camila lima maia
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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS AMBIENTAIS E TECNOLÓGICAS
CURSO DE BACHARELADO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA
CAMILA LIMA MAIA
USO DO BAMBU COMO MATERIAL DE CONSTRUÇÃO
MOSSORÓ - RN
2012
CAMILA LIMA MAIA
USO DO BAMBU COMO MATERIAL DE CONSTRUÇÃO
Monografia apresentada a Universidade
Federal Rural do Semiárido – UFERSA,
Departamento de Ciências Ambientais e
Tecnológicas para a obtenção do título de
Bacharel em Ciência e Tecnologia.
Orientadora: Profa. Dr
a. Sc. Marineide Jussara
Diniz – UFERSA.
MOSSORÓ - RN
2012
Ficha catalográfica preparada pelo setor de classificação e
catalogação da Biblioteca “Orlando Teixeira” da UFERSA
Bibliotecária:
Vanessa de
Oliveira
Pessoa
M217u Maia, Camila Lima. Uso do bambu como material de construção. / Camila Lima Maia.
-- Mossoró, 2012.
78 f.: il.
Monografia (Graduação em Ciência e tecnologia) –
Universidade Federal Rural do Semi-Árido.
Orientador: Drª. Marineide Jussara Diniz.
1. Bambu. 2. Utilização. 3. Material de construção. I. Título.
CDD:584.9
CRB15
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, por todas as benções que me foram dadas.
Agradeço a minha família, em especial a minha mãe Maria Cirleide de Lima, por todos os
sacrifícios feitos para que eu pudesse realizar meus sonhos e concretizar meus objetivos, pois
sem ela nada disso seria possível, por incutir em mim princípios para que eu pudesse sempre
buscar o que é correto, crescendo como pessoa e academicamente sem nunca precisar pisar
nem desrespeitar ninguém.
Agradeço a meus irmãos e amigos pelo apoio de sempre e aos colegas de faculdade pelas
noites e tardes de estudo, pela paciência, compreensão e por toda a ajuda e companheirismo
nos momentos mais difíceis da vida acadêmica. E aos professores que me proporcionaram o
conhecimento intelectual para que eu possa ser uma grande profissional no futuro.
Agradeço a UFERSA, por proporcionar tamanho amadurecimento, conhecimento e
crescimento pessoal, por despertar em mim o senso critico e a coragem de lutar pelo julgo
certo.
E por fim, agradeço a minha orientadora Marineide Jussara Diniz, por se dispor a me ajudar
com o TCC, pela paciência, conselhos e apoio em todos os momentos, para que este trabalho
saísse da melhor maneira possível.
“Nunca deixe que lhe digam que não vale
a pena acreditar no sonho que se tem, ou
que seus planos nunca vão dar certo, ou
que você nunca vai ser alguém (...). Se
você quiser alguém em quem confiar,
confie em si mesmo. Quem acredita,
sempre alcança!”
Renato Russo.
RESUMO
Os materiais utilizados hoje na construção civil trazem muitos prejuízos ao meio
ambiente, surgindo assim à necessidade de novos materiais que venham minimizar esses
problemas, tendo o bambu como uma ótima alternativa de desenvolvimento sustentável, já
que ele apresenta boa resistência, baixo custo, eficiência como material em obras existentes
no mundo todo e o fato de ser um material renovável. O bambu é uma gramínea da família
Poaceae ou Gramineae pertencentes à subfamília Bambusoideae. Existem mais de 1000
espécies espalhadas pelo mundo afora, sendo os gêneros Bambusa guadua, o Dendrocalamus
giganteus, o Bambusa tuldoides e o Bambusa vulgaris os mais utilizados como material na
construção civil. O seu uso como material de construção data de tempos pré-históricos em
países asiáticos e da América Latina. Desta forma, este trabalho mostra as propriedades do
bambu, as características gerais e específicas, suas muitas utilidades e o destaque que o
bambu vem ganhando na atualidade. De maneira mais particular, este trabalho mostra as
várias aplicações que o bambu pode ter nos mais diferentes sistemas construtivos, destacando
as técnicas utilizadas para se construir com bambu, os métodos utilizados para o tratamento
das varas a serem utilizadas bem como sua aplicação também em construções rurais.
Palavras – chave: Utilização. Bambu. Materiais de construção.
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Razão entre tensão de tração e massa especifica de alguns materiais...................42
Quadro 2 – Resistência dos bambus a Flexão...........................................................................43
Quadro 3 – Resistência das fibras.............................................................................................44
LISTA DE SIGLAS E SÍMBOLOS
Aço CA-25 – Aço concreto armado capacidade de suporte 250 MPa
CO2 – Dióxido de carbono
CPRA - Centro Paranaense de Referencia em Agroecologia
CPU - Unidade Central de processamento
INBAR - International Network For Bamboo And Rattan
MOE – Módulo de elasticidade
Monitor TFT - Transitor em filme fino (thin film transistor)
MP3 - Mpeg 1 layer 3 ( mini player, camada 3)
O2 – Oxigênio
ONG - Organização Não Governamental
PANACA - Restaurante do Parque Natural Agropecuário da Costa Rica
PVC – Cloreto de polivinila
R - Razão entre tensão de tração e peso específico
UFERSA - UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMIÁRIDO
UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
y - Peso específico
& - Tensão de tração
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Ponte de bambu na Universidade Tecnológica de Pereira, Colômbia. ..................... 18
Figura 2: Palácio Taj Mahal. .................................................................................................... 18
Figura 3: Plantio Itapajé de bambusa vulgaris.......................................................................... 19
Figura 4: Touceira de bambusa vulgares. ................................................................................. 20
Figura 5: Bambu do gênero Guadua – Amazônia. ................................................................... 22
Figura 6: Base de concreto. ...................................................................................................... 23
Figura 7: Abertura para preenchimento da vara com concreto. ............................................... 24
Figura 8: Painel de vedação. ..................................................................................................... 25
Figura 9: Sequência de construção de residência com painéis pré-moldados de bambu no
Equador. .................................................................................................................................... 25
Figura 10: Telha de bambu. ...................................................................................................... 26
Figura 11: Escada de bambu. .................................................................................................... 27
Figura 12: Ligação. ................................................................................................................... 28
Figura 13: Esquema de Ligação com parafuso. ........................................................................ 28
Figura 14: Partes do bambu. ..................................................................................................... 32
Figura 15: Aspectos Anatômicos e Morfológicos do colmo. ................................................... 33
Figura 16: Diferentes tipos de rizomas. .................................................................................... 34
Figura 17: Rizoma típico de bambu entouceirante. .................................................................. 35
Figura 18: Rizoma típico de bambu alastrante. ........................................................................ 36
Figura 19: Folha. ...................................................................................................................... 37
Figura 20: Fruto do bambu. ...................................................................................................... 38
Figura 21: Floresta de bambu. .................................................................................................. 39
Figura 22: Ensaios em peças de bambu. ................................................................................... 40
Figura 23: Dinoderus minutus, caruncho do bambu................................................................. 46
Figura 24: Cura na mata. .......................................................................................................... 48
Figura 25: Secagem com fogo segundo Van Legen. ................................................................ 49
Figura 26: Secagem com aquecedor solar. ............................................................................... 50
Figura 27: Banheira de barril de ferro. ..................................................................................... 51
Figura 28: Tratamento pelo método Boucherie. ....................................................................... 52
Figura 29: Recepção do Hotel do Frade & Golf Resort. .......................................................... 55
Figura 30: Restaurante do Hotel do Frade. ............................................................................... 57
Figura 31: Casa no condomínio do Frade. ................................................................................ 58
Figura 32: Sede da ONG. IBIOSFERA. ................................................................................... 59
Figura 33: Aspecto geral do restaurante do Parque Natural Agropecuário da Costa Rica –
PANACA. ................................................................................................................................. 60
Figura 34: Vista interna do restaurante do Parque Natural Agropecuário da Costa Rica –
PANACA. ................................................................................................................................. 61
Figura 35: Fachada do estacionamento do zoológico de Leipzig (Alemanha)......................... 62
Figura 36: Forro do Aeroporto Internacional de Barajas (Espanha). ....................................... 62
Figura 37: Pavilhão Roberto Guimarães no Rio de Janeiro. .................................................... 63
Figura 38: Bamboo Watch Tower. ........................................................................................... 63
Figura 39: Gazebo de Dois Andares. ........................................................................................ 64
Figura 40: Centro Cultural Max Feffer. ................................................................................... 64
Figura 41: Museu Nacional de Arte em Osaka, Japão. ............................................................ 65
Figura 42: Residência de bambu e madeira em Guadalupe, México. ...................................... 65
Figura 43: Pavilhão Zeri, construído como modelo em escala real, para Expo-Hannover. ..... 66
Figura 44: Igreja Nuestra Señora de La Pobreza, em Pereira, Colômbia. ................................ 66
Figura 45: Galpão construído com estrutura de Bambu e conexões metálicas. ....................... 68
Figura 46: Estufa ecológica desenvolvida pelo CPRA. ............................................................ 69
Figura 47: Viveiros para produção de mudas. .......................................................................... 70
Figura 48: Cerca em forma de fileiras. ..................................................................................... 70
Figura 49: Casa de bambu. ....................................................................................................... 73
Figura 50: Notebook da Assus Bamboo Series, lançado em agosto de 2008. .......................... 77
Figura 51: Teclado e mouse da Evergreen Japan. .................................................................... 78
Figura 52: Monitor TFT de 15 polegadas completa o conjunto CPU, teclado e mouse. Tem
resolução de 1.024 x 768. ......................................................................................................... 78
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 15
2 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 16
3 METODOLOGIA ................................................................................................................ 16
4 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................................... 17
4.1 HISTÓRICO ................................................................................................................... 17
4.2 USOS DO BAMBU COMO MATERIAL DE CONSTRUÇÃO ................................... 19
4.3 TÉCNICAS CONSTRUTIVAS COM BAMBU ............................................................ 22
4.3.1. Pilares ......................................................................................................................... 22
4.3.2. Fundações .................................................................................................................. 23
4.3.3. Painel de Vedação ..................................................................................................... 24
4.3.4. Telhas e escadas ........................................................................................................ 26
4.3.5. Ligações ...................................................................................................................... 27
5 VANTAGENS E DESVANTAGENS DO USO DO BAMBU COMO MATERIAL DE
CONSTRUÇÃO ...................................................................................................................... 29
5.1 VANTAGENS ................................................................................................................ 29
5.2 DESVANTAGENS ........................................................................................................ 30
