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AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA CURSO: CURSO: EDUCAÇÃO INFANTIL E ALFABETIZAÇÃO FOLCLORE COMO RECURSO LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Telma Andrade Mendonça Orientador: Prof. Ilso Fernandes do Carmo ALTA FLORESTA/2012

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AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA

CURSO: CURSO: EDUCAÇÃO INFANTIL E ALFABETIZAÇÃO

FOLCLORE COMO RECURSO LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Telma Andrade Mendonça

Orientador: Prof. Ilso Fernandes do Carmo

ALTA FLORESTA/2012

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CURSO: CURSO: EDUCAÇÃO INFANTIL E ALFABETIZAÇÃO

FOLCLORE COMO RECURSO LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Telma Andrade Mendonça

Orientador: Prof. Ilso Fernandes do Carmo

“Trabalho apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Especialização em Educação Infantil e Alfabetização”.

ALTA FLORESTA/2012

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Á Deus, pois sem ele nada seria possível.

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AGRADECIMENTOS

A minha família, pelo apoio e compreensão.

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RESUMO

A escolha do tema justifica-se devido às manifestações folclóricas

estarem intimamente ligadas à infância, momento da vida que, se bem aproveitado,

podem contribuir para que as crianças sejam adultos, físico e emocionalmente

equilibrados, capazes de viver de bem com a vida, para não se esquecer de quem

são. Dessa maneira, não se pode permitir que as manifestações folclóricas que

fazem parte da diversidade cultural do nosso país morram. Este trabalho de cunho

bibliográfico, com fundamentação nos autores Frantz, Kishimoto, Ribeiro entre

outros, teve como objetivo principal, enfocar aspectos do folclore relacionados a

linguagem, ao lúdico, a música, entre outros, enfocando o folclore principalmente no

contexto escolar e apresentando informações para o trabalho dos professores em

sala de aula. Ao final do estudo percebe-se que o folclore tratado com seriedade e

conhecimento de causa é de grande importância no processo de ensino-

aprendizagem. Desta maneira não se pode deixar que as manifestações folclóricas,

que fazem parte da cultura, morram. Os educadores precisam resgatá-las e

transmití-las às crianças, usando-as de forma prazerosa como instrumento de

aprendizagem. O conhecimento do trabalho pedagógico baseado nas manifestações

do folclore considera sua contribuição de forma significativa, pois os educadores

podem enriquecer a sua práxis diária.

Palavras-chave: Folclore. Lúdico. Aprendizagem.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 06

1 O QUE É FOLCLORE ............................................................................................ 08

1.1 CARACTERÍSTICAS DO FOLCLORE ................................................................ 09

1.2 CAMPOS DO FOLCLORE .................................................................................. 12

1.3 ELEMENTOS FORMADORES DO FOLCLORE BRASILEIRO ........................... 13

2 BRINCADEIRAS INFANTIS: IMPORTÂNCIA PARA O DESENVOLVIMENTO

NEUROPSICOLÓGICO ............................................................................................ 17

3 O FOLCLORE COMO INSTRUMENTO DE APRENDIZAGEM ............................. 20

3.1 O FOLCLORE E A EDUCAÇÃO ........................................................................ 21

3.2 O FOLCLORE E A APRENDIZAGEM ................................................................ 23

CONCLUSÃO ........................................................................................................... 30

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 31

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INTRODUÇÃO

O folclore é um gênero de cultura normalmente de origem popular. Folclore

também designa a ciência etnográfica que estuda o conjunto de produções coletivas

surgidas de um povo letrado e que são transmitidas oralmente ou por

exemplificação. O folclore faz parte da vida de todo indivíduo. Surge, adapta-se,

modifica-se, adquirindo novas funções em um processo dinâmico.

O folclore pode ser considerado, além de uma forma de divertimento, um

instrumento enriquecedor das práticas pedagógicas na construção da

aprendizagem. Com ações lúdicas que exigem movimentos e concentração,

desenvolvendo a coordenação motora e cognitiva.

A escolha do tema justifica-se devido às manifestações folclóricas estarem

intimamente ligadas à infância, momento da vida que, se bem aproveitado, podem

contribuir para que as crianças sejam adultos, físico e emocionalmente equilibrados,

capazes de viver de bem com a vida, para não se esquecer de quem são. Dessa

maneira, não se pode permitir que as manifestações folclóricas que fazem parte da

diversidade cultural do nosso país morram. O conhecimento do trabalho pedagógico

baseado nas manifestações do folclore considera sua contribuição de forma

significativa, pois os educadores precisam resgatar as manifestações folclóricas na

forma prazerosa de aprendizagem.

Este trabalho será desenvolvido na área da educação, tendo como subárea

fundamentos da educação, no qual será enfocada a importância do folclore para as

séries iniciais. Para realização do mesmo levantou-se a problemática que o folclore

tratado com seriedade e conhecimento de causa pode ser de grande importância no

processo de ensino-aprendizagem. Diante desta problemática levantou-se como

hipótese principal, que o folclore pode ser considerado, além de uma forma de

divertimento, um instrumento enriquecedor das práticas pedagógicas.

Dentro do exposto, teve-se como objetivo principal evidenciar aspectos do

folclore relacionados a linguagem, ao lúdico, a música, entre outros, enfocando o

folclore principalmente nas séries iniciais.

Esta pesquisa foi desenvolvida com base em fontes bibliográficas, revistas,

jornais e impressos diversos. Sendo destacados neste estudo, o conceito, formação

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e características do folclore nacional e a sua utilização como instrumento de

aprendizagem.

Para o desenvolvimento do trabalho buscou-se fundamentação teórica sobre

o que é folclore, as características do folclore, campos do folclore, elementos

formadores do folclore brasileiro, brincadeiras infantis e a importância para o

desenvolvimento neuropsicológico, folclore como instrumento de aprendizagem, o

folclore e a educação e o folclore e a aprendizagem.

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1 O QUE É FOLCLORE?

Segundo MARQUES (1999), no dia 22 de agosto de 1846, em Londres foi

criada a palavra folclore pelo arqueólogo inglês Willian John Thoms, pesquisador

das manifestações populares de sua época, propôs a criação de uma palavra para

definir toda essa riqueza cultural, para designar os registros dos contos, das

narrativas, dos costumes e uso dos tempos antigos, Thoms escolheu duas velhas

raízes saxônicas. Folk que significa povo e lore saber. Formando assim FOLKLORE,

sabedoria do povo. Com o decorrer do tempo, as duas palavras foram grafadas sem

o hífen, formando uma só: FOLKLORE como foi usada no Brasil até que a reforma

ortográfica suprimiu a letra K, substituída, no caso pela letra C, derivando a forma

Folclore.

O folclore, sendo a sabedoria do povo, a cultura do povo abrange todos os

campos da vida humana, variável em suas manifestações conforme herança de

conhecimento transmitida pelas gerações anteriores, incluindo seus mitos e lendas,

sua estória, parlendas, adivinhas e provérbios, seus contos e encantamentos, seus

teatros, suas artes, seus instrumentos e cantigas, suas festas tradicionais. Suas

crenças e crendices, sua magia, seus tabus e superstições, sua medicina, seus

rezadores e benzedores, suas trovas, desafios e romances, suas orações, seus

brinquedos e seus jogos, suas técnicas populares, suas rendas, bordados, traçados

e cestarias, e sua cozinha. Folclore é “tudo quanto o povo faz, pensa e sente”.

