Barbara Weinstein Portugues Anphlac

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10 Revista Eletrônica da ANPHLAC, n.14, p. 9-36, jan./jun. 2013. http://revista.anphlac.org.br/index.php/revista Pensando a história fora da nação: a historiografia da América Latina e o viés transnacional 1 Barbara Weinstein 2 Resumo: Este ensaio examina a emergência da virada transnacionaldentro da profissão de historiador a partir dos anos 1990. Defendo que os historiadores da América Latina desempenharam um papel central na mudança para abordagens transnacionais. Ansiosos para contestar as interpretações históricas que tratam da história da América Latina como uma ramificação econômica, iniciativas políticas e culturais norte-americanas, os latino-americanistas têm procurado elaborar perguntas que transcendam as fronteiras nacionais e demonstrem a circulação de mercadorias, ideias e instituições, tais como a formação global da classe média. A virada transnacional permitiu que historiadores da América Latina, com base na academia norte-americana, demonstrassem que os historiadores dos Estados Unidos precisam prestar atenção à produção de conhecimento sobre a América Latina. Diferente da história internacional, que incide sobre a interação entre as nações, a história transnacional enfatiza questões para as quais o país não é a principal arena de interação ou conflito. A história transnacional também tem iluminado os problemas da história comparativa, com sua tendência a comparar dois casos nacionais estáveis separadamente e a ignorar a circulação e a interação. No entanto, a intenção da história transnacional não é apagar a história nacional, mas complicá-la. E os intelectuais que adotam o viés transnacional precisam considerar as desvantagens de uma abordagem histórica que atenue as conexões nos estudos da América Latina, cuja principal referência analítica ainda é o contexto nacional. Palavras-chave: transnacional, comparação, circulação, contato, classe média. Abstract: This essay examines the emergence of the “transnational turn” within the historical profession starting in the 1990s. I argue that historians of Latin America played a central role in the shift to transnational approaches; anxious to contest historical 1 O texto passou por uma revisão bibliográfica, realizada por Caio de Souza Gomes, doutorando no Programa de Pós-Graduação em História Social da USP. E-mail: [email protected] 2 New York University. E-mail: [email protected]

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Pensando a história fora da nação

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    Revista Eletrnica da ANPHLAC, n.14, p. 9-36, jan./jun. 2013.

    http://revista.anphlac.org.br/index.php/revista

    Pensando a histria fora da nao:

    a historiografia da Amrica Latina e o vis transnacional1

    Barbara Weinstein2

    Resumo:

    Este ensaio examina a emergncia da virada transnacional dentro da profisso de

    historiador a partir dos anos 1990. Defendo que os historiadores da Amrica Latina

    desempenharam um papel central na mudana para abordagens transnacionais. Ansiosos

    para contestar as interpretaes histricas que tratam da histria da Amrica Latina

    como uma ramificao econmica, iniciativas polticas e culturais norte-americanas, os

    latino-americanistas tm procurado elaborar perguntas que transcendam as fronteiras

    nacionais e demonstrem a circulao de mercadorias, ideias e instituies, tais como a

    formao global da classe mdia. A virada transnacional permitiu que historiadores da

    Amrica Latina, com base na academia norte-americana, demonstrassem que os

    historiadores dos Estados Unidos precisam prestar ateno produo de conhecimento

    sobre a Amrica Latina. Diferente da histria internacional, que incide sobre a interao

    entre as naes, a histria transnacional enfatiza questes para as quais o pas no a

    principal arena de interao ou conflito. A histria transnacional tambm tem iluminado

    os problemas da histria comparativa, com sua tendncia a comparar dois casos

    nacionais estveis separadamente e a ignorar a circulao e a interao. No entanto, a

    inteno da histria transnacional no apagar a histria nacional, mas complic-la. E

    os intelectuais que adotam o vis transnacional precisam considerar as desvantagens de

    uma abordagem histrica que atenue as conexes nos estudos da Amrica Latina, cuja

    principal referncia analtica ainda o contexto nacional.

    Palavras-chave: transnacional, comparao, circulao, contato, classe mdia.

    Abstract:

    This essay examines the emergence of the transnational turn within the historical

    profession starting in the 1990s. I argue that historians of Latin America played a

    central role in the shift to transnational approaches; anxious to contest historical

    1 O texto passou por uma reviso bibliogrfica, realizada por Caio de Souza Gomes, doutorando no

    Programa de Ps-Graduao em Histria Social da USP. E-mail: [email protected] 2 New York University. E-mail: [email protected]

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    interpretations that treat Latin American history as a ramification of North American

    economic, political and cultural initiatives, Latin Americanists have sought to elaborate

    questions that transcend national boundaries and demonstrate the circulation of

    commodities, ideas and bodies such as the global formation of the middle class. The

    transnational turn has allowed historians of Latin America based in the North American

    academy to demonstrate that historians of the United States need to pay attention to

    knowledge production about Latin America. Different from international history, which

    focuses on the interaction between nations, transnational history emphasizes questions

    for which the nation is not the principal arena of interaction or conflict. Transnational

    history has also illuminated the problems of comparative history, with its tendency to

    compare two stable, separate national cases and ignore circulation and interaction.

    Nevertheless, the intent of transnational history is not to erase national history, but to

    complicate it, and scholars following the transnational turn need to consider the

    drawbacks of a historical approach that attenuates connections to scholars in Latin

    America whose main analytical reference is still the national context.

    Keywords: transnational, comparative, circulation, contact, middle class,

    A breve mania que irrompeu na disciplina de Histria nos anos 70 pelos mtodos

    quantitativos acabou rapidamente. Apesar disso, de vez em quando no h nada melhor

    que uns nmeros para ilustrar uma tendncia nesse caso, uma tendncia

    historiogrfica. Pesquisando o programa eletrnico dos trs ltimos congressos da

    American Historical Association para a palavra transnational, consegui (no ano 2010)

    120 resultados; em 2011, 135; em 2012, 163. Fazendo o mesmo com o programa do

    ltimo congresso da LASA (em maio deste ano), descobri que somente no primeiro dia

    do congresso houve 41 mesas ou comunicaes com a palavra

    transnational/transnacional no ttulo. No mesmo dia do congresso, em 2010, entre

    aproximadamente o mesmo nmero de mesas, havia apenas DEZ com transnational ou

    transnacional no ttulo.

    Isso quer dizer, primeiro, que a noo de transnacional est circulando

    amplamente e influenciando as atuais pesquisas nas reas de histria e de estudos latino-

    americanos. E que o uso dessa palavra vai aumentando e virando quase um lugar-

    comum entre os historiadores. Claro que essa onipresena indica que muitos autores j

    esto usando a palavra transnacional (com pouca preciso) como um substituto para

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    internacional, porque o primeiro est mais na moda. Mas acho que a sua pujana

    nesses programas no devido a um uso meramente superficial. Ela indica certas

    mudanas na disciplina de Histria, e especialmente na histria da Amrica Latina e do

    Caribe, que considero mais profundas e interessantes.