6 CARACTERÍSTICAS DO BAMBU .................................................................................. 32
6.1 COLMOS ........................................................................................................................ 32
6.2 RIZOMA ......................................................................................................................... 33
6.2.1. Bambus Entouceirantes ........................................................................................... 34
6.2.2. Bambus Alastrantes .................................................................................................. 35
6.3 FOLHAS ......................................................................................................................... 36
6.4 FRUTOS ......................................................................................................................... 37
6.5 RAÍZES .......................................................................................................................... 38
6.6 OUTRAS CARACTERÍSTICAS ................................................................................... 38
7 PROPRIEDADES DO BAMBU ........................................................................................ 40
7.1 PROPRIEDADES MECÂNICAS .................................................................................. 40
7.1.1. Compressão ............................................................................................................... 41
7.1.2. Tração ........................................................................................................................ 42
7.1.3. Flexão ......................................................................................................................... 43
7.1.4. Torção ........................................................................................................................ 43
7.1.5. Cisalhamento ............................................................................................................. 43
7.1.6. Resistência das fibras ................................................................................................ 44
7.2 PROPRIEDADES FÍSICAS ........................................................................................... 45
7.2.1. Densidade ................................................................................................................... 45
7.2.2. Umidade ..................................................................................................................... 45
7.2.3. Variações dimensionais ............................................................................................ 45
7.3 PROPRIEDADES QUÍMICAS ...................................................................................... 46
8 MÉTODOS DE CONSERVAÇÃO ................................................................................... 47
8.1 SECAGEM ..................................................................................................................... 49
8.2 FERVURA E COCÇÃO ................................................................................................. 50
8.3 TRATAMENTO QUÍMICO .......................................................................................... 51
8.4 BOUCHERIE .................................................................................................................. 52
8.5 ÁGUA ............................................................................................................................. 53
8.6 OUTROS MÉTODOS DE CONSERVAÇÃO ............................................................... 53
9 APLICAÇÕES ..................................................................................................................... 54
9.1 OBRAS DO HOTEL DO FRADE & GOLF RESORT ................................................. 54
9.2 RECEPÇÃO DO HOTEL DO FRADE & GOLF RESORT .......................................... 55
9.3 RESTAURANTE DO HOTEL DO FRADE & GOLF RESORT .................................. 56
9.4 CASA NO CONDOMÍNIO DO FRADE ....................................................................... 57
9.5 PAVILHÃO SEDE DA ONG SÓCIO-AMBIENTAL IBIOSFERA ............................. 58
9.6 RESTAURANTE DO PARQUE NATURAL AGROPECUÁRIO DA COSTA RICA –
PANACA .............................................................................................................................. 60
9.7 USO DO BAMBU NAS ESTRADAS ........................................................................... 67
9.8 USO DO BAMBU COMO MATERIAL DE CONSTRUÇÃO NO MEIO RURAL .... 67
9.8.1. Irrigação .................................................................................................................... 67
9.8.2. Construção de Galpões ............................................................................................. 68
9.8.3. Casa de Vegetação ou Viveiros ................................................................................ 69
9.8.4. Cercas ......................................................................................................................... 70
9.8.5. Instalações para galinhas caipiras ........................................................................... 71
9.8.6. Piso para aprisco de cabriteiros .............................................................................. 71
9.8.7. Estrutura para estábulos aplicados a pequenos animais ...................................... 71
9.8.8. Cocho para alimentação de pequenos animais ....................................................... 72
9.8.9. Construção de Porteiras ........................................................................................... 72
9.8.10. Pequenas Moradias Rurais .................................................................................... 72
10 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 74
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 75
APÊNDICE A – CURIOSIDADES SOBRE O USO DO BAMBU .................................... 77
1. CURIOSIDADES ............................................................................................................. 77
1.1. O bambu na informática ......................................................................................... 77
15
1 INTRODUÇÃO
Os métodos usados hoje na construção, com materiais industrializados, produzem
enormes quantidades de entulhos como depósitos sólidos, líquidos e gasosos que são
despejados no meio ambiente e são difíceis de serem reincorporados na natureza. Com isso,
surge a necessidade de renovar o consumo de materiais para a construção civil, através de
materiais não convencionais, buscando a diminuição do impacto ambiental causado,
destacando-se o bambu como uma alternativa de desenvolvimento sustentável.
O bambu é uma espécie vegetal da família das Gramíneas, com mais de mil espécies
existentes pelo mundo afora. Ele pode ser encontrado em quase todos os países, com exceção
da Europa, tendo a sua maior concentração na América e na Ásia, onde é largamente utilizado
como material de construção desde os tempos pré-históricos. Como, por exemplo, em Hong-
Kong e na Colômbia, é comum ver-se casas, edifícios, pontes e andaimes feitos inteiramente
com estruturas e acabamentos em bambu. Um exemplo clássico do uso estrutural do bambu é
a construção milenar da cúpula do Taj Mahal. (recentemente substituída por outro material
estrutural, aço).
Alem de ter função estrutural, o bambu também pode ser usado como vários outros
elementos construtivos como paredes, telhas, laminados de bambu para acabamentos, forros,
pisos, mobiliários e utensílios. E ainda absorve grandes quantidades de CO2 da atmosfera,
ajudando a diminuir os efeitos do aquecimento global.
O uso do bambu como material de construção ainda é pouco difundido no Brasil, pois
ainda há muita resistência à utilização desse material devido à falta de pesquisa e divulgação
de suas propriedades físicas e mecânicas, bem como de tratamentos eficazes para conservação
e manutenção das varas utilizadas.
Tendo em vista que o bambu já vem sendo utilizado como material na construção civil
há muitos anos, o presente trabalho fará um estudo das vantagens e desvantagens de se utilizar
esse material, apresentando seus principais aspectos físicos, mecânicos, bem como suas
aplicações na engenharia e na arquitetura e as possibilidades do uso nas construções rurais e
urbanas, por meio de pesquisa bibliográfica.
16
2 OBJETIVOS
O objetivo principal desse trabalho de conclusão de curso é mostrar a importância que
o bambu apresenta hoje para a construção civil, através do estudo das características gerais,
pesquisas das propriedades específicas, métodos de conservação e aplicação desta gramínea
como material de construção.
3 METODOLOGIA
De acordo com Gil (2002), “a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em
material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”.
Sendo assim, a metodologia utilizada neste trabalho foi uma revisão bibliográfica,
tendo como fonte de pesquisa, artigos, livros, monografias, teses de mestrado, entrevistas em
revistas especializadas, arquivos virtuais, bem como livros de literatura especializada dentre
outros recursos disponíveis. No primeiro momento, foi feito toda a pesquisa, utilizando livros
impressos e eletrônicos disponíveis na internet. Em seguida os dados foram analisados e
expostos aqui, de forma a possibilitar maior esclarecimento e entendimento do assunto em
questão, mostrando os prós e contras do uso do bambu como material de construção.
17
4 REVISÃO DE LITERATURA
4.1 HISTÓRICO
Segundo Vidal (2003) apud Marquez (2006), a origem da palavra bambu ainda é
pouco conhecida. Alguns estudiosos atribuem ao médico da corte Pérsia, Ctesias, a autoria
dos primeiros escritos sobre o bambu, indicando que os povos da índia oriental o usavam para
a fabricação de canoas. Outros indícios levam a crer que a palavra bambu vem da palavra
mambum, nome dado pelos nativos da tribo Mambu para a planta na região da Índia. Outros
pesquisadores do bambu afirmam que este tem sua origem na era Cretácea.
De acordo com Donato et al (2010), o Bambu é uma planta da família das gramíneas
(Poaceae ou Gramineae) pertencentes à subfamília Bambusoideae. Essa subfamília se
subdivide em dois grupos, a Bambuseae (os bambus chamados de lenhosos) e a Olyrae (os
bambus chamados herbáceos). Estima-se que existam cerca 1250 espécies, espalhadas entre
90 gêneros distintos, presentes de forma nativa em quase todos os países do mundo, tendo
maior concentração na América e na Ásia, não sendo encontrados na Europa. Tem muita
capacidade de adaptação, podendo se desenvolver em regiões tanto de climas tropicais como
temperados, e também em diversas altitudes, como no nível do mar até altitudes acima de
4000 metros.
Segundo Recht, Wetterwald (1994) apud Marquez (2006), o histórico do uso do
bambu na construção civil data da pré-história em países do sul asiático e China, onde o
bambu era empregado na construção de habitações e pontes (Figura 1). Estas pontes,
construídas há cerca de cinco mil anos, utilizavam cabos feitos de fibras de bambu e tinham
uma incrível capacidade de vencer grandes vãos. Marquez (2006) cita como exemplo do uso
arquitetônico do bambu o Taj Mahal (Figura 2), que recentemente foi reformado e sua
estrutura de bambu foi substituída por outro elemento estrutural (aço).
18
Figura 1: Ponte de bambu na Universidade Tecnológica de Pereira, Colômbia.
Fonte: PADOVAN, 2010.
Figura 2: Palácio Taj Mahal.
Fonte: PADOVAN, 2010.
Marquez (2006) afirma que o uso do bambu na construção civil é bastante difundido
também em vários países da América Latina, como: Peru, Equador, Costa Rica e Colômbia.
De acordo com Pereira Neto et al (2009), sítios arqueológicos no Equador mostram que o
bambu é utilizado há cerca de 5000 anos na América do Sul, primeiramente pelos indígenas.
“No Brasil, as espécies mais conhecidas e disseminadas de bambu são aquelas de
origem asiática. Algumas delas foram introduzidas pelos colonizadores portugueses
19
(principais gêneros: Bambusa e Dendrocalamus), trazidas de suas possessões na Ásia”.
(BERALDO, 2012).
Atualmente, tais gêneros de bambus encontram-se disseminados por todo o
território nacional, fazendo parte do ecossistema, servindo de proteção da
fauna e preservando os lençóis d’água. Além de fazer parte da típica
paisagem rural brasileira, tais bambus começam a despertar o interesse
econômico junto a empresas. Pode-se citar, por exemplo, no Maranhão, as
imensas plantações de Bambusa vulgaris Schrad, (Figura 3) pertencentes ao
grupo João Santos (Itapagé), destinados à produção de celulose para a
fabricação de sacarias industriais. (BERALDO, 2012).
Figura 3: Plantio Itapajé de bambusa vulgaris.
Fonte: PADOVAN, 2010.
4.2 USOS DO BAMBU COMO MATERIAL DE CONSTRUÇÃO
“Devido à crescente preocupação com o meio ambiente e com o déficit habitacional
vêm se destacando pesquisas com materiais alternativos de baixo custo. Dentre tais materiais
destaca-se o bambu, material abundante, de rápido desenvolvimento e renovável.”
(ESPELHO; BERALDO, 2004).
De acordo com Morado (1994), estudos feitos em todo o mundo apontam o bambu
como material viável e adequado para a construção, podendo ser integrado à produção
20
moderna de edificações e estruturas. Vigas, arcos, cúpulas, pórticos, telhados, tendas, casas,
templos, vilas inteiras são produzidos há centenas de anos com técnicas construtivas
tradicionais. Pesquisas estão sendo feitas para buscar novas soluções e agregar tecnologia a
essas construções, melhorando sua eficiência.
