Bahá'u'lláh: Documento do Centenário do Seu Passamento

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Preparado pelo BIC (Bahai International Community), escritório da Fé Bahai nas Nações Unidas, celebrando o Centenário do Passamento de Bahá'u'lláh em 1992.

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B A H A I

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Bahaarl lah

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Titulo original em ingles: Baha'u'llah

Publicado pela Baha'f International Community Office of Public Information New York

Copyright © 1991 National Spiritual Assembly of the Baha'fs of the Unilcd States

Traducao: OsmarMcndcs c Pciman Mihini

ISBN do original: 0-87743-232-5 ISBN: 85-320-0014-2

P Edicao: 1991

96 95 94 93 5 4 3

B A H A ' I

Todos os dircitos rescrvados Editora Baha'f do Brasil Rodovia SP-340, km 155,5 Mogi Mirim - SP

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29 DE MATO DE 1992 assinala o ccntcndrio do passamcnlo dc Balia'u'Ilah. Sua visao da humanidadc como urn so" povo c da Terra como uma palria comum, descartada pclos lfdcres mundiais a qucm foi primciramente anunciada M mais dc ccm anos, tornou-sc hojc o foco da cspcranca humana. Igualmcntc incgdvel c o colapso da ordem moral c social, prcvisto porcssa mesma dcclaracao com imprcssionantc nitidcz.

A ocasiao enscja a publicagilo dcsla breve inlrodu^ao a vida c obra dc BahdVlldh. Prcparado a pcdido da Casa Universal dc Justiga, rcsponsaVcl pclo cmprccndimcnto global que os cvcntos dc um sdculo alras puscram cm movimento, o tcxto a scguir ofcrcce uma perspectiva do sentimento dc confianga com que os balia'fs dc todo o mundo conlcmpiam o futuro dc nosso plancta c nossa raca.

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INDICE

Pdgina

Introducao 1

Nascimcnto dc uma nova Rcvclacao 4

Exilio 9

Declaracao no Jardim do Ridv&n 16

"A Imutdvel F<5 de Dcus" 23

A Manifestacao de Dcus 29

"Uma civilizagao que sempre cvolua" 33

O Dia dc Dcus 37

Proclamacao aos Rcis 42

A Chegada na Terra Santa 49

A Rcligiao como Luz c Trcva 55

A Paz Mundial 58

Nao por Minha propria Vontadc 61

O Convcnio dc Dcus com a Humaniciadc 65

Notas 71

Glossdrio 81

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Baha'u'llah

A MEDIDA QUE 0 NOVO MILENIO SE APROXIMA, a necessidade crucial do genero humano e encontrar uma visao unificadora da natureza do homem e da soci-edade. Desde o seculo passado, a resposta da humani-dade a esse impulso tern propelido uma serie de convul-soes sociais de fundo ideologico que tem abalado o mun-do e parecem agora ter-se exaurido. A paixao investida na luta, a despeito de seus resultados desalentadores, atesta quao profunda e essa necessidade; pois sem uma conviccao comum quanto ao curso e a direcao da histo-ria humana, e inconcebivel o estabelecimento das bases de uma sociedade global pela qual todos os povos pos-sam se empenhar.

Tal visao se descortina nos escritos de Baha'u'llah, a figura profetica do seculo XIX cuja crescente influen-cia e o fato mais extraordinario da historia religiosa contemporanea. Nascido na Persia, em 12 de novembro de 1817, Baha'u'llah1 iniciou, aos 27 anos de idade, um empreendimento que tem gradualmente conquistado a imaginacao e a lealdade de milhoes de pessoas de virtu-almente todas as racas, culturas, classes e nacoes da Terra. O fenomeno e tal que nao tem ponto de referen­da no mundo contemporaneo; esta, na realidade, asso-ciado a mudanfas culminantes nos rumos do passado coletivo da raca humana, porquanto Baha'u'llah afir-mou ser ninguem menos que o Mensageiro de Deus para a era da maturidade humana, o Portador de uma Revelacao Divina que cumpre as promessas feitas nas religioes anteriores e ha de gerar a forca e o vigor espi-rituais necessarios a unifica?ao dos povos do mundo.

Nao fosse por mais nada, os efeitos que a vida e os escritos de Baha'u'llah ja tiveram sao suficientes para merecer a atenta consideracao de qualquer pessoa que acredite ser a natureza humana fundamentalmente espiritual e que a organizacao vindoura de nosso pla-

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Baha'u'llah

neta deva basear-se nesse aspecto da realidade. Toda a documentacao esta aberta a exame geral. Pela primeira vez na historia, a humanidade tern a disposicao um re-gistro detalhado e verificavel do nascimento de um sis-tema religioso independente e da vida de seu Fundador. Igualmente acessivel e o registro da resposta que a nova fe tern despertado, com o surgimento de uma co-munidade global que pode afirmar com justica ja repre-sentar um microcosmo da raca humana.2

Durante as primeiras decadas deste seculo, esse desenvolvimento foi relativamente obscuro. Os escritos de Baha'u'llah proibem o proselitismo agressivo por meio do qual muitas mensagens religiosas foram am-plamente divulgadas. Ademais, a prioridade que a co-munidade baha'i deu ao estabelecimento de grupos de nivel local por todo o planeta pesou contra o surgimen­to precoce de grandes concentracoes de adeptos em qualquer pais, ou a mobilizacao dos recursos necessari-os a programas de informacao publica de larga escala. Arnold Toynbee, intrigado por fenomenos que poderiam representar o surgimento de uma nova religiao univer­sal, observou nos anos cinqiienta que a Fe Baha'i era na epoca tao familiar ao ocidental instruido medio quanto o Cristianismo havia sido a classe correspon-dente do Imperio Romano durante o segundo seculo da Era Crista.3

Nos anos mais recentes, com o rapido crescimento dos numeros da comunidade baha'i em muitos paises, a situacao mudou de forma impressionante. Nao ha hoje virtualmente nenhuma area no mundo onde o modelo de vida ensinado por Baha'u'llah nao esteja lancando raizes. O respeito que os projetos de desenvolvimento economico e social da comunidade comecam a conquis-tar em circulos governamentais, academicos e das Na-coes Unidas reforca ainda mais o argumento em favor

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Baha'u'llah

de una exame imparcial e serio do impulso gerador de um processo de transformacao social que e, em aspec-tos capitals, algo impar em nosso mundo.

Nenhuma incerteza paira quanto a natureza do impulso gerador. Os escritos de Baha'u'llah abrangem um largo espectro de assuntos, que vao desde temas so-ciais, como a integracao racial, a igualdade dos sexos e o desarmamento, ate as questoes que afetam a vida mais intima da alma humana. Os textos originais, muitos em Sua propria caligrafia, outros ditados e cer-tificados pelo Autor, foram meticulosamente preserva-dos. Por varias decadas, um programa sistematico de traducao e publicacao tern tornado selecoes dos escritos de Baha'u'llah acessiveis a todas as pessoas, no mundo inteiro, em mais de oitocentos idiomas.

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Bahd'u'lldh

Nascimento de uma Nova Revela^ao

A missao de Baha'u'llah teve inicio em uma mas-morra em Teera, em agosto de 1852. Nascido em fami-lia nobre, com ancestrais que remontavam as grandes dinastias do passado imperial da Persia, Baha'u'llah declinou a carreira ministerial que Lhe foi oferecida no governo, preferindo, em vez disso, dedicar as energias a uma serie de atividades filantropicas, pelas quais con-quistara, por volta de 1840, amplo renome como o "Pai dos Pobres". Essa existencia privilegiada decaiu rapida-mente apos 1844, quando Baha'u'llah tornou-se um dos principais defensores de um movimento destinado a mudar o curso da historia de Seu pais.

Os primeiros decenios do seculo XIX foram um periodo de expectativas messianicas em muitos paises. Profundamente perturbados pelas implicates da pes-quisa cientffica e da industrializacao, crentes sinceros de diversas tendencias religiosas buscaram nas escritu-ras de sua fe uma compreensao dos processos de trans-formacao que se aceleravam. Na Europa e na America, grupos como os templarios e os milleritas acreditavam ter encontrado nas escrituras cristas provas que sus-tentavam sua conviccao de que a historia chegara ao fim e o retorno de Jesus Cristo era iminente. Excitacao notavelmente semelhante desenvolveu-se no Oriente Medio, com base na crenca de que varias profecias do Alcorao e das tradicoes islamicas estavam a ponto de se cumprir.

O mais espetacular desses movimentos messiani-cos, indiscutivelmente, fora o da Persia, focado na pes-soa e nos ensinamentos de um jovem comerciante da cidade de Shiraz, conhecido historicamente pelo cogno-me de o Bab.4 Durante nove anos, de 1844 a 1853, per-sas de todas as classes viram-se arrastados por um ven-

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daval de esperancas e excitacao provocado pelo anuncio do Bab de que o Dia de Deus estava proximo e Ele pro-prio era o Prometido das escrituras islamicas. A huma-nidade, dizia Ele, encontrava-se no limiar de uma era que iria testemunhar a reestruturacao de todos os as-pectos da vida. Novos campos do conhecimento, entao inconcebiveis, haveriam de capacitar ate mesmo as cri-ancas da nova era a superar os mais ilustrados dos eruditos da epoca. 0 genero humano era convocado por Deus a acolher tais mudancas empreendendo uma transformacao de sua vida moral e espiritual. Sua pro­pria missao era preparar a humanidade para o evento que representava o eixo dessa cadeia de acontecimen-tos: o advento do Mensageiro universal de Deus — "Aquele que Deus tornard manifesto" — aguardado pe-los seguidores de todas as religioes.5

Tais assercoes despertaram violenta hostilidade no clero muculmano, que pregava haver o processo da Revelacao Divina findado com Maome, e que qualquer afirmacao contraria representava apostasia, punfvel com a morte. Sua denuncia contra o Bab cedo obtivera o apoio das autoridades persas. Milhares de seguidores da nova fe foram martirizados em uma serie horrenda de massacres por todo o pais, e o proprio Bab fora exe-cutado em praca publica, em 9 de julho de 1850.6 Numa epoca de crescente envolvimento ocidental com o Orien-te, esses eventos despertaram interesse e compaixao em influentes circulos europeus. A nobreza da vida e dos ensinamentos do Bab, o heroismo de Seus seguido­res e a esperanca de reformas estruturais que o movi-mento acendera em uma terra obscura haviam exercido poderosa atrafao sobre personalidades que iam de Er­nest Renan e Leon Tolstoy a Sarah Bernhardt e o Comte de Gobineau.7

Em virtude de Sua proeminencia na defesa da

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Causa do Bab, Baha'u'llah foi preso e, acorrentado e descalco, levado a Teera. Protegido ate certo ponto por uma reputacao pessoal elevadissima e pela posicjio so­cial de Sua familia, bem como pelos protestos das embaixadas ocidentais contra o morticinio dos adeptos da nova fe, Baha'u'llah nao foi condenado a morte, como exigiam personagens influentes da corte. Em lu-gar disso, foi encarcerado no famigerado Siyah-Chal, a "Cova Negra", um calabouco profundo e infestado de insetos que fora criado em um dos reservatorios aban-donados da cidade. Sem nenhuma acusafao formal e sem direito a apelacao, Ele e trinta de Seus companhei-ros foram encerrados na escuridao e imundicie dessa fossa, cercados de criminosos contumazes, muitos ja sentenciados a morte. Ao pescoco de Baha'u'llah foi pre-sa uma pesada corrente, tao conhecida no meio penal que tinha nome proprio. Nao perecendo Ele rapidamen-te, como se esperava, tentaram envenena-Lo. As mar-cas dos grilhoes iriam permanecer-Lhe no corpo pelo resto da vida.

Um ponto central dos escritos de Baha'u'llah e a exposicao dos grandes temas que tern preocupado os pensadores religiosos de todas as epocas: Deus, o papel da Revelacao na historia, a relacao entre os sistemas religiosos mundiais, o significado da fe e a base da au-toridade moral na organiza?ao da sociedade humana. Esses textos, em diversas passagens, falam intima-mente de Sua propria experiencia espiritual, de Sua reacao ao chamado divino e do dialogo com o "Espfrito de Deus" que estava no amago de Sua missao. A histo­ria religiosa jamais ofereceu ao inquiridor a oportuni-dade de tao aberto encontro com o fenomeno da Revela­cao Divina.

No final de Sua vida, os escritos de Baha'u'llah sobre Suas primeiras experiencias espirituais conti-

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nham uma breve descricao das condicoes do Siyah-Chal:

Fomos confinados por quatro meses em um lugar re-pugnante como nenhum outro. ... A masmorra estava imersa em espessa escuriddo, e Nossos companheiros de prisao somavam aproximadamente cento e cin-qiienta almas: ladroes, assassinos e salteadores. Em-bora superlotada, nao tinha nenhuma outra saida a nao ser a passagem pela qual entrdramos. Nenhuma penapode retratar aquele lugar, nem lingua alguma descrever seu odor fetido. A maioria daqueles homens nao tinham roupas, nem sequer uma esteira para dei-tar. So Deus sabe o que Nos sobreveio nesse mais nauseabundo e lugubre dos lugares!8

Todos os dias, os guardas desciam os tres lances de escadas ingremes da cova, escolhiam um ou mais dos prisioneiros e arrastavam-nos para fora, para que fossem executados. Nas ruas de Teera, observadores ocidentais horrorizavam-se com as cenas de vitimas babis que eram explodidas de bocas de canhao, retalha-das ate a morte com machados e espadas, ou forcadas a marchar para a morte com velas incandescentes inseri-das em feridas abertas em seus corpos.9 Foi nessas cir-cunstancias, e defrontando-se com a perspectiva de Sua propria morte iminente, que Baha'u'llah recebeu o pri-meiro sinal de Sua missao:

Uma noite, em sonho, estas exaltadas palavras foram ouvidas de todos os lados: "Verdadeiramente, Nos Te faremos vitorioso por Ti mesmo e por Tua Pena. Nao lamentes pelo que Te tern sobrevindo, nem temas, pois estas em seguranqa. Em breve, Deus fard que se ergam os tesouros da Terra — homens que hao de

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Baha'u'llah

ajudar-Te por Ti e por Teu Nome, por meio do qual Deus ressuscitou o coraqao dos que O reconhece-

A experiencia da Revelacao Divina, transmitida apenas indiretamente nos relatos remanescentes da vida de Buda, Moises, Jesus Cristo e Maome, e descrita vividamente nas palavras do proprio Baha'u'llah:

Durante os dias em que Me encontrava na prisao de Teera, embora o peso pungente dos grilhoes e o ar fe-tido mal me permitissem dormir, ainda assim, nos raros momentos de sono, sentia como se algo fluisse do alto de Minha cabeqa sobre Meu peito, como se fora umapoderosa torrente que se precipitasse sobre a terra do cume de uma montanha altissima. Todos os membros de Meu corpo, com isso, ardiam em chamas. Em tais momentos, Minha lingua recitava o que ho-mem algum poderia suportar ouvir.11

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Bahd'u'lldh

Exilio

Por fim, ainda sem julgamento ou direito a recur-so, Baha'u'llah foi libertado da prisao e imediatamente banido de Sua terra natal; Suas riquezas e proprieda-des foram arbitrariamente confiscadas. O representan-te diplomatico russo, que 0 conhecia pessoalmente e acompanhara as perseguicoes contra os babis com an-gustia cada vez maior, ofereceu-Lhe protecao e refugio em terras sob o domfnio de seu governo. No clima poli­tico reinante, a aceitacao de tal ajuda seria certamente deturpada como uma atitude com conotacoes politicas.12

Talvez por essa razao, Baha'u'llah preferiu aceitar o desterro para o territorio vizinho do Iraque, entao sob o dominio do Imperio Otomano. Essa expulsao marcou o inicio de quarenta anos de exilio, aprisionamento e per-seguicao implacavel.