    Partindo desse pressuposto, minha proposta para o resto desta palestra

    historicizar a ascenso do vis transnacional na academia norte-americana e sua relao

    especial com os estudos latino-americanos, elaborar as contribuies que so, do meu

    ponto de vista, mais significativas na linha da abordagem transnacional e, finalmente,

    indicar as promessas e perigos especialmente para a rea de Amrica Latina desse

    (relativamente) novo rumo de pesquisa.

    Para colocar o vis transnacional num contexto intelectual e acadmico mais

    amplo, precisamos levar em considerao uma gama de abordagens que surgiram nos

    anos 80 e 90 e que provocaram uma leve redistribuio e rearranjo das reas de

    pesquisa, especificamente na disciplina de Histria. Nos departamentos de Histria nos

    Estados Unidos daquela poca, havia uma distribuio de reas que era mais ou menos

    o seguinte: entre 40 e 45% dos professores se especializavam em Estados Unidos

    (inclusive aqueles que estudavam relaes exteriores); entre 35 e 40% se

    especializavam na histria da Europa; e o restante dos professores tipicamente, 20%

    eram das outras reas Amrica Latina, sia, frica, Meio Oriente. A maioria dos

    meus colegas hoje diria que essa composio uma coisa do passado e que a histria

    dos Estados Unidos e da Europa (especialmente) j perderam sua preeminncia num

    tpico departamento de Histria. Mas alguns anos atrs fiz um pequeno artigo sobre a

    distribuio de professores por rea de especializao, seguindo as tendncias de 1975

    at 2005, e fiquei muito impressionada quando vi os resultados e percebi que as

    propores continuavam quase inalteradas. Nesse perodo de 30 anos, e de tantas

    transformaes na disciplina, houve um leve aumento na porcentagem de historiadores

    que se identificaram como Americanists; o nmero de historiadores da Europa diminuiu

    ligeiramente (de 39 a 34%), e as outras ou no mudaram ou sofreram um pequeno

    aumento. Menos na Amrica Latina, que, para minha surpresa, experimentou um

    pequeno declnio, em nmeros relativos, descendendo de 7,6% a 6,4% nessas trs

    dcadas.

    Na verdade, a disciplina de Histria , no sentido profissional, conservadora; h

    fortes correntes e interesses, institucionais e culturais, que impedem uma transformao

    dramtica da disciplina. muito difcil imaginar a transferncia de vrias vagas de um

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    setor para outro. O que mais provvel que haja um processo de mudana que

    envolve novas reas que ignoram ou at desrespeitam os limites das reas

    convencionais. E isso que estava e est acontecendo: desde os anos 90, havia uma

    expanso marcada em reas denominadas Atlantic World (mundo atlntico), Dispora

    Africana, Pacific Rim (litoral do Pacfico) e Borderlands (terras de fronteiras que no

    deve ser confundida com Histria da Fronteira, que tem uma genealogia muito

    distinta). Estes, sim, tm o potencial de refazer e renovar um departamento de Histria.

    Essas novas reas de especializao e pesquisa significam um desafio ao

    estabelecido padro de concentrao na rea de Histria nos Estados Unidos e, at certo

    ponto, um desafio ao domnio da nao como o sujeito ou a categoria organizadora das

    narrativas histricas. E todos eles tm influenciado diretamente os historiadores da

    Amrica Latina e do Caribe (especialmente o Caribe). Mas, nos casos do Mundo

    Atlntico e da Dispora Africana, os estudos mais citados no vo alm das primeiras

    dcadas do sculo XIX e, portanto, eles no oferecem uma nova abordagem para

    aqueles historiadores cujas pesquisas tm como enfoque o perodo que coincide com o

    auge da nao.

    Ento, num momento em que os trabalhos mais inovadores eram cada vez mais

    marcados por uma abordagem que atravessava fronteiras e refazia o mapa de regies de

    pesquisa, a nao continuava sendo a maior referncia para quem trabalhava com os

    ltimos dois sculos (mais ou menos) de histria. Ao mesmo tempo, havia entre os

    tericos do ps-colonialismo e dos estudos subalternos uma preocupao (citando a

    frase de Prasenjit Duara) em resgatar a histria da nao. A proposta no a de negar

    a importncia da nao, mas a de questionar a noo teleolgica da nao como o

    descobrimento inevitvel da histria e da modernidade.

    Pequeno parntese: vale notar que essa ambivalncia com relao nao era

    menos forte entre os estudiosos da Amrica Latina. Na teoria ps-colonial, surgida

    principalmente do sul da sia, a nao foi simultaneamente a alternativa ao estado

    colonial e uma forma moderna de origem explicitamente europeia. Portanto, se o futuro

    era pensado como inseparvel da ascenso da nao, a modernidade sempre ia ser

    pensada como inseparvel do Ocidente, da Europa. No caso da Amrica Latina, cujas

    naes foram denominadas, no livro cannico de Benedict Anderson (ANDERSON,

    2008), pioneiros criollos, a nao no virou alvo de tal ambivalncia.

    Entre os historiadores da Amrica Latina Latin Americanists (falando

    especificamente da academia norte-americana) havia, nos anos 90, certas

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    preocupaes que refletiram as particularidades da rea e da situao de quem estuda

    Amrica Latina, mas est radicado nos Estados Unidos. De um lado, havia muitas

    crticas, no inteiramente novas, da noo de area studies. Essa crtica vinha de duas

    direes. Nas cincias sociais (Sociologia, Cincia Poltica, Economia) havia um vis

    economtrico e estatstico que privilegiava o mtodo e os resultados que podem ser

    generalizados e que desvalorizava o conjunto de conhecimentos sobre uma regio

    especfica. Area studies, com suas ligaes a disciplinas menos cientficas, como

    Histria, Antropologia, Literatura, no podiam servir como uma boa base para a carreira

    de um jovem e ambicioso cientista social que procurava descobrir tendncias que se

    prestaram generalizao. Ao mesmo tempo, havia uma linha de crtica, saindo mais da

    esquerda, que salientava as razes de area studies na poca da Guerra Fria e, portanto,

    seu suposto compromisso com certo projeto imperialista, desenvolvimentista ou at

    orientalista.

    Portanto, os Latin Americanists se sentiram obrigados ou a defender seu campo

    de pesquisa, ou a repensar as fronteiras ou limites do prprio objeto das suas pesquisas.

