Arroz Epamig Ia Nr 222

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  • I n f o r m e A g r o p e c u r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 2 , p . 4 1 - 4 8 , 2 0 0 4

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    lamento do terreno seja realizado de talmaneira que a camada mais frtil, ou seja, ohorizonte A, seja deixado na superfcie,evitando, dessa forma, maiores problemasde fertilidade da rea. Alm disso, neces-srio que se construa uma rede de estradasinternas que facilitem a movimentao domaquinrio e o transporte do arroz para forada lavoura.

    Consideraes a respeito da sistema-tizao:

    a) tendo em vista a movimentao dosolo, recomenda-se que a rea aser sistematizada seja a mais planapossvel. Em reas mais declivosas,deve-se primeiro retirar a camada ar-vel (0 a 20 cm), realizar o nivelamen-to e, em seguida, distribuir uniforme-mente o solo sobre a rea plana;

    b) o solo deve ser apropriado inun-dao - os argilosos perdem menosgua que os arenosos. Solos comhorizonte B impermevel so maisrecomendados;

    c) o sistema de irrigao e drenagemdeve ser muito bem planejado. A inun-dao e/ou drenagem da rea devemser realizadas com a maior agilidadepossvel, tendo em vista que estasoperaes so fundamentais para osucesso do cultivo;

    d) o sistema pr-germinado normalmen-te apresenta problemas de sustenta-o do solo ao trfego das mquinase equipamentos. Por isso, recomen-dvel que os canais de drenagemsejam eficientes na retirada da guados quadros.

    SOLOS

    Os solos mais adequados para a culturado arroz irrigado so os planos, argilosos,com camada subsuperficial pouco perme-vel. Entretanto, outros tipos de solo podem

    ser utilizados, inclusive orgnicos, quandodevidamente sistematizados.

    PREPARO DO SOLO

    So inmeras as formas do preparo dosolo no sistema pr-germinado. Contudo,todas elas tm por finalidades a formaode lama (Fig. 3) e o perfeito nivelamento ealisamento da superfcie do solo. A maio -ria dos p rodutores, aps o a lisamento f i-nal (Fig. 4), faz pequenos sulcos na super-fcie do solo para um melhor escorrimentoda gua no momento da drenagem, nor-malmente trs a cinco dias aps a se mea-dura.

    Tendo em vista que a maioria das ope-raes m ecnicas realizada dentro dagua ou com o solo encharcado, as mqui-nas e equipamentos a serem utilizados sodiferentes daqueles usados em cultivos desequeiro. Nesse caso, utilizam-se mquinase equipamentos com rodas de maior reade contato, chamadas rodas gaiola (Fig. 5),rodas de ferro auxiliares ou rodas em V(Fig. 6), as quais so adaptadas para entrardentro da lavoura com a cultura j implan-tada.

    A prancha alisadora e a roda gaiola soimplementos muito importantes para osistema pr-germinado e no so utilizadasnos demais sistemas de cultivo do arroz.

    Figura 2 - rea sistematizada

    Figura 3 - Formao de lama com rolo

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    Figura 4 - Alisamento final e sulcamento para drenagem superficial

    Figura 6 - Pulverizao com roda em V

    ADUBAO

    No sistema pr-germinado, alm da fer-tilidade natural do solo, a adubao estrelacionada com as diversas condiesde cultivo, como histrico da rea, manejoda gua de irrigao, cultivar a ser utilizada,condies meteorolgicas, dentre outras.

    A cultivar utilizada deve ser compat-vel com a fertilidade da rea, o tipo de solo(orgnico ou mineral), a adaptao regionale a reao ao acamamento e s doenas.

    O histrico da rea com cultivos ante-riores fornece informaes importantes, taiscomo distrbios nutricionais (toxidez porferro e salinidade) e, principalmente, a ocor-rncia de doenas, especialmente a bruso-ne (Pirycularia grisea ).

    A recomendao de adubao develevar em conta estes fatores, que poderodeterminar o sucesso ou o fracasso da adu-bao.

    Adubao de base:fsforo (P) e potssio (K)

    Estes dois elementos essenciais s plan-tas, para serem melhor utilizados pela cul-tura, devem ser incorporados ao solo du-rante a formao da lama ou do alisamentodos quadros.

    O costume de alguns produtores de pra-ticar a adubao com P e K, durante o perfi-lhamento das plantas, reduz o aproveita-mento destes nutrientes.

    As fontes de P e K mais utilizadas soo superfosfato triplo (42% P2 O5) ou super-fosfato simples (18% P2 O5) e o cloreto depotssio (60% K 2O). Quando forem utili-zadas f rmulas pront as, estas devem seradequadas s anlises de solo. As quan-tidades d estes n utrientes, r ecomendadaspara Minas Gerais e Santa Catarina, estonos Quadros 1 e 2, r espectivamente.

    Adubao de cobertura:nitrognio (N)

    A adubao de cobertura com N baseia-se no teor de matria orgnica do solo.Entretanto, o tcnico dever, cuidado-samente, observar o histrico da rea, a

    Figura 5 - Detalhe da roda gaiola

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    cultivar a ser utilizada e o acompanhamen-to anterior da cultura.

    reas novas, comumente, requeremmaiores cuidados, pois o excesso de N libe-rado pelo solo provoca desequilbrio entreN, P e K.

    Cultivos anteriores que tenham mos-trado ocorrncia de brusone, falhas noenchimento dos gros ou acamamento po-dem indicar desequilbrio nutricional, emgeral, devido ao excesso de N.

    Indica-se como fonte de N a uria (45%N) ou o sulfato de amnio (21% N), por se-rem os fertilizantes amoniacais mais acon-selhados para a cultura do arroz irrigado.

    As quantidades de N a serem aplicadasobedecem, em princpio, a recomendaodo Quadro 3, podendo, a critrio do tcni-

    co, sofrer modificaes em funo deocorrncias anteriores, cultivar e estadonutricional da cultura no momento daadubao de cobertura.

    Quando recomendadas quantidadesinferiores a 50 kg/ha, pode-se dispensar ofracionamento. N este c aso, a plica-se ofertilizante em cobertura, pouco antes dadiferenciao do primrdio floral.

    Quando a recomendao for de 50 kgde N ou mais por hectare, deve-se fracionara dose, ou seja, 50% da dose no incio doperfilhamento (quarta folha), o que ocorrede 20 a 25 dias aps a emergncia, e, 50%,pouco antes do ponto de algodo, quevaria de 55 a 65 dias aps a emergncia,para cultivares de ciclo precoce ou mdio.

    Para cultivares de c iclo longo (acimade 135 dias), recomenda-se o fracionamentoem trs vezes, no in cio do perfilhamentoaos 20 a 25 dias, no perfilhamento plenoaos 50 a 55 dias e no incio da diferenciaodo primrdio floral aos 70 a 80 dias.

    A adubao de cobertura no exige reti-rada de gua, apenas abaixa-se o nvel dagua ao mnimo, para evitar infestaes darea por plantas daninhas e perdas de nutri-entes. Aps a adubao de cobertura (trsa cinco dias), recoloca-se gua no nvel ne-cessrio.

    O aspecto visual da cultura importan-te e , em casos de vegetao exuberante,pode-se diminuir ou at mesmo dispensara adubao de cobertura.

    Em casos de ocorrncia sistemtica detoxidez por ferro, recomenda-se aumentara dose e o nmero de operaes da aduba-o nitrogenada.

    Quando o cultivo for realizado nas re-gies Centro-Oeste, Norte e Nordeste bra-sileiros, deve-se f icar atento ao ciclo doscultivos, bem como ao maior consumo denitrognio, causado pelas altas temperatu-ras e, por conseqncia, maior metabolismodas plantas.

    CALAGEM

    No necessria a aplicao de calc-rio para a correo do solo (solo mineral)na cultura do arroz irrigado.

    Entretanto, pode-se recomendar calc-rio:

    a) quando a anlise de solo indicar teo-res de clcio (Ca) mais magnsio (Mg),inferiores a 5cmolc/L, recomenda-seaplicar 1t/ha de calcrio dolomticocomo nutriente;

    b) para m inimizar e feitos t xicos d eferro, devem-se fazer anlises espe-ciais;

    c) em solos orgnicos, a calagem po-der ser necessria em doses maiselevadas - neste caso recomenda-seprocurar orientao tcnica especia-lizada.

    TOXIDEZ POR FERRO

    Entende-se por toxidez por ferro os efei-tos causados pelo excesso de ferro em so-luo no solo.

    Existem dois tipos de toxidez por ferro,a direta e a indireta.

    20 90 60 30 70 45 20 70

    Quadro 1 - Adubao NPK (kg/ha) recomendada para o arroz irrigado, em Minas Gerais

    FONTE: Ribeiro et al. (1999).NOTA: B - Baixo; M - Mdio; A Alto.

    Nos solos turfosos ou com altos teores de MO, no se deve aplicar N no plantio.Para aplicaes de fertilizantes a lano, recomenda-se que as quantidades sejam elevadas em50%.

    Teor de K no soloN

    (cobertura)

    P2O5 K2O

    N(cobertura)

    Teor de P no solo

    B M A B M A

    Fsforo (P) kg de P2 O5 /ha< 3,0 Muito baixo 40

    3,1 a 6,0 Mdio 40> 6,0 Bom 20

    Potssio (K) kg de K2 O/ha< 30 Muito baixo 80

    31 a 60 Mdio 40> 60 Bom 40

    QUADRO 2 -Adubao de base com P e K r e-comendada para o arroz irrigado,em sistema pr-germinado, paraSanta Catarina

    Recomendao

    FONTE: Comisso de Fertilidade do Solo - RS/SC(1994).

    Teor no solo(mg/L) Interpretao

    < 2,5 Muito baixo 80 - 90

    2,5 a 5,0 Mdio 60 - 80

    > 5,0 Bom 30 - 60

    QUADRO 3 - Adubao de cobertura com nitro-gnio, e m a rroz i rrigado, n o s is-tema pr-germinado para SantaCatarina

    Recomen-dao

    (kg de N/ha)

    Teor de matria orgnica

    (%)

    Interpre-tao

    FONTE: Comisso de Fertilidade do Solo - RS/SC(1994).

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    A toxidez direta ocorre, quando, atra-vs da reduo do solo, h transformaode compostos oxidados de ferro da formafrrica (Fe+3) para a forma de ferrosa (Fe+2),sendo esta ltima mais solvel e absorvi-da em excesso pelas plantas. A toxidez di-reta , portanto, um excesso de absorode Fe+2 e manifesta-se atravs da formaode numerosas pontuaes minsculas nasfolhas mais velhas, conferindo-lhes colo-rao marrom ou arroxeada. Esta forma detoxidez parece afetar muito pouco a pro-dutividade.