(MARQUES, 1999, p. 29).

No entanto, FREUD (1969, p. 87), com a segurança de estudioso da mente

humana diz: “(...) na vida mental, nada de que uma vez se formou pode perecer e de

que tudo é, de alguma maneira, preservado”. Em outras palavras: o que uma vez

formou-se pode em circunstância apropriada, ser trazido à luz.

A persistência do caráter folclore, nas nações humanas, o residual perene,

através de milênios, as diversas formações que passa a folclorização, são motivos

para se levantar dúvidas sobre o veredicto de muitos estudiosos, de que o folclore

está morrendo ou já morreu. Os fatos folclóricos não são limitados nem pelo tempo,

nem pelo espaço. A dinâmica do folclore e sua mobilidade permanecem.

Formas de pensar, peculiaridade da vida, visão de mundo, valores, maneiras

de operar, segundo MARQUES (1999), tem no folclore um respaldo viabilizado pelos

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mitos – matéria – prima do inconsciente coletivo, um substrato residual de culturas

primordiais, que revisitam ou revitalizam o folclore, daí sua imortalidade. Assim, o

folclore vai se formando nas relações e experiências que são mantidas com o mundo

desde que o indivíduo nasce. Podem-se citar como exemplo, alguns fatores que

agem diretamente ou indiretamente na construção do folclore que são: família, grupo

social, religião, lembranças do passado, escola, estudo, entre outros.

O fato é que esses fatores nunca agem isoladamente, eles dependem uns

dos outros, convivem e formam na teia de relações na qual estamos inseridos. Ao

mesmo tempo em que se recebe a herança folclórica cultural, produz-se o folclore de

formando a identidade folclórica do país, descartando a ideia de o Brasil é apenas o

país do futebol e do carnaval. Isso seria restringir demais a capacidade de enxergar

e expressar o mundo em que se vive.

1.1 CARACTERÍSTICAS DO FOLCLORE

O folclore é uma das formas de representar e expressar a identidade de uma

comunidade é através da interação com esse tipo de conhecimento que ampliamos

e enriquecemos a cada um, individualmente.

A sociedade globalizada, com seus meios de comunicação de massa,

diminui as diferenças de peculiaridade entre as sociedades. Por isso, vê-se a

necessidade de estudar o folclore não somente para preservá-lo, mas também

divulgar aquilo que é a forma de pensar, peculiaridades da vida, valores e a visão do

mundo, haja vista que isso faz parte do inconsciente coletivo e individual humano.

Dessa maneira, a criança que tem contato com a cultura de seu país, o enxerga com outro olhar, ela percebe que a história de sua nação não é a oficial, contada pelos livros, mas a social, feita de indivíduos anônimos cidadão que desenvolveram valores universais, como a tolerância, o respeito, as diferenças, a solidariedade, a democracia, a alegria, a generosidade e a igualdade (RIBEIRO, 1980, p. 32).

Mas como saber se um fato é folclórico? Segundo RIBEIRO (1980, p. 35), “o

fato folclórico tem uma série de características próprias”.

Segundo RIBEIRO (1980), a primeira característica é o anonimato, isto é,

não tem um autor, foi feito por alguém, pela primeira vez, mas o nome desse

alguém, desse autor, se perdeu através dos tempos, despersonalizando-se assim a

autoria da estória de Dona Baratinha que se considerou muito rica ao encontrar um

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vintém e por isso saiu à procura de quem com ela desejasse casar-se. Parece, pelos

seus elementos, ser essencialmente brasileira, pois o noivo é o nosso conhecido

João Ratão, que no dia do casório, por gula, morre num caldeirão que continha

nossa feijoada. Mas, já havia sido registrada em uma coleção de estórias na Índia,

há quase dois mil anos. Quem foi o seu autor? Ninguém sabe. E quem inventou os

brinquedos de roda com suas cantigas, as danças, as adivinhas, as trovas, os

ditados? Quem disse pela primeira vez: quem quer vai quem não quer manda?

A segunda característica é a aceitação coletiva. É a aceitação do fato pelo

povo e, é essa aceitação que despersonaliza o autor. O povo aceitando o fato toma-

o para si, considerando-o como seu, e o modifica e o transforma dando origem a

inúmeras variantes. Assim, esta estória é contada de várias maneiras. Uma cantiga

pode ter diversos trechos diferentes na melodia, os acontecimentos são alterados e

o próprio povo diz “quem conta um conto acrescenta um ponto”.

A mesma coisa acontece com as danças. Elas não tem regulamento, não

são codificadas, tanto pode o conjunto de dançadores dar três voltas completas,

como apenas uma, a indumentária tanto pode ser rica e colorida, como simples e

ingênua.

Segundo RIBEIRO (1980), a terceira característica é a transmissão oral, isto

é, a que se faz de boca em boca, pois os antigos não dispunham de outros meios de

comunicação. Não havia imprensa, portanto, não havia livros e jornais. Todos os

acontecimentos eram transmitidos oralmente. A forma de transmissão oral, ainda

persiste em meios primitivos e no interior de nosso país. Nos povoados distantes,

nos vilarejos esquecidos, nos bairros longínquos, só se aprende, através da

oralidade e da observação. No que se refere à técnica, produção de aparelhos

rudimentares, de tendas, de trançados, se aprende também por imitação,

dispensando, muitas vezes, o ensinamento oral.

Na transmissão oral vive toda a história daquele grupo, daquele povo, e, em

qualquer modalidade particular (lendas, contos com preceitos morais e normas de

procedimentos, narrativas imaginárias sobre a natureza e o sobrenatural, cantos,

provérbios, parlendas, adivinhas, brinquedos, poesias, etc.), facilitando a apreensão

e a conservação. A aquisição de conhecimento dá a cada individuo a possibilidade

de difundi-lo e propagá-lo, cabendo, evidentemente, aos interessados, a

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responsabilidade maior nas cantorias, nas danças e nas técnicas que se fixam pela

prática frequente em comunicação e pelo exemplo e imitação espontânea.

A quarta característica é a tradicional idade, não no sentido de um tradicional

acabado, perimido, coisa passada, sem vida, mas de uma força de coesão interna

que define o modelo do conglomerado, da região, do povo e lhe dá uma unidade.

Sem poder se valer de outros expedientes, como professores, escolas, imprensa, as

pessoas do povo se valem da tradição, veiculada pela transmissão oral, a fim de

resolver suas situações, buscando na lição vinda do passado o que precisam saber

no presente, já que suas possibilidades as endereçam mais à sabedoria constituída

que a inventiva.