    Surgiu o conceito de new American studies, que promoveu uma viso hemisfrica e

    rejeitou uma separao supostamente artificial entre Amrica do Norte e Amrica do

    Sul, uma noo que fazia sentido em um momento no qual a populao latina estava

    chegando marca de maior minoria nos Estados Unidos e certos aspectos da cultura

    latina estavam virando parte do mainstream da vida norte-americana. Mas essa proposta

    (new American studies), longe de resolver um dos problemas centrais dos Latin

    Americanists, parecia capaz de agravar o problema. Esse problema pode ser reduzido ao

    seguinte: qual o lugar da Amrica Latina num contexto historiogrfico preocupado

    com a provincializao da Europa (ou do Ocidente)? E intimamente ligado com isso o

    dilema de reconhecer, at ressaltar, a influncia e as vrias formas de interveno dos

    Estados Unidos na Amrica Latina desde o fim do sculo XIX, sem atribuir o

    protagonismo histrico aos Estados Unidos, e colocar a Amrica Latina na posio de

    objeto da histria, nunca de seu sujeito.

    Gilbert Joseph, historiador da Yale University, escrevendo nos fins dos anos 90,

    fez o seguinte comentrio sobre os pressupostos problemticos dos velhos paradigmas

    da esquerda: a natureza centrpeta do imperialismo e da dependncia (...) arrisca uma

    conceituao da Amrica Latina somente como sociedades perifricas inteligveis

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    apenas em funo dos impactos que eles sofrem das naes do Centro 3 (JOSEPH,

    1998).

    Para muitos Latin Americanists, esta virou a problemtica mais urgente

    justamente porque consolidou uma srie de ansiedades, tanto intelectuais como

    profissionais. Como insistir na importncia da Amrica Latina e do Caribe dentro da

    profisso de historiador e ao mesmo tempo acompanhar a tendncia de repensar as

    fronteiras geogrficas do conhecimento e da interpretao histrica? Como captar a

    ateno de nossos colegas das reas preeminentes e demonstrar o valor de nossas

    pesquisas para a profisso em geral, e no apenas para os especialistas em histria da

    Amrica Latina? Para citar as palavras de Dipesh Chakrabarty, escritas no fim dos anos

    90, Historiadores do Terceiro Mundo sentem a necessidade de se referir s obras de

    histria europeia; historiadores da Europa no se sentem nem um pouco obrigados a

    serem recprocos (CHAKRABARTY, 2000) (e o mesmo era perfeitamente aplicvel

    aos historiadores dos Estados Unidos).

    Claro que essa questo de protagonismo, ou agency, no era inteiramente nova.

    Talvez o projeto mais urgente da minha turma de Latin Americanists (que, por sinal,

    eram orientados por uma brasileira exilada, Emlia Viotti da Costa) fosse desvendar os

    limites do centro da economia mundial e a consequente capacidade das classes

    populares, num certo lugar, supostamente perifrico, a resistir ao seu domnio. Mas,

    talvez inevitavelmente, ns mesmos comeamos a perceber os limites dessa abordagem,

    especialmente com relao questo da modernidade. Porque dentro dessa abordagem,

    o centro, o Ocidente, continua representando o universal ou o geral, e a Amrica

    Latina ou a frica ou o Sul da sia representavam o particular. Conseguimos

    estabelecer a existncia de variaes locais, mas nossos trabalhos no apresentaram

    nenhum desafio ou resposta narrativa de excepcionalismo, que era a coluna vertebral

    da historiografia inglesa e norte-americana.

    Afinal, seria muito difcil mostrar que o Brasil qua Brasil, e muito menos

    Bolvia qua Bolvia, ou Honduras qua Honduras, tinha algum impacto na histria dos

    Estados Unidos igual influncia norte-americana na Amrica Latina. Enquanto

    3 Texto original: the centripetal nature of imperialism and dependency, which risks conceiving of Latin

    America solely as peripheral societies, intelligible only in terms of the impact that center nations have on them. JOSEPH. Gilbert M. Close Encounters: Toward a New Cultural History of U.S.-Latin American Relations. In: JOSEPH. Gilbert M.; LEGRAND, Catherine C.; SALVATORE, Ricardo D. (ed.) Close Encounters of Empire. Writing the Cultural History of U.S.-Latin American Relations. Duke

    University Press, 1998, pp. 13-14.

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    seguirmos pensando na histria das Amricas do ponto de vista da nao, fica difcil

    construir uma historiografia que no privilegie o protagonismo dos Estados Unidos.

    justamente nessa conjuntura que uma abordagem transnacional surgiu e

    ofereceu um novo modo de visualizar as interaes e intercmbios no meio hemisfrico

    ou at global.

    Claro que seria difcil, talvez intil, tentar identificar um nico instante quando

    foi iniciado o vis transnacional, mas, pelos fins desta palestra, um bom momento

    fundacional seria o lanamento de dois livros, escritos ou organizados por estudiosos da

    Amrica Latina, no mesmo ano 1998 , que adotaram uma abordagem transnacional.

    Um desses livros o estudo de movimentos sociais transnacionais, Activists

    beyond borders: advocacy networks in international politics (KECK; SIKKINK, 1998).

    As autoras, Margaret Keck e Kathryn Sikkink, so cientistas polticas cujos trabalhos

    anteriores foram dedicados histria poltica do Brasil e da Argentina. De certa forma,

    elas estavam procurando uma maneira de valorizar os conhecimentos e questes que

    estruturaram suas obras anteriores para um pblico acadmico norte-americano mais

    amplo. Examinando movimentos para proteger o meio ambiente e os direitos humanos e

    historicizando esses movimentos, elas conseguiram desvendar uma longa histria de

    intercmbio e colaborao entre movimentos sociais anteriormente tidos como limitados

    a um nico contexto nacional. Ainda mais, elas trabalhavam com a diferena entre

    internacional e transnacional (deixando claro que os dois termos no so sinnimos). O

    ttulo da introduo do livro Transnational advocacy networks in international

    politics. A palavra internacional aqui significa contatos e interaes entre governos

    (ou seus representantes) ou entre grupos que se identificam, principalmente por sua

    afiliao nacional. Ao contrrio, os participantes nas redes de advocacia, apesar de

    situados em diferentes contextos nacionais, de propsito privilegiam as causas ou

    finalidades que eles dividem com suas contrapartidas em outros pases.

    O outro o livro Close encounters of empire: writing the cultural history of US-

    Latin American relations, organizado por Gilberto Joseph, Catherine LeGrand e Ricardo

    Salvatore (JOSEPH; LEGRAND; SALVATORE, 1998) (que so, respectivamente, dos

    Estados Unidos, do Canad e da Argentina). Essa coletnea no se identificou,

    explicitamente, como uma obra de histria transnacional, e o captulo de Seth Fein,

    Everyday forms of transnational collaboration: US film propaganda in Cold War

    Mexico o nico que traz a palavra transnacional no seu ttulo. Mas as preocupaes

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    e inovaes desse tomo combinaram para constituir um guia para renovar a histria das

    relaes interamericanas pelo vis transnacional.