    A toxidez indireta causada pela pre-cipitao de Fe+3 sobre as razes e colo dasplantas. Durante a respirao, a planta eli-mina oxignio atravs das razes e h, comesse processo, a reoxidao do Fe +2 (maissolvel) em Fe +3 (pouco solvel). O fer-ro frrico (Fe+3) precipita sobre as razes eforma uma capa cor de tijolo, bloqueando aabsoro pela planta de outros elementos,como clcio, magnsio, fsforo, potssio,nitrognio, zinco.

    Os sintomas so identificados pela des-colorao das folhas, que se mostram ama-relas ou alaranjadas. A toxidez indireta comumente conhecida como alaranjamen-to. Esta forma de toxidez pode causar pre-juzos de 10% a 80% na produo de gros,de acordo com sua intensidade.

    As Figuras 7 e 8 mostram sintomas ca-ractersticos de plantas com toxidez diretae indireta, respectivamente.

    Mtodos de controle datoxidez por ferro

    Os principais mtodos de controle detoxidez por ferro so os seguintes:

    a) drenagem durante o ciclo da cultura:esta prtica tem o efeito de reoxidaros compostos reduzidos pela irriga-o. Para que a drenagem atinja oobjetivo necessrio que o solo se-que por completo, o que demandaum longo perodo de suspenso dairrigao;

    b) calagem: pode ser utilizada, mas,dependendo da rea a ser corrigida eda quantidade a ser empregada, pode

    no ser econmica. Recomendam-se, para este fim, anlises e estudosmais aprofundados para cada caso;

    c) nitrognio: o fracionamento da adu-bao de cobertura em maior nmerode vezes, bem como doses maioresque as normais, podem amenizar oproblema, sem contudo resolv-lo;

    d) pr-inundao da rea: antecipa opico mximo de disponibilidade deFe+2, evitando-se a fase crtica que a diferenciao do primrdio floral;

    e) cultivares tolerantes: a soluo maiseconmica e vivel o uso de culti-vares tolerantes. Nas reas em que

    o problema ocorre, em quadros no-vos ou recm-sistematizados, deve-se evitar a semeadura de cultivaressuscetveis toxidez por ferro.

    GUA DE IRRIGAO

    Quantidade

    A cultura do arroz, devido s suas ne-cessidades h dricas, t em c omo m todomais apropriado de cultivo o uso da irriga-o por inundao. Em geral, cada hectarecultivado com arroz consome entre 7 mil e10 mil m3/ha de gua, durante o seu ciclo.No sistema pr-germinado, a gua pode serclassificada em tr s categorias: gua para

    Figura 7 - Toxidez direta de ferro

    Figura 8 - Toxidez indireta de ferro

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    saturao do solo e formao da lama, guapara evapotranspirao e gua para com-pensar as perdas na conduo, infiltraoprofunda e infiltrao later al atravs dastaipas. No sistema pr-germinado, a maiordemanda por gua oco rre por ocasio doalagamento da rea para o preparo do so-lo. Outra fase de grande demanda ocorreaps a aplicao de herbicidas em pulveri-zao, pois a gua deve ser reposta em, nomximo, 48 horas.

    Para a manuteno da lmina d gua,geralmente a vazo de 1,0 L/s/ha sufi-ciente.

    Qualidade

    Na anlise da qualidade da gua, devem-se considerar todos os problemas decor-rentes de produtos lanados ou existentesnela e que possam vir a prejudicar a pro-dutividade e a qualidade do arroz, o soloou a prpria sade humana e animal. Co-mo exemplo podem-se citar os rejeitos daextrao mineral, rejeitos industriais, agro-txicos, salinidade etc. O principal proble-ma da qualidade da gua no Brasil refere-se a salinidade.

    Os sintomas visuais de toxicidade, de-vido ao excesso de sais na gua de irriga-o, variam em funo do estdio das plan-tas, da cultivar e da concentrao de saisna gua. Os perodos mais crticos em queocorrem os maiores danos so na fase deplntula e no florescimento. Em solos sa-linos sdicos, o gesso (CaSO42H2O) podeser utilizado como corretivo para lixiviar ossais da superfcie.

    Em locais onde a salinidade even-tual, motivada pela estiagem ou mars,recomenda-se deixar de irrigar a lavoura dearroz, quando a condutividade eltrica atin-gir 2,2 mS/cm. Uma medida prtica para osprodutores rurais, a de no utilizar a guapara irrigao, quando esta apresentar umteor de sal superior a 0,5 g/L.

    Manejo da gua

    No sistema de cultivo pr-germinado, airrigao feita pelo mtodo da inundaoou alagamento. Esse mtodo, alm de su-

    prir a necessidade de gua para as plantas,auxilia na formao da lama, na liberaode alguns nutrientes como fsforo, pots-sio, clcio e magnsio, dentre outros, noaumento do pH do solo e no controle dasplantas daninhas.

    Na entressafra, recomenda-se deixar osolo drenado, a fim de permitir sua aerao,o que facilitar a germinao das sementesde plantas daninhas e a decomposio damatria orgnica. A manuteno de umalmina d gua durante esse perodo reduza germinao das plantas daninhas napoca da implantao da lavoura. Essa con-dio tambm favorece o desenvolvimentode plantas daninhas aquticas, que pode-ro produzir sementes e aumentar o pro-blema.

    Em reas infestadas com arroz verme-lho, recomenda-se o alagamento do solopor 20 a 30 dias antes da semeadura. Essaprtica impede a germinao das sementesabaixo da camada oxidada do solo. As pln-tulas provenientes das sementes que ger-minaram antes do alagamento sero des-trudas, por ocasio da formao da lama.Aps esta formao, recomenda-se deixara gua parada no quadro, para que ocorraa decantao da argila e, em seguida, realizara semeadura.

    SEMEADURA

    A semeadura feit a pela distribuiouniforme a lano das sementes pr-germi-nadas, nos quadros nivelados e inundados.A pr-germinao das sementes consisteno aceleramento do processo natural degerminao, por meio da hidratao, ouseja, imerso das sementes em gua, du-rante 24 a 48 horas, acondicionadas emsacos ou tanques. Aps este perodo, assementes so retiradas da gua e colocadas sombra por igual perodo (24 a 48 ho-ras), fase esta conhecida como incubao.Durante este perodo, ocorre a emisso docoleptilo e da radcula, que caracterizam oprocesso de pr-germinao. Por ocasioda semeadura, estas estruturas no devemter ultrapassado 2 mm de comprimento, pa-ra evitar seu rompimento e amontoamento

    das sementes a serem lanadas sobre a l-mina dgua.

    Para que a semeadura seja facilitada,recomenda-se execut-la no perodo do diaem que o vento seja mnimo e a gua dosquadros esteja limpa. Dessa forma, o de-senvolvimento das plntulas sob a lminadgua ser mais fcil.

    A densidade de semeadura deve possi-bilitar o estabelecimento de, aproximada-mente, 300 plntulas por metro quadrado.Como parmetro geral, para todas as culti-vares e pocas de semeadura, devem-seutilizar entre 400 e 500 sementes aptas pormetro quadrado. A quantidade de sementesa ser utilizada pode ser calculada em funodo peso de mil sementes e do poder germi-nativo delas.

    CONTROLE DASPLANTAS DANINHAS

    No sistema pr-germinado aparecempraticamente as mesmas espcies de plan-tas daninhas que ocorrem nos demais.Todavia, em funo do alagamento do so-lo por um perodo maior, comum o apa-recimento de plantas daninhas de hbitosaquticos, especialmente a Sagitariamontevidensis (sagitria), a Heteranterareniformis (aguap) e a Luziola peruviana(grama-boiadeira).

    Os mtodos de aplicao de herbicidastambm so praticamente aqueles realiza-dos nos demais sistemas, tendo como nicadiferena o sistema de aplicao em ben-zedura

    A aplicao em benzedura realizadana lmina dgua com as plantas daninhasencobertas por ela. Para os herbicidas Siriuse Gamit, o capim-arroz deve estar no est-dio de at duas folhas, e para os herbici-das Facet, Ordran e Satanil, no mximo trsfolhas.

    importante que os quadros estejambem nivelados. Os produtos devem seraplicados diludos em gua (20-40 L/ha),com auxlio de pulverizador costal sem bi-co. Deve-se evitar a circulao de gua entreos quadros por um perodo mnimo de quin-ze dias.

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    CONTROLE DE PRAGAS

    Da mesma forma que para as plantasdaninhas, as pragas que ocorrem no sis-tema p r-germinado so p raticamente a smesmas dos demais sistemas. O diferen-cial est no ataque dos adultos da bichei-ra da raiz ( Oryzophagus oryzae ), nos

    Insumos

    Semente kg 150

    Superfosfato triplo kg 100

    Cloreto de potssio kg 130

    Adubo de cobertura (uria) kg 200

    Preparo do solo

    Arao h/t 2,0

    Rotavao h/t 3,0

    Renivelamento e alisamento h/t 2,0

    Adubao de base e cobertura h/m 1,0

    Semeadura h/m 1,0

    Manejo da lavoura

    Irrigao e drenagem d/H 2,0

    Manejo da gua d/H 3,0

    Manuteno de canais e taipas d/H 4,0

    Tratos culturais

    Aplicao de herbicidas h/t 1,0

    Aplicao de inseticidas d/H 0,5

    Aplicao de adubo em cobertura (3 vezes) h/t 3,0

    Colheita

    Colheita % da produo 10

    Transporte i nterno h/t 1,5

    Mo-de-obra auxiliar d/H 0,25

    Secagem % da produo 3

    Produo

    Produo mdia de arroz sc/50 kg 150

    REFERNCIAS

    COMISSO DE FERTILIDADE DO SOLO - RS/SC. Recomendaes d e a dubao e ca lagempara os estados do Rio Grande do Sul e deSanta Catarina. 3.ed. Passo Fundo, 1995. 223p.

    EBERHARDT, D.S. Consumo de gua em lavourade arroz irrigado sob diversos mtodos de pre-paro do solo. In: REUNIO DA CULTURA DOARROZ IRRIGADO, 20., 1993, Pelotas. Anais...Pelotas: EMBRAPA-CPACT, 1993. p.173-176.(EMBRAPA-CPACT. Documentos, 1).

    MARCOLIN, E.; CORREA, N.I.; LOPES, M.S.;MACEDO, V.R.M.; MARQUES, J .B.B.Determinao do consumo de gua em trs siste-mas de cultivo de arroz irrigado. In: CONGRESSOBRASILEIRO DE ARROZ IRRIGADO, 1.; REU-NIO DA CULTURA DO ARROZ IRRIGADO,23., 1999, Pelotas. Anais... Pelotas: EmbrapaClima Temperado, 1999. p.263-265.