Nos anos imediatamente apos Sua partida da Per­sia, Baha'u'llah deu prioridade as necessidades da co-munidade babi que se reunira em Bagda, tarefa que Lhe coubera como o unico autentico lider babi que so-brevivera aos massacres. A morte do Bab e a perda quase simultanea da maioria dos mestres e guias da jovem fe haviam desorientado e dispersado o corpo dos crentes. Mas quando Seus esforcos para reanimar os que haviam fugido para o Iraque despertaram inveja e dissensao,13 Ele seguiu o caminho que todos os Mensa-geiros de Deus anteriores haviam trilhado — retirou-Se para a solitude, escolhendo para isso a regiao monta-nhosa do Curdistao. Sua partida, como mais tarde rela-taria, "nao tinha retorno em vista." A razao "era evitar tornar-se foco de discordia entre os fieis, fonte de per-turbacao para Nossos companheiros." Embora os dois anos passados no Curdistao fossem um periodo de in-tensa privacao e dificuldades fisicas, Baha'u'llah des-

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Baha'u'llah

creve-os como um tempo de imensa felicidade, durante o qual refletiu profundamente sobre a mensagem que Lhe fora confiada: "Sozinho, comungamos com Nosso espirito, esquecido do mundo e de tudo o que nele hd."u

Somente com grande relutancia, por crer ser Sua responsabilidade para com a Causa do Bab, foi que Ele afinal cedeu as insistentes mensagens dos remanescen-tes do grupo aflito de exilados em Bagda, que Lhe havi-am descoberto o paradeiro e Lhe apelaram para que voltasse e assumisse a lideranca de sua comunidade.

Duas das mais importantes obras dos escritos de Baha'u'llah datam desse primeiro periodo de exilio, pre-cedendo a declaracao de Sua missao em 1863. A primei-ra delas e um pequeno livro que denominou As Pala-vras Ocultas. Escrita na forma de uma compilacao de aforismos morais, a obra representa o cerne etico da mensagem de Baha'u'llah. Em versiculos que Baha'u'llah descreve como uma destilacao da guia espi-ritual de todas as Revelacoes do passado, a voz de Deus fala diretamente a alma humana:

6 Filho do Espirito! A mais amada de todas as coisas, a Meu ver, e ajus-tiqa; nao te desvies dela, se e que Me desejas, nem a descures, para que Eu em ti possa confiar. Nela te apoiando, verds com teus proprios olhos e nao com os alheios; saberds pela tua propria compreensao e nao pela compreensao de teu semelhante. Pondera isto em teu coraqao: como deverds ser. Em verdade, ajustiqa e Minha dddiva atieo sinal de Minha misericordia. Guarda-a, pois, ante os teus olhos.

6 Filho do Ser! Ama-Me, a fim de que Eu te possa amar. Se nao Me amas, de modo algum pode o Meu amor te atingir.

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Bahd'u'lldh

Sabe isto, 6 servo!

O Filho do Homem! Nao te entristeqas, salvo por te encontrares longe de Nos, nem exultes, a menos que te estejas aproximan-do, de regresso a Nos.

6 Filho do Serf Com as maos do poder, Eu te fiz; com os dedos da fir-meza, Eu te criei; e dentro de ti coloquei a essencia de Minha Luz. Que estejas contente com isto e nada mais busques, pois eperfeita Minha obra e inexordvel Meu mandamento. Nao questiones, nem alimentes duvida sobre isto.15

A segunda das duas principals obras compostas por Baha'u'llah durante esse perfodo e O Livro da Cer-teza, uma exposicao abrangente da natureza e do pro-posito da religiao. Em passagens que discorrem nao apenas sobre o Alcorao, mas com igual fluencia e agu-dez sobre o Antigo e o Novo Testamento, os Mensagei-ros de Deus sao retratados como agentes de um proces-so unico e continuo: o despertar da raca humana para as proprias potencialidades espirituais e morais. O ge-nero humano, tendo atingido a maioridade, e capaz de responder a uma explicitude de linguagem que trans-cende as limitacoes da linguagem das parabolas e ale-gorias; a fe e uma questao nao de crenca cega, mas de conhecimento consciente. Tampouco e necessaria a guia de uma elite eclesiastica: a dadiva da razao confere a cada pessoa, nesta nova era de esclarecimento e educa-cao, a capacidade de responder por si mesma a orienta-cao divina. O teste e simplesmente o da sinceridade:

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Homem algum haverd de alcanqar a orla do oceano da verdadeira compreensdo, a menos que se despren-da de tudo o que existe no ceu e na terra. ...A essencia dessas palavras e: os que trilham o caminho da fe, os que tern sede do uinho da certeza, deuem purificar-se de tudo o que e terreno — os ouvidos devem purificar-se de palavras futeis, as mentes das fantasias vas, os coraqoes do apego as coisas mundanas, os olhos da-quilo que perece. Devem por em Deus toda a confian-qa e, nEle se apoiando, prosseguir em Seu caminho. Entdo se tornardo dignos das refulgentes glorias do sol da sabedoria e compreensdo divinas..., desde que o homem ndopode esperar jamais atingir o conheci-mento do Todo-Glorioso...sem que antes deixe de con-siderar as palavras e os atos dos homens mortais como padroes para o reconhecimento e a verdadeira compreensdo de Deus e Seus Profetas. Considerai o passado. Que grande numero de homens — fossem de alto grau ou humildes —, em todos os tempos, tern esperado ansiosamente o advento das Manifestaqoes de Deus nas pessoas santificadas de Seus Eleitos... E sempre que se abriam os portais da graqa, sempre que as nuvens da bondade divina con-cediam suas chuvas a humanidade e a luz do Invisi-vel brilhava sobre o horizonte do poder celestial, to-dos O negavam e se afastavam de Seu semblante — semblante esse doproprio Deus. ... Somente quando a lampada da busca, do esforqo ze-loso, do anelo, da apaixonada devoqdo, do amor fer-voroso, do enlevo, do extase, for acesa no coraqdo de quern almeja, e a brisa de Sua bondade Ihe soprar na alma, serdo dispersas as trevas do erro e dissipadas as neblinas das duvidas e desconfianqas, e as luzes do conhecimento e da certeza irradiarao por todo o seu ser. ...Entdo os multiplos favores e as graqas tor-

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Baha'u'llah

renciais emanados do santo e eterno Espirito conferi-rdo tal vida nova aquele que busca, que ele se vera dotado de uma nova visao e de um ouvido novo, de um novo coraqao e de uma nova mente. ...Fitando com os olhos de Deus, perceberd dentro de cada dtomo uma porta que o conduz aos niveis da certeza absolu-ta. Descobrird em todas as coisas...as evidencias de uma Manifestaqao imperecedoura. ...Quando o canal da alma humana se purificar de todos laqos obstrutores deste mundo, haverd deperce-ber, infalivelmente, o alento do Bem-Amado atraves de imensurdveis distdncias e, guiada por sua fra-grancia, hd de alcanqar a Cidade da Certeza e nela ingressar. ... Essa Cidade nao e sendo a Palavra de Deus revelada em cada era e Dispensaqao. ...Toda a guia, todas as benqdos, a erudiqao, a compreensdo, afeea certeza que foram conferidas a tudo o que existe no ceu e na terra, ocultam-se dentro dessas Cidades — nelas es-tao entesouradas.16

Nenhuma referenda aberta se faz a missao do pro-prio Baha'u'llah, ainda nao anunciada entao. Na reali-dade, 0 Livro da Certeza estrutura-se em torno de uma vigorosa elucida?ao da missao do Bab martirizado. Uma das razoes mais fortes da poderosa influencia do livro sobre a comunidade babi, da qual faziam parte eruditos e ex-seminaristas, foi a mestria da doutrina e pensamento islamicos que o Autor demonstra ao provar a afirmacao do Bab de que cumprira as profecias do Isla. Convocando os babis a serem dignos da confianca que o Bab neles depositara e dos sacrificios de tantas vidas heroicas, Baha'u'llah apresentava-lhes o desafio de nao apenas moldarem sua vida pessoal segundo os ensinamentos divinos, mas tambem fazerem de sua

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comunidade um modelo para a populacao heterogenea de Bagda, a capital provincial do Iraque.

Embora vivessem em condicoes materiais muito limitadas, os exilados foram galvanizados por essa vi-sao. Um deles, chamado Nabil, que mais tarde legaria a posteridade a historia detalhada dos ministerios do Bab e de Baha'u'llah, descreveu a intensidade espiritu­al daqueles dias:

Muitas noites, nada menos que dez pessoas se man-tinham com nada mais que um punhado de tamaras. Ninguem sabia a quem, de fato, pertenciam os sapa-tos, mantos ou tunicas que se encontravam em sua casa. Qualquer um que fosse ao bazar poderia alegar serem seus os sapatos que calcava, e cada um que estivesse na presenca de Baha'u'llah poderia afirmar que o manto e a tunica que usava lhe pertenciam. ...Oh! que alegria a daqueles dias, que jubilo e en-cantamento o daquelas horas!17

Para a frustracao das autoridades consulares per-sas, que acreditavam haver-se esgotado o "episodio" babi, a comunidade dos exilados gradualmente conquis-tou respeito e influencia na capital provincial do Iraque e cidades vizinhas. Como varios dos principals santua-rios do Isla xiita localizavam-se na regiao, um fluxo continuo de peregrinos persas tambem se expunham, em circunstancias as mais favoraveis, a renovacao da influencia babi. Entre os dignitarios que visitavam Baha'u'llah na casa simples onde residia, havia princi-pes da familia real. Tao encantado com essa experien-cia ficou um deles, que expressou a ideia algo ingenua de que, fazendo construir uma replica da casa nos jar-dins de sua propriedade, poderia reviver algo da atmos-fera de pureza espiritual e desprendimento que, por

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pouco tempo, saboreara. Outro principe, ainda mais profundamente tocado pela experiencia de sua visita, expressou a amigos o sentimento de que "fossem todas as aflicoes do mundo se me amontoar no coracao, dissi-par-se-iam todas na presenca de Baha'u'llah. Era como se estivesse no proprio Paraiso..."18

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A Declara^ao no Jardim de Ridvan

Em 1863, Baha'u'llah concluiu que era chegado o momento de dar a conhecer a alguns de Seus compa-nheiros a missao que Lhe fora confiada na escuridao do Siyah-Chal. Essa decisao coincidiu com um novo esta-gio da campanha de oposicao a Sua atuacao, sustenta-da incansavelmente pelo clero muculmano xiita e por representantes do governo persa. Temendo que a acla-macao que Baha'u'llah comecava a receber dos persas influentes que visitavam o Iraque reacendesse o entusi-asmo popular na Persia, o governo do Xa pressionou as autoridades otomanas a removerem-No para longe das fronteiras e para o interior do Imperio. Por fim, o go­verno turco cedeu a essas pressoes e convidou o exila-do, como seu hospede, a fixar residencia na capital, Constantinopla. A despeito dos termos corteses da men-sagem, seu intuito claro era o de exigir aquiescencia.19

Nessa epoca, a devocao do pequeno grupo de exila-dos viera a concentrar-se na pessoa de Baha'u'llah, bem como em Sua exposicao dos ensinamentos do Bab. Um numero crescente deles convencera-se de que Ele falava nao somente como defensor do Bab, senao tam-bem em nome da causa muito maior cujo surgimento o Bab declarara iminente. Essas cogitacoes tornaram-se certeza no final de abril de 1863, quando Baha'u'llah, as vesperas da partida para Constantinopla, reuniu al­guns de Seus companheiros em um jardim que mais tarde receberia o nome de Ridvan ("Paraiso") e confiou-lhes o fato principal de Sua missao. Durante os quatro anos seguintes, embora nenhum anuncio publico fosse considerado oportuno, esses companheiros compartilha-ram paulatinamente com amigos fidedignos as boas novas de que as promessas do Bab haviam sido cumpri-das e o "Dia de Deus" havia alvorecido.

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Baha'u'llah

As circunstancias exatas dessa comunicacao parti­cular estao, nas palavras da autoridade baha'i mais intimamente familiar com os registros desse periodo, "envoltas em nuvens dificeis de serem dissipadas pelos futuros historiadores."20 A natureza da declaracao pode ser apreciada em varias referencias que Baha'u'llah faria a Sua Missao em muitos de Seus escritos posteri-ores:

0 proposito subjacente a toda a criaqdo e a revelagdo deste mais sublime, mais sagrado Dia, o Dia conheci-do como o Dia de Deus em Seus Liuros e Escrituras — o Dia que todos os Profetas e os Eleitos e os seres santos almejaram presenciar.21

...este e o Dia em que a humanidade pode contemplar a Face do Prometido e ouvir-Lhe a Voz. O Chamado de Deus ergueu-se e a luz de Seu Semblante res-plandeceu sobre os homens. E deuer de cada um apa-gar da tdbua do comedo o traqo de toda palavra vd e, com a mente aberta e imparcial, fixar os olhos nos sinais de Sua Revelagdo, nas provas de Sua Missao e nas euidencias de Sua gloria.22

Como Baha'u'llah repetidamente enfatizou em Sua exposicao da mensagem do Bab, o proposito pri­mordial de Deus ao revelar Sua vontade e efetuar uma transformacao no carater da humanidade e desenvolver no intimo dos que respondem ao Seu chamado as quali-dades morais e espirituais latentes na natureza huma-na:

Embelezai vossas linguas com a veracidade, 6 povo, e adornai vossas almas com o ornamento da honestida-de. Guardai-vos, 6 povo, de tratar qualquer um com

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perfidia. Sede os portadores da incumbencia de Deus entre Suas criaturas e os emblemas de Sua generosi-dade entre Seu povo. ...23

Iluminai e consagrai vossos coraqoes; nao os deixeis profanar-se com os espinhos do odio ou os cardos do rancor. Vos habitats em um so mundo e fostes criados mediante a operaqdo de uma so Vontade. Bem-aven-turado quern se associa a todos os homens em espirito deperfeita bondade e amor.24

O proselitismo agressivo que caracterizava os es-forcos para promover a causa da religiao em eras pas-sadas e declarado indigno do Dia de Deus. Cabe a cada pessoa que tenha reconhecido a Revelacao o dever de compartilha-la com os que, a seu ver, estao a buscar; a resposta, contudo, deve ficar inteiramente a cargo da consciencia do ouvinte:

Mostrai tolerdncia , benevolencia e amor uns para com os outros. Se qualquer um dentre vos for incapaz de compreender certa verdade, ou estiuer se esforqan-do por aprende-la, mostrai um espirito de extrema gentileza e boa vontade ao conversar com ele. ...25

O dever supremo do homem, neste Dia, e atingir o quinhao da copiosa graqa que Deus Ihe dispensa. Que ninguem, portanto, considere o tamanho do recipien-te, quer seja grande ou pequeno. ...26

Ante o cenario dos eventos sangrentos na Persia, Baha'u'llah nao apenas disse a Seus seguidores que "se fordes mortos, melhor vos sera do que matardes", mas instou-os a que fossem um exemplo de obediencia a au-toridade civil: "Em qualquer pais onde algum membro

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deste povo resida, cumpre-lhe agir em relaqao ao gover-no desse pais com lealdade, honestidade e veracidade."21

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Cidades para onde Baha'ullah foi exilado

BALCAS

Map*, ctrca 1886

Mapa dos exilios de Baha'u'llah

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Bagda, Iraque, cidade do primeiro desterro de Baha'u'llah, onde viveu de 1853 a 1863.

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Constantinopla (hoje Istambul), Turquia, onde Baha'u'llah viveu 4 meses no ano de 1863

Adrianopolis (hoje Edirne), Turquia, onde Baha'u'llah viveu 5 anos, de 1863 a 1868, ate ser banido definitivamente para a cidade-prisao de 'Akka, na Palestina.

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"A Imutavel Fe de Deus..."