    Como em qualquer coletnea, h em Close encounters uma variedade de ticas e

    temas; mesmo assim, acho que podemos perceber uma srie de propostas que informam

    os artigos que compem o livro. Uma, obviamente, a necessidade de mudar o nosso

    enfoque e a nossa ateno da esfera estreitamente poltica/diplomtica/econmica para a

    esfera cultural, privilegiando as influncias e os intercmbios cotidianos em vez dos

    momentos espetaculares de interveno e conflito. Porm, a ideia no a de mudar da

    esfera cultural para a esfera poltica; pelo contrrio, o argumento a impossibilidade de

    entender os desdobramentos polticos sem uma considerao mais cuidadosa dos

    intercmbios culturais, e o papel da cultura nos projetos interamericanos (sejam

    promovidos pelos estadunidenses, seja pelos latino-americanos ou pelos que no tm

    um ponto de origem que possamos identificar com clareza).

    O segundo pressuposto, intimamente ligado ao primeiro, que os pesquisadores

    devem buscar as zonas de contato isto , os pontos no necessariamente fsicos nem

    geogrficos onde os encontros internacionais mais intensos transparecem (uma noo

    derivada do trabalho muito importante da Mary Louise Pratt, Imperial eyes). Esta zona

    pode ser um lugar fsico, como um enclave da United Fruit, na Colmbia, mas tambm

    inclui comunidades de discurso e conhecimento e o reino do consumismo, espaos

    que tendem a ser transnacionais.

    Um terceiro e tambm evidente pressuposto que as relaes interamericanas

    no podem ser pensadas como uma rua de mo nica. E no ser uma simples questo

    de incorporar o lado latino-americano ou a resposta latino-americana, porque isso j

    implica que existem dois lados claros e distintos, um binmio Estados

    Unidos/Amrica Latina. Ainda mais, esses historiadores, embora bastante preocupados

    com o peso do conhecimento na questo do poder, geralmente rejeitam o modelo de

    difuso/disseminao que identifica um nico ponto de origem de uma ideia (poltica,

    cientfica, tecnolgica, econmica) e indica um processo de irradiao desse ponto de

    origem, de onde ela comea a penetrar novas zonas por vrios meios. Em vez desse

    conceito, que corresponde s noes mais convencionais do imperialismo cultural,

    eles preferem o conceito ou a imagem de circulao cultural e frisam a constante

    reformulao de ideias, de propostas e de prticas culturais de um contexto para outro.

    Ento, o exato ponto de origem de certo conceito ou prtica (s vezes irrecupervel)

    menos importante do que os contextos da sua circulao, implementao e apropriao.

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    Assim, por exemplo, a modernidade deixa de ser a propriedade exclusiva, com marca

    registrada, dos Estados Unidos, ou algo encomendado ou imposto na Amrica

    Latina. Pelo contrrio, certas figuras e grupos em toda parte do Novo Mundo

    contriburam com os discursos da modernidade (embora nem todos tivessem a mesma

    capacidade para materializar certos aspectos do mundo moderno), e essa noo procura

    extinguir a antiga, mas persistente dicotomia El Norte Moderno/El Sur Tradicional.

    O ltimo pressuposto, de certa forma uma extenso do anterior, o seguinte:

    claro que a histria da Amrica Latina ps-colonial pouco compreensvel se no se

    considerar o papel dos Estados Unidos o impacto da poltica, da economia, da cultura

    norte-americana no desenvolvimento histrico da regio. Da mesma maneira, insistem

    os autores dessa nova tendncia, a histria dos Estados Unidos seria impossvel de se

    entender sem se considerarem as inmeras e fortes influncias que envolvem a Amrica

    Latina. Os organizadores de Close encounters levaram a srio a ideia de William

    Appleman Williams, que identificou Imprio como um modo de viver para os

    norte-americanos.

    Quero acentuar que esses trabalhos, considerados pioneiros na rea de histria

    transnacional e produtos intelectuais de Latin Americanists, incentivaram um novo

    rumo nos estudos histricos que logo foi alm do campo de Amrica Latina ou at da

    histria das Amricas. Do mesmo modo que os estudos subalternos surgiram do sul

    da sia, mas viraram uma abordagem mais abrangente, o vis transnacional surgiu dos

    estudiosos da Amrica Latina, mas logo foi divulgado alm das fronteiras da regio. O

    impulso ao transnacional, no primeiro instante, nasceu dos problemas intelectuais e

    profissionais dos Latin Americanists na Histria e nas Cincias Sociais, mas a utilidade

    dessa abordagem logo atraiu o interesse de pesquisadores em muitas outras reas.

    Agora, uma das explicaes para a rpida ascenso do vis transnacional o

    declnio de abordagens comparativas. Por muitos anos, uma pesquisa comparando dois

    ou trs casos distintos, geralmente definidos por nacionalidade, foi o modo de

    interpretao preferido pelo pesquisador que procurava ir alm do contexto de uma

    nica nao. Mas, com o vis lingustico e cultural dos anos 80, esse modo de

    comparao virou alvo de muitas crticas. Ele dependia de uma homogeneizao da

    nao para facilitar a comparao. Os casos comparados tinham que ser congelados

    ou fixos, num certo momento, e as fronteiras entre os casos tinham que ser bem

    definidas. Nada disso combinava bem com as novas teorias culturais e as noes de

    histria como um processo, e de fronteiras como instveis e mal definidas. Ento acho

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    que no podemos dizer que o vis transnacional tem substitudo os estudos

    comparativos a comparao como mtodo j tinha sofrido uma srie de crticas antes

    do auge do transnacional. Mas, com a divulgao da abordagem transnacional s

    vezes associada com o mtodo comparativo , ficou mais urgente especificar as

    diferenas entre a abordagem transnacional e a abordagem comparativa, e at insistir

    que a primeira deve deslocar a segunda. Esse argumento foi articulado com especial

    insistncia pela historiadora Micol Seigel, num ensaio intitulado Beyond compare

    (SEIGEL, 2005) (uma frase que, em ingls, significa incomparvel). Usando o

    famoso caso da comparao entre relaes raciais no Brasil e nos Estados Unidos,

    Seigel segue a trajetria desse tema, mostrando as inmeras zonas de contato, circulao

    e intercmbio entre estudiosos e pensadores da questo de raa e identidade racial nos

    dois lugares, e em at que ponto discursos sobre um ou outro caso viraram um elemento

    constituinte do conhecimento sobre um ou outro. Portanto, segundo Seigel, tornou-se

    impossvel, e at enganoso, abordar os dois casos como objetos discretos e distintos

    para os fins da comparao.