Ainda segundo Morado (1994), no que se refere à sustentabilidade, o bambu (Figura
4) se mostra uma excelente alternativa construtiva em substituição à madeira, já que esta
cresce muito mais lentamente que a primeira, atingindo seu tamanho ideal para corte numa
média de 30 anos ou mais, uma vez que o bambu cresce muito mais rápido podendo está
pronto para o corte em até três anos.
Figura 4: Touceira de bambusa vulgares.
Fonte: MARÇAL, 2008.
De acordo com Pereira Neto et al (2009), o bambu tem um importante potencial
social, sendo de extrema importância para o desenvolvimento em países do chamado Terceiro
Mundo. Por exemplo, em países como Colômbia, Equador e Costa Rica, já existem
programas sociais de construção de casas populares com bambu que está criando mão de oba
capacitada, diminuindo assim o desemprego. Esses programas são resultado do esforço de
arquitetos e engenheiros latino-americanos como Oscar Hidalgo Lopez, Simón Vélez e Ana
Cecilia Chaves, cujo trabalho é internacionalmente reconhecido.
O bambu pode ser usado de forma estrutural em colunas, vigas, lastros e pilar.
Também pode ser utilizado como caibro, ripa, dreno, piso e revestimentos, entre outros. Sem
21
função estrutural, serve como telha, forro e maçaneta. Pode ser utilizado em escadas, janelas,
paredes, servindo até mesmo como isolante acústico ou como substituto de tijolos. É
apropriado também para determinados encanamentos de água e se tratados adequadamente
podem durar como madeira de lei. No âmbito rural, o bambu pode ser utilizado para a
construção de cercas, para a irrigação, construção de viveiros, pequenas residências e etc..
Segundo Beraldo e Azzini (2004), no Brasil ainda não se aproveita todo o potencial do
bambu devido a uma resistência cultural à aceitação deste como material durável e confiável,
além da ideia errônea de associá-lo às obras temporárias e também à miséria e, com isso,
diminuindo seu interesse científico e tecnológico. Em BAMBU BRASILEIRO (2012), tem-se
que apesar do trabalho sério de alguns profissionais, como Cláudio Bernardes do Rio de
Janeiro, o bambu ainda é reconhecido como “madeira dos pobres”. Lentamente o esforço de
pesquisadores, engenheiros e arquitetos vão derrubando essa ideia retrógrada. O Professor
Antônio de Barros Salgado, do Instituto Agronômico de Campinas, construiu uma casa com
base de contra vento no Estado de São Paulo, mostrando avanços nas pesquisas com bambu.
Porém, de acordo com Pereira (2001), no Brasil, o bambu ainda é usado de modo restrito a
aplicações tradicionais, como artesanato, vara-de-pescar, fabricação de móveis e na produção
de brotos comestíveis.
De acordo com Teixeira Jr. et al (2009), a Ásia nos mostra os exemplos vivos mais
antigos das construções com bambu, em templos japoneses, chineses e indianos. Na África
também se encontram muitas habitações populares construídas com bambu. A organização
chinesa International Network for Bamboo and Rattan (Inbar) estima que mais de um bilhão
de pessoas habitem construções desse tipo em todo o mundo. Porém, a maioria delas foi
erguida em países em desenvolvimento, com técnicas tradicionais que estão se perdendo.
“As Espécies mais utilizadas como material de construção, por ordem de preferência,
são a Bambusa guadua (Figura 5), Dendrocalamus giganteus, Bambusa tuldoides e Bambus
vulgaris” (PEREIRA NETO et al, 2009).
22
Figura 5: Bambu do gênero Guadua – Amazônia.
Fonte: http://www.bambubrasileiro.com/info/especies/4.html. Acesso em: 02 maio, 2012.
4.3 TÉCNICAS CONSTRUTIVAS COM BAMBU
Para Marçal (2008), a qualidade das estruturas de bambu na construção civil está
relacionada às técnicas construtivas destinadas a este material. Algumas são básicas, porém
muito importantes, por exemplo:
4.3.1. Pilares
De acordo com Marçal (2008), O bambu deve sempre manter uma distância do solo, a
fim de se evitar o contato direto das peças com a umidade do terreno, que pode causar o
aparecimento de fungos, aumentar a umidade interna e diminuir a resistência do material.
Segundo Benetti et al, (2009), os pilares (Figura 6), portanto, são construídos em bases de
concreto, isolando-os do solo e protegendo da umidade.
23
Figura 6: Base de concreto.
Fonte: MARÇAL, 2008.
4.3.2. Fundações
No que diz respeito às fundações, de acordo com Marçal (2008), a ligação das varas
com a fundação pode ser feita de várias maneiras. A mais usada é o preenchimento do colmo
com concreto (Figura 7), feito através de uma abertura circular acima do nível de massa a ser
usado. Para uma interação ideal entre vara e fundação deve-se usar uma barra de ferro
chumbada pelo menos a 30 cm na fundação e 30 cm dentro da vara. Sempre observando a
aderência entre a barra de ferro e o concreto.
24
Figura 7: Abertura para preenchimento da vara com concreto.
Fonte: MARÇAL, 2008.
4.3.3. Painel de Vedação
Segundo Benetti et al (2009), o bambu na forma de painel de vedação (Figura 8) pode
constituir-se de varas verticais ou ripas inseridas em molduras, podendo ser de bambu ou de
madeira, dependendo da necessidade ou preferência. Além disso, os painéis de vedação feitos
de bambu podem ser preenchidos com barro ou argamassa (Figura 9). Estes painéis são de
grande flexibilidade, de fácil execução e passíveis de futuras ampliações.
25
Figura 8: Painel de vedação.
Fonte: NUNES, 2005. Disponível em
http://200.17.141.110/pos/prodema/files/dis2005/ANTONIORICARDO.pdf. Acesso em : 29 abril, 2012.
Figura 9: Sequência de construção de residência com painéis pré-moldados de bambu no
Equador.
Fonte: PADOVAN, 2010.
26
4.3.4. Telhas e escadas
De acordo com Benetti et al (2009), na construção de telhas de bambus (Figura 10),
estas devem ser amarradas umas às outras com arame galvanizado, evitando que o vento as
tire do lugar. As escadas (Figura 11) feitas de bambu são apoiadas em estruturas de outros
materiais, geralmente de concreto, propiciando um menor contato com o solo, visto que a
umidade pode diminuir significativamente a sua vida útil. Na junção dos degraus podem ser
utilizados elementos metálicos, fibras naturais, etc., que contribuem com a ligação e
estruturação das escadas de bambu.
Figura 10: Telha de bambu.
Fonte: PEREIRA NETO et al, 2009.
27
Figura 11: Escada de bambu.
Fonte: http://mundodaimpermeabilizacao.blogspot.com.br/2011/01/bambu-na-construcao-civil.html. Acesso em:
19 maio, 2012.
4.3.5. Ligações
Para fazer as ligações com bambu (Figura 12) recomenda-se parafusá-las (Figura 13)
para proporcionarem maior estabilidade. Não se recomenda a utilização de pregos, pois estes
podem causar fissuras e quebras no material. Segundo Marquez (2006), o tipo de ligação com
bambu mais utilizada hoje em dia é a “Ligação Vélez”, desenvolvida pelo arquiteto
colombiano Simón Vélez e consiste na abertura de um orifício na parte superior do colmo de
bambu parafusado onde, após o travamento da estrutura, ocorre a injeção de concreto. Esta
solução visa evitar o cisalhamento, patologia que pode ser causada na utilização dos parafusos
para união e fixação das peças estruturais. Com o simples aumento da superfície de contato do
parafuso e da parede de bambu, evitam-se as fissuras e o esmagamento, talvez as
características mais desfavoráveis na utilização do bambu na estrutura.
28
Figura 12: Ligação.
Fonte:DONATO et al, 2010.
Figura 13: Esquema de Ligação com parafuso.
Fonte: MARQUEZ, 2006.
29
5 VANTAGENS E DESVANTAGENS DO USO DO BAMBU COMO MATERIAL DE
CONSTRUÇÃO
5.1 VANTAGENS
De acordo com Benetti et al (2009), dentre as muitas vantagens do uso do bambu
como material de construção, destaca-se o fator ambiental e a economia. O bambu é um
material renovável e capaz retirar da atmosfera cerca de 62 toneladas de CO2 por hectare
plantado/ano (aproximadamente 3 vezes mais que uma floresta nativa ou de reflorestamento),
e liberar aproximadamente 35% a mais de O2. No aspecto econômico, pelos cálculos do
professor Ghavami apud Teixeira Jr. et al, (2009) a sua utilização pode reduzir em mais de
30% o custo final da construção.
Beraldo (2012) faz um estudo das vantagens que o bambu apresenta quando usado
como material de construção e algumas delas são listadas a seguir:
Dentre as inúmeras vantagens do uso do bambu como material de construção,
podemos destacar a perenidade, pois embora os colmos tenham uma vida útil variando entre 4
e 15 anos, a touceira (moita) é perene. Um exemplo encontra-se no Instituto Agronômico de
Campinas (Fazenda Santa Elisa) onde ainda existem fileiras de bambu comum (Bambusa
tuldoides) que foram plantadas há mais de um século.
Outra vantagem diz respeito à tolerância do bambu a solos com baixa fertilidade, pois
este pode se propagar em regiões inóspitas, onde outros vegetais jamais conseguiriam
sobreviver. E, ainda, quando se efetuam os tratos culturais adequados, à produtividade do
bambu pode aumentar significativamente.
“Dependendo da espécie de bambu os colmos podem ser cortados após 2 a 4 anos,
constituindo-se na matéria-prima natural mais rapidamente produzida. Dependendo da
aplicação desejada, esse intervalo de tempo pode ainda ser reduzido”. (BERALDO, 2012).
O bambu pode apresentar-se sob as mais diversas formas e são umas das estruturas
mais perfeitas da natureza, pois combinam flexibilidade e leveza. Os colmos são geralmente
30
ocos e se dividem transversalmente por septos (diafragmas), aumentando a resistência do
bambu e lhe confere cerca de 1/3 da densidade do concreto.
Já foram catalogados milhares de usos para o bambu, por exemplo, na Ásia, onde o
bambu tem sua maior aplicação desde tempos pré-históricos, é comum dizer que o bambu
acompanha o homem "do berço ao túmulo", tamanha é a sua importância.
O bambu foi largamente utilizado na construção civil, sobretudo em construções
rurais, desde o tempo colonial. O bambu também é objeto de estudos para o reforço do
concreto, ou combinado com diversos tipos de aglomerantes.
