Barbara cartland a cruz do amor

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A CRUZ DO AMORBarbara Cartland

Ttulo original: The cross of love

Copyright: c 1997 by Barbara CartlandCopyright para a lngua portuguesa: 1997

BARBARA CARTLAND , sem dvida, a mais famosa escritora romntica do mundo. Entre suas inmeras qualidades, podemos citar algumas: historiadora, gegrafa, poetisa e especialista em dietas naturais.Actuante personalidade poltica, sempre lutou pelos direitos dos grupos menos favorecidos da sociedade inglesa, especialmente os ciganos, vivas pobres e crianas abandonadas.Supercriativa e culta, j escreveu mais de 550 livros, editados em todo mundo em dezenas de idiomas e dialectos, tendo alcanado com essas obras a incrvel marca de 600 milhes de exemplares vendidos.

CAPTULO I

1964Rena Colwell entrou na sala onde o pai costumava escrever os sermes, e foi para a escrivaninha que, no tempo de sua me, estava cheia de flores. Era uma linda sala.Agora, o local parecia abandonado, com o papel de parede rasgado em vrios lugares, as cortinas velhas e desbotadas.Contudo, para Rena continuava sendo o lugar onde ela se sentia feliz e em segurana. L, estivera sempre na companhia das pessoas que amava.Sua me morrera antes. A partir do momento em que fora sepultada e que o marido dissera as preces, ele cessara de ser o mesmo homem. Perdera toda a alegria de viver.Prosseguira com a mesma actividade de pastor da igreja durante meses ainda, visitando os doentes da parquia, enterrando os mortos. E, acima de tudo, lutando para que os jovens assistissem cerimnia dominical. Essa sua luta tornava-se mais difcil no vero, quando eles preferiam jogos ao ar livre ou nadar no rio.Rena achava que a nova gerao no se interessava muito pelo futuro. Os adolescentes, pelos vistos, sentiam-se felizes com o que tinham.E Rena no podia entender tal atitude, pois a aldeia era muito pobre, as crianas no frequentavam boas escolas, e raramente havia actividades sociais para entret-las. Contentavam-se com o pouco que tinham.Rena acreditava que, em grande parte, a razo dessa felicidade devia-se a seu pai, que estava sempre pronto a ajudar os habitantes locais na hora da desgraa.No entanto, depois da morte da esposa, o velho pastor pareceu perder a energia, tornando-se menos activo em seu apostolado.Rena detestava pensar dessa maneira, mas reconhecia ser a verdade.Seu pai se tornara uma sombra do que havia sido no passado.Alguns meses depois da morte da mulher, fora chamado para a casa de um agonizante, numa noite fria de inverno, com neve abundante. Contrara uma gripe que piorava a cada dia.Rena fez tudo o que podia para fazer com que o pai se sentisse melhor. At lhe dera as mezinhas que aprendera a fazer com a me. Mas ele no reagia.Reconhecia que o pai nunca fora muito forte, e seu tipo de vida em nada contribua para que gozasse de melhor sade. Era chamado continuamente em noites frias para atender doentes e agonizantes.Ele fora capelo durante a guerra, e isso concorrera para piorar seu estado geral. s vezes conversava sobre suas experincias junto ao exrcito ingls. Embora no se queixasse, Rena tinha certeza de que sofrera muito por estar longe da Inglaterra. No apenas um sofrimento fsico, mas da mente e do corao.E agora, quando inesperadamente ele comeava a melhorar, ela encontrou-o morto na cama.De manh fora ao quarto do pai a fim de saber por que motivo no descera para tomar caf, e notou que ele no respirava. Achou que talvez fosse imaginao sua, e que logo o pai reviveria e riria dela, por ter se assustado tanto. Mas, ao ver que o corao no batia se deu conta da realidade. Desesperou-se, ciente de que sua vida terminara tambm. No poderia viver sem o pai.Os habitantes da aldeia ficaram desolados, pois perdiam o melhor amigo, um amigo que nunca falhara nas horas difceis. Todos choraram muito no funeral, repetindo constantemente:O que vamos fazer sem ele? Como poderemos continuar vivendo?Era de se esperar que se preocupassem. E Rena era a mais preocupada de todos, pela simples razo de que no tinha para onde ir e nem dinheiro.A aldeia ficava numa parte esquecida do mundo, raramente era visitada por pessoas de outras regies do condado. E isso porque a Casa-Grande, que fora habitada por dez ou mais geraes de condes, estava agora abandonada e negligenciada.O ltimo proprietrio no tivera interesse nas pessoas que l moravam; tinha poucos empregados, pois no tinha dinheiro. Herdara apenas a Casa-Grande de um antecessor, mas no meios para mant-la.Rena jamais se preocupara com o conde, pois na verdade no o conhecia. O homem vivia confinado na casa e nunca ningum o vira cavalgando nos prados ou indo aldeia. O homem morrera durante a noite, e s dias mais tarde os habitantes locais souberam de sua morte. Nem o pastor fora chamado.Rena s esperava que, aps a morte dele, viesse outro proprietrio que se interessasse mais pela aldeia.Porm, o que a preocupava acima de tudo, agora aps a morte de seu pai, era a vinda do novo pastor, nomeado pelo bispo. Precisava desocupar a Casa Paroquial, e no tinha para onde ir.O pai deixara a conta bancria quase vazia. O salrio dele era muito reduzido, e mal dava para viver. E mesmo esse pequeno salrio cessaria de ser enviado pelo bispo.- O que poderei fazer? O que poderei fazer? - ela sussurrava.Mas no obteve resposta.Aps a morte da me, cuidara do pai achando que ele seria eterno. Nunca pensara no facto de que chegaria o momento em que, sem dinheiro, seria forada a ganhar a vida num mundo desconhecido.Mas, como poderia pagar um lugar para dormir, caso tivesse de sair da aldeia?Seu nervosismo aumentou ao receber a carta do bispo dizendo que lamentaria muito a morte do pastor, e que mandaria um substituto o mais depressa possvel. Isso significava, embora o bispo no houvesse dito, que ela teria de desocupar a Casa Paroquial.Sua pergunta era: para onde ir?Londres ficava bastante longe, e raramente ela fora l. No podia se imaginar trabalhando numa loja da aldeia vizinha, lugar bastante pequeno e de pouco movimento. Tampouco ensinando crianas que em geral iam a escolas pblicas."O que posso fazer? O que posso fazer?"Seu pai sempre lhe dissera que, se rezasse, Deus atendia as suas preces. Mas agora parecia que Deus no a ouvia, ou suas preces no eram fervorosas."O que posso fazer? Leio muito mas no tenho diploma de professora. Adoro cavalgar mas no h cavalos nesta vizinhana."O cavalo que possura morrera, havia trs anos j. Agora, seria uma questo de tempo desocupar a Casa Paroquial quando o novo pastor aparecesse.Tinha de comear a preparar as malas. Havia pouca coisa a levar. Alguns vestidos seus e de sua me. Estava consciente de que precisava andar bem vestida para arranjar um bom emprego.Rena era uma moa bonita. Seus cabelos louros tinham um toque de dourado. Os olhos azuis da cor do cu eram enormes, talvez grandes demais para um rosto to pequeno.Como os pais no dessem festas em casa, poucas pessoas haviam percebido que a pequena Rena se transformara numa linda mulher. E, se andasse bem vestida, seria a moa mais atraente de qualquer reunio social."O que posso fazer?""Talvez trabalhar como empregada domstica?" Mas a ideia de morar em casa estranha a apavorava. Sabia que a me ficaria chocada se viesse a saber que essa ideia lhe passara pela cabea.A sra. Colwell nascera numa famlia de certa projeco social. E os pais dela no ficaram nada felizes ao saber que a filha se apaixonara por um pastor da igreja, assistente do Vigrio da parquia que eles frequentavam aos domingos.- Seu pai foi um dos homens mais lindos que conheci - ela dissera a Rena. - Ele disse que se apaixonou por mim no primeiro dia em que me viu entrando na igreja, na companhia de meus pais, seus avs.- E vocs se amaram logo? - perguntara Rena.- Acho que foi o que aconteceu. Mas no tive chance de falar com seu pai durante vrias semanas. Porm um dia nos encontramos, e ele quase no disse uma palavra, to nervoso estava. Apenas confessou que se impressionara com meu aspecto primeira vista.Rena rira muito enquanto a mo continuava:- Pude entender perfeitamente, porque senti o mesmo. Queria falar mas no sabia o que dizer. No primeiro dia em que ele foi a nossa casa com o vigrio, para tomar ch, nenhum de ns disse uma nica palavra.- Mas voc ficou emocionada com a visita, mame?- To emocionada que sonhei com ele todas as noites at nosso prximo encontro.E levou muito tempo para que o jovem ministro da igreja tivesse coragem de se aproximar da filha do abastado proprietrio de terras, para conversar com ela a ss.Enfim um dia, quando houve uma grande festa na casa, a menina apaixonada encontrou um pretexto, no se lembrava bem qual fora, de mostrar ao jovem pastor o canteiro de morangos. E andaram sozinhos pelo enorme jardim que rodeava a manso.- Quanto tempo depois disso papai levou, mame, para dizer que a amava?- Para mim pareceram milhares de anos. Confesso que eu amava seu pai, mas no tinha muita certeza se ele me amava.- Finalmente um dia ele disse que a amava?- Disse, e eu me senti arrebatada aos cus junto com ele. Espero, querida, que um dia isso acontea com voc - a sra. Colwell dissera filha.Seus pais eram as duas pessoas mais felizes que Rena conhecera. s vezes tinha a impresso de que se esqueciam da existncia dela e de tudo o mais que havia no mundo, exceptuando-se o facto de que estavam juntos.Pensando no passado, Rena imaginava que essa era a razo de os pais nunca darem festas. Eles se bastavam. As reunies sociais, raras, s aconteciam em funo do trabalho da igreja.Quando as visitas iam embora, eles sentiam alvio porque ficavam sozinhos, no queriam mais ningum alm dos dois.Porm isso no queria dizer que ela crescera sem receber amor. Mas, de que adiantava esse amor agora?Quase instintivamente sentou-se escrivaninha do pai. Sentia-se com se ele estivesse presente, e lhe fez a pergunta que a atormentava."O que posso fazer, papai? Aonde devo ir e a quem devo pedir ajuda? Assim que o novo pastor chegar, terei que desocupar a Casa Paroquial. No momento, no tenho dinheiro nem para ir a aldeia mais prxima. Isso sem falar em Londres, onde talvez possa arranjar algum emprego bom."Ela suspirou e esperou ouvir o pai lhe falar o que deveria fazer.Ento, como se o conselho lhe tivesse sido enunciado em voz alta, Rena comeou a pensar na cruz que fora encontrada na floresta, atrs da Granja, como era chamada a Casa-Grande.Lembrava-se de que fora assunto das conversas na aldeia, quando trabalhadores da floresta a encontraram e pediram ao pastor que fosse v-la.- Parece-me bem estranho o aparecimento dessa cruz - a me de Rena dissera ao marido. - Mas os homens acham que tem algo a ver com religio. Voc precisa ir l para dizer se alguma coisa sagrada ou no.Rena tinha doze anos na ocasio. E recordava-se de ter ouvido o pai dizer que no tinha tempo, pois precisava preparar o sermo de domingo.