    Apesar de o artigo ter um enfoque especfico a comparao entre o Brasil e os

    Estados Unidos , muitos dos seus leitores tm interpretado o argumento de Seigel (e

    com razo acho que essa foi a inteno dela) de um modo mais geral, isto ,

    considerando que a abordagem transnacional, justamente por mostrar a alta

    permeabilidade das fronteiras (nacionais, regionais etc.) e a intensa circulao de

    corpos, ideias e objetos de consumo, questiona a viabilidade da comparao,

    especialmente entre naes. Ao mesmo tempo, existem aqueles que continuam falando,

    na mesma frase, de abordagens transnacionais e comparativas uma frase que aparece

    em um artigo publicado pelos organizadores do Instituto Tepoztln, um dos maiores

    baluartes do vis transnacional. Voltarei a esse assunto mais tarde.

    Quero notar tambm que alguns adeptos do vis transnacional no se colocam na

    vanguarda de uma tendncia totalmente nova, e no tendem a exagerar a novidade da

    sua abordagem. Pelo contrrio, na sua introduo a um nmero especial da revista

    Social Text, dedicado ao novo transnacionalismo, Pamela Voekel e Eliot Young

    (VOEKEL; YOUNG, 2011) insistem que seria mais correto ver o vis transnacional

    como um movimento de renovao do que de inovao, citando os trabalhos anteriores

    especificamente de intelectuais caribenhos, como Jos Mart, ou da Dispora

    Africana, como C.L.R. James e W.E.B. Dubois. E na rea de histria dos movimentos

    operrios, certos temas, por sua prpria natureza (por exemplo, o anarquismo) sempre

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    Revista Eletrnica da ANPHLAC, n.14, p. 13-29, jan./jun. 2013.

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    se prestaram a uma abordagem transnacional. Pessoalmente, prefiro essa atitude

    postura de muitos intelectuais na poca do vis cultural que insistiram na tremenda

    novidade de seus trabalhos. Ao mesmo tempo, cabe acentuar os aspectos do vis

    transnacional que so verdadeiramente novos. O estudo da imigrao, por exemplo:

    parece, primeira vista, que esse assunto, por sua prpria natureza, j introduziu uma

    abordagem transnacional faz tempo. Mas a velha historiografia da imigrao, da

    Argentina, do Brasil, dos Estados Unidos, foi escrita especificamente para incorporar o

    imigrante na narrativa nacional. Diferente disso, a tica transnacional entende a

    imigrao no sentido de um circuito em que existem muitas redes de contato,

    compromisso, intercmbio e vrias formas de movimento e identidade. Imigrao, desse

    ponto de vista, no uma histria composta simplesmente de um ponto de origem, a

    transferncia geogrfica, e a chegada terra nova. E isso se aplica no apenas s

    imigraes no mundo de hoje, que so nitidamente multidirecionais, mas tambm s

    ondas migratrias do sculo XIX e incio do sculo XX. Enfim, sempre importante

    reconhecer o que ns estamos devendo intelectualmente s geraes anteriores, sem

    perder de vista as verdadeiras inovaes das pesquisas atuais.

    Devido ao enorme impacto do vis transnacional desde o fim dos anos 90, seria

    impossvel mencionar todos os trabalhos relevantes publicados ou ainda inditos que

    envolvem a Amrica Latina (que, na minha opinio, continua sendo a rea mais

    produtiva para os estudos transnacionais). Ento, vou apenas salientar alguns trabalhos

    que representam as vrias tendncias florescendo dentro da penumbra do vis

    transnacional.

    Sem dvida, o maior vertente de estudos transnacionais continua tratando das

    relaes hemisfricas, com uma nfase nos intercmbios e colaboraes dos cientistas

    sociais e outros experts que influenciaram as polticas governamentais, mas que

    circularam fora do contexto do oficialismo. Por exemplo, Karin Rosemblatt, Latin

    Americanist na University of Maryland, est completando um estudo dos antroplogos

    e socilogos no Mxico e nos Estados Unidos no ps-guerra que trabalhavam com os

    temas de cultura, pobreza e famlia, mostrando a centralidade da Antropologia mexicana

    na obra do Oscar Lewis e outros, e seu papel na formao da poltica relativa pobreza,

    especialmente dentro da comunidade negra, nos Estados Unidos. O estudo de

    Rosemblatt no somente um retrato desse intercmbio e dessa circulao de ideias,

    dados e discursos, mas tambm e igualmente interessante do processo pelo qual os

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    Revista Eletrnica da ANPHLAC, n.14, p. 13-29, jan./jun. 2013.

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    experts norte-americanos apagaram a contribuio das pesquisas mexicanas, assim

    reforando suas noes de excepcionalismo e pioneirismo norte-americano.

    H vrios estudos, ainda inditos, nessa linha. Ultimamente, li um captulo de

    uma tese de doutorado sobre os problemas de habitao urbana nas dcadas de 50 e 60,

    nos Estados Unidos e na Colmbia, que trata de vrias questes que tambm aparecem

    no trabalho de Rosemblatt. A autora segue a carreira de vrios engenheiros, arquitetos e

    planejadores urbanos que circulavam entre os Estados Unidos e a Colmbia,

    particularmente na poca da Aliana para o Progresso, e o trabalho desvenda vrios

    instantes de experincias com conjuntos habitacionais para pessoas de baixa e mdia

    renda em Bogot e Medelln que foram depois incorporadas em projetos norte-

    americanos. Mas interessante notar que, nesse caso, a autora, Amy Offner, entrou no

    projeto do lado norte-americano ela orientanda do eminente historiador norte-

    americano Eric Foner e acabou de ser contratada pela University of Pennsylvania para

    uma vaga na rea da United States and the World.

    A identidade profissional de Rosemblatt Latin Americanist, e a de Offner

    Americanist; certamente, h uma srie de diferenas nos seus perfis intelectuais que

    correspondem a essas identidades distintas. Mas, lendo os trabalhos delas, essa

    diferena no se manifesta claramente. As duas trabalham com fontes em ingls e

    espanhol, as duas consultam arquivos e fazem entrevistas tanto nos Estados Unidos

    como na Amrica Latina. E as duas esto construindo uma histria que transborda os

    limites de um ou outro pas.