A tradição, que é o modo vivo e atual pelo qual se transmitem os

acontecimentos, não ensinados na escola, rege todo o saber popular, seja o

desenvolvimento de um jogo, de uma dança, de uma técnica, seja uma atitude ante

qualquer agente que exija definição de comportamento. Essa força, que age no

sentido de garantir a permanência dos valores de uma cultura, não serve seu

destino nem cumpre sua missão sem lutas, sem empecilhos. Elementos de outras

culturas a submetem a pressão, e isto provêm de não ser absolutamente fechado o

campo da cultura, antes é um campo aberto onde se agitam as influências do próprio

meio e as externas. Somente a inércia poderia retardar essas modificações, mas a

cultura é viva, é dinâmica, e sofre, evidentemente, impactos em todos os setores.

Segundo RIBEIRO (1980), a quinta característica é a funcionalidade, tudo

quanto o povo faz tem uma razão, um destino, uma função. O povo nada realiza sem

motivo, sem determinante estritamente ligada a um comportamento, a uma norma

psico-religioso-social-social, cujas origens talvez se perderam nos tempos.

A dança, por exemplo, não é apenas uma repetição de gestos com feição

harmoniosa. Inicialmente teria tido um destino, seja decorrente de rito religioso, seja

de cerimônia do grupo e, assim, deve ser vista como parte integrante de um todo, da

cultura do povo, e uma expressão a ser analisada como integrante de um contexto

histórico.

Por que o povo canta? Segundo RIBEIRO (1980), canta para rezar, para

adormecer uma criança, para trabalhar, para festejar as colheitas e os

acontecimentos, canta para ajudar a morrer e para enterrar seus mortos. Mas, não

dá concertos, recitais, audições, como os eruditos. As suas festas têm épocas

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marcadas, com seus cantos e danças próprias. Assim, o natal é comemorado com

grupos de pastorinhos, bailes pastoris e Folias de Reis. O Bumba-meu-boi aparece

em datas distintas, variando conforme a região, Congadas e Moçambique louvam a

Senhora do Rosário e São Benedito, e ainda, as danças de São Gonçalo e de Santa

Cruz, com destino certo.

De todas as características, a mais importante é a funcionalidade. O fato

folclórico sempre é precedido por alguma necessidade, mesmo que seja lúdica.

Quando esta necessidade cessa, este fato folclórico específico passa a ser visto

como memória folclórica.

1.2 CAMPOS DO FOLCLORE

Formada pelo acervo imemorial, a literatura oral é o setor do Folclore que,

numa devida adequação pedagógica, apresenta o maior número de elementos

carreadores de bens da cultura empírica e espontânea, aplicáveis nas diversas

áreas de ensino.

“O campo da literatura oral abrange a música, danças e festas, linguagem,

usos e costumes, brinquedos e brincadeiras, lendas mitos e contos, crenças e

superstições, arte e artesanato.” (RIBEIRO, 1980, p. 41).

a) Música – Caracteriza-se pela simplicidade, monotonia e lentidão. Sua origem

pode estar ligada a uma música popular cujo autor foi esquecido ou pode ter sido

criada espontaneamente pelo povo. Observa-se a música folclórica, sobretudo

em brincadeiras infantil, cantos religiosos, ritos e outros.

b) Linguagem - As principais manifestações do folclore na linguagem popular são as

seguintes: adivinhações, parlendas, provérbios quadrinhas, piadas e outros.

c) Usos e costumes - Neste campo inclui-se itens a respeito da alimentação, cultivo,

vestuário, comportamento etc, de um povo de uma região.

d) Brinquedos e brincadeiras – Representam à lúdica tradicional e ocorrem em

todas as sociedades conhecidas por serem inerentes a natureza humana. Os

brinquedos são utilizados sozinhos, as brincadeiras envolvem algum tipo de

disputa, como pega-pega, bolinha de gude, esconde-esconde e outros.

e) Lendas, mitos e contos – A lenda é a imaginativa sobre a realidade. Reveste a

vida dos santos, dos heróis e dos bandidos; explica a razão do que vê e não

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compreende; aponta o que acredita ser a origem das coisas e dos fenômenos. O

mito é irreal, mas é realidade para quem nele crê. Todos os povos tecem sua

mitologia, gregos, romanos. Os mitos brasileiros, em sua maioria são indígenas

(saci, iara, boto), o lobisomem é europeu e o quimbungo é africano. Os contos

são narrativas com tramas romanescas, na qual a imaginação é levada à

aventura, sem compromisso com a realidade. O conto instrui, por encerrar a

beleza, a bondade e os melhores sentimentos, tem finalidades, ética, estética e

morais, servindo para recrear.

f) Crenças e superstições – A crendice não gera temor e condiciona o individuo a

acreditar em coisas que podem dar determinado resultado, como apontar estrela

dá verruga no dedo. A superstição é tudo aquilo que o homem crê por temor,

sem nenhuma razão de ordem científica ou religiosa. Crê em coisas que dão

sorte ou azar, que favorecem ou prejudicam, como por exemplo: horror ao

número treze, começar com o pé direito e outros.

g) Arte e artesanato – O artesanato é realizado pela gente do povo, que não o

aprendeu em estudo dirigido (escola, oficina), mas o fez veiculando uma tradição

cultural de sua área e pela necessidade de exprimir coisas e idéias que atingiram

a sua sensibilidade.

1.3 ELEMENTOS FORMADORES DO FOLCLORE BRASILEIRO

Segundo REZENDE (2010, p. 4),

a cultura folclórica brasileira formou-se pela herança cultural indígena, negra e portuguesa. Assim, o folclore brasileiro é constituído por uma mistura (miscigenação) de três raças: a raça branca, a raça amarela, a raça negra.

A raça branca, representada pelos colonizadores portugueses trouxe para o

Brasil, seus hábitos, seus costumes, tradições e sua música. Foi a maior influência

cultural que recebemos. Segundo REZENDE (2010), os brasileiros herdaram dos

portugueses:

a) A língua portuguesa;

b) A religião católica com suas diversas manifestações (igreja, procissões, devoção

aos santos, festas religiosas, festas juninas);

c) As brincadeiras de roda, folia de reis, bumba meu boi, entre outros.

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A raça amarela, representada pelo índio nativo. A liberdade, uma das

características básicas da formação do caráter do homem brasileiro, foi herdada,

segundo REZENDE (2010), do indígena, que reagiu ao trabalho que o português

quis lhe impor. Herança indígena:

a) Alimentos (mandioca, milho, guaraná);

b) Objetos (cestos, instrumentos musicais como o maracá, chocalho);

c) Lendas;

d) Vocabulário (inúmeras palavras da língua tupi como: abacaxi, amendoim, caju,

pipoca/ nomes de pessoas: Araci, Iara, Ubirajara/ nomes de lugares: Chapecó,

Cuiabá, Ipanema);

e) Hábitos (o uso do tabaco, o uso de cores fortes e enfeites).

Apenas algumas crenças relativas à flora, à fauna e aos acidentes

geográficos foram conservadas, de forma fragmentada e incorporada ao novo

folclore.

