 193

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

da vila122 indica a ocupaccedilatildeo daquele areal na margem portuguesa da foz do Guadiana por populaccedilotildees de pescadores de origem castelhana Dadas as circunstacircncias seria do interesse estrateacutegico do monarca que esta comenda recaiacutesse sobre algueacutem experimentado na guarda da fronteira e que fizesse cumprir o pagamento dos devidos direitos aduaneiros Re-corde-se que Arenilha para aleacutem de comenda da Ordem de Cristo era uma vila de fronteira situada na margem portuguesa do Guadiana tal como o era a vila de Mouratildeo de onde Cristoacutevatildeo de Mendonccedila era natu-ral Como anteriormente referimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Men-donccedila o fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo que foi nomeado em 1476 alcaide-mor de Mouratildeo123 uma vila fortificada do Alentejo que guarda-va a fronteira portuguesa frente a Espanha O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas mostra-nos o castelo de Mouratildeo onde Cristoacutevatildeo teraacute crescido localizado no cimo de uma colina sobranceiro ao Guadiana124 Quer isto dizer que o ceacutelebre navegador era descendente de uma famiacutelia experimentada na guarda da fronteira face ao reino vizinho e familia-rizado com as actividades militares tributaacuterias e administrativas que lhe eram inerentes125 Assim sendo esta condiccedilatildeo de fronteiro a juntar ao facto de Cristoacutevatildeo ser cavaleiro da Ordem de Cristo teraacute resultado altamente pertinente no momento em que D Joatildeo III decidiu atribuir a comenda de Arenilha a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como recompensa pelos serviccedilos prestados

Por fim mas natildeo menos relevante teraacute sido a experiecircncia naval e militar adquirida por Mendonccedila nos mares do Oriente e direccionada para a foz do Guadiana sistematicamente ameaccedilada pelos ataques da pi-rataria magrebina126 Recorde-se que Mendonccedila no decurso das suas na-vegaccedilotildees na australaacutesia viu-se na necessidade de defender posiccedilotildees por-

122 O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas produzido por volta de 1509 jaacute indicava o topoacutenimo que veio a ser oficializado com a Carta de Privileacutegio de 12 de Fevereiro de 1513 Ver ARMAS O Livro das Fortalezas fl 1

123 FREIRE Brasotildees Vol III p 173124 ANTT Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Livro das Fortalezas si-

tuadas no Extremo de Portugal e Castela por Duarte de Armas escudeiro da Casa do Rei D Manuel I Nordm 159 fls 13-14 ARMAS O Livro das Fortalezas fls 13-14

125 Refira-se que foi durante o periacuteodo em que o pai de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila deteve a alcaidaria de Mouratildeo que o rei D Manuel obteve dos povos nas cortes de Lisboa de 1502 uma vultosa contribuiccedilatildeo que fez com que o castelo da vila fosse intervenciona-do por dois importantes arquitectos reacutegios os irmatildeos Francisco e Diogo de Arruda os mestres das obras reacutegias da comarca de entre o Tejo e o Guadiana Ver FARIA ldquoForti-ficaccedilotildees de Portugal na fronteira da Estremadura espanholardquo p 161

126 Sobre este assunto veja-se PESSANHA ldquoAtaques da piratariardquo pp 63-94

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203194

Fernando Pessanha

tuguesas dando combate aos adversaacuterios Recordemos a este respeito o ataque movido por Melique Ladil agrave fortaleza de Paceacutem entatildeo guardada por Mendonccedila e a maneira como o ldquomourordquo foi desbaratado e despo-jado das treze embarcaccedilotildees usadas no assalto127 Dadas as circunstacircnci-as seria um desperdiacutecio natildeo se aproveitar a experiecircncia deste capitatildeo numa altura em que se verificava um incremento da actividade piraacutetica nas costas do Algarve Esta actividade da pirataria na foz do Guadiana eacute aliaacutes referida por Bernardo Rodrigues em vaacuterias ocasiotildees nomeada-mente aquando da estadia da condessa de Redondo na vila de Arenilha em 1522128 ou quando Vasco Fernandes Ceacutesar - antigo adaiacutel de Azamor e capitatildeo da Armada do Estreito129 - foi incumbido embarcar o conde do Redondo D Joatildeo Coutinho na vila de Arenilha e escoltaacute-lo a Arzila130 Refira-se que a caminho da foz do Guadiana o navio de Vasco Fernan-des Ceacutesar foi atacado por duas naus tendo-se seguido um combate naval que resultou na explosatildeo de parte da alcaacuteccedilova atirando cinco homens ao mar entre os quais Vasco Fernandes que ficou gravemente ferido131

Vemos deste modo que a entrega da comenda de Arenilha a um in-diviacuteduo como Cristoacutevatildeo de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo descendente de uma famiacutelia de fronteiros e navegador experimentado no combate naval natildeo soacute era altamente pertinente como simboacutelica e manifestamente estrateacutegica para a defesa do extremo sudeste algarvio e da foz do Guadiana onde Mendonccedila deveria actuar com autoridade se-nhorial usufruindo dos seus bens e rendimentos E no caso da comenda de Arenilha Seriam generosos os seus rendimentos Sem duacutevida Se assim natildeo fosse o rei D Duarte natildeo teria doado ao infante D Henrique ainda em 25 de Setembro de 1433 a ldquodiacutesima nova de todo o pescado que pescarem quaisquer pessoas no mar do Monte Gordordquo132 Aliaacutes seraacute certa-

127 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III pp548-549128 RODRIGUES Anais de Arzila Tomo I Cap XC p 373129 GOacuteIS Chronica IV Cap LVII p 552 Sobre a Armada do Estreito veja-se GODINHO

ldquoA armada do estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo pp117-137130 RODRIGUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 PESSANHA Subsiacutedios p 100131 Segundo Bernardo Rodrigues os sobreviventes portugueses por pouco natildeo foram

executados Os que sobreviveram ao combate foram aprisionados e levados para Di-eppe Vasco Fernandes apesar de ferido acabou por escapar do cativeiro desfiando uma esteira e escapando por ela da torre onde se encontrava aprisionado RODRI-GUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 Ver tambeacutem PISSARRA ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Armada do Estreitordquo pp 144-145

132 SERRAtildeO Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fundaccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) p 65 OLIVEIRA Monografia p 73

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 195

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

mente o motivo econoacutemico que jaacute em 1555 estaraacute na origem da disputa pelo senhorio de Arenilha entre Jeroacutenimo de Melo fidalgo da Casa Real e alcaide-mor de Castro Marim e Luiacutes Leite frei cavaleiro da Ordem de Cristo e filho de Antoacutenio Leite o anterior alcaide133

Relativamente agrave defesa sabemos que Arenilha natildeo possuiacutea castelo torre ou qualquer fortificaccedilatildeo digna de registo ateacute 1542-1547 periacuteodo em que o alcaide Antoacutenio Leite daacute-nos conta das ldquotramqueyras e repai-rosrdquo construiacutedos sob o seu comando para a populaccedilatildeo se defender dos ataques da pirataria moura134 Ainda assim Mendonccedila estava obrigado a zelar pela defesa da vila independentemente de esta ter ou natildeo for-tificaccedilotildees para a proteger Se tivermos em consideraccedilatildeo que a sua no-meaccedilatildeo como comendador o obrigava agrave realizaccedilatildeo de um inventaacuterio ao patrimoacutenio da comenda (infelizmente desconhecido) e ao dever de fixar residecircncia na sua aacuterea de governo135 eacute muito provaacutevel que Cristoacutevatildeo se tenha detido durante algum tempo na vila da foz do Guadiana algures entre finais de 1524 aquando da sua chegada ao reino136 e Marccedilo de 1527 quando voltou a partir para o Oriente

Como anteriormente referimos os comendadores deviam fixar-se nas suas comendas para melhor procederem agrave sua defesa e melhor ren-tabilizarem as mesmas Assim sendo como eacute possiacutevel que os documen-tos que referem Cristoacutevatildeo como comendador de Arenilha sejam relati-vos aos anos em que este se encontrava na capitania de Ormuz Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo de que a principal obrigaccedilatildeo dos cavaleiros da Ordem de Cristo era a luta contra os inimigos da feacute devendo estar prontos para a guerra sempre que o Mestre os convocasse Uma vez que as situaccedilotildees de guerra eram cons-tantes nos territoacuterios de aleacutem-mar onde a presenccedila dos cavaleiros da Ordem se tornava necessaacuteria natildeo eacute de admirar que estes fossem dispen-sados da exigecircncia que os obrigava a permanecer nas suas comendas137

133 CAVACO Revisitando pp 18-20 PESSANHA Os 500 anos pp 72-73134 Carta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava

atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras e que era necessaacute-rio enviar-lhe socorro ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos p 99 PINTO ldquoIacutendice Analiacuteticordquo p 267

135 Cf SILVA A Ordem de Cristo pp 189-190136 Uma vez que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila se encontrava na Aacutefrica do Sul em Marccedilo ou Maio

de 1524 eacute de supor que a sua chegada ao reino se tenha dado ainda no mesmo ano137 SILVA A Ordem de Cristo p 191

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203196

Fernando Pessanha

Eacute nesse sentido que encontramos Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comen-dador de Arenilha em 1529 e 1530 anos em que jaacute se encontrava como capitatildeo na fortaleza de Ormuz De resto era nesta fortaleza que ainda se encontrava em 1531 ano em que piratas de Larache atacaram a vila da foz do Guadiana ldquoonde fizeacuteratildeo muito dano em navios que tomaacuteratildeo e den-tro da Barra de Aiamonte fizeacuteratildeo despejar a Arrinilha e a Montegordordquo138

7 Conclusatildeo

Com efeito muito se tem escrito (e especulado) sobre a alegada des-coberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila No entanto e indepen-dentemente dos resultados alcanccedilados pelo navegador nesta expediccedilatildeo parece indiscutiacutevel que foi generosamente recompensado aquando do seu regresso ao reino Resta-nos perceber porquecirc Jaacute Armando Cortesatildeo muito antes de Peter Trickett tinha levantado a hipoacutetese de a rentaacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz ter sido entregue a Mendonccedila como re-compensa pelos serviccedilos prestados na expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro139 Natildeo eacute conhecido poreacutem qualquer documento que ateste o ecircxito do navegador nesta expediccedilatildeo Omissatildeo que segundo investigadores como Armando Cortesatildeo Damiatildeo Peres ou Jaime Cortesatildeo teraacute sido consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo determinada pelas limitaccedilotildees de navega-ccedilatildeo estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas e com o contencioso entre Portugal e Espanha pela posse das Molucas140

O certo eacute que Mendonccedila ao regressar ao reino foi agraciado com uma das capitanias mais rentaacuteveis do impeacuterio no Oriente para aleacutem de ter recebido compensaccedilotildees econoacutemicas e aparecer referido em 1529 e 1530 como comendador da vila de Arenilha na foz do Guadiana Refira-se a este respeito que muitos capitatildees cavaleiros da Ordem de Cristo se lanccedilaram no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Poreacutem mui-to poucos chegaram a obter as tatildeo almejadas comendas141 Vemos deste

138 RODRIGUES Anais Tomo II Cap XXXV p 209139 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158140 CORTESAtildeO A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e

de D Joatildeo II Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 65-66 PERES ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na Histoacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II pp 17-21

141 Entre os afortunados que lograram obter este tipo de rendimento contam-se muito poucos D Joatildeo Pereira D Pedro de Castelo Branco Nuno Furtado Simatildeo Guedes entre outros Ver CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 216

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 197

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

modo que a atribuiccedilatildeo da comenda de Arenilha significou um motivo de grande honra e prestiacutegio para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Ora se este navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro resta-nos perceber porque motivo teraacute sido agraciado com compensaccedilotildees eco-noacutemicas a nomeaccedilatildeo para uma das mais rentaacuteveis capitanias de todo o Impeacuterio no Oriente e uma honrosa comenda da Ordem de Cristo Eacute caso para dizer que a problemaacutetica em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila con-tinua a levantar muitas duacutevidas e poucas certezas

Fontes e Bibliografia

1 Arquivos

ANTT

Chancelaria de D Afonso V Livro 2 fl30

Chancelaria de D Manuel I Livro 4 fl37 Livro 8 fl 29v Livro 9 fl4v Livro 10 fl53 Livro 13 fl60 Livro 37 fl64

Chancelaria de D Joatildeo III Livro 12 fl62

Chancelaria da Ordem de Cristo Livro13 fls375 vndash 379v

Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1

Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 15 Nordm47 Pt I maccedilo 44 Nordm45 Pt I maccedilo 45 Nordm9

Pt II maccedilo 51 Nordm26 Pt II maccedilo 53 Nordm182 Pt II maccedilo 93 Nordm150 Pt II maccedilo 109 Nordm131 Pt II maccedilo 131 Nordm226 Pt II maccedilo 134 Nordm57 Pt II maccedilo 135 Nordm45 Pt II maccedilo 135 Nordm49 Pt II maccedilo 136 Nordm102 Pt II maccedilo 141 Nordm91

Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Nordm159

Casa Real Cartoacuterio da Nobreza Livro Nordm20 - Livro da Nobreza e da per-feiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal fl XII

2 Fontes Impressas

ABREU Lisuarte de Livro de Lisuarte de Abreu (Reproduccedilatildeo do manuscrito existente na Perpont Morgan Library de Nova York) Comissatildeo Nacional para as comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portugueses Lisboa 1992

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203198

Fernando Pessanha

ARMAS Duarte de Livro das Fortalezas Arquivo Nacional da Torre do TomboInapa Lisboa 1997

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada III Na Regia Officina Typografica Lisboa MDCCLXXVII

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada IV Imprensa Nacional Casa da Moe-da Lisboa 2001

BORGES Joseacute Calvatildeo Borges Livro do Armeiro-Mor Academia Portugue-sa de HistoacuteriaEdiccedilotildees Inapa Lisboa 2000

CASCAtildeO Joatildeo ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevorardquo Uma Jornada ao Alentejo e ao Algarve A altera-ccedilatildeo das linhas de forccedila da poliacutetica nacional Livros Horizonte Lisboa 1984 pp 77-136

CASTANHEDA Fernatildeo Lopes de Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses 2 vols Lello amp Irmatildeos Editores Porto 1979

CORREIA Gaspar Lendas da Iacutendia Tomo III na Typographia da Acade-mia Real das Sciencias Lisboa 1862

Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI Centro de Estudos Histoacutericos Ultramarinos Lis-boa 1969

GAYO Felgueiras Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX Ediccedilatildeo de Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Arauacutejo Affonso Braga 1939

GUEDES Liacutevio da Costa Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) Arquivo Histoacuterico Militar Lisboa 1988

GOacuteIS Damiatildeo de Chonica do Serenissimo Senhor Rei D Manoel Lisboa 1749

JOSEacute Frei Joatildeo de Satildeo ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 21-132

RODRIGUES Bernardo Anais de Arzila 2 vols Academia das Sciecircncias de Lisboa Lisboa 1915-1919

SARRAtildeO Henrique Fernandes ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 133-174

SOUSA Frei Luiacutes de Anais de D Joatildeo III 2 vols Saacute da Costa Lisboa 1928

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 199

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

SOUSA Manuel de Faria e Asia Portvgvesa Officina de Henrique Valen-te de Oliveira impressor del Rey NS Lisboa 1666

TENREIRO Antoacutenio amp AFONSO Mestre Viagens por terra da Iacutendia a Por-tugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica Mem-Martins 1991

3 Estudos

ALBUQUERQUE Luiacutes de (dir) Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-tos Portugueses 2 vols Ciacuterculos de Leitores Lisboa 1994

ALMEIDA Fortunato de Histoacuteria de Portugal Vols III-VII Promoclube Lisboa sd

CARDOSO Antoacutenio Pereira A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila agrave Austraacutelia em 1522 Academia da Marinha Lisboa 1994

CARVALHO Andreia Martins de ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Ma-nuelinardquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia ndash Actas do Coloacutequio Internacional Joatildeo Paulo Oliveira e Costa amp Viacutetor Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 199-226

CARVALHO Andreia Martins de Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria dos Descobrimen-tos e da Expansatildeo Portuguesa (seacuteculos XV-XVIII) apresentado agrave UNL Lisboa 2006

CAVACO Hugo ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio (Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Arte no Algarve) Cacircmara Muni-cipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1987

CAVACO Hugo Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha Cacircmara Munici-pal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1995

CORREIA Joseacute Eduardo Horta Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina Faup Publicaccedilotildees Porto 1997

CORREIA Joseacute Eduardo Horta O Algarve em Patrimoacutenio Gente Singular Editora Olhatildeo 2010

CORTESAtildeO Armando ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Aus-tralaacutesia Macau Japatildeo)rdquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939

CORTESAtildeO Jaime ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal (Dir Damiatildeo Peres) Vol IV Portucalense Editora Barce-los 1932 pp 9-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203200

Fernando Pessanha

CORTESAtildeO Jaime A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e de D Joatildeo II Lisboa 1960

COSME Joatildeo ldquoOs homens de ciecircnciardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 91-97

COSME Joatildeo ldquoOs Navegadores ndash Vasco da Gamardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 145-152

COSTA Joatildeo Paulo Oliveira e ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo A Nobreza e a Expansatildeo Estudos Biograacuteficos Joatildeo Paulo Oliveira e Costa (coord) Patrimoacutenia Cascais 2000 pp 11-51

DOMINGUES Francisco Contente ldquoOs portugueses descobriram a Aus-traacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Si-motildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Univer-sidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 163-172

DOMINGUES Francisco Contente Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 Circulo dos Leitores Lisboa 2016

FARIA Antoacutenio Machado de Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI Acade-mia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 1956

FARIA Antoacutenio Machado de ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo Separata da revista Arqueologia e Histoacuteria vol VI Lisboa 1955

FARIA Miguel Figueira de ldquoFortificaccedilotildees de Portugal na fronteira da Es-tremadura espanholardquo Anais ndash Seacuterie Histoacuteria Vol II Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 1995 pp 156-187

FONSECA Luiacutes Adatildeo da ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo A Alta No-breza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 322-347

FREIRE Anselmo Braamcamp Brasotildees da Sala de Sintra 3 vols Impren-sa da Universidade de Coimbra Coimbra 1921-1930

GARCIA Joseacute Manuel Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII QuidNovi Lisboa 2009

GARCIA Joseacute Manuel O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash 1555 Nordm 8 QuidNovi Vila do Conde 2012

GODINHO Rui Landeiro ldquoA Armada do Estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (Seacuteculos XV-XIX) Ediccedilotildees Cul-turais da Marinha Lisboa 2003 pp 117-137

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 26: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203190

Fernando Pessanha

A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521)109 Poreacutem o documento publicado por Hugo Cavaco natildeo deixa margem para duacutevidas

ldquoNo Bispado do Algarve haacute somente duas Commendas da Ordem (de

Cristo) que satildeo das antigas e as seguintes

A Commenda e Alcaideria-moacuter de Castro Marim avaliou-se em quatro-

centos e cinquenta mil reacuteis no anno de 1608

A Commenda da Alcaideria-mograver de Santo Antonio de Arenilha que estaacute

junto a Castro Marim em cento e trinta mil reacuteis no anno de 1608

No Bispado do Algarve natildeo haacute nenhuma Commenda desta Ordem mais

que as duas velhas que valem quinhentos e oitenta mil reacuteis como se vecirc

da somma adianterdquo110

Aliaacutes soacute o facto de Arenilha ser comenda da Ordem de Cristo poderaacute explicar que o senhorio da vila tenha sido atribuiacutedo exclusivamente a cavaleiros da miliacutecia ao longo de toda a centuacuteria quinhentista111

Naturalmente que estas comendas implicavam desde logo a existecircn-cia de comendadores sobre os quais recaiacutea o senhorio das ditas vilas o que era compreendido como motivo de honra e de prestiacutegio social numa sociedade ainda bastante influenciada pelas antigas tradiccedilotildees medievo-feudais Comendas refira-se que compreendiam o direito agrave administra-ccedilatildeo da localidade e conferiam uma renda para sustentaccedilatildeo do comenda-dor beneficiaacuterio configurando um recurso para os encargos da proacutepria comenda No entanto a atribuiccedilatildeo de uma comenda representava um benefiacutecio atribuiacutedo a cavaleiros professos nas ordens militares como re-compensa por serviccedilos prestados Quer isto dizer que Cristoacutevatildeo de Men-donccedila soacute poderia ser agraciado com a comenda de Arenilha caso tivesse sido investido na Ordem de Cristo Foi nesse sentido que procuraacutemos determinar se este navegador professou nesta Ordem Militar

Com efeito a dissertaccedilatildeo Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) de Joatildeo Maria Falcatildeo Pestana de Vascon-celos natildeo faz qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila enquanto cavaleiro da Ordem de Cristo Refere no entanto o seu avocirc Afonso Fur-

109 SILVA A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta110 Documento VIII BNLMicroformas F5040 Documento publicado por CAVACO Revisi-

tando p 52111 Cf PESSANHA Os 500 anos pp 57-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 191

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

tado de Mendonccedila comendador de Cardiga da Ordem de Cristo112 a sua irmatilde Margarida de Mendonccedila enquanto mulher de um comendador da mesma Ordem e o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo que recebeu o haacutebito da miliacutecia em 16 de Abril de 1514113 Ain-da que a referida dissertaccedilatildeo natildeo faccedila qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo enquanto membro desta Ordem vem demonstrar a ligaccedilatildeo de alguns dos seus familiares agrave mesma natildeo soacute na qualidade de cavaleiros como tambeacutem de comendadores

Poreacutem Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social de Teresa Lacerda assim como a jaacute referida tese A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) de Isabel L Morgado de Sousa e Silva jaacute identificam efectivamente Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como frei cavaleiro desta Ordem114 De acordo com a obra consultada Cavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVI Cristoacutevatildeo de Mendonccedila recebeu efectivamente o haacutebito da Ordem de Cristo em 16 de Abril de 1514115 exactamente na mesma data em que o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila tambeacutem foi in-vestido116 De resto o facto de Cristoacutevatildeo aparecer referido como mem-bro da miliacutecia numa provisatildeo em que D Joatildeo III manda o almoxarife de Aveiro pagar ldquoa Cristoacutevatildeo de Mendonccedila sua tenccedila deste ano 50000 reacuteis assentada na alfacircndega de Lisboa com o haacutebito de Cristordquo117 vem dissipar qualquer duacutevida que ainda subsistisse