    Outra rea dinmica de pesquisa transnacional mais preocupada com a esfera

    da cultura, que nesse caso significa cinema, msica, literatura, artes plsticas, comida e

    polticas culturais. Um dos trabalhos mais divulgados dessa vertente o livro de Micol

    Seigel, Uneven encounters: making race and nation in Brazil and the United States

    (SEIGEL, 2009), que se posiciona explicitamente na categoria de histria transnacional;

    outro o artigo de Lauren Derby, no volume Close encounters (DERBY, 1998), sobre o

    vaivm dos dominicanos entre o Caribe e Nova York e seu impacto na identidade

    nacional. Tanto Seigel como Derby insistem na relao entre o transnacional e o

    nacional na esfera de intercmbio cultural e representaes culturais. Longe de ver o

    transnacional apagando o nacional, os dois mostram como ligaes alm da nao

    servem para fortalecer a posio de certo grupo ou tendncia dentro da nao. No seu

    artigo Gringo chicken with worms (Frango gringo com vermes), Derby usa como seu

    ponto de partida um pnico na Repblica Dominicana em 1992, provocado por

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    acusaes de contaminao do frango produzido com tcnicas industriais por uma

    empresa norte-americana. Segundo os boatos, o frango estava causando esterilidade

    entre os homens dominicanos, entre outros danos; portanto, o boicote ao frango

    gringo levou tambm a uma revalorizao da galinha criolla. Neste encontro

    desigual (para usar a frase de Micol Seigel), a comida virou uma medida para repensar

    a natureza da identidade.

    Claro que esse pnico no se explica por uma simples onda de xenofobia. Ele

    ocorreu exatamente numa poca em que quase metade da populao dominicana estava

    morando fora da ilha e quando a nao dominicana ficou cada vez menos equivalente a

    um definido trecho de terra. Nem mesmo os dominicanos que ficaram no Caribe podiam

    fugir da transnacionalizao do povo dominicano. Foi nesse contexto de

    desestabilizao radical da noo de lar e de nao que a comida assumiu um

    significativo essencial, um smbolo do dominicano autntico.

    Uma terceira vertente no quadro transnacional consiste em estudos que

    modificam nossa imagem de certas formaes econmicas. primeira vista, os estudos

    desse tipo podem parecer nada especialmente novo o papel do capital estrangeiro, o

    surgimento de um mercado global , so temas bem estabelecidos. Mais uma vez, a

    contribuio nova mostrar que as divises entre nacional e estrangeiro no so

    sempre to claras e bem definidas como imaginamos. H, por exemplo, alguns trabalhos

    que procuram revisar nossa noo da economia de enclave. Longe de ser espaos

    isolados, no sentido econmico, poltico ou social, Catherine LeGrand insiste que as

    aldeias da United Fruit Company, na Colmbia e no Caribe, eram espaos altamente

    cosmopolitas e que o radicalismo poltico desses locais no era por causa da

    concentrao e intensificao de uma cultura de resistncia, mas, pelo contrrio, devido

    a muitas influncias transnacionais que instigaram uma variedade de polticas

    oposicionistas (LEGRAND, 1998). Seguindo a mesma linha, em uma tese de doutorado

    recentemente defendida na NYU, Frances Sullivan chama de cosmopolitismo popular

    a cultura das company towns no norte do Oriente, em Cuba. Essas aldeias, numa zona de

    enormes plantaes de cana e engenhos gigantescos dominados por imensas empresas

    norte-americanas, foram consideradas como exemplos clssicos do enclave. Mas

    Sullivan desvenda o constante influxo de novas correntes migratrias e de novas

    influncias culturais e ideolgicas. Entre elas, Marcus Garvey e seu United Negro

    Improvement Association tinham um grande impacto entre os afrodescendentes, e sua

    influncia no era restrita aos caribenhos anglfonos. Clubes, desfiles, comcios,

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    boletins deixaram evidncias da importncia de Garveyismo nessa regio. Vrias

    tendncias da esquerda, inclusive o Partido Comunista Cubano, tinham presena poltica

    e cultural nessas company towns, e esses locais formaram o baluarte do antifascismo,

    com muito clubes para dar apoio aos republicanos durante a Guerra Civil na Espanha.

    Mais ainda: centenas de homens desses enclaves viajaram Espanha para se integrar

    nas brigadas internacionais. A velha imagem do enclave era a de um local onde uma

    sociedade tradicional de repente se achou subordinada modernizao brutal do

    capital estrangeiro. Nesses novos estudos, a brutalidade das empresas e suas tentativas

    para impor o seu domnio na regio ainda ocupam um lugar central, mas no so mais

    os donos exclusivos da modernidade.

    inevitvel que esta breve relao de estudos transnacionais de autoria norte-

    americana seja muito parcial, e a lista de artigos e livros que seguem essa abordagem s

    vai crescer nos prximos anos. Mais uma vez, o vis transnacional, neste momento

    histrico, tem um forte apelo para os Latin Americanists. Diferente do conceito da

    globalizao, um conceito que supe o declnio da nao e que , do meu ponto de vista,

    profundamente comprometido com o neoliberalismo, os estudos transnacionais

    geralmente reconhecem a persistncia da nao como uma esfera principal da poltica,

    da economia e da cultura. De um lado, isso permite uma maior ateno aos processos, s

    redes e aos fenmenos de todo tipo que atravessam as fronteiras da nao sem implicar

    a homogeneizao; de outro, o transnacional nos permite ir alm da identificao de

    particularidades ou especificidades num contexto nacional. Para acentuar este ltimo

    aspecto do vis transnacional, quero falar brevemente do livro The making of the middle

    class: toward a transnational history (WEINSTEIN; LOPEZ, 2012), lanado em

    janeiro de 2012 e organizado por mim e meu colega e ex-aluno Ricardo Lpez. Essa

    coletnea no exclusivamente dedicada histria da Amrica Latina, nem das

    Amricas, mas seis dos dezesseis captulos tratam diretamente da classe mdia em

    pases latino-americanos.

    Uma rpida genealogia da historiografia da classe mdia ajuda a acentuar o que

    ns consideramos nova na nova histria transnacional. No auge da nova histria

    social (anos 70), havia pouco interesse na classe mdia, e o consenso entre os estudiosos

    de pases alm da Amrica do Norte e da Europa Ocidental foi que, nessas regies, a

    classe mdia ou era quase inexistente, ou no cumpria seu suposto papel histrico. Nos

    anos 90, depois do vis cultural, uma srie de estudos apareceu, especialmente no

    contexto da Amrica Latina (Brian Owensby, Intimate ironies (OWENSBY, 1999),

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    sobre o Brasil; David Parker, The idea of the middle class (PARKER, 1998), sobre o