    RIBEIRO, A.C.; GUIMARES, P.T.G.; ALVAREZV., V.H. (Ed.). Recomendao p ara o u so d ecorretivos e fertilizantes em Minas Gerais:5a aproximao. Viosa, MG: Comisso de Ferti-lidade do Solo do Estado de Minas Gerais, 1999.359p.

    coleptilos das sementes, logo aps a se-meadura.

    COEFICIENTES TCNICOS

    No Quadro 4 so apresentados os coefi-cientes tcnicos para clculo de 1 hectarede arroz irrigado, no sistema pr-germinado.

    QUADRO 4 - Coeficientes tcnicos para clculo de custo de produo de 1 ha de arroz irrigado, nosistema pr-germinado, para reas cultivadas de, aproximadam ente, 10 a 30 ha

    Coeficiente tcnicoEspecificao Unidade

    NOTA: d/H dia/homem; h/t hora/trator; h/m hora/mquina.

    BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

    BACHA, R.E.; HOSSNER, L.R. Characteristicsof coating formed on rice roots as affected byiron and manganes e additions. Soil ScienceSociety of America Journal , Madison, v .41,p.931-935, 1977.

    CIAT. Qumica de los suelos inundados : guiade estudio. Cali, Colombia, 1981. 35p.

    EPAGRI. A cultura do arr oz irrigado pr-germinado. Florianpolis, 2002. 273p.

    _______. Sistema de produo para arrozirrigado em Santa Catarina (pr-germi-nado). Florianpolis, 1998. 79p. (EPAGRI.Sistemas de Produo, 32).

    INSTITUTO RIO GRANDENSE DO ARROZ.Arroz irrigado: recomendaes t cnicas d apesquisa para o sul do Brasil. Porto Alegre, 2001.128p.

    REUNIO DA CULTURA DO ARROZ IRRIGADO,22., 1997, Balnerio Cambori. Arroz Irrigado:recomendaes tcnicas da pesquisa para o sul doBrasil. Itaja: Epagri/Pelotas: EMBRAPA-CPACT/Cachoeirinha: IRGA, 1997. 80p.

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    52 Arroz: avanos tecnolgicos

    1Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTSM, Caixa Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrnico: [email protected] Agro, D.Sc., Prof. UFLA - Dep to Agricultura, Caixa Postal 37, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrnico: [email protected] Agr o, D .Sc., Pesq. Embrapa Arroz e Feijo, C aixa Postal 179, C EP 75375-000 S anto Antonio de Gois-GO. C orreio e letrnico:

    [email protected]

    INTRODUO

    O plantio direto (PD) consiste na semea-dura direta sem as operaes primrias esecundrias no solo (araes e gradagens),feitas sobre uma cobertura vegetal previa-mente dessecada por herbicidas (DERPSCH,1984).

    Alm de novas tecnologias que so fre-qentemente adotadas pelos produtores,visando, principalmente, reduo de custose aumento da produtividade, sem compro-meter a qualidade dos produtos, h um apreocupao crescente de preservar o meioambiente, com o uso de tecnologias auto-sustentveis.

    O aspecto conservacionista do PD, semdvida, tem merecido destaque e incenti-vado o seu uso, impulsionado pela novamentalidade de agricultura sustentvel napreservao dos recursos naturais, ondeas perdas de solo e gua so mnimas. No

    Plantio direto em arroz

    Moizs de Sousa Reis1

    Antnio Alves Soares2

    Cleber Morais Guimares3

    plantio convencional (PC) empregado hoje,revolve-se excessivamente a camada ar-vel pelo uso intensivo de implementos,resultando em compactao da camada su-perficial, desagregao do solo, selamentosuperficial etc. Assim, iniciam-se os proces-sos erosivos, comprom etendo o potencialprodutivo do solo, a economia do sistemae o meio ambiente.

    Dentre os efeitos positivos do PD, pode-se destacar o controle quase total da ero-so, com perdas mnimas de solo e gua eatenuao da temperatura e da amplitudetrmica do solo, o que favorece a ao dosmicroorganismos e da mesofauna do solo,alm de melhorar a absoro de nutrientespelas plantas. Promove tambm uma me-lhor manuteno da umidade do solo peloefeito da cobertura morta, tem ao comoreserva de nutrientes, cuja liberao paula-tina, e, finalmente, exerce controle parcial

    de plantas daninhas, dificultando sua ger-minao ou impedindo sua emergncia(LANDERS, 1995). Entretanto, esses efei-tos positivos podem no existir se no hou-ver a devida ateno para a cobertura morta.Nos cerrados, no entanto, tem sido difcil aformao e, principalmente, a manutenode volume de palhada em quantidade paraproteger plenamente a superfcie do solo.Altas temperaturas associadas umidadeprovocam a rpida decomposio dos res-duos vegetais. A experincia tem mostradoque nos cerrados, o cultivo do milheto paraformao da cobertura morta, tem sido umaboa alternativa para o grande impulso noPD. Seu cultivo geralmente feito no finalou na entrada do perodo chuvoso.

    O uso do PD no cultivo do arroz de terrasaltas ainda bastante incipiente. Trabalhosde pesquisa esto sendo empreendidosna busca de informaes para tornar essa

    Resumo - O uso do plantio direto no cultivo do arroz de terras altas ainda bastante inci-piente. Trabalhos de pesquisa esto sendo empreendidos na busca de informaes paratornar essa prtica vantajosa para o orizicultor de terras altas. Alguns autores afirmamque faltam apenas melhores ajustes para tornar a cultura vivel. Na cultura do arrozirrigado, a tcnica teve boa aceitao no Rio Grande do Sul, pois alm de propiciar umbom controle do arroz vermelho, considerado o maior problema da orizicultura gacha,pelas altas infestaes, proporciona vantagens como reduo de custos de produo,semeadura em poca mais adequada e melhor integrao lavoura-pecuria. A utilizaodo arroz de terras altas, em plantio direto, como componente de sistemas agrcolassustentveis, e o uso desta tcnica de cultivo em arroz irrigado podero incrementar aproduo de arroz, tendo em vista os benefcios proporcionados orizicultura.

    Palavras-chave: Oryza sativa. Arroz de terras altas. Arroz irrigado. Cultivo.

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    prtica vantajosa para o orizicultor de terrasaltas. Na cultura do arroz irrigado, no entan-to, a adoo do sistema tida como a solu-o potencialmente capaz de minimizar ascrescentes infestaes do arroz vermelho.

    Este trabalho tem como objetivo levar,aos produtores de arroz de terras altas e dearroz irrigado, informaes tcnicas sobreos sistemas de cultivo sob PD.

    PLANTIO DIRETO DEARROZ DE TERRAS ALTAS

    O uso do PD no cultivo do arroz de ter-ras altas encontra-se em fase de pesquisas eno se tm, ainda, resultados conclusivosacerca do benefcio que ele possa propor-cionar.

    O arroz uma planta com sistema ra-dicular frgil, que ao ser cultivada em con-dies a dversas t em c omprometida s uacapacidade de absorver gua e/ou nutrien-tes. Conforme Guimares e Moreira (2001),o sistema radicular do arroz diminudo como aumento da densidade do solo a partirde 1,2 g/cm3. Resultados similares foramobservados por Rosolem et al. (1994) eFernandez e t al. (1995). Conforme Atwell(1990), o crescimento das razes seminais ,tambm, muito sensvel compactao dosolo. Esse autor verificou um crescimentode 0,6 e 1,78 cm dia-1, em solo compactadoe d escompactado, r espectivamente. P oroutro lado, Grohmann e Queiroz Neto (1966)observaram uma total inibio do crescimen-to radicular de plntulas de arroz nas den-sidades do solo superiores a 1,38 g cm -3.

    O preparo do solo o melhor mtodo iden-tificado at o momento para o arroz de terrasaltas, pois consiste em passar a grade ara-dora, para triturao e pr-incorporao dosresduos orgnicos, seguida da arao pro-funda (30-40cm), preferencialmente comarado de aivecas, concluda, se necessrio,com gradagem de nivelamento/destorroa-mento (SEGUY et al., 1984 apud KLUTH-COUSKI, 1998).

    Alguns trabalhos de pesquisa demons-tram rendimentos inferiores para o arroz deterras altas em PD, quando comparado comoutros sistemas. Kluthcouski (1998) , porexemplo, obteve rendimentos superiores de

    at 46%, com uso de implementos, compa-rados ao PD. O autor atribuiu o fraco desem-penho a problemas com o perfil do solo,afirmando que, onde domina a microporo-sidade e horizontes superficiais compacta-dos, sempre acarreta baixas produtividadesde arroz.

    As experincias com PD na cultura doarroz de terras altas so poucas. Entretan-to, resultados de experimentos conduzidosna Embrapa Arroz e Feijo indicam que odesempenho da cultura neste sistema de

    cultivo melhora com o passar dos anos(STONE et al., 1984). O aumento do contedode matria orgnica com o tempo no sistemae o efeito das razes das culturas de cober-tura na reestruturao do solo podem redu-zir a densidade deste (STONE et al., 2002).

    Stone et al. (2002) verificaram que asprodutividades do arroz de terras altas sobPD e no preparo com arado foram na m-dia de quatro anos, respectivamente, 32%e 21% superiores obtida no preparo comgrade (Quadro 1). Verifica-se no Quadro 2

    Grade aradora (10-15 cm) 1.662 1.971 1.205 1.643 1.620 b (100)Arado de aiveca (30 cm) 1.805 2.017 1.796 2.203 1.955 a (121)Plantio direto 2.710 1.152 2.179 2.548 2.147 a (132)

    CV (%) 3 0,4

    DMS (kg/ha) 251,2

    QUADRO 1 - Produtividades de arroz relativas aos sistemas de preparo do solo e ao perodo 1998/1999-2001/2002

    Produtividade(kg/ha)

    FONTE: Stone et al. (2002).NOTA: CV Coeficiente de variao; DMS Distncia mnima significativa.(1) Mdias da anlise conjunta, seguidas pela mesma letra no diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%de probabilidade; valores entre parnteses so relativos comparao com a grade.

    Sistema de preparo

    1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 Mdia(1)

    FONTE: Stone et al. (2002).NOTA: Mdias seguidas pela mesma letra, na coluna, dentro de cada camada de solo, no apresentam

    diferenas significativas a 5% pelo teste de Tukey.