Apos a declaracao de Sua missao em 1863, Baha'u'llah comecou a desenvolver um tema ja apre-sentado nO Livro da Certeza: a relacao entre a Vontade de Deus e o processo evolutivo pelo qual as capacidades morais e espirituais latentes na natureza humana en-contram expressao. Essa exposicao ocuparia uma posi-cao central em Seus escritos durante os trinta anos re-manescentes de Sua vida. A realidade de Deus, Ele afirma, e e permanecera para sempre incognoscivel. Quaisquer palavras que o pensamento humano aplique a natureza divina relacionam-se meramente a existen-cia do homem e sao produto de esforcos humanos para descrever a experiencia humana:

Longe, longe esteja de Tua gloria o que o homem mortal possa de Ti afirmar ou a Ti atribuir, ou o lou-vor com que Te possa glorificar! Qualquer dever que Tu tenhas prescrito aos Teus servos de exaltar ao mdximo Tua majestade e gloria e tao-somente um si-nal de Tua graqa a eles, para que possam ascender a posiqao concedida ao seu ser mais intimo, a posiqdo do conhecimento de seu proprio ser.29

E evidente a todo coraqao iluminado e possuidor de discernimento que Deus, a Essencia incognoscivel, o Ser Divino, e imensamente elevado acima de todos os atributos humanos, tais como existencia corporea, ascensao e descida, egresso e regresso. Longe esteja de Sua gloria que a lingua humana celebre adequada-mente Seu louvor, ou o coraqao humano compreenda Seu insonddvel misterio. Ele estd, e sempre esteve, ve-lado na eternidade antiga de Sua Essencia, e perma­necera em Sua Realidade, por todo o sempre, oculto

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da vista dos homens. ...30

O que a humanidade descobre ao volver-se para o Criador de toda a existencia sao os atributos ou quali-dades que estao associados as Revelacoes periodicas de Deus:

Estando a porta do conhecimento do Ancido dos Dias assim fechada ante a face de todos os seres, determi-nou Aquele que e a Fonte da graga infinita...que apa-recessem do reino do espirito aquelas luminosas Joi-as da Santidade, na nobre forma do templo humano, manifestando-se a todos os homens, para que dessem ao mundo o conhecimento dos misterios do Ser imu-tdvel e descrevessem as sutilezas de Sua Essencia im-perecedoura. ...31

Esses espelhos santificados...sao, todos Eles, os Expo-entes na Terra dAquele que e o Orbe central do uni-verso, sua Essencia e seu Proposito final. DEle rece-bem o conhecimento e opoder; dEle derivam a sobe-rania, A formosura que Ihes adorna o semblante e apenas um reflexo de Sua imagem, e sua revelaqao, um sinal de Sua gloria imortal. ...32

As Revelacoes de Deus nao diferem uma da outra em nenhum aspecto essencial, embora as necessidades mutantes a que atendem de epoca em epoca tenham requerido manifestacoes singulares de cada uma delas:

Esses atributos de Deus nao sao e nunca foram conce-didos especialmente a certos Profetas e negados a ou-tros. Nao, todos os Profetas de Deus, Seus Mensagei-ros favorecidos, santos e escolhidos, sao, sem exceqao, os portadores de Seus nomes e incorporam Seus atri-

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butos. Diferem somente na intensidade de sua re-velaqdo, na potencia comparativa de sua luz. ...33

Os que estudam a religiao sao exortados a nao permitir que dogmas teologicos ou outras ideias precon-cebidas os levem a discriminar entre aqueles que Deus utilizou como canais de Sua luz:

Acautelai-vos, 6 vos que credes na Unidade de Deus, para que nao sejais induzidos a fazer distinqao algu-ma entre as Manifestaqoes de Sua Causa, ou a discri­minar contra os sinais que tern acompanhado e pro-clamado Sua Revelaqao. E este, de fato, o verdadeiro sentido da Unidade Divina — se sois dos que perce-bem e aceitam esta verdade. Tende certeza, alem dis-so, de que as obras e aqoes de cada uma dessas Mani­festaqoes de Deus — ainda mais, qualquer coisa que Ihes pertenqa ou que possam, no futuro, manifestar — sao todas ordenadas por Deus e refletem Sua Von-tade e Destgnio. ...34

Baha'u'llah compara as intervencoes das Revela-coes Divinas ao retorno da primavera. Os Mensageiros de Deus nao sao meros educadores, embora seja essa uma de suas funcoes principals. Mais do que isso, o es-pirito de suas palavras, juntamente com seu exemplo de vida, tern a capacidade de tocar as raizes da motiva-cao humana e induzir transformacoes fundamentals e duradouras. Sua influencia abre novos dommios de compreensao e realizacoes:

E desde que naopode haver laqo de intercurso direto que ligue o Deus uno e verdadeiro a Sua criaqao, nem pode existir semelhanqa alguma entre o transitorio e o Eterno, o contingente e o Absoluto, Ele ordenou que

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em cada era e dispensaqdo uma Alma pura e imacu-lada se manifestasse nos reinos da terra e do ceu. ...Seguindo a luz da guia infalivel e inuestidos de so-berania suprema, [os Mensageiros de Deus] sao in-cumbidos de usar a inspiraqdo de Suas palavras, as emanaqoes de Sua graqa perene e a brisa santificado-ra de Sua Revelaqao para purificar todo coraqao que anela e todo espirito receptiuo, liurando-os dopo e das impurezas das ansiedades e limitaqoes terrenas. En-tdo, e somente entdo, o Tesouro de Deus, latente na realidade do homem, vird a luz...e implantard a in­signia de sua gloria revelada no dpice do coraqao dos homens.35

Sem essa intervencao do mundo de Deus, a natu-reza humana permaneceria cativa dos instintos, como tambem das crencas inconscientes e padroes de condu-ta que nao passam de herancas culturais:

Havendo criado o mundo e tudo o que nele vive e se move, Ele [Deus]...se dignou conferir ao homem a dis-tinqdo e a capacidade incompardveis de conhece-Lo e amd-Lo — capacidade esta que tern de ser vista como o impulso gerador e o designio primordial que sao a base de toda a criaqdo. ...Sobre a mais intima reali­dade de cada uma das coisas criadas, Ele derramou a luz de um de Seus nomes, e fez dessa realidade receptdculo da gloria de um de Seus atributos. Sobre a realidade do homem, entretanto, focalizou Ele o ful-gor de todos os Seus nomes e atributos, e fe-la espe-Iho de Seu proprio Ser. O homem, unicamente, dentre todas as coisas criadas, foi distinguido por taogran-de favor, por graqa tdo duradoura. Essas energias com as quais...a Fonte da guia celesti­al dotou a realidade do homem jazem nele latentes,

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todavia, assim como a chama se oculta dentro da vela e os raios de luz estdo presentes, potencialmente, na lampada. O brilho dessas energias pode ser obscure-cido por desejos terrenos, assim como a luz do sol pode esconder-se sob opo e as impurezas que cobrem o espelho. Nem a vela, nem a lampada pode acender-se pelos proprios esforqos, sem auxilio, e tampouco sera possivel jamais que o espelho, por si so, se livre das impurezas. E claro e evidente que antes que se ateie fogo, a lampada nao sera acesa, e a nao ser que se remova de sua superficie a impureza, o espelho ja­mais representard a imagem do sol nem Ihe poderd refletir a luz e gloria.36

E chegado o tempo, diz Baha'u'llah, em que a hu-manidade tern tanto a capacidade como a oportunidade de contemplar o panorama inteiro de seu desenvolvi-mento espiritual como um processo unico: "Incompard-vel e este Dia, pois e como os olhos para as eras e seculos passados e como a luz para a escuriddo dos tempos."37

Nesta perspectiva, os seguidores das diferentes tradi-coes religiosas devem esforcar-se para compreender o que Ele chama de "a imutdvel Fe de Deus"3S e distin-guir seu impulso espiritual maior dos conceitos e leis cambiantes que foram revelados para atender as neces-sidades da sociedade humana, em perene evolucao:

Os Profetas de Deus devem ser encarados como medi­cos cuja tarefa consiste em promover o bem-estar do mundo e dos povos, para que, atraves do espirito da unidade, possam curar a enfermidade da humanida-de dividida. ...Nao e de admirar, pois, que o trata-mento prescrito pelo medico neste dia nao seja identi-co ao anteriormente prescrito. Como poderia ser de outro modo, se os males que afetam o paciente reque-

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rem, em cada estdgio da doenqa, um remedio especi­al1? Outrossim, sempre que os Profetas de Deus ilumi-naram o mundo com o brilho esplendoroso do Sol do conhecimento divino, eles, invariavelmente, convoca-ram ospovos a abraqar a luz de Deus pelos meios que melhor satisfizessem as exigencias da era de seu ad-vento. ...39

E sobretudo a mente — e nao apenas o coracao — que deve dedicar-se a esse processo de descoberta. A razao, assevera Baha'u'llah, e a maior dadiva de Deus a alma, "um sinal da revelaqdo dAquele que e o Senhor soberano."40 Somente se libertando de dogmas herda-dos, quer religiosos ou materialistas, e que a mente pode empreender uma investigacao independente da relacao entre a Palavra de Deus e a experiencia da hu-manidade. Em semelhante pesquisa, o principal obsta-culo e o preconceito: "Adverte...os amados do Deus uno e verdadeiro, para que nao vejam com olhos demasiado criticos os dizeres e escritos dos homens. Que conside-rem, isto sim, esses dizeres e escritos com mente aberta e em espirito de amorosa harmonia."41

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A Manifestapao de Deus

0 que e comum a quantos se devotam a um ou outro dos sistemas religiosos do mundo e a conviccao de que e atraves da Revelacao Divina que a alma entra em contato com o mundo de Deus, e de que e essa cone-xao que da verdadeiro sentido a vida. Algumas das mais importantes passagens dos escritos de Baha'u'llah sao aquelas que tratam em profundidade da natureza e do papel daqueles que sao os canais dessa Revelacao: os Mensageiros ou "Manifestacoes de Deus". Uma analo-gia recorrente nessas passagens e a do Sol fisico. Embo-ra este compartilhe de certas caracteristicas dos de-mais corpos do sistema solar, difere deles por ser, ele proprio, a fonte de luz do sistema. Enquanto os plane-tas e luas refletem a luz, o Sol emite-a como um atribu-to inseparavel de sua natureza. O sistema gira em tor-no desse ponto focal, e cada um dos astros e influencia-do nao apenas por sua composicao especffica, mas tam-bem por sua conexao com a fonte de luz do sistema.42

Do mesmo modo, Baha'u'llah afirma, a personali-dade humana que a Manifestacao de Deus tern em co-mum com as demais pessoas e diferenciada delas de uma forma que a torna preparada para servir de canal ou veiculo para a Revelacao de Deus. As referencias aparentemente contraditorias a essa condicao de duali-dade, atribuidas, por exemplo, a Cristo,43 tern constitu-ido uma das muitas fontes de confusao e dissensao reli-giosa ao longo da historia. Sobre essa questao, Baha'u'llah diz:

Qualquer coisa que esteja nos ceus e qualquer coisa que esteja na terra e uma evidencia direta da revela­cao, em seu dmago, dos atributos e nomes de Deus... Em grau supremo, e isto verdadeiro no caso do ho-

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mem — aquele que, dentre todas as coisas criadas...foi escolhido para a gloria de tal distinqao. Pois nele se revelam, potencialmente, todos os atribu-tos e nomes de Deus, em um grau jamais excedido por qualquer outro ser criado. ...E de todos os homens, os de maiores dotes, que mais se distinguem, os mais excelentes, sao as Manifestaqoes do Sol da Verdade. Nao, antes, todos os demais, alem dessas Manifesta­qoes, vivem pela operaqao de sua Vontade, movem-se e existem mediante as emanaqoes de sua graqa.44

Ao longo da historia, a conviccao dos adeptos de cada religiao de que o Fundador de seu proprio credo ocupou uma posicao sem par tern estimulado intensa especulacao sobre a natureza das Manifestacoes de Deus. Tal especulacao tern sido, entretanto, seriamente emaranhada pelas dinculdades de interpretar e decifrar as alusoes alegoricas das escrituras do passado. A ten-tativa de cristalizar a opiniao na forma do dogma religi-oso tern sido uma forca mais de divisao que de uniao na historia. Com efeito, a despeito da enorme energia des-pendida em estudos teologicos — ou quica por causa dela —, ha hoje divergencias profundas entre os mucul-manos quanto a posicao exata de Maome, entre os cris-taos com relacao a de Jesus, e entre os budistas com respeito ao Fundador de sua religiao. Como e notorio, as controversias criadas por essas e outras divergencias no interior de qualquer das tradicoes existentes tem-se mostrado ao menos tao agudas quanto as que separam cada uma delas das fes irmas.

Portanto, particularmente relevantes para a com-preensao dos ensinamentos de Baha'u'llah sobre a uni-dade das religioes sao Suas declaracoes sobre a posicao dos sucessivos Mensageiros de Deus e as funcoes que desempenharam na historia espiritual da humanidade:

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Cada uma dessas Manifestaqoes de Deus tern um grau duplo. Um e o da pura abstraqdo e da unidade essencial. Com respeito a este, se tu os chamares a todos por um so nome e Ihes atribuires as mesmas qualidades, nao te terds desviado da verdade. ... O outro & o grau da distinqdo e pertence ao mundo da criaqdo e as suas limitaqoes. No que se refere a este, cada Manifestaqdo de Deus tern uma individualidade diferente, uma missao definitivamente prescrita, uma revelaqdo predestinada e limitaqoes especialmente designadas. Cada um deles e conhecido por um nome diferente, e caracterizado por um atributo especial, cumpre uma missao bem definida. ... Vistos a luz de seu segundo grau,...eles manifestam servitude absoluta, destituiqao total e abnegaqdo completa. Assim como Ele diz: "Sou o servo de Deus. Sou apenas um homem como vos."... Se qualquer das Manifestaqoes de Deus — que a tudo abrangem — declarasse: "Eu sou Deus", Ele, verda-deiramente teria pronunciado a verdade, sem duvida alguma. Pois...atraves de sua Revelaqdo, seus atribu-tos e nomes, tornaram-se manifestos no mundo a Re­velaqdo, os nomes e os atributos de Deus. ...E se qual­quer deles proferisse estas palavras: "Sou o Mensagei-ro de Deus", tambem estaria dizendo a verdade, a verdade indubitdvel. ...Vistos a essa luz, todos eles sao apenas Mensageiros daquele Rei ideal, daquela imutdvel Essencia. ...E fossem eles dizer: "Somos os servos de Deus", isso tambem e um fato manifesto e incontestdvel; pois se manifestaram no grau mdximo da servitude — servitude essa que homem algum ja­mais poderd atingir. ...45

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Assim e que, seja qual for sua asserqao — quer se re-fira ao reino da Divindade, ao de Senhor, ao de Pro-feta, de Mensageiro, Guardiao, Apostolo ou Servo — tudo e verdadeiro, acima de qualquer sombra de du-vida. Tais afirmaqoes, portanto...devem ser conside-radas atentamente, a fim de que as declaraqoes diver-gentes feitas por essas Manifestaqoes do Invisivel, es­ses Alvoreceres da Santidade, deixem de agitar a alma e confundir a mente.46

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"Uma Civilizacao que Sempre Evolua..."