A raça negra, segundo REZENDE (2010), representada pelos africanos

trazidos como escravos para os trabalhos pesados nas fazendas. À noite, recolhiam-

se à senzala para esquecer os maus tratos e trabalho duro do dia-a-dia, cantavam e

dançavam os ritmos de sua pátria distante. Herança Negra:

a) Alimentos (diversos doces como, cocada e pé de moleque; vatapá, acarajé);

b) Religião (crenças religiosas que deram origem à umbanda e ao candomblé);

c) Música (a música popular brasileira herdou dos negros a sua força rítmica). A

música negra deu origem ao samba, maracatu; dentre os principais instrumentos

musicais herdados dos negros, pode-se citar: agogô, cuíca, chocalho, berimbau,

reco-reco, tambor, triângulo, dentre outros.

d) Danças dramáticas (maracatu, congada);

e) Vocabulário (banana, caçula, fubá, xingar);

Conhecendo um pouco das três raças, pode-se concluir que as

manifestações folclóricas em nosso país já existiam, com os índios antes do

descobrimento e a chegada dos portugueses colonizadores e o negro africano. Os

aspectos dominantes do folclore brasileiro são de origem européia, pois, os

portugueses constituíram a camada socialmente dominante da população colonial. A

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influência indígena ou negra aumenta ou diminui conforme a região, de acordo com

a importância relativa que cada uma dessas etnias assume no processo de

colonização. Por outro lado, a transformação do modo de vida, decorrente da

necessidade de adaptação ao novo ambiente, impedia a simples transplantação do

folclore luso.

Dessa forma, o folclore brasileiro está basicamente dividido por regiões, com

características próprias de influência indígena, negra e portuguesa. Segundo

REZENDE (2010):

a) Região Norte - Amazonas: grande influência indígena e, principalmente,

portuguesa. Literatura: contos e lendas do jaboti, do boto; Dança: pau de fita;

Folguedo Folclórico: reis, pássaros, pastorinhas, boi-bumbá.

b) Região Nordeste - Bahia: influência portuguesa, indígena, de usos e costumes

variados. Mas também africana de Guiné, Congo e Angola com seis hábitos e

costumes característicos. Literatura: mitos, lobisomem, caboclo d’água, caipora;

Folguedo folclórico: macule lê, 2 de fevereiro, dia de Nossa Senhora da Purificação,

ciclo natalino, festa do Divino Espírito Santo. Culinária: vatapá, moqueca, acarajé.

c) Região Centro-Oeste - Mato Grosso/Cuiabá: influência indígena e lusitana.

Literatura: lendas estórias e contos, mitos: boi-tatá, saci-pererê, mula-sem-cabeça;

Dança: siriri, dança de pares, coreografia improvisada, canhetê, dança só par de

homens ao som da viola de sapateado e palmeado; dança de São Gonçalo,

cumprimento de promessas. Folguedo folclórico: Conto e folia de Reis. Culinária:

arroz com pequi, licor de pequi, farofa de banana, pacu frito, canjica, entre outros.

Artesanato: cerâmica utilitária, cesta, peneira, picão, colher de pau, rede para dormir.

Principais eventos: procissão de Nosso Senhor do bom Jesus, festa de Reis no mês

de Janeiro; em abril, festa de são Benedito, além das cerimônias religioso-populares,

apresenta-se o Congo, em Nossa Senhora do Livramento; em junho, ciclo junino,

levantamento de mastro, tendo na extremidade superior, a bandeira dos três centos

do mês, agosto a semana do folclore em Cáceres.

d) Região Sudeste - Espírito Santo: influência portuguesa, com grande contribuição

africana e indígena. Literatura: lenda a Pedra do Diabo; Dança: mana-chica,

semelhante à quadrilha. Folguedo folclórico: ticum bi e alado, festa de Nossa

Senhora dos Navegantes; Culinária: moqueca e torta capixaba.

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e) Região Sul - Curitiba: influência indígena, portuguesa e de imigrantes italianos,

germânicos e outros. Literatura: mitos: saci, lobisomem, gralha azul, lendas vila

velha, erva mate; Dança: pau-de-fita, fandango, catira; Culinária: café colonial,

carneiro no buraco, pintado na telha; Folguedo folclórico: folia de reis, festa do

tropeiro, corpus Christi, (tapete nas ruas, de pó de café, flores, serragem e material

reciclado), apresentação de grupos étnicos dos povos imigrantes, autos de natal,

presépios e outros.

Dentro deste contexto, necessita-se conhecer as características do folclore

nas diferentes regiões do Brasil. Algumas regiões possuem maior tendência a uma

origem mais detalhada. A cultura negra é mais difundida na região litorânea, pois os

negros foram marcantes na história da colonização do Brasil.

As diversas etnias fazem com que o folclore seja rico em relação aos outros

países; a miscigenação trouxe às raízes do Brasil uma beleza peculiar e muito

valorizada pelo mundo. Cada região brasileira possui características próprias e se

difere, com suas lendas, costumes, superstições e músicas.

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2 BRINCADEIRAS INFANTIS: IMPORTÂNCIA PARA O DESENVOLVIMENTO

NEUROPSICOLÓGICO

O lúdico é transmitido de geração em geração, e, segundo KISHIMOTO

(1993), os mais populares nas décadas de 50 a 80, realizados tanto pelos meninos

como pelas meninas era a mímica, rimas, cobras-cegas, esconde-esconde, cara ou

coroa e outros.

As brincadeiras que compõem o repertório infantil e que variam conforme a

cultura regional apresenta-se como oportunidades privilegiadas para desenvolver

habilidades no plano motor, como empinar pipas, jogar bolinhas de gude, pular

amarelinhas, brincadeiras de roda, jogo da forca e outros. É também através das

brincadeiras que a criança compartilha com o outro o sentimento de adversário e o

de parceria. Esta relação afeta as emoções e põe a prova às habilidades e aptidões

testando os limites da criança, WAJSKOP (1999, p. 32), afirma que "do ponto de

Pvista do desenvolvimento da criança, a brincadeira traz vantagens sociais,

cognitivas e afetiva".

Brincando e jogando que a criança terá oportunidade de desenvolver

capacidades como atenção, afetividade, concentração e outras habilidades. É como

afirma PIAGET (1998, p. 69), “o jogo constitui-se em expressão e condição para o

desenvolvimento infantil, já que as crianças quando jogam assimilam e podem

transformar a realidade.”

Brincar é fonte de prazer e descoberta para criança, uma realidade cotidiana

em suas vidas. E, para que brinquem, é suficiente que não sejam impedidas de

exercitar a imaginação simbólica instrumento que lhes fornece os meios de assimilar

o real aos seus desejos e aos seus interesses.

A brincadeira é um meio privilegiado de inserção na realidade: expressa a forma com a criança reflete, ordena, organiza, destrói e reconstrói o mundo a sua maneira e são também uns espaços onde pode expressar, de modo simbólico, suas fantasias, desejos, medos, sentimentos e os conhecimentos construídos a partir da experiência vivida. (NEGRINI, 2001: 23).

As atividades lúdicas são indispensáveis para apreensão dos conhecimentos

artísticos e estéticos, pois possibilitam o desenvolvimento da percepção, da

imaginação, da fantasia e dos sentimentos. A prática artística é vivenciada pela

criança como atividade lúdica onde o fazer se identifica com o brincar, o imaginar

com a experiência da linguagem ou da representação.