    0 - 10 cm 0 - 10 cmGrade aradora (10-15 cm) 1,41 a 0,467 aArado de aiveca (30 cm) 1,31 a 0,505 aPlantio direto 1,32 a 0,501 a

    10 - 20 cm 10 - 20 cmGrade aradora 1,48 a 0,446 aArado de aiveca 1,38 b 0,479 aPlantio direto 1,36 b 0,488 a

    20 - 30 cm 20 - 30 cmGrade aradora 1,38 a 0,484 aArado de aiveca 1,34 a 0,497 aPlantio direto 1,35 a 0,491 a

    QUADRO 2 - Mdias de quatro anos da densidade e porosidade do solo nas camadas de 0-10, 10-20 e20-30 cm de profundidade, em trs sistemas de preparo do solo

    Porosidade(m3/m3)

    Sistema de preparoDensidade do solo

    (Mg/m3)

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    que a densidade do solo na camada de10-20 cm foi maior no preparo com grade.No caso do PD, a cobertura do solo commaterial vegetal todo o tempo resulta emalta concentrao de material orgnico nacamada superficial e promove intensa ativi-dade biolgica, o que resulta em produtosque desempenham funo na formao eestabilizao (agentes cimentantes) dosagregados e melhora, com o tempo, as con-dies fsicas do solo.

    Apesar de muitos depoimentos des-favorveis ao PD de arroz de terras altas,Seguy et al. (1998), em seus trabalhos naregio Centro-Norte de Mato Grosso, afir-mam que, sob determinadas condies, aprodutividade de gros foi igual ou at su-perior obtida no PC.

    Desenvolvimento radicularNo PD, o adensamento das c amadas

    superficiais e subsuperficiais limita o de-senvolvimento radicular. Guimares (1997)concluiu que, comparativamente ao PD, aarao promoveu maior desenvolvimentoradicular em profundidade. No PD tambmfoi observada uma reduo no desenvol-vimento da parte area do arroz. Gassen eGassen (1996) e Balbino (1997), entretanto,afirmam que pode haver compensao dis-so pela continuidade dos poros resultantesda atividade microbiolgica e da decom-posio das razes da cobertura morta.

    Conforme Kluthcouski et al. (2002), oarroz de terras altas sob PD produziu me-nos, quando comparado com as condiesem que houve revolvimento do solo.Observou-se tambm maior esterilidade dasespiguetas, podendo ser reflexo da deficin-cia hdrica ou mineral, em funo, provavel-mente, do reduzido enraizamento, devido compactao/adensamento do solo. A altu-ra de plantas, a rea foliar e ainda a produ-o de matria seca foram inferiores no PD.Stone et al. (1980) e Guimares (1997) obser-varam reduo na produtividade do arrozno PD e a causa seria a limitao do desen-volvimento radicular, devido compactaodo solo.

    A maior limitao do arroz de terras altasao PD talvez seja devido reduo na ma-

    croporosidade que o sistema provoca e,aliado concentrao superficial dos nutri-entes, impede o desenvolvimento radicularem p rofundidade, l imitando a p rodutivi-dade do arroz sobretudo em sistemas eregies dependentes de chuvas. As razesno conseguem reduzir seu dimetro parapenetrar nos microporos menores que suasextremidades. Assim, elas tm que deslocaras partculas do solo, o que esgota rapida-mente sua fora e restringe o seu alonga-

    mento (MARCHNER, 1986 apud KLUTH-COUSKI, 1998). Conforme Guimares et al.(2001), o arroz apresenta um sistema radi-cular muito sensvel compactao do solo,como a observada em reas de PD na regiodos cerrados. Nestas condies, o sistemaradicular men os desenvolvido (Fig. 1).Entretanto, quando as condies fsicas dosolo so favorveis, o sistema radicular atin-ge maiores profundidades (Fig. 2). Sistemaradicular pouco desenvolvido no acarreta

    Figura 1 - Sistema radicular do arroz de terras altas, em plantio direto, aps o cultivo da

    soja - Fazenda Piratini, Dom Aquino (MT)

    Figura 2 - Sistema radicular do arroz de terras altas em solo preparado com arado de

    aiveca - Bela Vista (GO)

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    grandes problemas planta, quando h boadisponibilidade hdrica no solo, porm,pode se agravar com o efeito dos verani-cos, pela menor capacidade de a plantaabsorver gua. Por outro lado, sistema ra-dicular superficial no absorve os nutri-entes que se movimentam para as camadasinferiores do solo. Isto particularmenteimportante nas regies com alta precipi-tao e em solos arenosos como na pr-Amaznia. Semeadoras de PD, equipadascom dispositivos para romper o solo a maio-res profundidades (Fig. 3), tm apresentadoresultados positivos na induo do apro-fundamento do sistema radicular do ar rozde terras altas. Um destes dispositivos ahaste escarificadora acoplada semeadora,atrs do disco de corte que, ao romper osolo a uma maior profundidade e aplicar50% do fertilizante a, aproximada mente,20-22 cm e o restante a 5-8 cm, aumen ta osistema radicular (Fig. 4) e propicia melhorcapacidade de absoro de gua e nutrien-tes, principalmente daqueles mais lixivi-veis. Este artifcio tem resultado em aumen-to de at 100% na produtividade, quandoperodos de veranicos expem a planta aoestresse hdrico. Entretanto, quando a dis-ponibilidade hdrica adequada e a fertili-dade do solo satisfatria, esse efeito notem sido observado (GUIMARES et al.,2001).

    Cultivares

    Um dos aspectos mais importantes emrelao adoo do PD para o arroz de ter-ras altas o comportamento das cultivaresneste tipo de cultivo. Poucos estudos tmsido feitos para selecionar linhagens oucultivares para esse sistema. Num dessestrabalhos, realizado por Moura Neto (2001),observou-se que as linhagens e cultivaresde arroz testadas comportaram-se de modosemelhante no PD e no PC, para p roduti-vidade de gros. Entretanto, sob PD, hou-ve uma tendncia de reduo da alturade plantas, alongamento do ciclo e menorincidncia de doenas. Guimares et al. (noprelo) tambm avaliaram gentipos emcondies de PD. Eles observaram que

    edafoclimticas locais, ao apresentar efeitosignificativo na i nterao l ocais x gen-tipos. A linhagem CNA 8557 foi maisestvel, ao apresentar uma diferena de53 kg ha-1 entre a maior e a menor produtivi-dade. Esta linhagem produziu 4.422 kg ha-1,4.370 kg ha-1 e 4.396 kg ha -1, em BuritiAlegre e Rio Verde (GO), e em Campo Ver-de (MT), respectivamente, enquanto a cul-tivar Bonana foi a mais instvel, ao apre-

    Figura 3 - Semeadora de plantio direto

    equipada com haste escarifica-

    dora

    Figura 4 - Sistema radicular do arroz (Ca-

    nastra) em plantio direto, com

    semeadora equipada com disco

    de corte e haste escarificadora

    os gentipos diferiram significativamenteentre si, em termos de produtividade. A li-nhagem CNA 8557 produziu, em mdia,4.390 kg ha-1, superior aos demais gen-tipos. Sua superioridade produtiva foide 9,0%; 12,6%; 19,3% e 26,3% em rela-o Carisma, Primavera, Bonana eCanastra, respectivamente (Quadro 3).Observaram tambm que foram influen-ciados diferentemente pelas condies

    Bonana 4.118 a 3.919 a 2.769 c

    CNA 8557 4.422 a 4.370 a 4.396 a

    Canastra 3.828 a 3.416 b 3.243 c

    Carisma 4.184 a 4.005 a 3.913 ab

    Primavera 4.292 a 3.980 a 3.343 bc

    CV (%) 10,15

    QUADRO 3 - Produtividade dos gentipos de arroz de terras altas, CNA 8557, Carisma, Primavera,Canastra e Bonana no plantio direto conduzido em Buriti Alegre e Rio Verde (GO)e Campo Verde (MT)

    Cultivares Buriti Alegre Rio Verde(1) Campo Verde

    FONTE: Guimares et al. (no prelo).NOTA: Mdias seguidas pela mesma letra na coluna no diferiram significativamente pelo teste de

    Tukey a 5% de probabilidade.CV - Coeficiente de variao.

    (1) Mdia de dois anos.

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    sentar uma diferena de 1.349 kg ha-1 entrea maior e a menor produtividade.

    A instabilidade da produtividade dosgentipos nos trs locais foi explicada, emparte, pela esterilidade das espiguetas. Esta,na maioria das vezes, uma conseqnciadireta da incidncia de brusone, que, quan-do ocorre no arroz, durante a fase de emis-so e formao das panculas, aumenta onmero de espiguetas vazias ou estreis.A brusone, durante esta fase, ao necrosara base da pancula ou da prpria espigueta,estrangula o fluxo de carboidratos e com-promete o enchimento de gros.

    As novas cultivares de gros agulhi-nhas de arroz de terras altas, de boa cotaocomercial, tm influenciado grandemente aprocura por este cereal, para o PD, por ra-zes e conmicas e /ou p ela n ecessidadede rotao, to importante para o sistema. evidente a grande demanda atual para ouso do arroz de terras altas em PD, sobre-tudo em r eas recuperadas de regi es fa-vorecidas com boa precipitao e/ou sobpiv central com perspectivas de altas pro-dutividades, haja vista a grande rea cul-tivada atualmente com PD de milho/soja,onde o arroz apresenta-se como uma alter-nativa.

    Assim, para que se possa expandir asreas de PD cultivadas com arroz de terrasaltas, preciso selecionar cultivares e linha-gens adaptadas, visando uma exploraomais eficiente e lucrativa desse sistema agr-cola.

    Adubao

    O suprimento de nitrognio inadequa-do s plantas no PD pela maior lixiviao,volatilizao de amnia, reteno na palhae imobilizao microbiana (GUIMARES;YOKOYAMA, 1998, KITUR et al., 1984,HEINRICHS et al., 2001). A imobilizao ainda maior aps o uso de gramneas comalta relao C/N, o que causa uma demandade nitrognio no solo maior para sua de-composio, competindo com a cultura.Nestas condies, estes autores consi-deram necessrio aplicar maiores doses denitrognio no PD comparado com o PC.

    Esse efeito ocorre para todas as gramneas,com maiores problemas para o arroz deterras altas, pelo enraizamento superficiale pela menor eficincia na absoro denutrientes. A mesma afirmao feita porSeguy et al. (1998), que recomendam, ainda,que o nitrognio pode ser antecipado empr-plantio, aplicado na rebrota da biomas-sa, logo nas primeiras chuvas. Kitur et al.(1984) verificaram que mais de 50% do Nimobilizado encontrava-se na camada su-perficial de 5 cm, em que o teor de matriaorgnica e a atividade microbiana erammaiores, consumindo parte do N mineralque seria destinado cultura principal.Entretanto, a populao microbiana no semantm crescendo indefinidamente e, apartir do momento em que o carbono (C)facilmente oxidvel desaparece e o sistemaem decomposio tiver a relao C:N menorque 25:1, comea a ocorrer liberao de Npara as plantas (S, 1999).