    Peru; e Patrick Barr-Melej, Reforming Chile (BARR-MELEJ, 2001)) e prestou mais

    ateno construo de uma cultura, poltica e sensibilidade da classe mdia. Esses

    autores demonstraram a existncia e importncia da classe mdia, mas, ao mesmo

    tempo, insistiram que tal classe, nesses locais, no fosse uma exata reproduo do

    paradigma da classe mdia associada aos Estados Unidos ou Gr-Bretanha. inegvel

    que essas variaes nas culturas e prticas da classe mdia existem, e seria absurdo

    imaginar que qualquer formao social iria se reproduzir de idntica maneira em toda

    parte do mundo. Mas o defeito ou limitao dessa historiografia o seguinte: esses

    autores ainda esto trabalhando com uma noo normativa ou paradigmtica da classe

    mdia que comea na Inglaterra e nos Estados Unidos e de l vai se espalhando para os

    pases perifricos (e talvez menos modernos), onde a cultura e identidade da classe

    mdia sofrem certas alteraes que refletem as particularidades do lugar (por exemplo,

    Parker, falando de Peru, mostra que o empregado de colarinho branco a figura tpica

    da classe mdia e, por isso, se aproxima mais da mentalidade do operrio, enquanto

    Owensby enfatiza a persistncia da cultura de patronagem e clientela junto com o

    discurso de mrito no Brasil). Qual o problema com essa formulao? Primeiro,

    Owensby toma o contexto nacional como o quadro adequado para entender as

    qualidades particulares da classe mdia brasileira (usando o Rio e So Paulo como

    representantes do Brasil da classe mdia). Mas acho que seria errado supor que a

    histria da classe mdia no Rio e em So Paulo seja igual simplesmente por serem duas

    cidades dentro das fronteiras do mesmo pas (e diria o mesmo de Lima e Arequipa, no

    Peru). Se a preocupao demonstrar as particularidades, talvez o contexto subnacional

    isto , regional seja mais adequado do que a nao.

    O outro defeito e isso eu considero mais grave que esses estudos, longe de

    questionar a narrativa da modernidade como inveno europeia/norte-americana,

    refora essa grande narrativa porque, segundo eles, a classe mdia, em locais como

    Chile, Peru e Brasil, apenas uma variao, com traos ou qualidades vestigiais menos

    modernas.

    Ento, qual a proposta da coletnea The making of the middle class? Primeiro,

    o volume procura contestar a noo da classe mdia paradigmtica. Simon Gunn debate

    a ideia da classe mdia padro na Inglaterra, acentuando a contnua distncia entre a sua

    imagem e seu papel na sociedade inglesa (por exemplo, havia frequentes crticas sua

    falta de autonomia poltica e sua tendncia de macaquear a classe aristocrtica). Carol

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    Harrison mostra que o catolicismo foi essencial na formao da cultura da classe mdia

    na Frana e, por extenso, mostra que a nossa ideia da classe mdia francesa como um

    baluarte do secularismo um mito. Marina Moskowitz e Daniel Walkowitz examinam

    as vrias culturas da classe mdia nos Estados Unidos e as variaes regionais e

    polticas (por exemplo, no meio oeste, um aspecto fundamental de ser da classe mdia

    no incio do sculo XX era um lar sem serventes. Mas no sul do pas seria impossvel ter

    pretenses de pertencer classe mdia sem serventes).

    A outra face dessa moeda o argumento do Sanjay Joshi, historiador da ndia

    colonial, que retrata o que ele chama da fractured modernity (modernidade

    fragmentada) da classe mdia em Lucknow na poca do domnio britnico. essa

    experincia de modernidade, diz Joshi, que mais paradigmtica, ou pelo menos mais

    tpica das classes mdias em todas as partes do mundo.

    Ento, os captulos que tratam de casos latino-americanos esto situados, agora,

    no como variaes implicitamente defeituosas de um ideal mais plenamente moderno,

    mas como instncias de engajamento com um repertrio de imagens, normas e prticas

    associadas ideia de classe mdia. Mais uma vez, o vis transnacional, com sua nfase

    na circulao, em vez da difuso, permite uma viso da classe mdia que dispensa o tipo

    ideal e complica qualquer tentativa de medir a modernidade de um caso em particular,

    ou de distinguir nitidamente o particular e o geral.

    Bom, at agora estou falando principalmente das muitas vantagens do vis

    transnacional, e falando de modo geral acredito que esta abordagem tem aberto

    caminhos novos e produtivos para os historiadores da Amrica Latina. Mas no posso

    deixar de falar dos perigos ou dificuldades que o vis transnacional traz no seu bojo,

    especialmente para o campo da histria da Amrica Latina.

    Ao longo das ltimas duas ou trs dcadas, acho que podemos notar uma maior

    integrao entre historiadores da Amrica Latina radicados nos pases que so objeto

    dos seus estudos e os Latin Americanists. Geralmente isso transparece num contexto

    nacional especifico. Claro que h excees por exemplo, o tema da escravido e

    emancipao tem gerado uma comunidade de pesquisadores que me parece realmente

    transnacional. Mas, do modo geral, um Latin Americanist vira especialista num pas

    especifico Brasil, Mxico, Chile, Peru e acumula uma profunda familiaridade com a

    historiografia, poltica e cultura daquele pas e com suas instituies universitrias e de

    pesquisa. E cria laos de amizade e colaborao com os colegas das principais

    instituies e, na melhor das hipteses, forma certo compromisso com a comunidade

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    acadmica. Vale a pena pensar se uma proliferao de estudos transnacionais, estudos

    que no privilegiam a historiografia nacional, pode significar uma diminuio da

    intensidade desses conhecimentos e desses laos de intercmbio e amizade. E a outra

    face dessa moeda a questo da incluso e excluso da onda transnacional.

    Obviamente, um projeto de pesquisa que envolve arquivos e acervos em vrios pases

    inevitavelmente exige acesso a vrias bolsas de pesquisa e outros meios de apoio ao

    pesquisador. s com grande esforo que um historiador nos Estados Unidos (ou no

    Brasil) consegue a verba de que necessita para tal pesquisa; ento imagine um

    historiador radicado num pas como o Peru, a Bolvia, o Panam, o Equador ou a

    Nicargua, que no dispe de muitos recursos, na melhor das hipteses. Seria

    lamentvel que os trabalhos desses historiadores ficassem menos prestigiados por serem

    voltados principalmente a questes nacionais.

    Desigualdades de prestgio e de recursos so elementos que merecem

    considerao tambm no contexto da academia norte-americana. Como indiquei antes,

    um dos efeitos colaterais do vis transnacional um passo na direo de estudos

    hemisfricos e o chamado new American studies. Mais uma vez, falando de modo geral,

    simpatizo com essa tendncia, e acredito que os historiadores que trabalham nessa linha

    levam muito mais a srio a necessidade de dominar determinados idiomas e pesquisar

    em arquivos fora dos Estados Unidos. A prpria categoria de Estados Unidos e o

    Mundo (em vez de histria diplomtica ou de relaes exteriores) j indica esse novo

    rumo. E em geral dou apoio tendncia de desestabilizar as fronteiras historiogrficas.