- Voc precisa ir - a mulher insistira. - Afinal, assunto relacionado igreja.E ele cedera, suspirando. Pegou o chapu, beijou a mulher e embrenhou-se pela floresta.O que os homens acharam era uma enorme cruz, rstica, mas sem a parte superior. Estava suja de lama. Porm, depois que eles a limparam, descobriram uma inscrio que tiveram dificuldade em decifrar.Rena e a me foram ver a cruz alguns dias mais tarde. Estava circundada de rvores. Era primavera, e havia flores por toda a parte.Como o local ficasse na outra extremidade da floresta, fazia-se necessrio atravessar os jardins da Granja para chegar l. Rena lembrava-se de que ficara encantada ao ver a Granja de perto, pela primeira vez. E se perguntara se algum dia teria chance de nadar no riacho que atravessava a propriedade dos condes.Extasiara-se ao ver a cruz, e entendera por que o pai se interessara tanto pelo achado. A madeira era diferente de qualquer outra que conheciam. Rena viu a inscrio que convencera seu pai de que se tratava de uma verdadeira cruz.Com pacincia, o pastor conseguira decifrar palavra por palavra.Todos vocs que precisarem de auxlio, o encontraro quando orarem para mim.- Isso foi o que me convenceu de que na verdade uma cruz, apesar da falta da parte superior - o pastor dissera. - Acho que foi colocada l h centenas de anos, quando a casa foi construda. Ou talvez at antes disso.E ele dera instrues para que a cruz nunca fosse tirada do lugar, excepto se houvesse uma ordem especial do dono das terras.E l continuara a cruz, at o presente."Eu havia me esquecido dessa estranha cruz", Rena disse a si mesma. "Talvez se rezasse naquele lugar, encontraria auxlio, como outras pessoas o encontraram. Meu pedido ser muito difcil de ser satisfeito, mas preciso fazer de tudo para ganhar algum dinheiro que faa com que eu no morra de fome."Era primavera. Rena no levou casaco nem chapu para atravessar a floresta. Quando avistou ao longe os portes da Granja, notou que estavam abertos. Haveria visitantes no local?, pensou. No, era pouco provvel.Ela quase no se lembrava de como era a Granja. Passara por l algumas vezes, e rapidamente.Sabia que havia salas grandes e sumptuosas. Mas, para Rena, sala grande era qualquer recinto um pouco maior do que as pequenas salas de sua casa.Ela notou que o jardim estava abandonado. Sendo primavera, os pssaros cantavam, de vez em quando, um coelho ou um esquilo cruzava os gramados.Rena estava com pressa, o que no a impediu, contudo, de apreciar o frescor da relva enquanto o sol aquecia sua pele."Adoro o campo", dizia a si mesma. "Se tiver de morar em Londres a fim de trabalhar, terei saudades deste lugar e passarei meus dias ansiosa para voltar."Deu um profundo suspiro, sabendo que voltar era mais ou menos um sonho, pois no haveria possibilidade de ela ganhar a vida na aldeia.Continuou caminhando devagar, apreciando a vegetao e as flores. Logo deparou com o riacho. Foi quando viu a cruz na qual seu pai estivera to interessado. Linda, com os rannculos desabrochando a seus ps.O dourado do sol penetrando por entre a folhagem das rvores realava a madeira escura da cruz, que parecia ainda maior do que na realidade era.Todo o cenrio tinha aspecto impressionante. E Rena achou que o pai tivera razo ao insistir que aquele seria o lugar perfeito para as pessoas levarem suas dificuldades e orar, pedindo auxlio.- Como pode essa cruz me ajudar? - ela disse em voz alta.Depois lembrou-se de que no era cruz que pedia ajuda, e sim a Deus.Teve certeza de que o pai tivera razo ao dizer:- Qualquer que seja a prece, se vier do corao, ser ouvida por Deus.Rena ajoelhou-se na grama molhada, e rezou.Achou que se Deus a ouvisse, com certeza a ajudaria.De repente, ao lado dos rannculos, enxergou um espinheiro.E pensou logo que, se a planta crescesse muito, cobriria a cruz.Tirou ento uma luva de jardinagem do bolso do palet, calou-a e decidiu arrancar a horrvel planta pela raiz. Mas isso sem estragar as flores.Ao faz-lo notou, com espanto, que havia moedas junto raiz.Apanhou-as, limpou-as, e constatou que eram de ouro. Achou que sonhava. Em seguida olhou para a cavidade e viu mais moedas."No deve ser verdade", dizia a si mesma. "Como puderam essas moedas vir parar aqui? Como possvel que a cruz seja sustentada por moedas?"Eram moedas antigas e nada parecidas com as actuais.Rena inclinou-se para pegar mais algumas.Mas instintivamente, como se tivesse sido aconselhada pela prpria cruz, concluiu que o tesouro que achara pertencia ao dono da Granja."No posso roubar isso", pensou. "Seria um acto mau, pecaminoso, em especial porque tirado de lugar to sagrado como o da cruz."Ela limpou mais algumas moedas. Tinha certeza de que eram de ouro, do tempo da Regncia, ou talvez do tempo da rainha Anna.Seu pai era um conhecedor de moedas, um numismtico na realidade, e se interessava pela transformao do dinheiro atravs dos tempos. Muitas vezes conversara sobre o assunto com ela.E agora, Rena achava que aquelas moedas datavam, no mnimo, de cem anos atrs. E isso, com certeza, as tornava muito valiosas.Foi ento que se lembrou de algo. Algum lhe dissera que um candidato compra da Granja chegara dias atrs. Resolveu entregar-lhe o tesouro que encontrara.No que acreditasse na realizao da compra. Muitas pessoas interessadas tinham vindo e sado, sem completar o negcio. Nenhuma delas fizera uma oferta para aquisio da velha casa."S espero", Rena pensava, "que algum decente a compre. E que gaste dinheiro reformando a igreja e, naturalmente, as casas da aldeia."Ela soubera, pelo pai, que muitas pessoas interessadas haviam aparecido no decorrer dos anos, mas todas partiam sem mostrar o maior entusiasmo pela velha casa que permanecia at o presente fechada."Se houver mesmo um novo proprietrio na Granja, talvez essa minha descoberta o animar a tornar o local habitvel de novo. E ele ajudar os moradores da aldeia que desesperadamente precisam de emprego para sobreviver."Com receio de que algum mais visse o que ela acabara de achar, Rena recolocou o espinheiro no lugar. No sem antes pegar em todas as moedas vista.Pelo facto de no querer pisar nos rannculos, o espinheiro no ficou bem enterrado como antes, o que ela achou muito bom, pois no cresceria tanto a ponto de cobrir a cruz.Assim que terminou sua tarefa, ficou olhando para o lugar sagrado."Talvez minhas preces tenham sido atendidas", disse a si prpria.Depois riu de seu optimismo."Mas meu achado no deixa de ser animador. Se o novo proprietrio for um homem generoso, quem sabe me d ao menos uma dessas moedas que desenterrei do solo."Logo Rena se deu conta de que, se houvesse mais, e tinha certeza de que havia, vendendo-as teria ao menos um pouco de dinheiro para ir a algum lugar procurar emprego.Como se o pai a estivesse ouvindo, ela teve a impresso de escutar-lhe a voz dizendo que aquilo seria roubo, um acto que Deus condenava.Roubo era algo que ele no toleraria, em particular vindo da prpria filha."Tenho de ser honesta. E, embora seja um pouco cedo para tirar uma concluso, o facto de eu ter achado o tesouro me faz acreditar que obtive resposta a minhas preces."Porm logo pensou novamente que estava sendo optimista demais.Ela atravessou a mata cerrada da floresta, e depois os jardins, tomando a direco da Casa-Grande.CAPTULO IIComo fazia muito tempo que Rena no via a Granja, esquecera-se do quanto era atraente, apesar de seu mau estado de conservao. Sem dvida precisava de uma boa reforma.As vidraas das janelas estavam quebradas e necessitavam de limpeza.Tanto as janelas como os tijolos vista eram muito velhos e muito lindos.Ao olhar para a casa, Rena se perguntou por que motivo ela ficara tanto tempo sem ir at l, para apreci-la. Apesar da falta de jardineiros, os canteiros tinham um colorido impressionante devido grande quantidade de flores das mais variadas tonalidades. A prpria praga que crescia no meio dos gramados fazia parte do quadro:; no o prejudicava."Que casa linda", pensou. "Se no tivesse sido negligenciada por tantos anos, seria uma das mais lindas casas de toda a Inglaterra."Havia uma boa distncia a ser percorrida da velha ponte entrada principal da casa. Um pouco alm corria um riacho pelo jardim, que terminava num grande lago.Vrias vezes Rena pensara em nadar naquele lago. Mas como existia outro lago bem mais perto de sua casa, ela sempre evitara andar at l.Entre o lago e os jardins da Granja havia uma pequena floresta onde a me a levara muitas vezes quando ela era bem pequena. E lhe dissera que as fadas danavam ali.Aps a morte da me, Rena no mais voltara ao local, achando que sofreria ao passear por l sozinha. E tambm no desejava encontrar pessoas da aldeia num lugar que sempre considerava s seu e da me.No que fosse difcil evitar esses encontros. Poderia ter ido no fim da tarde, quando todos j tivessem voltado do trabalho e estivessem recolhidos em seus chals.Alm do mais, os aldees no pareciam interessados na Granja, pela simples razo de que no havia trabalho para ningum l, um trabalho que lhes garantisse meios de sobrevivncia.Por ser primavera, havia flores por toda a parte, sendo a maior parte delas margaridas e rannculos. Mas o ar estava perfumado com o aroma de lilases e madressilvas.Desde menina sempre lhe havia dito que a Granja era mal-assombrada. Os mais velhos da aldeia insistiam que ouviam vozes estranhas quando visitavam o lugar. Quem sabe essa fora a razo que conservara tanto os adultos quanto as crianas afastadas do local.E Rena lamentava agora ter sido to idiota a ponto de no haver usufrudo a beleza do que via agora."Talvez o novo dono faa com que a Granja volte magnificncia do passado", ela pensou.No seria muito difcil. Era s observar a casa para ver como fora negligenciada, e se convencer de como poderia facilmente voltar a ser linda de novo."Talvez um dia ruir por terra, e tudo ficar perdido se no houver interesse de algum para restaur-la".Mas seria um crime se isso acontecesse, porque casas como aquelas faziam parte da histria da Inglaterra.Rena notou que a porta da frente estava aberta. Tinha certeza de que no havia empregados na casa, de contrrio teria ouvido alguma coisa.Espiou o interior. No tocou a campainha; no havia empregados l, quem atenderia porta?Corriam boatos na aldeia de que algum tinha chegado para ver a Granja, mas no se sabia se esse visitante viera sozinho ou com a famlia. Porm de uma coisa Rena estava segura; se o homem tivesse contratado empregados, ela saberia.Por no ouvir rudo algum, entrou. Como o exterior da casa, o interior tambm precisava de mais cuidados. Uma espessa camada de poeira cobria as escadas e o assoalho de madeira das salas. Os tapetes estavam cinzentos de tanto p, como tambm os mveis.Rena pensou logo na me que gostava tanto de mveis antigos. Ela ficaria horrorizada ao ver o estado em que se encontravam mveis to preciosos. Pareciam ser peas francesas.O silncio era absoluto. Com certeza o novo candidato compra, do qual se falava na aldeia, havia desistido do negcio, horrorizado com a m conservao do lugar.Por outro lado, se ele ainda continuasse l, estaria na cozinha preparando o caf da manh, pois sem dvida passara a noite na casa, ou viajando.No instante em que chegou a essa concluso, Rena ouviu um rudo na sala de jantar. Teve um segundo de hesitao. Mas sua curiosidade venceu. Em vez de sair e tocar a campainha da porta da frente, foi at a sala de jantar.Era exactamente como seu pai descrevera. Ele estivera l havia oito anos, acompanhando uma pessoa que chegara de Londres para inspeccionar a Granja. E seu pai soubera mais tarde que a idia era reformar a casa e transform-la numa espcie de hotel de fim de semana, para hspedes que desejassem escapar das cidades grandes.Seria um lugar de repouso tambm, onde viajantes poderiam passar uns dias e gastar algum dinheiro antes de voltar a suas casas.Mas nada fora feito porque a pessoa encarregada de inspeccionar o local chegara concluso de que seria impossvel transform-lo numa estncia para frias. Ele declarara no haver nada na aldeia que prendesse a ateno das pessoas residentes em outras partes do pas. Ou, pior ainda, de pessoas provenientes do exterior, que considerariam o lugar um dos menos atraentes da Inglaterra.Rena lembrava-se agora de que o pai no discutira com o homem, apenas o ouvira. E dera graas ao bom Deus pelo facto de no se fazer da Granja um hotel de divertimentos, o que acabaria com a paz da aldeia.Agora, j na sala de jantar, recordava-se do que o pai dissera a ela assim que se despedira do inspector:- Talvez eu esteja errado, mas fico contente por no se transformar isto num lugar de divertimento para os que tm medo da quietude e da paz do campo. um local valioso para ns, e esperamos que pessoas daquela espcie no nos incomodem.O pastor falara mais consigo mesmo do que com a filha. E agora Rena lembrava-se de que ele ficara radiante ao saber que a Granja continuaria exactamente como sempre fora, e que ningum aviltaria a casa e as redondezas.