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Com relação ao jogo, PIAGET (1998), acredita que ele é essencial na vida

da criança. De início tem-se o jogo de exercício que é aquele em que a criança

repete uma determinada situação por puro prazer, por ter apreciado seus efeitos. Em

torno dos 2-3 e 5-6 anos nota-se a ocorrência dos jogos simbólicos, que satisfazem

à necessidade da criança de não somente relembrar mentalmente o acontecido,

mas de executar a sua representação.

Em período posterior surgem os jogos de regras, que são transmitidos

socialmente de criança para criança e por conseqüência vão aumentando de

importância de acordo com o progresso de seu desenvolvimento social.

Dentre as modalidades de jogos e brincadeiras encontram-se, neste período,

os jogos de exploração e transformação dos objetos e materiais, os de movimentos

e os jogos de ficção ou faz-de-conta.

Nos jogos simbólicos, as crianças podem assumir diferentes papéis,

introduzir objetos ausentes (simular que está dando comidinha), pretender a

presença de bichos (Olha o lobo!), pessoas e objetos sem algo que os indique. Elas

podem, ainda, dar vida a objetos inanimados (o cachorro de pelúcia late) e simular

fenômenos naturais (chuva, sol, tempestade etc.), atividades cotidianas e de lazer

(passeios), tarefas domésticas, profissões dos adultos e outros.

O poder do jogo, de criar situações imaginárias permite à criança ir além do real, o que colabora para o seu desenvolvimento. No jogo a criança não é mais do que é na realidade, permitindo-lhe o aproveitamento de todo o seu potencial. Nele a criança toma iniciativa, planeja, executa, avalia. Enfim, ela aprende a tomar decisões, a introjetar o seu contexto social na temática do faz de conta. Ela aprende e se desenvolve. O poder simbólico do jogo do faz-de-conta abre um espaço para a apreensão de significados de seu contexto e oferece alternativas para novas conquistas no seu mundo imaginário. (KISHIMOTO, 1993, p. 43).

Nos jogos de exploração e transformação dos objetos e materiais percebe-

se a mesma essência da descoberta e criação de significados. Nesta atividade, tida

por alguns teóricos como jogo de construção ou de fabricação, a criança vai

explorar, utilizando todos os seus sentidos, materiais industrializados ou não, inteiros

ou quebrados, novos ou velhos (das mais diversas ordens, tais como tintas, lápis,

papéis, linhas, sucatas, embalagens, cacos de telha, cerâmicas etc.), elementos da

natureza (paus, galhos, pedras, conchas) e produtos da cultura. Esta exploração é

acompanhada pela verbalização: a criança "narra" o que está fazendo. Construir,

destruir, transformar objetos leva a criança a conhecer as propriedades dos

materiais, constituindo conceitos de peso, textura e tamanho (altura, largura e

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espessura). Uma vez constituídos estes conceitos, a ação da criança no meio será

modificada.

Os jogos de movimentos são resultantes da transformação do papel do

movimento no desenvolvimento infantil. O movimento tem uma função muito

importante e predominante nos primeiros anos de vida. Esta predominância vai

cedendo lugar à linguagem verbal, que passa a regular a ação da criança, mas o

movimento não desaparece e se mantém por muito tempo ainda como função

primordial no processo de construção do conhecimento.

Dentre os jogos de movimento que predominam na ação coletiva da criança,

também existem as brincadeiras de roda, de bola, lenço-atrás, amarelinha, caracol,

coelho-na-toca, pega-pega, competições entre dois times (queimada, barra-

manteiga, bandeira e outros).

Segundo KISHIMOTO (1993), os jogos de ficção ou faz-de-conta são

atividades que a criança pode exercer sozinha, ou em grupos de três ou mais

crianças. Ele pode organizar-se tanto em função de brinquedos, objetos presentes

no cotidiano (guarda-chuva, bolsa), objetos não-estruturados (pedaços de madeira,

sabugo, retalhos), como em função de expressões e ações corporais. A organização

e a duração do faz-de-conta podem variar de acordo com a quantidade de objetos e

a sua possível partilha entre os parceiros, com os espaços e sua divisão, com a

presença ou não de adultos.

Embora se fale muito da espontaneidade da criança, a complexidade do

brincar de faz-de-conta depende, na verdade, das experiências pelas quais ela

passa que enriquecem seu repertório e nutre seu imaginário (do qual depende, em

última análise, a atividade de brincar de faz-de-conta).

Esta diversidade de formas e funções que o brincar assume na infância em

primeiro lugar, mostra a sua complexidade e, em segundo, sugere que compreender

sua importância na infância deve passar necessariamente pela compreensão da

importância que a atividade lúdica tem para o ser humano em qualquer idade e para

o desenvolvimento cultural de um povo.

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3 O FOLCLORE COMO INSTRUMENTO DE APRENDIZAGEM

O primeiro contato com a linguagem folclórica se dá muito cedo, já nos

primeiros dias de vida. Ele acontece suavemente, numa voz afinada ou não, com as

cantigas de ninar.

Segundo FRANTZ (2001, p. 53 ), “o tempo vai passando e então surge o

Dedo minguinho, seu vizinho, pai de todos., passando depois para (...) cadê o

toucinho daqui? O gato comeu (...).” E assim, as parlendas passam a integrar o

cotidiano infantil.

Depois é a vez da linguagem se tornar movimento, melodia e mão na mão

girar e cantar. Música e movimento nos dão asas, nos soltam no espaço, no mundo

da imaginação. “Se essa rua, se essa rua fosse minha (...).” (FRANTZ, 2001, p. 53).

Com o passar do tempo, um conto vai tomando o lugar da cantiga de ninar

para encantar e relaxar a criança na espera do sono. São contos de fadas, contos

maravilhosos, lendas, fábulas, mitos.

E assim, através da voz materna essa herança cultural vai sendo transmitida

de geração a geração.

“O contato físico, o carinho, o texto folclórico criam um vínculo afetivo muito forte entre a criança e o adulto e isso estará sempre associado a momentos de ludismo, prazer, emoção e carinho que essas vivências proporcionaram” (FRANTZ, 2001, p. 55).

Esses textos irão se alternando com outros textos que continuarão

alimentando a fantasia, mexendo com as emoções e mostrando o mundo, a vida de

uma forma lúdica, mágica e emocionada.

“Tem na família, na comunidade, um espaço privilegiado. É um conhecimento que a criança traz na sua bagagem cultural quando chega à escola. É a cultura viva do seu grupo social. Cabe à escola dar continuidade e ampliar essas vivências” (FRANTZ, 2001, p. 55).

Observa-se também que nas famílias, os pais dispõem cada vez de menos

tempo para transmitirem esta herança cultural aos seus filhos. O novo ritmo de vida

imposto aos pais trabalhadores deixa muito pouco tempo para dedicar a esta

experiência. As brincadeiras de roda são substituídas por danças de grupos da

moda. À noite, ao invés de história lida na cama, a criança adormece no sofá em

frente à televisão.