5.2 DESVANTAGENS
Beraldo (2012), também fez um estudo sobre as desvantagens em relação ao uso do
bambu como material de construção. Algumas são listadas a seguir:
Uma grande desvantagem em relação ao uso do bambu como material de construção é
a falta de normatização, pois o bambu ainda não apresenta especificação técnica para uso na
construção. Desse modo os resultados apresentados pelos diferentes autores nem sempre
podem ser comparados entre si, o que dificulta a tarefa dos projetistas e dos construtores.
Outra desvantagem é a baixa resistência apresentada pelo bambu ao ataque do
caruncho (Dinoderus minutus) e o tratamento dos colmos para resistir a esse ataque ainda não
alcançou o mesmo nível industrial daquele observado para a madeira. Além disso, o bambu é
muito higroscópico e, em presença de variações de umidade, fendilha e racha. Esse fato, além
de causar instabilidade nas construções, abre caminho para o ataque do caruncho.
O bambu apresenta também um elevado risco durante incêndios, assim como ocorre
com a madeira. Mas um dos grandes entraves à disseminação do uso do bambu em
construções esta relacionado à ausência de fornecedores de mudas, quando se pensa na
execução de projetos em escala industrial. Apenas para o setor do paisagismo e da decoração
encontra-se certa disponibilidade de mudas (embora o preço seja, geralmente, muito elevado).
31
Por fim, embora o bambu já seja largamente utilizado em todo o mundo, o Brasil não
descobriu ainda o potencial desta gramínea para as mais diversas aplicações, pois se associa o
bambu a obras temporárias ou a miséria, diferentemente do que acontece em outros países da
América Latina, onde o uso do bambu não encontra tantas restrições, sobretudo devido à
escassez de madeira nativa.
32
6 CARACTERÍSTICAS DO BAMBU
O bambu é composto basicamente por raízes e rizomas na parte subterrânea, folhas,
flores, frutos e colmo na parte aérea (Figura 14).
Figura 14: Partes do bambu.
Fonte: SILVA, 2005.
6.1 COLMOS
Os colmos (Figura 15) são cilíndricos, geralmente ocos, muito resistentes e
flexíveis. Estruturalmente, os colmos de bambu são constituídos por nós e
internós, sendo esses últimos, segmentos ocos compreendidos entre dois nós
consecutivos. Nas regiões dos nós ocorrem as ligações transversais entre as
paredes do colmo. O comprimento e o diâmetro dos internós, bem como a
espessura da parede do colmo, variam com a espécie e com a posição ao
longo da altura. (BERALDO; AZZINI, 2000).
33
De acordo com Beraldo e Azzini (2000), sob um ponto de vista biológico, os colmos
de bambu podem ser considerados como um material estrutural otimizado, pois, são
produzidos anualmente, sem a necessidade de novos plantios, num curtíssimo período de
tempo (80 a 110 dias), com a menor quantidade possível de massa fibrosa.
Conforme Silva (2005), os colmos têm a capacidade de realizar a fotossíntese,
entretanto sua principal função é dar estrutura a parte aérea, armazenar e conduzir a seiva
bruta e elaborada. Do ponto de vista agronômico o colmo é a parte mais importante do
bambu, pois ele é a matéria prima utilizada na construção civil, fabricação de papel, tecido,
pisos, móveis e etc.. Portanto, é com base nas características do colmo que se escolhe a
espécie de bambu que deverá ser cultivada para fins comerciais. Por exemplo, os bambus
utilizados na construção civil devem ter colmos retilíneos, com diâmetro maior e menor teor
de amido.
Figura 15: Aspectos Anatômicos e Morfológicos do colmo.
Fonte: SILVA, 2005.
6.2 RIZOMA
De acordo com Silva (2005), o Rizoma (Figura 16) é um caule subterrâneo composto
de nós e internós que se desenvolve paralelamente a superfície do solo. Quanto ao tipo de
rizoma, existem dois grupos diferentes de bambus, os que formam touceiras e os alastrantes.
34
Figura 16: Diferentes tipos de rizomas.
Fonte: SILVA, 2005.
6.2.1. Bambus Entouceirantes
De acordo com Silva (2005) e BAMBU CARBONO ZERO (2012), os bambus
entouceirantes (Figura 17) também podem ser chamados de cespitoso ou simpodial e fazem
parte do grupo dos paquimorfos, pois são curtos e grossos. Seus rizomas são sólidos, com
raízes na sua parte inferior tendo como principais espécies pertencentes a este grupo
encontradas no Brasil a Bambusa Vulgaris, conhecida por suas aplicações em cercas vivas,
cercas de galinheiro, paisagismo, lenha e até produção de celulose, a Bambusa Tuldoide,
também chamada de taquara, muito utilizada em artesanatos de cestarias e o Dendrocalamus
G., também conhecido como Bambu Gigante ou Bambu Balde.
Para Silva (2005), esses bambus, em sua maioria, apresentam melhor desenvolvimento
em climas tropicais. Em temperaturas mais baixas essas espécies crescem mais lentamente.
Os rizomas são dotados de gemas laterais que dão origem somente a novos rizomas. Muitas
destas gemas permanecem inativas de forma permanente ou temporariamente. Apenas a gema
apical do rizoma pode dar origem ao um novo colmo e por consequência cada rizoma emitirá
35
no máximo um colmo. Os colmos nascem todos próximos uns aos outros, de forma
concêntrica.
Figura 17: Rizoma típico de bambu entouceirante.
Fonte: SILVA, 2005.
6.2.2. Bambus Alastrantes
De acordo com Silva (2005) e BAMBU CARBONO ZERO (2012), os bambus
alastrantes (Figura 18) são também chamados de leptomorfos ou monopodial. Eles são bem
resistentes ao frio, tendo origem na China e o principal gênero pertencente a esse grupo é o
Phyllostachys chamados pelo nome popular “Bambu Jardim”, “Cana da Índia”, "Bambu
mirim" ou “Bambuira”. O maior entre eles, o “Bambu Mosso” pode atingir diâmetros de até
12 cm e é conhecido por seus brotos comestíveis. Neste grupo encontra-se também a família
Guadua, muito utilizados na Colômbia, devido a seu grande tamanho e resistência. Os
bambus alastrantes são as espécies mais interessantes comercialmente, mas infelizmente, são
também as espécies menos encontradas no Brasil.
Para Silva (2005), os rizomas dos bambus alastrantes dificilmente são sólidos e, em
geral, apresentam diâmetros menores que o dos seus colmos correspondentes. Nos nós dos
36
rizomas encontram-se algumas gemas, que podem permanecer dormentes por um tempo, ou
permanentemente. Quando essas gemas estão ativas, elas brotam e produzem colmos
esparsos, facilitando o manejo e a circulação dentro da plantação.
Ainda segundo Silva (2005), os bambus alastrantes são extremamente invasores, o que
demanda cuidados especiais no seu cultivo, como manter a floresta plantada confinada em
uma área previamente estabelecida, a fim de evitar conflitos com vizinhos, com as áreas de
reserva legal, áreas de preservação permanente e competição com outras culturas na mesma
propriedade.
Figura 18: Rizoma típico de bambu alastrante.
Fonte: SILVA, 2005.
6.3 FOLHAS
De acordo com Silva (2005), a principal função das folhas do bambu (Figura 19) é
realizar a fotossíntese e elaborar as substâncias necessárias ao rápido crescimento da planta.
Os bambus são perenifólios, o que significa que eles possuem uma grande capacidade de
reposição foliar.
37
Figura 19: Folha.
Fonte: SILVA, 2005.
6.4 FRUTOS
De acordo com Filgueiras (1998) apud Silva (2005), o florescimento no bambu
(Figura 20) é um fenômeno raro em muitas espécies, alguns só florescem a cada 120 anos.
Várias espécies de bambus morrem ao florescer, pois é necessária uma enorme quantidade de
energia para a formação de um grande numero de sementes. Os bambus herbáceos, no
entanto, não seguem essa regra, já que florescem frequentemente e não morrem.
Segundo Pandalai et al (2002) apud Silva (2005), os bambus produzem três tipos de
frutos: cariopse, noz e baga, que podem ser chamados também de cariopse típica, cariopse
folicóide, cariopse nucóide e cariopse bacóide.
38
Figura 20: Fruto do bambu.
Fonte: Entreposto, 2006. Disponível em http: //www.jornalentreposto.com.br/siteantigo/anteriores/abril
2006/curiosidade.htm. Acesso em: 23 março, 2012.
6.5 RAÍZES
Conforme Silva (2005), as raízes dos bambus partem dos rizomas e se distribuem em
direção à copa numa profundidade diretamente proporcional as dimensões de cada espécie.
Suas funções são ancorar a planta e extrair nutrientes e água do solo. Por ser uma
monocotiledônea a raiz é fasciculada, não sendo, portanto, dotada de raiz principal.
6.6 OUTRAS CARACTERÍSTICAS
De acordo com Donato et al (2010), o crescimento do bambu é acelerado (Figura 21),
chegando à altura máxima em seis meses e a maturidade em três anos. Devido a seu
crescimento rápido, pode-se produzir cerca de 40 ton/ha.ano, se assemelhando ao eucalipto.
39
Figura 21: Floresta de bambu.
Fonte: http://viverdeeco.com/2010/09/25/curiosidades-sobre-o-bambu/. Acesso em: 14 abril, 2012.
Marçal (2008), diz que o bambu cresce no sentido do solo para o topo e as partes mais
próximas do terreno são as mais antigas possuindo maior resistência e durabilidade. Os nós
possuem uma grande quantidade de fibras, o que lhe confere maior resistência à compressão e
proporcionam maior rigidez ao colmo. O bambu possui uma flexibilidade muito boa podendo
quando “verde” entortar até certo limite e não fissurar ou romper.
Conforme Donato et al (2010), o bambu se propaga de forma espontânea através de
novos brotos, dispensando o plantio na mesma área por mais de 100 anos. O bambu pode
crescer em quase todo tipo de solo, só não tolera terrenos alagado, compactado, argiloso,
muito ácido e muito alcalino. Devido a sua incrível capacidade de adaptação, pode ser
plantado em diversas altitudes até um limite de 4.000 metros, dependendo da espécie. Chuvas
regulares, com totais anuais entre 1.200 e 1.800 mm são ideais para uma produtividade
elevada.
Segundo Ghavami, (1989,1992); Moreira e Ghavami, (1995) apud Marçal, (2008), o
bambu têm um baixo custo de produção, facilidade de transporte e trabalhabilidade,
diminuindo assim os custos nas construções, isso se deve a suas características como alta
produtividade, forma tubular acabada, estrutura estável, baixa massa específica e geometria
circular oca.