- A Granja pode estar cheia de p, pode necessitar de reparos - ele dissera filha -, mas parte de nossa aldeia, e no a dividiremos com ningum mais. E, sem dvida, no com um idiota como o homem que veio de Londres.E naquele instante o escrnio da voz dele pareceu soar de novo aos ouvidos de Rena."Meu pai gostava das coisas como estavam", ela reflectiu.Contudo, no podia deixar de admitir que agora pareciam bem piores. A mesa precisava de polimento e o consolo da lareira tinha uma camada grossa de p.Rena ouviu um rudo de novo. Imaginou que talvez fosse o tal comprador.Curiosa, foi cozinha. Para sua enorme surpresa, viu um homem lidando para acender o fogo a lenha.Consciente da presena dela, o homem disse:- Talvez voc possa fazer com que este maldito fogo acenda! Estou ansioso para tomar o caf da manh, e a lenha teima em no pegar fogo.- Deixe-me tentar - Rena insistiu, sorrindo. - Esses foges velhos so problemticos, s vezes.Quando o homem virou-se, Rena viu que era jovem e muito atraente.- Se voc conseguir acender esse fogo, poderei tomar meu caf da manh. Estou morrendo de fome. J comi quase tudo o que trouxe comigo. Acho que esta horrvel cozinha to sem recursos como o resto da casa.- Se for o novo dono, sinto muito que tenha essa opinio. - Rena sorriu. - Mas um dia foi uma das mais lindas casas da Inglaterra.- Acho que precisamos nos apresentar. Mas, antes disso, eu ficaria muito grato por qualquer auxlio que voc pudesse me proporcionar.- Preciso agora de um pedao de papel. Pode encontrar em uma das gavetas da mesa. Depois, com gravetos e fsforos, acenderei o fogo.- Suponho que eu deveria saber fazer isso - o rapaz falou. - Mas, francamente, no estou acostumado a cozinhar para mim.- Ento v arranjar o que lhe pedi. E prometo que no ficar faminto por muito tempo ainda.Em minutos, Rena acendeu o fogo. Ps gua para ferver numa velha panela e colocou dois ovos que o rapaz trouxera consigo.Enquanto esperava, ele sentou-se na beirada da enorme mesa que enchia quase toda a rea da cozinha.Rena no prestava muita ateno nele, mas concentrava-se na refeio que preparava.O homem trouxera numa cesta meio filo de po e um bom pedao de manteiga. Prontos os ovos, Rena colocou tudo em pratos que encontrou num armrio.Mandou que ele os levasse sala de jantar enquanto tentaria encontrar caf ou ch em qualquer lugar da cozinha.- O que voc prefere? - ela perguntou.- Ficarei grato por qualquer coisa que me der - o homem respondeu. - Eu deveria convid-la para comer comigo. Mas estou com tanta fome que minha vontade devorar tudo o que est sobre a mesa.- No estou com fome - Rena explicou. - Comi antes de sair de casa.Isso no era verdade, pois comera apenas pedaos de presunto que sobraram do jantar da noite anterior; e foi comendo enquanto atravessava a floresta.Agora ali, ao lado do desconhecido, achava estranho ele no ter curiosidade em saber a razo de sua presena na casa.Ela enfim encontrou o caf que procurava, em um dos armrios; mas s esperava que no tivesse gosto de mofo. Pelos vistos, pareceu que no, pois o homem tomou-o com evidente prazer, e disse:- Acho que voc no real e sim uma fada que apareceu aqui para me salvar. Eu estava morrendo de fome.- Apenas sinto que a maioria da loua boa tenha sido roubada. Sempre achei um erro deixar esta linda casa desabitada. Apesar de bem fechada, h pessoas que sempre arranjam um meio de entrar para roubar.- Acho que devo ser muito grato por no terem levado os quadros e peas do mobilirio - o homem declarou.- Ento o novo dono! - exclamou Rena. - Achei, mas me ensinaram que era rude fazer perguntas desse tipo.O homem riu muito.- fada que me alimentou e me deu de beber, coisa que eu no conseguiria Ter sem o auxlio dela, posso apenas dizer que me considero muito feliz por a ter encontrado.Rena sorriu e disse:- Foi puro acaso. Passei perto algumas vezes mas no cheguei at aqui por saber que a casa estava vazia. Agora, espero que o novo proprietrio se anime ao ver tudo o que pode ser feito.- o que espera que eu faa?- o novo proprietrio? - Rena indagou, surpresa. - Sussurrava-se na aldeia que voc... que o senhor havia chegado, mas eu no tinha muita certeza. Trouxe algo para lhe mostrar. Uma agradvel surpresa, penso, depois das dificuldades que o senhor teve com a cozinha.- Acertou - o homem concordou. - Sou o novo proprietrio e confesso que, mesmo antes de ter chegado aqui, sabia que minha herana no haveria de ser alguma coisa para se receber de braos abertos. Trata-se de uma casa grande demais e dispendiosa, para se usar como moradia.- Mesmo? - Rena suspirou. - Muitas vezes pensei que seria interessante ver esta casa criar vida de novo e no mais deixada como est agora, gradualmente caindo em runas at que no sobre nada dela, e nem dos lindos jardins.- Acho que o que voc diz verdade, mas h um grande empecilho intransponvel.- E qual esse empecilho, posso saber?- Vou resumir em uma palavra apenas. Dinheiro! Dinheiro para tornar a casa habitvel. Dinheiro para contratar jardineiros, fazendeiros, arrendatrios, empregados e, naturalmente, dinheiro para comprar cavalos que encham minhas estrebarias.- Isso seria maravilhoso! - Rena gritou. - Sempre quis cavalgar pelos campos, mas como meu pai recebia muito pouco da igreja, nunca tivemos condies de comprar um cavalo.O jovem homem riu e fitou-a atentamente.- Est por acaso me dizendo que seu pai era o antigo pastor?- Era. Meu pai, o reverendo Colwell, morreu h um ms mais ou menos. E meu nome Rena Colwell. Ele trabalhou como pastor da aldeia e conhecia esta casa havia mais de vinte anos. Agora, quando o bispo mandar para c outro ministro da igreja, eu terei de ir embora.- Se eu tivesse condies financeiras, convidaria voc para me ajudar a restaurar a casa a fim de torn-la outra vez linda como foi no passado.- E eu adoraria ajud-lo. Mas o senhor fala como se considerasse impossvel viver aqui.- E . Estive viajando a servio da Marina de Sua Majestade, e no tinha idia de como seria minha vida no futuro at o instante em que, voltando Inglaterra, soube, para meu espanto, que eu era o descendente directo do ltimo conde que herdou isto h trinta ou quarenta anos atrs, penso.- Acho que h mais tempo ainda - Rena corrigiu-o. - Mas que maravilha para o senhor, ter herdado esta casa!- De incio achei que se tratava de um conto de fadas. Mas logo constatei que minha herana, alm do ttulo, era simplesmente nada, com excepo da casa e dos arredores.- Quer dizer que o senhor no tem parentes?- S alguns, muito velhos, que com certeza sabem tanto quanto eu sabia at ento. Nada!- E o que pretende fazer?- Francamente, no sei. Quando soube que esta casa vinha com o ttulo, fiquei exultante por ter um lugar onde morar, e terras. Mas agora que vi tudo, desapontei.Pelo modo de falar Rena pde perceber que o pobre homem estava de facto desapontado com o que encontrara.- O senhor tem chance de vender parte das terras, pelo menos. No digo a totalidade mas parte - Rena sugeriu.- Foi o que pensei, mas tudo se encontra em to mau estado que no sei se conseguiria comprador. Isso se pudesse mesmo vender, o que sei que no ser possvel. Meus bens devem passar para o prximo conde, embora considerando-se o facto de que os vrios condes que vieram antes de mim jamais tenham se preocupado com isto. O ltimo conde, que morreu com a idade de noventa anos, nunca morou aqui. Preferiu viver no norte da Inglaterra onde dois de seus antepassados haviam vivido antes. - O conde sorriu ao acrescentar: - Nenhum dos condes da famlia quis morar aqui, por isso as terras e a casa ficaram no estado em que esto.- Com certeza o senhor poder remediar o mal - Rena declarou.O conde sorriu sarcasticamente e replicou:- No tenho dinheiro. O que economizei de meu salrio de marinheiro foi pouco. No ganhava muito. Para deixar esta casa habitvel sero necessrios milhares de libras. O pior de tudo que, conforme j lhe disse, no posso vender nada, porque a propriedade dever passar para o prximo conde da famlia, que pode ser ou no meu filho. Mas, com toda a certeza, no ser meu filho, pois no tenho condies financeiras que permitam que me case. - Houve um momento de silncio antes que ele dissesse: - Portanto, se eu no tiver um filho, a casa continuar em runas, como esteve nos ltimos cem anos.Foi ento que Rena resolveu falar sobre sua descoberta.- Vim aqui para lhe dizer que encontrei algo em sua propriedade que desejo lhe entregar.Enquanto falava ela tirou do bolso trs das moedas que encontrara junto ao espinheiro. E as ps sobre a mesa. O sol, que entrava pela janela, as fez brilhar.O conde ficou esttico.- So moedas antigas - disse. - Muito antigas! Eu diria que datam de cem anos ou mais. Onde as encontrou.- Na raiz de um espinheiro. E as trouxe para entregar ao verdadeiro dono, o senhor.- No pensou em guard-las para si?- Como j lhe disse, meu pai era pastor da igreja. E uma das coisas que me ensinou foi no roubar, ou melhor, no me apoderar de coisas que no me pertencem.- Foi muita bondade sua trazer essas moedas valiosas para mim - o conde disse. - Mas, como pode imaginar, para restaurar esta casa precisarei de muito mais que isso. Digamos, de milhares dessas moedas.- H muitas outras no lugar. Por esse motivo vim aqui depressa a fim de lhe contar sobre meu achado. O senhor deve ir ao local antes que algum descubra o tesouro.O conde encarou-a, intrigado.- Sim - Rena explicou. - H um espinheiro crescendo ao p da cruz, prejudicando a beleza do cenrio, com as anmonas rodeando o lenho sagrado.- Mal posso acreditar no que me diz - o jovem conde falou, pondo a mo na testa. - Est tentando me fazer imaginar que talvez haja mais moedas iguais a estas no mesmo lugar?- o que espero - Rena declarou. - E isso resolveria seu problema.- Quer me levar a esse lugar? - o conde pediu. - Como pode imaginar, quero saber logo se h mais desse tesouro aguardando ser descoberto.- o que espero. Tenho impresso de que as moedas foram colocadas por uma pessoa grata, pela razo de suas preces terem sido atendidas.- Por isso voc foi rezar aos ps da cruz? - o conde perguntou.