Note-se que identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como cavaleiro da Ordem de Cristo natildeo pudemos deixar de reparar no silecircncio dos cronistas no momento de identificar os intervenientes no processo ex-pansionista com as suas respectivas filiaccedilotildees nas Ordens Militares De facto quer Joatildeo de Barros quer os cronistas que lhe sucederam natildeo fazem qualquer referecircncia agrave filiaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo em qualquer Ordem tal como de acordo com o que constataacutemos raramente o fazem em relaccedilatildeo a outros cavaleiros Esta evidecircncia pode parecer ainda mais estranha se tivermos em consideraccedilatildeo o forte envolvimento da Ordem

112 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Vol I p 377 FARIA Livro de Linhagens p 275

113 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares p 392 114 LACERDA Os Capitatildees das Armadas pp 120 e 228 SILVA A Ordem de Cristo p 336

SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma perspectiva de estudordquo apecircndice

115 FARIA ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo p 21116 FARIA ldquoCavaleirosrdquo p 21 Ver tambeacutem SILVA A Ordem de Cristo p 330117 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203192

Fernando Pessanha

de Cristo na Histoacuteria da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses Ordem Militar sublinhe-se que teve como governadores figuras in-contornaacuteveis da famiacutelia real como o infante D Henrique o infante D Fernando o rei D Manuel ou o rei D Joatildeo III118 Poreacutem haacute que ter em consideraccedilatildeo que documentos como Memoacuteria das Armadas ou o Livro de Lisuarte de Abreu natildeo satildeo fontes sobre qualquer uma das Ordens razatildeo pela qual se torna compreensiacutevel a ausecircncia de referecircncias mais completas relativamente aos intervenientes no processo de expansatildeo Aliaacutes a intenccedilatildeo subjacente agrave produccedilatildeo de obras como Histoacuteria do Des-cobrimento e da Conquista da Iacutendia natildeo passa por apresentar informa-ccedilatildeo detalhada sobre as individualidades que participaram no processo expansionista mas antes destacar o protagonismo reacutegio em todo este processo119

Por fim natildeo se verificando homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a cronologia abordada coincidindo as datas que o referem como comendador de Arenilha e identificado este navegador como cavalei-ro da Ordem de Cristo resta-nos perceber por que motivo lhe teraacute sido entregue a comenda desta vila na foz do Guadiana Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo que a fundaccedilatildeo de Are-nilha prende-se com a afirmaccedilatildeo da soberania poliacutetica e administra-tiva de D Manuel sobre um territoacuterio frequentado por castelhanos Eacute exactamente nesse contexto que em 1421 Castro Marim justificava o pedido de isenccedilatildeo de alguns encargos pelos ldquoconstantes trabalhos que os moradores tinham com os castelhanos que insistiam em vir pescar ao reinordquo120 Quer isto dizer que os castelhanos vinham pescar para as margens portuguesas natildeo pagando os devidos impostos agrave Coroa Aliaacutes a existecircncia do topoacutenimo de origem castelhana Arenilha121 ainda antes da elaboraccedilatildeo da Carta de Privileacutegio que manda proceder agrave construccedilatildeo

118 FONSECA ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo pp 321-347 Ver tambeacutem SILVA A Or-dem de Cristo pp 43-110

119 Cf SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristordquo pp 349-361120 VENTURA ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo p 608

ANTT Chancelaria de D Afonso V liv 2 fl30121 De acordo com o dicionaacuterio da Real Academia Espantildeola ldquoarenillardquo apresenta-se como

sinoacutenimo de ldquoarena menudardquo Ver Dicionario de la Real Academia Espantildeola Disponiacutevel em httplemaraeesdraeval=arenilla ndash Consultado dia 10 de Setembro de 2013 Note-se que quando em 1775 se pretendeu baptizar a nova vila iluminista com o nome de Vila Real de Santo Antoacutenio de Arenilha prontamente o Marquecircs de Pombal proibiu a utilizaccedilatildeo do nome ldquoArenilhardquo alegando que ldquoeacute uma palavra hespanhola e Villa Real uma povoaccedilatildeo portuguesardquo Ver OLIVEIRA Monografia p 71

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 193

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

da vila122 indica a ocupaccedilatildeo daquele areal na margem portuguesa da foz do Guadiana por populaccedilotildees de pescadores de origem castelhana Dadas as circunstacircncias seria do interesse estrateacutegico do monarca que esta comenda recaiacutesse sobre algueacutem experimentado na guarda da fronteira e que fizesse cumprir o pagamento dos devidos direitos aduaneiros Re-corde-se que Arenilha para aleacutem de comenda da Ordem de Cristo era uma vila de fronteira situada na margem portuguesa do Guadiana tal como o era a vila de Mouratildeo de onde Cristoacutevatildeo de Mendonccedila era natu-ral Como anteriormente referimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Men-donccedila o fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo que foi nomeado em 1476 alcaide-mor de Mouratildeo123 uma vila fortificada do Alentejo que guarda-va a fronteira portuguesa frente a Espanha O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas mostra-nos o castelo de Mouratildeo onde Cristoacutevatildeo teraacute crescido localizado no cimo de uma colina sobranceiro ao Guadiana124 Quer isto dizer que o ceacutelebre navegador era descendente de uma famiacutelia experimentada na guarda da fronteira face ao reino vizinho e familia-rizado com as actividades militares tributaacuterias e administrativas que lhe eram inerentes125 Assim sendo esta condiccedilatildeo de fronteiro a juntar ao facto de Cristoacutevatildeo ser cavaleiro da Ordem de Cristo teraacute resultado altamente pertinente no momento em que D Joatildeo III decidiu atribuir a comenda de Arenilha a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como recompensa pelos serviccedilos prestados

Por fim mas natildeo menos relevante teraacute sido a experiecircncia naval e militar adquirida por Mendonccedila nos mares do Oriente e direccionada para a foz do Guadiana sistematicamente ameaccedilada pelos ataques da pi-rataria magrebina126 Recorde-se que Mendonccedila no decurso das suas na-vegaccedilotildees na australaacutesia viu-se na necessidade de defender posiccedilotildees por-

122 O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas produzido por volta de 1509 jaacute indicava o topoacutenimo que veio a ser oficializado com a Carta de Privileacutegio de 12 de Fevereiro de 1513 Ver ARMAS O Livro das Fortalezas fl 1

123 FREIRE Brasotildees Vol III p 173124 ANTT Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Livro das Fortalezas si-

tuadas no Extremo de Portugal e Castela por Duarte de Armas escudeiro da Casa do Rei D Manuel I Nordm 159 fls 13-14 ARMAS O Livro das Fortalezas fls 13-14

125 Refira-se que foi durante o periacuteodo em que o pai de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila deteve a alcaidaria de Mouratildeo que o rei D Manuel obteve dos povos nas cortes de Lisboa de 1502 uma vultosa contribuiccedilatildeo que fez com que o castelo da vila fosse intervenciona-do por dois importantes arquitectos reacutegios os irmatildeos Francisco e Diogo de Arruda os mestres das obras reacutegias da comarca de entre o Tejo e o Guadiana Ver FARIA ldquoForti-ficaccedilotildees de Portugal na fronteira da Estremadura espanholardquo p 161

126 Sobre este assunto veja-se PESSANHA ldquoAtaques da piratariardquo pp 63-94

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203194

Fernando Pessanha

tuguesas dando combate aos adversaacuterios Recordemos a este respeito o ataque movido por Melique Ladil agrave fortaleza de Paceacutem entatildeo guardada por Mendonccedila e a maneira como o ldquomourordquo foi desbaratado e despo-jado das treze embarcaccedilotildees usadas no assalto127 Dadas as circunstacircnci-as seria um desperdiacutecio natildeo se aproveitar a experiecircncia deste capitatildeo numa altura em que se verificava um incremento da actividade piraacutetica nas costas do Algarve Esta actividade da pirataria na foz do Guadiana eacute aliaacutes referida por Bernardo Rodrigues em vaacuterias ocasiotildees nomeada-mente aquando da estadia da condessa de Redondo na vila de Arenilha em 1522128 ou quando Vasco Fernandes Ceacutesar - antigo adaiacutel de Azamor e capitatildeo da Armada do Estreito129 - foi incumbido embarcar o conde do Redondo D Joatildeo Coutinho na vila de Arenilha e escoltaacute-lo a Arzila130 Refira-se que a caminho da foz do Guadiana o navio de Vasco Fernan-des Ceacutesar foi atacado por duas naus tendo-se seguido um combate naval que resultou na explosatildeo de parte da alcaacuteccedilova atirando cinco homens ao mar entre os quais Vasco Fernandes que ficou gravemente ferido131

Vemos deste modo que a entrega da comenda de Arenilha a um in-diviacuteduo como Cristoacutevatildeo de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo descendente de uma famiacutelia de fronteiros e navegador experimentado no combate naval natildeo soacute era altamente pertinente como simboacutelica e manifestamente estrateacutegica para a defesa do extremo sudeste algarvio e da foz do Guadiana onde Mendonccedila deveria actuar com autoridade se-nhorial usufruindo dos seus bens e rendimentos E no caso da comenda de Arenilha Seriam generosos os seus rendimentos Sem duacutevida Se assim natildeo fosse o rei D Duarte natildeo teria doado ao infante D Henrique ainda em 25 de Setembro de 1433 a ldquodiacutesima nova de todo o pescado que pescarem quaisquer pessoas no mar do Monte Gordordquo132 Aliaacutes seraacute certa-

127 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III pp548-549128 RODRIGUES Anais de Arzila Tomo I Cap XC p 373129 GOacuteIS Chronica IV Cap LVII p 552 Sobre a Armada do Estreito veja-se GODINHO

ldquoA armada do estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo pp117-137130 RODRIGUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 PESSANHA Subsiacutedios p 100131 Segundo Bernardo Rodrigues os sobreviventes portugueses por pouco natildeo foram

executados Os que sobreviveram ao combate foram aprisionados e levados para Di-eppe Vasco Fernandes apesar de ferido acabou por escapar do cativeiro desfiando uma esteira e escapando por ela da torre onde se encontrava aprisionado RODRI-GUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 Ver tambeacutem PISSARRA ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Armada do Estreitordquo pp 144-145

132 SERRAtildeO Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fundaccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) p 65 OLIVEIRA Monografia p 73

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 195

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

mente o motivo econoacutemico que jaacute em 1555 estaraacute na origem da disputa pelo senhorio de Arenilha entre Jeroacutenimo de Melo fidalgo da Casa Real e alcaide-mor de Castro Marim e Luiacutes Leite frei cavaleiro da Ordem de Cristo e filho de Antoacutenio Leite o anterior alcaide133

Relativamente agrave defesa sabemos que Arenilha natildeo possuiacutea castelo torre ou qualquer fortificaccedilatildeo digna de registo ateacute 1542-1547 periacuteodo em que o alcaide Antoacutenio Leite daacute-nos conta das ldquotramqueyras e repai-rosrdquo construiacutedos sob o seu comando para a populaccedilatildeo se defender dos ataques da pirataria moura134 Ainda assim Mendonccedila estava obrigado a zelar pela defesa da vila independentemente de esta ter ou natildeo for-tificaccedilotildees para a proteger Se tivermos em consideraccedilatildeo que a sua no-meaccedilatildeo como comendador o obrigava agrave realizaccedilatildeo de um inventaacuterio ao patrimoacutenio da comenda (infelizmente desconhecido) e ao dever de fixar residecircncia na sua aacuterea de governo135 eacute muito provaacutevel que Cristoacutevatildeo se tenha detido durante algum tempo na vila da foz do Guadiana algures entre finais de 1524 aquando da sua chegada ao reino136 e Marccedilo de 1527 quando voltou a partir para o Oriente

Como anteriormente referimos os comendadores deviam fixar-se nas suas comendas para melhor procederem agrave sua defesa e melhor ren-tabilizarem as mesmas Assim sendo como eacute possiacutevel que os documen-tos que referem Cristoacutevatildeo como comendador de Arenilha sejam relati-vos aos anos em que este se encontrava na capitania de Ormuz Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo de que a principal obrigaccedilatildeo dos cavaleiros da Ordem de Cristo era a luta contra os inimigos da feacute devendo estar prontos para a guerra sempre que o Mestre os convocasse Uma vez que as situaccedilotildees de guerra eram cons-tantes nos territoacuterios de aleacutem-mar onde a presenccedila dos cavaleiros da Ordem se tornava necessaacuteria natildeo eacute de admirar que estes fossem dispen-sados da exigecircncia que os obrigava a permanecer nas suas comendas137

133 CAVACO Revisitando pp 18-20 PESSANHA Os 500 anos pp 72-73134 Carta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava

atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras e que era necessaacute-rio enviar-lhe socorro ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos p 99 PINTO ldquoIacutendice Analiacuteticordquo p 267

135 Cf SILVA A Ordem de Cristo pp 189-190136 Uma vez que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila se encontrava na Aacutefrica do Sul em Marccedilo ou Maio

de 1524 eacute de supor que a sua chegada ao reino se tenha dado ainda no mesmo ano137 SILVA A Ordem de Cristo p 191

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203196

Fernando Pessanha

Eacute nesse sentido que encontramos Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comen-dador de Arenilha em 1529 e 1530 anos em que jaacute se encontrava como capitatildeo na fortaleza de Ormuz De resto era nesta fortaleza que ainda se encontrava em 1531 ano em que piratas de Larache atacaram a vila da foz do Guadiana ldquoonde fizeacuteratildeo muito dano em navios que tomaacuteratildeo e den-tro da Barra de Aiamonte fizeacuteratildeo despejar a Arrinilha e a Montegordordquo138

7 Conclusatildeo

Com efeito muito se tem escrito (e especulado) sobre a alegada des-coberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila No entanto e indepen-dentemente dos resultados alcanccedilados pelo navegador nesta expediccedilatildeo parece indiscutiacutevel que foi generosamente recompensado aquando do seu regresso ao reino Resta-nos perceber porquecirc Jaacute Armando Cortesatildeo muito antes de Peter Trickett tinha levantado a hipoacutetese de a rentaacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz ter sido entregue a Mendonccedila como re-compensa pelos serviccedilos prestados na expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro139 Natildeo eacute conhecido poreacutem qualquer documento que ateste o ecircxito do navegador nesta expediccedilatildeo Omissatildeo que segundo investigadores como Armando Cortesatildeo Damiatildeo Peres ou Jaime Cortesatildeo teraacute sido consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo determinada pelas limitaccedilotildees de navega-ccedilatildeo estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas e com o contencioso entre Portugal e Espanha pela posse das Molucas140

O certo eacute que Mendonccedila ao regressar ao reino foi agraciado com uma das capitanias mais rentaacuteveis do impeacuterio no Oriente para aleacutem de ter recebido compensaccedilotildees econoacutemicas e aparecer referido em 1529 e 1530 como comendador da vila de Arenilha na foz do Guadiana Refira-se a este respeito que muitos capitatildees cavaleiros da Ordem de Cristo se lanccedilaram no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Poreacutem mui-to poucos chegaram a obter as tatildeo almejadas comendas141 Vemos deste

138 RODRIGUES Anais Tomo II Cap XXXV p 209139 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158140 CORTESAtildeO A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e

de D Joatildeo II Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 65-66 PERES ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na Histoacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II pp 17-21

141 Entre os afortunados que lograram obter este tipo de rendimento contam-se muito poucos D Joatildeo Pereira D Pedro de Castelo Branco Nuno Furtado Simatildeo Guedes entre outros Ver CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 216

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 197

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

modo que a atribuiccedilatildeo da comenda de Arenilha significou um motivo de grande honra e prestiacutegio para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Ora se este navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro resta-nos perceber porque motivo teraacute sido agraciado com compensaccedilotildees eco-noacutemicas a nomeaccedilatildeo para uma das mais rentaacuteveis capitanias de todo o Impeacuterio no Oriente e uma honrosa comenda da Ordem de Cristo Eacute caso para dizer que a problemaacutetica em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila con-tinua a levantar muitas duacutevidas e poucas certezas

Fontes e Bibliografia

1 Arquivos

ANTT

Chancelaria de D Afonso V Livro 2 fl30

Chancelaria de D Manuel I Livro 4 fl37 Livro 8 fl 29v Livro 9 fl4v Livro 10 fl53 Livro 13 fl60 Livro 37 fl64

Chancelaria de D Joatildeo III Livro 12 fl62

Chancelaria da Ordem de Cristo Livro13 fls375 vndash 379v

Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1

Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 15 Nordm47 Pt I maccedilo 44 Nordm45 Pt I maccedilo 45 Nordm9

Pt II maccedilo 51 Nordm26 Pt II maccedilo 53 Nordm182 Pt II maccedilo 93 Nordm150 Pt II maccedilo 109 Nordm131 Pt II maccedilo 131 Nordm226 Pt II maccedilo 134 Nordm57 Pt II maccedilo 135 Nordm45 Pt II maccedilo 135 Nordm49 Pt II maccedilo 136 Nordm102 Pt II maccedilo 141 Nordm91

Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Nordm159

Casa Real Cartoacuterio da Nobreza Livro Nordm20 - Livro da Nobreza e da per-feiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal fl XII

2 Fontes Impressas

ABREU Lisuarte de Livro de Lisuarte de Abreu (Reproduccedilatildeo do manuscrito existente na Perpont Morgan Library de Nova York) Comissatildeo Nacional para as comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portugueses Lisboa 1992

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203198

Fernando Pessanha

ARMAS Duarte de Livro das Fortalezas Arquivo Nacional da Torre do TomboInapa Lisboa 1997

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada III Na Regia Officina Typografica Lisboa MDCCLXXVII

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada IV Imprensa Nacional Casa da Moe-da Lisboa 2001

BORGES Joseacute Calvatildeo Borges Livro do Armeiro-Mor Academia Portugue-sa de HistoacuteriaEdiccedilotildees Inapa Lisboa 2000

CASCAtildeO Joatildeo ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevorardquo Uma Jornada ao Alentejo e ao Algarve A altera-ccedilatildeo das linhas de forccedila da poliacutetica nacional Livros Horizonte Lisboa 1984 pp 77-136

CASTANHEDA Fernatildeo Lopes de Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses 2 vols Lello amp Irmatildeos Editores Porto 1979

CORREIA Gaspar Lendas da Iacutendia Tomo III na Typographia da Acade-mia Real das Sciencias Lisboa 1862

Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI Centro de Estudos Histoacutericos Ultramarinos Lis-boa 1969

GAYO Felgueiras Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX Ediccedilatildeo de Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Arauacutejo Affonso Braga 1939

GUEDES Liacutevio da Costa Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) Arquivo Histoacuterico Militar Lisboa 1988

GOacuteIS Damiatildeo de Chonica do Serenissimo Senhor Rei D Manoel Lisboa 1749

JOSEacute Frei Joatildeo de Satildeo ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 21-132

RODRIGUES Bernardo Anais de Arzila 2 vols Academia das Sciecircncias de Lisboa Lisboa 1915-1919

SARRAtildeO Henrique Fernandes ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 133-174

SOUSA Frei Luiacutes de Anais de D Joatildeo III 2 vols Saacute da Costa Lisboa 1928

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 199

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

SOUSA Manuel de Faria e Asia Portvgvesa Officina de Henrique Valen-te de Oliveira impressor del Rey NS Lisboa 1666

TENREIRO Antoacutenio amp AFONSO Mestre Viagens por terra da Iacutendia a Por-tugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica Mem-Martins 1991

3 Estudos

ALBUQUERQUE Luiacutes de (dir) Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-tos Portugueses 2 vols Ciacuterculos de Leitores Lisboa 1994

ALMEIDA Fortunato de Histoacuteria de Portugal Vols III-VII Promoclube Lisboa sd

CARDOSO Antoacutenio Pereira A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila agrave Austraacutelia em 1522 Academia da Marinha Lisboa 1994

CARVALHO Andreia Martins de ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Ma-nuelinardquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia ndash Actas do Coloacutequio Internacional Joatildeo Paulo Oliveira e Costa amp Viacutetor Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 199-226

CARVALHO Andreia Martins de Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria dos Descobrimen-tos e da Expansatildeo Portuguesa (seacuteculos XV-XVIII) apresentado agrave UNL Lisboa 2006

CAVACO Hugo ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio (Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Arte no Algarve) Cacircmara Muni-cipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1987

CAVACO Hugo Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha Cacircmara Munici-pal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1995

CORREIA Joseacute Eduardo Horta Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina Faup Publicaccedilotildees Porto 1997

CORREIA Joseacute Eduardo Horta O Algarve em Patrimoacutenio Gente Singular Editora Olhatildeo 2010

CORTESAtildeO Armando ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Aus-tralaacutesia Macau Japatildeo)rdquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939

CORTESAtildeO Jaime ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal (Dir Damiatildeo Peres) Vol IV Portucalense Editora Barce-los 1932 pp 9-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203200

Fernando Pessanha

CORTESAtildeO Jaime A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e de D Joatildeo II Lisboa 1960

COSME Joatildeo ldquoOs homens de ciecircnciardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 91-97

COSME Joatildeo ldquoOs Navegadores ndash Vasco da Gamardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 145-152

COSTA Joatildeo Paulo Oliveira e ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo A Nobreza e a Expansatildeo Estudos Biograacuteficos Joatildeo Paulo Oliveira e Costa (coord) Patrimoacutenia Cascais 2000 pp 11-51

DOMINGUES Francisco Contente ldquoOs portugueses descobriram a Aus-traacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Si-motildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Univer-sidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 163-172

DOMINGUES Francisco Contente Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 Circulo dos Leitores Lisboa 2016

FARIA Antoacutenio Machado de Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI Acade-mia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 1956

FARIA Antoacutenio Machado de ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo Separata da revista Arqueologia e Histoacuteria vol VI Lisboa 1955