Implicita nesses paragrafos esta a perspectiva que representa o aspecto mais desafiador da exposicao de Baha'u'llah sobre a func ao da Manifestacao de Deus. A Revelacao Divina, diz Ele, e a for?a motriz da civiliza­cao. Quando ocorre, seu efeito transformador na mente e na alma dos que sao tocados por ela se reproduz na nova sociedade que pouco a pouco ganha forma a partir da experiencia destes. Surge um novo foco de fidelida-de, capaz de conquistar o comprometimento de pessoas do mais amplo espectro de culturas; a musica e as artes adotam sfmbolos que transmitem inspiracSes muito mais ricas e maduras; uma redefinicao radical dos con-ceitos de certo e errado torna possivel a formulacao de novos codigos de lei e conduta civil; novas instituicoes sao concebidas para dar expressao a impulsos de res-ponsabilidade moral anteriormente negligenciados ou desconhecidos: "Ele estava no mundo, e o mundo foi fei-to por ele..."47 A nova cultura, a medida que se desdo-bra em uma civilizacao, assimila as realizacoes e con-ceitos das eras passadas em uma profusao de novas transformacoes. Os tracos das culturas passadas que nao podem ser incorporados se atrofiam ou sao manti-dos por uma parcela diminuta da populacao. A Palavra de Deus cria novas possibilidades tanto dentro da cons-ciencia individual como no piano das relacoes humanas:

Coda palavra que procede dos labios de Deus e dota-da de tal potencia que pode instilar vida nova em todo corpo humano... Todas as maravilhosas obras que vedes neste mundo foram manifestas mediante a operaqao de Sua suprema e excelsissima Vontade, Seu Designio maravilhoso e inflexivel. ...Mai sepro-nuncia esta palavra resplandecente, e suas energias

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animadoras, vibrando dentro de todas as coisas cria-das, dao origem aos meios e instrumentos pelos quais essas artes podem ser produzidas e aperfeigoadas. ...Nos dias vindouros, contemplareis, verdadeiramen-te, coisas das quais jamais soubestes. ...Cada uma das letras que procede dos labios de Deus e, em ver-dade, uma letra-mde; toda palaura proferida por Aquele que e o Manancial da Revelaqao Divina 6 uma palavra-mde. ...48

A seqiiencia das Revelacoes Divinas, o Bab asseve-ra, e "um processo que nao teve inicio e nao terd fim."49

Embora a missao de cada uma das Manifestacoes de Deus esteja limitada no tempo e nas funcoes que de-sempenha, e parte integrante de um desdobramento continuo e progressive do poder e da vontade de Deus:

Contempla tu com a vista interior a cadeia de sucessi-vas Revelaqoes que ligou a Manifestaqdo de Addo a do Bdb. Dou testemunho perante Deus de que cada uma dessas Manifestaqoes foi enviada atraves da ope-raqdo da Vontade e Designio divinos, cada uma foi portadora de uma Mensagem especifica e a cada qual se conftou um Livro divinamente revelado... A medi-da da Revelaqao com a qual cada um dEles se identi-ficava fora definitivamentepreordenada. ...50

Ao final de um longo periodo, a medida que uma civilizacao em perene evolucao esgota suas fontes espi-rituais, tern inicio um processo de desintegracao seme-lhante ao que se observa por todo o mundo fenomenal. Voltando novamente as analogias oferecidas pela natu-reza, Baha'u'llah compara esse hiato no desenvolvi-mento da civilizacao a chegada do inverno. A vitalidade moral definha, assim como a coesao social. Desafios

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que teriam sido superados em uma era anterior, ou convertidos em oportunidades para investigacao e pro-gresso, tornam-se barreiras intransponiveis. A religiao perde a relevancia, e a experimentacao torna-se pro-gressivamente fragmentaria, aprofundando ainda mais as divisoes sociais. As incertezas quanto ao significado e ao valor da vida geram cada vez mais angustia e con-fusao. Falando desse estado de coisas de nossos tempos, Baha'u'llah diz:

Podemos bem perceber como a humanidade inteira estd cercada de grandes, de incalculdveis aflicoes. Nos a vemos languescer no leito da doenqa, angustiada e desiludida. Os que estdo embriagados de arrogancia interpuseram-se entre ela e o infalivel Medico Divino. Vede como envolveram todos os homens, inclusive a si mesmos, no enredo de suas maquinaqoes. Nao sao capazes de descobrir a causa da enfermidade, nem possuem conhecimento algum do remedio. Concebe-ram o direito como torto e imaginaram que o amigo fosse um inimigo.51

Quando cada um dos impulsos divinos se consu-ma, o processo se repete. Uma nova Manifestacao de Deus surge, trazendo uma medida mais ampla de ins-piracao divina para a proxima etapa do despertar e da educacao da humanidade:

Considera a hora em que a suprema Manifestaqao de Deus Se revela aos homens. Antes de vir tal hora, o Ser Antigo, que e ainda desconhecido dos homens e nao deu expressao ainda ao Verbo de Deus e, Ele pro-prio, o Onisciente, em um mundo destituido de qual-quer homem que O tenha conhecido. Ele e, em verda-de, o Criador sem criacdo. ...E este, verdadeiramente,

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o Dia sobre o qual foi escrito: "De quern sera o Reino neste Dia?"E nao se encontra ninguem pronto a res-ponder!52

Ate que uma porcao da humanidade comece a se mostrar sensivel a nova Revelacao, e um novo paradig-ma social e espiritual adquira os primeiros contornos, as pessoas subsistem moral e espiritualmente dos ulti-mos vestigios das dadivas divinas de eras anteriores. As tarefas rotineiras da sociedade podem ser executa-das ou nao; as leis podem ser cumpridas ou escarneci-das; a experimentacao social e politica pode inflamar-se ou extinguir-se; mas as raizes da fe — sem a qual soci­edade alguma resiste indefinidamente — estao exauri-das. No "final dos tempos", no "fim do mundo", as pesso­as de consciencia espiritual comecam a volver-se nova-mente a Fonte Criativa. Por mais vacilante ou pertuba-dor que possa ser o processo, por toscas ou infelizes que sejam algumas das opcoes consideradas, tal busca e uma resposta instintiva a percepcao de que um abismo imenso abriu-se na vida ordenada da humanidade.53 Os efeitos da nova Revelacao, diz Baha'u'Uah, sao univer-sais, e nao se restringem a vida e aos ensinamentos da Manifesta?ao de Deus que e o ponto focal da Revelacao. Embora nao compreendidos, esses efeitos permeiam gradativamente os assuntos humanos, revelando as contradicoes existentes nas crencas das pessoas e na sociedade e intensificando a busca de compreensao.

A sucessao das Manifestacoes e uma dimensao in-separavel da existencia, declara Baha'u'Uah, e havera de prosseguir por todo o sempre: "Deus tern enviado Seus Mensageiros para sucederem a Moises e Jesus e continuard a faze-lo ate 'o fim que nao tern fim'...54

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O Dia de Deus

O que Baha'u'llah considera ser a meta da evolu-cao da consciencia humana? Na perspectiva da eterni-dade, seu fito 6 que Deus veja, de forma cada vez mais clara, Suas perfeifoes refletidas no espelho de Sua cri-acao, e, nas palavras de Baha'u'llah,

...todo homem possa dar testemunho, em si mesmo e por si proprio, no grau da Manifestaqao do seu Se-nhor, de que, em verdade, nao ha Deus salvo Ele, e todos os homens possam assim alcanqar o cume das realidades, ate que nenhum deles contemple coisa al-guma, seja o que for, sem nela ver a Deus.55

No contexto da historia da civilizacao, o objetivo da sucessao de Manifestacoes Divinas tern sido prepa-rar a consciencia humana para a unificacao do genero humano como uma linica especie; na verdade, como um organismo unico capaz de assumir a responsabilida-de sobre o proprio futuro coletivo: "Aquele que e o vosso Senhor, o Todo-Misericordioso,"— diz Baha'u'llah — "acalenta no coraqdo o desejo de contemplar a raqa hu­mana inteira como uma so alma e um so corpo."56 En-quanto nao reconhecer a propria unidade organica, a humanidade nao tera como enfrentar sequer os desafios imediatos, quanto mais os que se encontram a frente: "O bem-estar da humanidade", insiste Baha'u'llah, "sua paz e seguranqa sao inalcanqdveis, a nao ser que, pri-meiro, se estabeleqa firmemente sua unidade."57 Somen-te uma sociedade global unificada podera assegurar a seus filhos o sentimento de confianca intima implfcita em uma das preces de Baha'u'llah a Deus: "Qualquer dever que Tu tenhas prescrito aos Teus servos de exaltar ao mdximo Tua majestade e gloria e tao-somente um

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sinal de Tua graqa a eles, para que possam ascender a posicdo concedida ao seu ser mais intimo, a posiqdo do conhecimento de seu proprio ser."58 Paradoxalmente, so atingindo a verdadeira unidade e que a humanidade podera cultivar em plenitude a propria diversidade e in-dividualidade. Essa e a meta a qual as missoes de todas as Manifestacoes de Deus conhecidas da historia tern servido: o Dia de "urn so rebanho e um so pastor".59 Sua realizacao, Baha'u'llah afirma, e o estagio de civilizacao no qual a humanidade esta ingressando agora.

Uma das analogias mais sugestivas encontradas nos escritos de Baha'u'llah, como nos do Bab antes dEle, e a comparacao da evolucao do genero humano com a vida do ser humano enquanto indivfduo. Em seu desenvolvimento coletivo, a humanidade tern crescido em estagios sucessivos que lembram os periodos de in-fancia, puberdade e adolescencia do processo de amadu-recimento de cada um de seus membros. Estamos vi-vendo agora as primicias de nossa maturidade coletiva, dotados de novas capacidades e oportunidades, das quais temos ainda mui palida consciencia.60

Em face disso, nao e dificil compreender a priori-dade que o princfpio da unidade recebe nos ensinamen-tos de Baha'u'llah. A unidade da humanidade e o moti-vo condutor da era que agora alvorece, o padrao segun-do o qual cumpre examinar todas as propostas de aper-feicoamento humano. Existe, reitera Baha'u'llah, uma unica raca humana; as nocoes herdadas de que deter-minada raca ou grupo etnico e de alguma forma superi­or ao restante da humanidade sao infundadas. Outros-sim, uma vez que todos os Mensageiros de Deus tern atuado como agentes da mesma Vontade Divina, suas revelacoes constituem o legado coletivo da raca huma­na como um todo; cada pessoa na Terra e herdeira legf-tima da totalidade dessa tradicao espiritual. Persistir

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em preconceitos de qualquer natureza e prejudicial aos interesses da sociedade e representa uma violacao a Vontade de Deus para nossa epoca:

0 povos e raqas da Terra que estais em contenda! Volvei a face a unidade e deixai brilhar sobre vos o esplendor de sua luz. Uni-vos, e por amor a Deus re-solvei extirpar qualquer coisa que motive conflito en-tre vos. ...Nao pode haver duvida alguma de que os povos do mundo, qualquer que seja sua raqa ou reli-giao, colhem inspiraqao de uma so Fonte Celestial e sao suditos de um so Deus. A diferenqa entre os pre-ceitos sob os quais vivem deve ser atribuida aos dife-rentes requisitos e exigencias da epoca em que foram revelados. Todos esses mandamentos, excetuando-se apenas alguns poucos que resultam da perversidade humana, foram ordenados por Deus e sao um reflexo de Sua Vontade e Seu Proposito. Levantai-vos, e ar-mados do poder da fe, demoli os deuses de vossas imaginaqoes vas, semeadoras que sao de dissensao entre vos. ...61

O tema da unidade permeia os escritos de Baha'u'llah: "Ergueu-se o taberndculo da unidade; nao vos considereis uns aos outros como estranhos."62 "Con-vivei com os seguidores de todas as religioes em espirito de amizade e camaradagem.'*3 "Sois os frutos de uma so drvore, as folhas do mesmo ramo."64

O processo de maturacao da humanidade tern avancado no bojo da evolucao da organizacao social. Comecando com a unidade familiar e suas varias ex-tensoes, a raca humana tern desenvolvido, com graus variaveis de sucesso, sociedades baseadas no cla, na tribo, na cidade-estado e, mais recentemente, na nacao. Esse meio social progressivamente mais amplo e com-

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Baha'u'Uah

plexo proporciona ao potencial humano tanto o estimu-lo como o espaco para desenvolver-se, e esse desenvolvi-mento, por sua vez, tern induzido renovadas modifica-coes na estrutura social. O advento da maturidade da humanidade, portanto, deve produzir uma total trans-formacao da ordem social. A nova sociedade deve ser capaz de englobar toda a diversidade do genero huma­no e beneficiar-se de toda a gama de talentos e conheci-mentos que milenios de experiencia cultural tern refina-do:

Este e o Dia em que os mais excelentes favores de Deus manaram sobre os homens, o Dia em que Sua graqa suprema se infundiu em todas as coisas cria-das. Todos os povos do mundo devem reconciliar suas discorddncias e, empaz e unido perfeitas, abri-gar-se a sombra da Arvore de Seu cuidado e terna bondade... Breve sera apresente ordem posta de lado, e uma nova estender-se-d em seu lugar. Deveras, teu Senhor diz a verdade eeo Conhecedor das coisas in-vistveis.65

0 principal instrumento para a transformacao da sociedade e para a realizacao da unidade mundial, as-segura Baha'u'Uah, e o estabelecimento da justica nos assuntos da humanidade. Esta questao tern grande re-levo em Seus ensinamentos:

A luz dos homens e a Justiqa. Nao a apagueis com os ventos contrdrios da opressao e tirania. O objetivo da justiqa e fazer aparecer entre os homens a unidade. O oceano da sabedoria divina encapela-se dentro desta palavra excelsa, aopasso que os livros do mundo nao podem conter seu significado mais intimo. ...66

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Baha'u'lldh

Em Seus escritos posteriores, Baha'u'llah explici-tou as implicates desse princfpio para a era da matu-ridade humana. "Mulheres e homens tern sido e hao de ser sempre iguais aos olhos de Deus",67 acentua Ele, e o progresso da civilizacao exige que a sociedade organize seus assuntos de forma tal que de plena expressao a esse fato. Os recursos da Terra sao propriedade de toda a humanidade, e nao de um povo ou outro. As diferen-tes c o n t r i b u t e s para o bem-estar economico comum merecem e devem receber medidas diferentes de recom-pensa e reconhecimento, mas os extremos de riqueza e pobreza que afligem a maioria das nacoes da Terra, in-dependente das filosofias socio-economicas que profes-sam, tern de ser abolidos.

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Bahd'u'lldh

Proclama^ao aos Reis

Os escritos supracitados foram revelados, na mai-or parte, sob condicoes de constante perseguicao. Logo depois da chegada dos exilados a Constantinopla, tor-nou-se evidente que as honrarias prestadas em abun-dancia a Baha'u'llah durante a viagem desde Bagda haviam representado nao mais que um breve interlu-dio. A decisao das autoridades otomanas de levar o li-der "babi" e Seus companheiros a capital do imperio, e nao a alguma provincia remota, alarmou ainda mais os representantes do governo persa.68 Temendo que os acontecimentos de Bagda se repetissem, quica atraindo desta vez nao so a simpatia, mas ate mesmo a adesao de figuras influentes do governo turco, o embaixador da Persia fez insistentes pressoes pela transferencia dos exilados a alguma regiao mais remota do imperio. Seu argumento era o de que a divulgacao de uma nova mensagem religiosa na capital poderia produzir reper-cussoes tanto politicas como religiosas.

Inicialmente, o governo otomano resistiu forte-mente. O primeiro-ministro, 'Ali-Pasha, havia manifes-tado a diplomatas ocidentais a opiniao de que Baha'u'llah era "um homem da maior distincao, de con-duta exemplar e grande moderacao, uma figura nobili-ma". Seus ensinamentos eram, do ponto de vista do primeiro-ministro, "dignos de alta estima", pois contra-punham-se as animosidades religiosas que dividiam os suditos judeus, cristaos e muculmanos do imperio.69

Aos poucos, porem, comecaram a surgir ressenti-mentos e suspeitas. Na capital otomana, o poder politi­co e economico estava nas maos de funcionarios da cor-te que, com raras excecoes, eram pessoas de pouca ou nenhuma competencia. A venalidade era o lubrificante com o qual a maquinaria do governo funcionava, e a

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capital era um ima para a horda de pessoas que para la acorriam, de todas as partes do imperio e alem, em bus-ca de favores e influencia. Esperava-se de qualquer fi-gura proeminente de outro pais ou de algum dos terri-tdrios ocupados que, imediatamente apos chegar a Con-stantinopla, se juntasse a multidao de pedintes de favo­res que se aglomeravam nas ante-salas dos paxas e mi-nistros da corte imperial. Ninguem gozava de pior repu-tacao que os grupos concorrentes de exilados persas, co-nhecidos que eram ja pela astiicia, ja pela falta de es-crupulos.

Para a aflicao dos amigos que insistiam para que Ele tirasse partido da hostilidade reinante contra o go-verno persa e da solidariedade que Seus proprios sofri-mentos haviam despertado, Baha'u'llah deixou claro que nao tinha nada a solicitar. Embora varios minis-tros do governo Lhe fizessem visitas sociais na residen-cia que Lhe fora determinada, Ele nao Se aproveitou dessas oportunidades. Estava em Constantinopla, di-zia, como hospede do Sultao, a seu convite, e Seu inte-resse estava em assuntos espirituais e morais.