- Foi. Como o senhor, estou sem dinheiro. Meu pai morreu e preciso encontrar um meio de subsistncia..- Que tal irmos l juntos, agora mesmo? - sugeriu o conde. - Se a cruz est em minhas terras, podemos verificar se h mais moedas l.- o que eu esperava que o senhor dissesse, pelo simples motivo de que muitas pessoas visitem o local e podem descobrir as moedas caso haja mais, o que acredito que sim.- Muito bem. Vamos agora.- Mas iremos por um caminho mais discreto - sugeriu Rena. - Se as pessoas da aldeia o virem indo para perto da cruz, no prprio dia de sua chegada, acharo estranho.- Antes de tudo diga-me uma coisa. Por que essa cruz est em minhas terras e no foi levada ao cemitrio? Ou igreja?- Porque meu pai decidiu que fosse deixada l, onde fora encontrada. Embora falte a parte de cima, meu pai achou que se tratava de uma cruz, por causa da inscrio. De quando em quando as pessoas da aldeia vo l para pedir favores.O conde levantou-se imediatamente e Rena conduziu-o ao local, porm seguido por um atalho atrs da Granja, pouco usado pelos caminhantes. Tiveram de atravessar o riacho atravs de uma ponte rstica de madeira, construda pelos trabalhadores nas terras de Sua Senhoria.E chegaram ao lugar da cruz, que se erguia majestosa entre as rvores, e que estava rodeada de flores.Rena ajoelhou-se e rezou, agradecendo a Deus por ter encontrado o dinheiro e tambm o homem, a quem o dinheiro pertencia.E pediu que o achado ajudasse no apenas o conde, mas outras pessoas tambm, incluindo-a.Enquanto rezava de olhos fechados, o conde permaneceu ao lado dela observando a cruz. Mas, no instante em que Rena abriu os olhos, viu-o andando na direco da cruz, pisando inevitavelmente nas flores. O conde puxou o espinheiro que por sinal agora estava muito mais fcil de ser removido. Em seguida comeou a enterrar as mos no solo mido para ver se encontrava alguma coisa.Rena ficou preocupada. E se no houvesse mais nada? A ida at o local da cruz teria sido em vo? Ela rezou, pedindo a Deus que os ajudasse.De sbito, o conde deu um grito de alegria. Rena arregalou os olhos. Ele tinha nas mos um punhado de moedas de ouro, sujas de terra. Parecia um sonho.- Suas oraes foram atendidas, e tenho certeza de que h muito mais embaixo desta terra - ele afirmou.- Ser verdade o que est acontecendo? Ser mesmo verdade?- verdade. Veja! - O conde estendeu a mo cheia de moedas de Ouro. - O que temos a fazer agora voltar j para a Granja. Ningum do lugar pode saber o que encontramos aqui. Mais tarde trarei pessoas peritas no assunto, que podero remover todas as moedas sem danific-las.Assim dizendo, ele colocou o espinheiro no lugar, passou o brao em volta da cintura de Rena, e ambos voltaram para casa. Seguiram pelo mesmo caminho da ida, entre as rvores e atravessando a velha ponte de madeira que os levou para o outro lado.Quase em casa, o conde disse:- No sei como lhe agradecer. Voc me salvou, ao menos por agora. O que eu sentia ao chegar aqui era s desespero, devido ao estado em que encontrei a casa e o que havia dentro dela. De qualquer forma, tudo me parece um conto de fadas. Estou encantado com sua descoberta, Rena. Sinto-me bem longe do estado de angstia em que me viu ao chegar aqui.- O senhor acha mesmo que haver junto cruz dinheiro suficiente para a reforma da Granja, e para deix-la como foi no passado? - Rena perguntou, muito emocionada.- No posso acreditar que nossa sorte seja assim to grande. Mas, qualquer quantia em dinheiro, neste momento, ser de incrvel ajuda para mim. Isso me dar chance de planear sobre meu futuro. E a voc, mais uma vez muito obrigado.- Agradea a meu pai. Foi ele quem guiou meus passos at l. E Deus permitiu que tudo isso acontecesse.- emocionante demais para ser verdade! - o conde exclamou. - S quero que me prometa no revelar a ningum nossa descoberta.- claro que no contarei nada a pessoa alguma - Rena prometeu. - Essas moedas so suas, como tambm todas as que estiverem escondidas sob a terra. Seria terrvel algum vir a saber, e comeasse a escavacar por toda a parte, na esperana de encontrar algo.- Tem razo - concordou o conde. - Mas agora melhor que voc volte para casa. Sua famlia ficar apreensiva com seu atraso, sem saber o que houve.- Todos de minha famlia morreram. Alis, fui cruz para pedir auxlio, pois preciso arranjar um emprego para viver.- Se tivermos sorte - o conde comentou -, voc no ter necessidade de trabalho, a menos que seja um trabalho muito interessante.Rena sorriu e disse:- Agora o senhor est esperando demais. No vamos exagerar. Se encontrar mais algumas moedas que lhe permitam viver com conforto, na Granja ou em algum lugar modesto, j ser ptimo. No acha?Houve uns minutos de silncio. Em seguida, o conde perguntou:- O que voc pretende fazer?- Eu me sentirei muito feliz se minhas preces forem atendidas. E, se o senhor tiver pacincia comigo e me abrigar por alguns dias, posso ao menos ter tempo para pensar no que fazer na hora em que precisar sair da Casa Paroquial. Isso acontecer quando o bispo designar outro pastor para a aldeia.Silncio de novo.Mas, ao chegarem mais perto da Granja, o conde sugeriu:- Nesse meio tempo, se voc estiver mesmo querendo um emprego, deixe-me oferecer-lhe um. Preciso de governanta, e quero uma, se eu puder pagar, que transforme a Granja num lugar habitvel.Rena deu um grito de alegria.- Eu rezarei para que esse sonho se realize. Pode levar um sculo, mas se pudermos fazer com que a Granja volte a ser o que era, se pudermos ajudar outras pessoas como fomos ajudados, ento acho que meu pai estava absolutamente certo ao me inspirar para eu ir orar aos ps da cruz. E absolutamente certo em no ter deixado que a cruz fosse levada para outro lugar. - Depois de uma pausa, ela acrescentou: - Oh, espero muito que meu pai esteja vendo o tesouro que ns encontramos.A ltima frase saiu de seus lbios com grande espontaneidade.Mais uma vez, silncio.Depois, o conde disse:- Espero muito que seu desejo, ou prece, como queira cham-lo, se transforme em realidade.CAPTULO IIIQuando chegaram Granja, encontraram a porta conforme a haviam deixado, destrancada. O conde abriu-a e Rena disse:- Se vou ser sua governanta, e algo que adoro ser, a primeira coisa a fazer lhe preparar o almoo. O senhor trouxe algum mantimento?O conde riu e disse:- Antes de tudo, Rena, no me chame de senhor. Ok? Chame-me de voc, como fez quando nos conhecemos, e antes de saber que eu era conde. Quanto aos mantimentos, est querendo demais de mim. Pensei no caf da manh, mas no no almoo.- Muito bem. Nesse caso, me d algum dinheiro e eu irei aldeia comprar qualquer coisa. No garanto que possa fazer um banquete, mas prepararei uma refeio simples.- E eu serei grato pelo que voc preparar. - Ele ps a mo no bolso e tirou algumas libras. - Isso chega?- Oh, mais do que suficiente. Comprarei tambm coisas para o jantar. Como governanta, no posso permitir que o senhor... que voc passe fome.- Espero que no se assuste ao constatar que meu estmago maior do que eu, quando deixou a Marinha. Aqui fora, no temos a mesma fartura. Porque tambm no temos dinheiro.- Nunca duvidei sobre a alimentao no navio - Rena comentou. - Sempre achei que a Marinha era bem gerenciada, bem melhor do que muitas casas.- Tem razo. Agora, olhando para trs, reconheo que a comida era excelente, o navio limpo. Tudo brilhava, o que infelizmente no posso dizer de minha casa!- Talvez possa dizer mais cedo do que espera. Mas insisto que no seja impaciente.- Ao entrarmos, notei que havia correspondncia perto da porta. Deve ter cado da caixa de cartas para dentro.- O carteiro com certeza passou enquanto estvamos fora. Tocou a campainha e, quando viu que no havia ningum em casa, teve o bom senso de deixar as cartas na caixa.O conde apanhou-as e exclamou:- Penso no ser necessrio dizer que o primeiro envelope que peguei uma conta! Como no se trata de nada agradvel, vou antes almoar para depois ler.Rena riu muito.O conde abriu a Segunda carta e, pela expresso do rosto dele, Rena achou que devia se tratar de algo confidencial. E foi para a cozinha.Olhou por toda a parte a fim de ver se havia qualquer coisa para comer. No viu quase nada, mas achou que encontraria verduras na horta. Sabia que algumas cresciam, apesar da falta de cultivo."Vou precisar de todo o dinheiro que ele me deu", pensou. "Providenciarei coisas para o jantar e para o caf da manh".E achou que quanto mais depressa andasse com seu trabalho, melhor. Havia muito a ser feito naquela cozinha suja, cheia de p."Posso ser a governanta. Mas, pensando bem, para tomar conta da casa toda, preciso de ajuda. E isso no se consegue sem dinheiro."Porm, apesar de todos os problemas, seu corao sorria de alegria s em pensar no que tinham encontrado aos ps da cruz. E sabia que com isso conseguiria alimentar o conde at que ele decidisse sobre o que fazer da vida.Rena saiu pela porta dos fundos. O conde no a viu sair. Havia apenas uma mercearia na aldeia e o dono estava sempre se queixando que os habitantes locais viviam sua custa.- Se cobrasse dele o preo justo - o merceeiro dissera muitas vezes ao pastor -, poderia viver muito melhor. Mas como deix-los que morram de fome, o que acontecer se tiverem de pagar o valor real da mercadoria?- Somos muito gratos a voc - Rena ouvira o pai dizer com frequncia. - Tenho esperana que alguns encontraro trabalho e lhe pagaro o que devem.- Esse dia jamais chegar, reverendo.Mas esse mercieiro nunca abandonara a aldeia, pelo que o pastor era muito grato, pois fornecera aos aldees, especialmente s crianas, alimento suficiente para mant-los vivos.Muitos habitantes locais trabalhavam em aldeias vizinhas. Isso acontecia na primavera e no vero. Mas no inverno era quase impossvel achar trabalho.Rena esperava que agora, aps haverem descoberto bastante dinheiro debaixo da cruz, o conde empregasse grande nmero de pessoas. Ela j tentava seleccionar famlias nas quais pudesse confiar, para recomendar ao patro."Oh, por favor, meu Deus", rezava, enquanto ia para a aldeia, Permita que haja muitas moedas ainda l. Fico to deprimida ao constatar que as crianas so os seres que mais sofrem."Rena sempre amara crianas. Lembrava-se, quando tinha apenas trs anos de idade, de ter dividido os presentes de Natal com elas. Como ficaram contentes ao ganhar um ursinho ou biscoitos, coisas que suas famlias jamais poderiam comprar."Se houver suficiente dinheiro, esta aldeia ser a mais feliz do pas."Logo se deu conta de que no devia contar com tanto dinheiro, assim to depressa. Era verdade que descobrira um presente cado do cu. E agora s podia rezar para que o dinheiro encontrado durasse bastante.Chegou mercearia e encontrou-a bem provida. O dono havia estado na cidade na vspera, para compras. Havia vveres de todos os tipos. E ela escolheu grande quantidade deles. No apenas para um dia, mas para dois ou mais dias. Sempre, contudo, procurando no gastar muito.- No vai comer tudo isso, vai? - o merceeiro lhe perguntou, enquanto Rena separava o que desejava.- No - ela respondeu. - para o novo proprietrio da Granja que acabou de chegar. Acho que todos daqui vo ter um bom patro no futuro.- Ouvi dizer que algum havia chegado - o homem disse, fitando-a com surpresa. - Mas no sabia que era o dono da Granja.- Correu boato de que no existiam mais descendentes - Rena comentou -, mas todos estavam errados. Como ele era marinheiro, no se encontrava no pas, e apenas agora foi localizado.