FARIA Miguel Figueira de ldquoFortificaccedilotildees de Portugal na fronteira da Es-tremadura espanholardquo Anais ndash Seacuterie Histoacuteria Vol II Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 1995 pp 156-187

FONSECA Luiacutes Adatildeo da ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo A Alta No-breza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 322-347

FREIRE Anselmo Braamcamp Brasotildees da Sala de Sintra 3 vols Impren-sa da Universidade de Coimbra Coimbra 1921-1930

GARCIA Joseacute Manuel Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII QuidNovi Lisboa 2009

GARCIA Joseacute Manuel O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash 1555 Nordm 8 QuidNovi Vila do Conde 2012

GODINHO Rui Landeiro ldquoA Armada do Estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (Seacuteculos XV-XIX) Ediccedilotildees Cul-turais da Marinha Lisboa 2003 pp 117-137

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 27: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 191

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

tado de Mendonccedila comendador de Cardiga da Ordem de Cristo112 a sua irmatilde Margarida de Mendonccedila enquanto mulher de um comendador da mesma Ordem e o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo que recebeu o haacutebito da miliacutecia em 16 de Abril de 1514113 Ain-da que a referida dissertaccedilatildeo natildeo faccedila qualquer referecircncia a Cristoacutevatildeo enquanto membro desta Ordem vem demonstrar a ligaccedilatildeo de alguns dos seus familiares agrave mesma natildeo soacute na qualidade de cavaleiros como tambeacutem de comendadores

Poreacutem Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social de Teresa Lacerda assim como a jaacute referida tese A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) de Isabel L Morgado de Sousa e Silva jaacute identificam efectivamente Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como frei cavaleiro desta Ordem114 De acordo com a obra consultada Cavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVI Cristoacutevatildeo de Mendonccedila recebeu efectivamente o haacutebito da Ordem de Cristo em 16 de Abril de 1514115 exactamente na mesma data em que o seu irmatildeo Antoacutenio de Mendonccedila tambeacutem foi in-vestido116 De resto o facto de Cristoacutevatildeo aparecer referido como mem-bro da miliacutecia numa provisatildeo em que D Joatildeo III manda o almoxarife de Aveiro pagar ldquoa Cristoacutevatildeo de Mendonccedila sua tenccedila deste ano 50000 reacuteis assentada na alfacircndega de Lisboa com o haacutebito de Cristordquo117 vem dissipar qualquer duacutevida que ainda subsistisse

Note-se que identificado Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como cavaleiro da Ordem de Cristo natildeo pudemos deixar de reparar no silecircncio dos cronistas no momento de identificar os intervenientes no processo ex-pansionista com as suas respectivas filiaccedilotildees nas Ordens Militares De facto quer Joatildeo de Barros quer os cronistas que lhe sucederam natildeo fazem qualquer referecircncia agrave filiaccedilatildeo de Cristoacutevatildeo em qualquer Ordem tal como de acordo com o que constataacutemos raramente o fazem em relaccedilatildeo a outros cavaleiros Esta evidecircncia pode parecer ainda mais estranha se tivermos em consideraccedilatildeo o forte envolvimento da Ordem

112 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Vol I p 377 FARIA Livro de Linhagens p 275

113 VASCONCELOS Nobreza e Ordens Militares p 392 114 LACERDA Os Capitatildees das Armadas pp 120 e 228 SILVA A Ordem de Cristo p 336

SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma perspectiva de estudordquo apecircndice

115 FARIA ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo p 21116 FARIA ldquoCavaleirosrdquo p 21 Ver tambeacutem SILVA A Ordem de Cristo p 330117 ANTT Corpo Cronoloacutegico Pt II maccedilo 134 Nordm57

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203192

Fernando Pessanha

de Cristo na Histoacuteria da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses Ordem Militar sublinhe-se que teve como governadores figuras in-contornaacuteveis da famiacutelia real como o infante D Henrique o infante D Fernando o rei D Manuel ou o rei D Joatildeo III118 Poreacutem haacute que ter em consideraccedilatildeo que documentos como Memoacuteria das Armadas ou o Livro de Lisuarte de Abreu natildeo satildeo fontes sobre qualquer uma das Ordens razatildeo pela qual se torna compreensiacutevel a ausecircncia de referecircncias mais completas relativamente aos intervenientes no processo de expansatildeo Aliaacutes a intenccedilatildeo subjacente agrave produccedilatildeo de obras como Histoacuteria do Des-cobrimento e da Conquista da Iacutendia natildeo passa por apresentar informa-ccedilatildeo detalhada sobre as individualidades que participaram no processo expansionista mas antes destacar o protagonismo reacutegio em todo este processo119

Por fim natildeo se verificando homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a cronologia abordada coincidindo as datas que o referem como comendador de Arenilha e identificado este navegador como cavalei-ro da Ordem de Cristo resta-nos perceber por que motivo lhe teraacute sido entregue a comenda desta vila na foz do Guadiana Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo que a fundaccedilatildeo de Are-nilha prende-se com a afirmaccedilatildeo da soberania poliacutetica e administra-tiva de D Manuel sobre um territoacuterio frequentado por castelhanos Eacute exactamente nesse contexto que em 1421 Castro Marim justificava o pedido de isenccedilatildeo de alguns encargos pelos ldquoconstantes trabalhos que os moradores tinham com os castelhanos que insistiam em vir pescar ao reinordquo120 Quer isto dizer que os castelhanos vinham pescar para as margens portuguesas natildeo pagando os devidos impostos agrave Coroa Aliaacutes a existecircncia do topoacutenimo de origem castelhana Arenilha121 ainda antes da elaboraccedilatildeo da Carta de Privileacutegio que manda proceder agrave construccedilatildeo

118 FONSECA ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo pp 321-347 Ver tambeacutem SILVA A Or-dem de Cristo pp 43-110

119 Cf SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristordquo pp 349-361120 VENTURA ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo p 608

ANTT Chancelaria de D Afonso V liv 2 fl30121 De acordo com o dicionaacuterio da Real Academia Espantildeola ldquoarenillardquo apresenta-se como

sinoacutenimo de ldquoarena menudardquo Ver Dicionario de la Real Academia Espantildeola Disponiacutevel em httplemaraeesdraeval=arenilla ndash Consultado dia 10 de Setembro de 2013 Note-se que quando em 1775 se pretendeu baptizar a nova vila iluminista com o nome de Vila Real de Santo Antoacutenio de Arenilha prontamente o Marquecircs de Pombal proibiu a utilizaccedilatildeo do nome ldquoArenilhardquo alegando que ldquoeacute uma palavra hespanhola e Villa Real uma povoaccedilatildeo portuguesardquo Ver OLIVEIRA Monografia p 71

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 193

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

da vila122 indica a ocupaccedilatildeo daquele areal na margem portuguesa da foz do Guadiana por populaccedilotildees de pescadores de origem castelhana Dadas as circunstacircncias seria do interesse estrateacutegico do monarca que esta comenda recaiacutesse sobre algueacutem experimentado na guarda da fronteira e que fizesse cumprir o pagamento dos devidos direitos aduaneiros Re-corde-se que Arenilha para aleacutem de comenda da Ordem de Cristo era uma vila de fronteira situada na margem portuguesa do Guadiana tal como o era a vila de Mouratildeo de onde Cristoacutevatildeo de Mendonccedila era natu-ral Como anteriormente referimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Men-donccedila o fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo que foi nomeado em 1476 alcaide-mor de Mouratildeo123 uma vila fortificada do Alentejo que guarda-va a fronteira portuguesa frente a Espanha O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas mostra-nos o castelo de Mouratildeo onde Cristoacutevatildeo teraacute crescido localizado no cimo de uma colina sobranceiro ao Guadiana124 Quer isto dizer que o ceacutelebre navegador era descendente de uma famiacutelia experimentada na guarda da fronteira face ao reino vizinho e familia-rizado com as actividades militares tributaacuterias e administrativas que lhe eram inerentes125 Assim sendo esta condiccedilatildeo de fronteiro a juntar ao facto de Cristoacutevatildeo ser cavaleiro da Ordem de Cristo teraacute resultado altamente pertinente no momento em que D Joatildeo III decidiu atribuir a comenda de Arenilha a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como recompensa pelos serviccedilos prestados

Por fim mas natildeo menos relevante teraacute sido a experiecircncia naval e militar adquirida por Mendonccedila nos mares do Oriente e direccionada para a foz do Guadiana sistematicamente ameaccedilada pelos ataques da pi-rataria magrebina126 Recorde-se que Mendonccedila no decurso das suas na-vegaccedilotildees na australaacutesia viu-se na necessidade de defender posiccedilotildees por-

122 O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas produzido por volta de 1509 jaacute indicava o topoacutenimo que veio a ser oficializado com a Carta de Privileacutegio de 12 de Fevereiro de 1513 Ver ARMAS O Livro das Fortalezas fl 1

123 FREIRE Brasotildees Vol III p 173124 ANTT Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Livro das Fortalezas si-

tuadas no Extremo de Portugal e Castela por Duarte de Armas escudeiro da Casa do Rei D Manuel I Nordm 159 fls 13-14 ARMAS O Livro das Fortalezas fls 13-14

125 Refira-se que foi durante o periacuteodo em que o pai de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila deteve a alcaidaria de Mouratildeo que o rei D Manuel obteve dos povos nas cortes de Lisboa de 1502 uma vultosa contribuiccedilatildeo que fez com que o castelo da vila fosse intervenciona-do por dois importantes arquitectos reacutegios os irmatildeos Francisco e Diogo de Arruda os mestres das obras reacutegias da comarca de entre o Tejo e o Guadiana Ver FARIA ldquoForti-ficaccedilotildees de Portugal na fronteira da Estremadura espanholardquo p 161

126 Sobre este assunto veja-se PESSANHA ldquoAtaques da piratariardquo pp 63-94

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203194

Fernando Pessanha

tuguesas dando combate aos adversaacuterios Recordemos a este respeito o ataque movido por Melique Ladil agrave fortaleza de Paceacutem entatildeo guardada por Mendonccedila e a maneira como o ldquomourordquo foi desbaratado e despo-jado das treze embarcaccedilotildees usadas no assalto127 Dadas as circunstacircnci-as seria um desperdiacutecio natildeo se aproveitar a experiecircncia deste capitatildeo numa altura em que se verificava um incremento da actividade piraacutetica nas costas do Algarve Esta actividade da pirataria na foz do Guadiana eacute aliaacutes referida por Bernardo Rodrigues em vaacuterias ocasiotildees nomeada-mente aquando da estadia da condessa de Redondo na vila de Arenilha em 1522128 ou quando Vasco Fernandes Ceacutesar - antigo adaiacutel de Azamor e capitatildeo da Armada do Estreito129 - foi incumbido embarcar o conde do Redondo D Joatildeo Coutinho na vila de Arenilha e escoltaacute-lo a Arzila130 Refira-se que a caminho da foz do Guadiana o navio de Vasco Fernan-des Ceacutesar foi atacado por duas naus tendo-se seguido um combate naval que resultou na explosatildeo de parte da alcaacuteccedilova atirando cinco homens ao mar entre os quais Vasco Fernandes que ficou gravemente ferido131

Vemos deste modo que a entrega da comenda de Arenilha a um in-diviacuteduo como Cristoacutevatildeo de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo descendente de uma famiacutelia de fronteiros e navegador experimentado no combate naval natildeo soacute era altamente pertinente como simboacutelica e manifestamente estrateacutegica para a defesa do extremo sudeste algarvio e da foz do Guadiana onde Mendonccedila deveria actuar com autoridade se-nhorial usufruindo dos seus bens e rendimentos E no caso da comenda de Arenilha Seriam generosos os seus rendimentos Sem duacutevida Se assim natildeo fosse o rei D Duarte natildeo teria doado ao infante D Henrique ainda em 25 de Setembro de 1433 a ldquodiacutesima nova de todo o pescado que pescarem quaisquer pessoas no mar do Monte Gordordquo132 Aliaacutes seraacute certa-

127 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III pp548-549128 RODRIGUES Anais de Arzila Tomo I Cap XC p 373129 GOacuteIS Chronica IV Cap LVII p 552 Sobre a Armada do Estreito veja-se GODINHO

ldquoA armada do estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo pp117-137130 RODRIGUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 PESSANHA Subsiacutedios p 100131 Segundo Bernardo Rodrigues os sobreviventes portugueses por pouco natildeo foram

executados Os que sobreviveram ao combate foram aprisionados e levados para Di-eppe Vasco Fernandes apesar de ferido acabou por escapar do cativeiro desfiando uma esteira e escapando por ela da torre onde se encontrava aprisionado RODRI-GUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 Ver tambeacutem PISSARRA ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Armada do Estreitordquo pp 144-145

132 SERRAtildeO Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fundaccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) p 65 OLIVEIRA Monografia p 73

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 195

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

mente o motivo econoacutemico que jaacute em 1555 estaraacute na origem da disputa pelo senhorio de Arenilha entre Jeroacutenimo de Melo fidalgo da Casa Real e alcaide-mor de Castro Marim e Luiacutes Leite frei cavaleiro da Ordem de Cristo e filho de Antoacutenio Leite o anterior alcaide133

Relativamente agrave defesa sabemos que Arenilha natildeo possuiacutea castelo torre ou qualquer fortificaccedilatildeo digna de registo ateacute 1542-1547 periacuteodo em que o alcaide Antoacutenio Leite daacute-nos conta das ldquotramqueyras e repai-rosrdquo construiacutedos sob o seu comando para a populaccedilatildeo se defender dos ataques da pirataria moura134 Ainda assim Mendonccedila estava obrigado a zelar pela defesa da vila independentemente de esta ter ou natildeo for-tificaccedilotildees para a proteger Se tivermos em consideraccedilatildeo que a sua no-meaccedilatildeo como comendador o obrigava agrave realizaccedilatildeo de um inventaacuterio ao patrimoacutenio da comenda (infelizmente desconhecido) e ao dever de fixar residecircncia na sua aacuterea de governo135 eacute muito provaacutevel que Cristoacutevatildeo se tenha detido durante algum tempo na vila da foz do Guadiana algures entre finais de 1524 aquando da sua chegada ao reino136 e Marccedilo de 1527 quando voltou a partir para o Oriente

Como anteriormente referimos os comendadores deviam fixar-se nas suas comendas para melhor procederem agrave sua defesa e melhor ren-tabilizarem as mesmas Assim sendo como eacute possiacutevel que os documen-tos que referem Cristoacutevatildeo como comendador de Arenilha sejam relati-vos aos anos em que este se encontrava na capitania de Ormuz Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo de que a principal obrigaccedilatildeo dos cavaleiros da Ordem de Cristo era a luta contra os inimigos da feacute devendo estar prontos para a guerra sempre que o Mestre os convocasse Uma vez que as situaccedilotildees de guerra eram cons-tantes nos territoacuterios de aleacutem-mar onde a presenccedila dos cavaleiros da Ordem se tornava necessaacuteria natildeo eacute de admirar que estes fossem dispen-sados da exigecircncia que os obrigava a permanecer nas suas comendas137

133 CAVACO Revisitando pp 18-20 PESSANHA Os 500 anos pp 72-73134 Carta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava

atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras e que era necessaacute-rio enviar-lhe socorro ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos p 99 PINTO ldquoIacutendice Analiacuteticordquo p 267

135 Cf SILVA A Ordem de Cristo pp 189-190136 Uma vez que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila se encontrava na Aacutefrica do Sul em Marccedilo ou Maio

de 1524 eacute de supor que a sua chegada ao reino se tenha dado ainda no mesmo ano137 SILVA A Ordem de Cristo p 191

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203196

Fernando Pessanha

Eacute nesse sentido que encontramos Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comen-dador de Arenilha em 1529 e 1530 anos em que jaacute se encontrava como capitatildeo na fortaleza de Ormuz De resto era nesta fortaleza que ainda se encontrava em 1531 ano em que piratas de Larache atacaram a vila da foz do Guadiana ldquoonde fizeacuteratildeo muito dano em navios que tomaacuteratildeo e den-tro da Barra de Aiamonte fizeacuteratildeo despejar a Arrinilha e a Montegordordquo138

7 Conclusatildeo

Com efeito muito se tem escrito (e especulado) sobre a alegada des-coberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila No entanto e indepen-dentemente dos resultados alcanccedilados pelo navegador nesta expediccedilatildeo parece indiscutiacutevel que foi generosamente recompensado aquando do seu regresso ao reino Resta-nos perceber porquecirc Jaacute Armando Cortesatildeo muito antes de Peter Trickett tinha levantado a hipoacutetese de a rentaacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz ter sido entregue a Mendonccedila como re-compensa pelos serviccedilos prestados na expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro139 Natildeo eacute conhecido poreacutem qualquer documento que ateste o ecircxito do navegador nesta expediccedilatildeo Omissatildeo que segundo investigadores como Armando Cortesatildeo Damiatildeo Peres ou Jaime Cortesatildeo teraacute sido consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo determinada pelas limitaccedilotildees de navega-ccedilatildeo estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas e com o contencioso entre Portugal e Espanha pela posse das Molucas140

O certo eacute que Mendonccedila ao regressar ao reino foi agraciado com uma das capitanias mais rentaacuteveis do impeacuterio no Oriente para aleacutem de ter recebido compensaccedilotildees econoacutemicas e aparecer referido em 1529 e 1530 como comendador da vila de Arenilha na foz do Guadiana Refira-se a este respeito que muitos capitatildees cavaleiros da Ordem de Cristo se lanccedilaram no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Poreacutem mui-to poucos chegaram a obter as tatildeo almejadas comendas141 Vemos deste

138 RODRIGUES Anais Tomo II Cap XXXV p 209139 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158140 CORTESAtildeO A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e

de D Joatildeo II Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 65-66 PERES ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na Histoacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II pp 17-21

141 Entre os afortunados que lograram obter este tipo de rendimento contam-se muito poucos D Joatildeo Pereira D Pedro de Castelo Branco Nuno Furtado Simatildeo Guedes entre outros Ver CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 216

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 197

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

modo que a atribuiccedilatildeo da comenda de Arenilha significou um motivo de grande honra e prestiacutegio para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Ora se este navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro resta-nos perceber porque motivo teraacute sido agraciado com compensaccedilotildees eco-noacutemicas a nomeaccedilatildeo para uma das mais rentaacuteveis capitanias de todo o Impeacuterio no Oriente e uma honrosa comenda da Ordem de Cristo Eacute caso para dizer que a problemaacutetica em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila con-tinua a levantar muitas duacutevidas e poucas certezas

Fontes e Bibliografia

1 Arquivos

ANTT

Chancelaria de D Afonso V Livro 2 fl30

Chancelaria de D Manuel I Livro 4 fl37 Livro 8 fl 29v Livro 9 fl4v Livro 10 fl53 Livro 13 fl60 Livro 37 fl64

Chancelaria de D Joatildeo III Livro 12 fl62

Chancelaria da Ordem de Cristo Livro13 fls375 vndash 379v

Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1

Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 15 Nordm47 Pt I maccedilo 44 Nordm45 Pt I maccedilo 45 Nordm9

Pt II maccedilo 51 Nordm26 Pt II maccedilo 53 Nordm182 Pt II maccedilo 93 Nordm150 Pt II maccedilo 109 Nordm131 Pt II maccedilo 131 Nordm226 Pt II maccedilo 134 Nordm57 Pt II maccedilo 135 Nordm45 Pt II maccedilo 135 Nordm49 Pt II maccedilo 136 Nordm102 Pt II maccedilo 141 Nordm91

Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Nordm159

Casa Real Cartoacuterio da Nobreza Livro Nordm20 - Livro da Nobreza e da per-feiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal fl XII

2 Fontes Impressas

ABREU Lisuarte de Livro de Lisuarte de Abreu (Reproduccedilatildeo do manuscrito existente na Perpont Morgan Library de Nova York) Comissatildeo Nacional para as comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portugueses Lisboa 1992

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203198

Fernando Pessanha

ARMAS Duarte de Livro das Fortalezas Arquivo Nacional da Torre do TomboInapa Lisboa 1997

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada III Na Regia Officina Typografica Lisboa MDCCLXXVII

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada IV Imprensa Nacional Casa da Moe-da Lisboa 2001

BORGES Joseacute Calvatildeo Borges Livro do Armeiro-Mor Academia Portugue-sa de HistoacuteriaEdiccedilotildees Inapa Lisboa 2000

CASCAtildeO Joatildeo ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevorardquo Uma Jornada ao Alentejo e ao Algarve A altera-ccedilatildeo das linhas de forccedila da poliacutetica nacional Livros Horizonte Lisboa 1984 pp 77-136

CASTANHEDA Fernatildeo Lopes de Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses 2 vols Lello amp Irmatildeos Editores Porto 1979

CORREIA Gaspar Lendas da Iacutendia Tomo III na Typographia da Acade-mia Real das Sciencias Lisboa 1862

Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI Centro de Estudos Histoacutericos Ultramarinos Lis-boa 1969

GAYO Felgueiras Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX Ediccedilatildeo de Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Arauacutejo Affonso Braga 1939

GUEDES Liacutevio da Costa Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) Arquivo Histoacuterico Militar Lisboa 1988

GOacuteIS Damiatildeo de Chonica do Serenissimo Senhor Rei D Manoel Lisboa 1749

JOSEacute Frei Joatildeo de Satildeo ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 21-132

RODRIGUES Bernardo Anais de Arzila 2 vols Academia das Sciecircncias de Lisboa Lisboa 1915-1919

SARRAtildeO Henrique Fernandes ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 133-174

SOUSA Frei Luiacutes de Anais de D Joatildeo III 2 vols Saacute da Costa Lisboa 1928

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 199

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

SOUSA Manuel de Faria e Asia Portvgvesa Officina de Henrique Valen-te de Oliveira impressor del Rey NS Lisboa 1666

TENREIRO Antoacutenio amp AFONSO Mestre Viagens por terra da Iacutendia a Por-tugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica Mem-Martins 1991

3 Estudos

ALBUQUERQUE Luiacutes de (dir) Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-tos Portugueses 2 vols Ciacuterculos de Leitores Lisboa 1994

ALMEIDA Fortunato de Histoacuteria de Portugal Vols III-VII Promoclube Lisboa sd

CARDOSO Antoacutenio Pereira A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila agrave Austraacutelia em 1522 Academia da Marinha Lisboa 1994