40
7 PROPRIEDADES DO BAMBU
7.1 PROPRIEDADES MECÂNICAS
As propriedades mecânicas do bambu dizem respeito a sua resistência quando
submetido a esforços solicitantes. Elas são influenciadas principalmente pelos seguintes
fatores: espécie, idade, tipo de solo, condições climáticas, época da colheita etc..
De acordo com Ghavami (1989) apud Marçal (2008), o bambu é um material de fácil
trabalhabilidade e que apresenta características mecânicas específicas que o tornam adequado
para o uso em construções. O bambu tem uma boa resistência quanto à compressão, torção,
flexão e, principalmente quanto à tração (Figura 22) devido a sua forma tubular e suas fibras
se distribuírem longitudinalmente, formando feixes de micro tubos. O modulo de elasticidade
e a tensão ou modulo de ruptura depende do comprimento das fibras, que por serem todas no
mesmo sentido, confere ao bambu sua grande resistência.
Figura 22: Ensaios em peças de bambu.
Fonte: Beraldo, UNICAMP.
41
Para se ter uma ideia, segundo Benetti et al (2009), peças curtas de bambu podem
suportar tensões de compressão superiores a 50 MPa, superando a resistência dos concretos
convencionais. Outro fator importante é o fato de que o concreto tem densidade superior a 2
Kg/dm³ e o bambu apresenta 1/3 desse valor. Desse modo, quando se considerada a
resistência em relação à densidade (resistência específica), o bambu mostra-se mais eficiente
do que o concreto.
De acordo com Duarte (2010), ensaios feitos com bambu mostram que o seu módulo
de elasticidade situa-se em torno de 20.000 MPa, cerca de 1/10 do valor alcançado pelo aço.
Cabos de bambus trançados oferecem resistência análoga ao aço CA-25 (2.500 kgf./cm2). O
peso, no entanto, é 90% menor. O bambu apresenta grande rigidez, podendo ser usado em
estruturas secundárias, na forma de treliças e vigas.
Ainda segundo Duarte (2010), estudos realizados no Departamento de Engenharia
Mecânica da Faculdade de Engenharia da UNESP em Bauru mostram que as espécies dos
gêneros Guadua (conhecido no Brasil como Taquaruçu), Dendrocalamus (denominado
Bambu gigante ou Bambu balde) e Phyllostachys pubescens possuem boa resistência a
esforços de tração, compressão e modulo de elasticidade. Podendo superar 180 MPa de
resistência a tração (com energia por unidade de tensão 50 vezes menor que o aço) e 80 MPa
para esforços de compressão (muito superior ao concreto e muitas espécies de árvores).
De acordo com Teixeira Jr. et al (2009), devido á sua grande resistência, o bambu não
verga, sendo utilizado na construção de andaimes, já em grande utilização no Japão. "Sua
compressão, sua flexão e sua tração já foram amplamente testadas e aprovadas em
laboratório", afirma Marco Antônio Pereira, professor do Departamento de Engenharia
Mecânica da UNESP, em Bauru, que mora ha dez anos em uma casa de bambu.
7.1.1. Compressão
Segundo Marçal (2008), alguns pesquisadores estudaram a resistência do bambu a
compressão e verificaram que para corpos-de-prova de 30 cm de altura e 3 cm de diâmetro, a
tensão de ruptura é de 80 MPa e um módulo de elasticidade em torno de 20 GPa . Decorrente
42
disso, conclui que o bambu poderia reforçar adequadamente o concreto em obras secundárias.
A curva tensão-deformação no ensaio de compressão é quase linear.
De acordo com Janssen, apud Schniewind (1989) citados em Marçal (2008), o bambu,
como a madeira, apresenta uma dependência estreita entre propriedades mecânicas e massa
específica. A resistência à compreensão (em MPa) pode ser estimada como igual ao produto
da massa específica (em Kg/m³) por um fator 0,094. Segundo o autor o valor da resistência
depende fortemente da proporção de fibras existentes no corpo-de-prova.
7.1.2. Tração
Segundo Marçal (2008), no que se refere aos esforços de tração, o bambu apresenta
uma boa resistência e, em algumas espécies, pode atingir até 370 MPa. A resistência à tração
é de 2,5 a 3,5 vezes aquela obtida em ensaios de compreensão. Por isso, o bambu pode ser
usando como um substituto para o aço, principalmente quando for considerada a razão entre
sua resistência à tração e sua massa específica. Em geral, a resistência à tração do bambu, com
ou sem nó, situa-se entre 40 MPa e 215 MPa, e o seu módulo de elasticidade varia entre 5,5
GPa e 18 GPa. (Vide Quadro 1).
Quadro 1 – Razão entre tensão de tração e massa especifica de alguns materiais.
Fonte: MARÇAL, 2008.
43
7.1.3. Flexão
Estudos feitos em relação à resistência do bambu a flexão mostraram um resultado em
torno 30 MPa e 170 MPa. Beraldo (2003) apud Marçal (2008), em ensaios de flexão feitos
com bambu, observou que o módulo de elasticidade dos colmos, usando segmentos de bambu,
variou entre 6 GPa e 14 GPa, e sua resistência à flexão variou de 57 MPa a 133 MPa. Ele
constatou também que o módulo de elasticidade é da ordem daquele observado em madeiras
de boa resistência. (Vide Quadro 2).
Quadro 2 – Resistência dos bambus a Flexão.
Fonte: MARÇAL, 2008.
7.1.4. Torção
De acordo com Marçal (2008), devido ao seu formato cilíndrico o bambu apresenta
bons resultados quando submetido a forças de torção. No entanto, as fibras do bambu são
facilmente descoladas e esse deslocamento pode ser muito prejudicial ao sistema de tensão,
causando uma descontinuidade no mesmo. Essa descontinuidade tende a diminuir a
resistência à torção da vara.
7.1.5. Cisalhamento
Segundo Marçal (2008), o ponto fraco do bambu está no cisalhamento. Isto se deve ao
fato das fibras serem unidas umas as outras unicamente por elementos naturais colantes e o
44
descolamento das fibras serem iniciados com baixos valores de tensões. A força de
cisalhamento no bambu é paralela ao sentido das fibras.
Ainda segundo Marçal (2008), um dos problemas que as forças de cisalhamento
podem causar é o surgimento de fissuras, pois estas provocam quedas na resistência, e servem
como local de entrada de água e facilita ação dos insetos, diminuindo assim a vida útil do
bambu.
De acordo com Beraldo (2003) apud Marçal (2008), em geral, quanto maior o teor de
umidade do bambu, menor será sua resistência ao cisalhamento. A resistência ao cisalhamento
perpendicular às fibras do bambu situa-se em torno de 30% de sua resistência à flexão, ou
seja, em torno de 32 MPa (variação entre 20 MPa e 65 MPa). A resistência ao cisalhamento
longitudinal às fibras é de, aproximadamente, 15% de sua resistência à compressão, ou seja,
em torno de 6 MPa, com variação de 4 MPa a 10MPa.
7.1.6. Resistência das fibras
Segundo Benetti et al (2009), a resistência das fibras varia de acordo com a sua
posição na parede do bambu, sendo mais fortes as fibras da parte externa que as da parte
interna.
Quadro 3 – Resistência das fibras.
Parte externa Parte Interna
Flexão: 2.531 kg/cm2 949 kg/cm
2
Tensão: 3.200 kg/cm2 1.550 kg/cm
2
Fonte: BENETTI et al, 2009.
45
7.2 PROPRIEDADES FÍSICAS
7.2.1. Densidade
De acordo com Pereira (2001), a densidade dos bambus varia entre 500 a 800 Kg/m³,
dependendo principalmente do tamanho, quantidade e distribuição dos aglomerados de fibras
ao redor dos feixes vasculares. Estas diferenças são menores mais perto do topo, devido ao
aumento da densidade na parte interna e redução na espessura da parede, que apresenta
internamente menos parênquima e mais fibras.
7.2.2. Umidade
De acordo com o Beraldo (2012), o teor de umidade do bambu no momento do corte
pode ser muito elevado, dependendo da época do ano, da espécie e da posição da amostra
(base, meio ou ponta). A região da base apresenta maior umidade do que as demais. De uma
forma geral, o bambu demora mais a secar do que madeiras com a mesma densidade, pois a
perda de umidade na direção transversal às fibras é muito limitada.
7.2.3. Variações dimensionais
De acordo com o Beraldo (2012), as variações dimensionais do bambu na direção
longitudinal-axial são praticamente desprezíveis (inferior a 1%). Entretanto, ao contrário das
madeiras, a deformação na direção tangencial (paralela à casca) nem sempre é inferior à
deformação na direção radial (centro para a casca). Essa propriedade também depende da
espécie, da idade do colmo e da posição (base, meio e ponta).
46
7.3 PROPRIEDADES QUÍMICAS
Segundo o Beraldo (2012), a principal característica química do bambu é a presença
do amido nas células parenquimatosas. Como elas são mais numerosas nas camadas internas
do colmo, o ataque do caruncho (figura 23) sempre se inicia nessa região. O teor de celulose
no bambu é da mesma ordem de grandeza daquele observado para a madeira de eucalipto.
Experimentos indicaram que a produtividade de ambos é muito similar.
Figura 23: Dinoderus minutus, caruncho do bambu.
Fonte: PADOVAN, 2010.
47
8 MÉTODOS DE CONSERVAÇÃO
De acordo com Beraldo et al (2012), o bambu é uma das matérias-primas mais
importantes para países em vias de desenvolvimento. No entanto, a exemplo de outros
materiais lignocelulósicos, o bambu, por ser muito vulnerável ao ataque de fungos e insetos,
deve receber tratamentos preservativos, que prolonguem sua vida útil.
De acordo com Silva (2005), a eficiência do bambu como material de construção
depende principalmente de sua capacidade de resistir a intempéries. A baixa resistência
biológica dos colmos é a principal limitação na utilização do bambu como elemento estrutural
na construção civil. Os bambus, como as madeiras, estão sujeitos à ação do tempo: sol, água e
umidade do ar. Por esse motivo são necessários métodos adequados de tratamento e
conservação das varas a serem utilizadas.
Segundo a botânica colombiana Ximena Londoño apud Donato et al (2010) a boa
resistência do bambu será obtida se estes forem colhidos na época e de forma adequada. A
época adequada à colheita é o inverno, pois é nessa época do ano que o bambu guarda uma
maior parte de suas reservas nas raízes (rizomas), e também é o momento antes do
aparecimento dos novos brotos. O bambu, colhido nesta época do ano, apresenta menos
açúcar, que é o alimento dos insetos e fungos que se alimentam do bambu, e, no inverno estes
se apresentam em menor quantidade. No Brasil e no Hemisfério Sul esta época acontece no
meio do ano. Por isso a cultura popular brasileira afirma que os meses mais adequados à
colheita do bambu são os meses sem a letra "r": maio, junho, julho e agosto.