- Boas notcias - disse o homem. - Naturalmente, se ele abrir a Granja, ter de arrumar muitas coisas, e isso bom para todos ns.- o que o conde espera fazer. Mas marinheiros nunca tm muito dinheiro, raramente ficam ricos.- verdade - comentou o homem. - Porm ele sempre pode transformar a Granja num hotel. suficientemente grande para isso.- Tenho certeza de que Sua Senhoria no pensou em tal hiptese. Contudo, vou lhe falar sobre essa sua sugesto. Porm, antes de tudo, a casa precisa ser restaurada e os jardins reformados. E isso leva tempo e custa dinheiro.- De facto - o homem concordou com um aceno de cabea. - Durante anos ningum morou l e, se quiser saber, muitas pessoas tm medo que o tecto desabe sobre elas ou sobre os fantasmas. Sem dvida h fantasmas que se arrastam pela casa assim que o sol se pe.- Agora voc est me assustando - Rena protestou, porm rindo muito. - No apenas a mim como a Sua Senhoria. Prometi a ele cuidar da casa. Mas, depois de sua afirmao, vou ter medo que os fantasmas comam as deliciosas coisas que eu fizer, antes que Sua Senhoria tenha chance de prov-las.- Contanto que ele pague as contas..., tudo bem. Diga a Sua Senhoria que h muito mais aqui. Com ou sem fantasmas, um homem precisa comer, morando em casa grande ou pequena.- O que absolutamente certo - Rena concordou.Antes de sair ela pegou mais um pedao de carne e pagou a compra. Ficou s com alguns shillings na bolsa. Mas sabia que o conde lhe daria mais dinheiro para as compras do dia seguinte, caso fosse necessrio.Rena entrou pela porta dos fundos, certa de que o conde nem a vira sair. Mas, to logo colocou as compras sobre a mesa da cozinha, ele apareceu, comunicando.- Foi bom voc chegar logo. Teremos visitas esta tarde. Penso que ficaro s para o ch, mas possvel que passem a noite aqui.- Voc no devia permitir isso! - Rena exclamou. - Ainda no tivemos tempo de inspeccionar os quartos. E, se estiverem como as salas aqui embaixo, ser impossvel hospedar qualquer pessoa.Como o conde no respondesse, Rena preocupou-se. Teria ficado ofendido? Mas logo ele disse:- Preciso ser honesto e dizer a voc que o homem que vem aqui extremamente rico. Conheci-o na ndia. E quando ele soube, penso que atravs dos jornais, que eu herdara um ttulo, comeou a me ver com outros olhos. Est ansioso para conhecer a residncia de meus ancestrais.- E vai ficar bem desapontado, se espera encontrar luxo, como de se supor - observou ela.- o que eu penso tambm - o conde assentiu. - Contudo, pelo modo como falou comigo na ltima vez em que nos vimos, suspeito que tentava descobrir um meio de nos encontrarmos de novo. Talvez j soubesse da herana. O homem me procura por uma razo, uma nica razo.- E qual essa razo to especial para ach-lo? - indagou Rena, curiosa. - Se quer ver uma manso ancestral, vai ficar muito desapontado com a Granja, at que tenhamos tempo de limpar tudo.- Sim, eu sei, mas voc se esquece, Rena, de que agora tenho um ttulo e de que sou muito diferente, na opinio dele, do marinheiro pobre que convidou para um baile que ofereceu em homenagem filha. O que esse homem verdadeiramente quer, e tenho certeza de que o que vai me dizer quando chegar aqui, que me case com essa filha.- E por que dever voc se casar com uma mulher, a menos que se apaixone por ela?- A menina feia e sem graa. Mas sua nica filha. E ele no tem filho homem para lhe herdar a fortuna. Eu soube, na Amrica, que um dos novos milionrios do petrleo. Ele fez fortuna da noite para o dia.- Quer dizer que capaz de querer reformar a Granja e lhe dar dinheiro para que voc possa morar aqui, na esperana de ser seu sogro?- Exactamente! - exclamou o conde. - E algo que no tenho inteno de aceitar. Se um dia eu me casar, Rena, ser por amor. E seremos felizes, eu e minha mulher, mesmo sem dinheiro.Rena bateu palmas e concordou:- o que voc deve fazer, o que meu pai aconselharia. Mas, pensando bem, ser difcil no aceitar a proposta, se o homem lhe prometer restaurar a Granja fazendo-a to magnfica como no passado. Suponha que ele lhe oferea dinheiro suficiente para voc comprar cavalos, cachorros de caa, dando-lhe a oportunidade de ser um verdadeiro gentleman. Vai aceitar?O conde no respondeu. Foi at a janela e ficou olhando para o jardim, agora em estado deplorvel.Colocando nos armrios os mantimentos que trouxe da aldeia, Rena disse mais:- Acho que se a moa te amar, com o tempo voc acabar amando-a tambm.Rena quis acrescentar: e amando o dinheiro dela. Mas achou que seria um comentrio grosseiro demais.Ao voltar da janela, ele respondeu de maneira categrica, sem hesitao:- No me venderei, como diz a Bblia, por um quilo de carne. Embora eu saiba que, nesse caso, sero quilos e mais quilos de carne. Prefiro morrer de fome a me ver casado com uma mulher que no amo, e ser subserviente a um homem com o qual no tenho nada em comum a no ser o facto de ns dois acharmos que o dinheiro essencial vida.- claro que tem razo. Papai concordaria com isso, palavra por palavra. S podemos pedir a Deus para permitir que haja sob a cruz quantia suficiente para voc viver com conforto, mesmo que seja num nico quarto, deixando o resto da casa como est.Houve uns minutos de silncio antes de ele responder:- No vou me vender por causa de uma casa que est caindo aos pedaos, ou de um jardim que no tem quase nada alm de ervas daninhas.- Mas voc tem de viver - insistiu Rena. - E no fcil,. Hoje em dia, viver sem dinheiro.- verdade - o conde concordou. - Mas espero que voc tenha encontrado, para mim, dinheiro suficiente que me permita viver aqui, mesmo com o tecto caindo, e o assoalho quebrando sob nossos ps.- sua inteno ficar na Granja?- No tenho outro lugar para morar, no momento. Meus pais morreram. Possuo alguns parentes no norte da Inglaterra, pessoas que no vejo h anos. - Havia desespero na voz dele ao prosseguir: - Actualmente, no tenho mais um navio esperando por mim. Ao menos aqui h um tecto sobre minha cabea e uma governanta que vai me servir um almoo.Ele falava assim com a inteno de fazer Rena rir. Mas, ao invs, ela disse:- Tudo o que voc falou soa muito como uma aventura. No entanto, precisa se lembrar de que esta casa est ficando mais velha ano aps ano, e muito delapidada. O pessoal da aldeia predizia que o tecto iria ruir no ltimo Natal, quando tivemos muita neve. Por um milagre, isso no aconteceu. Porm duvido que resista mais um inverno.- Sei perfeitamente o que voc quer dizer. Contudo, considero-me muito feliz por ter herdado esta propriedade depois que todo o mundo acreditava no haver mais condes em meu condado. E feliz tambm por ter encontrado vocs e moedas escondidas na velha cruz. Acredito que, no futuro, haver mais surpresas esperando por ns.- Vamos agora s coisas prticas - sugeriu Rena. - Voc espera duas pessoas esta tarde. Posso providenciar o ch, mas quero que me ajude a limpar os quartos, embora duvide que seus hspedes queiram passar a noite aqui.- Ento que voltem para o lugar de onde vieram - o conde protestou rispidamente. - De qualquer forma, tenho certeza de que a razo da visita de meu amigo me prometer a restaurao da casa, fazendo-a recuperar o esplendor do passado. Com a condio, claro, de eu partilhar todo o luxo com a filha dele, como minha esposa.Rena comeou a preparar o almoo. Observando-a, o conde notou como suas mos eram alvas contra a madeira escura da mesa da cozinha. Um raio de sol fazia com que seus cabelos parecessem fios de ouro.- Enquanto voc me ajudar, sei que no sofrerei fome - ele disse. - Se minha visita desapontar quanto sua posio nesta casa, isso tornar mais fcil para mim lhe dizer que no desejo casar com a filha dele.- Acha que a jovem quer se casar com voc? - Rena perguntou.- Tenho a impresso de que ela pensa que um ttulo de nobreza seja a melhor coisa que o dinheiro poder lhe comprar. O pai tem muito orgulho de ser milionrio, e acredita que possa ter tudo o que deseja. Ele acha que o dinheiro compra todas as coisas no mundo.- Imagino que haja muitas pessoas que pensam como ele. Meu pai sempre dizia que, apesar de sermos pobres, podemos apreciar as belezas da vida.- Tais como, por exemplo?Com um sorriso, Rena respondeu:- O sol, a lua, as estrelas. Alm disso, h muitas outras coisas que nos fazem felizes, e que no so obtidas atravs do dinheiro.O conde fitou-a atentamente, e depois riu.- algo que espero que me diga. Que outras coisas? Estou pensando que voc no real, mas parte da rvore mgica que apontou para mim na floresta. Os raios do sol, coisa que talvez ignore, esto deixando seus cabelos da cor de ouro.- Um ouro que, infelizmente, voc no pode usar como usar as moedas - ela comentou, sorrindo. - Quanto ao casamento, espero que no se precipite por enquanto. Algo pode acontecer no futuro e, casando-se agora por convenincia, talvez prejudique sua boa sorte.- Garanto-lhe que no desejo me casar com ningum. E, acima de tudo, no com uma mulher que est sendo vendida pelo pai.- Tenho pena dela! Quem sabe a moa nem tenha idia de como o pai ambicioso.- Voc vai ter chance de julgar os factos por si mesma - o conde respondeu. - Como no tenho condies de impedir essa visita, os dois estaro aqui na hora do ch. Acho que vo querer passar a noite, pois a distncia entre a Granja e Londres grande. Meu amigo milionrio dar como desculpa para isso o cansao dos animais e o perigo de viajar noite.- mas eles no podem pernoitar aqui! - exclamou Rena. - Os quartos devem estar em terrvel estado; no podem ser usados enquanto no se fizer uma boa limpeza.- Ontem eu dormi num deles. Mas estava to cansado que teria dormido at numa estrebaria. Agora, quando penso, reconheo que estava cheio de p. A cama no era m, mas havia apenas gua fria nas torneiras. Meus hspedes acharo o lugar muito sem graa e conforto, tenho a certeza.- Sem dvida. Portanto, se voc tiver bom senso, mande-os de volta para Londres na primeira oportunidade.- Ele o tipo de homem que, quando pe uma idia na cabea, no desiste facilmente. Por isso ficou milionrio. Tenho at medo de acabar entrando na igreja de brao dado com Matilde, sem me dar conta do que estou fazendo. - Aps uma pausa, ele acrescentou: - E se eu disser que voc minha mulher? Que acha?Passada a surpresa, Rena respondeu:- Considerando-se o estado em que se encontra a Granja, ele pensar que voc se casou com uma mulher muito relaxada.- Ento, o que posso dizer?Rena teve a impresso de que o conde lhe suplicava auxlio. Pensou um pouco e sugeriu:- Talvez seja melhor dizer que sou uma parente sua e estou aqui para ajud-lo. Ou, se seu amigo insistir no casamento, diga-lhe que estamos noivos. E acrescente que no pode se casar enquanto no tiver dinheiro para restaurar a casa, deixando-a digna de um homem com o ttulo que voc possui.- Isso me parece bom, soa mesmo como verdade! Assim ser impossvel a ele forar a filha, sabendo que estou noivo de outra mulher.- Ou ento, se preferir, fale que sou sua governanta.- Se o homem tiver um resqucio de inteligncia, o que tem e muita, ver logo que voc bonita demais, jovem demais, para ser uma governanta. Vai imaginar que est aqui por outras razes.- Muito bem, ento. - Rena j se impacientava com tanta indeciso. - Fale que estamos noivos e, como j disse, que apenas aguardamos a reforma da casa para nos casarmos.