CARVALHO Andreia Martins de ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Ma-nuelinardquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia ndash Actas do Coloacutequio Internacional Joatildeo Paulo Oliveira e Costa amp Viacutetor Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 199-226

CARVALHO Andreia Martins de Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria dos Descobrimen-tos e da Expansatildeo Portuguesa (seacuteculos XV-XVIII) apresentado agrave UNL Lisboa 2006

CAVACO Hugo ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio (Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Arte no Algarve) Cacircmara Muni-cipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1987

CAVACO Hugo Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha Cacircmara Munici-pal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1995

CORREIA Joseacute Eduardo Horta Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina Faup Publicaccedilotildees Porto 1997

CORREIA Joseacute Eduardo Horta O Algarve em Patrimoacutenio Gente Singular Editora Olhatildeo 2010

CORTESAtildeO Armando ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Aus-tralaacutesia Macau Japatildeo)rdquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939

CORTESAtildeO Jaime ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal (Dir Damiatildeo Peres) Vol IV Portucalense Editora Barce-los 1932 pp 9-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203200

Fernando Pessanha

CORTESAtildeO Jaime A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e de D Joatildeo II Lisboa 1960

COSME Joatildeo ldquoOs homens de ciecircnciardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 91-97

COSME Joatildeo ldquoOs Navegadores ndash Vasco da Gamardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 145-152

COSTA Joatildeo Paulo Oliveira e ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo A Nobreza e a Expansatildeo Estudos Biograacuteficos Joatildeo Paulo Oliveira e Costa (coord) Patrimoacutenia Cascais 2000 pp 11-51

DOMINGUES Francisco Contente ldquoOs portugueses descobriram a Aus-traacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Si-motildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Univer-sidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 163-172

DOMINGUES Francisco Contente Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 Circulo dos Leitores Lisboa 2016

FARIA Antoacutenio Machado de Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI Acade-mia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 1956

FARIA Antoacutenio Machado de ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo Separata da revista Arqueologia e Histoacuteria vol VI Lisboa 1955

FARIA Miguel Figueira de ldquoFortificaccedilotildees de Portugal na fronteira da Es-tremadura espanholardquo Anais ndash Seacuterie Histoacuteria Vol II Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 1995 pp 156-187

FONSECA Luiacutes Adatildeo da ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo A Alta No-breza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 322-347

FREIRE Anselmo Braamcamp Brasotildees da Sala de Sintra 3 vols Impren-sa da Universidade de Coimbra Coimbra 1921-1930

GARCIA Joseacute Manuel Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII QuidNovi Lisboa 2009

GARCIA Joseacute Manuel O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash 1555 Nordm 8 QuidNovi Vila do Conde 2012

GODINHO Rui Landeiro ldquoA Armada do Estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (Seacuteculos XV-XIX) Ediccedilotildees Cul-turais da Marinha Lisboa 2003 pp 117-137

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 28: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203192

Fernando Pessanha

de Cristo na Histoacuteria da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses Ordem Militar sublinhe-se que teve como governadores figuras in-contornaacuteveis da famiacutelia real como o infante D Henrique o infante D Fernando o rei D Manuel ou o rei D Joatildeo III118 Poreacutem haacute que ter em consideraccedilatildeo que documentos como Memoacuteria das Armadas ou o Livro de Lisuarte de Abreu natildeo satildeo fontes sobre qualquer uma das Ordens razatildeo pela qual se torna compreensiacutevel a ausecircncia de referecircncias mais completas relativamente aos intervenientes no processo de expansatildeo Aliaacutes a intenccedilatildeo subjacente agrave produccedilatildeo de obras como Histoacuteria do Des-cobrimento e da Conquista da Iacutendia natildeo passa por apresentar informa-ccedilatildeo detalhada sobre as individualidades que participaram no processo expansionista mas antes destacar o protagonismo reacutegio em todo este processo119

Por fim natildeo se verificando homoacutenimos de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila para a cronologia abordada coincidindo as datas que o referem como comendador de Arenilha e identificado este navegador como cavalei-ro da Ordem de Cristo resta-nos perceber por que motivo lhe teraacute sido entregue a comenda desta vila na foz do Guadiana Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo que a fundaccedilatildeo de Are-nilha prende-se com a afirmaccedilatildeo da soberania poliacutetica e administra-tiva de D Manuel sobre um territoacuterio frequentado por castelhanos Eacute exactamente nesse contexto que em 1421 Castro Marim justificava o pedido de isenccedilatildeo de alguns encargos pelos ldquoconstantes trabalhos que os moradores tinham com os castelhanos que insistiam em vir pescar ao reinordquo120 Quer isto dizer que os castelhanos vinham pescar para as margens portuguesas natildeo pagando os devidos impostos agrave Coroa Aliaacutes a existecircncia do topoacutenimo de origem castelhana Arenilha121 ainda antes da elaboraccedilatildeo da Carta de Privileacutegio que manda proceder agrave construccedilatildeo

118 FONSECA ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo pp 321-347 Ver tambeacutem SILVA A Or-dem de Cristo pp 43-110

119 Cf SILVA amp PIMENTA ldquoAs ordens de Santiago e de Cristordquo pp 349-361120 VENTURA ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo p 608

ANTT Chancelaria de D Afonso V liv 2 fl30121 De acordo com o dicionaacuterio da Real Academia Espantildeola ldquoarenillardquo apresenta-se como

sinoacutenimo de ldquoarena menudardquo Ver Dicionario de la Real Academia Espantildeola Disponiacutevel em httplemaraeesdraeval=arenilla ndash Consultado dia 10 de Setembro de 2013 Note-se que quando em 1775 se pretendeu baptizar a nova vila iluminista com o nome de Vila Real de Santo Antoacutenio de Arenilha prontamente o Marquecircs de Pombal proibiu a utilizaccedilatildeo do nome ldquoArenilhardquo alegando que ldquoeacute uma palavra hespanhola e Villa Real uma povoaccedilatildeo portuguesardquo Ver OLIVEIRA Monografia p 71

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 193

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

da vila122 indica a ocupaccedilatildeo daquele areal na margem portuguesa da foz do Guadiana por populaccedilotildees de pescadores de origem castelhana Dadas as circunstacircncias seria do interesse estrateacutegico do monarca que esta comenda recaiacutesse sobre algueacutem experimentado na guarda da fronteira e que fizesse cumprir o pagamento dos devidos direitos aduaneiros Re-corde-se que Arenilha para aleacutem de comenda da Ordem de Cristo era uma vila de fronteira situada na margem portuguesa do Guadiana tal como o era a vila de Mouratildeo de onde Cristoacutevatildeo de Mendonccedila era natu-ral Como anteriormente referimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Men-donccedila o fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo que foi nomeado em 1476 alcaide-mor de Mouratildeo123 uma vila fortificada do Alentejo que guarda-va a fronteira portuguesa frente a Espanha O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas mostra-nos o castelo de Mouratildeo onde Cristoacutevatildeo teraacute crescido localizado no cimo de uma colina sobranceiro ao Guadiana124 Quer isto dizer que o ceacutelebre navegador era descendente de uma famiacutelia experimentada na guarda da fronteira face ao reino vizinho e familia-rizado com as actividades militares tributaacuterias e administrativas que lhe eram inerentes125 Assim sendo esta condiccedilatildeo de fronteiro a juntar ao facto de Cristoacutevatildeo ser cavaleiro da Ordem de Cristo teraacute resultado altamente pertinente no momento em que D Joatildeo III decidiu atribuir a comenda de Arenilha a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como recompensa pelos serviccedilos prestados

Por fim mas natildeo menos relevante teraacute sido a experiecircncia naval e militar adquirida por Mendonccedila nos mares do Oriente e direccionada para a foz do Guadiana sistematicamente ameaccedilada pelos ataques da pi-rataria magrebina126 Recorde-se que Mendonccedila no decurso das suas na-vegaccedilotildees na australaacutesia viu-se na necessidade de defender posiccedilotildees por-

122 O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas produzido por volta de 1509 jaacute indicava o topoacutenimo que veio a ser oficializado com a Carta de Privileacutegio de 12 de Fevereiro de 1513 Ver ARMAS O Livro das Fortalezas fl 1

123 FREIRE Brasotildees Vol III p 173124 ANTT Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Livro das Fortalezas si-

tuadas no Extremo de Portugal e Castela por Duarte de Armas escudeiro da Casa do Rei D Manuel I Nordm 159 fls 13-14 ARMAS O Livro das Fortalezas fls 13-14

125 Refira-se que foi durante o periacuteodo em que o pai de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila deteve a alcaidaria de Mouratildeo que o rei D Manuel obteve dos povos nas cortes de Lisboa de 1502 uma vultosa contribuiccedilatildeo que fez com que o castelo da vila fosse intervenciona-do por dois importantes arquitectos reacutegios os irmatildeos Francisco e Diogo de Arruda os mestres das obras reacutegias da comarca de entre o Tejo e o Guadiana Ver FARIA ldquoForti-ficaccedilotildees de Portugal na fronteira da Estremadura espanholardquo p 161

126 Sobre este assunto veja-se PESSANHA ldquoAtaques da piratariardquo pp 63-94

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203194

Fernando Pessanha

tuguesas dando combate aos adversaacuterios Recordemos a este respeito o ataque movido por Melique Ladil agrave fortaleza de Paceacutem entatildeo guardada por Mendonccedila e a maneira como o ldquomourordquo foi desbaratado e despo-jado das treze embarcaccedilotildees usadas no assalto127 Dadas as circunstacircnci-as seria um desperdiacutecio natildeo se aproveitar a experiecircncia deste capitatildeo numa altura em que se verificava um incremento da actividade piraacutetica nas costas do Algarve Esta actividade da pirataria na foz do Guadiana eacute aliaacutes referida por Bernardo Rodrigues em vaacuterias ocasiotildees nomeada-mente aquando da estadia da condessa de Redondo na vila de Arenilha em 1522128 ou quando Vasco Fernandes Ceacutesar - antigo adaiacutel de Azamor e capitatildeo da Armada do Estreito129 - foi incumbido embarcar o conde do Redondo D Joatildeo Coutinho na vila de Arenilha e escoltaacute-lo a Arzila130 Refira-se que a caminho da foz do Guadiana o navio de Vasco Fernan-des Ceacutesar foi atacado por duas naus tendo-se seguido um combate naval que resultou na explosatildeo de parte da alcaacuteccedilova atirando cinco homens ao mar entre os quais Vasco Fernandes que ficou gravemente ferido131

Vemos deste modo que a entrega da comenda de Arenilha a um in-diviacuteduo como Cristoacutevatildeo de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo descendente de uma famiacutelia de fronteiros e navegador experimentado no combate naval natildeo soacute era altamente pertinente como simboacutelica e manifestamente estrateacutegica para a defesa do extremo sudeste algarvio e da foz do Guadiana onde Mendonccedila deveria actuar com autoridade se-nhorial usufruindo dos seus bens e rendimentos E no caso da comenda de Arenilha Seriam generosos os seus rendimentos Sem duacutevida Se assim natildeo fosse o rei D Duarte natildeo teria doado ao infante D Henrique ainda em 25 de Setembro de 1433 a ldquodiacutesima nova de todo o pescado que pescarem quaisquer pessoas no mar do Monte Gordordquo132 Aliaacutes seraacute certa-

127 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III pp548-549128 RODRIGUES Anais de Arzila Tomo I Cap XC p 373129 GOacuteIS Chronica IV Cap LVII p 552 Sobre a Armada do Estreito veja-se GODINHO

ldquoA armada do estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo pp117-137130 RODRIGUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 PESSANHA Subsiacutedios p 100131 Segundo Bernardo Rodrigues os sobreviventes portugueses por pouco natildeo foram

executados Os que sobreviveram ao combate foram aprisionados e levados para Di-eppe Vasco Fernandes apesar de ferido acabou por escapar do cativeiro desfiando uma esteira e escapando por ela da torre onde se encontrava aprisionado RODRI-GUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 Ver tambeacutem PISSARRA ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Armada do Estreitordquo pp 144-145

132 SERRAtildeO Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fundaccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) p 65 OLIVEIRA Monografia p 73

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 195

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

mente o motivo econoacutemico que jaacute em 1555 estaraacute na origem da disputa pelo senhorio de Arenilha entre Jeroacutenimo de Melo fidalgo da Casa Real e alcaide-mor de Castro Marim e Luiacutes Leite frei cavaleiro da Ordem de Cristo e filho de Antoacutenio Leite o anterior alcaide133

Relativamente agrave defesa sabemos que Arenilha natildeo possuiacutea castelo torre ou qualquer fortificaccedilatildeo digna de registo ateacute 1542-1547 periacuteodo em que o alcaide Antoacutenio Leite daacute-nos conta das ldquotramqueyras e repai-rosrdquo construiacutedos sob o seu comando para a populaccedilatildeo se defender dos ataques da pirataria moura134 Ainda assim Mendonccedila estava obrigado a zelar pela defesa da vila independentemente de esta ter ou natildeo for-tificaccedilotildees para a proteger Se tivermos em consideraccedilatildeo que a sua no-meaccedilatildeo como comendador o obrigava agrave realizaccedilatildeo de um inventaacuterio ao patrimoacutenio da comenda (infelizmente desconhecido) e ao dever de fixar residecircncia na sua aacuterea de governo135 eacute muito provaacutevel que Cristoacutevatildeo se tenha detido durante algum tempo na vila da foz do Guadiana algures entre finais de 1524 aquando da sua chegada ao reino136 e Marccedilo de 1527 quando voltou a partir para o Oriente

Como anteriormente referimos os comendadores deviam fixar-se nas suas comendas para melhor procederem agrave sua defesa e melhor ren-tabilizarem as mesmas Assim sendo como eacute possiacutevel que os documen-tos que referem Cristoacutevatildeo como comendador de Arenilha sejam relati-vos aos anos em que este se encontrava na capitania de Ormuz Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo de que a principal obrigaccedilatildeo dos cavaleiros da Ordem de Cristo era a luta contra os inimigos da feacute devendo estar prontos para a guerra sempre que o Mestre os convocasse Uma vez que as situaccedilotildees de guerra eram cons-tantes nos territoacuterios de aleacutem-mar onde a presenccedila dos cavaleiros da Ordem se tornava necessaacuteria natildeo eacute de admirar que estes fossem dispen-sados da exigecircncia que os obrigava a permanecer nas suas comendas137

133 CAVACO Revisitando pp 18-20 PESSANHA Os 500 anos pp 72-73134 Carta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava

atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras e que era necessaacute-rio enviar-lhe socorro ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos p 99 PINTO ldquoIacutendice Analiacuteticordquo p 267

135 Cf SILVA A Ordem de Cristo pp 189-190136 Uma vez que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila se encontrava na Aacutefrica do Sul em Marccedilo ou Maio

de 1524 eacute de supor que a sua chegada ao reino se tenha dado ainda no mesmo ano137 SILVA A Ordem de Cristo p 191

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203196

Fernando Pessanha

Eacute nesse sentido que encontramos Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comen-dador de Arenilha em 1529 e 1530 anos em que jaacute se encontrava como capitatildeo na fortaleza de Ormuz De resto era nesta fortaleza que ainda se encontrava em 1531 ano em que piratas de Larache atacaram a vila da foz do Guadiana ldquoonde fizeacuteratildeo muito dano em navios que tomaacuteratildeo e den-tro da Barra de Aiamonte fizeacuteratildeo despejar a Arrinilha e a Montegordordquo138

7 Conclusatildeo

Com efeito muito se tem escrito (e especulado) sobre a alegada des-coberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila No entanto e indepen-dentemente dos resultados alcanccedilados pelo navegador nesta expediccedilatildeo parece indiscutiacutevel que foi generosamente recompensado aquando do seu regresso ao reino Resta-nos perceber porquecirc Jaacute Armando Cortesatildeo muito antes de Peter Trickett tinha levantado a hipoacutetese de a rentaacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz ter sido entregue a Mendonccedila como re-compensa pelos serviccedilos prestados na expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro139 Natildeo eacute conhecido poreacutem qualquer documento que ateste o ecircxito do navegador nesta expediccedilatildeo Omissatildeo que segundo investigadores como Armando Cortesatildeo Damiatildeo Peres ou Jaime Cortesatildeo teraacute sido consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo determinada pelas limitaccedilotildees de navega-ccedilatildeo estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas e com o contencioso entre Portugal e Espanha pela posse das Molucas140

O certo eacute que Mendonccedila ao regressar ao reino foi agraciado com uma das capitanias mais rentaacuteveis do impeacuterio no Oriente para aleacutem de ter recebido compensaccedilotildees econoacutemicas e aparecer referido em 1529 e 1530 como comendador da vila de Arenilha na foz do Guadiana Refira-se a este respeito que muitos capitatildees cavaleiros da Ordem de Cristo se lanccedilaram no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Poreacutem mui-to poucos chegaram a obter as tatildeo almejadas comendas141 Vemos deste

138 RODRIGUES Anais Tomo II Cap XXXV p 209139 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158140 CORTESAtildeO A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e

de D Joatildeo II Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 65-66 PERES ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na Histoacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II pp 17-21

141 Entre os afortunados que lograram obter este tipo de rendimento contam-se muito poucos D Joatildeo Pereira D Pedro de Castelo Branco Nuno Furtado Simatildeo Guedes entre outros Ver CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 216

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 197

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

modo que a atribuiccedilatildeo da comenda de Arenilha significou um motivo de grande honra e prestiacutegio para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Ora se este navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro resta-nos perceber porque motivo teraacute sido agraciado com compensaccedilotildees eco-noacutemicas a nomeaccedilatildeo para uma das mais rentaacuteveis capitanias de todo o Impeacuterio no Oriente e uma honrosa comenda da Ordem de Cristo Eacute caso para dizer que a problemaacutetica em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila con-tinua a levantar muitas duacutevidas e poucas certezas

Fontes e Bibliografia

1 Arquivos

ANTT

Chancelaria de D Afonso V Livro 2 fl30

Chancelaria de D Manuel I Livro 4 fl37 Livro 8 fl 29v Livro 9 fl4v Livro 10 fl53 Livro 13 fl60 Livro 37 fl64

Chancelaria de D Joatildeo III Livro 12 fl62

Chancelaria da Ordem de Cristo Livro13 fls375 vndash 379v

Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1

Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 15 Nordm47 Pt I maccedilo 44 Nordm45 Pt I maccedilo 45 Nordm9

Pt II maccedilo 51 Nordm26 Pt II maccedilo 53 Nordm182 Pt II maccedilo 93 Nordm150 Pt II maccedilo 109 Nordm131 Pt II maccedilo 131 Nordm226 Pt II maccedilo 134 Nordm57 Pt II maccedilo 135 Nordm45 Pt II maccedilo 135 Nordm49 Pt II maccedilo 136 Nordm102 Pt II maccedilo 141 Nordm91

Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Nordm159

Casa Real Cartoacuterio da Nobreza Livro Nordm20 - Livro da Nobreza e da per-feiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal fl XII

2 Fontes Impressas

ABREU Lisuarte de Livro de Lisuarte de Abreu (Reproduccedilatildeo do manuscrito existente na Perpont Morgan Library de Nova York) Comissatildeo Nacional para as comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portugueses Lisboa 1992

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203198

Fernando Pessanha

ARMAS Duarte de Livro das Fortalezas Arquivo Nacional da Torre do TomboInapa Lisboa 1997

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada III Na Regia Officina Typografica Lisboa MDCCLXXVII

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada IV Imprensa Nacional Casa da Moe-da Lisboa 2001

BORGES Joseacute Calvatildeo Borges Livro do Armeiro-Mor Academia Portugue-sa de HistoacuteriaEdiccedilotildees Inapa Lisboa 2000

CASCAtildeO Joatildeo ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevorardquo Uma Jornada ao Alentejo e ao Algarve A altera-ccedilatildeo das linhas de forccedila da poliacutetica nacional Livros Horizonte Lisboa 1984 pp 77-136

CASTANHEDA Fernatildeo Lopes de Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses 2 vols Lello amp Irmatildeos Editores Porto 1979

CORREIA Gaspar Lendas da Iacutendia Tomo III na Typographia da Acade-mia Real das Sciencias Lisboa 1862

Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI Centro de Estudos Histoacutericos Ultramarinos Lis-boa 1969

GAYO Felgueiras Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX Ediccedilatildeo de Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Arauacutejo Affonso Braga 1939

GUEDES Liacutevio da Costa Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) Arquivo Histoacuterico Militar Lisboa 1988

GOacuteIS Damiatildeo de Chonica do Serenissimo Senhor Rei D Manoel Lisboa 1749

JOSEacute Frei Joatildeo de Satildeo ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 21-132

RODRIGUES Bernardo Anais de Arzila 2 vols Academia das Sciecircncias de Lisboa Lisboa 1915-1919

SARRAtildeO Henrique Fernandes ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 133-174

SOUSA Frei Luiacutes de Anais de D Joatildeo III 2 vols Saacute da Costa Lisboa 1928

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 199

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

SOUSA Manuel de Faria e Asia Portvgvesa Officina de Henrique Valen-te de Oliveira impressor del Rey NS Lisboa 1666

TENREIRO Antoacutenio amp AFONSO Mestre Viagens por terra da Iacutendia a Por-tugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica Mem-Martins 1991

3 Estudos

ALBUQUERQUE Luiacutes de (dir) Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-tos Portugueses 2 vols Ciacuterculos de Leitores Lisboa 1994

ALMEIDA Fortunato de Histoacuteria de Portugal Vols III-VII Promoclube Lisboa sd

CARDOSO Antoacutenio Pereira A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila agrave Austraacutelia em 1522 Academia da Marinha Lisboa 1994

CARVALHO Andreia Martins de ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Ma-nuelinardquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia ndash Actas do Coloacutequio Internacional Joatildeo Paulo Oliveira e Costa amp Viacutetor Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 199-226

CARVALHO Andreia Martins de Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria dos Descobrimen-tos e da Expansatildeo Portuguesa (seacuteculos XV-XVIII) apresentado agrave UNL Lisboa 2006