    Como observa Gilbert Joseph, essa viso menos definida de fronteiras, de quem ou de

    qual seja autctone e qual seja alheio, interno ou externo, caracteriza a teoria crtica

    atual numa variedade de disciplinas (...) 4 (JOSEPH, 1998).

    E a expectativa de que essa tendncia v aumentando o peso intelectual da

    Amrica Latina na academia norte-americana. Mas, devido ao enorme espao que a

    histria dos Estados Unidos ocupa nas universidades norte-americanas, precisamos (eu

    e meus colegas l) levar em conta outras possibilidades, menos agradveis para os Latin

    Americanists. Uma delas seria certa presso no meio acadmico para estudos

    transnacionais que incorporam grupos, indivduos ou prticas ligadas em algum

    4 Texto original: This blurring of boundaries, of who or what is local and foreign, inside or

    outside, characterizes contemporary critical theory across a variety of fields. JOSEPH. Gilbert M. Close Encounters: Toward a New Cultural History of U.S.-Latin American Relations. In: JOSEPH. Gilbert M.; LEGRAND, Catherine C.; SALVATORE, Ricardo D. (ed.) Close Encounters of Empire.

    Writing the Cultural History of U.S.-Latin American Relations. Duke University Press, 1998, p. 16.

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    momento aos Estados Unidos, de preferncia a estudos que envolvem principalmente,

    ou exclusivamente, latino-americanos. Tambm o desequilbrio entre os arquivos e

    bibliotecas norte-americanos, de um lado, e os arquivos latino-americanos, de outro,

    pode reforar a tendncia de privilegiar a abordagem hemisfrica.

    Em princpio, o vis transnacional no deve ter esse desfecho, muito pelo

    contrrio. Mas vale a pena lembrar a observao de Edward Thompson, que, no livro

    Senhores e caadores, lamentou que no houvesse maneira de se armar contra o leitor

    desatento. E pior ainda quando existem condies que conspiram para reforar a falta

    de ateno.

    Enfim, temos que tomar cuidado para no jogar fora o beb com a gua do

    banho. O to criticado conceito de area studies, apesar de suas razes na Guerra Fria,

    tem evoludo na academia norte-americana e conseguido valorizar o estudo da Amrica

    Latina e do Caribe como uma rea de pesquisa histrica que legtima em si mesma

    em primeira instncia, no importa o nmero de pessoas de descendncia latina nos

    Estados Unidos, nem os interesses polticos do governo norte-americano. Levando isso

    em conta, acho desaconselhvel abrir mo da ideia de area studies simplesmente por

    desgostar-se do seu ponto de origem.

    Ao mesmo tempo, nenhum desses perigos deve ser fatal para o vis

    transnacional. Minha inteno aqui registrar algumas inquietaes; no pretendo, de

    jeito nenhum, montar um argumento contra a histria transnacional. No final das contas,

    a histria transnacional mais bem entendida como uma abordagem que complica, e

    no desloca a histria nacional. Ainda mais: a histria transnacional, parecida com

    gnero, uma abordagem que pode ser aplicada a um grande leque de assuntos. Claro

    que a idoneidade do vis transnacional mais evidente para certos assuntos do que

    outros. Porm, difcil imaginar um tema histrico nos ltimos dois sculos,

    comeando com a micro-histria local, que no envolva algum elemento do

    transnacional. Finalmente, retomando o tema da abordagem comparativa, no acho que

    a ascenso do vis transnacional signifique a morte da comparao. Pode ser que seja o

    fim daquela comparao cientfica e positivista o que no me parece nada

    lamentvel. Mas acho que ele oferece uma nova maneira de fazer comparao. Vou

    terminar com um belo exemplo disso: umas trs semanas atrs, participei da banca de

    um aluno da University of Maryland, que estava defendendo uma tese de doutorado

    sobre a poltica de habitao na Amrica Latina durante as primeiras dcadas da Guerra

    Fria. Na tese, ele examinou a formao de uma comunidade hemisfrica de experts nos

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    Revista Eletrnica da ANPHLAC, n.14, p. 13-29, jan./jun. 2013.

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    anos 50 e 60 que identificaram a moradia como um aspecto essencial do processo de

    modernizao e criaram certa viso de pobreza urbana na Amrica Latina. Mas, dentro

    desse quadro, ele examinou especificamente os vrios projetos habitacionais iniciados

    no Rio e em Buenos Aires nessa poca. A banca toda achou a tese muito boa e elogiou o

    novo doutor, mas chegou um momento em que um professor insistiu que a tese foi um

    trabalho transnacional e que a nfase no eventual livro deve ser essa (e, de fato, o autor

    mostra que, apesar da existncia de condies altamente distintas no Rio e em Buenos

    Aires, a poltica transnacional habitacional sofreu poucas alteraes entre um e outro

    contexto), enquanto um segundo professor insistiu que o interessante foram os pontos

    de contraste entre os dois casos e queria que o autor frisasse mais a comparao. Ento

    sobrou para mim o papel de Cachinhos Dourados e ofereci o seguinte conselho: o autor

    no precisa optar exclusivamente nem para o transnacional, nem para a comparao. Na

    verdade, para mim o trabalho dele demonstra que, no instante em que samos da esfera

    do intercmbio intelectual, muito difcil, talvez impossvel, no recorrer

    comparao. Elaborada num quadro transnacional, evitamos a tendncia de reificar as

    diferenas; citando Gil Joseph mais uma vez, preciso lembrar que as ideias,

    instituies e outras formas culturais e econmicas so, na maioria das vezes, o

    sedimento bagunado de intercmbios anteriores 5 (JOSEPH, 1998). Ento, pela tica

    dele, no existe nenhuma possibilidade de uma clara separao entre dois casos, o que,

    para Joseph, torna a comparao intil. Mas a comparao no depende de uma

    separao total das entidades sendo comparadas. No apenas uma questo de

    contraste; alis, ns geralmente pensamos em comparar entidades que consideramos

    comensurveis por isso, a famosa no comparao entre mas e laranjas. Desse

    ponto de vista, o vis transnacional, longe de expulsar a comparao, permite uma

    renovada abordagem comparativa mais adequada s preocupaes do historiador.

    Artigo recebido em julho de 2012.

    5 Texto original: ideas, institutions, and other cultural and economic forms are more often the messy

    sediments of previous exchanges. JOSEPH. Gilbert M. Close Encounters: Toward a New Cultural History of U.S.-Latin American Relations. In: JOSEPH. Gilbert M.; LEGRAND, Catherine C.; SALVATORE, Ricardo D. (ed.) Close Encounters of Empire. Writing the Cultural History of U.S.-Latin

    American Relations. Duke University Press, 1998, p. 16.

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    Revista Eletrnica da ANPHLAC, n.14, p. 13-29, jan./jun. 2013.

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