- S posso lhe dizer que aprecio muito essas qualidades - Rena comentou. - Mas outra coisa posso lhe dizer tambm, que no temos comida suficiente para jantar. E, se desejar lev-los a um restaurante - o mais perto fica a trs quilmetros daqui - previno-o desde j que a comida razovel, mas longe da qualidade esperada por milionrios.- No se preocupe. No tenho inteno de convid-los para jantar. Quero jantar sozinho com voc. Posso ver, pelas coisas que comprou, que nosso jantar ser excelente.- Isso um desafio? - Rena sorriu. - Mas suplico-lhe, no permita que suas visitas fiquem para jantar. Se pretende convid-los, ento v mercearia a fim de comprar mais comida.- No pretendo insistir para que fiquem e tenho a impresso de que, quando ficar bem claro que no desejo me casar com Matilda, os dois voltaro para Londres.- Desejo que as coisas sejam to fceis como pensa. Mas sempre ouvi dizer que milionrios ficam milionrios porque, quando pe na cabea que vo ser ricos, ningum os segura.- Aguarde at conhecer o sr. Wyngate - o conde disse. - Ele exactamente o tipo de homem que voc esperaria ver num novo milionrio. A filha, como j lhe disse, feia e no tem nada que a favorea a no ser a conta bancria do pai.- Agora voc est sendo maldoso - censurou-o Rena. - Mas ao mesmo tempo estou certa de que v ter dificuldade em rejeitar o que o homem lhe oferecer para reformar a Granja, que voltaria a ser como foi h centenas de anos atrs. Papai disse que, quando chegou na aldeia como proco, a Granja tinha aspecto bem melhor do que o actual. Sempre me surpreendi como os habitantes locais, apesar de quase no ter o que comer, a protegem contra ladres e malfeitores.- Por que fazem isso? - indagou o conde.- Porque consideram a Granja tambm deles, e esperam que um dia haver pessoas importantes dormindo nos sumptuosos quartos e usando as salas de recepo.- Acho pattico eles pensarem assim. Devem ter-se desapontado ao me ver chegando aqui sem nada. Eu, por meu lado, me surpreendi ao passar de marinheiro a conde. Sem dvida fiquei atnito por ter sido localizado por causa do meu nome. Contudo, sinto-me tal qual um usurpador. Como posso fazer com que esta casa volte a ser o que era centenas de anos atrs?- Para resolver esse problema, diga sim ao que for sugerido por seu amigo.O conde deu um soco na mesa.- Com os diabos que direi sim. Espere at v-la! No quero ser maldoso, mas Matilda jamais ter aspecto de condessa, mesmo coberta de diamantes da cabea aos ps.- Muito bem - Rena concordou. - Deixe as coisas como esto e vamos rezar para que aquilo que a cruz nos deu at agora seja apenas uma amostra do que est ainda escondido sob as anmonas.- Falando no assunto, sugiro que escondamos de todos o que voc descobriu. Se souberem de alguma coisa, comearo a escavacar toda a rea busca de ouro, destruindo a vegetao. Mas tenho a impresso, como voc tambm deve ter, de que no haver muito mais sob a cruz.- Entendo o que diz - concordou Rena. - Se eles comearem a escavacar e a escavacar, as rvores cairo e no restar nada dessa maravilhosa floresta.- Concordo. Ento, o que deveremos fazer ir l noite, s voc e eu. Com o luar, pelo menos at o fim deste ms, no precisaremos de mais luz. esCavacaremos com cuidado para no prejudicar a beleza natural do lugar.- Voc est certo, absolutamente certo! - Rena exclamou. - o que faremos. Eu no poderia aguentar ver a mata e a cruz que significou tanto para papai, destrudas, talvez at por acidente, pelas pessoas vidas da descoberta do ouro.- Tudo bem. Ento, quando meus amigos forem embora esta noite, e se voc no estiver muito cansada, iremos at cruz procurar mais moedas. Assim, tomaremos cuidado para que as vidas por dinheiro no estraguem nossa floresta.- E eu odiarei ver destrudo aquilo de que papai tinha tanto orgulho.- Faremos tudo sozinhos, sem contar nada a ningum - o conde declarou.Rena foi trabalhar na cozinha, e meia hora mais tarde chamou-o.- Seu almoo est pronto, milorde. Ficarei muito desapontada se no gostar da minha comida.- Sente-se mesa comigo. Poderemos conversar sobre o que faremos depois. Mas uma coisa certa...- O qu?- Precisamos nos livrar das visitas assim que houver chance. Para lhe dizer a verdade, estou muito interessado no que j encontramos, e quero examinar bem as moedas antes de irmos l noite.- Acho que deve fazer isso - Rena concordou.- Voc, Rena, trouxe novo sentido minha vida, coisa de que precisei muito desde o minuto em que cheguei aqui. Para ser franco, fiquei desanimado ao ver o estado deplorvel da casa. Mas agora talvez tenhamos chances de torn-la habitvel e, se conseguirmos, ser graas a voc.- No, a meu pai. Foi idia dele deixar a cruz onde foi encontrada. Talvez, anos atrs, uma famlia houvesse decidido esconder seus tesouros l.- Mal posso acreditar que isso esteja acontecendo comigo. Parece um conto de fadas, como quando soube que eu era o nico membro sobrevivente da famlia. Achei, de incio, que se tratava de uma brincadeira.- Mas no foi - disse Rena. - Agora voc um conde, e a Granja esperava por sua vinda.- Jamais sonhei que algo assim acontecesse comigo. Depois que meus pais morreram, fiquei sozinho no mundo, pois sou filho nico. Trabalhei como marinheiro num navio, com muitos outros homens ansiosos como eu para conhecer o mundo, especialmente porque no tinham um lar. Como eu.- O que aconteceu com seus pais? - Rena quis saber.- Meu pai morreu quando eu tinha apenas trs anos de idade e minha me me criou. Moramos com uma velha parenta de minha me, que detestava viver s. Por conhecer to pouco do mundo, resolvi entrar na Marinha. Fiquei to insistente que minha me teve de ceder. Nunca esquecerei de meu entusiasmo quando o navio em que eu trabalhava entrou no mar.- Voc ficou plenamente feliz!- Suponho que essa seja a palavra certa, feliz - o conde repetiu. - Recebi as coisas como vieram e me senti radiante quando conheci o oriente. Estvamos em um dos navios de sua Majestade designado para mandar mensagens de diferentes partes do mundo. Recebi excelente educao, pois felizmente morvamos perto de uma boa escola. E, entre uma multido de marinheiros, eu fui o escolhido para mandar Inglaterra os relatrios sobre todos os lugares que visitvamos, e sobre a atitude dos diferentes povos do mundo em relao Gr-Bretanha.- Deve ter sido emocionante - comentou Rena. - Naturalmente posso entender isso, porque voc bem diferente da maioria dos ingleses que conhecem muito pouco do mundo alm de seu prprio pas, e que no tm interesse nenhum por nossa histria.- Sua opinio me envaidece, Rena. Mas, francamente, reconheo que verdade o que acabou de dizer. A maior parte dos ingleses acha que no existe nada, a leste, a oeste ou a norte da Inglaterra, que merea ateno.- E voc pensa que nosso pas importante, embora bastante pequeno? - Rena indagou.- Sem dvida. Vou lhe dizer uma coisa, pode ter orgulho de ser inglesa e ter orgulho de nossa rainha. Em quase todos os lugares onde estive como marinheiro, me senti importante porque era ingls. Eu e os outros companheiros ramos recebidos com entusiasmo, e todos mostravam satisfao por ns os termos visitado.- Mas possumos inimigos tambm, no?- Naturalmente - o conde confirmou. - Os russos sempre sentiram inveja de ns, e sempre tiveram medo de nos enfrentar numa guerra.- bem, graas ao bom Deus por isso. Acho a guerra uma coisa horrvel e espero que no futuro tenhamos uma paz duradoura.- Espero tambm - disse o conde.- Garanto que voc vencer a batalha desta noite. Papai costumava dizer que a arma mais importante era acreditar no que era certo, no que era bom. E lutar por isso. Tenho certeza de que essa ser sua arma.O conde fitou-a atentamente, mas no respondeu.Contudo, Rena achou que os olhos dele brilhavam.Ps-se a pensar, ento, que talvez tivesse sido entusiasta demais, lisonjeira demais.CAPTULO IVRena e o conde almoaram na sala de jantar.- Estou lhe dando muito trabalho - ele disse. - Poderamos ter comido na cozinha. Seria bem mais fcil para voc.- Minha me ficaria chocada se soubesse uma coisa dessas. Voc um conde, pessoa importante, e precisa sentar-se na sala de jantar.- Um conde sem dinheiro nenhum no bolso. - Ele riu muito. - No posso me considerar importante. Mas reconheo que sua me tinha razo. necessrio manter-se as aparncias, mesmo que seja com grande esforo de nossa parte.Ele comeu o que Rena lhe preparara, e achou o almoo delicioso.Quando ela trouxe a sobremesa, uma compota de frutas variadas com creme, mal acreditou no que tinha diante de si.- Voc est me mimando demais - comentou. - Mas h ainda uma coisa sobre a qual desejo lhe falar antes que as visitas cheguem. Porm primeiro quero saborear cada bocado dessa sobremesa.- Fico muito contente por voc ter gostado da minha comida. Mame e papai sempre quiseram que eu cozinhasse bem. Quando tive idade suficiente, insistiram que eu cuidasse da cozinha da casa e eram bastante crticos acerca do que eu fazia.- Como resultado, pode agora encontrar trabalho como banqueira em qualquer lugar.- Pensei nisso, naturalmente. Pensei em todas as minhas possibilidades at voc me convidar para ser sua governanta.Assim que acabou de comer a sobremesa, o conde disse:- O que tenho a lhe falar tem de ser antes de as visitas chegarem, como j disse.- E o que ?- Pensei em apresent-la como minha noiva. Mas no acho a idia boa.- Quer isso dizer que pretende se casar com a moa rica? - ela perguntou, surpresa.- Claro que no. Jamais faria algo to idiota, to desagradvel. O que estou pensando que, se Wyngate pretende restaurar minha casa, deixarei que o faa. No acho que ele dir abertamente que ir fazer isso s se eu me casar com Matilda. E no sou a tal ponto orgulhoso a ponto de no aceitar as migalhas da mesa de um milionrio. Mesmo que ele faa pouco para a Granja, o pouco que fizer ser bom.- E o que vai dizer sobre mim?- Que voc est me ajudando, e que casada com um primo meu. Eu a apresentarei como sra. Colwell e direi que me considerei muito feliz por encontr-la morando aqui na aldeia. Esse encontro foi possvel porque sua me era muito amiga da minha me. Direi tambm que sua me casara-se com um pastor da igreja e que, por morarem muito longe uma da outra, poucas oportunidades tiveram de conviver.- Pensou em tudo isso? Incrvel! - ela exclamou.- Quis explicar por que motivo voc morava aqui sem acompanhante. E, ao mesmo tempo, para tornar claro que estvamos juntos por causa da amizade existente entre nossas famlias, e no por laos do corao.- Voc ridculo - Rena riu muito. - Tudo se parece com aquele tipo de novela que eu no tive permisso de ler quando jovem demais, e que achei entediante quando fiquei mais velha.- Bem, se tudo acontecer como pretendo, valer a pena um pequeno esforo para tornar esta casa melhor. Ficarei grato por isso. Mas no ao preo de sacrificar minha liberdade.Rena divertia-se com a idia dele. Porm achava pouco provvel que o homem rico, ambicioso, que estava por chegar, decidido a dar um ttulo filha, fosse apanhado de surpresa.Duvidava que ele ajudasse o conde sem ter certeza de que no receberia em troca o que desejava.Contudo, resolveu no discutir sobre o modo como o conde desejava apresent-la. Sobretudo pelo facto de ela estar desacompanhada.Como se lesse seus pensamentos, ele disse:- Se achar mais prudente, poder ir a sua casa noite. Afinal, ainda no h sinal do novo proco, no momento.