    A recomendao atual de adubao ni-trogenada para o arroz de terras altas, noPC de preparo do solo, varia de 15 a 60 kgde N ha-1 ( FAGERIA, 1998, STONE; SIL-VA, 1998) e, no PD, de 40 a 90 kg de N ha-1

    (FAGERIA, 1998), dependendo da susce-tibilidade da cultivar ao acamamento e brusone. Entretanto, como a magnitude emque a imobilizao afeta a disponibilidadedo N depende da relao C:N, da compo-sio e da quantidade de resduos produ-zidos pela cultura anterior, a resposta doarroz de terras altas adubao nitrogena-da no PD dever ser diferente aps umaleguminosa ou uma gramnea.

    Guimares et al. (no prelo) observaramque o arroz apresentou maior resposta adubao nitrogenada aps a pastagemque aps a soja. Quando o N foi aplicadototalmente na semeadura, a produtividadeaumentou at a dose de 118 kg ha -1, apre-sentando o valor de 2.754 kg ha-1 , superiorem 153% produtividade estimada no tra-tamento sem aplicao de N. A dose de adu-bao nitrogenada que propiciou a mximaeficincia econmica foi 100 kg de N ha-1,para uma produtividade de 2.713 kg ha -1,situando-se pouco acima do limite superior

    da faixa de recomendao de Fageria (1998),para o PD, e acima da faixa de valores reco-mendados para o PC de preparo do solo(FAGERIA, 1998, STONE; SILVA, 1998).

    Ehlers e Claupein (1992) observaramque nos anos iniciais do PD foi necessrioaplicar mais N para atingir os nveis deprodutividade do PC de preparo do solo.Entretanto, aps alguns anos do PD, comadubaes extras de N ou com a introduode leguminosas no sistema, a demanda e aeficincia da adubao nitrogenada nosdois sistemas aproximavam-se. Isto deveu-se maior demanda de N na fase de im-plantao da cultura no PD, em funo daimobilizao m icrobiana d o n itrognio(KITUR et al., 1984, HEINRICHS et al.,2001).

    O aumento da produtividade com oincremento da dose de N pode ser explicadopelo aumento no nmero de panculas porm2, que apresentou resposta quadrtica,segundo a equao Y = 92,9 + 1,187X -0,0039X2, R2 = 0,99**, com ponto de mxi-mo igual a 152 kg de N ha-1 , e pelo aumen-to no nmero de gros por pancula, queapresentou resposta linear , segundo aequao Y = 101,7 + 0,201X, r2 = 0,92*.

    A massa de 100 gros diminuiu com oaumento da dose de N, segundo a equaoquadrtica Y = 2,38 + 0,0001X 0,00001X2,R2 = 0,98*, e a esterilidade de espiguetasapresentou resposta linear positiva s do-ses de N, segundo a equao Y = 16,8 +0,048X, r2 = 0,74*. Isto foi devido maiorocorrncia de brusone nas panculas. Asinfeces ocasionadas pela doena geral-mente ocorrem no primeiro n abaixo dapancula, necrosando os tecidos e estran-gulando o fluxo de carboidratos, o que com-promete o enchimento dos gros (PRABHUet al., 1986). O N em doses elevadas inten-sifica a severidade da brusone (SANTOSet al., 1986). Estes autores afirmam tambmque a aplicao da totalidade do N no sul-co, por ocasio da semeadura, aumenta aseveridade da brusone, quando comparadacom a aplicao parcelada. Entretanto, nes-te experimento foi observado que a aplica-o de todo o N na semeadura resultou em

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    menor severidade da doena, comparati-vamente com as aplicaes parceladas nasemeadura e em cobertura. A aplicao detodo o N na semeadura propiciou menoresterilidade de espiguetas, 18,2%, em rela-o aos outros modos de aplicao, 22,5%e 21,4%, respectivamente.

    A maior imobilizao microbiana deN em solos com resduos de alta relaoC : N na superfcie, como na rea de PDaps pastagem de Brachiaria, C:N 70(REZENDE et al., 1999), pode ter contribu-do para a reduo na esterilidade de espi-guetas, uma vez que a reciclagem de nutri-entes mais vagarosa (FERNANDES et al.,1999). Isto pode explicar a menor ocorrnciade brusone, quando a adubao nitroge-nada foi aplicada totalmente na semea-dura.

    O arroz cultivado aps a soja apresen-tou ndices de produtividade mais altos queaps a pastagem, entretanto respondeucom menor intensidade adubao nitro-genada. Para esta condio, a produtivida-de e seus componentes, com exceo damassa de 100 gros, s apresentaram res-posta significativa s doses de N. A produ-tividade mdia mxima foi de, aproxima-damente, 3.441 kg ha -1, para uma dose de107 kg de N ha-1, um aumento de produti-vidade de apenas 23% em relao estima-da para a dose zero de N. O mximo eco-nmico foi de 68 kg de N ha -1, para umaprodutividade de 3.353 kg ha-1, situando-se, aproximadamente, no meio da faixa derecomendao proposta por Fageria (1998),para o PD. Neste experimento, a deman-da por N foi menor em virtude do cultivoter sido conduzido em rea de soja, ondeocorre maior mineralizao do nitrognio.Segundo Wienhold e Halvorson (1999), oaumento na taxa de mineralizao de N re-presenta um aumento do estoque destenutriente no solo na frmula orgnica l-bil. Solos com grande estoque de N lbilso capazes de suprir a maior parte da de-manda da planta por N. Alm do mais, esteN no se perde por lixiviao, o que explicao bom efeito da adubao aplicada total-mente na semeadura.

    O aumento da produtividade com oincremento da dose de N pode ser explica-do pelo maior nmero de panculas por m2,que apresentou resposta quadrtica, se-gundo a equao Y = 218,1 + 0,829X -0,0031X2, R2 = 0,87*, com ponto mximoigual a 134 kg de N ha-1.

    O nmero de gros por pancula, aocontrrio d o o bservado a ps p astagem,apresentou tendncia em diminuir com oaumento da dose de N, embora no tenhasido possvel ajustar uma equao queexplicasse esta relao de maneira signi-ficativa. Como a cultivar Canastra, usadaneste experimento, perfilhou bem mais quea cultivar Primavera usada no experimentoaps pastagem, o que se refletiu no maiornmero de panculas por m2, observa-seque esta reduo est relacionada coma maior competio entre plantas com oaumento da dose de N. Santos et al. (1986)e Stone e Pereira (1994) tambm observa-ram reduo no nmero de gros por pan-cula com o aumento do nmero de panculaspor m2.

    O PD de arroz aps soja, apesar de maispropenso ao ataque de brusone, por seusresduos apresentarem baixa relao C:N,16 a 23 (GILMOUR et al., 1998), comparati-vamente ao ambiente aps pastagem, apre-sentou menor ndice de esterilidade deespiguetas provavelmente em virtude depulverizaes preventivas contra esta do-ena. Isto, contudo, no impediu o aumentoda esterilidade de espiguetas com o aumen-to d as do ses d e N , s egundo a e quaoquadrtica Y = 13,9 0,006X + 0,0002X2,R2 = 0,99**.

    A massa de 100 gros no foi afetadasignificativamente pelos tratamentos, aocontrrio d o o bservado a ps p astagem.Este comportamento diferenciado deveestar relacionado com as diferentes culti-vares utilizadas e suas reaes bruso-ne.

    Ocorrncia de doenas

    Um assunto que merece ateno e pre-cisa ser estudado na cultura do arroz sobPD a incidncia de doenas. Segundo

    Costamilan (1999), o PD concentra resduosnos primeiros 10 a 15 cm de solo, aumentan-do, nesse perfil, a quantidade e a diversi-dade da populao de patgenos de soloassociados a restos culturais. A manuten-o de restos culturais na superfcie do soloprolonga a viabilidade dos patgenos e suapermanncia na rea, pois retarda a decom-posio de resduos, mantendo, por maistempo, a fonte nutricional. Por outro lado,o aumento do teor de matria orgnica dossolos importante, pois confere melhorescondies de resistncia a danos de doen-as e favorece a atividade microbiana, indu-zindo o desenvolvimento de populaesde microorganismos benficos e de con-trole biolgico.

    Para a cultura do arroz, os fungos ne-crotrficos, ou seja, os que podem cau-sar maiores danos em PD, so os causa-dores da brusone ( Pyricularia grisea) eda mancha-de-gros ( Drechslera oryzae,Phoma sorghina, Alternaria padwickii)(AZEVEDO, 2000). Azevedo (2000) afirmaainda que, alm da grande capacidade desobrevivncia em restos culturais, essespatgenos utilizam as sementes como meiode disseminao.

    Dessa forma, a utilizao de cultivaresresistentes s principais doenas de fun-damental importncia, para que a culturado arroz seja viabilizada nesse sistema.

    PLANTIO DIRETODE ARROZ IRRIGADO

    Na cultura do arroz irrigado em vrzeas,o uso do PD passou a ser expressivo a par-tir do incio da dcada de 80, principalmen-te aps a criao do Clube do Plantio Dire-to com Cultivo Mnimo de Arroz Irrigado.A tcnica teve boa aceitao no Rio Grandedo Sul, pois alm de propiciar um bomcontrole do arroz vermelho, considerado omaior problema da orizicultura gacha pelasaltas infestaes, proporciona vantagenscomo reduo de cu stos de produo, se-meadura em poca mais adequada e melhorintegrao lavoura-pecuria (MENEZES etal., 1997). Resultados de trabalhos de pes-quisa e observaes a campo concluram

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    que a reduo dos nveis de infestaochegou a 85% com o uso do PD. Os bonsresultados iniciais obtidos fizeram com queatualmente a rea plantada sob PD, com ocultivo mnimo, sofresse um bom incremen-to, estimando-se em, aproximadamente,40% da rea total com a cultura no Rio Gran-de do Sul (AZAMBUJA et al., 1999).

    Em experimento comparativo de arrozirrigado, mdia de trs anos, nos PC, cul-tivo mnimo e PD, Gomes et al. (1995) con-cluram que houve menor incidncia deplantas daninhas no PD e no cultivo mni-mo, do que no PC. Estes autores atriburamessa menor incidncia ao no revolvimentodo solo por ocasio da semeadura e, possi-velmente, ao efeito aleloptico da cober-tura v egetal. N este m esmo t rabalho, o srendimentos de gros observados nestessistemas foram iguais ou superiores aoobservado no PC.