Muitos anos mais tarde, o embaixador persa, Mir-za Husayn Khan, refletindo sobre o periodo em que ser-viu na capital otomana, e queixando-se dos danos que a ganancia e a perfidia de seus compatriotas causaram a reputafao da Persia em Constantinopla, prestou um tributo surpreendentemente sincero e imparcial ao exemplo que a conduta de Baha'u'llah fora capaz de es-tabelecer durante Sua breve estada na cidade.70 A epo-ca, porem, o embaixador e seus colegas valeram-se da situacao para apresenta-la como uma forma astuta da parte do exilado de camuflar conspiracoes secretas con­tra a seguranca publica e contra a religiao do Estado. Sob a pressao dessas influemcias, os governantes oto-manos finalmente tomaram a decisao de transferir

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Baha'u'llah

Baha'u'llah com a famflia para a cidade provincial de Adrianopla. A mudanca foi feita as pressas, no auge de um inverno extremamente rigoroso. Alojados em cons-trucoes improprias em Adrianopla, e carecendo de ves-tes adequadas e outras provisoes, os exilados passaram um ano de grandes sofrimentos. Era obvio que, embora sem serem acusados de crime algum, e sem oportunida-de de se defender, eles, arbitrariamente, haviam sido feitos prisioneiros de estado.

Do ponto de vista da historia religiosa, os sucessi-vos banimentos de Baha'u'llah para Constantinopla e Adrianopla encerram um simbolismo notavel. Pela pri-meira vez, uma Manifestacao de Deus, o Fundador de um sistema religioso independente que em pouco tempo se disseminaria por todo o planeta, cruzara a estreita faixa de agua que separa a Asia da Europa e pisara em "solo ocidental". Todas as outras grandes religioes havi­am surgido na Asia, e os ministerios de seus Fundado-res ficaram restritos aquele continente. Referindo-se ao fato de que as dispensacoes do passado, e particular-mente as de Abraao, Cristo e Maome, produziram seus efeitos mais importantes sobre o desenvolvimento da ci-vilizacao durante o curso de sua expansao para o Oci-dente, Baha'u'llah predisse que o mesmo iria ocorrer nesta nova era, porem em escala muito maior: "No Ori-ente, a Luz de Sua Revelacao surgiu; no Ocidente, os sinais de Seu dominio apareceram. Ponderai isso no coraqao, 6 povos..."11

Nao e de surpreender, por conseguinte, que Baha'u'llah tenha escolhido esse momento para tornar publica a missao que vinha pouco a pouco conquistando a adesao dos seguidores do Bab em todo o Oriente Me­dio. Sua proclamacao teve a forma de uma serie de de-claracoes que se situam entre os mais extraordinarios documentos da historia da religiao. Nelas, a Manifesta-

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Baha'u'llah

cao de Deus dirige-se aos "Reis e Governantes do mun-do", anunciando-lhes o alvorecer do Dia de Deus, alu-dindo as transformacoes ate entao inconcebiveis que ganhavam impeto por todo o planeta e convocando-os, como fideicomissarios de Deus e de seus semelhantes, a erguerem-se e servirem ao processo de unificacao da raca humana. Gracas a veneracao que lhes votava a massa dos suditos, e em razao da natureza absoluta do poder que a maioria deles exercia, estava ao seu alcan-ce, dizia Baha'u'llah, contribuir para o estabelecimento do que chamou a "Paz Maxima", uma ordem mundial caracterizada pela unidade e animada pela justica divi-na.

E extremamente dificil para o leitor moderno ter uma ideia do mundo moral e intelectual no qual viviam esses monarcas do seculo passado. De suas biografias e de sua correspondencia particular depreende-se terem sido, com poucas excecoes, pessoas devotas, detentoras de papeis principals na vida espiritual das respectivas nacoes, em geral como dirigentes da religiao do Estado e convictos das verdades infaliveis da Biblia e do Alco-rao. O poder que exerciam, atribuiam-no diretamente a autoridade divina de passagens dessas mesmas escritu-ras, autoridade essa que defendiam com vigor e elo-qiiencia. Eles eram os ungidos de Deus. As profecias sobre "os Ultimos Dias" e "o Reino de Deus", para esses soberanos, nao eram mito ou alegoria, mas certezas so­bre as quais toda a ordem moral repousava e segundo as quais eles proprios seriam chamados por Deus a prestar contas de suas responsabilidades.

As epistolas de Baha'u'llah dirigem-se ao mundo dessa mentalidade:

O Reis da Terra! Veio Aquele que e o Senhor sobera-no de todos. O Reino e de Deus, o Protetor Onipoten-

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te, O que subsiste por Siproprio. ...Esta e uma Reve-laqdo a qual coisa alguma que possuis jamais poderd ser comparada —pudesseis ao menos o saber. ... ...Acautelai-vos para que o orgulho nao vos detenha de reconhecer a Fonte da Revelaqdo, para que as coi­sas deste mundo nao vos excluam, como que por um v6u, dAquele que e o Criador do ceu. ... Pela retiddo de Deus! Nao nutrimos o desejo de apo-derar-Nos de vossos reinos. E Nossa missdo conquis-tar epossuir o coraqdo dos homens. ...72

Sabei que os pobres sdo a incumbencia de Deus em vosso meio. Cuidai para nao trairdes Sua incumben­cia, para nao os tratardes com injustiqa nem seguir-des os caminhos dos traiqoeiros. Com absoluta certe-za, havereis de responder por Sua incumbencia no dia em que for ajustada a Balanqa da Justiqa, no dia em que cada um receberd o que merece e pesar-se-do os atos de todos os homens, sejam ricos ou pobres. ... Examinai Nossa Causa, informando-vos das coisas que Nos sobrevieram e decidindo com justiqa entre Nos e Nossos inimigos, e sede dos que tratam o proxi­mo com eqilidade. Se nao detiverdes a mdo do opres-sor, se deixardes de salvaguardar os direitos dos espe-zinhados, que direito tereis, entao, de vos ufanar en­tre os homens'? ...73

Se nao atenderdes aos conselhos que N6s vos revela-mos nesta Epistola... o castigo divino haverd de ata-car-vos de todos os lados, e a sentenqa de Sua justiqa sera pronunciada contra vos. Naquele dia, nao tereis o poder de Lhe resistir e reconhecereis vossa propria incapacidade. ...74

A visao da "Paz Maxima" nao despertou resposta

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alguma da parte dos governantes do seculo XIX. O en-grandecimento nacionalista e a expansao imperial re-crutavam nao somente reis como parlamentares, aca-demicos, artistas, jornais e as principais instituicoes re-ligiosas como propagandistas entusiasticos do triunfa-lismo ocidental. As propostas de transformacao social, embora altruistas e idealistas, eram rapidamente tra-gadas por um turbilhao de novas ideologias geradas pela mare crescente de materialismo dogmatico. No Oriente, hipnotizado por sua pretensao de representar tudo o que a humanidade jamais poderia ou iria conhe-cer de Deus e da verdade, o mundo islamico submergia cada vez mais profundamente na ignorancia, na letar-gia e numa hostilidade ressentida a raca humana, a qual era incapaz de reconhecer essa preeminencia espi-ritual.

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Governantes aos quais Baha'ullah dirigiu Espistolas especificas mencionadas neste livro

Rainha Vitoria, Inglaterra

Imperador Napoleao 111, Franga

Naziri'D-Din Shah Persia

Kaiser Guilherme I Prussia

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Bahd'u'llah

A Chegada na Terra Santa

Em vista dos fatos ocorridos em Bagda, parece surpreendente nao terem as autoridades otomanas pre-visto o que resultaria do estabelecimento de Baha'u'llah em outra importante capital provincial. Um ano apos Sua chegada a Adrianopla, o prisioneiro atraira primeiro o interesse e entao a ardorosa admira-cao de personalidades proeminentes tanto da vida inte-lectual como governamental da regiao. Para o desgosto dos representantes consulares persas, dois dos mais devotados desses admiradores eram Khurshid Pasha, o governador da provmcia, e o Shaykhu'l-Islam, o princi­pal dignitario religioso sunita. Aos olhos de Seus anfi-trioes e do publico em geral, o exilado era um filosofo e santo honrado, e a validade de Seus ensinamentos re-fletia-se nao apenas no exemplo de Sua propria vida, mas tambem nas transformacoes que efetuavam na torrente de peregrinos persas que afluiam aquela re-mota cidade do Imperio Otomano para visita-Lo.75

Esses desdobramentos inesperados convenceram o embaixador persa e seus colegas de que seria apenas uma questao de tempo para que o movimento baha'f, em continua expansao na Persia, se estabelecesse como uma forca preponderante no imperio vizinho e rival. Em todo esse periodo de sua historia, o destrocado Im­perio Otomano lutava contra repetidas incursoes da Russia czarista, levantes entre os proprios siiditos e tentativas persistentes dos governos britanico e austri-aco, aparentemente amigos, de desmembrar varios ter-ritorios turcos e incorpora-los aos seus proprios imperi-os. Essa situacao politica instavel das provincias euro-peias da Turquia fornecia novos e prementes argumen­t s em apoio ao apelo do embaixador para que os exila-dos fossem enviados a uma colonia distante, onde

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Baha'u'Uah ja nao tivesse contato com cfrculos influen-tes, quer turcos ou ocidentais.

Quando o chanceler da Turquia, Fu'ad Pasha, re-gressou de uma visita a Adrianopla, seu relato pasmo sobre a reputacao que Baha'u'Uah conquistara em toda a regiao pareceu dar credibilidade as i n s inua t e s da embaixada persa. Nesse clima de opiniao, o governo decidiu abruptamente submeter seu hospede a um con-finamento rigoroso. Sem aviso previo, um dia, bem cedo, a casa de Baha'u'Uah foi cercada por soldados, e os exilados receberam ordens de preparar-se para par-tir com destino ignorado.

0 lugar escolhido para esse banimento final foi a soturna cidade-fortaleza de 'Akka (Acre), no litoral da Terra Santa. Famigerada em todo o imperio pela re-pugnancia do clima e por ser foco de muitas doencas, 'Akka era uma colonia penal utilizada pelo Estado Oto-mano para o encarceramento de criminosos perigosos, na expectativa de que nao sobreviveriam por muito tempo naquela prisao. Tendo chegado em agosto de 1868, Baha'u'Uah, os membros de Sua familia e um grupo de seguidores que haviam sido exilados com Ele iriam passar dois anos de sofrimento e maus-tratos dentro da propria fortaleza, para entao serem confina-dos em prisao domiciliar em um predio nas proximida-des, de propriedade de um comerciante local. Por um longo tempo, a supersticiosa populacao local evitou os exilados, advertida que fora em sermoes publicos con­tra "o Deus dos persas", retratado como inimigo da or-dem publica e autor de ideias blasfemas e imorais. Va-rios membros do pequeno grupo de exilados morreram por causa das privacoes e outras condicoes as quais fo-ram sujeitados.76

Observando em retrospecto, parece uma aguda ironia que a escolha da Terra Santa como o lugar do

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confinamento forcado de Baha'u'llah tenha resultado da pressao de inimigos eclesiasticos e civis cujo objetivo era extinguir Sua influencia religiosa. A Palestina, re-verenciada por tres das maiores religioes monoteistas como o ponto de interseccao entre os mundos de Deus e do homem, ocupava entao, como ocupara por milhares de anos, uma posicao unica nas expectativas humanas. Nao mais que algumas semanas antes da chegada de Baha'u'llah, a cupula do Movimento Templario Protes-tante alemao partia da Europa para estabelecer, no sope do Monte Carmelo, uma colonia que tinha o intui-to de receber a Cristo, cujo advento considerava imi-nente. Sobre os dinteis de muitas das pequenas casas que construiram, voltadas, do outro lado da baia, para a prisao de Baha'u'llah em 'Akka, podem-se encontrar, ainda hoje, inscricoes gravadas tais como Der Herr ist nahe ("O Senhor esta proximo").77

Em 'Akka, Baha'u'llah continuou a ditar uma se-rie de epistolas enderecadas individualmente a diversos governantes, algo que iniciara em Adrianopla. Varias delas continham advertencias sobre o jufzo de Deus com relacao a sua negligencia e desgoverno, adverten­cias essas cuja dramatica concretizacao provocou inten-sa discussao piiblica em todo o Oriente Pr6ximo. Menos de dois meses apos a chegada dos exilados a cidade-pri-sao, por exemplo, Fu'ad Pasha, o ministro das Relacoes Exteriores otomano, cujas informafoes distorcidas con-correram para precipitar a deportacao, foi subitamente exonerado do posto e morreu na Franca, vitima de ata-que cardfaco. O evento foi assinalado por uma declara-cao que previa a demissao prematura de seu colega, o primeiro-ministro 'All Pasha, a deposicao e morte do Sultao e a perda dos territorios turcos na Europa, uma serie de desastres que se sucederam um apos o outro.78

A epistola ao imperador Napoleao III advertia-o de

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Baha'u'llah

que, em virtude de sua insinceridade e abuso do poder, "... preualecerd confusao em teu reino, e teu imperio pas-sar-te-d das mdos, como puniqao pelo que tens feito. ...Terd tua pompa te tornado orgulhoso? Por Minha vida! Nao durard..."19 Sobre a desastrosa Guerra Fran­co-Prussiana e a consequente derrubada de Napoleao III, ocorrida menos de um ano apos essa declaracao, Alistair Home, um erudito moderno da hist6ria politica da Franca do seculo XIX, escreveu:

A Historia talvez nao registre exemplo mais chocan-te do que os gregos chamavam de peripeteia, a terri-vel queda das alturas do orgulho. E certo que nenhu-ma nacao nos tempos modernos, tao plena de gran-deza notoria e opulenta em conquistas materials, foi jamais submetida a pior humilhacao em tao curto espaco de tempo.80

Apenas alguns meses antes da inesperada serie de fatos na Europa que levaram a invasao dos Estados Papais e a anexacao de Roma pelas forcas do novo Rei­no da Italia, uma declaracao dirigida ao Papa Pio IX exortava o Sumo Pontifice: "Abandona teu reino aos reis e emerge de tua habitaqdo, com a face volvida para o Reino... Se tu como tern sido teu Senhor. ...Em verda-de, o dia da colheita e chegado, e todas as coisas foram separadas uma da outra. Ele guardou o que escolheu nos vasos dajustiqa e lanqou ao fogo o que disso era dig-no. ..."81

Guilherme I, rei da Prussia, cujos exercitos havi-am conquistado tao avassaladora vitoria na Guerra Franco-Prussiana, fora advertido por Baha'u'llah no Kitdb-i-Aqdas a considerar o exemplo da queda de Na­poleao III e de outros potentados que haviam sido vito-riosos na guerra, e a nao permitir que o orgulho o impe-

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Bahd'u'lldh

disse de reconhecer Sua Revelacao. O fato de que Baha'u'llah vaticinou que o imperador alemao nao che-garia a responder a essa advertencia e demonstrado pela ominosa passagem que aparece adiante no mesmo Livro:

6 margens do Reno! Nos vos vimos cobertas de san-gue, porque as espadas da retribuiqao foram desem-bainhadas contra vos; e tereis ainda outro turno. E ouvimos os lamentos de Berlim, embora viva hoje em gloria conspicua.82

Um torn radicalmente diferente caracteriza dois dos principals pronunciamentos, o dirigido a Rainha Vitoria83 e o enderecado aos "Governantes da America e Presidentes de suas Republicas". O primeiro elogia o avanco pioneiro representado pela abolicao da escrava-tura em todo o Imperio Britanico e louva o principio do governo representative O segundo, que e aberto com o aniincio do Dia de Deus, conclui com um chamamento, um virtual mandato, sem paralelo em qualquer das outras mensagens: "Recomponde o roto com as maos da justiqa, e esmagai o opressor que prospera com a vara dos mandamentos de vosso Senhor, o Governante, a Suprema Sabedoria."84

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A cidade prisao de 'Akka e a prisao fortaleza

Vista aerea (atual) da cidade de 'Akka, em Israel (Palestina), local do ultimo exilio de Baha'u'llah

Parte da prisao-fortaleza de'Akka, onde Baha'u'llah eSua familia ficaram aprisionados durante 2 anos, 2 meses e 5 dias, a partir de 31 de agosto de 1868. As 2 janelas a direita sao da cela de Baha'u'llah

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Baha'u'Uah

A Rel ig iao Como Luz e Treva

A condenacao mais severa de Baha'u'Uah e reser-vada as barreiras que, ao longo da historia, a religiao organizada ergueu entre a humanidade e as Revela^oes de Deus. Os dogmas, inspirados pela supersticao popu­lar e aperfeicoados pelo desperdicio intelectual, tern sido repetidamente impostos a um processo divino cujo proposito tern sido sempre espiritual e moral. As leis de interacao social, reveladas com o fito de consolidar a vida comunitaria, tern sido utilizadas como base de es-truturas de doutrina e pratica arcanas que tern opri-mido as massas a cujo beneficio deveriam servir. Mes-mo o exercicio do intelecto, a ferramenta precipua de que dispoe a raca humana, tern sido deliberadamente dificultado, levando ao colapso, afinal, o dialogo entre fe e ciencia, do qual depende a vida civilizada.