- verdade - Rena concordou. - Talvez seja melhor eu ir para casa hoje.Mas no ntimo isso a desapontou. Ficar na Granja era algo novo, emocionante. Se fosse para casa naquela noite, perderia grande parte do prazer.Contudo, o mais importante era ajudar o conde. E ele se pudesse obter algum dinheiro sem se comprometer, tudo bem, ela o ajudaria.Aps Tomarem caf, Rena levou a loua para a cozinha. Lavou-a, enxugou-a e colocou-a nos armrios.A cozinha j estava bastante limpa. Mas o que Rena realmente queria era ver o assoalho das salas brilhando."Vai haver bastante dinheiro na floresta", dizia a si mesma. "O conde pagar uma mulher da aldeia para limpar o assoalho e as janelas dos cmodos que estiverem sendo usados."Rena j conclura que as melhores salas do andar trreo eram a sala de jantar, e a sala de visitas. A primeira lhe pareceu razoavelmente acolhedora. Mas a sala de visitas tinha aspecto triste. Se fosse arrumada, o tecido do sof e das poltronas lavado, o aspecto melhoraria.Infelizmente nada disso poderia ser feito antes da chegada das visitas. Mas logo ela se deu conta de que, quanto pior a aparncia da casa, mais chances teria o milionrio de tentar conseguir seu intento. E se perguntava se o conde teria foras para recusar uma fortuna em favor de sua casa, qualquer que fosse o preo a pagar.Mas, e a liberdade?"Naturalmente que ele quer ser livre", dizia a si mesma. - "Nenhuma jovem deseja se amarrar, a menos que esteja terrivelmente apaixonado."Mas a tentao era grande, e ela s rezava para que o conde tivesse foras para dizer no.To logo terminou de arrumar a cozinha, Rena foi ao jardim apanhar algumas flores para enfeitar o lugar onde iriam tomar ch com as visitas. Escolheu uma sala pequena, mas acolhedora, com vista para o jardim.Limpou os tapetes, tirou o p e comeou a imaginar como havia sido aquela sala no passado, com mulheres de vestidos luxuosos conversando ao som de msica suave, executada por mestres do piano. Tinha a impresso de que ainda sentia o aroma de perfumes caros.Depois de arrumada, cheia de flores, a sala ficou to atraente que Rena no teve dvida de que o sr. Wyngate gastaria qualquer quantia para fazer o resto da casa to convidativo como o daquela sala, se no mais.Ao atravessar o corredor cruzou com o conde e pediu:- Numa coisa eu insisto: no convide, sob qualquer pretexto, seus amigos para passar a noite aqui. Os quartos esto em pssimo estado. O seu o melhor de todos, embora precise tambm de uma boa limpeza.- Eu fecho os olhos quando estou me despindo, e aprecio a vista enquanto me visto - o conde respondeu.- Muito sensato. Mas no pode pedir a seus hspedes que faam o mesmo. Se sempre viveram sombra do luxo, no saberiam como usar esses artifcios.Ambos riram muito e depois o conde acrescentou:- Bem, foram eles que quiseram vir aqui. Se o que virem os chocar, o problema no meu.- A que horas devero chegar? - indagou Rena.- Se vierem directamente de Londres, devem estar chegando. A menos que tenham parado no caminho para almoar. Portanto, no poderemos dar uma volta pelo jardim ou nadar no lago, que o que eu gostaria de fazer agora. melhor nos prepararmos para receb-los de braos abertos.Embora o conde estivesse ansioso pela chegada das visitas, Rena lamentava no poder percorrer a casa, os jardins e a floresta com ele, antes de anoitecer.Havia muito ainda que Rena gostaria de lhe mostrar. Por mais negligenciada que a casa estivesse, a natureza tinha sua prpria maneira de conservar o mundo exterior vioso e lindo, durante a primavera.Agora, quase vero, as rvores cobertas de folhagem, as flores desabrochando no meio dos gramados, e as guas do riacho arrebentando contra a rocha, eram coisas mais lindas do que quaisquer outras que o dinheiro pudesse comprar." a prpria Natureza, e quem poderia pedir mais?"De sbito apavorou-se ideia de que o conde pudesse desistir de tudo e partir para outros lugares da Inglaterra, esquecendo-se da casa em mau estado que lhe pertencia."Oh, Deus", ela orava. "No permita que isso acontea."Meia hora mais tarde ouviu-se o som de rodas de carruagem na porta da frente.Rena, que dava os ltimos retoques na sala, soube que as visitas haviam chegado. Ouviu em seguida vozes no hall e foi ao encontro dos recm-chegados.Um homem baixo conversava com o conde.Vestia-se com apuros, e via-se que suas roupas eram caras. No negava ser milionrio. No porque seu alfinete da gravata brilhasse, ou porque o anel que usava no dedo mnimo fosse valioso, mas havia como que uma aura, ou talvez uma fora emanando dele dizendo que se tratava de um milionrio.A filha, elegantemente vestida, estava ao lado. As prolas em volta do seu pescoo e o diamante dos brincos fizeram com que Rena visse com clareza que ela era filha de um homem muito rico.Ambos, pai e filha, falavam animadamente com o conde quando ela apareceu. E ambos a olharam surpreendidos.- Quero apresent-los a uma pessoa que tem me ajudado muito, to logo cheguei aqui - disse o conde. - a sra. Colwell, casada com meu primo, que mora no norte da Inglaterra. Rena vai lhes contar em que estado encontrei a casa. Pior do que ela mesma esperava. - E, dirigindo-se a Rena, ele acrescentou: - Nossos hspedes fizeram a viagem de Londres at aqui em tempo recorde. Agora precisamos lhes mostrar os horrores com que me deparei ao chegar, e deix-los ver, com os prprios olhos, o que acontece quando uma propriedade, tal qual uma linda mulher, negligenciada.O conde riu, mas o visitante fitava-o atentamente, sem rir.Virando-se para Rena o conde disse, terminando com as apresentaes:- Esses so meus amigos, Rena, o sr. Wyngate e sua encantadora filha Matilda, que veio junto com o pai para ver as runas que nos chocaram de maneira to impressionante.Rena apertou a mo das visitas. E s naquele instante se deu conta de que no usava aliana. Ps imediatamente a mo esquerda no bolso. Precisaria providenciar uma aliana o mais depressa possvel.- Espero que tenham feito boa viagem - ela disse. - Acho que a durao de duas horas, mesmo com animais ligeiros. Mas to agradvel visitar o campo que o esforo vale a pena.- exactamente o que eu estava pensando - comentou o sr. Wyngate. - Eu queria muito ver a estranha casa que meu amigo herdou. Mas agora concluo que foi um prazer duvidoso.O homem observava a poeira do hall enquanto falava. Rena acompanhou-lhe o olhar e imaginou que trs empregados levariam no mnimo uma semana para limpar apenas o hall e os corredores.E as janelas? E as escadas? As passadeiras haviam perdido a cor e estavam rasgadas em vrios lugares.- Agora quero que me mostrem a casa que, posso ver com um golpe de vista, precisa de muita coisa para ser habitada - o sr. Wyngate falou num tom de voz brusco.- Acho que antes tem de descansar um pouco depois da fatigante viagem - o conde sugeriu. - Um copo de vinho o reanimar. Venha comigo at a sala, o nico lugar arrumado at agora. Ver a casa toda mais tarde.- Eu no diria no a um copo de vinho. E acho que Matilda aceitaria tambm um.- Eu acho to maravilhoso estar no campo! - Matilda exclamou. - Poderei ir ao jardim?- claro que poder - Rena respondeu. - Terei prazer em lhe mostrar o que foi um dia um lindo jardim mas que faz hoje a alegria dos coelhos e dos passarinhos.- Esses bichinhos devem estar muito felizes em ter um lugar s para si - Matilda disse.- Espero que aprecie a liberdade. Quando eu era criana, teria adorado ter esse espao todo s para mim.As duas mulheres saram, deixando os homens a ss.- Sente-se - disse o conde. Foi em seguida providenciar o vinho.- Assim melhor para conversarmos.- Estou aqui h apenas dois dias - o conde explicou. - No posso fazer milagres e, mesmo que pudesse, no tenho condies econmicas para tal.- Sua prima arrumou esta sala com muito gosto - Wyngate comentou. - Se ela decorar o resto da casa da mesma maneira, voc acha que ficar aqui ou prefere voltar para o mar?- Minha vida de marinheiro est encerrada. Gostei de percorrer o mundo, coisa que no teria feito seno fosse pela Marinha. Mas agora prefiro terra firme. Mesmo esta manso, cujo tecto poder cair em minha cabea a qualquer momento, prefervel aos balanos das ondas do mar.- Posso entender suas razes - observou Wyngate. - Mas esta casa inabitvel. Como pode morar do jeito que est?- Isso exactamente o que minha prima no pra de dizer. Mas a resposta simples. No tenho aonde ir.- sobre isso que vim lhe falar. Entendo que, sem sua prima, este lugar seria vazio e depressivo. E suponho que lhe custaria uma boa quantia em dinheiro para restaur-lo.- Muito mais do que tenho - respondeu o conde. - Com as regras que foram estabelecidas por meus antecessores, no poderei vender a propriedade, que dever passar aos filhos que no terei, porque tambm no possuo condies para me casar. Portanto, a casa continuar assim. Pode ruir por terra, mas como posso evitar que isso acontea?Houve alguns minutos de silncio antes de o sr. Wyngate responder:- Seria tudo muito simples se voc tivesse dinheiro. Embora a quantia seja considervel para a reforma, acho que vale a pena ser gasta. A casa merece. uma herana importante no s para voc, mas para seus filhos, quando os tiver.- Est sendo muito optimista. - O conde deu uma gargalhada. - Como posso constituir famlia e tornar este lugar habitvel?- Minha filha sempre o achou muito atraente - o sr. Wyngate enfim chegou ao ponto onde queria chegar. - No posso pensar num melhor presente de casamento para vocs dois do que pr esta casa em runas e toda sua propriedade em ordem.- Acho que o que me sugere deve ser julgado por sua filha e por mim. Se formos nos casar, precisamos nos amar, do contrrio tudo consistir numa grande farsa. Vi sua filha apenas uma vez. Portanto, por favor, d-nos uma chance de nos conhecermos melhor. Quem pode saber o que acontecer no futuro?- muito sensato, meu filho., no posso negar. Vou providenciar homens para trabalhar aqui e, quando a metade do servio estiver pronta, conversaremos sobre negcios. Estou certo de que o resultado ser satisfatrio para ambos.- Realmente pensa assim? - indagou o conde, atnito.- claro que penso - o milionrio replicou. - Eu no teria ficado rico como fiquei se no tivesse palavra, ou se decepcionasse os que me ouviam. Mandarei imediatamente trabalhadores de Londres, e sei escolher pessoal. Quando voc vir o resultado, ficar satisfeito, e Matilda tambm.- No sei o que dizer - contestou o conde. - Sabe tanto quanto eu, que um casamento sem amor pode ser um desastre para a mulher e para o homem. Conforme j disse, vi sua filha somente uma vez, e o mesmo sucedeu com ela.- Mas vocs podem se ver constantemente durante as obras, e as marteladas o acordaro bem cedo pela manh - declarou o sr. Wyngate. - Estou disposto a ficar na Inglaterra durante algum tempo. Aluguei uma casa grande e confortvel em Park Lane. Matilda e eu viremos aqui regularmente para ver o progresso das obras, e antes do fim do vero acho que iremos ouvir os sinos da igreja local, pela qual passamos, anunciando um casamento.- No tenho idia do que lhe responder - disse o conde. - Afinal, o que est planeando, pode no acontecer. H sempre uma possibilidade de sua filha, que por sinal muito atraente, vir a conhecer um homem e a se apaixonar por ele. As mulheres gostam de escolher seus maridos, e no se casam com um homem escolhido para elas, por outras pessoas!