    Segundo Sousa et al. (1995), o PD apre-senta variaes, tais como: PD propria-mente dito, PD com preparo de vero e PDcom cultivo mnimo. O PD propriamente di-to aquele em que a semeadura do arroz feita sobre a resteva de uma cultura anterior,pastagem ou flora de sucesso, dessecadapor herbicida de ao total, sem nenhumrevolvimento do solo. especialmente indi-cado para reas sistematizadas e que noapresentam problemas de irrigao e dre-nagem. No PD com preparo de vero, sofeitas operaes de arao, gradagens eaplainamento nos meses de janeiro a mar-o. Aps o preparo do solo, normalmente semeada uma pastagem de inverno, quese constitui em alimento de melhor qualida-de para a pecuria. Nesse perodo, os ani-mais podem permanecer sobre a pastagemat prximo semeadura do arroz que realizada entre os meses de setembro enovembro, sobre a cobertura dessecadacom herbicida de ao total. O PD com cul-tivo mnimo compreende o preparo reduzidodo solo, resumindo-se normalmente a duasgradagens leves e aplainamento do solo.As operaes so feitas no final do invernoe/ou primavera com o objetivo principal deforar a emergncia das plantas daninhas,

    especialmente do arroz vermelho, que socontroladas pelo uso de herbicidas de aototal, antes da semeadura direta do arrozque normalmente realizada 30 a 45 diasaps o preparo do solo.

    Frizzo (1991) cita algumas operaesimportantes que devem ser realizadas parao PD e cultivo mnimo em arroz irrigado:

    a) preparo do solo: as operaes depreparo do solo so reduzidas a umaarao, uma ou duas gradagens e aspassadas de aplainadeiras que foremnecessrias para uma boa regulariza-o do terreno. As irregularidadescomprometem o sistema. Realizadoo preparo do solo, nos meses de de-zembro a fevereiro, semeia-se o aze-vm e deixa-se a rea em pousio ata poca da semeadura. Ressalta-seque quanto maior a cobertura ve-getal melhores sero os resultadosobtidos;

    b) drenagem: os drenos devem serconstrudos nos locais adequadose com a capacidade de vazo sufi-ciente para eliminar o excesso de guadas chuvas no menor espao de tem-po possvel. Uma boa drenagem pos-sibilita a antecipao do plantio apsas chuvas e o estabelecimento deum bom estande de plantas;

    c) adubao: diferentemente do PC, aadubao potssica no deve sermuito pesada no plantio, pois poderafetar a germinao das sementes,por ser higroscpica, disputar umi-dade do solo em caso de dficit h-drico;

    d) herbicidas: deve-se aplicar um her-bicida total, de preferncia sistmi-co, no mnimo seis horas antes doplantio. Havendo plantas daninhasde difcil controle, esperar um prazomaior para sua efetivao. A dosa-gem varia de 1,5 a 2 L/ha, at cercade 6 L/ha, em funo da vegetaoexistente, do clima e da umidade dosolo. Normalmente, uma aplicao suficiente, se a rea for bem aplai-

    nada e no se atrasar com a entradada gua na lavoura, em torno de dezdias aps o incio da emergncia dasplantas de arroz, mantendo-as quaseafogadas por dois a trs dias, bai-xando depois o nvel da gua, semretir-la completamente, para evitara reinfestao. Da em diante, a irri-gao passa a ser semelhante ao PC.Quando, por qualquer motivo, hou-ver reinfestao das plantas dani-nhas, recomenda-se a ap licao deum herbicida convencional.

    CONSIDERAES FINAIS

    O aumento da rea cultivada de arrozde t erras a ltas sob PD e sobretudo a suaperenizao em sistemas agrcolas susten-tveis dependem da integrao efetiva emsistemas de rotao e do envolvimento deoutras culturas, como soja, milho, pasta-gem, etc.

    O PD sempre foi destacado por suasvantagens na conservao e recuperaodos solos. Na cultura do arroz irrigado, noentanto, a adoo do sistema tida como asoluo potencialmente capaz de minimizaras crescentes infestaes do arroz ver-melho.

    A utilizao do arroz de terras altas emPD, como componente de sistemas agr-colas sustentveis, e o uso de PD em arrozirrigado podero incrementar a rea de cul-tivo e a produo desta cultura, tendo emvista os benefcios que este sistema de cul-tivo poder proporcionar orizicultura.

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    1Engo Agro, D.Sc., Prof. UFLA - Dep to Agricultura, Caixa Postal 37, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrnico: [email protected]

    INTRODUO

    O plantio direto do arroz de terras altastem sido considerado como no competi-tivo com o sistema convencional (arao egradagem), ou seja, na maioria dos casos,a produtividade de gros obtida tem ficadoaqum da desejada. Tem-se observado quea p lanta a presenta p equeno d esenvolvi-mento do sistema radicular, com reduoda resistncia seca e menor nmero deperfilhos e de panculas por rea, alm dediminuir o desenvolvimento sobretudo du-rante a fase vegetativa.

    Diversos trabalhos de pesquisa foramempreendidos na tentativa de solucionaresse problema. Entre eles, podem-se des-tacar o da adaptao do faco de corte daplantadeira para efetuar uma descompac-tao subsuperficial maior, o que facilita odesenvolvimento do sistema radicular daplanta, e o de variaes de doses e pocas

    de aplicao de nitrognio (N), entre outros.O fato que todos os trabalhos sugeremque a planta de arroz possui um sistemaradicular frgil e exige macroporosidade nosolo em detrimento da microporosidade eque o arroz de terras altas no adaptadoao sistema de plantio direto, ao contrriodo arroz irrigado por inundao, onde osistema j amplamente utilizado e combastante sucesso.

    Quem planta arroz (lavoura ou reaexperimental) j teve a oportunidade deobservar que as linhas de plantio situadassob as rodas do trator , que sofrem fortecompactao (sistema convencional), apre-sentam melhor germinao, maior vigorinicial e perfilhamento e, em geral, melhordesenvolvimento das plantas durante todoo ciclo. Ora, se estas importantes carac te-rsticas so favorecidas pela compactaodas rodas do trator, como o arroz de terrasaltas no se adapta ao cultivo sob plantio

    direto? Muitos alegam que essa compac-tao aumenta o contato da semente como solo, facilitando a absoro da umidadedeste, o que acelera a germinao. Isso verdade, mas no explica o desenvolvimen-to superior das plantas aps o estdio deplntula, quando a absoro de nutrientes intensificada. De modo tradicional, no-tadamente nas vrzeas, os agricultoresrealizam u ma c ompactao l ogo a ps asemeadura, seja com rolo compactador, sejacom tronco de madeira, ou mesmo com osps. O fato que a planta de arroz respondepositivamente compactao, contrarian-do seu desempenho inferior em cultivo sobplantio direto.

    Trabalho de pesquisa de tese de douto-rado realizado na Universidade Federal deLavras (Ufla), utilizando cinco nveis decompactao combinados com trs nveisde umidade, em dois solos, aluvial (vrzea)e Podzlico Vermelho-Escuro, mostrou que

    Desvendando o segredo do insucesso do plantio diretodo arroz de terras altas

    Resumo - O plantio direto no Brasil para as principais culturas j uma prtica consolidada,sendo utilizado em mais de 40% da rea cultivada, com tendncia de crescer ainda mais.Infelizmente, o arroz de terras altas ainda no embarcou nesse novo sistema de plantio ea principal causa a falta de competitividade com o sistema convencional. Vrias tentativasde adequar o arroz de terras altas ao plantio direto j foram experimentadas, mas nenhumasolucionou por completo as deficincias do sistema, provavelmente, por no terem des-vendado a principal causa que limita a sua adaptao. Uma das hipteses aventadas a deque o principal fator limitante ao bom desempenho do arroz de terras altas ao sistema deplantio direto est relacionado com a incapacidade de a planta utilizar, na fase jovem, onitrognio na forma de nitrato, com a conseqente reduo do sistema radicular, doperfilhamento e do desenvolvimento inicial dela. Supe-se que, se o arroz de terras altasno se adaptar ao sistema de plantio direto ficar marginalizado, visto que os agricultoresno esto mais dispostos a efetuarem o revolvimento do solo.

    Palavras-chave: Oryza sativa. Nitrognio. Compactao de solo. Vrzea.

    Antnio Alves Soares1

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    a compactao per si no barreira para ocultivo do arroz de terras altas em plantiodireto.

    H um dito popular importante, que diz:o arroz de terras altas s deve ser cultivadoem terra nova ou descansada e o milho emterra velha. Observa-se que, para o milho,isso facilmente explicvel, pois ele neces-sita das devidas correes do solo e eleva-o do pH para 6,0 a 6,5. Quanto ao arroz,em princpio, no h relao, pois ele ape-nas mais tolerante a solos mais cidos,onde a faixa ideal de pH varia de 5,5 a 5,8.Mesmo assim, aps cultivos sucessivos,seu plantio tem de ser abandonado, diantedo pssimo desenvolvimento das plantase das baixas produtividades obtidas. Essaobservao vem ao encontro de um outrodito popular: o arroz s deve ser cultivadopor dois anos em uma mesma rea, quandoento ter de deixar esta rea descansar oumudar de cultura. Por que o arroz apre-senta essa caracterstica to diferente dasoutras espcies?

    Hoje, h um consenso entre os espe-cialistas de arroz de que a causa da bruscaqueda de produtividade deste cereal, apsdois cultivos sucessivos, devida aos des-conhecidos efeitos alelopticos, defini-dos como qualquer efeito prejudicial, diretoou indireto, de uma planta sobre a outra,atravs da produo de compostos qumi-cos, liberados no meio (RICE, 1974 apudGUIMARES; BEVITRI, 1999). Em arroz,em que o efeito se faz sentir sobre o prprioproduto, o termo mais adequado auto-toxicidade. Os cidos fenlicos considera-dos como responsveis pelos efeitos auto-txicos j foram descartados por Turanoe Ogana (1974 apud GUIMARES;BEVITRI, 1999), pois, segundo estes auto-res, esses cidos so rapidamente decom-postos no solo pela ao dos microorga-nismos e no inibem especificamente ocrescimento radicular do arroz de terrasaltas. Alm do mais, inconcebvel admitirque a natureza cometeria uma aberraodessas, ou seja, o arroz produzir aleloq u-micos que inibissem seu prprio desenvol-vimento. Os efeitos al elopticos de u ma

    espcie sobre outras j esto bem estuda-dos e no h questionamento sobre eles;apenas no caso do arroz difcil admitiressa autotoxicidade. Felizmente, as contes-taes de seus efeitos so maiores do queas comprovaes.

    Ao contrrio do arroz de terras altas,no sistema irrigado por inundao contnuaou vrzea mida com solo saturado, os efei-tos alelopticos so pouco percebidos, oque possibilita o cultivo sucessivo do arrozna mesma rea por vrios anos consecuti-vos, principalmente por pequenos produ-tores em reas de brejo, onde o solo perma-nece saturado em quase todo o perodo decultivo. Da, surge a dvida: Por que o efei-to aleloptico s tem significado no arrozde terras altas? Diante de todas as consi-deraes anteriores, est, portanto, mon-tado o quebra-cabea para desvendar essesfatos que es to inter-relacionados.