A conseqiiencia desse registro lamentavel e o des-credito em que caiu a religiao em todo o mundo. Pior ainda, a religiao organizada tornou-se ela propria uma das mais virulentas causas de odio e luta armada entre os povos. "O fanatismo e o odio religiosos", advertiu Baha'u'Uah ha mais de um seculo, "sao um fogo devora-dor do mundo, cuja violencia ninguem pode confer. A Mao do poder divino, tdo-somente, e capaz de livrar a humanidade dessa afliqao desoladora."65

Os lfderes religiosos da humanidade, afirma Baha'u'Uah, 6 que serao responsabilizados por Deus por essa tragedia, eles que se tern arvorado em porta-vozes de Deus ao longo de toda a historia. Suas tentativas de fazer da Palavra de Deus uma relfquia particular, e de sua exposicao um instrumento de engrandecimento pessoal, tern sido o maior empecilho que o avan^o da ci-viliza^ao tern enfrentado. Para alcan^ar seus objetivos, muitos deles nao hesitaram em erguer a mao contra os

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Baha'u'llah

pr6prios Mensageiros de Deus, por ocasiao de seu ad-vento:

Os expoentes da religido, em todas as eras, tern impe-dido opovo de atingir as praias da salvaqdo eterna, por haverem segurado firmemente as redeas da auto-ridade em suas poderosas mdos . Alguns por sede de poder, outros por falta de conhecimento e compreen-sdo, privaram o povo desse bem. Por sua autoridade e sanqdo, todo Profeta de Deus sorveu do cdlice do sa-criftcio...86

Dirigindo-se aos clerigos de todas as fes, Baha'u'llah adverte-os da responsabilidade que tao de-satentamente assumiram na historia:

Sois como uma nascente. Se for alterada, o mesmo se dard com os rios que dela brotam. Temei a Deus, e sede dosjustos. Do mesmo modo, se o coraqao do ho-mem for corrompido, seus membros tambem o serao. E, semelhantemente, se a raiz de uma drvore for cor-rompida, seus galhos e ramos e folhas e frutos serao tambem corrompidos.81

Essas mesmas declaracoes, reveladas em uma epoca na qual a ortodoxia religiosa era um dos princi­pals poderes em todo o mundo, afirmavam que tal po­der efetivamente terminara e a casta eclesiastica ja nao tinha nenhum papel social na historia humana. "O congregaqdo de sacerdotes! Doravante ndo vos vereis detentores de poder algum..."88 A um oponente especial-mente vingativo, membro do clero muculmano, Baha'u'llah asseverou: "Es assim como o ultimo traqo de luz solar que toca o cume da montanha. Em breve se desvanecerd, conforme decretado por Deus, o Possuidor

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de tudo, o Altissimo. Tua gloria e a gloria daqueles que sao como tu foram tiradas..."89

Nao e a organizacao da atividade religiosa que es-sas declaracoes se referem, mas ao mau uso de tais re-cursos. Os escritos de Baha'u'llah sao generosos no apreco nao somente pela grande contribuicao que a re-ligiao organizada trouxe a civilizacao, mas tambem pelos beneficios que o mundo tern auferido da abnega-cao e do amor a humanidade que tern caracterizado as ordens religiosas e os clerigos de todas as fes:

Aqueles sacerdotes... que verdadeiramente se ador-nam com o ornamento do conhecimento e de um card-ter virtuoso sao, deveras, como a cabeqa para o corpo do mundo, e como os olhospara as naqoes. ...90

Na realidade, o desafio de todos, crentes ou nao, sacerdotes ou leigos, e reconhecer as conseqiiencias que hoje afligem o mundo em virtude da corrupcao univer­sal do impulso religioso. Com o afastamento da huma­nidade de Deus, predominante desde o seculo passado, rompeu-se a relacao da qual depende a propria estrutu-ra da vida moral. As faculdades inerentes a alma rati­onal, vitais ao desenvolvimento e a manutencao dos valores humanos, tern sido universalmente menospre-zadas:

A vitalidade da crenqa dos homens em Deus esmorece em todas as terras; nada senao Seu remedio salutar jamais a poderd restaurar. A corrosdo da irreligiosi-dade carcome as visceras da sociedade humana; que outra coisa senao o Elixir de Sua potente Revelaqdo poderdpurificd-la e revivificd-la? ...O Verbo de Deus, tao-somente, pode pretender a distinqdo de estar dota-do da capacidade necessdria para uma transforma-qdo de tal magnitude e de tamanho alcance.91

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A Paz Mundial

A luz dos acontecimentos posteriores, as admoes-tacoes e apelos contidos nos escritos de Baha'u'llah des-se perfodo afiguram-se profundamente pungentes:

O v6s, representantes eleitos dopovo em todas as ter­ras! ...Considerai o mundo como o corpo humano, que, embora tenha sido criado sao eperfeito, tern sido afligido, por vdrias causas, de graves desordens e do-enqas. Nem por um so dia teve alivio; ao contrdrio, sua enfermidade tornou-se mats severa, pois foi en-tregue ao tratamento de medicos ignorantes, que de-ram total vazao aos seus desejos pessoais... Nos o observamos, neste dia, a merce de governantes tao embriagados de orgulho que nao sao capazes de discernir claramente o que Ihes e melhor, muito me-nos de reconhecer uma Revelaqao too desconcertante e desafiadora como esta. ...92

Este e o Dia em que a Terra fard ressoar suas novas. Os obreiros da iniqiiidade sao seu fardo —pudesseis vos apenas operceber. „.93

Todos os homens foram criados a fim de levar avan-te uma civilizaqao que sempre evolua. O Onipotente dd-Me testemunho: Agir como os animais do campo 6 indigno do homem. As virtudes condizentes com sua dignidade sao a tolerancia, a merce, a compaixao e a bondade para com todos os povos e raqas da Terra.

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Uma vida nova, nesta era, esta vibrando em todos os povos da Terra; contudo, ninguem Ihe descobriu a causa nem percebeu o motivo. Considerai os povos do

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Ocidente. Vede como, em busca daquilo que e vdo e insignificante, tern sacriftcado e ainda sacrificam in-contdveis vidas por seu estabelecimento e promoqdo.

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Em todos os assuntos, a moderaqdo e desejdvel. Se uma coisa for leuada ao excesso, provard ser fonte de mal. ...Coisas estranhas e espantosas existem na Ter­ra, mas se ocultam da mente e da compreensdo dos homens. Tais coisas sdo capazes de alterar toda a at-mosfera da Terra, e sua contaminaqao mostrar-se-ia letal. ...96

Em escritos posteriores, inclusive nos dirigidos a humanidade como um todo, Baha'u'llah enfatizou a premencia da adocao de medidas direcionadas ao que chamou de a "Grande Paz". Essas medidas, disse, ate-nuariam os sofrimentos e transtomos que antevia para o genero humano ate que os povos do mundo abracas-sem a Revelacao de Deus e, por meio dela, realizassem a Paz Maxima:

Haverd de chegar o tempo em que a necessidade im-periosa da convocaqao de uma vasta e ampla assem-bleia de homens sera universalmente percebida. Os governantes e os reis da Terra terao de tomar parte nela e, participando de suas deliberaqoes, deverao considerar metodos e meios capazes de assentar os fundamentos para a Grande Paz, mundial, entre os homens. Talpaz requer que as grandes potencias re-solvam, a bem da tranquilidade dos povos da Terra, reconciliar-se plenamente entre si. Se algum rei pegar em armas contra outro, todos, unidos, devem erguer-se e dete-lo. Se isso for feito, as naqoes do mundo ndo mais precisarao de armamentos, exceto para preser-

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var a seguranqa de seus domtnios e manter a ordem interna dentro do proprio territorio. ...Aproxima-se o dia em que todos os povos do mundo terao adotado um idioma universal e uma escrita comum. Quando isso for realizado, nao importa a que cidade um ho-mem viaje, sera como estivesse entrando no proprio lar. ...E homem, verdadeiramente, quern hoje se dedi-ca ao serviqo da humanidade inteira. ...Ndo se van-glorie quern ama a pdtria, mas sim, quern ama o mundo inteiro. A Terra e um so pais, e os seres huma-nos, seus cidaddos.91

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Bahd'u'lldh

"Nao por Minha Propria Vontade"

Em Sua epfstola a Nasiri'd-Din Shah, o rei da Per­sia, a qual nao contem nenhuma censura por Seu en-carceramento no Siyah-Chal ou pelas outras injusticas que sofreu nas maos do monarca, Baha'u'llah fala do proprio papel no Piano Divino:

Eu era apenas um homem como os outros, adormeci-do em Meu leito, quando eis que as brisas do Todo-Glorioso manaram sobre Mim e deram-Me o conheci-mento de tudo o que jd existiu. Isto nao provem de Mim, mas de Um que e Todo-Poderoso e Onisciente. E Ele ordenou que Eu erguesse a voz entre a Terra e o ceu, e por isso Me sobreueio o que fez correr as lagri-mas de todo homem de compreensdo. A erudiqao co-mum entre os homens, nao a estudei; nem freqilentei suas escolas. Pergunta na cidade onde residi, a fim de teres a certeza de que Eu nao sou dos que falam falsamente.98

A missao a qual devotara toda a vida, que Lhe custara a vida de um amado filho mais moco," como tambem a perda de todas as posses materiais, que Lhe abalara profundamente a saude e Lhe trouxera aprisi-onamento, exilio, injurias e maus-tratos, nao era de Sua iniciativa. "Nao por Minha propria Vontade", asse-gurou, havia Ele Se lancado em tal caminho:

Pensais, 6 povo, que Eu detenha nas maos o controle da Vontade e Designio supremos de Deus? Tivesse estado em Minhas maos o destino final da Fe de Deus, jamais teria Eu consentido, nem por um mo-mento sequer, em Me manifestar a vos, nem teria per-mitido que palaura alguma fluisse de Meus labios.

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Baha'u'llah

Disso 4 testemunha, verdadeiramente, o proprio Deus.100

Tendo aquiescido sem reservas ao chamado de Deus, Ele nao tinha duvida alguma quanto ao papel que fora convocado a desempenhar na hist6ria huma-na. Como a Manifestacao de Deus para a era do cum-primento, Ele e o prometido de todas as escrituras do passado, o "Desejo das Nacoes", o "Rei da Gloria". Para o Judaismo, e o "Senhor dos Exercitos"; para o Cristia-nismo, a Volta de Cristo na gloria do Pai; para o Isla, o "Grande Anuncio"; para o Budismo, o Buda Maitreya; para o Hinduismo, a nova encarnacao de Krishna; para o Zoroastrismo, o advento do "Shah-Bahram".101

Assim como as Manifestacoes de Deus que O pre-cederam, Ele e tanto a Voz de Deus como o seu canal humano: "Quando contemplo, 6 meu Deus, a relagdo que me liga a Ti, sou impelido a proclamar a todas as coisas criadas: 'Verdadeiramente, sou Deus!'; e quando consi-dero meu proprio ser, — ve, parece-me mais tosco que a argila!"102

"Alguns dentre vos" — declarou Ele — "tern dito: 'Ele e Quern teve a pretensdo de ser Deus.'Por Deus! Isso e calunia flagrante. Sou apenas um servo de Deus que acreditou nEle e em Seus sinais... Minha lingua e Meu coracdo e Meu ser exterior, tanto quanto o interior, ates-tam que nao ha outro Deus sendo Ele, e todos os outros foram criados a Seu mando e moldados pela operaqdo de Sua vontade. ...Sou Aquele que difunde em todapar­te as graqas com as quais Deus, por Sua bondade, Me favoreceu. Se e essa Minha transgressdo, entdo sou, em verdade, oprimeiro dos transgressores. ..."103

Os escritos de Baha'u'llah recorrem a inumeras metaforas, na tentativa de exprimir o paradoxo presen-

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te no amago do fenomeno da Revela?ao da Vontade de Deus:

Sou o Falcdo real no braqo do Onipotente. Desdobro as asas caidas de todo pdssaro prostrado e impulsio-no-lhe o voo.1<M

Este Ser e apenas uma folha movida pelos ventos da vontade de teu Senhor, o Todo-Poderoso, Alvo de todo louvor. Poderd aquietar-se em soprando os ven­tos tempestuosos? Nao, porAquele que e o Senhor de todos os Nomes e Atributos! Movem-na a seu bel-pra-zer. ...105

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Locais onde Baha'u'llah viveu apos sair da prisao fortaleza em 'Akka

JELHAIIJI -**^

Residencia em Bahjf, 'Akka, onde Baha'u'llah viveu de 1879 ate Seu falecimento, em 29 de maio de 1892.

Mazra'fh - Casa ao norte de 'Akka, para a qual Baha'u'llah mudou-se depois da prisao domiciliar na cidade, e antes de ir residir definitivamente em Bahji. Baha'u'llah viveu nessa casa de junho de 1877 a setembro de 1879

A esquerda, a residencia conhecida como a Casa de 'Abbud, em 'Akka, onde Baha'u'llah foi viver quando Lhe foi permitido sair da prisao-fortaleza. Residiu nesse local ate 1877.

O lugar mais sagrado da Terra para os baha'fs. Ao centro, o Santuario onde esta depositado o corpo de Baha'u'llah. A sua esquerda, a Mansao de Bahji. Jardins grandiosos envolvem toda a area.

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Baha'u'llah

O Convenio de Deus com a Humanidade

Em junho de 1877, Baha'u'llah finalmente saiu do confinamento estrito da cidade-prisao de 'Akka e mu-dou-Se com a familia para "Mazra'ih", uma pequena propriedade rural algumas milhas ao norte da cida-de.106 Como fora predito em Sua epistola ao governo turco, o Sultao 'Abdu'l-'Aziz fora deposto e assassinado em um golpe palaciano, e os ventos das mudancas poli-ticas que varriam o mundo comecavam a invadir ate mesmo os hermeticos recintos do sistema imperial oto-mano. Apos uma breve estada de dois anos em Mazra'ih, Baha'u'llah fixou residencia em "Bahji", uma ampla mansao rodeada de jardins que Seu filho 'Abdu'1-Baha havia alugado para Ele e a familia.107

Seus doze anos finais de vida foram dedicados a Seus escritos, concernentes a um largo espectro de temas espirituais e sociais, e ao acolhimento do fluxo de pere-grinos baha'is que para la convergiam, com grandes dificuldades, vindos da Persia e de outras terras.

Tanto no Oriente Proximo como no Medio, o nii-cleo de uma vida comunitaria comecava a tomar corpo entre os que haviam aceito Sua mensagem. Para sua guia, Baha'u'llah revelara um sistema de leis e institui-coes concebido para por em vigor, na pratica, os princi-pios estabelecidos em Seus escritos.108 A autoridade foi outorgada a conselhos eleitos democraticamente pela totalidade da comunidade, com dispositivos destinados a excluir a possibilidade do surgimento de uma elite clerical. Foram tambem instituidos principios de con-sulta e tomada de decisao grupal.

No cerne desse sistema estava o que Baha'u'llah denominou um novo Convenio entre Deus e a humani­dade. O aspecto distintivo da maturacao humana 6 que, pela primeira vez na historia, todo o genero huma-

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no esta conscientemente envolvido, ainda que de forma turva, na percepcao da propria unidade e da Terra como a patria comum. Esse despertar abre caminho para um novo relacionamento entre Deus e a humani-dade. A medida que os povos do mundo aceitarem a au-toridade espiritual inerente a guia da Revelacao de Deus para esta era, afirma Baha'u'llah, hao de encon-trar em si mesmos um poder moral que os esforcos hu-manos, por si so, tem-se mostrado incapazes de engen-drar. "Uma nova raca de homens"109 surgira como re-sultado desse relacionamento, e o trabalho da constru-cao de uma civilizacao global tera inicio. A missao da comunidade baha'i e demonstrar a eficacia desse Con-venio para curar os males que dividem a raca humana.