CAVACO Hugo ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio (Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Arte no Algarve) Cacircmara Muni-cipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1987

CAVACO Hugo Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha Cacircmara Munici-pal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1995

CORREIA Joseacute Eduardo Horta Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina Faup Publicaccedilotildees Porto 1997

CORREIA Joseacute Eduardo Horta O Algarve em Patrimoacutenio Gente Singular Editora Olhatildeo 2010

CORTESAtildeO Armando ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Aus-tralaacutesia Macau Japatildeo)rdquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939

CORTESAtildeO Jaime ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal (Dir Damiatildeo Peres) Vol IV Portucalense Editora Barce-los 1932 pp 9-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203200

Fernando Pessanha

CORTESAtildeO Jaime A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e de D Joatildeo II Lisboa 1960

COSME Joatildeo ldquoOs homens de ciecircnciardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 91-97

COSME Joatildeo ldquoOs Navegadores ndash Vasco da Gamardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 145-152

COSTA Joatildeo Paulo Oliveira e ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo A Nobreza e a Expansatildeo Estudos Biograacuteficos Joatildeo Paulo Oliveira e Costa (coord) Patrimoacutenia Cascais 2000 pp 11-51

DOMINGUES Francisco Contente ldquoOs portugueses descobriram a Aus-traacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Si-motildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Univer-sidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 163-172

DOMINGUES Francisco Contente Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 Circulo dos Leitores Lisboa 2016

FARIA Antoacutenio Machado de Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI Acade-mia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 1956

FARIA Antoacutenio Machado de ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo Separata da revista Arqueologia e Histoacuteria vol VI Lisboa 1955

FARIA Miguel Figueira de ldquoFortificaccedilotildees de Portugal na fronteira da Es-tremadura espanholardquo Anais ndash Seacuterie Histoacuteria Vol II Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 1995 pp 156-187

FONSECA Luiacutes Adatildeo da ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo A Alta No-breza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 322-347

FREIRE Anselmo Braamcamp Brasotildees da Sala de Sintra 3 vols Impren-sa da Universidade de Coimbra Coimbra 1921-1930

GARCIA Joseacute Manuel Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII QuidNovi Lisboa 2009

GARCIA Joseacute Manuel O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash 1555 Nordm 8 QuidNovi Vila do Conde 2012

GODINHO Rui Landeiro ldquoA Armada do Estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (Seacuteculos XV-XIX) Ediccedilotildees Cul-turais da Marinha Lisboa 2003 pp 117-137

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 29: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 193

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

da vila122 indica a ocupaccedilatildeo daquele areal na margem portuguesa da foz do Guadiana por populaccedilotildees de pescadores de origem castelhana Dadas as circunstacircncias seria do interesse estrateacutegico do monarca que esta comenda recaiacutesse sobre algueacutem experimentado na guarda da fronteira e que fizesse cumprir o pagamento dos devidos direitos aduaneiros Re-corde-se que Arenilha para aleacutem de comenda da Ordem de Cristo era uma vila de fronteira situada na margem portuguesa do Guadiana tal como o era a vila de Mouratildeo de onde Cristoacutevatildeo de Mendonccedila era natu-ral Como anteriormente referimos Cristoacutevatildeo era filho de Diogo de Men-donccedila o fidalgo da casa do priacutencipe D Joatildeo que foi nomeado em 1476 alcaide-mor de Mouratildeo123 uma vila fortificada do Alentejo que guarda-va a fronteira portuguesa frente a Espanha O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas mostra-nos o castelo de Mouratildeo onde Cristoacutevatildeo teraacute crescido localizado no cimo de uma colina sobranceiro ao Guadiana124 Quer isto dizer que o ceacutelebre navegador era descendente de uma famiacutelia experimentada na guarda da fronteira face ao reino vizinho e familia-rizado com as actividades militares tributaacuterias e administrativas que lhe eram inerentes125 Assim sendo esta condiccedilatildeo de fronteiro a juntar ao facto de Cristoacutevatildeo ser cavaleiro da Ordem de Cristo teraacute resultado altamente pertinente no momento em que D Joatildeo III decidiu atribuir a comenda de Arenilha a Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como recompensa pelos serviccedilos prestados

Por fim mas natildeo menos relevante teraacute sido a experiecircncia naval e militar adquirida por Mendonccedila nos mares do Oriente e direccionada para a foz do Guadiana sistematicamente ameaccedilada pelos ataques da pi-rataria magrebina126 Recorde-se que Mendonccedila no decurso das suas na-vegaccedilotildees na australaacutesia viu-se na necessidade de defender posiccedilotildees por-

122 O Livro das Fortalezas de Duarte de Armas produzido por volta de 1509 jaacute indicava o topoacutenimo que veio a ser oficializado com a Carta de Privileacutegio de 12 de Fevereiro de 1513 Ver ARMAS O Livro das Fortalezas fl 1

123 FREIRE Brasotildees Vol III p 173124 ANTT Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Livro das Fortalezas si-

tuadas no Extremo de Portugal e Castela por Duarte de Armas escudeiro da Casa do Rei D Manuel I Nordm 159 fls 13-14 ARMAS O Livro das Fortalezas fls 13-14

125 Refira-se que foi durante o periacuteodo em que o pai de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila deteve a alcaidaria de Mouratildeo que o rei D Manuel obteve dos povos nas cortes de Lisboa de 1502 uma vultosa contribuiccedilatildeo que fez com que o castelo da vila fosse intervenciona-do por dois importantes arquitectos reacutegios os irmatildeos Francisco e Diogo de Arruda os mestres das obras reacutegias da comarca de entre o Tejo e o Guadiana Ver FARIA ldquoForti-ficaccedilotildees de Portugal na fronteira da Estremadura espanholardquo p 161

126 Sobre este assunto veja-se PESSANHA ldquoAtaques da piratariardquo pp 63-94

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203194

Fernando Pessanha

tuguesas dando combate aos adversaacuterios Recordemos a este respeito o ataque movido por Melique Ladil agrave fortaleza de Paceacutem entatildeo guardada por Mendonccedila e a maneira como o ldquomourordquo foi desbaratado e despo-jado das treze embarcaccedilotildees usadas no assalto127 Dadas as circunstacircnci-as seria um desperdiacutecio natildeo se aproveitar a experiecircncia deste capitatildeo numa altura em que se verificava um incremento da actividade piraacutetica nas costas do Algarve Esta actividade da pirataria na foz do Guadiana eacute aliaacutes referida por Bernardo Rodrigues em vaacuterias ocasiotildees nomeada-mente aquando da estadia da condessa de Redondo na vila de Arenilha em 1522128 ou quando Vasco Fernandes Ceacutesar - antigo adaiacutel de Azamor e capitatildeo da Armada do Estreito129 - foi incumbido embarcar o conde do Redondo D Joatildeo Coutinho na vila de Arenilha e escoltaacute-lo a Arzila130 Refira-se que a caminho da foz do Guadiana o navio de Vasco Fernan-des Ceacutesar foi atacado por duas naus tendo-se seguido um combate naval que resultou na explosatildeo de parte da alcaacuteccedilova atirando cinco homens ao mar entre os quais Vasco Fernandes que ficou gravemente ferido131

Vemos deste modo que a entrega da comenda de Arenilha a um in-diviacuteduo como Cristoacutevatildeo de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo descendente de uma famiacutelia de fronteiros e navegador experimentado no combate naval natildeo soacute era altamente pertinente como simboacutelica e manifestamente estrateacutegica para a defesa do extremo sudeste algarvio e da foz do Guadiana onde Mendonccedila deveria actuar com autoridade se-nhorial usufruindo dos seus bens e rendimentos E no caso da comenda de Arenilha Seriam generosos os seus rendimentos Sem duacutevida Se assim natildeo fosse o rei D Duarte natildeo teria doado ao infante D Henrique ainda em 25 de Setembro de 1433 a ldquodiacutesima nova de todo o pescado que pescarem quaisquer pessoas no mar do Monte Gordordquo132 Aliaacutes seraacute certa-

127 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III pp548-549128 RODRIGUES Anais de Arzila Tomo I Cap XC p 373129 GOacuteIS Chronica IV Cap LVII p 552 Sobre a Armada do Estreito veja-se GODINHO

ldquoA armada do estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo pp117-137130 RODRIGUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 PESSANHA Subsiacutedios p 100131 Segundo Bernardo Rodrigues os sobreviventes portugueses por pouco natildeo foram

executados Os que sobreviveram ao combate foram aprisionados e levados para Di-eppe Vasco Fernandes apesar de ferido acabou por escapar do cativeiro desfiando uma esteira e escapando por ela da torre onde se encontrava aprisionado RODRI-GUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 Ver tambeacutem PISSARRA ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Armada do Estreitordquo pp 144-145

132 SERRAtildeO Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fundaccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) p 65 OLIVEIRA Monografia p 73

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 195

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

mente o motivo econoacutemico que jaacute em 1555 estaraacute na origem da disputa pelo senhorio de Arenilha entre Jeroacutenimo de Melo fidalgo da Casa Real e alcaide-mor de Castro Marim e Luiacutes Leite frei cavaleiro da Ordem de Cristo e filho de Antoacutenio Leite o anterior alcaide133

Relativamente agrave defesa sabemos que Arenilha natildeo possuiacutea castelo torre ou qualquer fortificaccedilatildeo digna de registo ateacute 1542-1547 periacuteodo em que o alcaide Antoacutenio Leite daacute-nos conta das ldquotramqueyras e repai-rosrdquo construiacutedos sob o seu comando para a populaccedilatildeo se defender dos ataques da pirataria moura134 Ainda assim Mendonccedila estava obrigado a zelar pela defesa da vila independentemente de esta ter ou natildeo for-tificaccedilotildees para a proteger Se tivermos em consideraccedilatildeo que a sua no-meaccedilatildeo como comendador o obrigava agrave realizaccedilatildeo de um inventaacuterio ao patrimoacutenio da comenda (infelizmente desconhecido) e ao dever de fixar residecircncia na sua aacuterea de governo135 eacute muito provaacutevel que Cristoacutevatildeo se tenha detido durante algum tempo na vila da foz do Guadiana algures entre finais de 1524 aquando da sua chegada ao reino136 e Marccedilo de 1527 quando voltou a partir para o Oriente

Como anteriormente referimos os comendadores deviam fixar-se nas suas comendas para melhor procederem agrave sua defesa e melhor ren-tabilizarem as mesmas Assim sendo como eacute possiacutevel que os documen-tos que referem Cristoacutevatildeo como comendador de Arenilha sejam relati-vos aos anos em que este se encontrava na capitania de Ormuz Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo de que a principal obrigaccedilatildeo dos cavaleiros da Ordem de Cristo era a luta contra os inimigos da feacute devendo estar prontos para a guerra sempre que o Mestre os convocasse Uma vez que as situaccedilotildees de guerra eram cons-tantes nos territoacuterios de aleacutem-mar onde a presenccedila dos cavaleiros da Ordem se tornava necessaacuteria natildeo eacute de admirar que estes fossem dispen-sados da exigecircncia que os obrigava a permanecer nas suas comendas137

133 CAVACO Revisitando pp 18-20 PESSANHA Os 500 anos pp 72-73134 Carta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava

atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras e que era necessaacute-rio enviar-lhe socorro ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos p 99 PINTO ldquoIacutendice Analiacuteticordquo p 267

135 Cf SILVA A Ordem de Cristo pp 189-190136 Uma vez que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila se encontrava na Aacutefrica do Sul em Marccedilo ou Maio

de 1524 eacute de supor que a sua chegada ao reino se tenha dado ainda no mesmo ano137 SILVA A Ordem de Cristo p 191

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203196

Fernando Pessanha

Eacute nesse sentido que encontramos Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comen-dador de Arenilha em 1529 e 1530 anos em que jaacute se encontrava como capitatildeo na fortaleza de Ormuz De resto era nesta fortaleza que ainda se encontrava em 1531 ano em que piratas de Larache atacaram a vila da foz do Guadiana ldquoonde fizeacuteratildeo muito dano em navios que tomaacuteratildeo e den-tro da Barra de Aiamonte fizeacuteratildeo despejar a Arrinilha e a Montegordordquo138

7 Conclusatildeo

Com efeito muito se tem escrito (e especulado) sobre a alegada des-coberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila No entanto e indepen-dentemente dos resultados alcanccedilados pelo navegador nesta expediccedilatildeo parece indiscutiacutevel que foi generosamente recompensado aquando do seu regresso ao reino Resta-nos perceber porquecirc Jaacute Armando Cortesatildeo muito antes de Peter Trickett tinha levantado a hipoacutetese de a rentaacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz ter sido entregue a Mendonccedila como re-compensa pelos serviccedilos prestados na expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro139 Natildeo eacute conhecido poreacutem qualquer documento que ateste o ecircxito do navegador nesta expediccedilatildeo Omissatildeo que segundo investigadores como Armando Cortesatildeo Damiatildeo Peres ou Jaime Cortesatildeo teraacute sido consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo determinada pelas limitaccedilotildees de navega-ccedilatildeo estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas e com o contencioso entre Portugal e Espanha pela posse das Molucas140

O certo eacute que Mendonccedila ao regressar ao reino foi agraciado com uma das capitanias mais rentaacuteveis do impeacuterio no Oriente para aleacutem de ter recebido compensaccedilotildees econoacutemicas e aparecer referido em 1529 e 1530 como comendador da vila de Arenilha na foz do Guadiana Refira-se a este respeito que muitos capitatildees cavaleiros da Ordem de Cristo se lanccedilaram no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Poreacutem mui-to poucos chegaram a obter as tatildeo almejadas comendas141 Vemos deste

138 RODRIGUES Anais Tomo II Cap XXXV p 209139 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158140 CORTESAtildeO A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e

de D Joatildeo II Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 65-66 PERES ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na Histoacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II pp 17-21

141 Entre os afortunados que lograram obter este tipo de rendimento contam-se muito poucos D Joatildeo Pereira D Pedro de Castelo Branco Nuno Furtado Simatildeo Guedes entre outros Ver CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 216

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 197

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

modo que a atribuiccedilatildeo da comenda de Arenilha significou um motivo de grande honra e prestiacutegio para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Ora se este navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro resta-nos perceber porque motivo teraacute sido agraciado com compensaccedilotildees eco-noacutemicas a nomeaccedilatildeo para uma das mais rentaacuteveis capitanias de todo o Impeacuterio no Oriente e uma honrosa comenda da Ordem de Cristo Eacute caso para dizer que a problemaacutetica em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila con-tinua a levantar muitas duacutevidas e poucas certezas

Fontes e Bibliografia

1 Arquivos

ANTT

Chancelaria de D Afonso V Livro 2 fl30

Chancelaria de D Manuel I Livro 4 fl37 Livro 8 fl 29v Livro 9 fl4v Livro 10 fl53 Livro 13 fl60 Livro 37 fl64

Chancelaria de D Joatildeo III Livro 12 fl62

Chancelaria da Ordem de Cristo Livro13 fls375 vndash 379v

Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1

Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 15 Nordm47 Pt I maccedilo 44 Nordm45 Pt I maccedilo 45 Nordm9

Pt II maccedilo 51 Nordm26 Pt II maccedilo 53 Nordm182 Pt II maccedilo 93 Nordm150 Pt II maccedilo 109 Nordm131 Pt II maccedilo 131 Nordm226 Pt II maccedilo 134 Nordm57 Pt II maccedilo 135 Nordm45 Pt II maccedilo 135 Nordm49 Pt II maccedilo 136 Nordm102 Pt II maccedilo 141 Nordm91

Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Nordm159

Casa Real Cartoacuterio da Nobreza Livro Nordm20 - Livro da Nobreza e da per-feiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal fl XII

2 Fontes Impressas

ABREU Lisuarte de Livro de Lisuarte de Abreu (Reproduccedilatildeo do manuscrito existente na Perpont Morgan Library de Nova York) Comissatildeo Nacional para as comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portugueses Lisboa 1992

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203198

Fernando Pessanha

ARMAS Duarte de Livro das Fortalezas Arquivo Nacional da Torre do TomboInapa Lisboa 1997

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada III Na Regia Officina Typografica Lisboa MDCCLXXVII

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada IV Imprensa Nacional Casa da Moe-da Lisboa 2001

BORGES Joseacute Calvatildeo Borges Livro do Armeiro-Mor Academia Portugue-sa de HistoacuteriaEdiccedilotildees Inapa Lisboa 2000

CASCAtildeO Joatildeo ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevorardquo Uma Jornada ao Alentejo e ao Algarve A altera-ccedilatildeo das linhas de forccedila da poliacutetica nacional Livros Horizonte Lisboa 1984 pp 77-136

CASTANHEDA Fernatildeo Lopes de Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses 2 vols Lello amp Irmatildeos Editores Porto 1979

CORREIA Gaspar Lendas da Iacutendia Tomo III na Typographia da Acade-mia Real das Sciencias Lisboa 1862

Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI Centro de Estudos Histoacutericos Ultramarinos Lis-boa 1969

GAYO Felgueiras Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX Ediccedilatildeo de Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Arauacutejo Affonso Braga 1939

GUEDES Liacutevio da Costa Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) Arquivo Histoacuterico Militar Lisboa 1988

GOacuteIS Damiatildeo de Chonica do Serenissimo Senhor Rei D Manoel Lisboa 1749

JOSEacute Frei Joatildeo de Satildeo ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 21-132

RODRIGUES Bernardo Anais de Arzila 2 vols Academia das Sciecircncias de Lisboa Lisboa 1915-1919

SARRAtildeO Henrique Fernandes ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 133-174

SOUSA Frei Luiacutes de Anais de D Joatildeo III 2 vols Saacute da Costa Lisboa 1928

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 199

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

SOUSA Manuel de Faria e Asia Portvgvesa Officina de Henrique Valen-te de Oliveira impressor del Rey NS Lisboa 1666

TENREIRO Antoacutenio amp AFONSO Mestre Viagens por terra da Iacutendia a Por-tugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica Mem-Martins 1991

3 Estudos

ALBUQUERQUE Luiacutes de (dir) Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-tos Portugueses 2 vols Ciacuterculos de Leitores Lisboa 1994

ALMEIDA Fortunato de Histoacuteria de Portugal Vols III-VII Promoclube Lisboa sd

CARDOSO Antoacutenio Pereira A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila agrave Austraacutelia em 1522 Academia da Marinha Lisboa 1994

CARVALHO Andreia Martins de ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Ma-nuelinardquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia ndash Actas do Coloacutequio Internacional Joatildeo Paulo Oliveira e Costa amp Viacutetor Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 199-226

CARVALHO Andreia Martins de Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria dos Descobrimen-tos e da Expansatildeo Portuguesa (seacuteculos XV-XVIII) apresentado agrave UNL Lisboa 2006

CAVACO Hugo ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio (Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Arte no Algarve) Cacircmara Muni-cipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1987

CAVACO Hugo Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha Cacircmara Munici-pal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1995

CORREIA Joseacute Eduardo Horta Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina Faup Publicaccedilotildees Porto 1997

CORREIA Joseacute Eduardo Horta O Algarve em Patrimoacutenio Gente Singular Editora Olhatildeo 2010

CORTESAtildeO Armando ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Aus-tralaacutesia Macau Japatildeo)rdquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939

CORTESAtildeO Jaime ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal (Dir Damiatildeo Peres) Vol IV Portucalense Editora Barce-los 1932 pp 9-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203200

Fernando Pessanha

CORTESAtildeO Jaime A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e de D Joatildeo II Lisboa 1960

COSME Joatildeo ldquoOs homens de ciecircnciardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 91-97

COSME Joatildeo ldquoOs Navegadores ndash Vasco da Gamardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 145-152

COSTA Joatildeo Paulo Oliveira e ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo A Nobreza e a Expansatildeo Estudos Biograacuteficos Joatildeo Paulo Oliveira e Costa (coord) Patrimoacutenia Cascais 2000 pp 11-51

DOMINGUES Francisco Contente ldquoOs portugueses descobriram a Aus-traacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Si-motildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Univer-sidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 163-172

DOMINGUES Francisco Contente Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 Circulo dos Leitores Lisboa 2016

FARIA Antoacutenio Machado de Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI Acade-mia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 1956

FARIA Antoacutenio Machado de ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo Separata da revista Arqueologia e Histoacuteria vol VI Lisboa 1955

FARIA Miguel Figueira de ldquoFortificaccedilotildees de Portugal na fronteira da Es-tremadura espanholardquo Anais ndash Seacuterie Histoacuteria Vol II Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 1995 pp 156-187

FONSECA Luiacutes Adatildeo da ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo A Alta No-breza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 322-347

FREIRE Anselmo Braamcamp Brasotildees da Sala de Sintra 3 vols Impren-sa da Universidade de Coimbra Coimbra 1921-1930

GARCIA Joseacute Manuel Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII QuidNovi Lisboa 2009

GARCIA Joseacute Manuel O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash 1555 Nordm 8 QuidNovi Vila do Conde 2012

GODINHO Rui Landeiro ldquoA Armada do Estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (Seacuteculos XV-XIX) Ediccedilotildees Cul-turais da Marinha Lisboa 2003 pp 117-137

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 30: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203194

Fernando Pessanha

tuguesas dando combate aos adversaacuterios Recordemos a este respeito o ataque movido por Melique Ladil agrave fortaleza de Paceacutem entatildeo guardada por Mendonccedila e a maneira como o ldquomourordquo foi desbaratado e despo-jado das treze embarcaccedilotildees usadas no assalto127 Dadas as circunstacircnci-as seria um desperdiacutecio natildeo se aproveitar a experiecircncia deste capitatildeo numa altura em que se verificava um incremento da actividade piraacutetica nas costas do Algarve Esta actividade da pirataria na foz do Guadiana eacute aliaacutes referida por Bernardo Rodrigues em vaacuterias ocasiotildees nomeada-mente aquando da estadia da condessa de Redondo na vila de Arenilha em 1522128 ou quando Vasco Fernandes Ceacutesar - antigo adaiacutel de Azamor e capitatildeo da Armada do Estreito129 - foi incumbido embarcar o conde do Redondo D Joatildeo Coutinho na vila de Arenilha e escoltaacute-lo a Arzila130 Refira-se que a caminho da foz do Guadiana o navio de Vasco Fernan-des Ceacutesar foi atacado por duas naus tendo-se seguido um combate naval que resultou na explosatildeo de parte da alcaacuteccedilova atirando cinco homens ao mar entre os quais Vasco Fernandes que ficou gravemente ferido131