Conforme Donato et al (2010), outra medida importante a ser tomada realiza-se após o
corte, onde se aconselha deixar o bambu em pé no local de colheita, ainda apoiado nos
vizinhos, por cerca de 2 a 3 semanas (Figura 24). Durante este período ele secará, mas ainda
nos estados de temperatura, pressão e umidade em que sempre viveu.
48
Figura 24: Cura na mata.
Fonte: CARDOSO, 2000. Disponível em
http://bambusc.org.br/wpcontent/uploads/2009/05/arquitetura_com_bambu_rubens-cardoso-filho.pdf. Acesso
em: 12 abril, 2012.
Segundo Beraldo et al (2012), a idade dos colmos a serem cortados é a principal
medida silvicultural que se deve levar em consideração para se ter um material de construção
mais resistente. Deve-se colher colmos maduros, com mais de 3 anos, pois, com essa idade,
estarão completamente lignificados. Os colmos colhidos antes do ponto máximo de maturação
tornam-se mais vulneráveis aos insetos e fungos. Logo após o corte, os colmos de bambu
podem ser submetidos a alguns tratamentos de “cura”, com o objetivo de torná-los mais
resistentes ao ataque do caruncho. Para essa “cura” ou maturação, podem-se utilizar diferentes
métodos.
De acordo com Duarte (2010), para tratamentos a base de defumação tem-se o calor e
a aplicação de substancias que protegerão o bambu das intempéries e pragas como: a seiva de
bananeiras, cactos, ceras de abelha e de carnaúba, além de caldos feitos com cascas de arvores
como a da aroeira e pau santo.
Conforme Pereira Neto et al (2009), o bambu não exige técnicas complexas para o seu
estabelecimento como plantação. A manutenção é feita através de irrigação, não sendo
necessária a aplicação de produtos agrotóxicos. A colheita fortalece o bambual e é feita com
instrumentos manuais. O transporte é facilitado pelo seu peso leve em comparação às
madeiras.
Dentre os principais tratamentos dados ao bambu, destacamos os seguintes:
49
8.1 SECAGEM
Segundo Donato et al (2010), após a colheita, o colmo cortado ainda apresenta
umidade em seu interior, e, para obter um bambu com boa resistência e durabilidade para ser
usado nas construções é necessário que ele passe por um processo de secagem. Para secá-lo,
pode-se apoiar o bambu, ainda com as folhas, em um compartimento arejado com chão e
parede livres de umidade, sob proteção da chuva e do sol, e, dependendo da espécie e das
condições climáticas, deixar a seiva escorrer e evaporar de duas a oito semanas.
De acordo com Pereira Neto et al (2009), outra forma de secagem utiliza o fogo, onde
é usada uma fonte pontual de calor como o maçarico. Neste processo é importante utilizar
fogo baixo para obter alta resistência e brilho. Porém é um método mais demorado e
trabalhoso, por ser feito um a um. Pode-se também defumar o bambu, colocando-o em um
cômodo com pouca saída de ar que tenha fogo e fumaça sob os colmos de bambu.
O fogo também pode ser utilizado para obter resultados mais rápidos, mesmo em
países frios. Segundo Johan Van Lengen (2004) um dos métodos utilizados consiste em fazer
um buraco pouco profundo onde será aceso o fogo e cobrir o solo e as arestas com tijolos,
para que o calor não se perca (Figura 25). O bambu deve ser colocado a uns 50 cm acima do
fogo. Para que seque de maneira uniforme, devem-se virar as varas de vez em quando. Com
este método, a parede das varas fica mais resistente aos insetos, porém, se o fogo for muito
forte pode abrir ou deformar as varas.
Figura 25: Secagem com fogo segundo Van Legen.
Fonte: Johan Van Lengen – “Manual do Arquiteto descalço”. Pag. 354. Ed Tibá.
50
Nos métodos onde o fogo é utilizado, comumente aparece um tipo de óleo (ácido piro
- lenhoso) na superfície dos troncos. Este óleo pode ser removido com pano ou reutilizado
como fonte de fumaça. Segundo Ximena Londoño apud Silva, (2005) este método utilizando
o ácido piro - lenhoso é bem eficaz.
De acordo com Pereira Neto et al (2009), as estufas (Figura 26) são um meio muito
eficaz de secar o bambu. Na Colômbia existem estufas verticais de vários metros de altura,
onde o bambu é colocado em pé. As estufas devem coletar o calor dos raios do sol durante o
dia, sem incidir diretamente sobre os bambus e sem causar calor excessivo, e manter seu
interior quente durante a noite.
Figura 26: Secagem com aquecedor solar.
Fonte: Johan Van Legen. “Manual do arquiteto descalço”. Ed. Tibá.
8.2 FERVURA E COCÇÃO
De acordo com Silva (2005), outro método bastante utilizado para tratamento de
bambu é a fervura. Aconselham- se ferver o bambu em água por períodos de 15 a 60 minutos
para cada grupo. Os fornecedores de bambu da região serrana do Rio de Janeiro costumam
passar um pano molhado de óleo diesel no bambu antes de ferver. A soda cáustica é outra
51
forma recomendada de tratamento, e deve-se misturar à água na proporção de 10 (água) para
1 (soda cáustica), mantendo o tempo de cocção de aproximadamente 15 minutos.
8.3 TRATAMENTO QUÍMICO
O ácido bórico é o elemento mais utilizado no tratamento químico de bambu. Pode-se
utilizar um produto pronto (como o BORAX) ou preparar uma solução, como sugerido por
Johan Van Lengen (2004). Para banhar os troncos na solução pode-se construir uma banheira
com barris de ferro (Figura 27) cortados ao meio e soldados, como sugeriu Johan Van Lengen
(2004). Esta banheira pode ser adaptada para cozinhar os bambus, se afastada do chão para
queimar lenha. Existem outros produtos químicos bem eficientes no tratamento do bambu
que, entretanto, tem o grande inconveniente de serem extremamente tóxicos, como é o caso
do creosoto.
Figura 27: Banheira de barril de ferro.
Fonte: Johan Van Legen. “Manual do arquiteto descalço”. Pag. 356. Ed. Tibá.
Alguns pesquisados como Bustos e Pineda, (1994) apud Silva (2005), analisaram três
métodos de tratamento, banho frio, banho quente e sobre pressão, em conjunto com três
produtos: bórax + ac. Bórico + dicromato de sódio, sulfato de cobre + ácido bórico +
dicromato de sódio e cobre + cromo + arsênico. Concluíram neste trabalho que nenhum dos
métodos ou produtos provocaram danos mecânicos na espécie utilizada na pesquisa, o
Guadua sp. Visando a preservação do bambu contra o fogo Rojas (1969) apud Silva (2005)
52
concluiu que a imersão em solução quente de sulfato de amônia e fosfato dibásico de amônia
proporcionaram ao Guadua sp um alto grau de resistência a chamas.
8.4 BOUCHERIE
O método Boucherie (Figura 28), idealizado por Boucherie (1873) apud Marçal
(2008), usa a pressão hidrostática para fazer penetrar pelo extremo do bambu o sulfato de
cobre, que expulsa a seiva e ocupa o seu lugar. Uma luva de borracha é acoplada no extremo
do colmo do bambu (sem ramos e folhas) e se enche de produto químico. Isto feito cerra-se a
outra extremidade do bambu e se coloca na posição vertical, de tal forma que a luva fique na
parte superior e adentre no interior do colmo por pressão hidrostática.
Figura 28: Tratamento pelo método Boucherie.
Fonte: PADOVAN, 2010.
Liese (2003) apud Silva (2005) classifica os métodos de preservação de bambus em
pressurizados e não pressurizados. Entre os métodos que emprega a pressão, o autor destaca o
53
Boucherie modificado, que utiliza a pressão atmosférica numa das extremidades do colmo
para forçar a troca da seiva presente no seu interior pelo produto imunizante. Este método tido
como de boa eficiência teve o pior desempenho quando comparado com outros.
8.5 ÁGUA
De acordo com Donato et al (2010), um método bastante simples de tratamento do
bambu utiliza a água, onde o bambu pode ser tratado apenas pela sua permanência em água
parada (piscina ou tanque) por algumas semanas. Pode-se também banhar o bambu em água
corrente (riachos).
8.6 OUTROS MÉTODOS DE CONSERVAÇÃO
Segundo Marquez (2006), outros métodos de tratamento do bambu conhecidos são a
autoclave e a impermeabilização com verniz. Segundo a bibliografia, o bambu pode ter uma
vida útil de até quatro anos quando não tratados e de 20 a 50 anos quando submetidos a
tratamentos adequados e utilizados corretamente.
De acordo com Silva (2005), para utilização dos conservantes é preciso se certificar
que os produtos obedeçam as seguintes recomendações: os produtos devem ser
suficientemente ativos para impedir à vida e o desenvolvimento de micro-organismos
causadores de prejuízos à planta; sua composição não deve afetar os tecidos, ocasionando
modificações e diminuindo as qualidades físicas do bambu; devem ser empregados em estado
líquido a fim de aderirem mais facilmente a todas as partes do bambu; não devem ter cheiro
forte ou desagradável capaz de impedir seu emprego no interior das residências; não deve
modificar a coloração do bambu, principalmente os que forem utilizados como elemento
decorativo. Outros critérios a serem observados dizem respeito ao custo e aos riscos para o
meio ambiente e para a saúde do aplicador.
54
9 APLICAÇÕES
Devido às várias características já citadas anteriormente neste trabalho, o bambu
mostra-se um material de grande versatilidade. O bambu é de fácil trabalhabilidade, é
econômico e pode ter várias aplicações nas mais diversas áreas.
Segundo Pereira Neto et al (2009), o bambu pode ser utilizado na indústria do álcool,
onde é aproveitado o corte do talo; indústria de celulose, na fabricação de papel; indústria
alimentícia, usando brotos de várias espécies de bambu; construção civil, como material de
construção tanto de uso estrutural como não estrutural; conservação de ecossistemas,
utilizando quebra-ventos; ajudando no aumento de água de nascentes, pela capacidade de
retenção das raízes ou rizomas e o combate à erosão, com o plantio em encostas de espécies
de grande crescimento; no artesanato, na fabricação de cestos, esteiras, varas de pescar,
bijuterias e objetos decorativos; na movelaria; na irrigação e drenagem; em embarcações; uso
medicinal, utilizado como febrífugo, anti-hemorrágico, calmante e para problemas digestivos.
Pode ser usado também para ornamentação e paisagismo.