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Em função disso, este espaço cada vez mais reduzido na família precisa ser

compensado com um espaço cada vez maior na escola, para assegurar junto às

futuras gerações toda essa riqueza que é herdada dos antepassados. Isso, ainda é

muito válido nos dias de hoje.

“O folclore é uma fonte riquíssima de conhecimento, ludismo, fantasia,

emoção e poesia que oportuniza uma aproximação maior com nossas raízes

culturais.” (FRANTZ, 2001, p. 56). Este riquíssimo material está ao alcance de todos

e sabe-se que ele tem uma importante contribuição no processo ensino

aprendizagem.

3.1 O FOLCLORE E A EDUCAÇÃO

Segundo CASCUDO (1988, p. 35), um dos maiores estudiosos do folclore do

país, “a manifestação folclórica é o primeiro leite intelectual que a criança recebe, já

que através delas se expressam costumes, idéias, mentalidades, decisões,

julgamento, e se revelam à memória e a imaginação do nosso povo.”

O decreto 48310 de 1967 determina que as escolas comemorem o folclore

no mês de agosto, precisamente no dia 22. Mas, entretanto, essa legislação é

considerada insuficiente por folcloristas e cientistas sociais. Grande parte das

escolas brasileiras estuda o tema uma vez ao ano e é comum que essa

comemoração se restrinja a um trabalho sobre o curupira ou o saci-pererê. Não são

abordados os mitos, lendas e tradições do ponto de vista histórico, sociológico,

psicológico e econômico.

“Estabelecer um dia de homenagem não significa nada quando nem o

professor nem o aluno sabem bem o que estão homenageando”, critica SOUZA,

(2002, p. 57). Além disso, a cultura popular não é efeméride, ela está presente todos

os dias nas ruas, nas comunidades periféricas, indígenas e afro-brasileiras. Portanto,

a cultura folclórica deve ser trabalhada no dia-a-dia. Ela faz parte da identidade

brasileira e os professores podem explorá-la em várias disciplinas. E quando os

pesquisadores falam da importância de se preservar as raízes do Brasil, é no sentido

de não só resgatar, mas de dar visibilidade, pois as tradições continuam vivas, “elas

só não são visíveis na grande sociedade e nos meios de comunicação de massa,

acrescenta.” (SILVA, 2006, p. 59).

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Os educadores precisam ensinar o passado e as raízes do Brasil, mas,

sobretudo mostrar aos seus alunos que eles fazem parte dessa história, a partir de

suas famílias, de sua cidade, de seu estado, e assim por diante. É uma maneira

encontrada de apresentar às crianças a sua identidade e, ao mesmo tempo, fazer

com que elas desenvolvam autonomia, cidadania e respeito.

Ao brincar de cantiga de roda, por exemplo, as crianças revivem uma tradição importante da cultura folclórica brasileira e estabelecem entre elas uma relação de cumplicidade. De mãos dadas, olhando-se de frente, cada criança se sente dentro do grupo, parte da coletividade que é a sala de aula. (MARQUETTI, 2005, p. 35).

Dessa forma, percebe-se que a utilização do folclore no contexto escolar

auxilia de forma positiva a aprendizagem.

GUIMARÃES (2002), mostra a importância de trabalhar esse assunto, que

engloba diferentes áreas do conhecimento. Primeiramente há diversão nas

atividades folclóricas: os jogos, brinquedos e brincadeiras são atividades básicas

que, por um lado, contribuem para o desenvolvimento físico, motor, emocional e

social do indivíduo e, por outro, podem servir como uma espécie de laboratório onde

se praticam e se aprendem as regras da sociedade com a qual vivemos e para a

qual devemos apresentar a nossa parcela de contribuição, aprendendo a agir como

um ser social que coopera e sabe competir. Portanto se tratadas com a devida

seriedade e conhecimento de causa, as expressões de folclore poderão ser de

grande importância como auxiliares dos procedimentos didáticos.

O uso de músicas, imagens, danças, folclore, pode e deve ser encarado como atividade lúdica, de encantamento entre as crianças. Jogos e brincadeiras variadas podem ser estimulados a partir do conhecimento e identificação das cantigas. Desenhos, histórias seriadas, dramatizações, contos, teatro, adivinhas, são alternativas de trabalho objetivo a se desenvolver em aula com as crianças. (BRASIL, 2001, p. 31).

A vivência do folclore é um conhecimento que a criança traz na sua

bagagem cultural quando chega à escola. Cabe a escola dar continuidade e ampliar

essas vivências Dessa forma, professores e alunos encontrarão no material

folclórico uma fonte riquíssima de conhecimento, de ludismo, fantasia, emoção e

poesia que oportunizarão uma maior aproximação com as raízes culturais. Até

porque os próprios pais da geração mais jovem pouco sabem do nosso folclore. Em

função disse, este espaço cada vez mais reduzido na família precisa ser

compensado com um espaço cada vez maior na escola, para assegurar a

continuidade junto às futuras gerações de toda essa riqueza que herdada dos

antepassados.

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3.2 O FOLCLORE E A APRENDIZAGEM

Na escola, muitas ciências, disciplinas e artes estão intensamente ligadas ao

folclore, e, assim, a escola pode e deve servir-se como excelente meio de

transmissão de conhecimento, ao mesmo tempo revelador da cultura do povo.

A sua maior aplicação será no setor de linguagem oral e escrita, com a

amplitude dos contos nos objetivos éticos, morais e estéticos a serem por meio deles

atingidos. A criança é conduzida a um mundo de fantasias, no qual o espírito

repousa e se encanta. O conto é um veículo educativo, usado nas mais diversas

civilizações e do mesmo modo entre os povos naturais, para realce dos feitos dos

seus heróis e das virtudes de seus antepassados.

“Os provérbios, que representam uma condensação de sabedoria, as adivinhas, que são testes de conhecimentos, as parlendas, os jogos, os brinquedos, recreiam, estimulam as relações sociais e reafirmam a unidade grupal.” (BRASIL, 2001, p. 34).

Segundo VYGOTSKY (1988), a relevância de brinquedos e brincadeiras são

indispensáveis para a criação da situação imaginária. Revela que o imaginário só se

desenvolve quando se dispõe de experiências que se reorganizam. A riqueza dos

contos, lendas e o acervo de brincadeiras constituirão o banco de dados de imagens

culturais utilizados nas situações interativas. Dispor de tais imagens é fundamental

para instrumentalizar a criança para a construção do conhecimento e sua

socialização.

Ao brincar, a criança movimenta-se em busca de parceria e na exploração

de objetos; comunica-se com seus pares; se expressa através de múltiplas

linguagens; descobre regras e toma decisões.

Na história do Brasil, na geografia e nas ciências, as lendas relativas à

escravidão, mineração, bandeiras, heróis, os tipos brasileiros e seus traços culturais,

os ambientes em que vivem as serras e lagoas e mares com seus mitos, animais,

vegetais e minerais. Em matemática, inúmeras fórmulas e outras contribuições, em

parlendas ou poesias e jogos; no desenho, trabalhos manuais, artes e artesanatos, o

uso do material local, com revalorização de seus usos e seus motivos típicos

ornamentais; música, as nossas melodias, ritmos e instrumentações, ainda a dança

e o teatro, com apresentações da beleza que existem nesses campos.