Vemos deste modo que a entrega da comenda de Arenilha a um in-diviacuteduo como Cristoacutevatildeo de Mendonccedila cavaleiro da Ordem de Cristo descendente de uma famiacutelia de fronteiros e navegador experimentado no combate naval natildeo soacute era altamente pertinente como simboacutelica e manifestamente estrateacutegica para a defesa do extremo sudeste algarvio e da foz do Guadiana onde Mendonccedila deveria actuar com autoridade se-nhorial usufruindo dos seus bens e rendimentos E no caso da comenda de Arenilha Seriam generosos os seus rendimentos Sem duacutevida Se assim natildeo fosse o rei D Duarte natildeo teria doado ao infante D Henrique ainda em 25 de Setembro de 1433 a ldquodiacutesima nova de todo o pescado que pescarem quaisquer pessoas no mar do Monte Gordordquo132 Aliaacutes seraacute certa-

127 BARROS Da Aacutesia ndash Deacutecada III Pt I V Cap III pp548-549128 RODRIGUES Anais de Arzila Tomo I Cap XC p 373129 GOacuteIS Chronica IV Cap LVII p 552 Sobre a Armada do Estreito veja-se GODINHO

ldquoA armada do estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo pp117-137130 RODRIGUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 PESSANHA Subsiacutedios p 100131 Segundo Bernardo Rodrigues os sobreviventes portugueses por pouco natildeo foram

executados Os que sobreviveram ao combate foram aprisionados e levados para Di-eppe Vasco Fernandes apesar de ferido acabou por escapar do cativeiro desfiando uma esteira e escapando por ela da torre onde se encontrava aprisionado RODRI-GUES Anais Tomo I Cap CVIII p 429 Ver tambeacutem PISSARRA ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Armada do Estreitordquo pp 144-145

132 SERRAtildeO Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fundaccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) p 65 OLIVEIRA Monografia p 73

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 195

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

mente o motivo econoacutemico que jaacute em 1555 estaraacute na origem da disputa pelo senhorio de Arenilha entre Jeroacutenimo de Melo fidalgo da Casa Real e alcaide-mor de Castro Marim e Luiacutes Leite frei cavaleiro da Ordem de Cristo e filho de Antoacutenio Leite o anterior alcaide133

Relativamente agrave defesa sabemos que Arenilha natildeo possuiacutea castelo torre ou qualquer fortificaccedilatildeo digna de registo ateacute 1542-1547 periacuteodo em que o alcaide Antoacutenio Leite daacute-nos conta das ldquotramqueyras e repai-rosrdquo construiacutedos sob o seu comando para a populaccedilatildeo se defender dos ataques da pirataria moura134 Ainda assim Mendonccedila estava obrigado a zelar pela defesa da vila independentemente de esta ter ou natildeo for-tificaccedilotildees para a proteger Se tivermos em consideraccedilatildeo que a sua no-meaccedilatildeo como comendador o obrigava agrave realizaccedilatildeo de um inventaacuterio ao patrimoacutenio da comenda (infelizmente desconhecido) e ao dever de fixar residecircncia na sua aacuterea de governo135 eacute muito provaacutevel que Cristoacutevatildeo se tenha detido durante algum tempo na vila da foz do Guadiana algures entre finais de 1524 aquando da sua chegada ao reino136 e Marccedilo de 1527 quando voltou a partir para o Oriente

Como anteriormente referimos os comendadores deviam fixar-se nas suas comendas para melhor procederem agrave sua defesa e melhor ren-tabilizarem as mesmas Assim sendo como eacute possiacutevel que os documen-tos que referem Cristoacutevatildeo como comendador de Arenilha sejam relati-vos aos anos em que este se encontrava na capitania de Ormuz Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo de que a principal obrigaccedilatildeo dos cavaleiros da Ordem de Cristo era a luta contra os inimigos da feacute devendo estar prontos para a guerra sempre que o Mestre os convocasse Uma vez que as situaccedilotildees de guerra eram cons-tantes nos territoacuterios de aleacutem-mar onde a presenccedila dos cavaleiros da Ordem se tornava necessaacuteria natildeo eacute de admirar que estes fossem dispen-sados da exigecircncia que os obrigava a permanecer nas suas comendas137

133 CAVACO Revisitando pp 18-20 PESSANHA Os 500 anos pp 72-73134 Carta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava

atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras e que era necessaacute-rio enviar-lhe socorro ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos p 99 PINTO ldquoIacutendice Analiacuteticordquo p 267

135 Cf SILVA A Ordem de Cristo pp 189-190136 Uma vez que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila se encontrava na Aacutefrica do Sul em Marccedilo ou Maio

de 1524 eacute de supor que a sua chegada ao reino se tenha dado ainda no mesmo ano137 SILVA A Ordem de Cristo p 191

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203196

Fernando Pessanha

Eacute nesse sentido que encontramos Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comen-dador de Arenilha em 1529 e 1530 anos em que jaacute se encontrava como capitatildeo na fortaleza de Ormuz De resto era nesta fortaleza que ainda se encontrava em 1531 ano em que piratas de Larache atacaram a vila da foz do Guadiana ldquoonde fizeacuteratildeo muito dano em navios que tomaacuteratildeo e den-tro da Barra de Aiamonte fizeacuteratildeo despejar a Arrinilha e a Montegordordquo138

7 Conclusatildeo

Com efeito muito se tem escrito (e especulado) sobre a alegada des-coberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila No entanto e indepen-dentemente dos resultados alcanccedilados pelo navegador nesta expediccedilatildeo parece indiscutiacutevel que foi generosamente recompensado aquando do seu regresso ao reino Resta-nos perceber porquecirc Jaacute Armando Cortesatildeo muito antes de Peter Trickett tinha levantado a hipoacutetese de a rentaacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz ter sido entregue a Mendonccedila como re-compensa pelos serviccedilos prestados na expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro139 Natildeo eacute conhecido poreacutem qualquer documento que ateste o ecircxito do navegador nesta expediccedilatildeo Omissatildeo que segundo investigadores como Armando Cortesatildeo Damiatildeo Peres ou Jaime Cortesatildeo teraacute sido consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo determinada pelas limitaccedilotildees de navega-ccedilatildeo estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas e com o contencioso entre Portugal e Espanha pela posse das Molucas140

O certo eacute que Mendonccedila ao regressar ao reino foi agraciado com uma das capitanias mais rentaacuteveis do impeacuterio no Oriente para aleacutem de ter recebido compensaccedilotildees econoacutemicas e aparecer referido em 1529 e 1530 como comendador da vila de Arenilha na foz do Guadiana Refira-se a este respeito que muitos capitatildees cavaleiros da Ordem de Cristo se lanccedilaram no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Poreacutem mui-to poucos chegaram a obter as tatildeo almejadas comendas141 Vemos deste

138 RODRIGUES Anais Tomo II Cap XXXV p 209139 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158140 CORTESAtildeO A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e

de D Joatildeo II Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 65-66 PERES ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na Histoacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II pp 17-21

141 Entre os afortunados que lograram obter este tipo de rendimento contam-se muito poucos D Joatildeo Pereira D Pedro de Castelo Branco Nuno Furtado Simatildeo Guedes entre outros Ver CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 216

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 197

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

modo que a atribuiccedilatildeo da comenda de Arenilha significou um motivo de grande honra e prestiacutegio para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Ora se este navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro resta-nos perceber porque motivo teraacute sido agraciado com compensaccedilotildees eco-noacutemicas a nomeaccedilatildeo para uma das mais rentaacuteveis capitanias de todo o Impeacuterio no Oriente e uma honrosa comenda da Ordem de Cristo Eacute caso para dizer que a problemaacutetica em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila con-tinua a levantar muitas duacutevidas e poucas certezas

Fontes e Bibliografia

1 Arquivos

ANTT

Chancelaria de D Afonso V Livro 2 fl30

Chancelaria de D Manuel I Livro 4 fl37 Livro 8 fl 29v Livro 9 fl4v Livro 10 fl53 Livro 13 fl60 Livro 37 fl64

Chancelaria de D Joatildeo III Livro 12 fl62

Chancelaria da Ordem de Cristo Livro13 fls375 vndash 379v

Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1

Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 15 Nordm47 Pt I maccedilo 44 Nordm45 Pt I maccedilo 45 Nordm9

Pt II maccedilo 51 Nordm26 Pt II maccedilo 53 Nordm182 Pt II maccedilo 93 Nordm150 Pt II maccedilo 109 Nordm131 Pt II maccedilo 131 Nordm226 Pt II maccedilo 134 Nordm57 Pt II maccedilo 135 Nordm45 Pt II maccedilo 135 Nordm49 Pt II maccedilo 136 Nordm102 Pt II maccedilo 141 Nordm91

Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Nordm159

Casa Real Cartoacuterio da Nobreza Livro Nordm20 - Livro da Nobreza e da per-feiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal fl XII

2 Fontes Impressas

ABREU Lisuarte de Livro de Lisuarte de Abreu (Reproduccedilatildeo do manuscrito existente na Perpont Morgan Library de Nova York) Comissatildeo Nacional para as comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portugueses Lisboa 1992

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203198

Fernando Pessanha

ARMAS Duarte de Livro das Fortalezas Arquivo Nacional da Torre do TomboInapa Lisboa 1997

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada III Na Regia Officina Typografica Lisboa MDCCLXXVII

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada IV Imprensa Nacional Casa da Moe-da Lisboa 2001

BORGES Joseacute Calvatildeo Borges Livro do Armeiro-Mor Academia Portugue-sa de HistoacuteriaEdiccedilotildees Inapa Lisboa 2000

CASCAtildeO Joatildeo ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevorardquo Uma Jornada ao Alentejo e ao Algarve A altera-ccedilatildeo das linhas de forccedila da poliacutetica nacional Livros Horizonte Lisboa 1984 pp 77-136

CASTANHEDA Fernatildeo Lopes de Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses 2 vols Lello amp Irmatildeos Editores Porto 1979

CORREIA Gaspar Lendas da Iacutendia Tomo III na Typographia da Acade-mia Real das Sciencias Lisboa 1862

Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI Centro de Estudos Histoacutericos Ultramarinos Lis-boa 1969

GAYO Felgueiras Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX Ediccedilatildeo de Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Arauacutejo Affonso Braga 1939

GUEDES Liacutevio da Costa Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) Arquivo Histoacuterico Militar Lisboa 1988

GOacuteIS Damiatildeo de Chonica do Serenissimo Senhor Rei D Manoel Lisboa 1749

JOSEacute Frei Joatildeo de Satildeo ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 21-132

RODRIGUES Bernardo Anais de Arzila 2 vols Academia das Sciecircncias de Lisboa Lisboa 1915-1919

SARRAtildeO Henrique Fernandes ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 133-174

SOUSA Frei Luiacutes de Anais de D Joatildeo III 2 vols Saacute da Costa Lisboa 1928

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 199

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

SOUSA Manuel de Faria e Asia Portvgvesa Officina de Henrique Valen-te de Oliveira impressor del Rey NS Lisboa 1666

TENREIRO Antoacutenio amp AFONSO Mestre Viagens por terra da Iacutendia a Por-tugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica Mem-Martins 1991

3 Estudos

ALBUQUERQUE Luiacutes de (dir) Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-tos Portugueses 2 vols Ciacuterculos de Leitores Lisboa 1994

ALMEIDA Fortunato de Histoacuteria de Portugal Vols III-VII Promoclube Lisboa sd

CARDOSO Antoacutenio Pereira A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila agrave Austraacutelia em 1522 Academia da Marinha Lisboa 1994

CARVALHO Andreia Martins de ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Ma-nuelinardquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia ndash Actas do Coloacutequio Internacional Joatildeo Paulo Oliveira e Costa amp Viacutetor Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 199-226

CARVALHO Andreia Martins de Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria dos Descobrimen-tos e da Expansatildeo Portuguesa (seacuteculos XV-XVIII) apresentado agrave UNL Lisboa 2006

CAVACO Hugo ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio (Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Arte no Algarve) Cacircmara Muni-cipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1987

CAVACO Hugo Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha Cacircmara Munici-pal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1995

CORREIA Joseacute Eduardo Horta Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina Faup Publicaccedilotildees Porto 1997

CORREIA Joseacute Eduardo Horta O Algarve em Patrimoacutenio Gente Singular Editora Olhatildeo 2010

CORTESAtildeO Armando ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Aus-tralaacutesia Macau Japatildeo)rdquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939

CORTESAtildeO Jaime ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal (Dir Damiatildeo Peres) Vol IV Portucalense Editora Barce-los 1932 pp 9-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203200

Fernando Pessanha

CORTESAtildeO Jaime A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e de D Joatildeo II Lisboa 1960

COSME Joatildeo ldquoOs homens de ciecircnciardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 91-97

COSME Joatildeo ldquoOs Navegadores ndash Vasco da Gamardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 145-152

COSTA Joatildeo Paulo Oliveira e ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo A Nobreza e a Expansatildeo Estudos Biograacuteficos Joatildeo Paulo Oliveira e Costa (coord) Patrimoacutenia Cascais 2000 pp 11-51

DOMINGUES Francisco Contente ldquoOs portugueses descobriram a Aus-traacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Si-motildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Univer-sidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 163-172

DOMINGUES Francisco Contente Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 Circulo dos Leitores Lisboa 2016

FARIA Antoacutenio Machado de Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI Acade-mia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 1956

FARIA Antoacutenio Machado de ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo Separata da revista Arqueologia e Histoacuteria vol VI Lisboa 1955

FARIA Miguel Figueira de ldquoFortificaccedilotildees de Portugal na fronteira da Es-tremadura espanholardquo Anais ndash Seacuterie Histoacuteria Vol II Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 1995 pp 156-187

FONSECA Luiacutes Adatildeo da ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo A Alta No-breza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 322-347

FREIRE Anselmo Braamcamp Brasotildees da Sala de Sintra 3 vols Impren-sa da Universidade de Coimbra Coimbra 1921-1930

GARCIA Joseacute Manuel Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII QuidNovi Lisboa 2009

GARCIA Joseacute Manuel O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash 1555 Nordm 8 QuidNovi Vila do Conde 2012

GODINHO Rui Landeiro ldquoA Armada do Estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (Seacuteculos XV-XIX) Ediccedilotildees Cul-turais da Marinha Lisboa 2003 pp 117-137

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 31: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 195

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

mente o motivo econoacutemico que jaacute em 1555 estaraacute na origem da disputa pelo senhorio de Arenilha entre Jeroacutenimo de Melo fidalgo da Casa Real e alcaide-mor de Castro Marim e Luiacutes Leite frei cavaleiro da Ordem de Cristo e filho de Antoacutenio Leite o anterior alcaide133

Relativamente agrave defesa sabemos que Arenilha natildeo possuiacutea castelo torre ou qualquer fortificaccedilatildeo digna de registo ateacute 1542-1547 periacuteodo em que o alcaide Antoacutenio Leite daacute-nos conta das ldquotramqueyras e repai-rosrdquo construiacutedos sob o seu comando para a populaccedilatildeo se defender dos ataques da pirataria moura134 Ainda assim Mendonccedila estava obrigado a zelar pela defesa da vila independentemente de esta ter ou natildeo for-tificaccedilotildees para a proteger Se tivermos em consideraccedilatildeo que a sua no-meaccedilatildeo como comendador o obrigava agrave realizaccedilatildeo de um inventaacuterio ao patrimoacutenio da comenda (infelizmente desconhecido) e ao dever de fixar residecircncia na sua aacuterea de governo135 eacute muito provaacutevel que Cristoacutevatildeo se tenha detido durante algum tempo na vila da foz do Guadiana algures entre finais de 1524 aquando da sua chegada ao reino136 e Marccedilo de 1527 quando voltou a partir para o Oriente

Como anteriormente referimos os comendadores deviam fixar-se nas suas comendas para melhor procederem agrave sua defesa e melhor ren-tabilizarem as mesmas Assim sendo como eacute possiacutevel que os documen-tos que referem Cristoacutevatildeo como comendador de Arenilha sejam relati-vos aos anos em que este se encontrava na capitania de Ormuz Para respondermos a esta questatildeo devemos ter em consideraccedilatildeo de que a principal obrigaccedilatildeo dos cavaleiros da Ordem de Cristo era a luta contra os inimigos da feacute devendo estar prontos para a guerra sempre que o Mestre os convocasse Uma vez que as situaccedilotildees de guerra eram cons-tantes nos territoacuterios de aleacutem-mar onde a presenccedila dos cavaleiros da Ordem se tornava necessaacuteria natildeo eacute de admirar que estes fossem dispen-sados da exigecircncia que os obrigava a permanecer nas suas comendas137

133 CAVACO Revisitando pp 18-20 PESSANHA Os 500 anos pp 72-73134 Carta de Antoacutenio Leite para o rei dando-lhe conta que no lugar em que se encontrava

atacava os mouros e que deles se defendia por meio de trincheiras e que era necessaacute-rio enviar-lhe socorro ANTT Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78 Documento parcialmente publicado por CAVACO Revisitando pp 16-17 GRILO ldquoNa margem di-reitardquo p 44 PESSANHA Os 500 anos p 99 PINTO ldquoIacutendice Analiacuteticordquo p 267

135 Cf SILVA A Ordem de Cristo pp 189-190136 Uma vez que Cristoacutevatildeo de Mendonccedila se encontrava na Aacutefrica do Sul em Marccedilo ou Maio

de 1524 eacute de supor que a sua chegada ao reino se tenha dado ainda no mesmo ano137 SILVA A Ordem de Cristo p 191

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203196

Fernando Pessanha

Eacute nesse sentido que encontramos Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comen-dador de Arenilha em 1529 e 1530 anos em que jaacute se encontrava como capitatildeo na fortaleza de Ormuz De resto era nesta fortaleza que ainda se encontrava em 1531 ano em que piratas de Larache atacaram a vila da foz do Guadiana ldquoonde fizeacuteratildeo muito dano em navios que tomaacuteratildeo e den-tro da Barra de Aiamonte fizeacuteratildeo despejar a Arrinilha e a Montegordordquo138

7 Conclusatildeo

Com efeito muito se tem escrito (e especulado) sobre a alegada des-coberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila No entanto e indepen-dentemente dos resultados alcanccedilados pelo navegador nesta expediccedilatildeo parece indiscutiacutevel que foi generosamente recompensado aquando do seu regresso ao reino Resta-nos perceber porquecirc Jaacute Armando Cortesatildeo muito antes de Peter Trickett tinha levantado a hipoacutetese de a rentaacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz ter sido entregue a Mendonccedila como re-compensa pelos serviccedilos prestados na expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro139 Natildeo eacute conhecido poreacutem qualquer documento que ateste o ecircxito do navegador nesta expediccedilatildeo Omissatildeo que segundo investigadores como Armando Cortesatildeo Damiatildeo Peres ou Jaime Cortesatildeo teraacute sido consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo determinada pelas limitaccedilotildees de navega-ccedilatildeo estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas e com o contencioso entre Portugal e Espanha pela posse das Molucas140

O certo eacute que Mendonccedila ao regressar ao reino foi agraciado com uma das capitanias mais rentaacuteveis do impeacuterio no Oriente para aleacutem de ter recebido compensaccedilotildees econoacutemicas e aparecer referido em 1529 e 1530 como comendador da vila de Arenilha na foz do Guadiana Refira-se a este respeito que muitos capitatildees cavaleiros da Ordem de Cristo se lanccedilaram no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Poreacutem mui-to poucos chegaram a obter as tatildeo almejadas comendas141 Vemos deste

138 RODRIGUES Anais Tomo II Cap XXXV p 209139 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158140 CORTESAtildeO A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e

de D Joatildeo II Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 65-66 PERES ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na Histoacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II pp 17-21

141 Entre os afortunados que lograram obter este tipo de rendimento contam-se muito poucos D Joatildeo Pereira D Pedro de Castelo Branco Nuno Furtado Simatildeo Guedes entre outros Ver CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 216

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 197

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

modo que a atribuiccedilatildeo da comenda de Arenilha significou um motivo de grande honra e prestiacutegio para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Ora se este navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro resta-nos perceber porque motivo teraacute sido agraciado com compensaccedilotildees eco-noacutemicas a nomeaccedilatildeo para uma das mais rentaacuteveis capitanias de todo o Impeacuterio no Oriente e uma honrosa comenda da Ordem de Cristo Eacute caso para dizer que a problemaacutetica em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila con-tinua a levantar muitas duacutevidas e poucas certezas

Fontes e Bibliografia

1 Arquivos

ANTT

Chancelaria de D Afonso V Livro 2 fl30

Chancelaria de D Manuel I Livro 4 fl37 Livro 8 fl 29v Livro 9 fl4v Livro 10 fl53 Livro 13 fl60 Livro 37 fl64

Chancelaria de D Joatildeo III Livro 12 fl62

Chancelaria da Ordem de Cristo Livro13 fls375 vndash 379v

Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1

Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 15 Nordm47 Pt I maccedilo 44 Nordm45 Pt I maccedilo 45 Nordm9

Pt II maccedilo 51 Nordm26 Pt II maccedilo 53 Nordm182 Pt II maccedilo 93 Nordm150 Pt II maccedilo 109 Nordm131 Pt II maccedilo 131 Nordm226 Pt II maccedilo 134 Nordm57 Pt II maccedilo 135 Nordm45 Pt II maccedilo 135 Nordm49 Pt II maccedilo 136 Nordm102 Pt II maccedilo 141 Nordm91

Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Nordm159

Casa Real Cartoacuterio da Nobreza Livro Nordm20 - Livro da Nobreza e da per-feiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal fl XII

2 Fontes Impressas

ABREU Lisuarte de Livro de Lisuarte de Abreu (Reproduccedilatildeo do manuscrito existente na Perpont Morgan Library de Nova York) Comissatildeo Nacional para as comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portugueses Lisboa 1992