O bambu tem muitas aplicações tanto no meio urbano como no meio rural. No que diz
respeito ao uso do bambu como material de construção nas cidades, têm vários exemplos
importantes espalhados pelo Brasil e restante do mundo. Alguns são listados a seguir:
9.1 OBRAS DO HOTEL DO FRADE & GOLF RESORT
O Hotel do Frade & Golf Resort fica localizado em Angra dos Reis, Rio de Janeiro. O
hotel tem parte de sua obra construída com bambu: A recepção do hotel, o restaurante, uma
casa no Condomínio do Frade e alguns quiosques. (MARQUEZ, 2006).
Segundo Marquez, (2006) as obras do Hotel do Frade em Angra dos Reis, construídas
com bambu, surgiram a partir de uma interação entre a equipe do arquiteto colombiano Simón
Vélez e a empresa Bambu-Jungle, conveniada ao hotel.
55
Na execução destas construções, a equipe do arquiteto colombiano precisou formar a
mão de obra que seria utilizada, ensinando assim os empregados a utilizarem as técnicas para
o trabalho com o novo material.
9.2 RECEPÇÃO DO HOTEL DO FRADE & GOLF RESORT
De acordo com Marquez (2006), a recepção do Hotel do Frade (Figura 29) é um
projeto do arquiteto colombiano Simón Vélez e consiste em um polígono de oito lados, com
uma estrutura dividida em duas linhas circulares e concêntricas contendo os pilares que
apoiam a cobertura.
Figura 29: Recepção do Hotel do Frade & Golf Resort.
Fonte: MARQUEZ, 2006.
As peças estruturais são distribuídas de forma circular e radial, sendo que no encontro
delas há o anel de rigidez como travamento, bem ao estilo de Vélez. Entre a sobreposição dos
telhados existe um espaçamento vertical que compõe o sistema de ventilação natural do
edifício. O bambu utilizado para a construção foi o Dendrocalamus giganteus, ou bambu
gigante, fornecido pela fazenda do hotel e tratado quimicamente em autoclave.
56
Os pilares externos são inclinados para que possam suportar um grande beiral. Dessa
forma, tanto o pavilhão aberto quanto à estrutura ficam protegidos da chuva. Os pilares
internos possuem uma inclinação seguindo a direção das cargas atuantes advindas da
cobertura.
No anel central da estrutura o arquiteto utiliza as vigas como feixes estruturais, os
quais são compostos por vários colmos que são travados por parafusos. Os colmos
parafusados utilizam a ligação “Tipo Vélez”, onde os colmos são preenchidos com concreto
nos internós das ligações.
Nesta construção também são utilizadas barras de aço internamente nos colmos de
bambu, fazendo a ligação de peças, e principalmente a ligação dos pilares à fundação. Esta
tecnologia foi proposta por Vélez e o colocou na vanguarda da produção da arquitetura em
bambu, pois permitiu a realização de construções impressionantes, com grandes vãos, grandes
balanços, e maiores cargas na estrutura, na execução de construções com dois ou mais
pavimentos.
9.3 RESTAURANTE DO HOTEL DO FRADE & GOLF RESORT
Segundo Marquez (2006), o sistema que compõe toda esta construção projetada por
Vélez é semelhante ao sistema utilizado na recepção do hotel, porém com diferenças no
aspecto geral e no desenho dos feixes de peças estruturais.
O restaurante (Figura 30) se constitui de um pavilhão retangular, com uma estrutura
dividida também, assim como a recepção, em duas linhas principais de apoio contendo os
pilares que suportam a cobertura.
Os pilares periféricos são constituídos de dois colmos de bambu cada, separados por
outro segmento de colmo entre eles. Os pilares internos são compostos de quatro varas, sendo
que uma delas se destina ao apoio da parte inferior da cobertura (junto com os pilares
periféricos), e as outras três formam um desenho triangulado que apoia a parte superior da
cobertura, um telhado mais elevado e que possui um grande beiral em balanço.
57
Figura 30: Restaurante do Hotel do Frade.
Fonte: Marquez, 2006.
9.4 CASA NO CONDOMÍNIO DO FRADE
De acordo com Marquez (2006), a casa (Figura 31) construída no condomínio do
Frade foi o primeiro dos projetos de Vélez em Angra dos Reis. A estrutura da casa consiste
basicamente em três pórticos grandes, que vencem o vão das salas, três pórticos menores, que
contém a cozinha e área de serviço, e dois anexos laterais, um deles maior contendo quartos.
O bambu utilizado é o Dendrocalamus giganteus, e as ligações utilizam concreto injetado.
(Ligação Vélez).
58
Figura 31: Casa no condomínio do Frade.
Fonte: MARQUEZ, 2006.
9.5 PAVILHÃO SEDE DA ONG SÓCIO-AMBIENTAL IBIOSFERA
Segundo Marquez (2006), a construção (figura 32) do pavilhão da IBIOSFERA foi
ministrada pelos arquitetos Edoardo Aranha e Francisco Lima e tornou-se referencia nos
cursos de “bio-arquitetura”. Toda a construção segue ao máximo os preceitos de construção
ecológica, no uso dos materiais de construção, na implantação do edifício no terreno, e no uso
dos recursos, principalmente água e tratamento dos efluentes.
59
Figura 32: Sede da ONG. IBIOSFERA.
Fonte: MARQUEZ, 2006.
Segundo os arquitetos que fizeram o projeto, este foi baseado nas construções
colombianas. O Pavilhão tem formato octogonal e possui 120 m² de área interna e 130 m² de
área coberta. A estrutura é feita com bambu Phyllostachys Pubescens, ou bambu mosso,
adquirido já tratado e com origem no Rio de Janeiro.
A construção possui oito pilares, sendo que cada um dos pilares é composto por quatro
colmos de bambu, com travamentos entre eles em três momentos. O espaçamento entre os
colmos do pilar traz a ele uma maior inércia e permite que se faça a ligação com os outros
elementos estruturais num sistema de sanduíche. Cada pilar possui duas mãos francesas; uma
estruturando a viga de cobertura, e outra suportando o beiral. Dessa forma, a peça fica
equilibrada e protegida da chuva.
A fundação é feita em concreto armado e termina elevada do solo entre meio a um
metro. Esta medida também protege os bambus da umidade, além de servir de base de apoio
para os colmos quando realizada a concretagem soldando os pilares à fundação. Os pilares
possuem em seus primeiros noventa centímetros de altura barras de aço internamente, que são
preenchidos com concreto fluido através de buracos feitos com serra copo. Ao contrário das
construções de Simón Vélez, apenas a base dos pilares é concretada, de acordo com os
arquitetos, devido à pequena carga que a estrutura irá suportar.
60
O pavilhão se comporta como um sistema fechado, onde quatro dos pilares,
juntamente com suas vigas de cobertura e suas estruturas para os beirais, formam o desenho
de pórticos, sendo que os outros elementos servem de travamento, ou seja, formando o
desenho de pórticos interrompidos. Essa diferença entre as quatro vigas de cobertura
contínuas e as quatro vigas interrompidas constitui o espaço das aberturas laterais da
cobertura, que servem para iluminação e ventilação natural do pavilhão.
9.6 RESTAURANTE DO PARQUE NATURAL AGROPECUÁRIO DA COSTA RICA –
PANACA
De acordo com Marquez (2006), o restaurante do Parque Temático Agropecuário em
San Mateo, Costa Rica chama a atenção de quem passa pela estrada vinda da capital (San
José) em direção ao litoral pacífico daquele país. Todo construído com materiais naturais, o
restaurante (figura 33) tem um apelo ecológico aliado a um sistema construtivo diferenciado.
Figura 33: Aspecto geral do restaurante do Parque Natural Agropecuário da Costa Rica –
PANACA.
Fonte: MARQUEZ, 2006.
O espaço (Figura 34) foi projetado pela arquiteta colombiana Maria Mercedes. A
estrutura do restaurante é constituída de 14 pilares distribuídos na margem de um espaço
61
retangular, que possui uma modulação de 6 por 3 pilares. A cobertura de fibras naturais é
apoiada em elementos estruturais de bambu. Os pilares são mistos: da fundação de concreto
até a altura dos beirais são constituídos de troncos de madeira, na altura da estrutura de apoio
dos beirais, é feita a transição; surgem quatro colmos de bambu a partir de ranhuras nas toras.
As mãos francesas dos beirais se apoiam em ilhós, e estes são presos aos pilares de
troncos por barras de aço. A estrutura da cobertura utiliza feixes de colmos de bambu
dispostos como vigas, as quais contêm três varas sobrepostas cada uma. Estas vigas inclinadas
possuem triangulações como reforço que se assemelham a treliças.
Figura 34: Vista interna do restaurante do Parque Natural Agropecuário da Costa Rica –
PANACA.
Fonte: MARQUEZ, 2006.
De acordo com Donato et al (2010), em todo o mundo engenheiros e arquitetos tem
utilizado o bambu em projetos públicos conciliando natureza e tecnologia em um contraste
que agrada o olhar e impressiona. Em Leipzig, na Alemanha, a fachada (figura 35) do novo
estacionamento do zoológico municipal foi construída com varas de bambu presas em cintas
de aço. Perto de Madri, na Espanha, o enorme forro (Figura 36) do Aeroporto Internacional de
Barajas utiliza uma estrutura de bambu, concreto e aço que surpreende os usuários. Em locais
como esse, de uso intenso, a opção pelo material é resultado da confiança na sua durabilidade
e resistência, já que manutenções frequentes não seriam bem-vindas.
62
Figura 35: Fachada do estacionamento do zoológico de Leipzig (Alemanha).
Fonte: http://saisconsultoria.wordpress.com/2010/02/11/a-volta-do-bambu/. Acesso em 18 abril, 2012.
Figura 36: Forro do Aeroporto Internacional de Barajas (Espanha).
Fonte: TEIXEIRA JR. et al, 2009.
São apresentados a seguir alguns exemplos de construções utilizando o bambu em
todo o mundo, resultado do trabalho de engenheiros e arquitetos famosos. Esses e mais alguns
exemplos podem ser encontrados em Padovan (2010).
63
Figura 37: Pavilhão Roberto Guimarães no Rio de Janeiro.
Fonte: PADOVAN, 2010.
Figura 38: Bamboo Watch Tower.
Fonte: PADOVAN, 2010.
64
Figura 39: Gazebo de Dois Andares.
Fonte: PADOVAN, 2010.
Segundo Padovan (2010), o centro cultural Max Feffer (Figura 40), localizado na
cidade de Pardinho, situada no interior do Estado de São Paulo, é a maior edificação do Brasil
com estrutura em bambu. Esse centro foi projetado pela arquiteta Leiko Motomura e
inaugurado em 2008. A construção consiste basicamente em uma estrutura de concreto
armado de dois pavimentos, com estrutura de cobertura de colmos inteiros de bambu, de
aproximadamente 800 m², apoiados em pilares e vigas de eucalipto, que se desenvolvem
independentes da estrutura de concreto do prédio.
Figura 40: Centro Cultural Max Feffer.