    ALELOPATIA OU NITROGNIO:O VILO DO ARROZ DETERRAS ALTAS

    Tudo comeou em uma propriedade nomunicpio de Capitlio, MG, onde se plan-tou uma cultivar de arroz de terras altas emvrzea (solo aluvial) bem drenada, h seisanos. Os efeitos da compactao dos pneusdo trator sobre as linhas de arroz sempreforam gritantes em comparao com aslinhas no compactadas (Fig. 1), mas issofoi aceito como melhor contato da sementecom o solo. Notou-se tambm que a produ-tividade era alta no primeiro ano de plantio,razovel no segundo ano e com decrscimoacentuado no terceiro; a partir do quartoano iniciava-se a rotao de culturas. Essesistema estava, portanto, dentro do triviale aceito como causa o efeito aleloptico, apartir do segundo ano, e mais intensamen-te, a partir do terceiro ano.

    Em uma rea de 25 ha, por sinal muitofrtil e anteriormente explorada com pasta-gens, iniciou-se o plantio de arroz em 2000/2001, repetindo-se o mesmo nos dois anosagrcolas subseqentes, utilizando o siste-ma de plantio convencional. Nos dois pri-

    meiros anos, no se procedeu adubaonitrogenada de cobertura, mesmo assim, asprodutividades foram excelentes (5 t/ha).No terceiro ano (2002/2003), realizou-se aadubao de cobertura, aplicando-se 90kg/ha de nitrato de amnio, 30 dias aps aemergncia. O fato que o arroz no se de-senvolveu, ficou raqutico, no perfilhou,e o sistema radicular no cresceu, emboraas condies de distribuio e precipitaotenham sido excelentes. A primeira justifi-cativa foi o efeito da alelopatia (autotoxida-de) e, a segunda, a ocorrncia de desnitrifi-cao por causa de chuvas intensas alter-nadas com perodo de sol, sem chuvas. Dao questionamento - Por que nos dois pri-meiros anos, em que as condies forambem semelhantes, as plantas desenvol-veram-se normalmente? Surgiu ento, aidia de aplicar uma segunda adubao ni-trogenada numa pequena rea da lavoura,onde o arroz encontrava-se mais raquti-co. Foram aplicados 120 kg/ha de N nu-ma rea de 0,2 ha. Em resposta, as plantasrecuperaram-se intensamente, exibindo altaprodutividade (5 t/ha), ao contrrio do res-tante da lavoura que produziu em mdiamenos de 1 t/ha. Constatou-se que o nitro-gnio o principal fator limitante da produ-tividade e no o efeito aleloptico. Dado oprimeiro passo, resta explicar como todoesse processo ocorre.

    ABSORO E UTILIZAODO NITROGNIO PELO ARROZ

    Realizou-se, a partir de ento, um traba-lho de pesquisa bibliogrfica na tentativade esclarecer as inter-relaes de terra no-va, terra velha, compactao (pneu do tra-tor), nitrognio e planta de arroz.

    A primeira avaliao foi a de que o pre-paro do solo, atravs de arao e gradagem,promove a incorporao da matria orgni-ca e aerao do solo, acelerando, assim, oprocesso de mineralizao da matria org-nica pelos microorganismos aerbicos, coma conseqente disponibilizao de gran-des quantidades de nitrognio para o arroz.A disponibilidade de nitrognio mxima

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    no primeiro ano, razovel no segundo e bai-xa a partir do terceiro ano. Isso explica areduo de produtividade de gros no se-gundo ano e uma queda brusca a partir doterceiro ano. Portanto, recomenda-se deixara terra descansar (pousio), para acumularnovamente matria orgnica e, assim, voltara plantar arroz. Esse procedimento j roti-neiramente praticado pelos agricultores.

    A grande questo que surge por queesse processo ocorre mais acentuadamen-te com a cultura do arroz, enquanto outrasespcies cultivadas sofrem pequenas re-dues de produtividade, ocasionadasmais pelo monocultivo do que pela queimada matria orgnica. Vejam por exemplo, ocaso do milho que mantm produtividadessatisfatrias por anos seguidos de cultivo.Em que ento o arroz difere das outras esp-cies? Todo esse imbrglio sugere, em prin-cpio, uma capacidade diferencial de absor-o de formas diferentes de nitrognio. V-

    rios autores como, De Datta (1981), Fageria(1984, 1999), Barbosa Filho (1987), FornasieriFilho e Fornasieri (1993), Ribeiro et al. (1999)afirmam que o arroz absorve nitrognio tan-to na forma amoniacal (NH +4 ), quanto nantrica (NO3 ), no havendo diferena entreelas. Entretanto, a forma ntrica ligeira-mente mais eficiente para o arroz de terrasaltas, podendo-se ento aplicar fertilizantescontendo qualquer uma das fontes. Essedogma da eqidade de eficincia de absor-o de nitrognio, tanto na forma de am-nio como na de nitrato, dificultou esclarecero provvel diferencial do arroz em relaos outras espcies.

    Malavolta (1980) relata que um hectarede solo possui, na profundidade de 30 cm,entre 1.000 kg e 1.500 kg de nitrognio totale que quase todo esse nitrognio est naforma orgnica; a frao mineral, geralmen-te nitrato e um pouco de amnia, correspon-de a apenas 25 kg. Malavolta (1980) afirmaainda que a maior proporo de nitrog-nio orgnico do solo est ligada ligninacomo um complexo ligno-protico. Portan-to, as transformaes sofridas pelo nitrog-nio orgnico atravs de microorganism ostornam o nitrognio disponvel para asplantas. Esse mecanismo pode ser resumi-do em:

    ProtenaProtelise

    (microorganismos)Aminocidos

    Desaminaohidroltica

    Amnia +outros

    compostos(microorganismos)

    Figura 1 - Efeito da compactao dos pneus do trator nas linhas de plantio sobre a germinao, estande, vigor e desenvolvimento dasplantas de arroz

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    A amnia e, por conseguinte o N-NH+4 , , assim, a primeira forma disponvel para asplantas. Entretanto, um outro fenmeno que se processa com rapidez nas condiesaerbicas de solo, principalmente por bactrias autotrficas (Nitrosomonas e Nitrobacter), o da nitrificao, que consiste em oxidar o nitrognio amoniacal a nitrato (MALAVOLTA,1980, DE DATTA, 1981, YOSHIDA, 1981, FAGERIA, 1984, 1999, LEN; ARREGOCS,1985, BARBOSA FILHO, 1987).

    Assim, o nitrato torna-se a forma qumica de nitrognio mais abundante no solo etambm a mais absorvida pelas plantas.

    O processo de nitrificao do nitrognio amoniacal (N-NH +4 ) ocorre da seguinte for-ma (MALAVOLTA, 1980):

    dades com mudanas no pH da soluo.Quando NH +4 e NO

    3 esto disponveis, a

    planta de arroz prefere NH +4 e o pH da so-luo diminui. Entretanto, posteriormente,o pH da soluo aumenta, quando NO 3 absorvido. O mecanismo ocorre da seguin-te forma: quando o arroz absorve ction dasoluo, um on de hidrognio lanadoda raiz para manter a neutralidade eltri-ca na soluo. Como conseqncia, o pHda soluo abaixa. Por outro lado, quan-do nion absorvido da soluo, um onbicarbonato lanado da raiz. Esse on com-bina com o de hidrognio para formar cidocarbnico indissocivel, liberando o on hi-droxila. Em conseqncia, o pH aumenta.O efeito secundrio das alteraes do pH,tais como deficincia de ferro para valoresaltos de pH, algumas vezes dificulta conclu-ses seguras.

    Numa reviso realizada por Yoshida (1981),foi constatado que nos estdios iniciais dedesenvolvimento e com o teor de N acimade 200 ppm, a planta de arroz desenvolve-se melhor com N-NH +4 do que com N-NO

    3 ,

    embora cucurbitceas t enham comporta-mento oposto. Aps o incio da diferen-ciao da pancula e com teor de 100 ppm

    de N, o nitrato a melhor fonte de nitrogniopara o arroz do que a amnia. A 20 ppm deN, todavia, a amnia to eficiente quan-to o nitrato. Assim, em nveis reais de con-centrao de N no solo, o N- NH +4 pareceser melhor ou t o bom quanto o ni trato,considerando todo o ciclo de desenvol-vimento da planta. A melhor utilizao doN-NH +4 pelo arroz em relao ao N-N O

    3

    relatada tambm por Len e Arregocs(1985).

    Yoshida (1981) relata ainda que o arroztem preferncia na absoro da amnia aonitrato, na soluo que contm ambos, em-bora o oposto ocorra para outras espcies(Grfico 1). E ra zes excisadas de plntu-las de arroz absorvem amnia cinco a vintevezes mais rpido do que nitrato, dependen-do do pH da soluo. Com planta intacta, oarroz tambm absorve amnia mais rapi-damente que o nitrato. Embora o arroz tenhapreferncia pela amnia, ele no a acumulanos tecidos da folha; ela convertida emasparagina. Por outro lado, tecidos de plan-tas de arroz acumulam nitrato, quando aconcentrao dessa forma na soluo alta.Isso sugere que a planta de arroz tem baixacapacidade de reduzir o nitrato amnia.Cabe ressaltar que o nitr ognio s utili-zado na planta na forma reduzida; na for-ma oxidada como o caso de nitrato, no aproveitado. Alm do mais, a planta de arrozter de produzir cidos orgnicos paraneutralizar ctions acompanhantes do ni-trato (MALAVOLTA, 1980), constituindo-se, portanto, em mais um nus para oarroz.

    Em bioenergtica, a assimilao do ni-trato requer mais energia que a da amnia,porque o nitrato deve ser reduzido am-nia na planta. A relao estequiomtricapara sntese de protena, a partir das duasformas, fornecida pelas seguintes equa-es (PENNING DE URIES; LAAR, 1977apud YOSHIDA, 1981):

    NitrosomonasN-NH +4 + 1,5 O2 N-NO

    3 + H2O + 2H

    + + energia

    NitrobacterN-NO + 1,5 O2 N-NO

    3 + energia

    Desse modo, o N-NH , oriundo tantoda decomposio da matria orgnica, quan-to de fertilizantes, quando aplicado ao solona presena de oxignio, rapidamentenitrificado a nitrato.

    No caso do arroz de vrzea (solo inun-dado ou saturado), o meio predominante o anaerbico, logo a nitrificao minimi-zada e s ocorre nos primeiros centmetrossuperficiais do solo, onde h presena deoxignio. Nessas condies, h grande pre-dominncia de N-NH +4 , mesmo porque oN-NO 3 seria desnitrificado. Observa-se que,assim, no h queda brusca da produ ti-vidade a partir do terceiro ano consecuti-vo de plantio. Tudo leva a crer que o pontofundamental da queda de produtividade doarroz de terras altas est relacionado com adiminuio do teor de N-NH +4 , sugerindoque essa forma mais bem aproveitada emrelao ao N-NO 3 . Na literatura, como men-cionado, relata-se que o arroz no tem pre-ferncia por uma das formas e que ambasso igualmente eficientes.