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203198

Fernando Pessanha

ARMAS Duarte de Livro das Fortalezas Arquivo Nacional da Torre do TomboInapa Lisboa 1997

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada III Na Regia Officina Typografica Lisboa MDCCLXXVII

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada IV Imprensa Nacional Casa da Moe-da Lisboa 2001

BORGES Joseacute Calvatildeo Borges Livro do Armeiro-Mor Academia Portugue-sa de HistoacuteriaEdiccedilotildees Inapa Lisboa 2000

CASCAtildeO Joatildeo ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevorardquo Uma Jornada ao Alentejo e ao Algarve A altera-ccedilatildeo das linhas de forccedila da poliacutetica nacional Livros Horizonte Lisboa 1984 pp 77-136

CASTANHEDA Fernatildeo Lopes de Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses 2 vols Lello amp Irmatildeos Editores Porto 1979

CORREIA Gaspar Lendas da Iacutendia Tomo III na Typographia da Acade-mia Real das Sciencias Lisboa 1862

Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI Centro de Estudos Histoacutericos Ultramarinos Lis-boa 1969

GAYO Felgueiras Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX Ediccedilatildeo de Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Arauacutejo Affonso Braga 1939

GUEDES Liacutevio da Costa Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) Arquivo Histoacuterico Militar Lisboa 1988

GOacuteIS Damiatildeo de Chonica do Serenissimo Senhor Rei D Manoel Lisboa 1749

JOSEacute Frei Joatildeo de Satildeo ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 21-132

RODRIGUES Bernardo Anais de Arzila 2 vols Academia das Sciecircncias de Lisboa Lisboa 1915-1919

SARRAtildeO Henrique Fernandes ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 133-174

SOUSA Frei Luiacutes de Anais de D Joatildeo III 2 vols Saacute da Costa Lisboa 1928

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 199

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

SOUSA Manuel de Faria e Asia Portvgvesa Officina de Henrique Valen-te de Oliveira impressor del Rey NS Lisboa 1666

TENREIRO Antoacutenio amp AFONSO Mestre Viagens por terra da Iacutendia a Por-tugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica Mem-Martins 1991

3 Estudos

ALBUQUERQUE Luiacutes de (dir) Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-tos Portugueses 2 vols Ciacuterculos de Leitores Lisboa 1994

ALMEIDA Fortunato de Histoacuteria de Portugal Vols III-VII Promoclube Lisboa sd

CARDOSO Antoacutenio Pereira A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila agrave Austraacutelia em 1522 Academia da Marinha Lisboa 1994

CARVALHO Andreia Martins de ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Ma-nuelinardquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia ndash Actas do Coloacutequio Internacional Joatildeo Paulo Oliveira e Costa amp Viacutetor Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 199-226

CARVALHO Andreia Martins de Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria dos Descobrimen-tos e da Expansatildeo Portuguesa (seacuteculos XV-XVIII) apresentado agrave UNL Lisboa 2006

CAVACO Hugo ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio (Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Arte no Algarve) Cacircmara Muni-cipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1987

CAVACO Hugo Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha Cacircmara Munici-pal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1995

CORREIA Joseacute Eduardo Horta Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina Faup Publicaccedilotildees Porto 1997

CORREIA Joseacute Eduardo Horta O Algarve em Patrimoacutenio Gente Singular Editora Olhatildeo 2010

CORTESAtildeO Armando ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Aus-tralaacutesia Macau Japatildeo)rdquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939

CORTESAtildeO Jaime ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal (Dir Damiatildeo Peres) Vol IV Portucalense Editora Barce-los 1932 pp 9-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203200

Fernando Pessanha

CORTESAtildeO Jaime A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e de D Joatildeo II Lisboa 1960

COSME Joatildeo ldquoOs homens de ciecircnciardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 91-97

COSME Joatildeo ldquoOs Navegadores ndash Vasco da Gamardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 145-152

COSTA Joatildeo Paulo Oliveira e ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo A Nobreza e a Expansatildeo Estudos Biograacuteficos Joatildeo Paulo Oliveira e Costa (coord) Patrimoacutenia Cascais 2000 pp 11-51

DOMINGUES Francisco Contente ldquoOs portugueses descobriram a Aus-traacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Si-motildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Univer-sidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 163-172

DOMINGUES Francisco Contente Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 Circulo dos Leitores Lisboa 2016

FARIA Antoacutenio Machado de Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI Acade-mia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 1956

FARIA Antoacutenio Machado de ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo Separata da revista Arqueologia e Histoacuteria vol VI Lisboa 1955

FARIA Miguel Figueira de ldquoFortificaccedilotildees de Portugal na fronteira da Es-tremadura espanholardquo Anais ndash Seacuterie Histoacuteria Vol II Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 1995 pp 156-187

FONSECA Luiacutes Adatildeo da ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo A Alta No-breza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 322-347

FREIRE Anselmo Braamcamp Brasotildees da Sala de Sintra 3 vols Impren-sa da Universidade de Coimbra Coimbra 1921-1930

GARCIA Joseacute Manuel Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII QuidNovi Lisboa 2009

GARCIA Joseacute Manuel O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash 1555 Nordm 8 QuidNovi Vila do Conde 2012

GODINHO Rui Landeiro ldquoA Armada do Estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (Seacuteculos XV-XIX) Ediccedilotildees Cul-turais da Marinha Lisboa 2003 pp 117-137

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 32: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203196

Fernando Pessanha

Eacute nesse sentido que encontramos Cristoacutevatildeo de Mendonccedila como comen-dador de Arenilha em 1529 e 1530 anos em que jaacute se encontrava como capitatildeo na fortaleza de Ormuz De resto era nesta fortaleza que ainda se encontrava em 1531 ano em que piratas de Larache atacaram a vila da foz do Guadiana ldquoonde fizeacuteratildeo muito dano em navios que tomaacuteratildeo e den-tro da Barra de Aiamonte fizeacuteratildeo despejar a Arrinilha e a Montegordordquo138

7 Conclusatildeo

Com efeito muito se tem escrito (e especulado) sobre a alegada des-coberta da Austraacutelia por Cristoacutevatildeo de Mendonccedila No entanto e indepen-dentemente dos resultados alcanccedilados pelo navegador nesta expediccedilatildeo parece indiscutiacutevel que foi generosamente recompensado aquando do seu regresso ao reino Resta-nos perceber porquecirc Jaacute Armando Cortesatildeo muito antes de Peter Trickett tinha levantado a hipoacutetese de a rentaacutevel e cobiccedilada capitania de Ormuz ter sido entregue a Mendonccedila como re-compensa pelos serviccedilos prestados na expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro139 Natildeo eacute conhecido poreacutem qualquer documento que ateste o ecircxito do navegador nesta expediccedilatildeo Omissatildeo que segundo investigadores como Armando Cortesatildeo Damiatildeo Peres ou Jaime Cortesatildeo teraacute sido consequecircncia da rigorosa poliacutetica de segredo determinada pelas limitaccedilotildees de navega-ccedilatildeo estabelecidas pelo Tratado de Tordesilhas e com o contencioso entre Portugal e Espanha pela posse das Molucas140

O certo eacute que Mendonccedila ao regressar ao reino foi agraciado com uma das capitanias mais rentaacuteveis do impeacuterio no Oriente para aleacutem de ter recebido compensaccedilotildees econoacutemicas e aparecer referido em 1529 e 1530 como comendador da vila de Arenilha na foz do Guadiana Refira-se a este respeito que muitos capitatildees cavaleiros da Ordem de Cristo se lanccedilaram no projecto expansionista portuguecircs no Oriente Poreacutem mui-to poucos chegaram a obter as tatildeo almejadas comendas141 Vemos deste

138 RODRIGUES Anais Tomo II Cap XXXV p 209139 CORTESAtildeO ldquoA Expansatildeo Portuguesardquo p 158140 CORTESAtildeO A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e

de D Joatildeo II Do mesmo autor ver tambeacutem ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal Vol IV pp 65-66 PERES ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na Histoacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II pp 17-21

141 Entre os afortunados que lograram obter este tipo de rendimento contam-se muito poucos D Joatildeo Pereira D Pedro de Castelo Branco Nuno Furtado Simatildeo Guedes entre outros Ver CARVALHO Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia p 216

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 197

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

modo que a atribuiccedilatildeo da comenda de Arenilha significou um motivo de grande honra e prestiacutegio para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Ora se este navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro resta-nos perceber porque motivo teraacute sido agraciado com compensaccedilotildees eco-noacutemicas a nomeaccedilatildeo para uma das mais rentaacuteveis capitanias de todo o Impeacuterio no Oriente e uma honrosa comenda da Ordem de Cristo Eacute caso para dizer que a problemaacutetica em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila con-tinua a levantar muitas duacutevidas e poucas certezas

Fontes e Bibliografia

1 Arquivos

ANTT

Chancelaria de D Afonso V Livro 2 fl30

Chancelaria de D Manuel I Livro 4 fl37 Livro 8 fl 29v Livro 9 fl4v Livro 10 fl53 Livro 13 fl60 Livro 37 fl64

Chancelaria de D Joatildeo III Livro 12 fl62

Chancelaria da Ordem de Cristo Livro13 fls375 vndash 379v

Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1

Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 15 Nordm47 Pt I maccedilo 44 Nordm45 Pt I maccedilo 45 Nordm9

Pt II maccedilo 51 Nordm26 Pt II maccedilo 53 Nordm182 Pt II maccedilo 93 Nordm150 Pt II maccedilo 109 Nordm131 Pt II maccedilo 131 Nordm226 Pt II maccedilo 134 Nordm57 Pt II maccedilo 135 Nordm45 Pt II maccedilo 135 Nordm49 Pt II maccedilo 136 Nordm102 Pt II maccedilo 141 Nordm91

Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Nordm159

Casa Real Cartoacuterio da Nobreza Livro Nordm20 - Livro da Nobreza e da per-feiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal fl XII

2 Fontes Impressas

ABREU Lisuarte de Livro de Lisuarte de Abreu (Reproduccedilatildeo do manuscrito existente na Perpont Morgan Library de Nova York) Comissatildeo Nacional para as comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portugueses Lisboa 1992

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203198

Fernando Pessanha

ARMAS Duarte de Livro das Fortalezas Arquivo Nacional da Torre do TomboInapa Lisboa 1997

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada III Na Regia Officina Typografica Lisboa MDCCLXXVII

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada IV Imprensa Nacional Casa da Moe-da Lisboa 2001

BORGES Joseacute Calvatildeo Borges Livro do Armeiro-Mor Academia Portugue-sa de HistoacuteriaEdiccedilotildees Inapa Lisboa 2000

CASCAtildeO Joatildeo ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevorardquo Uma Jornada ao Alentejo e ao Algarve A altera-ccedilatildeo das linhas de forccedila da poliacutetica nacional Livros Horizonte Lisboa 1984 pp 77-136

CASTANHEDA Fernatildeo Lopes de Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses 2 vols Lello amp Irmatildeos Editores Porto 1979

CORREIA Gaspar Lendas da Iacutendia Tomo III na Typographia da Acade-mia Real das Sciencias Lisboa 1862

Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI Centro de Estudos Histoacutericos Ultramarinos Lis-boa 1969

GAYO Felgueiras Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX Ediccedilatildeo de Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Arauacutejo Affonso Braga 1939

GUEDES Liacutevio da Costa Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) Arquivo Histoacuterico Militar Lisboa 1988

GOacuteIS Damiatildeo de Chonica do Serenissimo Senhor Rei D Manoel Lisboa 1749

JOSEacute Frei Joatildeo de Satildeo ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 21-132

RODRIGUES Bernardo Anais de Arzila 2 vols Academia das Sciecircncias de Lisboa Lisboa 1915-1919

SARRAtildeO Henrique Fernandes ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 133-174

SOUSA Frei Luiacutes de Anais de D Joatildeo III 2 vols Saacute da Costa Lisboa 1928

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 199

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

SOUSA Manuel de Faria e Asia Portvgvesa Officina de Henrique Valen-te de Oliveira impressor del Rey NS Lisboa 1666

TENREIRO Antoacutenio amp AFONSO Mestre Viagens por terra da Iacutendia a Por-tugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica Mem-Martins 1991

3 Estudos

ALBUQUERQUE Luiacutes de (dir) Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-tos Portugueses 2 vols Ciacuterculos de Leitores Lisboa 1994

ALMEIDA Fortunato de Histoacuteria de Portugal Vols III-VII Promoclube Lisboa sd

CARDOSO Antoacutenio Pereira A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila agrave Austraacutelia em 1522 Academia da Marinha Lisboa 1994

CARVALHO Andreia Martins de ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Ma-nuelinardquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia ndash Actas do Coloacutequio Internacional Joatildeo Paulo Oliveira e Costa amp Viacutetor Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 199-226

CARVALHO Andreia Martins de Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria dos Descobrimen-tos e da Expansatildeo Portuguesa (seacuteculos XV-XVIII) apresentado agrave UNL Lisboa 2006

CAVACO Hugo ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio (Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Arte no Algarve) Cacircmara Muni-cipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1987

CAVACO Hugo Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha Cacircmara Munici-pal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1995

CORREIA Joseacute Eduardo Horta Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina Faup Publicaccedilotildees Porto 1997

CORREIA Joseacute Eduardo Horta O Algarve em Patrimoacutenio Gente Singular Editora Olhatildeo 2010

CORTESAtildeO Armando ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Aus-tralaacutesia Macau Japatildeo)rdquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939

CORTESAtildeO Jaime ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal (Dir Damiatildeo Peres) Vol IV Portucalense Editora Barce-los 1932 pp 9-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203200

Fernando Pessanha

CORTESAtildeO Jaime A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e de D Joatildeo II Lisboa 1960

COSME Joatildeo ldquoOs homens de ciecircnciardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 91-97

COSME Joatildeo ldquoOs Navegadores ndash Vasco da Gamardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 145-152

COSTA Joatildeo Paulo Oliveira e ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo A Nobreza e a Expansatildeo Estudos Biograacuteficos Joatildeo Paulo Oliveira e Costa (coord) Patrimoacutenia Cascais 2000 pp 11-51

DOMINGUES Francisco Contente ldquoOs portugueses descobriram a Aus-traacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Si-motildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Univer-sidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 163-172

DOMINGUES Francisco Contente Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 Circulo dos Leitores Lisboa 2016

FARIA Antoacutenio Machado de Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI Acade-mia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 1956

FARIA Antoacutenio Machado de ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo Separata da revista Arqueologia e Histoacuteria vol VI Lisboa 1955

FARIA Miguel Figueira de ldquoFortificaccedilotildees de Portugal na fronteira da Es-tremadura espanholardquo Anais ndash Seacuterie Histoacuteria Vol II Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 1995 pp 156-187

FONSECA Luiacutes Adatildeo da ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo A Alta No-breza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 322-347

FREIRE Anselmo Braamcamp Brasotildees da Sala de Sintra 3 vols Impren-sa da Universidade de Coimbra Coimbra 1921-1930

GARCIA Joseacute Manuel Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII QuidNovi Lisboa 2009

GARCIA Joseacute Manuel O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash 1555 Nordm 8 QuidNovi Vila do Conde 2012

GODINHO Rui Landeiro ldquoA Armada do Estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (Seacuteculos XV-XIX) Ediccedilotildees Cul-turais da Marinha Lisboa 2003 pp 117-137

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 33: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 197

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

modo que a atribuiccedilatildeo da comenda de Arenilha significou um motivo de grande honra e prestiacutegio para Cristoacutevatildeo de Mendonccedila Ora se este navegador natildeo foi bem-sucedido na sua expediccedilatildeo agrave Ilha do Ouro resta-nos perceber porque motivo teraacute sido agraciado com compensaccedilotildees eco-noacutemicas a nomeaccedilatildeo para uma das mais rentaacuteveis capitanias de todo o Impeacuterio no Oriente e uma honrosa comenda da Ordem de Cristo Eacute caso para dizer que a problemaacutetica em torno de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila con-tinua a levantar muitas duacutevidas e poucas certezas

Fontes e Bibliografia

1 Arquivos

ANTT

Chancelaria de D Afonso V Livro 2 fl30

Chancelaria de D Manuel I Livro 4 fl37 Livro 8 fl 29v Livro 9 fl4v Livro 10 fl53 Livro 13 fl60 Livro 37 fl64

Chancelaria de D Joatildeo III Livro 12 fl62

Chancelaria da Ordem de Cristo Livro13 fls375 vndash 379v

Cartas dos Governadores de Aacutefrica Nordm78

Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de Lisboa proc 10654 fl1

Corpo Cronoloacutegico

Pt I maccedilo 15 Nordm47 Pt I maccedilo 44 Nordm45 Pt I maccedilo 45 Nordm9

Pt II maccedilo 51 Nordm26 Pt II maccedilo 53 Nordm182 Pt II maccedilo 93 Nordm150 Pt II maccedilo 109 Nordm131 Pt II maccedilo 131 Nordm226 Pt II maccedilo 134 Nordm57 Pt II maccedilo 135 Nordm45 Pt II maccedilo 135 Nordm49 Pt II maccedilo 136 Nordm102 Pt II maccedilo 141 Nordm91

Coacutedices e documentos de proveniecircncia desconhecida Nordm159

Casa Real Cartoacuterio da Nobreza Livro Nordm20 - Livro da Nobreza e da per-feiccedilatildeo das armas dos reis cristatildeos e nobres linhagens dos reinos e senhorios de Portugal fl XII

2 Fontes Impressas

ABREU Lisuarte de Livro de Lisuarte de Abreu (Reproduccedilatildeo do manuscrito existente na Perpont Morgan Library de Nova York) Comissatildeo Nacional para as comemoraccedilotildees dos Descobrimentos Portugueses Lisboa 1992

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203198

Fernando Pessanha

ARMAS Duarte de Livro das Fortalezas Arquivo Nacional da Torre do TomboInapa Lisboa 1997

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada III Na Regia Officina Typografica Lisboa MDCCLXXVII

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada IV Imprensa Nacional Casa da Moe-da Lisboa 2001

BORGES Joseacute Calvatildeo Borges Livro do Armeiro-Mor Academia Portugue-sa de HistoacuteriaEdiccedilotildees Inapa Lisboa 2000

CASCAtildeO Joatildeo ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevorardquo Uma Jornada ao Alentejo e ao Algarve A altera-ccedilatildeo das linhas de forccedila da poliacutetica nacional Livros Horizonte Lisboa 1984 pp 77-136

CASTANHEDA Fernatildeo Lopes de Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses 2 vols Lello amp Irmatildeos Editores Porto 1979

CORREIA Gaspar Lendas da Iacutendia Tomo III na Typographia da Acade-mia Real das Sciencias Lisboa 1862

Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI Centro de Estudos Histoacutericos Ultramarinos Lis-boa 1969

GAYO Felgueiras Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX Ediccedilatildeo de Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Arauacutejo Affonso Braga 1939

GUEDES Liacutevio da Costa Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) Arquivo Histoacuterico Militar Lisboa 1988

GOacuteIS Damiatildeo de Chonica do Serenissimo Senhor Rei D Manoel Lisboa 1749

JOSEacute Frei Joatildeo de Satildeo ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 21-132

RODRIGUES Bernardo Anais de Arzila 2 vols Academia das Sciecircncias de Lisboa Lisboa 1915-1919

SARRAtildeO Henrique Fernandes ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 133-174

SOUSA Frei Luiacutes de Anais de D Joatildeo III 2 vols Saacute da Costa Lisboa 1928

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 199

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

SOUSA Manuel de Faria e Asia Portvgvesa Officina de Henrique Valen-te de Oliveira impressor del Rey NS Lisboa 1666

TENREIRO Antoacutenio amp AFONSO Mestre Viagens por terra da Iacutendia a Por-tugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica Mem-Martins 1991

3 Estudos

ALBUQUERQUE Luiacutes de (dir) Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-tos Portugueses 2 vols Ciacuterculos de Leitores Lisboa 1994

ALMEIDA Fortunato de Histoacuteria de Portugal Vols III-VII Promoclube Lisboa sd

CARDOSO Antoacutenio Pereira A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila agrave Austraacutelia em 1522 Academia da Marinha Lisboa 1994

CARVALHO Andreia Martins de ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Ma-nuelinardquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia ndash Actas do Coloacutequio Internacional Joatildeo Paulo Oliveira e Costa amp Viacutetor Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 199-226

CARVALHO Andreia Martins de Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria dos Descobrimen-tos e da Expansatildeo Portuguesa (seacuteculos XV-XVIII) apresentado agrave UNL Lisboa 2006

CAVACO Hugo ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio (Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Arte no Algarve) Cacircmara Muni-cipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1987

CAVACO Hugo Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha Cacircmara Munici-pal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1995

CORREIA Joseacute Eduardo Horta Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina Faup Publicaccedilotildees Porto 1997

CORREIA Joseacute Eduardo Horta O Algarve em Patrimoacutenio Gente Singular Editora Olhatildeo 2010

CORTESAtildeO Armando ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Aus-tralaacutesia Macau Japatildeo)rdquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939

CORTESAtildeO Jaime ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal (Dir Damiatildeo Peres) Vol IV Portucalense Editora Barce-los 1932 pp 9-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203200

Fernando Pessanha

CORTESAtildeO Jaime A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e de D Joatildeo II Lisboa 1960

COSME Joatildeo ldquoOs homens de ciecircnciardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 91-97

COSME Joatildeo ldquoOs Navegadores ndash Vasco da Gamardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 145-152

COSTA Joatildeo Paulo Oliveira e ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo A Nobreza e a Expansatildeo Estudos Biograacuteficos Joatildeo Paulo Oliveira e Costa (coord) Patrimoacutenia Cascais 2000 pp 11-51

DOMINGUES Francisco Contente ldquoOs portugueses descobriram a Aus-traacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Si-motildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Univer-sidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 163-172

DOMINGUES Francisco Contente Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 Circulo dos Leitores Lisboa 2016

FARIA Antoacutenio Machado de Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI Acade-mia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 1956

FARIA Antoacutenio Machado de ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo Separata da revista Arqueologia e Histoacuteria vol VI Lisboa 1955