Baha'u'llah faleceu em Bahji em 29 de maio de 1892, em Seu 752 ano de vida. Na epoca de Seu passa-mento, a Causa que Lhe fora confiada quatro decadas antes na escuridao da Cova Negra de Teera estava pronta para libertar-se das terras islamicas onde se for-mara e estabelecer-se na America e na Europa, primei-ramente, e depois por todo o planeta. Com isso, a pro­pria Causa viria a ser uma comprovacao da promessa do novo Convenio entre Deus e a humanidade; pois em contraste com as demais religioes independentes do mundo, a Fe Baha'i e sua comunidade de adeptos vie-ram a concluir com exito a travessia do crftico primeiro seculo de existencia, com a unidade intacta e firme, in-colume a praga antiqiiissima do cisma e da dissensao. Sua experiencia oferece uma evidencia poderosa em favor da asseveracao de Baha'u'llah de que a raca hu­mana, com toda a sua diversidade, e capaz de aprender a viver e trabalhar como um unico povo, em uma patria global comum.

Apenas dois anos antes de Sua morte, Baha'u'llah recebeu em Bahji um dos poucos ocidentais a visita-Lo,

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e o unico a deixar um relato escrito da experiencia. O visitante era Edward Granville Browne, um jovem ori-entalista em ascensao da Universidade de Cambridge, cuja atencao fora originalmente atraida pela historia dramatica do Bab e de Seu heroico grupo de seguido-res. De seu encontro com Baha'u'llah, Browne escreveu:

Embora suspeitasse vagamente para onde ia e com quern haveria de estar (pois nenhuma infor-macao precisa me fora dada), um segundo ou dois passaram-se antes que eu, com um fremito de ad-miracao e reverencia, percebesse claramente que a sala nao estava deserta. No canto onde o diva en-contrava a parede estava sentada uma maravilho-sa e veneravel figura... A fisionomia daquele a quern fitava, jamais a poderei esquecer, embora nao possa descreve-la. Aqueles olhos penetrantes pareciam ler-nos a propria alma; poder e autorida-de residiam naquela testa larga... Escusado era perguntar na presenca de quern estava, enquanto me curvava diante daquele que e objeto de uma devocao e um amor que os reis poderiam invejar e os imperadores almejar em vao! Uma voz suave e cheia de dignidade convidou-me a sentar, e entao prosseguiu: "Louvado seja Deus por haveres alcan-qado! ...Vieste ver um prisioneiro e exilado... So desejamos o bem do mundo e a felicidade das na-qoes; nao obstante, consideram-nos instigador de discordia e sediqao, merecedor de cativeiro e bani-mento... Que todas as nacoes se tornem uma na fe e todos os homens venham a ser como irmaos; que os laqos de afeiqao e unidade entre os filhos dos ho­mens sejam fortalecidos; que cesse a diversidade de religiao, e as diferenqas de raqa sejam anuladas — que mal ha nisso? ...E assim ha de ser: essas lutas

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infrutiferas, essas guerras ruinosas hao depassar, e a 'Paz Maxima' ha de chegar..."110

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O Centro Mundial Baha'i, em Haifa, Israel Localizaqao: Monte Cartnelo - Fotos atuais

Santuario do Bab, primeiro dos edificios sagrados construidos no Monte Carmelo, no qual tambem esta sepultado o corpo de 'Abdu'l-Baha

Vista aerea da parte do Monte Carmelo onde se localiza o Centro Mundial Baha'i

A direita, em primeiro piano, o Santuario do Bab. Ao centro, o edificio dos Arquivos Internacionais. A esquerda, o edificio sede da Casa Universal de Justica, com suas majestosas colunas de marmore. Em toda a area os monumentais jardins baha'is.

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Edificio dos Arquivos Internacionais Baha'is, onde inclusive estao preservados textos originais revelados por Baha'u'llah

O edificio sede da Casa Universal de Justica, instituigao maxima da Ordem Administrativa de Baha'u'llah

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Bahd'u'lldh

NOTAS

Todas as citaqoes em portugues foram especialmen-te reuisadas para esta ediqdo.

1. Baha'u'liah ("Gloria de Deus") nasceu com o nome de Husayn-'All A fonte autorizada sobre as mis-soes do Bab e de Baha'u'liah e A Presenqa de Deus (Rio de Janeiro: Editora Baha'f do Brasil, 1981), de Shoghi Effendi. Para um estudo biografico, v. Bahd'u'lldh: The King of Glory, de Hasan Balyuzi (Oxford: George Ronald, 1980). Os escritos de Baha'u'liah sao extensamente analisados em Adib Taherzadeh, The Revelation of Bahd'u'lldh (Oxford: George Ronald, 1975), vols. 1-4.

2. O Britannica Yearbook (Livro do Ano da Enciclope-dia Britannica) de 1988 indica que, embora o nii-mero de membros da comunidade baha'f nao ultra-passe cerca de 5 milhoes, a Fe ja se tornou a reli-giao mais amplamente difundida na Terra depois do Cristianismo. Existem hoje 155 Assembleias Nacionais baha'fs em pafses independentes e nos principals territorios do globo e mais de 17.000 Assembleias eleitas a funcionar em nivel local. Es-tima-se que 2.112 nacionalidades e tribos estejam representadas na comunidade.

3. Arnold Toynbee, A Study of History, vol. VIII (Lon­don: Oxford, 1954), p. 117.

4. O Bab ("Portao", ou "Porta") nasceu com o nome de Siyyid 'All-Muhammad, em Shiraz, em 20 de outu-bro de 1819.

5. As passagens dos escritos do Bab que se referem ao advento de "Aquele que Deus tornard manifesto" incluem referencias enigmaticas ao "ano Nove" e ao "ano Dezenove" (isto e, aproximadamente 1852

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e 1863, calculando-se em anos lunares desde 1844, ano da inauguracao da missao do Bab). Em diver-sas ocasioes o Bab tambem deu a entender a al-guns de Seus seguidores que eles mesmos viriam a reconhecer e servir a "Aquele que Deus tornard ma­nifesto".

6. A proclamacao da mensagem do Bab fora feita em mesquitas e lugares publicos por grupos entusias-ticos de seguidores, muitos deles jovens seminaris-tas. O clero muculmano reagira incitando as multi-does a violencia. Infelizmente, esses acontecimen­tos coincidiram com uma crise politica criada pela morte de Muhammad Shah e pelas disputas em torno da sucessao. Foram os lideres da faccao poli­tica vitoriosa que, manobrando por tras do rei-me-nino Nasiri'd-Dfn Shah, fizeram com que o exercito real se voltasse contra os entusiastas babis. Estes, habituados a um meio de referenciais muculma-nos, e crendo ter o direito moral a autodefesa, en-trincheiraram-se em abrigos improvisados e resis-tiram a longos e sangrentos cercos. Quando ja ha-viam, afinal, sido dominados e chacinados, e o Bab, executado, dois jovens babis perturbados fizeram parar o Xa em uma via publica e alvejaram-no com chumbo de caca de passaros, num atentado mal planejado contra a vida do soberano. Foi esse inci-dente que forneceu o pretexto para o pior dos mas­sacres dos babis, que provocou os protestos das embaixadas ocidentais. Para um relato desse peri-odo, v. W. Hatcher e D. Martin, The Bahd't Faith: The Emerging Global Religion (San Francisco: Harper and Row, 1985), pp. 6-32.

7. Para um relato desses acontecimentos, v. A Presen-qa de Deus, capitulos 1-5. O interesse ocidental no movimento babi foi suscitado especialmente pela

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Bahd'u'lldh

publicacao, em 1865, do livro de Joseph Arthur Comte de Gobineau, Les religions et les philosophi­es dans I'Asie centrale (Paris: Didier, 1865).

8. Baha'u'llah, Epistle to the Son of the Wolf (Wilmet-te: Baha'i Publishing Trust, 1979), pp. 20-21.

9. Varios diplomatas e adidos militares ocidentais deixaram relatos pungentes do que testemunha-ram. Muitos protestos formais foram encaminha-dos as autoridades persas. V. Moojan Momen, The Bdbi and Bahd'i Religions, 1844-1944 (Oxford: George Ronald, 1981).

10. Epistle, p. 21. 11. Epistle, p. 22. 12. Havia, compreensivelmente, grande suspeita na

Persia quanto as intencoes do governo russo e do britanico, os quais por muito tempo haviam inter-ferido nos assuntos persas.

13. O ponto focal desses problemas era Mirza Yahya, um meio-irmao mais jovem de Baha'u'llah. Quando ainda moco e sob a guia de Baha'u'llah, Yahya fora designado lider nominal da comunidade babi pelo Bab, ate o iminente advento de "Aquele que Deus tornard manifesto". Todavia, apos render-se a in-fluencia de um ex-teologo muculmano, de nome Siyyid Muhammad Isfahani, Yahya gradualmente afastou-se do irmao. Ao inves de manifestar-se abertamente, tal ressentimento encontrou vazao na agitacao clandestina, que teve efeito desastroso sobre o moral ja baixo dos exilados. Yahya mais tarde recusou-se a aceitar a declaracao de Baha'u'llah e nao teve participacao alguma no de-senvolvimento da Fe Baha'i, iniciada com essa de­claracao.

14. Baha'u'llah, O Livro da Certeza (Rio de Janeiro: Editora Baha'i do Brasil, 1977), p. 152.

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Baha'u'lldh

15. Baha'u'llah, As Palavras Oeultas de Baha'u'lldh (Rio de Janeiro: Editora Baha'i do Brasil, 1985), versiculos 2, 5, 35 e 12 da parte arabe (respectiva-mente, pp. 28, 30, 45 e 33-34). Exceto onde o con-texto tome obvio, o uso convencional da palavra "homem" traduz o conceito de "humanidade".

16. OLivro da Certeza, pp. 7-8, 120-21, 122-23. 17. Citado em A Presenga de Deus, p. 198. 18. Citacao do Principe Zaynu'l-'Abidin Khan, A Pre­

senga de Deus, p. 195. 19. V. nota 68. 20. A Presenga de Deus, p. 217. Com freqiiencia cada

vez maior, depois de 1863 a palavra "baha'i" subs-tituiu a palavra "babi" como a designacao da nova fe, assinalando o fato de que uma religiao inteira-mente nova surgira.

21. Citado em Shoghi Effendi, O Advento da Justiga Divina (Rio de Janeiro: Editora Baha'i do Brasil, 1970), p. 117.

22. Baha'u'llah, Selegdo dos Escritos de Baha'u'lldh (Rio de Janeiro: Editora Baha'i do Brasil, 1977), p. 19.

23. Selegdo, p. 186. 24. Selegdo, p. 207. 25. Selegdo, p. 18. 26. Selegdo, p. 18. 27. As duas declaracoes podem ser encontradas, res-

pectivamente, em J.E. Esslemont, Baha'u'lldh e a Nova Era (Rio de Janeiro: Editora Baha'i do Brasil, 1984), citada por 'Abdu'1-Baha, e em Epistolas de Baha'u'lldh Reveladas apos o Kitdb-i-Aqdas (Rio de Janeiro: Editora Baha'i do Brasil, 1983), p. 31.

28. A Presenga de Deus, pp. 185 e seguintes, da um relato desses eventos.

29. Selegdo, p. 16.

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Baha'u'llah

30. O Liuro da Certeza, pp. 63-64. 31. O Livro da Certeza, p. 64. 32. O Livro da Certeza, pp. 64-65. 33. O Livro da Certeza, p. 67. 34. Seleqao, p. 47. 35. Seleqao, p. 51. 36. Seleqao, pp. 50-51. 37. Citado em O Advento da Justiqa Divina, p. 120. 38. Seleqao, p. 92. 39. Seleqao, p. 59. 40. Seleqao, p. 108. 41. Seleqao, p. 204. 42. Para uma exposicao detalhada do tema, v. 'Abdu'l-

Baha, O Esplendor da Verdade (Rio de Janeiro: Editora Baha'f do Brasil, 1979), pp. 142-72.

43. Exemplos, nas palavras de Jesus, sao: "Por que me chamas de bom? Bom so existe um, que e Deus..." (Mateus 19:17); "Eu e o Pai somos um." (Joao 10:30).

44. Seleqao, pp. 115-17. 45. Seleqao, pp. 42-44. 46. Seleqao, p. 45. 47. Novo Testamento, Joao 1:10. 48. Seleqao, p. 95. 49. Shogi Effendi, The World Order of Baha'u'llah: Se­

lected Letters (Wilmette: Baha'f Publishing Trust, 1982), p. 117.

50. Seleqao, pp. 55-56. Nos escritos baha'is, o termo "Adao" e usado simbolicamente em dois sentidos diferentes. Um se refere ao surgimento da raca humana, ao passo que o outro designa a primeira das Manifestacoes de Deus.

51. Seleqao, p. 137. 52. Seleqao, pp. 100-1. 53. V. Baha'u'llah, The Seven Valleys and the Four

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Baha'u'lldh

Valleys (Wilmette: Baha'i Publishing Trust, 1986), pp. 6-7: "Sim, embora para os sdbios seja vergonho-so procurar no po o Senhor dos Senhores, isso, no entanto, indica intenso ardor na busca."

54. Citado em World Order of Baha'u'lldh, p. 116. 55. Seven Valleys, pp. 1-2. 56. Seleqao, p. 137. 57. Seleqao, p. 180. 58. Seleqao, p. 16. 59. Novo Testamento, Joao 10:16. 60. Para uma exposicao sobre a questao dos ensina-

mentos de Baha'u'llah sobre o processo de matura-cao da raca humana, v. World Order of Baha'u'lldh, pp. 162-63, 202.

61. Seleqao, p. 139. 62. Epistolas, p. 182. 63. Seleqao, p. 67. 64. Epistolas, p. 182. 65. Seleqao, p. 17. 66. Epistolas, pp. 77-78. 67. Women: Extracts from the Writings of Baha'u'lldh,

'Abdu'l-Bahd, Shoghi Effendi and the Universal House of Justice (Thornhill, Ontario: Baha'i Publi­cations Canada, 1986), p. 26.

68. Uma combinacao de circunstancias incomuns tor-nara as autoridades centrais de Constantinopla singularmente solidarias com Baha'u'llah e resis-tentes as pressoes do governo persa. O governador de Bagda, Namiq Pasha, havia escrito com entusi-asmo para a capital sobre o carater e a influencia do ilustre exilado persa. Os relatorios soaram intri­gantes ao Sultao 'Abdu'l-'Aziz porque este, embora fosse o Califa do Isla Sunita, se considerava um homem em busca das verdades misticas. Igual-mente importante, posto que de outra forma, foi a

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reacao do primeiro-ministro, 'All Pasha. Para este, estudante consumado da lingua e da literatura persa, como tambem defensor da modernizacao do governo turco, Baha'u'llah parecia uma figura ex-tremamente bondosa. Foi sem duvida esta combi-nacao de solidariedade e interesse que levou o go­verno otomano a convidar Baha'u'llah a capital, em vez de envia-Lo a lugar mais remoto ou entrega-Lo as autoridades persas, conforme estas exigiam.

69. Para o texto completo do relatorio do embaixador austriaco, Conde von Prokesch-Osten, em carta ao Comte de Gobineau, datada de 10 de Janeiro de 1886, v. Bdbl and Bahd'i Religions, pp. 186-87.

70. Revelation, vol. 2, p. 339. 71. Epistolas, p. 22. 72. Seleqao, pp. 135, 136. 73. Seleqao, pp. 159, 160. 74. Seleqao, p. 159. 75. Para uma descricao desses eventos, v. Revelation,

vol. 3, especialmente pp. 296, 331. 76. Para uma descricao dessa experiencia, v. A Presen-

qa de Deus, pp. 252-63. 77. Nos idos de 1850, dois lideres religiosos alemaes,

Christoph Hoffmann e Georg David Hardegg, cola-boraram no desenvolvimento da "Sociedade dos Templarios", com o objetivo de estabelecer na Ter­ra Santa uma ou mais colonias que iriam preparar o caminho para Cristo, em Sua volta. Tendo parti-do da Alemanha em 6 de agosto de 1868, o grupo de fundadores desembarcou em Haifa em 30 de ou-tubro de 1868, dois meses apos a chegada de Baha'u'llah.