    Segundo Yoshida (1981), estudos paradeterminar a eficcia relativa do N-NH +4 edo N-NO3 como fonte de nitrognio parao arroz, freqentemente enfrentam dificul-

    1 g glicoce + 0,125 g NH+4 + 0,137 g O2 0,616 g protena + 0,256 g CO2 + 0,386g H2O

    1 g glicoce + 0,276 g NO 3 + 0,174 g O2 0,404 g protena + 0,673 g CO2 + 0,373g H2O

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    A chave de todo esse imbrglio, queparece esclarecer as diferenas de eficin-cia do N-NH +4 e do N-NO

    3 para a cultu-

    ra do arroz, foi encontrada em Malavolta(1980). Segundo esse autor, o arroz, tantoo de sequeiro quanto o irrigado, nas duasou trs primeiras semanas de vida, quandocultivado em soluo contendo N-N O 3 ,desenvolve-se muito pouco, apresentandosintomas tpicos da falta de N, o que noacontece, se o N-NH +4 for a fonte de nitro-gnio; entretanto, aos poucos comea a sedesenvolver e suas fo lhas, antes amarela-das pela falta de N, tornam-se verdes, oque indica sntese e funcio namento daredutase do nitrato. No processo de redu-o do nitrato amnia, denominado re-duo assimilatria do nitrato, essenciala presena da enzima redutase do nitrato.Assim, a ausncia ou a baixa disponibili-dade dessa enzima, no primeiro ms de vidada planta, faz com que o N-NO 3 no sejaaproveitado pelo arroz.

    A deficincia de nitrognio nesta fasede desenvolvimento da planta comprometea lavou ra, pois pre judica o desen volvi-mento da parte area, reduz a competitivi-

    dade com as plantas daninhas, o crescimen-to do sistema radicular e provoca intensareduo do nmero de perfilhos. Com oavano e desen volvimento da cultura, aplanta passa a produ zir a enzima redutasedo nitrato e a deficincia de nitrognio ten-de a desaparecer, mas o prejuzo inicial praticamente irreversvel, comprometendoo potencial produtivo do arroz. Certamente,o desconhecimento dessa informao cau-sou muita confuso nos estudos de avalia-o de eficincia de uso de nitrognio naforma amoniacal e nitrato. Esse atraso nasntese da redutase do nitrato bastanteevidenciado em lavouras de pequenos agri-cultores em condies de vrzea mida,onde, muitas vezes, no se realiza fertili-zao, ou seja, as lavouras, quando jovem,permanecem amareladas, mas depois dealgum tempo tornam-se verdes, sem nenhu-ma aplicao de nitrognio, o que indica oaproveitamento do N-NO3 .

    Uma q uesto q ue s urge p or q ue aplanta de arroz possui essa caracterstica?Uma hiptese que pode ser aventada ade que o arroz uma planta de origem hi-drfila, logo, evoluiu em um ambiente comgrande abundncia de gua, em um meioredutor, onde havia predominncia de ni-trognio amoniacal. Dessa forma, sob baixaconcentrao de nitrato no meio, a plantajovem do arroz no desenvolveu o mecanis-mo de reduo do nitrato, uma vez que oambiente era rico em amnia e a demandainicial baixa. Com o crescimento da planta,a demanda por nitrognio maior e a plantateve de lanar mo do nitrato, desenvol-vendo, portanto, o mecanismo de aprovei-tamento dessa forma de nitrognio, aindaque tardiamente.

    NITROGNIO ESUSTENTABILIDADE DOARROZ DE VRZEA

    Aps essa fund amentao, tornou-sepossvel compreender os mecanismos queinfluenciam o desenvolvimento do a rrozsob vrias condies de cultivo, bem comoa sustentabilidade delas em anos sucessi-vos de cultivo. Inicialmente, ser discutido

    Portanto, a assimilao do N-N O 3 menos vantajosa do ponto de vista ener-gtico que a do N-NH +4 .

    Em plantas superiores, incluindo o arroz,a reduo de nitrato ocorre predominante-mente nas folhas sob luz. Sob alta lumino-sidade, em que a taxa de difuso do CO2 que limita a taxa de fotossntese global, aenergia requerida para reduo do nitratopode ser fornecida pela energia excedenteproduzida pela reao fotoqumica na fo-tossntese. Neste caso, a reduo do nitra-to processa-se livre de custo, ou seja, semconsumo de assimilados para gerar a ener-gia requerida. Entretanto, sob baixa lumi-nosidade, a reduo do CO2 (reao escura)e do nitrato provavelmente competitiva.Sob tais condies, a taxa de assimilaodo nitrato em nitrognio orgnico pareceser mais lenta em arroz (DIJKSHOOSN;ISMUNADJI, 1972 apud YOSHIDA, 1981).Fica evidente, portanto, que dias claros,lmpidos, com alta luminosidade favorecemintensamente o aproveitamento do nitrog-nio absorvido na forma de nitrato sem con-sumo de assimilados, o que contribui parao aumento de produtividade.

    Grfico 1 - Absoro seletiva de amnia e nitrato em soluo nutritiva

    FONTE: Tadano e Tanaka (1976 apud YOSHIDA, 1981).

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    o caso do arroz irrigado por inundao con-tnua. Em geral, no se d muita importnciaao efeito da a lelopatia/autotoxidade noscultivos em campos de arroz irrigado, coma justificativa de que nesse sistema, o re-ferido efeito pequeno, possibilitando cul-tivos sucessivos por anos consecutivos. luz dos conhecimentos, pro vvel quea predominncia da fonte de N-N H +4 e apequena perda de nitrognio por desnitri-ficao sejam a causa da maior sustenta-bilidade do plantio em campos inundados.De Datta (1985) relata que a disponibilidadede nitrognio em solos inundados maisalta que em solos no inundados. Isto por-que, embora a matria orgnica seja mine-ralizada a uma taxa mais lenta em solosanaerbicos do que aerbicos, a quanti-dade lquida mineralizada maior, porquemenos nitrognio imobilizado. Dessa for-ma, associando-se maior quantidade de ni-trognio mineralizado (lquida) com menorperda por desnitrificao e predominnciada forma amoniacal, possvel compreen-der o melhor desenvolvimento do arroz e amaior sustentabilidade em campos inun-dados.

    Deve-se acrescentar tambm que o pre-paro do solo atravs de arao e gradagem,com certa antecedncia ao plantio e inun-dao do tabuleiro, provoca reduo doteor de matria orgnica do solo pela de-composio aerbica que bastante inten-sa. Essa prtica a curto prazo aumenta adisponibilidade de nitrognio, mas a mdioe longo prazos, reduz a principal fonte denitrognio para o arroz, que a matria org-nica. Lavouras de arroz fertilizadas obtmde 50% a 80% de seu nitrognio requeri-do do solo; lavouras no adubadas obtmuma proporo muito maior, principalmenteatravs de mineralizao de fontes orgni-cas. Assim, o arroz depende primariamentede fontes orgnicas para obter seu nitro-gnio (KOYAMA, 1975, BROADBENT,1979 apud DE DATTA, 1981). Para produ-o de uma tonelada de g ros na culturado arroz irrigado so necessrios somente

    para a parte area 22,5 kg de N (FAGERIA,1999). Portanto, para uma produtividadede 8 t/ha so necessrios 180 kg/ha de N.Considerando uma adubao nitrogenadacom 120 kg/ha (600 kg/ha de sulfato deamnia, por exemplo) e um aproveitamentode 40% de N aplicado (eficincia de apro-veitamento no ultrapassa 30% a 40%,segundo Barbosa Filho (1987) e Fageria(1984), ou seja, 48 kg), ser necessrio queo solo fornea 132 kg/ha de N (73% dototal necessrio). I sso explica o fracassodo Provrzeas em vrias regies do Pas,aps oito a dez anos de sua impla ntao.Um exemplo, que pode ser citado, o doPolder de Careau, no Sul de Minas Gerais,onde as produtividades no incio da implan-tao do Projeto eram de, aproximadamente8 t/ha, mas, depois de oito anos consecuti-vos de plantio, no ultr apassaram 3 t/ha,levando ao abandono da explorao oriz-cola. Obviamente que faltou ori entaotcnica sobre m anejo, rotao de cult urasetc.

    No caso do arroz de vrzea mida oudrenada, sem irrigao, a questo do nitro-gnio muito mais crtica. Primeiro, porqueos constantes preparos de solo causamaerao e decomposio rpida da matriaorgnica, reduzindo assim o reservatrionatural de nitrognio; segundo, porque asfreqentes alternncias de encharcamento,ocasionadas por altas precipitaes, segui-das de drenagens, causam intensa desni-trificao. Reddy e Patrick (1975 apud DEDATTA, 1981), relatam que a maior perdade nitrognio por desnitrificao ocorrenum ciclo aerbico-anaerbico de doisdias, quando comparado com ciclos maislongos.

    Assim, o N-NH +4 , oriundo primariamen-te da decomposio da matria orgnicaem condies aerbicas, rapidamente, so-fre nitrificao a N-NO 3 , que, em seguida, perdido por desnitrificao, caso ocorraencharcamento do solo, o que muito co-mum em vrzea, devido lenta drenagem.O resultado uma alta deficincia de nitro-

    gnio nas lavouras de arroz que apresen-tam colorao amarelada, plantas raquticase um sistema ra dicular pouco desenvolvi-do. Essa deficincia s no observadanos dois primeiros anos de cultivos, quan-do o alto teor de matria orgnica do soloconsegue suprir de n itrognio as exign-cias das plantas. Esse perodo pode sermais longo, dependendo do teor de matriaorgnica do solo, da acidez, da temperatura,da umidade, aerao, nmero de gradagensetc.

    EFEITO BENFICODA COMPACTAO PELOSPNEUS DO TRATOR

    Voltando ao efeito benfico da compac-tao das rodas do trator para germinao,vigor e desenvolvimento das plantas, ahiptese que surge que a compactaodo solo reduz a aerao pela menor difu-so do oxignio atmosfrico. Isso implicaem menos n itrificao e , possivelmente,menor imobilizao. Em conseqncia, hmaior conservao do N-NH +4 , que a for-ma de nitrognio mais aproveitada pelasplantas de arroz na fase jovem, e menor per-da por desnitrificao, uma vez que a ve-locidade de transformao do nitrognioamoniacal a nitrato (nitrificao) menor.Alm do mais, a compactao superficialna linha do arroz reduz a perda de umi-dade do solo que sobe por capilaridade. interessante ressaltar que plantas jovens deoutras espcies, eficientes na utilizao donitrato, como milho, sorgo, soja etc., noexibem d iferenas a centuadas e ntre a slinhas compactadas pelo pneu do trator eas no compactadas,