FARIA Miguel Figueira de ldquoFortificaccedilotildees de Portugal na fronteira da Es-tremadura espanholardquo Anais ndash Seacuterie Histoacuteria Vol II Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 1995 pp 156-187

FONSECA Luiacutes Adatildeo da ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo A Alta No-breza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 322-347

FREIRE Anselmo Braamcamp Brasotildees da Sala de Sintra 3 vols Impren-sa da Universidade de Coimbra Coimbra 1921-1930

GARCIA Joseacute Manuel Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII QuidNovi Lisboa 2009

GARCIA Joseacute Manuel O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash 1555 Nordm 8 QuidNovi Vila do Conde 2012

GODINHO Rui Landeiro ldquoA Armada do Estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (Seacuteculos XV-XIX) Ediccedilotildees Cul-turais da Marinha Lisboa 2003 pp 117-137

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 34: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203198

Fernando Pessanha

ARMAS Duarte de Livro das Fortalezas Arquivo Nacional da Torre do TomboInapa Lisboa 1997

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada III Na Regia Officina Typografica Lisboa MDCCLXXVII

BARROS Joatildeo de Da Aacutesia ndash Deacutecada IV Imprensa Nacional Casa da Moe-da Lisboa 2001

BORGES Joseacute Calvatildeo Borges Livro do Armeiro-Mor Academia Portugue-sa de HistoacuteriaEdiccedilotildees Inapa Lisboa 2000

CASCAtildeO Joatildeo ldquoRelaccedilatildeo da Jornada de el-rei D Sebastiatildeo quando partiu da cidade de Eacutevorardquo Uma Jornada ao Alentejo e ao Algarve A altera-ccedilatildeo das linhas de forccedila da poliacutetica nacional Livros Horizonte Lisboa 1984 pp 77-136

CASTANHEDA Fernatildeo Lopes de Histoacuteria do Descobrimento e Conquista da Iacutendia pelos Portugueses 2 vols Lello amp Irmatildeos Editores Porto 1979

CORREIA Gaspar Lendas da Iacutendia Tomo III na Typographia da Acade-mia Real das Sciencias Lisboa 1862

Documentos Sobre os Portugueses em Moccedilambique e na Aacutesia Central 1497-1840 Vol VI Centro de Estudos Histoacutericos Ultramarinos Lis-boa 1969

GAYO Felgueiras Nobiliaacuterio das famiacutelias de Portugal Tomo XX Ediccedilatildeo de Agostinho de Azevedo Meirelles e Domingos de Arauacutejo Affonso Braga 1939

GUEDES Liacutevio da Costa Aspectos do Reino do Algarve nos Seacuteculos XVI e XVII ndash A laquoDescripccedilatildeoraquo de Alexandre Massaii (1621) Arquivo Histoacuterico Militar Lisboa 1988

GOacuteIS Damiatildeo de Chonica do Serenissimo Senhor Rei D Manoel Lisboa 1749

JOSEacute Frei Joatildeo de Satildeo ldquoCorografia do Reino do Algarve (1577)rdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 21-132

RODRIGUES Bernardo Anais de Arzila 2 vols Academia das Sciecircncias de Lisboa Lisboa 1915-1919

SARRAtildeO Henrique Fernandes ldquoHistoacuteria do Reino do Algarverdquo Duas Descriccedilotildees do Algarve do Seacuteculo XVI Livraria Saacute da Costa Lisboa 1983 pp 133-174

SOUSA Frei Luiacutes de Anais de D Joatildeo III 2 vols Saacute da Costa Lisboa 1928

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 199

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

SOUSA Manuel de Faria e Asia Portvgvesa Officina de Henrique Valen-te de Oliveira impressor del Rey NS Lisboa 1666

TENREIRO Antoacutenio amp AFONSO Mestre Viagens por terra da Iacutendia a Por-tugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica Mem-Martins 1991

3 Estudos

ALBUQUERQUE Luiacutes de (dir) Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-tos Portugueses 2 vols Ciacuterculos de Leitores Lisboa 1994

ALMEIDA Fortunato de Histoacuteria de Portugal Vols III-VII Promoclube Lisboa sd

CARDOSO Antoacutenio Pereira A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila agrave Austraacutelia em 1522 Academia da Marinha Lisboa 1994

CARVALHO Andreia Martins de ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Ma-nuelinardquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia ndash Actas do Coloacutequio Internacional Joatildeo Paulo Oliveira e Costa amp Viacutetor Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 199-226

CARVALHO Andreia Martins de Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria dos Descobrimen-tos e da Expansatildeo Portuguesa (seacuteculos XV-XVIII) apresentado agrave UNL Lisboa 2006

CAVACO Hugo ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio (Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Arte no Algarve) Cacircmara Muni-cipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1987

CAVACO Hugo Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha Cacircmara Munici-pal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1995

CORREIA Joseacute Eduardo Horta Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina Faup Publicaccedilotildees Porto 1997

CORREIA Joseacute Eduardo Horta O Algarve em Patrimoacutenio Gente Singular Editora Olhatildeo 2010

CORTESAtildeO Armando ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Aus-tralaacutesia Macau Japatildeo)rdquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939

CORTESAtildeO Jaime ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal (Dir Damiatildeo Peres) Vol IV Portucalense Editora Barce-los 1932 pp 9-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203200

Fernando Pessanha

CORTESAtildeO Jaime A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e de D Joatildeo II Lisboa 1960

COSME Joatildeo ldquoOs homens de ciecircnciardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 91-97

COSME Joatildeo ldquoOs Navegadores ndash Vasco da Gamardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 145-152

COSTA Joatildeo Paulo Oliveira e ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo A Nobreza e a Expansatildeo Estudos Biograacuteficos Joatildeo Paulo Oliveira e Costa (coord) Patrimoacutenia Cascais 2000 pp 11-51

DOMINGUES Francisco Contente ldquoOs portugueses descobriram a Aus-traacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Si-motildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Univer-sidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 163-172

DOMINGUES Francisco Contente Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 Circulo dos Leitores Lisboa 2016

FARIA Antoacutenio Machado de Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI Acade-mia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 1956

FARIA Antoacutenio Machado de ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo Separata da revista Arqueologia e Histoacuteria vol VI Lisboa 1955

FARIA Miguel Figueira de ldquoFortificaccedilotildees de Portugal na fronteira da Es-tremadura espanholardquo Anais ndash Seacuterie Histoacuteria Vol II Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 1995 pp 156-187

FONSECA Luiacutes Adatildeo da ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo A Alta No-breza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 322-347

FREIRE Anselmo Braamcamp Brasotildees da Sala de Sintra 3 vols Impren-sa da Universidade de Coimbra Coimbra 1921-1930

GARCIA Joseacute Manuel Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII QuidNovi Lisboa 2009

GARCIA Joseacute Manuel O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash 1555 Nordm 8 QuidNovi Vila do Conde 2012

GODINHO Rui Landeiro ldquoA Armada do Estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (Seacuteculos XV-XIX) Ediccedilotildees Cul-turais da Marinha Lisboa 2003 pp 117-137

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 35: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 199

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

SOUSA Manuel de Faria e Asia Portvgvesa Officina de Henrique Valen-te de Oliveira impressor del Rey NS Lisboa 1666

TENREIRO Antoacutenio amp AFONSO Mestre Viagens por terra da Iacutendia a Por-tugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica Mem-Martins 1991

3 Estudos

ALBUQUERQUE Luiacutes de (dir) Dicionaacuterio de Histoacuteria dos Descobrimen-tos Portugueses 2 vols Ciacuterculos de Leitores Lisboa 1994

ALMEIDA Fortunato de Histoacuteria de Portugal Vols III-VII Promoclube Lisboa sd

CARDOSO Antoacutenio Pereira A provaacutevel viagem de Cristoacutevatildeo de Mendon-ccedila agrave Austraacutelia em 1522 Academia da Marinha Lisboa 1994

CARVALHO Andreia Martins de ldquoTristatildeo da Cunha e a Expansatildeo Ma-nuelinardquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia ndash Actas do Coloacutequio Internacional Joatildeo Paulo Oliveira e Costa amp Viacutetor Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 199-226

CARVALHO Andreia Martins de Nuno da Cunha e os capitatildees da Iacutendia (1529-1538) Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Histoacuteria dos Descobrimen-tos e da Expansatildeo Portuguesa (seacuteculos XV-XVIII) apresentado agrave UNL Lisboa 2006

CAVACO Hugo ldquoVisitaccedilotildeesrdquo da Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio (Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Arte no Algarve) Cacircmara Muni-cipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1987

CAVACO Hugo Revisitando Santo Antoacutenio de Arenilha Cacircmara Munici-pal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 1995

CORREIA Joseacute Eduardo Horta Vila Real de Santo Antoacutenio ndash Urbanismo e Poder na Poliacutetica Pombalina Faup Publicaccedilotildees Porto 1997

CORREIA Joseacute Eduardo Horta O Algarve em Patrimoacutenio Gente Singular Editora Olhatildeo 2010

CORTESAtildeO Armando ldquoA Expansatildeo Portuguesa atraveacutes do paciacutefico (Aus-tralaacutesia Macau Japatildeo)rdquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939

CORTESAtildeO Jaime ldquoO Impeacuterio Portuguecircs no Oriente ateacute 1557rdquo Histoacuteria de Portugal (Dir Damiatildeo Peres) Vol IV Portucalense Editora Barce-los 1932 pp 9-77

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203200

Fernando Pessanha

CORTESAtildeO Jaime A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e de D Joatildeo II Lisboa 1960

COSME Joatildeo ldquoOs homens de ciecircnciardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 91-97

COSME Joatildeo ldquoOs Navegadores ndash Vasco da Gamardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 145-152

COSTA Joatildeo Paulo Oliveira e ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo A Nobreza e a Expansatildeo Estudos Biograacuteficos Joatildeo Paulo Oliveira e Costa (coord) Patrimoacutenia Cascais 2000 pp 11-51

DOMINGUES Francisco Contente ldquoOs portugueses descobriram a Aus-traacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Si-motildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Univer-sidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 163-172

DOMINGUES Francisco Contente Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 Circulo dos Leitores Lisboa 2016

FARIA Antoacutenio Machado de Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI Acade-mia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 1956

FARIA Antoacutenio Machado de ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo Separata da revista Arqueologia e Histoacuteria vol VI Lisboa 1955

FARIA Miguel Figueira de ldquoFortificaccedilotildees de Portugal na fronteira da Es-tremadura espanholardquo Anais ndash Seacuterie Histoacuteria Vol II Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 1995 pp 156-187

FONSECA Luiacutes Adatildeo da ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo A Alta No-breza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 322-347

FREIRE Anselmo Braamcamp Brasotildees da Sala de Sintra 3 vols Impren-sa da Universidade de Coimbra Coimbra 1921-1930

GARCIA Joseacute Manuel Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII QuidNovi Lisboa 2009

GARCIA Joseacute Manuel O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash 1555 Nordm 8 QuidNovi Vila do Conde 2012

GODINHO Rui Landeiro ldquoA Armada do Estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (Seacuteculos XV-XIX) Ediccedilotildees Cul-turais da Marinha Lisboa 2003 pp 117-137

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 36: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203200

Fernando Pessanha

CORTESAtildeO Jaime A Poliacutetica de Sigilo nos Descobrimentos nos tempos de Infante D Henrique e de D Joatildeo II Lisboa 1960

COSME Joatildeo ldquoOs homens de ciecircnciardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 91-97

COSME Joatildeo ldquoOs Navegadores ndash Vasco da Gamardquo Histoacuteria de Portugal (Dir Joatildeo Medina) Vol V Ediclube Amadora 2004 pp 145-152

COSTA Joatildeo Paulo Oliveira e ldquoA Nobreza e a Expansatildeo Particularidades de um fenoacutemeno social complexordquo A Nobreza e a Expansatildeo Estudos Biograacuteficos Joatildeo Paulo Oliveira e Costa (coord) Patrimoacutenia Cascais 2000 pp 11-51

DOMINGUES Francisco Contente ldquoOs portugueses descobriram a Aus-traacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Si-motildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Univer-sidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 163-172

DOMINGUES Francisco Contente Dicionaacuterio da Expansatildeo Portuguesa Vol 2 Circulo dos Leitores Lisboa 2016

FARIA Antoacutenio Machado de Livro de Linhagens do Seacuteculo XVI Acade-mia Portuguesa de Histoacuteria Lisboa 1956

FARIA Antoacutenio Machado de ldquoCavaleiros da Ordem de Cristo no seacutec XVIrdquo Separata da revista Arqueologia e Histoacuteria vol VI Lisboa 1955

FARIA Miguel Figueira de ldquoFortificaccedilotildees de Portugal na fronteira da Es-tremadura espanholardquo Anais ndash Seacuterie Histoacuteria Vol II Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 1995 pp 156-187

FONSECA Luiacutes Adatildeo da ldquoAs Ordens Militares e a Expansatildeordquo A Alta No-breza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (coord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 322-347

FREIRE Anselmo Braamcamp Brasotildees da Sala de Sintra 3 vols Impren-sa da Universidade de Coimbra Coimbra 1921-1930

GARCIA Joseacute Manuel Cidades e Fortalezas do Estado da Iacutendia ndash Seacuteculos XVI e XVII QuidNovi Lisboa 2009

GARCIA Joseacute Manuel O Mundo dos Descobrimentos Portugueses - O Mais Longiacutenquo Oriente 1515 ndash 1555 Nordm 8 QuidNovi Vila do Conde 2012

GODINHO Rui Landeiro ldquoA Armada do Estreito de Gibraltar no seacuteculo XVIrdquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (Seacuteculos XV-XIX) Ediccedilotildees Cul-turais da Marinha Lisboa 2003 pp 117-137

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 37: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 201

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

GRILO Maacutercia ldquoNa margem direita do Guadiana face a Espanhardquo Vila Real de Santo Antoacutenio e o Urbanismo Iluminista Cacircmara Municipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2010 pp 12-57

ldquoInscriccedilatildeo portuguesa descoberta na Aacutefrica do Sulrdquo in Oceanos Nordm4 Co-missatildeo Nacional para a Comemoraccedilatildeo dos Descobrimentos Lisboa Julho de 1990 pp 17-18

LACERDA Teresa Os Capitatildees das Armadas da Iacutendia no reinado de D Manuel I ndash uma anaacutelise social Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria e Arqueologia da Expansatildeo e dos Descobrimentos Portugueses apre-sentado agrave UNL Lisboa 2006

LAMEIRA Francisco amp SANTOS Maria Helena Rodrigues dos Visitaccedilatildeo de Igrejas Algarvias ndash Ordem de Satildeo Tiago ADEIPA Faro 1988

LEITE Duarte Histoacuteria dos Descobrimentos (coord Vitorino Magalhatildees Godinho) Vol II Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1960

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Para o Estudo do Algarve Econoacutemico Durante o Seacuteculo XVI Ediccedilotildees Cosmos Lisboa 1970

MAGALHAtildeES Joaquim Romero ldquoUma Sociedade Cristalizadardquo O Algar-ve da Antiguidade aos nossos dias Colibri Lisboa 1999 pp 274-277

MAGALHAtildeES Joaquim Romero Concelhos e organizaccedilatildeo municipal na eacutepoca moderna Miunccedilas 1 Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2011

McINTYRE Kenneth A Descoberta Secreta da Austraacutelia ndash A faccedilanha por-tuguesa 250 anos antes do Comandante Cook Fundaccedilatildeo OrienteCen-tro de Estudos Mariacutetimos de Macau 1989

OLIVEIRA Ataiacutede de Monografia do Concelho de Vila Real de Santo Antoacute-nio Algarve em Foco Editora Faro 1999

PERES Damiatildeo ldquoPoliacutetica de sigilo extensatildeo e natureza do sigilo quanto agrave actividade descobridora e agrave teacutecnica de navegaccedilatildeo o sigilo na His-toacuteria oficial Conclusatildeordquo Histoacuteria da Expansatildeo Portuguesa no Mundo Vol II Editorial Aacutetica Lisboa 1939 pp17-21

PESSANHA Fernando As Guarniccedilotildees Militares nas Praccedilas Portuguesas da Regiatildeo da Duquela no Algarve Daleacutem-mar Dissertaccedilatildeo de mestrado em Histoacuteria do Algarve apresentada agrave Universidade do Algarve Faro 2012

PESSANHA Fernando Os 500 anos da Fundaccedilatildeo de Arenilha ndash Memoacuterias de uma laquoviletaraquo nascida no decurso da Expansatildeo Portuguesa Cacircmara Mu-nicipal de Vila Real de Santo Antoacutenio Vila Real de Santo Antoacutenio 2014

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 38: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203202

Fernando Pessanha

PESSANHA Fernando Subsiacutedios para a Histoacuteria do Baixo Guadiana e dos Algarves Daqueacutem e Daleacutem-mar Ediccedilotildees Mandil Olhatildeo 2014

PESSANHA Fernando ldquoV Centenaacuterio da Fundaccedilatildeo de Santo Antoacutenio de Arenilha e a sua relaccedilatildeo com Ayamonterdquo XVIII Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamon-te Ayamonte 2014 pp 77-95

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite ndash Nomeado alcaide de Arenilha haacute 460 anosrdquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm180 Junho de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoLuiacutes Leite de Vasconcelos alcaide de Arenilha ndash Acusado pela inquisiccedilatildeo de sodomiardquo Jornal do Baixo Guadiana Nordm183 Setembro de 2015 p 21

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte nos Processos da Inquisiccedilatildeo do Ar-quivo Nacional da Torre do Tombo XX Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciudad de Ayamonte Ayuntamiento de Ayamonte Aya-monte 2016 pp 13-28

PESSANHA Fernando ldquoAyamonte na Expansatildeo Portuguesa para o Norte de Aacutefricardquo separata das XXI Jornadas de Histoacuteria de la muy noble y leal Ciu-dad de Ayamonte Editora Guadiana Vila Real de Santo Antoacutenio 2017

PESSANHA Fernando ldquoAtaques da pirataria agrave foz do Guadiana e a acccedilatildeo de Antoacutenio Leite alcaide-mor de Arenilhardquo Anais do Municiacutepio de Faro Vol XL Cacircmara Municipal de Faro Faro 2018 pp 63-94

PINTO Pedro ldquoIacutendice Analiacutetico das Cartas dos Governadores de Aacutefrica na Torre do Tombordquo Anais da Histoacuteria de Aleacutem-Mar Vol XI UNLCHAM Lisboa 2010 pp 249-380

PISSARRA Joseacute Vergiacutelio Amaro ldquoVasco Fernandes Ceacutesar capitatildeo da Ar-mada do Estreitordquo A Guerra Naval no Norte de Aacutefrica (seacuteculos XV ndash XIX) Ediccedilotildees Culturais da Marinha Lisboa 2003 pp 139-156

SERRAtildeO Joaquim Veriacutessimo Histoacuteria de Portugal ndash Volume II ndash A Fun-daccedilatildeo do Estado Moderno (1415-1495) Editorial Verbo Lisboa 1978

SERRAtildeO Joel (coord) Dicionaacuterio de Histoacuteria de Portugal 9 vols Figuei-rinhas Porto sd

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e A Ordem de Cristo (1417 ndash 1521) - Militarium Ordinum Analecta Nordm6 Fundaccedilatildeo Eng Antoacutenio de Almei-da Porto 2002

SILVA Isabel L Morgado de Sousa e amp PIMENTA Maria Cristina ldquoAs or-dens de Santiago e de Cristo e a fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Uma

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 39: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,

e-Strateacutegica 2 2018 bull ISSN 2530-9951 pp 165-203 203

Cristoacutevatildeo de Mendonccedila navegador no oriente e Capitatildeo de orMuzndash uM desConheCido CoMendador

perspectiva de estudordquo A Alta Nobreza e a Fundaccedilatildeo do Estado da Iacutendia Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Viacutetor Luiacutes Gaspar Rodrigues (co-ord) UNLCHAM Lisboa 2004 pp 349-361

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoDiogo Pacheco capitatildeo-mor da primeira expediccedilatildeo portuguesa agrave Austraacutelia em 1519rdquo Revista de Histoacuteria da Sociedade e da Cultura Nordm7 Universidade de CoimbraCHSC Coim-bra 2007 pp 111-125

SILVA Joseacute Manuel Azevedo e ldquoViagens e misteacuterios nos mares da In-doneacutesia e da Austraacutelia no seacuteculo XVIrdquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 9-20

SIMOtildeES Carlota amp Domingues Francisco Contente (coord) Portugue-ses na Austraacutelia as Primeiras Viagens Imprensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013

THOMAZ Luiacutes Filipe ldquoA expediccedilatildeo de Cristoacutevatildeo de Mendonccedila e o des-cobrimento da Austraacuteliardquo Portugueses na Austraacutelia as Primeiras Vi-agens Carlota Simotildees amp Francisco Contente Domingues (coord) Im-prensa da Universidade de Coimbra Coimbra 2013 pp 59-126

TRICKETT Peter Para Aleacutem de Capricoacuternio Como os navegadores por-tugueses descobriram e cartografaram secretamente a costa da Aus-traacutelia e da Nova Zelacircndia 250 anos antes da chegada do capitatildeo Cook Caderno Lisboa 2008

VASCONCELOS Antoacutenio Maria Falcatildeo Pestana de Nobreza e Ordens Mi-litares Relaccedilotildees Sociais e de Poder (seacuteculos XIV a XVI) Dissertaccedilatildeo de doutoramento em Histoacuteria Medieval e do Renascimento apresentada agrave Faculdade de Letras da Universidade do Porto Porto 2008

VENTURA Margarida ldquoOs coutos de Homiziados nas fronteiras com o direito de asilordquo Revista da Faculdade de Letras Histoacuteria 2ordf seacuterie Vol 15 Universidade do Porto Porto 1998 pp 601-625

Fecha de recepcioacuten 16-03-2018

Fecha de aceptacioacuten 18-06-2018

  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131
Page 40: Cristóvão de Mendonça, navegador no Oriente e capitão de Ormuz · existência de um topónimo de origem castelhana - e que nos dá conta da 2 De entre estes trabalhos destacam-se,
  • _Hlk527978904
  • _Hlk527883908
  • _GoBack
  • _Hlk527995131