Fonte: PADOVAN, 2010.
65
Figura 41: Museu Nacional de Arte em Osaka, Japão.
Fonte: PADOVAN, 2010.
Figura 42: Residência de bambu e madeira em Guadalupe, México.
Fonte: PADOVAN, 2010.
66
Segundo Padovan (2010), uma das mais importantes obras do arquiteto colombiano
Simón Velez é a construção do Pavilhão Zeri. Essa construção possui uma estrutura de
cobertura de bambu em forma de polígono decágono, com 30,50 m de vão, montada
inicialmente na Colômbia para testes estruturais realizados por técnicos da Universidade de
Stuttgart, da Alemanha, que após sua aprovação foi por fim construído para a Exposição de
Hannover, em 2000, em seguida desmontado.
Figura 43: Pavilhão Zeri, construído como modelo em escala real, para Expo-Hannover.
Fonte: PADOVAN, 2010.
Figura 44: Igreja Nuestra Señora de La Pobreza, em Pereira, Colômbia.
Fonte: PADOVAN, 2010.
67
9.7 USO DO BAMBU NAS ESTRADAS
O bambu também pode ser muito utilizado nas estradas e rodovias com as seguintes
finalidades:
De acordo com Silva (2005), o bambu serve para substituir as defesas de concreto ou
metal visando à retenção e absorção dos impactos dos veículos em casos de acidentes, pois o
menor custo de implantação, a recuperação natural da barreira quando danificada e maior
absorção dos impactos em caso de acidentes seriam as suas principais vantagens.
Proteção dos taludes contra erosão ou deslizamentos, pois o bambu possui raízes
fasciculadas e rizomas vigorosos, que confere estrutura ao solo e evita a sua degradação.
Visualização e sinalização de curvas, cortina de luz quando cultivados nos canteiros
centrais das rodovias, paisagismo e etc..
9.8 USO DO BAMBU COMO MATERIAL DE CONSTRUÇÃO NO MEIO RURAL
No âmbito rural, o bambu pode ser usado como material de construção em diversas
aplicações, tendo varias possibilidades de aproveitamento no desenvolvimento rural de forma
mais sustentável, dentre elas destacamos:
9.8.1. Irrigação
Pereira Neto et al (2009), afirma que para a transformação de um colmo de bambu em
um tubo que possa conduzir água, são necessários alguns passos, como remoção e limpeza
interna dos nós, onde será necessária a construção de uma ferramenta que deverá ser
composta por um pedaço de cano de ferro, com cerca de 30 cm de comprimento, com as
extremidades recortadas e afiadas, e soldada a outro cano de diâmetro menor e cerca de 2
metros de comprimento. A limpeza é feita para garantir um bom funcionamento hidráulico do
tubo de bambu quanto à perda de carga. Para instalar os aspersores precisa-se furar os tubos,
fazer as roscas, fixar os adaptadores e as hastes de subida. O tampão final é feito
68
simplesmente deixando-se sem limpar os dois últimos nós da extremidade dos tubos de
bambu que forem destinados para este fim. Por fim, para as uniões pode-se utilizar desde
materiais simples e baratos como a borracha de câmara de ar de pneu de carro ou caminhão,
ou até se adaptar um pedaço de PVC como uma luva, caso se queira trabalhar com pressões
mais elevadas.
Pereira (1997) apud Silva (2005) desenvolveu um método bastante funcional que
permite a irrigação por aspersão por meio de tubos de bambus confeccionados a partir dos
colmos de Dendrocalamus giganteus. Este sistema de irrigação foi mantido em
funcionamento durante seis anos quando se empregou bambus tratados e durante um tempo
médio de um e dois anos quando utilizado bambus não tratados.
9.8.2. Construção de Galpões
Outra aplicação do Bambu no meio rural é a construções de galpões (Figura 45) que
pode ter diversas utilidades, como: Alojar animais, proteção para maquinários e equipamentos
agrícolas e armazenar grãos e forragem.
Segundo Pereira Neto et al (2009), a construção de um galpão pode ser feito desde
modelo simples no processo construtivo aos mais complexos. O importante é que toda
estrutura seja feita com todos os cuidados que se tem para qualquer construção.
Figura 45: Galpão construído com estrutura de Bambu e conexões metálicas.
Fonte: PEREIRA NETO et al, 2009.
69
9.8.3. Casa de Vegetação ou Viveiros
De acordo com Pereira Neto et al (2009), uma das principais possibilidades da
aplicação do bambu nas construções rurais é na utilização de estruturas para Casa de
Vegetação ou Viveiros (Figura 46 e 47). Espera-se que essa seja uma das mais promissoras
aplicações, pois o alto custo na aquisição de estufas convencionais dificulta o acesso ao
homem do campo a essa tecnologia. A importância da Casa de Vegetação em uma
propriedade rural está na implantação de cultivos protegidos e na produção de mudas para
interesse econômico (venda) e ambiental (reflorestamento).
Figura 46: Estufa ecológica desenvolvida pelo CPRA.
Fonte: PEREIRA NETO et al, 2009
70
Figura 47: Viveiros para produção de mudas.
Fonte: PEREIRA NETO et al, 2009.
9.8.4. Cercas
De acordo com Pereira Neto et al (2009), a aplicação mais comum do bambu no meio
rural está na construção de cercas (Figura 48). Podem-se construir cercas na forma de
quadriculas, losangos, fileiras, etc.
Figura 48: Cerca em forma de fileiras.
Fonte: PEREIRA NETO et al, 2009.
71
9.8.5. Instalações para galinhas caipiras
Segundo Pereira Neto et al (2009), a utilização do bambu na construção de instalações
mais elaboradas para a criação de galinhas pode melhorar esse tipo de produção de aves, pois
garantirá mais eficiência no manejo dessas aves e um mínimo de conforto, já que galinhas
criadas em sistemas rústicos, são manejadas com o mínimo de instalações na propriedade
rural.
9.8.6. Piso para aprisco de cabriteiros
De acordo com Pereira Neto et al (2009), na caprinocultura é muito comum a
utilização da madeira nos apriscos nas instalações para cabritos. Sabendo-se escolher a
espécie adequada de bambu e a melhor maneira de utilizá-la, esta seria uma nova alternativa
para utilização em apriscos, evitando assim o uso da madeira, retirada muitas vezes da própria
propriedade rural.
9.8.7. Estrutura para estábulos aplicados a pequenos animais
De acordo com Pereira Neto et al (2009), pode-se fazer um estábulo para caprinos e
ovinos todo de bambu desde os pilares, usando Dendrocalamus giganteus, até as vigas e
telhas feitas com a Bambusa vulgaris, pois esses animais de pequeno porte são muito bem
adaptados as condições de clima quente como acontece no nordeste brasileiro, por isso e pelo
seu tamanho, esses animais não precisam de grandes estábulos com tanta eficiência de
conforto térmico.
72
9.8.8. Cocho para alimentação de pequenos animais
De acordo com Pereira Neto et al (2009), cocho para pequenos animais podem ser
feitos com a espécie Dendrocalamus giganteus devido ao seu grande porte. O bambu cortado
ao meio no seu comprimento pode ser usado como cocho para oferecer sal mineral ou ração,
alimentos não volumosos.
9.8.9. Construção de Porteiras
Segundo Pereira Neto et al (2009), a maioria dos acessos aos cercados em uma
propriedade rural são através das porteiras e os assim chamados cochetes. Para evitar o uso da
madeira, a utilização do bambu é uma alternativa bastante interessante por este ser um recurso
considerado renovável.
9.8.10. Pequenas Moradias Rurais
De acordo com Pereira Neto et al (2009), a maioria das casas construídas na zona rural
do nordeste brasileiro foi construída de taipa e pau a pique. Uma alternativa para ajudar a
conservar os resquícios de matas nas áreas onde estas construções se encontram, seria a
substituição da madeira utilizada por bambu (Figura 49), pois este é um material renovável.
73
Figura 49: Casa de bambu.
Fonte: http://www.recriarcomvoce.com.br/blog_recriar/curso-prtico-ensina-construir-bambu/. Acesso em : 14
abril, 2012.
74
10 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O bambu é um material renovável, de baixo custo, apresenta uma boa resistência, se
mostrando uma ótima alternativa para uso em obras de construção civil, podendo ser aplicado
aos mais diferentes sistemas construtivos. E é devido a essa ampla aplicação que os estudos
com este material têm ganhado maior importâncias na atualidade e com isso surge a
necessidade de incentivar mais estudos, pesquisas e trabalhos como este.
Portanto, tendo por base todas as vantagens que o bambu pode trazer para construção
civil, é de extrema importância que continuem as pesquisas neste ramo, agregando tecnologia,
novas técnicas construtivas ao uso deste material, aumentando assim a sua eficácia e
eficiência.
Uma sugestão de trabalhos futuros usando o bambu na nossa região seria utilizar
bambus que fossem plantados em Mossoró e fazer um ensaio para caracterização de suas
propriedades mecânicas, e um comparativo com bambus trazidos de outras regiões, fazendo
um trabalho interdisciplinar com alunos do curso de agronomia, sendo que estes plantariam o
bambu, tendo em vista que a gramínea cresce em quase todo tipo de solo e de maneira bem
acelerada.
75
REFERÊNCIAS
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77
APÊNDICE A – CURIOSIDADES SOBRE O USO DO BAMBU
1. CURIOSIDADES
Em 1906, o brasileiro Alberto Santos Dumont (1873-1932) conseguiu voar, realizando
assim uma das maiores proezas ate hoje alcançadas pelo homem. O “pai da aviação” declarou
em Paris que a estrutura de seu avião 14-bis era de bambu, com juntas de alumínio.
(KANELA BAMBU, 2012).
Nas primeiras bobinas elétricas, Thomas A. Edson (inventor) utilizou filamentos
carbonizados de bambu. (KANELA BAMBU, 2012).
1.1. O bambu na informática
Dentre as muitas aplicações que temos para o bambu, destaca-se hoje em dia, o uso do
bambu em produtos de informática. Alguns desses produtos são listados a seguir:
Figura 50: Notebook da Assus Bamboo Series, lançado em agosto de 2008.
Fonte: http://variedadescuriosidades.blogspot.com.br/2008/09/bamb-na-informtica.html. Acesso em: 19 maio,
2012.
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Figura 51: Teclado e mouse da Evergreen Japan.
Fonte: http://variedadescuriosidades.blogspot.com.br/2008/09/bamb-na-informtica.html. Acesso em: 19 maio,
2012.
Figura 52: Monitor TFT de 15 polegadas completa o conjunto CPU, teclado e mouse. Tem
resolução de 1.024 x 768.
Fonte: http://variedadescuriosidades.blogspot.com.br/2008/09/bamb-na-informtica.html. Acesso em: 19 maio,
2012.