78. Para uma descricao dos desastres que se abateram sobre a Turquia Europeia na Guerra Russo-Turca de 1877-78, v. o apendice III de Baha'u'llah: The

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King of Glory, pp. 460-62. 79. Epistle, p. 51. 80. Alistair Home, The Fall of Paris (London: Macmi-

llan, 1965), p. 34. 81. Citado em Shoghi Effendi, O Dia Prometido Che-

gou (Rio de Janeiro: Editora Baha'i do Brasil, I960), p. 41.

82. Citado em O Dia Prometido, p. 46. 83. Citado em 0 Dia Prometido, p. 44. 84. Citado em Shoghi Effendi, Citadel of Faith: Messa­

ges to America 1947-1957 (Wilmette: Baha'i Pu­blishing Trust, 1980), pp. 18-19.

85. Epistle, p. 14. 86. O Livro da Certeza, p. 14. 87. Citado em O Dia Prometido, pp. 102-3. 88. Citado em 0 Dia Prometido, p. 100. 89. Epistle, p. 99. 90. Citado em O Dia Prometido, p. 135. 91. Seleqao, p. 129. 92. Seleqao, p. 161. 93. Seleqao, p. 36. 94. Seleqao, p. 138. 95. Seleqao, pp. 126-27. 96. Epistolas, p. 80. 97. Epistolas, pp. 183-86. 98. Epistle, p. 11. A frase "Nao por Minha propria von-

tade" aparece no mesmo paragrafo, imediatamente antes do excerto citado.

99. O filho de Baha'u'llah, Mirza Mihdi, um jovem de 22 anos de idade, morreu em 1870 em uma queda acidental, resultante das condicoes em que a fami-lia estava aprisionada.

100.Seleqao, p. 65. 10LA Presenqa de Deus, pp. 143-46. 102.Citado em World Order of Baha'u'llah, p. 113.

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Baha'u'llah

103.Selegao, pp. 145-46. 104.Epistolas, p. 189. 105.Epistle, pp. 11-12. 106.Embora o decreto de banimento assinado pelo Sul-

tao 'Abdu'l-'Aziz jamais fosse formalmente revoga-do, as autoridades politicas responsaveis vieram a considera-lo letra morta, e assim deixaram claro que Baha'u'llah poderia fixar residencia fora das muralhas da cidade, se assim o desejasse.

107. A mansao, construida por um rico mercador arabe cristao de 'Akka, fora abandonada por ocasiao da irrupcao de uma epidemia na cidade. A proprieda-de foi inicialmente alugada e, alguns anos apos o passamento de Baha'u'llah, adquirida pela comuni-dade baha'i. O tiimulo de Baha'u'llah esta localiza-do em um Santuario nos jardins de Bahji e e agora ponto focal de peregrinacao para o mundo baha'i.

108.Para um resumo desse corpo de ensinamentos, v. World Order of Baha'u'llah, pp. 143-57, Principles of Baha'i Administration (London: Baha'i Pu­blishing Trust, 1973), de Shoghi Effendi, e Adib Taherzadeh, Administraqao Baha'i (Rio de Janei­ro: Editora Baha'i do Brasil, 1984). Uma traducao inglesa comentada do documento principal desse corpo de escritos, o Kitdb-i-Aqdas ("O Mais Sagra-do Livro"), estara sendo publicada no centenario do falecimento de Baha'u'llah, em 1992.

109.0 Advento da Justiqa Divina, p. 28. 110.Edward G.Browne, A Traveller's Narrative (New

York: Baha'i Publishing Company, 1930), pp. xx-xix-xl.

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Baha'u'llah

Glossario

'Abdu'l-'Aziz. - 0 Soberano do Imperio Turco que injustamente exilou Baha'u'llah de Constantinopla a Adrianopolis e, finalmente, a prisao de 'Akka.

'Abdu'1-Baha. - Filho mais velho de Baha'u'llah.

'Akka (Acre). - Cidade-prisao do Imperio Otomano na Palesti-na (Israel).

'Ali Pasha. - Primeiro Ministro do Imperio Otomano durante o exflio de Baha'u'llah em Constantinopla.

Abraao. - Manifestante de Deus que viveu no Oriente Medio ha cerca de 4 mil anos e que ensinou a unidade de Deus.

Adao. - Manifestante de Deus que inaugurou o ciclo anterior de revelacao - o ciclo Adamico.

Adrianopolis. - Cidade da provfncia europeia da Turquia.

Alcorao. - Livro Sagrado do Isla revelado a humanidade atra-ves do Profeta Maome.

Antigo Testamento. - O Livro Sagrado dos judeus.

Arnold Toynbee. - Historiador ingles nascido no seculo XIX.

Babi. - Seguidor do Bab.

Bagda. - Capital do Iraque.

Baha ' i . - Seguidor de Baha'u'llah.

Baha'u'llah. - Tftulo que significa Gloria de Deus, assumido por Mirza Husayn All, nascido em Teera, Persia, em 12 de novembro de 1817 e falecido em 29 de maio de 1892, em 'Akka, Palestina. Manifestante de Deus para esta era.

Bahji. - Mansao em area rural nas cercanias da cidade de 'Akka onde Baha'u'llah viveu os ultimos doze anos de Sua vida.

Buda. - Titulo que significa O Iluminado. Refere-se a Gauta­ma Buda, que fundou o Budismo no seculo V. Ele e consi-

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Baha'u'lldh

derado pelos baha'fs como Mensageiro de Deus.

Budismo. - A religiao fundada por Buda predominante na China e em alguns pafses vizinhos.

Constantinopla. - Pundada pelo Imperador romano Constanti­no, a cidade foi capital do Imperio Otomano e e agora conhecida como Istambul.

Cidade da Certeza. - A Palavra de Deus revelada pelos Men-sageiros de Deus em cada Dispensacao.

Cla. - Um grupo de pessoas com um ancestral comum, especial-mente sob controle patriarcal.

Conde de Gobineau. - Famoso historiador frances do seculo XIX.

Convenio. - O acordo feito pelo Mensageiro de Deus com seu povo, para que as pessoas aceitem e sigam o proximo Manifestante divino que sera o reaparecimento de Sua realidade.

Curdistao. - Terra natal dos curdos (localizada no norte do Iraque) parte do Iraque ocidental, parte do sudeste da Turquia e canto nordeste da Siria.

Dia de Deus. - A Dispensacao de cada Manifestapao divina, especialmente o periodo ou ciclo universal introduzido por Baha'u'llah.

Dispensacao. - 0 periodo de tempo durante o qual a autorida-de dos ensinamentos sociais ou temporais de um Manifes­tante de Deus e mantida. Cada Dispensacao comeca com a declaracao do Manifes­tante de Deus cujos ensinamentos ultrapassam aqueles da Dispensacao anterior.

Dogma. - Um princfpio, um postulado, ou um sistema doutri-nario estabelecido por alguma autoridade religiosa.

Doutrina. - Um corpo de ensinamentos - religiosos, poh'ticos, cientificos.

Edward G. Browne. - Professor de lingua persa na Universi-

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Baha'u'llah

dade de Cambridge, Inglaterra, que teve entrevista pesso-al com Baha'u'llah.

Ernest Renan. - Historiador frances, contemporaneo de Baha'u'llah.

Espirito Santo. - Entidade que atua como intermediaria entre Deus e Seus Manifestantes. "A ligacao e semelhante a dos raios solares que trazem energia do Sol para os planetas." A fim do Manifestante transmitir a Seus seguidores o fato de ser portador do poder de Deus, Ele usa uma lin-guagem simbolica concernente ao aparecimento do Espiri­to Santo a Ele. Assim, Moises ouviu a voz de Deus atra-ves da Sarca Ardente; Jesus, a pomba que desceu sobre Ele; Maome viu o anjo Gabriel; e Baha'u'llah refere-se a Jovem-Celestial que proclamou a Ele Sua missao.

Estados Papais. - O distrito central italiano sobre o qual o Papa exercia controle politico ate que foi incorporado a Italia em 1970.

Expectativa Messianica. - Expectativa inspirada na esperan-9a ou crenca da volta de Cristo.

Fu'ad Pasha. - Ministro das Relacoes Exteriores do Sultao Abdu'l-'Aziz.

Guerra Franco-Prussiana. - A Guerra entre Franca e o emergente estado germanico em 1870 que resultou na queda do Imperador Napoleao III.

Guilherme I - Rei da Prussia: 1861-88; imperador germanico: 1871-88.

Hinduismo. - Tradicional sistema de crencas religiosas funda-do na India.

Imperio Otomano - Imperio Turco governado pelos descen-dentes de Osman, ou Othman I.

Iraque. - Provfncia do Imperio Otamano que fazia fronteira com a Persia.

Isla - A religiao baseada no Alcorao, que foi revelada a humani-

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Baha'u'llah

dade atraves de Maome.

Isla Shiita. - Um dos dois grandes ramos do Isla.

Isla Sunita. - O outro grande ramo do Isla.

Judaismo - Religiao baseada nos ensinamentos de Moises.

Khurshid Pasha - Governador de Adrianopolis e um grande admirador de Baha'u'llah.

Krishna. - Profeta fundador do Hindui'smo.

Leon Tolstoy. - Escritor russo do seculo XIX.

Manifestante de Deus. - Os grandes Profetas de Deus, Seus Mensageiros escolhidos que aparecem em cada era. Os Manifestantes de Deus nao sao Deus descendo a Terra, mas sao, ao inves disso, reflexos perfeitos de Seus atribu-tos, como um espelho que reflete o Sol mas nao e o Sol. Todos os Manifestantes tern o mesmo espi'rito, embora Suas formas exteriores sejam diferentes atributos de Deus, relevantes as circunstancias da era em que apare­cem. Diferem apenas na intensidade de Sua revelacao e na potencia comparativa de Sua luz. Os escritos baha'fs identificam varios Mensageiros de Deus, entre eles: Abraao, Krishna, Moises, Zoroastro, Buda, Cristo, Mao­me, o Bab e Baha'u'll'ah. Os baha'fs creem ter havido outros Mensageiros de Deus, mas nao existe registro historico de seus nomes.

Maome - Profeta fundador da religiao muculmana, Islamismo.

Mazra'ih. - Nome da casa ao norte de 'Akka para o qual Baha'u'llah mudou-se depois da prisao domiciliar na cidade, e antes de ir residir definitivamente em Bahjf.

Mensageiro de Deus. - Denominacao igual a de Manifestante de Deus.

Milenio. - Periodo de mil anos, especialmente aquele profetiza-do do reino de Cristo na Terra. (Apocalipse 20:1-5) Periodo em que havera um governo justo, felicidade e prosperidade.

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Baha'u'llah

Mil ler i tas . - Grupo cris tao que esperava ans iosamente o retor-no de Cristo nos anos 1840.

Mirza H u s a y n K h a n . - Embaixador do I ra j un to ao Governo Turco e um dos maiores opositores de Baha 'u ' l lah .

Moises . - Manifes tante de Deus nascido no Egito, cerca de 1250 anos an tes de Cristo e que tirou o povo de Israel da escravidao, levando-o a Terra Promet ida e que, no Monte Sinai , recebeu os Dez Mandamentos .

M o n t e Carmelo . - Mon tanha em Haifa, Israel , a qual Isa ias referiu-se como Montanha do Senhor. Local onde e s t a estabelecida a sede mundia l da Fe Baha'f e onde se en-contra o San tuar io do Bab.

M o v i m e n t o T e m p l a r i o . - Movimento p ro tes tan te germanico cujos membros foram res idi r no Monte Carmelo em Haifa, no seculo XIX, porque acredi tavam ser iminente o re torno de Cristo.

Nabi l . - Grande his tor iador da Fe Baha'f do perfodo do Bab e de Baha 'u ' l lah .

N a $ o e s U n i d a s . - U m a confederacao de pai'ses formada como resu l tado da Segunda Guerra Mundial pa ra m a n t e r a paz e promover a resolucao de conflitos a t raves do dialogo, em vez da fore a.

N a p o l e a o III. - 0 Imperador da F ranca que recebeu duas Epi'stolas de Baha 'u ' l lah .

Nasir i 'd -Din S h a h . - O rei t i rano da Pers ia que du ran te quase meio seculo de seu re inado autorizou o martfrio do Bab e de mi lhares de Seus seguidores e baha 'fs .

O B a b - A Porta. O ti'tulo assumido por Siyyid 'Ali-Muhammad (1819-1850), o Precursor de Baha 'u ' l lah, Profeta-Funda-dor da Fe Babi.

O r i e n t e Medio . - Os pafses do sudoeste da Asia e do norte da Africa.

P a l a v r a d e D e u s . - Mensagem de Deus a human idade revela-

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Bahd'u'lldh

da atraves de cada um dos Manifestantes de Deus.

Pales t ina . - Provincia do Imperio Otomano agora dividida entre Israel e seus vizinhos arabes.

Papa Pio IX. - 0 Ponti'fice da Igreja Catolica que recebeu uma Epistola de Baha'u'llah.

Pasha. - Ti'tulo honorifico dado a autoridade turca de alto nivel.

Paz Maxima. - Pen'odo de tempo no qual sera estabelecida uma paz permanente e duradoura. Os baha'i's acreditam que ela sera baseada no reconhecimento de Baha'u'llah e na adocao de Suas leis e ensinamentos.

Rainha Vitoria. - Rainha do Reino Unido da Gra Bretanha e Irlanda de 1837 ate sua morte em 1901.

Reino da Italia. - Estabelecido no seculo XIX pela integracao forcada dos estados papal e secular.

Ridvan, Jardim do. - Local situado nas cercanias de Bagda, onde Baha'u'llah declarou publicamente Sua missao, em 1863.

Sarah Bernhardt. - Famosa atriz do seculo XIX.

Shah. - Rei. Ti'tulo usado no Ira.

Shah-Bahram. - Ti'tulo do Prometido do Zoroastrismo e que se refere a Baha'u'llah.

Shaykhu'l-Islam. - Sumo sacerdote dos muculmanos em um cidade.

Shiraz. - Cidade no sul do Ira que foi palco da abertura da Era Babi com a declaracao do Bab em 23 de maio de 1844.

Siyah-Chal. - 0 Poco Negro. A prisao subterranea em Teera, na qual Baha'u'llah esteve preso em 1852, por 4 meses, e na qual recebeu a primeira inspiracao de Sua missao Divina de Manifestante de Deus.

Sultao. - Rei, soberano, especialmente em um pafs mucuimano.

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Baha'u'llah

Teera. - A capital do Ira.

Terra Santa. - Palestina Ocidental (Israel). Terra reverencia-da como sagrada pelos seguidores de Abraao, Moises, Jesus Cristo, Maome e Baha'u'llah.

Tradicoes Islamicas. - Coletanea de historias das palavras e feitos de Maome. Com base nessas Tradicoes (Hadith), os muculmanos modelam suas vidas. O Isla Shiita inclue tambem historias dos Imames, que sao considerados sem pecados e infaliveis.

Zoroastrismo. - Religiao fundada pelo Profeta Zoroastro.

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A medida que o novo milenio se aproxima, a necessidade crucial do genero humano e encontrar uma visao unificadora da natureza do homem e da sociedade...

Tal visao se descortina nos escritos de Baha'u'Uah , a figura profetica do seculo XIX cuja crescente influencia e o fato mais extraordinario da historia religiosa contemporanea...

... Baha'u'Uah afirmou ser ninguem menos que o Mensageiro de Deus para a era da maturidade humana, o Portador de uma Revelacao Divina que cumpre as promessas feitas nas religioes anteriores e ha de gerar a forca e o vigor espirituais necessarios a unificacao dos povos do mundo...

Toda a documentacao esta aberta a exame geral. Pela primeira vez na historia, a humanidade tern a disposicao um registro detalhado e verificavel do nascimento de um sistema religioso independente e da vida de seu Fundador.

Trechos da Introducao deste livro, que trata da vida e obra de BAHAU'LLAH, o Fundador da Fe Baha'i.

BAHA'f