Portanto, segundo RIBEIRO (1980), a introdução do folclore na educação

contribuirá de forma significativa para o desenvolvimento infantil. O folclore é vivo e

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amplo, e é partindo dessa amplitude que o professor deve apropriar-se do folclore e

levá-lo para a sua sala de aula. Também com a oportunidade de reviver,

experimentar ou lembrar as manifestações que estão na base da construção da

identidade dos povos.

É importante despertar nas crianças, sentimentos de emoção, de

entusiasmo e de amor pelas coisas de nossa terra, preservando toda a poesia de

ingenuidade e a pureza da sabedoria folclórica.

Para desenvolver um bom trabalho sobre o folclore, segundo RIBEIRO

(1980), o educador deve descobrir o que há ao seu redor, como o artesanato,

vendido nas feiras, as brincadeiras, as comidas, as bebidas, a maneira de receber

as pessoas e as comemorações e a partir dessa pesquisa pessoal encontrar uma

fonte inestimável de aprendizagem para seus alunos. É a possibilidade de trabalho

de pluralidade cultural que o folclore oferece. Da mesma maneira o educador poderá

solicitar dos seus alunos dados sobre o folclore produzido na sua comunidade.

Durante o processo de aprendizagem, se o professor tiver como método de

trabalho as riquezas do folclore nacional, poderá oferecer aos seus alunos aulas

interativas, divertidas e prazerosas.

É de competência do setor educacional trabalhar em vários planos e linhas de ação, incluindo a cultura popular tradicional nas disciplinas educativas, ao mesmo tempo contando com a colaboração dos que portam essa cultura, como artesãos, dançadores, instrumentistas, cantadores. Portanto, o aproveitamento do folclore como instrumento didático, de aprendizagem (RIBEIRO 1980, p. 235).

O processo de aprendizagem da criança dá-se também através da

curiosidade e pelo desejo de conhecimento. Por isso, é importante que as

manifestações folclóricas sejam desenvolvidas na escola como parte dessa

investigação de conhecimentos e para que a criança tome consciência da sua

função como parte integrante da construção e da preservação da diversidade

cultural que lhe é oferecida. Segundo as propostas apresentadas nos Parâmetros

Curriculares Nacionais:

A ação física é a primeira forma de aprendizagem da criança, estando a motricidade ligada à atividade mental. Ela se movimenta não só em função de respostas funcionais (como ocorre com a maioria dos adultos), mas pelo prazer do exercício, para explorar o meio ambiente, adquirir melhor mobilidade e se expressar com liberdade. (BRASIL, 2001, p. 67).

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Assim, o folclore está intimamente ligado a esse desenvolvimento, quando o

educador trabalhar com as crianças a riqueza das cantigas de roda, danças,

brincadeiras de ruas, ciranda, amarelinha.

O educador poderá desenvolver diversas atividades com enfoque nos textos

populares como parlendas, adivinhas, trava-língua e poemas, desenvolver

atividades de interpretação e produção textual e formação de palavras a partir de

tais temas. Assim como a leitura e a escrita durante toda a primeira fase do ensino

fundamental, criando situações descontraídas, lúdicas, de aprendizagem na sala de

aula. Além do mais, o restante das tradições culturais da comunidade, a retomada

dos costumes e dos saberes populares elevam a auto-estima e fortalece os laços

entre as pessoas da família, entre as gerações e os diversos segmentos sociais do

grupo. Aliás, quem não se lembra de uma cantiga de roda, uma parlenda, trava-

línguas ou mesmo uma história contada pela mãe durante a infância?

Ciranda, cirandinha, Vamos todos cirandar, Vamos dar a meia-volta, Volta e meia vamos dar. O anel que tu me deste Era vidro e se quebrou. O amor que tu me tinhas, Era pouco e se acabou. Por isso, dona Ana, Entre dentro dessa roda, Diga um verso bem bonito, Diga adeus e vá-se embora. Atirei o pau no gato-to, Mas o gato-to não morreu-reu-reu. Dona chica-ca admirou-se-se Do berro, do berro que o gato deu: MIAU! (RIBEIRO, 1980, p. 237).

Segundo FALCÃO (1984, p. 19), “em psicologia, aprendizagem é o processo

de modificação da conduta por treinamento e experiência, variando da simples

aquisição de hábitos a técnicas mais complexas.” As brincadeiras e os ensinamentos

folclóricos são importantes mecanismos para desenvolvimento da aprendizagem da

criança.

PIAGET (1998), diz que a atividade lúdica é o berço obrigatório das

atividades intelectuais da criança, estas não são apenas uma forma de desafogo ou

entretenimento para gastar energia das crianças, mas meios que contribuem e

enriquecem o desenvolvimento intelectual.

Dessa maneira pode-se afirmar que o folclore é um instrumento de

aprendizagem, suas cantigas, jogos, adivinhas, parlendas. Porém, sem usar o

folclore somente por causa do aspecto lúdico, o mesmo vira a brincadeira pela

brincadeira, e se for para brincar por brincar, é melhor brincar em casa e não na

escola. Na escola é preciso brincar muito, mas para aprender, ou seja, a proposta

não é simplesmente ensinar as tradições e manifestações folclóricas, mas ligá-las a

um conhecimento mais amplo. Saber por exemplo como uma festa folclórica

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tradicional pode ser um fator gerador de auto-estima, gerando socialização e

aprendizagem.

O folclore é uma alternativa ao lado da ciência e da tecnologia disponível

para a educação de qualidade, e não apenas as manifestações festivas e as

tradições do povo brasileiro, mas ao conjunto de suas criações, as maneiras como

se organiza e se expressa, aos significados e valores que atribui ao que faz, aos

diferentes modos de trabalhar, ao jeitos de falar, aos tipos de música que cria, as

misturas que faz na religião, na culinária, etc.

Segundo PIAGET, apud FURTH (2000, p. 59), ao definir aprendizagem,

“trata-se de uma mudança de comportamento, no sentido mais amplo que a palavra

possa ter. Realmente a criança que ao entrar na classe de alfabetização não lê, e,

ao final do ano, está lendo, apresenta uma modificação”. Quem não resolvia uma

operação aritmética e passa a resolver, apresenta uma modificação, quem adquire

novas informações, preparar certo prato culinário, o termo, portanto, não se aplica

somente as ditas aprendizagens escolares que o estudante deve através de uma

prova demonstrar que adquiriu. A aprendizagem é fenômeno do dia-a-dia, que

ocorre desde o início da vida e a infância é, sem dúvida a idade em que mais se

aprende.

O professor, ao dirigir e estimular o processo de ensino em função da aprendizagem dos alunos, deve utilizar intencionalmente um conjunto de ações, condições e procedimento,, aplicando métodos ativos de ensino (solução de problemas, pesquisa, estudo dirigido, desafios) devendo ter clareza de que somente são válidos se estimulam a atividade mental e criativa dos alunos. (LIBÂNEO, 1997, p. 150).