- Minha filha diferente. Faz o que eu quero. E sabe que decidirei melhor do que ela sobre o que deve fazer.- Se quer realmente me ajudar a deixar esta casa to perfeita quanto foi um dia, posso apenas agradecer-lhe do fundo de meu corao. E esperar que no se sinta lesado nunca, quaisquer que forem as consequncias.- Quando voc e Matilda morarem aqui e tiverem muitos filhos, serei o homem mais feliz deste mundo. A razo pela qual me tornei um milionrio deve-se ao facto de que acredito no que fao. At agora nunca apostei em cavalo perdedor.- Eu gostaria muito de dizer o mesmo - declarou o conde. - Mas posso apenas dizer que lhe sou muito grato.- Guarde suas palavras de gratido at ver o final das obras. Sei que isso acontecer muito antes do que pensa.- Espero que sim. Afinal, voc um exemplo vivo do que um homem pode conseguir, com sua persistncia.- Tem razo - concordou o sr. Wyngate de maneira pomposa. - No instante em que vi voc, soube que poderamos ser amigos.Foi com dificuldade que o conde segurou-se para no dizer que fora seu ttulo que fizera o homem pedir para ser apresentado, numa festa nos Estados Unidos.Os americanos fizeram grande estardalhao ao saber sobre a herana que ele ignorara ser sua, durante anos.Mesmo assim, foi s depois que voltou Inglaterra que o conde teve certeza mesmo de que herdara o ttulo com a propriedade, incluindo a casa quase em runas.Agora havia uma chance de que a casa voltaria a ser o que fora quando construda.Contudo, seria prudente aceitar a oferta do milionrio?Como se adivinhasse seu pensamento, o sr. Wyngate disse:- Oua bem, meu filho, se voc recusar minha oferta, se arrepender pelo resto da vida. Precisa aprender, como eu aprendi, a agarrar as oportunidades quando elas aparecem, e a nunca deixar de fazer o que puder para obter o que deseja da vida. loucura recusar uma boa oferta que lhe fazem.- Tem razo, naturalmente que tem razo. Mas receio lhe dizer sim, quando penso que o mais prudente seria lhe dizer que vou pensar.- No posso acreditar que seja to tolo! - O sr. Wyngate insistia. - Arrisque, rapaz, aproveite quando a oportunidade aparece. Foi o que fiz em minha vida inteira. No me importa lhe dizer que arrisquei inmeras vezes, mas quase sempre consegui resultados satisfatrios. Quase sempre fui vencedor. E no posso acreditar que, no seu caso, acabarei de mos vazias.- Se pensa assim - o conde respondeu -, s posso lhe dizer obrigado. Muito obrigado mesmo. E, quanto mais cedo se iniciar o trabalho, mais emocionado ficarei por ter a casa habitvel para mim e para meus filhos, quando e se os tiver.Dando pancadinhas nas costas do conde, o sr. Wyngate disse:- Agora fala com sensatez. Como eu, sabe ver onde est um bom negcio. Mas se, como imagino, no tem um lugar confortvel para ns passarmos a noite, Matilda e eu voltaremos para Londres. Porm, logo que os pedreiros comearem a derrubar as paredes, o que acontecer em dois ou trs dias, voltaremos para apress-los e para ter certeza de que esto fazendo tudo exactamente como voc deseja.Ele falava com tanta determinao, que o conde concluiu que essa fora a principal qualidade que o fizera rico.- Agora, quero percorrer a casa toda - o sr. Wyngate disse. - Quero ver todos os cmodos para ter uma idia de quantos homens devero ser contratados para comear com o trabalho assim que eu der ordem.Sentindo-se como se estivesse sonhando, e que nada daquilo estivesse acontecendo, o conde levou seu hspede para conhecer a casa.Comearam por subir ao telhado e de l apreciar a propriedade. Depois desceram, abrindo cmodo por cmodo. Finalmente chegaram ao subsolo onde ficavam a sala de jogos, o arsenal, o jardim de inverno, e a sala de msica.Tudo o que restava do jardim de inverno eram o piso e grande quantidade de cascos de vidro.Foram depois ao salo de baile e a outra sala que com certeza fora no passado a galeria de arte. Mas todas as teclas tinham sido roubadas. Sobravam nas paredes apenas as marcas dos quadros.- Telas famosas algo que voc no pode recuperar - comentou o sr. Wyngate. - MAs h muitas obras de pintores modernos que podero ocupar o lugar do que foi roubado. E as prximas geraes que morarem aqui sero to orgulhosas delas como seus antepassados um dia o foram do que possuam.- Pelo que posso deduzir, meus antepassados negligenciaram demais este lugar. Li os nomes dos autores dos quadros roubados e me deu vontade de saber por onde andavam esses quadros.- Esquea! Esquea! - o sr. Wyngate insistia. - Vou escolher quadros para sua galeria de arte e tambm para a sala de recepo.- Reconheo que vai contribuir enormemente para embelezar minha casa - comentou o conde. Apenas espero que no retire tudo o que ps quando o prximo conde ocupar este lugar.- Isso algo que no me preocupa, pois o prximo conde me chamar de vov.O conde reconheceu ser essa a resposta que deveria ter esperado. No disse nada, contudo. E os dois homens foram para outra sala, to nua como as demais.Durante todo esse tempo, Rena e Matilda passeavam pelo jardim. Chegaram at a piscina.- Est vendo? - observou Rena. - A piscina tambm foi abandonada. Seria bom podermos nadar aqui, como se fazia cem anos atrs.- Adoro nadar - comentou Matilda. - Nos Estados Unidos, as mulheres nadam quase tanto quanto os homens. Mas penso que o mesmo no acontece em Londres.- Acho que temos muitas piscinas no pas. Porm, para que haja a aprovao do povo, as mulheres devem usar roupas de banho de tecido grosso, e cobrir o corpo talvez mais do que um vestido de baile cobriria.Matilda riu muito e declarou:- Sei disso. Minha roupa de banho grossa e nada confortvel. Por isso prefiro nadar nua.- E seu pai permite? - indagou Rena, escandalizada.- Ele no sabe - Matilda confessou. - Sempre que h uma piscina nos lugares onde nos hospedamos, espero at ele ir praticar seus desportos e depois vou nadar. Volto ao meu quarto e me visto como uma dama de respeito.- Voc muito esperta - Rena riu com gosto. - Mas cuidado para ele no a apanhar um dia antes que se vista.- Meu pai ficaria furioso se isso acontecesse. Ele insiste que me comporte como uma perfeita dama. Por isso quer que eu tenha um ttulo de nobreza.- o que voc deseja? - Rena estava curiosa em saber.- O que desejo me apaixonar por algum que tambm esteja apaixonado por mim. Assim seremos muito felizes, porque nos amamos. - Ela suspirou antes de prosseguir: - No me importaria de no ter todo o dinheiro para viver. Ou de no ter uma casa enorme que seria fria e vazia, a menos que houvesse amor.- Ento o que voc realmente deseja se apaixonar por algum. isso? - Rena sussurrou.- Se lhe contar uma coisa, promete guardar segredo? Promete no contar nada a papai?- claro que prometo. Qualquer coisa que voc me contar, guardarei como segredo. No contarei a ningum.- Muito bem ento. - Matilda respirou fundo. - Estou apaixonada. E amo esse homem como ele me ama.Enquanto falava ela olhava para trs, com medo de que algum a pudesse escutar.Baixando bem a voz, quase num sussurro, Rena perguntou:- E seu pai sabe disso?- No! Claro que no! Prometa que no vai contar nada a ele.- Prometo! Mas espero que voc saiba que seu pai muito ambicioso em relao ao casamento, e quer que se case com um homem de prestgio.- Sei disso - Matilda respondeu. - Da estarmos aqui. Ele quer que eu tenha um ttulo de nobreza. De preferncia duquesa. Mas, se no for possvel, condessa.- O homem que voc ama tem um desses ttulos?- Claro que no! apenas senhor, e eu serei apenas senhora.- Seu pai ficaria muito zangado se voc dissesse que queria se casar com esse homem?- Sem dvida. Prometa mais uma vez que no vai contar a ele o que lhe disse.- J falei que prometo. E repito mil vezes se desejar. Tudo to emocionante! Porm receio que seus sonhos nunca se realizem.- Farei tudo para que se transformem em realidade. Mas temos de ter pacincia. Se eu fugir agora para me casar com o homem que amo, papai cortar minha mesada. - Matilda baixou a voz novamente como se receasse que algum a estivesse ouvindo. - Estamos economizando dinheiro e estou tentando conseguir o mais possvel de papai sem que ele desconfie de nada. Quando tivermos uma quantia suficiente, nos casaremos e nos esconderemos num lugar onde papai no possa nos encontrar. E l ficaremos at que ele nos perdoe, o que sei que acontecer mais cedo ou mais tarde.- Voc muito valente - disse Rena. - Muitas mulheres no teriam coragem de fazer isso, tendo um pai decidido como o seu.- Sou filha dele, e to decidida quanto ele - Matilda respondeu. - Mas voc pode entender por que papai no pode descobrir nada at que estejamos prontos para fugir. Entende, no? - Um sorriso iluminou-lhe as faces. - Mas tenho certeza, porque nos amamos muito, de que seremos mais felizes do que qualquer outro casal do mundo.- Tenho certeza disso - Rena observou. - Se eu puder ajud-la, talvez escondendo-a ou evitando que seu pai desconfie do que voc est fazendo, conte comigo. Pode confiar em mim.- Fiquei certa disso no momento em que a vi. No tive ningum com quem conversar sobre o assunto durante muito tempo. E soube, assim que entrei nessa casa, que o conde no sentia nada por mim. Nem mesmo afecto. Mas, quando vi voc, conclu que era a mulher que ele desejaria ter como esposa.- Como pode dizer isso? - Rena estava intrigada. - Mal nos conhecemos.- Bem, espere e ver! - Matilda falou, com um sorriso. - Mas, por favor, tenha cuidado com o que disser a papai sobre mim. Se ele souber que estou apaixonada por Cecil, ou que Cecil me ama, encontrar um meio de faz-lo sair do pas ou at mat-lo. - Ela deu um suspiro. - Papai est acostumado a conseguir o que deseja. E sempre consegue, essa a verdade.- Voc precisa ser muito esperta, Matilda. Muito, muito esperta.- Como filha de meu pai, exactamente o que sou. Esperta. Muito, muito esperta.CAPTULO VQuando se separou de Matilda, Rena continuou pensando sobre a jovem, e imaginou se algum dia ela poderia ser feliz.Chegara concluso, havia muito tempo j, de que o dinheiro destrua tudo o que era lindo, agradvel e confortvel da vida. O dinheiro podia liquidar com uma pessoa mais depressa do que qualquer outra arma. Ela pensava na situao de Matilda, que no lhe parecia muito animadora. Sabia que o pai queria um ttulo de condessa para a filha. E sabia tambm que John - como teria de chamar o conde dali por diante, pois fingira ser sua prima - no pretendia se casar com Matilda.Tudo se lhe apresentava terrivelmente complicado.Achava impossvel encontrar um meio de Matilda ser feliz e de John ter suficiente dinheiro para restaurar a Granja."Que posso fazer? Que posso fazer?", ela se perguntava.Tinha certeza de que o sr. Wyngate procurava um meio de forar John a se casar com sua filha. Porm Matilda s queria estar com seu Cecil.Rena no prestara ateno a nada durante o jantar, pois seus pensamentos continuavam com Cecil e no com o que estava acontecendo."Que situao estranha", reflectia. "Pelos vistos, eu sou a nica pessoa no envolvida no caso."Mas, bem no fundo de sua mente, havia a pergunta sobre o que fazer, como viver, e de quando deveria sair da Granja.Ocupava-se agora arrumando os quartos e saletas da casa.Num dos quartos achou que a cama estava em lugar errado. Deitada, a pessoa no podia ver o sol da manh entrando pela janela.Em outro cmodo, uma saleta, embora achasse que nunca seria usada, achou que o aspecto era frio demais. No um lugar acolhedor onde se podia sentar