Considerando as manifestações folclóricas ricas em matéria-prima para o

desenvolvimento e estímulos para atividade mental dos alunos nas séries iniciais,

pode-se exemplificar algumas dessas multiplicidades que o folclore oferece ao

educador.

Estas atividades, segundo LIBÂNEO (1997), desenvolvem a atenção e o

raciocínio, a agilidade de pensamento, faz-se o uso das adivinhas. As crianças se

reúnem e desafiam umas as outras. O que é o que é?

1. Quanto mais cresce, menos se vê? (escuridão)

2. São dois irmãos bem irmanados: um só se come cru e outro só se come assado?

(caju e castanha)

3. Tem dente e não tem boca, tem cabeça e não tem pés? (alho)

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4. São três irmãos, o primeiro já morreu, o segundo vive conosco e o terceiro não

nasceu. (passado, presente e futuro).

RIBEIRO (1980), com o uso das parlendas o educador poderá desenvolver

ritmo, expressão oral, realizar trabalhos de transmissão de um conhecimento,

ensinar aspectos da relação entre letras e sons, atividades de leitura e escrita e

ainda a distração da criança.

Os dedos

Dedo mindinho,

Seu vizinho,

Maior de todos,

Fura-bolos,

Cata-piolhos.

Sou pequenininho,

Do tamanho de um botão,

Carrego papai no bolso

E mamãe no coração.

Um, dois,

Feijão com arroz.

Três, quatro,

Feijão no prato.

Cinco, seis,

Falar inglês.

Sete, oito,

Comer biscoito,.

Nove, dez,

Comer pastéis.

Conforme RIBEIRO (1980, p. 39) descreve:

A dramatização de folguedos, de lendas e dos contos, direta ou por meio de bonecos, representa o teatro do povo na escola, proporcionando, além do ensejo da aplicação de um fato folclórico, o dia da pesquisa bibliográfica, favorecendo o desenvolvimento da criatividade no preparo da indumentária, do cenário, da movimentação cênica, da redação do texto. Além desses impulsos, o teatro – a representação – é fator importante de adequação do aluno à sua realidade. Ao aprender a cumprir no palco o desempenho de

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um personagem realiza, com maior desenvoltura, seu papel dentro da comunidade.

Partindo desta descrição, pode-se utilizar os folguedos como recurso

pedagógico. É interessante pedir para que os alunos façam uma pesquisa sobre

folguedos locais, regionais ou até mesmo nacionais, consultando bibliografia

especializada, pessoas da comunidade que se interessam pela preservação do

folclore, época em que é apresentado, que tipo de instrumento musical, coreografias,

desenhos, recortes em jornais ou revistas.

Este trabalho pode ser realizado em pequenos grupos, onde cada um ficará

responsável por um aspecto da manifestação focalizada com muita animação. As

tradicionais festas juninas, de influência da cultura portuguesa, acontecem no mês

de junho e são dedicadas a Santo Antônio, São João e São Pedro. Essas festas são

bastante alegres e contagiam muitas pessoas, sendo apresentadas em escolas,

praças, ruas e clubes, e é embalada ao som do forró. Há fartura de comidas e

bebidas típicas, como batata-doce, pinhão, pé-de-moleque, pipoca, canjica, milho

cozido, etc. Como também, muitas brincadeiras, correio elegante, fogueiras,

casamento caipira e danças fazem parte dos festejos.

Quando for estudar folclore com seus alunos, considera-se diante não de uma disciplina bem delimitada e com fronteiras claramente definidas, mas de um campo de estudo. Afastando da visão idealizada de pesquisa folclórica do país que continua sendo veiculada, de forma resumida e padronizada pelos textos didáticos. O povo brasileiro, criador do folclore, é um povo culturalmente diversificado, é plurilíngüe e é socialmente diferenciado. (FREIRE, 2005, p. 58).

Pode-se acrescentar outro pesquisador do folclore, BRANDÃO (1982: 45)

que afirma ser “o folclore, o reconhecimento da importância das manifestações

populares na formação do lastro cultural da nação, constituem procedimentos

capazes de assegurar as opções necessárias ao seu desenvolvimento.”

Enquanto manifestação folclórica, segundo RIBEIRO (1980), as cantigas de

roda levam a criança a exercitar naturalmente o seu corpo, desenvolve o raciocínio,

a memória: ao ouvirem as cantigas, as crianças podem ser incentivadas a criarem

desenhos, paródias. Algumas cantigas possibilitam também a representação de

personagens em teatro, desenvolvimento de interpretação, produção textual, e

formação de palavras a partir de temas das cantigas de roda.

A brincadeira folclórica, segundo RIBEIRO (1980), contém uma série de

valores que, através do tempo, foram sendo selecionados de forma natural por

diversas gerações, guardando relações de ajustamento à época e ao meio. O

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aprendizado das brincadeiras pela criança propicia a liberação de energia, a

expansão da criatividade, fortalece a sociabilidade e estimula a liberdade.

Desta forma a utilização do folclore no contexto escolar auxilia de forma

positiva a aprendizagem, além de levar os alunos a conclusão consciente de que

toda cultura tem uma dignidade e um valor que devem ser respeitados e protegidos

diante das diversas culturas que fazem parte da nossa humanidade.

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CONCLUSÃO

Ao término deste trabalho percebeu-se que o folclore é constituído pelos

costumes, lendas, tradições e festas populares transmitidos por imitação e via oral

de geração em geração nos meios tradicionais., adaptando-se ao presente, criando-

se e recriando-se, modificando as suas funções, para atender as necessidades,

mágicas, religiosas, artísticas, econômicas, médico-sociais, lúdicas; são os fatos em

toda sua plenitude, quer no aspecto material, quer no aspecto espiritual.

À medida que a ciência e a tecnologia se desenvolvem, todas essas

tradições começam a ser vistas como ignorância popular. Entretanto, o estudo do

folclore é fundamental de modo a caracterizar a formação cultural de um povo e seu

passado, além de detectar a cultura popular vigente, pois o fato folclórico é

influenciado por sua época.

Dessa forma, é preciso uma reflexão na formação docente, bem como em

sua prática, tendo em vista que esse assunto tem suscitado dúvidas quanto a sua

aplicação no contexto escolar. Há uma falta de conhecimento por parte dos

professores, diretores e corpo docente sobre a especificidade do tema.

Normalmente esse assunto é abordado com os alunos somente em agosto,

mês em que se comemora o folclore. Essa abordagem, quase sempre superficial,

embasa-se em livros didáticos, que, na maioria das vezes, encontram-se

desatualizados, demonstrando, dessa forma, um trabalho estagnado e

descontextualizado da realidade.

Este trabalho bibliográfico procurou mostrar, que apesar do folclore ainda

não ser visto como parte integrante da práxis do educador, ele faz sim, parte de

nosso cotidiano, através das brincadeiras, da linguagem e dos brinquedos de

crianças.

É necessário urgentemente mudar esta realidade. E sendo o folclore uma

cultura viva e dinâmica, certamente será um assunto de fundamental importância no

processo de ensino-aprendizagem, cabendo ao professor incluir nos seus objetivos

e recursos didáticos os fatos folclóricos.

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